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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE - CCS CURSO DE PSICOLOGIA Eros e Thanatos: a inclusão da mitologia na psicanálise freudiana ROBERTO AUGUSTO BOM ITAJAÍ 2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE - CCS

CURSO DE PSICOLOGIA

Eros e Thanatos: a inclusão da mitologia na psicanálise freudiana

ROBERTO AUGUSTO BOM

ITAJAÍ 2008

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ROBERTO AUGUSTO BOM

Eros e Thanatos: a inclusão da mitologia na psicanálise freudiana

Monografia apre requisito parcial para obtenção Psicologia da Un

Orientador: Prof.

ITAJAÍ

2008

sentada como do título de Bacharel em

iversidade do Vale do Itajaí.

MS. Aurino Ramos Filho

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DEDICATÓRIA

Aos meus pais, família e mestres... .

Que possibilitam com muito esforço, dedicação, amor e carinho toda estrutura possível para que minha formação como pessoa e psicólogo seja realizada.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus que me permite a cada dia realizar meus sonhos e

metas, assim como, essa pesquisa que aqui se faz...

Agradeço aos meus pais e irmãos que me proporcionam muito amor e estrutura

nesta caminhada da vida...

Agradeço às Professoras da banca, Daisy Ligia Santos Domingues e Maria Glória

Dittrich, por colaborar com parte de seu tempo a esse estudo, proporcionando o

desenvolvimento de melhores conhecimentos nessa área...

Agradeço ao professor e orientador Aurino Ramos Filho, por quem tenho muita

admiração, por toda amizade e profissionalismo aplicado nesse período de

desenvolvimento da minha pesquisa...

Em especial, agradeço o Psicólogo Eduardo Buatim Nion e família pelo apoio, suporte e

amizade incondicional durante o desenvolvimento desse trabalho, por madrugadas à

dentro, me elucidando para esse caminho que aqui persiste...

Agradeço a todos meus amigos e amigas que compreendem minha ausência em

diversos eventos e confraternizações desse ano que se passou e por proporcionar todo

suporte emocional necessário para a realização deste...

Muito obrigado,

Roberto Augusto Bom

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Eros e Thanatos: a inclusão da mitologia na psicanálise freudiana.

Orientador: Prof. MS. Aurino Ramos Filho Defesa: Novembro de 2008

RESUMO:

Na presente Pesquisa investigou-se a inclusão da mitologia grega na psicanálise freudiana como

analogia ao mito de Eros e Thanatos enquanto pulsões de vida e de morte. A fim de dialogar entre tais

ciências e desvendar mítica e cientificamente o uso da analogia que Freud utilizar-se-ia para desvendar e

explicar a Teoria das Pulsões tornando-a mais acessível, dentro dessa teoria e técnica a necessidade de

utilizar-se de tais analogias. O desenvolvimento humano, a formação da psique do sujeito e a sua

coletividade, implicado na participação das Pulsões, exigiriam assim, a assunção de mitos esclarecendo

simbolicamente aquela compreensão.

Nessa Pesquisa estão descritas algumas versões de Eros e Thanatos e suas possíveis influências na

compreensão e vivência de vida-morte na contemporaneidade. Essa dialética essencial para a realização

e plenitude da pessoa, é o elemento que preenche de sentido a existência e humaniza as relações na

medida em que abre espaço de existência para o outro junto a si. Para esse objetivo, empregar-se-á a

Pesquisa Bibliográfica enquanto suporte aquela compreensão. Eros e Thanatos possibilitando uma

relação dialógica entre a mitologia grega e a psicanálise freudiana é a pergunta de pesquisa, núcleo

dessa investigação. Assim objetivando aquela resposta, buscar-se-á compreender o significado da

mitologia grega, analisar-la e relacionar dialógicamente a mitologia grega à psicanálise freudiana na

compreensão de Eros e Thanatos.

PALAVRAS – CHAVE: Eros e Thanatos; Mitologia grega; Psicanálise.

Sub-Área de concentração: 7.07.07.00-6 – PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO HUMANO

Membros da Banca ______________________________________

Profª. MS. Daisy Ligia Santos Domingues

______________________________________

Profª. Drª. Maria Glória Dittrich

________________________________________ Prof. MS. Aurino Ramos Filho

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................ 6

2 Eros e Thanatos: apontamentos históricos............................................... 10

2.1 Eros e Thanatos: a importância da mitologia no mundo grego-antigo... 10

2.2 Eros e Thanatos: breve historização desses mitos................................... 15

3 Sigmund Freud e o nascimento da psicanálise......................................... 20

3.1 Sigmund Freud: breve apontamento biográfico........................................ 20

4 O aparelho psíquico: primeira e segunda tópica...................................... 24

4.1 O Id................................................................................................................. 25

4.2 O Ego.............................................................................................................. 26

4.3 O Superego.................................................................................................... 27

5 Sistemas do Aparelho Psíquico................................................................... 28

5.1 O consciente.................................................................................................. 28

5.2 O pré-consciente........................................................................................... 28

5.3 O inconsciente............................................................................................... 29

6 Recalque........................................................................................................ 33

6.1 A Libido.......................................................................................................... 34

6.2 A pulsão.......................................................................................................... 35

6.3 A Pulsão e seus destinos............................................................................. 38

6.4 Eros e Thanatos: Pulsão de Vida e Pulsão de Morte................................. 39

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................ 42

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................... 44

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1 INTRODUÇÃO

A mitologia se constitui de fontes inesgotáveis de alegorias, parábolas,

representações de atos, afetos e formas de vinculação que alimentam incessantemente

a imaginação dos povos de maneira atemporal. Pode-se retirar da mítica suas riquezas,

sem jamais esgotá-la. Mais do que apenas fantasias, os mitos residem nas formas

originárias, a partir das quais o homem discute o significado de suas ações e os

sentidos que atribui à sua construção do mundo.

Segundo Freud (1974e, p. 21) essencialmente o mesmo ponto de vista da

permanência do ancestral em nós. O caminho percorrido pelo homem da pré-história

em seu desenvolvimento nos é conhecido por meio de monumentos e utensílios que

nos legou, pelos vestígios de sua arte, de sua religião e de sua concepção da vida, que

chegaram até nós diretamente ou transmitidos pela tradição nas lendas, nos mitos e

nos contos, e pelas sobrevivências de sua mentalidade, que podemos voltar a

encontrar em nossos próprios usos e costumes. Além disso, este homem da Pré-

história é ainda, em certo sentido, um contemporâneo nosso.

De acordo com Freud (1974e) o mito e todos os aspectos culturais que a eles

podem ser associados, mas principalmente as tradições de cada povo, são o sedimento

comum dos processos interativos entre os grupos humanos que organizam

ancestralmente as experiências que serão, de maneira trans-histórica, realizadas pelos

aspectos concretos, dos sujeitos, das famílias e das sociedades. Por meio de fundo

coletivo de vivências, suas tradições e mitos, cada coletividade transmite seus modos

de organização subjetiva, seus padrões interativos, seus processos de vinculação

intersubjetiva, seus moldes de configuração das formas em que se poderá ser, em cada

formação social, um sujeito daquela cultura.

Para a psicanálise, o mito é o nada que representa tudo. Essa frase contudo

pode ostentar pretensão e arrogância exagerada, mas ela é simplesmente a essência

da verdade. (Onde está a essência? Onde está à verdade? – o mito é a matéria

concreta e viva que permite realizar essas questões, e é, assim, condição de

formulação). O mito em psicanálise assim se faz: pelo nada, por tudo, pela essência,

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pela expressão, pela matéria, por conteúdo, por propósito, por fonte, pelo recurso, pela

origem, pelo fenômeno, pela tradução, por impossibilidade, pela criação, por devaneio...

Qual ciência valorizou mais o sonho, do que a psicanálise? Quem adotou por

meio dos sonhos aspectos mais substanciais e mais reais, do que o pensar analítico?

Segundo Campbell (1993) mitos e sonhos vêm do mesmo lugar. Provém de

tomadas de consciência de uma espécie tal que precisam encontrar expressão numa

forma simbólica. E o único mito que valerá a pena cogitar, no futuro imediato, é o que

fala do planeta, não da cidade, não deste ou daquele povo, mas do planeta e de todas

as pessoas que estão nele. Essa é a idéia fundamental do mito que está por vir.

E ele lidará com aquilo com que todos os mitos têm lidado – o amadurecimento do indivíduo, da dependência à idade adulta, depois à maturidade e depois à morte; e então com a questão de como se relacionar com esta sociedade, com o mundo da natureza e com o cosmos. É disso que os mitos têm falado desde sempre, e é disso que o novo mito terá de falar. (CAMPBELL, 1993, p. 33).

Freud foi buscar sua inspiração nos mitos e nos sonhos para as respostas que

abarcam o desenvolvimento humano.

(...) o sonho é uma experiência pessoal daquele profundo, escuro fundamento que dá suporte às nossas vidas conscientes, e o mito é o sonho da sociedade. O mito é o sonho público, e o sonho é o mito privado (CAMPBELL, 1993, p. 42).

Para a psicanálise freudiana, a mitologia grega tem representado como uma

imensurável fonte de saber, onde se torna possível buscar moldes que organizem

descrições teóricas, sustentem hipóteses, permitam articulações com os fenômenos

clínicos e assegure o constructo para a investigação metapsicológica. Freud

assegurava que a mitologia era uma das matérias imprescindíveis para a formação dos

psicanalistas. Mas é internamente à própria obra escrita do fundador da psicanálise,

que podemos rastrear a imensa importância da mitologia grega para a edificação da

ciência do ICS.

Segundo Garcia-Roza (2005) essa frase se expressa adequadamente com o que

Freud expressivamente atenta ao fato de que, apesar de uma teoria científica emerge a

partir dos fatos empíricos (no caso de Freud, de observações clínicas), ela implicaria

num conjunto de conceitos que não são retirados dessas observações, mas que lhe são

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impostos a partir de um lugar teórico. Ressaltando que esses conceitos não são noções

descritivas, mas sim, de construtos teóricos que não assinalam realidades de âmbito

observável ou mesmo existentes.

(...) essas são puras construções teóricas ou, se for de preferência, ficções teóricas que permitiriam a produzir uma inteligível distinção daquela fornecida pela descrição empírica, ou seja, tais conceitos não descrevem o real, eles produzem o real, portanto, autênticas ficções científicas. Esse é o caso da pulsão (Trieb) em Freud: ela nunca se dá por si mesma (nem a nível consciente, nem a nível inconsciente), ela só é conhecida pelos seus representantes : a idéia (Vorstellung) e o afeto (Affekt), sendo parte física e parte psíquica, dando seu caráter mitológico Garcia-Roza (2005, 115).

Os mitos serão, então, valorizados por Freud em Totem e Tabu (1974e) obra na

qual pode compreender-se como sendo uma psicologia social psicanalítica e/ou

semiologia psicanalítica, em sua primeira produção literária proposta nesses domínios.

Freud considera essa obra uma de suas pesquisas favoritas, conforme assinala o editor

inglês de Totem e Tabu (1913-14). No entanto, as evidências religiosas dividirão o

destaque juntamente com os mitos. O mito remeterá aqui as religiões, eles se situarão

na origem das instituições religiosas.

Freud evocará as contribuições de Wundt para acrescentar uma outra

caracterização do totem em sua significação mitológica.

O animal totêmico é também geralmente considerado o animal ancestral do grupo em questão. ‘Totem’ é, por um lado, um nome de grupo, um indicativo de ancestralidade. Sob o último aspecto, possui também uma significação mitológica (FREUD, 1974e, p.131).

Esse totem, enquanto mito, será, regido pela significação da mitológica e, assim,

se transformar em tabu. A esse respeito, mais uma vez será em Wundt que Freud se

apoiará para escrever:

A cisão ocorreu através da transplantação, é o que nos diz Wundt, dos regulamentos do tabu, da esfera dos demônios para a esfera da crença em deuses (...) (FREUD 1974e, p. 311).

Segundo Freud (1974e, p. 312) encontro entre o sagrado e o impuro coincide

com uma sucessão de dois períodos da mitologia. O mais antigo desses dois períodos

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não desapareceu completamente quando o segundo foi alcançado, mas persistiu no

que foi considerado como uma forma inferior e finalmente desprezível.

De acordo com Freud (1974e, p. 45) é uma lei geral da mitologia, afirma Freud,

que uma fase que tenha passado, pelo próprio motivo de ter sido superada e impelida

para baixo por uma fase superior, perdura numa forma inferior ao lado da posterior, de

modo que os objetos de sua veneração se transformem em objetos de horror.

Compreende-se, assim, que uma lei mitológica de transformação faria dos totens

enquanto mitos originários de um primeiro tempo, os tabus remetem-se há um segundo

tempo.

A pulsão é misteriosamente insinuante e inexprimível. Não se deixa aprisionar

porque habita uma fronteira entre a psique e a matéria. Não se pode propriamente dizer

que ela é psicossomática, pois isso a converteria em algo que é.

Ela é, propriamente, mítica: está na abertura, está entre, é habitante dos

desvãos, dos rodeios, da representação. O mito da pulsão é força porque age, mas não

se vê, é autoritário e pulsante, inquieta e inquietante, é a força viva que nos habita e

nos impulsiona, assim diz Freud (1974j, p.119): A teoria das pulsões é, por assim dizer,

nossa mitologia.

Nesse trabalho objetivamos os caminhos necessários embarcados na teoria

freudiana para compreender como Freud apropriou-se da mitologia grega para

fundamentar a psicanálise na tentiva de adequá-la como uma ciência natural,

perpassando pelos processos psíquicos, permeados pela mitologia grega.

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2 EROS E THANATOS: apontamentos históricos

2.1 A importância da mitologia no mundo grego-antigo

Os mitos são conhecidos entre os gregos por meio da forma escrita e das

composições artísticas figuradas. Essa representação é comum a quase todas as

mitologias antigas. Numa perspectiva, de forma escrita desfigurada onde se coloca em

variantes, tais como a forma narrativa onde atingiam a maior parte da população grega,

haja vista o fato de que eram poucos os gregos letrados, que tinham acesso à cultura

da alfabetização e da compreensão dos significados simbólicos que eram utilizados

para compreender o contexto de ser humano nesta devida época. Os gregos que se

beneficiavam dessa cultura obtinham poder e status no âmbito social e utilizavam-se da

ignorância alheia para promover riquezas, conquistas e a formação da política em seu

primórdio. Por outro lado, a forma escrita, distanciava os gregos, em sua maioria menos

favorecidos culturalmente da narrativa, não tinham acesso a tais compreensões,

ficando a mercê de seus dirigentes da classe aristocrática e/ou dos seus governantes.

Deve-se, então historicizar as disseminações da tradição oral entre os gregos

não para localizar o aparecimento da escrita e seus valores culturais como ponto linear,

mas sim para pontuar que esse processo histórico não produz apenas mudanças. Ele é

constituído também de permanências no que se diz respeito à compreensão da

coletividade do grego nesta época.

Segundo Vernant (1973), para se pedir permissão a um deus sobre qualquer

assunto, não era qualquer pessoa que podia fazer tal feito. Tornava-se indispensável

pedir aqueles que faziam parte da magistratura, pois elas também faziam parte do

sarcedócio e por fim efetivar as autorizações procedentes do seu pedido, tais como

permissão para o matrimonio, para resolver desavenças comerciais, etc. Por

conseguinte, muitas vezes eram utilizadas pelos membros da magistratura ao seu bel

prazer, impondo interpretações nas quais o sujeito deveria se submeter para conquistar

a benção do deus em questão, havendo casos de que estes membros, usurpassem da

futura esposa, ou colocam-se altos impostos de oferendas de acordo com cada pedido.

Havia uma forma de se aproveitar da falta ou ausência de cultura deste mero cidadão.

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Ainda segundo Vernant (1973), se um cidadão cometesse uma falta grave, seria este

expulso de sua comunidade. Ele perderia o seu ser social, isto é, perdia suas raízes.

Para ela ser aceita em outra sociedade e voltar a ser alguém, ela teria que, por meio

desta nova sociedade pedir para os deuses para ser aceito, por meio de um membro

local da magistratura. Não era fácil mudar de comunidade, pois cada uma tinha seus

cultos e culturas.

Os mitos variavam de cidade em cidade. Não que eles fossem inteiramente

diferentes, apenas algumas características mudavam, assim como as oferendas a eles

feitas, dependendo de seus magistrados. A pessoa que mudava de cidade também

teria de acreditar em coisas diferentes do que as outras em que ela estava habituada.

As cidades eram formadas para algum mito. Por isto os mitos eram importantes para a

formação da sociedade e apresentando-se também como religião.

Vale ressaltar, a priori, de forma sintética, o formato contextual da política grega

anteriormente ao quesito religioso, mesmo que ambas as faces se constituem e se

desenvolve lado a lado, embasando-as uma a outra.

Com o surgimento da polis na história do pensamento grego como marco

decisivo, tanto no plano intelectual, quanto nos domínios das instituições, a polis

conhecerá somente no fim desse tempo suas conseqüências de etapas múltiplas e

variações, marcando um começo de um invento concebido por ela; a vida social e as

relações entre os homens, que originalmente será sentida pelos gregos.

O que implica o sistema da polis é primeiramente uma extraordinária preeminência da palavra sobre todos os outros instrumentos do poder: Torna-se instrumento político por excelência, a chave de toda autoridade no Estado, o meio de comando e de domínio sobre outrem (VERNANT, 2002, p. 53).

Segundo Vernant (2002), trata-se do poder da palavra que os gregos o farão

divindade: Peithó, a força de persuasão que se refere à eficácia das palavras e das

fórmulas em certos rituais religiosos, mas diferindo-se da imposição, colocando a

palavra como debate contraditório, a discussão, a argumentação. Propondo um público

ao qual se dirige a um juiz que decide em última instância, de mãos erguidas, entre dois

partidos no qual são apresentados, sendo essa força devidamente humana que medirá

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a força de persuasão respectiva dos dois discursos, assegurando a vitória de um dos

dois oradores sobre seu adversário.

Historicamente fica perceptível a idéia da arte política essencialmente como

exercício da linguagem e o logos, na origem desta cultura, abrindo caminho às

pesquisas de Aristóteles ao definir, ao lado de uma técnica da persuasão, as regras da

demonstração e ao construir um prefácio sobre a lógica do verdadeiro, própria do saber

teórico, em relação à lógica do provável.

Uma outra face da polis é a de características publicitárias, dada as

manifestações mais importantes da vida social, indo de encontro e/ou opondo-se com

os interesses privados, tornando-as práticas abertas em pleno dia, restringindo as

práticas de processos secretos. Esse movimento de democratização terá no plano

intelectual, conseqüências decisivas na cultura grega, ficando cada vez mais amplo o

acesso da população em geral ao que era estrito e reservado aos poderes dos

magistrados ou sacerdotes, dando-lhes o acesso ao mundo espiritual com o termo de

época – finalmente ao demos todo – surgindo um esboço democrático como recurso

fundamental à condição humana.

Tornando-se elementos de uma cultura comum, os conhecimentos, os valores, as técnicas mentais são levados à praça pública, sujeitos á critica e à controvérsia. Não são mais conservados, como garantia de poder, no recesso de tradições familiares; sua publicação motivava exegeses, interpretações diversas, oposições, debates apaixonados (VERNANT, 2002, p. 55).

Neste instante convém elucidar a face religiosa dos gregos antigos, pois já foi

possível compreender seu contexto sócio-político, lembrando sempre que ambos se

constituem embasada uma a outra.

Segundo Burkert (1993), evidências da religião grega estão representados em

monumentos, templos, estátuas, pinturas e na cerâmica, sendo estes ainda

sobreviventes e testemunhas, nos fornecendo informações arquitetônicas,

arqueológicamente datadas que transmitiram durante séculos as impressões mais

diretas da religião antiga, ressuscitando sobretudo a Idade Arcaica grega. Templos,

santuários e um número infinito de objetos e utensílios descobertos, todos em sua

singularidade nos contando sua história com a mais próxima exatidão. Burkert (1993),

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ressalta que utensílios para o culto, altares, recipientes para rituais vem nos fornecer

indicações imprescindíveis e nos apontando o que os homens faziam nestes locais,

assim como depósitos de oferendas votivas, dedicatórias inscritas, extensos materiais

de nomes e epítetos de deuses informando detalhadamente a disseminação dos vários

cultos.

A isto foram acrescentadas desde o ano 700 a.C. ilustrações mitológicas que, não raramente, são mais antigas que as fontes escritas. Relativamente raros, mas particularmente importantes, são as imagens de cenas rituais que nos dão uma visão da realidade do culto (BURKERT, 1993, p. 32).

Ainda segundo Burkert (1993), a religião grega apresenta-se sob forma dupla do

ritual e do mito, legitimando-se como tradição que se comprova por meio da força

contundente da persistência que foi passado de geração para geração, sendo que não

há registros e nem existência de fundadores da religião ou escritos de revelação e nem

a existência de cleros ou de monges.

O ritual trata-se sinteticamente de uma gama de ações demonstrativas que se

torna fixada de acordo com o tipo de execução, em função do lugar e da altura que lhe

são sagrados. Sendo assim de forma coletiva dos homens e certamente comprovada

pela arqueologia que o ritual é tido como sagrado, pois são incluídas forças invisíveis

não atribuídas aos homens em caráter pessoal, são denominados deuses, que por sua

vez é relatado pelos mitos, sendo estes um complexo de narrativas tradicionais.

Para os gregos, o mito é de caráter facultativo, a verdade de um mito nunca tem

a garantia da realidade, nem é preciso acreditar. No entanto, os mitos são de caráter

explicito de atividades espirituais para a compreensão da realidade. Todavia, os mitos

adquirem relevância fundamentada na Etnologia por meio da narrativa que na sua

essência se faz presente e influenciavam as ações coletivas.

Burkert (1993) contribui ao dizer que o mito grego escapa-se, assim, da

classificação e análises unidimensionais por se tratar de aspectos subjacente e

historicamente ainda não tão definida cronologicamente, pois quando se trata de

religião, devemos levar em consideração que esta tradição é quase tão antiga quanto a

humanidade, que em intervalos de tempo e vestígios perdidos na pré-história, vem a

partir do século VIII a.C. as épocas estimadas como séculos ou décadas diz o autor e

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que não podemos ignorar que, anteriormente a este marco, se estendem quatro

séculos obscuros sem mencionar mais oito séculos de alta cultura da Idade do Bronze,

precedente a Idade do Bronze tardio e estende-se ao longo de um milênio, que seria

então o período Noelítico, que durou em torno de três milênios. O Autor idem

complementa este esboço histórico da Religião dizendo que tudo que foi citado

anteriormente acima, teve o lugar Paleolítico Superior, que se regeu por volta de vinte e

cinco mil anos e que ainda está longe de ser o começo da história da humanidade, mas

completa justificando-se que existem indícios de uma continuidade da religião desde o

Paleolítico Inferior.

A Grécia neste período Paleolítico já era habitada, cujos locais continua a

aparecer no período Neolítico Inferior, durante o sétimo milênio, nos primórdios da

invenção da cerâmica.

Estas povoações segundo Burkert (1993), sublinham a transição decisiva da

caça para a agricultura e pecuária, onde nas planícies frutíferas de Tessália, cujo local

Sesclo, marca uma das mais importantes descobertas da cultura Neolítica, que

abrangia a Macedônia por um lado, a Béocia, a Argólide, a Messénia por outro lado,

chegando a Creta.

Esta cultura agrícola, a mais antiga da Europa, veio do Oriente. Nem as espécies de cereais, a cevada e o trigo, nem os animais domésticos mais importantes, as cabras e as ovelhas, eram naturais da Grécia (BURKERT, 1993, p. 41).

Refletindo sobre esse breve contexto histórico, os aspectos da vida cotidiana do

grego antigo e contextualizando essa compreensão numa visão de mundo que esses

presenciaram.

Nesse momento fica evidente a dificuldade que era ser um cidadão não letrado e

o domínio daqueles que se apropriavam do poder cultural e aristocrático nessa época.

Em outros contextos como o europeu, asiático, outros países das Américas, em

cada canto do mundo, alguns aspectos funcionam melhor, em outros pior e em alguns

contextos assim como os africanos, às vezes nem existe o espaço para reclamar o

direito de ser humano, mas os discursos universais de uma utopia de dias melhores se

matem por aqueles que tem o poder de mudar esse fato.

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Aquele que o fizer, obterá o mérito e entrará para a história da humanidade, pois

como vimos nesse capítulo, a história por meio do tempo não se faz por mudar e sim,

apenas repetir-se trans-históricamente.

A religião se difere nesse momento atual em relação aos gregos antigos, nos

aspectos filosóficos, nos cultos, nas crenças e nos deuses em si. O surgimento do

Cristianismo, do Budismo entre outros, marca a história da religião e por sua vez, a

história da humanidade. Devemos sempre nos atentar e/ou nos sensibilizar que esta

história também é permeada por mitos, e que também existe o fato de ser escrita ou

descrita por olhares de época, assim como na Grécia antiga existiam os deuses que

regiam as leis e condutas e que neste estudo fica evidente algumas apropriações por

intermédio daqueles que se julgavam guardiões desse saber. Então, um olhar para a

história desmistificada, outro olhar para aqueles que as narraram ou que as escreveram

em um determinado contexto histórico, outro olhar para as apropriações desses

guardiões do saber religioso. Essa reflexão investigativa nos leva a concluir este

capitulo transmitindo que Eros e Thanatos tinham ou tem grande cunho religioso de

viver o que me permitem viver e de morrer ao teu desejo, não me refiro ao ato de

nascimento e morte em vias de fato, mas refiro-me ao desejo de liberdade, de salvação

e de redenção.

2.2 Eros e Thanatos: breve historização desses mitos

Segundo os autores, Brandão (1998a) e Bulfinch (2005), na mitologia grega,

Eros aparece em varias versões, em o mito da origem do universo que foi composto por

Hesíodo, no século VIII a.C. além de ser um épico é, provavelmente, a mais antiga

descrição de Eros que chegou até nós.

Para Hesíodo, o início de tudo se deu na era Panteística1. Neste conto o universo

se fez a partir do Caos (Káos), do vazio essencial, do espaço incomensurável de

matéria eterna e rudimentar que pertencia à esfera do não ser; era uma massa confusa,

1 Panteísmo: doutrina caracterizada por uma extrema aproximação ou identificação total entre deus e o universo, concebidos como realidade única integrada.

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na qual se confundiam os princípios de todos os seres. Do Caos surgiram os deuses

primordiais. A Terra - também denominada Gaia, Geia ou Vesta, mãe universal de

todos os seres, a sagrada mãe e origem de tudo - a primeira a surgir depois do caos.

Das profundezas desconhecidas da terra, nasceu Tártaro, um deus invisível que

representa o inferno. Por fim, Eros, o deus do amor, ele é o responsável pela união

amorosa entre todos os seres, aquele que possibilita a procriação de tudo que há no

universo. É, também, considerado o mais belo dos deuses.

Segundo Brandão (1998a) Eros como divindade primordial ou original é

responsável pela união amorosa entre os seres. Com isso pode se dizer que ele foi

preponderante para o surgimento da vida no universo, visto que apresenta grande

influência sobre todas as coisas da natureza. A energia do amor é forte e avassaladora;

para Hesíodo, não há ser que possa opor resistência a Eros. Esse deus é também

responsável pela união e ordenação das diferentes forças do universo ou da afinidade

universal. Nenhum ser pode se furtar da sua influência ou força. Seu poder vai além da

natureza animada, ele une, mistura, multiplica não só humanos, mas várias espécies de

vegetais, minerais, enfim, dá vida a toda a natureza; seus domínios envolvem todos e

tudo. Dessa maneira, Hesíodo deixa bastante evidente a importância que atribuiu a

Eros na formação do mundo, porém, esse mito recebeu várias versões ao longo dos

tempos.

Outro dos mais conhecidos e importantes contos do mito de Eros, segundo

Brandão (1998b), é o mito de Eros e Psique2. Existia um rei e uma rainha que tinham

três filhas belíssimas. No entanto, a linguagem humana era incapaz de descrever ou

pintar a estupenda beleza da filha caçula. Os mortais por sua vez, ao invés de propô-la

em casamento, adoravam-na como se fosse a verdadeira Afrodite, cujo templo e cultos

haviam sido esquecidos por causa dessa jovem. Afrodite irritada com a competição e

com a beleza de Psique, chamou seu filho Eros e pediu-lhe que a fizesse se apaixonar

pelo mais horrendo dos homens. O rei, temendo uma revolta dos deuses, por causa da

beleza de sua filha caçula, mandou consultar o oráculo. Seu pedido foi atendido e sua

resposta retorna dizendo que a bela deveria ser levada ao alto de um rochedo, onde se

2 Psique é igual à alma personificada, “soprar, respirar”, significa o princípio vital, a alma purificada pelos sofrimentos, preparada, assim, para gozar a pura e verdadeira felicidade. (BRANDÃO, 1997b).

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uniria a um monstro horrível. Eros, hesitante em flechar a linda jovem, se apaixona por

ela e ordenou aos ventos que a transportasse para um lindo vale florido. A jovem ao

acordar, deparou-se com um palácio de sonhos, riquíssimo, no qual foi servida e

cuidada. Eros, a partir desse momento a faz sua esposa, mas sem permitir que ela o

visse, desaparecendo antes do nascer do sol. A notícia fluiu pela cidade e as irmãs de

Psique queriam visitá-la. Eros, pressentindo o perigo avisou-a de que não deveria

mostrar-se. Psique, lamentando sua solidão, convence-o a permitir que suas irmãs a

vissem e que fossem ao palácio paradisíaco. Eros permite a sua linda Psique, mas

ressalva novamente a sua amada que jamais tentasse ver seu semblante.

Psique, invejada pelas irmãs, por causa da riqueza e pela beleza, visitam-na

novamente quando ela estava grávida e, afastando qualquer suposta maldade com

fingidas preocupações, persuadida, Psique revela o segredo de quem é seu marido.

Assim fazendo enquanto Eros adormecido. No entanto, despertado-o ao sentir uma

gota ardente de óleo fervente do candeeiro, imediatamente o deus levanta vôo e avisa

à amada que ela será castigada pela sua ausência. Nesse momento, começa o

itinerário árduo de Psique, submetida a diversas tarefas impostas por Afrodite, na

tentativa que a bela jovem desistisse de Eros. Mas aqui Psique amadurece

profundamente, assimila as lições de vida impostas por Afrodite e por fim, o desfecho

feliz dessa alegoria, com a imortalização da alma, sendo o próprio deus do amor que

ratifica essa união e que ela nunca mais será quebrada, onde apesar de todos os

infortúnios impostos pela vida, assim, se concretiza a união entre Eros e Psique com a

mensagem de que por meio das dificuldades e do amadurecimento, o amor será

eterno.

Segundo Bulfinch (2005), poucos são os mitos que sofreram uma transformação

tão evidente e marcante ao longo da mitologia greco-romana. Talvez isso possa tanto

indicar a dificuldade do ser humano em valorizar e dar um sentido amplo e

desinteressado à existência do amor como vida, quanto traduzir as dificuldades do

amor na vivência e consciência humana como morte.

Por outro lado, Thanatos era a personificação da morte, filho de Nix, deus da

noite e de Érebo, deus da noite eterna do Hades, irmão gêmeo de Hipnos, deus do

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sono e era representado como uma nuvem prateada ou um homem de olhos e cabelos

prateados.

Segundo Bulfinch (2005), Thanatos tem um papel pequeno na mitologia grega

apresentada na história de Sísifo e na lenda de Midas.

Sísifo despertou a raiva de Zeus que havia então se metamorfesado em águia e

sobrevoado o reino de Sísifo com Egina, filha de Asopo, logo após quando Asopo

perguntou a Sísifo se havia visto Egina, ele contou em troca de uma fonte de água.

Então Zeus enviou Thanatos para levá-lo ao Hades. Porém Sísifo conseguiu enganar

Thanatos, elogiou sua beleza e pediu-lhe para deixá-lo enfeitar seu pescoço com um

colar, que na verdade, era uma coleira, com a qual Sísifo manteve a morte aprisionada

ao mesmo tempo evitando que qualquer outra pessoa ou ser vivo morresse. Desta vez

Sísifo arranjou problemas com Hades, o deus dos mortos (deus do inferno), e com

Ares, o deus da guerra, que precisava da morte para consumar as batalhas. Tão logo

teve conhecimento, Hades libertou a morte e ordenou-lhe que trouxesse Sísifo

imediatamente para o mundo dos mortos.

Por meio da transcendência deste mito, encontramos na obra “O Banquete” de

Platão (2000), que se situa na Grécia Antiga, mais especificamente em Atenas, o

mesmo nos relata um banquete na casa de Ágaton, sendo convidados os mais sábios

atenienses da época. Entre os convidados estão: Erixímaco, Fédon, Pausânias,

Aristófanes, Sócrates e Alcibíades. Um a um, os personagens vão expondo seus

discursos sobre o tema da noite proposto por Erixímaco que foi o Amor (Eros).

O destaque da obra é o discurso feito por Platão, usando o personagem

Sócrates para apresentá-lo.

Para Platão (2000), Eros era referenciado como o esforço em prol da retidão, do

autodomínio e da sabedoria; e a concretização do bem, e um modo de atingir a

imortalidade.

Fédon dá início aos debates elogiando Eros, por ser ele o deus que une os

homens em todas as situações. Erixímaco, um médico hipocrático, tece seu comentário

sobre os impulsos que levam o corpo ao “Amor Celeste” ou ao “Amor Vulgar”.

Pausânias, por sua vez, faz narrações mitológicas citando variantes de amor

resultantes de divisões de deuses.

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Aristófanes conta sobre o mito do ser Andrógino, que possuía os dois gêneros

sexuais, mais foi separado ao meio, como forma de castigo por Zeus. Gerando assim,

uma eterna procura de uma metade faltosa que foi perdida. O anfitrião Ágaton faz uma

referência ao deus Eros, colocando as virtudes de sua presença e as conseqüências de

sua ausência. Mas, nenhum dos oradores foi tão brilhante como Sócrates que coloca o

que lhe foi transmitido pela sacerdotisa Diotima sobre a essência do amor. Ele salienta

que, o amor pelos belos corpos é apenas o começo do caminho do conhecimento da

beleza em si mesma. Amar é desejar o belo em sua essência, para além do mundo das

ilusões.

O amor procura a beleza. Todavia, sendo ele mesmo belo já a encontrou ao

saber de si mesmo e acaba por alimentar-se de si mesmo. Sócrates propõe então o

princípio do “amor platônico”, ou “platonismo”: o amor pela alma, o amor que tudo

contém e a tudo se estende, o amor incondicional à natureza das coisas, o amor à

sabedoria e à filosofia. Assim sendo, o amor sensível deve estar subordinado ao amor

intelectual. Após essa esplêndida apresentação, ainda surge Alcibíades, amante de

Sócrates, que embriagado tenta cortejá-lo e reverenciá-lo. Sócrates se sente

incomodado e o despreza. Sócrates termina como o grande vitorioso da noite, tanto no

discurso, quanto na quantidade de vinho ingerida.

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3 SIGMUND FREUD E O NASCIMENTO DA PSICANÁLISE

3.1 Sigmund Freud (1856-1939): breve apontamento biográfico

Segundo Garcia-Roza (2005) Freud instala um novo saber acerca do homem,

operando uma inversão dos conceitos cartesianos calcados na filosofia positivista que

regulavam a ciência de sua época, demarcando a cisão ou a fronteira quase definitiva

dos operadores que regulam o comportamento, tendo dessa forma o inconsciente

freudiano o lugar psíquico por excelência e o eixo axiomático de sua teoria.

Compreender os processos intrapsíquicos e os mecanismos nas quais operam o

sujeito psicanalítico é compreender os avatares da vida de Freud e o nascimento da

psicanálise.

De acordo com Masotta (1987) reiniciar o percurso de Freud e o nascimento da

psicanálise é acercar-se do contexto do século XIX e dos paradigmas que sustentam as

vicissitudes da medicina européia, e da maneira na qual Freud constrói sua teoria

evocando uma questão primordial, o fenômeno da Histeria.

Segundo Gay (1989) Sigmund Freud, nascido em 6 de Maio de 1856 em

Freiberg, na Moravia atual Príbor na Tchecoslováquia, mudou-se com a família para

Leipzig e mais tarde, aos 4 anos, para Viena, onde permaneceu por quase 80 anos, aos

8 anos, Freud lia Shakespeare, na adolescência ouvi interessado há um ensaio de

Goethe sobre a natureza.

Por influência de Goethe e Darwin, decide entrar na Faculdade de Medicina da

Universidade de Viena em 1873. Inicialmente, Freud se dedicou à biologia, dissecando

mais de quatrocentas enguias macho para determinar as estruturas dos testículos, suas

descobertas foram inconclusivas, mas já apontava para o interesse pelas pesquisas

relacionadas ao sexo.

Freud estudou medicina por oito anos, três a mais que o habitual, no decorrer

desse período, trabalhou no laboratório do fisiologista Dr. Ernest Brücke, podendo nos

dar a idéia da crença de Freud sobre as origens biológicas da consciência pode ser

devida às próprias posições de Brücke. Freud fez algumas pesquisas independentes

sobre histologia e publicou artigos sobre anatomia e neurologia, aos 26 anos, colou-se

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em medicina, desejava ainda permanecer no ambiente acadêmico, mas foi

desestimulado por Brücke por causa da sua situação financeira e o estimulando a

praticar medicina. Apesar de dirigir-se relutantemente para a clinica particular, seus

interesses principais focavam-se na área da observação e exploração cientifica.

Trabalhou primeiramente como cirurgião, depois em clínica, tornando-se médico

interno do principal hospital de Viena, cursou psiquiatria, onde ampliou seu interesse

pelas relações entre sintomas mentais e distúrbios físicos, em 1885 assume a posição

privilegiada de conferencista da Universidade de Viena começando a despontar sua

carreira promissora.

Freud obteve uma bolsa de estudos com o apoio de Brücke e foi para Paris

trabalhar com Charcot que trabalhava com a possibilidade de induzir ou aliviar os

sintomas histéricos por meio da hipnose. Freud percebe que na histeria, os pacientes

exibem sintomas que são anatomicamente irrealizáveis, ficando claro para Freud que a

histeria é uma doença psíquica. Charcot, percebendo o interesse de Freud, permitiu-lhe

traduzir seus escritos para o alemão quando voltara a Viena. No entanto, para Freud a

compreensão desse processo terapêutico, tinha cunho sexual nas primeiras tentativas

de explicar tais sintomas apresentados pela histeria, deixando-o atento aos fenômenos

apresentados pela demanda.

De acordo com Gay (1989) o trabalho de Freud na França aumentou seu

interesse pela hipnose como instrumento, contando com a ilustre colaboração do

médico Josef Breuer, explorando a dinâmica da histeria. As descobertas resumidas por

Freud até então:

Os sintomas de pacientes histéricos baseiam-se em cenas do seu passado que

lhes causaram grande impressão, mas foram esquecidas (traumas); a terapêutica, nisto

apoiada, consistia em fazê-los lembrar e reproduzir essas experiências em um estado

de hipnose (catarse).

Por anos Freud e Breuer desenvolveram uma importante amizade, onde discutia

os pacientes de Breuer incluindo Anna O., caso no qual foi importante para o

desenvolvimento da psicanálise. Ela apresentava graves sintomas histéricos, incluindo

paralisia. Perda de memória, deterioração mental, náuseas, e distúrbios da visão e da

fala. Breuer utilizou a hipnose e posteriormente, em suas consultas, Ana O. contava

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seus incidentes perturbadores do dia. Aqui Ana O. se referia a esse ato como limpeza

da chaminé e cura falada, interessando a Freud que introduziu com destaque em suas

obras como método de catarse, a cura pela fala.

Freud adota os métodos de Breuer, a hipnose e a catarse, em tratamento de

seus pacientes, mas pouco a pouco foi ficando insatisfeito com a hipnose, pois,

aparentemente pudesse aliviar os sintomas, não se fazia eficaz para curar, assim Freud

abandona a hipnose, mas continua com o método catarse como método de tratamento,

e a partir dela desenvolvendo a técnica mais significativa da Psicanálise: a livre

associação.

Em 1896 Freud usou pela primeira vez o termo “psicanálise” para descrever seus

métodos, sua auto-analise em 1897, em 1900 publicou A Interpretação dos Sonhos,

seguiu-se no ano seguinte outra obra importante Psicopatologia da Vida Cotidiana.

Gradativamente, formou-se ao seu redor um círculo de médicos interessados,

incluindo Alfred Adler, Sandor Ferenczi, Carl G. Jung, Otto Rank, Karl Abrahan e Ernest

Jones, onde fundaram uma sociedade com vários documentos escritos, uma revista foi

publicada e o movimento psicanalítico começara a expandir.

Freud foi convidado a ir para América em 1910 para pronunciar-se em

conferências na Universidade de Clark, onde seus trabalhos estavam sendo traduzidos

para o inglês abrindo interesse entre os americanos pelas teorias o Dr. Sigmund Freud.

Segundo Gay (1989), Freud trabalhou inicialmente com a psicologia individual,

tratando das neuroses em 1888, constituiu as teorias da fantasia em 1897, dos sonhos

em 1900, e da sexualidade em 1905, os resultados alcançados desses trabalhos em

psicologia individual forneceram as informações sua visão de uma psicologia coletiva,

onde possibilitaria Freud a formular em 1913 a teoria da cultura, tendo nessa época

escrito à obra Totem e Tabu que seria hoje em dia o que chamamos de interdisciplinar.

O auge da fama do Dr. Sigmund Freud acontece entre os anos 1919 e 1939.

Nos anos 20 a psicanálise havia evoluído como sistema teórico que propunha uma

compreensão de toda motivação e personalidades humanas, e não somente como

método de tratamento de pessoas.

Freud passou sua vida desenvolvendo, ampliando e elucidando a psicanálise.

Suas obras completas compõem-se de vinte e quatro volumes e inclui ensaios relativos

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aos aspectos delicados da prática clínica, uma série de conferências que delineiam

toda a teoria e monografias especializadas sobre as questões religiosas e culturais.

Freud tentou construir uma estrutura que sobrevivesse há seu tempo, que efetivamente

pudesse reorganizar toda a psiquiatria e seu posicionamento, temendo que os analistas

que se desviassem dos procedimentos estabelecidos por ele pudessem diluir o poder e

as possibilidades da psicanálise, desejando, sobre tudo, impedir a distorção e o uso

incorreto da teoria psicanalítica.

Freud descobriu que sofria de câncer da boca em 1923 e, mesmo assim,

manteve-se produtivo durante dezesseis anos, tolerando tratamentos constantes e

dolorosos, resistindo a trinta e três cirurgias bucais. Em 1938 refugiando-se na

Inglaterra pela ocupação nazista da Áustria, residiu em Maresfield Gardens, local que,

48 anos mais tarde, veio a se tornar o Freud Museum London. Alguns anos antes, ao

escolher o Dr. Max Schur como seu médico pessoal, o fez prometer que não o deixaria

sofrer desnecessariamente, Shur deu-lhe então, três injeções de morfina num período

de vinte e quatro horas, encerrando assim, aos 83 anos de idade, no dia 23 de

Setembro de 1939, os muitos anos de sofrimento pelos quais ele passara.

O trabalho do Dr. Sigmund Freud , nascido das disciplinas especializadas da

Neurologia e Psiquiatria, propõe uma concepção de personalidade que surtiu efeitos

importantes na cultura ocidental, sua visão de condição humana, atacando

violentamente as opiniões prevalentes de sua época, oferece um modo complexo e

atraente de perceber o desenvolvimento normal e anormal.

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4 O aparelho psíquico: primeira e segunda tópica

De acordo com Zimerman (1999) o ponto de vista “Tópico”, cujo terno provem do

grego ‘topos’ significando ‘lugar’, seria como que uma descrição geográfica do aparelho

psíquico onde cada lugar teria características distintas. Por analogia, poderíamos

imaginar o aparelho psíquico como sendo um país composto por diferentes regiões: o

sistema Consciente CS, Pré-consciente PCS e Inconsciente ICS.

É importante lembrar que a segunda tópica não exclui a primeira tópica mas, isto

sim, ganha um aprimoramento uma vez que, além da ampliação de alguns pontos mais

restritos, os sistemas CS, PCS e ICS passam a ser visto como qualidades.

Segundo Zimerman (1999) Freud viu-se obrigado a remodelar a primeira tópica

em função de sua observação em relação às defesas utilizadas por seus pacientes

clínicos. Essa percepção o fez levantar a seguinte hipótese: se o ego é a sede das

defesas e se grande parte das defesas é ICS, a concepção de ego na primeira tópica

como sendo PCS e CS, não abrangendo o ICS, deveria ser modificada. A partir dessa

constatação, Freud admite, então, na segunda tópica, que os limites de funcionamento

egoíco deveriam ser ampliados. Desse momento em diante, o ego passa a ter também

partes ICS e de caráter mais ativo e dinâmico.

Dessa forma, após as reformulações da segunda tópica, o ego passa a ser CS,

PCS e ICS; o superego – uma pequena parte do PCS e em sua maior parte ICS – e o

id, quase que totalmente ICS, como veremos logo adiante.

O modelo de aparelho psíquico constituído por Freud em A Interpretação de

Sonhos (FREUD, 1974b) difere dos anteriores na medida em que se trata de um

modelo puramente psicológico, sem a preocupação de localizar as instâncias psíquicas

em regiões anatômicas do sistema nervoso. Essas instâncias, ou sistemas psíquicos,

se relacionam entre si de forma dinâmica e podem ser entendidos como o sistema psi

que Freud desenvolve no Projeto para uma psicologia científica (FREUD, 1974a).

A metapsicologia pode ser definida, de acordo com Laplanche e Pontalis (1992),

como uma dimensão onde se elaboram diversos modelos conceituais que explicarão os

dados empíricos transmitidos pela experiência, ou seja, poderíamos dizer que a

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metapsicologia é o estudo dos aspectos teóricos psicanalíticos que nos auxiliam na

compreensão tanto da organização como do funcionamento do aparelho psíquico.

4.1 O Id

Iniciaremos por essa instância, primeiramente porque ela é a única que tem seu

exato correspondente na primeira tópica e, segundo, porque é o id que desenvolve as

duas outras instâncias – o ego e o superego.

De acordo com Schultz e Schultz (2007) o id por ser quase que na sua totalidade

de aspectos ICS, é a parcela mais impenetrável da personalidade. Sendo constituído,

basicamente por instintos e pulsões. Da mesma forma que o ICS, assim como foi

exposto na primeira tópica. O Id dominante no Princípio do Prazer e responsável pelo

Processo Primário. Com aspectos desorganizado, ilógico, não conhece julgamento de

valores, funciona por deslocamentos e condensações e é também atemporal.

Essa característica de atemporal do id, pode ser claramente percebida por meio

de conteúdos que foram excluídos da CS pelo recalque e que, embora permanecendo,

às vezes por décadas, seguros pela censura no ICS para evitar o sofrimento que a

percepção CS lhe traria, ainda carregam no presente a mesma força, a mesma

importância, a mesma intensidade do passado, do momento em que sofreram o

recalque. Esse não reconhecimento da passagem do tempo torna, portanto, seus

conteúdos ICS sempre vivos, ativos e virtualmente imortais até que as tornem CS.

Segundo Zimerman (2001) do ponto de vista econômico, o id é, para Freud, o

reservatório inicial da energia psíquica. Do ponto de vista dinâmico, ele abriga e

interage com as funções do ego e com os objetos, tanto os da realidade exterior, como

aqueles que, introjetados, estão habitando o superego, com os quis quase sempre

entra em conflito, porém, não raramente, o id estabelece alguma forma de aliança e

conluio com o superego. O ICS, como instância psíquica, virtualmente coincide com o

id, o qual é considerado o pólo da personalidade, fundamentalmente constituído pelas

pulsões.

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4.2 O Ego

Freud caracteriza o ego como a instância capaz de perceber os instintos e

dominá-los, ou ainda de ceder aos instintos até a sua coação. O ego seria em grande

parte ICS, tendo múltiplas funções, algumas CS. Segue de acordo com Laplanche e

Pontalis (1992) que essas múltiplas funções constituem em, controle de motilidade e da

percepção, prova da realidade, antecipação, ordenação temporal dos processos

mentais, pensamento racional, etc., mas igualmente desconhecimento, racionalização,

defesa compulsiva contra as reivindicações pulsionais.

Segundo Schultz e Schultz (2007) o ego é à parte do id que foi modificada em

função de sua relação direta com o mundo externo, embora seja em sua maior parte

ICS, torna-se mediador entre o desejo e a realidade, bem como integrador das

exigências do id, do superego e da realidade externa, sendo o ego também, uma

organização em torno do princípio de realidade. No entanto, quando as três forças, id,

superego e a realidade externa, permanecem rígidos e intolerantes, em relação à

satisfação de suas exigências, podem provocar no ego um sentimento de estar sendo

fortemente pressionado o que o leva a colocar o ego no centro do conflito, o ego nessa

tríplice servidão sofrendo ameaças provindas do mundo externo, da libido do id e o da

severidade do superego.

De acordo com Zimerman (2001) o ponto de vista dinâmico, o ego representa

eminentemente, no conflito neurótico, o pólo defensivo da personalidade; põe em jogo

uma série de mecanismos de defesa, estes motivados pela percepção de um afeto

desagradável sinal de angústia. A teoria psicanalítica procura explicar a gênese do ego

em dois registros relativamente heterogêneos, quer vendo nele um aparelho adaptativo,

diferenciado a partir do id em contato com a realidade exterior, quer definindo-o como o

produto de identificações que levam à formação no seio da pessoa de um objeto de

amor investido pelo id.

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4.3 O Superego

Segundo Zimerman (2001) essa última parte do aparelho psíquico se desenvolve

a partir do ego e é, como vimos anteriormente, uma pequena parte PCS e o restante

ISC. Para que possamos compreender a sua formação, é preciso que nos remetamos

ao inicio da vida do bebê, desde o princípio de sua vida pós-natal. Não sobra nada ao

infante a não ser o desejo dos pais, tomado o corpo como matéria prima, este, será

alvo do investimento devorador dos seus cuidadores, tomando o num lugar de

totalidade. A partir desses processos cabe a criança se identificar com o intuito de se

apropriar da imagem conferida, imagem unificadora das quais os pais reconhecem e

idealiza seu bebe. Porem neste enlaçamento entre imago materna e seu filho ocorrera

uma hiância um distanciamento entre a imagem projetada (ideal de eu) e o corpo

deste bebe (castração) eu ideal.

De acordo com Schultz e Schultz (2007) o superego é uma das instâncias da

personalidade tal como Freud a descreveu no quadro da sua segunda teoria do

aparelho psíquico: o seu papel é assimilável ao de um juiz ou de um censor

relativamente ao ego. Freud vê na consciência moral, na auto-observação, na formação

de ideais, funções do superego. O superego também pode ser definido como herdeiro

do complexo de Édipo; constituído por interiorização das exigências e das interdições

parentais.

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5 Sistemas do Aparelho Psíquico

5.1 O consciente

O sistema consciente CS, sob o ponto de vista tópico, situa-se na periferia do

aparelho psíquico e tem como função a mediação das informações internas e externas,

cuja permanência na consciência é transitória.

De acordo com Segundo Kusnetzoff (1982) conforme vai se intensificando o

contato com a realidade exterior, e isto é uma função egóica, a energia vai se tornando

inibida, não mais circulando livremente. Agora essa energia, chamada Energia Ligada,

não é mais investida desvairadamente mas, sim, sob a ação de um certo controle em

busca da satisfação, com um mínimo de deslocamento. É a partir desse ponto chave,

que o Princípio da Realidade vai se sobrepondo ao Princípio do Prazer e começam a

reinar nesse sistema as leis do pensamento lógico, do raciocínio, do juízo, da atenção,

etc. A esse processo psíquico articulado dessa maneira, denominado como Processo

Secundário.

Segundo Zimerman (1999) em aspectos funcionais, o sistema CS opõe-se aos

sistemas de traços mnésicos que são o ICS e o PCS: nele não se inscreve qualquer

traço durável das excitações e aspectos econômicos, caracteriza-se pelo fato de dispor

de energia livre e móvel, suscetível ao investimento deste ou daquele elemento

(mecanismo da atenção).

5.2 O pré-consciente

Na área pré-consciente PCS encontra-se elementos ICS acessíveis à atividade

consciente a qualquer momento, diferente da área inconsciente cujos elementos não

podem ser trazidos à área consciente de maneira espontânea. O PCS é como um

reservatório de lembranças úteis para o desempenho das funções conscientes que

podem ser acessadas pela consciência quando necessário.

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(...) sua característica principal é que seus conteúdos podem ser recuperados por um ato da vontade, o que não ocorre com os do inconsciente. Se for possível acessar o conteúdo, trazendo-o a CS pela vontade, este estava reprimido, ou seja, no PCS. Se não for possível, o conteúdo estava recalcado, ou seja, no ICS (KUSNETZOFF, 1982, p.122).

Segundo Kusnetzoff (1982) o PCS tem estatuto próprio que se constituem no processo

secundário, que compreende:

• A elaboração de uma sucessão cronológica nas representações;

• A descoberta de uma relação lógica;

• O preenchimento de lacunas existentes entre idéias isoladas;

• A introdução dos fatos causal, ou seja, entre os fenômenos: relação causa –

efeito.

5.3 O inconsciente

Segundo Kusnetzoff (1982) o inconsciente, para a psicanálise, é psiquicamente

dinâmico e investido de energia psíquica, o ICS é o verdadeiro psiquismo, o psiquismo

real. A existência do ICS pode estabelecer-se pelo conteúdo e pelo modo de atuar.

De acordo com Tallaferro (1996) o ICS funciona por meio do Princípio do Prazer,

anteriormente denominado como Princípio do Prazer-Desprazer, que faz com que o

aparelho psíquico fuja de tudo o que lhe cause desprazer para obtenção de prazer. A

maneira pela qual o psiquismo consegue fugir daquilo que lhe causa desprazer é,

segundo Freud, por meio do Processo Primário, onde a energia que circula livremente

no ICS é deslocada e descarregada de maneira explosiva, imediatamente e completa

visando à satisfação. Essa força tem por objetivo, por um lado, manter o aparelho

psíquico sem um aumento de quantidade de excitação e, por outro, reduzir sua tensão

energética ao mínimo para obtenção do prazer. No ICS devem ser considerados os

seguintes mecanismos:

a) Deslocamento: consiste na mobilização e mudança de lugar de uma carga

psíquica. Esse fenômeno produz-se geralmente nas fobias e na neurose obsessiva.

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b) Condensação: consiste na união de vários elementos separados que tem uma

certa afinidade; quer dizer os traços ou objetos. A condensação é característica da

histeria de conversação na qual um sintoma pode ser pluri-determinado por diversos

afetos.

c) Projeção: O sujeito projeta seus impulsos agressivos sobre o outro, e depois

se sente perseguido. Produz-se geralmente na paranóia.

d) Identificação ou transferência: constitui em manifestação psíquica geral,

dando ênfase do objeto para o sujeito.

Segundo Garcia-Roza (2005) se a energia q circunda livremente no ICS é

deslocada e descarregada de forma explosiva e completa, aqui podemos pensar,

portanto, em dois mecanismos importantes: o deslocamento e a condensação3. Como o

ICS é gerador de imagens, podemos então, imaginar que, uma determinada imagem

cause desprazer. Essa imagem fica, então, muito carregada de energia e para que se

possa diminuir a quantidade de excitação e, por conseguinte, obter-se uma redução

energética, ocorre o deslocamento, onde a intensidade de uma representação é

transferida para outras representações menos energeticamente carregadas.

De acordo com Garcia-Roza (2005) é nos sonhos, por exemplo, que o

deslocamento faz com que a ênfase recaia sobre detalhes quase nada significativos,

enquanto que os conteúdos de maior importância permanecem em segundo plano.

Como todo deslocamento culmina com uma condensação, pode-se então, definir

condensação como resultado da concentração de diferentes representações em uma

única representação ou, em outras palavras, como uma fusão de vários elementos,

conteúdos ICS que, unidos ou condensados, que abarcam a totalidade da CS.

Segundo Kusnetzoff (1982) o ICS tem seus modos próprios de atuar, que

constituem em conjunto o Processo Primário. São eles:

a) Ausência de cronologia: no ICS a cronologia não existe. Todas as tendências

são vividas pelo ICS no tempo atual, não reconhecendo passado nem futuro, mas

apenas um presente. Os conhecimentos mais longínquos continuam atuando no ICS

de um modo imaginável, com tanta dualidade como se tivessem acabado de ocorrer.

3 Ver Condensação e Deslocamento em: FREUD, Sigmund. A interpretação dos sonhos (1900). In: SALOMÃO, J. (trad). Obras Psicológicas Completas. v. lV. Rio de Janeiro: Imago, 1974b, p. 305-331.

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b) Ausência de conceito de contradição: O ICS não tem um conceito definido de

contradição e não sabe dizer não. Quando necessita dar uma negativa recorre a outros

elementos. Pode existir ao mesmo tempo um sim e um não, mantendo sua plena

valência, sem se excluírem, nem mesmo parcialmente.

c) Linguagem simbólica: Quando o ICS tem que dizer, expressa-o em forma

arcaica, utilizando símbolos. Ex: interpretação de sonhos, lapsos, etc.

d) Igualdade de valores para a realidade interna e a externa ou supremacia da

primeira: A realidade interna nos psicóticos e neuróticos tem tanto valor ou mais do que

a realidade externa, se um sujeito acredita ser algo ou alguém é natural que ele atue

como tal.

e) Predomínio do Princípio do Prazer: o neurótico e o psicótico, que se

encontram dominados pelo Processo Primário não podem suportar o desprazer, pois

as tendências do ICS buscam sua satisfação, sem preocupar-se com as

conseqüências que ele possa apresentar. Constitui o que se denomina predomínio do

Princípio de Prazer.

Dentro do sistema inconsciente é necessário levar em conta uma porção, uma

parte dele que se encontra integrada por elementos diferentes, que não tem livre

acesso ao sistema CS, constituem o que denomina inconsciente reprimido.

De acordo com Kusnetzoff (1982) no ICS pode ser considerada,

hipoteticamente, uma parte composta por elementos que se encontram

temporariamente nele, mas que podem a qualquer momento tornar CS; e uma parte

cujos elementos não podem aflorar ao CS, mas chegam, mesmo assim, a produzir

determinados efeitos por vias indiretas, alcançando a CS sob a forma de sintomas ou

sonhos. O reprimido é uma parte do ICS, o inconsciente reprimido, segundo Freud.

- Estruturam-se nele as representações de coisas, que são fragmentos de

reproduções de antigas percepções. Estão dispostas como uma espécie de arquivo

sensorial;

- Esse registro sensorial é como um conjunto de elementos despidos de

palavras. As “coisas” são reduzidas aos seus traços constitutivos essenciais. Essas

representações se referem a todo os sentidos, especialmente ao visual;

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- Os conjuntos de representações inconscientes formam verdadeiros fantasmas

carregados de energia proporcionada pelas pulsões;

- o inconsciente é constituído por uma energia proveniente das pulsões;

- As representações juntamente com sua energia correspondente, caracterizam-

se pelo fácil deslocamento e descarga. Isto é Processo Primário.

- O Processo Primário é caracterizado por dois tipos de mecanismos que afetam

as representações: o deslocamento e a condensação, sendo o primeiro mecanismo o

que conduz ao sistema, e o segundo o que é o sintoma.

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6 Recalque

Freud (1974f, p.26) afirma que a teoria do recalcamento é a pedra angular sobre

a qual repousa toda estrutura da psicanálise. No entanto, a partir de A interpretação dos

sonhos (1974b), o termo recalcamento vai se firmando e ganhando um relevo mais

significativo e consistente.

Segundo Garcia-Roza (2005) o objeto do recalcamento não é por assim dizer, a

pulsão propriamente dita, mas uma de suas representantes – representações

ideativas, capacitadas em provocar desprazer em prol das exigências da censura

exercida pelo sistema PCS-CS.

Compreendemos então que, o recalque como operador responsável e especifico

do ICS, para Freud o recalque tem por finalidade afastar e manter as representações

que causam sofrimento ao CS, ele pode ser considerado também como um mecanismo

de destino da pulsão suscetível a um protótipo para operações defensivas.

De acordo com a definição de Freud (1974f, p. 170) o recalcamento como o

processo cuja essência consiste no fato de não afastar determinada representação do

CS, mantendo-a a distância.

Segundo Garcia-Roza (2005) o recalque não está presente como um mecanismo

de defesa, pois se ele é correlativo da cisão entre os sistemas psíquicos, o ICS e o Pcs-

Cs, dando sentido a essa afirmação na medida em que compreendamos que ele é um

mecanismo que lança ao sistema PCS-CS de impedir que certos conteúdos

representativos inundem o sistema ICS e que tenham acesso à consciência. “(...) o

recalcamento não é um mecanismo defensivo que esteja presente desde o inicio, ele só

pode surgir quando tiver ocorrido uma cisão marcante entre a atividade mental

consciente e a inconsciente” (FREUD, 1974f, p. 170).

Discorre ainda Garcia-Roza (2005, p. 155) elucidando a idéia de que se não

existindo o sistema PCS-CS nesse processo, não existe ainda a instância recalcadora e

por conseguinte, não existe ainda o próprio recalque, mas sobre tudo uma confusão

nesse ponto quando perguntamos o que produz a cisão entre tais instâncias, que pode

ser compreendida erroneamente como resposta que é o recalcamento, lançando uma

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interpretação de que o recalcamento pertencente a um mecanismo do sistema PCS ou

ele é de fato responsável pela cisão e portanto, constituinte de cada um dos sistemas.

Pode-se então, compreender de forma clara que as representações recalcadas

originárias do domínio do ICS, sendo assim, regidas pelas leis do processo primário

(Princípio de Prazer).

6.1 A Libido

Freud (1974g, p. 116) ao definir o conceito da palavra libido fundamenta-se na

palavra grega para o amor (Eros), traduzida para o alemão Liebe coincidindo

exatamente com Eros do filósofo Platão como força amorosa, sendo a libido para a

psicanálise, como para o Aposto Paulo em sua famosa mensagem aos Coríntios, onde

louva o amor sobre tudo mais, certamente dando a entender o sentido mais amplo4.

De acordo com Garcia-Roza (2005) o termo da libido postulada por Freud como

essência da pulsão sexual, mesmo que de caráter quantitativo, Freud atribui bem a

caracterizando num sentido estritamente dinâmico da energia sexual, sendo ela

sexualizada ou não, corroborando ao seu caráter qualitativo.

Segue Freud (1974g, p.308) dizendo que a psicanálise dá a esses instintos

amorosos o nome de instintos sexuais, no entanto, podendo também ser

dessexualizada no que seja referente ao objeto, e é por a libido que a manifestação

dinâmica na vida psíquica de pulsão sexual.

De acordo com Garcia-Roza (2005) a libido é essencialmente em sua natureza

sexual, sendo irreduzível a outras formas de energia mentais não especificadas. Em

Freud, a libido é essencialmente de natureza sexual. Quando a energia da pulsão

sexual é a libido e seu objetivo torna-se satisfação, as pulsões do ego colocariam sua

energia a serviço do ego, visando a autoconservação do sujeito e opondo-se, às

pulsões sexuais.

4 Ver nota de roda pé - FREUD, Sigmund. Além do princípio de prazer, psicologia de grupo e outros trabalhos (1920-1922). In: SALOMÃO, J. (trad). Obras Psicológicas Completas. v. XVIII. Rio de Janeiro: Imago, 1974g, p.116.

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Para apenas apontar e situar-nos sobre as fases de organização da libido, Freud

organiza essas fases em três etapas: oral, anal-sádica e a fase fálica. Assim, teremos

uma noção de fase libidinal que designa uma etapa do desenvolvimento sexual da

criança caracterizada por uma certa organização da libido determinada pela

predominância de uma zona erógena ou por um modo de relação do objeto.

6.2 A pulsão

Para melhor compreendermos o conceito de Freud, torna-se necessário revisar o

emprego dos termos Instintos e Pulsões:

Garcia-Roza (2005) salienta que Freud empregou as palavras “Instinkt” e “Trieb”

no original em alemão, com significados bem distintos entre si e não como sinônimos,

lembrando que houve uma equivalência na literatura psicanalítica entre os termos

“instintos”, “impulsos”, “impulsos instintivos”, “pulsões instintivas” e “pulsões”, ocorrendo

uma má interpretação nas primeiras traduções elaboradas por James Strachey, então,

pois, o termo “Instinkt” é relacionado diretamente aos instintos biológicos que se

caracterizam em comportamento hereditário fixado, ou seja, possui o aspecto de um

objeto especifico, enquanto o termo “Trieb” é empregado à pulsão, não implicando nem

em comportamento pré-fixado e nem a um objeto especifico, essa variação do objeto e

ao objeto que se vão constituir os pontos centrais da teoria pulsional.

A teoria dos pulsional pode ser dividida em dois momentos distintos. No primeiro

momento, Freud estabelece o conflito entre as pulsões sexuais e pulsões de

autoconservação. No outro momento, o conflito passa a ser entre pulsões de vida e

pulsões de morte.

Desde o principio de sua obra, Freud ligou pulsão à sexualidade, e isto, fora de qualquer dúvida, constituiu-se no centro das descobertas da psicanálise e, da mesma forma, ele sempre considerou a existência de uma dualidade pulsional. Assim, em sua primeira formulação de um conceito dualista das pulsões essenciais, Freud entre pulsões do ego, (ou de autoconservação) e as pulsões sexuais (ou da preservação da espécie) (ZIMERMAN, 1999, p. 118).

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Torna-se necessário compreender as primeiras formulações freudianas acerca

do conceito de pulsão, especificamente nos Três Ensaios sobre a Sexualidade (1974c),

nesses artigos da metapsicologia, Freud esclarece as bases teóricas da Psicanálise. A

metapsicologia pretende, portanto, apresentar uma descrição minuciosa de qualquer

processo psíquico quando enfocado sob os pontos de vista de sua localização das

instâncias, tanto quanto da distribuição dos investimentos e dos conflitos pulsionais de

forças.

Segundo Garcia-Roza (2000) a pulsão não nos permite uma descrição do real,

mas sim a sua produção, sendo que essa pulsão nunca ocorre em si mesma. Tomamos

conhecimento dela apenas por seus representantes: idéia e afeto. O afeto é a

expressão qualitativa da quantidade de energia pulsional e de suas variações, este não

está necessariamente ligado a uma representação (idéia), que por sua vez significa a

formação do conteúdo concreto de um ato de pensamento. A representação seria

aquilo que se inscreve no sistema mnémico.

Em A pulsão e suas vicissitudes (1974f), Freud formula sobre a passagem do

psíquico para o somático. Ele define a pulsão como um conceito situado na fronteira

entre o mental e o somático, ou ainda, como o representante psíquico dos estímulos

que se originam dentro do organismo e alcançam a mente. Nesse momento, acontece

um conflito que embarcam o conceito de pulsão.

Em primeira instância Freud identifica pulsão ao representante psíquico dos

estímulos corporais já em segundo momento Freud nos diz que a pulsão é composta

por seus representantes: afeto e idéia. No seu artigo O inconsciente (1974f), Freud nos

revela que uma pulsão nunca pode tornar-se objeto da consciência – só a idéia que a

representa. Freud chega a dizer que mesmo no ICS a pulsão só pode ser representada

por uma idéia. Freud utilizava a palavra pulsão dando significado de uma espécie de

organizador biológico, em torno do qual as forças endógenas circulam. Essas forças, ao

chegarem à psique, se transformam em imagens e/ou representações carregadas de

afeto, as quais são os representantes pulsionais, e que se fixarão na memória. Junto a

forças exógenas formarão os complexos de idéias que compõem o psiquismo.

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Pode-se então compreender que a natureza da pulsão é psíquica, pois só

podemos conhecê-la através de seus representantes, enquanto física, já que sua fonte

está sob o corpo, ou seja, nesta inscrição entre o corpo e o psiquismo.

Segundo Garcia-Roza (2000) Freud em 1905 na elaboração da teoria pulsional,

descreve a estreita relação existente entre a pulsão sexual e certas funções corporais.

Introduzindo um termo fundamental para a compreensão do conceito de pulsão, o

termo que aqui nos referimos é o apoio. Quando nos fala da noção de apoio, Freud é

muito direto. Ele se refere ao apoio da pulsão sobre o instinto. As pulsões sexuais, que

só secundariamente se tornam independentes, apóiam-se nas funções vitais que lhes

fornecem uma fonte orgânica, uma direção e um objeto.

Freud ao formular o conceito de pulsão, utiliza quatro termos: alvo, objeto,

pressão e fonte.

Por pressão (Drang) entende-se seu fator motor, a soma de força ou medida de

trabalho que ela representa (FREUD, 1974f, p.142).

Pressão pode ser compreendia como uma quantidade de descarga que tende à

excitação. Esse é um termo universal, porém, sozinho não define a pulsão. Freud faz

distinção entre as excitações internas, onde a primeira seria a pressão de necessidade,

como fome e sede, por exemplo. Na segunda distinção, seria a pressão da pulsão.

Enquanto a primeira possuía uma força momentânea e a segunda como força

constante. Revelando assim um aspecto muito importante da pressão. Não se trata

apenas de um fator motor (no sentido de provocar movimento), mas sim de um

processo de transformação complexo.

Sua função aqui empregada é de transformar a energia acumulada,

transformação essa que implicaria numa codificação, ou seja, a uma exigência feita ao

aparato anímico, sendo levado em conta que não é o organismo e sua finalidade

adaptativa, e sim, o aparelho psíquico cuja regulação ocorre através do Princípio do

Prazer e pelo princípio da realidade, através de representação.

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6.3 A Pulsão e seus destinos

Compreende-se então que, pressão pulsional será definida no âmbito do aparato

psíquico.

O alvo da pulsão é, em todos os casos a satisfação, que só pode ser alcançada

cancelando-se o estado de estimulação da fonte da pulsão (FREUD, 1974f, p.142).

Esse alvo é invariável, pois, apenas o que pode mudar é o percurso até ele,

nunca é alcançado, pela própria natureza da pulsão, e a satisfação passa a ser sempre

parcial. Sendo assim, por conseguinte, o recalque, a sublimação, o sintoma, o sonho e

outros destinos da pulsão provocam também a satisfação. Frente a essas

impossibilidades, o ICS está sempre procurando um objeto que possa satisfazer a

pulsão.

O objeto de um instinto é a coisa em relação à qual ou através da qual o instinto

pode atingir sua finalidade (FREUD, 1974f, p.143).

A pulsão exige um objeto para que possa obter satisfação, mesmo que parcial,

esse objeto não é específico e nem qualquer um, mas sim um objeto que possua a

capacidade de satisfazer a pulsão. Essa aptidão está ligada à história do sujeito, às

suas fantasias e seus desejos.

O conceito de objeto, elaborado por Freud, não se trata de algo do mundo que

nos é oferecido à percepção, mas sim representações que são formadas a partir da

associação entre imagens sensoriais e palavras. Assim podemos dizer que o objeto,

concebido por Freud, é o efeito da incidência da palavra sobre as sensações

provenientes do mundo externo.

A fonte da pulsão é corporal e não psíquica, então, podemos compreender que a

pulsão tem sua origem no corpo.

É um processo somático que ocorre num órgão ou parte do corpo e cuja

excitação é representada na vida mental pela pulsão (FREUD, 1974f, p.143).

Nesse mesmo artigo, Freud nos remete à discussão feita acerca da diferença

entre a pulsão e o representante ideativo, por meio do qual tomamos conhecimento da

pulsão.

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Freud declara que a origem da pulsão advém sempre de uma fonte somática, ele

nos diz que o estudo da fonte das pulsões está fora do campo da psicologia.

(...) estudo das fontes dos instintos está fora do âmbito da psicologia (FREUD,

1974f, p.143-144).

Ao definir a fonte da pulsão no corpo, podemos entender claramente o eco

biológico encontrado na formulação psicanalítica. Freud queria criar uma psicologia que

fizesse parte do viés das ciências naturais, portanto, ele queria representar os

processos psíquicos como estados quantitativamente determinados.

6.4 Eros e Thanatos: Pulsão de Vida e Pulsão de Morte

De acordo com Garcia-Roza (2005) a pulsão de vida seria o principio regulador

nas quais as pulsões se ligam como mantenedoras da própria vida, ou aos

representantes autoconservadores do organismo, por outro lado sob esse substrato

material considerado o corpo, o organismo tende a um estado de equilíbrio natural, e a

esse estado de osmose natural na qual as pulsões se ligam, assim Freud passa a

nomear de Pulsões de Morte, em outras palavras a esse estado natural inorgânico.

Se neste momento imobilizarmos o fluxo de seu pensamento, a pulsão de morte

aparecerá, filosoficamente, como ser subsistente, enquanto que para Eros ficará

reservado um papel acidental. É neste ponto que se insere sua famosa afirmação de

que as pulsões de autoconservação, guardiãs da vida, são também dispostos à morte,

o que significa que todo ser almeja morrer, porém à sua própria maneira.

Segundo Zimerman (1999, p. 120-121) Freud permanecendo fiel a essa

dualidade inicial que diferencia substancialmente as pulsões do ego e as sexuais, de

fato, cede lugar a uma nova dualidade, pulsões de vida (Eros) e pulsões de morte

(Thanatos), transcorridos da mitologia grega para a contemporaneidade psicanalítica.

Freud conclui que o ego tem energia própria, independentemente da sexualidade e de

aspectos corporais. Então, pois, as pulsões de vida passariam a abranger as pulsões

sexuais e as de autopreservação de tal maneira que a libido passou a ser de aspectos

energéticos e não mais da pulsão sexual, mas sim de aspectos de pulsão de vida

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(Eros), em contra partida, porém em mesma via, todas as manifestações de morte

(Thanatos), tendem pela força de repulsão e disrupção, ou seja, pulsão de vida: tudo

relacionado à conquista, a união, ao desejo, etc e pulsão de morte: tudo relacionado à

ruptura, a destruição, etc.

Ainda para Freud na obra Além do Princípio do Prazer5, trabalho no qual

desenvolveu suas formulações sobre pulsão de vida, pulsão de morte, compulsão à

repetição, entre outros trabalhos.

Segundo Laplanche e Pontalis (1992) apontam que um dos principais motivos

que levaram à criação da noção da pulsão de morte foram os misteriosos mecanismos

da compulsão à repetição:

A tomada em consideração, nos mais diversos registros, dos fenômenos de repetição, que dificilmente se deixam reduzir à busca de uma satisfação líbidinal ou a uma simples tentativa de dominar as experiências desagradáveis. Freud vê neles o sinal do “demoníaco”, de uma força irreprimível, independente do princípio de prazer e susceptível de se lhe opor. A partir dessa noção, Freud é levado à idéia de um caráter regressivo da pulsão, idéia que, seguida sistematicamente, o leva a ver na pulsão de morte a pulsão por excelência (LAPLANCHE E PONTALIS, 1992, P. 530).

Pensadas a partir da sensibilidade, pulsão de vida, pulsão de morte apresentam

semelhanças e diferenças. Semelhança na tendência à integração no todo e diferença

na forma de realização da integração; na pulsão de vida cada elemento conserva sua

individualidade e na pulsão de morte perdem-se os limites diferenciadores das

individualidades. Essa característica que têm as pulsões de impelir o organismo para a

integração no todo, é um aspecto fundamental do que Freud chama de compulsão à

repetição. Esta expressão, inicialmente é um conceito abstraído da clínica, ganha aqui

o fórum de uma idéia diretamente vinculada à idéia de pulsão. No pensamento

freudiano, a totalidade é a condição originária; a pulsão ao perseguir o todo estaria

buscando recuperar/ repetir um estado mais primitivo; por isto mesmo, Freud considera

as pulsões conservadoras. Lembrando em reler a descrição inicial de pulsão de vida,

dificilmente a consideraremos conservadora.

5 Ver FREUD, Sigmund. Além do princípio de prazer (1920-1922). In: SALOMÃO, J. (trad). Obras Psicológicas Completas. v. XVIII. Rio de Janeiro: Imago, 1974g.

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Porém torna-se importante assinalar o lado não conflitivo e não opositor das

pulsões de vida e pulsões de morte, e sim na complementaridade entre os agentes

reguladores e dos mecanismos das forças pulsionais sobre si.

Sendo a pulsão de vida compreendida como já acima mencionado pelos autores

como os mecanismos instalados que passam a regular o homem, estes recursos

tendem a uma direção, tem como primazia a seu estado inorgânico natural, ou seja, ao

desejo da morte, Eros e Thanatos.

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A escolha da abordagem mitológica justifica-se pelo fato de que, em pesquisa,

encontramos na cosmologia grega, uma das primeiras formulações e significado do

amor e/ou vida, por meio do mito de Eros e de morte e/ou destruição, por meio do mito

de Thanatos e suas diversas repercussões na Psicanálise, sendo vida e morte no

sujeito como experiência nuclear, ativa no cotidiano de ser-no-mundo e de caráter

trans-histórico.

Utilizando-nos dos mitos para tornar mais claros os diferentes caminhos

científicos concebidos para explicar a participação de Eros e Thanatos no

desenvolvimento e formação da psique individual e coletiva, sendo que, por meio do

mito de Eros e Thanatos, entendendo os elementos que nos referenciam como sujeitos.

Compreendendo os mecanismos que humanizam as relações, na medida em que abre

espaço de existência para o outro junto a si, assim como para o outro que nos chega e

nos constitui, as matizes que derivam o homem para o mito, assim como a vida e a

morte, o psíquico e o físico, encontramos nos pares articuláveis as bases que alicerçam

e perpassam as realidades. Assim também se dá num olhar dialógico entre a mitologia

grega e a psicanálise freudiana.

Eros ou pulsão de vida seriam células germinais, e se a pulsão de vida contida

agora nas células germinais busca recuperar a totalidade mais primitiva, então pulsão

de vida e pulsão de morte são duas idéias intimamente.

Assim, Freud engloba em uma só, a morte e a vida, o animado e o inanimado, o

cosmogônico, o biológico e o psicológico. Pulsão de vida e pulsão de morte se revelam

como idéias nômades subsistentes, podendo pois sustentar pequenas fábulas, versões

modernas de mitos ancestrais de completude/incompletude: quando somos muitos

jovens esperamos encontrar no par amoroso o nosso complemento, “a outra metade da

laranja”.

De decepção em decepção, aprendemos não existir, na vida real, este encaixe

perfeito; o desejo, porém, permanece em nossa fantasia inconsciente. Continuamos

procurando no outro a tranqüilidade, o relaxamento, a igualdade e encontramos a

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diferença, o estimulante, procuramos a paz, o nirvana, a morte e encontramos o

estímulo, o conflito, os desencontros, a vida.

É preciso porém ultrapassar o plano do fenômeno para alcançar, através da

ideação, um mais fundamental entranhamento das pulsões de vida com as pulsões de

morte; é o que Freud nos possibilita fornecendo-nos instrumentos para darmos um

sentido mais abrangente aos acontecimentos do cotidiano.

Pulsão de vida, pulsão de morte seriam duas faces de uma moeda em constante

rodopio, sem que jamais pudéssemos distinguir uma da outra.

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8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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