UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS UNIDADE DE ENSINO …
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
UNIDADE DE ENSINO-PENEDO
BACHARELADO EM TURISMO
Fábio Zacarias Santos
Diagnóstico do Patrimônio Cultural e seu potencial para o Turismo na Comunidade
Ribeirinha Barro Vermelho em Penedo-AL
PENEDO
2019
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FÁBIO ZACARIAS SANTOS
Diagnóstico do Patrimônio Cultural e seu potencial para o Turismo na Comunidade
Ribeirinha Barro Vermelho em Penedo-AL
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de
Turismo da Universidade Federal de Alagoas, na modalidade
Monografia, como requisito parcial para obtenção do grau de
bacharel em Turismo.
Orientadora: Professora Doutora Fabiana de Oliveira Lima
PENEDO
2019
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Agradecimentos
Agradeço primeiramente a Deus por permitir e ter dado sabedoria e
perseverança para superar todos os obstáculos que surgiram durante esse trajeto.
Aos meus familiares por toda ajuda oferecida ao longo dessa jornada, sempre
que eu precisei eles estiveram presentes oferecendo o que podiam para ajudar-
me na conclusão desse curso.
E em especial agradeço a Maria de Fátima Vieira Santos, por toda força e
orientação nesses quatro anos que estou na Universidade Federal de Alagoas,
que por muitas vezes teve grande paciência em tirar minhas dúvidas em
trabalhos acadêmicos.
E por fim, mas, não menos importantes agradeço a todos os professores que
passaram na minha vida e especialmente a professora doutora Fabiana Oliveira
de Lima que me acompanhou desde início da minha trajetória na UFAL e não se
indispôs em nenhum momento ao me orientar, da mesma forma agradeço a
todos os participantes desta pesquisa e a toda comunidade do Barro Vermelho.
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RESUMO
O presente trabalho se propõe a realizar um Diagnóstico do Patrimônio Cultural e seu
potencial para o Turismo na Comunidade Ribeirinha Barro Vermelho em Penedo-AL.
Focando, desde suas primeiras manifestações até os dias atuais, tivemos como
principais personagens os grupos culturais, artista e artesãos da referida comunidade.
Assim, o presente estudo objetivou caracterizar o patrimônio cultural na comunidade, e
sua importância para o desenvolvimento do turismo cultural na cidade de Penedo-AL.
Para esse fim, utilizou-se uma metodologia de pesquisa exploratória, que permite a
aproximação entre o pesquisador e o fenômeno a ser estudado, na tentativa de capitar
informações relevantes sobre o objeto de estudo. A partir das pesquisas realizadas,
percebeu-se que a comunidade do “Barro Vermelho”, tem um amplo Patrimônio
Cultural material e imaterial, sendo todos populares e de matriz afro-brasileira. Apesar
da falta de apoio do Poder Público aos grupos culturais, artistas e artesãos, a própria
população junto com os lideres culturais vem mantendo suas manifestações vivas,
vimos também que apenas um grupo cultural não tem nenhum contato com o turismo,
porém todos os grupos, artistas e artesões gostariam que o Turismo Cultural fosse
implantado na comunidade.
Palavras-chaves: Patrimônio Cultural, Diagnóstico e Barro Vermelho.
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RESUMEN
El presente trabajo viene a realizar un Diagnóstico del Patrimonio Cultural y su
potencial para el Turismo en la Comunidad Ribeirinha Barro Vermelho en Penedo-AL,
enfocando, desde sus primeras manifestaciones hasta los días actuales, tuvimos como
principales personajes a los grupos culturales, artistas y artesanos comunitaria. Así, el
presente estudio objetivó caracterizar el patrimonio cultural en la comunidad, y su
importancia para el desarrollo del turismo cultural en la ciudad de Penedo-AL. Para ello
se utilizó una metodología de investigación exploratoria, que permite la aproximación
entre el investigador y el fenómeno a ser estudiado, en el intento de capitar
informaciones precisas y de gran relevancia sobre el objeto de estudio. A partir de las
investigaciones realizadas, se percibió que la comunidad del "Barro Vermelho", tiene un
amplio Patrimonio Cultural material e inmaterial, siendo todos populares y de matriz
afro-brasileña. A pesar de la falta de apoyo del Poder Público a los grupos culturales,
artista y artesanos, la propia población junto con los líderes culturales viene
manteniendo sus manifestaciones vivas, vimos también que sólo un grupo cultural no
tiene ningún contacto con el turismo, pero todos los grupos, ¡artista y artesanos quisiera
que el Turismo Cultural fuera implantado en la comunidade.
Palabras claves: Patrimonio Cultural, Diagnóstico y Barro Rojo.
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1. Mapa de Alagoas 21
Figura 2. Mapa da Localização do Forte Mauricio de Nassau. 22
Figura 3. Vista do Forte Mauricio de Nassau. 23
Figura 4. Foto do Fluxo Turístico nas Piscinas. 26
Figura 5. Foto dos Três Peixes em Risco. 27
Figura 7. Foto do Ponto Especifico da Última Curva do Rio São Francisco Antes de
Seguir para o Oceano. 39
Figura 8 - Foto dos negros Malês em Penedo-AL, em 1887. 40
Figura 9 – Ramificação de Rochedos do Barro Vermelho . 43
Figura 10. Porto do Luizinho Bocada 44
Figura 11. Local da Festa. 54
Figura 12. Apresentação na Festa de Santo Antônio. 56
Figura 13. Sede da Batucada. 57
Figura 14. Distribuição do Sopão. 58
Figura 15. Primeiro Carro Alegórico do Bloco da Alegria. 60
Figura 16. Sede do Bloco da Alegria. 60
Figura 16. Prédio da Colônia Z12. 61
Figura 18- Início da Cavalgada 2018. 63
Figura 19 - Cortejo 63
Figura 20 - Boneca Raquel na Lavagem das Escadarias do Rosário 65
Figura 21 - Canoa Rumiada de Poupa e Proa. 67
Figura 22- Canoa Fundo de Calçola 68
Figura 23 - Canoa Fio Dental. 68
Figura 24 - Confecção de Bonecos Gigantes. 69
Figura 25 - Maior Boneco do Brasil. "O Galante". 70
Figura 26- Produto Semiacabado e Matéria Prima Bruta. 72
Figura 27 - Artesão e suas Obras mais recentes 72
Figura 28 - Registro Fotográfico em 1958. 80
Figura 29- Carroça Ornamentada. 84
Figura 30. Mapa do Patrimônio Cultural do Barro Vermelho. 91
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SUMÁRIO
1. Erro! Indicador não definido.
2. 13
2.2 Turismo Cultural 19
3. 19
3.1 Influências do Turismo Na Localidade Receptora 24
3.2 Turismo Cultural e Étnico. 28
4. 29
4.1 Como se Formavam os Quilombos 33
4.2 Quilombos e Estudos Pós-Coloniais 34
4.3 Caracterização dos Quilombos de Penedo-AL 37
5. 40
5.1 Modelos e Escolha Para Pesquisa 44
6. 46
6.1 Caracterização da Pesquisa 50
6.2 Ferramentas escolhidas e suas formas de aplicação 51
6.4 Folia na 15 53
6.5 Milionários do Samba 55
6.6 Mandingueiros de Penedo-AL 57
6.7 Bloco da Alegria 59
6.8 Associação dos Pescadores 61
6.9 Cavalgada de Santo Antônio 62
6.A.1 Bloco da Boneca Raquel 64
6.A.2 Artistas e Artesãos 66
6.A.3 Tadeu dos Bonecos 69
6.A.4 Arte em Pedra 71
6.A.5 Poder Público 73
7 75
7.1 Escolas de Samba do Bairro 78
7.2 Capoeira no “Barro Vermelho” 80
7.3 Associação dos Moradores e Pescadores 81
7.4 Cavalgada de Santo Antônio 82
7.5 Artistas e Artesãos em Atividade no Bairro 83
7.6 Secretarias de Cultura e Turismo 85
7.7 Analisando o Patrimônio Cultural no Bairro 86
8 89
8.4 Mapa Cultural 91
9
9 92
REFERÊNCIAS 95
APÊNDICE 99
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INTRODUÇÃO
O turismo é uma atividade que sempre promove o encontro de diferentes culturas,
até mesmo, quando ocorre de maneira massificada. Existem vários conceitos que
definem a atividade turística em diferentes disciplinas, tais como, economia, geografia,
sociologia, direito, antropologia, ecologia, entre outros. Tais conhecimentos são
imprescindíveis para uma melhor atuação do turismo. Pois, seus resultados podem ser
negativos ou positivos e por muitas vezes esses resultados são irreversíveis.
Principalmente, no âmbito do Turismo Cultural, como nos explica Barreto:
Los atractivos culturales incluyen manifestaciones de la cultura material
(edificios, monumentos, artes plásticas y visuales) y de la cultura simbólica,
como danzas tradicionales, culinaria y otras rotuladas de típicas o
folklóricas. Una forma particular del turismo cultural es el turismo étnico,
donde el atractivo principal es la forma de vida de determinados grupos
humanos, diferenciados por raza, religión, región de procedencia y otras
características comunes (BARRETO, 2005, p.02)1.
Em especial, aqui no Brasil, país onde aconteceu uma grande miscigenação entre
vários povos, a riqueza cultural mostra-se vasta. Assim, o Turismo Cultural no Brasil,
tem um grande leque de opções em atrativos culturais que vai do Patrimônio Imaterial
ao Material. Porém, como já foi comentado acima, as consequências podem ser
desastrosas para a localidade se este segmento for implementado sem os parâmetros de
preservação de uma visão sustentável do turismo.
Como nos mostra a autora supracitada, uma particularidade do Turismo Cultural
é o Turismo Étnico onde o turista busca apreciar e se possível vivenciar a maneira de
viver de outros povos. Assim, adentrar no convívio social das comunidades receptoras
exige grande responsabilidade, pois esse encontro de culturas requer grande atenção e
planejamento.
En muchos pueblos transplantados la identidad se forja a partir del estado y
de las instituciones oficiales, por la fuerza o por la coacción. No obstante la
internalización de una identidad así formada solo puede ser posible si no es
forjada contra la historia y la memoria. Puede haber, también, hechos
históricos que hagan con que las personas quieran destruir los vestigios del
pasado porque les recuerdan algo que quieren olvidar. En estos casos las
políticas públicas pueden estar orientadas a elaborar proyectos educativos
1 Tradução aproximada: Os atrativos culturais incluem manifestações da cultura material (Edifícios,
monumentos, artes plásticas e visuais) e da cultura simbólica, como danças tradicionais, culinária e outras
consideradas típicas ou folclóricas. Uma das formas do turismo cultural é o turismo étnico, onde o
atrativo principal é o modo de vida de certos grupos humanos, diferenciados por raça, religião, região de
origem e outras características comuns.
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con la sociedad, que ayuden a superar los traumas del passado (BARRETO,
2005, p.13)2.
Neste Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), nosso objeto de estudo é o bairro
Santo Antônio, mais conhecido popularmente como “Barro Vermelho”, trata-se de um
local de grande importância, não só para a cidade de Penedo-AL, como para o estado de
Alagoas, assim, entendemos que essa pesquisa poderá apoiar futuros estudos,
caracterizando os grupos e suas respectivas manifestações culturais, o interesse da
população e de seus grupos culturais em trabalharem de forma participativa, com o
Turismo Cultural. Pois, se esse segmento for primeiramente aceito pelos grupos e sua
população e for planejado e desenvolvido de forma sustentável, com toda
responsabilidade que merece esse tipo de atividade, poderá ser de grande importância
não só para a economia local, mas, também para a preservação do patrimônio cultural e
para que auxilie os grupos culturais através da valorização de seu produto cultural.
Dessa forma, despertará o interesse das crianças e jovens ao aprendizado de sua própria
cultura e consequentemente na perpetuação da manifestação cultural na própria
localidade através da transmissão cultural, diminuindo assim o perigo de extinção de
manifestações culturais de extrema importância para as comunidades.
Logo, a questão-problema do presente trabalho se dá na seguinte questão: qual o
potencial e a importância do Patrimônio Cultural material e imaterial na Comunidade
mais antiga de Penedo-AL, para o desenvolvimento do Turismo Cultural da Cidade?
Sendo assim, o objetivo geral deste estudo é: Caracterizar o Patrimônio Cultural
na comunidade do “Barro Vermelho”, e sua importância para o desenvolvimento do
Turismo Cultural na cidade de Penedo-AL. E especificamente: a) identificar as
referências culturais na comunidade; b) verificar se as manifestações culturais são
apresentadas em eventos na cidade; c) verificar se há políticas públicas? voltadas
especialmente para a comunidade e suas respectivas manifestações culturais.
Para tanto, foi desenvolvido a pesquisa exploratória, por permitir a aproximação
entre o pesquisador e o fenômeno a ser estudado, na tentativa de informações precisas e
de grande relevância sobre o objeto de estudo: “As pesquisas exploratórias têm como
principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em
2 Tradução aproximada: Em muitos povos transplantados, a identidade é forjada a partir do estado e das
instituições oficiais, pela força ou coerção. No entanto, a internalização de uma identidade assim formada
só pode ser possível se não for forjada contra a história e a memória. Também pode haver fatos históricos
que façam as pessoas quererem destruir os vestígios do passado, porque elas os lembram de algo que eles
querem esquecer. Nesses casos, as políticas públicas podem visar o desenvolvimento de projetos
educacionais com a sociedade, que ajudem a superar os traumas do passado.
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vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos
posteriores”. (GIL, 2008, p.27)
Da mesma forma que Lakatos (2007) nos explica:
São investigações de pesquisa empírica cujo objetivo é a formulação de
questões ou um problema, com tripla finalidade: desenvolver hipóteses,
aumentar a familiaridade do pesquisador com o ambiente, fato ou fenômeno,
para a realização de uma pesquisa futura mais precisa ou modificar e
clarificar conceitos. (LAKATOS, 2007, p.190).
No sentido de alcançar o objetivo proposto, fizemos uma aproximação estrutural
participativa, que de acordo com Araújo (2006, p.155), “Na literatura sobre o turismo,
participação tem sido definida de várias maneiras, mas, geralmente, mantém-se como
foco de referência a comunidade”. Essa pesquisa tem como sujeitos os grupos culturais
populares do Barro Vermelho. Sendo assim, os dois motivos principais para a escolha
do Barro Vermelho como campo de estudo foram: O anseio do pesquisador em
contribuir para o registro e preservação do Patrimônio Cultural do bairro onde cresceu;
e pela sua importância histórico-cultural para a cidade.
O presente trabalho está segmentado em nove capítulos que se completam,
divididos na seguinte configuração: No primeiro capítulo, tratamos de Patrimônio
Cultural material e imaterial, para que haja uma melhor compreensão do tema deste
trabalho. No segundo capítulo, discorremos sobre Penedo-AL e suas manifestações
culturais e uma breve caracterização da cidade, para visualizarmos melhor as
manifestações populares da área de estudo. No terceiro capítulo, apresentamos o
Patrimônio Seus Usos e Impactos no Turismo, para alcançar alguns dos conceitos
relativos aos temas supracitados e com o intuito de ampliar a compreensão da temática e
observar as interações entre as partes envolvidas. No quarto capítulo, falamos a respeito
dos Quilombos no Brasil, sua história, formação, conceitos e suas atuais regras para
registro das comunidades. No quinto, exploramos conceitos e características de
diagnósticos turísticos e sobre a escolha do modelo a ser aplicado ao trabalho. No sexto
capítulo, apresentamos a metodologia do trabalho, a caracterização da pesquisa,
ferramentas de aplicação escolhidas e os resultados alcançados. No sétimo capítulo,
temos nossos resultados e discussões.
No sétimo capítulo, trouxemos nossa principal contribuição para o trabalho, que
é a caracterização dos grupos culturais e suas respectivas manifestações, da mesma
forma acontece com os artistas e artesãos. Identificamos as reais condições de todos os
atores envolvidos nesta pesquisa. Também verificamos a possibilidade desses atores
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trabalharem de forma direta com o Turismo Cultural, que teve sua aceitação de 100%
cento entre todos os envolvidos, verificamos a real relação do Poder Público com os
grupos, artistas e artesãos. No oitavo capítulo construímos e inserimos um mapa com a
real localização dos grupos culturais artistas e artesãos. Por fim, no capítulo nove
apresentamos nossas considerações finais.
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2. TESOUROS DA HUMANIDADE: O PATRIMÔNIO CULTURAL
Neste capítulo, discorremos sobre Penedo-AL e suas manifestações culturais e
uma breve caracterização da cidade, para melhor observarmos as manifestações
populares, já que nosso trabalho caminhará por esse trajeto. Segundo Raymond Willians
(1976 apud PERÉZ, 2009) Cultura, pode ser entendido a partir de três perspectivas, são
elas a antropológica, sociológica e estética.
A visão antropológica de cultura entende-a como toda produção e modo de vida
humana. Deste modo, todas as formas culturais presentes nos grupos humanos são
válidas e não há cultura melhor ou pior que outra. Assim, a antropologia defende a
importância equivalente de todas as culturas. Dentro desta perspectiva, há a tendência
de diminuir o etnocentrismo e o elitismo existente, assim como, postula as
particularidades e o respeito pela diversidade cultural.
A visão sociológica a compreende como um campo de ação, ou seja, cultura é
campo de conhecimento dos grupos humanos. Fala-se de cultura a partir da produção e
consumo de atividades culturais. Já a visão estética, descreve cultura como as atividades
intelectuais e artísticas, por exemplo, a música, a literatura, o teatro, o cinema, a pintura,
a escultura e a arquitetura.
Neste trabalho, a concepção antropológica de cultura é a utilizada por entender
que esta visão atende aos modos de vida de grupos culturais de forma abrangente.
Cultura é um processo resultante da participação e da criação coletiva, que se
modificam de acordo com as necessidades econômicas e históricas. As culturas não são
estáticas, mas apesar de se modificarem guardam muito de suas origens, e isso é
importante por sustentar as identidades e características de um povo e/ou grupo.
Logo, conforme descreve-nos Kuper (2001, apud PÉREZ, 2009, p. 105) “O
conceito antropológico de cultura tenta diminuir o etnocentrismo e o elitismo afirmando
o universalismo da cultura humana e o particularismo das culturas, aí que o respeito
pelas diferenças culturais deve ser a base para uma sociedade justa”. Bem como, o
conceito de cultura ou civilização de Edward Burnett Tylor, que é apontado, não só por
ter contribuído significativamente para o campo da antropologia, mas, também por ter
sido ele quem primeiro reuniu e sistematizou os elementos do conceito. De acordo com
Tylor,
Cultura ou Civilização, tomada em seu mais amplo sentido etnográfico, é
aquele todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei,
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costume e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem na
condição de membro da sociedade. (TYLOR, 1871, CASTRO 2005, p. 31).
É neste sentido vasto, de cultura, que este trabalho irá adentrar na comunidade
do “Barro Vermelho”, pois como o autor define anteriormente, a cultura de um povo diz
respeito a seu próprio modo de vida, sem descartar nenhum costume, seja ele herdado
ou obtido em sua trajetória de vida dentro de uma coletividade. Principalmente quando
nos referimos à cultura de povos que foram colonizados, já que o colonizador não
acolhia outra forma de civilização que não fosse a sua própria. Também comungando
com os autores já supracitados, Edgar Morin declara,
A cultura, que é característica da sociedade humana, é
organizada/organizadora via o veículo cognitivo que é a linguagem, a partir
do capital cognitivo coletivo dos conhecimentos adquiridos, das aptidões
aprendidas, das experiências vividas, da memória histórica, das crenças
míticas de uma sociedade. (MORIN, 1991, p.232).
Bem por isso,
[...] se a cultura contém em si um saber coletivo acumulado em memória
social, se é portadora dos princípios, modelos, esquemas de conhecimento, se
gera uma visão do mundo, se a linguagem e o mito são partes constitutivas da
cultura, então a cultura não tem somente dimensão cognitiva: é uma máquina
cognitiva cuja práxis é cognitiva. (Idem, p. 18)
Essa última citação traz a importância do que é produzido por uma cultura, pois
expressa sua história, sua formação, sua visão de mundo, sua forma de ocupar os
espaços e construir neles. Tais produções/construções são diversas e posteriormente,
foram distinguidas, como por exemplo, a cultura popular.
Nesse sentido, Ariano Suassuna define cultura popular, de modo que nos ajuda a
melhor compreender o próprio conceito de cultura,
[...] aquela criada pelo quarto estado, pelo Povo mais pobre, composto, em
sua imensa maioria, de analfabetos ou de semi-alfabetizados, mantidos, de
qualquer forma, desde o século XVI, à margem da Cultura oficial. São os
descendentes mais escuros de ibéricos pobres, negros e índios. (SUASSUNA,
1995, p.10)
É com essa visão, que nosso trabalho será desenvolvido, destacando as
manifestações existentes na comunidade do “Barro Vermelho”, afinal estamos nos
referindo a uma comunidade muito antiga e repleta de histórias, pois nas terras de
Penedo-AL passaram e viveram diversos povos de diferentes etnias.
2.1 Patrimônio Cultural como Herança da Humanidade.
Neste trabalho abordaremos o Conceito de Patrimônio Cultural, por entender
que o Patrimônio está diretamente ligado a Cultura, ao modo de viver de diferentes
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povos e suas respectivas manifestações populares. Pois como abordaremos adiante, no
Brasil em especial, mesmo antes dos colonizadores e escravizados chegarem a essas
terras, já havia grande diversidade de povos nativos. Da mesma forma, o termo
Patrimônio Cultural, só era entendido no que se referia a grandes obras e por isso
grande parte das pessoas só remetem a ideia de bens tangíveis deixando de lado o
intangível, referente ao modo de fazer ou construir.
Entretanto, é forçoso reconhecer que essa imagem, constituída pela política
de patrimônio conduzida pelo estado e por mais de sessenta anos, está longe
de refletir diversidade, assim como as tensões e conflitos que caracterizam a
produção cultural do Brasil, sobretudo a atual, mas também a do passado.
(FONSECA, 2003, p. 56)
Porém o conceito de Patrimônio Cultural vem da Europa.
O património cultural é um conceito que nasce em França nos inícios da
década de 1980 (Calvo, 1995) e que redefine os conceitos de folclore, cultura
popular e cultura tradicional. Podemos falar em património cultural como a
representação simbólica das identidades dos grupos humanos, isto é, um
emblema da comunidade que reforça identidades, promove solidariedade,
cria limites sociais, encobre diferenças internas e conflitos e constrói imagens
da comunidade (PEREZ; CRUCES, 1998).
No Brasil, como já foi citada no início deste capítulo, a visão repassada pelas
políticas do Estado era insuficiente. Foi no período pós-ditadura em 1980 e 1988, que
ocorreu uma mudança considerável na constituição do país. Contudo é sabido que entre
turismo e cultura existe uma relação muito antiga, mas, os termos: Patrimônio Cultural
e Turismo Cultural são recentes.
Atualmente tem-se o conceito de patrimônio cultural alargado compatível
com o entendimento disposto no artigo 216 da constituição federal, incluindo
tanto bens corpóreos, como incorpóreos, visto de forma individual ou
coletiva e que, de alguma maneira, tenham vinculação com a identidade
nacional, nestas inseridas todas as manifestações das diferentes etnias
formadoras da sociedade brasileira [...] (RODRIGUES, 2006, p.1).
Os aspectos repassados pelo movimento político denominado Estado Novo e o
surgimento do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que era um
conceito fechado e só reconhecia os monumentos, obras e histórias que pertenciam
apenas à elite brasileira, ajudaram a revolucionar e aperfeiçoar mais ainda o conceito de
Patrimônio cultural, entre esses também o surgimento da Constituição Brasileira no fim
dos anos 80.
Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e
imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência
à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da
sociedade brasileira, nos quais se incluem: I – as formas de expressão; II – os
modos de criar, fazer e viver; as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
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IV – as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados
às manifestações artístico-culturais; V – os conjuntos urbanos e sítios de
valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico,
ecológico e científico. Parágrafo 1º - O Poder Público, com a colaboração da
comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por
meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação e de
outras formas de acautelamento e preservação. Parágrafo 4º - Os danos e
ameaças ao patrimônio cultural serão punidos, na forma da lei.
(CONSTITUIÇÃO FEDERAL. 1988, art. 216, p.124).
Como podemos observar a Constituição Federal de 1988, aqui no Brasil, foi
realmente um marco, não só na história, mas beneficiou a cultura e o patrimônio. Já que,
anterior a essa data, grande parte desses tópicos, descritos pela constituição, não eram
reconhecidos como patrimônio cultural. Deste modo, ampliou-se com justiça o
patrimônio cultural brasileiro e em especial as manifestações populares em geral, já que
anteriormente essas manifestações não eram consideradas. O que enriquece e diversifica
o Turismo Cultural no país, que tem grande diversidade cultural, multiplicando assim os
atrativos culturais como veremos no tópico a seguir.
2.2 Turismo Cultural
A incitação humana pela descoberta de novas culturas é muito antiga, assim
gerando as viagens de cunho cultural. Essa atividade acontece desde a idade média,
porém só era realizada por uma classe de pessoas especifica, pessoas que tinham um
alto capital financeiro.
A natureza cultural de muitas das viagens é bem antiga, assim na Idade
Média, viajantes como Marco Pólo mudaram a concepção do mundo (Novoa
e Villalva, 2007). Mas, na história contemporânea do turismo emerge uma
realidade entre os séculos XVIII e XIX: o “Grande Tour”, que era uma
viagem de formação (iniciação) dos nobres e burgueses com o objetivo de
contactar com outros povos e culturas, criando assim um capital cultural que
lhes serviria para ser melhor aceite no seu próprio país e investir nas tarefas
de liderança e governança. (PEREZ, 2009, p. 106).
Como podemos observar também que só as classes nobres tinham o privilégio e
condições financeiras para realizar grandes e pequenas viagens. E que o conhecimento
adquirido pelos respectivos viajantes seria utilizado posteriormente na tomada de
decisões importantes no seu lugar de origem. Apesar disso e da relação entre o turismo
e cultura serem antigos, o turismo não tinha o reconhecimento devido e o termo
Turismo Cultural é novo, ainda conforme Perez:
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Os profissionais da cultura tendiam, até há pouco tempo, a menus valorizar o
turismo porque entendiam-no como uma atividade banal, superficial,
aculturada e com pouco interesse pela cultura visitada. Isto mudou muito nas
últimas décadas com a criação de pontes entre um campo e outro. (PEREZ,
2009, p. 108).
O turismo cultural é entendido aqui como as atividades turísticas voltadas para
as experiências culturais e estéticas por vezes diferentes das atividades normalmente
vivenciadas.
O turismo cultural poderia ser considerado como um turismo experiencial que
teria como base a experiência de artes visuais, artes manuais e festividades.
Segundo os mesmos autores, o turismo patrimonial também deve ser
considerado como experiencial e cultural, permitindo a visita a paisagens,
sítios históricos, edifícios ou monumentos. (ZEPPEL; HALL 1991 apud
PEREZ; 2009, p. 1109).
O turismo é uma das atividades que mais fomenta o contato intercultural entre
pessoas e grupos. Também é uma das formas de fluxo de bens e mercantilização, até
mesmo de produtos culturais. O Turismo Cultural tem um papel importante na cidade
ou região em que ele é desenvolvido ou que se pretende desenvolver, que pode ser tanto
na esfera social, econômica e ambiental. Pois tem o poder de conservar o patrimônio
cultural, arquitetônico e costumes locais, além de gerar fontes de renda e divisas.
Porém, se desenvolvido de forma incorreta, ou seja, sem o devido planejamento e
acordo entre as partes envolvidas, (governo, localidade receptora e a iniciativa privada)
pode acarretar danos irreversíveis, principalmente para a localidade ou região receptoras
e para a cultura e costumes dos mesmos. Dada sua importância para o trabalho,
aprofundaremos alguns dos seus aspectos em tópico posterior, de forma
contextualizada.
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3. PATRIMÔNIO: USOS E IMPACTOS NO TURISMO.
Penedo cidade ribeirinha localizada no extremo sul de Alagoas, a 160 km da
capital alagoana (Maceió), Penedo teve um importante papel na história do estado e da
nação brasileira, pois foi palco de disputas territoriais entre seus colonizadores,
invasores, nativos, escravos e contrabandistas. Sua primeira exploração oficialmente
registrada por volta da segunda metade do século XVI. Duarte Coelho era o donatário
da capitania de Pernambuco que assumiu a direção e conduziu a viagem de inspeção do
território alagoano, e realizando a viagem por divisas, partindo das margens do rio
Igaraçu ao norte, do rio São Francisco ao sul. E também tinha o intuito de anular a
investida de possíveis conquistadores.
Figura 1. Mapa de Alagoas
Fonte: https://biblioteca.ibge.gov.br. 2018.
No entanto, segundo Tenório et.al (2010, p.83) existe discordância entre
historiadores sobre sua data de origem, pois cada um apresenta uma versão
diferenciada. Mas, tem-se certeza que quando Cristóvão da Rocha adquiriu a posse
daquele local, repassado ao seu comando pela coroa portuguesa em 1613, o povoado já
estava formado. Assim, “foi erguido um templo em reverência a um santo católico
cristão e a história de aventura humana nas terras do São Francisco teve início,
mesclando índios, portugueses, holandeses, africanos de várias nações e mestiços,
muitos atores em um só cenário”. (TENÓRIO et.al, 2000, p.83). Logo, podemos
observar que as terras do Penedo tiveram grande miscigenação e até nos dias atuais, a
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data de fundação do povoado causa controvérsia entre os especialistas no assunto.
Figura 2. Mapa da Localização do Forte Maurício de Nassau. Obra de Rerum Per, 1647.
Fonte: TEIXEIRA, L. et. al. (2012)
Penedo também comporta em seu centro histórico uma comunidade ribeirinha
mais conhecida como Barro Vermelho, hoje chamado de Bairro Santo Antônio. Porém,
até mesmo antes dos estrangeiros chegarem nestas terras já havia civilização na
localidade, que de acordo com o registro oficial de doações de terras mais antigo do
município, já havia uma povoação. Denominada pelo próprio tabelião público Manuel
Furtado de “Mata da Aldeia”: “Neste documento importante há referência de um terreno
da Vila, compreendido de – meia légua de terra do pelourinho para baixo, e – meia
légua do pelourinho para cima, correndo o rio até a Mata da Aldeia” (VALENTE; 1957
p. 04).
Comunidade essa com grande importância para toda cidade, pois é toda
margeada pelo grande e belo Rio São Francisco e foi palco de grandes acontecimentos
como: a escolha do ponto e construção do Forte Maurício de Nassau pelos holandeses
em sua ocupação a cidade, e da história da formação da cidade de Penedo. Também foi
nesta localidade que viveu uma grande concentração de africanos muçulmanos,
A Penedo de hoje guarda a sete chaves muitas das respostas às nossas
perguntas. Sabemos através de Abelardo Lobo que os muçulmanos de Penedo
viveram nos bairros da Rocheira e do Barro Vermelho, onde se pode chegar a
pé, descendo a ladeira da Igreja do Rosário dos Pretos. Essa Igreja, pertencente
à irmandade no mesmo nome, tinha como principal orago a Virgem do
Rosário. Era e ainda é hoje, a “Igreja do Rosário dos Pretos” que assim se
distingue da outra, a do Rosário dos brancos, sede da matriz, Além do orago
principal outros santos e variedades da Virgem eram também cultuados na
igreja, mas muito provavelmente aí devem ter existido outras devoções, entre
21
ele Nossa Senhora da Boa Morte, cuja festa do ano de 1875 foi anunciada no
Jornal de Penedo, 27.08.1875:1. (SOARES; MELLO, 2006, p. 08)
Figura 3. Vista do Forte Maurício de Nassau.
Fonte: TEIXEIRA, et. al (2012).
A cidade também possui o maior acervo de arte neoclássica e barroca do estado.
A penúltima cidade é a inesquecível Penedo. Em excelente posição
estratégica, majestosamente situada a margem esquerda do Rio São
Francisco, a 44 quilômetros da sua foz, primitivamente edificada numa
pequena colina, cuja a rocha lhe empresta o nome, a cidade é o maior centro
de arte barroca e neoclássica de Alagoas. (TENÓRIO; DANTAS, 2010,
p.80).
Assim, com tanta riqueza, apresentada pela cidade ribeirinha, seja na sua
história, uma das mais antigas do Brasil ou pelo seu rico acervo arquitetônico, cultural e
natural, com essa diversidade, seria importante planejar, organizar, promover e executar
o Turismo Cultural na cidade.
No seu centro histórico existem monumentos tombados pelo Instituto do
Patrimônio Histórico Artístico Nacional (IPHAN), tais como: Igreja Nossa Senhora da
Corrente, Mercado Público, Pavilhão da Farinha, Casa da Aposentadoria, Igreja de São
Gonçalo Garcia, Praça Barão de Penedo, Praça Padre Veríssimo, Praça Rui Barbosa,
Rua Dâmaso do Monte, Av. Floriano Peixoto, Adro da Igreja Corrente/prolongamento
da Rua 7 de Setembro, Praça Costa e Silva, Rua Dom Jonas Batinga, Rua São Miguel e
Orla de Penedo, entre outros. Por também terem vivido nela povos de diversas origens,
como: indígenas, africanos, franceses, portugueses e holandeses.
A cidade de Penedo-AL, é um grande museu vivo, a céu aberto, se assim
pudéssemos considerar. Penedo também comporta alguns possíveis atrativos turísticos,
22
que segundo o Patrimônio Arqueológico e Paleontológico de Alagoas (2012, p.57), a
cidade está inserida, contendo oito sítios com ocorrências já registradas. São eles Imbi,
Providência, Palma, Jamari, Pindorama, Ivonete, Boacica e Capuru. São classificados
nas categorias: Pré-colonial, Histórico e Pré-colonial-histórico. Bem como comporta um
sítio paleontológico, que é o “Tanque da Aldeia ou Poço Grande”, onde foi encontrada e
registrada a espécie “Stegomastodon waringi”, seu nome científico, mais conhecido
como Mastodonte, cujo sepulcro é classificado como tanque de rocha granítica,
(Patrimônio Arqueológico e Paleontológico de Alagoas-Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional IPHAN 2012, 63).
O conjunto dos possíveis atrativos turísticos culturais é vasto e heterogêneo,
assim, gostaríamos de poder detalhar minuciosamente esses atrativos. No entanto, nosso
objetivo é outro. A localidade é uma cidade tombada como patrimônio histórico,
cultural e arquitetônico, além de ser a segunda mais antiga do estado. Portanto, possui
um rico acervo arquitetônico, e foi palco de vários acontecimentos marcantes na
construção da cultura de um povo de culturas diversas, desde a colonização, passando
pela construção da cidade propriamente, até chegar aos dias atuais.
3.1 Influências do Turismo Na Localidade Receptora
Neste tópico iremos apresentar alguns dos impactos produzidos pela atividade
turística, pois, como já foi citado, qualquer atividade turística, gera influências tanto
positivas como negativas. Assim, apresentaremos a seguir alguns desses possíveis
impactos turísticos.
O turismo permite ao local abrir-se ao mundo e promover a sua identidade
cultural num mundo global, mas este processo não está isento de
consequências sobre o emprego, a estrutura de autoridade da comunidade
receptora, as práticas sociais, [...] (PEREZ, 2009, p. 76).
Sobretudo em comunidades mais tradicionais e reservadas, pois, o turismo
enquanto fenômeno global interfere direta e indiretamente na economia local, modo de
produção da comunidade, nos seus hábitos sociais, hierárquicos e em todo ecossistema
da localidade.
Desta maneira, os estudos antropológicos vêm se debruçando em três linhas,
sendo elas: estudos sobre os aspectos socioculturais e a visão do turista a partir de sua
viagem, estudos sobre os efeitos turísticos em lugares receptores de turistas e, o terceiro
estuda os impactos do turismo sobre os receptores e hóspedes.
23
Por muitas vezes, o turismo só é visto como uma atividade econômica e que será
a atividade que resolverá todos os problemas relacionados à economia da população.
É fato notável, que o turismo, é uma atividade econômica que mobiliza
grandes fluxos em todo o mundo e, que por sua vez, gera altíssimos índices
de trocas comerciais e negócios entre as regiões de emissão e recepção de
turistas. Tendo como consequência mais visível a movimentação de cifras
astronômicas no mercado internacional. Sendo, por essa razão, considerado
um dos maiores setores produtivos da economia global (PIRES, 2004, p. 01).
Do mesmo modo que a esfera econômica, as outras esferas têm grande
importância como: social, cultural e ambiental. Bem por isso, também deveriam ter o
mesmo reconhecimento. E geralmente a visão da atividade turística por parte da
população receptora e estudiosos do assunto é totalmente adversa quanto ao que é
positivo e negativo, assim nos fala Jost Krippendorf:
Aliás, as enquetes sobre os mesmos são chamadas de estudos de mercado.
Elas (as pesquisas em turismo) são encomendadas e financiadas pela
indústria do turismo. Elas chegam todas à mesma conclusão: a grande
maioria dos turistas não escolhe o lugar de férias em função dos autóctones,
mas em função do país. A paisagem e o clima agradáveis são critérios
essenciais. Que haja seres humanos vivendo em tais locais é questão que se
revele de menor importância. Então por que se preocupar com a comunidade
local? (KRIPPENDORF, 2003, p. 68).
Portanto, para que haja um bom desenvolvimento e relacionamento entre turistas
e receptores de atividades turísticas é preciso que no planejamento das atividades a
população receptora seja consultada e seu parecer seja respeitado e executado para
assim os impactos negativos serem amenizados e os positivos cada vez mais ampliados.
Quando falamos em impactos causados pelo turismo, a primeira visão é que se
trata de uma atividade de extrema importância para um determinado local ou região,
pois é geradora de divisas. Saber cada detalhe da localidade e antes de tudo consultar
seus moradores e instituições governamentais responsáveis é imprescindível, pois se
executado sem planejamento poderá causar impactos negativos grandiosos, como
veremos no exemplo em seguida:
O caso que iremos abordar aconteceu aqui no estado de Alagoas, na cidade de
Maceió, onde a atividade turística é desenvolvida o ano inteiro, mas se intensifica no
verão. O fato ocorreu em 2010, no bairro de Pajuçara, onde é recorrente o Turismo
Cultural e Turismo de Sol e Mar na região. A localidade é privilegiada por ter em sua
costa várias piscinas naturais que se formam na maré baixa do oceano. A piscina do
“Amor” como é conhecida, vinha sofrendo uma degradação intensa por conta das
atividades turísticas desenvolvidas no local.
24
O Instituto do Meio Ambiente (IMA) iniciou um estudo isolado sobre a
biodiversidade recifal na enseada da Pajuçara, ainda em 2010. Durante a
análise, descobriu-se que havia uma queda no número de algumas espécies
enquanto outras estavam sob ameaça de desaparecer. Pela proximidade dos
bancos de recife à costa, a região vinha sendo explorada significativamente,
com 23% da extensão da praia sofrendo graves processos erosivos, ou seja,
inexistência de parte recreativa. (GAZETAWEB, 2016).
Esses processos erosivos foram em grande parte provocados pelas atividades
turísticas, que são realizadas volumosamente. A seguir, trazemos uma imagem da
Piscina do “Amor”, mar de Pajuçara em Maceió-AL.
Figura 4. Foto do Fluxo Turístico nas Piscinas.
Fonte: http://www.ima.al.gov.br
Como podemos observar na imagem, trata-se de uma área de recifes, que de
acordo com a matéria publicada na Revista Ambiental (2017, p. 27),
Os recifes, em termos físicos, são barreiras que protegem as regiões costeiras
da ação do mar em diversas áreas do litoral brasileiro, reduzindo a energia
das ondas à praia e a ação de correntes costeiras, propiciando ambientes de
sedimentação e, por conseguinte, modelando o perfil da costa (Revista
Ambiental, 2017, p. 27 apud CAVALCANTE, 2009).
O local estava sendo agredido de maneira intensa, por conta de atividades como:
mergulhos, passeios de jangada, pesca entre outras atividades náuticas. Segundo o
jornal Gazeta Web:
De acordo com o coordenador de Gerenciamento Costeiro do IMA, Ricardo
César de Barros, nos últimos três anos, a exploração na Piscina do Amor se
intensificou com atividades de pesca, turismo, recreação e mergulho. Após
estudos complementares, o local foi interditado no dia 9 de junho de 2015. (http://gazetaweb.globo.com, 2016).
25
O risco de extinção de várias espécies marítimas era grande. Com o isolamento
da Piscina do Amor vieram algumas represálias por parte de alguns banhistas que
depredaram o material de sinalização da área isolada. Porém, após um ano de
isolamento por parte dos pesquisadores responsáveis, já são vistos os resultados
positivos. Ainda segundo Ricardo César Bastos, “Antes, procurávamos espécies de
peixe e não encontrávamos rapidamente; hoje, em trinta segundos, achamos um”
(http://gazetaweb.globo.com,2016). Além disso, outra boa notícia de acordo com o
Instituto do Meio Ambiente (IMA), três espécies em risco de extinção voltaram a
frequentar a Piscina do Amor, que são os peixes: Mero, Neon e Grama Brasileiro.
Figura 5. Foto dos Três Peixes em Risco.
Fonte: http://www.ima.al.gov.br (2016).
Ainda de acordo com o IMA:
O professor Cláudio Sampaio, dos cursos de Engenharia de Pesca e Biologia
da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), as principais ameaças a esses
peixes são a poluição e a pesca não manejada. “A primeira compromete a
qualidade das areias e águas da principal área de lazer dos alagoanos e
turistas, enquanto que a segunda inviabiliza o consumo de pescado, devido a
raridade e o tamanho cada vez menor dos peixes e preços cada vez maiores”,
esclareceu. (http://gazetaweb.globo.com, 2016).
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Como destaca o professor da Universidade Federal de Alagoas, os dois
principais problemas da localidade são a poluição e a pesca desordenada. O primeiro
está ligado diretamente ao grande fluxo turístico de sol e mar, no qual é gerador de
grande parte do lixo produzido e descartado de forma irregular, não só na área da
Pajuçara, mas, em todo litoral alagoano. Causando assim um enorme impacto
ambiental, atingindo todo o ecossistema da localidade. Pois, com o descarte irregular na
praia, o lixo segue para o oceano, contaminando suas águas e consequentemente todos
os seres vivos que ali habitam, afastando e por muitas das vezes ocasionando a morte
desses seres tão importantes para todo o ecossistema, uma vez que, se os peixes e outros
seres vivos afastam-se ou morrem e, a população local que depende do pescado ou da
cata de mariscos, não terá mais o alimento para levar para suas casas e suas famílias ou
terá que deslocar-se até outro ponto de pesca considerando o afastamento dos peixes,
dificultando o cotidiano da população.
3.2 Turismo Cultural e Étnico.
Como já foi salientado em capítulo anterior, o Turismo Cultural existe há muito
tempo e, o intercâmbio cultural é inevitável, pois, tanto o turista como o autóctone já
trazem, sua cultura própria. Sendo assim, a imagem de etnia vai muito à frente do
destaque que ela apresenta. Segundo Cardoso (2006) trata-se de observar que:
O conceito de etnicidade está relacionado não apenas na distribuição de um
povo, mas vai além: supera as fronteiras nacionais, podendo ser encarada não
apenas como cultura de uma gente em seu país de origem, mas também aos
que imigram ou recebem influência da cultura estrangeira por meio invasões
e possessões, e que, de alguma maneira, sobrevivem á supremacia de uma
cultura nacional diferente da expressa (grupos de minorias). (CARDOSO,
2006, p.143).
Com a alavancada do turismo de massa no período pós-industrial e, com a sua
exaustão em múltiplas regiões, o Turismo Étnico ganhou maior importância. É válido
ressaltar que existem várias concepções sobre esse tipo de turismo. Segundo o
Ministério do Turismo (BRASIL, 2013, p. 20), “Constitui-se de atividades turísticas
envolvendo a vivência de experiências autênticas e o contato direto com os modos de
vida e a identidade de grupos étnicos”. E esse segmento turístico possui muitas
características que o diferencia dos outros, tanto no perfil da demanda assim como na
oferta.
27
Na demanda, podemos destacar o turista que procura esse tipo de segmento, ele
geralmente possui o grau de escolaridade mais elevado e procura sempre aumentar o
seu conhecimento cultural; Já na oferta, iremos destacar um dos principais pontos desse
segmento, a apropriação e condução da atividade turística pela comunidade, que
desenvolve e executa o produto a ser explorado. No Brasil são muitos e de vários tipos
os grupos étnicos. De acordo com o Ministério do Turismo (BRASIL, 2013, p. 20),
Esse tipo de turismo envolve as comunidades representativas dos processos
imigratórios europeus e asiáticos, as comunidades indígenas, as comunidades
quilombolas e outros grupos sociais que preservam seus legados étnicos
como valores norteadores de seu modo de vida, saberes e fazeres.
Do mesmo modo, Silva e Carvalho (2010, p. 211), afirmam: “O segmento do
turismo étnico baseia-se nas novas necessidades de consumo de experiências
identificadas e percebidas como autênticas tanto por parte da demanda turística, quanto
por parte das comunidades receptoras”. Poderia exemplificar o Turismo Étnico de
várias formas e em vários lugares do Brasil. Porém apresentaremos o exemplo de
Salvador-BA, por sua relevância em destacar os modos de vida de uma comunidade
Casa de Oxumarê. Nossa visita à Comunidade ocorreu no dia 04 de Maio de 2016, às
19h, como parte das atividades de uma visita técnica organizada para a disciplina de
Planejamento e Desenvolvimento Turístico II. Ao chegarmos fomos recepcionados por
um dos integrantes da comunidade, que logo tratou de nos deixar muito bem informados
sobre a história do local e indicou que na comunidade está o terreiro de Candomblé
mais antigo do Brasil.
A história da Casa de Òsùmàrè remete à formação do candomblé no Brasil.
Sua origem remonta ao início do século XIX, e foi marcada pela luta e
resistência de africanos escravizados que, obrigados a abandonarem suas
terras e laços familiares, não renunciaram a sua cultura e fé. .
http://www.casadeoxumare.com.br/ ( 2017.)
Localizada na Avenida Vasco da Gama, nº 343 Salvador-BA, a comunidade
recebe turistas e visitantes de todas as partes do Brasil e do mundo. Nós do curso de
Turismo, pela Universidade Federal de Alagoas, fomos agraciados e podemos observar
e participar de uma cerimônia para o orixá Xangô que representa o Deus da Justiça.
Fomos conhecendo a casa principal e, todos os principais guardiões através de registros
fotográficos, escritos e objetos pessoais dos que lideraram a casa de Oxumarê.
Posteriormente, podemos acompanhar todo o ritual de preparação para a cerimônia de
Xangô.
28
A celebração começa em um salão principal da casa e com todos os integrantes
devidamente caracterizados, com vestes tradicionais da religião afro-brasileira, assim. O
Babalorisá, a autoridade máxima da casa, inicia a cerimônia sempre acompanhado de
toques e músicas de idioma predominantemente Yorubá. Em seguida, foi servida para
todos que ali estão um prato tradicional da culinária afro-brasileira, especialmente em
homenagem ao orixá Xangô. Nesse momento, a música e toques dão uma pausa, para
que o babalorisá possa pedir a benção ao orixá e assim abençoar o alimento e as pessoas
que dele vão se servir. Por fim, chegamos ao ponto culminante da cerimônia: o
momento de reverenciar e fazer os pedidos ao orixá Xangô, sempre acompanhado das
músicas e toques até outro local da casa, em uma parte aberta onde formamos uma fila
única para entrar em um templo feito para abrigar a imagem do orixá onde nesse templo
só há espaço para permanecer uma só pessoa por vez.
Particularmente, já havia visitado outros terreiros de candomblé e comunidades
tradicionais afro-brasileiras, porém a Casa de Oxumarê mostrou ter grande organização
no seu dia a dia com todas as tarefas da comunidade, sendo muito bem distribuídas e
executadas entre seus integrantes.
A comunicação com a casa através das redes sociais também é muito rápida,
apresentando um serviço de comunicação eficiente, lembrando que esse é um
diferencial muito importante, já que o número de comunidades tradicionais e terreiros
de matrizes afro-brasileiras com página online, ainda é muito pequeno. A destreza e
preparação dos agentes de informações da casa são excelentes, além da atenção dada
por eles a quem chegue. Dentro da comunidade também existe um pequeno cemitério
onde estão enterrados os seus principais líderes. Contudo, a comunidade está ligada
direta e indiretamente a vida social em todo seu redor, pois elabora e executa projetos e
ações sociais com adultos e crianças em seu entorno.
Essa foi uma experiência inesquecível para um futuro profissional de turismo
mostrando na prática como pode ocorrer o turismo étnico, de forma organizada,
proveitosa para os visitantes e receptores.
29
4. COMUNIDADES QUILOMBOLAS E SUAS ORIGENS.
Os quilombos têm uma história que representa toda resistência dos negros no
Brasil, assim como os indígenas que aqui já habitavam. Segundo o Guia Brasil
Quilombola: “São grupos étnico-raciais segundo critérios de autoatribuição, com
trajetória histórica dotados de relações territoriais com presunção de ancestralidade
negra relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida”. (Programa Brasil
Quilombola, 2013, p. 14).
Apesar disso, tem origem na África, de acordo com Munanga (1995),
O quilombo é seguramente uma palavra originária dos povos de línguas bantu
(kilombo, aportuguesado: quilombo). Sua presença e seu significado no
Brasil têm a ver com alguns ramos desses povos bantu cujos membros foram
trazidos e escravizados nesta terra. Trata-se dos grupos lunda, ovimbundu,
mbundu, kongo, imbangala, etc., cujos territórios se dividem entre Angola e
Zaire. (MUNANGA; 1995, p. 58).
Bem como, desde o início da colonização do Brasil, este espaço sempre teve o
objetivo acolher e fortalecer os povos escravizados pela coroa de Portugal que
procuravam libertação. Os quilombos e seus quilombolas em todo tempo foram uma
pedra nos planos da coroa portuguesa.
O quilombo constitui questão relevante desde os primeiros focos de
resistência dos africanos ao escravismo colonial, reaparece no
Brasil/república com a Frente Negra Brasileira (1930/40) e retorna à cena
política no final dos anos 70, durante a redemocratização do país. Trata-se,
portanto, de uma questão persistente, tendo na atualidade importante
dimensão na luta dos afro-descendentes.(BARROS; 2012, p 10).
Dessa maneira, gostaríamos de enfatizar que a luta dos escravos quilombolas
para sempre esteve ligada a luta pela liberdade, pelo território, preservação e
continuidade de sua cultura. De acordo com o Guia Brasil Quilombola,
As comunidades quilombolas localizam-se em 24 estados da federação, sendo
a maior parte nos estados do Maranhão, Bahia, Pará, Minas Gerais e
Pernambuco. Os únicos estados que não registram ocorrências destas
comunidades são o Acre e Roraima, além do Distrito Federal. (PROGRAMA
BRASIL QUILOMBOLA, 2013, p.13).
30
É sabido que essa luta não foi nada fácil e que as mudanças nas leis do Brasil
teriam que acontecer: Com a constituição de 1898, ocorreu uma mudança considerável,
pois a partir dela foram criadas leis e regras para a melhoria de vida de um modo geral,
fortalecendo assim todas as comunidades tradicionais quilombolas. Vejamos algumas
dessas mudanças, conforme o PBQ,
Constituição Federal de 1988 Artigos 215 e 216 da Constituição Federal –
Direito à preservação de sua própria cultura; Artigo 68 do ADCT – Direito à
propriedade das terras de comunidades remanescentes de quilombos.
Convenção 169 da OIT (Dec. 5051/2004) – Direito à autodeterminação de
Povos e Comunidades Tradicionais. Lei nº 12.288, de 20 de julho de 2010 –
Estatuto da Igualdade Racial Decreto nº 4.887, de 20 novembro de 2003 –
Trata da regularização governamentais. Decreto nº 6040, de 7 de fevereiro de
2007 - Institui a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos
Povos e Comunidades Tradicionais. Decreto nº 6261, de 20 de novembro de
2007 – Dispõe sobre a gestão integrada para o desenvolvimento da Agenda
Social Quilombola no âmbito do Programa Brasil Quilombola. Portaria
Fundação Cultural Palmares nº 98 de 26 de novembro de 2007 - Institui o
Cadastro Geral de Remanescentes das Comunidades dos Quilombos da
Fundação Cultural Palmares, também autodenominadas Terras de Preto,
Comunidades Negras, Mocambos, Quilombos, dentre outras denominações
congêneres. Instrução Normativa INCRA nº 57, de 20 de outubro de 2009 –
Regulamenta o procedimento para identificação, reconhecimento,
demarcação, desintrusão, titulação e registro das terras ocupadas por
remanescentes das comunidades dos quilombos. (PROGRAMA BRASIL
QUILOMBOLA, 2013, p.15).
Baseados nesses decretos de leis surgiram também regras a serem cumpridas por
aquelas comunidades que pretendessem o registro como quilombola e o reconhecimento
junto aos órgãos responsáveis do país. Aqui no Brasil, os principais órgãos responsáveis
em aprovar e emitir a certificação de comunidade quilombola são, a Fundação Cultural
Palmares (FCP) e o Instituto Nacional Colonização e Reforma Agrária (INCRA). De
acordo com o P.B.Q. deverão as comunidades acolitar os seguintes trâmites:
A comunidade deve ingressar com a solicitação junto à Fundação Cultural
Palmares obedecendo aos seguintes passos: 1) Encaminhar solicitação ao
Presidente da Fundação Cultural Palmares juntamente com: b) Relato
sintético da trajetória do grupo (história da comunidade); absoluta de seus
membros; e d) No caso de não haver associação na comunidade, legalmente
constituída, a Ata de reunião convocada para tratar de assunto relativo a auto-
maioria dos seus moradores, acompanhada de lista de presença, devidamente
assinada.
O segundo passo é:
Encaminhar à Superintendência Regional do INCRA do seu Estado uma
solicitação de abertura de procedimento administrativo para Palmares; Base
Legal: Decreto nº 4.887/2003; e Instrução Normativa 57/ Incra, de 20 de
outubro 2009. (Programa Brasil Quilombola, 2013, p. 20).
Assim, essa titulação e registro, junto aos órgãos competentes, asseguram e
garantem os direitos antes nunca reconhecidos. O que é essencial já que os quilombos
em toda América do Sul e especialmente no Brasil, onde ocorreu grande miscigenação
31
entre vários grupos étnicos de variadas partes do mundo, então o merecimento dessas
terras é essencial para os povos quilombolas para preservação de toda sua cultura e
respeito aos seus antepassados que deram seu sangue na construção e resistência dos
quilombos!
4.1 Como se Formavam os Quilombos
Outros autores nos propõe uma reflexão sobre o período pós-colonial, pois, aqui
no Brasil (América Latina) os quilombos têm particularidades familiares referentes às
formas de abrigar os fugitivos das senzalas e fazendas espalhadas pelo território
brasileiro.
A formação de grupos de escravos fugitivos se deu em toda parte do Novo
Mundo onde houve escravidão. No Brasil estes grupos foram chamados de
quilombos ou mocambos, os quais às vezes conseguiram congregar centenas
e até milhares de pessoas. (REIS, 1996, p. 16)
Os quilombos ou mocambos como eram conhecidos, em sua maioria, tinham
uma formação lenta, pois, fugir das senzalas não era fácil, muito menos seguir um
trajeto que por muita das vezes era por mata fechada. O rebelado tinha que planejar
passo a passo. Porém existiram quilombos que se formaram rápido, devido as fugas em
massa, menos comuns.
As comunidades quilombolas no Brasil constituem territórios rurais ou
urbanos historicamente ocupados por grupos étnico-raciais cujas trajetórias
específicas presumem a ancestralidade negra e remetem a processos de
resistência à opressão histórica sofrida. (ALVES e COSTA 2017).
Nos quilombos eram acolhidos fugitivos de várias etnias, índios e até soldados
desertores da coroa portuguesa. Entretanto a administração desses quilombos era
totalmente africana, que por muitas vezes essa liderança já era de uma família de grande
importância ou já exerceu algum cargo de relevância em tribo.
Como se repetiu em muitos outros quilombos, esta população não era
constituída apenas de escravos fugidos e seus descendentes. Para ali também
convergiram outros tipos de trânsfugas, como soldados desertores, os
perseguidos pela justiça secular e eclesiástica, ou simples aventureiros,
vendedores, além de índios pressionados pelo avanço europeu. Mas
predominavam os africanos e seus descendentes. Ali, africanos de diferentes
grupos étnicos administraram suas diferenças e forjaram novos laços de
solidariedade, recriaram culturas. (REIS, 1996, p. 16)
Assim, podemos ter uma pequena ideia, de com era organizada a maioria dos
quilombos da América Latina. Como exemplo, novamente iremos usar o “Quilombo
dos Palmares”, por ter comportado a maior população e por ser o maior em extensão
territorial da América latina. E com o quilombo dos palmares não foi diferente, o
32
primeiro líder a se ter registros oficiais, no comando de Palmares foi Ganga Zumba, que
era um africano.
Ganga Zumba foi o primeiro líder do Quilombo dos Palmares, ou Janga
Angolana, no atual estado de Alagoas, Brasil. Zumba era filho da princesa
Aquatune e assumiu a posição de herdeiro do reino de Palmares e o título de
Ganga Zumba. Apesar de alguns documentos portugueses lhe darem este
nome e o traduzirem como “Grande Senhor”, ele provavelmente não está
correto. Entretanto, uma carta endereçada a ele pelo governador de
Pernambuco em 1678, que se encontra hoje nos Arquivos da Universidade de
Coimbra, chama-o de Ganazumba, que é a melhor tradução de Grande Lorde
(em Kimbundu), e portanto o seu nome correto. (GELEDÉS: 2009, acesso
em 31-03-18)
4.2 Quilombos e Estudos Pós-Coloniais
Os estudos pós-coloniais têm grande importância no cenário cultural para todos
os povos colonizados. Visto que, anteriormente não era repassado o ponto de vista do
colonizado e sim do colonizador. Só após os estudos pós-coloniais pode-se dar voz a
esses povos e ter uma visão equivalente a sua realidade, que é totalmente contraditória a
visão repassada pelo colonizador. Desta maneira, os autores Alves e Costa, nos
descrevem dois cenários conceituais: O primeiro é o pós-colonialismo, que segundo
eles:
o termo pós-colonialismo não constitui uma referência temporal simples e
fixa, mas sim uma perspectiva complexa, socialmente problematizadora e
intelectualmente envolvida na crítica ao eurocentrismo e nos processos de
colonização para compreender as novas relações globais e locais na
contemporaneidade. (ALVES; COSTA, 2017, p. 02).
O segundo, é o “ Giro Decolonial”, que:
Para tanto, rompendo com a teoria pós-colonial e os estudos culturais e
subalternos, este grupo intelectual apresenta como ponto de partida a
compreensão do sistema-mundo moderno a partir da América Latina. A
ênfase desta corrente latinoamericana, está em realizar uma crítica bem
fundamentada ao eurocentrismo epistemológico presente na produção
geopolítica do conhecimento. (ALVES; COSTA, 2017, p. 211).
A partir dos estudos pós-coloniais somos chamados para discutir sobre o
colonialismo a partir de outra ótica, aquela que comumente não trazemos para as
reflexões sobre o tema. Geralmente, trazemos uma visão eurocentrista e desta forma
não se consegue visualizar uma realidade compatível com a dos quilombos brasileiros e
latinos, pois, de modo geral, o europeu, mais especificamente os portugueses,
reputavam os negros e os índios como seres sem alma. Desta maneira, grande parte não
só da história dos quilombos, mas de toda cultura dos povos oprimidos que lá resistiram
até os dias atuais (Quilombolas), perderam-se no passado. Um dos maiores exemplos
aqui no Brasil dessa perda cultural é o próprio Quilombo da Serra da Barriga, em União
33
dos Palmares. Um dos maiores quilombos da América Latina, terra de Zumbi, e que
segundo o Ministério da Cultura, já abrigou em seu território cerca de 30 mil
quilombolas. Reconhecido como Patrimônio Cultural do MERCOSUL.
Depois do reconhecimento da Serra da Barriga como Patrimônio Cultural do
MERCOSUL, em 2017, a posse do Comitê Gestor é o próximo passo para
que se realizem um conjunto de ações para fomentar as atividades culturais e
turísticas no Parque Memorial Quilombo dos Palmares
http://www.palmares.gov.br/2018, s/p).
Essas ações serão de suma importância, pois atualmente no quilombo, em sua
parte principal onde se localiza o Parque e o Memorial a Zumbi. Lá vivem algumas
famílias e nelas restaram muito pouco ou quase nada da cultura do povo quilombola.
Em visita ao quilombo em 2017, em um dia comum, pude conversar com as famílias
que vivem lá e foi notório perceber como poucas famílias sabem muito pouco, da
história do local ou quase nada. Além disso, a maioria das famílias que ali vive é de
religião evangélica. Segundo a Fundação Cultural Palmares hoje em Alagoas tem 69
comunidades quilombolas certificadas, distribuídas em todo o estado. O número é
significativo, mas a atuação para sua valorização é pequena.
O segundo cenário é denominado pelos mesmos autores de “Giro Decolonial”,
que tem como seu principal objetivo desaprovar a visão eurocentrista e fazer uma
reflexão a partir de uma visão enfatizada latino-americana. “Contar uma história sobre
o ponto de vista do colonizado, questionando as narrativas eurocêntricas da
modernidade requer, antes de tudo, uma transformação na geografia do conhecimento”
(ALVES E COSTA; 2017, p. 212). Ou seja, olhar e ouvir o que dizem as culturas do outro
hemisfério, do Sul.
Como nos mostram os autores supracitados, esse ponto de vista parece ser o
mais racional para relatar todo o passado de histórias de luta de um povo, pois a visão
colonialista oculta toda o prisma do colonizado, o que resultou em uma forma
modernizada e continuada de segregação social para com esses povos até os dias atuais.
Ainda segundo Alves e Costa (2017):
É nesta perspectiva decolonial que devemos considerar o atual contexto das
lutas epistêmicas de povos que ficaram durante séculos marginalizados da
história, carregando as marcas de um tempo histórico perpetuado pela
colonialidade do poder (ALVES E COSTA, 2017, p. 213).
Assim podemos afirmar que essa “Geografia do Conhecimento”, produzida pelo
pós-colonialismo com bases no colonialismo, tem que ser desconstruída, sem a menor
sombra de dúvida, pois desde o período colonial que os povos quilombolas vem sendo
34
muito afetados com a perda da memória e cultura do seu povo, por conta desse modo
colonial e eurocentrista de conduzir a história.
As marcas do colonialismo podem ser vistas até os dias atuais, marginalização
dos povos quilombolas e exclusão social.
É necessário enfatizar a questão das comunidades quilombolas neste contexto
em consideração ao processo de marginalização ocorrido nas garras da lógica
colonial que impôs um sistema de exclusão e desigualdade social cujas
consequências são observáveis até os dias de hoje. (ALVES E COSTA, 2017,
p.213).
O período pós-moderno soava como algo que seria perfeito para todas as
sociedades, porém, novamente baseados em modelos do norte oriental, como apresenta
Boaventura de Sousa Santos (2008):
Quando em meados da década de 1980 comecei a usar as expressões pós-
moderno e pós-modernidade, fi-lo num contexto de um debate
epistemológico. Tinha chegado a conclusão que a ciência em geral e não
apenas as ciências sociais se pautavam por um paradigma epistemológico e
um modelo de racionalidade que davam sinais de exaustão, sinais tão
evidentes que poderíamos falar de uma crise paradigmática (SANTOS, 2004;
p. 15).
No contexto social, os anseios de modernidade também não cumpriram o papel a
eles designado. O descaso por parte do poder público é recorrente e notório, pois
atualmente na grande maioria dos casos, falta de infraestrutura básica nas comunidades
quilombolas (saneamento básico e distribuição de água potável), educação, transporte,
moradia, saúde entre outros.
Podemos afirmar que o pós-colonial tem raízes profundas na era colonial. De
acordo com Santos (2008):
Nos últimos anos tenho me convencido que aprender com o Sul é uma
exigência que, para ser levada a sério, obriga a algumas reformulações na
teorização do que venho propondo. Como referi, a designação pós-moderno
nunca me satisfez, tanto mais que a hegemonia do pós-moderno celebratório
tornou virtualmente impossível fazer vingar a alternativa do pós-moderno de
oposição. Por outro lado, a ideia de pós-modernidade aponta demasiado para
a descrição que a modernidade ocidental fez a si mesma e nessa medida pode
ocultar a descrição que dela fizeram os que sofreram a violência com que ela
lhes foi imposta (SANTOS, 2008; p. 18).
O que o autor nos mostra, mais uma vez, é o fato de a conceituação de pós-
colonial, pós-moderno e modernidade, sempre foram criados e conduzidos pela Europa.
E que essa condução teve como base o sistema escravista colonial, que por muitos e
muitos anos, era considerado como algo civilizado, não permitindo que as vítimas ou
seus descendentes formulassem tal conceito sobre seu próprio povo e lugar. Quando o
autor refere-se a “aprender com o Sul”, é exatamente permitir que os sacrificados e
35
consequentemente seus descendentes relatem toda história e cultura próprias. Deste
modo, podemos afirmar que essa concepção norte oriental nunca foi, nem será um
modelo orientador na condição civilizatória mundial e de um mundo moderno, pois,
cada lugar tem suas características próprias e consequentemente sua própria cultura.
Dessa forma, convida-nos a somar os conhecimentos do “Sul”, sem negar os
conhecimentos já produzidos pelo “Norte”, mas dando-nos a oportunidade de ampliar e
dialogar entre os dois conhecimentos. Bem por isso, apresentaremos os quilombos de
Penedo buscando demonstrar de modo mais amplo sobre sua formação e influência
cultural – bem como, nossa descrição e análise do campo também seguirá nessa
perspectiva, ouvindo e descrevendo as falas do Sul.
4.3 Caracterização dos Quilombos de Penedo-AL
Na cidade de Penedo-AL existem duas comunidades Quilombolas registradas e
reconhecidas como quilombos pela Fundação Cultural Palmares e outra, que possui
vários indícios e histórias do povo malês, porém não possui o registro de
reconhecimento (CRQs), que é Certidão de Registros Quilombolas. A primeira é a
comunidade a ser reconhecida foi a do “Oiteiro3” como é chamado formalmente, bairro
Senhor do Bomfim, é considerado um quilombo urbano. A segunda é comunidade
Tabuleiro Dos Negros, na zona rural de Penedo-AL e a terceira é mais conhecida como
“Barro Vermelho”. O Oitero tem sua Certidão Expedida às Comunidades
Remanescentes de Quilombos (CRQs) atualizadas até a Portaria Nº 146/2017,
01420.002702/2006-43 25/10/2006. E no Tabuleiro dos Negros, 01420.000138/1998-
63, 22/11/2007(CRQs,25-04-17).
A comunidade do Oiteiro foi a primeira da cidade de Penedo-AL a conseguir a
certificação da Fundação Cultural Palmares, desde 2006. Localizada à esquerda do
centro histórico de Penedo, foi erguida sobre um monte cercado pela antiga lagoa do
Oieiro, onde na entrada destaca-se uma grande escultura de concreto (Jesus
Crucificado).
Segundo a escritora Cristina Sanches (2015),
Existiu um Quilombo nos arrabaldes do Oiteiro (hoje Bairro Senhor do
Bonfim), que pouco se sabe de sua história, salvo o Maracatu que até a algum
tempo atrás era ainda uma testemunha viva proveniente dos resquícios do
famigerado Quilombo (SANCHES, 2015 s/p).
3 Embora a nomenclatura na gramática seja Outeiro – uma pequena elevação de terreno, menor que um
morro – neste trabalho iremos utilizar o termo como é conhecido na região, Oiteiro.
36
Como podemos observar são poucas ou quase nenhuma as referências sobre a história
da localidade.
Figura 6. Escultura de Concreto da Entrada Principal do Quilombo.
Fonte: Autoria Própria (2019).
A comunidade do Oiteiro em Penedo-AL, possui vários problemas enfrentados
atualmente, como a rejeição do auto reconhecimento apesar de herdeiros do povo de
matriz africana por parte da população jovem da comunidade. Outros problemas
poderiam ser apontados aqui por conta do processo de colonização, mas gostaríamos de
apontar um dos maiores crimes ambientais já cometidos, que foi o aterro da lagoa do
Oiteiro, ocorrido na década de 1980.
Nesta época minha, família morava em frente dessa lagoa e os dez primeiros
anos de vida eu morei nesse local, na Rua Ulisses Batinga, nº 249. Vi de perto a
destruição e o aterro da lagoa por parte do governo do estado. Nunca imaginei que ali
comportava tantos animais e de diferentes espécies. O material usado para aterrar a
lagoa foi areia, retirada diretamente do Rio São Francisco. Foi possível observar vários
animais como tartarugas, jacarés, peixes, aves arrastando-se para fora da lagoa
invadindo as casas na tentativa de sobreviver. Sem falar da flora e de vários moradores
que retiravam dali algum alimento para levar às suas casas, pois a lagoa era rica em
peixes e vários tipos de frutas das árvores irrigadas em sua margem. Aterraram a lagoa
alegando que seria construído um grande centro comercial de distribuição de alimentos
para gerar emprego e renda para a população. Hoje após 28 anos, o local continua sem
produtividade nenhuma.
Já o segundo quilombo a ser registrado é o do Tabuleiro dos Negros. Localizado
na zona rural de Penedo-AL, esse é um quilombo muito afastado da cidade e de difícil
37
acesso. Partindo de Penedo-AL, seguindo pela rodovia AL-110 até o povoado. Sua
distância é de exatamente 15,5 Km do centro da cidade de Penedo, segundo descrição
do Google Maps4.
Gostaríamos de relatar que até o momento desta pesquisa, são raras ou quase
nenhuma as informações bibliográficas sobre história, fundação, modo de vida entre
outras, a respeito das comunidades do Oiteiro e Tabuleiro dos Negros.
Por fim, mas não menos importante, vem o nosso objeto de estudo, a
comunidade do Bairro Santo Antônio ou como é mais conhecida Barro Vermelho, por
ser a primeira povoação de Penedo, tem como sua principal característica ser margeada
pelo Rio São Francisco e tem em seu território a última curva desse rio antes de seguir
uma reta para o oceano.
Figura 7: Ponto da Última Curva do Rio São Francisco Antes de Seguir para o Oceano.
Fonte: Autoria Própria (2018).
Atualmente, o Barro Vermelho tem como sua principal fonte de renda a pesca,
como já foi explanado anteriormente neste trabalho. Há discórdia entre os historiógrafos
a respeito da data da primeira exploração, porém sabe-se que os portugueses junto com
os africanos escravizados chegaram aqui na segunda metade do século XVI. E uma das
particularidades do bairro é ter sido abrigo dos negros Muçulmanos.
Os escravos muçulmanos traficados para o Brasil, nos primeiros anos do
século XIX, aqui chegaram em consequência da jihad do califa Usman da
Fodio sobre os haussás, e, depois iorubas que foram, em decorrência disso,
escravizados e vendidos nos portos negreiros da Baía do Benim. Em 1815,
4 (https://www.google.com.br/maps). Acesso em maio de 2018.
38
quando corre a notícia do levante malê em Alagoas, não deve ter havido
muitas dúvidas de que esses muçulmanos, assim como os rebelados baianos
do anterior deviam ser oriundos da Terra dos Haussás, na atual Nigéria.
(SOARES ; MELLO; 2006, p. 03).
Os escravos muçulmanos tinham características diferentes dos demais, eles eram
de religião maometana seguiam o livro do “Alcorão”. Segundo Duarte (1958):
A infiltração do Maometismo na África ocorreu sabidamente desde época
remota de sua atribulada história, disseminando-se posteriormente em larga
extensão de seu vasto território (DUARTE; 1958, p. 17).
Ficamos sabendo através de Abelardo Duarte, em seu livro “Negros
muçulmanos em Alagoas: Os Malés” que Penedo foi umas das maiores concentrações
negras do estado de Alagoas. Em sua maioria, os negros eram africanos puros e
recebiam intervenções da Bahia e não de Pernambuco - que era a capitania - e os cultos
muçulmanos só ocorriam em Penedo-AL. “Não houve em Maceió culto muçulmano
organizado, como se praticava naquela cidade – Penedo, que recebeu maior influência
negra da Bahia do que do Recife” (DUARTE; 1958 p. 41).
Figura 8 - Foto dos negros Malês em Penedo-AL, em 1887.
Fonte: DUARTE (1958, p.41)
O registro fotográfico acima foi feito pelo médico Carvalho Sobrinho em 1887,
no dia 24 de agosto. Esse registro trata-se da realização da “Festa dos Mortos”,
realizada em Penedo-AL, culto religioso realizado duas vezes por ano. Além de ter a
caracterização das vestes, também havia orações, cânticos e sacrifício de animais. Eram
sacrificados para o culto dois cordeiros brancos e as pessoas responsáveis pelo sacrifício
não poderiam deixar salpicar o sangue em suas mãos, o autor destaca que a
39
incompreensão das pessoas leva a confundir esse culto com o Candomblé. (DUARTE,
1958; p.40)
O “Barro Vermelho”, também é um dos bairros mais antigos do estado de
Alagoas e do Brasil. “O auto de mais antiga e autêntica Municipalidade de Penedo tem
a data de 18 de agosto de 1658, foi lavrado pelo tabelião público Manoel Furtado,
refere-se à doação de terras” (VALENTE; 1957 p. 04). O referido tabelião público
apresenta a câmara e a seus juízes ordinários uma escritura que dá plena posse de
aproximadamente dois quilômetros e meio do Pelourinho abaixo, que atualmente é a
Praça Barão de Penedo. E de mais dois quilômetros e meio do mesmo ponto
(Pelourinho), acima, onde o tabelião descreve: “correndo o rio até a Mata da Aldeia”.
Tal fato demonstra que já existia uma civilização no local.
A comunidade do “Barro Vermelho” é a primeira localidade habitada na cidade
de Penedo-AL, como vimos no parágrafo acima. A escolha da comunidade para este
presente estudo deu-se pela grande afinidade que temos com a comunidade e pelo fato
desta comunidade ser tão pouco exaltada na história da cidade e do próprio estado,
sendo que a comunidade sempre contribuiu na formação sociocultural do estado de
alagoas desde o desmembramento com Pernambuco, até os dias atuais.
40
5. DIAGNÓSTICO TURÍSTICO E SEUS MODELOS
O presente trabalho tem como seu principal objetivo diagnosticar o patrimônio
cultural existente na comunidade do “Barro Vermelho” e reconhecer sua importância
para o desenvolvimento do turismo cultural em Penedo - AL. Mas, o que seria um
diagnóstico? Esse termo muito usado na área da saúde, derivada de diagnose, é o ato de
recolher dados e analisar os problemas, achar as possíveis soluções. No entanto,
diagnóstico não é utilizado somente na medicina, em outras áreas ele também é de
grande importância, como por exemplo, no Turismo. Existem vários modelos e técnicas
de diagnóstico turístico, tendo em vista a complexidade que envolve a atividade. Para
cada situação existente é necessário um modelo específico, pois só assim, pode-se
chegar a um resultado mais aproximado do contexto.
O diagnóstico relaciona-se tanto com o conhecimento, quanto com a ação.
Para planejar e depois agir, o primeiro passo é conhecer a realidade em que
se pretende atuar e sobre ela refletir. Nesse sentido, o diagnóstico permite
orientar a ação, ajuda a definir as necessidades, a conhecer os recursos e os
obstáculos, a estabelecer prioridades. O diagnóstico é parte integrante da
ação, pois pode determinar – se assim for utilizado – o curso que ela irá
tomar. A reflexão produzida nos processos de levantamento amadurece o
conhecimento e indica ações mais coerentes com o objeto analisado
(SEBRAE, 2008, p. 23).
Como podemos observar acima o diagnóstico exerce um papel muito
importante, pois, só se pode agir depois do conhecimento do seu objeto. Esse objeto
pode assumir diferentes formatos tais como: uma localidade, região, empresas, ou até
mesmo uma determinada atividade turística. Assim, conhecendo detalhadamente as
situações adversas existentes é que se poderão tomar as decisões necessárias.
O diagnóstico turístico é uma etapa de extrema importância no planejamento
turístico, pois a partir dele serão definidas todas as ações a serem executadas, de acordo
com todos os atores envolvidos. Ele pode ser aplicado em regiões, localidades ou em
empresas onde já existe a atividade turística ou haja o interesse de implementar.
Portanto, é sabido que em nosso campo de estudo (Barro Vermelho) já são
desenvolvidas duas atividades turísticas dentro de seu território. Neste trabalho serão
nomeadas de atividade 1 e 2, simplesmente para poder descrever mais satisfatoriamente
cada uma delas. Essa contextualização é importante para que se compreenda o modelo
escolhido para esse estudo.
A atividade 1 é realizada na primeira e principal entrada da comunidade,
localizada na parte conhecida como “Rocheira”, local que muitos dos historiadores
41
afirmam ter atribuído nome a cidade de Penedo-AL, tal como Valente (1957, p. 05)
afirma: “A origem do nome de Penedo vem de uma rocha viva, onde está assentada à
margem pelo autor esquerda do rio com ramificações até Paulo Afonso”.
O autor refere-se a uma grande ramificação de rochedos onde a cidade encravou
seus alicerces e se desenvolveu. Em seguida mostraremos uma foto atual do local exato.
Figura 9 – Ramificação de Rochedos do Barro Vermelho
.
Fonte: Autoria Própria (2018).
Neste local já é desenvolvido o turismo cultural e pedagógico, trata-se de um dos
atrativos turísticos do centro histórico, sendo assim, faz parte de todos os roteiros
desenvolvidos pelos agentes de informações que atuam no centro histórico da cidade.
A atividade 2 é localizada a aproximadamente 650 metros de distância da
“Rocheira”, em um dos portos existentes no bairro, atualmente mais conhecido pelo
nome de um morador ilustre do bairro, Luiz, apelidado de “Bocada”. No local, há um
restaurante muito antigo e o porto atualmente é mais conhecido dentro e fora do bairro
como o porto do “Luizinho Bocada”
42
Figura 10. Porto do Luizinho Bocada.
Fonte: Autoria Própria (2018).
Neste ponto específico, os turistas, visitantes e até a população local procuram
os barqueiros, a fim de realizarem passeios de barco ou até mesmo, para passar um dia
de lazer em alguma das ilhas da localidade. Configurando-se como Turismo Náutico.
Uma das ilhas mais procuradas é a da “Pedra de São Pedro”. É importante destacar que
o serviço de transporte é realizado pelos barqueiros locais e pescadores que pescam
embarcados, pois não existem agências receptoras de turismo que ofereçam esse tipo de
serviço, por isso é tudo de modo informal.
Logo, entendemos que o planejamento é importante para pensarmos o turismo
na localidade, colaborando na conservação, preservação dos recursos naturais e
culturais. Por isso, vamos entendendo melhor o processo de escolha de um modelo de
planejamento.
5.1 Modelos e Escolha Para Pesquisa
Para cada situação existe um modelo que mais se adequa ao planejamento, no
turismo não é diferente. As atividades turísticas são múltiplas e variadas, por isso exige
precisão na escolha de um modelo, mostraremos dois modelos de diagnósticos turísticos
bem utilizados.
Começaremos com um modelo bastante utilizado por empresas comerciais de
diferentes tipos e também na área turística. O modelo SWOT investiga os pontos fortes
e fracos de um lugar ou região.
43
A técnica SWOT é uma ferramenta utilizada para fazer análise de ambientes.
É empregada em processos de planejamento estratégico, avaliação da
situação da organização e de sua capacidade de competição no mercado. Essa
técnica contribui para formação de estratégias competitivas através da
identificação dos pontos fortes e pontos fracos, que são os fatores internos da
organização, e as oportunidades e ameaças, que são os fatores externos da
organização (SILVEIRA, 2001, p. 209).
Esse modelo, visa às oportunidades e as ameaças de determinado ambiente, pois
dessa forma pode-se visualizar todas as ameaças e trabalhar no sentido de eliminá-las
ou minimizá-las o máximo possível, já com as oportunidades deve-se tentar e conseguir
maximizar o quanto for viável.
A análise SWOT é um sistema simples utilizado para posicionar ou verificar
a posição estratégica da empresa ou, neste caso, de segmento, no ambiente
em questão. É uma sigla oriunda do inglês e é um acrônimo de forças
(Strengths), fraquezas (Weaknesses), Oportunidades (Opportunities) e
Ameaças (Threats). Assim, esta metodologia torna-se uma ferramenta ideal
no processo de gestão e monitoramento do turismo de uma determinada
localidade. (DANTAS E MELLO, 2008).
Portanto, a análise SWOT é uma excelente ferramenta de diagnóstico turístico,
realizando os pontos fortes e fracos do objeto de estudo pode-se visualizar uma tomada
de decisão precisa ser adequada para cada ambiente específico. Toda via, não será
usado em nossa que pesquisa, pois tratamos de uma comunidade e não uma empresa. O
nosso campo de pesquisa o “Barro Vermelho”, é uma comunidade histórica, relevante
em vários aspectos para a cidade de Penedo-AL e para o estado de Alagoas, por não
apresentar nenhum trabalho acadêmico especifico, na área turística referente a
comunidade e também por apresentar um grande potencial de atrativos turísticos como:
O Rio São Francisco, Grupos Culturais Populares e suas manifestações, artistas e
artesãos em suas dependências, é necessário a realização de um diagnóstico turístico.
Atualmente outro modelo bastante utilizado, na área turística é o Planejamento
Participativo, que segundo Abreu e Costa (2004),
Torna-se necessário o planejamento minucioso para o turismo para que esta
atividade possa gerar receitas, ocasionar o desenvolvimento da localidade, e,
desse modo aproveitar ao máximo os benefícios que podem ser gerados, e
ainda, minimizar os impactos negativos e maximizar os impactos positivos.
Além de promover a qualidade da área receptora, o envolvimento dos
autóctones, e inserir as premissas da sustentabilidade. Cabe ao planejador
conduzir as estratégias que melhor condizem com a realidade local, através
de dados técnicos, pesquisas com diagnósticos e previsões para o destino
turístico. E deste modo promover o crescimento econômico, mas com
responsabilidades social, econômica, cultural, ambiental e política, incluindo
os moradores e preservando da área receptora. (ABREU; COSTA, 2004,
p.06).
44
Como já vimos anteriormente, o turismo é uma atividade sociocultural, sendo
assim o planejador tem grande incumbência em oportunizar da forma mais sustentável
possível o seu desenvolvimento. Quando falamos em desenvolvimento turístico a
primeira ideia que nos vem, é a de criação de receita, porém, além da esfera econômica,
o planejador tem a mesma responsabilidade em fazer prosperar e preservar as demais
esferas, como a sociocultural e ambiental por exemplo. Planejar o turismo em
localidades de maneira participativa exige o envolvimento de todos os atores sem
restrições (Poder público, população local, iniciativa privada, sociedade civil organizada
e o terceiro setor). Esclarecem Abreu e Costa (2004):
[...] a falta de um desses componentes no sistema pode causar perdas ao
destino turístico, perdas estas que podem levar à baixa produtividade,
comprometimento da qualidade de vida dos moradores, e impactar de forma
negativa a cultura e o ambiente natural. Para evitar tais danos e perdas o setor
público tem a função de sensibilizar e unir a cadeia produtiva do turismo a
fim de que esta trabalhe alinhada aos princípios sustentáveis, além de
elaborar um planejamento onde cada um terá uma função determinada.
(ABREU; COSTA, 2004, p. 02).
O modelo de Planejamento Participativo no turismo é recente se comparado ao
desenvolvimento da atividade turística. De acordo com Araújo (ABBOTT, 1996 apud
2006, p. 154). “A participação de atores sociais no planejamento ganhou visibilidade
como uma questão política de interesse coletivo pela primeira vez na década de 1950”.
Ainda de acordo com Araújo (KEOGH, 1990; JOPPE, 1996; JAMAL; GETZ, 1997
apud 2006, p.154): “Além disso, a participação sociopolítica na criação de ações de
desenvolvimento turístico tem sido mais comum no nível local”. Portanto, desenvolver
um turismo inclusivo socialmente, viável economicamente e que cuide dos recursos
ambientais requer planejamento preferencialmente, envolvendo todos os atores
atingidos pelo turismo.
O Planejamento Participativo, também está sendo bastante divulgado e utilizado,
principalmente no Brasil, onde temos uma enorme diversidade cultural e diversos
atrativos turísticos. Tal modelo vem sendo impulsionado pelas “agências
financiadoras”, que costumam financiar projetos turísticos a molde do Banco
Interamericano de Desenvolvimento (ARAÚJO; 2006; p. 155) objetivam investimentos
mais seguros.
45
Portanto, é essencial para uma boa gestão utilizar-se de algum modelo de
Planejamento, que possui etapas a serem seguidas com rigor por toda administração
(Planejar, organizar, direcionar e controlar), essas são indispensáveis ao processo.
Segundo Chiavenato:
Planejamento é a função administrativa que define objetivos e decide sobre
os recursos e tarefas necessários para alcançá-los adequadamente. Como
principal decorrência do planejamento estão os planos. Os planos facilitam a
organização no alcance de suas metas e objetivos. Além disso, os planos
funcionam como guias ou balizamentos para assegurar os seguintes aspectos:
1. Os planos definem os recursos necessários para alcançar os objetivos
organizacionais.
2. Os planos servem para integrar os vários objetivos a serem alcançados em
um esquema organizacional que proporciona coordenação e integração.
3. Os planos permitem que as pessoas trabalhem em diferentes atividades
consistentes com os objetivos definidos. Eles dão racionalidade ao processo.
São racionais porque servem de meios para alcançar adequadamente os
objetivos traçados.
4. Os planos permitem que o alcance dos objetivos possa ser continuamente
monitorado e avaliado em relação a certos padrões ou indicadores a fim de
permitir a ação corretiva necessária quando o progresso não seja satisfatório.
(2009, p. 360).
Assim, o “plano”, por ser um efeito do planejamento é de suma importância no
desenvolvimento turístico. Já que na atividade turística estaremos trabalhando com
localidades e pessoas de diferentes culturas e que a menor falha pode se tornar uma
tragédia para ambos os lados (Receptor e Turista).
Na área turística o Planejamento também é muito utilizado e de acordo com
Abreu e Costa:
O planejamento do turismo é uma medida que pode contribuir para o uso
adequado dos espaços, além de ser uma ferramenta que envolve toda
localidade afetada pelo desenvolvimento do turismo. Não basta planejar, é
preciso acompanhar e avaliar a execução, deve-se, também, adequar o
planejamento a realidade do destino turístico (2014, p. 05).
Como podemos observar, o trabalho do planejamento vai muito além do ato de
planejar. É preciso um acompanhamento de todos os processos e principalmente que
esses processos estejam ajustados com a vida do lugar a ser explorado.
Outra concepção bastante utilizada entre os autores da área é a de Arnstein
(2002), que afirma:
Minha resposta à pergunta central o que é participação se resume à
constatação de que participação cidadã constitui um sinônimo para poder
46
cidadão. Participação é a redistribuição de poder que permite aos cidadãos
sem-nada, atualmente excluídos dos processos políticos e econômicos, a
serem ativamente incluídos no futuro. Ela é a estratégia pela qual os sem-
nada se integram ao processo de decisão acerca de quais as informações a
serem divulgadas, quais os objetivos e quais as políticas públicas que serão
aprovadas, de que modo os recursos públicos serão alocados, quais
programas serão executados e quais benefícios, tais como terceirização e
contratação de serviços, estarão disponíveis. Resumindo, a participação
constitui o meio pelo qual os sem-nada podem promover reformas sociais
significativas que lhes permitam compartilhar dos benefícios da sociedade
envolvente (ARNSTEIN; 2002, p. 01).
Desta forma, nossa pesquisa utilizará o modelo de Planejamento Participativo,
por considerá-lo o mais adequado ao nosso campo de estudo e aos objetivos aqui
propostos. Isso porque a comunidade é uma das mais importantes para a cidade de
Penedo-AL, com grande riqueza cultural, o que um modelo mais abrangente consegue
alcançar. Por fim, por acreditarmos que o Planejamento Participativo pode incluir todas
as classes sociais no seu desenvolvimento, em que as diversas vozes poderão se fazer
presentes.
47
6. METODOLOGIA
Neste estudo foi desenvolvida a pesquisa exploratória, que permite a
aproximação entre o pesquisador e o fenômeno a ser estudado, na tentativa de captar
informações precisas e de grande relevância sobre o objeto de estudo. Pois, “As
pesquisas exploratórias têm como principal finalidade desenvolver, esclarecer e
modificar conceitos e ideias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos
ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores”. (GIL, 2008, p.27)
Em primeiro lugar, foi construída uma base teórica sobre Patrimônio Cultural,
Turismo Cultural e Comunidades Quilombolas. A fim de alcançar alguns dos conceitos
relativos aos temas supracitados e com o intuito de ampliar a compreensão da tônica,
observando as interações entre as partes envolvidas. Posteriormente foi desenvolvido
um estudo de campo, reconhecendo aspectos iguais do bairro, como história,
localização, condições socioeconômicas. Assim como, dos aspectos específicos quanto
ao nosso interesse de pesquisa, como patrimônios culturais.
Os estudos de campo procuram muito mais o aprofundamento das questões
propostas do que a distribuição das características da população segundo
determinadas variáveis. Como consequência, o planejamento do estudo de
campo apresenta muito maior flexibilidade, podendo ocorrer mesmo que seus
objetivos sejam reformulados ao longo do processo de pesquisa. (GIL; 2008,
p. 57)
O estudo de campo oferece flexibilidade maior para a pesquisa e seus
pesquisadores. Quanto maior a aproximação do pesquisador com o agente da pesquisa,
melhor será o seu resultado. Desta maneira, nesse estudo será utilizada também a
técnica de observação participante que segundo Antônio Carlos Gil:
Consiste na participação real do conhecimento na vida da comunidade, do
grupo ou de uma situação determinada. Neste caso, o observador assume,
pelo menos até certo ponto, o papel de um membro do grupo. Daí por que se
pode definir observação participante como a técnica pela qual se chega ao
conhecimento da vida de um grupo a partir do interior dele mesmo. (GIL,
2008, p. 103)
Assim, esse trabalho foi desenvolvido por um pesquisador que tem uma relação
de vida ligada a comunidade que é o campo de estudo deste trabalho, pois toda sua
família materna é nascida, criada e residente até os dias de hoje, na comunidade
ribeirinha do “Barro Vermelho”. A maior parte da sua infância foi vivida na mesma
comunidade. Tendo residido até os oito anos em frente a “Lagoa do Oiteiro”, conhecida
e reconhecida pela Fundação Cultural Palmares como quilombo urbano. Assim sendo,
48
conhecendo e conhecido na comunidade, será utilizada a técnica de coleta de dados da
observação participante, a fim de somar informações e conhecimentos a pesquisa. Desse
modo pretende-se que essa pesquisa possa colaborar com estudos futuros estudos
futuros, caracterizando os grupos e suas respectivas manifestações culturais,
reconhecendo o interesse da população e de seus grupos culturais em trabalharem de
forma participativa com o Turismo Cultural. Pois, esse tipo de turismo for
primeiramente aceito pelos grupos e sua população e for planejado e desenvolvido de
forma sustentável com toda responsabilidade que merece esse tipo de atividade, poderá
ser de grande importância não só para economia local, mas também para a preservação
do patrimônio cultural e para que auxilie os grupos culturais através da valorização de
seu produto cultural. Dessa forma será despertado o interesse das crianças e jovens ao
aprendizado de sua própria cultura e consequentemente na perpetuação da manifestação
cultural na própria localidade, através da transmissão de saberes diminuindo o risco de
extinção de manifestações culturais de extrema importância para as comunidades.
6.1 Caracterização da Pesquisa
Esta pesquisa procurou descrever os principais pontos da história, cultura e suas
respectivas manifestações do Bairro Santo Antônio na cidade de Penedo-AL, bem
como, identificar, reconhecer e apresentar seus grupos culturais. Trata-se de uma
pesquisa exploratória de cunho participativo, assim aproximando-se do campo de
estudo e de seus atores, revelando seu real interesse em desenvolver o Turismo Cultural.
Segundo Antônio Carlos Gil:
A ciência tem como objetivo fundamental chegar à veracidade dos fatos.
Neste sentido não se distingue de outras formas de conhecimento. O que
torna, porém, o conhecimento científico distinto dos demais é que tem como
característica fundamental a sua verificabilidade. (GIL, 2008, p. 27)
Ou seja, podemos verificar as informações, dados gerados por uma pesquisa
científica.
Pesquisas exploratórias são desenvolvidas com o objetivo de proporcionar
visão geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado fato. Este tipo de
pesquisa é realizado especialmente quando o tema escolhido é pouco
explorado e torna-se difícil sobre ele formular hipóteses precisas e
operacionalizáveis (GIL, 2008, p. 46).
A escolha do campo de estudo (Barro Vermelho) e do objeto de estudo (Grupos
Culturais, artistas e artesãos) desta pesquisa foi estimulada pela afinidade com os
grupos da localidade motivando o registro de suas produções, pelo campo de estudo não
49
apresentar nenhuma pesquisa que fizesse essa caracterização em especial sobre o bairro
e também pelo interesse em contribuir com a valorização e conhecer ainda mais a
realidade cultural de uma das principais localidades produtoras de cultura alagoana. No
caso do tipo de pesquisa que escolhemos, é relevante que tenhamos maior flexibilidade
devido a abrangência de informações, conhecimentos que foram organizados e a não
existência de registros similares anteriores. Assim, esse trabalho se constitui através das
descrições de entrevistas semiestruturadas, dos depoimentos dos organizadores e
observação de cada grupo cultural, sua origem, atualidade e seus anseios futuros,
registros oficiais, fotografias e depoimentos. Na pesquisa bibliográfica, encontramos
apenas um registro de uma manifestação cultural, advindo de um grupo específico (Os
Malês), apresentado no quarto capítulo. Dessa forma, empenhamo-nos em identificar os
responsáveis por grupos culturais e seus participantes, tornando a pesquisa mais
robusta.
6.2 Ferramentas escolhidas e suas formas de aplicação
As entrevistas foram organizadas por roteiro semiestruturado e os entrevistados
foram líderes comunitários. No caso do “Barro Vermelho”, foram: Presidente da
Associação dos Pescadores e Presidente da Associação dos Moradores. Também foram
entrevistados todos os artistas e artesãos, grupos de manifestações populares e seus
respectivos líderes e o poder público (Prefeitura Municipal de Penedo). As entrevistas
foram gravadas e transcritas com autorização dos entrevistados e analisadas em uma
abordagem qualitativa, identificando os temas mais recorrentes nas respostas.
Como ferramenta de pesquisa foram utilizadas além de entrevistas
semiestruturadas, com gravação de áudio, o registro fotográfico e observação
sistemática dos grupos culturais existentes no Bairro. A observação permite que o
pesquisador vivencie de forma mais intensa a coleta de informações, o que auxilia na
sua análise.
Portanto, sistematizamos o campo de pesquisa com os grupos culturais, artistas e
artesãos populares e efetivos na comunidade, nomeadamente: Folia na 15 de Novembro,
Batucada Milionários do Samba, Bloco da Alegria, Bloco da Boneca Raquel, Grupo de
Capoeira Mandingueiros de Penedo-AL, Cavalgada de Santo Antônio, Aloísio dos
Santos (Mestre Lú), Cícero Tadeu Gomes Lyra (Tadeu dos Bonecos Gigantes) e Edézio
e Herildo (Boneca Raquel).
50
A partir desta identificação foram elaborados os questionários – com o principal
intuito de direcionamento, mas não de fechar as questões, muito mais como um roteiro.
É importante apontar que cada grupo teve um questionário específico, adaptado às suas
particularidades. Desta forma, cada entrevista constituiu-se de acordo com a intenção do
pesquisador e cada grupo, destacando especificidades na história e cotidiano dos
grupos, separadamente. As questões atribuídas aos grupos têm como intuito maior,
descrever com clareza suas manifestações como grupos culturais, sua história, trajetória,
sua condição atual, seus anseios e os demais detalhes que só poderão ser visualizados a
partir das entrevistas. Inicialmente foram efetuadas entrevistas semiestruturadas com os
líderes de cada grupo existente na comunidade, as questões atribuídas aos líderes
tiveram como intuito principal, descrever com clareza a participação de grupos culturais
na comunidade. A seguir são descritas as entrevistas realizadas. Para melhor
compreensão, as entrevistas foram gravadas em áudios e posteriormente transcritas. O
contato com os interlocutores foi feito por telefone ou visita aos seus locais de trabalho,
residência, sendo as entrevistas adequadas de acordo com a disponibilidade.
6.3 Entrevistas no Barro Vermelho.
Quadro 1: Entrevistas.
1. Entrevistado 2. Grupo Cultural 3. Data da Entrevista
Lenair Feitosa Folia na 15 28-06-2018
Zé Messias Milionários do Samba 03-08-2018
Mestre Bentinho Mandingueiros de Penedo-
AL
03-08-2018
Jackson Ventura Bloco da Alegria 15-08-2018
Alfredo Fernandes (Piau) Colônia Z12 15-082018
Jorge Augusto Cavalgada de Santo Antônio 13-09-2018
Edésio e Herildo Boneca Raquel 26-09-2018 e 25-10-2018
Mestre Lú Confecção de Barcos 25-09-2018
Tadeu dos Bonecos Artesão, Artista Plástico e
Carnavalesco.
26-09-2018
Josivan Francisco (Dodí) Artesão e Artista Plástico 02-10-2018
Poder Público Secretária de Turismo 24-10-2018
Poder Público Secretária de Cultura 22-11-2019
Fonte: Elaboração própria (2018).
51
6.4 Folia na 15
Iniciamos nossas entrevistas dia 28 de julho de 2018, com o grupo “Folia na 15”,
que nos recebeu de braços abertos, mostrando grande interesse em contribuir com nossa
pesquisa. Há exatamente um ano atrás, fui convidado pelos responsáveis para participar
de um seminário cujo tema era as “Festas Populares”, com o objetivo de arrecadar verba
para a organização da festa. A partir de então, fui conhecendo melhor o grupo “Folia na
15” e avisei que precisaria do depoimento dos organizadores para esta pesquisa. Dois
dias antes da entrevista, fui confirmar com um dos líderes do grupo e no dia marcado
fui à quitanda de Lenair Feitosa, que se localiza atualmente na principal entrada do
bairro. Como sempre, Lenair recebeu-me com um grande sorriso e logo começamos a
conversar sobre os grupos culturais do bairro e em especial, sobre o que ela faz parte.
Lenair5 reconhece que o bairro sempre teve grande diversidade cultural e quando
expus sobre a minha pesquisa logo salientou que o “Barro Vermelho é o bairro em que
o povo é muito festivo e receptivo”. O grupo “Folia na 15” vem superando expectativas
pois esse grupo entrou no cenário cultural do bairro apenas em 2007 e não tinha a
intenção de crescer tanto quanto cresceu. Foi criado por amigos da mesma rua
(vizinhos) e o seu objetivo principal era comemorar os aniversários daqueles que
completavam nova idade no mês de novembro e lá residiam. Porém, o evento cresceu
de forma destacada, já é pensado sobre sua ampliação e realocá-la para outra parte da
Rua 15 de Novembro, em que o espaço é mais amplo, pois a cada ano que passa a festa
vem atingindo um público maior.
5 Entrevistada Lenair Feitosa, atual Presidente e Fundadora do Grupo Folia na 15.
52
Figura 11. Local da Festa.
Fonte. www.aquiacontece.com (2017).
A festa que foi criada para comemorar aniversários tornou-se coisa séria,
passando a resgatar brincadeiras tradicionais quase esquecidas pelos populares, tais
como: corrida de saco, quebra pote, subida no pau de sebo, entre outras. Também
passou a registrar e divulgar histórias pitorescas de antigos e atuais moradores da Rua
15 de novembro. O grupo sempre traz como atrações para a festa os artistas locais e
bandas, preservando assim o Patrimônio Imaterial do bairro.
Porém, três fatores nos chamaram a atenção: o primeiro fator foi a grande
relação que a festa tem com o turismo, pois segundo os organizadores, embora não
enxergassem essa relação à princípio com o passar do tempo observaram a sua
relevância, pois ao acontecer em um feriado nacional, ex-moradores da rua e da própria
cidade retornam não só para a festa, mas também para rever velhos amigos e parentes
que ficaram na comunidade ou na cidade, passando assim um período maior em
Penedo; o segundo fator foi o desinteresse dos órgãos públicos responsáveis visto que,
segundo a organização da festa: “a comunicação com a prefeitura é mínima e os
representantes municipais poderiam se empenhar mais, considerando que só entram em
contato com os organizadores da festa no mês em que a festa será realizada”, não
acompanhando as necessidades de organização; por fim, segundo os próprios
organizadores, o fator de destaque é a participação dos próprios moradores da rua: “sem
a aceitação dos moradores nada seria realizado”. E nos mostra a foça que tem a
população local,
53
que mesmo sem muito apoio dos órgãos gestores realizam o evento de maneira
exemplar.
6.5 Milionários do Samba
O segundo grupo a ser entrevistado foi a Batucada Milionários do Samba. De
acordo com Zé Messias, o grupo foi fundado em 12 de janeiro de 1945. É o grupo mais
antigo do bairro. Escola de samba que encantava os foliões do “Barro Vermelho” e de
toda cidade, abrilhantava os carnavais da cidade desde 1945, desfilando pelas ruas do
bairro e do centro histórico. Falar da Batucada Milionários do Samba é voltar ao tempo
de infância, pois eu acompanhava nos carnavais penedenses, quando era criança e
também na adolescência. Meu avô foi um dos integrantes da primeira formação da
bateria da Batucada Milionários do Samba, tocava tamborim. Assim como,
posteriormente, fizeram parte também três de seus filhos (as): a) Joatas, que também
integrava a bateria, tocava um instrumento conhecido por “surdo ou 105”, b) Ângela e
c) Silvania, que integrava a ala das baianas - fato que reforça a relevância de explanar
sobre a Batucada.
Como já foi dito inicialmente, conheço esses grupos há muito tempo, porém foi
minha tia quem repassou o contato do atual líder e mestre da bateria da batucada, José
Messias, um dos discípulos do fundador da batucada maestro Jorge Sousa. Conheço
José Messias ou “Zé Messias” como é mais conhecido na comunidade, há mais de 15
anos e o conheci através de meu tio Paulo Roberto de Sousa, pois são amigos de
infância. Entrei em contato com Zé Messias no dia 01 de agosto de 2018, enviei uma
mensagem de voz via aplicativo para celular, explicando o motivo da minha procura e
logo aceitou em nos conceder a entrevista. Marcamos o dia, horário e local, porém, por
motivos pessoais Zé Messias não pode comparecer. Insisti em outra mensagem e
marcamos em outra data, que foi no dia 03 de agosto de 2018, só que dessa vez Zé
Messias veio até minha residência, no centro Penedo-AL.
Ao chegar a minha residência Zé Messias pediu maiores explicações sobre o
trabalho e logo esclareci que se tratava de meu Trabalho de Conclusão de Curso. Então,
Zé Messias abriu um grande sorriso e comentou: “é muito bom ver pessoas do bairro
interessado nos grupos culturais”. Começamos a relembrar antigos carnavais, as
lembranças são inúmeras tanto para mim como folião, quanto para Zé Messias
componente do grupo. Porém, o primeiro relato não foi tão agradável de ouvir, pois a
Batucada Milionários do Samba, “o grupo completo não existe mais”, relatou o
54
entrevistado em tom de tristeza. Do grupo, existem apenas alguns componentes da
bateria e que quando são solicitadas as apresentações, Zé Messias reúne os integrantes
que estão disponíveis e realiza. Na maioria das vezes, são os próprios moradores da
comunidade que solicitam as apresentações, como ocorreu em 31 de agosto do mesmo
ano, na Festa do Santo Padroeiro do bairro: Santo Antônio.
Figura 12. Apresentação na Festa de Santo Antônio.
Fonte: Freitas, (2018).
Zé Messias, relata-nos que há seis anos o grupo não desfila mais nos carnavais
da cidade, porém os moradores e apreciadores do grupo sempre estão solicitando suas
apresentações, por esse motivo o grupo ainda não morreu. As dificuldades para manter
o grupo são inúmeras tais como falta de apoio financeiro, tanto da iniciativa privada
quanto do poder público, para a compra e manutenção de instrumentos e vestes,
principalmente. Zé Messias ainda chama nossa atenção e expõe que: “a prefeitura
ajudava com o mínimo, diante de um orçamento anual de 100%, a prefeitura contribuía
com 25%”, apresenta dessa forma para melhor compreensão do apoio dado pela
prefeitura. E da mesma forma que o grupo Folia na 15 nos relatou, a prefeitura da
cidade só costuma entrar em contato com a batucada no mês do carnaval e há mais de
dez anos que a prefeitura não entra em contato com o grupo. “Os grupos culturais de
Penedo acabam por falta de apoio dos órgãos públicos” – conforme relatou em sua
entrevista.
55
No ano de 2018, os integrantes do grupo, junto com o vereador Edivaldo Santos,
morador da comunidade, reformaram a sede do grupo e recuperaram grande parte de
seu acervo histórico.
Figura 13. Sede da Batucada.
Fonte: Autoria Própria (2018).
O grupo está planejando expor este acervo ao público na sua própria sede. É
válido ressaltar que o grupo planeja abrir inicialmente para visitação de turistas,
visitantes e população local, no mínimo duas vezes por mês.
Neste mesmo dia, 03 de agosto de 18, fui convidado por Zé Messias a participar
de uma reunião do grupo, que aconteceria às 19h na sede. Fui e participei dessa reunião,
que tratava sobre a festa do padroeiro do bairro, pois a batucada foi solicitada pela
própria comunidade para realizar uma apresentação. Assim, tinham que colocar em
comum algumas questões como horário de chegada, vestes, repertório entre outros
assuntos. Quando ia retornando para minha residência, decidi passar em uma das
academias do grupo Mandingueiros de Penedo-AL, do qual fui integrante durante oito
anos. Chegando lá, encontrei o Mestre Bentinho que é o responsável pelo grupo.
6.6 Mandingueiros de Penedo-AL
O grupo Mandingueiros de Penedo-AL, é um grupo de Capoeira Regional, que
já está atuando no bairro há mais de dez anos na comunidade, contribuindo com aulas
de capoeira, reforço escolar, acompanhamento ao aluno e distribuição de sopão,
totalmente gratuitos. Conheço Mestre Bentinho há mais de vinte anos, aprendemos
capoeira juntos, na mesma academia, sempre tivemos um bom relacionamento pessoal.
56
Mestre Bentinho nos conta que o início do grupo no bairro foi muito difícil, pois dava
aulas em um prédio do governo estadual abandonado e disputava o espaço com o tráfico
de drogas e usuários de drogas ilícitas. Contudo, o grupo conseguiu ocupar o prédio e
preservá-lo.
Figura 14. Campeonato de Capoeira Regional, realizado com crianças carentes do Barro
Vermelho .
Fonte: Autoria Própria (2015).
É importante destacar, o trabalho social executado pelo grupo Mandingueiros de
Penedo-AL. Atualmente, o grupo trabalha com 120 crianças da comunidade e
adjacências. O grupo vem se apresentando oficialmente duas vezes por ano: Festa de
Bom Jesus e no dia do Folclore. Na atual gestão municipal, “o prefeito e a Secretaria de
Cultura sempre estão investindo no grupo”. Mestre Bentinho nos chama atenção
quando questionado sobre o Turismo na cidade e nos revela que: “o grupo infelizmente
não tem relação alguma com o turismo na cidade e até gostaríamos de nos apresentar
para turistas e visitantes, porém, o público habitual do grupo são os amantes e
simpatizantes da capoeira”, revela-nos com insatisfação o Mestre. Da mesma forma que
nos coloca sobre o Turismo Cultural: “para que isso aconteça é preciso fortalecer os
57
grupos culturais, primeiramente”. Mestre Bentinho comenta conosco também que na
cidade de Penedo-AL o único grupo a possuir registro, em cartório oficial e CNPJ é o
dele.
Finalizamos nossa conversa com o Mestre com uma boa notícia, neste ano de
2018, o prefeito Marcius Beltrão, sancionou a LEI MUNICIPAL Nº 1.618/2018, que
transforma o Grupo de Capoeira Mandingueiros de Penedo, em uma instituição de
Utilidade Pública. A concessão do título, de utilidade pública, pela Prefeitura Municipal
de Penedo ao Grupo Mandingueiros, representa o reconhecimento do Poder Público ao
grupo em estar cumprindo o seu propósito perante a sociedade, levando arte, educação,
esporte e cultura em coletividade, sem fins lucrativos. O título também dá o direito ao
grupo a concorrer a editais e conseguir angariar recursos públicos. Adentrando um
pouco mais no bairro, fui à procura de um dos organizadores de outro grupo, o Bloco da
Alegria, para apenas ver sua disponibilidade do senhor Jackson Ventura e se
concordava em nos conceder entrevista.
6.7 Bloco da Alegria
Já era sabido que um dos organizadores era o Senhor Jackson Ventura6 e sua
residência está localizada na Travessa Santo Antônio, 175, sendo este também seu local
de trabalho - o senhor Jackson possui uma pequena oficina de marcenaria. Ao chegar ao
local, no dia 15 de agosto de 2018, na parte da manhã. Expliquei o motivo da minha
procura e expus a respeito da pesquisa, percebi o brilho nos olhos de Jackson e logo
concordou em colaborar com a pesquisa e ressaltou: “para mim é uma imensa satisfação
falar do Bloco da Alegria”.
Começamos a nossa entrevista com a confirmação de que o bloco não está mais
ativo, apesar de todos os seus fundadores estarem vivos. A escola de samba que
arrastava multidões nos carnavais penedenses, fundada em 1982 e com o mesmo
objetivo que iniciou a batucada Milionários do Samba, também iniciou o Bloco da
Alegria - brincar o carnaval, passando nas residências de amigos e componentes do
bloco. Ventura ainda nos coloca que no final da década de 80 e início da década de 90 o
Bloco da Alegria tornou-se um atrativo turístico, pois, pessoas de outras cidades da
região e do país, vinham conhecer o bloco na comunidade. Também segundo Ventura, o
6 Entendo como importante destacar que eu e o senhor Ventura somos primos, minha avó era irmã de seu
pai.
58
Bloco da Alegria foi o grupo que colocou o primeiro carro alegórico, no desfile
carnavalesco da cidade de Penedo-AL, construindo com recursos próprios sua sede
física, onde aconteciam os ensaios e a maioria de suas atividades. O grupo conseguiu
dispor de três carros alegóricos, nesta mesma época e atingiu cerca de quinhentos a
seiscentos integrantes.
Figura 15. Primeiro Carro Alegórico do Bloco da Alegria.
Fonte: Jackson Ventura (1994).
Na figura 15, podemos observar o Carro Alegórico, que trazia uma homenagem
ao Rio São Francisco, com a alegoria de um de seus peixes nativos, a Tubarana e do
lado esquerdo o entrevistado senhor Jackson Ventura, à direita o senhor José Ronaldo.
Em nossa conversa Ventura comentou chamando nossa atenção: “nessa época eram
poucos blocos carnavalescos e escolas de samba na cidade e região e mesmo assim a
prefeitura só apoiava no mês do carnaval”. Outro ponto de destaque foi quando o
entrevistado nos revelou as razões para a paralisação das atividades do grupo, no seu
ponto de vista: “uma divergência entre antigos e novos componentes e a falta de apoio
da prefeitura”.
59
Figura 16. Sede do Bloco da Alegria.
Fonte: Autoria Própria (2018).
Ventura indicou que a partir da gestão municipal de 1997 “a prefeitura esqueceu
daqui”. Na entrevista ficou notório seu estado emocionado a todo momento, sendo
denunciado pelos seus próprios olhos que se enchiam de lágrimas ao nos relatar sobre o
grupo. Próximo ao término de nossa entrevista, ele nos falou: “seria muito difícil ativar
o grupo novamente, porém nada é impossível”.
Nesta mesma manhã ao sair da oficina do senhor Ventura estive dividido em
dois sentimentos: primeiramente tristeza, por saber que um grupo tão magnífico
encontra-se parado. E em segundo lugar, alegria por presenciar um relato muito
emocionante sobre a história do meu próprio povo, indicando que embora adormecida
em parte, sua cultura está viva.
6.8 Associação dos Pescadores
Neste mesmo dia fui até a colônia dos pescadores, na tentativa de marcar a
próxima entrevista com o presidente da Associação dos Pescadores da Colônia Z12, o
senhor Alfredo Fernandes, mais conhecido como Piau. A sede da colônia localiza-se na
Praça Trinta e Um de Março, sem número e foi recentemente reformada com recursos
próprios.
60
Figura 16. Prédio da Colônia Z12.
Fonte: Autoria Própria (2018).
Chegando a sede da colônia, logo entrei na fila para falar com o presidente da
associação. Após alguns minutos de espera na recepção, Piau assim como Jackson,
aceita de imediato conceder a entrevista para nosso trabalho. Piau começa nos relatando
que a associação é muito antiga, desde 29 de setembro de 1929 que vem atuando na
comunidade, organizando e promovendo a Festa de São Pedro, padroeiro dos
pescadores. A festa acontece no mês de Junho e tem o seu ponto alto no dia 29. Piau
nos relata que a festa tem dois momentos cruciais: o primeiro é quando a imagem do
santo padroeiro sai em cortejo pelas ruas do bairro até o porto, conhecido atualmente
como do “Luizinho Bocada” - referido anteriormente neste trabalho – e ao chegar ao
porto começa o segundo momento, com o cortejo fluvial percorrendo toda a margem do
rio no bairro. Mais uma vez, destacamos a não existência de comunicação, muito menos
apoio da prefeitura, segundo o entrevistado. Contudo o grupo está sobrevivendo até hoje
do dízimo do mercado do peixe, em que é cobrado 10% da arrecadação dos impostos
pagos pelos comerciantes trabalhadores no mercado e de mensalidades cobradas aos
próprios pescadores.
6.9 Cavalgada de Santo Antônio
O grupo de Cavalgada de Santo António promove uma cavalgada que percorre
as principais ruas do bairro e da cidade. Como as entrevistas foram iniciadas em julho
de 2018, coincidentemente um mês antes da realização da cavalgada, decidimos esperar
o término das festividades para que assim pudéssemos coletar as informações dos
organizadores, pois todos os organizadores estavam muito atarefados com os
61
preparativos do evento. Porém, antecipei o meu interesse em entrevistar o grupo, para
um dos componentes da organização, o senhor Jorge Augusto dos Santos. Ele é um dos
moradores do bairro bastante atuante nos grupos culturais, participando e colaborando
em dois grupos. É importante ressaltar que acompanhei o início da cavalgada e percorri
seu trajeto dentro do bairro. Passada a cavalgada, procurei o senhor Santos, encontrei-o
em sua residência, localizada na Rua do Canto, no referido bairro. Marcamos a
entrevista para o dia 13 de setembro de 2018, chegando em sua residência no dia
marcado fomos recebidos e logo começamos uma conversa muito produtiva.
A Cavalgada de Santo Antônio vem sendo realizada desde de 2011, com muito
sucesso, relata-nos Santos que: “atualmente é a maior e mais organizada do baixo São
Francisco”. Fala-nos que desde sua criação, a organização da cavalgada compra um boi
em condições: “a gente escolhe o boi e rifamos, quando recebemos todo o dinheiro da
rifa, pagamos ao dono do boi”. O grupo também confecciona camisas estilizadas e
vende aos participantes, e assim realizam a festa. Inicialmente a cavalgada sai da igreja
do bairro com a benção do pároco. Da igreja segue em cortejo ao som dos aboiadores
em um mini trio elétrico, percorrendo as principais ruas do bairro.
Figura 18- Início da Cavalgada 2018.
Fonte: Autoria Própria (2018).
Conforme podemos perceber nas figuras 18 e 19, acompanham o cortejo
cavaleiros, amazonas, motociclistas, carros, caminhões e carroças.
62
Figura 19 - Cortejo
Fonte: Autoria Própria (2018).
O cortejo sai do bairro em direção à cooperativa, percorrendo outros bairros da
cidade. Chegando à cooperativa, são recebidos com um grande churrasco que é
distribuído para todos os participantes. Após o churrasco, o cortejo retorna para o bairro
e daí iniciam as atrações musicais com as bandas e artistas locais. Santos também nos
revela que a cavalgada atrai em média dois mil participantes e apesar disso, a prefeitura
não apoia em nada. Até já tentaram se comunicar com ela, porém, não obtiveram
sucesso. Santos também considera a cavalgada um grande atrativo turístico e sabe que
pessoas de outros lugares e regiões vem participar do cortejo, pois: “sempre aparecem
pessoas de outras cidades procurando saber sobre nosso evento, nós temos o maior
prazer em receber e informar essas pessoas”. E com muito conhecimento empírico nos
chama a atenção no final de nossa entrevista afirmando: “nosso bairro é privilegiado
não só por ser banhado pelo Rio São Francisco, mas, também pela diversidade cultural
de nossa comunidade”.
6.A.1 Bloco da Boneca Raquel
Quando criança brinquei muitos carnavais neste bloco e por isso, sabia que a
boneca Raquel se originou no bairro. O bloco percorria as ruas do bairro e tinha como
tradição parar em pontos estratégicos, como por exemplo, nas residências de pessoas
importantes para o bloco. Uma desses pontos era na “Praça da Alegria”, onde residia a
família de um dos criadores. Tinha o conhecimento que um dos criadores da boneca já
havia falecido, popularmente conhecido como “Vá”, este cognome, também era usado
63
pela boneca. Nos anos 1980, a maioria dos foliões que acompanhavam o bloco conhecia
e a chamava de “Boneca do Vá”.
Desde minha infância conhecia a boneca como “Boneca do Vá”, porém não
conhecia o senhor Vá, cujo nome de registro era Valdomiro Santos. No dia 25 de
setembro de 2018 fui convidado a participar de uma pescaria por um dos meus tios,
neste dia começamos a conversar sobre o meu TCC, no meio da conversa comentei
sobre a boneca e logo o senhor Edésio que estava conosco na pescaria, revelou que era
um dos criadores. De imediato pedi ao senhor Edésio a nos conceder uma entrevista e
no dia seguinte retornei para a entrevista.
Encontrei o senhor Edésio, pela manhã na beira do rio. Ele nos conta que a
boneca foi criada em 1964, por ele, o senhor Ermes e o senhor “Vá”. E tinha como seu
primeiro endereço a Rua 15 de Novembro. A boneca todos os anos desfilava no bairro e
tinha como ponto de partida o porto atualmente conhecido como do “Luizinho Bocada”.
Figura 20 - Boneca Raquel na Lavagem das Escadarias do Rosário.
Fonte: www.aquiacontece.com.br (2018).
O senhor Edésio descreveu que para a construção da estrutura da boneca foram
utilizados madeira, bambu e ferro, enquanto sua cabeça era feita de barro. Cabelos
novos eram comprados todos os anos e que sempre mudavam os cabelos e suas roupas.
A prefeitura na gestão da época ajudava a comprar os tecidos para a roupa: “A
prefeitura só ajudava nisso, o resto éramos nós mesmos que comprávamos”. Edésio nos
fala que atualmente não faz mais parte da organização do bloco, e relata que quem
organiza agora é um dos filhos de um dos criadores, o senhor Herildo.
64
Particularmente eu não conhecia o senhor Herildo, porém conheço um de seus
sobrinhos, músico da orquestra que acompanha a boneca. Assim, entrei em contato com
Herminho e pedi para fazer o contato com seu tio. E no dia 25 de outubro de 2018, fui
ao encontro do senhor Herildo. Encontrei com Herildo em sua casa na Rua Joaquim
Nabuco, no centro de Penedo-AL. O senhor Herildo nos confirma o que o senhor
Edésio nos contou, que a boneca teve seu início no Barro Vermelho e que seu pai
Hermes de Carvalho Lima, mais conhecido como “Mão”, junto com o senhor Vá, foram
os criadores da boneca. Os dois eram operários da antiga fábrica de tecido que existia
no bairro. O senhor Herildo nos relatou que a escolha do nome da boneca foi uma
homenagem a uma funcionária da fábrica, uma copeira admirada por todos por sua
beleza, “era uma mulher negra muito linda”, sendo assim, o seu primeiro nome foi
“Chica Boa”, em homenagem a beleza da funcionária que se chamava Francisca.
Porém, Francisca foi trabalhar em São Paulo e foi substituída por outra funcionária, só
que dessa vez uma mulher loira, também muito bonita, e então a boneca passou a ser
chamada de Raquel, nome da funcionária substituta de Francisca.
O senhor Herildo nos fala que, quem primeiramente fez a cabeça da boneca foi o
Mestre Santeiro Antônio Pedro. Após o falecimento do senhor Vá, a boneca ficou
abandonada, ele vendo que iria acabar o bloco, conversou com seu pai e pediu para
restaurar a boneca. Tendo o apoio e indicação de seu pai foi procurar a esposa do
falecido Vá, pois o rosto da boneca estava muito danificado por conta do abandono e
ninguém tinha um registro fotográfico, para que assim pudesse restaurar seu rosto de
maneira mais aproximada possível. E assim, Herildo procurou a esposa do falecido Vá e
conseguiu a fotografia da boneca, usando seu conhecimento e amizade pediu a um dos
discípulos do Mestre Antônio, que restaurasse o rosto da boneca. O senhor Claudionor
Higino de pronto concordou em restaurar e assim o fez.
Atualmente a boneca apresenta-se apenas no carnaval. Herildo revela que recebe
doações de amigos que não querem que o Bloco da Raquel acabe, pois até já tentou
entrar em comunicação com a prefeitura, porém sem muito sucesso. Muitos desses
colaboradores são os próprios músicos e maestros que fazem parte da orquestra de frevo
do bloco. Perto do término da entrevista, o senhor Herildo fez um apelo: “a Boneca tem
história, só não tem lugar para guardar”. Ele relata seu desejo de um local onde a
boneca pudesse ficar o ano inteiro e que esse local servisse de sede para os ensaios da
65
orquestra e para o aprendizado de novos músicos, pois a boneca é desmontada após o
carnaval e guardada entre o forro e o telhado da residência de sua casa.
6.A.2 Artistas e Artesãos
Como já referido, identificamos três artesãos na comunidade, em pleno exercício
de suas funções. Iniciamos nossas entrevistas com o senhor natural do município de Ilha
das Antas, Aloísio dos Santos ou “Mestre Lú”, como é conhecido na comunidade.
Chegar até o Mestre não foi tarefa difícil, pois, conheço Mestre Lú desde a infância.
Mestre Lú nos recebeu com todo carinho, mostrando muita gentileza em conceder
entrevista no dia 25 de setembro de 2018, em seu estaleiro. Filho de Mestre Arthur, que
também confeccionava barcos, Mestre Lú trabalha com este ofício desde 1966 e assim
que chegou no bairro em 1979, aprendeu a confeccionar barco sozinho (autodidata),
conta-nos que: “não tinha outra opção”, na época queria casar e essa era a única forma
de realizar seu casamento, pois seu pai havia dado a seus irmãos que casaram antes, os
únicos barcos que ele tinha. Assim, Aloísio Dos Santos, ficou “pescando por terra”, o
que não daria para realizar seu casamento. Conseguiu confeccionar seu primeiro barco
aos vinte e dois anos de idade e, segundo conta foi um sucesso; “Barco bom de Pano”,
referindo-se a alta velocidade do barco quando são implantadas as velas. Vendeu sua
primeira produção e logo começou a confeccionar outro.
Mestre Lu descreve que inicialmente ele confeccionava os barcos com as
seguintes matérias-primas: Braúna, Arapiraca, Cedro, Pau Darco, hoje é muito raro
encontrá-las, por conta do desmatamento ilegal. Atualmente tem sido mais usado pelo
Mestre, o Louro Canela. Tem vários trabalhos espalhados, em toda região do baixo São
Francisco. O mestre sempre gostou de corrida de barcos, e conta que: “nunca fiz um
barco para perder, eu fiz um barco de nove metros que era imbatível”. Confecciona três
modelos de barcos: 1º. “Rumbiado de Polpa e Proa, 2º. Fundo de Calçola e 3º. Fiu
Dental”, e é notável sua preferência pelo primeiro, pois, de acordo com ele é o modelo
que atinge uma velocidade maior.
66
Figura 21 - Canoa Rumiada de Poupa e Proa.
Fonte: Autoria Própria (2018).
67
Figura 22- Canoa Fundo de Calçola
Fonte: Autoria Própria (2018).
Figura 23 - Canoa Fio Dental.
Fonte: Autoria Própria (2018).
Mestre Lú também confeccionava miniaturas e deixou de confeccionar, pois a
matéria prima para a confecção das miniaturas está em extinção. Segundo o mestre era a
raiz de Timbaúba, cuja madeira é mais macia que as demais”. Ficamos sabendo que ele
sempre considerou sua profissão um atrativo turístico, porém não recebe apoio dos
órgãos responsáveis como a Prefeitura e o IPHAN e, não existe nenhum tipo de
comunicação entre ambos, comenta que: “Se existe alguém do IPHAN ou Prefeitura eu
desconheço”, afirma referindo-se a promoção e conservação do patrimônio cultural.
68
Ele se mantém de portas abertas para receber qualquer pessoa que tenha
interesse em conhecer um pouco mais de seu trabalho, porém, atualmente ninguém vem
conhecer sua arte. Além disso, Mestre Lú realiza trabalhos sob pedidos para várias
pessoas de diferentes lugares do Baixo São Francisco. A matéria-prima utilizada na
confecção dos barcos atualmente é comprada na cidade de Propriá-SE. O modelo de
barco que atualmente é mais confeccionado na região é o Rumbiado de Poupa e Proa,
por conta da velocidade e porque pode ser usado para várias atividades como, pescar,
passear e competir.
6.A.3 Tadeu dos Bonecos
Cicero Tadeu Gomes Lyra o “Tadeu dos Bonecos”, é natural de Sergipe, mas com
um ano de vida mudou-se para a cidade de Olinda-PE. Tadeu me conhece há muitos
anos, desde minha infância. Ele nos concedeu entrevista no dia 26 de setembro de 2018.
Iniciou sua vida artística aos treze anos de idade como artista plástico, carnavalesco,
escultor, artesão e folião. Ele afirmou: “não sei fazer outra coisa se não for arte”. Hoje
sobrevive de sua arte e seus bonecos são requisitados por todo o baixo São Francisco,
realiza trabalhos personalizados sob encomenda e trabalha com materiais recicláveis.
No dia de nossa entrevista Tadeu estava confeccionando um boneco para outro
município alagoano.
Figura 24 - Confecção de Bonecos Gigantes.
Fonte: Autoria Própria (2018).
Em 2016, Tadeu foi selecionado para concorrer ao registro de Patrimônio Vivo
da Cultura Alagoana, porém não foi contemplado. E nos chama a atenção, declarando
69
que: “A escolha dos contemplados depende muito de politicagem, como nunca gostei
disso, fiquei de fora”.
De acordo com a Secretaria de Cultura do Estado de Alagoas:
É considerado Patrimônio Vivo (Lei Estadual n.6513/04, alterada pela LEI Nº
7.172, DE 30 DE JUNHO DE 2010) a pessoa que detenha os conhecimentos
e técnicas necessárias para a preservação dos aspectos da cultura tradicional
ou popular de uma comunidade, estabelecida em Alagoas há mais de 20 anos,
repassando às novas gerações os saberes relacionados a danças e folguedos,
literatura oral e/ou escrita, gastronomia, música, teatro, artesanato, dentre
outras práticas da cultura popular que vivenciam.
Apesar de não ter sido contemplado, neste mesmo ano, Tadeu confeccionou o
boneco gigante mais alto do Brasil. O boneco possui cinco metros e vinte centímetros
de altura e pesa apenas vinte e cinco quilos.
Figura 25 - Maior Boneco do Brasil. "O Galante".
Fonte: www.aquiacontece.com.br (2016).
Tadeu nos fala com toda cautela que desenvolveu uma técnica para a confecção
dos bonecos com canos de P.V.C, facilitando o trabalho do “Brincante”, pessoas que
levam os bonecos. “Antes até eu fazia os bonecos com a base de vergalhões, madeira e
cimento, e os brincantes só aguentavam carregar os bonecos no máximo uma hora,
agora o brincante dança com os bonecos de três a quatro horas”.
Ainda segundo Tadeu, ele desenvolveu essa técnica observando um encanador
fazer uma instalação de canos em uma casa. “Se ele consegue fazer isso numa casa, por
que não fazer em um boneco?” Assim o fez e a técnica tornou-se um sucesso.
Atualmente ele realiza seminários por todo o Brasil e em especial em Olinda-PE, onde
70
já ministrou oficinas sobre confecção de bonecos gigantes e coloca: “até agora, não
conheci outra pessoa que trabalha com essa técnica, acho que sou o único no Brasil”.
Com tal grau de talento de Tadeu e sua longa atuação no cenário cultural da
cidade e do país, ele nos revela que não tem comunicação com a prefeitura e nem com o
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional; também não recebe nenhum tipo
de apoio de ambos. Porém Tadeu tem seu atelier aberto diariamente para qualquer
pessoa que tenha interesse em conhecer seu trabalho na Rua Tenente Mariano, número
80.
Perto do término de nossa entrevista, Tadeu nos mostra que os turistas às vezes
acham seu atelier por conta própria e por acaso, pois seu atelier está situado na principal
entrada do bairro, onde muitos turistas e visitantes passam para conhecer o rio e a
gastronomia do único restaurante instalado dentro do bairro. “Se a prefeitura nos
ajudasse divulgando nossa cidade e seus atrativos turísticos seria ótimo”, finaliza.
6.A.4 Arte em Pedra
Durante a pesquisa de campo, exatamente no dia 02 de outubro de 2018, retornava a
minha residência após uma investida, na tentativa de entrevistar o Presidente da
Associação dos Moradores, vejo à distância uma pessoa trabalhando na confecção de
esculturas em pedra. Aquela visão chamou muito a minha atenção, pois mesmo à
distância, era notável a beleza das obras de arte. Imediatamente, fui ao encontro do
artesão, chegando em sua presença reconheci que era um colega de longa data, o senhor
Josivam Francisco dos Santos, também mais conhecido por “Dodi”. Começamos a
conversar e logo expliquei sobre meu TCC e Dodi aceitou de imediato participar. O
artesão é natural de Penedo-AL e reside no bairro há mais de quarenta anos. Descobriu
seu talento para arte ainda quando criança sua primeira oportunidade foi em sua própria
casa, com desenho e pintura dos números da residência. E nos revela que sua arte “é um
dom que deus lhe deu”, quando aos dezesseis anos de vida viu outro artesão
confeccionando peças na pedra, “aquilo me despertou” – comentou.
71
Figura 26- Produto Semi Acabado e Matéria Prima Bruta.
Fonte: Autoria Própria (2018).
Dodi relatou que apenas o referido artista trabalhava com aquele tipo de matéria
prima, Pedra Calcária. Inclusive esse tipo de pedra existe em abundância nas margens
do rio que o bairro margeia principal fonte desse material.
Figura 27 - Artesão e suas Obras mais recentes
Fonte: Autoria Própria (2018).
Durante nossa conversa, Dodi descreve que não repete suas peças, todas são
únicas, tendo realizado trabalhos para outros municípios e regiões. Chegou a
confeccionar um busto de um morador ilustre para um povoado do município de
Penedo-AL, fez também um monumento para a cidade de Porto Real do Colégio,
72
construído dentro do rio, com três metros de comprimento e feito de cimento, no ano de
2000.
O artesão acredita que tem uma peça de sua autoria, nos Estados Unidos da
América, pois participou de uma feira de artesanato aqui na cidade em 1993 e um turista
americano veio com um intérprete para conhecer seu trabalho em seu estande, quando
comprou a única peça que ele não imaginava vender.
Mais uma vez é descrito que os órgãos públicos, principalmente a prefeitura, não
apoiam em nada. Porém, o senhor Március Beltrão lhe presenteou com uma máquina de
corte e uma furadeira. Dodi também é restaurador, tendo esse ofício registrado em
carteira profissional de trabalho e afirma: “Eu sei trabalhar com restauração, restauro
qualquer igreja de Penedo, mas aqui ninguém dá valor a prata da casa”. Dodi produz
suas próprias ferramentas de trabalho, adaptando-as para cada situação. Por fim, contou
sobre o desejo de repassar seu conhecimento para crianças e adolescentes do bairro, mas
para que isso acontecesse seria preciso o apoio dos órgãos governamentais.
6.A.5 Poder Público
No dia 16 de outubro de 2018 fui à procura do Secretário de Turismo da cidade
para entrevistá-lo, porém fui informado que estava em uma reunião e iria demorar
muito. Sendo assim, marcamos com sua secretária de gabinete para o dia 24 de outubro.
Ao chegar ao local e hora marcados, o senhor Pedro Soares, atual secretário de
Turismo, recebe-nos mostrando grande disponibilidade em contribuir com o nosso
trabalho. Soares nos revela que o Conselho Municipal de Turismo da gestão atual foi
quem criou o calendário de eventos da cidade. Sua criação foi em 2016 e ficou definido
que iriam apoiar eventos mensalmente com o intuito de movimentar a cidade o ano
inteiro.
Os eventos definidos são: Festa do Bom Jesus dos Navegantes, Carnaval,
Aniversário da Cidade, Moto Fest, Festas Juninas, Encontro de Teatros, Festival de
Música Alagoana, Festival Gastronômico, Festival de Cinema e Natal Iluminado.
Porém, o secretário destaca que a execução é feita pela Secretaria de Cultura. Afirma
também que não tem comunicação com os grupos culturais do Barro Vermelho pois
“quem faz esse link com os grupos é a Secretaria de Cultura”. E revela que quanto a
Cultura Penedense:
73
Trouxemos para a gente como cultura, os artesãos, porque a gente
entende que o artesanato não é cultura só, é muito mais geração de
emprego, renda e desenvolvimento do que só cultura e, se a gente não
tratar esse pessoal como empresa, como empresário para que eles não
trabalhem só com arte, assim a receita não entra (SOARES, 2018).
Quanto aos artesãos, o secretário revelou a elaboração de um cadastro com todos
eles e que realiza um programa de capacitação e diz: “foi bom, que semana passada eles
já se reuniram para formar associação”.
Afirma também que estão elaborando um projeto para os artesãos trabalharem e
complementa: “você é da cidade e sabe que a população espera muito pela prefeitura, e
não pode ser assim, acho que a prefeitura é um tutor e não o executor.” O secretário
aponta a não existência de um espaço comum para que os grupos culturais, artistas e
artesãos possam expor seus produtos, contudo a prefeitura disponibiliza sempre que
solicitado alguns dos prédios do município tais como, Casa da Aposentadoria, Ciclo
Operário, Monte Pio dos Artistas e Teatro Sete de Setembro. E quanto ao projeto dos
artesãos, pretende divulgar o trabalho deles levando-os a feiras estaduais e nacionais.
Conta-nos que nessa primeira etapa do projeto, que se iniciou há oito meses, realizaram
cursos de capacitação em quatro fundamentos: Empreendedorismo, Formatação de
Preços, Atendimento ao Público e Vendas. A Secretaria de Turismo pretende realizar
dez etapas de capacitação, para os artesãos, segundo o secretário. Pontuou ainda que
existe uma verba destinada à Secretaria de Turismo, porém não revelou o valor, como é
feito o repasse e nem onde poderíamos ter acesso a essa informação.
Na manhã do dia 19 de novembro de 2018, retornei à prefeitura para tentar uma
entrevista com a Secretária de Cultura, sendo essa a terceira investida e não consegui.
Deixei agendado com sua secretária para o dia 22 de Novembro. Na manhã desse dia
cheguei à Secretaria no horário marcado e fui recebido pela Secretária de Cultura, Aline
Costa, que tomou posse do cargo no dia 06 de outubro de 2017.
Iniciamos nossa conversa com uma apresentação formal e logo em seguida
expus o objetivo da minha procura à Secretaria de Cultura, o Trabalho de Conclusão de
Curso. Costa nos fala sobre o calendário de eventos da cidade, que tem seu início em:
janeiro; Festa do Bom Jesus dos Navegantes- segundo domingo do mês. Logo em
seguida, a partir do dia 20 de janeiro, vem a Festa de São Sebastião na comunidade
Marituba do Peixe.
74
Em fevereiro temos as Prévias Carnavalescas com o desfile de blocos de frevo
(O Molinho, Boneca Raquel, Nata dos Músicos, O Galante e Ovo da Madrugada), em
seguida tem a Lavagem do Senhor do Bonfim (Oiteiro) e o BH Folia (Beco do
Hospital). Na sexta-feira que antecede o carnaval, acontece a tradicional “Lavagem da
Escadaria da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos”. Após o carnaval,
na terceira e quarta semana de fevereiro, é realizada a Festa de Bom Jesus do povoado
Ponta Mufina. Em março é realizado a “Encenação da Paixão de Cristo”. No mês de
abril temos o aniversário da cidade celebrado com o “Festival de Cultura Do Penedo”,
que vai do dia doze ao dia dezoito. Ainda no mesmo mês temos a Festa do Senhor do
Bonfim e Semana Santa, essas duas últimas são datas móveis. No mês de maio tem a
“Festa da Coreia” (Bairro Nossa Senhora de Fátima) realizada no dia treze do corrente
mês. Junho tem as festas Juninas, Corpus Christ, Festa de Santo Antônio e Festa de São
Pedro, essas duas últimas são realizadas no “Barro Vermelho”. No mês de julho tem o
Festival de Férias no Teatro, são realizadas apresentações teatrais todos os fins de
semana. Em setembro tem o projeto “Música na Praça e a “Festa de São Miguel
Arcanjo” ( K-Martelo do Meio) está entre os dias quatorze e quinze. No mês de outubro
tem a “Festa da Padroeira Nossa Senhora do Rosário. Novembro tem o Festival de
Cinema Universitário e o “Recita Penedo”. Finalizando o calendário de eventos da
cidade, no mês de dezembro tem o “Festival de Coros de Penedo” e “Natal de Luz”.
A Secretária de Cultura ainda faz uma observação: “durante todo o ano aos
sábados podem acontecer projetos culturais com apresentações”. A respeito da
comunicação com os grupos culturais a secretária afirma só haver comunicação com o
Grupo Mandingueiros de Penedo. E nos conta: “convocamos os grupos para realizar
cadastro, porém, apareceram poucas pessoas.” A secretária nos diz que atualmente está
disponível um espaço público para que os grupos culturais possam se apresentar, que é
o Ciclo Operário, isso desde que haja uma solicitação do espaço antecipadamente. A
secretária afirma também que não há nenhum tipo de divulgação feita pela prefeitura
em favor dos bairros históricos da cidade e geralmente apoia os eventos realizados nos
bairros. Relata a existência mapeamento dos grupos culturais do Barro Vermelho,
embora tenha disponibilizado. Por fim, comentou que: “a maioria desses grupos não
está em atividade e muitas vezes tem que trazer grupos de fora da cidade, como já veio
de Maceió e Piaçabuçu”. Próximo ao final de nossa entrevista a secretária conta-nos
que o projeto da Secretaria de Cultura é fazer um resgate desses grupos e que vai tentar
75
“Trazê-los na Festa de Bom Jesus”. Além do mais, reforça que a Secretaria de Cultura
não tem uma verba destinada a seus projetos e por isso, qualquer gasto é solicitado à
Secretária de Finanças.
76
7. BARRO VERMELHO E SUA REALIDADE CULTURAL NA
ATUALIDADE
No primeiro parágrafo do capítulo anterior afirmamos que são sete grupos e três
artesãos existentes no bairro, de diferentes características Culturais. Faremos uma
rápida definição de cada vertente dos grupos e artesãos, buscando refletir sobre as
informações coletadas. É importante ressaltar que as análises foram realizadas a partir
das falas mais recorrentes nos discursos dos interlocutores. No entanto, antes de
apresentar a análise considera-se relevante explicar as características culturais de cada
grupo ou artesão entrevistado. A seguir trouxemos um quadro para melhor compreensão
do leitor.
Quadro 2: Grupos Culturais e Suas Vertentes
Grupos: Vertente:
Folia na 15 Frevo
Boneca Raquel Frevo
Milionários do Samba Samba
Bloco da Alegria Samba
Mandingueiros de Penedo-AL Capoeira Regional
Associação dos Pescadores Associação
Cavalgada Aboio
Fonte: Elaboração Própria (2019).
Quadro 3: Artesãos e Artistas
Mestre Lú Mestre Carpinteiro na Confecção de
Embarcações.
Tadeu dos Bonecos Artista Plástico, Escultor e Carnavalesco.
Dodi Artista Plástico, Restaurador de Igreja e
Imagens e Artesão.
Fonte: Elaboração Própria (2019).
Os grupos Folia Na 15 e Boneca Raquel, tem como destaque da sua manifestação
o Frevo, que segundo a Fundação Cultural Palmares:
77
É uma forma de expressão musical, coreográfica e poética, enraizada no
Recife e em Olinda, no Estado de Pernambuco. Trata-se de um gênero
musical urbano que surgiu no final do século XIX, no carnaval, em um
momento de transição e efervescência social como uma forma de expressão
popular nessas cidades. O frevo é formado pela grande mescla de gêneros
musicais, danças, capoeira e artesanato (http://www.palmares.gov7).
Notamos através das entrevistas de campo, que o grupo Folia Na 15, teve seu
início com o Frevo e com o passar do tempo foi incorporando outras manifestações e
brincadeiras. Já a Boneca Raquel, resiste há mais de cinco décadas com o Frevo.
Destacamos que a Boneca Raquel atualmente encontra-se fora do bairro, porém um de
seus criadores encontra-se residindo no bairro e todos os anos a Boneca desfila em suas
ruas. O frevo que teve sua origem em Pernambuco e surgiu em decurso do fim
processo escravocrata, como afirma Valadares,
Na passagem para o século XX, Pernambuco passou por um processo
de transformação das relações de trabalho que passam do modo
escravocrata para assalariado, iniciando-se o regime capitalista neste
estado. Histórica e politicamente, esta mudança se relaciona com
outros processos nacionais como a libertação dos escravos, em 1888 e
com a proclamação da República do Brasil, em 1889. A origem do
frevo se insere nesse processo, pois remete á criação das Corporações
de Ofícios, que começaram a surgir ainda no século XVII. Elas
congregavam artistas e artesãos, trabalhadores livres ou negros
cativos, de uma mesma categoria para defender seus interesses
(VALADARES, 2007: p, 52).
Portanto essa manifestação de características populares e negras tem em sua
junção a música, dança, luta e artesanato e foi direcionado por entidades capitalistas no
processo de industrialização cultural no Brasil. Apenas o direcionamento foi imposto
nesse processo capitalista. Assim como, no século XVII, notamos atualmente, que o
fator mais relevante para que essa perpetuação aconteça é a aceitação da população
local e seu apoio aos grupos.
Queremos destacar que o grupo Folia na 15 está registrando histórias de
moradores, através de audiovisual e fotos, um trabalho de extrema importância
principalmente para a comunidade. Pois a cultura é um aspecto de determinada
comunidade e sem ela é inexistente o referencial de reminiscência cultural (MORIN,
1991). E Também a criação própria de registros do Patrimônio Cultural da comunidade.
Reparamos que a relação do grupo com o turismo é existente e influencia bastante
exponencialmente para o turista e receptor, da mesma forma influencia na economia
7 Acesso em 01-06- 18, 8:30.
78
local, pois as festividades possibilitam essa vivência (ZEPPEL; HALL 1991 apud
PEREZ; 2009, p. 1109). Foi visto que na própria quitanda de Lina as vendas aumentam
muito acima do habitual. Outros moradores também aproveitam o dia da festa e
complementam suas rendas com vendas de alimentos e bebidas em suas próprias
residências.
Outro ponto importante foi notado na fala de Lina sobre o apoio dos artistas
locais que dão sua contribuição no dia da festa sem cobrar cachê, a exemplo de Tadeu
dos Bonecos e a Orquestra Amigos da 15, além da aceitação e apoio de outros bairros
através de seus representantes legais.
7.1 Escolas de Samba Do Bairro
Como já havíamos informado, anteriormente no “Barro Vermelho” existiam
duas escolas de samba, porém no decorrer da pesquisa, descobrimos que apenas uma, a
Batucada Milionários do Samba, ainda se apresenta no cenário cultural do bairro. E de
acordo com Ligia Vieira Cesar (1990):
A criação do samba, como gênero musical, aconteceu de forma peculiar, e
está ligada ao contexto social do início do século XX. A sociedade do Rio de
Janeiro, o maior centro cultural do país, era constituída de duas classes bem
distintas: de um lado, os aristocratas e a classe média em franca expansão
social e cultural, em decorrência do período de industrialização pelo qual
passava o pais; de outro, vivendo na parte mais antiga da cidade, amontoados
em cortiços, portuários, aventureiros, escravos recém-libertos,[...] (CESAR,
1990; p. 57).
E afirma que:
Foi na casa da Tia Ciata, contando com a presença de moradores desta parte
da cidade e aos quais se juntavam foliões, mestiços e músicos, que nasceu a
primeira música gravada levando no selo do disco a indicação “samba”, com
o nome de “Pelo Telefone”. (1916), tendo como compositor Ernesto dos
Santos, o Donga.(CESAR, 1990; p. 57).
Como podemos notar nas citações acima a classe musical encontrada no Barro
Vermelho é o samba, que teve sua origem na periferia do Rio de Janeiro e que como a
Capoeira tem como seus criadores os escravos.
A Batucada Milionária do Samba, na representação de seu atual Mestre de
Bateria: “Zé Messias”, primeiramente nos trouxe inquietação a data de sua fundação.
Segundo Zé Messias a batucada foi fundada em 1945, porém não apresentou nenhuma
documentação. .Em uma pesquisa na internet no Google Acadêmico e em sites oficiais
como o da Secretaria de Cultura do Estado, IPHAN e Fundação Cultural Palmares, não
79
encontramos nenhum registro de fundação das escolas de samba em Alagoas. Apesar
disso, encontramos em dois sites não oficiais duas listas com as escolas de samba de
alagoas e suas datas de fundação. De acordo com os sites https://pt.wikipedia.org8 e o
http://www.academiadosamba.com.br/brasil9, a escola de samba mais antiga é a Unidos
do Poço de Maceió-AL, tendo sua data de fundação em 1955. Conseguimos um registro
fotográfico, em que a Batucada Milionários do Samba foi campeã do carnaval
penedense em 1958. O que já daria o título de segunda mais antiga do estado.
Figura 28 - Registro Fotográfico em 1958.
Fonte: Memorial Maestro Jorge Souza (1958).
A Batucada Milionários do Samba exercia um papel social de muita importância
no bairro, como podemos reparar na foto acima e também no relato de Zé Messias. O
grupo atraía muitas crianças e adolescentes, ocupando assim seu tempo ocioso. É
notório a falta de comunicação dos órgãos gestores públicos, também exclamada aqui
neste trabalho por Zé Messias, quando nos contou que há mais de seis anos o grupo não
tem contato com a prefeitura municipal. Ainda assim, o grupo com a ajuda de um
vereador está se organizando para trabalhar diretamente com a atividade turística.
Um dos pontos que nos chamou a atenção foi a grande união entre o grupo e a
paixão pelo mesmo, pois como foi visto os componentes da bateria que é o que resta da
escola de samba, quando sabem que foi solicitado uma apresentação, mesmo por muitas
das vezes sem receber cachê, ficam muito satisfeitos em realizá-la. Apesar do cansaço
8 Acesso em 03-08-2018, 20:40.
9 Acesso em 03-08-2018, 20:52.
80
do trabalho diário, todos vão para os ensaios contentes, como pudemos observar no
decorrer desta pesquisa.
Destacamos que o grupo já pensa e planeja-se para trabalhar diretamente com o
Turismo Cultural, como abordado aqui neste trabalho, os componentes do grupo
realizaram algumas ações, como restauração da sede e recuperação de material
fotográfico. Desta maneira, todos os atores envolvidos devem tomar o máximo de
atenção e respeito pela comunidade. Sabendo que esse tipo de Turismo é muito
influente no modo de viver das pessoas pois vem de um legado de diferentes linhagens
e as pessoas são os guardiões do saber e fazer que conduzem todo processo cultural
(BRASIL, 2013, p. 20).
Já o Bloco da Alegria, que não faz mais apresentações, apesar de todos os seus
organizadores estarem vivos e também vários componentes da bateria, não conseguiram
perpetuar. Como podemos observar, o grupo que foi o pioneiro no baixo São Francisco
a desfilar fazendo uso de carro alegórico, que chegou a possuir seiscentos integrantes,
em menos de dez anos conseguiram construir sua sede com recursos próprios, recebia
na época, turistas, visitantes, veio a parar suas atividades. Os principais motivos que
levaram o grupo a parar suas atividades foram à falta de apoio da prefeitura e um
desentendimento entre os integrantes. Da mesma forma que a Batucada Milionários do
Samba, o Bloco da Alegria além de recepcionar turistas e visitantes desempenhava um
importante trabalho na comunidade, pois crianças, adolescentes e adultos passavam o
ano inteiro trabalhando em várias funções do grupo, tais como: Bateria, decoração e
ornamentação.
7.2 Capoeira no “Barro Vermelho”
No Barro Vermelho existe um grupo de Capoeira, apenas o Grupo
Mandingueiros de Penedo-AL, de “Capoeira Regional”, como atualmente é mais
conhecida, tem sua origem da Bahia e seu nome original é Luta Regional Baiana, que
segundo Hélio Campos:
A Capoeira Regional é uma manifestação da cultura baiana, que foi criada
nos fins da década de 1920 por Manoel dos Reis Machado (Mestre Bimba).
Ele utilizou os seus conhecimentos da capoeira primitiva e da luta
denominada batuque. A Capoeira Angola é uma manifestação primitiva que
nasceu da necessidade de libertação de um povo escravizado, oprimido,
sofrido e revoltado. (CAMPOS; 2009, p. 53)
81
É válido ressaltar que Hélio Campos foi aluno de Mestre Bimba, chegou à
academia de Bimba em 1966. No “Barro Vermelho”, esse estilo de Capoeira é
repassada por Mestre Bentinho, como foi visto anteriormente, desenvolve um grande
trabalho na comunidade.
Notamos que apenas dois grupos apresentaram o registro oficial CNPJ, um dos
grupos é o do Mestre Bentinho, que possui também o Cadastro Nacional da Pessoa
Jurídica, inventariado também no Cadastro Nacional de Capoeira. Cuja a instituição
responsável pelo cadastro é o Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional
(IPHAN). Na entrevista com Mestre Bentinho reparamos que, não é fácil a tarefa de
registrar um grupo aqui na cidade, pois a maioria dos grupos quando estão iniciando
não tem verbas para realizar esse registro em cartório oficial e atualmente na cidade de
Penedo-AL, só existe um cartório que realiza esse tipo de registro - além de todo o
processo burocrático que os responsáveis terão que enfrentar como: a elaboração do
estatuto do grupo, formatação de ata, despesas com advogado, pois sem a assinatura de
um advogado dando o parecer legal ao estatuto do grupo não será possível registrar
nenhum grupo, associação, ONG, entre outros. E também os custos com o cartório e
Receita Federal. Na cidade de Penedo-AL, seus custos ficam em torno de dois mil e
quinhentos reais, isso incluindo a assinatura de um advogado.
Porém, Mestre Bentinho com muito trabalho e garra, conquistou seu registro. E
da mesma forma o seu cadastro no IPHAN, além de seu trabalho exemplar no bairro.
Contudo foi o único que nos relatou a comunicação e apoio da prefeitura municipal, que
concedeu um título de extrema importância para o grupo.
Apesar de não ter uma relação com o turismo, o Mestre nos revelou que está
disposto a iniciar essa relação. O Grupo Mandingueiros de Penedo-AL atualmente está
em processo de expansão, tendo registrado seis filiais, espalhadas na cidade e região. E
como os demais grupos, Mestre Bentinho ressalta a importância da aceitação da
comunidade, contudo em uma de suas falas o Mestre nos coloca que para que o Turismo
Cultural venha acontecer na cidade seria essencial que a prefeitura desse o devido
suporte aos grupos. Como por exemplo, na obtenção do registro, que é um dos maiores
obstáculos para esses grupos.
7.3 Associação dos Moradores e Pescadores
82
De acordo com o Código Civil brasileiro através da Lei de Nº 10. 406 de 10 de
Janeiro de 2002, artigo 53. “Constituem-se as associações pela união de pessoas que se
organizem para fins não econômicos”. Conforme identificado, no bairro é existem duas
associações: Associação dos Pescadores e Associação dos Moradores.
A Associação dos Pescadores possui o CNPJ, desde 1929 o que a coloca como
Associação mais antiga do bairro, contudo, não possui, nenhum vínculo com a
prefeitura, realizando a festa de São Pedro com recursos próprios, da mesma forma o
grupo sobrevive. Foi notória na fala do Presidente da associação dos Pescadores a
naturalidade com que expõe sobre a ausência de apoio da prefeitura municipal e nos
expede a marca do período colonial e seus resquícios pós coloniais, já que os gestores
públicos deveriam ter um pensamento decolonial, pois esse pensamento é o mais
razoável a ser levado em consideração, todo esforço dos povos escravizados para a
preservação de sua cultura que viveu por décadas subjugada pela visão eurocentrista e
sempre às margens da história de um país (ALVES E COSTA, 2017, p. 213). Mesmo
com a ausência do apoio governamental, a associação persiste por 89 anos de forma
ativa e inspiradora para outros grupos culturais.
Já a Associação de Moradores, não conseguimos a entrevista com o atual
Presidente, mesmo sendo identificado e convidado a participar desta pesquisa não
obtivemos sucesso nas investidas. Nós entramos em contato com o senhor “Nei”, no dia
17 de Setembro de 2018, na Praça do Pirulito, centro de Penedo-AL. Porém não
obtivemos uma resposta.
7.4 Cavalgada de Santo Antônio
Como vimos no capítulo anterior, a Cavalga no Barro Vermelho é recente,
contudo sempre comportou um público considerável e ao mesmo tempo, diversificado.
Acompanham a cavalgada além de Cavaleiros e Amazonas, motociclistas, carroças
ornamentadas, carros e caminhões.
As cavalgadas são conhecidas no Brasil desde o tempo dos tropeiros,
durante o processo de ocupação do território no século XVII e XVIII. Essa
atividade de características rurais permaneceu nos estados do país,
sobretudo em áreas de pecuária extensiva e onde o uso do cavalo faz parte
do cotidiano, com finalidades religiosas e de cumprimento de promessas.
(SILVA, J. 2009, P. 03)
A origem das cavalgadas no Brasil é antiga, de acordo com Silva (2012).
83
Figura 29- Carroça Ornamentada.
Fonte: Autoria Própria (2018).
Um dos pontos que chamou nossa atenção foi o grande público apreciador neste
ano de 2018. A organização da cavalgada estimou uma média de duas mil pessoas ou
mais que participaram do cortejo, sem contar os participantes dos shows musicais.
Outro ponto muito interessante, exposto pela organização foi como a cavalgada
sobrevive, rifando um boi, eles conseguem custear quase toda a festa. A outra parte vem
da venda de camisas personalizadas. Como foi explanado neste trabalho, para que se
possa alcançar um resultado positivo, através do Turismo Cultural e Participativo é
necessário que todos os atores envolvidos façam parte do planejamento e
consequentemente das demais etapas a ser seguida, a ausência de um desses atores
expõe a prejuízos para a localidade receptora (ABREU; COSTA, 2004, p. 02).
A organização funcional da cavalgada é bastante rigorosa: todos os cavaleiros,
amazonas e demais participantes seguem enfileirados ao som das toadas que os
aboiadores recitam e, ninguém ultrapassa o outro, todos sorridentes e cumprimentando
em cada residência que faz parte do seu trajeto. Não temos como mencionar o número
exato de participantes na cavalgada de 2018, porém fiquei admirado com a quantidade
de participantes, acredito que a organização foi modesta ao especular o número de
participantes.
7.5 Artistas e Artesãos em Atividade no Bairro
Nosso trabalho primeiramente faz um breve esclarecimento entre arte e
artesanato sabendo então que: o artesanato se desenvolve desde as primeiras sociedades
84
da humanidade, sendo os mais variados tipos de artesanato, usos e significados. De
acordo com Silvana Pirillo Ramos:
O objeto artesanal tem como característica ser fruto do trabalho das mãos
humanas. São diversas mãos que, coletivamente, atribuem forma, função e
sentido a um determinado objeto, mãos de trabalhadores, dotados de saberes
e habilidades diferenciadas por meio das quais o sujeito adquire a identidade
de artesão. (RAMOS, 2013, p. 02).
Na atualidade existem várias definições para artesanato.
Assim, para discorrer sobre a conceituação de artesanato deve-se evidenciar
seu reconhecimento como ofício de transmissão do saber/fazer e sua forte
carga simbólica e humana, permitindo ao mesmo ser reconhecido pelas
políticas públicas como patrimônio imaterial, totalmente produzido pelo
homem e um campo de diversidade cultural (MACHADO, 2016, p. 56).
Artesanato tem por sua natureza um objeto construído de maneira manual,
rústica e os artesãos devem dominar todas as etapas de seu ofício.
Já a arte tem sua origem nas “Belas Artes”. Que poder ser um ator, malabarista,
pintor, músico, escritor, entre outros. Sendo assim Mestre Lú, Tadeu dos Bonecos e
Dodi se inserem neste contexto. Mestre Lú é o único artesão na confecção de barcos do
bairro, repassa seu conhecimento apenas para um de seus filhos, que atualmente
trabalha a seu lado em seu estaleiro. Notamos o interesse do Mestre tem de que as
pessoas conheçam seu trabalho, considerando como um atrativo turístico, pois também
está apto a realizar trabalhos mediante pedidos. Este artesão é de extrema importância
não só para o bairro, mas também para toda cidade de Penedo-AL, pois a confecção de
barcos de forma artesanal está cada vez mais escassa, talvez por conta da tecnologia e
principalmente pela falta de reconhecimento e valorização por parte do poder público da
comunidade em geral e empresários, tornando esse ofício cada vez menos conhecido e
prestigiado. Apesar de Mestre Lú ter mais de sessenta anos de vida e pelo seu trabalho
exigir em alguns momentos força bruta, ele encontra-se produzindo de forma esplêndida
os barcos em madeira.
Já Tadeu dos Bonecos, podemos falar que dentro das artes e artesanato é
versátil, um mestre em artes e artesanato, amante do carnaval, Tadeu trabalha de forma
inovadora, desenvolve sua técnica própria na fabricação de bonecos e pintura e
decoração. No caso da confecção de bonecos gigantes ele destaca que “nunca vi em
outro lugar do pais”, sua técnica beneficiou muito o carnaval em geral por toda região,
já que amenizou muito o peso das estruturas dos bonecos gigantes e assim permitindo
85
que a pessoa que o carrega, tenha mais mobilidade e leveza conseguindo assim passar
um tempo muito maior na sua condução. Tadeu tem ajudado imensamente na
divulgação da cidade, como por exemplo, com seu boneco gigante: “O Galante”, que
trouxe os olhares da mídia em geral, para a cidade de Penedo-AL, pois desde 2017 que
o boneco sustenta o título de maior boneco do Brasil. Tadeu e seus bonecos, também
abrilhantam e alegram todo o carnaval e outras festas na cidade e região, pois seus
bonecos são muito requisitados e estão presentes na maioria dos blocos de rua.
O senhor Josivan o “Dodi”, também trabalha com artesanato há muito tempo,
contudo é desconhecido, tanto no bairro como na cidade. Dodi destaca que só existe
mais um artesão na cidade de Penedo-AL, que trabalha com pedras, esse artesão como
pudemos reparar só produz peças únicas. Foi visto também que é restaurador de
imagens e igrejas, comprovadamente em sua carteira de trabalho, porém o artesão
sobrevive de outras atividades comerciais e não de seu artesanato. Também foi notado
na fala de Dodi que o Poder Público não dá principalmente o reconhecimento e
oportunidade a estes artesãos, quando Dodi refere-se a “Prata da Casa”, no tópico
anterior ele nos mostra todo o descaso por parte da prefeitura, pois não valorizar o
artista ou artesão é não valorizar o próprio local. Porém o que mais nos chama a atenção
foi o fato do artesão querer repassar sua arte para as crianças e jovens da comunidade,
“não consegui por falta de apoio das autoridades competentes”.
7.6 Secretarias de Cultura e Turismo
Nas entrevistas realizadas com o Secretário de Turismo e a Secretária de
Cultura, pudemos observar a falta de sincronia a respeito do calendário de eventos da
cidade. Foi notada a incerteza quanto a real programação e eventos desenvolvidos. Foi
visto que a Secretário de Turismo não tem nenhum tipo de comunicação com os grupos
culturais do “Barro Vermelho” e a Secretária de Cultura só tem comunicação com um
grupo cultural do referido bairro.
Também reparamos que não existe um espaço comum e fixo para que os grupos,
artistas e artesãos, possam se expor e expor seus produtos, havendo contradição também
sobre os possíveis locais, em que os grupos poderiam se expor, isso quando for
solicitado pelos grupos. O Secretário de turismo afirmou que sua secretaria realizou um
cadastro com todos os artesãos da cidade e que está capacitando todos os cadastrados,
para que assim possam ter maior noção de empreendedorismo.
86
Já a Secretaria de Cultura, através da Secretária Aline Costa, nos relatou que o
projeto da secretaria é resgatar os grupos que pararam suas atividades e trazê-los na
Festa de Bom Jesus dos Navegantes de 2019. Costa também afirmou que não existe
uma verba nem orçamento destinado a Secretária de cultura e que, quando a secretária
precisa de alguma verba é solicitada a secretária de finanças. Já o Secretário de Turismo
disse haver uma verba e orçamento destinado a Secretária de Turismo, entretanto não
apresentou nada que confirmasse sobre seu direcionamento - pesquisamos em todos os
canais de comunicação e informações da Prefeitura Municipal de Penedo, porém sem
sucesso algum.
7.7 Analisando o Patrimônio Cultural no Bairro
Procuramos nesse trabalho realizar uma análise, condizente com a realidade
atual, pois sabemos que essa realidade, dos grupos culturais, artistas e artesãos é
diferente para cada um deles. Desta maneira, podemos distinguir as condições, anseios e
necessidades dos atores envolvidos no cenário cultural do bairro. Hoje conhecido como
“Barro Vermelho”, teve sua primeira povoação indígena.
“Neste documento importante há referência de um terreno da Vila,
compreendido de – meia légua de terra do pelourinho para baixo, e – meia légua do
pelourinho para cima, correndo o rio até a Mata da Aldeia” (VALENTE; 1957 p. 04). O
que confirma que o Barro Vermelho antes da chegada dos portugueses já era habitado.
Também foi o local escolhido pelos negros malês, para sua moradia por volta da
segunda metade do século XVI, talvez seja daí que surgiu tanta diversidade cultural na
localidade. Pode-se conferir que na comunidade a maioria dos grupos culturais é de
matriz africana, bem como a mais antiga manifestação do local, que foi a “Festa dos
Mortos”, que teve seu último registro em 1887. Como tínhamos nos comprometido em
trabalhar um conceito de Cultura mais vasto, que comportasse o entendimento o modo
de viver de forma mais complexa, incluindo desde um simples costume cotidiano até às
manifestações populares (TYLOR, 1871 apud CASTRO 2005, p. 31).
Assim fizemos, pois pouco é falado sobre a história dos verdadeiros donos
destas terras, não só na história da cidade, mas da mesma forma que acontece no roteiro
que é desenvolvido no centro histórico da cidade, nos quais, costumeiramente, é apenas
contada a história dos monumentos católicos de forma católica, o índio em nenhum
momento é citado. E os negros são referenciados como fugitivos em apenas um
87
momento destes passeios realizados por agentes locais, o que fere a diversidade cultural
como patrimônio de uma determinada sociedade e assim Fonseca afirma:
Entretanto, é forçoso reconhecer que essa imagem, constituída pela política
de patrimônio conduzida pelo estado e por mais de sessenta anos, está longe
de refletir diversidade, assim como as tensões e conflitos que caracterizam a
produção cultural do Brasil, sobretudo a atual, mas também a do passado. (
FONSECA, 2003, p. 56)
Atualmente como podemos observar que o pensamento colonial ( no âmbito dos
estudos pós-coloniais) é recorrente perante toda diversidade cultural existente na
comunidade, pois dos seis grupos participantes deste trabalho, apenas um estabelece
comunicação e tem sido apoiado pela Prefeitura Municipal de Penedo-AL. É aí que
destacamos a importância da difusão do pensamento decolonial, o qual destaca a
importância de não reforçarmos o pensamento eurocentrista como único ou mais
importante e por isso, presente em toda nossa historiografia. A compreensão decolonial
amplia a compreensão com uma visão “Latino Americana”, que é a visão dos que aqui
estiveram antes dos exploradores (ALVES; COSTA, 2017, p. 211).
Também esse grupo, Mandigueiros de Penedo é um dos que possui registro de
pessoa jurídica (CNPJ), o outro grupo a possuir é a Associação de Pescadores, que
afirmou não haver apoio nenhum por parte da prefeitura, da mesma forma que os
artistas e artesãos em atividade no bairro. Para que fosse planejado e desenvolvido a
atividade turística de maneira participativa seria indispensável a participação de todos
os atores envolvidos (Poder público, população local, iniciativa privada, sociedade civil
organizada e o terceiro setor).
[...] a falta de um desses componentes no sistema pode causar perdas ao
destino turístico, perdas estas que podem levar à baixa produtividade,
comprometimento da qualidade de vida dos moradores, e impactar de forma
negativa a cultura e o ambiente natural. Para evitar tais danos e perdas o setor
público tem a função de sensibilizar e unir a cadeia produtiva do turismo a
fim de que esta trabalhe alinhada aos princípios sustentáveis, além de
elaborar um planejamento onde cada um terá uma função determinada.
(ABREU; COSTA, 2004, p. 02).
Como no caso da escola de samba Bloco da Alegria, que paralisou suas
atividades a mais de dez anos que conforme o senhor Jackson Ventura, essa paralisação
ocorreu por falta de apoio por parte da Prefeitura e uma discórdia entre os integrantes
do grupo, porém seus organizadores não descartam a possibilidade de uma
88
revitalização. Pois, o grupo ainda possui todos os organizadores vivos e grande parte
dos músicos da bateria, além disso, também possui ainda sua sede própria. O grupo
Milionários do Samba ainda resiste com alguns componentes da bateria, ainda realizam
apresentações e realizaram a reforma da sua sede transformando-a em um Memorial,
também foi visto que o grupo é a segunda Escola de Samba mais antiga do estado de
Alagoas.
Traremos a seguir uma tabela para melhor compreensão do leitor, da situação
dos grupos culturais da comunidade, no cenário cultural Penedense.
Quadro 4. Cenário atual dos Grupos Culturais da Comunidade.
Grupos: Ativos no Cenário
Cultural:
Apoio dos Órgãos
Responsáveis:
Folia na 15 Ativo Não Apoiado
Mandingueiros de Penedo-
AL
Ativo Recebe apoio
Cavalgada de Santo
Antônio
Ativo Não Apoiado
Boneca Raquel Ativo Não Apoiado
Bloco da Alegria Inativo Não Apoiado
Associação dos Pescadores
Z12
Ativo Não Apoiado
Fonte: Elaboração Própria (2019).
Quanto aos mestres artesãos (Tadeu dos Bonecos, Mestre Lú e Dodí), apesar do
descaso por parte do poder público, continuam suas atividades diariamente e apenas
Dodí não sobrevive de sua arte. É de extrema importância destacar que todos os atores
envolvidos neste trabalho, consideram que seus produtos são atrativos turísticos e
também gostariam da implantação na comunidade do Turismo Cultural. Destacamos
que neste trabalho foi notória a força da comunidade no apoio a todas as manifestações,
assim como os organizadores em todo processo para a realização das suas respectivas
manifestações. Todos anseiam também pelo apoio do Poder Público. Atualmente a
secretaria de cultura não tem conhecimento algum a respeito da maioria dos grupos,
artistas e artesãos. Essa condição é extremamente negativa para ambas as partes, pois a
prefeitura é um órgão executor de muita importância em uma cidade e para seus
89
respectivos grupos culturais, sua ausência pode contribuir para a paralisação de
importantes manifestações, como aconteceu com o Bloco da Alegria na própria
comunidade do Barro Vermelho.
Apesar disso, nosso trabalho de pesquisa possibilitou identificar, caracterizar,
conhecer e expor uma perspectiva da situação atual dos grupos culturais artistas,
artesãos, suas manifestações culturais e perceber que todos, com exceção do grupo de
Capoeira Regional, já tiveram ou tem alguma relação com turismo. Podemos notar
também em alguns casos, como o dos artesãos Mestre Lú e Dodí, que apesar de serem
detentores do conhecimento em seu trabalho, este ofício corre o risco de desaparecer,
pois Mestre Lú tem apenas um discípulo e Dodí até o momento não repassa seu ofício
para ninguém. Conforme observamos apenas dois artesãos trabalham com pedra
calcária na cidade e um deles é Dodí. É preciso reconhecer que em pouco tempo esses
ofícios podem desaparecer, dado que não há repasse desses conhecimentos ou
investimentos adequados. Um dos exemplos que podemos apresentar neste trabalho é o
do Bloco da Alegria, que chegou a ter seiscentos integrantes e atualmente está
paralisado. A Secretária de Cultura de Penedo, não tem conhecimento desta Escola de
Samba.
90
8. MAPA DOS ATRATIVOS TURÍSTICOS DO “BARRO VERMELHO”
Após, todo o trajeto percorrido neste trabalho, percebemos a necessidade de uma
maior valorização aos grupos culturais, sua produção cultural e suas respectivas
manifestações. Assim nos indagamos: Como poderíamos contribuir para além do
registro? Então surgiu a ideia de produzir um Mapa Interativo, pois a comunidade do
Barro Vermelho é uma das mais importantes da cidade, tanto pelo seu contexto
histórico, mas também por sua produção cultural. Além disso, atualmente ter um mapa
pontuando e identificando o patrimônio cultural e suas manifestações, seja ele material
ou imaterial vem facilitar a vida de visitantes e turistas, bem como a de quem vai
recebê-los, mostrando claramente um pouco do que a comunidade tem a oferecer em
atrativos turísticos - visto que tínhamos realizado um levantamento identificando,
caracterizando e mapeando todos os grupos, artistas e artesãos da comunidade. A
importância desta produção é indispensável para nossa pesquisa, assim como para toda
comunidade e suas manifestações culturais, a seguir apresentaremos o mapa produzido
a partir deste trabalho.
5.1 Mapa Cultural
Figura 30. Mapa do Patrimônio Cultural do Barro Vermelho.
91
Fonte: Autoria Própria (2019).
Nosso primeiro contato com o projeto OpenStreetMap10
foi através do
pesquisador da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Antônio Heleno Caldas, que o
apresentou em oficina na Universidade Federal de Alagoas em 2018, promovida pelo
curso de Turismo. Segundo o próprio site é,
um projeto fundado em 2004 com o objetivo de criar e disponibilizar dados
geográficos gratuitos. Num espírito colaborativo, milhares de utilizadores de
todo o mundo recolhem informação sobre estradas, edifícios, linhas de
comboio, florestas, rios e muita outra informação habitualmente visível em
mapas. Como os dados são recolhidos diretamente, e não copiados de outras
fontes, não existem limitações na sua utilização, tornam-se um bem comum e
livre, independentemente do objetivo final (http://openstreetmap.pt, 2004).
E como sabemos dados geográficos são essenciais no Turismo, assim também
com o espírito colaborativo decidimos aderir ao projeto, utilizando o programa
“umap.openstreetmap”. Com a utilização deste programa conseguimos desenvolver e
finalizar o Mapa do Patrimônio Cultural do Barro Vermelho. O mapa encontra-se online
para quem deseja ter acesso a suas informações, através do link:
http://umap.openstreetmap.fr/pt/. Após acessar este link o usuário deverá seguir os
seguintes passos: digitar na procura do site, Mapa do Patrimônio Cultural do Barro
Vermelho, logo aparecerá este título em negrito, clicar no título. Em seguida surgirá o
10
Acesso em 15-02-19, 21:00.
92
mapa mundial em sua tela, você irá ver uma barra de controles à esquerda de sua tela,
clique na lupa que representa a procura de locais, será apresentado do lado direito de
sua tela um espaço para digitar a localização, digite Penedo-AL Brasil e aparecerá
“town Brazil”, que significa Cidade Brasil, clique em cima e logo o Mapa do
Patrimônio Cultural do Barro Vermelho surgirá, agora é só clicar em qualquer ícone no
mapa que aparecerá o que é e como se chegar até o local.
Este Mapa interativo vem pontuando todas as sedes que abrigam os grupos
culturais, artistas e artesãos onde estão exatamente localizados. Da mesma maneira
mostra suas principais ruas, pontos de comércios (Quitandas, bares e lanchonetes).
Primeiramente está demarcada com uma linha vermelha, toda área onde estão todos os
grupos culturais, artistas e artesãos suas sedes e monumentos. Logo após em amarelo
estão localizados os artistas e artesãos especificamente. Em verde estão localizados
especificamente os monumentos e sedes dos respectivos grupos. E por fim, em
vermelho estão localizados os bares e restaurantes.
93
9. BARRO VERMELHO PLURICULTURAL - CONSIDERAÇÕES
FINAIS
A prática do turismo é geradora de renda para a população local, quando o
turismo é bem planejado. Mas não se pode omitir a formação histórica do lugar e suas
implicações. De forma geral, a comunidade do Barro Vermelho tem grande contato com
o Turismo, como já citado neste trabalho, no bairro existem dois pontos em que a
atividade turística é desenvolvida, mesmo sem muito planejamento e participação da
comunidade.
Encontramos diversas dificuldades no decorrer deste trabalho que passa pelas
poucas referências bibliográficas que abordem especificamente o Barro Vermelho. Das
entrevistas de campo, infelizmente não conseguimos entrevistar o atual Presidente
Comunitário, porém isso poderá acontecer em estudos futuros. Também este estudo não
se aprofundou na questão ecológica do local, o que podemos perceber a partir da
observação na comunidade é que todos os esgotos dos estabelecimentos comerciais e
residenciais que margeiam o rio são despejados diretamente nas suas águas, sem
nenhum tipo de tratamento e que não existe nenhum tipo de “Plano de Manejo” que
regulamente o uso de recursos locais. Porém, conseguimos apresentar e caracterizar a
partir da perspectiva dos promotores culturais e moradores em primeira mão, o bairro e
suas Manifestações Culturais, seus artistas e artesãos.
Julgamos esse trabalho relevante, principalmente para a população, já que não
foi encontrado nada que destacasse e desse voz ao Barro Vermelho. O resultado disso é
que na maioria das vezes a própria população local desconhece a história do bairro e
suas manifestações culturais. Os turistas ou visitantes estão condicionados a conhecer
apenas dois atrativos que são: A “Rocheira” e o “Porto do Luizinho Bocada”, visto que
os Agentes de Informações Turísticas apresentam rapidamente, apenas a Rocheira e em
seu discurso sobre o local é totalmente focado na história do Forte Maurício de Nassau,
construído na invasão holandesa de 1604, deixando de fora toda diversidade cultural
existente no bairro mais antigo da cidade. Assim, a população local não é beneficiada
pelo turismo.
94
Desta forma, podemos compreender que o “Barro Vermelho” tem um grande
potencial cultural e turístico, não só por estar situado às margens do São Francisco, mas,
também por ter grande diversidade artístico-cultural, por ser um lugar que seu povo tem
como uma das maiores características sua hospitalidade e apesar das barreiras diárias e
descaso do Poder Público seguem em sistema de mutirão com suas manifestações
culturais – com claro potencial para o Turismo Étnico. Por fim, quando trazemos o
olhar e a voz de uma comunidade, enriquecemos em registros, conhecimento e
caminhamos para uma valorização que se baseia na relação de reconhecimento – eu
valorizo porque conheço e me reconheço.
95
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TEIXEIRA, L.et. al- Patrimônio Arqueológico e Paleontológico de Alagoas. Maceió,
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99
APÊNDICE A – Transcrição de Entrevista aplicada aos Grupos Culturais do “Barro
Vermelho”, Folia na 15, Linair Feitosa.
Como exemplo de uma das entrevistas realizadas, trazemos a transcrição a fim
de ilustrar parte da metodologia do trabalho.
Penedo, 28 se setembro de 2018
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Meu nome é Fábio, sou discente do curso de
Turismo da Universidade Federal de Alagoas – gostaríamos primeiramente, que você se
apresenta-se.
Entrevistado (Linair Feitosa): Certo. Meu nome é Linair Feitosa, sou um dos
organizadores da festa “Folia na 15” e responsável pela comunicação interna e externa.
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Quando se deu inicio a este grupo?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Quantos integrantes havia inicialmente?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Quem foi o primeiro dirigente do grupo?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Como este grupo sobrevive?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual é a participação do grupo no calendário de
eventos da cidade?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Existe uma comunicação entre a prefeitura e o
grupo?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo recebe algum tipo de apoio da prefeitura?
Se sim, qual?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Existe alguma relação entre o grupo e turismo?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual a importância do grupo na comunidade?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Durante um ano quantas vezes o grupo apresenta-
se?
100
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual o publico que habitualmente prestigia as
apresentações?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo teria interesse em se apresentar mais
vezes, para turistas e visitantes?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo acredita que a atividade turística pode
trazer melhorias para comunidade?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo considera sua atividade um atrativo
turístico?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo gostaria que o Turismo Cultural fosse
implantado na comunidade?
APÊNDICE B – Entrevista aplicada com o Grupo Milionários do Samba. José Messias.
Penedo-AL, 03 de agosto 2018
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Meu nome é Fábio, sou discente do curso de
Turismo da Universidade Federal de Alagoas – gostaríamos primeiramente, que você se
apresenta-se.
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Quando se deu inicio a este grupo?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Quantos integrantes haviam inicialmente?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Quem foi o primeiro dirigente do grupo?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Como este grupo sobrevive?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual é a participação do grupo no calendário de
eventos da cidade?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Existe uma comunicação entre a prefeitura e o
grupo?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo recebe algum tipo de apoio da prefeitura?
Se sim, qual?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Existe alguma relação entre o grupo e turismo?
101
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual a importância do grupo na comunidade?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Durante um ano quantas vezes o grupo apresenta-
se?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual o publico que habitualmente prestigia as
apresentações?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo teria interesse em se apresentar mais
vezes, para turistas e visitantes?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo acredita que a atividade turística pode
trazer melhorias para comunidade?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo considera sua atividade um atrativo
turístico?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo gostaria que o Turismo Cultural fosse
implantado na comunidade?
APÊNDICE C – Entrevista com Grupo de Capoeira Mandingueiros de Penedo-AL,
Mestre Bentinho.
Penedo, 03 de agosto 2018
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Meu nome é Fábio, sou discente do curso de
Turismo da Universidade Federal de Alagoas – gostaríamos primeiramente, que você se
apresenta-se.
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Quando se deu inicio a este grupo?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Quantos integrantes haviam inicialmente?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Quem foi o primeiro dirigente do grupo?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Como este grupo sobrevive?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual é a participação do grupo no calendário de
eventos da cidade?
102
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Existe uma comunicação entre a prefeitura e o
grupo?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo recebe algum tipo de apoio da prefeitura?
Se sim, qual?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Existe alguma relação entre o grupo e turismo?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual a importância do grupo na comunidade?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Durante um ano quantas vezes o grupo apresenta-
se?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual o publico que habitualmente prestigia as
apresentações?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo teria interesse em se apresentar mais
vezes, para turistas e visitantes?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo acredita que a atividade turística pode
trazer melhorias para comunidade?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo considera sua atividade um atrativo
turístico?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo gostaria que o Turismo Cultural fosse
implantado na comunidade?
APÊNDICE D – Entrevista com Grupo Bloco da Alegria. Jackson Ventura.
Penedo-AL, 15 de Agosto de 2018
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Meu nome é Fábio, sou discente do curso de
Turismo da Universidade Federal de Alagoas – gostaríamos primeiramente, que você se
apresenta-se.
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Quando se deu inicio a este grupo?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Quantos integrantes haviam inicialmente?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Quem foi o primeiro dirigente do grupo?
103
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Como este grupo sobrevive?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual é a participação do grupo no calendário de
eventos da cidade?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Existe uma comunicação entre a prefeitura e o
grupo?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo recebe algum tipo de apoio da prefeitura?
Se sim, qual?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Existe alguma relação entre o grupo e turismo?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual a importância do grupo na comunidade?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Durante um ano quantas vezes o grupo apresenta-
se?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual o publico que habitualmente prestigia as
apresentações?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo teria interesse em se apresentar mais
vezes, para turistas e visitantes?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo acredita que a atividade turística pode
trazer melhorias para comunidade?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo considera sua atividade um atrativo
turístico?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo gostaria que o Turismo Cultural fosse
implantado na comunidade?
APÊNDICE D – Entrevista com a Associação dos Pescadores. Alfredo Fernandes
(Pial).
Penedo-AL, 15 de Agosto de 2018
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Meu nome é Fábio, sou discente do curso de
Turismo da Universidade Federal de Alagoas – gostaríamos primeiramente, que você se
apresenta-se.
104
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Quando se deu inicio a este grupo?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Quantos integrantes haviam inicialmente?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Quem foi o primeiro dirigente do grupo?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Como este grupo sobrevive?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual é a participação do grupo no calendário de
eventos da cidade?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Existe uma comunicação entre a prefeitura e o
grupo?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo recebe algum tipo de apoio da prefeitura?
Se sim, qual?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Existe alguma relação entre o grupo e turismo?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual a importância do grupo na comunidade?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Durante um ano quantas vezes o grupo apresenta-
se?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual o público que habitualmente prestigia as
apresentações?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo teria interesse em se apresentar mais
vezes, para turistas e visitantes?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo acredita que a atividade turística pode
trazer melhorias para comunidade?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo considera sua atividade um atrativo
turístico?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo gostaria que o Turismo Cultural fosse
implantado na comunidade?
APÊNDICE E – Entrevista com o Grupo Cavalgada de Santo Antônio. Jorge Augusto
dos Santos.
105
Penedo-AL, 13 de Setembro de 2018
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Meu nome é Fábio, sou discente do curso de
Turismo da Universidade Federal de Alagoas – gostaríamos primeiramente, que você se
apresenta-se.
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Quando se deu inicio a este grupo?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Quantos integrantes haviam inicialmente?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Quem foi o primeiro dirigente do grupo?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Como este grupo sobrevive?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual é a participação do grupo no calendário de
eventos da cidade?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Existe uma comunicação entre a prefeitura e o
grupo?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo recebe algum tipo de apoio da prefeitura?
Se sim, qual?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Existe alguma relação entre o grupo e turismo?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual a importância do grupo na comunidade?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Durante um ano quantas vezes o grupo apresenta-
se?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual o publico que habitualmente prestigia as
apresentações?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo teria interesse em se apresentar mais
vezes, para turistas e visitantes?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo acredita que a atividade turística pode
trazer melhorias para comunidade?
106
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo considera sua atividade um atrativo
turístico?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo gostaria que o Turismo Cultural fosse
implantado na comunidade?
APÊNDICE F – Entrevista com Bloco da Boneca Raquel. Edésio e Herildo.
Penedo-AL, 26 de setembro e 25 de outubro de 2018
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Meu nome é Fábio, sou discente do curso de
Turismo da Universidade Federal de Alagoas – gostaríamos primeiramente, que vocês
se apresentassem.
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Quando se deu inicio a este grupo?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Quantos integrantes haviam inicialmente?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Quem foi o primeiro dirigente do grupo?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Como este grupo sobrevive?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual é a participação do grupo no calendário de
eventos da cidade?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Existe uma comunicação entre a prefeitura e o
grupo?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo recebe algum tipo de apoio da prefeitura?
Se sim, qual?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Existe alguma relação entre o grupo e turismo?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual a importância do grupo na comunidade?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Durante um ano quantas vezes o grupo apresenta-
se?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual o publico que habitualmente prestigia as
apresentações?
107
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo teria interesse em se apresentar mais
vezes, para turistas e visitantes?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo acredita que a atividade turística pode
trazer melhorias para comunidade?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo considera sua atividade um atrativo
turístico?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo gostaria que o Turismo Cultural fosse
implantado na comunidade?
APÊNDICE F – Entrevista com Artesão: Aloisio dos Santos (Mestre Lú).
Penedo-AL, 25 de Setembro de 2018.
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Meu nome é Fábio, sou discente do curso de
Turismo da Universidade Federal de Alagoas – gostaríamos primeiramente, que vocês
se apresentassem.
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual sua origem?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Como aprendeu este oficio?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Há quanto tempo trabalha com esse oficio?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual a relação do seu artesanato com o turismo?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual o tipo de matéria prima usada no seu
trabalho?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Já realizou ou realiza trabalhos para outros locais?
Se sim, quais?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Realiza trabalhos sob pedidos?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual sua escolaridade?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Por que escolheu faz er barcos?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Onde consegue a matéria prima?
108
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual o modelo mais confeccionado?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Trabalha com miniaturas? Se sim qual o tipo de
matéria prima?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Suas miniaturas já foram levadas para outros
lugares?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos):Qual sua relação como IPHAN e Prefeitura?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Como é especificamente os barcos?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Muito obrigado Mestre!
APÊNDICE G – Entrevista com Artesão: Cicero Tadeu Gomes Lyra o “Tadeu dos
Bonecos”.
Penedo-AL, 26 de setembro de 2018.
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Meu nome é Fábio, sou discente do curso de
Turismo da Universidade Federal de Alagoas – gostaríamos primeiramente, que você se
apresentasse.
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual sua origem?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Como aprendeu este oficio?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Há quanto tempo trabalha com esse oficio?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual a relação do seu artesanato com o turismo?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual o tipo de matéria prima usada no seu
trabalho?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Já realizou ou realiza trabalhos para outros locais?
Se sim, quais?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Realiza trabalhos sob pedidos?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual sua escolaridade?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Por que escolheu fazer bonecos de carnaval?
109
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Onde consegue a matéria prima?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual o modelo mais confeccionado?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Trabalha com miniaturas?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Suas miniaturas já foram levadas para outros
lugares?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual sua relação como IPHAN e Prefeitura?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Como é especificamente fazer os bonecos?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Obrigado Tadeu.
APÊNDICE G – Entrevista com Artesão: Josivam Francisco dos Santos o “Dodí”.
Penedo-AL, 02 de outubro de 2018.
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Meu nome é Fábio, sou discente do curso de
Turismo da Universidade Federal de Alagoas – gostaríamos primeiramente, que você se
apresentasse.
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual sua origem?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Como aprendeu este oficio?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Há quanto tempo trabalha com esse oficio?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual a relação do seu artesanato com o turismo?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual o tipo de matéria prima usada no seu
trabalho?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Já realizou ou realiza trabalhos para outros locais?
Se sim, quais?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Realiza trabalhos sob pedidos?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual sua escolaridade?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Por que escolheu faz esculturas em pedra?
110
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Onde consegue a matéria prima?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual o modelo mais confeccionado?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Trabalha com miniaturas? Se sim qual o tipo de
matéria prima?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Suas miniaturas já foram levadas para outros
lugares?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual sua relação como IPHAN e Prefeitura?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Como é especificamente fazer escultura na pedra?
APÊNDICE H – Entrevista com Secretária de Turismo. Pedro Soares.
Penedo-AL, 24 de outubro de 2018.
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Meu nome é Fábio, sou discente do curso de
Turismo da Universidade Federal de Alagoas – gostaríamos primeiramente, que você se
apresentasse.
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual o Calendário de Eventos da Cidade?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Existe comunicação com os grupos culturais do
Barro Vermelho?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Quais são meios de comunicação entre a
prefeitura e os grupos culturais do bairro?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Existe alguma articulação com os esses grupos?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Existe algum espaço cultural incomum em que os
grupos culturais possam se expor?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Como a prefeitura apresenta o bairro nos meios de
comunicação?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Quais são as ações desenvolvidas pela prefeitura
para ajudar os grupos culturais do Barro Vermelho?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): A prefeitura tem um mapeamento com a
identificação e o número exato dos grupos culturais da cidade?
111
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Existe algum projeto sendo desenvolvido com os
grupos culturais da cidade realizados pela prefeitura?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Existe alguma verba no orçamento anual da
prefeitura destinada aos grupos culturais? Se sim, como é feito o repasse?
APÊNDICE I – Entrevista com a Secretária de Cultura. Aline Costa.
Penedo-AL, 22 de novembro 2018.
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Meu nome é Fábio, sou discente do curso de
Turismo da Universidade Federal de Alagoas – gostaríamos primeiramente, que você se
apresentasse.
Entrevistado (a) (Aline Costa): Meu nome é Aline Costa sou a atual Secretária de
Turismo da cidade de Penedo-AL.
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual o Calendário de Eventos da Cidade?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Existe comunicação com os grupos culturais do
Barro Vermelho?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Quais são meios de comunicação entre a
prefeitura e os grupos culturais do bairro?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Existe alguma articulação com os esses grupos?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Existe algum espaço cultural incomum em que os
grupos culturais possam se expor?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Como a prefeitura apresenta o bairro nos meios de
comunicação?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Quais são as ações desenvolvidas pela prefeitura
para ajudar os grupos culturais do Barro Vermelho?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): A prefeitura tem um mapeamento com a
identificação e o número exato dos grupos culturais da cidade?
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Existe algum projeto sendo desenvolvido com os
grupos culturais da cidade realizados pela prefeitura?
112
Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Existe alguma verba no orçamento anual da
prefeitura destinada aos grupos culturais? Se sim, como é feito o repasse?