UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO … - Eng Civil... · Monografia apresentada a...
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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS AMBIENTAIS E TECNOLÓGICAS
CURSO DE ENGENHARIA CIVIL
RENATA FONSECA NOLASCO
ANÁLISE DA RESTAURAÇÃO DO PRÉDIO CINE TEATRO EM ASSÚ:
ASPECTOS HISTÓRICOS, EXECUÇÃO E AVALIAÇÃO DAS
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS.
MOSSORÓ-RN
2013
RENATA FONSECA NOLASCO
ANÁLISE DA RESTAURAÇÃO DO PRÉDIO CINE TEATRO EM ASSÚ: ASPECTOS
HISTÓRICOS, EXECUÇÃO E AVALIAÇÃO DAS MANIFESTAÇÕES
PATOLÓGICAS.
Monografia apresentada a Universidade Federal
Rural do Semi-Árido - UFERSA, Departamento de
Ciências Ambientais e Tecnológicas para obtenção
do título de Engenheira Civil.
Orientador: Prof. M.Sc. João Paulo Matos Xavier
MOSSORÓ-RN
2013
Ficha catalográfica preparada pelo setor de classificação e catalogação
da Biblioteca “Orlando Teixeira” da UFERSA N786a Nolasco, Renata Fonsêca.
Análise da restauração do prédio cine teatro em Assú:
aspectos históricos, execução e avaliação das manifestações
patológicas / Renata Fonsêca Nolasco. – Mossoró, RN: 2013.
73f. : il.
Orientador: Profº. M.Sc. João Paulo Matos Xavier
Monografia (Graduação) – Universidade Federal Rural
do Semi-Árido, Graduação em Engenharia Civil, 2013.
1. Patologia estrutural. 2. Durabilidade. 3. Manutenção.
I. Título.
CDD: 690.1
Bibliotecária: Marilene Santos de Araújo
CRB-5/1033
Ao meu pai, Valdomiro Nolasco (in memorian)
que infelizmente, não pode compartilhar a
realização do nosso Sonho.
Ao meu filho, Isac, por tornar meus dias mais
felizes.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, por seu amor incondicional, e por me ter dado forças para
nunca desistir dos meus objetivos.
Ao meu esposo, Fágnner, pelo companheirismo e compreensão nos momentos de ausência.
A minha mãe, Zélia, aos meus irmãos, Raphaella e Vinicius, e a minha tia Giselda, pelo amor
e apoio de sempre.
Ao meu orientador, João Paulo Matos Xavier, pela dedicação na realização desse trabalho.
Ao professor e coordenador do curso de Engenharia Civil, Raimundo Amorim, por não medir
esforços para formar profissionais éticos e qualificados. Prometo não mais esquecer seu
nome.
Ao setor de engenharia da Prefeitura Municipal de Assú, pela presteza e atenção.
A empresa Ágora Arquitetura e Engenharia por fornecer informações indispensáveis na
realização desse trabalho.
Aos amigos que conquistei durante essa jornada.
“Que o teu coração deposite toda a sua
confiança no Senhor! Não te firmes em tua
própria sabedoria! Sejam quais forem os teus
caminhos, pensa nele, e Ele aplainará tuas
sendas."
Provérbios 3:5-6.
RESUMO
O prédio Cine Teatro Pedro Amorim, é um monumento histórico da cidade do Assú,
que teve sua estrutura recuperada após passar várias décadas deteriorada e sem condições de
funcionamento. Dessa forma, este trabalho objetiva avaliar as condições atuais da estrutura do
prédio do Cine Teatro Pedro Amorim, do ponto de vista de segurança estrutural,
funcionalidade e durabilidade. O estudo se desenvolveu, inicialmente, mediante a
caracterização da estrutura, a partir de coletas de documentos técnicos e depoimentos com
pessoas envolvidas direta ou indiretamente no processo de recuperação do prédio. Dessa
forma, recuperou-se parte da história do monumento, evidenciando aspectos importantes: as
datas relevantes da obra, projetos de arquitetura, métodos para recuperação de patologias e
descrição da estrutura. Por fim, concluiu-se que, a localização geográfica do prédio, é
considerado fator principal para a manifestação de patologias, devido o solo apresentar-se
com elevada umidade. Assim, ao final deste trabalho, propõem-se um plano de manutenção
preventiva para garantir e prolongar a vida útil do monumento. O trabalho se insere na linha
de pesquisa de prédios públicos que se encontram deteriorados e sem nenhum programa de
manutenção preventiva, proposto pelo Curso de Engenharia Civil da Universidade Federal
Rural do Semi-Árido (UFERSA) com ênfase na área de patologia das estruturas.
Palavras chaves: Patologia das Estruturas. Durabilidade. Manutenção.
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 - Casa da Cultura em Assú ............................................................................. 16
Figura 02 - Igreja São João Batista ................................................................................. 18
Figura 03 - Prédio do Cine Teatro Pedro Amorim ......................................................... 19
Figura 04 - Planta arquitetônica adaptada ...................................................................... 20
Figura 05 - Prédio do Cine Teatro em situação de abandono, com vegetação aparente 21
Figura 06: - Prédio do Cine Teatro em situação de abandono ...................................... 21
Figura 07 - Cobertura nova, com telhas cerâmica colonial, material utilizado na época 22
Figura 08 - Arandela original ......................................................................................... 22
Figura 09 - Fases de desempenho de uma estrutura durante sua vida útil ..................... 24
Figura 10 - Hipóteses para reconversão de estruturas com desempenho insatisfatório . 25
Figura 11 - Tipos de fissuras .......................................................................................... 30
Figura 12 - Recalque diferenciado no edifício menor pela interferência no seu bulbo de
tensões, em função da construção do edifício maior ...................................................... 31
Figura 13 - Fundações assentadas sobre seções de corte e aterro , trincas de
cisalhamento nas alvenaria ............................................................................................. 32
Figura 14 - Trinca provocada por recalque advindo da contração do solo, devida à
retirada de água por vegetação próxima ......................................................................... 32
Figura 15 - Trinca horizontal na base da alvenaria por efeito da umidade do solo ........ 32
Figura 16 - Inter-relacionamento entre conceitos de durabilidade e desempenho ......... 33
Figura 17 - Projeto no qual a ventilação está prejudicada .............................................. 34
Figura 18 - Bolor em banheiro ....................................................................................... 35
Figura 19 - Infiltração em parede devido à ruptura de tubulação ................................... 35
Figura 20 -Trincas horizontais na alvenaria provenientes da expansão dos tijolos ........ 36
Figura 21 - Injeção de alvenarias .................................................................................... 38
Figura 22 – Preparação de uma parede de alvenaria para injeção. Selagem de juntas
e fendas e colocação dos tubos de injeção ...................................................................... 39
Figura 23 - Reparação de fenda localizada com reboco armado com malha de aço
eletrossoldada ................................................................................................................. 39
Figura 24 - Fases da intervenção com refechamento das juntas, combinado com
armaduras, dos pilares da Igreja de S. Sofia em Pádova, Itália ...................................... 41
Figura 25 - Imagem de satélite do Prédio Cine Teatro ................................................... 43
Figura 26 - Vista interna da parede lateral do prédio Cine Teatro ................................. 46
Figura 27- Palco de apresentações do Prédio Cine Teatro ............................................. 47
Figura 28 - Entrada principal do auditório ..................................................................... 47
Figura 29 - Cornija de iluminação restaurada ................................................................ 47
Figura 30 - Fachada lateral do Cine Teatro .................................................................... 48
Figura 31 - Fachada Posterior do Cine Teatro ................................................................ 48
Figura 32 - Fachada Principal do Cine Teatro ................................................................ 48
Figura 33 - Planta de reforma original do Prédio Cine Teatro ....................................... 49
Figura 34 - Arquitetura atual do Prédio Cine Teatro ...................................................... 50
Figura 35 - Implantação de espaço para administração local ......................................... 50
Figura 36 - Banheiro interrompendo a arcada – quebra na harmonia do ambiente ........ 51
Figura 37 - Laje do hall de entrada ................................................................................. 51
Figura 38 - Ampliação do Cine Teatro ........................................................................... 52
Figura 39 - Paginação do Piso do Foyer ......................................................................... 52
Figura 40 - Paredes com espessura de 40 cm ................................................................. 53
Figura 41 - Construção de novas alvenarias ................................................................... 54
Figura 42 - Fundação para novas alvenarias .................................................................. 54
Figura 43 - Cintas de amarração superior para reforço das paredes ............................... 56
Figura 44 - Fissuras no entorno de aberturas .................................................................. 56
Figura 45 - Rasgos na alvenaria para colocação de vergas ............................................ 57
Figura 46 - Fenda com abertura expressiva .................................................................... 58
Figura 47 - Fenda inclinada na região central a abertura ............................................... 58
Figura 48 - Vegetação dentro do prédio ......................................................................... 59
Figura 49 - Manchas escuras em paredes ....................................................................... 60
Figura 50 - Perda de elementos de vedação ................................................................... 61
Figura 51 - Perda de revestimento e elementos de vedação ........................................... 61
LISTA DE SIGLAS
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas
Art. – Artigo
UFERSA – Universidade Federal Rural do Semi-Árido
IPEAPE - Instituto Pernambucano de Avaliações e Perícias de Engenharia
PNE – Portadores de Necessidades Especiais
GDE – Grau de Deterioração das Estruturas
UnB – Universidade de Brasília
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 12
1.1 JUSTIFICATIVA ..................................................................................................... 13
1.2 OBJETIVOS ............................................................................................................. 14
1.2.1 Objetivos Específicos ........................................................................................... 14
1.3 ESTRUTURA DO TRABALHO ............................................................................. 14
2 REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................. 16
2.1 PRINCIPAIS MONUMENTOS DE ASSÚ ............................................................. 16
2.1.1 Casa da cultura .................................................................................................... 16
2.1.2 Igreja São João Batista........................................................................................ 17
2.2 O CINE TEATRO PEDRO AMORIM .................................................................... 18
2.2.1 A história .............................................................................................................. 18
2.2.2 A Reforma e Infraestrutura do Cine Teatro ..................................................... 20
2.3 CONCEITOS INERENTES AO TEMA ................................................................. 22
2.3.1 Patologia ............................................................................................................... 23
2.3.2 Desempenho em serviço ...................................................................................... 24
2.3.3 Vida útil e durabilidade ...................................................................................... 25
2.3.2 Manutenção .......................................................................................................... 26
2.4 PATOLOGIA DAS ALVENARIAS ........................................................................ 27
2.4.1 Patologia na Alvenaria de vedação ................................................................... 28
2.4.2 Tipos de Patologia das Alvenarias .................................................................... 29
2.4.2.1 Fissuras .............................................................................................................. 30
2.4.2.2 Umidade ............................................................................................................. 33
2.4.3 Recuperação e Reforço na Alvenaria ................................................................ 36
2.4.3.1 Técnicas de Reparação e Reforço ...................................................................... 38
3 METODOLOGIA ...................................................................................................... 43
3.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO .................................................... 43
3.2 PERÍODO DO ESTUDO E PROCEDIMENTO PARA DESENVOLVIMENTO DO
TRABALHO .................................................................................................................. 44
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO .............................................................................. 46
4.1 MUDANÇAS ENTRE O PROJETO ATUAL E O PROJETO ORIGINAL ........... 49
4.2 ASPECTOS CONSTRUTIVOS ............................................................................... 52
4.3 REFORÇO ESTRUTURAL ..................................................................................... 55
4.4 TIPOLOGIA DAS MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS ..................................... 56
4.4.1 Fissuras ................................................................................................................. 56
4.4.2 Fendas ................................................................................................................... 58
4.4.3 Manchas escuras e surgimento de vegetação .................................................... 59
4.4.4 Perda de elementos de vedação e revestimento................................................. 60
4.5 PLANO DE MANUTENÇÃO PREVENTIVA ....................................................... 62
5 CONCLUSÃO ............................................................................................................ 64
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÃO PARA TRABALHOS FUTUROS 67
REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 68
ANEXO A – Planta de situação e cobertura do Prédio Cine Teatro Pedro Amorim ..... 70
ANEXO B – Planta arquitetônica de reforma do Prédio Cine Teatro Pedro Amorim ... 71
ANEXO C - Parecer técnico referente à condição estrutural do Prédio Cine Teatro Pedro
Amorim ........................................................................................................................... 72
12
1 INTRODUÇÃO
A importância da preservação de monumentos históricos, culturais e artísticos está
muito além dos custos necessários para sua conservação, ela é a garantia da história de um
povo.
Infelizmente no Brasil, não existe uma política mais severa no que se refere à
elaboração de programas de manutenção preventiva no que tange à conservação do
patrimônio público. É possível ver claramente o descaso ou falta de cuidados necessários com
a herança cultural, sejam edificações, objetos ou características populares regionais, deixando-
os muitas vezes em situação de abandono total, o que faz aumentar ainda mais o estado de
deterioração desse patrimônio.
Atualmente, o registro utilizado para garantir a veracidade do patrimônio público é o
tombamento, utilizado em todos os bens móveis e imóveis de todas as autarquias, seja órgão
federal, estadual ou municipal, esse ato demonstra o dever de preservar e proteger o
patrimônio.
A Constituição Federal dispõe no Artigo. 216, o conceito constitucional para
patrimônio cultural brasileiro:
“Art. 216 – Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e
imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à
ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se
incluem:
I – as formas de expressão;
II – os modos de criar, fazer e viver;
III – as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações
artístico – culturais;
V – os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico,
paleontológico, ecológico e científico”.
Para o caso das edificações, objeto desse estudo, deve-se enfatizar que essa
preservação, não deve correlacionar-se apenas em aspectos aparentes ou arquitetônicos, mas
também garantir segurança e durabilidade. E a esse conjunto deve-se acrescentar reparos e
manutenção feitos periodicamente, para que assim, a estrutura possa garantir sua vida útil com
desempenho satisfatório.
13
É importante destacar a realização de manutenções preventivas nas edificações, tendo
em vista que danos descobertos com pouca idade têm os efeitos reduzidos e menores serão os
custos com reparos, como também, com possíveis reforços estruturais.
Diante disto, tomou-se como estudo de caso o prédio do Cine Teatro Pedro Amorim,
ponto turístico da cidade do Assú-RN, que teve sua estrutura predial recuperada, respeitando
características arquitetônicas originais.
Após anos de abandono e descaso total, o prédio encontrava-se sem condições de
funcionamento, o que ocasionou um investimento milionário, para recuperação e ativação do
bem público.
Dessa forma, este trabalho visa elaborar um estudo relacionado às manifestações
patológicas, e os métodos utilizados para a recuperação do prédio Cine Teatro em Assú, onde
justifica-se a realização para tal investimento.
1.1 JUSTIFICATIVA
Com o passar dos anos, inúmeras edificações começaram a apresentar deterioração em
suas estruturas. Seja por falhas humanas, como na fase de projeto e execução, seja pela ação
da agressividade ambiental nas estruturas. Diante disso, é inevitável a diminuição do
desempenho estrutural, e o consequente surgimento de manifestações patológicas.
A ausência de manutenção ou abandono da estrutura afeta diretamente sua segurança e
durabilidade. Se não houver uma sistemática periódica de manutenção, as patologias podem
alcançar altos graus deterioração, inviabilizando a recuperação estrutural ou ocasionando
sinistros.
Diante de todos estes aspectos o estudo de prédios tomados como patrimônio histórico
cultural se faz mais importante, tendo em vista que a preservação torna-se obrigatória, e a
falta de manutenção acarreta maiores investimentos financeiros para a recuperação da
estrutura física, como no caso do prédio do Cine Teatro de Assú, objeto desse estudo.
Aliado a isso essa pesquisa dá início ao estudo de prédios públicos que se encontram
deteriorados e sem nenhum programa de manutenção preventiva, proposto pelo Curso de
Engenharia Civil da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA) com ênfase na
área de patologia das estruturas.
14
1.2 OBJETIVOS
Este trabalho tem como objetivo geral avaliar as condições atuais da estrutura do
prédio do Cine Teatro Pedro Amorim, do ponto de vista de segurança estrutural,
funcionalidade e durabilidade.
1.2.1 Objetivos específicos
Nos objetivos específicos, pretende-se:
- Caracterizar a história, concepção, projetos estruturais e tecnologia construtiva;
- Verificar e correlacionar as possíveis mudanças entre o projeto atual e o projeto original.
- Verificar quais os métodos utilizados para a recuperação da edificação.
- Propor estratégias para um programa de manutenção, para garantir e prolongar a vida útil do
monumento.
1.3 ESTRUTURA DO TRABALHO
Este trabalho está estruturado em seis capítulos incluindo esta Introdução. Existem três
anexos, com documentos essenciais para o entendimento do trabalho.
O capítulo 1, Introdução, é feita uma análise descritiva sobre a importância da
conservação do patrimônio histórico, relatando-se os objetivos e justificativa para a realização
do trabalho.
O Capítulo 2, Revisão Bibliográfica é feita uma abordagem sobre os principais
monumentos históricos da cidade do Assú. Neste capítulo, também apresentam-se os
principais conceitos relacionados a patologias das estruturas, como durabilidade, vida útil e
manutenção. Descreve de forma sucinta as principais patologias manifestadas nas alvenarias.
O Capítulo 3, Metodologia, é realizado, a caracterização da área de estudo, o período e
procedimentos para o desenvolvimento do trabalho.
15
O capítulo 4, Resultados e Discussão, descrevem-se o antes e o depois do projeto de
revitalização do prédio Cine Teatro. As mudanças entre o projeto original e o projeto atual,
enfatizando as técnicas construtivas. Os métodos utilizados para o reforço estrutural. Estuda-
se a recuperação das patologias. É realizado proposta de manutenção preventiva do prédio
Cine Teatro Pedro Amorim.
O capítulo 5, Conclusão, é realizado uma listagem das principais conclusões referente à
recuperação do Prédio Cine Teatro.
O capítulo 6, Considerações Finais e Sugestão para Trabalhos Futuros, enfatiza-se a
importância da continuidade do estudo, para preservação dos prédios públicos como forma de
garantir a vida útil do prédio Cine Teatro Pedro Amorim e demais prédios da cidade do Assú.
16
2. REVISÃO DA LITERATURA
2.1 PRINCIPAIS MONUMENTOS DE ASSÚ
2.1.1 Casa da Cultura
A casa de cultura Popular no município de Assú foi inaugurada em 26 de dezembro de
2003, sendo administrada pela Prefeitura Municipal de Assú, sendo este o quarto município a
receber uma casa de Cultura Popular. Conhecida por muitos assuenses, como a Casa da
Baronesa, a edificação foi construída por volta de 1825, pelo pai da Baronesa, o coronel
Manoel Lins Wanderley. Além de residir à baronesa Belisária Lins Wanderley, também
residiu Luiz Carlos Lins Wanderley, irmão da baronesa, e primeiro norte-rio-grandense a se
formar em medicina.
A baronesa, ficou conhecida por ter servido um jantar aos seus escravos na noite em
que notificava a alforria, em 24 de junho de 1885, dia em que se festeja no município, o
padroeiro da cidade, São João Batista, três anos antes da Lei Áurea entrar em vigor. A Figura
01, apresenta a fachada frontal da Casa da Cultura Popular em Assú.
Figura 01: Casa da Cultura em Assú
Fonte: Jean Lopes ( acesso em www.assueassim.blogspot.com)
O casarão possui 379,60 metros quadrados de área construída com outro anexo,
medindo 12,45 metros de frente (Praça São João), 13,40 metros de fundos (Rua Moisés
Soares) e 64 metros de lado esquerdo (prédio pertencente a José Wanderley de Sá Leitão) e
17
direito (prédio pertencente ao mesmo proprietário), estando devidamente registrado no
Cartório de Registro de Imóveis da Comarca de Assu.
Em sua forma física, o prédio apresenta-se com 3 pavimentos, sendo que a divisão dos
pavimentos é em madeira, matéria-prima, muito utilizada na época. Sua arquitetura é fiel a
original, sendo que alguns reparos de manutenção foram realizados, como forma de intervir
na durabilidade do prédio, no entanto, ainda apresenta-se com diversas manifestações
patológicas.
2.1.2 Igreja São João Batista
Segundo, a revista Assú, de 1980, a construção da Matriz é dada como iniciada em 15
de Julho de 1760, com a ajuda de índios do Apodi. Porém houve uma grande interrupção no
processo construtivo da igreja, e depois de quase cem anos, a igreja teve que ser reconstruída
inteiramente.
Em 1903 novos reparos foram realizados, como também a reconstrução do altar-mor
pelo vigário Irineu Salles. Nos anos de 1906 e 1907, foi realizada a abertura das arcadas
laterais e a construção do piso de mosaico, no vicariato do pároco Antônio Brilhante. O
Monsenhor Júlio Alves Bezerra, abriu os arcos laterais da capela do altar-mor, construiu o
forro e iniciou o Salão Paroquial, atual Sacristia, em 3 de agosto de 1939. O Padre Raimundo
Gurgel, em 1942, construiu a calçada dos fundos, em escadarias.
Segundo Silveira, do site Fazendo História, a Igreja Matriz de São João Batista passou
por inúmeros melhoramentos, a saber:
- Descobrimento das portadas de pedra portuguesa e raspagem das grossas camadas de tinta
das portas frontais;
- Instalação de ventiladores de teto, renovados em 1990;
- Piso de mármore da capela-mor, em 1990;
- Piso de mármore nas laterais do interior da igreja, em 1991;
-Piso de mármore da Nave Central, colocado em 1992, ocasião em que se deu o
descobrimento das soleiras das portas em pedra portuguesa;
- Reforma do teto nas laterais, feito em concreto armado e revisão do telhado e madeiramento;
- Pintura completa do interior da Igreja Matriz, em 1995, com altares (todos) pintados com
tinta-ouro.
18
Recentemente os fiéis mobilizou toda a população do Vale do Assú, para angariar
fundos para a reconstrução da cobertura da Igreja São João Batista, que apresentava pouca
segurança, chegando a ter suas atividades suspensas naquele local. Segundo informações dos
administradores da paróquia, está previsto a reforma de todo o prédio, ainda neste ano de
2013, quando encerrar-se as comemorações de São João Batista. A Figura 02, apresenta a
fachada principal da Igreja São João Batista.
Figura 02: Igreja São João Batista
Fonte: Jean Lopes (acesso em www.assueassim.blogspot.com)
A igreja Matriz São João Batista, representa uma história de fé e cultura, para todos os
cidadãos da cidade do Assú, sendo comprovadamente pelas centenas de fiéis, durante os
festejos de São João Batista.
2.2 O CINE TEATRO PEDRO AMORIM
2.2.1 A história
Segundo o historiador, Gilvan Lopes 1
o Cine-Teatro Pedro Amorim foi para Assú e
municípios vizinhos, o destino das grandes produções culturais da época. Desativado na
década de 1980, o teatro foi berço de grandes nomes da poesia como o poeta João Lins
Caldas, um dos pioneiros do movimento modernista brasileiro.
1 Informação Verbal, Historiador e Secretário de Cultura de Assú
19
O Cine Teatro Pedro Amorim foi erguido em 1930 por Francisco Fernandes Martins,
industrial que atuava no ramo do algodão. Porém, sua inauguração aconteceu apenas em
1935, com a proposta de ser um ambiente voltado para abrigar expressões artísticas locais e
nacionais. No entanto a falta de eventos fez com que o Cine Teatro permanecesse fechado por
10 anos.
Em 1945 o teatro abriu as portas mais uma vez ao público, e partir daquele ano passou
a exibir filmes com frequência e a trazer atrações nacionais para a cidade.
Na década de 1980, o Cine Teatro encerrou suas atividades pela segunda vez,
passando mais de 30 anos desativado, o prédio ficou quase em ruínas, como está apresentado
na Figura 3.
Figura 3: Prédio do Cine Teatro Pedro Amorim
Fonte: Arquivos da Prefeitura do Assú
Segundo, Gilvan Lopes1, o prédio foi adquirido pela prefeitura em 2001, e em 2002 foi
elaborado um projeto de recuperação e ampliação do prédio, na época orçado em 714 mil
reais. No qual, foi submetido ao edital da Lei Câmara Cascudo e, naquele mesmo ano,
conseguiu sua aprovação. No entanto, não conseguiu-se patrocinador para a realização da
reforma. Deste período em diante foram feitas várias tentativas e em 2009 o projeto foi
novamente aprovado pela Lei Câmara Cascudo, dando-se inicio ao projeto de revitalização do
Prédio Cine Teatro.
20
2.2.2 A Reforma e Infraestrutura do Cine Teatro
A revitalização do Cine Teatro Pedro Amorim, faz parte do projeto de resgate cultural
da Prefeitura do Assú.
Segundo Eudja Mafaldo2, O projeto de restauração constam as seguintes aspectos:
ampliação para 195 assentos destinados ao público; criação de camarins e banheiros;
instalação de climatização, sonorização e iluminação, como pode ser observado na Figura 4.
Figura 4: Planta arquitetônica adaptada
Fonte: Arquivos da Prefeitura do Assú
É importante enfatizar que toda a arquitetura da fachada foi preservada, e algumas
alterações foram necessárias, para comportar uma capacidade maior de pessoas. Foram
instalados banheiros e rampas de acesso aos Portadoras de Necessidades Especiais (PNE).
No período da reforma, o prédio apresentava apenas com um grande salão na parte
externa e um verdadeiro galpão interno para os eventos. Apresentava também muitas
manifestações patológicas como fissuras e umidade. Sua desativação e abandono, aumentou o
grau de deterioração da edificação, como apresentado na Figura 5 e Figura 6.
2 Informação Verbal, Arquiteta do projeto de Restauração do Prédio Cine Teatro Pedro Amorim
21
Figura 5: Prédio do Cine Teatro em situação de abandono, com vegetação aparente
Fonte: Arquivos da Prefeitura do Assú
Figura 6: Prédio do Cine Teatro em situação de abandono
Fonte: Arquivos da Prefeitura do Assú
Além, das adaptações para PNE, a reforma proporcionou nos acabamentos, peças mais
sofisticadas, como Granito, confrontado com os detalhes originais da época.
Vale ressaltar, que há não existência da cobertura no período estudado para a
restauração, não possibilitou sua recuperação, dessa forma, a cobertura trata-se de um
elemento novo, como apresentado na Figura 7.
22
Figura 7: Cobertura nova, com telhas cerâmica colonial, material utilizado na época
Fonte: Arquivos da Prefeitura Municipal do Assú
Para restauração de algumas peças, foi necessário a retirada no local, para ser utilizado
como forma, para fabricação de novas peças, como a peça da Figura 8.
Figura 8: Arandela original
Fonte: Arquivos da Prefeitura
2.3 CONCEITOS INERENTES AO TEMA
Com finalidade da apresentação de um trabalho mais coerente e de fácil entendimento,
serão abordados conceitos importantes sobre a conservação da vida das estruturas.
23
2.3.1 Patologia
Desde as primeiras civilizações, o homem, busca adaptar-se ao meio ambiente, de
forma a atender suas necessidades. Obras habitacionais e de infraestrutura, compõem os
inúmeros legados da humanidade. A busca pelo conhecimento permitiu uma maior detenção
do saber, abrangendo a concepção, a análise, o detalhamento da vida das construções, além de
novas técnicas construtivas.
No entanto, não é o suficiente. De acordo com Ripper e Souza (2001), ainda existem
sérias limitações ao livre desenvolvimento científico e tecnológico, além das inevitáveis
falhas involuntárias e casos de imperícia, ocasionando que as construções apresentem
desempenho insatisfatório, se confrontadas com as finalidades a que se propunham.
Esse desempenho insatisfatório da construção está ligado diretamente às
manifestações patológicas, oriundas da reação da estrutura com o meio ambiente, e com os
erros humanos como citado anteriormente.
A palavra patologia, deriva das palavras gregas, pathos, que significa doença, e logos
significa estudo, assim, ela denota o estudo da doença, como a análise do mecanismo de
ocorrência, suas origens, suas prováveis causas, sua evolução, seus sintomas, seu estado atual,
a correção da lesão e a sua prevenção.
Como especifica Matos (2009), em sua dissertação de mestrado;
O termo patologia na engenharia civil foi inspirado na medicina, porém de
forma adaptada para as estruturas podendo ser conceituado como: qualquer
alteração, estética ou não, que cause perda de desempenho de um elemento,
componente ou construção, ao longo do tempo, diminuindo sua vida útil,
devido a erros de planejamento, projeto e execução; falhas na fabricação de
materiais componentes, má utilização e deterioração proveniente de sua
interação com o meio ambiente.
A preocupação com as manifestações patológicas e o eventual colapso da estrutura, foi
considerado a 4 mil anos atrás, na Mesopotâmia, no Código de Hamurabi, como primeiro
documento sobre a patologia das construções. Ele especifica que:
1º Se um construtor faz uma casa para um homem e não a faz firme e o seu colapso causa a
morte do dono da casa, o construtor deverá morrer;
24
2º Se causa a morte do filho do dono da casa, o filho do construtor deverá morrer;
3º Se causa a morte de um escravo do proprietário da casa, o construtor deverá dar ao
proprietário um escravo de igual valor;
4º Se a propriedade for destruída, ele deverá restaurar o que foi destruído por sua própria
conta;
5º Se um construtor faz uma casa para um homem e não o faz de acordo com as
especificações e cai uma parede, o construtor reconstruirá a parede por sua conta.
Dessa forma, a inspeção, avaliação e diagnóstico das patologias da construção são
tarefas que devem ser realizadas sistematicamente e periodicamente, de modo que os
resultados e as ações de manutenções devem cumprir efetivamente a reabilitação da
construção, sempre que for necessária, como forma de garantir a segurança e durabilidade da
edificação.
2.3.2 Desempenho em serviço
Segundo a ABNT NBR 6118 (2007), item 5.1.2.2 o desempenho em serviço de uma
estrutura consiste na capacidade que ela possui de manter-se em condições plenas de
utilização, não devendo apresentar danos que comprometam em parte ou totalmente o uso
para o qual foi projetada.
Vale ressaltar que o desempenho da estrutura, está correlacionado diretamente, a
manutenção da estrutura, que deve ser feita periodicamente. A Figura 9, demonstra a relação
entre o desempenho da estrutura em função do tempo.
Figura 9: Fases de desempenho de uma estrutura durante sua vida útil
Fonte: [Adaptada do CEB (1992) e HELENE (1992)] apud SOUZA (2009)
25
Dessa forma, para edificação apresentar baixos índices de deterioração, e prolongar
sua vida útil, é necessário um programa de manutenção adequado. Quanto mais cedo à
intervenção na estrutura, menor será a deterioração, e menores serão os custos para sua
recuperação.
Segundo Ripper e Souza (2001) o fato de uma estrutura em determinado momento
apresentar-se com desempenho insatisfatório não significa que ela esteja necessariamente
condenada. A avaliação desta situação é, talvez, o objetivo maior da Patologia das Estruturas,
posto que esta é a ocasião que requer imediata intervenção técnica, de forma que ainda seja
possível reabilitar a estrutura, como está apresentado na Figura 10.
Figura 10: Hipóteses para reconversão de estruturas com desempenho insatisfatório
Fonte: Ripper e Souza, 2009
Vale salientar que as atividades de manutenção visam manter além das características
estéticas, as características de funcionabilidade e durabilidade da estrutura, e por mais que
sejam bem projetadas e construídas, devem receber as intervenções necessárias e assim
apresentar desempenho que favoreça as condições de uso.
2.3.3 Vida útil e durabilidade
Com o passar dos anos, inúmeras edificações começaram a apresentar, deterioração
em suas estruturas. E conceitos como durabilidade e vida útil, tornaram-se objeto de pesquisa
de muitas instituições.
26
De acordo com a ABNT NBR 6118 (2007), item 5.1.2.3, a durabilidade de uma
estrutura consiste na sua capacidade de resistir às influencias ambientais previstas e definidas
em conjunto pelo autor do projeto estrutural e o contratante, no inicio dos trabalhos de
elaboração do projeto.
Ainda na NBR 6118 (2007), item 6.1, prever a exigência de durabilidade para as
estruturas que consiste na obrigação das mesmas serem projetadas e construídas de modo que
sob as condições ambientais previstas na época do projeto e quando utilizadas conforme
preconizados em projeto conservem sua segurança, estabilidade e aptidão em serviço durante
o período da sua vida util.
Associado ao conceito de durabilidade encontra-se o conceito de vida útil que depende
do fator tempo e das influências ambientais, e aplica-se à estrutura como um todo ou às suas
partes. “Por vida útil de projeto, entende-se o período de tempo durante o qual se mantêm as
características das estruturas de concreto, desde que atendidos os requisitos de uso e de
manutenção prescritos pelo projetista e pelo construtor, bem como de execução dos reparos
necessários decorrentes de danos acidentais” (NBR 6118:2007, item 6.2.1).
Como a durabilidade está inserida em diversos parâmetros, como o planejamento,
aspectos construtivos, e agressividade do meio ambiente, torna-se de extrema dificuldade, a
determinação da durabilidade da construção.
De acordo com Oliveira (2005) apud Fonseca (2007), modelos que tentam prever a
vida útil de uma estrutura devem fornecer informações para avaliar as mudanças que ocorrem
ao longo do tempo, levando em consideração as características ambientais onde a estrutura
está inserida. Existem alguns métodos que podem ser empregados para previsão da vida útil
das estruturas, utilizando-se de fatores: com base em experiências anteriores, com base em
ensaios acelerados, através de métodos determinísticos e probabilísticos.
Dessa forma, deve-se entender que a concepção de uma construção durável implica a
adoção de um conjunto de decisões e procedimentos que garantam à estrutura e aos materiais
que compõem um desempenho satisfatório ao longo da vida útil da construção (RIPPER,
SOUZA, 2001).
2.3.4 Manutenção
Segundo a ABNT NBR 5674/1999, item 3.5, manutenção é o conjunto de atividades a
serem realizadas para conservar ou recuperar a capacidade funcional da edificação e de suas
partes constituintes de atender as necessidades e segurança dos seus usuários.
27
Segundo Souza (2009), as atividades de manutenção compreendem uma série de
atividades técnicas a serem desempenhadas em etapas distintas:
- Manutenção preventiva: conjunto de atividades técnicas que buscam prevenir a ocorrência
de falhas e danos, programadas com antecedência e em intervalos de tempo regulares. Estas
atividades serão baseadas no diagnóstico apropriado decorrente de inspeções periódicas;
- Manutenção corretiva: compreendem as atividades técnicas que são realizadas a partir do
diagnóstico do problema, que causem mau desempenho ou afetem a funcionalidade da
edificação. Tais atividades podem ser para recuperação, reforço ou substituir parte da
estrutura.
A ABNT NBR 6118/2007, estabelece no item 25.4, as obrigações das construtoras
quanto ao manual de utilização, inspeção e manutenção das estruturas.
Dependendo do porte da construção e da agressividade e de posse das
informações do projeto, dos materiais e produtos utilizados e da execução da
obra, deve ser executado por profissional habilitado, devidamente contratado
pelo contratante, um manual de utilização, inspeção e manutenção. Esse
manual deve especificar de forma clara e sucinta, os requisitos básicos para a
utilização e a manutenção preventiva, necessárias para garantir a vida útil
prevista para a estrutura.
Dessa forma, fica claro que a manutenção é um trabalho mútuo, onde proprietário,
investidor e usuário deverão sempre estar dispostos a suportar o custo com o sistema de
manutenção concebido pelos projetistas, que deverá ter sido respeitado e viabilizado pelo
construtor. A base deste sistema, aliás, será o conjunto de inspeções rotineiras, em que o
usuário será um dos responsáveis para garantir qualidade e bom desempenho da estrutura.
2.4 PATOLOGIA DAS ALVENARIAS
A existência de estruturas de alvenaria antigas está difundida no mundo todo, em
centros históricos e urbanos, em diferentes tipos de estruturas como torres, edifícios, igrejas,
arcos, muros, fortes, muralhas, etc. O valor patrimonial, cultural e arquitetônico, que
28
representam faz com que a sua conservação e reabilitação seja de grande interesse para a
população.
Recentemente, tem-se assistido à preservação das paredes exteriores dos edifícios
antigos, em profundas intervenções que podem considerar-se no limiar mínimo da
conservação do património arquitetônico não monumental. Para o efeito contribuem as
naturais dificuldades de reparação dos edifícios antigos, em parte inerentes ao pequeno
domínio que se possui das técnicas e dos materiais envolvidos (ROQUE, 2002).
A patologia pode desenvolver-se tanto em elementos estruturais de concreto como em
alvenarias. Segundo Ramalho e Corrêa (2003), entende-se por alvenaria a associação de um
conjunto de unidades de tijolos, blocos ou pedras, que possui propriedades mecânicas
intrínsecas capazes de constituir elementos estruturais.
Segundo Roque, 2002, em alvenarias antigas, os materiais utilizados para unidades de
alvenaria eram, vulgarmente, a pedra ou o tijolo cerâmico, eventualmente reforçados com
estrutura interna de madeira. O uso de argamassa, ou material ligante, entre as unidades estava
dependente do tipo de alvenaria.
De acordo com Valle (2008), as estruturas de alvenaria resultaram, por processos
empíricos de aprendizagem (tentativa e erro), numa associação de elementos resistentes
através dos quais a transmissão das cargas se faz por “trajetórias” de tensões de compressão.
Apesar da aparente falta de ligação entre os elementos o fato é que, muitas destas estruturas,
deram provas da sua eficácia e mantiveram a sua forma durante séculos. Aliás, o sistema
construtivo das alvenarias, baseado na justaposição de unidades com uma fraca ligação entre
si, permite o seu fácil desmonte, o que se traduz numa maior facilidade de manutenção.
No presente trabalho será dada ênfase às patologias referentes à trincas/Fissuras e
umidade, que apresentam-se nas alvenarias.
2.4.1 Patologia na Alvenaria de vedação
Assim, como nos elementos estruturais, as patologias das alvenarias podem resultar
das falhas humanas, como erros de projeto, erros na qualidade dos materiais e na execução
das construções.
Hoje, os principais fatores que podem ocasionar a patologia das alvenarias são a
racionalização, a esbeltez de peças, e principalmente a aceleração da velocidade para
conclusão das etapas de construção.
29
É observado com mais frequência, que as fôrmas e cimbramentos são retirados com
antecedência, sem permitir que a estrutura atinja sua resistência de projeto, ocasionando uma
possível sobrecarga nas alvenarias.
Segundo Vitório (2003), a patologia nas alvenarias ocorrem na junção de paredes com
paredes e paredes e estrutura.
Pelo fato de empregarem materiais diversos, com parâmetros físicos
diferenciados, tornam-se necessários cuidados especiais, especialmente na
junção entre paredes e de paredes com a estrutura, de modo a evitar que as
diferenças de comportamento provoquem danos à edificação. Basta observar
que as fissuras mais comuns ocorrem justamente na ligação das paredes com
lajes, vigas e pilares, junto às aberturas de portas e janelas e na ligação entre
paredes.
As alvenarias também são muito sensíveis às movimentações estruturais provocadas
por recalques diferenciais nas fundações, excesso de sobrecarga nas lajes ou deformabilidade
das peças estruturais. Atenção especial deve ser dada às alvenarias que se apoiam sobre vigas
ou lajes em balanço.
Dessa forma, deve-se requerer um maior controle na execução e fiscalização das
construções, para que assim possa garantir maior qualidade e produtividade em relação a
interação estrutura-vedação.
2.4.2 Tipos de Patologia das Alvenarias
As anomalias manifestadas nas alvenarias que compõem as paredes de uma edificação,
são, de modo geral, bastante visíveis pela própria natureza dos materiais e do comportamento
desses componentes.
Assim como as estruturas, as alvenarias devem apresentar resistência aos fatores
externos e internos como variações de temperatura, movimentações das estruturas onde estão
apoiadas, umidade relativa do ar, infiltrações, etc.
Segundo Vitório (2003), as principais anomalias observadas nas alvenarias são
fissuras, e umidade.
30
2.4.2.1 Fissuras
As paredes de alvenaria apresentam em geral bom comportamento frente às
solicitações de compressão, não ocorrendo o mesmo em relação às solicitações de tração,
flexão e cisalhamento. Nos casos de fissuração, as tensões de tração e de cisalhamento são
responsáveis pela quase sua totalidade. Como as alvenarias são muito susceptíveis às
distorções e deformações excessivas, elas exigem cuidados especiais no projeto das
fundações, assim como na execução e no cálculo da estrutura (OLIVEIRA, 2001).
A fissura é a anomalia mais frequente nas alvenarias, sendo sua causa de difícil
conclusão, devido aos inúmeros fatores que a influenciam. Apresenta-se na forma vertical,
inclinada e/ou horizontal, sendo que, disposição no espaço, auxilia na perícia, como observa-
se na Figura 11.
Figura 11: Tipos de fissuras
Fonte: L.A Falcão Bauer (2000) apud Vitório (2003)
31
Dessa forma, conclui-se que os principais fatores que ocasionam a fissuração e
alteração mecânica nas alvenarias são:
- Geometria, rugosidade e porosidade dos componentes;
- Retração, aderência e retenção de água da argamassa de assentamento;
- Esbeltez, geometria da edificação, presença ou não de armadura, existência de paredes de
contraventamentos;
- Cintamentos, amarrações, tipos e dimensões de aberturas de portas e janelas;
- Tubulações embutidas;
- Movimentações higroscópicas e térmicas;
- Tipo de fundação, recalques diferenciais.
As Figuras 12, 13, 14, 15, apresentam as fissuras mais comuns nas alvenarias.
Figura 12: Recalque diferenciado no edifício menor pela interferência no seu bulbo de
tensões, em função da construção do edifício maior
Fonte: Thomaz (1989)
32
Figura 13: Fundações assentadas sobre seções de corte e aterro , trincas de
cisalhamento nas alvenaria
Fonte: Thomaz (1989)
Figura 14 :Trinca provocada por recalque advindo da contração do solo, devida à
retirada de água por vegetação próxima
Fonte: Thomaz (1989)
Figura 15: Trinca horizontal na base da alvenaria por efeito da umidade do solo
Fonte: Thomaz (1989)
33
2.4.2.2 Umidade
Os problemas de umidade podem se manifestar em diversos elementos das
edificações, como em paredes, pisos, fachadas, elementos de concreto armado, etc.
Geralmente eles não estão relacionados a uma única causa.
Segundo Verçoza (1991) apud Souza (2008) a umidade não é apenas uma causa de
patologias, ela age também como meio necessário para que grande parte das patologias em
construções ocorra. Ela é fator essencial para o aparecimento de eflorescências, ferrugens,
mofo, bolores, perda de pinturas, de rebocos e causa de acidentes estruturais.
Ripper e Souza (2001), menciona que, a água é um elemento chave no que diz respeito
a durabilidade e desempenho da edificação. A quantidade de água associada à quantidade de
ligante irá reger características como densidade, compacidade, porosidade, permeabilidade,
capilaridade e fissuração, além de sua resistência mecânica, que, em resumo, são indicadores
da qualidade do material, assim como, para determinação da durabilidade do material.
A Figura 16, apresenta os mecanismos de deterioração e durabilidade em função da
umidade.
Figura 16: Inter-relacionamento entre conceitos de durabilidade e desempenho
Fonte: C.E.B. - Boletim n* 183 - (1989) apud Ripper e Souza,2001
34
Da observação deste quadro infere-se que a água é o elemento principal para a
ocorrência de patologia e a consequente diminuição de desempenho e durabilidade da
edificação. Uma vez que, sua quantidade afeta diretamente a resistência aos agentes
agressivos.
Conforme Thomaz, 1989, a umidade pode ter acesso à construção de diversas vias:
- Umidade resultante da produção dos componentes
- Umidade proveniente da execução da obra;
- Umidade proveniente dos fenômenos meteorológicos;
- Umidade do solo;
Nas Figuras 17, 18, são apresentados alguns aspectos de projeto que favorecem o
surgimento de manifestações patológicas nas alvenarias.
Na figura 17, tem-se a ventilação do banheiro dando para uma área interna,
dificultando a ventilação e iluminação natural no ambiente, proporcionando o surgimento de
bolor.
Figura 17: Projeto no qual a ventilação está prejudicada
Fonte: Adaptada de ALUCCI & FLAUZINO & MILANO (1985) apud SOUZA (2008)
35
Na Figura 18, há o excesso de vapor de água originado pelo chuveiro, e ventilação precária
Figura 18:Bolor em banheiro
Fonte: Adaptada de ALUCCI & FLAUZINO & MILANO (1985) apud SOUZA (2008)
A figura 19 apresenta perda de revestimento da parede devido infiltração. As
principais causas, para esse tipo de patologia, refere-se ao mal dimensionamento da tubulação,
má execução das peças hidráulicas, baixa qualidade dos materiais ou ausência de substituição
de peças obstruídas.
Figura 19: Infiltração em parede devido à ruptura de tubulação
Fonte: Souza (2008)
A Figura 20 apresenta trincas horizontais na alvenaria, provenientes da expansão dos
tijolos devido à umidade presente no interior dos blocos cerâmicos: o painel é solicitado à
compressão na direção horizontal.
36
Figura 20: Trincas horizontais na alvenaria provenientes da expansão dos tijolos
Fonte: Thomas (1996) apud Souza (2008)
2.4.3 Recuperação e Reforço na Alvenaria
A alvenaria resistente é uma solução estrutural que se usou muito no passado, com
especial incidência nos centros históricos urbanos. Estas edificações, apesar do valor
patrimonial, cultural e arquitetônico apresentam geralmente um mau estado de conservação,
impondo a necessidade de reforço na estrutura.
A qualidade dos serviços de recuperação ou de reforço depende da análise precisa das
causas que os tornaram necessários e do estudo detalhado dos efeitos produzidos. Definidos
estes dois pontos, passa-se então à escolha da técnica adequada, que inclui a cuidadosa
seleção dos materiais e equipamentos a serem empregados e mesmo da mão-de-obra
necessária para a execução do serviço (RIPPER, SOUZA, 2001).
Para os serviços de reforço é necessário que o projeto de estrutura seja consultado e a
partir dele, ser elaborado o projeto de reforço para que a estrutura possa trabalhar com
segurança. Este serviço é solicitado quando há alteração na funcionalidade da estrutura,
acarretando uma possível sobrecarga, ou quando ocorre a danificação da estrutura por ataques
químicos, por exemplo.
O empenho, a responsabilidade, o bom senso do projetista e o respeito com que se
encaram as especificidades destas estruturas devem constituir a melhor base para qualquer
intervenção.
Segundo Roque (2002) para intervir na estrutura, é necessário adotar uma metodologia
de aproximação às estruturas que passe de uma leitura geral, com informação de carácter
qualitativo, para uma análise mais rigorosa, geralmente de carácter quantitativo, que conduza
37
à identificação das características dos materiais e da estrutura, bem como à origem das
patologias apresentadas. Assim, à peculiaridade das estruturas de alvenaria antigas parece
adequar-se uma abordagem metodológica, por etapas, semelhante à usada em medicina:
- Anamnese: estudo da evolução histórica e recolha de dados e informações importantes;
- Diagnóstico: identificação das causas das anomalias e da degradação e avaliação da
segurança estrutural;
- Terapia: escolha e aplicação da(s) técnica(s) de intervenção;
- Controle: acompanhamento e controle da eficiência da intervenção.
As intervenções, em estruturas antigas de alvenaria, são sempre perturbadoras do seu
equilíbrio, e difíceis de proceder. Primeiro, porque as técnicas de trabalho evoluíram, e a
arquitetura utilizada hoje difere muito da utilizada no passado. Por isso a recuperação da
estrutura, em patrimônios históricos com preservação de arquitetura, faz necessário
contratação de empresas especializadas. A Segunda advém dos materiais. Entendendo que, a
maioria dos materiais utilizados nas intervenções são, diferentes dos originais, estes devem
apresentar segundo Roque (2002):
- Compatibilidade: As técnicas utilizadas devem garantir reduzida alteração na rigidez da
construção, além dos materiais apresentarem comportamento físico-quimico semelhante, e
assim evitar patologias novas.
- Durabilidade: Justifica que as exigências de durabilidade dos materiais a utilizar sejam mais
severas que em estruturas novas; aos materiais modernos não se conhece a capacidade de
manter as suas propriedades durante séculos, com isso, as manutenções e reparos devem ser
mais frequentes.
- Reversibilidade: É a possibilidade de facilmente poder remover, sem provocar danos nos
materiais originais, os novos elementos resultantes da intervenção, no fim da sua vida útil ou
no caso de revelarem sinais de inadequabilidade.
Dessa forma, devem-se preferir materiais e técnicas de alvenaria semelhante às
originais, para assim evitar o surgimento de novas patologias. A alternativa para uso de
38
materiais distintos deve ser recorrida apenas quando necessitar de materiais com maior
resistência, devido ao controle de produção e experimentos.
2.4.3.1 Técnicas de Reparação e reforço
De acordo com Roque (2002), dentre as técnicas mais correntes na reabilitação e
reforço estrutural de paredes antigas de alvenaria, destacam-se:
- injeção: técnica em grande difusão que consiste em injetar, através de furos, previamente,
realizados nos paramentos externos da alvenaria, caldas ou resinas fluídas para preenchimento
dos vazios interiores e/ou selagem de fissuras. O principal obstáculo desta técnica é a
definição da composição da calda, devido à dependência de numerosos parâmetros do suporte
como a granulometria, a composição química, a porosidade, a capacidade de absorção, a
percentagem de vazios, a dimensão e o grau de comunicação dos vazios, etc. É uma técnica
que permite a intervenção in-situ sem alteração do aspecto estético. Como mostra a Figura 21.
Destina-se, essencialmente, a melhorar as características resistentes das alvenarias de pedra.
Figura 21 - Injeção de alvenarias: (a) selagem de fendas; (b) consolidação material.
Fonte: Roque (2002)
A injeção uma técnica de reforço irreversível e “passiva” pois não há a realização de
operações que alterem o equilíbrio de forças. O aspecto original exterior das paredes é
respeitado pelo que é uma solução, frequentemente, utilizada em edifícios de reconhecido
valor artístico e/ou arquitetônico, sempre que seja necessário intervir, e preservar o aspecto
original. A Figura 22, demonstra a selagem de juntas e fendas através da ingestão por pressão.
39
Figura 22: Preparação de uma parede de alvenaria para injeção. Selagem de juntas e
fendas e colocação dos tubos de injeção
Fonte:Hill, (1995) apud Roque (2002)
- rebocos armados: esta técnica consiste na colocação de uma armadura de reforço (malha de
aço eletro-soldada, rede de fibra de vidro, chapa de metal distendido, etc.) fixada à parede, por
pequenas pregagens, e sobre a qual é projetada uma argamassa tradicional de revestimento.
Pode ser aplicada de um ou de ambos os lados da parede, com a armadura ligada, ou não,
transversalmente. É destinada, essencialmente, a paredes fortemente degradadas para as quais
não haja intervenções alternativas menos invasivas. A Figura 23, abaixo, representa a
reparação com reboco armado e selagem prévia das fendas.
Figura 23: Reparação de fenda localizada com reboco armado com malha de aço
eletrossoldada.
Fonte: Meli, (1998) apud Roque (2002)
- refechamento das juntas: consiste na remoção parcial e substituição da argamassa degradada
por outra de melhores propriedades mecânicas e de maior durabilidade. Uma variante desta
40
técnica, particularmente adequada para alvenarias com juntas horizontais regulares, consiste
na instalação de armaduras de reforço na argamassa das juntas horizontais refechamento das
juntas com armadura. Além disto, esta técnica pode ser utilizada, com sucesso, para controlar
a fendilhação associada a: estados de compressão excessivos; assentamentos diferenciais; a
ações térmicas, etc.
Em paredes de grande espessura, a eficácia desta solução, pode ser melhorada se for
aplicada de ambos os lados e ligada por pregagens transversais. Pelas suas particularidades é,
essencialmente, adequada para alvenarias de junta regular como é o caso da generalidade das
paredes de alvenaria de tijolos cerâmicos.
A aplicação do refechamento combinada com armaduras pressupõe a realização dos
seguintes trabalhos, (Binda et al., 1999ª apud Roque 2002).
1º Inspeção prévia: nesta fase pode justificar-se a remoção do reboco superficial, para
verificar as condições da alvenaria; outra condição importante a inspecionar, “in-situ”, é a
presença de vazios na parede, que necessitem de ser previamente injetados, ou a necessidade
de substituição de algum elemento.
2º Abertura de ranhuras na argamassa das juntas horizontais: a regularidade das juntas permite
a utilização do berbequim eléctrico comum ou de serras circulares; a dimensão das ranhuras
deve permitir a fácil introdução do material de reforço e, simultaneamente, manter a
estabilidade da parede assegurada pela secção transversal residual da junta. Os valores médios
generalizáveis, para a maioria das paredes, são profundidades de 50 a 70 mm e, uma altura
mínima, de 10 mm.
3º Remoção de elementos soltos de obstrução: com recurso a ferramentas manuais, como
espátulas; eliminação de pós e partículas soltas, com ar comprimido ou água, consoante o tipo
de material de refechamento a utilizar.
4º Aplicação da primeira camada de enchimento, sobre a qual se instalam os elementos de
reforço, convenientemente compactada.
5º Colocação do material de reforço: uma limpeza prévia das barras ou lâminas de aço, a jato
de areia, ou a utilização de elementos de reforço de superfície rugosa, pode melhorar a
41
aderência à argamassa envolvente e, mesmo, a eficácia da intervenção. Além disso, é
preferível utilizar duas barras de pequeno diâmetro que uma só de maior diâmetro. É também
aconselhável a utilização de posicionadores dos elementos de reforço de modo a facilitar um
bom envolvimento pela argamassa de refechamento.
6º Aplicação do material de recobrimento dos reforços: a segunda camada da argamassa de
enchimento deve ser cuidadosamente aplicada, como recobrimento, sobre o material de
reforço. Durante esta operação, se necessário, podem ser inseridos elementos de reforço
adicionais.
7º Selagem final das juntas: a última camada deve ser colocada nos 15 a 20 mm
remanescentes. Podem ser utilizadas argamassas aditivadas, para satisfação de determinadas
exigências estéticas (por exemplo, argamassa pigmentada) ou funcionais (por exemplo,
selagem de proteção).
A Figura 24, apresenta algumas etapas da execução do refechamento de juntas com
armadura.
Figura 24: Fases da intervenção com refechamento das juntas, combinado com armaduras,
dos pilares da Igreja de S. Sofia em Pádova, Itália: (a) abertura das ranhuras com berbequim;
(b) posicionamento das armaduras de reforço e (c) de tirantes transversais; (d) aplicação da
argamassa de refechamento.
Fonte: Binda et al. (1999) apud Roque (2002)
42
É importante enfatizar que a técnica de intervenção deve ser monitorada durante e
após a execução, para controlar a adequabilidade da solução e possíveis intervenções
complementares.
Após a intervenção deve-se preconizar um programa detalhado com procedimentos de
manutenção e intervenção futura.
43
3 METODOLOGIA
3.1 ÁREA DE ESTUDO
A área de estudo, objeto do presente trabalho, Prédio Cine Teatro Pedro Amorim, é
localizado na cidade de Assú-RN, rua São João, bairro Centro.
O Cine Teatro representa para o município, a história de um povo, que por muitas
décadas, assumiu a única forma de manifestação artística e cultural.
A idéia de uma retomada desses valores intangíveis em relação à edificação é
articulada ao resgate de suas características físicas. A restauração, junto desse caráter
imaginativo e os eventos que o marcam, compõem uma narrativa que restabelece ao Cine
Teatro o seu pretenso papel de retrato da “alma cultural” da cidade.
A edificação foi construída na década de 1930, e em 2011, iniciou-se o processo de
restauração, sendo sua finalização em junho de 2013. A área edificada compreende 422,50
m². A Figura 25 demonstra a área por imagem de satélite, que pode ser melhor visualizado na
planta de situação no Anexo A.
Figura 25: Imagem de satélite do Prédio Cine Teatro
Fonte: Google Earth
44
3.2 PERÍODO DO ESTUDO E PROCEDIMENTO PARA DESENVOLVIMENTO DO
TRABALHO
A pesquisa de campo para obtenção de dados foi realizada em etapas, nos meses de
maio, junho, julho e agosto de 2013.
A primeira etapa, ocorrida em maio e junho, desenvolveu-se junto a Prefeitura
Municipal do Assú, que forneceu todos os documentos, da referida obra, para levantamento
de dados pertinentes sobre a recuperação do prédio Cine Teatro.
O estudo desenvolveu-se a partir da análise de vários documentos técnicos, dos quais
pode-se destacar relatórios fotográficos de antes e durante o período de recuperação, projeto
arquitetônico e de reforma, projetos complementares, memorial descritivo, orçamentos,
planilhas de medição da obra, atas das reuniões realizadas pelos profissionais responsáveis
pelo projeto, entre outros.
A segunda etapa, mês de julho e agosto, a pesquisa desenvolve-se principalmente por
vistorias técnicas "in-loco" que avaliaram o resultado final dos procedimentos de reparo do
prédio.
A Obtenção de dados para o desenvolvimento da pesquisa compreende os seguintes
aspectos:
- Verificar e correlacionar as possíveis mudanças entre o projeto atual e o projeto original.
- Analisar os aspectos construtivos, identificando características das técnicas construtivas
originais;
- Métodos utilizados para o reforço estrutural
- Tipologia das manifestações patológicas e
- Propor estratégia de manutenção preventiva do prédio Cine Teatro Pedro Amorim
Os resultados encontrados serão discutidos de acordo com as seguintes normas:
ABNT NBR 6118/2007 – Projeto de estruturas de concreto
ABNT NBR 15270-1/2005 - Blocos Cerâmicos para Alvenaria de Vedação
ABNT NBR-13752/96 – Perícias de engenharia na construção civil
ABNT NBR 5674: Manutenção de edificações
45
Para a discussão das tipologias das manifestações patologias, será realizado a
metodologia proposto por Lichtenstein, 1986, que compreende as seguintes etapas para o
estudo da manifestação patológicas.
- Anamnese: Nesta etapa são organizadas as informações necessárias e suficientes para o
entendimento completo dos fenômenos. Estas informações são obtidas através de vistoria do
local e levantamento da história do problema e do edifício com as correspondentes anotações
geométricas e arquitetônicas.
- Diagnóstico: O diagnóstico da situação é o entendimento dos fenômenos em termos de
identificação das múltiplas relações de causa e efeito que normalmente caracterizam um
problema patológico. Cada subsídio deve ser interpretado no sentido de compor
progressivamente um quadro de entendimento de como trabalha o edifício, como reage à ação
dos agentes agressivos, porque surgiu e como se desenvolveu o problema patológico.
- Terapia: O objetivo desta etapa, é prescrever o trabalho a ser executado para resolver o
problema, incluindo a definição sobre os meios (material, mão-de- obra e equipamentos) e a
previsão das consequências em termos do desempenho final.
46
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A revitalização do prédio Cine Teatro Pedro Amorim, representou o resgate do valor
cultural da cidade do Assú. A realização do projeto teve parceria entre Prefeitura Municipal
do Assú, Governo do Estado e Petrobrás, orçado inicialmente no valor total de R$
1.411.670,00 (Um milhão quatrocentos e onze mil, seiscentos e setenta reais). A tomada de
preço ocorrido, e registrado no diário oficial na data de 20 de julho de 2011, registrou a
empresa ganhadora para execução dos serviços, a HW Engenharia Ltda, com o valor de
1.399.000,00 (Um milhão, trezentos e noventa e nove mil reais).
O projeto contempla a restauração da fachada do prédio, com a manutenção da
arquitetura da época, ampliação do espaço interior de 98 cadeiras para 195, construção de dois
camarins, sala de concentração, sala de projeção, edificação de três novos banheiros - um
deles adaptado para pessoas portadoras de necessidades especiais -, completa climatização,
sonorização, reforma do palco e decoração.
As Figuras 26, 27, 28, 29, 30, 31 e 32 abaixo representam o antes e depois da
revitalização do Cine Teatro.
Figura 26: Vista interna da parede lateral do prédio Cine Teatro
Fonte: Prefeitura Municipal do Assú; Acervo do pesquisador
47
Figura 27: Palco de apresentações do Prédio Cine Teatro
Fonte: Prefeitura Municipal do Assú; Acervo do pesquisador
Figura 28: Entrada principal do auditório
Fonte: Prefeitura Municipal do Assú; Acervo do pesquisador
Figura: 29: Cornija de iluminação restaurada
Fonte: Prefeitura Municipal do Assú; Acervo do pesquisador
48
Figura 30: Fachada lateral do Cine Teatro
Fonte: Prefeitura Municipal do Assú; Acervo do pesquisador
Figura 31: Fachada Posterior do Cine Teatro
Fonte: Prefeitura Municipal do Assú; Acervo do pesquisador
Figura 32: Fachada Principal do Cine Teatro
Fonte: Prefeitura Municipal do Assú; Acervo do pesquisador
49
4.1 MUDANÇAS ENTRE O PROJETO ATUAL E O PROJETO ORIGINAL
Em observação a planta de reforma, nota-se que o projeto arquitetônico original,
contemplava apenas dois grandes salões, e um pequeno ambiente para os artistas. Dessa
forma, o projeto de recuperação do Prédio, limitou-se a preservação das paredes estruturais e
arquitetura de fachada. Como pode-se observar na Figura 33, projeto datado de 2002, das
arquitetas Priscylla Cabral e Eudja Mafaldo (ver projeto arquitetônico no Anexo B).
Figura 33: Planta de reforma original do Prédio Cine Teatro
Fonte: Arquivos da Prefeitura do Assú
Observa-se a inclusão de banheiros para o público e para os artistas, assim como
rampas e banheiro adaptado a PNE.
No período da execução, o projeto passou por vários modificações, como mudança na
arquitetura e substituição de materiais. Na figura 34, pode-se verificar a readequação de
banheiros, camarins, locação das rampas de acesso e ampliação da área do Cine Teatro, para
local de convivência.
50
Figura 34: Arquitetura atual do Prédio Cine Teatro
Fonte: Arquivos da Prefeitura
As alterações realizadas durante a fase de execução da obra, são descritas a seguir:
- Implantação de laje de piso acima dos camarins, para criação de espaço para administração
interna do Prédio Cine Teatro, e armazenamento temporário de documentação, referente às
atividades do empreendimento. A implantação do espaço, tornou-se possível devido a altura
do pé-direito da edificação em conjunto com o espaço de hall dos camarins, permitindo a
locação de escada helicoidal, como observa-se na Figura 35.
Figura 35: Implantação de espaço para administração local
Fonte: Prefeitura Municipal do Assú; Acervo do pesquisador
- Relocação dos banheiros de acesso ao público. A localização inicial dos banheiros,
ocasionou desarmonia em relação ao auditório. Em observação ao projeto arquitetônico
readequado, a alteração permitiu uma melhor distribuição dos espaços, resultando na
51
diminuição do Foyer, e no aumento do espaços do auditório e circulação, como observa-se na
Figura 36.
Figura 36- Banheiro interrompendo a arcada – quebra na harmonia do ambiente
Fonte: Prefeitura Municipal do Assú; Acervo do pesquisador
- Construção de nova laje para sala de projeção e reservatórios. A antiga sala de projeção,
acima do hall de entrada, causava sensação de confinamento, devido o pé-direito de 2,15 m de
altura, como observa-se na Figura 37. A laje também apresentava armadura exposta, com alto
grau de deterioração.
Figura 37: Laje do hall de entrada
Fonte: Prefeitura Municipal do Assú; Acervo do pesquisador
- Ampliação da área do Cine Teatro para exposição de artes. As várias modificações no
projeto durante a execução e o subdimensionamento na planilha orçamentária das instalações
52
de som e acústica, permitiu saldo de recursos, que foi remanejado para a ampliação do Cine
Teatro. Observa-se que nessa área, foi preservada a presença de elementos naturais, como a
Carnaúba, por ser uma vegetação símbolo do Vale do Assú, como observa-se a Figura 38.
Figura 38: Ampliação do Cine Teatro
Fonte: Prefeitura Municipal do Assú; Acervo do pesquisador
- Nova paginação do piso do ambiente do Foyer. O novo desenho representa uma rosácea que
lembra a copa das carnaubeiras, espécie vegetal símbolo do vale do Assú.
Figura 39: Paginação do Piso do Foyer
Fonte: Prefeitura Municipal do Assú; Acervo do pesquisador
4.2 ASPECTOS CONSTRUTIVOS
O Prédio Cine Teatro possui em sua construção técnicas originais da década de 1930.
As paredes com larga espessura como observa-se na Figura 40, são semelhantes às
53
construções antigas de alvenaria estrutural. Segundo Ramalho e Corrêa, 2003, a rigidez da
estrutura resultava da disposição das paredes. Acreditava-se que paredes de contraventamento
seriam aquelas perpendiculares às ações horizontais, como a ação do vento, assim a espessura
era o fator principal.
Figura 40: Paredes com espessura de 40 cm.
Fonte: Arquivos da Prefeitura
As alvenarias, foram construídas em 3 (três) unidades paralelas de tijolos maciços de 1
vez, resultando uma espessura de aproximadamente 40 cm.
Pode considerar que a alvenaria do prédio Cine Teatro seja resistente, uma vez que,
existia uma pequena laje apoiada sobre as paredes, que fora demolida, devido alto grau de
deterioração, com armadura exposta.
Segundo Vitório (2003), a alvenaria resistente, é aquela utilizada com função
estrutural, porém, de forma empírica ou semi-empírica, em desacordo com os procedimentos
de projeto e execução previstos nas normas.
Quanto ao suporte de seu próprio peso, a ABNT NBR 15270-1/2005, item 3.5, afirma
que os blocos cerâmicos para vedação constituem as alvenarias externas ou internas que não
têm a função de resistir a outras cargas verticais, além do peso da alvenaria da qual faz parte.
As alvenarias construídas para os ambientes de camarim e banheiros utilizaram, o
mesmo material, tijolo maciço, no entanto, optou-se em utilizar apenas uma unidade de tijolo,
como nas práticas atuais, como demostra a Figura 41.
54
Figura 41: Construção de novas alvenarias
Fonte: Arquivos da Prefeitura do Assú
Para construção desses ambientes, foi realizada, a técnica de concreto armado,
utilizando-se pilares, vigas e lajes. Para a fundação, tipo baldrame, foi necessário a demolição
do piso em locais específicos, como demostra a Figura 42.
Figura 42: Fundação para novas alvenarias
Fonte: Arquivos da Prefeitura do Assú
O Prédio Cine Teatro consta hoje, com duas lajes. A 1ª, acima dos banheiros do
público, é utilizada para sala de comandos de projeção, sonorização e iluminação, e ao lado,
instalou-se os reservatórios de água em polietileno apoiado sobre a laje. A 2ª laje, como já
55
mencionado anteriormente, surgiu da necessidade de um ambiente voltado à administração
local.
Nesses ambientes as lajes são pré-fabricadas, com uso de vigotas e lajotas cerâmicas,
apoiadas respectivamente em vigas e pilares. A 1ª laje, possui área de 17,08 m² e a 2ª laje,
área de 30,34 m²
Ressalta-se que não há, projeto estrutural do Prédio Cine Teatro.
Como, a execução da estrutura do Cine Teatro não precede de nenhum projeto, sendo
realizado assim, apenas com conhecimentos empíricos, ele infringe o item 5.2.3.3 da ABNT
NBR 6118/2007, que afirma que a execução da estrutura de concreto, deve ser precedida de
informações advindas do projeto estrutural.
4.3 REFORÇO ESTRUTURAL
Como já mencionado anteriormente no item 4.2, a construção do prédio assemelha-se
as construções antigas de alvenaria estrutural, devido a espessura das paredes. Dessa forma, as
próprias paredes serviam de elementos estruturais, onde as lajes eram apoiadas sobre elas. No
entanto as poucas informações, sobre as técnicas e materiais utilizados na época da
construção, não permitiu o uso com segurança das paredes para sustentação das novas lajes.
Consta nos arquivos da prefeitura, laudo técnico, sob as condições estruturais do Cine
Teatro. Neste documento, especifica-se a não necessidades de reforço estrutural. Uma vez
que, as paredes não receberão sobrecargas. As cargas existentes nas paredes serão as da
cobertura, composto por madeiramento e telhas cerâmicas. O parecer técnico, encontra-se no
Anexo C.
No entanto, a equipe técnica responsável pelo projeto de restauração, juntamente a
empresa executora dos serviços, optou pela amarração das paredes, com cintas superiores,
como forma de aumentar a rigidez da estrutura. A cinta passa pela parte interna da alvenaria,
pois precisavam ser preservados os detalhes das fachadas, como observa-se na Figura 43
56
Figura 43: Cintas de amarração superior para reforço das paredes
Fonte: Prefeitura Municipal do Assú
4.4 TIPOLOGIA DAS MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS
Em observação as figuras que retratam o prédio antes da restauração verificou-se que
as patologias mais frequentes, eram as fissuras, umidades e perda de revestimento das
paredes.
4.4.1 Fissuras
As fissuras, desenvolvidas no prédio localizavam-se principalmente no entorno de
aberturas de portas e janelas, como observa-se na Figura 44.
Figura 44: Fissuras no entorno de aberturas
Fonte: Prefeitura Municipal do Assú
57
- Anamnese: Em sua maioria, apresentavam-se com geometria de pequena largura e
profundidade. Segundo Gilvan Lopes13
, a aparição das fissuras, é dada após a obra estar em
serviço.
- Diagnóstico: O aparecimento de fissuras no entorno de portas e janelas, deve-se a
concentração de tensões no local. Segundo Thomaz (1989), as concentrações de tensões
variam em função do tamanho e da localização de aberturas, em relação ao tamanho da
parede, podendo as tensões triplica-se ou quadruplicar-se na regiões de cantos superiores da
abertura e duplicar-se na regiões de cantos inferiores.
- Terapia: Recomenda-se que nas regiões de aberturas seja introduzido elemento com
armadura, como vergas e contra-vergas. Segundo Pfeffermann (1978) apud Thomaz (1989), a
introdução de uma taxa mínima de armadura (0,2%), não aumenta a resistência a compressão
da parede, no entanto, melhora consideravelmente o comportamento da alvenaria quanto a
fissuração.
A Figura 45, demostra-se que o método utilizado para a eliminação da patologia, está
em acordo com as especificações descritas anteriores.
Figura 45: Rasgos na alvenaria para colocação de vergas
Fonte: Prefeitura Municipal do Assú
1 Informação Verbal, Historiador e Secretário de Cultura de Assú
58
4.4.2 Fendas
Assim como as fissuras, as fendas surgiram próximos a aberturas, como observa-se
nas Figuras 46 e 47.
Figura 46: Fenda com abertura expressiva.
Fonte: Prefeitura Municipal do Assú
Figura 47: Fenda inclinada na região central a abertura
Fonte: Prefeitura Municipal do Assú
- Anamnese: Apresentam-se com geometria bem característica, sendo a abertura expressiva,
superior a 1,5mm. Segundo Vitório, 2003, a fissura é uma abertura na forma de linha, com
espessura máxima de 0,05 mm. A trinca é uma abertura na forma de linha, com espessura
entre 0,05 mm e 1mm. A rachadura é uma abertura expressiva, onde a espessura varia entre
59
1mm e 1,5 mm. A fenda é uma abertura expressiva, com espessura superior a 1,5mm. Nas
rachaduras e fendas, consegue-se “ver”, através delas.
Observa-se que as fendas surgiram próximas as regiões de aberturas, no entanto, de forma
distinta, que no item 4.4.1. Uma vez que, não existem “cantos” com concentração de tensões.
Na Figura 46, observa-se abertura circular, onde as tensões sobre a alvenaria, deveriam
assumir um caminho para o encontro de maior rigidez, Nascimento Neto; Lacerda; Florêncio,
2012. Na figura 47, a fenda localiza-se centralmente a abertura.
- Diagnóstico: Segundo, técnicos da prefeitura, as fendas não apresentavam riscos de
segurança. Foi realizado teste com testemunho de gesso, e verificou-se que não houve
evolução da patologia. Dessa forma, concluiu-se que a estrutura naquelas regiões já havia
sofrido deslocamento máximo. No entanto, não houve estudo detalhado para informar a causa
do surgimento dessas patologias.
- Terapia: No entanto, por falta de informações, e avaliações específicas sobre a causa do
aparecimento das fendas, utilizou-se para sua recuperação, a introdução de argamassa de
cimento e areia, com telas metálicas, com traspasse de 15 cm em cada lado, inseridas no
revestimento.
4.4.3 Manchas escuras e surgimento de vegetação
Manchas escuras e vegetação apresentava-se em todos os ambientes, como
demonstram as Figuras 48 e 49.
Figura 48: Vegetação dentro do prédio
Fonte: Prefeitura Municipal do Assú
60
Figura 49: Manchas escuras em paredes
Fonte: Prefeitura Municipal do Assú
- Anamnese: A umidade está presente em toda a edificação, com manhas escuras, com
apresentação de vegetação em todos os lugares. Observa-se também que alguns pontos do
prédio há ausência de piso, perda de revestimento e perda de tijolos maciços.
- Diagnóstico: O prédio Cine Teatro localiza-se numa região de baixa altitude. Sendo muito
próximo ao Rio Açu, registra-se diversos alagamentos na área. Dessa forma, a umidade
ascende por capilaridade vindo do próprio solo. O fato de o prédio ter sido abandonado por
vários anos, também justifica o aparecimento de fungos nas paredes e pisos, além da perda de
elementos de vedação, uma vez que, permaneceu por longo período sem a cobertura,
recebendo também água de chuva, aumentando a deterioração do prédio.
- Terapia: Todas as áreas que apresentavam manchas escuras, receberam novos rebocos.
Como forma, de minimizar os efeitos de umidade, todo o piso, e paredes até 0,5m foram
impermeabilizadas com emulsão asfáltica. Elementos da cobertura também receberam
impermeabilização.
4.4.4. Perda de elementos de vedação e revestimento
A ausência de elementos de vedação, formando um verdadeiro “buraco” na alvenaria,
também apresentava uma patologia frequente no prédio Cine Teatro, como demostra-se nas
figuras 50 e 51.
61
Figura 50: Perda de elementos de vedação
Fonte: Prefeitura Municipal do Assú
Figura 51: Perda de revestimento e elementos de vedação
Fonte: Prefeitura Municipal do Assú
- Anamnese: Observa-se perda de revestimento com acentuada deterioração dos tijolos.
Apresenta ausência de resistência e fissuras próximas ao local.
- Diagnóstico: Por tratar-se se uma área úmida naturalmente, como explicou-se anteriormente
no item 4.4.3, e todas as paredes estarem expostas as mudanças climáticas, os sucessivos
ciclos de umedecimento e secagem do material, favoreceu a perda de revestimento, o
destacamento entre elementos da alvenaria e argamassa de assentamento e a gradativa
destruição das paredes.
62
- Terapia: Nas regiões que havia ausência de elementos de vedação, como na figura 49, o
preenchimento foi realizado com tijolos maciços feitos por encomenda de acordo com os
originais. Foi levada uma amostra para um fabricante de tijolo maciço e feito por encomenda.
Em relação à figura 50, o preenchimento dos “buracos” na alvenaria, foi realizada a
substituição de alguns tijolos por não apresentar resistência. Quando as falhas apresentavam-
se apenas no revestimento, foi aplicado reboco com argamassa normal, dosada com cimento.
4.5 SUGESTÃO DE UM PLANO DE MANUTENÇÃO PREVENTIVA
A partir dos resultados obtidos neste trabalho, o presente capítulo tem por objetivo
propor estratégias para elaboração de um programa de manutenção preventiva para a estrutura
do Cine Teatro, visando contribuir para a garantia e o prolongamento de sua vida útil.
O Cine Teatro dispõe de uma equipe formada pela Prefeitura Municipal do Assú,
sendo esta, responsável pela funcionalidade do mesmo, em aspectos administrativos e eventos
culturais, mas o mesmo não possui um corpo técnico responsável pelo desempenho da
edificação.
Sitter , 1984 apud Helene (1992) nos indica que adiar uma intervenção pode fazer com
que os custos diretos e indiretos aumentem em uma progressão geométrica de razão cinco, ou
seja, em intervalo de tempos iguais, o custo necessário para a manutenção preventiva será
cinco vezes mais econômico que o necessário para uma manutenção corretiva, se aquela não
tiver sido executada.
Considerando a localização do prédio, no que se refere, a agressividade do meio, e sua
utilização pelo público, desgastando naturalmente a estrutura, propõe-se que a Prefeitura do
Assú, designe um engenheiro responsável para avaliar anualmente as condições de
durabilidade do prédio Cine Teatro.
O profissional habilitado para a designada função seria responsável por um
planejamento de atividades de inspeções rotineiras, para todos os elementos do prédio, como
paredes, pisos, coberturas e forros. Para os elementos de concreto armado, sugere-se a
adaptação da metodologia de quantificação do grau de deterioração de estruturas de concreto,
idealizada pelo Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Brasília, conhecido
como metodologia GDE/UnB.
Segundo Matos (2009), esta metodologia procura dividir a estrutura em grupos de
elementos estruturais, de tal forma a aplicar nesses elementos fatores de ponderação - Fp e
63
fatores de intensidade – Fi. O Fp visa quantificar a importância relativa de um determinado
dano, no que se refere às condições gerais de estética, e segurança dos elementos de uma
família, tendo em vistas manifestações patológicas possíveis de serem detectadas. Já o Fi
classifica a gravidade e evolução de uma manifestação de dano observada em um determinado
elemento. De posse dos valores de Fp e Fi, e aplicando-os na equação desenvolvida para a
metodologia chega-se ao Grau de deterioração de elemento - GDE que, de acordo com o valor
adquirido, e indicado o tipo de intervenção a ser realizada, facilitando a tomada de decisões.
As inspeções deverão resultar em diagnósticos e laudos técnicos com as prescrições
dos procedimentos adequados de reparo, quando necessários, que devem ser realizados
obrigatoriamente no período previsto antes que as eventuais lesões se estendam ao período de
propagação de uma deterioração.
64
5.0 CONCLUSÃO
O desenvolvimento deste trabalho possibilitou as seguintes conclusões relacionadas à
Análise da Restauração do Prédio Cine Teatro em Assú.
- projeto arquitetônico original, contemplava apenas dois grandes salões, e um pequeno
ambiente para os artistas. Dessa forma, o projeto de recuperação do Prédio, limitou-se a
preservação das paredes estruturais, e arquitetura de fachada.
- Todos os novos ambientes, como banheiros, camarins e espaço para administração, foram
constituídos de adaptações ao projeto original.
- O único elemento em concreto armado, eram duas pequenas lajes, apoiadas sobre as paredes.
A deterioração destas lajes, impediram seu reaproveitamento. Não consta registro fotográfico
das lajes demolidas.
- O prédio possui as alvenarias externas (fachadas), com características semelhantes às antigas
técnicas de alvenaria estrutural, com espessura de 40 cm, sem a presença de pilares e vigas. A
carga da cobertura é transmitida diretamente sobre as paredes laterais.
- A localização do prédio é considerada de extrema agressividade ambiental. Uma vez que
altimetria é pequena, propicia inundação da área, em épocas de grande incidência
pluviométrica.
- Segundo laudo técnico, não houve necessidade de reforço estrutural, devido não haver
cargas excedentes. No entanto, todas as paredes já existentes, receberam cintamento superior,
como forma de aumentar a rigidez da estrutura.
- As novas alvenarias, e onde houve a necessidade de substituição de tijolos, foram
construídas, com a mesma características, das existentes. Tijolos maciços de uma vez, com as
mesmas dimensões das existentes.
65
- A altura de 6 m, das paredes propiciaram a inclusão de duas novas lajes, utilizadas para sala
da admistração, sala de projeção e apoio de reservatório em polietileno.
- As lajes são pré-fabricadas, com uso de vigotas treliçadas e lajotas cerâmicas, apoiadas em
vigas e pilaretes, que distribuíram as cargas para a fundação de alvenaria de pedra marroada.
- A execução da estrutura de concreto armado do Cine Teatro não precede de nenhum projeto,
sendo realizado assim, apenas com conhecimentos empíricos, ele infringe o item 5.2.3.3 da
ABNT NBR 6118/2007, que afirma que a execução da estrutura de concreto, deve ser
precedida de informações advindas do projeto estrutural.
- No período de execução, a planta arquitetônica, recebeu diversas modificações, como
inclusão de áreas, mudança de layout e substituição de materiais.
- O prédio apresentava diversas patologias, como fissuras no entorno de aberturas, fendas com
aberturas de 5 cm, manchas de umidade e perda de revestimento, de elementos de vedação e
de piso.
- Para as fissuras, o tratamento realizado foi a introdução de vergas e contra-vergas.
- Para as fendas, foi realizado teste de evolução, com testemunho de gesso. Conclui-se a não
evolução da patologia. No entanto, foi introduzido argamassa, com telas metálicas.
- Conclui-se que a umidade do local, com ascensão capilar, é um fator natural da região, e que
a ausência de cobertura é a causa para manchas de umidade e perda de revestimento com
consequente perda de material de vedação.
- Foi realizado a impermeabilização de pisos, paredes até 0,5 m, e pontos específicos na
cobertura.
- Para as manchas de umidade no revestimento, foi realizada a retirada do antigo
revestimento, com raspagem na superfície, e feito novo revestimento com argamassa de
cimento e areia.
66
- Para recuperar as áreas de alvenarias com perda de material, foi realizado a substituição de
tijolos maciços e utilizado revestimento de argamassa dosada com cimento.
- As técnicas de recuperação das paredes da fachada não intervieram na preservação de
detalhes decorativos na fachada.
- Para garantir que o prédio Cine Teatro atenda as condições de segurança, respeitando a
funcionalidade e durabilidade do prédio, foi proposto plano de manutenção preventiva, de
forma que, Prefeitura Municipal do Assú, designe engenheiro responsável para emitir laudo
anual sobre as condições dos elementos estruturais, alvenaria, pisos e forros. E assim, intervir
na estrutura, antes que essa necessite de custos maiores numa manutenção corretiva.
67
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÃO PARA TRABALHOS FUTUROS
As informações adquiridas sobre materiais, tecnologia construtivas, projetos
arquitetônicos, etc. e informações sobre a história do Teatro foram obtidas através de
documentos e depoimentos com pessoas que tiveram envolvimento direto e indireto na
história desta obra.
Reconhecendo a importância da preservação e manutenção de prédios públicos, em
que se enquadram as edificações da cidade do Assú, pode-se listar outros monumentos, que
são considerados de valor histórico, e que apresenta diversas patologias. Dentre eles
destacam-se:
- Casa da Cultura Popular (Casa da Baronesa);
- Igreja São João Batista;
- Prédio do Mercado Público Municipal;
- Prédio da sede principal da Prefeitura Municipal de Assú.
Outras sugestões para trabalhos futuros para a continuidade desta linha de pesquisa são:
- Desenvolver metodologias de avaliação de estruturas semelhantes à Metodologia GDE/UnB,
para estrutura metálica, madeira, alvenaria estrutural; e, para elementos não estruturais;
paredes, forros, etc;
- Reunir a documentação e memória técnica de projeto e execução dos monumentos da cidade
do Assú, além das coleções e arquivos particulares de profissionais e empresas que
participaram da empreitada, para possibilitar pesquisa semelhantes a esta.
Desta forma, recomenda-se que seja realizado a parceria de longo prazo com
instituições públicas de ensino e pesquisa, para que possam contribuir com a elaboração e
realização de programas de manutenção eficazes para os monumentos de Assú.
68
REFERÊNCIAS
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habitacionais — Desempenho. Parte 1: Requisitos gerais. Rio de Janeiro, 2013.
______ NBR 15575: Edificações habitacionais — Desempenho. Parte 2: Requisitos para os
sistemas estruturais. Rio de Janeiro, 2013.
______ NBR 5674: Manutenção de edificações — Requisitos para o sistema de gestão de
manutenção. Rio de Janeiro, 2012.
______ NBR 15270-1: Componentes cerâmicos. Parte 1: Blocos cerâmicos para alvenaria de
vedação — Terminologia e requisitos. Rio de Janeiro, 2012.
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http://vitorioemelo.com.br/publicacoes/Patologia_estruturas.pdf> Acesso em 10 maio 2013.
70
ANEXO A – Planta de situação e cobertura do Prédio Cine Teatro Pedro Amorim.
71
ANEXO B – Planta arquitetônica de reforma do Prédio Cine Teatro Pedro Amorim.
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ANEXO C – Parecer técnico referente à condição estrutural do Prédio Cine Teatro Pedro
Amorim.
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