Vida da beata Albertina Berkenbrock (virgem e mártir) · Quem parte de São Martinho em direção...

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Castidade heróica Vida da beata Albertina Berkenbrock (virgem e mártir) Diácono Aury Azélio Brunetti EDITORA AVE-MARIA

Transcript of Vida da beata Albertina Berkenbrock (virgem e mártir) · Quem parte de São Martinho em direção...

Castidade heróicaVida da beata Albertina Berkenbrock

(virgem e mártir)

Diácono Aury Azélio Brunetti

EDITORAAVE-MARIA

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Apresentação

O autor desta nova biografia de Albertina Berken-brock quis dar-me a honra e a alegria de apre-

sentá-la ao Povo de Deus do Brasil.

Albertina, menina de 12 anos, colhida e guarda-da no coração de Deus por pertencer-lhe de corpo e alma, não temeu sacrificar sua vida antes de sacrifi-car sua pureza, por amor àquele que por todos nós sacrificou-se na cruz.

“O Brasil precisa de santos, de muitos santos”, disse João Paulo II ao visitar nossa terra. Pois aqui está uma adolescente que trilhou o caminho da santidade de forma decidida e radical.

Os tempos atuais precisam do testemunho de Al-bertina, testemunho de coerência e coragem, de santo orgulho por pertencer ao Senhor. “Se estamos vivos, é para o Senhor que vivemos e, se morremos, é para o Se-nhor que morremos. Portanto, quer vivamos, quer mor-ramos, pertencemos ao Senhor” (Romanos 14,8- 9).

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Albertina, toda do Senhor, deixa-nos o exemplo de sua vida e de sua morte. Deixa-nos também seu espírito, espírito de fidelidade ao batismo, que nos faz viver como filhos e filhas do Pai celeste; de fide-lidade à eucaristia, que nos dispõe a sacrificar nossa carne e sangue por amor ao Cristo; de fidelidade à crisma, que nos torna firmes na fé, alegres na espe-rança e generosos na caridade.

Felizes as jovens e os jovens que, como Alber-tina, compreenderem o que significa, na vida e na morte, “pertencer” ao Senhor.

Alegro-me com o Diácono Aury Azélio Brunet-ti pela nova biografia de Albertina. Merece que o felicitemos cordialmente. E faço votos que estas páginas luminosas e perfumadas inundem de luz pascal o coração das jovens e dos jovens que, a exemplo de Albertina, querem, de corpo e alma, pertencer ao Senhor.

DOM HILÁRIO MOSER, SDBBispo de Tubarão

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A bem-aventurada de Deus, ALBERTINA BERKENBROCK, nasceu em 11 de abril de 1919, em São Luís, Diocese de Tubarão, no Estado de Santa Catarina, e foi assassinada em 15 de junho de 1931, por defender sua pureza. Sua beatificação aconteceu a 20 de outubro de 2007 em Tubarão - SC.

Declaração

Ao usar os termos “santa, mártir, martírio e similares”, o autor não pretende lhes dar outro sentido senão o da linguagem popular, em nada querendo antecipar-se ao juízo definitivo da Igreja, de conformidade com o decreto do papa Urbano VIII.

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São Luís

São Luís – uma pequena povoação pertencente à paróquia de Vargem do Cedro e ao município

de Imaruí, no sudeste do Estado de Santa Catarina, ufana-se de ser o berço natal da bem-aventurada ALBERTINA BERKENBROCK, hoje nacionalmente conhecida como o “Lírio do Brasil” e a “Maria Go-retti brasileira”.

A comunidade católica de São Luís está inse-rida dentro do território assistido pastoralmente

Vilarejo de São Luís, onde Albertina nasceu e viveu seus 12 anos de existência.

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pela Diocese de Tubarão*, criada pela santa Sé em 28 de dezembro de 1954, e cuja jurisdição esten-de-se por cerca de 18 municípios espalhados por uma superfície de 4.524,8 km2, com uma popula-ção calculada em 311.730 habitantes (lBGE 1999), distribuídos por mais de 20 paróquias.

Esse pequeno e pitoresco povoado repousa no aconchego de um planalto, bem no alto da serra. Quem parte de São Martinho em direção a São Luís há de subir uma íngreme encosta de uns oito quilô-metros. A estrada serpenteia pelo monte acima, zi-guezagueando pelo dorso da montanha atapetada de verdejante e frondosa vegetação.

Passando por São Luís, já quase no cabeço da serra, a estrada prossegue em direção ao leste, ago-ra em extenso declive, até chegar a Imaruí, sede do município, que descansa placidamente junto à la-goa do mesmo nome, não muito longe do mar.

* De acordo com informações fornecidas por Antônio Sampaio Correa (na revista Ave Maria, outubro/1976, págs. 8 e 9), o nome da cidade de Tubarão deriva do nome de um antigo cacique indí-gena da região, “Tobá-Nharô”. Por volta de 1600, os missionários jesuítas portugueses começaram a evangelizar aqueles povoa-dos, levantando a Cruz de Cristo naquelas terras.

Em 1836, era criada a freguesia de Nossa Senhora da Piedade. Em 1870, Tubarão ganhava autonomia, desmembrando-se do muni-cípio de Laguna.

Berço natal de Anita Garibaldi, Tubarão é também conhecida como “Cidade Azul” e “Capital energética do Estado de Santa Catarina”.

Tubarão é sede de diocese desde 28 de dezembro de 1954, quan-do, pela Bula “Viget ubique gentium”, do saudoso papa Pio XII, foi desmembrada da arquidiocese de F1orianópolis.

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Continuando a descer em direção ao litoral, o visitante encontrará, logo depois, a cidade de Im-bituba. Foi aí que, em 1966, Eluíza Rosa de Souza (hoje ao redor de seus 60 anos), desenganada pelos médicos, ao final de uma gravidez conturbada, foi miraculosamente curada por Deus, graças à inter-cessão de madre Paulina do Coração Agonizante de Jesus, a primeira santa oficialmente proclamada como tal em terras brasileiras, pelo papa João Paulo II, no Vaticano, em 19 de maio de 2002.

Os habitantes de São Luís são ainda hoje, em sua maioria, agricultores, como nos tempos de Al-bertina. O solo, não muito fértil, é um tanto argiloso,

Mapa geográfico da região. Detalhe do mapa

geográfico de uma região do sudeste

do Estado de Santa Catarina,

indicando a situação do povoado de

São Luís e seus arredores.

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fornecendo um barro aproveitável para a confecção de tijolos e outros artigos de cerâmica.

Em lugar da antiga capelinha construída em 1924, onde Albertina fez a sua Primeira Comunhão, hoje ergue-se uma nova e avantajada igreja, com uma torre bem alta e bonita, de onde se descortina um lindo panorama de todo o povoado. Essa nova igreja, bem maior e muito bem localizada e conser-vada, foi inaugurada em 18 de maio de 1958, 27 anos após a morte da bem-aventurada.

Pouco a pouco foram desaparecendo as casas de madeira, típicas da região, para dar lugar às cons-truções de material, e a casa onde Albertina nasceu e morou já não existe mais.

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A antiga capelinha em honra de são Luís Gonzaga, freqüentada por Albertina e seus familiares, já não existe mais. Em seu lugar foi erguida esta mais ampla e moderna igreja (foto), sempre mui-to visitada por peregrinos, romeiros e devotos que vêm implorar graças e favores de Deus, por intercessão de sua beata, Albertina Berkenbrock.

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A família Berkenbrock

Os Berkenbrock descendem de uma tradicional família de westfalianos emigrados para o Bra-

sil. Os pais de Albertina – Henrique Berkenbrock e Josefina Boeing – haviam-se unido em matrimônio a 24 de abril de 1915, tendo-se estabelecido na hu-milde povoação de São Luís, numa casa bem pró-xima à capelinha dedicada ao santo patrono da ju-ventude cristã, são Luís Gonzaga.

E foi durante a novena a esse santo, “anjo de castidade”, precisamente no dia 15 de junho de 1931, que Albertina foi assassinada, como jovem mártir da virtude angelical da castidade.

Os pais de Albertina eram camponeses e le-vavam uma vida simples, não isenta de sacrifícios. Ambos trabalhavam na lavoura, carpiam, aravam a terra, semeavam e faziam a colheita em companhia dos filhos.

Sua vida religiosa, como a de todo bom campo-nês do interior brasileiro, era viva e operante. Parti-cipavam da santa Missa todos os domingos e dias santos de guarda. A freqüência aos ofícios religio-sos, aliás, não lhes oferecia nenhuma dificuldade, pois sua casa não ficava muito distante da antiga capelinha do povoado.

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Foto do casamento dos pais de Albertina: Henrique Germano Berkenbrock (* 22/4/1890 – + 30/9/1957) e Josefina Boeing Berkenbrock (* 13/11/1893 – + 15/7/1976).

Desabrocha um lírio...

Aos 11 dias do mês de abril de 1919, no pequeno povoado de São Luís, nascia Albertina. Seguin-

do os traços nórdicos característicos daquela famí-lia de descendentes de westfalianos, a recém-nasci-da haveria de ser, mais tarde, uma gentil menina de cabelos louros e olhos azuis.

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Batismo e crisma

A 25 de maio daquele mesmo ano, Albertina era batizada. Foram padrinhos os seus tios, Geraldo

e Matilde Boeing, irmã de sua mãe. As simples mas alegres cerimônias do batismo foram realizadas na antiga capelinha de São Luís.

Por volta dos 6 anos de idade, em 9 de março de 1925, Albertina recebeu o santo sacramento da crisma.

Interior da atual igreja dedicada a são Luís Gonzaga, padroeiro do vilarejo onde nasceu e viveu a bem-aventurada Albertina Benkenbrock.

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Na escola

Ali pelos 6 anos de idade, Albertina começou a freqüentar a escolinha do povoado.

Seu professor, Hugo Berndt, além de seu ins-trutor na escola, conviveu muito com a menina, pois fazia suas refeições diárias na própria casa dos pais de Albertina, e, por isso, pôde deixar pre-ciosos depoimentos sobre como era e como vivia Albertina. Entre as 17 coleguinhas da escola, Al-bertina se classificava, certamente, entre as alu-nas mais bem prendadas e comportadas, e presta-va muita atenção às aulas, sobretudo a de Religião e Catecismo...

Como ela era

De acordo com os depoimentos do professor de Albertina, acima citado, Hugo Berndt,

Albertina tinha a tez clara, olhos azuis e cabelos louros. Era também um pouco tímida e retraída, dando a impressão de não ser muito inteligente. E

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as coleguinhas se divertiam por vezes à sua custa, chamando-a de bobinha.

Em compensação, era sempre dócil, obediente, serviçal e dedicada, modesta e recatada. Não dizia palavras feias nem xingava os outros. Na escola, re-partia, às vezes, o seu lanche com as colegas mais pobres. No dia mesmo da sua heróica e santa morte, pela manhã, havia levado pão e alimentos aos filhi-nhos do seu cruel assassino.

Diversões

Às vezes, como que penetrada de saudade de seus parentes já falecidos, Albertina divertia-

se a sós, fazendo sepulturazinhas na areia, plan-tando sobre elas uma pequena cruz. Se alguma amiguinha mais atrevida se divertia às suas custas ou a xingava de tolinha, ela sofria tudo com paci-ência, quando não se punha a chorar; mas nun-ca desejou vingar-se, pagando o mal com o mal. Grande parte daquela sua timidez era um acanha-mento muito natural em crianças humildes e po-bres, e que, pouco a pouco, com o correr dos anos, haveria de desaparecer.

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Primeira Comunhão

Com 9 anos de idade, Albertina fez a sua Primei-ra Comunhão, na antiga capelinha de São Luís,

que hoje não existe mais. Foi no dia 16 de agosto de 1928. Recebeu Jesus-Eucaristia das mãos do padre Schwirling. Com certeza, foi um dia muito especial e bem alegre para Albertina, e de grande importân-cia para um futuro não longínquo.

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Albertina era piedosa

Aos domingos e dias santos de guarda, participava da santa Missa com seus pais e irmãos. Ela nunca

deixava suas orações diárias, ao levantar-se e ao dei-tar-se. Já sabia rezar o santo Terço de Nossa Senho-ra. Uma das suas orações prediletas era esta: “Meu Jesus, vinde a mim! Fazei-me devota e sem pecado, para que Vos veja um dia no Céu! Meu coração é todo de Jesus. Nele não há lugar senão para Jesus!”. Esta e outras breves orações, Albertina as havia copiado em um caderninho, e as rezava com freqüência.

Nascido em18/4/1916, VendolinoBerkenbrock é o irmãomais velho de Albertina.Até hoje reside nopovoado de São Luís.

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Maria BerkenbrockFeuser é também irmãde Albertina. Nascida

em 29/9/1931, residehoje no povoado de

Vargem do Cedro,distante uns 10 km de

São Luís.

Outro irmão deAlbertina é o EmílioBerkenbrock, nascidoem 11/9/1923. Já falecido.

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No dia 12 de fevereiro de 2001, no interior da Igreja de São Luís, os seis irmãos de Albertina Berkenbrock, ainda vivos, participaram da cerimônia de exumação da bem-aventurada. Na foto, ei-los atrás da urna de madeira com os restos mortais da sua santa irmã, Alberti-na Berkenbrock. Da esquerda para a direita: Emílio (78), Vendolino (86), Hilda (76), Madalena (73), Maria Verônica (70) e Érika (65).

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Na trilha da morte...

Em linhas gerais, eis como se deu o sangren-to episódio da morte de martírio de Albertina

Berkenbrock. Seguiremos fielmente os depoimen-tos prestados pelo próprio assassino, segundo as informações de não poucas pessoas que o interro-garam sobre o crime por ele cometido.

Era uma segunda-feira, dia 15 de junho de 1931, ali pelas 4 horas da tarde. Albertina estava então com seus 12 anos de idade, na risonha primavera da vida. Um clima de sadia alegria pairava sobre o pequeno povoado, pois estavam celebrando a nove-na do seu padroeiro, são Luís Gonzaga, cuja grande festa seria no próximo dia 21 de junho.

Desaparecera o “Pintado”, um boi roceiro de estimação. O sr. Henrique, pai de Albertina, não querendo perder um animal tão útil, mandou logo que Albertina fosse à sua procura.

A esperta menina, sempre serviçal e obedien-te às ordens dos pais, saiu correndo pela encos-ta, por entre as árvores e as plantações, em busca do “Pintado”. Quando passou em frente da linda capelinha, teria pensado em Jesus, em Nossa Se-nhora e na grande festa do padroeiro, são Luís