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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE RONDONÓPOLIS
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
MESTRADO EM EDUCAÇÃO
JOEL MARTINS LUZ
ARQUIVO, EDUCAÇÃO E MEMÓRIA:
O FUNDO DOCUMENTAL DA ESCOLA SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
RONDONÓPOLIS | MT
2013
JOEL MARTINS LUZ
ARQUIVO, EDUCAÇÃO E MEMÓRIA:
O FUNDO DOCUMENTAL DA ESCOLA SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Educação (PPGEdu), do Instituto
de Ciências Humanas e Sociais da Universidade
Federal de Mato Grosso, Campus Universitário
de Rondonópolis, como requisito para obtenção
do título de Mestre em Educação, na linha:
Linguagem, Cultura e Construção do
Conhecimento: perspectiva histórica e
contemporânea.
Orientação: Profª. Dra. Lázara Nanci de Barros
Amâncio.
RONDONÓPOLIS | MT
2013
FICHA CATALOGRÁFICA
L979e LUZ, Joel Martins.
Arquivo, educação e memória: o fundo documental da
Escola Sagrado Coração de Jesus / Joel Martins Luz. –
Rondonópolis, MT, 2013.
127 f.: il.
Dissertação – (Mestrado em Educação) – Programa de
Pós-Graduação em Educação. Universidade Federal de Mato
Grosso. Campus Universitário de Rondonópolis.
Orientação: Profª. Dra. Lázara Nanci de Barros Amâncio
1. Arquivo escolar 2. Memória escolar 3. Documentação
escolar. 4. Escrituração escolar. 5. Instituições escolares. I.
AMÂNCIO, Lázara Nanci de Barros, orient. II. Título.
CDU 37:930.25
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário Joel Martins Luz
É permitida a reprodução desde que citada a fonte
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO-RONDONÓPOLIS
Rod. Rondonópolis.-Guiratinga, km 06 MT-270 - Campus Universitário de Rondonópolis - Cep: 78735-901
RONDONÓPOLIS/MT
Tel : (66) 3410-4035 - Email : [email protected]
FOLHA DE APROVAÇÃO
TÍTULO: "ARQUIVO, EDUCAÇÃO E MEMÓRIA: O FUNDO DOCUMENTAL DA
ESCOLA SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS"
AUTOR: Mestrando Joel Martins Luz
Dissertação defendida e aprovada em 19/03/2013.
_____________________________________________________________
Composição da Banca Examinadora:
Presidente Banca / Orientador Doutor(a) Lázara Nanci de Barros Amâncio Instituição : UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO Examinador Interno Doutor(a) Cancionila Janzkovski Cardoso Instituição : UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO Examinador Externo Doutor(a) Dagoberto Buim Arena Instituição : UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA – MARÍLIA/SP Examinador Suplente Doutor(a) Simone Albuquerque da Rocha Instituição : UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
RONDONÓPOLIS,19/03/2013.
DEDICATÓRIA
À minha mãe, prova de todo o esforço
que tenho feito, para conseguir chegar até aqui.
À memória do meu irmão – que partiu
muito cedo – o qual não teve a
oportunidade de compartilhar comigo a
felicidade de concluir o mestrado.
À memória da Tia Benedita, que partiu
pouco antes da defesa.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a uma força maior, que mantém a energia necessária para que eu tenha a
fé e a coragem de trilhar novos caminhos a cada dia, superando as dificuldades com saúde,
honestidade e humildade acima de tudo. Deus misericordioso, obrigado!
Agradeço a meus pais, irmãos e sobrinhos; por sempre torcerem por mim
entendendo que a distância, às vezes, vale a pena, quando se busca a realização de um
sonho. Meu muito obrigado!
Sem palavras para externar minha gratidão, à Profª. Dra. Lázara Nanci de Barros
Amâncio; respeito e privilégio em tê-la como minha orientadora (raspa do tacho).
Agradeço ainda, pela segurança, sabedoria, sensibilidade e paciência com que conduziu o
andamento deste trabalho, nos aspectos teóricos, metodológicos e coesos da língua
portuguesa, tão massacrada pelos iniciantes, assim como eu. Por ter-me gentilmente
recebido em residência para os momentos de orientação e por compartilhar suas ricas
experiências com as práticas da pesquisa histórica. Meu muitíssimo, sincero e honesto
obrigado, sempre!
À Profª. Dra. Cancionila Janzkovski Cardoso, que juntamente com a Profª. Nanci,
acreditou e oportunizou-me o ingresso no mestrado e a integrar o Grupo de Pesquisa
ALFALE. Pelas valiosas sugestões durante os encontros do Grupo, no cumprimento dos
créditos e na qualificação. Pela disciplina, postura, rigor e competência em que coordena o
PPGEdu. Muito Obrigado!
Ao Profº. Dr. Dagoberto Buim Arena da UNESP/Marília,SP, pela rica
contribuição no momento da qualificação ao entender o arquivo da Escola Sagrado como
um misto de papéis burocráticos, culturais e pessoais. Por aceitar nosso convite para
composição da banca de defesa. Ficamos muitos felizes com a sua contribuição. Muito
Obrigado!
À Profª. Dra. Simone Albuquerque da Rocha pelo dinamismo e empolgação que
me foi oportunizado no tratamento e nas importantes discussões sobre práticas de pesquisa
científica. Muito Obrigado!
À Profª. Dra. Raquel Salgado, por iniciar-me nas questões e referenciais teóricos
da temporalidade, até então, desconhecidos, e essencial, para a compreensão da memória
com elemento identitário. Muito Obrigado!
Ao Profº. Dr. Ademar de Lima Carvalho, por lançar-me as bases filosóficas da
escola produtora de memória, tendo os arquivos escolares como lugares propícios. Muito
Obrigado!
Ao Profª. Dr. Leonardo Lemos de Souza, hoje na UNESP/Assis, SP, pelas
contribuições durante as disciplinas e por inculcar-me as relações entre memória e
afetividade.
À Anabel, técnica do PPGEdu/UFMT, sempre atenciosa e gentil, nos
encaminhamentos, procedimentos e alertas quanto aos prazos sempre curtos a serem
seguidos. Muito Obrigado!
À Irmã Fátima e a Profª. Rejane, por permitirem o meu acesso, sempre que
solicitado, ao arquivo Escola Sagrado Coração de Jesus, sem o qual, esta pesquisa não
seria possível. Muito Obrigado!
Aos amigos do mestrado, que estiveram ao meu lado durante toda a jornada do
curso, trocando experiências inovadoras na produção do conhecimento científico, em
especial, às amigas do ALFALE e da linha de pesquisa, a bibliotecária Sheila Cristina
Ferreira Gabriel e às professoras Márcia Ormonde Portela dos Santos e Silvia Maria
Cavalcanti Silva Bezerra.
À Câmara Municipal de Rondonópolis, por instigar-me as bases e os
questionamentos iniciais desta pesquisa; e por disponibilizar-me o tempo necessário para a
obtenção dos créditos, coleta de dados e viagens de estudo. Muito Obrigado!
Às amigas Ana e Maria, que me acompanham desde que vim para Rondonópolis
estudar biblioteconomia na UFMT, sempre me motivando nas horas de apreensão com os
afazeres acadêmicos. Muito obrigado!
Aos amigos, Geovani Baraldi, Erick Xavier, André Dias, Anderson Barbosa,
Rafael Vanin, Everson Spenansatto, Vinicius e William Azevedo, Wendell Queiróz,
Almira Medeiros, Simone Amorim e Leide, por se fazerem presentes, mesmo nos
momentos em que estive recolhido em casa ou na universidade, na execução da pesquisa.
Muito Obrigado!
E, por fim, ao Povo brasileiro, batalhadores que recolhem seus impostos,
responsáveis por fazerem da universidade pública, o caminho certo na vida de muitas
pessoas. Obrigado, por custearem meus estudos por meio da Universidade Federal de
Mato Grosso, orgulho dos mato-grossenses.
Viva o Povo brasileiro! Viva a UFMT! Viva o PPGEdu!
A TODOS QUE LIDAM COM DOCUMENTAÇÃO ESCOLAR1
Quando mexo com documentos escolares
Não estou lidando apenas com papéis frios e sem vida...
Estou mexendo com vidas humanas!
Com pessoas que têm sonhos e aspirações...
Que lutam, que brigam, que choram e que correm
Em busca de uma vida melhor.
Quando mexo com papel
Mexo com a vida de João
Mexo com a de Maria.
As minhas mãos podem destruir
As minhas mãos podem edificar
A vida de João e a vida de Maria
Quão importante é esse papel que está em minhas mãos!
Será que o João vai subir na vida?
Será que o João vai ter um novo futuro através de minhas mãos?
E a Maria? Será que para ela vai raiar um novo dia?
Como será o amanhã de Maria?
Esse papel parece uma coisa tão fria...
Será que a vida de João e a de Maria
É uma coisa fria e vazia?
E a minha vida, Senhor?
Será que minha vida é fria e vazia?
Não! A minha vida é cheia de amor!
Eu sonho, eu choro, eu luto como Maria.
Eu brigo, corro, eu canto como João...
O papel, e minhas mãos estão ficando coloridos
Com as cores dos sonhos de Maria.
E João, que estuda à noite e trabalha de dia?
Que correria!
O papel de João está vivo em minhas mãos!
Prometo João, que a tua vida não será vazia...
Prometo, Maria, que será feliz, um dia!
E com o maior cuidado e com a maior atenção,
Carimbo o papel de João
E assino o papel de Maria
Eles nunca saberão que seu destino esteve em minhas mãos!
Márcia Holzmann
1 SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO (Mato Grosso). Organização e operacionalização do
trabalho da secretaria escolar. Cuiabá, [200-].
A VERDADE
A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os dois meios perfis não coincidiam.
Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram a um lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em duas metades,
diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
As duas eram totalmente belas.
Mas carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.
Carlos Drummond de Andrade
RESUMO
A presente dissertação busca discutir e compreender as potencialidades do arquivo da
Escola Sagrado Coração de Jesus - na perspectiva da história da educação - como um lugar
de memória dos alunos, alunas, professores e de toda a cidade em geral. Seu referencial
teórico está embasado nos conceitos e discussões entre memória (os efeitos da
globalização, a identidade cultural, o sentimento de memória e as relações com o campo
histórico), história (das instituições escolares) e arquivos (conceitos, definições, uso e
acesso). Tem-se utilizado de Stuart Hall (2006), Le Goff (1996), Maurice de Halbwachs
(1990), Pierre Nora (1993), dentre outros, para as questões conceituais do tema memória, e
uma extensa revisão bibliográfica e situacional sobre as pesquisas que têm abordado
questões semelhantes a esta pesquisa, sobre os arquivos escolares. Os procedimentos
metodológicos foram os que usualmente se aplicam às pesquisas históricas, de modo que
recorreu-se à localização, reunião, organização, seleção e análise de fontes documentais.
Como terreno de memória, tem-se como cenário o arquivo da Escola Estadual Sagrado
Coração de Jesus, tradicional no ensino confessional da cidade de Rondonópolis, Mato
Grosso, fundada no ano de 1949 pela Congregação das Irmãs Catequistas Fransciscanas.
Por meio de um diagnóstico das suas condições físicas e de conservação dos documentos
em posse do arquivo da escola, foi possível inventariar e analisar a documentação da
década de 1950 até os anos 2000 e com isto, eleger, uma parte significativa da memória
dessa instituição. O conhecimento dos registros documentais escolares, suas riquezas e
potencialidades, convencem-nos da necessidade de propor um desafio com relação ao
trabalho da escola, visando à sensibilização do seu corpo funcional e acadêmico quanto a
importância de edificar e preservar a sua memória, diante dos constantes desafios e
transformações em que as escolas de um modo geral, estão inseridas.
Palavras-chave: Arquivo escolar. Memória escolar. Documentação escolar. Escrituração
escolar.
ABSTRACT
This dissertation aims to discuss and understand the capabilities of the file's School
Sagrado Coração de Jesus- from the perspective of the history of education - as a place of
memory of students, pupils, teachers and the whole city in general. Its approach is
grounded in the concepts and discussions between memory (the effects of globalization,
cultural identity, the feeling of memory and the relationship with the historical field),
history (of the schools) and files (concepts, definitions, usage and access ). It has to be
used by Stuart Hall (2006), Le Goff (1996), Maurice Halbwachs (1990), Pierre Nora
(1993), in others, to conceptual questions theme memory and an extensive literature review
situational and about researches that has addressed similar issues this research on the
school files. The methodological procedures were those that usually apply to historical
research, so we resorted to location, meeting, organization, selection and analysis of
documentary sources. As ground memory, as has been the scenario file State School
Sagrado Coração de Jesus, in teaching traditional confessional city of Rondonópolis, Mato
Grosso, founded in 1949 by the Congregation of the Catechetical Sisters Fransciscanas.
Through a diagnosis of your condition and conservation of documents in possession of the
file at the school, it was possible to record and analyze the documentation from the 1950s
until the 2000s, and with it, elect a significant part of the memory of that institution.
Knowledge of documentary records schoolchildren, their wealth and potential, convince us
of the need to propose a challenge with respect to school work, aiming to raise awareness
of its staff and academic as the importance of building and preserving their memory,
before constant challenges and changes that schools in general, are inserted.
Keywords: File school. Memory school. Documentation school. Bookkeeping school.
IMAGENS
Imagem 1 Secretaria da Escola Sagrado Coração de Jesus de Rondonópolis/MT
Imagem 2 Da esquerda para direita, Irmãs Amábile Avosani, Maria Avosani e
Liduina Venturi
Imagem 3 Dom Vunibaldo Talleur
Imagem 4 Chegada das Irmãs Franciscanas em São Lourenço de Fátima/MT
Imagem 5 Irmãs pioneiras da CICAF em Rondonópolis: Ana, Tereza e Lúcia
Imagem 6 Irmãs ajudando na construção do Colégio Sagrado
Imagem 7 Casa onde funcionou a escola e os alunos em atividades recreação com D.
Vunibaldo
Imagem 8 O novo prédio para a escola com a residência das irmãs
Imagem 9 Porta de entrada do arquivo
Imagem 10 Disposição dos armários que estão guardados os dossiês dos
alunos/professores
Imagem 11 Termo de abertura do Livro de Arquivo-1974
Imagem 12 Livro índice atual do arquivo
Imagem 13 Invólucro de dossiês da Escola Normal São Francisco deteriorado por
mofo
Imagem 14 Página remendada com fita adesiva
Imagem 15 Anotação na capa de um livro, informando que o mesmo estava sem
condições de uso por estarem com suas folhas muito fracas
Imagem 16 Reunião de pais e mestres da Escola Sagrado, 1988
Imagem 17 Dossiê de aluno da Escola Normal São Francisco
Imagem 18 Dossiês dos alunos organizados dentro de caixas
Imagem 19 Armário com pilhas de diários de classe
Imagem 20 Diário de Classe da Escola Sagrado, 1997
Imagem 21 Termo de abertura do Livro de Chamada, 1964/66
Imagem 22 Livro de Chamada com capa dura, 1970
Imagem 23 Reunião de pais e mestres da Escola Sagrado, 1988
Imagem 24 Reunião de alguns documentos dispersos em livros, armários e dossiês do
arquivo
LISTA DE SIGLAS
APM – Associação de Pais e Mestres
CICAF – Congregação das Irmãs Catequistas Franciscanas
EMOP – Escola Major Otávio Pitaluga
EESCJ – Escola Estadual Sagrado Coração de Jesus
SEDUC/TM – Secretaria Estadual da Educação de Mato Grosso
CEFAPRO – Centro de Formação e Atualização de Professores de Mato Grosso
MEC – Ministério da Educação (Brasil)
DREC – Delegacia Regional de Educação (Mato Grosso)
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Arranjo documental do arquivo da EE Sagrado coração de Jesus
Quadro 2 – Quadro de espécie e tipologias do arquivo da Escola Sagrado
Quadro 3 – Inventário do arquivo por data-limite
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 15
2 ARQUIVO, EDUCAÇÃO E MEMÓRIA.......................................................... 24
2.1 A crise e o sentimento de memória........................................................................ 24
2.2 Conceitos de memória........................................................................................... 26
2.3 O debate Memória e História................................................................................. 30
2.4 A escola produzindo memória............................................................................... 33
2.5 Arquivo: conceitos e finalidades........................................................................... 36
2.6 Os arquivos permanentes....................................................................................... 38
2.7 O arquivo na instituição escolar............................................................................ 40
2.8 A pesquisa sobre arquivos escolares...................................................................... 49
3 TERRENO DE MEMÓRIA: A ESCOLA SAGRADO CORAÇÃO DE
JESUS E O SEU ARQUIVO..............................................................................
57
3.1 Uma escola de 60 anos.......................................................................................... 57
3.2 O caminho metodológico da pesquisa................................................................... 70
3.3 Primeiros passos: conhecendo o arquivo da escola............................................... 71
3.4 A classificação e o arranjo documental do arquivo............................................... 77
3.5 Os dispositivos de busca: os livros índices............................................................ 79
3.6 A organização do arquivo...................................................................................... 81
3.7 O uso e o desuso do arquivo.................................................................................. 82
3.8 As condições de conservação................................................................................ 82
4 O ARQUIVO SIGNIFICATIVO DE MEMÓRIA........................................... 87
4.1 Os achados: tipologias e espécies documentais..................................................... 89
4.2 Os dossiês escolares............................................................................................... 88
4.3 Os livros de registro escolar................................................................................... 94
4.4 Os diários de classe................................................................................................ 96
4.5 A Associação de Pais e Mestres............................................................................ 104
4.6 Os vestígios encontrados, aqui e acolá.................................................................. 109
5 DISCUSSÕES FINAIS........................................................................................ 112
REFERÊNCIAS................................................................................................... 116
ANEXOS............................................................................................................... 120
APÊNDICES......................................................................................................... 123
15
1 INTRODUÇÃO
Pensar um caminho de investigação corresponde responder, provisoriamente,
indagações que nos são impostas pela nossa curiosidade intelectual, talvez, procurando
entender questionamentos que fazem parte do nosso dia-a-dia, de nossas práticas diárias e
de nossos interesses pessoais, no desejo de sempre fazer o melhor e de alguma forma,
transformar determinada realidade por meio de nossas experiências, pois como lembra
Nosella e Buffa (2009, p. 56), “um objeto de pesquisa nunca nos é dado; é construído. Ou
seja, não é um pacote fechado que o pesquisador abre e investiga. É um conjunto de
possibilidades que o pesquisador percebe e desenvolve, construindo, assim, aos poucos, o
seu objeto”.
O objeto de pesquisa que ora apresento faz parte de questionamentos que venho
amadurecendo há algum tempo, quando ainda estudante de biblioteconomia, cursando a
disciplina “Documentação e Arquivística”, e simultaneamente, em minha atuação como
técnico de arquivo do Instituto de Memória da Câmara Municipal de Vereadores da cidade
de Rondonópolis, Estado de Mato Grosso.
Desde que ingressei no Legislativo Municipal, no ano de 2006, juntamente com a
equipe envolvida na produção, controle e guarda de documentos, uma das reivindicações
que nos foram solicitadas, era para que fizéssemos o recolhimento de todo o seu acervo
histórico - que vinha se dispersando pelos vários setores e depósitos, devido às inúmeras
mudanças de endereço que a Casa havia passado nos últimos anos - para o setor de
arquivo. Com isso, conseguimos reunir uma pequena, mas importante parcela do que ainda
restou dos documentos que estavam se perdendo.
Paralelo a essa iniciativa, ainda que em passos lentos, vem sendo liderado por mim
um trabalho de conscientização, procurando motivar e envolver a direção da Câmara para o
importante desafio de constituir e estruturar um espaço de memória a partir do que até
então, temos recolhido de documentos à espera de identificação e tratamento técnico. E
com isso, alguns incentivos nesse sentido foram realizados com o apoio do Legislativo,
buscando socializar e amadurecer a ideia de instalação de um centro de memória, hoje
concretizado e denominado de Instituto de Memória, 2
vinculado à Secretaria Legislativa
2 Tais atividades que este pesquisador vem desenvolvendo e liderando na Câmara Municipal de
Rondonópolis, resultou em transformar o antigo Setor de Documentação e Memória, instituído pela Lei n.
3.929, de 08 de maio de 2003 da cidade de Rondonópolis, no atual Instituto de Memória, pelo Decreto
16
Institucional, com estrutura de pessoal e espaço físico próprio para as atividades por nós
desenvolvidas.
A mais louvável e talvez a mais significativa ação desenvolvida pela Câmara nesse
pouco espaço para que o Instituto fosse instalado, foi a inclusão do então “Setor de
Arquivo” no projeto desenvolvido no ano de 2008, cuja proposta era para que por meio de
visitas, os alunos das escolas públicas da cidade tivessem acesso a informações sobre a
importância e o papel do Poder Legislativo, através de visitas guiadas onde esses
estudantes pudessem conhecer o espaço físico e os serviços que estavam sendo prestados à
comunidade naquele momento.
Percebo, que no roteiro daquelas visitas, justamente no arquivo, os alunos se
mostravam muito mais envolvidos, instigados e curiosos ao que estava sendo apresentado à
eles. Por meio dos documentos antigos, vídeos, fotografias, jornais e outros materiais que
foram disponibilizados para demonstração da sua histórica e que também, refletia um
pouco da história da cidade, observei que muitos daqueles alunos se sentiam como parte
daquele processo histórico, isso porque, muitos faziam parte de alguma família de políticos
ou funcionários da Casa, outros, tinham algum tipo de relação de amizade, vizinhança ou
interesse pela atuação daqueles políticos.
Ao mesmo tempo em que essas ações se desenrolavam na Câmara eu havia feito
algumas visitas em escolas tradicionais da cidade, objetivando conhecer como eram
organizados e as reais condições de acesso e uso dos arquivos dessas escolas. A resposta
dos diretores quando solicitada a visita era sempre a mesma, de que o arquivo estava
impossibilitado para consulta devido os documentos se encontrarem encaixotados ou
fechados, sem condições de pesquisa, ou porque não era permitido o acesso, que não fosse
pelos funcionários da escola.
Essa contextualização se faz necessária, pois é a partir dessas imbricações, entre o
contato de alunos com a documentação produzida pelas escolas, acumulada em seus
arquivos, que venho me envolvendo com esses espaços como interesse de pesquisa,
buscando compreender o seu papel e potencialidades como terrenos para práticas de
memória dos alunos, professores, corpo administrativo e da comunidade em geral que se
veem envolvidas no movimento histórico dessas instituições.
Legislativo n° 1354, de 14 de julho de 2011. O novo Instituto está modelado no mesmo da Assembleia
Legislativa do Estado de Mato Grosso no qual tantos outros vêm sendo instalados no interior da câmaras
municipais dos municípios de Mato Grosso.
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Inicialmente, muitas indagações suscitaram meus interesses na tentativa desta
compreensão, tais: como os arquivos escolares são vistos e tratados por parte dos
funcionários das escolas? Como é organizada essa documentação escolar e o que leva a
escola a adotar tal método de organização e qual a base lógica para tal sistematização? O
que leva, na maioria das vezes, esses arquivos estarem depositados em locais inadequados?
Como esses arquivos podem ajudar no conhecimento das práticas pedagógicas que se
deram no interior da escola? Quais as possibilidades de ensino para que esses arquivos
possam contribuir na produção de conhecimento da/sobre a escola? De que forma, essa
comunidade escolar poderia conhecer e se apropriar desses registros? E qual seria o papel
do professor nesse processo de mediação da memória escolar?
Aproveitando-me das experiências que tenho vivenciado com as questões e
indagações que me têm afligido, meu objeto de pesquisa vem se delineando, ou seja, nas
relações possíveis que esses arquivos escolares podem estabelecer com a memória
histórica e cultural das instituições escolares que o produziram.
A memória escolar está relacionada com o seu patrimônio histórico, sobretudo, com
a sua cultura material, registrada e materializada nos diferentes suportes de escrita,
tipologias, formatos, objetos, arquitetura, enfim, todo e qualquer vestígio que possa
evidenciar as marcas e fazer referências de um momento passado, ou mesmo recente, e que
este esteja impregnado de lembranças, recordações, histórias e memórias dos personagens
que tiveram relação com determinada escola no decorrer da sua trajetória.
O arquivo escolar, guardião dessa documentação e que pode conduzir essas
possibilidades de memória, estão quase sempre organizados à sua maneira e comumente
constitui o que se denomina de “arquivo morto”, quando essa documentação não mais
desempenha papéis importantes para as suas funções administrativas da escola.
Sobre esta questão, Diana Vidal se manifesta muito bem, dizendo que:
Em geral, preocupadas com o valor probatório dos documentos, as
secretarias de escola mantêm cuidadoso registro da vida escolar de alunos
e professores atualizando com frequência os Arquivos Correntes. O
mesmo desvelo não é concedido à documentação histórica, na maioria
das vezes acumulada em arquivos mortos, e aos documentos produzidos
diariamente pela atividade pedagógica. Seu fim assemelha-se,
distanciando-se apenas no tempo. Enquanto os primeiros sofrem
destruição progressiva em virtude da má conservação, os segundos
encontram na lixeira seu destino. Por uma espécie de seleção natural, uns
e outros sobrevivem, testemunhando matizes do trabalho da escola.
Superar o contingente e o aleatório dessa sobrevivência é um problema a
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enfrentar na construção de análises sobre a escola que levem em conta
seus fazeres ordinários (VIDAL, 2006, p. 11).
Portanto, a documentação em posse desses arquivos, começa a ser deixada de lado
por vários aspectos, como a falta de espaço físico para acomodar a produção e o
recebimento diário de documentos da escola, pela falta de legislação e políticas
institucionais que resguardem essa documentação passível de memória, por falta de
recursos materiais e humanos para a sua manutenção e ainda, talvez o mais preocupante,
que é a visão reducionista da escola de que esses registros não mais podem significar
algum tipo de produção de conhecimento. Fatores que vem justificando a sua ocupação em
sótãos, garagens, salas de aula, porões e armários, formando verdadeiros depósitos de
papéis, dispersos em diferentes partes da escola.
Todavia, essa documentação que é deixada de lado, guarda na verdade, muitas
raridades que podem possibilitar ricas e variadas informações sobre a dinâmica da escola,
as estratégias e circulação de ideias, os ritos e materiais escolares, os valores,
comportamentos e práticas que se fundaram no interior dessas instituições, e que por meio
dessa documentação, narram a sua cultura material, a sua história, seus modos e fazeres
cotidianos, bem como o conjunto de vozes que se deu no seu no seu entorno, mas que hoje,
assume e cumpre outro papel social (ZAIA, 2010).
Conhecer então esse movimento do passado, nas experiências diárias da escola,
buscando compreender como se davam esses variados processos de práticas, políticas,
disciplinas e, sobretudo, aprender com esse passado, procurando superar as deficiências e
os desafios impostos nos dias de hoje, pode ser, uma via de mão dupla com as
potencialidades que esses arquivos podem desempenhar para a comunidade escolar; para
que ela possa se perceber como agente de transformação, nessa construção histórica
vivenciada pela escola.
Consequentemente, a preservação desses arquivos é significativa para a construção
de uma memória, tornando preciso para isso a sensibilização de toda a escola e da
comunidade em geral (alunos, professores, funcionários, ex-alunos, serventes, diretores,
pesquisadores), uma vez que, comumente, boa parte desses documentos, foi esvaziado
desses arquivos, e que hoje, podem estar em mãos de pessoas que passaram pela escola. Ao
se verem como parte integrante da sua histórica e por entender que a escola talvez não
tivesse condições de salvaguardar esses papéis naquele momento, acabaram tomando posse
19
de um ou mais documentos e quem sabe, um dia, diante de tal valorização, esses papéis
possam retornar aos seus arquivos de origem.
Envolvido com leituras e produzindo apontamentos buscando melhor compreender
tais questionamentos, pensei em uma escola onde eu pudesse observar de forma singular e
empiricamente, a realidade dos arquivos escolares locais e então, desenvolver estudos
voltados ao contexto da região de Rondonópolis e por extensão, do Estado de Mato
Grosso. Foi então, que a Escola Estadual Sagrado Coração de Jesus (EESCJ), me
possibilitou os dados para a análise da constituição, formação e produção de possibilidades
de memória do seu arquivo.
A escolha desta escola, naquele momento, não se deu por acaso, pois
coincidentemente, no ano de 2009, simultaneamente aos projetos que eu vinha liderando na
Câmara, essa mesma escola vinha organizando as comemorações do seu aniversário de
sessenta anos. As festividades da escola vinham sendo realizadas em muito do que até
então, eu estava me envolvendo, ou seja, com a memória, a história e a documentação em
posse dos arquivos escolares.
Sabendo do interesse desta escola na preservação da sua memória, realizei nessa
época, duas visitas informais onde pude verificar que ela poderia me fornecer subsídios
importantes ao meu interesse de pesquisa. Pois como salienta Diana Vidal:
Penetrar no cotidiano da escola e conhecer os fazeres que ali se instauram
(ou se instauraram) supõe elaborar um arsenal teórico que permita tratar
cientificamente as práticas escolares, ao mesmo tempo em que indica a
necessidade de preservar seus vestígios escritos (e dentro do possível,
orais e imagéticos), o que envolve refletir sobre a natureza e a
importância dos Arquivos Escolares na produção de saberes da e sobre a
escola (VIDAL, 2006, p. 11):
Para isso, inicialmente, eu tinha me apoiado muito, na leitura de Nosella e Buffa
(2009), em que esses autores elegem algumas prerrogativas metodológicas, básicas e
fundamentais para o estudo de uma determinada instituição escolar, o que me incentivou
ainda mais na escolha da Escola Sagrado como cenário propício para o conhecimento e a
problematização das muitas questões entorno da história das instituições escolares, tendo
os seus arquivos, como possibilidade de expansão do conhecimento das fontes de história
da educação e de promoção do crescimento da historiografia, já que os próprios
documentos constituem potencial gerador de novas e diversificadas pesquisas.
20
Pelas prerrogativas propostas por Nosella e Buffa (2009) e outras eleitas na
especificidade da Escola Sagrado, esta pode se confirmar como privilegiada:
- é caracterizada como uma escola confessional, que, influenciada pela Igreja
Católica, muito interferiu e interfere no plano moral, nos costumes, na vida e nas bases
cristãs das famílias da cidade. Assim sendo, a pesquisa vem a contribuir com os pilares da
memória de uma grande parcela dos moradores da cidade, já que muitos passaram pelos
bancos da escola;
- é a mais antiga escola da cidade de Rondonópolis o que seria possível, a partir do
seu arquivo, melhor compreender os processos e modelos formativos escolares da região,
inseridos em tempos e espaços, bem como, desvelar especificidades como princípios,
valores, normas e disciplinas que configuraram a organização escolar para as
rememorações de agentes envolvidos;
- foi a primeira Escola Normal da cidade, o que quer dizer, que muito dos
professores que atuaram e ainda hoje atuam na cidade, foram formados nesta escola.
- as escolas confessionais, assim como a Escola Sagrado, são caracterizadas por
valorizar a sua história e memória, portanto, mesmo que seus arquivos não estejam
guardados em locais adequados ou tratados de modo técnico, há uma cultura que estimula
uma maior preocupação por parte dessas escolas em preservar seus arquivos. Então, as
possibilidades de encontrar documentos para a análise numa dimensão plural sobre os
arquivos escolares, favoreceram esta escolha;
- a Escola Sagrado Coração de Jesus, desde que tenho me interessado pelo seu
movimento histórico, seja nas visitas que eu havia realizado ou mesmo pelo
acompanhamento na imprensa com os relatos do seu prestígio social, tem se mostrado
aberta às discussões de interesse em relação à sua memória. Deste modo, a direção da
escola concedeu-me a autorização, para o livre acesso a pesquisa em seu arquivo.
Diante dessa exposição e tantas outras questões que permeiam o campo fértil de
pesquisa sobre os arquivos e a memória escolar é que tenho me dedicado a estudá-los, a
partir de uma pergunta chave, para todas as indagações aqui pensadas:
Quais as potencialidades do arquivo da Escola Sagrado, para efetivar-se como
um lugar de memória escolar?
Lugar de memória é um conceito utilizado pelo historiador francês Pierre Nora,
cujas bases estão ligadas ao sentimento de pertencimento e identidade, característico da
cultura contemporânea e das transformações socioculturais que os grupos sociais vêm
21
enfrentando com a diluição, fragmentação e o esvaziamento de significados nas relações
humanas historicamente construídas, e pode significar os locais onde a memória afetada
por essa crise, se materializa (arquivos, bibliotecas, museus, monumentos, praças, nomes
de rua, etc.) em reação a superação do desejo de memória (NORA, 1993).
Narrativa de poderes, os lugares de memória são vistos substancialmente como
espaços de diálogo, de afirmação e de coesão de um grupo. São também espaços de
saberes e de referências comuns que dão sentidos aos personagens que o fizeram constituir.
O descaso ou o esquecimento desses lugares, pode corresponder ao domínio mais completo
que um grupo pode exercer sobre outro.
Pierre Nora argumenta que:
Mesmo um lugar de aparência puramente material, como um depósito de
arquivos, só é lugar de memória se a imaginação o investe de aura
simbólica. Mesmo um lugar puramente funcional, como um manual de
aula, um testamento, uma associação de antigos combatentes, só entra na
categoria se for objeto de um ritual. Mesmo um minuto de silêncio, que
parece o extremo de uma significação simbólica, é, ao mesmo tempo, um
corte material de uma unidade temporal e serve, periodicamente, a um
lembrete concentrado de lembrar. Os três aspectos coexistem sempre (...).
É material por seu conteúdo demográfico; funcional por hipótese, pois
garante ao mesmo tempo a cristalização da lembrança e sua transmissão;
mas simbólica por definição visto que caracteriza por um acontecimento
ou uma experiência vivida por pequeno número uma maioria que deles
não participou. (NORA 1993, p.21-22)
O interesse pelo arquivo escolar como lugar na memória é justamente no sentido
de compreendê-lo e reconhecê-lo como um local oportuno, de possibilitar a superação do
sentimento de memória da comunidade escolar, seja como objeto de pesquisa em sala de
aula na produção de novos conhecimentos, ou mesmo, como objeto de contemplação das
emoções, sensações e mesmo de uma carência de memória, uma vez que a escola tem sido
reconhecida como o principal veículo de socialização e de promoção do desenvolvimento
individual e coletivo; e que grande parte das experiências e do conhecimento humano, tem
sido construída nos espaços da escola (agora, espaço de memória!), ela se torna, portanto, o
lugar ideal de construção desses novos saberes e referências.
O objetivo geral que norteou esta dissertação foi buscar compreender as
potencialidades de memória do arquivo da Escola Sagrado Coração de Jesus, na
perspectiva da história da instituição.
22
Na busca desta compreensão foram elaborados também alguns objetivos
específicos metodológicos:
- diagnosticar, inventariar e descrever os documentos que formam o arquivo da escola no
que se refere à espécie/tipologia documental, arranjo e descrição, grau de conservação,
quantificação, local de instalação, recursos humanos e materiais e acesso;
- conhecer parte dos documentos significativos de memória do arquivo desta escola.
Para o melhor entendimento desta pesquisa, conceituei os termos enunciados mais
recorrentes no decorrer do trabalho:
Arquivo escolar: trata do conjunto de documentos escritos, visuais ou sonoros, nos mais
variados suportes físicos, produzidos e recebidos, acumulados, organizados ou dispersos
em um local específico no prédio da escola;
Memória escolar: trata dos recursos e práticas simbólicas que possibilitam ressignificar a
história passada ou mesmo recente da escola;
Documentação escolar: refere-se aos documentos produzidos ou recebidos pela escola
que juntos, organizados ou dispersos, constitui o que se denomina de arquivo escolar.
O período da pesquisa está definido pelos próprios traços do objeto de estudo, pois
em virtude do arquivo da Escola Sagrado ter passado por várias mudanças, em que muitos
documentos se perderam com o passar dos anos, busquei demarcar com o que restou de
documentos, de 1950 – data do primeiro documentado localizado - a 2009, data de
comemoração do aniversário de sessenta anos de instalação da escola na cidade de
Rondonópolis.
Acredito que a presente pesquisa, deve contribuir em muitos aspectos: na produção
de conhecimento sobre a Escola Sagrado, sobre os arquivos escolares, na conscientização
de que esses arquivos podem possibilitar leituras e releituras sobre a escola e no
conhecimento das fontes de história em educação, na convicção de que este trabalho s
configura como um próprio registro de memória.
Esta dissertação está estruturada, além desta primeira parte que corresponde à
introdução, em outras que vem somando a compreensão do objeto pesquisado.
No segundo capítulo, intitulado ARQUIVO, EDUCAÇÃO E MEMÓRIA, tenho
tratado de referenciar teoricamente as questões de memória e suas relações entre educação
e arquivos, abordando a crise e os motivos pelo qual e se têm gerado um sentimento de
memória na sociedade atual, para isso, utilizei-me de diversos conceitos de memória, bem
como do debate existente com a história e a escola, como produtora da sua própria
23
memória, por meio das práticas de escrituração, registro e documentação, guardadas e
acumuladas ao longo dos anos no arquivo dessas instituições.
Adiante, ainda, busquei referenciar o tema arquivo escolar, utilizando dos seus
conceitos e definições e revisando as pesquisas sobre este tema, o qual tem direcionado e
contribuído com o avanço da criação de centros de memória a partir dos arquivos
escolares.
No segundo capítulo, intitulado TERRENOS DE MEMÓRIA: A ESCOLA
SAGRADO E O SEU ARQUIVO, discorro sobre a história da Escola Sagrado, desde que
foi fundada no ano de 1949 até os dias atuais, procurando afirmá-la como um lugar de
memória. Adentrando na escola, a procura dos indícios de memória presentes no seu
arquivo, diagnostiquei informações preciosas a respeito da sua cultura material e
inventariei por meio de uma metodologia própria, para a análise das fontes histórica do
arquivo, as espécies e tipologias documentais que sobreviveram com as inúmeras perdas
que o arquivo sofreu ao longo dos anos.
Logo, no capítulo intitulado O ARQUIVO SIGNIFICATIVO DE MEMÓRIA,
optei por discorrer sobre alguns documentos significativos do arquivo, que representam os
resíduos do passado da escola. Os diários de classe, os documentos da Associação de Pais
e Mestres, os dossiês de alunos e funcionários e os livros de registros administrativos e
pedagógicos os quais formam inicialmente um conjunto de documentos, pela completude
de informações, uma coleção de tamanha riqueza para uma reflexão sobre a memória da
instituição.
Finalmente, no quinto capítulo, com as DISCUSSÕES FINAIS, apresento minhas
observações, dúvidas, problemas enfrentados e sugestões quanto a melhorias para o
arquivo da Escola Sagrado no que tange a compreensão das análises efetuadas com esta
pesquisa. Em complementação, trago as referências bibliográficas utilizadas no decorrer da
dissertação, alguns anexos e apêndices como parte da pesquisa.
24
2 ARQUIVO, EDUCAÇÃO E MEMÓRIA
"É preciso começar a perder a memória, ainda
que se trate de fragmentos desta, para perceber
que é esta memória que faz toda a nossa vida.
Uma vida sem memória não seria uma vida,
assim como uma inteligência sem possibilidade
de exprimir-se não seria uma inteligência. Nossa
memória é nossa coerência, nossa razão, nossa
ação, nosso sentimento. Sem ela, não somos
nada."
Luis Buñuel
2.1 A crise e o sentimento de memória
O presente referencial teórico no qual se baseiam os caminhos metodológicos desta
pesquisa busca discutir a questão da crise da memória e das identidades individuais no
mundo atual. Nesse sentido, estes elementos fundamentais nos permitem passar por alguns
aspectos referentes a estas questões, amplamente discutidas nas mais diversificadas áreas
do conhecimento e em particular, aos temas da globalização, ou seja, o que vem
acontecendo nesse espaço de tempo que se alarga pelo mundo, neutralizando as diferenças
econômicas e provocando por outro lado uma reação em termos das questões culturais e
particularmente das identidades. Daí então, pensar esta dicotomia entre globalização e
neutralização, da proximidade da vida, onde hoje, se pode transitar de uma maneira
espantosa de um espaço a outro e quebrar assim, algumas barreiras que tradicionalmente
marcavam o que era diferente.
E há também, mais ou menos organizado como síntese desta neutralização, que
corre pelo viés econômico, uma maneira de reproduzir modelos que onde quer que
estejamos, está cada vez mais próximo um dos outros; e essa neutralidade, que corresponde
a um anseio do capital, acaba provocando em nível das identidades individuais ou grupais
alguns desacertos que exatamente fazem com que a questão da memória ganhe uma
dimensão talvez nunca antes imaginada.
25
Desse modo, memória, identidade e grupos na globalização, passam a ser
questionados e convocados a uma resposta que enfim deva corresponder ao ideal de
felicidade humana, ou seja, como é que nós podemos nos posicionar no mundo de hoje,
diante de constantes e diversificadas transformações. Portanto, a memória passa a ser
central, visto que ela está diretamente relacionada com as questões de identidade, talvez
por isto, nunca se falou e nunca se utilizou tanto a palavra memória para designar os
modelos de experiências pessoais ou institucionais, pois a memória nunca é uma
recuperação objetiva e completa do que passou, “memória é a base não só para os
fenômenos biológicos, mas também para a identidade cultural e para a tradição”
(FERREIRA, 2004, p. 65).
Todas essas discussões sobre memória e identidade passam pela ideia de um mundo
líquido3, onde as concretudes do ser moderno acabam se desfazendo e se diluindo, de tal
forma que, ao mesmo tempo em que as pessoas pertencem a um grupo específico, se veem
também, por afinidades, pertencentes a outras comunidades, outros pólos identitários,
capazes de desfazer e de relativizar também o próprio conceito de grupos e com isso, se
tornam também um ser líquido, pela velocidade do tempo moderno, a ligeireza dos
acontecimentos e a relatividade das relações que antes eram estáveis e que hoje se veem
em constante transformação.
Stuart Hall manifestando em torno da globalização, afirma que:
As identidades, concebidas como estabelecidas e estáveis, estão
naufragando nos rochedos de uma diferenciação que prolifera. Por todo
globo, os processos das chamadas migrações livres e forçadas estão
mudando de composição, diversificando as culturas e pluralizando as
identidades culturais dos antigos Estados-Nação dominantes das antigas
potências imperiais e, de fato do próprio globo [...] (HALL, 2006, p. 44).
Toda essa questão faz, também, pensarmos a respeito da história, visto que esta
nunca fora tão convocada a dar entendimento ao momento atual. Quanto mais o homem se
esvazia de referenciais exatos de vida, mais ele vem se questionando sobre a sua condição
espacial, por isso talvez, essa polarização entre duas situações, ou seja, o que é memória e
o que é história, que são entendimentos e configurações absolutamente distintas, ainda que
ligadas nos seus objetos de busca.
3 Bauman defende a tese que vivemos em um mundo líquido, que ignora tudo que é sólido e durável, tudo
que não se ajusta ao que é instantâneo. In: BAUMAN, Zygmunt. Vida em fragmentos: ensaios sobre a ética
pós-moderna. Lisboa: Relógio D’agua, 1995.
26
Os desejos, sejam de memória, seja de história, são de qualificação de identidade e
de grupos. De um lado temos a memória, como um agente fluído, algo que não está
determinado num referencial ou em um suporte concreto, pois quase sempre, a memória
transita pela oralidade e pelos dispositivos de sentimento; portanto, a memória se torna
fluída, seletiva, líquida; enquanto a história tem se apoiado em documentos escritos, com
uma certa vitalidade própria, como os de critérios de armazenamento, por exemplo,
acervos, bibliotecas, arquivos, e que há uma organização onde o escrito permite adentrar,
portanto, a fluidez da memória e a solidificação da história acabam em grande medida se
confrontando, ainda que seja muito comum, no juízo popular, a confusão entre os
conceitos de memória e história.
2.2 Conceitos de memória
O tema da memória apresenta uma pluralidade de posições teóricas, éticas e
políticas diversas, nas mais diferenciadas perspectivas do conhecimento. Esta pesquisa tem
optado por um referencial voltado a memória na forma como ela é sentida na sociedade, ou
seja, como uma manifestação do passado, em função de se pensar o futuro; do desejo e da
busca involuntária de um passado distante ou mesmo recente.
Segundo Bosi (1994, p. 9), para se chegar ao surgimento da palavra memória, faz-
se necessário partir da etimologia do verbo lembrar-se; souvenir em francês significa um
movimento que vem de baixo e que traz à tona o que estava submerso.
Para Rodrigues (1981, p. 42) lembrança é o sentido formal do termo memória, cujo
significado básico é relembrar. Diz ainda que, arcaicamente, memória significa "cerimônia
de comemoração, ou um serviço dedicado aos mortos, ou o registro biográfico". Por fim,
conta que o termo pode ainda ser utilizado no sentido de "escrito para que a memória seja
guardada".
A memória tem sido objeto de estudo de muitos filósofos e cientistas há muitos
séculos. Para os antigos gregos, a memória tem origem divina, a deusa Mnemosine, fonte
de imortalidade. A deusa da Memória é a mãe das nove musas protetoras das artes e da
história, cabendo-lhe conceder aos poetas e adivinhos a lembrança do tempo passado e a
sua transmissão aos mortais.
Para os romanos, a memória desempenha, além dessa função, a de desenvolver a
arte da retórica, usando a linguagem para persuadir e emocionar sua plateia. Com a
27
memória, o bom orador deveria conhecer as regras fundamentais da retórica e ser capaz de
pronunciar longos discursos sem o auxílio da leitura de algum registro. Durante muito
tempo as narrativas orais foram utilizadas pelas sociedades humanas para a preservação da
experiência social e cultural, a socialização da memória e a transmissão de valores.
Nas sociedades ausentes da escrita, que apresentavam uma estrutura organizacional
mais simplificada, a fala e a memória eram suficientes para a transmissão do saber e para a
construção da história e da identidade dos grupos. Segundo Le Goff (1996, p. 427), nessas
sociedades a memória coletiva estava centrada em três grandes interesses: na idade coletiva
dos grupos (mitos de origem); no prestígio das famílias dominantes (genealogia) e na
transmissão do saber técnico.
O aparecimento da escrita provocou transformações na memória coletiva, alterando
o processo de registrar, guardar e socializar a experiência humana. Para Le Goff (1996, p.
427/428), os registros levaram ao desenvolvimento de duas formas de memória: a
comemoração (pela qual a memória assume a forma de inscrição e utiliza instrumentos
como pedra e mármore) e o documento escrito (utilizando, inicialmente, suportes como
osso e pele e, posteriormente, papiro, pergaminho e papel).
Na recusa ao registro como elemento essencial ao aprendizado da memória, foram
desenvolvidos variados métodos de memorização. Os gregos, por exemplo, desenvolveram
a mnemotecnia, conjunto de técnicas usadas para auxiliar o uso da memória. A importância
de se exercitar a memória justificava-se pelo seu enfraquecimento causado pelo registro
escrito. Para Le Goff (1996, p. 436), a invenção da mnemotecnia é atribuída ao poeta
Simônides, que teria fixado dois princípios da memória artificial: a lembrança das imagens
e o recurso da organização dos registros.
Platão (2007, p. 118) discorre a problemática da escrita em seu livro Fedro
(274/275). Por intermédio da fala de Sócrates, narra a lenda do deus egípcio Thoth,
inventor dos números, do cálculo, da geometria, da astronomia e da escrita hieroglífica. A
divindade egípcia apresentou ao rei Tamuz do Egito a escrita como a ciência que tornaria
os egípcios mais sábios e fortaleceria a memória, em suma, a descoberta do “antídoto” para
a memória e a sabedoria. Por meio da resposta do rei egípcio, Platão (2007, p. 119) ressalta
que a invenção de Thoth contribuiria mais para o enfraquecimento da memória do que para
seu desenvolvimento; entendia que o triunfo da escrita representava a morte da memória.
Ainda para Le Goff (2003, p. 425), rememorar era a função das pessoas mais velhas
nas civilizações tradicionais, as quais representam o guardião e o depositário do saber e da
28
memória do grupo. Nas sociedades sem escrita, havia os guardiões dos códices reais,
chefes de famílias idosos, sacerdotes que tinham o importante papel de manter a harmonia
de seu grupo social.
Bosi (1994, p. 35) argumenta que existem sociedades onde o ancião é o maior bem
social e ocupa um lugar importante no seu grupo social. Relata que uma antiga lenda
balinesa que fala de um lugar distante onde os velhos eram sacrificados e, com o decorrer
do tempo, não restou nenhum para contar as tradições, todos haviam perdido a experiência,
a lembrança, a memória. O grupo foi então, salvo por um avô que havia sido escondido por
seu neto; daí por diante, nunca mais um velho foi sacrificado.
A tradição na comunicação oral não foi bruscamente substituída pela escrita, ao
contrário, a mudança ocorreu por meio de um processo lento pelo qual a escrita se tornou
um objeto de maior valorização que a oralidade. Meihy (1996, p. 21) destaca que, desde a
Antiguidade com os egípcios, a palavra oral perdeu valor para a escrita. O trabalho dos
antigos escribas, encarregados do auxílio na administração pública exigia o uso da escrita,
como nas casas de leis e na cobrança de impostos.
Na teoria do conhecimento, Chauí (2002, p. 130) argumenta que a memória
desempenha quatro funções básicas: a retenção de um dado (percebido, experimentado ou
conhecido); o reconhecimento e produção de um dado que pode estabelecer relação com o
conhecido e gerar novos conhecimentos; a recordação de algo pertencente ao passado e a
evocação do passado. O desempenho dessas funções torna a memória essencial no
processo de elaboração da experiência e do conhecimento provenientes da ciência, da
filosofia e da técnica e no processo de criação e desenvolvimento de novos conhecimentos.
Alguns estudiosos já defenderam a memória como um fato biológico, reduzindo-a
ao registro cerebral ou a gravação automática de fatos, acontecimentos, pessoas e relatos
pelo cérebro. No entanto, aspectos biológicos e químicos não sustentam a memória como
um todo, pois não explicam o fenômeno da lembrança e do esquecimento, pois, nem todos
os registros e as gravações feitas pelo cérebro constituem memória; apenas o que foi
gravado com sentido ou significado para o indivíduo.
Com Chauí (2002, p. 130) a memória não constitui uma mera lembrança ou
recordação; revela a relação com o tempo e no tempo, com o passado: “A memória é o que
confere sentido ao passado como diferente do presente (mas falando ou podendo fazer parte dele) e
do futuro (mas podendo permitir esperá-lo e compreendê-lo)”.
29
Para Bosi (1994, p. 31) nossa memória é composta tanto por fatos que vivenciamos,
quanto por fatos que aconteceram muito antes de nascermos. Nossos antecessores nos
transmitem uma bagagem de memória. Todos estes fatos, vivenciados ou não, ajudarão a
escrever nossa história de vida. A autora esclarece que a criança recebe do passado os
dados da história escrita e tem suas raízes mergulhadas na história sobrevivida das pessoas
mais velhas que participaram de sua sociabilização. Sem a participação dessas pessoas, a
criança teria somente uma competência abstrata para lidar com os dados do passado, mas
não teria memória.
Bergson (1999, p. 88/89) indica a existência de duas memórias: a memória-hábito e
as lembranças puras. Para o filósofo, a memória-hábito é adquirida através do esforço
repetitivo de gestos ou palavras e ocorre pelo processo de socialização, fazendo parte do
“adestramento cultural” do indivíduo. Enquanto a lembrança pura registra os
acontecimentos da vida cotidiana sob a forma de "imagens-lembranças" e independe de
quaisquer hábitos, trazendo à tona da consciência um momento que é único, que não se
repete e é irreversível.
Halbwachs (1990, p. 53/55) estuda os quadros da memória e observa que o
indivíduo participa de duas espécies de memórias: a memória individual (pessoal ou
autobiográfica) e a memória coletiva (social ou histórica). Avalia que a memória do
indivíduo está relacionada com seus grupos de convivência e grupos de referência. A
memória individual, portanto, encontra-se amarrada à memória do grupo que, por sua vez,
é ligada à memória coletiva de cada sociedade.
Atualmente a memória ganhou importância e espaço além do campo acadêmico e
tem sido valorizada como instrumento para a preservação de experiências vividas e a
construção da identidade de indivíduos e grupos sociais. D´Aléssio (1993, p. 97) ressalta
que, há pelos menos duas décadas, a memória está em moda no Brasil, evidenciando a
necessidade de se preservar o passado, lugar de construção da identidade. Meneses (1992,
p. 9) concorda com essa afirmação: "o tema da memória está em voga, hoje mais do que
nunca". É justamente em momentos de ruptura da continuidade histórica, de destruição das
marcas da experiência coletiva que se volta o olhar para a memória, responsável por
recompor as relações entre o passado e o presente.
30
2.3 O debate História e memória
A relação entre história e memória tem despertado o interesse de muitos
historiadores pelo passado como elemento essencial para a compreensão do tempo
presente. Essa relação traz à tona debates com grandes discussões técnicas, já que os
conceitos de história e memória apresentam grandes semelhanças, mas diferem entre si,
como abordado acima.
Muito se tem discutido sobre as fronteiras que ligam e separam história e memória.
A identificação entre história e memória ocorre a partir da utilização da mesma matéria-
prima – o substrato comum entre ambas é o passado - que remete tanto à construção da
memória quanto à operação histórica e tem sido causa de questionamentos de muitos
especialistas desde a primeira metade do século XIX.
Ainda no século XIX, Pinto (2001, p. 297) relata o aparecimento de trabalhos
relacionados ao estudo da memória em diferentes áreas do conhecimento e destaca três
registros: Bergson, na Filosofia (indagações filosóficas), Freud, na Psicologia
(personalidade psíquica) e Proust, na Literatura (produção literária).
Pinto (2001, p. 293/294) observa que muito se fala de memória e ressalta a
necessidade de uma definição precisa do que se entende por história e o que se concebe por
memória. Nesse debate, Le Goff (2003, p. 08/11) conceitua a memória como produção do
passado que deve ser transportada para o presente, enquanto designa a história como a
ciência que faz o elo entre passado e presente.
Rodrigues (1981, p. 42/47) apresenta uma crítica feroz à confusão dos conceitos de
memória e de história. Define memória como "lembrança, a reminiscência, a recordação,
como a relação, o relato, a narração" e história como "disciplina de análise e crítica". Sua
posição é claramente favorável à história, a que se refere como "clássica, social e humana";
por sua vez, a memória é sintetizada a uma "palavra latina do século XII, de significação
modesta, humilde". Questiona o uso indevido e inadequado das duas palavras e acentua o
uso generalizado da memória e a campanha desfavorável contra a história. Finalmente,
denomina por desapreço o emprego da palavra memória no lugar de história e enfatiza que
as palavras apresentam significados diferentes e, por isso, devem ser usadas com
propriedade.
Freitas e Braga (2006) enfatizam que a memória não pode ser reduzida a um
processo parcial e limitada de lembrar fatos passados; o que seria de valor auxiliar para as
31
ciências humanas. A memória apoia-se na construção de referência de diferentes grupos
sociais sobre o passado e o presente, com base em tradições e mudanças culturais. Os
autores citados argumentam que a história não tem o poder de estabelecer como os fatos
aconteceram, coexistindo, na verdade, várias leituras sobre a utilização da memória para a
interpretação da história. Observam ainda que a história apresenta-se diante de uma
realidade baseada no testemunho e no relato. Destacam a crescente revalorização da
memória, na esfera individual e nas práticas sociais, enquanto a história convive com uma
insuficiente reflexão historiográfica.
Halbwachs (1990, p. 80/82) alega que a memória coletiva ou social (também
denominada memória histórica) não pode ser confundida com a história, criticando a
escolha “infeliz” da expressão “memória histórica” porque associa dois termos opostos em
vários pontos. Em sua opinião, “a história, sem dúvida, é uma compilação dos fatos que
ocuparam o maior espaço na memória dos homens” enquanto a memória “retém do
passado somente aquilo que ainda está vivo ou capaz de viver na consciência do grupo que
a mantém”.
Analisando os aspectos teóricos da relação história-memória, D´Aléssio (1993, p.
98/99) argumenta que a memória é um elemento vivo, física ou afetivamente, que
permanece no tempo, renovando-se. O pré-requisito para a existência da memória é o
sentido de continuidade que deve estar presente no indivíduo ou grupo que se lembra. A
permanente renovação das lembranças é um dos elementos que diferencia história e
memória:
A história não é memória porque há descontinuidade entre quem a lê e os
grupos, testemunhas ou atores dos fatos ali narrados. Há, portanto, uma
relação entre a exterioridade ou distanciamento da História em relação
aos grupos e a divisão do tempo histórico em fatos pontuais.
Pinto (2001, p. 300) ressalta que, na memória, o passado é recriado como história
vivida, como experiência humana; na história, o passado é estudado racionalmente e
transformado em conhecimento:
A memória desconhece os rituais significadores que a história tenta
atribuir ao passado e, rebelde, subverte a ordem que o presente desejaria
impor ao passado, descartando a unicidade que o passado costuma
receber em suas representações.
32
Halbwachs (1990, p. 82/83) critica os historiadores que permanecem presos à
sucessão de acontecimentos ocorridos, utilizando-se de esquemas didáticos de divisão dos
fatos. Para ele, o historiador atua como um espectador que não faz parte dos grupos que
observa, deixando os fatos agrupados em conjuntos sucessivos e separados e considera
cada período como um todo, ou seja, com começo, meio e fim. Na memória, não existe
uma segmentação dos fatos, pois estes são vistos sob a ótica dos grupos que realmente
viveram esses acontecimentos.
A opinião do historiador Pierre Nora (1993, p. 9) identifica-se com a do sociólogo
Halbwachs na questão das diferenças entre história e memória. Nora argumenta que a
história pode ser definida como registro, distanciamento, problematização, crítica e
reflexão, enquanto a memória é “mais humana”: é um processo vivido e, portanto, sempre
atual, conduzido por grupos vivos, encontrando-se em permanente estado de evolução e
sendo vulnerável a mecanismos de manipulação. Em seu conceito, a história, enquanto
operação intelectual, dessacraliza a memória.
Meneses (1992, p. 11) concorda que a memória constitui um processo permanente
de construção e reconstrução, mas ressalta que sua elaboração ocorre no presente para
responder tão somente a solicitações do presente: “A memória enquanto processo
subordinado à dinâmica social desautoriza, seja a ideia de construção no passado, seja a de
uma função de almoxarifado desse passado”.
Meneses (1992, p. 22/23) considera imprópria qualquer coincidência entre história
e memória. Enfatiza que a memória, como construção social, é essencialmente uma
operação ideológica que reforça a identidade individual, coletiva ou nacional, enquanto a
história é uma operação cognitiva, uma forma intelectual de conhecimento. Acredita ser
possível fixar fronteiras para evitar a “substituição” da história pela memória, e reforça a
função crítica do historiador e o tratamento da memória como objeto de análise e estudo da
história.
Bellotto (2004, p. 273/274) também defende a distinção entre história e memória.
Encara a história como o resultado de uma interação entre documento, documentado e
historiador e a memória como matéria documental, um substrato bruto, a ser trabalhado
pelo historiador. Recorre a Rodrigues (1981, p. 48), que define a memória como um banco
de dados e a história como uma análise crítica interpretativa:
33
A memória é depósito de dados, naturalmente estática, pois configura um
princípio de conservação; só a história é a análise crítica, dinâmica,
dialética, julgadora do processo de mudança e desenvolvimento da
sociedade.
Para alguns historiadores, as diferenças entre história e memória representam uma
questão ultrapassada. A razão alegada para tal afirmativa é que não faz sentido opor a
reconstrução historiográfica do passado (história) às reconstruções múltiplas de indivíduos
ou grupos (memória), pois é fundamental ao trabalho do historiador estabelecer verdades
históricas com base numa diversidade de fontes de informação.
Hoje, história e memória constituem elementos confluentes importantes na busca de
referenciais de vida e reafirmação de identidade de pessoas comuns e instituições.
Portanto, esta pesquisa contempla além do sentimento de memória de uma determinada
comunidade escolar, também, a identidade institucional como forma de se pensar suas
práticas e seus feitos por meio dos seus registros significativos de memória em posse do
arquivo escolar, que cada vez mais, tem se potencializado como espelho dos seus fazeres
diários.
Como diz Lombardi (2004, p. 155/156), ao longo dos anos, nas suas ações e
relações com a natureza e com o mundo, os “homens produziram (e ainda produzem)
artefatos, documentos, testemunhos, monumentos entre outros, que tornam possível o
entendimento do homem sobre sua própria trajetória”.
Para Vidal (2005):
A atração pelos arquivos é uma característica da sociedade atual, que
cada vez mais discute a importância da preservação do patrimônio
histórico. Esse encantamento advém, por um lado, do desejo de acercar-
se ao passado [...], mas emerge também, da vontade de superar o
esquecimento, do receio à perda generalizada da memória (VIDAL, 2005,
p. 18).
2.4 A escola produzindo memória
Se há uma discussão latente sobre um desejo e ao mesmo tempo vivemos
sobre uma crise de memória, acreditamos que deve haver também uma sensibilização
quanto a instauração de lugares de memória, em que essas experiências de vida, marcadas
em nossas trajetórias e cristalizadas nos dos registros gráficos, artísticos e visuais das
expressões humanas, possam ser retomadas.
34
A escola tem nesse sentido, um papel crucial em reassumir uma posição que até
então se encerrava na vida de muitas pessoas, por entenderem que o seu compromisso era
de apenas concluir sua fase de aprendizado, e que agora, começam a perceber que escola
sempre esteve presente em suas vidas. É nela que grande parte de muitas lembranças, se
configuram na memória dos que nelas passaram.
Sua peculiaridade está em ser a primeira instituição que os cidadãos, ainda crianças,
conhecem depois da família. Mais ainda, uma instituição que, em complemento às
famílias, tem a missão de educar. A experiência na escola contribui positivamente para
desenvolver os sentimentos de confiança e satisfação de pertencer à sociedade e de exercer
a cidadania.
Portanto, tornar essa memória viva e cristalizada é conhecer o interior dos arquivos
escolares, que detém as informações necessárias a respeito da sua identidade, visto que
todo processo de organização da vida escolar dos alunos, está registrado em fichas, livros,
fotografias, mapas e muitos outros documentos; tornando a escola, produtora da sua
própria memória, materializada nas práticas de escrituração e registro escolar.
Para Zaia (2010, p. 50):
A escrituração da escola resulta das funções e atividades intrinsecamente
relacionadas à criação de uma estrutura administrativa capaz de
gerenciar, fiscalizar e construir espaços dedicados às coisas do ensino. De
certo modo, ela se tornou possível à invenção de práticas de escrituração
constituintes de sua própria organização, práticas essas subordinadas a
regras de produção de livros e/ou folhas impressas que deveriam ser
armazenadas e preservadas.
Adiante, Zaia exemplifica a abrangência da documentação produzida pela prática
de registro e controle, como sendo, os livros de correspondência, as atas de exames
parciais e finais, os livros de inventário da escola, os livros de matrículas, livros de ponto
de funcionários e professores, atas das reuniões pedagógicas e da direção, quadros de
horários, boletim escolar, mapas de movimento e tantos outros, produzidos pela secretaria
da escola, que é o espaço onde a escrituração se concretiza.
A secretaria da escola representa perante a comunidade o órgão de maior
importância na produção e organização de informações para dentro e para fora da escola. É
um braço executivo da equipe administrativa e pedagógica e dela depende o bom
funcionamento da organização escolar. Ela é o órgão responsável pelos serviços de
35
escrituração, documentação, correspondência e processos referentes à vida da instituição e
à vida escolar dos alunos, trabalhando coletivamente para a gestão administrativa e
pedagógica do estabelecimento de ensino. Juntamente com o seu diretor, responde
administrativamente e legalmente pela documentação escolar.
Imagem 1 – Secretaria da Escola Sagrado Coração de Jesus de Rondonópolis/MT
Fonte: Foto do autor
É através do correto lançamento e da efetivação dos chamados registros escolares
que são verificados os direitos de um candidato à matrícula; a regularidade da vida escolar;
o desenvolvimento da aprendizagem de um aluno; o acompanhamento pedagógico; os
resultados finais de cada aluno para promoção ou expedição de certificados de conclusão.
Nesta pesquisa, a escrituração escolar assume papel de produtor de arquivos e
memória, pois pensar essas práticas e interpretar a documentação produzida no cotidiano
da escola é também falar das práticas culturais da sociedade que o produziu e delas fizeram
uso.
36
2.5 Arquivo: conceitos e finalidades
O conceito de arquivo tem passado por várias mudanças ao longo da história e vem
acompanhando os anseios e as transformações políticas e culturais, visto que os arquivos
tornaram-se um reflexo da sociedade que o produz, portanto, o modo de interpretá-lo
também, acompanhou as mudanças nele ocorridas.
Portanto, a conceituação de arquivo parece ser pouco definitiva. Arquivistas de
diversos países definiram o termo “arquivo” de diferentes maneiras. Isso acontece, devido
às características e singularidades existentes em cada região. Assim, veremos a seguir,
algumas explicações concisas segundo o olhar de cada autor.
Rousseau e Couture (1991, p. 284) conceituam arquivo como:
[...] o conjunto das informações, qualquer que seja a sua data, natureza ou
suporte, organicamente [e automaticamente] reunidas por uma pessoa
física ou moral, pública ou privada para as próprias necessidades da sua
existência e o exercício de suas funções, conservadas inicialmente pelo
valor primário, ou seja, administrativo, legal, financeiro ou probatório,
conservadas depois pelo valor secundário, isto é, de testemunho ou, mais
simplesmente, de informação geral.
Nesse ponto caberia uma reflexão sobre o termo informação, que é um tema repleto
de conceituações, porém em princípio, pode-se defini-lo nas palavras de Le Coadic (2004,
p. 4), como “um conhecimento inscrito (registrado) em forma escrita (impressa ou digital), oral ou
audiovisual em um suporte. Portanto, entende-se que a informação é uma necessidade inerente do
ser humano e que precisa ser transmitida para todo aquele que a busca”.
A informação produtora de conhecimento é corroborada por Lustosa (2002, p.129),
da seguinte forma: “A informação, quando adequadamente assimilada, produz
conhecimento, modifica o estoque mental de informações no indivíduo e traz benefícios ao
seu desenvolvimento e ao desenvolvimento da sociedade em que vive”.
Com relação à informação arquivística, constitui-se como prova documental de
grande importância para a vida das instituições, pois serve como fonte de sua história,
autenticidade e transparência de suas ações.
Em uma perspectiva contemporânea percebemos algumas definições de arquivo
como a de Lopes (2000), a qual valoriza o conteúdo informacional registrado nos
37
documentos, independente do seu suporte físico, percebendo que o conceito de arquivo
pode ser entendido como:
Acervos compostos por informações orgânicas originais, contidas em
documentos registrados em suporte convencional ou em suportes que
permitam a gravação eletrônica, mensurável pela sua ordem binária
(bits); produzidos ou recebidos por pessoa física ou jurídica, decorrentes
do desenvolvimento de suas atividades sejam elas de caráter
administrativo, técnico, artístico ou cientifico, independentemente de suas
idades e valores (LOPES, 2000, p. 33).
Dentre muitos outros autores, também podemos encontrar o conceito de arquivo
fundamentado na Lei nº 8159, de 8 de janeiro de 1991, em seu art. 2º, que se refere aos
arquivos como:
Conjuntos de documentos produzidos e recebidos por órgãos públicos,
instituições de caráter público e entidades privadas, em decorrência do
exercício de atividades específicas, bem como por pessoa física, qualquer
que seja o suporte da informação ou a natureza dos documentos.
Uma das finalidades precípuas dos arquivos é que ele possui o poder de dar sentido
a administração, pois a documentação nele encontrada garante à memória de um órgão
tanto no âmbito público ou privado, como também serve para auxiliar os administradores
na tomada de decisões.
Paes (2007, p. 20) afirma que a finalidade do arquivo é disponibilizar as
informações contidas nos documentos, seja este usuário um administrador, um pesquisador
ou mesmo, um cidadão comum,4 constituindo-se, com o decorrer do tempo, em base do
conhecimento da história do órgão que o produziu e ainda “tornar disponível as
informações contidas no acervo documental sob a sua guarda”.
Portanto, a função básica do arquivo é guardar e preservar a documentação
produzida e recebida pela instituição, fornecendo aos interessados o acesso às informações
contidas em seu acervo de maneira rápida, organizada e segura.
4 A Lei n° 8.159 de 8 de janeiro de 1991, dispõe sobre a política nacional de arquivos públicos e privados no
Brasil, criando diretrizes para a organização, manutenção e acesso aos arquivos no país. Recentemente, a Lei
n° 12.527 de 18 de novembro de 2011, mais conhecida como a lei do “acesso à informação”, regulamenta os
procedimentos, restrições, organização de prazos de guarda e eliminação, proteção, controle e
responsabilidade para o às informações dos arquivos públicos e privados, garantindo a transparência das
ações públicas como um direito do cidadão.
38
2.6 Os arquivos permanentes
Na arquivologia, para que os arquivos possam desempenhar suas funções, torna-se
indispensável que os documentos estejam dispostos de forma a atender às necessidades dos
usuários. Portanto, recomenda-se que o arranjo do acervo esteja caracterizado dentro de um
estágio ou fase de uso em que ocupa o documento.
Para Paes (2004, p. 21), as três fases que os documentos dos arquivos podem passar
são definida como:
1. Arquivo da primeira idade ou corrente, constituído de documentos
em curso ou consultado frequentemente, conservado nos escritórios ou
nas repartições que os receberam e os produziram ou em dependências
próximas de fácil acesso.
2. Arquivo de segunda idade ou intermediário, constituído de
documentos que deixaram de ser frequentemente consultados, mas cujos
órgãos que os receberam e os produziram podem ainda solicitá-los, para
tratar de assuntos idênticos ou retornar um problema novamente
focalizado. Não há necessidade de serem conservados próximos aos
escritórios. A permanência dos documentos nesses arquivos é transitória.
Por isso, são chamados também de “limbo” ou “purgatório”.
3. Arquivo de terceira idade ou arquivo permanente, constituído de
documentos que perderam todo valor de natureza administrativa, que se
conservam em razão de seu valor histórico ou documental e que
constituem os meios de conhecer o passado e sua evolução. Estes são os
arquivos propriamente ditos.
Então, os acervos permanentes são o escopo das pesquisas que têm sido realizadas
no bojo dos arquivos escolares, comumente, classificadas como os documentos antigos da
escola, em posse do que já foi dito, como os depósitos de papéis que já não tem mais, a
mesma frequência de uso, mas significativo para a memória da instituição que o produziu.
Para Bellotto (2006), os arquivos permanentes são constituídos como:
[...] um arquivo final, permanente ou histórico, é formado por
documentos produzidos há mais de 25 ou 30 anos, portanto de idade
histórica, pelos vários órgãos da administração de um mesmo nível, seja
municipal, estadual, ou federal. (BELLOTTO, 2006, p. 28)
O arquivo permanente é considerado o local onde os documentos terão uma
preservação definitiva, no qual não deverão ser só custodiados, mas também
disponibilizados para o uso científico, social e cultural. Em relação à preservação
definitiva, Bellotto (2006, p. 32) sugere que “[...] quanto melhor o arquivo intermediário
39
cumprir sua atividade de preservação dos documentos permanentes e de eliminação
criteriosa do material inservível, tanto melhor serão as tarefas da custódia e da
disseminação da informação”. Entende-se ainda, que uma manutenção cuidadosa de
preservação dos documentos na fase intermediária, permite que a informação seja mantida
e disseminada com melhor qualidade a todos aqueles que a buscam para fins históricos.
Paes (2007, p. 120) assevera ainda, que apesar dos arquivos serem conservados
primariamente para fins administrativos, constitui-se em base fundamental para história,
não apenas do órgão a que pertencem, mas também do povo e suas relações sociais e
econômicas. Portanto, os documentos de arquivo permanente além de guardar a história do
órgão que o gerou tende a desempenhar um significativo papel na preservação da memória
social e na construção da identidade de um povo.
Sobre os arquivos permanentes, Marinho Júnior e Silva (1998, p.26), ressaltam que:
O papel primordial que compete aos arquivos hoje e que justifica a sua
existência ao lado da sociedade é agregar uma função social às ações que
desenvolvem, às informações que produzem e transferem e à memória
coletiva que preservam.
A noção de arquivo permanente traz em seu bojo a perspectiva de que expressa um
tipo de memória materializada. Como tal, esta memória confunde-se com o próprio arquivo
a ser preservado.
Fazendo um viés do arquivo permanente com a memória, Gonçalves Filho (1992)
afirma que:
A memória pode ser compreendida e experimentada como um esforço
que age contra a corrente. Pode despertar a dignidade e o ânimo contra a
humilhação. Pode buscar valores e qualidades nas pessoas e nas coisas.
Pode devolver a relação profunda com a experiência humana.
Por sua vez, Malheiros (2006, p.154) apresenta o conceito de memória orgânica da
seguinte maneira:
Engloba a pessoal e a institucional e consiste na capacidade de acumular
informação em condições de uso imediato. No caso da memória
institucional ou externa ao ser humano as condições de uso fácil e rápido
pressupõem as técnicas de descrição (inventariar e catalogar) e de criar
classes lógicas (classificação) e descritores (indexação e elaboração de
thesaurus) que possibilitam uma recuperação fina e exaustiva do
conteúdo (informação). Não há memória sem preservação, mas esta só se
40
justifica por critérios internos, ou seja, que decorrem da actividade e das
necessidades orgânico- funcionais do produtor/ receptor.
Em ambos os conceitos os autores trataram do mesmo tema, porém de uma maneira
distinta onde um apresenta o termo memória pessoal e o outro, num só assunto a memória
tanto no âmbito pessoal como institucional.
No caso do arquivo permanente das instituições educativas, são guardados
documentos escolares de uso esporádico, os quais, em razão de seu valor probatório e
informativo, deverão ser conservados para a guarda da memória institucional e, sobretudo,
da comunidade acadêmica.
2.7 O arquivo na instituição escolar
A escola é uma instituição social que condiciona aos alunos por meio de um
trabalho diário, condições para o desenvolvimento global de suas potencialidades. Ela está
regida sob a luz da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN). Por
determinação da Constituição Brasileira, art° 211, a União, os Estados, o Distrito Federal e
os Municípios, organizarão em regime de colaboração, seus sistemas de ensino. No âmbito
federal o órgão executivo responsável fica a cargo do Ministério de Educação (MEC) e o
normativo é o Conselho Nacional de Educação (CNE). No Estado de Mato Grosso, a
Secretaria de Educação de Educação é o órgão responsável da administração do sistema de
educação e o Conselho Estadual de Educação (CEE) é o órgão normativo deliberativo e
consultivo do sistema de ensino. Já na esfera municipal, as Secretarias de Educação
assumem a administração das respectivas redes de escolas e onde houver Conselho
Municipal de Educação (CME), do seu sistema de ensino.
Na escola, são produzidos em seu cotidiano, diversos tipos de documentos e
registros, exigidos pela administração e pelo cotidiano burocrático, por isso é que toda
unidade escolar deve ter um arquivo bem instalado, organizado e atualizado, de forma a
oferecer informações aos seus usuários, com rapidez e presteza. Esses documentos devem
estar a cargo da secretaria escolar que é a guardiã da memória e da documentação da
escola, de seus alunos, professores e funcionários, devendo garantir o controle de toda
situação escolar, atendimento e qualidade dos serviços.
41
É de inteira responsabilidade da administração escolar, cuidar e zelar pela
documentação de seu arquivo, pois, caso isto não aconteça, receberá sanções como afirma
a Lei Nº 8.159 de 08 de janeiro de 1991.
Art. 25 - Ficará sujeito à responsabilidade penal, civil e administrativa, na
forma da legislação em vigor, aquele que desfigurar ou destruir
documentos de valor permanente ou considerado como de interesse
público e social. (BRASIL 1991)
O tema arquivo escolar nas últimas décadas, a partir de1990, vêm ganhando
importância no Brasil, pois possuem riquezas documentais de grande relevância para a
sociedade que busca nele inúmeras informações sobre o funcionamento interno, as relações
que estabelece com a comunidade local e suas relações com o estado.
A Lei Brasileira n. 8.159, de 8 de janeiro de 1991, que dispõe sobre a política
nacional de arquivos públicos e privados e dá outras providências, em seu art. 2º, conceitua
e classifica os arquivos em públicos e privados; igualmente há arquivos escolares públicos
e privados cada um desempenhando as suas devidas atribuições. Nesse ensejo, vale
ressaltar que o arquivo escolar tratado nessa pesquisa, faz parte de instituições educativas
da esfera pública.
É no arquivo escolar que se guardam os documentos que se constituem a cultura
material escolar e este por sua vez, devem estar dispostos de maneira que possam ser
encontrados com facilidade. Segundo o Manual do Secretário Escolar do Estado da Bahia
(2003, p.17) uma das condições exigidas para regularização da instituição de ensino é a
existência de arquivo, conforme disciplina o Parecer nº 16/97, do CNE, em seus artigos 2º,
alíneas “a” e “b”. Este parecer define que o arquivo escolar deve ser organizado em:
arquivo dinâmico e arquivo permanente. No arquivo dinâmico,também denominado como
de movimento ou vivo, deve conter os documentos dos alunos matriculados no ano em
curso, bem como os que dizem respeito ao estabelecimento de ensino. E o arquivo
permanente, que também é denominado como “estático” ou “morto” (sic), devem conter as
pastas dos alunos transferidos ou concluintes relativos aos anos anteriores.
Fazendo um adendo com relação ao Conselho Nacional de Educação (CNE), neste
parecer acima citado, torna-se necessário esclarecer que os termos utilizados referentes a
arquivo dinâmico e estático, encontram-se segundo a literatura arquivística desatualizados
42
sendo, portanto, indispensável à substituição pelo uso correto da nomenclatura para
arquivo corrente e arquivo permanente.
O referido parecer do CNE prevê a importância dos arquivos para a instituição
escolar, mas em princípio, não condiz com a realidade que é vivenciada nas instituições
públicas educativas, principalmente quando se diz respeito ao arquivo na sua fase
permanente.
Medeiros ao fazer uma análise detalhada da Lei 8.159 de 8 de janeiro de 1991,
entende que o conceito de arquivo torna-se muito mais abrangente, portanto, pode ser
legalmente utilizado para conceituar o arquivo escolar, como sendo:
[...] conjuntos de “documentos produzidos ou recebidos por escolas
públicas ou privadas, em decorrência do exercício de suas atividades
específicas, qualquer que seja o suporte da informação ou a natureza dos
documentos” (MEDEIROS, 2003, p.2).
O Parecer 903 de 14 de outubro de 1965, do Conselho Federal de Educação apud
Feijó (1988, p.62) define arquivo escolar como:
[...] o conjunto ordenado dos papéis que documentam e comprovam os
fatos relativos á vida escolar. E diz ainda que os documentos constituem
arquivo quando encontram-se guardados em satisfatórias condições de
segurança, apresentando-se classificados e ordenados de modo a tornar
fácil e rápida a sua localização e consulta.
Feijó (1988, p.63) conceitua arquivo escolar sendo: “[...] local da guarda e
preservação dos fatos, através de documentos que digam respeito tanto à vida escolar do
educando quanto do próprio estabelecimento”.
O arquivo escolar, portanto, têm por finalidade, ser meio de prova de direito de
pessoas ou da administração. Ele é fonte preciosa de informações, capaz de nos demonstrar
as inquietações de um determinado período, tornando possível a construção de uma
memória educativa.
O arquivo escolar também tem por finalidade, servir à administração da escola para
a qual ele foi criado. Visando compreender melhor essa finalidade, Bonato (2000, p.45)
afirma que:
O arquivo de uma escola tem por finalidade armazenar a documentação
de interesse da escola que venha auxiliar a administração e o ensino,
43
assim como permitir o levantamento de dados para pesquisa educacional
e histórica da instituição e da comunidade na qual ela está inserida. [...]
Esse tipo de acervo arquivístico representa um patrimônio documental,
que integra a memória da instituição escolar que o gera e é parte da
memória educacional brasileira.
Os documentos escolares estão interligados aos objetivos da escola em
cumprimento à legislação específica que orienta essa produção, envolvendo o
funcionamento da instituição, a organização e controle de suas atividades, os mesmos,
estão vinculados a um órgão superior que no Brasil é o Ministério da Educação e o
Conselho Estadual ou Municipal de Educação. Essa documentação, não pode ser
eliminada, sem que antes perpasse pelo processo de avaliação até que chegue ao seu
destino final, pois, são documentos pessoais da vida escolar dos cidadãos e de interesse
público e, por conseguinte, protegida por lei.
A Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 19985 – Lei de crimes ambientais dispõe
sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao
meio ambiente, e dá outras providências. Dos Crimes contra o Ordenamento Urbano e o
Patrimônio Cultural a lei prevê penalidade nos casos de:
Art. 62. Destruir, inutilizar ou deteriorar:
I - bem especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão
judicial;
II - arquivo, registro, museu, biblioteca, pinacoteca, instalação científica
ou similar protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
Parágrafo único - Se o crime for culposo, a pena é de seis meses a um ano
de detenção, sem prejuízo da multa.
Para Medeiros (2003, p. 6) “[...] a documentação escolar também possui valor
histórico-cultural, tais documentos, são fontes para a história da educação, manifestação ou
representação da memória.” Portanto, deve-se haver um grande empenho por parte da
administração a fim de gerar recursos para a preservação dessa memória. Infelizmente, não
é isso que acontece na prática, como aponta Bonato (2005, p.210):
A falta de recursos financeiros e materiais, de mão-de-obra especializada
para o trato da documentação, provocando o manuseio inadequado, vêm
5 BRASIL. Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas
derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9605.htm>. Acesso em: 12 out.2012.
44
aliar-se aos fatores relacionados. Fica evidente que a forma de
preservação e conservação da documentação por parte das escolas pode
constituir-se uma barreira no processo de pesquisar em seus arquivos.
Quanto à preservação do arquivo escolar, o mesmo deve receber atenção especial
por ocupar um papel de grande relevância nas instituições, uma vez que possibilitará a
guarda do conhecimento desenvolvido do trabalho intelectual, bem como a preservação
histórica do ensino.
A falta de interesse pela preservação de acervos escolares e o entendimento de seu
uso como fonte para a pesquisa é uma preocupação por parte de vários educadores dentre
eles encontram-se Lüdke e André (1986, p.40) asseverando que “[...] geralmente as escolas
não se preocupam em salvaguardar seus registros documentais”.
Em geral as escolas não mantêm registros de suas atividades, das experiências
feitas e dos resultados obtidos. Esta triste realidade reflete assim numa grande lacuna na
história da educação do país, onde se encontra inserido neste cenário o cidadão comum,
que procura a sua identidade como parte desta sociedade e que muitas vezes, não a pode
encontrar devido à falta do cumprimento da legislação.
A falta de políticas e legislação específica que resguarde a produção documental
das escolas, por meio de instrumentos como as tabelas de temporalidade para a eliminação
e até mesmo, o incentivo para que essas escolas ocupem seus arquivos em locais de
condições ideais de conservação e preservação, favorece essa visão reducionista em
relação à preservação da sua documentação.
Ragazzini (2001, p. 26) discutindo sobre os arquivos e a historiografia a educação,
diz ser:
[...] de grande importância o desenvolvimento de uma consciência e de
uma prática documentária de individualização, catalogação e conservação
dos documentos. As novas identidades da História da Educação foram
muito discutidas, assim como as possibilidades de uma aproximação
inovadora com a história da escola, contudo, enquanto permanecemos
sem uma prática de documentação adequada, permaneceremos no âmbito
das discussões acadêmicas ou do pioneirismo. Uma historiografia mais
sofisticada requer uma inovação no uso das fontes e isto não será possível
sem uma nova prática de pesquisa, uma nova prática arquivista e uma
nova sensibilidade documentária.
Nas escolas públicas, essa situação é ainda mais agravante, pois o fluxo constante
das mudanças causadas por forças políticas e administrativas acaba contribuindo para que
45
essa documentação se perca com mais naturalidade, sem ao menos se estabelecerem os
critérios legais para sua eliminação. Nas instituições privadas e confessionais, ainda que
não seja o ideal desejado, a consciência de que o passado possa construir novos saberes e
estratégias pedagógicas, faz com que muitas delas guardem, mesmo que de forma
inadequada, aqueles documentos que a consideram importante e que, em algum momento,
possa favorecer a construção da sua memória histórica.
Vidal (2005) nos lembra, que o arquivo escolar:
Integrado à vida da escola [...] pode fornecer-lhes elementos para a
reflexão sobre o passado da instituição, das pessoas que a freqüentaram
ou freqüentam, das práticas que nela produziram e, mesmo, sobre as
relações que estabeleceu e estabelece com seu entorno. [...] (VIDAL,
2005, p.24).
Diante dessas questões, a reflexão e a pesquisa em torno desses arquivos
contribuem para que as escolas reconheçam a importância dessa documentação para a
construção da memória escolar no momento de recolher esses materiais em um setor que
possa dar condições ideais de conservação e preservação com vistas à gestão desses
arquivos.
Os arquivos durante muito tempo foram considerados meros depósitos de papel
velho. Esse estereótipo, muitas vezes, foi sendo utilizado pela administração pública que o
conceituava como “arquivo morto”. O crescente volume na produção de documentos
sinalizou então, para a necessidade de políticas públicas voltadas para a gestão da
produção, fluxo e destino desses documentos, possibilitando assim, uma melhora na
racionalidade, economia e eficiência administrativa.
No Brasil, a gestão de documentos se institucionalizou com a aprovação da Lei nº
8.159 em seu artigo 3, de 08 de janeiro de 1991, que dispõe sobre a política nacional de
arquivos públicos e privados. A lei mencionada conceitua a gestão de documentos como:
Conjunto de procedimentos e operações técnicas referentes à sua
produção, tramitação, uso, avaliação e arquivamento em fase corrente e
intermediária, visando a sua eliminação ou recolhimento para guarda
permanente.
A referida Lei em seu artigo 1, capítulo I, também declara que:
Art. 1º É dever do Poder Público a gestão documental e a de proteção
especial a documentos de arquivos, como instrumento de apoio à
46
administração, à cultura, ao desenvolvimento científico e como elementos
de prova e informação (BRASIL, 1991).
Esse artigo assevera que é exclusivamente responsabilidade do Poder Público a
proteção dos documentos que se encontram sob sua guarda, utilizando-se dos
procedimentos da gestão documental beneficiando assim, a administração pública e o
desenvolvimento científico.
De acordo com a legislação vigente no país, a Constituição Federal Brasileira,
promulgada em 1988 enfatiza sobre a gestão documental que:
Art. 216. Constitui patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza
material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores
de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos
formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,
arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
§ 2º Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da
documentação governamental e as providências para franquear sua
consulta a quantos dela necessitem.
A nossa Lei Magna esclarece então que a gestão da documentação deve ser
realizada pela administração pública. Infelizmente, a situação encontrada nos arquivos
escolares, principalmente na fase permanente não condiz com o que ela declara em seu
artigo e inciso, pois o descaso e a falta de compromisso com esse tipo de acervo é muito
preocupante, devido ao estado de conservação que se encontram.
Heredia Herrera citado por Rodrigues (2002, p. 38), define gestão documental
como sendo:
[...] processo arquivístico que articula todas as funções relacionadas com
a vida dos documentos, desde sua produção até sua eliminação, sua
conservação e ainda depois. Ou seja, não fica na porta dos arquivos
históricos, mas entra dentro deles.
Essa definição, portanto, assevera que o processo de gestão documental, não se
encerra no período em que os documentos passarão para a destinação final, porém, ao
serem recolhidos para o arquivo permanente, eles devem continuar sendo gerenciados,
contudo, de uma forma mais criteriosa, pois, agora possuem um valor de memória.
Segundo Bustelo Ruesta (2005), em Moreno (2006, p.90) um programa de gestão
documental tem por objetivo:
47
a) que cada pessoa conheça que documento tem que guardar,
quando,como e onde; como encontrar em pouco tempo os documentos
adequados quando necessita;
b) facilitar que a informação seja compartilhada e se aproveita como um
recurso coletivo, evitando que se duplique e se produzam cópias
desnecessárias.
c) conservar a memória da organização e poder aproveitar o valor dos
conteúdos, evitando começar do zero sobre aspectos nos quais haja
experiência acumulada.
A gestão documental envolve inúmeros fatores. Portanto, para garantir a
recuperação da informação, é vital que a produção, organização, preservação dos
documentos e os prazos legais de guarda sejam respeitados e executados. Cabe ressaltar o
conceito de documento no arquivo para um melhor entendimento do principal sujeito da
gestão documental.
Castro (1988, p. 40) define documento de arquivo como: “[...] todo material
recebido ou produzido por um governo, organização ou firma, no decorrer de suas
atividades, arquivado e conservado por si e seus sucessores para efeitos futuros.”
Para o Arquivo Nacional (1995, p. 11), documento arquivístico é:
[...] toda informação registrada em um suporte material, suscetível de ser
utilizada para consulta, estudo, prova e pesquisa, pois comprovam fatos,
fenômenos, formas de vida e pensamentos do homem numa determinada
época ou lugar.
Os documentos servem para comprovar os fatos, fenômenos, modos de vida ou de
pensar do homem, além de garantir seus direitos. São necessários à administração, pois,
asseguram a memória da instituição. Nos documentos os gestores obtêm a informação que
eles necessitam para a solução no momento da tomada de decisões.
O processo de gestão está inserido na organização e administração dos arquivos,
que por sua vez, possui a função de guardar os documentos fornecendo a informação de
uma maneira rápida e precisa, portanto, necessita desempenhar atividades observando as
algumas etapas, como, levantamento de dados; análise dos dados coletados; planejamento;
implantação e acompanhamento. Vale ressaltar ainda, a necessidade da escolha de um
método que será empregado no arranjo dos papéis, tomando como base uma criteriosa
análise das atividades desenvolvidas pela instituição.
Para que haja êxito na gestão documental faz-se necessário um estreito
engajamento no processo de conservação e infraestrutura nos arquivos, como afirma
48
Moraes e Castro (2007, p.137) “[...] fica claro, portanto, que a infraestrutura de
armazenamento físico é fundamental para que a informação esteja disponível e acessível,
garantindo a operacionalidade do arquivo”.
Sobre as atividades aplicadas nos arquivos permanentes, podemos citar Paes (2007,
p. 122) que as classifica basicamente em quatro grupos distintos:
Arranjo: reunião e ordenação adequada dos documentos;
Descrição e publicação: acesso aos documentos para consulta e
divulgação do acervo;
Conservação: medidas de proteção aos documentos e, conseqüentemente,
do local de sua guarda, visando a impedir sua destruição.
Referência: política de acesso e uso dos documentos.
Para Castro (1988, p.250) as atividades do Arquivo Permanente ou Histórico são:
Recolher, reunir, classificar, arranjar, descrever, inventariar, estimular e
orientar as pesquisas, divulgar o acervo (publicações e exposições)
fornecer certidões e cópias, vedar saída de documentos, dar assistência
aos diversos órgãos de Arquivos Correntes e Intermediários (Política de
Avaliação dos Órgãos), selecionar e acompanhar os documentos na
microfilmagem e restauração.
Portanto, para que esses procedimentos sejam bem aplicados, devem ser executados
por um profissional capacitado como cita Bellotto (2006, p.31):
O arquivista tem sido chamado justamente a “melhor assegurar a
conservação dos documentos para o historiador futuro, a estabelecer seu
controle sobre as eliminações dos papéis pelas administrações e a tomá-
los a seu encargo cada vez mais cedo: portanto, a colaborar de forma
mais estreita com a administração.”
Há também a necessidade de assegurar longa vida aos documentos na fase
permanente, buscando prevenir a sua deterioração. É preciso estar atento aos fatores que
fragilizam ou danificam a maioria dos acervos como: temperatura; umidade relativa;
iluminação; poluição atmosférica; agentes biodeterioradores e ação do próprio homem
(LUCCAS; SERIPIERRI, 1995).
A gestão documental é responsabilidade que deve ser assumida com compromisso
por todos os funcionários, pois todo o seu conjunto de procedimentos oferece não somente
49
a redução dos custos com a administração dos arquivos, mas acima de tudo, permite a
democratização do acesso à informação.
Nos últimos anos, pesquisadores, professores e até mesmo os alunos em suas
atividades escolares vêm empenhando um grande esforço na compreensão desses arquivos
como lugar propício de se recuperar as fontes históricas das instituições educacionais.
Esses interesses surgem também, ao se perceberem que as escolas nem sempre
estão preparadas em preservar os seus registros de memória, restando a elas então, a
eliminação indevida; ou criando verdadeiros depósitos de papei, comumente encaixotados
e guardados em sótãos, garagens, espaços vazios embaixo de escadas, salas desativadas,
nos armários da coordenação pedagógica, se perdendo com a falta de cuidados básicos de
conservação.
2.8 A pesquisa sobre arquivos escolares
Ao procurar explorar as potencialidades dos arquivos escolares, busquei conhecer,
reconhecer e identificar os possíveis avanços e o que vem sendo produzido de pesquisas
nessa área de tensão, ainda pouco explorada na história da educação, que é de onde esses
interesses vêm sendo sentidos.
Somente nas últimas décadas é que se tem despertado o interesse pelos arquivos
escolares como objeto de pesquisa. Especialmente, a partir da década de 1990, o estudo das
instituições escolares tem tomado grande impulso nos programas de pós-graduação, onde
até então, essas pesquisas vinham sendo caracterizadas em procurar entender a dimensão
da sociedade dentro da escola, deixando de lado os objetos específicos e estruturais desse
processo.
Para Nosella e Buffa (2009, p. 16):
Muitos historiadores criticavam os estudos sobre sociedade e educação
por não conseguirem abarcar sua complexidade e diversidade e partiram
para a proposta de um pluralismo epistemológico e temático,
privilegiando o estudo de objetos singulares. O aspecto positivo é
representado pela ampliação das linhas de investigação, diversificação
teórico-metodológica e utilização das mais variadas fontes de pesquisa.
Contudo, mesmo com as duras críticas ao reducionismo e a fragmentação
epistemológica quanto à singularidade abarcada por esses estudos, tem-se início a
50
valorização de temas até então, pouco estudados para a compreensão de uma dimensão
plural da educação. Ainda, para Nosella e Buffa (2009, p. 17), esses estudos têm no
conceito de cultura escolar, a fundamentação para as suas ramificações específicas ao
estudo das instituições escolares.
Com Dominique Júlia, a cultura escolar, trata-se de:
[...] um conjunto de normas que definem conhecimentos a ensinar e
condutas a inculcar, e um conjunto de práticas que permitem a
transmissão desses conhecimentos e a incorporação desses
comportamentos; normas e práticas coordenadas a finalidades que podem
variar segundo épocas (finalidades religiosas, sociopolíticas ou
simplesmente de socialização). Normas e práticas não podem ser
analisadas sem se levar em conta o corpo profissional dos agentes que são
chamados a obedecer a essas ordens e, portanto, a utilizar dispositivos
pedagógicos encarregados de facilitar sua aplicação, a saber, os
professores primários e os demais professores. Mas, para além dos limites
da escola, pode-se buscar identificar, em um sentido mais amplo, modos
de pensar e de agir largamente difundidos no interior de nossas
sociedades, modos que não concebem a aquisição de conhecimentos e de
habilidades senão por intermédio de processos formais de escolarização:
aqui se encontra a escalada dos dispositivos propostos pela shooled
society que seria preciso analisar; nova religião com seus mitos e seus
ritos contra a qual Ivan Illich se levantou, com vigor, há mais de vinte
anos. Enfim, por cultura escolar é conveniente compreender também,
quando isso é possível, as culturas infantis (no sentido antropológico do
termo), que se desenvolvem nos pátios de recreio e o afastamento que
apresentam em relação às culturas familiares (JULIA, 2001, p. 10-11,
grifo do autor).
A proposta de Dominique Julia é chamar atenção para a importância da escola
sobre a compreensão de práticas e hábitos enraizados nos fazeres pedagógicos e, com isso,
atentar ao entendimento das relações conflituosas ou pacíficas enfrentadas pela educação.
Essas pesquisas, comumente vêm sendo pautadas em temas como a formação de
professores, os livros didáticos, as disciplinas escolares, currículos, práticas educativas, as
questões de gênero, infância e o papel da própria instituição escolar enquanto instituição
social.
Nosella e Buffa elegem algumas categorias que caracterizam esses estudos, como o:
[...] contexto histórico e circunstâncias específicas da criação e da
instalação da escola; processo evolutivo: origens, apogeu e situação atual;
vida escolar; o edifício: organização do espaço, estilo, acabamento,
implantação, reformas e eventuais descaracterizações; alunos: origem
social, destino profissional e suas organizações; professores e
51
administradores: origem, formação, atuação e organização; saberes:
currículos, disciplinas, livros didáticos, métodos e instrumentos de
ensino; normas disciplinares: regimentos, organização do poder,
burocracia, prêmios e castigos; eventos: festas, exposições, desfiles
(NOSELLA; BUFFA, 2009, p. 18).
Apoiadas pela nova história cultural, que tem possibilitado a tomada desses
arquivos como lócus de estudo dessas instituições, valorizando a sua cultura e o seu
cotidiano por meio da sua cultura material, até então negligenciado pela história oficial é
que os arquivos escolares ganham importância como objeto de pesquisa. Pois, “muito
frequentemente, essa questão aparece subordinada ao interesse de pesquisar a história das
instituições de ensino que guardam esses acervos” (ZAIA, 2010, p. 18).
O estudo dos arquivos e a documentação escolar são fundamentais para a pesquisa
em história da educação e vem sendo estudados por historiadores preocupados em
salvaguardar as fontes de pesquisas, e com isso, vem produzindo instrumentos importantes
de identificação desses acervos, como catálogos, índices, guias, inventários, repertórios,
manuais de uso e tratamento desses acervos.
A pesquisa que realizei6 buscando mapear os fóruns de discussões e a produção de
pesquisas sobre arquivos escolares desenvolvidas no Brasil, no período de 1990 a 2010,
revelou dados importantes do avanço desta temática, nos quais podemos citar:
- parte representativa dessas pesquisas não está vinculada a cursos de mestrado e
doutorado, tendo a Universidade de Saulo (USP), Universidade de Campinas (Unicamp) e
Universidade Federal do Paraná (UFPR), lócus dominante de interesse na produção de
conhecimento sobre este tema;
- os espaços de discussões tem se ampliado buscando a integração entre
universidades, tendo como incentivo maior, a realização de dois eventos representativos ao
campo de estudo, o “Encontro de Arquivos Escolares e Museus Escolares”, realizados nos
anos de 20057 e 2008, pela Universidade Federal do Paraná e Universidade de São Paulo,
respectivamente;
6 LUZ, Joel Martins. A pesquisa sobre arquivo escolar no Brasil (1990-2010) e o estado do conhecimento. In:
II CONGRESSO DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO: escola, comunidade e universidade: demandas e
cenários contemporâneos, 2011, Rondonópolis, MT. Anais... Rondonópolis, MT: UFMT/CUR/PPGEdu,
2011. 1. CDROM. 7 Foram publicados dois anais e um caderno de resumos das comunicações apresentadas neste evento. No
primeiro encontro, na forma impressa, o Caderno de Resumos e os Anais em CD-ROM: ENCONTRO DE
ARQUIVOS ESCOLARES E MUSEUS ESCOLARES. Anais... Curitiba, PR: Centro de Documentação e
Pesquisa em História da Educação, 2008. No segundo encontro, em 2005, na Universidade de São Paulo, os
ANAIS ELETRÔNICOS disponível na URL: http://www.usp.br/niephe/arquivos/EncontroArq2.pdf
52
- as universidades envolvidas tem se preocupado com os acervos das escolas que
não tem condições de mantê-los; tendo instituído dentro de seus grupos e linhas de
pesquisa os chamados Centros de Documentação,8 recolhendo, tratando e identificando os
fundos documentais de antigas instituições no seu entorno9;
- o maior número dessas pesquisas, vem sendo divulgado na forma de comunicação
em eventos científicos e que ainda há pouca contribuição de teses ou dissertações, fato
este, que revela a necessidade e o comprometimento em estabelecer o diálogo nos espaços
de discussões sobre esta questão.
Ao desenhar um balanço da produção de conhecimento sobre os arquivos escolares,
pude caminhar em várias direções que esses interesses vem ganhando espaço e um dos
caminhos que vem ganhando força, talvez com maior intensidade, está relacionado com as
pesquisas em história da educação, tendo os arquivos escolares como o guardião das fontes
históricas para os estudos das instituições escolares. Nesse viés, estas pesquisas têm
valorizado temas como a produção, organização e inventariação dos arquivos, preservação
da documentação escolar, conscientização para uso e produção de pesquisas com o uso
desses arquivos.
Um trabalho representativo é a tese de doutorado de Iomar Barbosa Zaia (2010),
defendido na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Esse trabalho tem se
voltado em investigar a produção, organização e as formas de movimentação dos
documentos administrativos das escolas públicas paulistas entre os anos de 1893 a 1920.
Tem como objeto de análise sobre essa documentação, a escrituração escolar, buscando
compreender o documento produzido pela secretaria da escola como parte da organização
do sistema educacional do Estado de São Paulo e ainda, compreender a formação e o
desenvolvimento dos acervos arquivísticos no interior das escolas, resultantes da produção,
do acúmulo e das práticas diárias de escrituração.
8 Um artigo interessante sobre essa discussão é apresentado por Souza, Moraes e Zaia, Contribuição da
Universidade para a preservação da memória educacional, publicado na Revista de História, São Paulo, n.
164, p. 373-391, jan./jun. 2011. 9 A pesquisa mapeou alguns centros de documentação, como o Centro de Documentação e Memória da
UNESP (São Paulo), o Laboratório de Estudos da Imagem e do Olhar da Universidade Federal Fluminense
(Rio de Janeiro), o Centro de Referência em Educação Mario Covas (São Paulo), o Laboratório de
Informação, Arquivo e Memória da Educação da UNISANTOS (São Paulo), o Grupo de Estudos e Pesquisas
sobre Cultura e Instituições Escolares da UNESP/Araraquara (São Paulo), o Centro de Memória da Educação
da USP (São Paulo), o Centro de Memória da Educação da Universidade de Campinas (São Paulo) e o
Centro de Documentação e Pesquisa em História da Educação da Universidade Federal do Paraná, entre
outros.
53
Zaia tem observado de modo específico, em relação aos arquivos escolares, as
condições desses espaços e a sua desvalorização em detrimento às necessidades de espaço
físico para acomodação de outros serviços considerados de maior importância naquele
momento pela escola, restando à destinação da sua documentação para outros locais, que a
pesquisadora denomina de depósito de papéis.
Dessa destinação surgem os Arquivos Mortos na forma como
encontramos atualmente nas escolas. Devido à necessidade de salas para
as sempre crescentes turmas de alunos, ao longo dos anos os documentos
e os demais objetos passaram a ser transferidos do espaço definido para
eles, em sua origem, para porões e/ou os quartos de materiais de limpeza
da escola, sendo amontoados de qualquer modo, sobrecarregando
armários, prateleiras, mesas, cadeiras ou sendo mesmo jogados no chão.
(ZAIA, 2010. p. 114).
Este trabalho ressalta ainda, a importância dos arquivos escolares para a pesquisa
em história da educação, considerando a documentação administrativa da escola como
“portadores de informações valiosas para a compreensão do fazer ordinário (Chartier) 10
do
cotidiano escolar”. Complementa, enfatizando que valorizar os documentos dos arquivos
escolares, “pode ampliar as fontes para análise do funcionamento das escolas ou aquilatar,
com a análise dos documentos administrativos, até que ponto os documentos oficiais
diziam o que de fato acontecia nas instituições de ensino”.
Trabalho relevante também é a dissertação de Oscar Teixeira Junior (2005), que
tem se focado na história da Escola Complementar de Campinas entre 1903 a 1913, onde a
partir das fontes do arquivo desta escola, “busca-se explicitar os elementos pertencentes às
culturas escolares presentes na instituição, dando especial destaque às questões do
espaço/tempo escolar e da produção de saberes escolares”.
Teixeira Júnior complementa muito bem a ênfase sobre o papel dos arquivos
históricos escolares como fonte para os novos olhares que a pesquisa em história da
educação tem se estendido, para o pesquisador:
A escolha pela utilização dos arquivos históricos das instituições
escolares, como fontes privilegiadas para a pesquisa em história da
educação, dá-se dentro de um contexto no qual a historiografia
educacional passa a enfocar os estudos sobre as instituições, em seus
10
CHARTIER, Anne-Marie. Fazeres ordinários da classe: uma proposta para a pesquisa e para a formação.
Educação e pesquisa. São Paulo: Faculdade de educação, Universidade de São Paulo, v. 26, n. 1, jan./jun.,
2000.
54
diversos momentos históricos, não apenas como uma consequência de um
determinado contexto cultural (ideológico e político), mas ela própria
como um produto cultural dotado de singularidades que só se tornam
visíveis ao se analisar seus mecanismos internos; tornando-se
imprescindível a pesquisa com as fontes primárias produzidas pela
própria instituição (TEIXEIRA JÚNIOR, 2005, p. 3/4).
Os documentos do arquivo, utilizados pelo pesquisador, revelaram dados
importantes para a conclusão da pesquisa, como a correção aos equívocos da instalação da
Escola Complementar de Campinas que vinha sendo reproduzido em muitos trabalhos
sobre a sua história; permitiu caracterizar como se deu as instalações e a organização do
movimento de reforma do prédio da escola estudada; permitiu identificar informações
importantes das obras que compuseram a biblioteca da escola e complementa, finalmente,
que:
As fontes primárias trouxeram valiosas informações sobre materiais de
ensino, e fornecedores da Escola Complementar de Campinas, que
contribuirão nas futuras pesquisas sobre a cultura material da instituição
em apreço. De forma imediata, serviram para localizar e identificar dois
exemplares de “carteiras higiênicas” que já foram incorporados ao acervo
histórico da instituição (TEIXEIRA JÚNIOR, 2005, p. 231).
Da mesma dimensão, utilizando o arquivo escolar como fonte de pesquisa para o
traçado histórico de antigas instituições escolares, a dissertação de Adriano Marins Santos
(2007) tem pesquisado o arquivo da Escola Normal Carlos Gomes, também de Campinas,
procurando elucidar a trajetória e o perfil dos alunos ao longo do período denominado
Estado Novo (1937-1945). Sua pesquisa no material documental e bibliográfico que consta
no arquivo da instituição destaca que essa opção se deu por ordem prática, visto da
urgência de resgate deste acervo, já que “boa parte do qual jazia nos porões e em estado de
conservação deteriorado”.
Para o autor:
A abundância de material contida nos limites deste acervo e relativos a
este período – frente ao qual saltam à vista inúmeras possibilidades de
pesquisas e trabalhos – acabou impondo sucessivas reflexões, “corte” e
limites. Basicamente a pesquisa focalizou, já de início, os livros de
registro da escola, recorrendo ao material bibliográfico na medida em que
fornecia subsídios ou coordenadas para o desenvolvimento do trabalho.
Estes livros, patrimônio da escola, foram os primeiros a serem
submetidos ao trabalho de desinfestação e higienização, o que facilitou
muito o seu manuseio [...] (ADRIANO, 2007, p. 15).
55
Sua dissertação permitiu refletir e entender muitas questões sobre o perfil e
trajetórias dos alunos no período do Estado Novo, e cabe aqui, uma menção às questões da
temporalidade, inscrita nas idades biológicas e as formas que este distanciamento
influencia no perfil dos alunos de hoje.
Há ainda, focando o abandono dos arquivos escolares a dissertação de Eva Cristina
Leite da Silva, intitulada “Os papéis de porão na constituição da cultura material escolar:
Escola Normal Carlos Gomes – 1949 a 1966”, defendida na Faculdade de Educação da
Unicamp. A pesquisa buscou estudar o processo histórico da formação do acervo escolar e
regatar as fontes que constituem o arquivo como lugar de memória, apontando as
potencialidades para identificação da cultura material da instituição.
Sobre os resultados de sua investigação, Silva se manifesta:
Os documentos da escola, como “peça essencial do discurso
historiográfico”, foram pensados como produção de imperativos legais e
em decorrência das práticas administrativas. Para isto foi possível
considerar não só os documentos, mas também os relatos [...],
despertando assim questões e relações entre documentos escritos,
memória, relatos e história da educação (SILVA, 2004, p. 124)
A dissertação de Rogério Xavier Neves, intitulada “As possibilidades educacionais
dos Centros de Documentação e Memória”, defendida em 2005, destaca o papel dos
centros de documentação e memória que vem sendo instalados em algumas
universidades11
, como parte do recolhimento de antigos arquivos escolares, objetivando a
preservação das fontes para as pesquisa em história da educação. Neves, foca em seu
trabalho, as práticas de memória e as possibilidades do trabalho educacional que esses
centros de documentação, podem contribuir para diálogos importantes, “envolvidos pelo
olhar educativo, como mais uma alternativa das atividades desenvolvidas nesses lugares,
configurados pela preservação e conservação de estudos históricos” (NEVES, 2007, p. 7).
11
No plano regional de Mato Grosso, temos como exemplo, o Centro de Documentação, do Núcleo de
Pesquisa em Educação da UFMT/Campus Universitário de Rondonópolis, que reúne parte significativa de
materiais escolares e fontes de pesquisa coletados por pesquisadores no âmbito do Grupo de Pesquisa Alfale
– Alfabetização e Letramento escolar. Sobre esse centro de documentação, ver: CARDOSO, C. J. Cartilhas
escolares: a constituição de acervos para o estudo da história da alfabetização. Ensino em Re-vista (UFU), v.
V.18, p. 27-44, 2011; AMÂNCIO, L. N. B.; CARDOSO, C. J. Fontes para o estudo da produção e
circulação de cartilhas no Estado de Mato Grosso. In: Isabel Cristina Alves da Silva Frade e Francisca Izabel
Pereira Maciel. (Org.). História da alfabetização: produção, difusão e circulação de livros (MG/RS/MT -
Séc. XIX e XX). 1 ed. Belo Horizonte: UFMG/FAE, 2006, v. , p. 191-219; AMÂNCIO, L. N. B.;
CARDOSO, C. J. (Orgs.). Memória da alfabetização Mato-Grossense: o caminho das cartilhas.
Rondonópolis, MT: UFMT/NUPED/Centro de Documentação, 2006.
56
O autor complementa que:
A informação num centro de documentação não pode ser apenas a forma
de organização de seus acervos, mas todos os recursos disponíveis para
que possam desenvolver linhas de acervo, de pesquisa e, dessa forma,
contribuir com suas atribuições e competências técnicas e institucionais
como um elemento complementar no processo educativo (NEVES, 2007,
p. 166).
Voltado às implicações políticas e relações de poder geradas pela organização de
um centro de memória escolar, a tese de doutorado de Lilian de Cássia Alvisi (2008),
intitulada “Memória, resistência e empoderamento: a constituição do Memorial Escolar
Padre Carlos de Poços de Caldas/MG”, parte do pressuposto que a recuperação de
memórias escolares pode e deve passar por um processo coletivo de discussão com a
comunidade na qual está inserida, uma vez que houve, decididamente, um reconhecimento
de que a memória da instituição escolar estudada, mantida e divulgada seria uma forma de
resistir e impedir um redirecionamento dos seus objetivos originais.
Os embates gerados em torno da memória e poder foram sentidos pelos indivíduos
e grupos da comunidade envolvida no tratamento e organização do centro de memória
escolar, já que trata de memórias singulares que se “configuram a partir de interesses e de
regras próprias da comunidade envolvida” (ALVISI, 2008, p. 5).
Muitos outros trabalhos, como livros, capítulos, artigos de periódicos e
comunicações de eventos, têm gerado importantes discussões sobre experiências no
tratamento de arquivos como patrimônio da escola, dando maior visibilidade a resultado de
pesquisas sobre os arquivos escolares. Destaquei, no caso, apenas aqueles que possuem
maior relação com o tema desta pesquisa, contribuindo para sua compreensão.
57
3 TERRENO DE MEMÓRIA: A ESCOLA SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS E O
SEU ARQUIVO
O arquivo é, de início, a lei do que pode ser dito,
o sistema que rege o aparecimento dos
enunciados como acontecimentos singulares.
Mas o arquivo é, também, o que faz com que
todas as coisas ditas não se acumulem
indefinidamente em uma massa amorfa, não se
inscrevam, tampouco, em uma linearidade sem
ruptura e não desapareçam ao simples acaso de
acidentes externos, mas que se agrupem em
figuras distintas, se componham umas com as
outras segundo relações múltiplas, se mantenham
ou se esfumem segundo regularidades
específicas; ele é o que faz com que não recuem
no mesmo ritmo que o tempo, mas que as que
brilham muito forte como estrelas próximas
venham até nós, na verdade de muito longe,
quando outras contemporâneas já estão
extremamente pálidas.
Michel de Foucault
A arqueologia do saber... (2008, p. 147)
3.1 Uma escola de 60 anos
Impregnada de histórias, memórias, narrativas, a Escola Sagrado, com é mais
conhecida atualmente, vem contribuindo de modo especial, desde muito antes da
emancipação da cidade de Rondonópolis, para o desenvolvimento intelectual e profissional
da sua população. Grandes personagens políticos, religiosos, comerciários, intelectuais e a
comunidade em geral, se formaram na “Escola das Irmãs”.
A história desta escola é rica em detalhes e acontecimentos que vem acompanhando
a própria história da cidade de Rondonópolis, portanto, este capítulo busca traçar a
trajetória da escola procurando entender a sua posição no espaço educacional e cultural,
efetivamente reconhecido pelas inúmeras pessoas que de alguma forma se veem
envolvidas em seu processo histórico.
Rondonópolis, sul do Estado de Mato Grosso, foi emancipada no ano de 1953 e
vem sendo privilegiada, por situar-se numa área de grande confluência econômica e
cultural que possibilita o acesso a muitos migrantes que se deslocam do sul e do norte do
58
País em busca de melhores oportunidades de emprego e qualidade de vida. Essa posição
espacial vem favorecendo desde os seus primórdios, a vinda de muitos projetos e interesses
nos mais variados campos sociais. Um desses incentivos indica ter sido também, a vinda
das Irmãs Catequistas Franciscanas do sul do Brasil, no ano de 1947, a fim de investir na
educação e nos preceitos religiosos dessa região.
Para levantar um pouco da história da Escola Sagrado percebi que não há, ainda,
nenhuma pesquisa dedicada especificamente sobre a escola, o que tem dificultado
encontrar um referencial sólido sobre o que já foi levantado a respeito das informações que
possam ser organizadas para se contar a história desta instituição. Temos sim, o livro da
Profª. Laci Maria Araújo Alves12
, oriundo da sua pesquisa de mestrado, que mesmo não
sendo completo em relação a sua história, talvez seja a única publicação que narre com
maiores detalhes o período inicial de instalação da escola.
Em face das dificuldades de encontrar outros materiais bibliográficos ou
documentais que pudesse melhor contar, um pouco da fundação e trajetória da escola nos
seus sessenta anos, optei em reconstituir o seu trajeto a partir dos poucos e dispersos
documentos que foram produzidos na forma de projetos, relatórios e material didático,
encontrados em pastas, gavetas e armários da sala da diretoria, secretaria e no arquivo da
escola.
Em busca de informações dentro da própria escola para que eu pudesse melhor
desenhar um roteiro de pesquisa, foi disponibilizado pela diretoria dois slides, produzidos
em formato Power Point, legíveis por computador, que foram utilizados nas apresentações
das comemorações de aniversário da escola. Pelo que parece, a direção da escola,
considera esses materiais como uma fonte organizada sobre a sua história, sobretudo, em
relação à atuação da Congregação das Irmãs Catequistas Franciscanas (CICAF) junto ao
desenvolvimento histórico da escola.
Esses slides, contam que por volta de 1873, os jornais locais de Trento, na Itália,
começaram a veicular a notícia de que o governo brasileiro facilitava aos estrangeiros a
compra de terras. E foi então, que no dia 15 de agosto de 1875, chegaram a Santa Catarina
os primeiros colonos, trazendo seus costumes, tradições, religião e língua, emigrados do
Tirol Trentino, se estabelecendo na região denominada “caminho de rodeio”.
12
ALVES, Laci Maria Araújo. História da educação em Rondonópolis. Cuiabá: UFMT, 1995.
59
A falta de professores e catequistas das nascentes comunidades dos imigrantes
italianos, fez com que o frei Polycarpo Schuhen, se dirigisse a Pia União das Filhas de
Maria e à Ordem Franciscana Secular para que enviassem “Irmãs professoras” cujo apelo
teve resposta imediata. Primeiro Amábile Avosani, depois Maria Avosani e Liduina
Venturi apresentaram-se para atender as escolas da Paróquia.
Imagem 2 - Da esquerda para direita, Irmãs Amábile Avosani, Maria Avosani e Liduina Venturi
Fonte: Acervo da escola
No dia 14 de janeiro de 1915, na Igreja São Virgílio, as três jovens interrogadas por
frei Polycarpo, deram o “sim”, para à sua missão de educadoras e catequistas na região de
Rodeio, e após estas três, muitas outras seguiram com o propósito de servir às atividades
educacionais ligadas à igreja. A vida das Irmãs era simples, moravam no meio do povo, no
meio rural, em casas modestas. Dedicavam-se à escola, aos trabalhos domésticos e
hortigranjeiros, rezavam, cuidavam da igreja, do culto, da catequese e em nada se
distinguiam dos moradores daquele lugar.
Ao mesmo tempo em Mato Grosso, no dia 13 de julho de 1940, o Papa Pio XII cria
a Prelazia de Sant‘Ana de Chapada e no dia 19 de julho de 1941, o Pe. Frei Vunibaldo
Talleur é nomeado primeiro Administrador Apostólico. Para o Frei, “Aceitamos esta
60
Prelazia que nos foi confiada pela Santa Mãe Igreja em virtude da Santa Obediência. É um
lugar abandonado e pobre, realmente apropriado para os pobres filhos de São Francisco”.13
Imagem 3 – Dom Vunibaldo Talleur
Fonte: Acervo da escola
De acordo com Alves (1995) e pelo o que consta nos relatos encontrados, Dom
Vunibaldo teve papel importante para a expansão da educação na região sul de Mato
Grosso. Apoiado pelo manifesto da Escola Nova e de modernização do País pregada pelo
Governo de Getúlio Vargas, em que a educação era condição para o seu desenvolvimento,
ele então, na sua missão de evangelizador, teve a preocupação de criar em cada capela
edificada uma escola paroquial.
13
Disponível em: < http://diocesederondonopolis.org.br/index.php?pg=noticia&intNotID=78>. Acesso em:
21 maio 2012.
61
[...] Seu propósito maior era promover uma evangelização ativa,
envolvendo as crianças, os jovens e os adultos numa catequese contínua.
Daí a preocupação em criar escolas junto às igrejas que fundava e
implantar cursos que pudessem contribuir para o aprimoramento
profissional dos jovens (ALVES, 1995, p. 25).
Informado sobre o estilo de vida simples e modesto das Irmãs Catequistas
Franciscanas, Dom Vunibaldo dirigiu em 1944 um apelo a essa Congregação em Rodeio,
Santa Catarina, pedindo Irmãs para atuarem no ensino da região de São Lourenço de
Fátima, em Mato Grosso.
Ainda de acordo com Alves (1995) sem sucesso naquele momento, em 1946 o Frei
novamente repete o apelo por meio de uma carta14
, que pelo seu conteúdo é possível
perceber a sensibilidade do Frei ao descrever as condições precárias da região tão carente
de cuidados básicos e a preocupação em busca de melhorias ao povo da região:
Revma. Madre Geral
Irmã Luiza Mondini
DD Superiora Geral da Companhia das Catequistas
Chapada,19 de III de 1946
Rodeio
É no dia de São José, que venho pedir-lhe por amor de N. S. Jesus Cristo
Crucificado, o grande favor de ceder-nos umas Irmãs Catequistas para
nossa pobre missão. As necessidades espirituaes do povo de nossa
extensa Prelazia, que é maior do que todo o Estado de Santa Catarina, nos
impelem a olhar para novas colaboradoras.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!
Precisamos para a instrução religiosa da população rural Irmãs
Catequistas.
Quando, no ano atrazado, estava em São Paulo, ouvi muitos elogios sobre
as Revmas. Irmãs Catequistas Franciscanas de Rodeio, e os Padres
Franciscanos muito me encomendaram a sua Companhia. Estudei as
Constituições e achei nelas o que precisamos para as condições que temos
aqui na Prelazia.
A nossa missão é a mais nova do Brasil, fundada em 1941 pelo Pio XII. É
confiada à direção dos PP. Franciscanos. Abrange o Centro Norte de
Mato Grosso, é missão na verdadeira acepção do termo. Antes da nossa
14
Carta reproduzida do slide fornecido pela direção da escola Sagrado a este pesquisador. Não foi
identificado o arquivo em que se encontra a mesma, mas acredita-se que faça parte dos guardados das Irmãs
do CICAF em Fátima de São Lourenço, visto que os slides foram produzidos por aquela Congregação. Na
reprodução respeitou-se a linguagem escrita utilizada naquela época.
62
chegada, era completamente abandonada de sacerdotes. Não há nenhuma
cidade neste território, há uma só Igreja, a da Chapada, e umas três
capelas distante uma da outra 40 léguas.
A maior parte da povoação que é de 40.000 almas, e está aumentando de
dia em dia; colonistas não há por aqui, ainda formam os sertanejos,
espalhados pelo imenso território, sem qualquer recurso espiritual.
Embora a maior parte agora já seja batizado, falta qualquer educação
religiosa, devido a escassez de sacerdotes e das escolas. Somos apenas
cinco Padres, e nas viagens havemos de passar as vezes um mês ou mais,
sem encontrar escola!
Precisamos urgentemente [de] algumas escolas paroquiais
Por isso mandei no dia 20 de junho de 1944 nosso pedido à sua distinta
Companhia, recebendo logo resposta escrita por Frei Bruno. Rezou a
carta que somente em 1946 seria possível atender nosso pedido. No
decorrer desses dois anos, tomei liberdade de mandar-lhes algumas
notícias e fotografias da nossa missão. Venho agora renovar meu pedido.
É por isso que venho solicitar à Revma Madre.
Estamos construindo, na Beira do Rio São Lourenço, uma pequena igreja
a única naquela zona, distante das outras existentes à 300Kms!
Junto à Igreja um “ninho” para dois padres, e perto uma escola com a
morada das Irmãs Catequistas. Esperamos terminar a construção até
outubro!
Peço-lhe, então, de mandar-nos pelo março do ano que vem, três ou
quatro irmãs, para começar ali. Certamente, no primeiro ano não
podemos contar com muitos alunos, sendo o lugar pequeno. Não sou
otimista, mas aumentará de ano em ano.
O lugar tem clima bom, um pouco quente. Quase sem mosquitos, aqui
uma vantagem enorme e rara! Passa ali a única estrada de rodagem, de
Campo Grande a Cuiabá. Os sertanejos são bons, somente incultos.
Perto ali existem seis aldeias de Bororos, que vivem ainda sua vida
selvagem, são mansos, e tem alguma ligação com os civilizados. As
condições entre os bororos para missionar são as melhores!
Uma só coisa dificultará tudo, e estamos falando francamente: as irmãs
acharão nada de conforto! Não há nenhuma casa de tijolos aqui, não há
padaria, nem luz, nem água encanada, e às vezes se passam muitas
semanas sem carne fresca! Não há correio, nem rádio, nem journal, muito
pouco e sem regularidade na condução para Cuiabá ou Campo Grande.
É assim que podemos convidar somente Irmãs que querem ser vítimas de
sua vocação.
Estamos intencionando, fazer uma visita, talvez no novembro.
Então dá tempo, para preparar tudo.
Naturalmente, seria para mim maior vantagem e de sossego, saber logo
que a Revma. Madre atenderá nosso pedido.
63
Findo com muitas saudações em Cristo Nosso Senhor.
Cumprimentando respeitosamente.
Mons. Frei Wunibaldo Talleur. O fim.
Desta vez, com muita empolgação em contribuir com os trabalhos da educação na
região, o pedido do Frei é atendido, foi então que no dia 04 de abril de 1947, chegaram
orgulhosas à região do Vale de São Lourenço de Fátima15
, depois uma longa e cansativa
viagem, as irmãs Ana Eccher, Lúcia Maria Schweitzer e Thereza Marangoni.
Imagem 4 - Chegada das Irmãs Franciscanas em São Lourenço de Fátima/MT
Fonte: Acervo da escola (s/d)
A cidade de Rondonópolis nesta época, não passava de um pequeno povoado.
Tinha apenas um posto telégrafo e ao redor deste, uma dezena de famílias com suas casas
simples, uma pensão que hospedava os caminhoneiros e um armazém, cujo maior
comércio era o de alimentos produzidos na região e a cachaça.
15
A região denominada Vale de São Lourenço de Fátima, se localiza na região sul de Mato Grosso e
englobava os municípios conhecidos hoje como Jaciara, Juscimeira, São Pedro da Cipa e o distrito de Fátima
de São Lourenço.
64
No ano de 1949, ocorreu a notícia que o Governo de Mato Grosso estava doando
terras e lotes de 20 a 50 hectares em Rondonópolis. Esse incentivo fez com que atraísse
inúmeras pessoas deste e de outros estados em busca de terras; tanto que e 1950, a
população da cidade já contava com aproximadamente 3.000 habitantes.
Dom Vunibaldo, apóstolo e homem dinâmico, com clara perspectiva de futuro,
entusiasmado com o rápido desenvolvimento da cidade embrionária, se preocupou em
implantar as bases da educação para atender o crescimento da cidade.
Com a perspectiva de expansão da missão originada em São Lourenço de Fátima,
em 1949, a pedido novamente de D. Vunibaldo, duas Irmãs chegaram a Rondonópolis
dando início as atividades da escola.
No início de 1949, D. Vunibaldo solicitou duas freiras para a região de
Rondonópolis e, em 29 de março do mesmo ano, chegaram as irmãs
Maria Romani e Maria Bona para ensinar e catequizar os filhos colonos.
Nessa época havia no povoado cerca de 100 crianças em idade escolar,
por isso D. Vunibaldo conseguiu a criação da escola e nomeação da irmã
Maria Bona, que passou a receber Cr$ 500,00 por mês. A escola criada
recebeu o nome de ESCOLA REUNIDA CÂNDIDO RODOM: foi
instalada numa casa de pau-a-pique, sem janelas, sem portas, sem mesa e
sem quadro-negro, que só chegou três meses depois (ALVES, 1995, p.
26).
Sem nenhum conhecimento prévio da realidade da cidade de Rondonópolis, mas
conscientes da sua vocação missionária, as pioneiras foram acolhidas na casa do Sr.
Benedito Nogueira, morador do povoado de Rondonópolis até que suas acomodações
fossem finalizadas.
Em 18 de abril do mesmo ano, as irmãs mudam com as poucas bagagens que
trouxeram de viagem, para a modesta, rústica e pequena casa de pau-a-pique, de chão
batido e ainda sem portas, mas construídas com o esforço de D. Vunibaldo e da
comunidade, no local onde atualmente se localiza o salão da escola.
Impulsionadas pela sua devoção, as irmãs se entregaram totalmente à missão,
atentas a todos os pedidos dos pobres, doentes, crianças, jovens e adultos. Dedicaram-se a
catequese, educação, serviços domésticos, lavavam roupas no Córrego Arareau e ainda,
eram ajudantes de pedreiro nas obras de construção da escola.
Na escolinha improvisada, não havia mesas, carteiras e nem o quadro negro,
essencial para as aulas das freiras. Acima de tudo, estava o interesse das crianças e dos pais
65
pela oportunidade de verem seus filhos aprendendo a ler, escrever e contar na “Escola das
Irmãs”, que com suas quatro salas de aula, durante dez anos serviram a população de
Rondonópolis.
O interesse foi tanto, que o crescente número de alunos exigiu das duas irmãs o
compromisso de lecionar no período matutino e vespertino sem ninguém para ajudá-las
ainda. Iniciaram as aulas sem nomeação até que finalmente, o Governador do Estado,
nomeou com remuneração a primeira professora do colégio, selando a participação do
estado como uma escola conveniada.
Imagem 6 – Irmãs ajudando na construção da escola
Fonte: Acervo da escola (s/d)
Os primeiros alunos da escola vinham da redondeza da cidade em busca de se
alfabetizarem, visto que a maioria dos alunos eram filhos de lavradores, guarda-fios,
boiadeiros, carpinteiros, motoristas, oleiros ou exerciam atividades domésticas. A faixa
66
etária desses alunos era dos 7 aos 17 anos de idade. Poucos possuíam registro civil e as
salas de aulas eram divididas, para meninos e para meninas (ALVES, 1995, p. 29).
A grande procura dos moradores, fez com que aumentasse o reforço da escola, foi
então, que chegaram as irmãs alfabetizadoras Maria Ossemer e a irmã Benta Dal’agnolo,
que no fim de 1951, após ajudar nos trabalhos da escola, regressa para Santa Catarina.
Com relação ao que era ensinado nos primórdios da escola, a irmã Maria Ossemer
em entrevista à historiadora Luci Léa Lopes Tesoro em 1988, citado por Laci Alves, diz
que:
Primeiro a gente ensinava as vogais, as letras, a soletrá-las; depois a
sílaba, a palavra e, finalmente, a frase. Nós ministrávamos aulas até a
admissão ao ginásio, ano em que se aprendia num livro próprio que
continha todas as matérias. Em todos os anos o ensino era muito puxado e
as crianças aprendiam mesmo [...]. O material escolar era providenciado
por D. Vunibaldo que conseguia em Cuiabá e outros lugares, também
nossa Ordem, em Santa Catarina, nos enviava muita coisa, tendo em vista
que aqui não tinha nada mesmo (ALVES, 1995, p. 29).
Simultaneamente, a partir deste momento, ensinava-se também a catequese, os
cânticos, as atividades de recreação e os ensinamentos cristãos. A Escola Sagrado foi
pioneira também, na implantação do ensino profissionalizante, posto que a cidade naquele
momento, em pleno desenvolvimento, demandava também, mão de obra para atender os
comércios e o mercado produtivo da região. Dom Vunibaldo, portanto, providenciou a
implantação de cursos de corte e costura, bordado, pintura em tecidos, datilografia,
desenho e marcenaria.
Com a vinda da irmã Amália Cristofolini em 1952, a direção da escola passa para a
sua responsabilidade, onde, juntamente com D. Vunibaldo, se empenha na construção do
prédio. Mesmo com todas as dificuldades, como falta de recursos financeiros e água, a
primeira etapa da obra ficou pronta em 1953 com três salas de aula e a residência das
irmãs.
67
Imagem 7 – Casa onde funcionou a escola e os alunos em atividades recreação com D. Vunibaldo
Fonte: Acervo da escola (1950)
Imagem 8 – O novo prédio para a escola com a residência das irmãs
Fonte: Acervo da escola (s/d)
Findo esta etapa, ainda de acordo com Alves (1995), depois de muitos trabalhos e
confiantes de terem contribuído com o projeto de instalação da escola, as pioneiras Maria
68
Bona e Maria Romani retornam em 1954 para Santa Catariana, e desta vez, chegam as
irmãs Célia Maria Catoni e irmã Rosa Vavassori para complementar o grupo, junto às
irmãs Amália e Maria Ossemer. A irmã Amália Cristofolini, dedicada e prestativa na
direção, parte para Campo Grande em 1956, deixando o cargo nas mãos da irmã Clorinda
Dematé, que além de administradora e professora, seria a responsável em ampliar a
dimensão pedagógica da escola com o ensino profissionalizante.
Até 1959, funcionou regularmente apenas o curso primário. Pelo Decreto nº 658 de
22/07/59 é criado o “Curso Normal Regional 1° Ciclo” iniciando suas aulas em março de
1960 com 45 alunos. Esse curso funciona em caráter temporário conforme a demanda por
professores da região e foi responsável pela formação de uma geração de professores que
depois iriam atuar em novas escolas que vinham sendo instaladas na cidade.
Pelo sucesso e interesse que obteve na sua primeira fase, foi iniciado o 2° Ciclo da
Escola Normal, pela Lei n° 2.212 de 08/09/64, desta vez, em caráter particular. Em 1973 o
Curso Normal foi retirado da escola, com retorno em 1979.
Em 1967, mediante a Resolução nº 53/67 do Conselho Estadual de Educação foi
criado o “Curso Normal São Francisco” em caráter experimental para funcionar em
períodos de férias a fim de preparar professores que atuavam na zona rural. O curso
funcionou até 1977.
Outro evento importante nessa trajetória é a criação em 1967 da Associação de Pais
e Mestres que tem dado grande apoio para escola no que tange a administração e melhores
condições nas decisões pedagógicas dos professores, bem como o “maior entrosamento
entre o binômio família-escola e assim alcançar maior rendimento dos alunos”.16
A escola é pública coordenada pela Congregação das Irmãs Catequistas
Franciscanas e recursos financeiros do Governo do Estado de Mato Grosso, através da
Secretaria de Estado da Educação.
Sobre as dificuldades financeiras em manter a escola, há vários relatos em
documentos sobre a falta de recursos para compra de materiais e pagamento das despesas.
Com o apoio da comunidade e da igreja, a escola sempre organizou eventos como,
quermesses, bingos e outros atrativos para angariar fundos que possam suprir suas
16
Livro “Ata de Reuniões da Associação de Pais e Mestres da Escola Sagrado”, 1967-1979, fl. 1/verso.
69
necessidades financeiras. Como exemplo, o relatório do ano de 197217
, mostra as
dificuldades que as irmãs se encontravam para administrar a escola:
[...] o Estado usufrui do prédio sem nunca sentir a necessidade de pagar o
aluguel ou liberar verbas para auxiliar na conservação e manutenção do
mesmo. – Única exceção – em 1971 o estado pagou Cr$ 6.000,00 (seis
mil cruzeiros) para aluguel; (Cr$ 500,00 – quinhentos cruzeiros mensais);
- As despesas de conserto e conservação, aquisição de material de
limpeza, taxa de luz e extraordinárias, devem ser cobertas com os 20% da
Caixa escola, que ficam no estabelecimento. 450 alunos são isentos da
referida taxa e a maioria, pagam mensalmente, apenas Cr$ 2,00 (dois
cruzeiros); - Os professores do Curso Primário e do Normal são
remunerados pelo estado com vencimentos que todos sabemos não ser
suficientes.
Mesmo com tamanhas dificuldades vividas ao longo dos anos, sobretudo
financeiras, a escola tem expandido e não tem se desviado do seu papel educacional, social
e religioso; sempre, empenhando esforços para a manutenção da qualidade do ensino que é
reconhecida até hoje.
Os níveis de ensino ofertados foram se alternando durante muito tempo, devido as
políticas de ensino e condições da escola, mas sempre, mantendo os níveis básicos e de
formação, tendo como exemplo o magistério, que formou toda uma geração dos
professores atuantes no município.
Com a extinção gradativa do magistério por determinações da Secretaria Estadual
de Educação, a partir de 1995, um passo de grande relevância vivido nos espaços da
escola, contando com a reunião de alguns professores internos e de outras escolas, foi a
fortalecimento de um grupo de estudos de formação continuada e de atualização dos
professores das series iniciais, primeiramente denominado Cefam (Centro de Formação e
Atualização de Professores), logo depois, adotado e transformado pelo governo do estado
como modelo para a criação do que hoje se conhece como os Centros de Formação e
Atualização para Professores (CEFAPRO). 18
17
ROCHA, Zenilda Novaes. Relatório do educandário Sagrado Coração de Jesus – Rondonópolis.
[1972]. 4f. 18
Há em nível de pesquisa acadêmica alguns trabalhos que têm se dedicado a investigar o grupo de
professores que se reuniam no espaço da Escola Sagrado e o movimento que gerou um modelo de centro de
capacitação docente no Estado de Mato Grosso. Dentre eles: ROCHA, Simone Albuquerque da. Habilitação
magistério em Mato Grosso: o caso do Cefam de Rondonópolis. 1996. Dissertação – (Mestrado em
Educação) – Universidade Estadual Paulista - Campus de Marília, 1996; ROCHA, Simone Albuquerque da.
Os professores leigos e o Proformação: uma alternativa possível a partir do projeto piloto de Mato Grosso.
312 f. 2001. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Estadual Paulista – Campus de Marília, 2001;
PILEGI, Silvia de Fátima. Práticas de Formação Contínua de Professores - da autonomia professoral à
70
Para Rocha (2001, p. 69):
A busca de experiências significativas, inclusive de espaços para os
professores discutirem sua formação, num processo coletivo de reflexão
da ação, desenvolveu-se na Escola Estadual de 1º e 2º graus Sagrado
Coração de Jesus. A instituição mantinha um lócus de discussão com
sucesso evidenciado pela busca crescente dos professores da rede pública
pela inscrição de turmas de estudos, há dois anos. Este fato levou a
Secretaria de Estado de Educação a investir no grupo, subsidiando
algumas ações até que se construísse uma proposta estadual no sentido da
instituição de Centros de Formação.
Em 1998, a escola passa a ministrar o curso propedêutico que logo, em 2008, após
ser desativado, assume apenas o ensino fundamental nos períodos matutino e vespertino.
É notório que a história desta escola vem acompanhando e ajudando a construir a
história da cidade de Rondonópolis, uma vez que mesmo antes da sua emancipação, o
colégio já se fazia presente no povoado, contribuindo com os preceitos éticos, morais,
religiosos e profissionais da sua população, criando uma íntima relação entre a história, a
cidade e a educação.
3.2 O caminho metodológico da pesquisa
Quando propus o entendimento dos arquivos escolares como produtores de
memória, considero importante adentrar, sobretudo, no estudo das instituições escolares.
Portanto, ao optar por uma metodologia capaz de compreender esses espaços ao objetivo
proposto nesta pesquisa, tenho trilhado o caminho das teorias e metodologias da história.
Tendo em vista a natureza de tão emblemático objeto de estudo, recorri aos
procedimentos usuais nas pesquisas históricas, quais sejam: a localização, a reunião, a
organização, seleção e análise de fontes documentais. Recorri ainda, a uma extensa
bibliografia sobre arquivos escolares e memória, especialmente, aos registros de toda sorte,
preservados nos arquivos da Escola Sagrado.
Assim sendo, os caminhos aqui percorridos, estão também pautados, na busca de
uma visão crítica da escola como produtora da sua própria memória e como extensão, da
cidade de Rondonópolis, narrada nas práticas de escrituração e nos documentos
acumulados ao longo dos anos no arquivo dessas instituições.
prescrição da política estatal. 2004. Tese – (Doutorado em Educação: História, Política e Sociedade) –
Pontifica Universidade Católica de São Paulo, 2004.
71
Quando nos referimos à história, comumente nos vem a ideia de um passado
distante, às vezes, carregado de fatos, cronologias e personagens que foram importantes ao
desenvolvimento de algum tipo de ato heróico. No entanto, a história, é considerada uma
abordagem muito mais ampla e útil, que tem se ocupado muito mais com as
transformações que se operam no processo histórico, em especial, em entender as
dinâmicas da sociedade, da economia, das políticas, das religiões, e das ideologias no qual
estamos historicamente inseridos.
Nesse sentido, a história não visa apenas explicar o passado pelo passado distante e
morto, mas “se torna importante na medida em que se acredita que a história, ajudando a
explicar a realidade, pode ajudar ao mesmo tempo a transformá-la” (BORGES, 2005, p. 8).
Em síntese, a partir do estudo do passado podemos entender o processo de
transformação da natureza realizado pelo acúmulo de conhecimento do homem que de
alguma forma ficaram registrados, e que possibilitou mudanças substanciais no modo de
vida da humanidade e do próprio homem, além de abrir horizontes de transformações em
nossa sociedade. O contato com civilizações e grupos sociais, que viveram em espaços e
tempos diferentes dos atuais, nos auxilia no sentido de apreendermos que as formas de
produzir sobrevivência variam na história.
3.3 Primeiros passos: conhecendo o arquivo da escola
Primeiras impressões
No primeiro contato, objetivando a familiarização com o ambiente da escola,
conhecer seus espaços físicos (diretoria, coordenação, secretaria, bibliotecas, laboratórios,
salas de aula, cozinha, disposição dos banheiros, salas de informática, quadras de esporte,
capela, pátio, etc...), o funcionamento administrativo e pedagógico, o corpo docente e
funcional da escola, apresentei a diretora e a coordenadora, minha proposta de pesquisa
mostrando a importância e o motivo que tem me levado em optar por esta escola como
pano de fundo para ilustrar o papel dos arquivos escolares como lugares de memória.
Fiz uma retrospectiva do meu envolvimento com as questões tratadas em minha
proposta, alinhando preocupações mútuas com os incentivos que a escola vem há muito
tempo se empenhando em torno da preservação da sua história.
72
A proposta teve uma boa aceitação por parte da diretora e da coordenadora que se
mostraram bastantes interessadas no assunto. Sugeriram para que, posteriormente, a
pesquisa pudesse se estender em um trabalho mais aprofundado sobre a sua história, visto
que não há ainda nenhum livro que conta a história da escola e quem sabe talvez, a
pesquisa possa transformar-se em um livro de referência e pesquisa.
Relataram que muitos pesquisadores já utilizaram o arquivo da escola para
pesquisas de mestrado e doutorado e que muitos resultados desses trabalhos são
considerados referência para o estudo da história da educação na região. Demonstraram
ainda, certo descontentamento com os pesquisadores que, ao término de suas pesquisas,
não retornam à escola oferecendo uma contrapartida ao conhecimento que fora produzido,
visto que os trabalhos finais que são desenvolvidos, raramente são depositados na
biblioteca da escola; e que os pesquisadores, por estarem mais envolvidos com as
deficiências das fontes de pesquisas da escola, não se interessam em apresentar sugestões
de melhorias para sua preservação; ressaltaram que poucos se interessam pela escola como
objeto principal de estudo, mas sempre, como extensão de um objeto maior, mesmo
considerando e reconhecendo a importância da escola.
Essa fase da pesquisa foi importante, pois me permitiu tecer as observações iniciais
e empíricas sobre o arquivo da escola e o melhor delineamento do referencial teórico e
metodológico que agora é apresentado. Permitiu ainda, a divulgação e socialização dessa
pesquisa junto a eventos19
locais, regionais e nacionais, cuja aceitação foi marcada por
discussões e trocas de experiências similares que vêm sendo desenvolvidas em outras
regiões do país.
Feitas as formalidades de autorização para a execução da pesquisa junto à escola,
deu-se início ao diagnóstico de sondagem onde foi possível tecer observações importantes
sobre a formação e o funcionamento do arquivo desta escola.
O arquivo encontra-se instalado numa pequena sala onde funcionou durante muito
tempo um laboratório de biologia, cuja placa de sinalização ainda encontra-se afixada à
porta de entrada. Pela disposição dos armários em que as caixas de arquivos estão
19
Refiro-me às comunicações que foram submetidas no ano de 2011, ao Congresso de Pesquisa em
Educação (Rondonópolis, MT), ao I Encontro de História da Educação do Centro-Oeste (Cuiabá, MT), ao
VIII Colóquio de Pesquisa Sobre Instituições Escolares – Pedagogias Alternativas (São Paulo, SP); e, em
2012, ao VII Seminário Nacional do Centro de Memória da UNICAMP: Memória, Cidade e Educação das
Sensibilidades (Campinas, SP).
73
guardadas é possível perceber um longo balcão de concreto revestido de cerâmica, ao redor
da parede, típico das bancadas utilizadas por esse tipo específico de laboratório.
Imagem 9 – Porta de entrada do arquivo
Fonte: Fotografia do autor
A sala do arquivo é quase sempre fechada, pois a condição de “arquivo passivo”20
o
torna quase sempre sem uso. É um local sem refrigeração, mesmo com a disposição de um
ventilador de parede. Exala um cheiro muito forte de papéis velhos e de poeira, já que a
limpeza parece ser realizada com pouca frequência, necessitando sempre o uso de proteção
como avental, luvas e máscaras para o manuseio dos documentos.
A cada intervalo de uma visita e outra, notei que o arquivo é utilizado também
como depósito provisório de materiais escolares, equipamentos novos à espera de
instalação e mobiliário que já não tem mais uso a espera de outro destino. Sempre que eu
20
Denominação atribuída ao arquivo permanente pelos funcionários desta escola. O Manual “Organização e
Operacionalização do Trabalho da Secretaria Escolar”, publicado pela SEDUC/MT também utiliza esta
denominação para os inativos, ou arquivos permanente, como se conhece tecnicamente. Comporta ainda no
espaço da secretaria o Arquivo Ativo, que correspondem aos dossiês dos alunos que estão matriculados e
cursando as aulas. Esses dossiês que formam esse arquivo ativo, são guardados em pastas suspensas com
armários de gavetas, típico para o uso constante.
74
retornava para uma nova visita, alguns desses materiais que lá foram depositados, haviam
sido retirados, e outros, tomavam o lugar.
Os armários, confeccionados em madeira tipo MDF21
com portas e fechos à chave,
estão dispostos na sala de forma paralela nos dois lados das paredes principais do arquivo,
formando um corredor único, sendo que no primeiro lado, de entrada pela única porta, os
armários se estendem até o teto e no outro, do meio da parede, para baixo das janelas,
preenchendo o vazio do balcão do referido antigo laboratório.
Há ainda, três armários de aço, sendo um para os livros de registro, um segundo
para documentos administrativos da escola (relatórios, diários oficiais, leis e resoluções
sobre atos da escola, recorte de jornais, folhas de pagamento, correspondências, merenda
escolar, planos de desenvolvimento da escola, documentação do MEC e da Secretaria de
educação, etc.) e um terceiro, para os diários de classe e relatórios de diário de classe
eletrônico.
Imagem 10 – Disposição dos armários que estão guardados os dossiês dos alunos/professores
Fonte: Fotografia do autor
21
O “Medium-density fiberboard é um material derivado da madeira e é internacionalmente conhecido por
MDF. Em português a designação correta é placa de fibra de madeira de média densidade. O MDF é
fabricado através da aglutinação de fibras de madeira com resinas sintéticas e outros aditivos. As placas de
madeira são coladas umas as outras com resina e fixadas através de pressão”. Wikipédia. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Medium_Density_Fiberboard>. Acesso em: 28.02.2012.
75
O principal montante de documentos do arquivo, que se pode observar é composto
por dossiês de alunos, professores e funcionários da escola e corresponde a essência do
método de arranjo organizacional do arquivo. Estão acondicionados em caixas plásticas
tipo polionda, onde em cada uma, constam os dossiês individuais com a sua devida
identificação. Nesses dossiês, além da documentação acadêmica, alguns trazem atividades
dos alunos e trabalhos escolares que por alguma razão, a escola considerou importante
naquele momento fazer parte do registro escolar do aluno.
Findo esta fase de sondagem, deu-se início ao planejamento da coleta de dados,
buscando a inventariação e quantificação do fundo documental da escola. Apesar de esta
fase ter sido a mais dispendiosa e rigorosa quanto à descrição dos documentos encontrados,
considero a mais gratificante, por ter permitido um contato mais direto com a
documentação do arquivo.
Planejamento a coleta dos dados: identificando as fontes
Ao me debruçar no arquivo em busca dos indícios e possibilidades de sustentação
da memória da escola, para efeito de análise, levei em consideração a documentação
produzida e acumulada em algum suporte físico, seja ele escrito, visual, oral ou digital
depositado no então denominado “arquivo passivo” da escola.
A sistemática para o inventário do fundo documental foi organizada por este
pesquisador, em um formulário próprio considerando as peculiaridades do arquivo da
escola. A ficha intitulada “Ficha Para Descrição de Documentos Escolares” (APÊNDICE
2), foi confeccionada para preenchimento no computador, utilizando tabelas no formato do
Word, constando de campos específicos para o levantamento de um diagnóstico sobre as
condições tipológicas e situacional dos documentos em posse do arquivo.
Os dados dessa ficha contemplam os seguintes campos para descrição do fundo
arquivístico da Escola Sagrado:
Espécie documental:22
busquei identificar o formato físico do documental descrito. Ex.:
Se o documento em descrição trata-se de livro, vídeo, CD, fotografia, etc.
22
“Divisão de gênero documental que reúne tipos documentais por suas características comuns de
estruturação da informação. São exemplos de espécies ata, carta, decreto, disco, filme, fotografia,
memorando, ofício, planta, relatório” (DICIONÁRIO, 2005, p. 85).
76
Tipologia do documento: 23
tratei da divisão de uma espécie do documento descrito. Ex.:
se o livro é de ata, de matrícula, de ocorrências, de chamada, ou outro qualquer.
Armazenagem: local em que o documento estava acondicionado no momento da coleta.
Ex.: sala, depósito, caixa de papelão, armário, estante, baú, gaveta, etc.
Título: nome do documento retirado da capa, do termo de abertura ou atribuído pelo
pesquisador na falta de registro.
Data-limite: período compreendido entre o início e o fim de produção do documento. Ex.:
documento produzido em 1967; Livro Ata com registros entre 1667/1982, etc.
Suporte: se o documento descrito é impresso, manuscrito, de leitura magnética, etc.
Dimensão: largura, comprimento e espessura do documento.
Conservação: estado físico em que o documento se encontra. Bom, regular ou péssimo
estado de conservação. Quanto a este dado, foi considerado “Bom”, os documentos com a
sua integridade física intacta, mesmo com o constante manuseio e às vezes amarelados
com o tempo; considerado “Regular”, os que se apresentam com início de deterioração,
rasgos leves, mas que não comprometem a leitura do conteúdo, e “Péssimo”, os que se
apresentam com elevado grau de deterioração.
Quantidade: número de documentos idênticos ao item descrito. Em se tratando das
tipologias, neste campo foi informado apenas a sua espécie.
N° de arquivo: numeração em que o documento está arrolado no arquivo; número ou
código de localização dentro do arranjo sistemático.
N° de folhas: quantidade de folhas ou páginas do documento.
Descrição física: anotações detalhadas das condições de conservação do documento como
rasgaduras, remendos e reparos utilizados, capas soltas, costuras desfeitas, etc.
Descrição de conteúdo: dados e observações sobre o conteúdo do documento descrito:
anotações a lápis, forma de grafia, propósito da produção do documento, etc.
Proveniência: unidade ou setor da escola em que o documento foi produzido de acordo
com a sua finalidade. Ex.: secretaria (livros de escrituração), diretoria (prestação de contas,
documentação oficial da escola), coordenação pedagógica (planos de ensino, atas de
reuniões com professores), etc.
23
“Divisão de espécie documental que reúne documentos por suas características comuns no que diz respeito
à fórmula diplomática, natureza de conteúdo ou técnica do registro, tais como cartas precatórias, cartas
régias, cartas-patentes, decretos sem número, decretos-leis, decretos legislativos, daguerreótipos,
litogravuras, serigrafias, xilogravuras” (DICIONÁRIO, 2005, p. 85).
77
Categoria: Refere-se à finalidade do conteúdo ao qual o documento foi produzido. As
opções para a classificação dos documentos do arquivo estão assim organizadas:
Documentação discente - documentos que dizem respeito à vida escolar dos alunos;
Documentação docente - documentos que dizem respeito às atividades profissionais dos
professores; Documentação institucional - documentos que dizem respeito à vida
administrativa e funcional da escola, criação, finanças, etc; Documentação externa -
documentos que dizem respeito à instituição, mas que fora produzida por órgãos externos;
Documentação cultural - Documentos produzidos pela escola como parte do registro de
atividades do seu cotidiano;
Fundo: é conjunto de documentos produzidos e recebido como resultado de suas
atividades. Esta pesquisa se debruça em apenas um fundo arquivístico, o da Escola
Sagrado.
Grupo: outra denominação que a escola adotava no período em que o documento descrito
fora produzido. Ex.: “Escola Primária de Rondonópolis”; “Educandário Sagrado Coração
de Jesus”, “Escola de Dactilografia”, etc.
3.4 A classificação e o arranjo documental do arquivo
Quando nos referimos à classificação e ao arranjo de documentos nos arquivos, seja
ele público ou privado, pressupõe-se que a sua sistematização siga um plano, lógico ou
mesmo arbitrário, construído com base em alguma ideia intuitiva sobre divisões,
prioridades, afinidades, hábitos, distinções, agrupamento, etc., caracterizado pela
necessidade de busca e localização por parte dos usuários diante da grande quantidade de
documentos que determinada instituição produziu e acumulou ao longo dos anos.
Para o princípio da proveniência24
, os documentos de arquivos se apresentam de
inúmeras formas e nos mais variados suportes materiais. No entanto, não é o tipo, nem a
forma, nem o conteúdo informativo, que caracterizam um documento de arquivo, mas sim
a sua origem, ou seja, o modo como ele foi produzido, em função e no decurso, da
atividade de uma pessoa física ou coletiva.
24
“Principio básico da arquivologia segundo o qual o arquivo produzido por uma entidade coletiva, pessoa
ou família não deve ser misturado aos de outras entidades produtoras” (DICIONÁRIO, 2005, p. 85).
78
Como observa Souza (2008, p. 251):
A classificação que utiliza princípios de divisão ou de classificação
artificiais não se prende à essência dos objetos distribuídos e podem ser
modificados, suprimidos mesmo, sem a alteração dessa essência. É o
caso, por exemplo, de distribuir os homens pela cor do cabelo ou arranjar
os livros em uma estante de acordo com o formato ou encadernação.
Entretanto, a classificação que parte de princípios de divisão ou de
classificação naturais encontra e exprime a ordem seguida pela natureza
no meio das dissemelhanças quase infinitas dos seres. Ela parte da
observação dos indivíduos e, em seguida, compara-os. Observando
caracteres comuns em certo número de indivíduos dissemelhantes,
elimina as diferenças, conserva as analogias e com estas constitui tipos de
variável extensão.
Então, a organização desses materiais possibilita refletir varias práticas e
procedimentos da escola, implicitamente imposta na organização dos seus documentos,
sobretudo, em relação às necessidades de busca e pesquisa desses papéis por parte da
instituição que o produziu ou acumulou.
Portanto, a maneira como esses documentos se apresentam sistematizados nos
arquivos das escolas, mesmo não estando em consonância com os padrões e normas
técnicas, pode muito contribuir para a compreensão de várias questões, no que tange a
organização escolar, os formatos e níveis de ensinos. Exemplificando, se os documentos
estão organizados por departamentos, pode mostrar como a escola vem se estruturando
administrativamente; se estão organizados por níveis de ensino, então, pode evidenciar as
mudanças de oferta de seriação e ciclos ao longo dos anos, já que dificilmente, as
mudanças ocorridas na escola influenciam em uma nova forma de organização do arquivo;
pode ainda mostrar, se a escola segue alguma normativa imposta pelos organismos
estaduais de educação, e em caso negativo, quais as razões em optar por uma organização
própria; ou, em quais princípios ou valores está pautada tal sistematização.
Há ainda, algumas questões que podem ser lançadas procurando entender a forma
como esses documentos estão arranjados: o uso de armários fechados teria alguma relação
com o sigilo e a proteção do conteúdo dos documentos ali guardados? O que caracterizaria
os documentos estarem arranjados em prateleiras abertas? Praticidade? Otimização de
espaço físico? O que caracterizaria a secretaria da escola optar por forma de acondicionar
dos documentos em pastas suspensas ou caixas de papelão em detrimento as caixas
plásticas de polionda? Teria essa escolha da escola alguma intenção de preservação ou
79
apenas de guarda? Enfim, são várias questões que podem evidenciar as preocupações da
escola com a guarda permanente de seus documentos.
3.5 Os dispositivos de busca: os livros índices
Os dispositivos de busca dos documentos no arquivo da escola não são ainda
informatizado. Manualmente, para as buscas é necessário a consulta do “Livro Índice”,
elaborado pela secretaria, que remete a pessoa interessada a localização do documento
desejado.
Os livros índices tratam apenas dos dossiês dos alunos e professores. Apresentam-
se em folhas plásticas, permitindo a reposição e a inserção de novas folhas. Os nomes
estão grafados em máquina datilográfica e algumas manuscritas a caneta. As folhas contêm
dados de identificação, como: nome dos alunos, número do dossiê e um espaço para
observações.
A numeração nos livros índices que remete a documentação do aluno corresponde à
numeração dos dossiês dos alunos e professores acondicionados dentro das caixas,
organizado por numeração sequencial.
Imagem 11 – Termo de abertura do Livro de Arquivo-1974
Fonte: Fotografia do autor
80
Os nomes dos alunos, nos índices, estão arrolados em ordem alfabética com
referência ao número do dossiê (há partes em que a ordenação alfabética não corresponde à
ordem silábica), sendo que, o primeiro livro intitulado: “Livro índice do ensino médio
permanente”, composto de 4 volumes, onde o volume 01, corresponde as letras A-E, o
volume 02 as letras F-L, o volume 03 as letras M-R e o volume 04 as letras S-Z.
Imagem 12 – Livro índice atual do arquivo
Fonte: Fotografia do autor
Nota-se que neste livro, mesmo fazendo referência aos dossiês dos alunos do ensino
médio concluintes do período de 1998 a 2008, não há necessidade de consultá-los, visto
que os documentos do período em questão estão arranjados por ano com os dossiês
organizados alfabeticamente dentro das caixas.
O Segundo livro, intitulado “Livro Índice Ensino Médio Permanente”, possui as
mesmas características e funções dos outros. Neste, a grafia é feita no computador, e
contêm uma nova sequência, desta vez, de A-Z em um único livro.
81
O terceiro, o “Livro de concluintes (magistério)/Índice de professores e
funcionários”, a parte dos alunos corresponde aos dossiês de 1979 a 1999 (Magistério) e
2000 a 2008 (Propedêutico), está organizada alfabeticamente; a parte dos professores é
sistematizada assim como os dos alunos.
3.6 A organização do arquivo
Há várias formas de arranjo dentro do arquivo, cada uma obedecendo ao contexto
da época em que o documento vigorava, ou melhor dizendo, a estrutura organizacional e
acadêmica da escola vigente.
No quadro a baixo, é possível visualizar as fases de ensino oferecidas pela escola,
todas organizadas diferentemente de suas congêneres.
Quadro 1 – Arranjo documental do Arquivo da EE Sagrado Coração de Jesus
ARRANJO DA DOCUMENTAÇÃO DO ARQUIVO DA EESCJ
Fase escolar Tipologias Cor da Caixa Arranjo geral Arranjo específico
Ensino médio
permanente
Dossiê de
aluno Caixa verde Pastas de 001 até
2822 Numeração sequencial
Ensino médio
concluinte
Dossiê de
aluno
Caixa
vermelha
Anos 1979 até
1988
Numeração sequencial por
ano/alfabética na caixa
Ensino médio
concluinte
Dossiê de
aluno
Caixa
amarela
Anos 1988 até
2008
Numeração sequencial por
ano/alfabética na caixa
Ensino fundamental
permanente
Dossiê de
aluno
Caixa
amarela Pastas 001 a
10.110 Numeração sequencial
Profissionais da
Educação
Dossiê de
professor
Caixa
azul Pastas 001 até 663 Numeração sequencial
Armário 01 Livros Empilhados Por espécie -
Armário 02 Diário de
Classe Empilhados Por ano -
Armário 03 Diversos Empilhados Por espécie
-
Fonte: Organizado pelo autor
A opção da secretaria da escola foi para a divisão dos ensinos em permanente,
concluinte e fundamental permanente; e ainda, profissionais da educação, para os dossiês
relativos aos documentos dos professores.
82
Mesmo não havendo nos livros índices nenhuma referência que remeta a cor de
caixa, a secretaria dividiu o uso por cores, buscando diferenciar e facilitar o funcionário no
momento da reposição das caixas nos lugares de origem, conforme mostra o quadro 1.
3.7 O uso e o desuso do arquivo
Segundo informação que recebi da secretária da escola, o uso do arquivo passivo é
pouco requisitado, mas que, uma vez ou outra, há pedido de cópias ou 2ª via de
documentos. Enfatiza, que em relação aos dossiês dos alunos anterior a década de 1970,
haveria de estar sob a sua guarda; a escola não os possui, e que possivelmente, faça parte
do arquivo da Escola Estadual Major Otavio Pitaluga (EMOP), visto que neste período
inicial de seu funcionamento, segundo os funcionários mais antigos, essas escolas
funcionavam em regime de troca, no uso de salas de aula, fazendo com que a
documentação desses alunos também fosse transferida para a outra escola. Em contato com
a Escola EMOP não foi encontrado nenhum documento a respeito dessa transição de
alunos e documentos.
Há ainda, o uso por parte de pesquisadores em história da educação, professores e
alunos de outras escolas, faculdades particulares e da universidade em busca de
informações sobre a história da educação no município.
A secretária da escola relata que muitos dessas pessoas, não encontram o que
desejam, em razão dos documentos que foram perdidos.
3.8 As condições de conservação do arquivo
O arquivo da Escola Sagrado de modo geral, se apresenta em regular estado de
conservação. Alguns cuidados básicos são deixados de lado pela direção da escola, talvez
por entender que o arquivo não represente real importância diante de tantos outros desafios
postos pela escola, como a falta de limpeza, poeira, excesso de umidade e calor causando
danificação na estrutura dos documentos com a invasão de fungos e insetos.
Cassares (2000) classifica muito bem os fatores de deterioração presentes em
arquivos e bibliotecas. Para a autora, há os fatores ambientais (temperatura e umidade
relativa, radiação da luz e qualidade do ar), os fatores biológicos (fungos, roedores, ataque
83
de insetos) e as intervenções inadequadas no acervo (problemas de manuseio, guarda,
furto, reparos e vandalismo); alguns identificados no arquivo da escola.
Imagem 13 – Invólucro de dossiês da Escola Normal São Francisco deteriorado por mofo
Fonte: Fotografia do autor
Exemplificando alguns danos acarretados, muitos documentos trazem vestígios do
uso de clipes de metal e grampos que com o passar do tempo, foram se enferrujando e
danificando as bordas dos papéis. Nota-se também o excessivo uso de fitas adesivas para
correção de rasgos nos documentos, procedimento que tem levado ao amarelamento da
área de reparo.
As fitas adesivas constituem nos arquivos escolares a maneira mais comum de
reparo dos documentos, atenuando os rasgos e mutilações afetadas pelo tempo e do
constante manuseio dos funcionários da escola. No entanto, esse procedimento paliativo de
“restauração”, na verdade é prejudicial aos documentos já que compromete a estrutura do
papel, diminuindo o tempo de vida do documento.
84
Para Ingrid Beck:
As fitas e etiquetas com colas vegetais podem provocar manchas escuras,
mas em geral são facilmente removíveis. Por sua vez, as colas sintéticas
das fitas atuais e etiquetas auto-adesivas ocasionam manchas e diminuem
aos poucos a resistência da região afetada, além de perderem o poder de
aderência à medida que a cola penetra no papel (BECK, 1985, p. 16).
Imagem 14 – Página remendada com fita adesiva
Fonte: Fotografia do autor
85
Percebe-se, que no decorrer dos anos a escola tem-se preocupado com a
preservação da sua documentação, isso é visível em muitos dos livros de escrituração, que
são os que tinham maior uso pela secretaria. Essas marcas estão presentes não apenas nas
fitas adesivas, mas no encapamento dos livros, no uso de pastas para livros com folhas
soltas e em observações fixadas em capas, sobre o motivo do seu desuso, como o exemplo
da imagem abaixo:
Imagem 15 – Anotação na capa de um livro, informando que o mesmo está sem
condições de uso por estarem com suas folhas muito fracas.
Fonte: Fotografia do autor
Outra deficiência no espaço do arquivo, está na falta de segurança em salvaguardar a
integridade do patrimônio arquivístico, com a disposição das janelas sem cortinas
favorecendo a entrada constante do sol pela manhã, sem ventilação natural, com as
instalações elétricas a mostras ressecadas pelo calor do ambiente, falta de extintores de
incêndio para casos de curtos circuitos, dentre outros.
O Manual de Procedimentos para o Tratamento Arquivístico nas Escolas, aponta
que:
Os requisitos técnicos a ter e conta para a instalação de um depósito de
arquivo compreendem normas, maioritariamente de segurança, com as
quais se pretende salvaguardar o patrimônio arquivístico, a integridade do
86
espaço onde se encontra instalado, bem como a saúde e segurança das
pessoas que frequentam o arquivo (MANUAL, 2003, p. 4).
87
4 O ARQUIVO SIGNIFICATIVO DE MEMÓRIA
O arquivo não é descritível em sua totalidade; e é
incontornável em sua atualidade. Dá-se por
fragmentos, regiões e níveis, melhor, sem dúvida,
e com mais clareza na medida em que o tempo
dele nos separa: em termos extremos, não fosse a
raridade dos documentos, seria necessário o
maior recuo cronológico para analisá-lo.
Entretanto, como poderia essa descrição do
arquivo justificar-se, elucidar o que o torna
possível, demarcar o lugar de onde ele próprio
fala, controlar seus deveres e seus direitos, testar
e elaborar seus conceitos pelo menos no estágio
da pesquisa em que ele só pode definir suas
possibilidades no momento de seu exercício - se
se obstinava em descrever somente os horizontes
mais longínquos? [...]
[...] A análise do arquivo comporta, pois, uma
região privilegiada: ao mesmo tempo próxima de
nós, mas diferente de nossa atualidade, trata-se
da orla do tempo que cerca nosso presente, que o
domina e que o indica em sua alteridade; é
aquilo que, fora de nós, nos delimita [...]
Michel de Foucault. A arqueologia do saber...
(2008, p. 148)
4.1 Os achados: tipologias e espécies documentais
Não foi possível precisar a quantidade exata de itens constante no arquivo, visto
que muitos se configuram em tipologias e outros em espécies de documentos. É o caso dos
dossiês dos alunos, que ao mesmo tempo em que se torna uma tipologia é constituído por
uma série de unidades, correspondente a juntada de documentos pessoais de alunos.
Portanto, a quantificação aqui tratada refere-se às tipologias e as espécies como tal.
Pelo quadro de organização e arranjo do acervo apresentado no quadro 1, foi
possível identificar o número de tipologias, já que alguns níveis de ensino estão
organizados em sequência numeral, tendo o ensino “Ensino Médio Permanente” com 2.822
dossiês, o “Ensino Fundamental Permanente”, 10.110 itens e os dossiês “Profissionais da
Educação”, com 663 pastas. Os outros níveis estão sistematizados por ano/alfabeticamente,
88
portanto, haveria de quantificar caixa por caixa, dando uma visão exaustiva do arquivo, o
que não é a pretensão no momento.
O quadro abaixo quantifica a partir da ficha elaborada para a descrição dos
documentos (APÊNDICE 1), o inventário realizado no arquivo da escola. Apresenta as
tipologias, precisamente, os livros de registros e escrituração encontrados, e as espécies,
identificadas em seu conjunto.
Quadro 2 – Quadro de espécie e tipologias do arquivo da Escola Sagrado
ESPÉCIES DOCUMENTAIS
TIPOLOGIA: Livro Nº de itens
Livro de matrículas 36
Livro de ponto 36
Livro de ata 28
Livro de registro de notas 22
Livro de chamada 4
Livro de atividades escolares 4
Livro de contribuição escolar 4
Livro de documentos 3
Livro de anotações 2
Livro de arquivo 2
Livro de advertência de alunos 1
Livro de transferência 1
Livro de movimento 1
Livro de nomeação 1
Livro de empréstimo de livros 1
TIPOLOGIA: Dossiê
Dossiê de aluno Conjunto
Dossiê de professor Conjunto
TIPOLOGIA: Diários de classe
Diário de classe Conjunto
TIPOLOGIA: Pasta
Pasta de correspondência Conjunto
Pasta de regimento Conjunto
Pasta de atos Conjunto
Pasta de projetos Conjunto
Pasta de pagamento Conjunto
TIPOLOGIA: Correspondência
Correspondência recebida Conjunto
Correspondência expedida Conjunto
Correspondência eletrônica (e-mail) Conjunto Fonte: Organizado pelo autor
89
O quadro nos permite tecer alguns comentários a respeito da documentação que
constitui o arquivo da Escola Sagrado.
Em relação aos livros de escrituração são os que expressam a maior quantidade em
relação aos outros itens, depois dos dossiês, caracterizado como tipologia e que ocupa a
maior extensão no local do arquivo. A seguir, os livros de ponto dos professores, de Atas e
os Registros de notas e outras espécies de livros, com menor expressividade em número de
itens.
Uma questão a ser observada e questionada é em relação ao esvaziamento de
documentos do arquivo, que ao longo dos anos foram se perdendo, não se tendo nenhum
registro sobre o destino desses papéis.
A direção da escola relata que presenciou o descarte de muitos documentos, mas
justifica que tudo passava por uma avaliação antes da sua eliminação. No entanto, percebe-
se, que isso acontecia, sem nenhum critério de uso, apenas, por considerar o documento
velho e em serventia.
Diana Vidal (2007, p. 68), discutindo sobre a noção de documentos escolares e a
problemática do descarte, coloca que não se pode desviar a escola da sua finalidade
principal, que é o ensino, a aprendizagem e a formação, mas que “não pode ela também se
desobrigar de eleger os conteúdos dessa aprendizagem e, dentre esses, não é de menor
importância a formação para a cidadania, manifesta na preocupação com a preservação do
patrimônio cultural e da memória social”.
E continua:
Talvez seja esta a questão mais relevante de todas: Qual a finalidade da
manutenção dos documentos escolares dentro dessa perspectiva ampliada
dos registros de práticas escriturais e não-escriturais no âmbito dos
arquivos escolares? A resposta aqui é dupla. Por um lado, o exercício
permite a salva-guarda de vestígios de ação histórica dos sujeitos na
ativação das práticas escolares e propicia entendimento das culturas
escolares pretéritas, o que favorece a atividade dos historiadores da
educação.
Por outro, desdobra-se o próprio arquivo escolar em lugar de constituição
de práticas escolares atuais, oportunizando o trabalho pedagógico com
alunos de diversas idades e professores ligados a diferentes campos
disciplinares em projetos construídos isolada ou interdisciplinarmente. E,
dessa forma, abre-se a reelaboração do passado e do presente escolar e
acolhem-se as múltiplas representações da realidade por parte da
comunidade da escola, afirmando o valor social dos documentos
escolares e sua importância na formação (contínua) de professores e
alunos (VIDAL, 2007, P. 69).
90
A Escola Sagrado, mesmo fazendo parte desse senso comum em desfavor a
preservação nos arquivos; percebe-se uma tímida preocupação por parte da escola, presente
em algumas de suas ações, como por exemplo, a guarda permanente dos únicos livros da
década de 1950 que consta no arquivo. Qual seria a intencionalidade da escola em guardá-
los? Apenas por caracterizar-se como antigo um documento velho? O que se sabe, é que
“por uma espécie de seleção natural uns e outros sobrevivem, testemunhando matizes do
trabalho da escola” (VIDAL, 2006, p. 11).
No âmbito da arquivologia, um dado a discutir é o da aplicação da tabela de
temporalidade, que deve ser utilizada em qualquer categoria de arquivo público ou privado,
incluindo os escolares. Segundo o Dicionário de Terminologia Arquivística (2005, p. 159),
a Tabela de Temporalidade é “um instrumento de destinação, aprovado por autoridade
competente, que determina prazos e condições de guarda tendo em vista a transferência,
recolhimento, descarte ou eliminação de documentos”.
A oficialização e efetiva aplicação da Tabela de Temporalidade permitirá ao órgão
ou entidade preservar os documentos que possuam valor probatório e informativo relevante
e que sejam considerados de guarda permanente, ou ainda, eliminar com segurança, de
acordo com os procedimentos técnicos e legais, aqueles documentos desprovidos de valor,
sem que haja prejuízo à administração da escola ou à sociedade, de acordo com o que
determina o artigo 9.º da Lei Federal n.º 8.159/1991. 25
No Estado de Mato Grosso, a Secretaria Estadual de Administração, instituiu a
“Tabela de Temporalidade de Documentos Relativos às atividades- meio da Administração
Pública”26
, pouco indicada aos arquivos escolares, por não contemplar as especificidades
das tipologias documentais desse tipo de acervo.
Ciente desse problema, a SEDUC/MT, no seu manual de secretaria escolar, tráz em
anexo a “Tabela de Temporalidade de Documentos Afins”27
para aplicação nos arquivos
das escolares de Mato Grosso (ANEXO 2). Essa tabela, recomenda para o descarte, apenas
um “Livro de incineração de documentos”, destinado para o registro detalhado de todos os
documentos descartados do arquivo, e complementa, que:
25
A Lei n.º 8.159/1991 dispõe sobre a política nacional de arquivos públicos e privados no Brasil. 26
O Decreto nº 5.567 de 26 de novembro de 2002 aprova o Manual de Gestão de Documentos do Poder
Executivo do Estado de Mato Grosso, tendo a Tabela de Temporalidade como anexo. 27
A Portaria n° 251/05/GS/SEDUC/MT – D.O. de 29/12/2005, Tabela de Temporalidade de Documentos
Afins, para os arquivos escolares do estado.
91
Todos os demais documentos que envolvam a vida escolar dos alunos ou
a vida funcional dos servidores não podem ser eliminados sem
observância às normas pertinentes emanadas elo Poder Público, prevista
na Tabela de Temporalidade (SEDUC/MT 200?, p. 18).
Na prática, essa tabela demostra ser desconhecida das escolas, o que seria
necessário para a sua aplicação, o acompanhamento de um especialista em arquivística,
para que de fato, esses documentos possam ser preservados no seu ciclo de vida legal e
memorativo.
Em uma análise aos prazos de vigência recomendados por essa tabela, cabe
questionar, se a mesma favorece uma consciência de preservação por parte do pessoal
envolvido com a manutenção do arquivo e a formação da sua coleção de memória.
Pelo o que se pode observar, a mesma pouco contribui para que a escola se importe
com a sua memória. De todas as tipologias apontadas por ela, apenas os 811.01 - Livros
Atas de processos especiais, os 811.02 - Livros atas de resultados finais, os 901 - Pareceres
e Atos sobre a escola, os 006 - Livros ata de reuniões, com decisões de efeitos permanentes
e o 008 - Livro de Incineração de documentos tem obrigatoriedade como destinação final,
a sua guarda permanente. Resta aos demais, como os diários de classe ou os livros de
registros escriturais os diários de classe que muito tem ajudado pesquisadores e pessoas
interessadas na memória escolar, o destino certo da lixeira.
Curiosamente, outro item a ser questionado é a quantificação em relação às datas-
limite dos documentos, que em sua maioria se concentram totalizados na década de 1970, e
tendo uma parcela de documentos, com pouco menor número na década de 1980. Tendo
ainda, a década de 1950 com apenas 3 registros (Anexo 1) e, restando as décadas de 1960,
1990 e 2000 com uma quantidade percentual quase que parecidas.
Quadro 3 – Inventário do arquivo por data-limite
Data-limite Quantidade
Déc. de 1950 03
Déc. de 1960 60
Déc. de 1970 70
Déc. de 1980 36
Déc. de 1990 23
Déc. de 2000 14
Total de espécies/tipologias 206 Fonte: Organizado pelo autor
92
Ao adentrar no arquivo da Escola Sagrado, além de inventariar e conhecer os
documentos que foram produzidos e retidos ao longo dos anos, um dos objetivos
específicos constitui-se em eleger a partir dos resultados da inventariação, uma
documentação significativa de memória que possa contribuir e representar os desejos de
memória dessa comunidade escolar e da cidade de um modo geral.
No decorrer da coleta dos dados foi possível perceber algumas ações por parte dos
responsáveis pela guarda dos documentos, quanto à destinação dos papéis ao arquivo da
escola. Essas ações parecem dizer que esse envio não reconhece apenas os documentos
legais e burocráticos como objeto de guarda, como também, a um encantamento por uma
série de registros, carregados de informações sobre a escola.
Essa sensação é fortalecida quando o material foge aos rigores
institucionais da produção documental, às características seriais e ao
formato burocrático, e tem uma origem privada, um caráter pessoal,
conferindo a impressão de que está se tomando contato com frações
muito íntimas da história e de seus personagens HEYMANN, 1997, p.
41).
Por isso, o inventário pautou-se também em reconhecer esses papéis pessoais,
produzidos sem imposição rotineira da prática escriturária. Folhas com anotações, controle
de atividades, elaborados por professores, diretores; ou papéis impressos, não burocráticos,
não oficiais para uns, mas oficial para outros, recortados, anexados em pastas, dossiês e
livros. É o caso dos livros da Associação de Pais e dos que denomino adiante de vestígios
de memória.
Por entender que a documentação da Associação e Pais e Mestres dão conta
também de muitos trabalhos realizados no interior da escola com o apoio de forças
externas da instituição, configura-se, em possibilidades de memória de vários agentes,
como alunos, pais, mães, coordenadores, diretores e professores, comércio, indústrias e
outras organizações.
Da mesma forma, optei também pelos vestígios de memória, composto de uma
série de impressos, manuscritos ou datilografados, documentos pessoais, que foram
encontrados durante a fase de inventariação e que pode revelar informações valiosas sobre
a memória da escola.
Em relação aos produzidos e recebidos nas funções administrativas, optei pelos
dossiês dos alunos e professores, os livros de registro escolar e pelos os diários de classe
93
por constituírem as tipologias que melhor representam o arquivo nas práticas diárias de
escrituração e controle acadêmico em posse do arquivo.
4.2 Os dossiês escolares
Segundo o Dicionário Aurélio (2003), dossiê “é o conjunto de documentos sobre
uma pessoa”. Este conceito está sendo utilizado nesta pesquisa como referência a
documentação individual dos alunos ou dos professores da Escola Sagrado, e em
consonância ao termo adotado pela tabela de temporalidade da SEDUC.
Os dossiês são constituídos basicamente de cópias dos documentos pessoais que
constituem a da vida escolar do aluno, como ficha de matricula, cópias do RG, CPF,
certidão de nascimento, histórico escolar, termos de transferência, atestados, e outros. Os
dossiês dos professores, além dos documentos pessoais, trazem cópias de certificados de
cursos de capacitação, diplomas de graduação, pós-graduação, requerimento de férias, de
licença especial e de saúde, cópias de nomeação publicados no diário oficial, currículos,
dentre outros.
Imagem 18 – Dossiês dos alunos organizados dentro de caixas
Fonte: Fotografia do autor
94
Essa tipologia pode ser considerada importante do ponto de vista da identidade
escolar dos alunos e dos funcionários, pois não há como se conhecer as vozes que as
ajudaram a construir o seu conceito de educação, sem o conhecimento que esses dossiês
possibilitam a sua memória.
Imagem 17 – Dossiê de aluno da Escola Normal São Francisco
Fonte: Fotografia do autor
4.3 Os livros de registro escolar
Dentre os livros de registros encontrados, alguns por suas características intrínsecas
revelam informações importantes sobre a escola. Quase todos, produzidos como exigências
95
da prática de escrituração, e alguns outros, como apoio às atividades administrativas e
pedagógicas e administrativas.
Primeiramente, podemos dar como exemplo os livros de atas, muito utilizados por
esta escola em reuniões de colegiado e conselhos de classe. Uma leitura atenciosa desses
livros possibilita-nos a “viajar” com os pequenos detalhes da sua história descritos nas
páginas amareladas, às vezes, borradas e rasgadas, mas de conteúdo significativo para a
sua memória.
Um livro instigante que serviu como ata, registro de correspondência e toda
movimentação da escola é o “Livro Movimento”, cujo exemplar mais antigo data de
1961/1977. Nele, constam correspondências manuscritas da década de 1950 que pode
muito interessar a história da escola, como informações sobre o “Curso Normal Regional”,
que funcionou anexo à Escola Sagrado.28
Esse livro traz a frequência dos alunos, quadro de
aulas, de matrículas (por sexo, idade), estatísticas, calendários, resultado de exames,
quadro de corpo docente e administrativo.
Outra espécie de documento localizados no arquivo é os livros de matrículas. Na
inventariação, foram localizados 36 itens, perfazendo a maior quantidade desta tipologia.
A matrícula na escola:
é o processo pelo qual se efetiva o vínculo do aluno com a instituição e
será realizada pelo pai ou responsável quando se tratar de criança menor
de idade. A matrícula é exigida para o acesso de todos os alunos em
qualquer nível ou modalidade de ensino.
O momento da matrícula é também o de contato do aluno com a escola. É
a oportunidade para a família conhecer a escola, seu projeto pedagógico e
o regimento escolar, bem como as competências e responsabilidades
mútuas.
A matrícula celebra um pacto entre a família e a escola, daí a necessidade
de, nesse momento, tornar conhecidos os instrumentos de gestão escolar.
São eles que darão rumo à ação educativa [...]. (MANUAL, 2006, p. 26).
São entendidos como de grande importância para levantamentos estatísticos sobre a
escola, pois trazem informações inéditas do alunado, como nomes, fotos, datas,
28
O Livro Movimento (1959/1977) relata nas correspondências que as irmãs solicitaram em 1959 ao Diretor
do Departamento de Educação e Cultura, Senhor Humberto Marcílio o desejo de instalação de um curso
normal, apresentando inclusive as disciplinas que seriam ministradas e os professores capacitados para cada
uma. As disciplinas contavam de Português, Desenho e Caligrafia, Matemática, Educação Física, Geografia,
Ciências, Trabalhos Manuais, Economia Doméstica, Musica e Canto Orfeônico. Em resposta, o Decreto n°
658 de 22 de julho de 1958 (sic), e publicado no Diário oficial de 4 de agosto de 1959, “autorga mandato às
Irmãs Catequistas Franciscanas de Rondonópolis para que ministre o ensino normal do 1º ciclo”, cujo
primeiro inspetor nomeador foi o Bispo Dom Vunibaldo. Em correspondência de 7 de outubro de 1964, há
um pedido para que o curso passe a denominar Ginásio Sagrado Coração de Jesus.
96
naturalidade, local de nascimento, sexo, residência, filiação, escolaridade e profissão dos
pais.
Os livros de ponto, destinados ao controle de horas dos professores, ocupam
também significativa quantidade de itens. São importantes do ponto de vista
administrativo, pois registram a frequência e a permanência dos professores na escola, em
casos de certificações para currículos, aposentadorias, etc. Do ponto de vista histórico,
pode possibilitar conhecer o tempo de dedicação à docência, as relações de permanecia e o
salário docente, elevação de nível e funcionamento de carga horária docente ao longo dos
anos, dentre outros.
Os Livros de Atas de exame final (registro de notas), também com grande
quantidade, tinham como finalidade, registrar notas obtidas nas provas pelos alunos
durante o ano letivo. Em alguns livros, os secretários utilizavam para a grafia, canetas
esferográficas de tinta azul, quando a nota do aluno estava acima da média; e a de tinha
vermelha, para as notas que não atingiam média regular, esta, muito conhecida
antigamente como “bomba”.
Outros livros encontrados podem possibilitar práticas de memória na escola, como
os Livros de inventário, de Correspondências, Livros de empréstimo de livros da
biblioteca, Livros de nomeação de professores, de anotações, de advertência, dentre muitos
outros.
São documentos importantes quando se busca conhecer a relação aluno e
aprendizagem escolar, estatísticas de rendimento ao longo dos anos, relação de
aproveitamento do aluno entre diferentes disciplinas, entre diferentes alunos e o
conhecimento sobre o sistema de avaliação escolar.
4.4 Os diários de classe
Em referência aos diários de classe, foram encontrados no arquivo três tipos de
livros destinados ao que parece ser para o controle de frequência dos alunos: o Livro de
Chamada, compreendendo a década de 1960 e início de 1970; o Diário de Classe Impresso,
97
do ano de 1994 até 2007, e o seu sucessor; os relatórios do Diário de Classe eletrônico, a
partir do ano de 1997 a 200029
.
Guardados em armário de aço, estão organizados em pilhas, divididas por ano,
sendo que algumas delas, chegam a formar duas pilhas de uma mesma data. Apresentam-se
nos mais diferentes formatos (dimensão, impressão, editor, capas, cores, etc...).
Para análise, foi escolhido aleatoriamente, um exemplar referente a cada ano,
procurando mostrar algumas características pertinentes desta tipologia, que a Escola
Sagrado considerou na produção e guarda desses documentos.
Imagem 19 – Armário com pilhas de diários de classe
Fonte: Fotografia do autor
29
Foi encontrado relatórios de diários de classe eletrônico deste período, mesmo tendo informações que o
sistema SIGESCOLA, fora implantado somente no ano de 2009. Ninguém soube informar se houve outro
sistema anterior a esta data.
98
No Estado de Mato Grosso,30
esse gênero documental:
[...] se caracteriza como um documento oficial, normatizado, elaborado
pela Secretaria Estadual de Educação. Era direcionado às escolas para
que o professor transcrevesse formalmente seus direcionamentos em sala
de aula – data e horário das aulas, conteúdos ministrados, avaliações,
frequência dos alunos (MENEGOLO; CARDOSO, 2007, p. 2).31
Para a Secretaria Estadual de Educação,32
o Diário de Classe:
É um documento imprescindível à escrituração escolar, sendo que os
registros de frequência, dias letivos, conteúdos ministrados, carga horária
e o resultado de aproveitamento de cada aluno são de inteira
responsabilidade exclusiva do (a) professor (a).
Os diários encontrados se apresentam como o selo do Governo de Mato Grosso,
produzidos pela Secretaria Estadual de Educação e impressos pela IOMAT (Imprensa
Oficial do Estado de Mato Grosso) distribuídos às escolas. De formato grande, aparecem
em diferentes dimensões (24x31, 31x21, 30x21), demonstrando não seguir a nenhuma
norma de editoração.
Alguns, ao invés da sua terminologia usual, trazem consigo o nome de “Diário da
Turma”; todos, com folhas dobráveis internamente, com campos específicos para o registro
dos dados sobre o trabalho diário do professor em sala de aula, como a relação de nomes
dos alunos, espaço para o registro de presença ou ausência em sala de aula, conteúdos
ministrados, anotações do bimestre corrente, espaço para o registro de notas e médias,
registro de atividades, instruções de preenchimento do diário, e, em alguns, ao final,
calendário com datas cívicas.
Os mais antigos, os denominados “Livros de Chamada” evidenciam que tiveram a
mesma função dos atuais diários de classe, pois apresentam algumas características
similares aos demais: eram de uso exclusivo de determinados professores, registrava o
controle de frequência dos alunos da escola. Estes se apresentam com capa dura e poucas
30
Pesquisa relacionada a esse tema em Mato Grosso foi defendida em nível de mestrado no Programa de
Pós-Graduação em Educação da UFMT/Campus de Rondonópolis pela aluna Luisa Gonçalves, sob
orientação da Profª Dª Cancionila Janzkovski Cardoso, em 2013. 31
MENEGOLO, E. D. C. W.; CARDOSO, C. J. Diários de classe: traços históricos de um ensino de língua.
In: Congresso de Leitura do Brasil, 16. Anais... Campinas, SP, 2007. 32
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO (Mato Grosso). Organização e operacionalização do
trabalho da Secretaria escolar. Cuiabá, [200-]
99
páginas, sendo que alguns estão encadernados com folhas plásticas, indicando os cuidados
com este documento em relação ao uso constante pelo professor.
Esses cuidados com a integridade da estrutura física dos diários podem ser
percebidos até mesmo nos diários de anos recente, pois muito deles também, se encontram
encapados com plástico fino ou papel, dando a perceber que houve intenção em relação à
preservação desses documentos, não se sabe, porém, se esse procedimento era realizado
espontaneamente pelo professor, que tinha a posse do diário; ou da secretaria da escola,
que sempre vinha nas reuniões escolares, exigindo dos professores, cuidados com o uso,
manuseio e a escrita desses documentos.
Algumas observações em relação aos diários de classe encontrados em um livro de
ata de reunião de professores pode deduzir tal cuidado com esses materiais:
[...] O diário de classe deve falar da coerência e responsabilidade do
professor. O aluno faltoso receberá falta, enquanto que o aluno presente a
aula, receberá o comparecimento. Não é aceitável rasura em hipótese
alguma, no diário de classe [...]. 33
[...] O diário de classe é o retrato do capricho e da responsabilidade do
professor. Portanto não se concebe que seja rasurado [...].
[...] O movimento de avaliação mensal ou bimestral obedecerá ao regime
de notas inteiras, ficando os meio (sic) pontos a critério do professor
considerando o conceito do aluno, para mais ou para menos.
Mensalmente, no dia trinta, a Sra. Supervisora Escolar revisará os Diários
de Classe, observando o que pode ser melhorado.
[...] As fichas controle, entregues pela Sra. Supervisora Escolar, deverão
ser afixadas por todos os professores, no respectivo diário de classe, e
quando se fizer necessário, utilizá-las. Isso possibilita, tanto ao professor,
como a Secretaria, melhores informações sobre o aluno [...].
Outro aspecto importante a observar no arquivo da escola é em relação a outros
documentos encontrados que fazem menção aos diários de classe. Em uma pasta referente
a legislações e atos oficiais do governo do Estado de Mato Grosso, foram encontrados dois
documentos importantes sobre esses diários.
O primeiro é uma cópia da Instrução n° 002/83 (publicada no Diário Oficial de
Mato Grosso de 10/01/1983) que dá instruções às escolas mato-grossenses e considera
33
Livro de Registro de Atas das Reuniões de Professores da Escola Estadual de 1° grau “Sagrado Coração de
Jesus” da cidade de Rondonópolis-MT a partir de 1974. Fls.18, 19 verso, 22, e 23 respectivamente.
100
sobre a obrigatoriedade em manter a escrituração e o arquivo escolar, “de modo a
assegurar a verificação da identidade de cada aluno e da regularidade e autenticidade de
sua vida escolar”.
Nesta instrução, além dos critérios básicos quanto à manutenção e uso desses
documentos, outras recomendações importantes de controle são aferidas ao secretário, ao
professor, ao supervisor, e aos diretores dos estabelecimentos de ensino de Mato Grosso.
O segundo, diz respeito a um “Curso de atualização sobre escrituração escolar”
promovido pela Secretaria de Estado da Educação e Cultura, Coordenadoria de Ensino de
1° e 2° Graus, Divisão de Administração Escolar, que foi oferecido aos secretários
escolares. Esse documento indica ser um questionário aplicado ao secretario escolar como
aproveitamento do referido curso. Perguntando a ele, sobre as suas competências em
relação ao diário de classe, o mesmo responde à caneta, que é:
Registrar no diário de classe antes do período letivo, nome do
estabelecimento de ensino, cidade, Drec, nome do professor, títulos da
disciplina, ano, grau de ensino, série, habilitação e termo de abertura
[continua no verso...].
[... continuação do verso] Controlar o manuseio dos diários a fim de que
os alunos não sejam retirados do estabelecimento, inclusive o de Educ.
Física; Organizar bimestralmente o mapa colecionador de canhotos;
compatibilizar no final do bimestre a carga horária de cada disciplina c/ o
diário de classe.34
O interessante neste documento, é que, para que o secretário pudesse embasar suas
respostas, o questionário fez referência ao material de apoio para a consulta do secretário,
cintando a Instrução n° 02/83, o Decreto n° 86, 324/81 e a Instrução 5/83, todas da
Secretaria de Educação de Mato Grosso. Infelizmente, em contado com a SEDUC/MT, não
consegui cópia e nem a ementa sobre o conteúdo dessas proposições.
Atualmente, a partir de 2009, as escolas estaduais de Mato Grosso, passaram a
utilizar os diários eletrônicos, por um sistema informatizado denominado SIGESCOLA,
cujos dados registrados são posteriormente, migrados para os demais documentos da
escrituração escolar (SEDUC/MT, [s.d.], p 15).
Os secretários da escola relatam que a maioria dos professores não dispõe de
computadores portáteis para o lançamento do diário e que esse trabalho, comumente, é
34
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO E CULTURA (Mato Grosso). Divisão de Administração escolar. Curso
de Atualização sobre escrituração escolar. [s.d] 2f.
101
feito de forma manual em sala de aula, para que depois, serem preenchidos nos
laboratórios de informática disponíveis na escola.
Os relatórios dos diários de classe eletrônicos estão arquivados em pilhas juntos
com os diários antigos. São impressos em papel sulfite diretamente da impressora após o
preenchimento e, encadernado em espiral com capa plástica flexível formando um
calhamaço com cerca de 200 folhas cada um, constando na capa, informações de
identificação, como ano, nome do professor, seriação, disciplina e outras. Uma
desvantagem desse formato eletrônico é a decisão da escola de imprimi-los, já que uma vez
impresso, ocupa muito mais espaço em relação ao formato do diário antigo, que
comumente não ultrapassava 15 laudas.
A Seduc/MT recomenda que:
[...] os diários de classe devem ser guardados em local apropriado,
obrigatoriamente na escola, de modo a assegurar sua inviolabilidade e
conservação, ficando à disposição da secretaria escolar, para os
apontamentos pertinentes a escrituração escolar (SEDUC/MT, 200?, p.
15).
Em relação aos canhotos dos diários, complementa:
A forma de arquivamento dos canhotos no final do ano letivo fica a
critério da escola. Entretanto, recomenda-se que os mesmos sejam
arquivados de maneira que facilite o acesso e a identificação do aluno,
podendo ser separados por série, turma, ano, bimestre, etc (SEDUC/MT,
200?, p. 15).
.
O arquivo da Escola Sagrado pode possibilitar, em relação aos livros de chamada e
aos recentes diários de classe, uma visão panorâmica sobre a memória dos alunos como
agentes inscritos em suas páginas, e sobre os professores, como escriturários de suas
práticas docentes e avaliativas, visto que o período de distanciamento dos exemplares
disponíveis é de pelo menos duas décadas, não se sabendo o destino que fora dado, aos
exemplares nesse meio intervalo entre tempo.
102
Imagem 20 - Diário de Classe da Escola Sagrado, 1997
Fonte: Fotografia do autor
103
Imagem 21- Termo de abertura do Livro de Chamada, 1964/66
Fonte: Fotografia do autor
104
Imagem 22 - Livro de Chamada com capa dura, 1970
Fonte: Fotografia do autor
4.5 A Associação de Pais e Mestres
Ao analisar o arquivo da Escola Sagrado, localizei alguns registros importantes
sobre a Associação de Pais e Mestres (APM), sobretudo, os livros de atas das suas
reuniões. Dedicar uma parte desta pesquisa na descrição de alguns desses papéis, considero
importante, porque o primeiro registro que consta, fazendo referência à associação é do
ano de 1967, podendo então ajudar na memória da escola.
Para Antônio:
105
As Associações de Pais e Mestres, doravante denominadas A.P.M.(s),
nasceram inicialmente em caráter facultativo (1931), num período
ditatorial, mais tarde consolidado pelo Estado Novo (1937), o que não
favorecia a participação, através do Comunicado nº 03, de 10 de Março.
Durante muito tempo as poucas A.P.M.(s) existentes foram efêmeras,
criando um cenário de descrédito de forma geral. Mesmo não havendo
um interesse popular ou das autoridades escolares da época, legisladores
interessados na democratização do país incluíram na primeira L.D.B. (Lei
de Diretrizes e Bases), a recomendação da criação das A.P.M.(s): “a
escola deve estimular a formação de Associações de pais e mestres” (L.F.
nº4024/61 – artigo 115) (ANTÔNIO, 1998, p. 21).
Adiante, complementa que, somente a partir de 1971 é que as APM’s tornaram-se
obrigatórias nas escolas:
A Lei Federal nº 5692/71, em seu artigo 62, determinou que “cada
sistema de ensino compreenderá obrigatoriamente, além de serviços de
assistência escolar, entidades que congreguem professores e pais de
alunos, com o objetivo de colaborar para o eficiente funcionamento dos
estabelecimentos de ensino” (ANTÔNIO, 1998, p. 25).
Podemos então, considerar a Escola Sagrado como pioneira na cidade em buscar
associar a participação dos professores e pais de alunos, que voluntariamente, trabalham
em prol da escola, visando um amplo desenvolvimento das atividades escolares e a ideia de
“organização de grupos de pessoas interessadas em ampliar os espaços de atuação da
escola, buscando envolver, cada vez mais a comunidade, na problemática da mesma,
possibilitando assim uma maior integração entre ambas (escola-comunidade)” (BRANCO,
1995, p. 28).
Tendo por finalidade precípua, promover a integração da família, da escola e da
comunidade, no trabalho comum da educação e formação dos alunos do Colégio, a APM
tem procurado aproximar sempre mais os associados entre si e o colégio, oferecendo
atividades esportivas (torneios variados), atividades no campo social (as comemorações de
datas festivas, cívicas35
e cursos) e no setor cultural (as palestras, a escola de pais, os
festivais).
35
Na Escola Sagrado, tendo como um dos apoios a APM, funcionou também o “Centro Cívico Dom
Vunibaldo”, com estatuto próprio registrado sob o nº S/C 625, livro 4-A de 19 de maio de 1976 cujos
propósitos eram “concretizar os objetivos da moral e do civismo, mediante a agremiação dos professores e
alunos [...] em termos de atividades cívicas. Visando inculcar nos alunos o espírito devendo ser bem
orientado e dirigido, de modo a atuar significativamente em problemas fundamentais da escola: formação do
caráter e início do preparo do educando às atividades cívicas na democracia brasileira. Será destinada a
106
O mais antigo documento encontrado foi o “Livro para assento das Atas das
reuniões da Diretoria da Associação de Pais e Mestres” com data-limite de 1967/1979,
tendo como ata de abertura a constituição da APM e eleição do presidente, vice-presidente,
tesoureiro e conselho fiscal, em 10 de maio de 1967.
No mesmo livro, na segunda reunião, foi tratado do estatuto da APM e traçaram o
programa da associação para aquele ano, sempre, com vistas à integração das famílias com
a escola e em buscas de melhorias para o ensino na escola:
[...] No final do ano letivo, os melhores trabalhos manuais apresentados
pelos alunos do primário, ginásio e normal, a fim de estimular os mesmo
a se dedicarem a eles; combinou-se que se estabeleceria, de acordo com
os sócios, uma taxa mensal em dinheiro, que seria utilizado na melhoria
do Educandário, como por exemplo, a construção de um poço artesiano,
para solucionar o problema de água, que se torna grave no educandário
devido ao grande número de alunos; Procurou-se organizar a festa de São
João, cujo lucro seria repartido em benefício da Igreja Matriz e o Colégio.
Colaboraria na organização da mesma, as alunas do terceiro ano normal,
e que teriam direito a uma percentagem sobre o lucro total da festa,
percentagem esta que seria utilizada para cobrir um pouco as despesas de
uma viagem ao Rio de Janeiro [...]. 36
No decorrer de todo este livro, além de um total de 55 atas até o ano de 1979, há
ainda intercaladas, atas de eleições, relatório de prestação de contas da APM, e até mesmo,
ata de inauguração do poço artesiano da escola, sempre, solidários aos que contribuíam
para as atividades empreendidas no ano corrente:
Antes de encerrar este ano, quero deixar aqui, meus mais sinceros
parabéns a esta Diretoria que tanto trabalhou no decorrer deste 1º ano de
funcionamento desta Associação. Em nome de Deus encerramos e com
Ele esperamos continuar em 1968. 37
Findo este livro, encontrei no arquivo outro livro, sem termo de abertura, com
denominação na capa atribuída pela secretaria da escola de “Livro de Registro da Escola de
Pais” com data-limite de 1985/2006.
centralização, no âmbito escolar, e à erradicação, na comunidade local das atividades de Educação Moral e
Cívica e a cooperação na formação ou aperfeiçoamento do caráter do educando”. (Estatuto do Centro Cívico
Dom Vunibaldo. Rondonópolis, MT, [197?]. 36
Livro para assento das Atas das reuniões da Diretoria da Associação de Pais e Mestres. Rondonópolis, 5 de
maio de 1967, Folha 1/2. 37
Idem, folha 3/4.
107
Apresenta na primeira folha um histórico da APM e confirma o surgimento deste
movimento na Escola Sagrado em 1963, conforme consta no livro anteriormente analisado,
porém, diferente do movimento apontado por Antônio (1998), visto que o modelo adotado
pela Escola Sagrado, está baseado no movimento das “Escolas de Pais do Brasil”:
Movimento particular voluntário, apolítico e confessional. Nasceu em
1963 por inspiração da Madre Cristina Inês de Jesus, em São Paulo com o
nome de Escolas de Pais do Brasil. Este movimento se estende até hoje a
dezessete estados da federação e a seis países das Américas.38
Evidencia, pelo escrito e formato de apresentação do livro, que a primeira fase da
APM havia se encerrado em 1979 e que no ano de 1985, houve a retomada da ideia de
instalação de uma nova associação, havendo então, um intervalo de tempo, de 1980 a 1984,
ou seja, entre um livro e outro, sem registro sobre os trabalhos ou continuação do que havia
sendo trabalhado em termos de cooperação entre os associados.
Sem êxito, com a implantação de um modelo referência no Brasil, por questões de
normas nacionais, conforme consta na carta recebida em 11 de setembro de 1984 da Escola
de pais do Brasil, Secção Campo Grande, informando que, para a instalação daquele
modelo na Escola Sagrado:
É imprescindível que nasça o movimento na capital, por motivos
hierárquicos e sociais, e daí, vá se descentralizando para outros
municípios. É questão normativa. E, Mato Grosso, ainda não implantou a
Escola de Pais do Brasil na sua Capital. 39
Animada, a direção da escola convida então as escolas dirigidas por religiosos da
cidade a fim de criar um trabalho conjunto em prol da associação. Foi então convidado a
Escola La Salle, Santo Antônio e São José Operário, que na primeira reunião, aplaudiram a
ideia, porém adiante, desistiram de continuar, diante das dificuldades de motivar os pais e
voluntários nos cursos que a APM pretendia proporcionar.
Foi então que a Escola Sagrado deu um passo a frente:
Desta forma em novembro de 1984 a equipe pioneira indicada pela
diretoria da APM de então e convidada pela direção do colégio começou
a se estruturar e se organizar para a implantação de uma Escola de Pais
“sui gêneris”. Uma imitação da escola de Pais do Brasil, adaptada à
38
Livro de Registro da Escola de Pais. Rondonópolis, 1985/2006. Folha 001 39
Idem, Folha 002. Carta anexa no livro
108
realidade de Rondonópolis e mais precisamente à realidade do Colégio
Sagrado Coração de Jesus. 40
Este segundo livro, é interessante, ainda, por constar anexos durante a leitura das
atas, como por exemplo, ofícios enviados e recebidos, programação de cursos ofertados
para a APM, Ficha de inscrição da associação e fotos, atividades estas, sempre de comum
acordo com a Delegacia Regional de Educação, conforme conta em outro ofício anexo no
livro:
Através do presente, autorizamos a Escola Sagrado Coração de Jesus a
criar a “Escola de Pais” e dar preferência na distribuição das vagas aos
filhos cujos pais frequentem a referida escola, tendo em vista que a
Escola de Pais é algo de importante na Educação de Rondonópolis. 41
O movimento e as atividades da APM eram tão intensos que a presença de pais nos
cursos de pais variava de 50 a 120 participantes no decorrer de cada ano.
Imagem 23 – Reunião de pais e mestres da Escola Sagrado, 1988
Fonte: Foto encarte do Livro de Registro da Escola de Pais, 1985/2006
40
Idem, folha 002 41
Idem, folha 004
109
Sobre a APM, no arquivo da escola além dos livros atas encontrados, identificamos
muitos outros documentos como planos de ação, cronogramas de atividades, projetos do
“Curso de Pais”, e alguns livros de “Caixa escolar”42
, que também, tinha a participação de
pais de alunos no seu conselho fiscal.
Percebe-se, pelas atas, que os recursos públicos não eram suficientes para o
sustento da escola, mas que mesmo com esta deficiência a comunidade escolar sempre se
empenhava a realizar atividades para angariar dinheiro em benefício da escola. Os poucos
documentos sobre esta associação podem permitir muito bem a compreensão do papel da
Escola Sagrado neste processo e não apenas na busca dos recursos financeiros necessários
a melhoria da infraestrutura da escola, como também na formação de pais conscientes e
compromissados de seu papel na formação dos seus filhos.
4.6 Os vestígios encontrados, aqui e acolá
Ao tempo em que a inventariação no arquivo acontecia, fui coletando e
redescobrindo em muitos cantos dos armários, dentro de livros, pastas, de caixas e até
mesmo dentro dos dossiês dos alunos e professores, algumas “coisas velhas”43
; papéis
preciosos do ponto de vista da memória da escola, que mesmo não tendo uma quantidade
suficiente de itens para que pudessem se configurar numa intenção ou obrigatoriedade de
arquivamento, ou preocupação de que tal documento pudesse em algum momento, servir
de registro da sua história, foram guardados pelos funcionários da escola.
42
A Caixa Escolar é a instituição jurídica, de direito privado, sem fins lucrativos, que tem como função
básica administrar os recursos financeiros da escola, oriundos da União, estados e municípios, e aqueles
arrecadados pelas unidades escolares. Ou seja, são unidades financeiras executoras, na expressão genérica
definida pelo Ministério da Educação. Os recursos recolhidos por ela destinam-se à aquisição de bens e
serviços necessários à melhoria das condições de funcionamento da escola, incluídos no seu plano de
desenvolvimento. Embora já venha se instituindo historicamente, ancorada nos movimentos sociais desde a década de 70, a
Caixa Escolar passou a ter maior importância a partir de meados da década de 90, quando o MEC passou a
transferir recursos financeiros diretamente para as unidades escolares, de acordo com o princípio da escola
autônoma, estabelecido na Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996. Outras estruturas de gestão
colegiada que podem atuar no lugar ou em conjunto com a Caixa Escolar são a Associação de Pais e Mestres
(APM), o Colegiado Escolar e o Conselho de Escola (OLIVEIRA; OTÍLIA NETA, 2002). 43
Marilena Camargo denomina de coisas velhas os “objetos que frequentam armários e estantes de nossas
casas (e escolas), esquecidos pelo tempo, revividos pela memória. Livros, revistas, fotografias, diários,
jornais, cadernos e uma variedade de registros pessoais e institucionais.” CAMARGO, Marilena A. Jorge
Guedes de. Coisas velhas: um percurso de investigação sobre a cultura escolar (1928-1958). São Paulo:
UNESP, 2000.
110
Um dos grandes achados encontrado e recolhido dentro de pastas, misturados com
os relatórios de prestação de contas, diz respeito aos documentos que foram elaborados
sobre o a história do período inicial da instituição, em diferentes períodos e que contribuiu
para desenhar junto com a bibliografia que já era de conhecimento de todos à trajetória
histórica da Escola Sagrado no início dessa pesquisa.
Imagem 24 – Reunião de alguns documentos dispersos em livros, armários e dossiês do arquivo
Fonte: Fotografia do autor
Pelo que parece, alguns desses documentos foram elaborados para os eventos de
comemorações, outros, como parte introdutória dos relatórios e projetos de financiamentos.
Datilografados ou mimeografados, foram quase todos compilados pelas freiras
franciscanas, viso que reforçam as grandiosas atividades realizadas por elas, reforçadas
com suas assinaturas.
Muitos outros documentos foram encontrados, como provas e atividades de alunos,
impressos de orações e propagandas, prospectos cristãos, calendários, marca-páginas,
quadros de horário, quadros estatísticos, quadro de movimentação escolar, convites para os
pais, ofícios dispersos, plantas da escola e do município, manual com instruções de
escrituração, boletim escolar, informativos, recortes de jornais, relação de professores,
111
enfim, um conjunto de papéis que foram deixados de lado, nos vários cantos do arquivo e
que hoje podem ajudar nas atividades de memória da escola.
Diana Vidal manifesta-se muito bem sobre a cultura e as práticas escolares, por
meio dos resíduos da cultura material, dizendo que:
[...] uma reconsideração das normas de guarda de documentos escolares,
contemplando a preservação de exercícios, cadernos, provas escolares,
diários de classe, cartazes, quadros, entre outros, pode aumentar as
possibilidades de estudos acerca das práticas escolares.
Tomados em sua materialidade, esses objetos permitem não apenas a
percepção dos conteúdos ensinados, a partir de uma análise dos
enunciados e das respostas, mas o entendimento do conjunto de fazeres
ativados no interior da escola. Assume destaque, por exemplo, a maneira
como o espaço gráfico da página de exercício, do caderno ou da prova é
organizado; utilizando-se de fórmulas indicativas de início ou
encerramento de atividades ou dia letivo; definindo uma hierarquia de
saberes; solicitando registro de informações que visam a identificação,
como data, nome do aluno e da instituição escolar; apartando o espaço de
escrita do aluno e do professor pelo recurso a margens; remetendo a
diferentes habilidades ou usos, como papel com e sem pauta; dentre
muitos outros. Despontam como importante as dimensões físicas dos
vários suportes da escrita escolar, como número de páginas e formato de
quadros-negros, ardósias ou lousas individuais, cadernos, trabalhos
escolares, cartazes, faixas, barras, quadros; bem como a associação do
papel e outros materiais como tecido, plástico e sucata. Emerge como
relevante a referência aos vários objetos de escrita como giz, lápis,
caneta, giz de cera, lápis de cor, canetas coloridas (VIDAL, 2005, p.
16/17).
Portanto, são papéis que detém significativa importância para a edificação de uma
memória, de quem os produziu, de quem neles estão inscritos, envolvidos ou assinalados,
de algumas formas, um canto, rabiscado do papel.
112
5 DISCUSSÕES FINAIS
Motivado com tamanho desafio, de adentrar em um arquivo escolar, diante de um
mundo cheio de novidades e personagens que fizeram da Escola Sagrado um conceito de
educação, almejado por muitas famílias da região, não foi tarefa fácil. Ao mesmo tempo,
confesso, foi uma fase importante para o amadurecimento de ideias e valores que venho
trilhando na compreensão deste objeto de pesquisa.
Faltaram-me muitos elementos e astúcia diante das informações cruzadas que fui
encontrando no decorrer da inventariação dos documentos, portanto, penso que ainda haja
muita fonte para se estudar com o que foi coletado no arquivo. É possível que futuramente,
com uma leitura mais criteriosa, eu possa aprofundar não somente o que tenho em mãos,
mas também, desdobrar outros elementos a partir da formação desse fundo documental,
como as práticas de escrituração, a movimentação de documentos da secretaria para o
arquivo, as políticas públicas de produção documental, o declínio da massa documental
face às novas tecnologias e tantos outros questionamentos intrínsecos neste arquivo.
Como frisei no início desta pesquisa, acredito que um objeto de investigação é
construído na prática da pesquisa, no trato do dia-dia, nas leituras e nas dificuldades de
engajamento de uma prática reflexiva de uso do documento como elemento transformador,
do que um dia não ocorreu com êxito esperado, mas que hoje, pela experiência do passado
e da memória, seja possível um caminho muito mais acertado, determinado e melhor; pois
carrego a convicção de que por meio do passado e da memória individual seja possível
dizer quem somos e pra onde vamos, em diferentes rumos.
Para o entendimento e formação da minha práxis daqui em diante, esse estudo
vislumbrou muito bem um discurso corriqueiro, tanto em um nível de pesquisa ou como
uma simples opinião baseada em evidências, que a concepção generalizada que se tem de
um arquivo, seja ele público ou privado e, sobretudo, os que esgotaram seus prazos de
vigências, denominado de históricos; é de que constituem um amontoado de papel velho,
sem nenhuma serventia, apenas ocupando um espaço que poderia ser utilizado para algo,
imediatamente “mais importante” e que só se encontram amontoados, por motivos legais
de prazos, que às vezes, nem a isso garante a sua permanência.
Lembro-me nesse momento, de algumas palavras ditas pela Profª. Cancionila
Cardoso, no momento da entrevista de seleção do curso de mestrado, ao complementar
minha arguição do anteprojeto, relatando, pela sua experiência com a prática da pesquisa
113
histórica realizada em alguns arquivos escolares de Mato Grosso, que os colégios
confessionais possuem um comprometimento muito maior com relação a sua história, pelo
fato de se preocuparem em guardar a sua documentação, diferente de algumas escolas
públicas e privadas.
Esse pensamento se confirmou muito bem na Escola Sagrado, pois quando fui para
o arquivo iniciar o inventário, observei uma preocupação por parte dos funcionários em
manter organizado os seus documentos, e diferente de muitos outros casos que estudei no
referencial teórico, esse arquivo, mesmo com todas as deficiências apontadas, há um
espaço próprio para a guarda de documentos, o mobiliário ainda é suficiente e a
organização mesmo não atendendo aos padrões técnicos, vem conseguindo colaborar nos
serviços diários da secretaria.
Outra questão importante que demonstra o interesse da escola pela sua memória é a
permanência dos documentos mais antigos que encontrei em posse do arquivo, sendo que
estes poderiam ter sidos eliminados juntamente com tantos outros da mesma época em que
foram produzidos, mas que hoje, não existem mais. Penso haver algo intencional por parte
da escola em guardá-los, em detrimento dos outros que foram perdidos. Infelizmente, foi
impossível identificar os motivos que o fizeram sobreviver, talvez, porque a história da
escola se entrelace com a história da ordem das irmãs franciscanas como pioneiras na
educação de Rondonópolis.
Não posso deixar de manifestar, os vários registros da escola em manter viva a sua
memória com as comemorações de aniversário e a reverência que se fazem às irmãs que
dirigiram a instituição desde o seu início até os dias atuais, documentado nos livros de atas
e nas fotografias dispersas em diferentes salas. Os retratos, os troféus, as medalhas, as
pinturas em óleo, ou mesmo uma simples reprodução em cartolina, saúdam as insignes
freiras que se dedicaram em contribuir com os preceitos da educação na cidade.
Certamente, podemos entender essas ações como um sentimento de memória dessa escola!
Em observação ao papel das políticas públicas e intervenção do governo em
melhores incentivos ao patrimônio educativo e, sobretudo, a preservação dos arquivos
históricos escolares percebo que pouco, ou quase nada está direcionado a memória.
Em Mato Grosso, a Secretaria de Estado da Educação instituiu uma tabela de
temporalidade para os arquivos escolares, sem ao menos discutir com as instâncias
preocupadas com a salvaguarda dos documentos produzidos pelas escolas. Penso ser
necessário antes desse trabalho, ter aberto o debate com os arquivos públicos, a
114
universidade e os diversos grupos de interesse em memória escolar no estado. É lastimável,
por exemplo, saber que um livro de matrículas, depois de preenchidas e esgotadas as suas
páginas, poderá ser jogado na lata de lixo depois de passados 15 anos no arquivo; ou ainda,
que um diário de classe tenha apenas 17 anos de vida útil e o regimento da escola, depois
de extinguir a sua vigência, fica à disposição do arquivo por apenas 15 anos.
Penso ainda, que se o poder público, não impõe essa necessidade de preservar o
patrimônio educativo por meio dessas ações de produção, manutenção e eliminação de
papéis, então, a escola passa a estar isenta de desenvolver o seu plano básico de memória a
partir do que foi acumulado no seu arquivo, visto que a escola parece viver em uma cultura
do descarte, onde tudo que é velho, já não tem mais serventia.
É necessário, portanto, uma sensibilização na esfera escolar, da vitalidade desses
arquivos como lugares de memória, para que a soma de esforços, de uma ou mais escolas,
possa ser motivo para que o estado efetive políticas públicas voltadas ao patrimônio
escolar. E por que não, um movimento inicial, assim como ocorreu com o CEFAPRO no
âmbito da Escola Sagrado? E por que não iniciar uma reunião das escolas interessadas na
sua memória, assim como ocorreu na década de 1980, o convite para a criação de um
modelo de Associação de Pais e Mestres? É para se pensar!
Importante ainda é perceber de que forma a escola poderá socializar a sua memória
para a comunidade como um todo, ou, como essa mesma cadeia de pessoas, poderá se
apropriar das ricas fontes de informação como práticas possíveis, para a sua memória
pessoal, da escola e da cidade, pois pouco adianta implementar um espaço de memória, se
não há pessoas para sua interação, manuseio ou pesquisa.
Essa pesquisa, não pretendeu elaborar nenhuma denúncia, ou mesmo apontar
negligências das partes envolvidas com as perdas e a falta de cuidados com a manutenção
de arquivos escolares, mas, somente, compreender em um nível específico, que pode ser
possível relativizar a noção do senso comum do conceito de arquivo, afastado do real valor
do documento para a memória.
E quais as potencialidades de memória deste arquivo?
Falar nas possibilidades de memória do arquivo da Escola Sagrado é buscar
conhecer as suas condições, tanto material quanto simbólicas, inscritas no seu espaço,
socialmente construído por diversas e diferenciadas pessoas que por ela passaram nos seus
mais de sessenta anos. Pelo inventário realizado, foi possível constatar o quanto esse
115
arquivo é rico em termos de possibilitar novos significados de pesquisa, história e
memória.
Nesse sentido, para concluir, a memória deve ser tratada como parte integrante do
projeto político-pedagógico da escola. Deve-se possibilitar também, que a sua história seja
sentida e compartilhada entre todos, conhecendo a sua trajetória, como e quando assa
escola surgiu, suas transformações estruturais, modelos formativos, outras denominações
que sofreu ao longo dos anos, as dinâmicas dos professores, nome de pessoas, vínculos, as
razões do seu surgimento, a documentação de constituição e de autorização de
funcionamento, são elementos importantes para a formulação da sua identidade e peça-
chave para a efetivação da sua memória.
116
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120
ANEXOS 1 – DELIBERAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO DE PAIS E MESTRES
QUANTO ÀS VESTIMENTAS DO UNIFORME ESCOLAR – 1976
Fonte: Encarte do Livro da APM. 1976
121
ANEXO 2 – TABELA DE TEMPORALIDADE DE DOCUMENTOS ESCOLARES
DE MATO GROSSO
TABELA DE TEMPORALIDADE DE DOCUMENTOS AFINS
Portaria n° 251/05/GS/SEDUC/MT – D.O. e 29/12/2005
DOCUMENTO - ASSUNTO
PRAZO DE ARQUIVAMENTO (EM ANOS)
DESTINAÇÃO FINAL
OBSERVAÇÃO
Corrente Intermediário Permanente Eliminar
800.1 DOSSIÊ DO ALUNO
801 Ficha de Matrícula
01 ano 01 ano - x
A ficha de matricula do aluno poderá ser eliminada após 01 ano porque tem registro na ficha individual
801-A Livro de Matrícula Até terminar as
páginas 15 anos - x -
802 Ficha Individual do Aluno 02 anos 15 anos - x -
803 Certidão de nascimento/casamento
01 ano Durante a
permanência do aluno da escola
- x Eliminar ou devolver ao interessado
804 Carteira de identidade 01 ano Durante a
permanência do aluno na escola
- x Eliminar ou devolver ao interessado
805 Histórico escolar conclusivo - 20 anos - x -
805-A Histórico Escolar transferência
01 ano 20 anos - x -
806 Processos de regularização da vida escolar do aluno
01 ano 01 ano - x -
810.1 Registro da vida escolar do aluno
- - - - -
811.01 Livro Ata de processos especiais
02 anos 15 anos x - -
811.02 Livro Ata de resultados finais
02 anos 15 anos x - -
811.03 Canhotos de notas 01 ano 05 anos - x -
811.04 Diário de Classe 02 anos 15 anos - x -
811.05 Livro de Registro de Certificados
Até terminar as páginas
60 anos - x -
811.06 Livro de Registro de Diplomas
Até terminar as páginas
60 anos - x -
811.07 Requerimento 01 ano 02 anos - x -
811.08 Livro de registro de entrega de certificados
02 anos 15 anos - x -
812.1 Atestados - - - - -
812 Atestados Médicos do aluno 01 ano 01 ano - x -
813 Atestado de transferência Até o
recebimento do Hist. Escolar
05 anos - x -
900.1 ESCOLA
901 Pareceres, resoluções, portarias, atos e decretos da escola
Durante vigência
20 anos x - -
902 Processos Autorização de cursos, reconhecimento, credenciamento de instituição e transferência de entidade mantenedora
Durante vigência
06 anos
- x
Após a publicação da Autorização e/ou Reconhecimento. Guardar processo durante o prazo de
122
vigência do ato
903 Processos de nova denominação e mudança de endereço
05 anos - - x
Após publicação o processo ficará guardado durante prazo de vigência
000.1 DIVERSOS
001 Projetos e Planos de Desenvolvimento pela escola
Enquanto estiver
vigorando 05 anos - x -
002 Projeto político e pedagógico Enquanto
estiver vigorando
05 anos - x -
003 Regimento escolar Enquanto
estiver vigorando
15 anos - x -
004 Livro Ponto 05 anos 50 anos - x -
005 Livro Ata de reuniões, com decisões de efeitos temporários
Até terminar as folhas do livro
05 anos - x Até terminar as folhas do livro, após, eliminar
006 Livro Ata de reuniões, com decisões de efeitos permanentes
Até terminar as folhas do livro
10 anos x - -
007 Livro de Ocorrências Até terminar as folhas do livro
05 anos x -
008 Livro de Eliminação de documentos
Até terminar as folhas do livro
05 anos x - -
009 Livro protocolo de remessa de documentos
02 anos 02 anos - x
010 Pasta individual do Servidor Enquanto
estiver lotado na escola
- - x Eliminar ou devolver ao interessado
011 Disquetes, CDs, DVD’s e VHS
Enquanto tiver utilidade para a
escola - - x
Eliminar ou reutilizar quando possível
Dorlete Dacrose
Coord. Atend. Público
Francisvaldo Ferreira de Assunção
Assessoria jurídica
Barbára Prado Sup. Gestão Escolar
Roni Rodrigues da Silva
Sup. Rec. Humanos
Cisdinar Nilo Paes Proença
Sup. Financeira
Fonte: Reproduzido do manual “Organização e Operacionalização do Trabalho da Secretaria Escolar. Mato
Grosso: Seduc, s.d.
123
APÊNDICE 1 - RELAÇÃO DE DOCUMENTOS DO ARQUIVO DA EE SAGRADO
CORAÇÃO DE JESUS POR ESPÉCIES/TIPOLOGIAS
DÉCADA 1950 ANO
Livro “Matrícula do curso primário Rondonópolis” 1951/1952,
1955
Livro “Matrícula do curso primário Rondonópolis” 1959/1963
Livro de movimento geral do ginásio normal 1959/1977
TOTAL DE ITENS 03
DÉCADA 1960 ANO
Livro registro de notas do exame de admissão dos alunos do
Educandário Sagrado Coração de Jesus
1960/1962
Livro registro de notas dos exames de admissão ao curso normal 1º
ciclo
1963/1971
Livro registro das notas mensais dos alunos 1963/1976
Livro anotações da vida escolar dos alunos do Ginásio Normal 1964/1965
Livro de chamada 1964/1966
Livro registro dos exames finais do curso primário 1964/1967
Livro de ponto dos funcionários 1964/1967
Livro registro da vida escolar dos alunos do Ginásio Normal 1966/1970
Livro para o registro de atas das reuniões de pais e mestres 1967/1969
Livro matrícula do curso primário Rondonópolis 1967-1969
Livro para controle de frequência dos professores contratados pelo
Ginásio Normal de caráter particular
1967/1973
Livro para registro de notas dos alunos 1967/1974
Livro para assento das atas das reuniões da diretoria da Associação
de pais e Mestres
1967/1979
Livro registro de notas das alunas do Curso Normal São Francisco 1968
Livro registro de notas dos alunos que frequentaram o 6ª ano
primário e se submeteram a exames para se matricularem na 2ª
série deste Ginásio Normal
1968
Livro registro de notas dos alunos do Ginásio Normal 1968/1973
Livro registro de matrícula do curso normal experimental 1968/1976
Livro registro de matrícula dos alunos do ginásio normal 1969/1971
Livro para assento dos nomes das alunas que retiraram seus
documentos de identidade do ginásio normal
1969/1974
Livro ata dos exames de provas finais de 2ª época e de adaptação do
Ginásio Normal
1969/1977
Livro registro de atas e exames finais e segunda época o ginásio
normal
1969/1987
TOTAL DE ITENS 21
DÉCADA 1970 ANO
Livro de chamada dos alunos do 4º ano primário [da] professora
Maria de Lourdes Queiróz
1970
Livro de chamada – Professora Maria de Lourdes Dueti Silva 1970
124
alunos do 2º ano
Livro de chamada dos alunos do 4º ano 1º grau – professora Coralia
Brandespin Moura
1970
Livro registro matrícula dos alunos do Educandário 1970
Livro registro de presença dos professores 197-
Livro registro de matrícula dos alunos do jardim de infância e pré-
primário do Educandário
1970/1971
Livro registro de notas referente às atas dos resultados finais do 2º
grau do magistério
1970/1973
Livro registro de notas mensais dos alunos 1970/1973
Livro para anotação diária das horas de trabalho dos empregados
da firma Educandário SCJ
1970/1975
Livro registro de ata de formatura do Colégio Normal São
Francisco
1970/1979
Pasta de documentos diversos 1970/1980
Livro registro da contribuição da caixa escolar 1971
Livro ao assento do ponto diário dos professores do curso primário 1971
Livro para controle de frequência dos professores do curso
primário
1971/1972
Livro registro das atas da Associação de Pais e Mestres do
Educandário Sagrado
1971/1972
Livro para o registro das entradas e saídas das mensalidades 1971/1973
Dossiês - Escola Normal São Francisco 1971/1974
Livro ata dos exames de adaptação e 2ª época 1971/1975
Livro para o assento das entradas e saídas da caixa escolar do curso
primário
1971/1977
Livro registro de ponto das professoras do curso primário 1972
Livro registro de matrícula dos alunos 1972
Livro registro de ponto das professoras do curso normal
fundamental
1972/1973
Livro registro de matrícula dos alunos da escola 1972/1974
Livro de notas dos alunos da Escola Normal São Francisco 1972/1974
Livro registro de matrícula dos alunos 1972/1974
Livro ata dos resultados finais da Escola Normal São Francisco 1972/1977
Livro para controle de frequência dos professores contratados pelo
Ginásio Normal
1973/1977
Livro de nomes e números do arquivo da escola 1974
Livro registro de notas do nível V a VIII dos alunos 1974
Livro ata de abertura e outras – curso de hab. para o magistério do
1º grau – Alto Araguaia, MT
1974/1993
Livro registro de notas do nível I a IV dos alunos 1974/1976
Livro registro de matrícula dos alunos 1974/1976
Livro registro de matrícula dos alunos da escola 1974/1975
Livro registro das atas das reuniões da diretoria do banco do livro 1974/1975
Livro registro de notas do nível I a IV dos alunos 1974/1976
Livro registro de atas das reuniões de professores 1974/1977
Livro registro de matrículas dos alunos do curso de habilitação
para as séries iniciais
1974/1987
125
Livro registro dos nomes e arquivo dos alunos 1975
Livro de registro das atas das contas correntes do Centro Cívico D.
Vunibaldo
1975
Livro registro das atas das reuniões do centro cívico D. Vunibaldo 1975
Livro para o registro dos nomes dos alunos em ordem alfabética 1975
Livro registro de matrículas dos alunos 1975
Livro de notas dos alunos 1975/1976
Livro ata dos resultados finais do 1º ano 1975/1977
Livro para registro de matrículas 1976
Livro registro de notas dos alunos de 1º grau 1976
Livro registro de matrículas dos alunos da escola 1976
Livro de matrícula dos alunos 1976/1973
Livro registro de matrículas dos alunos 1976/1977
Livro registro de notas e médias 1976/1978
Livro de registro de ata das reuniões de pais e mestres 1976/1980
Livro registro de notas referente às atas dos resultados finais do
nível V a VIII
1977
Livro registro de matrículas dos alunos da escola 1977/1979
Livro para controle de frequência dos professores contratados 1977/1979
Livro registro referente às atas dos resultados finais do nível I a IV 1977/1987
Livro registro de notas referentes às atas de exames e processos
especiais do nível I a IV
1977/1981
Livro registro de notas referente às atas de exames e processos
especiais do nível V a VIII
1977/1981
Livro registro de notas referente às atas dos resultados finais do
nível V a VIII
1977/1985
Pasta de correspondências da Escola Normal São Francisco 1977/1985
Livro registro de matrículas dos alunos 1978/1979
Livro registro de alunos desistentes e transferidos 1978/1981
Livro registro de nomeação de cargos 1979
Livro registro de horas atividades dos professores do V a VIII do 1º
grau
1979
Livro registro de matrículas dos alunos 1979/1980
Livro registro de matrículas dos alunos 1979/1981
Livro registro de matrículas dos alunos matriculados dos níveis V a
VIII
1979/1982
Livro ata dos exames de processos especiais do 2º grau habilitação
magistério
1979/1982
Dossiês – ensino médio concluinte 1979/1988
Livro ata do conselho técnico 1979/1990
Livro registro das atas de reuniões da diretoria da Associação de
Pais e Mestres
1979/1994
TOTAL DE ITENS 70
DÉCADA 1980 ANO
Livro registro de reposição de horas aulas de professores que não
cumpriram carga horária
1980
Livro de ponto de professores 198-
126
Livro para controle de frequência e registros das horas atividades
(horas aulas) dos professores do 2º grau
1980/1981
Livro para controle de frequência dos professores contratados pela
escola
1980/1982
Livro de ponto dos funcionários 1980/1983
Livro para controle de frequência dos professores contratados 1980/1982
Regimento escolar 1981
Livro de matrículas 1981/1982
Livro de matrículas 1981-1983
Livro registro das férias dos funcionários deste estabelecimento 1981/1991
Livro registro das atas de reuniões do Centro Cívico D. Vunibaldo 1982
Livro registro de matrículas dos alunos 1983
Livro registro de matrículas dos alunos do 1º grau correspondente
ao nível I a IV a V a VIII
1983/1984
Livro controle de frequência dos professores do 1º grau nível I a IV 1983/1985
Livro registro de matrículas dos alunos do 2º grau hab. para o
magistério
1984/1986
Livro para anotações diárias das horas de trabalho dos
funcionários-agentes de portaria
1984/1987
Livro ata das reuniões feitas pela coordenação do ensino religioso
desta DREC-12 Rondonópolis
1985
Livro registro de matrículas dos alunos do 1º grau 1985/1986
Livro registro de notas referente às atas de exames e processos
especiais do nível V a VIII
1985/1987
Livro registro da Escola de Pais 1985/2006
Livro registro de matrículas dos alunos do 1º grau correspondente
aos níveis I a IV e V a VIII
1986/1987
Folha de pagamento 1986/2009
Livro registro de matrículas dos alunos do 1º grau correspondente
ao nível I a IV a V a VIII
1987
Livro anotações diárias das horas de trabalho dos funcionários-
agentes de portaria
1987-1990
Livro registro de atas do conselho deliberativo 1987/1990
Livro para registrar os nomes dos funcionários com respectivos
horários de entrada e saída
1987/1990
Livro ponto V a VIII 1987/1990
Livro registro de frequência dos professores do curso de magistério 1988/1992
Pasta de P.G.E. 1988/1989
Livro registro de matrículas dos alunos do 1º grau correspondente
ao nível I a IV
1988/1989
Livro registro de matrículas dos alunos do 1º grau correspondente
ao nível V a VIII
1988/1989
Livro registro de matrículas dos alunos do 2º grau hab. magistério 1988/1991
Dossiês – ensino médio concluinte 1988/2008
Dossiês – ensino médio permanente 1988/2008
Livro registro de matrículas dos alunos do 2º grau hab. Magistério 1989/1991
Livro da Associação de Pais e Mestres 1989/1995
TOTAL DE ITENS 36
127
DÉCADA 1990 ANO
Livro registro dos alunos matriculados do 1º grau correspondente
ao nível V a VIII
1990
Projetos político-pedagógico 1990
Pasta de convênios 1990
Mapas de lotação 199-
Canhotos de diários de classe 199-
Quadro de recursos humanos 199-
Livro de registro número de diploma registro-magistério 1991
Livro registro das atas de reunião da assembléia geral da APM 1991
Livro para registro de aulas dos professores do 2º grau 1991/1993
Livro para registro de trabalho dos professores do 1º grau 1992
Livro controle de frequência dos professores do curso de magistério 1992/1996
Livro para registro de frequência dos professores do 1º grau 1993/1994
Livro para registro de aulas referente às horas atividades dos
professores do 2º grau
1994/1995
Livro registro dos livros retirados da estante 1994/1998
Diários de classe 1994, 1995,
1998, 2002,
2006, 2007
Livro de advertência de alunos 1995/1996
Livro para registro de diplomas das habilitações profissionais de 2º
grau
1995/1999
Livro de registro da semana pedagógica com os professores 1996
Livro registro de atividades de pesquisa 1996/1997
Livro registro de atas do conselho deliberativo 1996/1997
Livro registro de frequência dos professores do curso e magistério 1997/2002
Livro registro e presença de atividades desenvolvidas nas reuniões
extraordinárias, assim como o encaminhamento das decisões da
comunidade escolar
1999
Livro registro dos funcionários com os respectivos horários de
entrada e saída
1999/2002
TOTAL DE ITENS 23
DÉCADA 2000 ANO
Livro de recebimento das contribuições da APM da escola 2001/2006
Livro para assinatura do ponto de trabalho dos funcionários
(técnico administrativo educacional)
2005
Livro para assinatura do ponto de trabalho dos funcionários
(técnico administrativo educacional)
2006
Livro para assinatura do ponto de trabalho dos funcionários
(técnico administrativo educacional)
2006
Correspondência expedida 2006, 2007,
2008, 2009,
Correspondência recebida 2006, 2007,
2008, 2009
Notas fiscais 2005/2006
128
Pasta de guia remessa 2005/2009
Livro para assinatura do ponto de trabalho dos funcionários
(técnico administrativo educacional)
2007
Pasta de prestação de contas – PDDE, merenda escolar. Associação
de Pais
2007
Agenda de atividades na escola 2008
Livro para assinatura do ponto de trabalho dos funcionários
(técnico administrativo educacional)
2008
Livro ponto dos professores 2009
e-mail’s recebidos 2009/2010
TOTAL DE ITENS 14 Fonte: Organizado pelo autor
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APÊNDICE 2 – FICHA PARA DESCRIÇÃO DE DOCUMENTOS ESCOLARES
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