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Universidade Estadual de Santa Cruz Programa Regional de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente Sistema de Produção em Casas de Farinha: Uma leitura descritiva na Comunidade de Campinhos – Vitória da Conquista(BA) Marisa Oliveira Santos Soares Ilhéus 2007

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Universidade Estadual de Santa Cruz Programa Regional de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente

Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente

Sistema de Produção em Casas de Farinha: Uma leitura descritiva na Comunidade de Campinhos –

Vitória da Conquista(BA)

Marisa Oliveira Santos Soares

Ilhéus 2007

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Soares, Marisa Oliveira Santos. Impactos socioambientais das Casas de Farinha nodesenvolvimento das comunidades de Campinhos e Simão –Vitória da Conquista(BA) / Marisa Oliveira Santos Soares. –Ilhéus, Ba: UESC/PRODEMA, 2007.x, XXXX; anexos Orientador: Max de Menezes Disseratação (Mestrado) – Universidade Estadual de SantaCruz. Programa Regional de Pós-Graduação emDesenvolvimento e Meio Ambiente. Bibliografia: f. XXXX XXXXXX XXXXX

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MARISA OLIVEIRA SANTOS SOARES

Sistema de Produção em Casas de Farinha: Uma leitura descritiva na Comunidade de Campinhos –

Vitória da Conquista(BA)

Dissertação apresentada ao Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente da Universidade Estadual de Santa Cruz, sub-área Comunidades Sustentáveis, para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente.

Professor Orientador: Prof. Dr. Max de Menezes

Ilhéus, BA 2007

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Dissertação aprovada em 14 de dezembro de 2007.

Prof. Dr. Max de Menezes (Orientador)

Prof. Dr. Neylor Calasans (Universidade Estadual de Santa Cruz)

Prof.Dr. Valdemiro Conceição Júnior (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia)

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DEDICATORIA

A Deus, pela Suprema Autoria da Natureza. Ao meu filho, Guilherme Luís, pela intensa e constante

Inspiração de vida e de alegria.

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VERDADE

A porta da verdade estava aberta, mas só deixava passar

meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade, porque a meia pessoa que entrava só trazia o perfil de meia verdade.

E sua segunda metade voltava igualmente com meio perfil.

E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta. Chegaram ao lugar luminoso

onde a verdade esplendia seus fogos. Era dividida em metades diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.

Nenhuma das duas era totalmente bela. E carecia optar. Cada um optou conforme

seu capricho, sua ilusão, sua miopia.

Carlos Drummond de Andrade

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Trovador Nordestino

Pois bem, um aviamento, Quando pega trabaiá, É o mio divertimento

Que se pode maginá, É a mio distração,

Tudo ali é união, Prazê, alegria e paz

Só se conveça em amo, Pois todo trabaiadô

É sempre moça e rapaz

O puxado não tem móca É tratado com amo,

Rapadêra de mandioca É tratado com amo

Rapadêra de mandioca É doida por puxado!

As vezes inté eu pensava Que meu coração virava Mandioca e macachêra.

E as raiz era cevada Por as tarisca amolada Dos óio das rapadêra.

Patativa do Assaré

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SUMÁRIO Lista de Tabelas .............................................................................................................. ix Lista de Figuras............................................................................................................... x Lista de Siglas.................................................................................................................. xi Resumo............................................................................................................................. xiii Abstract ........................................................................................................................... xiv 1.0 INTRODUÇAO......................................................................................................................... 1 2.0 OBJETIVOS ........................................................................................................................... 4 2.1 Objetivo Geral ....................................................................................................................... 4 2.2 Objetivos Específicos ........................................................................................................... 4 3.0 REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................................. 5 3.1 QUESTÕES AMBIENTAIS ................................................................................................... 5 3.2 DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SUSTENTÁVEL .......................................................... 10 3.2.1Desenvolvimento X Sustentabilidade .................................................................................... 12 3.2.3 Comunidade e desenvolvimento sustentável ....................................................................... 14 3.3 IMPACTOS AMBIENTAIS ..................................................................................................... 17 3.3.1 A sustentabilidade produtiva e os Impactos ambientais: um imperativo .............. 19 3.3.2 Modelos produtivos ................................................................................................. 21 3.3.3 Trabalho e aspecto operacional............................................................................... 22 3.3.4 Avaliação de de Impactos Ambientais ................................................................... 24 3.4 CASAS DE FARINHA: UNIDADE DE BENEFICIAMENTO DA MANDIOCA ....................... 27 3.4.1 A mandioca .......................................................................................................................... 27 3.4.2 Caracterização das Casas de Farinha ................................................................................ 35 3.4.3 Casas de Farinha: aspectos produtivos e comerciais .......................................................... 38 4.0 METODOLOGIA .................................................................................................................... 47 5.0 DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO .................................................................................. 50 6.0 DISCUSSÃO DE RESULTADOS........................................................................................... 54 6.1 Descrição da Estrutura Física e Métodos de Produção Empregados ............................. 54 6.1.1 Espaço Físico e Divisão de Tarefas ..................................................................................... 55 6.1.2 Modelo de Remuneração adotado pelas Casas de Farinha ................................................ 64 6.1.3 Estrutura funcional das Casas de Farinha ........................................................................... 66 6.2 Impactos Ambientais provocados pela atividade ............................................................. 71 6.2.1 Efeito e extensão dos Impactos Ambientais ........................................................................ 71 6.2.2 Natureza e temporariedade dos Impactos Ambientais ......................................................... 73 6.2.3 Periodicidade e Intensidade dos Impactos Ambientais ........................................................ 73 6.2.4 Reversibilidade e probabilidade de ocorrência dos Impactos Ambientais ........................... 74 6.2.5 Relevância e Magnitude dos Impactos Ambientais .............................................................. 74 7.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 79 8.0 REFERENCIAS ...................................................................................................................... 82 9.0 ANEXOS ................................................................................................................................ 86

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9.1 Questionários ....................................................................................................................... 87 9.2 Matriz de Avaliação de Impactos Ambientias causados pela agroindústria da mandioca em Campinhos no Município de Vitória da Conquista .......................................................................

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10 APENDICE

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10.1 Catalogação das Casas de Farinha/ Campinhos: instrumento de pesquisa .........................

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LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Produção de Mandioca na Região Sudoeste da Bahia.......... 29 Tabela 2 – Aquisição alimentar domiciliar per capita anual por grandes regiões.......................................................................................................

39 Tabela 3 – Remuneração do trabalhador das Casas de Farinha ............

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LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Potencialidades de uso do amido no Brasil ............................

2

Figura 2– Época de plantio da mandioca na Região Sudoeste da Bahia

33

Figura 3 – Participação na produção estimada de raiz de mandioca em 2005 .........................................................................................................

34 Figura 4– Principais derivados da lavoura de mandioca.........................

37

Figura 5– Sistema agroindustrial da mandioca .......................................

40

Figura 6 – Fluxograma para obtenção de farinha de mandioca utilizando prensagem mecânica ..............................................................

42 Figura 7 – Modelo de fornos utilizados pelas casas de Farinha..............

44

Figura 8 – Origem da lenha utilizada nas Casas de Farinha de Campinhos ...............................................................................................

45 Figura 9 – Assistência técnica para os proprietários de Casas de Farinha .....................................................................................................

46 Figura 10 – Localização geográfica - Vitória da Conquista (BA) ...........

50

Figura 11 - Localização espaço geográfica da Comunidade de Campinhos / Vitória da Conquista (BA) ...................................................

51 Figura 12 – Divisão das etapas produtivas das Casas de Farinha – Planta ilustrativa .......................................................................................

55 Figura 13 - Trabalho feminino nas Casas de Farinha ............................

56

Figura 14 – Trabalho masculino nas Casas de Farinha ........................

59

Figura 15 - Predominância da utilização da lenha em fornos de Casas de Farinha ................................................................................................

63 Figura 16 – Modelo de remuneração empregado pelas Casas de Farinha .....................................................................................................

64 Figura 17 – Tempo de funcionamento das Casas de Farinha em Campinhos ...............................................................................................

69 Figura 18 – Origem da lenha utilizada nas Casas de Farinha de Campinhos ...............................................................................................

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LISTA DE SIGLAS ABAM – Associação Brasileira dos Produtores de Amido de mandioca

AGF – Aquisição do Governo Federal

AIA – Avaliação de Impacto Ambiental

CDAF – Compra Direta da Agricultura Familiar

CEPEA – Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada

CONAMA – Conselho Nacional de Meio Ambiente

COOPASUB – Cooperativa mista agropecuária dos pequenos produtores do Sudoeste da Bahia Ltda EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

EPI – Equipamento de Proteção Individual

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ONU – Organização das Nações Unidas

PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

RIMA – Relatório de Impacto Ambiental

SEAB – Secretaria de Agricultura

SEAGRI - Secretaria de Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária do Estado da Bahia

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AGRADECIMENTOS A Deus, Mestre Supremo, Autor Sublime da Fé, Criador, Salvador, Fonte inesgotável de Inspiração e Sabedoria. Aos meus pais, João e Eulina, que sempre estiveram presentes como elo fundamental entre a vida e os valores divinos. Ao meu filho, Guilherme Luís, presente de Deus, inspiração de vida. A Vanderlei, que tanto me incentivou e que embora venhamos a trilhar caminhos distintos, me ensinou que sonhar é a nossa meta humana. Aos meus irmãos, Mauro e Márcio, pelos seus respectivos exemplos de persistência, dignidade e luta. A FTC, na pessoa do Prof. Humberto Santos Filho, pelos inúmeros incentivos e a crença no sucesso de cada um. Ao estimado Prof. Guilhardes, que lançou uma semente em tempo oportuno e acreditou na sua germinação e agora são vistos os resultados. Ao meu irmão querido, Osmar, que sempre incentivou a minha luta e ainda que temporariamente distante confiro a ti também a alegria desta vitória. Ao Educandário Juvêncio Terra, na pessoa de Maria Helena Telles, que em momento oportuno e singular fizeram da compreensão um elo de fundamental importância para que este desafio fosse superado. A equipe Administrativa do HGVC , pela caracterização de um trabalho sempre coletivo na unidade, ajudando-me incondicionalmente para que este sonho fosse edificado. Aos amigos, que incondicionalmente, sempre acreditam em mim e me albergaram em seus corações nos momentos que mais os solicitei. A EMBRAPA de Cruz das Almas. Ao professor MAX pelo primor de sabedoria que carrega consigo e que faz da humildade uma parceria especial entre a ciência e o aprendizado. Mestre e sempre mestre. A Verônica Ferraz, pelo empenho em lembrar que é sempre muito cedo para se desistir. Agradeço profundamente a todas as pessoas que entram na minha vida e me inspiram, iluminando-me comoventemente com sua presença: Paty, Rosana, Lale, Sr. Almeida, Cacilda, Cristiane, Artur, Gustavo, Ludy, Adriana, Diogo, Renato, Karine. A Tia Cida e família por todo carinho, doação e desprendimento que tiveram comigo e com meu filho em momentos que era preciso dividir tarefas. A Comunidade de Campinhos pela intensa e marcante história regional, como também pelo sinal de persistência que impera em seus cidadãos, fazendo desta comunidade um exemplo de constante luta e resistência histórica. A COOPASUB pela presteza e auxílio, quando compartilhar informações é uma doação mútua. Aos colegas do Mestrado pela convivência compartilhada e pelo protagonismo em uma trilha nova e especial para todos nós, em especial a Deise, Leiriane e Clóvis. A todos os Mestres pelo empenho na descoberta de um novo conhecimento, um novo olhar crítico sobre o mundo.

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RESUMO SOARES, Marisa Oliveira Santos. Sistema de Produção em Casas de Farinha: Uma leitura descritiva na Comunidade de Campinhos – Vitória da Conquista(BA). Ilhéus, 2007. 99p. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente). Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente. Universidade Estadual de Santa Cruz. Pontualmente, a sociedade tem inferido várias discussões acerca da problemática ambiental, no que diz respeito às ações antrópicas no meio ambiente. Causas e efeitos desta intervenção nunca foram tão sistematicamente discutidos em várias instâncias e o leque ideológico se faz presente em diferentes vertentes. À medida que o século se reconstrói, um dos maiores desafios é o de se construir modelos produtivos centrados no desenvolvimento sustentável e consequentemente na edificação de comunidades sustentáveis. O presente trabalho tem como objetivo primordial expandir a linha de pesquisa no que diz respeito a sustentabilidade do sistema produtivo, descrevendo como unidades agroindustriais da mandioca – Casas de Farinha – edificam o seu processo de transformação dos recursos naturais e levantando, concomitantemente, variáveis que permitam ao presente estudo promover a construção de diagnóstico, que avalie sobretudo a qualidade dos elementos físicos, humanos e animais dispostos ao modelo de transformação do meio. As Casas de Farinha da comunidade de Campinhos passam a ser subsídios de investigação científica e sendo utilizadas, como objeto de estudo, servirão como fonte da resolutividade dos objetivos ora propostos, que visam desde o seu funcionamento até a análise por metodologia de avaliação de impactos ambientais apresentar o maior número de informações pertinentes a atividade das farinheiras e de que maneira as mesma podem consolidar ou comprometer a existência desta comunidade, que depende diretamente da renda oriunda das Casas de Farinha.

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ABSTRACT SOARES, Marisa Oliveira Santos. System Production houses in the Flour: A descriptive reading in the Community of Campinhos-Vitória da Conquista (BA). Ilhéus, 2007. 99 p. Dissertation (Master of Regional Development and Environment). Regional Program for Post-Graduate in Regional Development and Environment. State University of Santa Cruz. Promptly, the society has inferred some quarrels concerning problematic the ambient one, in what it says respect to the antropics actions in the environment. Causes and effect of this intervention had been never so systematically argued in some instances and the ideological fan it is in different sources. To the measure that the century if reconstructs, one of the biggest challenges is of constructing productive models centered in the sustainable development and consequently in the construction of sustainable communities. The present work has as primordial objective to expand the line of research in what it says respect to the support of the productive system, describing as agro-industrial units of the cassava - Flour Houses - build its process of transformation of the natural resources and raising, concomitantly, variable that allow the present study to promote the diagnosis construction, that over all evaluates the quality of the physical elements, human and animal made use the model of transformation of environment. Flour Houses of the community of Campinhos start to be subsidies of scientific inquiry and being used, as study object, they will serve as source of the resolution of the considered objectives however, that they aim at since its functioning until the analysis for methodology of evaluation of ambient impacts to present the biggest number of pertinent information the activity of the woman who sale flour and how the same one can consolidate or compromise the existence of this community, that depends directly on the deriving income of the Flour Houses.

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1 INTRODUÇÃO

Macaxeira, aipim, pão de pobre, pão do Brasil, uapi, pau de farinha, mandioca

brava, mansa, seja qual for o seu nome, simplesmente a mandioca é reconhecida,

entre vários pesquisadores, como a base de alimentação da maioria da população

mundial, podendo ser cultivada em pequenas faixas de terra e envolvida por

pequenos produtores rurais em suas atividades, além de tradicionalmente ser tida

como fonte geradora de emprego e renda, notadamente na região Nordeste do

Brasil onde o consumo per capita mundial de mandioca e derivados, em 1996, foi de

17,4 kg/hab/ano, sendo de 50,6 kg/hab/ano no Brasil. (EMBRAPA, 2007).

Disposta pela sua riqueza extrema em carboidratos, estando à frente do

arroz, do milho e da cana-de-açúcar, o tubérculo em questão sistematiza um

diferencial produtivo de grande relevância seja em relação a sua lavoura, seja em

relação aos produtos comercializados e derivados da mesma. O beneficiamento da

mandioca ocorre no Nordeste do Brasil de forma artesanal, denominado Casa de

Farinha, tendo pelo uso deste modelo, um dos principais entraves no que tange a

comercialização e a abertura competitiva no mercado que a coaduna.

Cultivada atualmente em vários países de diversos continentes, a mandioca é

o alimento humano e animal, que mesmo passado cinco séculos continua mantendo

o privilégio de aceitação popular, sendo utilizado de diversas maneiras, que vão

desde o uso in natura até a sua transformação por unidades de beneficiamento

industrial, lembrando que 65% do seu uso está diretamente ligado ao consumo

humano (Buitrago, 1990).

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Figura 1 Potencialidades de uso do amido no Brasil Fonte: EMBRAPA (2007)

Além da riqueza e da variedade de produtos que dela é retirada, como pode

ser visto na Figura 1. Foi através da mandioca, cultura difundida em solo brasileiro

pelos índios, que surgiram as Casas de Farinha, espectro de transformação e

beneficiamento, em caráter de mini-indústrias, dos inúmeros produtos que podem

ser subtraídos do tubérculo em questão.

São as Casas de Farinha, e não, Indústrias ou Fábricas, que determinam uma

peculiaridade exposta e importante em relação ao modelo de produção empregado

no sistema ora em descrição. Casas, porque além da transformação artesanal, a

esta também, estão atrelados os laços consangüíneos, irmanados e a extrema

diferenciação no modelo de produzir. A “farinhada” deixa de ser apenas o resultado

final de um sistema produtivo, para albergar também os vínculos familiares na sua

execução.

Excedendo a característica diferenciada em relação a outros modelos

produtivos, a Casa de Farinha sistematiza uma produção diferente, que

predominantemente aplicada na região Nordeste brasileira, pode referendar

discussões criteriosas sobre a sustentabilidade das comunidades que dela se

utilizam e/ou ao mesmo tempo da relação direta que se estabelece com os critérios

ambientais.

Conciliar desenvolvimento e sustentabilidade tornou-se uma bandeira não

somente ambientalista, mas sobretudo de discurso universal. Atualmente, a questão

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ambiental, que por longos anos, foi desmerecida de atenção devida, principalmente

pelas autoridades governamentais, requer uma atenção especial, dando notoriedade

ao assunto como nunca se viu antes. O tema aparentemente emergente consolida-

se com bastante veemência e tem agrupado vários segmentos sociais.

Da Revolução Industrial até os anos 70 do século XX, os governos estiveram ocupados demais com outras coisas, não quiseram ouvir advertências dos homens de ciências. Mudanças climáticas eram dadas como questões secundárias em face de outras, predominantemente questões militares. Por várias décadas, uma agenda sangrenta ocupou o tempo de lideranças. Primeira Guerra Mundial, bolchevismo russo, Tratado de Versalhes, fascismo italiano, Guerra Civil Espanhola [...] Basta dizer que até 1948, no organograma da ONU, não por acaso em último lugar, e assim mesmo designada como “proposta”, figurava uma desconhecida Organização Meteorológica Mundial. (MARCOVITCH, 2006, p. 38)

Por sua vez, o enlace entre desenvolvimento e sustentabilidade surge como

mecanismo de reorientação dos procedimentos adotados pela civilização humana no

decorrer destes anos. A crise que ora se instala e que na maioria das vezes pode

remeter ao caos, acaba sendo até pela existência deste, o aporte para o novo, para

a possibilidade da mudança.

Resgatando o propalado acima e enfatizando a comunidade como objeto de

estudo, é que se propõe através deste trabalho, descrever o modelo de Casa de

Farinha posto em evidência e questionar de que maneira os empreendimentos das

unidades de beneficiamento da mandioca contribuem para a geração de impactos

sociais e ambientais em decorrência do processo produtivo empregado na

Comunidade de Campinhos, alocada em Vitória da Conquista no Sudoeste baiano.

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2.0 – OBJETIVOS

2.1– Objetivo Geral

Partindo da caracterização e da sistematização das Casas de Farinha alocadas

no bairro de Campinhos, o repto mais relevante desta pesquisa coaduna com a

descrição do modelo de produção empregado e os principais impactos sociais e

ambientais oriundos do processo produtivo empregado pelo empreendimento

agroindustrial em questão e terá como objetivo geral:

• Caracterizar o sistema de produção de derivados da mandioca em Casa de

Farinha e seus impactos socioambientais no desenvolvimento da

comunidade.

2.2 Objetivos Específicos

1) Descrever a estrutura física das casas de farinha e os métodos de produção

empregados;

2) Caracterizar e qualificar a mão-de-obra empregada na produção;

3) Avaliar a importância relativa da ocupação de mão-de-obra pela atividade, no

contexto da comunidade do bairro;

4) Identificar e qualificar os impactos ambientais e/ou sociais provocados pela

atividade.

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3.0 REVISÃO DE LITERATURA

“Pensar na geração futura é, teoricamente, mais simples do

que pensar na presente, já que se assinando um contrato para outros cumprirem, sem a necessidade de qualquer restrição ao presente”

(SILVA,2005)

3.1 Questões Ambientais

A história da humanidade sempre foi demarcada pela luta incessante pela

sobrevivência. É notório e salutar dizer que, essa luta nem sempre aconteceu com

equidade, sejam pelos aspectos econômicos, políticos, sociais e como não dizer

sobre o próprio posicionamento geográfico, que quando não muito estratégico,

emperra ou dificulta a relação homem-natureza caracterizando uma batalha árdua

pela manutenção e atendimento às necessidades humanas. Seria ao mesmo tempo elucidatório, reconhecer que o homem, que venceu

inúmeras e fatigadas crises, desafios e limitações, e sempre se colocou

pretensiosamente superior diante das forças naturais, vive atualmente um apelo

comum e global de convivência, onde os méritos, as leis e os paradigmas são

colocados diante de um novo prisma: a sobrevivência no planeta Terra, sustentada

em um desenvolvimento eqüitativo e voltado para questões até outrora não

elucidadas com tão veemência na construção da sua história: quer seja o meio-

ambiente.

Diante desse quadro, e se referindo ao ambiente não como um elemento

periférico, mas sobretudo como principal foco de estudo para reestruturação social e

econômica das comunidades, cidades, metrópoles e ou nações o conhecimento

nesta área, torna-se para o mundo, o elemento-chave de pesquisa para a

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estruturação de uma nova vertente, dando, assim, o caráter de complexidade e

referência que o mesmo tem nos dias atuais, como salienta Ferreira (Hogan 1995,

apud):

Os programas de desenvolvimento orientados para a satisfação das necessidades humanas, tendo em vista as potencialidades de suporte biofísico, ultrapassam a racionalidade econômica convencional, porque comprometem-se com um novo humanismo bem como com um novo “contrato natural”, necessários e urgentes diante dos índices alarmantes de pobreza enfrentados pelo terceiro mundo...

A discussão ora apresentada, revoga e chama atenção também para um

modelo econômico ilimitado, que supostamente vinha para atender às necessidades

humanas e o desenvolvimento da sociedade, pondo em risco a própria

contextualização material do sistema econômico vigente, pois, outrora, esse próprio

aparato externaliza um custo social e ambiental alto, que gera uma fluência para as

desigualdades socioeconômicas e ambientais.

É demarcado por esses pressupostos que se instaura na sociedade um

momento peculiar e bastante característico, que requer atenção de todos, pois neste

processo civilizatório “moderno”, inclui-se um modelo de ameaça e exclusão do

futuro.

A vida humana no planeta clama urgentemente por uma postura mais

eqüitativa diante do conceito de desenvolvimento econômico. É necessário sair da

ética individualista para incorporação de um pensamento holístico que permita a

sociedade se sentir co-responsável pelo interesse de um planeta que é coletivo.

Como ressalta Becker (2001), é urgente pleitear num nível ético, a junção entre as

éticas da solidariedade e alteridade por um problema universal.

A problemática já existe e coaduna com um referencial amplo e nada discreto, se

levarmos em conta o aparato de pesquisas até então elencadas para o referido

tema. A sustentabilidade do planeta em detrimento do desenvolvimento econômico

fortalece e busca no preâmbulo da história uma nova interface, que saia do

consumismo ecológico (SILVA apud TRIGUEIRO 2005), ou seja, do acúmulo de

conhecimento, do ideologismo para a prática transformadora, capazes, de como um

caleidoscópio, ser agente do fluxo de mudanças de idéias, posturas, atitudes.

Essa inquietação, aqui provocada, remete-se ao compromisso de cidadania

universal, que pleiteia uma expansão da consciência ambiental integrada com o

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desenvolvimento econômico que não pode mais ser exaurido, e esse processo só

ocorrerá na exata proporção em que se percebe o meio ambiente como algo que

começa dentro de cada ser humano, portanto, faz parte do contexto de vida do

homem.

Essa co-responsabilidade humana com o meio ambiente, que

significativamente determina um novo modelo socioeconômico , encontra

embasamento teórico na Ecologia Profunda definida por Capra ( 1996, p.25-26), que

não separa o homem da natureza, do ambiente, na verdade não separa nada do

meio ambiente. Não vê o mundo como um conjunto de objetos isolados e sim como

uma complexa rede de fenômenos, intrinsecamente interligados e interdependentes,

numa abordagem sistêmica; logo reconhece o valor de todos os seres vivos e

encara o homem como um dos filamentos da teia da vida. Tudo isso vai de encontro

ao conceito anterior da chamada Ecologia Rasa, com visão apenas antropocêntrica:

o homem, neste prisma, é fonte de todo valor, está acima da natureza ou fora dela, e

atribui a ela apenas um valor instrumental e utilitário, um apêndice.

Há que se levar em consideração que este propalado vai requerer um imenso

esforço para a busca de alternativas eficazes que venham a dirimir os impactos

oriundos da intervenção antrópica na natureza, mas é importante considerar que a

relevância do mesmo, perpassa pela complexidade das relações empreendidas e

que a questão ecológica atual exprime. Não tem como se eximir do mesmo, o tema

é de abrangência universal e o compromisso da humanidade perpassa na mesma

proporção.

Incorporar as questões ambientais como o repto central do nosso tempo é

assinalar o comportamento emergente deste novo século, que surge em detrimento

de uma modernidade esperada, na qual o ser humano volte a ser parte e não esteja

à parte da natureza.

A intensidade com que a degradação do meio natural tem atingido os seres

humanos introduz a necessidade de se debater com bastante proeminência o tema

em questão. É a preocupação com o desenvolvimento e com a consolidação da

sociedade atual, bem com o seu legado hereditário que será deixado às gerações

futuras, embasando desta forma, o mecanismo de sustentabilidade que deve

permear as ações presentes e futuras neste planeta.

O momento é de construção particular. O atual e o agora dissocia-se de

pormenorizações, portanto, o discurso deve vir a ser mais expressivo e a

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necessidade é de reflexão profunda, generalizada e consistente, onde o problema

ambiental tenha o seu axial voltado para a sustentabilidade humana e natural, como

ressalta Guimarães apud Viana, Silva & Diniz(2001, p. 55) integrando o homem

neste novo processo e advogando um novo estilo de desenvolvimento que seja

ambientalmente sustentável no acesso ao uso dos recursos naturais e na

preservação da biodiversidade.

Fica evidente que a crise ambiental é a crise do nosso tempo. Não chega a ser uma

catástrofe ecológica, como justifica Leff (1988, p. 416), mas é, como diz o próprio

autor, um resgate reflexivo do pensamento que a humanidade utilizou por tanto

tempo para demarcar a sociedade com que nos deparamos neste presente.

È uma crise civilizatória e limítrofe, porque questiona a ordem do real, que busca reorientar e buscar ressignificação para o curso da nossa história, limite do crescimento econômico e populacional; limite dos desequilíbrios ecológicos, das capacidades de sustentação da vida e da degradação entrópica do planeta; limite da pobreza e da desigualdade social. (LEFF, 1998. p. 416)

Considerando por este prisma, este novo estágio é também um momento de

aprendizado e a complexidade ora instaurada nos leva à construção de um novo

conhecimento inquiridor e de nova performance, estruturando um aprendizado de

mão-dupla: o combate imediato ao problema mais concreto, mais particular; e

segundo promoção da crítica e da instauração de novos preceitos, analisando as

causas e as práticas que estão por trás de cada problema. ( LEFF, 2001, p. 390)

Ao que se parece, o momento é instigante. O referencial até outrora utilizado

passa por um momento de transformação e esta urge e é necessária. O momento é

de revogação do que parecia estar pronto, é a busca por novos conceitos, posturas,

referenciais, teorias e postulados. A reconstrução nos remete à perda, como se esta

tomasse para si uma conotação negativa, é como se o ponto de vista instaurasse

uma perspectiva que apenas estamos subtraindo; porém se faz necessário colocar-

se sob uma nova direção, um novo foco: há um novo que está surgindo e que

possivelmente será fruto desta nova desestruturação. (SANTOS,apud Diniz et.al.

2001; p. 28)

... é fácil ter um ponto de vista negativo sobre o qual está se desestruturando, porque a referência que temos é a do que está desaparecendo; mas é difícil ver o que está surgindo, porque muitas vezes não temos olhos para ver o seu

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interesse, a sua positividade nova, que está emergindo e ajudando a fazer com que tudo pareça estar se desarticulando. (SANTOS, 2001, p. 28)

Se por algum momento histórico houve a aproximação do homem e a

natureza, apenas deve ser vista como uma comunhão de interesse direto do

primeiro em relação ao segundo, portanto de exploração. Resgatando as palavras

de Gil (2005, p.45), a suposta comunhão integral entre o ser humano e o mundo

natural nunca chegou a se manifestar nos dias mais antigos de nossa existência

terrestre, nunca foi uma realidade histórica, objetiva, para o autor essa relação

nunca existiu. Portanto, conclui-se, que, ao longo deste tempo se arrastou um

comportamento humano destoado da integração harmoniosa e criteriosa acerca do

seu entorno e sua co-responsabilidade direta com os espaços naturais. Em função

deste comportamento repetitivo e desintegrador é que se conclama a sociedade

para uma discussão mais pontual e específica:

Encaramos o meio ambiente como sendo o produto de interações entre os homens e a natureza e da interação entre os próprios homens, em espaços e tempos concretos e com dimensões históricas e culturais específicas que expressam também o significado político e econômico das mudanças que se pretende induzir ou sustar. (RATTNER apud Viana, Silva & Diniz, 2001, p.98)

É preciso que se assinale e justifique a contento que o desenvolvimento

perpassa pela história humana e que jamais poderá ser revogado ou destituído da

nossa vida. Não há como construir a história sem edificar o desenvolvimento, porém

o chamado atual é de reformulação deste, pois se torna um pleonasmo necessário

falar do desenvolvimento com a concomitância com a sustentabilidade. A história

ambiental atual permite ver a complexidade ambiental na história passada e abre ao

mesmo tempo uma ação perspectiva para a construção de uma racionalidade

ambiental; é saber que se estabelece o vínculo entre o passado insustentável e um

futuro sustentável. (LEFF, 2001, p. 391)

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3.2 O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SUSTENTÁVEL

Quando o assunto outorgado é desenvolvimento econômico, há inúmeras

definições e contextualizações para o mesmo. Antes de 1970, quando reflexões

foram feitas tomando por base o homem e o meio ambiente, bem como a utilização

dos recursos naturais, os elos conceituais entre desenvolvimento e crescimento, se

aproximavam muito de intervenções políticas e ações econômicas que orientavam o

processo produtivo pelo uso intensivo de recursos, com a finalidade ímpar de

aumentar a produção, o consumo e a riqueza, reproduzindo e alimentando assim a

essência do sistema capitalista (SILVA, 2005; p. 72 / FURTADO 1974).

Tornou-se redundante e, ao mesmo tempo inevitável a sua adjetivação como

sustentável, - embora haja ainda refutações a respeito - pois indagações como:

como produzir, do que, e para quem se adjetivaram e se consolidaram, ao longo do

tempo na sociedade, curvando-se para algumas ações e preocupações primordiais

na construção desse desenvolvimento, que precisa ocorrer de forma harmoniosa,

mediante a intersecção das dimensões espacial, social, ambiental, cultural e

econômica. O desenvolvimento não pode apenas compreender a esfera econômica,

de produção e geração de riqueza, ele deve ser abordado na dinâmica , levando em

consideração a interdependência e a inter-relação das variáveis envolvidas em um

sistema complexo. (SILVA, 2005; p. 11, FURTADO, 1974, CAPRA, 1996, p. 36).

O conceito de Desenvolvimento Sustentável que vigora em nossos dias

originou-se do Relatório Brundtland1, que o define pelo comprometimento com as

novas mudanças no estilo de produção e geração de riqueza: desenvolvimento que

satisfaz as necessidades das gerações atuais sem comprometer a capacidade das

gerações futuras de satisfazer suas próprias necessidades.

1 Relatório Mundial sobre o estado do meio ambiente, coordenado pela Ministra Gro Bruntdland, da Noruega, que foi então chamado de Nosso Futuro Comum. Foi esse relatório que cunhou o termo “desenvolvimento sustentável”.

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No Brasil, mais especificamente, embora a discussão ainda não havia sido

demarcada pela ECO-92, em solo nacional, a Constituição de 1988 é bastante atual

quando antecipa no seu bojo a inserção do conceito de desenvolvimento sustentável

em seu texto base:

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presente e futuras gerações. (Constituição Federal 1988, Art. 225, Cap VI, 2003 )

A antecipação aqui remetida refere-se ao conceito de desenvolvimento

sustentável consolidado atualmente, que teve sua origem fixada na Conferência das

Nações Unidas sobre Meio Ambiente2, realizada em Estocolmo, capital da Suécia,

em junho de 1972. Até então, esse dois vocábulos indissociáveis não tinham

nenhuma pretensão de firmarem entre si tão forte e fecunda parceria, a qual perdura

até os dias atuais.

Os ditames, de tão expressivo encontro, inicialmente serviriam apenas para

colocar em evidência a produção dos países de Primeiro Mundo, que embora

estivessem em um estágio avançado de industrialização, deparavam-se com a

antítese da escassez de recursos naturais, surpreendendo-se, mesmo diante da

tecnologia em alto estágio, com a limitação imposta pelo meio ambiente no que dizia

respeito à destinação final dos resíduos – sólidos, gasosos, líquidos – tanto na

esfera industrial, quanto no comportamento do consumidor final e da população de

modo geral. Porém, a expansão das discussões e o agregar de uma postura que

evidenciava o meio ambiente humano, diante da questão ambiental em um modelo

de desenvolvimento que, até então se instaurava, fortalecendo ações predatórias, foi

o despertar da consciência ecológica em nível global, que buscou ir além do âmbito

local ou regional. (BRUNACCI & PHILIPPI Jr., 2005; p. 257).

O tema desenvolvimento sustentável não se esgota em seu conceito reflexivo,

originado do relatório de Bruntdland3, Nosso Futuro Comum, mas se refere a um

2 Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, realizada em 1972, em Estocolmo, na Suècia 3 Em 1987, em Estocolmo, na Suécia, a ONU publicou-se o documento Nosso futuro comum, onde em raras vezes, o planeta esteve em evidência e levou a humanidade a repensar sua postura diante deste, notando que alterações oriundas da intervenção do homem na natureza implicariam em ameaça à vida e ao desenvolvimento espacial do mesmo. O Relatório Brundtland foi desenvolvido pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, a sua referência é um marconas discussões ambientais, compreende uma série de iniciativas, anteriores à Agenda 21,

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processo de compreensão alternativa em face às modificações oriundas deste

momento em construção, pois o mesmo não se limita à preocupação sobre o que e

para quem produzir, mas a questão de como produzir torna-se fundamental para

garantir a continuidade do bem ou do serviço em questão. (SILVA e MENDES,

2005).

3.2.1 Desenvolvimento X Sustentabilidade

Embora, muitos autores e pesquisadores não consigam ver a dissociação entre

desenvolvimento e sustentabilidade, é bom que se estabeleça entre essa dicotomia

um espaçamento conceitual de ponderação e significado, argumentando-se que,

não há sinonímia entre ambos, como pensam alguns, ou seja, há uma

complementaridade, jamais uma redundância ou espécie de pleonasmo forçado.

(SILVA e MENDES, 2005; ULTRAMARI, 2003)

O distanciamento conceitual está entre a eficiência e a eficácia outorgadas a um

ou ao outro termo. Em outras palavras, a sustentabilidade está relacionada

diretamente com o fim específico, o lugar onde se pretende chegar; já o

desenvolvimento é o mediador, aquele que pode dirigir-se ao foco de como se

pretende chegar a algum lugar, a junção entre os dois termos se constrói e se faz

visível a partir da definição de um conceito que abre o olhar sobre o que até então

era invisível, impensável, quer seja, a sustentabilidade. (SILVA e MENDES, 2005;

LEFF, 2001).

O desenvolvimento remete ao progresso, ao alcance de resultados, é a eficiência

esperada, por ser mediador, por ser intermediário, por ser o aporte do resultado

esperado e desejado. Por esse requisito fundamentado, o desenvolvimento é de

uma incessante busca, não se pode abolir o progresso, ele é a adjetivação precisa

do resultado positivo a ser alcançado. Como não se pode mais extinguir ou estancar

o desenvolvimento. Também é inadmissível falar hoje em desenvolvimento sem se

antecipando um compromisso de questionamento em relação ao do modelo de desenvolvimento adotado pelos países industrializados e reproduzido pelas nações em desenvolvimento, e que reforçam os riscos do uso excessivo dos recursos naturais sem considerar a capacidade de suporte dos ecossistemas. O relatório aponta para a incompatibilidade entre desenvolvimento sustentável e os padrões de produção e consumo vigentes.

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remeter à sustentabilidade, porém a busca do primeiro pelo segundo é uma

constante, porque o tempo presente conclama um futuro sustentável; quando

algumas ações o alcançam, um outro presente se faz visível e atuante. Portanto, a

busca pela sustentabilidade é infinita. ( ULTRAMARI, 2003, p. 10 )

Ainda que estejam presentes em uma dicotomia de valores, o desenvolvimento e

a sustentabilidade se tornaram, atualmente, o molde de um discurso universal, um

não deve se fazer presente sem o outro. No dizer de Leff (2001, p.17) já foram

assinalados os limites da racionalidade econômica e os desafios da degradação

ambiental ao projeto civilizatório da humanidade. Rompe-se, portanto, o modelo

tradicional de desenvolvimento. A nova tendência exige uma postura de mudanças

radicais em que os recursos naturais, a gestão de empreendimentos, os avanços e

as diretrizes tecnológicas, bem como adaptações institucionais devem tornar

concreto o atendimento eficaz e pleno das necessidades do hoje –

desenvolvimento – e do amanhã – sustentabilidade. (BRUNACCI e PHILIPPI Jr.

2005 : 261) Pode-se, então, chegar a reflexão que o desenvolvimento sustentável

visa o aprimoramento da condição de vida humana, sabendo que o incremento

fornecido ou acrescentado hoje, - o desenvolvimento - não deve ser o custo da

degradação da qualidade de vida das gerações futuras – a sustentabilidade. (SILVA

e MENDES, 2005).

Portanto, o que mais fica evidenciado nas discussões acima é a esfera de

responsabilidade outorgada ao desenvolvimento sustentável, ou seja, a inter-relação

entre os dois termos, tomados pela dicotomia ora presente, não se limita apenas ao

que e ao que produzir, mas se torna bem expressiva a preocupação do como,

proposição esta, fundamental para a garantia da continuidade do bem maior:

qualidade de vida no planeta.

A dimensão única do termo desenvolvimento sustentável inibe a divisão entre

ambos, pois não tem sentido falar hoje de um, sem se reportar ao outro, pois se trata

de um processo uno de transformação, contendo todas as variáveis - sociais,

culturais, espaciais - de forma interdependente, no transcorrer do tempo. Na própria

construção e transformação da sociedade, o desenvolvimento sustentável pode ser

visto como meio, quando se caracteriza como um processo em mutação; e ou como

fim do processo de reprodução do sistema, quando caracteriza esse sistema e o

define pela maneira como os recursos são utilizados para permitir a consolidação do

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desenvolvimento econômico. (BRESSER PEREIRA, 2003; SILVA e MENDES, 2005;

ALMEIDA,2001).

As duas óticas aqui referendadas são justificadas em importância, pois o

desenvolvimento sustentável se firma pela alteração dos processos (meios) e dos

objetivos almejados (fins). (SILVA e MENDES, 2005)

As dinâmicas ora propostas são contraditórias se comparadas ao processo de

modernização exposto pelo homem contemporâneo, ou seja, o propalado exigido

coloca em rota de colisão, de um lado, as ilimitadas possibilidades de um mundo

moderno construído com aval pela espécie humana e, de outro, as limitantes

concretas de um mundo dado pela natureza. Tudo isso, porque por muito tempo se

desenvolveu um modelo econômico centrado no uso massivo dos recursos naturais.

(BECKER, 2001)

3.2.2 Comunidade e Desenvolvimento Sustentável

Falar em desenvolvimento sustentável tornou-se o grande desafio do século XXI.

De um lado, imperou uma divulgação preconizada e fortalecida em nossa sociedade,

principalmente depois da ECO-924, dando a este conceito a formatação de um

discurso fácil, de um desejo aparente de uma maioria, politicamente adotado e

expandido em inúmeras causas; e através de outro viés, a mesma divulgação não

cedeu espaço para que se avaliasse sua complexidade e aplicabilidade, visto pela

própria dicotomia já ressaltada no capítulo anterior (ULTRAMARI,1997). Se o

contexto atual tem albergado a difusão do termo, o entendimento do mesmo ainda é

difícil consecução, pois a internalização do conceito de desenvolvimento sustentável

ainda exige uma convocação extrema de toda a sociedade para que a mesma se

sinta co-responsável pela edificação deste, de forma respaldada e operacional.

4 Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, em 1992, que ficou conhecida como Rio-92 e se tornou o principal marco mediador de práticas decisivas para implementação de um desenvolvimento sustentável, como compromisso ratificado entre 178 nações, ficando consolidado o documento Agenda 21, que assim foi assim denominado por ser o porta-voz dos anseios ambientais para o século atual.

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Nesse sentido, um dos maiores desafios enfrentados para a incorporação do

desenvolvimento sustentável, refere-se ao de territorialização, ou seja, pontuar

especificamente a sustentabilidade ambiental e social do desenvolvimento – o

“pensar globalmente, mas atuar localmente” – e concomitantemente promover o

desenvolvimento do território. Em outras palavras, possibilitar que as atividades

produtivas possam contribuir efetivamente para o aperfeiçoamento das condições de

vida da população e venham a proteger o patrimônio natural a ser transmitido às

gerações futuras. (GUIMARÂES 1998 apud DINIZ org. 2001; LEROY,1997)

Em razão da discussão acima pontuada, tem-se verificado uma perspectiva em

estar visualisando a comunidade como território, ou ponto de partida, para a

promoção do desenvolvimento sustentável, seguindo as especificações acima

descritas. Ao colocar em evidência a comunidade e o desenvolvimento sustentável,

aposta-se na dinâmica microrregional, com suas caracterizações, particularidades

podendo neutralizar o paradigma de ações globais, e verificando que a interface

local pode sim, remeter ao processo de desenvolvimento, protegendo as

oportunidades de vida das gerações atuais e futuras e, por conseguinte, respeitar a

integridade dos sistemas naturais que permitem a existência de vida no planeta.

(LEROY, 1997; GUIMARÃES apud VIANA, SILVA & DINIZ (org), 1998).

Se o territorializar referenda um espaço de atuação, a comunidade enquadra-se

neste projeto de promoção do desenvolvimento sustentável. Falar em comunidade é,

sem dúvida alguma, também uma referência conceitual de uniformidade imprecisa.

A idéia de comunidade, na maioria das vezes, é frequentemente associada à

uma configuração física espacial: é o bairro, o povoado, os moradores, o município

ou mesmo uma sub-região. Como salienta Leroy (1998), quando se toma a

comunidade como um espaço físico, ignoramos as diferenciações sociais, políticas,

históricas, os conflitos e os interesses, portanto, para o mesmo autor este não seria

uma contextualização precisa para a promoção do desenvolvimento, visto que uma

ação baseada neste conceito levará provavelmente à paralisia ou à neutralização

mútuas dos diferentes setores da sociedade, ou à prevalência dos setores mais

forte econômica e/ou politicamente.

Em outras palavras, para a construção de propostas de desenvolvimento

sustentável em um dado espaço territorial, exige-se que os diferentes setores e os

diversos atores sociais se encontrem, dialoguem, negociem e construam um

território numa perspectiva sustentável e uniforme.

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Se a comunidade fica restrita em seu conceito pelo espaço físico, a comunidade

também pode ser vista pela diversidade cultural, étnica , religiosa e espacialmente

construída. Segundo Leroy (1998), esses parâmetros dão a idéia de pertencimento,

ou seja, a confluência com uma identidade individual e coletiva dos membros de um

grupo. Essa identidade pode surgir em função da forma como as pessoas se unem

para resolver problemas ou determinar ações, configurando uma ação participativa e

adjetivada pelo comportamento que o grupo possui frente ao seu espaço, surgem,

portanto, os atores sociais e sua convergência dentro da comunidade.

Falar em comunidade é também falar em território, portanto, há uma

complementaridade entre o primeiro e o segundo conceito, pois é justamente no

território, onde a convivência permite o conhecimento mútuo e possibilita a ação

conjunta.

Com base nos preceitos acima apresentados, é notório que o vocábulo

comunidade é um conceito que de forma alguma é usado de modo claro, único e

inequívoco na literatura científica. Ele é tanto um instrumento metodológico para a

pesquisa, como objeto de investigação. Particularmente, na América latina a

pesquisa em comunidades é o tipo mais comum de pesquisa sociológica. Portanto,

para se falar delas como um grupo específico, é necessário abstrair suas

diversidades e concentrar a atenção sobre aqueles aspectos que verdadeiramente

têm em comum. (STAVENHAGEN apud SZMRECSÁNYI & QUEDA 1979, p.26).

Um tipo de abordagem muito comum acerca do modelo comunitário tem sido, de

modo particular, o que a toma pelos efeitos causados pela variação tecnológica e

sua inferência nas questões ambientais, dando ênfase a projetos em que a

referência são as áreas protegidas, regido pelas regras estabelecidas pela

comunidade humana. É digno ressaltar, que o primeiro tipo de abordagem

usualmente leva a uma maior ênfase sobre a mudança interna à comunidade,

enquanto a segunda orientação tende a enfatizar fatores externos à mudança.

(HOGAN apud TORRES & COSTA (ORG), 2005. P. 68; JORGE, apud RIBEIRO

(ORG), 2004).

É neste espaço restrito, em que o agir local e o pensar global conclamam para

iniciativas profícuas e eficazes, e sendo pontuais podem ser agentes multiplicadores

da disseminação e integralização do conceito de desenvolvimento sustentável para

os atores sociais, que modificam e podem qualificar suas ações no território onde

vivem.

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3.3 IMPACTOS AMBIENTAIS

Uma vez ciente de que sua sobrevivência dependia diretamente da sua co-

relação com a Natureza e os recursos por ela disponibilizados, o homem veio, ao

longo do tempo aumentando sua capacidade de interferir no meio para satisfazer

suas necessidades, desencadeando desta sistematização muitos problemas em

razão do mau uso do espaço físico ou dos recursos disponíveis, provocando, desta

forma, sérios problemas de impactos ambientais. (SILVA & VIANA, 2006; Philippi Jr,

Romero, Bruna; 2004)

A modificação se encerrava por algumas variáveis pertinentes a história e ao

momento em que o homem ocupava o seu espaço e a sua trajetória de vida. Entre

esses elementos estavam a concentração populacional, o crescimento desordenado

dos espaços físicos e a exploração desregrada dos recursos naturais disponíveis,

desencadeando impactos positivos ou negativos, como é caso da degradação

humana, a proliferação de doenças, concentração de renda, vetores biológicos,

entre outros. (SILVA & VIANA, 2006; )

O Impacto Ambiental deve ser entendido como toda e qualquer alteração das

propriedades físicas, químicas e ou biológicas do meio ambiente em razão dos

efeitos causados por matéria ou energia associada a atividade humana, conforme

estabelece a Resolução 01 do CONAMA5 de 23.01.86.

Alvarenga et. al. (2000), ressalta que um impacto ambiental tem ocorrência direta

com alguma atividade humana, ou seja, provém de ações que provocam alterações

5 CONAMA - O Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA é o órgão consultivo e deliberativo do Sistema Nacional do Meio Ambiente-SISNAMA, foi instituído pela Lei 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, regulamentada pelo Decreto 99.274/90. O CONAMA é composto por Plenário, CIPAM, Câmaras Técnicas, Grupos de Trabalho e Grupos Assessores. O Conselho é presidido pelo Ministro do Meio Ambiente e sua Secretaria Executiva é exercida pelo Secretário-Executivo do MMA. O Conselho é um colegiado representativo de cinco setores, a saber: órgãos federais, estaduais e municipais, setor empresarial e sociedade civil.

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no meio, em alguns ou em todos fatores componentes do sistema ambiental. O

mesmo autor justifica o estudo de impacto ambiental defendendo a investigação em

dois caminhos: a situação atual e a futura, denominados respectivamente de

diagnóstico ambiental e prognóstico ambiental.

Partindo do referido conceito e sendo observado o Impacto de suas ações no

meio natural, pode-se então referendar o homem como o principal agente

transformador da natureza e dos seus recursos e portanto, torna-se o principal

responsável pela revisão de atitudes e de comportamentos frente a utilização dos

recursos naturais.

O estudo de Impacto Ambiental não deve apenas perpassar como um elemento

de pontuação espontânea de investigação, mas pela relevância dos dados

apresentados, ele permite uma avaliação das conseqüências geradas pela

intervenção antrópica no meio, ao passo que, em muitos momentos esta razão pode

ser irreversível face a limitação de recursos para atender a demanda crescente das

cidades, ou também por razão de estender por muitos anos uma única prática, sem

que tenha sido dado nenhum sinal de reversibilidade dos instrumentos ou

procedimentos adotados, arrastando por muitas vezes um modelo produtivo erosivo

para a manutenção da natureza e dos seus recursos. (SILVA & VIANA, 2006)

O homem do século XXI é um urbanita e vive em aglomerações cada vez

maiores, o que demanda a utilização de recursos cada vez menos proporcional ao

que a natureza dispõe e que, indiretamente, coaduna com a sobrevivência do

homem neste planeta, pelas necessidades que por ele foram criadas ao longo do

tempo (Philippi Jr, Romero, Bruna; 2004). Por sua vez, se não bastasse o consumo

direto e desordenado no ambiente natural, há que se considerar em igual proporção

a quantidade de resíduos, que retornam ao meio sem destino adequado ou

reutilização correta.

A questão ambiental, embora seja palco de inúmeras referências e discussões, e

a intervenção humana na natureza seja o principal agente de transformação do

ambiente natural, e ainda que pese uma acentuada preocupação com o meio

ambiente, é salutar dizer que, as pesquisas de impactos ambientais ainda são

escassas no Brasil, exigindo uma preocupação mais específica sobre o tema. A

degradação causada, apesar de ser vista, muitas vezes, de forma generalizada,

afeta diretamente diversos sistemas e pela especificidade encontrada em cada um,

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é importante que sejam estudados individualmente. (Philippi Jr, Romero, Bruna;

2004)

As cidades ou aglomerações urbanas, que incluem os setores industrial,

residencial, comercial, de serviços públicos e de transporte, são organismos vivos e

pulsantes e, como os próprios organismos humanos, necessitam de alimento, água

e oxigênio, emitindo o processo de gás carbônico, entre outros, e produzindo

resíduos. (Philippi Jr, Romero, Bruna; 2004)

Essa perspectiva acima apresentada remete à gravidade acerca do Impacto

Ambiental, aqui posto em discussão. Se o Impacto Ambiental é conseqüência

imediata da intervenção do homem no meio em que vive, gerando, conseqüente,

novos ambientes – nem sempre os mais ideais – como conviver com esta realidade

sem esgotar os recursos naturais disponíveis?

Modelos produtivos engendrados em posturas tradicionais, como é o caso do uso

de agrotóxico, a monocultura, predação indireta de animais e da vegetação local,

leva a necessidade atual de estudar com mais afinco a viabilidade de alguns

empreendimentos, que podem a longo prazo comprometer a sustentabilidade do

espaço que o dirige, das pessoas que dele depende e do ambiente que o acolhe.

(Philippi Jr, Romero, Bruna; 2004)

3.3.1 – A sustentabilidade produtiva e os Impactos ambientais: um imperativo

Com o passar do tempo, a humanidade se viu em uma grande contradição do

mundo moderno: contemplar as necessidades emergenciais e transitórias do homem

em uma sociedade de bastante especulação consumista, ao passo que lhe era

apresentada uma limitação de recursos, ou talvez, uma restrição na exploração dos

insumos que até então lhe tinha sido facultada.

Ao mesmo tempo em que o homem expandia e intensificava o processo de

acumulação de riqueza e diversificação produtiva, ele mesmo se deparava com a

eliminação sensível da biodiversidade natural, agora escassa e, portanto,

merecedora de atenção diferenciada. Com a expansão e intensificação do padrão

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produtivo depredador da natureza e de seus recursos, logo ficou em evidencia suas

disfunções. (BEKER, 2001)

Já que os impactos como ressalvados por Alvarenga et. al (2000) devem ser

tomados como uma responsabilidade antrópica no meio, cabe portanto uma outra

discussão mais pontual a quem seria dada a outorga de problemas ambientais

causados por uma intervenção fora da homogeneização preterida pelo modelo de

desenvolvimento sustentável.

Cabe portanto, suscitar os atores sociais, no presente estudo, no modelo de

produção familiar como agente preponderante para reversibilidade das práticas

inclusas nos modelos produtivos empregados (diversificação produtiva, lógica de

subsistência, nível de esclarecimento), tomando sua forma de relacionar com a

natureza, tendo ou não as condições de se realizar a passagem de um modelo

erosivo de produção para uma base sustentável de desenvolvimento. (GÓMEZ apud

BECKER, 2001, p. 95).

Por longos anos, o modelo produtivo vigente no Brasil vem assentando em

moldes erosivos do ecossistema e centrado em altas taxas de produtividade. O que

se clama hoje, é por um modelo de desenvolvimento que tenha como objetivo

central não somente a produtividade, como meio de atendimento às necessidades

humanas, mas sobretudo que seja orientado a resgatar a produção de alimentos,

fibras, serviços, produtos preservando os agroecossitemas a fim de combinar

desenvolvimento e sustentabilidade. Em outras palavras, é preciso que coadune

agricultura, produção e as diversas relações de interdependência entre

produtividade, consumo de energia, fauna, solos, florestas e seres humanos.

(CAPRA, 1996, GÓMEZ apud BECKER, 2001, p. 95).

Ainda que se postulem os atores sociais como elemento de supremacia para

melhoramento no uso dos recursos naturais, há que se considerar também que a

situação atual de deterioração dos recursos não resulta apenas dos setores

individuais da sociedade, e sim do fracasso do mercado em fornecer os índices

adequados para o acionamento correto dos agentes econômicos e fiscalizadores,

bem como da ineficiência do Estado em programar intervenções que corrijam ou

vigiem as situações de comprometimento do uso inadequado do meio ambiente e

dos seus recursos. (TRIGO, 1994)

Há ainda que se considerar que para algumas correntes teóricas, o mercado

poderia ser um agente catalisador das referências erosivas do modelo de produção

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vigente. Porém, centrados na modelagem de produção vigente, onde o preço é um

agente regulador da lei de oferta e de procura, fundamento básico da economia

clássica, que vê disponibilidade infinita de recursos e quando escassos o aumento

do preço não centra em questões ambientais como elemento regulador de política, o

que além de comprometer o equilíbrio ambiental ameaça também a sustentabilidade

do sistema. (GÓMEZ apud BECKER, 2001, p. 102).

A questão que ora se conclama está no desafio de preservar a natureza,

entendendo que a redução dos desgastes ambientais, não pode se limitar a um

simples custo de reposição dos meios subtraídos, ou tentar estimar preços para

avaliar em caráter de sondagem o que estimativamente poderia ser alocado, uma

vez que se trata de estragos nos mecanismos que asseguram a perpetuação da

biosfera. O fim de uma floresta, de um mar, ou de uma espécie não é apenas o

desaparecimento de um eventual valor mercantil, mas, sobretudo, o fim de

determinadas funções em um meio natural, comprometendo, dessa forma a

interação sistêmica que deve existir entre todos os componentes do meio. (VEIGA,

1994)

3.3.2 – Modelos produtivos

Centrado em modelos de produção que visam o aumento da produtividade, o

deserto verde, assim denominado por alguns pesquisadores, deriva do fato de se

comprometer a cobertura vegetal por uma única espécie – monocultura - mas sem

se ater para o comprometimento do solo com a implantação deste e não de outro

sistema de produção, que primando pela combinação biológica, busca-se a

preservação de várias espécies, maiores e menores.

Quando se derruba vastas extensões de terra uma grande área cede lugar a

um modelo produtivo de exclusão, ou seja, desde pequenas a grandes espécies,

ficam grandes lacunas no abrigo natural, não lhe sendo ofertados a recuperação

imediata ou retorno ao equilíbrio original. Dificilmente conseguem se reproduzir,

invadindo áreas urbanas e tornando presas fáceis para grandes predadores. Outro

efeito é o esgotamento do solo: na maioria das colheitas retira-se a planta toda,

interrompendo desta maneira o processo natural de reciclagem dos nutrientes . O

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solo torna-se empobrecido, diminui a produtividade tornando-se necessária então a

aplicação de adubos.

O avanço da espécie humana no sistema produtivo, que prima pela

quantidade sem olhar para as questões ambientais, funda-se na destruição das

florestas e no comprometimento do equilibrio natural.

3.3.3 – Trabalho e aspecto operacional

Por muito tempo o trabalho era visto como elemento de integração e de

transformação do homem no meio em que vive. O desempenho humano no trabalho

em algumas instâncias foi demarcado historicamente pelo aspecto quantitativo, ou

seja, a produtividade era vista como elemento métrico da eficiência (AMARU, 2002),

ou ainda como uma atividade coordenada, de caráter físico ou intelectual,

necessária á realização de qualquer tarefa, serviço ou empreendimento (BARBOSA

FILHO, 2001).

Na sociedade contemporânea outros valores subjetivos têm norteado o

trabalho em outras instâncias. O verdadeiro valor do trabalho, enquanto agente de

transformação e de produtividade, ainda que quantitativamente solicitada, emerge

em outros elementos mais subjetivos, como a competência, a habilidade e a atitude,

elementos norteadores da gestão de pessoas postulada para empreendimentos que

apostam na estratégia como fundamentação dos seus esforços (ARAUJO, 2006).

Além dos elementos que circundam a Administração Estratégica, postula-se

que o desempenho humano no trabalho, de maneira ordenada, precisa ser vista pelo

prisma do ambiente que o alberga, ou seja, as condições físicas perpassam,

atualmente, como elemento métrico de avaliação mediadora do desempenho

humano no trabalho, surgindo portanto, a necessidade de observar a adequação das

condições de trabalho e quais as consequencias danosas sobre a saúde individual,

familiar e coletiva e, por que não dizer sobre a própria organização. (BARBOSA

FILHO, 2001)

Há que se considerar, portanto, que todas as ações que determinam a nossa

sobrevivência, realizadas voluntária ou involuntariamente por nosso corpo,

traduzem-se como trabalho. (OMS apud BARBOSA FILHO, 2001)

Retomando a discussão sobre o trabalho e sua importância BARBOSA FILHO

(2001), chama atenção para elementos essenciais que devem pontuar as condições

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de trabalho seguras para o desenvolvimento desta atividade, seriam elas:

segurança, higiene física, higiene mental, saúde ocupacional.

Respeitar as condições de trabalho é tratar do respeito ao meio em que o

indivíduo executa suas práticas profissionais, ou seja, em uma primeira ordem

permitir pela compreensão dos mecanismos adotados a observação ou prevenção

dos prováveis impactos que podem ser ocasionados pela execução incorreta de um

trabalho. (BARBOSA FILHO, 2001)

Na realização de um trabalho, todo indivíduo ou toda coletividade, estão

expostos ao risco ou aos perigos eminentes da ação executada. Porém, o risco é o

perigo remediado pela prevenção, pela probabilidade de conhecimento. Já o perigo

se faz presente, quando as causas ou as consequências que o norteiam é

desconhecida para o agente executor.

O uso de EPIs, normatizado pelo Ministério do Trabalho, em sua NR 6, induz

pela obrigatoriedade de seu uso, nortear a execução do trabalho a ser realizado,

como também determinar que a ação voluntária ou involuntária, não venha a ser

causadora de impactos negativos na execução das mesmas.

Os riscos a que estarão expostos o indivíduo em seu trabalho estão classificados

em alguns grupos, entre eles os químicos, os biológicos, os físicos, os acidentais e

os ergonômicos. (BATISTA, 1974)

Além dos riscos acima citados, o indivíduo ou uma coletividade, podem estar

expostos a outros riscos, como é o caso dos ruídos. O som pode, por diversas

situações nos encaminhar a agradáveis sensações, porém quando o mesmo

assume um caráter indesejável, geralmente denominados de ruídos, afetam o

homem nos planos físicos, emocional, psicológico, gastrointestinal,

cardiocirculatórias, neuropsíquica, habilidade e social, esta acrescenta-se as

constantes dificuldades introduzidas na comunicação entre pessoas provocadas por

ruídos oriundos de diversas fontes. (BARBOSA FILHO, 2001)

A exposição do homem ao meio faz com que o mesmo sempre busque manter

com o espaço físico uma temperatura que seja agradável a sua permanência. Muitos

outorgam a ambiência favorável ao clima somente às condições física do meio,

porém além destas há que se considerar também, o esforço físico desprendido pela

execução de uma atividade. (COUTINHO, 1998).

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3.3.4 Avaliação de Impactos Ambientais Muitos empreendimentos têm promovido atividades econômicas que

interferem no meio ambiente, sem que possuam licenciamento ambiental para

execução das mesmas.

Segundo Ribeiro (apud Philippi Jr 2004, p. 761), a avaliação de IA deve ser

vista como parte integrante do planejamento ambiental. Segundo Cendrero 1982

(apud Ribeiro, 2004), o planejamento ambiental ou territorial é definido, de forma

ampla e generalizada, como:

...uma atividade intelectual pela qual se analisam os fatores físico-naturais, econômicos, sociais e políticos de uma zona (um país, uma região, uma província, um município etc.) e se estabelecem as formas de uso que consideram adequadas para ela, definindo sua amplitude e localização e fazendo recomendações sobre as normas que devem regulamentar o uso do território e de seus recursos na área considerada.

Embora a Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) não seja um procedimento

uniforme no Brasil, compreendendo desde os pequenos, os médios e grandes

empreendimentos, tal instrumento de mensuração é considerado como um dos mais

importantes para a proteção dos recursos ambientais (Braga et. al. 2002, p. 239).

Como visto, anteriormente, no recorte da Legislação brasileira, entre as obras e

atividades enumeradas pela respectiva legislação estão, incisivamente, todos

aqueles considerados modificadores do meio ambiente, além desses encontram-se

os projetos urbanísticos acima de 100 ha ou áreas consideradas de importância

ambiental a critério do IBAMA ou dos órgãos municipais e estaduais competentes,

os distritos industriais e zonas estritamente industriais.

São várias as metodologias que podem ser empregadas em uma Avaliação

de Impacto Ambiental. Escolher a que tem melhor metodologia, consiste em definir

procedimentos lógicos, técnicos e operacionais capazes de permitir que o processo

em questão seja completado. Cunha e Guerra (2000, p. 93). Em outras palavras,

não existe métodos infalíveis ou demasiadamente completos, mas há o caminho que

melhor se adequa aos objetivos preteridos pela pesquisa (Fachini e Sant`Anna 2004

), cabe a comissão ou ao técnico responsável ter a destreza necessária para se

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apropriar do melhor instrumento, propício a melhor quantidade e qualidade da

informações a ser obtida.

Como também a combinação entre métodos, pode ser de fundamental

importância no desenvolver do trabalho de AIA, desde que o objetivo final seja

alcançar um resultado com menor conflito de interesses para os segmentos

participantes, bem como não seja redundante auferir informações e dados

desnecessários no processo.

Entre os métodos de AIA encontra-se a matriz de interação, que pela

interseção entre as ações e os impactos oriundos de uma determinada atividade.

Pode-se avaliar os efeitos negativos e positivos que porventura tenha o

empreendimento na alocação de um determinado espaço físico. Pode-se, também,

pelo mesmo instrumento, através de legenda, determinas a área de influência do

impacto em questão. A incidência dos impactos ambientais pode ser direta e

indireta, cabendo também a matriz a possibilidade de apresentar esta avaliação.

(CUNHA E GUERRA 2000; BRAGA et.al. 2002)

Considera-se, também, neste instrumento a viabilidade de estar pontuando a

incidência e a intensidade do impacto observado. Além do que, possibilita pelo

estudo da reversibilidade, vê se há recuperação ou reversão de práticas,

favorecendo ajustes em tempo que diminua a ação erosiva no meio. Da relevância

e magnitude do impacto estudado, temos a extensão clara do comprometimento da

prevalência do impacto no espaço físico estudado. (CUNHA E GUERRA 2000;

BRAGA et.al. 2002)

O estudo de Impactos Ambientais no Brasil ainda se encontra muito restrito. A

obrigatoriedade do licenciamento ambiental ainda não apresenta um uso pontuado e

exigido das esferas pública. Porém, enquanto, instrumento, a matriz de interação foi

utilizada em dois empreendimentos significativos, o aeroporto de Londrina (PR) e a

transposição do Rio São Francisco.

Quanto ao aeroporto de Londrina (FACHINI e SANT`ANNA 2004), a matriz

de interação em conjunto com a RIMA possibilitou um diagnóstico crítico,

principalmente, sendo os aeroportos hoje um tipo de empreendimento que demanda

infra-estrutura e deve ser estabelecido com critério de muita precisão, por se tratar

de um serviço público que visa a segurança dos usuários, mas também deve prestar

o mesmo cuidado as regiões circunvizinhas que convergem indiretamente para este

tipo de construção. Além do que, os aeroportos convergem um foco de

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desenvolvimento urbano, alterando condições ambientais e sócio-econômicas pré-

existentes.

A transposição do Rio São Francisco tem causado divergências em diversos

segmentos sociais, há quem defenda e há quem a condene. O Ministério da

Integração Nacional, visando dirimir os impactos consensuais, fez recentemente um

estudo com auxílio de matriz de interação. Disposto em uma linguagem bastante

enriquecida de dados, o relatório passou a ser um instrumento de relevância para o

presente estudo e à disposição para a comunidade, permite que pelas informações

obtidas, possa a sociedade ter o seu posicionamento fundamentado. (MIN, 2004).

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3.4 Casas de Farinha: Unidades de beneficiamento da mandioca

“São as mandiocas, cultivadas por suas raízes ou tubérculos feculentos, que fornecem a importantíssima

farinha de mesa, o pão do Brasil.” (ZEHNTNER APUD CONCEIÇÃO, 1981)

3.4.1 A mandioca

A essência capitalista sempre foi fortalecida nos preâmbulos da história pelo

mérito produtivo. Produzir, como via de regra, sempre contextualizou a adjetivação

precisa para expansão e consolidação deste modelo econômico.

Ainda que não compactuasse diretamente com a expansão e fortalecimento do

sistema capitalista, foram os índios que disseminaram alguns procedimentos

produtivos em nossa cultura. As casas de farinha são exemplos desta intervenção

(CONCEIÇÃO, 1981)

A origem deste empreendimento remonta o cultivo da matéria-prima utilizada

para fabricação de seus produtos: a mandioca. Seu nome tem uma particularidade

curiosa, batizada pelos índios, sua etimologia vem de Mandi (o nome da criança) e

oca (casa do índio). Planta da família Eufrobiáceas, teve origem no continente

americano. O tubérculo foi descoberto, cultivado e aproveitado pelos índios Tapuias

e pelos Tupi-guaranis, que provavelmente partiram da bacia do Tapajós, afluente do

Amazonas, dispersaram por intensas áreas do Litoral e Sul do Brasil e se dedicaram

a cultura da mandioca, em plantações, por eles denominadas de mandiotuba.

(Conceição 1981; RIBEIRO,1995)

A utilização desta planta é antiga. Na alimentação, foi introduzida pelos índios

e depois os portugueses, que aqui chegaram, difundiram-na em outros continentes.

Segundo Conceição (1981), a mandioca emigrou, após o descobrimento da

América, para África e Ásia, onde constitui hoje extensas áreas de cultivo. Em toda a

América Central, incluindo o México e as Antilhas, a cultura é explorada com vistas à

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alimentação e à indústria. Na América do Sul, a cultura se difundiu por todos os

países; na África é extensa a faixa de cultivo da mandioca; na Ásia destacam-se a

Tailândia e a Indonésia e em outros trechos territoriais ela também se faz presente,

porém em menor proporção, seja pelo aspecto experimental, comercial ou de

pesquisa (Conceição, 1981; ABAM,2007).

As razões dessa difusão se devem, principalmente, a sua capacidade de

adaptação a diferentes condições de clima e solo, à facilidade de cultivo, ao seu

rendimento, ao seu alto índice de regeneração e às variadas formas de utilização,

colocando-se como principal planta de subsistência. “Não fosse o descaso de que foi vítima durante séculos de exploração em nosso meio – devido principalmente ao seu tradicionalismo como cultura do homem rural – por certo contaria hoje com dados de pesquisa que subsidiariam o desenvolvimento de sistema de produção racionais, baseados na alta produtividade.” (CONCEIÇÂO, 1981, p. 123)

A mandioca sempre esteve presente em vários capítulos da história brasileira,

cultivada praticamente por micro e pequenos produtores, em estabelecimentos de

100 hectares e destinada ao consumo humano, animal e industrial (Montaldo 1991

apud Rocha e Cerqueira 2006). Este tubérculo constitui a principal fonte de

carboidratos para uma população mundial de aproximadamente 500 milhões de

pessoas, consumida principalmente em países em vias de desenvolvimento situados

nos trópicos (COOPASUB, 2004).

Estatisticamente (Buitrago, 1990), 65% da produção mundial de mandioca é

destinada ao consumo humano, isso levando em consideração a sua forma in natura

quanto as suas feições derivadas. Entre os produtos agrícolas é o mais calórico,

deixando para trás o arroz, o milho e a cana-de-açúcar.

Além de se fazer presente no consumo humano, a mandioca tem a

versatilidade de poder ser utilizada na alimentação animal, além de ser alternativa

para o uso de forragens, silagem ou ração balanceada industrial.

Segundo a ABAM6, atualmente a mandioca é cultivada em mais de 180

países, destacando-se o continente Africano e países da América Latina, entre eles

está o Brasil, ocupando o segundo lugar da produção mundial, estimada em 20

milhões de toneladas por hectare.

6 ABAM – Associação Brasileira dos Produtores de Amido de Mandioca

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Em território Nacional, destaca-se o Estado da Bahia, como o segundo maior

produtor de mandioca, com produção de 3,9 milhões de toneladas em 2003,

perdendo apenas para o Estado do Pará com 4,47 milhões de toneladas. A Região

Sudoeste da Bahia é destaque no cenário de produção estadual, responsável por

9% dessa produção que equivale a aproximadamente 350 mil toneladas (IBGE,

2005). Em 1999 esta cultura foi a maior contribuinte do PIB do agronegócio da

Bahia, com participação de 8,43 do total (SEAGRI, 2003).

A região Sudoeste do Estado da Bahia aglomera uma produção significativa

de mandioca, o que diretamente incide também na cultura e na manutenção do

empreendimento denominado Casa de Farinha na região, destacando-se o

município de Cândido Sales, conforme detalhamento na Tabela 1. Atualmente, além

da farinha tradicional, essas unidades agroindustriais respondem também pela

matéria-prima utilizada em outras cadeias produtivas, como é o caso da goma, da

tapioca que são utilizadas na fabricação de biscoito. (SEAGRI, 2006 /SEAB, 1998)

Tabela 1 – Produção de Mandioca na Região Sudoeste da Bahia

Municípios Produção (t) Produtividade (kg/ha) Área plantada (ha) Valor produção

(mil reais)

Anagé 5.400 12.000 450 864

Barra do Choça 1.560 12.000 130 234

Belo Campo 25.200 12.000 2.100 3.654

Cândido Sales 240.000 12.000 20.000 39.600

Caraíbas 2.400 12.000 200 396

Condeúba 10.800 12.000 900 1.836

Encruzilhada 11.400 12.000 950 1.938

Piripá 2.520 12.000 210 441

Planalto 1.800 12.000 150 450

Poções 2.400 12.000 200 600

Ribeirão do Largo 5.160 12.000 430 903

Tremedal 14.280 12.000 1.190 2.428

Vitória da Conquista 24.000 12.000 2.000 4.200

TOTAL 346.920 - 28.910 57.544

Fonte: Diagnóstico Socioambiental da Agricultura Familiar na Cadeia Produtiva da Mandioca na Região de Vitória da Conquista - COOPASUB (2005)

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Porém, há que se considerar, que mesmo sendo enaltecida pela sua

importância econômica para o Estado da Bahia, a cadeia produtiva dos derivados da

mandioca enfrenta vários e sérios problemas, que vão desde a esfera estadual,

pontuando algumas regiões específica, como é o caso de Vitória da Conquista, onde

a mandiocultura ou as unidades farinhieras são desenvolvidas por pequenos

produtores, descapitalizados, com acesso difícil ao financiamento e assistência

técnica e que utilizam, massissamente, procedimentos tradicionais de cultivo ou de

produção, e que pela limitação de expansão é extremamente reduzida se

considerada a potencialidade que a cultura poderia ter se fosse devidamente

sistematizado o seu desempenho, ou sua efetiva alocação no espaço (ROCHA E

CERQUEIRA 2006).

Por essas e outras razões existem sérios problemas ambientais resultantes

do desgaste do solo, da derrubada da mata nativa, da queima da lenha durante o

beneficiamento da mandioca nas Casas de Farinha e da falta de gerenciamento e

tratamento adequados aos resíduos (ROCHA E CERQUEIRA 2006)

Dentre os resíduos líquidos da mandioca consta a manipueira que em tupi-

garani quer dizer “o que brota da mandioca” (GRAVATA apud ROCHA E

CERQUEIRA 2006). Entre tantas outras demandas, a manipueira é um grande

problema a ser revolvido quando da implantação das fecularias ou das Casas de

Farinha, principalmente tratando da poluição ambiental que desencadeia o

comprometimento de reservas ou mananciais de água doce, em função de uso de

tecnologias inferiores, que comprometem o ambiente no qual estão inseridas. Uma

tonelada de mandioca produz cerca de 300l de manipueira que, quando liberada

livremente no espaço físico natural, formam verdadeiros lagos, com eminência de

odores e aspectos físicos negativo. Comparativamente, tal ação equivale à poluição

causada por uma população entre 150 a 250 pessoas. O escoamento deste resíduo

líquido pode trazer problemas sérios de poluição dos rios e/ou mananciais. Por esta

razão as indústrias de fecularia são consideradas altamente poluidoras e uso de

tecnologias inferiores não a dirimem do impacto ambiental causado por estas.

(ROCHA E CERQUEIRA 2006; FIORETTO, 1985).

O resíduo líquido que sai da mandioca pode ser composto de 60% de água.

Porém, no momento de prensagem ou cevação, pode-se eliminar 20 a 30% desta

água. Quando retirado, o líquido oriunda de pressão recebe o nome de manipueira,

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líquido de aspecto leitoso, composto de proteínas, glicose, restos de célula, mas

principalmente do ácido cianídrico. Do ponto de vista sanitário, o lançamento direto

deste resíduo na natureza, pode acarretar danos de alta magnitude ao ambiente ,

pois é considerado como um dos mais violentos venenos conhecidos, é comparado

ao esgoto doméstico quanto ao consumo de oxigênio dos cursos d`água. A sua

infiltração no solo pode comprometer a qualidade dos lençóis freáticos (FIORETTO,

1897).

O plantio da mandioca em todas as localidades de farinheiras de pequeno

porte – Casas de Farinha – são precedidos da prática da queimada. O fogo, muitas

vezes, é ateado sem que haja a observância da proximidade de lagos, rios ou

pequenos mananciais, a queima nestas proximidades podem causar um impacto

ambiental chamado de eutrofização, ou seja, os fertilizantes carreados para rios ou

lagos podem servir para o crescimento exagerado de algas que usam o oxigênio

disponível em detrimento de outras espécies, dando origem ao surgimento de

desertificação aquática. A queimada é usada como mecanismo de economia com a

mão-de-obra, que seria usada nas operações de desbravamento ou roçagem, por

outro lado o fogo é capaz de diminuir rapidamente a fertilidade natural do solo,

eliminando a micro fauna e a microflora, além de acelerar os processos erosivos,

porque a queimada não vem acompanhada de nenhuma prática de conservação

(ROCHA E CERQUEIRA 2006).

As queimadas seguidas do uso da lenha são nocivas a perpetuação de um

ambiente sem erosão. O uso da lenha destinada ao consumo das farinheiras

provém, atualmente, em sua grande maioria de fragmentos florestais de povoados

circunvizinhos, posto que na sede a devastação da área verde antecedem anos e

por isso buscam em outros territórios a fonte de energia para alimentar os fornos.

Esse dado reflete a contribuição do quadro alarmante da devastação da vegetação

que a cada ano vem aumentando em várias regiões brasileiras em função da

repetição exaustiva de práticas erosivas (GOMES, SILVA, SANTANA 2000).

Os espaços territoriais destinados a produção são espaços relativamente

concentrados para habitação, trabalho, lazer, convívio social e demais encargos

humanos diários, em face da pontualidade de um desenvolvimento, as cidades vêm

ao longo do tempo se distanciando cada vez do verde e da natureza. A ausência de

florestas ou de reservas de vegetação nativas afasta o homem de algumas

vantagens benéficas como o clima, diminuição da poluição do ar, economia de

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energia elétrica, além de poderem ajudar na obstrução e orientação do fluxo de ar,

retenção de ruídos, barreira aos sulcos no solo. (CRISPIM e MAGALHAES , 2003)

Segundo a COOPASUB (2005), 93% dos municípios não usam nenhuma

prática de conservação do solo. Como também não utilizam culturas alternativas ou

sistema de rodízio para proteção do solo. As queimadas e a ausência de medidas

preventivas para a conservação do solo podem estar levando a um tipo de

agricultura prejudicial ao agricultor que não dispões de áreas suficientes para

substituir as áreas exauridas pelas queimadas ou pela erosão (ROCHA E

CERQUEIRA 2006).

Ainda que se ressaltem tantos danos que porventura sejam causados pela

manipueira há também, que se evidenciar, que enquanto efluente ela pode ser

usada como aproveitamento agrícola. Aplicada no solo de maneira adequada ela

pode influir no equilíbrio do solo e pode extinguir algumas espécies de plantas

daninhas. (FIORETTO, 1897).

A manipueira, através da EMBRAPA, recebe constantes pedidos de

orientação sobre o aproveitamento deste resíduo, para conter a poluição de rios,

como é o caso do rio Jundiaí, foi destinada a alimentação de bovino depois de

processo de tratamento para diminuição do seu valor de toxidade. Hoje, a

gastronomia também destina o uso da manipueira em pratos regionais: vinagre, pato

no tucupi; confecção de tijolos e tintas; insumo agrícola (herbicida, fungincida,

nematicida e adubo orgânico (DINIZ, 2005).

O plantio da mandioca é sazonal e por ser uma cultura de subsistência sem

muita planificação da produção segue a oferta do mercado, é comum verificar que

quando o seu preço está vantajoso, do pequeno ao médio produtor a maioria ganha

impulso para o plantio, o que na decorrência do tempo afeta a queda de preço tanto

da mandioca, quanto de seus derivados (EMBRAPA, 2005).

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FIGURA 2 – Época de plantio da mandioca na região Sudoeste da Bahia

Fonte: Diagnóstico Socioambiental da Agricultura Familiar na Cadeia Produtiva da Mandioca na Região de Vitória da Conquista - COOPASUB (2005)

O empobrecimento do solo em detrimento das queimadas, da erosão pode

ser um fator como salienta Rocha e Cerqueira (2006), um dos fatores de constante

imigração de plantio, segundo a COOPASUB cerca de 44% dos agricultores não

voltam a plantar na mesma área.

Segundo o CEPEA, o impacto negativo dessa produção pouco planificada,

poderia ser dirimido com ações governamentais, mas o próprio órgão em questão

admite que ação federal é ainda pequena, visa apenas garantir o preço mínimo, pois

além de ser um produto presente na cesta básica, sua produção emprega um

grande número de empregadores. Quando ocorre interferência deste tipo, o correto

seria o emprego da AGF7 , porém o programa mais utilizado para essa modalidade é

o da CDAF8.

Disseminada por todo território brasileiro, a mandioca sobressai não somente

pela proporção quantitativa, mas pelo uso qualitativo e diversificado. Do total da

mandioca produzida no Brasil, 20% são destinadas para as fecularias e a quase

7 AGF : Aquisição do Governo Federal 8 CDAF: Compra Direta da Agricultura Familiar

0

5

10

15

20

25

30

Freq

üênc

ias

(%)

jan fev marabrmaijun jul agosetoutnovdezqualquer...

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Norte; 36,40%

Nordeste; 24,60%

Sul; 22,10%

Centro-Oeste; 7,30%Sudeste; 9,70%

totalidades dos demais 80% tem seu uso para a fabricação de farinha. (ALMEIDA &

SILVA, 2004)

Como salienta (Lastres & Cassiolato, 2003), embora a mandioca faça parte da

agricultura de todo o país, a sua maior expressividade encontra-se nas regiões Norte

e Nordeste, que abarcam mais de 50% do total gerado pela economia brasileira

(Figura 3). A região centro-sul, segundo a mesma referência, destaca-se pelo

tamanho e expressividade das raízes, as quais são destinadas a uma produção mais

tecnificada destinada à aquisição de amido, dando aos Estados do Paraná, Mato

Grosso do Sul, São Paulo e Santa Catarina a outorga desta referida produção.

Figura 3: Participação na produção estimada de raiz de mandioca em 2005 Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE/2005)

É certo que o Brasil nas últimas décadas, e, principalmente com a vinda do

novo século tem imprimido em sua história mudanças significativas, que provocam

um quadro de efervescência social. Por outro lado, algumas questões ainda não

repassam pela notória sustentabilidade, e embora algumas regiões, como é o caso

do Nordeste se destaquem em alguns aspectos produtivos e culturais, é bom que se

ressalte que em outras esferas sua limitação é muito questionada, e quando se

propõe discutir desenvolvimento este chamado deveria ser para todo o território,

sem exceção de causa. (ANDRADE, TACHIZAWA, CARVALHO 2000; ANDRADE,

1986)

Resgatando a fala da primeira ministra da Índia, na Conferência sobre

Biosfera em 1968: “A pobreza é a maior das poluições” (in ANDRADE, TACHIZAWA,

CARVALHO 2000; p. 2), a sustentabilidade perpassa pelo ser humano e este deve

ser elemento de suma importância para a transformação do meio ambiental.

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Somente, através, de um envolvimento e participação efetivos que pode-se propor

ações de integração diferenciadas.

3.4.2 Caracterização das Casas de Farinha

“ Se farinha fosse americana Mandioca importada Banquete de bacana

Era farinhada”

Juraildes da Cruz e Xangai

Como macaxeira, aipim, pão de pobre, macamba, uaipi, pau de farinha, ou

simplesmente, mandioca, ela se faz presente em todo território brasileiro,

caracterizada por duas vertentes produtivas de transformação: as indústrias com

alto nível de tecnificação, localizadas no Centro-sul do país e as unidades industriais

ainda pouco tecnificadas, concentradas no Norte e Nordeste do Brasil, que são as

maiores produtoras e consumidoras de farinha de mandioca (CEPEA)9.

Especificamente nesta pesquisa, há uma intenção em se remeter ao segundo

estilo de produção. Tal empreendimento é denominado na região como Casa de

Farinha, local onde se transforma a mandioca em farinha, ingrediente usado na

alimentação de várias pessoas, além de serem subtraídos outros derivados como a

goma, que dá origem a outros produtos como por exemplo o beiju e a tapioca, que

em 1551, como resgata Araújo (1982, p. 170), já era um produto que recebia o

apreço do padre Jesuíta Manoel da Nóbrega, quando em visita a Pernambuco, já

falava sobre ambos e contextualizava a importância indígena no fabrico destes

derivados.

Acelerada a história brasileira, a farinha de mandioca foi por muito tempo

utilizada na alimentação dos escravos que eram mantidos nas fazendas e nos

engenhos, além de servir também como suprimento alimentar dos portugueses que

9 CEPEA: Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada

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faziam viagens longínquas. Levadas em farnéis pelos referidos viajantes, conta-se

que para evitar que fossem menos perecível, misturava-se a farinha de mandioca a

farinha de peixe seco, socada em pilão (CONCEIÇÃO, 1981)

A mandioca é um produto que sofre oscilações consideráveis quanto ao seu

preço no mercado, isso se deve entre outras razões, como salienta (Santos &

Mendes, 1997) ao estilo utilizado como balcão comercial. Neste modelo, na maioria

das vezes o agricultor é também o fabricante, seu perfil comercial bem característico

não lhe detém um poder de barganha frente ao mercado; por outro lado, no que se

refere à entrada de novos negócios concorrentes, a estrutura é bastante flexível e

não se encontram barreiras. Em outras palavras, a concorrência não é tida como

uma ameaça, de forma tão categórica e específica como aquelas verificadas em

estruturas de mercado mais fortalecidas. Em outras palavras, na estrutura capitalista

a matiz de funcionamento do sistema está sempre interligado a uma interação de

formas e procedimentos determinantes de sucessivas mudanças, em função de

estratégias de competição, onde se amplia a importância de valorização do capital

na medida em que se pontua a relação de prioridade entre a estrutura industrial e as

fontes estratégicas de competitividade. (Porter 1991 e Shumpeter 1997).

Também caracterizando o produto em questão, é bom que se saliente que a

mandioca não pode ser trabalhada em termos de commotiditie como ocorre com

outros produtos, como é o caso do trigo e do milho tomados por exemplo.

Sintetizando, não há possibilidade de estocagem. Fora da terra, o tubérculo não

mantém sua qualidade por mais de 48 horas, portanto, tanto no modelo de produção

do centro-sul e/ou do norte-nordeste do país, a mandioca que representa 60% dos

custos de produção exige uso imediato, quer seja para o consumo in natura ou para

obtenção de produtos derivados: fécula, amido, farinha, goma, beiju, tapioca.

(LASTRES & CASSIOLATO, 2002)

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Figura 4: Principais derivados da Lavoura de Mandioca Fonte: Diagnóstico Socioambiental da Agricultura Familiar na Cadeia Produtiva da Mandioca na Região de Vitória da Conquista - COOPASUB (2005)

A tapioca, farinha de goma ou farinha de tapioca, é um produto derivado do

amido recém extraído, muito tradicional no Brasil, e muito particular na região de

Nordeste e mais especificamente no Planalto de Conquista, produto de grande

aceitação no mercado e é ingrediente de um grande número de pratos da cozinha

regional, como por exemplo o chimango (tipo de biscoito), cuscuz, farinha

temperada, bolos, mingaus. Seu uso diversificado e pontualmente verificado na

Figura 4, reflete a diversidade produtiva que pode ser subtraída da mandioca.

Por outro lado, a mandioca pode ser colhida, em qualquer tempo, depois de

seis meses de plantada, podendo ficar no solo por mais três anos até o momento em

que se espera a sua colheita sem que se apodreça. Não é preciso o uso de

sementes, a plantação é feita pelos próprios talos da planta, denominada de maniva.

Por possuir grande resistência a doenças e pragas, o não uso de agrotóxicos e

pesticidas tornam bastante saudáveis os alimentos derivados da mandioca. Quando

são vulneráveis às pragas, as mais comuns são lagartas e formigas, que são

combatidas com a própria manipueira10.

10 Líquido de alto teor alcoólico retirado das raízes da mandioca

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Quando é tempo de chuva e a terra se encontra úmida, as raízes são

arrancadas manualmente, em tempo de seca a colheita é realizada com ajuda de

enxadas, sempre puxando as raízes sem que haja o comprometimento de sua

retirada. Quando retiradas são colocadas na ruma11 , posteriormente são conduzidas

às Casas de Farinha com ajuda de caminhões, contratados antecipadamente para o

transporte da matéria-prima comprada em roçados próximo à comunidade de

Campinhos.

A farinha incorporou à alimentação do homem arrastando-se por longos anos

de história. Há inclusive um dito popular em que a farinha aparece como remediador

da fome, pois ela “aumenta o que `tá pouco, engrossa o fino e esfria o que `tá

quente. “ Questiona-se, também, o seu valor nutritivo. Segundo Freyre (1999,p.82),

a farinha de mandioca, embora mística no território nacional, não passa de uma

alimento hidrocarbonado, com proteína de segunda classe e pobre de vitaminas e

sais minerais.

Produto rico em valor nutritivo ou não, o certo é que a farinha compreende a

principal opção de desenvolvimento e sustentabilidade de muitas comunidades

brasileiras, que tradicionalmente mantêm este sistema de produção em seu

espectro.

As atividades desenvolvidas nas farinheiras devem ser caracterizadas pelos

núcleos que a desenvolvem: masculino e feminino. Aos homens cabe a cocção, a

ação de cevar a massa, alternativamente podem tirar a goma da massa lavada,

podem ser prenseiros. As mulheres são encarregadas pela raspagem da mandioca,

independente da idade que tenham. Em muitos casos, pessoas idosas, mesmo

sendo aposentadas pelo requisito faixa etária ou invalidez, com intuito de ampliar a

renda familiar desenvolvem trabalhos nas casas de farinha. (ALCÂNTARA e

BARRETO 1999)

3.4.3 Casas de Farinha: aspectos produtivos e comerciais

11 Termo utilizado pela população local para designar o amontoado de mandioca que será destinado a produção das Casas de Farinha.

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A estrutura produtiva e de mercado das Casas de Farinha alocadas na

comunidade de Campinhos não foge a regra da caracterização verificada na região

Norte e Nordeste do país, ou seja, sustentam na alta informalidade, apresentam

estrutura pouco profissionalizada, baseiam-se na mão-de-obra familiar, com a

produção voltada ainda para o caráter de subsistência e os derivados da mandioca,

em especial a farinha, é vendida, geralmente nas feiras livres, por conta disso não

há uma preocupação maior com beneficiamento em aspectos comerciais no que diz

respeito ao produto.

Devido a modernização dos hábitos alimentares verificados na sociedade

contemporânea, pelo próprio avanço da industrialização nos grandes centros

urbanos, antigos costumes alimentares estão sendo substituídos por outros mais

práticos, nutritivos, o que diretamente acaba afetando o consumo de produtos

tradicionais, como é o caso da farinha, que apresenta uma trajetória de queda em

todas as regiões do país (IBGE, 2005). Embora isso um fato, a região Nordeste

resiste ainda ao tradicional consumo, sendo responsável por cerca de 29% da

consumação nacional, conforme demonstra a tabela 2 :

Tabela 2 – Aquisição alimentar domiciliar per capita anual por grandes regiões

Regiões Fisiográficas Consumo per capita (KG)

Representação no consumo total

Norte 33,827 63% Nordeste 15,333 29% Sudeste 1,427 3% Sul 1,040 2% Centro-Oeste 1,359 3%

Fonte: IBGE (2005) / Pesquisa de Orçamento Familiar (POF)

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Figura 5: Sistema agroindustrial da mandioca Fonte: EMBRAPA (2005)

A cadeia agroindustrial acima especificada pela Figura 5, embora aparentemente

simples, demonstra uma complexidade em função do mercado, que pode ser

caracterizado por um conjunto interligado de interesses econômicos e sociais

distintos envolvidos no processo produtivo, que vai da transformação até a

distribuição dos derivados da mandioca e mesmo por que os resíduos desta

atividade produtiva não têm recebido atenção merecida no que tange aos aspectos

ambientais. Além dos aspectos produtivos, pode-se notar na figura acima a

importância dos atores sociais, que constituem pontos fundamentais da atividade

empreendida.

a) Insumos da agricultura: os insumos utilizados na cadeia produtiva descrita

são provenientes de fornecedores responsáveis pela montagem da estrutura

das casas de farinha, contando com os equipamentos, maquinários. Por

Insumos da agricultura

Mandiocultores

Intermediário

Casas de farinha 1

Casas de Farinha 2

Indústrias

Intermediários

Feira Livre

Pecuaristas

Unidade Agroindustrial

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prevalecer ainda um sistema produtivo pouco tecnificado, a sua atuação

também é restrita.

b) Mandiocultores: pequenos e médios produtores rurais que alimentam o

sistema produtivo das Casas de Farinha. Atualmente se fazem presente em

comunidades circunvizinhas, pois a produção verificada em Campinhos não

atende a demanda local. c) Intermediários ou atravessadores: atores sociais que se fazem presentes

na cadeia produtiva, como comerciantes paralelos, com maior poder de

barganha e que dirime a lucratividade tanto dos mandiocultores, quanto dos

proprietários das Casas de Farinha. d) Unidades agroindustriais

a. Casas de Farinha (1): destina-se a uma produção mais voltada para o

mercado, atendendo desde o mercado atacadista das feiras livres,

perpassando pelos intermediários que atendem demanda de outras

cidades regionais e chegando finalmente às industrias de biscoitos. b. Casas de Farinha (2): produção com menor exigência tecnológica e

qualitativa, atende a demanda dos pecuaristas com a produção de

farinha de segunda, grolões e raspas, destinados à ração animal. e) Feiras livres: espaços comerciais públicos onde pequenos e médios

produtores se reúnem para vender seus produtos (atacado e varejo).

f) Pecuaristas: criadores de animais, compradores de raspa para ração animal,

principalmente em tempo de estiagem, quando pela escassez do capim na

região, a raspa da mandioca destina-se a uma compensação pela falta

daquele. A oferta e o preços são irregulares por não caracterizarem atividade

principal das unidades agroindustriais.

Resgatando ainda Conceição (1981), a farinha de mandioca ou de mesa é um

dos produtos mais fabricados no Brasil e quase que totalmente destinado à

alimentação humana, principalmente das populações de menor poder aquisitivo do

Norte e Nordeste do país. Sua oscilação produtiva, no que diz respeito ao preço e a

oferta estão ligadas aos períodos de estiagem, principalmente nesta última Região.

Ainda que se apresente, assiduamente, nos processos produtivos das Casas de

Farinha, há maneiras diferenciadas de aquisição do produto final, ou seja, o modelo

padrão elaborado pela EMBRAPA-AC (IT, Embrapa Acre, dez/2001, p.3) não é

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seguido à risca em algumas regiões brasileiras, seja pela ausência de tecnificação,

seja pela falta de capacitação e treinamento, o que pode pela omissão de algumas

etapas comprometer a qualidade e/ou a higienização do processo.

Preparação das raízes para industrialização

Descascamento das Raízes

Ralação das Raízes

Prensagem da raspa ralada

Esfarelamento da raspa ralada

Torração

Peneiragem da Farinha

Acondicionamento da farinha

Figura 6: Fluxograma para obtenção de farinha de mandioca utilizando prensagem mecânica Fonte: EMBRAPA-AC, IT, Dez/2001

Segundo a EMBRAPA (2005), para se obter a farinha de mandioca, seguindo os

parâmetros de higienização adequada, devem ser efetivadas as etapas dispostas no

fluxograma descrito na Figura 6, para maior detalhamento da mesma apresenta-se a

seguir a descrição do procedimento em questão:

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a) Preparação das raízes para industrialização: as raízes, quando

encaminhadas às Casas de Farinha, devem ser lavadas em água corrente

para eliminar as impurezas, evitando incorporação de materiais indesejados à

operação produtiva, que contribuem para a contaminação através de

microorganismos, desgaste dos equipamentos e o aparecimento de sujidade

nos produtos acabados.

b) Descascamento de raízes: feito manualmente, devendo ser utilizadas facas

de aço inoxidável, seguido da lavagem para a retirada de cascas e impurezas

ainda remanescentes. As raízes descascadas devem ser acondicionadas em

tambores plásticos devidamente higienizados. c) Ralação das raízes: as raízes limpas devem ser levadas para o ralador

constituído de um cilindro de madeira provido de lâminas de aço serrilhadas.

Neste estágio, as raízes devem ser empurradas em direção ao cilindro por

meio de braços de madeira em movimentos alternados, a fim de produzir uma

raspa fina. Normalmente, a alternâncias das raízes é feita manualmente, sem

ajuda acessória, o que acomete muitos trabalhadores em acidentes. d) Prensagem da raspa ralada: a raspa obtida no procedimento anterior,

conforme dados da EMBRAPA condicionam 67% de umidade. Deve ser

condicionada de forma uniforme e nivelada em sacos de aniagem ou de tela

de náilon empilhados sobre a prensa. A cada 15 cm colocar-se-á uma

divisória de madeira para otimizar o processo de redução de umidade,

realizado pela pressão de um torriquete, com esforço humano, que em

movimentos circulares determina que a roldana suprima o liquido retirado da

massa (45 a 50 min): a manipueira. Tal resíduo, em algumas regiões

brasileiras é comercializado, na região em questão em desprezado e

despejado livremente na natureza. e) Esfarelamento da raspa ralada: ao sair da prensa, a massa obtida está toda

encorpada, apresentando-se em blocos compactados em função da pressão

sofrida. Antes da cocção, deve-se efetuar o esfarelamento por meio de um

ralador comum ou por intermédio de peneiras. Nesse momento, deve-se

realizar também a separação de fibras, pedaços de cascas e raízes

remanescentes do processo de ralação. f) Torração: operação particular, delicada e precisa porque determina o teor de

qualidade do produto final. A cor, o sabor e a conservação durante o

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transporte e armazenamento dependem dessa fase de processamento. Por

isso, notoriamente, destina-se um homem na Casa de Farinha como forneiro,

contando a sua experiência e a sua acuidade com a produção. Essa etapa,

na maioria das Casas de Farinha, é realizada entre 30 a 40 minutos.

Figura 7 – Fornos utilizados na produção de farinha Fonte: dados da pesquisa

g) Peneiragem da farinha: após a cocção ou torração, a farinha deve ser

passada em peneiras, a fim de se promover a separação de alguma parte

que seja indesejável ao produto final. A granulometria das peneiras

dependerá do tipo de farinha que se pretende comercializar. h) Acondicionamento: depois de classificada, a farinha de mandioca dever ser

acondicionada em sacos plásticos ou de aniagem, que devem ser

armazenados sobre estrados de madeira em locais não úmidos e ventilados

para posterior comercialização.

As Casas de Farinha desenvolvem atividades semi-industriais onde a lenha,

embora atualmente ajustada a uma complementaridade com a energia elétrica

disponível na comunidade, ainda é a principal fonte energética do sistema produtivo,

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por ter um custo menor, porém inevitavelmente, gera um custo ambiental altíssimo,

em função das razões acima especificadas. Hoje, a reserva nativa, pode-se dizer, é

praticamente muito reduzida. (GOMES, SILVA & SANTANA 2000).

FIGURA 8: Origem da Lenha utilizada no Sudoeste da Bahia

Como já referendado anteriormente, o banco comercial dos derivados da

mandioca não é bem estruturado. O agricultor, como bem salienta Santos (1997),

faz o papel do produtor, do fabricante e do comerciante, o que não é diferente na

comunidade de Campinhos. Com altos custos produtivos, falta de incentivo as

Casas de Farinha no povoado em questão tem diminuído, atualmente conta com

apenas 25 de um total de 45 a 50, conforme dados do coletados junto a

comunidade neste projeto de pesquisa.

A ausência de uma associação dos proprietários de Casas de Farinha

enfraquece sumariamente o poder de negociação destes pequenos produtores, pois

com a prevalência dos “atravessadores” , o grupo perde a sua consolidação no

mercado, sem contar a dificuldade extrema de renovação e evolução dos

empreendimentos ora verificados no modelo de pouca tecnificação e como

demosntra o diagnóstico da COOPASUB (2005), os donos de Casas de Farinha têm

pouco acompanhamento técnico ou recebe incentivos para capacitação, baseando-

Fonte: Diagnóstico Socioambiental da Agricultura Familiar na Cadeia Produtivada Mandioca na Região de Vitória da Conquista - COOPASUB (2005)

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se a sua gestão no exercícios de práticas tradicionais ou da experiência individual e

coletiva.

FIGURA 9 – Assistencia tecnica para os proprietarios de Casas de Farinha Fonte: Diagnóstico Socioambiental da Agricultura Familiar na Cadeia Produtiva da Mandioca na Região de Vitória da Conquista - COOPASUB (2005)

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4.0 METODOLOGIA

Como salienta Gil (2002, p. 42), as pesquisas exploratórias têm como objetivo

proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais claro,

aprimorando idéias ou a descoberta de intuições.

Para edificação de estudo de cunho exploratório, foram utilizados o

levantamento de dados a partir de fontes primárias e fontes secundárias. Para a

realização da 1ª etapa da pesquisa, utilizou-se da constituição do primeiro

instrumento: visitas a comunidade e entrevistas, via aplicação de questionários com

os proprietários de Casas de Farinha, em funcionamento no período em que ocorria

a investigação – maio e junho de 2007. Para as fontes secundárias foram

priorizados documentos, dados disponíveis em relatórios e estatísticas, ouvidas

pessoas especialistas ou moradores antigos da região para coletar dados que

possivelmente não poderiam ser edificados sem a participação destes.

Portanto, a pesquisa que norteou o presente estudo, caracteriza-se, por sua

natureza, como exploratória através de levantamento de dados, procurando na

primeira etapa da mesma, através de aplicação direta de questionários, observar,

descrever, analisar e correlacionar os dados e especificações obtidos a fim de

caracterizar o processo produtivo empregado pelas Casas de Farinha e

indiretamente possibilitar que a Comunidade possa ser adjetivada também pelos

dados ora expostos.

Para viabilização desta pesquisa, tomou-se como objeto de estudo 25 Casas

de Farinha, que se apresentavam em funcionamento no período de sua aplicação:

maio e junho de 2007. Embora, não havendo registros acerca desta unidades

agroindustriais, seja na comunidade ou em órgãos específicos, pela informalidade

que as cerca, foram pontuadas em 100% no território em estudo, não, havendo,

portanto, nenhum critério seletivo para que fossem abordadas.

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Os três primeiros objetivos específicos deste trabalho foram contemplados

pela pesquisa exploratória, através de levantamento de informações, neste caso

pelo instrumento de pesquisa denominado questionário. Levantamento de dados

caracteriza-se pela interrogação direta das pessoas cujo comportamento deseja

conhecer, buscando-se pela solicitação de um grupo significativo de pessoas uma

abrangência considerada acerca do problema estudado Gil, (2004, p. 50). Quando o

levantamento recolhe informações de todos os integrantes do universo pesquisado,

tem-se um censo (MEDEIROS 2004,p. 63). Embora seja pouco peculiar pesquisar

todos os integrantes de uma população estudada pela dificuldade de se agregar

todos os envolvidos, no caso especificado fez-se a abrangência a totalidade, por ser

um número pequeno e que uma vez tendo abrangência do universo, validaria melhor

a presente pesquisa. Para tanto, a prioridade e o direcionamento do questionário era

dado ao proprietário da Casa de Farinha.

Em um segundo momento, visando pontuar o estudo dos impactos ambientais

oriundos das Casas de Farinha, adotou-se como metodologia particular e específica,

a construção de matriz de impactos ambientais, que tem segundo Braga et.al (2002,

p. 257), mediante comparativo entre outros métodos de mensuração de impactos

ambientais, a possibilidade de disciplinar os raciocínios e os procedimentos

destinados a identificar os agentes causadores e as respectiva modificações

decorrentes de uma determinada ação ou conjunto de ações, bem como apresentar

com parte complementar do processo ações mitigadoras para dirimir os impactos

oriundos de um referido tipo de empreendimento. As matrizes atuais estão entre os

instrumentos mais utilizados para avaliar os IAs oriundos de alguma atividade

econômica que venha porventura causar danos ao ambiente, permitindo, ainda, a

atribuição de valores de magnitude e importância para cada tipo de impacto.

(CUNHA & GUERRA, 2000,p. 90, FACHINI e SANT`ANNA, 2004)

É importante salientar que nenhum método de avaliação de impactos

ambientais é infalível ou deva ser considerado perfeito, como também não existe

método convencional ou padrão que seja apropriado a avaliação de qualquer tipo de

empreendimento, ressalta Fachini e Sant`Anna (2004).

Em razão da especificidade e da enorme quantidade de variáveis que

permeiam a atividade das farinheiras, adotou-se neste trabalho o método de matriz

de interação, onde cada célula de interseção representa a relação de causa e efeito

dos impactos diretos, sendo feitas as análises dos dados apresentados pela equipe

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multidisciplinar que acompanhou a composição da mesma através de discussões

pontuadas.

Como a Matriz parte do pressuposto de que a interpretação dos dados devem

partir de uma equipe multidisciplinar, a mesma foi composta por profissionais de

formação acadêmica e profissional diferenciada, permitindo que fossem elencados o

maior número de interpretações possíveis, bem como diferentes pontos de vista dos

profissionais envolvidos neste processo. A equipe multidisciplinar foi composta por

um bioquímico, dois administradores, um técnico em meio ambiente, biossegurança

e gestão de resíduos, um biólogo, um enfermeiro e um mestre em gestão ambiental

e gerenciamento de resíduos e um mestre em agronomia.

Embora, não existam métodos infalíveis de avaliação de impacto ambiental,

há que se ressaltar que a matriz de interação, como ressalta Cunha & Guerra, 2000,

é considerado como uma das metodologias mais completas e é utilizada como

instrumento de obtenção de diagnósticos importantes, como foi o caso da

construção do aeroporto de Londrina e o Projeto de Integração do Rio São

Francisco, elaborado em 2004, pelo Ministério da Integração Nacional.

Inicialmente, para dar início ao trabalho de mapeamento de impactos e ações,

pontuaram-se os principais impactos e ações, que deveriam pela intersecção serem

analisados de forma concisa, porém primando pela crítica e veracidade das

observações realizadas. Tais elementos foram dispostos pela freqüência de

conhecimento oriunda dos profissionais envolvidos.

Como salienta Lakatos & Marconi (1991, p. 158), a pesquisa que surge em

detrimento do levantamento de dados, poderá surgir de três fontes básicas:

pesquisa documental, pesquisa bibliográfica e contatos diretos. Os contatos diretos

são realizados com pessoas que podem fornecer dados ou sugerir possíveis fontes

de informações úteis.

O levantamento de dados, nesta pesquisa ocorreu concomitantemente

através do procedimento documental, para apresentação de dados estatísticos e

históricos; como também pela entrevista direta com as representações sociais

envolvidas diretamente nos empreendimentos das Casas de Farinha alocadas na

comunidade de Campinhos, uma vez o tema central aqui apresentado – Casas de

Farinha – dispõe de literatura reduzida sobre o mesmo, daí para que haja a

contextualização de alguns pontos de relevância, a comunidade e seus participantes

são fontes precípuas de informações, quando estas não estão documentadas.

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5.0 DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

A comunidade de Campinhos está localizada no Sudoeste baiano, na cidade

de Vitória da Conquista. Considerada como metrópole regional, Vitória da Conquista,

fundada desde 1840, possui uma extensão territorial de 3.204,257 km², hoje tem

aproximadamente 308.200 habitantes – terceira maior da Bahia, distanciando da

capital em cerca de 510 quilômetros. Estrategicamente alocada, a cidade

conquistense faz divisa com vários municípios, entre eles estão: Anagé, Barra do

Choça, Cândido Sales, Itambé, Encruzilhada, Ribeirão do Largo, Planalto e Belo

Campo, tendo por esta e outras razões uma função político-sócio-econômica de

suma importância para o desenvolvimento regional, como especifica a Figura 9.

Figura 10 – Localização geográfica - Vitória da Conquista (BA) Fonte: Google (2007) – dados cartográficos / Mapa Links/ Tele Atlas

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Vitória da Conquista possui, segundo dados do IBGE (2007) um PIB per

capita na ordem de R$ 3.678,51, relativamente expressivo se comparado com outros

ditames no resto do Estado da Bahia, quiçá o brasileiro. O IDH - Índice de

Desenvolvimento Humano também saltou do 30º lugar em 1991 para 18º em 2000.

Dos 20 melhores IDHs baianos, Vitória da Conquista foi o que mais melhorou

(PNUD, 2000)

Figura 11 – Localização espaço geográfica da Comunidade de Campinhos / Vitória da Conquista (BA) Fonte: Google (2007) – dados cartográficos / Mapa Links/ Tele Atlas

Campinhos, considerado atualmente como bairro de Vitória da Conquista, em

função da Lei Municipal n 1385; 2006, do Plano Diretor urbano de 26/12/2006-PDU

em que fica estabelecido, a partir do mesmo, o reconhecimento público do bairro

enquanto unidade integrante do território em questão, deixando de ser a partir da

mesma data distrito do município. Segundo dados do IBGE (2002) a comunidade de

Campinhos possui uma população de 3.757 moradores, sendo 1.934 homens e

1923 mulheres, do universo populacional retira-se 487 crianças entre 0 a 4 anos e

394 de 5 a nove anos.

O bairro de Campinhos está entre os maiores beneficiadores da mandioca na

região, gerando empregos diretos, além dos indiretos em função da lavoura e

comercialização dos produtos oriundos (Santos, 2001). Distanciado do centro da

Comunidade de Campinhos

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cidade por aproximadamente 9 km, a comunidade em 1946 - Distrito do município de

Vitória da Conquista, começou a se destacar em uma nova atividade econômica:

Casa de Farinha. A localização espaço-geográfica das mesmas está pontuada por

duas vias rodoviárias de sua importânca: a BA 262 e a BA 407, a primeira permite,

pelo lado oeste da cidade, o acesso ao extremo sul do Estado; a segunda liga o

município a várias cidades do sertão (Brumado, Guanambi, Caetité, Anagé).

A comunidade de Campinhos teve início com um projeto desenvolvido pelos

amigos Gerônimo Almeida Silva, Paulino Gomes, Joaquim de Rita e Germínio

Machado. Até então, a comunidade sobrevivia apenas de pequenas olarias, que

pelas dificuldades enfrentadas em nível de comercialização foram sendo aos poucos

fechadas, surgindo, portanto, um novo viés econômico na região: as farinheiras,

conforme relato de liderança tradicionais na comunidade.

Na segunda metade do século XIX, encontrou-se na região de Campinhos

duas grandes glebas de terra: a fazenda São Pedro e a fazenda Campinhos. Esses

dois imóveis foram desmembrados e deram origem a fazenda Bateias, hoje área

urbana de Vitória da Conquista. Provavelmente, como defende Medeiros apud

Alcântara e Barreto (1999), essas duas áreas devem ter tido uma grande

importância para Vitória da Conquista, porque se percebe daí a primeira estrada que

surgiu ligando o centro a Vitória da Conquista, hoje na área urbana conquistense, a

estrada de Campinhos tem o nome de Rua Fernando Spínola. Ainda segundo o

autor, a região sai da Mata de Cipó e gradativamente vai se aproximando da

caatinga, não é propriamente caatinga, mas está próxima de suas especificações; é

uma região servida de água, é circundada pela Lagoa das Bateias, o afluente

indireto do Rio Verruga.

Praticamente, como ressalta Alcântara e Barreto (1999), há quase um século

a área vem sendo ocupada de forma desordenada e número de moradores se

tornou mais expressivo na década de 60 e 70. Campinhos, atualmente, continua

sendo um núcleo de produção dos derivados da mandioca. As casas de farinha,

local de beneficiamento da mandioca fornecem empregos informais a toda a família

e também gera indiretamente o envolvimento de outras pessoas, são os

caminhoneiros, carroceiros responsáveis pelo tráfego da lenha e dos produtos

acabados que vão para os pontos de venda.

Além das farinheiras, a comunidade também se dedica, sem maior relevância,

a outros produtos de subsistência como é o caso do milho e do feijão que não são

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destinados ao comercio. Além de desenvolverem outras atividades econômicas de

menor expressão como bares, padarias e mercearias.

A pecuária se faz presente. Há criação de bovinos e suínos em pequena

escala, os eqüinos também se configuram em pequena quantidade destinados para

o transporte da mandioca, da farinha e da lenha. A comunidade conta também com

uma produção incipiente de tijolos e telhas, que se apropria da matéria-prima

encontrada nas áreas alagadas ou úmidas.

Recentemente e sem maior expressividade, o bairro tem se dedicado a

produção do corante advindo do urucum.

No bairro, encontra-se, em estágio avançado de contaminação, um pequeno

riacho denominado de Riacho de Santa Rita, um dos formadores do Rio Verruga. A

área apresenta clima local do tipo semi-árido a sub-úmido, solo vermelho amarelado,

com área aproximada de 13.292 ha, tem como comunidades ribeirinhas os núcleos

comunitários de Campinhos e Simão (ALCÂNTARA e BARRETO 1999).

Verificada a bacia, sérios problemas são detectados no Riacho de Santa Rita,

pois grande parte dos dejetos e dos resíduos da mandioca são jogados neste

reservatório. A poluição segue para outros afluentes, como é o caso do Riacho São

Pedro e da própria comunidade que recebe direta ou indiretamente todo escoamento

deste resíduo (MEDEIROS apud ALCÂNTARA e BARRETO 1999)

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6 DISCUSSÃO DE RESULTADOS

A pesquisa ora apresentada, como bem ressaltada em capítulos anteriores, terá

como objeto de estudo a comunidade de Campinhos já caracterizada e localizada

anteriormente, mas que aqui em função do repto estabelecido, será discriminada

sob a ótica descritiva sócio-econômica pleiteada por esta investigação.

6.1 Descrição de Estrutura Física e Métodos de Produção Empregados

O espaço físico abaixo discriminado pela Figura 12 reflete as dimensões

territoriais do trabalho feminino e masculino, como também referenda a essência de

um trabalho solidário e coletivo. Dispondo de uma estrutura de divisão de tarefas e

especialização do trabalho bem sistematizada, a linha de produção é um elo entre o

findar do trabalho de um e a continuidade da tarefa do outro.

A farinhada ou a produção dos subprodutos da mandioca sela entre os

participantes da produção a reafirmação entre os laços, que vão além do caráter

produtivo, mas extrapola para os laços da amizade, da confiança, do respeito, da

lealdade na pessoa que o contratou e na equipe que toma para si o trabalho em

execução.

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Quintal

8 4 5 9 2 1c 3a 3b 7 6 10 1b 1a

Espaços femininos

Espaços masculinos

Espaços coletivos

Figura 12.: Divisão das etapas produtivas da Casa de Farinha – Planta Ilustrativa12 Fonte: Dados da pesquisa

6.1.1 Espaço Físico e Divisão de Tarefas

A produção das Casas de Farinha começa muito cedo, ao nascer do sol e se

estende até o entardecer. Tem início celebrado com o cantarolar e as falácias da

mão-de-obra feminina, que munidas de uma boa faca amolada se preparam para a

função da raspa, etapa que influencia todo o andamento da farinhada. Se houver

qualquer atraso neste estágio, todos os outros procedimentos seguintes estão

comprometidos.

12 O modelo acima apresentado não se refere a nenhum padrão comunitário de Casas de farinha, mas responde a um arranjo mais próximo daquele que se repete entre as unidades visitadas.

1a – Amontoado de mandioca quando chega do roçado 1b – Mulheres em semi-círculo 1c – Espaço reservado para mandioca raspada 2 – Cevador: máquina de processamento da mandioca 3a – Tanque onde a massa é misturada com água: 1ª lavagem 3b – Tanque destinado ao trabalho de lavagem pelas mulheres sobre um pano 4 – Tanque de apuração do líquido 5 – Prensa 6 – Peneira 7 – Forno 8 – Quintal 9 – Depósito 10 – Forno 2: Beiju e tapioca

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Figura 13 – O trabalho feminino nas Casas de Farinha Fonte: Dados da Pesquisa

A participação do trabalho feminino - (Figura 13) - na produção é de

fundamental importância, cabendo a elas como segue ao que estar exposto no

anexo o papel da raspadeira e da tiradeiras de goma, reafirmando-se, portanto, o

que foi referendado anteriormente quando da caracterização das Casas de Farinha,

em que oportunamente, descreveu-se o papel feminino como prioritário: caso elas

não iniciem as suas atividades, todo o restante do processo produtivo está

comprometido.

O trabalho masculino está direcionado a outras funções específicas, que

normalmente, exigem força e destreza maior, pelos perigos eminentemente altos,

são elas: forneiro, cevador, prenseiro. A divisão de tarefas entre homens e mulheres

é bastante claro nas Casas de Farinha, porém essa segmentação também é

percebida nas pontuações dos espaços físicos, deixando claro onde homens e

mulheres devem exercer as suas funções.

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A agilidade e presteza deste trabalho conferem a essas mulheres um papel

de fundamental importância neste estágio do processo produtivo. Sentadas em

semicírculo, em pedras, no assoalho do chão batido ou em pequenos tamboretes e

sem apoio nas costas, conforme demonstração feita na Figura 1, anteriormente

fixada, se dividem em capoteiras ou tiradeiras de capotes, ou seja, algumas raspam

a “cabeça” da mandioca até a metade – capoteiras - e repassam para outra que

sequencialmente destituí o resto da raiz – tiradeiras de meia, no entanto, em

qualquer estágio são denominadas, de forma generalizada de raspadeiras, sempre

no feminino, porque os homens não participam desta atividade. Para armazenar a

sua produção são utilizados cestos ou caçuás13, reafirmando a tendência descrita

por Alcântara e Barreto 1999.

É muito comum neste momento presenciar falácias entre o mulherio,

conversando de maneira animada sobre assuntos pertinentes a comunidade; entre

um tempo e outro, surgem ações alternativas como o cantarolar de músicas

regionais, antigas ou conhecidas. Em média, realizam este trabalho por 10 horas

diárias de trabalho, com pequenos intervalos para alimentação, lembrando que é

facultado horários alternativos, em função da demanda, para homens e mulheres.

Ao findar do dia, pelo ritmo e posição dos trabalhos oferecidos, é comum verificar a

diminuição no ritmo das conversas, mas ainda sobressai, até o último instante, o

tilintar das facas que ainda perseveram para terminar o trabalho da ruma de

mandioca.

Depois de raspadas, as raízes são colocadas em cestos para transporte

interno, denominados de caçuás, é neste momento que a mão-de-obra masculina

também se faz presente. O ritmo suave e a musicalidade das facas amoladas são

interrompidos pelo fervoroso e estridente som da máquina de moagem. Neste

momento, o trabalhador masculino recebe o nome de cevador, triturando a

mandioca e deixando-a em forma de massa. Obtido o processamento dessa massa,

a mesma é colocada em um primeiro tanque com água para que seja realizada uma

primeira lavagem, reafirmando a fala de Alcântara e Barreto (1999)

13 Compartimento feito de cipó, espécie de cesto, também utilizado para transporte em animais de carga.

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Intermediando o processo produtivo, entra em cena a mão-de-obra feminina,

que retira a massa que está submersa em água com ajuda de um balde, e vai

colocando sobre um tecido: é o momento de retirar a goma – caso o objetivo não

seja a farinha. Se há como definir este estágio fugindo das especificações técnicas,

mas aproximando de uma linguagem mais descritiva e adjetivada, podemos dizer

que é um momento de arte, se assim compreende-se um bailado, onde entre duas

mulheres, há alternância dos movimentos das mãos, e rapidamente, com ações para

a esquerda e para a direita, sucumbe-se o líquido, escorrendo-o completamente e

obtendo uma nova massa, que dará origem a farinha.

Nota-se pela descrição, uma expressividade de trabalho artesanal, sem

maiores ações tecnificadas para a unidade industrial das Casas de Farinha, como

bem ressalta o CEPEA (2005)

Dando continuidade ao processo produtivo, a mandioca raspada, pode

também, ao ser conduzida para a máquina de moagem com motor elétrico ser

enviada diretamente para a prensa, que tem como forma uma grande bandeja, que

são servidas por alguns sacos de náilon, que condicionam massa de 25 a 30 cm de

altura, vindo logo depois uma outra tábua para repetição do mesmo processo.

Depois de escorrida a massa, obtém-se uma altura de 10 a 15 cm.

Ao lado, dois mourões servem de base para o condicionamento dos sacos

que conterão a mandioca ralada ou cevada. Acima desta estrutura, há um mourão

com furos que é movimentado por um homem de estrutura física forte, que com

ajuda de uma torriquete espreme a massa contida, por no mínimo oito horas, e dela

escorre o líquido amarelado (manipueira), quanto mais a massa é pressionada, mais

ela fica enxuta. Ao ficar seca, os torrões são desmanchados e passados em uma

peneira enorme e acumulada em uma grande caixa de madeira - cocho, enquanto a

crueira14 vai ficando retida na peneira, podendo ser destinada para alimentação de

porcos e galinhas (EMPBRAPA, 2005).

14 Pedaços pequenos de mandioca que não foram cevados, ralados.

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A massa peneirada passa para os fornos no mesmo dia em que foi retirada da

prensa para ser torrada e assim obter uma farinha de melhor qualidade. Se a massa

peneirada for deixada de um dia para o outro, a farinha azeda e compromete-se a

qualidade da mesma. Esta atividade e a anterior é reservada apenas aos homens,

como demonstra a Figura 14, chamados de forneiros. A mulher não deve sequer

subir nos fornos, porque é preciso destreza ao pisá-lo, argumenta-se ainda, que o

forno por ser muito quente pode trazer sérios problemas de saúde à mulher,

inclusive no sistema reprodutor, fala de um dos proprietários de casa de farinha

J.P.S.15

Figura 14 Caracterização do Trabalho Masculino Fonte: Dados da Pesquisa

Depois de torrada a farinha é condicionada em um resfriador – espécie de

prolongamento fechado do forno - para depois ser ensacada. Para não deixar

resquícios algum da farinhada feita, um homem, jamais uma mulher, sobe no forno e

15 J.P.S dono de pequena casa de farinha. Comentário adquirido enquanto se aplicava o instrumento de pesquisa.

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com ajuda de uma vassoura varre todo o perímetro, aproveitando ao máximo a

produção obtida.

Pode-se também utilizar o forno ainda quente para a produção de beijus e

tapioca. Esses derivam da massa lavada no primeiro estágio e que depois de

suprimida e fermentada lhe é retirada a goma, nesse estágio é comum verificar tanto

a presença masculina, quanto a feminina.

O trabalho nas Casas de Farinha, ainda que adjetivado por Simmel (1983),

como uma atividade coletiva e solidária, há que se considerar que pela natureza do

trabalho empreendido, pela qualidade das condições de trabalho oferecidas, não

deva ser considerado utopicamente a partir de relações interpessoais empreendidas

de ajuda mútua, caracterizando a farinhada como um acontecimento intensivo na

vida comunitária, muitas vezes pondo em evidência aspectos como amizade,

cordialidade, sociabilidade como fatores afins da continuidade desumana da

execução de uma atividade econômica .

Como a farinhada acontece na Casa de Farinha, ela se torna o espaço social

de maior expressividade na vida em comunidade. Homens e/ou mulheres, neste

momento, representam, como bem contextualiza Simmel (1983, p.178), parte de

uma coletividade para a qual vive, mas da qual retira seus próprios valores e

contribuições. O sistema de valores, pode ser também entendido, segundo Robbins

(2004, p.16), como a identificação de importância que se atribui a itens como

liberdade, prazer, cultura, auto-respeito, honestidade, obediência e justiça, de uma

maneira específica de condutas ou de concepções individuais ou socialmente

preferíveis a um modo oposto.

A Casa de Farinha funciona como agente caracterizador deste modelo de

produção agroindustrial. Os laços consangüíneos, a amizade, o parentesco, ainda

que remotos, caracterizam a contratação das pessoas, que em equipe se

consolidam com agentes co-responsáveis de uma produção que é coletiva. Talvez

daí venha o referendar de Casa e não de indústria, por se remeter,

preferencialmente ao lócus de morada, de família, de espaço, de união. E como é

salutar dizer que durante essas atividades profissionais, as histórias antigas e

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cotidianas se misturam num patrimônio uno e indivisível, apenas bem próximo e

característico do comunitário Simmel (1983, p.178).

Campinhos conta com pequenos produtores, possuidores de uma base

produtiva agroindustrial familiar, caracterizada, a priori, como atividade econômica

responsável pela renda principal gerada pela comunidade. A produção atende às

solicitações de mercado, não há planificação mais precisa, responde também como

matéria-prima de outras cadeias produtivas da cidade e de municípios próximos à

Região. A produção ainda se assemelha aos modelos antigos de produção,

prevalecendo em todas as Casas de Farinha a ambiência artesanal e primária que

vai do início da cadeia produtiva até o escoamento dos derivados para o consumo

direto16 e indireto17.

A atividade produtiva que lograva espaço possuía um caráter artesanal mais

acentuado do este que se vê atualmente, o forno contava com a tração animal e a

mandioca para ser cevada contava com ralos enormes e com o esforço humano

para obtenção da massa, produto principal da cadeia produtiva dos derivados da

mandioca.

Como extensão das atividades de algumas propriedades rurais, as Casas de

Farinha foram aos poucos compondo o cenário da comunidade, sem registro prévio

nos órgãos controladores e fiscalizadores da atividade econômica, imperou-se a

informalidade que se estende até os dias atuais. Não há registro destas unidades

agroindustriais, como também a relação entre o capital e o trabalho se dá na base

da confiança e no relacionamento mútuo, ou seja, não há qualquer forma de contrato

legal de trabalho ou de cooperação, ficando sempre em evidência a

proporcionalidade dos elos familiares que desencadeiam a relação produtiva. Há,

que, portanto, se considerar um risco premente da continuidade de um processo

produtivo, que tem como base a confiança e o parentesco, itens vulneráveis levando

em consideração a própria construção histórica das classes sociais.

16 Consumo direto: diz respeito aos derivados da mandioca que vão para o consumidor final (farinha, beiju, tapioca, goma) 17 Consumo indireto: referem-se aos derivados da mandioca que geram entradas para cadeias produtivas de fábricas de biscoito, panificadoras.

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No início, a produção de mandioca, que era gerada nas propriedades rurais

por pequenos produtores, era suficiente para abastecer as Casas de Farinha, que

até então não se apresentavam tão numerosas. Com o passar do tempo, a atividade

deixou de ser exclusiva do pioneirismo de alguns e passou a fazer parte da tradição

dos Campinhos. Hoje, é necessário contar com a produção oriunda de outras

cidades circunvizinhas à região, buscando atender a demanda das Casas de

Farinha existentes.

Por muito tempo utilizou-se a energia natural, principalmente a lenha, como

combustível de viabilização do processo produtivo e até, hoje, a comunidade insiste

na utilização do mesmo mecanismo de energia, pelo “baixo custo”, como ocorre em

alguns relatos. Segundo relatos de N.M.T18, na região havia uma grande reserva

florestal, mas com uso ininterrupto da lenha como combustível dos fornos utilizados

na produção da farinha, a região é desprovida de reserva deste tipo, o que torna-se

uma ação preocupante, via que hoje ainda se utiliza do mesmo instrumento, porém

devasta-se outras áreas próximas ao bairro em questão, confirmando diagnóstico

apresentado pela COOPASUB (2005) onde as matas regionais são as maiores

fontes de energia natural – lenha – na região (Figura 11) e para maior

expressividade deste dado analisa-se que os povoados e cidades circunvizinhas têm

servido de base para o fornecimento deste elemento (Figura 10)

18 Comerciante e proprietário de casa de farinha, 63 anos, morador antigo da comunidade de Campinhos

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FIGURA 15 – Predominância da utilização da lenha nos fornos das Casas de Farinha Fonte: dados da pesquisa

Em um outro relato, coletado junto à comunidade com J.F.F.S19, espécies

nativas de madeiras, anteriormente vistas, hoje são mais do que relíquias na região,

tornaram-se espécies lendárias, por não mais serem vistas como eram em tempos

idos, é o caso do angico, da baraúna, do pau d`arco, caboclo, canela, catuá, dentre

outras.

Na região Nordeste, há uma forte dependência da população rural pela lenha.

Ela sustenta milhares de famílias que trabalham em sua retirada, além de manter a

produção de vários empreendimentos regionais, como é o caso específico das

Casas de Farinha, atividade semi-industrial onde a lenha é a principal fonte

energética dos seus sistema de produção (GOMES, 2000, p. 26 & NOGUEIRA,

2001, p. 31).

19 Filho da região, 61 anos, comerciante conquistense, viveu boa parte da infância nesta região e na comunidade por ter um pai proprietário também de Casa de farinha.

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6.1.2 Modelo de Remuneração adotado pelas Casas de Farinha

7%17%

14%

34%

7%

21%

O lucro é dividido R$ 8,00/dia (mulher) - R$ 15,00/dia (homem)Não respondeu R$ 8,00/dia (mulher) - R$ 12,00/dia (homem)R$ 10,00/dia (homem e mulher) R$ 7,00/dia (mulher) - R$ 10,00/dia (homem)

FIGURA16 - Modelo de Remuneração Casas de Farinha Fonte: Dados obtidos em pesquisa de campo realizada entre maio e junho de 2007 na comunidade de Campinhos: Vitória da Conquista - BA

Há uma distinção entre o valor remuneratório pago aos homens e às

mulheres pelo trabalho realizado por um ou pelo outro.

As mulheres, seguindo outras tendências profissionais, são remuneradas por

um valor menor. Ainda que as horas trabalhadas por ambos sejam as mesmas - 10

horas diárias em média – predomina a diferenciação da mão de obra contratada.

Esse valor, no momento de realização deste pleito, variava entre R$ 8,00 a R$9,00

pelo trabalho feminino e R$ 10,00 a R$ 12,00 para o trabalho masculino.

Havendo uma variação entre a quantidade de dias trabalhados, que depende

de uma série de fatores, entre eles a oferta da mandioca, o preço do mercado, os

dias em que a mandioca chega à comunidade, disponibilidade de mão-de-obra,

entre outros, a remuneração é variável.

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Tomando por média um número de 5 dias, que corresponde a maior

estimativa encontrada na pesquisa referente a quantidade de dias destinados a

produção nas Casas de Farinha e comparando os mesmos a melhor remuneração

destinada a ambos, teríamos em freqüência produtiva linear os seguinte valores

sendo pagos aos trabalhadores das farinheiras:

TABELA 3: Remuneração do Trabalhador das Casas de Farinha

Trabalho Horas Trabalhadas

Dias Trabalhados

Valor Remuneração Semanal

Remuneração Mensal

Feminino 10 5 R$ 9,00 R$ 45,00 R$ 180,00

Masculino 10 5 R$ 12,00 R$ 60,00 R$ 240,00 Fonte: Dados oriundos de pesquisa de campo realizada entre maio e junho de 2007 na comunidade de Campinhos: Vitória da Conquista - BA

Partindo da analogia dos dados acima apresentados, e considerada a

remuneração mínima paga no Brasil, que atualmente é de R$ 380,00 (DOU,

1/04/07), o nível de remuneração estabelecido está abaixo do valor que é

considerado como o justo mínimo a ser pago a um trabalhador no Brasil. Por outra

razão, o baixo nível de remuneração exige um maior elo entre vários elementos de

uma mesma família, como maneira inexeqüível de proporcionar aumento na renda

familiar, sem contar que o número de horas trabalhadas excede o limite permitido

em lei, que são de oito horas diárias.

Os laços familiares é outra característica de relevância que deve ser

considerada na análise destes empreendimentos. Nas Casas de Farinha, as

contratações pelos laços consangüíneos são relativamente altas, até pela própria

natureza do empreendimento em questão. Considerando-se a relação familiar e a

contratação fixa, soma-se um percentual significativo (SIMMEL 1983, p.178).

Baseando-se, também, nos dados registrados no apêndice A desta pesquisa,

chega-se a conclusão que, aproximadamente, 69% das pessoas que trabalham nas

farinheiras possuem laços consangüíneos, daí a dependência econômica criada

para subsidiar a continuidade deste empreendimento, em outra análise, podemos

concluir que a produção é gerada em torno da família, portanto o índice de

dependência econômica entre os membros e sua atividade é relativamente alta.

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Além dos laços consangüíneos, há que se considerar também, o nível de

escolaridade das pessoas envolvidas no processo produtivo, pois este passa a

coadunar junto com o primeiro um outro fator de relevância para a submissão a

atividade desenvolvida, frente a outros mercados que demarcam exigências

diferenciadas, e o grau de instrução é uma delas.

Na comunidade, existem duas escolas públicas, com pouca incidência de

aulas vagas ou falta de professor, como atesta 76 % dos entrevistados. Há um

número significativo de jovens, entre 17 e 25 anos que trabalham nas Casas de

Farinha, correspondendo a um percentual de 37,9% das pessoas empregadas

diretamente na produção (APENDICE A). Entre os entrevistados, apenas 10% da

mão-de-obra não estão na escola ou não terminaram seus estudos. Entre aqueles

que não estudam, 49% residem entre a qualificação básica da 1ª a 4ª série, 31%

estão na faixa da 5ª a 8ª série.

Embora, não tenha sido pontuada a existência da inserção do trabalho infantil

nas Casas de Farinha, é bom salientar que na pesquisa foram pontuados 3% de

menores entre e 15 e 16 anos que trabalham nas Casas , sem nenhum registro

prévio e aí, estão para complementar a renda familiar, além de estarem com grau de

escolaridade abaixo da faixa etária que possuem.

6.1.3 Estrutura funcional das Casas de Farinha

Todas a casas de farinha que existem em funcionamento na comunidade de

Campinhos operam em regime de informalidade, porque nenhuma Casa de Farinha

é registrada, nos órgãos competentes públicos como pessoa jurídica, portanto não é

configurada como tal. De certa forma, todas assumem uma espécie de anonimato

jurídico, embora falar na comunidade de Campinhos, é falar em produção de Casas

de Farinha. Devendo ser salientado que a comunidade tem como fundamento

econômico as atividades das farinheiras. Essa informalidade é ainda mais acentuada

pela ausência de qualquer registro na comunidade das Casas de Farinha existentes

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ou que já fizeram parte no arranjo produtivo local em anos anteriores. Não existem

associações representativas dos produtores, não há formalização de sindicatos ou

qualquer outro tipo de instituição que poderia estar sendo o agente catalogador dos

dados pertinentes a este empreendimento.

Ao serem interrogados, quanto ao problema da informalidade, 3% dos

proprietários de Casas de Farinha, afirmam ser inviável adotar o procedimento de

registro, tanto em relação ao empreendimento, quanto no que diz respeito aos

funcionários que trabalham para eles, pois o ônus de tal exigência é incompatível

com as receitas geradas pelas farinheiras. Para 10% dos entrevistados, pelo fato de

se trabalhar em família, este requisito torna-se desnecessário, prevalecendo na

contratação a fundamentação da confiança. 14% dos pesquisados acreditam que o

fato do trabalhador ser contratado em regime de diárias, não seria justo contratá-los

por tempo indeterminado. Porém, surpreendentemente, 73% dos proprietários de

Casas de Farinha se negaram a responder a referida indagação, podendo ser

subtraídos de forma induzida desta postura, fundamentação indireta de

reconhecimento do peso que a informalidade tem perante os órgãos fiscalizadores e

o próprio mercado em si.

Segundo dados coletados, mediante o instrumento de pesquisa utilizado

nesta investigação, a comunidade nasceu com o surgimento dos primeiros

empreendimentos farinheiros. Entre as Casas que permanecem em atividade,

apenas 3% apresentam menos de 05 anos de funcionamento, 34% - maior margem

considerada – têm aproximadamente 15 a 20 anos de operação. Mesmo com a falta

de estrutura e pouco dimensionamento hoje para as exigências de mercado,

encontramos ainda um percentual considerável em torno de 14% para Casas de

Farinha que sobreviveram a 30 anos de existência e provavelmente, são e foram

multiplicadoras entre familiares e/ou entre pessoas da própria comunidade para que

surgissem outras unidades farinheiras na região. Reafirmando, o que foi citado por

Simmel (1983, p.178), em que a comunidade passa a referenciar os valores e as

contribuições de seus participantes, ainda mais quando são tão impregnados por

uma identificação local que está disseminada nas práticas e vivências de uma

população que vive em torno de costumes arraigados em seu cotidiano.

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A maioria dos proprietários das Casas de Farinha são homens,

correspondendo a 69%. Embora, há que se considerar que o percentual feminino

também é representativo, estando na margem de 31%. Quanto ao grau de

escolaridade, as mulheres, como donas de Casas de Farinha, assumem um grau de

escolaridade um pouco superior ao dos homens, cerca de 67%, em contraposição

ao masculino que se aproxima de 65%. Porém, analisado, pelo maior grau de

escolaridade, as mulheres sobressaem aos homens, ou seja, 35% dos proprietários

masculinos de Casas de Farinha, possuem da 5ª a 8ª séries, já para o universo

feminino este grau sobe para quase 45%.

Reafirma-se, portanto, o que foi citado por (Santos & Mendes, 1997), que por

ter um grau de instrução baixo e pouco inserido nas performances de mercado, os

dono de Casas de Farinha ao mesmo tempo em que é fabricante, é também o

agricultor, o comerciante, onde o balcão da barganha favorece mais ao consumidor

direto ou indireto.

Ao serem interrogados sobre a escolha da atividade produtiva, os

proprietários de Casas de Farinha, reconhecem que a tradição familiar é a estimativa

mais alta para justificar a continuidade deste processo, chegando a 60%. Em

contrapartida, 34% dizem que na continuidade se dá porque não há outras

perspectivas de emprego ou oportunidades oferecidas na comunidade, portanto,

sendo mais cômodo trabalhar com o que é mais comum a ser encontrado. Os 6%

restantes, dividem-se em 3% de pessoas que reconhecem que não saberiam fazer

outra coisa diferente, e 3% ainda consideram a Casa de Farinha como um negócio

rentável.

As Casas de Farinha presentes na comunidade de Campinhos aproximam-se

muito do modelo perpetuado no Nordeste brasileiro (CEPEA). São casas de

estrutura artesanal, maquinários rústicos, que estão próximos do método tradicional

de produção. Tradicional, porque se aproxima em muito da contribuição indígena

para o surgimento das Casas de Farinha, sendo pouco tecnificadas: paredes de

adobão – tipo de tijolo usados em construções do semi-árido nordestino – paredes

caiadas, chão batido, telhados rústicos.

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3%21%

14%

34%

7%7%

14%

Menos de 05 anos Entre 05 e 10 anos Entre 10 e 15 anos Entre 15 e 20 anosEntre 20 e 25 anos Entre 25 e 30 anos Acima de 30 anos

Figura 17 – Tempo de funcionamento das Casas de farinha Fonte: Dados obtidos em pesquisa de campo realizada entre maio e junho de 2007 na comunidade de Campinhos: Vitória da Conquista - BA

Além dos aspectos rústicos e das formas tradicionais na aplicação dos

processos produtivos empregados, as Casas de Farinha da comunidade de

Campinhos operam pela predominância do uso da lenha na combustão dos fornos

utilizados nas farinheiras. Pela perda pontual ocorrida nos aproximados 50 anos de

implantação desta atividade na região, a redução da mata nativa é considerável,

sendo observadas extensas faixas de terra destinadas a pastagem, ou quando muito

abandonadas pela imigração natural para outras áreas onde servirão para plantio. O

uso da lenha desencadeou na comunidade intensas ações de desmatamento e hoje,

compromete reservas de outras comunidades e povoados próximos a atividade das

farinheiras, ação pontuada por Fioretto (1985), Alcântara e Barreto (1999),

COOPASUB (2005) e Rocha e Cerqueira (2006) e mais uma vez confirmado pelos

dados de coleta desta pesquisa conforme dados expressos na figura 18, abaixo

apresentada:

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Figura 18 – Origem da lenha utilizada na produção das Casas de Farinha Fonte: Dados obtidos em pesquisa de campo realizada entre maio e junho de 2007 na comunidade de Campinhos: Vitória da Conquista - BA

Há que se considerar também que 83% dos proprietários de Casas de Farinha

utilizam a lenha como fonte natural de energia a ser utilizada no processo produtivo

deste empreendimento. Estima-se, pelos dados coletados nesta pesquisa, que

aproximadamente que entre a 5 a 10 m3 semanais de lenha são utilizados por cada

uma das 25 farinheiras alocadas na comunidade de Campinhos. Em dados mais

precisos, isso significaria, que em caminhões de eixo 2, como os que circulam na

comunidade, cada caminhão transportaria 20 m³ de lenha. Consideradas 25

empreendimentos e tomados por média um consumo semanal de 8m3 de lenha, ter-

se-ia um consumo semanal estimado em 200m³, necessitando, portanto de 10

caminhões semanalmente carregados para atender a necessidade de combustão

dos fornos. Compromete-se portanto, de forma bastante significativa o resto de mata

nativa existente na região, a biota local, a qualidade do solo, a qualidade do ar

atmosférico, entre outros fatores, o que vem para reafirmar o que foi discutido

anteriormente com Alcântara e Barreto (1999), COOPASUB (2005) e Rocha e

Cerqueira (2006).

25%

21%3%14%

3%7%

17%

7% 3%

Iguá Nas proximidades DantelânciaVeredinha São João da Vitória QuatiNão sabe informar Não utiliza lenha Lagoa de Timóteo

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6.2 IMPACTOS AMBIENTAIS PROVOCADOS PELA ATIVIDADE

6.2.1 Efeito e extensão dos impactos

Com o intuito de evidenciar os principais impactos ambientais oriundos da

produção das Casas de Foram e mediado pelo instrumento de avaliação de

Impactos Ambientais – Matriz de Interação – foram catalogados 19 ações humanas,

que em disposição de intersecção foram comparadas concomitantemente com 13

impactos físicos, 9 impactos antrópicos e 3 impactos bióticos.

Posto em evidencia os elementos de estudo, verificou-se, enquanto

empreendimento, uma demonstração de ação erosiva ao meio sendo pontuado em

torno de 95% os efeitos negativos oriundos da atividade econômica.

Os Impactos positivos encontrados situam-se em sua maioria em torno de

5%, e estão mais concentrados entre os geradores de emprego e renda.

Notoriamente, chama-se a atenção para as atividades diretas e indiretas que são

consumadas como elemento de rentabilidade do trabalhador. As atividades que

envolvem o desmatamento, a monocultura, o trabalho juvenil, as queimadas e a

aplicação de agrotóxicos embora incidam uma remuneração direta, mas

indiretamente, proporcionam uma atividade de erosão ao meio (GOMES apud

BECKER, 2001, p.95)

Os impactos negativos estão presentes em toda a extensão da análise, o que

demonstra que o empreendimento analisado, ao longo do tempo de instauração se

apropriou das técnicas produtivas sem que se desse importância a uma formatação

concisa preocupada com as questões ambientais e do espaço físico onde se

estruturava. Quando o assunto é a demarcação do espaço físico observam-se

efeitos negativos pela forma desordenada de ocupação, seja esta humana ou da

instalação das Casas de Farinha ou de outros empreendimentos comerciais, ainda

que irrisórios, mas que se fazem presentes no espaço, reafirma-se, portanto a

discussão trazida por Becker (2001).

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Além da ocupação desordenada da área, pontua-se também a ausência de

saneamento básico, que torna-se agente causador direto de algumas doenças,

além de pontuar negativamente aspectos de higiene na área ou paisagens erosivas

pela degradação visual da mesma. Parece que, pela ausência de políticas públicas

direcionadas a regulamentação ou intervenção direta no ambiente em questão, as

práticas passam a ser rotineiras e a acomodação com a paisagem perpassa pelo

elemento do costume.

O lixo acumulado e os resíduos oriundos do funcionamento das farinheiras

denotam mais um impacto negativo a ser observado. Afetam toda a extensão

territorial, contaminam os solos e os lençóis freáticos pela incidência de uma enorme

quantidade de manipueira que é liberada livremente no solo e causam além de um

aspecto negativo na paisagem, a disseminação evidente de um odor agressivo que

se percebe na comunidade.

Ações humanas como desmatamento, monocultura, queimadas pertencem a

um modelo tradicionalista de produção. Além de serem recursos imediatistas para

usar os recursos ambientais disponíveis, eles acabam deteriorando o entorno que

constitui o espaço físico que sofre a degradação do meio que perece. Presentes na

comunidade de Campinhos, todos os elementos acima dispostos são alvo, também,

de impactos negativos não somente na paisagem que a dispõe, mas, sobretudo na

biodiversidade que está comprometida, ou para estudos mais específicos talvez

ausentes daquilo que era encontrado em anos anteriores. A ausência de elementos

bióticos, comprometem o equilíbrio e impedem que funções sistêmicas do meio

natural esteja comprometido, como recorda Veiga (1994).

Em relação a execução do trabalho e as condições legais e físicas que estão

dispostos os trabalhadores das Casas de Farinha, os impactos também são

negativos e quanto a extensão dos mesmos podemos dizer que se estende por toda

a área da comunidade. A falta de higiene, a exposição a um ambiente de trabalho

insalubre, a exposição a riscos físicos, a falta de saúde ocupacional compromete

seriamente a integridade dos trabalhadores desta atividade. (BARBOSA FILHO,

2001)

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O trabalho, diferentemente do que pensa Araujo (2006), nas casas de farinha

está distante de ser promulgado pela competencia ou habilidade da pessoas

envolvidas, ele passa a ser um mero reprodutor de ações quantitativas que visam

atender o mercado em seu espectro de venda e não se preocupa, ou ainda não se

alertou para o individuo, elemento gerenciador deste sistema.

6.2.2 Natureza e temporariedade dos Impactos Ambientais

Os impactos ambientais observados são, em sua grande maioria, de

incidencia direta em relação aos efeitos por ele causados. Quanto a temporariedade,

há predominância temporária imediata, o que uma vez analisados os impactos,

coaduna com uma preocupação emergencial frente ao quadro de estudo que ora se

apresenta.

6.2.3 Periodicidade e Intensidade dos Impactos Ambientais

Prevalecem neste elemento a peridiocidade contínua determinando a

constãncia de alguns procedimentos. Ressalva-se, porém, alguns elementos em

estudo, como é o caso de desmatamento, da monocultura e das queimadas, visto

que esses impactos respondem por uma sazonalidade própria em detrimento,

principalmente, do período em que os pequenos produtores locais se dedicam ao

plantio ou preparação da terra para a execução do mesmo. (COOPASUB, 2005)

Há que se considerar também, que a matéria-prima, hoje vem de várias

regiões próximas, como delimitou-se na primeira parte desta pesquisa e a lenha

utilizada na combustão dos fornos é oriunda, em sua maioria, de outras cidades e

povoados, o que por caracterizar uma continuidade de processos, remete-se a uma

preocupação emergencial, posto que não havendo reservas verdes na comunidade,

indiretamente Campinhos contribui para que outros desertos verdes surjam em

regiões próximas.

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Levando em consideração a intensidade dos impactos ambientais, verificou-

se que se põe em evidência o elemento de força, significativamente representando o

teor que os impactos estão tendo na reprodução do modelo produtivo ora

empregado e que reproduz um ambiente alvo de erosão ambiental, social e humana,

confirmando o que foi defendido anteriormente por Gómez apud Becker, 2001, p.

102.

6.2.4 Reversibilidade e probabilidade de ocorrência dos Impactos Ambientais

Como a questão ambiental é um chamado e um exercício de adaptação

proposto a humanidade neste século, e que o momento vivido perpassa pela

reconstrução de um novo modelo de viver no planeta com reflexão profunda,

generalizada e consistente, o observado por esta pesquisa vem a convalidar o

discurso de Guimarães apud Viana, Silva e Diniz, pois se tratando de reversibilidade,

para perspectivas futuras próximas, há como contornar algumas das ações ou dos

impactos que atualmente adjetivam a Comunidade de Campinhos como um

ambiente erosivo, salientando Gómez apud Becker, 2001, p. 95.

A reversibilidade conforme analogia feita é alta, o que confere a possibilidade

de que, através de uma intervenção precisa, provavelmente pelas entidades

públicas, visto que por estarem na informalidade e não possuirem estrutura forte

para competição no mercado, é necessário a injeção de alternativa que venham a

promulgar a sustentabilidade comunitária, ressalvando mais uma vez o discurso

propalado por Gómez apud Becker, 2001, p. 102.

6.2.5 Relevância e Magnitude dos Impactos Ambientais

Mais uma vez verificados os impactos ambientais e as ações pertinentes aos

mesmos, chega-se a um conclusão alarmante acerca das atividades desenvolvidas

pelas Casas de Farinha na comunidade de Campinhos. Em sua maioria, 81,76% dos

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impactos observados estão classificados na linha de magnitude elevada, 18%

concentram-se no núcleo mediando e menos de 1% poderiam ser considerados

como irrelevantes.

Na estimativa mais baixa, no que diz respeito a magnitude foi classificada a

proliferação de pragas pelo uso de agrotóxicos. Compreendendo que o agrotóxico é

utilizado para conter pragas, sua magnitude em relaçao ao fato é demasiadamente

pequena.

Entre as medianas, pode-se referendar para análise a contaminação do solo,

a presença de fuligem, o surgimento de empreendimentos locais. Há que se

considerar que tais pontos em observação perpassam por impactos de menor

dimensão, posto a sua evidência frente a outros impactos mais expressivos.

O desmatamento, a manipueira, a monocultura, as queimadas, o uso da

lenha para combustão dos fornos são elementos impactantes de magnitude alta.

Além de fundirem uma prática erosiva no meio, eles indiretamente proporcionam

efeitos concominantes de efeitos negativos também. O desmatamento provoca a

redução da biodiversidade, extirpa o verde, compromete as reservas nativas e

consequentemente compromete a qualidade de vida do homem em seu território

físico. O uso de máquina de cevação, com motores com sons estridentes, expõe o

indivíduo ao exercício profissional dirimido de condições apropriada de trabalho, a

ausência de reservas verdes também impactam porque não permitirem o combate a

poluição sonora, uma vez que as plantas podem servir de barreiras para um redução

significativa de ruídos. O espaço físico desprovido de vegetação inibe ou dificulta

ações de lazer ou atividades lúdicas que podem ser direcionadas para velhos,

crianças e até mesmo as pessoas que estão diretamente ligadas ao processo

produtivo das farinheiras, portanto, revalida-se nesta discussão os pensamentos dos

autores Crispim e Magalhães (2003); Fioreto 1985; Barbosa Filho 2001.

A não destinação correta dos resíduos derivados da produção de farinha e

outros derivados da mandioca, bem como a ocupação desordenada da área e do

ambiente físico implicam em outros problemas, que precisam ser gerenciados pela

comunidade de Campinhos. A manipueira, postulada por Fioretto (1985) como um

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dos mais perigosos venenos existentes, está sendo lançado livremente no solo da

comunidade infiltrando sem que se possa estabelcer nenhum controle neste, já

estando comprometidos o Riacho de Santa Rita, provavelmente os lençóis freáticos

do espaço físico. A manipueira eliminada sem nenhum controle no meio físico, é

causadora de odores desagradáveis, degrada o solo, compromete a saúde dos

animais domésticos criados na comunidade para consumo familiar, reafirma o

discurso propalado pelo historiador conquistente Medeiros apud Alcantara e Barreto

(1999).

As tecnicas tradionais que vão desde o plantio até o sistema produtivo das

Casas de Farinha, não possibilitam ajuste de ações para melhoramentos dos

impactos erosivos que coadunam da atividade das farinheiras. A ausência de rodízio

de cultivo, o plantio conjugado de espécies, a imparcialidade e a migração de área

para plantio denotam como os atores sociais demonstram passividade nas posturas

tomadas diante do meio em que vive. A necessidade de políticas públicas que

emerjam uma conscientização e um envolvimento participativo de educação

ambiental, provavelmente, pode ser uma das alternativas para melhoria da situação

apresentada. Mais uma vez, os autorez Gómez apud Becker está com a razão

quando insere no contexto ambiental, a necessidade de envolver o Estado como

agente interveniente de melhoria em um quadro, que pelo próprio assolamento do

tempo e a falta de supervisão adequados compromete a sustentabilidade de um

modelo de produção que está agindo como espécie de bloqueio ao desenvolvimento

viável e sustentável da comunidade.

Outro elemento de observação na elaboração da matriz, trata-se do trabalho

desenvolvido por homens, mulheres e jovens (15 a 17 anos). Diante de um ambiente

insalubre, composto por solo socado e pela umidade proveniente da manipueira que

escoa livremente nas farinheiras, o indivíduo desenvolve seu trabalho nas Casas de

Farinha em um ambiente degredado pela própria atividade. A falta de condições

mínimas de trabalho, a não utilização de equipamento de segurança (EPIs), expõe o

trabalhor a inúmeros riscos entre eles ambientais pela disposição incorreta de

ferramentas, maquinários e posturas físicas assumidas para o desempenho das

suas atividades. O trabalho feminino, em particular, é executado com posturas

incorretas, as mulheres sentam-se por longas jornadas no chão, ou em pedras e

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utilizam por horas seguidas a faca como instrumento de trabalho para raspas da

mandioca, sem que haja proteção a sua integridade física e a sua saúde. No

trabalho masculino, o uso da máquina de cevação e o forno que o ajuda no

momento de cocção da massa são manuseados sem qualquer preocupação com a

eminente com o risco que o trabalhador está exposto. Os jovens, ainda mais

alarmante, desenvolvem suas atividades sem fiscalização da legalidade ou não do

trabalho por ele executado. Nas três instâncias de execução todos estão expostos a

carga horária extensa de trabalho, chegando a ultrapassar 10 horas diárias de

trabalho e por conta do ambiente físico apresentar alta insalubridade estão também

facilmente dispostos a um alto índice de poeira, o que indiretamente podem

desencadear doenças respiratórias, reforçando a necessidade de condições de

trabalho adequadas defendidas por Barreto Filho (2001).

Há que se considerar também a exposição frequente a ruídos pelo uso

constante da máquina de cevação. O som de tal maquinário assume um caráter

indesejável e além de ser incômodo, como salieta Barreto Filho (2001) afeta

simultaneamente o plano físico, psicológico e social do empregado. A poluição visual

também é um elemento de magnitude relevante tratando-se do funcionamento das

farinheiras nos moldes em que vem acontecendo na comunidade de Campinhos, o

ambiente físico está tomado por requisitos de falta de higiene dentro e fora das

farinheiras, e somados a este conta-se ainda com o risco elétrico pela exposição

constante de falta de estrutura correta das instalações elétricas dispostas nas casas

de farinha. O choque elétrico ou o contato no organismo humano pelas correntes

elétricas podem desencadear alguns problemas sérios como cãimbras, tetanijação (

enrijecimento muscular), parada respiratória, fibrilização (comprometimento do

sistema cardiovascular), queimaduras. Há também nas Casas de Farinha a

exposição direta a riscos químicos por conta principalmente da manipueira, que

pode desencadear em alguns organismos reações alérgicas, pelo seu alto teor de

toxidade, além de deterioração do aparelho respiratório ou das mucosas expostas

ao líquido ou espaço atmosférico que incluem o funcionamento das farinheiras,

alerta discriminado por Fioretto (1985) e Barreto Filho (2001).

Reportando-se mais uma vez ao tópico “falta de higiene” e etendendo neste

item uma magnitude alta, uma vez postulado o que direta e indiretamente este

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elemento pode ocasionar em termos de perigo e riscos, é bom que se evidencie que

o mesmo começa pelo próprio início dos trabalhos das farinheiras que não atendem

as especificações técnicas de funcionamento das casas de farinha propostas pela

EMBRAPA-AC (2001). A utilização inadequada dos equipamentos, bem como o não

cumprimento de estapas do processo produtivo (preparação da raízes (lavagem);

descascamento com facas inoxidável) infere diretamente na qualidade do ambiente

e no produto final (farinha, beiju, a tapioca, a goma) que se propõe como fim das

atividades desempenhadas pelas farinheiras.

A biota local apresenta-se comprometida já alguns anos. Considerada por

Medeiros apud Alcantara e Barreto (1999) que a comunidade tem uma faixa etária

superior a um século e que as Casas de Farinha provavelmente ultrapassam em

tempo de execução a metade deste tempo, os 50 anos são e foram suficientes para

que pela exposição constante do solo, dos mananciais, dos riachos ao

desmatamento, à monocultura, às queimadas, à ocupação desordenada da área, ao

escoamento livre da manipueira e à falta de gerenciamento adequado dos resíduos

sólidos e do lixo local, houvesse por estes elementos o desencadeamento de fatores

nocivos a manutenção ou preservação da fauna e da flora da região, reafirmando

mais uma vez os propalados defendidos por Rocha e Cerqueira (2006), Fioretto

(1985) e Barreto Filho (2001).

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O homem e o meio ambiente no século XXI tentam estabelecer um

redirecionamento de postura de convivência entre ambos. O primeiro sempre

imperou sobre os recursos naturais, ignorando as limitações que o detinham tanto

em relação a própria natureza, quanto a si próprio. O segundo, por muito tempo em

silêncio, coadunou com as expectativas humanas e hoje conclama esforços, e

solicita posicionamentos diferenciados. O acúmulo de conhecimento e a

tranformação do espaço físico sugere uma reestruturação do que vem circundando

a sociedade.

A sustentabilidade social e econômica, emerge em um novo saber: o saber

ambiental. Este novo saber surge de uma reflexão dos propósitos a cerca da

construção do novo modelo social que se propõe para construção de uma ambiente

mais justo, mais humano e principalmente, mais sustentável. A construção do novo

permite o desconsiderar, o modificar de posturas, o re-construir, porque as

mudanças são necessárias e convocam para uma complexidade que deve amalgar

a natureza, a tecnologia, o homem, a ciência, em um novo significado da vida.

Quando muitos discuros atuais referem-se a essencia do agir local em

consonância com as preocupações globais, essa linha de ação permite albergar

ações mais próximas do contexto preterido por alguns que preteiam melhorias no

seu território. Enquanto cidadãos todos são co-responsáveis pelo despertar e pelo

construir deste novo saber e pela construção de um novo modelo social mais justo,

equitativo e sustentável.

Em todos os espaços físicos deste planeta, haverá sempre demanda de revisão

das posturas humanas diante do meio em que se viveu por muitos anos, sem que,

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na maioria das vezes, tivesse a oportunidade e o senso de avaliar suas atitudes e

se, de alguma forma, o formato de suas ações poderia comprometer a sua

sobrevivência ou de outras gerações vindouras.

Enquanto objeto de estudo deste trabalho, as Casas de Farinhas, seu modelo

produtivo, seus atores sociais, a comunidade, o desenvolvimento e a

sustentabilidade fizeram, aqui, parte de uma discussão de pesquisa, que não

pretende esgotar enquanto assunto e conclama estudos, ações, projetos que

venham a viabilizar um revisão pontuada nas práticas que hoje são empregadas

pelas farinheiras desta comunidade.

Entendendo que a sustentabilidade é um projeto coletivo, a continuidade

esperada das ações e a perpetuação da comunidade, engendrada em uma política

de melhoria na qualidade de vida e de trabalho dos seus moradores, requer que

esferas maiores, como as instâncias públicas, antecipem intervenções que venham

para justificar um modelo de produção assentado não apenas na produtividade, mas

sobretudo na vida humana, tomada em essência.

Diante dos dados apresentados e da analogia dos mesmos, considera-se

importante viabilizar a comunidade de Campinhos como objeto de estudo de outras

perspectivas investigatórias. A comunidade, em questão, tem sobressaído mais por

uma resistência histórica e um forte tradicionalismo nas atividades desenvolvidas, do

que pelo referendar da sua ação produtiva, ou seja, pelo costume se tem permitido a

sobrevivência de uma gleba, mas não pela sustentabilidade e perspectiva, hoje, de

manutenção, exploração e melhoramento do sistema.

O momento que vivemos é de transição, uma tranisção que revela múltiplas

dimensões e revela uma antítese porque o que é múltiplo provém do esgotamento

do paradigma da dominação do homem na natureza. Os sinais emitidos pela

comunidade, pelo presente estudo, são claros e ecoa gritos solicitando revisão das

posturas em muitos sentidos (lixo, resíduo, escolaridade, biota, higiene, o trabalho,

as condições físicas, o desmatamento, a perda da vegetação nativa, as queimadas,

a poluição sonora, a vida humana, o ar...), enfim, é necessário que se faça algo e

que neste tempo de informação rápida, porém, às vezes, superficial e excessiva,

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possa-se enquanto agentes reflexivos proporcionar avaliações e com auxílios de

telescópios profissionais, queira-se enxergar longe o inventos e os eventos capazes

de acelerar os fluxos de mudanças que a comunidade de Campinhos espera, agora

já é contagem regressiva. Morin apud Becker (2001), diz sabiamente, um passado

está morto e um futuro nascente não consegue nascer.

È preciso, portanto, valer de teses práticas e operacionais, com resolutividade

crescentes e propostas a mudança. A Ministra do Meio Ambiente Marina Silva apud

Trigueiro (2005) permite uma reflexão, quando diz não ser mais possível viver de um

consumismo ideológico, ou seja, um acúmulo de conhecimento, é preciso que este

circule mais na sociedade e permita que as mudanças ocorram.

Revendo as discussões propostas e o que elas podem representar enquanto

subsídios alternativos para a melhoria da comunidade de Campinhos, sendo ela

fortalecida pelos traços históricos, mas também pelas ações direcionadas a sua

sustentabilidade, faz-se deste trabalho um ponto de reflexão para várias

segmentações sociais e que possa ele contribuir para a melhoria da qualidade de

vida na região, na medida em que se aposta na revisão do moldes de produção

atualmente alocados nesta Comunidade.

Por fim, é preciso que se veja a comunidade de Campinhos, não apenas

como um território-mor, mas sobretudo como um albuergue natural de questões

relvantes sociais, econômicas, políticas e sobretudo culturais. A valorização destes

apectos no que concerne a sua continuidade ou a sua melhoria, para um ou para

outro, é o que pode orientar toda investigação proposta a melhorar o espaço que

extrapola o território físico da comunidade e incide um responsabilidade de todos,

enquanto agentes transformadores. Este é o chamado. Esta é a convocatória.

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8 REFERÊNCIAS

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FURTADO, Celso. O mito do desenvolvimento econômico. RJ, Paz e Terra, 1974

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ANEXOS

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Nome de Identificação: .................................................................................

→ Tempo de funcionamento da Casa de farinha:

Menos de 2 anos

Entre 2 e 4 anos

Entre 4 e 6 anos

Entre 6 e 8 anos

Entre 8 e 10 anos

Entre 10 e 15 anos

Entre 15 e 20 anos

Acima de 25 anos

→ Proprietário da unidade produtiva: Homem Mulher

→ Grau de escolaridade do proprietário:

Analfabeto

Assina o nome

Primeiro grau incompleto

Primeiro grau completo

Segundo grau incompleto

Segundo grau completo

→ Por que trabalhar com Casa de Farinha?

Porque é um negócio rentável.

Porque é uma tradição de minha família.

Porque não há oportunidade de emprego nesta comunidade.

Porque não saberia fazer outra coisa.

Outro: ................................................................................................................

→ Quantas escolas possuem a sua comunidade?

1 2 3 4 5 6 7

Escola(s): pública privada

Aulas freqüentes? SIM NÃO

Quantos funcionários desta CF estudam? .......................................................

Entre os que não estudam, qual o grau de escolaridade:

( ) Analfabeto

( ) Assina o nome

( ) Primeiro grau incompleto

( ) Primeiro grau completo

( ) Segundo grau incompleto

( ) Segundo grau completo

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→ Em quantos dias da semana é executada a produção de sua Casa de Farinha:

1 2 3 4 5 6 7

Citar os principais dias utilizados para a produção e por quê?

....................................................................................................................

→ Tipo de energia utilizada:

elétrica natural (lenha) motora

No caso do uso da lenha, solicitar o número médio de m³ utilizados na produção diária: .......................

Origem da lenha utilizada....................................................................................

→ Número de funcionários empregados: ...................................................

Quantificar: Homens .................. Mulheres................ Crianças ................

Trabalhador

SEXO

IDADE

ESTUDA

GRAU DE ESCOLARIDADE

FUNÇÃO NA FARINHEIRA

GRAU DE PARENTESCO

→ Há registros legal dos funcionários? .........................................................

Por quê? ..............................................................................................................

→ Como ocorre a contratação da mão-de-obra? ............................................ ...............................................................................................................................

→ Pagamento pelo trabalho executado:

diário semanal mensal

Há pagamento diferenciado na produção? SIM NÃO

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Em caso afirmativo listar o valor pago e mão-de-obra correspondente ........

→ Que tipo de imposto é pago pela sua Casa de Farinha? .......................

→ Sua Casa de Farinha possui CGC? SIM NÃO

Por quê? ...................................................................................................................

→ Produção média semanal: (utilizar a unidade de produção kg, un, sacos, ...)

Produto Unidade Semanal $ Preço de mercado

Farinha

Beiju

Goma Fresca

Goma Seca

Puba

Tapioca

Raspa

Ração

Grolão

Outro ( )

⇒ Destino da Produção: ......................................................................................

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Apêndice

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Catalogação das Casas de Farinha/ Campinhos: instrumento de Pesquisa

PESQUISA CASAS DE FARINHA

FARINHEIRA: 01 LOCALIDADE: Campinhos

Trabalhador

SEXO

IDADE

ESTUDA

GRAU DE ESCOLARIDADE

FUNÇÃO NA FARINHEIRA

GRAU DE PARENTESCO

A M 27 Não 4ª Forno/prensa Nenhum B M 40 Não Alfabetização Cevador Irmão C F 52 Não Alfabetização Raspa Mãe D F 28 Não 2ª Raspa Cunhada E F 36 Não 3ª Raspa Nenhum

FARINHEIRA: 02 LOCALIDADE: Campinhos

Trabalhador

SEXO

IDADE

ESTUDA

GRAU DE ESCOLARIDADE

FUNÇÃO NA FARINHEIRA

GRAU DE PARENTESCO

A M 26 Sim 8ª Cevador Primo B M 30 Não 4ª Forno Sobrinho C M 28 Não 3ª Prensa Sobrinho D M 34 Não 6ª Fornalha Cunhado E M 21 Sim 1º Prensa Nenhum F F 28 Sim 2º Raspa Cunhada G F 28 Não 7ª Raspa Nenhum

FARINHEIRA: 03 LOCALIDADE: Campinhos

Trabalhador

SEXO

IDADE

ESTUDA

GRAU DE ESCOLARIDADE

FUNÇÃO NA FARINHEIRA

GRAU DE PARENTESCO

A M 17 Sim 5ª Prensa Nenhum B F 50 Não Alfabetização Raspa Nenhum C F 33 Não 3ª Raspa Nenhum D F 37 Não Alfabetização Raspa Filha E F 40 Não 2ª Raspa Filha

FARINHEIRA: 04 LOCALIDADE: Campinhos

Trabalhador

SEXO

IDADE

ESTUDA

GRAU DE ESCOLARIDADE

FUNÇÃO NA FARINHEIRA

GRAU DE PARENTESCO

A M 18 Não 3ª Forno/ cevador

Filho

B M 26 Não 4ª Goma/Prensa Nenhum C M 17 Não 2ª Goma/Prensa Primo D F 30 Não 1ª Raspa Cunhada E F 19 Sim 7ª Raspa Cunhada

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FARINHEIRA: 05 LOCALIDADE: Campinhos

Trabalhador

SEXO

IDADE

ESTUDA

GRAU DE ESCOLARIDADE

FUNÇÃO NA FARINHEIRA

GRAU DE PARENTESCO

A M 32 Não - Prensa Primo B M 26 Não - Forno Primo C M 20 Sim 4 Forno Filho D F 31 Não - Raspa Nenhum E F 15 Sim 6 Raspa Prima F F 28 Sim 7 Raspa Prima G F 23 Sim 8 Raspa Nenhum

FARINHEIRA: 06 LOCALIDADE: Campinhos

Trabalhador

SEXO

IDADE

ESTUDA

GRAU DE ESCOLARIDADE

FUNÇÃO NA FARINHEIRA

GRAU DE PARENTESCO

A F 33 Sim 1ª Raspa Nenhum B F 42 Sim 1ª Raspa Cunhada C F 60 Não Analfabeta Raspa Nenhum D F 23 Sim 5ª Raspa Nenhum E M 24 Não 6ª Prensa Nenhum F M 17 Sim 7ª Tirador Nenhum

FARINHEIRA: 07 LOCALIDADE: Campinhos

Trabalhador

SEXO

IDADE

ESTUDA

GRAU DE ESCOLARIDADE

FUNÇÃO NA FARINHEIRA

GRAU DE PARENTESCO

A F 38 Não 1ª Raspa Cunhada B F 40 Não Analfabeta Raspa Esposa C F 20 Não 1ª Raspa Sobrinha D M 17 Sim 8ª Prensa Sobrinho E M 47 Não 1ª Forno Proprietário

FARINHEIRA: 08 LOCALIDADE: Campinhos Trabalhador SEXO IDADE ESTUDA GRAU DE

ESCOLARIDADE FUNÇÃO NA FARINHEIRA

GRAU DE PARENTESCO

A M 17 Sim 6 Tira Goma Primo B M 18 Não 5 Tira goma Nenhum C M 27 Não 4 Prensa/forno Filho D F 23 Terminou 2º grau Raspa Nora E F 29 Não 7 Raspa Sobrinha F F 67 Não 5 Raspa Prima G F 45 Não 6 Raspa Prima

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FARINHEIRA: 09 LOCALIDADE: Campinhos

Trabalhador

SEXO

IDADE

ESTUDA

GRAU DE ESCOLARIDADE

FUNÇÃO NA FARINHEIRA

GRAU DE PARENTESCO

A M 26 Não - Cevador Nenhum B M 23 Terminou 2º grau Forno Filho C F 44 Não - Raspa Nenhum D F 30 Não - Raspa Nenhum E F 35 Não - Raspa Nenhum F F 56 Não - Raspa Nenhum

FARINHEIRA: 10 LOCALIDADE: Campinhos

Trabalhador

SEXO

IDADE

ESTUDA

GRAU DE ESCOLARIDADE

FUNÇÃO NA FARINHEIRA

GRAU DE PARENTESCO

A M 23 Não Terminou Prensa Filho B M 16 Sim 4ª Cevador Nenhum C F 50 Não 5ª Raspa Irmã D F 38 Não 5ª Raspa Irmã E F 27 Sim 8ª Raspa Nenhum F F 28 Sim 8ª Raspa Nenhum

FARINHEIRA: 11 LOCALIDADE: Campinhos

Trabalhador

SEXO

IDADE

ESTUDA

GRAU DE ESCOLARIDADE

FUNÇÃO NA FARINHEIRA

GRAU DE PARENTESCO

A M 20 Sim 3º Cevador Nenhum B M 21 Sim 3º Forno Nenhum C M 19 Sim 1º Prensa Primo D F 34 Não 4ª Raspa Nora E M 30 Não Analfabeto Prensa Filho F F 38 Não 5ª Tirador Filho G M 36 Não 1ª Prensa Filho

FARINHEIRA: 12 LOCALIDADE: Campinhos Trabalhador SEXO IDADE ESTUDA GRAU DE

ESCOLARIDADE FUNÇÃO NA FARINHEIRA

GRAU DE PARENTESCO

A M 20 Não 8ª Prensa/forno Filho B F 31 Não 5ª Supletivo Raspa Filha C F 31 Não 7ª Raspa Nora

FARINHEIRA: 13 LOCALIDADE: Campinhos

Trabalhador

SEXO

IDADE

ESTUDA

GRAU DE ESCOLARIDADE

FUNÇÃO NA FARINHEIRA

GRAU DE PARENTESCO

A M 57 Não Analfabeta Proprietário - B M 28 Não Analfabeta Forno Filho C F 18 Não 2 Raspa Nora D F 25 Não 5 Raspa Nora E F 54 Não Analfabeto Raspa Esposa

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FARINHEIRA: 14 LOCALIDADE: Campinhos

Trabalhador

SEXO

IDADE

ESTUDA

GRAU DE ESCOLARIDADE

FUNÇÃO NA FARINHEIRA

GRAU DE PARENTESCO

A M 23 Não Analfabeto Cessador Nenhum B M 27 Não 4ª Prensa Filho C M 21 Não 4ª Forno Nenhum D F 54 Não Analfabeta Raspa Cunhada E F 19 Sim 7ª Raspa Sobrinha F F 36 Não 6ª Raspa Cunhada G F 17 Sim 3º Raspa Sobrinha H F 18 Sim 5ª Raspa Filha I F 38 Não Analfabeta Raspa Sobrinha J F 43 Não 4ª Raspa Cunhada

FARINHEIRA: 15 LOCALIDADE: Campinhos

Trabalhador

SEXO

IDADE

ESTUDA

GRAU DE ESCOLARIDADE

FUNÇÃO NA FARINHEIRA

GRAU DE PARENTESCO

A M 45 Term 2º grau Prensa Genro B M 18 Sim 2º Prensa Nenhum C M 40 Não 7ª Prensa Genro D F 17 Sim 2º Raspa Sobrinha E F 33 Não 6ª Raspa Filha F F 34 Não 6ª Raspa Nenhum

FARINHEIRA: 16 LOCALIDADE: Campinhos

Trabalhador

SEXO

IDADE

ESTUDA

GRAU DE ESCOLARIDADE

FUNÇÃO NA FARINHEIRA

GRAU DE PARENTESCO

A F 58 Não Analfabeta Raspa Nenhum B F 32 Não Alfabetizada Raspa Cunhada C F 33 Não Alfabetizada Raspa Nenhum D F 49 Não 2ª Raspa Nenhum E M 18 Sim 7ª Prensa Sobrinho F M 37 Não 7ª Goma/forno Marido G M 21 Não 4ª Goma Nenhum

FARINHEIRA: 17 LOCALIDADE: Campinhos

Trabalhador

SEXO

IDADE

ESTUDA

GRAU DE ESCOLARIDADE

FUNÇÃO NA FARINHEIRA

GRAU DE PARENTESCO

A F 36 - - Raspa Esposa B F 28 - - Raspa Irmã C M 28 - - Prensa Irmão D M 17 - - Goma Primo

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FARINHEIRA: 18 LOCALIDADE: Campinhos Trabalhador SEXO IDADE ESTUDA GRAU DE

ESCOLARIDADE FUNÇÃO NA FARINHEIRA

GRAU DE PARENTESCO

A F 38 Não 4ª Raspa Irmã B M 30 Não 3ª Prensa/forno Nenhum C M 26 Não 4ª Goma Sobrinho D M 20 Sim 8ª Raspa Primo E F 22 Sim 1º Raspa Sobrinha

FARINHEIRA: 19 LOCALIDADE: Campinhos Trabalhador SEXO IDADE ESTUDA GRAU DE

ESCOLARIDADE FUNÇÃO NA FARINHEIRA

GRAU DE PARENTESCO

A M 20 Sim 1º Cevador Sobrinho B F 22 Sim 3º Raspa Filha

FARINHEIRA: 20 LOCALIDADE: Campinhos Trabalhador SEXO IDADE ESTUDA GRAU DE

ESCOLARIDADE FUNÇÃO NA FARINHEIRA

GRAU DE PARENTESCO

A M 38 Não Analfabeta Cevador Cunhado B M 18 Sim 6ª Forno Sobrinho C M 30 Não 4ª Goma Nenhum D M 17 Sim 5ª Prensa Primo E F 38 Não Analfabeta Raspa Esposa F F 40 Não 4ª Raspa Nenhum G F 17 Sim 5ª Raspa Sobrinha H F 26 Sim 7ª Raspa Prima

FARINHEIRA: 21 LOCALIDADE: Campinhos Trabalhador SEXO IDADE ESTUDA GRAU DE

ESCOLARIDADE FUNÇÃO NA FARINHEIRA

GRAU DE PARENTESCO

A M 28 Não 7ª Cevador Irmão B F 26 Sim 1º Raspa Sobrinha C F 21 Não 6ª Raspa Cunhada

FARINHEIRA: 22 LOCALIDADE: Campinhos Trabalhador SEXO IDADE ESTUDA GRAU DE

ESCOLARIDADE FUNÇÃO NA FARINHEIRA

GRAU DE PARENTESCO

A M 28 Não 4ª Cevador Irmão B F 22 Não 4ª Raspa Cunhada C F 30 Não 2ª Raspa Cunhada D M 27 Não 8ª Prensa Primo

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FARINHEIRA: 23 LOCALIDADE: Campinhos Trabalhador SEXO IDADE ESTUDA GRAU DE

ESCOLARIDADE FUNÇÃO NA FARINHEIRA

GRAU DE PARENTESCO

A M 33 Não 5ª Prensa Nenhum B M 20 Sim 7ª Forno Sobrinho C F 18 Sim 7ª Raspa Nenhum D F 21 Não 6ª Raspa Cunhada E F 32 Não 4ª Raspa Esposa

FARINHEIRA: 24 LOCALIDADE: Campinhos Trabalhador SEXO IDADE ESTUDA GRAU DE

ESCOLARIDADE FUNÇÃO NA FARINHEIRA

GRAU DE PARENTESCO

A M 26 Sim 7ª Prensa Nenhum B M 26 Sim 8ª Forno Filho C F 21 Sim 7 Raspa Sobrinha D F 30 Não 5 Raspa Irmã

FARINHEIRA: 25 LOCALIDADE: Campinhos Trabalhador SEXO IDADE ESTUDA GRAU DE

ESCOLARIDADE FUNÇÃO NA FARINHEIRA

GRAU DE PARENTESCO

A M 18 Sim 8ª Forno Filho B M 32 Não 6ª Prensa Cunhado C M 30 Não 2ª Cevador Primo D F 17 Sim 2ª Raspa Filha E F 26 Sim 8ª Raspa Nenhum F F 30 Não 4ª Raspa Irmã

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S676 Soares, Marisa Oliveira Santos. Sistema de produção em casas de farinha: uma lei- tura descritiva na comunidade de Campinhos - Vitória da Conquista / Marisa Oliveira Santos Soares. – Ilhéus, BA: UESC, PRODEMA, 2007. xvi, 96f. : il.; anexos. Orientador: Max de Menezes. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual de Santa Cruz. Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente. Inclui bibliografia e apêndice

1. Desenvolvimento sustentável. 2. Comunidade - Or- ganização - Vitória da Conquista (BA). 3. Farinha de mandioca - Indústria. I. Título. CDD 363.7