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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO
RONALD LIMA DE GÓIS
A CIDADE E O IDOSO:
PARÂMETROS PARA DIMENSIONAMENTO EM ARQUITETURA E URBANISMO
NATAL/RN
2012
RONALD LIMA DE GÓIS
A CIDADE E O IDOSO:
PARÂMETROS PARA DIMENSIONAMENTO EM ARQUITETURA E URBANISMO
Tese apresentada à Coordenação do Curso de Doutorado em
Arquitetura e Urbanismo, do Programa de Pós-Graduação em
Arquitetura e Urbanismo (PPGAU), da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, como requisito para obtenção de título de Doutor em
Arquitetura e Urbanismo.
Área de Concentração: Urbanismo, Projetos e Políticas Físico-
Territoriais.
Linha de Pesquisa: Política e Projeto Territorial e Urbano.
Orientador: Drª. Françoise Dominique Valéry.
NATAL/RN
2012
RONALD LIMA DE GÓIS
A CIDADE E O IDOSO:
PARÂMETROS PARA DIMENSIONAMENTO EM ARQUITETURA E URBANISMO
Tese apresentada à Coordenação do Curso de Doutorado em
Arquitetura e Urbanismo, do Programa de Pós-Graduação em
Arquitetura e Urbanismo (PPGAU), da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, como requisito para obtenção de título de Doutor em
Arquitetura e Urbanismo.
Área de Concentração: Urbanismo, Projetos e Políticas Físico-
Territoriais.
Linha de Pesquisa: Política e Projeto Territorial e Urbano.
Aprovado em: 06 de fevereiro de 2012.
BANCA EXAMINADORA
Drª. Françoise Dominique Valéry (Orientadora), UFRN
Drª. Gleice Azambuja Elali (Examinadora), UFRN.
Dr. Márcio Moraes Valença (Examinador), UFRN.
Dr. Fábio Oliveira Bitencourt Júnior (Examinador), UFRJ.
Dr. Aristides Inácio Ferreira Marques (Examinador), ISECENSA/RJ.
À tia Marieta Lima, que nos deu as primeiras lições de desenho e hoje, aos 100 anos
de idade, nos dá lições de vida.
AGRADECIMENTOS
Agradeço à Françoise Valéry, pelas orientações, apoio e incentivo.
Agradeço à Alahyse Paiva pela ajuda nos desenhos desta Tese.
Agradeço à minha família, pelo apoio.
Agradeço a Fernando Antonny, pela normalização deste trabalho.
Envelhecer é o preço que todos têm de pagar se quiserem continuar vivendo.
Érico Veríssimo
Se consideramos que não são os arquitetos os responsáveis pelas transformações
sociais, mas pelo desenho das soluções – que são políticas e que serão encontradas por todos
– devemos sempre estar aptos e dedicados para que, diante das oportunidades construídas,
não hesitarmos no cumprimento integral dos nossos papéis.
Derek Dellekamp (arquiteto mexicano)
RESUMO
Diz respeito ao estudo da cidade em função dos impactos que serão causados na sua estrutura em decorrência do processo de envelhecimento da sociedade humana, principalmente no Brasil. Os enfoques mais importantes são aqueles relacionados com os problemas de acessibilidade, habitação e lazer, questões que mais afetam as pessoas com mais de 60 anos de idade. Além da análise dos problemas inerentes ao tema serão apresentadas propostas de intervenção urbana para que as cidades se tornem mais adequadas ao convívio das pessoas idosas. Para fundamentar este estudo foi efetuada uma revisão sobre diferentes teorias sobre a cidade, posteriormente um painel sobre a presença do idoso na sociedade, incluindo o Brasil, e nas cidades, objetivando uma visão, a mais ampla possível, sobre a forma como os idosos foram tratados ao longo da história. Com o objetivo de estabelecer paradigmas e parâmetros na abordagem do tema, procedeu-se a uma série de observações sistemáticas sobre o espaço urbano em diferentes cidades, no exterior e no Brasil, com trabalhos efetuados para inclusão social do idoso no espaço urbano, tais como Amsterdam, Barcelona, Brasília, Luanda e Rio de Janeiro, cidade considerada pela ONU, como laboratório físico-territorial urbano adequado às pessoas da terceira idade. A partir daí procurou-se obter, além de pesquisa bibliográfica e observações da experiência de outros países, a realização de pesquisa de campo e análise de Normas oficiais, a fundamentação teórica para estabelecer orientações quanto a maneira de planejar e projetar um espaço urbano mais adequado aos idosos. Palavras-Chave: Arquitetura – Idosos. Urbanismo – Idosos. Habitação – Idosos. Acessibilidade – Idoso.
ABSTRACT
This thesis concerns the study of the city and impacts that will be caused in its structure due to the aging process of the human society, mainly in Brazil. The most important focus will be those related to problems of accessibility, leisure, housing, health and labor, issues that most affect people over 60 years of age. Beyond the analysis of inherent problems to the subject, proposals will be made for urban intervention that the cities become more suitable for the living of the elderly. To support this study, a review of different theories about the city was carried out, then a panel about the presence of the elderly in society, including Brazil, and in the cities, aiming at a vision, as broad as possible, on how the elderly were treated throughout history. In order to establish paradigms and parameters in the approach to the subject, a series of systematic observations on the urban space in different cities proceeded, in Brazil and abroad, with works aiming the inclusion of the elderly in urban areas, such as Amsterdam, Barcelona, Brasilia, Luanda and Rio de Janeiro, a city considered by the UN as physical and territorial urban laboratory suitable for the elderly. From there we tried to obtain, in addition to literature and observation of other countries’ experiences, the conduct of field research and official standards analysis, the theoretical basis for establishing guidelines on how to plan and design a more appropriate urban space for the elderly. Keywords: Architecture – Elderly. Urbanism – Elderly. Housing – Elderly. Accessibility – Elderly.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Quadro 1 – Etapas Metodológicas 18
Quadro 2 – As 10 principais Megalópoles do Mundo 19
Gráfico 1 – Faixas etárias da População Idosa no Mundo 21
Tabela 1 – Faixas etárias da População Idosa no Brasil 22
Gráfico 2 – Pirâmides Etárias entre 1960 e 2010, no Brasil. 23
Figura 1 – Plano de Mileto 38
Quadro 3 – Vantagens e desvantagens das formas Xadrez e Radial 39
Figura 2 – Plano de Cerdá, para Barcelona 40
Figura 3 – Dimensões das quadras de Ildefonso Cerda 40
Figura 4 – Esquina padrão do Plano de Ildefonso Cerdá para Barcelona 40
Figura 5 – Esquina onde o edifício valoriza o espaço urbano, ao proporcionar abrigo ao
pedestre 41
Figura 6 – Quadra tipo do Ensenble de Barcelona (Ildefonso Cerda) 41
Figura 7 – Esquina marcada como ponto de referência para as atividades urbanas e
humanas 42
Figura 8 – Esquina como espaço para as mais diversas atividades de lazer e convivência
humana 42
Figura 9 – Esquina como ponto de encontro de diferentes tipos humanos 42
Figura 10 – Esquina como fator de valorização do patrimônio construído 43
Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43
Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48
Figura 13 – Centro da Cidade de Tapiola (vista da área comercial) 48
Figura 14 – Cidade de Tapiola (transporte público de passageiros) 49
Figura 15 – Vista aérea de Tapiola 49
Tabela 2 – Evolução do número de Idosos no Brasil 55
Tabela 3 – Evolução do número de contribuintes e aposentados do INSS 56
Tabela 4 – População com mais de 60 anos 56
Figura 16 – Plano dos 3 Canais (Amsterdam-Holanda), onde são implantados os Hofjes, ou
“Abrigos”. 62
Figura 17 – Planta básica de um Hofje 62
Figura 18 – Hofje de Amsterdam (aspectos externos) 63
Figura 19 – Hofje de Amsterdam (aspectos internos) 63
Figura 20 – Hofje (espaço interno) 64
Figura 21 – Hofje (atividade comunitária) 64
Figura 22 – Vista geral de Copacabana, Rio de Janeiro 67
Figura 23 – Idosos indo à praia em Copacabana 67
Figura 24 – Idosos no Calçadão de Copacabana 68
Figura 25 – Foto do Bairro Peixoto 68
Figura 26 – Visão aérea do Bairro Peixoto, enclave do bairro de Copacabana 69
Figura 27 – Planta: Habitações Individuais Geminadas (Brasília) 71
Figura 28 – HIG: Habitações Individuais Geminadas 72
Figura 29 – HIG: Habitações Individuais Geminadas 73
Figura 30 – SHIG: Setor de Habitações Individuais Geminadas 73
Figura 31 – SHIG: Setor de Habitações Individuais Geminadas 74
Figura 32 – Mutilações do Plano de Lúcio Costa (HIG) para Brasília 75
Figura 33 – Mutilações ao projeto proposto às HIG 75
Figura 34 – Outras formas de mutilações ao projeto proposto às HIG 76
Figura 35 – Outro tipo de mutilação ao projeto proposto às HIG (gabarito da edificação) 76
Quadro 4 – Relação e definição dos diferentes tipos de deficiências físicas 79
Quadro 5 – Locais para pesquisa de campo da Tese 81
Figura 36 – Problema de acessibilidade para pessoa da 3ª idade 83
Quadro 6 – Análise-Síntese do Ambiente 86
Quadro 7 – Limitação quanto à orientação e informação 87
Quadro 8 – Limitação quanto ao Deslocamento 88
Desenho 1 – Passeio com recuo para banco e espaço para cadeirante 90
Desenho 2 – Circulação em desnível para idosos e ciclistas 90
Quadro 9 – Limitação quanto ao Uso 91
Quadro 10 – Limitação quanto à Comunicação 92
Quadro 11 – Síntese das diretrizes para áreas de estar com componentes de acessibilidade 93
Quadro 12 – Circulação para pedestres 93
Quadro 13 – Caminhada e ciclismo 94
Quadro 14 – Áreas de alongamento com critérios de acessibilidade 94
Quadro 15 – Quadras esportivas 94
Desenho 3 – Pista de circulação para cadeirantes e pedestres 95
Desenho 4 – Lixeiras 95
Desenho 5 – Posicionamento de placas informativas 96
Desenho 6 – Escadas 96
Quadro 16 – Alterações do corpo com o envelhecimento 97
Desenho 7 – Casa Oitocentista 102
Desenho 8 – Casa Moderna 103
Desenho 9 – Casa Contemporânea 105
Figura 37 – Edifício residencial HILEA (São Paulo) 107
Quadro 17 – Tipos de habitação para idosos 109
Desenho 10 – Casa para idoso ou casal de idosos 110
Desenho 11 – Quadra para inserção de idosos. 112
Desenho 12 – Quadra para inserção de idosos (detalhe da praça de vizinhança) 113
Quadro 18 – Tipologia de atendimento a idosos, em instituições 122
Desenho 13 – Visão humana (horizontal e vertical) 135
Desenho 14 – Visão humana (vertical) 1:1 142
Desenho 15 – Visão humana (vertical) 1:2 143
Desenho 16 – Visão humana (vertical) 1:3 144
Desenho 17 – Visão humana (vertical) 1:4 144
Figura 38 – Plano Geral do Rockeffeller Center 147
Figura 39 – Visão Aérea do Rockeffeller Center 147
Quadro 19 – Tipos de habitação para idosos nos EUA 150
Figura 40 – Tipos de parcelamento urbano para Parques 158
Figura 41 – Parque Eclético: Jardim Botânico (Rio de Janeiro) 161
Figura 42 – Parque Eclético: Quinta da Boa Vista (Rio de Janeiro) 162
Figura 43 – Parque Moderno: Parque do Flamengo (Rio de Janeiro) 164
Figura 44 – Parque Moderno: Lagoa do Abaeté (Salvador) 164
Figura 45 – Parque Contemporâneo: Parque da Costa Azul (Salvador) 166
Figura 46 – Parque Contemporâneo: Parque do Mindú (Manaus) 167
Desenho 18 – Área de estar completa 169
Desenho 19 – Cortes da área de estar 170
Desenho 20 – Área de estar simples 170
Desenho 21 – Piscina para idosos 171
Desenho 22 – Salão de danças para idosos 172
Desenho 23 – Anfiteatro ao ar livre 173
Desenho 24 – Mesa de jogos ao ar livre 173
Desenho 25 – Barras de alongamento 174
Desenho 26 – Quadra de Volley-Ball 174
Desenho 27 – Rede da Quadra de Volley Ball 175
Desenho 28 – Quadra de bocha 175
Desenho 29 – Detalhes da quadra de bocha 176
Figura 47 – Esquema de Galeria Aberta 178
Figura 48 – Av. Guararapes (Recife), na década de 40 179
Figura 49 – Av. Guararapes (Recife) 179
Figura 50 – Av. Presidente Vargas (Rio de Janeiro) 179
Figura 51 – Av. Presidente Vargas (Rio de Janeiro) 180
Figura 52 – Av. Presidente Vargas (Rio de Janeiro) 180
Figura 53 – Centro de Luanda (capital de Angola) 180
Figura 54 – Centro de Luanda (Angola) 181
Figura 55 – Edifício Galeria em Mossoró (RN) 181
Figura 56 – Edifícios em Mossoró (RN) 181
Figura 57 – Acesso da Galeria Vitor Emanuel II (Milão – Itália) 182
Figura 58 – Galeria Vitor Emanuel II (Milão – Itália) 183
Desenho 30 – Calçada em esquina 184
Desenho 31 – Calçada mínima 185
Desenho 32 – Calçada com banca de jornais 186
Desenho 33 – Calçada com restaurante e bar 187
Desenho 34 – Calçada com ponto de ônibus em poste multi-uso 188
Desenho 35 – Calçada como galeria aberta 189
Figura 59 – Passarela elevada para pedestres 192
Figura 60 – Passarela elevada 192
Desenho 36 – Galeria (passarela) subterrânea 193
Figura 61 – Galeria subterrânea 194
Desenho 37 – Evolução das quadras urbanas 198
Desenho 38 – Proposta para o dimensionamento de praças e quadras 201
Desenho 39 – Dimensionamento de praças e quadras (corte esquemático) 202
Quadro 20 – Zonas Turísticas Homogêneas 206
Desenho 40 – Proposta para urbanização de áreas de praias 208
Desenho 41 – Corte esquemático para urbanização de praias 209
Desenho 42 – Detalhe da rampa de acesso à praia 209
Desenho 43 – Piscina de água salgada para banho de idosos 210
Desenho 44 – Piscina de água salgada (detalhes de acessibilidade) 211
Desenho 45 – Planta e cobertura do quiosque de praia 212
Desenho 46 – Quiosques de praia (cortes) 213
Desenho 47 – Quiosques de praia (fachadas) 213
Desenho 48 – Posto de salvamento 214
Desenho 49 – Rampas e passeios com acessibilidade 215
LISTA DE SIGLAS
ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária
CEPAL Comissão Econômica para America Latina.
CIAM Congresso Internacional de Arquitetos Modernos
FIFA Federação Internacional de Futebol Associado.
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
IPEA Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas.
ISTED Institut des Sciences et des Techniques de L’Equipement et de L’Environnement
pour Le Devellopement.
OMS Organização Mundial de Saúde.
ONU Organização das Nações Unidas.
RDC Resolução da Diretoria Colegiada (ANVISA).
UNESCO United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 16
2 TEORIAS SOBRE A CIDADE 30
2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA FORMA URBANA 36
2.2 NOVAS FORMAS URBANAS: A CIDADE JARDIM, A CARTA DE ATENAS E O
NOVO URBANISMO 43
2.3 O NOVO URBANISMO 47
2.3.1 O Novo Urbanismo na Europa 48
2.3.2 Urbanismo no Brasil de Hoje 50
3 O IDOSO NA SOCIEDADE E NAS CIDADES 53
3.1 O IDOSO NA HISTÓRIA: UM BREVE PAINEL. 53
3.2 A SITUAÇÃO DO IDOSO NO BRASIL DE HOJE. 55
4 OBSERVAÇÕES SISTEMÁTICAS 59
4.1 OBSERVAÇÕES SISTEMÁTICAS NO EXTERIOR 59
4.2 OBSERVAÇÕES SISTEMÁTICAS NO BRASIL 66
4.2.1 Copacabana, Rio de Janeiro: esquinas, praças e praia. 66
4.2.2 Brasília: Superquadras e Habitações Individuais Geminadas. 70
5 A CIDADE PARA O IDOSO: PROJETO E DIMENSIONAMENTO 78
5.1 A CIDADE PARA O IDOSO: ACESSIBILIDADE E MOBILIDADE URBANA 78
5.1.1 Acessibilidade Espacial 78
5.1.2 A Questão do Transporte Urbano 82
5.2 A CIDADE PARA O IDOSO: HABITAÇÃO 96
5.2.1 Como o idoso vive hoje no Brasil 100
5.2.2 A Evolução da Casa Brasileira 101
5.2.2.1 A Casa Oitocentista 102
5.2.2.2 A Casa Moderna 103
5.2.2.3 A Casa Contemporânea 104
5.2.3 Conceituação e Dimensionamento dos Equipamentos 107
5.3 O DESENHO UNIVERSAL 114
5.3.1 Princípios do Desenho Universal 115
5.4 CLÍNICAS OU ESTABELECIMENTOS PARA IDOSOS 117
5.4.1 Classificação dos Idosos 117
5.4.2 Graus de Dependência 117
5.4.3 Estrutura Física 118
5.4.4 Exigências Específicas 118
5.4.5 Programa Arquitetônico Mínimo 119
5.4.6 Formas de Assistência 120
5.4.7 Pessoal de Apoio 120
5.4.8 Para os Cuidados aos Residentes 120
5.4.9 Alternativas para o Atendimento ao Idoso 121
5.4.10 A Casa Segura 122
5.4.11 A Casa do Futuro 134
5.5 A CIDADE PARA O IDOSO: LAZER 134
5.5.1 Visão Humana 135
5.5.2 O Espaço Urbano 140
5.5.3 Praças 146
5.5.4 Espaço Aberto. 148
5.5.5 Terrenos Acidentados 148
5.5.6 As Necessidades Espaciais dos Idosos 151
5.5.7 Espaços de Lazer 153
5.5.8 O Espaço Público 155
5.5.9 Espaço Urbano e o Idoso: O lazer na 3ª Idade 156
5.5.9.1 Parques Urbanos 157
5.5.9.2 Passeios Públicos 176
5.5.9.3 Praças 194
5.5.9.4 Praias 205
5.5.9.5 Pontos de Encontro 215
6 CONCLUSÕES 221
REFERÊNCIAS 226
APÊNDICES 236
16
1 INTRODUÇÃO
É um fato comprovado estatisticamente o aumento da população idosa no país e no
mundo. Os avanços da ciência e da medicina no século XX acrescentaram cerca de 20 anos na
expectativa de vida das populações de um modo geral. Dados da Organização das Nações
Unidas confirmam que chega a cerca de 10,4%, o total de idosos no mundo (ONU, 2008). No
Brasil, o Censo de 2010 confirmou que 11% da população de 185 milhões de habitantes
(20,35 milhões) é de pessoas com mais de 60 anos de idade (INSTITUTO BRASILEIRO DE
GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2010).
Não apenas este crescimento populacional como também o aumento da expectativa de
vida tem feito com que a população idosa aumente a demanda, em função do tempo
disponível, por uma maior participação na prática de atividades sociais urbanas como o lazer;
pela idade e surgimento de doenças próprias desta fase da vida, por serviços de saúde, pela
reconfiguração da estrutura familiar (novos casamentos, incorporação de outros parentes no
seio da família etc.), por tipologias habitacionais alternativas aos asilos convencionais e pela
permanência no mercado de trabalho devido aos incentivos oferecidos pelo Estado brasileiro
que, em função das pressões econômicas e financeiras exercidas contra o sistema de
previdência social, incentiva os idosos a adiarem as suas aposentadorias.
41,6% dos idosos que trabalham o fazem em negócios próprios. 7,6% são
proprietários de empreendimentos que empregam outras pessoas. Destes, 19,3 são
idosos. Apenas 8,4 com carteira assinada. 5.5% apenas de pessoas da terceira idade
possuem atividades informais. 83% estão nas cidades e 17,2% na zona rural.
(INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2010)
O problema se agrava quando se verifica, segundo o IBGE, que 29% dos
desempregados urbanos estavam entre 15 e 17 anos e 26% entre 18 e 19 anos. Ou seja,
pessoas que precisam entrar no mercado de trabalho e encontram vagas ocupadas, cada vez,
mais por pessoas idosas.
Este trabalho objetiva analisar o impacto causado na estrutura urbana com o
envelhecimento da população. Propor a estruturação, no meio urbano, de forma adequada à
terceira idade em função das modificações fisiológicas, psicológicas, sociais e econômicas
nesta fase da vida, de equipamentos nas áreas de acessibilidade, habitação e lazer.
Para tanto, a metodologia adotada contempla 3 etapas para abordagem do tema:
1ª. Fundamentação e Conceituação Teórica, a partir de pesquisas e revisão
bibliográfica enfatizando aspectos como idosos, cidade, acessibilidade, habitação e lazer, e
17
como a cidade deve ser estruturada para atender este segmento populacional em processo cada
vez mais veloz de crescimento.
2ª. Pesquisa de Campo, primeiro a partir de uma prática de observações sistemáticas
realizadas no país (Brasília e Rio de Janeiro) e no exterior (Amsterdam e Barcelona), de como
os idosos vivenciam o espaço privado e público. Pesquisa direta com idosos abordando a sua
visão das questões urbanas que os afetam diretamente. Montagem, aplicação e tratamento dos
dados coletados.
3ª. São analisadas as etapas anteriores a partir da fundamentação teórica e das
pesquisas de campo no sentido de estabelecer parâmetros para as propostas de intervenção
objetivando a adoção de medidas práticas para tornar mais adequada para a população da
terceira idade, estruturas urbanas nas áreas de acessibilidade, habitação e lazer.
Nesta etapa são feitas análises de estruturas urbanas de cada setor relacionado,
enfatizando aspectos como acessibilidade, estruturas físicas, distribuição no espaço urbano,
mobiliário urbano, estágio de manutenção e necessidades de intervenção no sentido da
conservação ou adoção de novas propostas.
É importante, entretanto, conceituar o que é idoso e distinguir os tipos de idosos.
Conceitualmente, o envelhecimento representa a dinâmica da passagem do tempo e
a velhice a forma como a sociedade define as pessoas idosas. Envolve estudos
biológicos, psicológicos e sociológicos. Mais recentemente, considera também,
questões ambientais. A biologia do envelhecimento estuda o impacto da passagem
do tempo nos processos fisiológicos ao longo do curso de vida e da velhice. A
psicologia do envelhecimento, por sua vez, se concentra nos aspectos cognitivos,
afetivos e emocionais relacionados à idade e ao envelhecimento, enfatizando o
desenvolvimento humano. A sociologia baseia-se em períodos específicos do ciclo
de vida e concentra-se nas circunstâncias sócio-culturais que afetam as pessoas
idosas. Os estudos ambientais procuram identificar os espaços e ambientes
adequados para uma vivência tranquila para os idosos, como os espaços urbanos,
questões de acessibilidade, habitação e lazer. (BRASIL, 2003).
Pela Lei 10.741, de 01/10/2003 (Estatuto do Idoso), é considerado idoso pessoas a
partir de 60 anos de idade. Quanto aos tipos de idosos, dois são considerados:
1. Idosos que se aposentam e mantêm a capacidade de cuidar de sí próprio,
proporcionando-lhes um lugar tranquilo e protegido em que possam receber
atenções e cuidados.
2. Idosos que necessitam de maiores cuidados, por não conseguirem cuidar de si
próprios devendo permanecer em estruturas geriátricas ligadas ao sistema da rede
hospitalar. (BRASIL, 2003)
Este trabalho contemplará os aspectos pertinentes ao Grupo 1 de idosos, conforme
esquematizado no quadro a seguir (Quadro 1).
18
Quadro 1 – Etapas Metodológicas Etapas Relação das Etapas Metodologia Adotada
1ª Etapa Conceituação e Fundamentação Teórica Análise da Documentação Coletada e Tabulação
2ª Etapa Pesquisa de Campo: Exterior e País
Observações Sistemáticas no Exterior (Amsterdam e Barcelona)
Observações Sistemáticas no País (Brasília e Rio de Janeiro) Entrevistas.
Passeios e Caminhadas com Idosos
3ª Etapa Propostas de Intervenção Análise das Etapas Anteriores e Conclusões
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
Dois temas de grande significado e complexidade permearão o debate e as
preocupações de governantes e planejadores durante o século XXI: a constatação e
consolidação irreversível de sermos uma civilização urbanizada e o surgimento de
um novo desafio, gerado pelos avanços na ciência e na medicina no século passado:
o envelhecimento das populações. Aqueles avanços mencionados possibilitaram o
incremento de 20 anos, em média, na expectativa de vida do ser humano
(KALACHE, 2005).
Quanto às cidades, o processo de globalização da economia, capitaneados pelos países
centrais, notadamente os EUA e aqueles da União Europeia, tem provocado um cenário
inédito nas relações humanas no mundo. Jamais na história da humanidade verificou-se uma
homogeneização de procedimentos, seja nas artes, nos costumes ou na cultura em geral como
estamos vivenciando no nosso tempo. Nunca houve a predominância de uma língua (inglês)
como vemos agora, nas relações entre as nações. Nunca ao longo da história da humanidade,
usou-se de forma tão uniformizada um mesmo paradigma tecnológico e as cidades nunca
foram tão parecidas como no século XXI, principalmente na pobreza ou mesmo miséria de
suas periferias.
Esta globalização da economia, segundo a Organização das Nações Unidas, trouxe um
acentuado processo de miséria em todo o mundo quando, ainda segundo a ONU, 800 milhões
de pessoas foram jogadas na mais completa miséria e passam fome. O corolário mais evidente
desse processo é o incremento da violência e da intolerância, representado pelos atos
terroristas seja de Estados ou de grupos.
No urbano, esse processo de globalização se apresenta, de forma muito frequente,
numa arquitetura de grandes edifícios cujo envoltório é feito de vidro espelhado que
proliferam em cidades como Manaus ou em cidades de estados do Nordeste brasileiro onde as
condições climáticas são opostas às das localidades para as quais a tecnologia desse tipo de
edificações foi concebida, gerando formidáveis problemas ambientais, notadamente no
consumo de energia, numa época de consideráveis restrições ao uso de combustíveis fósseis.
Uma grande contradição nesse processo é que os países ricos exportam as suas
tecnologias, materiais e equipamentos de características aplicáveis a países de clima
19
temperado, implantando-os irracionalmente em países de clima tropical, tipificando-os como
edifícios “inteligentes”, deturpando assim, o próprio conceito de inteligência.
Entretanto, a questão não fica restrita apenas à construção de edifícios inadequados.
Nas reuniões internacionais (1ª Conferência das Nações Unidas sobre o Habitat/Vancouver,
em 1976 e 2ª Conferência das Nações Unidas sobre o Habitat/Istambul, em 1996) realizadas
sobre o habitat humano, países ricos reagem ao conceito de que a habitação é um direito.
Tentam na prática, impedir que governos de países, como o Brasil, Índia, entre outros,
invistam na produção de moradias e na infraestrutura das cidades, e deixem de pagar os
elevados juros das dívidas externas, condenando à decadência física e funcional as cidades
dos países pobres.
Com essa abordagem procuramos demonstrar a enorme influência com que os fatores
de ordem econômica interferem na questão urbana.
Constatando, no entanto, segundo dados oficiais, que atualmente, segundo a ONU,
50% da população mundial é urbanizada, com previsão de que em 2030 essa proporção cresça
para 60%, o foco dos grandes investidores internacionais voltou-se para as cidades,
principalmente naquelas localizadas em países periféricos, espaço das grandes concentrações
urbanas. Das 10 megalópoles previstas até 2015 pelos organismos internacionais, ONU
inclusive, 08 estarão nos países em desenvolvimento e apenas 02 (Tóquio e Nova Iorque) em
países ricos (Quadro 2). Tóquio será a grande cidade do mundo rico.
Quadro 2 – As dez principais Megalópoles do Mundo
Cidade País População (em milhões)
Tóquio Japão 37,0
Nova Delhi Índia 22,0
São Paulo Brasil 20,3
Munbai Índia 20,0
Cidade do México México 19,5
New York EUA 19,4
Xangai China 16,6
Calcutá Índia 15,5
Daca Bengladesch 14,7
Karachi Paquistão 13,1 Fonte: Weinberg; Betti (2011)
Os chamados países do 1º Mundo enfrentam os problemas decorrentes da urbanização
num estágio econômico consolidado: são ricos, enquanto os chamados países emergentes,
defrontam-se com toda sorte de mazelas (pobreza, saneamento básico, habitação, saúde,
educação, violência urbana etc.), provenientes dessa mesma urbanização, sem terem ainda a
20
sua situação econômica consolidada, fato este que só agrava os problemas, tornando-os
bastante vulneráveis.
Organismos multilaterais que financiam investimentos em países emergentes, como o
Banco Mundial, trabalham com o conceito de “Cidade Produtiva”, objetivando a integração
das populações locais através de programas de regularização fundiária, a palavra de ordem do
momento (Programa de Simplificação Cartorial e Regularização Fundiária), onde os
beneficiados com os programas de regularização da terra, a partir do fato de contar com um
endereço e ser proprietário do seu lote ou de sua casa, quando essa existir, pois a prioridade é
de que a regularização da terra, possa retribuir, ao banco, os capitais investidos, na forma de
impostos ou taxas de comunicações, água, esgoto e energia. (daí o modelo neoliberal de
privatizações de empresas estatais exatamente nos setores essenciais de infraestrutura urbana).
A prioridade é sempre a via produtiva onde a cidade seja o foco e o comando das ações
dirigidas para a produção, a paz social e a eficácia da produção. A produção da casa e do
abrigo só possível, de forma legal, com a posse da terra, pode ser realizada de outras
maneiras, desde a autoconstrução até processos industrializados de construção. Sempre ao
sabor dos interesses do capital. A questão urbana, no entanto é mais ampla, e o seu tempo
mais longo, enquanto os investidores desejam um retorno rápido do dinheiro investido.
Annik Osmond (2009) informa o seguinte: Os impostos, taxas e tarifas cobrados,
geralmente muito altos (quando não calculados de forma desonesta como aconteceu, via
Agências Reguladoras, com as tarifas de energia elétrica no Brasil), provocaram em grande
parte, em alguns países asiáticos, a destruição completa da sua estrutura econômica. Os casos
mais conhecidos são os de Jakarta, Indonésia, onde a cidade e a economia foram destruídas.
Na República do Mali, 7º país da África em extensão territorial, cujo território, organizado de
acordo com suas tradições e cultura foi fatiado pelo Banco Mundial em 703 municípios, sem
levar em conta a realidade local, o resultado foi a falência da estrutura econômica do país.
Não devemos esquecer o caso da crise imobiliária dos EUA onde, na impossibilidade
de honrar as prestações, mutuários abandonaram bairros inteiros gerando uma das maiores
crises da história do sistema capitalista (2009/2010).
Diante de um conceito como o de “Cidade Produtiva”, como incluir cidadãos, como os
idosos que, aparentemente, não são mais “produtivos”.
A distribuição etária da população mundial atravessa a maior mudança da história. O
processo de envelhecimento é mais visível nos países pobres, mas ocorre em todos os
quadrantes do mundo, numa velocidade sem precedentes (Gráfico 1).
21
Gráfico 1 – Faixas etárias da População Idosa no Mundo
Fonte: Organização das Nações Unidas (2008).
A combinação entre o aumento da expectativa de vida e a queda na taxa de natalidade
reflete avanços generalizados no combate a doenças e a melhora da qualidade de vida mesmo
nas regiões mais pobres do globo. Tal fato apresenta às gerações futuras o desafio de atender
às demandas crescentes de uma população composta de um número cada vez maior de idosos.
No Brasil, para citar o nosso exemplo, a população de idosos já chegou a 21 milhões (11% da
população). Na Inglaterra, em 2008, o número dos que têm 65 anos ou mais ultrapassou, pela
primeira vez na história, o de jovens com menos de 16 anos.
No início da existência do homem na terra, a vida durava entre 20 e 35 anos e a média
era arrastada para baixo por uma alta taxa de mortalidade durante a infância e a juventude
(Camerano, 2007). Por volta de 1900, a expectativa de vida subia para 45 anos ou 50 anos nos
países industrializados e começava a se elevar no resto do mundo. Um século depois, um
homem comum pode esperar viver até os 65 anos, na média, ou ultrapassar os 80 anos de
idade em algumas economias avançadas. Estudiosos do assunto, como Anne Baro, Monique
Bunel e Romain Sevestre, calculam que um homem que chega aos 60 anos sem maiores
problemas de saúde, geralmente conseguirá atingir ou mesmo superar os 80 anos.
No caso brasileiro se forem observadas as faixas etárias mais restritas acima de 60
anos, os números são os seguintes:
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Tabela 1 - Faixas etárias da População Idosa no Brasil
Idade. (Evolução) 2000 *
%
2010 *
%
60 a 64 anos 2,71 3,49
65 a 69 2,11 2,61
70 a 74 1,62 2,04
75 a 79 1,05 1,41
80 a 84 0,61 0,92
85 a 89 0,32 0,45
+ 90 0,15 0,24
Fonte: Camarano; Kanso; Mello ([2002]). Nota: *Do total da População. 2009.
A edição de 2007 do Estudo Econômico e Social da ONU, adotou o tema
Desenvolvimento em um Mundo que Envelhece. No documento, a ONU mostra que a
expectativa de vida no Japão, a mais alta entre os países desenvolvidos, deve passar dos atuais
82 anos (registro feito entre 2000 e 2005), para 88 anos entre 2045 e 2050. O mesmo
acontecerá, no mesmo período, para Austrália, Canadá e Nova Zelândia quando os atuais 80
anos sofrerão uma evolução para 85 anos. Os EUA, também no mesmo período, passarão dos
atuais 77 anos para 82 anos em média.
Para os países em desenvolvimento, o relatório das Nações Unidas traz promessa de
mutações ainda maiores, como os sete anos a mais que serão conquistados na América Latina
(72 para 79 anos) e nos países da África, com os piores índices de desenvolvimento humano
do planeta, quando os atuais 49 anos terão uma evolução para 65 anos em 2050.
A distribuição etária da população mundial tende a se afastar da antiga estrutura
piramidal. A base será mais estreita em relação ao corpo, que terá de suportar um topo cada
vez mais alargado por uma massa de cidadãos com mais de 65 anos de idade (Gráfico 2).
Ainda, segundo a ONU (2008), “[...] a não ser que o crescimento econômico possa ser
acelerado de modo sustentável, essa tendência continuará a impor pesadas demandas às
populações em idade de trabalho para manter um fluxo de benefícios aos grupos mais velhos”.
A ONU conclui seu relatório afirmando: “[...] ainda que o envelhecimento da população seja
inevitável, suas consequências dependem das medidas adotadas para enfrentar os desafios que
o processo impõe.”
23
Gráfico 2 – Pirâmides Etárias entre 1960 e 2010, no Brasil
Fonte: Weinberg; Betti (2011).
Para os dirigentes do Banco Mundial os problemas urbanos estão resumidos a três
grandes temas: 1. O crescimento urbano, inclusive do ponto de vista demográfico, e sua
gestão; 2. Mudanças Climáticas; e 3. Crise Econômica e Financeira.
A ação do Banco Mundial, no sentido de combater esses problemas, objetiva alcançar
a produção, a paz social e a eficácia da produção citadina (OSMOND, 2009).
Entretanto, começam a surgir críticas a essa visão do problema urbano, colocado pelo
Banco Mundial. Para alguns autores (Baro, Bunel, entre outros), principalmente urbanistas e
pesquisadores, pertencentes ao Institut des Sciences et des Techniques de l’Equipement et de
l’Environnement pour le Développement (ISTED)1, a questão demográfica não é o mal maior.
Tecnologias já são conhecidas para resolver muitos dos problemas ambientais e a crise
financeira já foi equacionada na ação do socorro aos bancos, promovida pelos governos dos
países mais atingidos. Essa ação só é possível hoje, devido os Tesouros Nacionais
controlarem 30% do dinheiro circulante, fato que na crise de 1929 não foi possível, pois os
Estados nacionais controlavam menos de 5% do dinheiro em circulação. Só uma ação
governamental, leia-se estatal, evitou, na presente crise, a derrocada geral (VIANA, 2010).
A problemática urbana hoje é consequência direta das desigualdades sociais. Só o
acesso das populações à terra, à habitação, aos serviços urbanos (saúde, água, esgoto,
educação, transportes e lazer), e a implantação de políticas de valorização do patrimônio
urbano e sócio-ambiental poderão reduzir os graves problemas urbanos, notadamente nas
cidades costeiras por receberem os maiores contingentes migratórios.
1 Organismo francês para o Planejamento Urbano.
24
Retornando ao problema urbano específico do presente trabalho, a inserção do idoso
na estrutura urbana e destacando a situação brasileira, embora a questão seja universal, dados
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estimam que, em 2040, teremos mais
de 52 milhões de idosos ou 27% da população.
Alexandre Kalache, brasileiro que é conselheiro da área de envelhecimento global da
Academia de Medicina de Nova Iorque e ex-chefe do Programa de Envelhecimento da
Organização Mundial de Saúde, afirma que “Para se preparar para uma sociedade que está
envelhecendo rápido como a brasileira é necessário haver um esforço coletivo, pois o
fenômeno terá impacto em todas as profissões” (KALACHE, 2005). A saúde será a mais
requisitada dessas áreas e as transformações já estão em curso. Só para ilustrar o fato, o Brasil
conta com 330.000 médicos; destes, 45.000 (13%) são pediatras, existem apenas 816 geriatras
(2,4%), 68% deles na região sudeste. Isto num país onde a taxa de fertilidade, em uma década,
caiu de 4,5 filhos por mulher para 1,08 filhos por mulher (INSTITUTO BRASILEIRO DE
GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2010). Adquirir o conhecimento necessário para lidar com
pessoas com mais de 60 anos será um desafio e a palavra de ordem é a prevenção. Este fato
demonstra que os cuidados com a saúde tendem a se estender para áreas fora da medicina.
A OMS lançou, em 2005, um documento (Guia Global: A Cidade Amiga dos Idosos)2,
no qual estabelece as diretrizes para a construção de um ambiente saudável, para um mundo
que se urbaniza e envelhece, a partir de 08 linhas de ação:
1. Espaços abertos e prédios.
2. Transporte.
3. Habitação.
4. Participação social.
5. Respeito e inclusão social.
6. Participação cívica e emprego.
7. Comunicação e informação.
8. Apoio comunitário e serviço de saúde.
Pensando em uma população saudável, o foco deve ser tanto aumentar a longevidade,
quanto melhorar a condição de vida, com isso o campo se alarga da geriatria para a
gerontologia. Profissionais, como arquitetos especializados em ambientes seguros para idosos,
2 Programa das Nações Unidas, por meio da Organização Mundial de Saúde (OMS), criado e coordenado pelo
médico brasileiro Alexandre Kalache (2005), com o objetivo de implantar um Guia das Cidades Amigas dos
Idosos, fixando diretrizes para a humanização do espaço urbano, tendo em vista o aumento da população idosa
no mundo (hoje de 600 milhões de pessoas com mais de 60 anos) e que, em 2025, poderá chegar a 1.200.000.000
de indivíduos.
25
serão de fundamental importância nesse campo de atividade. Analisar a questão urbana,
dentro de uma perspectiva histórica, e propor métodos e parâmetros, na estruturação de
equipamentos, para uma cidade onde pessoas idosas, com bom nível de independência em
suas atividades, possam ter uma melhor qualidade de vida, são os objetivos desse trabalho.
Um dos grandes temas da atualidade, e que preocupa urbanistas, sociólogos, geógrafos
e filósofos em geral, é a questão do espaço público, sua apropriação por entidades particulares
e populações marginalizadas, além de sua decadência a partir dos centros urbanos,
extendendo-se até as periferias das grandes cidades.
Compreendido desde a antiguidade clássica como o espaço da “ação política”, ou ao
menos da “possibilidade da ação política na contemporaneidade”, esses espaços vêm a cada
dia, com o gigantismo das metrópoles ou descasos dos agentes políticos, sendo destruídos ou
substituídos pelo enclausuramento ou construção de espaços segregados, como os shopping
centers, os condomínios fechados e até mesmo dos chamados parques temáticos, criados mais
para o espetáculo e o entretenimento, constituindo o exemplo de uma nova configuração
espaço-tempo a que se denomina Metápolis (ASCHER, 1995), ou seja, uma nova relação
entre cidade-tempo e espaço da mobilidade, objetivando uma progressiva redução do tempo
necessário entre desejo e satisfação, ou seja, fenômeno urbano que, ultrapassando a escala
metropolitana, desliga-se de qualquer suporte territorial para basear-se em redes de
interconexões compostas por transportes visíveis e meios de comunicação invisíveis.
Estruturas ou espaços, pertencentes à cidade ou não, que permitem à metrópole o seu
funcionamento cotidiano. São novos paradigmas de algumas cenas cotidianas
“arquitetonizadas”, ou seja, de caráter eminentemente estético e, ao mesmo tempo,
esquecidos pela cultura arquitetônica cuja preocupação básica é o espaço interno.
Ângelo Serpa (2004) afirma que o abandono do espaço público e a segregação de
populações situadas na periferia tanto das cidades como do sistema capitalista trazem, como
corolário inevitável, os altos índices de violência tão comuns e constantes em todas as cidades
do mundo, gerando uma reação, de concepção neoliberal, na produção de “um novo espaço”,
destinado aos setores de rendas média e alta do extrato social.
O autor expõe ainda que, no caso brasileiro, relegando à segundo plano as grandes
demandas nas áreas habitacional, educacional e de saneamento urbano básico, entre outras, o
Estado, associado a entidades privadas (capital) ou mesmo por meio da ação direta desses
setores financeiros, representados por grandes conglomerados, produzem um tipo de espaço
de conteúdo visual, traduzindo-se em cenários estetizantes de conteúdos empresariais.
26
São os chamados “projetos urbanos estratégicos”, quando estes agentes públicos e
privados estabelecem uma ação de longo prazo que, no fundo, representa a apropriação do
espaço público por segmentos políticos e corporativos. (SERPA, 2004).
Olivier Mongin3 escreve sobre a consciência europeia no período sombrio entre as
duas grandes guerras. Afirma que a cidade é uma questão de convívio. Portanto, de política. A
grande ameaça contemporânea para as cidades é o que ele chama de fluxo tecnológico. As
conexões em rede que interromperam a vivência que era possível exercitar às portas, umbrais,
esquinas e praças. Vizinhos não se falam mais, eles se conectam. Para isto, não precisam,
necessariamente, serem vizinhos. É esta solidão, travestida de ganho, que o autor aborda na
sua obra.
Rem Koolhass4 introduz o conceito de “urbano generalizado”, fato decorrente do
crescimento demográfico das entidades urbanas fora da Europa. Num quadro totalmente
diverso de 1930, por exemplo, quando apenas 10% da população era urbanizada, atualmente
estamos na metade e, em 2025, 2/3 dos humanos habitarão zonas urbanas. Segundo Mongin
(2010):
[...] nenhuma das megalópoles será europeia, elas estarão na América Latina, no
Sudeste Asiático e na África Subsaariana, numa extensão territorial e humana que
aponta para um caos de características imprevisíveis. O que aumentará este caos será
o peso das “conexões” (hub) no mundo da rede, das novas tecnologias, das ligações
entre cidades globalizadas, porque entrar em rede parece ser mais importante do que
se relacionar com a proximidade.
O tráfego pesado e o isolamento dos habitantes em espaços murados, ou numa visão
mais ampla, isolamento caracterizado pela falta de acesso ao trabalho, à educação, ao lazer e
ao convívio, associados à falta de infraestruturas mais elementares como vias urbanizadas, por
exemplo, que possibilitem o transporte público adequado e torne possível incorporar ao
contexto urbano as periferias das grandes cidades.
Há a necessidade de se evitar megalópoles verticais, de firme hierarquia, que isolam os
mais necessitados dos centros de decisão e a produção de um urbanismo com escala mais
humana, lutando contra cenários urbanos mais contemporâneos, aqueles que colocam os
lugares sob a pressão mais ou menos suportável dos fluxos de toda ordem, que desvalorizam o
espaço público em benefício do privado, que privilegiam as separações mais do que as
3 Antropólogo, historiador e filósofo francês, no seu livro: A Condição Urbana: A Cidade na Era da
Globalização. São Paulo: Estação Liberdade, 2010. Cujo título remete à Condição Humana, de André Malraux,
de 1933. 4 Arquiteto holandês.
27
junções de uma convivência necessariamente conflituosa, ou seja, a poli: a cidade na escala
humana.
Talvez seja necessário estabelecer, ou criar, novas utopias. A utopia faz parte da
tradição da cidade. É nela que se pensa em primeiro lugar. A de Jerusalém, da Babilônia
Antiga, ou mesmo a polis grega, espaço onde podia-se conversar, conviver, mesmo revelando
desacordos e diferenças. Deixemos de lado, no entanto, Thomas More, o autor de Utopia, que
acreditava ser possível desenhar sobre uma mesa a cidade onde outros iriam viver.
Talvez o sonho, enfim a Utopia, hoje, significa inscrever os espaços no tempo e no
espaço, praticando o que alguns autores chamam de sub-urbanismo, (o contraponto
do sobre-urbanismo, das conexões em rede) exigindo que a percepção do lugar, do
local, preceda o Programa. (MONGIN, 2010).
Vive-se primeiro em um lugar, um espaço conhecido e sensorial, numa paisagem que
representa uma narrativa comum. “[...] a cidade é a coisa humana por excelência”, já afirmava
Claude Lévi-Strauss. Uma mistura de experiência vivida com sonho, natureza com cultura, de
objetivo com subjetivo.
Constata-se, na escalada da violência urbana que acomete todas as grandes cidades e,
particularmente, as cidades brasileiras, os alvos preferidos do crime organizado são
exatamente aqueles considerados como “ilhas de segurança”, como atestam os assaltos
constantes a condomínios residenciais fechados e shopping centers, comprovando a tese de
Jane Jacobs (2003, p. 379), de que o fator que garante maior segurança no espaço urbano é a
presença de pessoas nas ruas.
Este trabalho pretende colocar uma questão nova no debate: a presença no espaço
urbano de uma nova categoria de pessoas antes não existentes, ou existentes de forma muito
reduzida e não nas proporções hoje constatadas em decorrência do aumento de anos na
expectativa de vida.
O processo de envelhecimento vem passando por transformações significativas em
diversos dos seus aspectos, desde meados do século XIX. Basta verificar o caso brasileiro,
como exemplo: a expectativa de vida no início do século XX era de 33 anos de idade.
Atualmente, atinge-se os 73 anos e, para 2050, os 83 anos, segundo estudos do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (2010). São transformações que colaboram para
produzirem novos fatos, identidades e subjetividades que surgem a partir do momento em que
a velhice se torna alvo do mercado e consumo. Segundo a Nutrinews (2010), estima-se que
R$ 800.000.000,00 (oitocentos milhões de reais) é a renda nas mãos dos idosos no país.
28
Apenas 5% são pobres. Desempenho muito melhor do que a população em geral, que conta
com 20% de indivíduos na faixa de pobreza. Até o início da idade moderna, a velhice estava
restrita ao ambiente familiar e privado, vivendo sob dependência e sem desempenhar papel
muito importante na sociedade. Olivier Mongin (2010) diz que “no cenário atual, passou a ser
vista como uma questão pública, já que o Estado e outras organizações privadas assumiram a
gerência da velhice, tentando homogeneizar suas representações.” Mudaram-se as ideias
referentes ao envelhecimento, principalmente aquelas vinculadas pela mídia. “É preciso
derrubar e expulsar ‘modelos’ vividos no passado para se inserir nos jeitos diferentes de hoje”
(MONGIN, 2010).
O idoso, atualmente, está inserido nas discussões de políticas públicas, na organização
de novos mercados de consumo, nas novas formas de lazer, não apenas para ser bem atendido,
mas muito mais para ser preparado para viver a sua condição de idoso. Interessa ao Estado e
empresas que o idoso seja consumidor e produza renda, além de estimulá-lo a cuidar de sua
saúde, reduzindo despesas para os cofres públicos ou planos de saúde.
Quanto mais a terceira idade investir em seu corpo, com cuidados com a saúde, tanto
mais benefícios ele proporcionará a si mesmo, às empresas, às entidades e ao Estado. São
necessários investimentos para produzir novos significados e ensinar novos estilos de vida
para os integrantes da terceira idade e os idosos. Os estilos de vida anteriores, na visão de
organismos multilaterais como a OMS e o Banco Mundial, devem ser desconstruídos por
serem inadequados para os dias de hoje. A velhice deve ser bem sucedida, vigorosa e sem
sofrimentos. Atingir esse alvo passa pelo consumo de diversos produtos, pela busca de
técnicas de rejuvenescer, pelos cuidados com o corpo e a saúde e, ainda, pela reinvenção do
corpo: plásticas, silicones, botox e ingestão de produtos que curam e emagrecem. Passa,
assim, o idoso a ser uma nova categoria cultural, o único responsabilizado pelos cuidados de
si mesmo, pela sua participação social.
Numa sociedade cada vez mais urbanizada, coloca-se hoje, à disposição dos idosos e
da terceira idade, espaços para atividades (academias) e programas de ensino (Universidade
da Terceira Idade) voltados para faixas etárias, onde ficam classificados e aprendem como
devem ser.
Países na Comunidade Europeia, como Itália e Alemanha, criaram um amplo
programa de lazer e turismo para a terceira idade a partir de uma constatação sócio-
econômica: o desemprego produzido durante a baixa estação turística entre outubro e abril,
com as demissões ocorridas no setor turístico, geradoras de altos custos pela obrigação do
auxílio desemprego, foi solucionado com a redução de 50% dos custos ao se proporcionar
29
quinze dias de férias gratuitas para casais idosos. Mantiveram-se os empregos e criou-se um
programa de atenção à terceira idade. No Brasil, a gratuidade nos transportes interestaduais de
ônibus e tarifas diferenciadas nos aviões seguiu o mesmo caminho, conforme o Artigo 39, da
Lei 10.741 (BRASIL, 2003). Mas pode-se citar também, os Centros de Convivência dos
Idosos, Grupos da Terceira Idade, Escolas Abertas, Universidades da Terceira Idade, os já
citados programas turísticos, clubes que oferecem atividades físicas e diversões, lojas de
produtos de embelezamento para uma velhice saudável, tratamentos médicos, complementos
alimentares e outros tantos.
O Poder Público criou uma Política Nacional do Idoso, orientada pelo Estatuto do
Idoso (Lei 10.741/2003), através do qual assegura os direitos, a autonomia, a integração e a
participação desta categoria com sua cultura e educação para a cidadania. Proporciona-se todo
um comportamento moderno que desafia estas pessoas a se envolverem nas atividades e
adotarem novas formas de consumo e estilo de vida, sob pena de serem acusados de
‘culpados’ se ficarem relegados ao abandono e à dependência.
Mas, pelas considerações iniciais feitas a respeito da vida urbana, de uma civilização
globalizada e urbanizada, fica uma indagação: como o idoso poderia se beneficiar de todas as
conquistas citadas, obtidas até agora, num espaço urbano caótico e agressivo que, pelo menos
teoricamente, não proporcionará a sua completa integração em termos de espaços,
acessibilidade, edificações, públicas e privadas adequadas, de lazer, moradia adequada,
transportes e vivência comunitária?
Diante deste desafio a proposta da Tese é delinear a problemática teórica do idoso e
sua inserção na vida urbana, e também da cidade, sua evolução histórica e estágio atual e, a
partir desta discussão, estabelecer parâmetros para a infraestrtura urbana e equipamentos que
levem em consideração a inserção de um contingente populacional, os idosos, cada vez mais
numerosos. Inicialmente, apresentamos uma visão geral do tema proposto com as linhas
gerais da Tese, um plano geral do trabalho a ser desenvolvido. Na complementação do
trabalho, a Tese propriamente dita, serão acrescentados os elementos fundamentais (plantas,
cortes, vistas e ilustrações em geral), que possibilitarão a compreensão integral da ideia
proposta.
30
2 TEORIAS SOBRE A CIDADE
A cidade ocidental moderna tem sido pensada sob distintas matrizes teóricas, com
diferentes graus de abstração e generalização. Busca-se formular um breve panorama de
algumas concepções que marcam o pensamento sobre a cidade. Trata-se, portanto, de um
recorte, o que implica na eleição de alguns paradigmas, na exclusão de outros, ante a
impossibilidade de contemplar todos os autores e tendências.
No caso do presente trabalho, A Cidade e o Idoso, não foi identificada, por parte dos
autores citados, uma preocupação específica com a problemática do idoso e as suas relações
com o espaço urbano. Todos os estudos, em várias disciplinas (psicologia, sociologia, entre
outras), até então, desenvolviam estudos e teorias que organizavam o desenvolvimento
humano sem levar em conta a velhice.
Só com a intensificação do processo de urbanização da humanidade e a carga de
estresse aí embutida, considerando-se ainda o aumento na expectativa de vida das pessoas,
novas linhas de investigação foram surgindo, inclusive a da Gerontologia, que passa a se
interessar por temas como: plasticidade (capacidade de mudança em face de experiência e
uso), adaptação, seleção e otimização de recursos e habilidades (referenciados pelas teorias
de Paul Baltes), sabedoria, dependência aprendida, seletividade emocional (Laura
Carstensen), hormesis (estressores de pouco impacto que beneficiam o organismo e o
preparam para enfrentar estressores de maior impacto); modelos teóricos para mensurar a
velhice bem sucedida (Rowe e Kahn) e a velhice acompanhada por incapacidades e
fragilidades (Linda Fried). A partir daí, surgiram as primeiras abordagens sobre o idoso e as
suas relações com o ambiente, entre eles o ambiente urbano.
O esforço do presente trabalho vai no sentido de entender primeiro o que é a cidade, à
luz de diferentes teorias, e posteriormente, estudar, à luz da Gerontologia e de outras ciências,
a inserção do idoso no ambiente urbano.
As diferentes teorias sobre a cidade estudam o ambiente urbano dentro de uma visão
mais ampla, não necessariamente destacando aspectos como gênero, faixa etária, etnia etc. É
compreensível não se falar em idosos quando grande parte das teorias conhecidas terem sido
apresentadas quando este problema não existia em face da pouca ou baixa expectativa de vida.
Portanto, procura-se aqui entender primeiro a cidade para, posteriormente, entender a terceira
idade e o impacto que esta causará no ambiente urbano.
Karl Marx (1918-1883) e Friedrich Engels (1820-1895) entendiam a cidade ocidental
como o local de produção e reprodução do capital, produto da sociedade capitalista, e,
31
portanto, parte integrante de processos sociais mais amplos. Para os autores, a cidade expressa
a miséria e a degradação da classe trabalhadora na Inglaterra (ENGELS, 1976), retomadas
depois em O Capital (Marx, 1867). Para eles “[...] a história de qualquer sociedade até os
nossos dias é a história da luta de classes” (MARX, 1998, p. 39). Deriva dessa concepção o
papel histórico e estratégico que os autores imputam à cidade industrial do século XIX, como
lócus da luta de classes. Berço da burguesia e de sua ascensão revolucionária, a cidade é
também o espaço onde se evidencia a exploração dos trabalhadores e onde, dialeticamente, tal
operação será superada, por meio da revolução operária. A cidade capitalista, nessa
perspectiva, tem concretude histórica.
A ótica de Max Weber (1864-1920) é diferente. Ele concebe a cidade como do tipo-
ideal, demarcando um campo teórico diferenciado. Para ele, interessa explicitar a origem e o
desenvolvimento do capitalismo moderno e da racionalidade que o atravessa em todas as suas
esferas, destacando o papel que a cidade desempenha na emergência desse processo. Em The
City (1922), está sua observação mais sistemática sobre o fenômeno urbano. Estes escritos
foram, posteriormente, incorporados à obra Economia e Sociedade, sob o título A dominação
não legítima (1910/1921), onde ele aborda as diferentes tipologias de cidades. Ali ele reúne
uma variedade de estudos sobre a antiguidade, sobre a ética protestante, o espírito do
capitalismo e a moral econômica das grandes religiões. Ele procura ainda pesquisar a política
econômica urbana, tal como se desenvolveu na cidade medieval, e visava compreender o
papel da cidade no desenvolvimento do capitalismo moderno. Na sua forma típica ideal, ainda
segundo Weber, a cidade caracteriza-se por constituir-se como mercado e possuir autonomia
política, enfatizando ser o modelo medieval o seu tipo ideal de cidade.
Émile Durkheim (1858-1917) só indiretamente se interessa pela cidade. Focou seus
estudos mais na morfologia social. Analisa a sociedade a partir da disposição, em determinado
território, de uma massa de população de certo volume e densidade, concentrada nas grandes
cidades ou dispersas nos campos, que, servida por diferentes vias de comunicação, estabelece
diferentes tipos de contato. Portanto, é no contexto da anatomia da sociedade, em seus
aspectos nitidamente estruturais, que a cidade aparece como substrato da vida social,
acumulando e concentrando parcelas significativas da população.
Contrapondo-se aos preceitos teóricos e o alto grau de abstração e generalidades
presentes nos pensamentos de Marx, Engels, Weber e Durkheim, aparece a metodologia
largamente empiricista da Escola de Chicago, de onde surgiu o conceito de ecologia urbana.
Esta escola surgiu nos Estados Unidos da América em 1890, desenvolvida por
professores do Departamento de Sociologia da Universidade de Chicago, entre eles Robert
32
Park, Ernest Burguess e Roderick Mackenzie, promovendo um estudo detalhado dos
fenômenos sociais que corriam nos setores urbanos das metrópoles. Na época, houve um
aumento populacional repentino na cidade de Chicago e esta não estava preparada para
receber todo este contingente populacional, gerando uma serie de problemas sociais, como
criminalidade, bolsões de pobreza, desemprego e comunidades segregadas. A Escola de
Chicago, primeira do mundo a oferecer um curso de sociologia, inaugura uma reflexão
inédita, tratando-a como variável isolada, e, pelo feito, recebendo os créditos pela criação da
sociologia urbana. Embora numa postura crítica, recebeu influências de Durkheim e Spencer
e, na sua fundação, recebeu o apoio financeiro de John D. Rockfeller (REISSMAN, 1972).
Manuel Castells contesta esta sociologia que advoga a ideia da existência de um
urbano em si mesmo. Para Castells, não é uma postura científica, mas ideológica. Mesmo
procedente, essa crítica não invalida a importância dessa abordagem que se orienta pelos
conceitos da ecologia humana. A teoria de Robert Park, principal mentor intelectual da
Instituição sobre a ecologia humana e as áreas naturais, pressupõe uma analogia entre o
mundo vegetal e animal, de um lado, e o mundo dos homens, do outro, apoiando-se muitos
nos conceitos de Charles Darwin e sua Teoria da Evolução, quando introduz conceitos como
competição, processo de dominação, processo de sucessão, para explicar tal similaridade. A
cidade é apreendida por meio de um referencial de análise analógico à ecologia animal. Daí
ser identificada como Escola Ecológica.
Louis Wirth, outro expoente da Escola, afirma que a cidade produz uma cultura urbana
para além de seus limites espaciais. A cidade, atuando além dos seus limites físicos, propaga
um estilo de vida urbano e torna-se o lócus do surgimento do urbanismo como modo de vida.
Esta premissa é totalmente inovadora.
Transformando Chicago em um “laboratório social”, fato que marca o empirismo que
caracteriza a abordagem do fenômeno urbano pela Escola, na realidade é a tentativa de buscar
soluções concretas para uma cidade caótica, marcada por intenso processo de industrialização
e de urbanização, que ocorreu na virada do século XIX para o XX, um acentuado crescimento
demográfico gerado por um violento processo migratório, formando guetos de diferentes
nacionalidades, produtores de segregação urbana, ao lado de uma concentração populacional,
antes nunca observada, ocupando um território sem as mínimas condições de infraestrutura,
fermentam a teoria, pela Escola, da ideia de cidade como problema, impedindo ou
dificultando um pensamento com maior grau de abstração sobre o urbano (CHADWICK,
1976).
33
A matriz principal da sociologia francesa considera o urbano como espaço socialmente
produzido, assumindo diferentes configurações de acordo com os vários modos de
organização socioeconômica e de controle político onde está inserido. É uma abordagem
semelhante à da “new urban sociology”. A interação entre as relações de produção, consumo,
troca e poder que se manifesta no ambiente urbano ganha mais importância na abordagem
francesa. Esse enfoque expressa o descontentamento dos neomarxistas franceses com a ideia
vinda da Escola de Chicago de que haveria um urbano por si mesmo, a partir do qual era
possível explicar uma série de fenômenos sociais.
Castells, Lojkine, Ledrut e Lefebvre apresentam novos paradigmas para a reflexão
sobre a cidade. Politiza-se a questão urbana, e novos agentes passam a interferir no processo:
os movimentos sociais urbanos, os meios de consumo coletivo, a estruturação social do
território na sociedade capitalista e o papel do Estado na urbanização. Lojkine (1981) discute
a questão do Estado na sociedade de capitalismo avançado, com base na hipótese de que a
urbanização, como uma forma desenvolvida da divisão social do trabalho, é um dos maiores
determinantes do Estado do Bem-estar Social. Ele analisa o papel do Estado na urbanização
capitalista, a relação da política urbana e suas dimensões na luta de classes e a questão dos
movimentos sociais urbanos diante do Estado.
Henri Lefebvre (1969) traz um novo enfoque sobre a cidade, concebendo-a como
reino da liberdade e do novo urbanismo. Em que pese a sua notoriedade como um dos maiores
teóricos do marxismo contemporâneo, tem suas últimas obras, no campo urbanístico,
criticadas, tanto por Castells (1977), quanto por Ledrut (1976), que afirmam que o autor
expulsa o marxismo do campo das lutas de classes para o da “cultura”, formulando assim,
uma concepção ideológica do urbano. Na ótica de Lefebvre, o urbano não representa apenas a
transformação, pelo capitalismo, do espaço em mercadoria, mas também a arena potencial do
cotidiano vivido como jogo, como Festa. Considera simplista a concepção que coloca, de um
lado, a empresa e a produção e, de outro, a sociedade e o consumo, o que não permite
desvendar a verdadeira dimensão do espaço. É uma clara resposta às críticas de Castells e
Ledrut.
Lefebvre conceitua ainda os espaços a partir de uma trilogia: espaço percebido
(perçu), correspondente à “prática espacial” que assegura a continuidade numa relativa
coesão. A prática espacial é diferente, conforme os conjuntos espaciais próprios de cada
formação social. O espaço concebido (conçu) é correspondente às “representações do
espaço”, pois este é concebido de acordo com as representações sociais que exercem na
sociedade a sua influência. O espaço vivido (vécu) é correspondente aos espaços de
34
representação. É o espaço dos habitantes, dos utentes, que tentam se apropriar do espaço pelas
imagens e símbolos que o acompanham.
Aníbal Quijano, sociólogo peruano, inicia a reflexão latino-americana sobre a
urbanização e o desenvolvimento, no início dos anos sessenta, a partir do conceito de
“Colonialidade do Poder”. Ante o dispositivo de poder que gera o sistema mundo moderno-
mundo colonial e que é reproduzido estruturalmente no interior de cada estado nacional,
Quijano entende que “[...] a espoliação colonial é legitimada por um imaginário que
estabelece diferenças incomensuráveis entre o colonizador e o colonizado”. As noções de
“raça” e de “cultura” operam aqui como um dispositivo taxonômico que gera identidades
opostas. O colonizado aparece como o “outro da razão”, o que justifica o exercício de um
poder disciplinador por parte do colonizador. A maldade, a barbárie e a incontinência são
marcas “identitárias” do colonizado, enquanto a bondade, a civilização e a racionalidade são
próprias do colonizador. O conceito de “colonialidade do poder” amplia e corrige o conceito
de Michel Foucault (1979) de “poder disciplinar”, ao mostrar que os dispositivos pan-óticos
erigidos pelo Estado moderno inscrevem-se numa estrutura mais ampla, de caráter mundial,
configurada pela relação colonial entre centros e periferias devido à expansão europeia.
O confronto entre uma sociologia urbana de cunho ecológico, com origem nos EUA, e
uma sociologia preocupada com o urbano de forma mais abrangente, como defendida por
intelectuais europeus, principalmente franceses, despertou, no Brasil, o interesse de alguns
pensadores para trabalhar a sociologia urbana como disciplina especializada. Já na década de
1940, estudava-se no país por meio de pesquisas e reflexões sobre pequenas comunidades
urbanas, tendo como parâmetro os trabalhos desenvolvidos pelos antropólogos americanos
Donald Pierson e Charles Wagley. 5
A sociologia urbana brasileira, entendida como “ciência do urbano”, passa a existir de
fato a partir de 1968 com a obra Desenvolvimento e Mudança Social: formação da sociedade
urbano-industrial no Brasil, de Juarez Brandão Lopes, a primeira grande iniciativa de
reflexão sociológica sobre a relação entre desenvolvimento industrial, falência do modelo
patrimonial e urbanização. O trabalho de Lopes, os estudos latino-americanos, principalmente
a partir da Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL), incentivaram vários
sociólogos brasileiros na década de 1960, como Francisco de Oliveira, Paul Singer, Maria
5 Os antropólogos norte-americanos Donald Pierson e Charles Wagley, em meados do século XX, escreveram
um novo capítulo na história da antropologia no Brasil, até então pouco estudado, e que teve forte impacto
principalmente nas pesquisas sociais em saúde. O trabalho de ambos permitiu o engajamento de outros
antropólogos norte-americanos nos programas de assistência técnica ao Brasil.
35
Célia Paoli, Luis Pereira, Lucio Kowarick, entre outros, a se aprofundarem sobre o tema.
Todos, entretanto, rejeitaram criticamente a Teoria da Marginalidade, demonstrando que esta
resulta não de um problema de integração social, mas de uma questão mais ampla, estrutural:
a preservação da pobreza é produzida através de mecanismos que nada têm de “marginais” ao
sistema.
Introduzem, ainda, conceitos sobre “periferização” e “espoliação urbana”, chamando
atenção para a dimensão política na urbanização, quando denunciam a dupla espoliação da
classe trabalhadora: como força de trabalho subjugada pelo capital e como cidadãos
submetidos à lógica da expansão metropolitana que lhes negava o acesso aos bens de
consumo.
Com relação à escola de Chicago, é fato consumado que ela exerceu grande influência
entre os pensadores brasileiros. Por sua vez, os preceitos da sociologia urbana francesa
marcaram os anos de 1980 como pano de fundo teórico dos estudos sobre as contradições
urbanas e, acima de tudo, o grande tema da época: os movimentos sociais urbanos. Apoiada
no pensamento marxista, a sociologia urbana francesa desenvolveu, juntamente com a teoria
da marginalidade, importantes estudos a respeito da cidade.
Atualmente, os estudos urbanos brasileiros, apesar de continuarem importando
paradigmas, desenvolvem um grande esforço para investigar e explicar as particularidades da
realidade urbana brasileira6. A temática da globalização, da violência, das drogas e do crime
organizado estão presentes nos estudos sobre as metrópoles brasileiras. A discussão sobre
uma cidade dividida, dual, em que o espaço dos ricos contrapõe-se ao dos pobres, resultantes
da globalização das economias urbanas, além de novos desafios que são postos como questões
dos espaços públicos, da acessibilidade aos bens de consumo urbano, pelas populações mais
pobres ou, então, por um campo sociológico novo, não verificado anteriormente, mas pela
quantidade de indivíduos nele incluído, em permanente crescimento e pela complexidade
espacial e socioeconômica contida no seu bojo, passa a preocupar e interessar diferentes áreas
de estudos: a questão do envelhecimento da população.
A estrutura e a forma do espaço urbano que deverão ser produzidas para inclusão
social dessa nova categoria sociológica, nos aspectos de acessibilidade, habitação e lazer,
entre outras exigências, exigiu um estudo, o mais abrangente possível, sobre a evolução da
6 Entre os anos 1980 e o período atual, foram intensificados os estudos urbanos no Brasil a partir da fundação de
vários cursos de pós-graduação nas Universidades do país e pela saída de estudantes brasileiros para estudar no
exterior. Também por ter sido, neste período, que o processo urbano brasileiro se intensificou exigindo uma
maior reflexão sobre o tema.
36
forma dos sítios urbanos ao longo da história para fundamentar e procurar estabelecer
paradigmas e parâmetros adequados para este novo desafio.
2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA FORMA URBANA
No presente capítulo abordaremos a evolução da forma urbana e a importância das
diferentes configurações do espaço urbanizado na tarefa de promover as relações de troca e o
funcionamento dos serviços que mantêm a vida urbana. Historicamente, arquitetos e
urbanistas trabalham suas propostas obedecendo a um conceito humanista, geral, priorizando
o ser humano sem tratamentos específicos por gênero ou faixa etária. Quando muito se
preocupam é com o espaço das crianças, dimensionando-o a partir das demandas da escala
infantil, como fez Lúcio Costa em Brasília, ao estabelecer critérios, no planejamento das
super-quadras, mais voltados para este segmento etário da população (COSTA, 1995).
Atendendo às crianças, nas suas demandas espaciais, com folga, acreditava Costa,
estariam atendidas as demais faixas etárias. “Para as crianças, tudo, para os idosos nada”
(VERAS, 1994). A cidade sempre foi planejada, intencional ou empiricamente, tendo como
base a figura humana. Só após o advento do automóvel este passou a ser a medida urbanística
básica. Os idosos, até pela sua pouca importância em termos quantitativos, nunca foram
levados em conta no planejamento urbano. Atualmente este quadro mudou, ou encontra-se em
mutação. A grande quantidade de pessoas com idade acima de 60 anos é uma realidade cada
vez mais presente e tem suscitado, nos planejadores, uma maior atenção com esta faixa etária
da população ao elaborar os seus projetos. Não apenas play-grounds, mas salão de danças,
pistas adequadas e especializadas para caminhada de idosos, áreas de estar com jogos de
salão, piscinas adequadas para idosos, quadras de brocha etc., passam a ser implantados no
espaço público. Mas como dimensioná-los? É o que este trabalho pretende mostrar a partir da
evolução da forma urbana e como ela se apresenta hoje.
A estrutura da cidade é formada, basicamente, por 4 elementos: ruas, praças,
quarteirões e lotes. Através do sistema viário fluem as relações de troca e os serviços que
mantêm a vida urbana. Por maiores que sejam as variações, basicamente todos os sistemas
viários se enquadram em três tipos – xadrez ou grelha, radial e o orgânico, ou espontâneo.
Pelo que foi observado anteriormente, as diferentes teorias, basicamente sócio-
econômicas, sobre a cidade, são reflexões bastante recentes, considerando-se o tempo
histórico. O mesmo não ocorre com a evolução da forma urbana, o desenho urbano como é
chamado hoje.
37
Das mais antigas formas, o “traçado em xadrez” é o mais utilizado ao longo da
história. Inventada há mais de 4.000 anos, mas batizada somente em 473 a.C. pelo
arquiteto e urbanista grego Hipodamos, autor do paradigmático plano da cidade de
Mileto, a ‘quadrícula ortogonal’ (grid) assumiu diferentes dimensões e formatos
variáveis ao se disseminar pelo mundo (MUNFORD, 1996).
A variação mais comum é quando assume a forma retangular (passando a ser chamada
de grelha). Geralmente implantadas e mais adequadas para sítios planos, este tipo de
urbanização contrapõe-se ao padrão irregular e tortuoso encontrado em diversas cidades que,
por necessidade de defesa e proteção contra ataques inimigos, eram implantadas em áreas
montanhosas ou de relevo acidentado. É o caso, por exemplo, do período colonial brasileiro,
quando a forma urbana, como um todo, foi influenciada por questões econômicas e
ideológicas, que visavam instrumentalizar as cidades e construções com elementos de
controle e defesa do território, e a dominação da população, via cobrança de impostos.
Com o correr do tempo, com o advento da independência do país em setembro de
1822, não só a necessidade de defesa da costa quanto da cidade construída no interior, foi
reduzida. As cidades passaram a ser implantadas, a partir do século XIX, tendo em vista
outros parâmetros. Aspectos de ordem econômica, custos de construção, dificuldade de mão-
de-obra, entre outros fatores, passaram a influenciar a escolha do sítio, pois não se tinha a
necessidade de se implantar cidades sobre um relevo íngreme, principal característica do
período anterior.
Sítios menos acidentados passaram a ser escolhidos e o solo começou a ter valor
comercial, item que passou a influenciar, decisivamente a organização da forma urbana. A
partir do final do século XIX e início do século XX, surgem no interior do país,
principalmente nas regiões sul e sudeste, várias cidades com o milenar traçado xadrez.
O Brasil assumia a liderança na exportação de café e outras matérias primas desde o
início até meados do século XX, quando surgiram várias cidades, decorrentes deste
tipo de economia, utilizando o traçado xadrez (Bauru e Marília em São Paulo,
Londrina no Paraná) e, depois no Centro-Oeste (Catalão, Gurupi, Goianésia) aí já
influenciadas pela economia agropecuária e a construção de Brasília (WILHEIM,
1969).
A trama em xadrez se apresenta como ótima opção a partir do momento em que a terra
urbana passou a ter um excelente valor de troca e a urbanização em terrenos acidentados foi
38
aos poucos sofrendo desvalorização. Exemplo, O Plano de Mileto7 (figura 1), que contempla
as quadras ortogonais, na forma xadrez, modelo de urbanização que influenciou e influencia
arquitetos e urbanistas de várias épocas (Quadro 3).
Figura 1 – Plano de Mileto.
Fonte: Gouveia (2003, p.25).
7 Quadrícula ortogonal, do urbanista grego Hipodamus. Século V. a.C.
39
Quadro 3 – Vantagens e desvantagens das formas xadrez e radial.
Tipo Vantagens Desvantagens
Grelha
Facilita desenho e locação de vias e redes.
Divisão das quadras em lotes.
Descrição das propriedades.
Nomenclatura e numeração das ruas.
Flexibilidade para suportar mudanças e para
expansão.
Os lotes retilíneos, sem ângulos ou curvas,
simplificam o cálculo de áreas.
Facilitam o registro em cartório e
Comercialização.
Cria facilidades para o encontro das pessoas
aumentando a riqueza da vida urbana.
Conflita com topografia irregular.
Aumenta os percursos.
Dificulta diferenciação entre as ruas.
Cria paisagem monótona.
Provoca processos erosivos quando implantada
em terrenos acidentados.
Radial
Adapta-se à topografia irregular.
Possibilita percursos mais diretos entre dois
pontos.
Dificulta desenho e locação das vias e redes.
Divisão das quadras em lotes.
Descrição das propriedades.
Fonte: Gouveia (2008, p.25).
Apesar do traçado xadrez ter sido utilizado e testado ao longo da história, gregos e
romanos já o utilizavam, assim como os espanhóis na colonização da América, é importante
observar também as suas desvantagens. Mas a principal função urbana, que é promover o
encontro de pessoas para trocas comerciais e culturais, entre outras, é muito beneficiada pela
forma xadrez.
Um dos melhores exemplos de aplicação moderna do traçado xadrez é a expansão de
Barcelona, O Ensanche, proposto por Ildefonso Cerdá em 1863 (Figura 2). Cerdá adotou uma
malha xadrez de 113 X 113 metros (Figura 3), onde promoveu a fácil integração com os
núcleos existentes e o desenvolvimento das funções urbanas. Com uma relativa separação de
atividades, consegue minimizar problemas de poluição do ar com a orientação do sistema
viário principal de forma a permitir a penetração dos ventos dominantes pelas vias. Criou uma
dimensão de quarteirões baseada em elementos ambientais e formas baseadas em fatores
locais originais, possibilitando também a redução da temperatura, fator importante de
considerar na Catalunha, apesar de seu clima mediterrâneo. Importante citar as esquinas do
Plano de Cerdá: chanfradas em dimensões bastante generosas, constituem-se em verdadeiras
praças onde localizam-se cafés, bares e livrarias (Figura 4 a 6).
40
Figura 2 – Plano de Cerdá, para Barcelona.8
Fonte: A Função da Arquitetura Moderna (c1979, p.52).
Figura 3 – Dimensões das quadras de Ildefonso Cerdá.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
Figura 4 – Esquina padrão do Plano de Ildefonso Cerdá para Barcelona.
Fonte: Ronald Lima de Góis (1998b).
8 O Plano de Cerdá para Barcelona contemplava quadras com esquinas chanfradas, possibilitando a boa
visibilidade e espaços de convívio.
41
Figura 5 – Esquina onde o edifício valoriza o espaço urbano, ao proporcionar abrigo ao pedestre.
Fonte: Ronald Lima de Góis (1998b).
Figura 6 – Quadra tipo do Ensenble de Barcelona (Ildefonso Cerda).
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
O urbanista catalão Jordi Borja (2004) afirma que “[...] para se criar vida numa cidade,
é importante a existência de cafés, muitos cafés”. Este conceito de Borja, na realidade, é mais
amplo, contemplando, nas esquinas principalmente, livrarias, bares etc. Neste aspecto,
semelhante aos “botequins” existentes nas esquinas do Rio de Janeiro, Barcelona é um cidade
privilegiada, com uma qualidade de vida que foi acentuada com as reformas urbanas feitas
para as Olimpíadas de 1992 (Figuras 7 a 11).
42
Figura 7 – Esquina marcada como ponto de referência para as atividades urbanas e humanas.
Fonte: Ronald Lima de Góis (1998b).
Figura 8 – Esquina como espaço para as mais diversas atividades de lazer e convivência humana.
Fonte: Ronald Lima de Góis (1998b).
Figura 9 – Esquina como ponto de encontro de diferentes tipos humanos.
Fonte: Ronald Lima de Góis (1998b).
43
Figura 10 – Esquina como fator de valorização do patrimônio construído.
Fonte: Ronald Lima de Góis (1998b).
Figura 11 – Esquina Deux Magots (Paris).9
Fonte: Ronald Lima de Góis (1998a).
2.2 NOVAS FORMAS URBANAS: A CIDADE JARDIM, A CARTA DE ATENAS E O
NOVO URBANISMO
Com a industrialização, intensifica-se o processo de urbanização da sociedade
provocando nos núcleos urbanos um grande impacto ambiental e sócio-econômico em
decorrência do aumento das densidades humanas numa estrutura urbana de origem medieval
na Europa medieval. Os conceitos de Cidade Jardim, propostos inicialmente por Ebenezer
Howard, em 1898, funcionaram como uma das alternativas para responder aos novos desafios
de uma sociedade industrial e urbanizada. Várias cidades europeias, por exemplo,
9 Ponto de encontro, histórico da capital francesa, frequentada por intelectuais e artistas de várias épocas, como
Pablo Picasso, Ernest Hemingway, Jean Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Miró, Albert Camus, Salvador Dali,
cineastas como Jean Luc Goddard, Louis Malle, entre outros. A fama do lugar confere à esquina, um espaço
urbano vivo e útil, como referência histórica e apelo turístico. Ainda hoje é bastante frequentada e parada
obrigatória para viajantes de todas as partes do mundo que visitam Paris.
44
Amsterdam, em 1607, com o Plano dos Três Canais, do arquiteto Hendrick Staets, e Paris, sob
Napoleão III e o Barão de Haussman, entre 1851 e 1870, fizeram grandes reformas urbanas,
de certa forma inspiradoras da arquitetura e do urbanismo moderno (BENÉVOLO, 2005).
Nas Américas, tivemos, a partir das formações urbanas incas de Huanuco Pampa
(1.200 a 1.500 DC), e astecas de Tenochtitlan que, por volta do século XIV, já possuía um
desenho urbano em xadrez e sistemas de água e esgoto, sendo uma das maiores cidades do
mundo, com 250.000 habitantes. As cidades das Missões Jesuíticas, entre a Argentina, o
Brasil e o Paraguai. Os projetos mais recentes de cidades coloniais americanas, como
Charleston, Filadélfia e Sawannah. Depois, em 1792, George Washington contrata o arquiteto
francês Pierre Charles L’Enfant para projetar a própria capital do novo país. No Brasil,
tivemos, em 1893, o projeto de Belo Horizonte, realizado por Aarão Reis, que se inspira em
Haussman e L’Enfant para desenhar a nova capital mineira; o de Pereira Passos, no Rio de
Janeiro, em 1904; o de Alfredo Agache, também no Rio de Janeiro, em 1930. Outras cidades
planejadas incluíam também Volta Redonda, Goiana, Teresina e Natal. São planos ou projetos
onde não se encontra qualquer referência a questões de gênero, etnias, ou faixa etária, por
exemplo.
O Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (CIAM), de 1928, cujo documento
produziu o que veio a ser conhecido como A Carta de Atenas, além de tecer as críticas mais
radicais ao traçado das cidades tradicionais (xadrez e radial), pregavam um urbanismo e uma
arquitetura que refletissem e reproduzissem o modo de produção industrial. Novos conceitos
de arquitetura surgiram a partir do CIAM, notadamente de um dos seus principais arquitetos,
o franco-suíço Charles Edouard Jeanneret-Gris, O Le Corbusier, e seus 5 princípios para uma
nova arquitetura: o Pilotis; a Planta Livre; a Fachada Autônoma; a Estrutura Independente;
e o Teto Jardim. A utilização de novos materiais, como o concreto, o vidro e o aço, e a
eficiência e a razão eram os objetivos finais. No urbanismo, pregava-se a separação de
funções da cidade. Objetivava-se separar o mais possível as atividades de trabalhar, habitar,
circular e recrear, postulados que serviram como normas para as cidades modernistas, numa
clara reação à excessiva sobreposição de atividades das cidades tradicionais, causadoras de
problemas de ordem sanitária, social e ambiental. Era a ideia amplamente disseminada de que
as cidades tradicionais estavam doentes, desprezando-se tudo que dizia respeito ao passado e
à própria história.
Em 1903, os conceitos de Cidade Jardim de Ebenezer Howard foram aplicados na
primeira cidade jardim da Inglaterra: Letchworth Garden City, localizada ao norte de Londres,
45
com população atual de 33.600 habitantes. Também na Alemanha foi construída Hellerau em
1909, com população atual de 19.000 habitantes, sendo na realidade, um bairro de Dresden.
No período do pós-guerra, em 1946, a Inglaterra começa uma ampla reforma urbana
para desafogar Londres (cidade que, no início do século XIX, já era a maior do mundo com
1.000.000 de habitantes), criando as New Towns, onde foram amplamente aplicados os
princípios do CIAM, apesar das críticas de Nicholas Bullock10
, e que viriam a influenciar o
Plano de Brasília. Na New Town de Roehampton foi implantado o que talvez venha a ser o
primeiro conjunto habitacional para idosos (BENÉVOLO, 2005). A única citação sobre
habitação para idosos, especificamente, anterior a essa experiência inglesa, é feita também por
Benévolo (2005, p. 597), quando afirma que “[...] aos artistas, pobres e idosos, destinava-se o
sótão dos prédios de Paris”. É fácil compreender a falta de preocupação para com o abrigo
para os idosos em face da pouca expectativa de uma vida mais longa registrada antes de
meados do século XX. A maioria era abrigada em asilos religiosos ou pertencentes ao Estado.
Outro elemento importante era, e é, a presença do automóvel, desprezando-se o
transporte coletivo de massa. Sir William Holford, arquiteto inglês que presidiu o Concurso
Público para o Plano Piloto de Brasília, afirmava que o metrô, muito utilizado nas cidades
europeias, era um solução para resolver o transporte de passageiros das antigas cidades do
Velho Mundo e suas estruturas urbanas inadequadas. “[...] o homem moderno é composto de
cabeça, tronco, membros e automóvel”, afirmava.
Joaquim Guedes, arquiteto paulista que participou do concurso para a escolha do plano
para a nova Capital e que estruturou a sua proposta básica a partir da utilização de um metrô,
no desenvolvimento urbano da nova capital, jamais aceitou a rejeição de sua ideia. O metrô
foi implantado posteriormente (1994) e Brasília continua sofrendo, como todas capitais
brasileiras, com o excesso de automóveis, sua principal característica de transporte urbano de
passageiros.
Brasília constitui o modelo por excelência dos cânones modernistas. Patrimônio da
Humanidade tombado pela UNESCO, por ser monumento vivo do urbanismo moderno.
A Capital brasileira representa o ponto máximo do modelo modernista, mas antes,
outra cidade do Terceiro Mundo, Chandigarh, capital do Estado de Pendjab, Índia,
foi projetada por Le Corbusier, em 1951, com a colaboração de vários arquitetos
europeus e indianos. Esta é considerada a obra mais importante do mestre
(BENÉVOLO, 2005, p.705).
10
Arquiteto inglês, professor de Cambridge que, no seu livro “Building the post-war world”, critica o tipo de
reconstrução de Londres e outras cidades inglesas, fundamentada no Movimento Moderno, que não levava em
consideração os padrões e valores históricos ingleses.
46
Iniciada em 1957 e inaugurada em 1960, Brasília sofreu grandes transformações,
assim como a arquitetura brasileira, principalmente pelos fatos políticos decorrentes do Golpe
Militar de 1964. O processo de urbanização foi intensificado, surgiu o Banco Nacional de
Habitação (BNH), quando foram construídos grandes conjuntos habitacionais na maioria das
capitais e cidades de médio porte do país. Em 1960, com a mudança da capital para Brasília, o
Rio de Janeiro transformou-se no Estado da Guanabara e o governador eleito, Carlos Lacerda,
em 1965, contrata o arquiteto e urbanista grego Constantinos Doxíades para elaborar um
Plano Diretor para a Cidade-Estado. Ainda na administração de Lacerda, importantes obras
foram implantadas, como o Aterro do Flamengo, Coordenado por Carllota Macedo Soares,
projeto de Carmem Portinho e Affonso Eduardo Reidy, com paisagismo de Roberto Burle
Marx. O Túnel Rebouças e a Adutora do Guandu, além de uma vasto e complexo programa
de remoção de favelas e construção de conjuntos habitacionais na periferia do Rio de Janeiro
também são deste período (DULLES, 2000).
Outra iniciativa foi o Plano Urbanístico da Barra da Tijuca, expansão da malha urbana
carioca por Lúcio Costa (1970/1988). Na década de 1990, tivemos as experiências dos
Projetos Favela-Bairro e Rio Cidade, quando o arquiteto Luis Paulo Conde, como secretário
de urbanismo e depois prefeito do Rio de Janeiro, promoveu grande intervenções urbanas
naquela cidade. São dignos de destaque estes planos, principalmente o Favela-Bairro e o Rio
Cidade, pelo pioneirismo na integração, via urbanismo, entre as várias classes sociais que
formam a sociedade carioca, pela introdução pioneira de conceitos de acessibilidade nas vias
públicas, pela padronização humanizada das áreas de pedestres, do mobiliário urbano e pela
devolução do espaço urbano à população (CAMPISTA, 1996).
Não deve ser deixado de mencionar o Plano Urbanístico de Palmas, capital do novo
Estado de Tocantins, realizado em 1989, pelos arquitetos e urbanistas Luis Fernando Cruvinel
e Walfredo Antunes de Oliveira Filho, última cidade a ser planejada no país.
Hoje, o país, com mais de 80% da população urbanizada, enfrenta sérios desafios de
infraestrutura e serviços urbanos (transportes, água, esgotos, atendimento de saúde e
segurança pública). Além de tudo, a questão ambiental passou a fazer parte da agenda política
e administrativa a partir dos sérios danos ambientais causados em muitas cidades pelo avanço
de uma urbanização desenfreada e caótica (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E
ESTATÍSTICA, 2010)
Mas houve avanços quando a Constituição Brasileira de 1988, no seu Capítulo II – Da
Política Urbana – artigos 182 e 183, passou a considerar de forma clara as questões do
47
ordenamento das cidades, tornando obrigatório o Plano Diretor para cidades com mais de
20.000 habitantes, cidades de interesse turístico e/ou ambiental e de zonas metropolitanas,
mesmo contando com populações inferiores a 20.000 habitantes. Em 10 de julho de 2001,
através da Lei 10.257, é criado o Estatuto da Cidade que regulamenta o texto constitucional.
2.3 O NOVO URBANISMO
Trata-se do movimento surgido nos Estados Unidos da América a partir do I
Congresso do Novo Urbanismo em 1983 e da Carta do Novo Urbanismo de 1996. A Carta é o
documento de referência do Congresso do Novo Urbanismo, formado por profissionais cujo
objetivo foi formalizar um novo enfoque para o urbanismo. Este movimento, na linha do pós-
modernismo, segue no mesmo pensamento de crítica ao urbanismo modernista de Jane
Jacobs, jornalista e socióloga americana que, no seu livro Morte e Vida das Grandes Cidades
(2003), desenvolve implacável crítica ao modernismo. Entretanto, uma das principais críticas
contra os cânones modernistas, a de que é impossível mudar as complexas relações urbanas
com o desenho urbano, é, no fundo, retomada pelos adeptos do novo urbanismo, que propõem
um retorno ao urbanismo tradicional como forma de melhorar a vida nas cidades. Em síntese,
o novo urbanismo propõe:
1. Resgate à qualidade de vida nas cidades.
2. Melhoria do relacionamento entre o homem e a cidade.
3. Desenvolvimento sustentável de longo prazo, pois, em consideração, estaria o
impacto entre as novas e antigas intervenções urbanas e suas repercussões nos
planos social, econômico e ambiental.
Lideram este pensamento nos EUA, seis arquitetos (Peter Calthorpe, Andrés Duany,
Elizabeth Moule, Elizabeth Plater-Zyberk, Stefanos Polyzoides e Daniel Salomon). Todos
vinham da experiência de projetar algumas pequenas cidades e reconstrução de setores
urbanos. Parte do grupo atua também como docentes e todos trabalham intensamente como
arquitetos em seus escritórios.
Nos EUA, o novo urbanismo é novo apenas de estabelecer princípios relacionando ao
espaço regional com o espaço local pelo sistema de transportes, a estimular uma tipologia de
parcelamento do solo e organização das áreas residenciais retomando conceitos de Ebenezer
Howard, e de promover uma gestão dos espaços incluindo uma intensa participação popular.
O Novo Urbanismo está detalhado em 29 princípios onde os princípios de 1 a 9
contemplam a região: metrópole, cidades médias, grandes (city) e a pequena (town); os de 10
48
a 17 referem-se ao bairro, ao setor (por exemplo, área histórica, portuária, cidade universitária
etc.) e ao corredor; 18 a 27 são relativas às quadras, ruas e edifícios.
2.3.1 O Novo Urbanismo na Europa
Na Europa, são muito semelhantes os pontos de convergência com os norte-
americanos: preocupações com a preservação histórica, conservação dos bens naturais, o
sentido de cidadania (o individual e o coletivo). Persistem os conceitos de Ebenezer Howard e
a repercussão do Plano da Cidade de Tapiola, Finlândia (Figura 12 e 13), e os conceitos pós-
modernistas desenvolvidos em Pounbury, na cidade de Dorchester, Inglaterra.
Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação
Fonte: Kärnä ([2001]).
Figura 13 – Centro da Cidade de Tapiola (vista da área comercial)
Fonte: Tapiola ([2008?]).
A cidade de Tapiola, fundada em 1953 dentro dos conceitos de Cidade Jardim, conta
hoje com 38.000 habitantes e seu idealizador foi um jovem advogado Heikki von Hertzen
que, junto com a Fundação Habitação da Finlândia, combateu a construção de apartamentos
repetitivos como estavam sendo construídos em diversos lugares. Com argumentos da sua
49
visão humanista e das visitas que fizera às cidades jardins da Inglaterra, Hertzen defendia que
as pessoas tinham o direito de viver junto à natureza, convidou diversos arquitetos para a
Finlândia, organizou um concurso para a área central de Tapiola e acabou realizando o seu
sonho. Tapiola hoje é um ícone quanto às pessoas morarem perto da natureza, a mistura de
usos do solo é adequada e o sistema público de transporte funciona (Figuras 14 e 15).
Figura 14 – Cidade de Tapiola (transporte público de passageiros)
Fonte: Transporte em Tapiola ([20--?]).
Figura 15 – Vista aérea de Tapiola11
Fonte: Tapiola ([20--?]).
O Componente forte dos ideais do Novo Urbanismo é o resgate de tipologias
urbanísticas e arquitetônicas da cidade tradicional. Para empresas imobiliárias e determinados
arquitetos, também refere-se ao resgate de estilos passados. É uma atitude muito bem vinda ao
gosto popular dos EUA e de outros países.
O Príncipe Charles, da Inglaterra, em 1989, por meio da Prince of Wales Foundation
for Built Environment, promoveu uma reforma urbana no bairro de Poundbury, extensão da
cidade de Dorchester, numa área de 160 HA, para uso misto de 1.200 habitantes e a instalação
11
Pode-se observar o equilíbrio entre área construída e a natureza.
50
de 40 unidades destinadas a comércio, serviços e indústrias leves e que ajudaram a formar os
13 princípios a serem estabelecidos no planejamento urbano de um espaço agradável para a
vida das pessoas.
Resumindo, o Novo Urbanismo propõe:
1. Respeitar: Os cidadãos. A escala humana. O meio ambiente através da
sustentabilidade. Uma atitude conciliadora.
2. Valorizar: O pedestre, o intercâmbio social. O espaço público por meio da
segurança. A beleza como bem comum. A natureza no contexto urbano.
3. Promover: Diferentes usos como moradia, trabalho e diversão num mesmo local.
Inclusão social e senso de comunidade. Integração local no meio regional. Melhor
desempenho do ambiente construído.
2.3.2 Urbanismo no Brasil de Hoje
No Brasil, houve um período de estagnação no setor da construção civil e na produção
de moradia, fruto dos ajustes feitos na economia, no período entre 1994 a 2002, dos governos
de Fernando Henrique Cardoso. De forma intensa, as atividades de construção civil foram
retomadas a partir da criação do Ministério das Cidades, no dia 1º de janeiro de 2003, cujo
objetivo é “Combater as desigualdades sociais transformando as cidades em espaços mais
humanizados ampliando o acesso à moradia, ao saneamento e ao transporte” (BRASIL, 2001).
O Ministério foi dividido em 04 secretarias: Habitação, Saneamento Ambiental, Transporte e
Mobilidade e Programas Urbanos.
Embora deva-se ressaltar o fato do Ministério atender uma velha reivindicação de
arquitetos, urbanistas e demais profissões que tratam com o urbano, no sentido de agrupar
todas as funções da cidade numa só estrutura administrativa, inexistem conceitos orientadores
no sentido de disciplinar e orientar, sobretudo orientar, o ordenamento das cidades. Estas
continuam crescendo ao sabor dos interesses econômicos, sobretudo os imobiliários. Embora
considerando as dificuldades de se estabelecer padrões de urbanização num país continental
como o nosso, seria por demais importante a existência de normas orientadoras de
ordenamento urbano, retomando o papel do Estado no seu planejamento.
Há menos de um século (até meados dos anos 60), as cidades brasileiras abrigavam
10% da população do país. Hoje abriga 82% num processo de exclusão e desigualdades sem
igual: 6,6 milhões de brasileiros não têm moradia; 11% não têm acesso à água tratada; e 50%
não são servidos por redes coletoras e tratamento de esgotos (BRASIL, 2001). Favelas se
51
multiplicam em todas as cidades e a prioridade conferida ao transporte individual em
detrimento do transporte coletivo de passageiros transformou as nossas cidades,
principalmente as metrópoles, num sistema caótico e desumano de mobilidade urbana com
milhões de prejuízos ao país. O tráfico de drogas assumiu o papel do Estado em vários
municípios brasileiro, notadamente no Rio de Janeiro e em São Paulo, e a violência é um
processo presente e de fim imprevisível.
O Brasil é um país de 5.565 municípios, dos quais apenas 1.684 (os que possuem mais
de 20.000 habitantes) estão obrigados, constitucionalmente, a implantar os seus Planos
Diretores de Desenvolvimento Urbano. O grande avanço foi a obrigatoriedade de participação
popular e a criação do Conselho das Cidades, muito embora a dificuldade de identificar e
qualificar os atores participantes criem enormes dificuldades na aprovação de leis, normas e
outros instrumentos de gestão urbana.
As intervenções são pontuais, tendo como base a construção de conjuntos
habitacionais sem uma preocupação mais ampla com a cidade. Não existe uma estratégia de
crescimentos urbano para as cidades e os problemas vão se agravando quando o processo de
urbanização, em tudo caótica, atinge ou ocupa áreas de risco ou de preservação ambiental que
abrigam mananciais necessários ao abastecimento humano de água.
Programas governamentais para atenuar os problemas não são conduzidos
adequadamente. Um exemplo é o de moradias populares “Minha Casa, Minha Vida”, o
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC I e II)12
. Apresentado inicialmente como a
grande oportunidade de se planejar habitações condignas com uma urbanização mais rica, do
ponto de vista do desenho urbano, a saída do Ministro Olívio Dutra (PT) e sua equipe
(2003/2005), cedendo o lugar para aumentar a base de sustentação parlamentar do governo
Lula, ao senhor Márcio Fortes (PP), transformou-se num amplo programa voltado aos
interesses do setor da construção civil. As casas terão no máximo 35.00m² e os apartamentos
45.00m² (para compradores com renda de 1 a 3 salários mínimos e de 3 a 10 salários mínimos
respectivamente). Angola recentemente lançou um programa habitacional para baixa renda
onde as casas terão 100.00m², só para servir de comparação (RAPOSO; SALVADOR, 2007).
Como será visto mais adiante, fundamentado em parâmetros de acessibilidade, no
estudo de evolução da quadra urbana, em pesquisas efetuadas sobre a mobilidade da pessoa
idosa, é feita a proposta do dimensionamento de uma quadra urbana que possa atender de
12
Programas do Governo Federal com a finalidade de resolver os sérios problemas de infraestrutura como
aeroportos, portos, rodovia, ferrovias, saneamento básico, entre outros.
52
forma mais adequada à determinação legal (RDC nº 283 e Lei 10.741/2003), que estabelece
um percentual de 5% nos novos conjuntos habitacionais, para pessoas idosas.
53
3 O IDOSO NA SOCIEDADE E NAS CIDADES
3.1 O IDOSO NA HISTÓRIA: UM BREVE PAINEL.
São poucas as informações sobre o idoso nas antigas civilizações ou na história de
uma forma geral. De certa maneira um aspecto compreensível, pois morria-se cedo (até o
século XIX) antigamente. As poucas informações disponíveis reportam-se mais aos idosos
das classes mais abastadas, ou registros esparsos encontrados em poemas, peças teatrais ou
crônicas de época. Mais raras ainda são informações sobre idosos de classes menos
favorecidas. Entretanto, nos poucos documentos encontrados está sempre presente,
dependendo da civilização, a forma diferenciada de se tratar os idosos e o que tais
documentos nos ensinam para compreender a situação de hoje. (BEAUVOIR, 2007).
Sociedades ocidentais valorizavam o idoso mais pelos bens materiais adquiridos ao
longo da vida. Por outro lado, os orientais valorizavam o idoso pelos conhecimentos tácitos e
experiência para lidar com determinados problemas.
Sociedades, dependendo do período histórico, onde o trabalho árduo era exigido, os
idosos eram deixados de lado e, até mesmo, eliminados, pois não tinham como contribuir para
o grupo a que pertenciam. Em comunidades indígenas, por outro lado, os idosos, ainda hoje,
são muito valorizados e chegam a chefiar o grupo. A China, por ser uma sociedade autoritária
e hierarquizada, valoriza os seus idosos pelo conhecimento. Sua organização familiar e
patriarcal defendia que a família devia obediência aos idosos por serem detentores da
sabedoria (MAZO; LOPES; BENNEDETTI, 2003).
Os judeus respeitavam os idosos por acreditarem que Deus os havia escolhido e
abençoado com a longevidade. Na Palestina, os anciões tinham participação destacada na
sociedade exercendo cargos importantes na vida pública. Os egípcios temiam a velhice e
almejavam vencê-la com um sonho de rejuvenescimento (BEAUVOIR, 2007).
Na Grécia e Roma antigas, não havia leis para proteger escravos, mulheres e idosos e
só generais e idosos que possuíam alguma riqueza detinham poder e prestígio sobre os demais
(BEAUVOIR, 2007; MAZO; LOPES; BENNEDETTI, 2003).
No início da Idade Média, com a invasão dos bárbaros, os idosos foram desprezados
por não poderem ajudar no trabalho árduo e nos esforços de guerra. Com a consolidação do
cristianismo, nesta mesma época, a Igreja Católica assumiu os cuidados com os idosos,
construindo abrigos e hospitais, e chegavam a utilizar até mosteiros e conventos para tal fim.
Com o surgimento da burguesia, no final da Idade Média, os idosos voltaram a ser
54
prestigiados, principalmente aqueles que possuíam bens, como terras, e haviam acumulado
riquezas (MAZO; LOPES; BENNEDETTI, 2003). Com o Renascimento, os idosos voltaram
a ser desprezados, mas os motivos eram outros, não mais incapacidade para o trabalho, mas
por não possuírem mais os padrões de beleza e perfeição e apresentarem sinais de decadência
física e perderem o vigor da juventude (MASCARO, 2006.)
O desenvolvimento da tecnologia, a mecanização e o êxodo rural aumentaram as
dificuldades dos idosos, por suas limitações biomecânicas e inadaptação a novos serviços,
fazendo-os sentirem-se improdutíveis, dispensáveis e descartáveis (SIMÕES, 2007, p.32). O
advento da urbanização nas sociedades proporcionou que as autoridades observassem a
necessidade de maiores cuidados com os idosos. Em 1891, a Dinamarca promulgou uma Lei
de Assistência a Ancianidade e os Estados Unidos, em 1929, criou uma Lei de Seguridade
Social que previa uma aposentadoria, em forma de pensão, para aqueles que haviam parado
de trabalhar em função da idade. A partir daí, vários outros países tomaram medidas
semelhantes (MAZO; LOPES; BENNEDETTI, 2003).
No Brasil, inserido no contexto ocidental de nações, a preocupação com os idosos foi
iniciada na década de 30 do século XX, no governo de Getúlio Vargas, que promoveu leis de
cunho social (salário mínimo, Consolidação das Leis do Trabalho, sindicatos livres, entre
outras) e, mais recentemente, com a Constituição de 1988, e quando foi promulgado o
Estatuto do Idoso, PL nº 3.561 do deputado Paulo Paim (Lei nº 10.741/2003, sancionada pelo
Presidente Luis Inácio Lula da Silva em 01/10/2003), atualizado em 05/02/2010. No Sistema
Único de Saúde, existe atendimento preferencial para idosos na Rede Pública de Saúde. A
Resolução da Diretoria Colegiada-RDC nº 283, de 23/09/2005, da Agência Nacional de
Vigilância Sanitária, estabelece normas para Estabelecimentos Residenciais para Idosos. Uma
grande conquista foi a extensão das aposentadorias para os trabalhadores rurais
(FUNRURAL), nos anos 1970.
Entre outros benefícios, o Estatuto do Idoso estabelece:
Distribuição gratuita de próteses, órteses e medicamentos.
Proibição de Planos de Saúde privados aumentaram mensalidades pelo critério de
aumento de idade.
Transporte urbano gratuito com reserva de 10% dos assentos para idosos.
Transporte interestadual gratuito com reserva de 2 vagas para idosos ou desconto de
50% no preço em vagas remanescentes.
Punição com rigor de atos de negligência, discriminação, violência e opressão contra
idosos.
Tratamento preferencial em tramitação de processos e execuções judiciais.
Abatimento de 50% no acesso a atividades culturais, esportes e lazer.
Reserva de 5% de unidades habitacionais em programas habitacionais financiados
ou promovidos pelo poder público.
55
Atendimento prioritário na Rede de Saúde, bancos, correios ou qualquer serviço
público.
Dispensa de pagamento de imposto de renda para pessoas aposentadas.
Adoção de normas e critérios de acessibilidade nas vias e espaços públicos, prédios
e edificações em geral e nos equipamentos de transportes urbanos.
Proibição de impedir o acesso ao trabalho para pessoas com mais de 60 anos.
(BRASIL, 2003).
Pode-se observar, de imediato, as grandes transformações que precisarão ser feitas em
determinadas atividades, como as já citadas acima, no sentido de atender às recomendações e
normas do Estatuto do Idoso. Além do mais, deverá ser implantada, adaptada ou
redimensionada, uma grande quantidade de equipamentos no espaço público, nas atividades
culturais e de lazer e nas repartições, centros de compras e prédios em geral.
3.2 A SITUAÇÃO DO IDOSO NO BRASIL DE HOJE.
Três grandes instituições nacionais estão pesquisando e apresentando dados sobre a
situação do idoso no Brasil: o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o
Instituto Brasileiro de Pesquisas Sociais Aplicadas e a Fundação Perseu Abramo. Estima-se
que 11% da população, algo entre 19 e 21 milhões de pessoas, compõe o quadro da população
brasileira com mais de 60 anos. O Brasil, até 2.020, deverá ser o sexto país do mundo em
número de idosos. Espera-se que dentro de cinco anos o país conte com mais de 45.000
pessoas com mais de 100 anos de idade, segundo Camarano; Kanso; Mello ([2002]).
Os especialistas do IPEA apontam os avanços da qualidade de vida (saúde, educação e
habitação), verificados no século XX, ao lado da queda na taxa de fertilidade no Brasil nos
últimos 10 anos, entre 2000 e 2010 (a taxa de fertilidade por mulher caiu de 3,8 filhos para 1,8
filhos per capita), como os principais causadores do processo de envelhecimento populacional
(CAMARANO; KANSO; MELLO, [2002]) (Tabela 2).
Tabela 2 – Evolução do número de idosos no Brasil
Ano Nº de Idosos Nº de idosos com 80 anos ou mais
1950 2.210.318 209.180
2000 14.536.029 1.832.105
2050 55.555.895 3.065.000
Fonte: Camarano; Kanso; Mello ([2002]).
Tal situação provocará enormes dificuldades para os programas de previdência social,
notadamente aposentadorias, segundo alguns especialistas do mercado financeiro (por
56
exemplo, Raul Veloso), que apresenta um quadro de falência da previdência social (Tabela 3),
muito embora, para vozes discordantes, estas estatísticas revelam, no fundo, desejos velados
de privatização do setor por organismos transnacionais. Não estariam sendo levados em conta
fundos de previdência, como o FINSOCIAL, o Fundo de Amparo ao trabalhador (FAT), o
FGTS, entre outros que cobririam com folga os gastos previdenciários.
Tabela 3 – Evolução do número de contribuintes e aposentados do INSS:
Ano Contribuintes Aposentados
2008 34.600.000 22.700.000
2032 (Previsão) 43.400.000 47.700.000
2050 (Previsão) 43.900.000 61.700.000
Fonte: Camarano; Kanso; Mello ([2002]).
Como pode ser verificado, o fenômeno do envelhecimento deverá trazer grandes
problemas sócio-econômicos, caso nada seja feito para saná-lo. As previsões é de que o país
deverá apresentar índices de desenvolvimento econômico entre 4,5% e 7,5% ao ano, durante
algum tempo, aumentando os níveis de emprego e renda e, com isto, equilibrando as contas da
previdência. Poderá haver um colapso na previdência social se o número de beneficiários for
superior ao de contribuintes.
No quadro abaixo (Tabela 4), podemos observar o crescimento do número de idosos
no Mundo (desenvolvido e subdesenvolvido), relativamente ao Brasil.
Tabela 4 – População com mais de 60 anos.
Situação por países 1970 % 2005 % 2025 %
Mundo 31,9 8,4 672,4 10,4 1.192,6 15,1
Países em Desenvolvimento 165,4 6,2 428,3 8,2 849,6 12,8
Países Desenvolvidos 146,5 14,5 244,1 20,2 342,9 27,5
Brasil 5,5 5,7 16,5 8,8 35,1 25,4
Fonte: Organização das Nações Unidas (2008). *Números absolutos (em milhões) e percentuais.
Com base nos dados acima, percebe-se que, em 1970, a percentagem de idosos no
Brasil era menor que a do mundo, dos países desenvolvidos e dos países em desenvolvimento.
Em 2005, já supera a dos países em desenvolvimento. E, em 2025, a previsão é de que a
percentagem do número de idosos no país será superior à do mundo e à dos países em
desenvolvimento e se aproximará da dos países desenvolvidos.
Em 2002, reunida em Madrid, a Organização Mundial de Saúde, preocupada com o
aumento da população idosa no mundo, adotou o lema “Envelhecimento Ativo” para expressar
57
a necessidade dos idosos terem uma vida saudável e ativa, estabelecendo medidas na área de
saúde para promover uma melhor qualidade de vida para a terceira idade, em que estejam
presentes a independência, a participação social, a assistência, a auto-realização e a dignidade.
Por outro lado, por ser um tipo de população que, na sua maioria, está aposentada e
dispõe de tempo livre, a principal medida tomada pelas autoridades envolvidas com o assunto
foi estabelecer, ao lado das preocupações com a saúde, ações concretas no sentido de criar
condições para preencher o tempo de ócio dos idosos: ou seja, uma política de lazer em todas
as áreas onde fosse possível atender essa demanda. Outra preocupação essencial é a questão
do abrigo: seja no caso das tipologias habitacionais ou o local, no espaço rural ou urbano,
principalmente, pois estamos vivendo uma época de urbanização acentuada em todas as partes
do mundo. Saúde, habitação e lazer com participação ativa na vida social, são os aspectos a
serem abordados no presente trabalhos tendo como objeto grupos da terceira idade.
Segundo o IBGE (2010), os idosos têm procurado cada vez mais os centros urbanos,
devido à infraestrutura urbana, notadamente nos serviços de saúde ou nas atividades
cotidianas, onde podem dispor de serviços de abastecimento, lazer e convívio, e aproveitando
as oportunidades de contato para desenvolver novas oportunidades, melhorando a sua
qualidade de vida. Sendo assim, torna-se imperativo analisar as suas necessidades quanto ao
uso do espaço privado que atende as suas necessidades individuais e também quanto ao uso
dos espaços públicos urbanos, parte da infraestrutura urbana necessária para garantir a
qualidade de vida nas cidades.
Deve ser ressaltado ainda que o envelhecimento é também uma questão de gênero.
Existe uma feminização da velhice. Considerando a população idosa como um todo, observa-
se que 55% dela é formada por mulheres. Quando desagregada pelos subgrupos de idade, a
diferença entre essas proporções aumenta, principalmente entre idosos. A proporção do
contingente feminino é mais expressiva quanto mais idoso for o segmento, fato explicado pela
mortalidade diferencial por sexo. Isso leva à constatação de que o “mundo dos muitos idosos
é um mundo de mulheres” (Carstensen; Pasupathi; Mayr, 2000). A prevalência de mulheres
também se tornou mais expressiva ao longo das décadas. Houve um aumento no período entre
1940 e 1960, embora com uma queda acentuada nas décadas seguintes.
As mulheres estão mais presentes nas cidades. Nas zonas rurais, a predominância é
masculina. Este fato é explicado pela maior participação das mulheres no fluxo migratório.
Isso implica necessidades distintas de cuidados para a população idosa. A predominância
masculina nas áreas rurais pode resultar em isolamento e abandono das pessoas idosas
(CAMARANO; KANSO; MELLO, [2002]).
58
Lloyd-Sherlock (2009) afirma que, mesmo que a velhice não seja universalmente
feminina, ela possui um forte componente de gênero. Mulheres idosas experimentam maior
probabilidade de ficarem viúvas e em situação socioeconômica desvantajosa. Embora o perfil
esteja sendo alterado pela entrada cada vez mais acentuada de mulheres jovens no mercado de
trabalho, a maioria das idosas brasileiras de hoje nunca tiveram um trabalho remunerado
durante a vida adulta. Ressalte-se que, embora vivam mais do que os homens (em média sete
anos, segundo o Censo de 2010 do IBGE), passam por um período maior de debilitação física
antes de morrer do que eles. Já homens mais velhos têm maiores dificuldades de se adaptar à
saída do mercado trabalho, segundo Simões (2007).
A composição da população idosa por cor e raça não se diferenciou da distribuição da
população como um todo, em que há predominância da população de cor branca, seguida pela
parda. Dos 22 milhões de idosos, segundo o Censo de 2010, 13.354.000 se consideraram
brancos (60,7%), 6.764.000 (30,7%) se consideraram pardos, e 1.540.000 (7%) se
consideraram pretos. Amarelos e índios representam apenas 1,2% da população de idosos
(INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2010).
Comparadas aos homens, as mulheres idosas apresentam uma proporção mais elevada
de brancas e um menor número de pardas e pretas, fato que pode ser explicado pelos
diferenciais de mortalidade por raça. Deve-se também verificar a possibilidade da existência
de um problema de enumeração nas informações desagregadas por cor/raça por serem essas
resultantes de autodeclaração (CAMARANO; KANSO; MELLO, [2002]).
Outro fator a ser levado em consideração diz respeito às influências que as questões de
gênero e etnias podem provocar nas tipologias habitacionais. Em geral, as mulheres aceitam
viver coletivamente, sem maiores preconceitos, com mais facilidade que os homens,
normalmente mais propensos ao isolamento (CAMARANO; KANSO; MELLO, [2002]).
59
4 OBSERVAÇÕES SISTEMÁTICAS
4.1 OBSERVAÇÕES SISTEMÁTICAS NO EXTERIOR
Após revisão sobre diferentes teorias sobre a cidade e analisar a situação do idoso na
sociedade e nas cidades, tornou-se necessária uma pesquisa de campo em distintas cidades no
exterior e no país. O objetivo desta pesquisa de campo foi o de identificar cidades e locais
onde houvesse exemplos nos campos da arquitetura e urbanismo que contemplassem
propostas para atender demandas da pessoa idosa.
A partir da montagem prévia de um roteiro com base em pesquisa bibliográfica, Foram
definidas as cidades de Amsterdam, Holanda e Barcelona, Espanha, como pontos principais
de referência. A primeira cidade pelos exemplos históricos identificados e pela tradição na
prática do planejamento urbano. A segunda, além da sua tradição histórica no planejamento
urbano, pelos exemplos recentes de intervenções urbanísticas que a transformaram em
paradigma universal de cidade. Evidentemente, outras cidades foram observadas, de forma
mais superficial, como Tapiola na Finlândia, Paris e Nice na França.
No Brasil, os estudos foram feitos em Copacabana, Rio de Janeiro, cidade escolhida
pela ONU, pela grande quantidade de idosos ali residentes – aproximadamente 2% dos idosos
do país e 5% dos idosos da cidade, segundo o IBGE (2010) – como laboratório de pesquisas
sobre o idoso no que diz respeito a questões como inserção na comunidade, principalmente no
espaço público, na habitação e no lazer.
A outra cidade foi Brasília, cidade planejada, onde, além das características do
dimensionamento das áreas habitacionais na escala da criança, apresenta super-quadras
formando um quadrado de 600 X 600m, em Unidades de Vizinhança.
Conforme Edgar Graeff (1979, p.141):
[...] o princípio da organização de vizinhança era colocar dentro de uma distância
percorrivel a pé todas as facilidades necessárias diariamente ao lar e à escola, e
manter fora dessa área de pedestres as pesadas artérias de tráfego que conduzem
pessoas ou mercadorias que nada tem a ver com vizinhança. Uma vez determinada a
distância a pé, como o próprio critério de uma comunidade de face a face, seguia-se
que nenhum local de folguedos para a criança deveria ficar a mais de 500 metros das
casas a que servia, à escola primária e a área local de mercado.
Além das super-quadras, Lúcio Costa criou outros setores habitacionais, como as
Habitações Individuais Geminadas, HIG, com extrema semelhança, em termos conceituais e
de dimensionamento, com setores habitacionais do Plano dos 3 Canais de Amsterdam. Essas
60
habitações eram, no princípio, destinadas aos operários da construção da nova capital, os
candangos, mas pela excelente localização foi, aos poucos, sendo ocupada pelas classes
média e média alta.
Tanto nas super-quadras, como nas HIG, procurou-se identificar áreas destinadas a
pessoas idosas, mas, como foi verificado em diversos planos urbanos estudados, os espaços e
equipamentos para esta faixa etária da população, uma questão recente, repetimos, estão
sendo implantados, de forma mais efetiva, adaptando-se à estrutura urbana existente nas
cidades tradicionais, planejadas ou não.
A busca por parâmetros que orientasse o dimensionamento dos espaços urbanos e
equipamentos para idosos foi, assim, o foco das pesquisas de campo apresentadas no presente
capítulo.
No exterior, no caso de Amsterdam, foi analisado o Plano dos Três Canais (1607) e
seus hofjes (abrigo em holandês), inicialmente com o objetivo de defesa da cidade contra
invasões inimigas e depois como local de habitação e abrigo para idosos.
Contrapondo-se à maioria das cidades europeias, produto do absolutismo que domina
os estados europeus, grandes ou pequenos, as cidades holandesas, no período, são governadas
como cidades-Estado medievais: o poder político é administrado coletivamente pela burguesia
mercantil, toda grande cidade é uma república independente, com leis e instituições próprias,
mesmo que adira a uma federação para defender os interesses comuns econômicos e militares
(BENÉVOLO, 2005, p. 536).
Amsterdam, na primeira metade do século XVI, é uma cidade portuária de porte
médio, já com 40.000 habitantes. É a cidade mais importante, tornando-se o centro de
comércio e da atividade bancária europeia, e cresce utilizando uma combinação de práticas
diversas: métodos administrativos medievais, aplicando as contribuições da ciência e da
tecnologia moderna e o espírito de regularidade da cultura visual renascentista. A cidade é
ampliada após a conquista pelas tropas de Guilherme, O Taciturno. Os muros de 1481 são
demolidos e o fosso perimetral se torna um canal interno da cidade. Em 1593, um novo
cinturão de muros é construído segundo técnicas militares modernas.
No início do século XVII, é projetada um nova e grandiosa ampliação, pelo arquiteto
Hendrik Staets, objetivando quadruplicar o tamanho da cidade. Em 1614, houve a abertura de
três canais residenciais a partir do Brouwersgracht, no lado oeste, rodeando a cidade
existente. Foram denominados o Anel de Canais (Grachtengordel). Em volta do anel, os
terrenos foram ocupados pelos cidadãos mais ricos. Os nomes dos canais homenageavam os
grupos mais influentes: O Herengracht (Canal de Cavaleiros, com 3,5km, era o mais interno)
61
era uma referência aos comerciantes. O Keisersgracht (do Imperador, tem 4km, canal
central), reverenciava o Sacro Império Romano e o Prinsengracht (do Príncipe, tem 4,5km)
lembrava a ligação da cidade com a Casa de Orange. As casas dos operários foram erguidas
ao largo das valas de drenagem do Jordaan. Os canais vão até a Zona Oriental onde é previsto
um Parque Público.
O governo desapropria, constrói os canais e vende os lotes de terrenos aos particulares
que desejem construir casas, recuperando assim os investimentos feitos. Os particulares
devem observar os minuciosos regulamentos de construção, que estebelecem os caracteres
dos edifícios e os ônus a cargo dos proprietários.
Cada canal tem 25 metros de largura (permitindo quatro corredores de 6 metros para
navios médios: um para cada sentido de trânsito e dois para paradas). Adjacentes aos canais,
em ambos os lados, com 11 metros de largura e duas fileiras de árvores (Olmos) ficam os
desembarcadouros. Entre os canais há duas fileiras de lotes edificáveis, com cerca de 50
metros de profundidade; entre as fachadas posteriores das casas, deve ficar um espaço livre de
pelo menos 48 metros, isto é, duas fileiras de jardins de 24 metros. Os desembarcadouros têm
extensão de 25km e podiam atracar ao mesmo tempo 4.000 navios (AMSTERDÃ, 1997).
No século XV, a Espanha dos Habsburgos tentaram impedir a reforma protestante que
varria o norte da Europa. A resistência holandesa resultou em 80 anos de guerras.
Inicialmente, Amsterdam ficou do lado espanhol. Mas, em 1578, na chamada Alteração,
mudou de lado e transformou-se na feroz capital protestante da nascente República
Holandesa.
Antes da Alteração, a igreja católica sustentava abrigos para pobres, idosos e doentes,
principalmente mulheres. Durante os séculos 17 e 18, ricos comerciantes protestantes
assumiram este papel e construíram centenas de asilos projetados ao redor de pátios e
conhecidos como hofjes (abrigo em holandês). Seguiam o padrão habitacional previsto para os
3 Canais. Por trás de suas fachadas, estão preservadas belas casas e tranquilos jardins.
Amsterdam manteve muitos hofjes que ainda seguem seu propósito inicial (Figuras 16 e 17).
62
Figura 16 – Plano dos 3 Canais (Amsterdam-Holanda), onde são implantados os Hofjes, ou “Abrigos”.
Fonte: Amsterdã (1997).
Figura 17 – Planta básica de um Hofje.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
63
O Hofje representa, ainda hoje, o que de melhor pode ser feito em estruturas urbanas
mais complexas, pois possibilita o refúgio, a reclusão do indivíduo e a sua inserção no
contexto mais dinâmico da sociedade, ao lado das zonas mais movimentadas e agitadas das
cidades. Em geral, com lotes estreitos de 8.00 X 25.00m, funciona como uma espécie de túnel
do tempo entre o exterior e o interior das quadras da área central de Amsterdam (Figuras 18 e
19). Uma solução com vida útil de quase quatro séculos do arquiteto Hendrik Staets13
(AMSTERDÃ, 1997).
Figura 18 – Hofje de Amsterdam (aspectos externos)
14.
Fonte: Ronald Lima de Góis (1998c).
Figura 19 – Hofje de Amsterdam (aspectos internos)
15.
Fonte: Ronald Lima de Góis (1998c).
13
Hendrik Staets é um nome pouco conhecido na história da Arquitetura e Urbanismo. Bem menos que Petrus
Berlage, Piet Mondrian e Pieter Post, este pelas ligações com o Brasil de Maurício de Nassau. Pelas pesquisas
efetuadas, sabe-se que Staets foi muito estudado por Le Corbusier que se aprofundou nos planos e tratados do
arquiteto e urbanista holandês. É possível que esta influência tenha sido extensiva a Lúcio Costa dado as
características do Plano de Brasília, notadamente na área da Habitações Individuais Geminadas, cujo conceito e
configuração são muito semelhantes às quadras do hofjes holandeses. Costa, no seu Memorial sobre o Plano para
Brasília, afirma haver se inspirado em vários aspectos urbanos de outras cidades para projetar a nossa capital: os
terraplenos chineses, os espaços centrais comparáveis à Veneza, a Torre de TV remetendo à Torre Eiffel, as
áreas de diversão lembrando Times Square, Broadway ou Trafalgar Square (AMSTERDÃ, 1997). 14
O Hofje tem a característica de possibilitar não só o convívio na cidade como, ao mesmo tempo, proporcionar
o refúgio e o necessário conforto aos seus habitantes. 15
Nota-se o bucolismo e o desenho adequado para o silêncio e o repouso.
64
Ainda sobre os hofjes (Figuras 20 e 21), a opinião definitiva do eminente arquiteto
Edgar Graeff (1979, p.139):
[...] o Plano dos Três Canais é quase um milagre, não só pela singela riqueza das
soluções, mas também, por sua vitalidade e eficiência, que se prolongou por mais de
três séculos, criando uma ordenação urbana que não foi igualada em nenhuma outra
cidade. O traçado em teia-de-aranha, evitou as grandes perspectivas quase sempre
vazias e, não raro, teatrais e arrogantes. Os canais com 24 a 27 metros de largura,
estavam ladeados por passeios pavimentados e arborizados. Os lotes de 8 X 27
metros com uma distância mínima entre os fundos das construções formam um
espaço ajardinado e arborizado. A cobertura não pode ocupar mais do que 56% da
área de cada lote. O Plano colocou, assim, quase no centro da cidade, o que mais
tarde se caracterizou, por toda parte, como as delícias do subúrbio: o espaço aberto,
o sol, jardins, árvores, tranquilidade.
Figura 20 – Hofje (espaço interno).
Fonte: Ronald Lima de Góis (1998c).
Figura 21 – Hofje (atividade comunitária).
Fonte: Ronald Lima de Góis (1998c).
65
A tradição de planejamento urbano da Holanda é constante. Em 1902, Berlage elabora
o Plano para Amsterdam Sul. Em 1934, trinta anos mais tarde, Carl Van Eesteren elabora o
Plano Regulador de Amsterdam. Essa longa tradição de planejamento, sempre renovada e
apoiada por um vigoroso espírito comunitário, permitiu que a cidade se livrasse da ação
nefasta da especulação imobiliária, mantendo-se até agora como uma cidade esplêndida para
se viver em condições verdadeiramente urbanas; talvez seja a única grande cidade do mundo
em que isso ainda é possível.
Em Barcelona, procuramos analisar as quadras do Plano de Ildefonso Cerdá i Sonier, o
famoso Ensamble ou Ensanche ou ampliação da área da cidade. Assim como Amsterdam, a
opção por Barcelona, para uma observação sistemática, foi em decorrência da tradição
histórica de seus planos e pelo que ambas as cidades representam como exemplos, no tocante
à qualidade de seus espaços públicos e pelo que oferecem como possibilidade de inserção do
idoso. No seu conhecido Teoria Geral da Urbanização, Cerdá preconizava que as cidades
funcionam em torno de seis pontos essenciais:
1. Duplo conceito: Movimento e Repouso.
2. A rua deve fornecer redes de infraestruturas e trânsito e possibilitar a melhor
aeração e iluminação das habitações.
3. O conceito de inter-vias, representando a importância das quadras e do sistema
viário na estrutura das cidades.
4. O sistema de transporte é um elemento fundamental.
5. Os planos devem permitir a extensão ilimitada das cidades.
6. Deve haver união e interação entre a cidade antiga e a nova cidade.
As quadras propostas por Cerdá para Barcelona (1863), 113m X 113m, possuem
esquinas chanfradas à 45º que as transformam em verdadeiras praças16
. Em geral, adjacentes a
elas existem cafés, livrarias e outros equipamentos aglutinadores de convívio humano onde é
marcante a presença de idosos, gerando um intercâmbio salutar entre os moradores dos
andares superiores e de quadras vizinhas.
Sobre Buenos Aires, já foi afirmado que: “[...] é uma cidade onde em cada café, se
colocou uma esquina” (MONSIVAIS, 2004). Poderiam ser citados os “botequins”,
principalmente os de Copacabana, no Rio de Janeiro, pontos de encontro característico
16
Ver figuras 4 e 5.
66
daquela cidade e que transformou o bairro numa espécie de laboratório para se identificar
espaços adequados aos idosos.
Barcelona, a partir de 1992, com as Olimpíadas, continua implementando vários
planos (Poblenu-22@bcn; Fórum Universal de Cultura; Sagrea-San Andreu; Plano Delta do
Llobregat), onde procura recuperar antigas áreas industriais, localizadas no centro da cidade,
abandonadas em decorrência da nova conjuntura econômica mundial e as transformações no
modo de produção daí advindas, substituindo-as e revitalizando-as por espaços de serviços,
cultura e lazer. Num paralelo com o Brasil e, mais especificamente o Rio de Janeiro, não por
acaso, Oriol Bohigas, arquiteto catalão responsável por alguns daqueles planos, foi convidado
para opinar sobre as operações urbanas cariocas, tendo em vista as Olimpíadas de 2016. Jane
Jacobs (1956) já afirmava: “[...] os idosos precisam de habitação na comunidade normal
muito mais do que paz, silêncio e uma linda vista”.
Resumindo, os exemplos de Amsterdam e Barcelona foram muito importantes para
fundamentar uma proposta de espaço para idosos. No plano individual da habitação ou do
espaço público. Poderiam ser citados outros exemplos, como as praças italianas, as esquinas
de Paris, as de pedestres de Nice, entre outros. Mas do que foi observado na pesquisa de
campo no exterior, estes dois exemplos, pelas suas características e em função do tema da
tese, são os mais apropriados.
4.2 OBSERVAÇÕES SISTEMÁTICAS NO BRASIL
4.2.1 Copacabana, Rio de Janeiro: esquinas, praças e praia.
Copacabana (Figura 22), bairro do Rio de Janeiro, foi escolhido pela Organização
Mundial de Saúde como Laboratório para estudos e pesquisas sobre os idosos em decorrência
da grande quantidade de pessoas com mais de 60 anos que mora no local. A população do
Bairro, segundo o Censo de 2010, é de 161.178 habitantes (INSTITUTO BRASILEIRO DE
GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2010). Destes, 33% são pessoas idosas, ou seja, 53.188,74
habitantes (1 em cada 3 habitantes) tem mais de 60 anos de idade (Figura 23 e 24).
67
Figura 22 – Vista geral de Copacabana, Rio de Janeiro.
Fonte: Copacabana2 ([20--?]).
Figura 23 – Idosos indo à praia em Copacabana.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2009).
68
Figura 24 – Idosos no calçadão de Copacabana.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2009).
Copacabana é formada ainda por dois setores urbanos contidos no seu perímetro: O
Leme, no prolongamento da Av. Atlântica, com 13.800 habitantes, e o Bairro Peixoto, enclave
bucólico, verdadeiro oásis, com cerca de 18.297 habitantes, no quadrilátero formado pelas
ruas Figueiredo Magalhães, Santa Clara, Tonelero e Henrique Oswald (Figura 25 e 26). Aqui
não existe comércio e o gabarito máximo é de 4 pavimentos. Inicialmente, era de 3 por
exigência do Comendador Paulo Felisberto Peixoto, proprietário das chácaras, depois
urbanizadas. O gabarito atual foi autorizado pelo prefeito Mendes de Morais, na década de
1950 (VELHO, 2002).
Figura 25 – Foto do Bairro Peixoto.
Fonte: Bairro Peixoto (2009).
69
Figura 26 – Visão aérea do Bairro Peixoto, enclave do bairro de Copacabana17
.
Fonte: Coimbra ([2008]).
Apartamentos de um cômodo (a maioria) em Copacabana têm em média 27m². Os
maiores apartamentos, geralmente na Av. Atlântica, têm em média 220m² (7,2% do total). O
Bairro possui 82.239 domicílios residenciais, distribuídos em 1.800 prédios e 8.297
comerciais. A área média dos apartamentos é de 84,3m². Copacabana conta com 02 hospitais
particulares: o Copa D’Or e o São Lucas (este praticamente um hospital geriátrico). O bairro
não possui mais pessoas com menos de 15 anos nascidas nos hospitais locais. Normalmente
vão nascer em Ipanema ou Botafogo (VELHO, 2002).
Possui, no entanto, uma ampla rede de serviços (restaurantes, bares, boates, lojas,
hotéis, farmácias, padarias etc.). Há apenas um grande Posto de Saúde com 30 médicos. No
tocante aos transportes, possui duas estações de metrô (Cardeal Arcoverde e Siqueira
Campos), ampla rede de ônibus, que transportam 7.500.000/passageiros/mês, além de táxis e
17
À esquerda, em diagonal, a Av. Siqueira Campos. As duas grandes avenidas paralelas: Figueiredo Magalhães;
e Santa Clara, esta à direita da foto. No centro, entre as avenidas, a praça Edmundo Bitencourt. Acima, à
esquerda, a Praia de Copacabana. À direita, a Lagoa Rodrigo de Freitas e o Morro do Cantagalo. Percebe-se, no
Bairro Peixoto, a atmosfera bucólica no meio do burburinho do bairro. Na região, pelo silêncio e o pouco
movimento, é a preferida por grande número de idosos. Com a vantagem de estarem perto de Copacabana. Para
aqui estão vindo hospitais e clínicas de repouso
70
vans. O bairro possui 03 praças, 5 avenidas, 78 ruas, 6 travessas e 2 ladeiras. E, ainda: 1
teatro, 1 cinema, 5 igrejas católicas, 2 messiânicas, 2 presbiterianas, 2 batista e 3 sinagogas. A
maior avenida é a Atlântica com 4,5km, local de intenso lazer e de concentração de serviços
em função da praia e do visual belíssimo. Estão também no bairro, 4 favelas (Pavão-
Pavãozinho, Chapéu Mangueira, Cabritos e Babilônia) (VELHO, 2002).
O arquiteto carioca Paulo Casé, em entrevista ao jornal O Globo, em junho de 2011,
afirmou: “[...] quem desejar ver o que é urbanismo deve observar e vivenciar uma esquina, ou
um cruzamento de Copacabana, com a sua complexa rede de serviços e lazer, trânsito de
veículos, e o vai-e-vem de pessoas que enchem de vida os lugares [...]” . O arquiteto reforça
aqui o ponto de vista de Jane Jacobs da necessidade de uma vida urbana intensa e
movimentada, com seus contrastes de sons, cheiros, ruídos e uma grande diversidade de
funções, como sendo a mais indicada para pessoas idosas do que “[...] paz, silêncio e uma
linda vista.” Talvez seja esta a motivação maior, ao lado da estrutura de serviços existentes,
para tantas pessoas idosas gostarem de morar em Copacabana18
.
4.2.2 Brasília: Superquadras e Habitações Individuais Geminadas.
A opção por Brasília para um estudo de caso (uma observação sistemática) deveu-se
às suas características de cidade planejada e pela singularidade de sua proposta urbanística e
arquitetônica no setor habitacional: As “super-quadras”, por ser um exemplo único, em
grande escala, da adoção do conceito de Unidade de Vizinhança, analisando-se ainda o seu
funcionamento depois de 50 anos da inauguração da capital federal.
As Habitações Individuais Geminadas (HIG), por constituir-se, na sua proposta
original, num padrão de habitação popular de alto nível, seja na sua concepção urbanística ou
arquitetônica. A proposta de Lúcio Costa, seja no conceito (residências em renque, com a
entrada principal abrindo para uma grande área gramada, pública, e o acesso de veículos pelo
lado posterior, deixando bem definidos os acessos para pedestres e veículos), nas dimensões
(lotes de 7 X 21, com moradia de dois pavimentos), como nos objetivos (o abrigo com
proteção, em todos os sentidos, para o morador), nos remete à solução dos hofjes de
Amsterdam, adotada por Hendrik Staets no século XVII. A diferença está na utilização do
18
Em geral, os apartamentos de Copacabana são pequenos (é grande o número dos chamados “cabeças-de-
porco” ou “quitinetes”, formados por sala, cozinha e banheiro e onde moram muitas pessoas. A média de 84,3m²
é decorrência dos grandes apartamentos existentes na Avenida Atlântica, com mais de 200m². O maior edifício
de Copacabana é o Richard (antigo 200) com 507 apartamentos e 45 andares, localizado na Av. Barata Ribeiro.
Copacabana é o local onde a maioria dos cariocas gostaria de morar.
71
extenso gramado adjacente às habitações: em Amsterdam, totalmente cercadas pelas
residências, a área é, na realidade, um pátio fechado, embora para uso comum, mas
fundamentalmente um abrigo; enquanto para Brasília, Costa propõe uma área aberta, nos dois
lados adjacentes às avenidas W3 e L4 Sul (Figura 27), solução condizente com um urbanismo
moderno, aberto, com espaços públicos e privados integrados, diferentemente de Amsterdam,
onde os hofjes tinham como objetivo a proteção, principalmente de idosos, mulheres e
crianças, contra possíveis invasores. Respostas semelhantes, na essência, para épocas e
condições de vidas diferentes.
Figura 27 – Planta: Habitações Individuais Geminadas (Brasília)19
.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
Definindo sua proposta no Relatório do Plano Piloto, Costa (1995, p. 291) afirma:
[...] Quanto ao problema residencial, ocorreu a solução de criar-se uma sequência
contínua de grandes quadras dispostas, em ordem dupla ou singela, de ambos os
lados da faixa rodoviária, e emolduradas por uma larga cinta densamente
arborizadas com árvores de porte, prevalecendo em cada quadra determinada espécie
vegetal, com chão gramado e uma cortina suplementar de arbustos e folhagens, a
fim de resguardar melhor, qualquer que seja a posição do observador, o conteúdo
das quadras, visto sempre num segundo plano e como que amortecido na paisagem.
19
Muito semelhante (em dimensões e conceito de moradia) aos Hofjes de Amsterdam, Lúcio Costa procurou
sempre adotar um conceito universal a alguns pontos de Brasília, como a Torre de TV (Torre Eiffel), os
terraplenos chineses etc. Como Hendrick Staets influenciou Le Corbusier, é factível imaginar que Costa sofreu,
indiretamente, esta influência na concepção das HIG.
72
[...] Dentro destas “superquadras” os blocos residenciais podem dispor-se da
maneira mais variada, obedecendo porém, a dois princípios gerais: gabarito máximo
uniforme, talvez seis pavimentos e pilotis, e separação do tráfego de veículos do
trânsito de pedestres, mormente no acesso à escola primária e às comodidades
existentes no interior de cada quadra.
Ainda, segundo Maria Elisa Costa, arquiteta filha de Lúcio Costa:
[...] estruturalmente, uma superquadra é um conjunto de edifícios residenciais sobre
pilotis (que tem em Brasília, pela primeira vez, presença urbana contínua,
introduzindo uma alternativa às quadras convencionais) ligados entre si pelo fato de
terem acesso comum e de ocuparem uma área delimitada, no caso um quadrado de
280 X 280m, cercados dos quatros lados por renques de árvores de copa densa e
com uma população de 2.500 a 3.000 pessoas. O chão é público – os moradores
pertencem à quadra mas a quadra não lhes pertence e esta é a grande diferença entre
superquadra e condomínio. Não há cerca, nem guardas, e no entanto a liberdade de ir
e vir não constrange nem inibe o morador de usufruir seu território, e a visibilidade
contínua, assegurada pelos pilotis, contribui para a segurança (COSTA, Maria Elisa
apud COSTA, Lúcio, 1995, p. 326).
Esta proposta, coletiva, no entanto, vem sendo alterada não só pela apropriação
privada dos espaços imediatos aos blocos, mas também pelo desprezo à ideia do edifício, de
cada um dos blocos, como parte integrante de um espaço único, público, histórico (Figura 28
e 29)20
.
Figura 28 – HIG: Habitações Individuais Geminadas 21
.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2010).
20
Direcionadas para habitantes de baixo poder aquisitivo, as HIG, pela qualidade das habitações e sua
localização privilegiada, foi ocupada por setores da classe média e média-alta. Hoje, bastante modificada,
caracteriza-se pelo espaço urbano degradado e modificações na arquitetura das casas, onde foi abandonada a
unidade arquitetônica e imposto um modelo individualista de construção. 21
Planejadas inicialmente como conjunto uniforme, arquitetonicamente falando, padrão do lote (7x21), de um
pavimento, as HIG apresentavam como área principal um extenso gramado para uso do pedestre, e o acesso de
veículos na parte posterior. A importância dada ao automóvel inverteu estes usos.
73
Figura 29 – HIG: Habitações Individuais Geminadas22
.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2010).
Processo semelhante de descaracterização da proposta inicial de Lúcio Costa ocorre
numa área (inicialmente projetada para a população de trabalhadores de baixa renda, que
edificaram a capital federal, mas ao longo do tempo foi apropriada por setores da classe
média), extremamente bem localizada do Plano Piloto: o Setor de Habitações Individuais
Geminadas (na realidade em renque pois são fileiras de casas interligadas entre si) ao longo da
avenida W3, entre o Eixo Monumental e a Via de Ligação L4 Sul e adjacente ao Parque da
Cidade. Um dos melhores lugares para se morar em Brasília (Figuras 30 e 31).
Figura 30 – SHIG: Setor de Habitações Individuais Geminadas23
.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2010).
22
O automóvel como referencial urbano provocou a inversão dos acessos principais das HIG. 23
Mesmo sendo mantida a área verde, observa-se constantes avanços e “puxados”, por meio de grades e muros,
sobre o espaço público representado pela área verde.
74
Figura 31 – SHIG: Setor de Habitações Individuais Geminadas.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2010).
Sua característica principal é possuir uma área verde central, com cerca de 50m de
largura, destinada a pedestres e ao convívio social, alpendres isolados ou não por cobogós e
profundidade equivalente a 12 residências com testada de 7.00m e profundidade de 21.00m (o
lote ideal segundo Lúcio Costa). Esta área liga a W3 com a via secundária W4 por onde é
feito, pelos fundos das residências, o acesso de veículos. O que chama logo a atenção é a
postura dos proprietários em personalizar sua habitação partindo de um conceito onde o
principal (a área verde) é transformado em secundário e a via para acesso de veículos
transformada em principal, talvez por influência de uma cultura urbana onde o automóvel, e
não o pedestre, determina a hierarquização do espaço urbano. Modificaram-se tipologias
arquitetônicas, esquadrias e volumetria das edificações. Jardins e passagens de pedestres
foram apropriados por moradores. Grades foram introduzidas no meio do espaço público onde
hoje, apesar da preservação das árvores originais, a aparência do local assemelha-se mais a
um quintal mal cuidado. O espaço arborizado entre a W3 e as casas foi invadido por
quiosques de todos os tipos e gostos. Garagens transformaram-se em salões de beleza. Casas
foram subdivididas e transformadas em pensões. O estilo singelo, de inspiração modernista,
próprias do período em que foram construídas, cedeu lugar a outros que vão do “colonial”, a
castelinhos, chalés de conteúdo “pós-moderno” a outros de caráter inclassificável.
Comparando o conceito e as dimensões entre os Hofjes e o SHIG salta aos olhos que
Lúcio Costa inspirou-se nos primeiros para a sua proposta habitacional de Brasília. Em outros
setores da capital, como já vimos, Lúcio Costa, adotou postura semelhante.
Mas, no caso brasileiro, esta situação mutiladora (Figuras 32 e 33) é decorrente da
falta de planejamento e de um plano de preservação, malgrado a condição de Patrimônio
Cultural da Humanidade, concedido à Brasília pela UNESCO (27 de dezembro de 1987).
75
Mais antigo, o Plano dos Três Canais de Staets permanece, na essência, intocado, mas de três
séculos depois. Aliás, uma característica dos planos implantados na Holanda, onde a
necessidade de um controle sobre o território, grande parte conquistados ao mar, estabelece
critérios mais rígidos de gestão urbana.
Figura 32 – Mutilações do Plano de Lúcio Costa (HIG) para Brasília24
.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2010).
Figura 33 – Mutilações ao projeto proposto às HIG25
.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2010).
Os críticos de Brasília, ou correntes pós-modernas da arquitetura e do urbanismo,
ressaltam a importância das pessoas usufruírem das suas habitações conforme as necessidades
e os desafios que a vida e sua dinâmica impõem. Outras obras de arte como pintura, escultura,
literatura, música, dança e cinema, são passíveis de censura. Com arquitetura existe a
mutilação. É o que se observa no Setor de Habitações Individuais Geminadas de Brasília
Figuras 34 e 35).
24
O plano dos 3 canais de Amsterdam mantém-se inalterado após mais de 4 séculos. O de Brasília, Patrimônio
da Humanidade, com apenas 50 anos, encontra-se mutilado 25
Questões de segurança, falta de respeito ao patrimônio da humanidade e a indiferença do poder público
provocam a prática da mutilação do Plano de Brasília.
76
Figura 34 – Outras formas de mutilações ao projeto proposto às HIG26
.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2010).
Figura 35 – Outro tipo de mutilação ao projeto proposto às HIG (gabarito da edificação).
Fonte: Ronald Lima de Góis (2010).
Diante do que foi visto acima, é extremamente importante, ao se criar espaços
destinados à pessoa idosa, a implantação de um conceito de desenho e gestão urbana que não
só possibilite e manutenção como a operação desses espaços, evitando situações como as
relatadas por Costa (1995, p.323):
O que ocorre em Brasília e fere nossa sensibilidade é essa coisa sem remédio,
porque é o próprio Brasil. A coexistência, lado a lado, da arquitetura e da
antiarquitetura, que se alastra; da inteligência e da anti-inteligência, que não pára; é
o apuro parede meia com a vulgaridade, o desenvolvimento atolado no sub-
desenvolvimento; são as facilidades e o relativo bem-estar de uma parte, e as
dificuldades e o crônico mal-estar da parte maior.
26
As mutilações frequentes no padrão habitacional descaracterizam por completo a proposta de Lúcio Costa.
77
O que se constata, por motivos históricos e culturais, pela falta de uma cultura
urbanística, é a grande dificuldade de se implantar no país, padrões aceitáveis de urbanização.
O próprio poder público degrada os espaços públicos e o que se verifica atualmente é a
intensificação desse processo. Os interesses imobiliários, a busca por um local para morar, o
descaso na gestão dos espaços urbanos, geram problemas como os verificados recentemente
nos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo.
78
5 A CIDADE PARA O IDOSO: PROJETO E DIMENSIONAMENTO
5.1 A CIDADE PARA O IDOSO: ACESSIBILIDADE E MOBILIDADE URBANA
A partir da premissa de que uma das melhores atividades para a saúde e o lazer do
idoso é a prática da deambulação, ou seja, andar, procurou-se, na presente pesquisa, observar
e acompanhar a prática da caminhada, por idosos, tendo como objetivo obter parâmetros que
orientem as propostas de ordenamento físico, implantação de pontos de apoio, áreas de
convívio, distâncias adequadas e equipamentos destinados para utilização por pessoas da 3ª
idade.
As áreas selecionadas que foram sistematicamente observadas, apresentavam ótimas
condições de se obter um quadro de amostras, pela alta presença de idosos, que
fundamentassem as propostas deste Capítulo 5.
A inclusão de Natal (Calçadão da Av. Engenheiro Roberto Freire) foi no sentido de
comparar parâmetros e pela boa presença de idosos em grande parte dos dias.
5.1.1 Acessibilidade Espacial
O tema “acessibilidade espacial” está se tornando cada vez mais comum em nosso
país, e refere-se à possibilidade de plena integração entre as pessoas e os ambientes, sem
segregá-las e permitindo que as atividades sejam realizadas com êxito, por todos os diferentes
usuários. Garantir a acessibilidade para todos é uma tarefa difícil, pois deve-se abranger as
necessidades espaciais de pessoas com as mais diferentes restrições, ou seja, pessoas com
limitações em desempenhar atividades devido às suas condições físicas associadas às
características dos ambientes.
Este levantamento será complementado com as recomendações propostas no tocante à:
Orientação e Informação, Deslocamento, Uso e Comunicação, os quatro componentes
exigidos, segundo Bins Ely e Dischinger (2004), para que os espaços sejam considerados
acessíveis:
Orientação e informação estão relacionadas com a compreensão dos ambientes,
permitindo que um indivíduo possa situar-se e deslocar-se a partir das informações
dadas pelo ambiente, sejam elas visuais, sonoras, arquitetônicas, entre outras. Por
exemplo, quando não se consegue identificar todo um ambiente a partir de seus
diferentes pontos, a presença de mapas e placas informativas contribui para a
orientação do usuário.
79
Deslocamento corresponde às condições de movimento e livre fluxo que devem ser
garantidas pelas características das áreas de circulações, tanto no sentido vertical
como no horizontal. A implantação de pisos regulares e antiderrapantes, a presença
de corrimãos e patamares em escadas e rampas, presença de faixa de mobiliário fora
das áreas de circulação etc., são exemplos de características que contribuem com
este componente.
O uso é o componente que está relacionado com a participação em atividades e
utilização dos equipamentos, mobiliários e objetos dos ambientes, e é garantido a
partir de características ergonômicas adequadas aos usuários e de uma configuração
espacial que permita ao usuário sua aproximação e presença, como no caso de mesas
para jogos com espaço para cadeiras de rodas.
Comunicação corresponde à facilidade de interação entre os usuários com o
ambiente, e pode ser garantido a partir de configurações espaciais de mobiliários de
estar ou de tecnologias assistivas, como terminais de informação computadorizados,
para o caso de pessoas com problemas auditivos e de produção lingüística.
Estes quatro componentes trabalham sobre o conceito de Deficiência a partir do
Programa Brasil Acessível (Caderno 2: Construindo uma Cidade Acessível), que define as
características que identificam uma pessoa com restrição de mobilidade e, a partir desta
identificação, apoiada também na NBR 905027
, apresentar as propostas de intervenção para
áreas utilizadas por pessoas com dificuldade de locomoção ou de pessoas da 3ª Idade.
A Lei nº 5.296/04, art. 5. Inciso I (Quadro 4), relaciona e define os diferentes tipos de
Deficiência Física. A partir desta relação, são apontadas as recomendações técnicas para
tornar a utilização dos espaços públicos mais adequados às pessoas com necessidades
especiais.
Quadro 4 – Relação e definição dos diferentes tipos de deficiências físicas
Tipo da Deficiência Definição da Deficiência
Deficiência Física
Alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando
o comprometimento da função básica, apresentando-se sob forma de paraplegia,
paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, triplegia, triparesia, hemiplagia,
hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, nanismo,
membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e
as que não produzem dificuldades para o desempenho de funções
Deficiência Auditiva Perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por
audiograma nas frequências de 500hz, 1.000hz, 2.000hz e 3.000hz.
27
Norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que fixa os padrões e critérios que visam a
propiciar às pessoas deficientes, condições adequadas e seguras de acessibilidade autônoma a edificações,
espaço, mobiliários e equipamentos urbanos.
80
Deficiência Visual
Cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a
melhor correção óptica; baixa visão, que significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no
melhor olho, com a melhor correção óptica; os casos em que a somatória da medida do
campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60º; ou ocorrência simultânea
de quaisquer das condições anteriores.
Deficiência Mental
Funcionamento intelectual significativamente inferior à média, com manifestações
antes dos 18 anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades
adaptativas, tais como: 1. Comunicação. 2. Cuidado Pessoal. 3. Habilidades Sociais. 4.
Utilização dos Recursos da Comunidade. 5. Saúde e Segurança. 6. Habilidades
Acadêmicas. 7 Lazer. 8. Trabalho.
Deficiência Múltipla Associação de duas ou mais deficiências
Fonte: Brasil (2004).
Nos últimos 150 anos presenciamos uma revolução profunda na mobilidade urbana. O
transporte nas cidades era feito por veículos movidos por tração animal (charretes e bondes).
Repentinamente, considerando o tempo histórico, surgiram os bondes elétricos, trens urbanos,
metrôs, ônibus, automóveis e bicicletas. A escala urbana alterou-se e as cidades passaram a
ser planejadas em função desses novos equipamentos sobre rodas.
Estruturadas em função da era industrial, as grandes cidades hoje, e certamente num
futuro próximo, representarão o espaço dos serviços: serviços de alta tecnologia e avanços
científicos onde as inovações e a cultura terão papel de destaque.
Essa nova configuração determinará uma complexa multiplicidade funcional, onde o
isolamento entre as funções, conforme preconizava o ideal modernista de cidade, estabelecido
pela Carta de Atenas (Habitar, Trabalhar-Estudar, Lazer e Circular) ficará, talvez, apenas
como um dado histórico do urbanismo.
Evidentemente que os postulados modernistas procuravam disciplinar o caos urbano
gerado pela industrialização e os seus objetivos foram, em parte, atingidos, tornando-se, no
mínimo, inadequado em face das novas realidades geradas pelo conhecimento humano.
A cidade do século XXI verá o fim do sistema pendular casa/trabalho ou casa/escola.
Serão apenas parte de um sistema multipolar de interesses dentro de uma simultaneidade e
diversidade de funções onde a figura dos fluxos deixa de ser representada por eixos, passando
a ser uma rede, na qual o eixo original continuará a ser importante mas não mais hegemônico.
Talvez fatos ainda persistentes na sociedade automotiva, como quando o fluxo de
veículos é sensivelmente reduzido durante as férias escolares, melhorando o trânsito nas
81
cidades, seja ampliado, provocando um novo desenho urbano que leve em conta posturas mais
democráticas ao reduzir distâncias e tempos, ao superpor tarefas e funções, ao tornar mais
desfrutável cada momento, aproveitando o tempo do ócio da sociedade pós-industrial e
economizando esforços, energias e recursos, enfim ser um ambiente sustentável.
Mas, além de importante, nunca é demais lembrar, que no interior da “rede”
mencionada acima vivem seres humanos com sonhos, problemas cotidianos, necessidade de
trabalho e educação, lazer e refúgio, tratamento de saúde, de viver enfim, o que exige espaços
adequados para todas as atividades da vida humana.
Neste capítulo, abordaremos a questão da acessibilidade de uma forma mais ampla,
como o direito de todos de usufruírem os benefícios que a vida urbana oferece, bem como
parâmetros para orientar a intervenção em equipamentos habitacionais, de lazer e saúde. Com
este objetivo, além da consulta bibliográfica, procedeu-se a um conjunto de levantamentos de
dados, para efetuar avaliações e termos de comparações28
. As pesquisas de campo foram
realizadas nos seguintes locais (quadro 5):
Quadro 5 – Locais para pesquisa de campo da Tese.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
O objetivo das pesquisas foi o de avaliar a situação dos idosos que caminhavam nestas
localidades verificando as condições de mobilidade (tempo para percorrer determinada
distância, distância percorrida, tipo da caminhada, frequência/dia e condições físicas), e da
estrutura física (passeios, equipamentos, pontos de apoio etc.) existentes nestes lugares.
28
Ver Apêndices A, B, C e D.
Rio de Janeiro-RJ:
Av. Atlântica, entre o Clube Marimbás (Posto 6 – Praça Cel. Eugênio
Franco, 2 e a Av. Princesa Isabel. 4,5km.
Bairro Peixoto. Área compreendida entre as ruas Figueiredo Magalhães,
Santa Clara, Tonelero e Henrique Oswald.
Brasília-DF.
Habitações Individuais Geminadas, W3 Sul, entre o Eixo Monumental e a
Via de Ligação L4 Sul. 4km.
Natal-RN:
Calçadão da Av. Roberto Freire, entre o Praia Shopping e a Rua Sólon de
Miranda Galvão. 2km.
82
O principal objetivo deste levantamento foi o de obter informações seguras para se
projetar futuras áreas (quadras, praças, passeios etc.), para idosos. Estas informações servirão
de parâmetros, comparativamente com outras quadras, praças e passeios, para propor e
dimensionar, da forma mais adequada possível, espaços e equipamentos para pessoas da
terceira idade.
Não foi possível a realização de pesquisa semelhante em Brasília, principalmente no
setor de Habitações Individuais Geminadas. Além de substancialmente mutiladas, as quadras
não possuem uma pista de caminhada que proporcione uma grande aglutinação de pessoas
idosas e onde fosse possível identificar, como em Copacabana, características de um
determinado grupo populacional numa atividade coletiva.
No Bairro Peixoto, os idosos permanecem mais em atividade de lazer contemplativo,
em geral tomando banho de sol sem praticar outro tipo de exercício. Os poucos entrevistados
afirmaram que utilizam o calçadão da Av. Atlântica para caminhar quando conseguem que
algum parente ou amigo os ajudem a atravessar a movimentada, e perigosa, Rua Tonelero.
Nesta localidade, na realidade um enclave de Cobacabana entre duas montanhas, é
possível desfrutar de um ambiente acolhedor sem as atribuladas atividades urbanas de
Copacabana propriamente ditas. Hospitais, hotéis, clínicas de repouso têm procurado o Bairro
Peixoto para se instalar, principalmente nas imediações de Praça Edmundo Bittencourt. É
significativa a população de pessoas idosas que procuram este local para viver sem abrir mão
da oferta de serviços que Copacabana proporciona.
A utilização da mesma metodologia no Calçadão da Av. Roberto Freire, em Natal,
RN, foi no sentido de conferir, comparar e compatibilizar os números obtidos em
Copacabana, com os de outras localidades.
5.1.2 A Questão do Transporte Urbano
Márcio Pochmann (2011), presidente do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas
(IPEA), afirmou que em função do envelhecimento da população brasileira, as maiores
transformações estruturais a serem efetuadas no Brasil nos próximos anos serão do setor de
transporte no sentido de atender a um grande contingente populacional com dificuldades de
locomoção. Edifícios públicos e privados e espaços urbanos, estarão a exigir os mesmos
cuidados. No Brasil, 2/3 do orçamento familiar é gasto com alimentação e transporte.
Ao se falar em Mobilidade Urbana são imperiosas algumas considerações sobre o
transporte urbano de massa. A discussão é travada entre os que defendem o transporte de
83
superfície (vias exclusivas para ônibus simples, articulado ou bi-articulado, VLT) ou a
alternativa do metrô.
1. O ideal é transformar o ônibus em metrô. Tira-se de 25 a 30% dos carros da rua.
2. O ônibus comum transporta 1,0 passageiro por m² de rua.
3. O ônibus em canaleta exclusiva transporta 2,0 passageiros por m² de rua
4. O ônibus articulado transporta 2,5 passageiros por m² de rua.
5. O ônibus bi-articulado transporta 4,0 passageiros por m² de rua.
6. Resolver o problema na superfície (máximo de 1.50m de altura) é melhor.
7. Resolver o problema com o metrô implica em se trabalhar no mínimo a 20.00 m
de profundidade. Gera-se muitos problemas de acessibilidade e segurança
individual.
8. O ônibus consegue uma velocidade de 2km por minuto.
9. O metrô consegue uma velocidade de 1km por minuto.
10. Caso o passageiro pague antes melhora o fluxo. O fundamental no transporte é
não esperar. (LERNER, 2003).
A principal dificuldade para o acesso de passageiros idosos e com alguma dificuldade
de locomoção aos veículos é a altura dos degraus (Figura 36). Medidas foram tomadas
(rampas acopladas aos veículos, plataformas etc.). Entretanto, o problema está em que os
empresários do setor montam seus ônibus em chassis de caminhões, mais altos e mais duros,
para aproveitar o desconto de 50% no custo e no imposto cobrado ao setor. É urgente uma
modificação nesta legislação para que chassis efetivamente projetados para veículos de
transporte urbano voltem a ser utilizados.
Figura 36 – Problema de acessibilidade para pessoa da 3ª idade
Fonte: Foletto (2005, p.22).
Outro problema urgente a ser resolvido diz respeito à exigência de que condutores
(motoristas) de ônibus obedeçam aos pedidos de paradas para embarcar pessoas idosas. Em
84
geral, o pedido é atendido, mas constatam-se maus tratos representados por repreensões,
freiadas bruscas, embarque do idoso com o ônibus em movimento, entre outras formas.
Também falta uma política de informações e comunicação visual para o idoso, em
particular, e a população, em geral, onde se verificando-se a existência de paradas
descobertas, e a falta de letreiros indicando horários e roteiros.
Não por acaso, uma das exigências da Federação Internacional de Futebol (FIFA),
para a realização da Copa do Mundo em 2014 no Brasil, foi a de proceder a uma grande
intervenção e melhoria nos aspectos de mobilidade urbana. Natal/RN foi a mais exigida neste
quesito.
A Revista ProTeste, da Associação Brasileira de Defesa dos Consumidores, realizou
pesquisa em maio de 2010, com o objetivo de investigar situações relacionadas ao transporte
em diferentes linhas de ônibus do Rio de Janeiro, especialmente no que se refere ao
cumprimento da lei de gratuidade para idosos. Foram convidadas pessoas com mais de 65
anos de idade para testar o serviço e avaliá-lo.
Ao final da etapa de coleta, foi realizada entrevista com cada pesquisador a fim de
explorar a fundo as suas experiências. Foram realizadas também gravações em vídeo em
Copacabana, bairro que concentra a maior população de pessoas com mais de 65 anos do país,
afim de captar relatos e cenas de idosos em situações reais de uso do transporte público por
ônibus. Foram investigadas 23 linhas de diferentes empresas, sendo que todas trafegam por
Copacabana e três intermunicipais. Eis o resultado:
1. O ônibus parou na primeira vez que o idoso fez sinal? Sim (91,5%); Não: (8,5%)
2. Dos que ficaram na parada, quantas vezes foi preciso fazer o sinal para
embarcar? 1 vez (55,6%); 2 vezes (38,9%); 3 vezes (5,65).
3. O idoso conseguiu a gratuidade ao embarcar? Sim (91,5%); Não (8,5%).
(IDOSOS, 2010).
No Rio de Janeiro, existe um cartão magnético, o RioCard, fornecido pela prefeitura
municipal, que garante o passe livre aos idosos. Um inconveniente de viajar sem o cartão,
porém, não teve solução, segundo a pesquisa: mesmo após ter o direito de gratuidade aceito,
mais da metade dos idosos não pôde passar pela roleta. Eles precisavam subir pela porta de
embarque para mostrar o documento e, então, descer e subir de novo, agora pela porta de
desembarque. Para um idoso, especialmente se ele tiver dificuldade de locomoção, essa
ginástica não é nada saudável.
Com relação aos assentos preferenciais, em ônibus intermunicipais, a maior
concentração é na parte da frente dos veículos – o que facilita o acesso dos idosos. Já nos
85
ônibus municipais, em geral esses assentos ficam distribuídos mais para o meio ou logo após
a roleta. Em alguns veículos eles não foram localizados, embora a maioria (91,4%) os tenha e
sinalize claramente. Em média, cada ônibus avaliado possui entre três e quatro assentos para
idosos.
Algumas empresas não aceitaram o RioCard (8,5%). Entre todos os segmentos de
ônibus pesquisados, os com ar condicionado são os que, em maior proporção, não cedem
gratuidade aos idosos (20,5%). Em alguns veículos, porém, o idoso sem o RioCard em vez de
não seguir viagem ou ter que preencher uma ficha, foi solicitado a apresentar seu documento a
uma câmera para, só então, embarcar.
Os pesquisadores concluíram que ser idoso e andar de ônibus no Rio de Janeiro é “[...]
ter que superar o desrespeito e a falta de paciência por parte de motoristas, trocadores e
usuários” (IDOSOS, 2010). Um dos pontos negativos citados foi o de que os motoristas não
esperam os idosos sentar para seguir viagem, em geral provocando quedas. Outro aspecto
apontado é que, muitas vezes, eles param os veículos no meio da rua, em vez de encostar
próximo à calçada, para embarque e desembarque. Em outros casos foram tratados com
desrespeito e até com galhofas. Mas essa situação não foi observada só com funcionários das
empresas. Outros passageiros também, muitas vezes, foram poucos gentis, segundo os relatos,
principalmente em relação a ceder os assentos preferenciais. Foram constatados casos em que
havia idosos viajando em pé, enquanto não idosos ocupavam suas cadeiras.
De uma forma geral, os problemas relatados acima existem, em maior ou menor
proporcionalidade em todas as cidades brasileiras, muitas vezes por falta de uma fiscalização
adequada.
Os quadros apresentados a seguir (Quadros 6 a 15) indicam a forma como deve ser
planejado e dimensionado o espaço urbano a partir dos Tipos de Deficiências, das Normas de
Acessibilidade Espacial, das Pesquisas de Campo e da NBR 9050. A configuração dos
Quadros, revisados e ampliados, apoiou-se também no trabalho da arquiteta Vanessa Goulart
Dornelles, da Universidade Federal de Santa Catarina: Acessibilidade para Idosos em áreas
Públicas de Lazer (2006). São parâmetros a serem utilizados de uma forma geral, em espaços
públicos como calçadas (passeios públicos), parques, praças, praias, entre outros.
Evidentemente, necessitarão de alguns ajustes ou adaptações em função da topografia e da
cultura dos locais onde serão implantados.
Os materiais para execução dos equipamentos devem ser os mais resistentes possíveis,
evitando-se ao máximo a prática de reposição (equipamentos danificados por uso ou
depredações) ou manutenção onerosa.
86
A municipalidade deve adotar uma prática de padronização dos equipamentos e
materiais de acabamento, facilitando a reposição, quando necessária, e criando uma
identidade visual que caracterize as ações da administração.
Este Quadro (Quadro 6), básico para aplicação dos subsequentes, aqui apresentados,
indica os principais problemas que afetam a vida de pedestres em geral nas grandes cidades
do mundo e as medidas mitagadoras para atenuá-los, principalmente levando-se em
consideração pessoas com algum tipo de deficiência ou portadoras de mobilidade reduzida. É,
ao lado da NBR, um roteiro muito rico para ser aplicado em desenho urbano e arquitetura.
Quadro 6 – Análise-Síntese do Ambiente29
Mobiliário/Infraestrutura Urbana Observações Critérios de Acessibilidade
Áreas de Alongamento Evitar barras acima 1.70m por não serem
alcançadas por todos Deve permitir o uso para diferentes pessoas
Áreas para apresentações Dotá-las de pontos com áreas de sombra.
Presença de bancos ou apoios para platéia
em áreas de apresentação de espetáculos
com facilidade de uso.
Bancos Com encostos e próximo às áreas de
circulação
A forma da implantação conforme seu uso.
Critérios de Ergonomia.
Canteiros Elevados Mínimo 10cm de altura. Evitar mobiliário
próximo. Deve servir como informe visual e piso tátil
Escadarias Devem possuir patamares para descanso. Deve contribuir com o deslocamento sem
atrapalhar o fluxo.
Lixeiras Lixeiras de concreto evitam mais as
depredações
Material que facilite manutenção. Deve
haver simplicidade na abertura. Importante a altura.
Mesa de Jogos Devem permitir a aproximação de cadeiras
de rodas.
As áreas de estar e jogos devem permitir a
aproximação de cadeiras de rodas.
Passeios
Os passeios sem pisos-guia obrigam as
pessoas com deficiência visual a usar meios-
fio e edificações como referência
Deve ter informação tátil para facilitar
orientação e informação.
Pérgulas Equipamento referencial principalmente se associado com algum tipo de vegetação.
Possibilita o uso confortável dos espaços de estar.
Pisos
Evitar paralelepípedos. Evitar cores escuras
pois podem sugerir, para deficientes visuais,
a presença de buracos. Caso sejam desnivelados causam desconforto em
cadeirantes.
Devem ser nivelados, estáveis e
antiderrapantes.
Piso Podotáteis Devem ter continuidade em toda extensão dos passeios.
Servem para pessoas com restrições visuais.
Pistas de Ciclismo e de Caminhadas
Devem ser bem separadas com desníveis e
vegetação para evitar invasão dos ciclistas em áreas de caminhadas.
Usar diferentes tipos de pisos.
Placas de Publicidade Evitá-las nos passeios Quando existentes devem ter altura mínima
de 2.20m
Placas Informativas Superior a 1.00m facilita a leitura. Cuidado com a altura das placas.
Rampas
Inclinações de acordo com a NBR 9050.
Evitar marcações horizontais pois podem ser confundidas com degraus.
A forma de sinalização dos desníveis, em rampas ou escadarias, interfere no
deslocamento. Conforme a inclinação da
rampa o deslocamento pode ser prejudicado.
Relógio Solar e Biruta Servem com atrativos e pontos de
orientação.
Dotá-los de uma boa altura para servirem de
referenciais.
Semáforo para Pedestres Quando a via é larga é difícil a sua
identificação. Auxilia no Deslocamento.
Telefone Público A Cor verde musgo é a que mais facilita na identificação.
Usar de diferentes alturas para que possa ser,
também, utilizado por cadeirantes. Não
implantá-los nos passeios.
29
Quadros revisados e ampliados a partir de: DORNELES, Vanessa Goulart. Acessibilidade para Idosos em
Áreas Livres Públicas de Lazer. 2006. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo). – Universidade
Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2006.
87
Travessia de vias veiculares
Devem ser perpendiculares aos passeios.
Possuir informação tátil. Evitar obstáculos como valas.
Deve possuir piso tátil. Deve haver
nivelamento entre a rua e o passeio. Deve
haver rebaixamento de guias
Vasos de Plantas No mínimo com 60cm de altura. Evitar que sejam da mesma cor do piso.
Vegetação.
Evitar muitas espécies juntas pois podem sugerir sujeira. Evitar uma única espécie,
pois sugere monotonia. 03 espécies é o
ideal.
Cor, odor, auxiliam na orientação.
Vendedores Ambulantes O número deve ser disciplinado. Causam barulho e o barulho prejudica a
comunicação.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
Quadro 7 – Limitação quanto à orientação e informação.30
Atividades/ Restrição Restrição Física Ambiente
Recomendado
Normas Brasileiras
NBR 905 Proposta de Intervenção
Enxergar com clareza
objetos e ambientes
como planos verticais, mobiliário e obstáculos
no passeio.
Problemas no
Sistema Sensorial Visual
Ambientes bem
iluminados com
cores contrastantes p/
diferentes
elementos c/ campos de visão
livre.
Item 4.5. Dispõe sobre
parâmetros visuais e
exemplifica os ângulos de
alcance visual de uma pessoa em pé ou em cadeiras de rodas.
Evitar obstáculos visuais entre
0,79m e 1.93m
Uso de iluminação ou cores
contrastantes na lateral ou no
chão, marcando e delimitando os espaços e circulações. Presença de
iluminação superior, marcando os
obstáculos que não puderam ser excluídos. Utilizar cores no
mobiliário diferente do piso.
Perceber limites dos caminhos
Idem.
Caminhos delimitados, de
forma bem
definida, com cores diferentes.
Item 5.14. Dispõe sobre
sinalização tátil no piso. Este tipo de piso ajuda c/ a marcação
dos limites dos caminhos por
apresentar textura e cores contrastantes com o piso
predominante.
Usar iluminação embutida no piso
ou na extremidade inferior dos planos verticais associados ao uso
de cores contrastantes.
Distinguir desníveis com
mesma cor do passeio. Idem
Desnível com cor diferente do
passeio.
Item 5.13. Dispões sobre sinalização visual de degraus,
inicio e fim de rampas e
escadas, recomendando a implantação de uma sinalização
visual contrastante com o do
acabamento nas bordas dos
degraus e nas extremidades de
escadas e rampas.
Degraus e desníveis com texturas
e cores diferentes das dos passeios. Iluminação nos espelhos
dos degraus ou nas guias de
balizamento.
Diferenciar cores claras e tons pastéis.
Idem
Associação de uma cor clara
com outra forte
ou de fortes entre si
A norma não fala sobre esta restrição.
Utilizar cores diferenciadas
preferencialmente acentuando
contrastes em planos diferentes.
Ler ou compreender placas de sinalização.
Idem
Placas legíveis, com fontes
grandes e forte
contraste entre letras e fundo.
Item 5.5. Dispõe sobre
sinalização visual, indicando
contraste de cores mais adequadas: Preto x Amarelo.
Branco x Verde. Branco x
Vermelho, conforme a distância, sentido do
movimento, elevadores, escadas
e sanitários etc.
Utilizar sinalização de diferentes
formas (vertical x horizontal), relevo em “braille” para idosos
com deficiência visual.
Pictogramas táteis, explicando o movimento e organização
espaciais.
Dificuldade em entender símbolos informativos
Problemas no
Sistema Sensorial Visual
e Psicocognitivo
Usar pictogramas figuras e textos
Item 5.5.2. Dispõe sobre visibilidade da sinalização
indicando os contrastes entre
textos, figura e fundos. Item 5.5.4. Dispõe sobre a
dimensão de letras e números.
Item 5.5.5. Dispõe sobre dimensões de figuras.
Associação de diferentes formas
de informações: Sinais visuais e
sonoros. Sinalização com informações repetitivas com
símbolos, figuras e texto, podendo
estar em relevo para facilitar os deficientes visuais. Símbolos
internacionais para evitar duplos
sentidos. 2 idiomas para turistas.
Localizar Fonte Sonora
de Informações
Problemas no
Sistema
Informações
sonoras em
Item 5.7. Dispõe sobre
sinalização sonora indicando
Associação de sinais luminícos e
textuais aos sinais sonoros.
30
Quadros revisados e ampliados a partir de: DORNELES, Vanessa Goulart. Acessibilidade para Idosos em
Áreas Livres Públicas de Lazer. 2006. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo). – Universidade
Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2006.
88
Sensorial
Auditivo
locais de pouco
ruído
que esta deve estar associada a
uma sinalização visual.
Perceber sinais sonoros de alta frequência.
Idem
Informações
sonoras de baixa
frequência
Idem Utilizar sinais com diferentes frequência com 2 sinais sonoros.
Dificuldade em lembrar
fatos e lugares
Problemas no
Sistema Cognitivo
Usos referenciais
no espaço urbano Nada consta na Norma
Utilizar vegetação ou elementos marcantes no espaço para facilitar
a orientação. Uso de elementos
com água (chafarizes e espelhos d’água). Vegetação pode ter cor
diferente ou odor marcante como o
jasmim.
Diminuição da atenção e concentração
Idem
Espaços e
elementos de
design simples
Idem
O mobiliário e elementos devem
ter uso fácil e intuitivo e ter um
design simples com elementos de fácil percepção. Usar cores para
definir ambientes e funções
diferentes.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
Quadro 831
– Limitação quanto ao Deslocamento32
.
Atividade/Restrição Restrição Física Ambiente
Recomendado
Normas Brasileiras
NBR 9050 Proposta de Intervenção
Andar em rampas ou
escadas sem patamares
Problemas no Sistema
Cardiovascular
ou Pulmonar
Rampas e Escadas com
patamares de
Descanso
Item 6.6.5. Dispõe sobre
patamares para escadas. Um patamar para, no mínimo, para
cada 3.2m de desnível (20
degraus de 16cm). E sempre que houver mudança de direção. Sua
largura deve ser igual aos lances
de escada e nunca inferior a 1.20m.
Implantação de patamares de
descanso com largura maior que circulação, permitindo descanso
sem atrapalhar o fluxo. Pode
haver bancos e outros mobiliários no patamar.
Atravessar ruas
rapidamente Idem
Faixas de
segurança e semáforo para
pedestres de
acordo com a velocidade de
caminhada de um
idoso
Item 6.10.9. Dispõe sobre faixa
de travessia para pedestres
determinando a largura (L) das faixas de acordo o fluxo (F) de
pedestres, segundo a seguinte equação: L = F/25 > 4
Item 6.10.10. Dispõe sobre
faixas elevadas que devem ser utilizadas em travessias com
fluxos superiores a 500
pedestres/hora e fluxo de veículos inferior a 100
veículos/hora ou ainda quando a
largura da via for inferior a 6.00m.
Item 6.10.11. Dispõe sobre
rebaixamento de calçadas para travessia de pedestres onde a
inclinação máxima da rampa
deve ser igual a 8,33%. Item 6.11. Dispõe sobre
passarelas de pedestres. Podendo
ser rampa, escada ou elevador.
Utilização de passarelas
superiores.. Faixas de pedestres
elevadas e presença de sonorização antes das faixas de
travessia, auxiliando na
diminuição da velocidade de veículos.
Nas faixas de circulação de
pedestres pode haver um estrangulamento da via de
veículos, diminuindo a distância
a ser percorrida. Em vias veiculares muito longas deve ser
previsto áreas de descanso
intermediárias. Bancos, Iluminação e lixeiras.
Caminhar Longos Percursos
Fadiga e Problemas no
Sistema
cardiovascular e pulmonar
Área de Estar ao
longo dos
passeios
Nada consta na Norma
Presença de áreas de estar e
descanso ao longo dos percursos
com disposição de bancos
Transpor Desníveis
(escadas ou degraus altos)
Problemas no
sistema músculo esquelético ou
Degraus com
altura de espelhos entre 16 e 18cm
Item 6.6.3 – Dispõe sobre
dimensionamento de escadas fixas estabelecendo que a altura
Recomenda-se rampas ao lado
de escadas permitindo a escolha do usuário.
31
Este quadro é fundamental para orientar o desenho urbano no que diz respeito a passeios públicos (calçadas,
rampas etc.) e dotar as vias de tráfego de medidas mitigadoras de humanização do espaço público. 32
Quadros revisados e ampliados a partir de: DORNELES, Vanessa Goulart. Acessibilidade para Idosos em
Áreas Livres Públicas de Lazer. 2006. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo). – Universidade
Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2006.
89
cardiovascular (e) e a largura (p) devem estar de
acordo com a fórmula: 0,63m<p+2e<0,65 sendo que
0,28m<p<0,32 e 0,16<e< 0,18m
Desvio do mobiliário que
provocam riscos de
queda ao caminhar
Problemas no
Sistema Músculo-
esquelético,
Cardiovascular e Sensorial do
Equilíbrio
Área de
circulação livre
de obstáculos.
Item 9.4 – Dispõe sobre assentos fixos em espaços urbanos,
garantindo uma faixa livre de
circulação de no mínimo 1.20m. (Ver detalhe: Desenho 1).
Área de estar, jogos ou práticas
esportivas fora da área de circulação ou marcadas com
pisos de cor e textura
diferenciadas. Circulação com iluminação superior e inferior
quando for o caso.
Transpor desníveis vazados (grade ou tela ou
sem espelho).
Problemas no
Sistema
Sensorial de equilíbrio
músculo-esquelético que
dificultam a
articulação dos joelhos,
provocando
tropeços
Escadas e degraus com espelhos
fechados e com material maciço.
Item 6.6.1 – Dispõe sobre as
características de pisos e espelhos de escadas e degraus,
impedindo que as mesmas sejam
vazadas em rotas acessíveis
Utilizar espelhos fechados
marcados visualmente. Guarda corpos (fechados lateralmente
por vidro/alvenaria) e corrimãos
em duas alturas.
Andar em superfícies irregulares (buracos,
britas ou seixos)
Problemas no
Sistema
Sensorial de Equilíbrio.
Caminhos e pisos bem regulares e
firmes
Item 6.1.1. – Dispõe sobre pisos estabelecendo que devem ter
uma superfície regular, firme,
estável e antiderrapante. Não devem provocar trepidação em
equipamentos sobre rodas.
Os pisos devem ser contínuos,
sem espaço entre as pedras para evitar quedas. Presença de
corrimãos e guarda-corpos em
duas alturas nas circulações.
Andar em superfícies
inclinadas
transversalmente
Idem
Caminhos e
superfícies sem
inclinações
transversais.
Item 6.1.1. – Dispõe sobre pisos estabelecendo que a inclinação
transversal máxima em pisos
internos é de 2% e em pisos externos 3%. (Ver detalhe:
Desenho 2).
Utilizar inclinação para
escoamento de água com um
mínimo de 1%
Caminhos com percursos
muito sinuosos Idem
Caminhos com
poucas curvas subsequentes,
preferencialmente retilíneas.
Item 6.5.9. – Dispõe sobre
rampas em curvas, permitindo
um raio interno mínimo de 3.00m
Caminhos retos, com poucas
curvas. Cruzamentos entre circulações preferencialmente
em ângulos retos e de fácil visualização.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
90
Desenho 1 – Passeio com recuo para banco e espaço para cadeirante.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
Desenho 2 – Circulação em desnível para idosos e ciclistas.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
91
Quadro 933
– Limitação quanto ao Uso34
.
Atividade/Restrição Restrição Física Ambiente
Recomendado
Normas Brasileiras
NBR 9050 Proposta de Intervenção
Alcançar objetos ou
dispositivos instalados fora de alcance
Diminuição da
Estatura do Alcance
Prateleiras e dispositivos
instalados entre
0,4m e 1,4m
Item 4.6 – Dispõe sobre sobre alcance manual, estabelece alturas
para pessoas em pé, sentadas ou
em cadeiras de rodas. A maior altura confortável possível
determinada para pessoa em pé:
1.55m e 0.55m
Presença de mobiliário objetos e/ou dispositivos com mais de
uma altura. Exemplo:
bebedouros.
Levantar-se com agilidade
Problemas no
Sistema
cardiovascular. Diminuição na
circulação.
Músculo esquelético com
enfraquecimento
muscular.
Acentos de
bancos e cadeiras com altura
superior a 38cm.
Item 4.6 – Dispõe sobre o alcance manual e estabelece a altura da
cavidade posterior do joelho
(popiliteal) até o piso que pode variar entre 0,38cm e 0,43cm
Bancos com apoios firmes que ajudem o usuário a se levantar.
Acionar dispositivos e
comandos que necessitem coordenação
motora e força.
Problemas no
Sistema Nervoso e músculo
esquelético.
Dispositivos
acionados por alavancas e
botões.
Item 4.6.6 – Dispõe sobre controles (dispositivos de
comando e acionamento)
definindo que os controles, botões, teclas e similares devem
ser acionados por pressão e alavanca e devem ter pelo menos
uma de suas dimensões igual ou
superior a 2,5cm.
Item 4.6.7 – Dispõe sobre altura
de comandos e controles: Min.
0,4m e Max. 1.20m
Utilização de mais de um tipo de dispositivo ou controle.
Exemplo: bebedouros acionados
por mão e pé.
Utilizar bancos sem
encostos
Problemas no
sistema sensorial
de equilíbrio músculo
esquelético.
Bancos e
assentos com encosto
Nada consta na Norma
Os assentos de bancos devem
fazer um ângulo com os assentos entre 100 e 110º
Perceber diferença de textura, objetos e pisos
Texturas bem diferenciadas
Texturas bem diferenciadas
Item 6.1.1 – Dispõe sobre pisos recomendando cautela nos
desenhos para que não causem
sensação de insegurança devido a impressão de tridimensionalidade.
Cores diferentes para texturas
diferentes associados a dois
sentidos (visual e háptico).
Atividade/Restrição Restrição Física Ambiente
Recomendado
Normas Brasileiras
NBR 9050 Proposta de Intervenção
Executar ações de forma
rápida
Problemas no
Sistema Nervosos e
Músculo
esquelético
Mobiliário e
dispositivos de
fácil utilização que não
demandem
vários movimentos
Item 4.6 – Dispõe sobre alcance manual estabelecendo alturas
mínimas (0,5m) e máxima
(1.55m). Item 4.6.3 – Dispõe sobre
superfícies de trabalho
estabelecendo raios de alcance do
braço extendido frontal igual a
0,5m.
Utilização de cores para
identificar objetos e comandos,
como por exemplo: Padrão de cores internacionais de trânsito:
Vermelho: Não pode ser
manuseado ou o usuário deve
parar.
Verde: Para circulações ou
esperas que usuário deve seguir em frente.
33
Este Quadro orienta quanto ao uso de equipamentos e mobiliário urbano, sendo de grande importância sua
aplicação na arquitetura e no urbanismo. 34
Quadros revisados e ampliados a partir de: DORNELES, Vanessa Goulart. Acessibilidade para Idosos em
Áreas Livres Públicas de Lazer. 2006. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo). – Universidade
Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2006.
92
Item 9.5.1. – Dispõe sobre área de aproximação de cadeira de rodas,
garantindo posicionamento para
aproximar frontalmente em bancadas cuja altura mínima deva
ser igual a 0.73m e profundidade
mínima de 0,3m
Adapta-se a mudanças de
temperatura
Problema no Sistema Nervoso
e Endócrino
As áreas de estar devem ter
ventilação,
sobreamento e temperatura
estável.
Nada consta na Norma sobre esta
restrição.
Presença de áreas com
elementos fdiferentes como
árvores e chafarizes que podem proporcionar sensações térmicas
variáveis possibilitando opção
de escolha. Criação de umsa zona intermediária, como espaço
de transição, entre uma área
muito arborizada e uma sem vegetação.
Perceber odores da
vegetação
Problemas no
Sistema
Sensorial,
Paladar e Olfato
Uso de
vegetação ou
outros tipos de
referenciais
como cores à parte.
Idem.
Utilização de vegetação com
odores fortes e agradáveis como referenciais espaciais.
Adaptar a visão a
mudanças de
luminosidade.
Problemas no
Sistema
Sensorial Visual.
Estabilidade e
uniformidade de luz no ambiente
urbano.
Idem.
Na existência de bosques muito
arborizados próximos a áreas de
circulação sem vegetação deve-se prever uma faixa de transição
com diminuição no porte e
espaçamento da vegetação.
Dificuldade em
compreender equipamentos novos.
Problemas no
Sistema Cognitivo
Design de fácil
compreensão de uso intuitivo.
Idem
Explicações em forma de textos
e figuras quanto à utilização de
novos equipamentos no espaço urbano como bebedouros e
terminais informatizados.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
Quadro 10 – Limitação quanto à Comunicação35
.
Atividade/Restrição Restrição Física Ambiente
Recomendado
Normas Brasileiras
NBR 9050 Proposta de Intervenção
Perceber Falas
Problemas no
Sistema
Sensorial Auditivo
Iluminação e
espaços que
permitam leitura ideal
Nada Consta na Norma Bancos um de frente para os outros. Iluminação superior, sem
ofuscamento e pisos anti-reflexos.
Entender outras pessoas
em locais barulhentos Idem
Áreas de estar e
com funções de
interação entre pessoas
localizadas em
espaços com pouco ou
nenhum ruído.
Idem.
Uso de vegetação arbustiva ou
herbácea separando áreas de estar das veiculares ou de grande fluxo
de pedestres. Áreas de estar longe
de áreas destinadas às práticas esportivas.
Interagir com outras pessoas.
Irritabilidade Indocilidade
Idem. Idem.
Presença de vegetação que atraia a fauna, pois o canto dos
passarinhos relaxa a acalma as
pessoas. Idem para a presença de elementos com água.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
35
Quadros revisados e ampliados a partir de: DORNELES, Vanessa Goulart. Acessibilidade para Idosos em
Áreas Livres Públicas de Lazer. 2006. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo). – Universidade
Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2006.
93
Quadro 11 – Síntese das diretrizes para áreas de estar com componentes de acessibilidade36
.
Atividade/Componente Item Uso Recomendado Uso não Recomendado
Informação Orientação
Cor Mesma cor do piso em áreas de estar para facilitar identificação do uso.
Uso da mesma cor no piso de áreas de
estar e circulações dificulta
diferenciação de funções.
Placas
Formas de explicação diferenciadas. Utilizar pictogramas, imagens gráficas e
textos com cores contrastantes entre a
informação e o fundo.
Informações próximas ao chão.
Deslocamentos
Acessos Áreas de estar com acesso visível. Desnível para acessar área de estar.
Dimensões
Bancos dispostos frontalmente devem
ficar distantes no mínimo .90cm, para
permitir acesso de cadeiras de rodas.
Circulações entre mobiliários inferiores a .90cm
Uso
Mobiliário Presença, próximo às áreas de estar de lixeiras e bebedouros.
Áreas de estar muito distantes das
circulações principais podem não ser
identificadas.
Iluminação Iluminação intermediária e inferior. Ausência de Iluminação
Vegetação Devem ser previstas áreas de estar tanto na sombra como no sol, criando opções
para o usuário.
Espécies vegetais com odor forte que
possam se tornar incômodas e que
atraiam insetos como abelhas, por exemplo.
Bancos
Implantá-los com distâncias máxima de
200.00m. Barras metálicas próximas aos
bancos ou outro tipo de apoio para ajudar cadeirantes.
Bancos sem apoios ou encostos. A inclinação entre o assento e o encosto
deve ser igual a 110º.
Comunicação Disposição
Variações da disposição dos bancos nas
áreas de estar. Recantos frontalmente ou 90º entre eles estimulam a interação
entre as pessoas.
Uma única disposição de mobiliário ao longo de uma via livre.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
Quadro 12 – Circulação para pedestres37
.
Atividade/Componente Item Uso Recomendado Uso não Recomendado
Informação/Orientação
Iluminação
Iluminação superior nas vias e intermediária nos passeios. Iluminação
inferior ou pontos de luz onde houver
desníveis ou mudanças de planos.
Circulações sem iluminação,
principalmente escadas e rampas.
Cor Mudanças de planos com cores e texturas
diferenciadas.
Mesma cor nos elementos com mudanças de planos como pisos e
muros, degraus ou canteiros elevados.
Deslocamentos
Dimensões Faixa livre mínima com 2.40m de largura e altura de 2.20m.
Presença de mobiliário nas circulações.
Pisos
Estáveis, regulares, antiderrapantes e
antireflexivos.
Pisos que se desgastem com o tempo
criando buracos e desníveis.
Rejuntes e pisos no mesmo nível Pisos irregulares, como paralelepípedos, em circulações de pedestres.
Os desenhos dos pisos devem estar nas
laterais das circulações. Preferencialmente.
Desenhos no centro de circulações podem ser confundidos com desníveis.
Desníveis
Escadas e rampas devem ficar próximas
ou associadas. Ausência de rampas.
Corremãos e guarda corpos em duas alturas.
Ausência de corremãos e guarda corpos.
Marcação visual e tátil no piso, no início
e fim de rampas e escadas.
Ausência de marcações visuais e táteis
nos desníveis.
Usar escadas com espelhos fechados. Espelhos de escadas vazados.
Comunicação
Dimensões Circulações que permitam duplas de idosos andarem nos dois sentidos lado a
lado. Recomenda-se 2.40m
Circulações com menos de 1.00m.
Patamares para descanso.
Presença de recuos para descanso em escadas e rampas nas áreas de estar.
Ausência de recuos para descanso.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
36
Quadros revisados e ampliados a partir de: DORNELES, Vanessa Goulart. Acessibilidade para Idosos em
Áreas Livres Públicas de Lazer. 2006. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo). – Universidade
Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2006. 37
Idem.
94
Quadro 13 – Caminhada e ciclismo38
.
Atividade/Componente Item Uso Recomendado Uso não Recomendado
Informação e Orientação
Sinal Visual
Quadras indicando a função das pistas
com altura superior a 1.20m. Sinalização no chão com cor forte.
Ausência de placas de informações.
Configuração
Espacial
As pistas devem estar separadas
visualmente com cores e texturas de pisos diferentes. Também para
obstáculos, como bancos. Por
exemplo.
As duas pistas não podem ter a mesma cor
do piso e devem ficar em níveis diferentes.
Deslocamentos Desníveis Devem ser vencidos por rampas de acordo com as Normas.
Presença de degraus nas pistas.
Uso
Mobiliário Obrigatoriamente, bancos, lixeiras e
bebedouros. Ausência de mobiliário para descanso.
Vegetação
A existência de árvores para sombreamento próximas às pistas
contribui para o conforto térmico
durante os exercícios.
Pistas sem sombreamento.
Comunicação Dimensões
Mínimo de 3.00m para permitir o
exercício de duas pessoas nos dois
sentidos.
Pistas de caminhadas com largura inferior a 1.50m.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
Quadro 14 – Áreas de alongamento com critérios de acessibilidade39
.
Atividade/Componente Item Uso Recomendado Uso não Recomendado.
Informação e Orientação Sinalização
Visual
Placas indicando as áreas de
alongamento sinalizando as formas do
exercício de acordo com o equipamento
Ausência de Sinalização.
Deslocamento Configuração Espacial
Implantar os equipamentos
permitindo sua utilização e circulação
entre eles.
Não deixar os equipamentos de alongamento muito próximos entre si.
Uso
Mobiliário
Barras metálicas nos sentidos
horizontal e vertical. As barras
horizontais em diferentes alturas.
Barras horizontais com uma única altura.
Vegetação Arvores com função de sombreamento.
Áreas de Uso sem vegetação.
Comunicação Configuração
Espacial
Composições com mais de um
equipamento de alongamento
Equipamentos para alongamento isolados
para idosos que costumam caminhar juntos.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
Quadro 15 – Quadras esportivas40
.
Atividade/Componente Item Uso Recomendado Uso não Recomendado
Informação e Orientação
Sinalização
Visual
Placas indicando as funções das
quadras e proibições de uso. Ausência de Sinalização
Visualização
Implantar as quadras e arquibancadas
abaixo do nível das circulações de preferência em desníveis naturais.
Arquibancada elevada, fechada que impeça
o controle visual da área livre.
Deslocamento Configuração
Espacial.
Espaços de transição e circulação
entre a quadra e as áreas de lazer. Desníveis nas circulações
Uso Mobiliário
Presença de Bebedouros, lixeiras e
bancos. Ausência de espaços de estar para platéia.
Telas de proteção para pessoas nas
demais áreas próximas à quadra.
Ausência de proteção que impeça a bola de
sair da quadra.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
38
Quadros revisados e ampliados a partir de: DORNELES, Vanessa Goulart. Acessibilidade para Idosos em
Áreas Livres Públicas de Lazer. 2006. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo). – Universidade
Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2006. 39
Idem. 40
Idem.
95
Desenho 3 – Pista de circulação para cadeirantes e pedestres.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
Desenho 4 – Lixeira.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
96
Desenho 5 – Posicionamento de placas informativas.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
Desenho 6 – Escadas.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
5.2 A CIDADE PARA O IDOSO: HABITAÇÃO
A Constituição Brasileira de 1988, no seu Capítulo VII – Da Família, da Criança, do
Adolescente e do Idoso – afirma no seu Artigo 230: “A família, a sociedade e o Estado têm o
dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo
sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida.” E mais, no seu § 1º: “Os
programas de amparo aos idosos serão executados, preferencialmente, em seus lares”.
97
Entretanto, em 200541
, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)
publicou a Resolução da Diretoria Colegiada – RDC nº 283, estabelecendo os critérios para a
implantação e construção de Alojamentos de Longa Permanência para Idosos. Não há ainda,
a não ser em documentos e publicações isoladas, normas que orientem habitações isoladas
para idosos, como por exemplo, taxa de conforto mínima, dimensões espaciais, tipologia (se
horizontal ou vertical), quanto à localização, por exemplo, no campo ou na cidade.
Embora o idoso aqui estudado seja aquele que apresenta uma situação de
independência no tocante à mobilidade pessoal e capacidade de estabelecer relacionamentos
pessoais e sociais, além de poder desempenhar funções básicas como tratar de sua higiene
pessoal, preparar alimentos e fazer a manutenção do seu ambiente, optou-se por uma visão
mais abrangente sobre a situação habitacional dos idosos.
As maiores controvérsias ficam por conta das opções entre instituições coletivas, como
asilos, ou residências isoladas. Outro problema levantado é quanto à localização, se a
implantação será na malha urbana normal ou em bairros ou conjuntos específicos.
O idoso, pela condição própria do processo de envelhecimento, sofre profundas
transformações em seus aspectos bio-físio-psicológicos. Aspectos como fadiga mental,
desinteresse, diminuição da atenção e concentração são naturais. Têm um desempenho não
satisfatório nas aptidões psicomotoras ou em atividades que exigem agilidade mental e
coordenação. As deficiências, no que tange à memória e à aprendizagem, dizem respeito ao
comprometimento da memória visual e auditiva. A motivação é diminuída por problemas de
saúde e experiências prévias de aprendizagem.
São alterações orgânicas, morfológicas e tegumentares geradas no corpo humano com
o advento do processo de envelhecimento, segundo Moreira; Torres; e Barros (2004). Estas,
relacionadas no quadro a seguir (quadro 16), apenas como ilustração:
Quadro 16 – Alterações do corpo com o envelhecimento
Composição Corpórea Redução de 70% para 52% da água corporal total
Gordura Distribuição mais centrípeta
Estatura Após os 40 anos, cerca de 1 cm por década. Acentuada após os 70 anos pelo achatamento
vertebral, redução dos discos intervertebrais, cifose dorsal e achatamento do arco plantar.
Pele Lentidão da renovação epidérmica; adelgaçamento da derme; perda da elasticidade, da
lubrificação tegumentar; do tecido subcutâneo em membros e face. Maior propensão a
instalação de lesões; hipertrofia das células de pigmentação; despigmentação e palidez.
Pelos e Fâneros Alteração da pilificação; pilificação em regiões anômalas; pelos menos espessos e mais fracos;
perda gradativa da pigmentação; crescimento lentificado e espessamento das unhas, unhas
mais secas e quebradiças.
Olhos Surgimento do arco senil; afundamento; da elasticidade do cristalino e da acomodação visual;
41
Houve uma grande demora em regulamentar a Lei.
98
do tamanho da pupila e da velocidade de resposta à luz.
Ouvidos Tímpano torna-se mais espesso; degeneração do ouvido interno e do nervo auditivo levando à
presbiacusia.
Boca Mais seca com alterações no paladar; da superfície das gengivas, perda e escurcimento
progressivo dos dentes.
Nariz Aumento de tamanho e diminuição da capacidade olfativa.
Peso Tendência à redução de peso após os 60 anos em virtude da perda da massa muscular e
alterações orgânicas.
Fonte: Moreira; Torres; e Barros (2004)
Apoiado nas informações contidas neste quadro, o planejador urbano, urbanista ou
arquiteto, tem o devido instrumental teórico para trabalhar áreas habitacionais, principalmente
aquelas destinadas a idosos, de uma forma mais adequada, levando em consideração as
limitações impostas pelo processo de envelhecimento. O urbanismo contemporâneo tem como
um dos seus principais postulados criar zonas habitacionais junto a outros tipos variados de
usos do solo, procurando incentivar um maior intercâmbio cultural e econômico e evitar a
existência de vazios populacionais em determinados setores da cidade, como frequentemente
ocorre nas áreas comerciais centrais das grandes cidades. É uma constante, arquitetos,
urbanistas e gestores urbanos indicarem a necessidade de ocupar os centros das grandes
cidades com contingentes populacionais dos mais variados tipos humanos, como idosos, por
exemplo.
Numa malha já existente, será necessário identificar e classificar adequadamente áreas
onde idosos possam ser alojados de forma a que possam usufruir dos benefícios que
determinada estrutura urbana de comércio e serviços possa oferecer, sem perder a qualidade
de itens quanto à segurança, ausência de poluição (sonora, visual etc.), espaço de moradia e
áreas de lazer de forma mais próxima e sem necessidade de grandes deslocamentos.
Nos projetos de novas áreas residenciais, seja conjunto ou condomínios fechados, o
percentual de casas para idosos, determinado por Lei, em 3% do total das unidades, deve ser
implantado nas áreas próximas ao centro comunitário de comércio, lazer e serviços,
principalmente de saúde. Muito embora a determinação seja para conjuntos habitacionais
financiados pelo governo federal, nada impede de que empreendimentos privados sejam
projetados da mesma forma, nunca deixando os idosos distantes mais de 400m dos locais
onde possam obter algum tipo de apoio.
Em São Paulo, o governo municipal criou o programa Cidade dos Idosos. São
pequenos conjuntos de casas e/ou apartamentos. Gerontólogos e Urbanistas estão reticentes
quanto a esta tipologia habitacional. Existe o medo de se criar guetos. É importante o contato
do idoso com pessoas de outras faixas etárias, principalmente jovens.
99
Alguns fatores para adequação de uma boa qualidade de vida e bem-estar do idoso
estão relacionados com a moradia e a família. Daí a crítica feita ao sistema de Asilos. Por
melhor que funcionem, os idosos, em todos os casos estudados, revelam desconforto com a
ausência de familiares.
É no seio da família que podemos participar de um ambiente onde há possibilidade de
identificação, pela construção de nossa individualidade em companheirismo, respeito e
dignidade. Outro fator importante é a alimentação equilibrada e saudável, pois, ao oferecer
este suporte diário, o lazer e a cultura se tornam mais fáceis pela inclusão social.
No mais, o convívio diário com valores emergentes e a vida cada vez mais alterada
pela tecnologia permitem aos idosos terem a possibilidade de questionar, obterem respostas e
responderem por eles mesmos o que há de novo neste tempo que também é deles. Por fim,
uma maior participação social inclui, além do movimento físico, o mental, com atividades de
caminhadas, ginástica, entre outras, que ajudem na prevenção e promovam a saúde.
Já nos asilos é difícil encontrar tais fatores, principalmente nos asilos públicos. A falta
de estrutura, o espaço restrito, a ausência de pátios e jardins, os alojamentos que não
permitem a individualidade e, principalmente, a falta de profissionais qualificados (médicos,
enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, nutricionistas etc.); dificuldades financeiras
e, sobretudo, nenhum ou pouco contato com os familiares.
A este cenário, deve ser acrescentado o conflito do ritmo. Quanto maior e mais global
a cidade, mais acelerado é o ritmo e hostil o ambiente. O idoso, com a lentidão imposta por
suas condições físicas, se expõe aos riscos de acidentes e quedas e, mais grave ainda, à falta
de gentileza urbana.
Ao planejarmos os espaços, seja na escala do espaço público urbano ou no espaço
privado da habitação, é fundamental que se leve em conta o universo das pessoas e das
atividades da forma mais ampla possível: a arquitetura e o urbanismo devem ser pensados
para necessidades e desígnios humanos. Nessa linha, para que o idoso possa usufruir do
espaço construído, devem ser levados em conta uma série de elementos específicos para o
desenho da cidade e da habitação. Não se propõe aqui uma arquitetura e um urbanismo só
para idosos, mas garantir a inclusão de suas especificidades (“...cidade é boa para o idoso
quando é boa para toda a população”)
100
5.2.1 Como o idoso vive hoje no Brasil
Estruturou-se a análise aqui desenvolvida (IPEA e IBGE), a partir de dois vieses: a
situação sócio-econômica e o reflexo no setor habitacional. A família é uma das instituições
mais importantes e eficientes no tocante ao bem-estar dos indivíduos e à distribuição de
recursos. Ela faz parte da intermediação da relação entre o mercado e os indivíduos,
distribuindo rendimentos entre membros, assim como faz a intermediação entre o Estado e o
indivíduo, redistribuindo, direta ou indiretamente, os benefícios recebidos. Diante da
predominância, no mundo, de um modelo de políticas sociais que defende o enxugamento do
Estado, as famílias estão sendo, cada vez mais, convocadas a cuidar dos segmentos mais
dependentes da população. Em alguns países, é a única alternativa de apoio à pessoa idosa.
Esse apoio se manifesta tanto pela co-residência42
como pela transferência de bens e recursos
financeiros. Os membros das famílias ajudam-se procurando um bem-estar coletivo,
constituindo um espaço de “conflito cooperativo”, onde se cruzam as diferenças entre homens
e mulheres e as diferentes gerações, produzindo um variada gama de arranjos familiares.
No Jornal Folha de São Paulo (31 de julho de 2011), informa-se que a média de
pessoas, no Brasil, morando em um domicílio era de 3,79, segundo o Censo de 2000. Este
número caiu para 3,34, em 2010. O estado com maior número de pessoas por domicílio é o
Amazonas, com 4,43, e o menor o Rio Grande do Sul, com 2,99 pessoas/domicílio. O número
de famílias aumentou 2,4%, por outro lado, aumentou o número de domicílios, de 3,1, em
2000, para 3,2, em 2010. Aumentou também o número de pessoas morando sozinhas: em
2000, 11,5% das moradias para 12,0% das moradias em 2010. Em São Paulo, sete milhões de
pessoas vivem sozinhas. Não só na capital, como também no interior.
A alta taxa de fecundidade registrada no passado e o aumento na expectativa de vida
também alteraram os números relativos aos idosos. No Brasil, a população com 15 anos de
idade passou de 33,8% do total, em 1992, para 24%, em 2009, enquanto na população idosa
(com mais de 60 anos) houve crescimento: de 7,9%, em 2000, passou para 11,4%, em 2010.
Ao mesmo tempo, a participação dos idosos na renda familiar cresceu, não só pelos ganhos de
aposentadoria e pensões, mas também pelos rendimentos vindos do trabalho, revelando uma
população menos dependente de filhos e netos.
42
Co-residência: tipologia habitacional onde as áreas comuns (cozinha, banheiros e estar) são divididas por duas
famílias, separando-se as áreas íntimas como dormitórios.
101
O número de idosos chefes de família aumentou, passando a ser a condição
predominante, inclusive entre as mulheres. Em 2009, aproximadamente 13,8 milhões de
pessoas com mais de 60 anos eram chefes de família. Deste total, 42.7% eram mulheres. Em
cerca de seis milhões de famílias, em que o idoso era chefe ou cônjuge, havia filhos adultos e,
em 2,3 milhões de famílias, havia netos. Nessas famílias, os idosos contribuíam com mais da
metade da renda familiar, invertendo uma tradicional relação de dependência.
Ainda pelos dados do IPEA (2007) e IBGE (2010), o país terá que estabelecer novas
prioridades em suas políticas públicas, principalmente na saúde e na geração de empregos.
Pelas projeções do IPEA, a partir de 2030, só continuarão a aumentar sua participação na
população os grupos de pessoas com mais de 45 anos de idade. O preconceito com o trabalho
dos mais velhos terá que ser revisto ou vai faltar gente para trabalhar em determinados setores
da economia.43
Diante do quadro acima, como definir uma tipologia habitacional (áreas, dimensões,
tipo de mobiliário e equipamentos, além da inserção na estrutura urbana)?
5.2.2 A Evolução da Casa Brasileira
Ao analisar as exigências mais comuns para se planejar a habitação para os idosos,
sentimos e necessidade de se fazer uma rápida retrospectiva histórica da casa brasileira, como
reflexo de uma situação social, pondo em destaque a posição do idoso. Evidentemente, a
retrospectiva deverá se pautar por uma tipologia de habitação considerada normal, seja de
caráter social ou de padrão mais alto, dada a dificuldade de uma análise mais profunda de
habitações subnormais, como favelas e mocambos, por exemplo, embora estas não deixem de
ser levadas em conta. Tal metodologia preocupa-se com o fato de que, ao se propor habitações
para idosos, estas devam possuir características e exigências de habitabilidade, ou seja,
construções atendendo a requisitos de normas técnicas.
43
O longo período sem investimentos (1990 a 2004) no setor de rodovias federais, principalmente, levou grande
parte dos engenheiros da área a se aposentarem ou procurarem outras atividades. Com a retomada dos
investimentos na recuperação e construção de rodovias, o país foi obrigado a recrutar antigos profissionais
(aposentados, principalmente) para realizar projetos, execução e fiscalização de obras rodoviárias. (Relatório
CONFEA, 2009).
102
5.2.2.1 A Casa Oitocentista
A habitação burguesa é um modelo de casa originado no século XIX, caracterizado
pela tripartição em espaços de prestígio, isolamento e rejeição, mais difundidos como social,
íntimo e serviços (Desenho 7). O espaço de Rejeição é formado pelo banheiro, cozinha e
dependência de empregada. O Espaço Íntimo são os quartos e sala de refeições. A sala de
visitas é o local de prestígio, a principal parte da casa, onde se recebem visitas (habitação
como vitrine de prestígio social). A loja, espaço de trabalho, é um anexo da casa (LEMOS,
1989).
A família tradicional burguesa era do tipo nuclear (família extensa), formada por pai,
mãe e muitos filhos. O pai trabalhava em casa e era o responsável pelo sustento da família.
Empregados domésticos eram responsáveis pelo funcionamento da casa e ficavam isolados
propositadamente pelos patrões, inicialmente nas senzalas e, depois, com a urbanização, no
sótão, parte superior dos sobrados. Era um modelo baseado nos sistemas de produção agrícola
feudal. (LEMOS, 1989).
Desenho 7 – Casa oitocentista
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
103
5.2.2.2 A Casa Moderna
A Casa Moderna no Brasil tem como principal característica a introdução, no
ambiente interno da habitação, das chamadas “áreas molhadas” (cozinha, banheiro e serviços)
(LEMOS, 1989). Antes consideradas áreas subalternas, curiosamente, hoje, determinam o
nível das habitações unifamiliares e multifamiliares, sendo, no caso dos sanitários, uma
verdadeira mania nacional.
Mas a evolução foi lenta. Com a urbanização essas áreas primeiro foram edificadas em
edículas (um anexo ao corpo principal da casa, onde ficavam área e dormitórios de serviços e
sanitários.). Só depois foram sendo, aos poucos, introduzidas no corpo principal da casa.
Geralmente um sanitário para toda a família e, posteriormente, a adoção dos sanitários
privativos para cada dormitório (as chamadas suítes) quando a situação financeira do
proprietário permitia.
Outra novidade foi a “Sala para TV”, um local onde as famílias possam usufruir desse
moderno meio de comunicação. Esse ambiente passou a ser o centro da habitação, antes
localizado nas salas de refeição (Desenho 8).
Desenho 8 – Casa Moderna
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
104
A habitação moderna caracteriza-se pela bipartição dia/noite. Os quartos e os
banheiros são espaços de uso íntimo e noturno (repouso). A cozinha centralizada, não mais
isolada do corpo da casa, e a sala de estar são o coração do funcionamento diurno da casa
(convívio). Os empregados, reduzidos a apenas um ou dois, são alojados em Edículas (anexo
onde também era instalada a área de serviço). Em função da redução no tamanho dos
ambientes das casas, deixa de existir o local para o trabalho.
Era também uma família do tipo nuclear, centralizada no pai e nas mães, com menos
filhos que a família burguesa, devido à queda de fecundidade, a partir do início do século XX.
O pai trabalhava fora, normalmente como funcionário de uma empresa (serviços, comércio ou
indústria), e era o responsável pelo sustento da família. A mulher passou a substituir, em
parte, a empregada doméstica, ficando responsável por parte do funcionamento da casa. Era
um modelo baseado numa sociedade de produção industrial, o homem como mão-de-obra
produtiva. (LEMOS, 1989).
5.2.2.3 A Casa Contemporânea
A habitação contemporânea (Desenho 9), tanto a habitação social quanto aquela
denominada de “alto padrão”, vem repetindo estas duas fórmulas há décadas. As variações
são mínimas. Em geral, caracteriza-se pela anexação, ou até eliminação, das dependências de
empregados, no máximo existindo um banheiro de serviço para atender a uma nova forma de
empregados domésticos, os diaristas, ou o chamado “quarto reversível”, que tanto pode servir
a um empregado, caso exista, como para um outro membro da família, principalmente quando
existem filhos de sexo diferentes. Entretanto, mesmo que agora tendam a habitar estes
espaços, grupos domésticos cujo perfil difere cada vez mais da família nuclear tradicional, o
desenho desta habitação continua imutável, sob a alegação de que se chegou a um resultado
projetual economicamente viável, que atende às necessidades ‘básicas’ dos seus moradores.
105
Desenho 9 – Casa Contemporânea
Fonte: Casa Contemporânea (2011, p.23).
[...] arquitetura trata de um sujeito, o homem, que por definição e fatalidade é de
natureza cambiável, evolutiva. Ele é primeiro solteiro, depois casal, depois família,
com número indeterminado de filhos, depois dispersão dos filhos pelos seus
casamentos... Enfim a morte, de tal maneira que a moradia feita para uma família
não existe: o que existem são vários tipos de moradia para sucessivas idades. (LE
CORBUSIER apud TRAMONTANO, 2007).
Dessa afirmação, deve ser colocada a questão de novos grupos domésticos existentes,
muitas vezes em apenas certos períodos do ciclo de vida familiar, alternada ou
simultaneamente. Indaga-se então se a esta flexibilidade não deveria corresponder uma
flexibilidade do espaço? Nova família nuclear. Família monoparental. Uniões livres. Pessoas
vivendo sós. Coabitação sem vínculos conjugais ou de parentesco. E a presença, como nunca
na história, das pessoas idosas.
A compartimentação do espaço interno com funções definidas, que pressupõe a
noção de “cômodos”, data dos séculos XV e XVII, constituindo um momento
relativamente curto na história da habitação, enfatizada pelo Movimento Moderno já
no século XX. Não estaríamos hoje diante de novas alternativas de qualificação do
espaço, em uma sociedade tendendo a superequipar-se, onde o equipamento
qualificaria os espaços permitindo a sobreposição de funções. (TRAMONTANO,
2007).
106
No Brasil, o prestígio de uma residência e, por extensão, do seu proprietário, é
determinado pelo número de cômodos com funções bem definidas: sala de “almoço”, sala de
“jantar”, sala “de TV”, jardim de “inverno” etc. O surgimento da informática neste espaço
talvez exija a sala do “computador”. As atividades que ele propõe deveriam ser isoladas em
um compartimento próprio ou integrado ao lazer de vários indivíduos do grupo doméstico?
Mas, mesmo o computador, como já aconteceu com a TV, em função de um processo de
miniaturização, tem possibilitado a cada membro da família possuir o seu equipamento, assim
como o telefone celular, aumentando a individualização e o isolamento, revertendo um quadro
que apontava para a eliminação da compartimentação no interior das residências.
A crescente necessidade de independência dos indivíduos está dando origem a espaços
individuais privados que, ao mesmo tempo, podem comunicar-se entre si por meio de um
espaço interno comum, com um acesso direto para o exterior. Tal configuração poderia
indicar que a habitação contemporânea pode tornar-se um agrupamento de pequenas
habitações individuais com um apoio (tipo banheiro e cozinha, por exemplo) comum? Não
seria uma forma avançada (e planejada) dos “cortiços” tão comuns nas nossas cidades?
A introdução de novos elementos de comunicação: TV a cabo, internet, celulares etc.
indicam um novo tipo de espaço (onde o trabalho volta a ser feito no espaço da habitação) de
uso extremamente individual, o cyber espaço, “ante-câmara do mundo”, o local onde se
busca, individualmente, um contato com o mundo.
Todas estas questões foram levantadas no sentido de se procurar estabelecer,
metodologicamente, os parâmetros ou padrões, para projetar a casa do idoso. Para
fundamentar ainda mais esta pesquisa, procedeu-se a uma análise, no Brasil e no exterior, de
tipologias bem sucedidas que, ao longo da história, demonstraram a sua conformidade para
com os objetivos para os quais foram projetados.
No âmbito dos espaços internos da habitação, o que vemos por aqui é uma insistência
na reprodução ad nauseam da casa burguesa (ou casa grande), em doses diminutas e, em
função de um preconceito de partida, não nos permitimos experimentar ou ensaiar novas
formas de viver. Por que não admitir espaços de asseio que se assemelhem à famigerada área
de serviço, desconectando-a da cozinha (resquícios de um passado escravista e, depois, de
uma sociedade que oprimiu a mulher)? Ou repensar a exagerada quantidade de banheiros
multiplicados pelo número de dormitórios, acrescidas ainda de um banheiro social, ou lavabo,
que remonta às casas coloniais, nas quais o visitante ficava do lado e fora ou apartado da
família? Ou rever a excessiva compartimentação dos espaços que separam a vida, mesmo
107
dentro do ambiente familiar? Estas e outras questões compõem, hoje, a problemática
habitacional brasileira.
5.2.3 Conceituação e Dimensionamento dos Equipamentos
As principais tipologias habitacionais, encontráveis, por exemplo, nas periferias das
grandes cidades do mundo inteiro, permanecem aproximadamente as mesmas há décadas. O
Movimento Moderno europeu do entre-guerras constituiu o primeiro e único momento em
toda a história da Arquitetura em que o desenho e a produção de espaços de morar foram
integralmente revistos, analisados de acordo com critérios claramente formulados, cujos
resultados nortearam – e ainda norteiam – boa parcela de projetos de habitação em todo o
mundo ocidentalizado (Figura 37).
Figura 37 – Edifício residencial HILEA (São Paulo)44
.
Fonte: Edifício residencial HILEA (São Paulo) (2009, p.34).
44
Equipamento implantado em São Paulo (Brasil), destinado à moradia de idosos de alta faixa de renda. Os
custos de operação e manutenção inviabilizaram o empreendimento, que foi estatizado pelo Governo do Estado e
transformado na Fundação Lucy Montoro e destinado a idosos de todas as faixas de renda. Conta com
ambulatório, apartamentos individualizados, área de lazer, mini-shopping (inclusive cinema), área de ginástica
com piscina semi-olímpica, área de fisioterapia, salão de eventos, estacionamento privativo.
108
No entanto, os arquitetos Modernos previram uma habitação prototípica, que
correspondia a um homem, a uma cidade, a uma paisagem, igualmente prototípicos em sua
formulação. Criaram um arquétipo, o da habitação-para-todos, baseado em uma concepção
biológica do indivíduo, mas a abrangência das proposições que ele continha foi sendo
gradativamente desconsiderada pela lógica técnico-financeira dos empresários da construção,
que preferiram apropriar-se apenas de elementos e conceituações economicamente rentáveis.
É este arquétipo Moderno da 'habitação-para-todos', mesclado aos princípios da repartição
burguesa oitocentista parisiense, que veio sendo reproduzido ad infinitum, em todo o mundo
de influência ocidental, durante todo o nosso século, com pequena variação local, destinado a
abrigar, basicamente, a família nuclear. Porém, estudiosos de diferentes horizontes têm
apontado na mesma direção quando o assunto é a metrópole do século XXI: seu habitante
parece ser um indivíduo que vive, principalmente, sozinho, que se agrupa eventualmente em
formatos familiares diversos, que se comunica à distância com as redes às quais pertence, que
trabalha em casa, mas exige equipamentos públicos para o encontro com o outro, que busca
sua identidade através do contacto com a informação. O que tem a dizer a Arquitetura diante
deste quadro, se é que o tema Habitação já não lhe escapou de vez por entre os dedos para
tornar-se atribuição de investidores e usuários que não possuem outra referência senão os
modelos citados? Segundo quais critérios formularão novas propostas para o desenho deste
espaço?
Dentro do quadro acima, está posto o acentuado envelhecimento populacional, desafio
que o século XX colocou para o século 21: um acréscimo de 20 anos na expectativa de vida.
No caso brasileiro, representa uma cifra que ultrapassa a população de muitos países: 22
milhões de idosos, segundo o Censo de 2010.
Neste trabalho, já foram vistas as determinações legais, além da opinião de
especialistas, sobre a tipologia a ser adotada para abrigar idosos. Por outro lado, o Censo de
2010 verificou uma média por família em torno 3,09/pessoas, muitas delas chefiadas por
idosos. Destes, 37% ainda ajudam financeiramente aos filhos.
Analisando-se os 11 países, já estudados neste trabalho (Alemanha, Bélgica, Brasil,
Canadá, Espanha, EUA, França, Holanda, Itália, Reino Unido e Suécia), os quais detêm
juntos, 19% dos 578 milhões de idosos do mundo, verifica-se os seguintes tipos de habitação
para Idosos (Quadro 16):
109
Quadro 17 – Tipos de habitação para idosos
Forma de Habitação % Observações
Morando com Família 11 Como chefe da família ou amparado por ela.
Clínicas Especializadas 4 Idosos com algum tipo de enfermidade.
Residências com Apoio 2 Hotéis especializados para idosos de alta renda e/ou
estabelecimentos estatais e/ou filantrópicos para os demais.
Residências Próprias 83 Habitações Unifamiliares e Multifamiliares.
Total 100
Fonte: Organização das Nações Unidas (2008).
Observa-se, pelo quadro, que o idoso, com todas as suas limitações físicas, prefere
morar sozinho. A questão, tão somente, é como estabelecer uma tipologia que atenda,
adequadamente, esta preferência.
No caso brasileiro (3,09 pessoas/família), poderia ser formado os seguintes arranjos:
Idoso(a) morando sozinho(a).
Casal de Idosos.
Casal de Idosos mais um parente (filho ou filha).
Idoso(a) viúvo(a), ou separado(a) com dois parentes (sexos iguais).
Idoso(a) viúvo(a), ou separado(o) com dois parentes (sexos diferentes).
A prefeitura de São Paulo criou um programa habitacional para a 3ª Idade,
estabelecendo:
Habitações multifamiliares, edifícios de até 4 pavimentos, com unidades tipo kitinete
para idosos que vivem só, com 24.00m², seguindo a seguinte distribuição de espaço:
Sala/Quarto (14.40m²); Cozinha (4.80m²); Banheiro (4.80m²).
Habitações unifamiliares, casas, ou multifamiliares, apartamentos, em edifícios de até
4 andares com elevadores, para famílias de idosos casados, mais um parente, com
45.00m², seguindo a seguinte distribuição de espaço: Varanda (7.32m²); Sala
(12.00m²); Dormitórios (2) (9.00m², cada); Cozinha (4.80m²); Banheiro (2.88m²).
No caso de habitações unifamiliares em casas térreas, adotou-se pequenos conjuntos
de até 200 casas, mais praça, pequeno comércio, lavanderia, quadra de bocha.
Analisando-se a proposta da prefeitura de São Paulo (Desenho 10), poderemos
considerar:
1. O padrão das casas atende à proposta do Programa Minha Casa Minha Vida, que
determina 35.00m² para casas e 45.00m² para apartamentos.
110
2. A Taxa de Conforto é próxima da europeia que estabelece 25.00m²/Pessoa. (Instituto
Habitacional e de Reabilitação Urbana –Lisboa)
Atualmente, recomenda-se que os conjuntos habitacionais não ultrapassem 1.000
unidades habitacionais, mesmo assim, divididos em pequenos conjuntos de 200 unidades para
facilitar a administração, manutenção e operação destes conjuntos.
Considerando a exigência legal de 5% de habitações para idosos, o conjunto de 1.000
unidades teria 50 destinadas a idosos. E na subdivisão para 200 unidades, 10. Evitando-se,
assim que o idoso habite guetos só com pessoas da 3ª idade.
Os pequenos conjuntos têm a vantagem de poderem ser implantados, de forma mais
fácil e econômica, em pequenas áreas, dentro da malha existente, evitando a propagação do
grande problema da estrutura urbana do país que é o espalhamento das cidades de porte
médio. 200 casas poderiam abrigar até 600 habitantes, em 2HA, pela média familiar
brasileira. Com uma densidade de 300 a 350 habitantes por hectare, a mais recomendada, no
parcelamento urbano brasileiro, geralmente implanta-se 30 lotes por HA. O que representa
100 habitantes por HA, caso todos estejam ocupados, considerando-se a atual média familiar
de 3,09 pessoas/família, e apenas uma habitação por lote.
Segundo Mascaró (1996), “[...] considerando o padrão de moradia mais econômico, a
densidade mais adequada variou entre 300 e 350 habitantes por hectare, sendo o mínimo 40
habitantes por hectare para permitir uma utilização adequada da infraestrutura urbana”.
Desenho 10 – Casa para idoso ou casal de idosos.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
111
O padrão de quadra de 127,2 X 127,2, utilizando-se lotes de padrão alto (15 X 30) é
possível implantar habitações para 111 moradores, sendo 10 para idosos, em lotes de 15 X
15m (Desenho 11 e 12). Note-se que, na mesma quadra, implantou-se uma praça de
vizinhança de 80 X 100m (8.000m²), onde se poderia alojar mais 80 pessoas. Sem contar
pequenos espaços destinados a lojas de apoio (padaria, farmácia etc.) nas extremidades
superiores da quadra. Este mesmo padrão de quadra, utilizando o padrão econômico de
45.00m² para apartamentos, poderia alojar até 700 habitantes, mantendo-se a quadra e as áreas
de apoio.
[...] essas densidades, por sua vez, permitem ainda se ter uma boa qualidade
ambiental na cidade – região subtropical úmida – ambiências urbanas agradáveis
microclimaticamente quando associadas a perfis heterogêneos ou a afastamentos
laterais entre edificações – no caso de regiões subtropicais – pois favorecem a
insolação no inverno e a ventilação permanente no recinto urbano e nos ambientes
dos edifícios que a ele se abrem, contribuindo para retirar a poluição aérea.
(MASCARÓ, 1996).
112
Desenho 11 – Quadra para inserção de idosos45
.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
45
As dimensões da Quadra 127, 2 X 127,2 foram estabelecidas tendo em vista a resistência física dos idosos
obtidas nas pesquisas de campo em Copacabana, para percorrer 1km ou 1.000m. Andando 2 (duas) voltas em
torno da Quadra pode-se percorrer 1.017,6m. Como variação da proposta de Ildefonso Cerdá para Barcelona, foi
deslocado o espaço livre do interior daquela Quadra para o perímetro externo da presente proposta, resultando
um espaço, aberto, livre, dotado de equipamentos, ou seja, uma praça de vizinhança. Defronte à praça foram
implantados os lotes 5 X 30 (5% do total dos lotes da Quadra) para habitação de idosos. Sem abandonar o
tradicional partido xadrez, secularmente adotado em diferentes culturas, apenas foi introduzida uma pequena
modificação no sentido de torná-la mais humanizada.
113
Desenho 12 – Quadra para inserção de idosos (detalhe da praça de vizinhança)46
.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
Tais afirmações também são válidas para outros climas do Brasil, como no semi-árido,
onde a arquitetura funciona com ventilação natural. Voltando à Mascaro (1996):
As densidades são, também, eficientes do ponto de vista energético ao aproveitar os
aspectos favoráveis ao clima local. Foi confirmado também o mesmo resultado para
climas frios, estabelecendo uma forte conexão existente entre a forma urbana e o uso
racional de energia.
O resultado formal do uso de densidades recomendadas tanto do ponto de vista
econômico como ambiental-energético talvez não seja o idealizado pelas teorias (Teoria da
Concentração Urbana, por exemplo) sobre o tema. Cidades compactas de centro densamente
desenvolvido é, sem dúvida, uma grande atração para arquitetos e urbanistas, mas também
para turistas que, romanticamente, vêem nelas lugares ideais para viver e experimentar a
vitalidade e variedade da vida urbana. Entretanto, a cidade compacta pode se tornar
superlotada e sofrer a perda da qualidade de vida com menos espaços abertos, maior
46
A praça foi dimensionada com o objetivo de atender à população idosa, mas nada impede de ser utilizada por
outras faixas etárias.
114
congestionamento e poluição, podendo chegar a ser o tipo de lugar onde a maioria das pessoas
não gostaria de viver. Não é bom esquecer que a maioria das teses sobre adensamento urbano
parte de países europeus, densamente povoados, situação bem diferente do Brasil, país
continental e, ainda, para ser povoado em várias de suas regiões. Ressalte-se que as ideias que
justificam a cidade compacta tiveram pouco impacto na Inglaterra onde, no pós-guerra, houve
inúmeros movimentos de saída da cidade em favor das periferias.
No caso aqui considerado, uma quadra urbana onde possam ser alojados idosos,
obedecendo a recomendação legal de destinar 5% dos lotes para este segmento da população,
optou-se por um lote de 5 X 30 e uma casa com aproximadamente 60m², para um casal de
idosos ou idoso morando sozinho. Essas casas foram implantadas em frente a uma quadra de
vizinhança e seu entorno é composto por residências unifamiliares, em lotes de 15 X 30, com
índice de aproveitamento máximo de 1 e Taxa de Ocupação de 50%, configurando uma casa
de no máximo 450m² e mínima de 225m², destinada a famílias de características diversas e
com possibilidade de interagir com os moradores idosos.
A dimensão da Quadra possibilita que, dando apenas duas voltas no seu entorno, o
idoso possa completar 1km de caminhada e controlar o seu espaço/tempo de deambulação
diária. A praça conta com vários equipamentos de apoio (quadra de voleibol, quadra de bocha,
áreas de conversação, áreas de jogos de mesa, ponto de ônibus etc.), às atividades de lazer,
tanto do ponto de vista ativo como contemplativo.
As dimensões da Quadra (127,2 X 127,2m) aproximam-se das dimensões das quadras
de Ildefonso Cerdá (113 X 113m), obedecendo o partido xadrez, mas dimensionadas de
acordo com a pesquisa de campo realizada em Copacabana, observando principalmente a
capacidade física de pessoas entre 65 e 85 anos de idade, não excluindo evidentemente,
pessoas com idade abaixo ou acima desse patamar.
5.3 O DESENHO UNIVERSAL
O Desenho Universal conceitua aquilo que é aplicável ou comum a todos os
propósitos, condições e situações (Housing for the Lifespan of all People). No intuito de se
encontrar, no futuro, um padrão universalmente aplicável às residências e equipamentos,
muitos itens, das casas atuais podem e devem ser universalmente usáveis. O conceito de
desenho universal aumenta a quantidade de habitações utilizáveis, permitindo que pessoas
permaneçam em suas próprias casas na velhice.
115
Diante deste quadro, é fundamental a definição do indivíduo a quem se quer atender,
com desenhos voltados para aquele padrão onde não se leva mais em conta os valores médios,
em termos físicos, da população, padrão este que vem se modificando ao longo do tempo,
principalmente na população brasileira.
Na nossa sociedade, hoje, há grande contingente de indivíduos com incontáveis
dificuldades físicas, representando milhões que se encontram fora da “média”: crianças,
idosos ou adultos com alguma restrição física, impossibilitados de ser parte integrante do
padrão para o qual, geralmente, eram aplicados os parâmetros de desenho e construção.
Muitas são as pessoas sobrevivendo a acidentes graves, doenças permanentes e uma
parcela cada vez maior de idosos que, com o passar do tempo, vão apresentando alguma
restrição de movimentos. Estas pessoas com dificuldades, às vezes banais, ou transitórias,
como ossos fraturados, doenças osteo-articulares, sequelas ou gravidez; sabem como é penoso
tentar viver normalmente em ambientes que não estão preparados para as suas dificuldades. É
necessário que os ambientes construídos para acomodar estas pessoas tenham que mudar para
acompanhar as necessidades atuais do mundo e da população.
5.3.1 Princípios do Desenho Universal
Segundo a NC State University. The Center for Universal Design – 1977, Desenho
Universal é “o desenho de produtos e ambientes para serem utilizados por todas as pessoas o
maior tempo possível, sem a necessidade de adaptação ou desenho especial”, e baseia-se em
sete princípios, que são:
Princípio 1 - Uso Correto. O desenho é utilizável e comercializável para pessoas com
diversas capacidades/incapacidades.
1. Prever a mesma forma de uso para todos os usuários.
2. Evita segregação ou estigmatização de qualquer usuário.
3. Providencia igualmente privacidade, segurança e proteção para todos os usuários.
4. Torna o desenho atrativo para todos os usuários.
Princípio 2 - Flexibilidade de Uso. O desenho acomoda uma larga faixa de
preferências e habilidades individuais.
1. Prevê escolha da forma de utilização.
2. Aceita o uso ou acesso pela direita ou pela esquerda.
3. Facilita a precisão ou exatidão do usuário.
4. Prevê adaptação ao jeito do usuário.
116
Princípio 3 - Uso simples e intuitivo. O uso do desenho é facilmente compreendido,
não importando a experiência do usuário, o seu conhecimento, suas aptidões linguísticas ou
nível de concentração.
1. Elimina complexidade desnecessária.
2. É consistente com a expectativa e a intuição do usuário.
3. Acomoda uma faixa grande de aptidões e habilidades lingüísticas.
4. Agrupa informações consistentes com sua importância.
Prevê efetiva lembrança e realimentação durante e depois da conclusão da tarefa.
Princípio 4 - Informação Perceptível. O desenho dá a necessária informação ao
usuário, não importando as condições do ambiente ou as habilidades sensoriais do usuário.
1. Usa modalidades diferentes para apresentação de informações essenciais:
(pictóricas, verbais e táteis).
2. Maximiza a legibilidade de informação essencial.
3. Descreve elementos de forma diferenciada, facilitando as instruções/indicações.
4. Prevê compatibilidade com uma variedade de técnicas ou equipamentos usados
por pessoas com limitações sensoriais.
Princípio 5 - Tolerância de Erro. O desenho minimiza os perigos e as consequências
adversas de ações não intencionais ou acidentais.
1. Arranja elementos que minimizem os perigos e os erros; elementos mais usados,
mais acessíveis; elimina isola ou esconde os elementos perigosos.
2. Prevê alerta para perigos e erros.
3. Prevê a falha de peças de segurança.
4. Desencoraja ações inconscientes em tarefas que requeiram vigilância.
Princípio 6 - Pouco Esforço Físico. O desenho pode ser usado de forma eficiente e
confortável com um mínimo de fadiga.
1. Permite ao usuário manter uma posição neutra do corpo.
2. Não exige grande esforço para operação.
3. Minimiza ações repetitivas.
4. Minimiza esforço físico de sustentação.
Princípio 7 - Tamanho e Espaço Para Aproximação e Uso. Prevê tamanho e espaço
apropriado para aproximação, a busca, a manipulação e o uso, não importando a altura,
postura ou mobilidade do usuário.
1. Prevê uma clara linha de visão para os elementos importantes para qualquer
usuário, sentado ou em pé.
117
2. Torna o acesso a todos os componentes confortável para qualquer usuário sentado
ou em pé.
3. Aceita mãos ou próteses de tamanhos variados.
4. Prevê espaço adequado para o uso de equipamento auxiliar ou de ajudante.
5.4 CLÍNICAS OU ESTABELECIMENTOS PARA IDOSOS
Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA, clínica ou
estabelecimentos para idosos são Instituições governamentais ou não governamentais, de
caráter residencial, destinadas a domicílio coletivo de pessoas com idade igual ou superior a
60 anos, com ou sem suporte familiar, em condição de liberdade, dignidade e cidadania
(BRASIL, 2005).
5.4.1 Classificação dos Idosos
Com o aumento da expectativa de vida, a Gerontologia dividiu os idosos em 03
categorias, a seguir relacionadas, muito embora a legislação brasileira considere, como idosa,
pessoas com mais de 60 anos de idade.
1. Idosos “Jovens”: 60 a 75 anos de idade.
2. Idosos “Médios”: 76 a 86 anos de idade
3. Idosos “Velhos”: Acima de 86 anos de idade.
5.4.2 Graus de Dependência
Grau de Dependência I: Idosos independentes, mesmo que requeiram usos de
equipamento de auto-ajuda.
Grau de Dependência II: Idosos com dependência em até três atividades de auto-
cuidado para a vida diária tais como: alimentação, mobilidade e higiene; sem
comprometimento cognitivo ou com alteração cognitiva controlada.
Grau de Dependência III: Idosos com dependência que requeiram assistência em todas
as atividades de auto-cuidado para a vida diária e ou comprometimento cognitivo
Grau de Independência ou de Autonomia: É o idoso que detém poder decisório e
controle sobre a sua vida.
118
5.4.3 Estrutura Física
Toda construção, reforma ou adaptação na estrutura física das instituições, deve ser
precedida de aprovação de projeto arquitetônico junto à autoridade sanitária local bem como
do órgão municipal competente.
A instituição deve atender aos requisitos de infraestrutura física previstos nesta RDC,
além de exigências estabelecidas em códigos, leis ou normas pertinentes, quer na esfera
federal, estadual ou municipal e, normas específicas da Associação Brasileira de Normas
Técnicas.
A instituição de Longa Permanência para Idosos deve oferecer instalações físicas em
condições de habitabilidade, higiene, salubridade, segurança e garantir acessibilidade a todas
as pessoas com dificuldade de locomoção segundo a Lei Federal 10.098/2000.
Quando o terreno da Instituição de Longa Permanência para Idosos apresentar
desníveis, deve ser dotado de rampas para facilitar o acesso e a movimentação dos residentes.
As Instalações Prediais de água, esgoto, energia elétrica, proteção e combate a
incêndio, telefonia e outras existentes, deverão atender às exigências dos códigos de obras e
posturas locais, assim como normas técnicas brasileiras pertinentes a cada uma das
instalações.
5.4.4 Exigências Específicas
1. Acesso Externo: Devem ser previstas, no mínimo, duas portas de acesso, sendo
uma exclusivamente de serviço.
2. Pisos Externos e Internos (inclusive de rampas e escadas): Devem ser de fácil
limpeza e conservação, uniformes, com juntas e com mecanismo antiderrapante.
3. Rampas e Escadas: Devem ser executadas conforme especificação da NBR
9050/ABNT, observadas as exigências de corrimão e sinalização. A escada e a
rampa de acesso à edificação devem ter no mínimo, 1.20m de largura.
4. Circulações Internas: As circulações principais devem ter largura mínima de 1.00
e as secundárias podem ter largura mínima de 0.80m, contando com luz de vigília
permanente.
5. Circulações com largura maior ou igual a 1.50m devem possuir corrimão dos dois
lados. Sendo menores que 1.50m podem possuir corrimão em apenas um dos
lados.
119
6. Elevadores: Devem seguir as especificações da NBR 7192/ABNT e NBR
13.994/ABNT.
7. Portas: Devem ter um vão livre com largura mínima de 1.10m.
8. Janelas e guardacorpos devem ter peitoris de no mínimo 1,05m.
5.4.5 Programa Arquitetônico Mínimo
1. Sala Administrativa com lavabo anexo.
2. Sala para atividades Coletivas para no máximo 15 residentes, com área mínima de
1,0m² por pessoa.
3. Sala de Convivência com área mínima de 1,3m² por pessoa.
4. Banheiros coletivos, separados por sexo, com no mínimo um box para vaso
sanitário que permita transferência frontal e lateral de uma pessoa em cadeira de
rodas, conforme NBR 9050/ABNT.
5. Sala de Reuniões.
6. Espaço Ecumênico para meditação.
7. Refeitório com área mínima de 1m² por usuário, acrescido de local para guarda de
lanches, lavabo e luz de virgília.
8. Cozinha e Despensa.
9. Lavanderia.
10. DML (Depósito de Material de Limpeza).
11. Roupa Limpa/Roupa Suja.
12. Almoxarifado com área mínima de 12m².
13. Vestiário e Banheiro para funcionários separados por sexo. O Banheiro deverá ter
área mínima de 3,60m². Contando com bacia sanitária, lavatório e chuveiro. 01
para cada 10 funcionários ou fração. O vestiário deverá ter área mínima de
0,5m²/funcionário/turno.
14. Lixeira ou abrigo externo à edificação para armazenamento de resíduos até o
momento da coleta.
15. Área externa descoberta para convivência e desenvolvimento de atividades ao ar
livre (solário com banco, vegetação e outros).
16. Piscina e apoio (opcional e não exigível).
17. Dormitórios para 01 pessoa devem possuir área mínima de 7,50m², incluindo área
para guarda de roupas e pertences do residente.
120
18. Dormitórios de 02 a 04 pessoas devem possuir área mínima de 5,50m² por cama,
incluindo área para guarda de roupas e pertences do residente. Devem possuir luz
de virgília e campanhinha de alarme.
19. Os dormitórios devem ter no máximo 04 residentes.
20. Deve ser prevista uma distancia de 0,80m entre duas camas e 0,50m entre a lateral
da cama e a parede paralela.
21. O banheiro deve possuir área mínima de 3,60m² com bacia sanitária, lavatório e
chuveiro, não sendo permitido qualquer desnível em forma de degrau para conter
água, nem materiais que produzam brilho e reflexos.
22. A exigência de um ambiente, depende da execução da atividade correspondente.
23. Os ambientes podem ser compartilhados de acordo com a finalidade funcional e a
utilização em horários ou situações diferenciadas.
5.4.6 Formas de Assistência
O idoso conta com 03 opções para utilizar a Clínica:
1. Passar somente o dia e voltar para casa à noite.
2. Hospedar-se em fins de semana, feriados e férias.
3. Residir no local.
5.4.7 Pessoal de Apoio
1. Responsável Técnico, que responderá pela instituição junto à autoridade
competente. O RT deverá possuir formação de nível superior e carga horária
mínima de 20 horas semanais;
2. Cuidador: Pessoa capacitada para auxiliar o idoso que apresenta limitações para
realizar atividades da vida diária.
5.4.8 Para os Cuidados aos Residentes
1. Grau de Dependência I: Um Cuidador para 20 idosos, ou fração, com carga
horária de 8 horas/dia.
2. Grau de Dependência II: Um cuidador para cada 10 idosos, ou fração, por turno.
3. Grau de Dependência III: Um cuidador para cada 06 idosos, ou fração, por turno.
121
4. Para Atividades de Lazer: Um profissional com formação superior para cada 40
idosos com carga horária de 12 horas semanais.
5. Serviço de Limpeza: Um profissional para cada 100m² de área interna, ou fração,
por turno.
6. Serviço de Alimentação: Um profissional para cada 20 idosos, garantindo a
cobertura de dois turnos de 8 horas.
7. Setor de Lavanderia: Um profissional para cada 30 idosos, ou fração,
diariamente.A instituição poderá terceirizar os serviços de limpeza, alimentação e
lavanderia desde que apresente contrato e cópia do alvará sanitário da empresa ou
empresas terceirizadas.A instituição que terceirizar os serviços acima poderá
dispensar quadro de funcionários próprios e área física para eles destinadas,
inclusive os locais para realização dos serviços.
8. Setor Médico: A instituição deve possuir um profissional da área de saúde
vinculada à sua equipe de trabalho, com registro no respectivo Conselho de
Classe. Recomenda-se um Gerontólogo ou Geriatra.
5.4.9 Alternativas para o Atendimento ao Idoso
No Brasil, além das instituições públicas, existem diversas clínicas ou centros de
atenção aos idosos com número e formas variadas de atendimento. Em geral as clínicas não
ultrapassam os 30 pacientes mas, principalmente em São Paulo, já existem grandes estruturas,
inclusive com serviços de hotelaria, atendimento médico especializado, fisioterapia,
psicologia, lazer etc., voltados para idosos.
Começam a surgir também condomínios destinados a este segmento de mercado. É
uma tipologia muito semelhante as que são adotadas nos EUA ou da Costa Mediterrânea da
Itália, Espanha, Portugal e Nordeste do Brasil.
O urbanismo moderno indica a necessidade de, no meio das complexas e, em geral,
caóticas estruturas urbanas das cidades, implantar áreas de refúgio destinadas a idosos.
Na Holanda, principalmente Amsterdam, no chamado Plano dos 3 Canais, projetados
pelo arquiteto Hendrick Staets, no século XVII, existem os famosos Hofjes, ou “abrigos”,
muito utilizados por idosos. São áreas livres, ou pátios, implantados no meio de quadras
urbanas, de grande qualidade ambiental. Além de garantir conforto e privacidade aos idosos,
não os afasta das facilidades da vida urbana.
122
A legislação brasileira recomenda que na construção de conjuntos habitacionais, em
geral, pelo menos 5% das habitações sejam destinados a idosos.
Na Suíça, onde é permitida a Eutanásia, já existem clínicas especializadas em orientar
idosos para a morte.
Nos Estados Unidos, a iniciativa privada investe muito em estruturas destinadas a
idosos com tipologias destinadas a determinadas faixas etárias e que comportam desde
cidades ou conjuntos de 5.000 habitantes até clínicas especializadas. Em determinadas faixas,
principalmente para as pessoas acima de 80 anos, o serviço de atenção é realizado por
instituições religiosas, clubes de serviços ou instituições estatais de seguridade social. O
Quadro Nº 23 a seguir permite uma melhor explicação sobre estas estruturas.
Quadro 18 – Tipologia de atendimento a idosos, em instituições.
Hotel Clínica para Idosos
Tipologia:
1. Clínica Dia: O paciente passa o dia na clínica e dorme em casa.
Geralmente são idosos cujos parentes precisam trabalhar e necessitam
de apoio para cuidar do seu idoso. Atendimento particular. Máximo de
30 pacientes.
2. Asilos Públicos: Cuidam de idosos que não possuem ou foram
abandonados pela família.
3. Asilos Religiosos: Entidades religiosas que organizam abrigos pu
asilos para idosos carentes e sem família.
4. Residências Permanentes: Pacientes com bom poder aquisitivo que não
desejam incomodar familiares e passam a morar nessas estruturas.
Pode ser residências planejadas para tal fim ou até flats para
atendimento específico à idosos.
Fonte: Brasil (2005).
5.4.10 A Casa Segura
À “Casa Segura” deve-se aplicar de tal forma os 7 Princípios do desenho universal que
ao morador ou visitante que nela penetrar, o faça como que visualizando-a como uma casa
normal. Este é um preceito importante da Casa Segura (BARROS, 2000).
Porta da Frente (Externas):
Deve ser fácil de abrir para qualquer um, seja uma pessoa chegando em casa com as
mãos ocupadas ou uma pessoa idosa com bengala. São os mais variados tipo de fechaduras.
Dos mais simples aos mais sofisticados. Incluem trincos, ferrolhos, tranquetas e outros tipos
de sistemas que visam assegurar a segurança da casa. A maçaneta deve ser do tipo alavanca. É
mais fácil de ser manipulada que as do tipo redonda, seja por uma criança, ou por uma pessoa
123
com artrite ou outra deficiência de movimento nas mãos. Uma instalação de fechadura acima
da maçaneta, facilita o acesso ao cilindro. Trincos de segurança do tipo deslizante são também
fáceis de serem manuseados. Cartões magnéticos ou fechaduras de controle remoto, ativados
á distância estão sendo, cada vez mais, utilizados.
As dobradiças devem ser de mola ou mola aérea. O idoso ao passar, não precisará
voltar para fechá-la. O espaço do piso ao lado da porta deve prever a aproximação de uma
pessoa com cadeiras de rodas, ou andador, que tem necessidade de um espaço maior para
manobras de aproximação para abrir a porta. 50 a 60 centímetros ao lado da porta são
suficientes. Na impossibilidade desse espaço é importante se adotar um controle automático
da porta. Caso seja térrea é importante que a entrada esteja próxima e de fácil acesso ao local
de desembarque, seja garagem ou passeio. O piso externo deve ser do tipo antideslizante. Na
entrada, caso o piso da casa seja mais alto, deve sempre existir uma rampa de acesso para
facilitar o movimento de cadeiras de roda e bengalas e aliviar o esforço despendido ao se
utilizar degraus. Caso seja uma soleira, deve ter uma pequena rampa na direção do desnível
impedindo tropeços. Capachos e tapetes devem ser abolidos. Caso seja necessários devem ser
colocados em rebaixos, alinhados ao piso e sempre pregados ou colados. Toda porta externa
deverá ter uma proteção contra intempéries (pequenas marquises, toldos etc.).
Segundo a NBR 9050 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS,
2001), a porta deve ter, no mínimo, 80cm de largura. O ideal é que sejam até um pouco mais
largas. Caso sejam de duas folhas, uma delas deve ter 80cm. Existem dobradiças que
garantem uma abertura de 90º, medida que permite um vão livre maior.
Não esquecer a iluminação externa e a adoção de olho mágico ou visor. O olho mágico
deve ser colocado a 1.35m do piso. Para pessoas que usam cadeiras de rodas o ideal fica em
torno de 1.00m
Portas Internas:
Devem ser pivotantes ou de correr. Caso não haja a necessidade de trancá-las, deve-se
usar somente a alavanca que ajuda a puxá-las.
Salas de Estar e Jantar:
As salas devem ser simples, conter mobiliário de uso corrente, eliminando-se móveis e
objetos supérfluos que possam trazer riscos, como banquetas ou mesinhas muito baixas e
tapetes soltos. Caso sejam utilizados devem ter cores e texturas contrastando com as dos pisos
124
e paredes que delimitam bem a área de uso de cada um. A superfície deve ser fosca e lavável.
Os móveis devem ter bordas arredondadas para diminuir cortes e contusões.
As paredes devem servir de estímulo ao idoso. Cores neutras são mais garantidas mas
hoje existe uma grande quantidade de cores alegres que devem ser usadas desde que
mantenham a luminosidade dos ambientes.
A iluminação deve ser mais forte, uniforme e antiofuscante. Tanto superfícies de
trabalho como a mesa de refeições devem ter iluminação dirigida para facilitar a
concentração. Os idosos em geral são mais sensíveis ao ofuscamento e mais lentos na
adptação às diferentes luminosidades. Assim, o nível de iluminação deve ser 3 vêzes maior
que o normal, contínuo (vários pontos de intensidade, ao invés de um único) e antiofuscante.
Mobiliário:
Sofás e cadeiras, sem perder a funcionalidade e o conforto, tem que transmitir
segurança, com assentos mais altos (45 a 50cm do chão) e braços não muito macios, com
intensidade moderada. Cadeiras de apoio devem ter espaldar mais alto. Mesas de telefone e
mesas laterais de apoio não devem ter quinas vivas, nem tampos quebráveis e cortantes, como
as de vidro, mármores ou granitos. Abajur e luminárias devem ser de material inquebrável.
Estantes e outros móveis devem ser bem firmes, presos ao chão ou paredes e não
devem conter objetos muito pesados ou de vidro.
Aparelhos de TV e Som devem possibilitar uso confortável e fácil. Devem possuir
controle remoto, para que o próprio idoso faça valer suas preferências sem precisar se
deslocar constantemente e pedir ajuda a alguém.
Na Mesa de Jantar é preferível que as cadeiras sejam sem braços, porém firmes. A
altura deve ficar entre 72 e 75cm. As bordas das mesas devem ser arredondadas e o tampo de
preferência em material lavável. Objetos e utensílios usados nas refeições devem ser de
plástico, ou aço inox, inquebráveis e cores contrastantes. Os talheres de metal com desenho
largo, não muito pesados, que facilitem os movimentos inerentes a alimentação. Em torno da
mesa de jantar deverá ter espaço suficiente para uma movimentação sem restrições e
observados espaços para usos de pessoas em cadeiras de rodas.
São recomendáveis interruptores com desenho que facilitem a manipulação, por toque
de mão ou cotovelo, instalados a uma altura de 1.10m a 1.20m, ideais para o uso tanto de
adultos como de crianças. Indivíduos idosos geralmente apresentam dificuldades na elevação
dos braços e as suas articulações superiores também apresentam diminuição de movimentos.
125
Evitar sempre que fios, elétricos ou de telefone, fiquem soltos pelo perigo que
representam. Fios soltos são responsáveis por uma quantidade muito grande de acidentes
caseiros como quedas, por exemplo.
Tomadas devem ficar a uma altura de torno de 45cm do piso. Esta altura permite ao
idoso alcançá-la, sem necessidade de abaixar-se demais e também diminuindo a possibilidade
de que tentem desligar aparelhos puxando pelo fio e não pela tomada. Atitude altamente
condenável pelo que pode provocar de curtos-circuitos a incêndios.
O manuseio de fios e tomadas também pode ser resolvida com uma medida técnica
muito utilizada nas modernas residências: os abjures são ligadas a tomadas, interligadas a
interruptores próximos da entrada/saída. Assim, a pessoa pode entrar e acender o abajur ao
mesmo tempo em que aciona o ponto de luz no teto. Fazendo o movimento inverso ao sair
sem necessidade de abaixar-se nas duas operações.
Outra medida que facilita muito a movimentação interna, permitindo que as luzes
sejam acesas e apagadas ao longo do caminho, na entrada ou saída, é a adoção de
interruptores do tipo three way. Um outro avanço tecnológico são os sensores de presença e
outros dispositivos eletrônicos que podem acionar, acendendo ou apagando, as luzes com a
simples presença ou ausência do morador.
As áreas de circulação devem ser providas de lâmpadas que se acendem
automaticamente quando diminui o índice de iluminamento do cômodo, permanecendo acesas
até que este índice atinja níveis aceitáveis e seguros.
A maior parte dos acidentes domésticos, como quedas e outras ocorrências, ocorre no
período noturno, fator que aumenta a importância da iluminação. O caminho quarto/banheiro
é onde acontece a maioria das quedas, provocando fraturas nos idosos. Evitar a todo custo as
áreas de sombra assim como os pontos de luz cent nos quartos. O uso de reguladores de luz –
dimmers – nos interruptores minimiza fatores de ofuscamento e diferenças entre áreas
iluminadas e escuras, facilitando a vida da pessoas idosa.
Convém manter lâmpadas de emergência ou uma lanterna comum a pilha nas
proximidades da cama. Evitar o uso de velas. O manuseio de fósforos para acender a vela,
numa situação de escuridão, ou causar problemas sérios aos idosos como incêndios.
Importante personalizar o ambiente. Tal atitude gera o sentimento de pertinência ao
local, contribuindo para a manutenção da identidade, controle da situação e auto-estima do
idoso.
126
Os pisos devem ser antiderrapantes, tipo madeiras tratadas com resinas foscas, pisos
sintéticos, pedras foscas (principalmente em climas quentes). Tapetes antialérgicos e baixos,
de preferência desprovidos de pelo.
A luz natural, a ser filtrada através de persianas externas ou internas, deve estar
presente no ambiente da casa. As janelas deverão se de fácil manuseio, material leve, como
PVC e/ou alumínio. Em residências térreas é importante manter o idoso em contato com o
exterior, adotando-se peitoris mais baixos, ou transparentes, feitos de materiais resistentes,
que possibilitem ao idoso um interação com o ambiente externo, mesmo sentado num sofá ou
cadeiras de rodas. Para apartamentos recomenda-se adoção de varandas e terraços.
Quartos:
Portas com no mínimo, 0,80m.
Armários de roupa devem possuir portas leves, fáceis de fechar e abrir e sistema de
troca de ar (poderá ser de treliça ou telas).
Puxadores devem ser do tipo alça ou alavanca. Evitar os do tipo botão.
Cabideiros deverão ser colocados em posição mais baixa que a usualmente utilizada,
permitindo que os idosos retirem as roupas sem precisar se abaixar muito ou esticar os braços
para cima. Processo doloroso para quem tem problemas de articulação.
As gavetas devem possui a sua parte da frente em acrílico transparente para permitir
ao idoso identificar logo o conteúdo das mesmas. Devem trabalhar sobre deslizantes sintéticos
que permitam a abertura e o fechamento de forma suave e delicada. Devem possui trava para
evitar que, ao serem puxadas, saiam das corrediças e caiam, provocando algum acidente.
Prateleiras podem ser colocadas em alturas variáveis. Deve-se deixar furos que
permitam alturas diferentes.
Prevê iluminação interna dos armários. Normalmente as luminárias do teto ficam atrás
das pessoas que utilizam os armários, criando zonas de sombra que impedem uma boa
visualização.
A cama deve ser projetada de acordo com a pessoa que a utiliza. O colchão e sua
altura variam de acordo com o tipo físico e peso do usuário. Deve ser espaçosa (1.50m
mínimo) e altura entre 0.45m e 0.50m. A pessoa sentada na beira da cama deve ter a
possibilidade de por os pés no chão, evitando a hipotensão postural (tontura) que pode causar
quedas ao se levantar. Deve possuir uma cabeceira que permita ao idoso recostar-se com
facilidade e sem esforço adicional.
127
As mesas de cabeceira são um acessório importante. Mantêm ao alcance das mãos do
idoso todos os materiais que ele possa precisar durante a noite ou nos períodos de descanso.
Devem estar 10cm mais altas do que o colchão, evitando que, durante o sono, a pessoa caia
sobre a mesinha ou desloque os objetos de cima dela com os travesseiros. Deve ser presa à
cama, à parede ou no chão, de forma tal que possa também ser usada como apoio para se
levantar.
O quarto deve ter calefação (em climas frios), ar condicionado ou ventilador de teto no
sentido de manter a temperatura dentro de padrões aceitáveis. Pode-se usar também o peitoril
ventilado para possibilitar a ventilação natural e fluxo de ventilação pela fórmula: Entrada de
Ar = Saída de Ar ou Entrada de Ar < Saída de Ar. Utilizando-se armários (vazados nos dois
lados) e bandeiras de porta para permitir a circulação do ar.
O abajur deve ser fixado à mesa de cabeceira, ou parede, para evitar quedas e ter uma
altura compatível com a posição de leitura preferida pelo idoso.
Os interruptores (luz no teto, abajur e os demais) devem ser colocados ao alcance das
mãos, mesmo o idoso estando deitado. Os do tipo three way são os mais indicados para evitar
que as pessoas precisem se levantar para apagar as luzes antes de dormir e também acionar, da
cama, a iluminação dos corredores e banheiros. Um luz noturna baixa, 0.45cm deve
permanecer permanentemente acesa.
Sistema de controle de voz, tipo “viva voz” são opcionais quando se tratar de idoso
assistido por familiares e acompanhantes.
Janelas no mesmo padrão das salas. Devem permitir um ambiente com menos ou mais
luz. Evitar cortinas pesadas. Estas podem ser acionadas por controle remoto.
Uma cadeira ou poltrona deverá ficar perto do armário, permitindo que a pessoa
sentada tenha condições aceitáveis de calçar meias e sapatos.
Usar pisos antiderrapantes, laminados, sintéticos ou madeiras, sempre com superfície
fosca par evitar reflexos que podem comprometer a visão do idoso.
Banheiros:
Um dos locais da casa onde se exige maiores cuidados no sentido de garantir
segurança para os usuários idosos. É o cômodo residencial onde ocorrem os acidentes mais
graves.
128
Ao longo do processo de urbanização do país teve sua área sensivelmente reduzida,
principalmente quando houve a mudança na forma de morar e grande parte da população
brasileira trocou a casa pelo apartamento.
O banheiro deve ser ligeiramente mais largo para acomodar a entrada de uma cadeira
de rodas ou bengala, com acesso ainda para que outra pessoa possa entrar no recinto para
ajudar um cadeirante ou, por exemplo, uma criança nas suas atividades higiênicas.
O Brasil já dispõe de toda tecnologia necessária para se instalar os equipamentos de
segurança exigidos pela NBR 9050. Tanto para adaptação aos antigos banheiros como em
novas unidades.
A banheira só deve existir em um banheiro se houver espaço para um box de chuveiro
independente. Utilizar a banheira como box, ao mesmo tempo, é muito perigoso por causa da
superfície lisa e do espaço muito estreito.
Para facilitar pessoas com cadeiras de rodas, torneiras e comandos da banheira devem
ficar na parede externa, simplificando o acesso de outras pessoas.
As barras de apoio devem ficar, em relação à banheira, nas seguintes posições: [a]
horizontal: fixada a 20cm de altura em relação à borda da banheira; [b] vertical: fixada na
parte externa também a 20 cm da borda da banheira.
O chuveiro deve ter altura ajustável, para cima ou para baixo. O recurso da ducha para
chuveiro removível do tipo telefone é aceitável, pois pode ser deslocado para diversas
posições. O registro de abertura do chuveiro deve ser do tipo monocomando alavanca,
colocado à 1.00m do piso.
Saboneteiras ou porta shampoo, devem ser substituídos por recipientes para sabonete
líquido, fixados à parede, numa altura de 1.20m no máximo. Evitar prateleiras de vidro ou de
todo apoio saliente, cortante com quinas vivas.
Porta-Toalhas deve ficar próximo ao boxe. Podem servir também de barras de apoio
quando houver exigüidade de espaço para colocar o porta-toalhas e a barra de apoio exigida.
Bacias Sanitárias tem como regra geral, tradicional, altura de 38cm. Para atender
pessoas com dificuldade de locomoção exige-se que esta altura seja aumentada para 46cm,
possibilitando maior conforto ao sentar. Duas opções para esta situação são permitidas: [a]
Plataforma embaixo da bacia (concreto), com dimensões que não ultrapassem, em hipótese
alguma, mais que 5cm do perímetro da base da bacia; [b] Um acento mais alto. A válvula de
descarga deve ficar a uma altura máxima de 1.00m. No caso de caixa acoplada convém fazer
as devidas alterações sem deixar de obedecer ao que está estipulado quanto do uso de
válvulas.
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Duchas higiênicas, substituindo o bidê, devem ficar com uma altura de 45cm do piso.
Papeleiras devem ser do tipo externo facilitando o acesso e retirada do papel.
Barras horizontais, na lateral e no fundo, para apoio e transferência, devem ser fixadas
a 30cm de altura em relação ao assento da bacia. O comprimento deve ser de 90cm. No caso
de caixa acoplada apenas a barra lateral deve ser utilizada pois a existência da caixa dificulta
o acesso à barra.
Lavatórios podem ser utilizados com ou sem gabinete. Nos dois casos, deve ser
prevista uma área que seja suficiente para permitir a utilização do equipamento por uma
pessoa sentada com dificuldades de locomoção. Todo e qualquer elemento que dificulte o
acesso ao lavatório deve ser eliminado. A altura ideal para fixação do lavatório é de 80cm em
relação ao piso. Sendo que 70cm devem ficar livres para otimizar o uso por uma pessoa com
dificuldade de dobrar-se para a frente, sobre a cintura e ainda pelos que necessitam sentar-se.
Barras de apoio ao lado dos lavatórios são também recomendadas. Os gabinetes terão área de
fácil acesso sob o lavatório. Gavetas serão dotadas de travas nos deslizantes e devem ser
evitadas quinas vivas nas bancadas e nos gabinetes.
Sifões e tubulações, devem estar distantes da borda pelo menos 25cm e contar, com
elemento de proteção, evitando que as pessoas machuquem o joelho ou queimem no tudo de
água quente.
Torneiras devem ficar numa distância de 50cm em relação a face externa frontal do
lavatório e devem possuir comando acionado por alavanca ou célula fotoelétrica, facilitando a
utilização por pessoas com problemas de mobilidade das mãos e permitir controle da
temperatura da água. Torneira que possuem alavanca de ½ volta podem ser utilizadas, pois
são fáceis de abrir e fechar por pessoas com pouca habilidade manual.
Tomadas e interruptores devem estar numa altura entre 1,10 e 1.20m a partir do piso e
ser posicionadas fora das áreas molhadas ou onde possam ser atingidas por respingos
provenientes das atividades próprias do banheiro. As tomadas serão aterradas para evitar
curtos circuitos.
A iluminação adequada é uma necessidade para facilitar a movimentação, evitando
tropeções e escorregões que sempre representam perigos para qualquer pessoa. É importante
iluminar a área em torno do lavatório para utilização mais adequada e para facilitar a leitura
de rótulos e bulas de vidros de remédios, ou qualquer outro produto guardado nos gabinetes.
Recomenda-se manter neste local, ao alcance da mão, uma lanterna com lente de aumento
para qualquer emergência.
130
Espelhos de armários, ou implantados sobre o lavatório, deverão possuir uma
inclinação de 10º para possibilitar que uma pessoa sentada possa utilizá-lo.
Lâmpadas devem iluminar os objetos e ser posicionados de forma a não ofuscar os
olhos. Pontos de luz diretos causam problemas em pessoas que usam lentes refratárias. É
importante o uso de lâmpadas noturnas nos banheiros e nos caminhos que levam dos quartos
ao banheiro, onde o índice de utilização é alto principalmente no período noturno.
Recomenda-se a instalação de luminárias de emergência, no caso de falta de luz.
Paredes e pisos devem ser claros para ajudar na iluminação. O mesmo deve ser feito
em relação à luz natural durante o dia.
Vidros e espelhos decorativos devem ser utilizados com o máximo de cautela
evitando-se as superfícies cortantes.
Acidentes relacionados com o banho ocorrem na sua grande maioria devido ao
cansaço físico e mental, misturados à fadiga por medicamentos e pelo calor da água.
Aparelhos intercomunicadores (telefones e alarmes) são recomendáveis para chamadas
de socorro de acordo com a idade e a necessidade do usuário. Portas que se abrem para fora
ou possuam dispositivos de remoção são também recomendáveis.
Cozinhas e Áreas de Serviço:
A cozinha moderna possui equipamentos e mobiliário que tornam o seu uso
extremamente fácil mesmo para pessoas com grandes limitações físicas, facilitando assim o
preparo de alimentos por gestantes, pessoas com necessidades especiais ou idosos.
O Fluxo de atividades numa cozinha eficiente segue uma sequência representada por:
a) Área de preparo: geralmente próxima à bancada da pia, para onde são levados os
alimentos que saem do refrigerador, freezer ou despensa, para serem limpos e
cortados.
b) Área de processamento: onde os alimentos são misturados e recebem os cuidados
necessários para serem consumidos (temperos, ingredientes diversos etc.).
c) Área de cocção: onde se encontram diversos equipamentos como fogão, forno,
micro-ondas, forno elétrico e grill.
Estas áreas devem ser colocadas em linha ou em forma triangular permitindo
economia de energia pessoal no deslocamento para cada um dos pontos a serem utilizados na
hora do preparo do alimento.
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Refrigeradores e freezers devem estar dispostos lado a lado, seja numa única peça ou
em duas. Estes equipamentos colocados desta forma facilitam o acesso por qualquer usuário
por possuírem portas altas e baixas, independente da altura do usuário. Inovações tecnológicas
como descongelamento automático, fábrica de gelo e torneira de água gelada na porta,
aumentam a produtividade nas cozinhas.
Fogões mais modernos têm botões de controle na parte da frente, o que os torna mais
fáceis de utilização por pessoas sentadas ou em pé.
Fornos possuem grades deslizantes, fixas nas laterais, o que faz com que o alimento
assado venha para fora do forno quando da abertura da porta, facilitando a retirada e evitando
queimaduras oriundas de vapores quentes do forno, que acontecem com relativa frequência.
Controle de escapamento de gases. É uma inovação no item segurança, de grande
utilidade. Os novos fogões bloqueiam automaticamente o fornecimento de gás quando a
chama se apaga. Podem ser também instalados em paredes, independente do fogão,
permitindo um melhor acesso.
Bancadas de pia e bancadas de trabalho devem ser de material resistente (granitos e
aço inox austenítico) com bordas sempre arredondadas. Já existe a possibilidade de ajustar-se
mecanicamente a altura das bancadas para os vários tipos de usuários mas é um item caro e
não produzido em escala industrial. Usualmente a altura indicada de uma bancada é de 85cm
a 90cm. O item determinante de uma bancada é o equipamento que está por baixo dela
(máquina de lavar pratos, trituradores etc.). Bancadas com a utilização destes equipamentos
pedem altura de 90cm. Prevê sempre um espaço sob as bancadas para que pessoas sentadas
em cadeiras de rodas, ou mesmo banquetas, possam executar serviços domésticos. Fogões e
pias podem ser instalados nos cantos onde seja imprópria a instalação de armários sob as
bancadas, economizando espaço na cozinha para instalação de outros utensílios ou
equipamentos.
Tábuas de apoio podem ser instaladas sob a forma de gavetas, permitindo que sejam
puxadas quando necessário, fornecendo um suporte ou uma área de uso adicional. A mesa de
refeições dentro da cozinha ou copa, pode servir de apoio para o preparo de refeições. É
recomendável deixar sempre um espaço livre, de apoio, para panelas, vasilhas e demais
utensílios de uso ao lado de cada equipamento, como fogão, por exemplo. Preferencialmente
entre 30cm e 45cm livres.
Armários de Cozinhas devem ser de material leve, durável, de fácil manutenção e
limpeza. Os superiores servem para guardar utensílios e mantimentos leves, além de pouco
utilizáveis. Os inferiores devem ter portas e gavetas fáceis de abrir, tendo corrediças com
132
trava de segurança. Talheres ficarão em gavetas com divisões por peças (garfos, facas,
colheres, colherinhas etc.) facilitando a retirada.
Objetos de uso frequente devem ficar em locais de busca fácil e de acesso confortável.
Barras de Apoio instaladas na frente dos armários, entre a porta e a bancada, são
indicados pois permitem um apoio confiável para quem fica de pé.
Banquetas de alturas reguláveis ajudam as pessoas que não podem ficar de pé por
muito tempo, permitindo um descanso eventual.
Facilidades podem ser criadas para os que têm dificuldades de segurar utensílios:
bases para copos e pratos com furos que os mantém fixos e apoio para cortar legumes e
verduras mantendo-os fixados a tábuas.
Pias muito fundas exigem o apoio de tela plástica ou metálica (aço) que faz com que o
nível de trabalho fique mais alto e mais perto, melhorando a operacionalidade dos
equipamentos.
Espelhos acima do fogão permitem ver e supervisionar o progresso do cozimento no
fogão, principalmente para pessoas em cadeiras de rodas.
Marcas para designação de temperaturas, ajustes etc., devem contrastar com o fundo,
de forma que pessoas com visão debilitada possam enxergar o nível para o qual o
equipamento está ajustado ou ligado. Controles com marcações táteis ou auditivas também
são recomendáveis.
Luzes de Atenção ou pilotos de alerta devem ser bem visíveis para que as pessoas
possam saber se o equipamento está funcionando ou não. Os controles que ficam embutidos
em gabinetes tais como exaustores, luminárias, trituradores, serão montados na parte externa
das bancadas ou na parte frontal inferior dos gabinetes superiores, evitando-se assim que o
aparelho permaneça ligado inadvertidamente.
Despensas e locais para estocagem de alimentos e utensílios que são utilizados de
apenas eventualmente, devem ser criteriosamente estudados para que se encontre a melhor
solução para o caso. O que for usado com maior frequência deve ficar, sempre, nos locais
mais baixos e de fácil acesso.
Maçanetas, corrediças e dobradiças de uma cozinha devem ser colocadas de maneira a
facilitar os serviços de reposição e limpeza.
Utensílios apropriados para o dia-a-dia de idosos e pessoas com dificuldade em manter
as mãos firmes, sem força nos dedos, devem ser feitos preferencialmente de materiais
inquebráveis como plástico e poliocarbonato.
133
Na Área de Serviço, os armários devem seguir as mesmas orientações da cozinha
quanto à praticidade, leveza e higiene, sendo bastante importante que sejam observados os
itens relacionados a aquecedores de gás, pois estes devem permanecer em ambientes sempre
ventilados e ter uma instalação cuidadosa e confiável. Aquecedores de última geração
possuem válvula eletrônica, que só aciona o fluxo de gás quando a água é aberta em um dos
pontos do banheiro. Isto propicia maior segurança, pois dispensa o uso do “piloto” que
mantinha a chama acesa.
A área de lavanderia deve ser dotada de tomada alta (1,10m a 1.20m) para ferro de
passar, de temperatura ajustável e controle automático que desliga o equipamento ao atingir
temperaturas mais elevadas. Tábuas de passar fixas também são recomendáveis, evitam
acidentes. E as de alturas reguláveis também são indicadas por proporcionar que uma pessoa
sentada possa cuidar de sua roupa.
Escadas, Plataformas e Elevadores:
Escadas fáceis de subir são sempre as mais seguras. Corrimãos ao longo dos degraus
são o fator de mais importante de segurança para todas as pessoas, chegando a ser
fundamental para algumas delas. Os degraus são um mal necessário e só perdem, em termos
percentuais de perigo para idosos, para os banheiros. Na medida em que as pessoas ficam
mais velhas, as escadas se tornam mais difíceis de usar e seu projeto se torna mais crítico,
exigindo atenção no desenho e na construção.
Degraus devem ser sempre executados na fórmula ideal 2h + P = 64cm. Onde h é a
altura do degrau e P o piso. Nunca utilizar pisos com altura inferior a 16cm nem altura
superior a 18cm. Piso entre 25 e 30cm (ideal). As pontas dos degraus devem ser guarnecidas
por material antiderrapante, e também marcadas do início até o final para que possam ser
identificados mesmo no escuro. Evitar degraus “em leque” ou com dimensões e formas
diferentes que não permitem o uso em toda a sua extensão.
Corrimãos devem ser instalados dos dois lados da escada e ser de 10 a 15cm mais
compridos do que a escada. É fundamental que possibilitem à pessoa se apoiar segurando-o
entre o polegar e os dedos, uma posição que permite maior segurança. Eles devem ser
instalados distando 5cm da parede, permitindo um espaço adequado para o encaixe das mãos
e fixados de forma a suportar 100kg em qualquer ponto de sua extensão. Utilizar material que
não cause ferimentos na mão do usuário.
Rampas são recomendadas por muitos especialistas para substituir escadas. Entretanto
a rampa ocupa uma grande quantidade de espaço, sendo desaconselhadas em residências.
134
Além do mais a rampa exige que alguém ajude o cadeirante ou idosos no seu trajeto. São mais
indicadas para locais onde seu uso seja mais recomendável como escolas, clubes, estádios etc.
Plataformas Elevatórias são equipamentos muito utilizados hoje para o transporte de
idosos e pessoas com dificuldade de locomoção substituindo elevadores em locais específicos
como residências, clínicas, livrarias etc.
Elevadores são mais indicados para edificações com vários andares como edifícios de
corporativos, residenciais, hospitalares etc.
5.4.11 A Casa do Futuro
Embora ainda não sejam utilizadas em larga escala, aspectos como energia solar ou
eólica, reuso da água em determinados ambientes, melhor aproveitamento de ventilação e
iluminação naturais, sistema automatizados, via computadores, para o controle do uso da
água, da energia, da segurança, do acionamento de portas e janelas, entre outros avanços, já
são plenamente comprovados e utilizados em residências pelo mundo afora. Estes critérios de
sustentabilidade serão determinantes nas habitações já a partir deste século XXI. Outro fator
importante serão as exigências quanto ao desempenho técnico e funcional das habitações
principalmente no que concerne à operação e manutenção das edificações, trazendo maior
segurança para os seus habitantes.
5.5 A CIDADE PARA O IDOSO: LAZER
Para falar sobre uma cidade mais adequada para o idoso, julgou-se necessário uma
revisão ou releitura de concepções tradicionais de desenho urbano onde paradigmas e
parâmetros, usualmente e universalmente aceitos, aqui são apresentados como pontos de
partida para se dimensionar e estruturar os conceitos de acessibilidade, habitação e lazer a
serem propostos no presente trabalho.
A revisão, ou releitura, busca recuperar valores do desenho urbano que, hoje, parecem
ser desconsiderados, num processo de urbanização vertiginoso e caótico, que marca a vida nas
grandes cidades.
135
5.5.1 Visão Humana
Nossos olhos possuem um campo geral e um campo particular de visão: No 1º caso
contempla formas gerais. No 2º caso contempla detalhes de objetos.
O campo geral de visão é um cone irregular na vertical e simétrico na horizontal,
conforme figura abaixo (Desenho 13).
Desenho 13 – Plano da visão humana, horizontal e vertical.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
Limitações da Visão: Não podemos ver um objeto cuja distancia seja de 3.500
vezes o seu tamanho, enquanto a outras distâncias, o comportamento e relacionamento
humano se processam de outra maneira: Entre 90cm e 3.00m existe uma relação estreita. Duas
pessoas numa distância entre 1.20m e 2.40m podem estabelecer uma conversa.
A escala em arquitetura: É o elemento que relaciona os edifícios com nossa
capacidade de compreensão humana, dispondo as partes componentes no mesmo contexto.
A escala em desenho urbano: É o elemento que relaciona as cidades com nossas
faculdades de compreensão humana, dispondo as partes componentes no mesmo contexto.
Uma cidade e suas partes se acham interconexas e relacionadas com si mesmo e com os
136
indivíduos, quando estes possuem a capacidade de compreender os seus entornos e sentir-se
“como em seu sítio” ou ambiente.
Arquitetos gregos utilizaram dimensões humanas (polegadas, pés, jardas etc.), para
dimensionar os seus edifícios. Arquitetos renascentistas lançaram mão de proporções abstratas
e arquitetos modernistas tomaram como base as novas tecnologias e exigências modernas. Um
exemplo disto foi a criação do MODULOR, pelo arquiteto franco-suíço Le Corbusier, que
procurava utilizar a escala humana, como base para dimensionar edifícios e cidades.
Entretanto as dimensões de uma cidade, ou de um edifício, não podem estar limitadas pela
capacidade física do homem, mas ordenadas pela capacidade de compreensão humana. Os
maiores edifícios e cidades resultarão acabados, prontos, geralmente imensas, se
introduzirmos a proporção humana em suas formas.
Pode-se empregar os princípios da proporção para criar impressões diferentes de
extensão e importância num edifício e cenário de uma cidade, dando, por exemplo, grandeza a
uma praça pequena ou sentido de intimidade a uma extensa. Os alcances ou efeitos da
proporção se estende desde a escala íntima de nosso mundo normal até o universo da escala
monumental. A proporção íntima é sensível e tutelar enquanto a monumental cria em nós um
dos efeitos citados a seguir.
1. Nos enobrece, nos eleva sobre nós mesmos até um mundo de sensações espirituais,
ou, ao contrário, nos oprime ou sufoca, com grandeza avassaladora. De onde vem tudo isto e
como podemos manejá-los influindo sobre a escala humana?
Penna (2011) afirma que, considerando o movimento da cabeça humana, uma boa
percepção do ambiente fica ao nível dos olhos com a cabeça equilibrada. A percepção resulta
deficiente com o movimento da cabeça no sentido ascendente ou descendente, ou seja, sem o
equilíbrio normal da cabeça.
Entre 90cm e 3.00m ou 1.20m e 3.60m, sendo 2.40m uma distância normal de
conversação, onde pode-se perceber as sutilezas de linguagem e os gestos faciais que
constituem a conversação (HALL, 1977).
Podemos distinguir uma expressão facial até uns 15m. Num palco, um ator pode
“projetar” sua expressão facial até 20m. Acima disto, a expressão facial deve ser
complementada com gestos de corpo e voz. Pode-se distinguir o semblante de um amigo a uns
25m; os gestos do corpo a 140m (distância máxima para diferenciar um homem de uma
mulher). Esta é também a medida para visualização dos jogadores ou atletas num campo de
futebol ou atletismo. Dimensiona-se, inicialmente, um estádio por esta medida básica.
137
Finalmente, podemos perceber um indivíduo até 1.200m, além dos quais as dimensões são
muito pequenas para divisá-las.
2. Qual a conexão entre estas distâncias e o desenho urbano?
Os espaços “íntimos” de uma cidade são usualmente até 25m. O espaço urbano não
passa de 140m (a dimensão máxima, usualmente, aplicada para uma quadra urbana)
(SPREIREGEN, 1976). Num estudo sobre a evolução da quadra urbana, que apenas Nova
Iorque, talvez pela presença do automóvel, possui quadras com dimensões superiores a
140m.47
Nas vistas monumentais maiores que 1.200m, não intervem os elementos humanos. Às
vezes, estas regras são quebradas, mas sempre existindo uma previsão, no desenho, com a
adição de outros elementos importantes no sentido de oferecer um efeito singular
(SPREIREGEN 1976).
Outro exemplo recente são as novas normas da Federação Internacional de Futebol
Association (FIFA), para construção de estádios de futebol: A dimensão máxima, numa linha
horizontal, contínua, partindo do centro do gramado até o ultimo degrau de arquibancada não
deve ultrapassar 90m. As outras distâncias serão definidas pelas diagonais do campo unindo
os cantos de “corners” que não devem atingir, a partir de cada corner, até o ultimo degrau , no
máximo 160 m. Estas medidas garantem a boa visibilidade, inclusive para as placas de
publicidade na margem dos gramados e, fixam a capacidade máxima dos estádio em torno de
60.000 lugares.
Escala e circulação: A proporção urbana está determinada, também, pelos meios
que empregamos para movermos ao redor das nossas cidades, assim como pela forma que nos
movemos entre elas e a região.
O homem moderno caminha, no mais das vezes, apoiado em veículos movidos a
máquinas. Em nenhuma outra época da humanidade utilizou-se tanto de diferentes tipos de
máquinas para se locomover como a atual. De avião podemos cruzar o Brasil, país
continental, de norte a sul e de leste a oeste em, no máximo, cinco horas.
O entusiasmo pelas viagens de longo alcance, inclusive internacionais, só é igualado
por nossa necessidade de percorrer as cidades. Insistimos em uma acessibilidade a todas as
partes.
Ironicamente, enquanto surgem novos veículos, cada vez mais velozes, e as maiores
distâncias desaparecem ante nós, as curtas distâncias, nas cidades, transformam-se em
47
Ver também desenho 38 – Evolução das quadras.
138
irritantes horas desperdiçadas. A maioria das nossas cidades não pode acomodar tantos
veículos sem reajustes frequentemente drásticos na sua estrutura viária. Mesmo em baixas
velocidades é difícil trafegar, hoje, na maioria das cidades brasileiras. A média em São Paulo
é de 20km/hora.
Temos conseguido ampliar notavelmente a proporção de viagens onde encontramos
liberdade, como no ar e no campo mas só, limitadamente, onde nós somos constrangidos a
fazê-lo: na cidade. Não obstante, a escala da cidade, definida no tocante à sua acessibilidade,
tem-se expandido enormemente,
Determinada, antigamente, pelas carruagens, depois por bondes e ônibus, que
permitiram os primeiros subúrbios, a escala de acessibilidade nas cidades modernas é maior
que em qualquer época, como também o seu congestionamento.
Na luta contra o congestionamento do tráfego, o homem tem considerado os possíveis
meios de transportes. Helicópteros, metrô (bom, eficiente, mas muito caro), Veículos Leves
sobre Trilhos (VLT), calçadas rolantes (experiência logo abandonada pelos alto custo de
manutenção), vias exclusivas para ônibus, táxis e micro-ônibus para curtas distâncias em
torno das áreas centrais.
Todas estas formas de transportes ajudam a determinar a proporção de movimentos e
circulação na cidade, isto é, a extensão da cidade, cuja utilização resulta do fácil acesso.
Porém, existe uma modalidade, realmente antiga e básica de transporte que, com frequência, é
esquecida, mas persiste como um dos melhores e mais determinantes no tocante à escala
humana: nossos pés.
Quando caminhamos, somos completamente livres para pararmos, girar, acelerar ou
diminuir o ritmo, ir para a direita ou para a esquerda, alternar os passos, desfrutar, enfim, de
uma grande liberdade de eleição e grau de contato com as pessoas e os lugares por onde
passamos. Enquanto isto, todo meio mecânico de transporte tem grandes limitações nestes
aspectos. Os meios mecânicos podem ampliar a escala de acessibilidade, porém o contato
máximo com o lugar ou espaço tão essencial para todo assentamento humano se obtém
caminhando.
As principais limitações na escala do passeio a pé são as distâncias e a velocidade;
grande número de pessoas, ao realizar suas tarefas diárias, caminham no máximo 750m, numa
velocidade de 4.0m por hora (SPREIREGEN, 1976).
Nas pesquisas de campo realizadas em Copacabana (Rio de Janeiro), Brasília/DF e
Natal/RN, no sentido de dimensionarmos as distâncias máximas suportáveis para caminhada
139
de idosos, observamos tais parâmetros, inclusive a distância entre os postos de salvamento da
Av. Atlântica, em Copacabana, que é de 750m.
Esta escala determina a extensão dos principais agrupamentos e centros de atividades
em uma cidade. As dimensões das zonas comerciais centrais alcança aquilo que permite
funcionar como centros integrados.
As zonas de Wall Street, New York, diversos outros bairros comerciais, como o
Farmer’s Market, em Los Angeles, a Disneylândia, os terminais de grandes aeroportos e
centro comerciais, baseiam-se neste fator básico de escala humana. A média de percursos de
diferentes meios de circulação estando bem dimensionados, utilizando-se as zonas centrais de
pedestres como pontos médios, seus efeitos serão evidentes.
Uma grande metrópole pode ser observada como uma série de enclaves de pedestres,
centros comerciais, eixos cêntricos e zonas de vizinhança. Superpor a estes enclaves de
pedestres os meios de transportes públicos, acarretará percursos mais longos no sistema
viário, não obstante manter-se interconectado com as zonas de pedestres.
Todos os meios mecânicos de transportes podem unir as zonas de pedestres e fazê-las
acessíveis para um número muito maior de pessoas, porém a zona de pedestres deve ser o
elemento básico de desenho urbano.
Qualquer sistema mecânico de transporte, metrô, ônibus, VLT etc., pode anular ou
obscurecer estas áreas de pedestres, pode destruir as qualidades que tornam agradáveis estes
locais, entretanto o planejamento e o desenho urbano devem fazer com que os sistemas
mecânicos de transporte reforcem e criem áreas de pedestres.
É o caso de Montreal, Canadá. Conectados com as estações de metrô, diversos centros
de comércio e lazer, subterrâneos, também interconectados entre si por uma rede de túneis,
permitem a continuação das atividades diárias durante o período de inverno, sempre rigoroso,
naquele país. Também, na superfície, nos demais períodos do ano, as atividades são
incrementadas em torno das estações do metrô.
Um projeto de estacionamento para carros, ao ser organizado, na periferia dos centros
de cidade, deve criar um fluxo de pedestres entre esta periferia e o centro. Algumas cidades,
como Amsterdam, adotam também pistas para bicicletas, outro meio de transporte cada vez
mais utilizado nos grandes centros.
Os edifícios e espaços devem manter uma escala adequada com relação aos
indivíduos. Protegê-los também das alterações climáticas. A adoção da galeria (sistema onde
a projeção do corpo de edifício cobre as calçadas) é uma excelente solução, principalmente,
em países tropicais, caso da totalidade do Centro Histórico de Luanda, capital de Angola.
140
Além de proporcionar sombra, protege também nos períodos de chuva, permite o
funcionamento das atividades comerciais, pontos de encontros, locais para embarque e
desembarque em ônibus, entre outros benefícios. É um sistema utilizado principalmente no
Rio de Janeiro e Recife, mas também em outras cidades brasileiras.
Escala e Parâmetros: Um elemento essencial na escala urbana são os objetos
familiares cuja presença e dimensões tenhamos nos acostumado: monumentos ou edifícios
que conhecemos bem, árvores, postes, janelas, arcadas, pontes, entre outros objetos, servem
para deduzirmos as dimensões das coisas que encontramos junto a eles. São os chamados
parâmetros, elementos cujo tamanho familiar proporciona um escala de referência para
objetos vizinhos.
Escala: época, conveniência, idade e hábitos: O nosso sentido de escala humana
varia de acordo como nossa idade e hábitos. Para uma criança, seu mundo é o ambiente de sua
casa, o pátio de sua escola, pátios e casas de seus amigos, a escola, a casa dos avôs, o
escritório do pai, e outras coisas mais, um pouco mais distantes, no mundo. Ao tempo que
cresce seu mundo se amplia e as partes separadas vão unindo-se entre si. Desde os anos de
juventude, o indivíduo se arrisca a explorar novas coisas, novos lugares e pessoas, com o que
estabelece e entrelaça a escala do seu mundo. Os anos de maturidade se conectam com o
mundo do lugar, do trabalho, dos amigos e da recreação. Com a chamada 3ª idade, as
atividades se encaminham para práticas mais seletivas, próprias deste período, motivadas pela
redução das aferências, da acuidade visual, da perda do tônus muscular entre outras
limitações.
Neste sentido, a escala humana varia também de acordo com aquilo que nos
acostumamos. São Paulo é, por exemplo, inicialmente, demasiado grande e imponente para
muita gente, porém com o tempo, as pessoas vão se acostumando a ela.
Em geral, o ser humano é bastante adaptável e a escala urbana, em grande medida, é
uma questão de um tratamento detalhado da cidade, assim como esta o é de sua extensão total.
O importante é aplicar, no desenho urbano, aspectos como espaços livres, massas, zonas de
atividades diversas e, principalmente, boa circulação.
5.5.2 O Espaço Urbano
Os espaços urbanos, iguais aos espaços arquitetônicos, podem estar dispostos,
espacialmente, à maneira de ilhas, sem relacionar-se com os espaços vizinhos ou, de outra
141
forma, se bem interrelacionados, possibilitarem a sua observação e leitura, ao se passar de um
para outro.
A intenção de seu desenho pode buscar detalhar seu encadeamento, ressaltar um
edifício especial dentro do espaço ou sugerir uma direção importante de movimento. Assim
como os espaços arquitetônicos, os espaços urbanos podem ser concebidos apropriadamente,
como habitações e corredores: “[...] a cidade como casas, as casas como cidade” (ARTIGAS,
1989). De uma forma abstrata, como canais e depósitos de reserva de espaços, formando uma
hierarquização de tipos espaciais fundamentados em sua extensão.
No desenho urbano, esta hierarquia decorre desde a escala do pequeno, recintos
íntimos sobre os grandes espaços urbanos, culminando no vasto espaço da natureza na qual
está implantada a cidade.
As categorias do espaço urbano derivam da escala de distâncias próprias da visão
humana. Assim, espaços urbanos até 25 metros criam uma sensação de intimidade (dentro
desta distância poderemos distinguir um rosto humano). Era a escala das nossas belas ruas
residenciais antigas.
Já os grandes espaços urbanos não devem exceder 140m, no máximo, sem parecer
exorbitante, a menos que sejam introduzidos elementos intermediários que proporcionem uma
escala mais adequada ao ser humano. Poucas quadras urbanas e praças excedem esta
distância. Por outro lado, New York, como já foi visto, possui um desenho urbano com as
maiores quadras entre as grandes cidades (250m X .60m) 48
.
Os grandes espaços ou vistas podem funcionar como pano de fundo de um
monumento principal. Mas além de 1.200m, quando perde-se a referência visual humana, a
vista ou composição espacial deve incorporar outros elementos. Para a escala humana ficar
bem definida, uma exigência fundamental é o fechamento físico real ou articulação com as
formas urbanas. Este, quando fechado, é igual ao interior de uma taça, um tubo ou uma
recipiente qualquer: está sempre constituído por superfícies materiais.
Mas, até que ponto é necessário o fechamento?
Numa praça nos achamos suficientemente fechados por todos os lados sempre que a
nossa atenção se concentre sobre o espaço como uma entidade. Já numa avenida, quando o
fechamento só acontece em dois dos lados, a percepção do espaço deve ser compreendida
como um conduto de espaço.
48
O Central Park de New York possui uma dimensão de 4.000m X 800m. Mas é todo dimensionado na escala
humana através da criação de espaços menores, intercalados por massas de vegetação, lagos, áreas de lazer,
playgrounds e locais para apresentações artísticas, que lhe conferem um aspecto de intimidade.
142
Quando circulamos por uma cidade, orientamos nosso ponto de vista por um ou outro
caminho de acordo com o que nos atrai. Não obstante, o nosso campo de visão frontal,
normal, a vista que percebemos quando se olha em linha reta para frente, nos proporciona
uma imagem principal do espaço onde nos encontramos.
Nosso campo de visão frontal define num espaço o grau de fechamento – sensação de
espaço – que percebemos. A sensação, seja uma rua ou um espaço livre, fica completamente
determinada pela relação entre a distância visual e a altura construída, vista segundo nosso
campo de visão frontal.
Quando a altura de uma fachada é igual à distância que dela nos encontramos (relação
1:1), a linha de coroamento da fachada se encontra formando um ângulo de 45º a partir de
nosso ponto de vista horizontal frontal, conforme desenho abaixo, posto que o edifício é mais
alto que o limite superior de nosso campo de visão frontal (30º), nos sentimos como
confinados (Desenho 14).
Desenho 14 – Visão humana (vertical) 1:1
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
Quando a altura da fachada é igual à metade da distância que dela nos encontramos
(1:2) coincide com os limites de nossa visão normal. Esse é o umbral de corte, o limite
inferior em que aparece a sensação de confinamento (Desenho 15).
143
Desenho 15 – Visão humana (vertical) 1:2
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
Quando a altura da fachada é igual a 1/3 de nossa distância ao edifício, percebe-se a
parte superior segundo um ângulo de 18º. Nessa distância podemos distinguir os objetos
proeminentes para além do recinto com o qual compartilhamos dentro do mesmo espaço
(Desenho 16).
144
Desenho 16 – Visão humana (vertical) 1:3
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
Quando a altura da fachada é de ¼ da nossa distância ao edifício vemos a parte
superior segundo um ângulo de 14º e o espaço perde sua capacidade de confinamento, ficando
as fachadas periféricas como bordas, e a sensação de zona aberta, não fechada (Desenho 17).
Desenho 17 – Visão humana (vertical) 1:4
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
145
Os arquitetos renascentistas obtiveram, assim, uma sensível regra para compor as
proporções entre largura e altura de uma praça urbana.
A altura da fachada é uniforme. A proporção entre a largura e a altura não pode
exceder 1/3. Não sendo observada esta proporção as paredes de fundo ficarão muito baixas e
o espaço se filtra. O confinamento espacial é também função da continuidade na superfície
das paredes: o jogo de fachadas dos edifícios deve subordinar-se aos espaços que formará (é a
regra que possibilitou a unidade da Praça São Marcos, em Veneza. Mesmo construída em
diferentes épocas e etapas mantém uma impressionante unidade arquitetônica).
O fechamento espacial pode ser atenuado, adotando-se uma boa quantidade de
aberturas nas paredes (cheios e vazios na proporção de 1:1) ou por variações na linha superior
dos edifícios.
Estes paradigmas devem permitir como ponto de partida. Alguns espaços urbanos
obtiveram um bom desenho com um confinamento apenas parcial: uma abertura ao longo de
uma rua movimentada. O Rockffeler Center de New York ocupa um pequeno espaço
relacionando-se com os altíssimos edifícios agrupados em seu entorno. As esquinas são
prismas abertos de ar e luz que proporcionam vistas além do espaço confinado. As aberturas
entre as edificações, neste caso, reduzem o que de outro modo seria uma acachapante
opressão devido à altura dos edifícios.
Com certeza o desenho de um espaço urbano agradável demanda, acima de tudo,
simplicidade em formas e detalhes. Por exemplo, imaginando-se um espaço urbano visto em
condições de uma brilhante iluminação: os detalhes resultam mais aparentes que o conjunto.
Num dia nublado, à tarde, com uma fraca ou tênue iluminação, perceberemos menos os
detalhes e mais o conjunto.
A grande vantagem de se pensar em termos de espaços urbanos é que podemos abarcar
uma miríade de elementos urbanos, à maneira de entidades, que resultarão mais valiosos em
conjunto que isolados.
A atenção ao espaço urbano pode ser estendida ao desenho de um “modelo” de
espaços na escala da cidade – formação de uma rede de canais e terrenos livres que
entrelaçam os distritos separando-os em uma textura inteligível para os seus usuários. Na
planificação da estrutura espacial de uma cidade deve-se ter o cuidado de projetar espaços
grandes e pequenos atendendo suas respectivas finalidades. As praças muito grandes e
avenidas extensas podem resultar inapropriadas ao dissociar, por exemplo, um bairro quando
sua intenção era unificá-lo.
146
5.5.3 Praças
Para grande número de cidades, uma grande praça pública municipal é suficiente se
existirem outras menores, nos bairros, com funções de menor importância. Inclusive o custo
de implantação e manutenção é menor (MASCARÓ. 1987).
Uma grande praça pode ter edifícios focais proeminentes em seus extremos. Assim
como esculturas em seu centro. Pode atuar como base para destacar um ou mais edifícios
importantes. O Rockffeler Center e o Empire State Building são vistos de qualquer ponto de
Nova Iorque. No Rockffeler Center, encontram-se edifícios agrupados em torno de um espaço
relativamente pequeno, mas sempre repleto de gente. Nunca se perde contato e a noção do
conjunto (Figuras 38 e 39). Já o Empire State, um ícone à distância, desaparece à medida que
nos aproximamos dele. Sua base carece da distinção necessária para o reconhecimento do
entorno que poderia ser obtido com uma pequena praça em frente a ele.
147
Figura 38 – Plano Geral do Rockeffeller Center
Fonte: rockefeller-center-new-york-new-york ([2011]).
Figura 39 – Visão Aérea do Rockeffeller Center
Fonte: rockefeller_new_york_city_center_new_york_cartao_postal ([s.d.]).
148
5.5.4 Espaço Aberto.
O espaço aberto é outro tipo de ambiente urbano que deve ser cuidadosamente
trabalhado e entendido. Geralmente, este tipo de espaço contempla zonas verdes à maneira de
parques dentro das cidades ou junto a elas. Frequentemente, é confundida com espaço urbano,
estes, por excelência, caracterizado principalmente como um foco formal das múltiplas
atividades urbanas. A praça é para o encontro das pessoas, não necessariamente arborizada
(São Marcos, em Veneza; São Pedro e Praça de Spagna, em Roma; e Praça dos 3 Poderes, em
Brasília etc.).
O essencial de um espaço urbano bem desenhado são suas proporções, seu pavimento,
suas paredes e as atividades que os anima. A superfície do solo deve ser tratada para se andar
rápido ou induzir, no caso dos idosos, por exemplo, a uma caminhada mais lenta. Numa
grande praça aberta, a superfície deve ser desenhada de maneira que o pavimento fique
subdividido em zonas mais íntimas. O perfil da superfície dos edifícios em torno da praça,
deve ser tratado como um importante elemento do desenho. Uma superfície côncava é melhor
visualizada que uma superfície plana (Praça São Pedro, Roma), fato que a tornará muito mais
aconchegante e possibilitará uma melhor visão do conjunto.
5.5.5 Terrenos Acidentados
Os terraplenos sobre terrenos acidentados podem proporcionar bons resultados para
estabelecer diferentes graus de importância na hierarquização das edificações e espaços
urbanos. Em edifícios que possuam funções menos importantes, uma inclinação gradual de
pequenos desníveis é mais indicada. Usualmente, a ascensão proporciona uma sensação de
júbilo espiritual e os descensos à segurança e ao relaxamento.
Dotamos sempre nossas cidades de toda classe de objetos que consideramos como a
“decoração” de seus espaços, outorgando-lhes um valor estético, assim como um valor prático
que resultam, quase sempre, em bons resultados.
Toda cidade pode considerar-se como uma grande forma que se presta a seu próprio
desenho: o centro, denso e hermético, o abrigo que certos espaços urbanos nos proporciona, a
periferia, relaxada e dispersa, as implantações, de variadas maneiras, que articulam a
superfície do terreno e o vasto espaço da natureza que o circunda.
149
As ruas, as praças, os parques e outros espaços urbanos representam uma parte
fundamental para a celebração coletiva da vida nas cidades. Constituem um âmbito comum
que muitos não valorizam com a atenção que merecem. No espaço público produz-se a
socialização coletiva e, portanto, constitui-se a essência da cidade. É nestes lugares, onde se
processa o encontro entre os habitantes, e se produz a história contemporânea em processo de
formação.
Dados da ONU (2008) confirmam que a população idosa no mundo já alcançou o
índice de 6% do total dos habitantes do nosso planeta. No Brasil, cerca de 11% da população,
de 190 milhões de habitantes, ou seja 21 milhões, é de idosos, segundo dados do Censo de
2010. O IBGE confirma que os idosos têm procurado os centros urbanos devido à
infraestrutura, notadamente no setor de saúde, ou outras atividades cotidianas, como o lazer,
por exemplo. Com a aposentadoria, muitos dos que adquirem o tempo livre buscam novas
atividades. Os idosos, hoje no Brasil, na sua grande maioria, dispõem de boa saúde, ou bom
atendimento médico, e possuem boa renda, como já vimos anteriormente. É sempre bom
lembrar que apenas 5% são pobres, média melhor do que a observada no geral da população
quando este índice atinge os 20%.
Embora constituam uma geração que, na sua infância e adolescência não tiveram
acesso à educação, atingiram a idade adulta dispondo de meios de comunicação (jornais, rádio
e TV) que os deixaram bem informados. A boa renda os transformaram em consumidores
diferenciados e torna-se pertinente analisar as suas necessidades quanto ao espaço público
urbano, abertos ou confinados, parte de uma infraestrutura que possa lhes garantir uma melhor
qualidade de vida.
No nosso país, são raros os espaços adequados às necessidades dos idosos, pois ainda
enfrenta uma realidade que só nos últimos anos vem chamando a atenção de autoridades e
estudiosos do assunto. Outros países, como os EUA e os da Comunidade Europeia, já tratam
os idosos de uma forma prioritária. Na América do Norte, muitos idosos optam por morar em
pequenas cidades (de até 5.000 habitantes) ou condomínios residenciais exclusivos, com áreas
para jogos e espaços adequados ao seu entretenimento e conforto, muito embora a presença de
entidades públicas ainda represente grande parte dos cuidados com os idosos na fase mais
difícil da sua existência, conforme exemplos demonstrados abaixo (Quadro 19):
150
Quadro 19 – Tipos de habitação para idosos nos EUA.
TIPOTIPO ESCALAESCALA
PERFILPERFIL
DODO
RESIDENTERESIDENTE
PLANOPLANO
DEDE
SERVISERVIÇÇOOFINANCIADORFINANCIADOR
FAIXAFAIXA
ETARIAETARIA
ESTADO ESTADO
FFÍÍSICO DO SICO DO
RESIDENTERESIDENTEOBSERVAOBSERVAÇÇÕESÕES
NEW TOWNSNEW TOWNSGRANDEGRANDE
>5.000 hab.>5.000 hab.
APOSENTADOAPOSENTADO
NOVONOVO
SADIOSADIO
Plano de Plano de
SaSaúúde, de,
RecreaRecreaçção,ão,
outrosoutros
Privado com Privado com
objetivo de lucroobjetivo de lucro50 a 65 anos50 a 65 anos
AtividadesAtividades
ffíísicas, plenassicas, plenas
Residências Residências
isoladas, aptos, isoladas, aptos,
centro comercial e centro comercial e
lazer.lazer.
VILAS OU VILAS OU
CONDOMCONDOMÍÍNOS NOS
PARA IDOSOSPARA IDOSOS
MMéédiadia
1.000 a 5.0001.000 a 5.000
habitanteshabitantes
Aposentados na Aposentados na
fase inicial da fase inicial da
velhicevelhice
Limitada, sem Limitada, sem
plano de plano de
sasaúúde, de,
recrearecreaçção ao ão ao
ar livrear livre
IDEMIDEM 65 a 75 anos65 a 75 anosInIníício das cio das
dificuldades dificuldades
ffíísicassicas
Residência Residência
isoladas, em isoladas, em
renque, aptos, renque, aptos,
casas mcasas móóveis, veis,
comercio e lazercomercio e lazer
ResidênciasResidências
CompartilhadasCompartilhadas
GrandesGrandes
MMéédiasdias
PequenasPequenas
Aposentados na Aposentados na
idade idade
intermediintermediáária da ria da
velhicevelhice
IDEMIDEM
Filantropia,Filantropia,
PPúública e Clubes blica e Clubes
de Servide Serviççoo76 a 85 anos76 a 85 anos
Deslocamento Deslocamento
limitado e limitado e
seletivo.seletivo.
Residências Residências
UnifamiliaresUnifamiliares. .
Maioria mulheres Maioria mulheres
com mais de 70com mais de 70ªª..
AsilosAsilos PequenaPequena
Aposentados c/ Aposentados c/
saudesaude limitada, limitada,
exigindo exigindo
cuidadoscuidadosIDEMIDEM IDEMIDEM
86 anos ou 86 anos ou
mais.mais.IDEMIDEM
Sistema Sistema
pavilhonarpavilhonar e e
pequeno npequeno núúmeromero
de unidades de unidades
isoladas.isoladas.
Centro de Centro de
Tratamento Tratamento
ContinuadoContinuado PequenaPequena
SaSaúúde limitada de limitada
e doentese doentesPlano de Plano de
SaSaúúde e de e
recrearecreaçção ão
limitadalimitada
Filantropia Filantropia
PPúública e blica e
ReligiosaReligiosa
CompatCompatíível vel
com a com a
capacidade capacidade
do idosodo idoso
CompatCompatíível vel
com acom a
CapacidadeCapacidade
do idoso.do idoso.
Geralmente um Geralmente um
edifedifíício integrancio integran--
do habitado habitaçção, ão,
sasaúúde e lazer.de e lazer.
TIPOTIPO ESCALAESCALA
PERFILPERFIL
DODO
RESIDENTERESIDENTE
PLANOPLANO
DEDE
SERVISERVIÇÇOOFINANCIADORFINANCIADOR
FAIXAFAIXA
ETARIAETARIA
ESTADO ESTADO
FFÍÍSICO DO SICO DO
RESIDENTERESIDENTEOBSERVAOBSERVAÇÇÕESÕES
NEW TOWNSNEW TOWNSGRANDEGRANDE
>5.000 hab.>5.000 hab.
APOSENTADOAPOSENTADO
NOVONOVO
SADIOSADIO
Plano de Plano de
SaSaúúde, de,
RecreaRecreaçção,ão,
outrosoutros
Privado com Privado com
objetivo de lucroobjetivo de lucro50 a 65 anos50 a 65 anos
AtividadesAtividades
ffíísicas, plenassicas, plenas
Residências Residências
isoladas, aptos, isoladas, aptos,
centro comercial e centro comercial e
lazer.lazer.
VILAS OU VILAS OU
CONDOMCONDOMÍÍNOS NOS
PARA IDOSOSPARA IDOSOS
MMéédiadia
1.000 a 5.0001.000 a 5.000
habitanteshabitantes
Aposentados na Aposentados na
fase inicial da fase inicial da
velhicevelhice
Limitada, sem Limitada, sem
plano de plano de
sasaúúde, de,
recrearecreaçção ao ão ao
ar livrear livre
IDEMIDEM 65 a 75 anos65 a 75 anosInIníício das cio das
dificuldades dificuldades
ffíísicassicas
Residência Residência
isoladas, em isoladas, em
renque, aptos, renque, aptos,
casas mcasas móóveis, veis,
comercio e lazercomercio e lazer
ResidênciasResidências
CompartilhadasCompartilhadas
GrandesGrandes
MMéédiasdias
PequenasPequenas
Aposentados na Aposentados na
idade idade
intermediintermediáária da ria da
velhicevelhice
IDEMIDEM
Filantropia,Filantropia,
PPúública e Clubes blica e Clubes
de Servide Serviççoo76 a 85 anos76 a 85 anos
Deslocamento Deslocamento
limitado e limitado e
seletivo.seletivo.
Residências Residências
UnifamiliaresUnifamiliares. .
Maioria mulheres Maioria mulheres
com mais de 70com mais de 70ªª..
AsilosAsilos PequenaPequena
Aposentados c/ Aposentados c/
saudesaude limitada, limitada,
exigindo exigindo
cuidadoscuidadosIDEMIDEM IDEMIDEM
86 anos ou 86 anos ou
mais.mais.IDEMIDEM
Sistema Sistema
pavilhonarpavilhonar e e
pequeno npequeno núúmeromero
de unidades de unidades
isoladas.isoladas.
Centro de Centro de
Tratamento Tratamento
ContinuadoContinuado PequenaPequena
SaSaúúde limitada de limitada
e doentese doentesPlano de Plano de
SaSaúúde e de e
recrearecreaçção ão
limitadalimitada
Filantropia Filantropia
PPúública e blica e
ReligiosaReligiosa
CompatCompatíível vel
com a com a
capacidade capacidade
do idosodo idoso
CompatCompatíível vel
com acom a
CapacidadeCapacidade
do idoso.do idoso.
Geralmente um Geralmente um
edifedifíício integrancio integran--
do habitado habitaçção, ão,
sasaúúde e lazer.de e lazer.
Fonte: Altman; Lawton; Wonlhill (1984).
Muitas pesquisas estão sendo feitas, relacionadas ao projeto de ambientes para idosos,
mas a maioria é direcionada para asilos e residências. Entretanto os problemas relacionados
ao idoso, segurança e conforto, não se restringem aos ambientes internos. Grande parte dos
idosos utiliza espaços públicos urbanos e estes não estão, em via de regra, planejados para
atender às suas necessidades. Os espaços públicos urbanos, além de possibilitar um acesso
mais democrático, gratuito e irrestrito a qualquer grupo social, permite ao idoso o contato com
a natureza, estimula e possibilita o contato com outras pessoas, permite um maior bem-estar
físico e mental, a prática de esportes de acordo com sua faixa etária e o contato com o sol.
Entretanto, a forma caótica como se processa a urbanização da maioria das cidades brasileiras,
e a violência urbana, entre outros males, têm provocado a degradação desses espaços.
O crescimento das cidades e o consequente superpovoamento, além de provocarem
estresse nas pessoas devido ao ritmo acelerado verificado em todas as atividades humanas, é
acentuado pela redução no tamanho das edificações, por uma verticalização desenfreada e um
tipo de vida onde a privacidade das pessoas é cada vez menor. O lazer, no mais das vezes,
acontece em áreas comuns de edifícios e condomínios residenciais fechados, onde, por forças
das circunstâncias, normas rígidas de convívio têm de ser estabelecidas. Tal fato tira, na
maioria dos casos, a naturalidade das pessoas. O avanço da especulação imobiliária sobre as
áreas livres ainda existentes tem modificado o uso dos solo e a paisagem urbana, reduzindo os
espaços públicos, principalmente os abertos.
151
Para atender essas necessidades para os idosos, população que cresce cada vez mais,
com disponibilidade de tempo para o ócio, a falta de espaços públicos de lazer é um problema
que precisa ser resolvido a curto prazo no Brasil. Resolver não só preenchendo os requisitos
básicos inerentes a esses espaços, mas também a questão de segurança, conforto e
acessibilidade. Muitos idosos deixam de usufruir dos benefícios de algumas atividades em
espaços públicos por falta de segurança (Declaração obtida na pesquisa de campo com
habitantes das HIG. Brasilia). Passeios públicos adequados, próximos da sua residência, ou
falta de meios de locomoção, para lugares onde possam obter o lazer desejado um pouco mais
distantes, são reclamações constantes feitas por idosos (ESTEVES NETO; LIMA, 1993).
5.5.6 As Necessidades Espaciais dos Idosos
Mudanças importantes afetam as pessoas ao envelhecerem. São mudanças físicas,
psicológicas, econômicas e até processos de valorização, ou não, pela sociedade. Tais
mudanças acarretam diversas consequências que influenciam o relacionamento do idoso com
o ambiente e com outras pessoas. As necessidades espaciais são, assim, aquelas que podem
ser superadas a partir de ambientes apropriados, que considerem as limitações e as
capacidades do usuário. Hunt (2006), psicólogo norte-americano, diz que as necessidades do
idosos podem ser divididas em 03: [1] Físicas; [2] Informativas; e [3] Sociais.
As Necessidades Físicas são as mais fáceis de serem percebidas, pois representam as
primeiras iniciativas a serem levadas em conta ao se projetar espaços para pessoas com
limitações ou deficiências físicas. Estão ligadas com a saúde física, segurança e conforto dos
usuários no ambiente. Portanto, um espaço físico projetado para suprir as necessidades físicas
dos idosos deve estar livre de obstáculos, ser de fácil manutenção e evitar acidentes. Deve
também ser atrativo para todos e estar de acordo com as características antropométricas e
biomecânicas da população a ser atendida (BINS-ELY; CAVALCANTI, 2001). Rampas, em
circulações com desníveis, para ajudar o deslocamento de idosos com problemas musculares,
bancos com encostos, assentos e apoios com altura máxima de 45cm, diminuem o esforço de
sentar e levantar dos idosos. Bebedouros com dispositivos ou comandos de pressão ou
movidos por células fotoelétricas para idosos com problemas de coordenação motora etc., são
também importantes.
As Necessidades Informativas referem-se ao modo como a informação sobre o meio-
ambiente é processada. São dois os aspectos principais para a informação ser processada: a
percepção, que é o processo para se obter ou receber a informação do ambiente; e a cognição,
152
processo pelo qual a pessoa organiza e relembra a informação recebida do ambiente (HUNT,
2006). Os espaços devem ser projetados, assim, de forma legível e possuir um suporte para
estimular os demais sentidos para que, na falha de um deles, o ambiente possa, por exemplo,
fornecer a informação por meio dos demais (BINS-ELY; CAVALCANTI, 2001). Para um
usuário com restrição visual, deve-se usar elementos com cores contrastantes, texturas e
odores diferenciados para servirem como referência para sua orientação. Já para idosos com
dificuldades de relembrar as informações adquiridas, deve-se adotar ambientes padronizados e
temáticos, com uso repetitivo de cores ou elementos que indiquem a mesma função ou
atividade.
As Necessidades Sociais são relacionadas com a interação social e o controle da
privacidade. Os locais projetados para idosos devem sempre possuir um aspecto familiar e
estimular um senso de comunidade, onde a vizinhança e a camaradagem ocorram de forma
natural. Optar por uma arquitetura cujos elementos ofereçam a oportunidade de controlar a
interação com a vizinhança. Sacadas, terraços abertos, escala conveniente etc. são exemplos a
serem levados em conta.
Nas grandes cidades atuais sobra pouca ou quase nenhuma oportunidade espacial
para a convivência, pois da forma pela qual são constituídas e renovadas, o vazio
que fica entre o amontanhado de coisas é insuficiente para permitir o exercício
efetivo das relações sociais produtivas em termos humanos. (MARCELINO, 1983,
p.59).
A explosão populacional causa, nas pessoas, além do estresse, devido ao ritmo
acelerado de vida (trabalho e trânsito), uma menor privacidade familiar, seja em função da
proximidade entre as edificações e a redução das suas dimensões. A intensa especulação
imobiliária têm reduzido os espaços destinados ao lazer, principalmente o público, e
modificado o uso do solo e a paisagem urbana.
Fugindo desta tensão, na direção contrária, buscam áreas onde possa relaxar e realizar
atividades de lazer, como verifica-se na ocupação intensiva, nos finais de semana, das faixas
litorâneas, principalmente no período de veraneio, em parques importantes e áreas públicas,
livres, organizadas para o lazer.
A existência dos espaços de lazer e a manutenção de sua qualidade são de capital
importância não apenas porque favorecem a articulação entre territórios, como a mistura e a
coesão social de lugares e pessoas, além do seu bem-estar.
153
Os idosos, então, possuindo disponibilidade de tempo para realizar atividades de lazer,
ressentem-se da inexistência desses locais, fato este que representa um sério problema a ser
resolvido pelas municipalidades brasileiras no mais rápido espaço de tempo.
Deve-se atentar para o fato de que esses espaços requerem cuidados especiais, como
segurança e conforto, em primeiro lugar.
5.5.7 Espaços de Lazer
É muito diversificada a tipologia de espaços de lazer: podem estar localizadas em
áreas fechadas ou em áreas livres. Algumas são destinadas a determinadas classes sociais ou
idades e outras são acessíveis a todos. Umas são localizadas em áreas urbanas centrais e
outras na periferia. Mas o mais importante é saber compreender as diferentes funções a que se
destinam, segundo a classificação de Dumazedier (1976) a seguir:
1. Espaços Cívicos: Locais voltados para obrigações oficiais de cunho
administrativo e político, como palácios, quartéis etc.
2. Espaços Comerciais: Locais destinados à venda e compra de mercadorias, como
shoppings, lojas, supermercados etc.
3. Espaços Culturais: Locais destinados à exposição de arte, música, filmes.
4. Espaços Educacionais: Locais de instituições de ensino em geral, universidades.
5. Espaços Domésticos: Locais para ambientes residenciais, incluindo pátios
internos.
6. Espaços Esportivos: Locais destinados à prática esportiva.
7. Espaços Gastronômicos: Locais destinados à alimentação: restaurantes, praças da
alimentação de shoppings e hipermercados etc.
8. Espaços Religiosos: Locais destinados a cultos religiosos.
9. Espaços Sociais: Locais destinados à associações ou entidades que estimulem a
interação entre grupos.
10. Espaços Turísticos: Locais relacionados com a prática do turismo, tais como
hotéis, pousadas, mirantes, campings, reservas florestais ou biológicas, áreas
litorâneas ou de lagos, lagoas, rios ou cursos d’água.
Segundo Ferrari (1977), a palavra LAZER vem do latim lícere (o que é permitido,
lícito etc.). Existem duas correntes que classificam o lazer:
1. Privilegia a questão do tempo, envolvendo o aspecto sociológico pois o conceito
de tempo livre só surgiu com a institucionalização da jornada de trabalho pós-
154
revolução industrial. Relaciona o lazer àquelas atividades que são realizadas sem
obrigações e normas, de livre e expontânea vontade, fora do horário de trabalho.
2. Esta corrente não privilegia a questão do tempo, pois envolve um aspecto
psicológico e comportamental, relacionado ao prazer e à recreação, ou re-criação:
“[...] qualquer situação que possa se constituir em oportunidades para a prática do
lazer” (FERRARI, 1977, p.101).
Classificando-se o lazer, deve-se priorizar o caráter das atividades e não as pessoas.
Assim procedendo, evita-se uma grande diversidade de atividades, de acordo com a realidade
social, econômica, demográfica e cultural. “As desigualdades de nível cultural e de nível
sócio-econômico, mais do que as disparidades de status profissional, explicam as mais
variadas formas de lazer” (SANTINNI, 1993, p.81).
Lazer Ativo: Caracterizado pelo esforço físico, andar, caminhar, correr, brincar,
praticar esportes. Enquanto o Lazer Passivo ou Contemplativo: As atividades não demandam
movimento ou esforço físico: conversar, descansar, apreciar o movimento de outrem, apreciar
paisagens, refletir, lanchar, ler, esperar (MACEDO, 2003).
Dumazedier (1976, p.34) afirma que:
Lazer é um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre
vontade, seja para repousar, divertir-se, recriar-se, entreter-se ou ainda desenvolver
sua informação ou formação desinteressada, sua livre capacidade criadora, após
livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações familiares, profissionais ou sociais.
Ainda segundo Dumazedier (1976), o lazer possui três diferentes funções:
1. Descanso: atividade a que o indivíduo se propõe no sentido de que se restabeleça
do cansaço físico ou mental advindo de suas tarefas laborais.
2. Recreação, Divertimento, Entretenimento: atividades que buscam eliminar o tédio
e a monotonia da rotina diária.
3. Desenvolvimento Pessoal: atividades que possibilitam a interação social e a
aprendizagem, desde que voluntária, visando a um desenvolvimento da
personalidade.
Dumazedier (1976), ainda lista cinco áreas de interesse:
1. Artístico: atividades de conteúdo estético, ligadas ao belo, ao sentimento, à
emoção.
2. Intelectuais: atividades de conteúdo cognitivo, que visam ao desenvolvimento
pessoal, seja pela busca da informação, conhecimento ou aprendizagem.
155
3. Manuais: atividades desenvolvidas com as mãos, onde uma matéria prima é
transformada.
4. Físicas: atividades relacionadas às práticas esportivas e à exploração de novos
lugares, passeios, caminhadas etc.
5. Sociais e Associativas: atividades de interação entre pessoas e grupos e os
relacionamentos humanos. Igrejas, clubes etc.
O lazer pode ser, ainda, classificado conforme o espaço: Público/privado, urbano/rural,
ou conforme a frequência: diariamente, semanalmente, quinzenalmente, ou conforme a forma:
individualmente, em grupo.
Considerando-se o lazer, associado ao tempo livre de obrigações com o trabalho, logo
o fato é relacionado com a aposentadoria, a qual, com o fim daquelas obrigações, permite ao
idoso maior disponibilidade para o lazer.
Preconceitos permeiam a aposentadoria numa sociedade acostumada a valorizar o
trabalho. É geralmente associada a uma vida inútil e desprovida de ações em benefício da
família e da coletividade. Muitas vezes, o próprio aposentado ou aposentada tem este
preconceito, considerando-a uma espécie de final de vida, deixando de usufruir uma fase da
vida plena de atividades e compromissos sociais, para um estilo de vida inativo e traumático.
Outras vezes inexiste uma preparação para viver plenamente a aposentadoria. Os avanços na
ciência, na medicina e na economia oferecem hoje, ao idoso, uma gama enorme de atividades
ou formas de viver, como a internet, por exemplo, que amplia, inclusive outras formas de
lazer e, até, de desenvolver alguma atividade remunerada.
A revolução dos transportes possibilita as viagens. Os avanços da medicina uma certa
tranquilidade de se praticar várias atividades sem perigos para a saúde. Mas, para vários
gerontólogos e geriatras, o isolamento é fatal e deve-se oferecer ao idoso espaços de
convivência, de preferência espaços públicos, que permitam aos maiores de 60 anos
desenvolver múltiplas atividades que o deixem em estado de equilíbrio, físico e psicológico,
em condições de usufruir da vida plenamente.
5.5.8 O Espaço Público
No presente trabalho, serão apresentadas propostas de intervenções no espaço público
urbano no sentido de analisá-los, qualificá-los e prepará-los para que sejam utilizados por
pessoas da terceira idade. Foram selecionados cinco tipos de espaços urbanos (Cinco P’s),
considerados de fundamental importância para as atividades de lazer nas cidades:
156
1. Parques. Urbanos em geral. Parque Urbano de Bairro. Classificação, localização,
dimensionamento e equipamentos em geral e para 3ª idade. Critérios de
acessibilidade.
2. Passeios Públicos: Calçadas cobertas e descoberta. Galerias. Passarelas. Via de
pedestres. Classificação. Tipologias. Dimensionamento. Equipamentos em geral e
para a 3ª Idade. Critérios de Acessibilidade.
3. Praças. Urbanas em geral. Praças de Unidades de Vizinhança ou Bairro.
Classificação, localização, dimensionamento e equipamentos em geral e para 3ª
idade. Critérios de acessibilidade.
4. Praias. Oceânicas, lacustres e fluviais. Classificação, localização e equipamentos
em geral e para 3ª idade.
5. Pontos de Encontros. Esquinas, Cafés, Bares e Botequins, Livrarias, Lan Houses,
Saunas. Classificação, localização, equipamentos em geral e para 3ª idade.
Critérios de acessibilidade.
A classificação dos equipamentos será feita em função da bibliografia estudada e pela
resultante de observações diretas feitas em várias cidades. A localização seguirá o mesmo
parâmetro, considerando-se também o que estipulam planos diretores de algumas cidades
onde o equipamento tem forte presença e qualidade superior. O dimensionamento será feito
em função da bibliografia estudada e de observações sistemáticas feitas em algumas cidades,
onde o equipamento existe com alto padrão urbano. Os equipamentos levarão em
consideração o que determina as Normas Brasileiras e as restrições, físicas e psicológicas,
existentes para pessoas da 3ª idade. Os critérios de acessibilidade serão aplicados de acordo
com a Norma Brasileira 9050.
5.5.9 Espaço Urbano e o Idoso: O lazer na 3ª Idade
Este trabalho abordará a prática do lazer pelos idosos enfocando 5 tipos de espaços
públicos onde, segundo observações diretas e grande parte da bibliografia consultada, pessoas
com mais de 60 anos de idade utilizam com mais frequência.
1. Parques Urbanos.
2. Passeios Públicos.
3. Praças.
4. Praias.
5. Pontos de Encontro.
157
5.5.9.1 Parques Urbanos
A Bibliografia que aborda as áreas verdes nas cidades é muito vasta. O Colégio de
Arquitetos de Madrid, Espanha, recomenda 10% da área urbana de um município, para ser
destinada a áreas verdes. A Organização das Nações Unidas, 10m²/per capita. A Legislação
Urbanística brasileira estabelece nas normas a respeito do parcelamento do uso-do-solo, que
15% deste parcelamento deve ser destinado para áreas verdes. Kevin Linch 1 ha de parque
para recreação infantil para cada 2.000 habitantes a distâncias não superiores a um
quilômetro.
Ferrari (1977, p.621) recomenda 12,14 HA, com um raio de influência de 8km. 1 ha
serve até 5.000 habitantes. Um parque urbano deve atender de 50.000 a 100.000 habitantes. O
Departamento de Planejamento Urbano de Los Angeles, EUA, determina para Unidades
Residenciais e Unidades de Vizinhança, 1m²/habitante. Para Zonas Setoriais, 8 a 9m² por
habitante.
Muitos urbanistas recomendam, atualmente, a subdivisão das áreas de parques urbanos
em pequenas áreas, de até 1 HA, espalhadas pela cidade (MASCARÓ, 1987, p.182). A
vantagem é muito clara, as distâncias a percorrer para utilizar essas áreas, principalmente para
idosos, são menores, dispensa o uso de transportes e o uso fica mais frequente, atendendo ao
conceito de uso diário de Dumazidier, conforme a frequência do uso. A frequência semanal
ou quinzenal ficaria para os grandes parques urbanos, do tipo Central Park, NY (420 ha),
Hyde Park, Londres (250 ha), Parque do Flamengo, Rio de Janeiro (120 ha), Parque do
Ibirapuera, São Paulo (158 ha), ou o Bois de Boulogne, Paris (846 ha).
Os defensores da ideia de fracionamento de uma grande área verde em pequenas áreas
espalhadas pela cidade devem informar que este fracionamento encarece muito o custo da
infraestrutura urbana. Ou seja, um parque central é mais econômico do que várias pequenas
áreas, com o mesmo somatório de área, espalhadas pela cidade. Cada espaço verde, via de
regra, está circundado de ruas habitadas, e, portanto, com redes de infraestrutura (água,
eletricidade, esgoto etc.) utilizadas de um só lado rua. A figura a seguir (Figura 40) mostra os
dois exemplos e uma estimativa de custos, supondo-se que, nas duas situações, as áreas
representam 10% da área total da cidade hipotética. No primeiro caso, o parque é central e, no
segundo caso, o parque é subdividido em 6 áreas distintas.
158
Figura 40 - Tipos de parcelamento urbano para Parques
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012). *Baseado em proposta de Juan Mascaró.
O planejador terá que relacionar o custo benefício entre as duas soluções, abordando,
no caso dos idosos, questões como acessibilidade, frequência do uso, segurança, custo com
transportes, entre outros aspectos, para tomar uma decisão.
Em geral divide-se um Parque Urbano nos seguintes setores:
1. 50% Para atividades de lazer ativo. (Área para show, camping, lagos,
piquenique, piscinas, play grounds, quadras, quiosques, salão de danças etc.).
2. 25% Para áreas de Bosques e Reserva Florestal (exclusivamente).
3. 15% Para pistas de ciclismo e caminhadas de pedestres.
4. 05% Para Usos Institucionais ( Auditório, biblioteca, estufa, museus, restaurante).
5. 05% Para Usos Administrativos. (Diretoria, Garagens, Posto de Saúde, Posto
Policial, oficinas, sanitários públicos,
Ainda divide-se um Parque Urbano Central, quanto aos equipamentos:
1. Administração (com maquete física do parque).
2. Áreas de Alongamentos.
3. Áreas com água (pequenos lagos, fontes, córregos etc.).
4. Biblioteca.
5. Cômoro. (elevação adjacente aos lagos).
6. Churrasqueiras.
159
7. Sanitários Públicos. (M) e (F).
8. Espetáculos e manifestações Públicas.
9. Estufa.
10. Piquenique.
11. Piscinas (Hidroterapia para idosos e Piscinão para usuários em geral).
12. Pistas de Caminhadas e Pistas de Ciclismo. (Bicicletário) (Trenzinho).
13. Pista de Skate.
14. Playgrounds. Aeromodelismo e Modelismo naval.
15. Posto Policial e Posto de Saúde.
16. Quadras de jogos. (Volley-Ball, Bocha, Tênis, Futsal etc).
17. Quiosques.
18. Restaurante. (Sala de Danças) (Casa de Chá).
19. Salas de Jogos ou Sala de Danças.
Quanto aos tipos de Parques Urbanos, esta análise se fundamentará, entre outros,
apoiada, principalmente no trabalho de Macedo e Sakata (2003), pela objetividade e
pertinência dos aspectos registrados. Os tipos de parques são: Ecléticos, Modernos e
Contemporâneos.
Parques Ecléticos.
Os parques urbanos planejados segundo os parâmetros ecléticos apresentam as
seguintes características:
1. À semelhança dos parques europeus, possuem uma configuração formal
estruturados por grandes maciços arbóreos, extensos relvados e lagos artificiais,
ou naturais, sinuosos.
2. São espaços de lazer contemplativo estruturado para a prática do footing ou
passeios, no qual, além de contemplar a paisagem, a aristocracia do século XIX,
utilizava para ver e se visto. Destinava-se também para passeios de barco, festejos
locais e apresentação de música.
3. É concebido com uma rede de caminhos que se cruzam, criando nós de circulação
e alamedas. Este traçado pode ser de forma orgânica ou geométrica obedecendo
eixos de circulação que acentuam pontos focais, segundo o modelo francês de
composição.
4. O traçado desses caminhos conduz a pontos focais de interesse, cria recantos
sinuosos que abrigam elementos pitorescos como quiosques, grutas, roseirais,
160
pérgulas, ilhas, monumentos, coretos, chafarizes, fontes luminosas, estátuas e
templos. Esses espaços são muitas vezes temáticos (chineses, franceses etc.).
5. São comuns viveiros de plantas viveiros de aves e pequenos zoológicos, bem
como animais soltos como cotias, patos e pavões.
6. A presença da água está em fontes, chafarizes, lagoas e espelhos d’água, sinuosos
ou geométricos.
7. O uso da vegetação, (forrações, massas arbustivas e arbórea) é bastante elaborado
com espécies exóticas, principalmente europeias, e nativas compondo cenários
bucólicos.
8. Essas imagens mostram claramente, em seus traçados, a dubiedade formal
clássico-romântica do projeto eclético do parque brasileiro.
São exemplos deste tipo de parque o Jardim Botânico, A Quinta da Boa Vista (Figuras
41 e 42), o Campo de Santana no Rio de Janeiro e o Campo de São Bento em Niterói. O
Parque do Ipiranga, o Parque da Luz em São Paulo, o Parque Reneé Gianetti em Belo
Horizonte e o Parque Rodrigues Alves em Belém-PA.
A partir dos anos 40 do século XX, este modo de projetar vai se modificando em
função das mudanças que ocorrem, então, na sociedade. Os parques ecléticos tornam-se
obsoletos, perante as novas necessidades de lazer da sociedade, que passa a demandar
equipamentos como playgrounds, quadras esportivas, lanchonetes etc. Muitos parques passam
por reformas, mas conservam seu caráter e se mantêm como locais vivos e atraentes como
pontos de referência nos centros urbanos. O modelo eclético perdura como referência
projetual a ponto de alguns de seus elementos característicos poderem ser vistos até nas linhas
projetuais posteriores, a moderna e a contemporânea. Muitos deles chegaram aos nossos dias
bastante íntegros do ponto de vista formal, embora em outros casos tenham sofrido mutilações
para a introdução de edifícios, equipamentos culturais e recreativos.
161
Figura 41 – Parque Eclético: Jardim Botânico (Rio de Janeiro)49
Fonte: Macedo; Sakata (2003).
49
Parque caracterizado por grandes perspectivas para obtenção de efeitos estéticos, preservação ambiental,
introdução de conceitos de áreas educacionais e desenho de base geométrica.
162
Figura 42 – Parque Eclético: Quinta da Boa Vista (Rio de Janeiro)50
Fonte: Macedo; Sakata (2003).
Parques Modernos.
A partir da Revolução de 30 e em decorrência da Semana de Arte Moderna de 1922,
nova corrente de pensamento, de fundo nacionalista, passa a exercer um forte influência no
pensamento e na vida nacional. No período, são também grandes as transformações na
sociedade brasileira, entre elas um acelerado processo de urbanização onde a população passa
a ocupar mais densamente os centros urbanos e desenvolver novos hábitos que se refletem no
programa dos parques públicos.
A valorização das atividades recreativas ao ar livre é uma dessas mudanças que
provocaram o aparecimento de equipamentos adequados à sua prática: áreas de convívio
familiar equipadas para piqueniques, quadras esportivas e playgrounds. Paralelamente, ocorre
a valorização das atividades culturais, gerando áreas próprias para desenvolvê-las nos
parques, como anfiteatros, bibliotecas, museus, teatros, entre outros equipamentos.
50
Parque caracterizado por grandes perspectivas objetivando a valorização dos edifícios existentes, preservação
ambiental, e desenho de base mista, com estruturação geométrica, mas apresentando áreas com desenho mais
livre
163
A valorização do lazer ativo provocou profundas alterações na estrutura geral –
funcional e morfológica – do parque. O movimento Moderno, influenciando diferentes áreas
da cultura nacional (arquitetura, artes plásticas, literatura, música etc.), influencia também
uma nova concepção estética nos parques públicos ao romper com a produção paisagística
anterior representada pelo Ecletismo:
1. Possui a mesma configuração morfológica estruturada pelos elementos dos
parques ecléticos, como bosques, gramados e corpos d’água, mas sem tentar obter
a paisagem de um país europeu.
2. A linguagem formal e visual utiliza linhas despojadas, de formas mais
geométricas, de desenho mais definido e limpo. Os parterres são abandonados,
como também os caminhos sinuosos, os elementos românticos e pitorescos, os
canteiros ajardinados e as podas topiárias.
3. A área dos parques é totalmente recortada por uma rede de caminhos, menos
rebuscada e com função diversa: no parque moderno, a rede de caminhos faz a
ligação entre os diferentes equipamentos de forma mais direta e é aproveitada para
práticas esportivas.
4. A vegetação tropical predomina, podendo ser nativa ou exótica, organizada, com
cenários bucólicos, seguindo, no entanto, uma linguagem mais naturalista tropical.
5. A água, ainda de caráter contemplativo, é desenhada em formas ortogonais, ora
curvas, mas sempre assimétricas.
6. O espaço do parque, na sua totalidade, é subdividido em áreas funcionalmente
para piqueniques, lazer infantil, lazer cultural, esportes e contemplação. Em
alguns casos essas atividades encontram-se concentradas em duas áreas bastante
diferenciada: Lazer Ativo, onde se localizam as quadras, os playgrounds, teatros
ao ar livre e pontos de apoio como lanchonetes e sanitários. A outra é voltada para
o Lazer Contemplativo, normalmente ocupada por um bosque já existente e
permeada por trilhas e caminhos com pontos de atração, como mesas para
piqueniques e churrascos, mirante e lagos.
7. É parte integrante desses parque elementos construídos, como jardineiras,
anfiteatros, arquibancadas, bancos, mesas, fontes, monumentos além de pisos e
murais com desenhos altamente elaborados.
Esta tipologia de parque trouxe significativas mudanças conceituais para a produção
dos espaços de lazer, alterando a concepção da própria paisagem. O ideal bucólico-
contemplativo persiste ainda neste período, porém novas perspectivas se abrem para um uso
164
mais diversificado e democrático do parque, ao ser transformado em uma área de lazer para
todas as faixas etárias e sociais.
São exemplos desses parques o Parque Moinho de Vento (Porto Alegre. RS), o
Bosque João Paulo II e o Parque Birigui (Curitba-PR), o Parque Ecológico do Tietê e o
Ibirapuera (São Paulo-SP), O Parque do Flamengo (Rio de Janeiro-RJ), a Lagoa do Abaeté
(Salvador-BA) (Figuras 43 e 44) e a Orla da Praia de Iracema (Fortaleza-CE).
Figura 43 – Parque Moderno: Parque do Flamengo (Rio de Janeiro)51
Fonte: Macedo; Sakata (2003).
Figura 44 – Parque Moderno: Lagoa do Abaeté (Salvador)52
Fonte: Macedo; Sakata (2003).
51
Parque caracterizado pela introdução de equipamentos de lazer, preservação e recomposição ambiental.
Desenho livre, seguindo a topografia da aera. 52
Parque caracterizado pela introdução de equipamentos de lazer, preservação ambiental e desenho livre,
seguindo a topografia da área.
165
Parques Contemporâneos:
A década de 80 marca o início de um processo de liberdade na concepção do espaço
livre urbano, consequência do questionamento cultural ocorrido nas décadas de 60 e 70, que
colocou em xeque os já tradicionais princípios modernistas, seja na arquitetura, no urbanismo
e no paisagismo. Antigos valores do Ecletismo são retomados, principalmente os estéticos.
Mas são fundidos às novas formas de uso. Tudo é permitido. A Linha Contemporânea de
parques caracteriza-se, acima de tudo, pelo experimentalismo, não definindo padrões rígidos
como o Ecletismo e o Modernismo.
Do Modernismo, herda alguns valores, e introduz a ecologia como um importante
instrumento de preservação na vegetação nativa no meio urbano. Outra vertente do parque
contemporâneo é aquela que sofre influência de paisagistas americanos, franceses e espanhóis
na forma da simetria no desenho dos canteiros, no uso da vegetação, na utilização da água em
formas elaboradas e o reaparecimento dos canteiros de espécies floríferas, formando tapetes
coloridos e, ao lado de outros elementos de ordem formal, resulta em espaços dotados de
plasticidade inédita.
Ao lado do uso dessas formas inovadoras, no seu arcabouço formal, observa-se uma
tendência de retorno ao Ecletismo, como a valorização dos espaços de contemplação e a
reintrodução de elementos decorativos como pérgolas, mirantes, pontes e pórticos. Aí surgem
também os parques temáticos. Os parques públicos apresentam temas que rememoram algum
evento histórico ou homenageiam alguma etnia importante para a cidade. O Lazer Ativo
continua valorizado com as atividades esportivas e o culto ao corpo torna indispensável a
presença dos mais variados equipamentos que permitam a prática de esporte.
1. O Programa funcional é predominantemente de Lazer Ativo, embora muitos
parques contemporâneos apresentem um programa mais Contemplativo. O culto
ao corpo ganha importância e com ele a disponibiidade e a diversificação de
equipamentos esportivos.
2. Ecossistemas naturais como mangues, antes considerados de menor dignidade,
passam a ser valorizados como charcos, manguezais, áreas remanescentes de mata
nativa, velhas pedreiras e aterros. A educação ambiental passa a ser realizada no
espaço dos parques e a sinalização reforça a conscientização ecológica.
3. O retorno aos antigos valores se funde às novas tecnologias e tudo pode ser
experimentado, cuja características mais marcantes, influenciadas pelo paisagismo
de países como Espanha, EUA, França e Japão, onde grandes áreas de piso com
166
pouca ou controlada vegetação, aparecem ao lado de elementos escultóricos ou da
arquitetura pós-moderna.
4. Os parques podem ser temáticos, destacando algum fato histórico ou alguma etnia
importante para a história do local onde está implantado.
5. A vegetação segue a ideologia da preservação dos ecossistemas, acompanha a
tematização dos espaços compondo cenários variados.
6. A água permanece como um importante elemento estruturador dos espaços na
forma de lagos já existentes, nascentes, fontes, jorros e bicas.
São exemplos desta tipologia de parques o Parque Cidade de Toronto (São Paulo-SP),
o Parque Arruda Câmara (Rio de Janeiro-RJ), os Parques da Pedreira, Bosque do Alemão e o
Jardim Botânico (Curitiba-PR), Parque da Costa Azul (Salvador-BA), Parque do Mindú
(Manaus-AM) (Figuras 45 e 46) e o Parque do Parreão (Fortaleza-CE).
Figura 45 – Parque Contemporâneo: Parque da Costa Azul (Salvador)53
Fonte: Macedo; Sakata (2003).
53
Parque caracterizado pela preservação ambiental e pequena introdução de equipamentos recreacionais.
167
Figura 46 – Parque Contemporâneo: Parque do Mindú (Manaus)54
.
Fonte: Macedo; Sakata (2003).
Sendo assim, embora a questão do idoso seja um tema surgido e colocado em
discussão no final do século XX, observa-se nos conceitos de parques, aqui analisados, uma
quase completa inexistência ou preocupação com áreas e equipamentos, na estrutura desses
espaços públicos, voltados para pessoas da terceira idade. As referências são generalizadas,
desprovida de um conteúdo mais detalhado. A não ser que o Lazer Contemplativo seja a área
destinada aos maiores de 60 anos. Entretanto, gerontólogos, geriatras e outros estudiosos do
tema, são enfáticos em considerar a atividade física e a vida ao livre, em espaços abertos,
como de fundamental importância para a qualidade de vida das pessoas da terceira idade.
Além do mais, só a partir de 1995, com a Lei 8.987, fixando as diretrizes para a
Acessibilidade das Pessoas com Necessidades Especiais, a posterior Lei 10.098/2000 que
regulamentou a matéria, e a instituição, em 30 de junho de 2004, da NBR 9050, o tema entrou
na pauta de planejadores, administradores públicos e entidades da sociedade civil. A grande
maioria, senão a totalidade dos parques, são pré-existentes à essa Legislação.
54
Parque caracterizado pela preservação da floresta existente com a introdução de poucos equipamentos
recreacionais.
168
A fundamentar a questão, na época, estavam os dados do IBGE, que apontavam cerca
de 24 milhões de pessoas, no Brasil, portadores de alguma deficiências. Os dados são do
Censo de 2000. Hoje, já concluído o Censo de 2010, estima-se que cerca de 15% da
população de 195 milhões de habitantes sejam portadores de alguma necessidade especial.
Acrescente-se a este o número o fato de que 11% (21 milhões de pessoas) da população são
de idosos com mais de 60 anos, fase da vida onde se apresentam vários tipos de deficiências,
físicas, principalmente.
Caso seja adicionado ao convívio social dessas pessoas, outras duas, pais ou amigos, o
número de pessoas envolvidas com indivíduos com dificuldade de locomoção passa a ser de
mais de 130 milhões de brasileiros, ou seja, quase toda a população do país tem alguma
relação direta ou indireta com pessoas de mobilidade reduzida. Os parques já existentes e os
que serão criados precisam, urgentemente, incorporar à sua estrutura, equipamentos que
contemplem pessoas da 3ª idade.
Outra prioridade é a criação de parque que atenda às classes menos favorecidas. Os
atuais parques são distantes dos bairros periféricos e procuram atender mais uma emergente
classe média e a valorização imobiliária de áreas em crise. Essa compreensão instiga uma
problematização sobre diferentes concepções da noção de segregação. Seria a prioridade a
locais não periféricos uma forma de segregação ou, ao contrário, tratar-se-ia simplesmente de
um dos indícios de abandono e pouca prioridade do Estado. Outra questão a ser enfatizada é a
questão da sustentabilidade desses parques, seja pela falta de manutenção, permanência ou de
segurança pública.
Alguns equipamentos, básicos, para Parques são indicados a seguir (Desenhos 18 a
29).
169
Desenho 18 –Área de estar completa
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
170
Desenho 19 – Cortes da área de estar
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
Desenho 20 – Área de estar simples
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
171
Desenho 21 – Piscina para idosos55
.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
55
Piscina projetada e construída no modelo “prainha” (partindo-se de uma cota “0” -zero- até a profundidade
desejada, no caso 1.50m) em rampa com inclinação de 5%.
172
Desenho 22 – Salão de danças para idosos.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
173
Desenho 23 – Anfiteatro ao ar livre.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
Desenho 24 – Mesa de jogos ao ar livre
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
174
Desenho 25 – Barras de alongamento.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
Desenho 26 – Quadra de Voley-Ball.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
175
Desenho 27 – Rede da Quadra de Voley-Ball.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
Desenho 28 –Quadra de bocha.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
176
Desenho 29 – Detalhes da quadra de bocha.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
5.5.9.2 Passeios Públicos
a) Passeios Comum (Calçadas).
O Sistema Viário: Divisão e Hierarquização
Vias Arteriais: São vias interurbanas. Ligam duas cidades separadas por área rural,
podendo contorná-las ou entrar nelas. Podem também ligar dois pólos de uma área conurbada
(duas cidades inicialmente separadas que, ao se expandirem, ficam unificadas). Podem ser de
3 Tipos:
1. Auto-Estradas: Tráfego direto, bloqueadas, com interseções em níveis diferentes.
Acessos muito espaçados.
2. Expressas: Tráfego direto, mas as interseções podem ser no mesmo nível. Não é
exigido o bloqueio, podem ter acesso às propriedades laterais mas através de vias
marginais.
3. Principais: Vias Livres Comuns. As vias principais são aquelas que tem grande
importância dentro da cidade e que devem conciliar a fluidez (desenvolvimento
contínuo do tráfego) com o acesso às propriedades lindeiras e com o transporte
coletivo. Não é importante a velocidade.
177
Outros tipos de Vias:
1. Coletoras: são vias de segunda grandeza, que coletam e distribuem o tráfego por
bairro e alimentam as principais.
2. Locais: são as vias que dão acesso direto às áreas residenciais, comerciais e
industriais.
3. Especiais: são as de usos exclusivos de ônibus, bicicletas ou pedestres.
Além de acesso aos diversos tipos de usos do solo que se apresentam ao longo de seu
percurso, a rua também serve de passagem aos veículos que se destinam a outras ruas. Este
último tipo de tráfego, por não ter ligação direta com a rua em que está circulando, constitui
um elemento que perturba o uso do solo e seus acessos. Por sua vez, o acesso ao uso do solo
(com as constantes entradas e saídas de veículos das propriedades situados nos terrenos
lindeiros, mais o estacionamento permanente e as paradas para deixar passageiros) perturba o
tráfego de passagem.
A hierarquização das vias visa diminuir os conflitos resultantes desta superposição. No
caso de certas vias locais, a hierarquização, aliada a certas características de desenho, pode
chegar a eliminar todo o tráfego de passagem.
A circulação de pedestres e veículos, vista até aqui com seus interesses diversos, de
acesso ao uso do solo lindeiro de passagem, dá origem a vários conflitos, como pode ser
observado. A primeira solução para reduzi-los é a mais conhecida de todas e consiste em criar
áreas de uso só de pessoas, chamadas de calçadas ou passeios, e áreas de uso predominante
de veículos (eventualmente de pessoas), chamadas faixas ou pistas de rolamento ou caixas de
rodagem.
Embora esta solução seja antiga e lógica, não dá conta de todos os conflitos ( em todas
as cidades carros estacionam sobre passeios!) e o uso intensivo e sem controle do automóvel
exige outras soluções como passarelas – elevadas ou subterrâneas – ligando dois lados de
uma rua ou avenida.
b) Passeios Cobertos (Galerias Abertas e Fechadas)
Galerias Abertas
São soluções muito utilizadas em países tropicais onde a presença da chuva ou,
principalmente do sol, exigem a proteção do pedestre. Caracterizam-se por manter a calçada
livre, mas coberta pelo corpo da edificação que, a partir do 2º piso, mantém sua testada e os
outros andares no limite do terreno lindeiro. É uma solução muito utilizada no Rio de Janeiro
178
(Av. Presidente Vargas) e Recife (Av. Guararapes) e algumas cidades africanas, como
Luanda, Angola e indianas (Figuras 47 a 56). Praças como as de São Marco, Veneza; Praça
Vêndome, Paris; e Praça Maior, na Espanha; entre outros países, também utilizam esta
solução contornando o espaço livre da praça. O 1º e o 2º pavimentos são utilizados para loja e
sobre-loja e os demais andares para escritórios e/ou unidades habitacionais. As vantagens
desse tipo de passeio são muito grandes.
1. Cria pontos de encontro, principalmente nos locais onde existem cafés, bares ou
livrarias, por exemplo.
2. Dispensa o uso de postes para iluminação do passeio. As luminárias podem ficar
fixadas no teto ou pilares das galerias. Nos pilares podem ser fixados também
telefones públicos, lixeiras ou outro Mobiliário Urbano.
3. Dispensa o uso de abrigos independentes para paradas de ônibus
4. Dificulta ou impede que veículos estacionem sobre o passeio. O fato de serem
cobertas confere às galerias uma certa privacidade ou exclusividade de uso.
5. Permite a circulação de pessoas no sol ou na chuva, mantendo as atividades de
comércio e serviços em permanente funcionamento.
Figura 47 – Esquema de Galeria Aberta.
Fonte: Vieira (2010).
179
Figura 48 – Av. Guararapes (Recife), na década de 4056
.
Fonte: Vieira (2010).
Figura 49 – Av. Guararapes (Recife)
Fonte: Vieira (2010).
Figura 50 – Av. Presidente Vargas (Rio de Janeiro)
Fonte: Av. Presidente Vargas (Rio de Janeiro) ([s.d.]).
56
Av. Guararapes em Recife (Pernambuco). Uma das primeiras cidades brasileiras a adotar este tipo de espaço
urbano. Uma proposta portuguesa para os trópicos.
180
Figura 51 – Av. Presidente Vargas (Rio de Janeiro)
Fonte: Av. Presidente Vargas (Rio de Janeiro) ([s.d.]).
Figura 52 – Av. Presidente Vargas (Rio de Janeiro)
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
Figura 53 – Centro de Luanda (capital de Angola)57
.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
57
Predominante o tipo de espaço urbano formado por Edifícios Galerias.
181
Figura 54 – Centro de Luanda (Angola)58
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
Figura 55 – Edifício Galeria em Mossoró (RN)59
.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
Figura 56 – Edifícios em Mossoró (RN)
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
58
A tradição tipológica do urbanismo português, já visto em Recife e Rio de Janeiro, apresenta-se com grande
intensidade no Centro de Luanda. 59
O edifício galeria é solução indicada para climas quentes, do tipo tropical, por exemplo na cidade de Mossoró
(RN), nordeste brasileiro.
182
Galerias Fechadas
Em geral são ruas cujo tráfego de veículos pode ser eliminado sem maiores prejuízos
para sua fluidez. Podem ser cobertas como a famosa Galeria Victor Emanuel II em Milão,
Itália, ou a Galeria Menescal no Rio de Janeiro, entre as avenidas Copacabana e a Barata
Ribeiro, com a testadas das lojas abrindo para rua coberta.
Transitar pelas calçadas, principalmente das grandes cidades, de forma segura e
confortável é uma tarefa difícil. Em geral, nestes espaços destinados ao ir e vir das pessoas, é
fácil encontrar obras, buracos, bicicletas, veículos, desníveis acentuados, vendedores
ambulantes, mobiliário urbano implantado de forma inadequada e, até, bares ou “puxados” de
restaurantes.
Figura 57 – Acesso da Galeria Vitor Emanuel II (Milão – Itália).
Fonte: Jane (2006).
183
Figura 58 – Galeria Vitor Emanuel II (Milão – Itália).
Fonte: Valencia ([s.d.]).
A qualidade de um passeio público pode ser definida e medida por 3 fatores: Fluidez,
Conforto e Segurança. Um passeio ou calçada com fluidez apresenta largura e espaço livre
compatíveis com o fluxo de pedestres, permitindo que andem com velocidade constante. Um
passeio ou calçada com conforto apresenta um piso liso e antiderrapante, mesmo quando
molhado. Este deve ser quase horizontal e apresentar declividade máxima de 2%. Um passeio
ou calçada segura não oferece aos pedestres nenhum perigo de queda ou tropeço.
Pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) sobre
problemas urbanos incluem quedas de pedestres na calçada ou na própria via, mesmo sem a
participação, direta ou indireta, de veículos. Realizada em São Paulo (2003), a pesquisa
revelou 9 quedas por grupo de 1.000 habitantes a um custo médio de R$ 2,5 mil por queda.
Tropeços e quedas em calçadas não acontecem somente com idosos. Cada vez mais
crianças e jovens são vítimas de calçadas mal cuidadas. Mas, cuidar de calçada é dever de
quem? As calçadas são consideradas públicas, mas a responsabilidade de conservá-las é
privada. O proprietário da edificação urbana cujo trecho de calçada esteja na frente de seu
estabelecimento comercial ou residencial é responsável pela sua manutenção. Tal fato cria um
conflito muito grande que existe na legislação e impede que o assunto seja conduzido de
184
forma linear. Em geral, cada um faz a calçada do jeito que quer. Essa construção aleatória é
que provoca as péssimas condições da maioria das calçadas brasileiras. Caminhar a pé faz
parte do cotidiano da grande maioria da população brasileira, assim é necessário tornar as
calçadas acessíveis. Rampas para cadeirantes, piso táteis para deficientes visuais, pisos com
materiais adequados, duradouros e de fácil manutenção e conservação, são algumas das
medidas a serem adotadas.
Fatores que determinam uma boa calçada (Desenhos 30 a 36): Largura das calçadas
(depende do número de pedestres esperados e o espaço que ocupam. Em geral, no Brasil,
utiliza-se um a largura mínima de 2.00m); Largura da área de Separação (As áreas de
separação entre o tráfego veicular e o de pedestres são desejáveis para prover melhor nível de
conforto, segurança pública e segurança de pedestres); Inclinação Transversal (As calçadas
ou passeios devem ser construídos para acomodar todos os pedestres e deve ser o mais plano
possível, em geral i:2%).
Desenho 30 – Calçada em esquina60
.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
60
Deve existir rampas com acessibilidade para cadeirantes, poste de iluminação pública, recuo para
estacionamentos paralelos ao meio fio, e esquina chanfrada para auxiliar a visibilidade tanto de pedestres quanto
de veículos. Deve ser incentivado o uso de equipamentos que promovam o ponto de encontro, tais como cafés,
livrarias, bares e botequins.
185
Desenho 31 – Calçada mínima61
.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
61
Deve ter toda a sua largura e extensão livre para o pedestre. O único equipamento permitido é o poste de
iluminação pública, desde que metálico e de forma cilíndrica com diâmetro máximo de 15cm.
186
Desenho 32 – Calçada com banca de jornais62
.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
62
Equipamento muito utilizado em diferentes capitais do mundo. A confecção da Banca deve ser de material
removível. O comércio permitido deve se apenas para venda de material jornalístico, cigarros, cartões postais,
mapas e outros objetos de apoio ao pedestre. Vedada o comércio de qualquer tipo de alimento.
187
Desenho 33 – Calçada com restaurante/bar63
.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
63
Modelo de ocupação da calçada muito utilizado em diferentes capitais do mundo. Deve-se permitir o
equipamento apenas com estruturas móveis, teto de lona ou poliéster e vedações laterais de plástico transparente.
Deve permitir um mínimo de 2.00m para o passeio e uma faixa de 1.00m para colocação de jardineiras, fixação
de postes e lixeiras. Excelente equipamento para dinamização do espaço público e lazer.
188
Desenho 34 – Calçada com ponto de ônibus em poste multi-uso64
.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
64
O Poste multiuso permite a existência de vários elementos num só equipamento: Iluminação pública da faixa
de rolamentos; Iluminação pública do passeio; Ponto de ônibus coberto; Banco; Lixeira; Telefone; Jardineira.
189
Desenho 35 – Calçada como galeria aberta65
.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
Rampas: São desejáveis em todas as travessias, tanto nas interseções quanto nas entre-
quadras. Rampas facilitam não só pessoas em cadeiras de rodas, mas todos os pedestres,
especialmente carrinho de mão, carrinhos de bebê, malas com rodas, idosos e pessoas com
alguma dificuldade de locomoção.
Obstáculos: Podem não ser identificados pelos pedestres, principalmente os com
deficiências visuais. Obstáculos aéreos devem ser retirados da rota dos pedestres. Os que
invadem os passeios devem ter altura mínima de 2.10m. Em muitas cidades o poder público
municipal admite a implantação, com estruturas móveis, madeira ou metálicas, de bares ou
65
Uma solução das mais importantes soluções urbanísticas já adotadas no mundo inteiro mas, primordialmente,
em países tropicais, onde a existência de sol e chuva, podem prejudicar a vida normal das cidades. Elimina o
ponto de ônibus isolado. Elimina também a necessidade de postes de iluminação pública, pois esta pode ser
fixada no teto da galeria. Permite o funcionamento do comércio e serviços. Pode tornar-se um excelente ponto de
encontro e, dependendo das dimensões, um ótimo local para eventos. Embora indicada para climas quentes, é
bastante utilizada em países de clima temperado como excelente proteção contra a neve.
190
restaurantes sobre o passeio. Nestes casos deve-se limitar as dimensões desses equipamentos e
estipular pelo menos 2.00m de circulação livre para pedestres.
Iluminação: Fator preponderante de segurança pública, a iluminação aumenta a
visibilidade e o conforto dos pedestres que caminham à noite. A iluminação deve ser
reforçada em áreas de grande concentração de atividades noturnas, como igrejas, escolas,
centros comunitários e passarelas.
Drenagem: A micro-drenagem permite o escoamento superficial direto da água
precipitada evitando que fique acumulada no passeio.
Arborização: A arborização desempenha várias funções no ambiente da rua. Para é
fundamental a escolha das espécies, a forma de plantio e o processo de manutenção. Para isto
deve-se seguir certos critérios:
1. Seleção das espécies: a vegetação está estritamente relacionada com o tipo de solo
e com as condições ambientais (regime de chuvas, ventos, temperaturas etc.).
Usar, de preferência, espécies nativas. Espécies exóticas poderão ser usadas desde
que submetidas a testes por profissionais especializados. O uso inadequado poderá
redundar em fracasso, o que, considerando a extensão das ruas acarretará grandes
prejuízos.
2. Estrutura e Porte: O porte compreende a altura do tronco mais a altura e largura
da copa. Compreende a conformação espacial do tronco, galhos e ramos.
Inicialmente verificar se estas duas qualidades são compatíveis com as
caracerísticas da rua e particularmente da calçada. Ver desenho nº
3. Folhas e flores: As folhas devem ser analisadas quanto à cor. Em geral
apresentam muitas variedades de tonalidades que se modificam de acordo com a
luz do sol, a sombra, a luz artificial ou as estações do ano. As folhas devem ser
analisadas quanto à forma, dimensões texturas (lisas, ásperas, com nervuras. etc.).
São qualidades bastante sutis que se bem utilizadas, podem apresentar excelentes
resultados no ambiente da rua. Entretanto, um aspecto importante é a perenidade
das folhas. Espécies que perdem folhas podem causar problemas de limpeza
urbana. Observar também a florescência. Fica bonito intercalar árvores que
floresçam em épocas diferentes.
4. Qualidades Botânicas: Importante é o tempo de crescimento e as alterações que a
espécie sofre na idade adulta. Interessa também o tipo de solo a que a espécie
melhor se adapta e a necessidade de ser regado.
191
5. Disposição da Vegetação: Calçadas com menos de 2.50 de largura não podem, ou
não devem receber árvores. É importante observar a distância entre as árvores. Em
linha, a distância entre os troncos é, no mínimo, a soma dos raios das duas copas.
Uma terceira árvore pode ser implantada, formando um triângulo, plantada 15cm
para fora das circunferência das copas anteriores. As árvores podem ser colocadas
em linha, de forma contínua ou descontínua, formando um ritmo. Podem ser
intercaladas espécies com qualidades plásticas diferenciadas quanto à estrutura,
porte e florescência.
6. Cuidados especiais: Ao selecionar as espécies e tomar a decisão de como colocar
sua disposição nas calçadas verificar se as copas não interferirão na rede aérea ou
nos veículos, principalmente, em vias estreitas com grande circulação de ônibus e
caminhões. As raízes não devem ser do tipo que se alastram horizontalmente, para
evitar interferências com redes subterrâneas ou destruição da pavimentação. O
ideal são raízes verticais, pivotantes.
7. Plantio: O plantio deve ser feito a uma distância maior que 0,80m do meio-fio. As
covas devem ser 60cm mais largas e 25cm mais profundas que o contorno das
raízes.
8. Poda: A poda deve acompanhar a forma da árvore.
Mobiliário Urbano: Bancos, cabines telefônicas, postes de iluminação pública,
lixeiras, caixas de correio, abrigos para paradas de ônibus, devem sempre permitir uma
passagem para pedestre de no mínimo, 1.20m. Devem ser implantados de preferência em
acréscimos nas calçadas enquadrando zonas de estacionamento. Recomendável utilizar Postes
Multi-uso66
.
c) Passarelas Elevadas ou Subterrâneas
Passarelas elevadas (Figuras 59 e 60) são equipamentos em geral utilizados para
travessia de pedestres entre dois lados de uma rua. Ficam obrigatoriamente a 4.80m do solo.
Possuem largura e altura de 2.50m. São construídas em estrutura metálica ou concreto (para
garantir o maior vão possível) e piso e teto de argamassa armada (utiliza-se também placas
metálicas, fechadas ou de grelhas, no piso e cobertura de fibra-de-vidro.
66
Ver figur 34 – Calçada com ponto de ônibus e poste multi-uso.
192
Figura 59 – Passarela elevada para pedestres67
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
Figura 60 – Passarela elevada68
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
As desvantagens do seu uso dizem respeito à necessidade de rampas de grande
extensão (a inclinação de 5% exige uma rampa de 96.00m), gerando dificuldades de
implantação no meio urbano. Plataformas elevatórias estão sendo utilizadas para o acesso de
idosos ou outras pessoas com dificuldade de locomoção. Mas é alto o custo de manutenção
dessas plataformas. Outro ponto ainda não resolvido são os fechamentos laterais, feitos de
telas ou outro elemento vazado, que não protege em dias de frio ou chuvas.
Passarelas Subterrâneas (Desenho 36 e Figura 61) são alternativas de via utilizada para
a travessia de pedestres entre os dois lados de uma rua. Possuem largura de 3.00 a 5.00m e
altura de 2.50m. Essas vias exigem uma manutenção e vigilância constante. Em geral, quando
pouco utilizadas, transformam-se em pontos de venda de drogas ou são utilizadas para
assaltos. Para combater este problema, algumas dessas passarelas contam com lojas ou postos
policiais no interior ou possuem uma parte aberta, ou teto translúcido, na parte superior de
67
Localizada na Av. João Filgueiras Lima. Arquiteto: “Lelé”. 68
Idem.
193
onde pode ser observado o movimento de pessoas. Utiliza-se também exposição de artistas e
artesões. O uso de ambas as passarelas são recomendáveis em avenidas muito largas, de
tráfego intenso, quando a interrupção do trânsito, por meio de semáforos, poderá ser muito
longa.
Desenho 36 – Galeria (passarela) subterrânea
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
194
Figura 61 – Galeria subterrânea69
.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
5.5.9.3 Praças
A Praça é um espaço urbano, público, amplo, descoberto, ou coberto em parte, no qual
se costuma realizar grande variedade de atividades. Há múltiplas formas e tamanhos e
construídas em todas as épocas, mas não há uma cidade no mundo que não conte com uma.
Pela relevância e vitalidade dentro da estrutura de uma cidade, são consideradas como salões
urbanos.
Desde as suas origens, ao longo dos séculos, a praça é um órgão importante da cidade
incorporado à vida da comunidade como seu espaço mais convidativo, mais vivo e utilizado.
Já na pré-história, as tribos primitivas, ao agruparem-se em círculos, criava o espaço que viria
a ser para sempre o palco da vida comunitária. Elas são o centro por excelência da via urbana.
Ao redor delas, erguem-se os edifícios mais importantes e muitos monumentos que assinalam
a história das nações ali estão implantados. Por ser lugar de encontro, também abrigam os
mais diversos eventos festivos. A função econômica, Praça do Mercado, também lhe é
69
Passarela subterrânea de pedestres, ligando a Rua Santa Clara com a Av. Figueiredo Magalhães, no bairro
Peixoto, Copacabana, Rio de Janeiro
195
inerente ao possibilitar as mais diversas transações. Outra função é a militar, que está na
origem de muitas cidades. O termo, na linguagem castrense, equivale à cidade.
Desde a Ágora grega ao Foro romano, povos que valorizavam os aspectos públicos da
vida urbana, até as Praças de Alimentação dos modernos Shopping Centers, ponto nevrálgico
destes templos do consumo, a praça, mesmo passando por grandes transformações na sua
estrutura física, manteve a essência das suas funções: promover o encontro e a possibilidade
de convívio entre os homens, mesmo considerando suas diferenças ou culturas. As diferentes
concepções de praças são, na realidade, um desafio constante para arquitetos, paisagistas e
urbanistas.
São conhecidos os embates conceituais sobre praças ente Oscar Niemeyer e Roberto
Burle Marx: um querendo praças sem a presença de vegetação (função para parques) e o outro
argumentando na direção oposta, ou seja, a praça, obrigatoriamente – principalmente num
país tropical de muito sol – precisa de árvores e vegetação.
À parte essas polêmicas, o importante é identificar os equipamentos e as dimensões de
uma praça no espaço público urbano.
a) As diferentes concepções de praças
Várias são as definições para o termo praça. Mesmo com as divergências entre
autores, a praça é caracterizada como um espaço público, destinado à convivência entre os
cidadãos, contextualizado em ambiente urbano e livre de edificações. No Brasil, o termo
praça é comumente associado à ideia de áreas livres, geralmente ajardinadas, repletas de
equipamentos públicos destinados à recreação de seus usuários, conflitando, em muito, com
as concepções que os europeus têm sobre este tipo de equipamento urbano.
Quanto à forma: Quadrangular; Irregular; Elíptica; Circular; Semi-cricular; Alongada.
Quanto às características sensoriais: Dura ou Seca (piso contínuo, nivelado ou não,
preponderante na composição); Jardim (vegetação preponderante na composição);
Azul (água preponderante na composição); Amarela (praias).
Quanto às dimensões: Maior; Mercado; Átrios; Pátios; Largos.
Historicamente, as praças são considerados “espaços de respeito” e sua localização em
geral antecede igrejas ou catedrais (Praça de São Pedro-Roma. São Marcos-Veneza, ambas na
Itália) palácios (Praça Maior-Espanha) e edifícios destinados ao poder (Praça dos 3 Poderes –
Brasília), A exceção veio na idade média quando espaços livres (Largos) resultantes de um
processo de urbanização espontânea eram utilizados para as feiras-livres, apresentações
196
artísticas e outros tipos de manifestações populares que se materializava representando o
espírito de coletividade da população.
Carla Ferreira de Macedo (2003), em seus estudos sobre praças contemporâneas, feitos
a partir de praças brasileiras, relaciona duas premissas básicas para conceituar tais espaços –
Uso e Acessibilidade – conceituando-os como espaços livres urbanos destinados ao lazer e ao
convívio da população, acessíveis aos cidadãos e livres de veículos.
Os primeiros espaços livres públicos urbanos surgiram no entorno das igrejas. Ao seu
redor foram se instalando edifícios públicos, palacetes, casas comerciais e outros
equipamentos que serviam como local de convivência para a comunidade. Neste aspecto os
adros das igrejas (Igreja de São Francisco, Ouro Preto-MG e o Pátio de São Pedro, Recife-PE)
foram fundamentais no processo de consolidação dos espaços públicos.
b) Forma Urbana e Praças
A forma urbana influenciou o traçado dos logradouros públicos. A colonização
espanhola é caracterizada por ruas com traçado em cruz. Belgas, franceses, holandeses e
ingleses, obedeciam a sistemas em xadrez, radiocentricos e lineares. Em geral, em espaços
pré-determinados, utilizavam quadras, nas mesmas dimensões das destinadas à habitação,
comércio ou serviços públicos, para servirem de praças. Já as cidades de colonização
portuguesa cresceram de forma expontânea assumindo configurações de acordo com a
topografia dos terrenos, de maneira informal, quando não à margem da lei.
Gouveia (2008, p.141), assinala que, no final do século XIX e início do XX, o lote
urbano que até então possuía pouco ou nenhum valor de troca, abrigando casa e quintal, com
a valorização da terra, passa a ser desenhado de forma retilínea – retangular – que, no fundo,
representava a facilidade de se calcular sua área, o registro em cartório e posterior
comercialização. No Brasil, principalmente nas maiores cidades, apresentava-se com pequena
testada (em geral entre 6.00 e 10.00m) voltadas para a rua (os impostos também eram
cobrados pelas dimensões das testadas) e se alongavam para dentro da quadra. Esse tipo de
forma dos lotes apesar de representar ganhos em termos de maior otimização das
infraestruturas urbanas, apresentavam o inconveniente de dificultar a organização dos
sistemas de iluminação e ventilação das edificações. Entretanto, esta forma de organização
espacial sugere alguns elementos que, se apropriados hoje em dia, no que diz respeito à
iluminação e ventilação, podem se tornar fortes instrumentos de economia na infraestrutura
urbana das cidades.
197
No início do século XX, proliferaram, nos principais centros urbanos brasileiros, dois
tipos de assentamentos humanos: as vilas e as favelas. As vilas – tipo de parcelamento com
lotes, organizados em torno de uma rua local, foram muitas vezes construídas por fábricas
para abrigar e controlar seus operários. Atualmente, tais espaços têm sido valorizados em
função basicamente da tranquilidade e segurança que oferecem, além da boa localização na
malha urbana, em que pese a degradação e desqualificação dos seus equipamentos.
As favelas são assentamentos urbanos irregulares que passaram a tomar forma,
segundo alguns autores, principalmente no Rio de Janeiro (embora hoje seja um problema de
toda cidade brasileira), então capital federal, após a guerra de Canudos, quando soldados que
participaram da campanha, não tendo onde morar, passaram a ocupar as encostas das
montanhas que fazem parte da topografia da cidade.
São comunidades com forte degradação urbana, onde imperam a pobreza e o
desemprego. Não existe infraestrutura urbana e proliferam doenças variadas e um acentuado
índice de suicídios. As habitações são precárias, embora muitas feitas de materiais
convencionais, principalmente pelo fato de estarem implantadas em áreas de risco. A ausência
do estado originou a implantação, nestes locais, das condições propícias para o tráfico de
drogas e outros tipos de contravenções que resultaram em verdadeiros enclaves de violência
urbana.
O problema foi agravado com o forte processo de urbanização sofrido pelo Brasil após
1964. De uma população, onde 70% dos habitantes viviam no campo, em menos de 20 anos, o
país passou a contar com 80% de pessoas nas suas áreas urbanas. Sem moradias e precisando
sobreviver, a população, ante a necessidade de morar perto do trabalho, passou a ocupar
maciçamente áreas de favelas.
Ante o avanço da violência e do tráfico, o Estado brasileiro, além das práticas de
repressão policial, ensaia ações de integração e apoio social a estas comunidades, através de
programas de urbanização, tipo Favela-Bairro, e amplo programa habitacional.
Embora não esteja no objetivo do presente trabalho, a ele diz respeito em face de,
nessas comunidades, ser grande o número de pessoas idosas que sofrem as consequências de
um Estado omisso em relação a uma melhor qualidade de vida para seus habitantes.
Nas propostas de urbanização, no sentido de integrar e tornar acessível ao meio urbano
legal, este grande contingente populacional, alternativas diversas de padrões de urbanização
estão sendo experimentados a partir de processos de regularização fundiária e da ênfase na
criação de espaços públicos de lazer, inclusive praças.
198
c) A Quadra e a Praça
Voltando à questão da forma urbana e levando-se em consideração o modelo
tradicional usado no Brasil (xadrez ou grelha), em que pese exceções como Brasília e, talvez
Palmas, com propostas diferenciadas de uso-do-solo, torna-se importante o dimensionamentos
de quadras e, consequentemente, praças, no presente trabalho.
Embora historiadores afirmem que o sistema de quadras urbanas já era conhecido
desde 4.000 a.C., remonta a 475 a.C., o sistema de quadras mais antigo que se conhece ou,
pelo menos, o mais conhecido: o Plano de Mileto, feito pelo arquiteto Hipodamos de Mileto.
As quadras possuíam 25 X 50m. Outro sistema conhecido é o da cidade de Tingá, na Argélia
(100 d.C.) com quadra de 20 X 20m. Segue-se depois algumas cidades americanas:
1. 1817 – Nova York (60 X 250m).
2. 1840 – Sacramento (90 X 90m).
3. 1867 – Portland (60 X 60m).
4. 1869 – Houston (75 X 75m).
Desenho 37 – Evolução das quadras urbanas.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
199
O Plano de Ildefonso Cerdá para Barcelona é de 1859 (Quadra de 113 X 113m). A
urbanista Jane Jacobs condena veementemente as quadras longas, como as de Nova York
(planejadas para evitar muitos cruzamentos de automóveis). Ela afirma que:
[...] quadras longas esvaziam as ruas, neutralizam as vantagens potenciais que as
cidades propiciam à incubação, à experimentação e a numerosos empreendimentos
pequenos ou específicos, na medida em que estes precisam de cruzamentos muito
maiores de pedestres para atrair fregueses e clientes. (JACOBS, 2003, p.197)
Trazendo como consequência os longos percursos para pedestres (principalmente
pessoas idosas e portadoras de alguma necessidade especial). O esvaziamento das ruas, além
dos longos percursos, provoca a insegurança com o surgimento de marginais devido à
ausência de povo nas ruas, o grande fator de segurança urbana, ainda segundo Jacobs.
Na China, está em curso uma política urbana de se reduzir o tamanho das quadras.
Objetiva-se aumentar a presença das pessoas nas ruas e andando a pé.
Gouveia (2008, p.143) afirma que “para facilitar a acessibilidade a pé, a quadra deve
ser menor que 200m e maior que 140m, evitando o aumento do número de ruas e o custo do
parcelamento”.
No caso de se planejar uma quadra que contemple praças ou quadras habitacionais
para idosos, a proposta do presente trabalho é que se leve em consideração a capacidade, leia-
se resistência, do idoso em percorrer determinadas distâncias.
Na pesquisa direta, realizada em Copacabana (Av. Atlântica) e Natal (Calçadão da Av.
Roberto Freire), chegou-se a um padrão de circulação para idosos em torno de 40 min/1km,
ou seja 4 min/100m.
A diversidade de renda, origem e faixas etárias, comuns na sociedade brasileira,
sugere uma malha urbana diversificada, com diferentes formas e dimensões dos lotes, para
abrigar habitação térrea, sobreposta, coletiva e outras (inclusive os 5% das unidades para
idosos, exigidos por Lei, para Conjuntos Habitacionais financiados pelo poder público), que
propiciem a construção de um espaço urbano o mais diversificado e dinâmico possível, o qual
facilite a apropriação por diversos seguimentos da população.
Em geral, os lotes no Brasil, verificados alguns planos diretores, são:
1. 10 X 30 ou 10 X 20.
2. 12 X 30 ou 12 X 25.
3. 15 X 30.
200
Planejar uma quadra que contemple essas diferentes alternativas e, talvez, mais um
lote de 5 X 15, para habitações geminadas ou em renque para idosos considerando as diversas
configurações familiares e a média brasileira de 3,09 pessoas/família (censo de 2010), além
do tempo de caminhada para contornar o quarteirão, foi encontrada a dimensão de 127,2m X
127,2m.
As alternativas remetem de imediato, para a possibilidade de seguir, como parâmetro,
as mesmas dimensões para a Praça. O período para se percorrer o seu perímetro de 508,8m
(área de 1,6 ha ou 16.198m²) seria de 20 minutos (40min/Km) e a partir daí seria
dimensionado os seus equipamentos, assim distribuídos:
1. Área de Piso: 60% (Livres).
2. Área Verde: 20% (árvores, arbustos e gramados).
Equipamentos: 20% (bancos, lixeiras, bebedouros, lanchonetes, coretos, pontos de
ônibus, telefones públicos, lan house, salão coberto – aberto ou não – para jogos e danças,
sanitários públicos, playgrounds, pistas de caminhadas, equipamentos de ginástica e
floricultura. Fontes e espelhos d’água seriam opcionais).
A presença de quadras de esportes não é recomendável pela possibilidade de
incomodar com bolas perdidas, pessoas não participantes dos jogos, como gestantes e idosos,
por exemplo. Poderia haver a possibilidade de isolá-las, através de telas, embora isso
desvirtue o princípio de espaço livre. Em último caso, estipular o seu uso apenas para
crianças.
201
Desenho 38 - Proposta para o dimensionamento de praças e quadras.70
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
70
Para esta proposta foi adotada as proporções usualmente utilizadas nas praças italianas onde o lado maior é
semelhante a duas vezes o lado menor. E este define a altura dos edifícios lindeiros.
202
Desenho 39 - Dimensionamento de praças e quadras (corte esquemático).
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
d) Praças de Vizinhança
Em um mesmo bairro podem existir várias praças de vizinhança, conforme a
população, e o ideal é que elas sirvam até 2000 moradores. O seu atendimento normal abrange
um raio de 400 m, pois as estatísticas têm mostrado que a mãe ou o pai não leva a pé os seus
filhos para o lazer em distâncias acima de 55m e, mesmo assim, depende das condições de
tráfego. Por essa razão, tais praças não devem estar localizadas junto a avenidas ou ruas com
trânsito intenso.
Normalmente, estas praças se compõem de dois espaços bem definidos - um para o
parque infantil, que deve ter prioridade, e outro para descanso, com as indispensáveis
instalações sanitárias. A área para este conjunto oscila entre 2400 a 3000m², e a sua menor
203
dimensão não deve ser inferior a 30m. Se for incluída uma quadra polivalente para recreação
esportiva, de jovens e adultos, serão necessários mais 600m². As praças de vizinhança devem
constituir a principal meta na política paisagística de qualquer administração municipal, face
ao seu elevado significado social.
Paralelamente, destaca-se que é o gênero de obra mais fácil de se conseguir a
participação comunitária.
Quando não há praça de vizinhança, os moradores a improvisam de diversas maneiras.
A mais simples e usual é solicitar à prefeitura a interdição dos veículos em um trecho de rua,
para determinado dia e hora, com o fim de promover recreação, espetáculos ou festas infanto-
juvenis. Outra solução tem sido a utilização de terrenos baldios, com a autorização prévia do
seu proprietário. Ocorre também o uso das áreas livres e de esportes das escolas públicas –
inclusive, na maioria dos países, já não se admitem salas de aula ociosas durante o dia ou à
noite, utilizadas para os mais variados fins comunitários e até para reuniões de associações. É
a associação que deve tomar a iniciativa, entrando em entendimentos com autoridades,
diretores de escola e proprietários, mas também deve supervisionar e fiscalizar o bom uso dos
espaços e equipamentos, assim como assumir a responsabilidade por eventuais danos e
limpeza.
e) Praças de Alimentação
Praças de Alimentação tornaram-se uma característica padrão dos shoppings: uma
peça incrivelmente popular e muitíssimo importante nos modernos shoppings centers. Um
agrupamento de pequenos estabelecimentos de alimentação, onde clientes usam mesas de uma
área comum. Em princípio modestas, tornaram-se o principal agente comercial e social desses
templos de consumo. Começaram como uma coleção fragmentada de nichos de alimentação
espalhados por todo o shopping, onde houvesse espaço disponível. Hoje cresceram em
estrutura e sofisticação e, às vezes, servem como âncora dos shoppings: um importante
componente do varejo que, encontrando-se num ambiente certo, podem servir como seu
próprio ponto de destino.
As Praças de Alimentação geram um movimento de consumidores cada vez maior
onde, além de intensificar o comércio varejista e impulsionar ramos menos ativos dos
shoppings, funcionam como um importante ponto de convívio das modernas sociedades
urbanas, funcionando, inicialmente com atendimento geral, as modernas praças criaram
204
espaços preferenciais para idosos, gestantes, mulheres com crianças de colo e pessoas com
necessidades especiais.
Uma praça de alimentação mínima, para proporcionar retorno financeiro e conforto ao
usuário, deve possuir 500 assentos. Deve contar também com 10 a 12 locatários e para cada
locatário de 30 a 35 lugares exigindo para cada caso entre 300 e 420 lugares. 5% desses
assentos devem ser projetados e reservados para idosos, gestantes e pessoas com algum tipo
de dificuldade de locomoção. Este é o ponto de partida no dimensionamento. Mas cada
shopping é um shopping e a quantidade dos assentos deve ser calculada caso a caso. Este tipo
de equipamento vem sendo utilizado também em aeroportos e hospitais de grande porte.
f) As Praças do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC)
O governo federal, através do Plano de Aceleração do Crescimento e no intuito de
complementar os planos habitacionais e de urbanização, criou uma linha especial de
financiamento de praças públicas de acordo com os seguintes critérios:
1. Praças com 700m²: Edifício de 4 pavimentos. Sala de Cinema com 48 lugares.
Biblioteca, Telecentro. Centro de Assistência Social e Salas Multiuso.
2. Pelo que se observa são equipamentos para serem implantados em áreas com
pouca disponibilidade de terreno, como favelas, por exemplo. Funcionarão mais
como Centro de Lazer.
3. Praças com 3.000m²: Edifício multiuso. Sala de cinema para 60 lugares.
Telecentro. Biblioteca. Centro de Assistência Social. Salas Multiuso. Pista de
Skate. Jogos de Mesa. Espaço Criança. Quadra Coberta. Equipamento de
Ginástica. Pista de Caminhada.
4. Praças com 7.000m²: Edifício multiuso. Cineteatro para 120 lugares. Telecentro.
Biblioteca. Centro de Assistência Social. Quadra de areia. Jogos de Mesa. Pista de
Skate. Espaço Idosos. Espaço Crianças. Anfiteatro. Quadra Poliesportiva coberta.
Equipamento de ginástica e Pista de Caminhada.
Para Ferrari (1977, p.621), 1 ha serve a 5.000 habitantes. 7.000 atenderá 3.500
habitantes. Para Gouveia (2008, p.134.), a praça deve ter no mínimo de 4.000 a 5.000m² (1/2
ha) ou, considerando a população usuária 5.00m² por habitante.
Considerando os dois fatores preponderantes para o funcionamento de uma boa praça,
ou seja, Acessibilidade e uso – pelo maior tempo possível – acrescentaríamos a imperiosa
205
necessidade de áreas de sombra, condições de segurança e boa integração com o sistema
viário local.
5.5.9.4 Praias
A orla marítima é um dos principais pontos para o lazer de qualquer idade. O Brasil
possui 8.500 km de costa, aproximadamente 300 municípios litorâneos e uma população
estimada, pelo último Censo, de 32 milhões de habitantes. Subjacente aos aspectos de
territorialidade, encontra-se a crescente geração de conflitos quanto à destinação dos terrenos
e demais bens sob o domínio do Estado brasileiro, ou seja, da União, com reflexos nos
espaços de convivência e lazer, especialmente das praias que são consideradas de uso comum
do povo.
O Governo Federal, por meio do Ministério do Meio Ambiente (Secretaria de
Qualidade Ambiental nos Assentamentos Humanos) e o Ministério do Planejamento,
Orçamento e Gestão (Secretaria do Patrimônio da União), criaram o Projeto Orlas no sentido
de criar procedimentos técnicos para gestão de nossa orla, cujas bases estão expressas em dois
documentos: Fundamentos para Gestão Integrada onde são apresentados os fundamentos
conceituais e os arranjos políticos institucionais, como base para orientar e avançar na
descentralização da gestão da orla para a esfera municipal. Focaliza a importância do projeto
como estratégia de resgatar a atratividade desse espaço democrático de lazer além dos
aspectos intrínsecos de gestão patrimonial que interagem na sustentabilidade das ações de
intervenção propostos pelos municípios. O segundo documento: Manual de Gestão, orienta
por meio de linguagem técnica simplificada, o diagnóstico, a classificação e caracterização
da situação atual, a composição de cenários de usos desejados e as respectivas ações de
intervenção para realizá-los. Um Plano de Intervenção, a ser gerido por um Comitê Gestor
processará a integração entre os poderes envolvidos e a sociedade.
O Projeto Orlas contempla uma ação sistemática de planejamento da ação local
visando repassar atribuições da gestão deste espaço, atualmente alocadas no governo federal,
para a esfera do município, incorporando normas ambientais na política de regulamentação
dos usos dos terrenos e acrescidos de marinha, buscando aumentar a dinâmica de mobilização
social neste processo.
Trata-se, portanto, de uma estratégia de descentralização de políticas públicas,
enfocando um espaço de alta peculiaridade natural e jurídica: a Orla Marítima.
206
Como o objeto do presente trabalho é a cidade e o seu processo de humanização, tendo
em vista principalmente pessoas idosas, o enfoque deste subcapítulo será as praias urbanas de
acordo com a classificação apresentada no item 8 “classificação da orla”, publicação conjunta
dos Ministérios do Meio-Ambiente e do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão.
Além disso, podemos apresentar uma proposta de classificação de Zonas Turísticas
Homogêneas (15 a 130 habitantes/ha):
Quadro 20 – Zonas Turísticas Homogêneas
Locais de Vocação: A B C
Excelente: 15 25 45
Médio: 30 55 75
Econômico: 70 100 130
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
É importante delimitar bem essas áreas, pois geralmente o turista de alta renda exige
locais e atendimentos específicos para a sua permanência nos lugares que frequenta.
a) O Turista Idoso
Já foi relatado no presente trabalho, que apenas 5% dos idosos, no Brasil, são pobres.
Situação melhor do que a população em geral onde os pobres representam 20% da população.
Em geral, já livre de outras obrigações profissionais e familiares, entre outras,
dispondo de um razoável quadro de saúde, este tipo de turista tende a procurar as melhores
condições em termos de equipamentos, para o seu lazer.
Entretanto, a praia, por ser um espaço democrático, deve estabelecer uma tipologia de
equipamentos que atende todas as faixas sociais. Não por acaso, as praias brasileiras
apresentam contradições de usos que vão do hotel, ou restaurante, de alto luxo, convivendo
com barracas rústicas, de construções rudimentares, sem qualquer tipo de infraestrutura, como
é muito comum principalmente, mas não exclusivamente, na orla marítima do Nordeste.
Intervenções no setor já consolidado da zona urbana contígua à praia só podem ser
feitas ao nível de passeios, iluminação, pavimentação etc. com a chamada iniciativa privada,
assumindo a qualificação dos seus equipamentos, como hoteis, restaurantes bares etc.
207
Entretanto, na faixa mais próxima ao mar, é possível propor equipamentos e serviços
que atendam à população de um modo geral e idosos em particular, principalmente no tocante
às novas Normas de Acessibilidade e ao Estatuto do Idoso.
Em geral, nestes espaços, existe a apropriação de terras públicas tanto por pessoas de
alta como de baixa renda, os primeiros com empreendimentos de grande porte (hotéis, resorts,
condomínios fechados etc.) ou casas de alto padrão e os segundos com estruturas
rudimentares de pau-a-pique onde comercializam refeições à base de frutos do mar e bebidas.
Não raramente, drogas.
O processo de descentralização proposto pelo Projeto Orlas, como concepção, é
interessante. Mas é muito preocupante a administração da orla marítima por municípios sem
nenhuma estrutura, técnica ou financeira, onde os prefeitos utilizam os espaços públicos como
moeda de barganha política.
De um modo geral, qualquer que seja o nível da praia, são necessários os seguintes
equipamentos:
Área Seca (Calçadão):
1. Apoio aos Ambulantes (basicamente chuveiros e bebedouros).
2. Área Lazer para pescadores aposentados.
3. Bancos cobertos a cada 200m e lixeiras e bebedouros anexo.
4. Boxe de Informações Turísticas.
5. Bicicletário.
6. Ciclovia.
7. Equipamentos de Ginástica.
8. Placas de Sinalização com indicação de distância a cada 200m. Indicação do uso
da praia (permitido: Sim/Não).
9. Postos Salva Vidas (Sanitários Públicos) (M) e (F) e Chuveiros de Praia. Eles
deverão ser implantados a cada 500m. Conectados ao SAMU.
10. Posto Policial.
11. Postes Multi-Uso.
12. Quiosques para venda de água de coco e refrigerantes em geral.
13. Mirante.
14. Rampas. (i: 5%).
15. Área de lazer, onde a topografia permitir, com piscina de água salgada, contendo
filtros especiais para purificação da água e critérios de acessibilidade para pesso-
208
as com dificuldade de locomoção. Aqui pode ser implantada a área de lazer para
pescadores aposentados. Prevê sanitários públicos (M) e (F) com acessibilidade.
16. Calçadão com no mínimo 7.20m. Área livre para circulação no mínimo 2.40m. O
piso deverá antiderapante, do tipo intertravado e cores diferenciadas marcando
áreas de caminhadas e de locação de equipamentos. Ver Passeio Público.
Área Molhada (Areia da Praia).
1. Zoneamento de áreas para a prática de esportes.
2. Zoneamento de áreas para a fixação de barracas de proteção solar.
3. Lixeiras.
Em geral este é o partido urbanístico mais utilizado em todas as capitais brasileiras
com praias urbanas (Desenhos 40 a 41): São Luis, Fortaleza, Natal, Recife, Maceió, Aracajú,
Salvador, Vitória, Rio de Janeiro, Florianópolis. A exceção fica com João Pessoa, PB, que
instituiu um rigoroso controle de gabarito na sua orla marítima (Tambaú) e, parcialmente,
Natal. São Paulo, Curitiba e Porto Alegre não possuem praias urbanas.
Desenho 40 - Proposta para urbanização de áreas de praias
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
209
Desenho 41 - Corte esquemático para urbanização de praias.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
Desenho 42 - Detalhe da rampa de acesso à praia.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
210
Via de regra, os processos de humanização das praias contemplam mais o alargamento
das áreas de pedestres e a introdução de equipamentos de apoio. No presente trabalho, um
novo equipamento, inexistente em todas as praias analisadas, as piscinas de água salgada, à
beira mar, é proposto. Os idosos, em geral, temem o banho de mar em função da insegurança
provocada pelas ondas e corrente marítimas que não permitem usufruir de forma segura desse
benefício. Piscinas, dotadas de filtros especiais, utilizando a água do mar, podem suprir esta
carência (Desenhos 43 e 44).
Desenho 43 - Piscina de água salgada para banho de idosos71
.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
71
As piscinas devem ser providas de rampas com declividade de 5%. Profundidade máxima entre 1.20m e
1.50m. Possuir uma área de deck equivalente ao dobro da área de banho, pois muitos usuários preferem apenas
permanecer nas suas margens. A localização deve ser de forma a possibilitar o seu abastecimento pelo mar.
211
Desenho 44 - Piscina de água salgada (detalhes de acessibilidade).
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
Nos quiosques de praia (Desenhos 45 a 47), deve ser permitido apenas a venda de
água-de-côco e/ou refrigerentes e vedada a venda de comidas que exijam cocção.
212
Desenho 45 - Planta e cobertura do quiosque de praia
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
213
Desenho 46 - Quiosques de praia (cortes)
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
Desenho 47 - Quiosques de praia (fachadas)
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
214
Quanto aos postos de salvamento (Desenho 48), devem existir com uma distância
mínima de 500m e máxima de 750m entre eles. No térreo, é recomendada a implantação de
sanitários públicos (uma grande deficiência da maioria das praias brasileiras) com critérios de
acessibilidade para ambos os sexos. De forma alternada, a parte térrea pode funcionar como
Posto Policial.
Desenho 48 – Posto de salvamento.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
215
Desenho 49 - Rampas e passeios com acessibilidade.
Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).
5.5.9.5 Pontos de Encontro
O Conceito do presente trabalho para pontos de encontros será fundamentado em dois
princípios básicos:
1. Locais urbanos de grande atratividade pelo que é produzido no espaço do
equipamento onde se dá o encontro. Qualidades ambientais como tratamento
estético, ausência de poluição de qualquer espécie, mobiliário adequado e
segurança.
2. Locais onde se possa conversar, trocar ideias, conviver acima de tudo.
Na complexa sociedade urbana contemporânea são variados os pontos de encontros,
inclusive os realizados por meios eletrônicos como a internet, mas muitos deles não
preenchem os requisitos necessários onde, acima de tudo, seja possível o contato humano.
Assim, relacionaremos apenas aqueles locais onde a presença das pessoas seja, de fato, o mais
importante, notadamente pessoas da 3ª Idade.
Antiquários, Bibliotecas, Bancas de Jornal, Bares, Botequins, Cafés, Casas de Chá,
Galerias de Artes, Motéis, Saunas Públicas, Sebos, Tabacarias.
Neste aspecto, vários autores, não só arquitetos e urbanistas, indicam as esquinas das
cidades como ponto de encontro, urbano por excelência. Em povoados e cidades, a esquina
tem sido tudo e sem recompensas mitológicas. É o santuário de encontros e de esperas
intermináveis, a oportunidade do espetáculo único, a conversão da geometria em espaço de
confianças e desconfianças. Ela atesta aquilo que é previsível e origina o inconcebível.
216
O que é a esquina na grande cidade? Função do traço urbano, lugar-comum da
memória visual, dispositivo geométrico que calcula tudo menos o acaso. A esquina é
naturalmente urbana, equivalente das árvores ou das rochas ou dos montículos das paragens.
Jordi Borja, urbanista espanhol, e Allan Jacobs, ex-diretor de Planejamento Urbano de
Londres, afirmam: “É fundamental de que, pelo menos em locais de alta densidade, em cada
quarteirão, principalmente nas esquinas, sejam implantados bares, cafés, lojas e restaurantes”.
Brasília é sempre criticada pela ausência de esquinas. Segundo alguns autores, desde o
começo, a capital brasileira foi condenada à monotonia arquitetônica porque as esquinas não
tiveram a oportunidade de se confabular a favor ou contra os transeuntes, porque foram
ignorados em prol da gratidão dos prédios ou de alguma outra metáfora do impossível.
Segundo o escritor mexicano Carlos Monsiváis (2004): “É sabido: se não contiver sua própria
negação, o ordenamento de uma cidade termina por anulá-la”.
Mas Brasília tem os seus defensores: o arquiteto Pompeu Figueiredo de Carvalho,
assim responde aos críticos do Plano Urbanístico de Lúcio Costa: “a avaliação de qualquer
coisa requer o seu conhecimento e fundamentos pertinentes mínimo, mas é comum validação
de muitas críticas sem o aval desses pressupostos”. Tal acontece com as críticas de
pseudointelectuais sobre Brasília, uma experiência do engenho da humanidade, marco
histórico e mundial no processo civilizatório na construção de assentamentos humanos que,
inequivocamente, tem muito a ensinar ainda hoje, em menor ou maior grau a vários humanos
em todo o globo, por muito tempo.
Duas críticas são as mais comuns. A primeira é que Brasília é altamente segregadora,
inclusive socialmente, pois é fundamentada nas quatro funções da cidade declaradas na Carta
de Atenas, durante o IV CIAM, realizada em Atenas em 1933, onde se colocam os princípios
da arquitetura moderna sob a liderança do arquiteto franco-suíço Charles Edouard Jeaneret,
mais conhecido como Le Corbusier. A segunda é que não favorece a interação entre as
pessoas, pois faltam esquinas e pontos de encontro; contribuiria ainda para isto o fato da
separação entre as funções.
Sobre a primeira crítica, cabe ressaltar que a separação de funções – o zoneamento –
não é uma invenção da Carta de Atenas. Surge com os primeiros assentamentos humanos e
evolui na medida em que crescem os agrupamentos humanos e evolui na medida em que
crescem estes agrupamentos e seus assentamentos se tornam mais complexos. Há atividades
compatíveis e incompatíveis, cujas interações podem ser positivas ou negativas. Isto acontece
na mais simples estrutura espacial – a casa urbana – onde há lugares para estar, dormir,
cozinhar etc., e não poderia ser diferente na escala urbana cuja tecelagem socioespacial é bem
217
mais complexa, exigindo portanto uma ordem para otimizar e evitar conflitos entre diferentes
atividades.
O zoneamento é feito segundo um momento histórico, cultural e tecnológico. Cidades
medievais precisaram fazer zoneamento mais radical para evitar as grandes epidemias. Por
exemplo, as ruas não poderiam mais ser veículos de pessoas, animais, carros e esgotos sem a
devida separação. Houve também a necessidade de separar as águas boas das águas
insalubres. Depois, bem mais tarde, com a revolução industrial, houve a necessidade de
separar as unidades fabris. Corolariamente, é nas grandes aglomerações, cujos centros cívicos
estavam distantes da natureza, que surgiram as grandes áreas exclusivamente verdes.
O zoneamento de Brasília é bastante engenhoso por separar e interagir atividades em
escala humana em torno da moradia. Outras atividades estão distantes, mas bem próximas do
que nas cidades orgânicas. Quem mora em uma quadra está sempre perto, na escala do
pedestre, dos serviços de vizinhança, educação, lazer, comércio, restaurantes, bares, pontos de
encontro, e de vias arteriais do sistema viário que o leva a distâncias maiores, geralmente de
carro, como em outras cidades, mas que em Brasília poderia ser feito por transporte público,
mais viável de ser implantado do que em qualquer outra cidade brasileira. A separação entre
veículos e pedestres está presente em quase todas as cidades brasileiras e do mundo., pois há
sempre calçadas e as chamadas pistas de veículos. Separação tão comum que passa
despercebida ao leigo. Os modernistas tentam fazer isto de modo mais confortável,
principalmente devido ao aumento de veículos automotores, cada vez mais rápidos. Hoje,
décadas depois, defende-se pistas exclusivas para bicicletas, transporte público e outros
modos de transporte, mas com pontos de articulações intermodais.
Estas políticas e soluções, hoje discutidas sob o conceito de mobilidade urbana, ainda
não totalmente implantadas em Brasília são, nesta cidade, mais viáveis que em qualquer outra
cidade brasileira. Os grandes espaços verdes entre os blocos de apartamentos são abertos a
qualquer morador da cidade e mesmo ao visitante, apesar de haver tentativas de transformar
as quadras em condomínios fechados, rechaçada pelo poder público, não em nome do
patrimônio da humanidade, mas em obediência ao interesse social do solo urbano,
preservando-se ao máximo o controle público sobre a ganância dos interesses privados e
segregacionista.
Sobre a segunda crítica, cabe dizer que Brasília apresenta uma tessitura espacial
diferente e, consequentemente, as esquinas e pontos de encontro, portanto, apresentam
tipologias diferentes das encontradas nas cidades tradicionais. Quem realmente a conhece e
viveu e, vencendo preconceitos, procurando se integrar um pouco com sua gente, inclusive
218
aquela recém-chegada, percebe que tal juízo não tem fundamento. Na cidade abundam as
esquinas e pontos de encontro. Há aquele mais antigo, aquele procurado por jovens, outro que
procura a melhor empada ou a melhor carne de sol. Pontos de encontro são encontrados
inclusive em shopping centers, geralmente nas entradas, fora das praças de alimentação,
diferentes de outras cidades. Há padarias simples e sofisticadas. Por sua vez, as esquinas das
cidades tradicionais estão em decadência, pela concentração do comércio em supermercados e
shopping centers, que acabaram com padarias, açougues e vendas. Os remanescentes
sobrevivem ainda com a venda de bebidas “curtas” frequentados por homens idosos que
certamente não terão seus filhos como seguidores. As alternativas, hoje, para os mais jovens,
são as lojas de conveniência dos postos de gasolina.
Assim como a Carta de Atenas sofre críticas na base de quem não leu, mas não gostou,
Brasília sofre as críticas de quem não a visitou e não gostou. Sofre ainda críticas levianas de
intelectuais de outras áreas, sem nenhum aval de uma análise baseada em dados concretos.
Vale o testemunho do especialista Edmond Bacon, que não tinha visto e não tinha gostado,
mas que mudou sua avaliação quando esteve lá. Ele teve a honestidade de refazer esta parte
do livro colocando o texto anterior no final do capítulo:
Muito difamada por críticos, muitos dos quais nunca a viram, Brasília está na
arquitetura contemporânea como o exemplo mais significativo de uma cidade
concebida como um todo. E seria tolo, de fato, para um arquiteto, não tirar proveito
da lição que ela oferece. Infelizmente, Brasília não pode ser entendida, exceto
quando vivenciada no chão da própria cidade. Uma razão para isso foi apontada pelo
próprio Lucio Cosa, autor do projeto básico de Brasília. Antes de eu visitar a cidade,
ele disse que Brasília poderia ser apreendida somente em relação às nuvens que,
continuamente passando por cima da cidade, jogam pontos de luz e sombra sobre as
formas arquiteturais. [...] Sem vê-la, exceto em ilustrações, eu mesmo havia
condenado Brasília, e no anexo a este livro eu incluí a declaração que eu teria usado
se não tivesse visitado a cidade. Eu havia julgado o eixo do espaço entre os prédios
dos ministérios (...) como inadequadamente ‘quebrado’ pela massa delgada das
torres gêmeas da administração situadas por trás da cúpula do senado e da câmara
dos deputados. Só depois de ver o lugar em primeira mão eu percebi que o espaço é
todo contido entre as colinas em forma de bacia ao redor da cidade. (BACON, 1975,
p.235. Tradução nossa.)
Seu próprio criador, o arquiteto Lúcio Costa, aceita a apropriação do espaço feito pelo
povo, de forma comunitária e coletiva. No entanto, refuta a transformação das tentativas de
transformar as superquadras em condomínios fechados.
A concepção do espaço brasiliano cria as condições objetivas para uma nova cultura –
genius loci – que se sedimentará nas duas próximas gerações. A forma final de uma cidade,
sempre mutante, é o resultado de um diálogo entre quem planeja e a usa em determinado
tempo. É necessário o diálogo entre o saber de ofício e o leigo.
219
Mas, à parte conceituações teóricas, que devem ser vistas dentro de uma visão
epistemológica, o fato é que esquinas tradicionais existem como as do edifício Kavanagh, em
Buenos Aires, cidade de quem se afirma que “[...] em cada café se colocou uma esquina”. Ou
o Deux Magots, café e esquina na interseção do Boulevard Saint Germain e a Rue de Rennes,
em Paris, ponto de encontro de vanguardistas, Ernest Hemingway e depois existencialistas
como Sartre, Simone de Beauvoir, e Alberto Camus, entre outros. O Chilehaus, em
Hamburgo, ou o Bonjour Tristesse, Berlim, Alemanha, os Quattro Canti de Palermo, Sicília,
Itália, o cruzamento de Times Square em New York, Picadilly em Londres, as esquinas de
Barcelona ou, por que não, o Café São Luis, nas esquina das ruas Cel. Cascudo com Princesa
Isabel, Cidade Alta, Natal, RN. O fato é que as cidades precisam destes pontos de encontro.
Jane Jacobs (2003) apresenta 4 iniciativas para promover o que ela chama de
Diversidade Urbana:
1º Necessidade de Usos Principais e Combinados:
O Distrito, ou Bairro, e sem dúvida o maior número possível de segmentos que o
compõem, deve atender a mais de uma função principal; de preferência a duas. Estas
devem garantir a presença de pessoas que saiam de casa em horários diferentes, mas
sejam capazes de utilizar boa parte da infraestrutura (JACOBS, 2003, p.167).
2º Necessidade de Quadras Curtas: “A maioria das quadras deve ser curta; ou seja, as
ruas e as oportunidades de virar esquinas sevem ser frequentes” (JACOBS, 2003, p.167).
3º Necessidade de Prédios Antigos: “O distrito, ou bairro, deve ter uma combinação de
edifícios com idades e estados de conservação variados, e incluir boa porcentagem de prédios
antigos” (JACOBS, 2003, p.167).
4º Necessidade de Concentração: “O Distrito, ou bairro, precisa ter uma concentração
suficientemente alta de pessoas, sejam quais sejam seus propósitos. Isso inclui pessoas cujo
propósito é morar lá” (JACOBS, 2003, p.167).
É bastante interessante a proposta que ela apresenta para os usos de velhos e novos
edifícios. Evidentemente, questões de ordem socioeconômica e culturais poderão indicar
outro caminho nestes usos, mas não deixa de ser uma excelente orientação para os vários
projetos que estão para ser implantados, no Brasil, objetivando a recuperação de áreas centrais
em várias capitais brasileiras.
Ao olhar à sua volta, você verá que somente as atividades bem estabelecidas, que
tem giro alto e são padronizadas ou muito subsidiadas conseguem normalmente
arcar com os custos das construções novas. Redes de lojas, redes de restaurantes e
bancos instalam-se em novas construções. Mas bares de bairro, restaurantes típicos e
220
casas de penhores, instalam-se em prédios antigos. Supermercados e lojas de
calçados geralmente se instalam em prédios novos; boas livrarias e antiquários
raramente o fazem. Teatros líricos e museus de arte subvencionados instalam-se em
prédios novos. Mas fomentadores informais das artes – estúdios, galerias, lojas de
instrumentos musicais, material artístico, sala dos fundos onde os negócios de fundo
de quintal de baixo rendimento, permitem travar uma conversa prolongada – estes se
instalam em prédios antigos. Talvez ainda mais significativos, centenas de empresas
comuns, necessárias para a segurança e a vida nas ruas e nos bairros e reconhecidas
por sua utilidade e pela qualidade do pessoal, conseguem sair-se melhor em prédios
antigos e são inexoravelmente aniquilados pelos custos fixos das construções novas.
(JACOBS, 2003).
221
6 CONCLUSÕES
Ao escrever este trabalho sobre a Cidade e o Idoso – Parâmetros para
dimensionamento em Arquitetura e Urbanismo – a principal preocupação foi fazer uma ampla
revisão nas diferentes teorias sobre a cidade e da evolução histórica da forma urbana. Nesse
empenho, salta à vista, de imediato, os desencontros entre as concepções filosóficas, da
sociologia e da economia e os conceitos e paradigmas estabelecidos por diferentes correntes
urbanísticas que, diga-se passagem, procuravam, muitas vezes, apoios teóricos naquelas
mesmas concepções.
Foi assim desde Charles Fourier com o seu Falanstère (1808), passando por Robert
Owen com as Villages Unity (1817) e Ebenezer Howard e suas cidades jardins (1898), houve
sempre desencontros entre teorias e prática urbanística. Mesmo correntes progressistas nunca
conseguiram por em prática, de forma plena, planos e propostas para a cidade. Engels e Marx
(1848), principalmente o primeiro, que analisou de forma objetiva a situação da moradia nas
cidades inglesas e advogava que a produção da habitação fosse um direito da própria classe
trabalhadora e não fruto de “práticas paternalistas” das classes dirigentes, conseguiram influir
no processo. Haja visto que figuras expressivas do marxismo europeu, como o arquiteto
Hannes Meyer (1930), ex-diretor da Bauhaus e expulso da escola por Mies van der Hohe pelo
seu, segundo Hohe, radicalismo (1931), não encontrou respaldo às suas propostas de
arquitetura e urbanismo no “socialismo real” de Joseph Stálin (1933) e, também, acabou
expulso da Rússia.72
Curiosamente, foram os socialistas utópicos e outros progressistas que conseguiram
implantar algumas inovações nos planos urbanos, como as experiências feitas em países
nórdicos, na Alemanha (Frankfurt) Inglaterra (Liverpool) e, principalmente, Holanda com
Amsterdam. Na capital holandesa talvez as diminutas dimensões e escassez de áreas de
expansão, onde grande parte das terras do país foram conquistadas avançando sobre o mar, a
necessidade de uma ocupação racional do espaço tenha levado à criação de uma cultura de
planejamento territorial, principalmente urbana, que teve inicio com Hendrick Staeets e seu
Plano dos 3 Canais (1607), passando por Hendrick Berlaus e seu Plano para Amsterdam Sul
(1904), chegando até os nossos dias.
72
Jordi Borja, urbanista catalão, apresenta em recente entrevista, o seu estranhamento ao constatar que, no
Brasil, em governos de centro e centro-direita, sempre era convocado para opinar sobre as nossas cidades, e que,
atualmente com governos de esquerda dirigindo o país, foi esquecido.
222
Em geral, os planos conhecidos que vingaram o foram sob o respaldo de um grande
autoritarismo, como a Paris de Haussmann (1870), ou grande vontade política, como a
Brasília de Juscelino Kubitscheck e Lúcio Costa (1956). Outros planos, com altos e baixos
nas suas implantações, estiveram sob as pressões de grandes problemas políticos e
humanitários, como os que geraram as New Town inglesas no período posterior à segunda
grande guerra. O mesmo podendo-se dizer de outros países que tiveram as suas cidade
destroçadas pela guerra.
Os norte-americanos com seu pragmatismo é que, aliando avanços tecnológicos e
capital, conseguiram produzir suas cidades mais de acordo com a ideologia de mercado e livre
iniciativa, onde as cidades, principalmente no norte do país, foram implantadas tendo em vista
retirar da produção do espaço urbano o máximo de lucro possível.
Em todos os exemplos verificados, não se encontrou referencia exclusiva, na produção
do espaço construído, a grupos étnicos, religiosos, ou por faixa etária, como os idosos. A
questão dos idosos não estava posta, como já afirmou, o filosófo Paul Baltes ( 2003). A
produção da cidade, no máximo, levava em conta as crianças, tratando-se as demais faixas
etárias como participantes unitários de contingentes humanos com suas aspirações e
necessidades mais elementares. Talvez aqui, o homem ideal ou universal, que as teorias
modernistas contidas na Carta de Atenas (1931), procurava atender.
Entretanto é necessário salientar que em todas as teorias urbanísticas analisadas
verifica-se, como não poderia deixar de ser, uma grande preocupação humanística, muitas
delas postas à disposição de arquitetos e urbanistas e nunca postas em prática, sendo assim
desde Vitrúvio (16 a.C.) ou Alberti (1452), passando pelo Modulor de Le Corbusier (1939)
até às novas normas de acessibilidade, onde, parece, idosos serão melhor aquinhoados quando
da produção do espaço humano. Jürgen Habermas (1999), grande filósofo alemão, costuma
afirmar que o “Projeto Moderno”, é um projeto inacabado. Muitos dos preceitos e normas
atuais de acessibilidade e sustentabilidade, já estavam contempladas na Carta de Atenas. São
muitos os bons exemplos, inclusive construídos, espalhados pelo mundo. Precisa-se
urgentemente, resgatá-los, dando-lhes talvez uma nova interpretação à luz de novos
paradigmas e parâmetros estabelecidos pela ciência e tecnologia.
Uma cidade será boa para o idoso quando for boa para toda a sua população. O que se
pode fazer é influir na implantação de equipamentos que, sem fugir do contexto social e
humano onde a cidade esteja inserida, o idoso seja contemplado e, acima de tudo, respeitado
na sua condição social, humana e cultural.
223
Processos de Gentrificação estão em andamento em várias cidades brasileiras,
principalmente aquelas que serão sedes dos jogos da Copa do Mundo de 2014, especialmente
o Rio de Janeiro que, além da Copa do Mundo, sediará os jogos Olímpicos de 2016. Os
principais projetos prevêem intervenções profundas nos setores de mobilidade e
acessibilidade urbana, habitação e, evidentemente, hotelaria e praças esportivas
Como já foi visto no Capítulo 3, O Idoso na Sociedade e nas Cidades, a questão dos
idosos é, historicamente, um fato recente. Só a partir da segunda metade do século XX os
organismos internacionais, como a OMS/ONU, governos e instituições de pesquisas
despertaram para o tema.
O aumento considerável da população idosa em todos as partes do mundo,
consequência dos avanços verificados na saúde e na descoberta de novos medicamentos e na
qualidade de vida, em geral, colocaram, por outro lado, este novo desafio para a sociedade
humana.
Processos paralelos, o aumento da expectativa de vida e a urbanização da humanidade,
delimitaram o espaço onde os problemas advindos do envelhecimento populacional estão, ou
estarão, mais evidentes e onde exigirão os maiores investimentos: a cidade.
Com o objetivo de verificar as consequências do envelhecimento no espaço urbano,
sentiu-se a necessidade de um trabalho de campo realizado por meio de visitas à cidades no
Brasil e no exterior onde, além de medidas tradicionais de humanização, foram adotadas
iniciativas específicas para a pessoa idosa.
Com exceção de Amsterdam, Holanda, onde os Hofjes implantados por Hendrik
Staets, em 1607, no Plano dos Três Canais e em Tapiola, Finlândia, outras cidades, da que
foram visitadas, apresentam soluções mais voltadas para crianças e adolescentes.
Equipamentos urbanos, nas observações feitas nesses locais não contemplavam preocupações
específicas com esta parcela da população em que pese a qualidade das intervenções
efetuadas, onde em casos isolados, os idosos pudessem ser atendidos em suas necessidades de
convívio humano mais elementares.
As maiores demandas, verificadas em todas as cidades estudadas (Amsterdam-
Holanda, Barcelona-Espanha, Tapiola-Finlândia, Brasília e Rio de Janeiro (Brasil) e Luanda
(Angola), para atender de forma adequada aos idosos, estão diretamente relacionadas com as
questões de acessibilidade (acessos à edificações e espaços públicos), transporte urbano
(Locais preferenciais para idosos. Relação adequada na altura entre o piso do passeio público
e o piso do veículo. Pontos de Paradas dos veículos com equipamentos de apoio ao idoso,
etc.) e habitação (Tipologia das unidades habitacionais e do conjunto urbano.
224
Dimensionamento das quadras na escala das possibilidades físicas dos idosos. Áreas de lazer
e de atendimento médico nas proximidades do núcleo habitacional, entre outras medidas).
Embora com um incremento crescente de iniciativas nos setores indicados, elas são
ainda bastante tímidas, necessitando não só readequação urgente nos espaços existentes e
implantação adequada nos seguintes espaços urbanos:
Parques: com áreas específicas para as pessoas idosas, com zoneamento adequado
para atividades físicas, de descanso e convívio. Áreas para jogos de salão. Área para danças.
Lanchonetes. Posto médico para eventuais demandas.
Passeios Públicos: Adoção de cuidados com o nivelamento do piso e tipo do material.
Equipar e repaginar áreas de galerias já existentes e incentivar, por meio de legislação urbana,
em novas áreas urbanas, a adoção desta secular forma de apropriação do espaço urbano.
Estabelecer formas de convívio entre o passeio de pedestres e eventuais equipamentos
urbanos (tais como bares, cabines telefônicas, postes de iluminação pública, pontos de ônibus,
bancas de jornais, etc.).
Praças: Dimensionamento adequado com facilidade no acesso entre vias de trânsito e
áreas de pedestres. Áreas para jogos que exijam baixo esforço físico. Áreas para jogos de
salão. Zoneamento adequado que possibilite um convívio harmonioso entre pessoas de
diferentes faixas etárias. Espaçamento adequado entre os bancos (nunca superior a 200m,
etc.).
Praias: Aqui a principal preocupação deve ser a de possibilitar a necessária segurança
para que as pessoas idosas utilizem zonas de praia com segurança (piscina de água salgada é
um bom equipamento). Áreas de sombra com equipamentos que possibilitem reidratação e
descanso. Postos de Salvamento com sanitários providos de equipamentos de acessibilidade e
pontos de atendimento médico, com distâncias entre eles de 500m, no mínimo, e 750m, no
máximo.
Pontos de Encontros: Esquinas ou outros espaços, estratégicamente bem situados no
espaço urbano, providos de cafés, confeitarias, livrarias, sebos, salões de beleza, galerias de
arte e bibliotecas, etc.
As grandes intervenções estarão mais relacionadas com as readequações nas cidades.
Estas estão aí, construídas, com espaços urbanos bem ou mal tratados. Em áreas novas
poderão ser, mais facilmente, adotadas as medidas que atendam as pessoas idosas. Tudo, na
realidade, é mais um problema de consciência do problema e de gestão pública.
Mas a realidade brasileira exige investimentos profundos em infraestrutura,
notadamente saneamento (água e esgotos), rodovias, portos e aeroportos, no sentido de tornar
225
mais humanas as nossas cidades, promovendo a inserção de maiores parcelas, da população
brasileira, nos padrões aceitáveis de qualidade de vida.
226
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236
APÊNDICE A – PESQUISA DE CAMPO (LEVANTAMENTO E DADOS): GRUPO
DE IDOSOS 1
Local: Av. Atlântica – Copacabana-RJ.
Trecho: Entre o Clube Marimbás (Praça Cel. Eugênio Franco, 2, Posto 6) e a Av. Prin-
cesa Isabel (Leme).
Período: Matutino.
Objeto: 10 idosos com idade entre 65 e 75 anos.
Dia: 21 de maio de 2010.
Nº Nome do
Idoso Renda Idade Trecho Percorrido
Tempo
Utilizado
Outro tipo
de Lazer Observações
01 Ailton 10SM 75 Posto 6 ao Posto 3
2,25km 1h e 30m
Jogar cartas,
Conversar,
Cinema,
TV.
Caminhada
Simples
02 Armando 8SM 75 Posto 6 ao Posto 4
1,5km 1h
Bater Papo e
ver TV.
Caminhada
Simples
03 Belarmina 5SM 68 Posto 6 ao Posto 1
4,5km 1h e 45m
Visitar
amigos e
dançar
Caminhada
Simples
04 Benício 6SM 65 Posto 6 ao Posto 1
4,5km 1h.
Namorar e
Dançar
Caminhada e
Trote (até
cansar)
05 Carminha 10SM 66 Posto 6 ao Posto 2
3.75km
Entre 1 e
2 horas
Dançar, ver
TV e visitar
amigos
Caminha
conversando
com amigos.
06 Carlos 15SM 70
Variável. Caminha ½
hora em dias alternados
a conselho médico. Não
utiliza os Postos como
referência.
½ h
Leitura e
ouvir
música.
Caminhada
Simples
07 Castanho 5SM 70 Posto 6 ao Posto 3
2,25km 1h
Jogar
Gamão e
Cartas.
Caminhada
Simples
08 Querubino 6SM 72 Posto 6 ao Posto 3
2,25km 45m
Jogar
conversa
fora e ver
TV.
Caminha em
trote.
09 Ivete 5SM 75
Variável. Caminha nos
finais de semana por
recomendação médica.
1h.
Fazer e
receber
Visitas.
Caminhada
Simples.
10 Zaíra 10SM 65 Posto 6 ao Posto 3
2,5km 1h
Dançar e
namorar.
Caminhada
Simples
Observaçõs Complementares:
Local da Pesquisa Av. Atlântica – Copacabana – Rio de Janeiro
Extensão do Local 4,5km. Entre o Clube Marimbás (Posto 6) e a Av. Princesa Isabel
Pontos de Referência Postos de Salvamento na Orla Marítima. Distância de 750m entre eles.
Média para percorrer 1km 40 minutos ou 4 minutos para 100 metros.
Variação de Tempo 60 minutos
Nível Social Classe média e média alta
Faixa de Renda 5 a 10 salários mínimos
Pontos de Apoio na Orla Posto de Salvamento, Quiosques e Policiamento.
Tipo do Piso Pedras Portuguesas
Referências Urbanas Edifícios significativos, como hotéis, por exemplo
237
APÊNDICE B – PESQUISA DE CAMPO (LEVANTAMENTO E DADOS): GRUPO
DE IDOSOS 2
Local: Av. Atlântica – Copacabana-RJ.
Trecho: Entre o Clube Marimbás (Praça Cel. Eugênio Franco, 2, Posto 6) e a Av. Prin-
cesa Isabel (Leme).
Período: Matutino.
Objeto: 10 idosos com idade entre 76 e 85 anos.
Dia: 22 de maio de 2010.
Nº Nome do
Idoso Renda Idade Trecho Percorrido
Tempo
Utilizado
Outro tipo
de Lazer Observações
01 Rafael 5SM 78 Posto 6 ao Posto 4
1,5km 1/2h
Jogar Truco
e Cartas
Caminhada
Simples.
02 Resende 5SM 79 Posto 6 ao Posto 3
2,25km 1h
Conversar
com amigos
Caminhada
Simples.
03 Rolim 8SM 80 Posto 6 ao Posto 4
1,5km 1/2h
Festas da
Igreja que
frequenta.
Caminhada
Simples.
04 Paulo 10SM 79 Posto 4 ao Posto 1
2,25km 1h Viajar
Caminhada
Simples
05 Sebastião 8SM 80
Variável. Obedece
orientação médica de
caminhar ½ hora
diariamente.
1/2h
Ver TV e
receber
visita de
amigos para
conversar
Caminhada
Simples
06 Telêmaco 10SM 78 Idem 1/2h Viajar com a
esposa.
Caminhada
Simples.
07 Terezinha 5SM 75 Idem 1/2h Ver TV. Caminhada
Simples.
08 Talvanes 8SM 78 Posto 6 ao Posto 3
2,25km 1h e 30m Ver TV.
Caminhada
Simples
09 Telma 10SM 80 Posto 3 ao Posto 5
1,5km 1/2h Ir á missa
Caminhada
Simples.
10 Vilany 5SM 79 Posto 3 ao Posto 6
2,25km 1h e 30m
Passear na
Praia
Caminhada
Simples.
Observações Complementares:
Local da Pesquisa Av. Atlântica – Copacabana – Rio de Janeiro
Extensão do Local 4,5km entre o Clube Marimbás e a Av. Princesa Isabel
Pontos de Referência Postos de Salvamento
Média para percorrer 1km 30 a 90 minutos
Variação de Tempo 60 minutos
Nível Social Classe média e média alta
Faixa de Renda 5 a 10 salários mínimos
Pontos de Apoio na Orla Postos de Salvamento e Quiosques
Tipo do Piso Pedras Portuguesas
Referências Urbanas Edificios significativos, como hotéis, por exemplo
238
APÊNDICE C – PESQUISA DE CAMPO (LEVANTAMENTO E DADOS): GRUPO
DE IDOSOS 3
Local: Av. Atlântica – Copacabana-RJ.
Trecho: Entre o Clube Marimbás (Praça Cel. Eugênio Franco, 2, Posto 6) e a Av. Prin-
cesa Isabel (Leme).
Período: Matutino.
Objeto: 10 idosos com idade acima de 85 anos.
Dia: 22 de maio de 2010.
Nº Nome do
Idoso Renda Idade Trecho Percorrido
Tempo
Utilizado
Outro tipo
de lazer Observações
01 Afonso 5SM 87
Variável. Em geral anda
pouco ou de casa até a
mesa de jogo na praia
- Ler e ver
TV.
Os filhos o
trazem, às vezes,
em cadeira de
rodas.
Idade Trecho
Percorrido Tempo Utilizado
Outro tipo de
Lazer Observações
02 Dalton 8SM 86 Posto 6 até Posto 4
1,5km 1h Leitura
Caminhada
Simples
03 Deisianne 10SM 88
Variável. Anda ½ hora
em dias alternados por
recomendação médica.
1/2h Leitura e
Novelas
Caminhada
Simples
04 Dionísio 5SM 86 Posto 6 ao Posto 4
1,5km 45m Ver TV.
Caminhada
Simples
05 Elton 10SM 87 Posto 6 ao Posto 4
1,5km 45m
Clube de
Dança
Caminhada
Simples
06 Ernestina 5SM 86 Posto 4 ao Posto 2
1,5km 1/2h
Clube de
Dança
Caminhada
Simples
07 Felipe 8SM 86
Não caminha. Vem à
praia para bater papo
com amigos.
- Jogar cartas
ou dominó -
08 Francisco 5SM 86 Posto 6 ao Posto 3
2,25km 1h
Jogar truco
e conversa
fora
Caminhada
Simples
09 Vilson 5SM 87 Posto 6 ao Posto 3
2,25km 1h Jogar Truco
Caminhada
simples
acompanhando o
amigo Francisco
10 Xavier 5SM 88 Posto 6 ao Posto 4
1,5km 45m Ver TV
Caminhada
Simples.
Observações Complementares:
Local da Pesquisa Av. Atlântica – Copacabana – Rio de Janeiro
Extensão do Local 4,5km entre o Clube Marimbás (Posto 6) e a Av. Princesa Isabel
Pontos de Referência Postos de Salvamento
Média para percorrer 1km 30 a 90 minutos
Variação de Tempo 45 a 60 minutos
Nível Social Classe Média (a maioria aposentados)
Faixa de Renda 5 salários mínimos
Pontos de Apoio na Orla Postos de Salvamento e Barracas instaladas para avaliar pressão arterial
Tipo do Piso Pedras Portuguesas
Referências Urbanas Principalmente a rua transversal onde mora
239
APÊNDICE D – PESQUISA DE CAMPO (LEVANTAMENTO E DADOS): GRUPO
DE IDOSOS GERAL
Local: Calçadão da Av. Roberto Freire – Natal-RN.
Trecho: Entre o Praia Shopping e a Rua Sólon Galvão (2km)
Período: Vespertino.
Objeto: 10 idosos com idade entre 65 e 85 anos.
Dia: 10 de setembro de 2010.
Nº Nome do
Idoso Renda Idade Trecho Percorrido
Tempo
Utilizado
Outro tipo
de lazer Observações
01 Rui 10SM 70 Todo o Calçadão 1h e 30m Ver TV. Caminhada
Simples Idade
Trecho
Percorrido Tempo Utilizado
Outro tipo de
Lazer Observações
02 Silvio 10SM 70 Todo o Calçadão 1h e 30m Praia Caminhada
Simples
03 Sérgio 8SM 65 Todo o Calçadão 1h. Praia Caminhada
Simples
04 Telmo 15SM 65 Todo o Calçadão 1h Shopping Caminhada
Simples
05 Tereza 5SM 68 Todo o Calçadão 1h e 30m
Cinema e
visitar
amigos.
Caminhada
Simples.
06 Ubiracy 5SM 69 Todo o Calçadão 1h e 30m
Bater papo
com os
amigos
Caminhada
Simples.
07 Venerando 8SM 70 Todo o Calçadão 1h e 45m Praia e
Shopping.
Caminhada
Simples
08 Vinícius 10SM 75 Todo o Calçadão 1h e 30m Acessar
Internet
Caminhada
Simples.
09 Verônica 10SM 70 Todo o Calçadão 1h e 45m Novelas Caminhada
Simples
Observações Complementares:
Local da Pesquisa Calçadão da Av. Roberto Freire – Capim Macio – Natal RN
Extensão do Local 2 km. Entre o Praia Shopping e a Rua Sólon Galvão
Pontos de Referência Praia Shopping, UnP e o Supermercado Extra.
Média para percorrer 1km 90 minutos.
Variação do Tempo 60 minutos
Nível Social Classe Média e Média Alta
Faixa de Renda 10 salários mínimos
Pontos de Apoio no Trecho Não existe.
Tipo do Piso Pedra Portuguesa
Referências Urbanas Principalmente o Praia Shopping.