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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
FACULDADE DE TURISMO E HOTELARIA
CURSO DE TURISMO
MARIANA ALMEIDA GOMES
EMPREENDEDORISMO SOCIAL, NEGÓCIOS SOCIAIS E TURISMO: UM
ESTUDO COM ORGANIZAÇÕES BRASILEIRAS
NITERÓI
2014
MARIANA ALMEIDA GOMES
EMPREENDEDORISMO SOCIAL, NEGÓCIOS SOCIAIS E TURISMO: UM
ESTUDO COM ORGANIZAÇÕES BRASILEIRAS
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao programa de Graduação em Turismo da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Turismo.
Prof. Dr. Saulo Barroso Rocha - Orientador
NITERÓI
2014
EMPREENDEDORISMO SOCIAL, NEGÓCIOS SOCIAIS E TURISMO: UM
ESTUDO COM ORGANIZAÇÕES BRASILEIRAS
Por
MARIANA ALMEIDA GOMES
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao programa de Graduação em Turismo da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Turismo.
____________________________________________________ Presidente: Prof. Dr. Saulo Rocha, Orientador, UFF
_____________________________________________________ Convidado: Prof. Dr. Marcello de Barros Thomé Machado, UFF
_____________________________________________________ Convidada: Prof. Dra. Joysinett Moraes da Silva, UFF
Niterói, dezembro de 2014
“O que desejo é pouco
Pois não duro eternamente
Nada poderá me afastar de quem
eu sou
Amor é o meu ambiente”
Dona Ivone Lara
AGRADECIMENTOS
Aos vários amigos, especialmente àqueles que estiveram ao meu lado ao longo da
faculdade, porque meu coração sorri quando penso em vocês.
Ao movimento CHOICE, que atenciosamente se mostraram acessíveis e buscavam
atender às minhas dúvidas.
Ao meu orientador Saulo Rocha, que me acolheu com muita confiança e que, para
além do TCC, me proporcionou momentos de troca muito valiosos.
À minha professora e amiga de trabalho, Verônica, pela inspiração de alcançar
felicidade na minha vida.
Ao meu professor e amigo de trabalho, Osiris, que foi essencial para o meu
amadurecimento ao longo dos anos da faculdade, além de me presentear a cada
sorriso com seu axé.
Ao meu fiel amigo Rômulo, que me engrandece como pessoa a cada conversa,
transbordando toda sua evolução espiritual e carinho com todos que o cercam.
Ao meu irmão e amigo, Eduardo, por conseguir saber de alguma forma exatamente
o que eu sinto e ser meu porto seguro.
À minha cunhada, irmã e amiga, Aline, que me mostrou que determinação é amor.
Àqueles que o olhar basta para me completar...meus sobrinhos, meus tesouros.
Ao meu amor, por me preencher com a sua calma de viver, me mostrando o melhor
de mim.
À minha mãe, razão de eu estar onde estou, de chegar onde cheguei e para onde eu
vou...minha parceria.
À minha vó Julia por não me fazer sentir sozinha nunca.
À todos vocês pela força, por reafirmarem meus valores, confortando minha alma
com tanta gratidão.
Ao tempo, pois não há nada melhor que ele, que me deu paciência para esperar o
momento certo e me entregar um tema que tanto me fascina e instiga.
RESUMO
A temática do empreendedorismo social abrange iniciativas com diferentes formatos,
sendo os chamados negócios sociais uma delas. Negócios sociais são novos
arranjos e modelos para dar conta dos desafios de uma população crescente que
está ultrapassada, por não oferecer oportunidades iguais a todos. Dessa forma, esse
tipo de organização pretende ter lucro, mas também gerar valor social. O
empreendedorismo exerce importante papel sobre a sociedade com a geração de
emprego e possibilidade de ascensão social dos indivíduos. Práticas e segmentos
turísticos, como o turismo sustentável ou turismo de base comunitária, se alinham a
possibilidade de uma atividade turística consciente com geração de impactos sociais
positivos. Este trabalho tem o objetivo de analisar a relação entre negócios sociais e
turismo. Para isso, no primeiro capítulo foi feito uma revisão da literatura a respeito
de três conceitos: empreendedorismo social; negócios sociais; e turismo. Nesse
levantamento bibliográfico foram consultados muitos artigos científicos,
especialmente internacionais, além de fontes clássicas. E no segundo capítulo foi
realizado uma pesquisa de campo com entrevista semiestrutura aplicada a duas
organizações brasileiras que atuam no turismo. Essa pesquisa tem caráter descritivo
e exploratório. Como principal resultado dessa pesquisa, destacamos a afirmação de
que há relação entre as temáticas, negócios sociais e turismo, bem como algumas
particularidades pertinentes a essas organizações que atuam no turismo.
Palavras-chave: Empreendedorismo social. Negócios sociais. Turismo.
ABSTRACT
Social entrepreneurship encompasses initiatives with different formats and the social
business is one of those. Social businesses are new arrangements and models help
the challenges of a growing population that is outdated, for not to offer equal
opportunities to all. Thus, this type of organization intends to make a profit, but also
generate social value. Entrepreneurship plays an important role on society with the
creation of jobs and the possibility of social position. Practices and tourism segments,
such as sustainable tourism or community-based tourism, line up the possibility of a
conscious tourism generating positive social impacts. This work aims to analyze the
relationship between social business and tourism. For this, the first chapter is a
literature review about three concepts: social entrepreneurship; social business; and
tourism. In this literature review were consulted many scientific articles, especially
international, and classical sources. And in the second chapter was conducted with
field research applied for a two Brazilian organizations working in tourism by an
interview. This study is descriptive and exploratory. As the main result of this
research, we highlight the statement that there is a relationship between the thematic
of social business and tourism, as well as some relevant characteristics to those
organizations that work in tourism.
Keywords: Social Entrepreneurship. Social Business. Tourism.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Empreendedorismo empresarial X empreendedorismo social..................18
Figura 2 – “Empoderamento” X capacidades.............................................................19
Figura 3 – Tipos de organizações que compõem o empreendedorismo Social........22
Figura 4 – Hibridismo nas organizações....................................................................23
Figura 5 – Tipos de organizações híbridas................................................................23
Figura 6 – Valor social X lucro em organizações híbridas.........................................25
Figura 7 – Setores da economia X iniciativa dos agentes.........................................26
Figura 8 – Conceito sobre empreendedor social (visão internacional)......................31
Figura 9 – Conceito sobre empreendedor social (visão nacional).............................32
Figura 10 – Negócios sociais: o dinamismo do business tradicional com a
consciência da filantropia...........................................................................................33
Figura 11 – Diferentes modelos de negócios com viés social....................................34
Figura 12 – Negócio social X Organização de maximização do lucro e organizações
sem fins lucrativos......................................................................................................35
Figura 13 – Principais elementos dos negócios sociais para cada abordagem.........41
Figura 14 – Diferentes nomenclaturas e conceitos sobre negócios sociais...............42
Figura 15 – Definição de empreendedores sociais brasileiros sobre seus
empreendimentos.......................................................................................................44
Figura 16 – Quadro analítico para análise dos negócios sociais...............................46
Figura 17 – Orientação de empresas sociais pela missão.........................................50
Figura 18 – Programas sociais e atividades de negócio - empresas sociais
incorporadas...............................................................................................................51
Figura 19 – Programas sociais e atividades de negócio - empresas sociais
integradas...................................................................................................................52
Figura 20 – Programas sociais e atividades de negócio - empresas sociais
externas......................................................................................................................53
Figura 21 – Possibilidade de estrutura financeira de uma empresa social................54
Figura 22 – Métodos de geração de renda de uma empresa social..........................56
Figura 23 – Tipos de consumidores de empresas sociais.........................................57
Figura 24 – Modelo de Suporte ao Empresário.........................................................59
Figura 25 – Modelo intermediário de mercado...........................................................59
Figura 26 – Modelo de emprego................................................................................60
Figura 27 – Modelo de taxa de serviço......................................................................61
Figura 28 – Modelo Cooperativo................................................................................61
Figura 29 – Modelo de ligação de mercado...............................................................62
Figura 30 – Modelo de Subsidiação...........................................................................63
Figura 31 – Modelo de suporte organizacional..........................................................63
Figura 32 – Autores e conceitos do empreendedorismo social.................................82
Figura 33 – Autores e conceitos dos negócios sociais (características)....................84
Figura 34 – Autores e conceitos dos negócios sociais (publico/ mercado)................85
Figura 35 – Autores e conceitos dos negócios sociais (estrutura financeira)............86
Figura 36 – Autores e conceitos dos negócios sociais (modelos de atuação)...........87
Figura 37 – Autores e conceitos do turismo X empreendedorismo social ................88
Figura 38 – Logo Aoka...............................................................................................90
Figura 39 – Logo AIESEC..........................................................................................91
Figura 40 – Modelo intermediário de mercado da Aoka Tours..................................98
Figura 41 – Modelo de ligação de mercado da AIESEC..........................................113
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...........................................................................................................11
1 EMPREENDEDORISMO SOCIAL, NEGÓCIOS SOCIAIS E TURISMO................13
1.1 EMPREENDEDORISMO SOCIAL.......................................................................13
1.2 O EMPREENDEDOR SOCIAL.............................................................................27
1.3 NEGÓCIOS SOCIAIS..........................................................................................33
1.4 EMPREENDEDORISMO SOCIAL: DISTINTAS FORMAS DE ATUAÇÃO NAS
ORGANIZAÇÕES................................................................................................49
1.5 EMPREENDEDORISMO SOCIAL E TURISMO: UTOPIA OU REALIDADE?.....64
1.6 CONCLUSÃO.......................................................................................................81
2 TURISMO E NEGÓCIOS SOCIAIS........................................................................89
2.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.............................................................89
2.2 ANÁLISE DOS DADOS........................................................................................92
2.2.1 Aoka Tours.......................................................................................................92
2.2.2 AIESEC Brasil..................................................................................................99
CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................114
REFERÊNCIAS........................................................................................................117
APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA.........................................................126
11
INTRODUÇÃO
A temática do empreendedorismo social pode parecer nova, devido a recente
produção acadêmica sobre o assunto, mas observamos que algumas práticas
inerentes à sociedade, que antes recebiam outras denominações, podem se
caracterizar no que hoje os estudiosos compreendem como este tipo de
empreendedorismo. Nesse trabalho entendemos o termo pela definição de Oliveira
(2004, p.15) como “uma ação inovadora voltada para o campo social cujo processo
se inicia com a observação de determinada situação-problema local, para a qual se
procura, em seguida, elaborar uma alternativa de enfrentamento”. Iniciativas com
diferentes formatos podem ser consideradas empreendedorismo social, sendo os
chamados negócios sociais uma delas.
Negócios sociais são novos arranjos e modelos para dar conta dos desafios
de uma população crescente que está ultrapassada, por não oferecer oportunidades
iguais a todos. Dessa forma, esse tipo de organização pretende ter lucro, mas
também gerar valor social. Empreendimentos como esse passam por uma
infinidade de discussões teóricas, pulverizadas por diferentes áreas. Desde já
gostaríamos de apresentar as diferentes nomenclaturas para esse tipo de
organização, que será tema central desse estudo. Apesar de considerarmos nesse
trabalho o termo negócios sociais, alguns autores e instituições podem utilizar
conceitos como: negócios de impacto social, negócios inclusivos, empresas sociais,
empresas 2.5, empresas BoP, dentre outras nomenclaturas.
O empreendedorismo exerce importante papel sobre a sociedade com a
geração de emprego e possibilidade de ascensão social dos indivíduos. Práticas e
segmentos turísticos, como o turismo sustentável ou turismo de base comunitária, se
alinham a possibilidade de uma atividade turística consciente com geração de
impactos sociais positivos. Nesse sentido, o objetivo geral desse trabalho é analisar
a relação entre negócios sociais e turismo. Ao passo que os objetivos específicos
são conceituar e caracterizar empreendedorismo social, negócios sociais e turismo;
e também discutir a interação entre práticas e segmentos turísticos e os negócios
sociais.
12
Esta é uma pesquisa exploratória descritiva. A escassez de referencial teórico
sobre negócios sociais e turismo classifica a pesquisa como exploratória, pois visa
familiarizar-se com o fenômeno ou conseguir nova compreensão dele (DENCKER,
1998). Por observar, registrar, analisar e correlacionar fatos ou fenômenos sem
manipular variáveis (DENCKER, 1998), a pesquisa é também classificada como
descritiva.
No primeiro capítulo foi realizado uma pesquisa bibliográfica que poderá, com
base em materiais publicados em livros, periódicos, acessível ao publico em geral,
com fontes primárias e secundárias, trazer a compreensão acerca do pensamento
teórico que será, no capítulo seguinte, confrontado com a prática das organizações
(VERGARA, 1998). Ada Dencker (1998) afirma que toda a pesquisa requer uma fase
preliminar de levantamento e revisão da literatura existente para elaboração
conceitual e definição dos marcos teóricos. No segundo capítulo, portanto, foi
realizado uma pesquisa de campo por meio de entrevistas semiestruturadas com
duas organizações.
Esse estudo está, então, estruturado em dois capítulos. No primeiro capítulo
foi feito uma abordagem teórica dos conceitos de empreendedorismo social,
negócios sociais e turismo. E no segundo capítulo foi feito a análise de duas
organizações brasileiras que atuam no turismo, dialogando com os conceitos
apresentados no capítulo anterior.
Diferentes áreas estudam a temática que será tratada nesse trabalho, mas
optamos por enxergar pela ótica do empreendedorismo social.
13
1 EMPREENDEDORISMO SOCIAL, NEGÓCIOS SOCIAIS E TURISMO
O empreendedorismo social é um termo abrangente que engloba diferentes
iniciativas voltadas para o campo social. Este capítulo irá abordar as definições que
permeiam esse amplo assunto à luz de diferentes autores. Adicionalmente,
trataremos dos diferentes conceitos de negócios sociais e respectivos modelos de
análise desse tipo de negócio. Dessa forma, este capítulo oferece subsídios para a
compreensão do contexto em que estão inseridas as duas organizações objeto de
estudo desse trabalho de conclusão de curso.
1.1 EMPREENDEDORISMO SOCIAL
Termos, definições e publicações que buscam atender as demandas desta
primeira década do século XXI acerca do empreendedorismo social podem ser
recentes, porém o fenômeno é bastante antigo, possuindo apenas nomenclaturas ou
termos diferentes dos dias atuais, como observa Dees (1998), um dos autores
pioneiros na área (COMINI; TEODÓSIO, 2012). O empreendedorismo social, para
Agostini (2001) surgiu quase simultaneamente com o empreendedorismo mercantil.
As primeiras cooperativas modernas, por exemplo, datam do final do século XIX
(COMINI; TEODÓSIO, 2012) e alguns especialistas, inclusive, apontam Luther King,
Gandhi, entre outros, como empreendedores sociais, decorrente da capacidade de
liderança e inovação quanto às mudanças em larga escala na área social que esses
possuíam (OLIVEIRA, 2004).
Anteriormente à formalização do termo e avanço das pesquisas acadêmicas,
Tan et al (2005) garantem que a prática recebia outras denominações, como
“desenvolvimento comunitário” ou “organizações de finalidade social”. Dessa forma,
o empreendedorismo social surge como um novo rótulo para descrever o trabalho de
comunidades, organizações voluntárias e públicas, bem como empresas privadas
que priorizam objetivos sociais em detrimento dos fins lucrativos (SHAW; CARTER,
2007).
14
O empreendedorismo social surge devido à dificuldade do Estado em
satisfazer as demandas sociais, se estabelecendo em meio à falha das instituições
governamentais e aos desafios sociais, econômicos e ambientais que as sociedades
contemporâneas enfrentam (PARENTE et al, 2011 apud MOTTA; SHIMADA, 2014).
Na América do Norte, o conceito de empreendedorismo social foi introduzido
por duas pessoas nos anos de 1980, um deles foi Bill Drayton com a constituição da
Ashoka (DEES, 2007), instituição de fomento a este tipo de empreendedorismo, que
fornece financiamento para organizações iniciantes (start-ups), serviços de suporte
profissional, conecta os negócios e o setor social e promove uma plataforma para
pessoas dedicadas em mudar o mundo (ASHOKA, 2014). E o outro foi Edward
Skloot, com a criação de uma consultoria para ajudar organizações sem fins
lucrativos a explorar novas fontes de renda (DEES, 2007).
Alguns fatores foram determinantes para o crescimento da discussão desse
tipo de empreendimento. Um deles está relacionado com a minimização da atuação
do Estado no campo social, como supramencionado, e o impacto das estratégias
neoliberais sobre a comunidade que se tornou mais ativa como ponte estratégica
para as mudanças sociais (NICHOLLS, 2006; MARTIN, 2002). Seguindo essa
tendência, de acordo com o The New Nonprofit Almanac and Desk Reference (2002)
apud Austin et al (2006), as organizações sem fins lucrativos ganharam espaço,
aumentando 31% entre os anos de 1987 e 1997, excedendo os 26% da abertura de
novos negócios.
Outro fator motivador foi o surgimento das instituições de fomento, como a
Ashoka, já mencionada, mas também redes de pesquisa internacionais, como a
European Reseach Network (EMES) e a Social Enterprise Knowlegde Network
(SEKN), que foram fundamentais no incentivo a essas organizações (DEFOURNEY;
NYSSENS, 2009).
Comini et al (2012) destacam o conceito da Base da Pirâmide (BoP)1, tratado
como relevante pelos autores Prahalad e Hart (2002), sendo iniciado um debate a
partir do potencial desse mercado e da criação de modelos de negócios para as
1 Base da Pirâmide ”consiste em mais de quatro bilhões de pessoas que vivem com menos de quatro
dólares/ dia” (PRAHALAD, 2012, p. 6)
15
organizações que oferecessem produtos e serviços para o BoP e em paralelo
pudessem colaborar para a diminuição do déficit social do mundo.
Alguns autores, como Hudon (2009), possuem um posicionamento mais
crítico com relação à visão consumista de mercado trazido pelo BoP, acreditando
que na realidade esse movimento não colabora para a diminuição da pobreza
extrema, mas estimula cada vez mais o consumo exacerbado. Alter (2007), no seu
trabalho sobre empresas sociais, que veremos mais detalhadamente ao longo deste
capítulo, destaca que a estratégia da base da pirâmide não é empresa social, no
entanto empresas sociais podem usar algumas técnicas da BoP para atender aos
clientes de baixa renda.
Além dessa discussão, a aproximação entre o mundo dos negócios e a
sociedade civil, que desde a década de 70 era muito distante e com alto nível de
resistência para um trabalho colaborativo, nos anos recentes passaram a dialogar
em prol de uma relação de benefício para ambos (BRUGMANN; PRAHALAD, 2007).
Para Sassmannshausen e Volkmann (2013) apud Mota e Shimada (2014),
antes de 1985, durante quase três décadas, nada foi publicado sobre o tema
empreendedorismo social, apenas nesse ano que duas publicações foram feitas,
uma nos EUA e a outra na Holanda. Nos anos seguintes permaneceu com taxas
baixas, tendo duplicado o número de publicações nos anos de 1999 e 2000,
caracterizando-se como os autores chamam de uma “megatendência”.
No Brasil, o estudo referente ao empreendedorismo social vem sendo objeto
de pesquisa, segundo Melo (2012) apud Souza e Paiva Junior (2014), há menos de
três décadas e faz parte da agenda do Estado desde 2004 apenas, com o
surgimento da economia solidária2. Portanto, como o campo de estudo e atuação do
poder publico é muito recente no Brasil, pode acarretar algumas dificuldades na
organização desses tipos de empreendimentos. E não existem ações concretas por
parte do Estado, e as discussões sobre a inclusão deste tópico na agenda estatal
2 Empreendedorismo social e economia social são conceitos tratados como diferentes pelos autores, porém as discussões demonstram que as fronteiras são muito frágeis entre os termos. Para Noya (2014), “o termo economia social surgiu pela primeira vez no início do século XIX na França e refere-se às associações, cooperativas, organizações mútuas e fundações. As organizações da economia social são reguladas pelo princípio de terem partes interessadas e não acionistas e, em geral, pelas regras da gestão democrática e participativa.” (p. 177)
16
como prioridade não está efetivamente concluída para o fortalecimento de políticas
públicas (SOUZA; PAIVA JUNIOR, 2014).
Ainda com relação ao panorama brasileiro, em 2010 havia 556,8 mil
entidades sem fins lucrativos cadastradas no CEMPRE3 (IBGE, 2010), tendo grande
representatividade sobre as 5,6 milhões de entidades públicas e privadas, lucrativas
e não lucrativas, cadastradas no CEMPRE. Por esse motivo, a ação do
empreendedor social recebe grande destaque nos últimos anos, devido ao
crescimento das organizações do terceiro setor, dentre elas as ONG‟s (ZEN;
FRACASSO, 2008).
Essa popularização do termo, associada à pulverização da discussão por
diferentes campos de análise que agrega e combina ideias diversificadas, a fim de
definir e descrever o empreendedorismo social, trouxe falta de clareza no conteúdo
(NICHOLLS, 2006). Martin e Osberg (2007) também chamam atenção para o
problema da abrangência conceitual, tendo se tornado o termo vinculado à qualquer
tipo de atividade considerada socialmente benéfica.
Ainda há falta de entendimento com relação à diferença do termo
empreendedorismo social para às organizações do terceiro setor, devido a uma
variedade de atividades e iniciativas, que culmina na dificuldade em delimitar o
conceito (TRIVEDI; STOKOLS, 2011).
Penido (2014), Diretora do Instituto Inspirare, aponta que o
empreendedorismo social não possui legitimidade no Brasil por não ser reconhecido
pela própria sociedade brasileira. Podemos observar ao longo da discussão acima
que ainda há uma falta de articulação dos setores da economia, especialmente do
poder público, no que diz respeito ao incentivo e formalização dos
empreendimentos. E no aspecto da teoria, podemos perceber que a prática
antecedeu a discussão acadêmica e formulação de conceitos, e por esse motivo
também, há uma confusão com relação à construção e padronização do
pensamento, considerando ainda os diferentes olhares sobre o assunto e a
diferença para cada realidade geográfica.
Dees (1998) relata que muitas pessoas associam o termo empreendedorismo
social exclusivamente às organizações sem fins lucrativos. Outros o usam para
3 Cadastro Central de Empresas
17
descrever qualquer pessoa que inicia uma organização sem fins lucrativos. E outros
ainda o usam para se referir a negócios que incorporam a responsabilidade social
em suas atividades. Então o autor questiona o que de fato significa
empreendedorismo social?
Primeiramente, é necessário estar atento às diferenças conceituais que se
estabelecem entre as definições, que segundo Mair e Marti (2006) se concentram
em três direções: a do empreendedorismo social, do empreendedor social e das
empresas sociais. A primeira delas possui definições voltadas para o processo e o
comportamento; a segunda foca na atuação do líder ou do fundador; e a terceira
exprime o resultado mais tangível do empreendedorismo social.
Será possível perceber que as abordagens se complementam e irão traduzir
de uma forma mais holística o fenômeno, tomando por base que o caráter diferencial
deste movimento é a criação de valor social (MAIR E MARTI, 2006).
Para tratar melhor o tema, apresentamos, dentre outros conceitos que
veremos neste capítulo, o de empreendedorismo social pode ser tido como “uma
ação inovadora voltada para o campo social cujo processo se inicia com a
observação de determinada situação-problema local, para a qual se procura, em
seguida, elaborar uma alternativa de enfrentamento” (OLIVEIRA, 2004, p.15). O
autor complementa, ainda, dizendo que a ideia deve ser inovadora, realizável,
autossustentável e envolver várias pessoas e segmentos, provocando impacto social
que permita meios para ser avaliado.
Esse campo social é o lugar onde se manifestam as relações das
comunidades e a partir do inter-relacionamento dos agentes, entidades sociais ou
privadas e o Estado, emerge as estratégias de desenvolvimento do território. Os
atores estabelecem o território como espaço de relações, entretanto enfrentam
problemas com as políticas setoriais e territoriais (FLORES, 2006). Dessa forma, o
território, como um espaço de articulação, vem sendo foco de ações e iniciativas
sociais (SOUSA; PAIVA JUNIOR, 2014). Para Zen e Fracasso (2008), as iniciativas
sociais estão baseadas na associação de pessoas ou na ação de um indivíduo com
capacidade de mobilizar recursos em prol do social.
Ao falarmos de inovação, remetemos o termo, em geral, ao universo
econômico e ligado à função de produção, porém, as inovações sociais também
18
existem e estão relacionadas ao bem-estar dos indivíduos ou das comunidades,
viabilizando emprego, possibilidade de consumo e de participação (ALMEIDA,
2006). “A inovação social é considerada um tipo de inovação não orientada ao
mercado” (FERREIRA et al, 2014, p. 4).
A Shwab Foundation (2014) caracteriza o empreendedorismo social: pela
geração de benefícios para a sociedade em geral, com ênfase nos grupos
marginalizados e pobres, por meio de abordagens práticas, inovadoras e
sustentáveis; e uma abordagem que aglutina o bem estar social e econômico,
passando por diferentes setores da economia. Além disso, a organização menciona
que essa abordagem define o empreendedor social para além da sociedade e
organizações com boas intenções, que dedicam suas atividades ao benefício social.
Antes de discorrermos mais acerca das definições sobre o
empreendedorismo social, é necessário entender as diferenças básicas para o
empreendedorismo empresarial, como pode ser observado na figura 1 de Melo Neto
e Froes (2002):
EMPREENDEDORISMO EMPRESARIAL EMPREENDEDORISMO SOCIAL
1. É individual 1. É coletivo
2. Produz bens e serviços 2. Produz bens e serviços à comunidade
3. Tem foco no mercado 3. Tem foco na busca de soluções para os problemas sociais
4. Sua medida de desempenho é o lucro 4. Sua medida de desempenho é o impacto social
5. Visa satisfazer necessidades dos clientes e a ampliar as potencialidades do negócio
5. Visa a respeitar pessoas da situação de risco social e a promovê-las
Figura 1 – Empreendedorismo empresarial X empreendedorismo social Fonte: Adaptado de Melo Neto e Froes (2002)
Austin et al (2006) desenvolveram proposições teóricas, baseadas em quatro
variáveis, que poderão diferenciar o empreendedorismo social:
- Falha de mercado: diferentemente do empreendedorismo tradicional, uma
falha de mercado pode ser vista como uma oportunidade de negócio. Um problema
para um empreendedor tradicional é uma oportunidade de negócio para o
empreendedor social;
19
- Missão: o empreendedorismo tradicional objetiva a geração de lucro, em
contrapartida o empreendedorismo social pretende criar valor social. Essa diferença
será fundamental como forma de distinguir ambas as formas de empreendedorismo
e irá afetar as múltiplas áreas do gerenciamento da empresa e da motivação
pessoal;
- Mobilização de recursos: a não distribuição do lucro e o objetivo social são
fatores que podem limitar a articulação financeira da empresa, bem como dificulta a
compensação dos seus colaboradores. Dessa forma, a mobilização de recurso
financeiro e humano é diferenciada;
- Avaliação de desempenho: o empreendedorismo pode lidar com aspectos
mais tangíveis, enquanto o empreendedorismo social precisa de uma análise muitas
vezes mais qualitativa, para medir as mudanças sociais. Por esse motivo, a
avaliação de desempenho do impacto social será um fator diferenciador.
Outro aspecto diferenciador para o empreendedorismo social trazido por Melo
e Froes (2002), se refere ao empoderamento, em diferentes níveis, econômico,
social, mental, psíquico, espiritual e/ ou político, como forma de tornar os cidadãos
mais ativos e atuantes. Essa é uma abordagem que mostra uma das diferenças
entre o empreendedorismo social e um projeto social, pois “seu foco é levantar as
demandas, e, sobretudo, os potenciais individuais e coletivos” (MELO; FROES,
2002). Empoderamento é uma palavra que resume muitas das propostas contidas
em diversas definições e caracterizações. A figura 2 sintetiza exemplos de
empoderamento nos diferentes níveis.
TIPOS DE “EMPODERAMENTO” CAPACIDADES CENTRAIS
ECONÔMICO
Criar e operar empreendimentos
Desenvolver potenciais
Ter acesso ao crédito
SOCIAL
Criar organizações sociais
Otimizar recursos
Obter sinergias
MENTAL
Mudar atitudes e comportamentos
Buscar autossuficiência
Melhorar a qualidade de vida
PSÍQUICO Aumentar a autoestima
Sentir orgulho de sua cultura
20
ESPIRITUAL Desenvolver respeito à vida e à natureza
Buscar o autoconhecimento
POLÍTICO
Conseguir acesso à propriedade
Exercer pressão
Mobilizar-se em defesa dos recursos naturais existentes
Figura 2 – “Empoderamento” X capacidades Fonte: Melo e Froes (2002)
Quanto às definições, existem variações entre os autores para delimitar o que
de fato é empreendedorismo social. Austin et al (2006) explicam que as definições
variam entre as mais restritivas e mais abrangentes. Nas abordagens mais
restritivas, o empreendedorismo social se refere ao fenômeno de adotar
conhecimento de negócio e habilidades baseadas no mercado no setor sem fins
lucrativos, como quando organizações sem fins lucrativos desenvolvem estratégias
inovadoras para gerar renda que possam cobrir os custos da empresa (REIS, 1999;
THOMPSON, 2002 apud AUSTIN et al).
Ainda de acordo com Austin et al (2006), as abordagens mais abrangentes se
referem a uma atividade inovadora com objetivo social, seja no setor com fins
lucrativos, como nos empreendimentos comerciais de finalidade social ou no
empreendedorismo social corporativo; ou no setor sem fins lucrativos; ou mesmo
entre os setores, como as formas híbridas, que misturam abordagens do setor sem
fins lucrativos com abordagens do setor com fins lucrativos (DEES, 1998).
O aspecto comum entre todas as definições é a criação de valor social, em
detrimento de ganhos pessoais e dos acionistas, e que a atividade é caracterizada
pela inovação ou criação de algo novo, que não se apoie apenas na replicação de
empresas e práticas que já existem. É importante também articular os recursos
disponíveis em prol do problema social trabalhado pela empresa (AUSTIN et al,
2006).
Austin et al (2006) concluem expondo que, na verdade, uma empresa social
não pode ser caracterizada pelo seu formato legal, uma vez que pode ser
materializada de várias maneiras, pois ora se comportam como organizações com
fins lucrativos, as empresas privadas ou os setores governamentais ou abrangendo
diversos setores. Ferreira et al (2014) esclarecem que esse tipo de
empreendedorismo se torna, sobretudo, um amplo “guarda chuva” que engloba
21
iniciativas empresarias e outras organizações voltadas para a assistência e cuidados
sociais, as quais não focam na geração de renda própria. É um campo
multidisciplinar, contemplado por múltiplos setores (OLIVEIRA, 2004).
Eugenio Scannavino, empreendedor social do Saúde e Alegria, uma ONG
que atua fornecendo serviços de saúde em áreas de difícil acesso na Amazônia, no
documentário Quem se Importa (2011), ilustra essa relação intersetorial, expondo
que o terceiro setor possui soluções de baixo custo e alto impacto, o setor privado
pode patrocinar e fortalecer e, juntos, devem estrategicamente incentivar o governo
a adotar políticas publicas que beneficiem o movimento.
O GEM (2009), Global Entrepreneurship Monitor, possui uma visão mais
abrangente a respeito do empreendedorismo social e considera, especialmente,
alguns aspectos como: a combinação de recursos (humano e financeiro); a criação
de valor social; e a oferta de produtos ou serviços ou criação de novas
organizações. GEM (2011) determina tipologias divididas em quatro grupos, em
duas categorias. Na primeira categoria estão os grupos 1 e 2, caracterizados pelos
objetivos sociais e ambientais representarem mais que 50%, e na segunda categoria
estão os grupos 3 e 4, caracterizados pelos objetivos econômicos representarem
menos que 50%, como mostra na figura 3.
O primeiro grupo se refere às organizações que a geração de receita
proveniente da comercialização de produtos e serviços é menor ou igual a 5%. Esse
grupo é dividido em dois subgrupos, o primeiro deles são as ONGs tradicionais que
não adotam práticas inovadoras para a resolução do problema social, e o segundo
são as chamadas empresas sociais sem fins lucrativos, que adotam mecanismos
mais inovadores, que rompem com as formas tradicionais de se sustentar
financeiramente a organização.
O segundo grupo compreende as organizações em que a geração de renda
proveniente da comercialização de produtos e serviços é superior a 5%. Esse é o
grupo das chamadas organizações híbridas, variando entre empresas sociais
híbridas, quando os objetivos sociais e ambientais são mais importantes que os
econômicos, e as empresas sociais econômicas híbridas, nas quais ocorre o
inverso, valorizando, sobretudo, os objetivos econômicos.
22
O terceiro grupo engloba as empresas em que os objetivos sociais e
ambientais são duas vezes maiores que os objetivos econômicos, denominadas
empresas sociais com fins lucrativos. Por fim, o quarto grupo também se refere às
empresas com fins lucrativos, porém quando os objetivos sociais e ambientais são
menores que os econômicos, elas são chamadas de empresas regulares com fins
lucrativos com compromisso social.
Figura 3 – Tipos de organizações que compõem o empreendedorismo Social Fonte: Global Entrepreneurship Monitor (2011) (tradução livre do autor)
Outros autores, como Oliveira (2004), são mais rigorosos, deixando claro que
não seria qualquer comprometimento social da empresa que poderia classificá-la
como um empreendimento social, a exemplo da responsabilidade social empresarial,
visto especialmente em grandes corporações. A Shwab Foundation (2014), por
exemplo, determina apenas três grupos: empreendimentos sem fins lucrativos
alavancados; empreendimentos sem fins lucrativos híbridos; e os negócios sociais.
Para a organização, o primeiro grupo se caracteriza como empreendimento
social pela adoção de práticas de inovação para solucionar uma falha de mercado
ou do governo, perpassando por diferentes setores da economia, porém
23
dependendo de financiamento filantrópico. Diferentemente do segundo grupo que
possui um modelo para recuperar os custos da organização pela venda de bens e
serviços, podendo também mobilizar outras fontes de financiamento, como
empréstimos e subsídios. E o terceiro grupo, dos negócios sociais, se caracteriza
por entidades ou negócios com fins lucrativos, apesar do retorno financeiro não ser o
principal objetivo e sim a maximização da abrangência do benefício social.
Outro aspecto importante seria com relação à inovação para a solução do
problema social, pressuposto para a grande maioria dos autores (AUSTIN et al,
2006; OLIVEIRA, 2004; DEES, 1998), quando se fala em empreendedorismo social,
sendo questionável a atuação das ONGs tradicionais no primeiro grupo apresentado
pelo GEM (2009), por não apresentarem a adoção de práticas diferenciadas.
Já Alter (2007) trata todas essas iniciativas como organizações híbridas,
também variando entre os polos da filantropia e da ênfase no comercial, propondo,
então, quatro tipos de organizações, como pode ser visto nas figuras 4 e 5:
Puramente filantrópico
Hibridismo Puramente comercial
Motivos Por boa vontade Ambos os motivos Por interesse próprio
Métodos Impulsionado pela
missão social Equilíbrio entre missão social e
mercado Impulsionado pelo
mercado
Objetivos Criação de valor
social Criação de valor social e
econômico Criação de valor
econômico
Lucro
Direcionado para as atividades
sociais da organização
Reinvestido nas atividades sociais ou custos operacionais
e/ ou retido para o crescimento e desenvolvimento do negócio (empresas com fins lucrativos
podem distribuir parte do lucro)
Distribuído entre os acionistas e proprietários
Figura 4 – Hibridismo nas organizações Fonte: Alter (2007) (tradução livre do autor)
Figura 5 – Tipos de organizações híbridas Fonte: Adaptado de Alter (2007) (tradução livre do autor)
24
Para Alter (2007), os extremos, organizações tradicionais sem fins lucrativos,
com foco apenas no social, e as organizações tradicionais com fins lucrativos, com
foco apenas no econômico, estão desconsiderados desse quadro, que pressupõe a
necessidade de se misturar valores e práticas de ambos os extremos.
As organizações sem fins lucrativos com atividades de geração de renda
podem equivaler às empresas sociais sem fins lucrativos, proposta pelo GEM
(2009). Alter (2007) não delimita percentual da receita que deve estar vinculado às
atividades com geração de renda, apenas expõe duas formas de geração de renda,
por recuperação de custos, que seria algo mais descontínuo, feito para cobrir um
custo específico, e por earned-income, de caráter mais contínuo, gerada por
atividades relacionadas ou não com a missão. Alter (2007) explica também que este
tipo de organização pode evoluir para uma empresa social, a partir do momento que
as atividades de geração de renda são operadas como um negócio. Portanto, este já
seria um diferencial das empresas sociais.
As empresas sociais no entender de Alter (2007) poderiam ser comparadas
às empresas sociais híbridas e às empresas sociais econômicas híbridas do GEM
(2009), apesar de não serem categorizadas com essa separação que considera a
relação dos objetivos sociais e ambientais com os econômicos. Para Alter (2007) as
empresas sociais usam abordagens do empreendedorismo, inovação e de mercado
para criar valor social e promover mudança.
Dessa forma, o objetivo principal da organização, o sucesso do negócio e o
impacto social são variáveis interdependentes para a empresa (ALTER, 2007). A
autora propõe apenas uma classificação baseada na orientação da missão das
empresas e uma baseada no nível de integração entre os programas sociais e as
atividades de negócio, como veremos nas próximas seções.
Os negócios de responsabilidade social, para Alter (2007), são empresas com
fins lucrativos que possuem dois objetivos, maximizar o lucro e contribuir para o bem
estar social de forma mais ampla. São empresas dispostas a abandonar lucro ou
fazer contribuições financeiras substanciais, em vez de distribuir o lucro de forma
particular, e também podem colocar metas sociais em sua missão corporativa.
Esse tipo de empresa poderia ser equivalente às empresas sociais com fins
lucrativos (GEM, 2009), que destinam maior peso aos objetivos sociais e ambientais,
25
em detrimento do econômico. Os negócios de responsabilidade social podem ser
considerados uma empresa social quando são registrados como uma empresa com
fins lucrativos, porém de propriedade de uma organização sem fins lucrativos
(organização-mãe) e têm a finalidade de obter renda para a organização-mãe, bem
como apoiar uma causa social (ALTER, 2007).
O quarto tipo são as corporações que praticam responsabilidade social, ou
seja, são empresas com fins lucrativos que possuem grande ênfase nos interesses
econômicos, porém se engajam na filantropia, que pode ajudá-la a maximizar o lucro
e alcançar mercado, enquanto contribui para o bem público. Responsabilidade social
não pode ser considerada uma empresa social, mas as atividades filantrópicas da
corporação podem estar direcionadas para uma empresa social (ALTER, 2007).
A figura 6 ilustra a relação de cada tipo de organização com as dimensões
social e do lucro. Nesta figura podemos observar a categorização feita nas
empresas sociais pela missão, que será detalhado nas seções seguintes.
Figura 6 – Valor social X lucro em organizações híbridas Fonte: Alter (2007) (tradução livre do autor)
26
É oportuno, ainda, um esclarecimento sobre os setores da economia que
tradicionalmente se dividem em três. O primeiro setor são instituições públicas,
mantidas pelo poder público e regidas pelo direito público; o segundo setor são
instituições privadas, mantidas pela iniciativa privada com interesse mercantil,
regidas pelo direito privado; e o terceiro setor são instituições de interesse público,
mantidas pela iniciativa privada sem interesse mercantil, regidas pelo direito privado
(OLIVEIRA; VASCONCELLOS, 2011). A figura 7 sintetiza essas relações:
AGENTES FINS SETOR
Públicos Públicos Estado (Primeiro setor)
Privados Privados Mercado (Segundo Setor)
Privados Públicos Sociedade civil (Terceiro setor) Figura 7 – Setores da economia X iniciativa dos agentes Fonte: Adaptado de Rufino (1994)
O que devemos depreender de todo esse processo é que existe uma
tendência ao hibridismo nas organizações, principalmente no que diz respeito à
missão social e à necessidade da sustentabilidade financeira, que está demandando
novos estudos, modelos e um maior diálogo entre os setores.
Essas organizações ditas híbridas fizeram surgir entre os teóricos a
possibilidade de dois outros novos setores da economia que pudessem melhor se
adequar a essa prática, que seriam o setor 2,5 e o quarto setor. O setor 2,5 é
caracterizado por empresas que mesclam mecanismos típicos do segundo e terceiro
setor (OLIVEIRA; VASCONCELLOS, 2011), e o quarto setor se caracteriza por uma
convergência de características peculiares a cada um dos três setores (FOURTH
SECTOR, 2014).
Ambas as denominações criadas são muito semelhantes no sentido de dar
conta desse hibridismo. Porém o termo “quarto setor” parece ser mais abrangente,
ou seja, entende-se que as organizações 2,5 poderiam estar no que se chama de
quarto setor, porém o inverso não deve ocorrer.
As iniciativas que se alinham a esse hibridismo serão normalmente
reconhecidas e estudadas pelo viés do empreendedorismo social, o que irá
27
diferenciar é a abrangência que cada autor confere ao termo, como já foi debatido
acima.
Além disso, o próprio GEM (2009) ressalta que as variações do
empreendedorismo social devem ser relativizadas, levando em consideração a
enorme diversidade a respeito de cada conceito envolvido, de acordo com a
realidade geográfica de cada local. Mas no geral, a depender se tratamos de uma
abordagem mais restritiva ou uma mais abrangente, os empreendimentos sociais
variam entre esses extremos, do filantrópico àqueles com base no lucro/ mercado,
tendo em vista características mais determinantes já apresentadas que podem ser
mais úteis nessa diferenciação, em comparação ao fato de nos limitarmos ao tipo de
empresa.
1.2 O EMPREENDEDOR SOCIAL
E toda essa engrenagem é movimentada pela ação do empreendedor social,
que para a Ashoka (2014) são pessoas com capacidade de promover
transformações com amplo impacto social por meio de ideias criativas e inovadoras.
Mair e Marti (2006) enfatizam que a ação social do empreendedor está, então,
direcionada para a utilização de forma criativa dos recursos a favor da
transformação social e modificação das estruturas sociais existentes. Trivedi e
Stokols (2011) falam sobre reverter um desequilíbrio existente na sociedade,
implementando uma mudança social positiva e sustentável.
Para Emerson e Twersky (1996) apud Certo e Miller (2008) os
empreendedores tradicionais podem produzir valor social por meio de um processo
de criação de ganhos particulares ou mesmo os empreendedores sociais podem
produzir ganhos particulares no processo de criação de valor social, porém é
possível perceber que ambos possuem missões e intencionalidade bem distintas.
Afinal, é sempre importante frisar que a primazia do valor social é o que distingue o
empreendedorismo social (MARTIN; OSBERG, 2007), fato este que não exclui a
presença de motivos menos altruístas, como a realização pessoal (MAIR; MARTI,
2006).
28
Vivianne Naigeborin (2013), durante uma palestra no Global Entrepreneurship
Congress, enfatiza que a intencionalidade faz muita diferença, especialmente no
momento da tomada de decisão, quando o empreendedor se depara entre seguir
garantindo impacto social ou atender a necessidade financeira. A Conselheira
Estratégica da Potencia Ventures ainda complementa dizendo que a solução está na
inovação.
Quanto à escala, que é um aspecto mais polêmico, para Vera Cordeiro no
documentário Quem se importa (2011), tanto faz se um empreendimento social
ajuda 4 ou 1000, já para Martin e Osberg (2007), o empreendedor social tem o
objetivo de criar valor em larga escala.
O empreendedor atende aos mercados que possuem poder de compra e
estão dispostos a consumir determinado produto ou serviço, sendo idealizado para
gerar lucro financeiro. Dessa forma, desde o começo o objetivo do empreendedor e
investidores é a obtenção de lucro pessoal (MARTIN; OSBERG, 2007).
Diferentemente do empreendedor social, que possui comprometimento gerado pela
motivação social, independente de interesses financeiros (ROPER; CHENEY, 2005).
Vivianne Naigeborin (2013) explica que é importante entender o que é esse
impacto social, que deve ser gerado por meio do desenvolvimento de produtos e
serviços baseados em uma necessidade real, que não necessariamente é o que o
empreendedor pensar ser. Viviannne explica que existem alguns caminhos para
esse sucesso, seja se aproximando da comunidade e dos empreendedores que já
estão lá, criando junto a eles o conceito do negócio, ou ainda, realizando pesquisas
de oportunidade de negócio, o que é raro. Conclui dizendo que dessa forma é
possível cruzar políticas públicas que estão sendo fomentadas a favor do
desenvolvimento de serviços. Como expressa o empreendedor social Isaac
Durojaiye absorvido pelo ponto de vista da comunidade no documentário Quem se
importa (2011): “Não pode me ajudar se não conhecer meus problemas”.
O documentário Quem se importa (2011), dentre outros objetivos, procura
esclarecer, contextualizar e sensibilizar sobre a atuação do empreendedor social.
Nesse material podemos observar, como já foi debatido acima, acerca da
problemática que permeia o empreendedorismo social referente às confusões e
reconhecimento do movimento, que o empreendedor social sofre do mesmo mal.
29
De acordo com Bill Drayton, durante uma de suas falas no documentário, a
respeito do surgimento e crescimento da atuação do empreendedor social, explica
que os americanos pensavam porque as pessoas do mundo dos negócios se
tornaram sem fins lucrativos, enquanto os europeus pensavam porque não seria
uma atividade exercida pelo Estado. Ou seja, ambas são destrutivas, pois associam
o empreendedor social a um “não alguma coisa” (“não setor privado” e “não estatal”)
e complementa dizendo que são apenas cidadãos capazes de mudar.
Esses indivíduos são identificados como agentes de mudança e “suas ações
são direcionadas à construção de espaços sociais dialógicos” (SOUZA; PAIVA
JUNIOR, 2014, p.13). São empreendedores que almejam sucesso financeiro como
consequência de um processo de trabalho árduo, que permite reconhecer a
instituição como agente eficaz de minimização de problemas sociais. Dessa forma,
segundo os autores Souza e Paiva Junior (2014) o empreendedor social é um
profissional agente-transformacional, que se questiona sobre como está contribuindo
para o desenvolvimento da comunidade, baseado em duas esferas, a econômica e a
sociocultural.
De acordo com o documentário Quem se Importa (2011), esse empreendedor
possui um olhar fresco, sem dogmas, por isso consegue inovar, partindo do princípio
que todos têm capacidade, explorando o potencial humano dos indivíduos tidos
como incapazes ou irrecuperáveis. Al Etmanski durante o documentário aponta que
se desejar fazer mudanças pesadas, é necessário abrir mão de qualquer direito
autoral sobre a ideia porque o objetivo de fazer mudança é emitir ideias. “O
importante é descontaminar o mundo desse processo de privatização das ideias”,
como clonclui Oscar Rivas, empreendedor social, em uma de suas falas no
documentário.
Em contrapartida, Miller et al (2012) alertam que as emoções podem se
sobreporem à racionalidade no momento de avaliação das informações e das
oportunidades, afinal o forte engajamento no compromisso de gerar impacto social
pode contribuir para riscos potenciais na abertura de um novo negócio, pois o
empreendedor pode ficar menos sensível às informações de riscos e viabilidade.
Oliveira (2004) destaca, por outro lado, o sentido prático desses indivíduos,
adaptados a solucionar problemas concretos, afinal muitos desses empreendedores
30
utilizam suas experiências organizacionais e empresariais com foco no objetivo
social. Para Oliveira Neto (2014) da ANVINA durante o Congresso GIFE4, esses
empreendedores apostam até mesmo na “desinvenção”, utilizando simplicidade e
criatividade, adaptando produtos e serviços para que sejam acessíveis e
sustentáveis. Além disso, os empreendedores sociais são abertos à multiplicidade
de formatos operacionais e de negócios (DEES, 2007).
Vivianne Naigeborin (2013) esclarece que os empreendedores sociais
precisam também driblar determinadas armadilhas: uma delas se refere ao
reconhecimento precoce da mídia, pois pode atrapalhar o processo de
amadurecimento e estabilização da empresa, visto que o empreendedor se vê
obrigado a cumprir uma agenda social extensa, processo esse que seria posterior,
Vivianne diz que esse tipo de negócio gera muito apelo na mídia; e a outra está
relacionada à abundante oferta de investidor e aos poucos negócios realmente
consistentes em longo prazo, portanto é necessário cuidado para não desenhar o
negócio de acordo com o investidor, no sentido de garantir impacto social.
Isaac Durojaive (2013), no documentário Quem se Importa (2011), utiliza uma
metáfora para explicar o empreendedor social, dizendo que seria uma espécie de
Madre Teresa, que se preocupa em fazer o bem, misturado com o Richard Branson,
empreendedor motivado pelo retorno financeiro. Ferreira et al (2014), no que se
refere a atuação mista desse empreendedor, apontam que:
Ao focar no setor social, o empreendedor social irá atuar em diversas áreas de variadas formas. Nesse sentido, estabelece relações, tanto conceitual, operacional e ideológico com o terceiro setor. Da mesma forma, ao adotar mecanismos de mercado, aproxima-se de organizações privadas e mimetiza seus comportamentos (p.11).
Na tentativa de definir o empreendedorismo social, Oliveira (2004) produziu
dois quadros, um com definições internacionais (figura 8) e outro com definições
nacionais (figura 9), a respeito do empreendedor social, sendo possível avaliar as
grandes semelhanças e pequenas nuances que podem diferenciá-las. Sendo
algumas definições mais restritivas, outras mais abrangentes. Vale destacar também
4O GIFE é uma organização sem fins lucrativos que reúne associados de origem empresarial, familiar, independente ou comunitária, que investem em projetos de finalidade pública.
31
o caráter de complementariedade entre elas, explicando aspectos iguais de forma
diferente e trazendo pontos distintos, muitos simultaneamente pertinentes às
discussões acadêmicas e à atuação prática dos empreendedores. É importante
lembrar que as definições estarão também vinculadas a cada realidade geográfica.
ORGANIZAÇÃO ENTENDIMENTO
School Social Entrepreneurship – SSE, Uk – Reino Unido
“É alguém que trabalha de uma maneira empresarial, mas para um publico ou um benefício social, em lugar de ganhar dinheiro. Empreendedores sociais podem trabalhar em negócios éticos, órgãos governamentais, públicos, voluntários e comunitários [...] Empreendedores sociais nunca dizem „não pode ser feito‟.”
Canadian Center Social Entrepreneurship – CCSE, Canadá
“Um empreendedor social vem de qualquer setor, com características de empresários tradicionais de visão, criatividade e determinação, e empregam e focalizam na inovação social [...] indivíduos que [...] combinam seu pragmatismo com habilidades profissionais, perspicácias.”
Foud Schwab, Suíça “São agentes de intercambiação da sociedade por meio de: proposta de criação de idéias úteis para resolver problemas sociais, combinando práticas e conhecimentos de inovação, criando assim novos procedimentos e serviços: criação de parcerias e formas/ meios de auto-sustentabilidade dos projetos; transformação das comunidades graças às associações estratégicas; utilização de enfoques baseados no mercado para resolver os problemas sociais; identificação de novos mercados e oportunidades para financiar missão social [...] características comuns aos empreendedores sociais: apontam idéias inovadoras e veem oportunidades onde outros não vêem nada; combinam risco e valor com critério e sabedoria; estão acostumados a resolver problemas concretos, são visionários com sentido prático, cuja motivação é a melhoria de vida das pessoas, e trabalham 24 horas do dia para conseguir seu objetivo social.”
The Institute Social Entrepreneurs – ISE, EUA
“Empreendedores sociais são executivos do setor sem fins lucrativos que prestam maior atenção às forças do mercado sem perder de vista sua missão (social) e são orientados por um duplo propósito: empreender programas que funcionem e estejam disponíveis às pessoas (o empreendedorismo social é base nas competências de uma organização), tornando-as menos dependentes do governo e da caridade.”
Ashoka, Estados Unidos “Os empreendedores sociais são indivíduos visionários que possuem capacidade empreendedora e criatividade para promover mudanças sociais de longo alcance em seus campos de atividade. São inovadores sociais que deixarão sua marca na história.”
Figura 8 – Conceito sobre empreendedor social (visão internacional) Fonte: Adaptado de Oliveira (2004)
32
ORGANIZAÇÃO ENTENDIMENTO
Leite (2002) “O empreendedor social é uma das espécies do gênero dos empreendedores. [...] São empreendedores com uma missão social, que é sempre central e explícita.”
Ashoka Empreendedores Sociais e Mackisey e Cia. INC (2001)
“Os empreendedores sociais possuem características distintas dos empreendedores de negócios. Eles criam valores sociais pela inovação, pela força de recursos financeiros em prol do desenvolvimento social, econômico e comunitário. Alguns dos fundamentos básicos do empreendedorismo social estão diretamente ligados ao empreendedor social, destacando-se a sinceridade, paixão pelo que faz, clareza, confiança pessoal, valores centralizados, boa vontade de planejamento, capacidade de sonhar e uma habilidade para o improviso.”
Rao (2002) “Empreendedores sociais, indivíduos que desejam colocar suas experiências organizacionais e empresariais mais para ajudar os outros do que para ganhar dinheiro.”
Rouere e Pádua “Constituem a contribuição efetiva de empreendedores sociais inovadores cujo protagonismo na área social produz desenvolvimento sustentável, qualidade de vida e mudança de paradigma de atuação em benefício de comunidades menos privilegiadas.”
Figura 9 – Conceito sobre empreendedor social (visão nacional) Fonte: Adaptado de Oliveira (2004)
As definições para o empreendedor social em geral são menos restritivas,
podem ser apenas mais detalhadas ou mais enxutas. Porém, ainda assim, existem
algumas ressalvas importantes como na definição da SSE do Reino unido, ao
abordar sobre o aspecto do interesse financeiro. Vale esclarecer que empreendedor
social pode também ter remuneração financeira pelo seu trabalho
Em geral as definições têm um diálogo alinhado com as caracterizações
propostas sobre o empreendedorismo social, frisando sempre o caráter diferencial
que é a criação de valor social, além de outros aspectos recorrentes, como a
inovação.
E apesar da gama de iniciativas que podem se caracterizar como
empreendedorismo social, neste trabalho vamos nos focar nos chamados negócios
sociais. É importante lembrar, então, que o conceito de empreendedorismo social
engloba também os negócios sociais e, portanto, os fundadores e líderes de
negócios sociais são considerados empreendedores sociais, mas nem todos os
empreendedores sociais estão vinculados a um negócio social (OLIVEIRA;
VASCONCELLOS, 2011).
33
1.3 NEGÓCIOS SOCIAIS
Negócios sociais são modelos híbridos de negócios, nos quais gerar lucro e o
comprometimento com a minimização dos problemas sociais são objetivos que, se
nas empresas tradicionais são dicotômicos, nos negócios sociais caminham lado a
lado, fazendo parte de um mesmo plano de negócio (SEBRAE, 2013).
Para Yunus (2014), a lógica básica dos negócios sociais, que mantem um
diálogo com o primeiro e segundo setor, está ilustrada na figura 10, a seguir:
Figura 10 – Negócios sociais: o dinamismo do business tradicional com a consciência da filantropia Fonte: Yunus (2014)
É importante também esclarecer sobre as diferentes terminologias que estão
sendo utilizadas neste trabalho para se referir a este tipo de empreendimento. Para
o SEBRAE (2013) se trata de um campo novo que se encontra em constante
evolução e considerando as diferentes influências conceituais, entendimentos e
nomenclaturas, os negócios sociais também são chamados também de empresas
sociais; empresas BoP; negócios inclusivos; ou empresas 2.5.
Além dessas, Yunus (2014) menciona também outras terminologias para
empresas com foco no impacto social e com geração de renda, como negócios de
34
impacto social; negócios de valor compartilhado; negócios inclusivos, já
mencionado; negócios responsáveis; ou organização sem fins lucrativos híbridas.
Essas terminologias podem ser tratadas entre os autores como sinônimos ou
como termos distintos entre si. Na figura 11, Yunus faz um mapeamento dos
modelos de negócios que possuem algum vínculo com a criação de valor social e
que se posicionam entre os negócios para maximização de lucros e as organizações
sem fins lucrativos, levando em consideração duas variáveis de análise: a missão
(variando entre a primazia do valor econômico e a primazia do valor social) e a
sustentabilidade financeira da empresa (variando entre totalmente autossustentável
ou pela dependência de doações):
Figura 11 – Diferentes modelos de negócios com viés social Fonte: Yunus (2014)
Para Yunus (2014), a empresa deve estar calcada apenas no impacto social,
sendo renegado a distribuição do lucro gerado, se fazendo necessário reinvesti-lo
por completo na própria empresa para a maximização do impacto social. E o que
35
diferencia, para Yunus, um negócio social de uma organização sem fins lucrativos, é
o fato do dinheiro investido no negócio social retornar, podendo ser novamente
investido em outro negócio, gerando um ciclo de investimentos que se recicla (figura
12).
Figura 12 – Negócio social X Organização de maximização do lucro e organizações sem fins lucrativos Fonte: Yunus et al (2010) (tradução livre do autor)
Quanto à distribuição ou não de lucros, esse é, de acordo com Comini e
Teodósio (2012), um ponto divergente entre os autores. De acordo com Comini e
Teodósio (2012), existem duas correntes: uma corrente é a do Yunus, que já foi
apresentada; e a segunda é do Michael Chu, que defende a distribuição de lucro
como lógica de mercado que possibilita, inclusive, a ampliação de investimento
externo. Artemisia (2014), Alter (2007) e Sebrae (2013) entendem também que o
lucro pode ser distribuído ou não.
Yunus (2007) aponta que existem dois tipos de negócios sociais: os primeiros
são empresas que priorizam o impacto social em detrimento da maximização do
lucro para os proprietários e que são de propriedade de investidores que também
buscam benefícios sociais, como a redução da pobreza, justiça social; e a segunda
é estruturada de forma diferenciada, pois busca maximizar o lucro, mas são
empresas de propriedade dos pobres ou desfavorecidos, produzindo impacto social
36
a partir dos dividendos e capital de crescimento gerado pela empresa e
consequentemente altera de maneira positiva a realidade social da comunidade
envolvida.
As nomenclaturas também estão associadas as três abordagens da temática
dos negócios sociais, a norte-americana, a europeia e a dos países em
desenvolvimento, que influenciaram o posicionamento dos autores e trazem a
importância de se levar em consideração a realidade local que determinará a
formação dos profissionais envolvidos.
Comini e Teodósio (2012) apontam que se na Europa esse tipo de
empreendimento nasce da tradição da economia social, a concepção norte-
americana assimila essas organizações basicamente como empresas privadas com
lógica de mercado dedicadas a soluções de problemas sociais. Em contraponto, nos
países em desenvolvimento o entendimento parte de iniciativas de mercado que
visam à redução da pobreza e à transformação das condições sociais dos indivíduos
marginalizados e excluídos (COMINI, 2011).
Ferreira et al (2014) explicam que o conceito de empresa social na Europa
está vinculado ao terceiro setor e formas coletivas de empreendedorismo, já nos
Estados Unidos esses negócios se baseiam em iniciativas empresariais e lógica de
mercado, enquanto nos países em desenvolvimento são iniciativas de mercado com
foco na redução da pobreza.
No caso Europeu, devemos considerar o diferencial do enfoque particular de
cada país, que por sua vez depende do conceito de bem-estar social e da evolução
dos papéis do estado e da sociedade civil (DEFOURNY; NYSSENS, 2009 apud
FERREIRA et al 2014). Outra particularidade da Europa, de acordo com Reficco et
al (2006), é que terceiro setor, o conjunto de organizações sem fins lucrativos, é
conhecido como economia social, o que implica em limitações para o
desenvolvimento dos termos empreendedorismo social e empresa social.
Para Comini et al (2012), o termo utilizado e muito difundido nesse continente
é empresa social, sendo legalmente reconhecido na maioria dos países. A
motivação inicial estava em suprir o gargalo deixado pelo poder público, oferecendo
serviços a preços mais baixos com o intuito de gerar emprego para os
37
desempregados ou para a população marginalizada de uma forma geral (COMINI et
al, 2012).
Nessa vertente há também preocupação nos trabalhos acadêmicos com
relação à tensão entre obter retorno financeiro e impacto social, por esse motivo,
enfatizam a importância da participação dos beneficiários no processo de tomada de
decisão e da necessidade do reinvestimento do lucro dentro da organização para
garantir o crescimento e o impacto social (COMINI et al, 2012) .
Quanto à esse modelo de governança, é um dos mais relevantes fatores nas
definições europeias de empresas sociais, pela tradição no associativismo, tendo
uma lógica da tomada de decisão transparente e participativa (COMINI et al, 2012).
Dessa forma, essa dimensão coletiva, reduz o comportamento oportunista gerado
por uma falta de estrutura de governança (GALERA; BORGAZA, 2009).
De acordo com essas caracterizações propostas pelos autores, utilizamos a
definição de uma instituição inglesa de fomento aos empreendimentos sociais, a
Social Enterprise UK (2014), propondo que uma empresa social deve: ter uma
missão social/ ambiental clara estabelecida nos seus documentos oficiais; gerar a
maior parte da sua renda pelo comércio (e não apenas doações, mas este tipo de
mecanismo financeiro também é considerado); reinvestir a maior parte do seu lucro;
ser autônoma; ser conduzida pelo interesse da missão social; e ser responsável e
transparente.
Existem três categorias dessas empresas na Europa: empresas que
promovem a inclusão social e o emprego, chamadas de WISE (Work Integrantion
social Enterprise); empresas cujo objetivo principal é produzir produtos e serviços
com utilidade social ou direcionados para um interesse coletivo; e empresas que
promovem a economia local e o desenvolvimento social incentivando a participação
dos cidadãos e do governo local no gerenciamento de suas atividades
(TRAVAGLINI; BANDINI; MANCINONE, 2009). Mediante essa categorização dos
autores, deve-se notar que as formas coletivas, com dinâmicas participativas são
centrais na Europa, enquanto nos EUA predominam os perfis individuais
(FERREIRA et al, 2014), como veremos a seguir.
Na concepção norte-americana é predominante o termo negócio social
(COMINI et al, 2012), podendo abranger empresas com objetivo social, como na
38
Europa, mas também uma empresa tradicional que incorpora uma unidade de
negócio com objetivos sociais. Também é atribuído às organizações sem fins
lucrativos, que começaram a utilizar mecanismos de mercado com a
comercialização de produtos e serviços.
Essa divergência está associada às duas escolas de pensamento dessa
abordagem, uma originária do mundo corporativo e a outra do contexto dos
empreendimentos sociais (COMINI et al, 2012). Portanto, de acordo com Kerlin
(2006), na perspectiva americana, o conceito engloba qualquer ação
empreendedora de mercado que possua objetivos sociais, incluindo as corporações,
as sociedades limitadas e as organizações sem fins lucrativos.
Para Ferreira et al (2014), nos EUA o contexto é baseado nas fundações que
fornecem suporte financeiro e visibilidade aos empreendimentos sociais, bem como
fomentam uma indústria baseada nos métodos de negócios, que ganham
estratégias adaptadas pelas organizações sem fins lucrativos buscando alternativas
ou formas mais estáveis de recursos para o financiamento de suas atividades.
Dessa forma, Reficco et al (2006), argumentam que no cenário norte-
americano as empresas sociais não são vistas como um fenômeno organizacional
diferenciado dos negócios tradicionais, enfatizando que as empresas sociais nos
EUA emergem do encontro do terceiro setor e do setor privado, enquanto na Europa
surge do encontro das Organizações Não Governamentais (ONGs) e da economia
social. Esse contexto é complementado por Defourny e Nyssens (2009) apud
Ferreira et al (2014) ao mencionarem que a primeira escola dos EUA começa com a
busca de rendas, com vendas de bens e serviços, e na Europa as iniciativas
empresariais são uma combinação de mecanismos de mercado e não mercado.
Por fim, na ultima abordagem, a dos países em desenvolvimento, o termo
utilizado é negócios inclusivos, com exceção do caso brasileiro que adota o termo
negócios sociais, como a terminologia mais comum na literatura (COMINI et al,
2012). Os autores Comini e Teodósio (2012) explicam que negócios inclusivos no
Brasil é uma subcategoria dos negócios sociais porque esta seria uma expressão
usual que faz parte da realidade das empresas e ONGs no país para designar a
inclusão de grupos marginalizados no mercado de trabalho, gerando possibilidade
de renda a essas pessoas. Esses grupos podem ser: homens e mulheres maiores
39
de 40 anos que são pobres e desprovidos de educação formal, pessoas jovens sem
experiência de trabalho que moram em áreas vulneráveis, ou seja, em suma se
refere a maioria da população pobre que vive em situação de risco (COMINI;
TEODÓSIO, 2012).
As visões da América latina e asiática apresentam muitos aspectos em
comum, ambos associam fortemente aos negócios inclusivos ou sociais as
iniciativas que promovem a redução da pobreza com impactos positivos, eficazes e
de longo prazo (COMINI et al, 2012). Corroborando com o aspecto fundamental da
redução da pobreza, Márques, Reficco e Berger (2010) apud Comini et al (2012)
argumentam que para se caracterizar como negócios inclusivos não basta ser
autossuficiente, é necessário ser lucrativo e deve ser baseado na premissa da
transformação dos padrões de vida da população de baixa renda.
Considerando esses aspectos, pesquisadores da Social Enterprise
Knowledge Network (SEKN), uma instituição latino-americana, define os negócios
sociais como organizações ou empresas que por meio de iniciativas de mercado
geram valor social, incluindo, portanto, ONGs e organizações com fins lucrativos ou
organizações do setor privado engajadas em atividades típicas do setor público
(COMINI et al, 2012).
Nesse aspecto da população ser incluída diretamente no processo de
produção e não apenas de consumo podemos citar uma pesquisa realizada pela
rede SEKN entre 2006 e 2009 com 33 iniciativas na América Latina, mostrando que
pequenas e médias empresas (PME), bem como organizações da sociedade civil
são mais ágeis e dispostas à internalização de inovações necessárias para conduzir
um negócio inclusivo. Nesse sentido, o grupo de pesquisadores da instituição
reforça o papel das PME e das organizações da sociedade civil como fomento aos
negócios inclusivos, enfatizando que a população de baixa renda pode se mover da
condição de consumidores para fornecedores das grandes corporações, se unindo a
cadeia de valor. Esta seria uma alternativa para gerar um maior impacto social,
enxergando a população não apenas como consumidores, como propõe a visão
tradicional da base da pirâmide (COMINI et al, 2012), sendo esta uma das críticas a
este movimento.
40
Posteriormente à breve exposição das três abordagens, podemos depreender
que a abordagem norte-americana possui uma perspectiva baseada em mercado,
enquanto na Europa há mais ênfase no social. Já a abordagem dos países em
desenvolvimento se encontra entre as duas primeiras, em alguns momentos se
aproxima da Europa, quando, por exemplo, enfatiza que o direcionamento principal
do negócio é o impacto social e, por vezes, se aproxima da norte-americana, como
pelo modelo de governança, especialmente na América Latina (COMINI et al, 2012).
Porém existem dois fatores que podem explicar a falta de homogeneidade
das perspectivas apresentadas. Um deles se refere à forma diferente de se definir o
valor social das empresas e o segundo está relacionado com a diferença nas formas
de avaliar o impacto social e a inovação produzida por este tipo de organização
(COMINI et al, 2012). Apesar dessas diferenças na origem, visões e nomenclaturas,
as três abordagens apontam para um mesmo objetivo (FERREIRA et al, 2014),
aspecto que será reforçado ao longo de todo o trabalho, que é a atuação para
solucionar problemas sociais, divergindo na forma de constituição dessas
organizações, gestão e participação dos setores da economia, o Estado, ONGs e
empresas privadas.
Podemos dizer que o aspecto fim, referente a existir organizações que
solucionam problemas sociais, é o comum, o que se diferencia são os meios para
atingir esses objetivos sociais (COMINI et al, 2012). No caso Brasileiro,
considerando a forte influência exercida, tanto da Europa, quanto norte-americana
(FREYRE, 2006 apud COMINI et al, 2012), sobre a sociedade e cultura brasileira,
não é surpresa que o país apresente características que permeiam todas as
abordagens (COMINI et al, 2012). Para um melhor entendimento dos aspectos
principais de cada abordagem e para facilitar a análise comparativa entre elas,
segue abaixo a figura 13.
Perspectiva europeia Perspectiva americana
Perspectiva dos países em
desenvolvimento
Denominação predominante
Empresa social Negócio social Negócio social e Negocio inclusivo
Definição Organizações nas
quais os negócios são Qualquer atividade de mercado empresarial
Organizações ou empresas que geram
41
conduzidos por objetivos sociais
que possua impacto social inserido nas
atividades de negócio
mudança social por atividade de mercado
Peculiaridades
Nasce da tradição da economia social e
prega o associativismo e o cooperativismo
Entendem negócios sociais como
organizações privadas com lógica de
mercado dedicadas a soluções de
problemas sociais
Enfatiza iniciativas de mercado que visam à redução da pobreza
e à ampliação de ações de inclusão
social
Formato Jurídico
Reconhece-se a formalização jurídica
na maioria dos países
Há múltiplas formas organizacionais e
jurídicas
Não existe formato jurídico específico
para negócios sociais. Essas iniciativas são
estruturadas sobre modelos jurídicos já
existentes.
Proposta principal
Oferecer serviços, originalmente da esfera do setor
público, a preços baixos e gerando oportunidade de emprego para
desempregados e para população
marginalizada
Dar acesso a bens e serviços antes apenas
disponíveis para o segmento da
população mais rico
Iniciativas de redução da pobreza que
devem ter impacto social positivo,
efetivo e, especialmente, de
longo prazo
Quem promove o processo
Empresas com direcionamento social
Grandes corporações/ Multinacionais
PMEs e ONGs, mas com crescente interesse das multinacionais
Formato do negócio
Empresas sociais são diferenciadas porque sua proposta social/
ambiental é absolutamente central
no que fazem
Buscam valor compartilhado:
resultados financeiros + impacto social
Impacto social é o principal foco
Escala Não é relevante Muito relevante Desejável
Lucro
Reinvestimento dos lucros dentro da organização para contribuir com o
crescimento e impacto social
Distribuição dos dividendos faz parte
da lógica do mercado
Visão da Ásia: lucro apenas deve ser
reinvestido na empresa
Visão da América Latina: aceitável a distribuição dos
dividendos
Modelo de governança
Participação dos beneficiários no
processo de decisão
Decisão corporativa e centralizada, mas com
parcerias e uma crescente ideia de co-
criação
Visão da Ásia: mais colaborativo e com participação dos
beneficiários Visão da América
42
Latina: aceitável ambos os modelos (participatório ou
centralizado)
Medição de impacto
Principalmente impacto social
Impacto social e financeiro
Principalmente impacto social
Figura 13 – Principais elementos dos negócios sociais para cada abordagem Fonte: Adaptado de Comini et al (2012) (tradução livre do autor)
Posteriormente a contextualização das três abordagens, a proposta agora é
compilar algumas definições desenvolvidas por instituições relevantes no fomento
aos negócios sociais, bem como destacar a terminologia utilizada por cada um para
se referir a este tipo de empreendimento (figura 14), possibilitando uma análise
comparativa.
YUNUS NEGÓCIOS SOCIAIS
Nomenclatura utilizada
Negócios sociais
Conceito “(...) são empresas que têm a única missão de solucionar um problema social, são autossustentáveis financeiramente e não distribuem dividendos.”
PANO CDE
Nomenclatura utilizada
Negócios Sociais
Conceito “(...) são negócios economicamente rentáveis que utilizam soluções de mercado para melhorar a qualidade de vida e gerar impacto social positivo como parte do seu core business. Facilitam o acesso a serviços de melhor qualidade ou incluem a participação das classes CDE na sua cadeia de valor.”
SEBRAE
Nomenclatura utilizada
Negócios Sociais
Conceito “(...) iniciativas financeiramente sustentáveis, geridas por pequenos negócios, com viés econômico e caráter social e/ou ambiental, que contribuam para transformar a realidade de populações menos favorecidas e fomentem o desenvolvimento da economia nacional.”
ARTEMÍSIA
Nomenclatura utilizada
Negócios de Impacto Social
Conceito “São empresas que oferecem, de forma intencional, soluções escaláveis para problemas sociais da população de baixa renda.”
FUNDAÇÃO AVINA
Nomenclatura utilizada
Negócios Inclusivos
Conceito “(...) são iniciativas economicamente rentáveis e ambiental e/ou socialmente responsáveis que utilizam os mecanismos do mercado para melhorar a qualidade de vida das pessoas de baixa renda,
43
estimulando sua participação em todas as fases da cadeia de valor.”
SOCIAL ENTERPRISE UK
Nomenclatura utilizada
Empresa Social
Conceito “(...) é um negócio que comercializa para enfrentar os problemas sociais, melhorar as comunidades, as chances de vida das pessoas ou o ambiente.”
VIRTUE VENTURES
Nomenclatura utilizada
Empresa Social
Conceito “(...) é qualquer empreendimento criada para servir a um propósito social – mitigar ou reduzir um problema social ou uma falha de mercado – e para gerar valor social operando com a disciplina financeira, inovação e determinação, típicas do setor privado.”
Figura 14 – Diferentes nomenclaturas e conceitos sobre negócios sociais Fonte: Elaboração própria, baseado em Assad et al (2010)
Mediante o quadro apresentado, podemos perceber a falta de
homogeneidade nas abordagens conceituais, inclusive no que diz respeito à
nomenclatura utilizada. É importante estar atento à algumas particularidades das
instituições levantadas, por exemplo, a AVINA atua na América Latina,
possivelmente por esse motivo, como apresentado por Comini et al (2012), se
apropriam do termo negócios inclusivos, típico na região.
Além da AVINA, outros exemplos podem ser observados. A Social Enterprise
UK, como uma instituição que atua na Europa, pode ser correlacionado também a
utilização do termo empresas sociais a realidade geográfica da mesma. O SEBRAE,
na sua definição, ressalta sobre a participação dos pequenos negócios,
possivelmente porque a sua atuação é nas chamadas PMEs (pequenas e médias
empresas). E o Plano CDE, como instituição que atua frente às classes C, D e E,
traz no seu conceito este termo, fazendo alusão ao foco da sua prática profissional.
Podemos dizer que muitas definições estão vinculadas aos interesses e
formas de atuação das instituições de fomento, consequentemente, as organizações
se moldam ou procuram instituições que estão mais de acordo com a sua atuação e
esse processo permite uma falta de padronização muito grande para que se possa
de fato ter uma definição mais homogênea.
Outro aspecto importante é que muitas vezes essas definições são melhores
desmembradas em caracterizações, pré-requisitos ou princípios propostos por essas
instituições para os negócios sociais. Dessa forma, faz-se necessário uma constante
44
atualização sobre o recorte conceitual utilizado por essas instituições. Há também os
aspectos que são incisivos para algumas instituições, como a escalabilidade e a
distribuição de lucros, enquanto para outras esses aspectos não promove qualquer
alteração no conceito.
Algumas instituições, inclusive, esclarecem que existem várias formatações
diferenciadas para este tipo de negócio e apenas determinam um direcionamento
capaz de possibilitar um recorte, mas todas elas de alguma forma ressaltam em
suas definições os dois pilares mais importantes, que são: a tentativa de resolução
de um problema social ou geração de impacto social positivo na sociedade; e o uso
de iniciativas/ mecanismos de mercado que pudessem trazer aos negócios
sustentabilidade financeira, o que confere um caráter híbrido a essas organizações.
No que diz respeito à realidade brasileira, Assad et al (2010) realizaram uma
pesquisa que levantou algumas organizações vinculadas a três instituições de
fomento no Brasil, a Ashoka, a Artemisia e a Avina. Os autores utilizaram
organizações que cumprissem dois critérios: foco na atuação em áreas como
Desenvolvimento Econômico, Meio Ambiente e Tecnologia Alternativa (1), conceitos
relacionados com o impacto positivo na sociedade; e que tivessem um “braço”
empresarial ou comercial, ou seja, alguma iniciativa de renda própria (2). As
entrevistas realizadas pretendiam, sobretudo, identificar como os empreendedores
definiam seus próprios empreendimentos (figura 15).
Nome do Empreendimento
Organização Apoiadora
Como você define o seu empreendimento?
Sementes da Paz Artemisia “Um empreendimento que pratica o comércio justo de alimentos e produtos ecológicos e solidários”.
Tekoha Artemisia
“A Tekoha é um negócio social que comercializa produtos desenvolvidos por comunidades de baixa renda, que expressam sua cultura e criam um negócio sustentável para a população local. Comercializamos os produtos principalmente no mercado de brindes corporativos sustentáveis e também atuamos no varejo e com exportações”.
Feira Preta Artemisia
“Uma plataforma de desenvolvimento da comunidade negra. No Feira Preta nós trabalhamos em duas frentes: Cultura e Comércio. Na parte de cultura procuramos valorizar a cultura negra, com ações de inclusão. Já no comércio trabalhamos no fomento desse mercado”.
45
Aoka Artemisia “Um Negócio Social. A AOKA é uma operadora de turismo sustentável”.
Museus Acessíveis
Artemisia “O Museus Acessíveis é um negócio social voltado para a inclusão cultural dos deficientes físicos”.
Solidarium Artemisia
“A Solidarium é uma empresa social que atua com criação, produção e distribuição de produtos alinhados aos princípios do Fair Trade (Comercio Justo)”.
A Banca Artemisia “Uma produtora cultural e social que promove inclusão de jovens das comunidades periféricas”.
Mundaréu1 Avina “Somos uma OSCIP que promove inclusão e desenvolvimento para produtores artesanais através dos princípios do comercio justo”.
Copa-Roca Avina “Uma cooperativa de mulheres que trabalham com o setor da moda”.
Aliança Empreendedora
Avina
“A Aliança Empreendedora é uma organização social que, através de serviços, negócios sociais e projetos em parceria com organizações públicas e privadas, viabiliza e amplia “Acessos” para que empreendedores de baixa renda possam desenvolver seu negócio”.
IDEAAS Ashoka e
Avina
“O IDEAAS é uma organização sem fins lucrativos. Os projetos que desenvolvemos em parceria com empresas e organizações são modelos de negócios sociais”.
CDI Ashoka e
Avina
“CDI é uma ONG e possui duas iniciativas de negócio social. (i) a CDI Consultoria, que oferece consultoria a empresas que queiram atuar nos mercados de baixa renda, (ii) o CDI Lan, que tem como objetivo transformar lan houses em espaços de educação, cultura, entretenimento e informação através de capacitação, formalização e geração de renda para esse canal”.
Figura 15 – Definição de empreendedores sociais brasileiros sobre seus empreendimentos Fonte: Assad et al (2012)
Os autores Assad et al (2012), fazem algumas considerações a respeito da
pesquisa desenvolvida, que pode ilustrar a realidade desse tipo de negócio no Brasil
e mostrar algumas dificuldades em delimitar conceitos:
Fica claro na análise deste quadro que a diversidade de definições que envolvem os Negócios Sociais no Brasil é muito grande. Nesta pequena amostra, já nos deparamos com termos como, ONGs, cooperativa, plataforma, empresa e negócio social, dentre outros, para exemplificar a estrutura institucional adotada. Os focos também são distintos, envolvendo produção, comércio justo, consultoria, turismo, etc. Esses dados de multiplicidade de arranjos institucionais e de focos de atuação fazem os negócios sociais brasileiros
46
estudados se aproximarem mais da abordagem norte americana do que europeia de Empresas Sociais. Assim como ocorre nos Estados Unidos, a falta de uma legislação específica não promove uma institucionalização mais profunda do movimento (s/p).
Portanto, a depender principalmente da abordagem que se utilize, norte-
americana, europeia ou dos países em desenvolvimento, e da instituição de
fomento, podemos considerar que existem negócios sociais que atuam variando
entre dois extremos, do mercado aos aspectos sociais (figura 16).
Maior ênfase no mercado Maior ênfase nos aspectos
sociais
Objetivo principal Acesso a um mercado amplo
(BoP) Redução da pobreza
Oferta Qualquer serviço ou produto
para o BoP
Produtos e serviços relativos às necessidades básicas
(educação, saúde, habitação, alimentação e financeira)
Intencionalidade Geração de valor social é importante, porém não é
central
Geração de valor social é central no negócio
Impacto Contribuição indireta para
diminuição da pobreza Contribuição direta para diminuição da pobreza
Clientes BoP não é o único alvo Principalmente BoP
Base da pirâmide Principalmente como
consumidores
Principalmente como produtores, fornecedores e
beneficiários
Escalabilidade Muito relevante Não muito relevante
Trabalhadores Sem prioridade Marginalizados ou
economicamente excluídos
Formato legal Empresa do setor privado Organizações da sociedade civil
Envolvimento da comunidade na
tomada de decisão Sem participação
Existem mecanismos institucionais para participação
coletiva
Responsabilidade Não é uma prioridade Prioridade total
Distribuição do lucro Distribuição dos dividendos Lucro todo reinvestido na
empresa
Valor econômico Lucro baseado nas vendas
menos as despesas
Lucro não exclui cruzar subsídios, doações e benefícios
fiscais
Valor Social Indicadores tangíveis (dar
acesso a produtos e venda)
Indicadores intangíveis (cidadania, autoestima, capital
social) Figura 16 – Quadro analítico para análise dos negócios sociais Fonte: Comini et al (2012) (tradução livre do autor)
47
Finalmente, é necessário se aprofundar nas discussões teóricas, mas sempre
levando em consideração a região e experiências locais que promovem o negócio
social, especialmente no Brasil, pois o contexto socioeconômico do país vem
sofrendo significantes mudanças nas condições de vida da população de baixa
renda (COMINI et al, 2012).
Segundo o Brasil27 (2014), que realiza no momento estudos de caso com
negócios sociais em todos os estados do Brasil, é necessário saber os conceitos
utilizados, porém consideram que não é estritamente necessário estabelecer uma
definição exata e propõem que uma forma mais eficaz seja estabelecer critérios
mínimos que sirvam de filtro inicial.
A partir da contextualização das três perspectivas e das discussões propostas
acima, podemos discorrer agora sobre algumas caracterizações e observações
desenvolvidas pelos autores e instituições de fomento que podem incrementar na
formulação dos conceitos para a realização deste trabalho.
Um aspecto importante é sobre a iniciativa fazer parte ou não do core
business, ou seja, o impacto social estar diretamente relacionado com a atividade
principal da organização. Alguns autores defendem que necessariamente deve estar
(ARTESMISIA; SEBRAE, 2013), mas Comini e Teodósio (2012) e Comini et al
(2012), por exemplo, consideram que atividades secundárias e periféricas também
possam ser caracterizadas como um negócio social.
Exemplos desse ultimo posicionamento são as organizações da sociedade
civil que desenvolvem atividades de geração de renda indiretamente relacionadas
com a sua atividade principal para obter recursos; ou uma unidade de negócio
voltada para o setor de baixa renda de uma grande multinacional (COMINI;
TEODÓSIO, 2012). Essas variações implicarão numa diferenciação sobre a
abrangência do conceito negócio social, podendo ser eliminadas muitas iniciativas.
Para o SEBRAE (2013, p.6), “a análise da realidade social e seu contexto são
fundamentais para determinar o negócio social”, o que significa que um mesmo
modelo de negócio pode ser considerado um tipo de negócio social em uma
localidade e em outra pode não ser aplicável, pois os problemas sociais e o contexto
local são distintos.
48
Somado a isso, a intencionalidade é outro fator muito importante (SEBRAE,
2013; ARTEMISIA, 2014). Dessa forma, podemos exemplificar com a realidade do
Rio de Janeiro, um negócio instalado em uma favela, por exemplo, não
necessariamente é um negócio social, pois irá depender da intencionalidade com
que se conduz o negócio e também do diálogo da organização com as necessidades
reais daquele grupo que está diretamente impactado pela atividade.
Outro aspecto é a natureza jurídica dessas organizações, “na prática essas
organizações se configuram por várias naturezas jurídicas que operam como
negócio” (SEBRAE, 2013, p. 6), não deixando claramente delimitado qual natureza
jurídica esse tipo de organização deveria ter, como também a Artemisia (2014) e a
Avina (2014). Porém, a Yunus Negócios Sociais é mais enfática ao dizer que essas
organizações devem estar legalmente estruturadas como empresa
(Microempreeendedor Individual, ltda, S.A. etc).
No que diz respeito ao publico beneficiado, muitas instituições frisam sobre
atingir positivamente a população de baixa renda ou as classes CDE (PLANO CDE;
ARTEMISIA, 2014; SEBRAE, 2013; AVINA, 2014), porém outras mencionam apenas
sobre o foco em um problema social e melhora da qualidade de vida da população
de uma forma mais geral (YUNUS; SOCIAL ENTERPRISE UK; VIRTUE VENTURE).
Nesse aspecto também devemos levar em consideração outra informação
trazida por Weppen e Cochrane (2012), que por meio de uma pesquisa realizada
com empresas sociais na área de turismo, foi percebido que haveria uma
particularidade dessas organizações, que conseguem diferenciar beneficiários
(publico alvo) dos clientes (mercado alvo), portanto, os consumidores não são, na
maioria dos casos, os impactados no aspecto socioeconômico e sim os chamados
beneficiários desse processo, que é a população envolvida na atividade.
Quanto às áreas de atuação que os negócios sociais podem vir a se
estabelecer, existe maior tendência a se pensar e investir em negócios sociais
diretamente vinculados as necessidades básicas, como saúde, habitação, serviços
financeiros e educação, como destaca a Artemisia (2014). Porém, existem também
outras frentes de negócio, o SEBRAE (2013), por exemplo, cita 13 campos de
atuação: Água e Saneamento básico; Agricultura; Artesanato; Canais de
49
distribuição; Cultura; Educação; Energia; Habitação; Meio ambiente; Tecnologia de
Informação e Comunicação; Turismo; Saúde; e Serviços financeiros/ microfinanças.
Este trabalho estará concentrado em detalhar mais sobre os conceitos
pertinentes a área de turismo que vão de encontro à atuação dos negócios sociais e
trazer exemplos desse tipo de organização que atue no turismo. Apesar de não ser
considerado uma necessidade básica, veremos de que forma se dá o impacto social
de uma organização deste tipo e quais serão as suas especificidades.
Comini e Teodósio (2012) contextualizam melhor sobre a necessidade de
amadurecimento dos agentes envolvidos com relação à temática:
Apesar da ambiguidade e diversidade dos termos, pode-se afirmar que este tipo de empreendimento social exige um novo formato. Novas também são as exigências feitas aos gestores deste tipo empreendimentos que desde a sua criação devem gerenciar eventuais conflitos e tensões que ocorrem na medida que é necessário maximizar retorno social com rentabilidade financeira. Para isso, é necessário quebrar paradigmas presentes na forma tradicional de fazer negócios e de atuar no social. Desde o momento zero do empreendimento, é fundamental inovar e viabilizar novos arranjos institucionais. Não é possível reproduzir o modelo tradicional de business, inserindo apenas a dimensão social. É necessário pensar e agir diferente. É necessário que organizações da sociedade civil dêem as mãos para organizações empresariais e ambos pensem de que forma podem atuar juntos, sob a lei de mercado, com o objetivo comum de contribuir para reverter a situação de exclusão. Nesse ambiente, independentemente do nomeou da classificação que for dada ao projeto/iniciativa, co-criação passa ser a palavra de ordem. (COMINI; TEODÓSIO, 2012, s/p)
Para possibilitar uma melhor análise no segundo capítulo desse trabalho das
organizações escolhidas, veremos ainda, na próxima seção, as formas de atuação
dessas organizações, no que diz respeito à estrutura financeira, aos consumidores e
beneficiários, às atividades de negócios, dentre outros aspectos.
1.4 EMPREENDEDORISMO SOCIAL: DISTINTAS FORMAS DE ATUAÇÃO NAS
ORGANIZAÇÕES
Nesta seção iremos entender mais sobre as diferentes maneiras de se
estruturar uma organização com as características debatidas acima, especialmente
sobre a dualidade do valor social e valor econômico. É importante salientar sobre a
50
dificuldade de se usar os modelos prontos, pois muitas vezes são baseados em
definições e caracterizações de um determinado autor, porém, como vimos, existe
uma divergência muito grande entre as definições. Portanto, ao adotar um modelo,
podemos correr o risco de deturpar algum conceito. Porém agora pretendemos
apresentar o que a literatura nos coloca seja por empresa social, negócio social ou
negócio inclusivo ou quaisquer outras terminologias similares e, posteriormente,
debatermos sobre o que é proposto.
Kim Alter, diretora da Virtue Venture, apropriada pelo posicionamento da
instituição, já antes apresentado, será uma das autoras mais utilizadas nesta parte
do trabalho, pois desenvolveu um completo material sobre tipologias de empresas
sociais (nomenclatura utilizada pela autora), que possibilita melhor categorizá-las
sobre vários aspectos, como pela estratégia financeira ou publico alvo. Quando
houver, serão apresentados também outros autores.
A primeira classificação proposta por Alter (2007) se refere à orientação da
missão da empresa e a segunda é sobre o nível de integração dos programas
sociais com a atividade de negócio da organização, ambas as abordagens dialogam
entre si. Essas proposições podem ser cruzadas com a discussão divergente entre
alguns autores sobre a iniciativa fazer parte do core business ou não, vejamos o que
é proposto.
A orientação da empresa pela missão pode variar em dois extremos,
motivação pela missão (com ênfase no social) e a motivação pelo lucro (ALTER,
2007), como pode ser observado na figura 17:
Figura 17 – Orientação de empresas sociais pela missão Fonte: Adaptado de Alter (2007) (tradução livre do autor)
51
Uma empresa social de missão central significa que a missão social da
organização é central para a empresa, que foi criada para avançar nessa missão por
meio de um modelo de autosustentabilidade financeira. Nesses casos, em geral, se
trata de uma empresa social incorporada no que diz respeito aos programas sociais
e as atividades de negócio, ou seja, esses dois mecanismos são um só, são a
mesma coisa (ALTER, 2007).
Empresas sociais incorporadas são evidentes em modelos onde: atividades
comerciais e sociais são unificadas; a missão social é a proposta central do negócio;
e o publico alvo (clientes) é parte integrante do modelo como receptores diretos dos
serviços sociais (beneficiários) e também do mercado (consumidores) (ALTER,
2007). A figura 18 ilustra essa integração:
Figura 18 – Programas sociais e atividades de negócio - empresas sociais incorporadas Fonte: Alter (2007) (tradução livre do autor)
A segunda orientação pela missão da empresa é chamada de empresa social
de missão relacionada a partir da criação de valor social para programas sociais e
gerando valor econômico para subsidiar programas sociais e os custos operacionais
da organização. Esse tipo de orientação normalmente se caracteriza por empresas
sociais integradas, no que tange as atividades de negócios e os programas sociais.
Porém, uma empresa social integrada pode ser também uma empresa de missão
central (ALTER, 2007).
Nas empresas sociais integradas, suas atividades de negócio são conectadas
com a missão da organização, mas não se configura como algo único com relação
aos programas sociais, que, na verdade, faz uma sobreposição com as atividades
52
de negócio da empresa. Essas empresas podem estar estruturadas como um centro
de lucro ou um departamento dentro de uma organização sem fins lucrativos ou,
ainda, como uma entidade separada.
Empresas sociais integradas são evidentes em modelos onde: atividades
sociais e econômicas se sobrepõem; há uma sinergia entre as atividades sociais e
econômicas, como a divisão de custos, alavancagem de ativos, aprimoramento de
sistemas e a expansão e fortalecimento da missão; e o publico alvo (clientes) é
diretamente beneficiado pela renda proveniente do empreendimento social que
proporciona financiamento aos programas sociais e os clientes podem ou não estar
envolvidos em operações da empresa como funcionários ou consumidores (figura
19).
Figura 19 – Programas sociais e atividades de negócio - empresas sociais integradas Fonte: Alter (2007) (tradução livre do autor)
Por fim, aproximado da lógica do lucro, temos as empresas sociais de missão
não relacionada, que normalmente tomam forma de empresas sociais externas. As
atividades da empresa podem ter uma tendência social, mas a motivação para a
criação da empresa social é o potencial de lucro. Nesse caso, normalmente são
caracterizadas como empresas sociais externas , quando os programas sociais são
diferentes das atividades de negócio, sem sobreposição inclusive. Mas uma
empresa de missão não relacionada também pode ser considerada empresa social
integrada, a depender do trabalho desenvolvido (ALTER, 2007).
Segundo Alter (2007), empresas sociais externas são criadas a partir de
organizações sem fins lucrativos para financiar seus serviços sociais e custos
operacionais. Essas empresas, em geral, não trazem benefícios por alavancagem,
53
divisão de custos e programas mais sinérgicos, ao contrário, se preocupam em
servir ao propósito do lucro. Podem ser estruturadas dentro de uma organização
mãe como um centro de lucro ou separadamente, como subsidiária de uma
organização sem fins lucrativos ou com fins lucrativos, gerando valor econômico
para dar suporte à criação de valor social.
Empresas sociais externas são evidentes em modelos onde: atividades
sociais e econômicas são conectadas pela organização sem fins lucrativos e a
relação de financiamento que é estabelecida entre elas; a motivação para atividades
econômicas é um mecanismo de financiamento para atividades sociais; e o publico
alvo (clientes) é diretamente beneficiado pela geração de renda proveniente da
empresa social que financia a organização mãe, que raramente é envolvida nas
operações da empresa (figura 20).
Figura 20 – Programas sociais e atividades de negócio - empresas sociais externas Fonte: Alter (2007) (tradução livre do autor)
Quanto às estratégias financeiras, Alter (2007) explica que o nível de
autossustentabilidade da empresa social depende dos objetivos financeiros, do tipo
de empresa e da maturidade. A seguir, na figura 21, detalharemos sobre essa
estrutura organizacional. Essa estrutura não representa estágios das empresas, mas
caracteriza de acordo com a forma de trabalho de cada tipo de empresa social. O
fato de uma empresa expressar objetivos de se movimentar entre os tipos a serem
apresentados é uma questão de maturidade. Está apresentado de forma gradual,
variando do modelo mais dependente ao mais autossustentável financeiramente.
(ALTER, 2007).
54
Estrutura organizacional
Organização sem fins
lucrativos tradicionais/
Empresa social
Empresa Social
Empresa Social
Empresa Social
Quadro financeiro
Parcialmente autossustentável
Autossuficiência do fluxo de caixa
Autossuficiência operacional
Autossuficiência financeira
Nível da renda
Renda gerada cobre parte das despesas operacionais ou recupera custos do programa
Renda gerada cobre custos operacionais mais baixo que as taxas de mercado
Renda gerada cobre todos os custos operacionais , sem custos totais de mercado (capital e investimentos)
Renda gerada cobre todos os custos operacionais e custos de investimento com taxa de mercado
Subsidio
Empresa ou organização mãe majoritariamente subsidiado
Déficit entre a renda gerada e os custos, capital de investimento e subsidio crescente
Custo de capital, parcialmente subsidiado por empréstimos, e despesas de capital
Sem subsídios
Viabiliadade por earned income
Sem viabilidade. Organização é dependente de subsídios e doações para sobreviver; pode ter fundos próprios de serviços ou atividades isolados
Aproximando-se da viabilidade. Cobre os custos diretos; estrutura de custos e crescimento subsidiado; receita abrange operações diárias até o breakeven
Viabilidade esperada. Breakeven operacional; nenhuma receita excedente, subsídios diminuem; receitas cobrem todos os custos operacionais
Entre viável e lucrativo. Receitas cobrem todos os custos financeiros e operacionais; Lucros acumulados para crescimento financeiro. Organização sem fins lucrativos pode mudar seu status legal para uma organização com fins lucrativos
Tipo de subsidio
Subsídios Subsídios para financiar déficit
Taxas vantajosas permitidas por lei se a organização
Doações filantrópicas
Descontos e taxas vantajosas
Descontos ou taxas vantajosas
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Trabalho voluntário
Trabalho voluntário ou com mão de obra mais barata (estagiários)
permanecer como uma organização sem fins lucrativos
Apoio em espécie
Taxas de juros abaixo do mercado
Taxas de juros abaixo do mercado
Apoio da organização mãe
Apoio da organização mãe
Apoio da organização mãe
Contratos preferenciais
Contratos preferenciais
Contratos preferenciais
Figura 21 – Possibilidades de estrutura financeira de uma empresa social Fonte: Adaptado de Alter (2007) (tradução livre do autor)
No que diz respeito às fontes de recursos para projetos e negócios sociais e
negócios inclusivos, Walmart e a Ashoka (2011) apontam 8 tipos. A primeira é o
capital de risco que geralmente é investido em empresas já existente, de 3 a 5 anos,
de pequeno e médio portes com potencial de crescimento e retorno (financeiro,
social e/ou ambiental) ao investidor, que também pode adquirir parte das ações da
empresa. Esse recurso serve para dar as primeiras expansões, elevando, em geral,
a escala de impacto social e financeiro.
Há também o microcrédito, que se trata de um empréstimo sem garantias
formais e a juros inferiores, adequado para a população de baixa renda. Esse tipo de
recurso disponibiliza capital para o início ou fomento de microempreendimentos. Em
terceiro temos o capital semente, investimento feito na fase inicial, que visa altos
retornos com disponibilidade para correr riscos mais altos, ajudando o
empreendedor a dar os primeiros passos (WALMART; ASHOKA, 2011)
O quarto tipo de recurso são as doações que é um recurso doado por
pessoas físicas ou jurídicas para determinada causa social. O principal foco são as
organizações sem fins lucrativos, e não os negócios sociais, com a possibilidade ou
não de desconto no Imposto de Renda. As doações financiam em geral projetos
sociais (WALMART; ASHOKA, 2011).
Temos também o crowdfunding, é uma modalidade de doações via internet
por ação de cooperativa coletiva realizada por indivíduos que contribuem
financeiramente para apoiar uma iniciativa de pessoas ou organizações. Esse
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recurso visa financiar ações sociais, culturais e outras iniciativas individuais e
coletivas (WALMART; ASHOKA, 2011).
O sexto exemplo de fonte de recurso são os empréstimos, no qual o
empreendedor recebe um montante, a ser pago parcelado e com juros, normalmente
abaixo dos praticados no mercado, podendo financiar tanto iniciativas de
empreendedorismo social, quanto econômico. Há também o Fundo não restituível,
que é disponibilizado por um investidor sem contrapartida de reembolso financeiro
(WALMART; ASHOKA, 2011).
Por fim, temos o modelo híbrido, que normalmente combina capital de risco,
empréstimos e/ ou aportes a fundo não restituível, de acordo com a análise do
negócio social e sua perspectiva de expansão. Esse modelo híbrido serve, portanto,
para financiar projetos de empreendedorismo social com retorno econômico em
negócios de alto potencial de crescimento baseado em resultados financeiros e
sociais (WALMART; ASHOKA, 2011).
A seguir, na figura 22, Alter (2007) também apresenta métodos que
possibilitam a geração de renda em empresas sociais:
Metódo Descrição
Cobrança de taxa para o serviço
Cobrar do cliente pelo serviço social para cobrir os custos da prestação do serviço
Produtos Renda gerada pela produção e venda de produtos ou markup ou revenda do mesmo
Serviços Comercialização de uma habilidade ou conhecimento para um mercado disposto a pagar
Pagamento de anuidade Taxas coletadas dos membros do grupo, associação ou organização em troca de serviços como descontos, conferencias, seguros...
Ativos tangíveis Geração de renda por aluguel de um ativo tangível, como espaço de escritório, equipamentos...
Ativos intangíveis Geração de renda pela alavancagem de um ativo intangível, como metodologia, marca, reputação...
Dividendos por investimento
Geração de renda passiva de investimentos
Atividade de negócio não relacionada
Receita de negócios não relacionados com a missão da organização e criada com o objetivo de financiar uma atividade social específica ou a organização como um todo
Figura 22 – Métodos de geração de renda de uma empresa social Fonte: Adaptado Alter (2007) (tradução livre do autor)
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As empresas sociais, da mesma maneira que as empresas tradicionais,
podem comercializar em vários tipos de mercados. Em muitos desses modelos
econômicos de geração de renda, o consumidor é também o cliente. Esse cliente é,
portanto, pessoas pobres, que pode comprometer o potencial financeiro das
empresas (ALTER 2007).
Em muitos programas da sociedade civil, os clientes não são definidos pelo
seu poder aquisitivo e podem ter poder de compra, nesses casos os clientes não
limitam o potencial de receita. A empresa social pode então atender qualquer tipo de
consumidor, a depender dos seus objetivos financeiros desenvolvidos no modelo de
negócio (ALTER, 2007).
Essa proposição dialoga também com a diferença entre publico alvo
(beneficiários) e mercado alvo (clientes), já exposto anteriormente, como uma
particularidade de algumas organizações que atuam com o foco no impacto social
atrelado a geração de renda própria. Portanto, o mercado alvo de um negócio social
não é necessariamente pessoas de baixa renda.
É importante também discutirmos sobre a possibilidade de comprometer a
receita da empresa caso o publico e mercado alvo sejam o mesmo, a população de
baixa renda. Podemos também pensar em outras diferentes estratégias adotadas
por essas organizações, sendo uma delas a comercialização em grande volume, o
que pode equilibrar a receita. O fato de ser a população de baixa renda o
consumidor, podemos considerar outros aspectos a serem pensados, como a forma
de pagamento, mas não necessariamente vender para um publico mais pobre
compromete o resultado financeiro da empresa, apenas pode trazer alguns desafios.
Na figura 23, a seguir, Alter (2007) apresenta uma categorização de possíveis
consumidores de empresas sociais:
Mercado Descrição
Publico alvo O cliente e consumidor são o mesmo
Contribuintes terceiros Quem paga pelo produto ou serviço não é o usuário, que é o cliente. Contribuintes terceiros das empresas sociais são doadores, seguradoras ou o governo
Publico geral Consumidores em geral que compram produtos e serviços na empresa social, que em alguns casos pode ter motivação social
Negócios e organizações Organizações que compram produtos e serviços de
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sem fins lucrativos empresas sociais
Contratos governamentais Governo compra produtos e serviços de empresas sociais
Figura 23 – Tipos de consumidores de empresas sociais Fonte: Alter (2007) (tradução livre do autor)
Para finalizar os diferentes aspectos que possibilitam um melhor
entendimento dessas organizações, Alter (2007) propõe alguns modelos
operacionais que ilustram de que forma essas organizações criam valor econômico
e valor social, podendo ser aplicado a instituições, programas ou prestação de
serviço.
Segundo Alter (2007), esses modelos são desenhados de acordo com os
objetivos sociais e financeiros da organização, missão, dinâmica de mercado,
necessidade dos clientes e os aspectos legais de cada local. Esses modelos podem
ser também combinados e melhorados para atingir máxima eficiência na criação de
valor. Vejamos agora um pouco sobre cada modelo.
O primeiro deles é o Modelo de Suporte ao Empresário, que consiste na
venda de suporte à negócios e serviços financeiros para o publico alvo, que são
indivíduos ou empresas que atuam por conta própria. Com esse serviço, esse
publico alvo, que pelos exemplos trazidos pela a autora se trata de grupos
marginalizados da sociedade, como fazendeiros rurais de baixa renda e mulheres de
baixa renda, consegue vender seus produtos e serviços no mercado (ALTER, 2007).
Nesse caso, normalmente, o programa social é o negócio, tendo como missão
central facilitar a segurança financeira do seu publico alvo fornecendo suporte às
atividades empresariais. Uma organização que adota esse modelo consegue
sustentabilidade financeira pela venda de serviços e utilizam essa renda para cobrir
custos associados com a prestação do serviço oferecido, bem como as despesas
operacionais do negócio (ALTER, 2007). A figura 24 ilustra o modelo descrito.
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Figura 24 – Modelo de Suporte ao Empresário Fonte: Alter (2007) (tradução livre do autor)
Outro modelo é o Modelo Intermediário de Mercado (figura 25), que fornece
serviços para seu publico alvo, pequenos produtores (indivíduos, empresas ou
cooperativas), para ajuda-los a acessar o mercado. Os serviços oferecidos
adicionam valor aos produtos feitos pelo cliente, por exemplo: desenvolvimento de
produto; produção e comercialização; e crédito. Essas empresas também compram
produtos feitos pelo publico alvo diretamente ou em consignação e depois vendem
os produtos em mercados de altas margens (ALTER, 2007).
As empresas que trabalham com esse modelo, normalmente o programa
social é o negócio, tendo a missão centrada no fortalecimento do mercado e
facilitando a segurança financeira do seu publico alvo, ajudando a desenvolver e
vender seus produtos. Essas empresas atingem sustentabilidade financeira pela
venda dos produtos feitos por seus clientes, usando a renda para os custos
operacionais e para cobrir custos de programas de desenvolvimento de produto,
divulgação e serviços de crédito aos clientes (ALTER, 2007). Pelos exemplos dados
pela a autora, o publico alvo também é um publico marginalizado.
Figura 25 – Modelo intermediário de mercado Fonte: Alter (2007) (tradução livre do autor)
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Temos também o Modelo de Emprego (figura 26), que, como sugere o nome,
fornece oportunidade de emprego e formação profissional para seu publico alvo,
pessoas com grandes barreiras de se inserirem no mercado de trabalho. A empresa
emprega seu publico alvo, considerando as habilidades e limitações dessas
pessoas, bem como a viabilidade comercial, vendendo seus produtos no mercado
(ALTER, 2007).
Nessas empresas, normalmente o programa social é o negócio, sua missão é
central na criação de oportunidades de negócio para seu publico alvo. Oferecem
também serviços de suporte social, como coaches profissionais, treinamentos,
fisioterapia, cuidados com a saúde mental, para permitir um ambiente de trabalho
favorável ao seu publico alvo. Uma empresa que adota esse modelo adquiri
sustentabilidade financeira vendendo seus produtos e serviços, revertendo a receita
para cobrir os custos operacionais associados ao negócio e aos custos adicionais
com seu publico alvo (ALTER, 2007).
Figura 26 – Modelo de emprego Fonte: Alter (2007) (tradução livre do autor)
O próximo é o Modelo de Taxa de Serviço que comercializa serviços sociais
pela cobrança de uma taxa fixa diretamente para o publico alvo (indivíduos,
empresas ou comunidades) ou para contribuintes terceiros. Nessas empresas o
programa social é normalmente o negócio, que possui a missão central de prestar
serviços sociais no setor que atua. A renda gerada vem das taxas cobradas e é
utilizada como mecanismo para recuperar custos com as despesas de distribuição
do serviço e as despesas do negócio, como marketing (ALTER, 2007).
Uma variação do Modelo de Taxa de Serviço é o chamado Modelo de Cliente
de Baixa Renda como Mercado, com ênfase em fazer com que pessoas de baixa
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renda tenham acesso a produtos e serviços. Esse publico alvo também pode ser
denominado como base da pirâmide, conceito já antes discutido neste trabalho. A
ressalva é que como o poder aquisitivo desse publico é inferior, atingir viabilidade
financeira pode ser um desafio maior (ALTER, 2007). A figura 27 ilustra ambos os
modelos:
Figura 27 – Modelo de taxa de serviço Fonte: Alter (2007) (tradução livre do autor)
O modelo seguinte é o Modelo Cooperativo (figura 28), que fornece benefícios
diretamente ao seu público alvo (cooperados), por serviços como: informação de
mercado; assistência técnica; acesso a produtos e serviços; dentre outros. Membros
da cooperativa geralmente são pequenos produtores de um mesmo grupo de
interesses ou uma comunidade com necessidades em comum. Normalmente o
programa social é o negócio, fornecendo serviços aos membros. A sustentabilidade
financeira é alcançada pela venda de produtos e serviços para os cooperados ou no
mercado, usando a renda para cobrir custos associados com a prestação de
serviços aos membros (ALTER, 2007).
Figura 28 – Modelo Cooperativo Fonte: Alter (2007) (tradução livre do autor)
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Temos agora o Modelo de Ligação de Mercado (figura 29) que procura
facilitar as relações comerciais entre o público alvo (pequenos produtores,
cooperativas e empresas locais) e o mercado externo, ajustando a conexão entre
compradores e produtores, cobrando uma taxa para esse serviço. Diferentemente do
Modelo Intermediário de Mercado, este modelo não vende, só promove a conexão
entre publico alvo e o mercado (ALTER, 2007)
Nesse caso, o programa social é o próprio negócio quando a empresa social
tem a missão de resolver questões relativas à ligação entre o mercado e o público
alvo e os programas sociais são baseados nesse objetivo, usando a renda para
financiar esses programas sociais. Caso a empresa seja criada para comercializar
serviços sociais de uma organização ou alavancar seus ativos intangíveis, como a
relação comercial, e a renda ser usada para subsidiar outros serviços ao cliente,
temos uma sobreposição dos programas sociais e das atividades de negócio
(ALTER, 2007).
Figura 29 – Modelo de ligação de mercado Fonte: Alter (2007) (tradução livre do autor)
Temos, ainda, o Modelo de Subsidiação (figura 30) de Serviço que vende
produtos e serviços para o mercado externo, usando a renda para gerar fundos para
os programas sociais. Nesse caso, as atividades de negócio se sobrepõem aos
programas sociais. Apesar da missão ser separada das atividades comerciais e esse
modelo ser adotado basicamente com o intuito de financiamento, essas atividades
comerciais podem ampliar ou melhorar a missão da organização.
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Figura 30 – Modelo de Subsidiação Fonte: Alter (2007) (tradução livre do autor)
Por fim, o ultimo modelo proposto é o Modelo de Suporte Organizacional
(figura 31), que vende produtos e serviços no mercado externo, para negócios ou
para o publico em geral. Em alguns casos o publico alvo é também o consumidor.
Geralmente as atividades de negócio são separadas dos programas sociais (ALTER,
2007).
Este modelo é criado com a função de financiar uma organização e
geralmente é estruturado como um negócio subsidiário (como uma organização sem
fins lucrativos ou com fins lucrativos) de propriedade de uma organização sem fins
lucrativos mãe. A receita líquida é usada para cobrir programas sociais e despesas
operacionais dessa organização mãe. Atuam como empresas externas que não
trazem benefícios como divisão de custos com programas sinérgicos, precisam ser
lucrativos para atingir seu propósito (ALTER, 2007).
Figura 31 – Modelo de suporte organizacional Fonte: Alter (2007) (tradução livre do autor)
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Tendo em vista toda a literatura apresentada, devemos entender a relação
dos conceitos apresentados com os conceitos pertinentes ao turismo, promovendo a
reflexão e compreendendo sobre a dinâmica das empresas que atuam na área.
Veremos agora se correlacionar as temáticas é algo utópico ou real e se já faz parte
do cotidiano de muitas práticas turísticas.
1.5 EMPREENDEDORISMO SOCIAL E TURISMO: UTOPIA OU REALIDADE?
O turismo se configura como uma alternativa econômica, mas, sobretudo, se
apresenta com uma dinâmica própria, podendo atuar como um agente de
transformação social (DREHER; OLIVEIRA, 2004). Para Cruz (2001), o turismo
provoca o deslocamento de pessoas pelo território tornando esse espaço geográfico
seu principal objeto de consumo.
Como já vimos, o empreendedorismo dialoga com a sociedade, pois não são
dissociados, apenas podem variar na aplicabilidade dos interesses, sendo os
empreendedores sociais os agentes de transformação social. No turismo essas
transformações precisam articular os envolvidos na atividade com a formatação e
aplicação dos produtos, na postura dos próprios turistas e no consenso da
comunidade sobre as ações a serem desenvolvidas. Além disso, a ação
empreendedora está muito vinculada, dentre outros conceitos, a dimensão cultural e
aos impactos negativos que a atividade provoca (DREHER; OLIVEIRA, 2004).
De acordo com Ramos (2004), o turismo é uma das atividades que mais
crescem no mundo. Em muitos países, inclusive, não é apenas uma atividade
periférica, mas a principal forma de geração de renda e empregos. Ramos (2004)
explica que, no Brasil, o turismo é o setor da economia que mais cresce em
produção e geração de empregos. Porém, um dos aspectos importantes é a maneira
como se trabalha a atividade, considerada muitas vezes apenas como uma forma de
se ganhar dinheiro, sendo deixado de lado seu caráter exploratório, pois realizado
de forma inconsciente e irresponsável, o turismo se torna causador da extinção da
própria atividade.
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Pinto e Campos (2004) esclarecem que o desenvolvimento focado no viés
econômico provocou um processo de massificação no turismo, conhecido como
turismo de massa. Essa prática turística transforma as regiões, descaracterizando as
culturas, se desenvolvendo sem qualquer compromisso com o local, causando muito
mais impactos negativos do que positivos para o meio ambiente e para os
residentes.
É importante o entendimento do que vem a ser o turismo, apontado pela
OMT, Organização Mundial do Turismo, (2001), principal órgão regulador da
atividade, como “as atividades realizadas pelas pessoas durante suas viagens e
estadas em lugares diferentes do seu entorno habitual, por um período consecutivo
inferior a um ano, por lazer, negócios ou outros” (p.38). Alguns aspectos valem ser
destacados nessa definição. O primeiro deles são as atividades realizadas que
compreendem desde a compra de passagem à fruição da viagem em si. O segundo
aspecto é o processo que vai desde o momento que se decide viajar ao retorno para
o local de residência. E em terceiro destacamos o tempo de estada, previsto pela
OMT (2001) que deve ser um período superior a 24 horas e inferior a 365 dias.
Goeld, Richie e McIntosh (2002) complementam a definição pelo olhar do
fenômeno da interação entre os turistas e os prestadores de serviços, as empresas,
governos locais e os próprios residentes. Essa é uma característica intrínseca da
atividade e importante para correlacionar com a temática dos negócios socais,
aspecto que será abordado por outras perspectivas nesse trabalho.
Ao falar de interação, pensamos na necessidade de entender melhor por uma
categorização quem são os atores envolvidos na atividade turística, chamados de
agentes sociais produtores do turismo, São eles: o turista; o poder público; os
agentes de mercado, que são grandes empresas/ cadeias internacionais,
empresários locais, fornecedores de serviços e matérias primas; os trabalhadores
diretos e indiretos, que se dividem em formais e informais; e a população residente,
envolvida diretamente ou não, podendo ver o turismo como possibilidade de
desenvolvimento local ou com olhar mais negativo, evitando contato e se afastando
de áreas com concentração de turistas (FRATUCCI, 2009).
Vamos expor alguns princípios fundamentais e princípios desejáveis que
permeiam a atividade turística, propostos por Panosso Netto (2010). Começando
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pelos princípios fundamentais, o primeiro é o sujeito, pois é imprescindível a
presença do turista, que também não se desloca sem manter interação com o
anfitrião, que se caracteriza por aquele que recebe ou por aquele que presta
serviços. Nesse aspecto, podemos depreender a presença de indivíduos e suas
relações sociais.
O segundo princípio fundamental é o deslocamento, podendo ser interno
(dentro do país) ou externo (fora do país de origem) (PANOSSO NETTO, 2010).
Para Dreher e Oliveira (2004), o turismo não se limita a origem e ao destino, possui
um perímetro de impacto mais amplo, se levarmos em consideração os fluxos,
criando e se apropriando desses espaços de deslocamento.
Em seguida, consideramos o princípio retorno, pois a viagem é um ciclo,
pressupondo a volta. O quarto princípio é a motivação, pois sempre haverá um
motivo que impulsione a viagem, seja oculto ou manifestado, pois mesmo quando
não há intenção de viajar, há alguma motivação, ainda que forçada (PANOSSO
NETTO, 2010).
O quinto princípio é a hospitalidade, que segundo Panosso Netto (2010) é
caracterizada por um fenômeno sociocultural que engloba o alimento, a bebida e a
hospedagem oferecidos ao turista. O anfitrião pode ter ou não atenção aos anseios
e necessidades do hóspede e essa percepção fará diferença para conquistar o
turista.
Porém precisamos considerar que para o receptor e/ ou prestadores de
serviços lidarem com essa dimensão, é necessário que ele se sinta parte da
atividade. Litwinski e Carneiro (2004) enfatizam que a imposição de regras cria
constrangimentos. As autoras não criticam as regras em si, mas a maneira como
elas são colocadas, sem a participação da comunidade envolvida para que fosse
possível o debate e a criação de alternativas sustentáveis.
Há também outra percepção de hospitalidade, proposta por Grinover (2007),
pelo viés da hospitalidade nas cidades que sugere três dimensões de análise: a
acessibilidade, a legibilidade e a identidade, para então definir se determinado lugar
é hospitaleiro, levando em consideração dois agentes principais, o morador e o
turista. Se a cidade não for hospitaleira para o morador, também não será para o
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turista, o que faz refletir ainda mais que uma atividade turística envolve uma
dimensão social ampla e delicada.
E para um lugar ser hospitaleiro, deve apresentar a interação e o equilíbrio
entre essas três dimensões. Muitas vezes a hospitalidade é associada à
receptividade das pessoas, restringindo-a a ação humana, mas a hospitalidade nas
cidades extrapola essa delimitação e avalia, inclusive, a qualidade do espaço físico
para os agentes em questão (GRINOVER, 2007).
A acessibilidade diz respeito à disponibilidade de instalações ou meios físicos,
ou ainda à acessibilidade socioeconômica (distribuição de renda), partindo do
princípio que a cidade deve ser de acesso a todos. A dimensão é dividida em
acessibilidade tangível e intangível, sendo a primeira referente à questões mais
palpáveis, como a infraestrutura de transporte viário e a segunda relacionada à
questões como acesso a cultura, informação (GRINOVER, 2007).
A dimensão seguinte, a legibilidade, pode ser entendida como a importância
de uma qualidade visual da cidade a partir de uma imagem mental, sobretudo
formada pelos próprios habitantes, funcionando como uma referencia e de fácil
reconhecimento como parte de uma cidade (GRINOVER, 2007).
Por fim, a identidade é a terceira dimensão, relacionada tanto com as
arraigadas manifestações culturais, as tradições de uma comunidade, quanto às
constantes transformações socioculturais inerentes a pós-modernidade
(GRINOVER, 2007). Dessa forma, como propõe Hall (2003), admite-se que a
identidade seja móvel e se adapte as novas dinâmicas sociais, mas é importante que
não se distancie do reconhecimento e valores de sua comunidade local. Portanto,
para um lugar ser hospitaleiro, deverá apresentar essa dimensão de forma bem
coesa:
Contra a tendência da uniformização das paisagens, dos lugares urbanizados, dos modos de vida, dos modos de ver e de fazer, o apelo à identidade é um resgate da coletividade ameaçada de se dissolver numa subcultura de massa, não a fim de refutar a mundialização, mas dela participar, esforçando-se para salvaguardar sua integridade e ordenar seu destino. Isso se refere a criar um senso comum do grupo, uma força de coesão, um conjunto de referencias para orientar a ação e desenvolver processos de adaptação à mudança. Esse processo tem sentido e ligação para os habitantes, e o torna excepcional e interessante ser descoberto pelo estranho, pelo turista, pelo hóspede, em particular. A identidade de uma
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região, de uma cidade, é, ao mesmo tempo, o passado vivido por seus atores e um futuro desejado por eles (GRINOVER, 2007, p.152).
Retomando os princípios fundamentais do turismo, para Panosso Netto
(2010), o sexto princípio é a experiência, caracterizada pelos serviços imateriais e
intangíveis e, independente se boa ou ruim, será o principal resquício da viagem.
Esse é um tema bastante falado atualmente, o turismo de experiência. Trigo (2010)
indica que não se trata de um novo segmento, mas de uma tendência que define um
perfil de turismo que preza por vivenciar experiências ímpares, que promove a
interação com a comunidade local, bem como suas mais diversas manifestações.
Emergem, então, práticas turísticas ditas alternativas, que exaltam a
autenticidade e a interação, dimensões ausentes no turismo de massa (CARNEIRO;
FREIRE-MEDEIROS, 2004 apud FREIRE-MEDEIROS, 2007). Organizações como a
Global Exchange e a The Center Global Education, procuram transformar o turismo
em uma atividade mais justa, cedendo espaço para valores da individualidade, da
flexibilização e da auto-realização, em detrimento da previsibilidade, do conforto, do
controle e da eficiência que norteiam o turismo convencional (FREIRE-MEDEIROS,
2007)
O sétimo princípio fundamental é a comunicação, inerente a qualquer viagem,
permitindo se relacionar com outros povos e culturas (PANOSSO NETTO, 2010).
Nesse sentido, é muito relevante o intercambio entre as culturas, para respeitar o
“outro” e entender que não existe “supercultura” ou “subcultura”, existem apenas
culturas diferentes entre si (PINTO; CAMPOS, 2004).
Por fim, o último princípio fundamental do turismo é a tecnologia, mesmo as
atividades desenvolvidas no meio rural ou em áreas inabitadas. Com destaque para
as tecnologias de comunicação e transporte (PANOSSO NETTO, 2010). Esse é um
aspecto também bastante comentado no empreendedorismo, sendo utilizado a favor
do desenvolvimento social. As redes sociais e outras formas de e-commerce no
turismo, por exemplo, é uma maneira de se apropriar da tecnologia, mesmo em
áreas mais isoladas, para divulgar e distribuir produtos e serviços.
Panosso Netto (2010) traz também sete princípios desejáveis, são eles: a
igualdade; a supremacia do interesse publico; a alteridade; a ética; a satisfação
pessoal; a livre vontade; e a sustentabilidade. Será possível observar, considerando
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tantos argumentos já colocados neste trabalho com relação às mudanças que vem
ocorrendo no mundo, que, cada vez mais, grande parte desses princípios deixam de
ser apenas desejáveis, tendendo a obrigação, por uma exigência do consumidor e
também das comunidades envolvidas.
Além disso, no que tange o empreendedor social que atue no turismo, o
próprio verá necessidade de implementar esses princípios, que juntamente com os
fundamentais e outros conceitos que caracterizam uma prática responsável da
atividade turística, poderão representar o que se prevê também no modo de trabalho
do empreendedor social e, sobretudo, no impacto social que se deseja produzir.
Quanto à igualdade, pretende-se enfatizar que, independente do nível social,
renda, aparência e religião, todos são iguais perante a lei e ao turismo, que deve
valorizar o anfitrião tanto quanto o turista. Portanto, a supremacia do interesse
publico é importante para se fazer prevalecer frente aos interesses individuais, então
se o desejo do turista fere a ordem e a vontade do grupo social, não pode ser
atendido. “Isso não significa a negação de direitos particulares, mas a garantia do
interesse coletivo” (PANOSSO NETTO, 2010, p. 75). A valorização do coletivo é
outro ponto bastante marcante no empreendedorismo social.
A alteridade é o respeito pelo diferente, que deve se manifestar na relação
entre os sujeitos do turismo, complementando os princípios da hospitalidade
(PANOSSO NETTO, 2010) e da comunicação. “A Ética deve ser entendida como
ciência moral dos costumes” (PANOSSO NETTO, 2010, p. 75), fazendo alusão a
uma prática correta e lícita. Esse princípio se refere ao profissional do turismo, ao
turista, à comunidade receptora e às autoridades públicas que estão ligadas ao tema
(PANOSSO NETTO, 2010).
A satisfação pessoal já foi mencionada também pela autora Freire-Medeiros
(2007), como uma tendência do turismo, e Panosso Netto (2010) explica que
qualquer atividade humana é natural que se busque o prazer, afirmando que ocorre
o mesmo no turismo. E o princípio da livre vontade refere-se ao que o autor prevê
em qualquer viagem, a liberdade e espontaneidade da escolha, dizendo que não é
comum encontrar alguém viajando por obrigação. Esse é um aspecto que poderia
ser debatido, mas não interfere no direcionamento deste trabalho, afinal, a depender
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de cada autor, consideram-se pessoas que viajam a trabalho como turismo e,
nesses casos, pode não haver escolha.
Por fim, e intencionalmente deixado para concluir os princípios propostos por
Panosso Netto (2010), está a sustentabilidade. Acreditamos que na verdade esse é
um princípio que pode englobar um pouco de vários outros já mencionados,
especialmente considerando as dimensões abordadas, social, cultural, econômica e
ambiental. Panosso Netto (2010, p. 74) aponta que a “sustentabilidade turística é a
utilização dos recursos turísticos de forma que a continuidade de seu uso seja
assegurada”.
A sustentabilidade social pretende que, apesar de inevitáveis interferências
pelo contato estabelecido entre os sujeitos, as bases originais dos costumes e
modos de fazer, de viver e de ser do grupo sejam preservadas e não se alterem a
ponto de se descaracterizarem e impossibilitarem a continuidade desse contato
(PANOSSO NETTO, 2010).
A sustentabilidade cultural prevê que durante a atividade turística, a cultura,
tanto do visitante, como do visitado, sejam reproduzidas da forma mais original
possível, evitando perda de memória coletiva e história cultural do grupo, bem como
as descaracterizações (PANOSSO NETTO, 2010). O autor separa as dimensões
cultural e social, mas é possível perceber que há uma linha muito tênue que as
separam.
A sustentabilidade econômica se refere à capacidade dos empreendimentos e
trabalhadores prestadores de serviços vinculados ao turismo se manterem em
funcionamento pelo lucro obtido. E a sustentabilidade ambiental ou ecológica está
focada na preservação e conservação do meio ambiente (PANOSSO NETTO,
2010).
A sustentabilidade está ancorada em três fatores importantes: qualidade,
continuidade e equilíbrio (OMT, 2001), ou seja, esses três elementos devem estar
presentes no desenvolvimento do turismo sustentável. A OMT (2005) definiu turismo
sustentável como: “turismo que leva em conta os impactos econômicos, sociais e
ambientais atuais e futuros, considerando as necessidades dos visitantes, da
indústria, do ambiente e das comunidades receptoras”.
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Para Litwinskt e Carneiro (2004), o turismo sustentável é uma mudança de
comportamento dos turistas e da comunidade envolvida, a médio e longo prazo, que
no Brasil já vem ocorrendo por meio da descentralização, como a municipalização
do turismo, das parceiras publico-privada e da sensibilização sobre a participação do
papel das comunidades na atividade turística.
Panosso Netto (2010) também apresenta os impactos do turismo, positivos e
negativos, nas mesmas dimensões já antes abordadas, econômica, social, cultural e
ambiental, com a finalidade de promover a reflexão acerca da maximização dos
impactos positivos e o conhecimento dos impactos negativos para serem
minimizados.
Quanto ao impacto econômico, o turismo gera renda e emprego para os
envolvidos diretos e indiretamente, exercendo importante papel na diminuição da
desigualdade social pela redistribuição de riquezas. Além disso, os investimentos em
infraestrutura motivados pelo turismo, também são de utilidade dos próprios
residentes e o turismo pode diversificar a economia local, complementando
atividades econômicas já existentes (PANOSSO NETTO, 2010).
Um dos motivos que incentivam os investimentos públicos no turismo é o
caminho percorrido pelo dinheiro dos turistas, que possuem o potencial de efeito
multiplicador, distribuindo o dinheiro pela cadeia e multiplicando seus benefícios.
Quando nos referimos a esses impactos positivos no âmbito econômico, não quer
dizer que a comunidade envolvida se torna milionária, mas pode ter acesso a uma
renda mínima que antes não tinham perspectiva (PANOSSO NETTO, 2010).
Porém, no que diz respeitos aos impactos negativos, podemos citar: a
desvalorização dos trabalhadores locais com pagamento de baixos salários; o
aumento dos preços dos produtos básicos, inflacionados pela demanda turística; a
especulação imobiliária; e a supervalorização do turismo levando ao
desenvolvimento de uma monocultura, ou seja, baseando a economia de uma
localidade apenas no turismo, que é sensível a questões conjunturais (PANOSSO
NETTO, 2010).
O impacto social positivo ocorre a partir do encontro com o outro “estranho”,
das relações estabelecidas com os agentes sociais envolvidos. A alteridade que
explicamos antes é praticada no momento que aceitamos as diferenças culturais,
72
portanto, o turismo permite vínculos sociais que fazem parte também da formação
da personalidade humana, nos ajudando na “construção de nosso ser que se
diferencia do outro” (PANOSSO NETTO, 2010, p. 86).
O turista pode também contribuir para a autoestima e fortalecimento da união
social do grupo que o recebe a partir da valorização do destino. O respeito se dá
entre os turistas e os anfitriões, mas também entre os próprios turistas. Além disso,
também existem impactos negativos, por exemplo: crescimento populacional na
região acima da média pelo aumento da migração em busca de oportunidades
geradas pelo turismo; crescimento urbano desordenado; xenofobia; aumento do
índice de violência de uma forma geral, como exploração sexual e roubos; entre
outros (PANOSSO NETTO, 2010).
A relação do turista com a comunidade local pode acabar sendo muito
superficial, o que não promove aproximação verdadeira. E a busca excessiva pelo
luxo por parte dos turistas realça ainda mais as diferenças socioeconômicas. Além
disso, os valores tradicionais ficam ameaçados, com a possibilidade de alteração da
estrutura social tradicional pelas possíveis migrações. E esse contato com novos
valores pode despertar na comunidade um desejo de ser igual aos turistas,
provocando um processo de homogeneização cultural moldada por valores
exógenos, deixando de lado os valores tradicionais (PANOSSO NETTO, 2010).
“O enriquecimento cultural é um dos pontos fortes propiciados pelo turismo”
(PANOSSO NETTO, 2010, p.90). O turista se beneficia por expandir o seu
conhecimento acerca de outras culturas diretamente relacionadas com a história do
homem e, em contrapartida, a comunidade local se beneficia mostrando sua cultura,
reconhecendo as particularidades e importância de seus modos de vida,
valorizando-os e urgindo a vontade de preservação. A partir disso, programas de
preservação podem ser estimulados e eleva-se a autoestima daquela comunidade
(PANOSSO NETTO, 2010).
Se o contato turista/ comunidade local for harmonioso, as trocas culturais são
intensas levando a um melhor entendimento da realidade vivida por cada um desses
agentes. Porém, se os impactos negativos não forem levados em consideração no
planejamento, podem se sobressair e se tornar um vilão para que a atividade
73
turística seja desenvolvida de forma aceita pelos agentes sociais produtores do
turismo, especialmente a comunidade local (PANOSSO NETTO, 2010).
Existe aquele turista que se desloca sem um objetivo claro, apenas pelo
interesse de sair do seu entorno habitual, muitas vezes essa alienação se reflete em
uma prática turística superficial, que não há preocupação em conhecer os costumes,
e história nem o povo local. É importante também relativizar o impacto e entender o
ponto de vista dos agentes sociais envolvidos, especialmente a comunidade local
(PANOSSO NETTO, 2010).
O Turismo vive uma constante dicotomia entre a manutenção das identidades
locais versus o desenvolvimento econômico. Segundo Panosso Netto (2010), um
impacto pode ser negativo do ponto de vista cultural, pela perda das tradições, e
positivo pela geração de renda. Daí pode se iniciar um ciclo vicioso de
mercantilização da cultura local, surgindo um “pseudoevento” pela perda da
autenticidade. “Ou seja, o residente finge uma cultura e o turista finge que acredita
que o residente não está fingindo” (PANOSSO NETTO, 2010, p. 94).
Nesse sentido é necessário encontrar um equilíbrio por meio de um
planejamento participativo, dialogando com os interesses de todos os agentes
sociais produtores do turismo e se evite processos como a perda das tradições e a
comercialização de produtos teatralizados, que não retratam e não preserva a
cultural local.
Por fim, podemos citar os impactos sobre o ambiente, afinal, como metade da
população vive em áreas urbanas com alto nível de estresse e poluição, um dos
segmentos que mais se destaca é o ecoturismo, aquele desenvolvido em áreas
naturais com consciência da importância da preservação ambiental. Existem
exemplos de ecoturismo ao redor do mundo que combinam preservação e estudos
científicos com o turismo. Muitas vezes parte do valor pago pelo produto turístico é
investido a favor desses incentivos, como cursos e infraestrutura direcionada às
práticas conscientes de ecoturismo (PANOSSO NETTO, 2010).
Alguns impactos negativos são: a produção de lixo deixado nos locais; a
erosão nas trilhas; a escassez e poluição da água; a descaracterização e
desqualificação do habitat natural da região com construções modernas e
empreendimentos turísticos mal geridos; a privatização de áreas naturais, antes
74
públicas; entre outros. Essa situação é tão prejudicial para a comunidade local, que
tem sua qualidade de vida reduzida, quanto para a atividade turística, que pode
entrar em colapso pela deterioração do recurso turístico que compõe o produto
(PANOSSO NETTO, 2010).
Muitas vezes o turista inconsciente pensa que não precisa se preocupar com
nenhuma economia, já que está pagando pelo produto, um pensamento destrutivo e
explorador, que afeta na realidade de todo o planeta. Dessa forma, o turismo, que
tem potencial de difusão de ideias e deveria ser o principal agente na preservação
ambiental (PANOSSO NETTO, 2010), é alinhado com a lógica do capital e
empobrece uma experiência turística autêntica.
De acordo com Panosso Netto (2010), o turismo responsável é uma
possibilidade, tendo como principais características: a minimização dos impactos
negativos econômicos, ambientais e sociais; geração de mais benefícios
econômicos para a comunidade local, aumento do seu bem-estar, condições de
trabalho e acesso ao setor; envolver a população local nas decisões; criar
contribuições para a conservação da herança ambiental e cultural; promover
experiências memoráveis, baseadas no contato e na valorização da compreensão
das questões culturais, sociais e ambientais; promover acesso a pessoas com
dificuldade física; e gerar uma relação de confiança e respeito entre turistas e
anfitriões.
Para o autor, a temática do turismo responsável pressupõe o envolvimento de
todos os agentes sociais produtores do turismo, especialmente na inclusão da
comunidade local no processo decisório (aspecto que vai muito de encontro com o
empreendedorismo social). Essa é uma prática típica dos países em
desenvolvimento, visando a preservação dos destinos e a autonomia das
comunidades receptoras (outro aspecto alinhado com o empreendedorismo social,
quando falamos nos vários tipos de empoderamento).
Entre os princípios de responsabilidade econômica, social, ambiental e
cultural no turismo, podemos destacar: não exploração da mão de obra local;
equilíbrio na relação empregado-empregador; desenvolvimento de produtos de
qualidade; preservação dos destinos; capacidade da comunidade local de planejar o
turismo; aumento indefinido do tempo do ciclo de vida do destino turístico; combate
75
a exploração sexual (tema forte no Brasil); promoção da educação ambiental e da
educação do turismo; gerenciamento dos recursos naturais; e desenvolvimento de
boas práticas, entre outros (PANOSSO NETTO, 2010).
Panosso Netto (2010) fala um pouco sobre o que compreende dessa postura
responsável e de iniciativas que podem se desdobrar nesse processo:
Essa postura responsável passa por uma questão de ética, de costumes, de educação, de conscientização, de valorização do outro e de si mesmo, valorização das gerações futuras, respeito com a fauna e flora e cultura do bom relacionamento. [...] Com essa perspectiva de responsabilidade, já existem vários programas e ações ao redor do mundo. Entre eles estão iniciativas de inclusão de pessoas mais pobres no turismo, que procuram reduzir a pobreza e, efetivamente, capacitá-los para que também tenham condições de decidir sobre o turismo em sua localidade. Essas ações dependerão, substancialmente, do envolvimento dos governos nacionais e de líderes locais que acreditam no desenvolvimento mais justo da atividade (p.103).
Tendo o entendimento dos princípios fundamentais e desejáveis para que a
atividade turística ocorra e seja desenvolvida de maneira responsável, veremos
conceitos sobre segmentação turística. Serão destacados neste trabalho alguns
segmentos que apresentam convergência de interesses com a teorização do
empreendedorismo social e que possivelmente sejam mais típicos nos negócios
sociais.
É importante lembrar que não se deseja debater sobre segmentação turística,
apenas mostrar segmentos e práticas a luz de fontes consagradas, caracterizando-
os e traçando um diálogo com os conceitos já apresentados. Os segmentos
turísticos que serão apresentados estão relacionados com a motivação do turista
para viajar e com o desenvolvimento do produto, influenciando na escolha dos
destinos e direcionando a forma de atuação de uma empresa, o que pode configurá-
la como um negócio social. Os diferentes segmentos poderão se sobrepor, visto a
dinamicidade da motivação do turista e a sutil interseção que se apresenta entre os
mesmos.
Vamos iniciar pelo percussor do turismo, o turismo cultural (BRASIL, 2010),
que revela uma série de cuidados relacionados à valorização do patrimônio cultural,
material ou imaterial:
76
Turismo Cultural compreende as atividades turísticas relacionadas à vivência do conjunto de elementos significativos do patrimônio histórico e cultural e dos eventos culturais, valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da cultura (BRASIL, 2010, p. 15).
Por esse motivo, o turista com esta motivação não deseja apenas lazer e
repouso, deseja conhecer a história de um povo, suas tradições culturais, históricas
e religiosas. Essa experiência estará pautada no próprio turista, pois cada momento
que se compartilha vivências com a população local já é um atrativo para os que
desejam apreciar a cultura e que possuem compromisso em valorizar os aspectos
sociais também (LITWINSKI; CARNEIRO, 2004).
Toda viagem é uma experiência cultural, mas o que irá se configurar como
elemento diferencial do turismo cultural é a motivação da viagem estar centrada em
temas da cultura. Existem, então, quatro aspectos que caracterizam esse tipo de
turismo (BRASIL, 2010).
O primeiro deles é as atividades turísticas, entendidas como: transporte;
agenciamento turístico; hospedagem; alimentação; recepção; eventos; recreação e
entretenimento; e outras atividades complementares. Esses equipamentos e
serviços irão assimilar elementos característicos da identidade e traduzir o
envolvimento da empresa com o lugar e com o turista (BRASIL, 2010).
O segundo aspecto é a vivência relacionado com as experiências positivas
que serão mediadas entre o patrimônio histórico e cultural e eventos culturais com o
visitante. “Vivenciar significa sentir, captar a essência (...)” (BRASIL, 2010, p.16),
viabilizando formas de interação com o patrimônio de modo a propiciar a
compreensão e valorização do objeto de visita; e atividades com experiências
participativas, contemplativas e de entretenimento (BRASIL, 2010).
O patrimônio histórico cultural e eventos culturais é outro aspecto, pois
revelam a memória e identidade de um povo. Bens culturais compreende espaços
destinados a contemplação de bens materiais e imateriais. E os eventos culturais
são as manifestações entendidas ou não como patrimônio cultural, de caráter
temporário (BRASIL, 2010).
77
Por fim, o ultimo aspecto é a valorização e promoção dos bens materiais e
imateriais da cultura que significa um processo de incentivo a permanência desses
elementos representantes da memória e identidade de um povo, por meio da
promoção, manutenção desses espaços e difusão do conhecimento, reconhecendo
sua importância na relação turista e comunidade local e promovendo benefícios para
ambos (BRASIL, 2010).
Outro segmento que pode ter grande destaque entre os negócios sociais é o
turismo de base comunitária, também chamado pelos autores como turismo situado
ou turismo comunitário, “modelo de turismo onde as populações tradicionais, os
trabalhadores rurais, os pescadores, os representantes das culturas indígenas são
os principais protagonistas” (BARTHOLO; SANSOLO; BURSZTYN, 2009, p.15),
revelando um comprometimento ativo dos atores locais (BARTHOLO, 2009). É um
segmento centrado no local e nas relações que se estabelecem nele, com o intuito
de atender aos questionamentos do mundo contemporâneo no que se refere à
mercantilização e espetacularização da natureza e da cultura, o interesse não está
mais na padronização cultural (BARTHOLO; SANSOLO; BURSZTYN, 2009).
O turismo de base comunitária é considerado, portanto, um contraponto ao
turismo de massa, se caracterizando como uma atividade geradora de benefícios
diretos a comunidade local envolvida, exigindo um trabalho conjunto entre setor
publico e privado, sociedade civil organizada e instituições de ensino. A riqueza não
está baseada na comercialização de produtos, mas na possibilidade de relação
direta entre os agentes envolvidos, sendo contrário a qualquer prática que afete
negativamente os povos, sua cultura e meio ambiente (BARTHOLO; SANSOLO;
BURSZTYN, 2009). Podemos definir o segmento como:
“(...) toda forma de organização empresarial sustentada na propriedade e na autogestão sustentável dos recursos patrimoniais comunitários, de acordo com as práticas de cooperação e equidade no trabalho e na distribuição dos benefícios gerados pela prestação dos serviços turísticos. A característica distinta do turismo comunitário é a dimensão humana e cultural, vale dizer antropológica, com o objetivo de incentivar o diálogo entre iguais e encontros interculturais de qualidade com nossos visitantes na perspectiva de conhecer e aprender com seus respectivos modos de vida.” (MALDONADO, 2006 apud MALDONADO, 2009, p.31)
78
Corroborando Maldonado (2009), Bartholo (2009) aponta que as relações
interpessoais são preponderantes nos serviços turísticos implementados na
comunidade. Maldonado (2009) cita seis formas de participação da comunidade, são
elas: a autogestão do negócio turístico, quando a comunidade é gestora de um
negócio por iniciativa própria mobilizando seus recursos patrimoniais naturais,
culturais e humanos; a parceria de negócios com uma empresa privada, cada sócio
com a sua contribuição, a comunidade tem direito ao lucro e pode progressivamente
alcançar cargos administrativos e se tornar proprietária; a parceira comercial com
operadoras de turismo, que comercializa o produto e controla o fluxo de turistas e,
por sua vez, a comunidade é responsável por recebê-los, prestar serviços, obtendo
lucro com a atividade turística; a concessão de recursos comunitários em usufruto,
quando uma operadora privada utiliza temporariamente recursos naturais e serviços
culturais da comunidade e, em contrapartida cede benefícios socioeconômicos à
comunidade, como investimentos em infraestrutura; o trabalho assalariado para
operários, quando a comunidade é aproveitada como mão de obra para as
operações turísticas; e as formas híbridas, que podem fazer um arranjo entre as
formas de participação já antes apresentadas.
O autor conclui destacando que o importante de cada modalidade é o grau de
controle exercido pela comunidade sobre a empresa, seja gerindo ou possuindo
poder de negociação frente aos agentes econômicos e institucionais. O autor cita um
dos aspectos importantes abordados no empreendedorismo social, o
empoderamento, apontando como elemento essencial para que se alcance os
objetivos de bem estar da comunidade envolvida, com equidade social e alívio da
pobreza.
O turismo voluntário é outro importante segmento dentro dos conceitos
abordados neste trabalho, pois pode promover benefícios sociais por meio da sua
atividade de negócio. Para Wearing (2001) são turistas que comprometem seu
tempo de férias de forma organizada com atividades voluntárias, por diferentes
razões, aliviando a pobreza de grupos sociais, restaurando o meio ambiente ou
desenvolvendo pesquisas com a sociedade ou o meio ambiente.
Podemos dizer que esse tipo de turismo é bilateral no sentido de gerar
benefícios para comunidade local, pela ação do voluntário, e para o próprio turista,
79
por meio de um processo altruísta capaz de promover a transformação e o
autodesenvolvimento. É conhecido como uma prática alternativa de turismo, pois
normalmente um turista busca escapar da sua realidade e relaxar, ao contrário do
turista voluntário que se engaja em algum trabalho social árduo (WEARING, 2001).
Coren e Gray (2012) apontam que depois do sucesso desse segmento,
surgiram muitas organizações comerciais dominando o mercado, o que impulsionou
a transição das organizações sem fins lucrativos para comerciais, instaurando um
processo de mercantilização. Por isso, para Wearing e McGehee (2013), o cenário
do turismo voluntário foi modificado. As autoras apostam que essas organizações
dirigidas pelo lucro geram um impacto na comunidade diferenciado, se compararmos
com empresas que emergiram de ONGs, pois o direcionamento pelo lucro traz
consumidor, o voluntário, para o foco da empresa, em detrimento da comunidade
local. As autoras ainda ressaltam que não há pesquisas que comprovem essa
tendência até o momento.
Existem muitos projetos de turismo voluntário geridos por organizações que
não são orientadas para o turismo, como o World Bank, que apresenta uma
defasagem de conhecimento no que se refere à indústria do turismo, além disso, há
muito trabalho voluntário em comunidades pequenas, áreas ambientais afastadas e
projetos científicos, que normalmente já estão deslocados da cadeia do turismo
(DEVEREUX, 2008 apud WEARING; MCGEHEE, 2013). Dessa forma, algumas
organizações não se reconhecem como parte da cadeia produtiva do turismo e,
inclusive, resistem a essa categorização por entenderem a atividade turística pelo
viés apenas do lazer, conferindo caráter pouco sério (MCGEHEE, 2002). Essa
problemática pode implicar em dificuldades no planejamento e profissionalização da
atividade turística, inclusive no que se refere ao reconhecimento de empreendimento
sociais que atuem no setor.
Outro segmento que promove de maneira sustentável o turismo,
estabelecendo uma relação saudável entre a natureza, a comunidade local e o
visitante é o Ecoturismo, definido como “(...) um segmento da atividade turística que
utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva a conservação
e busca a formação de uma consciência ambientalista por meio da interpretação do
ambiente, promovendo o bem-estar das populações” (BRASIL, 1994, p. 19).
80
“O Ecoturismo assenta-se no tripé: interpretação; conservação; e
sustentabilidade” (BRASIL, 2010, p. 19), caracterizado por produtos que permitem o
contato com o meio ambiente, proporcionando ao turista a vivência, mas também o
conhecimento e consciência ambiental das áreas onde ocorre. O conceito de
ecoturismo está diretamente relacionado com turismo sustentável, prática que
engloba as necessidade dos turistas e da comunidade local, assegurando a
manutenção do destino turístico para uso futuro (BRASIL, 2010).
Agora, não menos importante, porém mais polêmico na perspectiva dos
negócios sociais, podemos destacar o segmento turismo social, que preza por um
turismo justo que beneficie todos os agentes envolvidos, mas se caracteriza,
sobretudo, por ter como consumidor pessoas de classes “(...) com renda insuficiente
para usufruir de uma experiência turística de qualidade, ou a grupos em situação de
exclusão que, por motivos diversos, têm suas possibilidades de lazer limitadas (...),
segmentos populares ou em situação de vulnerabilidade” (BRASIL, 2010, p. 5).
O lazer é um direito social, garantido legalmente para qualquer cidadão,
portanto, não deveria ser considerado um privilégio. No entanto, infelizmente é
desfavorecido, sobretudo se pensarmos nas ações do poder publico no Brasil,
ineficientes do ponto de vista social. A fim de tornar a atividade com acesso mais
igualitário, iniciativas que tentam garantir esse direito estão gradualmente ganhando
força, na medida em que o turismo no Brasil e no mundo assume um processo de
expansão (CHEIBUB, 2013).
Cheibub (2013) explica que as iniciativas podem variar em dois polos: dar
oportunidade de experiências turísticas àqueles que não teriam condições; e ser
utilizado como instrumento de controle e alcance da paz social. Esse fato torna
relevante uma pesquisa mais aprofundada acerca do contexto da instituição,
levando em consideração a real intencionalidade de quem promove a atividade.
Esse controle está muito associado a uma questão histórica, popularizada no século
XX, em que o Estado tentava controlar o tempo de não trabalho, que era cada vez
maior (CHEIBUB, 2013).
O turismo social pode se traduzir em dois tipos de experiências, recuperativa
e funcional. A primeira tem um caráter mais de descanso, sem programação pré-
definida, o que confere mais liberdade ao usuário. E a segunda possui atividades
81
com mais conteúdo, estando mais enrijecida à ideologia da instituição, que do seu
ponto de vista, está oferecendo atividades que podem ser culturalmente
enriquecedoras para o usuário.
Por que dizer que o turismo social seria mais polêmico na perspectiva dos
negócios sociais? Muitas vezes, como vimos nos conceitos debatidos na seção
anterior, os autores vinculam a atuação dos negócios sociais ao fornecimento de
serviços vinculados às necessidades conhecidas como básicas, por exemplo, saúde,
educação, habitação e finanças.
No entanto, é necessário vermos o acesso ao lazer como um direito social
legalmente garantido, que deveria ser dever do Estado viabilizar esses serviços para
toda a população. Serviços que podem dar acesso à cultura de uma forma geral,
promovendo uma série de benefícios ao indivíduo que consome no que tange, por
exemplo, à educação e à autoestima. Como muitas vezes o poder público não
consegue suprir essa demanda, existem empresas que atuam nessa perspectiva.
Vale ressaltar que não estamos afirmando neste trabalho que todas as
empresas desses segmentos apresentados podem ser reconhecidas como negócios
sociais. Foram apresentadas práticas turísticas que converge interesses com o
empreendedorismo social e possivelmente aparecerão na forma de trabalho das
organizações turísticas que atuam como negócios sociais. Veremos na próxima
seção o recorte teórico que utilizaremos nesse trabalho, especialmente com relação
aos negócios sociais, para que seja possível na análise sobre as organizações
brasileiras cruzar os conceitos sobre os segmentos e sobre negócios sociais.
1.6 CONCLUSÃO
Como vimos ao longo da discussão que se propôs colocar neste trabalho, os
negócios sociais são uma parte do que se entende como empreendedorismo social.
Dessa maneira, existem alguns conceitos presentes neste macro tema que deverão
atravessar pela temática específica dos negócios sociais. Neste trabalho, iremos
adotar a definição de Oliveira (figura 32).
82
Consideramos também as quatro variáveis propostas por Austin et al (2007),
que apontam especificidades da forma de atuação deste tipo de empreendimento. E
o empoderamento promovido pelas iniciativas de empreendedorismo social, nos
mais diferentes aspectos, trazida por Melo Neto e Froes (2002) (figura 32).
Para estabelecer as categorias de empresas que se caracterizam como
empreendedorismo social, vamos utilizar neste trabalho a proposta de Alter (2007)
sobre o que a autora chama de quadro híbrido (figura 32). No entanto, o foco deste
trabalho será no que a autora chama de empresas sociais, porém, algumas
proposições trazidas por Alter (2007) para definir este tipo de organização serão
adaptadas e dialogadas com as ideias de outros autores, a fim de melhor conceituar
o que se quer entender sobre negócios sociais neste trabalho.
EMPREENDEDORISMO SOCIAL
Definição (OLIVEIRA, 2004, p.15)
“uma ação inovadora voltada para o campo social cujo processo se inicia com a observação de determinada situação-problema local, para a qual se procura, em seguida, elaborar uma alternativa de enfrentamento.”
Quatro variáveis de análise diferenciam o empreendedorismo social (AUSTIN et al, 2006)
Falha de mercado Uma oportunidade de negócio
Missão Criar valor social e gerar lucro
Mobilização de recursos Fatores que influenciam a articulação de recurso humano e financeiro
Avaliação de desempenho Aspectos mais intangíveis, qualitativos
Empoderamento (MELO NETO e FROES, 2002)
Econômico
Social
Mental
Psíquico
Espiritual
Político
Hibridismo nas organizações (ALTER, 2007)
Motivos Mistura motivos do bem estar social e interesses próprios
Métodos Direcionado pela missão (social) e pelo mercado
Objetivos Criação de valor econômico e social
Lucro Reinvestir, reter ou redistribuir
Tipos de organizações (ALTER, 2007)
Organizações sem fins lucrativos com atividades de geração de renda
Empresas Sociais
Negócio de responsabilidade social
Corporações que praticam responsabilidade socal Figura 32 – Autores e conceitos do empreendedorismo social Fonte: Elaboração própria
83
A nomenclatura a ser utilizada neste trabalho será negócios sociais (figura
33), proposto por Comini et al (2012) como a mais comum no Brasil, nesse caso, os
negócios sociais equivalem ao que Alter (2007) chama de empresas sociais. E a
definição a ser adotada é da instituição Virtue Venture (2014) (figura 33), pois
acreditamos que pode dar conta das confusões conceituais que ainda se desdobram
nas teorias e pode melhor se ajustar às diferentes realidades locais. Essa definição
também não limita o público alvo a população de baixa renda, pois neste trabalho
desejamos ter um entendimento mais amplo sobre problema social, podendo se
referir à qualquer tipo de impacto social, independente do público e do serviço/
produto que é oferecido.
Além da definição a ser utilizada, algumas características são fundamentais
para que seja possível fazer um melhor recorte dos negócios sociais dentro das
inciativas que compreendem o empreendedorismo social. Uma delas, como já
propõe a definição, corroborada por Alter (2007), SEBRAE (2013) e Artemisia
(2014), é a coexistência do valor social e econômico (figura 33). O SEBRAE (2013)
enfatiza, inclusive, que são valores que devem fazer parte de um mesmo plano de
negócios.
Yunus (2014) destaca a herança trazida do terceiro setor, a maximização do
impacto social, e a herança trazida do segundo setor, a autossustentabilidade
financeira (figura 33). No presente trabalho será admitido a primazia dos objetivos
sociais, sem que haja perda da autossustentabilidade financeira (YUNUS, 2014), ou
que ambos os objetivos estejam em total equilíbrio. Nunca os objetivos econômicos
devem ser superiores aos objetivos sociais, mas a autossutentabilidade financeira
não poderá ser esquecida nos negócios sociais.
Vale destacar uma observação de Alter (2007) a respeito de organizações
híbridas que têm geração de renda própria. A autora explica que uma organização
como essa pode ser caracterizada como um negócio social, a partir do momento que
opera como negócio (figura 33), que significa ter visão de longo prazo e ser gerido
de forma mais consciente das suas responsabilidades, estabelecendo metas para o
crescimento da empresa por um plano de negócios e utilizando recurso humano
qualificado.
84
No que se refere ao recurso humano qualificado, essa parece ser uma
perspectiva subjetiva, pois ao que parece muitos empreendimentos sociais que se
tornam ou iniciam suas atividades como negócio social, podem ter como gestores/
líderes, pessoas da comunidade local que identificam uma situação-problema em
seu entorno e utilizam mecanismos de mercado como forma de enfrentamento,
porém, baseado em experiências de vida, sendo as qualificações algo posterior.
Fato esse, portanto, que não altera a categoria da organização para este trabalho.
Quanto à distribuição de lucro, consideramos que é possível distribuir os
dividendos ou não, sendo nesse ultimo caso reinvestido na própria empresa
(ARTEMISIA, 2014; SEBRAE, 2013; ALTER, 2007) (figura 33). A necessidade de se
obter impacto social em escala é outra dimensão desconsiderada, como vimos no
Quem se Importa (2011), quando se fala em empreendedorismo social, tanto faz se
ajudamos 4 ou 1000 (Figura 33).
Algumas dimensões propostas por Comini et al (2012) também serão
aproveitadas para a análise a ser realizada nesse trabalho, levando em
consideração que devem estar mais próximas da lógica social, como mostra a figura
16, são elas: a intencionalidade, também apontado pelo SEBRAE (2013) e
ARTEMISIA (2014); o envolvimento da comunidade na tomada de decisão; e a
responsabilidade (figura 33).
NEGÓCIOS SOCIAIS – CARACTERÍSTICAS
Definição (VIRTUE VENTURE)
“(...) é qualquer empreendimento criada para servir a um propósito social – mitigar ou reduzir um problema social ou uma falha de mercado – e para gerar valor social operando com a disciplina financeira, inovação e determinação, típicas do setor privado.”
Características fundamentais
Coexistência do valor social e valor econômico (ARTEMISIA, 2014; SEBRAE, 2013; ALTER, 2007)
Maximização do impacto social e autossustentabilidade financeira (YUNUS, 2014)
Operar como um negócio (ALTER, 2007)
Ter um plano de negócio com visão estratégica de longo prazo
Lucro (ARTEMISIA, 2014; SEBRAE, 2013; ALTER, 2007)
Distribuição ou reinvestimento na própria organização
Escalabilidade (QUEM SE IMPORTA, 2011;
Não é relevante
85
COMINI et al, 2012)
Intencionalidade (COMINI et al, 2012)
Geração de valor social é central
Envolvimento da comunidade na tomada de decisão (COMINI et al, 2012)
Uso de mecanismos para participação coletiva
Responsabilidade (COMINI et al, 2012)
Prioridade total
Figura 33 – Autores e conceitos dos negócios sociais (características) Fonte: Elaboração própria
No que diz respeito ao público alvo, levaremos em conta a proposta de
Weppen e Cochrane (2012) que consideram a possibilidade de diferenciação entre o
publico alvo (beneficiários pela atividade de negócio) e mercado alvo (consumidores
que pagam pelo serviço/ produto). Além disso, tomaremos por base as tipologias de
mercado propostas por Alter (2007) que define mais detalhadamente quem é o
consumidor/ financiador da atividade de negócio da organização (figura 34).
NEGÓCIOS SOCIAIS – PUBLICO/ MERCADO
Publico Alvo (WEPPEN; COCHRANE, 2012)
Beneficiários pela atividade de negócio Publico alvo
(ALTER, 2007)
Cliente e consumidor são iguais
Mercado Alvo (WEPPEN; COCHRANE, 2012)
Consumidores/ clientes
Publico geral (ALTER, 2007)
Consumidores em geral que pagam
Contribuintes terceiros (ALTER, 2007)
Doadores, seguradoras ou governo
Negócios e organizações sem fins lucrativos (ALTER, 2007)
Quem compra são organizações
Contratos Governamentais (ALTER, 2007)
Quem compra é o governo
Figura 34 – Autores e conceitos dos negócios sociais (publico/ mercado) Fonte: Elaboração própria
Quanto à parte financeira, aplicaremos os métodos de geração de renda
propostos por Alter (2007), aceitando a possibilidade combinação de métodos,
desde que a fonte principal seja pela atividade de negócio da organização. E as
86
fontes de recursos serão analisadas a luz da Ashoka e Walmart (2011),
considerando que um negócio social é autossustentável, mas não o impede de
também utilizar recursos filantrópicos que contribuam para o seu funcionamento e
crescimento socioeconômico (figura 35).
NEGÓCIOS SOCIAIS – ESTRUTURA FINANCEIRA
Métodos (ALTER, 2007)
Cobrança de taxa de serviço
Cobrar taxa para cobrir custos da prestação dos serviços
Produtos Renda gerada pela produção e venda de produtos
Serviços Comercialização de serviços
Pagamento de anuidade
Taxas coletadas para um grupo em troca de algum serviço/ benefício
Ativos tangíveis Aluguel de ativo tangível
Ativos intangíveis Aluguel de ativo intangível
Dividendos por investimento
Geração de renda passiva
Atividade de negócio não relacionada
Renda não relacionada com a missão para financiar uma atividade pontual
Fontes de recursos (ASHOKA; WALMART, [s.d.])
Capital de risco Para as primeiras expansões com potencial de retorno ao investidor
Microcrédito Empréstimos sem garantias formais e juros inferiores
Capital Semente Para fase inicial, visando alto retorno (riscos mais altos)
Doações Recurso dado para pessoa física ou jurídica
Crowdfunding Doação via internet por ação coletiva
Empréstimos Montante a ser pago parcelado com juros
Fundo não restituível Sem contrapartida de reembolso
Modelo híbrido Combina diferentes fontes Figura 35 – Autores e conceitos dos negócios sociais (estrutura financeira) Fonte: Elaboração própria
No que diz respeito à missão dos negócios sociais, iremos considerar apenas
as empresas de missão central (ALTER, 2007). E partindo do princípio que o
impacto social deve fazer parte do core business da organização, estando associado
à atividade principal (ARTEMISIA, 2014; SEBRAE, 2013), apenas serão
considerados os modelos de empresas sociais incorporadas (ALTER, 2007), no que
se refere às atividades de negócio e aos programas sociais (figura 36).
É relevante, então, esclarecer que não consideraremos neste trabalho
organizações que são criadas para financiar programas sociais oriundos de uma
organização mãe, mas que não há relação direta com a missão, nem alinhamento
87
entre as atividades de negócios e os programas sociais dessa organização mãe. Por
esse motivo, também não consideramos os modelos de negócio de subsidiação e de
suporte organizacional. Serão apropriados nesse trabalho os modelos: de suporte ao
empresário; intermediário de mercado; de emprego; de taxa de serviço; cooperativo;
e de ligação de mercado (figura 36).
NEGÓCIOS SOCIAIS – MODELOS DE ATUAÇÃO
Missão (ALTER, 2007)
Missão central
A missão social é central para a empresa, que foi criada para avançar nessa missão por meio de um modelo de autossustentabilidade financeira
Impacto social e atividade de negócio (ALTER, 2007)
Empresa social incorporada
Atividades de negócio e programas sociais são unificados
Modelos operacionais (ALTER, 2007)
Modelo de suporte aos empresários
Venda de suporte à negócios e serviços financeiros para o publico alvo para que consigam vender no mercado
Modelo Intermediário de Mercado
Fornece serviços para o publico alvo para ajuda-los a acessar o mercado
Modelo de emprego Fornece emprego e formação profissional para seu publico alvo
Modelo de taxa de serviço
Cobrança de taxa fixa para utilização do serviço
Modelos Cooperativo Fornece benefícios à um grupo com interesses em comum
Modelo de ligação de mercado
Facilita relações comerciais entre publico alvo e mercado externo, cobrando uma taxa por esse serviço
Figura 36 – Autores e conceitos dos negócios sociais (modelos de atuação) Fonte: Elaboração própria
Sobre o turismo, foram elegidos alguns princípios fundamentais e desejáveis
propostos por Panosso Netto (2010) por apresentarem uma relação mais intrínseca
com as práticas do empreendedorismo social e afetarem mais diretamente as
relações sociais no turismo. Além disso, também trazido por Panosso Netto (2010),
serão abordados os impactos positivos e negativos em todas as dimensões. E,
ainda, práticas e segmentos turísticos que revelam princípios e dinâmicas em
convergência de interesses com o empreendedorismo social. Dessa forma,
tentaremos nesse trabalho correlacionar os conceitos de ambos os temas frente à
forma de trabalho das organizações que serão analisadas (figura 37).
88
TURISMO
Princípios (PANOSSO NETTO, 2010)
Fundamentais
Hospitalidade
Experiência
Comunicação
Desejáveis
Sustentabilidade social, cultural, econômica e ambiental
Igualdade
Alteridade
Ética
Impactos Positivos e Negativos (PANOSSO NETTO, 2010;
Social
Cultural
Econômica
Ambiental
Práticas turísticas/ Tendências
Turismo de experiência (TRIGO, 2010)
Perfil de turista que preza por experiências ímpares, interação com a comunidade local
Turismo sustentável (OMT, 2005; LITWINSKT; CARNEIRO, 2004)
Turismo que leva em conta os impactos atuais e futuros em todas as dimensões, considerando todos os agentes sociais envolvidos e promovendo mudança de comportamento, a médio e longo prazo
Turismo responsável (PANOSSO NETTO, 2010)
Valores: minimização dos impactos negativos econômicos, ambientais e sociais; geração de mais benefícios econômicos para a comunidade local, aumento do seu bem-estar; envolvimento da população local nas decisões; conservação da herança ambiental e cultural; promover experiências memoráveis, baseadas no contato e na valorização da compreensão das questões culturais, sociais e ambientais; promover acesso a pessoas com dificuldade física; e gerar uma relação de confiança e respeito entre turistas e anfitriões.
Segmentos
Turismo Cultural (BRASIL, 2010; LITWINSKI; CARNEIRO, 2004)
Turismo de base comunitária (BARTHOLO; SANSOLO; BURSZTYN, 2009; MALDONADO, 2009)
Turismo voluntário (WEARING, 2001; COREN; GRAY, 2012; WEARING; MCGEHEE, 2013; DEVEREUX, 2008; MCGEHEE, 2002)
Ecoturismo (BRASIL, 2010; BRASIL, 1994)
Turismo Social (CHEIBUB, 2013)
Figura 37 – Autores e conceitos do turismo X empreendedorismo social Fonte: Elaboração própria
89
No próximo capítulo conheceremos mais sobre as organizações escolhidas,
os procedimentos metodológicos da pesquisa e os resultados obtidos, cruzando o
referencial teórico proposto no levantamento feito nesse capítulo com a prática de
mercado das organizações.
2 TURISMO E NEGÓCIOS SOCIAIS
Posteriormente o entendimento de toda a construção do pensamento teórico
acerca do empreendedorismo social, pretendemos expor um pouco sobre a forma
de atuação de organizações brasileiras que atuam no turismo em alguns dos
segmentos e práticas turísticas abordados e, em primeira instancia, demonstram
diálogo com os princípios dos negócios sociais, a luz dos autores elencados na
última seção do capítulo anterior. Podemos perceber que algumas práticas e
segmentos turísticos apresentam total coerência com o fazer do empreendedor
social, porém é necessário compreender de forma mais profunda sobre essas
organizações propondo uma discussão sobre o que poderia caracterizá-las ou não
como negócios sociais e como o turismo pode, então, dialogar com esse movimento
que emerge em uma sociedade que clama por melhores condições de vida. A
proposta deste capítulo é, portanto, analisar duas empresas escolhidas a luz do
referencial teórico definido para este trabalho.
2.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Foram escolhidas duas organizações, autointitulada um negócio social e outra
organização que não usaria esse rótulo, mas apresentava convergências na sua
forma de trabalho com o empreendedorismo social, por uma análise prévia em seu
site. Ambas as organizações oferecem produtos turísticos e se correlacionam com
alguns dos segmentos e práticas propostos no capítulo anterior na seção referente
ao turismo.
Ao eleger essas duas organizações, sem o compromisso de garantir se já
possuem a denominação de negócios sociais, propusemos confrontar o referencial
90
teórico e problematizá-lo, buscando entender quais as características poderiam
conferir ou não à essas organizações o rótulo de negócios sociais, despertando
interesse pelo diálogo da temática com o turismo, pouco visto na literatura. As
organizações que compreendem a amostra foram selecionadas por acessibilidade,
sem qualquer procedimento estatístico, mas pela facilidade de acesso a elas
(VERGARA, 1998). A amostragem estatística de casos do universo planejado é
pouco usual quando se busca contribuir a partir de estudos dessa natureza. Os
casos de organizações devem ser escolhidos para replicar casos anteriores ou
ampliar a teoria, ou eles devem ser escolhidos para preencher categorias teóricas
(EISENHARDT, 1989). Esta seleção está alinhada com a contextualização do
problema apresentado neste TCC e é suportada pelo referencial teórico, o qual se
refere às empresas, processos ou sujeitos estudados na literatura sobre
empreendedorismo social, negócios sociais e turismo.
A Aoka Tours (figura 38) é uma das organizações escolhidas e, do seu site,
podemos destacar o seguinte trecho: “(...) o modelo de negócio social da Aoka Tours
contribui com (...)” (AOKA TOURS, 2014), indicando que a própria organização se
reconhece como um negócio social, além de ter sido citada no anexo VI (exemplos
de negócios sociais no Brasil) do SEBRAE (2013). Além disso, foi possível identificar
previamente em seu site termos apresentados na seção sobre turismo do capítulo
anterior. A Aoka Tours é uma operadora de turismo sustentável, que oferece roteiros
de ecoturismo em destinos nacionais e internacionais (AOKA, 2014).
Figura 38 – Logo Aoka Fonte: AOKA Tours Facebook (2014)
A outra organização elegida foi a AIESEC (figura 39), que não se reconhece
como um negócio social, mas destaca em seu site valores relativos a um impacto
91
social positivo na sociedade e a oferta de um serviço que poderia ser caracterizado
como um dos segmentos turísticos apresentados no capítulo anterior. São
comercializados intercâmbios com organizações, instituições e negócios ao redor do
mundo para o desenvolvimento de lideranças responsáveis e empreendedoras
(AIESEC, 2014).
Figura 39 – Logo AIESEC Fonte: AIESEC (2014)
Para extrair as informações desejadas que seriam confrontadas com o
referencial teórico proposto nesse trabalho, foi elaborado um roteiro
semiestruturado, com aproximadamente 33 questões, para a realização da
entrevista com ambas as organizações. A responsável pela a entrevista da Aoka foi
a funcionária Gabrielle Monteiro e na AIESEC foi Carolina Barge, presidente da
AIESEC Rio de Janeiro. Como a AIESEC é uma organização global, a entrevistada
se ateve à atuação da empresa no estado. Desta forma, os sujeitos da pesquisa
foram os funcionários envolvidos no desenvolvimento de novos produtos, processos
e serviços das organizações selecionadas para este trabalho.
Para a elaboração do texto final, a estratégia utilizada foi a “Explanation-
building” (PARÉ, 2004). Esta estratégia desenvolve uma descrição da organização
como um quadro geral que estrutura o estudo, estabelecendo uma cadeia lógica de
evidências. Normalmente, esta cadeia de evidências é estabelecida por ter
suficientes citações no relatório final (YIN, 2003).
Certamente, todo método contempla algum tipo de limitação. Entretanto, todo
método de pesquisa pode ser utilizado para três propósitos: exploratório, descritivo e
explanatório. O objetivo é evitar erros de abordagem, ou seja, quando você planeja
utilizar um método, mas outro é realmente mais vantajoso (YIN, 2009).
92
2.2 ANÁLISE DOS DADOS
2.2.1 Aoka Tours
De acordo com a entrevistada, a Aoka surgiu a partir da identificação da
oportunidade de se criar um negócio social no turismo, que fosse focado nas
comunidades. A idéia partiu de um dos sócios, o Daniel Contrucci, que havia
trabalhado no Projeto Bagagem, que é outra organização, sem fins lucrativos, que
pretende empoderar e desenvolver comunidades pelo turismo sustentável
(PROJETO BAGAGEM, 2014).
A Aoka promove viagens nacionais e internacionais que prezam pelo contato
com exuberantes naturezas e a vivência com comunidades locais, que dificilmente
se teria acesso. Todo o produto é calcado nos princípios da sustentabilidade,
gerando impactos positivos (AOKA, 2014). Segundo Gabrielle (Aoka), para a
formatação e comercialização de um produto, a organização realiza contato com
todos os agentes envolvidos na atividade; adapta o produto aos critérios Aoka;
divulga; e vende. Gabrielle (Aoka) explica que sempre trabalham com guias locais,
dão preferência aos hotéis ou pousadas com iniciativas sustentáveis e aos passeios
com contato cultural (visita à comunidades e projetos locais).
Ao questionarmos sobre o objetivo principal da organização, prontamente a
entrevistada foca na geração de impacto social positivo. Gabrielle (Aoka) citou
exemplos como a geração de renda, inclusão social, incentivo ao
empreendedorismo e valorização da cultura, no que tange a comunidade local. E
cita também o impacto social no turista, que seria o que a organização chama de
transformação social. Gabrielle (Aoka) resume que o principal objetivo da
experiência turística promovida pela organização é transformar as pessoas e
aproximar as culturas.
Esse é um aspecto relevante, sobre a relativização do impacto social, que não
se restringe, como se propôs no referencial teórico, à grupos marginalizados e à
população de baixa renda, e sim um impacto social promovido de diferentes
maneiras e abrangências, nesse caso, em ambas as partes, em quem consome e
93
em quem ajuda a promover a atividade, demonstrando que o beneficiário pode não
ser apenas um único agente, mas os dois, o visitante e o visitado. Os dois são
intrinsicamente envolvidos na atividade.
De acordo com uma entrevista cedida para o Capital Natural (2014) sobre
turismo de experiência, Ricardo Gravina, co-fundador e diretor comercial de novos
negócios da Aoka, fala sobre essa experiência transformadora para o turista
explicando que, muitas vezes, o turista se questiona sobre a sua própria realidade,
seus hábitos e forma de viver, pois o contato cultural promovido pela organização
faz esse visitante se sensibilizar com um novo modo de vida que lhe é apresentado,
mais simples e feliz.
Gabrielle (Aoka) posiciona a organização como uma operadora de turismo
sustentável e de experiência. A organização promove mudança no comportamento
do turista e da comunidade envolvida, a médio e longo prazo, como propõe Litwinskt
e Carneiro (2004), e, além disso, compensa o CO² emitido por meio de plantações
de árvores, demonstrando preocupação com os impactos econômicos, sociais e
também ambientais atuais e futuros (OMT, 2005). Gabrielle (Aoka) aponta que os
roteiros formatados pela organização prezam por experiências únicas e elaboradas
especialmente para o cliente Aoka, incluindo sempre experiências regionais, indo de
encontro à teoria de Trigo (2010).
Além dessas práticas, podemos situar a organização nos segmentos de
turismo cultural e ecoturismo, como é citado, inclusive, por Gabrielle (Aoka). A
entrevistada diz que o principal consumidor dos produtos Aoka são “mulheres de
classes A/B, acima de 30 anos, que querem viver uma experiência cultural e
transformadora, que se preocupam com a sustentabilidade. Em sua maioria, do Sul
e Sudeste do Brasil”.
A organização valoriza elementos materiais e, sobretudo, imateriais da
cultura, como sugere Brasil (2010). A motivação do turista não é apenas o lazer,
mas buscar experiências culturais, atribuindo grande reconhecimento a cada
momento de contato com a comunidade local (LITWINSKI; CARNEIRO, 2004). Além
disso, a prática turística da organização se alinha a definição de Ecoturismo
(BRASIL, 1994; BRASIL, 2010), pautada na sustentabilidade e uso consciente dos
recursos, alcançando bem estar da comunidade local.
94
E todo esse discurso pode ser articulado com o que Panosso Netto (2010)
chama de turismo responsável, gerando benefícios, bem-estar e experiências
memoráveis, de uma forma geral. Os princípios fundamentais e desejáveis
escolhidos (PANOSSO NETTO, 2010) para a análise são contemplados na prática
turística da organização.
Gabrielle (Aoka) destaca que a comunidade recebe palestras e auxílio por
parte da organização para uma melhor compreensão da sua participação na
atividade, além disso, o turista que visa este tipo de viagem é engajado e ajuda no
processo. Esse é um aspecto que facilita muito o princípio da hospitalidade, da
experiência e da comunicação. Além disso, é perceptível que a Aoka leva em
consideração o principio da igualdade ao colocar ambos os agentes sociais, a
comunidade local e o turista, igualmente importantes para efetivação de uma prática
turística positiva. A alteridade e a ética são princípios visivelmente inerentes à
atividade da Aoka, bem como a busca pela sustentabilidade em todos os seus
pilares.
No que se refere aos impactos, os positivos vários já foram colocados acima e
os negativos são acertadamente reconhecidos pela organização, Gabrielle explica
que “é impossível ser totalmente sustentável em todos os pilares (...). Sempre
dependeremos de parceiros locais que tenham o mesmo propósito”, porém tentam
trabalhar da forma mais responsável para que esses impactos sejam compensados
por estratégias mais conscientes.
Depois da compreensão da forma de trabalho da organização, queremos
entender como uma organização que atua no turismo dialoga com as
caracterizações propostas pela teoria do empreendedorismo social, especialmente
dos negócios sociais.
Muitas organizações no turismo consideram a população local despreparada
para receber seu turista e promovem para o visitante uma experiência inautêntica e
superficial, por julgar que o contato mais efetivo com a comunidade local pode
causar desconforto pelo choque cultural e também porque muitas vezes o turista
vem impregnado de estereótipos, imagens formadas, que são vendidos mundo afora
e que, no momento do encontro, essas expectativas podem não ser correspondidas,
visto que nem sempre as tradições são verdadeiramente reproduzidas da forma
95
como são comercializadas. A Aoka enxerga esse “problema” como uma
oportunidade de negócio, preparando a comunidade para essa atividade e se
moldando aos seus verdadeiros valores.
Gabrielle (Aoka) enfatiza que a missão da organização está baseada na
geração de impacto social e no lucro, tendo ambas as dimensões o mesmo peso
para a organização. Apesar dessa informação, vale destacar que a entrevistada
enfatiza a primazia da maximização dos impactos sociais como principal objetivo,
pois não querem apenas vender turismo, mas transformar pessoas. A partir disso
podemos depreender que os objetivos sociais e econômicos possuem o mesmo
peso para a organização, desde que esse ultimo esteja baseado numa atividade
com geração de impacto social positivo. A Aoka (2014) descreve seu trabalho da
seguinte forma:
A Aoka Tours existe para transformar a vida das pessoas através de viagens experienciais. Buscamos conectar diferentes culturas, promovendo a transformação social. (...) Junto com todos os envolvidos nas experiências que promovemos, seremos protagonistas de um movimento de unificação para um mundo melhor, transpondo fronteiras entre nações, culturas e classes sociais, restabelecendo a harmonia nas relações do homem com o meio ambiente.
A mobilização de recurso humano para Gabrielle (Aoka) não apresenta
qualquer problema para a organização, visto que todos os funcionários são
engajados com o tema e demonstram prazer em trabalhar numa empresa
socialmente responsável. Esse processo pode ser facilitado porque todos os
funcionários são devidamente remunerados, diferentemente de organizações que
trabalham com voluntariado, como enfatiza Austin et al (2006), podendo enfrentar
maiores desafios.
E quanto à mobilização do recurso financeiro, a organização não citou
nenhum problema para sua continuidade, apenas o desafio de fazer com que seus
produtos sejam financeiramente mais acessíveis, pois é diferenciado, feito nos
moldes da Aoka e, por esse motivo, nem sempre o fornecedor já possui um produto
pronto, demandando mais tempo e dinheiro para desenvolvê-lo. Além disso, a
96
organização dá preferencia por iniciativas sustentáveis, muitas delas com valor
superior se comparado com as tradicionais.
O lucro vem da comercialização desses roteiros, ficando praticamente 30% do
valor total do pacote para a comunidade local e o restante, no momento, é
reinvestido na organização. A Aoka é uma organização recente, que necessita
desse reinvestimento para a sua expansão, porém em nenhum momento a Gabrielle
(Aoka) disse que a organização não concorda com a distribuição do lucro. A
empresa não possui outros métodos de geração de renda, apenas a
comercialização de serviços, um dos métodos trazidos por Alter (2007), e não utiliza
nenhuma fonte de recurso proposta pela Ashoka e Walmart (2011).
Ao ser questionada sobre a avaliação de desempenho da empresa, Gabrielle
(Aoka) destaca os prêmios e o reconhecimento da marca no mercado como forma
de medir a performance da organização. A entrevistada não cita variáveis
relacionadas às mudanças sociais promovidas pela organização. Porém, vale
ressaltar que foi comentado que sempre procuram ter um feedback da comunidade
envolvida, com a finalidade de aprimorar os serviços e possíveis falhas. Mas não
expuseram variáveis que pudessem medir o impacto social promovido, senão pelo
reconhecimento.
Podemos perceber que as proposições de Austin et al (2006) se encaixam à
realidade da organização, com exceção da avaliação de desempenho e com
algumas ressalvas para a mobilização de recursos. A avaliação de desempenho é
realmente delicada, pois há uma maior dificuldade de se mensurar a performance de
uma organização focada no impacto social, como Austin et al (2006) posicionam. De
certa maneira, os prêmios são estabelecidos mediante critérios que podem traduzir o
desempenho positivo da organização no âmbito social, mas não têm um caráter
contínuo e não utilizam parâmetros estabelecidos pela própria organização.
A favor da organização, podemos citar a certificação do Sistema B, que é
concedido a organizações com sério compromisso ambiental e social. E, para se
conseguir esse título, é necessário cumprir anualmente com vários critérios
estabelecidos pelo sistema (SISTEMA B, 2014). A Aoka faz parte do grupo de
empresas que compõe o sistema, representando o Brasil e, sobretudo, o turismo.
97
Quanto à mobilização de recurso humano e financeiro, pela organização
apresentar bastante foco na geração de lucro, essas variáveis não sofrem tantas
dificuldades como em outros empreendimentos sociais. Além disso, podemos
destacar o ponto positivo do recurso humano ser engajado com a forma de atuação
da organização e facilitar o trabalho.
A Aoka pode, então, se caracterizar como uma organização híbrida (ALTER,
2007), que está entre os interesses filantrópicos e o lucro, mesclando impacto social
com iniciativas de mercado pela oferta de produtos com grande ênfase no bem estar
social, mas pensando na autossustentabilidade financeira da organização. A Aoka
consegue, por meio da sua atividade, tanto com relação à comunidade local, quanto
para o turista, promover empoderamento econômico, social, mental, psíquico e
espiritual. A organização impacta de maneira muito efetiva ambos os agentes
envolvidos.
Quanto à definição de empreendedorismo social de Oliveira (2004), no caso
da Aoka não se observa exatamente na prática o que propõe a teoria, que seria,
inicialmente, a identificação de um problema local. A organização identifica uma
oportunidade de desenvolver a atividade turística de forma que também fosse
possível gerar impacto social positivo. Então na realidade ocorre o processo inverso
ou quase simultâneo, desejando desenvolver determinada atividade e questionando
de que forma ela pode colaborar para solucionar problemas sociais, tendo se
tornado esse ultimo o pilar principal da organização.
Dessa maneira, a Aoka se alinha à definição da Virtue Venture, servindo à
redução de um problema social e à falta de um produto como esse oferecido pela a
organização no mercado, mas com as características do segundo setor,
especialmente no que diz respeito à autossustentabilidade financeira. Por esse
motivo, a organização opera com um plano de negócio que estabelece visão
estratégica de longo prazo (ALTER, 2007). Além disso, outras dimensões como a
responsabilidade, a intencionalidade e o envolvimento da comunidade na tomada de
decisão (COMINI et al, 2012) são adequadamente observados nas atividades
desenvolvidas pela a empresa, demonstrando coerência com a teoria. Nesse
trabalho, posteriormente a análise, concluímos que a Aoka é um negócio social.
98
Sobre o seu publico alvo/ beneficiário (comunidade local) e mercado alvo/
consumidor (turistas), ocorre uma distinção entre os mesmos, como proposto por
Weppen e Cochrane (2012). Porém, o que não se prevê na literatura é que amos
sejam beneficiários. Dessa forma, temos uma configuração diferenciada da teoria. O
consumidor, de acordo com Alter (2007), estaria na categoria de publico geral,
porém esse consumidor/ mercado alvo, na visão da Aoka, é tão beneficiário, quanto
o publico alvo. É importante lembrar que o que caracteriza um grupo como
beneficiário nesse trabalho é o alcance do impacto social, pois benefício todo o
consumidor em geral obtém ao adquirir determinado produto ou serviço, porém não
necessariamente está vinculado à um impacto social positivo.
A Aoka se caracteriza por uma empresa social incorporada de missão central,
como propõe Alter (2007), pautada nos objetivos sociais que são alcançados
juntamente com as suas atividades de negócio, os roteiros realizados pela
organização. Dentre os modelos operacionais propostos por Alter (2007), podemos
adequar a organização no modelo intermediário de mercado (figura 40)
Figura 40 – Modelo intermediário de mercado da Aoka Tours Fonte: Elaboração própria
„
Os destinos nacionais são, por exemplo: o Amazonas, na Mamirauá, primeira
reserva de desenvolvimento sustentável, e no Cristalino Jungle Lodge, que tem o
compromisso de proporcionar experiências únicas ao visitante associado à
99
aprendizagem sobre o meio ambiente e sua importância para as nossas vidas;
Minas Gerais, no Vilarejo Capivari, com imersão no modo de vida da comunidade
local e passeios que exploram a riqueza natural, e no Vale do Jequiticonha, em duas
propostas, uma de imersão na arte e cultura popular com acompanhamento de uma
curadora de arte e a outra num projeto de voluntariado onde os visitantes ajudarão a
levar tecnologia de aquecedor solar de baixo custo para famílias locais; Santa
Catarina, em Urubici, considerado um dos mais promissores destinos de natureza do
Brasil, além do visitante ficar hospedado em propriedades de agricultura orgânica do
projeto Acolhida na Colônia; dentre outros destinos, como Piauí e Roraima (AOKA,
2014). No site não há especificações sobre os roteiros nos destinos internacionais,
mas enfatizam a interação com a comunidade local e o meio ambiente, associado à
experiências únicas.
A organização formata seu produto junto com os agentes sociais locais,
conectando-os com o turista, que pode consumir serviços e produtos da comunidade
local, interagir com um novo modo de vida e vivenciar experiências autênticas junto
à comunidade local envolvida na atividade, sendo ela e também os próprios turistas
impactados por esse contato promovido pela Aoka. A organização consegue agregar
valor ao modo de vida, fazeres e costumes, e ao meio ambiente, ajudando a
comunidade a desenvolver um produto e a comercializá-lo, como prevê o
funcionamento do modelo por Alter (2007).
Por fim, ao questionarmos se a organização se reconhece como um negócio
social, como era previsto, obtivemos uma resposta afirmativa, legalmente
estruturada como uma LTDA. Porém a nomenclatura utilizada pela organização, de
acordo com a entrevistada, é negócio de impacto social. Provavelmente isso se dá
pelo fato da instituição de fomento vinculada à organização ser a Artemisia que se
apropria desse termo.
2.2.2 AIESEC Brasil
AIESEC é uma sigla em francês que, em português, significa Associação
Internacional de Estudantes de Ciências Econômicas e Contábeis, uma organização
100
global, reconhecida no Brasil como uma organização sem fins lucrativos. Hoje o
nome por extenso não é mais utilizado, apenas a sigla. A organização surgiu em
1948, numa realidade de pós-guerra com sete estudantes de sete países europeus,
portanto, a organização já começou internacional e esse, segunda a Carolina
(AIESEC) é o cerne dela.
A entrevistada conta que, nesse momento histórico trágico, muitas
organizações estudantis emergiam e esses sete jovens, que não estavam satisfeitos
com as lideranças e a perspectiva de futuro que se apresentava para eles,
enxergaram uma causa para tudo que havia ocorrido, a intolerância cultural, uma
cultura se sobrepondo a outra. Essa leitura fez com que surgisse uma organização
que buscava realizar intercâmbios com a proposta que pessoas de diferentes
culturas entrassem em contato e fossem amigas.
Carolina (AIESEC) considera essa proposta inicial da organização mais
inocente e explica que com o passar do tempo, com a globalização e tantos outros
fatores, a organização foi agregando novos valores e se adequando a
contemporaneidade. Por esse motivo, a entrevistada explica que, a partir da década
de 90, ficou bastante presente o tema da gestão, enfatizando que as pessoas da
organização têm interesse por temas globais e pela gestão. Para a organização,
essas duas temáticas podem desenvolver lideranças, o que torna a AIESEC uma
organização reconhecida como uma plataforma de desenvolvimento de liderança
jovem, possibilitando a compreensão de si próprio, do mundo e como o indivíduo se
encaixa nesse contexto.
Os produtos oferecidos pela organização são chamados de cidadão global e
talentos globais. O primeiro consiste na realização de trabalho voluntário em
organizações do terceiro setor, que possui uma duração menor, de 6 a 12 semanas.
E no segundo produto, o jovem realiza atividades remuneradas em empresas do
segundo setor, possuindo um caráter mais profissional, com duração de 3 a 12
meses. Ambos possuem o viés do desenvolvimento pessoal pelo contato com uma
nova cultura e a inserção em um ambiente global, visto que todas as experiências
são necessariamente internacionais (AIESEC, 2014). A organização sempre tenta
unir o conhecimento acadêmico com a atividade que será desenvolvida com a
organização parceira, mesmo no Cidadão Global.
101
Carolina (AIESEC) enfatiza que o intercâmbio não é a finalidade da empresa
e sim um meio para que se alcance o desenvolvimento de lideranças associadas à
tolerância cultural. Por esse motivo, na AIESEC podemos observar que a
identificação do problema local foi anterior à elaboração de uma medida de
enfrentamento, como sugere a teoria (OLIVEIRA, 2004). O intercâmbio foi a maneira
que a organização encontrou para solucionar a problemática da intolerância cultural.
Carolina (AIESEC) detalha sobre os públicos que a organização atua, na
esfera intercâmbio existem dois grandes clientes, um deles são os estudantes
universitários de 18 a 30 anos com inglês e/ ou espanhol básicos. A entrevistada diz
que apesar de parecer elitista, a AIESEC acredita que as grandes organizações
serão lideradas pelos universitários e que dessa forma a AIESEC tem a
possibilidade de gerar um impacto de longo prazo. E o outro cliente são as
empresas do segundo setor e as organizações do terceiro setor, porque se entrega
uma proposta de valor e assina contrato.
De acordo com Carolina (AIESEC), um desafio no intercambio da AIESEC é
que por ser um produto muito mais barato que as demais empresas do mercado, o
que pode ser inicialmente positivo por ser mais acessível ao consumidor, pode atrair
também um publico que a empresa não deseja, que não tem um real compromisso
com o desenvolvimento de lideranças e com a geração de um impacto social
positivo futuro na sociedade, e sim um publico que visa basicamente atividades de
lazer.
Além dos intercâmbios, da relação com as organizações e com os
estudantes, a organização também possui o programa Jovens Talentos e o Jovens
Líderes, que são também um produto do ponto de vista da AIESEC, pois apesar de
não ser vendível, é feito marketing, processo seletivo e outros investimentos para
formação do quadro de membros da organização. O Jovens Talentos consiste no
recrutamento de estudantes para trabalhar na organização, com a possibilidade de
desenvolvimento por ganhar responsabilidades reais muito rápido, afinal, como a
Carolina (AIESEC) cita, a organização “não vende canetas, vende experiências” e
está lidando com pessoas. O outro programa é o Jovens Líderes que busca pessoas
que estão no Jovens Talentos com o perfil de liderança para gerir times, sendo a
proposta de valor o aprendizado mais relacionado com a gestão. Os membros, de
102
acordo com Carolina (AIESEC), são atraídos pela organização, sobretudo, com o
argumento de desenvolvimento, destacando esse como um aspecto muito mais
apelativo entre os jovens, e depois da imersão na cultura organizacional, a
organização faz um trabalho focado no impacto social, mostrando para esse jovem
que ele é um agente de mudança.
Nos intercâmbios a cobrança é feita por uma taxa única que inclui entrada na
plataforma, suporte da AIESEC (antes, durante e depois do intercambio) e aplicação
de todas as etapas de desenvolvimento de liderança, uma metodologia interna da
organização. O cidadão global é mais barato que o Talentos Globais, até pela
duração do suporte da AIESEC. A taxa é dividida em três, custos operacionais
locais, nacionais e internacionais, então o lucro não fica todo para o comitê local.
Como o comitê nacional e internacional não realiza os intercâmbios propriamente
ditos, estão focados mais no suporte aos comitês locais e compromisso com o
desenvolvimento da organização como um todo, isso inclui viagens e outros gastos
que precisam ser subsidiados pelo lucro da organização, que vem dos comitês
locais por meio dos intercâmbios realizados. Além disso, a taxa também é usada
para reinvestir em outros custos, compensando operações. Um exemplo é o caso
das organizações do terceiro setor, que não pagam taxa alguma, por isso, muitas
vezes o lucro de um intercambista que fica para o comitê local é direcionado para
cobrir alguma outra operação.
Incluído na taxa também podem ter benefícios como alimentação,
hospedagem e transporte, a depender da organização que se fará o intercambio e
da acomodação negociada, sendo mais comum os benefícios no programa cidadão
global, pois no caso dos talentos globais, os estudantes são assalariados,
garantindo que receberão de acordo com os custos locais. O tipo de acomodação
pode variar entre casa de família; uma trainee house (casa alugada com vários
intercambistas); ou uma casa de um membro da AIESEC local. A organização não
interfere nessa escolha porque o perfil desses jovens é bastante heterogêneo, com
os mais diferentes gostos.
O método de geração de receita são as taxas pagas pelos intercambistas e
pelas empresas, ou seja, uma cobrança de taxa de serviço, um dos tipos proposto
por Alter (2007), com exceção das organizações do terceiro setor que não pagam
103
nada. A organização usa patrocínio apenas para algo específico, eventos, material
de papelaria ou coffee break, por exemplo. Como a Aoka, a AIESEC é totalmente
autossustentável e não utiliza nenhuma outra fonte de recurso, como as
mencionadas por Ashoka e Walmart (2011), senão a renda proveniente do seu
produto.
Carolina (AIESEC) explica que os escritórios só podem receber uma
quantidade de intercambistas vindos de outros países, caso haja dinheiro suficiente
em caixa, pois há custos nessa operação e, para isso, é necessário ter lucro com os
intercambistas que são enviados pelo escritório para outros países. A AIESEC Rio
não tem preocupações financeiras a ponto de ter que equilibrar o quanto recebe e o
quanto envia, pois hoje possui bastante dinheiro em caixa pela grande procura por
intercâmbios dos estudantes de universidades cariocas.
A Carolina (AIESEC) informa que o estudante paga a taxa e o suporte da
AIESEC inicia, consistindo na ajuda com a busca pelas vagas, mediando a relação
do intercambista com a organização; na preparação logística, parte burocrática,
documentos e outros itens necessários para a viagem; e na preparação cultural,
quando a organização promove um evento que fala sobre a cultura do local a ser
visitado, sobre o que é liderança e o que a experiência do intercambio pode
proporcionar, pontos positivos e negativos, incluindo a parte de reflexão sobre o que
se quer realizar no intercambio, qual pessoa o jovem deseja ser quando retornar.
Durante a viagem, o suporte online da AIESEC Rio se mantém e uma AIESEC local
irá receber o estudante, dando continuidade ao suporte físico. E no retorno, existe o
ultimo suporte quando se reencontra as pessoas, reflete sobre a experiência e o
jovem é convidado a participar da organização.
A organização acredita que o desenvolvimento é muito influenciado pelo
ambiente, mas ele só acontece com a reflexão, por isso esse aspecto é sempre
estimulado na preparação do estudante, que é um suporte emocional e psicológico,
mas, sobretudo, de desenvolvimento. Caso contrário, o jovem sabe que a
experiência foi intensa, importante e transformadora, mas sem saber em que
aspecto foi tão relevante e o que foi agregado, como explica Carolina (AIESEC).
Essa é uma característica que diferencia o trabalho da AIESEC, se comparado com
104
outras instituições/ agencias de viagem que também oferece produtos de turismo
voluntário e de estudos e intercambio.
A entrevistada fala sobre o desenvolvimento que se estabelece em cada
experiência para o estudante, para a sociedade e para a organização que agrega
esse intercambista às suas atividades. No caso do cidadão global seria uma
experiência mais rápida, intensa, mergulhando em uma realidade socialmente mais
apelativa, o jovem fica muito exposto ao problema. Isso faz com que o
desenvolvimento seja mais extremo, rápido e muito voltado para os problemas
sociais. E qualquer universitário dentro dos padrões estabelecidos pela organização
pode consumir esse produto.
Nesse programa, a sociedade e a organização, que nesse caso são
complementares, ganham com um estudante que funciona como uma mão de obra
paliativa, traz uma perspectiva de mundo completamente diferente para àquelas
pessoas e pode fornecer conhecimentos mais técnicos para aquela organização.
Seria possível conseguir uma mão de obra local que o substituísse, mas Carolina
(AIESEC) acredita que esse estudante vindo de outro país pode agregar valores
interessantes à essa experiência.
Já o desenvolvimento para o estudante no programa talentos globais está
muito mais pautado na experiência profissional e, se comparado com o cidadão
global, é menos intenso pela duração, que apesar de ser no mínimo três meses, na
maioria dos casos é um ano. Esse período prolongado faz com que o
desenvolvimento seja gradativo e mais real em termos de intercambio cultural, pois o
estudante pode viver com mais veracidade o dia-a-dia de um cidadão local. Além
disso, é um ambiente muito mais corporativo e estruturado. Nesse produto há
maiores exigências, pré-requisitos e preparação prévia por parte do estudante. O
ambiente fará que o desenvolvimento seja completamente diferente, bem como a
proposta de valor que se traz para a vida de cada estudante.
Nesse programa, as empresas possuem diferentes objetivos, pode ser com o
objetivo de se internacionalizar ou com o intuito de suprir alguma necessidade da
empresa, como barateando uma mão de obra que teria alto custo para a
organização. É importante ressaltar que a AIESEC não se configura como um
fornecedor de mão de obra barata, mas na qualidade de estudantes ou recém-
105
formados, esses jovens acreditam que a experiência vale a pena, agregando
também a troca cultural e a aprendizagem de uma forma geral. Para a sociedade,
nesse caso, é a colaboração com o aquecimento da economia e desenvolvimento de
empresas nacionais, por exemplo.
Podemos destacar, sobretudo, os empoderamentos mental, psíquico e
espiritual promovido pela atividade turística da AIESEC, especialmente sobre o
intercambista, mas também na comunidade local e nas organizações, ainda que de
forma indireta. O trabalho de reflexão anteriormente à experiência do intercambio
pode contribuir muito para que efetivamente esse emporamento ocorra.
Apesar de ser totalmente autossustentável, a AIESEC não foca no lucro,
sendo todo ele reinvestido na organização. Nenhum membro é remunerado, salvo
membros com atividade integral, que cumprem 40 horas por semana, recebendo
uma bolsa auxílio. Carolina (AIESEC) explica que os objetivos sociais representam
100% para a organização, frente os objetivos econômicos.
Quanto ao impacto social promovido pela organização, Carolina (AIESEC)
esclarece que o foco não está nas organizações e na sociedade, esses seriam um
impacto secundário. O principal foco da AIESEC é formar agentes de mudança que
venham, em longo prazo, impactar a sociedade. Portanto, o desenvolvimento da
organização e da sociedade se caracteriza como um impacto indireto, pois a
comunidade nunca é o foco, mas os jovens que se engajam na organização.
Mediante o que foi dito, podemos perceber que o publico alvo (beneficiário)
para a AIESEC são os estudantes, como intercambistas ou membros,
caracterizando as organizações, que também é um mercado alvo (cliente), e a
comunidade como beneficiários indiretos. Nesse caso, não há separação entre o
publico alvo e mercado alvo, eles são o mesmo, o jovem estudante, estando na
categoria de publico alvo (ALTER, 2007). Novamente devemos ressaltar a
relativização do impacto social, que não se restringe a pessoas de baixa renda ou
grupo marginalizados de uma forma geral.
De acordo com a entrevistada, a missão da organização está pautada em
dois pilares. Prezando pelo ponto de partida em 1948, um deles é a paz mundial,
traduzida hoje como cooperação internacional e tolerância cultural. E o segundo pilar
é o desenvolvimento das potencialidades humanas, tudo aquilo que os indivíduos
106
são capazes de ser e podem, por meio da experiência promovida pela AIESEC,
explorar.
Podemos observar que a organização é de missão central e, no que tange as
atividades de negócio e os programas sociais, é incoporada (ALTER, 2007), pois a
missão social é central para a AIESEC, com o desenvolvimento de lideranças que
em logo prazo impactem positivamente o mundo, tendo o intercambio como sua
atividade de negócio que diretamente é o programa social da organização. A
organização pode ser caracterizada como híbrida na medida em que mistura
características da filantropia e do segundo setor, visando o bem estar social, mas
com sustentabilidade financeira (ALTER, 2007).
A oportunidade de negócio que a AIESEC encontra hoje é o crescimento e
valorização da experiência de intercambio, associada ao gap do sistema
educacional do jovem estudante, viabilizando: suporte prático; experiência de
mundo; desenvolvimento de softwares; e de competências, como inteligência
emocional, comunicação efetiva, planejamento e organização; entre outros, pois as
organizações hoje no mercado de trabalho estão preocupadas com o currículo, mas,
sobretudo, com a capacidade dos indivíduos de se relacionar e de pensar na
empresa, habilidades que o aluno recém-formado vem bastante cru.
Quanto à mobilização do recurso humano, a Carolina (AIESEC) enfatiza que
é um desafio lidar com voluntários, pois muitas vezes é necessário contar com a
responsabilidade deles, apesar de não ser um trabalho opcional. Especialmente com
os escritórios ao redor do mundo que recebem os intercambistas enviados pela
AIESEC Rio, como são CNPJs diferentes, a forma de trabalho também é distinta,
portanto, falhas podem ocorrer. Outro desafio é a alta rotatividade dos membros
que, consequentemente, traz a necessidade de constante capacitação das pessoas.
Já a facilidade apontada pela AIESEC Rio se refere à estarmos numa cidade com
muitas universidades, então o recrutamento é um processo tranquilo. Quanto à
mobilização de recurso financeiro, a AIESEC Rio não passa por nenhuma
dificuldade financeira, pelo grande numero de operações que se realizam.
As duas esferas da avaliação de desempenho, para Carolina (AIESEC), são o
numero de intercâmbios e a qualidade deles. Todo ano a empresa recebe metas e
desenvolve um planejamento local para atingir o numero de intercâmbios realizados
107
em ambos os programas. É importante ressaltar que esse número de intercâmbios a
serem realizados por ano é aparentemente um dado apenas quantitativo, mas
também representa a escala de impacto social que a organização quer assumir,
desenvolvendo positivamente cada vez mais jovens. Por outro lado, tem a qualidade
desses processos, então a organização utiliza um sistema onde os líderes, membros
e intercambistas, que estão envolvidos num projeto, preenchem um formulário
avaliando todos os processos dessa experiência, com parâmetros.
Apesar do relacionamento com as organizações do terceiro e segundo setor e
da auditoria de documentos que eles precisam assinar, como reuniões de
fechamento, avaliações da experiência, essa parte não participa da qualificação do
produto, porque a organização entende que elas não fazem parte do produto final,
que o que interessa são os estudantes, se ele gostou da experiência e se
desenvolveu, pois essa é a promessa de produto da organização que precisa ser
cumprida. Essa participação das organizações podem até qualificar os processos,
mas não os produtos. Se a organização não gostou, os processos precisam
melhorar, mas não o produto.
Carolina (AIESEC) fala sobre a dificuldade de avaliar o desenvolvimento de
liderança, pois é um dado muito qualitativo que muitas vezes é um processo de
longo prazo e que varia muito de pessoa para pessoa, é subjetivo. O que se pode
mensurar é se a pessoa recomenda ou não a experiência, tendo em vista que essa
experiência estava pautada no desenvolvimento de liderança, podendo esse jovem
consumidor ser caracterizado de três formas: como uma pessoa que não indicaria a
experiência, não foi positivo para ele; como um pessoa passiva, que não fez
diferença e provavelmente não é um bom divulgador do trabalho na AIESEC; e
aquela pessoa que a experiência foi muito positiva e fará um bom marketing boca-a-
boca.
A AIESEC se alinha às quatro proposições de Austin et al (2006). No que diz
respeito à oportunidade de negócio, a organização encontra uma falha na educação
do jovem, que sai da universidade sem determinadas habilidades necessárias para
ser uma liderança que impacte positivamente o mundo e que saiba explorar
adequadamente seus potenciais. A partir disso, a AIESEC atua para suprir essa
falha e dar a chance desses estudantes se desenvolverem de uma forma mais
108
completa. A missão da organização é sempre focada pela entrevistada na geração
de impacto social, o que irá influenciar suas decisões e forma de atuação. A
mobilização de recurso humano apresenta uma séria de dificuldades prevista por
Austin et al (2006) em função do trabalho voluntário, incluindo alta rotatividade e
comprometimento dos membros. Já na mobilização do recurso financeiro, a
organização não apresenta desafios, pois passa por uma situação confortável, mas
por ter que repassar verba para o comitê nacional e internacional e pelas
organizações do terceiro setor serem isentas de taxas, a organização adota um
comportamento diferenciado, equilibrando as despesas e receitas. Por fim, quanto a
avaliação de desempenho, assim como a Aoka, a organização não apresenta
variáveis que possam medir o impacto social promovido, destacando argumentos
que dificulta (ou até impossibilite, na visão da entrevistada) essa avaliação.
Ao ser questionada pela forma como é planejado a atividade turística e todos
os princípios e valores que permeiam essa atividade, a entrevistada
automaticamente vinculou o turismo com a visita a atrativos turísticos do Rio de
Janeiro, não demonstrando entendimento que a própria atividade de mercado da
organização é turismo, junto a isso não soube falar muito sobre os impactos
positivos e negativos da atividade, nem uma prática ou segmento que a organização
estivesse inserida.
Carolina (AIESEC) reconhece que a dimensão turismo não parece ser muito
bem compreendida pela organização, depois de algumas explicações que foram
expostas para ela, pois a própria organização vende o produto dizendo que não é
um intercambio para se fazer turismo, restringindo o termo a atividades de lazer que
são realizadas pelo turista no período de estada no local visitado. Quando, na
realidade, como pode ser observado pelo referencial teórico desse trabalho, o
produto oferecido pela AIESEC é turismo, carregado de muitos conceitos que podem
caracterizar essa atividade turística.
Inicialmente Carolina (AIESEC) não enxerga impactos negativos e positivos
em nenhum dos pilares no que diz respeito à atividade turística que é desenvolvida
pela organização. Mas a entrevistada cita que pelos dois programas de intercambio,
os estudantes conseguem ver o lado mais real do Rio de Janeiro. Essa observação
se refere a todos os aspectos culturais seja na gastronomia, nos costumes, na
109
musica, entre outros, e também em situações conjunturais, como foram os protestos
que recentemente houve na cidade do Rio de Janeiro. E comenta sobre os possíveis
resultados negativos da intervenção numa organização do terceiro setor, que muitas
vezes são inseridas em meio à comunidade de baixa renda marginalizada. Cita que
pode haver uma falta de preparo por parte do intercambista que não sabe lidar com
os anseios da comunidade, dele não entender a melhor abordagem. Algumas
comunidades se mostram mais resistentes por ainda não estarem adaptadas com a
presença dos turistas, enquanto outras são até acomodadas demais, acostumadas
com o assistencialismo. Essas intervenções inadequadas geram resultados
negativos de saturação numa comunidade, que traduz o estudante como uma figura
estranha e autoritária, que veio para impor regras, pois a comunidade não entende
que esse turista pode fazer parte daquele cotidiano.
Carolina (AIESEC) ressalta que a AIESEC não trabalha com comunidades
abertas, apenas com organizações. E os intercambistas têm bastante liberdade para
criar. São as próprias organizações que funcionam como um termômetro sobre a
eficácia e coerência do trabalho daquele intercambista junto a proposta deles, são
eles que podem passar algum feedback para a AIESEC. No caso do Cidadão
Global, os membros AIESEC não conhecem necessariamente a comunidade que os
intercambistas estão inseridos, mas no momento de fechar a parceira, a AIESEC vai
até o local para conhecer e garantir que é propício para o intercambista trabalhar.
Caroline (AIESEC) explica que as estratégias para evitar esses impactos
negativos estão mais ligadas com o contato constante que se estabelece entre as
organizações e os membros AIESEC, conforme as situações vão acontecendo, até
porque as realidades são muito diferentes, tanto pela realidade local da comunidade
que os intercambistas estão inseridos, quanto à própria nacionalidade do turista que
pode indicar um maior ou menor choque cultural. Uma ajuda é a semana de
preparação, antes do inicio do trabalho, com aula de português pela parceria com o
projeto Fala Brasil e dicas culturais. O gestor das organizações do terceiro setor é a
voz da comunidade, pois geralmente a resposta do gestor é a resposta do publico.
No aspecto da atividade turística, apesar do não reconhecimento da
organização, podemos dizer que a mesma atua no segmento de turismo voluntário,
já previsto no referencial teórico desse trabalho (WEARING, 2001; DEVEREUX,
110
2008; WEARING; MCGEHEE, 2013; MCGEHEE, 2002), no caso do programa do
cidadão global, e, em ambos os programas, é possível situar no segmento de
estudos e intercambio. Esse último segmento não teria sido destacado nesse
trabalho e aparece como uma outra possibilidade de geração de impacto social
positivo.
No turismo voluntário, a luz dos autores, podemos caracterizar a AIESEC
como aquelas organização citadas por Coren e Gray (2012) e Wearing e McGehee
(2013) que entraram no processo de mercantilização da prática do voluntariado em
viagens, numa tendência de estar atento apenas ao consumidor/ voluntário, em
detrimento de levar em consideração os anseios da comunidade local envolvida.
Esse seria um aspecto negativo. Sabe-se que existe uma constante comunicação
junto às organizações, mas se entende nesse trabalho que nem sempre a
organização pode ser porta voz da comunidade local e que a AIESEC deveria
dialogar mais com essa comunidade, apresentando seu trabalho e o motivo por
estar atuando nela, para que essa relação seja mais proveitosa e que gere mais
impactos positivos do que negativos.
As práticas turísticas adotadas nesse trabalho não são diretamente
abordadas pela a entrevistada, mas mediante algumas falas, destacamos o turismo
de experiência, pois é dito que muitos estudantes querem viver experiências
diferenciadas/ alternativas, especialmente no cidadão global, um exemplo é a
atuação com organizações do terceiro setor que atuam em países de extrema
pobreza, como a África, ou em campos de concentração. No geral, o Cidadão Global
permite uma interação muito intensa com a comunidade local em condições bem
adversas. O turismo sustentável e responsável não parecem ser práticas pensadas
pela organização, que não tem o domínio exato dos impactos positivos e negativos
gerados pela sua atividade turística. Foi citado um impacto positivo, relacionado com
a dimensão cultural, e um impacto negativo, relacionado com as dimensões cultural
e social.
A hospitalidade é um principio trabalhado apenas entre os membros da
AIESEC que receberão um intercambista vindo de outra AIESEC, e também do
intercambista para com a organização que irá trabalhar, por meio da preparação
cultural, mas não havendo o cuidado de se preparar a comunidade para receber o
111
turista também. A comunicação e a experiência parecem ser princípios trabalhados
junto ao intercambista, até mesmo como forma de atingir o objetivo do
desenvolvimento de lideranças positivas, a preparação cultural é essencial nesse
sentido, quando se faz o intercambista refletir, se trabalha com as expectativas
desse jovem e entende que a interação com outra cultura é um aspecto bastante
relevante.
O mesmo ocorre com a alteridade, que parece ser um princípio trabalhado
junto ao intercambista também, que se prevê o respeito pelo diferente, alinhando a
questão da tolerância cultural. A igualdade da atividade turística é algo não
praticado, pois a comunidade local é posta em segundo plano, levando em
consideração apenas os anseios do intercambista. Como uma prática baseada em
valores corretos e lícitos, a ética se faz presente na atividade turística da AIESEC. O
princípio da sustentabilidade não é algo aparentemente pensado pela organização,
podemos citar apenas a preparação cultural e o contato do membro AIESEC local
como fatores que influenciam de forma positiva a sustentabilide cultural e social da
atividade turística. A sustentabilidade econômica e ambiental não são contempladas
em nenhuma das falas.
A AIESEC possui instituições parceiras para capacitações, mas não para
ajuda financeira, e todas essas instituições dão suporte direcionado à gestão,
nenhuma organização que trabalhe com foco no impacto social da AIESEC. No que
diz respeito a instituições de fomento aos negócios socais, Carolina (AIESEC)
mostrou maior aproximação com a CHOICE da Artemisia, pois possuem membros
AIESEC vinculados a essas iniciativas também, mas diz não ter relação direta. E
complementa dizendo que não seriam um negócio social, pois não visam o lucro e o
impacto social é muito subjetivo.
Para Carolina (AIESEC), a Associação funciona como uma ONG, ela diz: “nós
somos voltados para a sociedade civil, não governamental, sem interesses
lucrativos”, porém existe um senso comum de mercado que ONG não é profissional
e é assistencialista. Tendo em vista que a AIESEC é gerida por jovens estudantes,
poderiam ter dificuldades de penetração. Legalmente, de acordo com Carolina
(AIESEC), a AIESEC é uma Associação.
112
Caroline (AIESEC) esclarece que a organização é muito plural e pode ser lida
de várias formas, variando o papel da AIESEC em cada cidade. Um exemplo é o
papel da AIESEC India, que possui um programa muito forte, chamado Discovey
India, que consiste em mudar os estereótipos negativos do país, pois na verdade é
um dos países que mais formam mão de obra de tecnologia do mundo, então eles
vendem e melhoram a imagem do país Índia, com um grande papel social em escala
global. Cada AIESEC tem o foco naquilo que a cidade/ país precisa.
A AIESEC pode ser definida como um negócio social, a luz dos autores
escolhidos nesse trabalho, afinal ela supri uma falha do sistema educacional e uma
necessidade local, alinhando a proposta da organização com as demandas do local
que está inserida (como o caso da Índia) e procura causar impacto social de longo
prazo na sociedade (ALTER, 2007), ainda que a organização julgue que esse
impacto seja subjetivo e difícil de medir. Segundo Austin et al (2006), esse desafio
não seria exclusividade da AIESEC, pois medir impacto social envolve mexer com
informações intangíveis e bem qualitativas. E ainda que não vise o lucro, possui
autossutentabilidade financeira (YUNUS, 2014) e, sobretudo, com disciplina
financeira típica do setor privado (ALTER, 2007), operando como um negócio
(SEBRAE, 2013). Apresenta também intencionalidade em gerar impacto social.
Deixando a desejar apenas no que tange a dimensão da responsabilidade e da
participação da comunidade local na tomada de decisão da organização, apesar de
enfatizar que a comunicação é constante com as organizações (COMINI et al, 2012).
O modelo de atuação da AIESEC, baseado em Alter (2007), seria o de
ligação de mercado, bastante parecido com o da Aoka, porém por se colocar mais
como uma mediadora, facilitando a relação entre as partes, tem um papel mais
distante, cobrando uma taxa por esse serviço, como pode ser visto na figura 41.
113
Figura 41 – Modelo de ligação de mercado da AIESEC Fonte: Elaboração própria
A AIESEC pôde nos monstrar mais uma vez a ideia de se relativizar o impacto
social, e pensar também sobre essa dimensão frente a realidade de cada local, pois
um impacto positivo para a Índia não é o mesmo para o Rio de Janeiro. A
organização AIESEC como um todo consegue ser versátil e se alinhar ao momento
e demandas locais.
114
CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir do referencial teórico encontrado nas áreas do empreendedorismo
social, negócios sociais e turismo, foi possível demonstrar o que todos esses temas
poderiam apresentar em comum e de que forma seria possível analisar a atuação de
organizações que atuam no turismo à luz da perspectiva dos negócios sociais. Após
a discussão com a teoria proposto no primeiro capítulo, no segundo capítulo
iniciamos a análise de duas organizações.
Por meio desse trabalho, foi possível observar que há relação entre a
temática dos negócios sociais e o turismo, sendo evidenciado que o turismo é uma
alternativa bastante eficaz para impactar socialmente as pessoas de forma positiva.
Como foi exposto na análise desse trabalho, existem organizações ativas e
consolidadas no mercado que se alinham a forma de atuação dos negócios sociais
proposto nesse trabalho, sendo ela reconhecida como tal ou não.
Foi relatado também algumas especificidades pertinentes às organizações
turísticas. Uma delas se refere à possibilidade do mercado alvo e o publico alvo
serem dois grupos diferentes, porém simultaneamente caracterizados como
beneficiários da atividade, como o caso da Aoka. Além disso, entendemos que o
impacto social não se restringe apenas à população pobre e marginalizada, fruto das
discussões sobre base da pirâmide, porém, é possível gerar diferentes impactos
sociais, contemplados por diferentes tipos de emporaderamento ao(s) indivíduo(s).
A lógica da definição de empreendedorismo social varia de uma organização
para a outra. Na AIESEC veio primeiro o problema social, depois a alternativa; e na
Aoka foi o inverso, mas esse processo não tira a legitimidade do empreendimento,
que tem seu trabalho baseado nos moldes e princípios do empreendedorismo social.
Dessa forma, podemos perceber que alguns negócios identificam o problema e
criam uma alternativa de negócio para enfrentá-lo, enquanto outros não
necessariamente identificam um problema social, mas uma oportunidade de
mercado, buscando resolver problemas sociais a partir da atividade de negócio
criada pela organização.
A avaliação de desempenho, uma variável proposta por Austin et al (2006)
que pode diferenciar o empreendedorismo social, foi apresentada pelas
115
organizações analisadas como uma dimensão mais difícil de ser trabalhada,
tornando a compreensão dessa variável mais confusa na práticas de negócios
sociais que atuam no turismo.
No caso da Aoka, podemos observar, em seu site e no facebook, o uso da
nomenclatura negócios sociais, mas na entrevista a organização se identificou como
um negócio de impacto social, muito provavelmente porque é vinculada à Artemisia,
instituição que utiliza esse termo. Percebemos, portanto, que o uso da nomenclatura
é muito influenciado pelas instituições que atuam no fomento dessas organizações.
Seria interessante padronizar para se ter uma melhor abrangência, prezando mais
pelo uso de características essenciais à essas organizações, do que por definições
restritivas, a fim de se ter um melhor entendimento sobre o termo e diluir as
confusões teóricas.
Com a análise do caso da AIESEC, constatamos que outros segmentos
turísticos podem aparecer nas práticas de negócios sociais turísticos, como é o caso
do segmento de estudos e intercambio. Sobre a atividade turística da AIESEC,
podemos dizer que a organização quer se firmar tanto como uma plataforma de
desenvolvimento de lideranças, posicionando o intercambio apenas como um meio
para que esse bjetivo seja alcançado que não enxerga a dimensão turismo que está
intrinsicamente arraigada no serviço oferecido pela organização e esquece de
trabalhar/ aplicar os princípios de um impacto social positivo da sua própria
atividade, não se aproximando de forma mais efetiva dos agentes sociais
envolvidos, sem ter o entendimento dos impactos negativos da sua atividade e o que
fazer para minimizá-los. Se a AIESEC assimilasse determinados conceitos poderia
agregar valor ao seu produto, bem como trabalha-lo de forma mais consciente dos
seus impactos positivos e negativos, sabendo de que segmento faz parte, quais
práticas adotam ou poderiam ser adotadas e quais as implicações de tudo isso.
O que se pode depreender é que a AIESEC surgiu com um conceito mais
social, sobre intolerância cultural, mas hoje tem um caráter um pouco mais
mercadológico, ainda que prevaleça os princípios e valores ligados ao impacto social
positivo no mundo, mas seguem a lógica de empresas derivadas do crescimento do
turismo voluntário, no caso do Cidadão Global, que não se preocupa com o outro
lado, a comunidade local, apenas com o intercambista. Por mais que a organização
116
esteja focada no jovem estudante, a comunidade local está intrinsicamente
envolvida na atividade e mereceria alguns cuidados, até para potencializar o
aproveitamento da experiência do estudante, ponto essencial para a AIESEC.
Consideramos nesse trabalho houve um nível maior de dificuldade em análise
a AIESEC, pois se trata de uma organização muito antiga, que já passou por várias
fases e focos gerenciais, dessa forma, ainda que a organização tenha começado
com um determinado propósito, procuramos levar em consideração a situação atual
exposta pela entrevistada. Além disso, a AIESEC não possui entendimento sobre
sua atuação no turismo e apresenta uma dinâmica muito mais complexa,
diversificando produtos (possuem vários programas) e clientes (organizações,
jovens estudantes e membros).
Não ter feito uma pesquisa in locu, de caráter participativo, para que se
pudesse confirmar na prática o que a organização apresenta na entrevista,
especialmente no caso da AIESEC que não tem uma compreensão da sua prática
turística, limitou a problematização da teoria com a prática.
Visto a enorme abrangência de conceitos que permeiam a temática do
empreendedorismo social, o presente trabalho não pôde dar conta de tudo.
Destacamos aqui o conceito de inovação e impacto social, que não foi
problematizado devidamente no referencial teórico, por entendermos que exigiria
uma discussão mais prolongada, que poderia estender e desvirtuar o foco do
trabalho. Além disso, apesar de ter sido falado no referencial sobre a atuação do
empreendedor social, optou-se por não utilizar essa dimensão para a análise das
organizações escolhidas.
Nesse trabalho não foi possível observar organizações alinhadas com o
turismo social que pudesse demonstrar a possível relação desse segmento com a
temática do empreendedorismo social. Futuras abordagens ao tema dos negócios
sociais com o turismo podem melhor explorar esse e outros segmento e práticas que
possam estar contempladas nos negócios sociais. Além disso, uma análise mais em
profundidade, que explore outras fontes de informação, como funcionários das
empresas e os beneficiários da atividade, e vivencie uma experiência proposta por
essas organizações, é o ideal para se ter um resultado mais completo.
117
REFERÊNCIAS
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126
APENDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA
1 Fale sobre a ideia inicial no momento de criação da empresa. Como e por que surgiu a ideia do negócio? Foi idetificado alguma situação específica que motivasse a criação da organização?
2 Como você descreveria o objetivo principal da sua empresa?
3 Esse OBJETIVO PRINCIPAL está baseado na....
Maximização dos lucros
Maximização do impacto social
Outro Qual?
4 No que diz respeito aos OBJETIVOS SOCIAIS E AMBIENTAIS X OBJETIVOS ECONÔMICOS, podemos dizer que:
Os objetivos sociais e ambientais representam mais que 50%
Os objetivos sociais e ambientais representam menos que 50%
Os objetivos sociais e ambientais estão em total equilíbrio com os objetivos econômicos
Outro Qual?
5 A MISSÃO da empresa está baseada...
Predominantemente no impacto social
No impacto social e na geração de dividendos como um mesmo peso
Predominantemente na geração de dividendos
Outro Qual?
6 Qual foi a oportunidade de negócio encontrada pela a empresa para se estabelecer no mercado?
127
7 Quanto ao IMPACTO SOCIAL que a sua empresa promove:
7.1 O que você poderia destacar?
7.2 Quem é diretamente beneficiado por esse impacto?
7.3 Como você poderia descrever os benefícios que essas pessoas ganham com a atividade da empresa?
8 Que tipos de produtos/ serviços sua empresa oferece/ comercializa?
9 Quem é o cliente/ consumidor dos produtos e serviços oferecidos pela a empresa?
10 Como a empresa mede seu desempenho? Quais seriam as variáveis que a empresa poderia dizer que leva em consideração para estabelecer informações de desempenho?
11 Como sua empresa é legalmente estruturada? (ONG, Direito Privado, LTDA...)
12 Financeiramente....
Sua empresa é autossustentável
Sua empresa utiliza recursos híbridos, renda própria e doações
A empresa utiliza apenas doações
Outro Qual?
13 Quanto à distribuição de lucros:
A empresa permite a distribuição entre os acionistas
A empresa reinveste todo o lucro nela própria
Outro Qual?
14 Quais as fontes de recurso financeiro são utilizadas pela sua empresa?
15 A organização possui um plano de negócios (metas e estratégias de médio e longo prazo)?
Sim
128
Não
16 Além da comercialização de serviços/ roteiros, existem outras formas de geração de renda?
Sim
Não
Se sim, Qual?
17 Como funciona, de forma resumida, o processo de montagem do pacote, comercialização, entrega e execução do serviço? (levando em consideração a comunidade local e o turista)
18 De que forma a empresa gera renda própria?
19 A organização usa alguma das fontes de recurso abaixo?
Capital de risco
Microcrédito
Capital semente
Doações
Crowdfunding
Empréstimo
Fundo não restituível
Outro Qual?
Se não, já usaram alguma vez? Qual?
20 Com relação às atividades de negócio da empresa (produtos e serviços comercializados) e os programas sociais desenvolvidos (impacto social gerado pela a empresa), podemos dizer que:
As atividades de negócio produzem diretamente impacto social, dessa forma, podemos afirmar que as atividades de negócio e os programas socais são a mesma coisa
As atividades de negócios são conectadas com os programas sociais, mas não é a mesma coisa
129
As atividades de negócios financiam os programas sociais, sendo duas coisas separadas
Outro Qual?
21 Quanto à mobilização de recurso HUMANO...
21.1 Quais os desafios enfrentados pela empresa?
21.2 E quais as facilidades?
22 Quanto à mobilização do recurso FINANCEIRO...
22.1 Quais os desafios enfrentados pela empresa?
22.2 E quais as facilidades?
23 No que diz respeito à atividade turística, quais os princípios e valores você poderia destacar como relevantes para a empresa?
24 A empresa enxerga algum impacto negativo provocado pelo produto/ serviço oferecido pela a empresa?
Sim
Não
Se SIM, Qual?
24.1 A empresa possui alguma iniciativa para minimizar esse impacto?
Sim
Não
Se SIM, Qual?
25 Que tipo de experiência turística a empresa objetiva promover para o turista e para a comunidade local? (leve em consideração aspectos culturais, sociais, ambientais e econômicos)
26 A empresa se vê atuando em algum segmento turístico específico?
130
Sim
Não
Se SIM, Qual?
27 A empresa identifica que a comunidade local envolvida está satisfeita? De que forma se dá o relacionamento com as comunidades envolvidas? Fale um pouco sobre essa relação.
28 Quanto aos processos de tomada de decisão (desenvolvimento de algum produto turístico, por exemplo), podemos dizer que:
É decidido apenas entre a diretoria executiva da empresa
É decidido entre a diretoria executiva da empresa e a comunidade diretamente envolvida na atividade
É decidido entre a diretoria executiva e os demais membros da empresa
É decidido entre todos os agentes envolvidos (a diretoria executiva, demais membros da empresa e a comunidade local)
Outro Qual?
29 Quais tipos de benefícios a empresa poderia destacar que são trazidos para a comunidade local em diferentes dimensões?
29.1 E para os turistas?
30 A empresa atualmente possui vínculo com alguma instituição de fomento/ financiadora? (SEBRAE, ARTEMISIA, ASHOKA, VIRUE VENTURE...)
Sim
Não
Se SIM, Qual?
31 Você já ouviu falar no termo “negócios sociais” (ou termos correlatos, como negócios de impacto social, negócios inclusivos, empresas social....)?
Sim
Não
Se SIM, o que é um negócio social para você?
131
32 Você considera sua empresa um negócio desse tipo?
Sim
Não
Outro Qual?
32.1 Se NÃO, Por que?
32.1 Se SIM, Qual nomenclatura a empresa utiliza para se autodenominar?
Negócio social
Negócio de impacto social
Negócio Inclusivo
Empresa social
Outro Qual?
33 O que você gostaria de dizer que não foi perguntado? O que você gostaria de acrescentar? Há ações que você gostaria de ressaltar?