VALORAÇÃO ECONÔMICA DOS RESÍDUOS SÓLIDOS … · ... do site da TEXBRASIL, o país é o quarto...
Transcript of VALORAÇÃO ECONÔMICA DOS RESÍDUOS SÓLIDOS … · ... do site da TEXBRASIL, o país é o quarto...
1
VALORAÇÃO ECONÔMICA DOS RESÍDUOS SÓLIDOS TÊXTEIS
VALUATION OF ECONOMIC TEXTILES SOLD WASTE
PEREIRA, Maria Concebida1
LOUZADA, Roberto2
Eixo Temático: Desenvolvimento e políticas públicas
RESUMO
O presente artigo tem como objetivo analisar a valoração econômica dos resíduos sólidos têxteis que a moda vestimentária produz, inevitavelmente, em seus processos fabris e assim contribuir com o debate sobre sustentabilidade através da abordagem econômica, um de seus tripés. Para tal será utilizada pesquisa exploratória, bibliográfica e de levantamento, visto que o tema ainda é, bastante, recente e pouco discutido no meio acadêmico. Toda abordagem será feita sob a luz das políticas de resíduos sólidos, nas três esferas dos governos, federal, estadual e municipal. Como resultado esperasse apontar que as alternativas ambientalmente corretas não são apenas modismo, mas, sobretudo, uma necessidade econômica e de sobrevivência, é uma exigência do novo cenário socioeconômico e ambiental.
Palavras-Chave: Resíduos têxteis, Política pública, Valor econômico.
ABSTRACT
The present article aims to analyze the economic valuation of textiles solid waste that the clothing fashion industry inevitably produces in its manufacturing processes. Thus, it intends to contribute to the debate on sustainability through the economic approach, one of its pillars. We are going to use exploratory, bibliographical and data collection surveys, once the topic is still new and has not been deeply discussed in the field. The study´s approach will involve the solid waste policies, in the federal, state and municipal levels. As a result, it´s expected to provide evidence that environmentally friendly alternatives are not fad, but above all, an economic necessity, and a requirement of the new socioeconomic and environmental scenario. Keywords: Waste Textiles, Public Policy, Economic Value.
1 Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Campus de Franca. Mestranda em Planejamento e Análise de Políticas Públicas. [email protected] 2 Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Campus Jaboticabal. Professor Assistente Doutor em Regime de Dedicação Integral à Docência e a Pesquisa. Docente do Programa de Pós-graduação em Planejamento e Análise de Políticas Públicas. [email protected]
2
1 INTRODUÇÃO
A produção têxtil/vestuário é uma das atividades mais antigas da humanidade e foi
responsável pelo desenvolvimento industrial em diversos países, inclusive, no Brasil. O setor
de confecção é uma atividade industrial pertencente ao elo final da cadeia produtiva têxtil. A
indústria de confecção, também chamada de indústria do vestuário, é responsável pela
transformação de tecidos em produtos acabados entregues ao consumidor, na forma de peças
e acessórios do vestuário, roupas profissionais e artigos para o lar (cama, mesa, banho,
decoração e limpeza). No ano de 2012 a produção mundial do vestuário foi estimada em 47,7
milhões de toneladas (IEMI, 2015).
A cadeia têxtil movimenta a economia brasileira com números significativos. Segundo
dados, extraídos do site da TEXBRASIL, o setor têxtil e de confecção em 2015 faturou 36,2
bilhões de dólares e a produção média de confeccionados atingiu 5,5 bilhões de peças de
vestuário. Conforme dados do IEMI (2015) a produção têxtil no Brasil em 2014 foi de 2,1
milhões de toneladas e a produção de confeccionados chegou a 1,9 milhões de toneladas.
O setor representa importância econômica, mas também social. Conforme dados, do
site da TEXBRASIL, o país é o quarto maior parque produtivo de confecção do mundo e é
um dos poucos países, responsável por toda a cadeia produtiva. É o quinto maior produtor
têxtil do mundo e emprega 1,5 milhão de trabalhadores diretos e 8 milhões se adicionarem os
indiretos e efeito renda, dos quais 75% são de mão-de-obra feminina. O setor é o segundo
maior gerador do primeiro emprego e o segundo maior empregador da indústria de
transformação, perdendo apenas para alimentos e bebidas somados. Representa 16,7% dos
empregos e 5,7% do faturamento da indústria de transformação.
O processo de fabricação dos produtos da moda gera resíduos, inevitavelmente,
acarretando perdas consideráveis de matérias-primas. Sendo o tecido o principal insumo do
produto, é ele que representa a maior volume de resíduos sólidos descartado no processo
fabril confeccionista. É nesse contexto que se propõe analisar, sob a ótica de um dos tripés da
sustentabilidade, o econômico, a questão dos resíduos sólidos têxteis das industrias do
vestuário, oriundos dos seus processos fabris. Sem perder de vista os outros dois eixos do
tripé, o social e o ambiental.
Em busca de compreender melhor o fenômeno realizou-se uma pesquisa bibliográfica
exploratório sobre os resíduos sólidos têxteis, visto que o tema ainda é, bastante, recente e
3
pouco discutido no meio acadêmico. Para levantar e cruzar os dados foi empregado análise
estatística. Para fazer o levantamento da valoração dos resíduos sólidos têxteis, baseou-se no
método de valoração proposto por Duston (1993, apud SILVA, 2008).
Esperasse com o presente artigo apontar que as alternativas ambientalmente corretas
não são apenas modismo, mas, sobretudo, uma necessidade econômica e de sobrevivência, é
uma exigência do novo cenário socioeconômico e ambiental.
2 DESENVOLVIMENTO
Os resíduos sólidos tem sido objeto de estudo em diversas áreas e sob vários aspectos,
sejam eles relacionados a geração ou a gestão. O olhar tem sido voltado, principalmente, para
as questões relacionadas a eminência de um colapso dos recursos naturais. Recursos estes
necessários para manter a produção e o consumo da sociedade na atualidade e no futuro.
Em alguns países europeus e nos Estados Unidos já existem alguns estudos sobre os
produtos de moda descartados junto aos resíduos sólidos urbanos e os transtornos advindos
dessa ação. Esse tipo de descarte é considerado resíduo sólido têxtil pós-consumo. Não sendo
este o foco nesse momento. Timidamente vem surgindo estudos relacionados aos resíduos
sólidos têxteis resultantes dos processos de produção, considerados resíduos sólidos têxteis
pré-consumo, ou de atividade industrial. Mas, antes de continuar falando sobre os resíduos
sólidos têxteis, objeto do estudo, se faz necessário esclarecer alguns conceitos relacionados
aos resíduos sólidos, que vez ou outra geram confusão. O quadro 1 mostra as definições.
Quadro 1 – Classificação a definição dos conceitos
Resíduos sólidos
material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível.
Resíduos industriais os gerados nos processos produtivos e instalações industriais. Reduzir significa consumir menos produtos e preferir aqueles que ofereçam menor potencial de
geração de resíduos e tenham maior durabilidade Reutilizar processo de aproveitamento dos resíduos sólidos sem sua transformação biológica,
física ou físico-química.
Reciclagem processo de transformação dos resíduos sólidos que envolve a alteração de suas propriedades físicas, físico-químicas ou biológicas, com vistas à transformação em insumos ou novos produtos.
Rejeitos resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada.
Fonte: Adaptado de Brasil (2010)
4
Outro ponto que precisa ser mencionado aqui é sobre o conceito de sustentabilidade e
desenvolvimento sustentável. Ao percorrer a bibliografia sobre o assunto, encontra-se várias
definições, dentre elas destaca-se: [...] Nos dicionários a palavra sustentabilidade está definida como a capacidade de ser sustentável. É parece redundante, mas esse conceito faz sentindo quando aplicado à atuação humana frente ao meio ambiente em que se vive. Nesse contexto, entende-se a sustentabilidade como a capacidade de um indivíduo/organização; tem de se manter inserido num determinado ambiente sem, contudo, impactar violentamente esse meio. Ou seja, ter a capacidade de usar os recursos naturais e, de alguma forma, devolvê-los ao planeta através de práticas ou técnicas desenvolvidas para este fim. [...]. [...] “Desenvolvimento sustentável é aquele que atende as necessidades das gerações atuais sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atenderem às suas necessidades e aspirações”. [Relatório Brundland, ONU. (1987)] Ou seja, viva e deixe viver. A sustentabilidade está diretamente relacionada ao desenvolvimento econômico e material sem agredir o meio ambiente, usando os recursos naturais de forma inteligente para que eles se mantenham no futuro. Hoje a regra é muito clara: para ser sustentável a mentalidade, a atitude e/ou a estratégia, precisa ser economicamente viável, socialmente justa, culturalmente aceita e ecologicamente correta. [...]. (SERRA, 2015, p.?).
A figura 1 abaixo representa um resumo das dimensões da sustentabilidade. Para Serra
(2015) a sustentabilidade só acontece se as dimensões, econômica, social e ambiental, forem
consideradas conjuntamente, caso contrário a sustentabilidade não existe.
Figura 1 – Dimensões da sutentabilidade
Fonte: Adaptado de Serra, 2015.
Para Bader, (2008) as raízes da sustentabilidade estão na silvicultura3 e remontam ao
início do século XVIII, quando a mineração de prata, base da economia do estado alemão da
Saxônia, foi ameaçada pela escassez de madeira, pela devastação das áreas de exploração do 3 A palavra silvicultura provém do latim e quer dizer floresta (silva) e cultivo de árvores (cultura). Silvicultura é a arte e a ciência que estuda as maneiras naturais e artificiais de restaurar e melhorar o povoamento nas florestas, para atender às exigências do mercado. Este estudo pode ser aplicado na manutenção, no aproveitamento e no uso consciente das florestas. Disponível em: <www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/agroenergia/Abertura.html> Acesso em: 29 jul. 2016.
5
minério e do uso do carvão à lenha nos fornos de fundição. Com esta prática florestas inteiras
foram consumidas. A crise estava instalada e ameaçava o aniquilamento do setor de
exploração do minério. O inspetor geral da mineração, von Carlowitz criticou o pensamento
da época, do lucro rápido, e determinou que para cada quantidade de madeira cortada, fosse
plantado número equivalente de árvores. A partir desse conceito da silvicultura, segundo o qual deve-se garantir sempre um estoque de madeira para as gerações futuras, foi estabelecido o conceito da “sustentabilidade“ ou do “sustainable development”, o desenvolvimento sustentável. Naquele tempo, assim como hoje, a idéia de sustentabilidade nasceu a partir de uma crise. Tornou-se popular nos anos 1970 quando pela primeira vez, também por meio do relatório do Clube de Roma tornaram-se visíveis os “limites do crescimento”. (BADER, 2008, p.?).
Coelho (1996, p.103) considera que “ser ‘verde’, hoje, é antes uma necessidade de
mercado que, propriamente, fruto de uma consciência ecológica. [...].”. Vale lembrar que,
quando se está analisando quaisquer resíduos que seja, não se pode olhar apenas sob o prisma
econômico, se faz necessário considerar questões ambientais e sociais. Ou seja, é preciso
pensar os resíduos sólidos sob os princípios da sustentabilidade.
Voltando para o objeto em questão, os resíduos sólidos têxteis, também chamados de
retalhos e aparas, gerados no setor de confecção são inerentes ao processo produtivo. Eles
sempre serão gerados, não existe um processo produtivo dentro da indústria de vestuário
100% livre da geração de resíduos. Dentro do processo produtivo o setor de corte é o principal
gerador de resíduos sólidos têxteis. Os valores de desperdício mudam de acordo com o tipo de
segmento da indústria confeccionista (masculina, feminina ou infantil) e pode variar conforme
tamanho, modelo da peça e técnica utilizada no processo de corte do tecido. Representam
descarte e desperdício de matéria-prima, que se não tratada e destinada adequadamente podem
provocar impactos ambientais, sanitários e sociais.
Conforme Coelho (1996, p.36), “o primeiro esforço no sentido de mitigar os impactos
ambientais decorrentes da disposição de resíduos sólidos no meio ambiente deve sempre ser
dirigido no sentido de analisar suas potencialidades como matéria-prima para utilização em
outros processos industriais.” Bernardo (2006, p. 36) diz que “a reutilização de resíduos
gerados em uma indústria como matéria-prima para outra indústria através de um processo de
pré-seleção é uma das formas consideradas para se chegar a um desenvolvimento
sustentável”.
6
A priori os resíduos sólidos têxteis são 100% passiveis de serem reutilizados e ou
reciclados, por industrias especializadas. Eles podem ser reintroduzidos como matéria-prima
na cadeia têxtil, na produção de fios e tecidos, ou na geração de subprodutos para outros fins
industrias, como: desfibrados, barbantes, materiais de higiene e limpeza, mantas de
nãotecidos, geossintéticos e elementos filtrantes. Os subprodutos são utilizados na indústria
automobilística, de móveis, de colchão e de bichos de pelúcia. São fornecidos para lojas de
artesanato, de conveniência, supermercados e farmácias. Para obras de engenharia,
geotécnicas e de meio ambiente. Parte desses resíduos ainda podem ser reutilizados na
produção de artefatos artesanais diversos, gerando emprego e renda. (PEREIRA, 2015).
O que deve levar em conta é que, o que se considera lixo e rejeito pode vir a ser
valorado como matéria-prima em outros processos fabris. Diminuindo assim a utilização de
matéria-prima virgem e os impactos ambientais decorrentes do descarte inadequado dos
resíduos sólidos têxteis. “[...] Com a reciclagem dos restos de tecidos é possível reaproveitar
toneladas de matéria-prima, resultando em economia e empregos. Esses retalhos deixam de
agredir o meio ambiente e sujar as cidades”. (AUDACES, 2013).
Com referência na literatura, (LOPES, 2013; ARAÚJO, 1996; BENTO, 2013), o
percentual de descarte de tecidos no setor de corte são, respectivamente, 30%, 27,5% e 15%,
fazendo uma média entre os autores, supra citados, o percentual de resíduos têxteis gerados no
setor de corte é 24,17%, ou seja, praticamente um quarto da matéria-prima (tecido) é
desperdiçado no processo de produção de uma peça do vestuário. Cruzando essa informação
com os dados, da produção mundial de confeccionados (47,7 milhões de toneladas), no ano de
2012 o setor de confeccionados gerou um total de 11.529.090 toneladas de resíduos têxteis em
seus processos fabris. A produção nacional no ano de 2014 foi de 1,9 milhões de toneladas,
utilizando o percentual de desperdício no setor de corte, o Brasil gerou um total estimado de
459.230 toneladas de resíduos sólidos têxteis.
Diante do exposto e baseando-se no método de valoração dos resíduos, proposto por
Duston (1993, apud SILVA, 2008), no qual propõe a análise da viabilidade econômica da
reciclagem dos resíduos. Esse método reflete os ganhos diretos para o empreendimento que
vende seus resíduos. Para tal utiliza-se a equação G = V – C, sendo:
G = Ganho com a reciclagem;
V = Venda dos materiais reciclados;
C = Custo do processo de reciclagem.
7
Baseando-se nesse princípio, calculou-se, hipoteticamente, os valores econômicos que
poderiam ser gerados com a venda dos resíduos têxtis descartados no Brasil e no mundo,
como insumo para outros processos industrias. Partindo do pressuposto que teria comprador
disposto a pagar em média R$ 0, 50 o quilo de resíduo têxtil, comprados diretos da fonte sem
custos adicionais no processo de reciclagem. Multiplicando por 100% dos resíduos gerados
no período, teria sido injeto na economia do Brasil no ano de 2014 um montante de R$
229.615.000,00. Os ganhos mundiais em 2012 somariam R$ 5.764.545.000,00.
Cálculo 1 – ganhos econômicos/financeiros brasileiros no ano de 2014.
Montante de resíduos gerados no país = 459.230 toneladas
Valor de venda = R$ 0,50
Ganho = R$ 229.615.000,00
Cálculo 2 – ganhos econômicos/financeiros mundiais no ano de 2012.
Montante de resíduos gerados no mundo = 11.529.090 toneladas
Valor de venda = R$ 0,50
Ganho = R$ 5.764.545.000,00
Para ilustrar, que a hipótese acima não é insana, segundo o Sindicato da Indústria
Têxtil – SINDITEXTIL – SP (2012), em 2011 foram importadas 13,4 mil toneladas de trapos
e tecidos usados de vários países, com pagamento de cerca de US$ 0,50 por quilo. O que
corresponde a um montante de US$ 6.700.000,00. Esse foi o valor que os importadores
desembolsaram na aquisição de resíduos sólidos têxteis, naquele ano. Ainda conforme o
SINDITEXTIL – SP (2012), os resíduos têxteis produzidos, em 2011, no Brasil somaram 175
mil toneladas, sendo que a maior parte foi parar nos aterros sanitários e lixões do país sem
nenhum tipo de tratamento.
Legalmente com a instituição da Política Nacional dos Resíduos Sólidos – PNRS, Lei
12.305/2010, a responsabilidade da destinação e da gestão dos resíduos, passou a ser também
do gerador e segundo Faria (2012, p.5).
[...] a ideia que permeia a lei da PNRS diz respeito à redução da quantidade de material sujeito à disposição final – de modo a agregar valor aos resíduos gerados e destinar aos aterros o mínimo possível daquilo que não mais possa ser aproveitado – e, assim, inverter a lógica de manejo dos resíduos sólidos.
Agregar valor aos resíduos sólidos, no caso específico, aos resíduos têxteis é um dos
aspectos a ser considerado, no que tange ao processo de reciclagem. Conforme Bezerra
8
(2014), na perspectiva capitalista, se os estudos da reciclagem dos resíduos estiverem fora de
uma viabilidade econômica, para tratamento dos mesmos, serão relegados a segundo plano, e
não passaram de rejeitos e continuaram poluindo o meio ambiente. “A ideia é de se partir de
um ‘Green Design’, ou seja, ao se conceberem os processos, os mesmos já levarão em
consideração a possibilidade de reutilização e reciclagem, além de buscar que os rejeitos
sejam ecologicamente compatíveis.” (COELHO, 1996 p. 103).
Com a instituição da PNRS, os estados e municípios brasileiros, têm que se adequar a
curto, médio e longo prazo, estabelecendo seus planos de gestão de resíduos sólidos. Fato que
vem ocorrendo lentamente. A PNRS deixa claro também a corresponsabilidade da sociedade
civil em relação aos resíduos. O consumidor também faz parte do processo de minimização e
de gestão dos resíduos gerados em seus territórios.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O volume de resíduos têxteis gerados no país é enorme, mas o fato é que não se sabe
ao certo quanto de desperdício de matéria-prima se dá nos processos de fabricação dos
produtos do vestuário. Apresentaram-se, neste estudo, meras estimativas. O setor carece de
um inventário de seus resíduos, tanto, no processo fabril, quanto, no descarte dos produtos
pós-consumo. “Quando não se consegue medir ou traduzir em números o que se está falando,
pouco ou quase nada se conhece do assunto”. (LORD KELVIN).
A princípio o resíduo têxtil não é visto como problema e com isso acaba dificultando o
seu gerenciamento. Primeiro, não se trata de um resíduo perigoso. Segundo, seu volume é
pequeno, se considerado individualmente, uma vez que o setor é constituído, basicamente, por
micro e pequenas empresas. Terceiro, o seu custo é diluído e repassado para o produto e não
causa “prejuízo” para o fabricante. Por último, na maioria dos casos, o seu descarte se dá
junto ao lixo comum da fábrica, misturando-se aos resíduos sólidos urbanos, passando a
responsabilidade da destinação para os municípios e prefeituras.
A PNRS incumbe os municípios de fazer cumprir a lei em seus respectivos territórios,
bem como da responsabilidade do gerador pelo gerenciamento de seus resíduos. A
complexidade da implementação da lei, precisa ser levada em conta para a realidade das
micro e pequenas empresas que sozinhas não conseguem atender a legislação. Cabendo aos
9
estados e, principalmente, aos municípios buscar meios para tornar possível para estas
entidades o seu cumprimento de fato.
No que tange a análise da valoração dos resíduos sólidos têxteis, sob a ótica
econômica do tripé da sustentabilidade, conclui-se que há necessita de uma análise mais
profunda, considerando outras variáveis, por exemplo, custos de reciclagem, de
armazenamento e de transporte. Além da análise da demanda de mercado na absorção dos
resíduos sólidos têxteis já reciclados ou não. Empiricamente, é possível deduzir demanda
desses resíduos para o mercado brasileiro, visto que há importação de restos de tecidos e
trapos para fins de reciclagem. Além de encontrar empreendimentos, de médio e grande porte,
em atividade no país, que utilizam, exclusivamente, resíduos têxteis como matéria-prima em
seus processos produtivos. O que leva a crer que existe valor econômico desses resíduos.
Conclui-se que qualquer ação que proponha reduzir o consumo de matéria-prima
virgem e a geração de rejeitos, podem gerar benefícios sociais, ambientais e econômicos.
Traduzidos em desenvolvimento sustentável, exigências do no novo cenário, econômico,
político, cultural, socioambiental e de sobrevivência mundial.
4 REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Mario de. Tecnologia do Vestuário. Lisboa: Fundação Caloustre Guibenkian, 1996.451p. AUDACES. Por que reciclar os restos de tecidos? 2013. Disponível em: <www.audaces.com/br> Acesso em: 13 abr. 2016. BADER, Pascal. Conceitos de sustentabilidade. Disponível em: <www.goethe.de/ins/ao/pt/lua/kul/umw/den/3106180.html> Acesso em: 29 jul. 2016. BENTO, Antônio José Figueiredo. Sistema Integrado de Gestão de Resíduos de Vestuário Usado para Portugal: SIGVETU. Dissertação de mestrado. Lisboa, 2013. Disponível em: <comum.rcaap.pt>Acesso em: 26 abr. 2016. BERNARDO, José. Sustentabilidade Ambiental e Sustentabilidade Social: Os Limites e Avanços do Programa Coleta Seletiva de Lixo no Município de Cabo de Santo Agostinho, 1998/2004. Disponível em:<www.repositorio.ufpe.br/handle/123456789/3470> Acesso em: 13 abr. 2008. BEZERRA, Angelo Felipe do Nascimento. Reciclagem: o outro lado da moeda. In: El-Deir, Soraya Giovanetti. Resíduos sólidos: perspectivas e desafios para a gestão integrada. Recife: EDUFRPE, 2014. Páginas 69 – 74.
10
BRASIL. Lei nº 12.305. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Disponível em: <www.planalto.gov.br> Acesso em: 17 abr. 2015. COELHO, Christianne Coelho de Souza Reinosch. A questão Ambiental dentro das industrias de Santa Catarina: uma abordagem para o segmento industrial têxtil. 1996. Disponível em: <repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/76510> Acesso em: 03 abr. 2016. FARIA, Carmen Rachel Scavazzini Marcondes. A política Nacional de resíduos sólidos. Senado Federal, Núcleo de Estudos e Pesquisas. Boletim Informativo nº 12, de 2012. IEMI - INSTITUTO DE ESTUDOS E MARKETING INDUSTRIAL. Relatório Setorial da Indústria Têxtil Brasileira - Brasil Têxtil 2015, [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por <[email protected]> em 28 mar. 2016. LOPES, Guilherme Bretz. Práticas do gerenciamento de resíduos nas indústrias de confecção da região da rua Teresa – Petrópolis. 2013. Disponível em: <www.dissertacoes.poli.ufrj.br/dissertacoes/dissertpoli750.pdf > Acesso em: 03 abr. 2016. MONTEIRO, Danyelle Soraya. Valoração econômica dos resíduos sólidos domiciliares na região metropolitana do recife, uma questão de sustentabilidade. In: El-Deir, Soraya Giovanetti. Resíduos sólidos: perspectivas e desafios para a gestão integrada. Recife: EDUFRPE, 2014. Páginas 117 – 122. PEREIRA, Maria Concebida. Resíduos têxteis industriais na confecção do vestuário soluções para descarte e reaproveitamento. In: I Congresso internacional de controle e políticas públicas. 2015. Disponível em: <libano.tce.mg.gov.br/eeventos/congressoirb/2944> Acesso em: 13 abr. 2016 SERRA, Farah. Conceitos de... Sustentabilidade. Disponível em: <www.temposdegestao.com/conceito-de/conceito-de-sustentabilidade> Acesso em: 28 jul. 2016. SILVA, Daniel de Castro Jorge. Estudo da viabilidade da implantação do sistema de bolsa de resíduos industriais no município de Campo Grande – MS. Trabalho de Conclusão de Curso submetido ao Curso de Graduação em Engenharia Ambiental da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – 2008. SINDITEXTIL-SP. Retalho Fashion. Em notícia. Julho 2012. Ano VII. Nº 25. Disponível em: <www.sinditextilsp.org.br> Acesso em: 25 mar. 2016. TEXBRASIL – Programa de Internacionalização da Indústria da Moda Brasileira. Sobre o setor. Disponível em: <www.texbrasil.com.br> Acesso em: 25 maio 2016.