Utilizando Filmes Para Ensinar Psicologia Experimental

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Utilizando filmes no ensino de análise experi- mental do comportamento: relato de uma experiência* Using pictures to teach experimental analysis of behaviour: KATIA DAMIANI** ADRIANA REGINA RUBIO*** MARIANTONIA CHIPPARI*** RESUMO O presente estudo apresenta o relato de uma experiência didática em que processos de controle aversivo foram ensinados através da utilização de filmes do circuito comercial. Pariciparam 150 alunos do V Semestre, duas professoras e três monitores. O procedimento foi organizado em função dos requisitos apon- tados por Matos (1993): especificação do comportamento, reforço dos compor- tamentos-objetivos, uso do princípio de progressão gradual para o estabeleci- mento de repertórios complexos, escolha de situações de ensino-aprendizagem, programação e monitoramento das respostas de observação e imitação dos alunos. Os trabalhos finais apresentados revelaram modificações nas descrições de contingências feitas nos trabalhos iniciais. A generalização dos exemplos extraídos dos filmes para outros descritos na literatura foi o aspecto em que os alunos apresentaram maior dificuldade. A estratégia do uso de filmes mostrou- se funcional no ensino de Análise Experimental do Comportamento, permitindo o atendimento individualizado aos alunos além de ressaltar a importância das atividades desenvolvidas na monitoria. Palavras chaves: Análise Experimental do Comportamento, Contingências de Ensino, Controle Aversivo * Trabalho apresentado no X Encontro da Associação Brasileira de Psicoterapia e Medicina Comportamental, em Campinas-São Paulo (1998). ** Doutoranda do Departamento de Psicologia Experimental do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo *** Professoras da Disciplina de Psicologia Experimental do Curso de Psicologia da Universi- dade Metodista de São Paulo. Psicólogo inFormação ano 4, nº 4, jan/dez. 2000 Copyright 2000 pelo Instituto Metodista de Ensino Superior CGC 44.351.146/0001-57 psi04 3/21/02 11:03 Page 53

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Utilizando filmes no ensino de análise experi-mental do comportamento: relato de uma experiência*

Using pictures to teach experimental analysis of behaviour:

KATIA DAMIANI **

ADRIANA REGINA RUBIO***

MARIANTONIA CHIPPARI***

RESUMOO presente estudo apresenta o relato de uma experiência didática em queprocessos de controle aversivo foram ensinados através da utilização de filmesdo circuito comercial. Pariciparam 150 alunos do V Semestre, duas professorase três monitores. O procedimento foi organizado em função dos requisitos apon-tados por Matos (1993): especificação do comportamento, reforço dos compor-tamentos-objetivos, uso do princípio de progressão gradual para o estabeleci-mento de repertórios complexos, escolha de situações de ensino-aprendizagem,programação e monitoramento das respostas de observação e imitação dosalunos. Os trabalhos finais apresentados revelaram modificações nas descriçõesde contingências feitas nos trabalhos iniciais. A generalização dos exemplosextraídos dos filmes para outros descritos na literatura foi o aspecto em que osalunos apresentaram maior dificuldade. A estratégia do uso de filmes mostrou-se funcional no ensino de Análise Experimental do Comportamento, permitindoo atendimento individualizado aos alunos além de ressaltar a importância dasatividades desenvolvidas na monitoria.

Palavras chaves:Análise Experimental do Comportamento, Contingências deEnsino, Controle Aversivo

* Trabalho apresentado no X Encontro da Associação Brasileira de Psicoterapia e Medicina

Comportamental, em Campinas-São Paulo (1998).

** Doutoranda do Departamento de Psicologia Experimental do Instituto de Psicologia da

Universidade de São Paulo

*** Professoras da Disciplina de Psicologia Experimental do Curso de Psicologia da Universi-

dade Metodista de São Paulo.

Psicólogo inFormaçãoano 4, nº 4, jan/dez. 2000

Copyright 2000 pelo Instituto Metodista de EnsinoSuperior CGC 44.351.146/0001-57

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ABSTRACTThis study describes an experiment to teach the concept of aversive controlthrough the analysis of commercial movies. In this experiment participated 150students of the fifth degree and three students of a more advanced degree of aPsychology course and two teachers. The experimental design was the sameproposed by Matos (1993): specification of the behavior- objective; use ofgradual progression to establish a more complex repertoire; selection of suit-able learning/teaching situations; establishment and follow up of the observa-tion-responses and imitation responses; observation of the students’behaviorand the establishment, by the students, of more adequate conditions to study.The final papers accomplished by the students revelead changes in the qualityof the descripitions of the contingencies when compared with former ones. Themajor difficulties were related to the generalization of the concepts. Thisapproach seems adequate to teach the concepts of the Experimental Analysis ofBehavior, as it provides a contact with other sources of information, individual-ized assistance and more adequate use of follow-up activities.

Key words: Experimental Analysis of Behavior; teaching contingencies, aver-sive control

A Análise Experimental do Comportamento (AEC) é uma metodolo-gia de trabalho que tem como substrato teórico o Behaviorismo Radical.Em geral, nos cursos de graduação em Psicologia, a AEC tem sido ensi-nada dentro da disciplina Psicologia Experimental e organizada emaulas teóricas e práticas. As aulas práticas são comumente ministradasem laboratório. Nessas aulas, a utilização de estímulos aversivos parecerara, se tomarmos como base dessa afirmação as discussões sobre ensi-no de AEC ocorridas nos Encontros da Associação Brasileira dePsicologia e Medicina Comportamental (1997, 1998). Dois argumentos,um ético e outro didático, podem ser identificados como determinantesdessa prática. Do ponto de vista ético, é injustificável submeter animaisa procedimentos que causem dor com a finalidade de demonstrar umprincípio do comportamento já bem documentado na literatura, comopor exemplo a punição. Por outro lado, mesmo que a utilização deprocedimentos com estímulos aversivos tenha uma justificativa científi-ca adequada na medida em que possa auxiliar a responder questõespertinentes à área, seu uso pode produzir problemas didáticos, pois asaulas poderão tornar-se aversivas e, por decorrência, serão estabelecidasrespostas de esquiva no repertório dos alunos.

Uma alternativa para se ensinar controle aversivo, processos depunição, fuga e esquiva, têm sido a leitura e discussão de textos com

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exemplos desses processos extraídos de manipulações experimentaisem laboratório e/ou situações naturais. Chippari (1982) verificou que adiscussão de exemplos oriundos do laboratório resulta na instalação derepertórios mais sofisticados do que a ênfase em exemplos extraídosde situações naturais. A autora elaborou um curso programado de AECno qual os alunos poderiam optar por dois tipos de materiais didáticos:textos que privilegiavam a análise de resultados experimentais obtidosem laboratório e textos com ênfase na análise de comportamento emsituação cotidiana. A comparação do vocabulário adquirido pelos doisgrupos demonstrou que a discussão de resultados experimentais oriun-dos do laboratório foi mais eficiente. Machado & Silva (1998)também criticaram a ênfase em exemplos extraídos do cotidiano.Segundo eles, as estratégias de ensino que enfatizam estas situaçõestendem a simplificar a análise comportamental das situações.

O presente estudo é o relato de uma experiência didática em que osprocessos de controle aversivo foram ensinados a partir de situaçõescotidianas extraídas de filmes de circuito comercial. Embora tal práti-ca seja desaconselhada na literatura alguns pressupostos nortearamessa escolha. O primeiro, é que esta proposta não objetivava substituiras atividades de laboratório e a discussão de resultados experimentais,ela foi complementar a essas práticas. Em segundo lugar, foramadotadas estratégias para diminuir o risco de simplificação indicadopor Machado & Silva (1998); tais estratégias envolviam a análise decontingências complexas presentes na vida das personagens. Emterceiro lugar, buscou-se uma interpretação criteriosa das variáveisdeterminantes do comportamento na medida em que foi requeridoobservação sistemática do comportamento e a formulação de hipóte-ses explicativas coerentes com essas observações.

Método

SujeitosFizeram parte deste estudo 150 alunos matriculados no V semestre

dos períodos matutino e noturno, do curso de Psicologia da Umesp(Universidade Metodista de São Paulo) e cinco supervisores (trêsmonitores e duas professoras).

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SituaçãoO trabalho ora relatado foi realizado como parte integrante das

atividades propostas para a disciplina de Psicologia ExperimentalIII. Os alunos já haviam estudado os pressupostos filosóficos doBehaviorismo Radical e também já haviam realizado estudos experi-mentais em laboratório com ratos, envolvendo análise de contingên-cias de reforçamento positivo. Dentro do conteúdo previsto, estu-dou-se controle aversivo: processo de punição, fuga e esquiva,através da observação e análise de contingências presentes nosfilmes de circuito comercial, tendo como objetivo ilustrar os proces-sos de controle aversivo estudados nas aulas teóricas. Os filmesutilizados foram: “Sociedade dos Poetas mortos” “Uma simplesformalidade”, “Um estranho no ninho” e “O dia em que Dorivalencarou a guarda”. Os alunos foram distribuídos em grupos de nomáximo quatro integrantes e foram acompanhados individualmentepor supervisores. A equipe de supervisão era formada por três moni-tores e dois professores.

ProcedimentoSegundo Matos (1993), um plano de ensino eficaz deve satisfazer

oito requisitos. O procedimento foi organizado em função dessesrequisitos.

1) Especificar o comportamento que se deseja ensinarPara realizar a análise dos filmes, os alunos deveriam identificar e

descrever contingências, utilizar termos técnicos da área com precisãoe generalizar o conhecimento produzido na análise de filmes paraoutras situações.

2 e 3) Reforço imediato do comportamento-objetivo e reforçoapenas das respostas objetivamente apresentadas

A cada reunião que o aluno participava eram apresentadas conse-qüências diferenciais verbais e/ou escritas (certo ou errado) contin-gente aos comportamentos especificados no item um. A exigência dastarefas foi gradualmente aumentada ao longo de cada reunião desupervisão. A tarefa exigida para a primeira reunião era a de que o

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aluno tivesse assistido ao filme e descrito algumas contingências. Aolongo dessa reunião, os supervisores apresentaram conseqüênciasdiferenciais às respostas de descrever contingências, isto é, descriçõesde relações entre evento antecedente - resposta - evento conseqüente.

A atividade requisitada na segunda reunião era ler as indicaçõesbibliográficas e apresentar por escrito as respostas de um roteiro dequestões. As questões do roteiro foram classificadas de forma genérica eem função dos comportamentos exigidos para respondê-las, tais como:

a) Empíricas: requeriam a observação e descrição de contingências.b) Conceituais: requeriam a classificação das contingências.c) Comparativas: requeriam a apresentação e discussão de exem-

plos semelhantes descritos na literatura.

Ao longo da segunda reunião, os supervisores discutiam dúvidaslevantadas pelos alunos, tanto em relação aos conceitos utilizados naanálise, quanto em relação à formulação e redação do relatório final.

Após essa reunião, o supervisor redigia comentários minuciososapresentando conseqüências diferenciais às respostas apresentadas(adequadas e inadequadas) e os entregavam aos alunos antes dareunião seguinte.

A tarefa exigida para a terceira reunião era a elaboração de umaversão do relatório final, observando os comentários do supervisor.Durante essa reunião, o supervisor discutia as dúvidas levantadaspelos alunos. Com base nas discussões e comentários, os alunos elabo-raram o relatório final.

4) Uso constante do princípio de progressão gradual para estab-elecer repertórios complexos

No decorrer do processo, planejou-se o reforçamento de repertóriosgradualmente mais sofisticados. Inicialmente, os alunos deveriamidentificar e descrever oralmente contingências; em seguida, redigi-ram pequenos trechos com descrições de contingências específicas eos relacionaram a exemplos presentes na bibliografia indicada. Final-mente, elaboraram um texto no qual as contingências complexaspresentes no filme eram descritas e analisadas.

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5) Escolha cuidada das situações de ensino-aprendizagemO principal objetivo dessa etapa foi criar condições materiais e

humanas para oferecer um atendimento mais individualizado aosalunos. Três estratégias foram adotadas:

a) Formação de grupos: A disciplina de Psicologia Experimental IIIda Umesp constava de duas horas aulas semanais. Participavam doisprofessores, três monitores e 150 alunos distribuídos em três turmas(uma matutina e duas noturnas). Um número máximo de 45 grupos foiprogramado em função do número de supervisores (5) e da disponibili-dade de tempo de cada um deles para o acompanhamento do trabalho.

b) Reuniões extra-aula: O acompanhamento do grupo não foi feitono horário de aula porque o conteúdo programático da disciplinaocupava a maior parte da sua carga horária semestral. Dessa forma,planejou-se três reuniões de supervisão com cada grupo fora dohorário de aula.

c) Treinamento dos supervisores: Os supervisores realizaramreuniões de três horas semanais, ao longo de todo o semestre. Essetreinamento foi dividido em duas etapas. Na primeira, as reuniõestinham como objetivo definir as classes de comportamentos a sereminstaladas no repertório dos alunos e a estrutura do trabalho (material,espaço, tempo); selecionar os filmes; planejar as contingências dereforçamento de ensino; elaborar os roteiros de questões dos filmes;selecionar a bibliografia e distribuir as tarefas entre os supervisores.Na segunda etapa, as reuniões tinham o objetivo de discutir as dúvidasdos supervisores suscitadas durante o atendimento dos grupos, discutire aprimorar critérios de avaliação comuns.

6) Programação e monitoramento das respostas de observação ede imitação emitidas pelo aluno

Durante todas as etapas do trabalho, os supervisores funcionaramcomo modelos para todos os comportamentos definidos amterior-mente no item um. Quando o aluno apresentava dificuldade na emis-são de alguns desses comportamentos, o supervisor oferecia o modeloe pedia que o aluno o reproduzisse.

7) Erros são aversivos e produzem paradas temporárias e permanentes

A probabilidade de erros foi diminuída pela adoção de um critériode avaliação flexível ao longo da realização do trabalho. Essa flexibi-

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lidade era decorrente da avaliação do repertório de entrada dos alunose os efeitos das contingências programadas em relação aos comporta-mentos esperados. Para realizar essa avaliação todos os trabalhosescritos dos alunos, bem como os comentários dos supervisores, foramfotocopiados. Além disso, o supervisor avaliava a participação dogrupo em cada reunião. Sempre que o trabalho de um grupo era avalia-do, o supervisor retomava a história pregressa desse grupo, isto é,trabalhos escritos, comentários e avaliação da participação emreuniões. Tendo como base esse histórico, o supervisor ajustava seucritério de avaliação de forma a sofisticar o repertório do aluno.

8) Observar o aluno e deixar que elabore seu programa de ensinoNa medida do possível, os supervisores adequaram o planejamento

de ensino para suprir as dificuldades de cada grupo. Por exemplo, aapresentação de tarefas incompletas, a ocorrência de muitas dúvidasem relação ao roteiro ou à bibliografia indicaram a necessidade demodificações no plano de ensino inicial, tais como: elaboração detextos, alteração da bibliografia indicada, realização de reuniõesextras, comentários mais longos e explicativos dos trabalhos.

Resultados e discussão

Dessa experiência temos poucos dados formais a apresentar, poisnão realizamos nenhum registro sistemático. Entretanto, podemosapresentar alguns indicadores que, em nossa opinião, merecemdiscussão. Em primeiro lugar, com relação à viabilidade dessa expe-riência, cabe apontar que todas as etapas do trabalho foram comple-tadas pelos alunos e pelos supervisores. A exigência de horas extras,fora do período oficial de aulas, para as reuniões de supervisão nãoconfigurou um problema, pois os alunos compareceram sistematica-mente e muitos deles pediram supervisões extras. As únicas exceçõesa esse padrão foram dois grupos que não compareceram a uma dasreuniões de supervisão previstas.

Do ponto de vista dos professores, o trabalho mais delicado e queexigiu maior esforço foi o treinamento dos monitores. Dada as exigên-cias desse trabalho, os professores precisavam garantir que o trabalhodos monitores fosse muito competente de tal forma que a supervisão

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dos monitores não se configurasse numa atividade adicional àquelas jádescritas anteriormente. A autonomia dos monitores para o trabalho desupervisão dos grupos foi garantida pelo treinamento que precedeu otrabalho, ministrado pela equipe de supervisores com os alunos. Aolongo desse treinamento, garantiu-se a instalação do repertório básiconecessário para realizar a análise dos filmes: identificação e descriçãode contingências, utilização de termos técnicos da área com precisão egeneralização do conhecimento produzido na análise de filmes paraoutras situações. Além disso, o treinamento tinha como objetivogarantir que os monitores soubessem supervisionar o trabalho dosalunos. Para isso, os objetivos de cada reunião de supervisão eramexplicitamente descritos e discutidos.

As reuniões semanais da equipe de supervisores continuaram acon-tecendo paralelamente às reuniões de supervisão dos grupos dealunos, com o objetivo adicional de adequar o trabalho de supervisãoàs condições de cada grupo. Durante essas reuniões, discutiu-se asestratégias de cada supervisão (verbal e escrita) em função dorepertório inicial do grupo e dos objetivos a serem alcançados.

O trabalho dos monitores foi intenso ao longo de todo o processo.Todos compareciam às reuniões semanais com os professores e cumpri-ram com rigor as supervisões previstas. A observação do trabalho dosmonitores nos surpreendeu em especial. Além das inúmeras qualidadesque, sem dúvida, os monitores já apresentavam antes de participaremdesse trabalho, o treinamento realizado pelos professores tambémcontribuiu para esse desempenho. Os monitores lidaram com a super-visão de uma forma tranqüila e segura e as contingências estabelecidaspor eles resultaram em bons trabalhos dos alunos. Outro aspecto interes-sante é que os alunos confiavam no trabalho dos monitores, pois rarasvezes os professores foram procurados para tirar alguma dúvida. Final-mente, um último aspecto do desempenho dos monitores que achamosimportante indicar, foi a elaboração de um artigo para publicação emrevista especializada cujo tema central foi uma análise comportamentaldas contingências presentes no filme “Sociedades dos Poetas Mortos”(Hamasaki & Rodrigues, 1998).

Todos os grupos apresentaram análises em que as contingênciasestavam descritas e os processos comportamentais envolvidos

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estavam mencionados e justificados. A generalização dos exemplosextraídos dos filmes para outros descritos na literatura foi o aspectoem que os alunos apresentaram maior dificuldade. Parte dessa dificul-dade pode ser decorrente da literatura indicada; os próprios alunossugeriram a inclusão de bibliografia mais técnica da área em que aidentificação de contingências e os processos comportamentais manti-dos por elas estivessem mais claramente apresentados. Concordamosque a bibliografia escolhida possa ter sido responsável, pelo menos emparte, pela dificuldade dos alunos; entretanto, também acreditamosque essa seja a parte mais difícil do trabalho, pois pressupõe um treinomais extenso de aplicação dos conceitos.

ConclusãoAcreditamos que a estratégia do uso de filmes como material

didático mostrou-se funcional no ensino de Análise Experimental doComportamento em três aspectos. Em primeiro lugar proporcionouaos alunos a resposta de busca de outras fontes bibliográficas alémdaquelas discutidas em sala de aula e um atendimento individualizadopara tirar dúvidas referentes ao conceitos estudados em sala de aula enas reuniões de supervisão num horário extra-aula, resultando numamodificação do repertório comportamental apresentado pelos alunosno decorrer da realização desse trabalho.

Em segundo lugar, o aumento na carga horária semanal da disci-plina possibilitou a viabilização desse trabalho: caso as reuniões desupervisão não fossem realizadas num horário extra-aula isto seriaimpraticável, visto que havia um grande número de alunos por sala eapenas duas horas aulas semanais.

Em terceiro lugar, ressaltamos a importância que a atividade demonitoria proporcionou a este trabalho, visto que a participação dosmonitores juntamente com os dois professores da disciplina possibili-tou e foi responsável pelo atendimento individualizado aos alunos.Além disso, o trabalho realizado pelos monitores resultou na produçãode um artigo publicado na revista Psicólogo Informação do curso dePsicologia e numa apresentação desse trabalho no III Congresso Inter-no da Universidade Metodista de São Paulo.

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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

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comportamental do personagem Todd Anderson. Psicólogo Informação, 2/3, p. 9-11.

MACHADO, A. & SILVA, F.J. (1998) Greatness and misery in the teaching of the psychology of

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MACHADO, L.M.M. & MA TOS, M.A. (1990) O laboratório em cursos de graduação em

Psicologia: buscando treinar atitudes. Ciência e Cultura, 42(9) p.647-652.

MATOS, M.A.(1993) Análise de contingências no aprender e no ensinar. In: E. S. Alencar (ed.).

Novas contribuições da psicologia aos processos de ensino e aprendizagem. 2. ed. São

Paulo: Cortez Editora, p. 143-165.

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