Whaley, d; Mallot, r. Princípios Elementares Do Comportamento
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Donald L. Whaley -Richard W. Malott Princpios elementares do comportamento Ttulo da edio original:
Elementary Principles of Behavior Original English language edition published by Copyright (c) 1971 by
Prentice-Hali, mc. Ali rights reserved
Traduo: Maria Amlia Matos Maria Lcia Dantas Ferrara Cibele Freire Santoro Reviso tcnica: Antnio
Jayro da Fonseca Motta Fagundes
6a Reimpresso
SBN 8 5-12-62420-5
(c) E.P.U. - Editora Pedaggica e Universitria Ltda., So Paulo, 1980, Todos os direitos reservados. A
reproduo desta obra, no todo ou em parte, por qualquer meio, sem autorizao expressa da Editora, sujeitar o
infrator, nos termos da lei n 6.895, de 17-12-1980, penalidade prevista nos artigos 184 e 186 do Cdigo Penal,
a saber: recluso de um a quatro anos.
E.P.U. - Rua Joaquim Floriano, 72 - 60 andar - salas 65/68 (Edifcio So Paulo Head Offices) Tel. (011) 829-
6077 CEP 04534 - So Paulo - SP
Impresso no Brasil Printed in Brazil
Sumrio
Prefcio . IX
Agradecimentos XII
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1. Um tira-gosto
2. Condicionamento 19
3. Extino
4. Diferenciao de respostas e comportamento supersticioso 63
5. Modelagem, o mtodo das aproximaes sucessivas 83
6. Esquemas de reforamento 105
7. Esquemas de reforamento temporais 137
8. Discriminao de estmulos 159
9. Generalizao de estmulos e formao de conceito 185
10. Tcnica de esvanecimento 211
11. Tcnicas que envolvem mudana gradual (modelagem esvanecimento atenuao das conseqncias
reforadoras) 225
VII
PREFCIO
AO INSTRUTOR
Em todas as pocas, a Cincia aguarda a formao daquelas pessoas que se tornaro cientistas. E a Educao,
por quanto tempo aguardar, ansiosa e pacientemente, pela contribuio da Cincia? A Teoria do Reforo tem
demonstrado, de maneira inquestionvel, que o processo de aprendizagem no necessita ser doloroso,
aborrecido ou restrito a um grupo selecionado de pessoas cujas histrias de vida as modelaram para assumir o
papel de "heris do saber". A aprendizagem pode ser fcil, progredir com fluidez e direo, pode at mesmo ser
algo divertido. Para aprender, no necessrio ser "antes de tudo um heri".
Esta obra procura ensinar os princpios da Psicologia a universitrios comuns. Isto , a alunos que no precisam
ser necessariamente dedicados, iluminacos, inspirados ou hericos. A nossa experincia tem mostrado que
aquelas pessoas formam um grupo maravilhoso, e temos nos esforado por ensinar-lhes Psicologia. Em assim
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fazendo, no pretendemos abandonar a exigncia de um completo conhecimento, por parte desses alunos,
daquilo que consideramos serem os princpios crticos e freqentemente difceis da Cincia, O rigor no pode
ser sacrificado em prol de uma situao mais divertida.
Propomos demonstrar que ambos no so mutuamente exclusivos; at mesmo acreditamos que o aluno que se
dedicar a esse estudo acabar por descobrir que no s est aprendendo mais, como o faz com facilidade e
interesse maiores.
Numa tentativa de implementar os objetivos colocados acima, mudamos, de certo modo, o formato desta obra
em relao ao que considerado um texto tpico de introduo Psicologia. O estilo intencionalmente
informal e se aproxima mais do que encontrado em revistas de divulgao do que em livros-textos. Nossa
experincia mostra que o aluno principiante prefere este estilo informal do que a linguagem acadmica.
Pretendemos evitar a barreira da linguagem, que to freqentemente torna dificil a comunicao entre
professores e estudantes.
Talvez mais importante que o estilo popular seja a nfase no cotidiano. A maioria dos estudos relatados se
refere aplicao da Anlise do Comportamento a assuntos humanos. Estudos com animais so mencionados
apenas quando tm uma relevncia imediata e bvia para a compreenso do comportamento humano.
Ix
Assim como na maioria dos livros que procuram programar o processo de aprendizagem, os assuntos so
introduzidos de maneira gradual, comeando com conceitos e termos mais simples e crescendo, aos poucos, em
complexidade, medida que o aluno tambm cresce em sua capacidade de assimilar essa complexidade.
Fisicamente, o livro est dividido em leituras. Cada leitura consiste num texto, num conjunto de questes
relativas ao texto e em comentrios. O texto contm essncia do assunto queo aluno deve dominar. Se um
aluno puder responder s questes sem a necessidade de consultar o texto, do nosso ponto de vista e pelo menos
momentaneamente, ele domina o assunto. Consideramos os Comentrios um aspecto importante desta obra
assim, detalhes eliminados do texto so retomados e elaborados nos Comentrios, juntamente com a colocao
de algumas idias e especulaes pessoais dos autores. Esperamos que sirvam ao propsito de manter o
interesse daqueles alunos mais inquisitivos, assim como eles tm mantido o comportamento dos autores.
O livro auto-suficiente e pode ser usado quer como livro-texto bsico, quer como implemento a outro texto.
Ele foi montada de modo que seja fcil estabelecer uma correspondncia entre suas partes e aquelas de outras
fontes.
Na sua presente forma, esta obra representa o resultado final de uma seqncia de testes semelhantes queles
utilizados na elaborao de textos programados. Os alunos foram examinados repetidamente em termos de seu
desempenho diante de provas baseadas no texto. Se a sua atuao deixava a desejar, isto foi tomado como
indicador de que o material no estava claro, estava incorretamente distribudo ou apresentava falhas de
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seqncia. Conseqentemente, o texto era reescrito at que as questes pudessem ser respondidas de modo
aceitvel. Dezenas de avaliaes foram solicitadas aos alunos em termos de sua aceitao de vrias partes do
texto, do interesse produzido ou de mudanas desejveis. O produto dessas avaliaes reflete-se nesta obra.
AO ALUNO
Ao ser congratulado, num conto de Hemingway, pela sua facilidade de se expressar em italiano, um americano
retrucou que, de fato, esta lngua era bastante fcil. "timo", disse o major italiano que o havia elogiado, "ento
por que que voc no rev a sua gramtica?"
A maioria de ns falamos, discutimos, observamos e, de modo geral, interagimos com outras pessoas durante
toda a nossa vida. Muitos, tenho certeza, acham que as pessoas so fceis de ser compreendidas. Talvez, como
no caso do personagem de Hemingway, esta seja a ocasio para aprender um pouco de gramtica. Em outras
palavras, existem regras e princpios relativos ao comportamento humano e que facilitam sua compreenso,
regras e princpios genericamente denominados "Psicologia
Os princpios de Psicologia, como os de gramtica, no so intrinsecamente simples. Termos novos devem ser
aprendidos, novos conceitos devem ser dominados e, principalmente, velhas noes devem ser eliminadas.
Ao ensinar-lhe a gramtica da Psicologia do Comportamento tentaremos, o mais que pudermos, manter
distncia de assuntos abstratos e sem relao entre si. Pretendemos tornar a Psicologia to prxima e vital
quanto possvel, tornando-a relevante para voc e para a compreenso dos problemas, aspiraes e ambies da
vida real.
Esperamos que, ao final da leitura desta obra, voc seja capaz de fazer mais do que meramente repetir fatos da
Psicologia, fatos de origem e valor desconhecidos. Pelo contrrio, esperamos e desejamos que voc conhea os
princpios da cincia que a Psicologia, e que seja capaz de avaliar no s os fatos que lhe so apresentados,
mas tambm outros e novos que lhe sejam exibidos em jornais e revistas, discursos e at pelo colega do
diretrio acadmico.
Donald R. Whalei'
Richard W. Mallot
x
XI
XII
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1. Um tira-gosto
CAUSAS PSICOLGICAS DA INANIO
2.
Maria tinha 37 anos de idade, 1 ,52m de altura e pesava apenas 24 quilos. Foi conduzida ao hospital porque
estava morrendo devido a enfraquecimento extremo por falta de alimentao, problema denominado "inanio".
Com a idade de li anos, Maria pesava 60 quilos e era considerada rechonchuda. Seu peso permaneceu por volta
de 60 quilos at a poca do casamento, aos 18 anos; nessa ocasio, o mdico da famlia preveniu-a de que era
pouco desenvolvida sexualmente e que o casamento poderia "complicar essa situao, ou melhor-la". O casal
vivia na Califrnia, onde o marido servia o Exrcito. Uma vez que isto se passava durante a Segunda Guerra
Mundial, quando as condies de vida no eram muito agradveis, eles viviam num pequeno apartamento sem
condies para cozinhar e tinham que fazer suas refeies em restaurantes baratos. Maria tambm estava tendo
dificuldades em se ajustar aos aspectos sexuais da vida conjugal e sentia muita falta de seu antigo lar.
Conseqentemente, ela fez, vrias vezes, a longa viagem da Califrnia at Virgnia, a fim de visitar sua famlia.
Depois dos primeiros meses de casada, comeou a comer menos e a perder peso num ritmo alarmante. Um
mdico sugeriu que se perdesse mais peso deveria voltar para casa e viver com sua famlia, o que de fato
aconteceu.
A sociedade normalmente criticaria uma mulher que deixasse o marido e voltasse para seus pais, a menos que
isso acontecesse por questes de sade. Maria estava tendo dificuldades em se ajustar ao marido e vivia
praticamente sem conforto. Alm disso, ela sentia saudades da famlia, O mdico havia lhe dado uma razo
legtima para fazer o que ela realmente queria fazer. Poderia escapar do seu casamento infeliz, e, ao mesmo
tempo, ser recompensada por voltar ao ambiente confortvel da famlia. Mais ainda, ela poderia agir assim sem
ser punida pelo desprezo da sociedade.
1. A descrio deste caso se baseia no trabalho de A. J. Bacharach, W. J. Erwin e J. P.
Mohr, "The control of eating behavior in an anorexic by operant conditioning techniques"
Publicado em L. P. UlIman e L. Krasner (Editors). Case Studies in Behavior Modification.
Editor Holt, Rinehort e Winston, 1965, 153-163, New York.
Pelo que sabemos at agora, s podemos espeular, mas parece bastante plausvel que a razo pela qual ela
comia pouco era o fato de estar sendo recompensada pela possibilidade de escapar do casamento e voltar ao
antigo lar sem sofrer crticas. Voc no deveria pensar que Maria estava conscientemente tentando perder peso.
Provavelmente, ela ficaria chocada se lhe tivesse sido sugerido que estava perdendo peso a fim de ter uma
-
desculpa para voltar para o lar. Todavia, esses fatores podem ter sido as causas principais para o fato de ela no
comer.
Nesse exemplo, vimos que Maria comia pouco em virtude do que lhe acontecia quando no comia. Esta uma
das noes mais importantes que voc aprender neste livro. Recompensas e punies desempenham um papel
primordial na nossa vida cotidiana.
Depois que voltou para a casa dos pais, Maria continuou a perder peso. Provavelmente devido dificuldade de
comer ela recebia mais ateno agora do que antes do casamento. Seum pessoa se alimenta normalmente,
ningum lhe d muita ateno. Todavia, se ela se recusa a comer, receber bastante ateno. Amigos e parentes
conversaro com a pessoa que se alimenta pouco e tentaro convenc-la a comer mais. Ter algum que nos d
ateno bastante recompensador. razovel supor que o motivo pelo qual Maria continuava a comer pouco
era porque as pessoas lhe davam mais ateno agora do que quando comia normalmente. Vemos, outra vez, que
as recompensas podem ter sido o fator primordial que afetou o padro de comportamento de Maria. Nesse caso,
o no-comer acabou sendo recompensado por ateno por parte da famlia. Conseqentemente, comer pouco era
um comportamento com boa probabilidade de se repetir no futuro. Entre as idades de 18 e 37 anos, o peso de
Maria caiu de 60 quilos para 24 quilos, o que uma demonstrao surpreendente da fora que a recompensa
social, sob forma de ateno, pode ter no controle do comportamento de um ser humano.
Percebeu-se, ento, que, se no engordasse, Maria morreria devido sua extrema fraqueza. Uma vez que no se
encontravam razes mdicas para sua perda de peso, um novo tipo de terapia toi tentado, atravs do qual ela
obteria recompensas sociais quando comesse e no as receberia quando se recusasse a comer.
Maria foi conduzida a um quarto contendo apenas o que era considerado essencial, e o contato social ficou
restrito a um nvel mnimo. Maria estava em condies fisicas to precrias que sem ajuda no podia se mover
na cama. ram-1he servids trs refeies por dia. Durante cada refeio, ela tinha uma acompanhante. Todavia, a
acompanhante s conversaria com ela depois que Maria tivesse dado uma resposta que pudesse ser
recompensada. Conversar com a acompanhante durante as refeies serviu como recompensa. Inicialmente,
sempre que Maria levantasse o garfo, em preparao para apanhar um pouco de comida, a acompanhante
conversaria rapidamente com ela. Em qualquer outra ocasio, a acompanhante se recusaria a dizer alguma coisa.
Depois que Maria passou a apanhar bocados de comida com frequncia, exigiu-se que levasse a comida boca,
antes de ser recompensada com alguns segundos de conversa. Quando esta resposta comeou a ocorrer com
uma freqncia razovel, a acompanhante conversaria com ela apenas depois que tivesse mastigado por algum
tempo; finalmente, a acompanhante conversaria com ela somente depois que tivesse apanhado um pouco de
comida, levado at a boca, mastigado e engolido. Alm da conversa, ela era recompensada com a permisso de
ouvir rdio, disco ou assistir televiso depois que a refeio tivesse terminado. Em qualquer ocasio que se
recusasse a comer, no lhe era permitido desfrutar dessas diverses. No incio, exigia-se apenas que comesse
um ou dois bocados de comida, mas com o tempo exigia-Se que comesse tudo o que estivesse no prato, antes de
ser recompensada com diverso.
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Algum tempo depois, se comesse toda a comida colocada no prato, Maria poderia escolher o alimento que
desejasse para a prxima refeio, convidar um ou mais pacientes para uma refeio conjunta ou comer no
refeitrio, junto de outros pacientes. Outras recompensas sociais foram, gradualmente, introduzidas: permisso
para andar em volta dos ptios do hospital com uma acompanhante, receber visitas de sua famlia e outras
pessoas. Diversas atividades, tais como receber cartas e ir ao cabeleireiro, tambm foram usadas como
recompensa. Aps trs meses de tratamento, Maria engordou sete quilos.
Quando voltou para a casa de seus pais, a famlia recebeu instrues no sentido de continuar dando
recompensas sociais, tais como elogio e ateno, quando ela comesse, e ignor-la quando no comesse durante
as refeies. Ao fim de um ano de tratamento na casa dos pais, ela estava pesando 44 quilos e era capaz de
participar de uma vida social e profissional relativamente normal e til.
CHUPAR O DEDO
O que podemos fazer para que as crianas deixem de chupar o dedo? Esta uma pergunta corriqueira. Uma
soluo cobrir as mos da criana com luvas ou coloc-las em tubos de papelo. Todavia, este mtodo como
cortar os dedos da criana para evitar que ela os chupe.
O princpio de recompensar um indivduo por no fazer alguma coisa - como Maria foi recompensada
inicialmente por no comer - foi aplicado no caso de Rogrio, um menino de 5 anos que, persistentemente,
chupava seu polegar. 2 Durante um perodo de vrios dias, Rogrio foi observado enquanto assistia a desenhos
animados. Seu polegar permanecia na boca durante
2. Esta parte baseia-se no trabalho "Laboratory control of thumbsucking by withdrawal and representation of
reinforcement", de D. M. Baer. Foi publicado no Journal o! lhe Experimental Analysis ofBehavior, 1962,5, 525-
528.
2
3
todo o tempo. Uma vez que Rogrio parecia gostar de ver desenhos animados, decidiu-se que a exibio de
desenhos seria usada como uma recompensa para seu comportamento de no chupar o polegar.
Rogrio sentava-se numa cadeira, em frente televiso, durante 45 minutos. Durante os primeiros minutos, os
desenhos animados eram mostrados continuamente, quer Rogrio chupasse ou no seu polegar. Na verdade, ele
chupou o dedo durante o tempo todo. A projeo foi ento interrompida e s se reiniciou quando Rogrio tirou
o polegar da boca. Depois que este procedimento foi repetido vrias vezes, Rogrio passou a chupar o dedo
apenas metade do tempo. Este experimento demonstra que, provavelmente, possvel fazer com que uma
criana reduza a freqncia de chupar o dedo, se for recompensada por no faz lo. Recuperao de uma
menina de uma instituiio para retardados No passado, muito pouco foi feito para treinar ou educar retardados.
-
Alguns anos atrs, todavia, mostrou-se que estes indivduos poderiam aprender e ser treinados com o uso de
tcnicas e mtodos especiais.
Seguindo essa iniciativa, um grupo de psiclogos comeou um programa de treino intensivo com Susana, uma
menina retardada que no conseguia construir uma sentena ou nomear objetos, mas era capaz de imitar
palavras ditas por outra pessoa. 3 Tinha uma extrema dificuldade para andar e era incapaz de realizar
movimentos com as mos, ainda que simples. Tentou-se submet-la a testes de inteligncia, mas ela possua to
poucas habilidades que seu teste de QI resultou em zero. Era intestvel. Os experimentadores, ento, iniciaram
um extenso programa, visando aumentar suas habilidades verbais e sua habilidade de discriminar e nomear
objetos. Ao mesmo tempo, foi treinada para participar de jogos e resolver quebra-cabeas.
Durante o treinamento de linguagem, recorreu-se ao uso freqente de doces como recompensa. O
experimentador articulava uma palavra e, se Susana repetisse a mesma palavra, era recompensada com um
pequeno pedao de doce e, algumas vezes, com um agrado na cabea, seguido da expresso "muito bem".
Depois de meses deste procedimento, ela era capaz de nomear objetos e, finalmente, expressar-se atravs de
sentenas curtas.
O treinamento de habilidades fsicas foi, tambm, extremamente importante. Uma vez que Susana tinha os
msculos da perna bem pouco desenvolvidos e uma coordenao motora muito pobre, as tentativas de andar de
bicicleta ou de praticar outras atividades fisicas no apresentavam nenhum prazer para ela; por causa disso, os
experimentadores
3. Esta parte baseia-se numa comunicao pessoal de T. Risley.
decidiram fazer com que sua participao nessas atividades valesse a pena, atravs do uso de doces como
recompensa. Fixaram uma bicicleta numa base, de forma que as rodas girassem se ela pedalasse. Nas fases
iniciais, eles recompensavam Susana apenas por sentar-se na bicicleta. Na fase seguinte, foi introduzido um
dispositivo que liberava doces, automaticamente, cada vez que fizesse as rodas da bicicleta darem cinco voltas
completas. Depois que isso foi conseguido, o nmero de voltas a ser dado pelas rodas foi aumentando
gradualmente, at o ponto em que as rodas tinham que girar muitas vezes antes que o doce fosse liberado. Ao
mesmo tempo, e progressivamente, a quantidade de presso na roda traseira foi ajustada, de modo a aumentar o
esforo necessrio para se pedalar. Depois de alguns meses com este treinamento, os msculos de Susana
tinham-se desenvolvido consideravelmente e ela passava horas pedalando a bicicleta e consumindo os doces,
com grande satisfao. Quando adquiriu coordenao e fora necessrias em suas pernas, a bicicleta foi retirada
de sua posio fixa e, atravs do uso de recompensas, ela foi ensinada a andar de bicicleta no ptio da
instituio. Quando Susana aprendeu a andar de bicicleta, as recompensas se tornaram desnecessrias e ela
passou a brincar horas a fio, como uma criana normal o faria, simplesmente pelo prazer e diverso de andar de
bicicleta.
-
Ao trmino de centenas de horas de treinamento com recompensas, Susana progrediu at o ponto de poder ser
testada com um teste padronizado de inteligncia. Seu quociente intelectual tinha subido o suficiente para
permitir que ela sasse da instituio e fosse colocada numa classe especial de um grupo escolar. H boas razes
para se acreditar que Susana ainda estaria naquela instituio se este treinamento no tivesse sido realizado.
Nos casos descritos acima, vimos como as recompensas desempenham um papel importante na produo de
mudanas desejadas no comportamento das pessoas. Mas nem todas as coisas ou acontecimentos no mundo so
recompensadores. Na verdade, algumas experincias so to dolorosas que fazemos tudo o que podemos para
evit-las. Os psiclogos tambm usam essas situaes aversivas a fim de produzir mudanas no
comportamento; embora desagradveis para a pessoa que a elas se submete, as situaes aversivas podem ser
usadas, com moderao, para contribuir para sua sade geral, comportamental e fisica. Os casos seguintes
demonstram o uso de situaes levemente desagradveis, com a finalidade de se obterem modificaes de
comportamento.
PUNIO DE COMPORTAMENTO DE AUTOMUTILAO
dificil entender por que persiste a automutilao, principalmente porque suas conseqncias so, com
freqncia, extremamente dolorosas e prejudiciais ao indivduo. As observaes referentes a crianas psicticas
nos do uma razo plausvel para isso: elas se machucam simplesmente para conseguir ateno. A criana
psictica, em geral, vem de uma famlia que est preocupada com outras coisas e tem pouco tempo a gastar com
ela. Todavia, se uma criana cair por acidente, os pais provavelmente correro para peg-la nos braos, dando-
lhe assim mais ateno do que receberia em outras circunstncias. Uma vez que foi recompensada por cair, ela
pode cair outra vez. Depois que isto acontecer algumas vezes, a famlia pode voltar a ignorar a criana at o dia
em que ela, ao cair, bata a cabea. Novamente os pais podero correr para cobri- la com amor e ateno e ento,
gradualmente, ignor-la como antes. Eventualmente, a criana pode bater a cabea com tal fora que se
machuque e, novamente, receba a ateno dos pais. A criana pode continuar se machucando indefinidamente,
na medida em que for recompensada por isso com a ateno dos pais.
Processos semelhantes a este provavelmente ocorrem com a maior parte das crianas, mas tm efeito pouco
duradouro e no se desenvolvem a ponto de se tornarem, verdadeiramente, um comportamento de mutilao.
Quando o comportamento autodestrutivo chega a se desenvolver, em geral a criana colocada sob restrio
fsica num hospital.
Ricardinho era um bonito menino de 9 anos, cujo aspecto era prejudicado por vrias manchas e arranhes no
rosto e na cabea. Quando o psiclogo viu Ricardinho pela primeira vez, ele estava num pavilho do hospital de
uma instituio para retardados mentais, onde tinha sido colocado por causa de uma sria concusso, resultante
de batidas da cabea contra um cho de concreto. Este comportamento autodestrutivo iniciou-se muito cedo na
vida de Ricardinho e se transformou em ameaa sua integridade fsica. Ele tinha que ser supervisionado
-
constantemente, e no havia outro recurso seno amarr-lo ou restringir suas atividades a um bero, o que
impediu o desenvolvimento de muitas habilidades normais.
Era de se esperar que a dor, sentida cada vez que batesse a cabea, servisse para puni-lo e tornar menos
provvel que repetisse este comportamento autodestrutivo. Todavia, ele provavelmente desenvolveu esta
resposta de dar cabeadas de maneira gradual, durante um longo perodo. Assim, Ricardinho possivelmente
acostumou-se dor resultante das cabeadas: por conseguinte, a dor no era um agente punitivo muito eficiente.
Uma vez que a punio recebida por Ricardinho era sempre de um certo tipo, o psiclogo imaginou que se um
novo tipo de punio pudesse ser introduzido quando ele comeasse a bater a cabea, isto poderia servir para
suprimir ou diminuir a freqncia de suas cabeadas. Ricardinho foi levado a um quarto especial, revestido com
um acolchoado para evitar que se machucasse severamente, e permitiu-se que desse tantas cabeadas quantas
quisesse. Durante uma hora, ele deu 1.4.40 cabeadas. Em seguida a este perodo de registro, pequenos fios
foram ligados sua perna, de forma que recebesse um leve choque, cada vez que desse uma pancada com a
cabea. Na primeira vez que bateu a cabea e recebeu um choque, Ricardinho parou abruptamente e olhou em
volta da sala, com ar de espanto. Ficou trs minutos sem dar cabeadas e depois bateu trs vezes com a cabea
no cho, em sucesso rpida, recebendo um choque suave aps cada uma. Novamente parou com as cabeadas,
por trs minutos. Ao fim deste tempo, bateu uma Vez mais com a cabea no cho, recebeu um choque e no deu
cabeada at o fim da sesso de uma hora. Em sesses subseqentes, depois que um choque inicial era dado
logo na primeira vez que batesse com a cabea, ele abandonava este comportamento. Em pouco tenpo, as
cabeadas tinham cessado completamente e o acolchoado foi removido da sala. Mais tarde, conseguiu-se evitar
que desse pancadas com a cabea em outras reas do pavilho.
Atualmente Ricardinho no precisa mais ser amarrado ou confinado, e no foi visto dando cabeadas desde que
o tratamento foi encerrado; conseqentemente, neste caso a punio foi uma tcnica muito eficiente na
eliminao de comportamento indesejvel.
O psiclogo que estava trabalhando com Ricardinho ressaltou que o choque usado era muito suave e,
comparado com o dano e possvel perigo envolvido nas cabeadas dadas por ele, certamente justificado.
Um experimento com animais acerca dos efeitos de recompensas e punies no estudo precedente, vimos como
os processos de recompensa e punio podem funcionar em direes opostas. Imaginou-se que as cabeadas de
Ricardinho estavam ocorrendo porque eram seguidas de ateno, ainda que em quantidade relativamente
pequena. Imaginou-se tambm que a dor forte, que normalmente resulta das cabeadas, no era uma punio
muito eficiente porque sua intensidade tinha sido aumentada muito gradualmente. Isto pode parecer uma
adivinhao s cegas e, por causa disto, importante que estas noes sejam testadas com um experimento em
laboratrio. O problema o seguinte: continuar um indivduo a responder quando sua resposta
ocasionalmente seguida por uma pequena recompensa e sempre seguida por uma forte punio? Se formos
capazes de demonstr-lo em laboratrio, ento teremos maior confiana em nossa anlise quanto ao problema
de Ricardinho.
-
Ns no usaramos seres humanos em tal expeTimento por causa da dor envolvida; conseqentemente, usaram-
se animais como sujeitos. Pesquisas anteriores tm mostrado que, praticamente, todos os resulta-
6
7
dos da experimentao com animais so to vlidos para os seres humanos quanto para os animais. Neste
experimento, usaram-se pombos como sujeitos. O experimento foi conduzido pelo Dr. Nathan Azrin no
Hospital Estadual Anna, de Illinois. 5 Se tivssemos entrado no laboratrio do Dr. Azrin alguns anos atrs,
poderamos ter visto um pombo, dentro de uma caixa, bicando um pequeno disco. Em algumas das ocasies, ao
bicar o crculo, o pombo batia as asas, contorcia-se violentamente e quase caa. Observando mais de perto,
teramos notado um par de fios conectados ao pombo. Atravs destes fios, ele recebia um breve, mas intenso
choque cada vez que bicava o disco. O choque era to forte que quase derrubava o animal. Apesar disto, o
pssaro continuava bicando o crculo e recebendo choques. Por que o animal bicava o disco, se estava sendo
punido por isto e, de qualquer forma, por que o animal bicaria o disco, mesmo se no estivesse sendo punido?
Eventtialmente notaramos que, algumas vezes, quando o animal bicava o crculo, um alimentador, ativado
mediante um sistema eltrico, fornecia comida ao pombo. Em outras palavras, ocasionalmente o pssaro recebia
uma pequena recompensa por bicar o disco e, a despeito de estar recebendo um forte choque, ele continuava
bicando.
A resposta ao nosso problema experimental que possvel conseguir que um organismo aceite uma
quantidade tremenda de punio cada vez que responde, muito embora receba apenas ocasionalmente uma
pequena recompensa. Isto corresponde nossa suspeita de que Ricardinho estava dando cabeadas em virtude
da pequena recompensa social que recebia. Alm disso, a nica forma de conseguir que um pombo responda,
apesar de hoques de intensidade to alta, aumentar sua intensidade gradualmente. Se primeiramente o
pombo tivesse sido treinado a responder recebendo apenas recompensas e, a seguir, ns quisssemos introduzir
abruptamente o choque de intensidade alta, o animal teria, imediatamente, parado de responder. Isto corrobora a
nossa noo de que Ricardinho era capaz de suportar pancadas to violentas porque a fora das cabeadas s
havia sido aumentada gradualmente.
TRATAMENTOS PARA UM ATAQUE DE ESPIRROS
Espirrar uma atividade extremamente violenta, envolvendo todo o corpo de uma pessoa; se prolongada pode
ser cansativa, penosa e possivelmente de grande perigo para o indivduo.
Uma jovem de dezessete anos foi internada no hospital para um exame geral. 6 Enquanto permanecia no
hospital, trabalhadores esta-
5. Esta parte baseia-se no trabalho de N. H. Azrin, "Punishment and recovery during fixedratio performance",
publicado no Journal ofthe Experimental A nairsis o! Beha'.'ior, 1959, 2, 301-305.
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6. Esta parte baseia-se no artigo de M. Kushner "Faradic aversive controls in clinical practice", publicado no
livro de C. Neuringer ei. L. Michael (Eds.), Behavior Modification in Clinical Psychology, Appleton-Century-
Crofts, 1968, New lork.
vam pintando uma rea adjacente ao su quarto. O cheiro da tinta fez com que ela espirrasse violentamente
vrias vezes. No dia seguinte, depois de ter completado os exames, ao voltar para casa, ela comeou a espirrar
com bastante freqncia. A princpio, nem seus pais nem seu mdico se preocuparam com os espirros, porque
no raro uma pessoa espirrar por vrias horas como resultado de uma irritao secundria Os espirros
continuaram por vrios dias, sendo que o intervalo entre eles variava de alguns minutos a poucos segundos.
Seus pais comearam a se alarmar e levaram-na para o hospital a fim de que os espirros pudessem ser
controlados. Especialistas em alergia e outros foram consultados, mas sem resultado. Os espirros continuavam.
Ao fim de seis meses, a jovem ainda estava espirrando com uma freqncia muito alta, embora
aproximadamente uma centena de especialistas tivesse sido consultada. Os recursos tentados envolveram
hipnose, farmacoterapia, pequenas cirurgias, incluindo enxerto nas narinas e cavidades bucais, psiquiatria e uso
prolongado de aerossis e preparados contendo anti-histamnicos. Deve-se salientar que um mdico administrou
uma droga sonfera que a fez dormir por vrios dias e que, durante o sono, ela no espirrou, mas assim que foi
despertada os espirros recomearam.
A esta altura, um grupo de psiclogos de um hospital prximo foi chamado para cuidar do caso. Basearam seus
procedimentos na suposio de que, embora os espirros tivessem causado muitas horas de desconforto jovem,
algum aspecto destes espirros era recompensador. Alm de fornecer um alivio momentneo para a irritao, os
espirros garantiam jovem mais ateno do que ela jamais tinha recebido em sua vida. Possivelmente, a
teno era uma recompensa suficiente para fazer com que os espirros continuassem. Os psiclogos penduraram
um microfone especial no pescoo da jovem. Embora pudesse falar ou rir normalmente, quando ela espirrava o
prprio espirro captado pelo microfone ligava um dispositivo, fazendo com que recebesse um leve choque no
antebrao. O choque comeava assim que ela espirrava, mas durava meio segundo mais do que o espirro. Em
poucas horas os espirros tornaram-se menos freqentes e, seis horas mais tarde, tinham parado completamente.
Sem levar em conta a ocasio em que ela estivera dopada, esta foi a primeira vez, em seis meses, que a jovem
tinha conseguido passar um dia e uma noite inteiros sem dar um nico espirro. Dois dias depois, recebeu alta do
hospital e, com subseqentes aplicaes de choques ocasionais, os espirros permaneceram sob controle.
Algum poderia argumentar que a cura talvez no devesse ser atribuida ao procedimento usado, uma vez que os
espirros, por siss, j eram, com muita probabilidade, suficientemente desagradveis, mesmo antes de se
acrescentar o choque. Todavia, o incmodo usualmente associado ao espirrar no estava diretamente ligado ao
espirro como tal, mas ocorria algum tempo depois deste. Conseqentemente, atravs do
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-
emparelhamento direto do choque com o espirro, conseguia-se uma punio mais eficaz.
Os meses de extremo desconforto, o nmero abundante de medicamentos e as horas de tratamento doloroso e
inconveniente que a jovem havia recebido tinham terminado, atravs da aplicao racional de alguns choques
eltricos breves e suaves. O tempo total durante o qual a adolescente recebeu o choque na totalidade do
tratamento no chegou a trs minutos.
CONTROLE DO CHORO E BIRRA POR REMOO DA ATENO
Por uma razo ou por outra, todas as crianas choram. Em geral o chorar est associado a uma batida, um corte
ou certos tipos de contato fsico com o ambiente. Algumas crianas parecem chorar e reclamar horas a fio sem
uma boa razo para isto, incomodando e angustiando aqueles que a cercam. Tais crianas conseguem receber
mais ateno de seus professores, pais e outros indivduos.
O corpo docente de uma escola maternal estava preocupado com o choro e birra constantes de Guilherme, um
menino de quatro anos de idade, que freqentava as sesses matinais da escola maternal. Guilherme foi
observado vrias manhs e a quantidade dos episdios de choro foi registrada. Em mdia, oito episdios
ocorreram em cada manh. Durante o perodo de observao, descobriu-se tambm que o choro e as birras de
Guilherme, quase que imediatamente, resultavam em ateno por parte dos professores que corriam para
confort-lo e adullo, at que ele parasse de chorar.
Os professores da escola consultaram o Dr. Montrose Wolfe e planejaram para Guilherme um programa de
modificao de comportamento. Sups-se que Guilherme persistia no choro porque, na verdade, as suas cenas
de birra estavam sendo recompensadas com a ateno imediata por parte do professor da escola, que esbanjava
gentilezas e carinhos com Guilherme.
O programa adotado pelo grupo consistia, simplesmente, em ignor-lo sempre que comeasse a chorar sem
motivo. Ele ainda recebia ateno e afeio por parte do professor, mas nunca quando estava chorando.
Esse procedimento durou dez dias, e nesse perodo o nmero de episdios de choro caiu quase para zero.
Durante os ltimos cinco dias do tratamento, ele chorou apenas uma vez. Guilherme deixou de ser considerado
uma criana-problema, graas eficcia da simples tcnica de remoo da recompensa que se supunha estar
mantendo a seqncia do seu comportamento.
RESUMO
Neste captulo, vimos como vrios problemas de comportamento, aparentemente diferentes - inanio, chupar o
dedo, retardamento mental, auto mutilao, espirrar e chorar, foram reduzidos, atravs de tcnicas
comportamentais relativamente simples, mas eficazes. Nos casos relatados, certos elementos estavam sempre
presentes, e vamos resumi- los:
-
1. Em todos os exemplos, colocou-se nfase no que o indivduo estava efetivamente fazendo. Os psiclogos que
tentavam produzir mudanas no comportamento dos indivduos no gastaram horas em discusses, teorizando
ou especulando sobre o que o paciente deveria estar pensando ou sentindo, mas sim na observao do paciente e
registrando o que ele fazia e o que ocorria como resultado de suas aes.
2. As recompensas desempenharam um papel significativo nas iniciativas tomadas para produzir mudanas nos
indivduos: Maria comeou a comer, quando este seu ato comeou a ser recompensado com conversas e a
oportunidade de assistir televiso. O choro e a birra de Guilherme pararam quando estes comportamentos
deixaram de produrir ateno, como at ento ocorria. O comportamento de Rogrio, chupar o dedo, diminuiu
bastante, quando isso interrompia a projeo de desenhos animados.
3. Um aconteimento desagradvel, um choque eltrico suave, ps termo ao ataque de espirros e
autodestruio. Em ambos os casos, o choque era produzido imediata e regularmente por estes comportamentos.
4. Em todos os casos apresentados, a recompensa, a remoo da recompensa ou a apresentao de um choque
desagradvel ocorreram imediatamente depois da ao ou comportamento do paciente; em vista. disto, pode-se
dizer que as prprias aes que produziram a punio ou a recompensa. Uma vez que os psiclogos
envolvidos foram bem- sucedidos aolidar dessa maneira com tais comportamentos, pode-se tirar uma
generalizao desses exemplos: as aes das pessoas, em muitos casos, cessam ou se repetem em conseqncia
dos efeitos que elas produzem sobre o indivduo. Dito de uma forma mais sinttica, o comportamento
controlado por suas conseqncias.
Os quatro pontos apresentados acima so de importncia capital no estudo de como e por que os organismos
agem da forma que agem. Tais noes aparecero muitas outras vezes, em diversos contextos e de formas
variadas, no decorrer dos demais captulos deste livro.
A prxima seo contm uma lista de questes planejadas para ajud-lo a rever este captulo. Voc no gastar
mais do que uns poucos minutos para responder a elas e recomendamos insistentemente que O faa agora.
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Ver que capaz de responder a quase todas as questes. Se houver dificuldade em responder a alguma
pergunta, ser fcil voltar ao texto e descobrir o que pedido. No precisa se preocupar em responder por
escrito. possvel, tambm, que isto se torne uma forma til de rever o captulo, antes de um teste ou exame,
uma vez que provavelmente a maior parte dos pontos contidos em testes ou exames estaro tambm includos
nesta lista de perguntas.
Questes de estudo
-
1. Entre as idades de II e 18 anos, Maria pesava aproximadamente:
a) 18 quilos
b) 36 quilos
e) 60 quilos
d) 72 quilos
2. Descreva em poucas palavras as condies nas quais Maria vivia nos seus primeiros meses de casada.
3. O que o mdico recomendou que Maria fizesse, se ela perdesse mais peso?
4. Qual era a recompensa que Maria estava obtendo por comer pouco?
5. Maria estava conscientemente tentando perder peso?
6. Recompensas e punies so praticamente sem importncia na vida cotidiana de pessoas normais.
a) Verdadeiro
b) Falso
7. Quando Maria voltou para a casa dos pais. ela parou imediatamentede perder peso?
8. Qual a relao entre comer e receber ateno?
9. Que explicao foi proposta para o fato de Maria continuar a comer pouco, quando ela voltou para a casa
dos pais?
lO. Dos 18 aos 37 anos o peso de Maria caiu de 60 para:
a) 53 quilos
b) 24 quilos
e) 49 quilos
d) SI quilos
II. No tratamento realizado com Maria, no hospital, a conversa com a acompanhante no jantar servia como:
a) Punio
b) Recompensa
c) Bate-papo antes que a refeio fosse servida
-
d) Uma influncia perturbadora que interferia com o comer
12. Descreva os vrios estgios no processo empregado para conseguir que Maria engolisse comida,
comeando com o simples levantar do seu garfo, em preparao para apanhar um bocado de comida.
13. Descreva as mudanas que deveriam ocorrer no comportamento de Maria antes que ela pudesse ser
reompensada com a oportunidade de ouvir rdio, toca-discos ou assistir televiso.
14. Quando Maria voltou para a casa dos pais, quais foram as instrues dadas sua famlia?
15. Os autores defendem o uso de tubos de papelo nas mos de uma criana, para evitar que ela chupe os
dedos.
a) Verdadeiro
b) Falso
16. Antes que o psiclogo comeasse a trabalhar, aproximadamente quanto tempo Rogrio passava chupando o
dedo, enquanto assistia a desenhos animados?
17. Qual era a recompensa recebida por Rogrio quando no chupava o polegar?
18. Inicialmente, o QI de Susana era:
a) O
b) lO
c) 20
d) 40
e) 80
19. Descreva as habilidades verbais iniciais que Susana possua.
20. Descreva, em poucas palavras, o procedimento para treino de linguagem.
21. Quais eram as recompensas?
22. Que habilidades de linguagem ela passou a ter depois do treinamento?
23. Em geral, o treinamento de Susana era baseado em:
a) Recompensas
b) Punies
-
e) Uma combinao de recompensas e punies
d) Nenhuma das afirmaes acima
24. Que atividade especfica foi usada para ensinar habilidades fsicas a Susana?
25. Descreva, resumidamente, a seqncia de estgios usada para ensinar Susana a andar de bicicleta.
26. Foi possvel eliminar o uso de doce como recompensa para que ela andasse de bicicleta?
27. Ao fim do tratamento, que aconteceu a Susana?
28. Qual era o problema comportamental de Ricardinho?
29. Especificamente, qual era sua resposta automutiladora?
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30. Unia das caractersticas da criana psictica que sua famlia est, em' geral, preocupada com outras
coisas e tem pouco tempo para despender com ela.
a) Verdadeiro
b) Falso
31. Descreva, sucintamente, como a automutilao pode se desenvolver numa criana.
32. Indique a provvel recompensa para tal comportamento.
33. Por que a dor que se seguia s cabeadas no era um agente punitivo muito eficiente?
34. Especulou-Se, que, se um novo tipo de punio pudesse ser programado para ocorrer quando Ricardinho
comeasse a dar cabeadas, seria possvel us-lo para suprimir ou diminuir a sua frequncia de dar
cabeadas.
a) Verdadeiro
b) Falso
35. Antes que o tratamento comeasse, quantas vezes Ricardinho batia a cabea, durante o perodo de uma
hora?
a) 14
b) 144
-
1440
d) 14.400
36. Que punio especfica era usada pelo psiclogo quando ele dava cabeadas?
37. No primeiro dia em que o choque foi usado como punio, aproximadamente quantas vezes ele bateu com a
cabea?
a) 5
b) 50
c)500
d) 5.000
38. Os psiclogos foram capazes de eliminar as cabeadas de Ricardinho no quarto especial, mas no quando
ele foi colocado de volta no pavilho.
a) Verdadeiro
b) Falso
39. Que espcie de animal foi usada no experimento relatado.
40. Que problema o experimento tentava responder?
41. Como esse problema se relaciona com o de Ricardinho?
42. Por que foi usado um animal nesta pesquisa ao invs de um ser humano?
43. Os resultados da maior parte dos experimentos psicolgicos que empregam animais so aplicveis a seres
humanos?
44. No experimento com o pombo, que resposta estava sendo recompensada?
45. Qual era a recompensa?
46. Qual era a punio?
47. Como se pode fazer com que um animal suporte uma violenta puniAo. se ele recebe apenas uma
recompensa pequena e espordica?
48. O que teria acontecido se o pombo primeiramentetivessesido treinado a dar resposta recebendo apenas
recompensas e, depois, tivssemos introduzido, abruptamente, um choque de alta intensidade?
-
49. Aproximadamente, quantos especialistas foram consultados sobre os espirros da jovem?
50. Quais eram as duas reocmpensas poss(veis para o fato de ela espirrar?
51. Descreva, em poucas palavras, o procedimento usado para eliminar os espirros.
52. De maneira aproximada, quantos dias de tratamento foram necessrios para eliminar os espirros?
53. Aproximadamente, qual foi a durao total dos choques que a paciente recebeu durante o
condicionamento?
a) 3 segundos
b) 3 minutos
c) 3 horas
d) 30 horas
54. Antes de comear o tratamento, qual era a atitude habitual dos professores quando Guilherme tinha uma
crise de birra?
55. Voc diria que suas crises de birra estavam sendo recompensadas ou punidas?
56. Depois que o tratamento foi iniciado, qual er a atitude dos professores quando Guilherme fazia birra?
57. Quano tempo durou o procedimento?
a) 1 dia
b) lO dias
c) 100 dias
d) 1 ano
58. O procedimento para eliminar o comportamento de chorar foi eficaz?
59. Em todos os estudos relatados, os psiclogos gastaram muitas horas teorizando e especulando sobre o que
o paciente devia estar pensando ou sentindo, antes de tentar qualquer terapia.
a) Verdadeiro
b) Falso
60. Quais foram os trs procedimentos bsicos usados para modificar o comportamento, nos estudos
precedentes?
-
61. Que comportamentos especficos foram modificados pelo uso de recompensas?
62. Que comportamentos foram modifiados pela remoo de recompensas?
60. Que comportamentos foram modificados pela apresentao de choque desagradvel?
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64. Qual a generalizao psicolgica mais importante que pode ser tirada desses estudos?
65. D um exemplo de sua vida cotidiana no qual o comportamento tenha sido controlado por recompensas.
66. Exemplifique como o comportamento poderia ser modificado pela remoo de recompensas.
67. D um exemplo no qual o comportamento possa ser modificado pelo uso de punio.
Para a maioria das pessoas as Questesde Estudo concluiro a parte formal do capitulo. Todavia, alguns de
vocs talvez possam considerar til a leitura da prxima seo, intitulada "Comentrios", e que estar presente
ao final de cada captulo. Detalhes no includos no texto principal sero apresentados nesta seo, bem como,
algumas vezes, tpicos que so um pouco avanados para serem includos na parte regular do captulo ou at
mesmo muito especulativos. De qualquer forma, esta seo incluir tens que ns, pessoalmente, consideramos
interessantes. Muitos podero decidir no leressas pginas extras; todavia, para aqueles que no tm uma
melhor forma de aproveitar o tempo, ns desejamos um bom proveito.
COMENTRIOS
CAUSAS PSICOLGICAS DA INANIO
At aqui, evitamos o uso de termos tcnicos. Todavia, em geral no h termos cotidianos que correspondem
exatamente aos termos tcnicos; se eles fossem equivalentes, no haveria necessidade de desenvolver um
vocabulrio tcnico. A palavra recompensa foi usada em lugar do termo tcnico reforamenlo. Uma recompensa
alguma coisa que d prazer ou sal isfaio. Infelizmente, os lermos prazer.e sal isfao no podem ser
claramente definidos. Para descobrir se alguma coisa recompensadora poder-se-ia perguntar pessoa
envolvida se isso agradvel e satisfatrio. No passado, tentou-se construir uma cincia da Psicologia atravs
de perguntas desse tipo, feitas aos sujeitos. Infelizmente, os resultados obtidos desta maneira no eram
fidedignos, alm de serem difceis de interpretar. Por exemplo, se uma pessoa diz que alguma coisa
"satisfatria" e outra diz que no , ficamos sem saber se os indivduos esto sendo afetados diferentemente; se
eles querem dizer coisas ligeiramente diferentes com a palavra "satisfatria"; ou, mesmo, se um deles est
mentindo. Outra dificuldade encontrada, quando se confia no relato verbal do indivduo, que no podemos
usar esta tcnica no experimento com animais. Esperamos que as leis da Biologia se apliquem aos animais tanto
-
quanto ao homem. Da mesma forma, cientificamente desejvel que as leis do comportamento se apliquem aos
animais tanto quanto ao homem. Poi estas razes, os psiclogos desenvolveram outras tcnicas para obter
dados.
Vimos que as noes de prazer e satisfao, no sentido de significarem recompensa. no so cientificamente
aceitveis para a Psicologia; todavia, a recompensa pode tambm ser definida como algo que dado por um
trabalho bem feito. este significado de recompensa que o psiclogo mantm no termo reforamenlo. Um
reforador dado depois que uma resposta, ou seqncia de respostas, completada. Todavia, a fim de que
alguma coisa seja qualificada como um reforador, ela precisa ter um efeito de reforo ou fortalecimento. Um
reforador vem em seguida a uma resposta e torna mais provvel que a resposta ocorra novamente, no futuro.
Essa definio de reforador nada diz sobre por que um estimulo age como reforador; ela nada diz sobre
satisfao ou prazer; ela simplesmente diz o que um reforador.
Tem-se sugerido que a noo de reforamento no til porque a sua aplicao sempre envolve um raciocnio
circular. Por exemplo, a resposta questo: "Por que a criana est
sempre chorando" poderia ser "Ela chora porque quando o faz reforada com a ateno de seus pais". Para a
pergunta: "Como voc sabe que a ateno dos pais est reforando o choro?" uma resposta circular errnea
sena: "Eu sei que a ateno est agindo como reforador porque a criana est sempre chorando". A
circularidade deste raciocfnio reside no fato de a noo de reforamento estar sendo empregada para explicar o
choro da criana, co choro da criana ser usado como prova deque um reforamento t envolvido. Uma
resposta mais apropriada ltima questo seria: "A ateno age como reforador porque, quando os pais
prestam ateno aos filhos por chorarem, as crianas gastam mais tempo chorando do que quando os pais no
do ateno para tal comportamento". A forma de determinar se um estmulo est agindo como um reforador
simplesmente experimentando e vendo seus efeitos. Se a resposta ocorrer mais freqtlentementequando for
seguida pelo estimulo do que quando no o for, ento, por definio, o estimulo reforador
A terapia utilizada com Maria se baseava na noo de que, atravs de reforamentos sucessivos de respostas
cada vez mais semelhantes resposta desejada, um individuo pode ser dirigido para a resposta pretendida. Este
mtodo conhecido como de aproximades sucessivas, e ser discutido com detalhes em captulos posteriores.
COMPORTAMENTO DE CHUPAR O DEDO
No estudo do comportamento de chupar o polegar, a relao entre o trmino dos desenhos animados e a
resposta de chupar o dedo tinha que ser estabelecida. Quando a projeo dos desenhos animados era
interrompidas o menino tirava o polegar da boca. Os experimentadores supuseram que esta resposta fosse
devida ao efeito punitivo do trmino dos desenhos animados; todavia, a criana poderia sifliplesmente estar
zangada e aborrecida pelo fato de os desenhos terem cessado e, por causa disto, ter tirado seu polegar da boca.
A fim de estabelecera relao entre estes dois acontecimentos, a criana foi submetida a perodos com projeo
de desenhos animados alternados com outros sem projeo. A projeo ou no dos desenhos era independente
-
do fato de a criana estar chupando o dedo. Este procedimento-controle no afetou a freqncia de chupar o
dedo. Mais tarde, quando o trmino da projeo tornou-se contingente ao comportamento de chupar o dedo,
observou-se uma reduo, o que ressalta um aspecto importante da aprendizagem. Para que um comportamento,
de uma pessoa possa ser afetado por recompensa ou punio, a recompensa ou punio deve estar intimamente
relacionada com a resposta, numa seqncia temporal.
O estudo sobre o comportamento de chupar o dedo um exemplo da relao entre reforamento positiyo e
punio. O sujeito foi reforado por no chupar o dedo atravs da apresentao de desenhos animados ou, ao
contrrio, ele era punido por chupar seu polegar pela remoo dos desenhos animados. Noutros experimentos,
esta relao recproca pode ser menos clara, mas em quase todos os casos os procedimentos podem ser vistos
tanto como reforamento positivo quanto como punio. Este estudo difere da maior parte dos experimentos de
laboratrio com animais. Por exemplo, quando um pombo est bicando uma 'chave para obter comida, cada
bicada na chave uma resposta de curta durao, discreta e temporalmente circunscrita. Chupar o dedo, por
Outro lado, uma resposta de maior durao - a cnana pode manter o dedo na boca durante horas. Da mesma
forma, o reforamento sob forma de comida, para o pombo, est presente apenas por alguns segundos e ento
removido. O reforamento sob forma de desenhos animados, no experimento sobre chupar o dedo, tinha uma
longa durao. A natureza discreta da resposta usual e do reforamento pode explicar a dificuldade em ver a
relao recproca entre punio e reforamento na maior parte dos experimentos com animais.
Pimiio de um comportameto o de automutilao
Enfatizou-se que um padro de comportamento, semeinan, em muitos aspectos ao demonstrado por
Ricardinjio, poderia sei' obtido experimentalmente com um pombo, em laboratrio. Ricajdinho continuava a dar
cabeadas, embora tivesse dor e dano fsico, por causa do aspecto recompensador do contato e da ateno social
que recebia. O pombo
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bicava um disco que descarregava um choque imediato nele mesmo, mas que, eventual- mente, fornecia
recompensa sob forma de comida. Ele continuava bicando e suportava a dor, por uma pequena quantidade de
reforamento. Se o pombo fosse mantido neste esquema durante vrios anos, um mdico inexperiente, que no
estivesse a par de sua histria e de como ele se tornou to patolgico, poderia cuidar do pombo da mesma forma
que Ricardinho foi tratado. Um tipo diferente de punio poderia ser aplicado em cada bicada no disco. A nova
punio poderia ser um golpe fisico, talvez dado com um pequeno martelo. Sob estas condies, seria provvel
que a frequncia de bicar o disco decrescesse da mesma forma que as cabeadas de Ricardinho diminuiram.
TRATAMENTO PARA UM ATAQUE DE ESPIRROS
-
interessante que o espirro, cuja natureza considerada reflexa e escapa ao controle voluntrio do indivduo,
possa ser modificado ou suprimido atravs de punio contingente. O condicionamento aversivo est sendo
aplicado em problemas similares, com grande sucesso.
CONTROLE DO CHORO E BIRRA PELA REMOO DE ATENO
O choro considerado como operante ou respondente. O choro respondente aquek que surge como
consequncia direta e bvia do dano fsico, que ocorre imediatamenu depois do dano, e no depende da
presena de outras pessoas ou circunstncias particulares O choro operante, por outro lado, no est
primariamente associado ao'dano e s ocorn quando outras pessoas esto presentes. Frequentemente a criana
olhar em volta para assegurar-se da presena de outros, antes que comece a chorar. A ocorrncia de ambas a
espcies de choro pode ser modificada atravs de contingncias adequadas; todavia, o tipc operante de choro
mais imediatamente passvel de controle
No tratamento de Guilherme, os psiclogos no concluram o experimento no pontc indicado no texto. Embora
apenas um episdio de choro tivesse ocorrido no ltimo perod de cinco dias, permaneciam ainda algumas
dviaas em torno da remoo de ateno com sua causa. Era concebvel que os acontecimentos no lar, uma
mudana nas condies fsica dacriana ou outras variaveis no identificadas coincidissem com a remoo de
ateno pudessem ser a causa real da diminuio do comportamento de choro. A fim de demonstra que a
manipulao da ateno era a varivel pertinente, inverteu-se o procedimento, reins talando-se as condies
originais observadas antes que o experimento fosse iniciado. Isto cada episdio de choro ou birra era
reforado com ateno imediata. Como consequncia a frequncia de chorar aumentou dramaticatnente e
aumentou drasticamente at os nvei anteriores, demonstrando que a remoo de ateno era o fator crtico;
quando a ateni foi mais uma vez removida, o choro diminuiu novamente para uma frequncia prxima de
zero e permaneceu neste nveL
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2. CONDICIONAMENTO
Em uma das histrias de J. D. Salinger, pergunta-se a uma criana- gnio, chamada Teo, se amava seus pais.
Teo pensou seriamente. - Voc sabe o que a palavra "afinidade" significa? - perguntou, voltando-se para
Nicolau.
- Tenho uma vaga idia - disse Nicolau, secamente.
- Tenho uma grande afinidade com eles. So meus pais, quero dizer.., e todos somos parte da harmonia e tudo o
mais de cada um - disse o menino
-
Como Teo, a maioria de ns incapaz de dicotomizar, claramente, nossas relaes com o mundo em um
sistema gosto/ no gosto. O fato de nos mantermos em muitos tipos de atividades , provavelmente, mais
importante do que como nos sentimos a respeito delas. A questo primordial por que e como nosso
comportamento se mantm dia aps dia, e sob que condies abandonamos algumas atividades que tnhamos e
comeamos outras novas.
No estudo da Psicolgia, anos de observao e experimentao nos tm levado a acreditar que fator
determinante no comportamento de uma pessoa aquilo que vem aps o comportamento. Se o comportamento
produz uma recompensa para a pessoa, ser mantido e aumentar em freqncia.
Ao analisar comportamento, no entanto, o termo recompensa no mais usado, pois um objeto, privilgio ou
presente oferecido como uma "recompensa" por aquele que d podem no ser vistos da mesma maneira por
aquele que recebe. Por exemplo, um explorador que estava visitando uma tribo de indgenas tornou-se um heri
local quando salvou o filho do cacique de morte certa por afogamento. Nem preciso dizer que o cacique estava
agradecido ao explorador e procurou recompens-lo por seu comportamento, oferecendo-lhe o mais fino
presente que pde imaginar: uma indgena extremamente gorda e tola, que era a sua esposa favorita. Quando o
explorador viu a "recompensa", seu corao quase parou; fez, imediatamente, um solene juramento para si
mesmo: de nunca mais voltar a desempenhar o papel de heri.
A fim de evitar a diferena de opinio - entre aquele que d e aquele
que recebe sobre o que constitui uma recompensa, os psiclogos usam
1 Baseado em Salinger, J. D., Nine Siories. Boston: Little Brown and Company, 1953, p. 285.
19
o termo reforo positivo. A coisa que dada chamada reforador e pode ser, por exemplo, um tablete de
chocolate, uma nota de Cr$ 50,00 ou uma entrada para o teatro. Para uma determinada pessoa, no entanto, pode
ser que nenhuma destas coisas seja um reforador. Aquilo que dado reforador positivo se, e apenas se,
aumentar a freqncia de uma resposta ou ato comportamental ao qual se seguiu. No exemplo acima, a
recompensa do cacique no foi um reforador positivo, pois no tendeu a fortalecer ou aumentar a freqncia do
comportamento herico do explorador. Na verdade, "as respostas de heri" do explorador tornaram-se menos
provveis de ocorrer do que antes da "recompensa" ter sido dada.
O USO DE REFORAMENTO POSITIVO EM RETARDAMENTO MENTAL
Hoje, reforamento positivo a tcnica mais eficaz no tratamento e treinamento de retardados.2 Um indcio da
recentidade da Psicologia como cincia o fato de o primeiro estudo importante sobre a eficcia do uso do
reforo positivo na modificao do comportamento de pessoa com severo retardo mental ter sido feito por volta
de 1949. Foi realizado pelo Dr. Paul Fuiler com um rapaz de 18 anos de idade, conhecido nos pronturios da
-
instituio como "idiota vegetativo". O rapaz permanecia constantemente deitado de costas e era incapaz de se
virar na cama. Podia abrir a boca, piscar os olhos, mover os braos e, de uma maneira extremamente limitada,
mexer a cabea e os ombros. Seu tronco e pernas eram inteiramente imveis. Nunca se tinha ouvido um som
vocal proferido por ele, e, embora tivesse alguns dentes razoavelmente desenvolvidos, no podia mastigar a
comida colocada em sua boca, razo pela qual, durante 18 anos, sua dieta foi composta de lquidos e semi-
slidos. fcil ver por que o termo "vegetativo" era, usualmente, aplicado a ele.
Quando Fuiler comeou seu experimento, a maior parte do pessoal da instituio e mesmo profissionais no
campo de retardamento mental achavam que ele estava destinado ao fracasso.
"Essa espcie de vegetal humano simplesmente no pode aprender", era o comentrio corriqueiro. "Nenhum
mtodo, velho ou novo, ter sucesso!"
Fuller afirmava que o sucesso ou fracasso s poderia ser determinado aps a tentativa do uso do reforo
positivo. Era preciso esperar para ver. Ele e seus assistentes, aps observarem seu sujeito de perto, por algum
tempo, numa tentativa de descobrir um movimento ou resposta que o rapaz fizesse com consistncia, notaram,
finalmente, que o retardado levantava seu brao direito da posio horizontal para a vertical, de tempos em
tempos e com alguma regularidade. A freqncia com que
2 Baseado em Fuiler, P. R., "Operant conditioning of a vegetative human organism". American Journal of
Psychology. 1949. 62. 587-90.
erguia o brao foi observada e registrada durante 20 minutos. Ocorreu uma vez por minuto, em mdia. Nos 10
minutos seguintes, algo inteiramente novo foi feito com o rapaz. Uma seringa cheia com uma soluo morna de
leite aucarado foi colocada perto de sua boca. Em ocasies anteriores, uma soluo semelhante lhe tinha sido
dada como alimento em uma xcara e ele, aparentemente, tinha gostado. Talvez servisse como um reforador
positivo. Cada vez que erguia o brao, uma pequena quantidade de soluo de leite aucarado era esguichada
em sua boca. Assim, cada vez que levantava o brao, a soluo se seguia segura e regularmente Se a liberao
do leite aucarado e aquecido fosse um reforador positivo, a freqncia de levantar o brao deveria aumentar.
Foi exatamente isso o que Fuller e seus assistentes descobriram. Aps 45 apresenta&s da soluo, a freqncia
mdia de levantar o brao aumentou de 1,00 para 1,12 vez por minuto. Na manh seguinte, aps completar
outra sesso, a freqncia mdia aumentou para 3,00 vezes por minuto, exatamente trs vezes mais do que a
freqncia inicialmente observada. Aparentemente o rapaz era menos um "vegetal" e mais um ser humano, cujo
comportamento podia ser modificado pela tcnica adequada; neste caso, o reforamento era positivo.
No experimento descrito acima, a soluo de leite aucarado foi apresentada regularmente, aps cada ocorrncia
de levantar o brao com grande proximidade temporal. Como a freqncia com que o rapaz levantava o brao
aumentou, a soluo de leite e acar pode ser chamada de um reforador. Cada apresento da Soluo foi,
portanto, um reforamento. Para outras pessoas, leite aquecido e adoado pode no ser, de modo algum, um
reforador; talvez voc preferisse uma Coca-Cola ou mesmo uma cervejinha.
-
A operao de introduzir um reforador positivo, imediatamente aps uma resposta, resultando num aumento na
freqncia daquela resposta, chamada condicionamento. Dizse de uma resposta, cuja freqncia foi
aumentada desta maneira, que foi condicionada. No estudo apresentado acima, o levantar o brao foi seguido
por leite aucarado aquecido e, subseqentemente, a freqncia de levantar o brao aumentou; assim, ocorreu
condicionamento. O levantar o brao pelo rapaz foi condicionado. Poder-se-ia dizer, portanto, que o rapaz, no
trabalho do Dr. Fuiler, aprendeu, de fato, a levantar seu brao mais freqentemente. mas os psiclogos preferem
usar o termo condicionamento para descrever aquilo que acontece sob estas condies e rejeitar o termo mais
velho e menos explcito: aprendizagem.
O termo aprendizagem , grosseiramente, definido como "mudana no comportamento produzida pela
experincia". Como se pode ver, "aprendizagem" um termo muito mais amplo do que "condicionamento",
cobrindo um conjunto de atividades e habilidades que animais e homens adquirem atravs de contato com seu
meio. Esto includos nesta
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categoria processos complexos, tais como: habilidades verbal e simblica usadas na lgica e na linguagem
escrita e falada.
O significado de "condicionamento" muito mais especfico e exato que o de aprendizagem. Condicionamento
, tambm, mais fcil de ser entendido; o aumento na freqncia de uma resposta que foi, recentemente,
associada com um reforador positivo sob condies explcitas. No futuro, quando soubermos tudo o que h
para saber acerca da experincia e seu efeito sobre o comportamento, possvej que venhamos a descobrir que
toda aprendizagem consiste em compostos e combinaes de respostas simples que surgiram atravs de
condicionamento.
Hoje, os psiclogos ainda usam o termo "aprendizagem" quando ocorrem mudanas comportamentais
decorrentes de experincias desconhecidas ou indefinidas. As vezes um termo til, mas quando se busca
clareza e rigor cientfico empregado o termo mais restrito "condicionamento". Nas pginas seguintes deste
livro, o habitual ser "condicionamento", com uma referncia aqui e ali "aprendizagem".
O condicionamento com reforo positivo envolve mais do que encontrar um objeto ou mercadoria pelos quais
uma pessoa trabalhar. Para ocorrer condicionamento, o reforador potencial deve ser apresentado logo aps a
ocorrncia do comportamento q.1e se espera fortalecer. No apresentar o reforador potencial imediatamente
aps a resposta resultar em pequeno ou nenhum aumento na freqncia da resposta, isto , em pouco ou
nenhum condicionamento. A menos que seja aplicado adequadamente, um reforador potencial no ter efeito -
no ser um reforador positivo, independente de seu potencial, e o condicionamento no ocorrer.
A importncia da imediaticidade do reforo positivo no condicionamento
-
Todo mundo fica impressionado com a velocidade com que os bebs parecem adquirir novas habilidades. A
maioria das pessoas, erroneamente, acredita, no entanto, que os bebs no podem ser diretamente ensinados,
parecendo que se desenvolvem por si prprios. bvio que, se tcnicas apropriadas forem empregadas com
bebs, podem-se condicionar quaisquer habilidades ou comportamentos.
Um pesquisador demonstrou que fornecendo, regularmente, a mamadeira para bebs de quatro meses cada vez
que viravam a cabea, a freqncia do comportamento de virar a cabea aumentava enormemente. 3 Com um
grupo semelhante de crianas, provou tambm que o mesmo nmero de apresentaes do leite foi
completamente ineficaz no condicionamento do comportamento de virar a cabea, quando as apresentaes de
leite no se seguiam, deliberada e regularmente, a cada resposta de virar a cabea.
3 Baseado em Siqueland, E. R., "Operant conditioning of head turning in four month old infants". Psycho/ogical
Science, 964, 1. 223-224.
Trs grupos, cada qual com dez bebs, foram empregados no estudo Para cada beb do primeiro grupo, a
mamadeira foi apresentada imediatamente aps ele ter virado a cabea para a direita. Ao receber a mamadeira, a
criana poderia sug-la por trs segundos, O segud grupo foi tratado exatamente da mesma maneira que o
primeiro, exceto que, para ganhar a mamadeira, o beb deveria girar a cabea para a esquerda. Os bebs do
terceiro grupo recebiam as garrafas num esquema ao acaso, sem nenhuma relao com o seu comportamento de
virar a cabea.
Os resultados foram claros e conclusivos. O leite serviu como um reforador positivo de grande eficcia para os
dois primeiros grupos, pois neles o girar a cabea para a direita e para a esqurda aumentou em freqncia. No
terceirb grupo, onde o leite foi dado aleatoriamente, as apresentaes da mamadeira no condicionaram o
comportamento de virar a cabea, e nele, portanto, o leite no serviu como um reforador positivo.
Podemos concluir, baseados neste estudo, que aquilo que oferecido ou apresentado s pode ser chamado de
reforador quando condiciona o comportamento ao qual foi associado, e s se tornar um reforador se for
adequadamente associado resposta. Como ser demonstrado, a associao ideal de um reforador positivo a
uma resposta ocorre quando o reforador positivo vem imediatamente aps a resposta.
"VER TELEVISO" USADO COMO UM REFORADOR POSITIVO
At agora temos falado apenas de reforadores positivos que podem ser consumidos. Os comestveis
compreendem pequena parte do nosso meio. Muitas outras coisas, que no podem ser comidas, podem servir
tambm, e algumas vezes at melhor do que os comestveis, como reforadores positivos.
Quando estava matriculado como estudante de ps-graduaao na Universidade Estadual da Flrida, pude ver
como um evento do dia-a-dia a oportunidade de assistir televiso podia ser empregado como um reforador
positivo muito eficaz. 4 O caso envolveu um menino de nove anos de idade que fora trazido para a Clnica de
Desenvolvimento Humano, onde eu servia como estagirio. Era costume, na clnica, que cada psiclogo
-
principiante recebesse um caso, juntamente com um super- visor, que serviria com consultor, professor,
confidente, e que em geral tirava a gente do "enrosco" quando as coisas se complicavam. Eu estava muito feliz
por ter o Dr. Todd Risley como supervisor, pois naquele tempo tinha ele uma grande reputao no campo da
modificao do comportamento.
4 Baseado em Whaley. D. L. e Risley, T., "The use of television viewing opportunity in the control of problem
behavior". Manuscrito no publicado.
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O menino, cujo nome era Joo, foi trazido para a Clnica pela me, que confessou j estar perdendo a pacincia
em suas tentativas de controlar o filho. O aspecto do comportamento de Joo que lhe causava mais preocupao
era o fato de ele no atend-la ao ser chamado, enquanto brincava. Em geral, chamava-o pelo menos meia dzia
de vezes e, ento, finalmente era forada a sair pela vizinhana sua procura. A esta altura, j estava nervosa e
acabava sendo mais spera com o garoto do que preLendia. Mais tarde, sentia remorsos e pedia desculpas pela
sua atitude. Havia, no entanto, o lado prtico do problema. As refeies, usualmente, esfriavam-se antes que
Joo aparecesse. Telefonemas e encontros importantes eram perdidos por causa do tempo consumido a procurar
o filho pela vizinhana. A me, da mesma forma que achava suas palavras speras e ofensivas, no desejava
bater-lhe ou mesmo amea-lo de uma surra, como medida de controle. Ela viera para a Clnica em busca de um
meio para controlar o filho, que no fosse bater ou usar palavras speras.
A primeira coisa que fizemos foi pedir me que fizesse registros precisos do comportamento do filho quando
ela o chamasse. Demos- lhe alguns formulrios, especialmente preparados para este fim, e entramos em contato
com ela, diariamente, durante a primeira semana, para termos certeza de que o registro estava sendo feito
correta e fidedignamente. O procedimento consistiu no seguinte: um modo de chamar o menino deveria ser
padronizado e feito sempre no mesmo lugar, ou seja, rio alpendre do quintal. Alm disso, o nmero de
chamadas deveria ser imitado nesta etapa do trabalho. Este limite era de 4 chamadas dirias, ou 28 por semana.
Se Joo aparecesse no alpendre do quintal dentro de 10 minutos aps o chamado, um sinal de mais (+) era feito
na folha de registro; se no aparecesse, fazia-se um sinal de menos (-). A me registrou esta informao,
diariamente, por quatro semanas consecutivas e durante este tempo no recebeu nenhuma ajuda especial para o
seu problema. Se seu filho no aparecesse aps terem decorridos os 10 minutos, estava diante do velho
problema de encontr-lo e traz-lo para casa.
A prxima tarefa foi encontrar um objeto ou privilgio que fosse reforador positivo para Joo. Aps vrias
horas de discusso com os pais, descobrimos que Joo gostava muito de assistir televiso. Os pais tinham
restringido ao mnimo o tempo que o filho podia ver televiso e controlavam os programas a que podia assistir.
Concordaram, no entanto, em permitir que o menino visse televiso mais tempo, at um certo ponto, e em dar-
lhe quase completa liberdade de escolha dos programas a que quisesse assistir, desde que, assim fazendo, seu
comportamento de no atender aos chamados da me pudesse ser controlado.
-
Durante as quatro semanas seguintes, a oportunidade de assistir televiso foi oferecida a Joo sob as seguintes
condies: se aparecesse dentro de lO minutos aps ser chamado, receberia um sinal de mais, que significava
um perodo de 5 minutos para ver televiso; se no chegasse
dentro dos 10 minutos, no receberia crditos. Como a me achava que chegar para as refeies na hora tinha
uma importncia especial, foi oferecido um incentivo adicional: poderia ver televiso por 15 minutos se
atendesse ao chamado para o jantar dentro do limite. O garoto poderia acumular o tempo ganho e us-lo em
bloco para assistir aos melhores programas da noite ou, se preferisse, distribu-lo durante o dia, desde que isto
no interferisse como equema de atividades de sua casa. A Figura 2.1 representa as quatro primeiras semanas,
nas quais apenas se fez observao e as quatro seguintes, nas quais a oportunidade de ver televiso dependia de
responder ao chamado. A linha vertical, ou ordenada, est dividida em segmentos, que correspondem
freqncia com que o menino respondeu ao chamado dentro do limite de tempo imposto. A linha horizontal, ou
abscissa, est dividida em oito segmentos que correspondem s oito semanas do nosso trabalho. A linha vertical
pontilhada separa as quatro primeiras semanas, durante as quais as observaes iniciais foram feitas, das quatro
seguintes, quando a televiso foi introdzida com uma conseqncia.
O rpido aumento do atender ao chamado da me a partir da quinta semana demonstra que a oportunidade de
ver televiso, empregada nesta fase, foi um reforador positivo poderoso para o comportamento de Joo.
E o
Fig. 2.1 Registro nAo-acumulaclo
Semanas
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Fig 2.2. Registro acumulado.
Outro mtodo usado para apresentar informao comportamental o grfico acumulado ou registro cumulativo
(Figura 2.2).
Como j vimos, nele a linha vertical chamada de ordenada, e a horizontal de abscissa. A ordenada rotulada
como "freqncia acumulada" e difere da primeira figura, cuja ordenada foi chamada, simplesmente, de
freqncia. O nome e a segmentao das abscissas para ambas as figuras so idnticos. O grfico cumulativo
difere da Figura 2.1, pois a freqncia observada para cada semana somada freqncia observada nas
semanas antecedentes. A soma destas , ento, acrescentada freqncia da prxima semana, etc. As
freqncias foram muito baixas durante as primeiras quatro semanas, perodo em que o tempo para ver televisp
no havia ainda sido oferecido como conseqncia por atender, quando chamado. Como resultado, a inclinao
-
da curva leve e no difere muito do plano horizontal ou abscissa. No comeo da quinta semana, quando
assistir televiso foi instituido, as freqncias se acumularam de maneira rpida e, conseqentemente, a
inclinao da linha mais diagonal. A mudana na inclinao da curva, quando se comparam as quatro
primeiras com as quatro ltimas semanas, diz ao pesquisador que ocorreu condidionamento. Os grficos
acumulados so muito usados para representar comportamentos e mudanas comportamentais.
O uso da assistir televiso como um reforador positivo teve tanto sucesso que a me o estendeu para vrios
comportamentos do filho. Talvez to dramtica quanto a mudana no comportamento de Joo tenha sido a
mudana nas atitudes de sua me. Tendo aprendido como exercer uma influncia gentil, mas firme, sobre o
filho, descobriu que gostava dele muito mais.
O reforo positivo um fator extremamente poderoso nas nossas vidas. At agora, vimos como ele eficaz no
condicionamento, seja do simples levantar de brao e girar a cabea, seja em relao atividade mais complexa
de atender ao chamado. Nos dois casos seguintes foi usado reforo positivo para condicionar toda uma classe de
respostas. Veremos que as mudanas resultantes foram to amplas que se pode quase dizer que as
personalidades bsicas das pessoas envolvidas se alteraram.
CONDICIONAMENTO DO COMPORTAMENTO DE BRINCAR
Durante os primeiros seis meses que passou numa escola pr-primria, Marcos raramente participava das
brincadeiras que envolviam atividade fsica. Era um mnino desajeitado, e suas tentativas ocasionais de brincar
com outras crianas resultaram em fracassos. Passava a maior parte do tempo vagando inquieto, mudando de
uma atividade para outra. aparentemente sem se interessar nem se entreter.
Pode-se imaginar que Marcos ou era muito tmido, solitrio, desajeitado e pouco dado a atividades fsicas, ou
simplesmente no tivera uma oportunidade adequada para que o comportamento de brincar fosse condicionado.
Quando tentava brincar com outras crianas, atrapalhava seus jogos devido ao seu comportamento fsico e
social limitado. Quando isto acontecia, as professoras tentavam persuadi-lo a fazer alguma coisa mais
construtiva. Dado que a ateno , em geral, um reforador positivo poderoso, as professoras poderiam estar
inadvertidamente incentivando o comportarnnto indesejvel de Marcos: ficar vagando sem direo e atrapalhar
o brinquedo de outras crianas. provvel que o comportamento inadequado estivesse persistindo por causa do
reforo social dado pe -professora.
A atividade fsica importante em nossa cultura, haja vista a quantidade de interao social que ocorre em torno
de atividades esportivas e jogos. Uma criana que no pode participar destas recreaes est privada de uma
oportunidade para o condicionamento de habilidades sociais importantes, habilidades que sero teis para ela
enquanto criana e mais tarde na vida, quando for adulta.
5 Baseado em Johnston, Margaret K.. Ketly, C., Harris, Florence, R. e Wolf. M. N., "An appiication of
reinforcement principles to the development of motor skiiis of a young child". Manuscrito no publicado.
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E
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Semanas
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As professoras da escola pr-primria resolveram tentar o reforamento positivo para condicionar o
comportamento desejvel. Quando possvel, esta soluo muito eficaz. No presente caso, as professoras
decidiram condicionar primeiramente um tipo especfico de atividade:
brincar ou subir na gaiola de canos de metal, localizada no ptio de recreio.
As professoras usaram sua ateno como reforador positivo. Quando estava dando reforo, a professora
permanecia a cerca de trs metros de Marcos, observava-o, falava-lhe, sorria para ele, tocava-o ou lhe trazia
brinquedos. Quando no estava dando reforo, voltava-lhe as costas e empreendia outras atividades.
Antes de reforar o comportamento de subir na gaiola, a professora observou Marcos, cuidadosamente, por
nove dias, durante os perodos de brinquedo fora da sala de aula. Nesses nove dias, ele no subiu na gaiola e s
-
a tocou uma vez. Gastou menos de 1% do seu tempo em contato com ela, 25% simplesmente permanecendo
parado ou andando, 75% em atividades sossegadas, como brincar na caixa de areia.
A fim de levar o garoto at a gaiola na qual deveria subir, a professora decidiu reforar respostas que o
levassem para mais perto da mesma. Quando o menino se aproximava ou andava perto da gaiola, recebia
ateno da professora. Gradualmente, ele veio para mais perto e permaneceu mais tempo junto gaiola. A
medida que isto acontecia, a professora se tornava mais exigente, requerendo que Marcos se aproximasse mais e
mais das barras e permanecesse l por mais tempo, antes de lhe dar um reforador. Certa vez, ele chegou a tocar
a gaiola, e ento comeou a subir nela. Da para a frente, os reforadores foram dados apenas para a resposta de
subir.
Este procedimento de aproximao gradual da resposta desejada ocorreu no primeiro dia de condicionamento,
durante o qual Marcos esteve em contato com a gaiola cerca de 2% do tempo. Por volta do 9. dia do
tratamento, estava subindo nos canos da gaiola 67% do tempo em que permanecia fora da sala de aula. O
procedimento, portanto, foi muito eficaz para aumentar a freqncia do comportamento de brincar na gaiola.
Alm disso, a sua habilidade de subir tambm mostrou considervel progresso.
O tratamento descrito at agora estava incompleto, no entanto, pois no era suficiene que o garoto brincasse
apenas de subir na gaiola e no participasse das outras formas de atividade fsica. Alm do mais, a professora
no poderia permanecer sempre por perto, dando reforo toda vez que Marcos emitisse algum comportamento
adequado. Em vista disto, passou-se fase final do tratamento.
Na primeira fase, a professora fornecia o reforo dando ateno a Marcos, enquanto ele estava subindo na
gaiola. Durante a fase final, reforou a resposta de subir apenas vez sim, vez no em que ocorria; e,
gradualmente, aumentou o nmero de vezes que o menino tinha que
subir nos canos, antes de lhe dar ateno. Concomitantemente, ela aos poucos reduziu a quantidade de tempo
que passaria dando-lhe ateno. De incio, a ateno era dada enquanto estivesse brincando na gaiola.
Eventualmente, passou a lhe dar ateno de maneira mais breve, nas ocasies em que emitia um comportamento
adequado. No final desta fase do tratamento, Marcos recebia, por brincar, a mesma ateno ue as demais
crianas da escola. Durante este perodo, a professora tambm deu reforo social toda vez que ele brincou de
modo ativo, usando outros brinquedos. Foram condicionados comportamentos de subir em escadas,
escorregadores, rvores, etc. Duranto os 4 dias da fase final, Marcos gastou cerca de 1/3 do tempo em que
permaneceu fora da sala de aula brincando ativamente. Antes do tratamento, tinha gasto nisto menos de 1/lO do
tempo.
Quando o garoto voltou escola no incio do perodo letivo do ano seguinte, continuou a brincar, entusistica e
ativamente, mais da metade do tempo que passava no recreio, O condicionamento parece ter tido um efeito
duradouro sobre o seu comportamento de brincar. provvel que, tendo desenvolvido alta freqncia de
comportamento de subir na gaiola, esta atividade tenha sido mantida pelos reforadores sociais ou fsicos que
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normalmente esto associados a estas atividades. Na realidade, com sua participao nas brincadeiras, Marcos
estava numa posio mais favorvel para que os seus comportamentos sociais fossem condicionados.
CONDICIONAMENTO DO COMPORTAMENTO DE ESTUDAR
Na seo precedente, vimos que era indesejvel para uma criana ser inativa . A atividade excessiva ou
"hiperatividade", no entanto, pode ser igualmente indesejvel. H um meio-termo adequado entre muita e pouca
atividade.
Hermes era uma criana hiperativa, cujos pais e avs foram extremamente brutais e cruis para com ele.6 Seu
crnio havia sido fraturado antes que tivesse um ano de idade e, como conseqncia, tinha uma leso cerebral.
Com trs anos de idade, foi adotado por pais muito mais carinhosos; no entanto, continuou tendo problemas de
ajustamento. Com nove anos, no tinha ido alm do segundo ano primrio e passava quase todo o tempo
atrapalhand o seus colegas de classe. Distraa-se facilmente e trabalhava apenas por curtos perodos. A
hiperatividad de Hermes consistia em falar, empurrar, bater, beliscar, olhar para trs, para os lados, para fora,
levantar-se da carteira, tamborilar com os dedos e mexer em tudo. Alm disso, era agressivo, machucava outras
crianas e
6 Baseado em Patterson, G. R., "An appljcation ofconditioning techniques to the control of a hyperactive child".
Em P. Uliman e L. Krasner (Eds.) Case Studies in &havior ModWca:ion, Nova lorque: Holt, Rinehart and
Winston, 1965, p. 370-375.
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se jogava no meio delas, atrapalhando seu trabalho ou brinquedo. Uma forma extrema de comportamento
inadequado que apresentava, ocasionalmente, era arrastar sua carteira pela sala de aula, empurrando todas as
crianas e carteiras pelo caminho. Dado que Hermes era uma criana agressiva tinha nove anos de idade, em
uma classe de crianas de sete, estas .o evitavam abertamente.
O garoto foi encaminhado ao Dr. Gerard Patterson, da Clnica Psicolgica da Universidade de Oregon. A forma
tradicional de lidar com os comportamentos-problema de uma criana traz-la para a clnica e trabalhar com
ela l; no entanto, Patterson foi para a sala de aula e trabalhou com Hermes na situao onde seus
comportamentos problemticos ocorriam.
Se quisermos que uma pessoa se comporte normalmente, devei. mos usar reforamento positivo para
condicionar comportamento normal. Tudo indicava, no entanto, no haver dvida de que Hermes estava
recebendo ateno reforadora por seus comportamentos inadequados. Por isto mesmo, reforadores positivos
poderosos deveriam ser usados para condicionar comportamentos mais adequados. Patterson usou doces do tipo
"confete"* e moedas como reforadores. Voc vai notar que, entre os psiclogos, os "confetes" so reforadores
-
muito populares; segundo certos relatos, eles derretem na boca da criana e no nas mos do psiclogo... O
comportamento normal a ser condicionado foi prestar ateno, adequadamente, ao trabalho escolar. Uma
pequena caixa com uma luz e um contador foi colocada na carteira do garoto hiperativo. Foi-lhe dito que no
final de cada intervalo de 10 segundos, se tivesse prestado ateno ao seu trabalho durante todos os lO
segundos, a Luz se acenderia e o contador marcaria um ponto. Cada vez que isto acontecesse, ele ganharia um
"confete" ou uma moeda, que lhe seria dada no final de cada lio. As lies dirias duravam de 5 a 30 minutos.
Patterson resolveu o problema do que fazer com outras crianas na sala de aula, requisitando a sua ajuda. Foi-
lhes dito que algumas das moedas e doces, que Hermes ganharia por trabalhar bastante e prestar ateno s suas
lies, seriamdivididas com elas. Portanto, elas poderiam ajudar Hermes a ganhar a