Universidade Federal de Minas Gerais Faculdade de Letras · Os manuais prescritivistas da língua...
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Universidade Federal de Minas Gerais
Faculdade de Letras
A ORDEM DOS CLÍTICOS EM COMPLEXOS VERBAIS:
UMA ANÁLISE SOCIOLINGUÍSTICA DE CARTAS MINEIRAS
Jacqueline Calisto Costa
Orientadora: Prof. Dr.a Márcia Cristina de Brito Rumeu.
Belo Horizonte
2014
2
Jacqueline Calisto Costa
A ORDEM DOS CLÍTICOS EM COMPLEXOS VERBAIS:
UMA ANÁLISE SOCIOLINGUÍSTICA DE CARTAS MINEIRAS
Monografia apresentada ao Colegiado de Graduação da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais como requisito parcial para a obtenção do título Bacharel em Letras (Habilitação em Português/Estudos Linguísticos). Orientadora: Prof. Dr.a Márcia Cristina de Brito Rumeu.
Belo Horizonte
2014
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AGRADECIMENTOS
Primeiramente, gostaria de agradecer a Deus por ter me dado sabedoria, persistência e companhia
nos momentos mais difíceis. Não foi um ano fácil, mas mesmo com os constantes obstáculos, o Senhor
me mostrou o caminho da serenidade e que tudo é possível.
Aos meus pais, Renata e Pedro que me ajudaram me dando forças e não deixando que eu desistisse
em momento algum, pelo contrário, me mostraram que por meio das dificuldades conseguimos vencer
nossos medos e anseios. Obrigada por estarem sempre ao meu lado, sendo meus alicerces, minha base.
Obrigada pelo esforço e por terem me acompanhado nessa incrível jornada que é a vida.
A minha avó, Maria de Lourdes, que rezou por mim mesmo que distante e me ajudou com palavras,
acalmando meu coração e me mostrando ser paciente.
Ao meu namorado Henrique, que sempre esteve ao meu lado e me incentivou, dentre tantas outras
coisas, a dedicar-me aos estudos. O amor que nos une ultrapassa a distância física que há entre nós, sei
que estamos juntos no coração e no pensamento. Obrigada por me ouvir e apoiar sempre que necessário.
Obrigada por me mostrar que a cada dia seria um novo dia e tudo ficaria bem.
A Raquel, minha amiga, pelo companheirismo, amizade, apoio, atenção. Por estar comigo nestes
momentos inesquecíveis, por não me deixar desistir e por estar sempre presente na minha vida,
independente das dificuldades.
Sou muito grata a Márcia Rumeu, minha orientadora, pela perfeita orientação e dedicação, que me
ajudou nesses dois semestres, me orientando e me guiando para o melhor caminho. Obrigada por ter me
ensinado tantas coisas em tão pouco tempo, obrigada pela paciência, pela responsabilidade, pelos
conselhos. Deixo meu muito obrigada, de forma especial, pelo incentivo e por despertar em mim um novo
conhecimento.
Por fim, agradeço a todos os meus amigos e amigas que rezaram, me apoiaram e torceram por mim,
para que tudo no final saísse da melhor forma possível. Tenho certeza que muitos que não foram citados
contribuíram para minha caminhada e deixo aqui meu carinhoso agradecimento. Obrigada!
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RESUMO
A ORDEM DOS CLITICOS EM COMPLEXOS VERBAIS:
UMA ANÁLISE SOCIOLINGUÍSTICA DE CARTAS MINEIRAS
Jacqueline Calisto Costa
Orientadora: Prof. Dr.a Márcia Cristina de Brito Rumeu.
Este estudo assume como tema principal a descrição-analítica dos padrões de ordenação dos clíticos
nos complexos verbais de cartas mineiras novecentistas. À luz das orientações teórico-metodológicas da
Sociolinguística quantitativa de base Laboviana, cf. Labov (1994), são expostas as frequências de uso das
formas variantes Pré-CV (se deve viver), Pós-CV (deve viver-se) e Intra-CV com e sem hífen (deve-se
viver / deve se viver), correlacionadas a fatores linguísticos e extralinguísticos. Embasada em cartas
amorosas, de amizade e familiares confeccionadas por brasileiros, entre 1900 e 1999, esta análise partiu
da hipótese de que o padrão Intra-CV sem hífen (deve se viver), estratégia de ordenação de clíticos
legitimamente brasileira, cf. discutido por Galves (1998), Vieira (2002), predominaria nas cartas mineiras
novecentistas. Apesar da constatação de um diversificado panorama de ordenação dos clíticos nas lexias
complexas, foi infirmada a hipótese central deste trabalho, visto que o padrão Pós-CV (deve viver-se) ter
prevalecido nas epístolas novecentistas. Nesse sentido, as missivas trocadas entre os mineiros
evidenciaram-se conservadoras, tendo em vista o alto nível de espelhamento entre os critérios de
colocação dos pronomes átonos prescritos pela tradição gramatical e as formas variantes de disposição
dos clíticos no interior dos complexos verbais.
Palavras-chave: clíticos pronominais, variação, complexos verbais.
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ABSTRACT
A ORDEM DOS CLITICOS EM COMPLEXOS VERBAIS:
UMA ANÁLISE SOCIOLINGUÍSTICA DE CARTAS MINEIRAS
Jacqueline Calisto Costa
Orientadora: Prof. Dr.a Márcia Cristina de Brito Rumeu.
This study focuses onthe analytical description of the ordering pattern of clitics in verbal complexes (VC)
from 19th-century letters from Minas Gerais. Under the light of the theoretical and methodological
orientations from Labov’s quantitative Sociolingusitics cf. Labov (1994), we present the frequencies of
use of the variants Pre-VC (se deve viver), Post-VC (deve viver-se) and Intra-VC (deve-se viver / deve se
viver), correlated to linguistic and extralinguistic factors. Based on love, friendly and family letters
written by Brazilians between 1990 and 1999, this analysis set off from the hypothesis that the Intra-VC
pattern with no hyphen (deve se viver), an originally Brazilian strategy for the ordering of clitics, would
prevail on the letters. Despite the observation of a diverse outlook on the ordering of the clitics in
complex lexias, the central hypothesis of this study was confirmed, since the Post-VC pattern (deve viver-
se) prevailed in the 19th-century epistles. In this sense, the letters exchanged between natives from Minas
Gerais were found to be conservative, taking into account the high level of mirroring between the criteria
of collocation of the unstressed pronouns set by grammar tradition and the variants of clitics disposition
inside the verbal complexes.
Keywords: pronominal clitics, variation, verbal complexes.
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SUMÁRIO
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ....................................................................................................................... 07
2. REVISÃO HISTÓRICO-DESCRITIVA .............................................................................................................08
2.1 A ordem dos clíticos à luz da gramática tradicional da língua portuguesa. ............................... 08
Síntese do pensamento normativista sobre a colocação pronominal na língua portuguesa ............. 17
2.2 A ordem dos clíticos no português brasileiro: as perspectivas das gramáticas descritivas. ........18
Síntese do pensamento descritivista sobre a colocação pronominal no português brasileiro. ......... 20
2.3 A ordenação dos clíticos no português brasileiro: alguns resultados de análises sociolinguísticas
contemporâneas. ............................................................................................................................... 20
Síntese das análises linguísticas contemporâneas acerca da colocação pronominal em lexias
complexas no português brasileiro escrito ....................................................................................... 26
3. PRESSUPOSTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS: O ESTUDO SOCIOLINGUÍSTICO ............................................. 27
4. OS CORPORA ............................................................................................................................................ 29
5. DISTRIBUIÇÃO GERAL DOS DADOS DE CLÍTICOS PELAS LEXIAS COMPLEXAS: A PREVALÊNCIA DA ORDEM
PÓS-CV (V1 V2 CL) NAS CARTAS MINEIRAS NOVECENTISTAS .................................................................... 30
5.1 Os padrões de ordenação dos clíticos pronominais pelos tipos de complexos verbais .............. 33
5.2 Os padrões de ordenação dos clíticos pronominais em relação a forma do verbo principal (V2):
a produtividade da ordem Pós-CV (V1 V2 cl) com V2 no infinitivo. ............................................. 36
5.3. Os contextos precedentes à ordem Pré-CV (cl V1 V2) nos complexos verbais ........................ 38
5.4 Os padrões de ordenação em relação aos tipos de clíticos nos complexos verbais .................... 40
5.5 Presença/ausência de elemento interveniente no complexo verbal ............................................ 42
5.6 Os padrões de ordenação dos clíticos em complexos verbais nas cartas íntimas e pessoais ...... 43
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................................................... 45
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................................................. 46
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1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Neste trabalho monográfico, temos o objetivo principal de descrever analiticamente os padrões de
ordenação de clíticos em complexos verbais nas cartas mineiras novecentistas à luz das orientações
teórico-metodológicas da sociolinguística quantitativa de base Laboviana, cf. Labov (1994).
Compreendemos por complexo verbal ou lexia complexa as estruturas formadas por duas ou mais formas
verbais que, apesar de sintatica e semanticamente unidas, licenciam a mobilidade do clítico que pode ser
anteposto ao verbo auxiliar (Pré-CV/cl V1 V2 (se deve viver)), pode ser interposto ao complexo verbal
com ou sem hífen (Intra-CV/V1-cl V2 (deve-se viver) ou V1 cl V2 (deve se viver)) e pode ser posposto ao
verbo principal (Pós-CV/V1 V2 cl (deve viver-se)). Uma vez assumido o que entendemos por complexo
verbal, passemos à exposição dos objetivos específicos deste trabalho monográfico. São eles: (I) Verificar
o nível de espelhamento dos padrões de ordenação de clíticos observados na escrita mineira novecentista
em relação às regras de colocação pronominal ditadas pela prescrição gramatical; (II) Interpretar se a
dinâmica de expressão dos clíticos nas lexias complexas evidencia a norma lusitana ou brasileira da
língua portuguesa.
Mediante a ampla diversidade de trabalhos que assumiram os padrões de ordenação dos clíticos
também como foco de análise nas lexias complexas, seja na perspectiva gerativa em que se admitem
gramáticas em competição (Galves, Brito, Paixão de Sousa, 2005; Martins, 2009; Martins, 2010; Carneiro
e Galves, 2010), seja na perspectiva sociolinguística (Pagotto, 1999; Vieira, 2002; Duarte e Pagotto,
2005; Biazolli, 2010; Cavalcante, Duarte e Pagotto, 2011; Peterson e Vieira, 2012; Nunes e Vieira, 2013),
investimos esforços numa descrição-analítica das possibilidades de ordenação de clíticos em lexias
complexas com base em amostras de cartas de circulação privada, cf. Barbosa (1999), ‒ íntimas
(amorosas) e pessoais (familiares e de amizade) ‒ produzidas por mineiros no decorrer do século XX
(1917-1999). Ao percebermos que as cartas mineiras de circulação privada pareciam ainda não haver
subsidiado análises linguísticas acerca da ordem dos clíticos pronominais em complexos verbais,
entendemos que tais cartas recuadas a uma sincronia passada (século XX) justificam o tema deste
trabalho. Investigamos, com base nessas epístolas mineiras de circulação privada, a dinâmica de variação
dos padrões de colocação do clíticos à luz da hipótese de que o padrão de ordenação intra-CV (V1 cl V2)
já se sobrepusesse, no século XX, como evidência da língua-I brasileira, cf. discutido por Galves (1998).
Este trabalho está organizado em seis seções. Inicialmente, apresentamos e justificamos o tema em
discussão (padrões de ordenação de clíticos em lexias complexas), além de expormos o objetivo principal
e os objetivos específicos. Na revisão histórico-descritiva, partimos dos critérios gramaticais norteadores
da colocação pronominal tanto em lexias simples, quanto em lexias complexas, passamos pela perspectiva
descritivista e trazemos à discussão os resultados de somente alguns dos trabalhos que sob a perspectiva
da sociolinguística enfocaram as possibilidades de disposição dos clíticos nos complexos verbais no
português brasileiro (doravante PB). A seguir, são apresentados os pressupostos teórico-metodológicos,
bem como os corpora que sedimentaram este trabalho. Passamos, ao expormos a distribuição geral dos
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dados, à discussão dos principais resultados e tecemos, por fim, algumas generalizações acerca da
produtividade dos padrões de ordenação dos clíticos em lexias complexas da escrita mineira novecentista.
2. REVISÃO HISTÓRICO-DESCRITIVA
2.1 A ordem dos clíticos à luz da gramática tradicional da língua portuguesa
Os manuais prescritivistas da língua portuguesa, ao abordarem o tema colocação pronominal,
estabelecem os padrões posicionais dos pronomes oblíquos átonos (clíticos) tanto em lexias simples,
quanto em lexias complexas. Para que se depreendam os contextos que licenciam a acomodação dos
clíticos em relação aos verbos com os quais se articulam, sobretudo, em lexias complexas, tema deste
trabalho monográfico, serão retomadas, nas principais gramáticas, não só nas normativas (Almeida, 2013
[1911], Rocha Lima, 1968 [1915]), Bechara, 1999 [1961], Cegalla, 2008 [1964], Cunha e Cintra, 2008
[1985]), e em Manuais de Redação de Jornais Brasileiros (Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo e
O Globo), mas também nas descritivas (Perini, 2010; Castilho, 2010; Bagno, 2011), as abordagens
concedidas aos padrões de ordenação dos clíticos na língua portuguesa.
Napoleão Mendes de Almeida (2013 [1911]. p, 490), em sua Gramática Metódica da Língua
Portuguesa, expõe os apropriados contextos de colocação dos pronomes oblíquos (me, te, se, o(s), lhe(s),
nos, vos). Esse estudo, sendo a expressão do pensamento normativo, resguarda, em 2013, a tradição
gramatical. O autor inicia o capítulo de colocação pronominal enunciando que os pronomes oblíquos,
uma vez átonos, e ao mesmo tempo, com função de complemento verbal, terão de apoiar-se, para efeito
de acentuação, nos próprios verbos de que são complementos. Ao vincularem-se ao verbo, assumem três
posições distintas: próclise (“Não foi isso que vos disse”); ênclise (“Foram-se as esperanças”) e mesóclise
(“Dir-te-ei (dir(te)ei) depois o que aconteceu”). Com base na ideia de que os pronomes oblíquos por
serem átonos tendem a se apoiar aos verbos que complementam, entende o gramático que há uma regra
geral de ordenação dos pronomes oblíquos átonos: a ênclise. No entanto, em diversos casos, essa
colocação pós-verbal não é a indicada em virtude de certas palavras atraírem o pronome a antepor-se ao
verbo (próclise). Ao definir uma regra geral, Almeida (2013 [1911], p. 492) nos apresenta as três
posições de colocação pronominal e seus respectivos contextos.
Inicialmente, estudam-se as regras da ênclise. Pode-se dizer que quando não há nada que
eufonicamente atraia o oblíquo, deve-se dar preferência à posição enclítica (“Os homens dizem-se
sábios”; “O homem mantinha-se em pé”). Para efeito de prosódia, o pronome oblíquo deve apoiar-se no
acento do verbo, sendo assim, Almeida (2013 [1911], p. 492) afirma que um período não pode iniciar
com pronome oblíquo (“Disseram-me isso ontem” e não “Me disseram isso ontem”). Exige a eufonia a
posposição dos oblíquos aos gerúndios (“Não queira conquista-lo confiando-lhe segredos”), mas se a
forma verbal simples terminada em -ndo preceder palavra de valor atrativo, o oblíquo virá antes do verbo
(“Não se revestindo...”). Além de mais eufônica, é da tradição da língua a posposição dos oblíquos nas
orações imperativas (“Ó menino, vai-te daqui”). Quanto à posposição do oblíquo “o” ao verbo, devemos
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seguir às seguintes regras: (i) não ocorrem modificações em palavras terminadas em vogais (“amo-o;
diga-o”); (ii) transforma-se em “lo” quando posposto a formas terminadas em r, s ou z, consoantes estas
que desaparecem (“amá-lo, amaste-lo, di-lo, fi-lo”); (iii) adquire a forma “no” quando posposto a formas
terminadas em “m” (“amam-no, tinham-no”); (iv) não se pospõe às formas do futuro nem do particípio
(“jamais amarei-o, terei-o, amaria-o”).
Há situações em que o verbo perde sua força enclítica, motivado por determinados contextos em
que há elementos atratores, visando sempre a eufonia. Os contextos em questão são os seguintes: (i)
orações negativas (“Ninguém o conhece”), já que, uma vez negativa, quer constituída de advérbio, quer
de pronome ou conjunção, deve o pronome oblíquo preceder o verbo; (ii) certas conjunções coordenativas
aditivas (“Não foi nem se lembrou de levar.”); (iii) as coordenativas alternativas ("Ora se arrepende, ora
se revolta."); (iv) os pronomes relativos ("O livro que me deu é bom”) e (v) as conjunções subordinativas:
(a) integrantes – “Disse que se ia embora”; (b) causais – “Dei-lho porque mo pediu”; (c) comparativas –
“Isso é mais bonito do que lhe parece.”; (d) concessivas – “Embora ele se arrependa”; (e) condicionais –
“Perdoai-me se vos ofendi.”; (f) consecutivas –“Portou-se tão bem que o elogiaram.”; (g) finais – “Dou-
lhe este livro para que se lembre sempre de mim.”; (h) temporais – “Quando eu te vi pela primeira vez.”;
(i) proporcionais – “À medida que se preparava o trabalho.”; (j) conformativas – “Conforme se vê.”
Ainda apresentam-se os seguintes contextos de próclise: (vii) as orações optativas (“Bons olhos o
vejam”); os pronomes indefinidos (algum, alguém, diversos, muito, tudo, vários), quando precede o verbo
(“Tudo lhe dei, saúde e dinheiro”.); (viii) os advérbios, quando estão anteposto ao verbo ("O que aqui me
fizeram”).
O gramático estuda ainda a relação dos oblíquos com o infinitivo, relatando que quando há presença
do artigo, por ser palavra de valor tônico nulo, não tem força atrativa sobre o oblíquo (“O queixar-se do
paciente não influi no tratamento”), o que autoriza o pronome oblíquo a pospor-se ao verbo. As formas
pronominais retas, as preposições e as locuções prepositivas (quando desacompanhadas de artigo)
fornecem liberdade à anteposição ou posposição do oblíquo ao verbo: (“O fato de eu o ver” ou “O fato de
eu vê-lo”). Mas há exceções como a preposição por que repele os oblíquos o, a, os, as: (“Por traí-lo, foi
castigado”). A preposição a não permite depois de si os oblíquos o, a, os e as: “A deixa-lo ficar prefiro
morrer”. Quando uma preposição rege mais de um infinitivo, a regra continua a mesma para o primeiro
infinitivo, enquanto os demais deverão trazer os oblíquos depois de si: “Para castiga-lo, corrigi-lo e
educa-lo” ou “Para o castigar, corrigi-lo e educa-lo”. Se a preposição rege um infinitivo que possui outro
complemento além do pronome oblíquo, este deverá vir posposto ao verbo. Sendo possível repetir o
primeiro pronome precedido de a ("Para convidá-lo a você e seu irmão”), opta-se por repetir o infinitivo
(“Para convidá-lo e convidar seu irmão”) ou preposicionar-se o segundo complemento (“Para convidá-lo
e a seu irmão”). Almeida (2013 [1911], p. 499) afirma que “havendo, num período, dois infinitivos que
indiquem contraste, cada qual com sua preposição e respectivo pronome oblíquo, este deverá vir posposto
ao infinitivo”: “Não será pra prendê-lo, mas para resguardá-lo”. Segundo Almeida (2013 [1911], p. 500),
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no infinitivo impessoal, as partículas negativas, os advérbios, os pronomes relativos e as conjunções
subordinativas não assumem força atrativa sobre os oblíquos que, por sua vez, devem se manter pospostos
ao infinitivo (“Sem nunca alcança-lo”). Não se deve confundir o futuro do subjuntivo com o infinitivo
pessoal como é possível averiguar nas seguintes sentenças “... renda de quem recolhê-la na fonte” no
lugar de “... renda de quem a recolher na fonte”. O contexto do verbo recolher no futuro do subjuntivo
contexto desautoriza a posposição do oblíquo. No que se refere às partículas negativas, somente obrigam
a anteposição do oblíquo ao infinitivo quando este é pessoal e flexionado: “Para não vos divertirdes”,
“Julgamos oportuno não nos afastarmos”.
Com relação à mesóclise, Almeida (2013 [1911], p. 497) afirma que não havendo nenhuma palavra
de valor atrativo que obrigue a posição proclítica, é cabível a mesóclise: “O tempo dir-lhe-á quem está
com a verdade”. Com formas verbais no futuro do presente e no futuro do pretérito, a posposição dos
pronomes oblíquos átonos (“farei-te, fará-nos, fará-vos, faremos-lhe”) é possível, caso não seja em
contexto de início de período, ambiência que exige a colocação dos clíticos no interior das formas verbais
em questão: “dir-te-ei, dar-me-ás, far-vos-á, encontrar-nos-emos”.
As lexias complexas foram brevemente apresentadas pelo gramático. Segundo Almeida (2013
[1911], p. 596), é rejeitada, ao ouvido, a colocação dos pronomes oblíquos depois do particípio: “Os pais
têm descuidado-se da formação moral dos filhos”. Em tais casos, o pronome oblíquo deverá apoiar-se no
verbo que antecede ao particípio, mesmo que, entre o verbo e o particípio, haja uma locução, o pronome
oblíquo deverá vir junto ao verbo: “Os pais têm-se, embora inconscientemente, descuidado da formação
moral dos filhos”. Conclui, pois, que o pronome oblíquo deverá prender-se ao auxiliar e não ao particípio.
Rocha Lima (1968 [1915], p. 474) entende que a posição normal dos pronomes átonos é a
posposição à forma verbal (ênclise). Segundo o gramático, a ordenação enclítica deve ocorrer nos
seguintes contextos: (i) quando o verbo iniciar o período ou encetar qualquer das orações que o compõem
(“Ordeno-lhe que saia imediatamente”), excetuando as orações intercaladas, nas quais os pronomes
aparecem também antes do verbo; (ii) quando o sujeito – substantivo ou pronome (que não seja de
significação negativa) – vier imediatamente antes do verbo (“O combate demorou-se”; “Deus chamou-o
para si”; “Isto obriga-me a romper com você”); (iii) nas orações coordenadas sindéticas (“Ela chegou e
perguntou-me logo pelo filho”; “Persegui-o, mas ele fugiu-me”). O autor afirma ainda que o pronome
pode, em casos de eufonia ou de ênfase, ou por árbitro ou gosto, aparecer anteposto ao verbo, exceto, é
claro, em contexto de abertura do período.
Rocha Lima (1968 [1915], p. 477) elenca os contextos de uso obrigatório da próclise. São eles: (i)
as orações negativas, desde que não haja pausa entre o verbo e as palavras de negação (“Não me recuses
este favor”; “Ninguém nos convencerá da tua culpa”); (ii) as orações exclamativas, começadas por
palavras exclamativas (“Quanto sangue se derramou inutilmente!”); (iii) as orações optativas (“Deus o
abençoe, meu filho!”); (iv) as orações interrogativas, começadas por palavras interrogativas (“Por que te
afliges tanto?”); (v) as orações subordinadas com advérbios (“Quando o recebo em minha casa, fico
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feliz”) e (vi) os pronomes indefinidos, sem pausa (“Aqui se aprende / a defender / a Pátria”). Havendo
pausa, impõe-se a ênclise (“Aqui, / não há preconceitos filosóficos; aqui, / não há distinções religiosas;
aqui, / não há desigualdades raciais; aqui, / estuda-se / e trabalha-se / com amor”).
No que se refere às formas não-finitas (infinitivo e gerúndio), o autor afirma que a regra geral é a
ênclise (“Viver é adaptar-se.”). Contudo, considera facultativa a colocação do pronome quando o
infinitivo, na forma impessoal, estiver precedido de preposição ou palavra negativa. Caso o infinitivo
esteja flexionado, o pronome tende a aparecer antes do verbo (“Meu desejo era não o incomodar.”/“Meu
desejo era não incomodá-lo.”). No caso do gerúndio, será preferida a ênclise, somente em dois contextos:
se o gerúndio estiver antecedido de preposição “em” (“Em se tratando de minorar o sofrimento alheio,
podemos contar com a sua colaboração”) ou de advérbio (“Não nos provando essa grave denúncia, a
testemunha será processada”).
Rocha Lima (1968 [1915], p. 480) ao enveredar pela ordem dos clíticos nas locuções verbais, a
autor aborda algumas possíveis construções de verbos auxiliares com verbos principais, indicando, para
cada estrutura, a posição ideal do clítico pronominal. Eis algumas estruturas propostas pelo autor: (i)
Auxiliar + infinitivo: ênclise ao infinitivo (“O Presidente quer falar-lhe ainda hoje.”); ênclise ao auxiliar
(“O Presidente quer-lhe falar ainda hoje.”); próclise ao auxiliar (“O Presidente lhe quer falar anda hoje”) e
próclise ou ênclise ao infinitivo precedido de preposição (“Jamais deixei de ajudar-te.", "Jamais deixei de
te ajudar.”); (ii) Auxiliar + gerúndio: ênclise ao gerúndio (“As visitas foram retirando-se.”); ênclise ao
auxiliar (“As visitas foram-se retirando.”); próclise ao auxiliar (“As visitas se foram retirando.”) e (iii)
Auxiliar + particípio: ênclise ao auxiliar (“Os alunos tinham-se levantado.”); próclise ao auxiliar (“Os
alunos se tinham levantado.”). O autor complementa evocando a Epifânio Dias, em sua Sintaxe Histórica
Portuguesa:
Na coordenação – diz Epifânio Dias – os pronomes átonos, quando pospostos ao verbo, repetem-se junto de cada verbo: depois de saudar-me e abraçar-me; quando antepostos, podem subentender-se do primeiro para o segundo e seguintes: depois de me saudar e abraçar. (grifos nossos) (DIAS, Epifânio. Sintaxe Histórica Portuguesa, Lisboa, 1993, 2a ed., p. 178. apud ROCHA LIMA 1968, p. 481 [1915]).
Bechara (1999 [1961], p. 587) entende que a colocação dos pronomes átonos e do demonstrativo o é
uma questão fonético-sintática. Segundo Bechara, durante muito tempo, viu-se o problema apenas pelo
aspecto sintático, criando a pseudoteoria da “atração” vocabular do não, do quê, de certas conjunções e
tantos outros vocábulos. A partir de grandes pesquisadores, principalmente, Said Ali, passou-se a
considerar o assunto pelo aspecto fonético-sintático. Com isso, observamos que muitas regras estipuladas
pelos puristas poderiam estar equívocadas ou resplandeceriam o falar lusitano. O gramático entende que a
questão da ordem dos pronomes átonos está alicerçada no parâmetro da exigência eufônica, assim como
ressaltava Almeida (2013 [1911]). O autor destaca que é necessário afastar a ideia de que a colocação
brasileira é inferior aos padrões de colocação pronominal à portuguesa. Segundo o gramático, “a
12
pronúncia brasileira diversificada da lusitana; daí resulta que a colocação pronominal em nosso falar
espontâneo não coincide perfeitamente como o falar dos portugueses” ([AS.2, 279] apud BECHARA 1999,
p. 587).
Após fazer essas considerações iniciais sobre a colocação dos pronomes átonos, Bechara (1999
[1961], p. 587) afirma que o pronome pode aparecer em três posições (próclise, ênclise e mesóclise),
passando à exposição das regras que licenciam tais colocações pronominais. São elas: (i) não se inicia
período por pronome átono; (ii) não se pospõe, em geral, pronome átono a verbo flexionado em oração
subordinada (“Confesso que tudo aquilo me pareceu obscuro”); (iii) não se pospõe pronome átono a verbo
modificado diretamente por advérbio ou precedido de palavra de sentido negativo (“Sempre me recebiam
bem”, “Não me parece”), à exceção do contexto de pausa em que é possível que o pronome venha antes
ou depois do verbo: (“Ele esteve alguns instantes de pé, a olhar para mim; depois estendeu-me a mão”);
(iv) não se pospõe o clítico à forma verbal no futuro do presente e no futuro do pretérito (condicional):
(“Os infiéis... contertar-se-ão, talvez, com as riquezas”); (v) não se pospõe ou intercala o clítico ao verbo
flexionado em oração iniciada por palavra interrogativa ou exclamativa: (“Quantos lhe dá?; Como te
perseguem!”). Cabe ressaltar que Bechara (1999) apresenta, como posição fixa da próclise, os seguintes
contextos: (vi) com o gerúndio precedido da preposição em: (“Ninguém, desde que entrou, em lhe
chegando o turno, se conseguirá evadir à saída”), (vii) nas orações exclamativas e optativas com o sujeito
anteposto ao verbo: (“Bons ventos o levam”; “Deus te abençoe”).
Em relação aos complexos verbais (entendidos como locuções verbais), o gramático considera as
seguintes possibilidades de colocação pronominal: (i) o pronome proclítico ao auxiliar (“Eu lhe quero
falar”); (ii) enclítico com hífen ao auxiliar (“Eu quero-lhe falar”) e (iii) enclítico com hífen ao verbo
principal (“Eu quero falar-lhe”). No que concerne ao pronome átono proclítico ao verbo principal, sem
hífen, Bechara (1999 [1961], p. 590) entende que este ocorre com mais frequência entre os brasileiros,
tanto na linguagem oral, quanto na escrita (“Eu quero lhe falar”). O autor faz menção ao pensamento de
Martinz de Aguiar argumentando que há uma confluência de fatores na formulação dos padrões de
ordenação de clíticos do português:
A colocação de pronomes complementos em português não se rege pela fonética, nem é o ritmo, o mesmo binário-ternário, em ambas as modalidades, brasileira e lusitana, que impõe uma colocação aqui, outra ali, não. Ela obedece a um complexo de fatores, fonético (rítmico), lógico, psicológico (estilístico), estético, histórico, que às vezes se entre-ajudam e às vezes se contrapõem. (MARTINZ DE AGUIAR apud BECHARA 1999, p. 591).
Bechara (1999 [1961], p. 591) ainda esclarece as seguintes possibilidades de ordenação de clíticos:
(i) é aceitável juntar o pronome ao particípio, procliticamente (“Aqueles haviam se-corrompido”); (ii)
pôde-se pôr o pronome depois dos futuros (“Poderá se-reduzir; poderia se-reduzir”) construções em que o
pronome deixa de ligar-se ao futuro, para se aliar ao verbo no infinitivo; (iii) por fim, Bechara (1999
[1961], p. 591) depreende que “em frases como vamos nos-encontrar, deixando o pronome de pospor-se à
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forma verbal pura, para antepor-se à nominal, deixou igualmente de determinar a dissimilação das sílabas
parafônicas, podendo-se então dizer vamo-nos encontrar” [MAg.1, 408-409].
Domingos Paschal Cegalla (2008 [1964], p.538) ao tratar da colocação dos pronomes oblíquos
átonos, afirma que conforme a posição de adjacência ao verbo, os pronomes oblíquos átonos podem
assumir três possibilidades de ordenação: próclise, mesóclise e ênclise. Os contextos atratores da próclise
expostos pelo autor são os seguintes: (i) palavras de sentindo negativo (“Não o maltratei”; “Nunca se
queixa nem se aborrece”); (ii) os pronomes relativos (“Há pessoas que nos querem bem”; “Conheces o
homem por quem te apaixonaste?”); (iii) as conjunções subordinadas (“Quando nos viu, afastou-se”; “Se
me ensinares o caminho, chegarei lá”; (iv) certos advérbios (“Sempre me lembro dele”; “Ainda se lembra
de mim?”), atentando para o fato de que se houver pausa depois do advérbio, prevalecerá a ênclise; (v) os
pronomes indefinidos ("Tudo se acaba.", "Nada lhe agradava ali."); (vi) a palavra só, no sentido de
apenas, somente (“Só me ofereceram um copo d’água”); (vii) as conjunções coordenativas alternativas
ou... ou, ora... ora, quer...quer (“Ou ele se corrige ou lhe voltarão as costas”); (viii) nas orações optativas
cujo sujeito esteja anteposto ao verbo ("Deus o proteja."); (ix) nas orações exclamativas iniciadas por
palavras ou expressões exclamativas ("Como te iludes!") e (x) nas orações interrogativas iniciadas por
advérbio ou pronome interrogativas ("Quando me visitas?"). Segundo Cegalla (2008 [1964], p. 540), na
pronúncia brasileira, as formas pronominais oblíquas não são completamente átonas, são, antes,
semitônicas, justificando-se, pois, a predileção da próclise entre os brasileiros: "Ele terá de se explicar.";
"É o que eu queria lhe dizer."; "Me empreste o livro."
No que diz respeito à mesóclise, o autor atesta que a intercalação das variações pronominais átonas
ocorre somente no futuro do presente e no futuro do pretérito, desde que antes do verbo não haja palavra
que exija a próclise: “Realizar-se-á, em maio, uma reunião de prefeitos”; “Por este processo, ter-se-iam
obtido melhores resultados”; “Falar-lhe-ei a teu respeito, na primeira oportunidade”. Caso haja atratores,
impõe-se a próclise: “Não lhe pedirei nada”; “Ninguém se importaria”.
Em se tratando de ênclise, Cegalla (2008 [1964], p. 541) afirma que, nos períodos iniciados pelo
verbo, não se deve iniciar a sentença com o pronome oblíquo. Afirma, ainda, que iniciar a frase com
pronome átono só é lícito na comunicação familiar, isto é, despreocupada, ou, na língua escrita, quando se
deseja reproduzir a fala dos personagens. De modo geral, no que se refere à ênclise, o gramático destaca a
possibilidade da sua ocorrência em contexto de orações reduzidas de gerúndio, quando nelas não houver
palavras atrativas. Se o gerúndio vier antecedido da preposição expletiva em ou vier modificado por um
advérbio, ocorrerá a próclise. O autor entende ainda que para que ocorra a colocação enclítica, é
necessário que o verbo esteja no infinitivo não flexionado, acompanhado da preposição a (“Todos
corriam a ouvi-lo”, “Começou a maltratá-la”). Caso o verbo principal esteja flexionado e esteja, é claro,
regido por preposição, é obrigatória a próclise (“Repreendi-os por se queixarem sem razão”). Por fim,
Cegalla (2008 [1964], p. 542) esclarece que se o infinitivo impessoal estiver acompanhado da preposição
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para, o pronome oblíquo pode vir a ele anteposto ou posposto, mesmo estando na presença de um
advérbio negativo (“Corri para defendê-lo”; “Corri para o defender”).
Cegalla (2008 [1964], p. 543) trata de um tópico relevante ao objeto de estudo em discussão neste
trabalho: a colocação dos pronomes átonos nos complexos verbais. O autor relata que, nos tempos
compostos, os pronomes átonos, na língua culta de tradição lusitana, se aliam ao verbo auxiliar e jamais,
ao particípio, podendo ocorrer a próclise (“Os inimigos o tinham prevenido”, “Nunca a tínhamos visto”),
a ênclise (“Os presos tinham-se revoltado”) ou a mesóclise (“Ter-lhe-ei sido nociva alguma de minhas
prescrições?”). A colocação do pronome átono junto ao particípio, censurada pela Gramática Tradicional,
é peculiar à língua portuguesa do Brasil, em todos os níveis de fala, e encontra aceitação pelos melhores
escritores modernos, como é possível observar nos seguintes dados expostos por Cegalla (2008 [1964], p.
543): “Tinha se esquecido de conferir o bilhete” (VIVALDO COARACI); “A terra devia ter se
contorcido, fervendo em lama.” (ADONIAS FILHO). Por fim, Cegalla (2008 [1964], p. 543) afirma que a
colocação dos pronomes, nas locuções verbais, é norteada pelas circunstâncias de próclise ou ênclise ao
verbo auxiliar ou ao verbo principal. Como se observa nos seguintes contextos: (i) Verbo auxiliar +
infinitivo (“Devo calar-me, ou devo-me calar, ou devo me calar; Se Vossa Senhoria quer, posso lhe
mandar algumas” MARTINS PENA); (ii) Verbo auxiliar + preposição + infinitivo (“Não se há de
acostumar; deixou de visita-lo ou deixou de o visitar”) e (iii) Verbo auxiliar + gerúndio (“Vou-me
arrastando ou vou me arrastando ou vou arrastando-me”; “A tarde ia-se tornando linda”).
Cunha e Cintra (2008 [1985], p. 322), em diálogo com os gramáticos até agora expostos,
apresentam as três possibilidade de colocação dos pronomes átonos em relação ao verbo: colocações
enclítica, proclítica e mesoclítica. Segundo os gramáticos, a posição normal do pronome átono é a de
posposição ao verbo, uma vez que o clítico funciona como objeto direto ou indireto de um predicador
verbal. Em relação à colocação mesoclítica, os autores esclarecem que as formas verbais no futuro do
presente ou no futuro do pretérito licenciam tal ordenação pronominal. Cunha e Cintra (2008 [1985], p.
328) afirmam que “a colocação dos pronomes átonos no Brasil, principalmente no colóquio normal,
difere da atual colocação portuguesa e encontra, em alguns casos, similar na língua medieval e clássica”.
Para os autores, podem-se considerar, como evidências do PB e do português falado nas Repúblicas
africanas, os seguintes traços: (i) a possibilidade de se iniciarem frases com pronomes, em especial com a
forma me; (ii) a preferência pela próclise nas orações absolutas, principais e coordenadas não iniciadas
por palavra que exija tal colocação; (iii) a próclise ao verbo principal nas locuções verbais.
Em relação aos contextos de próclise, Cunha e Cintra (2008 [1985]), assim como os outros
gramáticos, também prescreveram os seus condicionamentos. Nesse sentido, consideraram os seguintes
contextos como determinantes da próclise em relação às formas verbais finitas: (i) a existência de uma
palavra negativa (não, nunca, jamais, ninguém, nada etc) na oração (“Nunca o vi tão sereno e obstinado”;
“Ninguém me disse que você estava passando mal!”); (ii) as orações exclamativas (“Bons olhos o vejam”)
e optativas (“Que o vento te leve os meus recados de saudade; que Deus o abençoe”); (iii) as orações
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interrogativas (“Quem me busca a esta hora?”); (iv) as orações subordinadas desenvolvidas ainda que a
conjunção não se encontre explícita (Que é que desejas te mande do Rio?”); (v) os pronomes indefinidos
como tudo, alguém, outro (“Alguém lhe bate nas costas”; “Todos os barcos se perdem entre o passado e o
futuro”); (vi) As construções com alguns advérbios, como bem, mal, só, ainda (“Talvez eu me
decidisse”); (vii) A inversão da ordem dos termos da sentença de modo a iniciá-la pelo objeto direto ou
pelo predicativo (“A grande noticia te dou agora”) e (viii) as orações alternativas (“Das duas uma: ou as
faz ela ou as faço eu”).
A respeito da colocação pronominal em locuções verbais, Cunha e Cintra (2008 [1985], p. 332)
expõem as preferências de ordenação do clítico no PB: (i) próclise ao particípio (“Aqueles haviam se-
corrompido”); (ii) próclise às formas verbais no futuro do presente e do pretérito (“poderá se-reduzir”;
“poderia se-reduzir”) e (iii) as possíveis ocorrências de ambas colocações: “vamo-nos encontrar” ou
“vamos nos-encontrar”, já que tanto uma construção, como a outra deixam igualdade de determinar a
dissimilação das “sílabas parafônicas” (pág. 332).
Nas construções gerundivas precedidas pela preposição em, é licenciada a colocação pré-verbal:
“Em se ela anuviando, em a não vendo”. Nas sentenças com as formas infinitivas dos verbos, tanto a
próclise (“E ah! Que desejo de a tomar nos braços”), como a ênclise (“Para assustá-lo, os soldados
atiravam a esmo”) são confirmadas pela prescrição gramatical. No entanto, os gramáticos afirmam que a
colocação pronominal enclítica é obrigatória para o clítico o (principalmente no feminino a),
acrescentando o fato de o infinitivo vir regido pela preposição a: “Se soubesse, não continuaria a lê-lo”.
Ainda em relação às locuções verbais, Cunha e Cintra (2008 [1985], p. 328) entendem que se o verbo
principal estiver no infinitivo ou gerúndio, ocorrerá obrigatoriamente a ênclise: “O roupeiro veio
interromper-me”. Destacam, ainda a possibilidade de não se implementar tal colocação pronominal, caso
o verbo principal esteja no particípio. Nesse caso, o clítico deve estar proclítico ou enclítico ao verbo
auxiliar: “Tenha-o trazido sempre, só hoje que o viste?”. Já ao tratarem da possibilidade de colocação
proclítica ao verbo auxiliar (“Ninguém o havia de dizer”), os autores expõem os mesmos contextos
favorecedores à próclise das lexias verbais simples. Segundo os autores, o clítico ocorrerá no meio do
complexo verbal quando não existir um contexto propício para a realização da próclise ao verbo auxiliar.
Ainda numa perspectiva normativa, passemos à exposição da posição dos Manuais de Redação
produzidos por relevantes periódicos brasileiros (Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo e O Globo)
a fim de observarmos o encaminhamento assumido pela imprensa brasileira em relação à ordenação dos
clíticos nos complexos verbais. O Manual de Redação da Folha de São Paulo (2001, p. 124) apresenta
seu próprio ponto de vista em relação à colocação pronominal: adotar a colocação pronominal brasileira,
seguindo as regras aqui já citadas em relação à próclise: partículas negativas – “Não o vi”; pronomes
relativos – “Fulano, que se aposentou há três meses”; pronomes indefinidos – “Muito se disse hoje”;
advérbios e conjunções subordinativas – “Quando se feriu”; gerúndio procedido de “em” – “Em se
tratando de esporte”; verbo no infinitivo – “Tudo para não o magoar”; Futuro de presente ou do pretérito
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– “Elas se encontrarão na fronteira”; locuções verbais com particípio – “Ele se tinha queimado”; ênclise:
verbo no infinitivo – “Tudo para não magoa-lo”; no início de orações – “Machucaram-se vários
jogadores”; orações imperativas – “Cuide-se”; gerúndio – “Disse que, concretizando-se a proposta,
agirá”; locuções verbais com particípio – “Ele tinha se queimado” e, por fim, a mesóclise, para a qual se
observa o desuso no português. Com relação às locuções verbais, A Folha de São Paulo assume que, em
geral, o pronome fica entre os dois verbos (“Eles estão se preparando”). Quando o verbo principal está no
particípio e não há ocorrência de palavras atrativas, admitem-se duas possibilidades: “Eles se tinham
preparado”ou “Eles tinham se preparado”. Por outro lado, a existência de palavra atrativa, ainda que
desautorizada pela norma culta a colocação do pronome entre dois verbos, leva a Folha a admitir as
seguintes colocações pronominais: “Disse que se quer preparar melhor”, “Disse que quer preparar-se
melhor” e “Disse que quer se preparar melhor.”
No Manual de Redação e Estilo do Estado de São Paulo, observamos a abordagem da colocação
pronominal em contextos de locuções verbais. Os encaminhamentos propostos por Martins (1997, p. 69)
podem ser sintetizados da seguinte forma: na ausência de “atração” o pronome deve ser posposto ao
verbo auxiliar ou ao verbo principal (“A moça deve-se resguardar”/“A moça deve resguardar-se”; “A
festa estava-se realizando”/“A festa estava realizando-se”), ao passo que em contexto de “atração” o
pronome deve ser anteposto ao verbo auxiliar ou posposto ao infinitivo (“Não lhe quero dizer a verdade”/
“Não quero lhe dizer a verdade”), anteposto ao auxiliar em construções com o gerúndio (“Não lhe vinha
dizendo a verdade”) e em construções com o particípio (“O amigo também lhe tinha feito um favor”), mas
nunca, posposto ao particípio. Ao cabo da seção “locuções verbais”, o autor esclarece que o Estado aceita
a colocação pronominal entre dois verbos sem hífen à luz da justificativa de se tratar de uma
“característica do português do Brasil que não mais é possível desprezar”, cf. Martins (1997, p. 70):
“Falta d'água pode se agravar hoje.”, “Vai se casar esta semana”, “Venho lhe trazer o meu apoio”.
No Manual de Redação e Estilo do Jornal O Globo, Garcia (2005) é bem conciso em relação aos
encaminhamentos acerca da ordenação dos pronomes em lexias complexas. São eles: (I) o pronome é
anteposto ao verbo auxiliar quando se tratar do clítico “o” (“Ela o deve ajudar”) e (II) a próclise ao
auxiliar ou ao verbo principal é licenciada pelo advérbios, sobretudo o não, conjunções e pronomes
relativos (“Ela não me deve ajudar”). Esclarece que a ênclise ao verbo auxiliar é “mais comum no Brasil”
(“Ela deve me ajudar”), optando-se, em Portugal por tal construção hifenizada (“Ela deve-me ajudar”),
bem como aconselha ainda que se desvie da mesóclise sob a justificativa de que “soa mal ao ouvido
brasileiro”, cf. Garcia (2005, p. 106).
Com base nas considerações dos gramáticos da língua portuguesa e dos manuais de redação acerca
da colocação pronominal revistos nesta seção, passemos à proposta de uma síntese do pensamento
tradicional à luz de Schei (2003).
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SÍNTESE DO PENSAMENTO NORMATIVISTA SOBRE A COLOCAÇÃO PRONOMINAL NA LÍNGUA PORTUGUESA
Para termos uma visão geral sobre a colocação pronominal à luz dos principais gramáticos
normativos aqui revisitados (Napoleão Mendes de Almeida (2013 [1911]), Rocha Lima (1968 [1915]),
Bechara (1999 [1961]), Domingos Paschal Cegalla (2008 [1964]) e Cunha e Cintra (2008 [1985]))
expusemos, à luz dos contextos morfossintáticos que norteiam a ordenação dos clíticos na língua
portuguesa levantados por Schei (2003, p. 62), um quadro resumitivo.
Quadro 1: Síntese dos contextos morfossintáticos licenciadores da ordenação de clíticos no português sob a perspectiva tradicional, cf. Schei (2003, p. 62).
1As siglas representam, respectivamente, os gramáticos: “N” por Napoleão Mendes de Almeida (2013 [1911]), “RL” por Rocha Lima (1968 [1915]), “B” por Bechara (1999 [1961]), “C” por Domingos Paschal Cegalla (2008 [1964]) e “CC” por Cunha e Cintra (2008 [1985]).
GRAMÁTICAS - CONTEXTOS/FENÔMENOS N RL B C CC1 FORMAS FINITAS: ÊNCLISE
1 – Início de Período X X X
2 – Início de oração intercalada de citação X X
3 – Depois de pausa X X X X X
4 – Oração coordenada a oração principal X X
5 – Sujeito sem fator de próclise X X X X
6 – Orações imperativas X X
FORMAS FINITAS: PRÓCLISE 7 – Negação X X X X X
8 – Advérbio X X X X X
9 – Pronome indefinido X X X X
10 – Oração interrogativa X X X X
11 – Oração exclamativa X X X X
12 – Oração Optativa X X X X X
13 – Oração subordinada X X X X
14 – Oração coordenada a or. subordinada X
15 – Conjunções Coordenadas X X
16 – Coordenadas alternativas X X X X
17 – Coordenadas aditivas X
18 – Gerúndio com preposição em X X X X
19 – Pronomes relativos X X X
LOCUÇÕES VERBAIS (COMPLEXOS VERBAIS) 20 – Auxiliar + infinitivo: ênclise ao infinitivo (“Eu quero falar-lhe”, cf. Bechara) X X
21 – Auxiliar + infinitivo: ênclise ao auxiliar (“O presidente quer-lhe falar ainda hoje”, cf. Rocha Lima) X X
22 – Auxiliar + infinitivo: próclise ao auxiliar (“Eu lhe quero falar”, cf. Bechara) X X
23 – Próclise ou ênclise ao infinitivo precedido de preposição (“Jamais deixei de ajudar-te”, cf. Rocha Lima/“Começou a maltratá-la”, cf. Cegalla) X X X
24 – Auxiliar + gerúndio: ênclise ao gerúndio (“As visitas foram retirando-se”, cf. Rocha Lima) X X 25 – Auxiliar + gerúndio: próclise ao auxiliar (“As visitas se foram retirando”, cf. Rocha Lima.) X
26 – Auxiliar + gerúndio: ênclise ao auxiliar (“As visitas foram-se retirando”, cf. Rocha Lima) X X
27 – Auxiliar + particípio: ênclise ao auxiliar (“Os pais têm-se [...] descuidado”, cf. Almeida) X X
28 – Auxiliar + particípio: próclise ao auxiliar (“Ninguém o havia de dizer”, cf. Cunha e Cintra ) X X
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2.2 A ordem dos clíticos no português brasileiro: as perspectivas das gramáticas descritivas
Nesta subseção da revisão histórica, passemos à apresentação do pensamento de linguistas-
pesquisadores (Perini, 2010; Castilho, 2011 e Bagno, 2011) acerca dos padrões de ordenação de clíticos
no PB em suas gramáticas descritivistas.
Mário A. Perini, em sua Gramática do Português Brasileiro (2010, p. 119) estabelece uma regra
geral para a colocação dos pronomes oblíquos em lexias simples: a próclise (“O Fernando nos ajudou";
“O Fernando me deu um carro novo.”, “Me empresta esse livro, por favor”; “Ele nos levou até o
aeroporto.”). No âmbito das lexias complexas, o autor entende que, no PB, quando há um auxiliar, a
tendência é colocar o oblíquo depois dele, antes do verbo principal: “Meu filho tem se sentido mal.”,
“Papai vai nos levar no aeroporto”.
Ataliba Castilho em, A Nova Gramática do Português Brasileiro (2010, p. 483), ao tratar da
colocação dos clíticos, parte do princípio funcional de que os pronomes pessoais átonos me, te, se, o, lhe
expressam argumentos verbais, o que necessariamente os leva a assumir distintas possibilidades de
ordenação na adjacência ao predicador verbal: antes ou depois do verbo, no PE, e, preferencialmente,
depois do verbo, no PB, cf. Pagotto (1992, 1993), Martins (1994), Schei (2000), Galves (1998). Ao
retomar a história de formação do português, o autor coloca a questão da mudança na regra geral de
ordenação de clíticos no PB. A ênclise predominava, até o século XIV, tomando vulto a colocação
proclítica, até o século XVI, retornando a ênclise em 1600, cf. Salvi (1990 apud Castilho 2010, p. 484): o
movimento ênclise > próclise > ênclise constitui uma evidência da “língua como fenômeno complexo,
multissistêmico”, como defende Castilho (2010, p. 484). Na sincronia atual, constata-se que o PE deixa-se
orientar fundamentalmente pela ênclise, ao passo que o PB é essencialmente proclítico. Nesse sentido, o
autor observa que “nas perífrases verbais e nos tempos compostos, o PB favorece a colocação do
pronome antes do verbo pleno na forma nominal, enquanto no português europeu a ênclise ocorre em
relação ao verbo auxiliar”. Como exemplificação dos sistemas de ordenação de clíticos em lexias
complexas no PE e PB, o autor nos traz, respectivamente, as seguintes representativas estruturas dos
sistemas linguísticos em questão: “tinha-me chamado” e “tinha me chamado”.
Numa retrospectiva sobre o que se sabe sobre os padrões de ordenação de clíticos em língua
portuguesa, Castilho (2010, p. 484) traz à tona os resultados das pesquisas de Salvi (1990), que com base
em textos do PE desde o século XIII (1267) até o século XIX (1878), constata o ápice da preferência pela
próclise ter se dado no século XVI (entre 1550 e 1660), sofrendo uma queda na sua produtividade entre os
anos de 1655 (43%) e 1727 (19%) e retornando ao pódio com altíssimas frequências de uso de 90% e
95%, respectivamente, em 1846 e 1878. Castilho também dialoga com o estudo de Martins (1994) acerca
da colocação dos clíticos à luz de dados do português arcaico no sentido de apontar como os dois estudos
convergem, ao evidenciarem o século XVI (1500-50) como o momento de preferência categórica pelo
padrão proclítico de ordenação, o que o permite interpretar que a “próclise brasileira teria as suas raízes
no PE do século XV”, segundo Castilho (2010, p. 485). Ao voltar-se estritamente para a história dos
19
clíticos no PB, Castilho evoca o trabalho de Pagotto (1992, 1993), que embasado em documentos desde o
século XVI (1530) até o século XX (1992), volta o foco da sua análise para a colocação pronominal no
PB. O estudo diacrônico feito por Pagotto nos permite observar que, ao contrário do PE que se mostrava
num ir e vir entre a próclise e a ênclise, o PB já assume desde o século XVI (1530) até a 1a metade do
século XIX (1850), altíssimos índices de produtividade de próclise: 1530-1550 (83%), 1551-1599 (84%),
1600-1699 (88%), 1700-1750 (85%), 1751-1799 (85%), 1800-1850 (89%), 1851-1899 (55%), 1900-1950
(29%), 1951-1992 (46%). Nesse sentido, é possível interpretar, à luz de Pagotto (1998), é claro, que a
norma objetiva (norma de uso) do PB de colocação pronominal é realmente a proclítica, cabendo os altos
índices de produtividade de ênclise, nos textos escritos, à força conservadora do discurso prescritivista da
tradição gramatical que impera, no PB, a guiar a fala e a escrita escorreitas.
Marcos Bagno (2011, p. 740) ainda no início do capítulo sobre os índices de pessoa do PB
questiona o leitor acerca do que sejam os clíticos, ancorando-se na etimologia do item lexical (klinõ,
verbo grego, que significa “inclinar; apoiar-se; fazer cair”) para estruturar o conceito. Esse foi o ponto de
partida, cf. Bagno (2011, p. 740), em relação ao surgimento do adjetivo klitikós para evidenciar “um
vocábulo átono que se apoia em outro antes ou depois dele para, juntos, constituírem um único grupo
acentuado”. Em relação à ordenação dos clíticos, Bagno (2011, p. 741) apresenta as seguintes
possibilidades de colocação do clítico, tendo em vista o termo ao qual está vinculado. São elas: (I)
apossínclise: interposição de um termo entre o clítico e o verbo, traço do português clássico (“O que se
não deve dizer” (FIGUEIREDO, C. apud BAGNO 2011, p. 741)); (II) díclise: aglutinação de dois clíticos
(mo, lho, ma, ta, lha, no-lo), fenômeno produtivo não só no PE, mas também em outras línguas românicas
como o italiano (me lo, te lo, glielo ('mo', 'to', 'lho')), o espanhol (me lo, te lo, se lo ('mo', 'to', 'lho')) e o
francês (me le, te le, le lui); (III) ênclise: posposição do clítico ao verbo (“Deixe-me ver este livro”) que,
segundo o autor, no PB, constitui evidência formulaica já, portanto, petrificada na língua (“danou-se",
“deixe-me ver”, “parece-me”) ou evidência de hipercorreção (“Informamos que a aeronave que efetuará
esse voo já encontra-se no solo...”); (IV) endóclise: materialização de um ou mais clíticos no interior do
radical, traço da língua indo-europeia pashto (bu ba me nə z -e” = bu (pegar1) ba (futuro) me (1Psing.) nə
(não) z (pegar2) e (2Psing.) = “Você não vai me pegar”); (V) mesóclise (tmese: corte, divisão): a
expressão do clítico se dá no interior do radical verbal e as DMTs específicas (“falar-te hei”, “falar-te-
ia”). Trata-se de uma colocação em desuso no PB atual e que, cf. Bagno, não constava do português
trecentista cuja preferência era pela ênclise (“E digo-vos em verdade que nostro senhor nos parará ante sa
tremedoyra seeda hu julgará-nos e nossas dignidades” (MACHADO FILHO 2009, p. 62 apud BAGNO
2011, p. 742)); (VI) monóclise: a ordenação do clítico se dá por anteposição ou posposição ao verbo (“me
disseram”, “disseram-me”); (VII) próclise: anteposição do clítico ao verbo (“Tudo lhe dei, dinheiro e
saúde”) e (VIII) sínclese: a fixação de um clítico na sentença anteposto (próclise), posposto (ênclise) ou
no interior do verbo (mesóclise).
20
Bagno (2011), ao apresentar a próclise como a regra geral de colocação no PB, concorda com a
apreciação de Perini (2010). Acrescenta ainda que a próclise generalizada do IP2 ao verbo conduz à
ordem SCV (“eu te amo”), ainda que o padrão tradicional de ordenação de constituinte na sentença seja
SVC (“eu bebo limonada”), cf. Bagno (2011, p. 761). Para as perífrases verbais, Bagno (2011, p. 762)
constata que o padrão de ordenação de clítico produtivo no PB é o de próclise ao verbo principal, como
verificado nos dados da fala culta de Porto Alegre (“eu poderia me alimentar só de carne”, “... e estava me
afogando”), São Paulo (“... que tem me pedido para fazer...”) e Rio de Janeiro (“... eu não vou me reter no
começo”). Considerando que a regra geral de ordenação pronominal proclítica é a que efetivamente
vigora no PB, Bagno (2011, p. 763) sintetiza as suas possibilidades de expressão tanto em início absoluto,
quanto no interior de um complexo verbal.
Quadro 2: Síntese das ocorrências da regra única de colocação dos clíticos no PB proposta por Bagno (2011, p. 763).
SÍNTESE DO PENSAMENTO DESCRITIVISTA SOBRE A COLOCAÇÃO PRONOMINAL NO PORTUGUÊS
BRASILEIRO
Nesta subseção, sintetizamos as perspectivas de linguistas-pesquisadores do PB acerca da ordem
dos clíticos, tanto em contextos de lexias verbais simples, como em lexias complexas. Perini (2010) é
bem categórico, ao afirmar que o pronome oblíquo (sem preposição) se posiciona sempre antes do verbo
principal da oração, pospondo-se sempre ao verbo auxiliar. Nas lexias complexas, Castilho (2010) expõe
que, os pronomes oblíquos expressam argumentos verbais e predominantemente são antepostos ao verbo
na sintaxe brasileira do PB. Em perífrases verbais e tempos compostos, a próclise do pronome ao verbo
principal é a preferência nacional. Por fim, Bagno (2011) que também assume uma única regra geral no
PB: a próclise ao verbo principal seja em lexias simples, seja em lexias complexas.
2.3 A ORDENAÇÃO DOS CLÍTICOS NO PORTUGUÊS BRASILEIRO: ALGUNS RESULTADOS DE ANÁLISES
SOCIOLINGUÍSTICAS CONTEMPORÂNEAS.
Nesta seção, visando à explicitação do status questione deste trabalho monográfico, sintetizam-se os
resultados de somente algumas pesquisas linguísticas que, à luz da sociolinguística, enfocaram os padrões
de ordenação dos clíticos em complexos verbais não só com base em dados diacrônicos da língua escrita
2 Entenda-se IP como Índice de Pessoa, cf. Bagno, 2011, p. 738-771.
REGRA ÚNICA AMBIENTE SINTÁTICO EXEMPLO INÍCIO DE FRASE Me incomoda muito o comportamento de Ana.
AUX + INFINITIVO Ana disse que pode te ajudar. AUX + PART. PASS Ana tem nos ajudado bastante. AUX + GERÚNDIO Ana estava te procurando.
AUX... PART PASS Ana tinha chegado cedo de manhã e me telefonado.
No PB, os clíticos se
posicionam sempre antes do verbo principal
(próclise). IMPERATIVO Se vire para eu ver como ficou a saia!
21
(Schei, 2002; Pagotto, 1998; Duarte e Pagotto, 2005; Cavalcante, Duarte e Pagotto, 2011; Biazolli, 2010;
Nunes e Vieira, 2013), mas também com base em dados sincrônicos da língua escrita do PB (cf. Peterson
e Vieira, 2012).
Assumimos como ponto de partida as considerações de Galves (1998) acerca da sintaxe de
colocação dos clíticos em lexias complexas do PB falado. Ao expor evidências de que o estatuto das
construções portuguesas e brasileiras são diferentes com base no pressuposto de línguas-I diferentes,
Galves também se volta para a sintaxe de colocação dos clíticos. No que se refere especificamente à
ordenação de clíticos em lexias complexas, a autora esclarece que embora o PE e o PB estejam em
dissonância em relação, respectivamente, à próclise em “Agora não me tinha lembrado”, “Agora não
tinha me lembrado”, observamos que enquanto o PE tende a uma relação mais gramatical com o verbo
auxiliar (detentor dos traços formais de tempo e concordância), o PB se encaminha para uma relação mais
lexical com o verbo principal. À luz dessa constatação de Galves (1998, p. 83) direcionamos este trabalho
monográfico no sentido de responder as seguintes questões expostas.
(I) Nas cartas mineiras novecentistas, a tinta que escorre da pena (parafraseando Tarallo (1996, p. 99)
reflete a variedade europeia (em consonância com os ditames gramaticais de colocação pronominal em
lexias complexas) ou a variedade brasileira do português?
(II) Seriam os mineiros, em suas correspondências entre noivos, entre familiares e entre amigos, mais
conservadores ou inovadores?
As considerações de Galves (1998) representam o gatilho deste trabalho movido pelo desejo de
entender o presente do PB à luz do passado, cf. Labov (1994). Passemos à exposição de alguns resultados
de análises dos padrões de colocação pronominal na escrita do PB.
Schei (2002), em seu artigo, A colocação pronominal na literatura brasileira do século XIX, tem
como objetivo principal descrever alguns aspectos da colocação pronominal na língua literária brasileira
do século XIX. A autora pretende detectar traços mais atuais de colocação pronominal já presentes na
produção literária oitocentista brasileira, além de estabelecer cotejo entre os sistemas de colocação de
clíticos brasileiro e lusitano. Os corpora analisados, em relação às lexias simples e complexas, foram
compostos por seis textos literários brasileiros3 e três textos literários lusitanos4, investigando mais a
fundo, é claro, Schei (2000) cujo foco havia sido as obras dos escritores brasileiros Joaquim Manuel de
Macedo, José de Alencar e Bernardo Guimarães. Nas lexias complexas, as possibilidades de ordenação
dos clíticos entre os verbos auxiliar e principal controladas por Schei foram as seguintes: (I) próclise ao
auxiliar ('Lembrei-me do que Lúcia me tinha dito'); (II) ênclise ao auxiliar ('A doença ia-lhe comendo
parte das carnes'); (III) próclise ao verbo principal ('Iria se arrojar aos pés dela') e (IV) ênclise ao verbo
principal ('Foi Augusto quem teve de rompê-lo').
3 A Moreninha (Macedo), Lucíola (Alencar), O garimpeiro (Bernardo), Memória de um sargento de Milícias (Almeida), Inocência (Taunay), Dom Casmurro (Machado). 4 Eurico, o presbítero (Alexandre Herculano); Amor de Perdição (Camilo Castelo Branco); O Crime do Padre Amaro (Eça de Queiroz).
22
Considerando que este estudo está voltado estritamente para a descrição dos padrões de ordenação
dos clíticos nas lexias complexas (locuções verbais nos termos de Schei), apresentaremos sucintamente os
principais resultados relacionados à colocação de clíticos nas locuções verbais da literatura brasileira em
breve cotejo com a portuguesa do século XIX.
(I) O que salta à vista é que a próclise ao verbo principal, que hoje é a colocação predominante no PB, é muito rara: nas locuções com particípio, gerúndio e infinitivo sem preposição há pouquíssimas ocorrências, e mesmo na locução com infinitivo preposicionado, caso em que a próclise ao verbo auxiliar é possível até no PE, essa colocação é bastante rara. Nas locuções com infinitivo, tanto em aux.+inf como em aux/prep+inf, também a ênclise ao auxiliar é rara. (II) as locuções com particípio e gerúndio se distinguem das com infinitivo por quase sempre terem próclise ao auxiliar nos casos potenciais: em aux+part, a próclise ocorre em 98% dos casos potenciais (124 em 127) e, em aux+ger, o número corresponde a 91% (40 casos em 44). (...) Se calcularmos a frequência da próclise ao auxiliar em relação a todos os casos sem fator de próclise, verificamos que há próclise ao auxiliar em 21% dos casos de aux+part e em 18% dos casos em aux+ger. Em suma, nestas duas locuções há uma forte tendência à próclise ao auxiliar; esta colocação se dá quase sempre na presença de um fator de próclise, e mesmo sem esse fator, a próclise ao auxiliar ocorre em 20% dos casos. (...) Acrescente-se que a tendência forte à próclise ao auxiliar deve ser um vestígio de um estágio anterior em que essa colocação era quase categórica; em Pagotto (1992, p. 108) verifica-se que a próclise ao auxiliar era a posição majoritária do século XVI ao século XVIII, com ou sem fator de próclise. (III) Para a locução aux+inf, encontramos um outro modelo de colocação: há próclise ao auxiliar em apenas 54% dos casos potenciais (95 em 117), e nos casos sem fator de próclise, a próclise ao auxiliar se dá em 02% dos casos (3 em 156). Em outras palavras, nessa locução, a tendência à próclise ao auxiliar é bem mais fraca do que em aux+part e aux+ger. (IV) Ao calcularmos a frequência da próclise ao auxiliar nos casos potenciais na locução aux/prep+inf, só levamos em consideração exemplos com os auxiliares que de fato ocorrem com próclise ao auxiliar no corpus: acabar de, começar a, estar a, haver de, ter de e vir a. Nesses casos potenciais, a próclise ao auxiliar se dá em 47% dos casos, ou seja, quase com a mesma frequência que na locução aux+inf.
(SCHEI, 2002, p. 72, 73 74.)
Schei (2002, p. 81) ao contrapor o PB oitocentista ao PB novecentista, chega às seguintes
considerações finais: (I) a próclise ao verbo principal, desusada no século XIX, predomina no século XX;
(II) a próclise ao verbo auxiliar apresenta-se, no século XIX, com produtividades mais altas nos casos
potenciais das construções aux+part (98%) e aux+ger (91%) do que das construções com o aux+inf
(54%). No século XX, os índices percentuais caem para 68%, 28% e 11%, respectivamente, nesses
contextos de lexias complexas; (III) Em construções de aux/prep+inf, a produtividade da próclise ao
auxiliar é de 47% dos contextos potenciais no PB oitocentista, chegando a quase inexistir no PB
novecentista.
Pagotto, em Norma e condescendência: ciência e pureza, discute o processo de constituição da
norma padrão (culta) em terras brasileiras, principalmente, com base nos padrões de ordenação de
clíticos produtivos nos textos Constitucionais do Império e da República.
O que se pretende argumentar é, basicamente, que a constituição de uma nova norma culta no Brasil foi um longo e laborioso trabalho discursivo, executado durante anos a fio por eminentes gramáticos, jornalistas, escritores, etc, que construíram o significado que hoje atribuímos às formas da escrita. (PAGOTTO, 1998, p. 50-51)
23
Sua análise foi conduzido por uma comparação entre o texto da Constituição do Império (1824) e o
texto da Constituição da República (1892), justificando o seu trabalho ter sido baseado em dois
exemplares “da expressão mais alta das elites de um país – o texto constitucional”, cf. Pagotto (1998, p.
51). Ao confrontar as duas constituições, o autor observa que, na constituição do Império, encontravam-se
os pronomes átonos prioritariamente proclíticos ao verbo, ao passo que, na constituição da República, se
mostravam orientados pela ênclise. Considerando que, no espaço português, a profícua produtividade da
próclise, cf. já atestado por Salvi (1989), Martins (1994), até o século XVIII, foi seguida pelo gradual
aumento da ênclise na sociedade portuguesa, entende o autor que a imposição da ênclise, no PB atual,
representa uma orientação guiada pela gramática lusitana do português. O respeito a um conjunto de
regras para falar e escrever bem à luz da língua do colonizador evidencia a expressão de uma ferramenta
ideológica de manutenção de uma espécie de subserviência linguística (não mais política, visto que,
depois de 1822, a colônia brasileira se libertou do jugo político da metrópole portuguesa) do Brasil em
relação a Portugal. Assim foi conduzido o nascimento do discurso normativo imposto em terras d' aquém
mar, muito bem consolidado, pois, até os dias atuais nas regras da gramática tradicional (norma
subjetiva), seguidas pelas instituições de ensino e pelos manuais dos jornais brasileiros e muito distante
da norma objetiva do PB.
Duarte e Pagotto (2005) investigam os padrões de ordenação dos clíticos pronominais, tanto nas
lexias simples, como nas complexas, nas correspondências familiares oitocentistas (1879 e 1892) trocadas
por Christiano Ottonni e Barbara Ottoni e os seus netos. A questão que norteia a pesquisa de Duarte e
Pagotto (2005, p. 69) é a seguinte: “será que haveria alguma diferença significativa entre o Senador e sua
esposa, no que diz respeito à posição dos clíticos?” Especificamente, em relação à ordenação dos clíticos
nas lexias complexas, mostrou-se produtivo o uso da ênclise ao verbo principal por parte do avô Ottoni
(“não podia fazel-o nesta ocasião” (carta 25, avô)), ao passo que a avó preferiu a próclise ao verbo
temático (“estou sempre me lembrando de que voce sempre queria me ajudar” (carta 30, avó)). Entendem
os autores que a avó, por somente ter se dedicado aos afazeres do lar, evidenciava uma norma mais
próxima à expressão da variedade brasileira do português que já começava a se delinear em fins do século
XIX, refletindo a expressão do português clássico (muito mais proclíticos, cf. Salvi, Martins), enquanto o
avô, como um Senador da República, seguia o padrão de escrita do PE.
Cavalcante, Duarte e Pagotto (2011) analisam a produção escrita dos remetentes de dezessete
missivas de circulação privada (cartas pessoais) voltadas a Rui Barbosa. O principal objetivo é detectar se
os interlocutores de Rui Barbosa já transpareciam traços da colocação pronominal brasileira ou se
optavam por reproduzir o modelo lusitano de colocação pronominal.
Considerando a descrição dos padrões de ordenação dos clíticos nas lexias complexas, os autores
afirmam que, no PE, a ocorrência do clítico é condicionada pela presença de um operador, licenciando a
próclise ao verbo auxiliar (“[...] não os quero ver, faço que não os vejo, tenho-me limitado a isto pelo
estado de cousas” Carta 11/f.8.) e a ênclise ao verbo infinitivo (“contudo não esmoreço, continuo a
24
trabalhar afim de conseguir pôr-me em condições...” Carta 10/f.2.). Sem elementos atrativos, tem-se a
ênclise ao verbo finito (“tenho-me admirado até [...]” Carta 4/f.4.) e ao último verbo no infinitivo ou
gerúndio (“mas por mim e por eles posso assegurar-lhe que nesta officina [...]” Carta 9/f.1). Para o PB
observou-se, nos complexos verbais, a preferência pela próclise ao segundo verbo: “isto deve
forsosamente te trazer grande vantagem” Carta 14/f.2.; “Como vão com o inverno, aqui tem se publicado
telegramas [...]” Carta 13/f.6.
Em relação às possibilidades de ordenação dos clíticos no interior dos complexos verbais (cl-V1,
V1-cl, cl-V2, V2-cl), observaram os autores que somente o missivista Carlos Nunes de Aguiar
disseminou os clíticos por todos os padrões, além de ter se mostrado o mais brasileiro por expor, em 38%
dos dados, próclise a V1. Há ainda aspectos importantes a serem destacados: (i) a próclise ao primeiro
verbo na ausência de elemento atrativo na produção escrita de Carlos Nunes de Aguiar (“me mande dizer
onde fica a residência, desejo ir vel-los [...]” Carta 11/f.7); (ii) no padrão V1-cl sem operador, Carlos de
Aguiar é novamente o que privilegia esse tipo de ordenação de clítico em suas cartas (tendo-me
demorado, mandei novamente lá, isto tantas vezes sem obter resposta e até hoje nada.” Carta 11/f.3); (iii)
para o padrão cl-V2, observaram os autores que Carlos de Aguiar se destacou ao fazer próclise a V2,
estando no particípio, gerúndio ou infinitivo (“Desde de dezembro que não recebo carta tua (...) tenho te
escripto sempre.” Carta 13/f.1; “(...) verás que tudo que te digo não é uma utopia, estou te vendo
rodeado.” Carta 14/f.2,3. “(...) consta-me alguns amigos querem te passar telegrama (...)”; (iv) o padrão
V2-cl está reservado aos contextos de V2 em sua forma não-finita (“onde ir buscal-as e em quanto
tempo?” Carta 5/f.11; “a casa nova esta a terminar-se, esta magnificamente bem pitada [pintada]” Carta
11/f.6).
Cavalcante, Duarte e Pagotto entenderam que Carlos Nunes de Aguiar foi o missivista que mais se
afastou das normas da tradição em relação à ordenação dos clíticos nos complexos verbais. Os demais
interlocutores de Rui Barbosa, mesmo sendo amigos próximos, deixaram-se guiar pelas as regras de
“etiqueta”. Nesse sentido, ao compararem os resultados da análise da ordenação de clíticos pautada nas
cartas novecentistas dos avós Ottoni, cf. Pagotto e Duarte (2005), perceberam os autores que o avô Ottoni
parece se igualar aos demais missivistas-interlocutores de Rui Barbosa, ao passo que Carlos Nunes de
Aguiar parece se firmar numa posição intermediária (preferência pela próclise a V2) e a avó Bárbara
Ottoni parece figurar no extremo oposto.
Biazolli (2010) analisa os padrões de ordenação dos clíticos (em lexias simples e complexas)
pronominais de 1a, 2a e 3a pessoas do singular e do plural reflexivos e não-reflexivos com base em jornais
oitocentistas e novecentistas da cidade de São Paulo e do município interiorano de Rio Claro (1880 a
1920). Em relação especificamente aos clíticos em complexos verbais, a autora observou, nos jornais da
cidade de São Paulo, 43% dos dados em posição pré-complexo verbal (“Agradecemos o fasciculo do
Dicionario, que nos foi offerecido e recommendamos a nova agencia aos nossos leitores.” O Estado de
São Paulo, SP, 1890); 25,5% dos dados em posição intra-complexo verbal (“Podendo, no entanto, vos
25
affirmar que após o emprego do vosso Cinturão [...]. O Estado de São Paulo, SP, 1905”) e 31,5% dos
dados de clíticos pospostos a V2 (“Procurou mesmo aliar-se a ela.” O Estado de São Paulo, 1915).
Resultados análogos foram encontrados para os periódicos de Rio Claro: a próclise a V1, em 39,2% dos
casos (“[...] e rogão aos amigos e freguezes que se quizerem utilizar de seus prestimos [...]. O Correio do
Oeste, Rio Claro, 1880”); a colocação intra-complexo, em 24,2% das ocorrências (“[...] ali devendo se
demorar alguns dias na Fazenda Santa Maria. A Semana Militar, Rio Claro, 1920”) e, em 36,6% dos
dados, observou-se a colocação pós-complexo verbal (“[...] e mesmo nesse caso a Camara não podia
acceital-o [...]. O Rio Claro, Rio Claro, 1910”). Com base nesses índices percentuais de ordenação de
clíticos em complexos verbais, a autora detectou a preferência, nos jornais paulistas, pelos padrões de
ordenação Pré-CV, Pós-CV e intra-CV, confirmando-se, em parte, o despontar do inovadorismo dos
jornais paulistas em relação ao padrão de colocação intra-complexo verbal.
Nunes e Viera (2013) voltam-se para a descrição do padrão de ordenação de clíticos em lexias
complexas com base em dados da imprensa brasileira e portuguesa nos séculos XIX e XX. A hipótese
inicial das autoras era a de que o padrão intra-complexo verbal (V1 cl V2) ficaria restrito à produção
escrita brasileira novecentista. Os resultados evidenciaram que a imprensa brasileira optou, no século
XIX, pela próclise a V1 em contextos de proclisadores (“As mizeras crianças não | se podendo conter,
coagidas pelas necessidades” [E-B-83-Je-004; editorial – [1871-1890]) e pela ênclise a V1/V2 (“Os que
forem moradores fora desta cidade, como em Lisboa, Bahia, etc., podem corresponder-se com ele pelo
correio, dirigindo-lhe as suas ordens.” [E-B-81-já-024; anúncio [1808-1840]). No século XX, as autoras
observaram a preferência pela próclise a V2 (variante interna ao complexo verbal), nos dados da imprensa
brasileira. Por outro lado, os dados da amostra portuguesa evidenciaram, sobretudo no século XX, as
variantes proclítica e enclítica ao complexo verbal estavelmente distribuídas.
Peterson e Vieira (2012) estudam os padrões de ordenação de clíticos em complexos verbais com
base nas cartas de leitor publicadas em três periódicos de grande circulação pelo espaço carioca
contemporâneo. Trata-se de jornais diversificados em relação ao grau de formalismo e ao públicos-alvo
aos quais se destinam: O Globo (mais culto e menos formal), Extra (medianamente formal), Meia Hora
(menos culto e mais informal). Em termos gerais, observa-se a prevalência da variante intra-CV sem hífen
(V1 cl V2) nos três jornais analisados (50% no O Globo, 65%, no Extra e 67%, no Meia Hora), ainda que
com índices percentuais distintos e sem os contextos motivadores a próclise a V1. Nas construções
passivas analíticas participiais, prevaleceu a posição pré-CV (cl V1 V2 “não lhe foi informado”), ao passo
que, nas construções com o gerúndio como verbo principal, a tendência foi a de ordenação intra-CV
(“estão me cobrando”). Nas construções com o verbo principal em sua forma não-finita, observaram
Peterson e Nunes a prevalência da ordem intra-CV, sobretudo, com os clíticos de 1a e 2a pessoas (“Acho
que vou me mudar...” O Globo, 19.03.2009) e o “se” reflexivo/inerente (“O ser humano ... pode se sentir
pressionado...” Extra, 11.04.2009). Ainda com relação às construções cuja ordenação de clíticos é a intra-
CV, foi observada a hifenização a V1 (“pode-se assistir”) em construções modais com o “se”
26
apassivador/indeterminador (“Deve-se, entretanto, criar uma forma de fiscalização...” Extra, 21.09.2009,
“Todavia, deve-se analisar, cuidadosamente, se este tem condições gerais de ter a guarda.” O Globo,
17.03.2009), ainda que em pouquíssimas ocorrências. Nas construções modais com o “se”
apassivador/indeterminador, prevaleceu a ordem pré-CV (“Não foi Paes quem inventou que não se pode
governar sem união.” O Globo, 22.10.2008) contextualizada por termo proclisador, ao passo que a
ordenação pós-CV ficou restrita ao contexto de clítico de acusativo de 3a pessoa (“Quando fazem, os
cidadãos vizinhos, se é que podemos chamá-los assim.” Extra, 09.04.2009).
Ao analisarem os padrões de ordenação de clíticos em lexias complexas com base nas missivas de
leitor, Peterson e Vieira interpretaram que o gênero textual carta se mostrou suscetível a expor a
ordenação de clíticos do PB vernacular: intra-CV (V1 cl V2). Considerando a pluralidade de normas
caracterizadora do “padrão culto escrito”, as autoras propuseram, através de um continuum, uma escala de
gradação para o espelhamento dos jornais cariocas em relação ao padrão gramatical de colocação dos
clíticos. Nesse sentido, interpretaram que O Globo aproximou-se mais da proposta tradicional, mesmo
que não categoricamente; o Meia Hora afastou-se da prescrição gramatical e o Extra mostrou-se entre os
dois periódicos. Acrescentaram ainda o fato de o jornal O Globo ter exposto “estruturas mais distantes do
vernáculo brasileiro”, cf. Peterson e Vieira (2012, p. 66): pré-CV, intra-CV com hífen e pós-CV.
SÍNTESE DAS ANÁLISES LINGUÍSTICAS CONTEMPORÂNEAS ACERCA DA COLOCAÇÃO PRONOMINAL EM
LEXIAS COMPLEXAS NO PORTUGUÊS BRASILEIRO ESCRITO
Para os estudos linguísticos acerca da ordenação de clíticos em cartas, observamos que tanto a vovó
Ottoni, quanto o missivista-amigo de Rui Barbosa, Carlos Nunes Aguiar, evidenciaram a próclise a V2
em suas missivas novecentistas, cf. Duarte e Pagotto (2005) e Cavalcante, Duarte e Pagotto (2011),
respectivamente. Na imprensa paulista oitocentista, a próclise a V1 prevaleceu, cf. Biazolli (2010),
enquanto, na imprensa brasileira novecentista, a próclise a V2 foi a variante preferida, cf. Nunes e Vieira
(2013, p. 97). Nas cartas contemporâneas ao leitor de jornais cariocas, Peterson e Vieira (2012),
observaram a próclise a V2, traço genuinamente brasileiro. Nos textos impressos de um modo geral,
observaram Biazolli (2010), Peterson e Vieira (2012) e Nunes e Vieira (2013) resultados que também já
apontavam (em diferentes níveis de produtividade) a tendência atual de colocação pronominal do PB:
próclise a V2 nas lexias complexas.
Uma vez expostas algumas generalizações de pesquisas linguísticas acerca dos padrões de
ordenação de clíticos em complexos verbais com base em distintas e recuadas amostras textuais (cartas
publicadas em jornais e textos publicados em periódicos nacionais) e recuadas nos séculos XIX e XX,
passa-se à exposição dos pressupostos teórico-metodológicos que conduziram este trabalho monográfico.
27
3. PRESSUPOSTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS: O ESTUDO SOCIOLINGUÍSTICO
Este estudo objetiva investigar o comportamento variável das possibilidades de colocação
pronominal nas lexias complexas (Pré-CV, Intra-CV e Pós-CV) com base nas cartas mineiras
novecentistas. Fundamentamo-nos nas orientações teórico-metodológicas da Sociolinguística de
orientação Laboviana no intuito de constatar que o PB está em constante processo de variação e mudança.
O principal legado de Saussure, ao distinguir a fala [parole] da língua [langue], foi o de romper
com o psicologismo característico da corrente neogramática, considerando a langue (língua) como um
fenômeno social, ainda que excluísse da análise linguística qualquer relação com a sócio-história, ao
passo que a parole (fala) figurava como um fator individual. Ao analisarmos a perspectiva estruturalista,
observamos que Saussure não relata nada de concreto no que se refere à comunidade linguística como a
matriz do desempenho da fala individual, isto é, não há nada em sua teoria que assegure que a língua atue
como um sistema heterogêneo. Ao contrário, o autor afirma que “a língua [...] é de natureza homogênea”
(cf. SAUSSURE, p. 32 apud Weinreich, Labov e Herzog, (2006 [1968], p. 56) e ainda acrescenta “entre
todos os indivíduos assim ligados pela linguagem se estabelecerá uma espécie de média: todos
reproduzirão – não exatamente, decerto, mas aproximadamente – os mesmos signos unidos aos mesmos
conceitos”. (cf. SAUSSURE, p. 29 apud Weinreich, Labov e Herzog, (2006 [1968], p. 56). Neste ponto,
Saussure vê a heterogeneidade dentro do uso linguístico de uma comunidade não como sujeita à
descrição sistemática, mas como um tipo de tolerável imprecisão de desempenho. O pensamento
estruturalista assume como objeto de estudo a língua, e não a fala, isto se justifica, pois é na língua,
conhecimento comum a todos, que se encontra o fundamento da atividade comunicativa. Segundo
Saussure:
A sincronia só conhece uma perspectiva, a dos sujeitos falantes, e todo o seu método consiste em recolher o testemunho deles; para saber em que medida uma coisa é uma realidade, será necessário e suficiente investigar em que medida ela existe na consciência dos falantes.
(SAUSSURE, p. 128 apud Weinreich, Labov e Herzog, 2006 [1968], p. 55)
A Sociolinguística Variacionista de orientação Laboviana volta o seu olhar não apenas para a
configuração interna da língua, mas também para a formação social, contemplando-a como um sistema
movido por uma heterogeneidade, entendendo que a língua tem que ser analisada em seu uso real,
levando em consideração as relações entre a estrutura linguística e os aspectos sociais e culturais da
produção linguística. A língua, ao contrário do que se pensava Saussure, funciona como um sistema
social, não podendo ser analisada como uma estrutura autônoma ou independente do contexto situacional,
da cultura e da história, já que a língua é um meio de comunicação utilizado pelos indivíduos.
Na perspectiva Laboviana (1994 apud Rumeu 2013, p. 82), os conceitos de variação e mudança se
evidenciam como forças inerentes às línguas humanas. À luz desse pressuposto, entendemos que uma das
funções da linguística histórica é a de contrastar passado e presente das línguas, apontando uma trajetória
28
de mudança, cf. discutido por Rumeu (2013). Podemos assim dizer que a variação não se dá ao acaso,
mas é um fenômeno cultural impulsionado por fatores linguísticos (fatores estruturais) e extralinguísticos
(fatores não estruturais). Segundo Tarallo (1999), a relação entre a língua e a sociedade é defendida pela
sociolinguística que, por sua vez, considera a língua como um veículo de comunicação, de informação e
de expressão entre os indivíduos humanos. A língua, sendo caracterizada como expressão do social,
encontra-se em constante processo de mudança, sendo conduzida também pelas mudanças sociais. De
acordo com Edward Sapir (1929):
É justamente porque a língua é um tipo de comportamento estritamente social, assim como tudo numa cultura, e também porque ela revela, em suas linhas gerais, regularidades que só o cientista tem o hábito de formular, que a Linguística é de estratégica importante para ciência social. [...] Uma língua é sobretudo um produto social e cultural e como tal deve ser entendida.
(SAPIR, 1929 apud TARALLO, 1999)
A diversidade e a variabilidade são características inerentes aos sistemas linguísticos. Uma regra
variável é influenciada por diversos fatores, entre eles, de natureza social e estrutural, assim, as variáveis
independentes ou grupo de fatores podem ser de natureza interna ou externa à língua. A mudança
linguística se instaura gradualmente e paulatinamente nas línguas humanas, cf. Naro (1981 apud Mollica
e Braga, 2003), sendo possível que a variação não conduza à mudança, mas todo processo de mudança
pressupõe variação, cf. Tarallo (1999, p. 63). A língua, de acordo com os estudos linguísticos, muda com
o tempo, basta analisarmos o português com o latim para notarmos as diferenças em todos os níveis:
fonético-fonológico, morfossintático e semântico-lexical. Cabe destacar que estas mudanças não
ocorreram de forma instantânea ou abrupta, mas se manifestaram como um processo gradual.
Considerando que o objetivo principal deste trabalho é investigar quais seriam os padrões variantes
de ordenação de clíticos produtivos na escrita mineira novecentista, passemos à exposição de
procedimentos metodológicos adotados. Com base na análise de oitenta e sete cartas mineiras de
circulação privada (amorosas, familiares e de amizade), procedemos ao levantamento dos dados de
clíticos em complexos verbais devidamente ordenados nos padrões de Pré-CV (se pode fazer), Intra-CV
(pode-se fazer, pode se fazer) e Pós-CV (pode fazer-se), submetendo-os ao pacote de programas
Goldvarb-X (2001) no intuito não só de chegarmos às frequências de uso de tais padrões de ordenação de
clíticos, mas também na intenção de alcançarmos os cruzamentos entre a variável dependente (Pré-CV,
Intra-CV e Pós-CV) e os fatores estruturais e sociais controlados neste trabalho, seguindo, é claro, as
orientações metodológicas de uma pesquisa sociolinguística, cf. Mollica e Braga (2004), Guy e Zilles
(2007). Mesmo que conscientes estejamos em relação ao fato de que as frequências percentuais brutas
não explicam por si mesmas fenômenos linguísticos variáveis nas línguas humanas, cf. Scherre (2012),
entendemos que já nos revele, nas cartas mineiras novecentistas, um panorama do nível da variação entre
as possibilidades de ordenação dos clíticos em complexos verbais.
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À Luz de Vieira (2002), o levantamento dos dados de clíticos em complexos verbais se deu a partir
da sua submissão a fatores linguísticos (estruturais) e extra-linguísticos (sociais). No que se refere aos
fatores linguísticos e sociais, submetemos os dados de clíticos aos seguintes grupos de fatores: (I) A
variável dependente em relação a qual a quantificação dos dados esteve estruturada foram os padrões de
ordenação do clítico em lexias complexas (Pré-CV (cl V1 V2), Intra-CV (V1-cl V2, V1 cl V2) e Pós-CV
(V1 V2 cl)); (II) O tipo de complexo verbal (construção passiva, tempo composto (ter + particípio; haver
+ particípio), construções temporais/aspectuais (ir + infinitivo; vir + infinitivo; ir + gerúndio; vir +
gerúndio; estar + gerúndio; estar + a + infinitivo), construções modais (haver + de/que + infinitivo; ter +
de/que + infinitivo; poder + infinitivo; dever + infinitivo; precisar + infinitivo – e aspectuais – acabar +
gerúndio; acabar + de/por + infinitivo; chegar + a + infinitivo; começar + a + infinitivo; voltar + a +
infinitivo; pôr-se + a + infinitivo; tornar-se + a + infinitivo; continuar + a + infinitivo; costumar +
infinitivo; continuar + gerúndio; ficar + gerúndio; andar + gerúndio); (III) A forma do verbo
principal/V2 (infinitivo, gerúndio e particípio); (IV) A presença ou a ausência de elementos intervenientes
no complexo verbal; (V) O tipo de clítico (me, te, se, o(s)/a(s), lhe, nos, vos); (VI) O contexto anterior ao
padrão Pré-CV; (VII) Os períodos do século XX (fase I (1900 a 1925), fase II (1926 a 1951), fase III
(1952 a 1977), fase IV (1978 a 1999) e (VIII) O subgênero da carta mineira de circulação privada
(amorosa, familiar e de amizade).
Neste trabalho, pretendemos também analisar as normas de uso em relação aos padrões de
ordenação dos clíticos nas lexias complexas, observando, principalmente, se o tipo de carta (amorosa,
familiar e de amizade) influenciaria a produção escrita. Os padrões de ordenação de clíticos em
complexos verbais se diversificaria em relação ao tipo carta mineira novecentista (amorosas, familiares e
de amizade)?
Com o intuito de expor brevemente as amostras de cartas que subsidiaram este trabalho, passemos à
descrição dos corpora.
4. OS CORPORA
Neste estudo, fundamentamos a análise dos dados de ordenação de clíticos nas lexias complexas em
oitenta e sete (87) cartas mineiras de circulação privada. Com o intuito de tornarmos equânime a
distribuição dos dados de clíticos nos complexos verbais levantados pelos subgêneros de epístolas
mineiras, cf. distribuição exposta na tabela 1, restringimos este estudo à análise de vinte (20) cartas
amorosas, quarenta e três (43) cartas familiares e vinte e quatro (24) cartas de amizade. Passemos à
descrição da amostra.
Em foco estão as vinte cartas amorosas (20) do poeta mineiro Abgar Renault destinadas a sua noiva
Ignez Brant. São tão profícuos os clíticos em lexias complexas nessas cartas íntimas que, em somente
vinte delas, chegamos a levantar metade (50%) das ocorrências de clíticos analisados (cento e trinta e
quatro (134) dados) neste estudo.
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Em relação às quarenta e três (43) cartas familiares, temos em análise as missivas trocadas entre a
poetisa mineira Henriqueta Lisboa e os seus entes tais como os pais (Maria Rita de Vilhena Lisboa e João
de Almeida Lisboa), irmãos (Abigail Lisboa, Alaíde Lisboa, João Lisboa Jr., José Carlos Lisboa, Maria de
Jesus Lisboa Bacha, Waldir Lisboa), sobrinhos (Clélia Bacha de Almeida, Marília Valladão Pires) e
primas (Lucília e Maria José de Melo). Essas epístolas são responsáveis por 31% dos dados de clíticos em
lexias complexas.
Nas vinte e quatro (24) missivas de amizade, obtivemos 19% dos dados de clíticos em complexos
verbais. Temos em análise as cartas trocadas entre a poetisa mineira Henriqueta Lisboa e alguns de seus
amigos como Abgar Renualt, João Alphonsus de Guimaraens, João Alphonsus de Guimaraens Filho,
Carlos Drummond de Andrade e Murilo Mendes (cartas de amizade). Acrescentemos também algumas
cartas trocadas entre Cyro dos Anjos e Carlos Drummond de Andrade.
Interpretamos, pois, as epístolas familiares e de amizade, ainda que com menor quantidade de
clíticos em complexos verbais em um maior número de cartas (sessenta e sete), como também dotadas de
um certo grau de produtividade de lexias complexas.
A maior parte das amostras de missivas de missivas mineiras analisadas neste trabalho estão sob a
guarda do Acervo dos Escritores Mineiros (FALE/UFMG). Em relação à questão filológica que permeia
os estudos em sociolinguística histórica do PB, convém esclarecer que a conservadora edição de tais
missivas mineiras se deu por Rumeu (2014) vinculada ao Projeto de Pesquisa “Aspectos morfossintáticos
da escrita culta em cartas brasileiras”5 desenvolvido no âmbito da FALE/UFMG. Considerando que a
edição das epístolas mineiras visa aos estudos linguísticos, legitima, segundo Rumeu (2014), a ausência
de qualquer tipo de interferência na expressão escrita dos missivistas. Acrescentemos ainda algumas
epístolas trocadas entre os amigos Cyro dos Anjos e Carlos Drummond de Andrade, no intervalo dos anos
30 a 80 do século XX, em cuja edição feita por Miranda & Said (2012) somente foram atualizadas a
ortografia e a pontuação das missivas, cf. os esclarecimentos dos editores.
Uma vez expostos os corpora que subsidiaram este trabalho, passemos à apresentação e discussão
dos resultados acerca das formas variantes de colocação dos clíticos em lexias complexas mineiras.
5. DISTRIBUIÇÃO GERAL DOS DADOS DE CLÍTICOS PELAS LEXIAS COMPLEXAS: A PREVALÊNCIA DA
ORDEM PÓS-CV (V1 V2 CL) NAS CARTAS MINEIRAS NOVECENTISTAS.
Considerando que entendemos como complexos verbais as sequências verbais que estruturadas com
dois ou mais verbos funcional e semanticamente conectados permitem que o clítico se anteponha (Pré-
CV), se interponha (V1-cl V2 e V1 cl V2) ou se posponha (V1 V2 cl) às lexias, expomos, inicialmente,
alguns pouquíssimos dados de clíticos (somente 09 ocorrências) em lexias complexas com mais de duas
formas verbais, como observamos de (a) a (i).
5 Projeto “Aspectos morfossintáticos da escrita culta em cartas brasileiras” subsidiado pela FAPEMIG, Processo Nº: APQ-01788-13, Demanda Universal. 2014-2016.
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(a) “(...) Achas que estou pensando em adiar a minha ida? Não pensaste errado, porque, infelizmente, sou, máu grado meu, forçado a adial-a. (...)” (AR. BH, 24.09.1925) (b) “[espaço] [espaço] estou arrependido de haver-te enviado aquella carta tendo em vista o resultado produzido. (...)” (AR BH, 29.09.1925) (c) “(...) Estou fazendo tudo por ir a 2 ou 3. Que mais, Ignez, além da minha saúde, poderia impedir-me de ir vêr-te? (...)” (AR. BH, 29.09.1925) (d) [espaço] Só hoje, pelos motivos expostos em cartas muitas à Ignez e que ella naturalmente lhe transmittiu, me é dado vir responder directamente à tua carta de 27, a 29 recebida. (...)” (AR. BH, 02.10.1925) (e) “(...) Ando numa saudade sem fim do marido; estou custando a resignar-se6 com esta separação. (...)” (MJLB. Lambari, 04.08.1941) (f) “[espaço] Ha dias, estou tencionando escrever-lhe, faltando-me sempre o tempo. (...)” (MJLB. Lambari, 05.04.1944) (g) “(...) O João vai sentir-se preterido. (...)” (CDA. RJ,14.06.1960) (h) “[espaço] [espaço] desde o dia 13 de agôsto (!) em que saiu o seu prêmio de Brasília – tardio, mas afinal presente justo – que estou ensaiando mandar-lhe o nosso abraço.(...)” (JCL. RJ, 02.09.1971) (i) “[espaço] Sacio da leitura desse breve e encantador volume com uma gratidão maior por você, por tudo que a sua poesia nos tem feito descobrir (...)”(CDA. RJ, 08.08.1976)
Passemos, cf. tabela 1, à exposição dos resultados da correlação entre a quantidade de cartas de
circulação privada e o número de dados de clíticos em lexias complexas levantados neste trabalho.
Tabela 1: Distribuição geral dos dados de clíticos em complexos verbais pelos subgêneros das cartas de circulação privada.
Neste trabalho, a opção metodológica assumida foi a de analisar contrastivamente os dados de
ordenação de clíticos das cartas íntimas (134 ocorrências) e das cartas pessoais (134 ocorrências),
incluindo, neste grupo, não só as cartas familiares, mas também as cartas de amizade, ao passo que,
naquele grupo, foram incluídas as cartas amorosas. À luz dessa subdivisão entre missivas íntimas e
missivas pessoais, equacionalizamos a distribuição dos dados de clíticos em lexias complexas pelas
oitenta e sete (87) cartas mineiras de circulação privada, nos termos de Barbosa (1999).
Passemos à distribuição dos dados de clíticos em relação aos padrões de ordenação, cf. tabela 2,
também correlacionados por fases do século XX, cf. gráfico 01.
Tabela 2: Distribuição geral dos clíticos pelos seus padrões de ordenação nas lexias complexas das cartas mineiras novecentistas.
6 Segundo Rumeu, é bem possível que a escrevente por lapso de escritura tenha produzido o clítico “se” no lugar do “me” no seguinte trecho: “estou custando a resignar-se com esta separação” no lugar de “estou custando a resignar-me com esta separação”.
CARTAS MINEIRAS NOVECENTISTAS CARTAS DE CIRCULAÇÃO PRIVADA
CARTAS ÍNTIMAS CARTAS PESSOAIS CARTAS AMOROSAS (20) CARTAS FAMILIARES (43) CARTAS DE AMIZADE (24)
84 dados (31%) 50 dados (19%) 134 dados (50%) 134 dados (50%) TOTAL 268 dados
PADRÕES DE ORDENAÇÃO DE CLÍTICOS NAS LEXIAS COMPLEXAS
DAS CARTAS MINEIRAS NOVECENTISTAS
Pós-CV (V1 V2 cl) Pré-CV (cl V1 V2) Intra-CV (V1-cl V2) Intra-CV (V1 cl V2)
170/268 (63%) 58/268 (22%) 23/268 (09%) 17/268 (06%)
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Gráfico 01: Distribuição dos dados de ordenação dos clíticos nos complexos verbais pelas cartas mineiras novecentistas no decorrer do século XX.
Considerando que o objetivo principal deste trabalho é descrever os padrões de colocação de
clíticos em lexias complexas, explicitamos, na tabela 2 e no gráfico 01, as possibilidades encontradas nas
cartas mineiras novecentistas. Dentre as quatro estratégias de ordenação dos clíticos vinculadas às lexias
complexas, observamos a prevalência da colocação pós-CV (V1 V2 cl), em 63% dos dados, seguida pelo
padrão pré-CV (cl V1 V2), em 22% dos dados, e pelo padrão intra-CV com e sem hífen, respectivamente,
em 09% (V1-cl V2) e 06% (V1 cl V2) dos dados. É interessante observarmos, ainda que o número de
missivas não esteja equânime em relação ao eixo do tempo, as altas frequências de uso do padrão Pós-CV
no decorrer do século XX (fase I (1900-25) 70% → fase II (1926-51) 48% → fase III (1952-77) 60% →
fase IV (1978-99) 100%). Por outro lado, o padrão de ordenação legitimamente brasileiro, cf. Galves
(1998), a variante Intra-CV sem hífen (V1 cl V2), mesmo que com índices percentuais insipientes (fase I
(1900-25) 21% → fase II (1926-51) 28% → fase III (1952-77) 19% → fase IV (1978-99) 0%), se deixou
entrever nas cartas mineiras novecentistas analisadas.
Em relação ao padrão privilegiado nas cartas analisadas, a ordem pós-CV, expõem-se, de (01) a
(20), as vinte ocorrências de ênclise a V2 em início absoluto, prevalecendo em construções com o verbo
principal em sua forma não-finita.
V1 V2 cl (01) “Queria torturar-me. Queria andar por todos os logares onde juntos estivemos e onde a ilusão de uma felicidade, talvez impossível, me sorriu tantas vezes...” (AR. BH, 06.11.1924) (02) “Gostarias de vêr-me junto de um homem de reputação duvidosa?” (AR. 17.09.1925) (03) “Acabo de relel-a.” (AR. BH, 24.09.1925) (04) “Estou despedindo-me.” (AR. BH, 24.09.1925) (05) “Quero apenas mostrar-te que tenho razão, e muito a contragosto, e que não falo a esmo.” (AR. BH, 29.09.1925) (06) “Devo alegrar-me ou entristecer-me?” (AR. BH, 29.09.1925) (07) “Evita magoar-me.” (AR. Divinópolis, 06.08.1925)
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(08) “Quero também dizer-te que te amo agora mais (...)” (AR. 09.01.1926) (09) “Quero dizer-te, por exemplo, entre outras cousas (...)” (AR. 09.01.1926) (10) “Quero dizer-te que me fizeste (...)” (AR. 09.01.1926) (11) “Quero significar-te que aplacaste bastante a angustia em que eu vivia.” (AR. 09.01.1926) (12) “Mandei hontem telegraphar-te avisando-te que te tenho escripto todos os dias.” (AR. BH, 24.01.1926) (13) “Insisto em dizer-te, minha querida, que te tenho escripto sempre (...)” (AR. BH, 24.01.1926) (14) “Queria dizer-te muita cousa mais.” (AR. BH, 24.01.1926) (15) “Estou a falar-te dessas cousas como si ellas pudéssem interessar-te...” (AR. 01.06.1927) (16) “Continúa a inquietar-me a falta de noticias tuas.” (AR. BH, 02.04.1927) (17) “Vou transcrevê-lo na Mensagem.” (JCL. BH, 21.06.1941) (18) “Gostaria de enviar-lhe também o “Convívio Poético.” (HL. BH, 31.12.1954) (19) “Vim àvidamente lê-lo (...)” (PP. 14.05.1955) (20) “Quis respondê-la, não soube.” (CA. RJ, 31.10.1986) Ainda descrevendo, nas cartas mineiras analisadas, os contextos de início absoluto, apresentam-se
agora tais ambiências relacionadas aos padrões intra-CV com hífen (V1-cl V2), cf. se observa de (21) a
(27), e sem hífen (V1 cl V2), cf. esta exposto de (28) a (31).
V1-cl V2 (21) “Tenho-as escripto com regularidade e enviado sempre expressas.” (AR. BH, 15.01.1926) (22) “Já estou bom. Tenho-me medicado e feito diéta.” (AR. BH, 01.06.1927) (23) “Costuma-se usar tambem um purgativo” (AR. BH, 03.05.1927) (24) “Prometteu-me lembrar de vez em quando ao Washington o meu nome.” (HL. RJ, 30.08.1933) (25) “Limito-me, por ora, a despender o menos possivel commigo e com a casa.” (HL. RJ, 30.08.1933) (26) “Peço-te pedir a tio Lisboa que não se esqueça de mim(...)” (MJM. Nova Baden, 11.12.1938) (27) “Foi-me recomendado por um amigo (...)” (CDA. RJ, 14.06.1960) V1 cl V2 (28) “Tenho te escripto com muita regularidade” (AR. BH, 02.02.1923) (29) “Estamos lhe enviando "Genio y Figura de Gabriela Mistral", de Fernando Alegria.” (CLB. Santiago, 19.07.1967) (30) “Tem se encontrado sempre com Mamãe?” (CLB. Santiago, 19.07.1967) (31) “Procurei me informar, e tive a alegria de saber que nêste material (...)” (F. RJ, 11.12.1968) 5.1 Os padrões de ordenação dos clíticos pronominais pelos tipos de complexos verbais
Visando ao controle da composição estrutural do complexo verbal, descrevem-se, cf. verificamos na
tabela 3, os tipos de lexias complexas que receberam os clíticos levantados nas cartas mineiras
novecentistas. Pretendemos controlar, na escrita mineira, se o tipo de complexo verbal (tempos
compostos, locuções verbais, construções aspectuais/temporais, construções modais e estruturas passivas)
interferiria ou não na ordem dos clíticos, cf. discutido por Vieira (2002, p. 257).
Tabela 3: Distribuição dos padrões de ordenação dos clíticos pelo tipo de complexo verbal.
Pós-CV Pré-CV Intra-CV PADRÕES DE ORDENAÇÃO/ TIPOS DE LEXIAS
COMPLEXAS
V1 V2 cl
cl V1 V2
V1-cl V2
V1 cl V2
Tempos compostos - 26/58 (45%) 07/23 (30%) 05/17 (29%)
Locuções verbais 61/170 (36%) 20/58 (34%) 09/23 (39%) 03/17 (18%)
Construções temporais/aspectuais
44/170 (26%)
05/58 (10%)
03/23 (13%)
05/17 (29%)
Construções modais 65/170 (38%) 06/58 (10%) 03/23 (13%) 04/17 (24%)
Passivas - 01/58 (01%) 01/23 (05%) -
TOTAL 170/268 (63%) 58/268 (22%) 23/268 (09%) 17/268 (06%)
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Como já anunciado, na tabela 1, o padrão pós-CV (V1 V2 cl) foi o privilegiado nas amostras da
escrita mineira novecentista. Tal padrão de ordenação de clíticos se deixou evidenciar com um maior
nível de frequência de uso nas construções modais, como observamos de (32) a (36), em 38% dos dados,
espraiando-se pelas locuções verbais, em 36% dos dados, como observamos de (37) a (41) e alcançando
as construções temporais/aspectuais, com 26% de frequência de uso, como ilustramos de (42) a (46).
V1 V2 cl
Construções modais: (32) “(...) quando tenho a dizer-te tantas outras!” (AR. BH, 06.11.1924) (33) “(...) a mais doce música pode envenenar-nos (...)” (CA. RJ, out. 1956) (34) “(...) Bem sabes (...) que ando na minha actividade maxima, dando varias providencias para poder estabelecer-me no meu meio com alguma tranquillidade.” (HL. RJ, 06.07.1933) (35) “(...) Mas é obvio que poderá mandá-los a meu cuidado.” (MM. Roma, 23.03.1964) (36) “(...) Depois de ler e reler os admiráveis poemas (...) quis escrever-lhe uma longa carta (...) Cheguei a começa-la” (CA. Brasília, 06.02.1974) Locuções verbais: (37) “(...) Quero apenas mostrar-te que tenho razão, e muito a contragosto (...)” (AR. BH, 29.09.1925) (38) “(...) Não seria esta do teu aniversario (...) que eu deixaria escapar-me.” (AR. BH, 21.01.1926) (39) “(...) Waldyr vai bem, sempre delicado e affavel, procurando ajudar-me em tudo.” (HL. RJ, 30.08.1933) (40) “(...) O enderêço é VIA MONSERRTO 20, caso deseje mandar lhes livros.” (MM. Roma, 23.03.1964) (41) “(...) em cuja conduta não poucas vezes procurei inspirar-me.” (CA. RJ, 31.10.1986)
Construções temporais/aspectuais: (42) “(...) a Mamãe, que foi quem veiu, hontem, trazel-a aqui.” (AR. BH, 02.05.1927) (43) “(...) dizendo que vae mandar-lhe alguns livros.” (HL. RJ, 14.05.1930) (44) “(...) O João vai sentir-se preterido.” (CA. RJ,14.06.1960) (45) “(...) estou a mandar-me para o Rio de Janeiro ...” (AR. BH, 08.09.1993) (46) “(...) Meu sofrimento não me levou a amar-te menos. Mas impediu-me de amar-te mais.” (AR. BH, 09.01.1926)
O padrão pré-CV (cl V1 V2) prevaleceu nas construções formadas por tempos compostos, em 45%
dos dados, como observamos de (47) a (49), por locuções verbais, em 34% dos dados, cf. ilustramos de
(50) a (52), seguidas equanimente pelas construções temporais/aspectuais e modais, com 10% de
frequência, como verificamos de (53) a (57), e mais timidamente acompanhadas pela estrutura passiva,
em somente 01% dos dados, como temos em (58).
cl V1 V2 Locuções verbais: (47) “(...) é muito provavel que nosso filhinho se mantenha sempre como está agora, si não o fizermos ficar manhoso (...)” (AR. BH, 12.05.1927) (48) “(...) Se a família sair mesmo da casa, o proprietário já nos prometeu alugá-la. (...)” (MAV. Campanha, 29.10.1953) (49) “(...) os poemas coronarios ... que lhe aprouve oferecer aos amigos (...)” (CDA. RJ, 16.12.1963) Tempos compostos: (50) “(...) Prouvéra a Deus que jamais a tivesse tido!” (AR. 29.05.1925) (51) “(...) Ha uns dez dias eu lhe havia pedido esta recommendação (...)” (HL. RJ, 30.08.1933) (52) “(...) Ao Flavio não foi necessario fornecer dinheiro, porque o Nicolau já o havia feito.” (AR. BH, 02.10.1925) Construções temporais/aspectuais: (53) “(...) accuso o recebimento o recebimento da cartinha de Mamãe que me veiu trazer tanta alegria (...)” (HL. Campanha, 22.04.1917) (54) “(...) É preciso, porém, que notes que o modo admiravel, por que me vens tratando (...)” (AR. BH, 01.06.1927)
35
(55) “(...) Levou-o e já no dia seguinte me veio dar as suas impressões.” (JCL. 15.11.1960) Construções modais: (56) “(...) e no final tuas palavras de agradecimentos pela homenagem que te acabaram de prestar (...)” (MJLB. Lambari, 04.08.1941) (57) “(...) Você não imagina como Marília está levada, não se pode discuidar (...)” (MAV Campanha, 17.12.1961) Passiva: (58) “(...) muita cousa de tuas cartas se transforma em tristeza ao menos quando eu pensava ou penso, ao lel-as, no que te foi escripto por mim.” (AR. BH, 24.02.1926)
O padrão intra-CV manteve-se, nas cartas mineiras novecentistas, em somente 40 dados
correspondente a 15% dos 268 dados levantados. O padrão intra-CV com hífen (V1-cl V2) predominou
nas estruturas formadas por locuções verbais, em 39% dos dados, como observamos em (59) e (60),
seguida bem de perto pelas estruturas de tempos compostos, em 30% dos dados, cf. ilustramos em (61) e
(62), seguida equanimente pelas construções temporais/aspectuais e modais, de (63) a (66), bem como
pela estrutura passivas em somente 01% das ocorrências, como verificamos em (67).
V1-cl V2 Locuções verbais: (59) “(...) Felizmente, foi um engano, e eu me tranquillizei. Mas, custou-me dormir mau grado o sonno com que ando, cansado (...)” (AR BH, 19.04.1927) (60) “(...) Esquece o que te falei em minhas ultimas cartas, e deixa-me ser menos triste..” (AR. BH, 17.09.1925)
Tempos compostos: (61) “(...) Paulo tem-me feito tal pergunta (...)” (AR. BH, 02.02.1923) (62) “(...) Não sei de razão do atraso de minhas cartas. Tenho-as escripto com regularidade (...)” (AR. BH, 15.01.1926)
Construções temporais/aspectuais: (63) “(...) Sem saber, depois, a gente vae-se modificando. ” (AR BH, 01.06.1927) (64) “(...) Os dois meninos partiram de manhã. A casa aos poucos vai-se esvasiando. ” (CLB. Lambari, 09.09.1946)
Construções modais: (65) “(...) O perfume deve ter-se extraviado.” (AR BH, 24.09.1925) (66) “(...) Em infancia pus-me a lembrar de ti (...)” (MJLB. Lambari, 04.08.1941) Passiva: (67) “(...) Foi-me recomendado por um amigo (...)” (CDA. RJ, 14.06.1960)
O padrão intra-CV sem hífen (V1 cl V2), ainda que com baixíssima produtividade nas cartas
mineiras (somente 17 ocorrências) predominou igualmente nas estruturas de tempos compostos e nas
construções temporais/aspectuais, em 29% dos dados, como observamos de (68) a (70), seguidas pelas
construções modais, em 24% dos dados, e pelas locuções verbais, em 18% dos dados, como observamos
em (71) e (72).
V1 cl V2 Tempos compostos: (68) “(...) A Senhora tem se sentido melhor? (...)” (HL. Lambary, 03.10.1935)
36
(69) “(...) Gabriel (...) já foi duas vezes examinado pelo João, tem se alimentado bem e dormido regularmente (...)” (MJLB. Lambari, 03.10.1948)
Construções temporais/aspectuais: (70) “(...) vou me casar com o Edigio Papandréa (...)” (MJM. Lambari, 22.07.1942)
Construções modais: (71) “(...) mas sempre pensando que você não deve se impressionar com um desfecho que lhe seja acaso desfavorável (...)” (AGF. Brasília, 19.06.1963)
Locuções verbais: (72) “(...) Eu é que ainda não me animei a me libertar da burocracia (...)” (AGF. Brasília, 22.05.1968)
Sintetizando: Em relação aos tipos de complexos verbais propulsores dos padrões de ordenação de
clíticos, chegamos às seguintes constatações: (I) o padrão pós-CV (V1 V2 cl), privilegiado
quantitativamente nas cartas mineiras analisadas, prevaleceu nas locuções verbais e nas construções
modais; (II) o padrão pré-CV (cl V1 V2) predominou em estruturas de tempos compostos e de locuções
verbais e (III) o padrão intra-CV prevaleceu, respectivamente, em locuções verbais e tempos compostos,
em estruturas com hífen (V1-cl V2), ao passo que nos tempos compostos e nas construções
aspectuais/modais, prevaleceu, nas estruturas sem hífen, o padrão Intra-CV (V1 cl V2). As locuções
verbais se mostraram como contextos sintáticos suscetíveis a hospedar/abrigar os três padrões de
ordenação de clíticos nas lexias complexas, prevalecendo, sobretudo, como contexto do padrão pós-CV
(V1 V2 cl) nas missivas mineiras em questão.
Passemos à distribuição dos padrões de ordenação dos clíticos em relação à forma dos verbos
principais (V2): infinitivo, gerúndio, particípio.
5.2 Os padrões de ordenação dos clíticos pronominais em relação a forma do verbo principal (V2):
a produtividade da ordem Pós-CV (V1 V2 cl) com V2 no infinitivo
No que se refere aos 268 dados de complexos verbais, observemos, com base na tabela 4, a
distribuição dos padrões de ordenação de clíticos pela forma do verbo principal (infinitivo, gerúndio e
particípio). O controle da forma do verbo não-flexionado é, neste trabalho, motivado pela hipótese de que
as construções participiais contribuiriam para a produtividade do padrão pós-CV (V1 V2 cl), cf. também
hipotetizado por Vieira (2002, p. 255) com base nos parâmetros gramaticais.
Pós-CV Pré-CV Intra-CV PADRÕES V2 V1 V2 cl cl V1 V2 V1-cl V2 V1 cl V2
TOTAL
Infinitivo 166/207 (80%) 24/207 (12%) 10/207 (05%) 07/207 (03%) 207/268 (77%) Gerúndio 03/14 (21%) 03/14 (21%) 03/14 (21%) 05/14 (37%) 14/268 (05%) Particípio 01/47 (02%) 31/47 (66%) 10/47 (21%) 05/47 (11%) 47/268 (18%)
TOTAL 170/268 (63%) 58/268 (22%) 23/268 (09%) 17/268 (06%) 268/268 Tabela 4: Distribuição dos padrões de ordenação dos clíticos pela forma do verbo principal (V2): infinitivo, gerúndio e particípio.
37
O padrão de ordenação de clíticos pós-CV (V1 V2 cl) foi o preferido nas cartas mineiras
novecentistas, alcançando 77% de frequência de uso (207 ocorrências dentre os 268 dados de complexos
verbais) com V2 no infinitivo. Às formas participais e gerundivas de V2 couberam as baixas frequências
de 18% e 05% nas cartas mineiras analisadas. Voltando o foco especificamente para a relação entre o
padrão de ordenação do clítico em complexos verbais e a forma de V2, constatamos que o padrão pós-CV
(V1 V2 cl), em 80% dos dados, foi privilegiado nas estruturas do verbo principal (V2) em sua forma não-
finita, como observamos de (73) a (80), infirmando, pois, a hipótese de que o contexto participial
privilegiaria o padrão Pós-CV (V1 V2 cl), cf. Vieira (2002, p. 255).
(73) “(...) e tenho a dizer-lhe uma cousa que havia quase adivinhado, ou antes previsto esta manifestacão a Papae. Senti muito ahi não estar...” (HL. Campanha, 22.04.1917) (74) “(...) A gente devia arrepender-se antes. Depois não vale cousa alguma. (...)” (AR. BH, 06.11.1924) (75) “(...) O pnematico do Ford continúa a pregar-me peças (...) Hontem esvaziou e hoje começou a esvaziar-se. (...)” (AR BH, 19.04.1927) (76) “(...) visto que o curso, que já este anno poderia dar lucro razoavel, em condições differentes, continua a arrastar-se morosamente. (...)” (HL. RJ, 30.08.1933) (77) “(...) Se você tiver necessidade de fazer-me alguma comunicação informo-lhe que meu telefone é 2.2026. (...)” (AGF. Brasília, 19.06.1963) (78) “(...) desde o dia 13 de agôsto (!) (...) em que saiu o seu prêmio de Brasília estou ensaiando mandar-lhe o nosso abraço. (...)” (JCL. RJ, 02.09.1971) (79) “(...) Não sei se consigo explicar-me. (...)” (CDA. RJ, 08.08.1976) (80) “(...) eis os motivos desta retardia palavra de agradecimento pelo cartão que teve a bondade de enviar-me a proposito da homenagem prestada a mim por motivo da minha aposentadoria. (...)” (AR. BH, 08.09.1993)
O padrão pré-CV (cl V1 V2) mostrou-se preferencialmente atuante em construções com V2 no
particípio passado, em 66% dos dados (31 ocorrências), como ilustramos de (81) a (84).
(81) “(...) Estou temendo horrivelmente que não me hajas escripto hontem.” (AR. BH, 06.11.1924) (82) “(...) vários poemas que nos têm encantado (...)” (MJLB. Lambari, 28.10.1945) (83) “(...) contentes com a estadia de Mamãe que se sente animada (...)” (MJLB. Lambari, 25.02.1950) (84) “(...) Não lhe tenho escrito nos últimos tempos (...)” (CDA. RJ, 09.08.1955)
Por outro lado, as vinte três evidências de clíticos em posição intra-CV com hífen (V1-cl V2)
mostraram-se entre as formas verbais não-finitas (10 dados) e participais (10 dados) do verbo principal
como ilustramos em (85) e (86). Em somente 03 ocorrências, o verbo principal se mostrou em sua forma
gerundiva, como observamos de (87) a (89). Já dentre as dezessete construções com clíticos em posição
intra-CV sem hífen (V1 cl V2) prevaleceram as estruturas com V2 (verbo principal) em sua forma não-
finita (em 07 ocorrências), como verificamos em (90) e (91), além de também dividirem o campo
funcional com formas gerundivas e participais, em tão somente (levemos em consideração o baixíssimo
número de dados) cinco ocorrências para cada tipo de verbo principal, como exemplificamos em (92) e
(93), respectivamente.
V1-cl V2 (85) “(...) Hontem, à noite, pareceu-me ouvir um automovel (...)” (AR. BH, 19.04.1927)
38
(86) “(...) o Alfredo Valladão, que felicitou Papae pelo auspicioso acontecimento mostrando-se convencido de que a troca foi boa. (...)” (HL. RJ, 14.05.1930) (87) “(...) Os seus votos vão-se cumprindo, posto que vagarosamente.” (AR. s.l, 27.12.1924) (88) “(...) Sem saber, depois, a gente vae-se modificando... (AR. BH, 01.06.1927) (89) “(...) A casa aos poucos vai-se esvasiando. (CLB. Lambari, 09.09.1946)
V1 cl V2 (90) “(...) Já estou mais do que em falta com você, pois até hoje não lhe agradeci as preciosas informações que teve a bondade de me enviar.” (MTS. Campanha, 01.05.1967) (91) “(...) Pelos jornais e pelo Valdir soubemos das palestras e conferências do José Carlos, que enquanto descanse - carrega pedras... virá êle nos visitar?” (MJLB. Lambari, 07.02.1950) (92) “(...) É aí a opção delicada: ou ele, ou Lilita, que esta se acabando de aflições.” (CA. Brasília, 14.03.1975) (93) “(...) Tem se encontrado sempre com Mamãe? (...)” (CLB. Santiago, 19.07.1967)
De um modo geral, as construções com V2 (verbo principal) em sua forma não-finita prevaleceram
nas lexias complexas mineiras analisadas. Sintetizemos os principais resultados: (I) o padrão Pós-CV (V1
V2 cl) assumiu maior produtividade em sequências verbais cujo verbo principal estava no infinitivo; (II) o
padrão Intra-CV sem hífen (V1 cl V2), ainda que tenha tido baixíssimo número de dados (dezessete
ocorrências) distribuídos equanimemente pelos quatro padrões de ordenação de clíticos, se mostrou
minimamente mais produtivo com formas verbais gerundivas no status de verbo principal; (III) o padrão
Pré-CV (cl V1 V2) prevaleceu em sequências verbais estruturadas com V2 na sua forma participial,
desabonando a hipótese inicial de que o particípio fomentaria a produtividade do padrão pós-CV (V1 V2
cl), cf. discutido por Vieira (2002) à luz da prescrição gramatical.
Passemos à descrição dos contextos proclisadores que pareceram sedimentar a ordem pré-CV (cl
V1 V2) nas cartas mineiras novecentistas.
5.3. Os contextos precedentes à ordem Pré-CV (cl V1 V2) nos complexos verbais
Buscamos controlar a força do elemento “atrator” especificamente em relação ao padrão de
ordenação proclítica ao complexo verbal (cl V1 V2) no intuito de descrevermos até que ponto a escrita
mineira se deixou levar pelas regras de colocação pronominal prescritas pela tradição gramatical também
à luz de Vieira (2002, p. 254). Ainda que tenhamos tido um baixíssimo índice percentual de próclise ao
complexo verbal, em 22% dos dados correspondentes a 58 ocorrências dentre os 268 dados de lexias
complexas, é interessante descrevermos os contextos de próclise que subsidiaram o padrão Pré-CV (cl V1
V2).
39
Tabela 5: Distribuição dos dados de ordenação Pré-CV (cl V1 V2) em relação ao tipo de “elemento proclisador”.
Nas cartas mineiras novecentistas, os contextos precedentes que mais envolveram a ordenação Pré-
CV foram o pronome relativo “que” (26% = 15 ocorrências), as partículas de negação (21% = 12
ocorrências) e a conjunção integrante “que” (16% = 09 ocorrências) expostos, respectivamente, de (94) a
(102), funcionando como legítimos elementos atratores do clítico a se antepor ao complexo verbal em
consonância, pois, com a prescrição gramatical.
Aos advérbios, pronomes pessoais, SN sujeito nominal, locuções adverbiais, locuções conjuntivas,
SN sujeito pronome demonstrativo, outros pronomes ou advérbios relativos e conjunções coordenativas
alternativas couberam pouquíssimas ocorrências, como ilustramos de (103) a (113).
Pronome relativo “que” (94) “(...) Dá bem a medida das razões que te levaram a adiar por mais por mais 8 dias a tua vinda.” (AR. BH, 01.06.1927) (95) “(...) Já lemos juntos, vários poemas que nos têm encantado pela pureza de sentimentos (...)” (MJLB. Lambari, 28.10.1945) (96) “(...) Não lhe faltam condições para a obra, e não vejo outro que a possa executar. ” (CDA. RJ, 25.01.1970)
Partícula de negação (97) “(...) é ella que não me deixa acreditar ” (AR. Divinópolis, 06.08.1925) (98) “(...) Prouvéra a Deus que jamais a tivesse tido! (AR. BH, 29.09.1925) (99) “(...) Não lhe tenho escrito nos últimos tempos... (CDA. RJ, 09.08.1955)
Conjunção integrante “que” (100) “(...) Julguei que te não houvesse agradado.” (AR BH, 29.09.1925) (101) “(...) Mandei hontem telegraphar-te avisando-te que te tenho escripto todos os dias.” (AR. BH, 24.02.1926) (102) “(...) Espero que se tenha resolvido o caso da Apólice da Previdência (...)” (JCL RJ, 09.10.1947)
Advérbio (103) “(...) si Maria já o não tivesse feito (...)” (HL. Campanha, 22.04.1917) (104) “(...) Muito me tem poupado o que voce me manda (...)” (MJM. Nova Baden, 11.12.1938)
Pronome pessoal (105) “(...) Suppuz logo que elle me houvesse trazido qualquer cousa de ti.” (AR. BH, 08.04.1927)
Pré-CV PADRÃO ELEMENTO PROCLISADOR
cl V1 V2
TOTAL
Pronome relativo “que” 15/58 26% Partículas de negação 12/58 21% Conjunção integrante “que” 09/58 16% Advérbio 08/58 13% Pronome pessoal 06/58 10% SN sujeito nominal 02/58 03% Locução adverbial 02/58 03% Locução conjuntiva 01/58 02% SN sujeito pron. demonstrativo 01/58 02% Outros pronomes/advérbios relativos 01/58 02% Conjunção coordenativa alternativa 01/58 02%
TOTAL 58/268 22%
40
(106) “(...) Gostaria que Você me mandasse logo dizer a minha quota nas demais, pois não desejo ficar em atraso com elas.” (JCL. RJ, 09.10.1947) (107) “(...) O facto de Mamãe não poder vir no dia 7, como eu lhe havia pedido, não fez grande alteração no programma da mudança.” (HL. RJ, 06.07.1933)
SN sujeito nominal (108) “(...) mas [a experiencia ao jantar de hontem]SN me deixou aterrado e - o que é muito mais grave - com o estomago vasio.” (AR. BH, 08.04.1927)
Locução adverbial (109) “(...) Levou-o e já [no dia seguinte] me veio dar as suas impressões.” (JCL. 15.11.1960)
Locução conjuntiva (110) “(...) Quanto menos me faças soffrer, quanto mais te dediquez a mim (...)” (AR. BH, 24.02.1926)
SN sujeito pronome demonstrativo (111) “(...) São um punhado de dias mal vividos ou nada vividos, esses me tenho passado longe de ambos.” (AR. BH, 03.05.1927)
Outros pronomes/advérbios relativos (112) “(...) Eu proprio não sei, não comprehendo como te tens descuidado de certas cousas (...)” (AR. BH, 15.01.1926)
Conjunção coordenativa alternativa (113) “(...) depois de lê-lo poderá guarda-lo ou passa-lo adiante (...)” (CDA. RJ, 13.11.1986)
Em síntese, observamos o padrão Pré-CV (cl V1 V2) que abrigado por contextos morfossintáticos
específicos tais como o pronome relativo “que”, partículas de negação e a conjunção integrante “que”
pareceu ser impulsionado por tais contextos “atratores” como uma evidência do alto de nível de
ajustamento das cartas mineiras escritas analisadas às normas tradicionais de colocação pronominal.
Passemos à exposição dos resultados concernentes aos padrões de ordenação dos clíticos em relação
aos tipos de clíticos (me, te, lhe, o(s)/a(s), se, nos, vos) levantados nas cartas mineiras novecentistas
analisadas.
5.4 Os padrões de ordenação em relação aos tipos de clíticos nos complexos verbais
Com base na hipótese de Vieira (2002, p. 128) de que o controle do tipo de clítico seria importante
para identificarmos se as formas pronominais de 1a e 2a pessoas tenderiam a se destacar
quantitativamente7, ao fazerem referência ao locutor e ao interlocutor, passemos à exposição dos
resultados do controle de tal variante linguística correlacionada aos padrões de ordenação de clíticos nas
lexias complexas.
7 Segundo Monteiro (apud Vieira 2002, p. 128.), “a ordem dos clíticos seria motivada por elementos relativos à ‛função expressiva’ da linguagem.”
41
PADRÕES TIPOS DE CLÍTICOS
V1 V2 cl
cl V1 V2
V1-cl V2
V1 cl V2
TOTAL ME 38/170 (22%) 24/58 (41%) 12/23 (52%) 05/17 (29%) 79/268 (29%) TE 49/170 (29%) 09/58 (14%) 01/23 (04%) 01/17 (06%) 60/268 (22%)
O (S), A (S) 37/170 (22%) 08/58 (14%) 02/23 (09%) - 47/268 (18%) SE 15/170 (09%) 08/58 (14%) 08/23 (35%) 05/17 (29%) 36/268 (13%)
LHE 28/170 (16%) 04/58 (07%) - 02/17 (12%) 34/268 (13%) NOS 03/170 (02%) 05/58 (09%) - 04/17 (24%) 12/268 (04%)
TOTAL 170/268 (63%) 58/268 (22%) 23/268 (09%) 17/268 (06%) 268/268 (100%) Tabela 6: Distribuição dos tipos de clíticos em relação aos padrões de ordenação nas lexias complexas das cartas mineiras novecentistas.
Os clíticos me, te, o/a, lhe, se, nos se pareceram se espraiar com maior força pelo padrão variante de
colocação pronominal mais recorrente nas cartas mineiras novecentistas, o padrão Pós-CV (V1 V2 cl),
alcançando os clíticos de 2a (te), 1a (me) e 3a (o/a, lhe) pessoas pronominais as maiores frequências de
uso, como observamos, respectivamente, de (114) a (116 a e 116 b).
V1 V2 cl (114) “(...) Eu poderia contar-te cousas, mas ... não tenho coragem. (...)” (AR. BH, 17.09.1925) (115) “(...) Depois, estendeu-se ao homem moral, reto, seguro, certo, em cuja conduta não poucas vezes procurei inspirar-me. (...)” (CA. RJ, 31.10.1986.) (116) a. “(...) a minha carta de 30 mandei leval-a ao correio por um empregado da Estrada (...)” (AR. BH, 02.02.1923.) (116) b. “(...) Vou agora ao Chico Campos pedir-lhe providencias. (AR. BH, 02.04.1927)
A segunda variante mais frequente, nas cartas mineiras novecentistas, o padrão Pré-CV (cl V1 V2),
se deixou evidenciar com os clíticos de 1a (me, nos), 2a (te) e 3a (lhe, o/a, se) pessoas do discurso, com
frequências de 41%, 14%, 14% e 14%, respectivamente, como ilustramos de (117) a (122). Já as variantes
intra-CV com e sem hífen prevaleceram com os clíticos me e se, em 52% (12 ocorrências) e 29% (05
ocorrências) dos dados, respectivamente, como verificamos de (123) a (126).
cl V1 V2 (117) “(...) o recebimento da cartinha de Mamãe que me veiu trazer tanta alegria (...)” (HL Campanha, 22.04.1917) (118) “(...) já nos prometeu alugá-la. (...)” (MAV Campanha, 29.10.1953) (119) “(...) pela homenagem que te acabaram de prestar (...)” (MJLB. Lambari, 04.08.1941) (120) “(...) Não lhe tenho escrito nos últimos tempos (...)” (CDA. RJ, 09.08.1955) (121) “(...) Prouvéra a Deus que jamais a tivesse tido!” (AR. BH, 29.09.1925) (122) “(...) Espero que se tenha resolvido o caso (...)” (JCL. RJ, 09.10.1947)
V1-cl V2 (123) “(...) Si assim fosse, ter-me-ias convidado. (...)” (AR. BH, 21.01.1926) (124) “(...) O perfume deve ter-se extraviado. (...)” (AR. BH, 24.09.1925)
V1 cl V2 (125) “(...) Eu é que ainda não me animei a me libertar da burocracia (...)” (AGF. Brasília, 22.05.1968) (126) “(...) tem se alimentado bem e dormido regularmente (...)” (MJLB. Lambari, 03.10.1948)
42
Constatamos, à luz da tabela 6, que os pronomes de 1a e 2a pessoas te e me com frequências de uso
de 29% e 22%, respectivamente, se evidenciaram realmente como pronomes de alta “função expressiva”,
cf. discutido por Vieira (2002, p. 128) à luz de Monteiro (1994, p.189-190), o que é corroborado
sobretudo, com as suas altas frequências de uso nas lexias pós-CV (V1 V2 cl) das cartas mineiras
novecentistas.
Passemos à exposição dos resultados acerca do controle da presença ou ausência de elementos
intervenientes no interior dos complexos verbais das cartas mineiras novecentistas.
5.5 Presença/ausência de elemento interveniente no complexo verbal
O controle da interferência da presença ou ausência de elemento interveniente na ordenação dos
clíticos no interior das lexias complexas partiu da hipótese de Vieira (2002, p. 256) de que o “elemento
interveniente” funcionaria como “atrator” à semelhança do que ocorre nos contextos de próclise
licenciados, no PB, por “elementos atratores”. Com base na tabela 7, passemos à análise do panorama
variável de colocação pronominal em relação aos possíveis elementos intervenientes no interior das lexias
complexas das cartas mineiras.
Pós-CV Pré-CV Intra-CV PADRÕES ELEMENTO INTERVENIENTE
V1 V2 cl
cl V1 V2
V1-cl V2
V1 cl V2
TOTAL
Ausência 107/170 (63%) 51/58 (88%) 20/23 (87%) 13/17 (76%) 191/268 (71%) Presença 63/170 (37%) 07/58 (12%) 03/23 (13%) 04/17 (24%) 77/268 (29%)
TOTAL 170/268 (63%) 58/268 (22%) 23/268 (09%) 17/268 (06%) 268/268 (100%) Tabela 7: Distribuição dos dados de clíticos pelos respectivos padrões de ordenação em relação à ausência ou presença de elementos intervenientes nas lexias complexas das cartas mineiras novecentistas.
A distribuição dos elementos intervenientes entre o clítico e o complexo verbal não assumiram os
maiores níveis de produtividade nas epístolas mineiras analisadas. Para o mais produtivo padrão de
ordenação de clítico, o pós-CV (V1 V2 cl), observamos que, somente em 37% dos dados, os elementos
intervenientes se deixaram expressar entre V1 e V2, como exemplificamos de (127a, b, c) a (130).
V1 V2 cl (127) a. “(...) Não pensaste errado, porque, infelizmente, sou, [máu grado meu], forçado [a] adial-a. ” (AR. BH, 24.09.1925) (127) b. “(...) Espero que chegue [mesmo] a prepará-lo, o que somente o futuro dirá...” (AGF. Brasília, 22.05.1968) (127) c. “(...) palavra de agradecimento pelo cartão que teve [a bondade de] enviar-me a proposito (...)” (AR. BH, 08.09.1993) cl V1 V2 (128) “(...) Gostaria que Você me mandasse [logo] dizer a minha quota nas demais, pois não desejo ficar em atraso com elas.” (JCL. RJ, 09.10.1947) V1-cl V2 (129) “(...) Limito-me, [por ora], a despender o menos possivel commigo e com a casa. (...)” (HL. RJ, 30.08.1933) V1 cl V2 (130) “(...) quando virá [êle] nos visitar? (...)” (MJLB. Lambari, 07.02.1950)
43
Tendo em vista o reduzido número de dados de lexias complexas com elemento interveniente na
sua estrutura interna, não conseguimos comprovar a hipótese de que tais elementos intervenientes
(preposição, conector etc) funcionariam como “atratores” seja do padrão Pós-CV (V1 V2 cl), padrão mais
produtivo nas cartas mineiras analisadas, seja do padrão Pré-CV (cl V1 V2), fomentado normalmente por
termos considerados “atratores” do clítico que se antepõe a V1.
Uma vez correlacionados os padrões de ordenação de clíticos às variáveis linguísticas, passa-se à
descrição-analítica dos resultados concernentes à variável extralinguística “subtipos de cartas de
circulação privada”: íntimas ou pessoais.
5.6 Os padrões de ordenação dos clíticos em complexos verbais nas cartas íntimas e pessoais
Considerando que controlamos uma possível influência dos subgêneros de cartas de circulação
privada em relação à diversificação dos padrões de ordenação de clíticos no interior das lexias complexas,
passemos, com base na análise da tabela 08 e do gráfico 02, à exposição dos resultados.
Pós-CV Pré-CV Intra-CV PADRÕES
SUBTIPOS DE CARTAS
V1 V2 cl
cl V1 V2
V1-cl V2
V1 cl V2
TOTAL
Cartas íntimas 96/134 (72%) 25/134 (18%) 12/134 (09%) 01/134 (01%) 134/268 (50%) Cartas pessoais 74/134 (55%) 33/134 (25%) 11/134 (08%) 16/134 (12%) 134/268 (50%)
TOTAL 170/268 (63%) 58/268 (22%) 23/268 (09%) 17/268 (06%) 268/268 (100%) Tabela 8: Distribuição dos dados de clíticos pelos respectivos padrões de ordenação em relação aos subtipos de cartas da administração privada (íntimas e pessoais).
Gráfico 02: Distribuição dos padrões de ordenação dos clíticos pronominais pelos complexos verbais nas cartas mineiras novecentistas.
Nas cartas íntimas e pessoais novecentistas, constatamos, à luz da tabela 8 e do gráfico 02, que
prevaleceu o padrão de ordenação de clíticos Pós-CV (V1 V2 cl), contrariando as expectativas iniciais
44
deste trabalho: detectar a variante intra-CV a reger os clíticos em complexos verbais das cartas mineiras
do século XX. Os resultados desta monografia, ilustrados de (131) a (134), parecem evidenciar o
conservadorismo da escrita epistolar mineira, no século XX, tendo em vista a ordenação Pós-CV (V1 V2
cl) ter prevalecido em 72% dos dados das cartas íntimas (correspondente a 96 ocorrências nas cartas
amorosas exclusivamente produzidas pelo mineiro Abgar Renault) e em 55% dos dados das cartas
pessoais (correspondente a 74 ocorrências nas cartas familiares e de amizade), mantendo-se, pois,
“distante do vernáculo brasileiro” nos termos de Peterson e Vieira (2012, p. 66).
(131) “(...) Até o Paulo tem-me feito tal pergunta, sem que eu possa adiantar-lhe cousa alguma (...)” (AR. BH, 02.02.1923. (carta de amor)) (132) “(...) De volta para casa não pude escrever-te porque me assaltou uma forte dôr de cabeça (...)” (AR. BH, 06.11.1924. (carta de amor)) (133) “(...) Julgas que o meu intuito foi entristecer-te. (...)” (AR. BH, 29.09.1925. (carta de amor)) (134) “(...) Eu não devia escrever-te mais hoje, só por causa dessa phrase... (...)” (AR. BH, 08.04.1927. (carta de amor))
Por outro lado, as cartas pessoais (familiares e de amizade), ainda que timidamente, como
ilustramos de (135) a (140), foram responsáveis por evidenciar a variante brasileira do português, a intra-
CV (V1 cl V2), em 12% dos dados (correspondente a somente 12 ocorrências), através da qual o clítico,
cf. Galves (1998, p. 83), mantém uma relação mais lexical com o verbo principal (V2).
(135) “(...) Aproveito a oportunidade para participar-lhe e bem assim aos tios, que vou me casar com o Edigio Papandréa (...)” (MJM. Lambari, 22.07.1942. (carta familiar)) (136) “(...) Você deve me mandar, com urgência, os seus elementos (...)” (AG. 20.02.1943. (carta de amizade)) (137) “(...) Não sei se tinha visto, por isso estou lhe enviando. (...)” (CLB. Lambari, 20.04.1950. (carta familiar)) (138) “(...) A bolsa além de bonita e prática, chegou mesmo na hora, pois minha carteirinha já estava se despedindo...” (CLB. Lambari, 20.04.1950. (carta familiar)) (139) “(...) mas sempre pensando que você não deve se impressionar com um desfecho (...)” (AGF. Brasília, 19.06.1963 (carta de amizade)) (140) “(...) Assim, você está nos devendo, com a dos demais Cantos do Purgatório (...)” (CDA. RJ, 25.01.1970. (carta de amizade)) Passemos, nas considerações finais, à síntese dos principais resultados a que chegamos.
45
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os clíticos distribuíram-se, no interior dos complexos verbais das missivas mineiras, pelos padrões
de colocação Pós-CV, Pré-CV e Intra-CV, respectivamente, com frequências de uso de 63%, 22% e 09%.
O padrão Pós-CV foi o preferencialmente assumido na escrita mineira novecentista, contrariando a
expectativa, traduzida como hipótese norteadora deste trabalho, de que o padrão Intra-CV (V1 cl V2) se
sobressairia, como já evidenciado por Duarte e Pagotto (2005) para a escrita da avó Ottoni em fins do
século XIX; por Cavalcante, Duarte e Pagotto (2011) em relação às missivas de Carlos Nunes de Aguiar
em que opta por próclise a V1 sem “atrator” e próclise a V2; por Biazolli (2010) que constatou, ainda que
timidamente, o padrão Intra-CV (próclise a V2) em jornais paulistas de fins do século XIX e do século
XX; por Nunes e Vieira (2013) para a imprensa brasileira novecentista, por Peterson e Vieira (2012), para
as cartas contemporâneas dos jornais cariocas e por Schei (2002) em relação ao predomínio de próclise ao
verbo principal (V2) na literatura brasileira novecentista. Nesse sentido, constatamos um alto nível de
espelhamento entre as regras prescritivistas de colocação pronominal e as normas de uso de colocação dos
clíticos nas lexias complexas, sobretudo, se atentarmos ao fato de que o padrão Pós-CV foi o preferido
nas epístolas mineiras novecentistas.
Em relação aos fatores linguísticos e sociais controlados quantitativamente, é possível tecermos
algumas generalizações:
(I) O padrão Pós-CV (V1 V2 cl) prevaleceu em complexos verbais estruturados como modais e locuções;
(II) Os complexos verbais cujos verbos principais estavam em sua forma não-finita (infinitiva)
subsidiaram a maior parte dos dados de ordenação Pós-CV;
(III) O segundo padrão de ordenação mais frequente, o Pré-CV (cl V1 V2), manteve-se,
preferencialmente, contextualizado pelos atratores pronome relativo “que”, partículas de negação e
conjunção integrante “que”, harmonizando-se, pois, aos preceitos gramaticais;
(IV) Os clíticos me e te prevaleceram na produção escrita mineira novecentista, sobretudo, ordenados
procliticamente a V1 (cl V1 V2) e encliticamente a V2 (V1 V2 cl), respectivamente, reforçando a “função
expressiva” de tais pronomes pessoais na referência às 1a e 2a pessoas do discurso;
(V) A presença de elementos intervenientes no interior do complexo verbal se mostrou mais produtiva na
expressão da variante Pós-CV (V1 V2 cl);
(VI) As cartas amorosas do mineiro Abgar Renault foram marcadas com a sua preferência pela ordenação
Pós-CV (V1 V2 cl), ao passo que, nas cartas mineiras familiares e de amizade, os clíticos distribuíram-se
pela variante Intra-CV (V1 cl V2), ainda que a estratégia de ênclise a V2 (V1 V2 cl) também tenha sido
privilegiada.
Diante desse panorama variável dos padrões de ordenação dos clíticos nas lexias complexas,
constatamos que a tinta que escorre da produção escrita mineira novecentista (novamente parafraseamos
Tarallo, 1996) pareceu mostrar-se em consonância com os parâmetros lusitanos de colocação pronominal
que conservadoramente são mantidos à luz da gramática tradicional.
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