Volume14 Sobre Comportamento Cognicao

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    &t'e Compot'tAmentoe Coqnto"Est:eru;;teru;;to Psicologia COn--Lyort:an--LerLt:al CogrLit:i-vaaos COrLt:e:>ct:osla Saele, elas OrgarLizaes,

    elas 'RElaes Pais e .:FiChos e elas "Escolas.Organzao yor .'Mara Z{ah a S{va 13rano.J'tma Crstna eSouza Conte.J'ernana S{va 13rano

    }jaraXuyerstenlng6ermanl1eraLuca.'Menezes aS{vaSmone .'Martn Ofan

    rson Luiz Costa Junior Alessandra Turini Bolsoni-Silva Alexandre de Oliveira Ana Claudia M. Almeida-Verdu Ana Claudianzini Sampaio Ana Cristina Rodrigues Valle Ana Rita Ribeiro dos Santos' Antonio Bento Alves de Moraes Antonio Celso deonha Goyos Armando Ribeiro das Neves Neto Carlos Eduardo Costa Carlos Leonardo Rohrbacher Claudia Balvedi Cludiam Shiota' ClovesAmorim' Cristiana Tieppo Scala Daniela de Macedo' DavidAlan Eckerman Deisy das Graas de Souza' Marialia Bevilacqua Denise Cerqueira Leite Heller Edna Maria Marturano Edwiges F.M. Silvares Eliane Cristina Campaner' Elianyeira Neves' Fernanda Abrami M. Silva Gina Nolto Bueno Giovana V. Munhoz da Rocha' Glucia da Motta Bueno Gustavoolo Rolim Isabella Montenegro Ivanir Lourdes Bin J. G. Tuga Martins Angerami Jair Lopes Junior Juliana Elena Ruiz Julianaes Lasa Weber Lincoln da Silva Gimenes Lisandra Kusunki Ferachin Lucia Cavalcanti de Albuquerque Williams Lyliantina Pilz Penteado Makilim Nunes Baptista Marcela Leal Calais Maria Bety Fabri Berbel Maria Cristina Neiva de Carvalho'ia Cristina O. S. Miyazaki Maria da Graa Saldanha Padilha Maringela Genti l Savoia Marilza Mestre' Maryane Mayer' Mnicaldi Valentim' Nancy Julieta Inocente' Neide Micelli Domingos' Neusa Corassa Nilcia Baierski Patrcia Guilhon Ribeiro' Patriciai Paula Inz Cunha Gomide Paulo Rogrio Morais Rachei C. Tomedi Caldeira' Rita de Ftima Carvalho Barbosa de Souza'ns Reimo' Samira Martins Garib' SandraArmoa Lopes' Sandra Leal Calais' Sandra OdebrechtVargas Nunes Silvia Regina dea' Solange Lucie Machado' Tnia Moron Saes Braga' Verediana Proncio' W. KentAnger' Vara Kuperstein IngbermanESETec

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    SobreComportamentoe Cognio

    Entendendo a Psicologia Comportamental e Cogntva aosContextos da Sade, das Organizaes, das Relaes Pais

    e Filhos e das Escolas.Volume 14

    Organizado por Maria Zilah da Silva BrandoFtima Clistina de Souza ConteFemanda Silva BrandoVara J

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    Copyright desta edio:ESETec Editores Associados, Santo Andr, 2004.Todos os direitos reservados

    Brando, Maria Zilah, et aI.Sobre Comportamento e Cognio: Contribuies para a Construo da Teoria do

    Comportamento. - Org. Maria Zilah da Silva Brando. Ftima Cris tina de Souza Conte. FernandaSilva Brando. Vara Kupers te in Ingberman. Vera Luc ia Menezes da Silva. Simone Martin Oliani. 1~ed: Santo Andr. SP: ESETec Editores Associados. 2004. v.14340 p. 24cm

    L Ps icologia do Comportamento e Cognio2. Behaviorismo3. Anlise do ComportamentoCDD 155.2CDU 159.9.019.4

    ESETec Editores Associados

    Coordenao editorial: Teresa Cristina Cume Grassi-LeonardiAssistente editorial: Jussara Vince GomesDiagramao: Maria Claudia Brigago CabeloEquipe de apoio: Daiane Gutierrez RodriguesCorina Rosa Vince

    Solicitao de exemplares: [email protected] Santo Hilrio, 36 - Vila Bastos - Santo Andr - SP

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    _____ Captulo 24Anlise Comportamentalem Histria de Epilepsia

    (jina Nollo BuenoUniversidade Catlica de ois

    Faculdade CambU/y

    'Tenho crise convulsva. Sofro de epilepsia desde os dois arios de idade. Osmdicos ficam doidos comigo. J fiz tudo que exame. Minhas crises no tm localdeterminado no crebro. No quero fazer a 'bendita' cirurgia que eles querem que eu faa.Tenho prejuzo na ateno. No consigo ter ateno com nada, alm de muita dificuldadede concentrar e de raciocinar. Fao crises, em maior nmero, quando estou dormindo"(Marcos, maio de'2003).

    "Aos quatro anos de idade, meus pais relatam que sofri a primeira crise convulsiva.Aos 12 anos, quando da puberdade, registrei a ocorrncia de mais duas crises. Aos 26anos, aps a morte de meu pai, as crises voltaram de forma intensiva, chegando a superara ocorrncia de 10 ao dia e outras tantas noite, quando estou dormindo. Hoje sofro compreconceito, a insegurana e com a angstia: quando vai acontecer a prxima crise?".(Pmela, julho de 2001).

    Hcentenas de anos a medicina busca explicaes internas para o comportamentohumano, ou seja, para as alteraes das funes orgnicas. Causas internas, comoexplicaes para as diversas patologias. Em contrapartida, a cincia do comportamentovem se dedicando a, com propriedade, distinguir as relaes funcionais entre as variveisambentas e o comportamento. A anlise do comportamento muito tem evoludo a partir,especialmente, dos estudos de B. F.Skinner (1953/1976) sobre o processo de aprendizagemnos animais, que possibilitaram o estudo do comportamento humanq como parte naturalde uma cincia, tambm, natural.

    De acordo com Britto (2003), quando nos comportamos, seja pblica ouprivadamente, certas funes biolgicas do corpo podem ser alteradas, vez que so asvariveis ambientais,que produzem os efeitos fisiolgicos, que podem ser inferidos docomportamento. Desta forma, relevante destacar que ao se comportar, o organismopode alterar a neuroqumica e esta, por sua vez, pode alterar os estados corpreos deforma positiva (sensaes de prazer) ou negativa (sensaes de sofrimento).

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    o que pode explicar a epilepsia? Oque leva uma criana a sofrer crises convulsivase seus irmos, de mesma histria filogentica no? O que provoca o chamado "adormecer"das crises por algum tempo, at anos seguidos, e o seu retorno mais tarde? Em que aansiedade, como emoo bsica na vida do ser humano, como prope Staats (1996),estaria por traz desta que classificada uma patologia neurolgica?

    A epilepsia uma alterao temporria e reversvel do funcionamento do crebro.Por alguns segundos, e at mesmo, minutos uma parte do crebro emite sinais incorretos.Tais sinais podem ficar restritos a uma localidade do crebro ou mesmo espalhar-se.(Marchetti & Arruda, 1995). J segundo Guerreiro, Guerreiro, Cendes e Lopes-Cendes(2000, p.1), "a crise epilptica causada por descargas eltricas ano~mais excessivas etransitrias das clulas nervosas, resultantes de correntes eltricas que so fruto damovimentao inica atravs da membrana celular".Becona, Palomares e Garca (1994, apudVzquez, Rodrguez &lvarez, 1998),afirmam que os estados emocionais podem modificar, notavelmente, os comportamentosda sade. Assim sendo, presume-se, ento, que a ativao emocional parece interferir

    nos hbitos saudveis dos seres vivos (LevE?nthal,Prohaska y Hirschman, 1985, apudVzquez, Rodrguez & lvarez, 1998).Porm, no somente o estado emocional, seno tambm as regras que uma pessoatem sobre a sade, que influenciam sua conduta. Quando se padece de uma enfermidade, muito provvel que aquele que dela sofra formule, tendo por base seus conhecimentos e suasexperincias, ou seja, suas auto-regras, um modelo de enfermidade, e d significado smudanas que vo se procedendo. (Vzquez, Rodrguez & lvarez, 1998). '" noite tive vrias crises, mas ningum percebeu. S pela manh minha me meviu tendo uma crise muito forte, j s 9 horas da manh. No gosto de passar mal pertodela. Ela aparenta mais nervosismo que eu. E, sempre que tenho crise, ela busca minhagaveta de remdios e me d ul11anova dose dos antiepilpticos. Conseqentemente,

    estou sempre dopado". (Marcos, junho 2003)..Marcos, 18 anos, o filho do meio de uma prole de trs. Chega ao tratamel1toteraputico, encaminhado pela neurologista. De acordo com a mdica, os ansiolticos noesto conseguindo o efeito desejado: diminuir as respostas ansiognicas em Marcos, queest com baixssimo desempenho escolar. Suas incurses sociais tm se restringido, aomximo. Mas quando h a necessidade de acontecerem suas respostas fisiolgicas sointensas e, normalmente, Marcos apresenta crises convulsivas.Pmela, 32 anos, caula de quatro irmos, aos 26 anos, ao ir visitar seu pai,pessoa por quem manteve muita afinidade e, at dependncia - com a me a relaoentre ambas foi sempre marcada pela animosidade - depara-se com o mesmo mortosobre seu leito - enforcou-se com um lenol. Atnita, deixa o quarto e tenta evitar queoutrosfamiliares, que esto em casa, entrem noambiente e vejam aquela que ela conceituoucomo "(...) a imagem mais'terrvel que meus olhos j viram e meu crebro registrou. Parasempre! No sai da minha cabea!" (Julho, 2001)Ao chegar para o tratamento teraputico, Pmela traz a informao de estaraposentada, hmais de dois anos, em funo daepilepsia e depresso. Residindo sozinha,passa a maior parte do dia dormindo: "(...) as crises convulsivas me provocam muito sono.Meu neurologista busca o meu controle convulsivo com antidepressivos, ansiolticos,sonferos e anticonvulsivantes".

    208 C/ina NoIto Bucno

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    Deacordocom Starting,(2001,p, 266)"Apesardo reconhecidoeextraordinrioprogressoalcanadopelatecnologiamdica nacompreensodosmecanismos biolgicose noseumanejotcnico, muito do sofrimento humano est fora do interesse expresso da biomedicina". Aindacompondoseus estudossobre a anlisefuncional daenfermidade,Startingsalientaque "Queixase disfuncionaldades provenientes de condies 'funcionais', 'mentais'. ou 'psicossociais',representam grande parte da demanda apresentada medicina. cujas concepesessencialmente biomecnicas se associam aos resultados geralmente insatisfatrios dotratamento e persistncia dessas queixas e disfuncionalidades (2001, p.266)

    1. Fragmentos de verbalizaes de Marcos"Por causa dessas crises. todo mundo fica perto de mim, para proteger-me, pois

    se estiver de p e vier a crise, caio e machuco. At no colgio assim",O processo de interveno teraputica iniciou-sepelapesquisa sobreas contingnciasfavorveis s crises convulsivas em Marcos. Ao trmino de oito semanas, com sesses

    semanais de 50 minutos. a Linha de Base nos apresentou os seguintes dados:Situao Tipo de criseNumero deSentir-seonseqnciasomportar-se Crises/Dia

    Durante as oito semanas iniciais do tratamento, Marcos registrou um minimo de10 crises e um mximo de 34 crises dirias.Ingere nova dose

    Liberado da provadas medicaes e55%cu lpa por noo sou normalorme. ACOrdaodo o corpo t-Ia feitoeprimido edopado. Com repuxes em Ingere nova dosetodo o corpo e No estudar,Sou esquisito.dos remdios esalivao 25%culpa, sonolnciastranhodorme. Acorda excessivadeprimido edopado Ingere nova doseaumento das

    ou mau, poisas drogascatatnica; com5%doses dasao meus paisarmacolgicas emuita sali vao e medicaes; aofreremorme. Acorda vigl ia dos paisdeprimido edopado No acompanharas atividades Ingere nova doseom repuxes. escolares, serNunca serei normaldas drogas evmito, salivao0%oupado por todoscomo meusdorme. Acordafalta de ar por ser "louco,colegas. meusdeprimido e doente". Muitaamigosdopado

    Prejuizos Sociaiscadas6. No pode praticar esportes. No vai a shows e danceterias8. No pode dormir na casa de amigos9. No pode atravessar ruas10. No pode fechar a porta de seu quarto

    11. No pode usar o banheiro de porta fechadaa interao social somente se houver a companhia dos pais ou um professorue consiga monitor-Io, e se souber fazer os primeiros socorros devidos, quando de uma crise.

    Quadro 1. Linha de Base

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    2. Estratgias de Interveno Teraputica Comportamental2.1. Controlar a ansiedade, utilizando as tcnicas Oito passos para controlar a ansiedade - ACALME-SE; Controle Respiratrio; Interrupo do Pensamento Catastrfico: "No vou dar conta. No aprendi a estudar, a

    fazer provas, a fazer as tarefas da escola, nem da minha casa. Sou doente, esquisito,imprestvel";

    Relaxamento - Autgeno de Shults; Cartas No-enviadas; Dirios de Registros.2.2. Criar estratgias para a realizao das tarefas acadmicas, domsticas e sociais;

    .2.3. Fazer caminhadas;2.4. Fazer academia;2.5. Iniciar-se nas atividades sociais de sua idade: ir ao shopping com os irmo~e

    amigos; ir ao cinema; ligar para amigos; convidar amigos para visit-Io emcasa; ir casa de amigos;2.6. Aprender a tomar a medicao, sem a necessidade da interferncia dos pais;2.7. Encontrar a funo das crises;2.8. Vestir-se, pentear-se como pessoa normal;2.9. Esmaecim'ento da farmacoterapia;2.10. Assistncia da medicina homeoptica, para desintoxicao medicamentosaaloptica.

    Como tarefa de casa, certa vez, Marcos foi estimulado a escrever uma Carta Noenviada para a epilepsia. Ele executou a tarefa, mas em forma de poema que,posteriormente, foi trabalhada durante relaxamento profundo.

    I Poema: EpilepsiaComo uma cobraSe revirandoQuando cutucadaComo uma clicaMe arrepiando- Maldita!Mente sem jaulaSem limiteRosnando contraO domadorO mundo se cala/ao olharO cego no olha/mas escutaO surdo no ouve/mas grita

    210 qina Nolto Bueno

    Aflio!Maldio!Sdica,Me mato aos poucosPeNersa!Estupro minha menteMaldita!Me castigoTodos os 7 pecadosSaboreados com fantasiaA soberba ira que me moveNada me comove

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    Os dirios de registros, questionrios de histria vital (Lazarus, 1980), entrevistascom familiares, permitiram observar que as crises passaram a ter,especialmente aps final dasegunda infncia e incio da adolescncia, a funo de construo de meios legais pararealizar comportamentos de fuga/esquiva ante as situaes aversivas, tais como: estudar paraprovas; fazer tarefas escolares; realizar tarefas domsticas; apresentar trabalhos acadmicos.

    Durante o processo de interveno, com o respaldo das anlises de comportamento,passamos a pesquisar a hiptese de que Marcos ideava muitas das crises convulsivas, aindaque aps suaconstruo o sentimento de culpa,de inadequao e deautopunio (isolamentoe vestimentas inadequadas) ocorressem.3. Fragmentos de verbalizaes de Marcos

    "Voc quer o qu? No aprendi nada que meus colegas, meus amigos, aprenderam.Na escola eu tiro zero numa prova e recebo o boletim com mdia 7,0. Sei que a escola fazisso porque sabe que sou doente. Tenho vergonha do meu boletim. Aquelas notas no sominhas. No foram tiradas por mim. No sei me vestir. Meu corpo ficou essa coisa inchada,sem forma. Todo mundo pensa que sou doido. Voc acha que fcil?" unho/2003)

    Construo das Crises ConvulsivasIdeaoMotivoantagensesvantagensriseensibilizaraeix-IamenosTransparecerqueoi de nivel mdio!terapeuta para queeuxigenteaindacontinuorande, commuitos indisciplinado. noepuxes, salivao controlando, assim,xcessiva, tentativaas crises de verbalizaonicac no sensibilizou-me, pois sei o fundo real das crises. Quanto s tarefas, no abrirei modelas, pois so o meio de ensinar-lhe a agir, a produzir e deixar a "preguia", que voc diz sentir, no cestoe lixo. Preciso continuar ex igindo-Ihe, pois sei do seu potencial, mas que voc resiste em neg-Io. Tenhoonscincia plena de que a sua disciplina j existe, basta fazer uso dela. Assim como sei que voc jprendeu a funo de suas crises, conseqentemente, pode estabelecer o seu controle.M = Puxa! T com vergonha de voc! Perdo! Me ajude, no posso ficarcomo estou.

    Quadro 2. Ideao das Crises Convulsivas Versus TerapeutaMarcos passou a fazer uso das tcnicas de controle da ansiedade, assim comoestar atento, sempre, para perceber estmulos aversivos que pudessem desencadear umestado ansiognico maior - ativadores de respostas simpticas - que favorecesse aocorrncia de uma nova crise convulsiva. Sua misso: controlar seu estado emocionalnegativo (Staats, 1996), estabelecer comportamentos assertivos de enfrentamento scontingncias aversivas.4. Fragmento de SessoT =Aprendemos a controlar o estado ansiognico, e por ele aprendemos a controlar as crises.Assim sendo, no h mais doena. E, se assim, voc j no poderia receber alta mdica?M = Puxa! E, agora?! No aprendi a fazer muitas coisas. Nem estudar.T = Tudo isso comportamento. E, comportamento aprendido. Voc vai aprender.M = Mas, se eu mostro para todo mundo minha alta mdica, todos me cobraro resultados,sem perceberem que nos ltimos anos no me ensinaram a fazer, a produzir. Somente meensinaram a ficar doente. E doente impune produo!T = Quando lhe cobrarem, voc os alertar que, primeiro, tero que ensinar-lhe.

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    M = Nasci Marcos saudvel, mas me ensinaram a ser Marcos doente. O Marcos saudvelainda existe e culpa o Marcos doente. No tinha pensado nisso: o Marcos doente todoente que provoca uma doena.T = No basta culpar o Marcos doente. preciso dar espao para o Marcos saudvelaprender 16 anos de sua vida que foram congelados.

    Tenho Medo Tenho culpaenho ganhoenhoTenho dvidaonscincia De no alcanarosiberdade:nomedoe que possoomo as pessoas meesultados que querouitos trabalhos.ontrolar as crises.vem versus eu nou necessito. Ex.:Noh cobranase que sou o maior nem ai, mas ficooas notas.errenhas,a noserrejudicado,a longoervoso em saber oquelas para tomarosrazo.ueo povo pensaemdios.e que o conceito queobre mim.s crises servem dee aplicaa mimdesculpas para faltaseturpado:doente.e atrasos.fao crise, quando j sei como se faz parao t-Ia,mas, aindassim, fao. Conclso de Marcosnada tomando esses remdios (risos da surpresa do que verbal izou), ficar escravo dessesremdios e o tempo todo dopado. Puxa, mas contnuo fazendo crises por causa dos ganhos e pelo medoo que esta" "doena" no me deixou aprender.

    Quadro 3. Funo das Crises

    Construo das Crises ConvulsivasMotivoantagensesvantagensriseara comprovaraceitao deleomo eu estavaoi de nvelue realmentee que eu noeitado, nodio/grande,o preciso ir reciso ir avia medo deom muitosscola, seme machucar.repuxes.ontestao oua realidade,alivaonterrogaes.o vi tanta'xcessiva. desvantagem.At porque, elestava dormindo,Interveno Clnicaao de seu pai?

    M = Ele acordou apavorado. Correu e pegou a maleta de remdios e me obrigou a tomar novas doses.odos vieram. Fiquei cansado e dormi.= E, o simulado?M = Meus pais no me acordaram para ir escola.= No fosse um comportamento negativo, parabenizaria-o por este resultado.= T com dio de mim: mais uma vez contribui para a manuteno dessa desordem biolgica eomportamental , como voc diz. Eu no queria ter tomado aqueles remdios, eles me fazem mal. No gostoe ver o pnico no rosto dos meus pais, a cada nova crise. Droga, esse medo, essa preguia. T com raivae tudo. Protegeram-me demais e me ensinaram de menos!

    Quadro 4. Ideao de Crises Convulsivas versus Pai

    212 Qna NoIto Bueno

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    Marcos tinha que aprender a avaliar as vantagens e desvantagens das crises queainda viessem a ocorrer. A finalidade dessa tarefa era lev-Io a agir de forma diferente,ainda que permitisse ou no controlasse a ocorrncia de uma nova crise convulsiva.

    Construo das Crises ConvulsivasIdeao

    Motivoantagensesvantagensrisereciso provar aomprovao, aosso meFoi de nvelim mesmo queim mesmo, deachucar; nomdio como tenhoque "no posso"umprirei meusmuitos repuxesondies paraimpar a casa e,ompromissos (queme liv ram de ainda, enrolaralgumas broncas,para no estudar. por parte de minhame) de ajudar emasa e de estudar,erando, noite,ma culpa danadauma inquietao.

    Interveno Clnica

    i preencher o dirio de ideao, pude perceber como no discriminei, antes, que podia meajudar se eu no a realizasse.= Normalmente, depois de uma crise, voc fica fadigado, com muita sonolncia e dorme muito. umomportamento padro.= , mas como fui fazer esse bendito dirio antes de dormir, disse a mim mesmo: Marcos, voc norecisa ir dormir. Sua psicloga disse que a ao gera uma reao. Tome um banho frio e v limpar a casa,em rpido, pois ainda tem que fazer os deveres da escola.= E, ento?= Fui. Fiz tudo. Estranho, no tive cansao. Tive muita alegria. Meus pais nem souberam dessa crise e,inda, ficaram superfelizes ao chegar em casa e v irem que tinha organizado tudo, e que es tava es tudando.t me perguntaram: "Filho, voc t bem? Tomou seus remdios direitinho? Fez o que a ps icloga pediu?"

    Quadro 5. Ideao de Crises Convulsivas versus Interveno

    A anlise de todas as contingncias tornou-se o instrumento bsico para queMarcos aprendesse novos repertrios. Entre a 24 a e 29a sesso, voltamos a reavaliar osdados obtidos na Linha de Base, apresentados no Quadro 1,visando a anlise da evoluoda histria de epilepsia navida desse cliente. O resultado dessa anlise est apresentadono Quadro 6, a seguir; .

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    Situao Tipo de criseNmero deSentir-seonseqnciasomportar-se Crises/Diae as sesses de Interveno, Marcos registrou um mnimo de zero e um mximoe 2 crises dirias, em mdia; at passou semana inteira sem crises.studei, masFiz a prova. A notaom levssimos tenho ansiedadealma! Voc vaiue ti rar, serepuxes 8%de ainda no sabere sair bem.erdadeiramentee perdi .minha. Preciso convencer meus pais de quesuaves, 25%deio esse cara:om perda dele no me ajudacasa dois hemisfrios. ele no sabe nada.tempo., pior, aumentaminha ansiedade.

    ais me do

    Com raiva: nouero enslnar-IhesDe ausncia, com a amar um filhoepuxes no corpo.9%teno plenaquero mais essasaudvel efao crise. ateno.produtivo.Observar muito

    ..meus amigos,Falta de controleom medo de nioperguntar, ler muito,intelectual para tremores/repuxes.8%a ansiedade,ser possiveireinar o que nfu diante de meuonquistar o queei. Vou aprender, meio social.o aprendi.ois sou inteligente.ociaisshoppings e cinemas com amigos

    7.onvida amigos para happy hours em casampras 8.ga para amigos 9. viaja para sl tios de amigos, pemoitandos pais 10. Est planejando seus estudospela aparncia 11. Definiu, com os pais, novo professor de reforoe d notas, quer ti r-Ias para atividades escolares

    Quadro 6. Avaliao - entre a 24a e 29a sessesDurante os ltimos seis anos Pmela, basicamente, viveu isolada em seu

    apartamento. A culpa pelo suicdio do pai foi o foco central de sua ateno: "Eu tinha que terpercebido que a depresso dele piorara muito. Ns ramos to ntimos, to cmplices umdo outro. Por que no fui v-Io naquele final de semana? Minha negligncia para com ele omatou! Meu Deus, foi a pior coisa que poderia ter ocorrido com minha vida!" (Julho, 2001)

    Pmela passa a maior parte dos dias e noites dormindo. Muitas das crises ela sas percebe pelos hematomas que v em seu corpo, boca ferida e pelos vestgios desangue e urina em sua cama. De acordo com seu neurologista, Pmela faz crises parciaissimples (ou focais) e complexas. "Fao o tratamento neurolgico com muito rigor. Noposso ficar sem a Carbamazepna" (CBZ) .

    .Com Pmela, trabalhamos com a hiptese de que os diversos estmulos aversivos,ao longo do dia/noite, poderiam estar ativando mudanas em suas respostas fisiolgicas,favorecendo a alterao das correntes eltricas cerebrais, evocando, assim, as crisesepilpticas. "Nunca demais lembrar que crises epilpticas so sintomas de uma funoanormal do crebro. Na avaliao ou no seguimento do paciente com epilepsia central aquesto da causa das crises epilticas". (Guerreiro et ai, 2000, p. 5).

    A princpio, essa hiptese ficou complexa, vez que Pmela vivia muito isolada.Ento, quantos seriam esses estmulos aversivos, e que graus de controle exerceriam em

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    seu comportamento, vez que seu ambiente interacional era to parco? Assim, com osdirios de comportamentos problema, de pensamentos desadaptados, inicia-se a pesquisade identificao dos estmulos estressores Pmela, bem como sua possvel inabilidadesocial.

    Dirio dos Comportamentos DisfuncionaisDia!hora

    Situao Pensar! Como Agiu!entironseqnciaspassar

    No fui faculdade. Sentindo-meal, de novo, em sala.invlida, voltei para cama e dormi oEles j me apontamFaculdade como louca. Tenhoia todo. Quando acordei, noite, vi

    do, vergonha.que havia sofrido nova crise.

    Fiquei horas seguidas sentindoNo vou conseguir. Oedo, olhando-me e me dizendoempo no vai dar.ue no era louca. As imagens doenho medo de iniciar.meu pai voltaram a ocupar meucrebro. Sinto culpa.No tenho ningum por mim. Vou,E se no soubermas ao chegar l sinto que umaomprar? Tenho medonova crise est vindo. Retorno,

    passar mal l.imediatamente para casa, commuita ansiedade.o tenho ningumstou em casa

    para dar um bom dia.Fico paral isada. Sinto-me culpada.embro-me do meuu o matei!i e de sua morte

    Skinner (1991, p. 113), afirma que:Fazer algo em relao doena, que conseqncia da ansiedade, exige quemudemos as circunstncias aversivas responsveis pelo que estamos sentido.Algumas das doenas atribudas ao desencorajamento ou ao desespero podemser aliviadas atravs do restabelecimento de reforadores perdidos, e doenasque so conseqncia da hostilidade ou do medo podem ser controladas atravsda eliminao de conseqncias aversivas, especialmente as que esto em mosde outras pessoas. Afirmaes dessa natureza no ignoram os fatores genticos.

    5. Fragmentos de Sesso de PmelaP = Como posso ser feliz? Como posso estar bem se o meu pai morreu?T = Mas voc est viva, e as pessoas vivas tm o direito de serem felizes.P = Mas eu perdi o meu. Voc no entende? Eu matei meu pai! Eu no estive l naquelefinal de semana! Ento sou m, muito m!

    Segundo Guilhardi (2002, p. 178) "A 'culpa' envolve uma comunidade poderosa(governo, sistema judicirio, professores, pais etc. (...)." Esse autor afirma, ainda, que nomomento em que a pessoa se coloca como culpada" (...) no tem uma viso crtica sobre

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    o controle aversivo de que vtima e acaba admitindo que so seus comportamentos (ou,at pior que isso, que ela) que geram sofrimento no outro".

    Pmela, durante os ltimos seis anos esquivou-se e fugiu das interaes sociais.As poucas que ainda cumpria, as enfrentava com alto nvel de ansiedade, justificado pelomedo: "Tenho medo das pessoas, tenho medo de no conseguir, tenho medo da rejeiodas pessoas. Sei que sou estranha e todos vo perceber isso. As pessoas ficam apavoradasquando passo mal. J no sei mais me vestir, me arrumar e ainda fico com muito medo deno me lembrar das coisas, dos fatos".

    As autoverbalizaes de Pmela eram sempre compostas por um repertrio verbalemocional negativo. Staats (1996) destaca que as palavras geram emoo e que estas sodiretivas: se positivas, aproximam; se negativas, afastam. Assim, o estado emocional negativode Pmela parecia contribuir com a alterao das correntes eltricas de seu crebro. Nosdirios de comportamentos, Pmela descrevia a situao antecedente s crises, assimcomo O pensamento e sentimento gerados pela referida situao. Em todos eles elaapresentava a ausncia de controle desua emoo, de sua ansiedade como, por exemplo,estar nasala de aula.eo professorse dirigira elacom qualquer observao: "(...) imediatamentepensei que ele s se dirigiu a mim porque sabe que sou estranha. O medo foi to intensoque fiquei paralisada e no consegui responder o que mefoi perguntado. Pssado um tempo,a crise comeou. Todos ficaram com muita pena de mim! (chorou compulsivamente)".

    As intervenes em Pmela foram dirigidas para a interrupo dos pensamentoscatastrficos negativistas,a busca do copITontode suas auto-regras negativistas,o treinamentode habilidades sociais. Pmela foi treinada a observar melhor as contingncias. Percebendoque lhe gerariam respostas ansiognicas, deveria estabelecer estratgias para o controle daansiedade e a definio de comportamentos assertivos. "Estava no banco, checando aquitao do financiamento de meu apartamento. O atendente estava impaciente e grosseiro.Expliquei a mesma situao vrias vezes. Como ele ficava mais nervoso, disse-lhe: olha,hoje no um bom dia para voc me atender. Quero marcar para amanh, em sua primeirahora, aqui, pode ser? O rapaz ficou atnito. Eu? Maravilhada comigo, por ter sido assertiva!Sai de l e fui ao bosque caminhar. Quando voltei para casa disse que poderia cuidar deminhas roupas, mas sem ansiedade. Organizaria o que desse tempo. No sou perfeita.Puxa, foi muito bom, terminei um excelente dia: mais um sem crises!".

    Atualmente, Pmela passa pela reduo da farmacoterapia, com a ausncia deregistro de crises, nos ltimos um ano e oito meses. Est reapredendo o convvio social.

    "Nossa, sinto-me mais livre medida que a medicao e as crises vo saindo domeu corpo. Hoje sei: meu pai destruiu a vida dele e eu estou viva. Ele me amava muito, mequeria feliz. Ento, se for feliz no estarei agredindo meu pai. Veja bem, estou descobrindoa vida de novo!",disse Pmela.

    Starling (2001, p. 275) destaca que "A medicalizao pode no configurar umcaso simples de esforo mal dirigido e inofensivo. Na verdade seus efeitos podem sernocivos e pioraras condies que motivaram a procura mdica". Starling vai alm quandoaponta um modo que pode favorecer a resoluo de tal problema "( ...) a soluo para oproblema da medicalizao o seu inverso, a "desmedicalizao", o que implica naparticipao de disciplinas no-mdicas no atendimento sade biolgica".

    Certa vez, Pmela assim frisou: "A vida igual ao mar: toda hora vem uma onda evoc tem que se salvar". Ela se referia necessidade de aprender a lidar com ascontingncias e a controlar a emoo que estas evocam, para que sua bioqumica nosofra grandes alteraes, provocando-lhe disfunes corporais incontrolveis.

    216 Ciina Nolto Bueno

  • 7/22/2019 Volume14 Sobre Comportamento Cognicao

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    "Cuidar de minha respirao e fazer com disciplina as tcnicas que aprendi. Esta a grande misso de minha vida nesta guerra de paz contra a ansiedade, contraa epilepsia. Meu livramento dos remdios que, paradoxalmente, feitos para mecurar, deixaram-me estranho, louco, doente." (Marcos, agosto de 2003).

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