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UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO - UNINOVE
PROGRAMA DE MESTRADO EM GESTO E PRTICAS EDUCACIONAIS
(PROGEPE)
JULIANO CSAR APARECIDO SANCHES
AS TAXAS DE EVASO ESCOLAR NA EDUCAO DE JOVENS E ADULTOS
DAS SRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL I, EM DUAS ESCOLAS DO
MUNICPIO DE OSASCO/SP, NO PERODO DE 2009 A 2014
So Paulo
2016
Sanches, Juliano Csar Aparecido.
As taxas de evaso escolar na educao de jovens e adultos das sries
iniciais do Ensino Fundamental I, em duas escolas do municpio de
Osasco/SP, no perodo de 2009 a 2014./ As taxas de evaso escolar na
educao de jovens e adultos das sries iniciais do Ensino Fundamental I,
em duas escolas do municpio de Osasco/SP, no perodo de 2009 a 2014.
2016.
138 f.
Dissertao (mestrado) Universidade Nove de Julho - UNINOVE,
So Paulo, 2016.
Orientador (a): Profa. Dra. Rosiley Aparecida Teixeira.
1. Educao de jovens e adultos. 2. Direito. 3. Evaso escolar. I. Teixeira, Rosiley Aparecida. II. Ttulo
CDU 372
JULIANO CSAR APARECIDO SANCHES
AS TAXAS DE EVASO ESCOLAR NA EDUCAO DE JOVENS E ADULTOS
DAS SRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL I, EM DUAS ESCOLAS DO
MUNICPIO DE OSASCO/SP, NO PERODO DE 2009 A 2014.
Dissertao apresentada ao Programa de
Mestrado em Gesto e Prticas Educacionais
(PROGEPE) da Universidade Nove de Julho
para obteno do grau de Mestre em Gesto e
Prticas Educacionais.
Orientadora: Professora Doutora Rosiley
Aparecida Teixeira
So Paulo
2016
JULIANO CSAR APARECIDO SANCHES
AS TAXAS DE EVASO ESCOLAR NA EDUCAO DE JOVENS E ADULTOS
DAS SRIES INICAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL I, EM DUAS ESCOLAS DO
MUNICPIO DE OSASCO/SP, NO PERODO DE 2009 A 2014.
Dissertao apresentada ao Programa de Mestrado em Gesto e
Prticas Educacionais (PROGEPE) da Universidade Nove de
Julho para obteno do grau de Mestre em Gesto e Prticas
Educacionais.
So Paulo, __ de _______ de 2016.
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________________
Membro Presidente: Prof. Dr. Rosiley Aparecida Teixeira (orientadora)
Universidade Nove de Julho (UNINOVE)
__________________________________________________
Membro Titular: Prof. Dr. Jos Rubens Lima Jardilino
Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP)
__________________________________________________
Membro Titular: Prof. Dr. Patrcia Aparecida Bioto-Cavalcanti
Universidade Nove de Julho (UNINOVE)
____________________________________________________
Membro Suplente: Profa. Dra. Mnica de vila Todaro (USP)
Universidade de So Paulo (USP)
__________________________________________________
Membro Suplente: Prof. Dr. Adriano Salmar Nogueira e Taveira
Universidade Nove de Julho (UNINOVE)
Dedicado Kimani Maruge (in memorian)
AGRADECIMENTOS
Agradeo a Deus pela oportunidade que a mim foi concedida, lembrando que no cai
uma folha da rvore sem que seja do conhecimento e consentimento Dele.
Agradeo minha orientadora, a professora Rosiley Aparecida Teixeira, que me acolheu
e me ensinou tanto ao longo deste trabalho, alm de ter me apresentado questes que iro
comigo vida acadmica afora. Agradeo de corao todos os conselhos que me deu, que foram
de suma importncia para a concluso deste trabalho. Obrigado pelo apoio e pela confiana em
mim depositados.
Ao professor Jason Ferreira Mafra, que abriu as portas da academia para mim ao
acreditar no meu potencial e no meu projeto de estudo.
Agradeo a generosidade dos professores Jos Rubens Lima Jardilino e Patrcia Aparecida
Bioto-Cavalcanti que, em meu exame de qualificao, ampliaram imensamente meu olhar sobre
a Educao de Jovens e Adultos. Agradeo mais uma vez por aceitarem participar da banca
examinadora.
Agradeo aos docentes do Programa de Mestrado em Gesto e Prticas Educacionais da
Uninove: Profa. Margarita Victria Gomez, Profa. Roberta Stangherlim, Profa. Ana Maria
Haddad Baptista, Profa. Lgia de Carvalho Abes Vercelli, Profa. Rosemary Rogerro, Profa.
Amlia Silveira, Prof. Adriano Salmar Nogueira e Taveira, Prof. Jos Eustquio Romo e Prof.
Jason Ferreira Mafra.
Uninove (Universidade Nove de Julho), pela concesso da bolsa de mestrado e
secretria do PROGEPE, Aline Alves de Arajo Silva, por seu atendimento atencioso e gentil.
Agradeo tambm aos meus amigos do mestrado Emillyn, Isabelle, Janaina, Amanda,
Claudia, Sidney, Clvia, Mrcio, Silvana e Andreia.
Aos educandos e educandas da EJA que participaram inicialmente da pesquisa.
Profa. Rgia Maria Gouveia Sarmento e ao Professor Jos Borges Toste, pois irradiam
sabedoria, dedicao e paixo pela educao.
Agradeo estimada Profa. Maria Jos de Godoy Paz que, mesmo tendo uma filha
mestrando na mesma poca em que ocorreu esta pesquisa, acolheu-me, ouvindo e aconselhando
nos momentos difceis.
Ao meus companheiros de trabalho Sebastiana Correa Ferreira Mecina, Cinthia Maria
Sena, Marco Antnio Siqueira, Fernanda Lobato Siqueira e Karina Dias.
Agradeo minha famlia pela doura infinita para comigo.
Abraos apertadssimos: Everton Lus Ilydio Polo, Carmem Juliana Lopes Francisco,
Mrcia Albuquerque dos Santos Miguel, Jhony Lus Avelar, Maria Gorete Sarmento Blatt,
Josemir Rosa Pereira Ferreira, Sebastiana Corra Ferreira Mecina, Valria do Prado, Viviane
Marques, Andrea Marques Gonalves, Pmela Santner, Shirley, Fernanda Brando de Godoy,
Cludia Alves, Karla Abreu, Rutleia Antunes do Amaral, Valdirene Gonalves e Renata Torres.
Um forte abrao e muito obrigado a todos que me acompanharam nessa trajetria!
Vocs que fazem parte dessa massa
Que passa nos projetos do futuro
duro tanto ter que caminhar
E dar muito mais do que receber
E ter que demonstrar sua coragem
A margem do que possa aparecer
E ver que toda essa engrenagem
J sente a ferrugem lhe comer
h, o, vida de gado
Povo marcado
H, povo feliz!
L fora faz um tempo confortvel
A vigilncia cuida do normal
Os automveis ouvem a noticia
Os homens a publicam no jornal
E correm atravs da madrugada
A nica velhice que chegou
Demoram-se na beira da estrada
E passam a contar o que sobrou!
h, o, vida de gado
Povo marcado
H, povo feliz!
O povo foge da ignorncia
Apesar de viver to perto Del
E sonham com melhores tempos idos
Contemplam esta vida numa cela
Esperam nova possibilidade
De verem esse mundo se acabar
A arca de No, o dirigvel,
No voam, nem se pode flutuar
h, o, vida de gado
Povo marcado
h, povo feliz!
(Z Ramalho, 1979)
RESUMO
Este trabalho apresenta os dados de evaso escolar em duas escolas da Educao de Jovens e
Adultos das sries iniciais do Ensino Fundamental I, no municpio de Osasco/SP, no perodo
de 2009-2014. Visa compreender este fenmeno da evaso escolar na EJA sob a tica do direito
educao. Elegemos como instncias a serem objeto desta pesquisa a evaso escolar na
Educao de Jovens e Adultos e como universo de nossa anlise duas escolas que pertencem
Secretaria Municipal de Educao de Osasco, sendo uma da zona norte e outra da zona sul.
Apresenta-se como etapas desta reflexo a reviso bibliogrfica da EJA, o mapeamento de teses
e dissertaes sobre o tema e a leitura exploratria de documentos da Secretaria Municipal de
Educao e das unidades escolares pesquisadas. Conclui-se que as responsabilidades
estabelecidas pela legislao da EJA no garantem o direito educao, sobretudo por causa
da evaso escolar. Esta dissertao indicou que a evaso escolar na EJA ocorre com frequncia
e que os ndices das escolas no so amplamente divulgados. As reflexes aqui envolvidas
podero colaborar para a continuidade do debate em torno das questes da evaso escolar na
EJA.
Palavras-chave: Educao de Jovens e Adultos. Direito Educao. Evaso Escolar.
RESUMEN
Este trabajo presenta los datos de la evasin escolar en la Educacin de Jvenes y Adultos en
los primeros grados de la escuela primaria en la ciudad de Osasco / SP, entre el perodo de
2009-2014. Objetiva comprender este fenmeno desde la perspectiva del derecho a la
educacin. Elegimos como instancias para objeto de nuestra anlisis dos escuelas de Educacin
de Jvenes y Adultos (EJA) que pertenecen a la Secretara Municipal de Educacin de la ciudad
de Osasco, una de la zona nuerte y otra de la zona sul. Se presenta como pasos de esta reflexin
la revisin bibliogrfica de la EJA, el mapeo de tesis y disertaciones sobre el tema de esta
investigacin, la lectura exploratoria de documentos de la Secretaria Municipal de Educacin
y de las unidades escolares pesquisadas. Por lo tanto, esta pesquisa fue realizada mediante
anlisis de documentos y revisin bibliogrfica. Se concluye que las responsabilidades
establecidas por la legislacin de la EJA no garantiza el derecho a la educacin, sobre todo a
causa de la evasin escolar. Esta pesquisa indic que la evasin escolar en la EJA ocurre con
frecuencia y que los ndices de las escuelas no son ampliamente divulgados. Las reflexiones
implicadas en esta disertacin pueden contribuir para la continuidad de los debates acerca de
las cuestiones de la evasin escolar en la EJA.
Palabras clave: Educacin de jvenes y adultos. Derechos a la Educacin. Evasin escolar.
ABSTRACT
This work presents the data of school dropout in two schools in adult and youth education in
the elementary schools initials (I), in the municipality of Osasco / SP, between the period of
2009-2014. It aims to understand this phenomenon of school dropouts in adult and youth
education from the perspective of the right to education.Elected as instances to be object of this
research truancy in Youth and Adult Education and as the universe of our analysis two schools
belonging to the Municipal Secretary of Education of the city of Osasco, one of the north side
and another in the south zone.It is presented as stages of this reflection the literature review of
the of adult and youth education, the mapping of theses and dissertations on the subject of this
investigation, the exploratory reading documents from Municipal Department of Education and
school units surveyed. It is concluded that the responsibilities established by legislation of the
adult and youth education does not guarantee the right to education, especially because of the
truancy. This research indicated that the truancy in the adult and youth education occurs
frequently and that the contents of the schools are not widely disseminated. The considerations
involved in this dissertation can collaborate for continuity of debate around the issues of truancy
in the adult and youth Education.
Keywords: Youth and Adult Education. Right to education. Truancy.
LISTA DE SIGLAS
AEE Atendimento Educacional Especializado
ANPED Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisas em Educao
APEOESP Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de So Paulo
APOS Associao de Professores de Osasco
BA Bahia
BDTD Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertaes
CAPES Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior
CEAA Campanha de Educao de Adolescentes e Adultos
CEB Comunidades Eclesiais de Base
CEFAM Centro de Formao de Aperfeioamento para o Magistrio
CEPLAR Campanha de Educao Popular
CEU Centro de Educao Unificada
CGC Conselhos de Gesto Compartilhada
CIESP Centro das Indstrias do Estado de So Paulo
CME Conselho Municipal de Educao
CONFINTEA Conferncia Internacional de Educao de Adultos
CNAEJA Comisso Nacional de Alfabetizao e Educao de Jovens e Adultos
CNBB Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil
CNEA Campanha Nacional de Erradicao do Analfabetismo
CPC Centro Popular de Cultura
DPA Departamento de Profissionalizao de Adultos
EC Emenda Constitucional
EP Educao Popular
EPT Educao para Todos
EJA Educao de Jovens e Adultos
EMEF Escola Municipal de Ensino Fundamental
EMEIEF Escola Municipal de Educao Infantil e Ensino Fundamental
ENEJA Encontro Nacional de Educao de Jovens e Adultos
FACESP Federao das Associaes Comerciais
FALC Faculdade Aldeia de Carapicuba
FAMA Faculdade de Mau
FFLCH Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas
FNEP Fundo Nacional do Ensino Primrio
FUNDEB Fundo de Manuteno e Desenvolvimento da Educao Bsica e de Valorizao
dos Profissionais da Educao
FUNDEF Fundo de Manuteno e Desenvolvimento da Educao
GED Gesto Educacional
GT Grupos de Trabalho
HTP Horrio de trabalho pedaggico
ICADE Internactional Council of Adult Education
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
IDEB ndice de Desenvolvimento da Educao Bsica
IDH ndice de Desenvolvimento Humano
INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Ansio Teixeira
IPF Instituto Paulo Freire
LDBEN Lei de Diretrizes e Bases na Educao Nacional
MEB Movimento de Educao Base
MCP Movimento de Cultura Popular
MEC Ministrio da Educao e Cultura
MOBRAL Movimento Brasileiro de Alfabetizao
MOVA Movimento de Alfabetizao de Jovens e Adultos
MST Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
ONGs Organizaes no Governamentais
OPEJA Orientao Profissional da Educao de Jovens e Adultos
PAS Programa de Alfabetizao Solidria - AlfaSol
PCNs Parmetros Curriculares Nacionais
PDE Plano Decenal de Educao
PEPP Projeto Eco-Poltico Pedaggico
PIB Produto Interno Bruto
PME Plano Municipal de Educao
PNA Programa Nacional de Alfabetizao
PNAC Programa Nacional de Alfabetizao e Cidadania
PNUD Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento
PRODESP Processamento de Dados do Estado de So Paulo
PROGEPE Programa de Mestrado em Gesto e Prticas Pedaggicas
PPP Projeto Poltico Pedaggico
PT Partido dos Trabalhadores
PTA Plano de Trabalho Anual
RECEI Referenciais Curriculares da Educao Infantil
RECEJA Reorientao Curricular da Educao de Jovens e Adultos
RENEC Representao Nacional das Emissoras Catlicas
RN Rio Grande do Norte
SAEB Sistema de Avaliao da Educao Bsica
SAP Sala de Apoio Pedaggico
SBT Sistema Brasileiro de Televiso
SEBRAE Servio Brasileiro de Apoio Micro e Pequena Empresa
SIREPA Sistema de Rdio Educativo da Paraba
SME Secretaria Municipal de Educao
SP So Paulo
UERJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro
UFMG Universidade Federal de Minas Gerais
UFPB Universidade Federal da Paraba
UNESCO Naes Unidas para a Educao e a Cultura
UNICEF Fundo das Naes Unidas para a Infncia
UNINOVE Universidade Nove de Julho
USP Universidade de So Paulo
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Educao para Todos | Marco da Ao de Dakar Objetivos .............................. 22
Figura 2 - Foto da EMEIEF Messias Gonalves da Silva .......................................................73
Figura 3 Foto dos fundos da EMEIEF Messias Gonalves da Silva ................................... 73
Figura 4 Nmero de matrculas dos alunos da EJA da EMEIEF desde 2009 at o ano de
2014..........................................................................................................................................73
Figura 5 - Dados da evaso escolar na EMEIEF Messias Gonalves da Silva entre os anos de
2009 a 2014............................................................................................................................. 76
Figura 6 Percentual de alunos evadidos na EMEIEF Messias Gonalves da Silva
(2009-2014) ............................................................................................................................ 77
Figura 7 Nmero de alunos evadidos por srie escolar na EJA da EMEIEF Messias G. da
Silva ........................................................................................................................................ 78
Figura 8 Foto da entrada da EMEF Prof Manoel Barbosa de Souza...................................79
Figura 9 - Foto dos fundos da EMEF Prof Manoel Barbosa de
Souza........................................................................................................................................79
Figura 10 Total de matrculas na EJA de 2009 at 2014 na EMEF Prof Manoel Barbosa de
Souza........................................................................................................................................82
Figura 11 - Dados da evaso escolar na EMEF Prof Manoel Barbosa de Souza entre anos de
2009 e 2014..............................................................................................................................83
Figura 12 Percentual dos alunos evadidos na EMEF Manoel Barbosa de Souza entre
os anos de 2009 e 201.............................................................................................................. 83
Figura 13 Nmero de alunos evadidos por srie escolar na EJA da EMEF Manoel
Barbosa de Souza..................................................................................................................... 84
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 A produo acadmica sobre a educao de jovens e adultos .............................. 29
Tabela 2 - Levantamento de dissertaes e teses sobre perspectivas vinculadas a educao de
jovens e adultos na BDTD....................................................................................................... 30
Tabela 3 - Levantamento de dissertaes e teses sobre perspectivas vinculadas a educao de
jovens e adultos na CAPES ..................................................................................................... 30
Tabela 4 Levantamento das produes acadmicas que esto vinculadas a evaso escolar na
EJA ........................................................................................................................................ 31
Tabela 5 Distribuio de professores na EMEIEF Messias Gonalves da Silva por turno de
ensino....................................................................................................................................... 74
Tabela 6 Dados do IDEB de 2009 at 2013 ......................................................................... 75
Tabela 7 - infraestrutura da EMEF Professor Manoel Barbosa de Souza.............................. 80
Tabela 8 Dados do Ideb de 2009 at 2013............................................................................ 81
SUMRIO
APRESENTAO ........................................................................................................... 17
INTRODUO ................................................................................................................ 20
Delineamento da pesquisa ....................................................................................... 20
Coleta de dados e procedimentos da pesquisa ........................................................ 23
Organizao da dissertao ..................................................................................... 26
CAPTULO I: EMBASAMENTO TERICO: O DILOGO DAS PRODUES
ACADMICAS SOBRE A EVASO ESCOLAR ......................................................... 28
1.1 Breve levantamento das produes acadmicas ligadas a evaso escolar .............. 28
1.2 Anlises das obras vinculadas a evaso escolar na EJA ......................................... 31
1.3 Referencial bibliogrfico: as discusses sobre o direito educao de jovens e adultos
................................................................................................................................ 34
1.4 O legado de Paulo Freire a Educao de Jovens e Adultos .................................... 45
CAPTULO II: POLTICAS EDUCACIONAIS NA EDUCAO JOVENS E ADULTOS -
CENRIO INTERNACIONAL E NACIONAL ............................................................. 50
2.1 O cenrio histrico mundial da Educao de Jovens e Adultos.............................. 50
2.2 A consolidao das polticas educacionais da EJA no Brasil ................................. 55
CAPTULO III: OS PRINCPIOS NORTEADORES DA EDUCAO DE JOVENS E
ADULTOS DO MUNICPIO DE OSASCO E OS DADOS DE EVASO ESCOLAR EM
DUAS ESCOLAS ............................................................................................................ 65
3.1 A educao de Jovens e Adultos no municpio de Osasco (SP) ............................. 65
3.2 A EMEIEF Messias Gonalves da Silva ................................................................. 72
3.3 A EMEF Manoel Barbosa de Souza ....................................................................... 78
3.4 A comparao dos dados de evaso escolar na EJA nas duas escolas .................... 84
CONSIDERAES FINAIS ........................................................................................... 87
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................................................. 95
ANEXOS .......................................................................................................................... 105
17
APRESENTAO
Quando estava prestes a terminar meus estudos do Ensino Fundamental, desenvolvia
atividades na agricultura, onde acompanhava meus pais na colheita de caf. Logo depois,
comecei a trabalhar como auxiliar de montagem em fbricas de calados. Com dezesseis anos
de idade inicia-se em Franca (SP) municpio em que nasci minha trajetria pelos caminhos
da educao, quando ingressei no curso de formao para o magistrio, estudando no Centro de
Formao de Aperfeioamento para o Magistrio (CEFAM).
Conclu o magistrio no ano de 1999, comeando minha vida profissional naquele
mesmo municpio no ano de 2001, onde lecionei para o Maternal II durante um ano. Ao atuar
na educao infantil, como funcionrio contratado da prefeitura do municpio de Franca (SP)
sendo este o meu primeiro emprego como professor), tive como desafio superar a falta de
experincia. Naquela poca, cumpria-se a jornada de trinta horas semanais, sendo vinte e oito
horas/aula e mais duas participando do horrio de trabalho pedaggico coletivo (HTPC). A
turma em que trabalhei totalizava vinte e trs alunos e, entre eles, um estudante com deficincia.
Apoiava-me nos Referenciais Curriculares da Educao Infantil (RECEI) e em leituras diversas
sobre a modalidade da educao infantil, que supunha certas prticas pedaggicas, a fim de
exceder meus obstculos.
No ano de 2002, j com 22 anos de idade, passo a morar e trabalhar na cidade de Osasco,
atuando no Ensino Fundamental I. Nos anos de 2010 e 2011, atuo na coordenao do Programa
Mais Educao. De 2012 a 2014, trabalho diretamente com a gesto escolar como coordenador
pedaggico e, no presente momento, fui designado vice-diretor de escola em que trabalho,
atendendo demanda administrativa da educao infantil, da educao bsica e da educao de
jovens e adultos na rede municipal de educao de Osasco.
Trabalhei durante oito anos no ensino fundamental, do 1 ano ao 5 ano, sendo metade
deste perodo com alunos do 1 ano e os demais quatro anos com educandos do 4 e 5 ano.
Nesse perodo, minha maior atuao foi na alfabetizao e letramento. Utilizava recursos que
estivessem prximos da realidade dos estudantes. Produzamos teatros, danas, rodas de
leituras, experincias, pesquisas, jogos, brincadeiras, exposies artstico-culturais, excurses
etc. Nessa poca, as formaes em horrio de trabalho desenvolviam estudos em torno dos
Parmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e assuntos diversos voltados rotina escolar.
18
Quando passei a coordenar as atividades do Programa Mais Educao (2001), tive como
tarefas principais direcionar espaos e tempo, organizar turmas, buscar parcerias com a
comunidade, dialogar com os demais professores sobre as aprendizagens transversais dos
educandos, coordenar as atividades das turmas, entre outras atividades.
No ano de 2005, obtive o ttulo de pedagogo pela Universidade de So Paulo (USP); em
2011 me especializei em Gesto Escolar pela Faculdade Aldeia de Carapicuba (FALC) e, logo
em seguida (2013), em Currculo e Prticas Docentes pela Faculdade de Mau (FAMA), em
parceria com o Instituto Paulo Freire (IPF), que coordenava o curso. Por ocasio da concluso
do curso de especializao em Currculo e Prtica Docente, foi publicado em revista cientfica
um artigo acadmico de minha autoria com uma investigao sobre o Coordenador Pedaggico.
Tal trabalho acadmico, alm das palestras assistidas, os crculos de cultura, os seminrios e
outros eventos, me desafiou a querer continuar com os estudos no universo da pesquisa. Ento,
logo ingresso no curso de Leitura Instrumental de Textos Acadmicos em Ingls na Faculdade
de Filosofia, Letras e Cincias Humanas (FFLCH) na USP, almejando desenvolver habilidades
para a realizao do Exame de Proficincia em Lnguas, sendo esta uma etapa do processo
seletivo para ingresso no mestrado.
Ao me matricular no curso de ps-graduao stricto sensu da Universidade Nove de
Julho (UNINOVE), aspirava no somente melhorar minha atuao profissional por meio dos
estudos, mas tambm favorecer todos aqueles que esto ligados com esse processo de
construo de novos conhecimentos com as concluses posteriores desta reflexo. E assim
tenho a expectativa de exceder os conflitos em torno da prxis vivenciada ao longo da minha
formao acadmica e da trajetria profissional, bem como o desejo de desvendar os motivos
que tm levado os alunos da educao de jovens e adultos evaso escolar.
Durante o processo de matrcula no Programa de Mestrado em Gesto e Prticas
Pedaggicas (PROGEPE), encontrei dificuldades em adequar minha carga horria de trabalho
enquanto coordenador pedaggico com as aulas do Mestrado. Busquei solucionar o impasse
junto ao Diretor de Educao da rede de escolas do Municpio de Osasco, propondo horrios
diversificados em que eu pudesse em alguns dias da semana frequentar a Universidade pela
manh e outros tarde. Na ocasio, o Diretor sugeriu a mudana de cargo de Coordenador
Pedaggico para o de Vice-Diretor de escola em uma unidade que presta atendimento, alm da
Educao Infantil e do Ensino Fundamental, tambm da modalidade da Educao de Jovens e
19
Adultos (EJA). Desse modo, a minha jornada de trabalho iniciaria s treze horas ficando livre
o perodo da manh para cursar as disciplinas obrigatrias do mestrado.
Ao iniciar os estudos no curso de mestrado profissional, tive como objeto de estudo a
gesto das aprendizagens na educao bsica, que visava averiguar como ocorre a construo
de novas aprendizagens do Ensino Fundamental I - luz de influncias e das tendncias
metodolgicas tradicionais e contemporneas.
Quando passo a atuar na EJA, no ano de 2014, noto que alguns dos alunos abandonavam
os estudos. Foi quando tal questo passou a me incomodar e surge o desejo de querer verificar
a educao de jovens e adultos e seus ndices de evaso escolar.
No decorrer do curso de mestrado profissional houve troca de orientador e outros
contratempos de ordem pessoal que ocasionaram certo atraso com esta pesquisa. Alm destes
pontos, houve momentos sublimes de aprendizagem durante o desenvolvimento de estudos de
cada disciplina, nos seminrios de pesquisas, nas conferncias, nas bancas, nas orientaes etc.
Portanto, a consolidao desta pesquisa transcende os esforos emocionais, fsicos e as
limitaes do tempo e trajetria, levando-me ao amadurecimento acadmico.
20
INTRODUO
Quando iniciei a jornada de trabalho como vice-diretor de escola, notei que a Educao
de Jovens e Adultos (EJA) um desafio para os sujeitos que no se alfabetizaram na chamada
idade prpria, pois devido as suas tarefas rotineiras que envolvem o trabalho, a famlia, a sade
etc, estes alunos apresentam dificulades para frequentar esta modalidade de ensino. Ao longo
de suas histrias no lhes foi oportunizado o direito a educao.
Por meio da minha atuao nas reunies pedaggicas, nas reunies de conselhos de
classe e por meio da observao dos registros nos dirios de classe e da rotina dos educandos
da Escola Municipal de Ensino Fundamental e Educao Infantil (EMEIEF) Messias Gonalves
da Silva, foi constatado que os alunos da EJA efetivam suas matrculas e logo comeam a
frequentar as aulas. Depois, no decorrer do perodo letivo, a frequncia escolar deles era
irregular, chegando evaso escolar. Este fenmeno caracterizado pelo fato dos alunos
deixarem de frequentar a escola, levando desistncia dos estudos e ocorre em todas as
modalidades de ensino.
O objetivo norteador desta pesquisa o apresentar os ndices de evaso escolar na EJA
em duas escolas do municpio de Osasco, sendo uma da zona sul e a outra da zona norte, a fim
de perceber a diferena do nmero de alunos evadidos e identificar as diferenas das
comunidades escolares.
A relevncia social desta pesquisa configura-se em razo de se tratar de um problema
de grande impacto na sociedade brasileira que, segundo dados do Relatrio de Educao para
Todos (EPT) de 2015 (UNESCO, 2015), comporta cerca de 781 milhes de analfabetos a partir
dos 16 anos de idade no mundo e de 13 milhes no Brasil, a partir de 15 anos de idade.
Entende-se que este trabalho ganha relevncia medida que, tratando de um problema
ainda no resolvido, contribuir para as discusses acerca do assunto.
Delineamento da pesquisa
O contexto sociocultural mundial foi se alterando e exigindo instrues mnimas, como
a leitura e a escrita, para viver nessa comunidade abastada de recursos tecnolgicos do sculo
XXI. Nesta sociedade urbanizada a necessidade da alfabetizao foi a alavanca de
desenvolvimento educacional mundial, passando a ser bsica e inerente ao ser humano.
21
O processo de industrializao exigiu novos paradigmas nas sociedades letradas e o
analfabetismo funcional um grande problema neste perodo tecnolgico onde o conhecimento
impresso e digital.
As exigncias sociais que surgiram devido ao processo de industrializao da dcada de
1980, por exemplo, aspiraram que a alfabetizao pudesse melhorar a qualidade de vida dos
sujeitos, na medida em que os ajudassem a perceber e se adaptar s transformaes sociais e
culturais frente s novas tecnologias.
Na sociedade moderna evidenciam-se esses dois fenmenos distintos, mas que dialogam
entre si. O primeiro diz respeito ao processo de industrializao que exigiu novos profissionais
minimamente formados, e o segundo, que deriva do primeiro processo, o surgimento das
novas tecnologias. Portanto, as comunidades abastadas de recursos tecnolgicos do sculo XXI
deram origem urgncia de aperfeioamento pessoal.
O processo de escolarizao uma fase na vida dos homens de suma importncia e que
favorece deliberadamente o progresso e desenvolvimento da sociedade contempornea. A
Unesco, ao proclamar o direito educao dos homens na Declarao dos Direitos Humanos,
queria equacionar a situao de pobreza mundial e enfrentou muitos desafios,
o aumento da dvida de muitos pases, a ameaa de estagnao e decadncia
econmicas, o rpido aumento da populao, as diferenas econmicas crescentes
entre as naes e dentro delas, a gerra, a ocupao, as lutas civis, a violncia; a morte
de milhores de crianas, que poderia ser evitada, e a degradao generalizada do meio
ambiente. Estes problemas atropelam os esforos envidados no sentido de satisfazer
as necessidades bsicas de aprendizagem, enquanto a falta de educao bsica para
significativas paracelas da populao impede que a sociedade enfrente esses
problemas com vigor e determinao (MEC, 1993, p. 69).
Estes foram alguns dos entraves para a democratizao da educao mundial e no Brasil
com a proposta de universalizao do ensino pblico.
No ano de 1990, o Brasil participa da Conferncia Mundial de Educao para Todos
(1990) e assume os compromissos propostos da Declarao Mundial de Educao para Todos
que, em sntese, configurava-se em objetivos para atender s exigncias do mercado mundial
de equiparao cultural, pretendendo melhorias para as necessidades bsicas de aprendizagem.
To logo, os rgos internacionais pressionam o pas a implantar as polticas educacionais que
22
atendessem os compromissos assumidos na Declarao. E esse desenfrear de mudanas que
favorece os momentos de reflexes e indagaes em torno da educao mundial e,
consequentemente, na educao brasileira.
Em nosso pas, h 28 anos foi institudo pela Constituio Federativa do Brasil que a
educao um direito inerente aos homens. Apesar de todos os esforos e aes dos Estados-
membros da Unesco, o 11 Relatrio de Monitoramento Global de EPT (2015) afirma que ainda
h no mundo todo cerca de 781 milhes de adultos analfabetos. Este relatrio, de
Monitoramento Global, consistiu em apresentar um balano dos avanos obtidos ao longo dos
ltimos 15 anos em relao a cada uma das seis metas de Educao para Todos (UNESCO,
2015) sendo elas:
Figura 1 - Educao para Todos | Marco da Ao de Dakar Objetivos.
Fonte: Relatrio Global EPT (2014)
Tais metas so perseguidas por pases signatrios do Compromisso de Dakar (Unesco,
2001) at o ano de 2015. O chamamento global da Conferncia Mundial de Educao para
Todos de Jomtien teve a necessidade de renovar seus compromissos e, em 2000, na Cpula
Mundial de Educao (Dakar, Senegal), avaliou e redimensionou os objetivos estabelecidos
anteriormente, considerando os desafios de um novo milnio (MEC, 2014, p. 5).
As transformaes que a sociedade sofreu no mbito do desenfreado crescimento
populacional e tecnolgico recriaram paradigmas sociais em torno da educao bsica e
principalmente da educao de jovens e adultos. Esse fato foi um dos aceleradores do
aparecimento de propostas de melhorias nesta modalidade de ensino a partir de acordos
Educao para Todos
1. Cuidados e Educao na Primeira
Infancia 2. Educao Primria Universal
3. Habilidades de Jovens e
Adultos 4.
Alfabetizao de Jovens e
Adultos
5. Paridade e Igualdade de
Gnero
6. Qualidade da Educao
23
firmados entre a Unesco, ONGs e Estados-membros, no mundo e no Brasil. No entanto, isso
por si s no trouxe muitos avanos. Posteriormente, uma srie de aes surge para e consolida
um novo cenrio da EJA.
Coleta de dados e procedimentos da pesquisa
Num primeiro momento, esta pesquisa procurou entender o fenmeno da evaso escolar
na Educao de Jovens e Adultos a partir de uma nica escola, entrevistando os alunos
evadidos. Entretanto, a dificuldade de encontr-los e tambm de faz-los falar sobre a temtica
foi abordada durante o exame de qualificao, que reconheceu um problema de pesquisa
emprica: Identificar os sujeitos e usar os mtodos que os permitam falar, conforme afirma
Andr: pesquisa em educao: buscando rigor e qualidade (ANDR, 2001, p.61).
Vrias revises de pesquisas (Andr, 2000; Carvalho, 1999; Gatti, 2000; Warde, 1993)
tm apontado a fragilidade metodolgica dos estudos e pesquisas da rea de educao por
tomarem propores muito reduzidas da realidade, com um nmero muito limitado de
observaes e de sujeitos, por utilizarem instrumentos precrios nos levantamentos de opinio
e por realizarem anlises pouco fundamentadas.
Durante a apresentao do projeto desta dissertao para os membros da banca de
qualificao, foi identificado que a metodologia usada para investigar as questes da evaso
escolar no respondia indagao inicial. Nesse momento, foram feitas sugestes que
propunham a comparao de dados sobre a evaso escolar na EJA de Osasco com os de
municpios vizinhos. Assim, buscou-se, aps a banca de qualificao, levantar dados sobre a
evaso nesta modalidade de ensino na microrregio de Osasco.
Esta microrregio fica localizada na mesorregio metropolitana de So Paulo e
comporta oito municpios, sendo eles: Osasco, Carapicuba, Barueri, Itapevi, Jandira, Santana
do Parnaba, Cajamar e Pirapora do Bom Jesus. Segundo o IBGE (1990), as microrregies
foram definidas como parte das mesorregies que apresentam especificidades quanto
organizao do espao. Estas especificidades se referem estrutura de produo: agropecuria,
industrial, extrativismo etc. Para o IBGE a organizao do espao microrregional foi
identificada, tambm, pela vida de relaes ao nvel local, isto , pela interao entre as reas
de produo e beneficiamento e pela possibilidade de atender s populaes por meio do
comrcio de varejo. Em dados numricos, a microrregio de Osasco apresenta uma populao
24
estimada em 1.775.058 habitantes e possui uma rea total de 693,374 km2 (IBGE, 2010).
Foram realizados contatos telefnicos e envio de e-mails, pelos quais foram solicitados
os ndices de evaso escolar na EJA para supervisores educacionais das diretorias de ensino do
Estado, supervisores educacionais das secretarias municipais de educao das respectivas
cidades e para gestores educacionais responsveis pelo processamento das informaes sobre a
movimentao dos alunos junto Companhia de Processamento de Dados do Estado de So
Paulo (PRODESP). Entretanto, essa busca no obteve xito, pois os ndices requisitados no
foram informados por estas instituies e o tempo para levamentamento e produo dos dados
sobre a evaso escolar no era hbil para a concluso desta pesquisa.
Buscando colher informaes sobre a evaso escolar na EJA das cidades que compem
a microrregio, foi realizado contato com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Ansio
Teixeira (Inep) para solicitao dos dados. Na ocasio, o Inep informou que os dados sobre as
taxas de evaso escolar na educao de jovens e adultos nos anos finais do Ensino Fundamental
I no estavam disponveis em virtude do Censo 2015 ainda estar sendo disseminado. O Inep
tambm informou que disponibilizava somente dados do Ensino Fundamental e do Ensino
Mdio, porm no os da Educao de Jovens e Adultos.
O Inep direcionou coletar informaes em diversos locais. Tal coleta sobre os nmeros
do abandono escolar na menor unidade de agregao pesquisada, segundo o Inep, estava
disponvel nos arquivos de Microdados e possibilitava sua sistematizao conforme o interesse
do usurio. Ao serem acessados, estes microdados do Censo na Educao Bsica, de 1995 a
2014, seguindo as instrues, no traziam as informaes solicitadas.
Com o intuito de facilitar o acesso aos resultados da pesquisa ao pesquisador, o Inep
tambm orientou a consulta a outros produtos informacionais derivados dos Microdados que,
segundo este instituto, permitiriam a obteno de forma mais simples e rpida das principais
estatsticas divulgadas, considerando as diferentes agregaes e categorias de interesse, entre
eles: o sistema Consultar Matrculas, o sistema de consultas InepData, as Sinopses Estatsticas
da Educao Bsica, um conjunto de planilhas de vrios indicadores educacionais e os resumos
tcnicos.
Ainda foi informado pelo Inep que, caso os dados de interesse do pesquisador no
estivessem considerados nestes produtos informacionais, seria muito provvel que constassem
nos microdados da pesquisa, uma vez que toda informao de interesse estatstico que no
compromete o sigilo do informante est nessas bases de dados. Alm disso, segundo o Inep,
25
para mais informaes sobre a pesquisa, os conceitos utilizados e as orientaes de
preenchimento dos formulrios do Censo da Educao Bsica, dever-se-ia consultar os
formulrios e o caderno de instrues da pesquisa.
Ao serem realizadas as consultas nos locais indicados, no foram exibidas as taxas de
abandono escolar (evaso), mas sim a mdia de alunos por turma de cada regio do Brasil, a
consulta ao nmero de matrculas, o nmero de estabelecimentos de ensino, as sinopses
estatsticas da educao bsica (contendo o nmero de matrculas em cada estado federativo) e
as funes docentes na educao bsica e no ensino superior.
Contudo, o rumo desta pesquisa tomou um novo direcionamento ao longo do perodo
de investigao e surge, ento, a ideia de comparar os dados sobre a evaso escolar na EJA de
duas escolas do municpio de Osasco para apresentar a educao neste setor.
A pesquisa foi realizada por meio de uma leitura exploratria de algumas teorias que
discutem a Educao de Jovens e Adultos e a comparao os ndices de evaso escolar na EJA
da EMEIEF Messias Gonalves da Silva com os da EMEF Professor Manoel Barbosa de Souza,
entre o perodo de 2009 a 2014.
Estas escolas foram escolhidas por ofertar comunidade em que est inserida a
educao de Jovens e adultos nas sries iniciais do Ensino Fundamental I.
Os procedimentos de coleta de dados desta investigao focaram em quatro frentes de
trabalho:
a) levantamento da produo acadmica sobre a evaso escolar na EJA, que teve por
intuito verificar as tendncias temticas das pesquisas na EJA e tambm colaborar com esta
reflexo. O perodo de busca destas produes no foi estabelecido.
b) leitura exploratria de alguns pesquisadores que discutem a Educao de Jovens e
Adultos para subsidiar a compreenso dos dados de evaso escolar no municpio sob a tica do
direito educao;
c) coleta de informaes em documentao diversa sobre as polticas norteadoras no
cenrio educacional internacional, nacional e no municpio de Osasco, a fim de compreender
como a Educao de Jovens e Adultos se constitui;
d) mapeamento e comparao dos ndices de evaso escolar entre os anos de 2009 a
2014 em duas Escolas Municipais de Educao Infantil e Ensino Fundamental (EMEIEFs) que
possuem atendimento Educao de Jovens e Adultos.
26
Ao coletar as informaes em documentos da SME (Secretaria Municipal de Educao)
de Osasco e das escolas pesquisadas, foram requisitados e manuseados documentos oficiais da
EJA, marcos legais e diversos materiais de comunicao e divulgao da desta modalidade de
ensino. Os documentos referidos foram os dados estatsticos do municpio, os projetos
escolares, as fichas cadastrais de matrculas e de transferncias, o Plano de Trabalho Anual
(PTA) e o Projeto Eco-Poltico Pedaggico (PEPP). Tambm foram fonte de pesquisa os artigos
publicados em revistas da SME e diversos materiais de comunicao e de divulgao da EJA.
Os dados colhidos sobre o nmero de alunos evadidos na rede educacional de Osasco
foram organizados em quadros, contendo os dados estatsticos do municpio sobre o nmero de
matrculas e do abandono escolar no perodo estabelecido da pesquisa. Desse modo, esta
pesquisa tem um carter emprico-terico, por isso os procedimentos foram a reflexo crtica
sobre a anlise dos dados levantados e a pesquisa bibliogrfica direcionada, a fim de construir
um dilogo sobre a Educao de Jovens e Adultos na perspectiva da evaso escolar, subsidiada
por pesquisadores, livros, teses, dissertaes, artigos etc.
Organizao da dissertao
Buscando atingir o objetivo deste estudo, que quer comparar os ndices de evaso
escolar em duas escolas do municpio de Osasco para apresentar como a cidade de Osasco
acompanhando as metas educacioanis na EJA, a pesquisa se desenvolveu preliminarmente da
anlise documental.
No primeiro captulo, organizado o levantamento das produes acadmicas no banco
de teses e de dissertaes da Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior
(CAPES) e da Biblioteca Digital de Teses e Dissertaes (BDTD). Tambm foi organizado o
referencial bibliogrfico que discute a Educao de Jovens e Adultos na perspectiva do direito
educao e da educao ao longo da vida. sob a tica deste referencial bibliogrfico que
esta investigao abordou a questo da evaso escolar na Educao de Jovens e Adultos.
No segundo captulo so apresentados os dados histricos que dizem respeito s
polticas educacionais na EJA, tanto no cenrio internacional quanto nacional. So apontados
os marcos histricos que constituram a EJA at o momento presente.
J o Captulo III, dispe da historicidade cidade de Osasco e do seu sistema de ensino,
bem como expe e compara os dados da evaso escolar nas escolas pesquisadas.
27
Este estudo tem sua interveno no processo de sistematizao do conhecimento
cientifico e aponta os indicadores e as tendncias observveis na Educao de Jovens e Adultos
do municpio de Osasco.
28
CAPTULO I - EMBASAMENTO TERICO: O DILOGO DAS PRODUES
ACADMICAS SOBRE A EVASO ESCOLAR
Antes de serem apresentados os demais captulos que compem essa dissertao,
acredita-se ser necessrio discorrer brevemente sobre as diversas discusses ligadas educao
de jovens e adultos na atualidade e ainda verificar como alguns autores tm debatido as questes
em torno do direito educao, das prticas, das teorias e das propostas para a EJA.
1.1 Breve levantamento das produes acadmicas ligadas evaso escolar na CAPES
e BDTD
Na inteno de levantar as produes acadmicas que dizem respeito evaso escolar
na Educao de Jovens e Adultos para referendar este trabalho de dissertao, buscou-se,
inicialmente, por dissertaes e teses no banco da Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal
de Nvel Superior (CAPES) e da Biblioteca Digital de Teses e Dissertaes (BDTD). Para este
mapeamento no foi estabelecido um perodo. Portanto, a busca se deu por meio de palavras-
chave interligadas temtica desta dissertao, nestes locais pesquisados. Desse modo, foram
encontradas produes acadmicas a partir de 1986 at o ano de 2015.
Educao de jovens e adultos foi o primeiro termo a ser pesquisado, sendo estas as
palavras macro. Depois, buscou-se por outras palavras-chave ligadas ao objeto de estudo para
compreender as causas do abandono escolar nessa modalidade de ensino do ponto de vista do
aluno, sendo elas: evaso escolar, direito educao e polticas educacionais.
A primeira etapa do levantamento foi a anlise de dissertaes e teses no banco da
CAPES e da BDTD, por meio das palavras-chaves elencadas acima. A lista que cada uma das
buscas apresentou foi analisada e as produes que investigam a evaso escolar na EJA, lidas.
A Tabela 1, a seguir, mostra os dados dessa busca e a quantidade encontrada em cada banco.
29
Tabela 1 A produo acadmica sobre a educao de jovens e adultos.
Fonte: Dados trabalhados pelo autor a partir do levantamento das produes acadmicas.
Ao buscar pelas palavras-chave educao de jovens e adultos no banco da BDTD, foram
identificadas um total de 1243 produes. Entretanto, somente uma parte delas foram lidas, haja
vista que esse banco de informaes dispe o acesso somente s primeiras 500 produes. J
no banco da CAPES, foram encontradas 494 produes acadmicas relacionadas ao assunto.
Inicialmente, liam-se os temas das obras e suas respectivas palavras-chave. medida que esses
elementos de observao foram identificados com os princpios da evaso escolar na EJA, liam-
se os resumos e eram separados aqueles que condiziam com o ttulo desta pesquisa. A pesquisa
pelas palavras-chave educao de jovens e adultos totalizou 1737 produes, entre dissertaes
e teses, tanto na CAPES quanto na BDTD.
Para a palavra direito, relacionada EJA, foram encontradas 152 produes e deste total
foram selecionadas 116 na BDTD e 39 na CAPES. No entanto, apenas 44 produes foram
verificadas, tendo seus resumos lidos, conforme a aproximao temtica. J a palavra-chave
poltica apontou 326 produes.
Observa-se at aqui que as pesquisas sobre a evaso escolar em estudos acadmicos
sobre a Educao de Jovens e Adultos no apresentam grande interesse por parte dos
pesquisadores, visto que o foco das investigaes est ligado a outras temticas (polticas,
alfabetizao, formao docente, prticas pedaggicas etc). Assim, nota-se que as pesquisas
sobre a evaso escolar na EJA vinculam-se, em grande parte, s polticas educacionais e ao
direito educao. Entretanto, obvio que a educao na atualidade um direito dos sujeitos,
devendo ser discutido.
Aps este levantamento preliminar, foram separadas as produes de teses das de
dissertaes. Essa seleo que compusera o corpus analisado foi realizada tendo por base dois
critrios: o primeiro mostra as produes na BDTD e o segundo apresenta as da CAPES. Em
Palavras-chave CAPES BDTD Total
Educao de jovens e
adultos
494 1243 1737
Evaso escolar na EJA 13 28 41
Direito na EJA 39 116 152
Polticas na EJA 175 151 326
30
ambos os casos, foram verificados pela totalidade de obras expostas na Tabela 1. As tabelas 2
e 3 expem a quantidade de teses e de dissertaes relacionadas com as temticas estipuladas.
Tabela 2 - Levantamento de dissertaes e teses sobre perspectivas vinculadas a educao de jovens e adultos na
BDTD.
Fonte: dados trabalhados pelo autor a partir do levantamento das produes acadmicas.
Tabela 3 - Levantamento de dissertaes e teses sobre perspectivas vinculadas a educao de jovens e adultos na
CAPES.
Palavras-chave Dissertaes Teses Total
Educao de jovens e
adultos
406 88 491
Evaso escolar na EJA 12 1 13
Direito na EJA 34 5 39
Polticas na EJA 141 34 175
Fonte: dados trabalhados pelo autor a partir do levantamento das produes acadmicas.
Ao organizar as produes de teses e dissertaes percebeu-se que a maioria eram
dissertaes de mestrado.
Ao analisar os resultados das buscas por estas palavras-chave ficou evidente que a
temtica da evaso escolar na EJA pouco pesquisada. Pode-se dizer que as produes
acadmicas referentes EJA, no Brasil, privilegiam os estudos na perspectiva das polticas
educacionais e do direito, enquanto que as produes sobre a evaso escolar no foram to
abordadas. Contudo, esta investigao constata que existe um grande nmero de produes
acadmicas sobre a EJA.
Na tabela a seguir, so apresentadas as quantidades de teses de doutorado e dissertaes
de mestrado que esto diretamente vinculadas ao tema desta pesquisa, As taxas de evaso
escolar na Educao de Jovens das sries iniciais do Ensino Fundamental I, em duas escolas do
municpio de Osasco/SP, no perodo de 2009 a 2014. A partir desta seleo so realizadas
leituras analticas das obras para compreenso global de cada uma delas.
Palavras-chave Dissertaes Teses Total
Educao de jovens e
adultos
964 279 1243
Evaso escolar na EJA 20 8 28
Direito na EJA 78 38 116
Polticas na EJA 114 37 151
31
Tabela 4 Levantamento das produes acadmicas que esto vinculadas a evaso escolar na EJA.
CAPES
Palavras-chave Dissertaes Teses Total
Evaso escolar na EJA 2 0 2
BDTD
Palavras-chave Dissertaes Teses Total
Evaso escolar na EJA 5 0 5
Fonte: dados trabalhados pelo autor a partir do levantamento das produes acadmicas.
A princpio, foram feitas as anlises dos resumos de todas as produes encontradas
referente evaso escolar na EJA. Assim, identificaram-se os trabalhos que apresentam o objeto
de pesquisa similar ao que esta investigao aborda. Nos dois locais de busca sobre a evaso
escolar na EJA, no foram encontradas produes acadmicas de doutorado. Para as palavras-
chave evaso escolar na educao de jovens e adultos foram encontradas cinco obras na
BDTD, sendo estas dissertaes de mestrado.
1.2 Anlises das obras vinculadas evaso escolar na EJA
A primeira produo que teve seu contedo analisado foi o trabalho de Pedro Jos de
Lara (2011), onde o autor aborda a evaso escolar na educao de jovens e adultos no municpio
de Crceres - MT. Nessa obra, intitulada como Educao de Jovens e adultos: perspectivas e
evaso no municpio de Crceres MT, Lara entrevistou vinte alunos evadidos entre os anos
de 2000 e 2009. O autor teve por objetivo conhecer as expectativas dos alunos ao ingressarem
nessa modalidade de ensino e diagnosticar as causas que tm elevado os ndices de evaso
escolar. Tal pesquisa obedeceu s caractersticas de estudo de caso. Os resultados mostraram o
declnio da oferta da EJA naquele municpio e apontaram a necessidade de trabalhar dos
educandos como um dos principais fatores da evaso escolar.
Em Educao de jovens e adultos: um estudo sobre trajetrias escolares
interrompidas (2012), o autor Vilson Pereira dos Santos toma como ponto de partida para sua
anlise a trajetria de vida e escolar de educandos e busca verificar as causas do abandono da
escola por estes sujeitos. Com os resultados da pesquisa pde-se verificar que um dos fatos
mais marcantes relacionados evaso da EJA est vinculado, principalmente, questo do
32
trabalho dos ex-alunos, alm de outros fatores como problemas de sade, problemas familiares,
moradias distantes da escola e conflitos intergeracionais dentro da instituio de ensino. Tanto
a primeira quanto segunda dissertao foram encontradas nos dois locais de busca CAPES
e BDTD.
A terceira produo verificada a de Miguel Rodrigues de Almeida (2008), com o ttulo
de Educao de jovens e adultos no municpio de Senhor do Bonfim BA: relao entre a
prtica docente e a evaso escolar. Almeida investigou a prtica docente e sua relao com a
evaso escolar na educao de jovens e adultos. Ele configura a educao de jovens e adultos
como pertencente s camadas populares e clientela excluda do direito educao, fortemente
marcada pela desigualdade social. Ainda, expe a ideia que estes sujeitos excludos no
progridem na educao formal. Este trabalho de dissertao aponta para uma prtica docente
diretiva, bancria e pouco reflexiva, que no contribui para minimizar a evaso escolar. Os
sujeitos desta pesquisa foram professores, alunos e gestores.
Na produo Representaes de escola por alunos evadidos e reinscritos em turmas
de educao de jovens e adultos, dissertao de mestrado de Fabio de Oliveira Ramos (2003),
so analisadas as representaes de escola por alunos que evadiram do sistema escolar. O aporte
terico da pesquisa fundamenta-se na anlise do discurso, postulado pelos estudos na interface
com a psicanlise de Foucault e Pcheux. Ramos investigou marcas ideolgicas que revelassem
os modos de subjetivao e efeitos de sentidos que indicassem as posies do indivduo em
relao ao outro, seja num contexto econmico-social ou de ordem do estado (afetado pelas
metanarrativas que concebem a educao formal como o nico meio de se atribuir poder ao
saber do aluno). Para o pesquisador, a falta de significar/singular a educao formal resulta em
novas situaes de auto excluso de sua vida escolar. uma obra fascinante e contribui com
reflexes e consideraes ao tratar dos elementos sociopolticos e ideolgicos da educao
pblica.
Estudou-se tambm a pesquisa de Roniere dos Santos Fenner (2009), com o ttulo Os
impactos que o Projeto Poltico-Pedaggico produziu na vida da escola no que tange a evaso
escolar e a repetncia dos estudantes do ensino noturno. Este trabalho investigou, sob a
perspectiva de professores e gestores, os efeitos da experincia de uma pesquisa participante
geradora do processo de construo do Projeto Poltico Pedaggico (PPP) entre os anos de 2001
e 2007. Este estudo indica que por meio da compreenso dos problemas que dizem respeito ao
microssistema de uma escola possvel construir compreenses das questes educacionais de
33
dimenso macro. Tambm sinaliza para os limites que as polticas educacionais, macros e
micros, tm para solucionar os problemas que povoam os processos escolares.
Pesquisa interligada evaso escolar A educao de adultos - instrumento de excluso
ou democratizao: um estudo sobre a evaso em cursos de educao bsica para adultos,
dissertao de Marisa Eugenia Melilo Meira Ragonesi (1990), analisa o fenmeno da evaso
em cursos de educao bsica para adultos e jovens, de forma a levantar algumas questes que
podem subsidiar uma reflexo mais rigorosa acerca dos possveis caminhos que tambm
possam lev-los a se constituir em um efetivo instrumento de democratizao social e
educacional. Esta produo demonstra que a evaso deve ser compreendida como uma sntese
de mltiplas determinaes, na qual se somam os fatores de ordem poltica, ideolgica, social,
econmica, psicolgica e pedaggica. Tambm aponta algumas medidas que so necessrias,
ainda que insuficientes para reverso do quadro atual, ou pelo menos, que minimizem os
problemas que se apresentam.
Ao fazer este mapeamento encontrou-se uma dissertao que diz respeito ao municpio
de Osasco e que tem como objeto de pesquisa o Movimento de Alfabetizao de Jovens e
Adultos em Osasco (MOVA). Entretanto, Abrem-se as Cortinas do Teatro do Oprimido no
Movimento de Alfabetizao de Jovens e Adultos em Osasco, de Francisca Maria Santos
(2014), buscou identificar se os jogos utilizados na alfabetizao contribuem para a aquisio
da leitura e da escrita, interpretando sua eficcia para apontar novos subsdios e intervenes
no MOVA. Tal movimento apresenta caractersticas diferentes da EJA, como a sua instalao,
que no ocorre em escolas, mas sim em igrejas, creches, associaes e empresas. Seu
funcionamento a partir de convnios entre prefeituras e entidades assistencialistas, sociedade
e associaes.
As leituras dos trabalhos acadmicos selecionados no s permitiram entender como
so organizadas e estruturadas suas metodologias, como tambm indicaram como determinados
pesquisadores se apropriam do referencial terico para torn-los teis em suas pesquisas.
Percebeu-se tambm que certos autores se repetem em dados referenciais bibliogrficos,
como FREIRE (1993, 1987, 1992, 1996), GADOTTI (1995, 1996, 1997, 2005, 2008)
HADDAD (1992, 1999, 2000, 2007) e PINTO (2003, 2007). Contudo, outros autores tambm
merecem ateno, tais como ARROYO (2001, 2005), FRIGOTTO (2013), GRAMSCI (1975,
1982) SAVIANI (1996, 1999, 2000) e MARX (1971, 2001).
34
A anlise dos temas em torno dos quais se organiza a produo acadmica sobre a
Educao de Jovens e Adultos revela que seu desenvolvimento ocorre sobre diferentes
concepes tericas, segundo a faceta dessa modalidade de ensino. Os objetos de pesquisa
destas produes aqui mapeadas apontam para diferentes perspectivas sobre evaso escolar. No
entanto, a abordagem metodolgica similar e fundamenta-se nos princpios da pesquisa
qualitativa e nas caractersticas de estudos de caso. Os instrumentos utilizados pelos autores em
suas pesquisas foram as anlises documentais, entrevistas, entrevistas semiestruturadas,
questionrios etc. Tais obras situam seu universo de pesquisa nos estados e municpios
brasileiros, em escolas (algumas rurais); porm, cada cenrio de estudo aponta especificidades
diversificadas.
Numa aluso geral, o mapeamento da produo sobre evaso escolar na EJA, tendo por
base as teses e dissertaes nos bancos da CAPES e BDTD, indicou que este campo tem
privilegiado certos aportes tericos. Ao se fazer o levantamento das obras, pesquisando pelo
termo educao de jovens e adultos, observa-se grande quantidade de produes com
subtemas em diferentes reas do conhecimento. importante ressaltar que a presente
dissertao no pioneira, embora as reflexes tragam como resposta as indagaes
preliminares dos motivos que levam os sujeitos a abandonar os estudos. Por mais que estas
produes se paream, elas jamais sero iguais, mas semelhantes em relao a realidades,
alunos ou metodologia.
1.3 Referencial bibliogrfico: as discusses sobre o direito educao de jovens e
adultos
Sergio Haddad (2000) coordenou o estudo sobre o estado da arte das pesquisas em
Educao de Jovens e Adultos no Brasil, realizadas entre 1986 e 1998, que contou com a
participao dos pesquisadores Maria Margarida Machado, Mnica M. de O. Braga Cukierkorn,
Antnio Carlos de Souza e Marcos Jos Pereira da Silva. Temtico, considerou resultados de
dissertaes de mestrado e teses de doutorado dos programas de ps-graduao das principais
instituies universitrias brasileiras (34 no total). As fontes de pesquisas foram o CD-ROM da
Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisas em Educao (ANPED), 3 edio,
publicado em 1999, 98 colees peridicas nacionais e anais dos trs principais eventos em
educao do pas.
35
O objetivo deste estado da arte realizado por Srgio Haddad foi o de detectar e discutir
os temas emergentes da pesquisa em educao de jovens e adultos no Brasil, atualizando para
o perodo de 1986-1998 as indicaes do conjunto de estudos que compuseram um estado da
arte da educao de jovens e adultos no Brasil para o perodo de 1975-1985. Buscou-se, num
recorte temporal definido, sistematizar o campo do conhecimento, reconhecendo os principais
resultados da investigao, identificando temticas e abordagens dominantes e emergentes, bem
como lacunas e aspectos inexplorados pela pesquisa.
Segundo Haddad, foram apurados mais de 1300 ttulos produzidos no perodo
estabelecido, com quase 33% da produo do conhecimento se expressando em artigos e
nmeros especiais de peridicos, enquanto teses e dissertaes representam aproximadamente
9,5% da produo total. J os livros ou publicaes seriadas do perodo so 7,93% da produo,
o que revela o escasso desenvolvimento da rea temtica.
Esta pesquisa de Haddad compreendeu trabalhos que abordam as concepes,
metodologias e prticas de educao de pessoas jovens e adultas, envolvendo questes relativas
Psicologia da Educao, formao dos educadores, ao currculo e ao ensino e aprendizagem
das disciplinas que a compem. J que tal modalidade de ensino frequentemente reconhece o
educando como trabalhador e remete s relaes com o mundo do trabalho, a maioria das
pesquisas levantadas so estudos de casos com abordagens dominantes nos campos da
Sociologia, Poltica e Filosofia da Educao. Ao que se refere evaso escolar e repetncia,
este levantamento mostra que tais fenmenos so generalizados, explicados pelos autores por
meio da inadequao das condies de estudo e dos modelos pedaggicos s necessidades
educativas dos trabalhadores.
No livro Educao de Jovens e Adultos, o que revelam as pesquisas, organizado
pesquisador Lencio Soares (2011), os alunos do mestrado e doutorado em Educao da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) procuraram fazer um balano dos trabalhos
apresentados no GT de Educao de Jovens e Adultos da ANPED. Os trabalhos foram
agrupados em sete categorias, que atendem a maioria das abordagens dos GT, sendo elas:
polticas pblicas; sujeitos da EJA; alfabetizao e letramento; EJA e o mundo do trabalho;
formao de educadores, currculos e prticas pedaggicas e o tema da escolarizao.
Com o intuito de dar continuidade ao Estado do Conhecimento da EJA, realizado
anteriormente por Srgio Haddad (19861998), o exemplar de Lencio Soares (2011) contribui
para todos aqueles envolvidos com a EJA medida que apresenta o que foi produzido em
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termos de conhecimento cientfico e quais so as temticas que ainda carecem de estudo e
pesquisa no campo da EJA. Neste exemplar, vrios outros autores apresentam suas pesquisas:
a) Arlete Ramos dos Santos e Dimir Viana, no texto intitulado Educao de Jovens e
Adultos: uma anlise das polticas pblicas (1998 a 2008), buscaram entender o percurso
histrico da constituio da EJA como poltica pblica e os contornos atuais aps a Constituio
Federal de 1988 ter proclamado o direito de todos educao. As pesquisas revelam a
importncia da mobilizao da sociedade civil e das iniciativas de poder local na busca de se
escrever uma histria diferente de EJA.
b) O texto Sujeitos de mudanas e mudanas de sujeitos: as especificidades do pblico da
Educao de Jovens e Adultos 1 apresenta como tem sido entendido o sujeito da EJA.
Demarca que os trabalhos de base do mais nfase a trs fases da constituio desses sujeitos,
a saber: jovens, adultos e idosos. As autoras sublinham a necessidade de se apurar as questes
prprias dessas etapas da vida, as relaes com o processo de escolarizao, as marcas da
excluso e de se ampliar as especificidades para alm da ligao com o trabalho.
c) Alfabetizao, letramento e educao de Jovens e Adultos, texto elaborado por
Cristiane Dias Martins da Costa e Paula Cristina Silva de Oliveira, aponta que o campo da
alfabetizao recebeu contribuies decisivas que redefiniram a noo do que ser alfabetizado
e de como se d este processo. Apesar da vasta experincia acumulada, persiste a preocupao
com a efetividade da alfabetizao de jovens e adultos, o que vem rendendo considervel
nmero de estudos e pesquisas na rea.
d) Jlio Cezar Matos Pereira, Ludimila Corra Bastos e Luiz Olavo Fonseca Ferreira
apresentam o texto Escolarizao, que versa sobre um espao singular, tanto do ponto de
vista social quanto humano, no qual, sob determinada intencionalidade, se configura numa das
possibilidades de jovens terem acesso educao: a instituio escola. A escolarizao, um
direito bsico de todas as pessoas, na modalidade EJA constituiu-se como um campo estratgico
para se opor excluso e desigualdade social, segundo as autoras que procuram compreender
como a escola tem desenvolvido seu processo formativo.
e) J o texto Currculos e prticas pedaggicas: fios e desafios, de Ana Paula Ferreira
Pedroso, Juliana Gouthier Macedo e Marcelo Reinoso Fandez (2011), discute o que fazer no
1 Autoria de Fernanda Vasconcelos Dias, Helen Cristina do Carmo, Heli Sabino de Oliveira, Jerry Adriani da
Silva, Neilton Castro da Cruz e Yone Maria Gonzaga.
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espao escolar com base em dois campos prprios de discusso, com matrizes referenciais
tericas pertinentes e acmulos considerveis, os quais, ao se entrelaarem, tomam propores
diferenciadas quando pensados para a EJA. No que se refere s discusses conceituais acerca
desse tema, verificou-se que ainda forte o vnculo com disciplinas e campos de conhecimento
especficos, numa clara aproximao com concepes educativas escolares.
A flexibilidade conquistada na construo do currculo refletida na valorizao dos
saberes e conhecimentos prvios dos educandos, ressaltando a necessidade de resgatar
as experincias e as histrias de vida desses sujeitos scio-histricos, mas tambm de
conect-las com os contedos a serem desenvolvidos (PEDROSO; MACEDO;
FANDEZ. 2011, p. 205),
O universo amplo dos trabalhos permitiu aos autores perceberem algumas tendncias de
anlises nesta temtica sobre a elaborao do currculo e das prticas pedaggicas, reforando
as contribuies para o campo referentes ao lugar dos estudantes nas propostas.
f) No texto Educao de Jovens e Adultos no contexto do mundo do trabalho, Ana Paula
B. de Oliveira e Flavio de Ligrio Silva (2011) discutem as relaes entre a EJA e o mundo do
trabalho. A categoria histrica trabalho intrnseca condio humana, figurando como
importante objeto de teorizao sociopoltica. Uma das especificidades do estudante da EJA diz
respeito ao fato de serem trabalhadores. A condio de trabalhador impe certos quesitos a
serem postulados nas propostas da EJA. Mas afinal, quem se responsabiliza pela formao do
trabalhador? Tal pesquisa procura responder a essa questo transitando por caminhos que levam
educao formal e no formal.
g) Revisitando estudos sobre a formao do educador de EJA: as contribuies do
campo, escrito por Fernanda Rodrigues Silva, Rosa Cristina Porcaro e Sandra Meira Santos
(2011), apresenta o debate em torno da formao do educador da EJA. O processo constitutivo
do educador de EJA, os procedimentos, tipos ou etapas que do forma a esse profissional vm
ganhando ateno quando associado qualidade da educao. As autoras entendem a
necessidade de se compreender a formao do educador em geral, de modo a avanar os
conceitos. O campo da formao em geral distingue dois momentos para a formao de EJA,
extrapolando as terminologias e motivando o debate em torno dos momentos que os educadores
tm constitudo sua formao.
Em suma, os textos produzidos abordam as temticas:
o percurso histrico-poltico da modalidade atravs da historicidade do GT 18;
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as especificidades do pblico atendido na EJA, tendo por base a excluso do
processo de escolarizao na infncia e na adolescncia e a condio de no
criana e a insero no mercado de trabalho;
as polticas pblicas no EJA atravs de uma anlise critica do processo de
historizao da modalidade e do debate do direito educao;
a alfabetizao e o letramento na EJA por meio de trs categorias: Alfabetizao
e letramento no Brasil, Construo do Processo de Alfabetizao e Sentidos da
Alfabetizao;
a escolarizao na EJA por meio de uma discusso conceitual sobre o termo e sua
relao com a modalidade;
o currculo e as prticas pedaggicas e a relao destes com as disciplinas
escolares e os campos especficos de conhecimento;
a EJA no contexto do mundo do trabalho por meio do conjunto de produes que
versam sobre experincias de formao, concepes educacionais e objetivos para
a modalidade;
a formao do educador de EJA, os significados atribudos formao e a
formao contnua dos educadores de jovens e adultos, buscando estabelecer um
dilogo entre os textos analisados e a fundamentao terica que permeia o
assunto.
Os resultados desta leitura exploratria apontam que o nmero de pesquisas sobre a
educao de jovens e adultos ainda necessita ampliar, colaborando para aumentar a constituio
da EJA como rea do conhecimento.
Outra pesquisadora que se destaca nas discusses acadmicas Jane Paiva.
Pesquisadora e professora da Faculdade de Educao da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (UERJ), debate no cenrio acadmico sobre o direito educao. Em um dos seus
livros, Os Sentidos do Direito Educao de Jovens e Adultos (PAIVA, 2009), apresenta
uma historicidade da evoluo das polticas educacionais na EJA. Ela observa movimentos
nacionais que levaram a formulaes legais - tanto constitucional quanto educacional -,
consolidando o direito educao para jovens e adultos em outubro de 1988. A Constituio
Federal trouxe de volta o direito negado durante anos aos brasileiros, que a garantia da oferta
de matrculas no ensino fundamental para todos, independente da idade. Mesmo com tal direito,
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este ainda no suficiente para superar, na prtica, os persistentes mecanismos de interdio ao
direito educao de muitos jovens e adultos privados da escolaridade. Para a autora, os
sentidos do direito educao para jovens e adultos traz, s portas da chegada a Belm do Par
da VI Confintea, um conjunto de reflexes sobre a perspectiva histrica do direito educao
para jovens e adultos, tomando como base os encontros internacionais. Todavia, percorrendo
acordos internacionais, polticas e prticas nacionais, Paiva traz ao contexto reflexes sobre o
direito educao para jovens e adultos. Segundo a autora,
Vivem-se outros tempos de EJA. Depois de quase doze anos passados desde a ltima
Conferencia Internacional, pode se afirmar que o conhecimento da rea, no Brasil
seja parte dos pesquisadores do campo, seja por parte da sociedade organizada, seja
por parte das polticas pblicas recela um conjunto amadurecido e crtico capaz de
contribuir, impulsionar a ao e transformar a realidade ainda persistente de interdio
ao direito educao de todos os jovens e adultos privados da escolarizao. Superar
essa interdio significa poder usufruir com plenos poderes a condio cidad de
participao no mundo da cultura escrita em condio de igualdade com aqueles que
dispuseram desse mesmo direito, na infncia (PAIVA, 2009, p. 12).
O livro oferece subsdios para aqueles que acompanham as disputas e tenses em torno
desse direito. A investigao perscrutou textos e documentos, auxiliando a compreenso de
formulaes, concepes e sentidos produzidos em eventos preparatrios.
Outro livro que apresenta as discusses em torno da EJA rene artigos que abarcam
reflexes sobre esta modalidade de ensino e foi organizado por Jane Paiva e Ins B de Oliveira.
Neste exemplar intitulado Educao de Jovens e Adultos (2009) Fvero escreve o captulo
Lies da histria: os avanos de 60 e a relao com as polticas de negao de direitos
que alimentam as condies do analfabetismo no Brasil e revisa as campanhas e
movimentos de educao de adultos no perodo compreendido pelas dcadas de 1940 a 1960 e
elabora uma reflexo sobre os efeitos dessas campanhas ainda nos dias de hoje.
Jane Paiva, ao escrever o artigo Educao de Jovens e Adultos: questes atuais em
cenrio de mudanas traa as questes atuais que reconceitualizam a EJA e as resistncias
que, vencendo os cursos da histria que nega o direito educao, pem-se a contrapelo para
imprimir outras marcas nas relaes de poder entre Estado e sociedade civil, expressas pelas
foras sociais organizadas, em defesa da garantia do direito constitucional educao, este no
apenas um direito social, mas direito humano fundamental. A educao de jovens e adultos
assume novos significados, que, para Fvero (2009, p.20), ambos tm uma dupla funo de
formar para a cidadania e de preparar para o mundo do trabalho, essas funes se colocam de
modos diversos para os jovens e adultos.
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Paiva apresenta reflexes sobre os significados da EJA na atualidade, passando pelos
principais documentos legais e estratgicos, as experincias dos fruns de EJA, das ONGs e
dos movimentos sociais at a atualidade.
A pesquisadora Eliane Ribeiro Andrade, em seu texto Os jovens da EJA e a EJA dos
jovens (2009) discute os direitos que os jovens, marcados pelas desigualdades sociais, tm
educao. A partir de uma cuidadosa anlise de dados quantitativos e de dados sobre a situao
de algumas escolas noturnas, mostra o quanto o direito educao vem sendo negado aos jovens
oriundos das camadas mais pobres da populao, sobretudo aos negros. Revertendo o modo
preferencial de avaliao do problema, a autora afirma, com pertinncia e argumentao
apropriada, que a escola est desperdiando a segunda chance que esses jovens oferecem a ela
de exercer o seu papel social de form-los para uma vida digna e cidad. Andrade apresenta a
distoro srie-idade e as controvrsias da EJA, embora as estatsticas revelem dados favorveis
em relao ao atendimento educacional para o ensino fundamental na dcada de 1990. Assim,
percebe-se que ser jovem na EJA significa encarar os desafios constitudos pelo sistema social
que no reconhece, historicamente, o direito desses indivduos.
Timothy Ireland, ao integrar neste livro organizado por Paiva e Oliveira (2009), nomeia
o artigo Escolarizao de trabalhadores: apreendendo as ferramentas bsicas para a luta
cotidiana e responde questo de a escola no reagir diante da atuao do seu papel social
apontando, primeiramente, as contradies entre os perigos polticos e as necessidades
econmicas, historicamente inerentes sociedade capitalista quando se trata de investir ou no
na educao dos trabalhadores. O autor percebe como os projetos de escolarizao de
trabalhadores no Brasil vm se apresentando nas ltimas dcadas, a partir de um modelo do
sindicalismo do Brasil. A luta desses trabalhadores deu origem a um projeto educativo
desenvolvido h dezoito anos, com uma parceria entre a Universidade Federal da Paraba
(UFPB) e o sindicato. O autor faz entender que esta recente configurao da EJA no Brasil se
constitui como uma alternativa para a classe trabalhadora.
Pensando sobre essa cultura escrita, to cara aos trabalhadores, a pesquisadora mexicana
da rea de alfabetizao e de processos de leitura e escrita Judith Kalman realiza uma
interessante discusso a respeito dos conceitos de acesso, de participao em eventos de ler e
escrever e de apropriao de tal cultura. Possibilita rever as reflexes dos sentidos da leitura,
considerando os conceitos de apropriao. Ao escrever o captulo O acesso cultura escrita:
a participao social e a apropriao de conhecimentos em eventos cotidianos de leitura e
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escrita (KALMAN, 2009), analisa o acesso leitura e escrita numa perspectiva
sociocultural, sendo destacado que a escola o local privilegiado para esse acesso, mas no o
nico. O artigo da pesquisadora remete o leitor, invariavelmente, a pensar como tm sido
desenvolvidos os projetos de alfabetizao e de sua continuidade, historicamente, no que diz
respeito centralidade inquestionvel da leitura e da escrita, ainda hoje de lugar duvidoso na
escola de nvel fundamental.
Ajudando a pensar sobre essa questo, Ins Barbosa de Oliveira prope uma discusso
sobre a inadequao da maior parte das propostas curriculares s necessidades aos interesses
dos alunos da EJA. A autora ao compor este exemplar escrevendo o captulo intitulado
Organizao curricular e prticas pedaggicas na EJA: algumas reflexes (2009) mostra
uma importante anlise acerca do currculo, apontando a necessidade de superao dos modos
formalistas dominantes de se entender o currculo e a valorizao das experincias locais e dos
diferentes sujeitos dos processos pedaggicos. Oliveira apresenta o conceito de tessitura do
conhecimento em redes, ressaltando que o currculo ser mais adequado aos educandos se
aspectos referentes realidade estivessem ali contemplados. Ainda, destaca a infantilizao dos
currculos e planejamentos na EJA e critica a fragmentao em sua organizao.
Vianna, Valentim, Lobato et al. (2009) demonstram que a ausncia de polticas pblicas
com vistas a garantir o direito educao abarca incertezas que acompanham a trajetria da
EJA, escrevendo o artigo o fazer pedaggico no centro do processo de formao
continuada de professoras: autonomia e emancipao. As autoras enfatizam a importncia
dos fruns sobre a modalidade e das aes voltadas para a formao continuada de professores.
Tambm destacam que os encontros com professores da EJA constituem um processo de
aprendizagem para todos os sujeitos envolvidos e a realizao de projetos locais e especficos
de formao/autoformao docente para atuao na EJA.
Desenvolvido por uma equipe de professores formadores que assumiram a tarefa de
contribuir com o projeto educativo do movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)
no Esprito Santo, o texto Formao continuada como educao de jovens e adultos:
experincias junto aos educadores do MST (BATISTA, OLIVEIRA, CARVALHO et al.,
2009) . Os autores refletem acerca das possveis trocas a serem estabelecidas a partir da relao
dicotmica entre rural e urbano e percebem a complexidade da educao e da escola do campo.
Ao trmino deste livro, organizado por Jane Paiva e Ins B de Oliveira, Cleide Leito
relata, em seu artigo intitulado Itinerrios e processos de autoformao (2009) a respeito
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dos coletivos de autoformao e narra tambm a experincia da ONG Sap, no Rio de Janeiro.
Tais coletivos de auto formao que a autora se refere e dos quais participou aparecem como
espaos privilegiados de troca entre diferentes, de busca de uma formao que contribua s
prticas com os alunos, s reflexes dos participantes e instaurao de dilogos entre
problemas e solues inventadas por cada um nos seus fazeres cotidianos. Este livro aborda
debates e reflexes entre os seus possveis leitores e interlocutores, potencializando dilogos,
trocas de ideias e opinies, alm de somar a este estudo para a compreenso de prticas,
reflexes e conhecimentos relacionados ideia de educao como direito humano de
aprendizado permanente. Por entender que a educao de jovens e adultos no despreza o
sentido de escolarizao, que inclui a alfabetizao, direito ainda apenas formal para diversos
grupos e insuficiente como meta, as autoras partem da concepo de que a aprendizagem a
base do estar no mundo de sujeitos que, por processos educativos, melhor respondem s
exigncias de produzir a existncia e as identidades; exercer a democracia, prticas cotidianas
de participao e resistncia; e participar das redes culturais e sociais que envolvem o cdigo
escrito, instrumento fundamental em sociedades grafocntricas, para o exerccio da cidadania
no incio deste sculo.
O estudo Educao de jovens e adultos: polticas e prticas educativas (2011),
organizado e publicado por Jos dos Santos Sousa e Sandra Regina Sales, fruto do trabalho
desenvolvido na Baixada Fluminense por pesquisadores do Instituto Multidisciplinar da
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) preocupados com a educao de jovens
e adultos. No entanto, as discusses que no se restringem a essa realidade especfica.
Este livro expe diferentes leituras da realidade da EJA, reunindo abordagens sobre a
poltica e as prticas educativas nessa modalidade. No campo poltico, um conjunto de artigos
aborda as aes e contradies das aes pblicas para a formao de jovens e adultos no Brasil.
Enfoca, tambm, os limites e as possibilidades de diversos programas sociais que tm a EJA
como foco, em busca de explicar o papel do Estado e da sociedade civil no campo da educao
pblica e gratuita. Na rea das prticas educativas, outro conjunto de artigos abordam as
formulaes curriculares, as metodologias e a didtica da EJA.
Jos dos Santos Souza, Osmar Fvero, Gabriela Rizo, Jaqueline Ventura, Snia
Rummert, Maria Margarita Machado, Jane Paiva, Wagner Nobrega Torres, Rosanne
Evangelista Dias, Alice Casimiro Lopes, Enio Lima de Souza, Maria do Socorro Martins
Calha, Lana Fonseca, Sandra Regina Sales e Gustavo E. Fischman oferecem reflexes sobre
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as desigualdades educacionais, no s aos docentes da EJA da Baixada Fluminense, mas a todos
aqueles preocupados com esta temtica.
O livro no se prope ao consenso, mas diversidade, embora a partir dessa diversidade
seja possvel inferir amplas possibilidades de acordo. A possibilidade de consenso evidente
entre os textos dos autores consiste no compromisso poltico dos autores com as classes menos
favorecidas e suas preocupaes em superar as desigualdades de acesso ao conhecimento por
meio da escola.
O primeiro livro a inaugurar a Coleo para Todos, lanado pelo Ministrio da
Educao (MEC) e a Organizao das Naes Unidas para Educao, a Cincia e a Cultura
(Unesco) foi Educao de Jovens e Adultos: uma histria contempornea 19962004 (2004).
Esta coleo foi um espao para divulgao de textos, documentos, relatrios de pesquisas e
eventos, estudos de pesquisadores acadmicos e educadores nacionais e internacionais, que tem
por finalidade aprofundar o debate em torno da busca da educao para todos.
Este livro, organizado por Jane Paiva, Maria Margarida Machado e Timothy Ireland,
resgata uma rdua luta cotidiana e contempornea pelo direito educao de jovens e adultos
privados, historicamente, do bem simblico que a educao constitui. Para os autores, as
polticas contemporneas para a educao de jovens e adultos teceram-se com tica e
compromisso pblico. Antes, tais polticas eram quase no vistas. Hoje, tomaram a cena pelas
prticas reinventadas de democracia e pelos sentidos atribudos a direitos humanos, o que
envolve o direito educao. O estudo do volume revela o entrelaamento de dois princpios
bsicos para a EJA: a educao como direitos de todos e o direito a educao ao longo da vida.
Assim, os autores apresentam documentos, declaraes e relatrios produzidos no
contexto brasileiro e internacional, contextualizados entre outros subttulos deste trabalho.
Destacam-se:
a) Documento Final do Seminrio Nacional de Educao de Jovens e Adultos;
b) Declarao de Hamburgo sobre Educao de Adultos;
c) Agenda para o Futuro da Educao de Adultos;
d) Estratgia Regional de Continuidade da V CONFINTEA;
e) Relatrios-Sntese do I, II, III e IV Encontro Nacional de Educao de Jovens e Adultos.
Maria Margarida Machado tambm organiza o exemplar Formao de Educadores de Jovens
e Adultos: II Seminrio Nacional (2008). Este segundo Seminrio Nacional de Formao de
Educadores de Jovens e Adultos foi realizado numa parceria entre o MEC, a Unesco e o Frum
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Goiano de Educao de Jovens e Adultos. Nele foram aprofundadas as questes do I seminrio,
ocorrido em 2006.
O seminrio teve como tema os desafios e as perspectivas da formao de educadores e
o objetivo de refletir e apontar diretrizes acerca dessa formao no Brasil. Portanto, os autores
expem reflexes que demonstram a importncia da realizao do II Seminrio para o campo
de formao de educadores de jovens e adultos, o qual pode ser aperfeioado cada vez mais.
A tese de doutorado de Jane Paiva, com o ttulo Educao de Jovens e Adultos: direito,
concepes e sentidos (2005), tenta compreender as mudanas conceituais que ocorreram
devido s formas como o Estado, a servio dos interesses dominantes, regul