UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA MARCIA DANIELE...

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA MARCIA DANIELE MAITO DO MANEJO DAS ENTREVISTAS PRELIMINARES A PASSAGEM PARA 0 DIVA MOllografia apresentada ao curso de Pos-graduayao em Psicologia Clinica- Abordagem Psicanalftica dn Universidadc Tuiuti do Parana, como requisito parcial a obten9iio do titulo de especialista. Oricntadora: Prof." Angela Valorc. CURITIBA 2007

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA

MARCIA DANIELE MAITO

DO MANEJO DAS ENTREVISTAS PRELIMINARES APASSAGEM PARA 0 DIVA

MOllografia apresentada ao curso de Pos-graduayaoem Psicologia Clinica- Abordagem Psicanalfticadn Universidadc Tuiuti do Parana, como requisitoparcial a obten9iio do titulo de especialista.Oricntadora: Prof." Angela Valorc.

CURITIBA2007

RESUMO

A questao que S8 caloca e 0 que marca a passagem do momento de entrevistaspreliminares para a analise propriamente dita. 0 percurso inicial do tratamentoanalilico possibilita ao analista fazer em urn primeiro momento uma leitura do casa,para especificar se a analise "serve" a este sujeito. Implica em trabalhar a demandae averiguar S8 ela e passivel de S8 precipitar como demand a de analise. Partir daqueixa inicial, na tentativa de responder: porque safro? Possibilitando que 0 sujeitopassa apropriar-se de seu sintoma. Todo esse processo fundamentado natransferEmcia. a manejo desses elementos e responsabilidade do analista, faz comque 0 analisante suponha urn saber nele. l"stala-S8 a Neurose de Transferemcia,assim e 0 que marca para 0 sujeito em questao sua entrada em analise.

Palavras-chave: Psicanalise, Entrevistas Preliminares, Transferencia, Sintoma,Entrada em Analise.

SUMARIO

INTRODUc;;Ao 07

FUNDAMENTAC;;AO TEORICA 09

CASO CLiNICO 17

DISCUssAo 23

CONSIDERAC;;6ES FINAIS 28

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS 30

INTRODU<;:AO

Com 0 inicio da pratica clinica, inumeras quest5es sao formuladas, porem

uma se destaca nesse primeiro momenta: Que elemento diferencia e divide 0

trabalho analitico em entrevistas preliminares e analise propriamente dita? Este

problema pode ser apresentado de Qutras formas: Em que momento S8 faz a

passagem para a diva? Quais elementos S8 destacam nessa passagem? Sao

questionamentos que imp6em uma tentativa de explicitac;8o.

o fato de Sigmund Freud e posteriormente Jacques Lacan terem nomeado

esse momento preliminar de uma analise, seja pelo nome de sondagem ou

entrevistas preliminares, indica que hit urn trabalho diferenciado a ser realizado.

o objetivo deste e lazer urn resgate te6rico de alguns textos de Freud sobre 0

inicio do tratamento, relacionando seus estudos com autares contempon3neos que

estao fundamentados tambem pela teoria de Lacan, no sentido de lograr algum

entendimento a respeito da diferenc;a que existe entre as momentos: "analise de

ensaio" e analise propriamente dita.

Aprolundar esta problematica atraves de uma revisao bibliografica tern por lim

relacionar este estudo a urn caso clinico, que e a mote de todo questionamento

supracitado, pais se trata de um atendimento que se estende em entrevistas

preliminares a urn ana.

o trabalho analitico tern em principia a foco voltado para a movimento feito

pelo sujeito ao buscar um tratamento. 0 que leva uma pessaa a procurar pelo

atendimento?

Marcadas as especificidades de cada caso, e possivel encontrar um ponto

comum: a sofrimento. Este e 0 ponto de partida. Par que safro? E a questao que se

imp6e ao sujeito e da inicio a analise.

Fala-se em manejo das entrevistas preliminares. Esta sentenc;a inclui a

trabalho feito pelo analista para possibilitar a mudanya de pasiyao subjetiva,

representada neste casa tambem pela mudanc;a no espayo fisico, da poltrona para a

diva. 0 que da candiyao para 0 analista realizar este manejo e fundamentar seu

trabalha clinico no estuda teorico, na supervisao clinica e principalmente em sua

propria analise.

Volta-se para a sofrimento, e nele que se delineia a curso das entrevistas

preliminares, isso nao significa buscar sua eliminayao de imediato. E necessaria a

analisante se entregar a urn processa de subjetivac;aa, voltar para si, apropriar-se

deste sofrer e isso pode resultar na intensificagao deste incomodo. Saber par que

sofre e 0 que possibilita a mudan~, ou pelo menos diminui a "dor".

E necessario enfatizar que esse processo de subjetiva9ao acima citado eantes de tudo 0 que faz advir urn sujeito em questao, e e possibilitado pela fala, na

qual 0 tratamento analitico e fundamentado.

Esta afirma9ao e crucial, pois se a tala do sujeito em questao produz algurn

eteito e porque ha transten§ncia, no processo analitico ha a atualiza9ao da realidade

sexual do inconsciente, sendo esta consequencia da existencia de, par um lado

alguem que demanda, par outro alguem que e suposto saber.

o analisante supoe ao analista um saber sabre ele, algo que em principia

acredita que nao tern, porem trata-se de urn saber insabido, inconsciente. E segundo

Lacan, 0 tempo de instalagao do Sujeito Suposto Saber. A partir deste momento,

cabe ao analista deslocar a demanda que Ihe foi enderegada.

A fun9ao das entrevistas preliminares, portanto e assegurar a transferencia e

fundar 0 Sujeito Suposto Saber na Figurado analista.

FUNDAMENTA9AO TEORICA

"Entrevistas preliminares" foi a termo utilizado par Lacan para nom ear este

inicio do Irabalho analitico, anteriormente denominado por Freud em seu texto Sabre

o Inicio do Tratamento como "Analise de prova" ou "tratamento de ensaio"

K( ... ) tornei habito meu, Quando conhe(:Opouco sabre urn paciente, 56 aceita-l0 a principiaprovisoriamente, por urn periodo de uma ou duas semanas. 5e se interrompe 0 tratamentodentro deste periodo. poupa-5e ao paciente a impressao aflitiva de uma tentativa de cura quefalhou. Esteve-se apenas empreendendo uma 'sondagem', a tim de conhecer 0 caso e decidirse ele e apropriado para a psicanalise." (FREUD, 1913 p.165). 1

De acordo com Freud este periodo que inicia urn tratamento e crucial para a

continuidade do trabalho, nele S8 baseia a entrada em analise propriamente dita.

Apesar de ser urn momenta de sondagem preliminar, esta sujeito as mesmas

condic;:6es de uma analise. Tern na Associac;:ao Livre sua regra fundamental, parte

da queixa inicial e demand a de analise para posteriormente delimitar 0 sintoma e

fundar a transferencia.

No texto acima citado, Freud faz uma comparac;ao entre 0 jogo de xadrez e 0

trabalho analitico destacando a importancia das entrevistas prelim ina res.

"Todo aquele que espere aprender 0 nobre jogo do xadrez nas livras, ceda descobrira quesomente as aberturas e os finais de jogos admitem uma apresentaryaasistematica exaustivae que a infinita variedade de jogadas que se desenvolvem ap6s a abertura desafia qualquerdescri~o desse tipo. Esta lacuna na instru~a s6 pode ser preenchida por um estudoditigente dos jogos travados pelos mestres. As regras que podem ser estabelecidas para 0exerclcio do tratamenta psicanalitico acham-se sujeitas a limitar;Oessemelhantes." (FREUD,1913 p. 164).

Nos textos sobre a tecnica da psicanalise Freud trabalha esse momenta inicial

enos fornece algumas recomendac;:oes. Ha certos aspectos tecnicos que se

destacam e devem ser explicitados, segundo a autor, desde 0 inicio para que naD

ocorram problemas posteriores podendo acarretar um tim de tratamento precipitado.

E importante deixar bem claro ao paciente que nao existe um tempo

determinado para 0 tim de analise.

"Se quisermos atender as exigemcias mais rigorosas feitas a terapia analitica,

nossa entrada nao nos conduzira a um abreviamento de sua durac;:ao, nem passara

par ele." (FREUD, 1937 p. 255).

Calligaris em seu livre: Carias a um jovem lerapeula, escreve: "Espera-se que

o terapeuta ou analista empurre a paciente na direc;:ao de seu desejo. Alias, e par

I Este periodo de uma 011 duas semanas acima descrito por Freud nao e referencia para delenninar hoje quantolempo urn sujeito pemtaneee ern entrevistas. Na epoea Freud alendia seus pacientes em geml seis vezes porsemana, falO que pode ter rela9ao corn 0 prazo estipulado por ele para estc momento de sondagem.

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isso que uma terapia leva tempo, porque antes de empurrar, e precise que esse

desejo consiga se manifestar um pouco". (2004 p. 28).

Nao e intenc;ao aprofundar teoricamente 0 que a autor em questao quer dizer

com: "empurrar 0 paciente na direy2lo de seu desejo". A citayao e valida para

corroborar com a afirmayao de Freud de que trabalhar com urn tempo pre-

determinado nao tern valia no processo analitico.

E passivel associar esta recomenda<;ao com 0 que Lacan diz a respeito do

tempo em analise, este nao e logica, e 0 tempo do inconsciente. Portanto para 0

trabalho analitico nao faz sentido organizar uma sessao e nem urn tratamento em

fungao desta 16gica.

Le Poulichet em seu livro a tempo na ps;canalise explicita de forma clara

85sa questao de atemporalidade na qual 0 inconsciente faz presenga. 0 tempo do

lnconsciente nao e linear em passado, presente e futuro. Em psicanalise e correto

afirma que a hist6ria do sujeito nao e passado, ela e passado historicizado no

presente.

"(...), e realmente no momento em que a tempo parece, de algum modo, abolido, que ele estamais ativo. E um tempo curiosamente libertado da durayao, que se afirma, por exemplo, napresen~a simuttanea de dais acontecimentos separados. A f1echa do tempo linear,distinguindo um passado, um presente e um futuro, e bruscamente contestada par essapresenca que poe em jogo a associayao dos vestigios mnesicos. E e no momenta em que semanifesta essa presenya, pela superposiCao dos vestigios de um acontecimento presente ede um acontecimento passado, que esse passado pode ver-se assim historicizado,subjetivado." (LE POUUCHET, 1996 p. 18).

Outro "tema" a ser tratado de inicio e 0 valor do tratamento, quanto este

processo terapeutico custara ao sujeito. Segundo Freud as quest6es relacionadas a

dinheiro sao tratadas da mesma forma que as quest6es sexuais, "com a mesma

incoeremcia, pud~r e hipocrisia." (1913 p. 173).

Mais adiante, ap6s a revisao de outros conceitos, sera possivel en tender

porque Freud faz essa associagao entre dinheiro e as quest6es sexuais.

E crucial que 0 sujeito que entrara em analise esteja ciente da regra

fundamental da psicanalise: A Associagao Livre: narrar tudo 0 que Ihe vem em

mente, mesmo que seja destitufdo de importancia, que seja irrelevante ou sem

sentido. Solicitar que 0 sujeito fale 0 introduz na associagao livre.

"Observara que, a medida que conta coisas, ocorrer-Ihe-ao diversos pensamentos quegostaria de por de lado, par causa de certas criticas e obje~oes. Ficara tentado a dizer a simesmo que isto au aquila e irrelevante aqui, ou inteiramente sem importa.ncia.ou absurdo. demaneira que n<30ha necessidade de dize-Io. Voce nunca deve ceder a essas criticas, masdize-Io apesar delas - na verdade deve dize-Io exatamente porque sente aversao a faze-Io.

II

Posteriormente, vocl! descobrira e aprendera a compreender a razae para esta exortayao,que e realmente a (mica que tern que seguir: (FREUD, 1913 p.177).

Calligaris diz:

"0 pressuposto que justifica essa regra e a seguinte: no que a gente fata, opera uma (6gicaintern a, que n6s nao percebemos. Quanta menor nossa intervenr;a.o na escolha e naorganizacflo do que falamos. tanto mais essa l6gica interna poden~ nos levar a dizer coisasinesperadas par n6s mesmos, a descobrir alga que estava em nassos pensamentos sem quesQubessemos.· (2004 p.105-6).

o conhecimento desta regra fundamental nao implica em uma adesao

imediata por parte do analisando. Segundo Garcia-Roza (2005) 0 trabalho de

Associa9ao Livre e 0 que possibilita 0 acesso ao material inconsciente. Sendo assim

e precise recorrer a sua enunciayao tantas vezes quanto for necessario no decorrer

do processo.

wFazer Associal):ao Livre e, dentro do possivel, afrouxar a censura consciente

e permitir que derivados, ainda remotos, possam aflorar a consciEmcia e ser

comunicados ao analista." (GARCIA-ROZA, 2005 p. 164).

E importante esclarecer que 0 periodo de entrevistas possibilita ao analista

fazer uma leitura do caso, nao no sentido de detinir diagnostico, pois este, segundo

Valore (2007) se refere a urn procedimento que tern por base um saber teo rico

aplicado e apresenta uma ideia de morbidade que nao corresponde ao discurso

psicanalitico.

"Para 0 psicanalista nao se trata de uma doenca 0 que se oculta sob 0 sofrimento do sujeito,nem de identifica-Ia para determinar qual 0 tratamento adequado. Tao pouco a escutaanalftica se funda em urn saber, seja ele qual for, como seria imperativo se se tratasse deouvir do sujeito as queixas que confirmariam ou nao uma eventual hip6tese diagn6stica.Entretanto, e claro que 0 modo como 0 analista e tomado na transferlmcia varia conforme aestrutura cHnica do sujeito que fala em analise. Alem disto. a reconstituit;:ao do mito queresulta da fala do sujeito nas entrevistas preliminares atualiza as condicOes que presidiram aconstituit;:ao do sujeito e 0 modo de inscrit;:ao da falta. Assim. inevitavelmente, ira se precipitardai uma leitura 'diagn6stica' sem a qual 0 analista nao se arriscaria a conduzir um pacienteao diva." (Valore, 2007).

Antes de aprofundar em termos tecnicos, e importante destacar este inicio do

tratamento em funyao do paciente, 0 que traz esse sujeito ao tratamento?

Concentra-se neste primeiro momenta ouvir a queixa, aquilo que movimenta este

sujeito a procurar uma analise.

Essa queixa e 0 ponto de partida, da inicio ao discurso do paciente no sentido

de responder: Por que safro? Pelo que sofre? E a caminho em busca do sintoma,

aquila que se manifesta no carpo, em busca de uma ideia recorrente, algo que e a

causa da angustia neste sujeito que se poe em questao.

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Identificar a sintoma nao significa trabalhar no sentido de elimina-Io, mas slm

reconhece-l0, pelo que emerge do discurso deste sujeito. Em muitos casas esse

trabalho intensifica a angustia.

Qual a func;ao do sintoma apresentado? A que ele responde? Sao quest6es

que devem ser abordadas de inicio, e a caminho para encontrarmos aquila que

repete no comportamento deste individuo, e que ira ser repetido por ele em analise.

Entende-se Sintoma como uma forma substituta de satisfac;ao. E a expressao

de urn conflito psiquico, instaurado pel a oposiyao a satisfac;ao de exigemcias

internas. Com raiz na historia infantil do sujeito, constitui urn compromisso entre

desejo e delesa. (LAPLANCHE E PONTALlS, 1998).

Os autores acima citados definem: De urn lado desejo, que S8 imp6e aD

sujeito, nao tern objeto e e associado a fantasia. Segundo Freud e fundamentado

nas primeiras vivencias de satisfaC;ao. De outro lado a defesa, urn termo utilizado

para definir urn conjunto de operac;6es que tern como finalidade manter 0 principia

de constancia do sujeito.

"De urn modo geral, a defesa incide sabre a excitar;;:aa interna (pulsea) e,

preferencialmente, sabre uma das representac;5es (recordac;5es, fantasias) a que

esta ligada, sabre uma situac;ao capaz de desencadear essa excitac;ao na medida

em que e incompativel com esse equilibrio e, par isso, desagradavel para a ego."

(LAPLANCHE E PONTAlIS, 1998 p. 107).

Freud descreve que as neuroses sao derivadas do conflito entre os impulsos

sexuais e outras tendencias do ego (FREUD, 1912 p.316).

Seguinda a texta, Freud afirma que 0 sintama admite ser rernontada historica

e simbolicamente. Isso quer dizer que a sintoma e sobredeterminado e diz alga a

respeito do sujeito em analise.

"Era preciso urn acontecimento novo para que a acontecimento antigo

ressoasse e tivesse acessa a presenc;a. ( ... ). No campo psicanalitico, essa

temporalidade organiza nao apenas a constituic;ao do sintoma no s6-depois, pela via

do recalque, mas tambem a historiza~ao do passado no presente." (LE POULICHET,

1996 p. 18).

o termo recalque em sua defini~ao est;; alem da lun~ao de delesa. Laplanche

e Pontalis descrevem como: "Operac;ao pela qual a sujeito procura repelir ou manter

no inconsciente representar;;:5es (pensamentos, imagens, recerdar;;:5es) Jigadas a

uma pulsao. 0 recalque produz-se nos cases em que a satisfar;;:ao de urna pulseo -

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( ... ) - ameayaria provocar desprazer relativamente as outras exigemcias." (1998

p430).

Falar 0 que sabe sobre si, iniciar urn tratamento no sentido de fazer urn

resgate de sua hist6ria de vida naD anula 0 sofrimento, em alguns cases ate agrava.

De acordo com Freud (1914) 0 estado da doen",,' deve ser tratado como atual. 0

sofrimento, mesma referido a tempos remotes, aflige 0 sujeito em sua realidade

atual

"Este estado de enfermidade e colocado, fragmento par fragmento, dentro do

campo e alcance do tratamento e, enquanto 0 paciente a experimenta como algo

real e contemporaneo, temas de fazer sobre ele nossa trabalho terapeutico, que

consiste, em grande parte, em remonta-Io ao passado." (FREUD, 1914 p. 198).

Freud (1914) relata que uma caracteristica do sujeito que marca 0 inicio do

tratamento e a mudan9a ocasionada por este trabalho em relayao a atitude

consciente do analisando em relayao a sua neurose. a sujeito deve criar coragem e

dirigir sua atenyao para 0 problema. Vai alem de se lamentar, desprezar ou

subestimar sua enfermidade.

UContanto que 0 paciente apresente com placencia bastante para respeitar as condir;:oesnecessarias da analise, alcanr;:amos normalmente sucesso em fornecer a todos os sintomasda molestia um novo significado transferencial e em substituir sua neurose comum por umaneurose de transferancia, da qual pode ser curado pelo trabalho terapeutico." (FREUD, 1914p.201).

Neste ponto outro conceito e introduzido: Transferencia. 0 manejo das

entrevistas preliminares tern como fun9ao primordial possibilitar a instala9ao desta.

o manejo em prol do estabelecimento da transferencia e 0 que fundamenta e

possibilita 0 retorno a hist6ria e mesmo a pre-hist6ria do sujeito.

Transferemcia de acordo com Lacan e a atualiza980 da realidade sexual do

inconsciente, urn processo inconsciente que atualiza urn saber inconsciente.

Segundo Freud implica em:

U( ... ) compreender que cada individuo, atraves da ar;:ao combinada de sua disposir;:ao inata edas influencias sofridas durante os primeiros anos, conseguiu um metodo especifico pr6priode conduzir-se na vida er6tica - isto 13, nas precondir;:oes para enamorar-se que estabelece,nas puls6es que satisfaz enos objetivos que determina a si mesmo no decurso daquela."(1912 p.133).

2 Na la 16piea de sua obra, Freud eonsiderava que 0 sinloma neur6tieo acometia 0 sujeito como doen~a, termoutiliz..1.do em uma dimcnsao metaf6rica. A partir da 2a tapka, passa a considcrar a Ncurose como estrutura que

conSlitui 0 sujeilO. S\{}ADr /".-"4<"'~ ~ii; ~~~~~~.;-

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Esse metoda especifico. diz Freud, e estereotipado e constantemente

repetido na vida do sujeito, em suas rela90es e eonsequentemente na analise. 0

sujeito taz vinculo, atualiza seus prot6tipos (amores) infantis na figura do analista.

No verbete sabre a transferencia do Vocabulario de Ps;canalise, Laplanche e

Pontalis descrevem que: "A transferencia e classicamente reconhecida como a

terreno em que S8 da a problematica de urn tratamento psicanaliticQ, pois sao a sua

instalac;:ao, as suas modalidades, a sua interpretay80 e a sua reSOlUy80 que

earaeterizam este." (1998 p. 514).

Sylvie Le Pouliehet em seu Iivro a Tempo na Psicanafise ao falar a respeito

dos movimentos da fala do sujeito em amilise, a atemporalidade desta fala, nos da

urn exemplo de transferencia:

"( ... ), imaginemos que uma tala de um analisando na sessao desenvo[va simultaneamenteuma serie de movimentos: essa fala ressoa com 0 que precede e com 0 que a segue de ummodo inesperado, cada elemento encontrando sentido apenas nesse encadeamento que 0

informa; e suponhamos que este ou estes sentidos encontrem outro, devido ao fato de queesta tala desperta com intensidade uma fala mais antiga, que, nessa epoea parecera banal,que passara quase despercebida e caira no esquecimento; ao mesmo tempo, suponhamosque essa fala vise precisamente 0 analista: no presente, ela eonstitui urn ate de tala pelo qualo paciente identifica 0 analista, 0 pendura em urn lugar fixo na prateleira ·pronto para usoti dafantasia; nesse momento se abriram as eomportas diante da pressao de uma Monda pulsional"que, na verdade, nao cessa de quebrar no tempo imemorial do infanti!." (1996 p.13-4).

Segundo Stryekman (1997), 0 saber da transfereneia e um saber insabido,

suposto a figura do analista. Trata-se do saber inconsciente do sujeito que par estar

nele como insabido, e buscado como se estivesse no analista. Por isto se diz que na

analise 0 saber esta do lado do sujeito e nao do analista.

A func;ao do analista e fazer parada no discurso do analisante, desconstruir

suas certezas, esse e 0 caminho que possibilita instalar a transferemcia.

Calligaris (2004) afirma que este trabalho de quebra das frases, afirma90es e

certezas, faz com que a analisante suponha que 0 analista detem um saber sobre

ele, sa be de algum segredo, ate 0 presente momenta desconhecido ao sujeito em

inicio de analise.

De acardo com Freud 0 saber insabido e enderec;ado ao analista e eproduzido em analise pela rememorac;ao e repetic;ao.

Para Lacan 0 que se transfere e um saber suposto a um sujeito suposto

saber, sendo que este se funda pelo fato de que 0 analista desloea a demanda que

Ihe e endere9ada.

"0 analisante fala, de inreio, dele para urn X, para uma imagem. Ele faz uma demanda (5)para urn suposto, para a imagem que ele faz do analista (I). 0 analista por sua presentya reale sua fala se endereya nao a imagem de seu analisante mas para urn sujeito representado

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pelos significantes enunciados e a analista torna a trazer 0 que foi direcionado pete analisante(I) para 0 Outro (S), issa faz ruptura nesse eixo imaginario. 0 analista, par esta transfer~nciade lugar da fala, nao autentifica 0 imaginario, ele [he reenvia sobretudo sua mensagem soburna forma invertida." (Stryckman, 1997 p. 278).

Dessa forma a analista e incluido ao sintoma do sujeito, completa-o. Ao

questionar, aD fazer parada no discurso do analisante, desconstruindo aquila que Ihe

parece tao certo e imutavel, passa a ocupar urn lugar no imaginario deste sujeito,

onde detem urn saber sabre 0 ele. Este lugar de sujeito suposto saber sustenta a

transferemcia e da inicio a analise.

UA constituic;:ao do sintoma anaHtico e correlata ao estabelecimento da transferencia que fazemergir 0 sujeito suposto saber, piv6 da transferencia. Esse momento em que 0 sintoma etransformado em enigma e um momenta de histerizac.3o, ja que 0 sintoma representa ai adivisao do sujeito. ( ... ). Quando esse sintoma e transformado em questao ere aparece como apr6pria expressao da divisao do sujeito. ~ nesse momento que 0 sintoma, encontrando 0endereco certo que e 0 analista, se torna sintoma propriamente anatrtico." (QUINET, 2002 p.17).

Segundo Nasio (1999) esse momento no qual 0 analista e incluido ao sintoma

do sujeito e chamado de "Neurose de transferencia.".

"Por ocasiao desse momenta fecundo da analise, vaG aparecer sintomas

novos, proprios da relagao anaHtica. Freud diz: uma nova neurose artificial substitui

a antiga neurose original, para a qual 0 paciente veio procurar uma analise."

(FREUD Apud NASIO, 1999 p. 19).

Laplanche e Pontalis definem Neurose de transferlmcia: "Na teoria do

tratamento psicanalitico, neurose artificial em que tendem a organizar-se as

manifestag6es da transferencia. Constitui-se em torno da rela9ao com 0 analista; euma nova edigao da neurose clinica. Sua elucidagao leva a descoberta da neurose

infanti!." (1998 p.309).

Todo esse processo que desencadeia 0 estabelecimento da neurose de

transferencia e possibilitado pelo lugar de alteridade no qual 0 analisando suporta 0

analista.

A intervengao do analista e essencialmente silenciosa, no sentido de permitir

que 0 analisando ouga 0 que diz e interprete. 0 dizer nada do analista obriga 0

analisando a desenvolver sua propria cadeia e, ao mesrno tempo, designar 0

horizonte do que nao e dito.

De acordo com 0 Dicionan'o de psicanalise Freud e Lacan no verbete "0

conceito de transferencia", 0 analista deve oferecer 0 vazio, assim permite ao

analisando articular seu desejo.

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E nesse lugar de naD saber pelo sujeito, de naD dizer pelo sujeito, que se

identifica 0 manejo das entrevistas preliminares para possibilitar a entrada em

analise. Permite que 0 sujeito em certo grau inicie a trabalho de se responsabilizar

pelas suas eseelhas, pelo seu sintoma, pela sua demanda, tornar esta em demanda

de analise.

~onosso conhecimento acerca do material inconsciente nao e equivalenteao

conhecimento dele; se Ihe comunicarmos nossa conhecimento, ele nao 0 recebera

em lugar de seu material inconsciente, mas aD lado do mesma; e isso causara bern

pouca mudan,a no paciente." (FREUD, 1917 p. 509).

o que mantem 0 sujeito em analise e possibilita a passagem para 0 diva e 0

trabalho em fun,ao do sintoma analitico, ou seja, segundo Wachsberger "(...) 0

sintoma preSQ na transferemcia - ( .. ) - e isto nao se aprecia senao em relac;ao ao

sujeito suposto saber." (1989 p. 27).

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CASO CLiNICO

Sofia, 40 anos.

Inicio: abril de 2006

Casada, 2 filhos

Queixa Inicial: Insatisfay2lo em relay80 a sua profissao.

E assistente social, relata que por naD considerar importante a fUnyc30 do

Serviyo Social nao se sente reconhecida enquanto profissional.

Escolha pela profissao: Prestou vestibular para as seguintes cursos:

Psicologia, Direito e Servicyo Social. Nao passou em psicologia e "esqueceu" a data

da prova do vestibular de Direito.

Passou em Serviyo Social, na epoca, diz, naD sabia muita caisa a respeito do

curso, mas como naD teve ucompetencia" para passar em Dutro que Ihe agradasse

mais decidiu dar continuidade. A insatisfa~o devido ell escolha profissional esteve

sempre presente. Pensou em desistir do curso varias vezes, mas nao 0 fez, pois

acredita que desistir de algo e sin6nimo de fraqueza.

Por conseqOencia desta escolha acreditava que por seu merito nao teria a

ascensao financeira tao desejada, assim 0 casamento seria sua (mica possibilidade

de obte-Ia. Sabia que tinha que escolher um homem que representasse essa

seguram;:afinanceira.

Hoje questiona sua escolha novamente, pois 0 marido nao cumpriu com suas

expectativas, eles tern uma situac;aofinanceira estavel, com alguns momentos em

que precisam fazer economia e se preocupar com 0 dinheiro.

Eta se sente traida peto marido, diz saber que faram suas fantasias, de

ascensao financeira em retayao ao casamento, mas pergunta par que ele nao

conseguiu cumprir com essas fantasias. Afirma ter felto novamente uma escolha

errada.

Mantem-se no casamento assim como na profissao como puniC;aopelas mas

escolhas que fez.

Sua insatisfayao esta relacionada a falta de reconhecimento da sua profissao,

relata que ela propria desqualifica a servico social, entende que na malaria das

vezes trata-se de assistencialismo e e isso que as pessoas esperam dela. Acredita

que para ser assistente social nao e necessaria ser muito intellgente.

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Atualmente faz psicologia, optou por este curso porque sente que tera maior

reconhecimento profissional.

Sua situayao atual esta diferente do que havia planejado, po is sua familia

passa por dificuldades financeiras. Seria mais feliz S8 naD estivesse ne8sa situac;;ao,

gostaria de "viver com rna is folga". Essa condiyilo faz com que ela questione sua

relactao com 0 marido, como poderia muda-Io? Sa be que naD pede mudar alguem de

acordo com sua vontade, mas mantem esperanc;;a na possibilidade de "melhora-Io".

Em varios mementos ao fazer relatos de conversas e discussoes com 0

marido ela utiliza termos como "eu pontuei para ele".

A expressao utilizada par ela chama a aten98.0. Ao ser question ada,

reconhece utilizar muitas vezes termos da psicologia em suas conversas com 0

marido. Gostaria que ele fizesse analise, assim ele mudaria e consequentemente ela

seria mais feliz.

Seu discurso e frequentemente dirigido aos problemas atribuidos por ela ao

marido. Segundo a paciente ele e introspectiv~, nao sabe conviver com as pessoas,

nao aceita e nem reconhece suas opinioes, tem muitos problemas no trabalho, em

casa e com seus pais.

Ap6s um numero consideravel de sess6es nas quais ela fala desses

problemas e do quanto seria melhor para ela se fosse ele quem procurasse por

tratamento, uma questao se imp6e: 0 que motiva Sofia a procurar pelo tratamento?

E 0 momento de interrogar se ela esta ali para resolver os problemas do seu marido.

Responde que os problemas dele tambem a afetam e se ele se submetesse a

um tratamento todos sairiam ganhando.

Ap6s algumas interven~6es no sentido de interrogar 0 que a faz "pontuar" 0

discurso do marido, qual e 0 seu entendimento sobre a insistemcia em dizer que

quem necessita de analise e ele e, no entanto quem se submete ao tratamento eela, percebe-se uma mudan~a.

Seu discurso atual oscila entre questionar esse marido, e os problemas

relacionados a ele e a sua escolha, porque 0 escolheu, porque agora ele nao parece

tilo ideal quanto urn dia foi, porque ela depende tanto dele, questiona porque nao

pensa em ter dinheiro, se e essa a questao, pelo seu pr6prio trabalho, conquistar por

si 0 que almeja.

19

A sua hist6ria de vida e revelada aos poueos, ela compara sua familia com a

do marida. Sempre depreciando a criag8.o que foi dada ao marido e enaltecendo sua

relagc30 com seus pais e irmaos.

Relata que sua infancia foi uma epoca de fartura, morava em urn sitio, naD

lembra de ter faltado nada. 0 que a paciente quer dizer? Responde a essa questao

comparando a infancia com a adolescencia, nesta ultima sentia que era privada de

muitas eaisas, associa essas priv8c;6es ao fato de ser de familia pobre e sem

estudo, nesta epoca fantasiava muito, com viagens, cursos que naD tinha

possibilidade de fazer par naD ter dinheiro.

Trabalha desde os quatorze anos, sempre teve muita vontade de crescer

rapido, na infancia era muito curiosa com a vida dos adultos. E a mais nova de sete

filhos. Lembra que ao decidir trabalhar nao teve apoio da familia, pois era

considerada companhia da mae, era quem a ajudava nas tarefas domesticas. Diz

que esse trabaJho nao a agradava, ela queria trabalhar fora, ter 0 seu dinheiro.

Quando crianc;a tinha 0 habito de ouvir atras das portas as conversas dos

adultos, gostava de estar informada e esse "mundo" a interessava. Certo dia ouviu

sua mae contar para uma tia que havia sofrido um aborto alguns anos antes, ficou

triste pela mae, mas contente ao saber dessa historia, pois naquele momenta sabia

que tinha uma informaC;ao que era conhecida somente pel os adultos de sua familia.

Ha 13 an os decidiu que faria psicologia, prestou vestibular e passou. Seis

meses depois estava gravida e teve muitos problemas durante a gestac;ao e acabou

desistindo do curso na epoca.

1a gestac;ao: nao aceitou, sentia que ficaria imprestavel 0 resto da vida, ter 0

filho significava 0 fim de sua vida produtiva. Nao poderia mais estudar, nem

trabalhar. Sente muita culpa por esse momento. Relata que vomitava muito, senti a

que essa era possivelmente uma forma de representar sua rejeic;ao a gravidez.

Associa que nunca teria coragem de fazer um aborto por conta propria, mas

na epoca pensava que se algo espontaneo acontecesse fica ria aliviada. Sentia que

ao vomitar fazia muita forc;a e isso poderia acarretar urn aborto espontaneo.

Em uma sessao relatou que estava chateada e desanimada com relaC;ao ao

seu casamento, seu marido nao a satisfaz da maneira como ela fantasia. Quando

interrogada a respeito dessas fantasias, seu discurso e em relac;ao ao dinheiro. Algo

que pensou, ao escolhe-Io como marido, e que estaria garantida em um casamento

sempre em ascensao.

20

Nesses momentos de desanimo nao sente vontade de conversar com e1e,

naD con segue S8 aproximar. Oiz saber de sua importancia para 0 marido e utiliza

esse comportamento como uma forma de contrale sabre ele. Agindo assim ela 0

pune por naD valorizar suas pontuac;oes e consegue sua atenl(ao para que sua

palavra tenha a devida importancia.

Esse comportamento tambem Ihe causa certo sofrimento, pois naD 905ta de

se afastar dele, sente falta do cantata fisico que ela 0 priva nesses mementos.

Apresenta urn incernodo fisico quando age dessa forma, sente urn aperto no peito

que chega a uma dificuldade em respirar.

Apresenta uma insatisfac;ao con stante, S8 questiona porque para ela e tudo

mais sofrido.

Considera que seu trabalho no hospital esta rna is interessante, nao s6 para

ela, mas tambem para as pacientes que atende. Essa candi9aa e passivel parque

esta cursando Psicologia e esse fato possibilita oferecer urn atendimento mais

"completo" Trabalha na maternidade, lugar que almejou desde sua nomeac;ao.

Gasta do trabalha que realiza com as maes, que, segundo ela, pade ser resumida a

rela9ao mae e filho, criar urn vinculo que possibilite essa relayao.

Parte do seu trabalho no hospital para novamente recordar como se deu sua

primeira gesta9aa e da dificuldade que teve para aceitar a gravidez. Lembra que

somente quando sentiu seu filho se mexendo, no sexto mes da gesta9ao, e que

pode sentir afeto pela crianc;a e passou a aceitar sua condiyao.

Aceita a gravidez, mas continua acreditando que sua vida acabou. Acredita

que nunca mais ira trabalhar estudar e ser magra.

Sente culpa, par naquela epoca pensar que sua vida acabaria depois da

gesta9aa. Haje ela e magra, trabalha, estuda, se permitiu depais de muitas anas

cursar outra faculdade e possibilitar a mudan~ de sua escolha profissional.

Apos urn ana de relatos sabre 0 seu dia a dia com 0 marido e a quanto ela

espera que ele mude para a sua satisfa9ao, enfim passa a se questionar sabre a

porque espera que ele mude. Esse questionamento a leva para urn novo carninho

dentro do tratarnento, deixa urn pouco de lado a historia de vida do rnarido e passa a

contar e dar mais enfase a sua propria historia.

Lembra de eventos ante rio res ao casamento. Ao ser interrogada sobre essa

historia passa a trazer conteudos de sua infancia e adolescencia.

21

Afirma que sempre esteve as valtas com a questao do saber, associa issa aD

fata de ser a fHha mais nova de uma familia com sete crianc;as. Relata que ser a

cavula tinha vantagens, exemplifica a afirmavao com a lembranva de, par volta dos

quatro anos, inumeras vezes a pai a defender diante dos irmaos mais velhos, por

exemplo, quando queria urn brinquedo tinha prioridade.

Porem quando ficou mais velha 0 fata de ser a mais nova a deixava chateada,

pais sua opiniao nao tinha valia. A analisante diz que era cheia de opinioes e se

interessava pelos assuntos familiares, era a familia que naD tinha interesse em seus

comentarios.

Alem do habito de ouvir atras das portas, era interessada em tudo que

poderia ser relacionado a seXD. Lembra de ter urn interesse especial pelas gravidas,

estudou sabre reprodw):80 antes de ser ensinado na escola e organizava reunioes

com amigas em sua casa, onde ela no papel de professora ensinava tudo 0 que

havia aprendido nos livros sabre 0 tema.

Associa esses elementos ao fato de ate os seis an os de idade dormir no

quarto dos pais. Diz nao lembrar de ter visto nem ouvido nada, mas acredita que

seus pais mantinham uma vida sexual ativa, pois na opiniao dela eles se amavam e

mantinham um born relacionamento.

Apresenta como momenta crllico de sua vida a passagem pela adolescemc;a,

e interessante fazer um adendo neste ponto.

Atualmente faz urn estagio em orientac;ao vocacional, trabalha com um grupo

de adolescentes, afirma que possui uma forte identificavao com essa fase pela qual

seu grupo de trabalho esta passando, 0 momento de escolha profissional.

Outro fator que gera discussoes constantes com seu marido e 0 fato da

paciente considerar que ele nao possui habilidade suficiente para manter um born

relacionamento com 0 filho rna is velho deles. Em detenminado momento ela diz que:

"Ate parece que ele (0 marido) nao sabe que essa e uma fase complicada. Queria

que ele aprendesse comigo como ser pai.H•

Faz um relato que sua adolescemcia foi complicada, se achava "horrorosa"

Alem disso, sofria de alergia na pele, furunculos, machucados constantes que

demoravam a sarar.

Contentava-se em se relacionar com as meninos mais feios, porque nao

cogitava a hipotese de urn menino bonito se interessar par ela.

22

Relata que foi um periodo bem dificil e complicado. Relaciona este momenta

pelo qual passava a sua escolha profissional, estava em urn periodo de baixa 8stima

assim 56 poderia escolher uma profissao abaixo de suas expectativas, mas que com

certeza ela daria conta de concluir.

Oiz ser insatisfeita, com sua profissao, seu casamento, sua familia. Associa

que sua insatisfag80 e devida as suas escolhas, estas sao sempre calculadas e sem

muitos riscos, 0 que for mais comodo, assim naD carre 0 risco de perder muita coisa,

mas tambem a satisfa((80 que obtem e minima. Passa a questionar porque escolheu

esse casamento e diz: "Ele era tudo 0 que eu nao era",

23

DISCUSSAO

Freud no texto "Sabre a inicio do tratamento" langa a pergunta: "em que ponto e

com que material deve a tratamento comegar?". (1913 p. 176).

Esta e a questao crucial que permeia este estudo. A pergunta S8 repete a cada

novo atendimento clinico iniciado.

Este casa em particular pareee ter estrita relac,;:2Io com 0 tema proposto, pais se

trata de uma mulher que em principia relata que toda a fonte de seus problemas e 0

marida, a que ela quer e muda-Io.

E func;ao do analista, no manejo das entrevistas preliminares, trabalhar com

essa queixa inicial, no sentido de retarnar ao analisante aquilo que e ditD par ele,

neste casa e possibilitar que a paciente S8 implique, que suas quest6es sejam

pastas para enfim abrir caminho a sua problematica.

Ha urn ano ela encontra-se em entrevistas preliminares. E passivel analisar

este casa por dois angulos: primeiro pode-se calcular que a paciente necessita

desse tempo para querer saber de si e segundo 0 manejo que e dado as entrevistas

preliminares.

Le Poulichet em seu livre "0 tempo na psicamllise" afirma que a experiencia

analitica e a rememorac;ao partindo do jogo das associac;6es livres.

Partindo desse pressuposto abre-se 0 caminho que a analisante em questao

ira percorrer. 0 que a trouxe para a analise? A resposta que ela fornece e: Sua

insatislayao com a profissao que exerce, Assistente Social.

Mais adiante ela afirma que sabia ter feito uma escolha que nao Ihe agradava,

no entanto acreditava na compensac;ao, atraves do casamento, preencheria toda

lalta que par si nM dava conta de tapar.

Na medida em que 0 tempo passa e esta se ve diante de uma situac;ao,

principalmente financeira, nao satisfat6ria, nao condizente com 0 que havia

planejado, parte em busca de um trabalho analitico.

Seus primeiro relatos podem ser condensados em urn aspecto: A analisante

nao esta satisfeita e e responsabilidade de seu marido. Eta admite saber que nao ecapaz de muda-Io em func;ao do que ela deseja, mas mantem a "esperanc;a" de

mudanc;a, que esta parta dele, consequentemente esse movimento dele acarretara

satislagao dela. Sera?

24

Este case chama a atenc;ao porque a principio esta paciente trazia a questao

das suas escolhas, mas sera que ela tern consciencia que eram suas eseelhas e da

responsabilidade que tinha par elas? A problematica estava nas mas eseelhas e na

premissa de que quem eseelhe errado deve sofrer as conseqOemcias.

Ser assistente social: relata que desde 0 inicio do curso sabia que nao

gostava, mas mesma assim insistiu, se farmout se dedicou a trabalhos na area,

estudar para concursos publicos tambem voltados para a Servic;o Social, sempre

insatisfeita, mas tinha que sofrer par ter feito essa escolha, naD se permitiu durante

muitos anos tazer outra escolha profissional. a que mudou?

o Servic;o social, na epoca, parecia a melhor opc;ao. Escolher um curso que

daria conta de concluir assim nao passa pela frustra9aO de tentar algo que considera

mais dificil e ter que se haver com sua propria falha.

"T er que fazer", "nao se permitiu", expressoes sempre presentes no discurso

da paciente. Quando questionada a esse respeito relata que e algo que traz de

familia: Nao desistir, nao deixar assuntos pendentes, "pela metade". Tern para si

que, aos olhos de seu pai, pessoas que desistem sao fracas, constantemente

questionadas de sua capacidade.

Traz uma lembran9a de quando em epoca de vestibular fez a inscriC;ao para 0

curs~ de Direito. No dia previsto para a prova, acordou atrasada, havia esquecido.

Atualmente quando relata este episodio se pergunta como uma coisa dessas

aconteceu com ela, mas em seguida reconhece algo pr6prio dela implicado nesse

esquecimento, pois relata que prefere nao tentar algo que considera dificil, assim

afasta a sentimento de nao dar conta. Afinna: "ainda foi melhor ter esquecido.".

o "ainda" na afinna9ao acima pode significar que ha uma predisposi9ao da

paciente de pensar sobra suas escolhas e sua responsabilidade diante delas, mas

pode naa estar preparada para 0 que issa acarretara em sua vida.

Ela fez um relato interessante de sua vida, mas este nao implica subjetiva9aO.

o momento de entrada em analise, a passagem para a diva, deva marcar uma

mudanya, uma mudan9a no discurso do sujeito, uma mudan9a de lugar, implicar-se

em suas escolhas.

Deste ponto surgem questoes com rela9ilo ao tema proposto. A principal e:Como se da a manejo destas entrevistas para possibilitar a entrada em analise?

Como ponto de partida e necessaria que da queixa inicial a sintoma se

manifeste. Pelo relato do caso pode-se apostar na questao da insatisfa9ao.

25

Pelo discurso sup5e que S8 trata de uma neurose histerica, porem nenhum

sintoma conversivo apareceu, ate 0 momento, no discurso da paciente. E necessario

trabalhar para ampliar 0 relato de sua hist6ria de vida, possibilitando assim a

emergEmcia do que S8 repete.

No trabalho anaHtico e extremamente importante deixar que 0 "assunto"

venha do sujeito em questao, ista dara a direyao, que marcan3 a demanda de

analise, assim entende-s8 que esta e do paciente e ele e responsavel pela escolha

de estar ali.

a analista tundamenta-se do tato de saber que "nao M tala sem resposta". atexto do analisante jil contem elementos cruciais, esta resposta que em principia

esta suposta na figura do analista esta inscrita no inconsciente e emerge em funyEio

do trabalho analitico.

Iniciar uma analise envolve quest6es como: 0 que 0 que traz 0 sujeito ate 0

analista? Qual e sua queixa? Trata-se, neste primeiro momenta, de sofrimento, de

demanda, de alivio. a trabalho parte de pontos especificos, isso nao quer dizer que

se escolhe urn tema. to a partir da tala do sujeito, quando este nos diz 0 que sabe

sobre si, que alguns aspectos irnportantes sao delirnitados para possibilitar 0

trabalho.

A paciente em questao escolhe iniciar urn tratamento, porem, 0 trabalho

analitico vai alem da presenya fisica. No caso a demand a recorrente e a mudan~a

do marido. No trabalho atual, tendo partido desta demanda, a analisante se encontra

em momento de questionar a sua insatisfa9ao com esse marido e percebe que alem

dele muitas outras coisas nao a satisfazem.

E possivel associar alguns aspectos da hist6ria da paciente, sao dados que

pod em ser utilizados para questiona-Ia, como manejo para possibilitar a passagem

para 0 diva.

A analisante relata que quando crianc;a vivia uma epoca de "fartura", nada Ihe

faltava, destaca principalmente a atenc;ao do pai para que suas vontades fossem

satisfeitas. Em contra partida a adolescencia e lembrada como uma epoca de baixa

estima, a vantagem de ser crian9a ja nao contava rna is a seu favor.

Oestaca-se tambem 0 fato de ate as seis anos de idade dormir no quarto dos

pais e associar a essa epoca seu interesse pelas quest6es sexuais, destacando

quest6es sabre reprodu9ao e seu fascinio, quando crianya, par mulheres gravidas.

26

Quando crian<;a se quisesse alga seus pais eram as responsaveis par

satisfazer suas vontades, significando principalmente, de acordo com 0 discurso da

paciente, que prevalecia em relac;ao ell vontade dos irmaos mais velhos. Na

adolesc€mcia alem de sua palavra naD ter a importancia que gostaria, sua familia

naD era capaz, financeiramente, de [he oferecer tudo que desejava, exemplifiea com

cursos, viagens, roupas, entre Qutras eoisas.

Comecou a trabalhar, mas 0 dinheiro que ganhava naD era suficiente para

camprar aquilo que queria, assim como e a sua situ8r;ao atual em relac;ao ao seu

cargo de Assistente Social. Atualmente, mesma com sua carreira, depende do

marida, que assim como sua familia a deixa fantasiando com urna situa9ao melhor.

Um aspecto que marca a mudanya de entrevistas preliminares para analise equando a analista passa a fazer algumas pontua96es na discursa do paciente. Faz

parada, enigmatiza aquilo que esta sendo dito com certeza pelo sujeito. No inicio do

tratamento esses cortes sao menos enigmatizantes. 0 que possibilita e intensifica

este ato analitico e a transferencia.

o analista tern a responsabilidade com 0 manejo das entrevistas prelim ina res,

pais e deste trabalho que surge a discurso analitico e a sujeito em analise se

posiciana diante de seu inconsciente.

Ela escolheu esse marido pelo que ele representava, uma imagem recorrente

que e passivel fazer a partir do discurso dela e camo se a marido fosse uma

extensao dela, que eliminaria seus defeitos, pais acreditava ter feito uma otima

escolha, um marido inteligente, com uma carreira promissora, sem falhas ela diz,

alguem que nao era como ela.

Seria interessante para ela que seu marido fizesse analise, pois em se

tratando de uma imagem que faz desse homem como um ser sem falhas, "tudo a

que ela nao e", no minimo deve haver urn incernodo em atualmente s6 conseguir

listar seus defeitos. Tudo 0 que urn dia Ihe pareceu qualidade hoje tern urn aspecto

negativo, nao valorizado por ela.

Como e urn caso em andamento, entende-se que as quest6es levantadas

neste trabalho sao relevantes, mas nao conc\usivas. Pod em testemunhar qual esta

sendo a rumo do tratamento, mas pelo que se percebe a analisante necessita

passar por esse percurso, ainda faz-se necessario 0 resgate de sua hist6ria de vida

e que a descole urn tanto da historia de seu rnarido.

27

Entretanto, como ate aqui se demonstrou, e imperativQ urn determinado

manejo, que seja estritamente analitico, por parte do psicanalista, para que de uma

queixa au de urna demanda qualquer advenha urna demanda de analise. Assim, naD

se pode evitar a pergunta acerca de se esse manejo, no casa em questao, ista e, se

a conduc;ao au direC;Bo do tratamento vern sendo suficientemente analltiea, ja que

depois de urn ana de entrevistas ainda nae se propiciou a passagem ao diva.

28

CONSIDERM';OES FINAlS

o fato de estar no inicio de urn percurso para formayao como analista e

durante 0 trabalho cHnico deparar com urn caso que esta em andamento a mais de

urn ano e a analisante se encontra ern entrevistas preliminares, motivou a tentativa

de explicitar as quest6es envolvidas neste processo.

D interessante e que talar sobre 0 inicio de urn tratamento analitico e talar

sobre conceitos fundamenlais em psicanalise, porem com a func;:ao de naD

aprofundar demasiadamente em cad a conceito, pais tornaria 0 trabalho extenso e

provavelmente sem conclusao.

Tratando-se do trabalho nas Entrevistas Preliminares 0 analista tende a naD

ser tao incisivD, nao questiona em demasia, nao se imp6e a desconstruyao das

verdades do sujeito.

Pais e 0 momento de verificar a possibilidade de se iniciar urn trabalho

analitico, e 0 momenta do individuo se par em questao e reconhecer em certa

medida que e 0 sujeito de suas escolhas.

"Desconfiar do 6bvio e 0 que de mais util, creio, Freud nos ensina. E da materia instaveldessa inquietayao que sao feitas as suas grandes descobertas. Assim e que ele se pOe asalvo da tentacao do sentido ao afirmar, par exemplo, sobre as formayOes substitutivas que 0

que dita as substituiyOes noao e a semelhan(fa entre as coisas denotadas, mas a das palavrasempregadas para expressa~la." (VALORE, 1997).

E a palavra que da a diret;ao ao tratamento, e 0 espat;o oferecido ao discurso

do sujeito que permeia 0 manejo deste. Esses elementos associado as

interrogat;oes, as paradas no discurso do analisando, desconstruindo suas certezas,

dao 0 suporte a entrada em analise.

o titulo deste trabalho diz: 0 manejo das entrevistas prelim ina res. Supoe que

o analista tern sua funt;ao, ele faz parte deste processo de desconstrut;ao das

verdades, ele, como diz Valore (1997), desconfia do 6bvio e questiona.

E esse manejo que possibilita transferemcia, que instala a Neurose de

transferemcia.

Esse periodo de entrevistas preliminares cumpre alguns objetivos de urn

tratamento analitico. Verificar a possibilidade de dar continuidade ao tratamento

devido a estrutura do sujeito, possibilitar uma retificat;ao subjetiva, 0 sujeito saber

par que esta ali, reconhecer seu sintoma: Como sofre.

29

Entende-se que esses aspectos aeirna citados sao cruciais para a trabalho

analitico, porem este e em VaG se nao he. transferemcia. E pela transferencia que 0

discurso do sujeito muda, a posi~ao dele diante do seu sintoma muda.

30

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