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© 2012 Dental Press Journal of Orthodontics Dental Press J Orthod. 2012 Mar-Apr; 17(2):36.e1-636.e1
Washington Komatsu Assumpção1, George Kenji Bezerra Ota1, Rívea Inês Ferreira2, Flávio Augusto Cotrim-Ferreira2
Aparelhos de contenção ortodôntica: análise das solicitações aos laboratórios
artigo online
Objetivo: pesquisar os aparelhos mais comumente confeccionados para contenção ortodôntica.
Métodos: foram coletadas informações sobre tipo e quantidade de contenções superiores e inferiores, produzidas no período de três meses, em seis laboratórios nas cidades de São Paulo, Mauá e Guarulhos. Os aparelhos foram agrupados segundo a produção total. Para a arcada superior: 1S – placa de Begg, 2S – placa de Hawley, 3S – placa com arco transpalatino, 4S – placa com arco vestibular em resina e 5S – placa confeccionada a vácuo com acetato ou polietileno, aparelho Planas, barra lingual fixa e barra lingual fixa modificada. Os grupos relativos à arcada inferior foram: 1I – barra lingual fixa 3x3, 2I – placa de Hawley e barra lingual fixa modificada, 3I – placa de Begg, 4I – placa com arco vestibular em resina, placa confeccionada a vácuo com acetato ou polietileno e aparelho Planas. Os dados foram apresentados em box plots. Os grupos foram comparados pelo teste t de Student com correção de Bonferroni.
Resultados: a quantidade média de aparelhos superiores confeccionados variou de 189,5 (1S) a 3,95 (5S). Hou-ve diferenças significativas entre os grupos 1S versus 5S e 2S versus 5S (p<0,0001). Os valores médios para apa-relhos de contenção inferiores variaram de 55,3 (1I) a 4,2 (4I), sendo que o grupo 2I diferiu significativamente do 4I (p<0,0001).
Conclusão: para a arcada superior, as placas de Begg e Hawley foram os aparelhos mais solicitados. Dos aparelhos inferiores, destacaram-se as barras linguais fixas e a placa de Hawley.
Palavras-chave: Ortodontia corretiva. Aparelhos ortodônticos. Recidiva.
Como citar este artigo: Assumpção WK, Ota GKB, Ferreira RI, Cotrim-Ferreira FA. Orthodontic retainers: Analysis of prescriptions sent to laboratories. Dental Press J Orthod. 2012 Mar-Apr;17(2):36.e1-6.
Enviado em: 30/10/2008 - Revisado e aceito: 02/03/2009
» Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros, que representem conflito de interesse nos produtos e companhias des-critos nesse artigo.
Endereço para correspondência: Rívea Inês FerreiraRua Cesário Galeno, 448 – Bloco A – CEP: 03071-000 – Tatuapé / SPE-mail: [email protected]
1 Especialista em Ortodontia, UNICID.
2 Professor Associado do Programa de Mestrado em Ortodontia, UNICID.
© 2012 Dental Press Journal of Orthodontics Dental Press J Orthod. 2012 Mar-Apr; 17(2):36.e1-636.e2
Aparelhos de contenção ortodôntica: análise das solicitações aos laboratóriosartigo inédito
INTRODUÇÃOA recidiva no tratamento ortodôntico pode estar
associada a diversos aspectos, que incluem os fatores periodontal e oclusal, as pressões dos tecidos moles bucais e o crescimento14. Por conseguinte, o uso de aparelhos de contenção tem a função substancial de proporcionar a estabilidade dos resultados obtidos por meio do tratamento ortodôntico3,7,8,13,18.
Os aparelhos de contenção podem ser removíveis, fixos, ativos ou passivos4,5. Esses aparelhos devem manter as seis chaves de oclusão de Andrews (curva de Spee, relação molar, inclinações e angulações den-tárias adequadas, ausência de rotações e manutenção das áreas de contato), alcançadas com o tratamento ortodôntico, bem como com a saúde periodontal4,6,18,22, a ausência de hábitos deletérios, o equilíbrio muscular e uma oclusão funcional estabelecida13.
A contenção fixa na face lingual dos dentes anteroin-feriores é considerada um método eficiente para perío-dos longos de estabilização6,17, sendo de grande aceita-ção pelos pacientes por ser estética e independente de colaboração. Em um estudo clínico comparativo entre a contenção fixa confeccionada com fio metálico tran-çado e a contenção fixa com fita de polietileno reforça-da com resina, de canino a canino inferior, constatou-se que a permanência da fita de polietileno foi, em média, de 11,5 meses em relação aos 23,6 meses para a con-tenção confeccionada com fio metálico19. Conforme os resultados de outra pesquisa, por mais de 4 anos, 74% das barras linguais fixas 3x3 inferiores se mantiveram presentes na boca e apenas 2% dos pacientes apresen-taram alterações gengivais após 5 anos de utilização10.
Em se tratando das contenções removíveis, a pla-ca de Hawley e suas variações representam o tipo de aparelho mais frequentemente indicado1. Nos casos fi-nalizados de tratamento ortodôntico com exodontias de quatro pré-molares, por meio da utilização da placa de Hawley, tanto na arcada superior como na inferior, houve um aumento significativo dos contatos oclusais dos dentes posteriores20. Existem algumas evidências de que essas placas seriam mais higiênicas do que ou-tros aparelhos18. No entanto, a colaboração do pacien-te representa motivo de preocupação quando da indi-cação de aparelhos removíveis.
No Reino Unido, foram avaliadas relação custo-be-nefício e satisfação dos pacientes quanto ao uso das pla-cas de Hawley e da contenção confeccionada a vácuo.
Os resultados apontaram que a contenção confeccio-nada a vácuo apresentou uma relação custo-benefício melhor do que a placa de Hawley. A primeira teria um custo de confecção e reparo menor, bem como propor-cionaria menos desconforto de uso ao paciente, não prejudicando muito a dicção, o que confirmou a sua preferência nessa região geográfica9.
Há uma variedade de dispositivos empregados para contenção ortodôntica e a frequência de indica-ção de determinados aparelhos ainda é um ponto con-troverso2, uma vez que pode ser diversificada com base em alguns fatores que incluem a região geográfica e as características dos pacientes. Assim, esse estudo teve por finalidade pesquisar os aparelhos para contenção ortodôntica mais frequentemente confeccionados em laboratórios da cidade de São Paulo e de dois municí-pios adjacentes. Essa pesquisa objetivou apresentar, de modo indireto, as preferências de uma parcela dos ortodontistas da Grande São Paulo e, desse modo, for-necer uma contribuição às investigações sobre con-tenção ortodôntica, especialmente no que se refere às indicações dos aparelhos.
MATERIAL E MÉTODOS
Esse estudo foi desenvolvido de acordo com os princípios éticos adotados pela resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, tendo sido aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa.
Foram coletadas informações sobre os tipos e a quantidade de aparelhos de contenção para as arcadas dentárias superior e inferior, produzidos no período contínuo de três meses, em seis laboratórios que con-feccionam aparelhos ortodônticos, localizados nas ci-dades de São Paulo (n=4), Mauá (n=1) e Guarulhos (n=1). Inicialmente, haviam sete laboratórios participantes, contudo, os dados de um deles foram desconsiderados por incompletude. Após o aceite para a participação vo-luntária nessa pesquisa, os diretores dos laboratórios consultados foram instruídos a preencher planilhas mensais, em que registravam os dados referentes aos aparelhos de contenção solicitados por ortodontistas.
A análise descritiva consistiu da avaliação dos nú-meros relativos à produção de cada aparelho, da for-mação de conglomerados/grupos e da apresentação gráfica em box plots.
Para se agrupar os aparelhos segundo a quantidade total confeccionada no período avaliado, foi utilizada a
Assumpção WK, Ota GKB, Ferreira RI, Cotrim-Ferreira FA
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análise de conglomerados. Esse tipo de análise busca agrupar conjuntos de dados, baseando-se na similarida-de entre eles que, no caso do presente estudo, correspon-deu aos números relativos à produção total e não à se-melhança física ou método de utilização. Os conglome-rados são determinados de modo a obter-se um elevado grau de homogeneidade dentro dos grupos e um alto nível de heterogeneidade entre os mesmos. O fator que influenciou a formação dos conglomerados foi a quanti-dade produzida. Portanto, aparelhos que apresentavam maior produção foram agregados em um mesmo grupo, seguindo-se uma ordem decrescente de confecção.
Para a arcada superior, em ordem crescente de de-manda, os grupos foram: 1S – placa de Begg, 2S – pla-ca de Hawley, 3S – contenção com arco transpalatino, 4S – placa com arco vestibular em resina e 5S – pla-ca confeccionada a vácuo com acetato ou polietileno, aparelho Planas, barra lingual fixa, barra lingual fixa modificada ou contenção higiênica. Os grupos relati-vos à arcada inferior foram: 1I – barra lingual fixa 3X3, 2I – placa de Hawley e barra lingual fixa modificada ou contenção higiênica, 3I – placa de Begg, 4I – placa com arco vestibular em resina, placa confeccionada a vácuo com acetato ou polietileno e aparelho Planas.
Os grupos de aparelhos superiores e inferiores foram comparados pelo teste t de Student ao nível de 5%, com a correção de Bonferroni. Convém explicar que, pelo fato da amostra ser pequena, não apresentar distribuição normal e, para muitos aparelhos, o total de produção correspon-der a zero, os dados foram convertidos a postos, o que tor-nou possível a aplicação do referido teste paramétrico.
Tabela 1 - Medidas de tendência central (mediana e média) e de variabi-lidade (desvio padrão, mínimo e máximo) relativas aos grupos de apare-lhos confeccionados para a arcada superior.
Grupo n Mediana MédiaDesvio Padrão
Mínimo Máximo
1S 6 134,0 189,5 215,2 23,0 592,0
2S 6 116,0 125,3 52,0 45,0 190,0
3S 6 11,0 19,2 19,8 0,0 52,0
4S 6 10,0 14,7 18,8 0,0 47,0
5S 24 0,0 3,95 8,3 0,0 30,0
Gráfico 1 - Produção total, em valores absolutos, de aparelhos de contenção ortodôntica superiores em seis laboratórios.
1200 1137
752
115 88 37 30 7 21
Arcada Superior
Núm
ero
Abs
olut
o
Plac
a de
Beg
g
Plac
a de
Haw
ley
Plac
a co
m a
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tran
spal
atin
o
Plac
a co
m a
rco
vest
ibul
ar e
m re
sina
Plac
a co
nfec
cion
ada
a vá
cuo
com
ace
tato
ou
polie
tilen
o
Apa
relh
o Pl
anas
Barr
a lin
gual
fixa
Barr
a lin
gual
fixa
m
odifi
cada
1000
800
600
400
200
0
Gráfico 2 - Representação em box plots dos dados de produção dos grupos de aparelhos de contenção ortodôntica superiores.
Arcada Superior
Prod
ução
tota
l no
perío
do a
valia
do
600
200
40
00
1S 2S 3S 4S 5S
RESULTADOSO Gráfico 1 apresenta a distribuição, em números
absolutos, dos aparelhos superiores confeccionados nos seis laboratórios pesquisados. Observa-se que a produção das placas de Begg e Hawley superou com destaque a confecção dos outros aparelhos. Os dados do Gráfico 2 e da Tabela 1 corroboram a observação re-ferente ao Gráfico 1.
O aparelho mais confeccionado foi a placa de Begg (1S), entretanto, foi o tipo que também demonstrou maior variação. O desvio padrão apresentou-se bem maior que a média (Tab. 1). O segundo aparelho de con-tenção superior mais solicitado foi a placa de Hawley (2S). Os outros grupos apresentaram frequências médias de confecção progressivamente mais baixas, sendo que o grupo 5S demonstrou valor médio significativamente menor em comparação aos grupos 1S e 2S (Tab. 2).
Referente à arcada inferior, constata-se que a pro-dução de aparelhos, em números absolutos, foi bem menor em comparação à arcada superior (Gráf. 1, 3).
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Aparelhos de contenção ortodôntica: análise das solicitações aos laboratóriosartigo inédito
Tabela 2 - Comparações entre os grupos de aparelhos para a arcada superior.
Correção de Bonferroni: p-valor< 0,005.
Comparações t p-valor
1S vs 2S -0,31 0,7602
1S vs 3S 2,36 0,0479
1S vs 4S 3,05 0,0202
1S vs 5S 8,35 0,0000
2S vs 3S 2,77 0,0357
2S vs 4S 3,37 0,0183
2S vs 5S 11,74 0,0000
3S vs 4S 1,01 0,3358
3S vs 5S 2,88 0,0222
4S vs 5S 1,04 0,3224
Tabela 3 - Medidas de tendência central (mediana e média) e de variabilidade (desvio padrão, mínimo e máximo) relativas aos grupos de aparelhos confec-cionados para a arcada inferior.
Grupos n Mediana MédiaDesvio Padrão
Mínimo Máximo
1I 6 9,5 55,3 78,0 0,0 163,0
2I 12 20,5 42,8 41,7 3,0 115,0
3I 6 4,5 26,5 38,2 0,0 85,0
4I 18 0,0 4,2 8,8 0,0 30,0
Gráfico 3 - Produção total, em valores absolutos, de aparelhos de contenção ortodôntica inferiores em seis laboratórios.
Arcada Inferior
Núm
ero
Abs
olut
o
Plac
a de
Beg
g
Plac
a de
Haw
ley
Plac
a co
m a
rco
vest
ibul
ar e
m re
sina
Plac
a co
nfec
cion
ada
a vá
cuo
com
ace
tato
ou
polie
tilen
o
Apa
relh
o Pl
anas
Barr
a lin
gual
fixa
3x3
Barr
a lin
gual
fixa
m
odifi
cada
350
300
332305
209
159
1531 30
250
200
150
100
50
0
Gráfico 4 - Representação em box plots dos dados de produção dos grupos de aparelhos de contenção ortodôntica inferiores.
Prod
ução
tota
l no
perío
do a
valia
do
200
150
100
500
1I 2I 3I 4I
Arcada Inferior
Tabela 4 - Comparações entre os grupos de aparelhos para a arcada inferior.
Correção de Bonferroni: p-valor < 0,0083.
Comparações t p-valor
1I vs 2I -0,90 0,4031
1I vs 3I 0,63 0,5381
1I vs 4I 2,52 0,0367
2I vs 3I 1,68 0,1454
2I vs 4I 6,58 0,0000
3I vs 4I 1,59 0,1536
Evidencia-se que o tipo de contenção mais confeccio-nado foi a barra lingual fixa 3x3. Em termos de magni-tude de produção, a placa de Begg superior atingiu um número absoluto de 1137, nos três meses da pesquisa. Por outro lado, nesse mesmo período, foram produzi-das 332 barras linguais fixas 3x3.
De acordo com o Gráfico 4 e a Tabela 3, o aparelho de contenção inferior mais confeccionado foi a barra
lingual fixa 3x3 (1I), mas também foi o que apresentou desvio padrão mais elevado. Em sequência, observam--se os aparelhos do grupo 2I (placa de Hawley e barra lingual fixa modificada). Segundo as comparações apre-sentadas na Tabela 4, os aparelhos de contenção do gru-po 2I foram confeccionados com frequências significa-tivamente maiores em relação aos do grupo 4I (placa com arco vestibular em resina, placa confeccionada a vácuo com acetato ou polietileno e aparelho Planas).
DISCUSSÃOA literatura ortodôntica expõe um amplo debate
sobre contenção, especificamente no que concerne à sua indicação, ao tipo de aparelho e ao tempo que deve ser mantida após o término do tratamento ortodônti-co ativo. Se por um lado alguns autores indicam o uso de aparelhos de contenção por tempo indefinido, em determinadas situações14, outros preconizam que a fase de contenção deveria durar o mesmo período do tratamento ativo3.
A utilização de contenção superior se faz ne-cessária, principalmente, devido à possibilidade de
Assumpção WK, Ota GKB, Ferreira RI, Cotrim-Ferreira FA
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reaparecimento de diastemas e à ocorrência de giro-versões, bem como para a manutenção das distâncias intercaninos e intermolares após a expansão ou dis-junção palatal3,5,8,13,22. De acordo com os resultados des-sa pesquisa, as placas de Begg e Hawley foram os apare-lhos de contenção superior mais solicitados pelos or-todontistas aos laboratórios consultados, com produ-ções médias de 189,5 e 125,3, respectivamente, em um período de três meses. A produção desses dois tipos de aparelho foi significativamente maior em comparação aos outros (Tab. 2). Esses dados estão em concordância com outros estudos que apontam a placa de Hawley e suas variações como os aparelhos removíveis mais uti-lizados para contenção na arcada superior18,22.
A placa de Hawley é confeccionada em acrílico, reco-brindo o palato, e apresenta um arco vestibular de fio de aço inoxidável que se inicia, geralmente, na face distal dos caninos, contornando a face vestibular dos dentes ante-rossuperiores. Em adição, esse aparelho contém grampos de retenção, como os de Adams, ou circunferenciais. Já na placa de Hawley com arco contínuo ou placa de Begg, o arco vestibular se inicia na face distal dos segundos mo-lares, contornando as faces vestibulares dos dentes ante-riores e posteriores18, sem a necessidade de grampos de retenção. Contudo, algumas vezes, podem ser acrescen-tados grampos para estabilizar o arco contínuo.
A placa de Hawley demonstra elevada durabilida-de18, proporciona melhor intercuspidação dos dentes posteriores20 e pode promover pequenas movimenta-ções dentárias3. Alguns autores mencionam que a pla-ca de Hawley pode durar até 15 anos, é de fácil higie-nização, custo relativamente baixo e não causa incô-modo ao paciente durante a utilização1,18. No entanto, a intercuspidação pode ser prejudicada nas áreas em que os fios de aço dos grampos de retenção causem in-terferências oclusais. A modificação realizada na placa de Hawley por Begg propiciaria uma solução para mi-nimizar o problema de interferências oclusais, justa-mente pela eliminação dos grampos de retenção18.
Para a arcada inferior, a contenção é ainda mais importante, não somente para prevenir recidivas, mas também para evitar o apinhamento secundário dos incisivos16,17, o qual pode ser explicado como fenôme-no anatômico-fisiológico de adaptação7,8,13. Confor-me o Gráfico 3 e a Tabela 3, os aparelhos de conten-ção inferiores mais solicitados foram a barra lingual fixa de canino a canino ou 3x3, a placa de Hawley e a
barra lingual fixa modificada ou contenção fixa higiêni-ca. Considerando que os dois últimos aparelhos forma-ram um conglomerado, os valores médios de produção no período avaliado foram de 55,3 e 42,8, respectiva-mente. Todavia, uma avaliação minuciosa da Tabela 3 denota grande discrepância entre a mediana (9,5) e a média (55,3) calculadas para a barra lingual fixa de canino a canino. O valor da mediana chama a atenção para o fato de que 50% dos laboratórios produziram até 9 unidades e, após a observação dos dados de ori-gem, verificou-se que em apenas um laboratório foi confeccionada uma quantidade bastante elevada desse aparelho, aumentado a média. Desse modo, por não ha-ver consistência na distribuição dos dados relativos à barra lingual fixa de canino a canino, a placa de Hawley e a contenção fixa higiênica foram significativamente mais solicitadas do que os aparelhos do grupo 4l (Tab. 4). Convém ressaltar que os dados dessa pesquisa refe-rem-se à produção terceirizada dos aparelhos de con-tenção e a informação sobre o tipo de aparelho mais utilizado para a arcada inferior pode estar mascarada. Isso porque a barra lingual fixa é de fácil confecção em consultório e, portanto, muitos ortodontistas não soli-citam esse tipo de aparelho aos laboratórios.
A barra lingual fixa de canino a canino inferior foi introduzida nos Estados Unidos da América na década de 1970 e, então, estabelecida como parte integral do tratamento ortodôntico11,16,23. As opções de contenção inferior seriam predominantemente fixas, uma vez que as placas removíveis inferiores, pelo volume de acrílico na face lingual do arco mandibular, competiriam em espaço com a língua, dificultando a fonação e a deglu-tição7,22. Esse inconveniente prejudicaria a utilização adequada do aparelho, o que comprometeria os resulta-dos do tratamento. Ressalta-se que, tanto para a arcada superior como para a inferior, a maior desvantagem dos aparelhos de contenção removíveis é a necessidade de cooperação por parte dos pacientes1,2,4,15,18,20,22.
Aconselha-se o emprego de contenções fixas infe-riores confeccionadas com fio de aço inoxidável liso, aderido somente aos caninos17. A maior vantagem das contenções fixas de canino a canino inferior, em rela-ção às removíveis, reside na qualidade estética, pois não são facilmente perceptíveis, mantendo-se bem toleradas pelos pacientes16,24. Esse tipo de contenção inferior é adequado aos casos em que o suporte perio-dontal apresenta-se reduzido18.
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Aparelhos de contenção ortodôntica: análise das solicitações aos laboratóriosartigo inédito
A dificuldade do paciente para realizar a higiene das faces proximais nas regiões em que a contenção fixa se mantém aderida, estimulou uma modificação dessa contenção, com a finalidade de facilitar a passagem do fio dental pelo espaço interproximal. Para tanto, sugere--se a execução de loops no fio de aço, em direção oposta às papilas gengivais. Todavia, em um estudo comparati-vo com a contenção fixa sem as dobras, aderida somen-te nos caninos inferiores, observou-se maior acúmulo de biofilme e cálculo dentário nas regiões da contenção fixa modificada, com inflamação gengival provavelmen-te devida ao maior comprimento do fio e à presença de ângulos nas dobras21. Essas se constituiriam, portanto, em áreas mais retentivas, que dificultam a higienização.
Em um estudo sobre a efetividade das contenções fixas e seus efeitos na saúde periodontal dos pacientes, no período de acompanhamento de 20 anos ou mais, concluiu-se que esses aparelhos são muito eficientes na preservação do alinhamento dentário, além da pos-sibilidade de manutenção de níveis de higiene e saúde periodontal aceitáveis6. Ademais, os autores esclare-ceram que, com boa técnica de fixação nas colagens
das contenções fixas, a quebra não se torna um proble-ma destacável, que desaconselhe a sua prescrição6.
O tempo de permanência da contenção está relacio-nado à idade do paciente, às características e à severidade da má oclusão. Os hábitos bucais e outros fatores etioló-gicos das más oclusões, bem como a mecânica ortodôn-tica empregada e a experiência clínica do ortodontista, também são fatores relevantes na estimativa do período de contenção14,21. Do ponto de vista clínico, a manutenção da contenção inferior por tempo indeterminado preser-va os resultados do tratamento ortodôntico ativo, pois não há possibilidade de previsão dos casos que irão apre-sentar recidiva5,10,17,18. A estabilidade deve ser monitorada pelos ortodontistas durante as avaliações de rotina das contenções por um longo período de tempo12.
CONCLUSÕES1. Para a arcada superior, as placas de Begg e
Hawley foram os aparelhos mais solicitados aos laboratórios pesquisados.
2. Dos aparelhos inferiores, destacaram-se as bar-ras linguais fixas e a placa de Hawley.
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