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VÃNUSCI BITTENCOURT OLIVEIRA AVALIAÇÃO DO CONSUMO ALIMENTAR DE CRIANÇAS DE 2 A 5 ANOS DE IDADE PERTENCENTES AO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA DO MUNICÍPIO DE CANOAS/RS/BRASIL CANOAS, 2010.

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VÃNUSCI BITTENCOURT OLIVEIRA

AVALIAÇÃO DO CONSUMO ALIMENTAR DE CRIANÇAS DE 2 A 5

ANOS DE IDADE PERTENCENTES AO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA

DO MUNICÍPIO DE CANOAS/RS/BRASIL

CANOAS, 2010.

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VÃNUSCI BITTENCOURT OLIVEIRA

AVALIAÇÃO DO CONSUMO ALIMENTAR DE CRIANÇAS DE 2 A 5

ANOS DE IDADE PERTENCENTES AO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA

DO MUNICÍPIO DE CANOAS/RS/BRASIL

Trabalho de conclusão a ser apresentado à banca examinadora do curso de Nutrição, do UNILASALLE – Centro Universitário La Salle, como exigência parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Nutrição.

Orientador: Prof. Ms. Fernanda Miraglia

CANOAS, 2010.

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VÃNUSCI BITTENCOURT OLIVEIRA

AVALIAÇÃO DO CONSUMO ALIMENTAR DE CRIANÇAS DE 2 A 5

ANOS DE IDADE PERTENCENTES AO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA

DO MUNICÍPIO DE CANOAS/RS/BRASIL

Trabalho de conclusão aprovado como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Nutrição do Centro Universitário La Salle – Unilasalle

Aprovado pela banca examinadora em 01 de Julho de 2010.

BANCA EXAMINADORA:

______________________________________

Profª Ms. Fernanda Miraglia

______________________________________

Prof. MS. Francisco Stefani Amaro

______________________________________

Nut. Maria Eloíza Possebom Gazzo

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Ao meu marido e grande amigo

Alessandro, por ter dedicado seu imenso amor,

carinho e também todo seu estímulo e

confiança que depositou sobre mim, para

chegar aonde cheguei, dedico-lhe essa

conquista com todo meu amor.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pelo dom da vida.

Aos meus pais Elanir e Lori, pelo amor incondicional que me foi dado e toda

educação, que hoje sou uma pessoa de caráter graça a eles.

A minha orientadora professora Fernanda, por toda dedicação, pelo carinho e

apoio em todos os momentos desde o início da realização deste projeto.

Aos meus “filhos” Lupi e Flor, por me alegrar nas horas de tristeza e desespero.

A minha amiga e colega Elaine.

A toda a minha família e amigos, pela paciência com a falta de tempo e

atenção.

A minha amiga querida Raquel, por ser paciente escutando minhas angustias.

Ao meu chefe e amigo Betinho do Cartório, por compreender meus horários.

A todas minhas colegas da nutrição pela amizade em especial a Lina e Denise.

A nutricionista Maria Eloisa, pela atenção, pelas ideias, dicas, confiança e

amizade.

A toda a equipe da nutrição do Centro de Saúde, pelo carinho e auxílio.

Ao professor Francisco por ter me apresentado o grande fascínio que é Saúde

Pública.

E a todos que contribuíram de alguma forma para que este trabalho pudesse

ser concluído.

MUITO OBRIGADA!

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RESUMO

É na fase pré-escolar que a criança está desenvolvendo os seus sentidos e

diversificando os sabores, e com isso formando suas próprias preferências.

Deve-se dar extrema importância ao fato da criança estar em pleno desenvolvimento

e que para isso uma dose suficiente de proteínas, vitaminas e minerais, entre eles o

ferro e o cálcio, será essencial para o seu crescimento e desenvolvimento perfeito.

Este trabalho teve como objetivo avaliar o consumo alimentar de crianças de 2 a 5

anos de idade pertencentes ao Programa Bolsa Família do município de

Canoas/RS/Brasil. O estudo foi realizado com 60 crianças. Na antropometria foi

utilizado peso e estatura para avaliação do índice de massa corporal (IMC), peso

para estatura (P/E), estatura para idade (E/I). Foi aplicado um formulário de

marcadores do consumo alimentar do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional

(SISVAN), composto por doze questões. Os resultados revelaram que 53% eram

meninas e 47% meninos. Quanto ao estado nutricional 60% estavam eutróficos,

11,4% com peso abaixo do ideal e 28,4% com peso acima do ideal, em relação ao

IMC. O formulário de marcadores do consumo alimentar, revelou que as questões

referente às ultimas 24 horas, houve prevalência de uma alimentação equilibrada,

quanto às questões sobre a frequência alimentar, o feijão esta diariamente presente

em 82% do cardápio das crianças,o consumo de frutas diariamente se mostrou

abaixo do esperado apenas 15% e a resposta “às vezes” obteve maior prevalência

no grupo das guloseimas e refrigerantes.

Palavras-chave: Crianças; Consumo alimentar; Bolsa Família.

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ABSTRACT

It is in the pre-school that children are developing their senses and diversifying the

flavors, and thus forming their own preferences. Should be given extreme importance

to the fact of the child been in full development, which means that a sufficient dose of

protein, vitamins and minerals, including iron and calcium, it is essential for growth

and perfect development. This work had like objective to evaluate the dietary intake

of children between 2 and 5 years old belonging to Bolsa Família Program in

Canoas, RS, Brazil. The study was conducted with 60 children. Anthropometry was

used in weight and height for assessment of body mass index (BMI), weight for

height (WHZ), height for age (HAZ). We applied a form of markers of the food

consumption of the Food and Nutritional Surveillance System (SISVAN), composed

of twelve questions. The results revealed that 53% were girls and were 47% boys.

Regarding nutritional status 60% were eutrophic, 11.4% were underweight and

28.4% with ideal weight above the ideal in relation to BMI. The form of markers of

dietary intake, revealed that the issues concerning the last 24 hours, there was a

prevalence of balanced diet, as the questions about food frequency, the bean is daily

present in 82% of the children's menu, the consumption of fruits daily was below the

expected only 15% and the answer “sometimes” group had a higher prevalence of

sweets and soft drinks.

Keywords: Children; Food consumption; Bolsa Família.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Recomendação de consumo energético para pré-escolares. ............ 16

Quadro 2 - Necessidades de proteínas por quilograma de peso da criança........ 17

Quadro 3 - Recomendação diária de vitamina C (mg) ......................................... 18

Quadro 4 - Recomendação diária de cálcio (mg) ................................................. 18

Quadro 5 - Recomendação diária de ferro (mg)................................................... 18

Quadro 6 - Quantidade diária de alimentos.......................................................... 19

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Distribuição da amostra segundo sexo ....................................................28

Tabela 2 - Distribuição da amostra segundo faixa etária ..........................................28

Tabela 3 - Distribuição da amostra segundo IMC .....................................................29

Tabela 4 -Distribuição da amostra segundo P/E .......................................................30

Tabela 5 -Distribuição da amostra segundo E/I.........................................................31

Tabela 6 - Resultado do formulário de marcadores do consumo alimentar, referente

ao consumo nas ultimas 24horas..............................................................32

Tabela 7 - Resultado do formulário de marcadores do consumo alimentar, referente

à frequência alimentar...............................................................................34

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 11

2 REFERENCIAL TEÓRICO .............................................................................. 13

2.1 Caracterização da faixa etária ................................................................... 13

2.2 Necessidades nutricionais ........................................................................ 14

2.2.1Dez passos da alimentação saudável para crianças.................................. 15

2.2.2 Energia ...................................................................................................... 16

2.2.3 Carboidratos.............................................................................................. 16

2.2.4 Proteínas ................................................................................................... 16

2.2.5 Lipídios...................................................................................................... 17

2.2.6 Fibras ........................................................................................................ 17

2.2.7 Micronutrientes.......................................................................................... 18

2.2.8 Quantidade diária de alimentos................................................................. 19

2.3 Patologias relacionadas à deficiência e excesso alimentares ............... 19

2.3.1 Desnutrição ............................................................................................... 20

2.3.2 Anemia Ferropriva..................................................................................... 20

2.3.3 Deficiência de vitamina A .......................................................................... 21

2.3.4 Obesidade ................................................................................................. 22

2.4 Programa Bolsa Família ............................................................................. 23

2.5 SISVAN ........................................................................................................ 24

3 OBJETIVOS .................................................................................................... 25

3.1 Objetivo geral ............................................................................................. 25

3.2 Objetivos específicos ................................................................................. 25

4 METODOLOGIA ............................................................................................. 26

4.1 Delineamento geral .................................................................................... 26

4.2 Sujeitos e local de pesquisa ...................................................................... 26

4.3 Instrumentos e coleta de dados ................................................................ 27

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................28

5.1 Caracterização da população ........................................................... ......... 28

5.2 Antropometria ........................................................................... .................. 29

5.2.1 Índice de massa corporal........................................................................... 29

5.2.2 Peso para Estatura.................................................. .................................. 30

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5.2.3 Estatura para Idade................................................... ................................ 31

5.3 Consumo Alimentar .................................................................................... 32

6 CONCLUSÃO ....................................................................................................36

REFERÊNCIAS .................................................................................................. 37

ANEXO A - Instrumento de coleta de dados...................................................... 41

ANEXO B - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ................................ 42

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1 INTRODUÇÃO

O estado nutricional de crianças tem sido o objeto de inúmeras pesquisas no

Brasil. É de suma importância identificar características do estado nutricional nessa

fase da vida, pois envolve uma série de aspectos que vão desde a manutenção do

crescimento e desenvolvimento de forma saudável até o estabelecimento de

diretrizes e políticas que promovam o controle e a prevenção do surgimento de

doenças futuras.

O crescimento e desenvolvimento estão diretamente relacionados ao ótimo

estado nutricional, pois crianças desnutridas têm um desenvolvimento intelectual

menor e podem não crescer adequadamente se o problema não for tratado a tempo.

A alimentação na infância é muito importante para o estabelecimento de

hábitos nutricionais, que podem seguir para toda a vida. A nutrição adequada na

infância é importante para o crescimento e o desenvolvimento da criança,

principalmente os da fase pré-escolar, que são considerados biologicamente

vulneráveis.

Pesquisas relatam que problemas nutricionais nessa fase da vida representam

sérios problemas futuros, com uma maior probabilidade de desenvolvimento de

doenças na vida adulta.

Avaliar o estado nutricional de crianças possibilita intervenções precoces e

alerta familiares e profissionais de saúde, além de ser fundamental para o

desenvolvimento e a avaliação de políticas públicas.

A formação dos hábitos alimentares inicia-se com a bagagem genética que

interfere nas preferências alimentares e que vai sofrendo diversas influências do

meio ambiente: tipo de aleitamento; a maneira como foram introduzidos os alimentos

complementares no primeiro ano de vida; experiências positivas e negativas quanto

à alimentação; hábitos familiares; condições socioeconômicas, entre outros. Assim,

as recomendações nutricionais e os hábitos alimentares devem convergir para um

único fim: o bem-estar da criança.

Há necessidade de atenção, diante da complexidade dos fatores envolvidos na

alimentação dos pré-escolares, no sentido de fornecer uma alimentação que supra

as necessidades nutricionais, permitindo seu crescimento e desenvolvimento

adequado.

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As crianças atendidas pelo do Programa Bolsa Família, possuem condições

sociais bastante precárias, pois se trata de famílias em situações de pobreza. O

Programa foi criado para apoiar as famílias mais pobres e garantir a elas o direito à

alimentação e o acesso à educação e à saúde. Ele visa á inclusão social dessa faixa

da população, por meio da transferência de renda e da garantia de acesso a

serviços essenciais. Em todo o Brasil, mais de 11 milhões de famílias são atendidas

pelo Bolsa Família. Em Canoas, são em torno de 9.800 beneficiários.

Dentro desse contexto este trabalho visa verificar o consumo alimentar das

crianças de 2 a 5 anos de idade pertencentes ao programa Bolsa Família do

município de Canoas/RS/Brasil.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

Na fase pré-escolar, a criança está desenvolvendo os seus sentidos e

diversificando os sabores, e com isso formando suas próprias preferências, portanto,

a seguir, serão abordados: a caracterização do pré-escolar, suas necessidades

nutricionais, os dez passos da alimentação saudável para crianças recomendados

pelo Ministério da Saúde, as recomendações nutricionais para esta faixa etária e

patologias relacionadas à deficiência e excessos alimentares e por fim, o programa

Bolsa Família e Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN).

2.1 Caracterização do pré-escolar

Na fase pré-escolar, a velocidade de crescimento e o ganho de peso são

menores que no 2º ano de vida. Portanto, a velocidade de crescimento e o estado

geral da criança devem ser monitorados, evitando, dessa forma, diagnósticos

errôneos de anorexia, inapetência e desaceleração do crescimento e condutas

inadequadas. As crianças que se beneficiaram com o aleitamento materno e tiveram

a introdução de alimentos complementares de maneira harmoniosa, dentro de um

contexto familiar com hábitos de vida saudáveis, entram na fase pré-escolar com

maior possibilidade de perpetuar os hábitos adquiridos nas primeiras fases. Na idade

pré-escolar, que compreende dos 2 aos 6 anos, as crianças tendem a valorizar as

atividades lúdicas, deixando a alimentação em segundo plano, o que pode vir a

interferir no estabelecimento de uma dieta balanceada (OBELAR; PIRES; WAYHS,

apud WEFFORT; LAMOUNIER, 2009).

No primeiro ano de vida, há um incremento de 50% na altura do lactente. Para

se obter incremento similar a este são necessários mais cinco anos de vida. O

ganho em estatura é cerca de 12 cm no 2º ano, 8 a 9 cm no 3º ano e 7 cm nos anos

restantes.Com a massa corporal, ocorre situação semelhante. No primeiro ano de

vida a criança triplica seu peso e requer toda a etapa pré-escolar para duplicá-lo. O

ganho de peso varia de 2 a 2, 5 Kg/ano, o que equivale a 1/3 do ganho ocorrido no

primeiro ano de vida (ACCIOLY; SAUNDERS; LACERDA, 2004).

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A fase pré-escolar é um momento excelente para orientação nutricional ativa e

participativa, portanto, a alimentação deve ser saudável e adequada à fase,

respeitando as características individuais (PHILIPPI et al, 2003, p. 07).

A saúde, na idade pré-escolar e escolar, se refletirá definitivamente na

adolescência e vida adulta, sendo fundamental que sejam atendidas as exigências

nutricionais nestas faixas etárias. A desnutrição na fase pré-escolar, por exemplo,

pode levar a alteração físicas, funcionais e anatômicas, repercutindo negativamente

no crescimento e desenvolvimento da criança, apatia, retardo da linguagem,

diminuição da capacidade de concentração e baixa resposta a estímulos

(ACCIOLY;SAUNDERS; LACERDA, 2004).

2.2 Necessidades nutricionais

A alimentação da criança deve conter todos os nutrientes necessários de uma

dieta equilibrada, composta dos seguintes grupos de alimentos: carnes, leite e

derivados, frutas e legumes, verduras e cereais. E, convém destacar a importância

do desjejum que, idealmente, seria uma das principais refeições, devendo contribuir

com 20 a 25% da ingestão diária total de energia.

As necessidades nutricionais seguem os novos valores estabelecidos nas

Dietary Reference Intake (DRIs) de 1997, 2000, 2001, 2003. Sugestões de porções

para compor a pirâmide alimentar do pré-escolar podem ter como base a pirâmide

alimentar infantil (PHILIPPI et al). É importante assegurar um aporte calórico

suficiente de acordo com a idade e a atividade física e distribuí-lo conforme o ritmo

de atividades que a criança realiza ao longo do dia, mantendo adequada hidratação,

além de insistir que a dieta seja variada, com o objetivo de proporcionar um correto

aporte de vitaminas e oligoelementos e evitar a monotonia alimentar (OBELAR;

PIRES; WAYHS, apud WEFFORT; LAMOUNIER, 2009).

As recomendações nutricionais funcionam como diretrizes para o

estabelecimento de esquemas alimentares que proporcionem todos os nutrientes

necessários ao crescimento e ao desenvolvimento das crianças de acordo com a

faixa etária. No entanto, as necessidades nutricionais de cada criança podem diferir

em uma mesma faixa etária, o que exige análise individualizada (VITOLO, 2008).

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2.2.1 Dez passos da alimentação saudável para crianças

Os Dez Passos para uma Alimentação Saudável são orientações práticas

sobre alimentação para crianças saudáveis com mais de dois anos de idade. O

Ministério da Saúde quer que todos os brasileiros tenham uma alimentação

saudável, que associada à prática regular de atividade física é fundamental para

uma boa saúde.

Os Dez passos para uma Alimentação Saudável:

a) Procure oferecer alimentos de diferentes grupos, distribuindo os em pelo

menos três refeições e dois lanches por dia.

b) Inclua diariamente alimentos como cereais (arroz, milho), tubérculos

(batatas), raízes (mandioca)/macaxeira/aipim), pães e massas,

distribuindo esses alimentos nas refeições e lanches do seu filho ao longo

do dia.

c) Procure oferecer diariamente legumes e verduras como parte das

refeições da criança. As frutas podem ser distribuídas nas refeições,

sobremesas e lanches.

d) Ofereça feijão com arroz todos os dias, ou no mínimo cinco por semana.

e) Ofereça diariamente leite e derivados, como queijo e iogurte, nos lanches,

e carnes, aves, peixes ou ovos nas refeições principais de seu filho.

f) Alimentos gordurosos e frituras devem ser evitados; prefira alimentos

assados, grelhados ou cozidos;

g) Evite oferecer refrigerantes e sucos industrializados, balas, bombons,

biscoitos doces e recheados, salgadinhos e outras guloseimas no dia a

dia.

h) Diminua a quantidade de sal na comida.

i) Estimule a criança a beber bastante água e sucos naturais de frutas

durante o dia, de preferência nos intervalos das refeições, para manter a

hidratação e a saúde do corpo.

j) Incentive a criança a ser ativa e evite que ela passe muitas horas

assistindo TV, jogando videogame ou brincando no computador.

(MINISTÉRIO DA SAÚDE).

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2.2.2 Energia

A utilização dos valores recomendados de energia e proteínas da FAO/OMS,

1985, explica-se em razão de sua melhor adequação à realidade alimentar dos

países latino-americanos. Os valores de energia são apresentados no Quadro 1.

Idade (anos) Energia (Kcal/Kg/dia)

Meninos Menina s

1-2 104 106

2-3 104 102

3-4 99 95

4-5 95 92

Quadro 1 - Recomendação de consumo energético para pré-escolares Fonte: ACCIOLY; SAUNDER; LACERDA, 2004, p. 279.

2.2.3 Carboidratos

Esses alimentos têm como função fornecer a energia necessária ao organismo,

onde cada grama deste nutriente fornece quatro calorias. Devem representar de

50% a 60% das calorias totais da alimentação diária, sendo, portanto o nutriente

presente em maior quantidade, constituindo a base da alimentação infantil

(GAGLIANONE, apud LOPEZ; BRASIL, 2004, p. 67).

2.2.4 Proteínas

Na criança, os requerimentos de proteína por quilograma de peso são maiores

do que no adulto, necessitando também maior proporção de aminoácidos

essenciais. Os valores por quilograma podem ser observados no Quadro 2.

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Idade g/Kg

1 a 3 anos 1,2

4 a 6 anos 1,1

Quadro 2 - Necessidades de proteínas por quilograma de peso da criança Fonte: VITOLO, 2008, p. 195.

2.2.5 Lipídios

A proporção de gordura da dieta deve ser suficiente para permitir crescimento

desenvolvimento normal e, ao mesmo tempo, reduzir o risco de doença

aterosclerótica, pois, muitas vezes, há interpretação errônea e restrições excessivas

do nutriente. Recomenda-se uma redução do consumo total de gordura e de gordura

saturada, de forma que o percentual de lipídios da dieta seja de até 30% do

consumo energético, não menos que 20%, que menos de 10% seja proveniente de

ácidos graxos saturados.O consumo de colesterol diário não deverá exceder

300mg/dia (LACERDA; SAUNDERS; ACCILOY, 2004, p. 372).

Recomenda-se moderação no consumo de gorduras e açúcares, mas não sua

exclusão da dieta. Um hábito a ser evitado, desde idades precoces, é a adição de

molhos gordurosos, como maioneses e outros molhos cremosos, à refeição, bem

como o consumo regular de fritura. O óleo pode ser uma fonte extra de calorias,

aumentando o risco para o desenvolvimento da obesidade (GAGLIANONE, apud

LOPEZ; BRASIL, 2004, p. 68 e 69).

2.2.6 Fibras

Com relação às fibras, sugere-se que crianças maiores de dois anos de idade

devam ter uma ingestão de fibras equivalentes à sua idade adicionada de 5 gramas

por dia, até um valor máximo de 25 a 35 g/dia, recomendado para adultos (AHF

apud FALÇÃO; CARRAZZA, 1999, p. 10).

A importância da fibra alimentar, tanto na prevenção, como no tratamento de

doenças do adulto, principalmente a constipação intestinal, vem sendo enfatizada na

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literatura há vários anos, porém as recomendações foram inicialmente direcionadas

aos adultos, indicando o consumo de fibras entre 20 a 35g por dia (VITOLO, 2008, p.

232).

2.2.7 Micronutrientes

As vitaminas e minerais devem estar presentes na alimentação da criança para

determinar suas concentrações adequadas a fim de manter a vida e crescimento.

Cada vitamina e mineral tem sua concentrações adequadas a fim de manter a vida e

crescimento. Cada vitamina e mineral tem sua faixa de concentração tecidual que

permite a manutenção de funções bioquímicas e metabólicas (ACCILOY;

SAUNDERS; LACERDA, 2004).

Faixa etária RDA/AI EAR UL

1 a 3 anos 15 13 400

4 a 8 anos 25 22 650

RDA: recommended dietary allowance (ingestão diária recomendada); Al: adequate intake (ingestão adequada); EAR: estimated average requirement (estimative do parâmetro médio); UL: upper level (ingestão máxima tolerada).

Quadro 3 - Recomendação diária de vitamina C (mg) Fonte: IOM, 2000.

Faixa etária AI EAR UL

1 a 3 anos 500 ND 2.500

4 a 8 anos 800 ND 2.500

Al: adequate intake (ingestão adequada); EAR: estimated average requirement (estimativa do parâmetro médio); UL: upper level (ingestão máxima tolerada); ND: não-disponível.

Quadro 4 - Recomendação diária de cálcio (mg) Fonte: IOM, 2000.

Faixa etária RDA/AI EAR UL

1 a 3 anos 7 3,0 40

4 a 8 anos 10 4,1 40

Quadro 5 - Recomendação diária de ferro (mg) Fonte: IOM, 2000.

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A deficiência de ferro é considerada um das doenças nutricionais de maior

prevalência, acometendo mais de dois bilhões de pessoas em todo o mundo

(LAYRISSE apud ALMEIDA, 2004, p. 229).

2.2.8 Quantidade diária de alimentos

Quantidade diária dos principais alimentos compatíveis com as necessidades

nutricionais de pré-escolares:

Alimentos Pré-escolar

Arroz* 2 a 3 colheres sopa

Feijão* 1 concha pequena

Carne* 2 colheres de sopa(100g)

Legumes cozidos* 2 colheres sopa

Hortaliças cruas* 2 folhas

Frutas* 2 unidades (100 a 150g)

Suco de frutas** 1 copo (200mL)

Leite** 3 copos (600mL)

Pão Francês** 2 unidades (100g)

Doces** 1 unidade (50g)

Açúcar ** 2 colheres de sopa

Ovo 2 a 3 por semana

Óleo*** 15 a 20g

*Para cada refeição principal do dia (almoço e jantar).

** Quantidade diária total.

***Óleo contido nas preparações diárias.

Quadro 6 - Quantidade diária de alimentos Fonte: VITOLO, 2008, p. 227.

2.3 Patologias relacionadas à deficiência e excesso s alimentares

O quadro da situação nutricional no Brasil tem-se alterado de maneira muito

importante. O país, já há algumas décadas, está passando pela chamada transição

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nutricional, com clara alteração dos padrões dietéticos, e, consequentemente,

surgem correspondentes mudanças na população. A queda dos índices de

desnutrição e o aumento da obesidade indicam, claramente, que o Brasil encontra-

se, à semelhança do ocorrido em vários outros países, neste processo de transição.

Concomitantemente aos fatos mencionados, a deficiência de micronutrientes tem

surgido de maneira preocupante em nossa população, com graves consequências

(QUEIROZ; SARNI; TORRES, apud LOPEZ; BRASIL, 2004, p. 161).

2.3.1 Desnutrição

A desnutrição energético-protéica apresenta múltiplos fatores envolvidos em

sua gênese como os ligados às condições de vida, antecedentes gestacionais,

neonatais, alimentares, e mais recentemente descrito por Nóbrega e Campos o fraco

vínculo mãe-filho (LOPEZ; BRASIL, 2004, p. 169).

A definição clássica da OMS para Desnutrição Energético-Protéica é:

Desnutrição energético-protéica é o conjunto das condições patológicas decorrentes da deficiência simultânea, em proporções variadas, de proteínas e calorias, que ocorre mais frequentemente em lactentes e crianças pequenas e que geralmente se associa a infecções (VITOLO, 2008, p. 234).

2.3.2 Anemia ferropriva

A anemia ferropriva (AF) é a deficiência nutricional mais comum no Brasil,

assim como no mundo, pois se estima que 25% da população mundial seja atingida

pela carência de ferro (QUEIROZ; SARNI; TORRES, apud LOPEZ; BRASIL, 2004, p.

161).

Na infância, a anemia constitui um grave problema de saúde pública devido à

elevada prevalência e distribuição e às significativas repercussões no

desenvolvimento da criança afetada. Em lactentes e pré-escolares, as principais

consequências da anemia ferropriva são: comprometimento do desenvolvimento, da

coordenação motora e da linguagem, efeitos comportamentais, como falta de

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atenção, fadiga, redução da atividade física e redução da afetividade (RAMALHO;

DOLINSKY; BAIÃO; LACERDA apud ACCIOLY; SAUNDERS, 2004, p. 57 e 58).

A anemia ferropriva afeta 43% dos pré-escolares em todo o mundo,

principalmente nos países em desenvolvimento, que apresentam prevalências

quatro vezes maiores que as encontradas nos países desenvolvidos QUEIROZ;

SARNI; TORRES, apud LOPEZ; BRASIL, 2004, p. 162).

Ainda como consequências da anemia destaca-se a falta de apetite, que por

sua vez, leva a menor ingestão de ferro, criando um ciclo vicioso. Além disso, há

prejuízo no ganho de peso, que afeta, posteriormente, o crescimento (CTENAS et al,

1999).

2.3.3 Deficiência de vitamina A

Em termos de micronutrientes, a hipovitaminose A é considerada a segunda

deficiência nutricional no mundo, sendo muito a sua associação com a anemia

ferropriva. Este fato é decorrente de dois aspectos: muitas fontes são comuns a

esses dois micronutrientes como carne, verduras verdes escuras, leite, ovos, etc. e

outro aspectos é o fato, já demonstrado, do metabolismo do ferro e da vitamina A

interagirem entre si (LOPEZ; BRASIL, 2004, p. 165).

A vitamina é um nutriente essencial à manutenção das funções fisiológicas

normais do organismo. Dentre suas funções destacam-se as ligadas ao crescimento,

à função imunológica e à integridade do globo ocular (SOMMER apud FERNANDES

et al, 2005, p. 472).

A World Health Organization (WHO, 1975) estimou que cerca de 250 milhões

de pré-escolares são afetados por esta deficiência no mundo. O Brasil, México,

Colômbia e Peru foram categorizados como regiões endêmicas para deficiência

subclínica grave de vitamina A (LOPEZ; BRASIL, 2004).

A deficiência de vitamina A pode ser causada por dois fatores principais. O

primeiro por uma persistente ingestão inadequada de vitamina A para satisfazer as

necessidades orgânicas, tanto em crianças como em indivíduos adultos,

prejudicando as funções fisiológicas. Isso é frequentemente potencializado por

circunstâncias secundárias como insuficiente consumo de gordura na dieta, levando

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a uma ineficiente absorção deste nutriente (RAMALHO; DOLINSKY apud ACCIOLY;

SAUNDERS; LACERDA, 2004).

2.3.4 Obesidade

A obesidade é definida como o acúmulo de tecido adiposo, regionalizado ou

em todo o corpo, que frequentemente leva prejuízos à saúde e é mais frequente nas

regiões mais desenvolvidas do país, associada à modernização industrial e

mudanças de hábitos (LACERDA, 2004).

As estatísticas da prevalência mundial da obesidade entre crianças e

adolescentes são escassas, onde somente França, Reino Unido e EUA possuem

tais informações. Nos EUA, o tema vem sendo exaustivamente estudado, em função

do crescimento assustador do número de crianças obesas, chegando a atingir de 25

a 30% das crianças na pré-puberdade e 18 a 25% na adolescência, tornando-se um

problema de saúde pública. O número de crianças obesas no Brasil não atinge

proporções tão elevadas, mas em função do crescimento do sedentarismo e de

hábitos alimentares inadequados, que incluem um elevado consumo dos chamados

lanches rápidos (fast foods), doces e guloseimas, também estamos sujeitos ao

crescimento da população infantil obesa e, por conseguinte, de uma população

adulta sujeita a alta morbimortalidade por doenças cardiovascular (DCV). Sendo

assim, é importante identificar com fidedignidade a obesidade na infância, bem como

as alterações metabólicas provenientes da mesma, possibilitando, assim, uma

intervenção cada vez mais precoce (ACCIOLY; SAUNDERS; LACERDA, 2004).

A obesidade é resultante da ação de fatores ambientais (hábitos alimentares,

atividade física e condição psicológica) sobre indivíduos predispostos geneticamente

a apresentar excesso de tecido adiposo (DIAMOND, 1998; WHO, 2000 apud

VITOLO, 2008, p. 339).

O excesso de peso na criança predispõe às mais variadas complicações,

abrangendo esferas psicossociais, pois há isolamento e afastamento das atividades

sociais devido à discriminação e à aceitação diminuída pela sociedade (TADDEI

apud SILVA et al, 2003, p. 324).

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Crianças obesas têm grande risco de persistirem obesas na fase adulta, com

diminuição da expectativa de vida, devido ao aumento da morbimortalidade por

doenças cardiovasculares, diabetes mellitus tipo II, certo tipo de neoplasias, entre

outras causas associadas à obesidade (LOPES; BRASIL, 2004).

2.4 Programa Bolsa Família

O Programa Bolsa Família (PBF) é um programa de transferência direta de

renda com condicionalidades, que beneficia famílias em situação de pobreza (com

renda mensal por pessoa de R$ 70 a R$ 140) e extrema pobreza (com renda mensal

por pessoa de até R$ 70), de acordo com a Lei 10.836, de 09 de janeiro de 2004 e o

decreto nº 5.209, de 17 de setembro de 2004.

O PBF integra a estratégia FOME ZERO, que tem o objetivo de assegurar o

direito humano à alimentação adequada, promovendo a segurança alimentar e

nutricional e contribuindo para a erradicação da extrema pobreza e para a conquista

da cidadania pela parcela da população mais vulnerável à fome.

O Programa pauta-se na articulação de três dimensões essenciais à superação

da fome e da pobreza:

- Promoção do alívio imediato da pobreza, por meio da transferência direta de

renda à família;

- Reforço ao exercício de direitos sociais básicos nas áreas de Saúde e

Educação, por meio dos cumprimentos das condicionalidades, o que contribui

para que as famílias consigam romper o ciclo da pobreza entre gerações;

- Coordenação de programas complementares, que têm por objetivo o

desenvolvimento das famílias, de modo que os beneficiários do Bolsa Família

consigam superar a situação de vulnerabilidade e pobreza.São exemplos de

programas complementares: programas de geração de trabalho e renda , de

alfabetização de adultos, de fornecimento de registro civil e demais

documentos. (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À

FOME).

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2.5 Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional ( SISVAN)

O Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional, SISVAN, foi proposto

primeiramente pelo INAN (Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição) em 1976,

mas somente em 1990, após a promulgação da Lei 8080/1990, e com a publicação

da Portaria 1.156 publicada em 31 de agosto desse mesmo ano, é que o SISVAN foi

estabelecido nacionalmente.

O Sistema foi concebido sobre três eixos:

I – formular políticas públicas;

II - planejar, acompanhar e avaliar programas sociais relacionados à alimentação e

nutrição;

III - avaliar a eficácia das ações governamentais. Dessa forma cumpre seu papel em

auxiliar os gestores públicos na gestão de políticas de alimentação e nutrição.

Na saúde o SISVAN é um instrumento para obtenção de dados de

monitoramento do Estado Nutricional e do Consumo Alimentar das pessoas que

frequentam as Unidades Básicas do SUS.

São contempladas pela Vigilância Alimentar e Nutricional todas as fases do

ciclo de vida: crianças, adolescentes, adultos, idosos e gestantes.

O Sistema está concebido por uma combinação de estratégias de Vigilância

Epidemiológica que são:

- Sistema Informatizado;

- Chamadas Nutricionais;

- Inquéritos populacionais;

- Fomento e acesso á produção científica;

- Indicadores de saúde e nutrição.

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3 OBJETIVOS

A seguir são apresentados os objetivos que se subdividem em objetivo geral e

específicos.

3.1 Objetivo geral

Avaliar o consumo alimentar de crianças de 2 a 5 anos de idade pertencentes

ao Programa Bolsa Família do município de Canoas/RS/Brasil.

3.2 Objetivos específicos

Avaliar qualitativamente a ingestão alimentar através do formulário de

marcadores do consumo alimentar do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional

(SISVAN), das crianças de 2 a 5 anos pertencentes ao Programa Bolsa Família;

Avaliar os indicadores antropométricos (índice de massa corpórea, estatura

para idade, peso para estatura) através de medidas de peso corporal e estatura.

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4 METODOLOGIA

Abaixo se encontra descrito a metodologia do trabalho realizado.

4.1 Delineamento geral

O estudo proposto foi transversal e observacional aplicado no Centro de Saúde

de Canoas em crianças de 2 a 5 anos de idade, pertencentes ao Programa Bolsa

Família do Município de Canoas/RS.

Esse projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP)

do Centro Universitário La Salle (Unilasalle) e teve aprovação sob número CAAE –

0004.0.404.000-10, além da aprovação pela Secretaria de Saúde do Município de

Canoas.

A coleta de dados foi realizada no período de 26 de Abril a 15 de Maio, no

turno da tarde, nos dias de pesagem para o Programa Bolsa Família.

4.2 Sujeitos e local de pesquisa

Foram incluídas crianças de 2 a 5 anos pertencentes ao Programa Bolsa

Família cadastradas no Centro de Saúde de Canoas, que as mães e/ou

responsáveis concordaram em participar do estudo, e foram excluídos crianças com

idade inferior a 2 ano e superior a 5 anos, acompanhante da criança que não

apresentava conhecimento para responder ao formulário e crianças que não

puderam ser avaliadas antropometricamente.

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4.3. Instrumentos e coleta de dados

A coleta de dados foi realizada através da aplicação do Formulário de

Marcadores do Consumo Alimentar, validado pelo Sistema de Vigilância Alimentar e

Nutricional – SISVAN (Anexo A). O formulário foi respondido pelos pais ou

responsável da criança. A abordagem ao responsável da criança foi realizada na

sala de espera para pesagem, pela própria pesquisadora, que forneceu todas as

informações pertinentes da pesquisa.

O Formulário de Marcadores do Consumo Alimentar é adequado para avaliar a

dieta habitual de crianças de 2 a 5 anos de idade, pois possibilita a investigação das

características da alimentação habitual deste grupo.

O formulário referido foi composto de 12 questões, de opções múltiplas, sendo

que a questão 1 é composta de três opções de resposta (não tomou, até 2 copos e

mais de 2 copos), e as questões de 2 a 6 somente uma opção de resposta (sim ou

não). As demais questões possuem quatro alternativas de respostas: todos os

dias,dia sim, dia não , ás vezes e nunca.

As questões de número 1 até 6, trata-se de recordatório das últimas vinte

quatro horas de consumo da criança, as questões de número 7 até 12, referem-se à

frequência em que o alimento é consumido.

Os alimentos que compõem o formulário são específicos para crianças de 2 a 5

anos de idade.

Os dados antropométricos (peso e altura) foram coletados do formulário do

SISVAN, devidamente preenchidos pela nutricionista responsável local.

Após a coleta, os dados foram tabulados no programa Microsoft Excel,

analisados e posteriormente apresentados em forma de tabelas.

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5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Abaixo serão descritos e comentados os resultados obtidos no presente

estudo.

5.1 Caracterização da população

Foram incluídas 60 crianças no estudo, onde se observou uma distribuição

maior no sexo feminino, sendo 53% (n=32) do gênero feminino e 47% (n=28) do

gênero masculino, como podemos observar na tabela 1.

Variável N %

Sexo

Masculino 28 47

Feminino 32 53

Total 60 100

Tabela 1- Distribuição da amostra segundo sexo. Fonte: Autoria própria, 2010.

Variável N %

Idade

2 a 3 anos 22 37

4 a 5 anos 38 63

Total 60 100

Tabela 2- Distribuição da amostra segundo faixa etária. Fonte: Autoria própria, 2010.

Na tabela 2 podemos observar que em relação á faixa etária houve um elevado

número em relação à idade de 4 e 5 anos, sendo 2 e 3 anos 37% (n= 22) e 4 e 5

anos 63% (n= 38).

Uma das características da população investigada neste estudo é o fato de

pertencerem a famílias com grande dificuldade ao acesso a alimentação nas

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quantidades adequadas. A avaliação do estado nutricional dessas crianças é uma

forma de verificar e também alertar autoridades sobre o atual problema de saúde

pública a alimentação infantil inadequada.

5.2 Antropometria

Quanto ao estado nutricional, as crianças foram avaliadas segundo as medidas

antropométricos (índice de massa corpórea, estatura para idade, peso para estatura)

através de medidas de peso corporal e estatura.

5.2.1 Índice de Massa Corporal

O IMC é um instrumento comumente utilizado devido a sua praticidade de

identificar a classificação nutricional de indivíduos e também devido ao baixo custo,

é considerado como um dado universal.

IMC n %

Obesidade 6 10

Sobrepeso 9 15

Eutrofia 36 60

Risco para baixo peso 5 8

Baixo peso 1 1,7

Limítrofe entre eutrofia e

risco para baixo peso

1 1,7

Limítrofe entre sobrepeso

e obesidade

1 1,7

Limítrofe entre sobrepeso

e eutrofia

1 1,7

Total 60 100

Tabela 3- Distribuição da amostra segundo IMC. Fonte: Autoria própria, 2010.

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Os dados de índice de massa corpórea IMC (classificação segundo WHO Child

Growth Standards, 2006), demonstrados na tabela 3, apresentou um predomínio de

eutrofia 60% em relação aos outros estados nutricionais, mas vale ressaltar que os

dados encontrados com sobrepeso e obesidade (25%) estão acima da média

comparando com outros estudos. A análise de estudos mais recentes como o

trabalho de Corso et al.(2001), realizado em, Santa Catarina, em escolas e creches

públicas do Município de Bombinhas, encontrou índices de 6,8% de obesidade em

menores de seis anos de idade e 13% de sobrepeso, e o trabalho de Gigante et

al.(2003), realizado em Pelotas que encontrou cerca de 10% de sobrepeso no

acompanhamento de 1.273 crianças, permitem vislumbrar a tendência de aumento

das prevalências de sobrepeso e obesidade nas crianças brasileiras.

5.2.2 Peso para Estatura

Esse índice reflete a harmonia do crescimento e não requer o uso da idade. No

entanto, não substitui nenhum indicador (ACCIOLY; SAUNDERS; LACERDA, 2009).

P/E N %

Obesidade 9 15

Sobrepeso 11 18

Eutrofia 27 45

Baixo peso 13 22

Total 60 100

Tabela 4-Distribuição da amostra segundo P/E. Fonte: Autoria própria, 2010.

No indicador nutricional de peso para estatura - P/E (classificação segundo

NCHS National Center for Health Statistics, 2000) (tabela 4), o estado nutricional de

eutrofia foi o mais encontrado na amostra estudada, a tabela 4 descreve estes

resultados. Mesmo os resultados mostrando que 45% das crianças estão com perfil

nutricional adequado, vale ressaltar que existe um desvio do estado nutricional

considerável pois, 33% entre sobrepeso e obesidade e 22% das crianças com baixo

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peso. Estes resultados demonstram que é algo a ser monitorado, pois são fatores

que podem acarretar problemas futuros para o desenvolvimento da criança, como

uma população adulta sujeita a alta morbimortalidade por doenças cardiovasculares

(DCV), portanto com uma intervenção cada vez mais precoce ira ajudar a evitar

complicações futuras.

5.2.3 Estatura para Idade

Esse índice reflete o crescimento linear alcançado para uma idade específica e

seus déficits indicam inadequação acumuladas de longa data.

As crianças com baixa estatura para a idade podem ser classificadas como

baixas ou com nanismo (stunting). O primeiro termo é utilizado para descrever um

baixo valor de estatura/idade, já o segundo termo implica um processo patológico

que demanda cuidados nutricionais específicos (ACCIOLY; SAUNDERS; LACERDA,

2009).

E/I N %

Estatura adequada 46 77

Baixa estatura 14 23

Total 60 100

Tabela 5-Distribuição da amostra segundo E/I. Fonte: Autoria própria, 2010.

Na tabela 5, observamos que a estatura para idade na maioria das crianças

apresentavam-se dentro dos padrões recomendados pelo NCHS: estatura adequada

77% (n= 46) e com baixa estatura 23% (n= 14), porém comparando com outro

estudo (TORRES et al; FURUMOTO et al; ALVES et al, 2007)com crianças de

famílias de baixa renda, com idades entre 0 a 5 anos, frequentadoras do ambulatório

de pediatria do Hospital Universitário de Brasília, apontam que das crianças

avaliadas somente 8,6% foram classificadas como baixa estatura de acordo com o

NCHS, 2000.

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5.3 Consumo Alimentar

A avaliação qualitativa da ingestão alimentar foi realizada através do formulário

de marcadores do consumo alimentar do Sistema de Vigilância Alimentar e

Nutricional (SISVAN), composto de 12 questões, que avaliam a qualidade e

quantidade alimentar.

O questionário de Frequência Alimentar (QFA) é considerado uma ferramenta

simples e econômica que tem como objetivo conhecer o consumo habitual de

alimentos de determinados grupos populacionais. Esta ferramenta é considerada

como o mais prático e informativo método de avaliação da ingestão dietética

(SLATER et. al., 2003).

Questões Não tomou Até 2 copos Mais de 2 copos

% n % n % n

1-Ontem,quantas preparações

de leite a criança tomou?

10 6 45 27 45 27

Sim Não

% n % n

2-Ontem, a criança comeu

verduras/legumes?

63 38 37 22

3-Ontem, a criança comeu

fruta?

77 46 23 14

4-Ontem a criança comeu

carne?

85 51 15 9

5-Ontem a criança comeu

assistindo televisão?

53 32 47 28

6-Ontem a criança comeu

comida de panela no jantar?

88 53 12 7

Tabela 6- Resultado do formulário de marcadores do consumo alimentar, referente ao consumo nas ultimas 24horas. Fonte: Autoria própria, 2010.

A tabela 6 apresenta os resultados referentes às questões 1 a 4, sobre o

consumo de leite, verduras/legumes, fruta e carne do dia anterior a pesquisa. Os

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resultados demonstram que 90% dos entrevistados o leite estava presente na

alimentação. O grupo de leite e derivados merece atenção pelo fato de ser fonte de

cálcio, micronutriente importante em todas fases da vida e essencial durante a

infância para mineralização óssea e manutenção do crescimento ósseo (PHILIPPI et

al, 2003).Porém o consumo de cálcio em excesso (45% ingeriu mais de 2 copos ao

dia) prejudica a absorção de ferro, podendo assim causar anemia.

A ausência de verduras/legumes foi de 37% e frutas de 23%, considerado alto

comparando ao estudo de Tuma, (2005) onde foi avaliado o consumo alimentar de

230 crianças com idades entre 7 a 71 meses, que apresentou 21,3% de baixo

consumo de verduras e apenas 6% considerado baixo consumo de frutas. Diversos

estudos epidemiológicos apontam para o grande benefício do consumo adequado

de frutas e vegetais na redução de doenças crônico-degenerativas, incluindo a

presença de nutrientes antioxidantes e de fitoquímicos (DE ANGELIS, 2005).

O National Institutes of Health Consensus Development Panel on Physical

Activity and Cardiovascular Health (NIHCDPPACH) recomendou, que tanto crianças

como adultos mantenham 30 minutos de atividade física de moderada a intensa

durante a maior parte dos dias da semana. Esta atividade física regular, associada

ao consumo de regime alimentar rico em vegetais, é essencial para a prevenção de

diversas enfermidades degenerativas, tais como doenças cardiovasculares,

acidentes vasculares e cânceres.

O consumo de carnes, em geral previne carências como de ferro e vitamina

B12, o que para a criança é de suma importância, a carne estava presente em 85%

das respostas, quanto à alimentação do dia anterior. Em um estudo que avaliou o

consumo alimentar de escolares de 5 a 15 anos de uma área endêmica de malária

do Amazonas, demonstrou que: no grupo das carnes o fígado (0,0%) não foi

consumido por nenhuma criança avaliada e a carne bovina apenas 2,6% dos

avaliados consumiram diariamente.

Tuma (2005) num estudo onde avaliaram o consumo alimentar de 230 crianças

com idades entre 7 a 71 meses, os cardápios apresentaram marcada monotonia,

constatando-se presença inexpressiva de peixes, vísceras, ovos, hortaliças e frutas. Quanto à questão da realização das refeições assistindo televisão, os

resultados ficaram equilibrados, 53%(n=32) afirmaram que a criança realizou a

refeição assistindo televisão e 47%(n= 28) responderam que não. No entanto

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realizar as refeições em frente à televisão é prejudicial à alimentação, pois desvia a

atenção da criança do prato e sabe-se ainda, que boa parte das crianças passa

muito tempo assistindo televisão, cujos anúncios veiculados estimulam o consumo

de alimentos com alto grau de processamento, teor de micronutrientes limitado, alta

densidade calórica e grande quantidade de sal, açúcar e gordura, especialmente as

saturadas e o colesterol.

O resultado foi bastante satisfatório quanto ao jantar da criança, pois 88%

comem a alimentação da família ao invés de realizar lanches, muitas vezes

compostos de calorias vazias.

Frequência

Alimento Todos os dias Dia sim, dia não Às vezes Nu nca

% n % n % n % n

Refresco c/

açúcar

33 20 12 7 50 30 5 3

Refrigerante 10 8 15 9 72 43 3 2

Salgadinho

de pacote

3 2 18 11 67 40 12 7

Bolacha

recheada

5 3 15 9 72 43 8 5

Fruta ou

suco natural

15 9 30 18 35 21 20 12

Feijão 82 49 10 6 8 5 0 0

Tabela 7- Resultado do formulário de marcadores do consumo alimentar, referente à frequência alimentar. Fonte: Autoria própria, 2010

Referente ao consumo de refrescos ou bebidas com açúcar entre as crianças

do presente estudo, 50 % afirmaram que as crianças consomem às vezes e o

resultado com a opção de resposta todos os dias apareceu em 33% das respostas,

o que é algo preocupante, pois o alto consumo de açúcar na infância pode

desencadear diversas patologias como: diabetes mellitus, obesidade, cárie dental

entre outras. Farias Júnior e Osório (2005) em estudo que avaliou a caracterização

do padrão alimentar das crianças menores de cinco anos no Estado de Pernambuco

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segundo a área geográfica (região metropolitana do Recife, interior urbano e interior

rural), faixa etária e sexo da criança, renda familiar per capita e escolaridade

materna, encontraram entre os alimentos mais consumidos pelas crianças o açúcar

com frequência de consumo de 52%.

Quanto ao consumo de refrigerantes 72% das crianças consomem às vezes,

mesmo tratando-se de famílias com baixo poder aquisitivo podemos observar que o

consumo de refrigerante é bastante alto. Dados do Ministério da Agricultura dos

Estados Unidos (2001) apontam que 33% do consumo de açúcar provém de

refrigerantes.

Dos 100% das crianças da amostra, 67% apresentam ingestão de salgadinhos

de pacote ás vezes e 72% tem o hábito de consumir bolacha recheada às vezes, o

que mostra que os resultados encontrados estão acima comparando com outros em

uma escola particular do município de São Paulo (BIGIDO, 2004), salgadinhos de

pacote são levados por 41% das crianças pré-escolares, pelo menos uma vez por

semana e biscoitos recheados são trazidos por 55% das crianças. Estes resultados

chamam a atenção para a necessidade de maiores estudos quanto à qualidade do

lanche consumido por pré-escolares e também para ações de conscientização e

educação nutricional para evitarmos uma alimentação desequilibrada que contribua

para o desenvolvimento de crianças com sobrepeso e obesidade.

O estudo demonstra ainda, o baixo consumo de frutas/suco natural pelas

crianças, pois apenas 15% confirmaram este consumo diário, sendo ainda mais

alarmante que 20% da amostra nunca consumiram, Monteiro et al (2000) mostrou

que nas ultimas décadas, ocorreu um declínio no consumo de frutas e um aumento

da distribuição energética proveniente dos açúcares nas regiões Norte e Nordeste.

O hábito de consumir feijão diariamente em 82% das crianças, foi bastante

satisfatório. Este é um hábito positivo, pois a combinação deste com arroz fornece

aminoácidos essenciais e proteína de alto valor biológico, importante para o

desenvolvimento da criança. Em outros estudos a frequência de consumo deste

alimento também se apresentou alta entre 50% a 90% (TUMA et al, 2005;CASTRO

et al, 2005).

A frequência alimentar (questões 7 a 12 do inquérito alimentar) esta

apresentadas na tabela 7.

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6 CONCLUSÃO

Diante dos dados encontrados podemos concluir que a maioria das crianças

analisadas estavam eutróficas, porém com sobrepeso e obesidade existe 33% para

sua estatura e utilizado o método do IMC, 25% encontram-se no mesmo estado

nutricional. O que reforça a necessidade de estratégias de prevenção, no sentido de

promover mudanças de hábitos alimentares saudáveis.

Grande parte da amostra encontrava-se com altura esperada para sua idade, o

que é algo muito satisfatório para essa fase da vida.

Quanto ao consumo alimentar no dia anterior a pesquisa, podemos observar

que houve prevalência de uma alimentação saudável, esse resultado é muito

positivo diante de uma população com tamanha vulnerabilidade social.

As guloseimas obtiveram maior número de respostas “às vezes“ na

alimentação infantil, esse resultado mostra que as guloseimas estão presente em

todas as classes sociais.

O consumo de frutas diariamente ficou abaixo do esperado, o que poderia ser

justificado pela dificuldade financeira da população em estudo.

O habito de consumir feijão apresentou alta prevalência, pois foi um alimento

que estava presente diariamente na maioria das entrevistas, sendo-se que este

alimento é de suma importância para o desenvolvimento da criança, pois ajuda a

evitar diversas patologias.

Fazer com que a própria criança dê preferência a alimentos saudáveis deve ser

um exercício contínuo de pais e educadores, para que futuramente essa criança

venha se tornar um adulto com hábitos alimentares saudáveis.

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ANEXO A

Instrumento de coleta de dados

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ANEXO B

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

A finalidade deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido é informar e

esclarecer sobre as avaliações que serão desenvolvidas com crianças pertencentes

ao Programa Bolsa Família do município de Canoas/RS/Brasil, solicitando ao

responsável a sua permissão para utilização dos dados coletados.

A pesquisa tem como objetivo avaliar qualitativamente a ingestão alimentar

através do formulário de marcadores do consumo alimentar do Sistema de Vigilância

Alimentar e Nutricional (SISVAN).

Será avaliado também os indicadores antropométricos (índice de massa

corporal, estatura para idade e peso para estatura), através de medidas de peso

corporal e estatura. Relacionado à privacidade deixo claro que não serão divulgados

dados pessoais dos participantes (nome e endereço), garantindo seu anonimato.

Os benefícios serão muitos, tanto para os acadêmicos e profissionais do setor

da nutrição quanto para as crianças pais ou responsável, já que os resultados desta

avaliação servem como novos conhecimentos sobre nutrição, para melhorar e ou

criar ações pelo setor responsável para os participantes, pois ficarão sabendo como

está seu consumo alimentar.

Os participantes têm o direito de não participar ou de se retirar do estudo, a

qualquer momento, sem que isto represente qualquer tipo de prejuízo dentro do

programa que participam bem como quanto ao seu atendimento no Centro de Saúde

de Canoas.

Após ser esclarecido sobre as informações a seguir, no caso de aceitar fazer

parte do estudo, assine ao final deste documento, que está em duas vias. Uma delas

é sua e a outra é da pesquisadora responsável. Em caso de recusa você não será

penalizada de forma alguma. Todas as dúvidas serão esclarecidas antes da

assinatura.

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INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA:

Título do Projeto: AVALIAÇÃO DO CONSUMO ALIMENTAR DE CRIANÇAS DE 2

A 5 ANOS DE IDADE PERTENCENTES AO PROGRAMA BOLSA FA MÍLIA DO

MUNICÍPIO DE CANOAS/RS/BRASIL.

Concordo que os meus dados obtidos através da pesquisa sejam

documentados (armazenados) e utilizados para fins de pesquisas cientifica. E

autorizo a utilização destes dados e informação coletada em eventuais publicações

e revista cientificas.

Declaro ainda que recebi cópia do presente Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido.

Pesquisadora Responsável: Prof.ª Fernanda Miraglia (fone 51- 81558765) e

Acadêmica: Vãnusci Oliveira (fone 51-84024546).

Nome do voluntário: __________________________________________________

Assinatura do paciente/representante legal:________________________________

Data:__________________________