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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
ESCOLA DE ENGENHARIA
ENGENHARIA DE MATERIAIS
MARCOS ROBERTO DE CASTRO
ESTUDO SOBRE O USO DO AÇO BIFÁSICO COMO MATÉRIA-PRIMA EM
COMPONENTES ESTAMPADOS DE CARROCERIAS VEICULARES
São Paulo
2012
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MARCOS ROBERTO DE CASTRO
ESTUDO SOBRE O USO DO AÇO BIFÁSICO COMO MATÉRIA-PRIMA EM
COMPONENTES ESTAMPADOS DE CARROCERIAS VEICULARES
Dissertação de Mestrado apresentada ao programa de Mestrado Profissional em Engenharia de Materiais da Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em
Engenharia de Materiais.
ORIENTADOR: Prof. Dr. Waldemar Alfredo Monteiro
São Paulo
2012
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C355e Castro, Marcos Estudo sobre o uso do aço bifásico como matéria-prima em
componentes de carrocerias veiculares. / Marcos Castro � São Paulo,
2012.
70 f. ; 30 cm
Dissertação (Profissional em Engenharia de Materiais) - Universidade Presbiteriana Mackenzie - São Paulo, 2012.
Bibliografia : p. 068-069
1. Aço bifásico. 2. Aço avançado de alta resistência. 3. Propriedades Mecânicas. I.Título.
CDD 342.29932
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MARCOS ROBERTO DE CASTRO
ESTUDO SOBRE O USO DE AÇO BIFÁSICO COMO MATÉRIA-PRIMA EM
COMPONENTES ESTAMPADOS DE CARROCERIAS VEICULARES
Dissertação de Mestrado apresentada ao programa de Mestrado Profissional em Engenharia de Materiais da Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em
Engenharia de Materiais.
Aprovado em:_____ de __________________ de 2012.
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________
Prof. Dr. Waldemar Alfredo Monteiro
Universidade Presbiteriana Mackenzie
__________________________________________
Prof. Dr. Antônio Augusto Couto
Universidade Presbiteriana Mackenzie
__________________________________________
Prof. Dr. Arnaldo Homobono Paes de Andrade
IPEN � Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares
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AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Dr. Waldemar Monteiro, pela orientação no decorrer dos estudos e realização
deste trabalho.
À preciosa contribuição de: Alex Campanharo, Daniel Pante, Erika Ishara, Marcelo
Tonetti, Maria Elisa Ferreira, Anderson Fernandes, Gabriela Spedo, Leandro Macedo, Valdir
Berloffa e Hélio Santos Cardoso.
A todos os amigos pelo incentivo.
À Volkswagen do Brasil.
À Arcelor Mittal Brasil � aços planos.
À Esi-Group � soluções em CAE.
Ao Criador, aos meus pais, meus irmãos e meus sobrinhos.
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RESUMO
Neste trabalho foi analisado um aço conhecido comercialmente por dual phase,
compreendendo a obtenção deste tipo de aço, suas propriedades mecânicas, a relação entre
sua microestrutura e seu desempenho e um comparativo com um aço microligado.
Comparados aos aços convencionais, os aços bifásicos, em virtude do melhor desempenho em
serviço, podem proporcionar redução de peso e consequentemente de custo nos componentes.
O trabalho analisou o aço DP 800 (espessura = 1,2 mm) como potencial material em
substituição a um aço microligado H260 PD (espessura = 1,5 mm) em um componente
estampado de carroceria de um veiculo em produção. Esta troca possibilitou a redução de
20% de massa da peça. Foram estudadas as seguintes características: processamento,
composição química, microestrutura e propriedades mecânicas. Para análise micro estrutural
foi utilizada microscopia óptica. A caracterização química foi feita por meio de um
espectrômetro de emissão óptica. Foram feitos ensaios de tração nos dois materiais em estudo.
O ensaio de tração serviu para a obtenção de curvas tensão-deformação cujos valores
alimentaram softwares de CAE visando simulação de estampagem e crash-test virtual. Com
os resultados dos ensaios e das simulações foi possível verificar a viabilidade da substituição
do aço microligado pelo aço bifásico (dual phase). O aço bifásico apresentou similar
conformabilidade e desempenho em serviço (integridade estrutural na simulação do teste de
impacto frontal).
(palavras-chave = Aços avançados de alta resistência, aços bifásicos, propriedades mecânicas)
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ABSTRACT
In this work it was analyzed a dual phase steel concerning its mechanical properties, the
microstructure and its performance comparing with micro alloyed steel. These steels have the
potential to achieve cost and weight savings while improving performance. The trend for the
use of AHSS (Advanced high strength steels) in automotive industry has grown in the last
decades in an exponential way and has encouraged researches around the world to study
processes that enhance the characteristics of actual steel, in order to optimize weight for fuel
economy and structural stiffness in safety. This work analyzed the DP 800 steel (1.2 mm
thickness) as a potential replacement for steel HSLA (micro alloyed steel) HX 260 PD (1.5
mm thickness) as a component of a vehicle body production. This replacement allowed 20%
mass reduction of the vehicle. It was studied the following characteristics: processing,
chemical composition, microstructure and mechanical properties. For microstructure analysis
has been used optical. The chemical element analysis was made by an optical emission
spectrometer instrument. Tensile tests were made in both materials. The obtained mechanical
values were the input to the CAE software: simulation of stamping and virtual crash test. With
the results of the tests and simulations were able to evaluate the feasibility of replacing steel
micro alloyed steel for dual phase steel. Dual phase steel showed similar formability and
service performance (structural integrity in the crash test simulation).
(keywords = High strength steels, Dual phase steels, mechanical properties)
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1.1 � Estrutura de carroceria veicular .....................................................................
Figura 2.1 � Diagrama de fases do sistema Ferro-Carbono ...............................................
Figura 2.2 � Micrografia óptica da ferrita e austenita ........................................................
Figura 2.3 � Micrografia óptica da perlita ..........................................................................
Figura 2.4 � Formação da ferrita e cementita .....................................................................
Figura 2.5 � Curva de transformação isotérmica para aço eutetóide .................................
Figura 2.6 � Micrografia óptica da bainita .........................................................................
Figura 2.7 � Micrografia óptica da ferrita acicular .............................................................
Figura 2.8 � Micrografia óptica da martensita ...................................................................
Figura 2.9 � Micrografia óptica da cementita globulizada .................................................
Figura 2.10 � Micrografia óptica de aço microligado.........................................................
Figura 2.11 � Micrografia óptica de aço bifásico DP600...................................................
Figura 2.12 � Linha de recozimento em caixa ....................................................................
Figura 2.13 � Linha de recozimento contínuo ....................................................................
Figura 2.14 � Gráfico do ciclo de recozimento contínuo ...................................................
Figura 2.15 � Relação do teor de Mn com a tensão máxima e volume de martensita .......
Figura 2.16 � Gráfico representando fases presentes em aço bifásico (AT=760°C)...........
Figura 2.17 � Gráfico representando fases presentes em aço bifásico (AT=930°C)...........
Figura 2.18 � Vista em corte de barra transversal...............................................................
Figura 2.19 � Esquema simplificado de ferramenta de repuxar...........................................
Figura 2.20 � Curva tensão-deformação.............................................................................
Figura 2.21 � CLC gerada a partir do método de Nakajima................................................
Figura 2.22 � Space frame de automóvel............................................................................
Figura 2.23 � Elemento sujeito ao estado plano de tensões................................................
Figura 2.24 � Representação gráfica do critério de Von Mises..........................................
Figura 2.25 � Zonas de deformação na estrutura monobloco.............................................
Figura 2.26 � Simulação de crash test frontal....................................................................
Figura 3.1 � Componente travessa de reforço do assoalho dianteiro ..................................
Figura 3.2 � Modelo em CAD das peças posicionadas para processo de estampagem.......
Figura 4.1 � Diagrama tensão-deformação para aço microligado H260PD........................
Figura 4.2 � Diagrama tensão-deformação para aço microligado DP 800..........................
Figura 4.3 � Microscopia óptica do aço microligado H260PD............................................
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Figura 4.4 � Microscopia óptica do aço bifásico DP 800....................................................
Figura 4.5 � Afinamento de espessura da peça em aço microligado...................................
Figura 4.6 � Afinamento de espessura da peça em aço bifásico.........................................
Figura 4.7 � Análise de tensões da peça em aço microligado.............................................
Figura 4.8 � Análise de tensões da peça em aço bifásico....................................................
Figura 4.9 � Zonas de qualidade de conformação para peça em aço microligado...............
Figura 4.10 � Diagrama CLC para peça em aço microligado..............................................
Figura 4.11 � Zonas de qualidade de conformação para peça em aço bifásico...................
Figura 4.12 � Diagrama CLC para peça em aço bifásico....................................................
Figura 4.13 � Plataforma dianteira no software de simulação de impacto frontal..............
Figura 4.14 � Intrusões no habitáculo - peça em aço microligado......................................
Figura 4.15 � Intrusões no habitáculo - peça em aço bifásico............................................
Figura 4.16 � Deformações na travessa em aço microligado..............................................
Figura 4.17 � Deformações na travessa em aço bifásico.....................................................
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LISTA DE TABELAS
Tabela 4.1 � Análise química do aço microligado H260PD...............................................
Tabela 4.2 � Análise química do aço bifásico DP 800........................................................
Tabela 4.3 � Resultados do ensaio de tração do aço microligado H260PD........................
Tabela 4.4 � Resultados do ensaio de tração do aço bifásico DP 800.................................
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..........................................................................................................
1.1 OBJETIVO GERAL....................................................................................................
1.2 OBJETIVO ESPECÍFICO...........................................................................................
1.3 JUSTIFICATIVA .........................................................................................................
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ..................................................................................
2.1 LIGAS FERROSAS .....................................................................................................
2.2 AÇOS............................................................................................................................
2.3 POLIMORFISMO DO ELEMENTO FERRO ............................................................
2.4 SOLUÇÕES SÓLIDAS PARA O FERRO ................................................................
2.5 DIAGRAMA DE EQUILÍBRIO Fe-C ........................................................................
2.5.1 Principais microestruturas presentes no diagrama Fe-C ............................................
2.5.1.1 Austenita .....................................................................................................................
2.5.1.2 Ferrita .........................................................................................................................
2.5.1.3 Cementita....................................................................................................................
2.5.1.4 Perlita .........................................................................................................................
2.6 ALTERAÇÃO DA VELOCIDADE DE RESFRIAMENTO DAS LIGAS Fe-C ......
2.6.1 A cinética da formação da perlita .............................................................................
2.6.2 Curvas TTT..................................................................................................................
2.6.3 Fases metaestáveis .....................................................................................................
2.6.3.1 Bainita .........................................................................................................................
2.6.3.2 Ferrita acicular ..........................................................................................................
2.6.3.3 Martensita ....................................................................................................................
2.6.3.4 Cementita globulizada ................................................................................................
2.7 PRINCIPAIS TRATAMENTOS TÉRMICOS PARA AÇOS ....................................
2.7.1 Recozimento ................................................................................................................
2.7.2 Normalização ...............................................................................................................
2.7.3 Têmpera .......................................................................................................................
2.7.4 Revenido ......................................................................................................................
2.7.5 Austêmpera ..................................................................................................................
2.7.6 Martêmpera ..................................................................................................................
2.8 MECANISMOS DE ENDURECIMENTO DO AÇO....... ....................................
2.8.1 Refino de grão ........................................................................................................
2.8.2 Solução sólida .........................................................................................................
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2.8.3 Encruamento ..........................................................................................................
2.9 AÇOS PARA CHAPAS..........................................................................................
2.10 AÇOS FERRÍTICOS PARA ESTAMPAGEM.......................................................
2.10.1 Aços refosforados ...................................................................................................
2.10.2 Aços com efeito bake hardening............................................................................
2.10.3 Aços livres de intersticiais......................................................................................
2.10.4 Aços isotrópicos......................................................................................................
2.10.5 Aços microligados ..................................................................................................
2.11 AÇOS AVANÇADOS PARA ESTAMPAGEM....................................................
2.11.1 Aços bifásicos.........................................................................................................
2.11.2 Aços ferrítico-bainíticos..........................................................................................
2.11.3 Aços multifásicos TRIP..........................................................................................
2.11.4 Aços martensíticos..................................................................................................
2.11.5 Aços com plasticidade induzida por maclação (TWIP)..........................................
2.11.6 Aços de grão ultrafino.............................................................................................
2.12 AÇO BIFÁSICO.....................................................................................................
2.12.1 Rotas de fabricação.................................................................................................
2.12.1.1 Laminação a quente................................................................................................
2.12.1.2 Recozimento em caixa............................................................................................
2.12.1.3 Recozimento contínuo............................................................................................
2.12.2 Microestrutura.........................................................................................................
2.12.3 Parâmetros importantes na fabricação do aço bifásico...........................................
2.12.4 Endurecimento por trabalho a frio..........................................................................
2.12.5 Retorno elástico do material em peças estampadas................................................
2.13 A CONFORMAÇÃO MECÂNICA POR ESTAMPAGEM..................................
2.13.1 Parâmetros importantes das chapas para estampagem............................................
2.13.1.1 Tensão de escoamento............................................................................................
2.13.1.2 Tensão máxima de resistência...............................................................................
2.13.1.3 Alongamento..........................................................................................................
2.13.1.4 Coeficiente de encruamento....................................................................................
2.13.1.5 Coeficiente de anisotropia.......................................................................................
2.13.2 Tensão verdadeira e deformação verdadeira..........................................................
2.13.3 Curvas limites de conformação...............................................................................
2.14 CARROCERIA VEICULAR..................................................................................
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2.14.1 Engenharia simultânea............................................................................................
2.14.2 Os sistemas CAE....................................................................................................
2.14.3 Estado plano de tensões.........................................................................................
2.14.4 Estrutura monobloco...............................................................................................
2.14.5 Teste de impacto frontal.........................................................................................
3 MATERIAIS E MÉTODOS ...............................................................................
3.1 AÇO MICROLIGADO x AÇO BIFÁSICO...........................................................
3.2 PRODUTO.............................................................................................................
3.3 ENSAIOS E SIMULAÇÕES..................................................................................
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO .........................................................................
4.1 CARACTERIZAÇÃO DAS AMOSTRAS...........................................................
4.2 PROPRIEDADES MECÂNICAS.................................. ......................................
4.3 MICROSCOPIA ÓPTICA.....................................................................................
4.4 SIMULAÇÃO DE ESTAMPAGEM.....................................................................
4.4.1 Afinamento de espessura........................................................................................
4.4.2 Análise de tensões.......................................................................................... .......
4.4.3 Diagramas das curvas de conformação mecânica..................................................
4.5 SIMULAÇÃO DO TESTE DE IMPACTO FRONTAL........................................
5 CONCLUSÃO ......................................................................................................
REFERÊNCIAS ................................................................................................................
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1 INTRODUÇÃO
Sem sombra de duvida, o início da produção em série do automóvel no fim do século
XIX revolucionou o mundo. O novo meio de locomoção foi se tornando parte integrante da
vida das pessoas e um importante componente na dinâmica da economia mundial.
Para sua produção, a madeira era o material utilizado na carroceria. Já no inicio do
século XX se iniciou o emprego do aço, cujas propriedades mecânicas eram indiscutivelmente
superiores as da madeira. Essa substituição se deu pelo avanço das técnicas de manufatura,
que aos poucos possibilitaram aproveitar a versatilidade do aço. O modelo construtivo de
carroceria veicular passou a ser união por solda de componentes em aço estampado a frio.
Na segunda metade do século XX, houve um notável avanço no desenvolvimento de
aços com desempenho superior aos convencionais. A adição de elementos de liga elevou sua
resistência mecânica sem, no entanto comprometer significativamente sua estampabilidade.
Com a crise do petróleo da década de 1970, ocorreu uma demanda mundial pela redução no
consumo de combustíveis.
Essa redução viria pela racionalização de componentes, pela melhor eficiência térmica
dos motores e pela redução de massa dos veículos. Anos mais tarde, a área de segurança
veicular passou a exigir veículos cuja estrutura devesse preservar o habitáculo e deformar-se
progressivamente em pontos específicos. Os efeitos dessa combinação, como são sabidos,
permitiriam maximizar a segurança dos ocupantes. O uso do aço nessa aplicação ainda é
predominante e sobre ele caiu o fardo de propiciar o desenvolvimento de carrocerias com
menor massa, com regiões de deformação controlada e peças de elevada resistência mecânica.
O desafio tem se tornado mais critico à medida que itens de conforto e segurança tem
sido incorporados aos veículos. Os carros precisam ser mais leves, estando mais equipados.
Os componentes precisam ser manufaturáveis e atender às solicitações de trabalho.
Tal demanda levou a engenharia de materiais ao contínuo desenvolvimento de aços
com elevada resistência mecânica combinada a razoável estampabilidade e boa soldabilidade.
Na década de 1990, um consórcio mundial de siderúrgicas encampou o chamado projeto
ULSAB que indicou o uso de aços de alta resistência em vários componentes para carroceria
veicular visando melhorar a resistência estrutural e reduzir peso.
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14
Figura 1.1 � Estrutura da carroceria veicular. Fonte: Catálogo Arcelor-Mittal 2008.
1.1 OBJETIVO GERAL
Este trabalho visa estudar os aços avançados utilizados na confecção de produtos em
aço estampado a frio de carrocerias veiculares em substituição aos aços convencionais.
1.2 OBJETIVO ESPECÍFICO
Analisar a utilização do aço bifásico (conhecido comercialmente por dual phase) em
produtos estampados de carroceria veicular. Esta análise compreende a obtenção deste tipo de
aço, suas propriedades mecânicas, a relação entre sua microestrutura e seu desempenho e um
comparativo com um aço microligado. A comparação é feita por meio de simulações
computacionais.
1.3 JUSTIFICATIVA
O trabalho se justifica porque está em sintonia com um dos anseios da indústria
automobilística, já que a estampagem é o principal processo de conformação mecânica na
fabricação de componentes para carrocerias veiculares. Peças com melhores propriedades
mecânicas possibilitam em muitos casos, redução de massa do veículo além de resistir melhor
às solicitações de trabalho.
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15
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 LIGAS FERROSAS
Entre os materiais mais utilizados na engenharia, destacam-se as ligas ferrosas,
aquelas onde o ferro (Fe) é o principal constituinte. Esse predomínio se deve a abundância do
minério de ferro na crosta terrestre, à relativa facilidade de extração e processamento e à
versatilidade de utilização. O segundo constituinte principal das ligas ferrosas é o carbono
(C). Seu teor é que define o tipo de liga ferrosa. Em uma liga binária (dois elementos) de
Ferro e Carbono cujo teor deste último fica entre 0,008 a 2,14% é classificada como aço. De
2,11 a 6,7 % tem-se ferro fundido. Uma liga Fe-C com teores de carbono abaixo de 0,008% é
classificada como ferro comercialmente puro.
2.2 AÇOS
Comercialmente são raras as ligas ferrosas binárias. Além do ferro e do carbono, são
adicionados outros elementos de liga com o objetivo de melhorar propriedades mecânicas ou
tornar o material resistente à corrosão, por exemplo. Combinando-se teores de carbono e
outros elementos, além de tratamentos térmicos diversos, é possível obter tipos de aços para
as mais variadas aplicações. Há muitas classificações para os aços, mas a mais comum é
aquela que considera o teor de carbono.
Os aços com baixo teor de carbono, 0,25%C (em peso), normalmente possuem baixa
resistência mecânica e alta ductilidade. São utilizados em tubulações, componentes de
carrocerias veiculares e aplicações sem severa solicitação mecânica. Além disso, tem boa
usinabilidade e boa soldabilidade. Ao serem adicionados elementos de liga como por
exemplo, vanádio, nióbio e tungstênio, o aço tem apreciável melhora nas propriedades
mecânicas e passa a ser chamado de aço de alta resistência e baixa liga. Com o teor de
carbono entre 0,25 a 0,6% em peso, têm-se os aços com médio teor de carbono. São ligas
passivas de serem tratadas termicamente. Por isso, comparadas às ligas com baixo teor de
carbono, estas ligas apresentam maior resistência mecânica. A desvantagem se dá com
alguma perda de ductilidade e tenacidade. A soldabilidade também pode ser sacrificada.
Quanto maior o teor de carbono, maior a temperabilidade do material com possível
fragilização. Como principais aplicações têm-se rodas de trem, engrenagens, peças motrizes
de máquinas e componentes estruturais. Da mesma forma que nos aços de baixo teor de
carbono, a adição de elementos de liga pode alterar características do material. Os aços com
alto teor de carbono entre 0,6 a 1,4% C em peso são os mais duros e resistentes, porem menos
dúcteis entre os aços carbono. Normalmente são utilizados na confecção de ferramentas para
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16
operações de corte e conformação mecânica. Com a adição de elementos de liga apresentam
notável resistência mecânica e dureza.
2.3 POLIMORFISMO DO ELEMENTO FERRO
A variedade de ligas ferrosas e em particular dos aços se deve, entre outras razões pelo
polimorfismo do elemento ferro. À medida que o ferro sólido é aquecido seus átomos sofrem
rearranjos. Até 912°C o ferro apresenta a estrutura cristalina CCC (Cúbica de corpo centrado)
e é chamado de Fe á. Continuando a fornecer calor ao material, após 912°C a estrutura
cristalina passa a ser CFC (Cúbica de faces centradas) e é chamado Fe ã. Após 1394°C o ferro
volta a ser CCC e é chamado Fe ä. À temperatura de 1538°C o ferro passa para o estado
líquido e a 2875°C para o estado gasoso. Para a maioria das aplicações práticas os objetivos
principais de estudo são o Fe á e o Fe ã. Com a elevação da temperatura, aumenta-se a
vibração atômica e como consequência, o parâmetro de rede (dimensão da aresta da célula
unitária da estrutura cristalina).
A medida da densidade volumétrica da célula unitária é chamada de fator de
empacotamento (FE) e é dada pela fórmula: ܧܨ ൌ
n = número de átomos inteiros na célula.
Va = volume do átomo
Vc = volume da célula
Para as estruturas cúbicas, tem-se:
FE=0,68 para CCC
FE= 0,74 para CFC
FE=0,54 para CS (Cúbica simples)
2.4 SOLUÇÕES SÓLIDAS PARA O FERRO
Uma solução sólida é formada quando átomos de um elemento são adicionados a uma
matriz de outro elemento de maneira que a estrutura cristalina do material não seja alterada. O
material hospedeiro é chamado de solvente e o adicionado é chamado de soluto. A solução
sólida pode ser intersticial ou substitucional. A solução sólida intersticial se caracteriza pela
mistura dos materiais quando o soluto apresenta átomos de raio atômico pequeno se
comparados aos átomos de solvente. Assim, podem se alojar entre os átomos do material
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17
matriz. Na solução sólida substitucional, os raios atômicos dos elementos têm dimensões
semelhantes. Um átomo do soluto ocupa o mesmo lugar de um átomo de solvente.
Apesar da estrutura cristalina CFC possuir maior fator de empacotamento que a
estrutura CCC, os espaços intersticiais são maiores. A conclusão é que o ferro, quando
disposto em estrutura CFC apresenta maior solubilidade que quando em CCC. De acordo com
o descrito acima, à temperatura ambiente, o ferro possui estrutura CCC e a temperaturas mais
altas, estrutura CFC. Os espaços entre os átomos de ferro podem ser vãos tetraédricos ou vãos
octaédricos. Os vãos tetraédricos tem esse nome porque um átomo intersticial neste espaço
estará equidistante de 4 átomos de Ferro e os octaédricos de 8 átomos. O carbono não forma
solução sólida substitucional neste caso, pois seu raio atômico (0,71Å) é consideravelmente
menor que o do ferro (1,25Å). A solubilidade máxima do carbono no ferro à temperatura
ambiente é de apenas 0,008%. Mas à temperatura de 1147°C chega a 2,14%. Essa
porcentagem delimita a separação entre os dois principais produtos siderúrgicos.
2.5 O DIAGRAMA DE EQUILIBRIO Fe-C
Um estudo sobre os aços envolve necessariamente a compreensão do diagrama de
equilíbrio Fe-C (figura 2.1). O equilíbrio termodinâmico entre dois elementos ocorre quando
sua estrutura não se altera com o tempo. O diagrama Fe-C convencionalmente utilizado não
representa um diagrama de equilíbrio, pois apresenta uma fase metaestável em uma de suas
extremidades: a Cementita ou carbeto de Ferro (ܨଷܥሻ. O uso do diagrama com esta fase
metaestável é perfeitamente aceitável, pois a decomposição da cementita em ferro e grafita é
extremamente lenta.
Por meio do diagrama é possível obter inúmeras informações. O ferro de estrutura
CCC é chamado de ferrita e o de estrutura CFC é chamado de austenita. Variando-se o teor de
carbono e as temperaturas, são várias as estruturas resultantes possíveis. À temperatura
ambiente, a liga com mais de 0,008% de carbono possui uma estrutura de duas fases: Fe á e
cementita. A liga ferro-carbono, ao ser aquecida, tem na estrutura uma alteração polimórfica,
cujo resultado dependerá do teor de carbono e da temperatura final.
No estudo dos aços um ponto muito importante no diagrama Fe-C ocorre no teor de
0,76% de carbono. Este ponto é chamado de eutetóide.
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Figura 2.1- Diagrama de fases do sistema ferro
2.5.1 Principais microestruturas presentes no diagrama Fe
2.5.1.1 Austenita: é o ferro
727°C. Possui boa resistência mecânica e tenacidade e não é magnética.
tratamentos térmicos, os materiais
processo.
2.5.1.2 Ferrita: é o ferro
apreciável alongamento.
Figura 2.2: Micrografia
Diagrama de fases do sistema ferro-carbono. Fonte: Callister, 2006
Principais microestruturas presentes no diagrama Fe-C
Austenita: é o ferro ã (CFC). Nos aços carbono comuns é estável acima de
C. Possui boa resistência mecânica e tenacidade e não é magnética.
entos térmicos, os materiais devem ser aquecidos até o campo austenítico em seu
Ferrita: é o ferro á (CCC). Possui baixa dureza e resistência à tração, mas
: Micrografias ópticas da ferrita e austenita. Fonte: Chiaverini 2008.
18
. Fonte: Callister, 2006
(CFC). Nos aços carbono comuns é estável acima de
C. Possui boa resistência mecânica e tenacidade e não é magnética. Em muitos
devem ser aquecidos até o campo austenítico em seu
(CCC). Possui baixa dureza e resistência à tração, mas
Fonte: Chiaverini 2008.
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2.5.1.3 Cementita: é o carbeto de ferro
extremamente dura. Nos aços de alto carbono é responsável pela
ductilidade.
2.5.1.4 Perlita: é solução sólida composta de 88,5% de ferrita e 11,5% de cementita. É
a microestrutura que ocorre no teor de carbono do ponto eutetóide (0,76%C). A perlita possui
uma estrutura em lâminas alternadas de
propriedades mecânicas têm grandezas intermediárias entre as da ferrita e cementita.
A proporção de perlita num aço carbono cresce de 0% até 100% num aço eutetóide
(0,76%C) e depois decresce conforme o teor de c
carbono inferiores a 0,76% são chamadas de hipoeutetóides. Nessas ligas a microestrutura
presente é constituída de uma matriz de ferrita com porções de perlita. As ligas com teores de
carbono entre 0,76% e 2,14% s
ligas hipereutetóides é formada por perlita envolta por veios de cementita.
Conforme já mencionado, raramente ocorre na prática um aço constituído de uma liga
binária. A adição de elementos de lig
variações ocorrem nas extensões das fases e nos pontos que posicionam as curvas, sendo o
mais importante deles, o ponto eutetóide.
Figura 2.3 Micrografia óptica da perlita (as áreas claras correspondem à
Cementita: é o carbeto de ferro . Por causa do alto teor de carbono é
extremamente dura. Nos aços de alto carbono é responsável pela elevada dureza e baixa
Perlita: é solução sólida composta de 88,5% de ferrita e 11,5% de cementita. É
a microestrutura que ocorre no teor de carbono do ponto eutetóide (0,76%C). A perlita possui
uma estrutura em lâminas alternadas de ferrita e cementita (figura 2.4)
propriedades mecânicas têm grandezas intermediárias entre as da ferrita e cementita.
A proporção de perlita num aço carbono cresce de 0% até 100% num aço eutetóide
(0,76%C) e depois decresce conforme o teor de carbono é aumentado. As ligas com teores de
carbono inferiores a 0,76% são chamadas de hipoeutetóides. Nessas ligas a microestrutura
presente é constituída de uma matriz de ferrita com porções de perlita. As ligas com teores de
carbono entre 0,76% e 2,14% são chamadas de ligas hipereutetóides. A microestrutura das
ligas hipereutetóides é formada por perlita envolta por veios de cementita.
Conforme já mencionado, raramente ocorre na prática um aço constituído de uma liga
binária. A adição de elementos de liga pode causar variações no diagrama Fe
variações ocorrem nas extensões das fases e nos pontos que posicionam as curvas, sendo o
mais importante deles, o ponto eutetóide.
Micrografia óptica da perlita (as áreas claras correspondem à ferrita e as escuras à c
Fonte: Callister, 2006.
19
. Por causa do alto teor de carbono é
elevada dureza e baixa
Perlita: é solução sólida composta de 88,5% de ferrita e 11,5% de cementita. É
a microestrutura que ocorre no teor de carbono do ponto eutetóide (0,76%C). A perlita possui
(figura 2.4). Assim suas
propriedades mecânicas têm grandezas intermediárias entre as da ferrita e cementita.
A proporção de perlita num aço carbono cresce de 0% até 100% num aço eutetóide
arbono é aumentado. As ligas com teores de
carbono inferiores a 0,76% são chamadas de hipoeutetóides. Nessas ligas a microestrutura
presente é constituída de uma matriz de ferrita com porções de perlita. As ligas com teores de
ão chamadas de ligas hipereutetóides. A microestrutura das
Conforme já mencionado, raramente ocorre na prática um aço constituído de uma liga
a pode causar variações no diagrama Fe-C. Essas
variações ocorrem nas extensões das fases e nos pontos que posicionam as curvas, sendo o
ferrita e as escuras à cementita).
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2.6 EFEITOS DA ALTERAÇÃO NA VELOCIDADE DE RESFRIAMENTO DAS
LIGAS Fe-C
O diagrama de equilíbrio contempla apenas as variáveis temperatura e composição
química não considerando os tempos das reaç
resfriamento de uma liga austenitizada é de grande relevância, pois se for elevada, gerará
fases com outros tipos de microestruturas
da austenita levando em consideração
de curvas TTT (tempo, temperatura, transformação). Para cada composição química, há um
diferente gráfico. Nas transformações de fases, feitas de maneira lenta, o processo presente é o
da difusão atômica. A austenita dará origem à ferrita e c
já mencionado, constituída de lâminas alternadas de cement
ferrita varia de acordo com a taxa de resfriamento, sendo equiaxial quando formada em
resfriamento lento, passando a forma acicular quando formada sob resfriamento rápido. Os
contornos de grão são gerados preferencialmente em torno do grão austenítico.
2.6.1 A cinética da formação da p
A perlita nucleia nos contornos de grão austenítico, quando esta se apresenta de forma
homogênea. Quando ocorrem gradientes de concentração de carbono e partículas dispersas, a
perlita pode nuclear também no interior do
À medida que ocorre a nucleação de cementita, cai o teor de carbono nas regiões
vizinhas. O resultado final deste processo é a formação da
da fase ferrita, há mais segregação de carbono para a austenita
concomitantemente e fazem com que a microestrutura resultante seja a de lâminas alternadas
(figura 2.4).
Figura 2.4 �
EFEITOS DA ALTERAÇÃO NA VELOCIDADE DE RESFRIAMENTO DAS
O diagrama de equilíbrio contempla apenas as variáveis temperatura e composição
química não considerando os tempos das reações. No caso do Fe-C, a velocidade de
resfriamento de uma liga austenitizada é de grande relevância, pois se for elevada, gerará
outros tipos de microestruturas, não presentes no diagrama Fe-C. A decomposição
da austenita levando em consideração a variável tempo pode ser representada nos diagramas
de curvas TTT (tempo, temperatura, transformação). Para cada composição química, há um
diferente gráfico. Nas transformações de fases, feitas de maneira lenta, o processo presente é o
A austenita dará origem à ferrita e cementita. A perlita é uma fase, como
já mencionado, constituída de lâminas alternadas de cementita e ferrita. A morfologia da
errita varia de acordo com a taxa de resfriamento, sendo equiaxial quando formada em
resfriamento lento, passando a forma acicular quando formada sob resfriamento rápido. Os
contornos de grão são gerados preferencialmente em torno do grão austenítico.
A cinética da formação da perlita
A perlita nucleia nos contornos de grão austenítico, quando esta se apresenta de forma
homogênea. Quando ocorrem gradientes de concentração de carbono e partículas dispersas, a
perlita pode nuclear também no interior do grão austenítico.
À medida que ocorre a nucleação de cementita, cai o teor de carbono nas regiões
vizinhas. O resultado final deste processo é a formação da ferrita. Conforme há o crescimento
errita, há mais segregação de carbono para a austenita. Esses processos ocorrem
concomitantemente e fazem com que a microestrutura resultante seja a de lâminas alternadas
� Formação da ferrita e cementita (perlita). Fonte: Mei, 2010.
20
EFEITOS DA ALTERAÇÃO NA VELOCIDADE DE RESFRIAMENTO DAS
O diagrama de equilíbrio contempla apenas as variáveis temperatura e composição
C, a velocidade de
resfriamento de uma liga austenitizada é de grande relevância, pois se for elevada, gerará
C. A decomposição
a variável tempo pode ser representada nos diagramas
de curvas TTT (tempo, temperatura, transformação). Para cada composição química, há um
diferente gráfico. Nas transformações de fases, feitas de maneira lenta, o processo presente é o
ementita. A perlita é uma fase, como
ita e ferrita. A morfologia da
errita varia de acordo com a taxa de resfriamento, sendo equiaxial quando formada em
resfriamento lento, passando a forma acicular quando formada sob resfriamento rápido. Os
contornos de grão são gerados preferencialmente em torno do grão austenítico.
A perlita nucleia nos contornos de grão austenítico, quando esta se apresenta de forma
homogênea. Quando ocorrem gradientes de concentração de carbono e partículas dispersas, a
À medida que ocorre a nucleação de cementita, cai o teor de carbono nas regiões
errita. Conforme há o crescimento
. Esses processos ocorrem
concomitantemente e fazem com que a microestrutura resultante seja a de lâminas alternadas
(perlita). Fonte: Mei, 2010.
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2.6.2 Curvas TTT
O diagrama de curvas de transformações isotérmicas representa as transformações de
fases que ocorrem em uma liga com uma determinada composição química, observando a
temperatura e tempo de transformação. No caso das ligas ferrosas, esta é austenitizada, so
um resfriamento rápido e então é mantida a uma temperatura constante a fim de se obter uma
microestrutura objetivo. Uma vez iniciado o processo de formação de uma fase, para se obter
outra fase é necessário novamente austenitizar a liga.
Há também o diagrama de transformações por resfriamento contínuo
representa a maior parte das transformações realizadas na prática. Neste tipo de
transformação, a liga aquecida sofre resfriamento a uma taxa controlada para a obtenção das
microestruturas desejadas.
Figura 2.5 - Curva de transformação isotérmica para aço eutetóide (0,8% C).
O diagrama de curvas de transformações isotérmicas representa as transformações de
fases que ocorrem em uma liga com uma determinada composição química, observando a
temperatura e tempo de transformação. No caso das ligas ferrosas, esta é austenitizada, so
um resfriamento rápido e então é mantida a uma temperatura constante a fim de se obter uma
microestrutura objetivo. Uma vez iniciado o processo de formação de uma fase, para se obter
outra fase é necessário novamente austenitizar a liga.
agrama de transformações por resfriamento contínuo
representa a maior parte das transformações realizadas na prática. Neste tipo de
transformação, a liga aquecida sofre resfriamento a uma taxa controlada para a obtenção das
Curva de transformação isotérmica para aço eutetóide (0,8% C). Fonte: Callister, 2006.
21
O diagrama de curvas de transformações isotérmicas representa as transformações de
fases que ocorrem em uma liga com uma determinada composição química, observando a
temperatura e tempo de transformação. No caso das ligas ferrosas, esta é austenitizada, sofre
um resfriamento rápido e então é mantida a uma temperatura constante a fim de se obter uma
microestrutura objetivo. Uma vez iniciado o processo de formação de uma fase, para se obter
(figura 2.5), que
representa a maior parte das transformações realizadas na prática. Neste tipo de
transformação, a liga aquecida sofre resfriamento a uma taxa controlada para a obtenção das
Callister, 2006.
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2.6.3 Fases metaestáveis
As fases metaestáveis não estão presentes no diagrama Fe
ao aumento na taxa de resfriamento da austenita. As fases metaestáveis são também
responsáveis pela grande variedade dos aços.
2.6.3.1 Bainita
A região da curva TTT mais próximo do eixo das ordenadas é conhecida por nariz ou
joelho. Quando um aço carbono é resfriado rapidamente para temperaturas abaixo do nariz da
curva TTT e mentido nessa temperatura, se forma a estrutura
feixes de ferrita com carbonetos entre estes feixes
de grão austenítico. As placas que formam a
com o auxílio da microscopia eletrônica. Os carbonetos da
nanômetros. A transformação bainítica concorre com a perlítica. Observand
TTT, se o resfriamento inicial não levar a uma temperatura abaixo do �nariz� da curva (para
posterior transformação isotérmica) a estrutura resultante será perlita. A
resistência mecânica que a perlita.
Figura 2.6
2.6.3.2 Ferrita acicular
Os mecanismos de formação da
diferença entre ambas em relação à microestrutura é que a ferrita acicular
em inclusões não metálicas e no interior do grão.
Fases metaestáveis
As fases metaestáveis não estão presentes no diagrama Fe-C e sua formação se deve
ao aumento na taxa de resfriamento da austenita. As fases metaestáveis são também
responsáveis pela grande variedade dos aços.
A região da curva TTT mais próximo do eixo das ordenadas é conhecida por nariz ou
no é resfriado rapidamente para temperaturas abaixo do nariz da
curva TTT e mentido nessa temperatura, se forma a estrutura bainita. A bainita é formada por
feixes de ferrita com carbonetos entre estes feixes (figura 2.6). A bainita nucleia no contorno
grão austenítico. As placas que formam a bainita são tão finas que só se pode observá
com o auxílio da microscopia eletrônica. Os carbonetos da bainita têm dimensões na escala de
nanômetros. A transformação bainítica concorre com a perlítica. Observand
TTT, se o resfriamento inicial não levar a uma temperatura abaixo do �nariz� da curva (para
posterior transformação isotérmica) a estrutura resultante será perlita. A bainita possui maior
resistência mecânica que a perlita.
Figura 2.6 - Micrografia óptica da bainita. Fonte: Mei, 2010.
cicular
Os mecanismos de formação da bainita e da ferrita acicular são muito semelhantes. A
diferença entre ambas em relação à microestrutura é que a ferrita acicular (figura 2.7
em inclusões não metálicas e no interior do grão.
22
C e sua formação se deve
ao aumento na taxa de resfriamento da austenita. As fases metaestáveis são também
A região da curva TTT mais próximo do eixo das ordenadas é conhecida por nariz ou
no é resfriado rapidamente para temperaturas abaixo do nariz da
ainita é formada por
ainita nucleia no contorno
ainita são tão finas que só se pode observá-las
ainita têm dimensões na escala de
nanômetros. A transformação bainítica concorre com a perlítica. Observando o diagrama
TTT, se o resfriamento inicial não levar a uma temperatura abaixo do �nariz� da curva (para
ainita possui maior
errita acicular são muito semelhantes. A
(figura 2.7) nucleia
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Figura 2.7 - Micrografia óptica da f
2.6.3.3 Martensita
A martensita é uma fase metaestável muito importante, pois entre todas, é a que
apresenta a maior resistência mecânica e dureza. É obtida a partir do resfriamento brusco da
austenita (por exemplo, na água). A velocidade de resfriamento deve ser rápida de maneira
que a difusão não tenha tempo de se processar. A transformação é efetuada por cis
A microestrutura da martensita tem a forma de agulhas
TCC, tetragonal de corpo centrado. Entre os átomos de ferro, nos vértices, estão os átomos de
carbono. Isso faz com que a célula unitária esteja sempre tensionada
dureza e resistência da martensita. Tanta dureza traz consigo fragilidade que é atenuada
através do tratamento térmico de Revenimento.
Figura 2.8 - M
Micrografia óptica da ferrita acicular. Fonte: Mei, 2010
artensita é uma fase metaestável muito importante, pois entre todas, é a que
resistência mecânica e dureza. É obtida a partir do resfriamento brusco da
austenita (por exemplo, na água). A velocidade de resfriamento deve ser rápida de maneira
que a difusão não tenha tempo de se processar. A transformação é efetuada por cis
artensita tem a forma de agulhas (figura 2.8). A estrutura cristalina é
TCC, tetragonal de corpo centrado. Entre os átomos de ferro, nos vértices, estão os átomos de
carbono. Isso faz com que a célula unitária esteja sempre tensionada. Isso pode explicar
artensita. Tanta dureza traz consigo fragilidade que é atenuada
através do tratamento térmico de Revenimento.
Micrografia óptica da martensita. Fonte: Callister, 2006.
23
artensita é uma fase metaestável muito importante, pois entre todas, é a que
resistência mecânica e dureza. É obtida a partir do resfriamento brusco da
austenita (por exemplo, na água). A velocidade de resfriamento deve ser rápida de maneira
que a difusão não tenha tempo de se processar. A transformação é efetuada por cisalhamento.
. A estrutura cristalina é
TCC, tetragonal de corpo centrado. Entre os átomos de ferro, nos vértices, estão os átomos de
. Isso pode explicar a alta
artensita. Tanta dureza traz consigo fragilidade que é atenuada
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2.6.3.4 Cementita globulizada
A cementita globulizada se forma quando uma liga de
bainítica é aquecida a uma temperatura ligeiramente abaixo da temperatura do ponto eutetóide
por um período relativamente longo (por exemplo, a 700
lamelas alternadas de ferrita e cementita dão lugar a uma microestrutura de matriz ferrítica
com partículas de cementita em formato semelhante á de esferas
transformação ocorre por difusão adicional de carbono. A presença
confere ao material excelente ductilidade sendo, portanto, uma microestrutura apreciável para
aços de fácil usinagem.
Figura 2.9 � Micrografia óptica da matriz ferrítica com partículas de cementita
2.7 PRINCIPAIS TRATAMENTOS TÉRMICOS PARA AÇOS
Após o estudo das fases, convém conhecer os principais tratamentos térmicos
empregados nos aços. Os tratamentos térmicos constituem o meio mais comum para se alterar
uma microestrutura. As microestruturas costumam ser alteradas quando se objetiva a melhoria
de características de um material, como por exemplo: resistência, dureza, resiliência,
tenacidade, ductilidade, etc.
2.7.1 Recozimento
O recozimento visa reduzir a dureza do aço e melho
tipos de recozimento são: pleno, que consiste em austenitizar o aço e em seguida resfria
lentamente. A temperatura do tratamento costuma ser de aproximadamente 50
lobulizada
A cementita globulizada se forma quando uma liga de microestrutura
bainítica é aquecida a uma temperatura ligeiramente abaixo da temperatura do ponto eutetóide
por um período relativamente longo (por exemplo, a 700°C por entre 18
lamelas alternadas de ferrita e cementita dão lugar a uma microestrutura de matriz ferrítica
com partículas de cementita em formato semelhante á de esferas (figura 2.9)
transformação ocorre por difusão adicional de carbono. A presença de cementita globulizada
confere ao material excelente ductilidade sendo, portanto, uma microestrutura apreciável para
Micrografia óptica da matriz ferrítica com partículas de cementita globulizada.
Fonte: Callister, 2006.
PRINCIPAIS TRATAMENTOS TÉRMICOS PARA AÇOS
Após o estudo das fases, convém conhecer os principais tratamentos térmicos
empregados nos aços. Os tratamentos térmicos constituem o meio mais comum para se alterar
microestruturas costumam ser alteradas quando se objetiva a melhoria
de características de um material, como por exemplo: resistência, dureza, resiliência,
visa reduzir a dureza do aço e melhorar a usinabilidade. Os principais
tipos de recozimento são: pleno, que consiste em austenitizar o aço e em seguida resfria
lentamente. A temperatura do tratamento costuma ser de aproximadamente 50
24
microestrutura perlítica ou
bainítica é aquecida a uma temperatura ligeiramente abaixo da temperatura do ponto eutetóide
C por entre 18 e 24 horas). As
lamelas alternadas de ferrita e cementita dão lugar a uma microestrutura de matriz ferrítica
(figura 2.9). Esta
de cementita globulizada
confere ao material excelente ductilidade sendo, portanto, uma microestrutura apreciável para
globulizada.
Após o estudo das fases, convém conhecer os principais tratamentos térmicos
empregados nos aços. Os tratamentos térmicos constituem o meio mais comum para se alterar
microestruturas costumam ser alteradas quando se objetiva a melhoria
de características de um material, como por exemplo: resistência, dureza, resiliência,
rar a usinabilidade. Os principais
tipos de recozimento são: pleno, que consiste em austenitizar o aço e em seguida resfria-lo
lentamente. A temperatura do tratamento costuma ser de aproximadamente 50°C acima da
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25
linha A3 (no diagrama Fe-C é a linha entre as fases á+ã e austenita); subcrítico, quando a
temperatura fica abaixo da linha A1 (linha no diagrama Fe-C entre á+cementita e cementita),
normalmente empregado para recuperar a ductilidade de um aço encruado; esferoidização,
feito a temperaturas próximas da linha A1 por tempo prolongado, dando origem à formação
da cementita globulizada, que confere excelente usinabilidade ao material.
2.7.2 Normalização
Consiste em austenitizar o aço e depois resfriar ao ar. Tem por objetivo aliviar tensão e
tornar a estrutura do material mais homogênea.
2.7.3 Têmpera
A têmpera ocorre quando se aquece um aço normalmente de médio e alto carbono até
sua completa austenitização seguido de um resfriamento brusco para a formação da
microestrutura martensítica. O resfriamento pode ser ao ar, em água ou em óleo. A escolha
depende da composição da liga
2.7.4 Revenido
O revenido é o processo precedido da têmpera e é aplicado para aumentar a tenacidade
do material e, portanto reduzir sua fragilidade. Deve-se aquecer o aço temperado à alta
temperatura durante um período curto para se iniciar a reação á + cementita.
2.7.5 Austêmpera
Consiste em temperar o aço do campo austenítico até uma temperatura abaixo do
�nariz� da curva TTT sem no entanto, atingir o campo martensítico. Esta temperatura deve ser
mantida até que a formação da bainita seja concluída.
2.7.6 Martêmpera
Tem por objetivo endurecer a liga evitando as trincas que muitas vezes aparecem nas
têmperas convencionais. Na Martêmpera, o resfriamento é interrompido por alguns instantes a
uma temperatura pouco superior à temperatura de início da transformação martensítica. Desta
forma são reduzidos substancialmente os gradientes térmicos.
Além dos tratamentos térmicos existem também os chamados tratamentos termo
químicos, cujo objetivo principal é aumentar a dureza e a resistência ao desgaste da superfície
do material mantendo o núcleo dúctil. Os processos ocorrem com a formação de uma camada
por meio da difusão de elementos químicos, como por exemplo: carbono (cementação),
nitrogênio (nitretação), boro (boretação) ou a combinação de mais elementos (carbono e
nitrogênio = carbonitretação).
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26
2.8 MECANISMOS DE ENDURECIMENTO DO AÇO
Os tratamentos térmicos são realizados para melhorar algumas propriedades
mecânicas do material. Essa melhora se deve às alterações que estes tratamentos provocam na
microestrutura. A têmpera promove a aparição de uma fase metaestável de estrutura
tetragonal de corpo centrado (martensita) no lugar da estrutura CCC tendo os átomos de
carbono posicionados de tal maneira que a célula fica tensionada. Esta disposição torna esta
estrutura extremamente resistente. A fim de melhorar a resistência do material, conservando
as características da fase original, têm-se as seguintes possibilidades:
2.8.1 Refino de grão: um material com grãos menores possui maior resistência
mecânica que o mesmo material com grãos maiores. O refino do grão é possível através de
parâmetros no tempo e na temperatura nas fases de laminação a quente e por meio de
tratamentos térmicos. A adição de elementos de liga também pode favorecer o refino do grão.
2.8.2 Solução sólida: a solução sólida é obtida através da adição de elementos de liga
ao material original. Os elementos adicionados são átomos intersticiais (que se alojam nos
vãos entre os átomos do solvente) ou substitucionais (de características semelhantes aos do
solvente, se alojam em espaços vazios na microestrutura). A presença destes elementos não
altera a fase do material.
2.8.3 Encruamento: pela deformação a frio, um material sofre um acréscimo no
número de defeitos de linha (discordâncias). Este processo torna as discordâncias dispostas de
tal maneira que sua movimentação torna-se bastante prejudicada o que contribui para o
aumento da resistência do material.
2.9 AÇOS PARA CHAPAS
Chapas finas de aço são os produtos planos com espessura entre 0,3 e 6 mm e largura
igual ou superior a 300 mm. Os aços para chapas normalmente são dúcteis o que proporciona
facilidade para a conformação. Além disso, apresentam boa soldabilidade e superfície sem
defeitos.
As chapas são produzidas a partir da laminação a quente ou a frio. Os produtos
laminados a frio são na verdade, produtos acabados confeccionados de produtos laminados a
quente, que atingem certa espessura a quente e chegam à espessura final por laminação a frio.
A laminação a frio confere ao material excelente acabamento superficial. O processo de
laminação a frio traz consigo o encruamento do material que é o endurecimento pelo trabalho
a frio. Após a laminação a frio, as chapas são submetidas ao tratamento de recozimento que
pode ser em caixa ou contínuo.
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27
No recozimento em caixa, as bobinas são colocadas em fornos vedados e deixadas a
temperaturas abaixo da temperatura do eutetóide por várias horas. No recozimento contínuo a
tira de aço é mantida desbobinada tendo assim garantida a uniformidade das temperaturas
aplicadas em todo o material.
Quando se necessita de maior resistência à corrosão, é aplicado um tratamento
superficial ao material. Têm sido desenvolvidos inúmeros tipos de proteção superficial de
acordo com a utilização do material. Esses revestimentos têm de fazer seu papel e conservar a
baixa rugosidade e, portanto, manter o apreciável acabamento superficial. Podem ser por
imersão em tanques com metal líquido (metal que constituirá a camada protetora),
eletrodeposição e outros.
Entre os vários processos de revestimento superficial é possível destacar a zincagem,
onde o zinco, por eletrodeposição formará a camada protetora do aço. A chapa é ionizada
negativamente e o zinco líquido é ionizado positivamente neste processo. O zinco protege o
aço contra o ataque corrosivo de vários meios e, sendo eletroquimicamente mais ativo que o
aço, atua como protetor galvânico. Há ainda o revestimento por: estanho (eletrodeposição ou
imersão a quente) muito utilizado para embalagem de alimentos por não ser tóxico e
apresentar aspecto decorativo; alumínio, quando se objetiva resistência ao calor e à corrosão;
anodização, aplicada a um aço galvanizado com excelente resistência à corrosão, ao desgaste,
ao aquecimento e à abrasão sendo processada a partir da imersão das peças acabadas num
eletrólito simples e pela aplicação de uma voltagem durante até 10 minutos; a fosfatização
antecede a pintura e se constitui de um tratamento onde o aço é imerso em ácido fosfórico,
fazendo com que a superfície fique convertida numa camada integral de um composto
fosfatado cristalino insolúvel; pintura, feita sobre um aço galvanizado confere ao material
maior durabilidade e efeito decorativo.
A condição de superfícies das chapas tem grande importância nas propriedades de
serviço, em especial na conformação mecânica por estampagem e em processos de pintura. A
qualidade da superfície é caracterizada pelos tratamentos químicos, pela lubrificação e pela
topografia (rugosidade).
2.10 AÇOS FERRÍTICOS PARA ESTAMPAGEM
Os aços ferríticos são aqueles cuja matriz da microestrutura é a ferrita. Muito se
avançou no desenvolvimento de aços de fases complexas, mas os ferríticos também tiveram
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28
interessantes progressos atendendo satisfatoriamente várias aplicações. O aço ferrítico básico
é o composto somente de ferro e carbono, com baixo teor de carbono e de intersticiais.
Apresenta boa soldabilidade e conformabilidade e baixa resistância mecânica.
Dentre os novos tipos de aços ferríticos, é possível destacar os seguintes tipos:
2.10.1 Aços Refosforados: a solução sólida pode ser considerada um meio barato de
aumentar a resistência mecânica do aço sem grande perda de estampabilidade. O fósforo
geralmente é visto como impureza e seu teor é objetivo de redução tanto quanto possível.
Testes têm demonstrado que em teores pequenos, o fósforo aumenta a resistência mecânica
com pouca perda na ductilidade. A adição deste elemento traz o aumento no coeficiente de
anisotropia. Na prática o limite do teor de P está em torno de 0,1%. Acima disso, a tendência
é o material se tornar frágil. Os aços refosforados têm sido muito utilizados em painéis
externos de porta de automóveis. O acréscimo na resistência mecânica traduz-se em
resistência ao vinco, qualidade desejável numa peça suscetível a pequenos choques.
2.10.2 Aços com efeito bake hardening: são aços com a característica de endurecerem
quando deformados e posteriormente expostos sob temperaturas da ordem de 170 °C por
algumas horas. São aços originalmente com baixo limite de escoamento (200 MPa) mas que
têm um acréscimo de 40 MPa após o tratamento térmico. Caso a peça venha a ser pintada, a
temperatura da estufa e o posterior envelhecimento já serão suficientes para provocar o efeito
de endurecimento. A ductilidade do material após o processo é bastante afetada, mas como a
peça já foi estampada, isso não prejudica o processo.
2.10.3 Aços livres de intersticiais: são chamados de aços IF do inglês: Intertitial free.
São muito utilizados em painéis de carrocerias veiculares. Apresentam excelente
estampabilidade devido à presença quase nula de intersticiais (C e N menores que 0,003 e
0,004% respectivamente). Essa condição proporciona baixo limite de escoamento e alta
resistência à redução de espessura sob deformação a frio. O alongamento destes aços chega a
37% e coeficiente de anisotropia na ordem de 1,9.
2.10.4 Aços isotrópicos: chapas com alta resistência mecânica tendem a ter maior grau
de anisotropia. O alto grau de anisotropia favorece a irregularidade nas extremidades das
peças submetidas à operação de repuxo. Quanto mais isotrópico for o material, menos
irregular será a linha do contorno externo da peça estampada. Os aços isotrópicos são obtidos
por meio de condições específicas: nas temperaturas de acabamento da laminação de tiras a
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29
quente; nos graus de deformação da laminação a frio; na temperatura de recristalização;
tratamento térmico de normalização; micro adições de Titânio (Ti).
2.10.5 Aços microligados: são materiais utilizados com muito sucesso em várias
aplicações na indústria automobilística, fabricados a partir de micro adições de elementos de
liga, sendo os mais comuns, Nióbio (Nb), Titânio (Ti) e Vanádio (V). Esses elementos
promovem o endurecimento por refino de grão e precipitação. Podem fixar os átomos
intersticiais solubilizados em precipitados. Nos ciclos de recozimento em caixa e contínuo, os
elementos de liga atrasam a cinética da recristalização da ferrita o que proporciona refino do
grão. O coeficiente de anisotropia também sofre um decréscimo o que significa uma pequena
diminuição na estampabilidade.
Os aços microligados podem apresentar em sua microestrutura, ferrita acicular, que ao
contrário da ferrita poligonal, tem discordâncias que aumentam sua resistência mecânica.
Figura 2.10 - Micrografia óptica de aço microligado. Fonte: Catálogo Arcelor Mittal, 2008.
2.11 AÇOS AVANÇADOS PARA ESTAMPAGEM
Além dos ferríticos, houve o avanço no desenvovimento de outros tipos de aços por
meio do conhecimento das características de cada uma das fases possíveis combinado ao
estudo dos efeitos dos elementos de liga. A microestrutura com várias fases se revelou uma
opção muito interessante para várias aplicações.
2.11.1 Aços bifásicos: o aço bifásico é aquele que possui duas fases em sua
microestrutura: uma matriz, dúctil e uma dispersa, dura. Normalmente os aços bifásicos
possuem 80 a 85% de ferrita poligonal e 15 a 20% de martensita dura. A fase dura é isolada e
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30
fica ao lado dos contornos de grão da fase ferrítica. Essa microestrutura apresenta
características que lhe asseguram boa conformabilidade. Não há patamar de limite de
escoamento como ocorre nos aços ferríticos comuns. O coeficiente de encruamento costuma
ser alto (0,2 a 0,3) e tem considerável limite de resistência (entre 620 e 655 MPa). O
alongamento normalmente fica acima de 27%. Assim, o aço bifásico possui estampabilidade
próxima a um aço comum de baixo carbono e resistência mecânica similar (às vezes superior)
a um aço microligado.
Figura 2.11 � Microscopia óptica de aço bifásico DP 600 (as ilhas claras são de martensita envoltas
pela matriz ferrítica). - Fonte: Catálogo Arcelor, 2008.
2.11.2 Aços ferrítico-bainíticos: são aços também de duas fases, mas com bainita no
lugar de martensita. Esses aços possuem menores pontos de concentração de tensões. A
ductilidade é superior a dos bifásicos com alguma perda na resistência mecânica. Devido à
tenacidade e ductilidade são muito utilizados na fabricação de rodas de automóveis.
2.11.3 Aços multifásicos TRIP (Transformation-induced-plasticity ou plasticidade
induzida por transformação): são aços onde a austenita retida transforma-se em martensita à
temperatura ambiente, sob deformação. São fabricados de maneira a apresentar 20% de
austenita retida após o processo de recozimento contínuo. São aços de fabricação e
processamento complexos, dado o desafio de conservar considerável quantidade de austenita
à temperatura ambiente e a variação na ductilidade durante a conformação a frio. Esses aços
são muito utilizados em componentes que tem relação direta com a segurança veicular.
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31
2.11.4 Aços martensíticos: a martensita é a microestrutura predominante. O limite de
resistência é ajustado pelo teor de C. São aços utilizados no processo de estampagem a
quente. O aço deve ser auto-temperável, e utiliza o elemento químico boro (B). O processo de
estampagem a quente se inicia com a proteção da superfície da tira para descarbonetação e
oxidação por um revestimento a base de AlSi. O material desbobinado entra num forno
contínuo de 23 m de comprimento, saindo do mesmo, sete minutos depois, a temperaturas
entre 850 e 950°C. Então ele é estampado e resfriado na própria matriz. As peças saem com
resistência extrema chegando a ordem de 1500 MPa. Um dos tipos mais utilizados atualmente
é o aço 22MnB5 com resistência mecânica de 1050 MPa.
2.11.5 Aços com plasticidade induzida por maclação (TWIP): se utilizam da
deformação por reorientação de regiões macladas. Possuem alta concentração de manganês e
considerável Silício e Alumínio. São aços austeníticos, antes e após a deformação plástica. O
efeito TWIP aumenta simultaneamente resistência mecânica e ductilidade.
2.11.6 Aços de grão ultrafino: formam uma categoria de desenvolvimento ainda
recente. Os aços de grão ultrafino (tamanho de 1ìm) exigem técnicas complexas para
fabricação. O ganho de resistência mecânica é considerável, mas a perda de ductilidade é algo
que ainda precisa ser atenuada.
2.12 AÇO BIFÁSICO
Na produção dos aços bifásicos, a matriz ferrítica se forma em primeiro lugar,
enriquecendo a austenita remanescente com C e outros elementos de liga. Assim, a austenita
ganha temperabilidade sob temperaturas mais baixas. O desenvolvimento dos primeiros aços
bifásicos se deu na década de 70 onde o material era obtido diretamente do laminador de tiras
a quente.
2.12.1 Rotas de fabricação
2.12.1.1 Laminação a quente: para chapas com espessuras entre 2 e 5 mm, utiliza-se a
laminação de tiras a quente. Neste processo, placas de aço com espessura entre 150 e 200 mm
são aquecidas a 1250 °C e laminadas a quente até a espessura desejada. A seguir sofrem
resfriamento rápido de jatos d�água até uma temperatura entre 200 e 600°C. A definição desta
temperatura se dá pela composição química do aço. A seguir a tira é bobinada e resfriada
lentamente ao ar. Outro modo de obtenção de aço bifásico é pelo recozimento intercrítico, ou
seja, após a laminação a quente é inserido o tratamento de recozimento dentro da zona de
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32
coexistência entre ferrita e austenita no diagrama de equilibrio. A vantagem deste processo
em relação ao anterior está na menor utilização de elementos de liga, já que o controle das
temperaturas envolvidas é mais refinado. Entretanto o custo de produção pode sofrer
acréscimo por causa da adição da instalação para recozimento.
Chapas com espessura menor que 2 mm tem de ser laminadas a frio para então
passarem por recozimento intercrítico.
Para chapas laminadas a frio, o recozimento pode ser em caixa ou contínuo.
2.12.1.2 Recozimento em caixa: neste tratamento, bobinas fechadas são dispostas em
instalações cilíndricas (caixas) num ciclo que varia de 2 a 3 dias. As bobinas são empilhadas
sobre um eixo vertical. As caixas são estanques e ocorre a ação de gases, principalmente do
gás HNX (96% de nitrogênio e 4% de hidrogênio). Os gases têm como funções:
Garantir a proteção do metal contra oxidação;
Transmitir o calor por convecção;
Garantir a retirada dos resíduos dos óleos provenientes da laminação.
Na figura 2.12 está ilustrada uma típica instalação de recozimento em caixa.
Figura 2.12 � Linha de recozimento em caixa. Fonte: Catálogo Arcelor-Mittal 2008.
2.12.1.3 Recozimento contínuo: uma dos problemas encontrados no recozimento em
caixa é o gradiente de temperaturas existente entre a periferia e o centro da bobina. Isso
dificulta a homogeneidade das características do material. Desta maneira o processo
consagrado na fabricação de aços bifásico é o recozimento contínuo.
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33
Figura 2.13 � Linha de recozimento contínuo. Fonte: Catálogo Arcelor-Mittal, 2008.
No processo do recozimento contínuo, o tratamento é aplicado à tira desbobinada. As
várias etapas são realizadas de maneira a garantir a homogeneidade das características do
material: microestrutura e propriedades mecânicas. Isso é feito com a passagem de cada
trecho da tira por todas as etapas do processo.
A seguir a representação gráfica do ciclo de recozimento contínuo para o aço bifásico:
Figura 2.14 � Gráfico do ciclo de recozimento contínuo. Adaptado de Girina, 2003.
Inicialmente o material é aquecido até sua austenitização. Nos aços bifásicos isso gira
em torno de 800 °C. Após o aquecimento o material é mantido nesta temperatura (encharque)
por 50 segundos. O tempo nesta etapa é um parâmetro muito importante, pois está relacionado
com a recristalização do material. Após o encharque, o material sofre o resfriamento lento
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34
para a formação da ferrita. A taxa de resfriamento é de 10 °C/s. Quando o material chega a
675 °C ele sofre o resfriamento brusco (à taxa de 100 °C/s). Ao final desta etapa, a austenita
remanecente se transforma em martensita. O material então é mantido a cerca de 400 °C por
cerca de 2 minutos para estabilização da microestrutura. Após isso é resfriado até 160 °C sem
qualquer transformação.
Comparado ao recozimento em caixa, é um tratamento mais caro por causa da
complexidade da instalação. Em troca permite alta produtividade.
2.12.2 Microestrutura
A microestrutura do aço bifásico é formada por ilhas de martensita dispersas numa
matriz de ferrita poligonal. A tensão de resistência do material é dada por: ߪ = ெ ߪெ + ி ߪி
A tensão de resistência é resultado da soma da fração volumétrica de cada fase
multiplicada por sua tensão de resistência. Os parâmetros M e F referem-se a martensita e
ferrita respectivamente. Aumentando a fração de martensita, tem-se um aumento na
resistência, mas com perda na dutilidade. A apreciável conformabilidade do aço bifásico está
relacionada com as características da microestrutura.
Os aços bifásicos ao contrário de aços ferríticos, não possuem ponto de escoamento
definido. Isso se dá pela diferença de estrutura cristalina entre as duas fases. A martensita tem
estrutura tetragonal de corpo centrado e a ferrita, cúbica de corpo centrado. Na transformação
da austenita em martensita, ocorre uma expansão volumétrica da porção resultante, pois a
célula austenítica sofre um aumento de tamanho num dos eixos do sistema cristalino. Tal
distensão provoca a formação de discordâncias livres na matriz ferrítica no entorno da ilha de
martensita. São essas discordâncias livres que facilitaram o deslizamento entre as fases nas
operações de conformação mecânica. Por isso, busca-se o quanto possível, que as ilhas de
martensita não fiquem interligadas.
Vale a pena mencionar que, quando a ferrita passa do regime elástico para o regime
plástico, a porção de martensita ainda se encontra no regime elástico.
Quanto mais fina a martensita dispersa maior o perímetro entre esta fase e a ferrita. Foi
relatada a correlação entre o comprimento do perímetro entre as fases ferrita e martenita e a
melhor absorção de energia em deformações à taxa de 2 x 10³���ଵ . De acordo com Senuma
[2001], com maior perímetro entre as fases, maior o escomento entre elas.
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35
2.12.3 Parâmetros importantes na fabricação do aço bifásico
Desde a primeira geração dos aços bifásicos até os dias atuais, tem ocorrido um
contínuo avanço nas técnicas para obtenção desses materiais. No processo do recozimento
contínuo a adição de elementos de liga e o controle das temperaturas exerce grande influência
no resultado. No início, empregava-se o Molibdênio para garantir a formação de martensita
durante o resfriamento lento da bobina a partir de uma temperatura de bobinamento alta.
Como este elemento é relativamente caro devido sua disponibilidade restrita,
procurou-se reduzir seu teor através do aumento no rigor do controle da temperatura do
resfriamento brusco, o que levou a sofisticação da instrumentação e controle dos processos.
A partir de meados da década de 80, tornou-se padrão a utilização de Molibdênio (em
menor quantidade), de Cromo, de Vanádio e de Manganês. Os elementos de liga nos aços
bifásicos são utilizados para estabilizar a austenita e, portanto, atrasar a formação de perlita
para que assim, a austenita, rica em carbono, se transforme em martensita. A presença de
átomos de liga dispersos em solução sólida dificulta o avanço de frentes de recristalização da
ferrita, que ao se formar, segrega carbono para a austenita remanescente.
O Manganês tem sido o elemento de liga mais utilizado nos aços bifásicos comercias.
De acordo com GIRINA [2003] a microestrutura dos aços bifásicos é extremamente sensível
ao teor de Manganês e à temperatura que se inicia o resfriamento brusco. Variando-se o teor
de Manganês de 0,5 a 1,8% da liga, obtiveram-se maiores valores de tensão de resistência e
frações de martensita nas ligas com teores mais altos (figura 2.15). Em ligas com teores mais
altos de Mn, as faixas de temperatura para o início da transfomação martensítica foram
maiores o que reduz o rigor no controle de temperaturas de processo.
Figura 2.15 � Relação do teor de Mn com Tensão máxima de resistência e volume de martensita.
Fonte: Girina, 2003.
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Ainda de acordo com o mesmo autor, além do teor de
temperatura de austenitização e velocidade do resfriamento influem decisivamente nas
características da microestrutura final. O uso de baixas temperaturas de recozimento na área
intercrítica favorece a formação de estrutura fer
Figura 2.16 � Gráfico representando fases presentes
Altas temperaturas de recozimento provocam baixa estabilização da austenita o que se
traduz na formação de bainita no
Figura 2.17 � Gráfico representando fases presentes
Ainda de acordo com o mesmo autor, além do teor de Manganês também a
temperatura de austenitização e velocidade do resfriamento influem decisivamente nas
características da microestrutura final. O uso de baixas temperaturas de recozimento na área
intercrítica favorece a formação de estrutura ferrítico-martensítica (figura 2.16
representando fases presentes em aço bifásico austenitizado a 760
resfriamento. Adaptado de Girina, 2003.
Altas temperaturas de recozimento provocam baixa estabilização da austenita o que se
aduz na formação de bainita no lugar de martensita (figura 2.17).
representando fases presentes em aço bifásico austenitizado a 930
resfriamento. Adaptado de Girina, 2003.
36
Manganês também a
temperatura de austenitização e velocidade do resfriamento influem decisivamente nas
características da microestrutura final. O uso de baixas temperaturas de recozimento na área
ensítica (figura 2.16).
zado a 760°C seguido de
Altas temperaturas de recozimento provocam baixa estabilização da austenita o que se
em aço bifásico austenitizado a 930°C seguido de
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37
2.12.4 Endurecimento por trabalho a frio: há apreciável endurecimento por trabalho a
frio (work hardening) quando a microestrutura sofre um aumento na densidade de
discordâncias devido ao aumento da deformação. Microestruturas com partículas duras
dispersas em uma matriz dúctil agem como um fornecedor de discordâncias inerentes ao
processo de encruamento. Essa característica é interessante do ponto de vista da manufatura,
pois em muitos casos o material inicia sua deformação plástica (inicio da estampagem) sob
mediana tensão e adquire maior resistência nos estágios finais de conformação, quando as
formas mais complexas já foram geradas.
Nos aços bifásicos o encruamento pode proporcionar um incremento de cerca de 100
MPa na tensão máxima de resistência.
2.12.5 Retorno elástico do material em peças estampadas: é também chamado spring
back (termo em inglês). Acontece quando uma peça é estampada, e, após a remoção do
punção na ferramenta de repuxo, há a ação de tensões residuais no material e as abas ou
flanges da peça se deformam alguns graus, na tendência de voltar à forma antes da operação.
Peças que, após a conformação apresentam considerável diferença entre tensões internas em
regiões próximas tem forte tendência ao spring back. É um fenômeno que depende das
propriedades do material, como as tensões máxima e de escoamento, anisotropia e módulo de
resistência. Além disso, sua ocorrência está relacionada à geometria da peça, ao processo de
conformação, ao lubrificante, à temperatura e pressão de estampagem. Com tantas variáveis, a
previsão da ocorrência do fenômeno e, sua magnitude, é de difícil avaliação. E o
conhecimento da ocorrência ou não do spring back é importante à medida que o fenômeno
deve ser compensado com alterações na ferramenta para que o produto final fique de acordo
com as especificações.
Figura 2.18 � Vista em corte de barra transversal. Adaptado de Shi, 2006.
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Na figura 2.18 o retorno elástico é observado quando a peça após a estampagem apresenta um
ângulo maior que o ângulo do punção e, portanto diferente do especificado. Neste caso, o
punção tem de ser retrabalhado sendo usinado com um ângulo menor para que após a
estampagem e, a consequente ocorrência do retorno elástico, o produto final fique dentro das
especificações. O retorno elástico pode ser observado também quando flanges da peça se
deformam (altura de flange). O retrabalho de punção e matriz é na maioria das vezes,
atividade custosa e a perfeita geometria destes para obtenção do produto dentro das
especificações é obtida por ajustes consecutivos. Os simuladores de estampagem têm
evoluído significativamente na previsão do fenômeno podendo fornecer dados para a
confecção dos componentes da ferramenta com a forma já compensando o
2.13 A CONFORMAÇÃO MECÂNICA POR ESTAMPAGEM
A estampagem é a processo de conformação mecânica onde a chapa de um material é
forçada por uma ferramenta de maneira que ela se d
máquina que acolhe a ferramenta é a prensa. Parte
complexidade das peças, são raras vezes que uma peça é concluída em uma única operação.
Uma operação é definida por cada ação da ferrame
prensa.
Figura 2.19 -
Na operação de repuxo
a fim de dar a forma desta matriz à chapa. O prensa
crie rugas até que a operação se conclua. O material
Cabeçote
Porta-punção
Punção
Prensa
Extrator
Base
o retorno elástico é observado quando a peça após a estampagem apresenta um
ângulo maior que o ângulo do punção e, portanto diferente do especificado. Neste caso, o
punção tem de ser retrabalhado sendo usinado com um ângulo menor para que após a
em e, a consequente ocorrência do retorno elástico, o produto final fique dentro das
especificações. O retorno elástico pode ser observado também quando flanges da peça se
deformam (altura de flange). O retrabalho de punção e matriz é na maioria das vezes,
atividade custosa e a perfeita geometria destes para obtenção do produto dentro das
especificações é obtida por ajustes consecutivos. Os simuladores de estampagem têm
evoluído significativamente na previsão do fenômeno podendo fornecer dados para a
nfecção dos componentes da ferramenta com a forma já compensando o spring
A CONFORMAÇÃO MECÂNICA POR ESTAMPAGEM
A estampagem é a processo de conformação mecânica onde a chapa de um material é
forçada por uma ferramenta de maneira que ela se deforme e adquira a forma da matriz. A
máquina que acolhe a ferramenta é a prensa. Parte-se de chapas planas e, devido à
complexidade das peças, são raras vezes que uma peça é concluída em uma única operação.
Uma operação é definida por cada ação da ferramenta sobre a peça trabalhada a cada golpe da
- Esquema simplificado de uma ferramenta de repuxar.
Na operação de repuxo (figura 2.19) um punção força a chapa plana contra uma matriz
a fim de dar a forma desta matriz à chapa. O prensa-chapas pressiona a chapa para que ela não
crie rugas até que a operação se conclua. O material é de certa forma, rearranjado
Punção
Prensa-chapas
Matriz
38
o retorno elástico é observado quando a peça após a estampagem apresenta um
ângulo maior que o ângulo do punção e, portanto diferente do especificado. Neste caso, o
punção tem de ser retrabalhado sendo usinado com um ângulo menor para que após a
em e, a consequente ocorrência do retorno elástico, o produto final fique dentro das
especificações. O retorno elástico pode ser observado também quando flanges da peça se
deformam (altura de flange). O retrabalho de punção e matriz é na maioria das vezes, uma
atividade custosa e a perfeita geometria destes para obtenção do produto dentro das
especificações é obtida por ajustes consecutivos. Os simuladores de estampagem têm
evoluído significativamente na previsão do fenômeno podendo fornecer dados para a
spring back.
A estampagem é a processo de conformação mecânica onde a chapa de um material é
eforme e adquira a forma da matriz. A
se de chapas planas e, devido à
complexidade das peças, são raras vezes que uma peça é concluída em uma única operação.
nta sobre a peça trabalhada a cada golpe da
um punção força a chapa plana contra uma matriz
chapas pressiona a chapa para que ela não
de certa forma, rearranjado
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39
geometricamente. Isso tem de ser feito de maneira que o material mantenha suas
características superficiais e a peça não perca significativamente resistência mecânica. Em
outras palavras, a peça, depois de repuxada, não pode ter rugas, trincas ou afinamento de
espessura excessivo. Vários fatores influenciam no sucesso (e no fracasso) da estampagem:
velocidade do movimento do punção, profundidade da cavidade repuxada, rugosidade do
punção e matriz, força no prensa-chapas, espessura da chapa, propriedades mecânicas do
material, lubrificação, temperatura de processo, entre outros. Aços de baixo carbono
normalmente são excelentes para estampagem, apresentam boa soldabilidade, mas têm pouca
resistência mecânica. O dimensionamento da ferramenta de estampar e a escolha do tipo de
prensa que irá efetuar a operação de repuxo levam em consideração todas as variáveis.
2.13.1 Parâmetros importantes das chapas para estampagem
Os principais parâmetros das chapas para estampagem são obtidos através do ensaio
de tração. Este teste consiste em aplicar uma carga a um corpo de prova no sentido transversal
ao sentido de laminação (conforme a norma ISO 6892-1). A máquina de tração permite
aumentar progressivamente a carga até a ruptura do material ao mesmo tempo em que um
dispositivo eletrônico traça a curva tensão-deformação (figura 2.20) e registra os principais
dados, a saber:
Figura 2.20 � Curva tensão � deformação. Fonte: Catálogo Arcelor, 2008.
2.13.1.1 Tensão de escoamento (YS): é o ponto no gráfico tensão-deformação que
representa a carga máxima aplicada a um material quando a deformação sofrida é reversível.
Acima deste valor, o material passa ao regime plástico e deformação passa a ser irreversível.
A curva que une a origem ao ponto da tensão de escoamento é uma reta.
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40
2.13.1.2 Tensão máxima de resistência (UTS): acima da tensão de escoamento, o
material entra no regime plástico. Aumentando a carga, antes de se romper, haverá um ponto
de tensão máxima de resistência.
2.13.1.3 Alongamento (e): é a deformação que o material sofre quando lhe é aplicada
uma tensão. O alongamento máximo é o alongamento que o material experimenta antes de se
romper. É adimensional.
2.13.1.4 Coeficiente de encruamento (n): esse coeficiente descreve a propensão do
material em endurecer durante a deformação no regime plástico.
2.13.1.5 Coeficiente de anisotropia (r): as chapas de aço em virtude do processo de
fabricação não são materiais isotrópicos. Na conformação, grãos cristalinos são alongados na
direção da maior deformação de tração. Os materiais passam a ser então anisotrópicos. A
distribuição de orientações tem um ou mais máximos, que são as orientações preferenciais.
Essas orientações irão ocasionar variações nas propriedades mecânicas de acordo com a
direção do processo de conformação.
Para um material isotrópico, r = 1. Altos valores de r sugerem alta resistência ao
afinamento de chapas sob tração, já que por definição, a anisotropia é o razão entre a
deformação verdadeira na largura (åw) e na espessura (åt) de um corpo de prova no ensaio de
tração. Para obtenção de coeficientes médios de anisotropia o ensaio de tração é feito em três
direções: sentido de laminação da chapa, transversal ao sentido de laminação e 45° em relação
ao sentido de laminação.
2.13.2 Tensão verdadeira e deformação verdadeira
O gráfico tensão-deformação convencional difere do gráfico com tensão verdadeira,
pois no convencional a tensão de ruptura do material é menor que a máxima. Isso acontece
porque ocorre uma redução na área da seção transversal (estricção) antes do rompimento.
Considerando a redução da área, a tensão de ruptura real é maior que a tensão máxima do
gráfico convencional.
Em alguns casos é conveniente utilizar a tensão verdadeira no lugar da tensão de
engenharia (convencional). As simulações por softwares de CAE são um bom exemplo onde
as tensões utilizadas são as verdadeiras. As modernas máquinas de ensaio de tração geram
tabelas de tensões e deformações correspondentes. Às tensões é aplicada a fórmula:
óv = ó (1 + å)
onde:
óv = tensão verdadeira
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41
ó = tensão de engenharia (obtida do ensaio de tração)
å = alongamento
É importante mencionar que essa equação é válida até o ponto de surgimento da
estricção. Após esse ponto, a perfeita obtenção da tensão verdadeira é possível medindo
carga, deformação e área. No caso de aços a tensão verdadeira, entre o inicio da deformação
plástica e o início do empescoçamento, pode ser obtida pela chamada Lei de Holloman:
óv = K åvⁿ
onde:
K e n (coeficiente de encruamento) = constantes do material
2.13.3 Curvas limites de conformação
As curvas limites de conformação compõem os gráficos para avaliar e comparar a
estampabilidade dos materiais. Esses gráficos representam as maiores e menores deformações
que um material pode sofrer ao ser estampado. Os resultados não fornecem um resultado
exato do comportamento da chapa ao ser estampada (existem muitas variáveis envolvidas no
processo, como velocidade da ação da ferramenta, lubrificante, rugosidade de punção e
matriz, entre outros), mas podem servir para comparar diferentes materiais.
O método mais utilizado é o Nakajima, onde 18 retângulos da chapa são cortados em
diferentes larguras (de 40 a 180 mm) e igual comprimento. As 18 peças são estampadas numa
ferramenta formada por punção e matriz sendo o punção de formato hemisférico.
Normalmente as peças mais largas experimentam na estampagem, redução na espessura e
alongam-se em todas as direções e as de menor largura chegam ao fim do processo com a
largura ainda menor, pois o material se rearranjou de tal maneira que a parte reduzida na
largura se deslocou para o alongamento na direção do comprimento. Os 18 resultados obtidos
são convertidos em pontos e plotados no diagrama. Unindo os pontos, teremos a curva limite
de conformação (figura 2.21).
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Figura 2.21 � Curva limite de conformação gerada a partir do método Nakajima. Fonte: Srour, 2002.
As deformações limites são determinadas realizando-se o ensaio até que ocorra o
início de uma fratura dúctil.
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2.14 CARROCERIA VEICULAR
O projeto da carroceria veicular envolve várias
[2003], o projeto se inicia com a liberação do modelo
exterior do veículo.
Com esse modelo, os conceitos de
semelhantes de veículos em produção, começam a serem
componentes da carroceria: suportes, estruturas e reforços que juntos, formarão o chamado
space frame (Figura 2.22).
Figura 2.22
Os modelos matemáticos
pelos sistemas CAE (Engenharia assistida por computador).
chamada engenharia simultânea.
2.14.1 Engenharia Simultânea
A Engenharia Simultânea é uma metodologia cujo emprego se iniciou na década de 80
e está presente nas discussões de metodologias para gerenciamento do desenvovimento de
produtos. É aplicável em todos os segmentos da indústria, mas é na indústria automobilí
que seu uso se tornou mais presente. É um processo no qual, todas as atividades envolvidas
em um projeto participam das etapas de desenvolvimento, desde as iniciais. Assim, estas áreas
CARROCERIA VEICULAR
O projeto da carroceria veicular envolve várias etapas. De acordo com Damoulis
, o projeto se inicia com a liberação do modelo gerado por computação gráfica
Com esse modelo, os conceitos de aproveitamento de espaço
semelhantes de veículos em produção, começam a serem gerados no computador,
componentes da carroceria: suportes, estruturas e reforços que juntos, formarão o chamado
2.22: Space frame de um automóvel. Fonte: Damoullis, 2003.
s modelos matemáticos dos componentes são criados e em seguida são simulados
(Engenharia assistida por computador). Essa sequencia faz parte da
chamada engenharia simultânea.
.1 Engenharia Simultânea
A Engenharia Simultânea é uma metodologia cujo emprego se iniciou na década de 80
e está presente nas discussões de metodologias para gerenciamento do desenvovimento de
produtos. É aplicável em todos os segmentos da indústria, mas é na indústria automobilí
que seu uso se tornou mais presente. É um processo no qual, todas as atividades envolvidas
em um projeto participam das etapas de desenvolvimento, desde as iniciais. Assim, estas áreas
43
etapas. De acordo com Damoulis
gerado por computação gráfica do
e de modelos
no computador, os
componentes da carroceria: suportes, estruturas e reforços que juntos, formarão o chamado
Damoullis, 2003.
criados e em seguida são simulados
Essa sequencia faz parte da
A Engenharia Simultânea é uma metodologia cujo emprego se iniciou na década de 80
e está presente nas discussões de metodologias para gerenciamento do desenvovimento de
produtos. É aplicável em todos os segmentos da indústria, mas é na indústria automobilística
que seu uso se tornou mais presente. É um processo no qual, todas as atividades envolvidas
em um projeto participam das etapas de desenvolvimento, desde as iniciais. Assim, estas áreas
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44
podem interagir entre si no decorrer do processo com o objetivo de reduzir tempos de
desenvolvimento e evitar falhas que poderiam ser descobertas somente no final de uma longa
sequencia de atividades. Há alguns anos, uma peça de carroceria era modelada no
computador, construida e depois utilizada como protótipo. As etapas não se sobrepunham.
Isso trazia alguns problemas, pois se a peça fosse mal projetada, somente no teste de
estampagem, com ferramenta confeccionada seria possível ver dificuldades para
conformação. Se passasse no teste de conformação, poderia ser reprovada no teste de
durabilidade. Os ajustes eram infindáveis. Um dos pontos da engenharia simultânea é
justamente fazer com que as etapas sejam muitas vezes concorrentes. No exemplo citado,
antes de se construir a ferramenta, é feita a simulação de estampagem e os testes de análise
estrutural. Após os bons resultados desses é que se passa aos modelos físicos (confecção de
ferramentas e protótipos).
2.14.2 Os Sistemas CAE
Os softwares de simulações constituem das mais poderosas ferramentas no
desenvolvimento de produtos. Pela chamada tecnologia CAE (Computer Aided Engineering),
programas reproduzem as condições de solicitação do produto, como sua geometria e os
esforços a ele exercidos. Os programas trabalham com o método dos elementos finitos, onde o
volume do modelo matemático do produto é subdividido em figuras tridimensionais
padronizadas. O programa permite simular os esforços e respostas em cada uma das partições
e depois analisar o resultado no corpo total da peça. A solução não é exata, pois para isso, as
subdivisões teriam de ser de tamanho tendendo a zero. Porém, por meio de alta capacidade de
processamento de alguns computadores, é possível reduzir as partições de tal maneira que a
solução final é muito próxima à solução exata. Com os resultados, se valida a idéia original ou
são feitas alterações no modelo para que atenda à solicitação. Os sistemas CAE estão
presentes, por exemplo, nos simuladores de estampagem e no crash-test virtual: ferramentas
utilizadas neste trabalho.
O simulador de estampagem permite modelar no computador a condição da peça em
processo de conformação. Com ele é possível dimensionar a prensa para a estampagem,
estimar o número de operações e prever regiões críticas no produto (trincas ou rugas). O
crash-test virtual simula o crash-test, onde um veículo em velocidade de 50 km/h colide com
uma barreira indeformavável. São coletados os dados sobre o estado do veículo como um todo
e de seus componentes após a colisão.
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2.14.3 Estado plano de tensões
No caso de peças estampadas
elementos finitos são tratados como bidimensionais na análise de tensões atuantes, o chamado
estado plano de tensões.
Pelo estado plano de tensões um elemento está sujeito a tensões e
de cisalhamento. Na figura 2.23
Figura 2.23
Há alguns critérios para análise de tensões de materiais dúcteis (aqueles que ao serem
tracionados, antes de sofrerem rupura exibem o regime plástico). Os mais utilizados são: o
Critério da máxima tensão de cisalhamento, ou C
energia de distorção, ou Critério de Von Mises. Apesar do critério de Tresca ser mais
conservador, o critério de Von Mises é mais utilizado pelos
dinâmica e simulações.
Pelo critério de Von Mises um componente estrutural está em condições de segurança
enquanto o a máxima energia de
da unidade de distorção por unidade de volume necessária para promover o escoamento no
corpo de prova de mesmo material submetido a ensaio de tração.
.3 Estado plano de tensões
peças estampadas em chapas finas (geralmente até 2 mm de espessura)
elementos finitos são tratados como bidimensionais na análise de tensões atuantes, o chamado
Pelo estado plano de tensões um elemento está sujeito a tensões em x e y e a tensões
de cisalhamento. Na figura 2.23, temos a representação desta condição.
Figura 2.23 � Elemento sujeito ao estado plano de tensões.
Há alguns critérios para análise de tensões de materiais dúcteis (aqueles que ao serem
antes de sofrerem rupura exibem o regime plástico). Os mais utilizados são: o
ima tensão de cisalhamento, ou Critério de Tresca e o Critério da m
itério de Von Mises. Apesar do critério de Tresca ser mais
ervador, o critério de Von Mises é mais utilizado pelos softwares de análise estrutural,
Pelo critério de Von Mises um componente estrutural está em condições de segurança
enquanto o a máxima energia de distorção por unidade de volume atuante permanecer abaixo
unidade de volume necessária para promover o escoamento no
corpo de prova de mesmo material submetido a ensaio de tração.
45
em chapas finas (geralmente até 2 mm de espessura) os
elementos finitos são tratados como bidimensionais na análise de tensões atuantes, o chamado
m x e y e a tensões
Há alguns critérios para análise de tensões de materiais dúcteis (aqueles que ao serem
antes de sofrerem rupura exibem o regime plástico). Os mais utilizados são: o
ritério de Tresca e o Critério da máxima
itério de Von Mises. Apesar do critério de Tresca ser mais
de análise estrutural,
Pelo critério de Von Mises um componente estrutural está em condições de segurança,
distorção por unidade de volume atuante permanecer abaixo
unidade de volume necessária para promover o escoamento no
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46
No caso do estado plano de tensões, o crítério de Von Mises pode ser escrito por meio
da equação a seguir: ߪଶ - ߪߪ+ߪଶ<ߪଶ
onde: ߪ e ߪ são as tensões atuantes nos eixos x e y respectivamente e ߪ é a tensão de escoamento do material.
Num ensaio em tração, ߪ= 0 e ߪ= tensão atuante no corpo de prova.
Na figura 2.24 há a representação gráfica de critério de Von Mises. O elemento estará
em condições de segurança, enquanto as tensões atuantes sobre ele estiverem dentro da área
demarcada pela elipse.
Figura 2.24 � Representação gráfica do critério de Von Mises.
2.14.4 Estrutura monobloco
O conceito de estrutura monobloco nasceu com a idéia da divisão da carroceria
veicular em três zonas distintas: zona de deformação frontal, zona de deformação traseira e
célula de sobrevivência (figura 2.25).
Segundo Damoulis [2003], a célula de sobrevivência, local onde estão os ocupantes,
deverá estar protegida contra a energia recebida pelas outras zonas em caso de colisão. A
maximização da segurança no habitáculo é objeto de estudo constante. Nos últimos anos,
grandes avanços foram obtidos, inicialmente em carros de competição, depois em carros de
produção em série.
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47
Figura 2.25 - Zonas da deformação na estrutura monobloco. Fonte: VW, 2010.
Essa evolução só foi possível graças à engenharia de materiais, responsável pelo
desenvolvimento de aços versáteis, seja na condição de alta resistência ou na absorção da
energia de impacto.
2.14.5 Teste de impacto frontal
Os testes de impacto consistem em proporcionar a colisão entre um veículo e uma
barreira indeformável ou deformável com o objetivo de avaliar a segurança automotiva de
acordo com a legislação de segurança do trânsito. Basicamente há duas normas que tratam do
assunto, a européia e a americana. O que mais diferencia as duas é a velocidade com que o
veículo é atingido. Dentre os testes de impacto, o do tipo frontal é que primeiro passou a ser
realizado no desenvolvimento de veículos.
Figura 2.26: Simulação de Crash Test frontal. VW 2011.
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48
Também nessa área de conhecimento, os softwares de simulação tem encontrado
grande campo de utilização, pois permitem descartar modelos construtivos de desempenho
sofrível quanto à segurança veicular. O Crash Test virtual é executado com um modelo
matemático do veículo com todas as características inerentes ao estudo, como por exemplo,
características dos materiais de todos os componentes. Ele simula o impacto do veículo contra
a barreira (figura 2.26) e apresenta como resultado: as deformações nos componentes do
veículo. No caso de peças ao redor do habitáculo as deformações são chamadas de intrusões,
pois representam o quanto cada peça invade o espaço dos ocupantes. O ideal é a que intrusão
tenda a zero. Com os resultados da simulação são possíveis ajustes nos produtos antes da
confecção de protótipos (engenharia simultânea).
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49
3 MATERIAIS E MÉTODOS
O trabalho foi desenvolvido a partir da proposta de substituição do material de um
componente de carroceria veicular. Conforme mencionado no capítulo 1, torna-se viável
utilizar um aço mais complexo no lugar de um convencional, em peças estampadas e assim,
reduzir a espessura. Pelas melhores propriedades mecânicas, é desejável que se mantenha sua
qualidade estrutural, se reduza a massa e que não comprometa a estampabilidade do produto.
Se a abordagem for estendida a outros componentes, a redução em massa torna-se
mais significativa. O veículo tornar-se-á mais leve o que se traduz em menos desgaste de
pneus e de freios, além de redução no consumo de combustível.
3.1 AÇO MICROLIGADO x AÇO BIFÁSICO
Tanto os aços microligados quanto os bifásicos são materiais comerciais muito
utilizados em componentes de carrocerias veiculares. São aços com interessantes propriedades
mecânicas utilizados em aplicações semelhantes. A microestrutura, entretanto, é diferente.
Enquanto os microligados são ferríticos, os bifásicos apresentam duas ou mais fases.
O componente objeto de estudo utiliza como matéria prima o aço microligado
comercialmente chamado de H260PD com espessura de 1,5 mm.
O material proposto para esta utilização é o aço bifásico DP 800 com espessura de
1,2mm.
3.2 PRODUTO
O componente, objeto de estudo é a travessa do assoalho de um automóvel compacto
(figura 3.1). Essa peça é unida ao assoalho do veículo, às caixas de roda internas, ao túnel do
câmbio e ao painel corta-fogo, (mais conhecido no meio da indústria automobilística pelo
nome em inglês: dash panel) por meio do processo de solda a ponto.
Para se tornar viável a substituição do material original, a peça precisa ter algumas de
suas propriedades mecânicas testadas. Neste estudo foram abordadas a estampabilidade dos
materiais e sua integridade estrutural após a simulação do teste de impacto frontal (Crash
test).
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50
Figura 3.1 � Componente travessa de reforço do assoalho dianteiro
no sistema CAD (cor azul) e fotografia.
Este produto é estampado a frio em quatro operações. A peça possui um plano de
simetria, pois ela é posicionada no centro do veículo e vai de uma caixa de roda a outra.
Optou-se por estampar duas peças de cada vez (figura 3.2). Ao se posicionar uma peça junto à
outra de maneira a se procurar uma simetria na geometria, a operação de repuxo é facilitada,
pois o punção força a região central (semelhante a uma caixa) e a região das abas sofre a ação
do prensa-chapas. Essa configuração de modelo para repuxo permite por meio de ajustes de
prensa e ferramenta eliminar ou reduzir rugas e trincas com maior eficácia que a estampagem
de uma única peça por operação.
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51
Figura 3.2 � Modelo em CAD das peças posicionadas para processo de estampagem.
Na primeira operação, a chapa plana é conformada mecanicamente até adquirir uma
forma próxima a do produto final. Nesta fase ocorre mais intensamente o chamado retorno
elástico. O punção força a chapa contra a matriz dando a forma do produto. Após o fim do
curso de ação da ferramenta, o punção libera a peça em processo. Na segunda operação, as
peças em processo têm seu recorte externo executado. Na terceira operação, as peças têm suas
abas concluídas e seu corpo principal calibrado. Na quarta e última operação, são feitos os
furos.
3.3 ENSAIOS E SIMULAÇÕES
Para a validação da substituição do aço microligado pelo bifásico, as propriedades
mecânicas de um e de outro tem de ser conhecidas. Essas propriedades foram obtidas pelos
ensaios de tração. Com o ensaio de tração, foi possível obter as tensões: máxima e de
escoamento, o alongamento total, o coeficiente de encruamento e o coeficiente de anisotropia.
O espectrômetro de emissão ótica permitiu obter a composição química dos materiais
em estudo. Com os dados obtidos pelo ensaio de tração, foram levantadas as curvas Tensão
Deformação dos aços. Com dados dessa curva, o software PAMSTAMP (www.esi-group.com)
realizou a simulação de estampagem para a operação de repuxo, que é a operação que dará à
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52
chapa plana formas próximas ao do produto final, portanto, a operação de estampagem onde
há maior deformação.
O ensaio de tração feito com três taxas de deformação no campo de deformação
plástica gera curvas e tabelas relativas de tensão deformação para serem utilizados no
software de Crash Test virtual. Este programa possibilita a avaliação do produto com o novo
material, para verificar se ele resiste aos esforços em condição de trabalho. Foi feita a
comparação com o teste do material microligado.
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53
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 CARACTERIZAÇÃO DAS AMOSTRAS
A análise química do aço microligado (cinco pontos de análise) pela técnica de
emissão óptica trouxe os seguintes resultados (média e desvio padrão):
Tabela 4.1 � Análise química do aço microligado H260PD.
Elemento %C %Si %Mn %P %V %Cr
(x) 0,018 0,019 0,55 0,067 0,0029 0,016
(s) 0,0018 0,0008 0,0058 0,0021 0,0004 0,001
Elemento %Mo %Al %Cu %Ti %Nb %Fe
(x) 0,0063 0,049 0,023 0,043 0,011 99,1
(s) 0,0009 0,0023 0,0012 0,0006 0,0009 0,024
(observação: x = média; s = desvio padrão; porcentagem em peso).
É possível verificar a presença de elementos de microliga: Nióbio a Titânio. O aço
H260PD possui quantidade desprezível do elemento de microliga Vanádio.
O mesmo procedimento foi efetuado com o aço bifásico.
Tabela 4.2 � Análise química do aço bifásico DP 800.
Elemento %C %Si %Mn %P %Mo %Al
(x) 0,135 0,22 1,85 0,016 0,107 0,032
(s) 0,0048 0,0032 0,033 0,0005 0,0011 0,001
Elemento %Cu %Ti %Nb %W %Zn %Fe
(x) 0,012 0,023 0,0051 0,038 0,013 97,2
(s) 0,0005 0,0004 0,0013 0,0059 0,0003 0,005
(observação: x = média; s= desvio padrão; porcentagem em peso).
Mesmo sendo classificado como aço bifásico, também é possível verificar elementos
de liga sendo o manganês, cuja influência na formação da microestrutura ferrítico-
martensítica foi abordada no capítulo 2, o de quantidade mais expressiva.
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54
4.2 PROPRIEDADES MECÂNICAS
Foram executados ensaios de tração em nove corpos de prova de cada material a 3
taxas de deformação 25, 45 e 65 mm/min. Estas taxas de deformação estão de acordo com a
norma ISO 6892-1 utilizada na indústria automobilística. O equipamento forneceu como
resultados: tensão máxima, tensão de escoamento, alongamento, coeficiente de encruamento e
coeficiente de anisotropia. Na figura 4.1 temos as curvas tensão-deformação para o aço
microligado
Figura 4.1 � Diagrama tensão-deformação para aço microligado H260 PD à taxa de deformação de25mm/min.
A seguir, os valores obtidos.
Tabela 4.3 � Resultados do ensaio de tração para o aço H260PD.
Amostra ó esc (MPa) ó max (MPa) å % n r Vel. (mm/min)
1 292 388 38 0,182 1,06 252 295 390 37 0,181 1,06 253 297 390 37 0,179 1,06 254 295 392 38 0,18 1,05 455 297 394 35 0,179 1,07 456 297 393 36 0,178 1,06 457 296 394 34 0,177 1,07 658 298 395 34 0,176 1,06 659 298 395 35 0,178 1,06 65
média 296 392 36 0,179 1,06
Utilizando as mesmas condições, foram efetuados os ensaios com o aço bifásico.
A seguir o diagrama tensão deformação (figura 4.2).
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55
Figura 4.2 � Diagrama tensão-deformação para o aço bifásico DP 800 á taxa de deformação de 25mm/min.
Foram obtidos os dados conforme a tabela a seguir.
Tabela 4.4 � Resultados do ensaio de tração para o aço DP 800.
Amostra ó esc (MPa) ó max (MPa) å % n r Vel. (mm/min)
1 515 794 18 0,15 1,08 252 514 801 18 0,152 1,09 253 515 797 18 0,153 1,07 254 535 819 18 0,142 1,09 455 518 798 19 0,15 1,09 456 519 798 18 0,149 1,08 457 516 799 18 0,15 1,09 658 514 790 17 0,146 1,08 659 513 797 17 0,144 1,07 65
média 518 799 18 0,148 1,08
Já eram esperados os maiores valores das tensões do aço bifásico em relação ao
microligado. É interessante observar a menor relação elástica do segundo (0,648) em
relação ao primeiro (0,755) lembrando que esse valor é o quociente entre tensão de
escoamento e tensão máxima. De acordo com Gorni [2009], baixa razão elástica
corresponde a melhor capacidade de deformação plástica do aço.
4.3 MICROSCOPIA ÓPTICA
Com o uso da microscopia óptica foram feitas as observações microestruturais
dos aços estudados. O ataque utilizado nas amostras dos dois aços foi Nital a 3%.
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56
Figura 4.3 � Microscopia óptica do aço microligado H260PD.
Na figura 4.3 é possível identificar os contornos de grão e verificar a estrutura
monofásica já que se trata de um aço ferrítico com átomos intersticiais.
Figura 4.4 � Microscopia óptica do aço bifásico DP 800.
O aço bifásico exibiu um menor tamanho de grão e, só essa característica já lhe
garantiria vantagens sobre o microligado. Menor tamanho de grão aliado à presença de
martensita proporcionaram as melhores propriedades mecânicas comprovadas nos ensaios de
tração.
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4.4 SIMULAÇÃO DE ESTAMPAGEM
4.4.1 Afinamento de espessura
O simulador de estampagem fornece muitas informações para o estudo do
processamento do material. Entre essas informações há o afinamento que o material sofre com
a conformação.
Figura 4.5 � Afinamento de espessura da peça em aço microligado H260. Software PamStamp.
A figura 4.5 exibe o resultado da análise de afinamento da espessura da peça em aço
microligado. A manufatura da indústria automobilística admite redução pontual de até 20%
nas peças estampadas. A escala de cores mostra que quase todo o material sofreu redução de
espessura abaixo do permitido. Algumas regiões, nas cores laranja e vermelho, tiveram um
afinamento de até 27%. Entretanto, do ponto de vista prático, estas regiões não
inviabilizariam o processo, pois o afinamento está concentrado em regiões de raios pequenos,
portanto, concentrador de tensões. O aumento dos raios nessas regiões já seria suficiente para
levar todo o material a condições satisfatórias. Neste caso, a forma final dos raios seria obtida
na última operação. As áreas na cor azul exibem regiões com tendência a formação de rugas,
boa parte em áreas que não fazem parte do produto. Ajustes na ferramenta podem reduzir essa
tendência
A seguir, a mesma análise gráfica feita para o aço bifásico DP 800.
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Figura 4.6 -� Afinamento de espessura da peça em aço bifásico DP800. Software PamStamp.
O aço bifásico sofreu menor redução de espessura. Os poucos pontos críticos tiveram
redução máxima de 23%. O alívio nos raios onde estão concentradas tensões seria menor. A
tendência à formação de rugas foi bem menor na comparação com o aço microligado (áreas
azuis).
4.4.2 Análise de Tensões
Conforme mencionado no capítulo 2, os softwares de simulação realizam análise de
tensões. Essa análise é importante, pois mostra eventuais pontos de concentração de tensões
responsáveis pelo fenômeno do retorno elástico ou ocorrência de falhas em uso. O critério
mais utilizado pelos simuladores é o de Von Mises.
A seguir, a análise de tensões nas peças estampadas em aço microligado.
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59
Figura 4.7 - Análise de tensões da peça em aço microligado H260. PamStamp.
A unidade dos resultados é GPa. As regiões na cor vermelha estão sob tensão de cerca
de 530 MPa. O resultado gráfico mostra a propensão ao retorno elástico nas extremidades da
peça (sentido longitudinal), notadamente pontos de maior tensão. É interessante notar que os
pontos de afinamento de espessura estão inseridos nas regiões mais tensionadas. O projetista
de ferramentas de posse dessas informações pode prever uma compensação no punção de
repuxo.
As regiões em vermelho no centro da peça também indicam concentração de tensões.
Eventualmente pode-se suavizar o ângulo de estampagem nessa operação deixando sua
conclusão para a operação de calibrar, a exemplo dos pontos onde ocorreu afinamento de
espessura.
Regiões em vermelho muito próximas a regiões em cor azul na simulação de
estampagem indicam forte tendência ao retorno elástico, pois revelam áreas muito tensionadas
ao lado de áreas pouco tensionadas.
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60
Figura 4.8 - Análise de tensões das peças em aço bifásico DP800. PamStamp.
A figura 4.8 revela o material mais tensionado que o anterior. Isso era previsto já que o
aço bifásico é mais resistente que o microligado. O contraste entre áreas muito e pouco
tensionadas mais evidente nesta análise que na anterior, indica maior propensão ao retorno
elástico. As áreas mais tensionadas atingiram a marca de 1 GPa. É interessante ressaltar que
este valor não se refere a tensões uniaxiais, mas à tensão resultante.
4.4.3 Diagramas das curvas de conformação mecânica (CLC)
Uma análise complementar feita no simulador de estampagem é a determinação de
curvas CLC dos materiais utilizados na conformação. Esta análise mostra regiões onde pode
ocorrer estiramento (deformação plástica), tendência à formação de rugas e trincas.
Sob o ponto de vista prático (comparativos entre simulações de estampagem e os
produtos manufaturados), um estiramento mínimo de 2% mostrou ser interessante em
operações de repuxo. O material que não sofre estiramento algum normalmente não
apresentará trinca ou rugas, mas terá sua estabilidade dimensional comprometida
(característica estrutural) e também poderá sofrer retorno elástico.
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Figura 4.9 � Zonas de qualidade de conformação para peça em aço microligado. Pamstamp.
Figura 4.10 � Diagrama CLC para peça em aço microligado. PamStamp.
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Na figura 4.9 é possível identificar áreas com forte tendência à formação de rugas (cor
vermelha), algumas regiões com estiramento abaixo de 2% (cor verde clara) e a maior parte
em verde. Na figura 4.10 é nítido que todos os pontos do material estão abaixo das curvas
limites de conformação o que mostra que não houve pontos de ruptura.
Figura 4.11 � Zonas de qualidade de conformação para a peça em aço bifásico. PamStamp.
Figura 4.12 � Diagrama CLC para a peça em aço bifásico. PamStamp.
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63
As figuras 4.11 e 4.12 mostram que há maior tendência à formação de rugas no aço
bifásico. Neste caso pode-se optar por aumentar a força de sujeição no prensa chapas com o
cuidado para que essa força extra não constitua trincas em regiões críticas. Todos os pontos
ficaram abaixo da curva CLC o que indica ausência de trincas no material.
4.5 SIMULAÇÂO DO TESTE DE IMPACTO FRONTAL
Após a avaliação da estampabilidade, o modelo matemático do produto final foi
carregado no software de simulação de impacto frontal: o PamCrash (figura 4.13).
Figura 4.13 - Visualização da plataforma dianteira no software de simulação de impacto frontal.
Assim como no simulador de estampagem, o PamCrash utiliza como dados as
propriedades mecânicas do material e sua geometria gerada em sistema CAD (Computer
Aided Design). As propriedades inseridas foram àquelas obtidas nos ensaios de tração. Os
softwares também utilizam as tensões verdadeiras no lugar das de engenharia, pois as
deformações mais importantes são as que ocorrem no regime plástico.
No programa, o engenheiro posiciona o produto na plataforma, bem como suas peças
adjacentes e as uniões entre peças. No caso em estudo, as uniões entre as peças são por pontos
de solda. O banco de dados do programa tem as informações relativas às características
estruturais desses pontos. Com a peça posicionada e as condições de contorno estabelecidas, o
software simula o veículo sofrendo impacto frontal. O impacto causará deformações em
vários componentes. Como resultado, trará a magnitude das intrusões de componentes no
habitáculo. Neste trabalho, são mostrados os valores de intrusão relativos. O objetivo é
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64
comparar o desempenho estrutural do aço microligado com o bifásico sendo a peça em
microligado a atual em produção.
Figura 4.14 � Intrusões no habitáculo � peça em aço microligado.
Na figura 4.14 há o resultado da simulação utilizando o componente em aço
microligado. A cor vermelha se refere à intrusão máxima e a ela foi atribuído o valor relativo
de 1. Neste caso, a medição se refere ao deslocado no eixo cartesiano x, no sentido
longitudinal do veículo.
Figura 4.15 � Intrusões no habitáculo � peça em aço bifásico.
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65
Na figura 4.15 o teste foi repetido, mas desta vez com a peça em aço bifásico. É
possível notar que houve pequena variação nas intrusões, com uma sensível melhor conforme
as áreas em cores vermelha e amarela. Vale mencionar que apesar do estudo ser direcionado a
um componente, os impactos devem ser avaliados no conjunto. Os deslocamentos em ambos
os casos foram observados no dash panel. A travessa, objeto de estudo, atua como reforço
entre o dash panel e o assoalho dianteiro.
Figura 4.16 � Deformações na travessa em aço microligado.
Na figura 4.16 estão os valores relativos às deformações na simulação do teste de
impacto frontal para a peça em aço microligado. Em relação a todo o conjunto onde foi
atribuído o valor de 1 ao deslocamento máximo, o máximo valor de deformação relativo na
travessa foi de 0,3 numa área relativamente pequena. A maior parte da peça não sofreu
deformações relevantes (cor cinza).
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66
Figura 4.17 � Deformações na travessa em aço bifásico.
Na figura 4.17 estão as deformações apresentadas pela travessa em aço bifásico. A
região mais crítica teve sua área reduzida em relação à da peça em microligado. Além do
resultado gráfico, onde é possível visualizar a redução das áreas correspondentes a
deformações, o software forneceu como dado para comparação uma melhoria de 2% da peça
em aço bifásico em relação a do aço microligado. À primeira vista, o percentual parece
pequeno, mas é importante ressaltar que na peça que teve desempenho 2% melhor, o material
tem espessura 20% menor.
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67
5 CONCLUSÃO
Com os resultados obtidos, o aço bifásico DP 800 se mostrou mais resistente e com
semelhante estampabilidade na comparação com o aço microligado H260PD. A maior
resistência mecânica foi verificada nos ensaios de tração. A sua menor razão elástica,
parâmetro normalmente relacionado à boa estampabilidade foi verificada nas simulações de
estampagem. A maior tendência ao enrugamento e ao retorno elástico sugerem maior força de
prensa e maiores ajustes nos componentes das ferramentas de repuxar da peça em aço bifásico
em relação à peça em aço microligado. Em razão da maior tendência ao retorno elástico
recomendam-se compensações na geometria de punções e matrizes da ferramenta de repuxar.
Na simulação do teste de impacto frontal, a peça em aço bifásico exibiu uma discreta
melhora em relação à peça em aço microligado. Como o componente atual atende a legislação
dos testes de segurança veicular, no que se refere à magnitude de intrusões no habitáculo, a
substituição pode ser avaliada como viável. A sequencia deste trabalho passaria pela
fabricação de peças em aço bifásico com ferramentas protótipo e a realização de testes reais
de impacto e de durabilidade.
Não se pode esquecer também dos estudos de viabilidade econômica. O aço é uma
matéria com variação de preço de acordo com vários fatores, sendo um interessante deles: a
demanda. O aço bifásico custa de 20 a 30% mais caro que o microligado. Se a demanda por
este tipo de material aumentar substancialmente, a diferença entre ambos tende a se reduzir. A
troca de matéria-prima para um item de produção gera grandes investimentos nos meios de
produção, o que pode inviabilizá-la. Este trabalho pode, porém, nortear a seleção de materiais
para componentes (inclusive a travessa dianteira do assoalho) de veículos em
desenvolvimento.
O percentual de maior custo de um aço em relação ao outro não pode ser comparado
diretamente com a redução pura e simples de massa do componente, pois a menor massa tem
outras consequências vantajosas como menor peso total do veículo, que gera entre outras:
menor consumo de combustível (menos emissões de poluentes) e menor desgaste de pneus.
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REFERÊNCIAS
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