UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ...2015... · Texeira, Catalogação na...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
DEPARTAMENTO DE ODONTOLOGIA
CURSO DE ODONTOLOGIA
CARLA CAROLINA CAVALCANTI TEIXEIRA
TRATAMENTO E RISCOS APÓS TRAUMATISMO DENTÁRIO: RELATO DE UM
CASO CLÍNICO
NATAL
2015
Carla Carolina Cavalcanti Teixeira
TRATAMENTO E RISCOS APÓS TRAUMATISMO DENTÁRIO: RELATO DE UM
CASO CLÍNICO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à
Coordenação do Curso de Odontologia da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
como requisito parcial para obtenção do título de
Cirurgião-Dentista.
Orientadoras: Profª. Drª. Isauremi Vieira de
Assunção.
Profª. Mª. Emanuelle Dayana
Vieira Dantas.
Natal
2015
Catalogação na Fonte. UFRN/ Departamento de Odontologia
Biblioteca Setorial de Odontologia “Profº Alberto Moreira Campos”.
Texeira, Carla Carolina Cavalcanti.
Tratamento e riscos após traumatismo dentário: relato de caso clínico / Carla
Carolina Cavalcanti. – Natal, RN, 2015.
22 f.: il.
Orientadoras: Profª. Drª. Isauremi Vieira de Assunção
Profª. Ma. Emanuelle Dayana Vieira Dantas
Monografia (Graduação em Odontologia) – Universidade Federal do Rio
Grande do Norte. Centro de Ciências da Saúde. Departamento de Odontologia.
1. Traumatismos dentários – Monografia. 2. Reabsorção da raiz – Monografia.
3. Fraturas dos dentes – Monografia. 4. Restauração dentária permanente –
Monografia. I. Assunção, Isauremi Vieira de. II. Dantas, Emanuelle Dayana Vieira.
III. Titulo.
RN/UF/BSO Black D722
Carla Carolina Cavalcanti Teixeira
TRATAMENTO E RISCOS APÓS TRAUMATISMO DENTÁRIO: RELATO DE
UM CASO CLÍNICO
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao
curso de Odontologia da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte, como requisito parcial para a
obtenção do título de Cirurgião- Dentista.
Aprovado em:____/____/____
BANCA EXAMINADORA
--------------------------------------------------------------------------------------------------------
Profª. Drª Isauremi Vieira de Assunção
Orientadora
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
--------------------------------------------------------------------------------------------------------
Prof. Dr. André Luís Dorini
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
--------------------------------------------------------------------------------------------------------
Profª Mª Giovanna de Fátima Alves da Costa
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho àqueles que, dados por Deus, me deram todo o suporte necessário
em forma de amor e cuidado, durante todo o curso: meus pais e meus irmãos.
AGRADECIMENTOS
Àquele que me criou, me amou primeiro e me sustenta: o meu Deus.
Àqueles que me inspiram e que são capazes de dar as suas vidas por mim: meus pais e irmãos.
Àqueles que não mediram e não medem esforços para me ajudar: meus amigos.
Àquele que fez tudo ficar mais leve, me fazendo sorrir sempre, me mostrando que eu podia ir
além: amado e querido Glênio Almeida de Freitas.
Àqueles que estiveram caminhando comigo desde o início da graduação: turma 98.
Àqueles que toda semana, usados por Deus, me davam uma porção de ânimo: grupo
odontocrentes (30’ com Deus).
Àqueles que me ensinaram, não só compartilhando seus conhecimentos científicos, mas lições
que levarei para a vida: meus mestres, em especial, às minhas queridas: orientadora
Professora Dra. Isauremi Vieira de Assunção e co-orientadora Professora Mª Emmanuelle
Vieira, que foram bênçãos de Deus na minha vida.
Aos queridos professores que compõem a banca, que prontamente aceitaram o convite:
Professora Mª Giovanna Alves e Professor Dr. André Dorini.
Àqueles que me ajudaram direta ou indiretamente a estar aqui hoje.
Meu coração está cheio de gratidão.
SUMÁRIO
IDENTIFICAÇÃO_____________________________________
INTRODUÇÃO _______________________________________ 8
RELATO DE CASO ___________________________________ 9
DISCUSSÃO _________________________________________ 15
CONCLUSÃO ________________________________________ 19
REFERÊNCIAS ______________________________________ 20
7
TRATAMENTO E RISCOS APÓS TRAUMATISMO DENTÁRIO: RELATO DE UM
CASO CLÍNICO
Carla Carolina Cavalcanti Teixeira1; Isauremi Vieira de Assunção
1; Boniek Castillo Dutra
Borges1
; Wendel Lima de Carvalho1; Alex José Souza dos Santos
1; Emanuelle Dayana Vieira
Dantas2.
1- Departamento de Odontologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brasil.
2- Departamento de Odontologia, Universidade Potiguar, Brasil
RESUMO
Introdução: O traumatismo dentário é responsável pela maioria das fraturas coronárias, na
dentição permanente. Todo e qualquer traumatismo dental deve ser considerado uma
emergência e, portanto, deve ser tratado imediatamente objetivando um melhor prognóstico.
Objetivo: Este trabalho objetivou relatar um caso de reabilitação estética e funcional de uma
paciente que sofreu traumatismo associado à fratura coronária de incisivos superiores. Foi
realizado o acompanhamento clínico e radiográfico por 2 anos. Relato de Caso: Paciente
M.G.F, 12 anos, apresentou-se ao Departamento de Odontologia da UFRN, com queixa de
inchaço, após trauma. Observou-se fratura coronária nos elementos 12, 11 e 21. Foi feito
antibioticoterapia e realizados testes térmicos. O elemento 11 respondeu negativamente,
sendo então tratado endodonticamente. Os demais elementos apresentaram-se vitais e foram
tratados com restaurações diretas em resina composta para reconstrução das faces fraturadas.
Utilizou-se a técnica da guia de silicone para efetuar as restaurações. As restaurações
confeccionadas devolveram a naturalidade e harmonia do sorriso da paciente. Em virtude do
trauma, foi realizado o acompanhamento radiográfico da região envolvida, semestralmente,
devido ao risco de ocorrência de reabsorção externa e por saber que o diagnóstico precoce
pode inibir a evolução de uma reabsorção. Resultados: A reabilitação restauradora com
resinas compostas diretas devolveu forma, função e harmonia estética ao sorriso do paciente,
não havendo, em dois anos de acompanhamento, intercorrências. Conclusão: O tratamento de
casos envolvendo traumatismo dentário, por vezes é multidisciplinar e requer
acompanhamento clínico e radiográfico, por até 7 anos a partir da data de ocorrência do
trauma, para que se possa intervir precocemente em caso de intercorrências.
PALAVRAS-CHAVE: Reabsorção da Raiz; Fraturas dos Dentes; Restauração Dentária
Permanente.
8
ABSTRACT
Introduction: dental trauma is responsible for most of the crown fractures in permanent
dentition. Any dental trauma should be considered an emergency and therefore must be
treated immediately to improve prognosis by reducing the risk of complications for the
patient. Objective: This study aimed to report a case of aesthetic and functional rehabilitation
of a patient who suffered trauma associated with coronary fracture of upper incisors and
perform clinical and radiographic follow-up for 2 years. Case Report: Patient FGM, 12,
presented to the UFRN Dentistry Department, with swelling complaints after trauma. Fracture
was observed in the elements 12, 11 and 21. Antibiotic was prescribed for 7 days. After this
period, thermal tests were conducted, of which the element 11 responded negatively having
then to be treated endodontically. In sequence, restorations were made in composite resin of
the fractured elements from the silicone guide technique. The end result of restorations made
back the naturalness and patient smile harmony. Because of the trauma, was indicated
radiographic monitoring of the region involved, for 2 years, every six months, to the extent
that no risk of external resorption. Results: The restorative rehabilitation with direct
composites gave form, function and esthetic harmony back to the patient's smile, with no
complications, after a two-year follow-up. Conclusion: The treatment of cases involving
dental trauma sometimes is multidisciplinary and requires clinical and radiographic care,
wich, in this case, took place for seven years, from the occasion of the trauma, to make it
possible for early interventions, in case of complications.
KEYWORDS
Tooth resorption; tooth Injuries; composite resins; dental restoration, permanent.
INTRODUÇÃO
O traumatismo dentário é responsável pela maioria das fraturas coronárias, na
dentição permanente [1]. A extensão e complexidade das fraturas dependem da natureza e
intensidade do trauma, bem como das características dos dentes envolvidos [2]. As fraturas
em esmalte são significativamente mais comuns, acontecendo com maior frequência em
pacientes do sexo masculino, crianças com overjet incisal maior que 3mm e que apresentam
selamento labial deficiente [3]. Por ser uma área altamente estética, o cirurgião dentista
precisa ter maior habilidade e perícia em reestabelecer forma, função e estética, gerando assim
saúde física e emocional [4].
Diferentes procedimentos podem ser indicados para o tratamento restaurador de
fraturas coronárias envolvendo dentes anteriores. Dentre eles podemos citar: colagem de
9
fragmentos dentários [5] e restauração de resina composta direta (à mão livre, ou a partir da
técnica da guia de silicone) [6]. A reconstrução da anatomia com resina composta direta, pela
técnica da guia de silicone, oferece como vantagens: auxílio na recuperação da forma, redução
do tempo clínico, manutenção do contorno cérvico-incisal e dimensões mesio distais, além de
permitir maior controle da espessura de resina a ser inserida e um apoio estável para a
inserção de compósito para confecção da parede palatina [6,7].
No uso das resinas deve-se atentar para a realização da estratificação natural e/ou
técnica anatômica, que engloba um conjunto de fatores relacionados à cor dos elementos
dentários (matiz, croma e valor). Estes fatores, associados à dinâmica da luz, podem
influenciar na reprodução fiel das características da dentição natural [8]. Para tal, o
profissional deve selecionar um material restaurador, que além de possuir propriedades
mecânicas e adesivas apropriadas, apresente propriedades ópticas de opacidade/translucidez e
de cor, semelhante ao tecido dentário perdido [6,4].
Além do restabelecimento de forma, função e estética dos elementos fraturados, o
acompanhamento clínico e radiográfico se faz necessário, tendo em vista que algumas
complicações, decorrentes do trauma, podem surgir posteriormente, como por exemplo,
reabsorções externas [9]. O diagnóstico precoce pode reverter os efeitos deletérios que
possam iniciar.
A necessidade do acompanhamento de todas as lesões dentárias traumáticas, é
recomendação da Associação Internacional de Odontologia [11]. Procedimentos de
acompanhamento incluem exame clínico, a avaliação radiográfica e teste de sensibilidade.
No caso de uma calcificação, como sendo resposta a um traumatismo se esta
continua a ocorrer, a polpa deve ser considerada vital, mesmo se a resposta ao teste de
vitalidade da polpa for negativa ou ambígua. Também em casos de reabsorção, onde o
10
processo ocorre de maneira silenciosa, é algo a ser considerado no que dizer respeito ao
acompanhamento do paciente.
Ambos os processos, de calcificação e reabsorção externa, só cessam com a
remoção da causa.
Este trabalho objetivou relatar um caso de reabilitação estética e funcional de uma
paciente que sofreu traumatismo associado à fratura coronária de incisivos superiores.
RELATO DE CASO
Paciente M.G.F., 12 anos, sexo feminino apresentou-se à Clínica Integrada do
Departamento de Odontologia da UFRN, com queixa de inchaço na região de fundo de saco
de dentes anteriores (elementos 11 e 12), relatando um trauma ocorrido há quatro meses.
Ao exame clínico observou-se fratura do tipo classe IV nos elementos 12, 11 e 21(Figura 1).
Figura 1 – Aspecto Inicial da paciente: fratura nos elementos 12, 11 e 21.
11
As radiografias mostravam uma região radiolúcida no ápice do elemento 11, sugestiva
de lesão periapical e espessamento do ligamento periodontal, sendo diagnosticado como
abscesso agudo.
Foi prescrito Amoxicilina 500 mg, de 12 em 12 horas, por 7 dias. Após esse tempo a
paciente retornou à Clínica Integrada com a região de anteriores sem edema, relatando apenas
um quadro de dor à palpação.
Com o intuito de direcionar o diagnóstico, foram feitos os testes térmicos. O elemento
11, respondeu negativamente aos testes, e foi diagnosticado como necrose pulpar. Os outros
dois elementos responderam positivamente aos testes. Foi feito então o tratamento
endodôntico do elemento 11, em duas sessões (Figura 2).
Figura 2- Tratamento endodôntico finalizado.
Após este procedimento, foram programadas as restaurações nos elementos dentários
que sofreram o trauma (11,12 e 21), com restaurações diretas em resina composta, utilizando
a técnica da guia de silicone. Para tal, foi realizada moldagem da arcada superior com
alginato, a fim de se obter o modelo de estudo. Sobre o modelo foi realizado o enceramento
diagnóstico, e confeccionada a guia de silicone (Figura 3).
12
Figura 3– Guia de silicone em posição.
Foram realizadas profilaxia e seleção das cores da resina composta IPS Empress®
Direct. Por meio da cor de referência no centro da cervical, centro do dente e cristas
marginais, foi feita a tomada da cor da resina de dentina, esmalte cromático e do esmalte
acromático, respectivamente. Após a seleção de cor da resina (A3- esmalte; A2-dentina), foi
feito isolamento absoluto modificado nos dentes anteriores com dique de borracha. Foi
confeccionado o bisel com ponta diamantada tronco-cônica FG 2134F, a fim de garantir
apenas finalidade estética, uma vez que a retenção obtida pelos procedimentos adesivos é
suficiente para prover estabilidade mecânica. O primeiro movimento com uso de pontas
diamantadas (usualmente a 3195) se faz em uma angulação tradicional de 45 graus, seguindo-
se um arredondamento dos ângulos, agora com uma maior inclinação, fazendo-se assim um
segundo bisel, não visando aumentar a extensão mas, diminuindo a delimitação da cavidade.
Uma restauração imperceptível deverá começar por um preparo não delimitado, permitindo
assim que a restauração possa avançar em alguns pontos necessários para recuperar forma, e
menos em outros, quando esta não se fizer necessária. Após o biselamento, executou-se o
condicionamento com ácido fosfórico (Ultra Etch, Ultradent Products, South Jordan, UT,
EUA) por 15 segundos, lavagem pelo dobro do tempo de condicionamento, e secagem com
papel absorvente. Em seguida, aplicou-se o sistema adesivo em duas camadas (Adper,
Scotchbond, 3M ESPE, St Paul, MN, EUA) e foi feita a fotopolimerização por 20 segundos.
13
Para a realização da parede de esmalte palatino da restauração, inseriu-se na guia de silicone
uma porção de resina composta nanoparticulada translúcida (CT, Filtek Supreme, 3M ESPE)
a fim de se obter a parede palatina, determinando o formato dos elementos dentários,
fotoativando cada dente por 40 segundos (Figura 4)
Figura 4- Confecção da parede de esmalte Incisivo lateral, assim como foram feitas nos
incisivos mediais.
Em seguida, a guia foi removida e aplicou-se uma camada de resina de dentina (IPS
Empress® Direct A2), reproduzindo os mamelos dentinários e em seguida de esmalte (IPS
Empress® Direct A3) (Figura 5).
14
Figura. 5- Confecção dos Mamelos Dentinários.
O halo incisal opaco foi reproduzido com resina opaca (IPS Empress Direct Opaque A2) e na
sequência, as últimas camadas de resina foram inseridas na face vestibular dos dentes,
utilizando-se resina de esmalte ( IPS Empress® Direct A3) em toda a extensão, seguidas de
uma camada de resina de esmalte acromático (Figura 6).
Figura 6- Aspecto final imediato
15
Para melhor acomodação da resina e texturização da superfície vestibular, utilizou- se
pincel sintético (Pêlo de Marta Kolinsky Chato nº 2-5-mm – Hot spot design). Feitos os
ajustes oclusais, com papel carbono, foram realizados os acabamentos e na sessão seguinte, o
polimento, com uma sequencia de discos (Sof- Lex Pop-On 3M ESPE, St Paul, MN, EUA). O
resultado final demonstrou naturalidade e harmonia do sorriso (Figura 7).
Figura 7– Aspecto final após acabamento e polimento.
O acompanhamento clinico e radiográfico da paciente foi feito semestralmente. Não
houve alterações ou intercorrências, de acordo com os exames radiográficos (Figuras 8A e 8
B).
16
Figura 8- Radiografias de acompanhamento realizadas. A) Novembro/2014 e B) Agosto de
2015.
DISCUSSÃO
A ocorrência de traumatismo é maior para o sexo masculino e a prevalência aumenta
com a idade, apresentando maior frequência na idade de 10 anos [10]. Em estudo longitudinal,
Paiva e colaboradores [12], constataram que a prevalência de lesões traumáticas dentárias
para os incisivos permanentes em escolares analisados, na idade de 12 anos, foi de 34,9%. A
maioria das lesões (91,2%) envolve dentes superiores anteriores e dessas, 87,2% acometem os
tecidos duros dentais, levando à fratura de esmalte e/ou dentina [10]. Crianças que possuem
overjet de 6 mm ou mais, apresentam quatro vezes mais risco de sofrer trauma envolvendo
dentes anteriores superiores, em comparação com aqueles com menor overjet [10, 12]. O
traumatismo dentário geralmente é decorrente de quedas, durante brincadeiras, esportes ou
acidentes de trânsito [12].
O trauma dental pode resultar em diferentes situações clínicas, dependendo do sentido
e da intensidade da força com a qual eles ocorrem, o que afeta significativamente o
diagnóstico, tratamento e, mais importante, o prognóstico de dentes envolvidos [14]. Estudos
clínicos longitudinais mostram que a luxação dentária, decorrente de traumatismo,
concomitante com fraturas coronárias, com ou sem exposição pulpar, são as principais fontes
de complicações pulpares [14]. Se o suprimento vascular está intacto, os sistemas de defesa da
polpa combaterão a invasão bacteriana, contudo, com a luxação, a vascularização poderá ser
comprometida ou eliminada e a defesa orgânica torna-se prejudicada [15].
Hecova e colaboradores (2010) [16], avaliando o traumatismo em dentes permanentes,
observaram que a reabsorção externa estava presente em 16% dos dentes. Adicionalmente, as
17
reabsorções também podem ser induzidas por erupção dentária, dentes impactados, trauma
oclusal, tecidos patológicos (cistos ou neoplasias), e pela pressão exercida pela extrema
movimentação ortodôntica dos dentes [17], além de poderem ser de origem idiopática, embora
seja menos frequente [18].
As reabsorções radiculares apresentam dois mecanismos básicos de ocorrência, muito
bem compreendidos: inflamatório ou por substituição [19,20]. O primeiro caso diz respeito a
reabsorção infamatória que é um processo em que, por algum fator, como o traumatismo
dentário, que altere o pH local, sejam removidos os cementoblastos da superfície dentária
mineralizada, expondo-a e tornando-a susceptível à ação das células clásticas. Entretanto, não
se conhece causas sistêmicas que promovam tal efeito nos dentes [21]. Já a reabsorção externa
por substituição, pode ser gerada pela anquilose alveolodentária, que por sua vez é causada
pela eliminação dos restos epiteliais de Malassez, através de traumatismos, envolvendo
também os tecidos mineralizados dentários, que serão gradualmente e inevitavelmente
reabsorvidos e substituídos por osso [22]. As reabsorções não são hereditárias ou sistêmicas,
assim como não geram dor e nem necrose, mesmo que estejam próximas à polpa, pelo fato
que não promovem produtos tóxicos que a atinjam [21].
Nesse contexto, é primordial que haja acompanhamento, já que no caso das
reabsorções inflamatórias, o objetivo terapêutico é a eliminação da causa, sendo o hidróxido
de cálcio [22-24]
considerado o medicamento intracanal de escolha. Diferentemente da
inflamatória, a reabsorção por substituição não tem um bom prognóstico [25]
sendo indicado o
tratamento cirúrgico, podendo gerar deformidades estéticas ósseas [26].
Outra possível reação do complexo dentino-pulpar, decorrente do traumatismo, é a
produção acelerada de dentina levando, por vezes, à calcificação quase total do canal
radicular, podendo dificultar ou mesmo inviabilizar o tratamento endodôntico [12]. Por este
motivo, também nestes casos, quando a calcificação é notada, deve-se realizar logo que
18
possível o tratamento endodôntico. A reação de calcificação, bem como a de reabsorção
interna só cessa quando ocorre a necrose da polpa ou após um tratamento endodôntico bem
sucedido [12].
Deve-se ter cautela a respeito da conduta a ser adotada, a fim de se garantir não apenas
a reabilitação estética, mas também o restabelecimento e manutenção da saúde dos elementos
envolvidos no traumatismo. Para tal, o acompanhamento de casos de dentes fraturados é de
fundamental importância, visto que o diagnóstico precoce de eventuais intercorrências pode
levar ao real sucesso do tratamento.
No presente caso, a localização e aspecto da fratura, combinados com uma oclusão
equilibrada, favoreceu o sucesso clínico dentro dos dois anos de acompanhamento. No que diz
respeito ao procedimento restaurador, a técnica da guia de silicone, associada à estratificação
anatômica aplicada facilitaram a obtenção de contornos dentais e convexidades, além de
propiciar mimetização óptica, através da restauração com resinas compostas. Em casos como
o apresentado no presente relato, em que a preservação do fragmento não foi possível, visto
que as circunstâncias em que ocorrem as fraturas, às vezes, não permitem que o paciente o
encontre, demanda a reconstrução dentária com resina composta. Essa, portanto, é uma
excelente abordagem, por tratar-se de um tratamento conservador e de custo mais baixo,
quando comparado aos procedimentos indiretos [27]
.
A restauração direta com resina composta é considerada o padrão ouro para a
reabilitação de um dente anterior em paciente jovem, por ser um procedimento reversível e
menos invasivo [27]. Sendo assim, a escolha da resina composta deve levar em consideração
aspectos relacionados à resistência e estética. A resina composta nanoparticulada (Z350-XT)
foi selecionada para este caso por apresentar propriedades mecânicas e estéticas adequadas
para o caso [10].
O preparo limitado ao bisel oferece uma área marginal bem definida para facilitar o
19
acabamento e contribui para a diminuição do risco de visualização da margem
dente/restauração [27]. O que ainda propicia a melhoria do padrão de condicionamento,
fazendo com que haja exposição de prismas de esmalte, e consequentemente, propicia melhor
adesão e vedação marginal [27].
A melhor escolha para a estratificação da resina é iniciar pelo incremento de esmalte
palatino, que neste caso foi construído com a utilização da guia de silicone. A variação de
algumas características do compósito, como translucidez e opacidade, exigem que o
profissional conheça a diferente estética dos materiais restauradores e seu comportamento
óptico [8,9]. Adicionalmente, no planejamento estético, devemos levar em consideração as
limitações destes materiais restauradores resinosos e sua correta indicação, pois apesar da
grande melhoria em suas características estruturais, alguns fatores indesejáveis ainda
continuam presentes, concorrendo para uma infiltração marginal ou pigmentações
indesejadas.
O trauma dentário é uma ocorrência complexa, inesperada e de prognóstico muitas
vezes duvidoso, exigindo do profissional um bom preparo técnico [28]. A reabsorção
radicular é uma sequela muito prevalente após traumas dentários, sendo o conhecimento a
respeito desta, assim como o acompanhamento clínico e radiográfico, por no mínimo 7
anos, importantes para o diagnóstico precoce, planejamento e sucesso no prognóstico.
20
CONCLUSÃO
A restauração de múltiplos dentes fraturados, através da guia de silicone, é uma técnica
precisa para restauração em resina composta e é considerada como uma excelente alternativa
para reabilitações de dentes nessas condições.
O acompanhamento clínico e radiográfico é imprescindível para que se possa detectar
precocemente, eventuais intercorrências, como a reabsorção radicular externa, possibilitando
assim, seu tratamento ainda em estágio inicial.
21
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