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Universidade Federal de Minas Gerais Instituto de Ciências Biológicas Pós-Graduação em Ecologia Conservação e Manejo da Vida Silvestre Diego Hoffmann BIOLOGIA DE POLYSTICTUS SUPERCILIARIS WIED, 1831 (AVES, TYRANNIDAE) EM ÁREA DE CANGA NO SUDESTE DO BRASIL. Belo Horizonte – Minas Gerais 2006

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Universidade Federal de Minas Gerais

Instituto de Ciências Biológicas

Pós-Graduação em Ecologia Conservação e Manejo da Vida Silvestre

Diego Hoffmann

BIOLOGIA DE POLYSTICTUS SUPERCILIARIS WIED, 1831 (AVES,

TYRANNIDAE) EM ÁREA DE CANGA NO SUDESTE DO BRASIL.

Belo Horizonte – Minas Gerais 2006

ii

Universidade Federal de Minas Gerais

Instituto de Ciências Biológicas

Pós-Graduação em Ecologia Conservação e Manejo da Vida Silvestre

FORRAGEAMENTO, DIETA, ÁREA DE VIDA, BIOLOGIA REPRODUTIVA E

SUCESSSO REPRODUTIVO DE POLYSTICTUS SUPERCILIARIS WIED, 1831

(AVES, TYRANNIDAE) NO SUDESTE DO BRASIL.

DIEGO HOFFMANN

Dissertação apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de mestre em Ecologia Conservação e Manejo da Vida Silvestre pela Universidade Federal de Minas Gerais. Orientador: Prof. Dr. Marcos Rodrigues

Belo Horizonte 2006

iii

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais (IEF) pela autorização

de acesso e licença de pesquisa no Parque Estadual da Serra do Rola Moça. Sou grato à

direção e funcionários do Parque pelo disposição e apoio. Ao CNPq pela bolsa de mestrado

à D.H., à Neotropical Bird Club, Idea Wild, Fundação O Boticário de Proteção à Natureza e

CNPq (processo 473428/2004-0) que concederam auxílios de pesquisa. Ao

Cemave/IBAMA pela autorização de anilhamento para D.H. (Licença 1194) e pelo

fornecimento de anilhas.

Agradeço aos professores Miguel Ângelo Marini, Cláudia Maria Jacobi e Flávio

Rodrigues por aceitarem o convite para participar da minha banca avaliadora.

Ao professor Marcos Rodrigues pelo aceite de orientação e voto de confiança, uma

vez que não me conhecia. Obrigado pela paciência e pela calma durante o longo período

sem bolsa, pela compreensão na escolha da área de estudo e pela orientação nessa fase final.

Ao Flávio pela disponibilidade e presteza na identificação das espécies vegetais e à

Lílian pelo monitoramento dos ninhos nos poucos dias em que não pude ir a campo.

Ao Everton Behr e Marilise Krugel, meus grandes orientadores sulistas e acima de

tudo amigos, por me apresentarem às aves e me incentivarem a largar tudo e vir para cá.

Valeu, foi sofrido mas sobrevivi.

Aos meus grandes amigos e parceiros de campo no sul Alberto Senra e Daniel

Gressler, cada um caçando seu rumo agora.

Agradeço ao Augusto “Augastes” por ter me acolhido na chegada em BH.

Aos amigos Ornitólogos: Chris, Renata, André, João Pinho, Marcos Figueiredo,

Tadeu Guerra, pelo companherismo no laboratório e no campo, troca de idéias e

referências.

iv

Aos meus irmãos Lu e Naná, que me levaram nas primeiras excursões para o cipó e

me ensinaram as primeiras aves do cerrado.

Aos meus grandes amigos, colegas de campo, aventuras, descobertas e discussões, o

famoso “Trio parada mole”: Leonardo “Leo Palmeira” e Marcelo “Salsa”. O que dizer,

parte deste trabalho tem o dedo de vocês...

Ao Professor José Eugênio Cortês Figueira e a todos os amigos do laboratório de

populações, por sempre acolherem de braços abertos um penetra em suas reuniões e

encontros.

Ao meu grande amigo Latini, pelas boas prosas depois do almoço na “poltrona do

kombão”, pensou que ia esquecer hein!!!

Ao meu colega de república e grande amigo Remo.

À todos os meus colegas e amigos da ECMVS que me aturaram tendo crises de

sonambulismo, ou pelo menos ouviram alguma história engraçada; que tomaram uma ceva

comigo no buteco da bio, enfim todas que conviveram comigo nestes dois últimos anos.

Quero agradecer ao meu padrasto Renato e ao meu irmão Douglas, por me

acolherem de braços abertos toda vez que retorno e por fazerem companhia à minha mãe

durante minha ausência.

Finalmente quero agradecer à minha mãe que foi também meu pai, pois o perdi com

três anos de idade. Ela virou o mundo para me dar educação, sempre me dando liberdade

para tomar minhas próprias decisões, muitas vezes contra sua vontade. Nunca vou esquecer

essas palavras: “tu tens de tomar as tuas decisões, tu tens de saber o que é melhor pra ti...”

Apesar da distância e da saudade, estou fazendo o que acho que é melhor pra mim.

Obrigado pelo apoio e compreensão.

Belo Horizonte,10 de agosto de 2006

v

"Nunca ande pelo caminho traçado, pois ele conduz somente até onde os outros foram.".

Alexandre Graham Bell

"Não sois máquinas! Homens é o que sois!" Chalés Chaplin

vi

SUMÁRIO

RESUMO......................................................................................................................... 1

ABSTRACT. ................................................................................................................... 3

PREFÁCIO ..................................................................................................................... 5

CAPÍTULO 1 - COMPORTAMENTO DE FORRAGEAMENTO E DIETA......... 8

RESUMO..................................................................................................................... 9

RESUMO..................................................................................................................... 9

ABSTRACT. ............................................................................................................. 10

INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 11

MATERIAL E MÉTODOS..................................................................................... 12

Área de estudo ........................................................................................................ 12

Coleta de dados....................................................................................................... 14

Coleta de dados....................................................................................................... 15

Coleta de dados....................................................................................................... 16

Dieta ....................................................................................................................... 16

RESULTADOS......................................................................................................... 17

Comportamento de forrageamento ......................................................................... 17

Dieta ....................................................................................................................... 19

DISCUSSÃO ............................................................................................................. 22

CAPÍTULO 2 - ÁREA DE VIDA E USO DE HABITAT......................................... 25

RESUMO................................................................................................................... 26

ABSTRACT. ............................................................................................................. 28

INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 30

MATERIAL E MÉTODOS..................................................................................... 30

vii

Área de estudo ........................................................................................................ 30

Captura e marcação dos indivíduos........................................................................ 31

Demarcação das áreas de vida e taxa de sobreposição........................................... 31

Uso de habitat ......................................................................................................... 31

RESULTADOS......................................................................................................... 32

Tamanho da área de vida e taxa de sobreposição................................................... 32

Interações agonísticas ............................................................................................. 34

Uso de habitat e mudança de áreas de vida ............................................................ 37

DISCUSSÃO ............................................................................................................. 38

CAPÍTULO 3 - BIOLOGIA REPRODUTIVA ......................................................... 41

RESUMO................................................................................................................... 42

ABSTRACT. ............................................................................................................. 43

INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 44

MATERIAL E MÉTODOS..................................................................................... 45

Área de estudo ........................................................................................................ 45

Captura e marcação dos indivíduos........................................................................ 45

Procura e monitoramento dos ninhos ..................................................................... 45

RESULTADOS......................................................................................................... 47

Identificação dos sexos........................................................................................... 47

Procurando ninhos .................................................................................................. 47

Descrição do ninho ................................................................................................. 48

Construção dos ninhos............................................................................................ 50

Ovos........................................................................................................................ 50

Incubação................................................................................................................ 52

Ninhegos................................................................................................................. 52

viii

Cuidado parental..................................................................................................... 54

Múltiplas tentativas reprodutivas ........................................................................... 54

Sincronia reprodutiva ............................................................................................. 55

DISCUSSÃO ............................................................................................................. 56

CAPÍTULO 4 - SUCESSO REPRODUTIVO ........................................................... 60

RESUMO................................................................................................................... 61

ABSTRACT. ............................................................................................................. 62

INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 63

MATERIAL E MÉTODOS..................................................................................... 64

Área de estudo ........................................................................................................ 64

Procura e monitoramento dos ninhos ..................................................................... 64

Análise de dados..................................................................................................... 64

RESULTADOS......................................................................................................... 65

DISCUSSÃO ............................................................................................................. 68

CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................... 71

REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 74

ix

ÍNDICE DE FIGURAS E TABELAS

PREFÁCIO

FIGURA 1. Área de distribuição de P. superciliaris no leste do Brasil, com

representação das áreas acima de 1000m de altitude. (Modificado de: Infonatura,

2004 com dados Brasil ao Milionésimo) ....................................................................7

CAPÍTULO 1 – COMPORTAMENTO DE FORRAGEAMENTO E DIETA

FIGURA 1. Mapa da Cadeia do Espinhaço (a) onde está localizado o Parque Estadual

da Serra do Rola Moça (b) (Imagem de Satélite; o polígono indica os limites do

Parque) onde se localiza a área de estudos (c). As áreas em negrito correspondem a

elevações acima de 1.000 m (Modificado de: Vasconcelos & Lombardi, 2001)........14

FIGURA 2. Precipitação acumulada no ano de 2005 (barras) e Normal Climatológica

do período de 1961-1990 (Linhas) em Belo Horizonte. Dados da estação

meteorológica 83587 (INMET, 2006).........................................................................15

FIGURA 3 – Área de estudo: canga couraçada (a) e canga nodular (b) com suas

vegetações características. (Fotos D. Hoffmann.........................................................15

FIGURA 4. Fitofisionomia utilizada por P. superciliaris durante o forrageamento

(n=149)........................................................................................................................18

FIGURA 5. Freqüência de observações de P. superciliaris em substratos atacados em

atividades de forrageamento (n=149)..........................................................................18

FIGURA 6. Freqüência de observações de P. superciliaris em alguns gêneros de

plantas, arbustos secos e espécies não identificadas, utilizadas em atividade de

forrageamento (n=149)................................................................................................18

FIGURA 7. Freqüência de observação de P. superciliaris em plantas de diferentes

alturas utilizadas em atividades de forrageamento (n=149)........................................18

x

FIGURA 8. Freqüência de observações de P. superciliaris quanto ao comportamento

de ataque segundo Remsen & Robinson (1990) (a) e segundo a Fitzpatrick (1980)

após conversão (b) (n=149).........................................................................................20

FIGURA 9. Freqüência de observações de P. superciliaris quanto às direções de

ataque utilizados em atividade de forrageamento (n-149). .........................................20

TABELA 1. Número de presas encontrado em dezesseis estômagos de Polystictus

superciliaris. O número se refere a cada exemplar depositado na Coleção do

Departamento de Zoologia da Universidade Federal de Minas Gerais (DZUFMG)..21

CAPÍTULO 2 – ÁREA DE VIDA E USO DE HABITAT

FIGURA 1. Área acumulada da área de vida de 12 casais de P. superciliaris

acompanhados no Parque Estadual Serra do Rola Moça, MG. ..................................33

FIGURA 2. Áreas de vida de 14 casais de P. superciliaris demarcados no Parque

Estadual Serra do Rola Moça, MG. Cada polígono representa uma área de vida.......35

FIGURA 3. Áreas de sobreposição entre as áreas de vida de 14 casais de P.

superciliaris demarcados no Parque Estadual Serra do Rola Moça, MG. Foram

preenchidos os pontos de sobreposição de cada polígono, de acordo com o número de

áreas sobrepostas. As bandeirinhas indicam os pontos onde ocorreram conflitos entre

indivíduos de áreas vizinhas........................................................................................36

CAPÍTULO 3 – BIOLOGIA REPRODUTIVA

FIGURA 1. Ninho de Polystictus superciliaris em forma de cesto alto em forquilha

de uma Stachytarpheta glabra. (Foto D. Hoffmann) .................................................49

FIGURA 2. Ninho e ovos de Polystictus superciliaris. (Foto D. Hoffmann).............51

FIGURA 3. Ninhegos de Polystictus superciliaris apresentando comissuras labiais

amareladas. (Foto D. Hoffmann) ................................................................................53

FIGURA 4. Jovem de Polystictus superciliaris logo após deixar o ninho. Note a

coloração mais clara do peito (a) em relação ao adulto (b). (Fotos D. Hoffmann).....53

xi

FIGURA 5. Etapas da reprodução de Polystictus superciliosus no Parque Estadual da

Serra do Rola Moça no ano de 2005............................................................................55

TABELA 1 – Espécies de plantas utilizadas por Polystictus superciliaris como

suporte dos seus ninhos.. ............................................................................................50

TABELA 2 – Média ± Desvio Padrão de diferentes caráteres morfométricos dos

ninhos e ovos de Polystictus superciliaris, observados no Parque Estadual da Serra do

Rola Moça, MG. .........................................................................................................51

CAPÍTULO 4 – SUCESSO REPRODUTIVO

FIGURA 1. Ninhegos de Polystictus superciliaris parasitados por larvas de moscas,

indicados pelas setas. (Foto D. Hoffmann)..................................................................67

TABELA 1. Média ± Desvio Padrão da Taxa de Sobrevivência Diária (TSD) e Taxa

de Sobrevivência por Período (TSP) de Polystictus superciliaris...............................66

1

RESUMO. O papa-moscas-de-costas-cinzentas, Polystictus superciliaris (Aves:

Tyrannidae) é uma espécie de distribuição geográfica restrita às montanhas do leste do

Brasil, vem sofrendo perda de seu habitat, sendo considerada uma espécie ‘quase-

ameaçada’ de extinção. Entre março e dezembro de 2005 foram estudados diversos

aspectos sobre a biologia dessa espécie no Parque Estadual da Serra do Rola Moça, em

Nova Lima, Minas Gerais. Foram realizados 149 registros de forrageamento por P.

superciliaris que apresentou um comportamento de ataque generalista, utilizando

preferencialmente as folhas de arbustos como substrato (69,1%). A análise de 16

conteúdos estomacais revelou uma dieta exclusivamente insetívora, fato confirmado

pelas observações de forrageamento. O tamanho do território da espécie foi determinado

pelo do método do mínimo polígono convexo, apresentando um tamanho médio de 4,32

± 1,2 ha. Foi observada uma grande sobreposição entre os territórios dos casais/grupos

1,7 ± 1,2 ha (n=12). Quanto ao uso de habitat, P. superciliaris apresenta uma

preferência aparente pela fitofisionomia denominada canga couraçada. A espécie

apresenta um ninho em forma de cesto alto, apoiado em forquilha, construído com

fragmentos de gramíneas e aquênios de Asteraceae unidos por teias de aranha. A

construção do ninho e incubação é atividade exclusiva da fêmea. Os ovos são ovais,

creme claros, sem nenhum tipo de mancha, apresentando dimensões médias de 15,4 ±

0,54 x 12,2 ± 0,46 mm. Os filhotes possuem o mesmo padrão de plumagem dos adultos

sendo os tarsos e as penas do peito e ventre em tons mais claros. O período de

incubação tem uma duração média de 17,7 dias, com permanência média dos filhotes no

ninho 16,4 dias. Dos 21 ninhos de P. superciliaris monitorados, 42,8 % foram bem

sucedidos. O sucesso reprodutivo calculado pelo método de Mayfield foi de 41,3% com

uma Taxa de Sobrevivência Diária (TSD) no período de ovo e ninhego de 0,973 e 0,978

respectivamente. A maioria das perdas dos ninhos foi em virtude de predação (75%),

2

em 17% dos casos devido ao parasitismo por larvas de moscas e em uma ocasião (8%)

por falha de eclosão. O sucesso reprodutivo apresentado por P. superciliaris foi

semelhante ao apresentado por outras espécies de Tyrannidae do Neotrópico, que

apresentam ninhos abertos.

Palavras chave: Polystictus superciliaris, Tyrannidae, comportamento de

forrageamento, área de vida, biologia reprodutiva e sucesso reprodutivo.

3

ABSTRACT. The Gray-backed Tachuri Polystictus superciliaris (Aves: Tyrannidae) is

a species restricted to the mountain tops of eastern Brazil. This species is considered as

near-threatened, mainly due to habitat loss. We studied the life history of this species in

the Parque Estadual da Serra do Rola Moça, Nova Lima, Minas Gerais, between March

and September 2005. We recorded 149 feeding bouts of this species, which presented a

generalist attack behavior, using mainly leaves of small shrubs as feeding substrate. The

analysis of 16 stomach contents, associated with the foraging observations, revealed an

insectivorous diet. The mean home range size, estimated with the minimum convex

polygon method, was of 4.32 ± 1.2 ha. I observed a high overlap in territories of

neighbor pairs/groups (1.7 ± 1.2 ha, n=12). The Gray-backed Tachuri apparently selects

the "canga couraçada" as its primary habitat in detriment to other vegetation types

available at the study site. The nest of this species is a high cup, supported by its sides

between a forked branch, and constructed mainly with dry grass blades and Asteraceae

achenes. A large amount of spider web is used in nest constructing and anchoring. Nest

building and incubation is performed only by the female. Eggs are ovoid, light cream,

without any marking, measuring 15.4 ± 0.54 x 12.2 ± 0.46 mm. Fledglings plumage are

very similar to the adults, only differing in the coloration of its tarsus, breast and belly

feathers, which are slightly paler. Mean incubation period is of 17.7 days, with a mean

nestling period of 16.4 days. Of the 21 nests monitored, only 42.8% were successful.

The reproductive success calculated by the Mayfield method was 41.3%, with a daily

survival rate of 0.973 and 0.978 during the egg and nestling periods, respectively. The

majority of nests losses were due to predation (75%), with a small percentage of losses

(17%) due to botfly larvae (Philornis sp.) parasitism. In only one nest the eggs failed to

hatch. The reproductive success of the Gray-backed Tachuri was similar to that

recorded by other species of Neotropical Tyrant Flycatchers that construct open nests.

4

Key words: Polystictus superciliaris, Tyrannidae, foraging behavior, home range,

breeding biology, reproductive success.

PREFÁCIO

6

O papa-moscas-de-costas-cinzentas, Polystictus superciliaris é uma espécie

endêmica dos topos de montanha do leste do Brasil, sendo encontrado desde o Morro do

Chapéu, no centro da Bahia, até a Serra da Bocaina, no norte de São (Vasconcelos,

2001; Vasconcelos et al., 2003) (Fig.1). Ele ocorre em altitudes entre 900 e 1.950 m,

onde habita os campos rupestres, campos cerrados e campos de altitude (Sick, 1997;

Vasconcelos et al., 2003), formações que compõem os biomas Cerrado e Mata

Atlântica, dois importantes “hotspots” de biodiversidade mundial (Myers et al., 2000).

Polystictus superciliaris é classificado como uma espécie ‘quase ameaçada’ (“Near

threatened”) de extinção, conforme os critérios adotados pela IUCN, devido a sua

restrita área de distribuição e acentuada perda de habitat (IUCN, 2001; BirdLife, 2004).

Uma crescente pressão antrópica sobre esses ambientes é observada na porção sul da

cadeia do Espinhaço, principalmente devido a constantes incêndios, mineração,

conversão dos campos rupestres em pastagens e especulação imobiliária (Stattersfield et

al., 1998; Vasconcelos et al., 2003).

A carência de informações sobre a biologia das espécies dificulta o real

conhecimento do grau de ameaça por elas sofrido (e.g. para P. superciliaris) e dificulta

o planejamento de medidas para a conservação tanto das espécies quanto do ambiente

que habitam.

Desta forma o objetivo deste trabalho foi investigar alguns aspectos da biologia

de P. superciliaris no Parque Estadual da Serra do Rola Moça. O presente trabalho

encontra-se dividido em quatro capítulos:

- O primeiro capítulo apresenta informações acerca do comportamento de

forrageamento e dieta alimentar apresentado por P. superciliaris.

- O segundo capítulo teve por objetivo determinar preferências de habitat e o

tamanho da área de vida utilizado por pares reprodutivos de P. superciliaris.

7

- No terceiro capítulo é descrita a biologia reprodutiva, onde são apresentados

aspectos como: descrição do ninho, ovos e ninhegos, período de incubação e de ninhegos,

cuidado parental, sincronia reprodutiva e estrutura social.

- Por fim o quarto capítulo apresenta informações acerca do sucesso reprodutivo de

P. superciliaris bem como as principais causas de fracasso.

FIGURA 1 – Área de distribuição de P. superciliaris no leste do Brasil, com representação das áreas

acima de 1000m de altitude. (Modificado de: Infonatura, 2004 com dados Brasil ao Milionésimo).

CAPÍTULO 1*

COMPORTAMENTO DE FORRAGEAMENTO E DIETA

* Submetido à revista Iheringia Série Zoologia com o título “Comportamento de forrageamento e dieta de Polystictus superciliaris Wied, 1831 (Aves, Tyrannidae) em área de canga no sudeste do Brasil” em co-autoria com Marcelo F. de Vasconcelos, Leonardo E. Lopes e Marcos Rodrigues. Protocolo MISZ# 78/06

a

9

RESUMO. Detalhes sobre o comportamento de forrageamento e dieta são usados para

se inferir a origem e evolução dos distintos subgrupos de Tyrannidae, um dos grupos de

Passeriformes mais diversificados do Neotrópico. O presente artigo descreve o

comportamento de forrageamento e a dieta de Polystictus superciliaris, espécie pouco

conhecida e de distribuição geográfica restrita às montanhas do leste do Brasil. Este

trabalho foi realizado entre abril e dezembro de 2005 no Parque Estadual da Serra do

Rola Moça, município de Nova Lima, Minas Gerais (20°03’07”S, 44°00’01”W). Para

cada observação de forrageamento foram registrados os comportamentos de ataque, a

direção do ataque, o substrato atacado, a altura do substrato de forrageamento, e a

fitofisionomia onde o ataque ocorreu. Para a determinação da dieta da espécie foram

feitas observações diretas de campo, e analisados o conteúdo estomacal de 16

indivíduos. P. superciliaris usa preferencialmente a canga couraçada (93,3%), tendo

como substrato as folhas (69,1%) das plantas mais abundantes da área. A espécie é

generalista quanto ao comportamento de ataque. A análise de conteúdos estomacais

revelou a presença exclusiva de artrópodes. As observações confirmaram o caráter

insetívoro de P. superciliaris, que não foi observado consumindo frutos. A recente

filogenia proposta para os Tyrannidae, baseada em caracteres morfológicos e

comportamentais, mostra Polystictus como grupo irmão de Pseudocolopteryx, mas a

posição sistemática desse grupo ainda não se encontra bem resolvida, não havendo

informações sobre o comportamento de Polystictus. Desta maneira este trabalho

preenche uma lacuna que poderá auxiliar na resolução da complexa filogenia dos

Tyrannidae.

Palavras-chave: Cadeia do Espinhaço, ecologia comportamental, comportamento

predatório, conteúdo estomacal.

10

ABSTRACT. Details of foraging behavior and diet are used to infer the origin and

evolution of the distinct sub-groups of Tyrannidae, one of the most diversified

Neotropic Passeriformes groups. The present article describes the Polystictus

superciliaris foraging behavior and the diet, species with little information and

distribution restricted to east of Brazil mountains. This work was carried out through

April and December of 2005 in the Serra do Rola Moça State Park, Nova Lima city,

Minas Gerais (20°03'07"S, 44°00'01"W). For each foraging bout it was registered the

attack behaviors, attack direction, the substratum, the height of the foraging substratum,

and the habitat type where the attack occurred. For the determination of the species diet,

it was recorded direct field observations, and analyzed the crop content of 16

individuals. P. superciliaris uses the preferential ‘canga couraçada’ (93,3%), using leaf

as substratum (69,1%) of the most abundant plants of de area. The species is generalist

in relation to the attack behavior. The analysis of crop contents revealed the exclusive

presence of arthropods. The observations had confirmed the insect-eaten character of P.

superciliaris, which was not observed consuming fruits. The recent filogeny proposed

for the Tyrannidae, based on morphologic and behavioral characters, showed

Polystictus as sister-group of Pseudocolopteryx, but the systematic position of this

group is still uncertain, not having information on the behavior of Polystictus. In this

way this work fills a gap that will be able to assist the resolution of the complex

filogeny of Tyrannidae.

Key words: Cadeia do Espinhaço, behavior ecology, attack behaviors, crop contents.

11

INTRODUÇÃO

Os tiranídeos ou papa-moscas (Passeriformes: Tyrannidae) formam um dos

grupos de aves endêmicas da região Neotropical mais diversificados em termos de

número de espécie (Sibley & Monroe Jr., 1990). As espécies de tiranídeos se adaptaram

a uma enorme variedade de ambientes e nichos ecológicos e apresentam diversificação

morfológica e uma riqueza de repertório comportamental sem paralelo entre as aves

Suboscines (Traylor & Fitzpatrick, 1982; Sick, 1997). Toda essa diversidade de forma e

comportamento faz com que o grupo seja ideal para estudos de filogenia (Lanyon, 1986,

1988; Birdsley, 2002).

Detalhes sobre o comportamento de forrageamento e da dieta, freqüentemente

fornecem indícios para se inferir a origem e evolução dos distintos subgrupos (sub-

famílias) de Tyrannidae, quando da indisponibilidade de outros dados (Fitzpatrick,

2004). Dessa forma o comportamento de forrageamento e dieta tem sido objeto de

estudo de vários trabalhos (Skutch, 1960; Smith, 1971; Fitzpatrick, 1980; Parker III,

1984; Fitzpatrick, 1985; Gabriel & Pizo, 2005; Lopes, 2005).

A recente filogenia proposta para os Tyrannidae, baseada em caracteres

morfológicos e comportamentais, mostra Polystictus como grupo irmão de

Pseudocolopteryx, mas a posição sistemática desse grupo ainda não se encontra bem

resolvida (Birdsley, 2002), não havendo informações sobre o comportamento de muitas

espécies.

Informações sobre o comportamento de forrageamento de Polystictus

superciliaris Wied, 1831 são escassas, derivadas de algumas poucas observações

anedóticas (Ridgely & Tudor, 1994; Vasconcelos, 1999). Já para a dieta, que é

fundamental para se entender a história natural e desenvolver estratégias de conservação

(Bartholomew, 1986; Lopes et al., 2005), tais informações são praticamente

12

inexistentes, havendo apenas algumas observações pontuais (Vasconcelos, 1999). O

presente capítulo descreve o comportamento de forrageamento e a dieta de P.

superciliaris, uma espécie pouco conhecida e de distribuição geográfica restrita às

montanhas do leste do Brasil (Vasconcelos, 2001).

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

Este trabalho foi realizado no Parque Estadual da Serra do Rola Moça, porção

sul da Cadeia do Espinhaço, localizado entre os municípios de Belo Horizonte, Nova

Lima, Brumadinho e Ibirité, Minas Gerais, Brasil (20°03’07”S, 44°00’01”W), que

possui uma área de 3942 ha (Figura 1).

A região apresenta um clima do tipo mesotérmico (Cwb de Köpen) com um

regime de precipitação bem definido, com verões chuvosos e invernos secos. A área

recebe uma precipitação anual de 1.735 mm, sendo a maior concentração entre os meses

de novembro e março (Figura 2) (INMET, 2006).

O local está situado em uma área de transição entre o Cerrado e a Mata Atlântica

(Ab'Saber, 1977). A área estudada é composta predominantemente por canga, também

conhecida como campos ferruginosos, cujo substrato é rico em ferro. Sua cobertura

vegetal é dividida em dois tipos básicos, conforme o grau de agregação do substrato.

Quando a canga forma uma couraça ou laje, ela é denominada canga couraçada e

apresenta uma cobertura vegetal com presença de plantas que têm suas raízes

desenvolvidas principalmente em pequenas fendas das pedras e as gramíneas são

praticamente inexistentes (Figura 3a). Quando a couraça se mostra fragmentada,

tornando o substrato mais penetrável, a cobertura é denominada canga nodular,

13

dominada por canelas-de-ema (Velloziaceae) e gramíneas que propiciam a cobertura

total do substrato (Rizzini, 1979; Vincent, 2004) (Figura 3b). No local além da

vegetação característica (canga couraçada e canga nodular), ocorrem pequenos capões

com vegetação mais densa, formado por árvores de pequeno porte, arbustos e orquídeas.

Além de existirem poucos estudos específicos da fauna e flora dos campos

ferruginosos (Vincent et al., 2002) este ambiente se encontra sob grande pressão

antrópica devido à expansão urbana, extração ilegal de plantas ornamentais (orquídeas e

bromélias), trânsito de veículos off-road e mineração (Vincent et al., 2002; obs.

pessoal), de forma que região é considerada de importância biológica especial no estado

de Minas Gerais (Drummond et al., 2005).

14

FIGURA 1. Mapa da Cadeia do Espinhaço (a) onde

está localizado o Parque Estadual da Serra do Rola

Moça (b) (Imagem de Satélite; o polígono indica os

limites do Parque) onde se localiza a área de estudos

(c). As áreas em negrito correspondem a elevações

acima de 1.000 m (Modificado de: Vasconcelos &

Lombardi, 2001).

Canga couraçada

Capões

Canga nodular

a

b

c

15

0

100

200

300

400

J F M A M J J A S O N D

Meses

Precipitação (mm)

FIGURA 2. Precipitação acumulada no ano de 2005 (barras) e Normal Climatológica

do período de 1961-1990 (Linhas) em Belo Horizonte. Dados da estação

meteorológica 83587 (INMET, 2006).

FIGURA 3. Área de estudo: canga couraçada (a) e canga nodular (b) com suas vegetações

características. (Fotos D. Hoffmann)

b a

16

Coleta de dados

As observações foram realizadas entre abril e dezembro de 2005. Para cada

observação de forrageamento foram registrados: o comportamento de ataque segundo

Remsen & Robinson (1990) (glean, reach, hang, lunge, leap, sally-strike e sally-stall) e

convertido para a nomenclatura proposta por Fitzpatrick (1980) (simple perch-gleaning,

upward striking, outward striking e aerial hawking) (para efeito de comparação); a

direção do ataque (horizontal, vertical acima, vertical abaixo, diagonal acima e diagonal

abaixo); o substrato atacado (folha, ramo, flor, ar, solo); a altura do substrato de

forrageamento (0,1-1 m, 1,1-2 m, 2,1-3 m, 3,1-4 m, 4,1-5 m); e a fitofisionomia onde o

ataque ocorreu (canga couraçada ou nodular). Os diferentes tipos de comportamento de

ataque reconhecidos por Remsen & Robinson (1990) foram grafados em português,

seguindo a proposta de Volpato & Mendonça-Lima (2002) (respigar, alcançar,

pendurar, avançar, saltar, investir atingir e investir estolar, respectivamente), sendo

mantida a nomenclatura em língua Inglesa para os reconhecidos por Fitzpatrick (1980).

Os indivíduos foram observados com o auxílio de binóculos, sendo o

comportamento de forrageamento registrado a partir de 5 min após a primeira

visualização do indivíduo, a fim de que a ave se acostumasse com o pesquisador. O

comportamento foi registrado a cada intervalo de 5 min para se minimizar a

autocorrelação das amostras, o que pode levar a uma estimativa inacurada da proporção

utilizada de cada comportamento (Hejl et al., 1990). Este tempo foi assumido como

suficiente para garantir a independência dos registros devido a grande mobilidade da

espécie (Hejl et al., 1990; Lopes, 2005).

Dieta

Para a determinação da dieta da espécie, foram realizadas observações diretas de

campo com o auxílio de binóculos. Foi analisado o conteúdo estomacal das carcaças de

17

16 exemplares depositados na coleção ornitológica do Departamento de Zoologia da

Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte (DZUFMG). Os fragmentos de

artrópodes encontrados foram identificados com o auxílio de livro texto de entomologia

ilustrado (Borror et al., 1989). Depois de identificados, os fragmentos foram contados a

fim de se estimar o número de presas, sendo os insetos agrupados em ordens e o restante

dos artrópodes em classes. Detalhes sobre estimativa do número de presas e métodos

utilizados para a identificação dos conteúdos estomacais são apresentados em Lopes et

al. (2005).

RESULTADOS

Comportamento de forrageamento

Foram feitos 149 registros de forrageamento para P. superciliaris, que utilizou

principalmente como fitofisionomia a canga couraçada (93,3%) (Figura 4) e como

substrato de forrageamento as folhas (69,1%) e ramos (26,8%) (Figura 5), de plantas

das espécies: Lychnophora ericoides Mart. (Asteraceae) (21,5%) e Mimosa calodendron

Mart. Ex. Benth. (Mimosaceae) (13,4%) (Figura 6). A altura predominante do substrato

de forrageamento foi 0,1-1 m (81,9%) e 1,1-2 m (14,8%) (Figura 7).

Polystictus superciliaris apresentou oito táticas de forrageamento conforme

Remsen Jr. & Robinson (1990) onde predominam ataques investir-estolar (30,9%),

investir-atingir (22,1%) e alcançar (19,5%) (Figura 8a). De acordo com a nomenclatura

de Fitzpatrick (1980) (Figura 8b) P. superciliaris apresentou quatro táticas de

forrageamento onde predominam “Simple Perch-gleaning” (47%) e “Upward Striking”

(36,2%).

18

FIGURA 4. Fitofisionomia utilizada por

P. superciliaris durante o forrageamento

(n=149).

Canga Campo sujo

Fitofisionomia

0%

20%

40%

60%

80%

100%

Freqüência (%)

FIGURA 5. Freqüência de observações de P.

superciliaris em substratos atacados em

atividades de forrageamento (n=149).

Folha Ramo Flor Ar Liquem

Substrato de atacado

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

Freqüência (%)

FIGURA 6. Freqüência de observações de P.

superciliaris em alguns gêneros de plantas, arbustos

secos e espécies não identificadas, utilizadas em

atividade de forrageamento (n=149).

sppLychnophora

Mimosa SECO

Sebastiana

Eriope

Baccharis

Trixis

Tibouchina

Gêneros de plantas

0%

10%

20%

30%

Freqüência (%)

FIGURA 7. Freqüência de observação de P.

superciliaris em plantas de diferentes alturas

utilizadas em atividades de forrageamento

(n=149).

0-1,0 1,1-2,0 2,1-3,0 3,1-4,0

Altura de ataque

0%

15%

30%

45%

60%

75%

90%

Freqüência (%)

19

A direção de forrageamento predominante foi a horizontal (40,9%), seguida pela

diagonal acima (35,6%) (Figura 9). Na grande maioria dos registros, os indivíduos de P.

superciliaris forragearam em pares (75,2%). Cerca de (24,8%) dos registros foram

feitos solitariamente. Em nenhuma ocasião foi registrada associação a bandos mistos.

Dieta

A alimentação é composta exclusivamente por pequenos artrópodes, não sendo

encontrados itens de origem vegetal. A análise dos conteúdos estomacais revelou

principalmente o consumo de Coleoptera e Hemiptera (Tabela 1), geralmente abaixo de

10 mm de comprimento. Durante as observações de campo, somente os artrópodes de

maior porte puderam ser identificados, sendo registrada a captura de quatro lagartas

(Lepidoptera), três borboletas (Lepidoptera) e quatro gafanhotos (Orthoptera). Após a

captura de uma presa um pouco maior, os indivíduos apresentavam o mesmo

comportamento, batendo-o no ramo mais próximo por algumas vezes e logo após a

engoliam.

20

a

b

FIGURA 8. Freqüência de observações de P. superciliaris quanto ao comportamento de ataque

segundo Remsen & Robinson (1990) (a) e segundo a Fitzpatrick (1980) após conversão (b)

(n=149).

Investir-estolarInvestir-atingir

AlcançarRespigar

AvançarSaltar

PendurarOutro

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

Freqüência (%)

Simple Perch-gleaningUpward Striking

Outward StrikingAerial Hawking

0%

10%

20%

30%

40%

50%

Freqüência (%)

FIGURA 9. Freqüência de observações de P. superciliaris quanto às direções de ataque

utilizados em atividade de forrageamento (n-149).

HorizontalDiagonal acima

Diagonal abaixoAcima

AbaixoEstático

Direção de ataque

0%

10%

20%

30%

40%

50%

Freqüência (%)

21

DZUFMG

Ort

hopt

era

Man

tode

a

Hem

ipte

ra

Hom

opte

ra

Col

eopt

era

Dip

tera

Lep

idop

tera

adu

lto

Lep

idop

tera

larv

a

Hym

emop

tera

Lar

va d

e in

seto

Ara

nea

Tot

al d

e ar

tróp

odes

4509 2 4 1 1 1 9

3035 2 2 4

3036 2 9 1 1 4 17

2830 3 4 1 1 1 10

4046 1 3 4

4048 1 1

4047 1 1 2

3043 1 2 3 2 8

2831 1 2 3

4173 7 1 1 9

4592 1 1 2 1 2 1 2 10

3037 3 2 1 2 8

2797 1 3 4

2832 1 1 7 2 11

3034 1 1

4049 1 7 2 2 12

Total 3 1 32 6 38 4 4 8 10 1 6 113

TABELA 1. Número de presas encontrado em dezesseis estômagos de Polystictus

superciliaris. O número se refere a cada exemplar depositado na Coleção do Departamento

de Zoologia da Universidade Federal de Minas Gerais (DZUFMG).

22

DISCUSSÃO

Muitos Tyrannidae são classificados por Fitzpatrick (1980) como especialistas

ou generalistas, baseando-se em suas táticas de forrageamento. Especialistas são aqueles

que se utilizam predominantemente de um mesmo comportamento de ataque (>50%),

enquanto que os generalistas não apresentam um comportamento de ataque

predominante. Devido à falta de dados, Fitzpatrick (1980) baseou-se em semelhanças

morfológicas e de uso de habitat de Culicivora caudacuta Vieillot, 1818, para

considerar o gênero Polystictus como um provável forrageador generalista em “Perch-

gleaning” e em “Upward Striking”. Tal suposição foi corroborada pelos resultados do

presente trabalho, que mostram que P. superciliaris é uma espécie generalista quanto ao

seu comportamento de forrageamento, tanto de acordo com Fitzpatrick (1980) quanto

com Remsen & Robinson (1990).

Lychnophora ericoides (Asteraceae) e Mimosa calodendron (Mimosaceae) são

as espécies de plantas mais abundantes em áreas de canga couraçada no Parque Estadual

Serra do Rola Moça (Vincent, 2004), o que explica a maior utilização destas duas

espécies como substrato de forrageamento. Já o fato de P. superciliaris forragear

principalmente em plantas abaixo de 1 m de altura, pode ser explicado pela baixa

estatura da vegetação local, geralmente inferior a 50 cm (Vincent, 2004).

Ridgely & Tudor (1994) relatam que a espécie desce ao solo ocasionalmente

para se alimentar. Este comportamento foi raramente observado, apenas durante

observações não sistematizadas. Entretanto, tal comportamento sempre objetivou a

recuperação de uma presa que caiu ao solo. Eventualmente, durante o forrageamento,

foram observadas pequenas “escalas” em rochas, de onde os indivíduos desferiam

ataques a presas localizadas em arbustos e orquídeas, sendo que em nenhuma ocasião os

ataques ocorreram diretamente ao solo. Portanto, este comportamento incomum deve

23

ser visto como uma recuperação de presa abatida e não como um deslocamento até o

solo com a finalidade de forrageamento.

As observações de aves registradas forrageando solitariamente podem ser

explicadas pelo fato de todos esses registros coincidirem com a estação reprodutiva e

um dos indivíduos estar incubando (obs. pessoal). Tal padrão de atividade foi

igualmente observado para duas outras espécies de Tyrannidae (Lopes, 2005).

Pela filogenia proposta por Birdsley (2002) Polystictus é grupo irmão de

Pseudocolopteryx, mas a posição sistemática desse grupo ainda não se encontra bem

resolvida. Na matriz apresentada pelo referido autor não constam dados acerca do

forrageamento de Polystictus, tendo a célula referente sido deixada em branco. Desta

maneira este trabalho representa uma contribuição que pode auxiliar na resolução da

complexa filogenia dos Tyrannidae. O gênero Pseudocolapterix é formado por espécies

consideradas especialistas “Perch-glean”, já o gênero Polystictus, baseado nas

informações obtidas para P. superciliaris, é uma espécie generalista que não se

enquadra em nenhuma das categorias utilizadas por Birdsley (2002) para análise

filogenética. Culicivora caudacuta, gênero que não foi incluído na análise de Birdsley

(2002), é considerado por Fitzpatrick (1980) e Sick (1997) como um provável substituto

geográfico de P. superciliaris. Estas espécies ocorrem em simpatria na área estudada,

sendo C. caudacuta uma espécie bastante rara no local (obs. pessoal). Os dados

disponíveis não permitem qualquer inferência sobre competição entre essas duas

espécies, embora as observações de campo indiquem que C. caudacuta se utiliza

principalmente dos campos sujos, enquanto que P. superciliaris faz uso preferencial de

afloramentos de canga couraçada e campos rupestres (Parker III & Willis, 1997; obs.

pessoal).

24

P. superciliaris exibiu uma dieta exclusivamente insetívora, fato já assinalado

por Vasconcelos (1999). Entretanto, a detalhada composição da dieta desta espécie só

pôde ser determinada por meio das análises de conteúdo estomacal de espécimes

coletados, pois a maioria das presas consumidas é normalmente imperceptível em

campo, devido ao seu tamanho diminuto. Merece destaque o fato de que não foi

encontrada nenhuma formiga em sua dieta, animais que constam como um dos

principais itens alimentares de muitas espécies da família Tyrannidae (Poulin et al.,

1994; Lopes et al., 2005). Este fato poderia ser explicado pela pequena abundância de

formigas em ambientes de canga couraçada (Lopes et al., 2000), o que não é

corroborado quando analisamos a dieta de Embernagra longicauda, uma espécie que

ocorre na área de estudos e apresenta formigas como um dos seus principais itens

alimentares (Dados não publicados).

CAPÍTULO 2

ÁREA DE VIDA E USO DE HABITAT

26

RESUMO. Os Tyrannidae formam um dos grupos mais abundantes e diversificados

dos neotrópicos. O conhecimento do tamanho da área de vida e uso de habitat de

espécies, é importante, pois pode ser utilizados para determinar a densidade de uma

população. O tamanho da sua área de vida pode ainda afetar a abundância e distribuição

local de predadores e presas. Polystictus superciliaris é uma espécie de distribuição

geográfica restrita às montanhas do leste do Brasil e pouco conhecida e de. O presente

trabalho tem por objetivos: 1) determinar o tamanho da área de vida de P. superciliaris

e a taxa de sobreposição entre áreas vizinhas; 2) investigar se há comportamento

agonístico pelo domínio de determinadas áreas; 3) e investigar o uso de habitat por P.

superciliaris. Este trabalho foi realizado entre abril e dezembro de 2005 no Parque

Estadual da Serra do Rola Moça, município de Nova Lima, Minas Gerais (20°03’S,

44°00’W). Para a demarcação das áreas de vida, cada indivíduo de P. superciliaris foi

marcado com uma combinação única de duas anilhas coloridas. Os indivíduos foram

acompanhados com o auxílio de binóculos e tiveram a sua localização marcada com o

auxílio de GPS, a cada deslocamento superior ou igual a10 m, e tiveram seu território

estimado pelo método do Mínimo Polígono Convexo. A fim de se investigar o uso de

habitat cada ponto tomado foi associado a uma diferente fitofisionomia, canga

couraçada, canga nodular ou manchas (conjunto de árvores e arbustos mais densos). O

tamanho médio da área de vida de P. superciliaris foi de 4,32 ± 1,2 ha variando entre

1,9 ha e 6,0 ha (n=12). Foi observada uma grande sobreposição entre as áreas de vida

dos casais/grupos 1,7 ± 1,2 ha (n=12). Interações agonísticas intraespecíficas foram

registradas em 22 ocasiões. Estas interações ocorreram principalmente nos limites das

áreas dos indivíduos envolvidos. Este estudo confirmou a correlação positiva entre o

tamanho da área de vida e massa corporal, quando comparado com outros Tyrannidae

de áreas abertas. Já as taxas de sobreposição se mostraram muito maiores quando

27

comparada às de outras espécies neotropicais. Foram feitos 147 registros da

fitofisionomia utilizada por P. superciliaris, que apresentou uma preferência aparente

pela canga couraçada onde concentrou suas atividades (84% dos registros). Dessa forma

este trabalho mostra a importância dos campos ferruginosos e afloramentos rochosos

para P. superciliaris, reforçando a necessidade de preservação desses ambientes. Além

de apresentar informações que possam ser de grande utilidade para propostas de manejo

da espécie.

Palavras-chave: Área de vida, ecologia comportamental, interações agonísticas.

28

ABSTRACT. Tyrant Flycatchers is one of the most abundant and species prone group

of Neotropical birds. The knowledge of the home range size and habitat use of a species

can be used to infer its population density. The home range size can also affect the local

abundance and distribution of predators and preys. The Gray-backed Tachuri

(Polystictus superciliaris) is a poorly known species, restricted to the mountain tops of

eastern Brazil. This study aims to: 1) estimate the home range size of the Gray-backed

Tachuri as well as its amount of overlap with the neighbor home ranges; 2) investigate

if there is any agonistic behavior between pairs for the domain of their home ranges, and

3) study habitat use by this species. This study was conducted between April and

December 2005 in the Parque Estadual da Serra do Rola Moça, Nova Lima, Minas

Gerais (20°03’S, 44°00’W). Color banded birds were observed with binoculars and their

location points were marked with a GPS. Home ranges were calculated by the minimum

convex polygon method. We recorded the vegetation type [classified in "canga nodular"

(grasslands growing over iron ore), "canga couraçada" (grasslands with iron ore

outcrops), and thickets] for each location point, using this variable as an estimate of

habitat use. Mean home range size was 4.32 ± 1.2 ha, ranging between 1.9 ha and 6.0 ha

(n=12). I observed a high overlap between neighbor pairs/groups (1.7 ± 1.2 ha, n=12).

Agonistic behavior was recorded in 22 occasions, and such interactions always occurred

near the borders of the home ranges studied. This study confirmed the correlation

between home range size and body mass of open area Tyrant Flycatchers. Gray-backed

Tachuri exhibited high overlap in neighbor home ranges when compared with other

Neotropical birds. This species concentrated its activity in the "canga couraçada" (84%

of the 147 location points), suggesting habitat selection. This study demonstrated the

importance of "canga couraçada" to the conservation of the Gray-backed Tachuri,

reinforcing the importance of this highly threatened Brazilian vegetation type. This

29

paper also presented life history data that could support management propositions for

this species.

Key words: home range, behavioral ecology, agonistic behavior.

30

INTRODUÇÃO

Os tiranídeos ou papa-moscas (Passeriformes: Tyrannidae) formam um dos

grupos de aves da região Neotropical mais diversificados em termos de número de

espécie (Sibley & Monroe Jr., 1990). O sistema social dos Tyrannidae, tanto em zonas

tropicais quanto em zonas temperadas, é de pares monogâmicos (Fitzpatrick, 2004).

Muitas das espécies tropicais não migratórias parecem viver o ano todo em pares ou em

pequenos grupos familiares defendendo suas áreas de vida e territórios (Fitzpatrick,

2004).

O conhecimento do tamanho de área de vida e uso de habitat das espécies, além

de ser utilizado para se determinar o tamanho e a densidade de uma população

(Carpenter, 1987), pode ser utilizado ainda como orientação para ações apropriadas de

manejo e conservação de espécies, como por exemplo para um pica-pau nos Estados

Unidos, Picoides borealis (Franzreb, 2006). As informações geradas a partir do

conhecimento da área de vida de uma espécie, como tamanho e densidade populacional,

podem servir também como base de dados para a aplicação de modelos matemáticos

que permitam o cálculo da viabilidade de populações ao longo do tempo, como

realizado para o gavião-real (Harpia harpyja) no México (CBSG, 2005). Neste contexto

para Polystictus superciliaris Wied, 1831, inexistem informações sobre tamanho de

território ou área de vida e uso de habitat. Desta forma o presente trabalho tem por

objetivo investigar o uso de habitat por P. superciliaris e averiguar se trata-se de uma

espécie territorialista.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

VIDE CAPÍTULO 1

31

Captura e marcação dos indivíduos

Os indivíduos foram capturados com o auxílio de redes de neblina (12 m de

comprimento e malha 36 mm) e de forma ativa, isto é, através do cerco e condução dos

indivíduos até a rede. Cada indivíduo capturado foi pesado com dinamômetro de

precisão de 0,1 g e marcado com anilhas metálicas fornecidas pelo Cemave/IBAMA e

uma combinação única de duas anilhas coloridas. Foi determinada uma cor de anilha

para cada par de P. superciliaris, e uma cor individual para cada indivíduo.

Demarcação das áreas de vida e taxa de sobreposição

As observações foram realizadas entre as 7 h e 11 h 30 min da manhã, quatro

vezes por semana, entre abril e dezembro de 2005.

Os indivíduos anilhados foram acompanhados pelo maior tempo possível com o

auxílio de binóculos (9 x 38). Para cada deslocamento igual ou superior a 10 m

registrou-se o ponto onde o indivíduo era observado, com o auxílio de um GPS (Garmin

eTrex Legend).

Os pontos externos registrados para cada área de vida foram interligados pelo

método do mínimo polígono convexo (Odum & Kuenzler, 1955). Foram realizados

registros subseqüentes até o momento em que a área acumulada dos áreas de vida

permanecesse constante. A taxa de sobreposição foi considerada a média da área

sobreposta entre todas as áreas mapeadas. Para o traçado dos polígonos, o cálculo do

tamanho da área de vida e da taxa de sobreposição foi utilizado o software Spring 4.0

(Camara et al., 1996).

Uso de habitat

Os polígonos das áreas de vida delimitadas foram sobrepostas a um mapa de

vegetação, sendo assim possível investigar o uso de habitat pela espécie. O mapa foi

32

confeccionado através da classificação de uma imagem de satélite Landsat 7 (órbita 218

ponto 074 do dia 26-06-2000; Bandas 30, 40 e 50) e por pontos tomados em

caminhadas com o auxílio de GPS. As diferentes fitofisionomias foram classificadas em

canga nodular, canga couraçada e em capões, que consiste em pequenas manchas com

vegetação arbustiva mais densa e elevada. Alguns pontos utilizados na demarcação das

áreas de vida foram escolhidos e associados a uma das diferentes fitofisionomias. Tal

procedimento levou em consideração apenas um ponto diário por casal, escolhido

aleatoriamente. Com a finalidade de investigar uma utilização não aleatória do habitat

por P. superciliaris ̧ confrontou-se o número de pontos registrados em cada uma das

fitofisionomias e o esperado, dado a proporção com que cada tipo de vegetação é

observado dentro das áreas de vida delimitadas.

RESULTADOS

Tamanho da área de vida e taxa de sobreposição

O tamanho médio da área de vida do P. superciliaris foi de 4,32 ± 1,2 ha

variando entre 1,9 ha a menor e 6,0 ha a maior (n=12) (Figura 1 e 2). Foi observada uma

grande sobreposição entre as áreas de vida dos casais/grupos. Estes apresentaram uma

sobreposição média de 1,7 ± 1,2 ha (n=12), variando entre 0,1 e 3,7 ha (Figura 3).

33

FIGURA 1. Área acumulada da área de vida de 12 casais de P. superciliaris

acompanhados no Parque Estadual Serra do Rola Moça, MG.

Área 3 Área 9 Área 11 Área 13

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240 260 280

N° de pontos acumulados

0

1

2

3

4

5

6

7

Área acumulada (ha)

Área 1 Área 2 Área 4 Área 5 Área 7 Área 8 Área 12 Área 14

0 20 40 60 80 100 120 1400

1

2

3

4

5

6

7

Área acumulada (ha)

34

Interações agonísticas

Interações agonísticas intraespecíficas foram registradas em 22 ocasiões (Figura

3). Estas interações ocorreram principalmente nos limites das áreas de vida dos

indivíduos envolvidos. Tais comportamentos ocorreram sempre após a invasão de um

casal à área de outro. Após a descoberta da presença dos intrusos, o casal da área

invadida se aproximava rapidamente dos invasores vocalizando intensamente. O

comportamento se caracteriza pela vocalização insistente, asas levemente abertas e para

baixo (quando pousado), vôos curtos de arbusto em arbusto, sempre em direção e sobre

o intruso, com batidas de asa emitindo um estalido. Em nenhuma ocasião foi observado

contato físico durante os confrontos.

Este comportamento na maior parte do período estudado envolve o casal, mas se

restringe a um único indivíduo durante a estação reprodutiva, período em que um

indivíduo, provavelmente fêmea apresenta um comportamento mais discreto e

praticamente não vocaliza.

Em algumas ocasiões foram observados dois indivíduos solitários em suas áreas,

vocalizando repetidamente ao longo de seus limites, confrontando com os casais

vizinhos. Já os casais, durante o forrageamento percorriam toda a extensão de suas

áreas, e quando chegavam a uma extremidade, vocalizavam e retornavam novamente

para o interior de seus limites. Quando estes indivíduos invadiam as áreas vizinhas,

estes o faziam de forma silenciosa e discreta. Em nenhuma ocasião foi observado

confrontos interespecíficos.

35

FIGURA 2. Áreas de vida de 14 casais de P. superciliaris demarcados no Parque Estadual Serra do Rola Moça, MG. Cada

polígono representa uma área de vida

36

FIGURA 3. Áreas de sobreposição entre as áreas de vida de 14 casais de P. superciliaris demarcados no Parque Estadual Serra

do Rola Moça, MG. Foram preenchidos os pontos de sobreposição de cada polígono, de acordo com o número de áreas

sobrepostas. As bandeirinhas indicam os pontos onde ocorreram conflitos entre indivíduos de áreas vizinhas.

37

Uso de habitat e mudança de áreas de vida

Foram feitos 147 registros da fitofisionomia utilizada por P. superciliaris. A

espécie apresentou uma diferença significativa no uso de habitat observado e o esperado

pela disponibilidade de cada fitofisionomia dentro de todas as áreas de vida delimitadas

(χ2 = 11,02, g.l .= 2, p < 0,01). Suas atividades se concentraram em área de canga

couraçada (84% dos registros). Três casais de P. superciliaris apresentaram áreas

ocupando exclusivamente ou em grande parte (>95%) formações de canga couraçada

(áreas 5, 6 e 10 na Figura 3). Os casais 2 e 9 apresentaram em suas áreas os maiores

percentuais de canga nodular (>45%), porém estas áreas aparentemente eram utilizadas

esporadicamente para alimentação e em busca de material para construção de ninhos.

Suas atividades ficavam concentradas em áreas de canga couraçada.

Nas extensas áreas de campo sujo, sobre canga nodular, a norte, sul e leste da

área estudada foram registrados apenas cinco outros casais (estrelas na Figura 2). Após

a estação reprodutiva de 2005, observou-se nas extremidades dessas áreas de campo

sujo sobre canga nodular a presença de indivíduos jovens de P. superciliaris, que foram

identificados por apresentarem uma cauda mais curta e a coloração da plumagem na

região do peito mais clara. Estes jovens muitas vezes eram observados em conflitos nos

limites de áreas já estabelecidas.

Em duas ocasiões foi observada a mudança de fêmeas de uma área para outra

área adjacente, pareando com os machos residentes. A primeira fêmea saiu de uma área

com 80% de canga couraçada para uma área de 100%, a segunda fêmea saiu de uma

área de 10% de canga couraçada para outra com 80%.

38

DISCUSSÃO

Polystictus superciliaris apresenta um sistema territorial anual, considerando o

período de estudos e observações ocasionais antes deste período. O sistema territorial

anual é um padrão comum entre Passeriformes insetívoros tropicais sendo ausente em

muitos passeriformes de zonas temperadas (Stutchbury & Morton, 2001).

São poucos os estudos sobre territorialidade de aves de ambientes abertos no

Neotrópico. Ribeiro et al. (2002) estimou em área de campo rupestre, o território de

dois casais de Knipolegus lophotes (Tyrannidae, 32g, х = 7,1ha). Para 11 casais de

Suiriri islerorum (Tyrannidae, 20,2 g) e 12 casais de Suiriri affinis (Tyrannidae, 21,6 g)

em área de cerrado típico, o tamanho médio dos territórios era 11,2 ha e 14 ha

respectivamente (Lopes & Marini, 2006). O território de um único casal de Neothraupis

fascciata (Thraupidae, 30 g), em área de cerrado típico, foi estimado em 4,3 ha (Alves,

1990). O tamanho do território de Phacellodomus rufifrons (Furnariidae, 24 g) foi

estimado em duas estações reprodutivas em 2,81 ha (n=10) e 4,05 ha (n=8) (Rodrigues

& Carrara, 2004).

Conforme Hinde (1956) o tamanho do território, onde o alimento é o principal

recurso defendido, pode apresentar uma relação com o tamanho da ave. Dessa forma

uma correlação positiva entre tamanho de território e massa corporal é esperada para

espécies com dietas similares (Schöener, 1968). O tamanho médio das áreas de vida de

P. superciliaris (4,32 ha) e de outras espécies de áreas abertas do Neotrópico, como

Suiriri islerorum (11,2 ha), S. affinis (14 ha), K. lophotes (7,1 ha) e Phacellodomus

rufifrons (4,32 ha) mostraram-se relacionados com suas respectivas massas corporais

(6,3 g, 20,2 g, 21,6 g, 32g, 24 g respectivamente), além de serem predadoras de insetos.

Estas espécies se uniram ao mesmo agrupamento que as espécies insetívoras analisadas

por Schöener (1968), corroborando suas conclusões.

39

Pequenas taxas de sobreposições entre áreas vizinhas foram observadas por

pesquisadores que estudaram Passeriformes neotropicais (Alves, 1990; Rodrigues &

Carrara, 2004; Faria, 2006; Lopes & Marini, 2006; Duca et al., no prelo). Polystictus

superciliaris, diferentemente, apresentou uma grande taxa de sobreposição (x = 1,7 ha)

entre áreas vizinhas. Essa taxa de sobreposição elevada pode estar relacionada aos

pontos extremos (“outliers”) obtidos quando da saída ocasional dos indivíduos

observados de suas áreas. Os comportamentos agonísticos ocorreram em áreas onde

ocorre sobreposição. Tais comportamentos ocorrem de acordo com a forma que o

invasor chega até a área vizinha. A invasão pode ser silenciosa, muitas vezes passando

despercebida, ou vocalizando e assim atraindo a atenção do dono da área invadida. Tais

comportamentos de forragear em áreas neutras e áreas vizinhas são características de

algumas espécies de aves que apresentam territórios do tipo A e B, e geralmente são

ignorados até que vocalizem (Lack, 1948; Hinde, 1956).

Conforme Stutchbury & Morton (2001) indivíduos de uma espécie podem trocar

de território em virtude de um melhor parceiro ou por uma área com melhor qualidade

de recursos. Foram registradas duas trocas de áreas por fêmeas de P. superciliaris.

Quando consideramos o percentual de canga couraçada na área anterior que estas

ocupavam e comparamos com a atual observamos que houve um acréscimo na área da

fitofisionomia de canga couraçada. Confirmando dessa forma a preferência de P.

superciliaris pela canga couraçada, igualmente evidenciada pela análise visual dos

dados de uso de habitat obtidos. Esta preferência mostra a importância dos campos

ferruginosos e afloramentos rochosos para P. superciliaris, reforçando assim a

necessidade de preservação desses ambientes.

Outros trabalhos com estimativas de área de vida para P. superciliaris são

desejáveis para que, em caso de necessidade de manejo da espécie, não sejam tomadas

40

medidas inadequadas, como por exemplo, a translocação de um número de indivíduos

maior do que uma eventual área receptora possa suportar. Tal observação advém do fato

de que nos campos rupestres os afloramentos rochosos, são muitas vezes pequenos (<

4,3 ha) e cercados por faixas de campo limpo (obs. pessoal). Logo, existe a

possibilidade da área de vida de P. superciliaris nessas áreas ser significativamente

maior do que as apresentadas neste estudo.

CAPÍTULO 3

BIOLOGIA REPRODUTIVA

42

RESUMO. Polystictus superciliaris é um pequeno Passeriforme (Tyrannidae) de 6,6 g,

é encontrado nos campos rupestres e em campos de altitude do leste do Brasil. É uma

espécie considerada ‘quase ameaçada’ de extinção e que vem sofrendo com a perda de

seu habitat em conseqüência de incêndios, mineração, conversão dos campos rupestres

em pastagens e especulação imobiliária. Praticamente inexistem informações sobre sua

biologia reprodutiva. Este estudo foi conduzido em área de campo ferruginoso no

Parque Estadual da Serra do Rola Moça, município de Nova Lima, MG, durante o

período de julho a dezembro de 2005. Os ninhos encontrados (n=21) foram monitorados

a intervalos entre 2 e 3 dias. A espécie apresenta um ninho em forma de cesto alto,

construído com fragmentos de gramíneas e aquênios de Asteraceae unidos por teias de

aranha. Os ninhos apresentaram em média as seguintes dimensões: diâmetro interno de

36,9 ± 3,5 mm; diâmetro externo de 56,0 ± 8,3 mm; profundidade da câmara oológica

de 40,9 ± 3,7 mm e altura de 64,7 ± 7,6 mm. A altura média em relação ao solo foi de

0,49 ± 0,13 m. O interior dos ninhos é revestido por uma grande quantidade de penas e é

apoiado pela base e algumas vezes pelas laterais, geralmente em forquilhas de arbustos.

A construção do ninho é realizada exclusivamente pela fêmea. O tamanho da ninhada

em todos os casos foi de dois ovos que são ovais de cor creme claro sem nenhum tipo

de mancha e de dimensões médias 15,4 ± 0,54 x 12,2 ± 0,46 mm. Os filhotes

apresentam o mesmo padrão de plumagem dos adultos sendo os tarsos e as penas do

peito e ventre em tons mais claros. A incubação é realizada exclusivamente pela fêmea,

sendo estimada em média, em 17,7 dias. Já os filhotes deixam o ninho em média após

16,4 dias

Palavras-chave: Tyrannidae, biologia reprodutiva, nidificação, canga.

43

ABSTRACT. The Gray-backed Tachuri is a small (6.6 g) Tyrant Flycatcher restricted

to the "campos rupestres" and "campos de altitude", two grasslands types found in the

mountaintops of eastern Brazil. This is a near-threatened species, mainly due to habitat

loss caused by annual burning, mining, urban expansion, and the implementation of

pastures of introduced grass species. There is almost no information on the breeding of

the Gray-backed Tachuri. This study was conducted in a "canga" area in the Parque

Estadual da Serra do Rola Moça, Nova Lima, MG, between July and December 2005.

Nests found (n=21) were monitored at intervals of 2-3 days. The nest of this species is a

high cup, constructed mainly with dry grass blades and Asteraceae achenes. A large

amount of spider web is used in nest constructing and anchoring. Nests are lined by

with a bulky of feathers and supported by its base and/or sides between branches of

small shrubs. Nests presented the following mean measurements: internal diameter 36.9

± 3.5 mm; external diameter 56.0 ± 8.3 mm; depth 40.9 ± 3.7 mm; and external high

64.7 ± 7.6 mm. Mean nest high in relation to ground was 0.49 ± 0.13 m. Nest building is

performed exclusively by the female. Clutch size is of two eggs, which are ovoid, light

cream, without any marking, measuring 15.4 ± 0.54 x 12.2 ± 0.46 mm. Incubation is

performed only by the female, lasting 17.7 days, and the nestling period is of 16.4 days.

Fledgling plumage is very similar to the adults, only differing in the coloration of its

tarsus, breast and belly feathers, which are slightly paler.

Key words: Tyrant Flycatchers, breeding biology, nest, canga.

44

INTRODUÇÃO

A família Tyrannidae é a maior família de aves das Américas sendo composta

por 429 espécies que apresentam uma grande diversidade de comportamentos e hábitos

(Fitzpatrick, 2004). A subfamília Elaeniinae, que possui o maior número de espécies

(133), é representada no Brasil por 79 espécies (CBRO, 2006). Informações detalhadas

sobre biologia reprodutiva, tais como intervalo entre postura, período de incubação,

período de ninhegos e cuidado parental, são conhecidos para apenas 12 destas espécies

(Fitzpatrick, 2004). Para 17 destas 79 espécies não se possui nenhum tipo de

informação, e para as outras espécies existem apenas informações pontuais (Fitzpatrick,

2004).

Para Polystictus superciliaris Wied, 1831, pertencente à subfamília Elaeniinae

(Tyrannidae) praticamente não existem informações sobre sua biologia reprodutiva. Há

apenas a descrição do ninho e ovos feita (Vasconcelos & Lombardi, 1996), sendo outros

aspectos de sua história natural praticamente desconhecidos.

A carência de informações básicas como biologia reprodutiva, muitas vezes

prejudica a tomada de decisões para se estabelecer um programa de manejo de qualquer

espécie. Considerando que a história natural é a principal fonte de informações, sobre

organismos vivendo sob condições naturais, e é o seu conhecimento que permitirá a

elaboração de questões precisas sobre o funcionamento da natureza, possibilitando o

desenvolvimento de estratégias de conservação e manejo de espécies (Bartholomew,

1986). Desta forma o objetivo deste trabalho é descrever alguns aspectos da biologia

reprodutiva de P. superciliaris, como: 1) período reprodutivo, 2) ninhos e ovos, 3)

tempo de incubação e 4) tempo de permanência dos filhotes no ninho.

45

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

VIDE CAPÍTULO 1

Captura e marcação dos indivíduos

VIDE CAPÍTULO 2

Procura e monitoramento dos ninhos

A procura por ninhos foi realizada entre julho e dezembro de 2005, a partir de

observações diretas das atividades dos adultos.

Todos os ninhos encontrados foram monitorados a cada dois ou três dias. Em

cada visita foi registrado o status do ninho (se ativo ou inativo), número de ovos e

ninhegos. Alterações no status do ninho entre duas visitas consecutivas (ex. postura de

ovos, eclosão, abandono do ninho, predação) foram assumidas como tendo ocorrido no

meio do período (Mason, 1985; Lopes & Marini, 2005a).

Para cada ninho encontrado, sempre que possível, foram medidos com

paquímetro o diâmetro interno, diâmetro externo, altura e profundidade de cada ninho.

A altura dos ninhos em relação ao solo e a altura do arbusto que os sustentavam foram

medidos com uma fita métrica. Foram medidos apenas os ovos que foram abandonados

e aqueles que não eclodiram.

O período de incubação foi definido como o tempo compreendido entre a

postura do último ovo e a eclosão do primeiro ovo (Perrins & Birkhead, 1983). O

período de ninhegos foi definido como o tempo decorrido entre a eclosão do primeiro

ovo até que o último ninhego deixasse o ninho. Para o cálculo do tamanho da ninhada

foram contabilizados somente os ninhos encontrados antes do início da incubação

(Lopes & Marini, 2005a).

46

Para a determinação do índice de sincronia reprodutiva foi utilizada a fórmula

proposta por Kempenaers (1993):

Onde:

F = Número total de Fêmeas reprodutivas

fi,p = Número de fêmeas férteis, excluindo a fêmea p no dia i.

Tp = Número de dias férteis para a fêmea p.

Para o cálculo, o número total de fêmeas reprodutivas considerado, foram todas

para as quais se conseguiu encontrar o ninho até a postura do primeiro ovo (n = 8).

O número de dias férteis para a fêmea pode ser calculado pela fórmula proposta

por (Birkhead & Møller, 1992), que considera o período de estocagem de esperma pela

fêmea:

DF = d + i + (c – i)

Onde:

d = período de estocagem de esperma viável

i = intervalo entre fertilização e oviposição de um ovo

c = número de dias entre a postura do primeiro e último ovo

A determinação deste período de estocagem de esperma (d) é muito difícil de ser

determinado para aves silvestres (in situ), podendo ser considerado o número de dias

entre a última copula observada e a postura dos ovos (Birkhead & Møller, 1992).

∑fi,p

Tp(F-1)

1 F

F

P=1

tp

i=1

SI = _ ∑ ______ . 100 [ ]

47

Considerando que não foi possível o registro de nenhuma copula de P.

superciliaris. O período de fertilidade foi considerado como seis dias antes da postura

do primeiro ovo até a postura do penúltimo ovo, que representa o período em que a

cópula tem as maiores probabilidades de fertilização (Birkhead et al., 1989), da mesma

forma como adotado por outras trabalhos com sincronia reprodutiva no neotrópico (e.g.

Moore et al., 1999).

RESULTADOS

Identificação dos sexos

Foram anilhados 9 casais de P. superciliaris. Embora P. superciliaris não possua

dimorfismo sexual, a determinação dos sexos foi possível devido a uma coincidência.

Em uma ocasião, um ninho foi encontrado no momento exato da postura do primeiro

ovo. Assustada com a presença do observador, a fêmea saiu do ninho e pousou em um

arbusto próximo, onde fez a postura do ovo. A incubação foi realizada exclusivamente

por este mesmo indivíduo, que foi observado várias vezes carregando material para a

construção de um segundo ninho, sem a ajuda do macho. Desta forma pode-se

determinar o sexo dos indivíduos que se encontravam anilhados baseado em seu

comportamento durante a construção do ninho e período de incubação.

Procurando ninhos

Os ninhos de P. superciliaris podem ser encontrados mais facilmente durante a

sua construção. Mesmo no período de construção, quando os indivíduos são mais

tolerantes à presença do observador, a procura é dificultada pelo pequeno tamanho dos

indivíduos e pela dificuldade de acompanhá-los em vôos longos, registrados somente

quando transportam material para construção do ninho ou alimento para os ninhegos. Já

48

durante a fase de incubação, é muito difícil de encontrar os indivíduos, pois a fêmea

praticamente não vocaliza, e se desloca para o ninho de forma muito discreta, sendo

muito difícil a percepção do momento em que esta pousa no ninho para incubar.

Devido a dificuldade de acompanhamento dos indivíduos pelo seu pequeno

tamanho, a alternativa encontrada foi de se determinar em que direção estes convergiam

com material ao longo do período de construção do ninho ou com alimento durante o

período de alimentação dos ninhegos. É muito próximo deste ponto que o ninho se

localiza, diminuindo dessa forma a extensão da área a ser procurada.

As fêmeas, quando estão em período de incubação e sob observação, pousam a

aproximadamente 6 m do ninho e ali permanecem imóveis e silenciosamente. Tal

comportamento é observado quando um indivíduo é surpreendido levando alimento

para os filhotes. Este mantém a presa segura no bico, não alimentando os filhotes antes

que o observador se afaste.

A observação das características acima torna a busca por ninhos de P.

superciliaris um pouco mais fácil. Utilizando as características comportamentais

descritas acima, foi possível a localização de 21 ninhos de 12 casais marcados e um de

um casal não marcado.

As principais evidências que levaram ao encontro dos ninhos foram:

acompanhamento da construção do ninho (12), convergência em um ponto do território

(1), fêmea chegando para incubar (6), encontro casual (2).

Descrição do ninho

O ninho da espécie é em forma de cesto alto em forquilha, conforme

nomenclatura para padronização na descrição de ninhos de aves neotropicais (Simon &

Pacheco, 2005). Os ninhos foram encontrados geralmente apoiados em forquilhas

49

formadas a partir de ramificações do tronco principal de arbustos de pequeno porte a

uma altura sempre inferior a 1 m (Figura 1, Tabela 1).

Os ninhos construídos eram compostos por fragmentos de folhas de gramíneas,

fragmentos de inflorescências de Asteraceae e folhas e ráquis de Mimosa calodendron

(Fabaceae: Mimosoideae). Os fragmentos vegetais utilizados na construção dos ninhos

eram fixados aos galhos suportes com teias de aranha e seda obtida de casulos de

borboletas. Por sua vez a câmara incubatória era revestida por uma grande quantidade

de penas de contorno e plumas. A coloração do ninho é marrom acinzentado, se

camuflando com a vegetação arbustiva da área estudada.

FIGURA 1. Ninho de Polystictus superciliaris

em forma de cesto alto em forquilha de uma

Stachytarpheta glabra. (Foto D. Hoffmann)

50

Espécie Vegetal Família Hábito Número de ninhos de P. superciliaris

Não identificados - - 3

Mimosa calodendron MIMOSACEAE arbusto 11

Lychnophora ericoides ASTERACEAE arbusto 3

Trixis vauthieri ASTERACEAE arbusto 2

Stachytarpheta glabra VERBENACEAE arbusto 1

Eriope macrostachya FABACEAE arbusto 1

Construção dos ninhos

A construção do ninho foi realizada exclusivamente pelas fêmeas. O macho se

restringia a acompanhar a fêmea, comportamento este denominado ‘guarda da fêmea’

(Rodrigues, 1998). Ele sempre permanecia alerta em volta da fêmea, e emitia sua

vocalização padrão quando notava a presença do observador, e esta se retirava

discretamente.

A construção dos ninhos foi observada mais ativamente após as 09h00min da

manhã e em uma ocasião foram registradas 4 visitas ao ninho com transporte de

material em 5 min, sempre ajeitando o material primeiramente com o bico e logo em

seguida moldando a câmara de incubação com o corpo. A construção dos ninhos no

início da estação reprodutiva (final de julho e agosto) levava mais tempo (13 a 24 dias,

N= 7) em relação ao término da estação reprodutiva (8 a 13 dias, N= 5). Para os ninhos

abandonados e/ou predados não foi observado reutilização de material.

Ovos

Foi observada uma variação na cor dos ovos de P. superciliaris que pdem ser

brancos ou até mesmo creme claros (Figura 2), não apresentando nenhum tipo de

TABELA 1. Espécies de plantas utilizadas por Polystictus superciliaris como suporte

dos seus ninhos.

51

mancha ou pontuações. Todos apresentavam um formato ovóide, sendo tomadas

medidas de sete ovos, dois de um ninho em atividade e outros cinco ovos que não

eclodiram e permaneceram no ninho até o seu abandono (Tabela 2).

Caráter Média ± DP (n)

Altura relação solo (m) 0,49 ± 0,1 (19)

Altura da planta (m) 0,68 ± 0,1 (16)

Diâmetro externo (mm) 56,04 ± 8,3 (17)

Diâmetro interno (mm) 36,95 ± 3,5 (17)

Altura do ninho (mm) 64,7 ± 7,6 (17)

Profundidade do ninho (mm) 40,91 ± 3,7 (17)

Comprimento dos ovos (mm) 15,41 ± 0,54(7)

Largura dos ovos (mm) 12,23 ± 0,46(7)

FIGURA 2. Ninho e ovos de Polystictus superciliaris. (Foto

D. Hoffmann)

TABELA 2. Média ± Desvio Padrão de diferentes caráteres

morfométricos dos ninhos e ovos de Polystictus superciliaris,

observados no Parque Estadual da Serra do Rola Moça, MG.

52

Foi observada a postura de dois ovos em 100% dos ninhos (n=21), em dias

alternados e pela manhã. Em duas ocasiões pôde ser registrada a postura dos dois ovos

com um intervalo praticamente exato de 48 h.

Incubação

A incubação de P. superciliaris é aparentemente sincrônica, sendo executada

exclusivamente pela fêmea. Em nenhuma ocasião foi observado o macho alimentando a

fêmea no ninho, tendo esta de interromper a incubação para se alimentar. A estimativa

do período de incubação para P. superciliaris foi de 17,7 ± 1,3 dias (n=9).

Em nenhuma ocasião foi permitida a aproximação do observador a 3 m do

ninho, sem que a fêmea que se encontrava incubando o abandonasse. O abandono do

ninho sempre era realizado de forma discreta e silenciosa, praticamente imperceptível.

Ninhegos

Os ninhegos nascem com os olhos fechados, cobertos por poucas penugens.

Apresentam comissuras labiais amareladas (Figura 3), interior da boca amarelo

alaranjado e pele rosada ou alaranjada clara. Os olhos dos ninhegos se abrem

aproximadamente após o oitavo dia de vida e estes permanecem no ninho em média

16,4 ± 1,3 dias (n=8). Após deixarem o ninho os filhotes podem ser distinguidos dos

pais por apresentarem a cauda mais curta e a coloração mais clara do peito (Fig 4) e do

tarso, características que desaparecem em cerca de duas semanas.

53

FIGURA 3. Ninhegos de Polystictus superciliaris apresentando

comissuras labiais amareladas. (Foto D. Hoffmann)

FIGURA 4. Jovem de Polystictus superciliaris logo após deixar o ninho. Note a coloração mais clara

do peito (a) em relação ao adulto (b). (Fotos D. Hoffmann)

b a

54

Cuidado parental

Ambos os adultos alimentam os ninhegos. Em nenhuma ocasião foi observada a

remoção das cascas de ovos e sacos fecais pelos adultos, porém há indícios de que

ocorra, pois os ninhos e a área abaixo deles sempre permaneciam limpos. Após

deixarem o ninho os filhotes foram observados sendo alimentados pelos adultos por até

34 dias. Para um casal de P. superciliaris foi observada a presença de um novo filhote

após 70 dias da saída dos primeiros ninhegos do ninho, e estes foram observados

vagando solitários por outros territórios adjacentes.

Múltiplas tentativas reprodutivas

Foram encontrados ninhos para12 dos 14 pares anilhados e um para o par não

anilhado. Destes pares monitorados, apenas cinco não apresentaram mais de uma

tentativa reprodutiva. Alguns casais (4) iniciaram a construção do seu primeiro ninho,

um mês após a localização do ninho dos primeiros casais a se reproduzirem.

O maior número de tentativas de reprodução registrado foi de três vezes ao

longo de três meses para casais que tiveram fracasso.

O início da construção de um novo ninho após a perda ou fracasso de um

anterior é praticamente imediata, tendo sido observado a construção de um novo ninho

em menos de 24 h após a predação.

Dois casais que apresentaram sucesso na primeira ninhada fizeram nova

tentativa. Um destes casais que teve seus filhotes anilhados (Território cinza, Figura 5),

foi observado 70 dias depois destes terem deixado o ninho, com um novo filhote. Os

filhotes permanecem com os adultos por volta de 35 a 45 dias após deixarem o ninho,

como evidenciado para um casal que fez uma nova tentativa reprodutiva, após expulsar

os filhotes de seu território. Um outro casal que não teve nenhum dos seus ninhos

55

encontrados, somente sendo visualizado acompanhado pelos filhotes, também

apresentou duas tentativas reprodutivas com sucesso em um intervalo de

aproximadamente 65 dias.

Sincronia reprodutiva

Dos 14 pares de P. superciliaris que foram acompanhados desde o início da

estação reprodutiva, acredita-se que a primeira tentativa de nidificação tenha sido

registrada para onze destes. Para os oito casais que o ninho foi encontrado antes da

postura do primeiro ovo não foi observada uma reprodução sincronizada (16,6%),

conforme o índice de sincronia (Kempenaers, 1993). Pela análise visual da Figura 5,

pode-se observar a assincronia na reprodução de P. superciliaris. Foi encontrado um

ninho já com ovos no final de julho, dois entre os dias 5 e 10 de agosto, cinco entre 15 e

25 de agosto e três entre 26 de agosto e 20 de setembro. A reprodução de P.

superciliaris continua até o mês de dezembro, sendo a última postura registrada para o

dia 23 de novembro. O último ninho ativo de P. superciliaris tornou-se inativo no dia 7

de dezembro (Figura 5).

FIGURA 5. Etapas da reprodução de Polystictus superciliosus no Parque Estadual da

Serra do Rola Moça no ano de 2005.

56

DISCUSSÃO

A melhor maneira de se localizar os ninhos de P. superciliaris, é seguir

ativamente os casais, sendo mais eficiente com o conhecimento prévio das delimitações

de seus territórios. Tal metodologia e sua eficácia é igualmente relatada em estudos com

a biologia de Suiriri affinis e S. islerorum (Lopes & Marini, 2005a).

Aparentemente P. superciliaris não apresentou uma preferência por uma espécie

de arbusto para nidificação, pois a maioria das plantas suportes de ninhos, são

considerados abundantes em áreas de canga (Vincent, 2004).

Os ninhos e ovos de P. superciliaris estudados são muito semelhantes ao

descrito por Vasconcelos & Lombardi (1996). De uma forma geral, os ovos de espécies

que nidificam em ninhos fechados apresentam cor branca como Hylocryptus rectirostris

(Furnariidae) (Faria, 2006), Synallaxis albescens e Certhiaxis cinnamomea (obs.

pessoal). Tal característica se deve por não necessitarem de camuflagem (Oniki, 1985).

Contrariando esta hipótese, esta coloração foi igualmente observada para P.

superciliaris e S. affinis (Lopes & Marini, 2005a) que apresentam ninhos abertos. Esta

característica não é compartilhada com outros Elaeniinae como Elaenia cristata, E.

obscura, E. spectabilis (obs. pessoal), E. chiriquensis (Surrage, 2004) e S. islerorum

(Lopes & Marini, 2005a) que apresentam ninhos abertos e ovos com manchas em suas

extremidades.

O período reprodutivo de P. superciliaris, assim como o apresentado por S.

affinis (Lopes & Marini, 2005a), é anterior ao início da temporada reprodutiva da

maioria dos Passeriformes na região sudeste do Brasil, que geralmente se inicia em

setembro e tem seu pico em novembro (Marini & Durães, 2001). De maneira similar,

outros Passeriformes comuns na área de estudo, como E. cristata (Tyrannidae) e

Zonotrichia capensis (Emberizidae), só iniciaram a sua reprodução no final de agosto

57

(obs. pessoal). Um dos principais fatores determinantes do início da reprodução para

muitas espécies no neotrópico é a disponibilidade de alimentos (Stutchbury & Morton,

2001). Porém este não parece ser o fator determinante para explicar o início antecipado

da reprodução de P. superciliaris. Espécies com dietas e comportamento de

forrageamento semelhantes, como Camptostoma obsoletum, teve um inicio tardio, com

pico de reprodução no final da estação seca e início da estação chuvosa (obs. pessoal)

coincidindo com período de maior disponibilidade de alimento nas regiões tropicais

(Poulin et al., 1992). A possível vantagem deste início antecipado seria a possibilidade

de realizar novas tentativas reprodutivas em caso de fracasso, ou até mesmo tentar uma

nova ninhada em caso de sucesso anterior.

P. superciliaris apresenta comportamento territorial (Capítulo 2), construção do

ninho realizado exclusivamente pela fêmea, postura de dois ovos, características

compartilhadas com outros representantes da subfamília Elaeniinae como Suiriri affinis

e S. islerorum (Lopes & Marini, 2005a), Elaenia chiriquensis (Surrage, 2004) e

Phaeomyias murinae (Fitzpatrick, 2004). Diferente por sua vez de Serpophaga munda,

que apresenta o envolvimento do casal na construção do ninho e postura de 2-3 ovos

(Fitzpatrick, 2004). O intervalo de dois dias entre a postura dos ovos para P.

superciliaris é considerado comum aos Tyrannidae tropicais (Fitzpatrick, 2004), tais

como S. affinis e S. islerorum (Lopes & Marini, 2005a). A incubação realizada

exclusivamente pela fêmea também é compartilhada com outras espécies da subfamília,

como por exemplo, Elaenia flavogaster, Tolmomyias sulphurescens (Fitzpatrick,

2004)(Fitzpatrick, 2004), S. affinis e S. islerorum (Lopes & Marini, 2005a).

Estudos com espécies que apresentam ninhos em formato de cesto e apoiados

pela base como S. affinis, S. islerorum (Lopes & Marini, 2005a) e E. chiriquensis

(Surrage, 2004) em cerrado do Brasil central revelaram certa diferença no período de

58

incubação e de permanência dos ninhegos em relação ao encontrado para P.

superciliaris. E. chiriquensis apresentou tanto o período de incubação (13 dias) quanto

o de ninhego (15 dias) inferior ao observado para P. superciliaris, já S. affinis e S.

islerorum apresentaram um período de incubação menor (15,2 dias) e uma permanência

maior dos ninhegos no ninho (18,9 e 18,3 dias).

Assim como P. superciliaris, outras espécies, como Elaenia chiriquensis, E.

flavogaster (Skutch, 1997), Myiozetetes cayanensis (Haverschmidt, 1971), Todirostrum

maculatum (Haverschmidt, 1955), Suiriri affinis e S. islerorum (Lopes & Marini,

2005a), apresentaram novas tentativas reprodutivas após o fracasso ou sucesso do

primeiro ninho. Tal comportamento é também observado em regiões temperadas, porém

mais incomum em virtude das estações reprodutivas mais curtas (Rodrigues & Crick,

1997).

Pela análise do índice de sincronia reprodutiva (Kempenaers, 1993) Polystictus

superciliaris apresentou uma reprodução não sincrônica. Característica esta considerada

comum para a maioria dos passeriformes tropicais, e esta baixa sincronia pode indicar

uma baixa freqüência de Fertilização Extra-Par (EPF), considerando que a sincronia

reprodutiva e a freqüência de EPF estão positivamente correlacionadas entre as espécies

(Stutchbury, 1998). Há uma grande carências de informações para espécies de regiões

tropicais sendo estas de grande importância para comparação (Fleischer et al., 1997).

Desta forma P. superciliaris pode ser um importante alvo de estudos.

Assim como para P. superciliaris para muitas outras espécies de Elaeniinae

existem poucas ou nenhuma informação de sua biologia reprodutiva. Os resultados

apresentados quando comparados a essas poucas informações existentes mostram haver

uma variação dentre os Elaeniinae entre os diversos aspectos analisados, não havendo

um padrão único para a subfamília. Desta forma ressalta-se a importância do

59

conhecimento de tais características que são fundamentais para o acompanhamento do

sucesso reprodutivo das espécies, que juntamente com o conhecimento do tamanho do

seu território fornecem subsídios para a elaboração de propostas de manejo e

conservação assim como a aplicação de modelos para o cálculo de viabilidade

populacional (e.g.Reed et al., 1986).

CAPÍTULO 4

SUCESSO REPRODUTIVO

61

RESUMO. Polystictus superciliaris é um passeriforme de família Tyrannidae pouco

conhecido e de distribuição geográfica restrita às montanhas do leste do Brasil. O

objetivo deste trabalho é avaliar o sucesso reprodutivo de P. superciliaris e determinar

as possíveis causas de fracasso. Este trabalho foi realizado entre julho e dezembro de

2005 no Parque Estadual da Serra do Rola Moça, município de Nova Lima, Minas

Gerais (20°03’07”S, 44°00’01”W). Todos os ninhos (n=21) encontrados foram

monitorados em intervalos entre 2 e 3 dias. Para cada visita foi determinado a fase do

ninho (ovo ou ninhego) e o seu status (ativo ou inativo), e em caso de inativo foram

observadas as possíveis causas, como predação (ninho destruído, total ou parcialmente;

ovos desaparecidos; ovos quebrados; ninhegos sem condições de deixar o ninho

desaparecidos), parasitismo (ausência de sinal de predação; constatação anterior da

presença de parasitas; presença de bernes no momento da constatação de morte) ou

abandonado (após 22 dias de ovos sem eclosão; e sem a constatação de adulto

incubando). Para as análises foi adotado o método de Mayfield, apresentando um

sucesso reprodutivo de 41,3%. Já o sucesso reprodutivo através de simples porcentagem

foi de 42,8%. A principal causa de insucesso foi a predação, registrada em 75% dos

casos, seguido da presença de parasitas (bernes) em 17% dos casos. A Taxa de

Sobrevivência Diária (TSD) no período de ovo e ninhego foi de 0,973 e 0,978

respectivamente. O sucesso reprodutivo apresentado por P. superciliaris foi semelhante

ao de outras espécies da família Tyrannidae do Neotrópico, que apresentam ninhos

abertos.

Palavras-chave: Polystictus superciliaris, Tyrannidae, sucesso reprodutivo, Mayfield.

62

ABSTRACT. The Gray-backed Tachuri Polystictus superciliaris is a little known

Tyrant Flycatcher restricted to the mountaintops of eastern Brazil. This paper aims to

evaluate the reproductive success of this species, investigating possible causes of nest

loss. Field work was conducted between July and December 2005 in the Parque

Estadual da Serra do Rola Moça, Nova Lima, Minas Gerais (20°03’07”S, 44°00’01”W).

Nests found (n=21) were monitored at 2-3 days intervals. In each nest visit we recorded

its status and, when inactive, the possible cause of loss, such as predation (nest

damaged, eggs absent or broken, nestlings absent before reached a stage of development

sufficient for them to leave the nest), parasitism (absence of signals of predation,

nestlings heavily parasitized, presence of botfly larvae in the nest) or abandonment

(eggs did not hatched after 22 days and no signals of adult birds incubating). Of the 21

nests monitored, only 42.8% were successful. The reproductive success calculated by

the Mayfield method was 41.3%, with a daily survival rate of 0.973 and 0.978 during

the egg and nestling periods, respectively. The majority of nests losses were due to

predation (75%), with a small percentage of losses (17%) due to botfly larvae (Philornis

sp.) parasitism. In only one nest the eggs failed to hatch. The reproductive success of

the Gray-backed Tachuri was similar to that recorded by other species of Neotropical

Tyrant Flycatchers that construct open nests.

Key words: Gray-backed Tachuri, Polystictus superciliaris, Tyrant Flycatchers,

reproductive success, Mayfield.

63

INTRODUÇÃO

Para muitas espécies neotropicais o conhecimento de aspectos de sua história de

vida e sucesso reprodutivo são muito limitados (Martin, 1996). O sucesso reprodutivo

das aves pode estar associado a muitos fatores freqüentemente desconhecidos para

muitas espécies (Mason, 1985). Entre tais fatores destacam-se as limitações na

disponibilidade a disputa por alimento que moldam a história de vida e a organização

reprodutiva das aves (MacArthur, 1972), e a predação, considerada como uma

importante força seletiva no processo reprodutivo das aves (Mezquida & Marone,

2001).

São poucos os trabalhos conduzidos para o bioma cerrado, o qual P.

superciliaris habita. Parte deles apresentam um pequeno tamanho amostral (e.g. Alves

& Cavalcanti, 1990; Marini, 1992; Amaral & Macedo, 2003), com exceção dos

trabalhos realizados com Columbina talpacoti (Cintra, 1988), Suiriri affinis, S.

islerorum (Lopes & Marini, 2005b) e Elaenia chiriquensis (Surrage, 2004). Tais

trabalhos tem demonstrado que a predação é uma das principais causas de perda de

ninhos de outras espécies de aves no bioma cerrado.

O conhecimento de aspectos da biologia reprodutiva (Capítulo 3) e o sucesso

reprodutivo das espécies são importantes para estimar o seu tamanho populacional e a

sua viabilidade ao longo do tempo. Estas informações podem ajudar a determinar se

uma espécie se enquadra em uma categoria de ameaça ou até mesmo mudá-la de

categoria. Muitas espécies, como é o caso de P. superciliaris, são classificados com

relação ao grau de ameaça apenas com base em informações referentes à sua

distribuição.

Este trabalho objetiva apresentar pela primeira vez informações sobre o sucesso

reprodutivo de P. superciliaris.

64

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

VIDE ÁREA CAPÍTULO 1

Procura e monitoramento dos ninhos

VIDE CAPÍTULO 3

Análise de dados

Polystictus superciliaris apresenta um intervalo médio entre a postura dos ovos

de dois dias e os incuba de forma sincrônica (Capitulo 3). Para facilitar as análises do

sucesso reprodutivo, o período entre a postura do primeiro e o segundo ovo (2 dias) foi

somado ao período médio de incubação (17,7 dias), perfazendo o intervalo entre a

postura e eclosão do primeiro ovo (média de 19,7 dias). O período de ninhego

considerado foi de 16,4 dias englobando o período decorrido entre o nascimento do

primeiro filhote e a saída do último filhote do ninho. Todos os ninhos que foram

encontrados vazios sem sinais de predação (presença de penas, sangue ou danos nas

estrutura) após o 14° dia de ninhego, foram considerados como bem sucedidos. Os

ninhos nos quais os ovos e filhotes desapareceram, antes que pudessem deixar o ninho,

foram considerados predados. Filhotes encontrados mortos e parasitados por larvas

intradérmicas de Díptera, tiveram sua morte atribuída aos parasitas, quando da ausência

de qualquer outro vestígio de predação.

O sucesso reprodutivo foi calculado por meio da porcentagem simples de ninhos

bem sucedidos e pelas taxas de sobrevivência diária do ninho (TSD) durante os períodos

65

de ovo e de alimentação dos filhotes segundo (Mayfield, 1961, 1975). O método de

Mayfield calcula a taxa de sobrevivência diária a partir do número de dias observados:

(1) TSD Ovos ou Ninhego = 1-(N° de ninhos perdidos / N° de dias-ninho ovos ou ninhegos)

Informação que se elevada a uma potência igual ao número de dias necessários

para completar o período de incubação ou dos ninhegos deixarem o ninho, teremos as

taxas de sobrevivência ao longo de cada um desses períodos (TSP):

(2) TSP Ovos ou Ninhego = (TSD Ovos ou Ninhego) TEMPO ovo ou ninhego

O sucesso reprodutivo é obtido pela:

(3) TSP ovo * TSP Ninhego

Isso determina qual a probabilidade de um ninho dar origem a um filhote bem

sucedido ao final do ciclo do ninho.

Além do sucesso reprodutivo foi calculado para P. superciliaris a produtividade

anual de filhotes na área estudada, que somente foi possível em virtude do

conhecimento e demarcação de todas as áreas de vida (Capítulo 2):

(4) N° de filhotes que deixaram o ninho / N° total de casais ou pares

reprodutivos

As diferenças entre TSD dos períodos de ovo e ninhego foram testadas usando o

método proposto por Hensler & Nichols (1981)

RESULTADOS

Foram monitorados 13 casais/pares reprodutivos e 21 ninhos de P. superciliaris.

Um outro ninho foi encontrado aparentemente pronto para a postura, porém este, na

revisão seguinte, apresentou-se destruído, não sendo possível determinar se neste

intervalo de tempo entre monitoramento e a predação ocorreu a postura de algum ovo.

Nove dos 21 ninhos monitorados apresentaram sucesso (42,8%), produzindo 16 filhotes.

66

Pelo método de Mayfield a probabilidade de sucesso reprodutivo para P. superciliaris

foi de 41,3%. Dos doze ninhos de P. superciliaris perdidos (57,1%), oito foram em

período de ovo (66,7%) e quatro em período de ninhego (33,3%) (Tabela 1). Em nove

ocasiões (42,8%) as perdas de ninhos foram em virtude de predação (seis em período de

ovo e três em período de ninhego), duas ocasiões por parasitismo (larvas de moscas) e

uma ocasião por abandono. P. superciliaris não apresentou diferença significativa entre

as TSD de ovo e a TSD de ninhego (97,3% e 97,8% respectivamente) ( Z = 0,32 e P =

0,75).

Período N° dias

ninho

N° de

perdas TSD ± DP TSP ± DP

Ovos 306,5 8 0,973 ± 0,009 0,592 ± 0,110

Ninhego 185 4 0,978 ± 0,010 0,698 ± 0,126

Em apenas um dos casos de perda de ninhadas por parasitas foi possível a

constatação prévia da presença dos parasitas (Figura 1), sendo o segundo caso somente

confirmado após os filhotes terem sido encontrados mortos no ninho com uma grande

quantidade de larvas saindo de seu ventre. Todos os ninhos que apresentaram sucesso

tiveram seus filhotes observados pelo menos uma vez juntamente com os adultos em

seus respectivos territórios. Tais filhotes permaneceram na presença dos adultos por

pelo menos 35 dias.

A produtividade anual de filhotes de P. superciliaris na área de estudo foi de 1,4

filhotes por par reprodutivo. Um casal obteve sucesso em duas ninhadas (dois filhotes e

um filhote respectivamente) sem que seus ninhos fossem localizados, um segundo casal

TABELA 1. Média ± Desvio Padrão da Taxa de Sobrevivência

Diária (TSD) e Taxa de Sobrevivência por Período (TSP) de

Polystictus superciliaris.

67

FIGURA 1. Ninhegos de Polystictus superciliaris parasitados por

larvas de moscas, indicados pelas setas. (Foto D. Hoffmann)

que teve o seu primeiro ninho monitorado e teve seus filhotes anilhados, após um certo

período (35 dias) apresentou um novo filhote, sendo que este ninho não foi localizado.

Dessa forma na área de estudo foram registrados 14 pares reprodutivos, e um total de 20

filhotes, destes, 16 de ninhos monitorados e quatro de ninhos que não foram

encontrados.

68

DISCUSSÃO

A revisão de vários estudos com sucesso reprodutivo da família Tyra nnidae

apresentado por Lopes & Marini (2005b) revela um sucesso reprodutivo médio por

porcentagem simples de 43,6% muito próximo ao apresentado por P. superciliaris.

Os referidos autores não encontraram diferenças entre o sucesso reprodutifo de

Tyrannidae que construam ninhos abertos ou fechados.

Na Argentina foi registrada uma grande amplitude no sucesso reprodutivo de

Tyrannidae como Serpophaga griseiceps (15,6%) e Xolmis coronata (79,5%) por

porcentagem simples (Mezquida & Marone, 2001). Desta forma P. superciliaris

apresentou um sucesso reprodutivo intermediário ao apresentado para essas duas

espécies de Tyrannidae e relativamente próximo ao apresentado por outros Tyrannidae

(40%-80%) de regiões temperadas (Ricklefs, 1969; Martin, 1993).

São poucos os estudos conduzidos no Neotrópico que utilizaram o método

proposto por Mayfield. Em um estudo com Elaenia chiriquensis, Surrage (2004)

registrou uma TSD de ovo de 0,948 e de 0,944 para ninhegos, com um sucesso

reprodutivo de 21%, inferior ao observado para P. superciliaris. Cintra (1988)

encontrou para Columbina talpacoti TSD de 0,956 e 0,962 para ovos e ninhegos

respectivamente. Ambos os trabalhos apresentaram TSD inferiores às observadas para

P. superciliaris e apresentaram igualmente uma TSD de ninhegos maior em relação à

TSD de ovos. Lopes & Marini (2005b) também observaram para Suiriri affinis e S.

islerorum uma TSD de ovo maior que de ninhego.

Não houve diferença muito grande entre o sucesso reprodutivo de P.

superciliaris quando calculados pelos métodos de Mayfield (41,8%) e de porcentagem

simples (42,3%). Isto se deve ao fato que 95% dos ninhos monitorados foram

encontrados em fase de construção ou início de incubação, evitando uma

69

superestimativa por porcentagem simples e reduzindo a diferença entre os dois métodos

(Mayfield, 1961, 1975).

A predação foi o principal fator na perda de ovos e ninhegos nos ninhos de P.

superciliaris (75% dos ninhos perdidos em fase de ovo e ninhego). Assim como o

sucesso reprodutivo, a taxa de predação (42,8%) foi muito próxima ao das espécies de

regiões temperadas (Martin, 1993). Esta taxa de predação, mesmo no Neotrópico, pode

variar de acordo com o habitat, período do ano e possívelmente a altitude (Stutchbury &

Morton, 2001), o que poderia explicar a grande semelhança com o sucesso reprodutivo

e taxa de predação de regiões temperadas. Porém estes resultados são oriundos de um

pequeno “n” amostral (n=21) e de uma única estação reprodutiva, podendo a espécie

apresentar uma variação no sucesso reprodutivo ao longo dos anos de acordo com as

variações ambientais.

Dos ninhos perdidos em fase de ninhegos, 50% foram em virtude da presença de

larvas de Philornis sp. Outras espécies de aves na área de estudos também apresentaram

a presença de larvas: canário-rabudo (Embernagra longicauda), tico-tico (Zonotrichia

capensis) e o bico-de-veludo (Schistochlamys ruficapillus) (obs. pessoal). A perda de

ninhadas em virtude da presença de parasitas também foi observada para S. affinis, S.

islerorum e Sublegatus modestus (Lopes & Marini, 2005b). Desta forma, o parasitismo

de aves merece maior atenção, pois o seu impacto sobre o sucesso reprodutivo é

aparentemente tão grande senão maior que a taxa de predação.

Polystictus superciliaris mesmo sendo uma espécie restrita aos afloramentos

rochosos de topos de montanhas (acima de 900m de altitude), e considerada ‘quase

ameaçada’ de extinção (BirdLife, 2004), aparenta ser uma espécie com certa tolerância

aos distúrbios do habitat, pois foi registrada em vegetações arbustivas em torno de

minas desativadas (M.F.V, com. pessoal), ao lado da estradas como a que corta o

70

Parque Estadual da Serra do Rola Moça e também nidificando ao lado de uma trilha por

onde costumam passar ciclistas, motoqueiros e jipeiros (obs. pessoal).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

72

Tendo em vista a carência de informações básicas acerca da biologia de muitas

espécies de aves do Neotrópico, este trabalho apresentou informações inéditas sobre a

biologia de Polystictus superciliaris, como:

- comportamento de forrageamento e dieta – revelou que P. superciliaris é uma

espécie de dieta exclusivamente insetívora e de comportamento de forrageamento

generalista. Estas características permitem que P. superciliaris tenha uma plasticidade

ambiental maior em relação a outras espécies com dietas e comportamentos de

forrageamento especializados.

- área de vida e uso de habitat – a espécie apresentou uma área de vida

relativamente grande em relação ao seu tamanho, com altas taxas de sobreposição. O

conhecimento do tamanho da área de vida é uma informação muito útil para

determinação de estimativas populacionais. Considerando a grande taxa de sobreposição

apresentada pela espécie, sugere-se para estudos futuros com fins de comparação, a

utilização de outros métodos para o cálculo e avaliação do tamanho da área de vida de

P. superciliaris. A determinação do tamanho de sua área de vida em outros ambientes

como os campos rupestres também é desejável, considerando que o a espécie se utiliza

preferencialmente dos afloramentos rochosos e entre eles muitas vezes ocorrem faixas

de campo limpo, podendo sua área de vida ser maior. Essa preferência aparente por

afloramentos rochosos limita a distribuição da espécie. Novos estudos com um “n”

amostral maior e metodologias mais adequadas são desejáveis para determinar se a

espécie é realmente estreitamente relacionada com afloramentos rochosos.

- biologia reprodutiva e sucesso reprodutivo – Polystictus superciliaris mostrou

ser uma das primeiras espécies a se reproduzir e com múltiplas tentativas reprodutivas,

apresentando ainda um sucesso maior do que o de muitas espécies do Neotrópico. Estas

características aliadas ao sucesso reprodutivo, são de grande importância para a

73

conservação, pois permitem avaliar em quanto tempo a espécie pode repovoar

determinada área, além de servir como meios para o cálculo de viabilidade de

populações. A sincronia reprodutiva também é um importante ponto de novos estudos

para comparação com espécies de regiões temperadas, para se entender como a ecologia

afeta dos sistemas sociais das espécies.

O conjunto de todos esses dados é apenas o ponto de partida para novos estudos.

Estudos que até então seriam impossíveis de serem desenvolvidos devido à carência de

informações básicas sobre a espécie. Carência esta enfrentada ainda para a grande

maioria das espécies brasileiras.

74

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