Vidas secas - graciliano ramos

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Vidas Secas Graciliano Ramos Foi publicado em 1938 e aborda a problemática da seca e da opressão social no Nordeste do Brasil. Ao contrário dos romances anteriores, é uma narrativa em terceira pessoa, com o discurso indireto livre predominante, com a finalidade de penetrar no mundo introspectivo dos personagens já que esses não têm o

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Vidas SecasGraciliano Ramos

Foi publicado em 1938 e aborda a problemática da seca e da opressão social no Nordeste do Brasil. Ao contrário dos romances anteriores, é uma narrativa em terceira pessoa, com o discurso indireto livre predominante, com a finalidade de penetrar no mundo introspectivo dos personagens já que esses não têm o domínio da linguagem necessário para estabelecer a comunicação.

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Dados do Autor Graciliano Ramos (1892-1953) nasceu em Quebrângulo,

Alagoas. Estudou em Maceió, mas não cursou nenhuma faculdade. Após breve estada no Rio de Janeiro como revisor dos jornais "Correio da Manhã e A Tarde", passou a fazer jornalismo

e política elegendo-se prefeito em 1927. Foi preso em 1936 sob acusação de comunista e nesta fase escreveu "Memórias do Cárcere", um sério depoimento sobre a realidade brasileira. Depois do cárcere morou no Rio de Janeiro.

Em 1945, integrou-se no Partido Comunista Brasileiro. Graciliano estreou em 1933 com "Caetés", mas é São Bernardo,

verdadeira obra prima da literatura brasileira. Depois vieram "Angustia" (1936) e Vidas Secas (1938) inspirando-se em

Machado de Assis.

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Vidas Secas no Modernismo

Vidas Secas pertence à segunda fase modernista (1930-1945), que, deferentemente da primeira, na qual predominou a poesia, conhece um grande e fecundo surto da prosa e ficção. Refletindo um contexto histórico conturbado – a crise econômica gerada pela quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, a crise cafeeira, a ascensão de Getúlio Vargas, o declínio do Nordeste – a prosa de 30 assume uma visão crítica das relações sociais, trilhando pelo regionalismo. A ficção de 30 superando o experimentalismo da fase anterior, inaugura “uma corrente social e territorial”, no dizer do crítico Afrânio Coutinho, para quem “o quadro predomina sobre o homem, seja o ambiente das zonas rurais, com seus problemas geográficos e sociais; seja o meio urbano e suburbano, a vida da classe média e do proletariado, as lutas de classe”. Acrescentando que esta vertente utiliza-se geralmente da “técnica realista e documental”, ele menciona a orientação seguida por Vidas Secas: “O segundo grupo é o documento regionalista, que compreende os modernos ciclos da ficção brasileira”, em que “o homem é dominado pelo quadro, devorado amiúde por ele”.

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 Análise Estrutural A composição da obra não segue o esquema tradicional de

enredo, ou seja: os trezes capítulos ou quadros estão seqüenciados descontinuada- mente, de maneira a acentuar o drama da família sertaneja, cujo percurso remete à idéia de “impossibilidade de vida contínua”. De estrutura desmontável, fragmentária, circular, a seqüência narrativa é definida pelos movimentos de partida e chegada dos retirantes, a unidade é assegurada pela “problemática humana – fome, miséria e necessidade de fuga”. O sentido de circularidade é visível nessa estrutura, em que o primeiro e o último capítulo, respectivamente Mudança e Fuga, reforçam a ausência de perspectiva, de estabilidade dos sertanejos. Sobre esse aspecto, é valiosa a opinião de Dácio A. de Castro. Para ele, o autor “conseguiu espelhar na organização interna da obra o ilha mento do sertanejo, impossibilitado de constituir uma forma de vida gregária, que conseguisse ordenar um entendimento razoável tanto entre os membros da família como desta com a sociedade”.

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Foco Narrativo    Vidas Secas é narrada em terceira pessoa com onisciência

prismática. Ao optar por esse foco narrativo, o narrador permite ao leitor fiscalizar a realidade a partir da perspectiva dos personagens, sob ângulos diversos. Para isso, é importante o papel desempenhado pelo discurso indireto livre, que possibilita uma intervenção discreta do narrador no relato  ao mesmo tempo em que assegura a combinação de aspectos psicológicos, sociais e naturais para constituir o “perfil das personagens e das situações”. O narrador não se mantém aos fatos e figuras, senda a vida mental das personagens, “usando a onisciência não para retratar o ambiente, mas como instrumento de análise comportamental e psicológica”. Um dos exemplos do efeito de tal onisciência pode ser visto no capítulo “Inverno”, no qual a chegada das chuvas é registrada a partir da ótica de Sinhá Vitória e Fabiano, pensamentos e falas das personagens fundem-se com o relato do narrador.

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Tempo    Os elementos indicadores do tempo cronológico na obra são

escassos e discretos, implícitos e a ordenação do tempo requer uma atenção cuidadosa do leitor. Apesar da presença de algumas referências claras e precisas seqüência temporal, chamam mais a atenção os indicadores vagos, imprecisos. É claro que, por exemplo, a trajetória da família ocorre dentro de duas estiagens, Fabiano reencontra o soldado amarelo exatamente um ano após a prisão. Mas geralmente os referentes temporais aparecem limitados, como afirma Dácio A. de Castro, para quem, “de modo geral, os acontecimentos não estão datadas em relação à memória das personagens”. (...) alguns [indicadores]  se referem ao presente da narrativa, outros representem experiências do passado, resgatados pela memória, sequiosa de tempos felizes”.   

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Com o tempo psicológico posto em relevo, pelo menos três aspectos ganham dimensão:

Intensificação do drama existencial vivido pela família, em meio a mundo caótico e instável.

o registro de fluxo de consciência revela a “retificação e os caos instaurados” no dia-a-dia das personagens.

“os indicadores temporais evidenciam também a incipiente organização social em que vivem as personagens, oriundas da economia rural.”

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Espaço    O papel desempenhado pelo espaço físico é fundamental

para a construção do sentido geral da obra. Se considerada a sua influência na trajetória da família de Fabiano, o espaço pode ser tomado como uma alegoria, uma espécie de personagem: “A família sertaneja tem suas possibilidades de vida e de realização bloqueadas tanto pela natureza adversa como pelos limites impostos por aquelas que detêm alguma forma de poder”. O destino da família é determinado pelo ambiente, seja a paisagem natural inóspita, que a expulsa, seja pela cidade, que não a acolhe. Impossibilitados de interagir com o meio, os famintos e miseráveis encontram como única saída o nomadismo”. A natureza, bem como o espaço urbano, desestabiliza e desagrega a família, provocando o isolamento das personagens, “cujas aspirações são adiadas continuamente”.

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Personagens

As personagens de Vidas Secas, consideradas em conjunto, funcionam como uma alegoria, desempenhando papéis opostos dentro das circunstancias em que atuam. O patrão de Fabiano, o soldado amarelo e o fiscal da prefeitura, símbolo do poder, ocupam posição oposta à da família sertaneja.

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~> Fabiano Típico vaqueiro nordestino. Fabiano “pobre diabo inofensivo,

joão-ninguém”, é um ser embrutecido. Preso a terra, é tomado pelo temor, duvida e receio quando se depara com o meio citadino, confrontando-se com o fiscal da prefeitura, o soldado amarelo e o patrão, sente-se “violentado por instituições sociais incompreensíveis e abstratas”. Marginalizado e vitimado por fatores que sua compreensão é incapaz de atingir profundamente, revoltado e passivo, caracteriza- se  como um “herói problemático”, resistente às adversidades oriundas do ambiente natural e social, sempre fugindo  em busca de integrar-se num mundo em que a sua individualidade seja acolhida. Supersticioso, vivendo alternadamente a estabilidade e instabilidade, “sonha com um trabalho regular” e encanta-se com a linguagem  de seu Tomás da Bolandeira. “O que mais atormenta é a impotência de não se sentir ‘dono’ da própria linguagem, que lhe é subtraída pela condição social adversa. O que mais o anima é a perspectiva de que algum dia, seus filhos possam vir a dominá-la.

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~> Sinhá Vitória 

A “patroa” contrasta em alguns aspectos com o marido. É mais consciente e decidida, atua e menos embrutecida, possui desejo de posse, aspira realizar-se pessoalmente e “detém” de certa maneira, a supremacia da família”.

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~> Os meninos

A despersonalização das crianças é patente na ausência de nomes. “Único fiapo de esperança possível de futuro melhor”, os pais projetam a educação deles. O menino mais novo quer ser Fabiano e recebe um aviso desanimador: é derrubado violentamente pelo bode em que tentara montar para provar suas habilidades. O menino mais velho, “mais inquieto”, procura  apoio em Baleia, quando é punido pela sua curiosidade: queria saber perfeitamente que era o inferno.

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   ~>Baleia

    É uma cachorra , humanizada, Baleia faz parte da família. As agressões físicas chegam até como na família, despertar nela o desejo de fuga.

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~> Seu Tomás da Bolandeira    Não tem participação direta no enredo da

obra, mas evocado e lembrado por Fabiano e Sinhá Vitória. “indivíduo alfabetizado e ideal”, símbolo e sabedoria, a mulher deseja o bem que ele possui, a cama de lastro de couro; o marido considera o seu saber, apesar de ter claro de que nada adiantou-se: seu Tomas da Bolandeira estava falido.

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   ~> O Soldado Amarelo

Símbolo de poder despótico, militar, o soldado amarelo, cuja cor assume mais de uma conotação, integra o conjunto de elementos e situações que oprimem a família, em especial Fabiano.

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~> O dono da Fazenda

Responsável também pela condição opressor da família, do ponto de vista econômico, “representa o imobilismo de um estrutura social”.

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   ~> O fiscal de Prefeitura

Simboliza a “intolerância da máquina governamental”. junto com o soldado amarelo e o dono da fazenda, representa o opressor. 

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Sobre o Estilo     O método de composição utilizado por Graciliano Ramos na

feitura de Vidas Secas reforça, no plano estilístico, a problemática humana vivida pelos retirantes, traduzida através de aspectos de naturezas diversas, sempre a reforçar a carência econômica, social, lingüística, intelectual e mental das personagens. O que equivale dizer: técnica narrativa e linguagem aparecem adequada à temática social da obra. Para destacar um outro aspecto importante do estilo de Graciliano Ramos, acrescentamos um valioso comentário de Dácio Antônio de Castro: “O rigor e a disciplina com que trabalha a linguagem refletem o apurado senso estético de quem se instrumentava politicamente da palavras por acreditar sinceramente em sua capacidade transformadora”.

TRAÇOS GERAIS: beleza, harmonia, refinamento, elegância, depuração, objetividade, concisão e correção.

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Em sintonia com a paisagem e a existência das personagens, a linguagem é seca, precária. Por isso, são comuns as interjeições guturais, muxoxos,  onomatopéias, gestos, enumerações, resmungos, repetições;

Moderação no uso de adjetivos; Ao lado da sintaxe tradicional, uso de vocabulário regional e

escasso; Uso constante de orações coordenadas, de paralaxe, utilização

de frases nominais, curtas, elípticas, períodos curtos, lacônicos;

Uso intenso do monólogo interior, secularização de diálogo; Presença de monossílabos e de frases soltas e incompletas.

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Clímax

Quanto ao clímax, ele não se determina de forma fixa no livro (como legítima obra moderna , cada um tem uma percepção diferente de qual é o ponto alto da narrativa), mas nosso grupo escolheria a cena final que gera uma grande dúvida e um conseqüente desconforto interior no leitor.

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Resumo da Obra

A história inicia-se em 1940 com uma família pobre do sertão nordestino em busca de um lugar para sobreviver. Exaustos, o chefe da família Fabiano, sua mulher Vitória, seus 2 filhos e o cachorro Baleia encontram uma casa e passam a noite, já que ela estava aparentemente abandonada.

De repente chega o dono da fazenda e ameaça expulsar a família da fazenda. Fabiano implora trabalho e acaba ficando na fazenda.

Um ano depois, Fabiano, já era empregado da fazenda e cuidava dos animais como vaqueiro, porém não recebia o salário suficiente por todo trabalho árduo que realizava.

Indo a cidade, Fabiano e a família vão a uma festa regional e Fabiano ao convite de um soldado vai jogar baralho com uns apostadores, apostando todo o seu salário e no momento que percebeu que estava perdendo no jogo, saiu e foi abordado pelo soldado ocorrendo uma discussão entre eles.

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O soldado chama a polícia e eles o prendem, acusando-o injustamente e o agridem com um facão.

A mulher e as crianças sentindo sua falta pernoitaram na calçada e no dia seguinte viram o dono da fazenda e o padre indo em direção a prisão. O padre liberou Fabiano da prisão.

O tempo passou e a família foi ficando cada vez mais pobre, pois Fabiano gastava todo o dinheiro no jogo, e sua mulher revoltou-se.

A seca castigava cada vez mais os animais e por isto, Vitória quis fugir da fazenda.

A família organiza a mudança e Fabiano quer matar Baleia que está doente, mas acaba a ferindo com um tiro, porém ela foge. Nisso as crianças choram muito a perda do animal.

Por fim, Fabiano e a família saem em retirada e o sertão continuaria a mandar para a cidade homens fortes, brutos como Fabiano, Sinhá Vitória e os meninos.

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