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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO TECNOLGICO
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA SANITRIA E AMBIENTAL
GUIA AMBIENTAL PARA CONSTRUO DE RESIDNCIAS SUSTENTVEIS
FELIPE RUEDIGER
FLORIANPOLIS, (SC)
JULHO, 2010
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO TECNOLGICO
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA SANITRIA E AMBIENTAL
GUIA AMBIENTAL PARA CONSTRUO DE RESIDNCIAS SUSTENTVEIS
FELIPE RUEDIGER
Trabalho apresentado Universidade Federal
de Santa Catarina para Concluso do Curso
de Graduao em Engenharia Sanitria e
Ambiental.
Orientador Prof. Dr. Flvio Rubens Lapolli
FLORIANPOLIS, (SC)
JULHO/2010
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO TECNOLGICO
CURSO DE GRADUAO EM ENGENHARIA SANITRIA E AMBIENTAL
GUIA AMBIENTAL PARA CONSTRUO DE RESIDNCIAS SUSTENTVEIS
FELIPE RUEDIGER
Trabalho submetido Banca Examinadora como parte dos requisitos
para Concluso do Curso de Graduao em Engenharia Sanitria e
Ambiental TCC II
BANCA EXAMINADORA:
__________________________________
Prof. Dr. Flvio Rubens Lapolli
(Orientador)
__________________________________
Prof. Dr. Mara ngeles Lobo Rcio
(Membro da Banca)
__________________________________
Prof. Dr. Maria Eliza Nagel Hassemer
(Membro da Banca)
FLORIANPOLIS, (SC)
JULHO/2010
Por alguns sculos, o mundo ocidental considerou a natureza como um fenmeno material no ligado conscincia humana e
barrou a percepo da inteligncia oculta nossa volta. Em dcadas recentes, fomos forados a reconhecer nossa
dependncia e nossa interligao com todos os povos e com a natureza. Talvez os prximos passos para ns, sejam
despertados a antiga percepo da inteligncia viva, inerente natureza, e aprendermos a cooperar com ela para o bem do
planeta e de todos os povos.
SHIRLEY NICHOLSON
AGRADECIMENTOS
- Aos familiares, namorada e amigos.
- A todos os colegas professores e alunos companheiros de trabalho no dia-a-dia.
- Aos que pautam suas vidas pelo respeito a todos os seres vivos desse maravilhoso planeta
Terra, sobretudo aos que agem em prol de ideais scio-ambientais.
- Ao Grande Esprito, pela vida.
RESUMO
O crescimento das cidades nas ltimas dcadas tem sido responsvel pelo aumento da
presso das atividades antrpicas sobre os recursos naturais. A falta de conhecimento sobre
sustentabilidade da construo civil por parte de muitos profissionais responsveis pela sua
execuo evidente e explicitada com os problemas recorrentes encontrados nos grandes centros
urbanos aps o trmino da obra. O objetivo geral deste trabalho foi identificar aspectos
construtivos essenciais na construo de uma residncia sustentvel atravs da reviso
bibliogrfica sobre o assunto, proporcionando condies de levantamento de dados para conhecer
o funcionamento dos aspectos construtivos ecoeficientes. De posse destes dados foi elaborado um
guia ambiental para difundir a nova tendncia da construo civil residencial, que apresentado
no apndice deste trabalho. Um estudo de caso foi realizado mediante a aplicao deste guia
ambiental, onde se buscou simular a utilizao do guia ambiental frente s questes ambientais
em uma residncia ecoeficiente. Os resultados obtidos demonstram que possvel utilizar o guia
ambiental para atingir a ecoeficincia de uma residncia, onde sua utilizao resulta em economia
de energia e gua. As Estratgias bioclimticas quando bem aplicadas so fundamentais para se
atingir a ecoeficincia, porm critrios ecoeficientes ainda esto sendo pesquisados no Brasil.
Palavras chaves: gesto ambiental, construo sustentvel, ecoeficincia.
ABSTRACT
The cities growth in recent decades has been responsible for the increased pressure of
human anthropic activities on natural resources. The lack of knowledge about sustainability by
civil construction professionals responsible for its execution is obvious and explicit with the
recurring problems found in large urban centers after the construction is finished. This work
general goal was to identify fundamental construction aspects in building a sustainable home by
reviewing the literature on the subject, providing conditions for data collection to understand the
operation of aspects of construction and ecoefficients. In hold of this data a practical guide to
diffuse the home civil construction new tendencys was elaborated, which is presented in this
works appendix. A case study was conducted by applying this practical guide, which simulated
the practical guides use opposite environment issues on an ecoefficient residence. The result
shows that is possible to use the practical guide to achieve a home`s ecoefficiency, where its use
results in energy and water saving. The Bioclimatic Strategies when properly applied are
fundamental to achieve ecoefficiency, but ecoefficient criteria are still been researched in Brazil.
Key words: environmental management, sustainable construction, eco-efficiency
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Climas Brasileiros ________________________________________________________ 30
Figura 2: Modelo de residncia para climas quentes e secos _______________________________ 33
Figura 3: Modelo de residncia para climas quentes e midos______________________________ 34
Figura 4: Modelo de residncia para climas temperados e subtropicais ______________________ 35 Figura 5: Zoneamento Bioclimtico Brasileiro __________________________________________ 36
Figura 6: Diagrama Psicromtrico com as Zonas de Conforto de Givoni _____________________ 37
Figura 7: Zona de conforto _________________________________________________________ 38 Figura 8: Zona de ventilao ________________________________________________________ 38
Figura 9: Zona de resfriamento evaporativo ____________________________________________ 39
Figura 10: Zona de inrcia trmica para resfriamento ____________________________________ 39
Figura 11: Zona de resfriamento artificial _____________________________________________ 40 Figura 12: Zona de umidificao _____________________________________________________ 40
Figura 13: Zona de inrcia trmica e aquecimento solar __________________________________ 41
Figura 14: Zona de aquecimento solar passivo __________________________________________ 41 Figura 15: Zona de aquecimento artificial _____________________________________________ 42
Figura 16: Faixa solar para hemisfrio sul _____________________________________________ 43
Figura 17: Solues para iluminao natural e mitigao do calor __________________________ 44 Figura 18: Tipologia de janela para iluminao e ventilao natural ________________________ 45
Figura 19: Laser Cut Panel _________________________________________________________ 46
Figura 20: Ventilao em regies midas ______________________________________________ 47
Figura 21: Ventilao em regies midas com janelas altas com duas passagens pela laje _______ 47 Figura 22: Ventilao em regies midas com janelas altas com nica passagem pela laje _______ 47
Figura 23: Ventilao a ser evitada em regies midas e favorvel em climas secos ____________ 48
Figura 24: Modificaes da trajetria dos ventos produzidas pelas vegetaes buscando fluxo interno _______________________________________________________________________________ 48
Figura 25: Modificaes da trajetria dos ventos produzidas pelas vegetaes ________________ 49
Figura 26: Uso final de energia eltrica no setor residencial brasileiro ______________________ 50 Figura 27: Selo PROCEL __________________________________________________________ 51
Figura 28: Selo CONPET __________________________________________________________ 52
Figura 29: Sistema de gerao fotovoltaica de energia eltrica _____________________________ 53
Figura 30: Mapa de radiao solar do Brasil ___________________________________________ 54 Figura 31: Sistema de aquecimento solar de gua _______________________________________ 55
Figura 32: Mapa de ventos do Brasil _________________________________________________ 57
Figura 33: Programa de conservao de gua em edificaes novas_________________________ 58 Figura 34: Sistema de fluxo total _____________________________________________________ 61
Figura 35: Sistema com derivao ___________________________________________________ 61
Figura 36: Sistema com volume de reteno ____________________________________________ 62
Figura 37: Sistema com infiltrao ___________________________________________________ 62 Figura 38: Valeta de infiltrao com trincheira de percolao _____________________________ 63
Figura 39: Valeta de percolao _____________________________________________________ 63
Figura 40: Valeta enterrada de percolao _____________________________________________ 64 Figura 41: Comparao entre residncias sem e com sistemas de reservao __________________ 65
Figura 42: Torneira hidromecnica __________________________________________________ 66
Figura 43: Torneira com sensor de presena ___________________________________________ 67 Figura 44: Torneira com vlvula de p ________________________________________________ 67
Figura 45: Arejadores _____________________________________________________________ 68
Figura 46: Vlvula para mictrio hidromecnico ________________________________________ 68
Figura 47: Vlvula para mictrio com sensor de presena _________________________________ 69 Figura 48: Bacia sanitria com caixa acoplada dois estgios ______________________________ 69
Figura 49: Descarga de dois estgios _________________________________________________ 70
Figura 50: Restritor de vazo _______________________________________________________ 70
Figura 51: Banheiro seco __________________________________________________________ 72
Figura 52: Reuso da gua do banho __________________________________________________ 73
Figura 53: Sistema de tratamento por zonas de razes ____________________________________ 74 Figura 54: Sistema combinado fossa, filtro e zona de razes________________________________ 75
Figura 55: Otimizao ciclo de vida da edificao _______________________________________ 81
Figura 56: Resfriamento indireto atravs da cobertura ___________________________________ 91
Figura 57: Aquecimento solar passivo ________________________________________________ 92 Figura 58: Sistema misto de proteo solar ____________________________________________ 93
Figura 59: Princpio do sistema misto de proteo solar __________________________________ 93
Figura 60: Ganhos solares _________________________________________________________ 94 Figura 61: Forrao vegetal nas paredes ______________________________________________ 95
Figura 62: Forrao vegetal nas coberturas ____________________________________________ 95
Figura 63: Ventilao geotermal _____________________________________________________ 96 Figura 64: O solo como estratgia de inrcia trmica para resfriamento _____________________ 96
Figura 65: Dispositivo de controle de radiao (brises) ___________________________________ 97
Figura 66: Selo do Instituto Biodinmico _____________________________________________ 102
Figura 67: Conselho de Manejo Florestal _____________________________________________ 102 Figura 68: Blocos de concreto feitos com agregado reciclado _____________________________ 104
Figura 69: Britador primrio para reciclar agregados___________________________________ 105
Figura 70: Telha reciclada de caixas de leite __________________________________________ 105 Figura 71: Telha reciclada de embalagens de creme dental _______________________________ 106
Figura 72: Telha reciclada de embalagens de refrigerante _______________________________ 106
Figura 73: Prensa para confeco de tijolos na obra ____________________________________ 107 Figura 74: Tijolo modular solo-cimento duplo encaixe___________________________________ 107
Figura 75: Mtodo executivo do tijolo modular solo-cimento duplo encaixe __________________ 108
Figura 76: Casa Ecoeficiente com 350 metros quadrados ________________________________ 109
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Processos de construo civil e respectivos tempos de vida til mdia ...............................27
Tabela 2: Tamanho do rotor e gerao mxima de potncia .............................................................56
Tabela 3: Distribuio da gua no consumo domstico .....................................................................66 Tabela 4: Principais equipamentos hidrulicos economizadores de gua ..........................................71
Tabela 5: Espcies de macrfitas para processos de tratamento de guas residurias .......................75
LISTA DE SIGLAS
ABNT - Associao Brasileira de Normas Tcnicas
ACV - Anlise do Ciclo de Vida
ANEEL - Agncia Nacional de Energia Eltrica
BEPAC - Building Environmental Performance Assessment Criteria
BREEAM - Building Research Establishmnet Environmental Assessment Method
CASBEE - Comprehensive Assessment System for Building Environmental
Efficiency
CBEE - Centro Brasileiro de Energia Elica
CEBDS - Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentvel
CEF - Caixa Econmica Federal
CFCs - Clorofluorcarbonos
CIRIA - Construction Industry Research and Information Association
CNTL - Centro Nacional de Tecnologias Limpas
COBRACON - Comit Brasileiro de Construo Civil
CONAMA - Conselho Nacional de Meio Ambiente
CONNEPI - Congresso de Pesquisa e Inovao da Rede Norte Nordeste de Educao
Tecnolgica
CONPET - Programa Nacional de Racionalizao do Uso de Derivados de Petrleo e
do Gs Natural
COVs - Compostos Orgnicos Volteis
CRESESB - Centro de Referncia para Energia Solar e Elica
EBN - Environmental Building News
EEA - European Environment Agency
EIA - Estudo de Impacto Ambiental
EPA - Environmental Protection Agency
FSC - Forest Stewardship Council
GBC - Green Building Challenge
IBD - Instituto Biodinmico
IEA - Internacional Energy Agency
INMETRO - Instituto Nacional de Metrologia Normalizao e Qualidade Industrial
http://www.eolica.org.br/index_por.htmlhttp://www.cobracon.org.br/http://www.cresesb.cepel.br/http://www.inmetro.gov.br/
ISO - International Organization for Standardization
JSBC - Japan Sustainability Buiding Consortium
LEED - Leadership in Energy and Environmental Design
NBR - Norma Brasileira
OMS - Organizao Mundial de Sade
PET - Politereftalato de etileno
PROCEL - Programa Nacional de Conservao de Energia Eltrica
QAI - Qualidade do ar interno
RCC - Resduos da Construo Civil
RCD - Resduos de construo e demolio
SED - Sndrome do Edifcio Doente
SINDUSCON - Sindicato da Indstria da Construo Civil
TRY - Test Reference Year
UNEP - Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente
UNIDO - Programa das Naes Unidas Para o Desenvolvimento Industrial
USGBC - United States Green Building Council
UVC - Ultravioleta C
WBCSD - World Business Council for Sustainable Development
SUMRIO
1 INTRODUO ............................................................................................................... 4
2 OBJETIVOS .................................................................................................................... 5
2.1 OBJETIVO GERAL ....................................................................................................... 5
2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS .......................................................................................... 5
3 METODOLOGIA ........................................................................................................... 6
4 CONSTRUO SUSTENTVEL ................................................................................. 7
4.1 HISTRICO DA CONSTRUO SUSTENTVEL ..................................................... 7
4.2 PRINCPIOS DA CONSTRUO SUSTENTVEL ..................................................... 8
4.2.1 Tipos de Construes Sustentveis ................................................................ 10
4.3 A ECOEFICINCIA ..................................................................................................... 11
4.3.1 Benefcios da Ecoeficincia ........................................................................... 12
4.4 PLANEJAMENTO SUSTENTVEL DA OBRA ......................................................... 12
4.4.1 O Planejamento Ambiental da Obra ............................................................... 12
4.4.2 O Gerenciamento Ambiental da Obra ............................................................ 16
4.4.3 A Logstica Ambiental de Canteiro de Obra................................................... 18
4.4.4 Realizao de Estudos de Impacto Ambiental ................................................ 23
4.4.5 Anlise de Ciclo de Vida da Obra e Materiais ................................................ 25
4.5 APROVEITAMENTO PASSIVO DOS RECURSOS NATURAIS ............................... 29
4.5.1 A Construo Bioclimtica ............................................................................ 29
4.5.2 Estratgias Bioclimticas ............................................................................... 36
4.5.3 Iluminao Natural. ....................................................................................... 42
4.5.4 Ventilao Natural. ........................................................................................ 46
4.6 EFICINCIA ENERGTICA ....................................................................................... 49
4.6.1 Panorama e Certificao ................................................................................ 49
4.6.2 Energia Fotovoltaica ...................................................................................... 53
4.6.3 Energia Elica ............................................................................................... 55
4.7 GESTO E ECONOMIA DA GUA ........................................................................... 58
4.7.1 Programa de Conservao de gua ................................................................ 58
4.7.2 Sistema de Captao de gua Pluvial ............................................................ 59
4.7.3 Tecnologias para Reduo do Consumo e Desperdcio .................................. 65
4.7.4 O Reuso de gua ........................................................................................... 72
4.7.5 Sistema de Tratamento Wetland .................................................................... 74
4.8 GESTO DOS RESDUOS NA EDIFICAO ........................................................... 76
4.8.1 Resduos Slidos da Construo Civil............................................................ 76
4.8.2 Produo mais Limpa Aplicada a Gesto de Resduos da Construo Civil.... 79
4.8.3 Gesto e gerenciamento dos Resduos da Construo Civil ............................ 82
4.8.4 A Reciclagem dos Resduos da Construo Civil. .......................................... 84
4.8.5 O Tratamento do Lixo Orgnico. ................................................................... 85
4.9 QUALIDADE DO AR E DO AMBIENTE INTERIOR ................................................ 86
4.9.1 A Sndrome do Edifcio Doente ..................................................................... 86
4.9.2 Preservao de Ambiente Interior Saudvel ................................................... 86
4.10 CONFORTO TERMO-ACSTICO .............................................................................. 88
4.10.1 Controle da Temperatura ............................................................................... 88
4.10.2 Inrcia Trmica ............................................................................................. 90
4.10.3 Estratgias para o Conforto Trmico .............................................................. 91
4.10.4 Acstica Residncial ..................................................................................... 98
4.11 USO RACIONAL DE MATERIAIS ........................................................................... 100
4.11.1 Anlise do Produto ...................................................................................... 100
4.11.2 Critrios Ecolgicos dos Materiais............................................................... 101
4.12 USO DE PRODUTOS E TECNOLOGIAS AMBIENTALMENTE AMIGVEIS ...... 102
4.12.1 Ecoprodutos e Materiais Naturais ................................................................ 102
4.12.2 Tintas Ecolgicas ........................................................................................ 103
4.12.3 Materiais Reciclados ................................................................................... 104
5 ESTUDO DE CASO: APLICAO DO GUIA AMBIENTAL ................................ 109
5.1 DESCRIO DA OBRA............................................................................................ 109
5.2 ASPECTOS CONSTRUTIVOS ADOTADOS ............................................................ 110
5.3 ANLISE E DISCUSSO ......................................................................................... 112
6 CONCLUSES ........................................................................................................... 114
7 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ....................................................................... 117
8 APNDICE A GUIA AMBIENTAL PARA CONSTRUO DE RESIDNCIAS
SUSTENTAVEIS ............................................................................................................. 127
4
1 INTRODUO
O crescimento das cidades nas ltimas dcadas tem sido responsvel pelo aumento
da presso das atividades antrpicas sobre os recursos naturais. Em todo o planeta,
praticamente no existe um ecossistema que no tenha sofrido influncia direta e/ou indireta
do homem, resultando em impactos ambientais e perda econmica.
A falta de conhecimento sobre sustentabilidade da construo por parte de muitos
profissionais responsveis pela execuo de residncias evidente e explicitada com os
problemas recorrentes encontrados nos grandes centros urbanos aps o trmino da obra. As
obras de pequeno porte so relativamente caras e demoradas, isso ocorre devido a uma cultura
retrocessa e conservadora.
A Construo Sustentvel faz uso de materiais e de solues tecnolgicas e
inteligentes para promover o bom uso e a economia de recursos finitos (gua e energia
eltrica), a reduo da poluio e a melhoria da qualidade do ar no ambiente interno e o
conforto de seus moradores e usurios. Trata-se de um modelo diferente de construo, que, a
grosso modo, pode ser definida como aquela que permite a integrao entre homem e
natureza, com um mnimo de alterao e impactos sobre o meio ambiente (INTEC, 2009).
Atualmente existem novas formas construtivas e materiais com relao custo
benefcio muito superior aos empregados no Brasil, e um guia ambiental traz essa
caracterstica de mudana em sua composio, mostra aos seus usurios as tcnicas
construtivas mais usuais e fornece como forma alternativa, novas tcnicas e materiais que
podem ser aplicados facilmente ao sistema construtivo brasileiro.
O objetivo geral deste trabalho foi identificar aspectos construtivos essenciais na
construo de uma residncia sustentvel, proporcionando condies de levantamento de
dados para conhecer o funcionamento dos aspectos construtivos ecoeficientes levando-se em
considerao a natureza tcnica de cada um.
O guia ambiental, propsito desta pesquisa, permite difundir conhecimento de forma
sistematizada, criteriosa e segmentada, atuando como instrumento de gesto ambiental da
habitao, facilitando a compreenso da estrutura e funcionamento dos aspectos construtivos
de uma residncia sustentvel, orientando o estudo de concepo do projeto na busca pela
ecoeficincia. Possibilita tambm ao usurio adquirir e aplicar as diversas tcnicas
construtivas ecoeficientes em projetos de residncias convencionais.
5
2 OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
Identificar aspectos construtivos essenciais na construo de uma residncia
sustentvel, baseado em critrios de ecoeficincia.
2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS
Definir e descrever critrios de projeto para atingir a ecoeficincia.
Elaborar um guia ambiental para construo de residncias sustentveis.
Realizar um estudo de caso mediante aplicao do guia ambiental para
construo de residncias sustentveis.
6
3 METODOLOGIA
O levantamento de dados sobre os aspectos construtivos das residncias sustentveis
esto reunidos em sequncia lgica e analisados referentes ecoeficincia, identificando a
natureza tcnica de cada elemento construtivo como: planejamento sustentvel da obra,
conforto trmico, ventilao e iluminao natural, eficincia energtica, captao de gua da
chuva, sistemas alternativos de tratamento de efluentes domsticos local, sistemas alternativos
de energia, layout da residncia, medidas de controle para evitar a impermeabilizao do
solo, controle de desperdcio durante a construo entre outros fatores que englobam a gesto
ambiental da construo de residncias.
A metodologia desta pesquisa consiste em uma Pesquisa Bibliogrfica elaborada a
partir de material j publicado, constitudo principalmente de livros, artigos de peridicos e
atualmente com material disponibilizado na Internet.
Decorrente do estudo bibliogrfico foi elaborado um guia ambiental em forma de
manual tcnico para auxiliar a construo de residncias sustentveis, que consiste em
organizar de forma sistemtica o funcionamento dos aspectos construtivos ecoeficientes,
levando em considerao a natureza tcnica de cada elemento construtivo.
Para auxiliar a pesquisa bibliogrfica e o guia ambiental, foi utilizado como base o
modelo de certificao ambiental Norte Americano, conhecido como LEED - Liderana em
Energia e Design Ambiental composto por nove itens norteadores da ecoeficincia.
O Guia Ambiental para Construes Sustentveis apresentado como apndice deste
trabalho. Para a criao e estruturao do guia ambiental foram realizadas pesquisas em guias
pticos e/ou manuais utilizados em outras atividades e/ou segmentos, a fim de buscar a
melhor apresentao e compreenso do contedo apresentado, adaptando as partes
constituintes, criando uma sequncia lgica de passo a passo, desde o incio da construo
at sua concluso total.
Por fim, um estudo de caso foi realizado para uma anlise crtica de uma obra frente
s questes ambientais apontadas no referencial terico e principalmente tomando-se como
base o guia ambiental elaborado.
7
4 CONSTRUO SUSTENTVEL
4.1 HISTRICO DA CONSTRUO SUSTENTVEL
Na dcada de 90, pases europeus, EUA e Canad desenvolveram as primeiras
metodologias de avaliao ambiental de edifcios para auxiliar no cumprimento de metas
ambientais locais estabelecidas a partir da ECO92. Com a difuso dos conceitos de projeto
ecolgico (Green Design) e construes verdes (Green Building), as avaliaes ambientais se
tornaram necessrias para quantificar e qualificar os investimentos e benefcios da construo
sustentvel.
No entanto, segundo Silva et al. (2002), os principais sistemas de avaliao
internacionais concentram-se exclusivamente na dimenso ambiental da sustentabilidade.
Mas, no caso do Brasil deve-se saltar da avaliao ambiental para a avaliao de
sustentabilidade dos edifcios e contemplar tambm os aspectos sociais e econmicos
relacionados produo, operao e modificao do ambiente construdo.
A aplicao de sistemas de avaliao ambiental de edifcios se tornou uma prtica em
diversos pases da Europa, assim como nos Estados Unidos, Canad, Austrlia e Japo.
O mais conhecido dos sistemas de avaliao ambiental de edifcios o BREEAM
(Building Research Establishmnet Environmental Assessment Method) criado no Reino
Unido em 1990. O BREEAM foi pioneiro e embasou vrios sistemas orientados para o
mercado como o LEEDTM
(Leadership in Energy and Environmental Design) elaborado por
membros do USGBC (United States Green Building Council) em 1999 e o CASBEE
(Comprehensive Assessment System for Building Environmental Efficiency) apresentado em
2002 pela Japan Sustainability Buiding Consortium (JSBC). Entre os mtodos orientados
pesquisa metodolgica esto: o BEPAC (Building Environmental Performance Assessment
Criteria) de 1993 e seu sucessor, o GBC (Green Building Challenge) desenvolvido por um
consrcio internacional iniciado pelo Canad em 1996.
O GBC procura diferenciar-se como uma nova gerao de sistemas de avaliao,
desenvolvido especificamente para ser capaz de refletir as diferentes prioridades, tecnologias,
tradies construtivas e valores culturais de diferentes pases ou regies em um mesmo pas.
O GBC desenvolve uma metodologia de avaliao que pode ser incrementada ou simplificada
para atender s necessidades de cada local. O objetivo geral deste sistema prover uma base
8
metodolgica slida e a mais cientfica possvel, dentro das limitaes atuais de
conhecimento (SILVA, 2002). As pesquisas desenvolvidas pelo GBC so divulgadas nas
conferncias internacionais Sustainable Buildings (Construes Sustentveis) que ocorrem
periodicamente e envolvem a participao de diversos pases.
O Brasil formalizou a sua integrao ao projeto GBC durante a Conferncia
Sustainable Building 2000 com a apresentao das intenes e estratgias da equipe
brasileira para o desenvolvimento de uma metodologia nacional de avaliao de impactos
ambientais de edifcios. Uma nova metodologia desenvolvida por Silva (2003) ampliou o
escopo tradicional de avaliao ambiental para avaliao de sustentabilidade de edifcios
atravs da incorporao de aspectos socioeconmicos.
Segundo Silva (2003), fundamental desenvolver um mtodo a luz das prioridades,
condies e limitaes brasileiras. Atravs das questes metodolgicas exploradas nos
modelos internacionais, e em consulta s partes interessadas da construo civil no Estado de
So Paulo, delinearam-se as diretrizes para o desenvolvimento de um mtodo nacional de
avaliao da sustentabilidade de edifcios de escritrios.
4.2 PRINCPIOS DA CONSTRUO SUSTENTVEL
Construes sustentveis no somente representam menor impacto ambiental e
reduo de uso de energia e gua, mas tambm melhor qualidade de vida aos seus usurios.
Segundo Plessis (s.d), a aplicao dos princpios do desenvolvimento sustentvel ao
ciclo global da construo, desde a extrao e beneficiamento das matrias primas, passando
pelo planejamento, projeto e construo de edifcios e infra-estrutura, at a sua desconstruo
final e gesto dos resduos dela resultantes. um processo holstico que visa restaurar e
manter a harmonia entre o ambiente natural e o ambiente construdo, criando, ao mesmo
tempo, aglomerados humanos que reforcem a dignidade humana e encorajem a equidade
econmica.
Nove princpios da Construo Sustentvel, segundo os sistemas de certificao que
so referncia na rea de construo sustentvel no mundo - BREEAM (Inglaterra), Green
Star (Austrlia), LEED (Estados Unidos) e HQE (Frana), existem e norteiam as diretrizes de
uma obra que se proponha a ser ambientalmente equilibrada. So eles:
9
1. Planejamento Sustentvel da Obra;
2. Aproveitamento passivo dos recursos naturais;
3. Eficincia energtica;
4. Gesto e economia da gua;
5. Gesto dos resduos na edificao;
6. Qualidade do ar e do ambiente interior;
7. Conforto termo-acstico;
8. Uso racional de materiais;
9. Uso de produtos e tecnologias ambientalmente amigveis.
Segundo Amorim (2000) o Environmental Building News, ou EBN, prope uma
lista de prioridades para os edifcios sustentveis, dentre os quais se podem destacar:
Economizar energia: projetar e construir edifcios energeticamente eficientes.
O uso contnuo de energia provavelmente o maior impacto ambiental
especfico de um edifcio, e por isso o projeto energeticamente eficiente deve
ser a prioridade nmero um. Isto se relaciona com diversos aspectos, dentre
eles a utilizao de fontes energticas renovveis, a minimizao das cargas
de aquecimento e refrigerao, a otimizao da luz natural, etc.
Construir edifcios saudveis com conforto ambiental e segurana: por
exemplo, atravs da introduo da luz e ventilao naturais onde for possvel.
Maximizar a longevidade dos edifcios: projetar pensando na durao e
possibilidade de adaptao funcional dos edifcios ao longo do tempo. Quanto
mais dura um edifcio, maior o perodo de tempo no qual os impactos
ambientais sero amortizados.
Reciclar edifcios: reutilizar edifcios e infra-estruturas existentes. Os
edifcios existentes contm uma enorme quantidade de recursos culturais e
materiais, e conferem identidade aos lugares. Mas a prioridade otimizar a
eficincia energtica, mesmo em reformas.
Em geral os passos sustentveis para um novo modelo de construo, devem basear-
se nas recomendaes abaixo:
A aplicao de conceitos projetuais bioclimticos;
Minimizar o uso de recursos minerais no-renovveis, energia e gua;
Escolher recursos, processos e materiais de baixo impacto ambiental:
10
Selecionando os materiais de acordo com os processos e o uso de energia de
maior ecocompatibilidade (biomateriais);
Otimizar a vida til das edificaes: Projetar visando a maior durabilidade
possvel;
Aumentar a vida til dos materiais: Projetar em funo da valorizao
(reaplicao) dos materiais;
Garantir plenas condies de segurana do trabalho a todos os profissionais
envolvidos;
Implantar plano de gerenciamento de resduos na obra, quando possvel
reutilizar na obra sem prejudicar sua qualidade e segurana ou se
responsabilizar pelo destino adequado aos mesmos;
Facilitar a 'desconstruo': Projetar de forma a possibilitar a separao dos
materiais para reaproveitamento e reciclagem.
4.2.1 Tipos de Construes Sustentveis
Os principais tipos de Construo Sustentvel resumem-se, praticamente, a dois
modelos:
a) construes coordenadas por profissionais da rea e com o uso de ecomateriais e
tecnologias sustentveis modernos, fabricados em escala, dentro das normas e padres
vigentes para o mercado;
b) sistemas de autoconstruo (que incluem diversas linhas e diretrizes), que podem
ou no ser coordenados por profissionais (e por isso so chamados de autoconstruo).
Incluem grande dose de criatividade, vontade pessoal do proprietrio e responsvel pela obra
e o uso de solues ecolgicas pontuais (para cada caso).
Construdas com materiais sustentveis industriais - Construes edificadas com
produtos fabricados industrialmente que respeitam os aspectos ambientais, adquiridos prontos,
com tecnologia em escala, atendendo a normas, legislao e demanda do mercado. a mais
vivel para reas de grande concentrao urbana, porque se inserem dentro do modelo scio-
econmico vigente e porque o consumidor/cliente tem garantias claras, desde o incio, do tipo
de obra que estar recebendo.
Construdas com reuso de materiais de origem urbana, tais como garrafas PET,
11
latas, cones de papel acartonado, etc. Comum em reas urbanas ou em locais com despejo
descontrolado de resduos slidos, principalmente onde a comunidade deve improvisar
solues para prover a si mesma a habitao. tambm um modelo criativo de
Autoconstruo, que ocorre muito nas periferias dos centros urbanos ou junto a profissionais
com esprito criativo.
Construdas com materiais de reuso (demolio ou segunda mo). Esse tipo de
construo incorpora produtos convencionais e prolonga sua vida til, e requer pesquisa de
locais para compra de materiais, o que reduz seu alcance e reprodutibilidade. Este sistema
construtivo emprega, em geral, materiais convencionais fora de mercado. um hbrido entre
os mtodos de Autoconstruo e a construo com materiais fabricados em escala, sendo que
estes no so sustentveis em sua produo.
Construes naturais. Faz uso de materiais naturais disponveis no local da obra ou
adjacncias (terra, madeira, bambu, etc.), utilizando tecnologias sustentveis de baixo custo e
dispndio energtico. Exs: tratamento de efluentes por plantas aquticas, energia elica por
moinho de vento, bombeamento de gua por carneiro hidrulico, blocos de adobe ou terra-
palha, design solar passivo. Mtodo construtivo adequado principalmente para reas rurais ou
quando se dispe de reas que permitam boa integrao com elemento vegetal, nas quais haja
pouca dependncia das habitaes vizinhas e dos fornecimentos (gua, luz, esgoto) pelo Poder
Pblico. Sistema que se insere nos princpios da Autoconstruo.
4.3 A ECOEFICINCIA
A ecoeficincia alcanada mediante o fornecimento de bens e servios a preos
competitivos que satisfaam as necessidades humanas e tragam qualidade de vida, ao mesmo
tempo em que reduz progressivamente o impacto ambiental e o consumo de recursos ao longo
do ciclo de vida, a um nvel, no mnimo, equivalente capacidade de sustentao estimada da
Terra (WBCSD, 1992). Resulta em benefcios ecolgicos e tambm econmicos.
A ecoeficincia possibilita a produo em conformidade com os requisitos
ambientais e com identificao de oportunidades de economia na modificao de processos,
enquanto a conformidade normativa possibilita, apenas, o atendimento a requisitos ambientais
estabelecidos em normas tcnicas (de gesto e de processos), com eventuais certificaes.
12
Pode-se entender que o objetivo principal da ecoeficincia maximizar o valor,
enquanto minimiza os impactos ambientais adversos, minimizando a utilizao de recursos e
minimizando as conseqncias ambientais negativas provenientes das emisses (LERIPIO,
2001).
4.3.1 Benefcios da Ecoeficincia
Vrias so as vantagens proporcionadas pela implantao da ecoeficincia, como:
minimizao dos danos ambientais, reduzindo os riscos e responsabilidades derivadas;
promoo de condies timas de segurana e sade ocupacional; melhoria da eficincia e
competitividade, favorecendo a inovao; melhoria da imagem e do relacionamento com os
rgos ambientais e com a comunidade etc. (CEBDS, 2009).
A capacitao dos profissionais de extrema importncia dentro da concepo da
ecoeficincia, uma vez que um dos instrumentos fundamentais para a reduo dos
desperdcios consiste no treinamento e na conscientizao dos tcnicos quanto influncia de
seus procedimentos para a diminuio da gerao de efluentes e resduos slidos.
4.4 PLANEJAMENTO SUSTENTVEL DA OBRA
4.4.1 O Planejamento Ambiental da Obra
Os empreendimentos da construo civil so atualmente um dos maiores causadores
de impactos ao meio ambiente. As atividades relacionadas construo, operao e demolio
de edifcios promovem a degradao ambiental atravs do consumo excessivo de recursos
naturais e da gerao de resduos. A necessidade de minimizao dos impactos ambientais
gerados pelas edificaes e a difuso dos conceitos de desenvolvimento sustentvel levaram o
setor a buscar construes com melhor desempenho ambiental.
Organizaes de todos os tipos esto cada vez mais preocupadas com o atingimento e
demonstrao de um desempenho ambiental correto, por meio do controle dos impactos de
13
suas atividades, produtos e servios sobre o meio ambiente, coerente com sua poltica e seus
objetivos ambientais. Agem assim dentro de um contexto de legislao cada vez mais
exigente, do desenvolvimento de polticas econmicas e outras medidas visando adotar a
proteo ao meio ambiente e de uma crescente preocupao expressa pelas partes interessadas
em relao s questes ambientais e ao desenvolvimento sustentvel (ABNT, 2004).
Antes de iniciar o planejamento da obra interessante entender um modelo de gesto
ambiental onde, Donaire (1995) define a gesto ambiental como:
o conjunto de procedimentos bem definidos e adequadamente aplicados que visam
reduzir e controlar os impactos introduzidos por um empreendimento sobre o meio ambiente.
O ciclo de atuao da gesto ambiental deve cobrir desde a fase de concepo do projeto at a
eliminao efetiva dos resduos gerados pelo empreendimento.
Segundo Meyer (2000), o modelo de gesto ambiental, pode ser apresentado de
forma esquemtica, objeto, meios, instrumentos e base de atuao, descrito a seguir:
Objeto: manter o meio ambiente saudvel, de forma a atender as necessidades
humanas atuais, sem comprometer o atendimento das necessidades das geraes futuras;
Meios: atuar sobre as alteraes causadas no meio ambiente pelo uso e/ou descarte
dos bens e detritos gerados pelas atividades humanas, a partir de um plano de ao vivel
tcnica e economicamente, com prioridades previamente definidas;
Instrumentos: monitoramentos, controles, taxaes, imposies, subsdios,
divulgao, obras e aes mitigadoras, alm de treinamento e conscientizao;
Base de atuao: diagnsticos e prognsticos (cenrios) ambientais da rea de
atuao, a partir de estudos e pesquisas dirigidos busca de solues para os problemas que
forem detectados.
O planejamento ambiental da obra busca alteraes nos processos produtivos,
qualificao de mo-de-obra especializada e reestruturao das fases de projeto e
planejamento, visando, sobretudo, reduo das perdas de materiais, ganhos econmicos e,
como conseqncia, reduo dos impactos no meio ambiente.
A construo sustentvel pode utilizar-se da metodologia de gesto descrita pela
NBR-ISO 14001 (2004), conhecida como Plan-Do-Check-Act (PlanejarExecutarVerificar
Agir). O PDCA pode ser brevemente descrito da seguinte forma:
Planejar: Estabelecer os objetivos e processos necessrios para atingir os resultados
em concordncia com a poltica ambiental da organizao.
Executar: Implementar os processos.
14
Verificar: Monitorar e medir os processos em conformidade com a poltica
ambiental, objetivos, metas, requisitos legais e outros, e relatar os resultados.
Agir: Agir para continuamente melhorar o desempenho do sistema da gesto
ambiental.
O sucesso do sistema depende do comprometimento de todos os nveis e funes e
especialmente da alta hierarquia da obra. O sistema de gesto ambiental permite a uma
organizao desenvolva intenes e princpios gerais em relao ao seu desempenho
ambiental, a fim de estabelecer objetivos e processos para atingir os comprometimentos
buscando sempre a ecoeficincia.
Para dar o primeiro passo na sustentabilidade da obra a racionalizao pode ser uma
alternativa em curto prazo, onde o primeiro plano a racionalizao de tcnicas construtivas e
em segundo plano o aperfeioamento da atividade construtiva buscando o desempenho
timo. A racionalizao est intimamente ligada gerao de Resduos da Construo Civil,
como relata Sabbatini (1989):
Racionalizao da construo o processo dinmico que torna possvel a
otimizao do uso dos recursos humanos, materiais, organizacionais, tecnolgicos e
financeiros, visando atingir objetivos fixados nos planos de desenvolvimento de cada pas e
de acordo com a realidade socioeconmica prpria.
Atualmente, o conceito de racionalizao torna-se cada vez mais sistmico,
abrangendo todos os intervenientes da cadeia produtiva da construo civil. Neste sentido,
percebe-se algumas iniciativas, como a da normalizao e certificao de produtos e servios,
assim como programas educacionais promovidos por instituies pblicas e privadas. Tais
esforos, porm, so ainda incipientes frente realidade atual (FRAGA, 2006).
Aps o conceito de racionalizao, a importncia de controle de qualidade na obra
faz-se necessrio, pois busca a garantia de sucesso no processo construtivo. Englobando a
busca por qualificao de profissionais de projeto e de novos projetos; coordenao e anlise
crtica de projetos; controle da qualidade de projetos; controle de modificaes durante a
produo; e parmetros de projeto relacionados com o tempo, necessitando assim de um
planejamento adequado.
Planejar significa decidir antecipadamente (ACKOFF et al., 1984 apud FREZATTI,
1999). Decidir implica em analisar e escolher alternativas de aes, segundo nossas
preferncias, disponibilidades, custos, grau de risco, etc. (FREZATTI, 1999). Esse processo
15
de planejamento, sem um posterior acompanhamento (controle) do que foi executado, algo
sem valor. tempo (dinheiro) jogado fora.
Planejamento e controle de projetos, de uma forma ampla, a aplicao de
conhecimentos, habilidades, ferramentas e tcnicas nas atividades do projeto a fim de atender
os seus requisitos. Ele pode ser mais bem explicado atravs dos processos que o compem,
que podem ser reunidos em cinco grupos de processos: iniciao, planejamento, execuo,
controle e encerramento (PMI, 2007).
Durante todos estes processos de gerenciamento de um projeto, o conhecimento
sobre sustentabilidade ambiental por todos os funcionrios envolvidos na mesma possui
grande utilidade e apresenta uma importante ferramenta na execuo de trabalho nos
processos dirios que envolvem um projeto de construes sustentveis.
Posterior ao planejamento vem o controle do que foi executado. Pode-se dizer que
este controle, no caso de uma obra, o processo pelo qual o engenheiro responsvel verifica
se os recursos necessrios execuo de determinado servio so obtidos e utilizados com
eficincia e de acordo com o planejado. Por recursos, entende-se os materiais e insumos,
assim como a mo-de-obra.
Segundo Ghinato (1996 apud BERNARDES, 2001), no se deve confundir controle
com monitoramento. O controle implica numa superviso feita pelos responsveis sobre os
trabalhadores e numa verificao dos resultados das atividades exercidas pelos mesmos. Esse
controle quase sempre resulta em aes corretivas em tempo real. J o monitoramento
apenas a comparao do executado com o planejado, com a determinao das causas das
possveis falhas.
As falhas oriundas do planejamento que geram deficincias e resultam em um
planejamento ineficaz segundo alguns autores, so:
O controle feito baseado em trocas de informaes verbais com o mestre-de-obras,
sem ser pr-ativo, visando o curto prazo, sem conexo com o plano de longo prazo, o que
resulta em aplicaes ineficientes de recursos (FORMOSO, 1991 apud BERNARDES, 2001);
O planejamento e o controle na construo civil so voltados para o empreendimento
como um todo, preocupando-se com o desempenho global, sem fazer uma anlise de cada
unidade produtiva. Com isso, a identificao de problemas nas unidades construtivas e
definio de aes corretivas tornam-se algo difcil de ser executado (BALLARD &
HOWELL, 1997 apud BERNARDES, 2001);
Devido formao dada nos cursos de graduao de engenharia, h uma dificuldade
16
em mudar as prticas profissionais dos funcionrios envolvidos no planejamento. Em geral,
estes cursos focalizam apenas as tcnicas de preparao de planos, negligenciando as demais
etapas do processo, como, por exemplo, a coleta de dados e a difuso dos planos (LAUFER &
TUCKER, 1987 apud BERNARDES, 2001).
Diante do exposto, percebe-se que o planejamento e o controle so de vital
importncia no processo de busca pela ecoeficincia no que diz respeito ao setor de
construo civil. Assegurando que as questes ambientais sejam contempladas j nos
primeiros passos do planejamento da obra, assegurando a relao entre o meio ambiente e o
ser humano, dando maior nfase ao aspecto scio-ambiental e adotando novas tecnologias.
4.4.2 O Gerenciamento Ambiental da Obra
A gerncia na construo civil tem sido um ponto muito visado na crescente busca
por qualidade, baixo custo e maior rapidez nos processos de implementao de um
empreendimento. Mas por dispor de estruturas gerenciais enxutas, as empresas deste setor
encontram maiores dificuldades em se adaptar s tcnicas e inovaes gerenciais (JUNGLES,
2006).
Segundo ABNT-ISO 14001 (2004), a alta administrao da organizao deve indicar
representante(s) especfico(s) da administrao, o(s) qual(is), independentemente de outras
responsabilidades, deve(m) ter funo, responsabilidade e autoridade definidas para:
Assegurar que um sistema da gesto ambiental seja estabelecido,
implementado e mantido em conformidade com os requisitos desta Norma.
Relatar alta administrao sobre o desempenho do sistema da gesto
ambiental para anlise, incluindo recomendaes para melhoria.
Falar em gerenciamento na construo civil chamar a ateno para as etapas
do ciclo do empreendimento, que so as fases de concepo, projeto,
execuo e operao.
Especialmente na fase de execuo, somos desafiados a promover a integrao e
desenvolvimento com eficincia do projeto, suprimentos, construo e aplicao dos recursos
financeiros. funo do gerenciamento superar estas dificuldades, buscando solues
adequadas para cada situao (NETTO, 1988).
Segundo este mesmo autor, os principais objetivos que se deve ter ao adotar um
17
sistema de gerenciamento so a garantia do cumprimento de todas as metas durante a
execuo, a otimizao dos desempenhos tcnicos e de produo e a compatibilizao dos
custos em funo do empreendimento.
Pode-se dividir o gerenciamento da construo em etapas mais especficas, que so:
planejamento executivo da obra, planejamento do canteiro de obras, programao e controle
qualitativo e quantitativo.
Um dos principais motivadores para a execuo do planejamento e controle
ambiental da obra a Produo mais Limpa, onde ocorre busca da eficincia de processos
aliada a aperfeioar a tecnologia buscando resultados econmicos e ambientais. A Produo
mais Limpa no trata simplesmente do sintoma, mas tenta atingir as razes do problema.
Para os pases em desenvolvimento como o Brasil, a Produo Mais Limpa aparece
como uma alternativa para a busca de solues para os problemas ambientais, pois atravs do
Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente (UNEP) e do Programa das Naes
Unidas Para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO) esto sendo criados Centros Nacionais
de Tecnologias Limpas (CNTL), com o intuito de promover prticas organizacionais
ambientalmente corretas sob a perspectiva da preveno de resduos.
CNTL (2010) descreve que a P+L no apenas um tema ambiental e econmico,
mas tambm um tema social, pois considera que a reduo da gerao de resduos em um
processo produtivo, muitas vezes, possibilita resolver problemas relacionados sade e
segurana ocupacional dos trabalhadores. Desenvolver a P+L minimiza estes riscos, na
medida em que so identificadas matrias-primas e insumos menos txicos, contribuindo para
a melhor qualidade do ambiente de trabalho.
Conforme Valle (1995), com a adoo de tecnologias limpas, os processo produtivos
utilizados na empresa devem passar por uma reavaliao e podem sofrer modificaes que
resultem em:
1) Eliminao do uso de matrias-primas e de insumos que contenham substncias
perigosas;
2) Otimizao das reaes qumicas, tendo como resultado a minimizao do uso de
matrias-primas e reduo, no possvel, da gerao de resduos;
3) Segregao, na origem, dos resduos perigosos e no perigosos;
4) Eliminao de vazamentos e perdas no processo;
5) Promoo e estmulo ao reaproveitamento e reciclagem interna;
6)Integrao do processo produtivo em um ciclo que tambm inclua as alternativas
18
para a destruio dos resduos e a maximizao futura do reaproveitamento dos produtos.
4.4.3 A Logstica Ambiental de Canteiro de Obra
Na logstica dos materiais, deve-se sempre explorar a valorizao e o aproveitamento
dos materiais de construo sempre havendo uma preocupao em manter nvel de servio e a
efetividade da obra, onde o fluxo de material construtivo deve levar em considerao o
fornecimento apenas do necessrio.
O planejamento aliado a logstica sustentvel gera a operao e controle dos fluxos
materiais, financeiros e de informao no busca somente a satisfao das demandas com a
melhor relao de custo e servio, mas tambm aperfeioar neste processo os fatores
ambientais e humanos que agregam valor ao produto ou servio direta e indiretamente, para
garantir a sua efetividade.
Assim, com a no produo e circulao de bens em volume desnecessrios teremos
a logstica ligada ecoeficincia. Esta poderia ser alcanada mediante o fornecimento de bens
e servios a preos competitivos que satisfaam as necessidades humanas e tragam qualidade
de vida, ao tempo que reduz progressivamente o impacto ambiental e o consumo de recursos
ao longo do ciclo de vida, a um nvel, no mnimo, equivalente capacidade de sustentao
estimada da Terra. (WBCSD, 2003 apud JAPPUR, 2004).
Para que se obtenha uma logstica sustentvel de canteiro eficiente, deve se atentar
para algumas atividades, como:
Controle dos fluxos fsicos ligados execuo;
Gesto das interfaces entre os agentes;
Gesto da praa de trabalho;
Gesto de resduos slidos;
Gesto de energia;
Gesto da gua.
Os trs primeiros itens destaca Cardoso (1996), compreendem as atividades
essenciais numa logstica de canteiro, os sub sequentes so considerados levando em
considerao modelos de certificao ambiental de construes. A logstica de canteiro deve
ser preparada antes do comeo da obra, devendo ser levados em considerao no layout do
canteiro, locais para descargas prximas ao local de descarte de embalagens, zonas de
19
estocagem com controle para evitar perdas e quebras, zonas para pr-fabricao se for o
caso, locais de depsitos de resduos slidos, eficincia energtica do canteiro de obra e
controle de desperdcio e aproveitamento de gua. Facilitando assim o fluxo dos materiais e
dos trabalhadores, gerando ateno para a o controle ambiental da obra.
As atividades devem ser bem planejadas de modo que uma equipe no atrapalhe o
servio das outras, nem que haja o favorecimento do trabalho de uma equipe em relao s
outras.
A equipe da obra (engenheiro, mestre, tcnico) desempenhar um papel importante
na organizao e na gesto da mo-de-obra, e dever observar como a obra est transcorrendo,
coletar dados que possam ser aproveitados para melhorar tanto o layout do canteiro, a
gesto das interfaces e o controle dos fluxos fsicos ligados execuo, inclusive possveis
falha da gesto ambiental da obra.
E ainda, a equipe dever detectar se alguma disfuno est ocorrendo como, por
exemplo, desperdcio de materiais oriunda da m qualificao da mo-de-obra, falta de
cuidado em manuseio materiais intensificando as perdas e gerando maior quantidade de
resduos slidos, desperdcio de gua e energia, problemas de comunicao ou ainda atrasos
nos prazos de entrega e na qualidade da entrega, que prejudiquem tanto a logstica de canteiro
quanto a logstica de rua, onde a equipe dever tomar as medidas necessrias para corrigi-las.
Segundo Cardoso (1996) os aspectos essenciais logstica de rua so:
Gesto da logstica de suprimento de materiais e componentes;
Constituio de um servio de compra eficiente;
Elaborao de mecanismos de seleo de fornecedores;
Desenvolvimento de boas relaes com os fornecedores.
Na gesto da logstica de suprimento de materiais e componentes, deve ser levado
em conta o ambiente no qual a obra se insere, como dever ser o transporte, quais sero os
fatores que iro influenciar no transporte e no descarregamento como, por exemplo, se a rua
muito movimentada, se h feira em algum dia da semana, se h escola por perto, etc.
E ainda, dever ser considerado o gerenciamento dessas atividades para que no haja
problemas, como a chegada de vrios materiais ou componentes num mesmo instante obra.
A seleo dos fornecedores tambm indispensvel, para a busca de materiais e
servios ecoeficientes, a empresa dever elaborar um cadastro de fornecedores tendo como
base os preos, o cumprimento dos prazos de execuo ou de entrega combinados,
conformidade do servio ou do produto e outros itens que a empresa julgar pertinentes.
20
A relao com os fornecedores alm de priorizar o aspecto como a distncia em
relao obra e que tenham certificao ambiental, deve firmar acordos visando otimizar as
embalagens visando a reduo da quantidade de resduos; paletizao dos blocos cermicos,
com a reduo de perdas e formao de entulho.
Essa prtica de qualificar fornecedores sempre vantajosa, pois se reflete
diretamente na qualidade da obra e na diminuio dos custos da obra e dos processos de
inspeo. Esses benefcios podem se acentuar no caso de uma parceria entre o fornecedor e a
empresa, que ir permitir uma melhor troca de informaes, um melhor desenvolvimento de
produtos e dos processos, melhor treinamento de funcionrios, etc.
Mas para que se obtenha esse tipo de parceria, o conceito de eficincia do setor de
compras no deve ser associada apenas idia de preo pago, e sim s condies negociadas
de desenvolvimento mtuo entre os parceiros e de uma cadeia logstica de suprimentos que
promova a racionalizao da obra.
Para esclarecer melhor a forma de minimizar desperdcio pode-se aplicar o Sistema
Toyota de Produo tem como objetivo aumentar a eficincia da produo pela eliminao
consistente e completa de desperdcios. O que se procura fazer olhar a linha do processo
produtivo desde o momento em que o cliente solicita um produto, que gera uma ordem de
servio at o ponto em que o cliente paga e recebe o bem.
Desta feita, o objetivo central deste sistema reduzir drasticamente o tempo de
produo e os desperdcios oriundos de um processo produtivo inadequado e que no agrega
valor. Considera-se que a capacidade de produo seja igual ao trabalho real necessrio para
executar a atividade acrescido do desperdcio que ocorre durante a execuo da atividade, ou
seja, Capacidade de Produo = Trabalho + Desperdcio.
Logo, para que se obtenha uma melhoria na eficincia deve-se produzir zero
desperdcio. Para que isso ocorra preciso identificar-se completamente os desperdcios.
Entre os tipos mais comuns destacam-se, segundo Ohno (1997):
Desperdcio de superproduo;
Desperdcio de tempo disponvel (espera);
Desperdcio em transporte;
Desperdcio do processo em si;
Desperdcio de estoque disponvel (estoque);
Desperdcio de movimento;
Desperdcio de produzir produtos defeituosos.
21
A eliminao completa desses desperdcios pode aumentar a eficincia
consideravelmente.
O Sistema Toyota utiliza-se da deteco de defeitos que rapidamente relaciona cada
problema, utilizando-se de tcnicas analticas que auxiliem aos gestores promoverem aes de
solues de problemas, tornando o processo produtivo robusto em sua ao de negcio.
Dentro desta filosofia, junto com aplicao da norma ABNT-ISO 14001 (2004),
conclui-se que imperioso que o processo de trabalho deva ser feito por equipes.
Com a necessidade em aplicar qualificaes aos trabalhadores, para executar
determinada tarefa dentro da equipe, buscando sempre a rotatividade das tarefas e a
substituio de um companheiro no caso de ausncias. necessrio ainda que esses
trabalhadores desenvolvam qualificaes adicionais (conscientizao, o conhecimento, a
compreenso e as habilidades necessrias) no que diz respeito gesto ambiental da obra, para
que possam realizar tarefas visando resultados ecoeficientes, como:
Controle de qualidade, visando o no desperdcio e aproveitamento de
materiais;
Limpeza, separao de resduos slidos em reas estabelecidas, evitar
lanamentos de produtos no solo no solo;
Solicitao de materiais, melhorando a logstica de materiais;
Consumo consciente de gua, energia e uso racional de matrias-primas e
recursos naturais.
Ou seja, os trabalhadores devem ser utilizados ao mximo e incentivados a introduzir
melhorias em vez de solucionar problemas. Para que se tenha uma mo-de-obra qualificada e
uma capacidade de introduzir melhorias, a informao semanal sobre aspectos ambientais da
obra um processo educativo e que pode levar certo tempo para aplicao, o mestre-de-obras
deve estar ciente das caractersticas de uma construo sustentvel e sempre atendo aos
funcionrios quando necessrio para corrigi-los (capacitao do pessoal, especialmente
daqueles que desempenham funes especializadas da gesto ambiental).
A comunicao interna importante para assegurar a eficaz implementao do
sistema da gesto ambiental. Os mtodos de comunicao interna podem incluir reunies
regulares de grupos de trabalho, boletins informativos, quadros de aviso e intranet (ABNT,
2004).
A grande dificuldade em obter servios com qualificao da mo-de-obra na
construo civil uma realidade brasileira. Para uma construo sustentvel fundamental
22
uma conscientizao dos operrios frente sustentabilidade ambiental da obra. A empresa
que busca se utilizar de filosofia de construo sustentvel dever aplicar seus princpios
transferindo ao mximo este conceito na realizao de tarefas e responsabilidades para os
trabalhadores, que realmente vo tornar realidade a sustentabilidade ambiental da obra
agregando valor ao produto e ao meio ambiente.
Nos ltimos anos, vm sendo realizados grandes esforos no sentido de introduzir a
Qualidade Total na construo. Porm, ocorre que a construo possui caractersticas
singulares que dificultam a aplicabilidade das teorias modernas da qualidade, ou seja, a
mesma requer uma adaptao especfica de tais teorias. Souza (1995) descreve algumas
peculiaridades da construo, que dificultam a transposio de conceitos e ferramentas da
qualidade aplicados no setor, so eles:
A construo uma indstria de carter nmade;
Cria produtos nicos e no seriados;
uma indstria muito tradicional, com grande inrcia s alteraes;
O grau de preciso com que se trabalha , em geral, muito menor do que
em outras indstrias;
A construo, de maneira geral, realiza seus trabalhos sob intempries.
A Caixa Econmica Federal (2001) descreve que nenhuma sociedade poder atingir
o desenvolvimento sustentvel sem que a construo civil, que lhe d suporte, passe por
profundas transformaes. Entre elas, a otimizao produtiva, a melhoria na qualidade dos
materiais empregados e a melhoria na qualificao da mo-de-obra so fundamentais.
De acordo com Thomaz (2001), a simples aplicao de melhores tcnicas de
gerenciamento, na maioria das vezes, no pode assegurar que foi adotado o processo ou a
tcnica construtiva mais adequada, ou que foi escolhido o recurso mais eficiente para a
otimizao da qualidade e para a preveno das falhas. Considera que ao lado da
implementao dos programas de gesto da qualidade, indispensvel a incorporao efetiva
de novos conhecimentos tcnicos aos processos de projeto e construo.
A busca pela sustentabilidade ambiental do processo construtivo de uma obra
resultante do seu planejamento e gerenciamento, da organizao do canteiro de obras, das
condies de higiene e segurana do trabalho, da correta operacionalizao dos processos
administrativos em seu interior, do controle de recebimento e armazenamento de materiais e
equipamentos e da qualidade na execuo de cada servio especfico do processo de
produo, onde o controle destes processos fundamental para atingir a ecoeficincia.
23
A responsabilidade ambiental implica na reorientao do processo de produo, em
resposta s novas necessidades, capacidade de reao da indstria, atualmente pode-se
perceber que os agentes envolvidos no setor de construo civil, em nvel nacional, tm
buscado alternativas para melhorar a qualidade dos servios e produtos empregados no setor.
4.4.4 Realizao de Estudos de Impacto Ambiental
Realizao de estudos de impacto ambiental um instrumento de auxlio ao
planejamento de projetos mais amigveis ao meio ambiente, identificando e avaliando os
impactos e riscos do empreendimento e propondo as medidas de gesto ambiental a serem
adotadas para minimizar os prejuzos ambientais
A construo civil uma atividade que engloba variados sub-setores e responsvel
por uma gama de impactos, que vo desde a extrao da matria-prima, produo de
materiais, passando pela construo residencial e obras de infra-estrutura (SILVA, 2002).
Os principais impactos ambientais decorrentes da extrao de recursos naturais so a
escassez de fontes e jazidas, alm de alteraes na flora e fauna do entorno destes locais de
explorao (DEGANI, 2002).
O estudo de impacto ambiental pressupe o controle preventivo de danos ambientais.
Uma vez constatado o perigo ao meio ambiente, deve-se ponderar sobre os meios de evitar ou
minimizar o prejuzo.
A Constituio Federal de 1988 determinou em seu art. 225, 1, IV, que incumbe ao
Poder Pblico exigir, na forma da lei, para instalao de obra ou atividade potencialmente
causadora de significativa degradao do meio ambiente, estudo prvio de impacto ambiental,
a que se dar publicidade. Nesse estudo, avaliam-se todas as obras e todas as atividades que
possam causar sria deteriorao ao meio ambiente.
Compreende-se como impacto ambiental qualquer deteriorao do meio ambiente
que decorre de atividade humana. A Resoluo n. 1/86 do CONAMA, em seu art. 1,
considera impacto ambiental qualquer alterao das propriedades fsicas, qumicas e
biolgicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matria ou energia resultante das
atividades humanas que direta ou indiretamente afetam:
A sade, a segurana e o bem-estar da populao;
As atividades sociais e econmicas;
24
A biota;
As condies estticas e sanitrias do meio ambiente;
A qualidade dos recursos ambientais.
O objeto desse estudo prvio consiste em avaliar todas as obras e atividades que
possam acarretar alguma deteriorao significativa ao meio ambiente, seja um dano certo ou
incerto. Alm de atender aos princpios e objetivos da Lei de Poltica Nacional do Meio
Ambiente, o estudo de impacto ambiental (EIA) dever ter como diretrizes gerais:
I - Contemplar todas as alternativas tecnolgicas e de localizao de projeto,
confrontando-as com a hiptese de no execuo do projeto;
II - Identificar e avaliar sistematicamente os impactos ambientais gerados nas fases
de implantao e operao da atividade;
III - Definir os limites da rea geogrfica a ser direta ou indiretamente afetada pelos
impactos, denominada rea de influncia do projeto, considerando, em todos os casos, a bacia
hidrogrfica na qual se localiza;
IV - Considerar os planos e programas governamentais, propostos e em implantao
na rea de influncia do projeto, e sua compatibilidade. (Resoluo n.1/86, art. 5).
A avaliao do risco, a grandeza do impacto e a anlise do grau de reversibilidade do
impacto ou a sua irreversibilidade estaro contidos nesse estudo. Diagnosticados esses dados,
o prprio EIA indicar providncias para evitar ou atenuar os impactos negativos inicialmente
previstos, juntamente com a elaborao de um programa de acompanhamento e
monitoramento destes.
A elaborao do estudo de impacto ambiental deve ficar a cargo de uma equipe
multidisciplinar formada por tcnicos nos diversos setores necessrios para uma completa
anlise dos impactos ambientais positivos e negativos do projeto, para confeco de um
estudo detalhado sobre a obra ou atividade.
Os instrumentos de realizao dos princpios da preveno e da precauo, como o
caso do Estudo de Impacto ambiental e seu relatrio, no tm por finalidade impedir o
desenvolvimento de atividades econmicas e sociais. O controle preventivo realizado por esse
instrumento de fundamental importncia, pois requer uma atuao conjunta do Poder
Pblico, da sociedade civil e da comunidade cientfica, que devem se harmonizar em um
objetivo nico: aliar o desenvolvimento social e econmico preservao do meio ambiente e
da prpria espcie humana. Para isso, faz-se necessrio o princpio da participao. Todo
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cidado deve ter acesso a informaes ambientais e participar do processo de tomada de
decises por parte do Estado (BITTENCOURT, 2009).
4.4.5 Anlise de Ciclo de Vida da Obra e Materiais
A metodologia da Anlise do Ciclo de Vida, ACV, cada vez mais integrada aos
processos de tomadas de decises em empresas e rgos governamentais, tem se mostrado de
fundamental importncia na quantificao de impactos ambientais e na avaliao das
melhorias do ciclo de vida de processos, produtos e atividades desenvolvidas no meio
industrial.
Dentre os instrumentos de gesto ambiental, merece destaque a tcnica de Anlise
do Ciclo de Vida (ACV), cuja estrutura e aplicao so especificadas pelo conjunto de normas
da srie ISO 14000. A ISO 14040 estabelece os princpios gerais e diretrizes; a ISO 14041
aborda os procedimentos de definio dos objetivos e escopo do estudo de ACV e a anlise de
inventrio; a ISO 14042 aborda a avaliao de impactos ambientais do ciclo de vida.
De uma forma geral, estas normas, amplamente difundidas nos meios empresariais e
industriais de pases desenvolvidos, versam sobre a estrutura geral, os princpios e alguns
requisitos metodolgicos para a conduo de estudos de avaliao de aspectos ambientais e
impactos potenciais associados ao ciclo de vida de produtos, processos ou servios. Suscitam,
portanto, um diagnstico detalhado das condies de extrao de matrias-primas, produo,
distribuio, utilizao e disposio final existentes em um processo produtivo, e auxiliam na
elaborao de estratgias que possibilitem a minimizao de custos e otimizao do fluxo de
materiais e energia no sistema analisado. essencial ressaltar que o benefcio proporcionado
por essa prtica pode tambm ser estendido ao gerenciamento de resduos slidos urbanos.
A tcnica de Anlise do Ciclo de Vida basicamente constituda pelas fases de
definio do objetivo e do escopo do estudo, anlise do inventrio, avaliao de impactos e
interpretao de resultados.
A primeira fase a definio do objetivo e escopo do estudo, necessrio destacar a
importncia em se identifique as razes pelas quais o estudo esteja sendo conduzido, sua
abrangncia e suas fronteiras. Isso auxilia a aquisio de informaes que sero de grande
utilidade nas etapas posteriores, a exemplo da fase de inventrio, proporcionando maior
confiabilidade de resultados (BAUMANN & TILLMAN, 2004).
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Estabelecer a unidade funcional do sistema em avaliao, com base em uma mesma
funo exercida, durante um determinado perodo de tempo fundamental nesta primeira
fase. Este procedimento essencial na realizao de comparaes entre sistemas, permitindo
uma avaliao baseada em consideraes equivalentes, referentes a aspectos, como
desempenho, qualidade dos dados e procedimentos de alocao.
A definio dos limites do sistema permite a determinao das unidades de processo
que devem ser includas na ACV e a identificao dos diversos fluxos de entradas e sadas.
Viabiliza tambm a associao dos resultados, obtidos na etapa de anlise de inventrio, a
categorias de impactos e, portanto a modelagem do sistema (ABNT, 2001).
A fase de anlise de inventrio so considerados e descritos os fluxos de entrada e
sada de matria e energia do sistema em estudo, de acordo com os aspectos definidos na fase
anterior. Este procedimento auxilia na identificao de dados teis ao estudo e na realizao
de possveis alteraes nos procedimentos de coleta de dados ou reviso dos objetivos e
escopo do estudo (FRANKL & RUBIK, 2000), sendo indispensvel na avaliao quantitativa
de impactos ambientais.
Na fase de avaliao de impactos ambientais, os resultados da anlise de inventrio
do ciclo de vida so utilizados na avaliao de significncia de impactos ambientais potenciais
(ABNT, 2001). Torna-se fundamental selecionar categorias de impactos de relevncia, com as
quais os dados resultantes da anlise de inventrio sero relacionados. Posteriormente, atravs
da utilizao de modelos, procedem-se a anlise, a quantificao e o clculo dos impactos
classificados em cada uma das categorias escolhidas.
O impacto ambiental gerado por edificaes depende de inmeros aspectos e das
decises tomadas por diversos agentes, atuando nas diversas fases de seus ciclos de vida. A
aplicao da ACV pode levar previso de provveis impactos ambientais e econmicos
decorrentes das escolhas realizadas durante o processo de planejamento, construo e
ocupao das edificaes (PEUPORTIER, 2001).
O emprego da ACV no ramo da construo civil se distingue dos demais por
apresentar maior ndice de longevidade, estendendo-se por algumas dcadas ou mesmo
sculos. J as mercadorias industrialmente produzidas, em geral, caracterizam-se por um
perodo de vida til de semanas ou meses.
Devido complexidade da linha de produo, s diferentes caractersticas e
variedade de formas de utilizao e ocupao das obras de engenharia, torna-se mais
complicado quantificar e avaliar os custos de produo e os impactos ambientais.
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Alm das diferenas temporais, a estruturao das informaes inerentes ao
processo construtivo ainda encontra-se precria, comprometendo a preciso dos resultados
dos estudos realizados (EUROPEAN COMMISSION, 1997). No entanto, apesar das
adaptaes necessrias, o estudo voltado ao setor da construo civil deve ser fundamentado
na estrutura de avaliao recomendada pela Norma ISO 14040.
A unidade funcional pode ser representada pela edificao como um todo ou por
componentes isolados, como peas cermicas, sistemas de aquecimento, peas estruturais, etc,
delimitada pelo perodo de vida til em que estar atendendo determinada funo. Como
exemplo tem-se o estudo comparativo entre pisos cermicos e de mrmore, realizado por
Nicoletti, Notampeicola e Tassielli (2002), o qual objetivava identificar as principais
caractersticas das fases do ciclo de vida de ambos os produtos e analisar suas performances
ambientais, e a anlise efetuada por Peuportier (2001) visando a comparao entre casas
estruturadas em diferentes materiais (madeira e concreto) e com diferentes sistemas de
controle trmico (aquecimento solar e por caldeira).
Como citado anteriormente, necessrio determinar o perodo de tempo em que a
unidade funcional dever estar exercendo suas funes. No primeiro estudo, por exemplo, a
unidade funcional foi definida como sendo um metro quadrado de piso, com vida til de 40
anos. Devido sua grande influncia nos resultados da Anlise do Ciclo de Vida, destaca-se
que a unidade funcional deve ser escolhida de forma criteriosa (CHEHEBE, 1997).
Tempos de Vida til Mdia Processo de Construo Especfico
1 a 3 anos Projeto e construo do edifcio/ obra de engenharia civil
3 a 5 anos Tempo de manuteno e uso
10 a 15 anos Tempo mdio de uso e renovao parcial
30 a 50 anos Tempo longo de uso e renovao total
80 a 120 anos Tempo de vida til de sistemas estruturais de edificaes
Superior a 150 anos Tempo de vida til de monumentos
Tabela 1: Processos de construo civil e respectivos tempos de vida til mdia
Fonte: EUROPEAN COMISSION, (1997).
Processos externos construo da edificao propriamente dita, como a fabricao
e o transporte de materiais a serem utilizados no processo construtivo, e internos, relacionados
ocupao da edificao, podero ser considerados, dependendo da disponibilidade de dados
e recursos, do tempo disponvel para a realizao do estudo e dos objetivos delineados.
Segundo Peuportier (2001), o impacto ambiental resultante de processos e atividades
relacionadas construo e ocupao de edificaes pode ser inicialmente avaliado com base
na anlise de inventrios. Durante esta fase da metodologia de ACV, atravs de balanos de
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materiais e energia, torna-se possvel quantificar fluxos de entrada e sada e avaliar os
impactos ambientais resultantes. Para tanto, fundamental que se conheam as diversas
etapas do ciclo de vida de uma edificao: processos de extrao e transformao de materiais
e gerao de energia; a etapa construtiva, propriamente dita, incluindo a necessidade de
transporte de materiais para o canteiro de obras e deste para os locais de deposio de
resduos; a fase de ocupao; e a etapa de inutilizao, desmantelamento de elementos
construtivos e peas ou demolio da edificao. Outro aspecto a ser considerado a
criteriosa seleo das categorias de impacto, as quais influenciaro nos resultados
quantitativos do estudo.
Entretanto, apesar das adaptaes necessrias e limitaes averiguadas, a utilizao
da metodologia de ACV na avaliao ambiental de sistemas e elementos construtivos permite
uma anlise mais detalhada e crtica da etapa de especificao de materiais e a obteno de
melhorias ambientais, e muitas vezes econmicas, nas diversas etapas do ciclo de vida do
sistema avaliado.
Otimizar o ciclo de vida das edificaes atravs de conceitos de projeto e tomada de
decises um dos principais conceitos utilizados por Poon e Jaillon (2002), onde as
estratgias adotadas foram:
-Desenvolver projetos flexveis, que permitam aos seus futuros ocupantes evitar
servios de demolio quando da execuo de reformas, manuteno de infra-estrutura
eltrica e hidrulica, ou possveis ampliaes. Um exemplo tpico o uso de divisrias em
gesso acartonado em substituio s divisrias em alvenaria, que permitem ser desmontadas
de acordo com as necessidades de reformas ou manutenes.
-Considerar a flexibilidade de uso para garantir possveis mudanas e, nesse sentido,
adaptar o projeto s reais necessidades de seus ocupantes. Ainda no conceito de projeto
flexvel, o mesmo exemplo de uso de divisrias em gesso acartonado permitiria uma alterao
de layout do espao interno de edificaes comerciais ou industriais, de modo a atender as
demandas de uso e/ou ampliao dos locais.
-Selecionar elementos estruturais de boa qualidade, como forma de garantir a sua
durabilidade durante o ciclo de vida da edificao.
-Considerar o princpio de espaos independentes na edificao (interior, reas
externas, reas de apoio, etc.), de modo a permitir, em caso de reformas ou ampliaes, a
demolio de apenas as partes que sero modificadas, evitando assim, demolies
desnecessrias de espaos, ou at mesmo a demolio de toda a edificao.
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-Considerar o uso de materiais pr-fabricados nos projetos, em contraposio a
materiais comumente utilizados na construo, como tijolos, argamassa e outros, otimizando
assim, qualquer necessidade de readaptao dos espaos projetados.
-Considerar a seleo de materiais, incluindo aspectos como durabilidade, qualidade
e fcil manuteno.
-Durante o desenvolvimento dos projetos, considerar o ciclo de vida da edificao
como forma de visualizar os benefcios que a adoo de procedimentos citados possa trazer ao
meio ambiente, no que se refere gerao do entulho.
Segundo Fraga (2006), projetos baseados no ciclo de vida das edificaes so, via de
regra, mais onerosos que projetos desenvolvidos sem essa preocupao. Assim, so
investimentos a serem feitos com base em um retorno a longo prazo. A ACV na construo
civil constitui um instrumento de grande valia nas decises internas, na seleo de indicadores
ambientais e no planejamento estratgico para obteno de maiores retornos econmicos e
maior sustentabilidade ambiental.
4.5 APROVEITAMENTO PASSIVO DOS RECURSOS NATURAIS
4.5.1 A Construo Bioclimtica
Uma construo bioclimtica reduz a energia consumida e, portanto, colabora de
forma importante na reduo dos problemas ecolgicos que se derivam dela. Alm de
economizar nas contas mensais de gua e energia. No entanto, a arquitetura bioclimtica no
ltimo sculo parece ter sido esquecida.
O conceito de bem-estar evoluiu de uma maneira curiosa. A construo representa
mais do que abrigo, como tambm status familiar e por isso, deve adequar-se a certos
cnones pr-estabelecidos. Importam culturas e com ela o estilo de construo e sem analisar
os aspectos do local de implantao copiando modelos prontos. Isto vale tambm para a
populao migrante que traz consigo uma forma de construir que pode ser mais adequada
regio de onde saiu, agregando construo piores qualidades de conforto (MANETTI,
2007).
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Conforto Trmico definido como o estado mental que expressa a satisfao do
homem com o ambiente trmico que o circunda. A no satisfao pode ser causada pela
sensao de desconforto pelo calor ou pelo frio, quando o balano trmico no estvel, ou
seja, quando h diferenas entre o calor produzido pelo corpo e o calor perdido para o
ambiente (LAMBERTS et al., 2005).
O desempenho trmico caracteriza-se como o comportamento trmico mnimo
esperado das edificaes e/ou seus componentes (janelas, coberturas, paredes), visando
melhores condies de conforto trmico interior e melhor racionalizao energtica nos
equipamentos de climatizao artificial. O projeto bioclimtico exigir uma anlise do
macroclima (clima do ecossistema em que est inserido), do mesoclima (clima regional), e
previso do microclima (clima que ser formado nos arredores da construo). Para descrever
o clima local pode-se utilizar o mapa referente Figura 1.
Como por exemplo, clima local onde a obra esta inserida, coordenadas geogrficas
podem auxiliar a caracterizao do clima (equatorial e subtropical, tropical mido, tropical
mido com estao seca com chuvas de inverno, tropical mido com estao seca com chuvas
de vero, tropical seco, tropical mido de altitude e subtropical), informaes sobre
pluviosidade e alta umidade (mdia anual), caracterizao da variao entre as temperaturas
diurna e noturna, temperatura mdia, radiao solar mdia, trajetrias solares e ventos
predominantes (representados pela rosa-dos-ventos).
Figura 1: Climas Brasileiros
Fonte: IBGE, 2010.
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Estas informaes so fundamentais no projeto para favorecer o aproveitamento
passivo dos recursos naturais, definindo a arquitetura e tecnologias aplicadas. A definio de
setores de ventos predominantes leva a uma melhora de desempenho na aplicao de
ventilao natural e energia elica, a definio das trajetrias solares auxilia de forma
significativa a orientao, iluminao natural e energia fotovoltaica, aproveitando ao mximo
o solar passivo.
Para garantir uma eficiente ventilao natural importante considerar aspectos
relativos ao local (variveis climticas), ao desenho do edifcio (orientao e forma), ao
programa e as aberturas.
A ventilao natural uma eficiente opo de projeto para regies com clima tropical
ou quente mido garantida pela conjugao dos seus princpios bsicos: diferena das
presses causadas pela dinmica dos ventos e diferenas trmicas (efeito chamin) do meio;
devendo, a mesma, ser considerada em todo o processo do projeto, inclusive na concepo.
Destaca-se ainda a ventilao natural, pois, alm de melhorar o conforto trmico e a qualidade
do ar interno, promove a troca trmica da estrutura do edifcio, resfriando-o e diminuindo os
gastos de energia com sistemas de climatizao artificial (PERN et al., 2007)
Em relao climatizao passiva recomendvel incorporar tcnicas da arquitetura
bioclimtica, como por exemplo: fachadas diferenciadas conforme a orientao, resfriamento
evaporativo, sombreamento, incorporao da vegetao no isolamento da edificao, no
resfriamento da edificao, resfriamento passivo noturno, por meio de vos nas fachadas que
permanecem abertos durante a noite, diminuindo assim, a massa trmica a ser esfriada ou
refrigerada no dia seguinte (massa trmica inrcia trmica), camada de ar ventilada nas
fachadas, captao de luz natural sem elevar excessivamente a carga trmica, vidros seletivos,
deixando passar mais radiao na faixa de luz visvel e menos na faixa do infravermelho,
dispositivos de proteo solar externos, verticais ou horizontais para minimizar a radiao
solar direta no interior.
Com relao ao acondicionamento natural recomenda: garantir melhor orientao
(ventos, incidncia da luz do sol) e porosidade da massa construda (massas vazadas
melhoram a ventilao), promover a permeabilidade entre ambiente interno e externo, espaos
de transio, otimizar a presena ativa de vegetao (sombra, resfriamento e alimento) e de
gua, criar sistema de ptios para integrar o ambiente visual e, funcionalmente, oferecer
lugares de convvio e melhorar o desempenho da ventilao, integra a edificao aos espaos
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pblicos, integrando-a aos sistemas de transporte, servios e praas (CASAGRANDE, 2009).
Roberto Sabatella Adam (2001) em seu livro Princpios do Ecoedifcio desenvolveu
critrios climticos especficos para diferentes climas e regies, onde so citados a seguir:
Climas quentes e secos
Grande amplitude trmica diria, calor durante o dia e frio noite. As coberturas e
paredes so grossas (grande inrcia trmica) para reter a carga trmica proveniente do
aquecimento solar que incide de dia, reduzindo o aquecimento interno das edificaes;
durante a noite, quando a temperatura externa baixa, as superfcies (paredes e coberturas)
cedem o calor acumul