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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE ARTES CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS JUCENILDO BOMFIM SOARES O ELO SOCIOCULTURAL E ECONÔMICO DAS ESCULTURAS DO ARTISTA PLÁSTICO “ÍNDIO” NO RIO GRANDE DO NORTE NATAL-RN 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE ARTES

CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS

JUCENILDO BOMFIM SOARES

O ELO SOCIOCULTURAL E ECONÔMICO DAS ESCULTURAS DO

ARTISTA PLÁSTICO “ÍNDIO” NO RIO GRANDE DO NORTE

NATAL-RN

2016

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE ARTES

CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS

JUCENILDO BOMFIM SOARES

O ELO SOCIOCULTURAL E ECONÔMICO DAS ESCULTURAS DO

ARTISTA PLÁSTICO “ÍNDIO” NO RIO GRANDE DO NORTE

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao

Curso de Licenciatura em Artes Visuais da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como

requisito para obtenção do título de Licenciatura em

Artes Visuais, sob a orientação da Profa. Dr.ª Laurita

Ricardo Sales

NATAL-RN

2016

LISTA DE FIGURAS

FIGURA PÁG.

Figura 01: Sapata do Golfinho da rotatória de Tabatinga .............................................................

16

Figura 02: Esqueleto do Golfinho da rotatória de Tabatinga.........................................................

17

Figura 03: Enchimento do Golfinho da rotatória de Tabatinga.....................................................

17

Figura 04: Escultura crua do Golfinho da rotatória de Tabatinga em finalização.........................

18

Figura 05: Golfinho na rotatória de Tabatinga finalizado..............................................................

18

Figura 06: Mapas das obras no Litoral...........................................................................................

21

Figura 07: Escultura do polvo no aquário Natal, na praia da Redinha em Extremoz....................

22

Figura 08: Restaurante Camarão do Olavo....................................................................................

23

Figura 09: Águia Serv Club...........................................................................................................

24

Figura 10: Polvo chafariz no Pontal parque, na praia de Camurupim, em Nísia Floresta.............

25

Figura 11: Restaurante Cantinho do Caranguejo...........................................................................

25

Figura 12 – Mapa das obras no interior..........................................................................................

26

Figura 13 Carro de boi na Entrada de São José de Mipibu............................................................

27

Figura 14: Papa João Paulo II........................................................................................................

27

Figura 15: Reis Magos em Brejinho..............................................................................................

28

Figura 16: São Bento na Entrada da Cidade de Passagem.............................................................

29

Figura 17: Santa Luzia...................................................................................................................

29

Figura 18: Frei Damião..................................................................................................................

30

Figura 19: Exposição das obras do Artista Índio na Escola M. Alberto Carvalho de Araújo........

35

Figura 20: Exposição das obras do Artista Índio na Escola M. Alberto Carvalho de Araújo........

35

Figura 21: Exposição das obras do Artista Índio na Escola M. Alberto Carvalho de Araújo........

36

Gráfico 01 – O Sr.(a) observa alguma obra de arte neste espaço visitado, ou seu entorno?....... 38

Gráfico 02 – No caso específico da escolha do local em questão, o que motivou sua decisão? 39

Gráfico 03 - O que o Sr.(a) absorve desta escultura enquanto obra de arte? Ela lhe provoca

algum tipo de sentimento?..............................................................................................................

39

Gráfico 04 - No caso específico desse local, o que despertou seu interesse foi?........................... 40

Gráfico 05 - Qual a importância dos elementos artísticos na decisão de sua escolha pelo local?. 40

Gráfico 06 - O Sr.(a) acredita que esses elementos artísticos dispostos nesse local contribuem

para atração de pessoas?.................................................................................................................

41

Gráfico 07 - O território potiguar apresenta inúmeras esculturas em diversificados locais com

usos distintos. Consegue lembrar-se de alguma delas?..................................................................

42

Gráfico 08 - Consegue encontrar entre esta e outras obras no território potiguar, algo de

singular que remeta a identificação deste artista............................................................................

43

Sumário

RESUMO.................................................................................................................... 4

RESUMEN................................................................................................................. 5

1 INTRODUÇÃO....................................................................................................... 6

2JUSTIFICATIVA..................................................................................................... 8

3 A ARTE, O ARTISTA E SUAS RELAÇÕES SOCIAIS....................................... 9

3.1 O turismo enquanto consumidor da arte: inter-relações e dependência......... 13

3.2 O artista Índio e o seu contexto sociocultural............................................ 13

3.3 O método de produção do artista e sua clientela........................................ 15

3.3.1 Clientela………………………………………………………………… 19

4 LEVANTAMENTO DAS OBRAS DO ARTISTA................................................ 20

4.1 Esculturas no Litoral Potiguar……………………………………………….. 21

4.2 Esculturas nas cidades do interior..................................................................... 26

5 METODOLOGIA………………………………………………………………… 32

6 ATIVIDADE PEDAGÓGICA…………………………………………………… 34

6.1 Relatório do projeto pedagógico……………………………………………… 34

7 LEVANTAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS................................................... 37

7.1 Pesquisa com pessoas no entorno das obras...................................................... 37

7.2 Análise dos resultados....................................................................................... 43

8 CONCLUSÃO......................................................................................................... 45

9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................... 46

ANEXOS.................................................................................................................... 47

LISTA DE FIGURAS................................................................................................. 48

LISTA DE GRÁFICOS.............................................................................................. 49

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RESUMO

Este Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) teve como proposta realizar pesquisa sobre a

arte do escultor, Guilherme da Silva Ferreira, conhecido popularmente como “ÍNDIO”,

levantando e analisando suas principais obras. Tais obras, encontram-se, no litoral do

Rio Grande do Norte, entre as praias de Barreta, em Nísia Floresta; e praia da Redinha, em

Extremoz, e entre as cidades de Passagem, Brejinho; Lagoa do Mato, em Monte Alegre e

São José do Mipibu. Trata-se de uma investigação sobre a função sociocultural da arte, da

comunicação visual e o comércio em torno dela . A pesquisa foi realizada a partir de um

questionário aplicado a pessoas que estiveram em contato com a obra do artista:

moradores, turistas nacionais ou estrangeiros, comerciantes e clientes do seu entorno,

contratantes e trabalhadores que participaram do processo de construção com o artista,

totalizando quarenta e quatro pessoas. Para ilustrar e proporcionar uma leitura de imagens,

optou-se pela fotografia em três dimensões (frente, lateral e costas). vinte delas serão

expostas durante a apresentação deste trabalho e, em seguida doadas ao museu da cidade

de Nísia Floresta, possibilitando a todos o contato visuais com a arte escultórica do artista

e as características socioculturais que influenciam ou destacam suas obras, no contexto

potiguar.

Palavras-chave: Escultura; Arte; Artista Índio.

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RESUMEN

Este Trabajo de Conclusión de Curso (TCC) tuvo la investigación de la conducta propuesta en

el arte del escultor, Guilherme Ferreira da Silva, conocido popularmente como "Índio", la

crianza y el análisis de sus obras más importantes. Dichas obras se encuentran en el Estado de

Rio Grande do Norte, entre las playas de Barreta en Nísia Floresta y Redinha, playa en

Extremoz, además de las ciudades de Passagem, Brejinho; Lagoa do Mato, en Monte Alegre y

São José do Mipibu. Se trata de una investigación sobre la función sociocultural del arte, la

comunicación visual y el comercio alrededor de ella. La encuesta fue realizada a partir de un

cuestionario administrado a personas que estaban en contacto con la obra del artista:

residentes, turistas nacionales y extranjeros, comerciantes y clientes de su entorno, los

contratistas y los trabajadores que participaron en el proceso de construcción con el artista,

totalizando cuarenta e cuatro personas. Para ilustrar y proporcionar una lectura de imágenes,

se decidió fotografiar en tres dimensiones (frontal, lateral y posterior). Veinte de ellos fueron

expuestos durante la presentación de este trabajo y luego se donó al museo de la ciudad de

Nísia Floresta, permitiendo que todo el contacto visual con el arte escultórico de la artista y

las características socio-culturales que influyen o destacar sus trabajos en el contexto

Potiguar.

Palabras clave: Escultura; Arte; Artista Índio.

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1 INTRODUÇÃO

Considerando o artista criador, produtor e sujeito de sua arte, num determinado

espaço/tempo e, ao mesmo tempo, sujeito capaz de organizar uma linguagem própria, afetado

pelo contexto histórico cultural em que se insere, o tema pesquisado enquadra as relações

sociais e econômicas em que o artista situa-se no seu processo de formação artística e atuação

profissional.

Ao refletir sobre as interações sociais em que o artista se insere, buscamos direcionar

o foco às implicações ou confluências entre a funcionalidade sociocultural e comercial nas

esculturas do artista Índio no interior e no litoral do RN. Como ponto relevante, temos as

características de usos e formas em que suas peças de porte médio, grande e gigantesco são

destinadas comercialmente, apreciadas e crescentemente popularizadas pelos potiguares e

visitantes atraídos pelas belezas naturais do nosso estado.

A apreciação desses elementos, nos espaços públicos ou privados, sugere diversas

possibilidades do uso das artes escultóricas, e o rico repertório plástico do imaginário do

artista como objeto decorativo de potencial atração cultural, em benefício do contexto em que

está inserido, atraindo a atenção dos transeuntes. Suas obras refletem também questões sociais

de diversas ordens, abrindo um vetor significativo para uma discussão sobre o processo de

produção do artista e de suas implicações sociais, econômicas e culturais nos usos e formas de

suas esculturas frente às demandas, seja a fé religiosa, seja o mercado de turismo e do

entretenimento tropical.

A possibilidade de poder contribuir para tais reflexões a partir dessa investigação

exploratória do trabalho do artista plástico em estudo, também sinaliza o reconhecimento do

artista enquanto profissional e trabalhador, que não apenas é afetado pelo meio, mas é

também, capaz de ser um agente de transformação social, cultural e de instauração de ação

artística e estética. O registro do legado das obras escultóricas do artista Índio incita uma

atenção especial para as referências culturais e ambientais que o artista local recebe,

simultaneamente, ou seja, como esses profissionais marcam suas trajetórias e lidam com as

condições políticas, sociais e comerciais que afetam seus processos de criação e produção

artística.

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Desse modo, o trabalho ora apresentado traz como questão a seguinte pergunta:

como o elo sociocultural se estabelece nas obras do artista plástico Índio e qual o papel que o

poder econômico exerce sobre a produção destas artes e no imaginário do artista?

Ainda seguindo essa linha de pesquisa, tem-se como objetivo geral buscar direcionar

o foco às implicações ou confluências entre a funcionalidade sociocultural e comercial nas

esculturas do artista Índio no litoral e interior do RN. Os objetivos específicos são: catalogar

algumas das principais esculturas do artista e como elas expressam as influências

socioculturais regionais; Analisar como se estabelece o elo sociocultural e econômico nos

processos de criação e produção, bem como nos usos e fins das esculturas do artista; Traçar

um perfil do artista Índio e as referências artísticas que o influenciaram nas suas produções

plásticas;

Sendo assim, este trabalho também se propõe a discutir a importância das Artes

Visuais no cotidiano potiguar e o processo de criação do artista estudado, bem como o

planejamento das obras e seus usos em função dos segmentos que o expõem no RN, e ainda a

influência destes fatores sociais, na vida e na obra do artista local.

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2 JUSTIFICATIVA

O tema é extremamente instigante, tendo em vista a possibilidade de apresentar um

novo olhar sobre a importância da arte potiguar enquanto atividade sociocultural,

representante de seu tempo e de seu contexto social. Isso também significa levantar pontos de

vista acadêmicos, críticos e reflexivos em torno da produção da arte escultórica do RN e

direcionar os olhares para seus atores, criadores e investidores; levando em conta, sobretudo,

que o tema ainda é pouco estudado pela academia e que, este viabiliza a construção de novos

conhecimentos a respeito dos artistas potiguares e de suas condições sociais de produção no

RN, bem como os desafios e influências que vivenciam no desenvolvimento e permanência de

suas práticas em suas produções artísticas.

No tocante ao nosso sujeito, o artista Índio, é possível afirmar que foi um desafio

necessário e relevante, por estar relacionado a um campo pessoal que dialoga diretamente

com a minha atuação como artista nordestino, inserido no contexto potiguar há vinte e dois

anos; inspirou-me e estimulou-me como pesquisador em Artes Visuais, remetendo, também, a

uma realização compartilhada do trabalho em construção, uma vez que o objeto de estudo está

inserido no meu cotidiano de artista plástico. Isso me levou a compreender, numa perspectiva

sócio-histórica, as implicações da vida e da obra do artista, frente às demandas econômicas e

sociais de seu tempo.

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3 A ARTE, O ARTISTA E SUAS RELAÇÕES SOCIAIS

A vida do homem em sociedade é vista por Vygotsky (2003a; 2003b) como algo

construído a partir de interações com o outro e o meio, em que o sujeito, nessas relações com

a cultura, vai historicamente apreendendo e se apropriando das práticas sociais e

reconstruindo continuamente suas percepções pessoais de mundo. Seus modos de expressar

suas ideias e conceitos vão sendo afetadas nessas relações, ao passo que ele também as

reconstrói de modo singular, criando suas próprias interpretações e concepções do seu

entorno, a afetação do artista se dá de forma paulatina, na troca de experiências entre o

contratante, pesquisa e seu imaginário baseado na sua ambiência cultural, que só enriquece a

cada novo trabalho, assim, o artista vai desenvolvendo suas formas de expressão dentro desse

contexto, numa relação dialética entre o seu meio sociocultural e suas respostas pessoais,

sendo afetado por ele, mas também promovendo mudanças e transformações.

Essas trocas de saberes e fazeres do indivíduo com o meio cultural vai reverberar nos

seus modos de significar e produzir arte, não meramente de forma passiva, mas através de

interações. Ou seja, o artista é sujeito de sua expressão e representação: essa autonomia

expressiva e criativa recebe o viés de uma coletividade social e cultural do seu ambiente, mas

sua arte pode reelaborar conceitos estéticos, romper padrões, transgredir códigos

predominantes ou, simplesmente, reproduzi-los condicionados aos interesses de mercado.

Sendo assim, o papel que o contexto social e econômico exerce sobre a produção de

arte é estabelecido em uma relação interpessoal e intrapessoal, visto que a interpretação dos

fatores do meio é internalizada a partir das percepções próprias do indivíduo. As formas de

significação e os usos das produções artísticas são compartilhados entre os sujeitos nas

interações sociais, mas reconstruídas segundo os processos internos de cada um,

transformando seus modos de pensar e agir.

Seguindo o pensamento de Gombrich (2012), os usos das imagens, ao longo do

percurso da História da Arte, revelam suas mudanças, transformações e reformulações de

sentidos e significados. Isso porque, os artistas, nas suas interações sociais, são afetados pelo

meio e podem adotar ou enfrentar essas influências utilizando suas habilidades técnicas,

criatividade e sensibilidade, em prol da sobrevivência e de sua carreira profissional.

Para esse autor, a afetação do artista se dar de forma paulatina, na troca de

experiências entre o contratante, pesquisa e seu imaginário baseado na sua ambiência cultural,

cuja tendência de uma forma estética segue e/ou serve a uma determinada função social,

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articulada com as relações de demandas comerciais de seu tempo e contexto cultural. Essa

abordagem sociológica de Gombrich (2012), é muito abrangente e sinaliza uma herança

cultural constituída de aspectos sociais diversificados nas esferas políticas, religiosas e

psicológicas das sociedades, bem como as funções que eles delegam às imagens ou designam

a seus formatos e aparências.

Assim, a tendência de uma forma estética segue e/ou serve a uma determinada

função social, articulada com as relações de demandas comerciais de seu tempo e contexto

cultural. Essa abordagem sociológica do autor é muito abrangente e sinaliza uma herança

cultural constituída de aspectos sociais diversificados nas esferas políticas, religiosas e

psicológicas das sociedades, bem como as funções que eles delegam às imagens ou designam

a seus formatos e aparências.

A demanda – especialmente dos serviços nos segmentos gastronômicos e de hotelaria

– favorece o investimento dos empresários desses ramos ligados ao turismo na contratação do

trabalho do escultor. O comércio crescente de veranistas do RN e de turistas do mundo inteiro

à procura das belezas naturais do nosso estado foram alguns dos fatores relacionados à criação

de cenários escultóricos em parques aquáticos, imagens religiosas em santuários para

romarias, às enormes esculturas de caranguejos e camarões (dentre outras) do artista. Tais

usos e formas de suas produções feitas com cimento armado, ferragens e concreto direcionam

os olhares ao ambiente e a determinado produto para consumo, por meio da beleza e

admiração dessas representações simbólicas da natureza ou da cultura local.

Esse olhar sócio-histórico enquadra o artista e sua obra a partir de relações

intimamente ligadas com o contexto cultural, tendo em vista, que o homem em sociedade, vai

historicamente apreendendo e se apropriando das práticas sociais e reconstruindo

continuamente suas percepções pessoais de mundo (VYGOTSKY, 2003a; 2003b). Isso

significa, que seus modos de expressar suas ideias e conceitos vão sendo afetadas nessas

relações, ao passo que ele também as reconstrói de modo singular, criando suas próprias

interpretações e concepções do seu em torno.

A abordagem histórico-cultural – em especial os estudos de Vygotsky (2003a, 2003b)

– possibilita um entendimento do artista como sujeito cultural e trabalhador, dialeticamente

imerso num determinado contexto social e econômico, cujas interações sociais exercem

influências nas suas ações profissionais.

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Por outro lado, esse indivíduo também é visto como promotor de mudanças e

transformações sociais nesse contexto, na medida em que reformula continuamente seus

modos de pensar, sentir e produzir sua arte, para atender tanto à sua realização profissional

como às demandas do mercado, e, por fim, suas necessidades de sustento.

Nesse sentido, as Artes Visuais são concebidas como um processo de (re) construção

visual do artista, estando este vinculado às interações sociais e aos conceitos de sua cultura,

que afetam seus conhecimentos e o papel de sua produção artística no contexto social. As

ideias e soluções visuais encontradas pelo sujeito expressam sentidos e significados que

configuram sua interlocução com o mundo, como também suas respostas aos interesses

sociais e de mercado, que podem se mostrar em conflitos ou em ajustes constantes de

negociações.

Alicerçados no olhar sócio-histórico de Vigotsky (2003a; 2003b) podemos

claramente dialogar com Luria (1988), o qual fundamentou seus estudos sobre a formação

humana e a cultura na mesma linha de raciocínio, visto que discute as diferenças culturais de

pensamento que se manifestam nas interações sociais. Para esse autor, a coletividade expressa

uma diversidade de conceitos sobre um mesmo objeto social, embora se trate de um mesmo

contexto cultural.

A respeito da relação da produção de arte e o contexto cultural, Trigo (2006, p.32)

enfatiza que nessa "(...) contemporaneidade, toda a arte é de alguma forma determinada pelo

contexto social, cultural e histórico que a circunscreve". O autor acrescenta que nem sempre

essa influência ocorre no mal sentido, que a produção artística, mesmo tendo uma relação

direta com a ordem mundial de economia neoliberal, pode transcender em manifestações

positivas seus valores culturais. Esse autor ainda enfatiza que o senso crítico do artista é fator

relevante nessa conjuntura de tendência material e mercadológica, capaz de promover

mudanças nesse cenário de crise conceitual entre funções e usos da produção artística.

Conforme já foi dito, enquanto sujeito cultural, o artista experimenta e desenvolve

seus próprios valores estéticos e profissionais, mas estes não estão imunes às influências do

seu meio e das suas interações sociais e econômicas. Estas interações afetam suas percepções

de formas imprevisíveis. Não se trata de uma passividade e/ou mera absolvição de modelos e

técnicas, mas de negociações coletivas e reelaborações pessoais. Ou seja, relações

interpessoais e intrapessoais.

Smiers (2006) é outro autor com o qual estenderemos esses diálogos com a

abordagem sociocultural, enfatizando o artista como trabalhador, instigado ou "persuadido" a

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uma produtividade associada aos interesses e necessidades de um determinado segmento de

mercado.

A partir da perspectiva de um artista, podemos concordar com Smiers (2006), ao

afirmar que essa categoria de profissionais vem mostrando mais autonomia perante as

imposições do capitalismo e menos submissão a todos os caprichos particulares dos

empresários, na medida em que reformulam seus resultados de pesquisa na produção de sua

arte e estabelecem ajustes com a comercialização de seus trabalhos artísticos.

Nesse sentido, a comercialização da arte não reduz a sua autenticidade ou a sua

qualidade estética quando o seu autor promove novos olhares aos usos e fins aos quais o seu

trabalho é submetido. Pelo contrário, as possibilidades comerciais de uma obra de arte

costumam conferir maior valor ao trabalho genuíno ao reconhecerem a capacidade criativa do

artista de reformular incessantemente suas formas de produção e de seduzir os interesses do

contratante. E, além disso, sem o autor ter que abrir mão, de sentir-se satisfeito ou

recompensado pelo seu trabalho, impingindo seu traço plástico, baseado nas suas experiências

socioculturais atendendo no final, à sua clientela.

Assim, o artista vai desenvolvendo suas formas de expressão dentro desse contexto,

numa relação dialética entre o seu meio sociocultural e suas respostas pessoais, sendo afetado

por ele, mas também promovendo mudanças e transformações. Essas trocas de saberes e

fazeres do indivíduo com o meio cultural vai reverberar nos seus modos de significar e

produzir arte, não meramente de forma passiva, mas interativa.

O artista é sujeito de sua expressão e representação: essa autonomia expressiva e

criativa recebe o viés de uma coletividade social e cultural do seu ambiente, mas sua arte pode

reelaborar conceitos estéticos, romper padrões, transgredir códigos predominantes ou,

simplesmente, reproduzi-los condicionalmente aos interesses de mercado.

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3.1 O turismo enquanto consumidor da arte: inter-relações e dependência

O turismo é uma combinação complexa de inter-relacionamento entre produção e serviços,

em cuja composição integram-se uma prática social com base cultural, com herança histórica,

a um meio ambiente diverso, cartografia natural, relações sociais de hospitalidade, troca de

informações interculturais. (Moesch, 2002,p. 9). Esta relação intrínseca demostra que mesmo

o pequeno deslocamento de uma cidade para outra seja da capital para o interior ou vice

verso, em busca da imagem do seu padroeiro para pagar uma promessa, ou uma visita a um

restaurante do litoral para consumir um caranguejo e postar uma fotografia nas redes sociais

diante a escultura deste crustáceo gigante em forma de escultura, faz surgir uma relação de

serviços e consumo que é peculiar em maior esfera em grandes cidades turísticas do Brasil, ou

em qualquer outro pais do mundo, assim como a presença do turista atraído pelas belezas

naturais faz despertar nos empreendedores locais a instalações de atrativos visuais artísticos,

que junto a esta beleza natural vai influenciar a escolha, permanência, retorno e divulgação

deste espaço comercial.

3 2 O artista Índio e o seu contexto sociocultural

Guilherme da Silva Ferreira nasceu no dia 23/02/1979 na cidade de Nísia Floresta,

filho de Nair Marinho da Silva e de Emanuel da Silva Ferreira. É casado, tem 03 (três) filhos,

mora na Rua Nossa Senhora de Fatima, número 240, no bairro Monte Hermínio, na cidade de

Nísia Floresta desde o ano que nasceu. Estudou até a 7ª serie do ensino fundamental na

Escola1 Estadual Nísia Floresta. Aos seis anos de idade, deu os primeiros passos para sua

carreira de escultor recolhendo, na rua em que morava, pedaços de argila que se desprendiam

dos pneus dos caminhões que por ali passava todos os dias vindo das olarias de cerâmicas

onde se fabricavam telhas e tijolos. A argila foi a sua primeira matéria prima do que seria no

futuro a sua profissão. Modelando este barro ele brincava e era incentivado pelos amigos para

os quais confeccionava pequenas peças de brinquedos.

1 Estes dados biográficos foram colhidos pelo autor deste trabalho em forma de áudio gravado no dia 15 de

outubro de 2015 no condomínio “Rivieras de Búzios” e em entrevista no dia 22 de março em Barra de

Tabatinga.

14

Na escola, teve pouco contato com atividades artísticas e não se recorda de ter visto

nada que lhe sirva como referência para o trabalho que desenvolve hoje. O passo seguinte foi

confeccionando esculturas de areia, entre os 9 e 17 anos de idade, nas praias de Camurupim,

Búzios, Lagoa de Arituba e lagoa do Bomfim em Nísia Floresta.

Quando acompanhava sua família em passeios de finais de semana, surgiram as

primeiras propostas de confeccionar escultura para algumas das pessoas que o viam fazendo

seu trabalho nas areias das praias. A habilidade artística do garoto foi percebida pelos turistas

e isto lhe rendia algumas gorjetas, o que lhe fez perceber que ali poderia estar a sua profissão.

Aos 17 anos consegue emprego na fabrica de cerâmica “leão do norte, onde durante

6 meses aprimora sua habilidade na modelagem de animais e personagens de argila para

decoração de casas e jardins sob orientação da ceramista e proprietária Marta Jobs Porfirio, a

qual lhe serviu como sua primeira referência.

Aos 18 anos, resolve assumir suas próprias obras, e passa a aceitar convites para sair

da cidade e fica temporadas fazendo pequenas esculturas de argila e abrindo letras. Ao

perceber suas esculturas de argila se deteriorarem por falta do forno, resolve fazer um teste,

produzindo-as com cimento e concreto. Sua primeira escultura nessa qualidade foi um “Cristo

crucificado”, medindo 2x2m, para uma residência do Bairro Morro Branco em Natal, no ano

de 1997.

Nessa oportunidade, ele conhece e acompanha por alguns dias o artista “Zaia”,

escultor paraibano, que ficou muito conhecido no Brasil por modelar em argila bustos de 50

cm em 30 minutos, na sequência conhece também o artista plástico escultor Potiguar “Jordão”

pelo qual tinha muita admiração e apreço pelos seus trabalhos. Com este último manteve

pouco contato durante a execução da escultura de uma sereia em um posto de gasolina

(atualmente desativado) na praia barra de Tabatinga e isto foi o suficiente para o

desenvolvimento de sua técnica de construção de esculturas com a introdução das ferragens

para a sustentação.

Em seguida, recebe a sua primeira grande encomenda, “o parque dos tubarões” de

tabatinga em Nísia Floresta onde passou dois anos e confeccionando e usando estas

construções como laboratório para as que se sucediam, assim ele construiu mais de 20

esculturas, despertando o interesse de outro parque aquático que surgia um km à frente.

“Pontal de Camurupim” na mesma cidade, (hoje chamado Serv club), com mais de 30

esculturas entre os anos de 1997 e 1999.

15

A partir daí, surge uma sequencia interminável de encomendas, estimada pelo

próprio artista em mais de 500 obras, nas quais ele utiliza uma variedade de elementos:

ferragens, arames e telas aramadas, cimento, areia, concreto, pedras, tijolos e tintas, e, em

raríssimas exceções, fibra, vidros e acrílicos.

3.3 O método de produção do artista e sua clientela

O processo de evolução das esculturas do artista “ÍNDIO” pode se comparar a própria

evolução das formas escultóricas mais primitivas da história. Quando ele começa a

confeccionar com barro lá na infância já encontra os primeiros obstáculos para manter de pé

suas modelagens mais alongadas, obrigado a se limitar a confecção de peças com bases

horizontais de peso maior que na altura, dando as suas peças uma forma piramidal e foi a

partir dos doze anos nas areias das praias que surge suas inquietações sobre como sustentar as

elevações das suas sereias de areia ? Com gravetos recolhidos ali mesmo na beira da praia, ele

deu o seu primeiro passo na construção das estruturas e com bananas maduras a liga para esta

massa ser condensada, porém estas perguntas só serão de fato respondidas quando na

companhia dos escultores “Zaia” e “Jordão” o artista Guilherme Ferreira teve a oportunidade

de os ver trabalhando e fazendo usos de ligas para argilas e ferragens para argamassa.

Deixando claro que suas referências auto didáticas, tem origem na cultura popular pois ambos

tiveram sua formação profissional observando outros artistas populares executando seus

ofícios. Dependendo da forma da peça e do seu tamanho, o trabalho do artista plástico Índio

pode começar pela construção de paredes de alvenaria (se não existir base alguma) para

enchimentos e aplicações de ferragens em pequenos volumes.

Em esculturas tridimensionais de baixo relevo o autor pode iniciar pelo esqueleto de

ferragens e telas aramadas, ou ainda, para esculturas gigantes a partir da fundação para

sustentação da base, que tem profundidade e largura baseadas nas dimensões da obra. Ao

longo dos últimos quinze anos de atividade escultóricas o nosso ator experimentou

gradativamente as mais diversas formas de elevação dos tamanhos das suas esculturas,

partindo da elevação dos pedestais ate o gigantismo das imagens e cada uma delas serviu de

laboratório para a elaboração do próximo projeto, sempre na expectativa de se superar. Seu

16

repertório imagético para obras do litoral está sempre ligado às lendas e contos que ouvia de

seus parentes e amigos, mais sempre buscando apoio em revistas, fotografias ou miniaturas

trazidas pelos contratantes do serviço, assim como no interior ele busca seu repertório no

imaginário popular da cidade ou ainda nas informações históricas fornecidas pelo

interessados no seu trabalho, se apoiando muitas vezes em miniaturas e pesquisas imagéticas.

Figura 01: Sapata do Golfinho da rotatória de Tabatinga

Foto: Jô Bomfim, 2014

O início da construção dessa escultura aconteceu de forma simultânea, enquanto um

grupo com 2 (dois) armadores juntos ao artista cortavam e soldavam o que seria o esqueleto

do golfinho; outro grupo, formado por um mestre de obra, um pedreiro e dois ajudantes,

dava início à escavação da sapata (ou fundação) que é a base de sustentação do peso da obra,

para nos dias seguintes, receber o esqueleto do golfinho.

Um emaranhado de ferragens com formas cônicas, curvas e cilíndricas já começava a

sinalizar que se tratava de um peixe, porém, ali já tínhamos uma obra de arte contemporânea.

Após a colocação do esqueleto na sapata da fundação, um trabalho de empacotamento com

telas de arame, geralmente, usadas para criação de animais deu ao golfinho sua forma final

em arames e ferragens.

A partir da base da escultura, uma fase de sequências de argamassa intercalados pelo

tempo de secagem necessário para que a primeira possa receber a segunda e , assim por

diante, até preencher todo este esqueleto por dentro para, a seguir, revestir toda obra com

17

uma segunda camada por fora;e só ao final são realizados os detalhes de escavações dando, à

escultura, sua forma final.

Figura 02: Esqueleto do Golfinho da rotatória de Tabatinga

Foto: Jô Bomfim, 2014

Figura 03: Enchimento do Golfinho da rotatória de Tabatinga

Foto: Jô Bomfim, 2014

Na sequência, o autor e seus ajudantes formatam a sapata de ferragens onde começam a

erguer o esqueleto da escultura, a seguir colocam a tela de apoio para daí passar a uma

sequência repetida de ações para configurar adequadamente as massas da obra, preenchidas

18

com uma mistura de cimento, areia e água, conforme a figura pretendida; logo mais há um

breve espaço de tempo para escavar as zonas de rebaixo e, assim seguem até o final que pode

levar horas, dias ou meses. Por fim é realizada a pintura.

Figura 04: Escultura crua do Golfinho da rotatória de Tabatinga em finalização

Foto: Jô Bomfim, 2014

Figura 05: Golfinho na rotatória de Tabatinga finalizado

Foto: Jô Bomfim, 2016.

Foto: Jô Bomfim, 2014

19

O golfinho fica situado na rotatória da praia Barra de Tabatinga, em Nísia Floresta;

confeccionada em concreto armado no ano de 2014, mede 6m de altura e tem, como piso em

sua volta, toda uma cenografia, que de forma icônica lembra as ondas do mar em um espaço

circular com 6 metros de raio.

Esta obra faz parte de um grupo de encomendas feitas por prefeitos e administradores

públicos, conjunto que vem crescendo muito pelo efeito decorativo, pelo gigantismo e,

também, pelo fato da sua durabilidade conservar, na memoria do morador e visitante local, o

nome do político que a encomendou.

Clientela:

O fascínio pelo seu trabalho é crescente. Basta uma escultura instalada em um

determinado ponto estratégico, para despertar interesse tantos dos moradores locais, quanto de

empresários da região e turistas. Desde a primeira escultura na beira da Lagoa de Arituba,

nasceu o interesse de comerciantes em tê-las definitivas em um determinado ponto do seu

estabelecimento comercial, com o mesmo objetivo de atrair olhares e, consequentemente,

clientes.

Aqui podemos ver que a ideia do ar livre adquire um significado literal. Pode-se usar

tal presença para guardar os portões ou portas contra quaisquer intrusos, e essa pratica

é tão difundida que pode muito bem ter se originado independentemente em várias

partes do mundo (Gombrich, 2012, pag. 140)

Tal qual os moradores dos arredores com a finalidade de decorar suas residências,

jardins e piscinas, os prefeitos das cidades vizinhas perceberam que seria uma excelente

oportunidade deixar a marca de sua administração embelezando as entradas, praças e jardins

das suas cidades. Muitos deles, apelando para a fé religiosa destes habitantes. Os estudos do

historiador Gombrich, (2012) em “Os usos das imagens, discute sobre a função social que a

arte e a comunicação visual, assumem, direcionadas pelos interesses de ordem social,

econômica e religiosa de sua época”. De modo semelhante, as esculturas do artista Índio,

atraem cada vez mais clientes para o próprio artista que divulga sua obra através da sua

própria arte.

Sua produção se concentra em mais de 60 % nas ruas, praças, entradas de cidades,

bares, pousadas, hotéis, parques, restaurantes e lugares públicos, dando notoriedade ao seu

acervo que pode ser compreendido como um museu a céu aberto.

20

4 LEVANTAMENTO DAS OBRAS DO ARTISTA

As obras do escultor são figurativas e dividem-se em obras públicas e, parte menor,

privada. As obras públicas retratam animais marítimos ou outros, no geral ilustrando a

atividade de seus encomedantes, em sua maior parte no litoral do estado. Também podem

referir-se a imagens sacras, figuras políticas e outras, também de interesse dos clientes, no

geral do interior do estado.

Foram levantadas aproximadamente 130 obras individuais ou em conjuntos, e mais de

500m² de esculturas em baixo relevo. O artista não possui acervo particular e justifica “o meu

tempo não atende à demanda”

Suas obras no litoral costumam serem escultóricas pintadas com cores fortes e

contrastantes, que, sob a luz do sol tropical, tem grande impacto visual, com cores mais

intensas que as obras do interior. Revelam, no entanto, um imaginário fértil e, em seu

conjunto, fazem pensar sobre a natureza em movimento, por sua potência artística, estética e

poética. Certamente, merecem, ainda, vir a ser discutidas à luz das questões de Hans Belting,

enquanto imagens vinculadas a um uso e lugar.

Ao realizar o levantamento das obras de Índio, constatamos que estas podem ser

divididas em dois conjuntos: obras do litoral e obras do interior, seja por suas características

intrínsecas, seja pela localização geográfica.

Nessa perspectiva, a proposta de realizar esta pesquisa, destacou suas principais

obras localizadas em duas áreas especificas: a primeira, no litoral do Rio Grande do Norte, e a

segunda, no interior do estado na Região Agreste, entre as cidades de Passagem, Brejinho,

Lagoa do Mato em Monte Alegre, e São José do Mipibu.

Para ilustrar e proporcionar uma leitura de imagens, optou-se pela fotografia em três

dimensões (frente, lateral e costas). Trinta delas serão expostas durante a apresentação deste

trabalho e, em seguida, doadas ao museu da cidade de Nísia Floresta, tornando possível uma

apreensão de elementos visuais da arte escultórica do artista e de suas obras no contexto

potiguar, ainda que em suporte bidimensional. Também possibilitando um roteiro para o

percurso e visita às obras diretamente.

21

4.1 Esculturas no litoral potiguar

Foram levantados, no litoral potiguar, 92 obras (individuais ou em conjuntos) entre as

praias de Barreta em Nísia Floresta e Redinha em Extremoz, foram catalogadas 21 peças, que

em geral foi encomendada por empresários do ramo da hotelaria e turismo, foram feitos mais

de 300 registros fotográficos deste acervo com equipamentos amadores.

No interior, foram levantadas 36 obras (individuais ou conjuntos) entre as cidades de

São José do Mipibu, Passagem, Monte Alegre, Brejinho, Goianinha e São Gonçalo. Foram

catalogadas 9 peças, que em geral foram encomendadas por pessoas públicas, religiosos e

políticos, foram fitos mais de 100 registros fotográficos deste acervo.

Figura 06: Mapas das obras no Litoral

Fonte : Google Maps,2016

As obras de Índio, no litoral potiguar, apresentam-se com formas bem definidas; os

traços escultóricos neles contidos, são os necessários para atrair e convencer os olhares dos

moradores e visitantes, pelas suas formas convencionais e afirmação do motivo escolhido

(geralmente de interesse do encomendante). As peças são impregnadas de formas e símbolos

cromáticos dos animais retratados para melhor apresentação visual, e evitando ao máximo

texturas sinuosas, côncavas ou convexas para definir seu trabalho tridimensional.

A sua ambiência cultural se reproduz, na prática, em seu imaginário artístico,

deixando para a pintura sobre as esculturas, a tarefa de provocar uma forte impressão visual

através do contraste de sombra e luz, via de regra, com cores primarias muito fortes, puras e

22

vivas. O seu trabalho de pintura é, sem duvida, algo muito peculiar, pois, embora o artista use

do contraste de claro/escuro com as cores para redefinir as curvas e demais profundidades de

suas obras é, neste momento, que também é dado um importante traço para a definição de seu

trabalho.

“O NATURALISMO” (representação de cenas naturais com movimento) das suas

esculturas é o aspecto mais marcante de sua imagética enquanto artista plástico escultor. Por

outro lado, são imagens bastante marcadas por influências de ilustração e referências de

representação visual oriundas da comunicação de massa dos animais. As cores, no entanto,

muitas vezes, não obedecem a uma referência naturalista, mas a determinações decorativas.

Nas obras do litoral, os encomendantes também tem uma característica em comum:

são proprietários de estabelecimentos comerciais ligado ao ramo da hotelaria e turismo,

estimulados a fazer a contratação do serviço do artista, com a finalidade de prontamente

identificar para os transeuntes a natureza dos estabelecimentos e embelezar o seu ponto de

venda e, assim, atrair novos clientes; muitas vezes baseiam-se no que percebem de aumento

do movimento no espaço do seu concorrente, a partir da construção de uma obra escultórica

para fotografias dos turistas, como caranguejos, camarões, lagostas, peixes, sereias,

pescadores e todo o imaginário lendário ou realístico ligado ao mar e seus cenários naturais.

Estas criações geralmente surgem de comum acordo entre o contratante e o artista, ambos

apropriam-se de seus conhecimentos culturais, baseado no objetivo a ser atingido no apelo

visual.

Figura 07: Escultura do polvo no aquário Natal, na praia da Redinha em Extremoz.

Foto: Jô Bomfim, 2016.

23

Escultura feita em concreto armado, construída no ano de 2013, mede 12 metros de altura.

Localizada na praia da Redinha em Extremoz, foi encomendada pela proprietária do “Aquário

Natal”, com o objetivo de atrair estudantes em atividades pedagógicas e turistas. O parque

possui um conjunto de aquários com espécies da fauna marinha e cenografias que reproduzem

o ambiente do fundo do mar. Assim como nos terrários, foram criados cenários apropriados

para as espécies exóticas que o aquário começa a receber, na expectativa de se transformar em

zoológico, com esculturas medindo entre 0,5 e 12 metros; este parque tem um acervo de mais

de 20 delas, além de esculturas parietais e cenários; as imagens se dividem entre espécies

marinhas e exóticas da fauna brasileira.

Figura 08: Restaurante Camarão do Olavo

Foto: Jô Bomfim, 2016.

Construída no ano de 2008, em concreto armado, temos dois camarões acoplados a

uma placa de alvenaria. Mede 3 metros de altura por 2,5 metros de largura, em Nísia Floresta,

foi encomendada pelo proprietário, com o objetivo de atrair clientes e fazer publicidade

decorativa.

24

Figura 09: Águia Serv Club

Foto: Jô Bomfim, 2016

Escultura feita em concreto armado, construída no ano de 2001, mede 6 metros de

altura, Localizada na praia de Camurupim em Nísia Floresta, foi encomendada pelo antigo

proprietário do “PONTAL PARQUE”. Com o objetivo de atrair turistas e veranistas com seus

filhos, o parque possui um conjunto de piscinas interligadas para crianças e adultos com

esculturas medindo entre 3 e 9 metros em forma de chafariz; este parque tem um acervo de

mais de 40 delas; as imagens se dividem entre espécies marinhas, aves exóticas da fauna

brasileira e os personagens de desenhos animados. A águia é, para o artista, a sua mais

importante obra, pois nela ele deu os primeiros passos para o gigantismo e movimentos mais

alongados de suas obras seguintes.

25

Figura 10: Polvo chafariz no Pontal parque, na praia de Camurupim, em Nísia Floresta

Foto: Jô Bomfim, 2016.

Escultura feita em concreto armado no ano de 1999 mede 8 metros, localizada na praia de

Camurupim em Nísia Floresta, tem um sistema hidráulico embutido com a função de jorrar

agua, encomendada pelo antigo proprietário com a finalidade de decorar e entreter os

visitantes do parque.

Figura 11: Restaurante Cantinho do Caranguejo

Foto: Jô Bomfim, 2016

26

Fica na praia de Búzios, tem 6 esculturas medindo entre 2 e 3 metros cada, construídas

em concreto armado; realizada entre os anos de 2001 e 2004 em Nísia Floresta, foi

encomendado pelo proprietário, com o objetivo de decorar e de atrair clientes para

fotografias.

4.2 Esculturas nas cidades do interior

No interior foram levantadas 36 obras (individuais ou conjuntos) entre as cidades de

São José do Mipibu, Passagem, Monte Alegre, Brejinho, Goianinha e São Gonçalo. Foram

catalogadas 9 peças, que em geral foram encomendadas por pessoas públicas, religiosos e

políticos, foram feitos mais de 100 registros fotográficos deste acervo.

São comuns as encomendas vindas do interior do estado, partirem de políticos, religiosos

e fazendeiros atraídos por alguma obra vista em local próximo a seu espaço de atuação e com

finalidade de igual valor.

Formalizam, assim, uma sequência de pórticos com símbolos emblemáticos de cada

cidade, ou seja, um cinturão de imagens religiosas ligadas à cultura de cada comunidade e

seus padroeiros ou, ainda, animais de estimação, cachoeiras e lagos cenograficamente

construídos para embelezar praças, igrejas, pórticos e jardins.

Figura 12 – Mapa das obras no interior

Google maps, 2016

27

Figura 13 Carro de boi na Entrada de São José de Mipibu

Foto: Jô Bomfim, 2016.

Conjunto de três esculturas em tamanhos naturais. Construídos no ano de 2015, em

concreto armado, os dois bois medem 1,7 metros de altura por 2 metros de comprimento, o

homem mede 1,9 de altura por 0,8 de largura; completa a obra um carro de bois e arreios

antigos feito em madeira, doados por um fazendeiro da cidade. A obra em forma de pórtico

fica na entrada de São José de Mipibu e foi encomendada pelo gestor municipal, com o

objetivo de sinalizar a entrada da cidade.

Figura 14: Papa João Paulo II

Foto: Jô Bomfim

28

Esta escultura localizada na cidade de Passagem, construída no ano de 2010, em

concreto armado, mede 3 metros de altura por 1 metro de largura; está instalada no conjunto

João Paulo II, encomendada pelo prefeito com o objetivo de agradar o seu eleitorado católico.

Figura 15: Reis Magos em Brejinho

Foto: Jô Bomfim, 2016

Está situada na cidade de Brejinho, construída no ano de 2007, em concreto armado,

mede 2,5 metros de altura por 2 metros de largura; instalada ao lado da igreja matriz da

cidade, foi encomendado pelo padre e o prefeito com objetivo de homenagear os seus

padroeiros.

29

Figura 16: São Bento na Entrada da Cidade de Passagem

Foto: Jô Bomfim, 2016.

Esta escultura é localizada na cidade de Passagem, construída no ano de 2010, em

concreto armado; mede 3 metros de altura por 1 metro de largura, instalada em forma de

pórtico na entrada da cidade. Encomendada pelo prefeito com o objetivo de agradar o seu

eleitorado católico sinalizando a fé em seu padroeiro.

Figura 17: Santa Luzia

Foto: Jô Bomfim, 2016.

30

Esta escultura, localizada no povoado “Lagoa do Mato” na cidade de Monte Alegre,

foi construída no ano de 2013, em concreto armado, medindo 6 metros de altura por 3 metro

de largura e 1 metro de profundidade. Trata-se de escultura de parede onde o artista introduz

algumas ferragens na estrutura existente para poder realizar o trabalho em duas dimensões.

Está instalada na fachada da igreja de Santa Luzia e foi encomendada pelo padre e o prefeito

com o objetivo de agradar aos fieis e melhor apresentar a padroeira da Igreja.

Figura 18: Frei Damião

Foto: Jô Bomfim, 2016

31

Esta escultura localizada na cidade de Passagem, construída no ano de 2010, em

concreto armado, mede 3,5 metros de altura por 1 metro de largura; está instalada na praça da

matriz, foi encomendada pelo prefeito com o objetivo de agradar o seu eleitorado católico.

As cores encontradas nas imagens religiosas, não apresentam o vigor e exuberância das

cores das esculturas do litoral. Quase sempre em tons de terracota ou em tons baixos, com

forte presença do preto e do branco na composição das tintas. Algumas delas lembram as

expressões do homem nordestino, embora é regra o contratante lhe fornecer quando possível o

elemento natural, ou ainda imagens impressas ou tridimensionais que vão lhe servir de guia

para a execução da obra.

A partir daí, fica claro que este estilo de expressão facial, com suaves características

nordestinas é quase sempre recorrente em suas obras religiosas. O volume, dobraduras e

caimento dos tecidos, também deixam muito a desejar enquanto escultura, ficando para a

pintura o trabalho de claro e escuro para dar profundidade e relevo.

32

5 METODOLOGIA

A metodologia aponta a trajetória a ser seguida, norteando cada passo do pesquisador.

A pesquisa supõe uma investigação sistemática, crítica e autocrítica com o objetivo de

contribuir para o avanço do conhecimento (MOREIRA 2006 apud BASSEY 1990, p.27).

Inicialmente, classifica-se esta pesquisa de tipo exploratório/descritivo. Exploratória

visto que ela é utilizada pelo pesquisador quando os dados desenvolvidos são limitados e não

há uma ideia clara e definida do problema em questão, será durante a exploração que o

pesquisador irá obter de forma precisa a análise, determinando o fim e as definições

operacionais do planejamento da pesquisa (GIL, 2006).

A pesquisa envolveu o levantamento das obras e sua catalogação. Também a

investigação dos processos produtivos usados através de fotos e entrevistas com o autor e sua

equipe de produção. Envolveu, ainda, referências bibliográficas.

O processo de coleta de dados sobre a vida do artista, seu trabalho e suas principais

obras, deu-se através de entrevistas gravadas em áudio e imagem com o próprio artista em três

ocasiões distintas: a primeira, no dia 15 de outubro de 2015, no condomínio Riviera de

Búzios, na praia com mesmo nome, onde o mesmo realizava um trabalho escultórico na

residência de um cliente; a segunda, no dia 10 de novembro de 2015, na cidade de São

Gonçalo do Amarante, ao lado do galo em construção, hoje pronto, medindo 15 metros de

altura (sua maior obra). Em uma terceira oportunidade, em minha residência na praia Barra de

Tabatinga, no dia 22 de março de 2016.

Este estudo de caso foi desenvolvido partindo de observações preliminares sobre o

entorno sociocultural em que o artista Índio produz seu trabalho, seguindo algumas etapas

sistematizadas em prol dos objetivos em questão.

Para isso, temos como alicerce metodológico as ideias de Barras e Lehfeld (2000),

que indicam que uma pesquisa científica pode ser definida por meio da observação dos fatos,

com coleta de dados e também nas suas variáveis, que são importantes para a revisão das

análises até o fechamento do trabalho.

O campo de investigação científica é um processo reflexivo, e, necessariamente,

sistemático para o pesquisador, mas também crítico e dialético, capaz de abrir novas

descobertas, voltada para a realidade empírica, objetiva e subjetiva estudada. E isto pode

envolver, inclusive, o seu próprio cotidiano, a fim de apreendê-lo com maior abrangência.

33

Ao passo que o presente projeto é elaborado, é natural que haja um processo de

identificação com a pesquisa, tendo em vista que a finalidade de atingir os seus objetivos são,

desde já, relevantes para elucidar as condições e espaços do artista e da sua produção de arte.

Nesse propósito, além da entrevista com o Escultor Índio, foram entrevistados 6

clientes, 4 colaboradores e 34 visitantes e moradores do entorno dos locais das suas principais

obras, com a devida autorização dos mesmos, a partir da abordagem direta dos frequentadores

desses espaços.

Sendo assim, a investigação caracterizou-se como um estudo de natureza qualitativa,

no qual partirmos das observações e experiências do contexto em estudo e redimensionando

na coleta de dados, obtidos por entrevistas diretas com o artista Índio.

No que se refere aos outros sujeitos correlacionados com a atividade profissional do

artista, bem como aos apreciadores da mesma, como empresários, nativos e turistas, foi

utilizado como técnica de coleta de dados aplicado um questionário com base em Hague e

Jackson (1997), visando uma sequência estruturada de perguntas destinadas a obter fatos e

opiniões, de modo a fornecer um veículo para o registro dos dados.

34

6 ATIVIDADE PEDAGÓGICA

ESCULTURAS DO ARTISTA INDIO NO LITORAL E INTERIOR DO

ESTADO

Apresentação: Será feito uma breve introdução sobre a arte escultórica, como o artista

“ÍNDIO” começou a desenvolver seu trabalho e o que mais despertar a curiosidade dos

jovens alunos, em relação as obras do artista plástico Nisiense Guilherme da silva Ferreira

durante a aula exposição.

Objetivo da atividade: Despertar o interesse do aluno pela visualização e construção das

artes escultóricas a partir das suas mais variadas formas e possibilidades, levantar

questionamentos sobre seus usos e efeitos socioculturais.

Conteúdo programado: como o mercado local absorve as artes dos nossos artistas, a

importância sociocultural destas artes no comercio em nosso entorno.

Metodologia: Aula expositiva com visita guiada e debate. Será exposto nas paredes do

pátio da escola 20 fotografias das principais obras do artista Índio.

Ano letivo: 5º ao 9º ano do ensino fundamental.

Horas /aula: 3 horas (em dois blocos)

1º bloco: Visita guiada em torno das fotografias com as obras do artista Índio.

2° bloco: Debate sobre arte escultórica, seus fins e curiosidades.

Material: Fotografias.

Espaço: pátio da escola ou sala de aula

6.1 Relatório do projeto pedagógico

A aula/exposição foi realizada na escola municipal Alberto Carvalho de Araújo, na praia de

Búzios, litoral de Nísia Floresta.

Teve início no dia 12/06/2016 (domingo a tarde) com a montagem da exposição de 20

quadros nas paredes do pátio da escola onde no dia seguinte, 13/06/2016 ( manhã, tarde e

noite) aconteceria o dia comemorativo ao meio ambiente.

10 destes quadros medem 35cm x 45cm cada, com fotografias medindo 20cm x 30cm

10 quadros medem 45cm x 55cm cada com fotografias medindo 30cm x 40cm

Obs: As molduras foram confeccionadas em papelão reciclados com cobertura de areia de

praia.

35

A aula/exposição teve inicio as 07:30h da manhã do dia 12/06/2016 para alunos com idades

entre 10 a 16 anos que estão cursando entre o 5º e 9º ano, além da visita das crianças da

creche da escola. Durante toda manhã foi feito um cortejo com grupos de no máximo 8 alunos

por vez, onde era apresentado as fotografias das esculturas do artista “Índio” para em seguida

comenta-las, responder perguntas e tirar duvidas sobre os diversos aspectos da obra do artista.

O assunto mais discutido foi sobre as esculturas dos animais marinhos que se repetem nos

bares e restaurante da praia de Búzios e que os alunos tem contato diário nas idas e vindas

para a escola, além do golfinho da rotatória na praia de Tabatinga do qual levei uma sequencia

de 5 fotografias com o passo a passo do processo da sua construção.

Figura 19: Exposição das obras do Artista Índio na Escola M. Alberto Carvalho de Araújo

Figura 20: Exposição das obras do Artista Índio na Escola M. Alberto Carvalho de Araújo

Fonte: pesquisa de campo, 2016

36

Figura 21: Exposição das obras do Artista Índio na Escola M. Alberto Carvalho de Araújo

Fonte: pesquisa de campo, 2016

37

7 LEVANTAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS

Como esta pesquisa também investiga e estuda a função sociocultural da arte, da

comunicação visual e o comércio em torno dela, realizamos uma pesquisa informal realizada

a partir de um questionário aplicado a pessoas que estiveram em contato com a obra do artista

enquanto moradores, turistas, comerciantes e clientes do seu entorno, contratantes e

trabalhadores que participaram do processo de construção com o artista, totalizando quarenta

e quatro pessoas.

Foram entrevistadas 44 pessoas entre os dias15/04/2016 e 29/05/2016 nas cidades de

Brejinho, Passagem, Monte Alegre, São José do Mipibu, Nísia Floresta, Parnamirim e

Extremoz. 06 contratantes e proprietários de comercio no entorno da obra, 04 colaboradores

do artista e 34 transeuntes, vizinhos e turistas que se encontravam no entorno das esculturas

no momento da visita.

O propósito foi colher o maior e mais diversificado número de opiniões sobre a vida e

obras do artista. As perguntas do instrumento aplicado tiveram o objetivo de observar o elo

que este tipo de imagens consegue estabelecer entre as diferenciadas camadas da população

que mora no seu entorno ou, de alguma forma, foram atraídas por estas obras.

7.1 Pesquisa com pessoas no entorno das obras

Foram entrevistadas entre os dias 19/04 a 28/05/2016, 44 pessoas no entorno das

obras, sendo 18 do sexo feminino e 26 do sexo masculino, com idades entre 18 e mais de 60

anos, entre eles: 1 analfabeto, 4 com ensino fundamental incompleto, 3 com o ensino

fundamental completo, 7 com o ensino médio incompleto, 17 com o ensino médio concluído e

13 com o ensino superior. As profissões dos entrevistados também eram bem diversificadas: 1

cozinheiro, 3 garçons, 8 empresários, 1 médico, 1 recepcionista, 4 servidores público, 1

operador de caixa, 4 professores, 1 mecânico, 1 pedreiro, 1 militar, 1 dentista, 2 aux., de

administração, 2 taxistas, 3 agricultores, 1 serralheiro, 1 cabelereira, 1 motorista, 3 estudantes,

1 bombeiro, 1 secretária e 2 domésticas. 28 deles moram no entorno do local da pesquisa e 16

visitavam o local por motivos variados. A maioria dos que se encontravam no litoral eram

moradores de cidades vizinhas. Das perguntas aplicadas, seguem respostas comentadas e/ou

em gráficos.

38

Gráfico 01 – O Sr.(a) observa alguma obra de arte neste espaço visitado, ou seu entorno?

Fonte: pesquisa de campo, 2016.

Das pessoas entrevistadas, 29 pessoas disseram que, sim, que naquele ambiente tinha

algum tipo de obra de arte e 15 disseram que não viam ali naquele local nada que lhe

parecesse arte. Muitas que disseram, no primeiro momento, não identificar nem uma obra de

arte naquele local, fizeram algum tipo de retificação (depois da terceira ou quarta pergunta),

querendo mudar a resposta para o “sim” ou, ainda, justificando ser apenas uma “estátua”;

deixaram, pois, nítida a duvida entre os entrevistados sobre o conceito de arte. Quando

atendiam ao pedido para apontar o que para eles era uma obra de arte, todos que reconheciam

que ali existia uma, apontaram a escultura do artista Índio, embora alguns a chamassem de

estátuas; quando no litoral, muitas pessoas apontaram a própria natureza como uma obra de

arte.

39

Gráfico 02 – No caso específico da escolha do local em questão, o que motivou sua decisão?

Fonte: pesquisa de campo, 2016

5 entrevistados foram motivados pela indicação de amigos, 5 pela publicidade, 10

pela fachada, 17 pela paisagem natural e 7 por outros motivos.

Gráfico 03 - O que o Sr.(a) absorve desta escultura enquanto obra de arte? Ela lhe provoca

algum tipo de sentimento?

Fonte: pesquisa de campo, 2016

26 pessoas disseram que sim, 15 disseram que não e os demais não quiseram

opinar. Dentre os tipos de sentimentos, no interior do estado, a fé e a devoção aos santos

padroeiros predominou como o sentimento mais recorrente entre os entrevistados; no litoral,

40

quando diante das esculturas de caranguejos, o sentimento mais recorrente foi a vontade de

comê-lo, além das lembranças da infância e o imaginário marinho das brincadeiras e lendas

em torno destes personagens que se repetem nas obras do artista.

Gráfico 04 - No caso específico desse local, o que despertou seu interesse foi?

Fonte: pesquisa de campo, 2016

Para 21 pessoas a paisagem natural e, o mais importante, 7 para as esculturas, 7 para a

fachada, 2 para as pinturas e, os demais, apontaram outros motivos.

Gráfico 05 - Qual a importância dos elementos artísticos na decisão de sua escolha pelo local?

Fonte: pesquisa de campo, 2016

18 pessoas disseram que acham muito importante a presença dos elementos artísticos

para definir sua escolha pelo local, outros 18 disseram ser importante, 2 deles acham pouco

importante e outros 2 acham indiferente. Os demais não opinaram. A forma como os

41

entrevistados enfatizavam estas respostas, dava uma impressão de que aqueles elementos não

deveriam ser retirados dali.

Gráfico 06 - O Sr.(a) acredita que esses elementos artísticos dispostos nesse local contribuem

para atração de pessoas?

Fonte: pesquisa de campo, 2016

Esta foi a pergunta com resposta quase unânime, pois a maioria dos entrevistados,

inclusive os que não identificaram as esculturas como obras de arte, acreditam que estas

instalações artísticas atraem clientes para estes espaços comerciais do litoral. E romeiros de

diversas partes do estado frequentam e fazem promessas diante das imagens religiosas feitas

pelo artista, no interior do estado. 42 dos entrevistados acreditam que os elementos artísticos

dispostos no local, contribuem para atração de pessoas, enquanto 2 pessoas responderam que

não.

42

Gráfico 07 - O território potiguar apresenta inúmeras esculturas em diversificados locais com

usos distintos. Consegue lembrar-se de alguma delas?

Fonte: pesquisa de campo, 2016

36 entrevistados conseguiram se lembrar de outras esculturas em diversificados locais

no território Potiguar, 6 outros não lembraram e 2 pessoas não responderam; foi muito

comum os entrevistados lembrarem somente das obras mais próximas do local em que

estavam sendo entrevistado, tanto no litoral quanto no interior; poucos conseguiam enumerar

mais de cinco obras; foi citada pelos entrevistados do litoral algumas vezes a estátua de

Iemanjá na Praia do Meio (mesmo não sendo obra do artista em questão) e, pelos

entrevistados do interior, as esculturas dos três reis magos na entrada de Natal.

43

Gráfico 08 - Consegue encontrar entre esta e outras obras no território potiguar, algo de

singular que remeta a identificação deste artista.

Fonte: pesquisa de campo, 2016

Quando perguntados se conseguiam encontrar entre esta e outras obras algo de

singular que remeta a identificação deste artista, 35 responderam que sim, 9 responderam que

não; a maioria reconhecia as obras próximas daquela do local em que estava sendo

entrevistado, pelo fato dos elementos marinhos se repetirem de alguma forma; os

contratantes reconhecem pelo traço do artista e, ainda, porque elas sempre aparecem em

ambientes comerciais no litoral. Já no interior, a forma de identificação só muda pelo tema e

as pessoas só se recordam das esculturas mais próximas de seu ambiente de convívio.

7.2 Análise dos resultados

A elaboração das perguntas do questionário aplicado teve o objetivo de buscar saber se

as expectativas dos contratantes estavam sendo atingidas e em que dimensão existe um elo

sociocultural e econômico, neste apelo visual das obras escultóricas, baseado nos elementos

culturais de cada região. Reconhecer a obra do artista enquanto objeto artístico (podemos

chamar de arte), se sensibilizar com a mesma e este ser o motivo de sua escolha,

reconhecendo a importância para a atração, permanência e ou retorno ao local foi o que mais

nos motivou a realizar esta pesquisa.

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A análise das entrevistas nos fez constatar que um número expressivo dos

entrevistados disse que identificava uma obra de arte em seu entorno e no momento seguinte,

respondeu que a fachada e os elementos cenográficos escultóricos foi o que mais lhe chamou

a atenção. Estes entrevistados demonstram, assim, que existe um elo entre as obras e as suas

escolhas por um local específico, pois se sentem representados pelos objetos marinhos

entranhados na sua cultura, pelas imagens religiosas e as atividades em torno delas. Também

se emocionam quando estas obras lhes rementem a memórias que estão ligadas a sua

formação cultural, como os peixes e frutos do mar ao longo do litoral e esta é a mesma

emoção que os vizinhos das esculturas religiosas no interior do estado, católicos ou não,

compartilham com os visitantes que se deslocam, dos lugares mais remotos para fazer u pagar

promessas em torno das mesmas.

Os entrevistados responderam que o visual destas instalações cenográficas despertam

seu interesse, por se incorporarem à paisagem natural e que - é importante ou muito

importante - a presença destes elementos artísticos nestes locais, deixando claro um elo muito

forte entre a presença da obra de arte e sua visita e/ou consumo naquele estabelecimento.

45

8 CONCLUSÃO

O gigantismo nas obras escultóricas ao longo da história sempre despertou o

sentimento de riqueza e poder, estabelecendo uma relação de domínio e demarcação territorial

oferecendo uma leitura de imagem que em via de regra serviu para além de demarcar, falar

com imagens sobre as posições politicas, religiosas sociais ou filosóficas, facilitando a

compreensão sobre o identidade cultural, predileções e especificidades deste grupo ou

localidade especifica em torno da imagem.

Pesquisar a obra do artista Índio tanto no litoral quanto no interior do estado, nos faz

ver que as suas esculturas contam um pouco da história de nossa cultura e nos representa ao

tempo que para a pessoa adulta traz à tona as suas memórias das vivências familiares,

escolares e religiosas. Para a criança, é uma realidade que compartilha com a família e

amigos em redes sociais fazendo a disseminação desta cultura. É viajar ao encontro de futuras

gerações. A afirmação de que estas obras artísticas são importantes e que fazem pessoas

escolherem estes locais onde elas estão fixadas para visitação, seja num lugar público ou

privado, nos faz ver que a cultura da admiração e desejo de consumo do belo ( a partir do

nosso imaginário e que de algum modo, induzido pelas regras sociais difundidas a cada nova

forma de organização politica, independente da época e local) nos mostra os símbolos

imagéticos que exercem fascínio e nos impulsionam ao consumo material ou abstrato, criando

uma identidade cultural.

As entrevistas sobre as obras e suas localizações nos faz ver que a simples colocação

de um determinado objeto em um ponto estratégico é capaz de provocar no transeunte algum

tipo de sentimento. Seja de atração ou retração este símbolo lhe instigará o desejo de consumo

na forma que lhe for possível.

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9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARRAS, Aidil J. da Silveira; LEHFELD, Neide de Souza. Fundamentos de metodologia

científica: um guia para a iniciação científica. São Paulo: Makron Books, 2000.

GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1996.

GOMBRICH. E. H. Os usos das imagens: estudos sobre a função social da arte e da

comunicação visual. Porto Alegre: Bookman, 2012.

HAGUE, Paul, JACKSON Peter. Faça sua própria pesquisa de mercado. São Paulo: Nobel,

1997.

LURIA, Alexander. R. Diferenças culturais de Pensamento. In: Vygotsky, Luria e

Leontiev. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone, EDUSP, 1988.

MALHOTRA, NARESH. Pesquisa de Marketing: uma orientação aplicada. 3ªed. Porto

Alegre: Bookman, 2001.

MOESCH, Marutschka. A produção do saber turístico. São Paulo: Contexto, 2002.

TRIGO, Luciano. A grande feira: uma reação ao vale tudo na arte contemporânea. Rio de

Janeiro: Record, 2009.

SMIERS, Joost. Artes sob pressão: promovendo a diversidade cultural na era da

globalização. Tradução: Adelina França. São Paulo: Escrituras Editora: Instituto Pensarte,

2006. Coleção Democracia Cultural; 3.

VYGOTSKY, Lev. Semevovich. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 6ª

ed. 2003b.

______. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 4.ed. 2003a.

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ANEXOS

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

CCHLA - Curso de Licenciatura em Artes Visuais

Departamento de Artes

Roteiro de entrevista

INFORMAÇÕES PESSOAIS

( ) Feminino ( ) Masculino

Idade: ( ) até 20 ( ) 21 a 30 ( ) 31 a 40 ( ) 41 a 60 ( ) mais de 60

Profissão Grau de escolaridade

Visitante ( ) Natal ( )

1. O Sr.(a) observa alguma obra de arte neste espaço visitado, ou seu entorno?

( )sim ( )não

1.1 – Se sim, aponte-a(s): ____________________________

2. No caso específico da escolha do local em questão, o que motivou sua decisão?

( ) Indicação de amigos e/ou parentes

( ) Publicidade sobre o local

( ) A fachada chamou a atenção

( ) a paisagem na qual o local está inserido

( ) Outros: _____________________

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3. O que o Sr.(a) absorve desta escultura enquanto obra de arte? Ela lhe provoca

algum tipo de sentimento?

( )sim ( )não

O que?----------------------------------------

4. No caso específico desse local, o que despertou seu interesse foi o visual?

( ) sim ( ) não

( ) A fachada

( ) as esculturas

( ) as pinturas

( ) a paisagem natural

( ) outro: _______________________

5. Qual a importância dos elementos artísticos na decisão de sua escolha pelo local?

( ) Muito importante

( ) Importante

( ) Pouco importante

( ) Indiferente

6. O Sr.(a) acredita que esses elementos artísticos dispostos nesse local contribuem

para atração de pessoas?

( )sim ( )não

7. O território potiguar apresenta inúmeras esculturas em diversificados locais com

usos distintos. Consegue lembrar de alguma destas?

( )sim ( )não

8. Consegue encontrar entre esta e outras obras no território potiguar, algo de singular

que remeta a identificação deste artista.

( )sim ( ) não

Se sim, quais?--------------------------------------