UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1-...

124
0 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO SANDRA APARECIDA CAVALLARI O APRENDER DO BEBÊ: REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SEGUNDO ACADÊMICOS DE PEDAGOGIA DA UFMT, CAMPUS CUIABÁ. CUIABÁ–MT 2011

Transcript of UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1-...

Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

0

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

SANDRA APARECIDA CAVALLARI

O APRENDER DO BEBÊ: REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SEGUNDO ACADÊMICOS DE PEDAGOGIA DA UFMT, CAMPUS CUIABÁ.

CUIABÁ–MT 2011

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

1

SANDRA APARECIDA CAVALLARI

O APRENDER DO BEBÊ: REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SEGUNDO ACADÊMICOS DE PEDAGOGIA DA UFMT, CAMPUS CUIABÁ.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Educação na Área de Concentração Cultura, Memória e Teorias em Educação, no Grupo de Pesquisa em Psicologia da Infância.

Orientadora:

Professora Doutora DANIELA BARROS SILVA FREIRE ANDR ADE

CUIABÁ – MT 2011

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

2

Dados Internacionais de Catalogação na Fonte

C377a Cavallari, Sandra Aparecida.

O aprender do bebê : representações sociais segundo acadêmicos de Pedagogia da UFMT, Campus Cuiabá / Cavallari, Sandra Aparecida. -- 2011.

123 f. : il. ; 30 cm.

Orientadora: Daniela Barros Silva Freire Andrade.

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Mato Grosso,

Instituto de Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação,

2011.

Inclui bibliografia.

Ficha Catalográfica elaborada pelo Bibliotecário Jordan Antonio de Souza - CRB1/2099

Permitida a reprodução parcial ou total desde que citada a fonte

Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

3

Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

4

DEDICO ESPECIALMENTE

A Deus, Por permitir que eu seja sua filha e, por algum tempo, aceitar minha presença como

parte deste mundo, oportunizando esta passagem por meio da vida, guiando-me para atingir os meus objetivos. Aos meus pais: Adalberto Cavalllari (in memorian) e Dircelina Sandra

Por oportunizar-me o direito à vida, mediando o meu futuro; ensinaram-me a viver neste mundo com dignidade, respeitando o outro. Foram muitos anos de empenho, vivendo suas vidas com dificuldades para proporcionar, dentro de suas condições, o melhor aos filhos.

Aos dois, agradeço por sempre apoiar-me, nunca impedir-me de sonhar, sempre com palavras de sabedoria, incentivo, amor e dedicação, absorvendo minhas decisões. Ao meu pai, que enquanto esteve entre nós era o esteio de nossas vidas, era a base que nos locomovia hoje em nossos corações permanece vivo, pois sua sabedoria deixada ainda é nosso guia, obrigada pai. À minha mãe agradeço cada momento que vive ao meu lado; sou adulta, mas ainda me cuida, por meio de suas orações e carinho.

Ao marido e filha Marido Júlio e filha Thainara, que diretamente foram os mais prejudicados com minha

ausência; em alguns momentos acumularam minha função para que eu estudasse, foram companheiros e compreenderam meu sonho. Obrigada por sempre estarem do meu lado, convivendo com minha ausência, e pelo carinho e dedicação.

Meus irmãos e cunhada Cacilene e Wirlisbeste, meus irmãos, e Rosemary cunhada, por sempre me apoiarem

indiretamente neste percurso vivido.

Aos meus sobrinhos Pollyane Beatriz e Kayron, que considero meus filhos do coração, por crescerem

próximo e sempre estarem ao meu lado, Thais Jhenifer, que cresceu distante, mas faz parte da família.

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

5

AGRADECIMENTOS

À professora orientadora Doutora Daniela Barros Silva Freire Andrade, por me escolher para estudar no seu

grupo de pesquisa, por não ter desistido de mim. Pela sabedoria e dedicação com que orientou este trabalho. Obrigada por fazer parte deste momento.

À banca examinadora À Profª. Dra. Romilda Teodora Ens, ao Prof. Dr. Cleomar Ferreira Gomes e à Profª.

Dra. Márcia Ferreira por aceitarem fazer parte da composição da banca examinadora deste trabalho, contribuindo com novas reflexões na efetivação desta pesquisa.

Companheiras de grupo Carla Adriana, Giovanna, Iury Lara, Mona Liza, Sandra Abdalla e Solange,

companheiras de aprendizado no grupo de pesquisa, obrigada pelos momentos de trocas, de alegrias, de tristezas, de lutas, de aprendizagens e principalmente de reflexões, uma nova amizade que nasceu e fortaleceu esta caminhada. Cada uma é muito especial.

PIBICS e extensionista

Wendell, Paula, Luiza e Eliza, por estarem presentes em todos os momentos deste processo, e principalmente por conhecê-los e construir amizades.

Às egressas

Marisa, Aline, Erika e Naiara, pela aceitação junto ao grupo com simpatia e delicadeza, pelos momentos de trocas importantes e significativos na contribuição deste trabalho. A todos que direta e indiretamente contribuíram para esta conquista, o meu Muito

Obrigada!

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

6

Da psicogenética walloniana não resulta, todavia, uma pedagogia meramente conteudista, limitada a propiciar a passiva incorporação de elementos da cultura pelo sujeito. Resulta, ao contrário, uma prática em que a dimensão estética da realidade é valorizada e a expressividade do sujeito ocupa lugar de destaque. Afinal, o processo de construção da personalidade que, em diferentes graus, percorre toda a psicogênse, traz como necessidade fundamental a expressão do eu. Expressar-se significa exteriorizar-se, colocar-se em confronto com o outro, organizar-se.

(GALVÃO, 2010, p. 99)

Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

7

RESUMO

O presente estudo intenta identificar conteúdo e hipótese da estrutura de representações

sociais sobre o bebê e o aprender do bebê, segundo licenciandos dos quatro anos do curso de

Pedagogia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), campus Cuiabá. O aporte

teórico adotado é a Teoria das Representações Sociais (MOSCOVICI, 1978, 2003;

JODELET, 2001) e a Teoria do Núcleo Central (ABRIC, 1998). Também baseou-se nos

estudos sobre infância segundo Chombart de Lauwe (1991) e Sarmento (2007), além dos

pressupostos sobre desenvolvimento e aprendizagem conforme Oliveira, M. K. (2010),

Oliveira Z. M. (2001), Freitas (1998), Goulart (1995) e Rappaport, Fiori, Davis (1981). O

trabalho privilegiou analisar evocações para o termo indutor bebê e para a expressão indutora

aprender do bebê, segundo 213 acadêmicos. Os dados foram processados pelo programa

computacional Ensemble de Programmes Permettant l’Analysedes Évocations (EVOC),

considerando a ordem média de evocação (OME) e a ordem média de importância (OMI). A

relação implicativa entre os vocábulos evocados foi analisada a partir do processamento do

software Classification Hiérarchique Implicative et Cohésitive (CHIC), permitindo identificar

possíveis caminhos discursivos. Os acadêmicos representam o bebê ancorando-o na ideia de

afetividade destacada por meio do cuidar no primeiro ano de vida, mediante atitude de

continência do adulto objetivado na imagem de mãe. O bebê é representado pela noção de

incompletude, passividade, dependência e desenvolvimento. A representação sobre o

aprender do bebê se constitui a partir da sua relação com a ideia de desenvolvimento ora

compreendido segundo noções da perspectiva interacionista e sócio-interacionista, ora como

algo natural estimulado pela via da afetividade, provavelmente atribuída à figura materna.

Observou-se o silenciamento de conteúdos associados à Educação Infantil, sendo a relação

adulto-criança em contexto familiar aspecto mais saliente no campo representacional em

questão. Os resultados indicam que, para os acadêmicos de Pedagogia, o trabalho pedagógico

com bebês não se apresenta como possibilidade de atuação.

PALAVRAS-CHAVE: Aprendizagem de bebês. Educação Infantil. Representação Social.

Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

8

ABSTRACT

The present study attempts to identify the content and structure hypothesis of social

representations about the baby and the baby learning, according the four undergraduate years

of the Faculty of Education, Federal University of Mato Grosso (UFMT), Cuiabá campus.

The theoretical approach adopted is the Theory of Social Representations (MOSCOVICI,

1978, 2003; JODELET, 2001) and the Theory of Central Nucleus (ABRIC, 1998). It also was

based on studies of childhood according Chombart Lauwe (1991) and Sarmento (2007), in

addition to the assumptions about development and learning of Oliveira, M. K. (2010),

Oliveira Z. M. (2001), Freitas (1998), Goulart (1995) and Rappaport, Fiori, Davis (1981). The

work focuses on analyzing evocations of the inducer term baby and the expression baby

learning, accoording 213 scholars.The data were processed by the computer program

Programmes Permettant Ensemble l'Analyse des Évocations (EVOC), considering the

average order of evocation (OME) and the average order of importance (OMI).The

relationship implied between the words evoked was analyzed from the processing software

Classification Hiérarchique Implicative et Cohésitive (CHIC), to identify possible ways of

thought. Scholars represent the baby anchoring it in the idea of affection through the

outstanding care in the first year of life by the attitude of the adult continence objectified

image of the mother. The baby is represented by the notion of incompleteness, passivity,

dependency and development. The representation on the baby is learning from its relationship

with the idea of development, now understood according to notions of perspective

interactionist and sociointeracionista, or as stimulated by a natural way of affection, probably

attributed to the maternal figure. Observed silencing of content related to Early Childhood

Education, and the adult-child relationship in family context more salient aspect of the

representational field in question. The results indicate that for the academic pedagogy,

pedagogical work with babies is not presented as a possibility for action.

KEYWORDS: Learningbabies Early. Childhood Education. Social Representation.

Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

9

LISTA DE QUADROS

Quadro 1- Plano de coleta e análise de dados ...................................................................................... 55 Quadro 2 - Quadro de Elementos estruturais relativos termo indutor bebê, processado por ordem de evocação (OME) e ordem de importância (OMI). ................................................................................ 70 Quadro 3- Elementos estruturais relativos a expressão indutora aprender do bebê, processados por ordem de evocação (OME) e ordem de importância (OMI). ................................................................ 85

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação (OME) e ordem de importância (OMI). ................................................................................ 68 Ilustração 2- Síntese dos cruzamentos realizados pelo COMPLEX - GERAL- índice de referência 2,0 para significativo e 3,0 para altamente significativo ............................................................................. 72 Ilustração 3- Elementos estruturais relativos ao termo indutor bebê, segundo os acadêmicos do primeiro ano do curso de Pedagogia. .................................................................................................... 73 Ilustração 4 - Elementos estruturais relativos ao termo indutor bebê, segundo os acadêmicos do segundo ano do curso de Pedagogia. ..................................................................................................... 75 Ilustração 5- Elementos estruturais relativos ao termo indutor bebê, segundo os acadêmicos do terceiro ano do curso de Pedagogia. ...................................................................................................... 76 Ilustração 6- Elementos estruturais relativos ao termo indutor bebê, segundo os acadêmicos do quarto ano do curso de Pedagogia. ................................................................................................................... 78 Ilustração 7- Grafo implicativo resultante do processamento das evocações sobre o bebê no software CHIC. .................................................................................................................................................... 79 Ilustração 8- Elementos estruturais relativos a expressão indutora Aprender do bebê, processados por ordem..................................................................................................................................................... 83 Ilustração 9– Síntese dos cruzamentos realizados pelo COMPLEX- GERAL- índice de referência 2,0 para significativo e 3,0 para altamente significativo. ............................................................................ 89 Ilustração 10 - Elementos estruturais relativos à expressão indutora aprender do bebê, segundo os acadêmicos do primeiro ano do curso de Pedagogia. ............................................................................ 92 Ilustração 11 - Elementos estruturais relativos à expressão indutora aprender do bebê, segundo os acadêmicos do segundo ano do curso de Pedagogia ............................................................................. 94 Ilustração 12 - Elementos estruturais relativos à expressão indutora aprender do bebê, segundo os acadêmicos do terceiro ano do curso de Pedagogia. ............................................................................. 96 Ilustração 13- Elementos estruturais relativos à expressão indutora aprender do bebê, segundo os acadêmicos do quarto ano do curso de Pedagogia ................................................................................ 98 Ilustração 14 - Grafo implicativo resultante do processamento das evocações sobre o aprender do bebê no software CHIC ............................................................................................................................... 100

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

10

LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Distribuição dos alunos quanto ao período ano, 2010.............................................. 54 Tabela 2- Distribuição da amostra - número de alunos por ano. .............................................. 63 Tabela 3- Distribuição da amostra por faixa etária................................................................... 63 Tabela 4 - Distribuição da amostra por sexo. ........................................................................... 63 Tabela 5 - Distribuição da amostra quanto ao estado civil. ...................................................... 64 Tabela 6- Distribuição da amostra quanto à composição familiar ........................................... 64 Tabela 7- Distribuição da amostra quanto à formação acadêmica ........................................... 64 Tabela 8- Distribuição da amostra quanto à atividade profissional.......................................... 65 Tabela 9- Distribuição da amostra quanto à experiência profissional, vínculo empregatício. . 65 Tabela 10- Distribuição da amostra quanto a expectativa de trabalho na Educação Infantil. .. 66 Tabela 11- Distribuição da amostra quanto ao trabalho na Educação Infantil/ perfil do grupo de criança. ................................................................................................................................. 66

Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

11

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 13

1 A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS: ALGUNS APONTAMENTOS .... 16

1.2 Conceito das Representações Sociais ............................................................................. 20

1.3Funções das Representações Sociais ............................................................................... 21

1.4 Processo de formação das Representações Sociais ......................................................... 23

1.4.1 A Objetivação ....................................................................................................................... 23

1.4.2 A ancoragem ........................................................................................................................ 24

1.5A Teoria do Núcleo Central: abordagem estrutural de estudos em Representações Sociais. .......................................................................................................................... 26

1.5.1 Sistema Central .................................................................................................................... 27

1.5.2 Sistema Periférico ................................................................................................................ 28

1.6Elementos Funcionais e Normativos ............................................................................... 28

1.7 Transformações das Representações Sociais .................................................................. 29

1.8 Representações Sociais da criança e concepções sobre o desenvolvimento da infância 30

2 DISCURSOS SOBRE A INFÂNCIA E SEUS PROCESSOS DEDESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM: IDENTIFICANDO PON TOS DE ANCORAGEM. ...................................................................................................................... 32

2.1 A construção social da primeira infância: abordagem histórica ..................................... 32

2.2 Contextualizações históricas sobre a infância na Europa com ênfase no primeiro e no segundo ano de vida. ..................................................................................................... 33

2.3 Infância no Brasil ............................................................................................................ 36

2.4 Análise psicossocial sobre imagens da infância ............................................................ 45

2.5 Contribuições da Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem .............................. 47

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .................................................................... 53

3.1 Questões norteadoras do estudo ...................................................................................... 53

3.2 Objetivo Geral do estudo ................................................................................................ 53

3.2.1 Objetivos Específicos ........................................................................................................... 53

3.3 Contexto de Universo e Amostra ................................................................................... 54

Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

12

3.4 Plano de coletas e processamento dos dados .................................................................. 54

3.5 Contexto da pesquisa ...................................................................................................... 57

4. DESCRIÇÃO E ANÁLISE DE DADOS .......................................................................... 62

4.1 . DESCRIÇÃO E ANÁLISE DE DADOS ...................................................................... 62

4.2 Análise sobre evocações referente ao termo bebê ......................................................... 67

4.2.1 Análise dos elementos estruturais do EVOC ....................................................................... 67

4.2.2 Análise dos elementos estruturais considerando a variável ano ........................................... 72

4.2.3 O processamento das evocações referentes à variável ano .................................................. 73

4.3 Apresentação e análise dos elementos estruturais e suas relações implicativas. ............ 79

4.4 Representações de a expressão indutora aprender do bebê ............................................ 82

4.4.1 Análise dos elementos estruturais do EVOC ....................................................................... 82

4.4.2 Análise dos elementos estruturais considerando a variável ano ........................................... 89

4.4.3 O processamento das evocações referentes à variável ano .................................................. 91

4.5Análises dos elementos estruturais e suas relações implicativas. .................................... 99

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 105

APÊNDICES ......................................................................................................................... 113

APÊNDICE A ....................................................................................................................... 113

APÊNDICEB ......................................................................................................................... 114

APÊNDICE C ....................................................................................................................... 115

APÊNDICED ........................................................................................................................ 116

ANEXOS ............................................................................................................................... 118

ANEXO A .............................................................................................................................. 118

ANEXO B .............................................................................................................................. 119

ANEXO C .............................................................................................................................. 120

ANEXOD ............................................................................................................................... 121

ANEXOE ............................................................................................................................... 122

ANEXOF ............................................................................................................................... 123

Page 14: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

13

INTRODUÇÃO

O presente estudo se insere no rol dos estudos desenvolvidos pelo Grupo de Pesquisa

em Psicologia da Infância (GPPIN). Sua proposição justifica-se em torno de problematizações

concebidas ao longo das atividades do projeto de extensão denominado Rede de Apoio à

Educação Infantil: interfaces com a Psicologia, Pedagogia e Arquitetura.

No contexto das atividades de extensão, observou-se a forte ênfase nas práticas de

cuidados dirigidas aos bebês − crianças com até dois anos de idade − que frequentam

berçários de determinadas creches, em detrimento de práticas orientadas para o estímulo do

desenvolvimento e aprendizagem infantil.

Neste contexto, considera-se a associação entre práticas sociais dirigidas aos bebês e

representações acerca do seu desenvolvimento e aprendizagem como importante discussão no

cenário da formação de professores, uma vez que o estudo sobre o modo, por meio do qual os

alunos de Pedagogia nomeiam e classificam o bebê e o aprender dos bebês, pode fornecer

pistas que contribuem para a reflexão acerca de como os futuros professores interpretam a

possibilidade do trabalho nos berçários das unidades de atendimento de Educação Infantil, e

assim constroem sua identidade profissional.

Deste modo, o presente estudo intenta investigar as representações sociais sobre o

bebê e o aprender do bebê segundo licenciandos do curso de Pedagogia, campus Cuiabá,

tendo em vista o contexto de formação inicial dos acadêmicos cuja habilitação destina-se à

Educação Infantil, ao Ensino Fundamental e de Jovens e Adultos.

O recorte do trabalho elaborou e explorou os indicadores para se pensar a construção

da identidade docente no contexto da Educação Infantil.

Este estudo fundamenta-se na Teoria das Representações Sociais, conforme

contribuições de Moscovici (1978; 2001; 2003), Jodelet (2001), Abric (1998), Jovchelovitch

(1995), Nóbrega (2001), Duveen (1995; 2008), Sá (1998; 1996).

No que se refere às discussões sobre as significações da criança conforme análises

históricas e psicossociais destacam-se os estudos de Ariès (2006), Heywood (2004), Badinter

(1985), Del Priori (2007), bem como os estudos da Sociologia da Infância Sarmento (2007) e

da Psicologia do Desenvolvimento; esta última destacada por meio dos pressupostos

orientadores dos processos psicológicos e sua influência sobre os modelos pedagógicos.

A Teoria das Representações Sociais Moscovici (1978) caracteriza-se pelo interesse

nos estudos acerca do senso comum considerando a articulação deste com os saberes

científicos, operando como espécie de orientação-guia para a interpretação da realidade,

Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

14

processos comunicacionais, tomadas de decisões, justificativas e processos identitários. Neste

sentido, este estudo pretende, pela via das representações sociais do bebê e do aprender do

bebê, analisar a forma por meio da qual as questões decorrentes do contexto da primeira

infância concorrem, ou não, para a construção identitária do trabalho docente, segundo os

acadêmicos de Pedagogia da UFMT, campus Cuiabá.

Para efeitos deste estudo, destaca-se o outro, neste caso o bebê, como aquele que

possui papel fundamental na construção da identidade de seu educador e vice versa, uma vez

que é na interação e no diálogo com eles que o sujeito passa a desenvolver a consciência sobre

si mesmo, ter percepções e construir representações acerca de si.

O conceito de identidade subjacente do presente estudo implica em utilizar-se de

expressões como imagem, representações e conceito de si, caracterizando um conjunto de

traços, de imagens, de sentimentos que o indivíduo reconhece como fazendo parte dele

próprio. Assim, tem-se uma estrutura organizadora das representações de si e dos outros, que

se origina do conjunto de representações vivenciado na relação indivíduo e sociedade,

delineando uma consciência social que o indivíduo possui dele mesmo à medida que a relação

com o outro lhe confere a existência de qualidades particulares.

Os procedimentos metodológicos adotados obedeceram às prerrogativas da

abordagem estrutural dos estudos em representações sociais, definidas segundo Abric (1998).

Para tanto, foram coletadas associações de palavras dos acadêmicos de Pedagogia para o

termo e expressão indutora: bebê e aprender do bebê.

O processamento dos dados foi realizado pelo software Ensemble de programmes

permettant l’analyse des evocations (EVOC) e seus subprogramas SELEVOC e COMPLEX,

por meio dos quais se explorou a variável ano. De acordo com Oliveira et al (2005), o EVOC é

um recurso informático que auxilia na organização dos dados, principalmente na realização de

cálculos das médias simples e ponderadas.

Em um segundo momento os dados foram processados no software Classification

Hiérarchique Implicative et Cohésitive (C.H.I.C), por meio do qual se verificou a conexidade

existente entre os atributos evocados.

O presente relatório está organizado em quatro capítulos. No primeiro, apresenta-se

os pressupostos teóricos da Teoria das Representações sociais e da Teoria do Núcleo central,

bem como articulações entre a Teoria das Representações Sociais e estudos relacionados a

representações sobre criança. O segundo capítulo dedica-se à análise histórica e psicossocial

acerca das imagens sociais da criança, com vistas a identificar pontos de ancoragem em torno

dos quais provavelmente se organizam as representações sociais em foco. O terceiro capítulo

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

15

relata os procedimentos metodológicos adotados no estudo, bem como o seu contexto – Curso

de Pedagogia da UFMT, campus Cuiabá. O quarto e último capítulo apresenta a descrição e a

análise de dados, delineando hipóteses interpretativas com vistas à compreensão das

representações sociais sobre o bebê e o aprender do bebê.

Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

16

1 A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS: ALGUNS APONTAMENTOS

O presente capítulo objetiva apresentar os pressupostos básicos da Teoria das

Representações sociais (TRS), demonstrando as principais categorias teóricas que orientarão

a interpretação dos dados.

1.1 Representação: individual, coletiva e social

Para melhor compreensão deste contexto faremos a distinção entre representações

individuais, representações coletivas, pensamento ingênuo e representações sociais.

Para Nóbrega (2001), o ato de se representar ocorre na simultaneidade do movimento

de separação e aproximação entre sujeito e objeto, quando o eu dos sujeitos se destaca do

objeto e a ele se articula através do símbolo.

O campo de estudo das representações sociais propõe discutir o termo representação,

para entender a sua importância. Na representação torna-se possível a reconstrução do real

através da interpretação dos elementos constitutivos do meio ambiente em uma dimensão

ordenada e significante para os membros de uma determinada comunidade. Esta interpretação

da realidade é traduzida em um conjunto lógico do pensamento que vai constituir a visão de

mundo para certa coletividade.

Nóbrega (2001)explicita que;

Como toda representação é construída na relação do sujeito com o objeto representado, não existindo, portanto, representação sem objeto. Desse modo uma representação social não pode ser compreendida enquanto processo cognitivo individual, já que é produzido por intercâmbios das relações e comunicações sociais. (NÓBREGA, 2001, p. 62).

Na conceituação de Moscovici (2001) as representações individuais têm por substrato

a consciência de cada um, enquanto que as representações coletivas, anunciadas por

Durkheim, concebem a sociedade em sua totalidade, pois elas possuem grande abrangência,

constituindo sistemas cognitivos compartilhados por coletividades inteiras. São quase

estáticas as mudanças e ocorrem somente em condições excepcionais de crise. Assim, para o

sociólogo clássico, a individualidade humana se constitui a partir da coletividade. Segundo

Moscovici (2003) este conceito não era satisfatório para se compreender as explicações

desenvolvidas pelas pessoas, pois apresentava uma concepção de sociedade estática.

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

17

Para Moscovici (2003) o indivíduo é ativo nos processos de construção da sociedade,

partilhando conhecimentos, transformando ideias em práticas, espalhando rapidamente as

representações por toda a população. Portanto, as representações sociais não podem ser

compreendidas enquanto um processo cognitivo individual, uma vez que são produzidas no

intercâmbio das relações e comunicações sociais.

As representações sociais apresentam variadas estabilidades, mas devido à influência

das comunicações, na atualidade elas têm alterado continuamente suas configurações de

conteúdo e estrutura. Ainda, para Moscovici (2003), a concepção de representações sociais é

constituída e disseminada por meio da interação pública entre atores sociais; são práticas de

comunicação que ocorrem no cotidiano. O autor salienta também que as representações

sociais possuem uma lógica específica bem próxima ao pensamento ingênuo, no qual aspectos

racionais e irracionais são integrados. O pensamento ingênuo é uma forma de conhecimento

que não se respalda sobre si mesmo, sendo absorvido por seus conteúdos, voltando-se para

resultados práticos. As representações sociais podem ser identificadas como um tipo de

pensamento ingênuo.

No aporte teórico de Moscovici (1978) as representações sociais têm como papel

aferir a racionabilidade sobre a significação de crença coletiva, cujo conteúdo manifesta o

saber do senso comum. Essa teoria envolve o cognitivo e o afetivo, pois articula a construção

de saberes sociais, o que leva a entender e dar sentido ao mundo, encontrando embasamento

para realidade social.

Denise Jodelet (2001), uma das principais divulgadoras da teoria, concebe as representações sociais como sendo:

[...] uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, com um objetivo prático, e que contribuem para a construção de uma realidade comum a um conjunto social. Igualmente designada como saber de senso comum ou ainda saber ingênuo, natural, está forma de conhecimento é diferenciada, entre outras, do conhecimento científico. (JODELET, 2001, p. 22).

As representações sociais nascem nas interações, ou seja, onde quer que exista uma

realidade a ser partilhada, tendo um impacto decisivo nas relações sociais dos indivíduos ou

grupos. Embora a noção de representações sociais possa parecer demasiadamente ampla,

alguns autores procuram estabelecer critérios para defini-la.

Wachelke e Camargo (2007) referem-se a cinco critérios de caráter sócio-genético

que caracterizam as representações sociais:

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

18

-Primeiro critério: é o consenso funcional. Este critério garantiria a unidade do grupo, uma

vez que seus membros estabelecem um acordo quanto a sua função, orienta a auto

classificação e interação dos que fazem parte do grupo.

-Segundo critério: torna relevante as representações sociais, referindo-se aos elementos

sociais das mesmas. Trata das práticas comunicativas de modo especial, onde o

comportamento associado à representação social deve constituir parte da rotina de um grupo.

-Terceiro critério: nomeia acerca de uma representação que permanece, caso o

comportamento do grupo esteja associado, e estabelece rotina razoável de membros

reflexivos.

-Quarto critério: refere-se ao conceito de holomorfose, entendido como a tendência dos

indivíduos em compartilhar suas crenças com seu grupo de pertença, diferenciando as

representações sociais das individuais.

-Quinto critério: é o de afiliação que, juntamente com o critério de holomorfose, possibilita a

demarcação de uma dada realidade permitindo a ocorrência de uma representação junto ao

grupo de pertença.

Os autores ainda explicitam que, nas representações sociais, os sujeitos possuem

crenças em comum com outros membros do mesmo grupo, e nas representações individuais

isso não acontece, ou seja, as pessoas conseguem distinguir com competência entre crenças

que são partilhadas e formam um sistema de senso comum específico a um grupo ou categoria

social. Conforme Wachelke e Camargo (2007):

[...] o critério de holomorfose adquire importância fundamental para delinear limites entre processos de pensamento localizados em pontos distintos do continuum individual - social. Enquanto o conhecimento mais individualizado baseia-se em experiências pessoais que não dizem respeito ao grupo, as representações sociais trazem meta-informação sobre ele. Cada indivíduo vinculado a um grupo possui, potencialmente, conhecimento sobre como outros membros se comportariam numa dada situação ou pensariam sobre ela (WAGNER, 1998 apud WACHELKE; CAMARGO, 2007, p. 3).

Nesse sentido os atores sociais partilham suas crenças com o seu grupo, constituindo

um sistema de senso próprio de sua categoria.

No que se refere a grupos nas sociedades modernas, Moscovici (1988 apud

WACHELKE; CAMARGO, 2007), esclarece que a abrangência das representações é mais

limitada se levarmos em conta que estas são construídas em diferentes grupos com posições

mais ou menos estruturadas no contexto social. A este respeito os autores explicitam que:

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

19

Para Wagner (1998) as representações sociais indicam um fenômeno específico de grupos cujos membros efetivamente se definem como integrantes de um grupo e conhecem os limites e critérios para definir quem participa do grupo ou não. São os chamados grupos reflexivos, distintos dos grupos nominais ou taxonômicos, que são definidos arbitrariamente por um observador externo (geralmente o pesquisador), independentemente do reconhecimento de pertença grupal pelos membros. (WAGNER, 1998 apud, WACHELKE; CAMARGO, 2007, p. 382).

Assim, as representações sociais são estruturas dinâmicas porque são produzidas e

aprendidas no contexto das comunicações sociais. Partilhadas mediante a comunicação, as

ideias perduram alastrando-se em ampla extensão, chegando aos membros de diferentes

grupos sociais, motivando debates na esfera pública. Dessa forma, os conhecimentos

difundidos segundo sistemas de comunicação funcionam como teclas interpretativas da

realidade, criando-a e recriando-a de acordo com seus objetivos.

Para Jovchelovitch (1995), as representações sociais, enquanto fenômenos

psicossociais dentro do espaço público oportunizam ao ser humano o desenvolvimento de

uma identidade por meio de um processo que articula a diversidade de um e de outros

mundos.

A teoria das representações sociais se articula tanto com a vida coletiva de uma sociedade, como com os processos de constituição simbólica, nos quais sujeitos sociais lutam para dar sentido ao mundo, entendê-lo e nele encontrar o seu lugar, através de uma identidade social. (JOVCHELOVITCH, 1995, p. 65).

Desse modo as representações sociais permitem ao sujeito o estabelecimento de uma

identidade social junto ao mundo que o cerca, oportunizado pelas relações intergrupais e pelos

processos comunicacionais.

Moscovici (2003) buscou compreender entre os grupos como se dava uma sociedade

constituída pelos mesmos, pois compreendia que as relações intergrupais não eram passivas,

nem receptoras, pensavam por si. Para ele, a interação se dá acerca da comunicação entre

todos, comunicação essa que leva a definições estabelecendo especificidades de

representações sociais

Estudos recentes sobre crianças muito pequenas mostraram que as origens e desenvolvimento do sentido e do pensamento dependem das inter-relações sociais; como se uma criança chegasse ao mundo primeiramente preparada para se relacionar com outros: com sua mãe, com seu pai, e com todos os que a esperam e se interessam por ela. O mundo dos objetos constitui apenas um pano de fundo para as pessoas e suas interações sociais (MOSCOVICI, 2003, p. 44).

Quando se fala na relação criança com o outro, Moscovici (2003) reitera as

representações sociais acerca de formas de conhecimento, com finalidade até certo ponto

oposta à do conhecimento científico. Olhando pelo campo da ciência, ele traça o caminho

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

20

inverso, buscando estranhamento em fenômenos que à primeira vista são familiares ou

inteligíveis, para chegar a conhecimentos válidos sobre a realidade.

Os textos de Moscovici (1978, 2003) deixam claro que o fenômeno da representação

social para seus adeptos é tradicional e sagrado, mas o autor considera esse conhecimento

técnico e científico característico de uma sociedade multidisciplinar, pensamento que os

especialistas relacionam com multidão de leigos, localizando diversidade de ideias coletivas

nas sociedades modernas.

De acordo com o texto de Sá (1998), o termo representação social designa tanto um

conjunto de fenômenos quanto o conceito que os engloba, e a teoria é construída para explicá-

los, identificando o campo de estudos psicossociológicos. A cunhagem deste termo é,

portanto, a inauguração do campo que se deve ao psicólogo social francês Serge Moscovici.

Moscovici (1978) que declarava, entretanto, que seu objetivo ia além da criação e da

consolidação de um campo específico de estudo “queria redefinir os conceitos da psicologia,

para isso o conceito de representação social só pode ser bem aprendido num contexto de

renovação temática, teórica e metodológica da psicologia social”. (SÁ, 1998, p. 20).

1.2 Conceito das Representações Sociais

Denise Jodelet1(1984),conforme Sá (1998) destaca a importante convergência da

natureza dos fenômenos representacionais nos mais diversos trabalhos desenvolvidos

independentemente, tendo o seguinte conceito geral:

O conceito de representações sociais designa uma forma específica de conhecimento, o saber do senso comum, cujos conteúdos manifestam operações de processos generativos e funcionais socialmente marcados. Mais amplamente, designa uma forma de pensamento social (SÁ, 1998, p.32).

As representações sociais, segundo definição clássica apresentada por Jodelet (1984,

apud SÁ, 1998), são modalidades de conhecimentos práticos orientados para a comunicação e

para a compreensão do contexto social − material ideativo em que vivemos. São,

consequentemente, formas de conhecimento que se manifestam como elementos cognitivos,

imagens, conceitos, categorias, teorias, mas que não se reduzem aos componentes cognitivos.

Sendo socialmente elaboradas e compartilhadas, contribuem para a construção de uma

realidade comum, que possibilita a comunicação.

1Para essa explicação Sá (1998) apóia-se na obra de JODELET, D. Representations Sociales: phénomenes. Concept ET théorie. In: MOSCOVICI. S. (ED.). Psychologie sociale; Paris, Pesses Universitaires de France, 1984.

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

21

As Representações Sociais são modalidades de pensamento prático orientado para a comunicação, a compreensão e o domínio do ambiente social, material ideal. Enquanto tais, elas apresentam características específicas no plano de organização dos conteúdos das operações mentais e da lógica. (JODELET, 1984, p. 361-362, apud SÁ, 1998, p.32).

Jodelet (2001, p. 28) refere-se à representação social como um saber prático ligando o

sujeito ao objeto, a cerca de quatro questões práticas do saber: “quem sabe, de onde sabe”,

questão que leva a estudar as condições, circulações e produções das representações sociais;

“o que e como se sabe”, corresponde à ação de pesquisa do estado de representação social, e

“sobre o que se sabe e com que efeito”, leva a preocupar-se com a instituição epistemológica

das representações sociais.

Para Abric (1987 apud SANTOS, M. F. S., 2005, p. 24), a representação social “[...]é

ao mesmo tempo o produto e o processo de uma atividade mental pelo qual um indivíduo ou

grupo reconstitui o real ao qual ele é confrontado e lhe atribui uma significação”. Deste modo

a representação social caracteriza-se por ser uma visão funcional do mundo, permitindo ao

sujeito ou grupo definição de suas condutas. Nesse sentido, faz-se necessário compreender a

realidade por meio do seu próprio sistema referencial, adaptando-o e definindo seu lugar

nessa realidade.

Finalmente, Santos M. F. S.(2005), reportando-se a Jodelet, afirma:

As representações sociais devem ser estudadas articulando elementos afetivos, mentais e sociais e integrando, ao lado da cognição, da linguagem e da comunicação, a consideração das considerações das relações sociais que afetam as representações sociais e a realidade material, social e ideal sobre as quais elas vão intervir (JODELET, 1989, p. 36 apud SANTOS, M. F. S., 2005, p. 26).

1.3Funções das Representações Sociais

As funções das representações sociais orientam-se ao ajuste de comportamentos e

ideias que são partilhados por intergrupos e subgrupos.

De acordo com Jodelet (2001), há nas pessoas necessidade de obter informações sobre

o mundo que esteja à volta, para se organizarem de forma ajustada a ele, e aprender a se

comportarem. Isso coopera para dominá-lo física ou intelectualmente, levando-as a identificar

e solucionar problemas que surgem. Nessa perspectiva, foram criadas as representações

sociais frente a um mundo que se compõe de objetos, de sujeitos, de ocorrências e de ideias,

apontando-nos que não estamos isolados num vazio social, mas compartilhamos um mundo

entre pessoas que nos assessoram ou nos servem de base. Também essas pessoas nos

Page 23: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

22

influenciam de forma a induzir, convergir e nos ajudar a encarar conflitos, levando-nos a

compreender, administrar e até mesmo a enfrentar esse mundo.

Jodelet (2001) afirma, ainda, que as representações sociais são bases essenciais que

articulam a importância para a vida cotidiana. Elas norteiam as articulações de forma a

nomear e deliberar conjuntamente os distintos aspectos da realidade diária. Para interpretar

esses aspectos, devem-se tomar decisões e posição frente a algumas práticas. Portanto, a

junção desses fatores pode ser classificada como constituição das representações sociais.

Compreendendo que as representações complementam certas funções na manutenção

da identidade social e do equilíbrio sociocognitivo através do qual estão ligados e, tendo em

vista que a inovação é incontornável diante da ação no sentido de ser evitada, essas

representações vêm seguidas de um trabalho de ancoragem, objetivado do estranho tornando-

o familiar e integrando o objeto ao universo de pensamentos preexistentes. Neste sentido, o

trabalho correspondente à função cognitiva que protege a legitimidade essencial da

representação, capaz também de se referir a todo elemento estranho ou desconhecido no

ambiente social e ideal. O trabalho teria a função capaz de influenciar as orientações de

condutas e comunicações, justificando-as antecipadamente.

Conforme Santos M. F. S. (2005, p. 34),“[...] o fenômeno psicossocial das

representações sociais responde conceituando as duas funções: a função identitária e a função

justificadora”. Ambas contribuem com os processos de formação de condutas e de orientação

das comunicações sociais. A função identitária consiste em preservar a imagem positiva do

grupo e sua especificidade, enquanto a função justificadora permite aos atores manter ou

reforçar os comportamentos nas relações entre grupos.

Abric (1998) também sistematiza as funções das representações sociais, no entanto,

propõe a existência de quatro funções: a de saber, a de orientação, a identitária e a

justificadora.

A função de saber dedica-se a dar sentido à realidade social. Em outras palavras, as

representações sociais permitem ao grupo sentir-se familiarizado com uma nova informação,

podendo integrá-la aos conhecimentos prévios, o que acontecerá por meio de preparação para

a preservação da coerência presente na lógica assumida pelo grupo. Desse modo, esse

procedimento poderá proporcionar a redução de possíveis conflitos; a função de orientação

apresenta as representações sociais como guia das práticas, determinando o que é permitido,

aceitável em um demarcado contexto social; a função identitária destaca que o

compartilhamento de uma representação social pode favorecer a identidade grupal, uma vez

Page 24: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

23

que esse conhecimento agrega os membros do grupo e os diferencia de outras coletividades,

preservando uma imagem positiva sobre seu grupo de referência, e suas finalidades. A função

justificadora permite que os sujeitos do grupo expliquem suas tomadas de decisão e suas

condutas, relativas a determinado objeto, de maneira aceitável pelos demais membros da

coletividade. Nessa visão são as funções das representações sociais que colaboram com a

legitimidade das condutas e comunicações intergrupais.

1.4 Processo de formação das Representações Sociais

Moscovici (2003) destaca dois processos formadores das representações sociais: a

objetivação e a ancoragem. Com base no processo de formação das representações, de acordo

Nóbrega (2001) o teórico desenvolveu os conceitos de objetivação e ancoragem para explicar

as condições de emergência da concretude e da atribuição dos objetos sociais construídos

pelos sujeitos, como forma de buscar sintonia de suas práticas e comunicações na interação da

sociedade.

Os processos de objetivação e ancoragem são compreendidos, dentro das

representações sociais, através da imbricação e articulação entre as atividades cognitivas e as

condições sociais em que são propostas.

1.4.1 A Objetivação

De acordo com Nóbrega (2001, p.65) “[...]a objetivação consiste em materializar as

abstrações, codificar os pensamentos, tornar físico e visível no implacável, enfim, transformar

em objeto o que é representado”. Objetivação, portanto, consiste em atribuir qualidade de

imagem a uma ideia.

No processo de objetivação a palavra acoplada às coisas constitui formas − o que era

abstrato torna-se concreto, sendo possível ver a transformação com imagem figurativa.

Nóbrega afirma que

[...] objetivar é reabsorver um excesso de significações materializado-as e, desse modo, distanciar-se com a relação às mesmas. [...] transplantar para o nível da observação o que não fora senão interferência ou símbolo. [...]a objetivação é como uma operação imageante e estruturante (NÓBREGA, 2001, p. 65).

Neste estudo pode-se dizer que a relação do sujeito com o objeto, quando cria uma

realidade de valores autônomos ou independentes, pode materializar o que é abstrato e

codificar o que é pensado; tornar algo físico, visível e implacável em objetivo representado,

Page 25: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

24

onde o abstrato torna-se concreto. Neste contexto Nóbrega (2001) classifica que o processo de

objetivação se constitui em três fases:

- a construção seletiva, que consiste em um exercício de sistematização de um conjunto de

ideias pela via de critérios culturais informativos. Tal sistematização busca a retenção de

informação, preservação da coerência interna e de valores próprios do grupo;

- a esquematização estruturante ou núcleo figurativo, que, de acordo com Nóbrega (2001, p.

66), é o elemento “duro” e mais estável da representação social. O núcleo estruturante tem

duas funções: geradora e organizadora, por meio das quais são concedidos sentidos que

definem a ligação; integrando-se entre os outros elementos periféricos, entrelaçando-os, elas

favorecem a formação da textura representacional. O núcleo é organizador e tem atributo de

garantir a permanência da estrutura e o imageante.

A relação do sujeito com o objeto é que vai originar a finalidade do núcleo central,

produzindo representação e determinando ao mesmo tempo a significação e organização das

representações sociais.

- A naturalização ocorre quando o conceito deixa de ser ideia e, a partir de um crivo de leitura

da realidade, esta adquire uma concretude, isto é, assume o estado de realidade tangível, cuja

existência torna-se palpável.

1.4.2 A ancoragem

A ancoragem tem papel importante nas representações sociais e, de acordo com o

texto de Nóbrega (2001), a ancoragem está dialeticamente articulada à objetivação para

assegurar três funções fundamentais da representação: incorporação do estranho ou do novo,

interpretação da realidade e orientação dos comportamentos. De acordo com Moscovici

(2003), a ancoragem permite a incorporação do que é desconhecido ou novo em uma rede de

categorias usuais. “ Ancorar é, pois, classificar e dar nome a alguma coisa. Coisas que não são

classificadas e não possuem nome, são estranhas não existentes e ao mesmo tempo

ameaçadoras” (MOSCOVICI, 2003, p. 61).

A ancoragem, como instrumento do saber, é uma modalidade que permite

compreender como os elementos da representação não só exprimem relações sociais, mas,

também contribuem para construí-las, uma vez que os conteúdos de uma representação estão

vinculados à significação de um dado objeto, fato, fenômeno ou ideias de determinados

grupos sociais. Conforme Herzlich:

Page 26: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

25

A maneira na qual as informações novas são integradas e transformadas em um conjunto de conhecimentos socialmente estabelecidos e na rede de significações socialmente disponíveis, para interpretar o real, onde são, em seguida, reincorporados na qualidade de categorias servindo de guia de compreensão e de ação (HERZLICH, 1969apud NOBREGA, 2003, p. 69).

O conjunto de conhecimento socialmente estabelecido na rede de significações integra

as representações sociais do sujeito, ressaltando seu caráter prático, orientando para a ação e

para gestão da relação com o mundo.

De acordo com Santos, M. F. S. (2005), a ancoragem tem papel importante nas

representações sociais, está dialeticamente articulada à objetivação e é organizada a partir de

três condições estruturantes: atribuição do sentido, instrumentalização do saber e

enraizamento no sistema de pensamento.

-atribuição do sentido - é a instrumentalização do saber, enraizamento de um objeto e sua

representação intergrupal, subgrupal ou, em uma sociedade, “[...] está inscrito em uma ‘rede

de significação’ em que são articulados e hierarquizados os valores já existentes na cultura”

(SANTOS, M. F, S., 2005, p. 69);

-a instrumentalização do saber - menciona a importância funcional da construção imageante

da representação à medida que esta se torna uma teoria de referência que leva os sujeitos à

compreensão da realidade;

- O enraizamento no sistema do pensamento, para Moscovici (2003) é o novo que foi

familiarizado, é o processo que transforma um conhecimento que se antecede, sendo que o

sistema de pensamento prevalece como referência para classificar, confrontar e categorizar

um novo objeto, tornando-o identificado, saindo do anonimato.

O saber da representação social enquanto instrumento referencial contribui para a

construção das relações sociais por meio da interpretação e da gestão da realidade pelos

grupos ou indivíduos.

Para Santos (2005) ancoragem no sistema de pensamento é como um enraizamento e é

responsável por mobilizar o oposto por meio de duas ordens dos fenômenos: o movimento

dos elementos inovadores sobre os rotineiros ou arcaicos e as atitudes criativas acerca do

novo, que remetem ao contato com as modalidades de pensamentos, inovando sobre o que é

antigo e levando à compreensão da realidade.

Neste sentido, os processos de objetivação e a ancoragem são essenciais e

inseparáveis, e acontecem concomitantemente na concepção e construção das representações

sociais.

Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

26

Além dos processos formadores das representações sociais, Santos, M. F. S. (2005)

anuncia que Moscovici levantou três determinantes sociais, responsáveis por construir a teoria

do senso comum e sua relação com os objetos sociais. Determinantes sociais tais como:

pressão à inferência, focalização, defasagem e dispersão de informações.

-Pressão à inferência - refere-se à busca contínua de consenso pelo grupo, por meio de ações

e respostas pré-fabricadas, alterando a natureza dos julgamentos de acordo com as pressões

situacionais. Desse modo garante-se a comunicação e assegura-se a validade da representação.

-A focalização, segundo Santos, M. F. S., (2005), caracteriza-se pela diferença de interesses

dos sujeitos pelo objeto. Considera-se na focalização a atenção diversificada aos aspectos

voltados ao espaço social, à magnitude das atitudes que o indivíduo relaciona com os dados

da realidade.

A esse respeito, é importante analisar os costumes lógicos e linguísticos na memória

da historicidade, a inclusão, a informação e a estratificação de valores.

-Defasagem e Dispersão de Informações, de acordo com Santos, M. F. S., (2005), referem-se

às diferentes categorias de acesso às informações relacionadas ao objeto, seja pela sua

disponibilidade, seja pela existência de obstáculo de transmissão, inexistência de tempo,

empecilhos educativos ou efeitos de especialização.

Para Nóbrega (2001), a ancoragem e a objetivação também adicionam dois sistemas

cognitivos que interferem nesses processos: o sistema operatório e o metassistema. O primeiro

seria responsável por efetuar as associações, inclusões, discriminações e deduções. Enquanto o

segundo teria a função de controlar esse processo através de regras e lógicas.

A autora acrescenta também que a ancoragem se relaciona com a objetivação,

assegurando ainda que a articulação dialética entre esses procedimentos gere três funções

essenciais da representação: a incorporação do estranho ou novo, a interpretação da realidade e

a orientação de comportamentos.

No sentido de melhor esclarecer como se dá a dinâmica das representações sociais,

percebe-se a existência de afinidade entre a constituição de representações, a memória coletiva,

os valores e as regras transmitidas pelo grupo a que o indivíduo pertence.

1.5A Teoria do Núcleo Central: abordagem estrutural de estudos em Representações Sociais.

Abric (1998) propõe a Teoria do Núcleo Central a partir de sua tese Estudos

Interdisciplinares de Representações Sociais. Para ele, uma representação é constituída por

conjuntos de informações, crenças, ideias e atitudes. Esse conjunto de elementos constituídos

Page 28: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

27

estrutura-se estabelecendo um sistema sociocognitivo de forma especial. Para tanto, uma

representação social organiza-se em torno de um núcleo central e de um sistema periférico.

No referido estudo apresenta-se a hipótese de que a representação social é organizada

em torno de um núcleo central, formado por um ou mais elementos que determinam, ao

mesmo tempo, sua significação e organização interna.

O núcleo central é o resultado de uma partilha de valores e associações responsáveis

pelo significado da representação. Ao redor desse núcleo, na periferia, estão outros elementos

que compõem a representação; nomeados de elementos periféricos, eles constituem a parte

operatória da representação. De acordo com Campos (2003) a importância do núcleo central

para o conjunto é o mecanismo que ele próprio constitui; o elemento mais estável da

representação que assegura sua perenidade. Assim, Abric (1998) teoriza que as representações

sociais são regidas por um duplo sistema: sistema central e sistema periférico.

1.5.1 Sistema Central

O sistema central determina a natureza do objeto representado, atribuindo-lhe

significado que inclui valores, normas sociais e ideologia. O núcleo central pode ser

compreendido como unificador e estabilizador da representação.

Abric (1998) caracteriza o sistema central como elemento fundamental da

representação, na qual é formado independentemente do contexto imediato, pois sua origem

está na relação com a história.

Por sua vez Sá (1996) caracteriza o núcleo central como ligado à memória coletiva e

história do grupo, delineando a homogeneidade deste. O núcleo central é estável, coerente,

rígido, resistente a mudanças, pouco sensível ao contexto imediato, tendo como função gerar

significação da representação social e determinar sua organização.

A significação e organização das representações sociais são determinadas pela

natureza do objeto representado e pelo tipo de relações que existem entre os grupos sociais.

Estas representações são assinaladas pela coletividade, cujos significados partilhados se

inscrevem na memória social.

O núcleo central de uma representação assume as funções generadora e organizadora.

A função generadora cria ou transforma os significados de uma representação, e a função

organizadora determina a ligação entre si dos elementos da representação.

O núcleo central é o produto que resulta de uma partilha de valores e associações

responsáveis pelo significado da representação; nesse resultado incluem-se a divisão das

Page 29: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

28

emoções, associadas aos valores e elementos afetivos, dentro das práticas desenvolvidas. Ao

seu redor, na periferia, estão outros elementos que compõem a representação; nomeados de

elementos periféricos, eles constituem a parte operatória da representação.

1.5.2 Sistema Periférico

É o sistema composto de elementos periféricos que estão relacionados diretamente

com o núcleo central; são sistemas que esquematizam e organizam o mesmo.

Conforme Abric (1998), elementos periféricos são caracterizados como menos

estáveis e mais permeáveis que os elementos centrais; estão mais ligados às características

individuais e ao contexto imediato, promovendo uma relação entre a realidade concreta e o

sistema central, é considerado como preceptor de comportamentos e constitui a

operacionalidade da representação.

Para Sá (1996), o sistema periférico permite a integração das experiências e histórias

individuais, suporta a heterogeneidade do grupo, é flexível, suporta contradições, é evolutivo,

sensível ao contexto imediato e tem como função permitir adaptação à realidade concreta, à

diferenciação do conteúdo e à proteção do sistema central.

Abric (1998) teoriza que os elementos periféricos anunciam relações e experiências

individuais por serem flexíveis e vinculados aos processos de adaptação do grupo ao contexto.

1.6Elementos Funcionais e Normativos

Menin (2007), em seus estudos sobre a abordagem estrutural das representações

sociais, descreve a existência de aspectos normativos e funcionais no campo representacional.

Os aspectos normativos estão ligados às informações, atitudes, opiniões relacionadas

com o objeto que representa uma estrutura. O centro da representação está caracterizado por

normas, estereótipos, atitudes que estão presentes nas grandezas socioafetivas, sociais e

ideológicas. Para a autora uma função normativa atua, tanto no núcleo central como no

sistema periférico. No núcleo central os valores e as normas conservam o significado do

objeto representado acerca daquilo que deve conter. No sistema periférico os elementos

normativos protegem a significação central da representação.

São elas (as atitudes) e opiniões que introduzem uma dimensão normativa, avaliativa, a partir das quais as informações são ponderadas, avaliadas ‘escotomizadas’ pelo sujeito. Todo elemento de informação é então valorizado na representação, situado por e em funções da atitude do sujeito. É nesse sentido que podemos dizer que a representação, é não o reflexo do objeto, mas uma

Page 30: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

29

remodelagem da realidade em função das posições de quem a produziu(ABRIC, 1976, p. 108 apud MENIN, 2007, p. 123).

Já os aspectos funcionais evidenciam circunstâncias com intuitos de realização de

práticas ou tarefa, sobre o objeto da representação. Para Menin, “[...] uma dimensão funcional

que, quando predominante privilegia na representação os elementos diretamente percebidos

como pertinentes para eficácia da ação” (MENIN, 2007, p. 123).

1.7 Transformações das Representações Sociais

Há também contribuições importantes da abordagem estrutural, no que diz respeito às

transformações de representações sociais. O que define mudança em uma representação social

é a alteração de seu sistema central, que faz com que a representação perca sua identidade

original.

Uma contestação de elementos periféricos, devido a mudanças contextuais ou novas

práticas sociais, não ameaça a coerência da representação, por deixar seu núcleo central

intocado e, portanto, não implica na transformação representacional. Para Flament (2001)

reportado em Wachelke e Camargo (2007) caso houver averiguação de elementos do sistema

central, pode ocorrer um processo de modificação. O sistema periférico tem a função de deter

os elementos do sistema central tornando viável o mecanismo de defesa da representação.

Moliner citado por Wachelke e Camargo complementa:

A transformação das representações pode ocorrer por mudanças ocasionadas na relação do grupo com o objeto, nas relações intergrupais, ou em outras mudanças do contexto social. Ainda que os elementos centrais busquem dar estabilidade à representação, as representações sociais são constructos dinâmicos, e, portanto sofrem alterações (Moliner, 2001a). Em verdade, um estudo de representações sociais que leve em conta uma dimensão cronológica é capaz de identificar fases distintas de estágios evolutivos representacionais: emergência, estabilidade e transformação (MOLINER, 2001b apud WACHELKE; CAMARGO, 2007. p. 384).

Existem estudos experimentais que evidenciam os processos de transformação das

representações sociais quando os grupos sentem-se obrigados a adotar práticas em contradição

com elementos do sistema central da representação. Nesta perspectiva, uma noção que

adquire importância é a da reversibilidade da situação. Wachelke e Camargo (2007. p. 384),

anunciam que “[...] quando os membros do grupo pensam que a situação que os leva a novas

práticas é reversível, ocorrem mudanças no sistema periférico, mas que são agregadas à

representação”. Assim, se a situação das novas práticas é vista como irreversível, pode levar a

acontecer três tipos de alteração: resistente, progressiva, imediata ou brutal.

Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

30

Abric (1998), conforme Wachelke e Camargo (2007. p. 384) diz que “[...] quando as

práticas podem ser gerenciadas pelo sistema periférico, formam-se os chamados esquemas

estranhos, que são configurações de elementos que, ao menos provisoriamente, evitam ou

protegem a contestação do sistema central”. No entanto, a proliferação desse tipo de

concepção leva à mutação do sistema central; a isso, chama-se transformação resistente.

Um segundo tipo de transformação consiste no caso em que as novas práticas não

contradizem totalmente o núcleo central, e novos elementos são gradualmente adicionados a

ele, constituindo uma nova representação. Trata-se da transformação progressiva.

A transformação imediata se dá por meio de novas práticas que atacam o núcleo de

modo não negociável pelo sistema periférico, com uma alteração imediata do sistema central

e, por conseguinte, da representação, no que se convencionou chamar transformação brutal.

Em resumo, as transformações da representação social estão ligadas a alterações

realizadas no sistema central, são as novas práticas sociais que proporcionam a ocorrência de

mudanças contextuais.

1.8 Representações Sociais da criança e concepções sobre o desenvolvimento da infância

A criança internaliza sistemas de representações sociais progressivamente, através de

sua vivência, por meio da interação com o meio em que se insere, e por meio do outro.

A representação não pode ser totalmente explicada apenas no plano do desenvolvimento individual. As relações com as coisas, assim como as pessoas, não são meras reproduções, mas exigem mediações para se constituir. É necessário o início da representação para que a criança consiga identificar sua personalidade e a dos outros. A gênese do Eu só pode fazer-se pela mediação do Outro, numa diferenciação progressiva (CHOMBART DE LAUWE; FEUERHAHN, 2001, p. 283).

Ao pensar a inserção da criança na cultura Duveen (1995) constata que a mesma, ao

chegar ao mundo, já o encontra estrutura do pelas representações sociais de seu meio. Estas

orientam as relações e práticas sociais, configurando o que Chombart De Lauwe (2001)

chamou de universos de socialização.

[...] inicialmente a criança figura como um objeto para representação que outros sustentam, e é apenas gradualmente que ela começa a internalizar essa representação. Ao assim o fazer, a criança também chega a identificar sua posição própria dentro de um mundo estruturado por essas representações (DUVEEN, 1995, p. 266).

Nessa perspectiva entende-se que a criança possui um caráter predominantemente

social que a leva ao urgente desenvolvimento da consciência, propiciado pela realidade vivida

Page 32: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

31

cotidianamente. O aspecto relevante a ser considerado diz respeito à constatação anunciada

por Chombart de Lauwe (1991), Duveen (2008) e Castorina e Klapan (2008) sobre a

importância da mediação na constituição do sujeito, sendo as representações sociais

orientadoras de universos de socialização apresentados aos bebês.

No universo de socialização identificam-se estruturas de oportunidade de

desenvolvimento e aprendizagem que, por sua vez, contribuem para a constituição de relações

cognitivas. Neste caso, assume-se a existência de uma conexão entre as relações cognitivas e

as relações sociais, mediatizadas pelas representações sociais. Deste modo, torna-se útil a

afirmação de Duveen e Lloyd (2008) ao anunciarem que a Teoria das Representações Sociais

é uma teoria que situa as atividades psicológicas na vida social.

Para Chombart de Lauwe (1991), a representação social da infância se faz importante

por ser instrumento de socialização e comunicação; ocorre por mediação e funciona como

instrumento de cognição, dando oportunidade para que a criança busque conhecimento acerca

de suas sensações, realizações, bem como do sistema de valores fornecidos pelo meio. Assim

tem-se que no processo de constituição da criança estão presentes as representações sociais

sobre a infância.

O desenvolvimento de competências cognitivas da criança é adequado por ela

progressivamente, com a contribuição do meio social do qual faz parte. O meio social dentro

do universo da criança oportuniza-lhe o tecimento do conhecimento através da interação,

mediada por experiências e pelo outro, tornando particular e de forma organizada a

constituição da ampliação cognitiva.

Assim, com base nas representações acerca da infância e da criança, Chombart de

Lauwe (1991) descreve que os adultos atuam conforme constituem esse ser, criando um

mundo no qual as crianças crescem. A maneira de perceber e pensar da criança influencia nas

suas condições de vida, sobre seu estatuto e sobre os procedimentos dos adultos com relação

aos pequenos.

Estas reflexões estão diretamente vinculadas aos objetivos do presente estudo, tendo

em vista que a identificação de representações sociais de futuros professores sobre o aprender

do bebê possibilita o entendimento acerca dos elementos orientadores de tomadas de decisão

que operam no sentido de se configurar universos de socialização, nos quais se encontram

crianças em processo de desenvolvimento.

Page 33: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

32

2 DISCURSOS SOBRE A INFÂNCIA E SEUS PROCESSOS

DEDESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM: IDENTIFICANDO PON TOS DE

ANCORAGEM.

O segundo capítulo apresenta algumas análises acerca das significações da infância,

ponderando o ponto de vista histórico e psicossocial. Com relação ao aspecto histórico

enfatiza os estudos de Heywood (2004), Ariès (2006), Badinter (1985), Del Priori (2007), e, a

perspectiva psicossocial foi assinalada pelos estudos da Sociologia da Infância (SARMENTO,

2007) e da Psicologia do Desenvolvimento. Esta última enfatiza os pressupostos acerca dos

processos psicológicos e sua influência nos modelos pedagógicos.

No contexto de um estudo sobre representações sociais, entende-se que a construção

social das imagens de crianças funciona como pontos de ancoragem em torno dos quais se

organizam significados. No caso específico deste estudo, a análise sobre imagens de crianças

presentes na memória social pode ser útil para o exercício de compreensão das representações

sobre o bebê e seu o aprender.

As informações apresentadas decorrem do levantamento de dados de historiadores

sobre a tendência de uma época; assim revelaram-se significados de uma determinada

sociedade sobre a infância, e não necessariamente todos os sistemas de representações que

imputam experiências em todas as crianças. Os estudos observados revelam as tendências que

organizavam questões políticas e educacionais em torno da infância, sendo com essa

perspectiva que os estudos serão analisados.

2.1 A construção social da primeira infância: abordagem histórica

A investigação histórica sobre a infância será focada a partir da Europa, no período

entendido entre os séculos XI a XXI, buscando compreender as concepções sobre as

singularidades dos primeiros anos de vida da criança, com a contribuição teórica de Philippe

Ariès (2006), enfatizando a história da infância na Idade Média, entre os séculos XI e XVIII, na

sociedade européia, mais precisamente na França. Como diálogos têm-se as contribuições de

Elisabeth Badinter (1985); Colin Heywood (2004).

Com relação à realidade brasileira será abordado o período dos Séculos XVII a XXI,

segundo estudos de Mary Del Priori (2007); Débora Teixeira de Mello (2001) e Sá (2007).

Page 34: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

33

2.2 Contextualizações históricas sobre a infância na Europa com ênfase no primeiro e no

segundo ano de vida.

Na perspectiva uma contextualização histórica voltada à infância, Philippe Ariès

(2006) enfatiza que a criança era ignorada na Idade Média, entre os séculos XI e XVIII, na

sociedade européia francesa. Para chegar a esses dados, Ariès pesquisou aquela sociedade

utilizando como metodologia a análise iconográfica. Tal análise propiciou ao pesquisador

identificar a ausência das crianças nas cenas retratadas nos quadros, o que o levou a inferir

que a criança não era reconhecida como ator social significativo.

Ariès (2006) anuncia que o conceito de infância se forma em uma construção social

delineada no final do século XVII e se consolida no final do século XVIII, período que o

reconhecimento da criança se iniciou, de forma bastante tímida, anunciando a vulnerabilidade

infantil, aludindo a olhares de compreensão e respeito com as crianças.

Badinter (1985) explicitou que mais próximo do século XVIII, Rousseau teve

responsabilidade sobre o reconhecimento da infância: “Foi Rousseau, com a publicação de

Émilie, em 1762, que cristalizou as novas ideias e deu um verdadeiro impulso à família

moderna, isso é a família fundada no amor materno” (BADINTER, 1985, p. 54).

Posteriormente a essa circunstância, por mais de dois séculos, teóricos que discutem sobre

infância utilizaram do pensamento rousseauniano para tratar sobre o assunto. De certo modo,

ocorreu a consolidação dos pressupostos de que os primeiros anos de vida são essenciais na

vida de uma criança para que ela tenha, no futuro, qualidade de vida.

Nesse sentido, inexistia atenção ou cuidado específico para com o bebê ou a criança,

os mesmos eram vistos como um ser frágil e inocente - ideia romântica da infância - e, ao

mesmo tempo, entendida como um ser incompleto e irracional, que necessitava da educação

para transformar-se em homem inteligente e educado. A infância, em decorrência disso, era

considerada uma fase passageira, e a criança um projeto de futuro que necessitava de

cuidados. Portanto, ela não era considerada um sujeito em si mesmo, mas um vir a ser.

Ariès (2006), em seu livro História Social da Criança e da Família, destaca que na

Europa do século XII a Arte Medieval desconhecia a criança ou deixava de representá-la,

provavelmente em um mundo onde não haveria espaço para pensar a infância. O autor

desenvolve em seu texto interpretações de ideologias para tais atitudes, explicitando que na

sociedade francesa da Idade Média pouco se pensava em criança como criança, fato retratado

visivelmente nos acontecimentos da época, quando os menores eram reproduzidos nas

pinturas com estruturas, músculos abdominais e peitorais adultos.

Page 35: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

34

A justificativa para a inexistência da concepção de criança, conforme o entendimento

de Ariès refere-se ao fato de os homens, entre os séculos X e XVII, compreenderem que a

infância era um período de rápida transição, sem qualquer importância, sem necessidade de

preocupações e no qual as lembranças se perdiam logo que ultrapassado.

Na Idade Média, de acordo com os relatos históricos, a indiferença em relação às

crianças era visível, pois há indícios de o mínimo de contato e importância voltados a elas na

sociedade. Não se sabe muito como era a rotina dos pequeninos desde o nascimento, como

eram cuidados, onde eles ficavam. Inexistia também o interesse em protegê-los, tanto que na

época crianças não tiveram reconhecimento legal, nem por familiares.

Heywood (2004) contrapõe os escritos de Ariès, alegando que o francês apenas

pesquisou crianças de posição social bem definida. Uma das críticas se dá porque Ariès

desconsiderou crianças populares.

Heywood (2004) evidencia sobre a concepção de infância na Idade Média, momento

em que era ignorada a minoridade, ou a sociedade percebia o bebê ou a criança como pessoas

de menos idade ou adulto em escala de menor tamanho. Esse contexto parece apresentar que a

criança não possuía valor algum enquanto pequeno; prova disso é que consequências infantis

como traumas, problemas físicos, morais ou sexuais, sequer eram cogitados. Em razão disso,

também não se pensava em educação.

Heywood (2004) em suas considerações sobre a infância, as quais incluem o bebê,

lembra que somente no século XVIII a criança foi descoberta, surgindo então os primeiros

movimentos pertinentes ao reconhecimento de que era necessário um tratamento especial para

integrá-las como parte do mundo adulto. Antes, entre os séculos XV a XVIII, a questão infantil

continuava camuflada pelos adultos ou sociedade. Com isso, há a coisificação das crianças,

excluindo-as enquanto seres humanos; elas eram vistas como meros animais, ou de serventia

para os adultos. Pensá-las como seres vulneráveis era improvável, na época.

Del Priori (2007) descreve que a alta taxa de mortalidade infantil por doenças ou por

maus tratos, no continente europeu, era assustadora. A probabilidade de vida das crianças

portuguesas era baixíssima; metade morria antes de completar sete anos. Porém essa situação

era tida como normal pelos adultos. Outro aspecto desse período refere-se à criança como

representação da força de trabalho. Os pequenos eram postos para trabalhar como se fossem

adultos e, muitas vezes, até mais que os adultos. Os portugueses aproveitavam o máximo que

podiam das crianças, enquanto elas sobreviviam. Nos navios, em embarcações lusitanas, por

Page 36: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

35

exemplo, muitas vezes havia mais crianças na profissão de grumetas2, do que população

adulta. Essa mão-de-obra advinha da compra de meninos, na maioria dos casos órfãos e

pobres, com idade entre nove e dezesseis anos. Alguns eram alistados em prol de trabalhar

para coroa, outros eram vendidos pelos próprios pais para melhoria da renda familiar ou para

diminuir despesas em casa. Assim, as crianças eram negociadas como objetos. Nas

embarcações as crianças sobreviviam precariamente, prestavam os mesmos serviços dos

adultos, eram exploradas por meio do trabalho, remuneração miserável e muitas morriam por

enfraquecimento, epidemias ou outras doenças.

De acordo com Badinter (1985), em sua publicação Um Amor Conquistado - O Mito

do Amor Materno, ao nascer o bebê era entregue à ama-de-leite, ficava de três a quatro anos

longe, e, caso sobrevivesse, era devolvido à família. As amas eram pobres e aceitavam essas

crianças como forma de adquirir recursos para sobrevivência. Com isso, assistiam muitas

crianças ao mesmo tempo para obter renda maior, situação que comprometia a saúde e

educação dos infantes.

A autora levanta várias questões sobre a afetividade do bebê ou da criança em um

contexto cujas mães delegavam cuidados a outras pessoas. Entre as questões: “Há quem pensa

que as mães urbanas que enviaram seus bebês para o campo deram com isso prova cabal de

amor materno” (BADINTER, 1985, p. 12). E ainda, “[…], terem utilizado os serviços de

amas mercenárias e aceitado longas separações dos seus bebês, parece-me que deve ser

interpretado de outra maneira” (BADINTER, 1985, p. 12). A autora apresenta em suas

discussões, dados de historiadores que apontam existência de amas negligentes, deixando

morrer 31 bebês com idade até 14 meses.

Badinter (1985) contesta a existência do amor materno quando a mãe se distancia não

se preocupando mais com os seus bebês. Para a autora caso existisse sentimento de amor e

afetividade até ocasião do nascimento da criança, ele terminaria quando o filho fosse levado por

cuidadoras, permanecendo separados por vários anos, quase toda a infância.

Badinter (1985) ao questionar o amor materno como inato, assume a posição de que o

sentimento é adquirido quando se permanece ao lado do filho, proporcionando-lhe cuidado e

dedicação. Na concepção da autora, a ausência da afetividade compromete a construção do

amor materno,

2 Grumetes - Aprendizes de marinheiros que realizam as tarefas de auxílio aos marinheiros mais experientes, desde a limpeza e carregam ferramentas para o preparo do barco.

Page 37: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

36

[…], o que era perfeitamente inútil – que as mães do Antigo Regime não conheciam as características de mortalidade das crianças confiadas às amas-de-leite e, portanto não tinham condições de avaliar os danos desse modo de criação. Como, porém, anular a experiência pessoal de cada mulher, ou das mulheres que lhe eram próximas? Como explicar que uma mulher que já perdera de dois a três filhos colocados em casa de amas continuasse a enviar outros filhos para o mesmo lugar? […] (BADINTER, 1985, p. 12).

Nesse sentido a autora leva a refletir o comportamento da mãe sobre se há afetividade

constituída com relação ao bebê. Talvez a justificativa de tal situação esteja na época, quando

o homem era o único destaque na sociedade. De acordo com Badinter, naquela sociedade os

valores dominantes, os faróis ideológicos eram voltados apenas para iluminar o homem-pai.

A sociedade se interessava apenas pelo que os homens pensavam e faziam. Isso lhes

proporcionava todos os poderes, até sobre as mães, tornando-as sombra de quem as domina,

condição que se assemelhava à da criança. Neste sentido, uma sociedade machista permitiu

dentro de um período que perdurou por mais ou menos dois séculos, que o comportamento

das mães relacionado aos filhos fosse indiferente. Indiferença essa quase compreendida como

rejeição. Batinter acrescenta:

Nesse conflito homem e mulher, a criança desempenha um papel essencial. Quem a domina, e a tem do seu lado, pode esperar levar a melhor quando isso convém à sociedade. Enquanto o filho estiver sujeito à autoridade paterna, a mãe teve de se contentar com papéis secundários na casa. Segundo as épocas e as classes sociais, a mulher sofreu essa situação ou aproveitou-se dela para escapar às suas obrigações de mãe e emancipar-se do jugo do marido (BADINTER, 1985, p. 27).

2.3 Infância no Brasil

A história da infância no Brasil revela que a criança carregou imagem de impura

entre o século XIX e início do século XX, como fora na Europa no período apontado como

Alta Idade Média.

Mary Del Priori (2007) esclarece como ocorreu o envio de crianças de Portugal para

o Brasil, o processo de escolarização em terras tupiniquins3, a influência dos jesuítas na

educação. Mello (2001) colabora quanto ao resgate da história do cuidado à criança pequena

depositada no Asilo ou Roda dos Expostos, nas Santas Casas de Misericórdias das capitais.

Sá (2007) enfatiza, no contexto nacional, os problemas sociais vividos pela classe

baixa no Brasil, e a exploração do trabalho infantil, para colaborar com a renda familiar. Del

Priori (2007) discorre como foi à vivência ou sobrevivência das crianças no Período Colonial

do Brasil. De acordo com suas teorias, os pequenos eram vistos como indignos de respeito e

3 Tupiniquins - Indivíduos tupiniquins, pertencentes ao povo Tupi-guarani, povo indígena da família linguística Tupi-guarani.

Page 38: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

37

próximos do anonimato. Com o início da colonização do Brasil, ainda com o nome de Terra

de Santa Cruz, em 1530, retomando parte da história, muitas crianças portuguesas do sexo

masculino embarcaram para o Brasil na condição de grumetes ou pajens. Já as meninas,

vieram como órfãs do Rei para servir os homens portugueses que aqui estavam. Enquanto

viajavam, caso fossem atacados por piratas, todos eram aprisionados: os pobres mortos, os

ricos trocados por riqueza e os miúdos escravizados pelos navios ingleses, franceses e

holandeses como serviçais, prostitutos, e eram exauridos até a morte.

Quando as embarcações naufragavam, o capitão sempre escolhia as pessoas a serem

salvas. Neste caso, inexistia prioridade para mulheres e crianças. As pessoas eleitas para

sobreviverem eram acomodadas em um batel que transportava, no máximo, setenta

indivíduos. Os excluídos ficavam à deriva, sem alimentos e água. Nesse ínterim, ocorriam

várias situações, como: as crianças sobreviventes que conseguiam retornar à embarcação após

o naufrágio; em outros casos, eram atiradas no mar pelo adulto, ou ainda pereciam dentro da

embarcação. Quando o grupo conseguia chegar à costa, enfraquecido, quase nunca sobrevivia

às grandes caminhadas em busca de socorro. Então, muitos morriam com a exposição ao sol

escaldante, ao frio ou chuva.

Nesse período da história poucos escritos são encontrados sobre bebês; a criança,

nesse contexto, era adaptada na sociedade pelo mundo adulto que não a respeitava. No mundo

não havia espaço para ela.

Mello (2001), ao analisar as raízes das práticas sociais sobre a história da criança

brasileira, cita o abandono de recém-nascidos pelas mães e famílias. De acordo com o autor,

no final do século XVIII, passando pelo período Colonial, permanecendo até os primórdios da

República, primeiras décadas do século XX, foi instalado na Santa Casa de Misericórdia, o

atendimento assistencial, conhecido como Asilo ou Roda dos Expostos ou, ainda, local dos

enjeitados. O autor revela que o modelo de assistência proposto pela Roda de Expostos no

Brasil foi implantado baseado na França, que a instituiu em 1811. No entanto, o modelo

Europeu apresentava controvérsias, era defendido como amenizador de problemas

relacionados a recém-nascidos. Essa assistência, inicialmente, foi fundada para suavizar

sofrimentos de recém-nascidos ilegítimos, gerados por mães consideradas adúlteras, crianças

rejeitadas pela sociedade e mães solteiras.

De acordo com Civiletti (1991, apud MELLO, 2001), para recolher as crianças foi

construída uma estrutura de madeira cilíndrica, com um dos lados da superfície lateral aberto

e o outro exposto para rua e fechado, que girava em torno de si mesmo por meio de um eixo.

Page 39: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

38

O sujeito que desejava deixar o recém-nascido tocava a campainha, imediatamente o

cilindro rodava, ficando a lateral aberta para receber a criança e, em seguida, a levava para seu

interior. Isso permitia inclusive a preservação da identidade do depositário. Ao asilo competia

função de encontrar novas famílias aos enjeitados, objetivo que quase sempre não se

alcançava.

No Brasil, a Roda dos Expostos se instalou em Santas Casas, em quase todas as

províncias brasileiras, que asseguravam proteção às crianças recolhidas, em circunstâncias

como as mencionadas anteriormente, e também na condição de amparar filhos de mães que

morriam por doenças. Posteriormente, os bebês eram encaminhados para as amas-de-leite.

Ao chegar à roda, o primeiro procedimento era o de batizar o bebê, salvando sua alma.

Em alguns casos o bebê era abandonado juntamente com bilhete constando que já era

batizado. Quando não, a responsável pela instituição providenciava o batismo.

Ao longo do tempo, as rodas foram disponibilizadas para camadas de famílias

populares, situação que gerou controvérsias, uma vez que o dispositivo foi criado inicialmente

com o objetivo de amenizar problemas e sofrimentos dos recém-nascidos abandonados

(excluídos pela sociedade, fruto de uniões consideradas imorais, amores proibidos, mães

sozinhas), ocultando a identidade do depositante.

Mello (2001) baseia-se em alguns historiadores para alegar que no Brasil as primeiras

Rodas de expostos foram instaladas em Salvador, no ano de 1726; no Rio de Janeiro, em

1738, por Ramão Mattos Duarte; na Cidade de São Paulo, em 1837; em Porto Alegre, em

1825, no entanto, a regulamentação aconteceu somente em 1842.

Na Roda dos Expostos, no período de sua existência, os bebês mais entregues eram do

sexo feminino; isso se dava em decorrência da discriminação e violência sofrida pelas

meninas. Além disso, a preferência no ato da adoção era por crianças do sexo masculino, o

que não era sinônimo de bondade. A intenção dos adotantes, principalmente brancos, era a

exploração da mão-de-obra infantil, além de substituir o filho biológico, convocado pelo

exército, porque na época se permitia essa troca.

A mortalidade infantil nas Rodas dos Expostos era alta, pois as crianças eram

desprovidas de vestes, de berços e cuidadas pela ama-de-leite, responsável por até sete bebês

de cada vez. De acordo com Moncorvo Filho (1926 apud MELLO, 2001), pelo balanço feito

por D. Pedro I, na Assembléia constituinte no dia 03/ 05/1823, em treze anos de existência

da Roda dos Expostos, das quase doze mil crianças deixadas, apenas mil sobreviveram.

Ainda, Mello (2001) anuncia mais um grupo com direito à Roda dos Expostos: os

filhos de escravos. As alterações sobre aqueles que possuíam direito a serem depositados na

Page 40: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

39

Roda permaneceram assim: no primeiro caso, os bebês eram deixados para serem protegidos

quando as mães morriam no parto, e os bebês de famílias que queriam preservar a sua honra;

no segundo caso, famílias populares, sem condições de criar os pequenos; o terceiro caso

aplicava-se aos bebês deixados pelas mães negras, para livrá-los da escravidão. Por último,

eram depositadas na Roda, pelos senhores donos de escravas, crianças filhas de escravas, que

permaneciam trabalhando como amas de leite dos filhos dos senhores com suas esposas,

costume também utilizado por outros países.

Mello (2001) acrescenta que com a Lei do Ventre livre, no ano de 1871, houve redução

no recebimento de crianças na Roda dos Expostos, e com a abolição da escravatura, ocorreu

decréscimo no número de bebês deixados nas Rodas.

O despertar do olhar da Medicina para a infância, com intuito de criar normas para

crianças abandonadas, juntamente com a abolição da escravatura, criou forças, e as Rodas

dos Expostos foram extintas do Brasil. De acordo com Mello (2001), o Decreto nº

16306/1923 excluiu as unidades do Rio de Janeiro, em 1940, em Porto Alegre. Neste caso, o

estado era acusado de negligente por manter esse local tão precariamente, com falta de

recursos e higiene.

Durante o período de atividade da Roda dos Expostos, de acordo com Mello (2001), as

crianças não adotadas (até sete anos, meninos, até oito anos, meninas) eram enviadas para as

amas-de-leite, que recebiam para o cuidado, porém muitas delas apenas utilizavam o dinheiro,

sem compromisso com a criança. Após esse período, as meninas eram encaminhadas para

aprender alguns ofícios, como corte de costura, e eram alfabetizadas no Arsenal de Guerra.

De acordo com a autora somente em 1851 foi criada uma escola dentro da Roda, com

a finalidade de ensinar a ler e a escrever e cuidar dos enjeitados. França (2005) citada por

Mello (2001), afirma que, no Brasil do século XIX, médicos higienistas, defensores do direito

à infância, criticaram severamente o uso da ama-de-leite, inclusive em jornais que circulavam

na época, e demais veículos de comunicação.

Mello (2001) assinala que, no início do século XX, médicos de Porto Alegre e do Rio

de Janeiro condenaram a existência das Rodas, pois, para eles, as crianças eram submetidas a

mais uma ruptura, ao esquecimento, ficavam desprotegidas, configurando um abandono

maior.

Outro aspecto da história da infância no Brasil, retratado por França (2005), é a

divisão hierárquica da população infantil: a criança da casa-grande e a criança escrava.

Nesse período, acreditavam que, até os cinco anos, as crianças eram tidas como anjos. A

Page 41: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

40

morte prematura era sinônimo de passaporte para a angelicalidade. Dessa maneira, quando os

pais entrassem no reino dos céus seriam conduzidos por estas criaturas familiares.

As crianças negras muito pequenas eram separadas dos pais, e algumas levadas para

casa-grande, e colocadas no trabalho para servirem de brinquedos dos filhos dos brancos.

Os brancos se utilizavam de brincadeiras humilhantes maldosas, que os machucavam,

eram tidos como coisa que não sentiam dor, e, ainda, conviviam com xingamentos, sem

direitos a estudar e a ser criança, enfim desprovidos dos direitos infantis. Neste sentido

crianças brancas de classes populares também eram desprovidas dos direitos a infância, os

pais as colocavam muito cedo para trabalhar na indústria, para contribuírem com a renda

familiar, deixando-as fora da escola.

Sá (2007) anuncia o reconhecimento da importância da infância no século XX, pois no

período de 1901, devido aos grandes problemas sociais vividos pela classe popular no Brasil,

a criança era comumente explorada por meio do trabalho infantil, para colaborar com a renda

familiar. Eram inúmeros os menores que trabalhavam nas indústrias, com idade até 14 anos,

enfrentando locais de trabalhos inadequados, com falta de estrutura, pouca iluminação, mal

arejado, de higiene precária, e, se alimentando mal, ficando à mercê de doenças. Muitos

morriam de tuberculose.

Desse modo, as crianças viviam sua infância no mundo adulto; prova disso é que

enfrentavam perigos junto às máquinas e, por isso, algumas perdiam suas vidas muito cedo,

outros se tornavam deficientes, por conta dos acidentes de trabalhos, e ficavam desamparados,

à mercê da sorte. Sofriam diariamente humilhações dos chefes, que não hesitavam em

cometê-las durante os trabalhos. Para os adultos, eram formas de educá-los, torná-los

obedientes, pois os consideravam malcriados e fora da linha.

A presença das crianças no mundo do trabalho se destacava na época; o discurso de

educá-las, moldá-las, de modo a torná-las homens melhores no futuro, na verdade tornavam

os patrões mais ricos. No trabalho informal, a exploração do trabalho infantil marcou a

história. As fábricas intensificaram grandes abusos sobre as crianças, motivando juristas na

busca da formulação de leis voltadas à criança, legalizando alguns trabalhos e regulamentando

outros.

Sá (2007) citando Valladares (1988) salienta que entre as lutas pela legalização que

regulamentasse o direito do pequeno ter infância e ser respeitado nesse momento importante,

resultou, em 1923, na criação dos Juízes de Menores no Distrito Federal, com o objetivo de

proteger a mão de obra infantil.

Page 42: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

41

Aos poucos a legislação foi difundida e aprimorada, condenando os violadores,

segundo Moura e Rizzini referenciados em Sá (2007), o direito infantil foi construindo, o

direito da criança de ter e viver uma infância em uma concepção moderna sobre a

menoridade, respeitando a vulnerabilidade do pequeno, delegando ao adulto a importância

para a formação do eu.

A Medicina também se dedicou com as crianças, defendendo a importância de uma

infância saudável, e alertando as mães a respeito de sua importância na vida do filho: “[...] a

discussão sobre o aleitamento materno na busca de convencer a mulher da importância do

cuidado direto e permanente de seus filhos, será a primeira oportunidade pela qual o poder

médico penetra no interior da família” (MELLO, 2001, p. 22).

Nesta perspectiva, a condição infantil atingiu importantes avanços, pois a legislação

abriga diversas representações que integram e favorecem a prática de melhor convivência dos

pequenos. De acordo com Kuhlmann Jr.e Fernandes (2004), a infância passou a iniciar sua

integração no discurso da sociedade moderna, fazendo parte da estrutura do estado, que inclui

a criança em legislação específica, com direito de permanecer em creches oportunizando as

mães ingressarem no mercado de trabalho.

Para Oliveira (2002), a história se constitui, de acordo com as necessidades vividas

pelos diferentes grupos, em períodos de transformação social. A história das creches se fez

igual, e de acordo com a autora está ligada à alteração do papel da mulher na sociedade.

Em especial, a creche deve ser compreendida dentro de um contexto social que inclui a expansão da industrialização e do setor de serviços, ao mesmo tempo em que a urbanização se torna cada vez maior. (OLIVEIRA, 2002, p. 17).

Ainda para a autora, com a chegada do mundo industrial, houve necessidade de

incorporar grandes números de mulheres para o trabalho na industrialização. O capitalismo

arrebata as mulheres (mães) como operárias das fábricas, o que gerou para as mesmas,

problemas com os cuidados de seus filhos. Nesse período, também continuavam os

movimentos dos médicos higienistas e psicólogos, que eram contrários ao trabalho infantil,

assim fazendo cumprir a importância do bem estar da infância.

Kuhlmann Jr. (1998) menciona que, em 1899, o médico Arthur Moncorvo Filho

fundou o Instituto de Proteção e Assistência à Infância no Brasil, localizado no Rio de

Janeiro, que aos poucos foi se espalhando com filiais em outras localidades. Kramer (2006)

explicita que o objetivo do instituto era o de atender crianças menores de oito anos de idade,

com a função de estabelecer legislações para amparar a vida e saúde dos recém-nascidos,

Page 43: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

42

atender crianças abandonadas, carentes, deficientes, regulamentar as amas de leite e criar

meios para proteger os pequenos, como creches e jardins de infância.

Para Kuhlmann Jr. (1998) e Kramer (2006) a Fundação do Instituto pressionou a

constituição de creches e assim se criou a primeira creche brasileira, localizada no Rio de

Janeiro, levando o nome de Companhia de Fiação e Tecidos Corcovado. A mesma foi criada

para dar assistência infantil, atendendo os filhos de operários da Indústria de Tecidos

Corcovado.

A creche para crianças de 0 a 3 anos, foi vista como muito mais do que um aperfeiçoamento das Casas de Expostos, que recebiam as crianças abandonadas; pelo contrário, foi apresentada em substituição ou oposição a estas, para que as mães não abandonassem suas crianças (KUHLMANN JR., 1998, p. 82).

A creche se voltava ao intuito de cuidar das crianças, evitando o abandono da família,

permitindo o trabalho na indústria das mães das classes populares.

O autor diz ainda, que as creches obtiveram cunho de assistência aos filhos dos

funcionários que faziam parte da empresa; neste sentido, no decorrer dos anos outras

empresas no Rio de Janeiro criaram suas creches, como em 1904 a Companhia de Tecidos

Alliança. Entre outros estados está São Paulo, que em 1918 criou a Vila Operária Maria Zélia,

pertencente ao Industrial Jorge Street, e a Votorantim, em 1925, na cidade de Sorocaba.

De acordo com Oliveira e Ferreira (2002) as creches dentro da indústria

proporcionavam vantagens, as mães apresentavam melhores produções. A partir da década de

30 passaram a existir creches fora do setor industrial, de caráter filantrópico. Os trabalhos

desenvolvidos dentro das creches na época tinham cunho assistencial-custodial. A

preocupação era especificamente com o cuidado (higiene, alimentação, segurança física), mas

convivia com inexistências de valorizar e estimular o desenvolvimento afetivo e intelectual da

criança.

Ainda para a autora, os movimentos populares na década de 70 reivindicaram creches

como direito a todos os trabalhadores; como resultado, as creches deixaram de ser mantidas

pelos empresários, passando a ser responsabilidade do poder público. Além disso, houve

aumento relativo no número de creches, ação que ainda permanece nos dias de hoje.

Na contemporaneidade a criança se beneficia de direitos adquiridos; nesse sentido a

conceituação de bebê, criança e infância não se resume a configurações isoladas, mas parte

das significações e formulações relacionadas às bases históricas conectadas às condições reais

e objetivas em que são produzidas ao longo de uma sociedade.

Page 44: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

43

Heywood (2004) retrata que houve aumento de interesses pelo reconhecimento da

infância, com mudanças revendo essa importância no século XVIII, porém as alterações se

deram lentamente e gradativamente. Nesse contexto, aos poucos o trabalho infantil foi sendo

substituído pelo processo de educação. Em tese, a criança, ao frequentar a escola, garantiria a

preparação para a vida adulta, de forma distinta, com foco na educação e moralidade. É o

início de uma nova representação de infância, fase que se distingue da idade adulta, momento

em que é trabalhada a vulnerabilidade.

Nessa perspectiva, buscando em leituras e autores que escreveram sobre esse

momento da infância, pouco se fala de bebês, mas sim de crianças, é possível perceber que a

mortalidade infantil começa a diminuir a partir do final do século XVIII, e, mais efetivamente,

meados do século XIX. O processo de adaptação aos direitos da criança foi lento, e para

algumas inexistentes no sentido de não acontecer, ou seja, não concebia o direto adquirido, e a

sociedade fingia não se dar conta disto.

Farias (2005) aborda que a substituição do trabalho infantil pela escola, que aconteceu

gradativamente, ficou caracterizada no final do século XIX e início do século XX, mas em

algumas sociedades ainda permaneceram, e duram até os dias de hoje, excluídas do processo

educacional. A preocupação básica com o bem-estar dos pequenos indica melhorias

significativas para saúde e educação, levando à extinção da crença da impureza da infância.

Observando os fatos históricos concernentes à infância, lembra-se que as crianças

eram vítimas, mas destituídas de passividade, exemplificada pela capacidade de resistência e

sobrevivência, mesmo diante dos trabalhos forçados.

Nos séculos XIX e XX ainda ocorreram muitos desencontros entre o que era direito

da criança e o que foi realmente aplicado. A escola foi o local privilegiado para a infância

receber cuidados e ser educada por meio do ensinar, muitas vezes por imposição, e nem todas

as crianças tinham acesso a esse meio. Um resgate feito por Farias (2005) mostra que parte da

trajetória histórica da criança no Brasil foi marcada pela luta pelo reconhecimento da mesma

enquanto cidadã.

Azevedo (1996), reportado por Farias (2005), sinaliza que a demarcação do início da

história na educação é a chegada dos Jesuítas ao Brasil, juntamente com o primeiro

governador Tomé de Sousa. O intuito dos missionários era articular, por meio de interesses

políticos, finalidades religiosas de combate à expansão do protestantismo num país

considerado iniciante, embora o trabalho tenha raízes na Europa. A princípio, a educação dos

jesuítas destinava-se aos filhos de colonizadores, proporcionando preparação para o

sacerdócio. A educação não atendia negros e mulheres.

Page 45: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

44

Retornando brevemente no contexto histórico, início da educação no Brasil no intuito

de melhor compreensão desse momento. De acordo com Farias (2005), o sistema educacional

se direcionava por um plano de estudo denominado ratio studiorumn, em estabelecimentos

dos Jesuítas espalhados por regiões brasileiras. Neles se estudava Letras, Filosofia e Ciências,

em nível secundário, e em nível superior, Teologia e Ciências Sagradas, voltada ao curso de

sacerdócios. Permaneciam nestes estabelecimentos os vocacionados para prosseguir carreira

sacerdotal. Caso contrário, para continuar os estudos, quem possuía recursos financeiros,

ingressava na Universidade de Coimbra, em Portugal, colégio formador de elites.

Del Priore (1995, p. 12), reportada por Farias (2005, p. 370), discorre que,

[...] naquele período a Igreja Católica difundia duas representações de infância, a saber: a criança mística com qualidade individual e a criança tida como ‘pequeno’ Jesus, capaz de aguentar sofrimentos físicos. Na realidade, a criança era tida como mito da‘criança-santa’(grifos do autor).

A autora ainda afirma:

A alma infantil era considerada um ‘papel em branco’, ‘uma tábula rasa’, uma ‘cera virgem’, facilmente moldável, na qual qualquer coisa poderia ser escrita. A infância é considerada momento ideal do processo de aculturação efetivada por meio da catequese e a família também poderiam ser atingidos através da criança (DEL PRIORE, 1995, p.15 apud FRANÇA, 2005, p. 37, grifos do autor).

A criança era ser puro não desregrado pela vida, sem corrompimento pela selvageria e

impurezas. Isso garantia a moral. Para assegurar essa condição, muitas crianças eram

extraídas das famílias passando a morar nos colégios. Era a pedagogia dos Jesuítas.

Segundo Farias (2005), no início do século XIX, as crianças brancas que não

estudavam em colégios particulares tinham a opção de receber educação em casa pelas mãos

dos mestres particulares, enquanto as crianças negras eram anuladas no meio social, privadas

do direito à educação. A criança negra, até aos sete anos, era tida apenas como um brinquedo

dos filhos do senhor, filho da escrava e futuro escravo adulto, como já frisado anteriormente.

Após sete anos, já iniciava o trabalho forçado e era-lhe negado muitas vezes o direito de

permanecer com a família.

Mesmo com o reconhecimento da infância como um momento ímpar na vida humana,

ainda permanece as controvérsias na relação entre criança e adulto, pois, mesmo o adulto

assumindo uma postura de compreensão, muitas vezes, porta-se com superioridade, não

respeitando seus direitos de falar, pensar e querer. Todavia, a diferença reside no fato de que a

criança não é ouvida, ou tem suas razões incompreendidas, principalmente quando não se

comporta consonantemente aos padrões requeridos pelo universo adulto.

Page 46: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

45

2.4 Análise psicossocial sobre imagens da infância

A construção social da infância, após longo período de quase inexistência, foi marcada

por processos de idealização e cristalização em torno de significados tais como inocência,

pureza e fragilidade, e a infância simbolizada por elementos que justificaram práticas de

paparicação por parte dos adultos.

Chombart de Lauwe (1991) destaca a representação da imagem da criança na

sociedade francesa ao longo dos séculos XIX e XX, analisando as personagens da Literatura.

Lembra a autora, que a sociedade francesa hierarquizava o adulto em posição superior, na

figura de protetor afetuoso e, ao mesmo tempo, chefe autoritário, assumindo, muitas vezes, o

aspecto de ‘bons espíritos protetores’ para manter a posição de superioridade, exercendo

autoridade indiscutível à custa de tratamentos cruéis sobre a criança.

Para a autora,

A maneira de perceber e de pensar a criança influi sobre suas condições de vida, sobre seu estatuto e sobre os comportamentos dos adultos em relação a ela. Em uma dada sociedade, as idéias e as imagens relativas à criança, por mais variadas que sejam, organizam-se em representações coletivas, que formam um sistema em níveis múltiplos. Uma linguagem ‘sobre’ criança é criada assim como uma linguagem ‘para’ a criança, já que imagens ideais e modelos lhe são propostos. (CHOMBART DE LAUWE, 1991, p. 1, grifos do autor).

O reconhecimento da infância como categoria social foi considerado importante por

Chombart de Lauwe (1991), que investigou as representações que os adultos fazem da

criança, buscando identificar o modo de agir e de pensar do adulto para com a criança. Nessa

perspectiva identificou-se a imagem da criança idealizada por parte dos adultos, fenômeno

interpretado como a mitificação na infância.

As representações dos adultos sobre as crianças podem ser classificadas como criança

idealizada, criança autêntica e criança simbolizada. A criança idealizada é sinônimo de

verdade total, livre, pura, inocente e não limitada pela sociedade. É um mito instalado na

infância. A criança autêntica é vista como um ser positivo e autônomo, mas que é modelado

por parte dos adultos para adquirir formato de acordo com os valores da sociedade em que

vive, enquanto a criança simbolizada é resultante da tensão entre as duas primeiras

classificações. Esta tensão ainda anuncia a imagem da criança modelada segundo as normas

sociais como modelo antagônico à representação da criança autêntica. Deste modo a autora

anuncia que a oposição entre a criança e a sociedade começa desde o início da vida.

Sarmento (2007), por sua vez, a partir dos estudos de James, Jenks e Prout (1998),

também busca em suas teorias identificar qual a representação social que o adulto tem sobre a

Page 47: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

46

criança. Em seus estudos destaca duas imagens de criança construídas ao longo da história: as

imagens da criança pré-sociológica (má, inocente, imanente, naturalmente desenvolvida,

inconsciente) e a imagem da criança sociológica.

O autor sustenta a hipótese de que a construção destas imagens sociais associa-se à

invisibilidade da realidade social da criança em um movimento de redução da sua

complexidade e idealização para efeitos normativos.

A imagem da criança pré-sociológica refere-se a significações construídas no contexto

da modernidade ocidental, ancoradas na produção da Filosofia e de outros pensamentos

científicos. Tais significações, uma vez partilhadas pelo senso comum, regulam a relação de

adulto e crianças na vida cotidiana.

Para Sarmento (2007), a imagem sobre criança má se associa a classes populares e

instiga o esforço de normalização da infância por parte dos adultos. A imagem da criança

inocente origina-se a partir do mito romântico de inocência, pureza, beleza e bondade da

infância. Por sua vez, a imagem da criança imanente surge da vertente filosófica empirista e

refere-se ao infante como tábula rasa na qual a sociedade pode imprimir uma moldagem

coerente com a ordem social. Neste sentido, a criança é considerada um projeto de futuro

cujo sucesso na condição de adulto dependerá da moldagem recebida na infância.

A imagem da criança naturalmente desenvolvida fundamenta-se nos trabalhos de

Piaget, bem como seus reflexos na Pedagogia, nos cuidados médicos, nas políticas públicas e

nas relações cotidianas entre adultos e crianças. Duas ideias centrais compõem a imagem da

criança naturalmente desenvolvida: a) As crianças são seres naturais, antes de serem seres

sociais; b) A natureza infantil opera-se pelo processo de maturação que ocorre por estágios.

Sarmento (2007) considera que esta imagem da infância se apresenta como a mais rotinizada

nos dias atuais.

A imagem da criança inconsciente surge pela via das ideias freudianas as quais

associam o inconsciente ao desenvolvimento do comportamento humano, marcando a

existência de conflitos relacionais entre a criança e as figuras parentais. Sarmento (2007)

afirma que existe uma proximidade entre a imagem da criança má e a imagem da criança

inconsciente, uma vez que pode se identificar um determinismo entre comportamento

desviante e vivências infantis.

Ao analisar as categorias pré-sociológicas acerca das imagens de criança o autor

afirma que a infância foi significada como negatividade.

Sarmento (2007) caracteriza a imagem da criança sociológica como ator social, que é

fruto de uma cultura e, ao mesmo tempo, produtor da mesma. “As imagens de crianças

Page 48: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

47

sociológicas são produções contemporâneas que resultam em um juízo interpretativo das

crianças a partir das propostas teóricas das Ciências Sociais” (SARMENTO, 2007, p. 29).

As imagens sociais da infância são heterogêneas e cada sociedade em diferentes épocas

produziu significações a seu respeito, atualmente as mesmas são partilhadas

concomitantemente no tecido cultural. No contexto descrito, a criança na atualidade vem

sendo interpretada por diferentes ciências dentre as quais se destaca a Psicologia, em especial

a Psicologia do desenvolvimento e aprendizagem com destaque para os estudos de Piaget e

Vigotski.4 A contribuição desses autores tem influenciado fortemente os cursos de formação

de professores, e por esta razão podem atuar como eixos organizadores de discursos,

categorias do universo reificado que orientam a negociação de significados no âmbito do

senso comum. Não obstante, este estudo considera a possibilidade da coexistência das

diferentes imagens sociais da infância presentes na memória social dos grupos.

2.5 Contribuições da Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem

Historicamente vários autores buscam desenvolver estudos sobre a evolução dos

processos psicológicos e sua influência sobre os modelos pedagógicos. Apresentam diferentes

orientações teóricas dentre as quais se distinguem quatro correntes educativas predominantes,

sendo: a corrente inatista-maturacionista; a corrente fundamentada no empirismo; a corrente

construtivista.

a) A corrente inatista-maturacionista defende que os fatores inatos serão fundamentais para o

desenvolvimento humano, isto é, são fatores preexistentes à vida social e dependem, para se

manifestarem, da maturação biológica. Segundo Becker (2001), esta corrente afirma que o ser

humano já vem ao mundo com um conhecimento inscrito geneticamente. Para essa corrente a

interferência do meio físico e social é mínima, pois concebe o ser humano constituído por um

saber de nascença.

Nesse modelo epistemológico a concepção de desenvolvimento infantil se baseia no

princípio de um meio físico diversificado no qual haja liberdade suficiente para que a criança

possa fazer o que deseja, progredindo por iniciativa própria num processo independente das

influências sociais.

b) A corrente fundamentada no empirismo acredita que a mente das crianças ao nascer é uma

tábula rasa (não há nada nela em termos de conteúdo). Os estímulos que caminham pelos

4 A grafia de Vigotski adotada levou em consideração sugestão de Prestes (2001). Não obstante o uso do y aparece nos casos em que se apresente citação literal de autores que grafaram o nome de Vygotsky com y

Page 49: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

48

órgãos dos sentidos até o cérebro resultam na percepção das coisas; eles são um conhecimento

que vem de fora para formar a base do conteúdo mental e têm como fundamento as

percepções sensoriais.

Para Becker (2001, p. 17) o conhecimento é uma concepção epistemológica segundo a

qual “[...] o sujeito é totalmente determinado pelo mundo do objeto ou pelo meio físico e

social”. Ele defende que a aprendizagem e a retenção dos conteúdos ocorrem quando o ensino

favorece a associação entre a novidade estudada e o material já aprendido.

Para Saber (1995) a aprendizagem se dá por observação e por condicionamento, que

ocorre mediante reforço positivo oferecido logo após à resposta que pretende aumentar de

frequência. Salienta o valor pedagógico da aprendizagem por imitação.

O empirismo conceitua a educação como um processo no qual a sociedade dos adultos

influi sobre o desenvolvimento infantil para tornar a criança apta a essa sociedade. Neste

sentido a caracterização dos processos de desenvolvimento e aprendizagem segundo o

empirismo está associada à significação da criança imanente.

c) A corrente construtivista se contrapõe às anteriores, pois esclarece que os conhecimentos

não são pré-determinados geneticamente nem socialmente, mas sim, construídos no

transcorrer dos processos de interação com o ambiente.

A corrente não desconsidera os fatores de maturação e transmissões sociais já

apontadas anteriormente, pois trabalha na perspectiva de que a criança tem participação ativa

em seu processo de desenvolvimento. Processo esse que, com intervenção do conteúdo

biológico, ocorre por meio de conexão com o mundo em que se insere.

Para Becker (2001, p. 70), “[...] o sujeito humano é um projeto a ser construído; o

objeto é, também um projeto a ser construído. Sujeito e objeto não têm existência prévia, a

priori: eles se constituem mutuamente, na interação. Eles se constroem […]”. Portanto, o

conhecimento não nasce com o sujeito nem é dado previamente, ele se constrói na interação

com ambiente.

Segundo o referencial construtivista, as crianças interpretam os estímulos de maneiras

diferentes nas variadas etapas de construção do seu conhecimento. No que se refere a essa

perspectiva, é importante destacar a diferença existente entre a perspectiva piagetiana e a

perspectiva vigotskiana de desenvolvimento e aprendizagem.

O estudo referente ao aprender do bebê, de acordo com os pressupostos piagetianos,

está relacionado ao desenvolvimento cognitivo, evidenciando que as capacidades mentais

surgem e modificam-se em face da maturação biológica e da experiência advinda pela

interação do sujeito com o meio físico e social.

Page 50: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

49

De acordo com Goulart (1995), as pesquisas de Piaget sobre o psíquico infantil,

concluíram que cada criança durante seu período de desenvolvimento e experiência passa por

um processo de construção de conhecimento, buscando seu próprio modelo de mundo. Esse

desempenho ocorre pela ação do bebê, ou criança, em um processo de construção interna ou

formação dentro de sua mente, e de uma estrutura em constante expansão.

Rappaport, Fiori e Davis (1981) advogam que para Piaget o bebê não herda

inteligência, mas um organismo que atinge a maturidade por meio da interação com o

ambiente, resultando em determinadas estruturas cognitivas, materializadas na capacidade

para a aprendizagem a ser desempenhada, proporcionada de acordo com o ambiente em que a

criança se insere.

Os mesmos autores, referindo-se ao aprender do bebê, anunciam que Piaget

caracterizava a criança como ser social, quando o bebê é totalmente dependente da

interferência do outro para sobreviver.

Para Piaget o desenvolvimento da criança pode ser explicado de modo que,

No ponto de partida da evolução mental, não existe, certamente, nenhuma diferenciação entre o eu e o mundo exterior, isto é, as impressões vividas e percebidas não são relacionada nem a consciência pessoal sentida como um “eu”, nem a objetos concebidos como exteriores. São simplesmente dados em um bloco indissociado, ou como que expostos sobre um mesmo plano, que não é nem interno e nem externo, mais meio caminho a esses dois pólos (PIAGET, 2003, p. 18).

Assim no primeiro ano de vida o crescimento mental incidirá em organizar as

impressões sensoriais, permitindo coerentemente a atuação da criança sobre a realidade.

Para obter a compreensão de esquemas de aprendizagem do bebê, Rappaport, Fiori e

Davis (1981)remetem aos estudos piagetianos, descrevendo que os bebês, ao nascerem são

desprovidos de capacidades mentais prontas. O bebê possui apenas reflexo, mas traz consigo

tendências inatas e um organismo caracterizado por estruturas biológicas e neurológicas, que

determinarão seu modo de reagir no ambiente que o cerca. No início da vida, o bebê não tem

nenhum conhecimento da realidade, é imaturo neurologicamente e psicologicamente,

dispondo apenas de sensações, ele se encontra em completo desequilíbrio cognitivo. Para

Piaget,

No recém-nascido, a vida mental se reduz ao exercício de aparelhos reflexos, isto é, as coordenações sensoriais e motoras de fundo hereditário, que correspondem a tendência intuitiva, como a nutrição. A esse respeito nos limitamos a observar que estes reflexos, enquanto estão ligados as condutas que desempenharão um papel no desenvolvimento psíquico ulterior, não tem nada desta passividade mecânica que se lhes atribui, mas manifestam desde o começo uma atividade verdadeira que atesta precisamente, a existência de uma assimilação senso-motora precoce (PIAGET, 2003, p. 18).

Page 51: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

50

A fala acima dialoga com as reflexões de Goulart (1995) quando explicita que, Piaget

enxerga a criança desde o princípio, como organizador de suas experiências no mundo

exterior, dando-lhe condições de agir sobre a realidade. Esse conhecimento, ao nascer é

marcado pelo reflexo, como a sucção, depois ocorre através dos olhos em movimento, quando

acompanha um objeto, com a mão (ao tocá-lo, pegá-lo, jogá-lo ou soltá-lo, levá-lo a boca e

cheirá-lo). Todas são ações que levam o bebê a explorar o mundo em que está inserido,

associando-o aos esquemas psíquicos, formando um padrão de comportamento e

desenvolvendo e construindo alguma forma de organização ao abordar o mundo ao seu redor.

Nesse sentido o construtivismo de Piaget é essencialmente biológico, pois sua

perspectiva se dedica em ver o desenvolvimento da criança como um processo de adaptação

em que a ação biológica do organismo se inteira com o meio, configurando estágios de

desenvolvimento cognitivo. Essa perspectiva sobre o desenvolvimento e aprendizagem da

criança estabelece conexão com o discurso acerca da criança naturalmente desenvolvida.

Por sua vez, para a teoria histórico-cultural, o sujeito é constituído na interação com o

outro social. A cultura torna-se parte da natureza humana em um processo histórico, que

acontece ao longo do desenvolvimento da espécie humana. Nessa perspectiva, ressalta-se a

ideia de unidade dialética entre processos naturais, culturais e históricos.

De acordo com Freitas (1998), Vigotski apresenta discurso teórico voltado ao

desenvolvimento da criança referendado pela construção social, resultante da interligação

entre: outro, a mediação da linguagem e a dimensão sociocultural.

Vygotsky (1993) ao propor a lei genética do desenvolvimento cultural anuncia que o

desenvolvimento humano ocorre em dois planos: primeiro, no plano social ou interpessoal, a

partir das interações sociais, visando à internalização construtiva de tais interações; e,

posteriormente, o plano interno, intrapessoal, também denominado como intrapsicológico.

De acordo com Oliveira (2010), para Vigotski o bebê, desde o nascimento, está em

constante proximidade com o adulto, formando uma relação cultural e a mediação é o

caminho do desenvolvimento que amplia o não determinismo, pois é por meio dos

mediadores que os sujeitos atuam sobre os fatores sociais, culturais e históricos, sofrendo

ação, reação, e alteração relativa a eles.

Oliveira (2001b) destaca a mediação entre o bebê e o objeto de conhecimento,

afirmando que a mesma se materializa também pela linguagem humana a partir de duas

funções básicas: intercâmbio social e pensamento generalizante. É inegável que a linguagem

da criança, “além de servir ao propósito de comunicação entre indivíduos, simplifica e

Page 52: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

51

generaliza a experiência, ordenando as instâncias do mundo real em categorias conceituais

cujo significado é compartilhado pelos usuários da linguagem (OLIVEIRA, 2001b, p. 27).

A função de intercâmbio social para os bebês sugere que a comunicação ocupa lugar

importante, não tendo o domínio da palavra e não compreendendo os significados, utilizam-se

de sons, gestos e expressões para se comunicarem. A comunicação é responsável por

impulsionar o desenvolvimento da linguagem no início da vida, e a funções de pensamento

generalizante - é a classificação do objeto em uma categoria – eleva a linguagem a um

instrumento do pensamento.

A linguagem oportuniza a aprendizagem infantil por ter a função de determinar,

nomear, classificar objetos, coisas e nomes, categorizando-os.

O uso da linguagem possibilita a socialização por meio da fala, onde a criança a utiliza

como instrumento lógico e analítico do pensamento. Na realidade, são signos mediadores

entre criança e mundo, favorecendo a abstração e generalização para identificá-los.

Oliveira (2001a) sinaliza ainda que Vygotsky amplia o conceito de mediação até à

interação sujeito/ambiente, incluindo signos como linguagem, escrita, sistema de número,

entre outros, como componentes do desenvolvimento humano e cultural. Nesse sentido, a

internalização na criança é resultante da reconstrução interna e de uma intervenção externa.

No contexto da teoria histórico-cultural, pode-se identificar a criança como organismo

ativo em seu contexto cultural e histórico em permanente transformação. Tal aspecto

evidencia o papel de destaque a criança enquanto partícipe de suas transformações, aspecto

que dialoga com a imagem de infância nomeada como criança sociológica. Deste modo o

levantamento acerca das significações de infância levou em consideração tanto as análises

históricas, quanto as psicossociais. As mesmas identificam diferentes discursos e práticas que

revelam crenças, valores e atitudes em torno dos quais se estruturam pontos de ancoragem na

constituição das representações sociais. No que concerne à análise sobre a importância da

memória social na constituição dos processos representacionais, destaca-se como hipótese do

estudo os seguintes pontos de ancoragem:

a) criança mitificada (inocente), autêntica e modelada (criança má);

b) a infância significada por meio dos discursos inatistas e empiristas (criança

imanente);

c) a infância significada por meio da tese piagetiana, interacionista (criança

naturalmente desenvolvida);

d) a criança como sujeito histórico-cultural (criança sociológica).

Page 53: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

52

Neste contexto tem-se a aproximação entre a criança mitificada da criança inocente; a

criança modelada da criança má, a ideia de tábula rasa da criança imanente; do sujeito

epistêmico do discurso piagetiano da criança naturalmente desenvolvida e do sujeito

histórico-cultural da criança sociológica.

Page 54: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

53

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Metodologia é o caminho do pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade. Ou seja, a metodologia inclui simultaneamente a teoria da abordagem (o método), os instrumentos de operacionalização do conhecimento (as técnicas) e a criatividade do pesquisador (suas experiências, sua capacidade pessoal e sua sensibilidade). A metodologia ocupa um lugar central no interior das teorias e está referida a elas (MINAYO, 2007, p. 14).

O capítulo apresenta a trajetória metodológica realizada neste estudo orientado pela

abordagem estrutural no campo das representações sociais segundo Abric (1998). No âmbito

do capítulo serão apresentados: as questões norteadoras, a caracterização da amostra, o plano

de coleta e processamento dos dados e a contextualização do universo da pesquisa.

3.1 Questões norteadoras do estudo

Quais os conteúdos e as estruturas das representações sociais sobre bebê e o aprender

do bebê, segundo os licenciandos de Pedagogia da UFMT, campus Cuiabá? Como tais

conteúdos e estruturas são organizados considerando a existência de processos de negociação

de sentidos ao longo dos quatro anos de formação inicial?

3.2 Objetivo Geral do estudo

Conhecer os conteúdos e as estruturas das representações sociais sobre bebê e o

aprender do bebê, segundo acadêmicos de Pedagogia da Universidade Federal de Mato

Grosso, campus Cuiabá, levando em consideração o processo de formação acadêmica,

caracterizado no decorrer interior dos quatro anos de duração do curso.

3.2.1 Objetivos Específicos

• Identificar e compreender os conteúdos e as estruturas das representações sociais sobre

bebê, mediante o cruzamento da variável ano;

• Analisar o conteúdo e a estrutura das representações sociais sobre o aprender dos bebês,

mediante o cruzamento da variável ano;

• Tecer algumas reflexões acerca de possíveis diferenças entre os conteúdos das

representações sociais sobre bebê, e sobre o aprender do bebê, partilhadas pelos

acadêmicos de Pedagogia, bem como contribuir para a reflexão sobre a identidade

profissional do futuro professor.

Page 55: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

54

3.3 Contexto de Universo e Amostra

Os sujeitos investigados no presente estudo foram os acadêmicos matriculados nos

quatro anos do curso de Licenciatura Plena em Pedagogia da Universidade Federal de Mato

Grosso (UFMT), campus Cuiabá, no primeiro semestre do ano letivo de 2010.

Conforme a coordenação do curso presencial de Pedagogia do campus de Cuiabá

foram matriculados 321 alunos no ano de 2010, sendo que 165 acadêmicos eram pertencentes

ao período matutino e 156 período vespertino. Neste estudo, a amostra pesquisada foi de 213

alunos. O material foi recolhido em ambos os períodos nos quatro anos de graduação, e

corresponde a 66,36 % do universo.

A tabela 01 que subsegue, demonstra a distribuição do universo e da amostra

contabilizada por ano, e seus respectivos percentuais:

Tabela 1- Distribuição dos alunos quanto ao período ano, 2010.

Período Universo Ano/ total (%)

Amostra Ano/ total (%)

Amostra/ Universo

1 ano 2 ano 3 ano 4 ano

76 99 74 72

23,67 30,85 23,06 22,42

54 66 48 45

25,35 30,99 22,54 21,12

71,05 66,67 64,87 62,50

321 100 213 100 66,36

Fonte: Dados organizados com base nas informações fornecidas pelo Departamento de Pedagogia - UFMT

3.4 Plano de coletas e processamento dos dados

Os procedimentos metodológicos foram estruturados a partir de um plano de coleta e

processamento de dados que pode ser assim organizado (quadro 1):

Page 56: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

55

Quadro 1- Plano de coleta e análise de dados Sujeitos Coleta de dados Processamento de dados Objetivos

213

.acadêmicos do curso de Pedagogia, distribuídos equitativamente por ano.

. Associação de Palavras com hierarquização por ordem de importância para o termo indutor: bebê e expressão indutora: aprender do bebê, seguida de hierarquização e contextualização do vocábulo considerado mais importante.

. Ensemble de Programmes Permetettant l’Analysedes Évocations (EVOC)

. cálculo considerando a ordem média de importância e a ordem média de evocação.

. Cálculo dos subprogramas SELEVOC e COMPLEX

. Identificação dos conteúdos e provável estrutura das representações sociais.

.Análise do impacto da variável ano na organização dos vocábulos evocados.

. Classification Hiérarchique Implicative et Cohésitiv (CHIC)

. Conexões implicativas entre os vocábulos

. Questionário para levantamento de dados sociodemográficos

. Excel Calculo de freqüência simples

. Análise do perfil demográfico da amostra.

Fonte: Organizado com base no problema de pesquisa e nos objetivos

De acordo com Nóbrega e Coutinho (2003), o teste de associação livre de palavras foi

desenvolvido por Jung com o intuito de contribuir na prática clínica, tendo como finalidade

efetuar diagnósticos sobre a personalidade do sujeito, ajudando localizar a zona de bloqueio

de pacientes.

O método foi adequado para o campo da Psicologia Social, no qual é utilizado como

instrumento de pesquisa em representação social. Para Oliveira et al “Metodologicamente, a

técnica de evocação livre tem por objetivo apreender a percepção da realidade de um grupo

social a partir de uma composição semântica preexistente” (2005, p. 575).

A associação livre de palavras possibilita a análise de conteúdos e possível estrutura

das representações sociais, podendo ser aplicada coletivamente.

Nesse estudo foi solicitado aos acadêmicos do Curso de Pedagogia da UFMT que

escrevessem cinco palavras que lhes ocorressem à mente, a partir do tema indutor bebê e

expressão indutora aprender do bebê. Na sequência, foi solicitada a hierarquização dos

vocábulos por ordem de importância, e contextualização semântica do termo considerado

mais importante.

As evocações foram processadas pelo software Ensemble de Programmes

Permetettant l’Analyse des Évocations(EVOC), tanto na organização por ordem de evocação

(OME), quanto por ordem de importância (OMI).

Page 57: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

56

Conforme esclarece Oliveira et al (2005), o programa possibilita a construção do

quadro de quatro casas ou Tableau de Vergès, composto pelos quadrantes: núcleo central

(responsável por agrupar os elementos mais consensuais e associados à memória coletiva);

primeira periferia (encontram-se os elementos periféricos mais relevantes e com maior

possibilidade de ingressar no núcleo central); zona de contraste (permanecem os vocábulos

com menor frequência, mas tidos como relevantes, demarcando a existência de um subgrupo

que porta uma representação diferente) e segunda periferia (responsável por contemplar os

atributos de menor frequência e menos consensuais, elementos recentes da representação,

associados ao contexto mais imediato).

Para tanto, o software efetua a análise da frequência (f) dos termos, cruzando com o

cálculo da ordem média de importância (OMI) e com a ordem média de evocação (OME).

Dentre os subprogramas que compõem o EVOC destacam-se, para efeitos deste

estudo, o Selevoc e o Complex. O processamento do Selevoc possibilita a subdivisão do

corpus, considerando a variável ano. Já o processamento do Complex permite a comparação

de dois a dois dos corpus, indicando palavras mais significativas por subgrupos - primeiro,

segundo, terceiro e quarto ano.

O Classification Hiérarchique Implicative et Cohésitive (CHIC), é um software que

auxilia o pesquisador, possibilitando análise implicativa a partir do cruzamento de sujeitos e

variáveis – evocações.

De acordo Celestino (2008) o C.H.I.C. é um software utilizado como ferramenta de

análise implicativa e foi desenvolvido por Regis Grás com a função de realizar a análise de

similaridade.

Segundo Celestino, reportado por Santos M. F. S.(2005),o C.H.I.C. tem por

responsabilidade extrair de um conjunto de informações e regras de associação a análise

implicativa de variáveis, e fornece um índice de qualidade. Apresenta enquanto habilidade

essencial ferramenta informatizada, permitindo o uso do método estatístico, extraindo de um

conjunto de dados o essencial para que ocorra o cruzamento de sujeitos e variáveis (ou

atributos), propondo regras de associação entre variáveis, fornecendo um índice de qualidade

e agregação que leva a representação de uma estruturação das variáveis obtidas por meio

destas regras.

Entre os métodos de análise do C.H.C., de acordo com Couturier, Bodin e Gras

(2003), o programa computacional possibilita a realização de três tratamentos distintos:

Page 58: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

57

Similaridade: efetua a análise das proximidades e produz uma janela de resultados numéricos (índices,...) e uma janela apresentando a árvore hierárquica de similaridades. Os critérios de similaridade – exprimem no caso das Variáveis binárias: presença - ausência; verdadeiro - falso; sim-não – etc.

Grafo implicativo: Efetua os cálculos dos índices de implicação no sentido da análise implicativa, clássica ou entrópica, segundo a opção escolhida, em seguida apresenta uma janela de resultados numéricos (ocorrências, desvio-padrão, coeficientes de correlação) e, em cima, uma janela apresentando um grafo. Os resultados numéricos aparecerão igualmente com os outros tratamentos.

Árvore coesiva: Efetua os cálculos dos índices de coesão implicativa no sentido da análise implicativa, depois apresenta uma janela de resultados numéricos e uma janela apresentando uma árvore ascendente segundo o índice decrescente das coesões(COUTURIER; BODIN; GRAS, 2003, p. 8).

Compuseram este trabalho dois grafos implicativos, um para o mote o bebê e outro

para o aprender do bebê, que reproduzem graficamente uma rede de possíveis relações

causais por meio de setas indicando, exemplo, quando se observa em um determinado sujeito

certa evocação “X”, em geral observa-se a presença de uma evocação “Y”. Neste trabalho

foram considerados índices implicativos entre 85% e 99%.

3.5 Contexto da pesquisa

Os sujeitos investigados neste estudo são alunos matriculados nos quatro anos do

curso de Pedagogia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), campus Cuiabá, no

primeiro semestre do ano letivo de 2010.

A UFMT ocupa lugar conceituado entre as instituições federais de ensino superior do

país. Segundo Beraldo (2005) a oficialização de criação da Universidade ocorreu em 10 de

dezembro de 1970, através da Lei n.º 5.6475, beneficiada pela aglutinação da Faculdade de

Direito de Mato Grosso e o Instituto de Filosofia Ciências e Letras de Cuiabá (ICLC).

Segundo a autora, o objetivo da proposta de sua criação tendia a buscar por uma

universidade que estabelecesse caráter dinâmico de integração à realidade, buscava

desenvolver trabalhos voltados à comunidade local, tendo como objetivo o conhecimento,

formando profissionais com competência para atuar em conformidade com a realidade de

Mato Grosso. Na atualidade pode-se dizer que a UFMT está instalada em local privilegiado a

capital - Cuiabá.

A UFMT tem como base institucional o compromisso social, democracia, inclusão,

interação, formação e autonomia. Atualmente se expandiu quantitativa e qualitativamente,

oportunizando a abrangência do ensino superior no Estado de Mato Grosso, assim tornando 5A UFMT foi criada pela Lei 5.647, de 10 de dezembro de 1970

Page 59: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

58

amplo o objetivo para promover o ensino, a pesquisa e a extensão nos distintos ramos do

conhecimento, tendo em vista a divulgação científica, técnica e cultural.

A constituição do curso de Pedagogia na Universidade Federal de Mato Grosso

(UFMT) coincide com a história da UFMT. Antes da oficialização e criação da instituição, a

Faculdade de Educação 6já era consolidada, tendo sido oficializada em 16 de dezembro de

1969.

O Instituto de Filosofia Ciências e Letras de Cuiabá (ICLC) era composto pelos cursos

de Pedagogia, Licenciatura em Matemática, Física, Química, Geografia, Letras e História

Natural, em substituição à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Cuiabá. O ICLC era

constituído também pela Faculdade de Economia e pela Faculdade de Engenharia Civil.

Inicialmente o curso oferecia a licenciatura plena, com a habilitação em Administração,

Supervisão e Inspeção Escolar de 1º e 2º Graus e Magistério das Disciplinas Pedagógicas do

Ensino de 2º Grau.

No Plano Político Pedagógico (PPP) da Universidade Federal de Mato Grosso (2006);

Na estrutura universitária os 11 cursos de graduação herdados (10 desenvolvidos pelo ICLC e 01 pela Faculdade de Direito) foram alocados em quatro unidades acadêmicas: Centro de Humanidades, Centro de Ciências Sociais, Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia e Centro de Ciências Biológicas e da Saúde. A Faculdade de Educação deixou de existir para dar lugar ao Departamento de Educação. Dessa forma, os cursos de formação de professores ficaram dispersos, fato que reduziu, sobremaneira, as possibilidades de construção de princípios e de diretrizes comuns (UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO, 2006, p. 7).

Conforme o Plano Político Pedagógico (Universidade Federal de Mato GROSSO,

2006), no ano de 1975 os cursos de graduação da UFMT passam por mudanças, deixando de

ser oferecidos exclusivamente em Cuiabá, capital do Estado, ampliando suas atuações no

interior, por meio de cursos emergenciais, inicialmente por modalidades parceladas. Foi

criado o

Centro Universitário de Rondonópolis (1980), do Instituto de Ciências e Letras do Médio Araguaia, localizado no município de Pontal do Araguaia, (1981) e, mais tarde, do Instituto Universitário do Norte - mato-grossense situado no município de Sinop (1992). (UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO, 2006, p. 7).

A UFMT, em busca de aprimoramento na qualidade do ensino ao longo de suas

atividades, passou pela reestruturação do curso de Pedagogia, em 1988/ 1995/ 2006. É realidade que o

curso de Pedagogia buscou reformulações desde 1982. Busca iniciada por meio de encontros internos,

6A Faculdade de Educação foi oficializada em 16 de dezembro de 1969, em substituição à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Cuiabá. O ICLC era constituído também pela Faculdade de Economia e pela Faculdade de Engenharia Civil, que ofertavam os respectivos cursos.

Page 60: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

59

e depois pela constituição de uma Comissão Estadual, composta por representantes da UFMT,

da Delegacia do Ministério de Educação e Cultura (DEMEC) e da Secretaria de Educação do

Estado (SEDUC), tendo participação efetiva do Departamento de Educação da UFMT. De

acordo como descrito no Plano Político Pedagógico (UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO

GROSSO, 2006), a comissão buscou formular um documento intitulado Proposta do Estado de

Mato Grosso para reformulação dos cursos de preparação de recursos humanos para a

educação.

Entre debates foi realçada a necessidade de superar a fragmentação de conhecimentos, a dicotomia entre teoria e prática e o caráter tecnicista na formação de cada curso. Referente ao curso de Pedagogia organizou-se a proposta em três grandes blocos: Fundamentação básica: centralidade dos estudos na análise contextualizada da problemática educacional brasileira; Formação específica: voltada à compreensão profunda e rigorosa do conteúdo da atividade específica a que se destina o curso; Prática pedagógica: compreensão e domínio de habilidades necessárias à atuação competente no processo ensino-aprendizagem (BERALDO; MONTEIRO, 2006, apud UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO, 2006, p. 5).

De acordo com Freitas (1996) reportada no PPP da Universidade Federal de Mato

Grosso (2006), a proposta construída foi apresentada na cidade de Belo Horizonte em

novembro de 1983, no Encontro Nacional para a Reformulação dos cursos de preparação de

recursos humanos para a educação. Momento que reafirmou determinadas bases para a

reformulação dos cursos como docência, e princípios na formação dos profissionais da

educação, articulando teoria e prática na formação do educador, integrando-o com o contexto

social brasileiro.

Ainda nos autos do Plano Político Pedagógico (Universidade Federal de Mato

GROSSO, 2006), em 1986, a Comissão de Reformulação do Curso de Pedagogia, constituída

por seguimentos de professores e alunos, trabalhou juntamente com o Colegiado de Curso e

Departamento, aprovando Cursos de Licenciatura para o Ensino nas quatro séries iniciais do

1º grau e matérias pedagógicas do 2º grau, com algumas ressalvas. Havia necessidade de

constituir uma base epistemológica para a educação escolar nos primeiros anos, o que

estabeleceria junto ao curso adquirir autonomia em relação à licenciatura em Pedagogia para

as Séries Iniciais.

Com tantas discussões permeando a identidade do Curso de Pedagogia para definir

sua função social perante Mato Grosso, o Departamento de Educação, juntamente com o

Colegiado de Curso e uma representação do seguimento aluno, constituiu o primeiro Projeto

Político Pedagógico para o curso.

Page 61: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

60

A proposta de Reformulação Curricular do Curso de Pedagogia, decorrente desse processo, adotou a habilitação das matérias pedagógicas do 2º grau como foco central da formação, abrindo a possibilidade de o egresso atuar também no magistério das Séries Iniciais. Essa proposta foi implantada, gradativamente, a partir de 1988/2. Com essa decisão, a formação dos especialistas passou a ser realizada nos cursos de Pós-Graduação lato sensu (UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO, 2006, p. 6-7).

Nesse sentido houve necessidade de determinadas alterações, como a inclusão de

algumas disciplinas na matriz curricular, relacionadas a Metodologias e Conteúdos do Ensino

de 1º Grau.

A reestruturação do curso de Pedagogia da UFMT em 1988 resultou de debates

sobre o curso e a identidade do pedagogo, debates ocorridos em âmbito nacional, o resultado

das discussões reafirmava a necessidade de articulação teoria e prática na formação

acadêmica e no exercício profissional.

Em 1995 ocorreu a segunda reestruturação do curso de Pedagogia, com base em

estudos feitos em anos anteriores e que demonstraram problemas com relação aos critérios

para a criação dos cursos de magistério (2ª Grau). A implantação justificava-se por ter baixo

custo, mas despreocupava-se com a demanda pela formação docente, tendo em vista a

inexistência de política de valorização do professor nas séries iniciais. Ocorria que

professores graduados na pedagogia migravam para outras séries e/ou funções, e dessa forma

profissionais com menos experiência assumiam as séries iniciais.

Desde 1995 e até a estrutura atual, o curso de licenciatura em Pedagogia, funciona no

Instituto de Educação. Conforme Beraldo (2005) o curso de Pedagogia foi autorizado, pelo

Parecer 252/69 e a Resolução 02/69, do Conselho Federal de Educação, a assegurar a matriz

curricular e a duração mínima a ser observada na organização do curso. Assim, em 2006 o

curso foi reestruturado obedecendo às mudanças ocorridas no cenário educacional brasileiro,

adequando-se aos parâmetros das Diretrizes Curriculares Nacionais – DCN – pela Resolução

CNE/CP 01/2006. O Curso de Pedagogia do IE/UFMT, ao longo desta construção, consolidou

a nova estrutura para a formação do profissional de Pedagogia, a docência passou a ser vista

como base; além disso, foi lançado o presente Projeto Político Pedagógico, conforme assinala

a Resolução 01/2006, no quadro atual do campo de atuação do pedagogo.

O curso de Pedagogia da UFMT/IE oferece base educativa, pensando a escola nos

dias atuais, ampliando sua função por meio da reorganização e adaptação às exigências

modernas; a base educativa é entendida como práxis interessada na formação humana e no

estabelecimento de relações sociais democráticas, deixando de limitar-se à transmissão de

conhecimentos acumulados.

Page 62: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

61

O Projeto Político Pedagógico deve ser assimilado como um instrumento que

demarca, acrescenta e adéquam as atividades universitárias. Na UFMT o currículo do curso de

Licenciatura em Pedagogia é pensado para compreender a referência curricular como prática

cultural. Compreensão essa com respaldo no campo do currículo no Brasil.

Deste modo, o curso de Pedagogia, que antes não priorizava fornecer experiências por

meio de estágio supervisionado, pois era compreendido que somente o contato com a

realidade profissional que ocorria cotidianamente era suficiente. No decorrer do curso esse ato

foi repensado, adequando-se às necessidades geradas no interior do mesmo, ajustando-se às

mudanças ocorridas no cenário educacional brasileiro, e ainda foi considerado decisivo na

elaboração de um novo PPP contemplando a inserção das Diretrizes Curriculares Nacionais –

DCN – pela Resolução CNE/CP 01/2006.

Na perspectiva das Diretrizes estabeleceu-se o objetivo de promover a formação inicial

para o exercício da docência nos anos iniciais do Ensino Fundamental, incluindo também a

Educação Infantil. Nesse sentido, o atual PPP propõe o componente curricular Projetos

Integradores de Prática Docente, visando articular o trabalho desenvolvido nas diversas áreas

de conhecimento que compõem o curso, tendo por objetivo a articulação dos conhecimentos

adquiridos com a prática no contexto educacional; é assinalado também no Estágio

Supervisionado do Curso de Pedagogia, compreendido no PPP como caracterizado pela

[...] finalidade de desenvolver habilidades e competências necessárias à atuação profissional na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental (crianças, jovens e adultos) e na gestão de processos educativos; compreender a prática docente, na realidade escolar, como um dos principais instrumentos que possibilitam a construção de alternativas diante dos problemas e situações inesperadas; garantir a indissociabilidade das práticas de ensino, pesquisa e extensão, promovendo permanente articulação com a realidade educacional em suas múltiplas dimensões e possibilitar a articulação entre a universidade e as instituições educativas (UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO, 2006, p. 34).

Na atualidade as atividades práticas dos acadêmicos no curso de Pedagogia ocorrem

ao longo do ano, em unidade de ensino da Pré - escola e Ensino fundamental, tornando

possível a aplicação do planejamento, considerado como objeto de reflexão dentro do espaço

universitário que contribui para a constituição do saber experiencial.

Page 63: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

62

4. DESCRIÇÃO E ANÁLISE DE DADOS

Do termo e expressão indutora: Bebê e Aprender do bebê

Este capítulo apresenta os dados da pesquisa, discussões e os resultados provenientes

da coleta realizada por meio da utilização da técnica de Associação de Palavras, a partir do

termo e expressão indutora Bebê e Aprender do bebê, realizada com 213 licenciandos do

curso de Pedagogia, Campus Cuiabá.

Para compreensão do trabalho, será apresentada a caracterização da amostra do estudo

seguida da discussão dos dados referentes à análise estrutural das representações sociais –

conteúdos e hipóteses de estruturas das representações sobre o bebê e o aprender do bebê

(EVOC),além da análise implicativa (C.H.I.C.).

Os resultados foram apresentados partindo da ordem das coletas das associações de

palavras e pela exposição dos conteúdos referentes à expressão indutora aprender do bebê.

No contexto das análises sobre os conteúdos e as hipóteses de estruturas das

representações sociais, foi considerado a variável ano da graduação; deste modo, os

acadêmicos do curso de Pedagogia foram distribuídos em quatro grupos distintos: primeiro

ano, segundo ano, terceiro ano e quarto ano.

Inicialmente será exposta a tabulação geral dos dados, para em seguida considerar

cada variável.

4.1 . DESCRIÇÃO E ANÁLISE DE DADOS

Em um universo de 321 acadêmicos de Pedagogia matriculados no ano de 2010, tem-

se neste estudo a colaboração de uma amostra de 213 discentes.

A coleta referente aos dados sociodemográficos permitiu identificar as seguintes

categorias: número de acadêmicos por ano, faixa etária, sexo, estado civil, filiação, formação

acadêmica prévia, atividade de estágio, experiência profissional, expectativa de adesão à

Educação Infantil.

O curso funciona com turmas regulares no período matutino e vespertino; das quais

participaram deste estudo os seguintes quantitativos, por turma, tabela 2:

Page 64: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

63

Tabela 2- Distribuição da amostra - número de alunos por ano.

TURMAS TOTAL 100% 1º ano

2º ano

3º ano

4º ano

54

66

48

45

25,35

30,99

22,53

21,13

Total 213 100%

Fonte: questionário de dados sócio-demográfico.

Dos acadêmicos que compõem a amostra destaca-se, com relação à idade, o intervalo

32 anos ou mais conforme observa-se na tabela 3 abaixo.

Tabela 3- Distribuição da amostra por faixa etária.

IDADE 1º ano 2º ano 3º ano 4º ano TOTAL 17-21

22-26

27-31

32 ou mais

24

10

05

15

18

13

11

16

09

12

05

16

02

14

11

15

27

25

16

32

TOTAL 54 58 42 42 100%

Fonte: questionário de dados sócio-demográfico.

Em termos de faixa-etária 196 sujeitos responderam, desses tem-se que 27% estão no

intervalo entre 17 a 21 anos, 25% entre 22 a 26 anos, 16% ocupa o intervalo 27 a 31 anos,

32% possue idade de 32 anos ou mais.

Tabela 4 - Distribuição da amostra por sexo.

Sexo N.º de alunos % Feminino

Masculino

197

08

96

4

Total 205 100

Fonte: questionário de dados sócio-demográfico.

No que se refere ao sexo, dos 205 dos acadêmicos informantes 96% são do sexo

feminino e 4% do sexo masculino.

Page 65: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

64

Tabela 5 - Distribuição da amostra quanto ao estado civil.

Estado civil 1º ano 2º ano 3º ano 4º ano TOTAL % Solteiro

Casado

Divorciado

Viúvo

30

22

00

01

33

25

02

01

20

23

01

00

22

19

00

00

105

89

03

02

52,8

44,7

1,5

1,0

TOTAL 53 61 44 41 199 100%

Fonte: questionário de dados sócio-demográfico.

A tabela 5 descreve sobre o estado civil. Dos 199 acadêmicos que responderam 52,8

% declarou ser solteiro, 44,7% casado, 1,5% divorciado e 1% viúvo.

Tabela 6- Distribuição da amostra quanto à composição familiar

FILHOS 1º ano 2º ano 3º ano 4º ano TOTAL %

Sim

Não

19

34

35

26

29

17

22

20

105

97

52

48

TOTAL 53 61 46 42 202 100%

Fonte: questionário de dados sócio-demográfico.

A tabela 6 retrata a resposta de 202 sujeitos que responderam sobre a composição

familiar, assim 52% dos acadêmicos declarou possuir filhos, enquanto que 48% disse não ter

filhos.

Tabela 7- Distribuição da amostra quanto à formação acadêmica

Graduação N.º de alunos % Sim

Não

23

177

11,5

88,5

Total 200 100

Fonte: questionário de dados sócio-demográfico.

Quanto à formação acadêmica, dos 200 sujeitos que responderam 11,5% declarou

cursar ou estar cursando outra graduação e 88,5% cursa somente Pedagogia.

Page 66: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

65

Tabela 8- Distribuição da amostra quanto à atividade profissional

Atualmente, você está fazendo faculdade, e trabalho com/em 1º ano 2º ano 3º ano 4º ano Total %

01 Trabalhando e fazendo faculdade 26 28 26 29 109 51

02 Fazendo faculdade 28 38 22 16 104 49

Total 54 66 48 45 213 100

Fonte: questionário de dados sócio-demográfico.

A tabela 8 acima revela que atualmente 51% dos acadêmicos estão trabalhando e

fazendo faculdade, e 49% ocupa-se exclusivamente com os afazeres da faculdade.

Tabela 9- Distribuição da amostra quanto à experiência profissional, vínculo empregatício.

Experiência profissional

1º ANO 2º ANO 3º ANO 4º ANO Total %

01 Com crianças em ambiente doméstico 03 02 01 02 08 3,75

02 4 meses a 1 ano 00 01 01 00 02 0,94 03 1 a 3 anos 00 02 03 01 06 2,82 04 4 a 5 anos 00 00 01 01 02 0,94 05 Apoio 01 00 00 00 01 0,47 06 Coordenação 00 00 01 00 01 0,47 07 Diretamente com crianças (ensino

fundamental) 03 01 02 02 08 3,75

08 Diretamente com adolescentes 00 01 00 00 01 0,47 09 Escola, fora de sala de aula 00 02 01 03 06 2,82 10 Outros contextos educacionais (informal) 07 07 00 01 15 7,04 11 Contextos não educacionais 05 00 03 01 09 4,23 12 Sem vínculo 35 50 35 34 154 72,3 Total 54 66 48 45 213 100

Fonte: questionário de dados sócio-demográfico.

A tabela 9 acima apresentou índice relacionado à experiência profissional, com

vínculo empregatício. Perante os dados coletados, nota-se que 3,75% trabalha com crianças

em ambientes domésticos; 0,94% realiza atividades com turmas de crianças de 4 meses a 1

ano; 2,82% declarou trabalhar com turmas de crianças de 1 a 3 anos e 0,94% com turmas de

crianças de 4 a 5 anos.

Ainda no contexto educacional, 0,47% vincula as atividades de apoio e 0,47% trabalha

em instituições desempenhando atividades de coordenação. Assim, 3,75% revelou trabalhar

diretamente com crianças dos anos iniciais do Ensino Fundamental e 0,47 % declarou ter

trabalhado diretamente com adolescentes.

O trabalho fora da sala de aula assumiu um quantitativo de 2,82% enquanto que

trabalho em contextos educacionais informais foi assinalado por 7,04% dos acadêmicos;

Page 67: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

66

4,23% realizaram atividades no contexto não educacional e 72,3% declarou não possuir

vínculo empregatício.

A tabela 10 abaixo proporciona uma visão sobre a experiência profissional do quadro

total de sujeitos pesquisados, sobre exercer a profissão na pré-escola e nos anos iniciais.

Tabela 10- Distribuição da amostra quanto a expectativa de trabalho na Educação Infantil.

Trabalhar na Educação Infantil

1º ANO

2º ANO

3º ANO

4º ANO

TO TAL

%

Após sua formatura, você pretende exercer a profissão de professor(a)?

Sim

37 51 40 35 163 83,58

Não 15 09 04 04 32 16,42

Total

52

60

44

39

195

100

Caso positiva a resposta anterior, você considera a possibilidade de trabalhar na Educação infantil ?

Sim

37 51 38 32 158 85,40

Não 04 09 05 09 27 14,60

Total 41 60 43 41 185 100%

Fonte: questionário de dados sócio-demográfico.

A tabela acima revela índices que permitem inferir que há tendência à adesão dos

acadêmicos ao trabalho na Educação Infantil. As respostas de 195 acadêmicos anunciaram

que 83,58% pretende exercer a profissão, enquanto que 16,42% declarounão ter interesse

pela profissão.

Com relação à expectativa de trabalho na Educação Infantil, dos 185 sujeitos que

responderam, 85,40% disse considerar a possibilidade, outros 14,60% manifestou

desinteresse em trabalhar nesta modalidade.

Tabela 11- Distribuição da amostra quanto ao trabalho na Educação Infantil/ perfil do grupo de criança.

Faixa etária com que interessa atuar 1º ANO 2º ANO 3º ANO 4º ANO Total % Indique a faixa etária que você gostaria de trabalhar

1ª opção 4 meses a 1 ano 00 06 00 00 06 3,7

1 a 3 anos 07 14 13 08 42 26,0 4 a 5 anos 28 28 23 24 103 64

2ª opção 1 a 3 anos 4 a 5 anos

04

03

00

00

07

4,4

3ª opção

4 meses a 1 ano 1 a 3 anos 4 a 5 anos

00

01

02

00

03

1,9

Total 39 52 38 32 161 100

Fonte: questionário de dados sócio-demográfico

Page 68: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

67

Na tabela 11 acima 161 acadêmicos pesquisados declararam que faixa etária tem

preferência por trabalharem. Assim na 2ª e 3ª opção da tabela referem-se as respostas que

registraram mais de uma opção.

Com relação à primeira opção 3,7% manifestou interesse em trabalhar com as idades

entre 04 meses e 1 ano, enquanto 26% anunciou ter interesse em trabalhar com a faixa etária

de 01 a 03 anos e 64% informou preferência pela idade 04 e 05 anos.

Na segunda opção, 4,4% revelou preferência em trabalhar com as duas faixas etárias,

de 1 a 3 anos e 4 a 5 anos.

Na terceira opção, 1,9% manifestou interesse por trabalhar com as três faixas etárias,

de 4 meses a 1 ano, 1 a 3 anos e 4 a 5 anos.

Os resultados indicam que, para os acadêmicos de Pedagogia, o trabalho pedagógico

com bebês não se apresenta como possibilidade de atuação.. Neste contexto, somente 3,7%

dos pesquisados optou por trabalhar com crianças de quatro meses a um ano, 1ª opção

juntamente com 1,9% na 3ª opção.

Os pesquisados revelam interesse pela Educação infantil, cuja ênfase recaiu para

trabalhar na pré-escola, 64% na 1ª opção; 4,4% na 2ª opção e 1,9% na 3ª opção, destacando

em especial a atuação sobre a faixa etária entre quatro e cinco anos − Pré-escola.

Neste sentido, os dados permitiram identificar que crianças entre quatro meses e três

anos inseridos no âmbito da creche, parecem não constituir clientela da futura carreira docente

que se inicia.

4.2 Análise sobre evocações referente ao termo bebê

4.2.1 Análise dos elementos estruturais do EVOC

De acordo com as evocações coletadas sobre o mote bebê, o software EVOC concluiu

a fase do processamento, utilizando-se os dados da tabela de frequência fornecidos pelo

subprograma RANGMOT. O programa apresentou um relatório composto por um total de

1035 palavras evocadas, sendo 139 delas diferentes entre si. Foi estabelecido um ponto de

corte com frequência mínima igual 7 ocorrências, frequência intermediária igual 24 e a ordem

média obtida na OME e OMI igual a 3,0, o que possibilitou um aproveitamento do corpus em

79,9% das evocações.

A comparação entre os quadros de elementos estruturais organizados pela OME e

OMI observou a aproximação entre os pontos de corte de ambos.

Page 69: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

68

Por meio do processamento desses dois bancos de dados – OMI e OME – foi possível

desenhar os seguintes quadros de elementos estruturais, ilustração 01.

Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação (OME) e ordem de importância (OMI).

MI < 3,00 ≥ 3,00 ME < 3,00 ≥ 3,00

f ≥24

NÚCLEO CENTRAL PRIMEIRA PERIFERIA

f ≥24

NÚCLEO CENTRAL PRIMEIRA PERIFERIA

Atributos f OMI Atributos f OMI Atributos F OME Atributos f OME

carinho 86 2,651 fofo 85 3,388 carinho 86 2,953 amamentação 42 3,167

amor 66 2,152 choro 75 3,720 fofo 85 2,435

cuidado 56 2,500 fralda 46 3,522 choro 75 2,387

amamentação 42 2,857 amor 66 2,909

frágil 25 2,840 cuidado 56 2,786

mãe 25 1,800 fralda 46 2,630

alegria 24 2,583 frágil 25 2,840

alegria 24 2,583

mãe 25 2,560

f ≥24

ZONA DE CONTRASTE SEGUNDA PERIFERIA

f<24

ZONA DE CONTRASTE SEGUNDA PERIFERIA

Atributos f OMI Atributos f OMI Atributos f OME Atributos f OME

família 23 2,130 chupeta 20 4,000 chupeta 20 2,750 alimentação 11 3,636

felicidade 18 2,778 cheiroso 17 3,471 criança 16 1,500 Beleza 7 3,143

vida 18 1,944 dependência 17 3,294 família 23 2,870 Atenção 11 3,636

inocência 16 2,250 criança 16 3,000 inocência 16 2,563 Benção 7 3,571

alimentação 11 2,545 tempo 14 3,357 nascimento 7 2,000 Cheiroso 17 3,412

atenção 11 2,545 pequeno 10 3,600 Dedicação 8 3,250

responsabilidade 11 trabalho 10 4,400 delicadeza 7 3,000

educação 10 2,900 saúde 9 3,000 dependência 17 3,412

dedicação 8 2,750 esperança 8 3,125 Educação 10 4,000

proteção 8 2,625 sensibilidade 7 3,143 Esperança 8 4,125

delicadeza 7 2,714 sorriso 7 3,286 Felicidade 18 3,500

benção 7 2,143 beleza 7 3,143 Pequeno 10 3,000

nascimento 7 1,429 Proteção 8 3,500

responsabilidade 11 3,455

Saúde 9 3,556

sensibilidade 7 3,714

Sorriso 7 3,714

Tempo 14 4,000

Trabalho 10 3,400

Vida 18 3,000

Fonte: dados obtidos por meio de associação de palavras de acadêmicos do curso de Pedagogia – UFMT.

Os quadrantes acima demonstram os vocábulos processados, permitindo a comparação

entre os resultados obtidos referentes à expressão indutor bebê. Os pontos explorados sugerem

que determinados vocábulos adquirem maior saliência na ordem de hierarquização quando

comparados à ordem de evocação espontânea, e o contrário também ocorre.

A partir do quadro de elementos estruturais organizado pela ordem de importância,

destacam-se os seguintes aspectos:

Page 70: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

69

No âmbito dos elementos que concorrem para a centralidade destacam-se vocábulos

que anunciam a afetividade do adulto na relação com o bebê, sendo estes: carinho, amor e

alegria; o termo que evidencia característica atribuída ao bebê − frágil; vocábulos que

indicam o outro e seu comportamento na relação com o bebê – mãe, amamentação e

cuidados.

Na primeira periferia, o termo fralda anuncia um discurso que reforça os atributos

apresentados no núcleo central cuidado, e está associado aos aspectos funcionais associados

às práticas sociais rotinizadas e orientadas para o bebê. O mesmo pode se pensar sobre o

termo choro. Por sua vez, o termo fofo aproxima-se do vocábulo presente no núcleo central

que anuncia o bebê como frágil e fofo, alguém a quem se dedica amor, carinho e cuidado.

Na zona de contraste observam-se blocos de termos que sustentam o discurso

apresentado no núcleo central fortemente marcado pela ideia de fragilidade, doçura e cuidado

do bebê. Destaca-se neste quadrante o vocábulo educação que se aproxima da noção de

cuidado representada pelo vocábulo alimentação.

Deste modo têm-se os termos atenção, responsabilidade, dedicação e proteção

caracterizando a atitude do adulto para com o bebê; inocência e delicadeza retratam as

peculiaridades do bebê que de certa forma justificam as características do comportamento

adulto; felicidade e bênção anunciam a dimensão normativa da representação na qual os

acadêmicos associam o bebê à ideia de sagrado, de merecimento e, portanto, de júbilo ao qual

a família torna-se merecedora; vida e nascimento parecem remeter à ideia de renovação

próxima ao conteúdo do sagrado.

A segunda periferia se organiza em torno de vocábulos descritores das características

atribuídas ao bebê e que por sua vez complementam as já anunciadas nos quadrantes

anteriores, como pode-se observar: cheiroso, dependência, pequeno, criança, sorriso,

sensibilidade, beleza. O termo saúde aparece para compor a tríade juntamente com cuidado e

educação, termos anunciados anteriormente.

O vocábulo esperança parece corroborar para a hipótese de que ao bebê está vinculada

a ideia de renovação, uma possível projeção que remete ao bebê a uma forte carga de

idealização. O termo trabalho pode de certa forma, fazer um contraponto a essa tendência.

De forma geral, pode-se dizer que a análise dos elementos estruturais sobre o termo

indutor bebê revela que, para os acadêmicos, a afetividade destacada por meio do cuidar no

primeiro e segundo ano de vida, se dá mediante uma postura de continência do adulto

objetivado na imagem de mãe.

Page 71: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

70

O bebê é então delineado pelo viés da fragilidade, inocência e dependência sendo

objetivado pela imagem de filho e dádiva, aspecto que revela forte conteúdo normativo,

(quadro 3). A análise sobre os efeitos da hierarquização evidenciou o seguinte:

Quadro 2 - Quadro de elementos estruturais relativos termo indutor bebê, processado por ordem de evocação (OME) e ordem de importância (OMI).

OME OMI NUCLEO

CENTRAL (NC) PRIMEIRA

PERIFERIA (1P) NUCLEO

CENTRAL (NC) PRIMEIRA

PERIFERIA (1P) Carinho fofo choro amor cuidado fralda frágil alegria mãe

amamentação carinho amor cuidado amamentação frágil mãe alegria

fofo choro fralda

ZONA DE CONTRASTE (ZC)

SEGUNDA PERIFERIA (2P)

ZONA DE CONTRASTE (ZC)

SEGUNDA PERIFERIA (2P)

chupeta criança inocência nascimento família

beleza atenção alimentação cheiroso bencao dedicação delicadeza dependencia educação esperanca felicidade pequeno proteção responsabilidade saúde sensibilidade sorriso tempo trabalho vida

familia felicidade vida inocência alimentação atenção responsabilidade educação dedicação proteção delicadeza benção nascimento

Chupeta cheiroso dependência criança tempo pequeno trabalho saúde esperança sensibilidade sorriso beleza

Fonte: dados obtidos por meio de associação de palavras de acadêmicos do curso de Pedagogia – UFMT.

No quadro acima foi disposta a hierarquização das palavras, onde os pontos

explorados OME e OMI demonstram que determinados vocábulos adquirem maior saliência

na ordem de hierarquização, quando comparados com a ordem de evocação espontânea, e o

contrário também ocorre.

No intuito de compreensão da leitura, os vocábulos foram agrupados por cores,

distinguindo os significados:

- vocábulos apresentados em verde, tiveram o mesmo destaque no núcleo central;

- vocábulos apresentados em preto, tiveram o mesmo destaque no sistema periférico;

- vocábulos apresentados em vermelho, perderam importância;

- vocábulos apresentados em azul, ganham importância.

Page 72: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

71

No núcleo central do quadrante organizado pela OME permaneceram os vocábulos

carinho, fofo, choro, fralda, frágil, alegria, mãe, amor e cuidado, enquanto na OMI os termos

foram carinho, amamentação, frágil, alegria, amor, cuidado e mãe.

Nesse sentido os vocábulos apresentam como elementos comuns carinho, frágil,

alegria, amor, cuidado e mãe; estes vocábulos tiveram o mesmo destaque, permanecendo no

núcleo central da OME e OMI, compartilhando da mesma frequência evocada, diferenciando-

se apenas na ordem de aparição.

Outros elementos que tiveram o mesmo destaque, permanecendo na zona de contraste

nos dois pontos de ordem, foram família, inocência e nascimento. Os termos beleza, pequeno,

cheiroso, dependência, sensibilidade, sorriso, trabalho e saúde permaneceram na segunda

periferia nos dois pontos pesquisados, apresentando a mesma frequência, com alteração na

ordem de aparição.

Na ordem de evocação, os termos: fofo, fralda e choro se destacam inicialmente no

núcleo central, mas quando efetivada a etapa de hierarquização, perderam importância sendo

alocados junto à primeira periferia. Outros vocábulos que perderam a importância nesse

processo são: chupeta e criança, que primeiramente alocam-se na zona de contraste e, em

seguida, com a perda de importância, transferem-se para a segunda periferia.

O vocábulo amamentação, que se alojou na primeira periferia pela ordem de

evocação, ganhou importância na hierarquização destacando-se no núcleo central. Os

elementos pertencentes à segunda periferia na OMI, atenção, bênção, dedicação, delicadeza,

educação, felicidade, proteção, responsabilidade e vida, quando verificados pela evocação

espontânea ganham importância, apresentando-se na zona de contraste.

A análise do efeito de hierarquização chama a atenção para o silenciamento dos

discursos orientados pelo saber acadêmico, especialmente para a ausência de vocábulos

associados às reflexões da Psicologia do desenvolvimento e mesmo da Sociologia, por

exemplo. Contrário a isso, observa-se a valorização de termos ancorados no discurso

religioso, presente na zona de contraste da organização por ordem de importância. A essa

tendência soma-se o fato de que, no âmbito geral, os acadêmicos representam o bebê segundo

a objetivação centrada na imagem de filho.

Tais aspectos revelam a fragilidade das discussões acadêmicas com relação à primeira

infância, o que pode, mesmo que indiretamente, anunciá-la como temática restrita ao âmbito

privado sendo anunciada na intimidade da família e, portanto, não sendo associada aos

grandes debates sobre a educação pública, na qual os acadêmicos se inserem como

profissionais em potencial.

Page 73: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

72

Com o objetivo de explorar tal hipótese, serão discutidos a seguir os dados conforme a

variável ano.

4.2.2 Análise dos elementos estruturais considerando a variável ano

O processamento do software EVOC faz uso de subprogramas que oferecem recursos

como o Complex – comparação dos corpora com base na variável ano – e o Selevoc, –

subdivisão do corpus a partir da variável ano.

Os quadros abaixo resultam do processamento dos subprogramas Selevoc e Complex,

nos quais constam vocábulos com maior frequência, oportunizando a síntese do cruzamento

das variáveis entre os quatro anos do curso de Pedagogia, no ano de 2010 da UFMT, campus

Cuiabá.

Ilustração 2- Síntese dos cruzamentos realizados pelo COMPLEX - GERAL- índice de referência 2,0 para significativo e 3,0 para altamente significativo

ANO V1 – V2

CÓDIGO VARIÁVEL 1 VARIÁVEL 2

1 pedagogia e 2 pedagogia 1-2 ------ --------

1 pedagogia e 3 pedagogia 1-3 ------ ---------

1 pedagogia e 4 pedagogia 1-4 ------- -------

2 pedagogia e 3 pedagogia 2-3 ------ Cuidado (2.28)

2 pedagogia e 4 pedagogia 2-4 ------ --------

3 pedagogia e 4 pedagogia 3-4 ------ Cuidado (2.02)

Fonte: dados obtidos por meio de associação de palavras de acadêmicos do curso de Pedagogia – UFMT.

A análise da ilustração 02 acima permitiu identificar certa homogeneidade entre os

termos evocados nos diferentes subgrupos, tendo em vista que a comparação realizada entre

os anos destaca a não variabilidade do discurso entre o segundo, o terceiro e o quarto ano,

quando os mesmos são comparados com as evocações do primeiro ano. Este aspecto sugere a

pouca variabilidade dos conteúdos representacionais e o alto nível de integração entre os

mesmos.

O cruzamento realizado pelo software destacou o termo cuidado como mais típico

quando comparados o segundo e terceiro ano, e o terceiro e quarto ano. Tal informação

permite inferir que o terceiro e quarto ano foram subgrupos que se distinguiram em duas

comparações, realizadas em função de o termo cuidado ser mais típico.

Esta etapa do processamento e da análise dos dados demarca mais fortemente a

hipótese anteriormente elaborada sobre a fragilidade das discussões acadêmicas a respeito da

Page 74: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

73

primeira infância, aspecto que pode explicar a forte presença de conteúdo ancorado no

universo consensual.

4.2.3 O processamento das evocações referentes à variável ano

No processamento das evocações referentes aos 54 acadêmicos do primeiro ano do

curso de Pedagogia, no EVOC, contabilizou-se um total de 265 palavras, sendo 79 delas

diferentes entre si. O ponto de corte foi definido com a frequência mínima de 4 ocorrências,

havendo um aproveitamento de 68,3% do total dos dados coletados.

A ordem média de importância obteve valor aproximado a 3,0 e a frequência média

aproximadamente 10. Com tais parâmetros, delineou-se a ilustração 3.

Ilustração 3- Elementos estruturais relativos ao termo indutor bebê, segundo os acadêmicos do primeiro ano do curso de Pedagogia.

BEBÊ Primeiro

ano

< 3,00 ≥ 3,00 NÚCLEO CENTRAL PRIMEIRA

PERIFERIA

f ≥ 4

Atributos F OMI Atributos F OMI amor carinho choro fofo fralda

21 22 19 22 11

2,667 2,500 2,684 2,409 2,636

cuidado

14 3,214

GERAL (n=54) f ≥ 4

ZONA DE CONTRASTE SEGUNDA PERIFERIA

Atributos F OMI Atributos F OMI

alegria amamentação chupeta família frágil mãe

8 9 6 7 9 4

2,750 2,111 2,833 2,857 2,889 2,500

alimentação beleza cheiroso dedicação dependência inocência

5 4 6 5 4 5

3,800 3,500 4,167 3,200 4,250 3,800

Fonte: dados obtidos por meio de associação de palavras de acadêmicos do curso de Pedagogia – UFMT.

Quando observado, no núcleo central permaneceram os seguintes termos: amor,

carinho, choro, fofo e fralda. Na primeira periferia: cuidado. Em sequência, na zona de

contraste: alegria, amamentação, chupeta, família, frágil e mãe. Por último, na segunda

periferia, alimentação, beleza, cheiroso, dedicação, dependência e inocência.

No âmbito dos elementos que concorrem para a centralidade, pela disposição dos

dados amor, carinho e fofo, acompanhados de cheiroso, presente na zona de contraste, eles

parecem amparados pelo atributo dependência, alojado na segunda periferia.

Na primeira periferia, o atributo cuidado confirma a necessidade do outro na vida do

Page 75: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

74

bebê. Necessidade essa explicitada pelo atributo frágil, localizado na zona de contraste e

confirmado pelos elementos fralda, no núcleo central e alimentação, presente na segunda

periferia. O discurso sobre o bebê, nos elementos periféricos provavelmente mencionados por

um subgrupo, parece estar ancorando na dedicação por parte do outro, termo da segunda

periferia, explicitando esse outro como a família, em especial a mãe.

O contexto revela a mãe enquanto ator social, levando a pensar que, para os

acadêmicos do primeiro ano, o bebê deve permanecer no âmbito familiar junto com a mãe,

responsável pela amamentação, termo presente na primeira periferia. O grupo não expressou

possível permanência da criança fora do âmbito família, ou em outros espaços de

aprendizagem, como por exemplo, em creches.

Quando comparado ao quadro geral da representação, no primeiro ano o termo

cuidado saiu do núcleo central e alojou-se na primeira periferia, levando a pensar que os

acadêmicos do primeiro ano do curso de Pedagogia revelaram seu discurso voltado à

afetividade, onde somente um subgrupo manteve ênfase na prática do cuidado. O termo

amamentação esteve presente no núcleo central e migrou para segunda periferia. Assim

ganharam relevância os termos choro, fofo e fralda.

Sendo assim é possível considerar que a representação acerca do bebê, aqui analisada,

no que se refere ao primeiro ano, ancora-se na afetividade e nos aspectos funcionais

associados ao bebê e seu cuidado, apresentando ausência da ideia de criança pequena inserida

em instituições de Educação Infantil ou mesmo em outro contexto senão o familiar.

No processamento das evocações referentes aos 66 acadêmicos do segundo ano do

curso de Pedagogia, no EVOC, contabilizou-se um total de 315 palavras, sendo 82 delas

diferentes entre si. O ponto de corte foi definido com a frequência mínima de 4 ocorrências,

com o aproveitamento de 71,7% do corpus. Obteve-se como ordem média de importância o

valor aproximado a 3, e como frequência média de aproximadamente 12.

A ilustração 4 a seguir apresenta a configuração estrutural dos elementos, com base

nas informações dos acadêmicos do segundo ano de Pedagogia:

Page 76: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

75

Ilustração 4 - Elementos estruturais relativos ao termo indutor bebê, segundo os acadêmicos do segundo ano do curso de Pedagogia.

OMI Segundo

ano

< 3 ≥ 3

NÚCLEO CENTRAL PRIMEIRA PERIFERIA

f ≥ 4

Atributos f OMI Atributos f OMI choro cuidado fofo fralda mãe

31 14 28 18 13

2,419 2,786 2,429 2,556 2,538

amamentação amor carinho

151530

3,200 3,667 3,667

GERAL (n=66)

f ≥ 4

ZONA DE CONTRASTE SEGUNDA PERIFERIA Atributos f OMI Atributos f OMI alegria cheiroso colo criança dependência frágil vida

8 7 5 5 6 5 5

2,750 2,857 2,800 1,400 2,833 2,200 2,200

chupeta família felicidade sorriso

6 5 6 4

3,000 3,400 3,333 4,000

Fonte: dados obtidos por meio de associação de palavras de acadêmicos do curso de Pedagogia – UFMT.

Com base na ilustração de elementos estruturais, referente às evocações dos discentes

do segundo ano, apresentam-se como palavras que concorrem à centralidade da representação

sobre o bebê: choro, cuidado, fofo, fralda e mãe. Na primeira periferia: amamentação, amor e

carinho. Na sequência, na zona de contraste: alegria, cheiroso, colo, criança, dependência,

frágil e vida. Por último, na segunda periferia: chupeta, família, felicidade e sorriso.

Em termos gerais observa-se a presença do termo mãe no núcleo central juntamente

com os demais atributos associados aos aspectos funcionais da representação. Esta parece ser

a principal diferença entre o primeiro e segundo ano. O destaque dado ao termo mãe pelo

segundo ano.

O quadro referente às evocações do segundo ano permite a movimentação de dois

vocábulos que ganham importância, passando da primeira periferia para o núcleo central:

choro e fralda, enquanto do núcleo central para primeira periferia perdem força os termos

amamentação, amor e carinho.

Ao considerar o processamento de todos os dados em paralelo com os do segundo ano,

é possível perceber que o núcleo central de ambos compartilha três vocábulos: choro, fralda e

fofo, sendo que no quadro geral esses termos permanecem na primeira periferia.

Nesse contexto o segundo ano dispõe o vocábulo mãe, vista como responsável pela

amamentação, elemento alojado na primeira periferia, que parece demarcar a dimensão

Page 77: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

76

pragmática da representação localizada no núcleo central, configurada pelo elemento família.

Na segunda periferia, anunciando a ideia de que o bebê precisa do outro, nesse caso a mãe,

em especial porque é caracterizado pelos vocábulos dependência e frágil na zona de contraste.

O discurso também denota que a fragilidade do bebê, pode ser ampara por meio da

afetividade, discorrida pelos atributos fofo, presente no núcleo central, e amor e carinho, na

primeira periferia. Nesse sentido, observa-se que para o acadêmico do segundo ano a

maternidade e a afetividade são aspectos relevantes para se pensar a relação do bebê com o

adulto por ele responsável.

O processamento das evocações referentes aos 54 acadêmicos do terceiro ano do curso

de Pedagogia, no EVOC, contabilizou um total de 235 palavras, sendo 74 delas diferentes

entre si. O ponto de corte foi definido com a frequência mínima de 3 ocorrências, com o

aproveitamento de 68,3% do corpus. Obteve-se como ordem média de importância o valor

aproximado a 3, e como frequência média aproximadamente 8.

A ilustração 5 a seguir apresenta a configuração estrutural dos elementos, com base

nas informações dos acadêmicos do terceiro ano de Pedagogia:

Ilustração 5- Elementos estruturais relativos ao termo indutor bebê, segundo os acadêmicos do terceiro ano do curso de Pedagogia.

BEBÊ Terceiro

ano

< 3,00 ≥ 3,00 NÚCLEO CENTRAL PRIMEIRA PERIFERIA

f ≥ 4

Atributos F OMI Atributos F OMI amor carinho choro cuidado fofo fralda

17191422148

2,882 2,368 2,357 2,591 2,714 2,875

amamentação

10

3,600

GERAL (n=48) f ≥ 4

ZONA DE CONTRASTE SEGUNDA PERIFERIA

Atributos F OMI Atributos F OMI alegria chupeta criança família felicidade inocência mãe

5 4 3 3 3 6 6

2,000 2,000 1,667 2,333 2,667 1,833 2,167

alimentação atenção educação frágil proteção tempo vida

4 5 4 5 5 4 3

3,750 3,600 3,500 3,400 3,600 4,500 4,333

Fonte: dados obtidos por meio de associação livre de palavras de acadêmicos do curso de Pedagogia – UFMT.

O quadro demonstra a presença dos termos: amor, carinho, choro, cuidado, fofo e

Page 78: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

77

fralda no núcleo central. A palavra amamentação na primeira periferia. Os atributos alegria,

chupeta, criança, família, felicidade, inocência e mãe na zona de contraste e os vocábulos

alimentação, atenção, educação, frágil, proteção, tempo e vida na segunda periferia.

Essa distribuição dos dados retrata a representação do bebê com o mesmo sentido

geral, onde a focalização do terceiro ano apresenta características marcantes já apresentadas

nos outros anos e no quadro geral. Revela-se ação por meio do cuidado presente no núcleo

central, apresenta o cuidado do outro como gerador de sensações de bem-estar na criança.

Os descritores confirmam o relacionamento e ação direta com afetividade, explicada

pelos termos amor, carinho e fofo, compostos no núcleo central, que ocorre por meio do

elemento atenção presente na segunda periferia. Um subgrupo identifica a família na zona de

contraste como lugar de cuidado, lócus de sobrevivência e educação na segunda periferia que

deve ser ofertada pela mãe presente na zona de contraste, essa mãe é tida como outro que

cuida, sendo responsável pela amamentação, termo da primeira periferia.

Destaca-se que o terceiro ano é, até o momento, o único grupo no qual o termo

educação aparece no quadro de elementos estruturais, muito embora na segunda periferia.

Nesse sentido, observa-se junto ao grupo do terceiro ano, apesar da manutenção do

sentido geral já destacado nos outros anos, uma focalização na qual o discurso sobre o aspecto

do cuidado ganha força.

No processamento das evocações referentes aos 45 acadêmicos do quarto ano do curso

de Pedagogia, no EVOC, contabilizou-se um total de 215 palavras, sendo 66 delas diferentes

entre si. O ponto de corte foi definido com a frequência mínima de 3 ocorrências, com o

aproveitamento de 73,5% do corpus. Obteve-se como ordem média de importância o valor

aproximado a 3,0 e como frequência média aproximadamente 7. Com tais parâmetros,

delineou-se a ilustração 6 a seguir.

A ilustração 6 abaixo apresenta a configuração estrutural dos elementos, com base nas

informações dos acadêmicos do quarto ano de Pedagogia:

Page 79: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

78

Ilustração 6 - Elementos estruturais relativos ao termo indutor bebê, segundo os acadêmicos do quarto ano do curso de Pedagogia.

OMI Quarto

ano

< 3 ≥ 3

NÚCLEO CENTRAL PRIMEIRA PERIFERIA

f ≥ 4

Atributos f OMI Atributos f OMI amor carinho choro criança família fofo fralda vida

13 15 11 8 8

20 9 8

2,462 2,933 1,818 1,500 2,750 2,350 2,556 2,750

amamentação

8

3,750

GERAL (n=45)

f ≥ 4

Zona de contraste Segunda periferia atributos f OMI Atributos f OMI alegria cuidado frágil inocência

3 6 5 4

2,667 2,500 2,800 1,750

cheiroso chupeta dependência esperança felicidade responsabilidade saúde sonho tempo trabalho

3 4 5 3 6 4 4 3 5 3

3,667 3,000 3,000 4,333 3,833 4,000 4,250 4,000 4,000 3,333

Fonte: dados obtidos por meio de associação de palavras de acadêmicos do curso de Pedagogia – UFMT.

A ilustração acima mostra no núcleo central os atributos amor, carinho, choro,

criança, família, fofo, fralda e vida. Na primeira periferia, amamentação. Na zona de

contraste os termos alegria, cuidado, frágil e inocência. Na segunda periferia os atributos

cheiroso, chupeta, dependência, esperança, felicidade, responsabilidade, saúde, sonho, tempo

e trabalho.

Essa organização dos dados no núcleo central demonstra a presença marcante de

afetividade, caracterizada pelos elementos amor, carinho e fofo, expressa que o bebê é frágil e

inocente, elementos da zona de contraste e que o adulto, membro da família, assume a

responsabilidade.

Com relação às especificidades do quarto ano destaca-se o silenciamento do termo

educação, aspecto que o aproxima dos resultados referentes ao primeiro e segundo anos, à

maior valorização dos vocábulos criança e vida, presença do atributo trabalho, sonho,

felicidade na segunda periferia, o menor impacto do termo cuidado, além da ausência do

termo mãe, apesar do vocábulo família configurar no núcleo central. Estes indicadores

demonstram que os conteúdos das evocações do quarto ano perfilam a imagem de filho

Page 80: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

79

provavelmente anunciada como a realização do sonho de seus pais. Tal aspecto revela, mesmo

no subgrupo dos formandos em Pedagogia, que bebê não se caracteriza como clientela

potencial da ação docente, sendo o mesmo restrito à ação de familiares amorosos. Portanto,

os dados parece anunciarem a não adesão ou mesmo desinformação dos acadêmicos com

relação ao trabalho pedagógico com bebês em contextos de berçários.

4.3 Apresentação e análise dos elementos estruturais e suas relações implicativas.

Este procedimento objetivou compreender as possíveis relações entre vocábulos

evocados para o termo indutor bebê.

Na sequência será apresentada a configuração estrutural do grafo implicativo obtido

por meio do processamento dos dados no programa computacional. CHIC – Cohesive

Hierarchical Implicative Classification. Para tanto, considerou-se como base de informação

as evocações presentes nos quadrantes do EVOC, 79,9% do total do corpus.

Ilustração 7- Grafo implicativo resultante do processamento das evocações sobre o bebê no softwareCHIC.

.

Fonte: dados obtidos por meio de associação de palavras de acadêmicos do curso de Pedagogia – UFMT.

As cores das setas indicam o índice de implicação entre evocações: vermelha 99% - azul – 95%; verde – 90% e cinza – 85%. Os índices representam a probabilidade do sujeito que evocou um determinado vocábulo dizer, em seguida, o termo apontado pela direção da seta

Page 81: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

80

As setas coloridas são indicadores responsáveis por associar os sentidos explicitados

do discurso, revelando significados de representação dos futuros profissionais.

A análise do grafo implicativo revelou a existência de três blocos discursivos assim

denominados: 1. educação, cuidado e afetividade; 2. práticas de cuidado materno e artefato

cultural. 3. o bebê em si.

No que se refere ao bloco 1. educação, cuidado e afetividade – 95% e 90% – o mesmo

apresentou alta probabilidade de relação entre termos atenção ► cuidado;proteção ►

cuidado e educação► cuidado. Chama atenção a centralidade do termo cuidado para o qual

convergem os termos educação, proteção e atenção. Na sequência, como que em um

movimento de descrever o termo, cuidado anuncia-se a relação entre os termos amor ►

carinho – 90%. Deste modo tem-se que a educação dos bebês passa pela qualidade das

práticas de cuidado que deve ser anunciada em uma atmosfera de afetividade e continência.

Quando analisadas as frases citadas pelos acadêmicos, os termos cuidado, carinho e

atenção confirmam o conteúdo:

Precisamos ter cuidado com as nossas atitudes de família. (suj. 29- 1º ano).

Todo o bebê precisa de cuidado e carinho de sua mamãe. (suj. 59- 2º ano).

O bebê é delicado e precisa de cuidados. (suj. 60-2º ano).

Cuidar se o mingau está quente. (suj. 78- 2º ano).

O bebê é um ser que merece um cuidado e atenção especial, regado de muito carinho. (suj. 84- 2º ano).

Os bebês são lindos, fofos e merecem cuidados. (suj. 194 - 4º).

O cuidado com o bebê é necessário para que tenham uma boa saúde. (suj. 196- 4º ano).

Para o bebê necessário ter cuidado em relação as suas necessidades. Cuidado significa atenção às necessidades do outro no caso o bebê. (suj. 196- 4º ano).

O contexto também apresentou o termo educação, que na frase descrita pelo

acadêmico apontou reflexão sobre o bebê:

O bebê é um ser que necessita de cuidados e educação para o desenvolvimento cognitivo. (suj.161- 3º).

Educação é muito importante para se criar um bebê. Significa criar um bebê da melhor forma possível. (suj.171- 4º).

Page 82: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

81

As frases demonstram os significados que os sujeitos revelaram sobre o bebê, seus

discursos apontaram para a necessidade do cuidado e afetividade por meio do outro com

algum índice de enunciados piagetianos.

O bloco 2 - práticas de cuidado e artefato cultural apresentaram maior índice de

implicação – 99% – o qual anuncia a relação entre os termos chupeta►amamentação►

fralda ► choro e na sequência mãe ► choro – 85%.

No quadro de elementos estruturais os termos choro e amamentação alocaram-se no

núcleo central – OMI –, enquanto que nas evocações espontâneas os termos alojam-se na

primeira periferia. O elemento fralda na ordem de importância comparece na primeira

periferia, e quando evocado espontaneamente se destaca no núcleo central. Por último, o

vocábulo chupeta, segundo a ordem de importância, apareceu na segunda periferia, e nas

evocações espontâneas permaneceu na zona de contraste. O termo mãe, na OMI e OME

permaneceu no núcleo central. Portanto, neste bloco encontram-se os atributos que obtiveram

maior frequência e foram os mais prontamente evocados.

Em termos de conteúdos observa-se a ênfase nos aspectos operacionais que são

anunciados por meio das práticas de cuidado aos quais associa-se o termo mãe, em uma

alusão aos discursos historicamente partilhados, tal como aos anunciados segundo o mito do

amor materno.

A amamentação é importante para o bebê. A importância de amamentar, tanto para a saúde do bebê quanto ao carinho e aconchego que esse receberá. (suj. 10- 4º ano).

O bebê comunica com adulta pelo choro. (suj. 152- 3º ano)

O choro é uma expressão de sentimento. O choro é a demonstração de algo que estamos sentindo. (suj. 202- 4º ano).

Nesse contexto pode-se pensar que os descritores do terceiro ano, e alguns subgrupos

do primeiro e segundo ano, revelaram a atuação da mãe como ser responsável pelos cuidados

básicos do bebê.

O termo amamentação está presente na representação de todos os anos pesquisados,

confirmando ser necessidade biológica do bebê e inclui-se no cuidar da mãe.

O bloco 3–o bebê em si apresenta índice de implicação que varia de 90 a 95%. Os

mesmos anunciam a relação entre os termos cheiroso►fofo – 95% – e pequeno ► fofo –

90%.

O termo fofo, no quadro de elementos estruturais OME e OMI, se apresenta no núcleo

central, enquanto cheiroso e pequeno permanecem na segunda periferia nas duas formas de

organização das evocações. Deste modo, o que se observa é a descrição de criança a partir de

Page 83: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

82

suas características físicas, de certas formas idealizadas e selecionadas segundo os prazeres

dos adultos. O bebê passa a ser descrito como uma entidade cristalizada, eternizada conforme

Chombart de Lauwe (2001) anuncia como a criança mitificada.

O bebê nasce frágil e pequeno. (suj.19- 1º ano).

É que temos que ficar de olho no bebê, porque é pequeno e tem muitas limitações. (suj.110- 2º ano).

A fragilidade do bebê o torna pequeno e indefeso. (suj.180- 3º ano).

Todo bebê é bonito, gosto de bebê, e quando pequenos são muitos fofos. (suj.138- 3º ano).

Os bebês são lindos, fofos e merecem cuidados. (suj.198- 4º ano).

Deste modo, a análise implicativa das evocações sobre bebê salienta três aspectos

emblemáticos a serem considerados no âmbito das representações:

a) o bebê está associado às práticas de cuidado, sendo o mesmo tomado como

atividade educativa e ação protetiva;

b) as práticas de cuidado são assumidas pela mãe e, portanto, no âmbito

privado da vida familiar;

c) o bebê, entidade mitificada, é anunciado como aquele que confere prazer ao

adulto, assim como assumem a identidade de um ser frágil, inocente,

dependente da ação materna.

Ao considerar os conteúdos silenciados na representação social é possível vislumbrar

os conteúdos mais tradicionais que associam o bebê aos cuidados maternos, aspecto que

distancia os acadêmicos das discussões sobre a educação de bebês em contextos coletivos.

Assim, pode-se dizer que os acadêmicos, ao evocarem sobre bebês, assumem o lugar

de mães ou futuras mães. Isso significa dizer que os acadêmicos não acessaram conteúdos

científicos vinculados ao bebê. Provavelmente porque os mesmos não são disponibilizados no

interior do processo de formação inicial ou porque os mesmos não são significativos a ponto

de serem rotinizados no discurso dos acadêmicos consultados.

4.4 Representações de a expressão indutora aprender do bebê 4.4.1 Análise dos elementos estruturais do EVOC

De acordo com as evocações coletadas sobre a expressão indutora aprender do bebê, o

software EVOC concluiu a fase do processamento, utilizando os dados da tabela de

frequência fornecida pelo subprograma RANGMOT. O programa apresentou um relatório

Page 84: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

83

composto por um total de 1020palavras evocadas, sendo 213 delas diferentes entre si. Foi

estabelecido um ponto de corte de frequência mínima igual 5 ocorrências, frequência

intermediária igual a 14 e a ordem média obtida na OME e OMI igual a 3,0. Isto possibilitou

um aproveitamento do corpus em 72,9% das evocações.

Por meio do processamento desses dois bancos de dados, foi possível desenhar os

seguintes quadros de elementos estruturais, ilustração 8.

Ilustração 8- Elementos estruturais relativos a expressão indutora Aprender do bebê, processadosporordem

ME < 3,00 ≥ 3,00 OMI < 3,00 ≥ 3,00

f ≥14

NÚCLEO CENTRAL PRIMEIRA PERIFERIA

f ≥14

NÚCLEO CENTRAL PRIMEIRA PERIFERIA

Atributos F OME Atributos f OME Atributos f OMI Atributos f OMI

paciência 43 2,395 carinho 39 3,205 paciência 43 2,581 carinho 39 3,205

falar 44 2,773 brincar 37 3,000 falar 44 2,977 andar 30 3,133

desenvolvimento 38 2,421 movimento 27 3,185 desenvolvimento 38 2,474 cuidado 27 3,519

andar 30 2,267 cuidado 27 3,037 brincar 37 2,541 movimento 27 3,185

importante 27 2,778 amor 26 3,577 estimulo 25 2,200 importante 27 3,222

atenção 25 2,800 estimulo 25 3,160 mãe 19 1,632 amor 26 3,038

dedicação 16 2,938 alimentação 21 3,524 dedicação 16 2,688 atenção 25 3,120

sorriso 16 2,938 choro 20 3,350 sorriso 16 2,313 alimentação 21 3,238

mãe 19 3,158 família 14 2,857 choro 20 3,300

família 14 3,000

f<14

ZONA DE CONTRASTE SEGUNDA PERIFERIA

f<14

ZONA DE CONTRASTE SEGUNDA PERIFERIA

Atributos F OME Atributos f OME Atributos f OMI Atributos f OMI

tempo 12 2,417 aprendizado 11 3,545 tempo 12 2,833 aprendizado 11 3,000

curiosidade 11 2,364 interação 11 3,182 curiosidade 11 2,182 dificuldade 10 3,200

descoberta 10 2,800 observação 9 3,556 descoberta 10 2,200 alegria 8 3,750

dificuldade 10 2,500 sensorialidade 9 3,111 interação 11 2,818 construção 7 3,429

educação 10 2,800 rapidez 8 3,500 educação 10 2,800 engraçado 7 3,286

ensino 7 2,571 alegria 8 3,500 sensorialidade 9 2,556 ensino 7 3,714

comunicação 6 2,333 construção 7 3,143 rapidez 8 2,500 comunicação 6 3,333

conhecimento 6 2,500 engraçado 7 3,429 sentar 7 2,857 cognição 6 3,167

creche 6 1,667 sentar 7 3,143 observação 9 2,778 lento 6 3,000

inteligência 6 2,500 cognição 6 3,000 gesticular 6 2,667 respeito 6 3,000

lento 6 2,000 gesticular 6 3,000 inteligência 6 2,833 ludicidade 6 3,500

ludicidade 6 2,333 motivação 6 3,000 motivação 6 2,833 novidade 6 3,000

novidade 6 2,833 realização 6 3,333 realização 6 2,333 balbucio 5 4,200

resposta 6 2,333 respeito 6 3,833 resposta 6 2,667 conquista 5 3,400

conquista 5 2,800 balbucio 5 3,000 creche 6 2,000 crescimento 5 3,800

crescimento 5 2,000 prazer 5 4,200 conhecimento 6 2,833 repetição 5 3,600

querer 5 3,000 segurança 5 2,800 prazer 5 3,400

repetição 5 3,600 querer 5 3,200

segurança 5 3,800

Fonte: dados obtidos por meio de associação de palavras de acadêmicos do curso de Pedagogia – UFMT.

Os quadrantes acima apresentam os vocábulos processados, permitindo a comparação

entre os resultados obtidos referentes à expressão indutora Aprender do bebê. Os pontos

explorados demonstram que determinados vocábulos adquirem maior saliência na ordem de

Page 85: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

84

hierarquização, quando comparados com a ordem de evocação espontânea, e o contrário

também ocorre.

A partir do quadro de elementos estruturais, organizado pela ordem de importância,

destacam-se os seguintes aspectos:

No âmbito dos elementos que concorrem para a centralidade, sublinham-se os

vocábulos que anunciam as atitudes do adulto na relação com o bebê, sendo estes paciência e

dedicação; atributos que evidenciam estratégias de estimulação associadas ao aprender do

bebê – desenvolvimento, brincar, estímulo –; comportamento dirigido ao bebê ou atribuído a

ele - sorriso, fala -; atributos que indicam o lócus como principal responsável pelo

desenvolvimento e aprendizagem do bebê - mãe, família.

Na primeira periferia, os termos carinho, amor e atenção anunciam um discurso que

reforça os atributos apresentados no núcleo central associados à atitude do adulto para com o

bebê. Por sua vez, os termos movimento e cuidado estão próximo às estratégias anunciadas

no núcleo central. Os vocábulos andar, choro e alimentação figuram como comportamentos

atribuídos ao bebê, o que, de certa forma, aproxima-se dos atributos identificados como

estratégias de estimulação do bebê.

Na zona de contraste essa classificação dos atributos pode ser identificada com a

adição de elementos que anunciam características do bebê, tais como curiosidade e

inteligência. Também estão presentes na zona de contraste vocábulos que anunciam termos

típicos do discurso acadêmico, tais como interação e sensorialidade.

O vocábulo creche no contexto da zona de contraste pode indicar um novo lócus de

desenvolvimento e aprendizagem do bebê, provavelmente admitido por um subgrupo que

considera o contexto da Educação Infantil como lugar de educação da infância, ou como um

contexto caracterizado como espaço de guarda cujas práticas ancoram-se na imagem de mãe

substituta.

A análise sobre os termos típicos do discurso acadêmico, presente na segunda

periferia, destaca os vocábulos construção, cognição e ludicidade como termos partilhados no

contexto acadêmico, assim como o vocábulo interação, presente na zona de contraste. Os

mesmos podem, a título de hipótese, estar sustentando o discurso sobre estratégias de

estimulação presente no núcleo central, ao mesmo tempo em que possibilitam anunciar

possível focalização dos acadêmicos relacionada à dimensão cognitiva do desenvolvimento.

No âmbito do desenvolvimento afetivo, destacam-se atributos que anunciam a

afetividade do adulto com relação à criança. Este parece ser o caso dos vocábulos segurança,

presente na zona de contraste, e prazer, presente na segunda periferia. Os mesmos parecem

Page 86: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

85

dialogar com os vocábulos paciência e dedicação– núcleo central –; carinho, amor e atenção

– primeira periferia. Neste contexto, a dimensão afetiva do desenvolvimento e aprendizagem

de bebês ancora-se no rol de atributos relativos a atitudes de continência do adulto com

relação à criança.

De forma geral, pode-se dizer que a análise dos elementos estruturais sobre a

expressão indutora aprender do bebê revela que, para os acadêmicos, aprendizagem no

primeiro ano de vida se dá mediante uma postura de continência do adulto, objetivado na

imagem de mãe, pela ação lúdica da criança caracterizada pelo movimento e sensorialidade,

cuja ênfase mostra a saliência da dimensão cognitiva do desenvolvimento humano.

A análise sobre os efeitos da hierarquização conforme demonstra o quadro 3 abaixo:

Quadro 3- Elementos estruturais relativos a expressão indutora aprender do bebê, processados por ordem de evocação (OME) e ordem de importância (OMI).

OME OMI

NUCLEO CENTRAL (NC) PRIMEIRA PERIFERIA(1P) NUCLEO CENTRAL(NC) PRIMEIRA PERIFERIA(1P) Paciência falar desenvolvimento andar importante atenção dedicação sorriso

Carinho brincar movimento cuidado amor estímulo alimentação choro mãe

família

paciència falar desenvolvimento brincar estímulo mãe dedicação sorriso família

carinho andar cuidado movimento importante amor atenção alimentação choro

ZONA DE CONTRASTE(ZC)

SEGUNDA PERIFERIA(2P) ZONA DE CONTRASTE(ZC) SEGUNDA

PERIFERIA(2P) Tempo curiosidade descoberta dificuldade educação ensino comunicação conhecimento creche inteligência lento ludicidade novidade resposta conquista crescimento

Aprendizado interação observação sensorialidade rapidez alegria construção engraçado sentar cognição gesticular motivação realização respeito balbucio prazer querer repetição segurança

Tempo curiosidade descoberta interação educação sensorialidade rapidez sentar observação gesticular inteligência motivação realização resposta creche conhecimento segurança

aprendizado dificuldade alegria construção engraçado ensino comunicação cognição novidade lento respeito ludicidade balbucio conquista crescimento repetição prazer querer

Fonte: dados obtidos por meio de associação livre de palavras de acadêmicos do curso de pedagogia - UFMT

Acima foi descrita a hierarquização das palavras, onde as organizações por OME e

OMI demonstram que determinados vocábulos adquirem maior saliência na ordem de

Page 87: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

86

hierarquização, quando comparados com a ordem de evocação espontânea, e o contrário

também ocorre.

No intuito de compreensão da leitura, os vocábulos foram agrupados por cores,

distinguindo-se os significados:

- vocábulos apresentados em verde, tiveram o mesmo destaque no núcleo central;

- vocábulos apresentados em preto, tiveram o mesmo destaque no sistema periférico;

- vocábulos apresentados em vermelho, perderam importância;

- vocábulos apresentados em azul, ganharam importância.

No núcleo central do quadrante organizado pela OME permaneceram os vocábulos

paciência, falar, desenvolvimento, andar, importante, atenção, dedicação e sorriso, enquanto

que no quadrante organizado pela OMI os termos foram paciência, falar, desenvolvimento,

brincar, estímulo, mãe, dedicação, sorriso e família. Neste sentido, os vocábulos apresentam

como elementos comuns paciência, falar, desenvolvimento, dedicação e sorriso, estes

permanecendo no núcleo central de ambos os quadrantes, compartilhando da mesma

frequência evocada, diferenciando-se quanto à ordem de aparição.

Na ordem de evocação os termos andar, importante e atenção, destacam-se

inicialmente no núcleo central, mas, quando efetivada a etapa de hierarquização, perdem

importância sendo alocados junto à primeira periferia. Outros vocábulos que perderam a

importância nesse processo são: comunicação, dificuldade, novidade, lento, ensino,

ludicidade, conquista e crescimento, que primeiramente se alocavam na zona de contraste e

em seguida, com a perda de importância, transferem-se para a segunda periferia.

Os vocábulos que adquirem maior destaque com a ordem de importância, ficando no

núcleo central, são: brincar, estímulo, mãe e família, quando verificados pela evocação

espontânea perdem saliência, apresentando-se na primeira periferia.

Os termos interação, observação, sensorialidade, rapidez, sentar, gesticular,

motivação, realização e segurança, pela evocação espontânea, apresentam-se na segunda

periferia, e, pela hierarquização, passam a situar-se na zona de contraste.

Na ordem de evocação e no âmbito dos elementos que concorrem para a centralidade,

destacam-se vocábulos que anunciam as atitudes do adulto na relação com o bebê, sendo estes

atenção, dedicação e paciência; atributo que evidencia estratégia de estimulação associada ao

aprender do bebê – desenvolvimento – e os termos andar, falar que revelam o

comportamento dirigido ao bebê ou atribuído a ele.

Page 88: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

87

Na primeira periferia, os atributos brincar, estímulo; podem estar revelando indícios

de desenvolvimento e aprendizagem do bebê, quando os mesmos parecem dialogar com

atributos curiosidade, descoberta, comunicação e conquista presentes na zona de contraste.

Os atributos mãe e família, também presentes na primeira periferia, desvelam no

contexto do núcleo central o âmbito familiar como lócus de desenvolvimento e aprendizagem,

mais saliente no âmbito da representação social analisada.

De modo geral a análise das organizações dos vocábulos evocados pelos acadêmicos

sobre aprender do bebê, tanto pela OME, quanto pela OMI, evidenciou que a dimensão do

desenvolvimento humano fez-se presente no sistema periférico, onde os termos inteligência e

conhecimento, acompanhados do vocábulo cognição podem estar associados ao

desenvolvimento cognitivo do bebê.

O vocábulo creche se mantém na zona de contraste da OMI e da OME, demonstrando

no discurso dos sujeitos pesquisados outro lócus de educação de bebês.

Os indicadores sensorialidade, balbucio, gesticular, sentar, juntamente com

descoberta e curiosidade, presentes no sistema periférico, parecem demonstrar a ideia de uma

criança ativa, que explora o mundo movimentando-se, e ao fazer isso se desenvolve

cognitivamente. Porém, no núcleo central, o que se observa são vocábulos que fazem alusão

às atitudes do adulto para com a criança - estimulação, dedicação, paciência –, com alguma

alusão à ideia de desenvolvimento, esta sendo caracterizada com maior propriedade no sistema

periférico.

No âmbito do sistema periférico nota-se a saliência dos vocábulos que fazem

referência à motricidade – andar e sentar– e ao desenvolvimento cognitivo com alguma

associação sobre o aspecto da linguagem - balbucio e gesticular. Nesta perspectiva, os

discursos dos sujeitos parecem apresentar duas representações sobre o aprender do bebê:

A primeira, e mais saliente, caracteriza o bebê como aquele que aprende e se

desenvolve no contexto familiar, sendo a mãe a objetivação do que se define como ensinante.

Assim, tem-se a ideia que bebês aprendem em casa com suas mães.

A segunda representação que figura no sistema periférico, e, portanto menos saliente,

caracteriza o bebê como aquele que aprende na creche. Neste sentido, pode-se pensar que a

creche parece ser assimilada por um grupo específico de acadêmicos como um lugar de

educação de bebês, confrontando a representação identificada inicialmente. Ainda levando em

consideração o diálogo entre os vocábulos presentes no núcleo central e aqueles constantes no

sistema periférico, chamam atenção os termos – desenvolvimento presente no núcleo central,

interação na zona de contraste, crescimento e construção na segunda periferia. Nesta

Page 89: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

88

perspectiva observa-se a saliência e estabilidade do termo desenvolvimento e a tensão gerada

entre os vocábulos interação, crescimento e construção observados no sistema periférico no

qual o termo crescimento perde importância e o termo interação ganha importância, como

pode-se verificar no quadro de elementos estruturais. Este aspecto da representação analisada

pode revelar a existência de duas teses que orientam os significados atribuídos ao aprender do

bebê, ambos os presentes na memória social e destacados nos processos de formação inicial

de professores: a tese inatista e a tese interacionista.

No âmbito da tese inatista tem-se o vocábulo crescimento na zona de contraste, que

pode estar associado ao discurso sobre o cuidado presente na primeira periferia, podendo ou

não estar dissociado da noção de desenvolvimento e aprendizagem. Já a tese interacionista,

mais próxima dos vocábulos interação situado na zona de contraste e construção segunda

periferia, parece ser caracterizada com maior propriedade, como pode-se observar, a partir dos

termos desenvolvimento presente no núcleo central, movimento na primeira periferia,

ludicidade presente na segunda periferia.

Com relação à aparente duplicidade dos termos brincar e ludicidade nota-se que com

exceção do atributo desenvolvimento, todos os outros anunciados segundo características do

discurso acadêmico localizam-se no sistema periférico. Tal constatação pode indicar a

negociação entre o universo consensual e o universo reificado presente no interior da

representação social ora analisada. Desta tendência, pode-se indicar a focalização no aspecto

do desenvolvimento da inteligência, provavelmente vinculada à compreensão dos acadêmicos

a respeito das contribuições piagetianas. Nesse sentido, as representações sociais sobre

aprender de bebê, segundo acadêmicos do curso de Pedagogia, Campus Cuiabá, anunciam

duas focalizações bem definidas acerca do lócus da aprendizagem: a primeira e mais saliente

revela que bebê aprende em casa, sendo cuidado e educado pela mãe em uma atmosfera de

afeto e brincadeira, e a segunda indica que bebês podem aprender na creche.

Outro aspecto que se destaca é que, conforme a focalização identificada, bebês se

desenvolvem cognitivamente brincando, movimentando-se e expressando-se. No âmbito da

afetividade, sublinham-se os atributos que procuram delinear as atitudes dos adultos

favoráveis ao desenvolvimento infantil, caracterizando uma atmosfera de continência como

paciência, dedicação, segurança. Tanto no que se refere ao conteúdo associado ao

desenvolvimento cognitivo, quanto à dimensão afetiva do adulto que interage com o bebê,

observa-se o silenciamento de atributos, indicando as dimensões históricas e sociais deste ator

social o que pode indicar a tendência dos acadêmicos em generalizar os conteúdos ora

analisados.

Page 90: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

89

A análise do processo de ancoragem anuncia que os acadêmicos tendem a orientar-se,

no âmbito das evocações espontâneas, por noções mais consensuais associadas à tese inatista

objetivada na imagem de crescimento biológico podendo a mesma, apesar de explicitada na

segunda periferia, estar sustentando atributos tais como cuidado, alimentação, presentes na

primeira periferia. No entanto, a partir do exercício de hierarquização, a tese interacionista

parece fazer-se presente como conteúdo que sustenta a ideia de desenvolvimento cognitivo,

perpassando por toda a representação e conferindo-lhe certa organização.

Deste modo pode-se dizer que os acadêmicos de Pedagogia consultados, embora

representem o bebê como ser do desenvolvimento e da aprendizagem, reconhece-o como ator

social que deve estar inserido preferencialmente no contexto familiar. Tal fato parece retirar

da cena a possibilidade do bebê estar inserido no campo profissional deste futuro professor,

sendo a creche uma referência pouco contextualizada no âmbito da representação analisada.

4.4.2 Análise dos elementos estruturais considerando a variável ano

O processamento do software EVOC faz uso de subprogramas que oferecem recursos

como o Complex (comparação dos corpora com base na variável ano) e o Selevoc,

(subdivisão do corpus a partir da variável ano).

Os quadros abaixo resultam do processamento dos subprogramas, Selevoc e Complex,

nos quais constam vocábulos com maior frequência, oportunizando a síntese do cruzamento

das variáveis entre os quatro anos do curso de Pedagogia, no ano de 2010 da UFMT, campus

Cuiabá.

Ilustração 9– Síntese dos cruzamentos realizados pelo COMPLEX- GERAL- índice de referência 2,0 para significativo e 3,0 para altamente significativo.

VARIÁVEL V-1 – V-2

CÓDIGO V1 V 2

1 pedagogia e 2 pedagogia 1-2 brincar (2.17) falar (2.70)

1 pedagogia e 3 pedagogia 1-3 andar (2.02)

1 pedagogia e 4 pedagogia 1-4

desenvolvimento (2.05) movimento (2.37)

2 pedagogia e 3 pedagogia 2-3 ----------- ------------

2 pedagogia e 4 pedagogia 2-4 desenvolvimento (2.05) movimento (2.78)

3 pedagogia e 4 pedagogia 3-4 ------ ---------

Fonte: dados obtidos por meio de associação de palavras de acadêmicos do curso de Pedagogia – UFMT.

A análise da ilustração 9, acima apresentado, permite destacar dois eixos: o primeiro

refere-se à noção de desenvolvimento humano, o segundo enfatiza a questão do movimento.

Page 91: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

90

O primeiro e o segundo ano do curso de Pedagogia constituem uma amostra de 120

sujeitos que se encontram em processo inicial de inserção na academia. Deste modo pode-se

pensar, a título de hipótese, no pouco contato destes sujeitos com as teorias científicas, fato

que pode explicar a ênfase nos vocábulos mais rotinizados no senso comum. Neste sentido,

destaca-se o subgrupo do primeiro ano como aquele que, comparado ao segundo ano,

contribui com os vocábulos falar e brincar.

No quadro de elementos estruturais, organizado segundo a ordem de evocação, o

vocábulo falar se destacou no núcleo central. Por sua vez a análise do referido quadro,

organizado por ordem de importância, identificou este mesmo vocábulo na primeira periferia.

Já o vocábulo brincar, quando analisado no âmbito do quadro de elementos estruturais, surge

como elemento da primeira periferia no contexto das evocações espontâneas, e encontra-se no

núcleo central após a hierarquização por ordem de importância. Provavelmente a adesão ao

termo brincar pode estar associada às discussões iniciais do núcleo de fundamentos da

educação do curso de Pedagogia.

A comparação entre os corpara do primeiro e do terceiro ano, envolveu uma amostra

de 102 sujeitos. O software indicou que o vocábulo andar é mais típico do terceiro ano.

Ao verificar o vocábulo andar no contexto do quadro de elementos estruturais,

observa-se que o mesmo surge no núcleo central segundo a organização por ordem de

evocação e passa a constar na primeira periferia após o exercício de hierarquização por ordem

de importância. Nesse sentido, o discurso acadêmico do terceiro ano, ao destacar o vocábulo

andar, revela uma abordagem mais próxima das suas experiências com a primeira infância,

não necessariamente dos discursos partilhados no contexto acadêmico.

Tendo em vista tratar-se do terceiro ano do curso, é possível questionar sobre a pouca

especificidade dos vocábulos associados ao contexto das discussões acadêmicas sobre

Educação Infantil, especialmente sobre a realidade do trabalho pedagógico junto aos bebês.

Dados referentes às comparações entre vocábulos evocados pelo primeiro e quarto

ano, e segundo e quarto ano, sugerem diferenças significativas. O primeiro cruzamento levou

em consideração 99 sujeitos pertencentes ao primeiro e quarto ano. O segundo cruzamento

considerou 111 sujeitos, acadêmicos do segundo e quarto ano. Em ambos os casos o quarto

ano foi considerado a variável com maior diferença significativa a partir das evocações dos

vocábulos desenvolvimento e movimento, estes, no quadro de elementos estruturais, são

apresentados tanto na organização por ordem de evocação, quanto na organização por ordem

de importância,respectivamente no núcleo central e na primeira periferia. Estes aspectos dos

Page 92: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

91

dados permitem inferir a provável influência de conceitos científicos associados à psicologia

do desenvolvimento.

Os cruzamentos das variáveis segundo e terceiro ano, assim como terceiro e

quarto,não indicaram diferenças significativas. No primeiro cruzamento considerou-se uma

amostra de 114 sujeitos, e no segundo cruzamento foram incluídas as respostas de 111

sujeitos. Este dado sugere que os anos intermediários do curso de Pedagogia tendem a

apresentar o mesmo conteúdo representacional.

O âmbito geral dos resultados apresentados pelo Complex destaca que o primeiro e o

quarto ano apresentam evocações mais típicas, diferenciando-se no rol dos conteúdos

representacionais. O primeiro ano caracteriza-se pela adesão de atributos vinculados ao senso

comum e provável discussão sobre a ludicidade. Já o quarto ano destaca-se por sua adesão a

termos típicos do discurso acadêmico, conforme mostra o atributo desenvolvimento.

4.4.3 O processamento das evocações referentes à variável ano

O processamento das evocações referentes aos 54 acadêmicos do primeiro ano do

curso de Pedagogia, no EVOC, contabilizou um total de 264 palavras, sendo 108 delas

diferentes entre si. O ponto de corte foi definido com a frequência mínima de 3 ocorrências,

havendo um aproveitamento de 59,5% do total dos dados coletados. A ordem média de

importância obteve valor aproximado a 3,0 e a frequência média foi de aproximadamente 7.

Com tais parâmetros, a ilustração 10 a seguir:

A ilustração10, a seguir, delineou-se a configuração estrutural dos elementos com base

nas informações dos acadêmicos do primeiro ano de Pedagogia.

Page 93: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

92

Ilustração 10 - Elementos estruturais relativos à expressão indutora aprender do bebê, segundo os acadêmicos do primeiro ano do curso de Pedagogia.

OMI PRIMEIRO

ANO

< 3,00 ≥ 3,00

NÚCLEO CENTRAL PRIMEIRA PERIFERIA

f ≥ 7

Atributos f OMI Atributos f OMI

andar carinho cuidado desenvolvimento falar paciência

15 13 6 7

18 11

1,933 2,615 2,333 2,143 2,611 2,545

alimentação amor brincar choro

10 7

15 7

3,200 3,571 3,067 4,000

GERAL (n=54)

f ≥ 7

ZONA DE CONTRASTE SEGUNDA PERIFERIA Atributos f OMI Atributos f OMI

balbucio creche dedicação dificuldade sorriso

3 3 2 4 5

2,667 1,667 1,500 2,500 2,000

alegria atenção engraçado esperança estímulo importante mãe movimento repetição

3 3 5 3 3 4 3 5 4

4,333 3,333 3,200 4,333 3,000 3,000 5,000 3,400 3,750

Fonte: dados obtidos por meio de associação de palavras de acadêmicos do curso de Pedagogia – UFMT.

Quando observado, no quadrante nomeado de núcleo central, permaneceram os

seguintes termos: andar, carinho, cuidado, desenvolvimento, falar e paciência. Na primeira

periferia: alimentação, amor, brincar e choro. Em sequência, na zona de contraste: balbucio,

creche, dedicação, dificuldade e sorriso. Por último, na segunda periferia: alegria, atenção,

engraçado, esperança, estimulo, importante, mãe, movimento e repetição.

No âmbito dos elementos que concorrem para a centralidade, destacam-se as

aprendizagens atribuídas aos bebês e às condições favoráveis para que tais aprendizagens

ocorram. Linguagem e movimento aparecem como dimensões do desenvolvimento de bebês,

que se revelam em contexto relacional continente marcado pela prática de cuidados.

Na primeira periferia o aspecto afetivo é sublinhado pelo vocábulo amor e as práticas

de cuidado passam a ser associadas à alimentação. A linguagem é sublinhada a partir do

vocábulo choro. Aparece o atributo brincar podendo estar vinculado ao contexto de

aprendizagens de bebês.

A zona de contraste apresenta-se coerente com o conteúdo do núcleo central, à medida

que indica a linguagem via termos balbucio e sorriso, como elementos que revelam

aprendizagens do bebê. Ainda surge o termo creche circunscrevendo lócus destinado à

educação de crianças até três anos. No entanto, na segunda periferia, chama atenção o termo

mãe indicando o contexto familiar como uma referência ao aprender do bebê.

Page 94: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

93

O termo movimento integra-se ao andar, presente no núcleo central, enquanto que os

termos estímulo, atenção e repetição parecem compor o vocábulo cuidado anunciando

estratégias de estimulação do desenvolvimento.

Os vocábulos alegria e engraçado parecem dar o tom afetivo para uma relação

marcada idealmente pelo carinho, paciência e amor.

Com relação aos dados coletados junto aos alunos do segundo ano, destaca-se que o

processamento do EVOC se deu com base nas respostas de 66 sujeitos, contabilizando um

total de 312 palavras, sendo 121 delas diferentes entre si. O ponto de corte escolhido define

como frequência mínima 3 ocorrências, com o aproveitamento de 67.6% do corpus. Obteve-

se como ordem média de importância aproximadamente 3,0 e como frequência média

aproximadamente 6.

A ilustração 11,a seguir, apresenta a configuração estrutural dos elementos com base

nas informações dos acadêmicos do segundo ano de Pedagogia.

Page 95: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

94

Ilustração 11 - Elementos estruturais relativos à expressão indutora aprender do bebê, segundo os acadêmicos do segundo ano do curso de Pedagogia

OMI SEGUNDO

ANO

< 3,00 ≥ 3,00

NÚCLEO CENTRAL PRIMEIRA PERIFERIA

f ≥ 6

Atributos f OMI Atributos f OMI desenvolvimento importante interação mãe paciência resposta

9

14 9 8

12 6

2,000 2,714 2,889 2,250 2,083 2,333

atenção brincar carinho cuidado descoberta estímulo falar

8 7 8 9 6

13 7

3,625 3,143 3,750 3,333 3,000 3,385 3,000

GERAL (n=66) f ≥ 6

ZONA DE CONTRASTE SEGUNDA PERIFERIA Atributos f OMI Atributos f OMI amamentação andar comunicação curiosidade etapa família gradativo lento tempo

4 4 3 5 3 5 3 4 4

2,500 2,750 2,667 2,200 1,667 2,200 1,667 2,250 2,500

alimentação amor aprendizado choro construção dedicação educação físico gesticular ludicidade metodologia motivação movimento observação rapidez sensorialidade

5 3 4 5 4 3 5 3 4 3 3 3 5 4 3 3

3,600 3,667 3,750 3,200 3,500 3,000 3,200 3,000 3,000 3,000 3,667 4,000 3,400 3,500 3,000 3,000

Fonte: dados obtidos por meio de associação de palavras de acadêmicos do curso de Pedagogia – UFMT.

Com base na ilustração de elementos estruturais, referente às evocações dos discentes

do segundo ano, apresentam-se como palavras que concorrem à centralidade da representação

sobre o aprender do bebê desenvolvimento, importante, interação, mãe, paciência e resposta.

Na primeira periferia aparecem os vocábulos: atenção, brincar, carinho, cuidado,

descoberta, falar e estímulo. Na zona de contraste constam os termos: amamentação, andar,

comunicação, curiosidade, etapa, família, gradativo, lento e tempo. Na segunda periferia

alimentação, amor, aprendizado, choro, construção, dedicação, educação, físico, gesticular,

ludicidade, metodologia, motivação, movimento, observação, rapidez e sensorialidade.

No âmbito dos atributos que concorrem para a centralidade, ressalta-se a saliência dos

termos desenvolvimento, interação e resposta, podendo ser compreendidos como vocábulos

que circunscrevem noções associadas ao aprender do bebê, tomando como referência

Page 96: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

95

conteúdos partilhados nas trocas acadêmicas. No entanto, ainda o núcleo central aninha o

atributo mãe e paciência, destacando o contexto familiar bem como a atitude continente para

com o bebê como elementos a serem considerados.

Na primeira periferia, juntamente com o termo brincar, surge o vocábulo descoberta

anunciando uma representação na qual o bebê pode estar sendo anunciado como sujeito da

ação, embora ainda se identifique elementos de um discurso associado à criança como sujeito

a ser estimulado.

Carinho, cuidado e atenção delineiam a dimensão atitudinal da representação,

marcando a importância da continência do bebê pelo adulto, neste caso, pela mãe.

Falar aparece como atributo associado às aprendizagens do bebê; o mesmo associa-se

ao andar, conteúdo presente na zona de contraste. Ainda na zona de contraste, pode-se

identificar conteúdos associados ao processo de desenvolvimento: etapa, gradativo, lento e

tempo.

A família surge em sintonia com o termo mãe presente no núcleo central, indicando

que, para os alunos do segundo ano, bebês aprendem e se desenvolvem em casa sob os

cuidados maternos.

Os termos comunicação e curiosidade revelam, juntamente com os vocábulos

interação – núcleo central – e descoberta – primeira periferia referencia acerca da criança

como sujeito de seu próprio desenvolvimento, sendo o mesmo, algo que se dá nas relações.

Os vocábulos alojados na segunda periferia, tais como construção, gesticular,

movimento, ludicidade e sensorialidade conferem importância para conteúdos do universo

reificado, indicando a internalização de conteúdos acadêmicos.

Choro e alimentação são anunciados na segunda periferia como elementos de um

contexto imediato associado às práticas de cuidado de bebês, com ênfase às necessidades

físicas. Além disso, cuidado pode estar atrelado a amor, dedicação, motivação, observação e

rapidez.

Os acadêmicos do segundo ano parecem apresentar conteúdos representacionais

associados a uma criança esperta, ativa no processo de desenvolvimento, que se realiza no

interior das relações familiares. Em especial, nota-se que o termo desenvolvimento é

anunciado na sua relação com a ideia de fluxo e tempo, cujas mudanças se dão de forma

gradativa, provavelmente orientada pela ideia de maturação neurológica. Pode-se com isso

identificar a influência dos discursos associados à contribuição da teoria piagetiana, fato que

corrobora o que Sarmento (2007), ao citar as imagens sociais de crianças, segundo James,

Jenks e Prout (1998), chamou de imagem da criança naturalmente desenvolvida.

Page 97: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

96

O processamento dos dados coletados junto aos alunos do terceiro ano contou com a

participação de 48 acadêmicos, e contabilizou um total de 231 palavras, sendo 91 delas

diferentes entre si. O ponto de corte escolhido definiu como frequência mínima3 ocorrências,

com o aproveitamento de 67.6% do corpus. Obteve-se como ordem média de importância

aproximadamente 3,0 e como frequência média aproximadamente 6.

A ilustração 12,a seguir, apresenta a configuração estrutural dos elementos, com base

nas informações dos acadêmicos do terceiro ano de Pedagogia:

Ilustração 12 - Elementos estruturais relativos à expressão indutora aprender do bebê, segundo os acadêmicos do terceiro ano do curso de Pedagogia.

OMI

Terceiro ano

< 3,00 ≥ 3,00

NÚCLEO CENTRAL PRIMEIRA PERIFERIA

f ≥ 6

Atributos f OMI Atributos f OMI atenção brincar carinho dedicação desenvolvimento falar importante paciência

119 8 6 8 9 6

11

2,182 2,778 2,750 2,833 2,625 2,889 2,500 2,818

amor cuidado sorriso

9 9 8

3,333 3,111 3,125

GERAL (n=48)

f ≥ 6

ZONA DE CONTRASTE SEGUNDA PERIFERIA Atributos f OMI Atributos f OMI alegria andar cognição conquista dificuldade estímulo movimento

3 5 4 3 3 5 4

2,000 1,600 2,500 2,667 2,667 2,400 2,500

alcançar alimentação amplo aprendizado choro família mãe sensorialidade

3 3 3 3 4 3 5 3

3,333 4,6673,6673,6673,5004,6673,2004,000

Fonte: dados obtidos por meio de associação livre de palavras de acadêmicos do curso de Pedagogia - UFMT

O quadrante revela no núcleo central os atributos: atenção, brincar, carinho

dedicação, desenvolvimento, falar, importante e paciência. Na primeira periferia alojam-se os

vocábulos: amor, cuidado e sorriso. A zona de contraste está composta dos termos: alegria,

andar, cognição, conquista dificuldade, estímulo e movimento. Enquanto que na segunda

periferia: alcançar, alimentação, amplo, aprendizado, choro, família, mãe e sensorialidade.

A análise do quadrante destinado ao delineamento do núcleo central destaca a

Page 98: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

97

presença do termo desenvolvimento como fenômeno que ocorre em uma dimensão relacional

favorável, conforme os significados de: atenção, carinho, dedicação e paciência. Os termos

brincar e falar revela as ações atribuídas ao bebê no contexto de seu desenvolvimento.

A primeira periferia parece reforçar os conteúdos apresentados no núcleo central

associados à afetividade pela via do termo amor e pelas práticas de cuidado.

O termo sorriso, presente na primeira periferia, comunica-se com o vocábulo alegria

aninhado na zona de contraste que, por sua vez, destaca atributos que anunciam dimensões do

desenvolvimento, tais como a cognição e o movimento. Deste modo, segundo a zona de

contraste, o aprender do bebê se dá em função de estímulo, que propicia ao bebê a conquista

de novas condições desenvolvimentais.

A segunda periferia destaca mãe e família como o âmbito onde se dá a prática de

cuidar e educar bebês. Choro, alimentação e sensorialidade aparecem fazendo referências ao

contexto imediato de aprendizado infantil.

Os acadêmicos do terceiro ano demonstram consenso com relação aos demais termos,

ao mesmo tempo em que introduzem o termo cognição como um elemento do

desenvolvimento de bebês. Parecem concordar com a ideia da criança como sujeito de sua

aprendizagem, ao mesmo tempo em que indicam o contexto familiar como o lugar onde se dá

as práticas de educação dos pequenos.

Os dados referentes aos acadêmicos do quarto ano (n=45) contabilizam um total de

208 palavras, sendo 82 delas diferentes entre si. O ponto de corte escolhido definiu como

frequência mínima 3 ocorrências, com o aproveitamento de 70.2% do corpus. Obteve-se

como ordem média de importância aproximadamente 3,0 e como frequência média

aproximadamente 5.

A ilustração13 a seguir apresenta a configuração estrutural dos elementos, com base

nas informações dos acadêmicos do quarto ano de Pedagogia:

Page 99: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

98

Ilustração 13- Elementos estruturais relativos à expressão indutora aprender do bebê, segundo os acadêmicos do quarto ano do curso de Pedagogia

OMI Quarto

ano

< 3,00 ≥ 3,00

NÚCLEO CENTRAL PRIMEIRA PERIFERIA

f ≥ 5

Atributos f OMI Atributos f OMI desenvolvimento falar família paciência

14 10 5 9

2,714 2,800 2,600 2,111

amor andar brincar carinho dedicação movimento

7 6 6

10 5

13

3,857 3,333 3,000 3,900 3,600 3,231

GERAL (n=45)

f ≥ 5

ZONA DE CONTRASTE SEGUNDA PERIFERIA Atributos f OMI Atributos f OMI aprendizado atenção choro conhecimento curiosidade educação ensino ludicidade

3 3 4 3 4 3 3 3

2,667 2,333 2,250 2,667 2,500 2,000 2,667 1,667

alimentação compreensão cuidado estímulo importante mãe novidade trabalho

3 3 3 4 3 3 3 3

3,333 3,000 3,333 3,500 3,333 3,667 3,333 4,667

Fonte:dados obtidos por meio de associação de palavras de acadêmicos do curso de Pedagogia - UFMT

Os acadêmicos do quarto ano também destacam o termo desenvolvimento como o mais

expressivo no rol dos conteúdos presentes no quadro. Junto a ele, os demais atributos

associados ao desenvolvimento da fala e as questões relacionais – paciência −, seguida do

termo família.

Na primeira periferia os vocábulos parecem acompanhar a tendência do núcleo central

destacando amor, carinho e dedicação como aspectos afetivos e atitudinais, somados aos

termos andar, movimento e brincar, os mesmos referentes às dimensões do desenvolvimento.

A zona de contraste é composta por atributos que reforçam o núcleo central,

apresentando, no entanto, termos próximos ao discurso profissionalizante, como se vê em

educação, ensino, conhecimento, ludicidade e aprendizado.

Choro e curiosidade revelam a ideia de que o bebê, ao se manifestar, exerce algum

tipo de participação no processo de sua aprendizagem.

Na segunda periferia a emergência do termo trabalho reforça a tendência, bastante

inicial, de analisar o termo a partir de uma perspectiva profissional. Porém, convive no

mesmo quadrante o termo mãe. Ainda pode entender trabalho como associado a noção de

esforço em detrimento do significado de profissão

Page 100: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

99

A dupla mãe e cuidado revela que o aprender do bebê se dá no contexto familiar por

meio de estratégias de cuidado continente que se dedica a estimular os pequenos.

A disposição das palavras do núcleo central e primeira periferia apresentam

indicativos de que os alunos do quarto ano compartilham a mesma representação sobre o

aprender do bebê que os demais anos. Ainda na análise referente ao quarto ano, destaca-se

maior número de palavras associadas ao discurso acadêmico, quando comparada aos demais

anos.

Quando considerada a representação na totalidade de processamento dos dados dos

quatro anos e do quadro geral de elementos estruturais, é possível notar que:

- o aprender do bebê assume o sinônimo de desenvolvimento;

- desenvolvimento está associado a dimensões tais como movimento, linguagem e

cognição;

- desenvolvimento ancora-se na ideia de resposta a um estímulo, perspectiva empirista

e a ideia de construção, interação e descoberta perspectiva interacionista, segundo a qual

destaca-se as referências sobre ludicidade;

- desenvolvimento está fortemente associado à dimensão relacional e a práticas de

cuidado, configurando afetividade e atitude positiva para com o bebê;

- família, objetivada na imagem de mãe, define-se como aspecto mais rotinizado da

representação, onde se apresentam práticas de cuidado e educação dos pequenos.

No âmbito geral das análises até o momento empreendidas, destaca-se o silenciamento

de atributos referentes à Educação Infantil, sendo creche o termo evocado apenas pelos

acadêmicos do primeiro ano, constante na zona de contraste. Esses elementos identificados

revelam a tendência dos acadêmicos em aderirem a noções relativas ao universo reificado,

naquilo que se refere às teorias sobre o desenvolvimento humano. O mesmo parece não

ocorrer quando se trata das discussões sobre a Educação Infantil. Nota-se que atributos como

berçário não foram considerados no rol das evocações.

4.5Análises dos elementos estruturais e suas relações implicativas.

Este procedimento objetivou compreender as possíveis relações entre vocábulos

evocados para a expressão indutora o aprender do bebê.

Na sequência será apresentada a configuração estrutural do grafo implicativo obtido

por meio do processamento dos dados no programa computacional CHIC (Classification

Hiérarchique Implicative et Cohésitive)

Page 101: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

100

Para tanto, considerou-se como base de informação as evocações presentes nos

quadrantes do EVOC geral, que obteve 72,9% do total do corpus.

Ilustração 14 - Grafo implicativo resultante do processamento das evocações sobre o aprender do bebê no software CHIC

Fonte: dados obtidos por meio de associação de palavras de acadêmicos do curso de Pedagogia - UFMT

As setas coloridas são indicadores responsáveis por associar os sentidos do discurso

explicitados, revelando significados de representação dos futuros profissionais.

A análise do grafo implicativo revelou a existência de quatro blocos discursivos, assim

denominados: 1. O bebê em ação. 2. Dimensão afetiva da relação adulto-bebê. 3. Relação

estímulo - resposta. 4. Conquista do bebê, triunfo do adulto.

No que se refere ao bloco 1. o bebê em ação, observa-se maior índice de implicação

entre as evocações. Nesse contexto há 99% de probabilidade de se obter a seguinte sequência

de termos: alimentação►falar ► andar; 95% de probabilidade para a sequência movimento

► falar e brincar ►falar.

O atributo falar apresenta-se como ponto de convergência para movimento,

alimentação e brincar.

As cores das setas indicam o índice de implicação entre evocações: vermelha 99% - azul – 95%; verde – 90% e cinza – 85%. Os índices representam a probabilidade do sujeito que evocou um determinado vocábulo dizer, em seguida, o termo apontado pela direção da seta.

Page 102: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

101

Ainda no bloco 1 a sequência sentar ►movimento aparece com 90% de probabilidade

de evocação, enquanto choro►movimento e andar►brincar possuem com 85%.

Os vocábulos alimentação, falar, andar, movimento e choro no quadro de elementos

estruturais, permaneceram entre o núcleo central e a primeira periferia, já o elemento sentar

alocou-se na zona de contraste, quando evocado espontaneamente e na segunda periferia,

quando hierarquizado.

A análise implicativa chama atenção para o vocábulo falar, sendo o mesmo assim

compreendido:

Falar é um dos aspectos mais importante da criança. (suj. 53, 1º ano).

O bebê tende a aprender a falar. (suj. 88, 1º ano).

O ato de começar a falar é muito interessante. (suj. 28, 1º ano).

É extremamente importante expressar através da fala. (suj. 178, 4º ano).

A criança que aprende a falar expressar mais emoção e dúvidas. (suj. 190,

4º ano).

O falar é bom para desenvolvimento do bebê. Expressão de pensamento. (suj. 205, 4º ano).

Além do falar, os vocábulos movimento e brincar também se mostraram relevantes

para o entendimento do bloco 1. As frases para o termo brincar foram assim apresentadas:

O brincar é o meio mais eficaz para o aprendizado. (suj.199. 4º ano).

O aprendizado do bebê relaciona-se com o brincar. (suj.165. 3º ano).

No contexto das relações implicativas demonstradas no bloco 1 pode-se pensar que,

pelos significados dos vocábulos apresentados, bem como suas conexões, os acadêmicos

revelam uma perspectiva interacionista de desenvolvimento com forte ênfase nas questões

relacionadas à linguagem, aspecto que pode indicar a influência do discurso histórico -

cultural.

O bloco 2, intitulado Dimensão afetiva da relação adulto-bebê, anuncia a afetividade

como elemento promotor do desenvolvimento de bebês.

Com 95% de índice de implicação, destacam-se os termos dedicação►paciência e

dedicação ► amor. Os elementos dedicação e paciência nas duas modalidades de evocações

(OME e OMI), no quadro de elementos estruturais alocaram-se no núcleo central, enquanto

amor na primeira periferia, e anunciam a expectativa dos acadêmicos com relação à

afetividade do adulto para com o bebê, conforme descrevem as frases:

Page 103: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

102

Seja qual for o trabalho é preciso dedicar-se. (suj.45- 1º ano).

Paciência para acompanhar a evolução e descobertas do bebê. (suj. 104 - 2º, ano).

Para cuidar dos bebês, necessita-se de paciência. (suj.127 - 3º ano).

Os vocábulos cuidado ► atenção►carinho apresentam relação implicativa com

índice de 90%. Quando verificados no quadro de elementos estruturais, permanecem na

primeira periferia e núcleo central. Estes foram compreendidos como termos que comparecem

explicitando a dimensão do cuidado do adulto.

A aprendizagem da criança requer cuidado. O aprender do bebê requer cuidado, responsabilidade, com muita paciência (suj. 166 - 3º, ano).

Por sua vez, com 85% de índice implicativo amor► carinho e amor ► cuidado

anunciam discursos relacionados à prescrição das práticas de cuidado associadas à afetividade

e atitude de continência. Amor, carinho e cuidado são apresentados como elementos

facilitadores do desenvolvimento. Os mesmos aparecem nas duas modalidades de evocações

(OME e OMI), no quadro de elementos estruturais, alocaram-se na primeira periferia.

O bebê precisa de cuidado. (suj. 194 - 4º ano).

Com amor a criança é mais compreendida. O amor é primordial no processo de aprendizagem. (suj. 111 - 2º ano).

O aprendizado do bebê precisa envolver com bastante amor para seu crescimento físico, moral e intelectual. O amor faz com que o responsável pela criança busque meios para seu desenvolvimento. (suj. 161 - 3º ano).

Ainda neste bloco observa-se a relação implicativa entre tempo ► paciência,

reforçando a ideia de que a aprendizagem ocorre a partir das relações afetivas que se

estabelecem entre adulto e bebê associada ao transcorrer do tempo, provavelmente vinculado

à noção de maturidade.

O aprender do bebê requer de início, a maturidade de desenvolvimento dentro de seu próprio tempo. (suj. 210 - 4º ano).

Devemos respeitar no devido tempo o desenvolvimento da capacidade física do bebê. (suj. 36 - 1º ano).

Para facilitar o aprender do bebê, os pais precisam de paciência. Não se deve ter pressa, com paciência e calma se desenvolve. (suj. 02 - 1º ano).

A paciência é um dom que deve ser exercido principalmente nos primeiros anos de vida. É necessário ter paciência com os bebês em seu desenvolvimento e aprendizagem. (suj. 08 - 1º ano).

A paciência ajuda educar o bebê melhor. (suj. 33 - 1º ano).

Page 104: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

103

Para cuidar dos bebês, é necessário ter paciência (suj. 127 - 3º ano).

A paciência é importante na aprendizagem do bebê, para poder respeitar o tempo de aprendizado do bebê (suj. 149 -3º ano).

No âmbito do bloco 2 podem-se identificar elementos discursivos ancorados na

imagem do amor como elemento necessário, ou mesmo suficiente para gerar aprendizagem do

bebê.

A análise das frases permite inferir a pouca referência de termos técnicos típicos das

discussões wallonianas sobre afetividade, por exemplo. Deste modo, entende-se que o bloco 2

organiza noções que circulam no âmbito das partilhas cotidianas sem vinculação com o

discurso reificado. Em termos de hipótese, pode-se pensar que tais noções estejam ancoradas

na imagem de amor materno.

O bloco 3, denominado de Relação estímulo – resposta apresenta índice de 90% para

os termos resposta ► estímulo. No quadro de elementos estruturais, o vocábulo estímulo

compareceu na primeira periferia na organização por evocação espontânea, e quando

hierarquizado no núcleo central, enquanto resposta permanece na zona de contraste nos dois

momentos, não se destacando na variável ano.

As frases descritas pelos sujeitos pesquisados sobre o termo estímulo foram assim

anotadas:

O aprender do bebê requer atenção aos estímulos que lhe são oferecidos. Havendo estímulo, o bebê aprende com alegria (suj. 170- 4º ano).

O estímulo é muito importante para que a criança desenvolva-se melhor. A criança (bebê) precisa de estímulo para o seu desenvolvimento (suj. 80 - 2º ano).

A análise das frases indica o uso do termo estímulo articulada com aprender e

desenvolvimento. No entanto, não se pode precisar, pelas características dos dados

disponíveis, se o discurso apresentado ancora-se na perspectiva empirista ou interacionista

sobre o desenvolvimento humano.

O bloco 4, denominado Conquista do bebê, triunfos do adulto, destaca a relação

conquista ►alegria com índice de implicação de 85%, revelando o nível de satisfação do

adulto quando o mesmo se depara com a aprendizagem do bebê. Este bloco traz representação

típica dos alunos do primeiro e terceiro ano, atributos que acomodaram na zona de contraste e

segunda periferia quando verificado na variável ano, sendo que no quadro geral alojou-se na

segunda periferia.

Page 105: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

104

O processo de aprendizagem da criança é uma conquista para os seus pais, pois todo o processo de aprendizagem para a criança torna-se uma conquista, tanto para ele como aos pais. (suj. 151- 3º, ano).

Para acontecer o aprendizado é preciso que haja a conquista. É a partir da conquista que se dá a valorização da aprendizagem (suj. 150- 3º ano).

O aprender do bebê é maravilhoso, pois é sua conquista de um espaço é único. Maravilhoso, por ver o bebê conquistar sua independência (suj. 180 - 4º, ano).

No âmbito da análise sobre as relações implicativas, foi possível sublinhar duas

tendências orientadoras da representação social em questão: 1. elemento da perspectiva

interacionista e histórico- cultural do desenvolvimento e aprendizagem humana - bloco 1; 2. a

afetividade como elemento promotor de desenvolvimento e aprendizagem.

Ao considerar o diálogo entre as análises dos elementos estruturais e das relações

implicativas, é possível perceber que os acadêmicos representam o aprender do bebê a partir

da sua relação com o desenvolvimento, ora compreendido segundo noções das perspectivas

interacionista e histórico- cultural, ora como algo natural estimulado pela via da afetividade,

provavelmente atribuída à figura materna – conforme a presença do atributo mãe no quadro

de elementos estruturais. Em ambas as análises observam-se o silenciamento de conteúdos

associados à Educação Infantil, sendo a relação adulto-criança em contexto familiar o aspecto

mais saliente no campo representacional em questão.

Page 106: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

105

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O exercício de análise dos dados impõe ao pesquisador um esforço de olhar além da

mera descrição. Neste sentido, empreendeu-se esforço no sentido de buscar a convergência

dos resultados das diferentes etapas de processamento e análise referentes aos dois motes

indutores.

Deste modo, foram considerados os dados obtidos por meio do processamento das

evocações pelos softwares EVOC – COMPLEX e SELEVOC e CHIC.

De modo geral, pode-se afirmar que os acadêmicos de Pedagogia ao representarem o

bebê e o seu aprender revelam a saliência da imagem encontrada na díade mãe – filho

encoberta pela afetividade presente no potencial do amor materno.

Tal imagem remete os elementos representacionais ao âmbito da cena familiar no

interior da qual ocorrem aprendizagens.

Mediante o exercício de hierarquização das evocações foi possível observar a

emergência de conteúdos associados ao discurso acadêmico, sobretudo aquele que se refere ao

processo de desenvolvimento cognitivo, a ludicidade, a sensorialidade e ao movimento.

Esta abordagem do conteúdo representacional parece estar de acordo com os

conteúdos mais centrais uma vez que a relação mãe-bebê, mediada pelo afeto, não exclui o

potencial lúdico e cognitivo dos processos de desenvolvimento e aprendizagem.

A comparação entre as evocações mais espontâneas e aquelas organizadas pelo critério

de ordem de importância fizeram notar que no primeiro caso o eixo organizador das

evocações foram as descrições das características físicas e idealizadas de um bebê fofo, frágil

e carente de proteção, além do discurso religioso objetivando-o como dádiva, enquanto que no

segundo caso, observou-se a emergência do discurso acadêmico,sobretudo na expressão

indutora aprender do bebê. Em ambos os casos a esfera familiar continuou sendo o lócus

privilegiado para a educação de bebês.

Neste sentido, destaca-se que o termo indutor bebê e a expressão indutora aprender do

bebê parecem ativar discursos que abordam as vivências do âmbito pessoal dos acadêmicos.

Sobre tal aspecto destaca-se o fato do vocábulo creche aparecer como evocação dos

subgrupos primeiro e segundo ano sendo silenciado nos demais subgrupos – terceiro e quarto

ano. Além disso, identificou-se o silenciamento do termo berçário em todos os subgrupos.

Este quadro que se delineia pela baixa adesão aos termos que se referem à ideia de

Educação Infantil permite elaborar a hipótese interpretativa a qual sugere que os acadêmicos

de Pedagogia consultados não representam o trabalho educativo junto aos bebês como uma

Page 107: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

106

possibilidade de inserção profissional. Ao contrário, observa-se um discurso pouco marcado

por influência do discurso acadêmico sustentando imagens mitificadas de um bebê frágil,

inocente, protegido por práticas de cuidados orientadas pelo amor materno. Junto a essas

imagens convive outro discurso que começa a ser delineado, este trazendo indícios de

discussões acerca do desenvolvimento humano com contornos de orientação empirista,

interacionista e histórico-cultural.

Provavelmente o que se capturou por meio das análises das evocações foi à tensão

presente no compartilhamento de significados de diferentes naturezas, sejam elas fortemente

marcadas pela memória social, sejam de natureza científica e pouco compartilhadas no senso

comum.

As representações em análise sugerem a necessidade de se pensar à formação de

professores considerando a Educação Infantil, sobretudo o trabalho junto aos bebês, como um

lócus de atuação profissional. Ao mesmo tempo revela à urgência de se pensar a criança para

além da perspectiva mitificada e religiosa assumindo os referenciais teóricos analisados no

interior de disciplinas tais como Filosofia, Antropologia, Sociologia e Psicologia cujas

discussões privilegiam a Infância. A respeito desta observação, vale lembrar que o estudo das

representações sociais não se presta ao julgamento dos conteúdos e das estruturas

representacionais, no entanto, permitem analisar o potencial de transformação dos mesmos, os

processos identitários subjacentes a eles, bem como o sentido da orientação de práticas e

tomadas de decisões decorrentes dos significados ativados e das suas focalizações.

Neste sentido, o estudo ora empreendido possibilitou compreender que os acadêmicos

de Pedagogia consultados significam a educação de bebês a partir da perspectiva do cuidado

materno, revelando a focalização de sentidos associados ao âmbito familiar e ao sagrado. O

bebê, representado como um ente supremo e frágil mobiliza a imagem de um adulto protetor e

possuidor de uma capacidade de amar ampliada.

Este parece ser o princípio organizador das representações analisada, revelador de

fortes imagens presentes na memória social, próximas ao mito do amor materno inspirado no

retrato da Virgem Maria e do menino Jesus.

Entretanto, outros significados são partilhados no âmbito da periferia das

representações sociais revelando influências oriundas de discursos teóricos construídos ao

longo da construção da própria Psicologia e da Pedagogia por meio de diferentes abordagens.

Estes aparecem, em fragmentos, ativados pelas características do pensamento

ingênuo, que permitem a convivência, por exemplo, entre as teses empiristas, interacionista e

histórico- cultural, sem que isso pareça incoerente.

Page 108: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

107

O estudo ora empreendido, ao destacar como objeto de representação o bebê e seu

aprender, orientou-se pela urgência em se considerar a primeira infância assunto importante

para o debate educacional, sobretudo por serem as crianças de até três anos o público-alvo dos

acadêmicos de Pedagogia, futuros professores da Educação Básica.

Neste sentido, considerou-se relevante o estudo sobre a forma por meio da qual os

acadêmicos pensam o trabalho junto aos bebês, primeiro grupo a ser atendido nas creches

brasileiras em espaços nomeados como berçários.

Deste modo, orientado pela Teoria das Representações sociais em sua abordagem

estrutural e pelos estudos sobre a infância, a história da Educação Infantil e pelos princípios

filosóficos que delineiam as principais teorias do desenvolvimento e aprendizagem foi

possível identificar pontos de ancoragens e objetivações acerca do bebê e de sua

aprendizagem, bem como caracterizar as principais focalizações que dão o contorno as

representações sociais analisadas.

A título de síntese pode-se afirmar que, para os acadêmicos de Pedagogia consultados,

o bebê apresenta-se como entidade mitificada, sendo anunciado como aquele que confere

prazer ao adulto assim como as sua a identidade de um ser frágil, inocente, dependente da

ação materna. Ao bebê foi associada à ideia de prática de cuidado, sendo a mesma tomada

como atividade educativa e ação protetiva. As práticas de cuidado são assumidas pela mãe

sendo desenvolvidas no âmbito da vida familiar.

Por sua vez a representação sobre o aprender do bebê se configurou a partir de dois

significados bem delineados. O primeiro e mais rotinizado refere-se a uma perspectiva

naturalizada na qual a aprendizagem ocorre pela via da afetividade e de um cuidado paciente,

atribuídos a figura materna. O segundo significado apresentado de forma difusa ao longo das

análises está associado à idéia de desenvolvimento compreendido segundo noções da

perspectiva empirista, interacionista e histórico-cultural não havendo adesão a uma

abordagem teórica coerente. Ao que parece a idéia de desenvolvimento é mais rotinizada do

que os demais atributos que revelam a forma por meio da qual o mesmo se dá. Junto ao

vocábulo desenvolvimento observa-se a presença de termos indicando comportamentos

emblemáticos tais como falar, andar e brincar.

A análise da variável ano demonstrou no caso da expressão indutora aprender do bebê,

maior presença de termos típicos do discurso científico nas evocações do quarto ano. Por sua

vez, no mote bebê identificou-se certa homogeneidade entre os termos evocados nos

diferentes subgrupos tendo em vista que a comparação realizada entre os anos destaca a não

variabilidade do discurso entre o segundo, o terceiro e o quarto ano quando os mesmos são

Page 109: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

108

comparados com as evocações do primeiro ano. Este aspecto sugere a pouca variabilidade

dos conteúdos representacionais e o alto nível de integração entre os mesmos.

A forte tendência dos acadêmicos em associar o bebê e sua aprendizagem ao âmbito

familiar, e, o silenciamento de termos associados às discussões da Educação Infantil revelam

a pouca familiaridade dos acadêmicos para com os debates sobre a educação da primeira

infância corroborando com as pesquisas que anunciam a invisibilidade social de crianças,

neste caso, de bebês.

As análises ora empreendidas, embora de caráter exploratório, evidenciam que,

também no âmbito da formação de professores para a Educação Básica a educação de bebês é

assunto pouco presente na pauta de discussões passando a ser tratado como tema relativo ao

âmbito do doméstico.

Page 110: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

109

REFERÊNCIAS

ABRIC J. C. Abordagem estrutural representações sociais. In: MOREIRA, A. S. P.; OLIVEIRA, D. C. (Org.). Estudos Interdisciplinares de representações sociais. Goiânia: Editora, 1998. ARIÈS, P. História social da criança e da família. Tradução Dora Flaksman, Rio de Janeiro: L T C, 2006. BADINTER, E. Um amor conquistado: o mito do amor materno. Tradução Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. BECKER, F. Educação e construção do conhecimento. Porto Alegre: Artimed, 2001. BERALDO, T. M. L. Caminhos do curso de pedagogia na modalidade parcelada: percalços e avanços de uma experiência desenvolvida pela UFMT no interior do Mato Grosso. Tese (Doutorado em Educação)– Universidade Estadual de Campinas, São Paulo, 2005. CAMPOS. P. H. F. Abordagem estrutural e o estudo das relações entre práticas e representações sociais. In: CAMPOS. P. H. F.; LOUREIRO, M. C. S. Representações sociais e as práticas educativas. Goiânia: UCG, 2003. CASTORINA, J. A.; KLAPAN V. Lãs representaciones sociales: problemas teóricos y desafios educativos. In: CASTORINA, J. A. Representaciones sociales: problemas teóricos y desafios educativos. Buenos Aires: Gedisa, 2008. CELESTINO, M. R. Concepção sobre limites: imbricações entre obstáculos manifestos por alunos do ensino superior. 192 f. Tese (Doutorado em Educação Matemática)- Pontifícia Universidade Católica (PUC/SP), São Paulo, 2008. COUTURIER, R.; BODIN, A.; GRAS, R. A Classificação Hierárquica Implicativa e Coesitiva. 2003. Disponível em: <http://math.unipa.it/~grim/asi/asi_03_gras_bodin_cout.pdf>. Acesso em: 14 fev. 2011. CHOMBART DE LAUWE, M-J.; FEUERHAHN, N. A representação social na infância. In: JODELET, D.(Org.) As representações sociais. Tradução Lílian Ulup. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2001. p. 281-299. CHOMBARTDE LAUWE, M-J. Um outro mundo: a infância. Tradução de Noemi Kon. São Paulo: Perspectiva., Editora da Universidade de São Paulo, 1991. DEL PRIORE, M. História das crianças no Brasil. São Paulo: Contexto, 2007. DUVEEN, G. Criança enquanto atores sociais: as representações sociais em desenvolvimento. In: GUARESCHI, P. A., JOVCHELOVITCH, S. (Org.). Textos em representações sociais. Petropolis: Vozes, 1995.

Page 111: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

110

DUVEEN, G.; LLOYD B. Las representaciones sociales como uma perspectiva de la psicologia social. In: CASTORINA, José Antônio. Las representaciones sociales como uma perspectiva de la psicologia social. Buenos Aires: Gedisa, 2008. KUHLMANN JR., M.; FERNANDES, R. Sobre a história da infância. In: FARIAS FILHO, L. M. (Org.). A infância e sua educação: materiais, práticas e representações (Portugal e Brasil). Belo Horizonte: Autêntica, 2004. p. 15-33. FARIAS, M. Infância e educação no Brasil nascente. In: VASCONCELLOS, V. M. R. (Org.). Educação da infância: história e política. Rio de Janeiro: DP&A, 2005. FREITAS, M. T. de A. Vygotsky: um homem, seu tempo, sua atualidade. In: ______. (Org.). Vygotsky um século depois. Juiz de Fora: EDUFJF, 1998.

GALVÃO, I. Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento infantil. Petrópolis: Vozes, 2010. GOULART, Í. B. (Org.). A Educação na perspectiva construtivista: reflexão de uma equipe interdisciplinar. Petrópolis: Vozes, 1995. HEYWOOD, C. Uma história da infância: da idade média à época contemporânea no ocidente. Porto Alegre: Artimed, 2004. JODELET, D. Representações Sociais: um domínio em expansão, In: ______. (Org). Representações sociais. Tradução Lílian Ulup. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2001. JOVCHELOVITCH, S. Vivendo a vida com outros: intersubjetividade, espaço público e representações sociais. In: PEDRINHO, A. GUARESCHI. JOVCHELOVITCH, S. (Org.). Textos em Representações Sociais. Petropólis: Vozes 1995. KRAMER, S. A política da pré-escola no Brasil: a arte do disfarce. São Paulo: Cortez, 2006. KUHLMANN JUNIOR, M. Infância e educação infantil: uma abordagem histórica. Porto Alegre: Mediação, 1998 MELLO, D. T. de. A História do cuidado à Criança pequena em Porto Alegre: a roda dos expostos da Santa Casa de Misericórdia (1837-1940), In: ROMAN E. D.; STEYER V. (Org.). A criança de 0 a 6 anos e a educação infantil: um retrato multifacetado. Canoas: Ulbra, 2001. MENIN, M. S. E. O aspecto normativo das representações sociais: comparado a concepção. Revista de Educação Pública, Cuiabá, v. 16, n. 30, p.123-135, jan/abr.2007. MINAYO, M. C. S. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes, 2007. MOSCOVICI, S. O fenômenos das representações sociais. In: ______. Representações sociais: investigações em Psicologia Social. Petrópolis: Vozes, 2003.

Page 112: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

111

______. Das representações coletivas às representações sociais: elementos para uma história. In: JODELET, D. (Org.) As representações sociais. Tradução Lílian Ulup. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2001. p. 45-66. ______. Representação social da Psicanálise. Tradução Álvaro Cabral, Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978 NÓBREGA, S. M. Sobre a Teoria das Representações Sociais. In: MOREIRA, A. S. P. (Org). Representação social: teoria e prática. João Pessoa: Editora Universitária, 2001. NÓBREGA, S. M.; COUTINHO, M. P. L. O Teste de Associação Livre de Palavras. In: COUTINHO, M. P. L. et al (Org.). Representações Sociais: Abordagem Interdisciplinar. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2003. OLIVEIRA, M. K. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento. 5 ed. São Paulo: Scipione, 2010. ______. Vygotisky e o processo de formação de conceitos. In: OLIVEIRA, Marta Kohl de; DE LA TAILLE, Yves, DANTAS, Heloysa. Piaget, Vygotsky, Wallon: Teorias psicogenéticas em discussão.21 ed.São Paulo: Summus, 1992. OLIVEIRA, Z. M. R. A história de uma conquista. In: ______. (Org.). A criança e seu desenvolvimento: perspectivas para se discutir a educação infantil. São Paulo: Cortez, 2001a. ______. A dinâmica do processo de desenvolvimento. In: ______. (Org.). A criança e seu desenvolvimento: perspectivas para se discutir a educação infantil. São Paulo: Cortez, 2001b. OLIVEIRA, Z. M. R.; FERREIRA, Maria Clotilde Ronete. Creches: crianças, faz de conta & Cia. Petropolis: Vozes, 2002. OLIVEIRA, Z. M. R. et al. Educação infantil: muitos olhares. 8 ed. São Paulo: Cortez, 2008. OLIVEIRA, D. C. et al. Análise das Evocações Livres: uma técnica de análise estrutural das representações sociais. In: MOREIRA, A. S. P.; CAMARGO, B. V.; JESUÍNO, J.C.; NÓBREGA, S. M. (Org.). Perspectivas Teórico-Metodológicas em Representações Sociais. João Pessoa: Editora Universitária UFPB, 2005.

PIAGET. Jean, Seis estudos de psicologia. Rio de Janeiro: Forence Universitária, 2010.

PRESTES, Z. R. Quando não é quase a mesma coisa. Análise de traduções de Lev Semionovitch Vigotski no Brasil. Repercussões no campo educacional. 295 f. Tese (Doutorado em Educação)- Universidade de Brasília – Faculdade de Educação – Programa de Pós Graduação em Educação, Brasília, DF, 2010. RAPPAPORT, C. R.; FIORI, W. R., DAVIS, C. Psicologia do desenvolvimento. São Paulo: EPU, 1981. v. 1. SABER, M. G.; LUIZ, V. L. F. F. Psicologia Pré-Escolar: uma visão construtivista. São Paulo: Moderna, 1995.

Page 113: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

112

SARMENTO, M. J. Visibilidade social e estudo da infância. In: VASCONCELLOS, V. M. R.; SARMENTO, M. J. Infância (In)visível, Araraquara: Junqueira & Marin, 2007. SÁ, C. P.O campo de estudo das representações sociais.In: SÁ, C. P.Núcleo central das representações sociais. Petrópolis: Vozes, 1996. ______. A Construção do Objeto de Pesquisa em Representações Sociais. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1998. SÁ, E. F. De Criança a Aluno: as representações da escolarização da infância em Mato Grosso (1910-1927). Cuiabá: EdUFMT, 2007. SANTOS, M. F. S. A teoria das representações sociais. In:SANTOS, M. F. S.; L. M. (Org). Diálogos com a Teoria das Representações Sociais. Recife: Editora Universitária da UFPE, 2005. SANTOS, L. M. Concepção do professor de matemática sobre o ensino de álgebra. 109 f. Dissertação (Mestrado em Educação Matemática)- Pontifícia Católica de São Paulo. -PUC/SP- São Paulo, 2005. UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO. Uma proposta Interinstitucional. Curso de Licenciatura Plena em Pedagogia – Magistério das Séries Iniciais do Ensino Fundamental, Cuiabá, 2006. 90 p. WACHELKE, J. F. R; CAMARGO, B. V.Representações sociais, representações individuais e comportamento. Interamerican Journal of Psychology, México, v. 41, n. 3 p. 379-390, 2007.

VYGOTSKY, L. S.A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológico superiores. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

______. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1993.

Page 114: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

113

APÊNDICES

APÊNDICE A TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Pesquisador (a):

Você está sendo convidado (a) a participar desta pesquisa. Ao integrar este estudo

estará permitindo a utilização dos dados fornecidos. Você tem liberdade de se recusar a

participar e ainda se recusar a continuar participando em qualquer momento da pesquisa, sem

qualquer prejuízo pessoal.

Todas as informações coletadas neste estudo são estritamente confidenciais, você não

precisará se identificar. Somente o (a) pesquisador (a) terá acesso às suas informações e após

o registro destas, o documento será destruído.

Consentimento Livre e Esclarecido

Tendo em vista os esclarecimentos acima apresentados, eu manifesto livremente meu consentimento em participar da pesquisa.

Nº Nome do participante Assinatura

01

02

03

04

05

06

07

08

09

10

11

Page 115: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

114

APÊNDICEB ROTEIRO PARA A ASSOCIAÇÃO LIVRE DE PALAVRA

QUESTIONÁRIO - CURSO DE PEDAGOGIA (Mote - bebê )

NO _______ TURMA ________ TURNO___________CURSO _____________

Escreva cinco palavras que vêm à sua mente quando se fala o termo bebê

( ) --------------- ( ) ---------------- ( )--------------- ( ) -------------( ) ---------------

Coloque o número 1 para a palavra mais importante e 2 para a segunda palavra de maior importância, e assim por diante até a quinta palavra.

Escreva a palavra que você considerou mais importante:_____________________________________

Qual o significado que você atribui à palavra que você considerou mais importante?

Agora por favor, escreva uma frase utilizando a palavra que você considerou mais importante, relacionado-a com o termo indutor ditado anteriormente.

Page 116: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

115

APÊNDICE C ROTEIRO PARA A ASSOCIAÇÃO LIVRE DE PALAVRA

QUESTIONÁRIO - CURSO DE PEDAGOGIA (Mote - O Aprender do Bebê)

NO __________ TURMA ________ TURNO___________CURSO ___________

Escreva cinco palavras que vêm à sua mente quando se fala em o aprender do bebê

( ) ---------------- ( ) ---------------- ( )---------------- ( ) ----------------( ) ------------

Coloque o número 1 para a palavra mais importante e 2 para a segunda palavra de maior importância, e assim por diante até a quinta palavra.

Escreva a palavra que você considerou mais importante:____________________________________

Qual o significado que você atribui à palavra que você considerou mais importante?

Agora por favor, escreva uma frase utilizando a palavra que você considerou mais importante, relacionado-a com o termo indutor ditado anteriormente.

Page 117: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

116

APÊNDICED QUESTIONÁRIO SOCIODEMOGRÁFICO

QUESTIONÁRIO - PERFIL

CURSO DE PEDAGOGIA – FASES INICIAIS

4. Idade: 5. Sexo: [ ] Feminino [ ] Masculino

6. Estado civil

[ ] Solteira

[ ] Casada ou união estável [ ] Outro (especificar___________________)

7. Tem filhos?

[ ] Não [ ] Sim.

8. Fez outro curso de Graduação?. [ ] .Não [ ] Sim Qual?___________________________

9. Atualmente, você está fazendo faculdade, e trabalhando com/em:

Função Estágio Trabalho com vínculo empregatício

Tempo de trabalho

1) Com crianças, em ambientes domésticos

2). Com turmas de crianças de 4 meses a 1 ano, em instituições de Educação infantil

2) Com turmas de crianças de 1 a 3 anos, em instituições de Educação infantil

3) Com turmas de crianças de 4 a 5 anos, em instituições de Educação infantil ou escolas

4) Em instituições de Educação Infantil, fora de sala, desempenhando atividades de apoio

5) Em instituições de Educação Infantil, fora de sala, desempenhando atividades de coordenação

6) Em escolas, diretamente com crianças das séries iniciais do Ens. Fundamental

7) Em escolas, diretamente com adolescentes das séries finais do Ens. Fundamental

8) Em escolas, fora de sala de aula

9) Em atividades ligadas à educação, mas não em escolas ou instituições de Educação Infantil (por exemplo, aulas particulares, trabalhos técnicos em secretarias de educação, igreja, trabalhos comunitários, empresa etc.)

10) Em atividades não educacionais (cite quais)

11. Dedicando-se exclusivamente para a faculdade

1. Curso: PEDAGOGIA 2. Turma: [ ] 3. Turno: [ ] [ ] Matutino [ ] Vespertino

NO __________

Page 118: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

117

10. Em relação à sua experiência profissional, você trabalhou.

(Preencha o quadro de acordo com o que mais se ajusta às atividades que você já realizou)

11) Após sua formatura você pretender exercer a profissão de professor(a),?

[ ] Sim. [ ] Não.

12) Caso positivo, você considera a possibilidade de trabalhar na Educação infantil ?

[ ] Sim. [ ] Não.

13) Indique a faixa etária que você gostaria de trabalhar:

[ ] 4 meses a 1 ano. [ ] 1 a 3 anos. [ ] 4 a 5 anos.

Função Estágio Trabalho com vínculo empregatício

Tempo de trabalho

1) Com crianças, em ambientes domésticos

2) Com turmas de crianças de 4 meses a 1 ano, em instituições de educação infantil

3) Com turmas de crianças de 1 a 3 anos, em instituições de Educação infantil

4) Com turmas de crianças de 4 a 5 anos, em instituições de Educação infantil ou escolas

5) Em instituições de Educação Infantil, fora de sala, desempenhando atividades de apoio

6) Em instituições de Educação Infantil, fora de sala, desempenhando atividades de coordenação

7) Em escolas, diretamente com crianças das séries iniciais do Ensino Fundamental

8) Em escolas, diretamente com adolescentes das séries finais do Ensino Fundamental

9) Em escolas, fora de sala de aula

10) Em atividades ligadas à educação, mas não em escolas ou instituições de Educação Infantil (por exemplo, aulas particulares, trabalhos técnicos em secretarias de educação, igreja, trabalhos comunitários, empresa etc.)

11) Em atividades não educacionais (cite quais)

Page 119: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

118

ANEXOS

ANEXO A Relatório disponibilizado pelo EVOC,com o emprego do subprograma RANGMOT acerca da questão indutora O Aprender do bebê ON CREE LE FICHIER : C:\Users\Sandra\Desktop\OME-APR.BEBE-02.03\APR.BEBE -.dis et C:\Users\Sandra\Desktop\OME-APR.BEBE- DISTRIBUTION TOTALE :1020 : 207* 206* 205* 203* 199* RANGS 6 ... 15 0* 0* 0* 0* 0* 0* 0* 0* 0* 0* RANGS 16 ... 25 0* 0* 0* 0* 0* 0* 0* 0* 0* 0* RANGS 26 ... 30 0* 0* 0* 0* 0* Nombre total de mots differents : 213 Nombre total de mots cites : 1020 moyenne generale : 2.98 DISTRIBUTION DES FREQUENCES freq. * nb. mots * Cumul evocations et cumul inverse 1 * 87 87 8.5 % 1020 100.0 % 2 * 42 171 16.8 % 933 91.5 % 3 * 19 228 22.4 % 849 83.2 % 4 * 12 276 27.1 % 792 77.6 % 5 * 7 311 30.5 % 744 72.9 % Ponto de corte 6 * 13 389 38.1 % 709 69.5 % 7 * 4 417 40.9 % 631 61.9 % 8 * 2 433 42.5 % 603 59.1 % 9 * 2 451 44.2 % 587 57.5 % 10 * 3 481 47.2 % 569 55.8 % 11 * 3 514 50.4 % 539 52.8 % 12 * 1 526 51.6 % 506 49.6 % 14 * 1 540 52.9 % 494 48.4 % 16 * 2 572 56.1 % 480 47.1 % 19 * 1 591 57.9 % 448 43.9 % 20 * 1 611 59.9 % 429 42.1 % 21 * 1 632 62.0 % 409 40.1 % 25 * 2 682 66.9 % 388 38.0 % 26 * 1 708 69.4 % 338 33.1 % 27 * 3 789 77.4 % 312 30.6 % 30 * 1 819 80.3 % 231 22.6 % 37 * 1 856 83.9 % 201 19.7 % 38 * 1 894 87.6 % 164 16.1 % 39 * 1 933 91.5 % 126 12.4 % 43 * 1 976 95.7 % 87 8.5 % 44 * 1 1020 100.0 % 44 4.3 % 1020/213= 4.78 APROX. 5 744/53 = 14,03

Page 120: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

119

ANEXO B Relatório disponibilizado pelo EVOC, com o emprego do subprograma RANGMOT acerca da questão indutora O Aprender do bebê ON CREE LE FICHIER : C:\Users\Sandra\Desktop\OMI -APR. BEBE 02.03\APREN BEBE=OMI.dis et C:\Users\Sandra\Desktop\OMI -APR. BEBE 02.03\APREN BEBE=OMI.tm3 DISTRIBUTION TOTALE :1020 : 207* 206* 204* 203* 200* RANGS 6 ... 15 0* 0* 0* 0* 0* 0* 0* 0* 0* 0* RANGS 16 ... 25 0* 0* 0* 0* 0* 0* 0* 0* 0* 0* RANGS 26 ... 30 0* 0* 0* 0* 0* Nombre total de mots differents : 213 Nombre total de mots cites : 1020 moyenne generale : 2.98 DISTRIBUTION DES FREQUENCES freq. * nb. mots * Cumul evocations et cumul inverse 1 * 87 87 8.5 % 1020 100.0 % 2 * 42 171 16.8 % 933 91.5 % 3 * 19 228 22.4 % 849 83.2 % 4 * 12 276 27.1 % 792 77.6 % 5 * 7 311 30.5 % 744 72.9 % Ponto de corte 6 * 13 389 38.1 % 709 69.5 % 7 * 4 417 40.9 % 631 61.9 % 8 * 2 433 42.5 % 603 59.1 % 9 * 2 451 44.2 % 587 57.5 % 10 * 3 481 47.2 % 569 55.8 % 11 * 3 514 50.4 % 539 52.8 % 12 * 1 526 51.6 % 506 49.6 % 14 * 1 540 52.9 % 494 48.4 % 16 * 2 572 56.1 % 480 47.1 % 19 * 1 591 57.9 % 448 43.9 % 20 * 1 611 59.9 % 429 42.1 % 21 * 1 632 62.0 % 409 40.1 % 25 * 2 682 66.9 % 388 38.0 % 26 * 1 708 69.4 % 338 33.1 % 27 * 3 789 77.4 % 312 30.6 % 30 * 1 819 80.3 % 231 22.6 % 37 * 1 856 83.9 % 201 19.7 % 38 * 1 894 87.6 % 164 16.1 % 39 * 1 933 91.5 % 126 12.4 % 43 * 1 976 95.7 % 87 8.5 % 44 * 1 1020 100.0 % 44 4.3 % 1020/213= 4.78 APROX. 5 744/53 = 14,03

Page 121: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

120

ANEXO C

Relatório disponibilizado pelo EVOC, com o emprego do subprograma RANGMOT acerca da questão indutora O aprender do bebê para o primeiro ano. ON CREE LE FICHIER : C:\Users\Sandra\Desktop\VARIAVEL ANO\APRENDER DO BEBE\1p.dis et C:\Users\Sandra\Desktop\VARIAVEL ANO\APRENDER DO BEBE\1p.tm3 - 1 ANO DISTRIBUTION TOTALE : 264 : 53* 53* 53* 53* 52* RANGS 6 ... 15 0* 0* 0* 0* 0* 0* 0* 0* 0* 0* RANGS 16 ... 25 0* 0* 0* 0* 0* 0* 0* 0* 0* 0* RANGS 26 ... 30 0* 0* 0* 0* 0* Nombre total de mots differents : 108 Nombre total de mots cites : 264 moyenne generale : 2.99 DISTRIBUTION DES FREQUENCES freq. * nb. mots * Cumul evocations et cumul inverse 1 * 63 63 23.9 % 264 100.0 % 2 * 22 107 40.5 % 201 76.1 % 3 * 7 128 48.5 % 157 59.5 % Ponto de corte 4 * 3 140 53.0 % 136 51.5 % 5 * 3 155 58.7 % 124 47.0 % 6 * 1 161 61.0 % 109 41.3 % 7 * 3 182 68.9 % 103 39.0 % 10 * 1 192 72.7 % 82 31.1 % 11 * 1 203 76.9 % 72 27.3 % 13 * 1 216 81.8 % 61 23.1 % 15 * 2 246 93.2 % 48 18.2 % 18 * 1 264 100.0 % 18 6.8 % 264/ 108 = 2,444 - REDOND. 3 157/23= 6.8 - aprox. 7

Page 122: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

121

ANEXOD Relatório disponibilizado pelo EVOC, com o emprego do subprograma RANGMOT acerca da questão indutora O aprender do bebê para o segundo ano. ON CREE LE FICHIER : C:\Users\Sandra\Desktop\VARIAVEL ANO\APRENDER DO BEBE\2P.dis et C:\Users\Sandra\Desktop\VARIAVEL ANO\APRENDER DO BEBE\2P.tm3 - 2 ANO DISTRIBUTION TOTALE : 312 : 63* 63* 62* 62* 62* RANGS 6 ... 15 0* 0* 0* 0* 0* 0* 0* 0* 0* 0* RANGS 16 ... 25 0* 0* 0* 0* 0* 0* 0* 0* 0* 0* RANGS 26 ... 30 0* 0* 0* 0* 0* Nombre total de mots differents : 121 Nombre total de mots cites : 312 moyenne generale : 2.99 DISTRIBUTION DES FREQUENCES freq. * nb. mots * Cumul evocations et cumul inverse 1 * 65 65 20.8 % 312 100.0 % 2 * 18 101 32.4 % 247 79.2 % 3 * 11 134 42.9 % 211 67.6 % 4 * 8 166 53.2 % 178 57.1 % 5 * 6 196 62.8 % 146 46.8 % 6 * 2 208 66.7 % 116 37.2 % 7 * 2 222 71.2 % 104 33.3 % 8 * 3 246 78.8 % 90 28.8 % 9 * 3 273 87.5 % 66 21.2 % 12 * 1 285 91.3 % 39 12.5 % 13 * 1 298 95.5 % 27 8.7 % 14 * 1 312 100.0 % 14 4.5 % 312/121 = 2,57 - APROX. 3 211/ 38 = 5,55 - APROX. 6

Page 123: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

122

ANEXOE

Relatório disponibilizado pelo EVOC, com o emprego do subprograma RANGMOT acerca da questão indutora O aprender do bebê para o terceiro ano ON CREE LE FICHIER : C:\Users\Sandra\Desktop\VARIAVEL ANO\APRENDER DO BEBE\3P.dis et C:\Users\Sandra\Desktop\VARIAVEL ANO\APRENDER DO BEBE\3P.tm3 - 3 ANO DISTRIBUTION TOTALE : 231 : 48* 47* 47* 45* 44* RANGS 6 ... 15 0* 0* 0* 0* 0* 0* 0* 0* 0* 0* RANGS 16 ... 25 0* 0* 0* 0* 0* 0* 0* 0* 0* 0* RANGS 26 ... 30 0* 0* 0* 0* 0* Nombre total de mots differents : 91 Nombre total de mots cites : 231 moyenne generale : 2.96 DISTRIBUTION DES FREQUENCES freq. * nb. mots * Cumul evocations et cumul inverse 1 * 47 47 20.3 % 231 100.0 % 2 * 18 83 35.9 % 184 79.7 % 3 * 9 110 47.6 % 148 64.1 % Ponto de corte 4 * 3 122 52.8 % 121 52.4 % 5 * 3 137 59.3 % 109 47.2 % 6 * 2 149 64.5 % 94 40.7 % 8 * 3 173 74.9 % 82 35.5 % 9 * 4 209 90.5 % 58 25.1 % 11 * 2 231 100.0 % 22 9.5 % 231/ 91 = 2,53 APROX. 3 148/ 26 = 5,69 APROX. 6

Page 124: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- Elementos estruturais referente ao termo indutor bebê, processados por ordem de evocação

123

ANEXOF Relatório disponibilizado pelo EVOC, com o emprego do subprograma RANGMOT acerca da questão indutora O aprender do bebê para o quarto ano ON CREE LE FICHIER : C:\Users\Sandra\Desktop\VARIAVEL ANO\APRENDER DO BEBE\4P.dis et C:\Users\Sandra\Desktop\VARIAVEL ANO\APRENDER DO BEBE\4P.tm3 - 4 ANO DISTRIBUTION TOTALE : 208 : 42* 42* 42* 42* 40* RANGS 6 ... 15 0* 0* 0* 0* 0* 0* 0* 0* 0* 0* RANGS 16 ... 25 0* 0* 0* 0* 0* 0* 0* 0* 0* 0* RANGS 26 ... 30 0* 0* 0* 0* 0* Nombre total de mots differents : 82 Nombre total de mots cites : 208 moyenne generale : 2.98 DISTRIBUTION DES FREQUENCES freq. * nb. mots * Cumul evocations et cumul inverse 1 * 44 44 21.2 % 208 100.0 % 2 * 9 62 29.8 % 164 78.8 % 3 * 15 107 51.4 % 146 70.2 % Ponto de corte 4 * 4 123 59.1 % 101 48.6 % 5 * 2 133 63.9 % 85 40.9 % 6 * 2 145 69.7 % 75 36.1 % 7 * 1 152 73.1 % 63 30.3 % 9 * 1 161 77.4 % 56 26.9 % 10 * 2 181 87.0 % 47 22.6 % 13 * 1 194 93.3 % 27 13.0 % 14 * 1 208 100.0 % 14 6.7 % 208/82 = 2,56 - APROX. 3 146/29 = 5