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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG Instituto de Ciências da Natureza Curso de Geografia Bacharelado ANTÔNIO ANANIAS NOGUEIRA NETTO O LEVANTE POPULAR DA JUVENTUDE (LPJ) NA ABORDAGEM DOS MOVIMENTOS SOCIOESPACIAIS Alfenas - MG 2019

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG

Instituto de Ciências da Natureza

Curso de Geografia – Bacharelado

ANTÔNIO ANANIAS NOGUEIRA NETTO

O LEVANTE POPULAR DA JUVENTUDE (LPJ) NA

ABORDAGEM DOS MOVIMENTOS SOCIOESPACIAIS

Alfenas - MG

2019

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ANTÔNIO ANANIAS NOGUEIRA NETTO

O LEVANTE POPULAR DA JUVENTUDE (LPJ) NA

ABORDAGEM DOS MOVIMENTOS SOCIOESPACIAIS

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado como parte dos

requisitos para obtenção do título de

Bacharel em Geografia pelo Instituto

de Ciências da Natureza da

Universidade Federal de Alfenas-

MG, sob orientação do Prof. Dr.

Estevan Leopoldo de Freitas Coca.

Alfenas – MG

2019

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Banca Examinadora

_____________________________________________

Doutorado, Estevan Leopoldo de Freitas Coca, UNIFAL-MG

_____________________________________________

Doutorado, Sandra de Castro Azevedo, UNIFAL-MG

_____________________________________________

Doutorado, Flamarion Dutra Alves, UNIFAL-MG

Alfenas (MG), __/__/____

_________________________________

Resultado

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Epígrafe

À juventude do projeto popular.

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Dedicatória

Aqui, dedico o presente trabalho a

juventude que constrói o LPJ em todos

os cantos desse país. “Juventude que

ousa lutar, constrói o poder popular!”

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Agradecimentos

Agradeço, primeiramente, ao Levante Popular da Juventude, movimento

socioespacial que me acolheu e ajudou a me construir enquanto ser humano.

Meu agradecimento também aos entrevistados que são militantes do LPJ e se

dispuseram a responder as questões as quais foram submetidas. Minha família

a qual me apoia e que desde sempre ensinou os deveres sociais e a importância

de entender sobre as desigualdades sociais. Aos amigos (as) e colegas (as) os

quais estavam sempre presentes em toda caminhada acadêmica. Aos

professores os quais me ensinaram muito além da Geografia, me ensinaram a

olhar o mundo por outra forma e assim construir e ocupar os espaços e

territórios.

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Resumo

No presente trabalho foi discutida a inserção do Levante Popular da Juventude

(LPJ) na atual conjuntura política brasileira, dialogando com leituras geográficas

dos movimentos sociais, mais especificamente a abordagem dos movimentos

socioespaciais e socioterritoriais. O LPJ é um movimento de juventude que vem

construindo um Projeto Popular para o Brasil. Gestado em 2006 e formado em

2012, o LPJ, juntamente com outros movimentos socioespaciais e

socioterritoriais, ocupa e reorganiza o espaço geográfico em todas suas

dimensões, sejam elas política, social, econômica e cultural. Para o

desenvolvimento do trabalho foi utilizado em caráter central os seguintes

procedimentos metodológicos: levantamento bibliográfico e documental,

pesquisa participante e entrevistas. Como conclusão, destaca-se que o LPJ

pode ser lido como um movimento socioespacial, o qual está inserido nas novas

dinâmicas das lutas populares que caracterizam o capitalismo neoliberal.

Palavra-chave: movimentos socioespaciais; juventude; espaço; LPJ; política

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Abstract

In the present work it is discussedthe insertion of the Youth Popular Uprising

(Levante Popular da Juventude - LPJ) in the current Brazilian political

conjuncture, dialoguing with geographical readings on social movements, more

specifically the approach of sociospatial and socioterritorial ones. The LPJ is a

youth movement that has been building a Popular Project for Brazil. It was

gestated in 2006 and formed in 2012. The LPJ, together with other sociospatial

and socioterritorial movements, occupies and reorganizes the geographical

space in all its dimensions (political, social, economic and cultural). For the

development of the work there were used the following methodological

procedures: bibliographic and documentary survey, participant research and

interviews. As a conclusion, it is noteworthy that the LPJ can be read as a

sociospatial movement, which is inserted in the new dynamics of popular

struggles that characterize neoliberal capitalism.

Keywords: socio-spatial movements; youth; space; LPJ; Policy

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Lista de Quadros

Quadro 1 – Lista de entrevistados e temas abordados .................................... 16

Quadro 2 – Documentos Oficiais do LPJ.......................................................... 16

Quadro 3 – Vídeos oficiais do LPJ ................................................................... 17

Quadro 4 – Trabalhos de Campo ..................................................................... 17

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Lista de ilustrações

Figura 01 – Panfleto de chamada para a Greve Nacional da Educação no dia

15 de maio de 2019

................................................................................................................. 34

Figura 02 – Panfleto da 2ª Greve Nacional da Educação

................................................................................................................. 36

Figura 03 – Panfleto da Greve Geral de 14 de julho de 2019

................................................................................................................. 37

Figura 04 – Ato dos estudantes (as) no 57º CONUNE

................................................................................................................. 39

Figura 05 – Escracho na casa do Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra em

2014.......................................................................................................... 41

Figura 06 – Panfleto Semana Nós por Nós do

LPJ............................................................................................................ 42

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Lista de siglas

CONUNE – Congresso Nacional da União Nacional dos Estudantes

CUT – Central Única dos Trabalhadores

ENG – Encontro Nacional de Geografia

LGBTQIA+ – Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Transgeneros, Queer,

Assexual

LPJ – Levante Popular da Juventude

MAB – Movimento dos Atingidos por Barragens

MAM – Movimento Atingidos por Mineração

MPA – Movimento de Pequenos Agricultores

MPL – Movimento Passe Livre

MST – Movimento dos Trabalhadores (as) Sem Terra

MTD – Movimento de Trabalhadores (as) por Direitos

ONG – Organização Não Governamental

PC do B – Partido Comunista do Brasil

PP – Partido Progressista

PSB – Partido Socialista Brasileiro

PSL – Partido Social Liberal

PSOL – Partido Socialismo e Liberdade

PT – Partido dos Trabalhadores

SD – Solidariedade

UBES – União Brasileira dos Estudantes Secundaristas

UEE – União Estadual dos Estudantes

UJS – União da Juventude Socialista

UNE – União Nacional dos Estudantes

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Sumário

1. Introdução ................................................................................................... 13

2. Metodologia................................................................................................. 14

3. Referencial Teórico .................................................................................... 18

3.1 Abordagens geográfica dos movimentos sociais ................................. 18

3.2 Movimentos Socioespaciais e Socioterritoriais .................................... 27

4. Resultados e Discussões .......................................................................... 31

4.1 Contextualizações do LPJ ....................................................................... 31

4.2 Ações do LPJ ............................................................................................ 35

4.2.1 Greve Nacional da Educação - 15 maio de 2019 ................................. 36

4.2.2 2ª Greve Nacional da educação - 30 maio de 2019 ............................. 37

4.2.3 Greve Geral 14 de julho de 2019 .......................................................... 39

4.2.4 57º CONUNE ........................................................................................... 41

4.2.5 Escrachos .............................................................................................. 42

4.2.6 Semanas nós por nós ........................................................................... 44

4.2.7 Projeto Popular e Frente Brasil Popular .............................................. 46

4.3 O LPJ como um movimento socioespacial ............................................ 47

5.0 Considerações finais ............................................................................... 54

6.0 Referências Bibliográficas ...................................................................... 55

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1. Introdução

Os movimentos socioespaciais e socioterritoriais são objetos de estudos

dentro das ciências humanas e sociais. A geografia brasileira, começa a aderir

aos estudos dos movimentos sociais com o avanço da geografia critica nos anos

1970 e 1980. Os estudos dos movimentos sociais por parte da geografia,

contribuem com as demais análises das ciências sociais através do seu objeto

de estudo como o território e espaço. Essas contribuições do âmbito da

geografia ajudam a compreender melhor como os movimentos socioespaciais e

socioterritoriais ocupam e reorganizam o espaço geográfico. Para o estudo ser

realizado foi utilizado como o objeto da pesquisa o Levante Popular da

Juventude (LPJ), movimento socioespacial de juventude brasileiro, composto

por jovens das periferias dos centros urbanos e do espaço agrário. O LPJ tem

sua gestação em 2006, no Rio Grande do Sul, porém, o início de sua

espacialização ocorreu em 2012, quando ocorre o primeiro acampamento

nacional e onde se retiram as principais pautas do movimento para com a

sociedade brasileira.

O objetivo do presente Trabalho de Conclusão de Curso foi analisar o LPJ

como um movimento socioespacial, abordagem de Fernandes (2005), na qual

analisa-se geograficamente os movimentos sociais como socioterritoriais e

socioespaciais. Os movimentos socioespaciais têm o espaço como

característica para entender seu funcionamento, eles atuam no campo material

e imaterial do que chamamos de espaço geográfico. O socioterritorial, tem como

objetivo o território e sua conquista, por isso, possui ligações diretas com o

campo da materialidade. Para analisar e discutir o LPJ como um movimento

socioespacial foram utilizados alguns procedimentos metodológicos como a

pesquisa participante, apoios teóricos, entrevistas e trabalho de campo nas

manifestações pré-estabelecidas. Para a realização do trabalho, utilizou-se da

metodologia da pesquisa participante visto que o autor possui relações com o

LPJ, sendo militante do movimento. Além da pesquisa participante, também

compuseram a metodologia apoios teóricos, vídeos, entrevistas e trabalhos de

campos. Conclui-se que o LPJ é um movimento socioespacial.

Como o LPJ é um coletivo recente, pouca literatura cientifica é encontrada

sobre ele, especialmente no que se refere à leitura espacial de suas ações. Com

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isso, esse trabalho contribuirá na sua materialização também no âmbito

acadêmico, onde a movimento atua pela frente do Movimento Estudantil. Através

da leitura geográfica da realidade poderemos entender a materialização do LPJ

no espaço geográfico e analisar sua atuação como chave para compreendermos

quem são os membros dessa juventude e quais suas reivindicações. Em outros

termos, será feita uma abordagem do LPJ enquanto movimento socioespacial.

Esse trabalho está organizado em três partes que serão subdividas em

tópicos, além da presente introdução e das considerações finais. Na parte

seguinte, será apresentada a metodologia da pesquisa e o referencial teórico.

Assim, os resultados sobre a interpretação do LPJ com base na abordagem

geográfica dos movimentos sociais seguem nos últimos tópicos.

2. Metodologia

Foi utilizada a seguinte metodologia para a realização do Trabalho de

Conclusão de Curso:

Pesquisa Participante

A pesquisa-participante foi a parte central da metodologia utilizada. De

acordo com Brandão e Borges (2007; p.2), as pesquisas desse tipo são postas

em prática dentro de movimentos sociais populares ou se reconhecem estando

a serviço de tais movimentos. Na maior parte dos casos, a pesquisa participante

é um momento de trabalhos de educação popular realizados junto com e a

serviço de comunidades, grupos e movimentos sociais, em geral, populares.

Ainda baseado nos autores supracitados, a pesquisa-participante re-elabora os

diferentes modos de construir uma pesquisa, visto que ela não possui um único

modelo de construção. Cada autor (a) tem sua autonomia na construção da

pesquisa participante, de acordo como se dá sua relação com o objeto da

pesquisa. Os saberes científicos e populares se mesclam na pesquisa

participante, característica importante para defini-la.

Através do materialismo histórico e dialético é possível entender como a

sociedade está organizada e como grupos sociais sofrem com a desigualdade

do sistema capitalista em sua fase neoliberal, que é estrutural. A pesquisa

participante junto ao LPJ pôde mostrar como as configurações do sistema

capitalista atual moldam os espaços urbanos e rurais e como esses agentes

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produtores do espaço – como os movimentos socioespaciais e socioterritoriais –

sofrem diretamente com o sistema. Com isso, inventam novas formas de ocupar

e resistir no que chamamos de espaço geográfico, que será analisado nos

capítulos posteriores.

Apoios Teóricos – livros, artigos, teses

A geografia pode contribuir na análise dos movimentos sociais de diversas

maneiras. O espaço e o território são elementos-chave para entendermos como

a sociedade está organizada e como esses grupos se relacionam entre si e com

o meio em que vivem. Alguns exemplos podem ser citados ao mencionar os

estudos sobre movimentos sociais. Sobreiro Filho (2015) traz a abordagem dos

movimentos socioespaciais e socioterritoriais relacionando ao MPL (Movimento

Passe Livre – SP). Em seu artigo discute e relaciona o objeto de pesquisa, no

caso o MPL, com a abordagem mencionada inserindo as redes sociais na

discussão. Dalpério (2015) em seu artigo, discute sobre os movimentos

socioterritoriais (quilombolas, indígenas, trabalhadores rurais, sem terras,

camponeses etc.) que têm as ocupações de terras como instrumento de luta,

sendo o território sua principal conquista e alguns também a reforma agrária.

Ribeiro (2018), aborda o LPJ fazendo uma análise histórica do movimento, e

suas práticas tendo a educação como base para seu estudo. Uma contribuição

fundamental para a realização da pesquisa é de Fernandes (2005) o qual

classifica os movimentos sociais como socioterritoriais e socioespaciais, o qual

será abordado mais aprofundado nos capítulos posteriores. A contribuição

desses autores foi fundamental para construirmos uma compreensão teórico-

conceitual sobre os movimentos socioespaciais e assim, abordar o exemplo do

LPJ. Além deles, outros autores também foram utilizados de modo

complementar na efetivação da pesquisa.

Entrevistas com membros do LPJ

As entrevistas foram realizadas com três membros do LPJ, através do

método da entrevista semiestruturada. Foram abordadas questões sobre as

lutas do coletivo, motivos de inserção dos (as) jovens dentro do movimento,

áreas de maior atuação, suas ações, entre outras. Através das entrevistas foi

possível obter mais clareza sobre a visão dos jovens organizados no LPJ a

respeito da atual conjuntura política, entendendo quais são os meios para atingir

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seus objetivos. Além de tais prerrogativas, foram realizadas apenas 3 entrevistas

devido ao compromisso da não exposição dos membros do LPJ, visto que,

perseguições políticas ocorrem diretamente com movimentos socioespaciais e

socioterritiroais.

Quadro 1 – Lista de entrevistados e temas abordados

Entrevistados Temas Abordados

Entrevistado 1 Contribuição do do LPJ na produção d espaço

Ações do LPJ

Entrevistada 2 O Histórico do LPJ

Pautas políticas do LPJ

Entrevistada 3 Políticas do LPJ

Objetivos e Desafios do movimento

Autor: Antônio, 2019.

Analise de documentos oficiais – carta compromisso: I, II, III

Quadro 2 – Documentos Oficiais do LPJ

Documentos

Carta

Compromisso

1

http://www.consultapopular.org.br/noticia/carta-compromisso-do-levante-

popular-da-juventude

Carta

Compromisso

2

https://www.conversaafiada.com.br/politica/2014/04/23/levante-popular-

quer-constituinte-para-reforma-politica

Carta

Compromisso

3

https://levante.org.br/blog/?p=1249

Artigos LPJ https://levante.org.br/blog/?cat=8

Notas Oficiais https://levante.org.br/blog/?cat=248

Autor: Antônio, 2019.

Os documentos oficiais do movimento são fontes importantes nas quais

conseguimos obter de forma direta informações à respeito do LPJ. As cartas

compromissos são resultado dos acampamentos nacionais organizados pelo

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movimento, nesse encontro, retiram diretrizes e objetivos aos quais perpetuaram

a luta do movimento. Os artigos e as notas oficiais serviram como apoio para

entender a visão do movimento em diversos assuntos, como educação, saúde,

transporte, economia, entre outros.

Analise de vídeos oficias do LPJ

Quadro 3 – Vídeos oficiais do LPJ

Vídeos Oficiais 1. https://levante.org.br/blog/?cat=4

2. https://www.youtube.com/channel/UCmo_qwwtofscJjjND_Pm-

UA

Autor: Antônio, 2019.

Os vídeos analisados, mostram um pouco de como as ações do LPJ

acontecem. Esses vídeos mostram as ações, por exemplo, dos escrachos e

manifestações. Eles serviram de apoio para a análise do LPJ enquanto um

movimento socioespacial.

Trabalhos de Campo

Quadro 4 – Trabalhos de Campo

Trabalhos de Campo – Alfenas MG

Manifestação Estudantil – 15/05/2019 Greve Nacional da Educação

Manifestação Estudantil – 30/05/2019 Segunda Greve Nacional da Educação

Manifestação Geral – 14/07/2019 Greve Geral

Autor: Antônio, 2019.

Os trabalhos de campo foram realizados na cidade de Alfenas – MG, onde

o autor, membro do LPJ, participou como militante do LPJ.

Netnografia e Webnografia

Com o avanço e popularização da internet no final dos anos 1990, muitos

autores (as), cientistas e pesquisadores (as) começaram a adotar as novas

tecnologias para coleta e análise de dados. Conforme afirmam Fragoso, Recuero

e Amaral (2011), a netnografia é um método etnográfico para coletar dados e

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analisa-los virtualmente. A pesquisa webnografica e netnografica são utilizadas

tanto para pesquisas acadêmicas quanto mercadológicas. Uma das principais

fontes de informação as quais temos acesso é a internet. A utilização dela para

fins acadêmicos é cada vez maior e a ocupação desse meio cada vez avança

mais. Entender a internet como um mecanismo na construção da ciência também

é uma tarefa importante, visto que, a ciência e a tecnologia à criaram para

infinitas propostas e possibilidades. Num processo dialético então, a internet nos

dias atuais também serve como fonte de pesquisa para estudantes (as),

pesquisadores (as), professores (as).

No presente trabalho, utilizou-se a internet para a realização das entrevistas

por mecanismos diferentes: facebook e whatsapp. Ainda baseado nas autoras

Fragoso, Recuero e Amaral (2011), a internet pode ser tanto um objeto da

pesquisa como também, o local da pesquisa (ambiente onde a pesquisa é

realizada). Ou seja, a utilização da internet – ela sendo um espaço

multidimensional – pode também ser como um local onde a pesquisa é feita. Isso

foi o caso do presente trabalho, onde a coleta de dados das entrevistas e

mecanismos audiovisuais para o entendimento do LPJ como um movimento

socioespacial.

3. Referencial Teórico

3.1 Abordagens geográficas dos movimentos sociais

Com a renovação da ciência geográfica no Brasil, em meados da década de

1970, muitos geógrafos (as) aderem a uma nova corrente que vem ganhando

espaço na ciência até os dias atuais. A geografia crítica, além de analisar,

estudar e questionar a relação dos seres humanos com a natureza, busca

compreender as relações sociais e suas influências no espaço geográfico. O

momento de renovação da geografia no Brasil ocorre em um período onde o país

passa por grandes turbulências sociais, devido à um regime militar que estava

em vigor. De acordo com Pedon (2015), é nesse momento que muitos

movimentos sociais surgem no Brasil – sindicais, camponeses, associações de

trabalhadores, lutas setoriais – buscando suas reivindicações. Ainda baseado no

autor, é nesse contexto também que a geografia brasileira começa a discutir

sobre os movimentos sociais. O III Encontro Nacional de Geógrafos (ENG), em

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1978, foi marcado com as primeiras discussões da geografia brasileira acerca

do debate crítico das relações sociais, especialmente a luta de classes. Marco

importante também para a renovação crítica da ciência, entender a relação do

homem com o espaço através de um viés crítico e não mais tradicional,

quantitativo ou natural. É valido ressaltar, que a análise dos movimentos sociais

pela geografia brasileira só acontece quando a geografia critica se estabelece

totalmente. Baseado em Pedon (2015), a análise marxista e o estudo dos

movimentos sociais na geografia chegaram simultaneamente. Na visão do autor,

as pesquisas geográficas dos movimentos sociais incorporam concepções que

são releituras do marxismo.

Assim, pode-se considerar que as análises sobre os movimentos sociais

na abordagem geográfica são recentes. Dito isso, nos dias atuais, vem-se

ampliando a bagagem de estudos de geógrafos (as) sobre os movimentos. Ainda

de acordo em Pedon (2015), a geografia, ao contrário da sociologia e da história,

tardou-se na abordagem dos movimentos sociais. O que reflete nos dias atuais,

sobre a dificuldade que os cientistas encontram para fazer o estudo geográfico

dos movimentos sociais. O papel da geografia na abordagem dos movimentos

sociais, é pensar a natureza espacial e territorial dos movimentos.

Novo desafio (provocação) é pensar a natureza territorial, assim como a divisão geográfica das ações e das relações construídas pelos movimentos sociais, com o fim de reconceitualiza-los, com base numa leitura geográfica do processo (PEDON, 2015, p.27).

Uma tarefa importante para a abordagem geográfica dos movimentos

socioespaciais e socioterritoriais é estudar também um pouco de sua origem e

os motivos de sua emergência. As razões para a existência dos movimentos

sociais muitas vezes remetem a situações deficitárias em aspectos na vida das

pessoas que se organizam nesses coletivos. Num contexto de luta de classes,

como é característico do capitalismo, a centralidade desse processo reside na

exploração do trabalho no campo e na cidade. Outros elementos também devem

ser considerados como as desigualdades de gênero, de raça e de identidade

(THIOLLENT, 1987; TOURAINE, 1999). Com isso, os movimentos

socioespaciais e socioterritoriais nascem de uma necessidade que está

enraizada em diversos problemas da sociedade, tais como a desigualdade

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social, político-econômica, gênero, racial entre outros. De acordo com Poker e

Arbarroti (2015, p. 18):

Os movimentos sociais, ao mesmo tempo que pretendem imprimir mudanças na sociedade em que atuam, contribuem para a produção de conhecimentos, à medida que oferecem às Ciências Sociais as experiências empíricas necessárias para comprovação.

Dito desse modo, os movimentos sociais são espaços de luta e também

de formação humana, ou seja, podem ser interpretados como “sujeitos

pedagógicos” (CALDART, 2000, 2009). Nos movimentos socioespaciais e

socioterritoriais, pessoas que são afetadas de modo comum por aspectos da

desigualdade estrutural do capitalismo se articulam e passam a atuar em

determinados aspectos da realidade, buscando a modificação do status quo.

Os movimentos socioespaciais e socioterritoriais atuam em diversas

dimensões da realidade, tais como o político, social, econômico, cultural e até

mesmo ambiental. Baseado em Gohn (2011), os movimentos atuam em espaços

de organizações sociais, ou seja, eles possuem estruturas internas que

possibilitam articulações favoráveis às suas estratégias de luta.

Além disso, os movimentos socioespaciais e socioterritoriais possuem

caráter indenitário:

Movimentos indenitários que lutam por direitos sociais, econômicos, políticos, e mais recentemente, culturais. São movimentos de segmentos sociais excluídos, usualmente pertencentes às camadas populares (mas não exclusivamente). Podem-se incluir, nesse formato, as lutas das mulheres, dos afro-descendentes, dos índios, dos grupos geracionais (jovens, idosos), grupos portadores de necessidades especiais, grupos de imigrantes sob a perspectiva de direitos, especialmente dos novos direitos culturais construídos a partir de princípios territoriais (GOHN, 2013, p. 440).

Os movimentos socioespaciais e socioterritoriais representam, ainda, uma

parcela da sociedade que está inserida no sistema capitalista de forma precária.

Com isso, formam-se grupos de minorias que se organizam coletivamente – nos

movimentos sociais, por exemplo – por um determinado objetivo. Isso aparece,

por exemplo, na leitura de Tilly (2010) sobre os movimentos sociais. Para o autor,

aliar um movimento socioespacial e socioterritorial em caráter forte com a

democracia exige a tomada de posição por parte da sociedade civil em

ambientes opressivos. Nesse sentido, os movimentos socioespaciais e

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socioterritoriais são formados por grupos de interesses, envolvendo estratos da

sociedade como trabalhadores, grupos de mulheres, estudantes, jovens,

intelectuais, imigrantes, atingidos por obras de infraestrutura e outros.

As relações sociais inseridas no contexto de renovação da ciência, irão

ajudar a compreender melhor conceitos-chave, como o espaço, território, entre

outros. Pedon (2015) discorre sobre o interesse da geografia nas relações

sociais. De acordo com o autor, um dos nossos principais objetivos enquanto

geógrafos (as) é o estudo da relação do ser humano com o meio em que vive.

Construía-se assim, um diálogo permanente e dialético nessa ciência sobre as

interferências humanas no espaço geográfico e a interferência do espaço nas

relações sociais, como as desigualdades socioespaiciais.

No Brasil, os estudos geográficos a respeito dos movimentos socioespaciais

e socioterritoriais iniciaram-se num contexto de desordem política devido a

implementação de um regime militar. Diversos movimentos socioespaciais e

socioterritoriais surgiram nessa época, e a geografia também começou a

entender esses agentes que ocupam o espaço geográfico em sua abrangência.

Entre as razões que levaram ao estudo dos movimentos sociais encontra-se, de um lado, a projeção de um expressivo número de movimentos sociais (movimento sindical, camponês, associação de moradores, lutas setoriais: como movimentos por creches, transporte público, etc) que vinham conquistando espaço políticos essenciais para suas reivindicações (PEDON, 2015, p.16).

Como dito anteriormente, o interesse pelo estudo das relações sociais

vem com a renovação da ciência geográfica e seu caráter crítico. Entender essas

relações é essencial para compreendermos as dinâmicas, por exemplo, do

espaço urbano e compreender suas desigualdades. Estamos inseridos em um

sistema político-econômico que cria uma sociedade desigual, que exclui

minorias, assim, é possível compreender as ações dos movimentos sociais e

como são projetadas no que denominamos de espaço geográfico.

Os primeiros geógrafos a trabalharem com os movimentos socioespaciais

e socioterritoriais no Brasil foram Manuel Correa de Andrade (1964), em A Terra

e o Homem no Nordeste e Josué de Castro (1965), em Sete Palmos de Terra e

um Caixão. Nesses livros, questões dos movimentos sociais e das relações

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sociais nordestinas são abordadas de forma inédita pelos geógrafos brasileiros.

Mais pra frente, isso daria forças para os estudos e análises geográficas dos

movimentos sociais. “Os trabalhos de Manuel Correa de Andrade e Josué de

Castro marcam, de forma percursora, a “pré-história” dos estudos sobre os

movimentos sociais na geografia brasileira” (PEDON, 2015, p.36). Porém, os

primeiros estudos geográficos acerca dos movimentos sociais que surgem no

final dos anos 1970 e começo dos 1980, trazem como novidade a discussão da

luta de classes como um dos principais questionamentos. Para a luta de classes

ser discutida, faz-se necessária a compreensão de que estamos inseridos em

um sistema mundial – capitalista – que exclui grupos sociais. Então, a geografia,

para entender os movimentos sociais, as relações sociais, teria que entender os

processos político-econômicos que moldam e configuram bases territoriais, que

modificam as relações sociais, e que carregam consigo as desigualdades que

estão impostas nos espaços urbanos, por exemplo.

As classes, no capitalismo, a despeito de inexistirem uma sem a outra, negam-se a todo instante. Nessa complexidade/complementariedade reside a relação entre o estar espacial com o ser social. Ao exprimir concretamente essa sociabilidade dialética, a essência do espaço só pode concretizar-se de forma desigual e combinada (PEDON, 2015, p.42).

O modo de produção capitalista cria essas classes sociais de acordo com

o modo em que essa sociedade está dividida. A divisão internacional do trabalho

também colabora para essa divisão social dos grupos de forma desigual. O que

gera conflitos sociais, que nos dias atuais estão cada vez mais enfatizados pelo

número excessivo de ocorrência. Com isso, a existência de movimentos sociais

dos mais diversificados criam contra-espaços para se reerguerem numa luta

entre grupos sociais, o Estado e as grandes empresas.

Um ponto importante para a discussão dos movimentos sociais na

abordagem geográfica é a compreensão dos conceitos chaves da ciência para

explora-lo nos estudos das relações sociais. Um desses conceitos é o espaço, o

que foi e tem sido estudado por importantes geógrafos (as). Para entender o

espaço geográfico é necessário estudar os seus agentes e as formas em que os

indivíduos são distribuídos, com isso, compreendendo suas desigualdades.

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Os movimentos da sociedade, atribuindo novas funções às formas geográficas, transformam a organização do espaço, criam novas situações de equilíbrio e ao mesmo tempo novos pontos de partida para um novo movimento. Por adquirirem uma vida, sempre renovada pelo movimento social, as formas - tornadas assim formas-conteúdo - podem participar de uma dialética com a própria sociedade e assim fazer parte da própria evolução do espaço (SANTOS, p.69,1996)

Ao analisar o espaço como categoria geográfica, é necessário entender

como a dinâmica das relações sociais se dá, pois, o motivo é que o espaço e

territórios são compostos por essas relações que marcam como as sociedades

se organizam tanto no urbano quanto no rural. Estamos organizados, nesse

espaço composto de contradições, e é nesse sentido que a geografia, junto com

as demais ciências sociais, visa entender essa dinâmica. De acordo com Souza

(2015), as relações sociais e o espaço são algo inseparáveis, pois são nelas que

essas relações acontecem. O espaço, então, não possuí caráter estático, ele

está sempre em transformação e em movimento. Os agentes que organizam e

reorganizam o espaço podem ser representados pelo próprio Estado, pelos

movimentos sociais, por sociedades etc. Baseado em Santos (1996), o espaço

geográfico constitui um sistema de objetos e um sistema de ações.

O espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá. No começo era a natureza selvagem, formada por objetos naturais, que ao longo da história vão sendo substituídos por objetos fabricados, objetos técnicos, mecanizados e, depois, cibernéticos, fazendo com que a natureza artificial tenda a funcionar como uma máquina. Através da presença desses objetos técnicos: hidroelétricas, fábricas, fazendas modernas, portos, estradas de rodagem, estradas de ferro, cidades, o espaço é marcado por esses acréscimos, que lhe dão um conteúdo extremamente técnico (SANTOS, 2006, p.39).

Ainda de acordo com Santos (1996), o espaço geográfico, além de ser um

sistema de objetos e ações, possuí conjunto fixos e fluxos que marcam a

dinâmica territorial. O que o autor chama de elementos fixos, são próteses

técnicas instaladas no território, as quais estão interligados por fluxos, como por

exemplo os de mercadorias por rodovias e portos. .

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De acordo com Corrêa (1995), são os agentes sociais que produzem o

que chamamos de espaço. Esses agentes, devem ser entendidos de acordo com

a temporalidade e a espacialidade nas formações socioespaciais capitalistas.

“São os agentes que materializam os processos sociais na forma de um

ambiente construído” (CORRÊA, 1995, p. 43). Ou seja, o espaço social, que

seria o espaço produzido pelos agentes, como a sociedade, grupos sociais

excluídos, entre outros.

Para entender e discutir o espaço, é necessário entende-lo na sua

complexidade. Na concepção de Souza (2015), existe o espaço social que é

apropriado e produzido pela sociedade e o espaço geográfico, onde se

materializa essas relações da sociedade. Porém, existem forças que determinam

como a organização espacial acontece, forças políticas e econômicas que

configuram o espaço urbano, por exemplo. Porém, existem grupos sociais que

desafiam a ordem hegemônica, resistindo e construindo contra espaços que

fortalecem sua existência.

[...] A produção do espaço pode se referir tanto à sua (re)produção, nos marcos do modelo social hegemônico, capitalista e heterônomo, quanto à emergência de novas significações, novas formas e novas práticas (que, em alguns casos, desafiaram explicitamente o status quo heterônomo (SOUZA, p.42, 2015).

O entendimento sobre as dinâmicas dos espaços urbanos e rurais pode

auxiliar na abordagem dos movimentos sociais. Os movimentos sociais se

especializam em com o intuito de aumentarem o poder de articulação propositiva

das pautas por eles defendidas. Sob tal prisma, a leitura de Fernandes (2005, p.

30) é de grande valia para entendermos a importância do espaço na atuação dos

movimentos sociais:

As formas de organização, as relações e as ações acontecem no espaço. Elas se realizam no espaço geográfico e em todas as suas dimensões: social, político, econômico, ambiental, cultural, etc. Portanto, a partir do momento que nos propomos a realizar uma análise geográfica dos movimentos, além da preocupação com as formas, ações e relações, é fundamental compreender os espaços e territórios produzidos ou construídos pelos movimentos.

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Assim, o autor destaca que a abordagem geográfica dos movimentos sociais

deve partir da relação desses com o espaço entendido em sua

multidimensionalidade. Deve-se partir do princípio de que o espaço geográfico é

produzido no bojo das relações sociais, sendo inerente à luta de classes.

Um outro conceito importante para dialogarmos a respeito da geografia em

relação aos movimentos sociais é o de território. O território ele é formado a partir

do espaço geográfico. De acordo com Raffestin (1993), ele é articulado com o

conceito de poder. Um território possui fronteiras bem delimitadas, por fatores

políticos, sociais, culturais ou econômicos. Ou seja, as relações sociais são

controladas por quem detém o poder sobre o território, como por exemplo, o

capital, o Estado, entre outros agentes. Um território possui relações com outros

territórios, de acordo com Santos:

[...] O território termina por ser a grande mediação entre o Mundo e a sociedade nacional e local, já que, em sua funcionalização, o "Mundo" necessita da mediação dos lugares, segundo as virtualidades destes para usos específicos. Num dado momento, o "Mundo" escolhe alguns lugares e rejeita outros e, nesse movimento, modifica o conjunto dos lugares, o espaço como um todo (SANTOS, p.230, 1996).

O conceito de território está intimamente ligado com fatores políticos,

econômicos, sociais e culturais, pois são neles que todas esses agentes são

projetados. De acordo com Haesbaert (2009), é um conceito estudado não só

pela ciência geográfica como por diversas outras ciências. Baseado no autor, a

geografia estuda o território em suas múltiplas dimensões, enfatizando a

materialidade. A ciência política estuda o território com base nas relações de

poder, a antropologia, no estudo das comunidades tradicionais, entre outros.

Para compreender o conceito de território, temos que partir do princípio que o

conceito é abrangente. Ainda baseado em Haesbaert (2009), o autor agrupa as

várias noções de território para melhor compreende-las. O primeiro

entendimento sobre o território é que ele é político, referindo aqui as relações de

poder. “[...] O território é visto como um espaço delimitado e controlado, através

do qual se exerce um determinado poder, na maioria das vezes – mas não

exclusivamente – relacionado ao poder político do Estado. ” (HAESBEART, p.

40, 2009). A segunda noção de território do autor é que ele é cultural, de acordo

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com Haesbaert (2009), aqui o território seria o produto da apropriação de um

grupo em relação ao espaço vivido. Ou seja, está intimamente ligado a relação

do homem com o meio em que vive, ou seja, seu território delimitado. A terceira

noção de território do autor é a econômica, onde analisa a dimensão espacial

das relações econômicas.

Uma das perspectivas que Haesbaert (2009) analisa o conceito de

território, é através de uma visão idealista. Nessa perspectiva, o autor fala dos

“poderes invisíveis” que se fixam no território. As ideologias acabam sendo

delimitadas pelas fronteiras de um Estado na visão do autor. Ou seja, o território

sendo caracterizado pela sua força política, atraído não só pelo orgão gestor,

como também por movimentos socioespaciais e socioterritoriais. A

territorialidade, conceito também trabalhado pelo autor, é uma delimitação do

espaço vivido de um determinado grupo social. A territorialidade também

desencaminha grandes processos que Haesbaert (2009) define como TDR –

territorialização, desterritorialização e reterritorialização – processo muitas vezes

causado pelo Estado, grandes multi-nacionais e internacionais, e por grupos

sociais. Esse processo acontece muitas vezes, de forma perversa, influenciando

tanto no meio rural quanto urbano.

Uma outra visão, atribuída a analise territorial é a relação entre território e

poder. “[...] O território é fundamentalmente, um espaço definido e delimitado por

e a partir das relações de poder” (SOUZA, p.78, 2015). Ou seja, vivemos em

disputas territoriais constantes, desde os primórdios das civilizações. A luta por

território, pelo espaço delimitado, é a busca pelo poder, de acordo com o autor.

De acordo com Arendt (1979), o conceito de poder está indevidamente ligado a

violência, baseado na autora, o poder conquistado se exerce sem forças brutais.

Ele é concebido à um grupo enquanto esse se mantém unido de modo que o

poder jamais é propriedade de um indivíduo, e sim de um grupo. A leitura sobre

poder da autora, remete a força dos movimentos sociais na busca pela

transformação, pois indica que se os movimentos sociais se mantiverem unidos,

eles têm mais forças de exercerem seu poder perante o Estado, ou perante o

território. O território é a conjunção de espaço e poder. “[...] O poder só se exerce

com referência à um território e, muito frequentemente, por meio de um território”

(Souza, p.87, 2015). Na concepção do autor, poder e território se coexistem,

sendo o território uma base para as relações de poderes acontecerem.

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Os conceitos estudados pela geografia como território e espaço ajudam

a compreender a interação, os fluxos e a organização dos movimentos

socioespaciais e socioterritoriais no espaço e no território. Não há como entender

a sociedade sem o espaço em que ela está organizada, os movimentos

socioespaciais e socioterritoriais representam uma parcela da população, em

que elas ocupam os espaços e territórios como forma de se inserir na sociedade

que é estruturalmente desigual devido a forças imperialistas, neoliberais e

capitalistas.

3.2 Movimentos Socioespaciais e Socioterritoriais

Com a preocupação de ler os movimentos sociais por meio da perspectiva

geográfica, nos baseamos em Fernandes (2005) que traza abordagem

socioterritoriais e/ou socioespaciais. O primeiro tem o território não só como

trunfo, mas este é essencial para sua existência, pois é nele que ocorre a

reprodução de suas vidas. Podem ser dados os exemplos do próprio MST, que

atua por meio das ocupações de terra (SOBREIRO FILHO, 2013), o movimento

indígena, o movimento de pescadores, entre outros. Já os movimentos

socioespaciais constroem e ocupam espaços políticos, e temos exemplos como

as Organizações Não Governamentais (ONG’s), os Sindicatos e grupos como:

os imigrantes, os negros, feministas, LGBTQIA+ e outros. Em sua abordagem,

Fernandes (2005, p. 31) diz: “Com essa preocupação cunhamos os conceitos

que nos possibilitam compreender as ações dos movimentos socioespaciais e

dos socioterritoriais, a partir dos espaços e dos territórios construídos pelas

relações sociais, materiais e imateriais”. Assim, evidencia-se que os movimentos

socioterritoriais e socioespaciais são abordados não apenas com base na

materialidade de suas ações, mas também reconhecendo a imaterialidade que

é inerente a elas. Dito de outro modo, muito além de buscarem espaços

concretos onde se manifestam suas resistências, eles também disputam

interpretações, teorias, políticas, leis e outros.

Um dos tipos de movimentos a serem aqui estudados é o socioespacial.

De acordo com Fernandes (2005), eles “Só podem se constituir como

movimentos socioespaciais, uma vez que não possuem um território definido”

(FERNANDES, 2005, p.31). O conceito de movimento socioespacial é amplo,

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porque envolve as diferentes dimensões do espaço geográfico: social, político,

econômico etc. Ao ocupar um espaço, seja ele político, econômico ou social, em

defesa de seus objetivos os movimentos sociais enfrentam contra-espaços

oriundos muitas vezes do próprio Estado ou de políticas públicas:

Os movimentos socioespaciais e os socioterritoriais enfrentam contra–espaços, que foram estudados por Feliciano (2003) com exemplos das medidas políticas do Estado constituídas como barreiras espaciais para impedir a espacialização e territorialização dos movimentos camponeses (FERNANDES, 2005, p. 32).

De acordo com o Fernandes (2005), os movimentos socioespaciais

produzem sua espacialidade de acordo com suas ações, construindo e

conquistando espaços em sua multidimensionalidade. “Da mesma forma como

alguns movimentos produzem e constroem espaços, também se especializam e

possuem espacialidades. A produção ou a construção do espaço acontece pela

ação política, pela intencionalidade dos sujeitos para transformação de suas

realidades” (FERNANDES, 2005, p.30). Isso configura os movimentos

socioespaciais como um dos agentes produtores de espaços.

Dito de tal modo, o estudo dos movimentos socioespaciais por meio da

geografia crítica deve levar em consideração que o espaço geográfico é

caracteriza por um conjunto de conflitos (conflitualidades). Isso porque, ao

mesmo tempo em que os movimentos socioespaciais buscam implementar sua

pauta de reivindicações, de modo dialético, geram conflitos que se especializam

pelo espaço geográfico. Pode se ter como exemplo, muitas vezes o conflito entre

a lutas e pautas minoritárias e as ações do Estado.

Pensar o espaço e sua produção, contribui para compreender a origem

dos movimentos socioespaciais e socioterritoriais. Isso porque, muitos desses

movimentos resultam de uma produção de espaço que fora desigual, o que

acarreta em diversos problemas sociais que são refletidos diretamente nos

próprios movimentos sociais e seus membros. De acordo com Sobreiro Filho

(2015), os próprios conceitos de movimento socioespacial e socioterritorial

ajudam compreender a abordagem da geografia em relação ao estudo dos

movimentos sociais. O autor critica a produção do espaço que acontece de forma

desigual:

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Analisando a produção do (s) espaço (s) e dos territórios na contemporaneidade, chegamos na compreensão de que os processos e fenômenos de luta e resistência se consistem como a principal locomotiva da transformação socioespacial para além dos modelos alicerçados no modo capitalista de produção (SOBREIRO FILHO, 2015, p.14).

Dito isso, é possível compreender que a ação dos movimentos sociais

também busca influenciar na produção desses espaços para que diminua a

desigualdade que reside na centralidade do processo do modo de produção

capitalista. Um conceito importante que Fernandes (2005) utiliza para entender

as ações dos movimentos é o de conflitualidade. O autor define a conflitualidade

como um processo paradoxal produzido pelo capitalismo, que gera o que

Haesbaert (2009) conceitua como: desterritorialização, territorialização e

retorritorialização. “Assim, a conflitualidade é um processo de enfrentamento

perene que destaca não somente quesitos práticos, mas também teóricos sobre

o controle político e dos modelos de desenvolvimento que redesenham

constantemente as feições do espaço ” (SOBREIRO FILHO, 2015, p.16). Ou

seja, as ações dos movimentos sociais se concretizam à medida que a

conflitualidade é estabelecida, muitas vezes entre as forças do Estado contra

movimentos sociais. Uma crítica importante que Sobreiro Filho (2017) traz ao

discutir sobre a conflitualidade é que essa está na centralidade do modo

capitalista. “[...] podemos dizer que os movimentos socioespaciais,

socioterritoriais e outras formas de contentious politics construíram um modelo

de desenvolvimento lastreado na conflitualidade como única opção para

alcançar sua produção e reprodução socioespacial/socioterritorial [...]”

(SOBREIRO FILHO, 2015, p.17) De acordo com o autor, para entendermos os

movimentos socioespaciais e socioterritoriais desde sua origem até suas ações,

é necessário então, compreender a conflitualidade dos processos.

Ainda mantendo o diálogo com Fernandes (2005), o autor propõe que

além dos socioespaciais possui também na abordagem geográfica os

socioterritoriais. Aqui, diferentemente do primeiro, os socioterritoriais possui o

território não só como um trunfo, mas como motivo de sua existência. Os

movimentos socioterritorias possam ser isolados – no caso, são aqueles que

atuam em uma determinada microrregião ou num espaço geográfico equivalente

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– ou territorializados – que são aqueles que atuam em diversas macrorregiões e

formam uma rede de relações com estratégias políticas que promovem e

fomentam a sua territorialização. Os movimentos socioespaciais também atuam

em diferentes escalas, indo da local ao global. Um exemplo de movimento

socioespacial global do é o Greenpeace, o qual direciona suas ações para países

localizados em todos os continentes. Como exemplos de movimentos

socioespaciais em escala local podem ser citadas as organizações de bairro em

luta contra a carestia ou pela implantação de serviços sociais, como energia

elétrica, asfalto, escolas etc.

O espaço, o território, o lugar, as relações sociais, as escalas das ações nos ajudam a compreender os tipos de movimentos socioespacial ou socioterritorial e seus processos geográficos (isolados, territorializados ou espacializados). Esses movimentos são tanto instituições não formais, políticas no sentido lato, por sua materialidade, ação, estabelecimento e dinâmica, quanto são igualmente instituições formais como os sindicatos, as empresas, os estados, as igrejas e as organizações não governamentais (ONGs). Nesse sentido, é preciso diferenciar entre os movimentos socioespaciais e os movimentos socioterritoriais (FERNANDES, 2005, p.31).

Ou seja, movimentos socioterritoriais também podem ser socioespaiciais à

medida que se estabelecem e se espacializam em um determinado território. A

principal diferença entre eles é que, os movimentos socioespaciais não

possuem o território como o principal objetivo de sua luta, pois constrói os

espaços a partir de suas ações. Os socioterritoriais, constroem suas ações por

e a partir do território. E tendo o território como seu principal trunfo e objetivo,

ao exemplo disso o MST e suas ações.

A discussão aqui feita sobre a abordagem dos movimentos socioespacias e

socioterritoriais é de extrema importância para o entendimento posteriormente

do LPJ enquanto movimento socioespacial. Existem diversos movimentos

socioespaciais e socioterritoriais que ocupam e reorganizam diversos espaços

e territórios por todos o país. E cada movimento produz suas ações de uma

maneira diferente, com finalidades distintas as quais caracterizam a luta dos

movimentos socioespaciais e/ou socioterritoriais. Entende-los é também

compreender e organização da nossa sociedade, tanto no meio urbano como

no rural.

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4. Resultados e Discussões

Este capitulo será subdividido em tópicos, sendo o primeiro uma

contextualização do Levante Popular da Juventude, como dito na metodologia;

o segundo explicará as ações do LPJ e o terceiro busca relacionar o Levante

Popular da Juventude com a abordagem dos movimentos socioespaciais de

Fernandes (2005).

4.1 Contextualização do LPJ

Em meados de 2005, a Consulta Popular1 e movimentos sociais, tais como

o MST e Via Campesina, organizavam reuniões que pensavam a criação de um

movimento social de juventude, culminando na gestação do LPJ, em 2006. O

LPJ surge no Rio Grande do Sul, protagonizado por jovens da periferia da cidade

e por jovens do meio rural, que em 2005, já discutiam os principais problemas

da juventude para assim levantar suas pautas, num movimento, que mais tarde,

se especializaria por quase todo país.

O LPJ, movimento social de juventude do Brasil, é uma organização de

jovens da cidade e do campo voltada para a luta de massas. Ele se caracteriza

por seu caráter incisivo, adotando lemas como “povo no poder, é a nossa

rebeldia”. A juventude que compõe o movimento é diversificada, sendo

composta por negros e negras, mulheres a comunidade LGBTQIA+, jovens da

periferia e do meio rural caracterizam o movimento e suas principais lutas. O

LPJ entende que é necessária a igualdade entre os povos, para que assim,

outras pautas sejam questionadas sem distinção de gênero, classe,

sexualidade, entre outros. Como exemplo, tem-se a luta pela soberania

nacional; contra o modo de produção capitalista, que possuí caráter excludente;

entre outros. Com isso, essa juventude organizada discute e organiza as

principais pautas, na visão dos membros, para entender a política brasileira e

construir planos de ações. Fica evidente na fala da entrevistada 3:

1 1 O Consulta Popular surgiu em 1997 por meio de uma proposição de movimentos de base brasileiros, especialmente o MST. Dentre suas principais atribuições consta a intenção de contribuir com a formação dos membros dos movimentos de base.

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Ao se propor enquanto um movimento social de jovens e que pretende abranger aqueles que estão nas universidades, nas escolas e nas periferias, a elaboração das principais lutas do Levante perpassa por sua capacidade de leitura dos problemas gerais da vida da juventude. Nesse sentido, atualmente organizamos nossas lutas em torno de 4 eixos prioritários: Educação, Cultura, Geração de renda e Trabalho e Saúde. Isso significou a elaboração, iniciada em 2016 em nosso 3° Acampamento Nacional, de um Programa Popular para a Juventude, que parte dos eixos e pretende traduzir os nossos eixos em práticas que devem ser desenvolvidas a partir do protagonismo da juventude. Esse Programa, no entanto, se orienta a partir de um projeto de sociedade mais amplo, que pretende romper com o Capitalismo rumo a uma revolução socialista, que chamamos de Projeto Popular. Assim, a partir de eixos e de um programa que oriente nossa ação, o Levante busca a massificação do Projeto Popular como tática fundamental para alcançar seu objetivo estratégico. Isso significa que ampliar a presença do movimento através das células e da atuação nos territórios é nossa principal ferramenta de construção do Projeto Popular. Entrevistada 3.

A juventude, que compõe o movimento, se auto intitula como a “Juventude

do Projeto Popular”, pois constrói e vem construindo um projeto político para o

país, pensado por jovens da periferia dos centros urbanos e do espaço agrário.

Esse projeto vem sendo construído de acordo com as ações e reivindicações

do movimento, e propõe a solucionar problemas sociais importantes. O Projeto

Popular, nasce com a ideia de tentar solucionar os problemas sociais do país

através dos questionamentos trazidos por essa juventude, problemas esses que

afetam toda a classe trabalhadora brasileira. A saúde, educação, economia,

política, todas essas pautas importantes para a nossa sociedade são pensadas

e alinhadas para, de acordo com a juventude do LPJ, criar-se um projeto político

para o país, pensado pela base, jovens e trabalhadores (as).

Em fevereiro de 2006, no Rio Grande do Sul, através de um acampamento

organizado por diversos movimentos sociais, entidades religiosas e grupos

indígenas, o LPJ consegue agregar cerca de 450 jovens do campo e da cidade.

E do acampamento, foram pensadas as três principais frentes de

reinvindicações: educação, trabalho e cultura. De 2006 até 2012, o LPJ, se

concentra nas lutas dos jovens do estado do RS. No dia 5 de fevereiro de 2012,

o LPJ organiza seu I Acampamento Nacional, pensado pela própria juventude

do movimento. Através do acampamento que aconteceu no RS, o LPJ se dispõe

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a nacionalizar o movimento. Nesse acampamento, contou com jovens de 17

estados brasileiros, com 1200 jovens. Em sua 1ª Carta Compromisso, o

movimento diz:

Nós, do Levante Popular da Juventude, no momento em que fundamos nossa organização, em nosso I Acampamento Nacional, com a participação de 1200 jovens de 17 estados brasileiros, nos comprometemos com a transformação profunda da realidade em que vivemos (2012, não paginado).

Na sua primeira carta, o LPJ afirma o compromisso com a luta pela

soberania nacional e com a democracia. Além disso apoia junto ao movimento

feminista, a luta contra o machismo, junto com a comunidade LGBTQIA+, a

LGBTQIAfobia, junto a negritude a luta contra o racismo. Sua principal pauta, é

a educação e as lutas de massa, porém, também possuí reinvindicações em

relação a transporte público e o acesso a cidade e aos direitos da juventude

brasileira. No primeiro acampamento, a juventude começa a criação do “Projeto

Popular para o Brasil”, o qual é produzido pelos jovens até os dias atuais, através

de suas ações e manifestações e propõe a solução de suas reivindicações.

Em 2014, o LPJ, já estava especializado por 25 estados mais o DF através

do II Acampamento Nacional que ocorreu em Cotia, no estado de SP, com 3 mil

jovens militantes. Na carta compromisso do II acampamento, o LPJ, reafirma a

sua participação na luta de massas. De 2012 à 2014, a conjuntura política

brasileira sofre grandes abalos. Em junho de 2013, diversas manifestações

ocorrem no país por diversos motivos, tendo-se iniciado pela redução da tarifa

do transporte público. O LPJ, estava presente em todas as lutas nesse contexto,

chegando em 2014, reafirmando todo seu compromisso com a luta de massas.

O III Acampamento Nacional do LPJ registrou a maior espacialização do

movimento pelo país. O acampamento ocorreu na cidade de Belo Horizonte –

MG em setembro de 2016 e reuniu cerca de 7 mil jovens, com participação de

todos os estados brasileiros. O terceiro acampamento, assim como os demais,

está inserido em uma conjuntura política de desordem. O impeachment ocorrido

contra a ex-Presidenta da República Dilma Rousseff, do Partido dos

Trabalhadores (PT), afetou diretamente a democracia construída recentemente

no Brasil. E nessa conjuntura, o LPJ, se coloca de frente contra o impeachment,

em defesa da soberania nacional e da democracia.

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Os acampamentos ocorrem através de financiamentos coletivos,

organizados pelos próprios militantes. É nesse momento também que é nítida a

relação com outros movimentos socioespaciais e socioterrtiroais visto que, é

através de seus parceiros que esses financiamentos ocorrem. Além do

financiamento, o LPJ participa de editais do Governo Federal. Tais editais,

estabelecem um valor à qual movimentos socioespaciais e socioterritorais

podem adquirir. Para a obtenção do valor é necessário um projeto, no caso os

Acampamentos Nacionais, mostrando sua organização.

Baseado na visão de Souza (2012), a autogestão de um movimento social

determina sua força e seu empoderamento. A autogestão na visão do autor se

caracteriza por ser antiautoritária e por acreditar na horizontalidade da

organização. Para organizar-se, o movimento se divide em células que são

grupos organizados territorialmente, numa cidade por exemplo. Essas células

são articuladas entre si, possuindo direções estaduais e nacionais que alinham

todas as pautas que são definidas territorialmente em cada célula. O LPJ possui

secretarias nacionais como a Operativa e a Executiva. As secretarias são

compostas pelos membros mais orgânicos no movimento, e lá, são discutidas

as articulações com outros movimentos sociais como também, as principais

reivindicações do movimento. A operativa, junto com seus militantes, pensa as

principais pautas e a executiva, junto também aos militantes, executam as ações

do LPJ, que será apresentada nos próximos tópicos. O LPJ, possui três frentes

de ações, chamadas: Frente Territorial, Frente Estudantil e Frente Campesina.

A primeira lida com os problemas sociais de um bairro, por exemplo. Baseado

em Souza (2015), ao discutir sobre os problemas das localidades nos centros

urbanos o autor discute sobre a falta de assistência do Estado nos locais mais

desfavorecidos, como as periferias, por exemplo. Ainda baseado no autor, a

falta de planejamento urbano e regional, muitas das vezes acarretam nos

problemas sociais de um determinado local. A estudantil, está ligada as ações

em conjunto ao movimento estudantil, já a campesina, é formada por jovens

membros do LPJ que estão inseridos na zona rural, e assim, visa discutir o

campo no contexto capitalista e neoliberal, entendendo seus problemas.

Além da organização territorial, o movimento utiliza uma tática conhecida

como tripé: organização, formação e luta. O LPJ segue uma linha de raciocínio

para alinhar seus militantes. O primeiro passo, seria organizar a juventude,

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principalmente os que vivem nas periferias brasileiras e os que mais sofrem

devido a desigualdade social. Na visão do movimento, é de suma importância

organizar e trazer espaços políticos para a vivencia do (a) jovem. Após a

organização dessa juventude, o segundo passo é a formação. No contexto

político atual, com o avanço das chamadas fake news é ainda mais necessário

formar essa juventude. Trazendo diversos tipos de informações que serão

passadas também para seus familiares, que também sofrem com as

desigualdades impostas pelo sistema neoliberal e capitalista. Após as

informações serem passadas e a juventude organizada, a luta será o terceiro

passo. A luta seria as ações do movimento que são pautadas de acordo com

suas diretrizes, as reivindicações só são conquistadas com muita luta que o

movimento se propôs, desde 2012, no momento de sua nacionalização.

O LPJ, possui relações com diversos movimentos sociais. Uma das

parcerias mais importantes do movimento é o MST, do qual o LPJ incorporou

algumas características. Uma característica em comum com o MST, por

exemplo, é a mística. Esse momento é quando os membros se reúnem para se

descontrair, com danças, musicas, porém, sempre mantendo o foco em suas

pautas. O LPJ, também atua em conjunto com o MAB (Movimento dos Atingidos

por Barragens), MPA (Movimento de Pequenos Agricultores), MTD (Movimento

de Trabalhadores por Direitos), Movimento Negro, feminista, indígena e

LGBTQIA+. Com isso, sua relação com diversos movimentos socioespaciais e

socioterritoriais especializa ainda mais suas ações, o qual na abordagem dos

movimentos socioespaciais é de suma importância. Nessa abordagem, um

movimento social ganha força a medida em que sua espacialização aumenta, ou

seja, espacializar o movimento é uma tarefa importante dentro do movimento, e

as ações em conjuntos contribuem para o desenvolvimento do movimento.

4.2 Ações do LPJ

As ações de um movimento socioespacial e/ou socioterritorial ajudam a

compreender diversos fatores, sendo o principal seu objetivo. Elas são

projetadas em um determinado espaço ou em um território, como são o caso das

manifestações, greves, escrachos e ocupações. Essas ações são parte da

estratégia de luta e organização do movimento, compreendendo suas ações

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haverá melhor compreensão do LPJ como um movimento socioespacial,

conforme a abordagem de Fernandes (2005).

4.2.1 Greve Nacional da Educação 15 maio de 2019

Em 15 de maio de 2019, ocorreu uma manifestação por todo o Brasil puxada

por estudantes, professores e órgão representativos, tais como a UNE (União

Nacional dos Estudantes), UBES (União Brasileira dos Estudantes

Secundaristas), UEE (União Estadual dos Estudantes) tanto do ensino superior

como o básico. O LPJ, junto com estudantes, organizou-se para a manifestação

que lutava em defesa da universidade pública, que na visão dos entrevistados,

sofre um sucateamento. No fim de abril de 2019, o Governo Federal anunciou o

congelamento de R$1,7 bi dos gastos das universidades públicas, 30% do

orçamento para educação. De acordo com o entrevistado 1, membro do LPJ do

Rio Grande do Sul, a educação é uma das pautas mais importantes para o

movimento. Construir o 15 de maio foi necessário para demonstrar a população

e ao governo as intenções desses jovens para com as universidades, mostrando

sua voz. Além da defesa do ensino público e de qualidade, a mobilização

possuía um caráter contrário ao contigenciamento na educação anunciados pelo

governo federal. O ato ocorreu em mais ou menos 220 cidades brasileiras, e

com a ajuda do LPJ e outros movimentos sociais os (as) estudantes,

construíram um dia de muita luta em todas as capitas brasileiras e mais algumas

cidades. O caráter geral dessa greve, ajuda a auxiliar no entendimento do LPJ

como um movimento socioespacial, pois é uma greve construída por diversas

entidades, órgãos representativos e movimentos socioespaciais e/ou

socioterritoriais Um movimento socioespacial possui relações com outras

entidades, movimentos ou civis na articulação das ações. Ao agir em conjunto,

o LPJ se enquadra na abordagem socioespacial dos movimentos, pois é

necessário sempre forças para atingir os objetivos pré-determinados.

Através da pesquisa-participante e também com o apoio nas entrevistas, é

possível compreender que uma das principais bandeiras do movimento é a

educação. Ou seja, a mobilização puxada por diversos estudantes de todo Brasil

contou com o apoio da juventude do LPJ, que entende que através da educação

podemos melhorar nossas vidas e as demais.

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Figura 1: Panfleto de chamada para a Greve Nacional da Educação no dia 15 de maio de 2019

Fonte: https://www.facebook.com/pg/levantepopulardajuventude/posts/?ref=page_internal

A figura 1 refere-se ao panfleto da Greve Nacional da Educação do dia 15

de maio marco importante pela luta por uma educação pública e de qualidade.

O ato foi importante para os membros entrevistados do LPJ, pois demonstrar a

insatisfação é necessário. Porém, de acordo com os membros do LPJ, as ações

deveriam ser continuas o que resultou na próxima mobilização que será

estudada no próximo tópico, entendendo o LPJ como um movimento

socioespacial.

Aqui, podemos entender a luta do movimento dentro do campo imaterial no

caso da defesa de seus ideais – ao lutar pela educação – como também no

material, através de suas ações projetadas em um determinado espaço ou

território. Uma das características apontadas por Sobreiro Filho (2015) sobre os

movimentos socioespaciais é sua atuação na multidimensionalidade do espaço

geográfico. Com isso, fica evidente a luta pelo espaço na materialidade e na

imaterialidade, ponto importante para entender as relações socioespaciais de

movimentos socioespaciais e/ou socioterritoriais.

4.2.2 2ª Greve Nacional da educação 30 maio de 2019

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A greve nacional da educação que acontecia 4 meses após a entrada do

governo do Presidente Jair Bolsonaro, contou com milhares de pessoas nas

ruas. As ações que ocorreram em defesa da educação pública, tinham por foco

tanto no ensino básico como no superior. As medidas pautadas pelo governo

federal, em relação a educação, eram desastrosas na visão dos movimentos

socioespaciais e socioterritoriais, inclusive do LPJ. O ato que aconteceu 15 dias

antes resultou no ato do dia 30 de maio, pois na visão dos entrevistados, é

necessário manter a frequência das ações pois assim, ganharam visibilidade e

também possíveis objetivos concretizados.

O caráter diferencial da greve do dia 30 de maio é que ela contou com o

apoio de alguns trabalhadores e entidades sindicais, como a CUT (Central Única

dos Trabalhadores e Trabalhadoras), pois a reforma da previdência, inserida

pelo atual governo, também tomava conta do cenário das manifestações.

Estudantes (as), professores (as) e trabalhadores (as), foram as ruas reafirmar

o que já havia sido defendido. O não contingenciamento nas verbas da

educação e a defesa do ensino público e de qualidade.

Figura 2: Panfleto da 2ª Greve Nacional da Educação

Fonte: https://www.facebook.com/levantepopulardajuventude/posts/2446282805437259

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A figura 2 retrata o panfleto do LPJ e da UNE na convocação da segunda

greve nacional da educação. De acordo com a diretoria da UNE, que é composta

por membros do LPJ, a educação segue sob ataques do governo federal. Ainda

baseado na diretoria, os cortes na educação brasileira podem afetar no

funcionamento das universidades públicas e nos institutos federais. Por isso a

mobilização dos estudantes (as), professores (as) e trabalhadores (as) foram

importante para defender esse direito que é previsto na constituição federal.

A Segunda Greve Nacional da Educação foi uma consequência no que tinha

acabado de acontecer no Brasil em 15 de maio de 2019 na Primeira Greve

Nacional da Educação. Uma ressalva importante aqui é a dimensão da

espacialidade e como os movimentos socioespaciais pensam nesse fator para

adquirirem voz e mais forças. A ideia da construção da manifestação ocorrida

no dia 30 de maio de 2019 é a continuação da manifestação já ocorrida, ou seja,

aumentar a espacialidade do movimento de Greve Nacional pela Educação.

4.2.3 Greve Geral 14 de julho de 2019

A greve geral do dia 14 de julho de 2019, foi resultado de um ato que ocorreu

no dia 1º de maio. O ato contou com o apoio de mais de 200 mil trabalhadores

(as) no Vale do Anhangabaú em São Paulo – SP, que aprovaram por

unanimidade a greve geral no dia 14 de julho. A greve contou com o apoio de

movimentos sociais ligados a Frente Brasil Popular – a qual o LPJ está inserido

junto com diversos movimentos sociais– e a Frente Povo Sem Medo, partidos

políticos como o Partido dos Trabalhadores (PT), Partido Comunista do Brasil

(PC do B), Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e Partido Socialista Brasileiro

(PSB) e centrais sindicais. Ela ocorre após semanas de manifestações, tanto do

movimento estudantil quanto as ações de trabalhadores (as), o que culminou

nos atos que ocorreram em todo o Brasil no dia 14 de julho de 2019. O

contingenciamento na educação, como dito nos tópicos anteriores afeta milhões

de estudantes (as) e famílias que dependem do Governo para garantir educação

para seus filhos. Porém, a pauta mais importante na greve do dia 14 de julho foi

a reforma da previdência, que na visão dos manifestantes comprometeria a

aposentadoria dos brasileiros (as), visto que a reforma prevê a privatização da

previdência.

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De acordo com a juventude do LPJ, é de suma importância somar aos

trabalhadores (as) na luta contra a reforma da previdência, pois ela afetará

diretamente a vida de todos os cidadãos brasileiros (as), além da privatização,

a reforma também altera a idade para aposentadoria. Então o LPJ se alinha com

os demais movimentos sociais, partidos políticos, centrais sindicais e juntos

construíram a greve, com o intuito de barrar a reforma da previdência e o

contingenciamento na educação. Milhares de brasileiros (as) foram as ruas em

todas as capitais, reafirmando as reivindicações da classe operária, dos

estudantes (as), entre outros. Porém, a reforma da previdência segue sendo

aprovada dentro das esferas do Estado.

Figura 3: Panfleto da Greve Geral de 14 de julho de 2019

Fonte:https://www.brasildefato.com.br/2019/06/04/ouca-e-baixe-conteudos-de-radio-sobre-a-greve-geral-de-14-de-junho/

A figura 3 corresponde ao panfleto informativo da Greve Geral, pois de

acordo com movimentos sociais como o LPJ a reforma da previdência é uma

questão importante a ser pautada. A aprovação da reforma da previdência, de

acordo com membros do LPJ, será um desastre, pois colocaria a previdência

nas mãos de uma empresa privada e não mais controlada pelo Estado. Ou seja,

na visão do LPJ e demais movimentos sociais que construíram a greve, o

liberalismo que controla o atual governo afeta negativamente milhões de

brasileiros (as) no seu dia-a-dia.

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Uma característica importante para ser analisada na Greve Geral do dia 14

de julho é o caráter geral. Diversos setores da sociedade participaram das

manifestações, metalúrgicos, estudantes, professores, operários, motoristas,

entre outros. A unidade é uma pauta discutida dentro do LPJ como em outros

movimentos socioespaciais e/ou socioterritoriais. De acordo com Fernandes

(2005), os movimentos possuem relações entre si, sendo essa uma

característica importante para defini-los dentro de tal abordagem. A

espacialização aqui seria importante pois aglutinaria mais pessoas ao

movimento, mais que uma greve setorial. Assim, os movimentos socioespacias

e socioterritoriais entendem a espacialidade como uma forma de se existir e

reexistir.

4.2.4 57º CONUNE

O CONUNE (Congresso Nacional da União Nacional dos Estudantes) é um

evento onde se reúnem milhares de estudantes (as) das mais diversificadas

universidades públicas e privadas para eleger a nova direção da UNE. Em 2019,

ocorre a edição do 57º Congresso da UNE, onde o LPJ com diversos

movimentos de juventudes e estudantis disputaram a presidência e as

secretarias do órgão que representam perante o Estado os (as) estudantes.

No 57º CONUNE que ocorreu no Distrito Federal entre os dias 10 a 14 de

julho de 2019, foram retiradas possíveis ações e pautas que foram levadas pelos

estudantes. Para o LPJ, disputar a presidência da UNE é uma forma de

combater ainda mais o contingenciamento na educação proposto pelo Governo

Federal, pois o órgão é reconhecido representativo perante ao Estado. No 57º

CONUNE, o LPJ, junto com alguns movimentos sociais de juventudes presentes

criaram uma chapa para disputar a presidência da UNE, chamada Frente Brasil

Popular, composta por lideranças do LPJ, UJS, Juventude do PT, entre outros.

A chapa ganhadora foi a qual o LPJ está inserido. Membros do LPJ, ocupam

atualmente cadeiras nas diversas secretarias da UNE, como a secretaria

LGBTQI+, direitos humanos e a atual vice-presidente da UNE compõe o LPJ.

Para entender o 57º CONUNE, os membros do movimento fazem uma

analise a respeito da construção da unidade com outros movimentos de

juventude e movimentos estudantis. A construção da unidade, fez-se na junção

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do LPJ, junto aos movimentos estudantis de esquerda na construção da chapa

na qual disputou a presidência e foi eleita a chapa vencedora para construir a

gestão de 2019 até 2021.

Figura 4: Ato dos estudantes (as) no 57º CONUNE

Fonte: https://www.facebook.com/levantepopulardajuventude/posts/2553928214672717/

A figura 4 corresponde ao resultado desse encontro de estudantes (as) em

Brasília e que acabou em uma manifestação na Esplanada dos Ministérios no

dia 12 de julho de 2019. “Educação, emprego e aposentadoria” foi o lema

levantado pelos movimentos sociais presentes na manifestação. De acordo com

membros do LPJ, somar-se aos demais movimentos na luta pela educação,

emprego e aposentadoria é nossa responsabilidade social.

4.2.5 Escrachos

Após falar de algumas ações, este tópico irá discutir uma das táticas

utilizadas pelos membros do LPJ para atingirem seus objetivos. O chamado

escracho é uma manifestação rápida com o intuito de denunciar algo que está

acontecendo para a sociedade. Os escrachos possuem caráter incisivo e

rebelde, são manifestações rápidas com a característica de levar uma

mensagem à uma pessoa especifica ou a própria sociedade.

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O LPJ, no decorrer de seus anos de luta, utilizou-se desta tática para

denunciar, por exemplo, onde torturadores da ditadura militaram moram ou

moravam, como o caso do escracho na casa do Coronel Carlos Alberto Brilhante

Ustra, no dia 31 de março de 2014. O LPJ também foi à casa do ex-Presidente

do Brasil Michel Temer escracha-lo, pois, de acordo com os membros do

movimento, a ex-presidenta Dilma Rousself sofreu um golpe que levou a sua

derrubada do governo, apoiado por Temer. De acordo com a análise de vídeos

oficiais do LPJ, uma de seus membros fala que Michel Temer é um dos

principais articuladores do impeachment de Dilma Rousself. Outro escracho

aconteceu em um bairro nobre de João Pessoa onde fica a casa de Benjamin

Maranhão – político filiado ao Solidariedade (SD) – no ano de 2016.. Ele também

foi um dos apoiadores que na visão dos membros seria chamado de golpe. Em

25 de janeiro de 2018, membros do LPJ com alguns movimentos sociais foram

à sede da Rede Globo no Rio de Janeiro escracha-los por terem apoiado o

Golpe Militar de 1964, e em 2016, articulado o golpe junto a partido políticos.

Em 2015, o LPJ junto a membros do MST foi à casa do ex-presidente da Câmara

dos Deputados Eduardo Cunha escracha-lo. Na visão dos membros do LPJ,

Eduardo Cunha também seria um articulador do então chamado golpe que a ex-

preisdenta Dilma Rousself sofreu em 2016. Em 30 de julho de 2016, Janaína

Paschoal – política filiada ao Partido Social Liberal (PSL) – também foi

escrachada pelo LPJ sendo chamada de golpista no Congresso Nacional. Ana

Amélia Lemos – política filiada ao Partido Progressista (PP-RS) – também foi

escrachada pelo LPJ na frente de seu apartamento no ano de 2016, que também

seria, uma articuladora do golpe na visão dos membros do LPJ.

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Figura 5: Escracho na casa do Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra em 2014.

Fonte: http://poderonline.ig.com.br/index.php/2014/03/31/casa-do-coronel-ustra-e-alvo-de-escracho-em-brasilia/

O escracho é uma tática que muitos jovens que viveram a ditadura militar de

1964 utilizavam de forma radical, para construir a tão almejada democracia.

Hoje, o LPJ, utiliza da mesma tática para defender os direitos já garantidos e a

soberania nacional, como mostra a figura 5. Trazendo a geografia e o estudo do

espaço geográfico, o qual, de acordo com Santos (1996) é um conjunto das

relações sociais estabelecidas, sendo um produto delas. Esses espaços –

públicos e privados – são contidos de valores, além do econômico, muitas vezes

sociais e culturais. Ao organizar e construir uma manifestação, materializada

diretamente no espaço, o movimento pressupõe passar à mensagem de lembrar

ao Estado sua existência. O espaço geográfico sempre foi palco das

materializações de conflitos desde os primórdios das civilizações e por isso, o

LPJ constróis ações mais radicalizadas com o intuito de passar alguma

mensagem.

4.2.6 Semanas “nós por nós”

A “Semana Eu por Nós” também pode ser considerada uma ação dos

membros do LPJ. Ela ocorre devido à falta de assistência do Estado, em relação

a saúde e educação, principalmente nas periferias brasileiras. Porém, a semana

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“Nós por Nós” vai além, ela busca entender os problemas sociais de

determinado território e analisa se tem forças para solucionar tal problema entre

os próprios membros do movimento. Como por exemplo, a semana busca levar

incentivos as crianças e a juventude das periferias, leituras, arte, filosofia,

política, danças, brincadeiras etc. Um dos exemplos mais recorrentes da

semana “Nós por Nós” é o auxílio em pinturas estragadas das escolas públicas,

atividades em hora extracurricular para filhos de mães que trabalham nas

periferias do Brasil, entre outras ações.

É dever do Estado e das prefeituras a implementação e a manutenção da

infraestrutura urbana. O que se pode ver, é que não ocorre essa manutenção

de forma correta o que leva a precarização dos espaços públicos. Cuidar desse

espaço e entender sua importância é um diálogo permanente na construção da

semana nós por nós.

Figura 6: Panfleto Semana Nós por Nós do LPJ

Fonte:https://www.facebook.com/levantepopulardajuventude/photos/coloque-o-twibbon-da-semana-n%C3%B3s-por-n%C3%B3s-na-sua-foto-doperfilhttpbitly2y9xcqv/1662560370476177/

A figura 6 representa ao panfleto da semana “Nós por Nós”. Essa semana

foi uma ideia dos membros do LPJ para tentar solucionar, pelo menos em partes,

os problemas sociais de um determinado lugar, é uma semana de solidariedade.

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Ela acontece geralmente em outubro e novembro em todo o Brasil, onde o LPJ

se insere, e vai desde construção ou concerto de um lugar físico como também,

ação de ajuda aos mais necessitados que vivem, principalmente, nos grandes

centros urbanos. A semana “Nós por Nós” propõe atividades culturais,

esportivas com a finalidade de também unir as lideranças comunitárias com a

juventude que está disposta a contribuir com a organização de seus bairros.

4.2.7 Projeto Popular e Frente Brasil Popular

O LPJ, através de suas reuniões, assembleias, discute os problemas sociais

do Brasil e busca achar soluções por meio dos debates entre seus membros.

Os debates, as ações do movimento, constroem o que é chamado dentro do

movimento de Projeto Popular para o Brasil. O Projeto Popular possui como

característica principal ser criado pela base, ou seja, a população que está na

base dos pilares da sociedade. É a população que sofre com a falta de

assistência social do Estado, e constroem o chamado Projeto Popular. O Projeto

Popular não está concluído, pois é de acordo com as ações e reivindicações do

movimento que ele é planejado. Ele possui o projeto para cada área, como por

exemplo, o Projeto Popular para a educação, saúde, transporte, lazer, cultura,

economia, tecnologia, entre outros setores. A luta pela reforma agrária também

compõe eixos do Projeto Popular, visto que, muitos dos jovens que pertencem

ao LPJ constroem também o MST.

Além de alinhar-se com base num projeto político, o LPJ, atua em conjunto

com diversos movimentos sociais numa frente democrática criada pós

impeachment da ex-Presidenta Dilma Rousself, a chamada Frente Brasil

Popular. Essa frente é composta por movimentos sociais como o LPJ, MST,

MAB, Mídia Ninja, MTD, MAM, Via Campesina, entre outros movimentos. A

Frente Brasil Popular nasce da iniciativa de defender o estado democrático de

direito, fazendo alianças para construir o que já é discutido dentro do LPJ, a

unidade. O LPJ, acredita que, somente através de uma real unidade entre os

que sofrem pela desigualdade do sistema capitalista, poderá haver profundas

mudanças estruturais. E nesse intuito a Frente Brasil Popular é organizada em

2016.

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4.3 O LPJ como um movimento socioespacial

Neste tópico será relacionado o LPJ com a abordagem de Fernandes (2005)

sobre os movimentos socioespaciais e socioterritoriais. O LPJ, como foi visto nos

tópicos anteriores é um movimento socioespacial de juventude do Brasil e que

vem construindo, através de suas ações e seus principais objetivos, um projeto

político para o país. Entender um movimento socioespacial na abordagem de

Fernandes (2005) é compreender sua complexidade e multidimensionalidade no

campo do espaço, suas interações e as modificações que ocorrem no espaço

geográfico. O espaço é remete ao modo em que nossa sociedade está

organizada, principalmente, num contexto capitalista e neoliberal, onde existe

uma desigualdade social estruturada. O espaço é compreendido por suas

relações sociais que são as interações dos seres humanos com o espaço onde

vivem. Isso gera alterações que podem ser estudadas com a finalidade de

entender esses processos que ocorrem e o porquê. Os processos que ocorrem

no espaço geográfico, como os fluxos e fixos e o sistema de objetos e de ações

de Santos (1996), ajudam a entender como tudo está organizado e como muitas

das vezes, o processo é desigual, o que resulta em diversos problemas sociais

que estão concebidos em nossa sociedade. A multidimensionalidade do espaço

ajuda-nos a entender e compreender a sociedade, e um movimento

socioespacial pode servir de exemplo. Os movimentos socioespaciais e

socioterritoriais atuam nas diversas dimensões do espaço, em sua

multidimensionalidade. Atuam e manifestam-se em espaços políticos, em

espaços públicos e privados, de acordo com o contexto em que estão inseridos

e suas motivações para as ações. Em 2019, entender como o LPJ se insere no

espaço é entendendo seus principais objetivos e principais lutas, de acordo com

o entrevistado 1:

As pautas que mais vem ressoando no contexto político atual são as relacionadas à educação e ao meio ambiente. Como toda luta política, a estratégia perpassa por denunciar as contradições do projeto político neoliberal que está sendo implementado no nosso país e trabalharmos para a conscientização coletiva da sociedade.

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Um movimento socioespacial e socioterritorial tem por base de suas

ações as demandas que estão pressupostas no contexto político em que estão

inseridas. No Brasil, em 2019, o entrevistado 1 deixa claro que um dos principais

objetivos do LPJ é a luta pela educação e defesa do meio ambiente. Aqui,

podemos entender melhor o que foi dialogado nos parágrafos acima sobre a

multidimensionalidade do espaço. O espaço é abrangente, é compreendido

pelos seus fluxos e suas interligações. Com isso, as lutas dos movimentos

socioespaciais e socioterritoriais não se restringe, como no caso do LPJ, atuando

na frente estudantil e na defesa do meio ambiente, acaba atuando no que foi

pontuado sobre a multidimensionalidade do espaço. Uma ressalva importante

apontada pela entrevistada 2 que ajuda também a entender o LPJ como um

movimento socioespacial é entender quem são os sujeitos que estão inseridos

nesse espaço e contexto político e o quão importante é manter o diálogo, o que

a entrevistada chama de trabalho de base.

Acredito que o combate giraria em torno do neoliberalismo, que se articula com o patriarcado e o racismo. Estratégias, penso que o trabalho de base de diálogo nos espaços que estamos inseridas (os), e construindo o projeto que acreditamos pro país (de uma maneira mais pretensiosa ainda, pro mundo) Entrevistada 2.

O trabalho de base é uma característica importante para entender um

movimento socioespacial e socioterritorial. Tais movimentos, se inserem e

buscam se inserir nos espaços e nos territórios para compreender quais são as

demandas da sociedade, que é o que vem da base. Entendendo quais são as

demandas são retiradas pautas e assim, lutas que são organizadas pelos

movimentos.

Outro modo de entender o LPJ como um movimento socioespacial é

através de suas ações como foi visto nos tópicos anteriores. As ações do LPJ,

definem e caracterizam o movimento, sendo assim, para entender as pautas e

os objetivos de um movimento socioespacial e socioterritorial uma das maneiras

é compreender suas ações. Uma das ações mais importantes para entendermos

o LPJ é a defesa e a construção de uma unidade entre os setores progressistas,

de acordo com o entrevistado 1.

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As ações do LPJ foram no sentido de nos somarmos e construirmos atividades políticas com outros movimentos estudantis e sociais em defesa das pautas do povo brasileiro. Acreditamos que nesse momento, só a unidade entre os setores progressistas do Brasil poderá fazer frente à esses ataques e descasos. A União Nacional dos Estudantes, as Uniões Estaduais dos Estudantes, a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas, a Associação Nacional de Pós-Graduandos e a Frente Brasil Popular são algumas dessas ferramentas de luta unitária que apostamos. Entrevistado 1

Já a entrevistada 2 acredita que uma das principais ações do LPJ é se

inserir nos espaços como as universidades e escolas com o intuito de

transformar a sociedade. A defesa da educação, como já foi dito, é uma das

pautas mais importantes que definem o movimento de acordo com seus

membros.

Penso que o movimento estudantil é um espaço muito potente pras transformações sociais, e que um movimento organizado auxilia demais na formação política dos estudantes, que muitas vezes querem lutar e não tem uma base organizada pra isso. Assim, acredito que o levante faz um trabalho super importante de se inserir nas universidades e escolas e criar espaços de arte, luta e resistência. Entrevistada 2

Um movimento socioespacial e socioteritorial se relaciona com outros

movimentos socioespaciais e socioterritoriais no fortalecimento de suas pautas,

que podem possuir semelhanças. Como foi falado pelo entrevistado 1, o LPJ,

constroi lutas com outros movimentos socioespaciais e socioterritorias e essa

característica também nos ajuda o entender como um movimento socioespacial.

Na definição de Fernandes (2005) sobre tais movimentos, uma das

características mais importantes dita pelo autor para compreende-los é entender

suas relações com um outro movimento e com o espaço e território na qual está

inserido. E assim, os membros do LPJ, ao questionar e entender a unidade como

uma forma importante de luta, acaba se inserindo na abordagem de Fernandes

(2005) sobre os movimentos socioespaciais devido a essa característica. De

acordo com o entrevistado 1, fica claro que o LPJ mantém relações com outros

movimentos socioespacias e socioterritorias, confirmando sua inserção em tal

abordagem devido a essa característica.

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Dentro das organizações já citadas (UNE, UEEs, UBES,

ANPG, Frente Brasil Popular, Quem Luta Educa - em

Minas Gerais -, etc) construímos a unidade com outros

movimentos (estudantis e sociais) que compartilham da

mesma luta que a gente. Dentre os movimentos sociais,

temos uma maior proximidade com aqueles que estão

no nosso mesmo campo político, o campo popular

(organizações que tem como centralidade a organização

do povo): Movimento dos e das Trabalhadoras Rurais

sem Terra (MST), Movimento dos e das Atingidas por

Barragens (MAB), Movimento das Trabalhadoras e

Trabalhadores por Direitos (MTD), dentre outros.

Entrevistado 1

Para Fernandes (2005), um movimento socioespacial e socioterritorial se

fortalece através de sua espacialização e isso acontece muitas vezes por lutas

e ações em conjunto com outros movimentos. De acordo com a entrevistada 2,

no atual contexto político, é necessário ainda mais se estabelecer junto aos

demais movimentos sociais na construção de uma unidade.

O levante faz parte da Frente Brasil Popular, que é construída por vários movimentos, e tem uma relação muito boa com vários deles. Sempre me lembro da galera falando que o mst era meio que o avô do levante (LPJ) enquanto movimento do campo popular, e de fato em todos os espaços do mst ou onde o mst está há sempre uma relação muito massa com o levante e visse versa. Além disso, alguns movimentos estudantis também têm se esforçado para ter um bom diálogo, ainda mais nessa conjuntura que a gente vive que exige cada vez mais uma união e fortalecimento da esquerda contra o nazifascismo neoliberal. Acho que as lutas giram em torno de pautas econômicas, sociais, de raça, gênero, orientação sexual, educação, saúde, moradia, meio ambiente, direito a terra... Muita coisa na real.

Assim, o LPJ, entende que o modo como se organiza, construindo a

unidade junto aos demais movimentos sociais na Frente Brasil Popular é de

suma importância. Fica evidente como é a ação da espacialização dos

movimentos socioespaciais e socioterritoriais à medida em que estabelecem

relações entre si.

De acordo com Fernandes (2005), os movimentos socioespaciais e

socioterritorias devem ser entendidos a partir dos espaços e territórios

construídos por meio das relações sociais. O LPJ, através de suas ações atua

no campo material como foi visto nos tópicos anteriores através, por exemplo,

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do escracho – ação característica do LPJ – como uma ação que estabelece

relações diretas com o espaço material, construído por e pelas relações sociais.

As manifestações nas ruas, construída pelo LPJ e por diversos movimentos

sociais também estabelecem relações diretas com o espaço material, muitas das

vezes, esse espaço é utilizado como ferramenta de luta, como é o caso das

ocupações. Através da pesquisa-participante, foi possível ver e analisar algumas

ocupações em caráter de auxílio do LPJ com movimentos socioespaciais e

territoriais como o MST e o MTD. As ocupações como forma de protesto

possuem relações diretas com o espaço e o território. Um movimento

socioespacial e/ou territorial possui estratégias de ocupações ao entender

diversos motivos que estabelecem ações mais radicais. Ocupar os espaços e

territórios além da questão territorial é entender quem são os sujeitos e com isso,

entender todo o sistema que constrói essas relações sociais desiguais.

No campo da imaterialidade, lutar dentro dos espaços políticos é uma das

questões também trazidas pelos membros do LPJ. A pesquisa participante

mostrou que dentro do LPJ os membros se formam e se constroem. Dentro do

movimento, é sempre pensado no espaço político dos grupos que sofrem uma

desigualdade estrutural provocada pelo sistema capitalista e neoliberal. Um

exemplo são as auto-organizadas, feministas, da negritude e LGBTQIA+ que são

espaços onde se discutem os problemas sociais enfrentadas por esses grupos,

tais como as possíveis soluções. Esse, na visão dos militantes do LPJ, é o

principal motivo para ocupar também o espaço da imaterialidade, no campo dos

ideais. De acordo com Sobreiro Filho (2015, p. 4) “os movimentos são

produtores, construtores e transformadores diretos e indiretos do espaço

material e imaterial. ”. Ou seja, o LPJ, através de suas ações tanto no campo da

materialidade como na imaterialidade, constroi e transforma espaços direta ou

indiretamente. Uma questão apontada por Sobreiro Filho (2015) que também é

importante para entender um movimento socioespacial e consequentemente o

LPJ como socioespacial é a intencionalidade. Para ele, a intencionalidade que

está intimamente ligada ao campo ideológico se materializa no espaço através

das ações. Fica evidente isso, ao pensarmos o escracho e a semana “nós por

nós” do LPJ. A materialização no espaço é pensada e somente é a consequência

de uma intencionalidade coletiva pensada pelos membros do LPJ.

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Um movimento socioespacial, como foi dito, também atua na

imaterialidade dos processos. E com isso, enfrenta contra-espaços que são

medidas adotadas por um setor contrário, por exemplo. Contra-espaço também

são analisados como ações, causadas entre o enfrentamento e o debate na

esfera política, social, territorial, espacial, entre outros. E esse, de acordo com o

entrevistado 1 seria um dos principais objetivos para os jovens que compõem o

LPJ. De acordo com o que foi dito pelo entrevistado, há diversas lutas com focos

emergências no Brasil:

Os desafios de qualquer organização política progressista, nessa conjuntura em que o estado democrático de direito se encontra ferido, é resistir às ofensivas (muitas vezes autoritárias) dos projetos que se colocam contra o povo brasileiro. A criminalização dos movimentos sociais e os ataques aos direitos conquistados historicamente pelo povo se tornam cada vez mais evidentes nessa conjuntura Entrevistado 1

O LPJ, tem como uma de suas principais a defesa do Estado democrático

de direito. Construir a defesa pela democracia é garantir sua existência, pois,

como foi dito pelo entrevistado 1, atualmente, movimentos socioespaciais e/ou

socioterritoriais sofrem uma criminalização, que é uma tática para inibir e oprimir

tais movimentos, muitas vezes controlada pelo Estado. A entrevistada 2 discute

sobre a polarização política do país após as manifestações ocorridas em junho

de 2013. Para ela, é necessário entender a polarização que ocorreu no país após

essa data para também compreender os processos pelos quais o país está

passando. “Acho que os desafios se acentuaram com essa onda conservadora

e a polarização política. Envolve conseguir dialogar com a galera, escutar o outro

e ser escutado...” Entrevistada 2. Para ela, o maior desafio dentro do LPJ é existir

e re-existir perante a sociedade e o Estado brasileiro:

Acho um desafio enorme conseguir furar algumas bolhas que foram sendo criadas. Onde o básico precisa ser explicado/exigido. Onde as fakenews tem mais peso que o conhecimento que a gente tem construído. Enfim. Mas acho que isso não se sustenta. E é preciso se manter organizado, cada vez mais Entrevistada 2

A organicidade dos movimentos socioespacias e socioterritoriais é um

ponto importante para entendermos a eles, afinal, necessitam de uma

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organização. Como foi visto, para garantir sua força, um movimento

socioespacial e/ou socioterritorial precisa se espacializar, garantir espaços e

territórios. Manter a organização do movimento é uma tarefa crucial, assim como,

manter seus militantes organizados (as). A entrevistada 2 discute com clareza

sobre a garantia de espaços no campo da materialidade como na imaterialidade:

Então como objetivos acredito que seja conseguir continuar ocupando cada vez mais os espaços e pautando o que a gente acredita pro país. Chegando em todos os cantos mesmo, não ficando restrito só a universidade, por exemplo. E conseguir que os militantes cuidem uns dos outros também Entrevistada 2

Como já foi dito em outras vezes, a unidade é uma questão importante

que é discutida dentro do movimento e também uma característica para

entendermos os movimentos socioespaciais e/ou socioterritoriais. A entrevistada

3 mostra a ligação da UNE que é um órgão institucional composto por diversos

movimentos socioespaciais, principalmente de juventude. Com isso, essa

relação junto aos demais movimentos caracteriza o LPJ como um movimento

socioespacial, pois ocupa e reorganiza dentro e fora das esferas do Estado.

O Levante Popular da Juventude faz parte da União Nacional dos Estudantes desde 2013 e, desde 2017, se consolidou como a segunda maior organização política do movimento estudantil brasileiro e ocupa a vice-presidência desde então. Para nós defender a UNE é defender a Educação como direito e conquista do povo. Isso significa que enquanto movimento social de juventude, o Levante atua tanto em entidades representativas, como o caso da UNE e das uniões estaduais estudantis, também na União Brasileira de Estudantes Secundaristas, a UBES, mas também em conselhos municipais de juventude e em parceria com mandatos eletivos a nível municipal, estadual e federal. Partimos de uma compreensão leninista da combinação das formas de luta, o que significa que é necessário que um movimento consiga atuar dentro e fora do Estado Entrevistada 3

Atualmente, o LPJ se insere na UNE, UBES e Frente Brasil Popular, junto à

demais movimentos socioespacias e socioterritoriais. Com isso, garante sua

espacialização pelo território brasileiro. O LPJ, entende, que a atual conjuntura

política na qual estamos inseridos está composta por diversos retrocessos que

atingem diretamente a base, que é o povo brasileiro. Ou seja, construir alianças

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junto aos demais movimentos socioespacias e/ou socioterritoriais é garantir

também sua existência e re-existencia.

Muitos desafios estão propostos, na visão dos entrevistados, para a atual

conjuntura política, de acordo com a entrevistada 3: “Nesse sentido, nosso

desafio fundamental nesse contexto é a retomada do trabalho de base para

enraizar no seio do povo as organizações populares como a saída para melhorar

as condições de vida. ” Ou seja, inserir-se em espaços e territórios como no caso

das periferias, e dialogar com a população sobre os rumos, desafios, e objetivos

dos movimentos socioespacias e/ou socioterrirotirais para com o Brasil.

5.0 Considerações finais

Entendemos um movimento socioespacial e/ou socioterritorial através de

suas ações e sua organização no espaço e no território. A complexidade ao

analisar tais movimentos se dá pelo fato de que as categorias-chave que foram

utilizadas para o Trabalho de Conclusão de Curso – espaço e território – são

abrangentes e requerem atenção ao defini-las. Para entender como os

movimentos socioespaciais e socioterritoriais se organizam e ocupam o espaço

e o território, é preciso entender o que são esses conceitos. Entender o LPJ

como um movimento socioespacial, requer entender que o espaço é

multidimensional e que pode ser ocupado em diversas formas. A

multidimensionalidade caracteriza o espaço e também o LPJ quando o

movimento afirma a importância de ocupar os espaços de tomada de decisão,

políticos, sociais, ou seja, a multidimensionalidade.

Muitos jovens têm percebido a importância de se organizar politicamente

nos tempos instabilidade institucional da atual conjuntura política brasileira.

Através de uma análise crítica, eles conseguem se colocar perante ao Estado

com suas reivindicações que já fora pautada dentro do coletivo com toda essa

juventude através de manifestações, ocupações, trancamentos, escrachos e etc.

A juventude do LPJ tem como seus avós a juventude da ditadura militar (1964-

1985) e com isso, podemos entender através das análises que foi feita pela

pesquisa-participante que o LPJ será linha de frente contra qualquer modelo de

Estado que seja opressor, misógino, machista, racista e LGBTfobico. O LPJ

entende que lutando contra a base desse sistema capitalista, neoliberal e

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patriarcal que exclui qualquer tipo de minoria - indígenas, negros e negras,

LGBTTQ+, mulheres – poderá haver mudanças efetivas para o povo brasileiro,

colorindo os espaços de decisão dentro das esferas do Estado. O LPJ tem como

um de seus lemas “Juventude que ousa lutar, constrói o poder popular”,

entendem que construindo uma base entre esses (as) jovens da periferia, do

centro de do campo, podemos construir um poder popular juntamente com a

classe trabalhadora desse país e elaborando políticas públicas da base para

cima.

Visto o que foi descrito, os pensamentos geográficos acerca dos

movimentos socioespaciais e socioterritoriais nos ajudam a compreender como

é a atuação e organização do LPJ no território nacional. Com isso, a abordagem

dos movimentos socioespaciais caracteriza o LPJ devido ao modo de inserção

através de ocupações nos espaços de tomada de decisão. Os movimentos

socioespaciais atuam dentro e fora da aparelhagem do Estado, nas ruas

construindo e dialogando com o povo brasileiro e travando batalhas dentro das

esferas do Estado para que possa haver vida digna para todos os brasileiros e

brasileiras.

6.0 Referências

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