Vinicius, Ler 200911
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8/14/2019 Vinicius, Ler 200911
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A gentilezahumanaparece ter feito seu ltimoreduto emPortugal.
E quando eu faloem gentileza, dou-lhequase a acepo medieval
de amor corts, de medida, de mesura. umpovo queno levanta
a voz, e ningum pensequepor covardia,mas poruma boaeduca-oinstintiva e umsenso deafetividade.Essadesagradvelinveno
moderna,o berro,no encontraformavocalnagargantade umpor-
tugus. Hitler, Mussolini ou Lyndon Johnson jamais poderiam
governar esse jardimdEuropa beira-marplantado,ondese fala
baixo, ama-se comfervor e chora-senas despedidas.Essa tristeza, de quensbrasileiros somos os novos legatrios,
Vinicius de
Obrigado, Portugal![ ]Inditos
PORTUGAL SERIA
O NICOPASDAEUROPAONDEEUPODERIA
VIVER FORA DO BRASIL,ESCREVEU VINICIUS
EM 1969,DEPOISDE REGRESSAR
DE LISBOA. A CRNICAFAZ PARTE DO ACERVO
DA FUNDAO CASA
DE RUI BARBOSA,NORIODEJANEIRO,
ONDECONSTAMTAMBM INDITOSDOPOETA, COMO A CARTA
QUE PUBLICAMOSNESTAS PGINAS.
Nacrnica Museu: fantasia?, publicadaa 11 de Julho de 1972, noJornaldo Brasil, CarlosDrummondde Andrademanifestou-se emrelao a um sonhoque cultivava h muito: Velha fantasiadestecolunista e digo fantasia porquecontinuadormindono poro da
irrealidade a criao de ummuseu de literatura. Temosmuseusde arte,histria,cinciasnaturais,carpologia, caae pesca, anato-mia, patologia,imprensa,folclore,teatro, imagem e som, moedas,armas, ndio, repblica... de literatura no temos [...].
Porm, cinco meses depois,a velhafantasiado cronistatornava-serealidade. Criava-se,na Fundao Casa de Rui Barbosa, no RiodeJaneiro,o Arquivo-Museude Literatura, a respeito do qual CarlosDrummondsemanifestariaa 4 deJaneirode1973, nacrnica Em
SoClemente, 134, publicadano mesmo jornal: Colecionador ounocolecionador, quetenhaem casa umretrato,uma carta,um poe-ma,um documentode escritor brasileiro digno do nome de escri-tor,epodecomeleenulentar[sic] o arquivo-museumenino, dirigido
58 [novembro 2009] revista LER
e
DR
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Moraespelo esprito pblico de Plnio Doylena Casa de Rui Barbosa: faaumbeaugeste, mandeissopara So Clemente, 134, e teroferecidoa simesmo o prmiode umasatisfaogenerosa.O sonho desse poeta reserva hoje umgrandeacervo literrio, com
124arquivos,entre os quais os de ClariceLispector, Cruz e Sousa,Fernando Sabino, Joo Cabral de Melo Neto, Jos de Alencar,Manuel Bandeira, Pedro Nava,Rubem Braga e Vinicius de Moraes,alm do prprio arquivo de CarlosDrummondde Andrade.
Tambm com intuito de oferecer aos leitores uma satisfaogenerosa, aqui sero reproduzidos dois documentos quese en-contram sob os cuidados dessa fundao, todos de Vinicius deMoraes (1913-1980): uma cartaa Rodrigo Melo Franco de Andra-
de, escrita a 9 de Outubro de 1938, no Magdalen College, ondeVinicius de Moraes estudou, em Oxford, e a crnica Obrigado,Portugal!, datadaa 15 e 16 de Junho de 1969 e publicada noJor-nal do Brasil.
temumaancestralidade quevemdemuitasdominaes, muita sub-
misso forada,muitofatalismo histricoe geogrfico.Povoafeito
sguerrasaindahojeasmantmnoUltramarpareceelesofrer
deumsilenciosoherosmona paz, como sea Desgraa, essa invis-velespadade Dmocles lenta e diariamente forjadapelo Destino,
pudessea qualquermomentocair-lhesobreacabea.Quasehumilde
notratopessoal,logoverificarquemoconhecermelhorquenose
trata de servilismo,e simde umanecessidade de nofazer vibrar
almdo necessrio os frgeis fiosque suspendem imanentemente
osMausFadossobre sua existncia. E talvez por esse motivoque
seus bons fadostambmsotristes, semprea carpiras penas do
vivere doamar.
Isto to mais curioso quanto, apesarde pobree subdesenvolvido
emsuagrandemaioria,oportugusumpovosaudveledebomas-
pecto,comboapeleedentesmagnficos,bemcertofrutodeumaali-
mentaomais adequada:nada como o brasileiro menos aquinhoa-dodasregiespobresdopas,nogeralmalsoebanguela,almde
irnicoe desconfiadopor mecanismo de descrena e autodefesa.
A propalada burrice doportugus simples e iletradonadamais
queumaformasadiaevegetativadeser(ounoser,comoqueiram).
Foi minha mulherquemmatoua charada:Eles nosoburros, dis-
se-me ela.Eles apenasdesconhecem quetminteligncia.E a de-
cantadaesperteza ou inventiva do pria brasileiro nadamais
queoantivrusdaformacrnicadaignornciaeindignciaemque
vive,tendoque sevirarmesmode fatoparano juntar oscalcanha-
res.Opriabrasileirotemquelutarnoscontraosindesejveiscro-
mossomosdadesnutrio;a dorde dentesendmicae a cachaa de
mqualidade,atumtipodeensinoeissoquandomuitoafortu-nadoemquelhebaralhamacabeacomumalnguacheiadepre-
conceitossemnticos e acentosdesnecessrios isso porqueh de-
cnios os cartolasda lingstica nasduasptrias teimam em no
simplific-la,quem sabepara justificar a continuidadedeseusjetons
esua dolce vitaacadmica.
Euconfessoque depois desta minhaltimaviagem, e deum con-
tato intermitente detrs mesescomsua gente,Portugalseriao ni-
copasda Europaonde eupoderiaviverfora doBrasil:com eventuais
incurses Itlia.Queadiantamo superdesenvolvimentoe a kultu-
ra(assimmesmocom k)deumpovo,comodoisoutrsqueeuconhe-
o,senelesarelaohumanatorna-secadadiamaisdifcileindesej-
vel diantede umoutro tipode ignornciabemmaisperigoso a longo
prazo, como esse da reservae falta dedilogo; dasubmissoa pre-conceitoseconmicosfalsosnaverdadeiraescalade valores; doabur-
guesamento progressivo e da mesmificaodo maispessoaldos
meios de comunicao, que a linguagem?Quequalidade mais
a prezarno serhumano,se nofor a gentileza, o gostode conviver,
a boa vontadeem cooperar, emsocorrer, emdar-se umpouco em
tudooquesefaz,desdetrabalharaamar,desdecomeracantar,des-
decriarnoplanointelectualafazernoplanoindustrialouagrcola?
Obrigado,Portugal!Nocontatodetuas gentes,teusescritoreseteus
artistas,teusestudanteseteussimplesteupovinhodasbrancasal-
deias! eusenti que hainda muito issoque cadadiamaisfaltaao
mundo:carinhoe sinceridade.Represados,talvez,naslatentescomo
osanguesobapele,eprontosaromperacrostacriadaaduraspenas,aolongodeumpassadotocheiodesacrifcioseinfortnios.
Obrigado, Lisboa, terrato boa, genteto gente, casas tocasas,
amigosto como j nose encontra. Obrigado,Coimbra que mere-
cebesteemtuaAcademiaeemteuConvvioequemepusesteuma
velhacapasobre osombros.Obrigado,Porto, onde teus estudantes
quiseramnome deixartrabalhar emboate,porque nosabemain-
daquea poesiae a canotmde estar emtoda parte (masobrigado
pelo gesto,estudantesdo Porto!). Obrigado, bidos, queparecesfei-
tanocu,tolindaepuracomoumaavozinhameninaqueaindausas-
se floressilvestres na cabea. Obrigado, vora,me alentejana de
Ouro Preto,cidadeonde mais quenenhumaoutra sesenteo Brasil
colonial, o BrasildoAleijadinho, cidadeperfeita de gentilausterida-de.Obrigado,Monserraz[sic],queestanoquerovernuncamaispor-
quese a elavoltarnela hei-deficar, entreseus murosbrancos e seus
homense mulheresdomais francoolhar. Obrigado,Portugal. Resta
sempre umaesperana.Eu voltarei.
RiodeJaneiro,15 e16de Junhode1969
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Rodrigo, meu querido,
S agora na verdade, mais sossegado e maisadaptado nova vida, sinto foras pra te escre-ver direito. Antes seria possvel, mas eu noqueria te mandar, em vez de novas, nvoas, eelas eram tantas que por um momento penseifosse o navio naufragar. No estou esperandono, mas se no ganhei, com essas duas sema-nas de Inglaterra, um aneurisma ou coisasemelhante, pela fora do bom Deus.
A velha cachorra bateu desde o primei-ro dia de Londres com uma intensidade queme desequilibrou. Tive todas as nsias, des-de a vontade de acabar com a raa, at a de
ficar sentado no passeio de Piccadilly Circus,e deixar correr. No que o ambiente estives-se especialmente ruim, mas eu estava, e bas-ta. Creio mesmo que o [que] me levantou omoral foi o instante da guerra, a necessidadede providenciar muito, etc... Felizmente o ins-tante morreu e com ele muito do meu vazio.
Voc compreende, vim num momento toespecialmente intenso da minha vida, inten-so por todos os motivos, sentimentalmenteintenso ela,1vocs, meu livro,2 a famlia, anossa viagem a Ouro Preto,3 tudo to bom,tudo me fazendo festa porque eu devia vir...
que quando me senti s, e palpei com o dedoa espessura da minha solido, vi que ela eraa mais forte de ns dois. Toquei o meu ban-jo argentino, bebi minha cerveja, fiz todas asvisitas de cortesia que precisava (talvez de-mais at)[,] assisti o dia 27 de Setembro emLondres que foi impressionante, arrumei asmalas, vim pra Oxford, fiz todas as coisas quetinha pra fazer e agora estou ferozmentetrancado no meu apartamento, violentandoa paz ntima de que eu preciso pra no des-controlar diante dessa aventura perigosa emque me meti. Porque Oxford, meu caro,
uma aventura perigosa pra um homemda minha formao e da minha natureza.O lugar sereno e tem muito encanto, mas
est cheio de uma meninada completamen-
te ingnua em relao vida. meio besta tefalar assim na minha idade,4 mas a impres-so que me d mesmo quando eu sintoa cultura deles de melhor qualidade que aminha e sem comparao mais determina-da de escola pblica, uma escola pblicade principezinhos, cheia de regras e de hbi-tos incomuns em relao ao mundo e sua li-berdade. Ora, pra quem j viveu um pouco asua liberdade como eu, no seria difcil atu-rar um pouco tambm o outro lado, mas prafazer isso brasileiro tem que agir com umcerto artifcio, e eu detesto agir com artifcio,
de maneira que me entrego a solido e deixoao tempo a obra de me encaixar num velhonicho qualquer de Magdalen e me apaixonarpelo meu trabalho porque isso condiode um bom oxfordiano.
Eu quereria poder esquecer a o calor detodas as coisas vividas, a amizade de vocs,fazer um parntese, aproveitar tudo da me-lhor maneira e levar essa experincia dandocacho, voc compreende? Fico pensando...ser possvel? Pergunte ao Nava5 se ele acha-ria possvel. Tenho a impresso que o Navamorria de tdio aqui. Tenho a impresso que
todos os homens como eu ou como o Nava oucomo o Caloca6 no tm nada a fazer nem aver com a Inglaterra, a no ser de passatem-po. As mulheres no despertam grandes coi-sas em voc e mesmo quando voc deita comelas impossvel tirar o pijama, porque fazmuito frio. Nada da porcaria da, nada deum corpo nu ao seu lado, suando, com as ja-nelas abertas. Voc vive aqui entre cortinasfechadas, pisando s em tapetes, se aquecen-do no fogo da lareira. E se voc fala uma pala-vra menos correta num ingls menos puro, adelicadeza assombrada com[o] eles escutam
e perdoam de fazer a gente pegar o primei-ro vapor. O estrangeiro to estrangeiro aquique ele prprio acaba com m vontade para
consigo prprio, e com tendncia a se achar
as piores coisas, como eu estou agora. Meacho feio no espelho, desajeitado dentro dosgrandes timos casacos ingleses, me achoacentuado na rua, fico com os piores com-plexos e me infrinjo as maiores humilhaes.
Evidentemente tudo isso vai passar, elesacabaro ou por me aceitar, ou por me esque-cer completamente e eu vou poder aprovei-tar melhor. S te conto isso agora, no calor dacoisa, pra voc poder ver como eu estou so-frendo e pra justificar tudo do meu silncio.
Nem perguntei por voc, por Graciema,7
pelos garotos. Vai tudo timo, no vai, Rodri-
go? Tenho uma grande saudade da de suacasa, como vai a macaquinha? E o Servio, oReis,8 como vai o querido Reis? D um gran-de abrao nele, Rodrigo, diga que vou mearrastando menos mal. E no se esquea deme mandar as publicaes do servio. Estousentindo que vou me arruinar em livros. Sevoc visse o que a Blackwell, aqui em Ox-ford, voc ficava tonto. a livraria mais es-pantosamente boa que se pode imaginar.Hoje sa com 10 L.9 no bolso e voltei a nenm.Comprei 10 L. de livros, seu Rodrigo! O Sha-kespeare do Chambers, em dois volumes
enormes, as obras completas em um volu-me, gramticas do Anglo-Saxo, os Oxford-book de poesia do[s] sculos[s] 16 e 18, dicio-nrios, uma coisa louca. Se voc precisar dealguma coisa mande dizer, porque tem tudo.
J comecei meus Tutorials. Creio que vaiser duro fazer o meu Anglo-Saxo, mas en-fim, comecei, toca pr frente. Peguei literatu-ra diretamente nos Elisabetheanos, o que j mais agradvel. O sistema de estudos aqui uma das grandes coisas que eu tenho visto,equilibrado, eficientssimo pra quem quiserrealmente aprender. Os Tutores so cria-
turas sbias, com bons ares saudveis.Fui recebido no sbado, em grande ceri-mnia coletiva, li um papelzinho em latim, e
Carta a Rodrigo Melo Franco de AndradeMagdalen College, Oxford. 9.10.38
A carta, que permaneceu indita at hoje, revela a dificuldade deo poeta adaptar-se a Oxford, para onde foi estudar em 1938, aps re-ceber uma bolsa de estudos do British Council, com durao de dois
anos. Destinada ao amigo Rodrigo Melo Franco de Andrade, quena poca dirigia o recm-criado Servio do Patrimnio Histrico eArtstico Nacional o SPHAN, atual IPHAN , a correspondncia re-lata angstias e anseios, descreve seu cotidiano e as primeiras
impresses sobre a universidade, alm de manifestar a saudadeque sentia do Brasil e da famlia.Trinta anos depois dessa viagem, j consagrado mundialmente pela
bossa nova, Vinicius de Moraes embarca rumo a Lisboa, onde fariashows com Baden Powell. Instala-se no Hotel Tivoli e estreia na noi-te de 11 de Dezembro. Foi uma viagem emocionante pela recepoafetuosa dos portugueses. Uma viagem tambm emocionante, num
1 Referncia a Tati, com quem Vinicius de Moraes se casa-ria em 1939.2 Provvel referncia ao livro Novos Poemas, que a edito-ra Jos Olympio veio a publicar em 1938, quando Viniciusde Moraes j se encontrava na Inglaterra.3 No Inverno de 1938, Vinicius de Moraes e Rodrigo Melo
Franco de Andrade fizeram pesquisas a respeito das obrasde Aleijadinho, conforme esclarece na crnica O amigoexemplar, de 29 de Junho de 1969, publicada noJornal doBrasil: [...] lembrana de minhas aventuras em nossa pri-meira viagem a Ouro Preto, no Inverno de 1938, quandofomos com esse caro Jos Reis debulhar os gavetes da
sacristia de So Francisco de Assis cata de comprovan-tes de obras de talha do Aleijadinho ainda no autentica-das: e com que sucesso [...].Tratava-se de uma viagem relacionada com o Servio doPatrimnio Histrico e Artstico, fundado e dirigido porRodrigo Melo Franco, intelectual responsvel pelo tom-
[ ]Inditos
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ESTOU LONGE DA POESIA, SECO, ESTUDANDO ANGLO-SAXOE METIDO EM GRANDES ROUPAGENS. MAS SINTO QUE S
VOU COMEAR A VIVER MESMO QUANDO ELA VIER.
outro contexto, por saber no prprio dia 13 de Dezembro de 1968 que havia sido decretado o Ato Institucional n. 5, lanando o Brasilnum regime militar sem precedentes no pas. Nessa mesma noite,
antes de encerrar o show com o clssico Canto de Ossanha, can-o composta em parceria com Baden Powell, anuncia, conformeJos Castello na biografia Vinicius de Moraes: o Poeta da Paixo:Eu hoje gostaria de dizer a vocs umas palavras de muita tristeza.
No meu pas foi instaurado hoje o Ato Institucional n. 5. Pessoasesto sendo perseguidas, assassinadas, torturadas. Por isso, queroler um poema. Baden Powell comea a dedilhar o hino nacional
brasileiro e Vinicius de Moraes l versos de Ptria Minha, queextasia a plateia lusitana.
Eduardo Coelho, chefe do Arquivo-Museu de Literatura Brasileira ,da Fundao Casa de Rui Barbosa e editor da Lngua Geral.
isso tudo vestido de preto com gravata bran-
ca de lao e colarinho duro e cap and gown.Cap and gown uma tragdia aqui. Voc tira,voc bota, daqui a pouco tira de novo, nopode fumar em cap and gown, no pode va-diar na rua em cap and gown, cap and gownso duas entidades!
Me sinto vagamente errado, fazendo essascoisas reais que no mostram nenhuma rea-leza e que sobretudo no tem nenhuma reali-dade, so smbolo puro, smbolo desprovidode vida. Toda Oxford um smbolo em estadode pureza, a cultura desses homens um sm-bolo como a prpria velha pedra dos colgios.
Tenho impresso que Oxford o corao daInglaterra, e que a Inglaterra no poderia vi-ver sem esse ritmo perfeito dentro dela. Porisso tenho tanto medo e me fecho tanto ante aperspectiva de causar uma pulsao em falsoou perturbar de qualquer modo esse corao.
isso, meu querido Rodrigo. Estou longeda poesia, seco, estudando Anglo-Saxoe metido em grandes roupagens. Jantandono Hall em que jantou o Rei, vendo nomespenosos por toda a parte e monumentos be-lssimos a cada passo. Mas sinto que s voucomear a viver mesmo quando ela10vier,
quando ela me trouxer de volta tudo o que eudeixei de mim eu mesmo nela, quando aaventura me obrigar a vir e sobretudo quan-do o segredo me fortificar as horas, e o cui-dado, a ao. Ento, vai ser bom, vai haverOxford e o perigo, vai haver ela e a vida. Semisso no creio que possa fazer nada de tilnem por mim mesmo, nem pra ningum.
Abraa o povo todo, me defende de toda aintriga, e sobretudo salva o nome dela dessahistria, se houve alguma coisa, Rodrigo.No creio que haja nada, mas enfim...
Teu Vinicius
Diz ao Nava que fiz a bordo uma poesia pra ele,sob a dor de corno. Breve mandarei.11
Vi.
a
bamento e restaurao de muitas obras de arte do patri-mnio brasileiro.4 Nascido a 19 de Outubro de 1913, Vinicius de Moraesestava ento a 10 dias de completar 25 anos, enquantoRodrigo Melo Franco, nascido a 17 de Agosto de 1898,estava com 40 anos.
5 Pedro Nava, escritor brasileiro.6 Caloca, apelido de Carlos Leo, arquiteto, desenhista epintor brasileiro. Poemas, Sonetos e Baladas, de Viniciusde Moraes, foi publicado em 1946 com 22 desenhos deCarlos Leo.7 Graciema Melo Franco de Andrade, mulher de Rodrigo.
8Jos Reis, arquiteto brasileiro.9 Libras.10 Tati.11 Trata-se provavelmente do poema Balada de PedroNava, publicado em Poemas, Sonetos e Baladas.