Versão final monografia II Rosângela Pedreira da Silva
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES - SCHLA
DEPARTAMENTO DE ANTROPOLOGIA – DEAN
NUSPARTUS: A trajetória de um grupo de teatro polít ico
Curitiba
2013
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Rosângela Pedreira da Silva
NUSPARTUS: A trajetória de um grupo de teatro político
Monografia apresentada como requisito parcial para
obtenção do grau de Bacharelado e Licenciatura
do Curso de Ciências Sociais, Setor de Ciências
Humanas e Artes da Universidade Federal do Paraná
Orientadora: Selma Baptista
Curitiba
2013
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SUMÁRIO
NUSPARTUS: A trajetória de um grupo de teatro político .......................................................... 1
Agradecimentos ..................................................................................................................... 4
Resumo .......................................................................................................................................... 5
Resumen ..................................................................................................................................... 5
Introdução ..................................................................................................................................... 6
Trabalho de Campo ....................................................................................................................... 8
Entrevistas do primeiro semestre de 2011..................................................................................... 9
Integrante André Ribeiro Daniel ........................................................................................... 9
Integrante Cristina Silveira de Oliveira ............................................................................... 9
Integrante Daniela das Graças Fernandes dos Santos ................................................ 10
Integrante Kamylla Paola dos Santos ............................................................................... 11
Integrante Lucilene Aparecida Soares ............................................................................. 12
Depoimento de Lucilene Aparecida Soares .................................................................... 15
Integrante Neiva Carvalho ................................................................................................... 15
Integrante Pedro Augusto Pereira Gonçalves ................................................................ 16
Depoimento do teatrólogo Raro de Oliveira ............................................................................... 17
Depoimentos realizados no ano de 2013 ..................................................................................... 17
Depoimento de Eduardo Mara ............................................................................................ 17
Depoimento de Neocilene Cavalcanti (Kessi) ..................................................................... 18
Cronologia Básica ....................................................................................................................... 19
NUSPARTUS: A trajetória de um grupo de teatro político ........................................................ 20
Vínculo Partidário ....................................................................................................................... 20
Rompimento Partidário ............................................................................................................... 31
Considerações Finais ................................................................................................................... 35
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CONSULTADAS .................................................. 37
Anexo I .................................................................................. Erro! Indicador não definido.
Anexo II ................................................................................ Erro! Indicador não definido.
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Agradecimentos
Agradeço aos integrantes do grupo NUSPARTUS pela colaboração nas
entrevistas e na preocupação com a essência da pesquisa monográfica, que
contou com a contribuição metodológica da professora Liliana de Mendonça
Porto na disciplina de Métodos e a orientação monográfica da professora
Selma Baptista. Agradeço todo o corpo docente do Departamento de
Antropologia da Universidade Federal do Paraná, e também a importante
presença de minha mãe Rosemaria Pedreira da Silva, que sempre me deu
apoio nos estudos durante toda minha vida e meu falecido pai Eduardo
Pedreira da Silva, por todo o incentivo que me trouxe até esta oportunidade.
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Resumo Essa análise mostra sobre a trajetória narrada pelos participantes do grupo de teatro político NUSPARTUS, traçando um paralelo com a história política paranaense especialmente com o projeto do Partido dos Trabalhadores e as propostas dos Movimentos Sociais no Brasil, com o objetivo de mostrar as mudanças e os diversos fatores que podem influenciar um grupo durante sua trajetória social e artística. Esta busca se inicia na gestação, ou seja, antes da formação do grupo, porque as bases intelectuais são de suma importância para o entendimento do conteúdo produzido pelo grupo, também por se tratar de um movimento contínuo de transformação nos processos: cultural, histórico, social e político. São fatores determinantes para se alcançar as metas estabelecidas pelo grupo, que se propuseram desde o início a encontrar o melhor caminho na arte cênica possuidora de características únicas e ao mesmo tempo, universais em múltiplas possibilidades autorais em junção com técnicas expressivas que encantam e renovam a vida cultural do público. O NUSPARTUS adotou uma prática teatral baseada na perspectiva teórica iniciada pela obra de Augusto Boal (1931-2009), o Teatro do Oprimido e de Bertolt Brecht (1898-1956) com sua obra Teatro Dialético, construindo uma identificação desde o nascimento do grupo no ano de 1994. E sobre tudo, as teorias de Karl Marx (1818-1883) influenciou em todas estas relações sociais, mas principalmente pelo fato de o grupo buscar uma postura crítica diante da política no Estado do Paraná. Esta trajetória passou por um processo de amadorismo e depois caminhou para a profissionalização, já constituindo coletivamente a identidade que tem como ideal humanizar, cada vez mais a comunidade em que vivem e atuam. Palavras chaves: trajetória, teatro e política.
Resumen
Este análisis muestra sobre con la historia narrada por los participantes en el grupo de teatro político NUSPARTUS, trazando un paralelo con la historia política de Paraná, especialmente con el diseño Partido de los Trabajadores y de las propuestas de los movimientos sociales en Brasil, con el objetivo de mostrar los cambios y los diversos factores que pueden influir en un grupo para la trayectoria social y artístico. Este búsqueda fue comienza durante la gestación, es decir, antes de la formación del grupo, como bases intelectuales son de suma importancia para la comprensión de los contenidos producido por el grupo, también porque es un movimiento continuo de procesos de transformación: cultural, histórico, social y político. son factores determinantes para alcanzar los objetivos fijados por el grupo, que propuesto desde el principio para encontrar el mejor camino en el arte escénico poseer único y al mismo tiempo universal múltiples posibilidades de derechos en unión con técnicas expresivas que encantar y renovar la vida cultural de la población. El NUSPARTUS adoptó una la práctica teatral desde la perspectiva teórica iniciada por la obra de Augusto Boal (1931-2009), el Teatro del Oprimido y Bertolt Brecht (1898-1956) com Teatro Dialéctico su obra, la construcción de una identidad desde el nacimiento el grupo en 1994. Y, sobre todo, las teorías de Karl Marx (1818-1883) influencia en todas estas relaciones sociales pero sobre todo porque el grupo consiga una visión crítica de la política en el estado de Paraná. Este curso ha sido objeto de un proceso de amateurismo y luego caminó de profesionalización, que constituyen colectivamente la identidad que tiene como ideal de humanizar cada vez más a la comunidad en la que viven y trabajan.
Palabras clave: historia, de teatro y de la política
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Introdução Considerando que a escolha desta pesquisa que está pautada na
relação de arte cênica promove no sentido de mais proximidade com o público,
uma interação que não ocorre em outras formas de expressão como no caso
do cinema, assim como permite que os integrantes do grupo de teatro, realizem
possíveis modificações com a troca de informação direta com o público.
Segundo Adriana Dantas de Mariz, que é atriz e antropóloga, em seu
livro chamado A Ostra e A Pérola:
“Os livros de história e de teoria do teatro são un ânimes em afirmar que as
origens dessa arte parecem estar, em toda parte, li gadas a cerimônias religiosas de
celebração de ritos agrários ou de fecundidade. Nel as, havia a representação
simbólica da morte e da ressurreição de um deus; o relato mítico a ser
narrado/representado; um local especialmente escolh ido para esse fim e papéis
representados pelos atores e pelos espectadores. As pessoas envolvidas no jogo
dramático eram partícipes de uma mesma crença, de u ma mesma celebração” (2008:
13).
Para Augusto Boal no seu livro chamado Teatro do Oprimido e outras
poéticas políticas; acrescenta a teoria citada acima
“que todo teatro é necessariamente político, porque políticas são todas as
atividades do homem, e o teatro é uma delas. Os que pretendem separar o teatro da
política pretendem conduzir-nos ao erro – e essa é uma atitude política. Teatro é uma
arma. Por isso, é necessário lutar por ele. Por iss o as classes dominantes
permanentemente tentam apropriar-se do teatro e uti lizá-lo como instrumento de
dominação. Ao fazê-lo, modificam o próprio conceito do que seja o ‘teatro’. Mas o
teatro pode igualmente ser uma arma de libertação. Para isso é necessário criar as
formas teatrais correspondentes. É necessário trans formar” (1988: 13).
O teatro do NUSPARTUS é essencialmente político, devido às relações
de poder e as propostas de transformar a sociedade vigente.
O objetivo principal desta pesquisa é aprimorar o conhecimento da
Antropologia do Teatro, porque não foram encontradas pesquisas com o Teatro
do Oprimido na cidade de Curitiba até o presente momento. Sendo assim o
Grupo de Teatro do Oprimido NUSPARTUS, considerou esta forma de arte,
que foi implantada pelo Augusto Pinto Boal que nasceu no Rio de Janeiro em
1931, e estudou na School of Dramatic Arts da Universidade de Columbia, nos
Estados Unidos. Além de diretor e teórico de teatro, é autor de inúmeros livros
sobre o tema, entre os quais se destaca como o mais conhecido livro chamado
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Teatro do Oprimido e outras poéticas políticas, traduzido para 25 línguas,
depois o grupo passou a utilizar o livro deste autor chamado Jogos para atores
e não atores. Atualmente, Boal dirige centros de teatro em Paris e no Rio de
Janeiro. Sendo que o Grupo de Teatro NUSPARTUS entrou em contato com a
teoria desse autor e conseguiram conhecê-lo pessoalmente durante sua
jornada de amadorismo ao formalismo profissional.
Segundo as pessoas que integram o NUSPARTUS em relação ao nome
criativo:
“NUSPARTUS seu surgimento se deve a uma dinâmica de grupo, em que
dispostos em círculo, às pessoas iam falando a prim eira palavra que viesse à
memória. Assim um dos integrantes falou NUS e outro completou com PARTUS,
alguém pediu destaque para fusão e nasceu esta pala vra que o grupo vem conjugando
há 19 anos. O significado está vinculado aos princí pios do grupo. Neste sentido
possui um resignificado, sendo que a palavra: NUS s imboliza o esforço do grupo em
se despir de qualquer preconceito; PARTUS reitera o desejo de parir uma nova
sociedade, ou ainda, participar do parto desta ‘out ra sociedade possível’” (Blog do
NUSPARTUS: 2010).
Este Grupo se diferencia dos demais grupos de teatro de Curitiba por
organizarem Oficinas de Teatro, cujo objetivo principal seria a formação de
novos grupos de teatros, assim como trabalham questões relacionadas a
gênero e a etnia em integração com os Movimentos Sociais.
Em relação à escolha por uma trajetória social, se deve pelo fato deste
grupo ter passado boa parte de sua trajetória se apresentando e articulando
suas oficinas de teatro, por isso possui pouco material escrito a ser analisado,
além disso, não se preocuparam em documentar suas apresentações e suas
oficinas, pois nem haviam planejado profissionalizar-se, mas depois que isto
aconteceu, o grupo acabou lançando um blog virtual que contém um pouco
sobre seus trabalhos e suas preocupações sociais, a partir do ano de 2010.
Para trabalhar com a trajetória social do grupo foram escolhidos dois
autores da antropologia brasileira que aprofundaram a temática, sendo um o
antropólogo Gilberto Velho (1945-2012) e a antropóloga Suely Kofes.
“A arte não é um espelho para refletir o mundo,
Mas um martelo para forjá-lo”.
Maiakovski
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Trabalho de Campo
Grupo Analisado: NUSPARTUS
Ensaios no de Período: 05 de março de 2011 até 25 de junho de 2011
Dia da Semana para Ensaios e Reuniões: Todos os sábados
Horário dos Ensaios: 08h00min horas até as 18h00min horas
Locais dos Ensaios neste período: Os ensaios foram realizados em
Colégios, assim como em Sindicatos e na Faculdade de Artes do Paraná
Apresentações: Aos domingos e feriados
Locais de Apresentação neste período: Curitiba, Região Metropolitana,
Maringá, Londrina e Antonina. Geralmente nas praças das cidades.
Este trabalho de campo foi realizado no primeiro semestre do ano de
2011com a memória pessoal da formação atual deste grupo de teatro, assim
como foi possível uma entrevista com o instrutor de teatro deste grupo
chamado Raro de Oliveira, que estava de passagem na cidade de Curitiba no
dia 5 de julho do ano de 2011, depois de concluída houve o segundo momento
realizado no primeiro semestre do ano de 2013, com entrevistas de integrantes
que haviam saído do grupo, mas estavam na formação do NUSPARTUS, como
é o caso do Eduardo Mara e da Neocilene Cavalcante (Kessi), que conviveram
muitos anos neste grupo de teatro, assim a contribuição destas pessoas é de
suma importância, desta forma o quebra-cabeça começa a se encaixar aos
poucos, mas como a história continua em movimento que também falaram
sobre os integrantes que não estão mais chamados: Vânia e Reinaldo entraram
em crise existencial e atualmente residem na cidade de Maringá no Estado do
Paraná.
Neste ano de 2013 o grupo passou a pensar em uma peça que seja
voltada para os três Movimentos Sociais em que estão envolvidos, ou seja, de
acordo com o Movimento Sem Terra, o Movimento da Marcha Mundial de
Mulheres e o Movimento Social Negro. O processo de criação envolve reclusão
plena dos participantes do grupo, por este motivo não teve como prosseguir a
pesquisa de campo neste ano, mas em compensação foi possível conversar
com outras pessoas como Eduardo Mara e Kessi que estavam a passeio na
cidade de Curitiba e só não estão atuando por residirem mais longe
atualmente, ambos gostavam do trabalho no grupo NUSPARTUS.
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Entrevistas do primeiro semestre de 2011
Integrante André Ribeiro Daniel
É solteiro, é ator profissional e professor de teatro, não completou o
ensino superior, só se dedica a arte cênica.
1) Tem alguma formação teatral? Qual seria e em qual Instituição cursou?
Sim, estou me formando este ano em Licenciatura em Teatro pela Faculdade
de Artes do Paraná.
2) Participa de outro Grupo de Teatro que não seja o NUSPARTUS? Qual é o
nome do Grupo e por que atua em mais de um Grupo de Teatro?
Sim, Cia Atormente de Teatro e Processo Multiartes. Atuo nessas três cias pela
dificuldade financeira de me manter apenas fazendo teatro, em uma Cia.
3) O que te motivou a participa do Grupo de Teatro NUSPARTUS?
Eles (as) são parceiros da Cia Atormente, a qual também participa, e
dividíamos sala de ensaio (Centro Che), entrei pra Cia por convite da Lucilene
Soares para fazer uma substituição de elenco deste último espetáculo,
RANDAKPALÔBAOBÁ.
4) Como está interagindo com o NUSPARTUS?
Sempre nos demos muito bem, e compartilhamos dos mesmos ideais. Agora
estamos trabalhando bastante e pretendemos viajar pro seminários de temática
negra.
5) Participa ou Promove Oficinas do Grupo de Teatro NUSPARTUS? Por qual
motivo?
Dou algumas oficinas de corpo (expressão corporal) nos ensaios, para ajudar
no preparo do corpo para o ensaio. Utilizamos alguns Jogos que constam em
nossa cartilha e uso outras técnicas que aprendi na minha formação
acadêmica.
Integrante Cristina Silveira de Oliveira
É casada e tem uma filha e um filho, trabalha como educadora, está
concluindo o curso de Pedagogia, participa de Movimentos Sociais por causa
do grupo de teatro, assim está envolvida nas reuniões do Movimento Sem
Terra ou na Marcha Mundial de Mulheres e procura participa das mobilizações,
já promoveu Oficinas de teatro no espaço Che Guevara que ficava no centro da
cidade de Curitiba, mais precisamente na galeria Andrade perto do Centro de
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Formação Urbano Irmã Araújo (CEFURIA), mas fechou no final do ano de 2010
e dependia de recursos financeiros do mandato do Deputado Estadual Tadeu
Veneri ligado ao Partido dos Trabalhadores, também era um espaço para
encontros dos Movimentos Sociais que optaram por não dependerem
financeiramente e não conseguiram manter o local funcionando.
1) Tem alguma formação teatral?
Não, sou amadora.
2) Qual seria e em qual Instituição cursou?
Participei de passagem no ateliê/RJ.
3) Participa de outro Grupo de Teatro que não seja o NUSPARTUS? Não
Qual é o nome do Grupo e por que atua em mais de um Grupo de Teatro?
Dou Oficinas atualmente para as pessoas que freqüentam o CEFURIA que
auxilia na articulação dos Movimentos Sociais e tem por objetivo a formação
política dos mesmos, assim como é facilitadora do Pro – jovem.
4) O que te motivou a participa do Grupo de Teatro NUSPARTUS?
Recebi um convite de última hora, para representar um orixá em 2006. Foi lindo
emocionante, me identifiquei tanto que estou ate hoje.
5) Como está interagindo com o NUSPARTUS?
Muito bem. Nós somos companheiras, parceiras. A hombridade e a amizade
são muito fortes em cada uma de nós.
6) Participa ou Promove Oficinas do Grupo de Teatro NUSPARTUS? Por
qual motivo?
Sim, participo das oficinas, palestras, alguns fóruns que incentive e afirme a
temática do grupo. A cartilha do grupo auxilia e muito em nossas atividades
tanto de oficinas como nas palestras. Aprendemos muito uns com os outros
dentro do grupo e esta troca de experiência nos proporciona elaborar peças
que trabalham mais com a linguagem corporal do que com a linguagem verbal.
Integrante Daniela das Graças Fernandes dos Santos
1) Tem alguma formação teatral? Qual seria e em qual Instituição cursou?
Não.
2) Participa de outro Grupo de Teatro que não seja o NUSPARTUS? Qual
é o nome do Grupo e por que atua em mais de um Grupo de Teatro?
Não.
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3) O que te motivou a participa do Grupo de Teatro NUSPARTUS?
Primeiro por conta da timidez, depois permanecer por causa da
proposta do grupo em transformar a sociedade vigente, trabalhando com o
teatro do oprimido. Também pelo fato de participar do Movimento Social Negro
e do IPAD Instituto de Pesquisa da Afrodescendência, assim ter como
ferramenta de visibilidade dos problemas étnicos enfrentados na cidade de
Curitiba e em todo o Estado do Paraná.
4) Como está interagindo com o NUSPARTUS?
Participando ativamente desde a formação do grupo 1994 com
montagem e apresentações de espetáculos com cunho social e político.
5) Participa ou Promove Oficinas do Grupo de Teatro NUSPARTUS?
Por qual motivo?
Dou oficinas de teatro do oprimido há quase seis anos, em escolas
públicas para promover a cultura e principalmente para garantir a participação
do protagonizo juvenil na sociedade, utilizando a linguagem do teatro e me
considero uma arte educadora na atualidade e me dedico pouco ao jornalismo.
Por falta de oportunidade e de preconceito racial, quando me apresentei nas
entrevistas, porque reclamaram da minha “aparência” pessoal. Ser negra em
Curitiba nunca foi fácil e as atividades do grupo é minha esperança de
modificar algumas relações sociais que geram conflitos desnecessários.
Integrante Kamylla Paola dos Santos
No momento se encontra solteira, é atriz profissional, formada em
Musicoterapia pela Faculdade de Artes do Paraná (FAP).
1) Tem alguma formação teatral? Qual seria e em qual Instituição cursou?
Sim, sou formada pelo Curso Técnico da UFPR – Formação de ator. Possuo
DRT.
2) Participa de outro Grupo de Teatro que não seja o NUSPARTUS? Qual
é o nome do Grupo e por que atua em mais de um Grupo de Teatro?
No momento não.
3) O que te motivou a participar do Grupo de Teatro NUSPARTUS?
Comecei a participar do NUSPARTUS, pois fazia aulas de dança africana com
o grupo e fui convidada para participar das montagens de espetáculo. Gosto da
temática abordada pelo grupo – discussão étnica racial, movimentos sociais.
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4) Como está interagindo com o NUSPARTUS?
Gosto muito do grupo, dos integrantes. Temos uma ligação muito forte, como
uma família.
5) Participa ou Promove Oficinas do Grupo de Teatro NUSPARTUS? Por
qual motivo?
Não. Não tive a oportunidade ainda.
Integrante Lucilene Aparecida Soares
1) Tem alguma formação teatral? Qual seria e em qual Instituição cursou?
Minha formação é em História, com Pós Graduação em Educação
Inclusiva também em Cultura e História Africana e Afro-Brasileira, Educação e
Ações Afirmativas. Iniciei, porém, não concluí o Curso de Ator da Escola
Técnica da UFPR. Tirei meu DRT pela Banca do SATED-PR (Sindicato dos
Artistas e Técnicos em Espetáculos e Diversões do Paraná).
2) Participa de outro Grupo de Teatro que não seja o NUSPARTUS? Qual
é o nome do Grupo e por que atua em mais de um Grupo de Teatro?
Participo do NUSPARTUS desde 1994; de 2006 a 2008 participei do
Revel’ Arte, Grupo de Teatro de Servidores do Município de Curitiba; de 2002 a
2009 da CIA Atormente de Teatro. Minha inserção nos dois últimos Grupos
deve-se principalmente pela interação, comunhão de vontades, pensamentos
com Pedro Ganesh, na época namorado, hoje companheiro, camarada. O
trabalho com o Teatro é algo que nos multiplica, potencializa, alimenta, ao
contrário de uma das poesias do Pedro acerca das drogas, que lembra que
usando drogas “é o usuário que se consome”, o Teatro é como a força de
trabalho, em Marx, que transfere valor e quanto mais utilizada, quanto mais
consumida, mais produz valor, gera riquezas. Assim quanto mais fazemos
Teatro, mais queremos fazer, comer, respirar, transpirar, viver o Teatro. É
quase um vício, chega a ser teimosia, a gente não tem de onde tirar tempo,
recursos, energias, mas teimamos e “milagrosamente” conseguimos Axé, de
nossa alma, de nossas entranhas, do próprio sofrimento, das dificuldades,
tiramos Teatro, Expressão, Energia, Perguntas e algumas vezes respostas.
3) O que te motivou a participar do Grupo de Teatro NUSPARTUS?
Eu e o NUSPARTUS crescemos juntos, mas isso não foi exclusividade
minha, posso afirmar que ocorreu com todos os integrantes fundadores do
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Grupo. Criamos o NUSPARTUS em 1994, na época eu tinha 14 anos de idade,
período em que nos filiamos ao PT, com o intuito de organizar um PT Jovem,
neste sentido, o objetivo do NUSPARTUS era dinamizar o Partido dos
Trabalhadores, apresentarem os anseios, angústias, desejos de transformação,
próprios da adolescência, assim como da classe trabalhadora, por meio da
pulsante, sincera, voraz linguagem cênica. O que me motivou a ingressar no
NUSPARTUS, e isso eu soube somente agora, foi à vivência da coletividade,
assim como os integrantes de Torcidas Organizadas, sentem-se
“perigosamente” mais fortes no coletivo, eu também me sentia perigosamente
poderosa dentro do Grupo, como parte de uma Utopia, da necessidade de
expressão, de mudança, de nosso jeito nem original, nem autêntico, nem
diferente, mas imbuídos de “sermos simplesmente quem éramos”, o que de
fato nos levou além. Éramos dentro do Partido, mas éramos principalmente no
Grupo, o NUSPARTUS se transformou em nosso pequeno universo, num
espaço deliberativo, era como uma tendência que participava de diferentes
Movimentos Sociais, por meio da representatividade, tinha os responsáveis
pela discussão da educação, os presentes no MST, os orgânicos do PT, e
capenga e contraditoriamente, os responsáveis por acompanhar a discussão
da cultura. Não éramos só política, mas amigos, companheiros, cúmplices,
loucos, leves, alegres, livres, desapegados éramos uma teia, uma rede
também de intrigas, imagine um Coletivo de adolescentes descobrindo,
desvendando e construindo um mundo, amor, revolta, desejos, desconfianças,
encontros, desencontros.
O tempo se encarregou de mudar nossa relação com o PT e nos
separou dos integrantes antigos, outros vieram e o NUSPARTUS, para mim,
Dani, Neiva, permanece não sei por quanto tempo e isso faz parte da delícia, a
delícia da surpresa, do descobrir, do que está por vir, pois as dificuldades de se
viver em Grupo também permanecem, pois não vivemos do Teatro, todos e
todas trabalhamos e estudamos, reservamos nossos sábados e o quanto mais
for necessário para o Grupo, mas já não somos adolescentes, existem os
compromissos com a família, com nossos amados filhos e filhas, companheiros
e companheiras. O NUSPARTUS cresceu, constituiu família, brincamos que já
existe um NUSPARTUS Nova Geração, mas nós dinossauros por enquanto
permanecemos.
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4) Como está interagindo com o NUSPARTUS?
Participo ativamente e como desde o início, o que queremos dizer não
está escrito, então coletivamente criamos, ressignificamos discursos e a própria
existência do NUSPARTUS, que se refaz nos novos, que recua e avança, que
ameaça parar, mas diante de novas apresentações para aqueles e aquelas que
não têm acesso ao trabalho, respeito, justiça, remuneração digna, educação,
arte e ao “participar” do trabalho do Grupo, se reconhecem e permitem
conhecê-los e nos reconhecermos, “sonharmos o mesmo sonho” e o cansaço
transforma-se em combustível e prometemos caminhar um pouco mais juntos e
os menos cansados nos carregam pela mão, às vezes no colo, de vez em
quando o Grupo todo se une e carrega um ou uma estendido nas costas, e
voltamos a ser unidade na diversidade, a permitir que nossas diferenças nos
completem, indiquem o caminho e seguimos até sabe Deus.
5) Participa ou Promove Oficinas do Grupo de Teatro NUSPARTUS? Por
qual motivo?
As oficinas ocorrem principalmente por trabalho militante, sentimo-nos
em dívida com a sociedade, com o Mandado do Rosinha, como o Márcio
Pessatti, o Raro de Oliveira e todos e todas que passaram pelo Grupo e
deixaram um pouco de si no muito que constitui o nós. Temos consciência de
que vontades saudavelmente políticas motivaram o início do Grupo, que surgiu
como eixo de prioridades do Mandato, na época Deputado Estadual Dr.
Rosinha. Investimento na cultura para a juventude da periferia, assim começa
nossa história, e como num dos princípios de matriz africana, aprendemos,
ensinamos e lutamos para não esquecermos e nem deixarmos esquecer. É
nesta perspectiva que ocorrem as oficinas, as pesquisas, as montagens e
apresentações e a perseverança do Grupo.
Outra análise que Lucilene faz em relação ao grupo nos ensaios é no
sentido de que “a contemporaneidade materializa o espaço das diferentes
manifestações artísticas e ideológicas. O que a experiência tem me revelado é
que o teatro é a personificação da liberdade. Podemos trabalhar com a nudez,
com sombras, com passado, futuro, na rua e inclusive no teatro edifício. Assim
o teatro que eu vivencio e no qual acredito, está permeado por esta liberdade,
mas direcionado para uma crítica social. Posso trabalhar com entretenimento,
mas não com alienação. A coerência, apreendida com minha família e nos
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diferentes espaços de luta, não me permitem fechar os olhos para a opressão e
a dominação presentes no modelo de produção capitalista. Nesta perspectiva,
o trabalho realizado pelo grupo é sempre de cunho social. Nesse período de
crescimento escandaloso do Movimento Neonazista, combatemos toda e
qualquer forma de discriminação. Teimamos em lutar contra o machismo,
manifesto na opressão contra as mulheres, e também na lógica patriarcal que
violenta e assassina os sujeitos da diversidade sexual; retratamos os
trabalhadores e trabalhadoras que vivem uma super exploração; os
trabalhadores rurais sem terra, que deixam as marcas de suas enxadas e seu
sangue na construção do Brasil e na luta pela terra; visibilizamos e buscamos
ressignificar de forma positiva a presença da população negra no Brasil”.
Depoimento de Lucilene Aparecida Soares
O companheiro da integrante Lucilene Aparecida Soares se chama
Pedro Ganesh é ator profissional e professor de Educação Física pela Rede
Estadual de Ensino, ele acabou participando da peça Bartolomeu e Antonieta
ficando no lugar do Eduardo Mara, nos papéis de Palhaço e Vendedor de
Panelas. Como o ator Pedro Ganesh não estava nas novas peças do grupo
NUSPARTUS e tem seu próprio grupo o CIA Atormente, não foi possível
conseguir uma entrevista. Segundo a integrante Lucilene Aparecida Soares
“nosso trabalho fundamenta-se principalmente na experiência do Teatro
Dialético de Brecht, no Teatro do Oprimido de Augusto Boal, Teatro Pobre de
Grotowski, o que não impossibilita o diálogo com outras linhas presentes no
teatro”. Desta forma se mantêm os princípios da arte cênica do NUSPARTUS,
neste sentido todas as pessoas que fazem parte atualmente do grupo
concordam plenamente. Na visão da Lucilene a arte cênica não é uma
mercadoria, por isso não deve ser comercializada, mas compreendida.
Integrante Neiva Carvalho
1) Tem alguma formação teatral? Qual seria e em qual Instituição cursou?
Sim. Cursei LALA SCHNEIDER, SESC da Esquina e tive Oficinas
justamente com o restante do grupo com o professor de teatro Rusevel,
conhecido como Raro de Oliveira.
2) Participa de outro Grupo de Teatro que não seja o NUSPARTUS? Qual
é o nome do Grupo e por que atua em mais de um Grupo de Teatro?
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Não, atualmente só participo do NUSPARTUS, porém já fiz participações
em dois outros grupos o CIA Atormente e o FOTA.
3) O que te motivou a participa do Grupo de Teatro NUSPARTUS?
Num primeiro momento para ficar perto de alguns amigos, mas depois,
fui me apaixonando pela arte de atuar e também pelos debates que ocorriam
antes da criação dos textos. Aprendi muito durante estes longos anos.
4) Como está interagindo com o NUSPARTUS?
A atual formação do NUSPARTUS é nova, têm apenas três pessoas
mais antigas que sou eu, a Daniela e a Lucilene, tenho uma filha e por isso já
não me dedico cem por cento ao grupo como era antes, mas continuo atuando
por amor a arte cênica.
5) Participa ou Promove Oficinas do Grupo de Teatro NUSPARTUS? Por
qual motivo?
Sim. Participo de Oficinas que o grupo faz, afinal somos seres em
eterno aprendizado e depois promovo essas Oficinas para os outros grupos,
afinal ninguém sabe tudo que não possa aprender e nem tão pouco que não
possa ensinar as outras pessoas interessadas na arte cênica.
Integrante Pedro Augusto Pereira Gonçalves
Encontra-se solteiro, sua profissão é músico, está cursando Filosofia à
noite na Universidade Federal do Paraná e não se envolveu com Movimentos
Sociais e nem com Sindicatos.
1) Tem alguma formação teatral? Qual seria e em qual Instituição cursou?
Não.
2) Participa de outro Grupo de Teatro que não seja o NUSPARTUS? Qual é o
nome do Grupo e por que atua em mais de um Grupo de Teatro?
Não.
3) O que te motivou a participar do Grupo de Teatro NUSPARTUS?
Fui convidado para assinar a produção musical em conjunto com algumas
integrantes que também são musicistas.
4) Como está interagindo com o NUSPARTUS?
Atualmente, participo somente do espetáculo RANDAKPALÔBAOBÁ: A busca
da semente.
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5) Participa ou Promove Oficinas do Grupo de Teatro NUSPARTUS? Por qual
motivo?
Sim. Participo por julgar importante para as discussões que acontecem no
grupo além da formação profissional.
Depoimento do teatrólogo Raro de Oliveira
Segundo Raro de Oliveira em depoimento no dia 5 de julho de 2011que
é formado em Comunicação Visual pela Escola de Belas Artes do Rio de
Janeiro e cursou arte cênica no Centro Cultural do bairro Portão e no SESC de
Esquina, na cidade de Curitiba, no Estado do Paraná e veio auxilia o grupo
NUSPARTUS atendendo ao pedido de Marcio Pessatti, sendo que acatou ao
pedido por ser militante do Partido dos Trabalhadores na época, mas quando
entrou para auxilia a peça Bartolomeu e Antonieta já existia, assim auxiliou nas
performances poéticas do evento Noite das Poesias, sendo que apresentou ao
grupo as obras de Solano Trindade, um autor pernambucano pouco conhecido
no Estado do Paraná. Raro alega ter ficado pouco tempo com o NUSPARTUS,
pois tinha um compromisso na cidade de Belo Horizonte, no Estado de Minas
Gerais, onde fez dois anos de formação, numa Escola de Teatro Universitário e
quando retornou para Curitiba fez um teste para ter a carteirinha de ator
profissional se sindicalizando no Paraná, acabou reencontrando o grupo e foi
nesta época que fizeram mais uma bateria de formação coletiva, incluindo arte
circense por causa do palhaço na peça Bartolomeu e Antonieta. Tudo isto na
casa dos militantes Vânia e Reinaldo, assim como lembra, que a casa era
grande, mas estava bem velha com infiltrações, também lembrou que um dos
integrantes apelidado de Tucá faleceu por negligência médica no Hospital
Evangélico, aos 18 anos de idade, porém não se recorda do ano em que isto
aconteceu exatamente, ou seja, não sabe as datas que esteve com o grupo,
pois não registrou nada na época.
Depoimentos realizados no ano de 2013
Depoimento de Eduardo Mara Segundo o ex-integrante Eduardo Mara que participou da formação do
grupo NUSPARTUS, assim como fez sua filiação simbólica no Partido dos
18
Trabalhadores nesta época, porque, era menor de idade, enquanto esteve na
cidade de Curitiba fez sua graduação em Ciências Sociais pela Universidade
Federal do Paraná, esteve engajado no Movimento Estudantil através da
KIZOMBA. Atualmente está envolvido em atividades com o Movimento dos
Sem Terra, também cursou artes cênicas junto com outra integrante que
continua no grupo e se chama Neiva Carvalho no teatro LALA SCHNEIDER,
localizado no centro da cidade de Curitiba, na Rua Treze de Maio, 629.
Participou ativamente das atividades partidárias e saiu no final do ano de 2006,
quando foi cursa, seu mestrado na Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, na cidade de Natal e atualmente está cursando o doutorado em Ciências
Sociais na cidade de Recife no Estado de Pernambuco, sendo que a entrevista
aconteceu em março do ano de 2013 quando veio visitar seus familiares
rapidamente na cidade de Curitiba, aproveitando a oportunidade para fornecer
a esta pesquisa alguns materiais do PT.
Eduardo Mara comentou que o grupo teve formação política, com o
militante chamado Edson Cruz e com o assessor chamado Marcio Pessatti, do
Deputado Florisvaldo Fier do Partido dos Trabalhadores, sendo que a
tendência Democracia Socialista foi à responsável pela formação do grupo de
teatro popular NUSPARTUS.
Depoimento de Neocilene Cavalcanti (Kessi)
A ex-integrante chamada de Neocilene Cavalcante, conhecida pelo
apelido de Kessi, fez diversos cursos voltados para a área de dança, continua
filiada ao Partido dos Trabalhadores, mas se ausentou do grupo NUSPARTUS
em 2005 e atualmente reside no país da Costa Rica na América Central,
trabalhando com formação de dança, quando esteve visitando familiares na
cidade de Curitiba em abril do ano de 2013. A dança sempre veio em primeiro
lugar e a arte cênica acabou ficando em segundo plano. Caso resolva voltar
algum dia ao Brasil, gostaria de retomar as atividades junto ao grupo
NUSPARTUS e as atividades partidárias junto ao Partido dos Trabalhadores,
porque se considera uma estrela que aprendeu a brilhar e que nunca vai perder
esta iluminação que estas experiências trouxeram. Também era próxima da
tendência Democracia Socialista.
19
Cronologia Básica
1994: Fundação do grupo de teatro popular NUSPARTUS e formação teatral.
1995: Direção coletiva da peça Bartolomeu e Antonieta.
1995 até 1998: Evento promovido pelo grupo de teatro “Noite das Poesias” em
parceria com o Partido dos Trabalhadores.
1996 até 2007: Atuação da peça Bartolomeu e Antonieta.
1997: Continua a organização do evento “Noite da Poesia” e as apresentações
do Teatro de Rua por todo o Estado do Paraná.
1998: O grupo de teatro analisa a possibilidade de elabora Oficinas de Teatro.
1999: Direção da peça: “Maria: Hoje eu não faço nada!”.
2000: Os integrantes do grupo se dividem em Oficinas de Teatro.
2000 até 2010: Atuação da peça: “Maria: Hoje eu não faço nada!”.
2001: Encontro com Augusto Boal no Rio de Janeiro.
2002: Apresentações e Oficinas de Teatro no Paraná.
2003: Avaliação e continuação das apresentações e das oficinas de teatro.
2004: Elaboração coletiva da Cartilha Teatro do Oprimido, publicada pelo
CEFURIA (Centro de Formação Irmão Araújo) em parceria com a gráfica da
UFPR (Universidade Federal do Paraná).
2005: Apresentações e Oficinas de Teatro no Paraná.
2006: Prêmio concedido ao grupo de teatro NUSPARTUS como mais atuante
nos Movimentos Sociais – 25 anos de CEFURIA.
2007: Criação coletiva e atuação da peça: “Nós em África, África em Nós” –
Semana da Consciência negra em parceria com o Teatro Guaíra.
2008: Criação coletiva e atuação na peça “100 Solanos” – Semana da
Consciência Negra em parceria com o Teatro Guaíra.
2009: Apresentação no dia 8 de março da peça “Maria: Hoje eu não faço nada!”
na cidade de Curitiba, na Rua XV de Novembro, mais precisamente na Boca
Maldita, atendendo ao pedido do Movimento Marcha Mundial das Mulheres.
2010: Criação e atuação da peça “Randakpalôbaoba: a busca da semente” –
Estréia na Corrente Cultural, local Passo da Liberdade.
2011 até 2013: Atuação das peças: “Nós em África e África em Nós” e
“Randakpalôbaoba: a busca da semente”.
20
NUSPARTUS: A trajetória de um grupo de teatro polít ico
Vínculo Partidário
A trajetória narrativa elucida questões relacionadas ao desenvolvimento,
no caso, coletivo, assim como revela a construção sociocultural do grupo
pesquisado, principalmente quando existe pouco material impresso sobre esta
trajetória que foi reconstruída em trabalho de campo. Assim como preenche
uma lacuna entre teatro, religião, política e Movimentos Sociais, ou seja, algo
que se apresenta como complemento diferenciado dentro da arte de encenar
passando do cotidiano ao invisível dentro da sociedade paranaense, no caso
específico do grupo NUSPARTUS.
Como o antropólogo Gilberto Velho escreveu:
“esta em jogo permanentemente, a possibilidade de c omunicação e de diálogo
com diferentes tradições como a literatura ocidenta l, portadora de significados e
valores associados a uma memória sócio-histórica co m características próprias”
(2010: 19).
E como a antropóloga Suely Kofes escreveu:
“biografia, história de vida ou mesmo trajetórias s ão indissociáveis de sua
narração e também é uma pretensa ‘etnografia de uma experiência’” (2001: 123).
Assim como colocaram nas suas obras sobre trajetórias, este é um
trabalho complexo no sentido de que a memória pode trair as pessoas
entrevistadas, cabendo ao pesquisador ou a pesquisadora intervir como
mediadora, além disso, a pesquisa histórica foi muito importante, porque as
datas e os acontecimentos lembrados não eram especificados na integra pelos
mesmos. Isto ocorreu devido ao fato que o grupo estava em seu início como
amadores, desta forma os integrantes não se preocuparam em registrar o que
estava acontecendo com o NUSPARTUS, mas quando resolveram registrar o
grupo, porque algumas pessoas já tinham curso de arte cênica, começaram a
documentar criando um blog virtual: nuspartus. blogspot.com no ano de 2010
para detalhar os acontecimentos e as apresentações, assim como abriram a
possibilidade para comentários do público sobre as atividades desenvolvidas
pelo grupo.
Para exemplificar o entendimento desta análise, na etapa do surgimento
do vínculo partidário terá um breve contexto histórico social que será dividido
21
em fases contínuas, sendo a primeira dedicada à reconstrução histórica da
política brasileira, depois o panorama da política paranaense em conjunto com
a construção do vínculo partidário e aproximação dos Movimentos Sociais.
Para concluir esta etapa o possível rompimento partidário e suas
conseqüências, tanto à memória coletiva dos integrantes que formaram o grupo
de teatro popular NUSPARTUS são necessárias, porque reconstitui um projeto
partidário pouco visível na sociedade paranaense.
O Partido dos Trabalhadores surgiu com a força do sindicalismo
brasileiro, foi o único que partiu da classe operária com o objetivo de ter o
poder para tentar modificar o quadro de desigualdade na sociedade brasileira.
Após a derrota do Deputado Federal Luís Inácio Lula da Silva nas urnas no ano
de 1989, a estratégia partidária teve que ser revista. Então surgiu uma nova
idéia a respeito do Núcleo de Estudos 13 de Maio situado em São Paulo, que
até aquele momento só atendia os integrantes da força sindical, sendo que no
ano de 1990, passou a fortalecer com conteúdos de seus cursos marxistas as
pessoas filiadas, conhecidas como militantes dentro do partido.
Mas como o espaço físico não comportava tantos militantes
interessados, a estratégia foi organizar reuniões em cada cidade brasileiras,
com o objetivo de escolher democraticamente os militantes que seriam
contemplados com cursos, financeiramente custeadas pelos próprios
interessados, assim como combinar, como seriam repassados estes
conhecimentos aos demais integrantes filiados e filiadas, realizando um
levantamento dos locais que poderiam ser utilizados e com outra meta, que era
trazer mais pessoas para dentro da organização partidária.
Assim como muitos militantes estavam envolvidos em Associações de
Moradores, aproveitando o espaço físico destas instituições, os militantes
treinados ofereciam alguns cursos básicos, sendo o mais conhecido chamado:
Como funciona a sociedade? Este curso se baseia na teoria mais valia de Karl
Marx, além de outros voltados para o estudo e reprodução da teoria marxista,
depois seriam promovidos debates a respeito da aplicação de políticas
públicas. Estes cursos oferecidos gratuitamente para a população pelos
militantes do Partido dos Trabalhadores, fez com que houvesse aproximação
das pessoas envolvidas em Movimentos Sociais, que não conheciam a teoria
marxista, ou não tinham como debater a teoria na prática. Com o passar do
22
tempo, acabaram formando um acordo de unificação da agenda de ambos, que
no futuro o Partido dos Trabalhadores, não iria conseguir contemplar seus
militantes por causa de outros acordos que foram fazendo para o financiamento
de campanhas eleitorais, com grupos contrários ou avessos aos Movimentos
Sociais.
No Jornal “Em Tempo” que surgiu no Estado de São Paulo e na
atualidade é de grande circulação entre as pessoas filiadas ao partido por todo
o país, sendo que foi organizado pela tendência interna do Partido dos
Trabalhadores chamada de “Democracia Socialista” traz a análise histórica
desta época, assim como é possível perceber como os militantes viam a
juventude como fonte transformadora da sociedade brasileira:
“É a inserção da juventude na luta antiglobalizante que dá hoje ao movimento
boa parte do seu dinamismo e, neste sentido, em div ersos países, capacidade de
catalisar antigos setores militantes e paralelos do s movimentos sociais. A
radicalização da juventude no século XX quase sempr e prenunciou mudanças mais
profundas e este parece ser hoje. A juventude não c arrega o peso das derrotas
sofridas pelas gerações passadas e se coloca em mov imento a partir de sua própria
experiência e com seus próprios métodos” (Jornal Em Tempo, junho/julho, 2001:
11).
Considerando que todos os integrantes do grupo de teatro eram jovens
e, em sua maioria faziam parte da juventude petista por acreditarem em uma
nova construção social para a cidade de Curitiba, principalmente para um novo
modelo político para o Estado do Paraná. Este mesmo Jornal Em Tempo
também faz outra análise bem pertinente para elucidar como o PT estava
articulado em sua trajetória política nesta época que antecede a formação do
grupo, esta análise é a seguinte:
“Uma distância histórica razoável já separa nossos dias do final do século XX
político encerrado entre 1989 e 1991. Esta brecha s e coloca como um dado existencial
para a geração que está vertebrando as lutas antica pitalistas – gente que em geral não
tem mais de vinte anos. Esta geração nasceu ouvindo as promessas do discurso
neoliberal e viu todas elas se frustrarem. Ela enca ra o futuro anunciado com
ceticismo, percebendo as conseqüências concretas da mercantilização da terra, da
água, do ar, da educação e mesmo da vida. A rejeiçã o do capitalismo surge, aí, como
parte de uma desconfiança mais geral do sistema, in clusive das instituições políticas
estabelecidas” (Em Tempo 2001:11).
23
Sendo que esta análise só foi publicada no ano de 2001, mas, que os
integrantes que fazem parte do grupo de teatro desde a formação e que
também eram petistas alegam, que era o discurso dos esquerdistas dentro do
Partido dos Trabalhadores desde a derrota nas eleições do ano de 1989.
Continuando com o percurso histórico, os filhos e as filhas dos operários
sindicalizados, foram entrando no Movimento Estudantil, com o objetivo de
eleger um novo governante para o Brasil. Outros jovens, que eram da elite
insatisfeita com a forma de governar do Presidente Fernando Collor de Mello,
aderiram ao Movimento conhecido como: “Os jovens de caras pintadas” que
optaram pelo impeachment deste Presidente, passando a seu vice-presidente
Itamar Franco a presidência da República Federativa do Brasil.
Porém neste período, o país passava por sérios problemas
socioeconômicos, pois o índice inflacionário girava em torno de 26%, desta
forma o Senador Fernando Henrique Cardoso é nomeado Ministro da Fazenda
com a finalidade de implantar o Plano Real, que realmente funcionou na
redução gradual dos índices inflacionários, assim estabilizou a economia, além
disso, foi o que garantiu sua eleição para a presidência em 1994, com posse no
dia primeiro de janeiro de 1995. Nestas eleições concorreu o candidato
sindicalista Luís Inácio da Silva, que foi derrotado pela segunda vez em
segundo turno eleitoral, assim os integrantes do Partido dos Trabalhadores,
foram forçados a reconhecer que, erraram quando deixaram Itamar Franco
assumir a presidência, sendo um erro em comum com o Movimento Estudantil
e que teriam que buscar novas alternativas, contra seus adversários políticos.
Foi nesta época, que começou a rivalidade entre o Partido dos Trabalhadores
considerados de esquerda e o extinto Partido da Frente Liberal (PFL), que
atualmente, seus membros fazem parte do Partido Democrata (PD), sendo um
partido considerado de direita e com o tempo o Partido dos Trabalhadores
passou a se opor ao Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).
Em relação à estrutura interna do Partido dos Trabalhadores desde sua
origem, sempre foi democrático, começando pela elaboração do estatuto
interno até na convocação de votações prévias antes das eleições para
definição das candidaturas a indicação e a escolha do representante do partido
para as eleições externas, assim tudo é definido em grandes reuniões
estaduais e os resultados são enviados para o comitê nacional. Desta forma as
24
pessoas que estão filiadas, são convocadas para participarem integralmente
até o final das eleições sem receber ajuda financeira, mas por convicção
ideológica e ainda contribuem mensalmente com as finanças conforme a renda
de cada um, com exceção para militantes que estão desempregados.
Na análise de conjuntura partidária realizada na região sul do Brasil, há
um consenso de que
“o que se visualiza após a derrota de 94 foi um pro cesso muito mais profundo
de diferenciação programática, estratégica, social e institucional do que o imenso
biombo ‘Lula Presidente’ nos permitia ver ou imagin ar no período anterior” (1997:
23).
Isto fez com que surgissem três tendências internas dentro do PT a
partir de 1994. A maior delas é aquela que Luís Inácio Lula da Silva faz parte
chamada Unidade na Luta, sendo que a segunda tendência se chama:
Democracia Socialista que vem crescendo em número de vereadores e
deputados, ou seja, está mais influente no legislativo, já a terceira é a
Articulação de Esquerda que é composta de uma minoria de pessoas filiadas.
Estas tendências foram formadas até por uma questão organizacional
interna do Partido dos Trabalhadores, pois o quadro de militância petista
cresceu muito neste período. A estratégia da Unidade na Luta está no fato de
acreditar no fortalecimento da base sindical, através de negociação com o
empresariado brasileiro, assim como buscou conseguir mais pessoas para se
filiarem ao partido. Além dos sindicalizados a outra prioridade era controlar a
Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a maioria das Associações de
Moradores em todo o Brasil.
Já a Democracia Socialista tem prioridade em conseguir militantes nos
sindicatos das áreas de saúde e educação, pois os integrantes acreditam que
educação de qualidade é a chave para um futuro melhor. Em relação à saúde,
este grupo percebe que a qualidade de vida faz toda a diferença no cotidiano
das pessoas que trabalham no país, assim como buscam reorganizar o
Movimento Estudantil com jovens petistas em outro subgrupo chamado
KIZOMBA, que tem por finalidade ter acesso a União Nacional dos Estudantes
(UNE). Também se aproximaram da juventude católica, além do fato que
alguns dos integrantes da igreja católica também são pessoas filiadas ao
partido, pelo fato do catolicismo ser favorável a Reforma Agrária, assim
25
surgiram as Romarias da Terra nos Assentamentos do Movimento Sem Terra,
isto fez com que as pessoas pertencentes à religião católica entendessem o
funcionamento deste grupo de pressão que luta pela Reforma Agrária.
Por último e em menor quantidade, a tendência chamada de Articulação
de Esquerda, sempre fizeram pesadas críticas internas ao partido, foram contra
as coligações partidárias e também não gostaram quando o partido passou a
trabalhar com propostas em vez de manter o diferencial crítico, quando alguns
expuseram os problemas internos para a sociedade brasileira, e acabaram
expulsos do partido, assim como outros formaram novos partidos ou
ingressaram em outros partidos. Os militantes que sobraram, tentam encontrar
um jeito de permanecer em parceria com a tendência Democracia Socialista,
isto já no ano de 1999, pois esta era mais esquerdista, considerando que
votaram juntos contra as coligações partidárias, pelo fato que passariam a
incorporar outras ideologias partidárias ao programa do partido e culminaria em
falha administrativa, além do desrespeito ao estatuto criado coletivamente
pelos militantes, como de fato aconteceu, sendo este, o motivo para
perceberem a tendência Unidade na Luta como a direita interna do PT e
também pelo fato de terem escolhido governar para todos.
O importante é ressalta que a tendência da Democracia Socialista,
ganhou espaço na religião católica, com seus filiados e suas filiadas, nas mais
diversas posições, como catequistas, ministros e ministras de eucaristia e
alguns padres entraram no Partido dos Trabalhadores. Os outros integrantes
da atual formação do grupo de teatro confirmaram estes relatos partidários, que
surgiram antes da formação do mesmo, que são: Daniela das Graças
Fernandes dos Santos que se formou em Jornalismo pela Universidade
Positivo e participa do Movimento Social Negro – IPAD Instituto de Pesquisa da
Afrodescendência; Neiva Carvalho se formou em Técnica Administrativa,
trabalha atualmente no Sindicato dos Professores do Paraná, participa do
Movimento Marcha Mundial das Mulheres, começou o curso de Pedagogia,
mas não concluiu, na área do teatro cursou artes cênicas nos teatros: LALA
SCHNEIDER e SESC de Esquina, por influência do professor Rusevel
conhecido como Raro de Oliveira; Lucilene Aparecida Soares se graduou em
Estudos Sociais e Licenciatura em História pela Faculdade Integrada Espírita,
fez uma primeira pós-graduação em Educação Especial pela Faculdade
26
Curitiba, depois fez à segunda, pós-graduação em Cultura e História Africana e
Afro brasileira, em parceria com o Ministério de Educação e Cultura em
conjunto com o Instituto de Pesquisa e Afro descendência com o apoio da
Universidade TUIUTI do Paraná, concluído em 2008 e atualmente está
cursando o mestrado na Universidade Federal do Paraná no setor de
Educação, na área de teatro, cursou sem concluir artes cênicas na
Universidade Federal do Paraná no Departamento de Educação na linha
cultura, escola e ensino. Tirou o DRT pela banca do Sindicato dos Artistas e
Técnicos em Espetáculos de Diversão, em relação ao profissional é professora
da Secretaria de Estado da Educação do Paraná, está casada e tem um filho.
Foi necessário mostrar a construção interna que continua residindo
nesta cidade, porque o grupo de teatro surgiu desta politização que ocorreu
dentro da igreja católica que acreditavam na transformação da sociedade
capitalista em uma sociedade mais justa e igualitária, mas também se
influenciaram a usar o teatro como ferramenta para expressar problemas
sociais pelo fato de já terem experimentado encenar o teatro sacro amador da
paixão de Cristo, pelo grupo de jovens chamado “Semente na Paróquia São
José Operário” no bairro Alto Boqueirão apenas entre os anos de 1992 e 1993,
sendo que seus ensaios aconteciam na Comunidade Nossa Senhora do Pilar,
na Vila Santa Inês, assim como os seus encontros semanais para estudo
bíblico e organização das celebrações, mas no ano de 1994, começou um
processo de venda das comunidades católicas para uma reforma, com a
ampliação da Paróquia São José Operário, com a venda da Comunidade
Nossa Senhora do Pilar a juventude desta que era católica e em sua maioria
petista, teve que procurar outro abrigo que foi a garagem da casa do integrante
Reinaldo Lima era um catequista e assessor parlamentar Florisvaldo Fier
conhecido como Doutor Rosinha por causa da camisa rosa que usava no
atendimento aos pacientes no Posto de Saúde da Vila São Pedro no bairro
Sítio Cercado ao lado do bairro Alto Boqueirão na cidade de Curitiba no Estado
do Paraná, que na época da formação do grupo, era Deputado Estadual, sendo
que não exercia há muitos anos a profissão de médico, mas que atualmente é
Deputado Federal pela tendência Democracia Socialista que atua dentro do
Partido dos Trabalhadores.
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Além disso, Reinaldo Lima atualmente é graduado em Geografia pela
Universidade Federal do Paraná, assim como tem sua companheira que fazia
parte do grupo sacro e que também era catequista na Paróquia São José
Operário chamada de Vânia Sandeléia Vaz da Silva, que é graduada em
Ciências Sociais pela Universidade Federal do Paraná e continua sua
especialização na área de Ciência Política. Mas a reforma e ampliação da
Paróquia São José Operários demorou vários anos, ficando parcialmente
pronta apenas no ano 2000 e com a venda da Comunidade Nossa Senhora do
Pilar, como conseqüência, o grupo de jovens chamado de Semente deixou de
existir e os encontros do NUSPARTUS passaram a acontecer na casa do
jovem casal do grupo citados a cima, continuando a serem realizados todas as
semanas.
Apesar de o grupo considerar Jesus Cristo o primeiro revolucionário da
humanidade, a religião ficou em segundo plano, pois se voltaram para a
política, com o surgimento do grupo de teatro político no ano de 1994, surgindo
à necessidade de procurar mais materiais sobre teatro amador e encontraram
os livros: Teatro do Oprimido e outras poéticas de autoria de Augusto Boal e o
Teatro Dialético de autoria de Bertolt Brecht, são as bases teóricas para a
formação dos integrantes em junção com o programa partidário, segundo o
depoimento das pessoas que integram o grupo pesquisado.
Sobre a questão da política paranaense, segundo o livro chamado O
Silêncio dos Vencedores de autoria do Ricardo Costa de Oliveira:
“(...). Poucas regiões do Brasil apresentam continu idades históricas tão
expressivas na posse do poder político por parte de grupos familiares tão antigos
quanto o Paraná” (2001: XXVIII).
Portanto, o mesmo grupo político da classe dominante vem
genealogicamente, se revezando no governo do Paraná e de suas cidades,
também relata a questão de apadrinhamento político para a manutenção do
poder, incluindo a cidade de Curitiba onde nasceu o NUSPARTUS, sendo
estes grupos políticos adversários do Partido dos Trabalhadores. Isto é
importante ressaltar para o entendimento da primeira peça do grupo de teatro
político, porque é uma crítica às propagandas midiáticas sustentadas pelo o
governo do Paraná. Porque segundo Ricardo Costa de Oliveira:
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“A era de FHC, a partir de 1994, irá recompor as fo rças políticas paranaenses.
A nova situação nacional reconduziu o experiente gr upo de Jaime Lerner ao poder e o
converteu no novo PFL, paranaense, o partido region al de apoio a esse novo centro
de poder dos anos 90. A lógica tradicional do poder político paranaense de estruturar
o seu poder em relação à situação nacional mais uma vez confirma essa característica
que tem sido um dos principais elementos da identid ade política paranaense, a
sintonia com a ordem nacional dominante e com a sit uação vitoriosa” (2001: XXIII).
É possível observar que as políticas do Estado do Paraná estão de
acordo com as políticas nacionais, sendo o motivo desta análise em conjunto.
Além disso, a cidade de Curitiba ganhou o título de cidade de primeiro mundo
através destas ligações entre os poderes, assim como o “rótulo” de capital
ecológica, na realidade este “rótulo” se deve ao fato da coleta de lixo ser
destinada a reciclagem, que acontece atualmente uma vez por semana em
todos os bairros da cidade, para educar a população, surgiu à família folha na
propaganda midiática. Evidente que as pessoas que tiveram a oportunidade de
conhecer outros lugares do Brasil, esta cidade tem uma boa infra-estrutura,
mas vem mascarando diversos problemas sociais que o grupo de teatro
observou de perto, principalmente no surgimento de diversas favelas ou
ocupações urbanas desordenadas, que surgiram próximas às comunidades
católicas que foram vendidas e que o grupo prestava assistência arrecadando
alimentos para doações com a entrega no dia 24 de dezembro de cada ano,
até a morte do grupo de jovens chamado Semente no ano de 1994.
Com este aumento populacional, faltaram creches, escolas, colégios,
postos de saúde, ou seja, a crítica não é apenas sobre a propaganda e a
suposta lavagem cerebral que a mídia fazia, mas também era um apelo à
mudança de determinadas práticas políticas, assim como faltavam médicos,
educadores e funcionários públicos, isto fez com que a qualidade de serviços
se tornasse precários para a população que veio em busca de serviços na
cidade de Curitiba e na cidade de São José dos Pinhais, com suas recém-
chegadas Multinacionais. Mesmo com todos os problemas gerados pelo
aumento populacional na cidade de Curitiba em termos de qualidade gestora
administrativa, ainda é melhor do que outros centros urbanos que nem
possuem a base estrutural para atenderem seus cidadãos e suas cidadãs,
como exemplos: as escolas e postos de saúde. Na realidade o problema mais
comum é a ausência de funcionários e a má qualidade deste serviço, quando é
29
prestado por pessoas despreparadas a lidarem com o povo, ou seja, o descaso
com quem precisa de ajuda ou ausência de humanização.
O que chama a atenção é que, se não fosse todo este processo de
venda das comunidades e distanciamento da igreja católica, somadas ao fato
do Partido dos Trabalhadores terem um objetivo político dentro dessa
comunidade além de outros locais, o grupo de teatro voltado para as questões
político administrativas jamais existiria, por este motivo, foi às condições
históricas e sociais responsáveis pelo surgimento do grupo, apesar de
debaterem política nos encontros bíblicos não haviam pensado em usar o
teatro como arma contra a situação de invisibilidades de problemas sociais.
Segundo as integrantes Lucilene Aparecida Soares e Neiva Carvalho
para aproveitar a ajuda financeira do Partido dos Trabalhadores em 1994 para
realizarem um evento chamado de Noites da Poesia, era um evento organizado
pelo Grupo, no intuito de descentralizar as atividades culturais, que na época e
atualmente ainda ocorrem apenas no centro da cidade. Sendo que a idéia era
"dar voz" e espaço para os artistas do povo, nesta perspectiva foram realizadas
seis Noites da Poesia, sendo que a primeira ocorrida em setembro de 1994,
além do evento cultural contou com a filiação simbólica do Grupo ao Partido
dos Trabalhadores, simbólica porque muitos na época eram menores de 16
anos e não poderiam se filiar oficialmente, somente os maiores de 18 anos
podiam se filiar. Além da apresentação do poema de “Sete Faces” de autoria
de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), uma produção coletiva, foi
realizada na série de esquetes individuais e em duplas, trios, com outras
apresentações de poesias, como o poema “Operário em Construção” de
autoria do Vinícius de Moraes (1913-1980), o poema intitulado “Trem sujo da
Leopoldina” de autoria de Solano Trindade (1908-1974), o poema conhecido
como “Dificuldade de Governar” de autoria de Bertolt Brecht, fez parte do
repertório das teatrais esquetes, entre outras.
O grupo participava, mas as estrelas do evento eram as pessoas
convidadas que traziam poesias, textos autorais, músicas sertanejas de raiz,
músicas autorais, assim como o grupo montava um varal com diversas poesias
para aquelas pessoas que vinham despreparadas e depois ficavam mais a
vontade para recitar algo.
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O NUSPARTUS trabalhou o ano todo confeccionando os convites
exclusivos para este evento, o grupo pintava centenas de rolos de papel
higiênico, não existia um convite igual ao outro, cada um, era uma obra única.
A primeira “Noite da Poesia” que aconteceu na casa do João Martins, um
antigo militante do Partido, as outras duas na casa do Reinaldo de Lima e da
Vânia Sandeléia Vaz da Silva, integrantes fundadores do Grupo; uma foi na
Comunidade Jardim Paranaense, na atual Associação de Moradores -
GASPAR e duas na Escola Municipal Francisco Hubert. Outra pessoa que
participou das performances e das teatrais esquetes poéticas no evento “Noite
das Poesias” foi à professora Lauriana Hübl Ribeiro, em um breve encontro em
fevereiro de 2011 relatou que gostava muito do evento, mas não teve coragem
para abandonar tudo, viajando como os demais integrantes do grupo, que
passaram a vivenciar profundamente a arte cênica ganhando as Praças.
Atualmente é formada em Pedagogia pela instituição Pontifícia Universidade
Católica do Paraná e pós-graduada em Administração Pública, mas sempre
auxiliava no que era possível o grupo quando estavam na cidade de Curitiba.
Segundo a citação de Augusto Boal
“A poética de Brecht é a Poética da Conscientização , o mundo se revela
transformável e a transformação começa no teatro me smo, pois o espectador já não
delega ao personagem para que pense em seu lugar, e mbora continue delegando-lhe
poderes para que atue em seu lugar. A experiência é reveladora ao nível da
consciência, mas não globalmente ao nível da ação. A ação dramática esclarece a
ação real. O espetáculo é uma preparação para a açã o. A poética do oprimido é
essencialmente uma Poética da Libertação. O especta dor já não delega poderes aos
personagens nem para que pensem nem para que atuem em seu lugar. O espectador
se liberta, pensa e age por si mesmo! Teatro é ação ! Pode ser que o teatro não seja
revolucionário em si mesmo, mas não tenha dúvidas d e que é um ensaio para
revolução!” (1988: 181).
Baseando-se na teoria de Augusto Boal o NUSPARTUS, no ano de 1995
surgiu a primeira peça chamada Bartolomeu e Antonieta que é uma comédia
romântica de um casal que veio procurar serviço no Paraná, por causa da
propaganda da “panela cheia”, patrocinada pelo Governador Jaime Lerner
(1996-2002) e que se baseava nos esforços para trazer algumas
Multinacionais. A peça foi apresentada diversas vezes na Rua XV de novembro
e na Praça Tiradentes, no centro de Curitiba, depois atendendo aos pedidos do
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público, passou para a Região Metropolitana, Litoral, entre outras localidades
do interior paranaense.
Para a peça Bartolomeu e Antonieta havia uma pessoa que sempre fazia
o papel de coringa, ou seja, como a peça não tem fim e o público precisa da
um final, uma pessoa do grupo que se chama Omar Walter Aguiar, fazia a
gentileza de instigar o público a reformular o conteúdo sugerindo a finalização,
caso o público não tomasse a atitude, segundo Augusto Boal
“o coringa é polivalente: é a única função que pode desempenhar qualquer
papel da peça, podendo inclusive substituir o Prota gonista nos impedimentos deste,
determinados por sua realidade naturalista” (1988: 215).
Assim como auxiliava durante o evento Noite das Poesias cuidando da
organização até a madrugada em conjunto com Angelita de Jesus sua atual
companheira, que é formada em Biologia pela Pontifícia Universidade Católica
do Paraná, na época da formação do grupo Omar Walter Aguiar era Secretário
na Paróquia São José Operário e atualmente se formou em Geografia,
exercendo o cargo de professor da Rede Estadual de Ensino.
Rompimento Partidário
Em 1998 quando o fundador do Partido dos Trabalhadores Luis Inácio é
eleito finalmente Presidente da República Federativa do Brasil, com o apoio do
empresariado brasileiro, ou seja, não contou apenas com as pessoas filiadas,
isto gerou outra crise partidária interna, mesmo deste jeito a militância tentava
acreditar que isto não influenciaria nas decisões para a prática do estatuto
partidário, mas infelizmente as propostas construídas em conjunto com os
Movimentos Sociais nunca saíram do papel e a decepção foi grande para a
esquerda do Partido dos Trabalhadores e para as pessoas que acreditavam na
mudança, principalmente no tocante a saúde e a educação.
O jornal chamado Em Tempo da tendência Democracia Socialista
analisou a atuação partidária no ano de 2001, da seguinte forma:
“O PT está, tendo dificuldades de dar expressão pol ítica à nova situação,
atuando como se ainda estivéssemos vivendo no apoge u do neoliberalismo – quando
todos seus próceres na América Latina estão hoje de tidos ou foragidos, à exceção de
FHC, e o projeto global e suas instituições submeti das a cerradas críticas. A proposta
de política econômica apresentada pelo Instituto da Cidadania trabalha sobre um
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cenário anacrônico, defensivo, e corre o risco de c olocar o PT na contramão da
história, posicionando-nos de maneira totalmente de fasada nas eleições de 2002. A
desmobilização política causada pelas acusações de corrupção, a crise energética e a
crise cambial estão produzindo o apagão do governo, mas a militância continua tendo
esperança na renovação do espírito socialista” (2001: 03).
Neste mesmo ano, o grupo de teatro avalia a possibilidade de fornecer
Oficinas de Teatro gratuitas para comunidades carentes e efetua a cobrança de
quem poderia contribuir financeiramente, isto gerou um conflito de interesses
no grupo. Segundo as pessoas que integram o grupo há mais tempo, assim
como os que saíram por motivo de mudança de localidade, enquanto
buscavam uma alternativa no sentido de cobra ou não cobra pelas Oficinas de
Teatro. No ano de 1999 surgiu à direção coletiva de uma nova peça que foi
batizada com o nome “Maria: Hoje eu não faço nada!”, voltada para as
questões de gênero, pois nesta peça existe a troca de papéis do masculino e
do feminino na rotina das tarefas domésticas, onde até o dono de casa
chamado José, se cansa e resolve não fazer as atividades domésticas. No dia
seguinte, tornando a vida do casal insuportável, nesta peça, assim como na
outra é o público que determina o final, sendo uma das sugestões do autor
Augusto Boal em seu livro o Teatro do Oprimido e outras poéticas.
No ano de 2000 chegaram a um acordo em relação às Oficinas de
Teatro que seriam gratuitas e criteriosas, por tanto, elaboraram uma cartilha a
princípio baseada, em duas obras: o Teatro do Oprimido e outras poéticas e
Jogos para atores e não atores de autoria de Augusto Boal, que consta nesta
pesquisa como segundo anexo, mas só foi oficialmente publicada em 2004.
Também no ano de 2000 o grupo decidiu não aceitaram mais a ajuda
financeira do Partido dos Trabalhadores, assim não foi possível continuar com
o evento “Noite das Poesias”. Mas começaram uma nova etapa se dividindo
entre apresentações e Oficinas Gratuitas de Teatro para grupos
criteriosamente selecionados, além de terem se aproximado cada vez mais dos
Movimentos Sociais e dos Sindicatos que realmente representam a classe
trabalhadora, pois existem Sindicatos que representam os empresários.
Segundo os autores Waldemar Rossi e William Jorge Gerab existe uma divisão
classista nos Sindicatos Brasileiros que vem prejudicando os trabalhadores.
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A distância financeira do Partido dos Trabalhadores foi fundamental para
o crescimento do grupo de teatro que passava o chapéu depois das
apresentações para arrecada dinheiro, assim como aceitavam auxilio financeiro
dos Sindicatos coesos com a classe trabalhadora por fazerem parte de uma
mesma luta em relação à mudança social, desde que não interfiram no
conteúdo das peças, mas deixaram de acreditar na força transformadora que o
Partido dos Trabalhadores tinha antes de deterem o poder político.
Segundo as integrantes mais antigas do grupo, foi por volta do ano de
2006 que começaram a pensar em se registrar como profissionais de teatro e
apenas em 2009 formalizaram o grupo e a primeira peça chamada de
“Bartolomeu e Antonieta”, para efetuarem o registro das demais peças, é
necessário conseguir mais apoio financeiro, pois o dinheiro que conseguem é
disponibilizado para as despesas de viagens, maquiagens e figurinos, além
disso, não aceitam patrocínio por interferirem no conteúdo das peças de cunho
crítico. As pessoas que integram o grupo NUSPARTUS atualmente trabalham
nas mais variadas profissões para auxiliarem na manutenção do grupo. Assim
fazem poucas apresentações na atualidade, aproveitando geralmente o
período de férias para realizarem mais apresentações no mês de janeiro,
sendo este ritmo diferente ao do início em que o grupo dispunha de mais
tempo. Também é possível perceber que o fator intelectual que começou com a
influência do Partido dos Trabalhadores não deixou de existir, pois não foi
modificada a peça mais política que é a “Bartolomeu e Antonieta”, porque
consideram que ainda falta melhora a qualidade de vida paranaense.
A influência do Movimento Negro é perceptível na peça Nós em África
que surgiu no ano de 2007, pois conta a história dos orixás de uma forma bem
simplificada, como defende a antropóloga Janaína Azevedo em seus livros. Ao
assistir a peça, parece que o próprio orixá está contando sua história que vai
passando em segundo plano, foi apresentado no Teatro do Guaíra no ano de
2008, o grupo também fez a apresentação do poema Trem sujo da Leopoldina
de autoria de Solano Trindade ao final da peça.
A peça “Nós em África e África em nós” conta com a participação de
uma moça envolvida no trabalho do Sindicato dos Servidores Públicos
Municipais de Curitiba (SISMUC) que se chama Alessandra de Oliveira,
apelidada de Pimenta, assim como de uma segunda moça chamada de Ângela
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Castro que é funcionária pública na Rede Municipal da cidade de São José dos
Pinhais e ainda de uma terceira moça formada em Musicoterapia chamada
Larissa Maris, não conseguiram participar das entrevistas por estarem com
muita pressa depois dos ensaios e das apresentações, segundo elas devido ao
fato da desorganização na agenda pessoal. Mas com os demais integrantes
novos do grupo de teatro NUSPARTUS e que também estão na peça,
conforme as entrevistas que constam nesta pesquisa.
A última peça criada pelo grupo NUSPARTUS até o momento foi no ano
de 2010 e se chama: RANDAKPALÔBAOBÁ: A busca da semente, segundo o
blog do grupo trata-se do sonho de um território universal sem fronteiras,
discutindo as questões a respeito de classe e nação. Esta peça foi estreada na
Praça Generoso Marques no centro da cidade de Curitiba, mais precisamente
em frente do espaço cultural paço da liberdade, em novembro de 2009. Esta
peça trabalha com linguagem corporal, música, lendas e poesias.
É possível perceber que o grupo, se vê como alternativa artística e
intelectual, se analisado o Festival de Teatro de Curitiba que o grupo fez parte
em 2010, consideraram a experiência negativa por ficarem isolados no teatro
da Pontifícia Universidade Católica com o menor público de sua carreira
profissional, em comparação com a Semana da Consciência negra,
considerada positiva, em parceria com o Teatro Guaíra, que ocorreram nos
anos de 2007 e 2008, devido ao retorno do público que ocuparam todo o teatro.
Para Gilberto Velho:
“Basicamente, trata-se do reconhecimento dos limite s e fronteiras sócio-
culturais em que se movem categorias, grupos, agent es sociais e indivíduos –
sujeitos, mesmo em sociedades em que não predominem valores individualistas.
Assim, há várias dimensões importantes a serem obse rvadas, entre as quais se
destacam as relações sociais, propriamente ditas, c omo através da participação em
redes sociais e significados compartilhados numa es fera propriamente cultural. É
fundamental estar ciente de que relações sociais e significados compartilhados que
deve ser analisado multidimensionalmente” (2010:17).
A sociedade urbanizada gera problemas de individualidade sérios, com o
avanço da tecnologia, assim como trazem preocupações em relação às
questões de preconceitos de etnia e de gênero, além da ausência de políticas
voltadas para a Reforma Agrária. As múltiplas culturas não são trabalhadas de
forma adequada, nem regionalmente no Brasil, gerando desrespeito com mais
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pré-conceitos e agressões físicas desnecessárias. Para isto o NUSPARTUS
tem como proposta a reeducação das pessoas através do teatro popular.
Tudo que foi construído pelo Partido dos Trabalhadores, de certa forma
acabou sendo destruído, quando assumiram o poder e não respeitaram o
acordo firmado com os Movimentos Sociais, sendo este é o principal motivo do
rompimento do NUSPARTUS em relação ao PT e depois do rompimento surgiu
uma nova etapa no grupo de teatro, mais voltada para as necessidades dos
Movimentos Sociais. Também passaram a não aceita ajuda de custo de
qualquer entidade. Assim como não quer deixar a crítica de lado e estão
aprofundando seus estudos neste sentido.
Por outro lado, as integrantes Daniela, Lucilene e Neiva continuam
filiadas ao Partido dos Trabalhadores, desta forma, também estão indo nas
eleições internas do PT, assim como, vão às plenárias porque segundo elas é
o único jeito de retomar o partido que surgiu das massas e da luta de milhares
de trabalhadores, por isso elas acreditam na tentativa de retomar aquilo que foi
construído pelos trabalhadores. Além disso, o NUSPARTUS é uma entidade
própria e separada das crenças individuais. Retirando as três componentes
principais, pois os demais integrantes do grupo não são filiados e nem
conheceram tão a fundo o Partido dos Trabalhadores. O grupo gerou uma
identidade própria, mantendo os objetivos em comum e ao mesmo tempo
unifica o projeto que tem uma vida própria independente da vontade individual.
A perspectiva do coletivo motivou estes 19 anos de conquistas e desilusões,
assim como conheceram diversos lugares no Estado do Paraná, também se
aprofundaram nas dificuldades apresentadas pelo público, buscando soluções
com estes atores sociais que são conhecidos como público na arte cênica.
Considerações Finais
Este grupo surgiu de uma mobilização partidária, mas seu espírito
religioso também auxiliou nas decisões tomadas pelos integrantes, além disso,
se envolveram diretamente com os Movimentos Sociais, o que é atípico,
porque o teatro formal visa à comercialização para a manutenção da arte
cênica, mas o NUSPARTUS continua idealizando a cultura popular e o domínio
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público, assim são penalizados em termos financeiros, mesmo que ganhem em
qualidade com as novas experiências.
Outro fator que chama a atenção é que estão se renovando, devido à
entrada de atrizes e atores profissionais, ou seja, provavelmente em alguns
anos se forem novamente abordados em pesquisas de ordem antropológica ou
sociológica, demonstrem outro comportamento, mas no momento só se
interessam pela transformação humana da sociedade paranaense, ou seja,
sem pré-conceitos.
Além disso, o NUSPARTUS se propôs a minimizar os efeitos de uma
sociedade individualizada em classes sociais distintas, como consta na teoria
de sua cartilha, que enfatiza bastante o termo humanizar, porque a sociedade
paranaense possui atitudes desumanas como são os casos das discriminações
que as pessoas negras sofrem nas cidades, assim como o machismo também
é velado nas relações sociais, sendo que algumas atitudes lembram o período
do patriarcado e outras não são assumidas como é o caso do dono de casa
que já existe em algumas famílias paranaense, que fazem parte da peça
“Maria: Hoje não faço nada”; porque o discurso é feito com elementos
recolhidos pelo grupo em laboratório, ou seja, os integrantes observam a rotina
do público por onde passam e seus discursos, para realizarem a montagem da
apresentação, assim o público se identifica e interage com outros comentários
ou desabafos. Assim como a peça e a “Bartolomeu e Antonieta” foram criadas
para o público urbano, que passam diariamente nas praças. As demais peças
são apresentadas nos dois ambientes: fechado ou aberto. Portanto, não
existem locais fixos para as apresentações e nem para os ensaios que já
ocorreram em muitos locais, devido à rotina, não foram registrados pelo grupo.
O mesmo ocorre com as Oficinas de Teatro, que por serem gratuitas, só
ocorrem em comunidades carentes, incluindo os integrantes de Movimentos
Sociais, que atuem no Paraná, porque na atualidade seus desejos são os
mesmos.
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