ZEOLITIZAÇÃO DE CINZAS DE COMBUSTÃO DE …µes_B4_B5_B6/B6_ARTIGO_03.pdf · zeolitizaÇÃo de...
Transcript of ZEOLITIZAÇÃO DE CINZAS DE COMBUSTÃO DE …µes_B4_B5_B6/B6_ARTIGO_03.pdf · zeolitizaÇÃo de...
ZEOLITIZAÇÃO DE CINZAS DE COMBUSTÃO DE CARVÃO: A
QUESTÃO DA ECONOMICIDADE DO PROCESSO.
FERRET, L.S.1; PIRES, M.J.R
2; CARDOSO
2, A.; GUARIENTI, F.H.
1
1:Fundação de Ciência e Tecnologia – CIENTEC.
2: Pontificia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS
E-mail: [email protected]
RESUMO
O presente trabalho teve por objetivo levar a questão da economicidade no processo de obtenção de
zeólitas a partir de cinzas de carvão por processo hidrotérmico. Partindo de duas condições experimentais
(a 100 e 150oC) para obtenção de zeólita Na-P, foram analisados os produtos zeolíticos por FRX, DRX,
MEV e CTC. Como esperado o processo que visa apenas a obtenção de zeólita compatível com as
naturais, e portanto de valor comercial equivalente, não é economicamente viável. O processo começa a
ter economicidade, por exemplo, a partir do uso da solução remanescente do processo hidrotérmico para a
obtenção de uma outra zeólita de maior pureza pela adição de solução de aluminato de sódio e novo
tratamento hidrotérmico. Esta segunda zeólita sendo compatível com as zeólitas puras obtidas por
hidrotratamento de soluções supersaturadas de silicatos e aluminatos, e portanto, tendo valor equivalente
a estas, pode levar a economicidade do processo, agora em dois estágios.
Palavras-chaves: cinzas de carvão, zeolitização, tratamento hidrotérmico, zeólita Na-P.
1 INTRODUÇÃO
Cinza de carvão é um dos resíduos sólidos de maior geração no Brasil em termos de
volume. Somente pequena porcentagem é reaproveitada na indústria da construção civil
(menos de 30%), o restante é disposto de maneira inadequada, acarretando sérios danos
à saúde humana e ao meio ambiente devido à lixiviação de íons metálicos tóxicos
presentes em sua composição química. É imperioso que o principal esforço no sentido
de mitigar os impactos ambientais decorrentes da disposição destes resíduos no meio
ambiente deva ser dirigido no sentido de ampliar suas potencialidades de utilização.
As cinzas de carvão são constituídas basicamente de sílica (SiO2) e alumina (Al2O3),
que respondem por cerca de 70% e 20% da sua massa, respectivamente. Assim, as
cinzas de carvão podem ser encaradas como fonte de Silício e Alumínio.
As zeólitas englobam um grande número de minerais naturais e sintéticos que
apresentam características comuns. No presente caso são aluminosilicatos hidratados de
metais alcalinos e alcalinos terrosos (principalmente Na, K, Mg, e Ca), estruturados em
redes cristalinas tridimensionais, compostas de tetraedros do tipo TO4 (T = Si, Al, Ga,
Ge, Fe, B, P, Ti...) unidos nos vértices através de átomos de oxigênio, e podem ser
representados pela fórmula química por célula unitária (Gianneto, 1990; Luz, 1994):
MX/n[AlO2]x(SiO2)y.mH2O
Onde: M é o cátion intercambiável ou de compensação de valência n; m é o número de
moléculas de água e x+y é o número de tetraedros por célula unitária.
A estrutura da zeólita apresenta canais e cavidades interconectadas de dimensões
moleculares, nas quais se encontram íons de compensação, moléculas de água ou outros
adsorbatos e sais. Este tipo de estrutura microporosa confere a zeólita uma superfície
interna muito grande, quando comparada à sua superfície externa. A estrutura da zeólita
permite a transferência de matéria entre os espaços intercristalinos, no entanto esta
transferência é limitada pelo diâmetro dos poros da zeólita. Desta forma, só podem
ingressar ou sair do espaço intercristalino aquelas moléculas cujas dimensões são
inferiores a um certo valor crítico, que varia de uma zeólita a outra (Luz, 1994).
Todas as zeólitas com importância comercial devem seu valor a pelo menos uma de três
importantes propriedades: adsorção, capacidade de troca catiônica e catálise (Luz,
1994). Cabe lembrar que a capacidade de absorção reversível de água é uma
característica das zeólitas.
A grande capacidade de adsorção das zeólitas está relacionada à sua estrutura
microporosa formada por poros de dimensões definidas, que funcionam como peneiras
moleculares, permitindo a entrada de moléculas menores e berrando a entrada das
maiores. A estrutura microporosa é responsável pela seletividade de forma.
A capacidade de troca catiônica de uma zeólita está intrinsecamente relacionada com
sua relação Si/Al, já que para cada Si que foi substituído por um Al é gerada uma carga
negativa, a qual é compensada por um cátion. Os cátions estão livres para migrarem
para dentro e para fora das estruturas zeolíticas, característica esta que permite que estes
materiais possam ser usados para trocar seus cátions com os cátions de líquidos no qual
elas estejam imersas. A preferência de dada zeólita por um determinado cátion é própria
de sua capacidade como peneira molecular ou da competição entre a zeólita e a fase
aquosa, para os cátions presentes. Esta é a principal função de uma zeólita em
formulações de detergentes, ou seja, trocar seus cátions pelos Ca2+
presentes nas águas
(remoção da dureza). As zeólita A e P são utilizada em composições detergentes em
substituição aos fosfatos (altamente poluidores) como sequestrantes de dureza e agente
estruturante. Cabe aqui salientar que a zeólita P é mais facilmente obtida a partir de
cinzas de carvão do que a zeólita A, por tratamento hidrotérmico convencional.
As propriedades catalíticas das zeólitas estão relacionadas a substituição do Si pelo Al
nas suas estruturas cristalinas com a conseqüente formação de sítios ácidos, bem como à
seletividade de forma de suas estruturas.
Zeólitas podem ser sintetizadas a partir de cinzas de combustão de carvão, via
tratamento hidrotérmico, em meio alcalino, em processo bem conhecido e análogo a
formação de zeólitas na natureza (Barrer, 1982). Muitos estudos tem sido realizados
usando NaOH, também com KOH como agente ativador (meio alcalino) (Höller e
Wirsching, 1985; Henmi, 1987; Querol e outros, 2002; Moreno, 2002; Ferret, 2004; Hui
e Chao, 2006, Walek e outros, 2007; Paprocki, 2009;. Ahmaruzzaman, 2010).
Existem basicamente três principais processos de síntese hidrotérmica de zeólitas:
convencional ou propriamente dito (Ferret e outros, 1999), extração de silício e
posterior tratamento hidrotérmico com adição de uma fonte extra de aluminio (ou em
dois estágios) (Hollman e outros, 1999) e fusão prévia com a base antes do tratamento
hidrotérmico propriamente dito ( Shigemoto e outros, 1993; Inoue e outros 1995) .
Outro tanto de estudos na área de usos das zeólitas de cinzas de combustão de carvão
podem ser encontrados na bibliografia sobre o assunto (Endres e outros, 2001; Sun e
outros, 2010) . Porém, muito poucos estudos falam da economicidade do processo
obtidos, só que os produtos zeolíticos de cinzas de carvão teriam baixo custo (Ojha e
outros, 2004; Rayalu e outros, 2006; Solid Corporation, 2009, Kem Ltda, 2007). Este
trabalho teve por objetivo lançar luzes sobre a questão da economicidade na obtenção
de zeólitas a partir de cinzas de combustão de carvão, por processo hidrotérmico em
meio NaOH.
2 EXPERIMENTAL
2.1 Materiais
A cinza utilizada foi a cinza volante da Unidade Termoelétrica Presidente Médice que
opera com carvão Candiota, aqui denominada cinza Candiota.
2.2 Caracterização Química
A composição química das cinzas de carvão, bem como dos produtos zeolíticos obtidos
foram determinadas por fluorescência de raios-X (FRX), segundo método registrado
(ASTM D 4326, 2003), sendo que para a padronização do equipamento foram utilizados
padrões de cinzas volantes: SRM 2689, 2690 e 2691 (NIST, 1994). O equipamento
utilizado foi o modelo RIX 3100 da Rigaku Dengi com fonte de radiação de Ródio. As
amostras de cinzas para a análise por FRX, já na granulometria <0,074mm (200#
Tyler), foram preparadas na forma de pastilhas fundidas a 1000oC com Li2B4O7 em
relação amostra/fundente de 1:5. Como altos teores de enxofre interferem na
determinação de silício por FRX (interferência espectral), foi utilizada para a
determinação de enxofre e silício nas cinzas de carvão com alto enxofre a seguinte
metodologia: primeiro foi determinado o teor de enxofre total pelo equipamento da
LECO modelo SC 132, segundo metodologia registrada e que é basicamente constituída
pela combustão da amostra e detecção por infravermelho (ASTM D 4239, 2003); a
seguir foi feita a correção do valor obtido por FRX para o silício.
2.3 Caracterização Mineralógica
A análise mineralógica das cinzas de carvão, também dos produtos zeolíticos obtidos
por tratamento hidrotérmico foram realizadas em difratômeto (DRX) Rigaku Dengi
model D-Max 2000, com radiação Cu K, gerada a 30kV e 15mA. As amostras foram
preparadas por moagem com álcool em gral de Ágata, na granulometria <0,037mm
(400# Tyler), e colocadas em porta amostra de vidro (Buhrke, 1998), e levadas ao DRX.
Em todos os casos a varredura angular foi de 2 a 80o com velocidade de 2
o/min. Com o
auxílio do programa de computador Jade Plus 5 da MDI e banco de dados de padrões
de difração JCPDS-ICCD foram realizadas as identificações das fases cristalinas
2.4 Caracterização Morfológica
A observação das cinzas de carvão ao microscópio eletrônico de varredura (MEV),
Philips modelo XL 30 com um sistema EDS (Energy Dispersive X-ray Spectrometer),
permitiu a verificação da morfologia das amostras, na granulometria como produzidas.
Assim, as amostras foram coladas diretamente com esmalte ou fita adesiva dupla face
em suporte metálico e após foi feita pulverização de fina camada de Au sobre elas para
torná-las condutoras. As condições de operação do MEV foram: aumentos de 1.000 a
5.500x, e 15kV.
2.5 Determinação Capacidade de Troca Catiônica
O procedimento de capacidade de troca catiônica de simples troca (CTC) consiste em
adicionar 50mL de solução NH4Cl 0,1 M em 0,5 gramas do material a ser analisado
(produto zeolítico de cinzas de carvão, no presente caso), previamente seco e pesado em
balança analítica, em um tubo Falcon de 50 mL. Coloca-se o tubo Falcon em um
agitador mecânico (agitador de Wagner), que permanece em agitação por tempo e
velocidade pré-determinados. Após centrifuga-se por 5 minutos em centrifuga em
velocidade pré-determinada. Retira-se uma alíquota de 0,1mL do sobrenadante e
transfere-se para um balão volumétrico de 50mL, adiciona-se 2mL do reativo de Nessler
e ajusta-se o volume do balão com água deionizada ultrapura (Milli-Q). A solução é
homogeneizada e após 30 minutos é analisada em espectrofotômetro UV-VIS a 420 nm.
A concentração inicial e final do íon NH4+, após o contato com os produtos zeolíticos,
fornece a CTC do material. (Paprocki, 2009).
2.5 Tratamento Hidrotérmico
O teste de zeolitização da cinzas de carvão adotado tinha o seguinte procedimento: uma
amostra de cinzas de carvão era pesada, colocadasem reator de vidro (para tratamento
100oC) ou de aço inoxidável com interno de Teflon (para tratamento a 150
oC), o qual já
continha a quantidade requerida de NaOH dissolvida na H2O também requerida para
uma dada condição. Após os frascos foram fechados e levados à estufa na temperatura
do teste, e lá permaneceram pelo tempo de 24h. Depois de esfriados, os sólidos foram
separados da solução alcalina por filtração, lavados quatro vezes com água ultrapura
Milli-Q, e colocados a secar por 24h a 105oC. Então, as amostras tratadas foram sub-
divididas em número adequado às análises físico-químicas a que seriam submetidas.
3 RESULTADOS
3.1 Identificação das fases cristalinas da cinza Candiota e seus produtos zeolíticos
Este trabalho foi realizado partindo de duas condições de tratamento hidrotérmico que
forneceram uma única fase zeolítica constituída pela zeólita Na-P ou seja, a zeólita P de
topologia gismondina (GIS), no tratamento hidrotérmico com NaOH de cinza Candiota.
Foram escolhidas uma condição a 100oC e outra a 150
oC, em mesmo tempo de reação
de 24h, e mesma relação NaOH/cinzas de 0,72 (em peso), e H2O/cinzas de 6 e 18 mL/g,
respectivamente. O produto obtido a 150oC foi chamado 150.1D.1.Na18, enquanto que
o obtido a 100oC foi denominado 100.1D.3.Na6.
A análise por DRX da cinza Candiota apresentou como fases cristalinas principais,
como esperado (Ferret, 2004), o Quartzo, a Mulita, a Calcita e a Hematita. A figura 1
apresenta os difratogramas dos dois produtos zeolíticos. A principal fase cristalina, em
ambos os produtos, foi a zeólita buscada, qual seja: a zeólita GIS ou Na-P (PDF 44
0052), seguida do Quartzo e da Mulita. A análise por DRX do produto zeolítico
150.1D.1.Na18, também revelou a maior dissolução do quartzo ocorrida devido a maior
temperatura utilizada.
a
b
Figura 1 - Difratogramas dos produtos zeolíticos: a)100.1D.3.Na6 e
b)150.1D.1.Na18.
3.2 Morfologia das cinza Candiotas e dos produtos zeolíticos
Na figura 2 podem ser vistas microfotografia da cinza Candiota e dos dois produtos
zeolíticos: 100.1D.3.Na6 e 150.1D.1.Na18. Na cinza Candiota foram observadas e
confirmadas por EDS o Quartzo, a Mulita, a Calcita e a Hematita, também foram
observados os amorfos, as holos e cenosferas. Nos produtos 100.1D.3.Na6 e
150.1D.1.Na18 foram observados a zeólita P em seu hábito cristalino característico
semelhantes a Phillipsita Natural e também estruturas amorfas, sendo que o produto
150.1D.1.Na18 revelou maior quantidade de estruturas amorfas e cristais de zeólita P
melhor formados (mais envelhecidos).
a
b
c
Figura 2 - Microfotografias da a)cinza Candiota e seus produtos de tratamento
hidrotérmico b) 100.1D.3.Na6 e c) 150.1D.1.Na18.
3.3 Capacidade de toca catônica dos produtos zeolíticos
Análise de CTC determinada no produto 100.1D.3.Na6 mostrou uma capacidade média
de 0,57 em relação a CTC teórica da zeólita P (4,6 meq/g) e da mesma forma de 0,62 no
caso do produto 150.1D.1.Na18.
3.4 Balanço de massa tratamento hidrotérmico de cinza Candiota
A tabela I mostra análise de composição químicas da cinza Candiota precursora e de
seus produtos de tratamento hidrotérmico 1D.3.Na6 e 150.1D.1.Na18.
Tabela I - Análise composição química cinzas Candiota, e de seus produtos de
hidrotratamento.100.1D.3.Na6 e 150.1D.1.Na18. Unidade: % base como recebida.
Cinza Candiota 100Na6 150Na18
SiO2 65,91 42,85 45,52
Al2O3 21,29 21,98 19,85
Fe2O3 6,43 7,02 6,23
CaO 2,18 2,44 2,15
MgO 0,69 0,79 0,67
Na2O 0,15 8,55 6,58
K2O 1,97 0,74 1,40
TiO2 0,75 0,91 0,83
P2O5 <0,03 <0,03 <0,03
SO3 0,092 0,067 0,002
Perda ao fogo, 1000oC 0,51 14,62 16,74
A partir da composição química e levando em conta que cada unidade de massa de
cinza Candiota produziu 0,94 unidades de massa do produto 100.1D.3.Na6 e 1 unidade
de massa do produto 150.1D.3.Na18, realizou-se balanço de massa de sólidos durante
os tratamentos hidrotérmicos. Daí ficou evidenciado que, na condição experimental que
levou ao produto 100.1D.3.Na6 aproximadamente 40% das cinzas ficaram solubilizadas
na solução remanescente do tratamento hidrotérmico com NaOH, e de igual forma 30%
no caso do produto 150.1D.1.Na18; também que, somente 12,5 e 10% do Sódio
adicionado como NaOH para os tratamentos hidrotérmicos ficaram incorporados aos
produtos zeolíticos, respectivamente.
3.5 Custos dos produtos zeolíticos de cinza Candiota
Neste momento foi realizado um levantamento inicial, basicamente de custos de
insumos necessários ao tratamento hidrotérmico (Petrobrás, 2010). Isto pode ser melhor
observado na tabela II.
Tabela II – Custos para a transformação hidrotérmica em meio NaOH de cinza
Candiota em zeólitas: caso do produto 100.1D.3.Na6. Unidade: x R$1000.
Entrada Saída
0,01 1T cinzas 0,96 0,94T zeólita P (R$1.020/T)
0,83 0,72T NaOH
0,04 6T água industrial
0,08 energia
0,96 total 0,96 total
Já para o caso do produto 150.1D.1.Na18 que utiliza 3 vezes mais água e portanto com
custos maiores nos itens água e energia, o custo do produto se eleva em 18%. Assim,
pesar do produto 150.1D.1.Na18 ter uma CTC 11% maior que o produto 100.1D.3.Na6,
neste processo convencional de tratamento hidrotérmico (único estágio), a escolha
recairia sobre o produto 100.1D.3.Na6.
Assim, sem levar em conta os custos de implantação, operação e manutenção da
unidade fabril, lucro com a venda do produto zeolítico, e sem o aproveitamento da
solução remanescente do tratamento hidrotérmico, o custo para produzir uma tonelada
de zeólita P de cinzas Candiota seria de R$1020,00 ou aproximadamente US$628/T
(aos valores de maio de 2011). Pesquisando preços para zeólitas naturais e sintéticas
puras (Monte e outros, 2004; Alibaba, 2011) e levando em conta que o preço de venda
de um produto zeolítico (ainda em uma base de cinzas de carvão) deva estar entre o de
uma zeólita natural (de menor CTC) e o de uma zeólita sintética (de maior pureza)
similar, concluiu-se que o preço de um produto zeolítico a base de cinzas de carvão
deva estar em torno de US$300/T. O que torna o processo convencional, em único
estágio, economicamente inviável para as duas condições escolhidas.
3.6 Otimização de custos
Buscando alternativa para melhorar o desempenho econômico do processo de
zeolitização de cinza de carvão, pode-se pensar na alternativa de solubilização prévia
para aumentar a conversão de cinzas em zeólitas. Porém, os gastos adicionais que se
teria, caso se optasse pelo processo com fusão prévia das cinzas com o NaOH em
temperaturas acima de 550oC (custos de instalação, energia e mão-de-obra), adição de
água, separação da cinza não solubilizada (rejeito), e posterior tratamento hidrotérmico
convencional da solução, desestimulam o uso deste processo.
Como dito anteriormente, o produto 100.1D.3.Na6 deixou na solução do
hidrotratamento cerca de 40% das cinzas que lhe deram origem, assim como o produto
150.1D.1.Na18 de mesma forma deixou 30%. Assim a escolha do processo em dois
estágios desponta como uma alternativa atraente. Cabe aqui salientar que, não só pela
economicidade, mas também por questões ambientais, não se pode simplesmente
descartar a solução remanescente do processo hidrotérmico. E também, que não é
possível reutilizá-la para novo processo hidrotérmico com o intuito de reaproveitar o
sódio remanescente, pois não seria gerado muito provavelmente o mesmo produto
zeolítico (com as mesmas caracterisiticas) devido ao material solúvel (silicato,
aluminato e outros íons) existente na referida solução.
No processo em dois estágio poderia ser produzido o produto zeolítico100.1D.3.Na6 no
primeiro estágio e no segundo estágio poderia ser produzida a zeólita P ou a zeólita A,
por hidrotratamento da solução remanescente, com adição de uma fonte de Alumínio,
em temperaturas e tempos até menores do que as temperaturas e os tempos utilizados no
primeiro estágio.
Efetuando-se os cálculos do que resta em solução de Si e Na e levando-se em conta a
fórmula química da zeólita A, calcula-se a quantidade de Al na forma de Al(OH)3
necessária, admitindo-se conversão total. A tabela III mostra os custos de uma
simulação do processo em dois estágios. Foi admitido que a zeólita de maior pureza
poderia ter preço de venda duas vezes maior que o do produto 100.1D.3.Na6, ou seja
US$600/t (preço este compatível o de zeólitas puras).
Tabela III – Custos para um processo em dois estágios para transformação
hidrotérmica em meio NaOH de carvão Candiota em zeólitas sendo o produto do
primeiro estágio o 100.1D.3.Na6. Unidade: x R$1000
Entrada Saída
0,01 1T cinzas 0,46 0,94T zeólita P
0,83 0,72T NaOH 0,94 0,96T zeólita A de maior pureza
0,36 0,45T Al(OH)3
0,04 6T água industrial
0,10 energia
0,16 outros custos e lucro
1,50 total 1,50 total
Agora, já é possível vislumbrar a economicidade do processo, desde que se busque
alternativas para minimizar os custos da fonte de Al, por exemplo, o uso de efluente de
anodização ou limalhas de alumínio. Também é necessário recircular a água de
processamento e lavagem dos produtos para minimizar o custo deste insumo.
4 CONCLUSÕES
Apesar de zeólitas de cinzas ainda não possuíram preço estabelecido de venda (pelo
mercado), e portanto, poderem teoricamente serem vendidas pelo custo de produção
acrescido do lucro do fabricante, é necessário o balizamento do seu preço pelo preço
dos produtos concorrentes, ou seja das zeólitas naturais e das sintéticas puras, e talvez
fixando o preço pela CTC, que é um indicador de qualidade do produto por unidade de
sua massa.
Muito ainda há de ser feito para que se chegue ao processo otimizado em termos
econômicos, porém este trabalho deixou claro que esta possibilidade existe, bastando
para isto que se busquem alternativas para os insumos básicos necessários ao processo,
bem como da diminuição do consumo de água, que é ainda, na concepção aqui
abordada, bastante grande.
Referências
AHMARUZZAMAN, M. A review on the utilization of fly ash. Progress in
Energy and Combustion Science, v36, p.327-364, 2010.
ALIBABA. Preços Zeólitas Naturais e Sintéticas, 2011. Disponível em:
< http://portuguese.alibaba.com/products/. Acesso em: 10 mai. 2011
ASTM. D 4239-03 : standard test method for sulfur in the analysis
samples of coal and coke using high-temperature tube furnace
combustion methods. In: __. 2003 annual book of ASTM standards. West
Conshohocken, PA, 2003. v.05.6, p.395-404.
ASTM. D 4326-03 : standard test method for major and minor elements
in coal and coke by X-ray fluorescence. In: __. 2003 annual book of
ASTM standards. West Conshohocken, PA, 2003. v.05.6, p.405-407.
BARRER, R. M. Hydrothermal chemistry of zeolites. London : Academic
Press, 1982. 360p.
BUHRKE, Victor E. et al. (Eds.) A practical guide for the
preparation of specimens for X-ray fluorescence and X-Ray diffraction
analysis. New York : Wiley-VCH, 1998. xxiv,333p., il.
ENDRES, J.C.T. et al. The removal of Fe, Zn, Cu and Pb from
wastewaters using chabazite zeolites produced from southern brazilian
coal ashes. In: INTERNATIONAL ASH UTILIZATION SYMPOSIUM, 4., 2001,
Lexington, Kentucky, USA. Proceedings... Lexington : University of
Kentucky, 2001. p.478-484.
FERRET, Lizete Senandes et al. Zeolification of ashes obtained from
the combustion of southern’s Brazil Candiota coal. In: INTERNATIONAL
ASH UTILIZATION SYMPOSIUM, 3., 1999, Lexington, Kentucky, USA.
Proceedings... Lexington : University of Kentucky, 1999. p.247-252.
Tema do evento: materials for the next millenium.
FERRET, L.S. Zeólitas de cinzas de carvão: síntese e uso. Porto
Alegre, 2004. xii, 105f. Tese (Doutor em Engenharia – Área de
concentração: Metalurgia Extrativa) – PPGEM/UFRGS.
GIANNETO, G. Zeolitas, caracteristicas, propriedades y aplicaciones
industriales. Caracas : EdiT Ediciones Innovación Tecnológica, 1990.
170p.
HENMI, T. Increase de cation exchange capacity of coal fly ash by
alkali treatment. Clay Science, v.6, p.277-282, 1987.
HÖLLER, H. & WIRSCHING, G. U. Zeolite formation from fly ash.
Fortschr. Miner., v.63, n.1, p.21-43, 1985.
HOLLMAN, G. G., STEENBRUGGEN, G., JANSEN-JURKOVICOVÁ, M. A two-step
process for the synthesis of zeolite from coal fly ash. Fuel, n.78,
p.1225-1230, 1999.
HUI, K.S.; CHAO, C.Y.H. Synthesis of MCM-41 from coal fly ash by a
green approach: Influence of synthesis pH. Journal of Hazardous
Materials, v.B137, p.1135–1148, 2006.
INOUE, Kozo; TSUNEMATSU, Shuji; YAMADA, Hideo. Synthesis of A type
zeolite from fly ash pretreated with solid sodium hydroxide.
Inorganic Materials, v.2, n.255, p.108-114, 1995. Texto em japonês.
JCPDS. Powder Diffraction Files : Release 1999. Pennsylvania, USA :
International Centre for Diffraction Data, 1999. Data Set 1-49 plus
70-86 PDFs. Em CD ROM.
KEM Ltda. Effective Synthesis of Artificial Zeolite from Coal Fly
Ash, 2007. Disponível em: <http://kem-jp.com/Zeolite-01.pdf. Acesso em: 10 mai. 2011.
LUZ, Adão Benvindo da. Zeólitas : propriedades e usos industriais.
Rio de Janeiro : CETEM; CNPq, 1994. 37p., il. (Tecnologia mineral,
68)
MONTE, M.B. de M.; et al. Aplicação de zeólita natural como
fertilizante de liberação lenta. In: XX ENTMME – Florianópolis – SC,
v.1 p.259-266,2004
NIST. Certificate of Analysis Standard Reference Materials 2689, 2690
and 2691 – Coal fly ashes. Gaithersburg, USA : National Institute of
Standard & Tecnology, 1993. 6f.
OJHA, K., et al. Zeolite from fly ash: synthesis and
characterization. Bulletin of Materials Science, v.27, p.555-564,
2004.
PAPROCKI, A. Síntese de zeólitas a partir de cinzas de carvão visando
sua utilização na descontaminação na drenagem ácida de mina. Porto
Alegre, 2009. Dissertação (Mestre em Engenharia e Tecnologia de
Materiais). PUCRS.
PETROBRÁS. Preços Materiais Diversos, 2010. Disponível em:
<http://www2.petrobras.com.br/materiaishtm/contratos_materiais/PORTAL_
1000_M/Documents/. Acesso em: 10 mai. 2011.
QUEROL, X., et al. Synthesis of zeolites from coal fly ash: na
overview. International Journal of Coal Geology, v.50, p.413-423,
2002.
RAYALU, S.S.; et al. Fly ash based zeoliteanalogues: versatile
materials for energy and environmental conservation, Catalysis
Surveys from Asia, v.10 p. , 2006
SHIGEMOTO, N., HAYASHI, H., MIYUAURA, K. Selective formation of Na-X
zeolite from coal fly ash by fusion with sodium hydroxide prior to
hydrothermal reaction. Journal of Materials Science, n.28, p. 4781-
4786, 1993.
SOLID CORPORATON. Artificial Zeolite Production and Applications,
2009. Disponível em: <http://www.unido.or.jp/download/ ArtificialZeolitePresentationPaper071509.pdf. Acesso em: 10 mai.
2011.
SUN, Z.; LI,C.; WU,D. Removal ofmethylene blue from aqueous
solution by adsorption onto zeolite synthesized from coal fly ash and
its thermal regeneration. J Chem Technol Biotechnol., v.85, p845–850,
2010.
WALEK, T., et al. Zeolite Synthesis from Fly Ash: Current Processes
and their Benefits and Drawbacks. Bulletin of the Advanced Materials
Processing Building, v.63, p.86-95, 2007