Departamento de Física Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro PUC-Rio Rio de Janeiro
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Universidade Federal do Rio de Janeiro
Informatização no Cuidado Hospitalar: Subjetividade e Saúde
das Enfermeiras em um Hospital Geral
Cláudia Maria Barboza Machado Fonseca
Rio de Janeiro2006
NESCUFRJ
V.1
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIROCENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDENÚCLEO DE ESTUDOS DE SAÚDE COLETIVADEPARTAMENTO DE MEDICINA PREVENTIVAMestrado em Saúde ColetivaProdução Ambiente & Saúde
Informatização no Cuidado Hospitalar: Subjetividade e Saúde
das Enfermeiras em um Hospital Geral
Dissertação de Mestrado submetida aoNúcleo de Estudos de Saúde Coletiva e aoDepartamento de Medicina Preventiva daUFRJ como requisito parcial para aobtenção do titulo de Mestre em SaúdeColetiva.
Orientadora:Profa. Dra. Mônica Loureiro dos Santos
Rio de Janeiro2006
Fonseca, Cláudia Maria Barboza Machado.Informatização no Cuidado Hospitalar: Subjetividade e Saúde das
Enfermeiras em um Hospital Geral./ Cláudia Maria Barboza MachadoFonseca. Rio de Janeiro: NESC/UFRJ, 2005.
111 f.:
Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva)Universidade Federal do Rio de Janeiro, Núcleo de Estudos
de Saúde Coletiva, 2005.
Orientadora: Profª Drª Mônica Loureiro dos Santos
1. Subjetividade 2. Informatização 3.Cuidado de Enfermagem4. Organização do Trabalho 5. Saúde Coletiva
I.Santos, Mônica Loureiro (Orient.).II. Universidade Federal do Rio de Janeiro.III. Título.
Informatização no Cuidado Hospitalar: Subjetividade e Saúde das Enfermeiras em
um Hospital Geral
Cláudia Maria Barboza Machado Fonseca
Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva daUniversidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, aprovada pela Banca Examinadoracomposta pelos seguintes membros:
________________________________________Profª. Drª.Mônica Loureiro dos Santos - NESC / UFRJ (orientadora)
___________________________________________Profª. Dr.ªMárcia Teresa Luz Lisboa - Escola de Enfermagem Anna Néri / UFRJ
___________________________________________Profª. Drª.Cláudia Osório da Silva - Universidade Federal Fluminense
___________________________________________Prof.ª Drª Marisa Palácios.- NESC / UFRJ
Rio de JaneiroSetembro de 2005
Ao meu querido marido ecompanheiro Rogério,
sempre presente nosmomentos importantes de
minha vida.
Aos meus filhos Bruno,Danielle e Caroline,
fontes de inspiração ealegria.
A G R A D E C I M E N T OE S P E C I A L
À Profª. Mônica Loureiro, orientadora e
amiga, que sempre esteve ao meu lado,
paciente e encorajando-me em todos os
momentos, o meu carinho e um muito
obrigado especial.
Durante este longo trajeto, sei que criei
algumas dificuldades e que a tarefa não foi
fácil.
Agradeço por toda sua dedicação, carinho,
respeito e compreensão.
Você foi especial de verdade e foi muito bom
poder conviver com você este meu momento,
muitas vezes difícil, mas muito valioso e
importante para a minha vida profissional e
pessoal.
A G R A D E C I M E N T O S
A Deus, por estar sempre guiando-me e proporcionando-me uma existência repleta de
realizações.
À minha mãe pelo carinho, determinação e incentivo para que eu tivesse um futuro cheio de
realizações.
Ao meu pai (in memorian), pelo seu esforço e dedicação para a realização dos meus sonhos.
Às minhas irmãs Ana, Valéria e Elaine; meu irmão Jorge; minha sogra e meus cunhados; pelo
estímulo e por acreditarem na minha competência, colaborando e ajudando-me sempre que
possível.
Aos amigos e colegas, pela paciência durante esta longa jornada.
Aos meus colegas de trabalho, o meu muito obrigada pelo incentivo, carinho e dedicação; por
acreditarem na minha capacidade. Todos foram essenciais e, de alguma forma, contribuíram na
realização deste trabalho e nesta etapa da minha vida.
A Eliane Machado, uma colega sem igual, que sempre acreditou no meu sucesso, intercedendo
em suas orações, junto a Deus, para que meu sonho fosse realizado.
Meu carinho especial à colega Luzia Araújo Marques que muito me incentivou e colaborou na
tomada de decisão para o meu ingresso no Mestrado.
Aos professores da Produção Ambiente e Saúde do (NESC), pela valiosa contribuição na
construção deste trabalho. O meu carinho especial à Profª. Anamaria Tambellini, pelo incentivo;
ao Prof. Volney Câmara, por sua paciência e estímulo e à Profª. Marisa Palácios, por tão valiosa
contribuição e demonstração de carinho e amizade.
A todos os funcionários do NESC e, em especial, à D. Cléia, pelo carinho demonstrado com os
alunos e, por estarem sempre tão dispostos a ajudar.
À Delvaci, secretária da Pós-graduação, sempre tão solicita, prestativa e amiga para com todos.
Às minhas colegas que aceitaram participar desta trajetória, sujeitos deste estudo, o meu muito
obrigada pela compreensão e pelo tempo que dedicaram para que este trabalho fosse realizado.
Aos colegas do Mestrado Liriana, Maria, Dolly, Waldecy, Sigrid, Lilia e a todos aqueles que
passaram algum momento com o nosso grupo, agradeço pela amizade que nasceu de nossa
convivência e pela troca de experiência na construção do conhecimento.
Aos professores que fizeram parte da Banca, muito obrigada. Às Profªs. Marisa Palácios, Cláudia
Osório e Márcia Lisboa: vocês foram essenciais para a conclusão deste trabalho.
"...não se trata de pensar e falar sobre o
cuidado como objeto independente de nós.
Mas de pensar e falar a partir do cuidado
como é vivido e se estrutura em nós
mesmos. Não temos cuidado. Somos
cuidado.
(Leonardo Boff, 2001)
FONSECA, Cláudia Maria Barboza Machado. Informatização no Cuidado Hospitalar:Subjetividade e Saúde das Enfermeiras em um Hospital Geral. Dissertação (Mestrado em SaúdeColetiva). Núcleo de Estudos de Saúde Coletiva e Faculdade de Medicina, Universidade Federaldo Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2005. Orientadora: Mônica Loureiro dos Santos.
RESUMO
O objeto deste estudo refere-se à introdução da informatização no cotidiano de trabalho daenfermeira em um hospital geral. Tem como objetivos: identificar, a partir do processo detrabalho e do discurso das enfermeiras, o significado da introdução da informatização no trabalhodessas profissionais e as resistências apresentadas a esta introdução; identificar a percepção dasenfermeiras sobre a relação saúde/trabalho; discutir como foi a recepção da introdução datecnologia da informática no cotidiano de trabalho da enfermeira e analisar como está sendodesenvolvida a atividade da enfermeira diante do processo de informatização. Adota comoabordagem teórica os estudos da psicopatologia / psicodinâmica do trabalho, fazendo referênciaao processo de trabalho em saúde e à implicação desta temática na saúde do trabalhador. Trata-sede uma investigação qualitativa, que busca a compreensão do significado desta temática nocotidiano dos sujeitos. A pesquisa de campo baseou-se na entrevista semi-estruturada e naobservação não-sistemática de algumas atividades das enfermeiras. Inicialmente esta discussãolevou à compreensão da complexidade da situação de trabalho estudada em um contexto dereestruturação produtiva. Foram observadas atitudes de resistência a mudanças por parte dasenfermeiras e dificuldades da organização do trabalho em inseri-las no novo modo de realizar otrabalho. Diante da máquina se percebem presas, em condição de isolamento, para além doslimites físicos desfavoráveis, considerando um controle mais acirrado sobre o seu trabalho.Conclui-se que a informatização interfere significativamente no processo de trabalho dasenfermeiras que participaram do estudo, considerando especialmente as condições deimplantação no hospital e o modo anterior de realizar o trabalho. Quanto à relaçãosaúde/trabalho, a percepção da introdução da informatização é a de um maior comprometimentoda saúde destas trabalhadoras.
PALAVRAS - CHAVES: SUBJETIVIDADE; INFORMATIZAÇÃO; CUIDADO DEENFERMAGEM; ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO; SAÚDE COLETIVA.
FONSECA, Cláudia Maria Barboza Machado. Computer Technology in the Hospital Care:Subjectivity and Nurses Health in a General Hospital Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva).Núcleo de Estudos de Saúde Coletiva e Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Rio deJaneiro, Rio de Janeiro, 2005. Orientadora: Mônica Loureiro dos Santos.
ABSTRACT
The object of this study refers to the introduction of computer technology in the routine of the
nurse in a general hospital. The objective is to identify, from the work process and nurses´
speech, the meaning of the introduction of computer technology in the daily work of these
professionals and the resistences presented; identify the perception of the nurses on the
health/work relation; discuss how the reception of this computer technology introduction
impacted in the daily work of nurses and analyze how their activity is being developed helped by
this technological implementation. It takes as theoretical background the studies of the work
psychodynamics/ psychopatology, referring to the health work process and the implication of this
subject in the health of workers. It´s about a qualitative inquiry that seeks the understanding of
the meaning of this subject in the routine of nurses. The field research was based on interview
and in the non-systematic observation of some activities of the nurses. Initially this discussion
made possible the understanding of the complexity of the studied work situation, in productive
reorganization context. Attitudes of resistance to changes on the part of the nurses and
difficulties in the organization of work in order to insert them in a new way to develop their work
was observed. Beyond machinery, they feel stuck, in condition of isolation, in despite of physical
limits, considering a more incited control over their work. It may be concluded that computer
technology implementation contributed significantly in the work process of nurses who
participated in this study. Regarding health/work relation, the introduction of computer
technology bring about a higher commitment of the health of these workers.
KEYWORDS: SUBJECTIVITY; COMPUTER TECHNOLOGY; NURSE CARE; WORK
ORGANIZATION; COLLECTIVE HEALTH.
S U M Á R I O
P
RESUMO 07
ABSTRACT 08
1. INTRODUÇÃO 11
1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS 11
1.2 APRESENTANDO A PROBLEMÁTICA 14
OBJETIVOS: 21
2. CAPÍTULO I 22
2.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 22
2.1.1 O ESTADO DA ARTE DA ENFERMAGEM: CUIDADO 22
E PROCESSO DE TRABALHO EM SAÚDE2.1.2 A INFORMATIZAÇÃO NO CENÁRIO HOSPITALAR E O CUIDADO 28
2.1.3 PSICODINÂMICA DO TRABALHO 35
2.1.4 RELAÇÃO SOFRIMENTO PSÍQUICO E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO 44
3. CAPÍTULO II 483.1 MÉDOTO 48
3.1.1 CAMINHO METODOLÓGICO 48
3.1.2 O CENÁRIO DO ESTUDO 493.1.3 O TRABALHO PRESCRITO 50
3.1.4 OS SUJEITOS DA PESQUISA 54
3.1.5 A COLETA DOS DADOS 55
4. CAPÍTULO III 584.1 APRESENTANDO A ANÁLISE DOS DADOS 58
4.2 OS RESULTADOS. 59
4.2.1 A ENTREVISTA E OS SIGNIFICADOS DO TRABALHO 594.2.1.1 CARACTERIZAÇÃO DAS ENFERMEIRAS 59
4.2.1.2 REPRESENTANDO A PALAVRA DAS ENFERMEIRAS 61
4.2.1.2.1 O COTIDIANO DE TRABALHO DA ENFERMEIRA. 614.2.1.2.2 CUIDADO NA COMPREENSÃO DAS ENFERMEIRAS 64
4.2.1.2.3 A PERCEPÇÃO DA INFORMATIZAÇÃO. 654.2.1.2.4 A RELAÇÃO ENTRE INFORMATIZAÇÃO / CUIDADO 69
4.2.1.2.5 TREINAMENTO E INFORMATIZAÇÃO. 71
4.2.1.2.6 O TRABALHO ANTERIOR À INFORMATIZAÇÃO 724.2.1.2.7 INFORMATIZAÇÃO E SAÚDE DO TRABALHADOR 73
4.2.1.2.8 A RELAÇÃO TRABALHO E PRAZER. 76
4.2.2 A OBSERVAÇÃO 784.2.2.1 O TRABALHO REAL E O TRABALHO PRESCRITO 85
4.3 DISCUSSÃO 86
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 92
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 97
ANEXOS 102ANEXO A - TERMO DE APROVAÇÃO PELO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA 102
ANEXO B - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 103
ANEXO C - ROTEIRO DA ENTREVISTA 104ANEXO D - CARTA ÀS ENTREVISTADAS 106
ANEXO E - O TRABALHO REAL DE UMA ENFERMEIRA 107
1 INTRODUÇÃO
1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Este estudo é fruto da minha inquietação e mesmo implicação na prática, enquanto
profissional de enfermagem, em um hospital de ensino no município do Rio de Janeiro. Com uma
preocupação voltada para o significado das transformações no cotidiano de trabalho da
enfermagem, dentro de um contexto global marcado por constantes mudanças, vem o desejo de
entender o que estas mudanças, incluindo as inovações tecnológicas, podem acarretar à saúde do
trabalhador.
Diante da reestruturação produtiva, as transformações vão acontecendo, dentro do mundo
do trabalho, influenciando de forma marcante e interferindo significativamente no processo de
trabalho e no cotidiano do trabalhador. Reforçando a questão, Pires, referindo-se a algumas
características do processo de produção industrial, assinala que "em relação ao processo de
trabalho ocorrem diversas transformações e os autores divergem quanto às perspectivas de
futuro e quanto às conseqüências positivas e negativas para os trabalhadores". (PIRES, 1998, p.
49).
Em contrapartida, também não há, por parte do trabalhador, uma percepção se estas
transformações são ou não perniciosas a sua saúde e às suas relações de trabalho. As queixas são
ouvidas entre os muros da instituição, mas não há uma reflexão do profissional sobre o assunto.
Frente ao amplo leque de transformações, foi necessário centrar a questão, delimitando o
estudo e trazendo o foco para um ponto que foi inovador dentro da instituição. O processo de
informatização do hospital, vivenciado pelos profissionais, e que provocou alterações relevantes
no processo de trabalho de enfermagem. O objeto de estudo se refere à introdução da
informatização no cotidiano de trabalho da enfermeira, em um hospital universitário. Dentro
desta perspectiva alguns aspectos serão ressaltados durante o desenvolvimento da temática.
O modo como o trabalho é organizado e a percepção sobre as implicações para a saúde do
trabalhador na produção do cuidado serão aspectos abordados, buscando trazer importantes
contribuições no que se refere à relação saúde e trabalho. É um estudo inserido na área
“Produção, Ambiente e Saúde”, centrado em questões da relação saúde/trabalho, de grande
relevância para a Saúde Coletiva.
Como o interesse por esta temática advém do meu cotidiano de trabalho, farei um breve
relato da minha trajetória enquanto profissional de enfermagem. Fui admitida na instituição como
enfermeira, em 1982, e meus primeiros passos foram como enfermeira líder1, em um setor de
clínica médica. Sendo recém formada, tive o início marcado por muita insegurança e também
alguns constrangimentos que me levaram, muitas vezes, a pensar em deixar o hospital.
A rigidez do regime institucional entrava em confronto comigo, enquanto pessoa e sujeito
de singularidades. Vencer os obstáculos que se apresentavam era um desafio que me estimulava a
estar sempre em busca de novos horizontes nessa profissão que é, ao mesmo tempo, fascinante e
desgastante.
Atuei na clínica médica e em outros setores de especialidades clínicas até o final de 1985,
quando a instituição passou por uma mudança radical em todo seu corpo de chefia, através da
realização de um sufrágio, no qual me candidatei a uma vaga de supervisão. Desde então, a partir
de 1986, tenho atuado em atividades ligadas a gerência e supervisão, convivendo cotidianamente
com a temática em questão e com os diversos problemas que envolvem a maior parte dos setores
da instituição.
1 Enfermeira assistencial, comumente chamada de "enfermeira de cabeceira".
Foi neste convívio que pude observar, principalmente nos últimos tempos, períodos de
intensa mobilização, frente ao novo cenário que se apresentava: a introdução do prontuário
eletrônico no processo de trabalho das enfermarias do hospital. Os trabalhadores, como um todo,
precisavam se engajar para que os objetivos da instituição fossem alcançados. Entretanto, pude
também observar uma grande resistência por parte dos profissionais, incluindo as enfermeiras,
em assimilar esta nova idéia que modificava muito a sua rotina diária de trabalho.
Esta pesquisa procura mostrar, na vivência da prática da enfermagem, um grupo de
trabalhadoras que se inscrevem majoritariamente no campo feminino, ênfase que será dada ao
estudo em questão. É sobre as enfermeiras que direciono meu olhar; descobrir o que se dá nos
meandros dessa prática é essencial, quando também sou enfermeira.
Diante do exposto, acredito que essa prática precisa ser repensada, refletida, vivida de
forma a romper com antigas concepções que não davam margem ao trabalhador para se
expressar, se conduzir de forma criativa no desenvolvimento do processo do trabalho. Por
acreditar que existem lacunas na área do conhecimento que precisam ser preenchidas com relação
a esta temática, surge o desejo de investigar o seu significado no cotidiano de trabalho da
enfermeira, buscando uma reflexão mais crítica sobre o assunto.
Um importante ponto do estudo é a busca por entender a problemática sob o ponto de
vista da enfermeira, através de sua fala, a partir do seu cotidiano de trabalho. Este aspecto torna-
se relevante, quando o estudo busca trazer uma contribuição essencial para o saber. Que seja
fonte de reflexão e de orientação e que sirva como referencial nesta abordagem, fomentando o
desenvolvimento de novas investigações acerca do assunto. Que proporcione buscar soluções
apropriadas para o desenvolvimento da prática, visando minorar a questão do sofrimento e dos
problemas referentes à saúde do trabalhador de enfermagem, assim como dos outros
trabalhadores de saúde que, paralelamente, vivem a transformação em seu trabalho.
Para a Saúde Coletiva terá um caráter fundamental, por abordar aspectos que se referem à
relação saúde e trabalho, tão importantes nos estudos da saúde do trabalhador.
1.2 APRESENTANDO A PROBLEMÁTICA
A partir do ano de 1998 dá-se na instituição uma grande reviravolta que acena para um
cenário de grandes mudanças, tendo a informatização como parte do cenário. As mudanças
visavam melhorias, tanto das condições de trabalho como da qualidade da assistência, assim
como a instituição buscava a “Acreditação”.
É importante definir o que vem a ser a “Acreditação” dentro deste contexto. Para o
Ministério da Saúde (1999), a Acreditação consiste em um: "Procedimento de avaliação dos
recursos institucionais, voluntário, periódico e reservado, que tende a garantir a qualidade da
assistência por meio de padrões previamente aceitáveis". (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1999, p.
11).
Para situar neste contexto a temática informatização hospitalar, é de fundamental
importância citar algumas das mudanças ocorridas no hospital a partir desta época. Segundo
Ferreira, (1998, p. 5):
a) Investimento na qualificação profissional, quando os profissionais foram
incentivados a participar de cursos de aperfeiçoamento, pós-graduação lactu sensu
e stricto sensu, como outros;
b) implementação de reuniões sistemáticas, com todo o grupo de chefia, visando a
melhorar a forma de comunicação entre todos os níveis, numa tentativa de unificar
condutas entre os diversos setores da instituição;
c) promoção da educação em serviço, com melhorias na estrutura e composição do
Serviço de Desenvolvimento de Enfermagem;
d) fechamento de alguns setores e abertura de outros, visando à operacionalização e
otimização dos serviços, concomitantemente à redistribuição dos diversos
profissionais dentro desses setores;
e) informatização de todos os serviços, burocráticos ou assistenciais, buscando
melhorias na comunicação e na operacionalização de diversas atividades dentro da
instituição, entre outras.
Neste período, chefiando um andar destinado a internações cirúrgicas, ouvi dos
profissionais de enfermagem, durante a realização de reuniões, queixas relacionadas à sobrecarga
de trabalho, por diferentes situações, e que culminavam com diferentes graus de insatisfação.
A comunicação deficiente foi um dos pontos de insatisfação e colocada como principal
responsável pela não-qualidade da assistência. O resultado das reuniões culminou num trabalho
apresentado no 6º Pesquisando de Enfermagem na Escola de Enfermagem Anna Néri
(MARQUES e FONSECA, 1999, p. 89).
Outro estudo refere que a comunicação na instituição é fator imprescindível para facilitar
os processos de trabalho e enfatiza o aspecto mudanças. É preciso acompanhar as mudanças, que
fazem hoje parte do mundo. É necessário o alto comprometimento de todos, a capacitação dos
profissionais, a descentralização das áreas e dos níveis hierárquicos, com vistas ao êxito nos
processos de trabalho para que estes facilitem a interação e comunicação entre todos
(MARQUES et. al., 2002, on-line).
Um dos objetivos da informatização hospitalar é considerar fundamental a melhoria na
comunicação, essa que é considerada por todos como deficiente ou insuficiente. Os funcionários
da "ponta", na Enfermagem, os envolvidos no cuidado direto, queixam-se de que não tomam
conhecimento do que acontece na instituição, das decisões tomadas em níveis de direção e,
quando tomam, é de uma maneira deturpada.
Então, a partir dessa data, a informatização começa a ganhar espaço e a ser discutida na
instituição, onde a implantação e implementação do sistema de gestão informatizada em todo o
hospital incluíam desde as atividades burocráticas até as atividades assistenciais. A busca da
efetividade e eficiência, na consolidação dessas mudanças, constituía-se prioridade da atual
gestão, implicando no desafio de mobilizar toda a comunidade interna da instituição para revisão
de fluxos e implantação de novos processos de trabalho (SÍNTESE DO PLANO DIRETOR,
1998-2001).
Inicia-se, a partir deste momento, um novo modelo de trabalho voltado para a
informatização, o qual afetou o processo de trabalho de todos os profissionais, inclusive daqueles
ligados diretamente ao cuidado, no qual a enfermagem se inclui.
Foram momentos vivenciados por todos como de grande expectativa, devido ao
desconhecimento de como seria o novo rumo do trabalho. A chegada dos computadores foi
aguardada ansiosamente, assim como o preparo das unidades (formação de ilhas de
computadores - duas em cada andar) e o início do treinamento dos profissionais, para que essa
nova atividade substituísse outra dentro do nosso processo de trabalho. Ainda hoje convivemos
com toda essa inquietação, pois devido à dimensão do hospital, este processo de informatizar
todas as unidades vem ocorrendo lenta e gradativamente.
Inicialmente as Seções foram preparadas com "pontos de rede", recebendo cada uma dois
computadores, que ficaram localizados um no balcão do posto, junto ao assistente administrativo
e o outro dentro da sala da chefia de enfermagem. As primeiras pessoas a receberem treinamento
foram as chefes de enfermagem das Seções e os assistentes administrativos, já que a solicitação e
o controle do material seriam feitos on-line.
Alguns assistentes administrativos se recusaram a receber esse aprendizado e, embora as
chefias tivessem aceitado o treinamento, mostraram-se resistentes, em algum momento, com esta
nova forma de solicitar e controlar o material do posto. Sentiam-se inseguros e muitas vezes
mostravam certo medo, porque não entendiam o motivo do não-recebimento de determinado
material.
Os profissionais de enfermagem e os outros da equipe de saúde começaram a ser
gradativamente treinados para o trabalho informatizado, de acordo com a chegada dos
computadores às ilhas, como são chamadas as salas reservadas ao trabalho informatizado. O
treinamento geralmente era para as equipes de duas Seções, por exemplo, Seção A e B, já que a
ilha atende a duas Seções e se localiza numa sala entre as mesmas. As ilhas se compõem de, em
média, dez computadores e uma impressora, cada uma.
O começo dessa nova etapa foi algo dúbio, pois, de um lado tínhamos profissionais
empolgados com a chegada dos computadores às Seções e pelo acesso permitido à Internet,
enquanto de outro tínhamos outros profissionais preocupados em controlar esse acesso e o que
isso poderia vir a acarretar à condução do processo de trabalho.
A Internet, liberada a todos, era uma grande preocupação das enfermeiras, que
consideravam que nem todos sabiam como fazer uso adequado desse instrumento, isto é, as
supervisoras consideravam que perderiam o controle sobre o trabalho desenvolvido pelo pessoal
auxiliar, o que intensificaria o seu trabalho.
Outro aspecto percebido foi que o início do treinamento e a implementação do trabalho de
enfermagem informatizado, no que se refere aos registros da realização do cuidado pelos
auxiliares e técnicos de enfermagem, assim como do plano de cuidado, dos relatórios, da
evolução de enfermagem e outros, pela enfermeira, no prontuário eletrônico, gerou um grau de
insatisfação e rejeição por parte de alguns.
Sentiam-se desvalorizados diante do novo, que consideravam como imposto. Pareciam à
margem, não acompanhando todo o processo, e rejeitavam a situação, por considerá-la
desnecessária. Às novas exigências era demonstrado um sentimento de negação. Acreditavam ser
esta uma forma de se contrapor ao que consideravam como imposto, querendo dizer que a
maneira como o trabalho vinha sendo realizado era bom e satisfatório. No entanto, muitos se
adaptaram.
Este novo cenário, voltado para a informatização, exigia de cada profissional uma
readaptação a uma nova modalidade de trabalho. Entretanto, suas conseqüências e o que estava
significando no cotidiano de trabalho (cuidado) e na subjetividade de cada um, não foram
questões contempladas na reestruturação do trabalho.
Os profissionais alegavam que já estavam "velhos demais", para aprender a lidar com o
computador e reafirmavam que essa era mais uma tarefa que a direção estava impondo e que não
tinha nada a ver com a enfermagem, reforçando que a maneira como o trabalho (cuidado) vinha
sendo realizado era satisfatório, e não exigia mudanças.
Muitas foram às situações conflituosas no cotidiano destes profissionais, que pareciam
não perceber a máquina (computador) como mais um instrumento de trabalho. Não viam a sua
importância e usavam de justificativas como forma de defesa e muitas vezes ignoravam a
solicitação para participarem do treinamento oferecido.
Santos, (2001), no estudo que avalia atitudes de estudantes e profissionais frente à
informática, assinala a importância de se investir em tecnologia e treinamento dos profissionais
para que se crie uma cultura positiva em relação ao uso do computador como instrumento de
ajuda no desenvolvimento das atividades de Enfermagem (SANTOS, 2001, on-line).
A introdução da tecnologia da informática no ambiente de trabalho faz hoje parte do
cotidiano do hospital. Segundo Oliveira (1997), as novas tecnologias chegam e provocam
importantes mudanças no mundo do trabalho, seja na produção, seja na sociedade como um todo.
Existe uma suposta eliminação das tarefas, chamadas pesadas ou penosas, conduzindo
modificações nos processos de trabalho, estabelecendo uma nova relação entre o homem e a
máquina. Isto provoca um aumento significativo da produtividade e repercute profundamente na
vida dos trabalhadores, aumentando os riscos para a saúde dos mesmos e, principalmente, na sua
vida psíquico-social (OLIVEIRA, 1997, on-line).
As mudanças chegam e não dão vez aos estagnados e, nesse cenário, a informatização
chegou alterando a forma de condução do cuidado, onde nem todos estavam dispostos a buscar
novos conhecimentos, principalmente aqueles que se encontram na faixa etária acima dos
quarenta e cinco anos e em torno dos vinte anos de trabalho. Estes consideram a informatização
uma "coisa" para os jovens e não valorizam o seu aprendizado, pois encontram dificuldades para
conduzir essa nova forma de trabalho.
Segundo Wisner (1987):
Um grande número de pessoas encontra-se rejeitada pelo sistema produtivo ou situada àsua margem em decorrência da reestruturação produtiva, que exige um novo perfil dotrabalhador. Vale ressaltar que esta reestruturação nem sempre considera a variabilidadedo trabalho e o trabalhador como o sujeito do processo de reestruturação produtiva(WISNER,1987, apud ABRAHÃO, 2000, on-line).
Este é um aspecto valioso, porque considera que o trabalhador deve ser contemplado
enquanto sujeito e inserido nesse processo, participando e construindo junto os aspectos que
sejam essenciais ao seu trabalho. Quando não, sentem-se à margem, mostram-se cansados e
incapazes de acompanhar a evolução e a transformação de todo o processo.
Alguns profissionais, como anteriormente apontado, sentiram-se, em algum momento,
incapazes de acompanhar o processo de informatização e rejeitavam-no, demonstrando um
sentimento de estranheza ao novo, já que este não fazia parte de suas relações cotidianas. Esses
sentimentos podem ser comparados ao que Palácios (1993), chama de isolamento social:
"significa que o trabalhador experimenta um sentimento de não pertencer à comunidade". Essa
comunidade composta pelas relações sociais que se estabelecem no trabalho e que são
valorizadas pelos seus membros (PALÁCIOS, 1993, p. 23).
Este novo aprendizado requer dos profissionais um novo conhecimento, fazendo com que
muitos questionem a necessidade de se contratar um digitador por plantão, para facilitar o
processo de trabalho. Para Pires (1998), "o uso de tecnologia de ponta exige melhor qualificação
dos trabalhadores para manuseio desses equipamentos" (PIRES, 1998, p. 242).
A autora reforça a questão referindo-se a introdução do computador no processo de
trabalho de enfermagem:
O uso do computador, ao mesmo tempo, que facilita e agiliza o trabalho, tambémacrescenta trabalho”. Por exemplo, em relação ao trabalho de enfermagem, exige que osprofissionais, além de dominarem os conteúdos relacionados ao seu trabalhoprofissional, dominem conhecimentos relativos ao uso do computador (PIRES, 1998, p.208).
É neste contexto, convivendo com as normas instituídas e buscando uma normatividade
para a vida, enquanto sujeitos presentes no mundo, que consideramos fundamental discutir e
reconhecer a profundidade necessária ao tema em questão. Refletir sobre estas questões e
perceber a saúde a partir de Canguilhem, por considerar a nossa capacidade de tolerar as
infidelidades do meio e suas variações. A capacidade de adaptação do indivíduo a estas
infidelidades e a de instituir novas normas è o que o caracteriza o normal dentro de sua nova
norma. Que a vida não esta alheia às condições impostas pelo ambiente, mas sim, é por ele
influenciada, manifestando-se então a saúde ou doença (CANGUILEM, 1979, p. 159-163).
Para tratar o assunto em questão, foram construídos alguns pressupostos. A
informatização interfere no cuidado prestado pela enfermeira. O processo de informatização está
interferindo na relação saúde e trabalho da enfermeira. Estes pressupostos nortearam as seguintes
questões: Como a enfermeira percebe a informatização na instituição? Qual a relação entre a
informatização na instituição e o desenvolvimento das atividades da enfermeira? Como a
informatização interfere na relação saúde e trabalho da enfermeira?
O objetivo geral do estudo é identificar, a partir do estudo do processo de trabalho e do
discurso das trabalhadoras, o significado da introdução da informatização no cotidiano de
trabalho da enfermeira e as resistências a esta introdução, a partir dos pressupostos da
psicopatologia/psicodinâmica do trabalho.
Alguns objetivos específicos foram traçados, tentando relacionar a temática a estes
aspectos essenciais ao estudo.
a) Identificar a percepção da enfermeira sobre a relação saúde/trabalho;
b) discutir como a enfermeira recebeu a introdução da tecnologia da informática no seu
cotidiano de trabalho;
c) analisar como está sendo desenvolvida a atividade da enfermeira, no seu cotidiano de
trabalho, diante do processo de informatização.
d) analisar teoricamente, como as enfermeiras percebem o sentido do trabalho após a
informatização, a partir de conceitos da psicopatologia e psicodinâmica do trabalho, por
exemplo, a formulação acerca das estratégias de defesa coletivas.
2. CAPITULO I
2.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1.1 O ESTADO DA ARTE DA ENFERMAGEM: CUIDADO E PROCESSO DE
TRABALHO EM SAÚDE
A temática em questão, informatização e subjetividade da enfermeira, desenvolvem-se
dentro do contexto do hospital., contexto este marcado por diversas formas de saber, que se
entrecruzam na imprevisibilidade do cotidiano dos profissionais de saúde. O hospital, no decorrer
da história, evoluiu de asilo aos excluídos a uma instituição onde o saber, a formação e a
transmissão de saber ocupam seu lugar privilegiado nesse cotidiano (FOULCAULT, 1982,
p.111).
As relações estabelecidas dentro deste cotidiano da instituição hospitalar permanecem
pautadas nos seus diversos saberes e na própria questão dos diversos e diferentes poderes que se
estabelecem dentro deste contexto. A enfermagem vive diariamente no interior deste confronto,
onde o que se tem são os graus hierárquicos que se estabelecem dentro da própria profissão e o
poder estabelecido pela hegemonia médica.
Dentro deste cenário do hospital, discutindo o trabalho de enfermagem e a saúde do
trabalhador, não podemos deixar de abordar o cuidado como foco primordial, já que será
abordado na interface com a informatização, ora instituída.
Vários estudos trazem uma abordagem voltada para a importância da compreensão da
presença subjetiva no cuidado de enfermagem. Santos et. al referem que:
O cuidado produz o bem-estar e o bem viver, o bem maior a que tem direito ohomem.(...) São movimentos corporais produtores de conhecimentos envolvendodimensões estéticas, política, social, ambiental, cultural, ecológica e a subjetividade. (...)Obriga-nos a caminhar para encontrar uma indicação, uma direção a fim de mergulharem nós mesmos; estimula-nos a sonhar com os labirintos institucionais e a pensar emalternativas desde o entendimento de que o ser humano é um ser desejante (SANTOS et.al, 2002, on-line)
A subjetividade no cuidado é valorizada e tida como essencial; por isso, em sua maioria,
os estudos relacionados ao cuidado de enfermagem dão ênfase a esse aspecto. Entretanto, o
cuidado como essência da profissão, sustento e base para o seu desenvolvimento, seja como arte,
seja como ciência, não está encontrando destaque dentro das instituições, diante da organização
do trabalho, que ainda não considera a face subjetiva do cuidado como fundamental na sua
realização.
Existem, na Enfermagem, várias teorias abordando o cuidado e sua forma de ser.
Leininger, em sua teoria do cuidado transcultural, considera que:
O cuidado ao ser humano é universal, isto é, o ser humano, para nascer, crescer, mantersua vida e morrer, precisa ser cuidado, porém cada cultura, de acordo com seu ambientee estrutura social, terá sua própria visão de saúde, doença e cuidado". "Cultura são osvalores, crenças e práticas compartilhadas, apreendidas ao longo das gerações(LEININGER, 1991, apud BOEHS, 2002, on-line)
Para Watson (2000, on-line), a enfermagem é uma ciência humana que orienta para o
processo do cuidado, fenômeno que inclui experiências, arte e humanidades. Sua perspectiva
fundamenta-se em uma ontologia relacional do ser-em-relação, e numa visão de unidade do
mundo e para importância do self de todos.
Considerando o cuidado como o alicerce da profissão, o processo de trabalho de
enfermagem e, entendendo que este precisa ser continuado, moldado para receber esta forma que
se expressa como um novo modo de cuidado, é importante buscar compreendê-lo como um modo
de ser essencial para as enfermeiras, que precisam senti-lo de forma que integre suas expectativas
com as de quem é cuidado.
Por compreendermos o cuidado sob tal aspecto, visto por grande parte das enfermeiras,
afirmamos que ele está precisando ser reavivado nas pessoas. E esse reavivamento ou acordar do
entorpecimento imposto pelas turbulências encontradas no cotidiano profissional está precisando
acontecer rapidamente, principalmente na enfermagem, onde o cuidado envolve o outro, aquele
que sofre e que precisa ser cuidado.
As atividades de enfermagem, amplamente difundidas dentro do processo de trabalho em
saúde, como tal precisam ser consideradas. Para situar a questão, Ribeiro et. al (2004, on-line),
utilizam como referencial Mills (1979); Braverman (1981); Offe (1991) e Pires (1994, 1998,
2000) considerando-os de grande relevância para compreensão do trabalho em saúde e o de
Campos (1997); Merhy (1999); Sá (1999); Schraiber (1999); Soares (2000); Almeida (1986) e
outros da saúde coletiva como facilitadores na discussão entre a teorização sobre o "processo de
trabalho em saúde" e a realidade de trabalho.
Para Ribeiro et. al (2004) o processo de trabalho em saúde:
É hoje, majoritariamente, um trabalho coletivo e institucional, que se desenvolve comcaracterísticas do trabalho profissional e, também, da divisão parcelar ou pormenorizadado trabalho e da lógica taylorista de organização e gestão do trabalho. (Ribeiro et. al2004, on-line).
O referencial utilizado pelas autoras nos assinala que o modelo assistencial do setor
serviços, onde se insere o setor saúde, permanece pautado na hegemonia neoliberal. Nele não há
o trabalho em equipe compartilhado, onde as distintas necessidades técnicas são negociadas. Há
um trabalho compartimentalizado, com cada profissional se organizando e prestando a sua
assistência de saúde, independente dos demais. Conforma-se a divisão parcelar do trabalho,
principalmente na enfermagem, com a fragmentação das tarefas e o controle exercido pelos
profissionais de nível superior. O modelo favorece a adoção de políticas que desprotegem o
trabalho e os trabalhadores, pela interferência imediata no seu processo de trabalho (RIBEIRO, et
al, 2004, on-line).
Para Ferraz (apud Spagnol, 2005, on-line), o controle é um fator que distingue o modelo
gerencial da enfermagem. Aos trabalhadores é determinado o como fazer as tarefas, tendo as
ações centralizadas na supervisão, dificultando a gerência compartilhada. Não é permitido ao
trabalhador opinar sobre questões que envolvem o processo de trabalho.
Spagnol (2005), traz para reflexão essas questões negativas da organização do trabalho,
que influenciam o processo de trabalho de enfermagem, conformando práticas de poder e
controle sobre as atividades dos trabalhadores. O referencial (L'ABBATE, 1994, 1995, 2000;
CAMPOS, 2000; MERHY & ONOCKO, 1997; CECÍLIO, 1997 apud SPAGNOL, 2005), nos
mostra uma nova forma de pensar o trabalhador: este como um sujeito social, capaz de refletir
sobre o seu trabalho, não mais reproduzindo uma prática, mas com capacidade de atuar na
produção de novas práticas.
Percebemo-nos, muitas vezes, diante do 'cuidado mecanizado', onde o cuidador estabelece
apenas uma relação unilateral com quem é cuidado, deixando o outro submerso na passividade.
Esse modo de agir parece ser uma defesa utilizada pelos profissionais para não se envolverem
com o sofrimento do outro e não permitir que suas emoções sejam percebidas. Não é permitido
no caso, ao paciente ou familiar, interagir nesse processo e partilhar este momento do cuidado.
Para Spagnol (apud SPAGNOL, 2005), o trabalho de enfermagem desenvolvido
mecanicamente, quando não há vínculo com os clientes e com os problemas do cotidiano,
interfere significativamente na qualidade dos serviços prestados.
Nesse sentido, corroboramos Waldow, ao abordar o resgate do cuidado humano,
considerando suas variadas dimensões éticas, estéticas, científicas, administrativas, de poder
(feminino) e educacionais. A autora reforça que o:
Cuidado humano envolve ética (...) princípios e valores que deveriam fazer parte não sódo ensino, mas do cotidiano do meio acadêmico (...) e da prática profissional. Destacaque este” não pode ser prescrito, não segue receitas. O cuidado humano é sentido,vivido, exercitado (WALDOW, 2001, p. 55).
Portanto é importante também considerar esta face do cuidado, que envolve a afetividade.
As enfermeiras sempre foram treinadas para não envolver o emocional nas relações de trabalho.
Concordamos com a autora, quando diz que o cuidado é também um processo interativo e que
precisa ser vivido cotidianamente pelo profissional de enfermagem, pois é mostrado como uma
forma de interação entre o sujeito cuidador e o sujeito que é cuidado. Este precisa ser partilhado,
na inter-relação entre ambos quando, então, expõem sua subjetividade.
Lopes (1999) traça considerações fundamentais sobre este aspecto. Para a autora:
È o relacional que empresta singularidade ao cuidado. (...) A consciência da dimensão dorelacional, que o cotidiano realça e torna indispensável, visibiliza os campos de rupturacom a ótica médica dominante, com o reino absoluto da técnica e vislumbra os espaços aserem ocupados pelo cuidado. Esses espaços são problematizados, sobretudo, nas açõesdas enfermeiras e construídos na ação cotidiana da equipe. O cuidado é, então, oresultado de um saber acumulado, de disciplinas que desvendam as relações humanas e ocontato com o outro, mas também de experiências construídas nas práticas efetivas,aprendidas e transmitidas em serviço e que ajudam a curar ou a viver melhor os limitesorgânicos e psíquicos impostos pela enfermidade (LOPES, 1999, p. 49).
É este o cuidado que precisa ser priorizado e não aquele estabelecido pela organização do
trabalho que, na instituição, ainda se dá de forma rígida, com fragmentação das tarefas e a divisão
social e técnica do trabalho. Entretanto vale lembrar que, embora a fragmentação exista no
hospital em estudo, ela não se dá de forma tão sistematizada, já que o cuidado é exercido na
forma de "cuidado integral".
Não existe um total parcelamento das tarefas no cuidado, mas a hierarquia, a
especialização e o saber exercem presença marcante na instituição, priorizando a técnica em
detrimento do relacional/afetivo. Acreditamos que a organização do trabalho seja um dos fatores
dificultadores da maior interação no cuidado prestado pelos profissionais, mesmo quando é
adotado o "cuidado integral" ao paciente.
Reafirmando a questão, Oliveira e Alessi, (2003), assinalam como foram e são
construídas as práticas de enfermagem no decorrer da história:
A enfermagem é, portanto, prática historicamente estruturada, ou seja, existe ao longo dahistória da humanidade, porém constituída por diferentes maneiras de cuidar que, porsua vez, são determinadas pelas relações sociais de cada momento histórico. Atualmente,o trabalho de enfermagem é integrante do trabalho coletivo em saúde, é especializado, édividido e hierarquizado entre auxiliares, técnicos e enfermeiros de acordo com acomplexidade de concepção e execução (OLIVEIRA e ALESSI, 2003, on-line).
Como a temática discute o cotidiano de trabalho da enfermeira, descrever o que é o
trabalho desta profissional é fundamental. As competências da enfermeira são organizadas de
acordo com a sua posição dentro da hierarquia. As enfermeiras do estudo são Líderes e Chefes de
Seção, com atuação nos postos de enfermagem, próximas ao cuidado direto do paciente.
O cuidado é vivido no cotidiano da enfermeira nas suas múltiplas relações, seja com os
profissionais da equipe multiprofissional, seja com os pacientes e familiares. É preciso retratar
que nestas relações precisa ser evidenciada a questão do trabalho cooperativo e relacional. Se não
existir relação com o outro, cooperação e interação, não emerge a subjetividade,
intersubjetividade; portanto considero que não há o cuidado, mas uma simples ação.
O cuidado, hoje, precisa ser repensado e praticado em relação ao novo que se instaurou. A
tecnologia da informática chegou e se instalou no cotidiano destes profissionais sem que eles
dessem conta do que se espera deles hoje e no amanhã. Se este hoje já se mostra imprevisível,
que dirá o amanhã? Com esta nova demanda de qualificação que se exige do profissional hoje,
encontramos vários pesquisadores indo ao encontro deste novo, que já não é tão novo assim,
principalmente nos países considerados desenvolvidos.
2.1.2 A INFORMATIZAÇÃO NO CENÁRIO HOSPITALAR E O CUIDADO.
Vivemos hoje na era informacional, onde computador, informática, software, hardware,
internet, e outros são termos que temos que conhecer e entender, para que possamos estar
“plugados” no mundo. Essa nova era traz para dentro do cotidiano da enfermeira uma nova forma
de fazer o trabalho. O que será, no entanto, esta inovação no trabalho da enfermeira e de todos os
profissionais da área de saúde?
Évora (1995) e Marin (1995) subsidiam esta discussão, quando através de seus estudos
facilitam a compreensão da introdução da informática na prática da enfermagem. Para Èvora
(1995, p. 12) "os computadores e outros avanços tecnológicos sejam forças dinâmicas que estão,
rápida e continuamente mudando os rumos da prática de enfermagem".
A autora, quando se refere à tecnologia da informação assinala que "No campo
da assistência à saúde, os sistemas de informação consistem na aplicação primária da
informação". Salienta as distinções existentes entre estas ferramentas da computação, assinalando
que:
O computador (hardware) é uma máquina para processar dados. O software é um conjunto deinstruções que diz ao computador como realizar o trabalho. O sistema por sua vez, é o modo defazer uma atividade. Sendo o sistema um conceito que descreve uma unidade composta desubunidades ou partes inter-relacionadas, ele é representado nas regras, convenções eprocedimentos que direcionam as operações diárias de uma atividade ou procedimento (Évora,1995, p.9).
Estes são conceitos de uma linguagem profissional estranha ao métier da enfermeira e que
são explicitados pela autora de maneira didática. É importante também ressaltar que, além de
serem uma linguagem estranha, carreiam a influência de um outro idioma, quando manuais
explicativos e os próprios nomes dados aos instrumentos e programas trazem consigo a influência
estrangeira, sendo denominados e escritos geralmente na língua do país de origem.
Para Marin (1995), a introdução da informática no âmbito hospitalar acarreta algumas
mudanças, as quais nem sempre são vistas de forma positiva por parte de todos da equipe. Refere
que ao enfermeiro cabe o papel de mediador destes processos que envolvam mudanças. Destaca
também a responsabilidade do enfermeiro em buscar assegurar a integridade e inviolabilidade dos
dados dos pacientes, sob sua responsabilidade, que são introduzidos no sistema Esta é uma
prática que se apresenta como grande oportunidade para os profissionais, que podem buscar se
especializar e buscar um desenvolvimento na área que, embora recente, se apresenta tão
crescente. Considera, no entanto, que esta busca de conhecimento vai depender de cada um
(MARIN, 1995, p. 37, 38, 39).
A autora vislumbra aspectos tão positivos e favoráveis em relação a esta temática, no que
tange ao acesso rápido e preciso aos dados e outras informações para os gestores e dirigentes de
unidades hospitalares, por exemplo. Entretanto, é importante considerar o que estas mudanças
significam na prática para estes profissionais atuantes na ponta, que já estão inseridos num
contexto de trabalho há cerca de vinte anos, sem terem tido acesso ao aprendizado de informática
durante sua formação profissional.
Para situar a questão em discussão é importante ressaltar o que vem a ser a tecnologia da
informática em enfermagem. Segundo a American Nurses Association (ANA, 2001):
A informática na enfermagem é uma especialidade que integra a ciência da enfermagem,ciência da informática e a ciência da informação para controlar e comunicar dados,informação, e conhecimento na prática de enfermagem. A informática da enfermagemfacilita a integração dos dados, da informação, e do conhecimento para suporte depacientes, enfermeiras, e outros. Fornece ajustes na tomada de decisão em todos os papéisEsta sustentação é realizada com o uso de estruturas da informação, de processos dainformação, e de tecnologia de informação2 (ANA, 2001, apud THEDE,2003/2005 on-line).
2 Tradução livre da autora.
Santos e Évora (2002), no estudo intitulado "As interfaces conceituais da informática
aplicada à enfermagem: uma revisão bibliográfica", com base na análise dos conceitos
apresentados no estudo, definem que:
A informática aplicada à enfermagem, como o uso do computador enquanto instrumento,processamento e transmissão de dados relevantes à terapêutica aplicada ao pacientepelos vários profissionais que a ele prestam cuidados. Tendo como finalidade maior àtransformação desses dados em conhecimentos que venham favorecer a prontarecuperação e reintegração do paciente/cliente à sociedade (SANTOS e ÉVORA 2002,on-line)
A informatização vem sendo introduzida dentro do contexto hospitalar, oportunizando
diversas ações e buscando otimizar as relações da prática do cuidado entre as diversas profissões.
Larum et. al (2001, on-line), avaliando o uso de sistemas eletrônicos de registros médicos,
concluem que:
Os sistemas são pouco usados, apesar de sua implementação estar difundida,especialmente nos grandes hospitais. O baixo uso do sistema pode ser explicado pelo:acesso aos computadores e o aprendizado do computador, assinalando comoproblema à carência de computadores disponíveis e que embora exista umconhecimento básico sobre computador, os profissionais precisam de um treinamentoespecífico sobre o uso do sistema; a flexibilidade do registro escrito, que ainda éusado nos hospitais em estudo, onde os profissionais podem escolher entre o registroeletrônico ou não; as rotinas de trabalho tradicionais, os resultados apontam que ouso do computador conforma a tradicional divisão do trabalho existente nos hospitais,que associa os diversos profissionais que compõem a equipe. Para os autores, atecnologia sozinha não é suficiente para conseguir um bom funcionamento do sistemade informação de registro e assinalam que os aspectos organizacionais devem serlevados em consideração3 (LARUM et. al, 2001, on-line).
Embora este estudo aborde a classe médica, um dos aspectos considerados pelos autores
como limite da pesquisa considera que estes aspectos são similares em outros profissionais de
saúde e podem ser vivenciados em outros países. Concordamos com os autores, já que os
aspectos apontados no estudo são similares ao vivenciado dentro da instituição em estudo, com
todos os profissionais de saúde, ressaltando-se com as enfermeiras, sujeitos deste estudo.
3 Tradução livre da autora.
Retomando a questão informatização no cenário do cuidado, a abordagem trazida por
alguns autores considera, dentro de um contexto mais atual, o assunto informatização e
enfermagem.
Évora, Melo, Nakao (2004), numa retrospectiva histórica sobre a informática em
enfermagem assinalam que:
A enfermagem dos EUA esteve sempre à frente no desenvolvimento de estudos sobre ouso do computador na enfermagem, entretanto observam-se os esforços dos enfermeirosde outros países, inclusive do Brasil, em acompanhar a evolução tecnológica para inovaro desenvolvimento da profissão. Acredita-se que nos próximos anos, os avanços destatecnologia irão revolucionar os processos em todos os níveis dos serviços deenfermagem, principalmente dos hospitais (ÉVORA, MELO, NAKAO, 2004, on-line).
Entretanto, sob outro ângulo, as autoras consideram que “a incorporação de novas
tecnologias tem ocasionado um impacto positivo na saúde, uma vez que de um lado tem-se
pacientes preparados, que exigem mais informação, orientação e investimento no que se refere à
própria saúde (ÉVORA, MELO, NAKAO, 2004, on-line)
A partir da década de 90, o que se observa é uma construção significativa dos estudos
acerca do assunto. Vários estudos tratam sobre a importância do ensino da informática, seja nas
escolas de enfermagem, seja na prática.
Uma importante contribuição acadêmica é trazida por Sasso (1997, on-line), que aborda o
assunto como forma de se constituir uma disciplina de enfermagem. Este é um aspecto
fundamental. A partir desta construção, de se introduzir a tecnologia da informática como uma
disciplina incluída nos moldes da academia, quando o sujeito, já profissional, fizer sua inserção
na prática, terá o preparo adequado e fará uma melhor interação com o processo, o que não foi
possível aos profissionais já inseridos na prática há um longo período, os quais estão tendo de
redefini-la.
O desenvolvimento da ciência e o avanço dos recursos tecnológicos vêm provocandomodificações significantes nas mais diversas atividades desempenhadas pelo serhumano. O setor saúde está inserido, nesse contexto, uma vez que se encontradiretamente comprometido com a vida da pessoa e, por conseguinte, com todos osprocessos evolutivos dos quais ela faz parte (SASSO, 1997, on-line)
Para a autora, este é um momento de redefinição, que parte da academia e envolve a
prática na construção de caminhos que melhorem a qualidade da assistência, quando há uma:
...(re)definição da produção acadêmica. A partir desta visão, acredito que a Tecnologiada Informática pode ser um dos caminhos de oportunização dos saberes, reflexõescoletivas, construção e desenvolvimento do conhecimento da Enfermagem .(SASSO,1997, on-line)
Santos e Évora (2002), no estudo intitulado "a introdução da informática na prática de
enfermagem: possibilidade de mudanças na gestão do processo de trabalho", concluem que:
... é necessário introduzir um projeto intelectual em torno do qual se conforme novossaberes, práticas e tecnologias para mudar a cultura no gerenciamento do cuidado,reformular organogramas, eliminar rotinas e burocracias inúteis e desnecessárias.Reflexionar questões que enfatizam o cotidiano hospitalar, seus processos de trabalho emesmo as relações de poder que se estabelecem no interior de equipes. Por fim investirem indivíduos mais livres, críticos e reflexivos (SANTOS e ÉVORA, 2002, on-line).
Esse estudo faz reflexões acerca de um conteúdo teórico entre o ano de 1990 e 2000,
abordando medos e angústias acerca do novo e desconhecido. Entretanto, assinalam a
possibilidade de profissionais mais livres. Este é um aspecto positivo, porque quando os
profissionais tiverem a oportunidade de serem mais reflexivos, poderão juntos construir a melhor
forma de fazer o trabalho, sentindo-se sujeito valorizado e integrante do processo de trabalho.
Peres e Kurgant (2004), em seu estudo, já consideram os aspectos subjetivos, quando
tratam do ser docente de enfermagem frente ao mundo da informática. As autoras trazem uma
abordagem voltada para a fenomenologia de Schütz e, através desta, evidenciam que existem
fatores tidos como dificultadores na gestão institucional, considerando as resistências dos
professores quanto ao uso da informática, "que afastam, retardam ou impedem a implementação
da informática no ensino da enfermagem". Segundo as autoras, os docentes consideram que há:
Falta de valorização do ensino em detrimento das áreas de pesquisa e de produçãocientíficas; Falta de estimulo à utilização da informática no ensino; Falta de priorizaçãoorçamentária na área de informática bem como a falta de uma infra-estrutura deassessoria técnica especializada, tornando difícil o investimento dos docentes; Acibernética está modificando o trabalho na saúde, bem como transformando o processode trabalho do enfermeiro e do docente; A rápida evolução tecnológica faz com que asnovas tecnologias sejam assimiladas pelos docentes, sem que haja uma reflexão sobre osvalores e a intencionalidade da inserção da informática na enfermagem tornando osdocentes vulneráveis a aceitarem e a acreditarem que as novas tecnologias possamresolver os problemas de enfermagem (PERES e KURGANT, 2004, on-line)
Alguns desses aspectos são comuns à prática das enfermeiras, quando não há valorização
do seu trabalho em detrimento de outras práticas que não sejam o cuidado; a falta de estímulo,
principalmente no que diz respeito ao reconhecimento; as alterações dentro do processo de
trabalho e outros. Estes aspectos negativos impossibilitam a reflexão sobre a importância da
questão.
Laino (1996), em uma investigação realizada a partir de um estudo de caso na Itália, traz a
reflexão sobre o que as mudanças científicas e tecnológicas refletem nos profissionais de saúde
dentro das instituições hospitalares. Elas exigem o aperfeiçoamento das equipes de saúde como
um todo, para que possam continuar no mundo da produção. Para o autor:
Ao mesmo tempo em que produzem no trabalho elevada segurança, certeza e confortoassociados à eficácia, as ciências e técnicas processam desestabilização e insegurançaem diversos setores e níveis sócioprofissionais. (...) As mudanças científicas etecnológicas, se entrecruzam em dois planos: o da estratificação social e o daorganização do trabalho e da produção (LAINO, 1996, p.116, 143).
O autor considera, também, a perda da concentração do poder médico pela ampliação dos
saberes, pelas mudanças nos conteúdos e limites entre objetividade e subjetividade. Reforça que
ao se aceitar a Medicina como uma arte, a realidade virtual amplia o quadro de artistas,
monopolizada até o momento pelos médicos (LAINO, 1996, p. 144, 148).
Essa é uma realidade vivida hoje por todos os profissionais e, dentro do campo da saúde,
o que se espera é que haja cooperação entre esses diversos saberes existentes dentro do âmbito
hospitalar.
Santos (2003, on-line), em sua tese de Doutorado intitulada "Informatização de atividades
administrativo-burocráticas de enfermagem relacionadas ao gerenciamento da assistência", foca a
questão da introdução da informatização no cenário de trabalho dos enfermeiros, procurando
analisar o uso do computador no desenvolvimento dessas atividades em um hospital no interior
de São Paulo. Analisando como os enfermeiros estão fazendo uso do computador em suas
atividades, o autor traz algumas contribuições acerca do que foi evidenciado durante o estudo.
Para o autor, não há uma compreensão por parte dos trabalhadores do potencial de uso do
computador como instrumento de trabalho. Refere que embora o usem em suas atividades
laborais, consideram-no como mais um instrumento de trabalho, introduzido pela administração
do hospital; por não terem outro caminho, resta como alternativa a aceitação, sendo
considerados, nesse processo, diversos momentos como a euforia para uns, estranheza para
outros, a indiferença e por final a aceitação. Ressalta a dificuldade no manuseio e no
entendimento da inserção do computador nas atividades de enfermagem, principalmente pelos
profissionais mais antigos.
Esses aspectos foram semelhantes ao vivido pelas enfermeiras deste estudo, quando não
há uma explicação que demonstre a importância efetiva do que se está trazendo de novo para o
cenário do trabalho.
Tecendo considerações, Santos, ainda, assinala que as informações recebidas acerca do
computador foram simples e rápidas, consistindo no ligar, desligar a máquina e o uso de alguns
programas, observando que na sua formação acadêmica os enfermeiros não tiveram essa
aprendizagem (SANTOS, 2003, on-line). Este aspecto, também, assemelha-se ao estudo em
questão; entretanto, pensamos que outros aspectos podem ser considerados como relevantes.
Consideramos que o aprendizado se constrói no dia-a-dia, numa cooperação mútua entre os
trabalhadores, aspectos estes que discutiremos mais adiante.
O mesmo autor considera que não há uma compreensão clara por parte do enfermeiro do
que vem a ser um processo de trabalho, pois tratam de ações mais imediatas sem o entendimento
da noção de encadeamento de ações, sendo difícil relacionar o computador a um processo. Todos
afirmam que o computador afeta a enfermagem, o que, segundo o autor, refere-se ao fato de não
poderem mais trabalhar sem acessar o computador e suas informações. No que tange à
insatisfação, considerou as falhas no sistema como problemas técnicos; as reclamações relativas
aos plantões de final de semana, quando não há o escriturário e, os enfermeiros têm de dar conta
de suas atividades assistenciais e acessar o sistema de informação hospitalar, para fazerem os
registros de suas deliberações (SANTOS, 2003, on-line).
Essas contribuições são relevantes, entretanto algumas dessas considerações não
contemplam as questões subjetivas que afetam em muito o trabalhador, quando em geral, não são
aspectos contemplados pela administração.
2.1.3 PSICODINÂMICA DO TRABALHO
Frente à relevância do estudo e ao que este pode revelar, foi essencial buscar um aporte
teórico que subsidie as discussões acerca das questões sobre o significado e sentido do trabalho.
Para entender estes aspectos, reconhecendo-os como essencial à face subjetiva, presente no
cotidiano do trabalho, foi de extrema relevância utilizar o referencial de Dejours. Um caminhar
junto e em paralelo com a abordagem discutida pelo autor favoreceu a construção e discussão dos
aspectos primordiais ao desenvolvimento da pesquisa.
Dejours mostra, de forma profunda, um modo especial de compreender a relação homem-
trabalho, respeitando o trabalhador como um sujeito singular e parte desse processo, onde
vivência, subjetividade, significado, sentido e reconhecimento precisam ser entendidos como
relevantes no mundo do trabalho. Estas são características fundamentais e de suma importância
para o estudo e que serão desveladas através da fala das trabalhadoras.
É dada ênfase à palavra das enfermeiras, buscando-se os significados da sua vivência no
cotidiano do trabalho do hospital. Para Dejours e Abdoucheli:
A referência à intersubjetividade, à abordagem compreensiva e construção do sentidopelo sujeito leva-nos a conceder lugar central à palavra e à enunciação. A via de acesso àvivência subjetiva e intersubjetiva do trabalho passa (...) quase que exclusivamente pelapalavra dos trabalhadores (DEJOURS e ABDOUCHELI, 1994, p. 142)
Consideramos esse referencial como essencial e, por isso, acreditamos ser importante
colocar o que a corrente da Psicopatologia / Psicodinâmica do Trabalho, destacada nos trabalhos
de Dejours, traz em seu conteúdo como contribuição para discussão da temática.
Esta corrente elaborada por Dejours, que se inicia com a Psicopatologia do Trabalho,
desenvolve suas pesquisas e nos leva à Psicodinâmica do Trabalho, que dentro da Escola
Deujoriana, se coloca diante de uma expectativa: entender a dimensão psíquica na sua relação
com a organização do trabalho.
Dejours (1993), assinala que esse desenvolvimento foi essencial para o reconhecimento da
realidade das situações concretas da relação entre a organização do trabalho e o homem, não
como um bloco rígido, mas como algo perpetuamente movente, isto é, a estabilidade aparente
desta relação descansa sobre um equilíbrio aberto à evolução e às transformações, ou seja, um
equilíbrio dinâmico que se desloca (DEJOURS, 1993, p.214, 215).
A Psicopatologia do Trabalho é aquela que busca privilegiar a vivência subjetiva do
trabalhador, aspecto este que abordamos como central no estudo. A organização do trabalho e o
sofrimento mental são categorias centrais desta abordagem, onde a ênfase é dada à doença
mental.
A abordagem da Psicodinâmica do Trabalho busca privilegiar as relações intersubjetivas
existentes nas situações de trabalho, tendo como objeto a normalidade e não o patológico. A
ênfase dada nesta abordagem é ao discurso dos trabalhadores sobre a realidade do trabalho,
privilegiando a fala coletiva, isto é, a intersubjetividade.
Este é um aspecto importante, entretanto na pesquisa foi privilegiada a fala do sujeito, a
sua vivência subjetiva. As relações intersubjetivas, através da adoção de estratégias de defesa
partilhadas pelos coletivos de trabalho, também são discutidas no estudo.
Esta corrente traz como fundamental as questões que tratam da relação do trabalhador
com a organização do trabalho, principalmente os aspectos que se referem às contradições entre o
prescrito e o real. Este aspecto, que teve sua origem nos estudos de ergonomistas (LAVILLE e
DURAFFOURG, 1973, apud DEJOURS, 1993, p. 216), apontou a existência de uma defasagem
irredutível entre tarefa prescrita e atividade real de trabalho.
Esta defasagem está demonstrada até nas tarefas mais parceladas. A psicodinâmica traz o
olhar sobre uma dimensão mais específica dessa defasagem, onde aparecem as margens de
liberdade criadoras dos trabalhadores (DEJOURS, 1993, p. 217). Para o autor, "é esta defasagem
que constitui o desafio em que se insere a inteligência astuciosa" (DEJOURS, 1994, p. 135).
Ainda segundo Dejours (1993), supondo organizar o trabalho, as prescrições da
organização do trabalho levam às vezes a desorganizá-lo! A elaboração da organização do
trabalho real implica em afastar-se das prescrições e passar por interpretações. A organização do
trabalho real aparece como um compromisso que passa por um trabalho de interpretação, onde há
uma multiplicidade de interpretações possíveis e o conflito de interpretações entre os agentes. A
construção desse compromisso passa, de fato, por um jogo social. A organização real do trabalho
é um produto das relações sociais, e temos na Psicodinâmica do Trabalho um interesse pelos
processos intersubjetivos que tornam possível a gestão social das interpretações do trabalho pelos
sujeitos (DEJOURS, 1993, p. 218, 219).
E esse é um aspecto vivenciado no trabalho da enfermeira. É impossível seguir as regras
do jogo determinado pela organização do trabalho. O trabalho da enfermeira é marcado por
imprevisibilidade e interrupções constantes que determinam uma grande defasagem entre o
prescrito e o real. As adaptações, engenhosidades, criatividades são parceiras constantes do seu
dia-a-dia, e as tarefas prescritas servem apenas como orientações para a prática.
Ao abordar o cuidado como algo que não pode ser prescrito, retomamos a forma como
este acontece na instituição em questão. As tarefas de enfermagem são, de uma maneira geral,
pré-determinadas pela organização do trabalho. Reforçamos que existem rotinas, fluxos e planos
prescritos que orientam a forma como o cuidado vai ser realizado. Entretanto, esta prescrição só
determina uma orientação. O cuidado, em geral para ser prestado, precisa ser adaptado às
condições e ao momento em que vai ser realizado pois, na maioria das vezes, surgem situações
que impedem a sua realização da forma prescrita.
O trabalho informatizado aumentou em muito esta defasagem entre o prescrito e o real.
Ajustar a organização do trabalho prescrito exige a aposta interessada da iniciativa, da inventiva,
da criatividade e de formas de inteligência específicas (DEJOURS, 1993, p. 220).
A relação entre o prescrito e o real suscita uma nova definição de trabalho, que é trazida
por Davezies (1991), como a atividade estendida pelos homens e pelas mulheres para fazer face
ao que já não é dado pela organização prescrita do trabalho (DAVEZIES, 1991, apud DEJOURS,
1993, p. 220).
O trabalho, nesses termos, ficou definido como o real, o que realmente é concreto e
acontece durante a sua realização. Traçando outros pontos, no que se refere à relação máquina e o
humano no trabalho, o autor considera que o prescrito jamais é suficiente. Quando há apenas o
prescrito ele pode hoje estar desumanizado, automatizado e juntar-se à ordem da máquina como
na primeira fase do desenvolvimento industrial (DEJOURS, 1993, p. 220).
Boehle et Milkau (1991, apud DEJOURS, 1993, p. 220), abordando novas tecnologias,
assinalam que a cada nova automatização emergem novas dificuldades, não previsíveis e também
não estandardizadas, exigindo a elaboração de novos "savoir-faire".
Dentro desta mesma visão, Dejours (1993), assinala que a automatização gera
inevitavelmente novos desafios de atividade, levando a um novo olhar sobre a organização do
trabalho, o que nos conduz a contestar a divisão tradicional entre trabalho de concepção e
trabalho de execução. A definição de trabalho insiste conseqüentemente na dimensão humana do
trabalho. O trabalho humano está por definição, dado, onde precisamente a ordem tecnologia-
máquina é insuficiente (DEJOURS, 1993 p, 220).
O sofrimento do trabalhador é um ponto amplamente discutido por Dejours e Abdoucheli
(1994), que o consideram como algo inevitável e que surge como um desafio, que leva à
construção de ações que proporcionem a sua transformação. Essas ações fazem com que o
sofrimento seja transformado em criatividade e isto beneficia a identidade e fortalece o sujeito,
evitando, assim, sua desestabilização psíquica. (DEJOURS e ABDOUCHELI, 1994, p.136,137).
Para os autores “o trabalho funciona então como um mediador para a saúde”. Se ao
contrário, não existindo situações de trabalho que possibilitem essa transformação, o sofrimento
será um desestabilizador da ordem psíquica e, em vez de criativo, terá uma conotação de
patogênico.(op. cit).
Em outro momento, abordando a organização do trabalho na sua relação entre o prescrito
e o real, Dejours (1994), expõe que esta se apresenta como uma vontade externa, é "a vontade do
outro" caracterizada pelo mando (o prescrito), o que vai contra e está indiferente, isto é, se opõe
ao desejo do sujeito. Para o autor, na organização do trabalho encontramos "a divisão do
trabalho", especificamente "a divisão dos homens", interferindo significativamente no conteúdo
das tarefas e nas relações humanas de trabalho, levando o trabalhador a se sentir, de certo modo
"despossuído do seu corpo físico e nervoso, domesticado e forçado a agir conforme a vontade do
outro” (DEJOURS, 1994, p.26, 27, 29).
O sofrimento surge quando as relações do trabalhador com a organização do trabalho
encontram-se bloqueadas. Não sendo possível uma forma de adaptação entre a organização do
trabalho e o desejo dos sujeitos, esta entra em conflito com o funcionamento psíquico destes,
favorecendo assim, o desenvolvimento de descompensações (DEJOURS, 1994, p. 29).
A "divisão dos homens", na organização do trabalho, favorece o aparecimento dos
sistemas hierárquicos com a divisão de responsabilidades e formas de controle que limitam os
desejos dos sujeitos. É nesse contexto que surgem as estratégias de defesa, quando se
estabelecem relações entre sofrimento e prazer. As estratégias de defesa são formas que o
trabalhador encontra para negar ou se proteger do sofrimento, evitando uma desestabilização
psíquica. O que se cria, então, são formas de adaptação e de confronto. O trabalhador se submete
ao imposto pela organização do trabalho, de forma que este sofrimento não apareça; que seja
subjugado e escondido. (DEJOURS e ABDOUCHELI 1994, p. 125,126).
Considerando a relação entre trabalho e sofrimento colocada por Dejours, quando situa a
questão na maneira como se dá a relação homem-organização do trabalho, permite-nos pensar o
sofrimento destas trabalhadoras baseados nessa mesma perspectiva. O autor faz referência ao
modo como a organização do trabalho, concebida por um serviço especializado, se mostra
estranho aos trabalhadores, vai de encontro frontalmente com a sua vida mental e,
particularmente com o que se situa na esfera das aspirações, das motivações e dos desejos
(DEJOURS, 1992, p. 51, 52).
Um trabalho rigidamente organizado não permite nenhuma adaptação do trabalho à
personalidade. O que resulta dessa impossibilidade de adaptação são as frustrações advindas do
conteúdo significativo do trabalho, inadequado às potencialidades e às necessidades da
personalidade. É então, que surge o sofrimento, quando a relação homem-organização está
bloqueada, quando o trabalhador usou de todas as formas, de tudo o que dispunha e não
conseguiu mudar a situação imposta (DEJOURS, 1992, p. 52).
Segundo Dejours (2000, p. 21), as mudanças na organização desestabilizam estratégias de
defesa antigas, que levaram algum tempo para serem construídas.
Considerando o aspecto qualificação perante as novas exigências, e que pode levar a
sentimentos como insatisfação e desvalorização diante do novo que está sendo imposto, Dejours
aborda a questão trazendo que o trabalho precisa ter um significado para o trabalhador e que tais
sentimentos são provenientes do "conteúdo significativo do trabalho" assinalando que:
Na adaptação do conteúdo da tarefa às competências reais do trabalhador o sujeito podeencontrar-se em situação de subemprego de suas capacidades ou, ao contrário, emsituação muito complexa, correndo assim o risco de um fracasso (DEJOURS, 1992,p.50).
A informatização exige do profissional uma outra qualificação, um outro domínio de
conhecimento, fora da enfermagem, na qual ele não vê sentido algum. O cerne da questão
encontra-se na singularidade de cada um, no seu individual. Refletir sobre este aspecto é
primordial e Dejours (1992) nos sinaliza que: "A complexidade do problema provém do fato de
que o essencial da significação do trabalho é subjetivo" (DEJOURS, 1992, 50).
Dejours afirma que:
Se o sofrimento não se faz acompanhar de descompensação psicopatológica (...) éporque contra ele o sujeito emprega defesas que lhe permitem controla. (...) existemdefesas construídas e empregadas pelos trabalhadores coletivamente (DEJOURS, 2003,p. 35).
O autor reafirma este aspecto quando aborda que a Psicopatologia do Trabalho é uma
disciplina produtora de inteligibilidade sobre as experiências humanas nas situações de trabalho,
susceptível de fazer aparecer a racionalidade dos comportamentos, mesmo quando parecem as
mais absurdas, ilógicas ou paradoxais. Esta inteligibilidade é libertada e potencialmente útil aos
trabalhadores, cujas experiências (vivências) têm uma legitimidade que freqüentemente lhes
escapa, pelo fato de que sua inteligência e a racionalidade da sua ação estão freqüentemente
adiantadas sobre a consciência que têm destas experiências. Relaciona este aspecto à eficiência
das estratégias defensivas, que têm uma finalidade pratica de minimizar o sofrimento
(DEJOURS, 1993, p. 211).
Para o autor, as defesas construídas pelos trabalhadores objetivam "mascarar, conter e
ocultar uma ansiedade particularmente grave” e, na sua especificidade, são elaboradas
geralmente por um grupo social particular, estando relacionadas às características da organização
do trabalho. Elas geralmente destinam-se a uma luta contra riscos reais, que devem ser
partilhados por todos integrantes do grupo; aquele que se desvia é excluído. É uma forma
concreta do que é real e tem caráter vital (DEJOURS, 1992, p. 35,36).
O autor exemplifica citando o trabalhador da construção civil, onde existe uma forte
ideologia profissional, calcada na virilidade masculina, que leva a negar as campanhas de
segurança no trabalho (op. cit). Para o autor, há uma diferença entre estratégias de defesa
masculinas e femininas. Entre as trabalhadoras, não haveria a valorização do risco (MOLINIER,
1995 apud DEJOURS, 2000, p.23).
Para Dejours (1993), a cooperação está profundamente relacionada à vontade das pessoas
de trabalharem juntas e de superarem coletivamente as contradições que nascem devido aos
mandos da organização do trabalho. Ela não pode ser prescrita e eleva a liberdade dos sujeitos e a
formação de uma vontade comum. Está intimamente ligada às relações de confiança, que nascem
das relações de trabalho e passam pela realização de uma condição ética (DEJOURS, 1993, p,
221, 222, 223).
Segundo Dejours (1993), o reconhecimento passa pela construção rigorosa de
julgamentos deontológicos, fora do campo psico-afetivo, sobre o trabalho realizado. São
proferidos por atores específicos, na gestão coletiva da organização do trabalho. Ele passa pelo
funcionamento eficiente de coletivos de trabalho e se refere, principalmente, ao julgamento dos
pares.
O reconhecimento pode se apresentar na forma vertical (hierarquia) e na forma horizontal
(pares). Ele requer, em geral, uma retribuição que, geralmente, está situada no campo simbólico,
o que confere ao reconhecimento um sentido relacionado à esfera subjetiva. Esse valor simbólico,
conferido ao trabalho pelo reconhecimento, gratifica o sujeito e dá sentido ao trabalho, conquista
a identidade na dinâmica intersubjetiva e, também, é capaz de transformar o sofrimento em
prazer (DEJOURS, 1993, p. 225, 226, 227, 228).
Para Carpentier-Roy (1990, p. 24), as práticas das enfermeiras se dão em locais de
trabalho que, entre outras coisas, mostram a problemática relacionada à construção de um
coletivo de mulheres no trabalho. Considera a questão da diferenciação sexual como um fator
que modula a relação prazer-sofrimento no trabalho, assim como a construção da identidade.
Essa diferença sexual é que permeia uma construção de um coletivo de trabalho diferente
do coletivo de trabalho masculino, que é calcado na virilidade masculina. O coletivo de trabalho,
formado pelas enfermeiras baseia-se nas relações de cooperação e confiança formuladas a partir
do seu savoir-faire, onde a técnica e a afetividade se fazem presentes (CARPENTIER-ROY,
1990, p. 24, 25, 26).
Para a autora, por práticas aprovadas pelo coletivo, as enfermeiras parecem utilizar os
atributos da maternidade, que são tratados como inferiorizantes nas relações de trabalho,
assumindo-os como fazendo parte da sua especificidade e valorizando-os. É no vivido e não no
imposto socialmente que constroem a sua identidade e criam, ao lado das zonas de sofrimento,
zonas de prazer que, certamente, têm parte vinculada com a sublimação (CARPENTIER-ROY,
1990, p, 29).
2.1.4 RELAÇÃO SOFRIMENTO PSÍQUICO E A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
Estudos como os de Palácios (1993), Santos (1995) e outros trazem à discussão a questão
do sofrimento psíquico advindo pela não-conformidade entre a organização do trabalho e o
trabalhador, mostrando a importância desse aspecto no trabalho desenvolvido pelos profissionais
de saúde e especificamente pela enfermagem.
Para Palácios (1993), no estudo intitulado "Trabalho hospitalar e Saúde Mental: O caso de
um hospital geral e público no município do Rio de Janeiro", que foca o sofrimento dos médicos
na emergência e dos auxiliares de enfermagem nas enfermarias:
Uma série de elementos da organização do trabalho combinados fazem com que ostrabalhadores sintam-se impotentes para intervir no processo de trabalho, sentem quealgumas vezes o trabalho carece de sentido, muitas atividades lhes parecem inúteis, nãose sentem integrados ao hospital e ainda deixam de considerar o trabalho como suarealização (PALÁCIOS, 1993, f. 87)
Santos (1995), em uma aproximação às contribuições da Ergonomia Contemporânea e da
Psicodinâmica do Trabalho na sua dissertação de Mestrado: "O Trabalho dos” Anjos de
Branco”: um estudo em Hospital Geral Público" enfoca o Trabalho das Auxiliares de
Enfermagem, a partir da descrição de elementos da organização do trabalho hospitalar, da análise
das relações de trabalho e da elaboração coletiva de ideologias de defesa, enfatizando a questão
do sofrimento psíquico.
Estes estudos fornecem uma contribuição valiosa, principalmente quando enfocam o
auxiliar de enfermagem, mostrando a realidade vivida no cotidiano destes profissionais, onde
encontram como parceiros constantes sofrimento e sobrecarga de trabalho. Os estudos relativos à
enfermagem, em sua maioria, dão maior enfoque ao profissional enfermeiro.
A questão sofrimento-prazer também é abordada em outros estudos, como os de Lisboa
(1998) e Silva (2002), Silvino (2002), que têm como foco o trabalho da enfermeira.
Silva (2002), na dissertação de Mestrado intitulada "Sofrimento Psíquico e Organização
do Trabalho: o caso das enfermeiras do setor de Hematologia Clínica e Transplante de Medula
Óssea de um Hospital Universitário do Rio de Janeiro" tem como objeto de estudo a relação entre
o sofrimento psíquico e a organização do trabalho das enfermeiras. Este estudo identificou os
aspectos da organização do trabalho relacionados ao sofrimento psíquico e analisou como este é
vivenciado pelas enfermeiras na realização do trabalho. Teve como aporte teórico os estudos de
Dejours (1992, 1993, 1994, 1996, 1997, 2000); Seligman-Silva (1994); Lisboa (1998); e Pitta
(1999).
Para a autora, o sofrimento está presente nas relações de trabalho da enfermeira onde,
contra as pressões, as relações de poder, as exigências, a necessidade constante de atenção e a
grande diversidade de tarefas, articulam estratégias de defesa para subjugarem o sofrimento, que
considera estar representado nas brincadeiras, nas formações de grupos de cooperação e até
mesmo no absenteísmo (SILVA, 2000, p. 144, 145).
Silvino (2002) em sua tese de Doutorado: "O Desgaste no Trabalho dos Enfermeiros:
Entre o Real e o Prescrito" subsidia-nos com questões sobre a organização do trabalho, ao trazer
como seu objeto central as condições geradoras e as manifestações de desgaste mental no
desenvolvimento do trabalho do enfermeiro. A pesquisa foi realizada tendo como suporte teórico
a Psicodinâmica do Trabalho de Dejours e o conceito de desgaste mental de Seligman-Silva.
Santos (2000), no artigo intitulado "A produção científica (1997-1998) sobre sofrimento
psíquico e trabalho hospitalar", traz à reflexão questões com que convivem cotidianamente os
profissionais de enfermagem. Pontua algumas formulações que têm suas abordagens no estresse,
como a principal discussão que envolve o sofrimento psíquico no trabalho. Essa vertente,
segunda a autora, pode ser consultada a partir da tese de Palácios (1999).
O artigo faz uma abordagem sucinta acerca do aspecto estresse, violência no trabalho e o
sentido do trabalho. É dado um enfoque maior aos estudos realizados por (Oliveira, 1997);
(Damasceno,1998); (Lisboa, 1998); (Laino, 1996), numa discussão que situa estes estudos,
segundo a autora, numa área de confluência como a Psicopatologia do Trabalho, a Sociologia do
Trabalho, a Epidemiologia, a Psicologia Social e a Ergonomia.
Este referencial traz uma valiosa contribuição ao desenvolvimento do estudo, pois destaca
questões importantes vividas no cotidiano dos sujeitos da pesquisa. Ele permite discutir e refletir
sobre essa prática, fornecendo subsídios que favoreçam uma melhor compreensão sobre o
problema.
Os estudos que abordam a enfermagem são fundamentais na discussão, pois permitem
estabelecer as relações do cotidiano profissional com as inovações tecnológicas e com a questão
sofrimento psíquico e prazer no trabalho, questões que serão enfocadas neste estudo, a partir de
uma reflexão profunda e em conexão com o referencial abordado.
3. CAPÍTULO II
3.1 MÉTODO
3.1.1 CAMINHO METODOLÓGICO
Este é um estudo qualitativo descritivo. Buscando compreender o significado dessa
temática no cotidiano dos sujeitos, consideramos que a pesquisa qualitativa favorece a discussão,
por facilitar a compreensão das questões relacionadas à saúde no trabalho. A construção do
objeto do estudo voltado para as questões subjetivas, contribuiu também para o interesse do
investigador para esse caminho metodológico.
Alguns referenciais serviram de suporte nesta construção, como o de Bogdan e Biklen
(apud LUDKE e ANDRÉ, 1986), principalmente quando consideram que esse tipo de estudo tem
no ambiente natural a sua fonte direta de dados, tendo o investigador como seu principal
instrumento, sendo seus dados predominantemente descritivos (descrições de pessoas,
transcrições de entrevistas, etc.). A preocupação maior é com o processo, pois o interesse do
pesquisador está em buscar na realidade das interações cotidianas a ocorrência do problema,
sendo que o foco de atenção do pesquisador está no "significado" que as pessoas dão as coisas e à
sua vida, em uma tentativa de capturar a "perspectiva dos participantes";
O referencial de Minayo (1992, 2002) também permeou essa escolha, por buscar "explicar
os meandros das relações sociais consideradas essência e resultado da atividade humana
criadora, afetiva e racional, que pode ser apreendida através do cotidiano, da vivência, e da
explicação do senso comum". O senso comum e a vivência conotam idéias importantes dentro
desta abordagem.
3.1.2 O CENÁRIO DO ESTUDO
O estudo foi realizado em um hospital universitário da rede pública federal, situado no
município do Rio de Janeiro, cujas características de atendimento envolvem o ensino, a pesquisa
e a prestação da assistência integral ao paciente.
A pesquisa de campo foi iniciada em novembro de 2004 e concretizada em abril de 2005.
O Serviço de Internações Cirúrgicas foi o cenário escolhido para efetivação da pesquisa, porque
nas Seções deste Serviço é onde se concentra um maior número de funcionários estatutários e
com maior tempo na instituição.
A pesquisa ocorreu no 10º andar, onde existem três seções de internações cirúrgicas. As
Seções escolhidas foram M e N 4, por apresentarem certa similaridade na realização das
atividades de enfermagem e no seu funcionamento como um todo. A outra Seção (O), apresenta
características muito diversas das outras duas; por isso a opção de não incluí-la no estudo.
A Seção M possui cinco enfermarias e dois quartos, totalizando um quantitativo de trinta
e cinco leitos. As especialidades que esta Seção atende são Neurocirurgia, Neurologia Clínica
(com um quarto para monitorizar o Eletroencefalograma)5, Urologia e Ginecologia.
A Seção N também possui cinco enfermarias e dois quartos, totalizando um quantitativo
de trinta e quatro leitos. As especialidades atendidas nesta Seção são Ortopedia, Pneumologia
(dois quartos para precaução respiratória) e Ginecologia. A especialidade Ginecologia é comum
às duas Seções.
4 Foi dada uma identificação fictícia às Seções.5 Para estudo em pacientes portadores de Epilepsia.
3.1.3 O TRABALHO PRESCRITO
Neste tópico é apresentado o trabalho prescrito das enfermeiras.
A rotina diária das Seções inicia-se, em geral, com a passagem de plantão, quando
deveria ser feita uma visita às enfermarias, por ambas as equipes (quem entra e quem sai de
plantão). Durante a passagem de plantão há o encontro de duas equipes (plantão noturno e
plantão diurno). As equipes dispostas em plantões 12/60, no geral são compostas de uma
enfermeira líder, quatro técnicos ou auxiliares de enfermagem6, um atendente7, um auxiliar
operacional de serviços diversos (AOSD) 8. Os profissionais diaristas, como o chefe da Seção e
o assistente administrativo, somam-se às equipes que trabalham de segunda à sexta-feira.
Como nessa parte discutimos o trabalho prescrito da enfermeira, consideramos
fundamental descrever, de forma sucinta, como deve ser o trabalho desta profissional, de acordo
com as rotinas estabelecidas na instituição. As competências da enfermeira são organizadas de
acordo com a sua posição dentro da hierarquia e estão descritas nos formulários que determinam
passo a passo as atribuições, atividades e tarefas de cada profissional e que compõem as pastas de
rotinas existentes em cada Seção (SEÇÃO DE ORGANIZAÇÃO E MÉTODOS DO SERVIÇO
DE DESENVOLVIMENTO DE ENFERMAGEM). As enfermeiras do estudo são Líderes e
Chefes de Seção, que têm atuação mais próxima ao cuidado direto do paciente nos postos de
enfermagem.
1. Enfermeira Chefe de Seção: É a responsável pela coordenação de toda a Seção e o seu
trabalho diário. Envolve em geral:
6 Na instituição não há diferença entre o trabalho realizado pelo auxiliar e pelo técnico de enfermagem.7 Nestas Seções, ainda temos a presença do atendente, uma profissão já extinta, mas que ainda se mantém no quadroda universidade. Estes profissionais são poucos e próximos da aposentadoria.8 Profissional que substitui algumas funções que eram da atendente como mensageiro, maqueiro e higienizador.
1.1. Fazer visitas diárias às enfermarias para avaliação dos pacientes, junto com os
enfermeiros líderes do plantão noturno/diurno;
1.2. coordenar a passagem de plantão, recebendo e notificando ocorrências relacionadas ao
serviço. Durante a passagem do plantão são verificados os planos de cuidados de
enfermagem e as prescrições médicas, para identificar se alguma medicação deixou de
ser dada ou se algum cuidado deixou de ser realizado;
1.3. avaliar e prover o quantitativo diário de profissionais de enfermagem necessário à
continuidade da assistência, participando da organização e distribuição de tarefas diárias
dos auxiliares e técnicos de enfermagem, com o enfermeiro líder;
1.4. manter, juntamente com o assistente administrativo, o controle de todo o material
utilizado na Seção, fazendo solicitações de materiais à farmácia e ao almoxarifado; é
responsável pela previsão e provisão de todos os materiais necessários ao bom
funcionamento da Seção;
1.5. fazer ou supervisionar o enfermeiro líder no preenchimento inicial do Relatório da Seção;
1.6. participar nos cuidados aos clientes graves, de maior complexidade, sempre que
necessário;
1.7. fazer planos de cuidado de enfermagem e evolução do cliente, para ajudar o líder, sempre
que necessário;
1.8. receber os pacientes admitidos e encaminhar alta, sempre que necessário;
1.9. manter diálogo diário sobre os clientes junto à equipe multiprofissional;
1.10. manter diálogo com os familiares dos clientes e solicitar, junto ao Serviço Social,
familiar para acompanhar clientes que o necessitem;
1.11. fazer reuniões periódicas com os profissionais da Seção;
1.12. participar de reuniões junto aos profissionais da equipe multiprofissional e
reuniões da linha diretiva de enfermagem;
1.13. acumular as funções do enfermeiro líder, sempre que necessário;
1.14. elaborar a escala mensal de pessoal, fazendo alterações necessárias e mantendo
articulação com as chefias do mesmo Serviço;
1.15. participar de todas as ocorrências que digam respeito aos clientes da Seção e/ou
aos profissionais sob sua responsabilidade, tomando providências que se fizerem
necessárias, além de outras (FORMULÁRIO DAS ATIVIDADES E DAS TAREFAS
DO ENFERMEIRO CHEFE DE SEÇÃO, 2002).
2. Enfermeira Líder, responsável pela coordenação da equipe de enfermagem no plantão.
2.1. Visitar as enfermarias, juntamente com o enfermeiro líder que está saindo de plantão e,
nos dias úteis, com a Chefia de Seção, para avaliar as condições dos clientes;
2.2. conferir os principais materiais sob responsabilidade da unidade, juntamente com o
enfermeiro que está saindo de plantão;
2.3. receber o plantão juntamente com o enfermeiro líder que está passando o plantão,
anotando as intercorrências do plantão. Conferir as prescrições médicas e os planos
diários de cuidado de enfermagem, verificando controle hídrico, preparo de exames e/ou
cirurgias, providências que precisem ser tomadas de imediato com os clientes;
2.4. conferir a escala de serviço e fazer a distribuição da escala diária de trabalho entre os
profissionais da equipe que estão presentes, além de solicitar providências à chefia
imediata, em relação aos ausentes;
2.5. providenciar equipamentos necessários à realização das atividades do plantão e
supervisionar, junto à equipe, os cuidados específicos aos clientes;
2.6. iniciar o preenchimento do relatório diário da Seção;
2.7. avaliar novamente os clientes nas enfermarias, observando as necessidades e condições
clínicas dos mesmos;
2.8. ajudar os auxiliares e técnicos de enfermagem nos cuidados de higiene e alimentação,
principalmente em pacientes tidos como críticos;
2.9. fazer as tarefas específicas do enfermeiro junto aos clientes nas enfermarias, como
curativos, passar cateteres e sondas e puncionar acesso venoso de maior complexidade,
sempre que necessário, entre outras;
2.10. elaborar os planos diários de cuidado de enfermagem;
2.11. conferir e ajustar as prescrições médicas;
2.12. fazer a evolução dos clientes;
2.13. receber os clientes admitidos e encaminhar os de alta;
2.14. encaminhar e receber cliente para exame e cirurgias;
2.15. manter diálogo com a equipe multiprofissional;
2.16. fazer a relação e colocar o preparo dos pacientes em exames e/ou cirurgias nos
planos diários de cuidado de enfermagem;
2.17. atender em situações de alta complexidade, como parada cárdio-respiratória;
2.18. administrar medicações mais complexas, que necessitem preparo e administração
mais rigorosa, e outros (FORMULÁRIO DAS ATIVIDADES E DAS TAREFAS DO
ENFERMEIRO LÍDER, 2001)
.
3.1.4 OS SUJEITOS DA PESQUISA
As Seções são compostas por sete enfermeiros cada uma, totalizando quatorze
enfermeiros nas duas Seções. A escala desses profissionais, em cada Seção, é distribuída em
plantões diurnos, 12/60 (SD) e plantões noturnos, 12/60 (SN), ambos com três enfermeiros,
sendo um por cada plantão. As enfermeiras chefes são diaristas.
Para seleção dos sujeitos da pesquisa, alguns critérios de inclusão foram estabelecidos e
considerados como fundamentais, para captar questões essenciais e que estivessem próximas ao
objeto de pesquisa. Para tal, na seleção foram contempladas as enfermeiras estatutárias e com
mais de cinco anos na instituição, por terem vivenciado, no seu cotidiano, o proposto na pesquisa
sobre a temática em questão.
Sendo assim, dentre os quatorze enfermeiros que compõem as Seções não participaram
das entrevistas, três enfermeiros do sexo masculino, porque a proposta do estudo é realizá-lo com
as enfermeiras. Quando do início do estudo, nossa primeira intenção estava voltada para a
questão do impacto das novas tecnologias em relação ao trabalho das enfermeiras, enquanto
pertencentes a um universo de trabalhadoras eminentemente feminino. A abordagem estava
pautada no referencial de Hirata (2002, p. 223), quando assinala que: “A tecnologia, as mudanças
tecnológicas e as inovações tecnológicas não têm as mesmas conseqüências sobre as mulheres e
sobre os homens”. Embora a participação dos profissionais do sexo masculino não tivesse
influência negativa no estudo, ao contrário, contribuiria na avaliação destas diferenças, optamos
por não incluí-los na pesquisa. Entretanto, o aspecto gênero não foi tratado no estudo.
Três enfermeiras que começaram a atuar nas unidades num período inferior a seis meses
(duas cooperadas e uma recém-admitida por concurso) também não participaram das entrevistas,
assim como uma quarta enfermeira, em licença médica por um longo período, e que vinha sendo
substituída por enfermeiros cooperados ou pelos enfermeiros das Seções (como hora extra).
Participaram das entrevistas sete enfermeiras estatutárias, independente de ser chefe ou
líder. Todas as convidadas não fizeram objeção quanto a sua participação. Cada sujeito do estudo
está identificado por um nome fictício, considerando a importância do sigilo na identificação
destas profissionais.
A pesquisa foi avaliada e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Núcleo de
Estudos de Saúde Coletiva – NESC/UFRJ, conforme anexo A. O conteúdo do trabalho foi
explicado e esclarecido a todas as enfermeiras participantes do estudo. Estas assinaram o Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido (anexo B), considerando o disposto na Resolução 196/96
sobre a pesquisa envolvendo seres humanos (PALÁCIOS et. al, 2002, p. 465-478).
3.1.5 A COLETA DOS DADOS
A pesquisa de campo baseou-se na entrevista semi-estruturada, sendo usado um gravador,
com pleno consentimento dos participantes. Uma entrevistada solicitou que não fosse usado o
gravador, no que foi atendida. A situação de entrevista ocorreu em uma relação simétrica entre
entrevistadora e entrevistadas, ou seja, pertenciam ao mesmo grupo sócio-profissional. A
démarche da pesquisa foi estabelecida próxima ao proposto por Michelat (apud THIOLLENT,
1987, p. 86).
Um roteiro de entrevista (anexo C) serviu como trajetória a ser seguida. Neste foram
incluídas questões acerca de dados gerais, como sexo, idade, rotina de trabalho, compreensão do
cuidado, percepção da introdução e do desenvolvimento da informatização, relação entre o
cuidado e a informatização, treinamento em informática, relação saúde e trabalho, incluindo a
questão da relação sofrimento/prazer no trabalho. No roteiro também foram incluídas questões
como escolha da profissão e diferenças no trabalho informatizado entre o homem e a mulher,
questões que não foram analisadas, por não responderem à questão do significado, de vital
importância para o estudo.
A observação não-sistemática de algumas atividades das enfermeiras, especialmente
aquelas ligadas à informática, com uso de um diário de campo, foi um recurso complementar
utilizado. Similarmente à observação participante, conforme Haguette (2001) analisa, diversos
vieses devem ser levados em conta na coleta e análise do material: o viés sócio-cultural do
observador; o viés profissional/ideológico; o viés interpessoal do observador, levando em conta
seus sentimentos e emoções; o viés de indução de confirmação de hipóteses e, por fim, o viés
normativo acerca da natureza do comportamento humano (HAGUETTE, 2001, p. 78).
A fase exploratória da pesquisa teve início em novembro de 2004, quando uma
enfermeira do Serviço de Internações Clínicas foi convidada a participar de uma entrevista piloto,
que buscaria validar as questões do roteiro de entrevista. Foi explicado a ela o que pretendíamos
com a pesquisa e o porquê de se fazer esta entrevista piloto; assim, pudemos contar com sua
participação. A entrevista transcorreu de forma tranqüila, sendo estabelecido um clima de
confiança entre entrevistada e entrevistadora. Após esta entrevista foram feitas pequenas
alterações no roteiro previsto.
Após este procedimento, cartas-convites para participar do estudo foram entregues em
mão (anexo D) às enfermeiras escolhidas, durante visitas às Seções. Estas visitas aconteciam ao
término da passagem de plantão, quando era explicado às equipes de enfermagem o que
pretendíamos e que estaríamos, a partir daquele momento, indo às Seções no intuito de realizar a
pesquisa. Todos se colocaram à disposição para colaborarem no que fosse preciso.
Após a aprovação e confirmação de participação pelas enfermeiras, as entrevistas foram
agendadas. Apesar do agendamento prévio, nem sempre as entrevistas puderam ser realizadas,
pelo fato de as enfermeiras não dispor de tempo naquele momento. Este aspecto foi respeitado e a
entrevista era adiada e agendada, conforme disponibilidade das enfermeiras.
Com exceção de uma entrevista que durou em torno de 100 minutos, as demais tiveram
uma duração média de 60 minutos. Duas entrevistas foram realizadas na própria Seção, por
solicitação das enfermeiras. Tivemos algumas interrupções, mas nada relevante que impedisse a
realização do estudo ou que trouxesse prejuízos para as enfermeiras ou para o seu trabalho. As
outras entrevistas foram realizadas em uma sala de reunião, localizada entre as duas Seções. Estas
transcorreram num clima tranqüilo, uma vez estabelecida uma relação de confiança entre
entrevistadas e entrevistadora.
As observações também foram agendadas previamente, tendo sido realizadas em sete
momentos distintos. As questões priorizadas nestes momentos foram: captar como estavam
sendo realizadas as atividades das enfermeiras diante da informatização, perceber o que as
influenciava na realização de seu trabalho e como as mesmas se viam diante desta situação.
4. CAPÍTULO III
4.1 APRESENTANDO A ANÁLISE DOS DADOS
Esta parte do estudo refere-se ao material que foi obtido na fase exploratória da pesquisa,
quando é introduzida no campo a pesquisa propriamente dita. Nesta fase, foi de grande
importância estabelecer uma relação de confiança com as entrevistadas. O fato de pertencermos
à mesma categoria profissional e sermos parceiras do mesmo cotidiano de trabalho não foi
obstáculo para a realização da pesquisa.
Os registros feitos em diário de campo, durante a observação, e a transcrição das
entrevistas deram origem ao conteúdo descrito neste capítulo. È através dos mesmos que
buscamos compreender os significados manifestos nas falas das entrevistadas. As leituras
exaustivas deste material, assim como as repetidas escutas das fitas, proporcionaram apreender os
significados presentes ou até mesmo ausentes, durante os silêncios, hesitações, risos ou outros
aspectos, nas falas das enfermeiras.
Para Dejours (1994), é preciso passar pela palavra dos trabalhadores para ter acesso ao
seu sofrimento. Portanto, o material da entrevista tornou-se fundamental para a análise e
compreensão dos significados ali contidos.
Para tratar com o material, utilizamos como referência Minayo (1992, p. 234, 235, 236)
quando destaca os três momentos em que se dá a operacionalização da análise.
O primeiro momento, segundo a autora, é ao fazermos uma leitura flutuante ou
transversal, explorando o material, ordenando-o e buscando traçar uma classificação que se
estabeleça de acordo com critérios empíricos e teóricos. Esta interação entre empírico e teórico é
o que permite o aprofundamento do conteúdo das mensagens (MINAYO, 1992, p. 234, 235,
236).
O segundo momento dá-se a partir de uma releitura, buscando uma classificação mais
concisa do material. Os tópicos, contidos no roteiro de entrevista, foram base para seleção dos
temas que deram sentido à construção de algumas categorias. Não foi privilegiada no estudo a
contagem freqüencial, mas sim os significados contidos neste conteúdo.
A análise final, neste momento é a busca de uma maior inflexão sobre o material
empírico, que segundo a autora, "O empírico mostra-se como ponto de partida e ponto de
chegada da interpretação". É um movimento incessante entre empírico e teórico e vice-versa
(op.cit).
4.2 OS RESULTADOS.
Os conteúdos extraídos das entrevistas e da observação serão discutidos à luz do
referencial da Psicodinâmica do Trabalho.
4.2.1 A ENTREVISTA E OS SIGNIFICADOS DO TRABALHO
4.2.1.1 CARACTERIZAÇÃO DAS ENFERMEIRAS
Das sete enfermeiras entrevistadas, duas são chefes de Seção e cinco são enfermeiras
líder, com idades entre quarenta e um e cinqüenta e quatro anos, tendo predomínio da faixa etária
entre quarenta e cinco e cinqüenta anos. São, na maioria, naturais do Rio de Janeiro; apenas uma
é natural de São Paulo e uma do Paraná. No que se refere ao local de moradia, uma delas reside
em outro Município, São Gonçalo, e as outras moram no Município do Rio de Janeiro, sendo uma
moradora da Zona Oeste e as outras cinco da Zona Norte, onde se situa a instituição, destacando-
se, neste ponto, a maior proximidade com o local de trabalho.
Uma das enfermeiras é casada, três são solteiras e três separadas/divorciadas. Duas delas
não têm filhos, duas têm um filho, outras duas têm dois filhos e uma sétima tem três filhos. A
renda mensal total varia entre R$2.000,00 e R$5.000,00, com predomínio na faixa de R$3.000,00
a R$4.000,00. Na sua maioria são as principais responsáveis pela renda familiar, sendo que uma
divide as despesas com o marido e uma outra com a mãe.
Todas apresentam vínculo empregatício, sendo estatutárias, com carga horária de 30h
semanais e com tempo de serviço na Instituição entre dezoito e vinte e seis anos, predominando a
faixa entre vinte e um e vinte e cinco anos. O tempo de atuação destas profissionais no setor
variou entre três e dezoito anos, estando três delas no intervalo entre três e cinco anos, duas entre
cinco e dez anos e duas entre dez e dezoito anos.
O horário de trabalho no hospital varia entre plantonistas de 12 horas por 60 de descanso
(as líderes), sendo três no serviço diurno (SD) e duas no serviço noturno (SN); e diaristas, as
chefes de Seção, que trabalham de 2ª à 6ª feira, de 7 às 16h, com uma folga em um dia da
semana. De todas as entrevistadas, apenas uma tem outro emprego, com vínculo formal
estatutário.
No que se refere ao início da vida profissional, uma iniciou antes de 1975, como técnica
de enfermagem; quatro delas entre 1975 e 1980, e duas após 1980. Três das enfermeiras
entrevistadas iniciaram a vida profissional na Instituição onde o estudo foi realizado.
Das entrevistadas, quatro têm curso de especialização. Destas, duas são especialistas em
Enfermagem do Trabalho, das quais uma tem, também, os cursos de Administração
Hospitalar/Gestão e Pediatria; uma terceira é especialista em Saúde Pública e a quarta em
Doenças Infecciosas. Dentre as três enfermeiras que não possuem o curso, uma demonstrou
interesse em fazê-lo.
4.2.1.2 REPRESENTANDO A PALAVRA DAS ENFERMEIRAS
Os tópicos que deram origem aos temas foram os construídos a partir das primeiras
indagações do investigador e que fizeram parte do roteiro de entrevista, tais como: escolha da
profissão, rotina diária de trabalho, a informatização no cotidiano da enfermeira, a relação entre
informatização e a saúde do trabalhador e o prazer no trabalho.
Em primeira análise foram abordados os tópicos abstraindo pontos considerados
importantes na fala das enfermeiras, os resultados da análise são descritos a seguir, considerando
os comentários que se fizerem necessários no momento.
4.2.1.2.1 O COTIDIANO DE TRABALHO DA ENFERMEIRA.
Quanto à rotina diária de trabalho, há em quase todas as entrevistas uma similaridade na
execução das atribuições diárias, principalmente no que diz respeito ao início do turno recebendo
o plantão, fazendo a escala dos funcionários e passando visita nas enfermarias, para observar e
avaliar as condições dos clientes. Nos relatos, as enfermeiras falam sobre o seu trabalho real.
Adele: "Recebo o plantão, converso, me intero das situações, faço escala, distribuo a escala
diária entre os funcionários e vou fazer a visita..."
Bia: "... Eu chego, recebo o plantão. Fazer escala, converso um pouquinho e logo faço a visita
na enfermaria..."
Cris: "... receber o plantão, visitar os pacientes, conversar com eles... Distribuir o pessoal na
escala... "
Apesar da similaridade das ações, uma entrevista diferencia-se das outras, quando Del faz
referência ao chegar mais cedo ao plantão:
"...eu chego meia hora antes, eu faço a visita aos pacientes, converso, me apresento aeles e eles se apresentam a mim, aqueles que eu ainda não conheço. Recebo o plantão,determino a escala e aí se tiver que fazer curativo... você está todo tempo atenta. Se temalguma coisa faltando. Depende do plantão, a gente presta assim, assistência em tempointegral, a noite inteira. Atenta quando tem paciente grave".
É um aspecto singular de Del, entretanto, esta é uma característica da organização
prescrita. Segundo a organização prescrita, a enfermeira tem de chegar, passar visita nas
enfermarias com a enfermeira do plantão anterior, antes de receber o plantão. Contudo, Del não
faz referência a passar a visita junto com a enfermeira que lhe está passando o plantão, conforme
o prescrito; ela só faz a visita antes, por ser uma preferência sua.
Constatamos nesse momento a diferença entre a organização prescrita e a organização
real, geralmente moldada às preferências, ajustes e adequações ao momento vivido pelo
trabalhador.
Ainda, neste tópico há a menção ao serviço informatizado em apenas três entrevistas.
Adele: "... a escala no computador..."
Cris: "...entrar no computador para fazer o relatório e o relatório de paciente..."
Gina: "...Eu vou ao computador fazer os planos de cuidado, nos finais de semana eu confecciono
a escala..."
Reafirmando aqui a questão do significado, a maioria das enfermeiras entrevistadas não
percebe o trabalho informatizado como parte do seu cotidiano e não o mencionam como parte de
sua rotina, ele não exprime significado algum. A relação com a máquina é, por sua vez, uma
relação fria, sem presença de afetividade e, portanto, não caracteriza o cuidado, essência da
profissão.
Conforme assinala Santos (2001, online), num estudo realizado na Paraíba e que trata das
atitudes de enfermeiros e estudantes de enfermagem, o computador ainda é um instrumento
estranho à prática do enfermeiro.
Aparecem em quatro entrevistas a fala relativa à conferência e a falta de material.
Bia: "...saber se está faltando algum material..."
Cris: "...conferindo psicotrópicos, o material, medicamentos que estejam em falta. È falta de
prescrição médica..."
Del: ".... Ver medicação que falta. Se tem alguma coisa faltando, depende do plantão..."
Fábia: "...Lidar com a falta de material, providenciar e ver outros setores que possam ter para
emprestar..."
Este é um aspecto que, também, pode ser analisado segundo, as diferenças entre
organização real e a organização prescrita do trabalho. Del coloca "...depende do plantão..." e,
isto faz com que haja uma intensificação do trabalho quando, dependendo do plantão, a
enfermeira tem de tomar inúmeras providências. Os imprevistos, em função destas providências,
levam as enfermeiras a colocar sua criatividade e engenhosidade na realização de suas atividades,
fazendo adaptações no trabalho, o que caracteriza o trabalho real.
4.2.1.2.2 CUIDADO NA COMPREENSÃO DAS ENFERMEIRAS
Quanto à compreensão do cuidado, as enfermeiras expressam o que compreendem como
sendo o cuidado. Há uma referência às palavras "todo", "tudo" e "integralmente", na maior parte
das entrevistas, relacionando o cuidado como algo integrando o físico, o psicológico com uma
abrangência às questões religiosas e espirituais, como podemos observar nos relatos a seguir:.
Adele: "... como tudo. Até o fato de fazer essa visita, me coloco a disposição do paciente. E, para
mim isso já é prestar um cuidado...”
Bia:"...é cuidar integralmente com o paciente. Parar um pouco pra compreender, tudo é
diferente, o cuidado é isso, a parte física e psicológica."
Para Cris:
"É todo e qualquer atendimento que eu tenho que prestar ao paciente, um cuidadosimples uma palavra de conforto. Tudo é cuidado. ...eu já me considero cuidando desdeo momento que piso na enfermaria, passando alguma energia positiva."
Segundo Del:
"... ver o paciente como um todo. Tanto da parte física, como a parte psíquica, a parteemocional, até a parte religiosa, se colocar no lugar do paciente. A parte religiosa queestá muito afetada, a parte espiritual também."
Reforçando esta compreensão sobre o cuidar, apreendida na fala das enfermeiras, Santos
et. al, (2002, on line), no estudo intitulado “Cuidado: Construindo uma nova história de
sensibilidade” assinalam que:
“ neste novo paradigma do cuidar, deve-se vislumbrar um horizonte onde no cuidar seassocia sonho e ciência, intelectual e intuição, razão e sensibilidade, pensamento eemoção, real e virtual, visível e invisível, espírito e conhecimento, imaginação ecriação, cotidiano e subjetividade, individual e coletivo, particularidades e
singularidades”.
O cuidado é o que a enfermeira considera como tendo sentido e significado no seu
trabalho. Para Carpentier-Roy (1990), esse "savoir-faire", onde está incluído o afetivo, faz parte
desse coletivo de trabalho. Quando as enfermeiras percebem que alguma coisa está, como que
capturando essa sua especificidade, fazendo frente ao seu prazer de trabalhar, elas articulam
defesas dentro desse coletivo de trabalho para se protegerem do sofrimento. E a informatização
parece estar proporcionando esta falta de sentido e de significado no trabalho que as enfermeiras
realizam, roubando a sua especificidade de cuidar, onde está incluída a relação com o afetivo,
mesmo que possa parecer paradoxal, vinculado ao prazer- sofrimento no trabalho.
Em uma entrevista a palavra "todo" não aparece com o sentido da integralidade.
4.2.1.2.3 A PERCEPÇÃO DA INFORMATIZAÇÃO.
Considerando-se a percepção da introdução da informatização, as enfermeiras descrevem
o que foi introdução da informatização para elas. No geral, as entrevistas trazem as dificuldades
encontradas por cada enfermeira para desenvolver o trabalho informatizado, colocando-o como
"complicado", "difícil", "treinamento insuficiente", "falta de estrutura", "falta de destreza" e o
"afastar a enfermagem da enfermaria".
Para Del:
"...logo no começo quando eles botaram os computadores nos setores (...) eu acheiassim estranho. Eu não tenho muita facilidade de aprender. O que eu achei também é quedá muito problema, principalmente a impressora. E, isso te atrasa. E quando você vaiescrever a mão, eu acho que descreve a situação muito melhor do que pela digitação. Atécom os médicos, a gente vendo prescrição errada. Tá arrumando as coisas. Nem todostêm destreza com o computador..."
Gina: "... no início achei um pouco difícil, é, aceitar porque toma muito tempo do enfermeiro".
Na fala de Bia a resistência ao trabalho informatizado é assinalada:
"...eu não recebi muito bem não. Fui uma das que mais resisti, hoje até to aceitandoporque não tem o que discordar é isso e pronto, acabou. Eu acho que a Enfermagem seafastou muito da enfermaria, do cuidado ..."
Na fala de Del, é também registrado o aspecto da resistência, quando tem dificuldades
com um membro de sua equipe:
"Mas, a CL, o meu estresse foi esse, porque a CL, uma excelente funcionária, e ela nãoaceita até hoje de deixar os pacientes, a assistência que ela tem que dar, pra parar e ficarescrevendo ali. Ela não quer aprender, ela não gosta de computador. A CL estavaquerendo até se transferir do hospital Essa foi uma fase muito estressante..."
A fala de Eli destaca a resistência relacionando-a à pouca informação sobre o assunto e a
não valorização, por parte da instituição, em fornecer aos profissionais maiores esclarecimentos,
frisando a importância da introdução da informatização dentro do cenário do cuidado.
"... É, simplesmente foi colocado que a partir de determinada data iríamos para umtreinamento, mas não foi colocada, antes, a importância. No princípio teve muitaresistência, pela falta de maiores explicações."
Santos e Évora (2002, online), visualizam, nessa nova construção do processo de trabalho,
a possibilidade de os enfermeiros de serviço atuarem como desencadeadores da recriação de suas
ocupações, onde o cotidiano laboral possa ser repensado pouco a pouco e que esse repensar
inclua o conjunto dos trabalhadores de forma a operacionalizar as mudanças no dia-a-dia.
As enfermeiras não se viram contempladas nessa reformulação do processo de trabalho e
atribuem grande parte da resistência a falta de maiores explicações acerca da importância sobre o
que estava sendo introduzido, no caso a informática.
A intensificação do trabalho da enfermeira também aparece na fala de Gina: "Inclusive
está aumentando, cada vez mais, a nossa função..."
Estudos, como os de Palácios (1993), Santos (1995) e outros, trazem à discussão a
importância desse aspecto no trabalho desenvolvido pelos profissionais de saúde e
especificamente pela enfermagem. Aliado a estes aspectos, o ritmo imposto a esses profissionais
é frenético e incessante, o que acarreta, muitas vezes, uma sobrecarga de trabalho e, como
conseqüência, o sofrimento psíquico
Em uma entrevista, aparece na fala da enfermeira uma queixa que se refere ao acesso à
internet, por ser facilitado a todos e ao fato não se sentir bem com o que o paciente ou
acompanhante podem pensar quando vêm os profissionais ao computador.
Del considera que:
“... o computador, pela parte da Internet, dispersou muito, as pessoas. Daria um jeitode bloquear essa Internet. Realmente, eu fiquei estressada. (...) eu fico chateada, porqueo paciente, às vezes, precisando de você conversar, dele se abrir e você ta ali nocomputador. Quando eu estou escrevendo uma coisa, eu fico chateada quando alguém,um acompanhante vem falar, vai pensar que eu estou aqui de bate papo, de brincadeira...”
Considerando-se o período entre a instalação da informatização (1998) até o período
estudado (2004/2005), identificamos na fala das enfermeiras que estas ainda percebem a
informatização como algo difícil e complicado, que toma tempo e liberdade, preferindo e
considerando a forma manuscrita como melhor.
Em duas entrevistas não há a percepção de melhorias desde a introdução, associada a uma
falta de controle sobre o trabalho.
Para Adele:
"Não vejo melhorias, as coisas continuam sendo jogadas. Tá aqui, faça e cumpra-se, semrespaldo e sem estrutura para isso. Pifa e você fica sem. Você fica chateada, perde apaciência, mas tem que fazer. Eu ainda acho muito deficiente..."
Para Bia as complicações do trabalho informatizado são em conseqüência do programa
utilizado na instituição:
"...eu acho que é um programa que não é bom. Ele desenvolveu com muitos problemas.Dizer agora pra você que ele tá sendo maravilhoso, não é. Hoje, é um exemplo, estamosfora do ar, estamos fazendo tudo manuscrito. Mas, ele se desenvolveu aos trancos ebarrancos..."
Em cinco depoimentos encontramos mencionados pontos positivos da informatização, no
que se refere ao acesso rápido e a um aprendizado individual.
Bia, apesar de considerar que não houve melhoras, distingue esse ponto positivo, como
observamos na sua fala: “Foi bom porque eu não sabia mexer em nada, eu não sabia nem ligar o
computador. Eu não fazia nada no computador. Eu aprendi aqui, a ligar, a mexer."
Gina: "... é uma coisa nova, é bem aceita, é a evolução, nós temos que acompanhar a
evolução. Eu achei que melhorou..."
Em duas entrevistas fica nítida a sensação de prisão, isolamento, quando referem que a
informatização afasta a enfermeira do cuidado. Segundo Cris:
"...eu acho que as falhas da, da informática ocorrem, talvez, pelo sistema. Ele te deixamuito automatizada, na máquina você tá presa a uma coisa que você não está tendocontato, já tá dentro do sistema, não pode sair. Prende a gente demais, num, nummomento que a gente não pode estar. (...) Você dentro da ilha, ali fechada e tendo queficar só na máquina até terminar tudo. Entrou e não pode mais sair..."
Gina: "... só afastou o enfermeiro um pouco do paciente..."
Há referência ao tempo que se perde quando tem que rever o trabalho de outros
profissionais. Isso se refere especificamente à prescrição médica, que passou a apresentar mais
erros do que antigamente, supostamente por problemas operacionais, considerando-se que o
treinamento recebido pelos médicos foi o mesmo dos outros profissionais. Para Del:
“... as pessoas (...) perdem um tempo enorme com esses computadores que estão aí.Tinha que ter tido palestras, preparar as pessoas e as pessoas se educarem, para usar oque tem. Tem uns que têm destreza, uns que não têm, eu já peguei muita prescriçãoerrada, são certas coisas assim, que toma tempo. Antigamente era mais fácil. Aenfermeira tem que estar muito mais atenta à prescrição agora do que antigamente. Euacho que ainda tem que melhorar muita coisa, ..."
Uma entrevistada refere ter precisado comprar um equipamento.
Fábia: "...eu acho que está trabalhoso, toma muito o nosso tempo. Se os computadores
funcionassem bem, seria bom. Outro dia tive que comprar um mouse."
4.2.1.2.4 A RELAÇÃO ENTRE INFORMATIZAÇÃO / CUIDADO
Neste tópico, as enfermeiras descrevem a relação entre o trabalho informatizado e a
assistência de enfermagem, isto é, o cuidado prestado aos clientes. Descrevem as interferências
sofridas durante o desenvolvimento das atividades, relacionando-as a ficar presa e ao tempo que
se perde junto ao computador, tempo que poderia estar sendo aproveitado na assistência, junto ao
paciente. A referência ao tempo aparece em todas as entrevistas, sendo que em cinco fica
implícita a questão de se perder muito tempo com a informatização, mesmo que seja por falta de
destreza.
Adele: "... Complica quando eu perco muito temp,o por falta de condição diante do
computador. (...) Eu acho que há uma interferência desagradável ..."
Fábia: "Eu acho que antigamente a assistência era muito melhor. Toma muito tempo.
Você até podia ir pra enfermaria fazer os planos lá."
Para Bia:
"...esse sistema eu acho complicado. Quando você liga, você precisa de vários passos.Então, quando você tá abrindo ele, você tem que ir na enfermaria pra fazer algumaatividade, alguém te chamou, então, quando você volta, você perde o fio da meada. Euacho que esse programa não é bom. Você tinha que ter um caminho pra gente chegarmais rápido pra gente não perder tanto tempo naquele computador. Você perde mais oumenos duas horas fazendo todos os planos. Olha quanto tempo você perde parada ali, emanuscrito não."
Ao mesmo tempo, Bia considera que a informatização foi boa, porque o profissional
"tinha que aprender", entretanto, precisaria de um sistema, segundo a mesma, "melhor", que
facilitasse e não atrapalhasse mais o desenvolvimento nas enfermarias.
Cris, além de citar a questão da prisão, sinaliza que esta prisão leva a uma perda do
controle sobre o trabalho:
"... informatização me prende num momento que, de repente, tenho que estar aqui fora.Então, você fica devendo ao paciente a tua presença e a tua observação junto a ele ou vaificar devendo na parte da papelada. Você não consegue fazer as duas coisas ao mesmotempo. Assim, não, eu estou fora, dentro de um outro setor, eu fico presa ou na ilha ouna sala de chefia. Então, esse envolvimento do trabalho fica atrapalhado, quando eraescrito tava dentro do setor, em cima do balcão e visualizando tudo e participando detudo. Quando eu recebo a noite eu não recebo a papelada impressa, porque só seimprime uma vez por dia, me faz muita falta também, eu fico sem parâmetro, me deixaum pouco perdida..."
Del, também chama atenção para a falta de controle sobre o trabalho, quando coloca a
importância de se ter um bom planejamento para não se sentir atropelada:
"... informática junto com a enfermagem tem que ter um bom planejamento Você temque se organizar, não se atropelar, não ser atropelada no que tem que fazer nocomputador e a parte da assistência, não deixam à parte da informática interferir ...”
Considera também as diferenças existentes entre os trabalhos noturno e diurno, pois a
enfermeira do plantão diurno precisa ficar mais no computador; entretanto, sinaliza não fazer a
evolução do paciente no computador:
"... à noite a gente não depende muito do computador, não afasta muito da assistência.De dia é que eu acho que a enfermeira fica muito tempo, tem que fazer o plano, tem quefazer múltiplas coisas no computador, de dia afasta um pouco. Eu que não tenhodestreza, se eu fosse evoluir todo mundo no computador, (SORRI), eu ia sair daquimuito tarde".
Em duas entrevistas, é dado ao tempo o sentido de ter agilizado e melhorado o serviço,
contrariando o sentido anterior.
Eli: "O Trabalho ficou mais rápido. Você, às vezes, tem até mais tempo, à medida que
você vai dominando o seu trabalho junto ao computador. Você já não tem aquela preocupação
do tempo, eu faço tudo rapidamente. No meu caso ficou mais cômodo."
4.2.1.2.5 TREINAMENTO E INFORMATIZAÇÃO.
Neste tópico, as enfermeiras falam do treinamento em informática, considerando-o rápido
e insuficiente. Dizem que foram aprendendo sozinhas e até com a apostila, no dia-a-dia. Apesar
do uso das apostilas, que era considerada complexa, precisavam de um maior suporte do pessoal
do treinamento. Este aspecto pode ser observado na fala de cinco entrevistadas.
Para Cris: "...foi um treinamento bem curto, praticamente num dia só, onde eu recebi
uma apostila descrevendo a maneira de como usar o sistema, nada mais. Foi muito rápido, tive
que ir aprendendo sozinha e fazendo sozinha e treinando sozinha."
As palavras de Del reforçam a opinião de Cris:
“... o treinamento foi muito rápido, eu achei que o treinamento foi pouco e a
preparação. Até tinham as apostilas, mas aquelas apostilas tinham que uma pessoa, uns
dois ou três plantões vir, mas não só um plantão..."
Duas entrevistadas não fazem referência ao treinamento como tendo sido insatisfatório e
até comentam da contratação de pessoal para suporte no dia-a-dia. Consideraram-no difícil mas,
ao final, conseguiram ter um aprendizado, o que pode ser observado nas palavras da enfermeira
Bia: “... Foi feito treinamento com várias pessoas. No dia a dia, com as meninas que foram
contratadas ensinando a gente. Foi difícil aprender, pra mim foi muito difícil. A gente teve
bastante dificuldade, depois que pegou, a gente não esquece mais. ..."
4.2.1.2.6 O TRABALHO ANTERIOR À INFORMATIZAÇÃO.
No que se refere ao desenvolvimento de suas atividades antes da informatização, em sua
maioria, consideram a forma manuscrita de fazer o registro das atividades de enfermagem como
melhor. Podemos observar este aspecto na fala de três entrevistadas, quando usam as expressões
como “mais rápido”, “mais fácil”, ter “mais liberdade” e ter “mais tempo”.
Para Cris: “... era bem mais fácil, bem mais fácil. Eu tinha mais liberdade de conciliar
todo o trabalho com a parte burocrática. O fato de ficar presa na máquina até terminar todos
aqueles planos, atrapalha muito, acho que o meu trabalho era bem melhor antes."
Para Fábia :"... fazia o plano de cuidado manuscrito. Eu acho que tinha mais tempo para
fazer evolução do paciente e estar perto do paciente."
Bia coloca que, apesar de a forma manuscrita de se fazer o registro ser boa, há o lado
positivo da informatização, como o acesso a informações de outras unidades; também o permitir
aos superiores terem conhecimento do desenvolvimento das atividades de cada setor. Entretanto,
faz uma ressalva, quanto não considera o sistema bom. Segundo a mesma:
"... tudo manuscrito. Nunca tivemos dificuldade. Era só saber escrever. Essainformatização teve um ponto positivo, porque a gente faz aqui e o diretor recebe láembaixo, on-line. E, a gente fica sabendo tudo que acontece nos outros setores. Mas,esse sistema, eu até hoje, não acho que seja bom.
Del afirma que, por trabalhar à noite, não vê muita diferença, porque há muito pouca
coisa a fazer na parte da informatização. Entretanto, faz uma observação quanto à evolução, se
tiver que usar a informatização, como se não fosse necessário usar, até o momento, o registro
informatizado. Podemos observar este aspecto nas suas palavras:
"... a noite não interfere na minha prática, na minha parte assistencial, porque é muitopouca coisa. A escala, rapidinho você faz. O relatório eu deixo sempre para fazer lápelas 5 horas da manhã, o problema é evolução, eu falo, se eu for ter que sentar para
fazer evolução... Eles deviam ter dado um treinamento melhor. Eu acho assim, que namão deu certo..."
Uma entrevistada considera a forma atual melhor, tendo agilizado mais o serviço; antes
era uma correria para conciliar o cuidado e a assistência com as atividades burocráticas.
Eli :"Dependendo do plantão, uma correria, porque você tem que dar conta das sua
atividades junto ao paciente e as suas atividades burocráticas. A informatização pra mim
agilizou mais."
4.2.1.2.7 INFORMATIZAÇÃO E SAÚDE DO TRABALHADOR.
Este tópico se refere à saúde física e psíquica do trabalhador e a sua relação com o
trabalho informatizado. Em quatro entrevistas aparece uma preocupação em relação aos
problemas visuais ou tendinites, relacionando-os ao futuro. O tempo possibilitará o aparecimento
dessas doenças no trabalhador, em conseqüência do uso do computador. Em uma entrevista, o
foco está voltado mais para estas questões.
Para Adele:
"... A iluminação deficiente, tempo que você passa diante da tela do computador, o meudedo tá doendo, minhas costas estão doendo. Você sentou com a postura errada. Vocêdigitou de forma inadequada. Você ficou fixando na tela. São coisas que a gente ta éouvindo, coisas que podem ser em conseqüência do seu trabalho. Com relação aoproblema de visão, aí a gente coloca um protetor de tela. Vamos sentar direitinho. Atéque ponto o uso do computador... só com o tempo. "
Cris, além de tecer comentários sobre esses aspectos, considera a questão de a
enfermagem não estar preparada para digitar como um ponto que merece ser considerado pela
instituição.
"... eu acho que o uso do computador traz alguns problemas, como tendinite, problemade visão com o tempo. Mas, eu ainda não senti nada disso, talvez, porque eu use pouco,à noite eu uso menos. Quem usa de dia, já coloca que a tela do computador interfere navisão. Por que, que não tem um digitador? Eu acho que é uma atenção, que deveria serpensado, porque, a enfermagem é cuidado ao paciente e não tá preparada pra ficardigitando. A pessoa já especializada naquilo. Eu acho que deveria ser assim"
Fábia queixa-se da piora da qualidade da visão e o uso de óculos como conseqüência do
trabalho informatizado, além do movimento repetitivo, o que pode ser constatado na sua fala:
"... a minha vista. Eu tenho uma sensibilidade tremenda. Fui fazer exame de vista e fuiinformada que da próxima vou ter que usar óculos para longe, já uso para perto. Passairradiação. Você tem que ficar mais tempo sentada. Manuscrito você pode fazer em pé.Tem movimento repetitivo."
Em duas entrevistas há menção também ao estresse que o trabalho informatizado
provocou nas pessoas. As palavras de Del retratam esse aspecto:
"...Eu acho que mais da parte psicológica, assim do estresse. Porque você quer fazer umacoisa e não consegue, eu me estressei muito no começo. (RI) O meu estresse foiInternet, (RI). Hoje eu procuro não me estressar. No estresse da CL, eu fiquei muitoestressada. (RI) Eu e ela. Ela até emagreceu. Achei sim, na parte da saúde ele provocaum certo estresse".
Gina, além de considerar esse aspecto faz outras colocações:
"... e tem algumas pessoas que devido ao refletor, influencia muito, tem que tá usandoóculos, eu acho que todos deveriam ter essa tela de proteção aqui. Esse aqui foi colocadopor uma colega que teve problema. Já vi pessoas queixarem de cefaléia teve muita genteque eu achei que ficou com estresse. Estresse, um estresse terrível no início ..."
Nas palavras de Eli, mesmo não estando expresso formalmente, o estresse encontra-se
implícito em sua fala, ao citar os problemas com o computador na hora da realização do trabalho.
"... foi uma coisa boa, mas acontece que a gente tem problema com os computadores, osistema, tem dias quando eu resolvo ir pro computador o sistema tá demorado, cai. E, jáaconteceu de eu não conseguir concretizar o meu trabalho, passar para o enfermeiro danoite, uma hora é a processadora que não imprime, que não tá funcionando."
Nos diferentes depoimentos abaixo, estão descritos aspectos que se referem à relação
saúde e trabalho no período anterior à informatização. Em um depoimento há referência à falta de
perícia e exame periódico, concomitante com o relato de que os funcionários doentes
permanecem doentes e afastados.
Segundo Bia: "... nunca teve perícia, periódico. Antes da informatização já tinha pessoas
que estavam doentes, funcionários que eram doentes, continuam doentes, continuam afastados.”
Há referência a “ter mais liberdade", “não ficar presa", relacionado ao menor estresse,
pelo dinamismo anterior e retoma-se a questão do isolamento que existe atualmente.
Para Cris: "... antes da informatização tendo mais liberdade de trabalho, mais facilidade
de estar próximo aos problemas, me envolvendo, talvez eu tivesse menos estresse..."
Fábia considera que: "As coisas eram mais dinâmicas. Não ficava presa ao computador.
Hoje você interrompe várias vezes e quando retorna não sabe em que ponto você estava."
Retomamos, aqui, a dificuldade encontrada com a questão do uso da internet pelos outros
membros da equipe, relacionado ao estresse.
As palavras de Del demonstram esse aspecto quando: "... Volto a falar se eu fosse o
diretor, eu tirava essa Internet. Isso afasta e é chato, chama a campainha, demora a atender, tá
batendo papo no computador, tá jogando. Olha, quanto estresse ..."
Para Eli os problemas relacionados ao estresse sempre existiram; hoje é o computador,
antes eram outras as causas, como observamos em suas palavras: “Tudo tem seu estresse. Nosso
dia a dia aqui no trabalho é muito corrido. Antes do computador, eu tinha com outras coisas,
então, acaba caindo na mesma.”
Gina demonstra em suas palavras uma preocupação com os problemas de saúde que vem
observando na instituição, considerando a importância de se fazer uma avaliação dos
profissionais.
"... têm muitas pessoas deprimidas. Problema psiquiátrico sério, deveria ter feito umamelhor avaliação dos profissionais. Quando não é isso, é algum tipo, assim, de vícios,Infelizmente é. A gente vê, observa isso."
Na maioria das entrevistas, mesmo com algumas ressalvas, isto é, alguns pontos tidos
como negativos, principalmente na questão do isolamento, é considerado importante tanto da
parte pessoal e/ou profissional o uso da informatização.
4.2.1.2.8 A RELAÇÃO TRABALHO E PRAZER.
Em relação ao prazer que sentem ao desenvolver o trabalho, a maioria considera
prazeroso o trabalho desenvolvido junto ao paciente, o cuidado direto prestado na enfermaria, o
que podemos observar nos depoimentos a seguir:
Adele: "... estar com o paciente é uma realização muito grande..."
“Bia: ...” eu gosto de estar mais na enfermaria do que na burocracia..."
Del: "... ver ele como um todo, de conversar, dá um consolo, dá uma palavra, na assistência
direta, você fazer os cuidados..."
Fábia: "... eu luto muito para que tudo aconteça. Agilizo tudo para que os exames aconteçam. Dá
prazer, mas, não quer dizer que eu não fique cansada..."
Gina: "Ah! Cuidar dos meus doentes..."
Quando questionadas quanto ao que mais gostam de fazer e que sentimento este fazer
provoca, a maioria retoma a questão do cuidado direto, do contato com o paciente provocando
sentimentos de satisfação, alegria, prazer e compaixão.
Adele: "... esse contato direto com o paciente é muito gratificante. Eu sinto muito prazer nisto..."
Bia: "... Dar assistência de enfermagem, de supervisiona,r é um sentimento de prazer, de alegria,
de dar conforto ao outro..."
Cris: "... Enquanto estou aqui, eu desligo completamente da vida lá fora. Estar junto com o
paciente, essa parte é a que eu mais gosto. Sentimento de compaixão..."
Del:"... Eu gosto mais da parte da assistência direta com o doente. Eu tenho satisfação..."
Fábia; "... Não sei definir. Eu acho que é a realidade, ninguém vai fazer enfermagem por fazer,
tem alguma coisa a ver..."
Eli: "... Silêncio... eu não distingo o que eu mais gosto, porque tudo o que eu faço eu faço
porque gosto. (...) Satisfação de você poder desempenhar aquilo que você se propôs.
Gina: "... É ajudar meus doentinhos. Isso dá um prazer enorme, uma satisfação de você ter
contribuído e colaborado com alguém..."
Quanto ao que menos gostam de fazer no trabalho que desenvolvem e qual é o sentimento
provocado por este fazer, são diversas as respostas. Dentro dessa diversidade encontramos o fato
de não gostar de fazer escala, por ter que raciocinar mais; o relatar uma falha de um profissional
da equipe, relacionado a um sentimento de culpa; a insatisfação com o computador e a
interferência de terceiros no trabalho, como a chefia, que gera um sentimento de não-autonomia.
Duas entrevistadas relacionam não gostar de lidar com situações de doença terminal e o
óbito.
Adele: "... O momento do óbito mexe muito comigo..."
Segundo Gina: "...O que eu não gosto mesmo de fazer, às vezes, somos obrigados. Fazer
pacote e acompanhar o paciente terminal, terrível , dá um sentimento assim, de frustração, dá
um estresse. Horrível pro profissional..."
4.2.2 A OBSERVAÇÃO
Foram realizadas observações em sete plantões e em momentos distintos, sendo estas
agendadas previamente com a chefia de Seção. As observações geraram um diário de campo,
onde foram registrados vários pontos relativos ao momento em que estas aconteciam. Foram
priorizadas as ações desenvolvidas junto ao computador, assim como sua relação no
desenvolvimento das ações do cuidado, não destacando apenas o aspecto subjetivo desta relação,
mas os acontecimentos em si, durante a rotina diária de trabalho.
Durante estes momento, pôde ser presenciado um movimento incessante de ir e vir em
torno da enfermeira. Ela é o centro, a que detém todas as informações e, mesmo quando não, ela
tem um conhecimento acerca do assunto e busca providências para resolução do problema que
lhe foi apresentado.
Durante um desses momentos, no plantão noturno, observando-se a passagem de
plantão, foi detectado que há muitas prescrições médicas feitas de forma manuscrita, como por
exemplo, as prescrições dos pacientes que chegaram da cirurgia e dos que vão, no dia seguinte
(pré-anestésico), para a cirurgia. Os pacientes que foram internados à tarde estão sem prescrição,
mas têm plano de cuidado de enfermagem.
A enfermeira, após a passagem do plantão, revê todas as prescrições e faz a distribuição
da escala, oralmente, entre os auxiliares e técnicos de enfermagem. Entre conferir material,
atender a telefonemas da Coordenação Técnica9, atender uma situação apresentada por um
auxiliar da equipe, a enfermeira vai começando suas atividades, sempre entrecortadas por
solicitações que se mostram imediatas. Inicia as visitas às enfermarias, onde mantém uma relação
amistosa com os pacientes e familiares. Ás vezes, a enfermeira, procurando aliviar ou minimizar
9 Responsável pela coordenação/supervisão de enfermagem de todo o hospital.
as angústias apresentadas, precisa deter-se por mais tempo e manter uma relação que vai além de
um simples ato profissional. Essa relação é entremeada de palavras de conforto, carinho e até de
uma preocupação bastante intensa por aquela pessoa que se encontra ali, na posição de doente.
Durante o ir e vir às enfermarias, a enfermeira atende a diversas solicitações dos
componentes da equipe, dos pacientes, de telefonemas e outros, e toma inúmeras providências. O
seu trabalho real é sempre entrecortado, sendo impossível começar alguma coisa e não ser
interrompida.
Após a meia-noite, metade da equipe vai descansar e a outra metade fica no setor,
havendo um revezamento às três horas da manhã. A enfermeira tem o seu horário de descanso
revezado com a enfermeira do outro posto.
A noite transcorre tranqüila, com um tocar da campainha vez ou outra, que é prontamente
atendida por alguém da equipe. Foi observado que a enfermeira faz a evolução manuscrita nos
prontuários dos pacientes que vão para a cirurgia; os auxiliares e técnicos de enfermagem,
enquanto isso, estão na "ilha", fazendo os registros no computador. Enquanto isso, 'passeiam'
pela Internet.
Durante a madrugada, chegam dois pacientes do pronto-atendimento para internação,
quando são feitos os procedimentos de rotina.
Um aspecto observado é que, conforme registrado nas entrevistas, as enfermeiras pouco
usam o computador no plantão noturno.
Durante o dia, apesar da rotina iniciar como a do plantão noturno, o ir e vir da enfermeira,
torna-se muito maior do que à noite. As solicitações em torno dela são inúmeras e às vezes todas
ao mesmo tempo, mas ela consegue resolver e mostra-se satisfeita por dar conta de tudo que lhe
pedem.
Outro aspecto observado é que algumas enfermeiras procuram manter-se o maior tempo
possível ocupada nessas relações do seu cotidiano, deixando as atividades desenvolvidas junto ao
computador, sempre que possível, para segundo plano. Aquelas que foram mais cedo para o
computador, tiveram suas atividades interrompidas por inúmeras vezes.
As enfermeiras procuram desenvolver as atividades junto ao computador no próprio setor,
para não se afastarem da assistência e também não concorrerem na disputa por um computador na
"ilha" dos computadores. Entretanto, por se manterem no setor, não conseguem ter as atividades
desenvolvidas num continuum; são sempre interrompidas para atendimento a diversas
solicitações.
Um aspecto a ser considerado é que a enfermeira gosta do relacionamento mantido com o
paciente, o que pode ser observado durante as visitas feitas nas enfermarias junto com as mesmas.
Em um outro momento do trabalho, foi observado que uma enfermeira, ao encaminhar o
paciente para cirurgia, conforta-o e emitindo palavras de fé, tal como: "...vai com Deus."
De forma geral o cotidiano de trabalho da enfermeira refere-se ao já descrito por elas
durante a realização das entrevistas. No que se refere ao trabalho informatizado, alguns aspectos
puderam ser observados e merecem destaque e esclarecimento.
Inicialmente, durante a passagem de plantão, realizada no início do plantão diurno e/ou
noturno, pôde ser observada uma grande quantidade de prescrições médicas feitas ou alteradas a
mão.
Segundo esclarecimentos obtidos, um desses aspectos deve-se ao fato de que as Seções de
cirurgia recebem no final da tarde um grande número de pacientes que retornam da cirurgia.
Estes pacientes têm suas prescrições feitas no Centro Cirúrgico, que "não está informatizado",
mas em geral isto não traz prejuízos ou conseqüências para o paciente, porque a farmácia recebe
uma cópia desta prescrição feita a mão.
Entretanto, as mudanças feitas a mão são, muitas vezes, devidas às alterações
apresentadas pelos pacientes durante o plantão. Segundo explicações, o não fazer na prescrição
eletrônica, muitas vezes, prejudica o paciente, porque o médico da rotina, ao não observar a
prescrição modificada a mão, mantém a prescrição como anteriormente, acontecendo de o
paciente ficar sem tomar uma medicação importante no seu tratamento como, por exemplo, um
antibiótico iniciado durante um plantão, após avaliação de algum exame.
Se o médico da rotina, que faz a prescrição no computador, não tiver uma atenção à
prescrição anterior, com alterações que não estão no sistema e repetir a prescrição eletrônica, o
paciente não terá uma continuidade do tratamento iniciado. Isso gera mais trabalho para as
enfermeiras que, preocupadas com a continuidade do tratamento, têm de estar se articulando
com a farmácia que, muitas vezes, não manda o medicamento, por este não constar da nova
prescrição. Ou, a enfermeira tem de solicitar a um plantonista, que já é outro, que prescreva a
medicação, para que a farmácia pague-a ao setor. Este prescreve, novamente manuscrito e, assim,
torna-se uma "bola de neve", erro em cima de erro, o que exige muito tempo da enfermeira na
resolução do problema.
Durante a observação realizada no plantão noturno, pôde ser evidenciado que os
pacientes que chegam ao setor provenientes do pronto atendimento, são recebidos, tanto pela
enfermagem quanto pelo médico, no prontuário, de forma manuscrita. Tudo acerca do paciente,
como prescrição médica, plano de cuidado de enfermagem, registros dos auxiliares e/ou
t/ecnicos de enfermagem e pedidos de exame, são feitos de forma manuscrita.
Segundo informação das enfermeiras, os pacientes transferidos do Pronto Atendimento ou
de outra unidade, durante o plantão noturno, não têm a sua inserção no sistema. Por este motivo,
eles não podem ser alocados no setor que os está recebendo. Isto inviabiliza que os médicos,
enfermeiros e outros profissionais de saúde que estão no plantão, mantenham o registro no
prontuário eletrônico. O setor responsável por esta inserção não funciona à noite e não há, no
Pronto Atendimento, um profissional que faça esta modificação.
Conforme determinado pela nova rotina de trabalho na instituição, quando da chegada de
um novo paciente no setor, este deve ser incluído no sistema pelo setor de Admissão e Alta ou
pelo setor de Pronto Atendimento, locais de onde se originam as admissões nos setores. Se for
uma transferência interna, entre setores, o setor que está transferindo faz a transferência no
sistema, mas para que esta transferência seja concretizada é necessário que seja acessada no
sistema pelo setor de Admissão e Alta. Sem a inserção dos pacientes no sistema, não é possível
fazer registros, solicitações de exames ou qualquer procedimento referente ao paciente no
computador.
Durante o plantão diurno, os pacientes são inseridos no setor, mas continuam sendo
admitidos pela enfermeira de forma manuscrita. Contudo, o plano de cuidado é feito no
computador, bem como o lançamento de todos os outros procedimentos médicos. Este aspecto
diz respeito às explicações referentes à evolução da enfermeira no tópico abaixo.
Não foi evidenciado o registro da evolução dos pacientes, pela enfermeira, no prontuário
eletrônico, tanto no plantão diurno quanto no plantão noturno. Este aspecto pode ser constatado
no depoimento de uma entrevistada, a qual faz referência a sua falta de destreza no computador e
ao grande tempo que vai ocupar para evoluir os pacientes no prontuário eletrônico. Durante a
observação, este ponto recebeu outras explicações, tais como:
Falta do aprendizado de como fazer a evolução;
Não ser rotina do setor o realizar a evolução no prontuário eletrônico, contrastando
com outros postos que fazem a evolução no prontuário eletrônico, segundo
informação de uma líder, que não participou da entrevista.
Foi observada a dificuldade de uma enfermeira em alocar um profissional na enfermaria,
porque ele não constava da escala mensal, segundo a mesma, pela “falta do aprendizado”. Este
ponto reforça mais um aspecto da resistência, pois podem sempre justificar com a falta de
treinamento o não realizar algumas atividades.
Num outro momento da observação, outra enfermeira explica que quando o profissional
não está escalado, por troca ou qualquer outro motivo, ela tem de escalá-lo na escala mensal,
para que o possa alocar na enfermaria e ele possa fazer os registros pertinentes ao paciente que
está cuidando no dia.
Em uma Seção, os pedidos de cirurgia são feitos pela equipe médica, manuscritos,
enquanto na outra Seção os pedidos vêm, da secretaria do Serviço Médico, feitos no computador.
Pela oportunidade de estar presente nas Seções ou na “ilha”, em momentos em que havia
outras enfermeiras, que não fizeram parte das entrevistas, pôde ser constatado, na fala das
mesmas, que as enfermeiras com mais idade apresentam maior dificuldade no trabalho
informatizado do que as mais jovens.
Outros aspectos observados se referem às dificuldades encontradas pela enfermeira em
conciliar a assistência com o trabalho informatizado, tais como:
1 - O uso da "ilha" dos computadores, pela enfermeira, favorece o isolamento. O próprio
nome dado ao espaço "ilha", já conota um sentido de algo que se encontra distante e isolado,
afastado de qualquer coisa. Palácios (1993, p. 23), ao referir-se ao isolamento social, coloca que
o trabalhador sente-se afastado das suas relações cotidianas. No caso da informatização, as
enfermeiras sentem-se isoladas, afastadas das relações e conjugando a uma falta de controle sobre
o trabalho, quando perdem a noção do que pode estar acontecendo lá fora, no espaço reservado
ao cuidado.
A "ilha" significa para elas a prisão que as afasta do seu objeto de trabalho, que é o
cuidado ao paciente. Sendo responsável pela coordenação da assistência no seu plantão, "presa"
na "ilha" ela sente-se distante de tudo. Rebecchi (apud Uchida, on-line, 1998), assinala que “a
sensação de isolamento é vivenciada no sofrimento produzido pela organização do trabalho
informatizad”, fazendo menção do "homem sem privacidade, devassado de todos os seus
sentimentos e quebradiço feito vidro".
2 - As enfermeiras, para não se afastarem dos acontecimentos que envolvem a
coordenação da assistência e o controle sobre o trabalho, permanecem no posto, sendo
interrompidas inúmeras vezes, para atender na enfermaria, o telefone, o médico ou outro
profissional, quando estão fazendo os planos de cuidados dos pacientes, escalas diárias,
relatórios, acessando mapa de exames ou de cirurgias. Toda vez que precisa levantar-se e
interromper o que estava fazendo no computador, quando retorna sente-se perdida, não sabendo
onde parou. Se por esquecimento, quando retorna, der um clic com o mouse em local errado, isto
pode resultar na duplicação do plano de cuidado que estava fazendo, o que a levará a dispensar
um longo tempo na correção. Por exemplo, um plano de cuidado de enfermagem com vinte itens,
se a enfermeira, quando interrompida já houver clicado no atualiza, para aquele dia, retornando,
não se lembrar se atualizou e clicar novamente, terá um plano com quarenta itens, onde vinte
precisarão ser eliminados, um a um, demandando um tempo precioso.
3 - A impressora, localizada na sala destinada ao trabalho dos profissionais no
computador, atrapalha o desenvolvimento das atividades, pois a enfermeira, por inúmeras vezes,
precisa deslocar-se do setor para ir até lá buscar o que solicitou imprimir, assim como verificar
se tudo está funcionando ou se não falta papel, já que a impressora atende a dois postos. Uma
enfermeira faz a observação de que seria muito melhor se houvesse uma impressora na sala da
chefia;
4 - Na "ilha" a maioria dos computadores está com problemas (quebrados) e pela manhã
há concorrência de vários profissionais e alunos para usarem os computadores, além de que a
"ilha", como já foi dito, atende a dois postos.
5 - Apesar de haver facilitado a compreensão da prescrição médica por um lado, por outro
a informática complicou, uma vez que a enfermeira tem que rever e refazer praticamente todas,
acertando os horários. Apesar de todas as observações já feitas, os médicos continuam não
valorizando as queixas das enfermeiras e continuam o fazer erradamente. Observa-se, nesse
aspecto, a falta de cooperação entre as equipes multiprofissionais;
6 - Os problemas com o computador são freqüentes, principalmente quando congelam a
imagem e precisam ser desligados e religados, perdendo-se, por vez, em torno de cinco minutos
ou mais, para se ligar e desligar o aparelho. Segundo comentários, isso deixa a pessoa estressada.
Durante a observação, este fato ocorreu pelo menos umas cinco vezes. Os equipamentos nem
sempre são substituídos de forma adequada pela instituição; há o relato da compra de mouse,
pela enfermeira, por duas vezes;
7 - O grande número de cliques necessário para fazer um plano de cuidados. Em um plano
de cuidados simples, sem precisar fazer alterações, foi contado em torno de 18 cliques com
mouse e duas paradas para digitar até chegar à impressão.
4.2.2.1 O TRABALHO REAL E O TRABALHO PRESCRITO
Buscando mostrar o que acontece na organização real do trabalho, durante a observação e,
dentro de um curto intervalo de tempo, foram registradas as atividades de uma enfermeira,
enquanto desenvolvia seu trabalho.
Este registro nos favorece visualizar as diferenças existentes entre a organização prescrita
e a organização real do trabalho, quando o trabalho da enfermeira é marcado pelas
imprevisibilidades. Por mais que se organize, e essa é uma característica do trabalho das
enfermeiras, ela não consegue dar conta do trabalho prescrito, sendo o trabalho real marcado por
uma diversidade de atividades.
A descrição dessas atividades foi organizada no anexo E
4.3 DISCUSSÃO
A construção das categorias empíricas teve por base alguns tópicos tematizados no roteiro
da entrevista.
O primeiro tema refere-se à percepção das enfermeiras diante do seu cotidiano de
trabalho. O cotidiano de trabalho é geralmente marcado por uma imprevisibilidade, considerada
na fala das enfermeiras pelas "intercorrências". Dentro deste cenário, o pano de fundo do
trabalho é a organização real do trabalho, aqui tendo o cuidado como o momento privilegiado,
onde se estabelecem variadas relações, sejam entre os profissionais, seja com os pacientes, com o
processo de trabalho e com os aspectos subjetivos presentes em cada uma.
Quando as enfermeiras falam do seu trabalho, descrevem-no de uma forma mais próxima
do real, distanciando-se sempre do prescrito. É o real que confere sentido e significado ao
trabalho, é nele que as enfermeiras vivenciam sua prática.
O segundo tema é o cuidado como o lócus das relações cotidianas. O cuidado como foco
do trabalho de enfermagem é considerado, segundo a compreensão das enfermeiras, como "tudo"
que fazem em prol do paciente. É a rotina diária de chegar, receber o plantão, distribuir escalas,
passar visita nas enfermarias para avaliar as condições dos pacientes e estabelecer com eles uma
relação mais harmoniosa; é a relação com os profissionais da equipe multiprofissional e é a
relação com a família dos pacientes.
O cuidado, para ser vivenciado, precisa estar em relação e nessa relação as subjetividades
são expostas. Esse cuidado implica afetividade e as enfermeiras expõem esta afetividade quando
colocam a sua relação com o outro nas expressões "conversar", "dar conforto", "me coloco à
disposição", "passando energia", “valorizando o estar junto”, como parte fundamental do seu
trabalho. Logo, as categorias encontradas para expressar o cuidado estão predominantemente no
campo da afetividade, realçando a importância dos aspectos subjetivos na relação do cuidado.
Segundo Carpentier-Roy (1990), essa afetividade, aliada ao savoir-faire, dentro do campo
de trabalho da enfermeira, majoritariamente feminino, é um importante aspecto que favorece a
construção de um coletivo de trabalho de enfermeiras e das estratégias de defesas destas
profissionais.
Para Dejours, as defesas geralmente são construídas e aparecem como algo inconsciente,
mas que está ameaçando a organização real do trabalho. Trazendo a questão para a prática, para a
enfermeira diante da informatização, o que se observa é uma negação e resistência diante do
novo, provavelmente proveniente da forma como esta foi introduzida no cenário destes sujeitos,
não lhes permitindo um tempo para adaptação e construção do prazer e desejo.
O terceiro tema é o cuidado como lócus das relações de conflito diante da informatização.
O trabalho informatizado teve no estudo o enfoque voltado para a introdução e o
desenvolvimento da informatização no trabalho de enfermagem, considerando-se os aspectos
relativos ao treinamento recebido pelos profissionais e as questões referentes à saúde do
trabalhador.
Da fala das enfermeiras emergiram palavras como: "complicado", "difícil", "treinamento
insuficiente", "falta de estrutura", "falta de destreza" , "afastar a enfermagem da enfermaria",
"perde muito tempo" e “tar presa" , que nos conduziram à percepção deste contexto de trabalho.
Esses aspectos foram condutores de sentimentos negativos nas enfermeiras, que resistiram
a sua introdução. As próprias enfermeiras trazem em suas falas a palavra “resistência”, por não
concordarem com a forma como o processo se desenvolveu. Esses sentimentos, motivo de
estresse para algumas, constrangimentos para outras, são expostos nas falas das enfermeiras,
entrecortadas por risos e repetições que denotam uma insatisfação pela forma como ocorreu a
informatização.
A falta de um significado, sentido no trabalho realizado pelo trabalhador, conduz a
formas de sofrimento. No caso da informatização, as enfermeiras não conseguiram visualizá-la
como um novo instrumento que estava sendo inserido no seu processo de trabalho.
Os aspectos positivos não diziam respeito essencialmente ao trabalho, pois o que
valorizam é o cuidado direto prestado junto ao paciente. Dejours (1992, p. 50) realça este aspecto
quando assinala que "o essencial da significação do trabalho é subjetivo".
Alguns pontos positivos são colocados em relação à informatização, entretanto uma
entrevistada coloca como ponto positivo o acesso permitido a todos do que acontece nos setores.
Fica realçada na fala a questão da chefia, quando se refere ao acesso do diretor a tudo que
acontece na instituição. Entretanto, na fala desta enfermeira e das outras entrevistadas, não se
realça a questão da informatização como uma forma de controle sobre o processo de trabalho nos
setores.
A informatização se mostra como uma ameaça concreta que se apresenta no virtual e que
vem a acirrar mais as formas de controle e de pressão sobre o trabalho da enfermeira, impedindo-
a de prestar o cuidado que gosta e que lhe confere prazer pelo trabalho que desenvolve.
Elas não falam, mas ao sentirem uma ameaça apresentam várias formas de resistência.
Articulam defesas contra o que acreditam ir contra o que dá sentido ao seu trabalho. A resistência
ao treinamento, colocando-o como insuficiente, ou o se manterem fazendo o trabalho como
anteriormente, podem ser considerados como defesa construída por essas trabalhadoras, para
fazer frente ao que consideram imposto pela organização do trabalho, como forma de pressão e
maior controle sobre o seu processo de trabalho.
Para Dejours, a percepção dessa ameaça não é consciente. Ela surge como algo
inconsciente. No caso das enfermeiras, a informatização aparece como mais uma forma de
controle e estas resistem, como forma de subjugar o sofrimento.
Pelas dificuldades encontradas na relação entre a informatização e o cuidado, as
enfermeiras deixam, às vezes, de realizar algumas atividades no computador, para priorizar o
tempo junto ao paciente. Alegam que o tempo entrecortado pela informatização não permite uma
continuidade do cuidado, por estabelecer uma nova relação entre o homem e a máquina. Não se
referem a um tempo medido, embora dêem uma conotação cronológica; compreende-se nas
entrelinhas o tempo significado junto ao paciente, estabelecendo relações entre pessoas e não
com a máquina.
As resistências utilizadas pelas enfermeiras variam, desde dizer que não foram treinadas
para fazer tal atividade, pois naquele setor a rotina ainda não foi instituída ou que vão perder
muito tempo realizando a atividade. Outro aspecto que foca a resistência é acreditar que o
trabalho realizado do modo anterior era melhor.
Para as enfermeiras, a informatização não permite o agir livremente, diminuindo as suas
margens de liberdade no trabalho, quando as pausas, muitas vezes necessárias, não lhes permitem
retornar ao fio condutor do trabalho. Quando diante do computador, o seu controle sobre o
trabalho torna-se limitado, pelo fato de este impossibilitar a visualização do que acontece ao seu
redor, no momento em que tem que estar visualizando a tela. Existe uma incompatibilidade com
o trabalho da enfermeira no que se refere a sua função de supervisionar o todo.
O estar diante do computador está definido como gerador de um sentimento de prisão,
isolamento, principalmente quando é preciso usar um outro espaço que não seja o setor ou as
enfermarias. Sentindo-se sem liberdade para articular o trabalho, afastada da assistência e
acumulando os problemas operacionais da máquina, as enfermeiras dizem-se estressadas.
Essas trabalhadoras relatam os problemas enfrentados especificamente com a prescrição
médica, que sempre precisa ser revista, dando mais trabalho do que antigamente. Esse aspecto
foi também evidenciado durante a observação, quando a enfermeira fala a uma médica que a
forma como ela está prescrevendo pode levar a erros; esta ouve, contradiz, mas não valoriza o
explicado pela enfermeira. Não existe um trabalho em equipe que denote a cooperação entre os
profissionais que compõem a equipe multiprofissional.
Para Salim (2003, on-line) os reflexos da "reestruturação produtiva" associados às novas
formas de organização do trabalho e o advento das novas tecnologias e situações de riscos estão
levando ao crescimento na epidemia das LER/DORT.
O tema do cuidado como lócus de fonte de prazer / sofrimento pode ser avaliado a partir
das categorias de satisfação e insatisfação no trabalho. Apesar de relatos da insatisfação mediante
a informatização, no geral, as enfermeiras gostam e sentem prazer no trabalho e referem esse
prazer do contato com o paciente, o qual estimula sentimentos positivos na relação com o outro.
Embora denotem sofrimento em determinadas situações, como nos relatos de frustração
diante do óbito, da falta de autonomia e da culpa, conseguem sentir prazer no que fazem.
Para Dejours e Abdoucheli (1994, p. 128) "Prazer e sofrimento são vivências subjetivas,
que implicam um ser de carne e um corpo onde ele se exprime e se experimenta (...) remetem ao
sujeito singular, portador de uma história..."
Dentro desse cenário é essencial à enfermeira o contato mantido na relação com o
paciente, sem o qual ela não se sente cuidando. Como considerado nos estudos que abordam o
cuidado de enfermagem, os aspectos subjetivos e outros fazem do cuidado a essência da
profissão; portanto, a enfermeira não consegue ver-se cuidando quando perde esta essência. No
cuidado é preciso ter relação entre humanos. Mesmo quando dizem que NÂO estão cuidando, ao
avaliar uma prescrição ou fazer um plano de cuidado, fazem-no em favor do paciente, portanto
cuidam. Na relação com a máquina, mesmo que fazendo essas atividades, sentem-se distantes
com os novos modos operatórios e com as novas linguagens trazidas pela “máquina”,
considerando que esta é estabelecida no meio da relação com o paciente, prejudicando-a.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo colocou em relevo o quanto é importante o significado / sentido do trabalho
para o trabalhador. A idéia de desvendar o outro lado, onde a dimensão subjetiva se apresenta,
proporcionou-nos refletir sobre esta questão nos meandros do trabalho da enfermeira. Permitiu-
nos evidenciar que as enfermeiras deste estudo empenham-se em dar o melhor de si no
atendimento ao paciente, mesmo sem entender que esse melhor pode estar relacionado à
informática.
Depreendemos, a partir da pesquisa, que as enfermeiras, sujeitos deste estudo, se
percebem isoladas, afastadas das suas condições habituais de trabalho diante do trabalho
informatizado. Este aspecto pode ser confrontado e discutido à luz do referencial teórico. Elas,
por compreenderem o cuidado direto como algo que dá significado ao que fazem, rechaçam o
trabalho informatizado, demonstrando um desinteresse nesse fazer, quando então, verbalizam
algumas inconformidades do trabalho como forma de resistência. Essa resistência aparece como
uma estratégia desse coletivo de trabalho contra aquilo que veio fazer frente ao que lhes dá prazer
no trabalho que desenvolvem, que é o cuidado direto ao paciente.
Não há uma percepção consciente da maioria sobre o controle externo, mas inconsciente.
No sentido em que é abordada por Dejours, na visão psicanalítica da questão, a resistência às
mudanças pode estar relacionada à percepção inconsciente do controle externo sobre o trabalho,
sobre os segredos profissionais. Esta nova forma de trabalhar interfere no que é específico desse
grupo de trabalho e quanto a isso elas se defendem. Para Carpentier-Roy, não é somente o seu
"savoir-faire" que está ameaçado, mas ainda mais a qualidade do seu trabalho como fonte de
prazer, o que se inscreve num processo de desqualificação do conteúdo significativo de sua
tarefa (CARPENTIER-ROY, 1990, p. 25).
Outra característica importante de ser realçada é que as práticas de linguagem comuns a
esse coletivo, as fazem ser reconhecidas dentro do seu campo de trabalho. Para D. Cru (1985,
apud CARPENTIER-ROY, 1990), esta prática é receptora da construção de um coletivo na
medida em que elas são instrumentos ativos e estruturantes da organização real do trabalho. No
caso, as enfermeiras atuam através do que consideram sua dupla vocação: a vocação técnica e a
vocação afetiva (CARPENTIER-ROY, 1990, p. 26). Não reconhecem a linguagem da
informática como pertinente a seu métier.
Consideram que essa dupla vocação está sendo atacada, quando o registro do trabalho
informatizado faz com que tenham que permanecer um tempo menor junto ao paciente, lócus do
cuidado. Nesse lócus, é onde têm prazer, realizando essa dupla vocação; permanecer um tempo
maior junto a uma máquina não lhes dá prazer.
Outro aspecto, evidenciado no decorrer do estudo e que corrobora com os estudos que
discutem o processo de trabalho em saúde no âmbito da saúde coletiva, é que não existe um
trabalho cooperativo entre a equipe multiprofissional. Cada um realiza o que considera o seu
trabalho, independentemente da relação de cooperação que precisa ser estabelecida no âmbito do
trabalho em saúde.
No que se refere à informatização, as enfermeiras reclamam por terem sempre que refazer
o trabalho médico, ao revisarem as prescrições que, segundo as mesmas, estão sempre feitas de
forma errada. Não se percebe um interesse da equipe médica em mudar essa questão, isto é, em
não intensificar o trabalho da enfermeira, o que ressaltaria a relação de cooperação em trabalho.
Não podemos ir contra esta nova tecnologia que se apresenta e, conforme estudos, a
informática já está e continuará revolucionando o processo de trabalho da enfermagem e o
processo de trabalho em saúde daqui para diante. Entretanto, fica evidente que a inserção da
tecnologia da informática dentro do contexto hospitalar está interferindo significativamente no
processo de trabalho de enfermagem. Portanto, podemos pensar que esta é ainda muito complexa
e que precisa ser discutida e refletida, considerando sua inserção dentro do contexto trabalho
hospitalar.
Atualmente a reestruturação produtiva nos hospitais, com a escassez de enfermeiras,
baixos salários e flexibilização dos contratos, mostra-se como um determinante importante para
a dificuldade de se estabelecer um melhor desenvolvimento dos sistemas de informação em
saúde. Ao mesmo tempo, vivemos em um momento de transição, quando estas profissionais
ainda não vislumbraram a importância da informática dentro do seu contexto de trabalho e podem
sentir-se excluídas ou isoladas.
Como a situação a ser analisada é bastante complexa, a discussão sobre a resistência à
mudança torna-se pertinente. Consideramos que está associada a uma atitude profissional que não
incorpora a linguagem técnica da informática aos fundamentos da profissão da enfermeira. Nesta
perspectiva, o treinamento, apesar de sua insuficiência inicial, não foi alvo de crítica coletiva e,
portanto, de alguma tentativa de mudança da situação.
A organização do trabalho, por outro lado, não favoreceu a participação das profissionais
na construção dessa mudança no processo de trabalho. A não-construção conjunta com essas
trabalhadoras e a não-valorização do processo que estava sendo instalado podem ter sido os
elementos dificultadores que as levaram a resistência em certos momentos do treinamento,
quando as mesmas não se sentiram contempladas enquanto sujeitos e integrantes do processo de
trabalho. Priorizou-se a tecnologia, aqui representada pela informática, desconsiderando o ser
humano dentro desse contexto da realidade do trabalho.
A falta de flexibilidade de horários para o treinamento, observando-se momentos de pausa
das enfermeiras e de outros profissionais, não favoreceu uma participação efetiva, uma vez que
em muitos momentos a enfermeira não podia deixar a assistência para estar presente no
treinamento. Estes aspectos parecem ter dificultado a operacionalização da mudança no cotidiano
dessas trabalhadoras.
Isso conota um significado muito profundo que precisa ser revertido na construção de
elementos que sejam positivos e que permeiem um sentido para o trabalho de enfermagem. É
necessário priorizar a interação entre pessoas, destacando, nesse contexto, o enfoque subjetivo
do sujeito como um ser pensante e capaz de construir-se satisfatoriamente nas relações
estabelecidas no seu cotidiano de trabalho.
A informatização é uma forma de controle, mas, ao mesmo tempo, democratiza o
processo de trabalho, trazendo benefícios não só para a instituição mas também para os pacientes.
Vislumbramos que o computador possa vir a ser uma ferramenta importante no desenvolvimento
do trabalho dessas profissionais, assim como de todos os profissionais envolvidos no processo de
trabalho em saúde, seja dentro ou fora da instituição, desde que os aspectos relativos à
organização do trabalho sejam vistos como prioritários.
As enfermeiras consideram que a relação trabalho e saúde do profissional, frente à
informatização, apresentam indícios de adoecimento. Consideraram os comprometimentos físicos
como movimentos repetitivos e complicações visuais como fatores predisponentes ao
adoecimento do profissional. Esses são fatores que predispõe ao aparecimento das LER/DORT e
que precisam estar sendo contemplados pela organização do trabalho.
O cuidado é o palco onde as enfermeiras vivenciam e experimentam a sua história
marcada por imprevistos, tristezas e alegrias. É nesse palco que elas convivem cotidianamente
com a finitude humana, mas não se desanimam e continuam gostando do cuidado, mesmo que
nesse cuidado ocorram eventos desagradáveis.
Esperamos que a pesquisa leve a uma reflexão mais mediata dessas profissionais sobre o
assunto, pelo fato de procurar fornecer elementos à análise e reflexão do problema e do contexto
que o insere. Entretanto, não é da natureza da pesquisa solucionar impasses que se apresentaram
nesse cotidiano.
Consideramos como perspectivas futuras que a pesquisa fomente outros estudos que
abordem a informatização no processo de trabalho em saúde, já que esta pode se transformar em
uma importante ferramenta de apropriação do sentido do trabalho para as enfermeiras.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ANEXOS
ANEXO A - TERMO DE APROVAÇÃO PELO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA
ANEXO B - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRONÚCLEO DE ESTUDOS DE SAÚDE COLETIVA
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
O Núcleo de Estudos de Saúde Coletiva (NESC), da Universidade Federal do Rio deJaneiro (UFRJ), através do Curso de Mestrado em Saúde Coletiva, está realizando um estudodesenvolvido pela enfermeira Cláudia Maria Barboza Machado Fonseca e sob orientação da DrªMônica Loureiro dos Santos, intitulado “As transformações no cotidiano de Enfermagem: umestudo do impacto da informatização na subjetividade e na saúde das enfermeiras em umhospital geral”.
O principal objetivo desta investigação é identificar a partir do estudo do processo detrabalho e do discurso dos trabalhadores o significado da introdução da informatização nocotidiano de trabalho da enfermeira, segundo a compreensão e percepção das mesmas. O projetode pesquisa foi avaliado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do NESC/UFRJ.
A participação nesta pesquisa é voluntária e a realização destas atividades buscará nãocomprometer e nem oferecer riscos para a saúde dos participantes. Todos os participantes terãopleno direito de, a qualquer momento da pesquisa, recusar-se a participar da mesmo. Na suarealização, as pessoas que sentirem desejo de contribuir com o estudo, participarão de umaentrevista semi-estruturada, cujas perguntas serão relacionadas à sua prática profissional, taiscomo: o cuidado, introdução da informatização no processo de trabalho, o processo e aorganização do trabalho e saúde do trabalhador.
Os participantes do estudo serão os profissionais de enfermagem de duas ou três seções,em uma unidade de cirurgia de um hospital universitário da rede pública.
Os dados colhidos serão inteiramente sigilosos, avaliados apenas pelos pesquisadores eseu orientador, e a identidade dos participantes do estudo será preservada. Entretanto, osresultados, em sua totalidade, serão publicados em literatura científica especializada. Serámarcada uma data para divulgação dos resultados.
Atenciosamente,__________________________________________________________
Cláudia Maria Barboza Machado Fonseca - Enfermeira e pesquisadoraTel: 2695 4836 (res) 2562 2522 (HU)
Profª. .Mônica Loureiro Santos - orientadora da pesquisa.
Eu,_____________________________________________RG/Nº______________ certifico que,lendo as informações acima, concordo com o que foi exposto e confirmo minha participaçãonesta pesquisa.
Rio de Janeiro, ____ de _______________ de 2004.Assinatura:__________________________________
ANEXO C - ROTEIRO DA ENTREVISTA
DADOS GERAIS:
Nome:----------------------------------------------------------------------------------------------
Idade:---------------------------------------------Sexo:-------------------------------------------
Naturalidade:------------------------------------Estado civil:-----------------------------------
Endereço:------------------------------------------------------------------------------------------
Função (registrar chefia):-----------------------Tempo na Chefia----------------------------Cargo:-------
-------------------------------------Vínculo Empregatício:-----------------------Tempo de Serviço na
Instituição:---------------------------------------------------------------
Tempo de atuação no setor:---------------------------------------------------------------------
Outros setores em que atuou na Instituição:--------------------------------------------------
Horário de Trabalho na Instituição:------------------------------------------------------------
Jornada de trabalho na instituição:-------------------------------------------------------------
Tem outro emprego?-------------------------- Caso afirmativo, quantos? ------------------
Quais vínculos, formal ou informal?-----------------------------------------------------------
Tipo de jornada:-----------------------------------------------------------------------------------
Formação:- -------------------------------------Início da Vida Profissional------------------
Tem filhos? ( ) Sim ( ) Não Caso afirmativo quantos?---------------------------------Renda
Mensal Total (na instituição ou em outros):- ---------------------------------------É principal
responsável pela renda na família?-----------------------------------------------Se não, com quem
divide as despesas da família?-------------------------------------------
Nível de Escolaridade:
( ) 3º grau completo
( ) Especialização - Em quê?------------------------------------------------------------------- ( )
outros ----------------------
Participou ou participa de algum curso ou treinamento?
( ) Sim ( ) Não Caso afirmativo qual? ------------------------------------------------
Como foi a escolha da profissão?
Descreva um dia típico do seu trabalho.
O que você compreende como cuidado?
Como foi, para você, a introdução da informatização na Instituição?
Como você percebe o desenvolvimento da informatização na Instituição?
Que relação existe entre a informatização e o desenvolvimento de suas atividades?
Você recebeu, durante o processo de informatização, algum tipo de divulgação e/ou
treinamento? Quais?
Como você desenvolvia suas atividades antes da introdução da informatização?
No que se refere à relação saúde e trabalho, o que você considera importante ser
observado, após a introdução da informatização?
Como você percebia esta relação (saúde e trabalho) antes da introdução da
informatização?
Como você mulher / profissional compreende a introdução da informatização no seu
cotidiano pessoal e profissional?
Você observou na instituição alguma diferença na aceitação da introdução da
informatização entre os profissionais homens e mulheres? Explique.
E para você, há diferenças no trabalho informatizado para os profissionais homens e
mulheres? Explique caso afirmativo ou negativo..
O que te dá prazer no trabalho que desenvolve?
O que você mais gosta de fazer no seu trabalho? Por quê? Que sentimentos estas tarefas
provocam em você?
O que você menos gosta de fazer no seu trabalho? Por quê? Que sentimentos estas tarefas
provocam em você?
ANEXO D - CARTA ÀS ENFERMEIRAS
Rio de Janeiro, 09 de novembro de 2004.
À você colega Enfermeira
Eu, Cláudia Maria Barboza Machado Fonseca, Enfermeira desta instituição, cursando
Mestrado em Saúde Coletiva no Núcleo de Estudos de Saúde Coletiva (NESC) da UFRJ, venho,
através desta carta, apresentar o estudo que pretendo realizar no seu setor de trabalho. Este já foi
apresentado ao Diretor da Divisão de Enfermagem do hospital em estudo.
O estudo tem por título: As Transformações no Cotidiano de Enfermagem: um estudo do
impacto da informatização na subjetividade e na saúde das enfermeiras em um hospital geral. O
principal objetivo é identificar, a partir do estudo do processo de trabalho e do discurso dos
trabalhadores, o significado da introdução da informatização no cotidiano de trabalho da
enfermeira, segundo a compreensão e percepção das mesmas. Os objetivos específicos são:
identificar na fala dos sujeitos se a informatização interfere no processo de trabalho da
enfermagem, a partir da interpretação das percepções das enfermeiras; descrever o que significou
a informatização no cotidiano de trabalho da enfermeira e se, de alguma forma, esta interferiu no
processo saúde / doença das mesmas; discutir como a tecnologia da informática foi introduzida a
partir das propostas de qualificação; discutir como está sendo desenvolvida a atividade da
enfermeira no seu cotidiano de trabalho diante do processo de informatização.
Considero que este estudo permitirá uma maior reflexão dos sujeitos sobre sua prática
dentro do contexto de inovação tecnológica, principalmente dentro do contexto da
informatização.
O estudo será realizado em dois momentos, sendo o primeiro uma observação direta,
enquanto da realização das suas atividades cotidianas, e o segundo uma entrevista. Para realizá-lo
preciso e gostaria de contar com sua colaboração, participando como sujeito deste estudo.
Durante a entrevista, farei uso de gravador e de um bloco de anotações. O sigilo dos nomes dos
participantes do estudo será garantido.
Atenciosamente,
Cláudia Maria Barboza Machado Fonseca
Telefone: 26954836(res) - 25622522 (HU)
ANEXO E - O TRABALHO REAL DE UMA ENFERMEIRA
08:25 - Encontro Gina na ilha tentando fazer escala e o computador está congelado; diz que é o
segundo liga e não consegue. Tem que desligar e ligar de novo.
08:30 - Enquanto estava aguardando, a assistente administrativa chama-a para atender ao
telefone.
08:34 - Sai do telefone e vai à enfermaria; chegou paciente para cirurgia e ela vai ver.
08:36 - Um médico solicita que ela agilize o encaminhamento de um paciente que chegou e está
informando ter chegado desde 07:15h. Ela diz par o médico que o paciente chegou há 10
minutos. Solicita à administrativa que entre em contato com o CC. Comenta que vai ser
impossível fazer a escala naquele momento.
08:38 - Volta à enfermaria e fala com o paciente, perguntando a ele porque disse ao médico que
chegou às 07:15, se na verdade tinha chegado há poucos momentos. Este informa que chegou no
hospital cedo, mas que só tinha ido para a enfermaria naquele momento.
08:40 - Retorna a ilha para pegar uns papéis que lá tinha deixado e é chamada novamente ao
telefone.
08:42 - Sai do telefone e dois alunos solicitam material - gaze - Gina chama a atendente, mas ao
mesmo tempo vai ao armário, pega um saco e começa a colocar gaze na gaveta.
08:44 - Uma médica lhe solicita que encaminhe um sangue colhido para exame. Gina pede à
administrativa que chame o mensageiro. Pergunta à médica qual é o exame e esta lhe explica.
Enquanto guarda as gazes, vai falando com os auxiliares, técnicos de enfermagem e os alunos que
lhe perguntam qualquer coisa.
08:48 – Gina entra na sala da chefia e senta-se em frente ao computador, ligando-o. Comenta
sobre um medicamento que solicitou à farmácia e que não foi pago; diz não se conformar com
isso. O paciente está ali e precisa do remédio. Fala que outros funcionários já se sentaram no
computador da ilha e que não há mais nenhuma máquina disponível; reclama do mouse do
computador da sala da chefia. A atendente entra falando da gaze; informa que já arrumou a
gaveta.
08:53 - O mensageiro diz que os pedidos da médica estão errados e que esta não identificou os
frascos de sangue. A médica não está mais no setor. Gina pega os frascos de sangue e os
identifica; pede ao mensageiro para ver se há na ilha um outro médico que possa fazer os
pedidos corretamente.
08:55 - A administrativa traz os prontuários dos pacientes que internaram, após arrumá-los,
informando que o Centro Cirúrgico já vem pegar o paciente, sobre o qual o médico estava
reclamando. Gina reclama do computador, que não está atendendo facilmente ao comando. Torna
a digitar a senha para ver se consegue acessar o ícone desejado.
08:58 - Consegue abrir o programa e informa que precisa fazer a escala cedo porque, se os
auxiliares e técnicos quiserem registrar algo sobre o paciente do qual estão cuidando, precisam
estar alocados na enfermaria. Pede ao auxiliar que entra para providenciar camisola para o
paciente, pois o Centro Cirúrgico já virá buscá-lo.
09:00 - Ele retorna e diz que "a rouparia está mais vazia do que dispensa de pobre". Gina começa
a alocar a equipe, conferindo quem está na escala mensal. Vai falando enquanto faz os
procedimentos no computador. Informa que é preciso trazer para a escala quem não está na
escala, mesmo que seja de outro setor - trocas de plantão.
09:02 - Chega o transporte do Centro Cirúrgico. Gina informa que não há camisola, mas ele
trouxe uma. Fala que ele pode pegar o paciente na enfermaria. Vai falando e organizando a escala
diária no computador - fala: "este não está escalado aqui hoje, tenho que trazer ele para cá". O
auxiliar entra na sala e pergunta com quem ele está trocado; ele responde e ela organiza na
escala.
09:04 - Clica na janela de impressão, pedindo impressão da escala. Levanta-se e vai à ilha para
buscar a cópia impressa.
09:06 - Retornando da ilha, reclama que a impressora não atendeu ao seu comando, dizendo que
ela está com "problema" e não imprimiu a escala.
09:07 - Faz o encaminhamento do paciente no prontuário, ao Centro Cirúrgico; chegando perto
do paciente deseja boa-sorte e fala: "vai com Deus"
09:08 - A nutricionista entra na sala , solicita informações sobre os pacientes que internaram e
fala que há paciente cujo nome não consta do mapa de cirurgia. Gina pega o mapa cirúrgico e
confere junto com a nutricionista o nome da paciente. Ao mesmo tempo informa as altas para a
nutricionista.
09:09 – Informalmente, batem papo e comentam sobre o final de semana.
09:10 – Gina pede à administrativa que chame alguém "do computador" para ver a impressora.
09:11 - Senta novamente em frente ao computador e clica outra vez em impressão; levanta e vai
novamente à ilha - sai falando: "ninguém merece".
09:12 - Retorna com a escala na mão dizendo "graças a Deus". Começa a colocar, a mão, na
escala diária, os nomes de quem não está na escala mensal. No caso, são os alunos de nível
médio e os acadêmicos de enfermagem. Fala que todos do plantão devem constar da escala.
09:15 – Gina diz que os pacientes que estão com alunos e acadêmicos terão seus planos e
curativos feitos por estes.
09:16 - Vai ao telefone, retorna chateada porque cobrou da farmácia a medicação que não foi
paga e a farmácia informou que não vai pagar. Fala: "não entendo isso, do paciente ficar sem a
medicação".
09:17 - Gina pega a escala dos alunos, no quadro, anotando em um papel quais os pacientes para
quem eles estão escalados.
09:18 - Chega o serviço social ; solicita informações e comunica as admissões.
09:20 - Retorna às enfermarias, verificando como está o trabalho.
09:21 - Na segunda enfermaria refaz um pequeno curativo, que estava solto, por solicitação da
paciente.
09:25 - Lava as mãos e atende um aluno, explicando sobre material de curativo.
09:27 - É chamada ao telefone.
09:28 - Retoma a breve visita às enfermarias, fala rapidamente com um paciente e brinca com
outra, que ri.
09:30 - Termina a visita.
09:31 - Senta novamente em frente ao computador para iniciar os planos de cuidados.
09:32 - Chega um funcionário do setor de admissão, que lhe pede para conferir o censo de
pacientes; ela informa alteração apenas nas três admissões.
09:33 - Retorna aos planos.
09:34 - A atendente pede a Gina que fale com os auxiliares e técnicos sobre o uso adequado dos
sacos que se usam para forrar o leito do paciente, porque estão sendo desperdiçados e está
faltando para colocar roupa suja.
09:35 - Observo os passos que Gina dá para fazer um plano de cuidado de enfermagem - toques e
digitação - 5 toques e digita, 3 toques e digita, 9 toques e solicita impressão - reclama do mouse
que não ajuda.
09:40 - Uma técnica de outro setor solicita uma lâmina emprestada; Gina levanta e vai ao armário
apanhá-la. Aproveita para tomar rapidamente um café.
09:47 - Retorna aos planos
09:50 – Atende a uma aluna que lhe pede orientação.
09:52 - Informa que todas as prescrições médicas que estão sobre a mesa precisarão ser revisadas,
porque, geralmente os horários colocados pelos médicos estão inadequados.
09:56 - Chega um mensageiro entregando formulários e Gina assina o protocolo. Ao mesmo
tempo um médico informa a alta de um paciente.
09:59 – Gina informa a alta à administrativa e lhe dá os formulários que recebeu do mensageiro
para que ela os guarde.
10:00 - Pára e vai encaminhar um paciente para o Centro Cirúrgico..
10:02 - Vai à ilha e diz que acabaram as folhas de impressão; traz os 10 planos feitos até aquele
momento, de um total de 26. Seis serão feitos por alunos.