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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE ODONTOLOGIA
CENTRO DE ORTODONTIA E ORTOPEDIA FACIAL
PROF. JOSÉ ÉDIMO SOARES MARTINS
INFLUÊNCIA DE FATORES ESQUELÉTICOS, DENTÁRIOS E
TEGUMENTARES NA POSTURA LABIAL EM REPOUSO
THIAGO DE-FREITAS VINHAS
C.D.
Dissertação apresentada à Faculdade de Odontologia da Universidade Federal da Bahia, como parte dos requisitos necessários para obtenção do Título de Especialista em Ortodontia e Ortopedia Facial.
Salvador 2008
Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca do
Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz / FIOCRUZ - Salvador - Bahia.
Vinhas, Thiago De-Freitas V785i Influência de fatores esqueléticos dentários e tegumentares na postura labial
em repouso / Thiago De-Freitas Vinhas. - 2008. 43 f.; 30 cm
Datilografado (fotocópia).
Monografia (especialização) – Universidade Federal da Bahia. Faculdade de
Odontologia. Curso de Especialização em Ortodontia e Ortopedia. 2008. Orientador: Prof. Mickelson Rio Lima de Oliveira Costa.
1. Ortodontia. 2. Selamento labial. 3.Cefalometria. 3. Incisivos superiores
I.Título.
CDU 616.314-089.23
1
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE ODONTOLOGIA
CENTRO DE ORTODONTIA E ORTOPEDIA FACIAL
PROF. JOSÉ ÉDIMO SOARES MARTINS
INFLUÊNCIA DE FATORES ESQUELÉTICOS, DENTÁRIOS E
TEGUMENTARES NA POSTURA LABIAL EM REPOUSO
THIAGO DE-FREITAS VINHAS
C.D.
ORIENTADOR: MICKELSON RIO LIMA DE OLIVEIRA COSTA
CO-ORIENTADOR: RIVAIL ALMEIDA BRANDÃO FILHO
Dissertação apresentada à Faculdade de Odontologia da Universidade Federal da Bahia, como parte dos requisitos necessários para obtenção do Título de Especialista em Ortodontia e Ortopedia Facial.
Salvador
2008
2
A meus pais,
Vera e Toncar,
Por todas as considerações, intervenções, sugestões, e o suporte
incondicional na minha vida pessoal e profissional.
Dedico.
3
AGRADECIMENTOS
A meu irmão Paulo, e irmãs Kika e Thaís, que, como parte do meu núcleo
familiar, estão presentes em todos os momentos do dia a dia.
A Andressa, por sua visão de mundo, pelo incentivo diário, amor, confiança,
cumplicidade, e toda uma vida a dois.
Aos irmãos que eu tive o prazer de escolher, Carlos César (Ceceu), Kassius
Tavares (Kaká), Leonardo Fleishmann (Leleco) e Valter Chagas (Valtinho), pela
troca de experiências, por todas as conversas e conselhos.
A Erika Guanaes (Chefa), colega de turma, irmã mais velha que eu não tive,
por ter sido sempre mais do que um ombro amigo durante nosso curso.
Ao professor Mickelson Costa, meu orientador, por toda a ajuda na
finalização dessa etapa da minha formação profissional.
À professora Cristina Cangussú, pela importantíssima contribuição na
análise estatística.
À professora Telma Martins de Araújo, pelos ensinamentos e pela
dedicação à Ortodontia, que, com certeza, serão sempre um exemplo a ser
seguido.
4
“God, give us grace to accept with serenity the things that cannot be changed, courage to change the things that should be changed, and wisdom to distinguish the one from the other”.
(Reinhold Niebuhr)
5
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO FUNDAMENTADA 6
2 PROPOSIÇÃO 13
3 MATERIAL E MÉTODO 14
4 DESENVOLVIMENTO SEQÜENCIAL DE PESQUISA
4.1 Artigo: Influência de fatores esqueléticos, dentários e
tegumentares na postura labial em repouso 19
5 CONCLUSÃO 38
REFERÊNCIAS 39
6
1. INTRODUÇÃO FUNDAMENTADA
A melhora da estética facial é vista por muitos como objetivo principal do
tratamento ortodôntico, entretanto, o conceito de estética facial difere
consideravelmente entre leigos e ortodontistas.
A obtenção de perfis agradáveis tem sido, para os especialistas, sinônimo de
êxito das metas estéticas do tratamento, entretanto, segundo Sarver e Ackerman
(2003), quando leigos são questionados quanto ao papel do ortodontista, a
maioria deles faz referência à aquisição de sorrisos mais bonitos e agradáveis.
Acrescentando outro ponto de vista a estes conceitos Bergman (1999) afirmou
que um dos objetivos do tratamento ortodôntico seria atingir e manter atratividade
facial, sendo, o diagnóstico das desarmonias faciais, essencial na melhora dos
traços de beleza.
Filosoficamente Mckoy-White et al. (2006) afirmaram que esta enorme
variabilidade no julgamento de faces agradáveis entre leigos e ortodontistas,
reside no fato de que a beleza, citando a escritora Margaret Wolf Hungerford
(1878), “está nos olhos de quem vê”, por ser um conceito essencialmente
subjetivo.
7
A relação labial do paciente é uma consideração estética fundamental,
porém, pouco abordada nas definições anteriores. Este aspecto, assim como
todas as modificações tegumentares, tem gerado na ortodontia mudanças de
abordagem, direcionando o diagnóstico e tratamento dos problemas dentofaciais,
também nos tecidos moles e não somente nas estruturas ósseas e dentárias.
Observa-se, cada vez mais, uma maior preocupação em como essas mudanças e
a interação entre tecido mole e tecido duro contribui na estética facial e nos
aspectos funcionais (ACKERMAN, BRESINGER E LANDIS, 2004; LINDAUER,
LEWIS E SHROFF, 2005; NAINI, MOSS E GRILL, 2006).
Pacientes que não apresentam toque entre os lábios em repouso, muitas
vezes tendem a respirar predominantemente pela boca. Os respiradores bucais
podem apresentar um padrão de desenvolvimento facial anormal, com aumento
da altura facial anterior e da sobressaliência (BRESOLIN et al., 1983).
Estudos sobre a influência das características dentárias e gengivais tais
como: linha do sorriso, exposição gengival, plano oclusal e corredor bucal,
dependem diretamente da avaliação da relação labial (SCOTT,
GOONEWARDENE E MURRAY, 2006).
Esta relação, que influencia diretamente no sorriso e na estética facial do
paciente, pode ser observada no sentido anteroposterior, analisando-se a
modificação da posição labial em tratamentos com ou sem extração, ou na
direção vertical, comparando-se características apresentadas em pacientes com
ou sem contato entre os lábios superior e inferior em repouso (FERRARIO et al.,
2001). Valente e Oliveira (2003) afirmaram que o estudo da morfologia
craniofacial, das bases ósseas apicais e do perfil dos tecidos moles, através da
8
radiografia cefalométrica, é fundamental na aplicação de terapêuticas que
respeitem a harmonia facial do indivíduo.
Naini, Moss e Grill (2006) enfatizaram a importância da radiografia
cefalométrica na avaliação do perfil tegumentar, através de diversas medidas e
análises, colocando assim a ortodontia como ciência de vanguarda no estudo da
face. Desta forma surgiram valores auxiliares para tornar o conceito de estética
facial mais objetivo, auxiliando na correção de desarmonias, como a posição dos
lábios em relação à face.
Durante a fase de desenvolvimento craniofacial, os lábios aumentam em
comprimento e espessura, sendo que o crescimento vertical labial tende a ser
maior que o crescimento do terço facial inferior, favorecendo o selamento labial. A
relação vertical entre lábios e dentes anteriores, particularmente os incisivos
superiores, é um fator importante relativo à estética e estabilidade do tratamento
(MAMANDRAS, 1988). Em adultos jovens as mudanças tegumentares ainda
relativas ao crescimento acompanham, no sentido vertical, as modificações
ósseas, e o conhecimento dessas modificações tem relevância no planejamento
do tratamento e na avaliação dos seus resultados (SARNÄS E SOLOW, 1980).
Gazit-Rappaport et al. (2007) afirmaram que para verificar a contribuição da
relação dentária em pacientes assimétricos é essencial que se avalie também o
componente vertical e a competência labial.
Valente e Oliveira (2003), ao avaliar radiograficamente valores normativos e
dimorfismo sexual observaram que a posição do lábio inferior no grupo masculino,
exibia significante retrusão em relação ao feminino, e o comprimento do lábio
superior possuía comprimento maior nos homens que nas mulheres, esses
valores eram representativos de boa estética em ambos os grupos.
9
No estudo de Yamaguchi et al. (2000) com uso de eletromiografia, foi
observado que as atividades musculares do lábio inferior e do mentalis eram
maiores em pacientes com maior protrusão dos incisivos superiores e da maxila
para realizar o fechamento dos lábios.
Além da eletromiografia, o desenvolvimento tecnológico recente da
computação tornou possível, segundo Baik, Jeon e Lee (2007), o diagnóstico do
perfil tegumentar de forma tridimensional através do uso de um aparelho a laser,
onde volta a ser enfatizada a importância estética dos tecidos moles no complexo
craniofacial, pois é através desta que o leigo, familiares e amigos, avaliam o
sucesso do tratamento.
Selamento labial passivo, termo comumente usado em Ortodontia, é definido
como o contato dos lábios superior e inferior sem contração muscular evidente,
quando em repouso (YAMAGUCHI et al., 2000). Diversas são as causas de
ausência de selamento labial passivo descritas na literatura, dentre os fatores
anatômicos podem ser citados: lábio superior curto, excesso vertical maxilar e
excessiva protrusão de incisivos superiores (MEDEIROS E MEDEIROS, 2001;
SARVER, 1998). Arnett e Bergman (1993, b) consideraram o lábio superior curto
quando este apresentou 18 mm ou menos de comprimento, não devendo ser
confundido com o excesso vertical maxilar, pois o segundo estaria associado
diretamente a um terço facial inferior aumentado.
Proffit e Ackerman (2002), afirmaram que a protrusão excessiva dos
incisivos é revelada por lábios proeminentes que ficam separados quando
relaxados, de modo que o paciente tinha que contrair a musculatura para unir os
lábios sobre os dentes protraídos.
10
Segundo Bergman (1999), alguns fatores como o padrão esquelético, o
padrão dentário, a espessura dos tecidos moles, as características étnicas, o
gênero e a idade, também devem ser levados em consideração na análise facial.
Peck, Peck e Kajata (1992) observaram forte correlação entre altura maxilar e
comprimento do lábio superior. Paiva, Neto e Lopes (2004) constataram a
correlação das alterações dos incisivos superiores com as do lábio superior:
quanto maior a vestibularização e protrusão dos incisivos superiores, maior a
projeção do lábio superior. Årthun et al. (2005) associaram a protrusão dos
incisivos superiores à posição labial, e encontraram menor risco de trauma nos
incisivos superiores em pacientes jovens que apresentavam competência labial.
A modificação da inclinação dos incisivos superiores, como nos casos de
extração de pré-molares e retração de caninos e incisivos, gera mudanças
previsíveis no lábio superior tanto no sentido vertical, quanto no sentido
horizontal, sendo essas mudanças diferentes a depender da etnia do paciente,
devido às características peculiares de espessura labial dos mesmos (BROCK et
al., 2005). Em pacientes com lábios mais finos existe significante correlação entre
retração de incisivos e retração labial, no entanto pacientes com lábios mais
espessos não apresentam esse mesmo tipo de resposta (BASCIFTCI, 2004).
Muitas vezes, no entanto, a simples modificação da posição dentária não
contribui para o selamento labial passivo, descrito, em algumas situações, como
um problema funcional (YAMAGUCHI et al., 2000). A correção da maloclusão
nem sempre é acompanhada de melhora ou até manutenção de alguns traços
faciais, chegando a levar em algumas situações até mesmo a piora no equilíbrio
dos mesmos (ARNETT E BERGMAN, 1993, a).
11
Kustono e Kustono (2001) afirmaram que em tratamentos de casos de
biprotrusão dento alveolar é esperada diminuição da convexidade facial,
subseqüente ao reposicionamento dos tecidos moles em resposta a retração dos
dentes anteriores. Esses autores demonstraram em seu estudo significante
reposicionamento labial posterior, com redução da contração labial para que
houvesse o selamento. Ramos et al. (2005), acrescentaram ainda que além da
grande influência da retração dos incisivos superiores, principalmente no plano
horizontal, na modificação da posição labial, uma participação também no
aumento proporcional do ângulo nasolabial.
No tratamento da sobremordida exagerada Lapatk et al. (2006), encontraram
como fator positivo na prevenção da recidiva, aumento da pressão labial em
repouso, gerada por modificação da inclinação e posição antero posterior dos
incisivos superiores durante o tratamento. Em concordância com essa afirmação
Lindauer, Lewis e Shroff (2005) demonstraram, em seu estudo, diminuição
significativa da distância entre os incisivos superiores e o lábio superior em casos
de tratamento da sobremordida exagerada com a intrusão dos incisivos.
Pacientes que não apresentam necessidade de tratamento ortodôntico
diagnosticados com ausência de selamento associado ao lábio superior curto,
podem realizar o treinamento labial, que seria uma forma de modelar seu
tamanho e aumentar sua força muscular (INGERVALL E ELIASSON, 1982), em
pacientes ortodônticos o procedimento pode ser realizado otimizando os
resultados da movimentação dentária.
A interação entre fatores como a altura maxilar (MEDEIROS E MEDEIROS,
2001), a posição dos incisivos (PROFFIT E ACKERMAN, 2002, SCOTT,
GOONEWARDENE E MURRAY, 2006), o comprimento labial (MAMANDRAS,
12
1988, NAINI, MOSS E GRILL, 2006) e sua influência no selamento labial
merecem, portanto, maior interesse por parte da comunidade científica.
Considerando a possibilidade de existência da interferência do comprimento
do lábio superior, do excesso vertical de maxila e da protrusão dos incisivos
superiores no estabelecimento da distância interlabial, se faz necessário estudos
que relacionem a influência destes fatores, determinando a ação de cada um dos
componentes anatômicos nesta condição.
A heterogeneidade das populações dos trabalhos referenciados nesta
revisão pode ter influência direta na grande variabilidade observada na relação
labial e demais características anatômicas craniofaciais, demonstrando a
importância de pesquisas similares na população de Salvador.
O avanço do conhecimento sobre o comportamento dos tecidos moles, seus
parâmetros de normalidade, e seu relacionamento com as estruturas ósseas e
dentárias, dará ao ortodontista meios para definir, de maneira mais precisa, tanto
o plano de tratamento como a necessidade de atuação multidisciplinar para o
estabelecimento de uma correta função labial.
Esses aspectos, estético, fisiológico e funcional, e o preciso diagnóstico da
ausência de selamento labial passivo, motivaram a realização deste estudo.
13
2. PROPOSIÇÃO
Diante do exposto, o autor se propôs a avaliar a influência das seguintes
relações anatômicas cefalométricas na distância interlabial:
2.1. altura maxilar;
2.2. protrusão dos incisivos superiores;
2.3. comprimento do lábio superior;
2.4. inclinação dos incisivos superiores;
2.5. altura mandibular;
2.6. comprimento do lábio inferior, e;
2.7. discrepância antero posterior maxilo-mandibular.
14
3. MATERIAL E MÉTODO
A amostra foi constituída de 57 radiografias cefalométricas laterais iniciais
(pré-tratamento) de pacientes do Centro de Ortodontia e Ortopedia Facial Prof.
José Édimo Soares Martins portadores de maloclusão de Classe I de Angle.
Foram excluídos da amostra: pacientes que apresentassem discordância entre as
fichas do exame clínico, fotografias faciais e radiografias cefalométricas em
relação ao selamento labial; que não apresentassem dentição permanente
completa (ignorando a presença ou ausência dos terceiros molares); e pacientes
com potencial de crescimento labial (SUBTELNY, 1961).
Após a aplicação dos critérios de exclusão, foram selecionadas 30
radiografias, divididas em dois grupos: Grupo 1; 15 pacientes apresentando
selamento labial passivo; Grupo 2; 15 pacientes sem selamento labial passivo.
Todas as radiografias cefalométricas foram realizadas na mesma clínica de
documentação, utilizando técnica padronizada para obtenção das mesmas.
O traçado cefalométrico foi realizado com a reprodução das seguintes
estruturas: perfil tegumentar, porção anterior do osso frontal, ossículos próprios
15
do nariz, sutura fronto-nasal, maxila, mandíbula, incisivo superior mais
proeminente, incisivo inferior mais proeminente (Figura 1).
Figura 1 Traçado cefalométrico: A – Paciente do Grupo 1, B – Paciente do Grupo2.
Utilizou-se para a realização do traçado: a radiografia cefalométrica inicial do
paciente, papel de acetato da 3M Unitek (UnitekTM Cephalometric Tracing Film
Acetate, 8” x 10” / 203mm x 254mm REF 701-204), fita adesiva, borracha,
máscaras negras de cartolina, lapiseira com grafite de 0,5mm e negatoscópio.
Os seguintes pontos cefalométricos foram utilizados:
Pontos ósseos e dentários (Figura 2A)
Násio (N) – ponto mais anterior da sutura fronto nasal;
Pogônio (Pog) – ponto mais anterior do contorno da sínfise mandibular;
Espinha nasal anterior (ENA) – ponto situado na extremidade da espinha
nasal anterior;
Ponto A (Subespinhal) – ponto mais posterior do contorno anterior da maxila;
Incisivo superior no sentido antero posterior (1”) – ponto mais proeminente
do incisivo superior no sentido antero posterior;
A B
16
Borda incisal do incisivo superior (1’) – ponto mais inferior do incisivo
superior no borda incisal.
Pontos tegumentares (Figura 2A)
Subnasal (Sn) – ponto mais posterior da base nasal;
Estômio superior (Sts) – ponto mais inferior do vermelhão do lábio superior;
Estômio inferior (Sti) – ponto mais superior do vermelhão do lábio inferior;
Pogônio mole (Pog’) – ponto mais anterior do contorno tegumentar da sínfise
mandibular.
Foram realizadas aferições de medidas lineares no intuito de quantificar: o
comprimento do lábio superior e inferior, a distância entre eles (tendo esta medida
o valor zero nos pacientes do grupo 1), a altura maxilar e mandibular, a posição
antero posterior e inclinação do incisivo superior, e a discrepância maxilo
mandibular no sentido antero posterior.
Figura 2 Traçado cefalométrico: A – pontos ósseos, dentários e tegumentares; B – (1) posição antero posterior do incisivo central superior, (2) distância interlabial, (3) comprimento do lábio superior (4) altura maxilar, (5) comprimento do lábio inferior, (6) altura mandibular, e (7) discrepância maxilo mandibular.
2
34
1
A B
5 67
17
O traçado e as medidas foram realizados por um único operador, tendo sido
refeitas em intervalo de 15 dias, escolhendo aleatoriamente 5 indivíduos de cada
grupo, não tendo sido observada diferença estatisticamente significante para o
erro intraexaminador.
Para a determinação das distâncias no sentido vertical foi utilizada uma linha
unindo os pontos Násio e Pogônio (N-Pog), de maneira que todos os pontos de
referência foram projetados perpendicularmente a mesma, para que fosse aferida
a distância entre eles (Figura 2B):
Comprimento do lábio superior – distância entre Sn e Sts;
Comprimento do lábio inferior – distância entre Sti e Pog’;
Distância interlabial – distância entre Sts e Sti, representando o selamento
labial;
Altura maxilar – distância entre os pontos ENA e 1’;
Altura mandibular – distância entre os pontos 1’ e Pog.
A posição do incisivo superior no sentido antero-posterior (Figura 2B) foi
determinada pela distância entre a linha N-Pog, e uma perpendicular até o ponto
1”. Foi quantificado ainda através da medida angular 1-NA (ângulo formado pela
interseção do longo eixo do incisivo superior com a linha NA) a vestibularização
desta unidade dentária.
A discrepância maxilo mandibular foi aferida através da medida linear de
uma perpendicular da linha N-Pog até o ponto A, sendo esta medida positiva
quando medida da direita para a esquerda, e negativa na direção contrária
As medições lineares foram realizadas utilizando-se paquímetro digital com
aproximação de décimo de milímetro, a medida angular foi realizada utilizando-se
transferidor com aproximação de meio grau. Todos os dados foram registrados
18
em tabela padronizada, e submetidos à análise estatística para comparação entre
os dois grupos estudados.
Foi realizada a análise descritiva das medidas de tendência central e
dispersão das variáveis. Testou-se a associação entre selamento labial e as
variáveis envolvidas, utilizando o teste t de Student e a regressão logística não
condicional. Na inferência estatística foi calculado o Intervalo de Confiança a 95%.
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4. DESENVOLVIMENTO SEQÜENCIAL DE PESQUISA
ARTIGO
Artigo enviado para publicação no periódico Dental Press, formatado conforme as
normas de publicação determinadas pela revista.
INFLUÊNCIA DE FATORES ESQUELÉTICOS, DENTÁRIOS E
TEGUMENTARES NA POSTURA LABIAL EM REPOUSO
Thiago De-Freitas VINHAS*, Maria Cristina CANGUSSÚ**, Mickelson Rio Lima de
Oliveira COSTA ***.
* Especialista em Ortodontia e Ortopedia Facial pela UFBA.
** Profa. Adjunta UFBA; Doutora em Saúde Pública FSP/USP.
*** Prof. Adjunto FBDC, Mestre e doutor em Ortodontia pela UFRJ.
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INFLUÊNCIA DE FATORES ESQUELÉTICOS, DENTÁRIOS E
TEGUMENTARES NA POSTURA LABIAL EM REPOUSO
RESUMO
O espaço interlabial parece ter origem tanto nas relações verticais como ântero-posteriores, dentárias ou esqueléticas, assim, diversos fatores anatômicos podem ser citados, tais como: o comprimento labial, o excesso vertical da maxila, e a protrusão dos incisivos superiores. A interação entre estes fatores motivou a realização deste trabalho. Foram selecionadas radiografias cefalométricas laterais iniciais de 30 pacientes, dividos em dois grupos: com e sem selamento labial, sendo verificada a influência da altura maxilar e mandibular, do comprimento do lábio superior e inferior, da protrusão e inclinação dos incisivos superiores, e da discrepância maxilomandibular na distância interlabial. O teste t de Student, mostrou diferença estatística apenas para as variáveis altura maxilar (p=0,00) e protrusão dos incisivos superiores (p=0,01). A regressão logística exploratória apresentou maior força de associação da protrusão dos incisivos (OR=1,45) do que da altura maxilar (OR=1,32) no selamento labial passivo. PALAVRAS CHAVE: selamento labial, cefalometria, incisivos superiores, altura maxilar.
INFLUENCE OF SKELETAL, DENTAL AND TEGUMENTARY STRUCTURES ON THE REST LIP POSITION
ABSTRACT
The interlabial gap seems to have its cause related to vertical and ântero-posterior relationships, whereas dental or skeletal, such as: lip length, maxillary height and upper incisors protrusion. The purpose of the present study was motivated by the correlation of this anatomic structures. Cephalometric films from 30 subjects were selected and divided in two groups, lip competence and incompetence. The maxillary and mandibular anterior heights, upper and lower lips length, protrusion and inclination of upper incisors, and maxilomandibular discrepancy were recorded and evaluated. Students t test revealed significant influence of the maxillary height (p=0,00) and upper incisors protrusion (p=0,01) on the lip competence. Logistic regression analyses suggests a stronger influence of the upper incisors protrusion (OR=1,45), than the maxillary height (OR=1,32), on the interlabial distance. KEY WORDS: lip competence, cephalometrics, upper incisors, maxillary height.
21
INTRODUÇÃO FUNDAMENTADA
A melhora do perfil do paciente tem sido, para os especialistas, sinônimo de
obtenção das metas estéticas do tratamento, entretanto, segundo Sarver e
Ackerman22, quando leigos são questionados quanto ao papel do ortodontista, a
maioria deles faz referência à obtenção de sorrisos mais bonitos e agradáveis.
Acrescentando outro ponto de vista a estes conceitos Bergman6 afirmou que um
dos objetivos do tratamento ortodôntico seria atingir e manter atratividade facial,
sendo, o diagnóstico das desarmonias faciais, essencial na melhora dos traços de
beleza.
A relação labial do paciente é uma consideração estética fundamental,
porém pouco abordada por Sarver e Ackerman22 e Bergman6. Este aspecto,
assim como todas as modificações tegumentares, tem gerado na ortodontia
mudanças de abordagem, direcionando o diagnóstico e tratamento dos problemas
dentofaciais, também nos tecidos moles e não somente nas estruturas ósseas e
dentárias. Observa-se cada vez maior preocupação como essas mudanças e a
interação entre tecido mole e tecido duro contribui na estética facial e nos
aspectos funcionais3,14,17.
Pacientes que não apresentam toque entre os lábios em repouso, muitas
vezes tendem a respirar predominantemente pela boca. Os respiradores bucais
podem apresentar um padrão de desenvolvimento facial anormal, com aumento
da altura facial anterior e da sobressaliência7.
Estudos sobre a influência das características dentárias e gengivais tais
como: linha do sorriso, exposição gengival, plano oclusal e corredor bucal,
dependem diretamente da avaliação da relação labial23. Esta relação, que
influencia diretamente no sorriso e na estética facial do paciente, pode ser
22
observada no sentido ântero-posterior, analisando-se a modificação da posição
labial em tratamentos com ou sem extração, ou na direção vertical, comparando-
se características apresentadas em pacientes com ou sem contato entre os lábios
superior e inferior em repouso9.
Naini, Moss e Grill17 enfatizaram a importância da radiografia cefalométrica
na avaliação do perfil tegumentar, através de diversas medidas e análises,
colocando assim a ortodontia como ciência de vanguarda no estudo da face.
Desta forma surgiram valores auxiliares para tornar o conceito de estética facial
mais objetivo, auxiliando na correção de desarmonias, como a posição dos lábios
em relação à face.
Durante a fase de desenvolvimento craniofacial, os lábios aumentam em
comprimento e espessura, sendo que o crescimento vertical labial tende a ser
maior que o crescimento do terço facial inferior, favorecendo o selamento labial. A
relação vertical entre lábios e dentes anteriores, particularmente os incisivos
superiores, é um fator importante relativo à estética e estabilidade do
tratamento15.
Gazit-Rappaport et al.10 afirmaram que para verificar a contribuição da
relação dentária em pacientes assimétricos é essencial que se avalie também o
componente vertical e a competência labial.
No estudo de Yamaguchi et al.26 com uso de eletromiografia, foi observado
que a atividade muscular do lábio inferior e do mentalis eram maiores em
pacientes com maior protrusão dos incisivos superiores e da maxila para realizar
o fechamento dos lábios.
Além da eletromiografia, o desenvolvimento tecnológico recente da
computação tornou possível, segundo Baik, Jeon e Lee5, o diagnóstico do perfil
23
tegumentar de forma tridimensional através do uso de um aparelho a laser, onde
volta a ser enfatizada a importância estética dos tecidos moles no complexo
craniofacial, pois é através desta que o leigo, familiares e amigos, avaliam o
sucesso do tratamento.
Selamento labial passivo, termo comumente usado em Ortodontia, é definido
como o contato dos lábios superior e inferior sem contração muscular evidente,
quando em repouso26. Diversas são as causas da ausência de selamento labial
passivo descritas na literatura, dentre os fatores anatômicos podem ser citados:
lábio superior curto, excesso vertical maxilar e excessiva protrusão de incisivos
superiores16,21.
Segundo Bergman6, alguns fatores, como o padrão esquelético, o padrão
dentário, a espessura dos tecidos moles, as características étnicas, o gênero e a
idade, também devem ser levados em consideração na análise facial. Peck, Peck
e Kajata19 observaram forte correlação entre altura maxilar e comprimento do
lábio superior. Paiva, Neto e Lopes18 constataram a correlação das alterações dos
incisivos superiores com as do lábio superior: quanto maior a vestibularização e
protrusão dos incisivos superiores, maior a projeção do lábio superior. Årthun et
al.1 associaram a protrusão dos incisivos superiores à posição labial, e
encontraram menor risco de trauma nos incisivos superiores em pacientes jovens
que apresentavam competência labial.
A modificação da inclinação dos incisivos superiores, como nos casos de
extração de pré-molares e retração de caninos e incisivos, gera mudanças
previsíveis no lábio superior tanto no sentido vertical, quanto no sentido
horizontal, sendo essas mudanças diferentes a depender da etnia dos pacientes,
em virtude das características peculiares de espessura labial dos mesmos8.
24
Muitas vezes, no entanto, a simples modificação da posição dentária não
contribui para o selamento labial passivo, descrito, em algumas situações, como
um problema funcional26. A correção da maloclusão nem sempre é acompanhada
de melhora ou até manutenção de alguns traços faciais, chegando a levar em
algumas situações até mesmo a piora no equilíbrio dos mesmos4.
Pacientes que não apresentam necessidade de tratamento ortodôntico
diagnosticados com ausência de selamento associado ao lábio superior curto,
podem realizar o treinamento labial, que seria uma forma de modelar seu
tamanho e aumentar sua força muscular11, em pacientes ortodônticos o
procedimento pode ser realizado, otimizando os resultados da movimentação
dentária.
Kustono e Kustono12 afirmaram que em tratamento de casos de biprotrusão
dentoalveolar é esperada diminuição da convexidade facial, subseqüente ao
reposicionamento dos tecidos moles em resposta a retração dos dentes
anteriores. Esses autores demonstraram em seu estudo significante
reposicionamento labial posterior, com redução da contração labial para que
houvesse o selamento.
Considerando a possibilidade de existência da interferência do comprimento
do lábio superior, do excesso vertical de maxila e da protrusão dos incisivos
superiores no estabelecimento da distância interlabial, se faz necessário estudos
que relacionem a influência destes fatores, determinando a ação de cada um dos
componentes anatômicos nesta condição. Desta forma, o presente estudo tem
como objetivo avaliar a influência da altura maxilar, do comprimento do lábio
superior e da posição ântero-posterior dos incisivos superiores na distância
interlabial.
25
MATERIAL E MÉTODO
A amostra foi constituída de 57 radiografias cefalométricas laterais iniciais
(pré-tratamento) de pacientes do Centro de Ortodontia e Ortopedia Facial Prof.
José Édimo Soares Martins portadores de maloclusão de Classe I de Angle.
Foram excluídos da amostra: pacientes que apresentassem discordância entre as
fichas do exame clínico, fotografias faciais e radiografias cefalométricas em
relação ao selamento labial; que não apresentassem dentição permanente
completa (ignorando a presença ou ausência dos terceiros molares); e pacientes
com potencial de crescimento labial24.
Após a aplicação dos critérios de exclusão, foram selecionadas 30
radiografias, divididas em dois grupos: Grupo 1; 15 pacientes apresentando
selamento labial passivo; Grupo 2; 15 pacientes sem selamento labial passivo.
Todas as radiografias cefalométricas foram realizadas na mesma clínica de
documentação, utilizando técnica padronizada para obtenção das mesmas.
O traçado cefalométrico foi realizado com a reprodução das seguintes
estruturas: perfil tegumentar, porção anterior do osso frontal, ossículos próprios
do nariz, sutura fronto-nasal, maxila, mandíbula, incisivo superior mais
proeminente, incisivo inferior mais proeminente.
Os seguintes pontos cefalométricos foram utilizados:
Pontos ósseos e dentários (Figura 1A): násio (N), pogônio (Pog), espinha
nasal anterior (ENA), ponto A (Subespinhal), incisivo superior no sentido
ântero-posterior (1”), borda incisal do incisivo superior (1’);
Pontos tegumentares (Figura 1A): subnasal (Sn), estômio superior (Sts),
estômio inferior (Sti), Pogônio mole (Pog’).
26
Foram realizadas aferições de medidas lineares no intuito de quantificar: o
comprimento do lábio superior e inferior, a distância entre eles (tendo esta medida
o valor zero nos pacientes do Grupo 1), a altura maxilar e mandibular, a posição
ântero-posterior e inclinação do incisivo superior, e a discrepância
maxilomandibular no sentido ântero-posterior.
O traçado e as medidas foram realizados por um único operador, tendo sido
refeitas em intervalo de 15 dias, escolhendo aleatoriamente 5 indivíduos de cada
grupo, não tendo sido observada diferença estatisticamente significante para o
erro intraexaminador.
Para a determinação das distâncias no sentido vertical foi utilizada uma linha
unindo os pontos Násio e Pogônio (N-Pog), de maneira que todos os pontos de
Figura 1 Traçado cefalométrico: A – pontos ósseos, dentários e tegumentares; B – (1) posição antero posterior do incisivo central superior, (2) distância interlabial, (3) comprimento do lábio superior (4) altura maxilar, (5) comprimento do lábio inferior, (6) altura mandibular, e (7) discrepância maxilomandibular.
2
34
1
A B
5 6
7
27
referência foram projetados perpendicularmente a mesma, para que fosse aferida
a distância entre eles (Figura 1B):
Comprimento do lábio superior – distância entre Sn e Sts;
Comprimento do lábio inferior – distância entre Sti e Pog’;
Distância interlabial – distância entre Sts e Sti, representando o selamento
labial;
Altura maxilar – distância entre os pontos ENA e 1’;
Altura mandibular – distância entre os pontos 1’ e Pog.
A posição do incisivo superior no sentido ântero-posterior (Figura 2B) foi
determinada pela distância entre a linha N-Pog, e uma perpendicular até o ponto
1”. Foi quantificado ainda através da medida angular 1-NA (ângulo formado pela
interseção do longo eixo do incisivo superior com a linha NA), a vestibularização
desta unidade dentária.
A discrepância maxilomandibular foi aferida através da medida linear de uma
perpendicular da linha N-Pog até o ponto A, sendo esta medida positiva quando
medida da direita para a esquerda, e negativa na direção contrária (Figura 2B).
As medições lineares foram realizadas utilizando-se paquímetro digital com
aproximação de décimo de milímetro, a medida angular foi mensurada utilizando-
se transferidor com aproximação de meio grau. Todos os dados foram registrados
em tabela padronizada, e submetidos à análise estatística para comparação entre
os dois grupos estudados.
Foi realizada a análise descritiva das medidas de tendência central e
dispersão das variáveis. Testou-se a associação entre selamento labial e as
28
variáveis envolvidas, utilizando o teste t de Student e a regressão logística não
condicional. Na inferência estatística foi calculado o Intervalo de Confiança a 95%.
RESULTADOS
Foram apresentados na tabela 1 os valores de média, desvio padrão, valor
mínimo e máximo para as variáveis nos grupos com e sem selamento labial.
Tabela 1- Média, desvio padrão, valor mínimo e máximo para as variáveis nos Grupo 1 e 2 (valores em milímetros) Grupo / Variável Média (x) Desvio padrão Valor mínimo Valor máximoGrupo 1 (com selamento) Comprimento lábio superior 24,94 2,83 20,65 29,85Altura maxilar 29,49 2,51 26,30 34,70Protrusão IS 10,45 4,22 -2,24 14,33IS inclinação Comprimento lábio inferior Altura mandibular Discrepância Max-Mand
30,20 35,44 33,98
0,93
7,06 2,62 3,06 3,20
20,00 32,10 29,30 -8,00
43,00 41,00 40,70
4,00Grupo 2 (sem selamento) Comprimento labial 24,67 2,84 20,97 30,65Altura maxilar 32,39 3,19 26,53 38,28Protrusão IS 15,82 3,83 9,82 21,08IS inclinação Comprimento lábio inferior Altura mandibular Discrepância Max-Mand
31,53 35,75 37,04
2,60
7,91 4,53 5,79 3,79
14,00 28,50 28,90 -5,00
42,00 44,50 47,80 10,00
Fonte: Centro de Ortodontia e Ortopedia Facial Prof. José Édimo Soares Martins
Observou-se valores maiores de altura maxilar e protrusão dos incisivos
superiores no grupo sem selamento labial. Esta diferença foi menor em relação à
inclinação dos incisivos superiores.
Na tabela 2 foi calculada a associação entre as variáveis estudadas e o
selamento labial. Apenas as variáveis altura maxilar e protrusão dos incisivos
superiores apresentaram diferença estatisticamente significante (p≤0,01).
29 Tabela 2- Resultados do teste t de Student para a associação entre as variáveis em relação ao selamento labial
Variável T student p valor Comprimento lábio superior 0,26 0,79 Altura maxilar -2,77 0,01 Protrusão IS -3,65 0,00 IS inclinação Comprimento lábio inferior Altura mandibular Discrepância Max-Mand
-0,49 -0,23 -1,81 -1,27
0,63 0,82 0,09 0,22
Fonte: Centro de Ortodontia e Ortopedia Facial Prof. José Édimo Soares Martins
Tentou-se estabelecer se a altura maxilar, ou protrusão, teriam mais
influência na ausência do selamento labial passivo. Pela análise de regressão
logística não condicional (Tabela 3), observou-se que ambas variáveis
contribuíram para a ausência de selamento labial de forma independente - altura
maxilar (OR=1,32; 1,13-1,87 95%IC) e protrusão dos incisivos superiores
(OR=1,45; 1,07-1,96 95%IC), variável esta que apresentou maior força de
associação.
Tabela 3- Resultado final da regressão logística exploratória para a variável dependente selamento labial
Variável Coeficiente Erro padrão Coeficiente
P valor OR (odds Ratio)
Vmin 95%
Vmax 95%
Altura Maxilar 0,28 0,18 0,02 1,32 1,13 1,87Protrusão IS 0,37 0,15 0,02 1,45 1,07 1,96Fonte: Centro de Ortodontia e Ortopedia Facial Prof. José Édimo Soares Martins
DISCUSSÃO
De modo geral as pessoas apresentam-se, na maior parte do tempo, com os
lábios selados, excluindo-se os respiradores bucais. Até mesmo alguns pacientes
que não apresentam o selamento labial passivo, habitualmente, tendem a forçar a
musculatura perioral para mantê-los em contato.
30
O diagnóstico preciso sobre o posicionamento vertical dos lábios facilita a
escolha pelo plano de tratamento mais adequado. Este aspecto é de fundamental
importância pelo foco do tratamento ortodôntico estar voltado também para
modificações referentes aos tecidos moles.
O comprimento labial, não representou um fator significativo neste estudo,
embora os trabalhos de Sarver21 e Medeiros e Medeiros16 indiquem o lábio
superior curto como uma das causas da ausência do selamento labial passivo.
Um fator a ser ponderado, observando-se os trabalhos de Arnett e Bergman4
e Medeiros e Medeiros16, que consideraram o lábio superior curto quando este
apresentou 18 mm ou menos de comprimento, é que nenhum dos 30 pacientes
da nossa amostra apresentou comprimento labial menor que 20 mm.
Estas considerações são relevantes, pois pacientes que apresentam
comprimento labial entre 20,97 mm e 30,65 mm (valores mínimo e máximo pra o
Grupo 2) podem ser mais susceptíveis a modificações favoráveis no
posicionamento vertical dos lábios com intervenção ortodôntica no
posicionamento ântero-posterior dos incisivos ou ainda na posição vertical da
maxila. Em pacientes com valores de comprimento labial mais baixos, a tentativa
de obtenção de selamento labial passivo, entretanto, poderia resultar em aumento
de concavidade de diminuição do terço inferior, com desagradáveis repercussões
para a harmonia facial. Todos esses aspectos devem ser criteriosamente
avaliados no plano de tratamento.
A importância da radiografia cefalométrica como auxiliar na avaliação do
perfil tegumentar ficou evidente nesse estudo. Estabelecendo valores auxiliares,
auxiliando na correção de desproporções faciais, segundo Naini, Moss e Grill17,
como a posição dos lábios em relação à face.
31
Valente e Oliveira25 avaliaram radiograficamente valores normativos e
dimorfismo sexual, observaram que a média da posição labial inferior, com
significante retrusão labial no grupo masculino em relação ao feminino, e o
comprimento do lábio superior, mais elevado nos homens que nas mulheres,
exibiu valores compatíveis com boa estética em ambos os grupos.
Diversos autores8,12,13,18 demonstraram em seus estudos as modificações
favoráveis ocorridas nos lábios de pacientes que apresentavam protrusão
dentoalveolar, submetidos a tratamento com exodontia e retração dentária.
O presente estudo revelou grande influência da protrusão dentária com a
relação labial. Os pacientes sem selamento labial apresentaram média de 1-NA
(mm) 29,35% maior que o grupo com selamento (dados não publicados), e
nenhum apresentou valor igual ou menor que o descrito por Steiner (1-NA =
4,0mm±2,0mm) em sua análise cefalométrica2. Estes dados mostram o impacto
relevante da protrusão dos incisivos superiores no comportamento dos lábios em
repouso.
Levando-se em consideração a relação positiva da movimentação labial em
resposta a retração dos dentes anteriores, como relatado por Brock et al.8 e
Lapatki et al.13, 93,33% dos pacientes que apresentavam grande protrusão
dentária e ausência de selamento labial passivo, após a avaliação do padrão
dentário, facial e esquelético, tiveram o planejamento do tratamento associado a
exodontia e retração anterior. Os resultados destes tratamentos poderão ser
avaliados em estudos posteriores, auxiliando no nosso entendimento sobre o
comportamento dos lábios frente à terapia ortodôntica.
Em algumas situações onde a simples modificação dentária não corrigiria o
selamento labial como afirmado por Yamaguchi et al.26, o componente esquelético
32
precisa ser levado em consideração. Como demonstrado neste estudo a altura
maxilar também possui influência significativa nesta condição.
Número considerável (13,33%) dos pacientes do Grupo 2 tiveram o
planejamento associado à intervenção cirúrgica, sem a qual possivelmente os
resultados não pudessem ter o êxito desejado.
A interação entre fatores como a altura maxilar e mandibular16, a posição
dos incisivos14,20,23, o comprimento labial15,17 e sua influência no selamento labial
merecem, portanto, maior interesse por parte da comunidade científica.
A associação entre o aumento vertical da maxila e a protrusão excessiva dos
incisivos pode ser determinante na ausência de contatos entre os lábios em
posição de repouso26. A falta de contato entre o lábio superior com os incisivos,
gerada pela altura maxilar, durante o desenvolvimento craniofacial, pode
influenciar na protrusão dos incisivos superiores por eliminar a força dos lábios
sobre os mesmos7.
Os resultados encontrados para o comprimento do lábio inferior, a altura
mandibular, a inclinação os incisivos superiores e a discrepância
maxilomandibular foram pouco relevantes na população estudada, talvez pelo
tamanho da amostra e a grande diferença de valores dentro dos seus respectivos
grupos. Estes resultados reforçam a importância e influência da altura maxilar e
protrusão dos incisivos superiores no diagnóstico da ausência do selamento labial
passivo, em pacientes com características similares aos aqui apresentados.
O avanço do conhecimento sobre o comportamento dos tecidos moles, seus
parâmetros de normalidade, e seu relacionamento com as estruturas ósseas e
dentárias, darão ao ortodontista meios para definir, de maneira mais precisa, tanto
33
o plano de tratamento como a necessidade de atuação multidisciplinar para o
estabelecimento de uma correta função labial.
Certamente tanto a protrusão dos incisivos superiores como a altura maxilar,
aspectos observados neste estudo, influenciam o posicionamento vertical dos
lábios, devendo ser considerados durante o planejamento do tratamento. Porém,
outras variáveis devem ser ponderadas, uma vez que a arquitetura craniofacial é
influenciada por outras relações anatômicas estáticas e dinâmicas que podem se
sobrepor decisões relacionadas a estes dois fatores.
Assim, a forma e o tamanho do nariz, a exposição de incisivos superiores em
repouso, o posicionamento vertical e ântero-posterior do mento, o comportamento
dos lábios durante o sorriso e o comprimento labial devem ser criteriosamente
avaliados e, muitas vezes a falta de selamento labial, mesmo que diretamente
associada a um dos fatores relevantes de acordo com este trabalho, deve ser
abordada por intervenções em áreas anatômicas diversas, de maneira ortodôntica
ou não, para obtenção de resultados que se traduzam por equilíbrio facial ou
estética.
CONCLUSÃO
Com este trabalho pôde-se concluir que a altura maxilar (p=0,01) e a
protrusão dos incisivos superiores (p<0,01) influenciam na postura labial, de modo
que quanto maior os valores cefalométricos representativos dessas medidas,
maior a probabilidade do paciente não possuir selamento labial passivo.
A protrusão dos incisivos apresentou maior força de associação (OR=1,45),
quando comparado com a altura maxilar (OR=1,32).
34
Concluiu-se também que o comprimento do lábio superior (p=0,79) e inferior
(p=0,82), a inclinação dos incisivos superiores (p=0,63), a altura mandibular
(p=0,09), e a discrepância maxilomandibular (p=0,22) não apresentaram
influência significativa na relação labial.
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38
5. CONCLUSÃO
Após avaliação das relações anatômicas esqueléticas, tegumentares e
dentárias, através de análise cefalométrica, na distância interlabial pôde-se
concluir que:
2.1. a altura maxilar, e;
2.2. a protrusão dos incisivos superiores, tiveram influência na postura
labial de modo que quanto maior os valores cefalométricos representativos
dessas medidas, maior a probabilidade do paciente não possuir selamento labial
passivo, concluiu-se também que;
2.3. o comprimento do lábio superior;
2.4. a inclinação dos incisivos superiores;
2.5. a altura mandibular;
2.6. o comprimento do lábio inferior, e;
2.7. a discrepância antero posterior maxilo-mandibular, não apresentaram
influência significativa na relação labial.
39
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