UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS PROGRAMA DE …
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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS
PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM LETRAS ARTES
MESTRADO PROFISSIONAL EM LETRAS ARTES
MARLON JORGE SILVA DE AZEVEDO
MAPEAMENTO E CONTRIBUICcedilOtildeES LINGUIacuteSTICAS DO PROFESSOR SURDO
AOS IacuteNDIOS SURDOS DA ETNIA SATEREacute-MAWEacute NA MICRORREGIAtildeO DE
PARINTINS
MANAUS ndash AM
2015
MARLON JORGE SILVA DE AZEVEDO
MAPEAMENTO E CONTRIBUICcedilOtildeES LINGUIacuteSTICAS DO PROFESSOR SURDO
AOS IacuteNDIOS SURDOS DA ETNIA SATEREacute-MAWEacute NA MICRORREGIAtildeO DE
PARINTINS
Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Letras
Artes para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre
em Letras opccedilatildeo Etnolinguiacutestica
Indiacutegena Universidade do Estado
Estadual do Amazonas-UEA Programa
de Poacutes Graduaccedilatildeo em Letras Artes
Orientador Prof Dr Valteir Martins
MANAUS ndash AM
2015
Catalogaccedilatildeo na fonte Elaboraccedilatildeo Ana Castelo CRB11ordf -314
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS ndash wwwueaedubr
Av Leonardo Malcher 1728 ndash Ed Professor Samuel Benchimol
Pccedila XIV de Janeiro CEP 69010-170 Manaus - Am
A994M Azevedo Marlon Jorge Silva de
Mapeamento e contribuiccedilotildees linguiacutesticas do professor surdo aos iacutendios surdos da etnia Satereacute-Maweacute na microrregiatildeo de Parintins Marlon Jorge Silva de Azevedo ndash Manaus UEA 2015
115fls il 30cm
Dissertaccedilatildeo de Mestrado e Produto apresentada ao Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo em Letras e Artes da Universidade do Estado do Amazonas como requisito para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em Letras e Artes
Produto Minidicionaacuterio Triliacutengue indiacutegena Saterecirc-Maweacute em Libras e Liacutengua Portuguesa
Orientador Prof Dr Valteir Martins
1Linguiacutestica 2Liacutengua de Sinais 3 Satereacute-Maweacute 4 Dicionaacuterio I Orientador Prof Dr Valteir Martins IITiacutetulo
CDU 81rsquo3744
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS
PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM LETRAS ARTES
MESTRADO PROFISSIONAL EM LETRAS ARTES
DEDICATOacuteRIA
Aos meus familiares em especial a minha matildee Idalina
Azevedo que desde o ventre proporcionou-me seu amor com
dedicaccedilatildeo e todas suas forccedilas ao meu lado em momentos tatildeo
difiacuteceis nunca deixando de acreditar no poder de Deus sobre
minha vida
A minha amada esposa Rosana Valeacuteria mulher saacutebia
e auxiliadora de todos os momentos do meu viver
Aos meus filhos Caroline Camila e Benjamim Jorge
pelo amor que sempre me deram pela compreensatildeo de
minhas ausecircncias durante a trajetoacuteria de minha pesquisa
AGRADECIMENTOS
A Deus em primeiro lugar que planejou a minha vida quando eu ainda nem existia e
me libertou no momento que recorri a Ele E me fez acreditar que o impossiacutevel soacute existe
quando natildeo temos feacute
Agrave Coordenadora do Mestrado em Letras e Artes da Universidade do Estado do
Amazonas ndash UEA Professora Dra Juciane Cavalheiros pelo excelente trabalho que
desenvolve nesta instituiccedilatildeo contribuindo para a formaccedilatildeo de novos profissionais na
educaccedilatildeo do nosso paiacutes
Ao meu orientador Dr Valteir Martins Professor do Mestrado em Letras e Artes
com sua saacutebia experiecircncia de ensino acreditou que atraveacutes deste trabalho pudeacutessemos levar
contribuiccedilotildees linguiacutesticas no que tange agrave Liacutengua de Sinais dos indiacutegenas surdos Satereacute-
Maweacute habitantes da microrregiatildeo de Parintins
Aos meus professores do Mestrado em Letras e Artes Dra Silvana Martins Dr
Mauricio Mattos Dr Maacutercio e Dra Luciana Paacutescoa Dra Gleidys Maia Dr Camilo Ramos
pelas preciosas contribuiccedilotildees agrave minha pesquisa
Aos professores indiacutegenas Jacob de Souza Jocimar Alencar e Josiel Santos por me
introduzir nas comunidades indiacutegenas Satereacute-Maweacute pelas contribuiccedilotildees na traduccedilatildeo das
palavras da liacutengua portuguesa para a liacutengua Satereacute-Maweacute
Aos meus colegas do mestrado em Letras e Artes pelo companheirismo e dedicaccedilatildeo
no dia a dia
Agrave professora Elizandra de Lima Silva Bastos pela ajuda nas correccedilotildees textuais da
Liacutengua Portuguesa
Agraves instituiccedilotildees especiacuteficas que de alguma forma contribuiacuteram para concretizar esta
pesquisa
MANAUS
Escola Estadual Augusto Carneiro dos Santos
Centro de Atendimento ao surdo ndash CAS
A Igreja Tabernaacuteculo Batista Pastor Paulo Hatcher
PARINTINS
Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio ndash FUNAI
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE
Coordenadora Regional de Educaccedilatildeo de Parintins - CREP
Universidade Estadual do Amazonas ndash CESP
Casa da Sauacutede Indiacutegena
Casa do Iacutendio de Parintins
Escola Aacuteudio Comunicaccedilatildeo Pe Paulo Manna
Diocese de Parintins Pe Henrique Uggeacute
Escola Estadual Brandatildeo de Amorim
Escola Estadual Joatildeo Bosco Ramos de Lima
MAUEacuteS
Secretaria de Estado de Educaccedilatildeo
Secretaria de Educaccedilatildeo Municipal
Casa do estudante indiacutegena Sr Jusivan
Tuxaua da Comunidade de Santa Maria Sr Helito Barbosa
Sr Maxiliano Batista Barros
BARREIRINHA
Secretaria de Educaccedilatildeo Municipal - SEMED
Secretaria de Estado de Educaccedilatildeo
Coordenaccedilatildeo Municipal de Educaccedilatildeo Indiacutegena Sr Santino Lopes
Coordenador da Escola Profa Rosa Cabral Sr Dulcemar F dos Santos
Professora Indiacutegena Satereacute-Maweacute Maria Inez
NHAMUNDAacute
Casa de Sauacutede Indiacutegena - DSEI
Secretaria de Estadual de Educaccedilatildeo
BOA VISTA DO RAMOS
Secretaria de Estado e Educaccedilatildeo
Escola Estadual Princesa Izabel
Comunidade Satereacute-Maweacute
Professora Erly Tereza R Goacutees
URUCARAacute
Poacutelo Base de Urucaraacute ndash DSEI
Distrito Sanitaacuterio Especial Indiacutegena
Lider Indiacutegena Etnia Hexkaryana Caiacutenatilde Mohso
SraMaacuterlucia Kutasa
Enfermeiro SrJonas Pontes
SraDalva H Farias Cantalixto de Melo
SrLuiz Cantalixto de Melo
SAtildeO SEBASTIAtildeO DO UATUMAtilde
Poacutelo Base de Urucaraacute ndash DSEI
Lider Indiacutegena Etnia Hexkaryana Caiacutenatilde Mohso
EPIacuteGRAFE
Matildeos
corpo em movimento
captar e entender
Teu querer teu dizer
Sorrisos laacutegrimas
sentimentos e emoccedilotildees
Libras eacute amor eacute paixatildeo eacute liacutengua
(Marlon Jorge)
RESUMO
Esta pesquisa apresenta o resultado do mapeamento de iacutendios surdos nas comunidades
indiacutegenas Satereacute-Maweacute na microrregiatildeo de Parintins Partindo do levantamento buscou-se
identificar de que forma os iacutendios surdos estabeleciam a comunicaccedilatildeo com seus pares na sua
comunidade Para isso foi utilizado o procedimento metodoloacutegico por meio de entrevistas
abertas com as lideranccedilas indiacutegenas os familiares os professores e gestores escolares e
outros membros das comunidades assim como do proacuteprio iacutendio surdo O processo de anaacutelise
estabelecido para este estudo consistiu no enfoque de natureza linguiacutestica do leacutexico
(vocabulaacuterio) o qual foi registrado por meio de viacutedeos fotos e gravaccedilotildees A partir dos dados
iniciou-se a elaboraccedilatildeo de um minidicionaacuterio triliacutengue nas liacutenguas Satereacute-Maweacuteliacutengua de
sinais portuguecircs escrito a fim de facilitar a comunicaccedilatildeo principalmente no contexto da
comunidade educacional escolar entre os professores e os alunos iacutendios surdos Esta
contribuiccedilatildeo linguiacutestica portanto possibilitou uma nova percepccedilatildeo no processo histoacuterico da
diversidade linguiacutestica para valorizar e respeitar natildeo soacute uma liacutengua a liacutengua oficial do paiacutes
(Portuguecircs) mas tambeacutem a liacutengua natural do povo surdo (Libras) e a liacutengua indiacutegena do povo
Satereacute-Maweacute
Palavras chaves
1Linguiacutestica 2Liacutengua de sinais 3Satereacute-Maweacute 4 Dicionaacuterio
ABSTRACT
This research presents the results of the mapping deaf Indians in indigenous
communities Satereacute-Maweacute in the region of Parintins Starting from the survey we sought to
identify how the deaf Indians established communication with peers in their community For
this methodological procedure through open interviews with indigenous leaders family
members teachers and school administrators and other community members were used as
well as the Indian himself deaf The review process established for this study consisted of
focus linguistic lexicon (vocabulary) which was recorded through videos photos and
recordings From the data we initiated the development of a trilingual Mini Dictionary in
languages Satereacute-Maweacute sign language written Portuguese in order to facilitate
communication especially in the context of school learning community among teachers and
students deaf Indians This linguistic contribution therefore provided a new insight in the
historical process of linguistic diversity to value and respect not only one language the
official language (Portuguese) but also the natural language of deaf people (Libras) and the
indigenous language the people Satereacute-Maweacute
Key Words 1Linguiacutestica 2Liacutengua signal 3Satereacute-Maweacute 4Dictionary
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 13
1 CONSIDERACcedilOtildeES DOS ESTUDOS LINGUIacuteSTICOS DA LIacuteNGUA
BRASILEIRA DE SINAIS
17
11 Liacutengua de Sinais como Liacutengua Natural 20
12 Liacutengua Brasileira de Sinais 22
13 Liacutenguas de Sinais Indiacutegenas pesquisadas no Brasil 26
131 Liacutengua de Sinais Urubu-Kaapor 28
132 Liacutengua de Sinais Emergentes 29
1321 Realidade do Contexto educacional escolar do indiacutegena surdo 31
2 HISTOacuteRIA DO POVO INDIacuteGENA SATEREacute-MAWEacute CULTURA E
LIacuteNGUA
34
21 Breve Relato Histoacuterico 35
22 Classificaccedilatildeo da Liacutengua Satereacute-Maweacute 36
221 Contexto educacional escolar entre os Satereacute-Maweacute 38
3 METODOLOGIA IMPLEMENTADA NA PESQUISA 42
31 Aacuterea e localidade da pesquisa 42
32 Estrateacutegias gerais para a realizaccedilatildeo da coleta de dados 43
33 Procedimentos da coleta de dados 43
34 Articulaccedilatildeo local 44
35 Abordagem ao objeto da pesquisa 44
4 MAPEAMENTO DOS INDIOS SURDOS DA COMUNIDADE SATEREacute-
-MAWEacute NAS MICRORREGIOtildeES DE PARINTINS E SUA REALIDADE
EDUCACIONAL ESCOLAR
45
41 Mapeamento da existecircncia dos iacutendios surdos na microrregiatildeo de Parintins 46
411 Histoacuterico de Parintins 46
412 Histoacuterico de Barreirinha 52
413 Histoacuterico de Maueacutes 53
414 Histoacuterico de Boa Vista do Ramos 55
415 Histoacuterico de Nhamundaacute 56
42 Realidade linguiacutestica e educacional dos iacutendios surdos encontrados na etnia
Satereacute-Maweacute
59
43 Inventaacuterio de gestos da linguagem caseira dos surdos Satereacute-Maweacute 66
431 Os sinais caseiros dos indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute 66
432 Municiacutepio de Parintins 66
4321 O primeiro surdo 67
4322 O segundo surdo 67
4323 O terceiro surdo 68
44 O indiacutegena surdo da comunidade de Ponta Alegre do Municiacutepio de Barreirinha 70
45 Os indiacutegenas surdos do Municiacutepio de Maueacutes 73
451 O primeiro surdo da Comunidade de Santa Maria 75
452 O segundo surdo da Comunidade de Santa Maria 79
5 ICONICIDADE E ARBITRARIEDADE NA CRIACcedilAtildeO DOS SINAIS
CASEIROS
83
6 INTERVENCcedilAtildeO E CONTRIBUICcedilAtildeO LINGUIacuteSTICA DO PROFESSOR
SURDO
90
61 Libras e Liacutengua Satereacute-Maweacute intercacircmbio de construccedilatildeo sociocultural-
linguiacutestico
94
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 97
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 99
ANEXOS
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 Croqui da aacuterea e localidade da pesquisa
FIGURA 2 Sinais caseiros utilizado pela crianccedila de 5 anos
FIGURA 3 Sinais caseiros utilizados pelo aluno da comunidade de Ponta Alegre
Barreirinha
FIGURA 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa
Maria (30 sinais coletados)
FIGURA 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo idoso na comunidade de Santa Maria
FIGURA 6 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos que se refere agrave
arbitrariedade
FIGURA 7 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos aos quais se referem a
iconicidade
FIGURA 8 Caracteriacutesticas da imagem em Liacutengua de Sinais Satereacute-Maweacute dos objetos
aos quais se referem agrave iconicidade
FIGURA 9 Encontro da crianccedila surda Satereacute-Maweacute com o professor surdo
FIGURA 10 Contato com aluno Satereacute-Maweacute surdo no ambiente escolar
FIGURA 11 Contato com o aluno surdo Satereacute-Maweacute na Escola Estadual Brandatildeo de
Amorim
FIGURA 12 Em viagem para aacuterea indiacutegena no Rio Marau
FIGURA 13 Apresentaccedilatildeo do projeto de pesquisa agraves lideranccedilas indiacutegenas na
comunidade
FIGURA 14 Desenvolvimento de oficina de Libras com professores indiacutegenas
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Mapeamento da existecircncia de iacutendios surdos nas respectivas comunidades
indiacutegenas ou zona urbana da microrregiatildeo de Parintins
Tabela 2 11 Sinais caseiros utilizados pela crianccedila indiacutegena surda de 5 anos e seus
familiares
Tabela 3 13 Sinais caseiros coletados e utilizados pelo aluno da comunidade de
Ponta Alegre
Tabela 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa
Maria
Tabela 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais antigo residente isolado na
comunidade de Santa Maria no Rio Marau ( 18 sinais coletados)
56
66
69
73
77
13
INTRODUCcedilAtildeO
Todo cidadatildeo tem o direito de participar na vida poliacutetica social e econocircmica de um
paiacutes Neste contexto inclui-se o cidadatildeo surdo Infelizmente a histoacuteria relata que no passado
os sujeitos surdos1 eram colocados agraves margens da sociedade em todos seus aspectos social
poliacutetico econocircmico cultural linguiacutestico e educacional
Entretanto ao longo da histoacuteria os surdos com a participaccedilatildeo de ouvintes na luta
incessante pelos seus direitos muitas conquistas foram alcanccediladas Entre estas estaacute o direito
de ter sua proacutepria liacutengua a Liacutengua Brasileira de Sinais-LIBRAS A Lei nordm 10436 de 2002 a
qual a reconhece como sistema linguiacutestico de natureza visual-motora com estrutura
gramatical proacutepria constituindo-se um sistema linguiacutestico de transmissatildeo de ideias e fatos
oriundos da comunidade de pessoas surdas do Brasil Conforme Saacute (2006) no Brasil as
comunidades urbanas usam a ldquoliacutengua de sinais brasileirardquo ou simplesmente ldquoliacutengua de sinaisrdquo
Vale ressaltar que a Liacutengua de Sinais segundo Strobel (2008) eacute um aspecto
fundamental da cultura surda2 parte do artefato cultural linguiacutestico
3 do povo surdo e constitui
1 Na aacuterea de pesquisa vinculada a perspectiva socioantropoloacutegica existe uma clara diferenciaccedilatildeo entre a opccedilatildeo
de escrever surdo com letra minuacutescula ou maiuacutescula conforme explica Andreis-Witkoski (2011) ldquoapesar de
nas uacuteltimas deacutecadas ter sido estabelecido uma distinccedilatildeo entre a expressatildeo ldquoSurdordquo com letra maiuacutescula para
identificar uma categoria cultural e ldquosurdordquo com minuacutescula em referecircncia a deficiecircncia auditiva nesta Tese natildeo
se utiliza este tipo de marcaccedilatildeo Compartilha-se da concepccedilatildeo exposta por Owen Wrigley (1996 p53) quando
adverte que esta diferenciaccedilatildeo constitui-se em ldquoum dualismo riacutegido-bom Surdo mau surdo ndash que pouco faz para
ajudar os indiviacuteduos em suas vidas diaacuterias [sem] ajudar a clarear um alcance maior de estrateacutegias colocadas pelos
indiviacuteduos lidando com a exclusatildeo e as muitas faces da opressatildeo em suas rotinas Em termos simples a
dicotomia de bdquoSs‟ estaacute tatildeo cruelmente composta que embora inicialmente seja uacutetil ela agora serve para silenciar
o alcance total das experiecircncias dos sSurdosrdquo (2011 p13) Logo opta-se nesta dissertaccedilatildeo o uso da expressatildeo
ldquosurdordquo (minuacutescula) que refere-se aos ldquosurdordquo enquanto pessoas que pela impossibilidades formam uma
minoria diferente com caracteriacutesticas linguiacutesticas cognitivas culturais e comunitaacuterias especiacuteficas (SAacute 2006
p107) 2 Cultura Surda ldquoeacute o jeito de o surdo entender o mundo e de modificaacute-lo a fim de se tornaacute-lo acessiacutevel e habitaacutevel
ajustando-os com as suas percepccedilotildees visuais que contribuem para a definiccedilatildeo das identidades surdas e das
ldquoalmasrdquo das comunidades surdas Isto significa que abrange a liacutengua as ideacuteias as crenccedilas os costumes e os
haacutebitos de povordquo (STROBEL2008 p 24) 3Conforme Strobel (2008 p37) o que seriam artefatos culturais linguiacutesticos Ao referirmos ldquoartefatordquo
pensamos habitualmente no significado de objetos ou materiais produzidos pelos grupos culturais Realmente de
fato eacute uma forma material de expressar uma determinada cultura poreacutem tambeacutem podem incluir ldquotudo o que se
vecirc e senterdquo quando se estaacute em contato com a cultura de uma comunidade a exemplo vestuaacuterios tradiccedilotildees
crenccedilas valores e normas etc Ou seja no campo dos Estudos Culturais o conceito de ldquoartefatosrdquo natildeo se referem
apenas a materialismo culturais como tambeacutem naquilo que na cultura constitui produccedilotildees do sujeito que tem seu
proacuteprio modo de ser ver entender e transformar o mundo Logo um dos artefatos culturais que ilustram a
cultura do povo surdo eacute o linguiacutestico a liacutengua de sinais que eacute um aspecto fundamental da cultura surda sendo
uma das principais marcas da identidade surda
14
uma das principais marcas da identidade do ser surdo Incluem-se tambeacutem os ldquosinais
emergentesrdquo ou ldquosinais caseirosrdquo dos sujeitos surdos isolados de comunidades surdas no caso
dos surdos das zonas rurais e dos surdos iacutendios Estes surdos embora natildeo pertenccedilam agraves
mesmas comunidades se identificam com o povo surdo4 pois compartilham as mesmas
peculiaridades constroem sua formaccedilatildeo de mundo por meio de artefato cultural visual5
independentemente do grau linguiacutestico que possuem os quais podem ser os gestos caseiros
denominados tambeacutem como sinais emergentes Nesta perspectiva teoacuterica soacutecioantropoloacutegica
enfoca-se como o objeto da pesquisa o sujeito surdo indiacutegena ou seja o iacutendio surdo
Antes de prosseguir com a abordagem mencionada faz-se necessaacuterio destacar que
assim como o povo surdo o povo indiacutegena tambeacutem traccedilou diversas lutas na trajetoacuteria para
reconhecimento dos seus direitos O reconhecimento dos direitos dos povos indiacutegenas no
mundo contemporacircneo avanccedilou muito em relaccedilatildeo haacute algumas deacutecadas passadas De acordo
com Lucinda (apud Saacute 2006) em consenso geral nos debates da Comissatildeo Educaccedilatildeo
Cultura e Desporto que antecedem a elaboraccedilatildeo do texto da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica
Federativa do Brasil de 1988 tanto a liacutengua de sinais como as liacutenguas indiacutegenas deveriam ser
consideradas no texto da Constituiccedilatildeo como liacutenguas maternas Assim como resultado o
Referencial Curricular Nacional para Escolas Indiacutegenas (1998 p31) declara que ldquoA
Constituiccedilatildeo Federal aleacutem de perceber o iacutendio como pessoa com direitos e deveres como
qualquer outro cidadatildeo brasileiro o reconhece como membro de uma comunidade e de um
grupo isto eacute como membro de uma coletividade que eacute titular de direitos coletivos e
especiaisrdquo Ou seja reconhece para os iacutendios o direito agrave praacutetica de suas formas culturais
proacuteprias E no tiacutetulo VIII ldquoDa Ordem Socialrdquo conteacutem um capiacutetulo denominado ldquoDos Iacutendiosrdquo
onde se diz que ldquosatildeo reconhecidos aos iacutendios a sua organizaccedilatildeo social costumes liacutenguas
crenccedilas e tradiccedilotildees []rdquo (ibid p31)
Em meio a essa diversidade linguiacutestica que caracteriza o Brasil como sendo um paiacutes
pluriliacutengue estatildeo situados os ldquosurdos brasileirosrdquo que tecircm sua proacutepria liacutengua reconhecida
oficialmente a Liacutengua de Sinais Logo existem tambeacutem ldquoiacutendios surdosrdquo da etnia Satereacute-
4Quando referimos ldquopovo surdordquo estamos falando ldquode sujeitos surdos que natildeo habitam no mesmo local mas
que estatildeo ligados por uma origem por um coacutedigo de eacutetico de formaccedilatildeo visual independente do grau de evoluccedilatildeo
linguiacutestica tais como a liacutengua de sinais a cultura surda e quaisquer outros laccedilosrdquo (ibid p30) 5Perlin e Miranda (2003) complementam ldquoExperiecircncia visual significa a utilizaccedilatildeo visual em (substituiccedilatildeo total
agrave audiccedilatildeo) como meio de comunicaccedilatildeo Desta experiecircncia visual surge a cultura surda representada pela liacutengua
de sinais pelo modo diferente de ser de se expressar de conhecer o mundo de entrar nas artes no
conhecimento cientiacutefico e acadecircmicordquo (apud STROBEL 2008 p39)
15
Maweacute Qual sua forma de se comunicar Existe uma ldquoLiacutengua de Sinaisrdquo especifica do iacutendio
surdo
Diante das questotildees levantadas surgiu entatildeo agrave necessidade de realizar uma pesquisa
no campo da linguiacutestica na perspectiva dos estudos surdos6 voltado especificamente para o
iacutendio surdo da etnia Satereacute-Maweacute Foram traccedilados os seguintes objetivos i) mapear os iacutendios
surdos na microrregiatildeo de Parintins ii) identificar de que forma o iacutendio surdo estabelece a
comunicaccedilatildeo com sua comunidade especificamente no acircmbito educacional ou se utilizam
liacutenguas de sinais da comunidade local iii) registrar a forma de comunicaccedilatildeo no dia a dia do
iacutendio surdo nas comunidades indiacutegenas a partir dos estudos linguiacutesticos da Liacutengua de Sinais
dos grupos existentes e sua relaccedilatildeo com a comunidade local iv) promover o intercacircmbio entre
a Liacutengua de Sinais dos iacutendios surdos mapeados da etnia Satereacute-Maweacute e a LIBRAS da
comunidade surda do Municiacutepio de Parintins - Amazonas
Este trabalho conteacutem a seguinte divisatildeo primeiro capiacutetulo - apresenta consideraccedilotildees
linguiacutesticas fundamentais aos estudos surdos onde explicita o reconhecimento da Liacutengua de
Sinais como elemento cultural linguiacutestico do povo surdo abordando tambeacutem a oficializaccedilatildeo
da Liacutengua Brasileira de Sinais e as Liacutenguas Indiacutegenas pesquisadas no Brasil como a realidade
do contexto escolar linguiacutestico na comunidade indiacutegena segundo capiacutetulo - relata a histoacuteria
do povo indiacutegena Satereacute-Maweacute sua principal expressatildeo cultural sua liacutengua e seu respectivo
contexto educacional escolar terceiro capiacutetulo - apresenta os procedimentos metodoloacutegicos
utilizados na operacionalizaccedilatildeo da pesquisa e o capiacutetulo quatro - apresenta a anaacutelise do
resultado do Mapeamento dos iacutendios surdos da etnia Satereacute-Maweacute na microrregiatildeo de
Parintins Neste satildeo tambeacutem apresentadas as relaccedilotildees socioculturais-linguiacutesticas de iacutendios
surdos Satereacute-Maweacute com as contribuiccedilotildees linguiacutesticas do professor surdo aos Iacutendios surdos na
comunidade Satereacute-Maweacute estabelecendo assim as relaccedilotildees culturais na construccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo linguiacutestica LIBRAS e Liacutengua Satereacute-Maweacute como um intercacircmbio de construccedilatildeo
sociocultural
Desse modo a pesquisa tem como premissa baacutesica primeiramente mapear os iacutendios
surdos da etnia Satereacute-Maweacute e assim promover um intercacircmbio oferecendo contribuiccedilotildees
linguiacutesticas fundamentadas na pesquisa do leacutexico (vocabulaacuterio) da etnia referida com a Libras
(Liacutengua Brasileira de Sinais) e a Liacutengua Portuguesa por meio da elaboraccedilatildeo de um
6 Conforme Skliar eacute o campo de pesquisa em educaccedilatildeo onde as identidades a liacutenguas a histoacuteria a cultura da
comunidade surda satildeo focalizados e entendidos a partir da diferenccedila a partir do seu reconhecimento poliacutetico
(2001p29)
16
minidicionaacuterio triliacutengue Assim espera-se contribuir para a iniciaccedilatildeo dos indiacutegenas surdos da
etnia Satereacute-Maweacute na Liacutengua Brasileira de Sinais dando a eles um dos direitos universais do
ser humano que eacute direito a uma liacutengua Tambeacutem deseja-se contribuir para a iniciaccedilatildeo dos
indiacutegenas surdos da etnia Satereacute-Maweacute na Liacutengua Brasileira de Sinais dando a eles um dos
direitos universais do ser humano que eacute direito a uma liacutengua proacutepria
17
1 CONSIDERACcedilOtildeES DOS ESTUDOS LINGUIacuteSTICOS DA LIacuteNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
A Linguiacutestica conhecida hoje como a ciecircncia que estuda a linguagem humana eacute uma
ciecircncia recente poreacutem com um saber antigo Passou a se impor como ciecircncia agrave medida que
demonstrou seu meacutetodo e seu objeto de estudo Eacute definida como estudo cientiacutefico que visa
descrever ou explicar a linguagem verbal humana (ORLANDI 1999)
A Linguiacutestica diferencia-se da gramaacutetica tradicional normativa na medida que natildeo
tem como objetivo ditar regras de correccedilatildeo para uso da linguagem Seu interesse eacute a liacutengua
como mateacuteria de reflexatildeo (QUADROS e KARNOPP 2004) Segundo as pesquisas nesta
aacuterea Vandresen (1988 apud QUADROS 2007 p 83) tem-se ldquoa linguiacutestica contrastiva como
uma subaacuterea da linguiacutestica geral interessada em apontar as similaridades e diferenccedilas
estruturais entre a liacutengua materna (de um grupo de alunos) e uma liacutengua estrangeirardquo
Na taxonomia de similaridades e contrastes entre as liacutenguas existe uma seacuterie de
regularidades como haacute similaridades comportamentais que natildeo precisam ser explicitadas
porque constituem a base comum das liacutenguas naturais e o compartilhamento dessas
similaridades poderaacute servir como base para inferecircncias quanto agraves formas da liacutengua estrangeira
e quanto agraves diferenccedilas por serem sistemaacuteticas podem admitir tratamento inferencial e
heuriacutestico (KATO 1988 apud QUADROS 2007)
Segundo Nascimento (2009) a vitalidade da liacutengua depende de sua utilizaccedilatildeo efetiva
tanto em escala nacional quanto em escala mundial Quanto mais uma liacutengua eacute utilizada mais
ela eacute viva e inversamente quanto menos eacute utilizada mais ela eacute ameaccedilada de extinccedilatildeo Assim
sendo eacute o uso social da liacutengua que determina seu grau de revitalizaccedilatildeo
Por essas razotildees a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Linguiacutesticos (BARCELONA
1996 p 3) tem como ponto de partida
[] as comunidades linguiacutesticas e natildeo os Estados e inscreve-se no quadro do
reforccedilo das instituiccedilotildees internacionais capazes de garantir um desenvolvimento
duradouro e equitativo para toda a humanidade e tem como finalidade favorecer um
quadro de organizaccedilatildeo poliacutetica da diversidade linguiacutestica baseado no respeito na
convivecircncia e nos benefiacutecios reciacuteprocos
Em seu TITULO PREacuteVIO tem como conceitos
18
Artigo 1ordm
1 Esta Declaraccedilatildeo entende por comunidade linguiacutestica toda a sociedade humana
que radicada historicamente num determinado espaccedilo territorial reconhecido ou
natildeo se identifica como povo e desenvolveu uma liacutengua comum como meio de
comunicaccedilatildeo natural e de coesatildeo cultural entre os seus membros A denominaccedilatildeo
liacutengua proacutepria de um territoacuterio refere-se ao idioma da comunidade historicamente
estabelecida neste espaccedilo [grifo nosso]
2 Esta Declaraccedilatildeo parte do princiacutepio de que os direitos linguiacutesticos satildeo
simultaneamente individuais e colectivos e adapta como referecircncia da plenitude dos
direitos linguiacutesticos o caso de uma comunidade linguiacutestica histoacuterica no respectivo
espaccedilo territorial entendendo-se este natildeo apenas como a aacuterea geograacutefica onde esta
comunidade vive mas tambeacutem como um espaccedilo social e funcional indispensaacutevel ao
pleno desenvolvimento da liacutengua Eacute com base nesta premissa que se podem
estabelecer em termos de uma progressatildeo ou continuidade os direitos que
correspondem aos grupos linguiacutesticos mencionados no ponto 5 deste artigo e os das
pessoas que vivem fora do territoacuterio da sua comunidade []
Em referecircncia ao Artigo 3ordm
- o direito ao ensino da proacutepria liacutengua e da proacutepria cultura
- o direito a dispor de serviccedilos culturais
- o direito a uma presenccedila equitativa da liacutengua e da cultura do grupo nos meios de
comunicaccedilatildeo
- o direito a serem atendidos na sua liacutengua nos organismos oficiais e nas relaccedilotildees
socioeconomicas []
Em referecircncia ao Artigo 5ordm
Esta Declaraccedilatildeo baseia-se no princiacutepio de que os direitos de todas as comunidades
linguiacutesticas satildeo iguais e independentes do seu estatuto juriacutedico ou poliacutetico como
liacutenguas oficiais regionais ou minoritaacuterias Designaccedilotildees tais como liacutengua regional ou
minoritaacuteria natildeo satildeo usadas neste texto porque apesar de em certos casos o
reconhecimento como liacutengua minoritaacuteria ou regional poder facilitar o exerciacutecio de
determinados direitos a utilizaccedilatildeo destes e doutros adjetivos serve frequentemente
para restringir os direitos de uma comunidade linguiacutestica []
Em referecircncia ao Artigo 23ordm
1 O ensino deve contribuir para fomentar a capacidade de auto-expressatildeo
linguiacutestica e cultural da comunidade linguiacutestica do territoacuterio onde eacute
ministrado[grifo nosso]
2 O ensino deve contribuir para a manutenccedilatildeo e o desenvolvimento da liacutengua falada
pela comunidade linguiacutestica do territoacuterio onde eacute ministrado
3 O ensino deve estar sempre ao serviccedilo da diversidade linguiacutestica e cultural e das
relaccedilotildees harmoniosas entre as diferentes comunidades linguiacutesticas do mundo inteiro
4 No quadro dos princiacutepios anteriores todos tecircm direito a aprender qualquer liacutengua
Em referecircncia aos Artigos 26ordm a 28ordm Artigo 26ordm
Todas as comunidades linguiacutesticas tecircm direito a um ensino que permita a todos os
seus membros adquirirem o perfeito conhecimento da sua proacutepria liacutengua com as
diversas capacidades relativas a todos os domiacutenios de uso da liacutengua habituais bem
como o melhor conhecimento possiacutevel de qualquer outra liacutengua que desejem
aprender
Artigo 27ordm
Todas as comunidades linguiacutesticas tecircm direito a um ensino que permita aos seus
membros o conhecimento das liacutenguas ligadas agrave sua proacutepria tradiccedilatildeo cultural tais
como as liacutenguas literaacuterias ou sagradas usadas antigamente como liacutenguas habituais
da sua comunidade
Artigo 28ordm
Todas as comunidades linguiacutesticas tecircm direito a um ensino que permita aos seus
membros adquirirem um conhecimento profundo do seu patrimocircnio cultural (histoacute-
ria e geografia literatura e outras manifestaccedilotildees da proacutepria cultura) assim como o
melhor conhecimento possiacutevel de qualquer outra cultura que desejem conhecer
(BARCELONA 1996 p 4 a 14)
19
Assim nas Disposiccedilotildees Finais no Plenaacuterio da Associaccedilatildeo Internacional para o
Desenvolvimento da Comunicaccedilatildeo Intercultural recomenda agraves Naccedilotildees Unidas que tomem as
medidas necessaacuterias agrave adopccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de uma Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos
Linguiacutesticos considerando a Convenccedilatildeo nuacutemero 169 da Organizaccedilatildeo Internacional do
Trabalho de 26 de Junho de 1989 relativa aos povos indiacutegenas em paiacuteses independentes que
a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Colectivos dos Povos realizada em Maio de 1990 em
Barcelona declara que todos os povos tecircm direito a exprimir e a desenvolver a sua cultura a
sua liacutengua e as suas normas de organizaccedilatildeo e para o fazerem a dotarem-se de estruturas
poliacuteticas educacionais de comunicaccedilatildeo e de administraccedilatildeo puacuteblica proacuteprias em quadros
poliacuteticos diferentes Considerando tambeacutem a Declaraccedilatildeo Final da Assembleia Geral da
Federaccedilatildeo Internacional de Professores de Liacutenguas Vivas aprovada em Peacutecs (Hungria) em 16
de Agosto de 1991 recomenda-se tambeacutem que os direitos linguiacutesticos sejam consagrados
direitos fundamentais
Neste contexto Nascimento (2009 p 25) pontua
Como princiacutepio eacutetico qualquer poliacutetica de liacutenguas deveraacute trabalhar a unidade e a
diversidade Natildeo se trata de poacutelos de contradiccedilatildeo mas de eixos de transiccedilatildeo A
unidade eacute uma razatildeo do Estado e a diversidade ou variedade eacute a mateacuteria linguiacutestica
proacutepria da comunidade pois reflete a liacutengua em uso ou seja as linguagens verbais
por meio das quais os indiviacuteduos se comunicam A unidade eacute resguardada pelo
padratildeo oficializado em um modelo de gramaacutetica e a variedade se faz representar nas
diversas gramaacuteticas praacuteticas e pragmaacuteticas de um Estado linguiacutestico
Quadros e Karnopp (2004) ainda explicam que a linguiacutestica parte de pressupostos
baacutesicos que determinam as investigaccedilotildees Sendo um dos mais importantes eacute de que a
linguagem eacute restringida por determinados princiacutepios ou seja ldquoregrasrdquo que fazem parte do
conhecimento humano das liacutenguas (falada ou sinalizada) da formaccedilatildeo de palavras da
construccedilatildeo das sentenccedilas e da construccedilatildeo dos textos A partir deste pressuposto da
universalidade de tais princiacutepios as investigaccedilotildees linguiacutesticas objetivam estudar os aspectos
especiacuteficos de cada liacutengua os quais revelam as caracteriacutesticas da linguagem humana A
exemplo o inglecircs o portuguecircs a Liacutengua de Sinais Americana a Liacutengua Brasileira de Sinais
e outras Embora apresentem diferenccedilas entre as liacutenguas agraves estruturas satildeo comuns que por
sua vez interessam agraves investigaccedilotildees linguiacutesticas na medida em que eacute a ciecircncia que objetiva
por explicar a natureza da linguagem humana
A partir dessas concepccedilotildees entendemos que os seres humanos estabelecem relaccedilotildees
do mais simples ao mais complexo com o outro por meio de gestos olhares e contato seja
por meio de sons Tudo isso caracteriza a linguagem humana Observa-se que a ldquolinguagemrdquo
20
eacute um termo usado pelas pessoas com referecircncia agrave linguagem em geral ou seja em uma
variedade de sentidos para denominar sistemas de comunicaccedilatildeo linguagem musical
linguagem corporal linguagem entre animais etc
No que concerne agrave definiccedilatildeo do termo liacutengua Quadros e Karnopp (2004) encontraram
uma seacuterie de definiccedilotildees de liacutengua que apontam para sua diferenciaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao termo
linguagem Estas fornecem subsiacutedios para a indicaccedilatildeo de propriedades consideradas pela
linguiacutestica essenciais agraves liacutenguas naturais sendo que uma delas eacute dada por Saussure que
afirma
Liacutengua natildeo se confunde com a linguagem eacute somente uma parte determinada
essencial dela indubitavelmente Eacute ao mesmo tempo um produto social da
faculdade de linguagem e um conjunto de convenccedilotildees necessaacuterias adotadas pelo
corpo social para permitir o exerciacutecio dessa faculdade nos indiviacuteduos (QUADROS e
KARNOPP 2004 p24)
Portanto entende-se como liacutengua natural
uma liacutengua que foi criada e eacute utilizada por uma comunidade especiacutefica de usuaacuterios
transmitida de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo e que muda ndash tanto estrutural como
funcionalmente ndash com o passar do tempo Ora qualquer liacutengua pode ser considerada
natural independentemente da modalidade que utilize (SAacute 2006 p 134)
Assim a liacutengua natural eacute tratada enquanto sistema linguiacutestico altamente desenvolvido
apresentando as caracteriacutesticas citadas por Quadros e Karnopp (2004 p 25-28) de
flexibilidade versatilidade arbitrariedade descontinuidade criatividade produtividade dupla
articulaccedilatildeo padratildeo de organizaccedilatildeo dos elementos e dependecircncia estrutural Logo conclui-se
que tais caracteriacutesticas satildeo especiacuteficas da faculdade da linguagem humana
11 Liacutengua de Sinais como Liacutengua Natural
A Liacutengua de Sinais eacute uma liacutengua natural criada pelas comunidades surdas Segundo
Skliar (1998 p26) ldquoTodas as crianccedilas surdas podem adquirir a Liacutengua de Sinais desde que
participem das interaccedilotildees quotidianas com a comunidade surda como acontece com qualquer
outra crianccedila na aquisiccedilatildeo de uma liacutengua naturalrdquo Skliar esclarece que liacutengua ldquonaturalrdquo natildeo
se refere a uma espontaneidade bioloacutegica mas como liacutengua que foi criada e eacute utilizada por
uma comunidade especiacutefica de usuaacuterios que transmite de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo e que muda com
o passar do tempo tanto estruturalmente como funcionalmente (IDEM p27)
As Liacutenguas de Sinais satildeo diferentes em cada comunidade com caracteriacutesticas das
liacutenguas orais com estruturas gramaticais proacuteprias que as distingue dos demais sistemas de
21
comunicaccedilatildeo Para Quadros e Karnopp (2004 p 30) ldquoAs liacutenguas de sinais satildeo portanto
consideradas pela linguiacutestica como liacutenguas naturais ou como um sistema linguiacutestico legiacutetimo e
natildeo como um problema do surdo ou como uma patologia da linguagemrdquo7
Para o reconhecimento das Liacutenguas de Sinais como liacutenguas naturais Ramos (2013 p
8) destaca o conceito ldquonaturalrdquo em oposiccedilatildeo a ldquocoacutedigo e linguagemrdquo e a avaliaccedilatildeo apresenta
as semelhanccedilas existentes entre as mesmas e as liacutenguas orais Sendo que uma dessas
semelhanccedilas na linha saussuriana eacute a ldquoexistecircncia de unidades miacutenimas formadoras de
unidades complexas pode ser observada em todas as Liacutenguas de Sinais espalhadas pelo
mundo possuidoras dos niacuteveis fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico e pragmaacuteticordquo
As liacutenguas de sinais apresentam ldquoregistros diversos (por categoria profissional status social
idade niacutevel escolar etc) aleacutem de dialetos regionais tambeacutem referendam as semelhanccedilas com
as liacutenguas oraisrdquo (IDEM p 8)
Estudos aprofundados sobre a Liacutengua de Sinais iniciaram a partir da deacutecada de 1950
com o estudioso da linguiacutestica o americano William Stokoe o qual percebeu e provou que a
Liacutengua de Sinais
[] satisfazia todos os criteacuterios linguiacutesticos de uma liacutengua genuiacutena no leacutexico na
sintaxe na capacidade de gerar um nuacutemero infinito de proposiccedilotildees [] Stokoe
convenceu-se de que os sinais natildeo eram figuras e sim complexos siacutembolos abstratos
com uma estrutura interna complexa Foi entatildeo o primeiro a buscar uma estrutura a
analisar os sinais dissecaacute-los procurar as partes constituintes Desde o comeccedilo ele
tentou demonstrar que cada sinal possuiacutea pelo menos trecircs partes independentes ndash
7 Sobre a surdez temos duas abordagens segundo explica Skliar a cliacutenico terapecircutica e a soacutecio-antropoloacutegica
A visatildeo soacutecioantropoloacutegica descreve a surdez em termos contraacuterios agraves noccedilotildees de patologia e de deficiecircncia
(1998 p10) Durante o seacuteculo passado construi-se o imaginaacuterio de que o surdo era um deficiente que
necessitava falar Segundo Casarin (1996 p2) ldquoNesse discurso deacuteficit doenccedila patologia anomalia implicam
apenas a possibilidade de sequumlecircncia diagnoacutestico tratamento-cura caracteriacutesticas da abordagem meacutedicardquo [] Tal
concepccedilatildeo influecircnciou outras aacutereas do conhecimento inclusive na educaccedilatildeo sobre a forma de perceber o surdo
Cesarian ainda explica que a partir daiacute foram assimilando o imaginaacuterio de que a surdez era uma doenccedila e que o
surdo por natildeo falar era um deficiente que precisava ser curado construindo entre as aacutereas de tratamento um
modelo terapecircutico para o deficiente auditivo Apoacutes as influecircncias da medicina na educaccedilatildeo dos surdos o
modelo cliniacuteco-terapecircutico passa a impor propostas educativas do oralismo dando continuidade agora na aacuterea
educacional ao tratamento do deficiente o mais cedo possivel na escola a fim que ele se enquadre ao modelo
normal modelo ouvinte Logo as escolas apresentavam como instituiccedilotildees de reeducaccedilatildeo da fala desenvolvendo
atividades pedagoacutegicas que tinham como objetivo o treinamento e exerciacutecios com fins a trazer o surdo o mais
possiacutevel do ldquonormalrdquo Perde-se assim muito tempo no processo de ensino aprendizado do sujeito surdo levando
a um fracasso escolar Surge entatildeo a nova concepccedilatildeo nomeada como soacutecio-antropoloacutegica de surdez totalmente
oposta agrave anterior Essa concepccedilatildeo parte das capacidades do sujeito quando considera a liacutengua de sinais como
melhor garantia para o desenvolvimento normal do surdo Esta nova concepccedilatildeo traz a valorizaccedilatildeo da lingua de
sinais e como consequecircncia o reconhecimento das especificidade culturais das comunidades surdas Estudos
feitos por linguiacutesticas observaram o desempenho escolar de pessoas surdas que se comunicam desde a infacircncia
por meio da Liacutengua de Sinais e que demostraram ganhos significativos em divesas aacutereas do desenvolvimento
humano Deixando claro a necessidade do uso da Liacutengua de Sinais como liacutengua natural da pessoa surda (1996
p 3)
22
localizaccedilatildeo configuraccedilatildeo das matildeos e movimento executado (anaacuteloga aos fonemas
da fala) ndash e que cada parte apresentava um nuacutemero limitado de combinaccedilotildees []
(SACKS 1998 p 88-89)
Segundo Ramos (2013 p 9) em 1988 o venezuelano Saacutenchez fez pesquisas sobre as
liacutenguas de sinais e os resultados apresentou ao educador francecircs Jean Foucambert No debate
sobre suas pesquisas ldquosurgiu agrave proposta de um tipo de educaccedilatildeo que privilegiasse a liacutengua
natural da comunidade surda - a Liacutengua de Sinais Venezuelana e a escrita da liacutengua da
comunidade oral o Espanholrdquo Um dos primeiros princiacutepios que lanccedilou a base para a que a
liacutengua de sinais fosse reconhecida como liacutengua natural foi descrita por Foucambert (RAMOS
2013 p 10)
Natildeo soacute os surdos mas toda e qualquer crianccedila pode aprender a liacutengua escrita sem
basear-se na oral porque satildeo independentes Em segundo lugar chegou-se agrave
afirmaccedilatildeo de que a liacutengua de sinais eacute uma liacutengua natural e que os surdos satildeo uma
comunidade linguiacutestica minoritaacuteria com direito a desenvolver sua cultura proacutepria
dentro da cultura majoritaacuteria O fato de a Liacutengua de Sinais cumprir uma seacuterie de
requisitos que todas as liacutenguas naturais possuem - espanhol portuguecircs alematildeo
inglecircs polonecircs a criatividade eacute um deles - pode-se sempre dizer alguma coisa
nova Outro requisito eacute a combinaccedilatildeo de partiacuteculas natildeo significativas que usadas de
certa maneira criam significaccedilatildeo [] Com 30 40 configuraccedilotildees da matildeo podem-se
transmitir milhares de sinais significativos como os fonemas da liacutengua oral A
liacutengua de sinais que como as liacutenguas nacionais eacute diferente em cada paiacutes e ateacute em
regiotildees dos paiacuteses possui aleacutem do mais uma gramaacutetica toda proacutepria organizada e
complexa e nos permite transmitir qualquer coisa [] Com ela pode-se transmitir
criar e recriar o que se quiser poesia romance filosofia E pode-se ateacute formular
ideacuteias com duplo sentido ou mentir que eacute outra caracteriacutestica das liacutenguas naturais
Por meio das pesquisas e estudos diversos paiacuteses passaram a se dedicar no campo da
linguiacutestica da Liacutengua de Sinais eacute que criou-se a possibilidade do povo surdo lutar pelo seu
reconhecimento enquanto liacutengua na medida em que pode contar com estudos que provam
cientificamente de que as Liacutenguas de Sinais satildeo de fato liacutenguas e natildeo um conjunto de
miacutemica
12 Liacutengua Brasileira de Sinais
O ser humano se expressa atraveacutes da liacutengua e a partir dela estabelece sua cultura
valores e padrotildees sociais Para os surdos brasileiros a Libras estabelece essas condiccedilotildees pois
considera a modalidade visual-espacial e associa caracteriacutesticas sociolinguiacutesticas as funccedilotildees
pragmaacuteticas e discursivas semelhantes agraves liacutenguas orais poreacutem a Liacutengua de Sinais por muito
tempo natildeo foi percebida enquanto estrutura linguiacutestica
23
A LIBRAS como toda Liacutengua de Sinais eacute uma liacutengua de modalidade gestual-visual
uma vez que faz uso para a comunicaccedilatildeo de movimentos gestuais e expressotildees faciais
percebidos pela visatildeo Neste sentido a Revista Feneis Ramos (2002 apud RAMOS 2013 p
7-8) ldquoa Liacutengua Portuguesa eacute uma liacutengua de modalidade oral-auditiva por utilizar como canal
ou meio de comunicaccedilatildeo sons articulados que satildeo percebidos pelos ouvidosrdquo Suas diferenccedilas
estatildeo na utilizaccedilatildeo de canais diferentes e nas estruturas gramaticais de cada liacutengua
Para Campello (2009) historicamente os primeiros estudos da Liacutengua de Sinais
apareceram no seacuteculo XIV exatamente nos anos de 1644 pelo inglecircs Bulwer J B com o livro
de Liacutengua de Sinais Inglesa Chirologia8 on the natural language of the hand com os estudos
destacando as figuras das matildeos e seus significados Menciona tambeacutem que era recompensa
de natureza que os surdos devam se comunicar atraveacutes dos gestos e acreditava firmemente na
ldquonecessidade que opera a Natureza dos homens que nascem Surdos-Mudos que podem
discutir mostrar sinalizar retoricamente por sinaisrdquo (p 13)
Em 1960 W C Stokoe pesquisador inglecircs da Gallaudet University fez uma pesquisa
entre as gramaacuteticas utilizadas pelos surdos em sala de aula e fora dela e os resultados foram
publicados no artigo Sign Language Structure na outline of the visual communication system
of the American Deaf na revista Studies in Linguistics Occassional Papers 8 (CAMPELLO
2009) E eacute a partir destes estudos que Stokoe afirma que a Liacutengua de Sinais eacute liacutengua
Stokoe (1960) ldquopercebeu e comprovou que a liacutengua de sinais atendia a todos os
criteacuterios linguiacutesticos de uma liacutengua genuiacutena no leacutexico na sintaxe e na capacidade de
gerar uma quantidade infinita de setenccedilasrdquo Stokoe observou que os sinais natildeo eram
imagens mas siacutembolos abstratos complexos com uma complexa estrutura interior
[] Comprovou inicialmente inicialmente que cada sinal apresentava pelo menos
trecircs partes independentes (em analogia com os fonemas da fala) ndash a localizaccedilatildeo a
configuraccedilatildeo de matildeos e o movimento ndash e que cada parte possuiacutea um nuacutemero
limitado de combinaccedilotildees [] (QUADROS E KARNOPP 2004 p 30-31)
Os estudos do linguiacutesta representou o primeiro passo para outras pesquisas em relaccedilatildeo
a Liacutengua de Sinais Em diversos paiacuteses pesquisas foram realizadas O Brasil foi um deles
No Brasil no final dos anos de 1970 a proposta da educaccedilatildeo biliacutengue reconhece a
Libras como liacutengua natural portanto deve ser ensinada como primeira liacutengua desde o iniacutecio
da escolarizaccedilatildeo da crianccedila surda e a comunidade surda reconhece o portuguecircs como a liacutengua
oficial do Brasil e deve ser ensinada como segunda liacutengua na forma oral ou escrita
(SLOMSKI 2010)
8 Bulwer (1644) em seu livro esclarece que a quirologia eacute um dicionaacuterio de gestos manuais e quirema eacute um
manual para o uso efetivo do gesto de falar em puacuteblico
24
Segundo Quadros (2009 p144) no entanto a Liacutengua de Sinais comeccedilou a ser
investigada efetivamente nas deacutecadas de 80 e 90 por Ferreira Brito (1986 1995) Felipe
(1992 1993) Quadros (1995 1999) e a aquisiccedilatildeo da Liacutengua Brasileira de Sinais nos anos 90
(Karnopp (1994 1999 Quadros (1995 1997)
Na deacutecada de 1980 a 1990 tem-se um panorama mundial para a abordagem biliacutengue
na educaccedilatildeo de surdos Slomski (2010 p 61) destaca que em 1994 Lucinda Ferreira Brito
passa a utilizar a abreviaccedilatildeo de LIBRAS (Liacutengua Brasileira de Sinais) criada pela comunidade
surda Consequentemente pesquisas estudos e lutas da comunidade surda contribuiacuteram para a
instauraccedilatildeo de uma poliacutetica linguiacutestica da Liacutengua Brasileira de Sinais A que reconhece o
estatuto linguiacutestico legal por meio da Lei 10436 de 24042002
Art 1ordm Eacute reconhecida como meio legal de comunicaccedilatildeo e expressatildeo a Liacutengua
Brasileira de Sinais ndash Libras e outros recursos de expressatildeo e por ela associados
Paraacutegrafo uacutenico Entende-se como Liacutengua Brasileira de Sinais ndash Libras a forma e
comunicaccedilatildeo e expressatildeo em que o sistema linguiacutestico de natureza visual-motora
com estrutura gramatical proacutepria constituem um sistema linguiacutestico de transmissatildeo
de ideias e fatos oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil
[](BRASIL 2007 p 2)
A Liacutengua de Sinais como jaacute mencionado eacute uma liacutengua natural composta por de todos
os componentes agraves liacutenguas orais como gramaacutetica semacircntica pragmaacutetica sintaxe e outros
elementos preenchendo os requisitos cientiacuteficos para ser considerado um sistema linguiacutestico
Conforme Felipe e Monteiro (2004 p23) as Liacutenguas de Sinais satildeo compostas por
signos linguiacutesticos denominados bdquosinais‟ encontrados nos seguintes paracircmetros
Configuraccedilatildeo das Matildeos Ponto de Articulaccedilatildeo Movimento Orientaccedilatildeo Expressatildeo Facial eou
Corporal Estes paracircmetros satildeo requisitos necessaacuterios para que sejam constituiacutedos os sinais
Portanto a Liacutengua de Sinais eacute considerada como liacutengua natural do sujeito surdo
como sua primeira liacutengua-L1 Jaacute a liacutengua majoritaacuteria de um paiacutes no caso do Brasil eacute a
Liacutengua Portuguesa como L2 Partindo do pressuposto que a Liacutengua de Sinais eacute a primeira
liacutengua do surdo a aquisiccedilatildeo da primeira liacutengua pelas crianccedilas surdas deve se dar de forma
natural no contato com surdos sinalizados pertencentes agrave comunidade surda A Liacutengua
Portuguesa por sua vez eacute aprendida de forma sistemaacutetica ou seja precisa ser ensinada por
meio de teacutecnicas especiacuteficas de ensino de segunda liacutengua
A partir desta compreensatildeo as crianccedilas surdas precisam ter a oportunidade do contato
com seus pares Crianccedilas surdas que natildeo tecircm um conviacutevio com surdos por terem nascido
dentro de familias ouvintes que usam a liacutengua oral precisam que os pais familiares
25
oportunizem a elas o mundo essencialmente visual-espacial para conhecer a Liacutengua de
Sinais Sobre a questatildeo Quadros (2005 p30) afirma
As crianccedilas surdas e seus pais ouvintes poderiam compartilhar o bilinguismo liacutengua
portuguesa e liacutengua de sinais brasileira e ir aleacutem descobrindo os vieses das culturas
e identidade que se entrecruzam [] Assim as crianccedilas surdas precisam ter acesso
agrave liacutengua de sinais com sinalizantes fluentes desta liacutengua muito cedo Estes
sinalizantes satildeo pessoas que normalmente natildeo fazem parte do ciacuterculo de pessoas
que a crianccedila usualmente teria contato Os pais teratildeo que conhecer comunidade
surda que usa esta liacutengua
Nesta perspectiva Souza (apud QUADROS 2005) menciona que se no iniacutecio do seu
desenvolvimento a crianccedila surda tiver a chance de contar com pais dispostos a aprenderem a
liacutengua de sinais com adultos surdos colegas surdos e conversarem ldquosinalizandordquo a
dimensatildeo do seu processo educacional seraacute outra A aquisiccedilatildeo da liacutengua seraacute transferida para
o espaccedilo escolar ldquoO fato de passar a ter contato com a liacutengua portuguesa com significado
trazendo seus conceitos adquiridos na sua proacutepria liacutengua possibilitaraacute um processo muito
mais significativordquo (ibid p33)
Por isso eacute de importacircncia fundamental a crianccedila surda esteja em contato linguiacutestico
com a liacutengua de sinais o mais cedo possiacutevel seja com a comunidade surda ou com seus pais
ouvintes que adquiriram a Liacutengua de Sinais como L2 Estes fatores iratildeo influenciar a crianccedila
estabelecer a sua identidade e cultura surda naturalmente Neste sentido Fantinel (1999 p2)
menciona que ldquoo uso da Liacutengua de Sinais eacute uma condiccedilatildeo fundamental na construccedilatildeo da
identidade dessas pessoas pois eacute o fator que os aproxima e reuacutene em grupos permitindo-lhes
expressarem-se construindo significados para a vidardquo
A Liacutengua de Sinais portanto eacute um aspecto fundamental da cultura surda Para tanto
Strobel (2008 p44) ainda enfatiza que para que o sujeito surdo possa ter acesso agraves
informaccedilotildees e conhecimentos aleacutem de construir sua identidade eacute fundamental criar uma
ligaccedilatildeo com o povo surdo que usa a sua liacutengua em comum pois a Liacutengua de Sinais eacute uma das
principais marcas da identidade de um povo surdo uma particularidade da cultura surda uma
forma de comunicaccedilatildeo que capta as experiecircncias visuais dos sujeitos surdos E somente a
partir do uso desta liacutengua que a crianccedila conseguiraacute seu pleno desenvolvimento cognitivo
psicoloacutegico emocional e cultural proporcionando assim a aquisiccedilatildeo do conhecimento
universal
Desta forma ao refletirmos sobre a pessoa surda na construccedilatildeo de sua identidade e
cultura surda entende-se que o contato linguiacutestico eacute essencial Logo o que dizer das pessoas
26
surdas que vivem isoladas de comunidades surdas que natildeo tem esse contato com Liacutengua de
Sinais Sobre esta realidade Strobel esclarece que
No entanto incluem tambeacutem os gestos denominados ldquosinais emergentesrdquo ou ldquosinais
caseirosrdquo dos sujeitos surdos de zonas rurais ou sujeitos isolados de comunidades
surdas que procuram entender o mundo atraveacutes dos experimentos visuais e que
procuram comunicar apontando e criando sinais [] (ibidem p44)
Ainda sobre a questatildeo Vilhalva (2012 p 30) ressalta que ldquo[] Os sinais emergentes
tambeacutem conhecidos como sinais caseiros satildeo essenciais quando vistos como comunicaccedilatildeo
natural usada em um espaccedilo familiar ou social []rdquo Nesse caso podemos referir ao iacutendio
surdo que vive isolado do contato com a comunidade surda Este surdo tambeacutem se identifica
com o povo surdo apesar de natildeo ter contato e de natildeo pertencer agraves mesmas comunidades
surdas na medida em que de acordo com Strobel (2008) eles compartilham as mesmas
peculiaridades ou seja constroem sua formaccedilatildeo de mundo atraveacutes de artefato cultural visual
13 Liacutenguas de Sinais Indiacutegenas pesquisadas no Brasil
Os registros da existecircncia de iacutendios surdos segundo Vilhalva (2008) apontam para o
Estatuto do Iacutendio - Lei nordm 6001 de 19121973 que norteou as relaccedilotildees do Estado brasileiro
com as populaccedilotildees indiacutegenas ateacute a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 em seu Paraacutegrafo
uacutenico do Art 1ordm assegura
Aos iacutendios e agraves comunidades indiacutegenas se estende a proteccedilatildeo das leis do Paiacutes nos
mesmos termos em que se aplicam aos demais brasileiros resguardados os usos
costumes e tradiccedilotildees indiacutegenas bem como as condiccedilotildees peculiares reconhecidas
nesta Lei
Neste sentido no Brasil a liacutengua oficial eacute a Liacutengua Portuguesa Fossile (2013 p 4)
afirma que ldquoo paiacutes conta atualmente segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatiacutestica (IBGE) com aproximadamente 210 liacutenguas sendo 190 delas indiacutegenasrdquo Essas
liacutenguas indiacutegenas satildeo consideradas como liacutenguas minoritaacuterias sem importacircncia em relaccedilatildeo ao
portuguecircs No entanto algumas possuem mais prestiacutegio em relaccedilatildeo agraves outras
Em relaccedilatildeo ao conhecimento da liacutengua e da diversidade na dinacircmica soacutecio-cultural das
populaccedilotildees indiacutegenas deveria haver prioridades para estudos no campo linguiacutestico para
acadecircmicos e pesquisadores indios De fato o conhecimento das liacutenguas faladas e no
contexto tem-se essa diversidade para iacutendios surdos deveria ser compartilhada com a
27
sociedade indiacutegena de forma que esta possam participar ativamente na elaboraccedilatildeo de poliacuteticas
e programas que respondam agraves suas necessidades seus direitos considerando-se em particular
suas culturas e liacutenguas
Segundo Vilhalva (2008) pesquisas no campo da linguiacutestica e de poliacuteticas linguiacutesticas
avanccedilaram consideravelmente no Brasil Tendo poreacutem ainda uma grande necessidade de
maiores pesquisas principalmente referente a diferentes Liacutenguas de Sinais pertencentes a
diferentes comunidades como as dos povos indiacutegenas Neste sentido a autora argumenta
A Liacutengua de Sinais Indiacutegenas praticadas pelos iacutendios surdos existentes em diversas
comunidades indiacutegenas do paiacutes traz consigo caracteriacutesticas culturais e linguiacutesticas
variadas bdquoInfelizmente raramente satildeo registradas como satildeo registradas outras liacutenguas
brasileiras de diferentes comunidades com suas especificidades culturais e eacutetnicas ‟
(VILHALVA 2008 p 29)
Sobre a questatildeo Nonaka coloca que
desde 1960 quando se iniciaram os estudos linguiacutesticos e antropoloacutegicos em
referecircncia agraves Liacutenguas de Sinais a maior parte das investigaccedilotildees tem incidido sobre
as Liacutenguas de Sinais nacionais ou padratildeo usadas pelos surdos de diferentes paiacuteses
com escassa atenccedilatildeo agraves Liacutenguas de Sinais usadas pelos indiacutegenas em sua
comunicaccedilatildeo original (apud VILHALVA 2012 p 30)
Por isso Vilhalva defende a comunicaccedilatildeo dos iacutendios surdos como objeto de estudo da
linguiacutestica afirmando que
[] Sabemos tambeacutem que a Libras estaacute presente nas terras indiacutegenas
apontando que a influecircncia aconteceraacute Sendo assim consideramos quanto o leacutexico
das liacutenguas estaacute no processo de mudanccedilas atraveacutes do neologismo espontacircneo ou o
empreacutestimo linguiacutestico de outras liacutenguas (ibid p37)
Observa-se que os estudos sobre a Libras nas terras indiacutegenas comeccedilaram na deacutecada
de 1980 com pesquisas da brasileira Lucinda Ferreira Brito sobre a Liacutengua Brasileira de
Sinais Segundo Slomski (2010) Lucinda Ferreira Brito iniciou sua pesquisa atraveacutes de um
padratildeo internacional de abreviaccedilatildeo das Liacutenguas de Sinais adotando a sigla LSCB ndash Liacutengua de
Sinais dos Centros Urbanos Brasileiros para diferenciaacute-la da LSKB ndash Liacutengua de Sinais
Kaapor Brasileiros que eram a utilizada pelos iacutendios do Estado do Maranhatildeo
Diante do panorama exposto se faz necessaacuterio no campo da linguiacutestica dos estudos
surdos pesquisas sobre a Liacutengua de Sinais usadas pelos iacutendios surdos nas diferentes
comunidades indiacutegenas para que seja reconhecida e registrada Infelizmente somente uma
28
liacutengua indiacutegena eacute oficialmente reconhecida no Brasil a Liacutengua de Sinais Indiacutegena da
comunidade Urubu-Kaapor devido ao alto iacutendice de surdos
131 Liacutengua de Sinais Urubu-Kaapor
Os resultados do Censo 2010 (IBGE 2013) apontam para 274 liacutenguas indiacutegenas
faladas por indiviacuteduos pertencentes a 305 etnias diferentes Embora haja a necessidade de
estudos linguiacutesticos e antropoloacutegicos mais aprofundados quanto aos nuacutemeros totais de liacutengua
e etnia
Dentro desse universo a uacutenica Liacutengua de Sinais indiacutegena reconhecida conforme
referido anteriormente eacute a utilizada pela etnia indiacutegena brasileira dos Urubu-Kaapor9
chamados tambeacutem por urubus-caapores Os estudos sobre essa Liacutengua de Sinais apontam para
o iniacutecio da deacutecada de 1950
De acordo com Ribeiro (1996 apud FASSILE 2013 p 2)
Em 1950 foi descoberto no Brasil um grupo indiacutegena atraveacutes de pesquisas
antropoloacutegicas os Urubu-Kaapor na floresta Amazocircnica (Maranhatildeo) que falava
uma variaccedilatildeo da liacutengua de sinais Somente a partir da deacutecada de 1980 estudos
linguiacutesticos relacionados agrave Liacutengua de Sinais Kaapor Brasileira (LSKB) foram
aprofundados (sobre a LSKB cf KAKUMASU J KAKUMASU K 1977)
Segundo Brito (1993 apud FASSILE 2013 p 2) J Kakumasu defendeu que ldquo[] a
Liacutengua de Sinais dos Urubu-Kaapor [] [se constituiacutea como] um veiacuteculo de comunicaccedilatildeo
intratribal e natildeo como meio de transaccedilatildeo comercialrdquo Neste sentido resgata-se que
No Brasil Lucinda Brito inicia seus importantes estudos linguiacutesticos em
1982 sobre a Liacutengua de Sinais dos iacutendios Urubu-Kaapor da floresta amazocircnica
brasileira apoacutes um mecircs de convivecircncia com os mesmos documentando em filme
sua experiecircncia A ideia para a pesquisa adveio da leitura de um artigo publicado no
livro de Umiker-Sebeok (1978) de autoria de J Kakumasu Urubu Sign Language
No estudo a Liacutengua de Sinais dos Urubu-Kaapor se diferenciaria da PSL por
constituir um veiacuteculo de comunicaccedilatildeo intratribal e natildeo como meio de transaccedilatildeo
comercial Lucinda Brito poreacutem constatou que a mesma se tratava de uma legiacutetima
Liacutengua de Sinais dos surdos pelos mesmos criados
O interessante de se observar no caso dos Urubu-Kaapor eacute que os ouvintes da
aldeia falam a Liacutengua de Sinais e a liacutengua oral evidentemente enquanto que os
surdos se restringem agrave Liacutengua de Sinais Assim os ouvintes da aldeia se tornam
biliacutengues enquanto os surdos se mantecircm monoliacutengues (RAMOS 2011 p 6)
9 Disponiacutevel emlthttpwwwlibrascombrurubu-kaaporgt Acesso em 19112013
29
A Liacutengua Kaapor eacute uma liacutengua da famiacutelia Tupi-Guarani natildeo falada por outra tribo ou
povo exceto como segunda liacutengua Possuem uma liacutengua de sinais proacutepria (a Liacutengua Brasileira
de Sinais Kaapor) usada tanto pela comunidade surda do povo como tambeacutem por seus
membros natildeo surdos na comunicaccedilatildeo com os surdos
[] os Kaapor satildeo linguisticamente peculiares na Amazocircnia por terem uma
linguagem padratildeo de sinais usada para a comunicaccedilatildeo com os surdos que ateacute a
metade dos anos 80 compunham cerca de 2 da totalidade de sua populaccedilatildeo A
incidecircncia de surdez deveu-se evidentemente agrave bouba neonatal e endecircmica que foi
erradicada10
O interessante eacute que a comunidade indiacutegena desenvolveu uma forma proacutepria de
comunicaccedilatildeo por sinais que comeccedilou a ser estudada na deacutecada de 1960 pelo pesquisador
canadense James Kakumasu em (1968) e em seguida pela linguista brasileira Linguista
Lucinda Ferreira Brito ldquo[] A Liacutengua de Sinais Brasileira para diferenciaacute-la da LSKB
(Liacutengua de Sinais Kaapor Brasileira) utilizados pelos iacutendios Urubu-Kaapor no Estado do
Maranhatildeordquo (GOLDFELD 1997 p 30) A pesquisadora registrou a existecircncia da Liacutengua de
Sinais Kaapor em sua pesquisa sobre termos baacutesicos para cores em Liacutengua de Sinais
132 Liacutengua de Sinais Emergentes
Vilhalva (2012) se preocupou sobre a situaccedilatildeo linguiacutestica dos iacutendios surdos trazendo
grandes contribuiccedilotildees cientiacuteficas na aacuterea da linguiacutestica referente agraves Liacutenguas de Sinais
Indiacutegenas Sua pesquisa iniciou em 1991 com iacutendios surdos na comunidade indiacutegena de Satildeo
Marcos
O estudo dos sinais emergentes que se deseja apresentar objetiva natildeo apenas
recuperar os registros sobre as liacutenguas padratildeo mas tambeacutem e sobretudo procurar
realizar um levantamento de como se apresenta atualmente o uso desses sinais
emergentes e ateacute mesmo da histoacuteria da produccedilatildeo desses sinais para que se possa
fazer o registro cientifico sobre a situaccedilatildeo linguiacutestica dos iacutendios surdos dentro das
escolas indiacutegenas [] (VILHALVA 2012 p11a)
Souza e Segala (2009 p28) abordam que a maior parte das liacutenguas nasceu do
contato entre duas ou mais liacutenguas ou de uma liacutengua e sistemas de sinais caseiros (Liacutengua de
Sinais Primaacuteria) Observa-se que ldquosinais caseiros ou Liacutengua de Sinais Primaacuterios
correspondentes aos gestos ou construccedilatildeo simboacutelica inventadas no acircmbito familiar eacute comum
10
Disponiacutevel emlthttppibsocioambientalorgptpovokaaporgt Acesso em 19112013
30
a constituiccedilatildeo de um sistema convencional de comunicaccedilatildeo entre matildee-ouvinte e crianccedila
surdardquo
Sobre a origem dos sinais emergentes Vilhalva explica que
[] os sinais emergentes foram criados devido a uma necessidade de comunicaccedilatildeo
passando por sinais indicativos icocircnicos e arbitraacuterios A maneira como cada sinal
surge levam tempo para se entender principalmente quando os sinais satildeo criados
conforme o neologismo11
Esses novos sinais passam a fazer parte da comunicaccedilatildeo
para depois designar algo consistentemente como acontece tambeacutem agraves liacutenguas
orais-auditivas (2012 p137-138)
Desta forma a autora em sua pesquisa argumenta que os sinais emergentes
considerados em seu estudo como Liacutengua de Sinais constituem como o meio de
comunicaccedilatildeo primaacuteria dos iacutendios surdos das comunidades indiacutegenas do Mato Grosso do Sul
Partindo deste achado Rousseau jaacute mencionava em seus estudos ldquoEnsaio sobre a origem das
liacutenguasrdquo que
O uso e a necessidade ensinam a cada um a liacutengua de seu paiacutes mas o que eacute que faz
com que essa liacutengua seja a de seu proacuteprio paiacutes e natildeo a de um outro [] No
momento em que um homem foi reconhecido por um outro como um ser sensiacutevel
pensante e semelhante a ele o desejo ou a necessidade de comunicar-lhe os proacuteprios
sentimentos e os proacuteprios pensamentos fez com que procurasse os meios de fazecirc-lo
(2008 p 97)
Assim o primeiro contato do ser humano eacute com o outro da mesma espeacutecie No caso da
matildee com seu filho Conforme Sacks (1998 p 7) comenta que
[] a primeira comunicaccedilatildeo geralmente se daacute entre matildee e filho e a liacutengua eacute
adquirida emerge entre eles dois Sendo assim Os sinais emergentes tambeacutem satildeo
fruto da linguagem num processo visual usados pelos surdos indiacutegenas e seus
familiares ouvintes na interaccedilatildeo com o meio (VILHALVA 2012 p 137)
Vilhalva (2012) entatildeo percebeu a predominacircncia dos gestos caseiros criados pelos
proacuteprios surdos para interagirem com suas famiacutelias e com as pessoas que os rodeiam Ou
seja a crianccedila surda que nasce na famiacutelia de ouvinte comeccedila a criar a partir de um meio de
comunicaccedilatildeo visual usando todas as formas naturais possiacuteveis desde o apontamento ateacute os
gestos naturais O uso que destes sinais criados pelas necessidades do ambiente familiar com
o passar do tempo vatildeo se convencionando a forma de interaccedilatildeo dialoacutegica passando a
transformar-se em um meio de comunicaccedilatildeo essencial resultando assim no processo
11
Satildeo palavras criadas para designar novas situaccedilotildees novos conceitos fatos objetos etc sendo que um
neologismo soacute eacute sentido como tal durante algum tempo pois passados anos ou seacuteculos deixa de ter sentido
como tal porque a realidade que ele designa jaacute natildeo eacute nova
31
evolutivo dos sinais familiares para os sinais emergentes para transiccedilatildeo para a Liacutengua de
Sinais ou seja arbitraacuteria convencional Esse processo se daacute por meio do processo cognitivo
fundamentada na teoria de Cuxac
Construccedilatildeo do dizer a partir do processo criativo de performance gestual Iconizando
da experiecircncia perceptivo-praacutetica Rotinas de Transferecircnciandashpassagem da ilustraccedilatildeo
especifica para a categorizaccedilatildeo geneacuterica Sinais estabelecidos num grupo reduzido
categorias e generalizaccedilotildees dos sinais gestuais Nasce uma liacutengua de Sinais com
todas as propriedades de uma liacutengua (apud VILHALVA 2012 p138)
Vilhalva (2012) ainda destaca que se observarmos a Lei nordm 10436 de 24 de abril de
2002 vamos verificar que em seu artigo primeiro ldquoficam reconhecidos como meio legal de
comunicaccedilatildeo e expressatildeo a Liacutengua Brasileira de Sinais-Libras ndash e outros recursos de
expressatildeo a ela associadosrdquo Nesses bdquooutros recursos‟ podem figurar segundo compreensatildeo
da mesma os sinais emergentes produzidos nas comunidades indiacutegenas Se a Liacutengua
Brasileira de Sinais uma forma de comunicaccedilatildeo e expressatildeo cujo canal de produccedilatildeo e
recepccedilatildeo eacute de natureza visual-motora com estrutura gramatical proacutepria constituindo um
sistema linguiacutestico de transmissatildeo de ideias e fatos oriundos de comunidades de pessoas
surdas no Brasil conforme estaacute na lei eacute compreensivo dizer que nada fala sobre um padratildeo de
sinalizaccedilatildeo (p34)
Conclui-se que conforme pesquisa da autora citada os estudos dos sinais emergentes
mostraram que este eacute o ponto inicial das novas Liacutenguas de Sinais que segundo a mesma
merecem ser aprofundadas
1321 Realidade do contexto educacional escolar do indiacutegena surdo
Vilhalva (2012) destaca que o indiviacuteduo surdo soacute teraacute um sistema gestual linguiacutestico
organizado no contato do agrupamento comunitaacuterio especificamente da comunidade surda
com o contato com a Liacutengua de Sinais E isso muitas vezes acontece em geral somente no
acircmbito escolar biliacutengue onde haacute outros surdos inteacuterpretes e professores ouvintes que fazem
uso da Liacutengua de Sinais Por isso eacute essencial uma escola que respeite a diversidade linguiacutestica
como no caso desta comunidade Desta forma se faz necessaacuterio presenccedila na escola de
inteacuterpretes vindo das cidades mais proacuteximas das terras indiacutegenas de modo que
32
[] o Professor ministra as aulas em Portuguecircs e tem disciplina em Guarani
Observamos que pelo fato de os professores da pedagogia diferenciada indiacutegena
realizarem sua formaccedilatildeo em universidades locais onde o assunto em torno da surdez
e da Libras satildeo discutidos estes profissionais tecircm uma formaccedilatildeo que respeita natildeo soacute
a cultura e a liacutengua indiacutegena mas tambeacutem a cultura e a Liacutengua de Sinais
caracteriacutesticas que estatildeo presentes nas escolas indiacutegenas biliacutengues em que a liacutengua
de instruccedilatildeo eacute o Guarani-Portuguecircs(VILHALVA 2012 p 11b)
Poreacutem o que natildeo eacute o caso da escola Araporatilde mencionada por Vilhalva (2012) que teve
preferecircncia do inteacuterprete indiacutegena para a preservaccedilatildeo da cultura liacutengua e saber Foi observado
na pesquisa que os indiacutegenas surdos com vinte anos de idade em diante demonstram
seguranccedila ao sinalizar com o pesquisador surdo usando seus sinais emergentes de forma
natural Os mais novos de escolas indiacutegenas mas da mesma comunidade indiacutegena natildeo
demonstraram o uso de sinais emergentes e sim apresentaram diretamente sua comunicaccedilatildeo
em Libras Entretanto os resultados apontam que natildeo haacute como dizer se o atendimento
educacional para o iacutendio surdo estaacute acontecendo em todas as comunidades indiacutegenas ldquopois
interfere numa questatildeo de respeitar o que diz o proacuteprio plano de educaccedilatildeo sobre uma visatildeo
amplamente ligada agrave liacutengua cultura e diversidade nas escolas e terras indiacutegenasrdquo (ibid p36)
Nesta oacutetica se realmente as poliacuteticas linguiacutesticas fossem mais enfaacuteticas em suas
propostas de realizar a planificaccedilatildeo linguiacutestica incluindo a criaccedilatildeo de escolas biliacutengues e de
legislaccedilotildees especiacuteficas para as questotildees referentes agraves liacutenguas o indiviacuteduo indiacutegena surdo
poderia ter seus direitos linguiacutesticos assegurados
Neste sentido resgata-se o Referencial Curricular Nacional para Escolas Indiacutegenas
(1998) o qual menciona que
[] as tradiccedilotildees culturais os conhecimentos acumulados a educaccedilatildeo das geraccedilotildees
mais novas as crenccedilas o pensamento e a praacutetica religiosa as representaccedilotildees
simboacutelicas a organizaccedilatildeo poliacutetica os projetos de futuro enfim a reproduccedilatildeo
sociocultural das sociedades indiacutegenas satildeo na maioria dos casos manifestaccedilotildees
atraveacutes do uso de uma liacutengua Mesmo os povos indiacutegenas que satildeo hoje monoliacutengues
em liacutengua portuguesa continuam a usar a liacutengua de seus ancestrais como um siacutembolo
poderoso para onde confluem muitos de seus traccedilos identificatoacuterios construindo
assim um quadro de bilinguismo simboacutelico importante [grifo nosso]
Ou seja assim como para o surdo urbano brasileiro eacute reconhecida legalmente sua
liacutengua natural - Libras e a Liacutengua Portuguesa como segunda liacutengua -L2 para o indiacutegena surdo
deveria ser assegurado o mesmo direito para aprender esta forma de comunicaccedilatildeo ndash Liacutengua de
Sinais como primeira liacutengua e como segunda liacutengua a Liacutengua de sua etnia na modalidade
33
escrita Sendo portanto biliacutengue ou ainda triliacutengue com aquisiccedilatildeo da Liacutengua Portuguesa
tambeacutem na modalidade escrita
Nesta perspectiva observa-se que Saacute (2011 p33) afirma que tanto indiacutegenas como
surdos tecircm uma liacutengua proacutepria e uma cultura diferenciada Entatildeo porque natildeo ser reconhecida
legalmente a Liacutengua de Sinais utilizada pelos iacutendios surdos e a Liacutengua de sua comunidade
Como bem percebido por Vilhalva haacute a carecircncia de pesquisas voltadas para o registro de
liacutengua de sinais entre os iacutendios surdos brasileiros o que certamente constitui-se em um dos
fatores que favorecem a existecircncia desta lacuna na legislaccedilatildeo E que tal fato deveria ser um
despertar para pesquisadores da linguiacutestica sejam ouvintes ou surdos
34
2 A HISTOacuteRIA DO POVO INDIacuteGENA SATEREacute-MAWEacute CULTURA E LIacuteNGUA
Os povos indiacutegenas durante muito tempo foram considerados como povos sem
histoacuteria e sem uma liacutengua proacutepria Poreacutem com as muitas lutas eacutetnicas com estudos
antropoloacutegicos e com as abordagens historiograacuteficas iniciou-se uma valorizaccedilatildeo da
sociedade indiacutegena passando assim o povo indiacutegena a ser perspectivado nas suas
singularidades histoacutericas culturais e linguiacutesticas
Vale ressaltar que quando se refere a ldquoliacutenguasrdquo sabe-se que natildeo haacute apenas uma liacutengua
indiacutegena Existem muitos povos ou etnias indiacutegenas distintas As liacutenguas indiacutegenas no Brasil
se agrupam em famiacutelias linguiacutesticas ou seja famiacutelias que tecircm semelhanccedilas entre si e que satildeo
agrupadas por sua vez em troncos linguiacutesticos assim como as liacutenguas isoladas12
ou seja
liacutenguas que natildeo parecem ter parentesco com nenhuma das famiacutelias linguiacutesticas conhecidas
Segundo Rodrigues (2002) as famiacutelias indiacutegenas estatildeo agrupadas em Tronco
Linguiacutestico Tupi famiacutelia Tupi-Guarani (Akwaacutewa Amanayeacute Anambeacute Apiakaacute Araweteacute
Asurini Avaacute Guajaacute Guarani Kamayuraacute Kayabi Suryiacute Kaiwaacute) famiacutelia Munduruku
(Kuruaacuteya Mundurukuacute) Famiacutelia Tupari (Makuraacutep Tupari Wayoroacute) Famiacutelia Arikeacutem
(Karitiaacutena) Famiacutelia Juruna (Juruna) Famiacutelia Mondeacute (Aruaacute Cinta-Larga Gaviatildeo Mekeacutem
Mondeacute Suruiacute Zoroacute) Famiacutelia Ramaraacutema (Araacutera Itoqapuk) Outras Liacutenguas (Aweti
Puruboraacute Satereacute-Maweacute) entre outros troncos linguiacutesticos como Macro-Jecirc e sua diversidade
de famiacutelias existentes entre elas as liacutenguas isoladas
Um desses povos indiacutegenas foi o da etnia Satereacute-Maweacute Estes sofreram muitas
influecircncias em seu modo de vida advinda do contato com grupos natildeo indigenas que implicou
no processo de perda de muitos dos seus aspectos culturais A histoacuteria relata que o contato se
deu pela chegada dos colonizadores e posteriormente das missotildees religiosas E na atualidade
por ocupantes de terras como fazendeiros madeireiros emigrantes de outros Estados Foram
perdas irreparaacuteveis todavia como elo de resistecircncia procuraram sustentar em sua estrutura
original sua liacutengua
12
Segundo Rodrigues (2002 p93) liacutenguas isoladas refere-se as liacutenguas isoladas linguisticamente ou seja
liacutenguas que natildeo revelam parentesco geneacutetico com nenhuma outra Natildeo pertencem a nenhuma famiacutelia (ou tronco)
isto eacute constituem famiacutelias de um soacute membro
35
21 Breve Relato Histoacuterico
A histoacuteria do povo indiacutegena Satereacute-Maweacute tem sido foco de estudos dos diversos
segmentos de pesquisas como as realizadas por antropoacutelogos historiadores religiosos e
cientistas da linguagem Estes relatam a origem a liacutengua e a cultura desse povo
Uggeacute (1993 p 5) informa que ldquoOs Maueacutes descendentes das tribos indiacutegenas
denominadas no passado pelo nome de ANDIRAacute e MARAGUAacute que faz parte da aacuterea cultural
Tapajoacutes-Madeira entre a divisa dos atuais Estados do Paraacute e Amazonasrdquo O autor ainda
menciona que cronistas exploradores missionaacuterios antropoacutelogos naturalistas do passado
identificaram os Maueacutes tambeacutem com outros nomes (Maooz Mabueacute Jaquezes Manguases
Mahueacutes Mauris Maweacute Maragua e Maraguazes)
A origem do nome Satereacute-Maweacute advem dos termos Satereacute (lagarta vermelha) que eacute o
nome do clatilde dos antigos chefes e Maweacute (papagaio inteligente guerreiro e curioso) que eacute o
nome mais comum de um dos grupos tribais que conseguiram sobreviver agrave extinccedilatildeo das
numerosas tribos indiacutegenas da ilha Tupinambarana do Meacutedio Amazonas (IDEM) Cerqua13
faz referecircncia agrave primeira notiacutecia sobre o povo Satereacute-Maweacute ldquoEacute por volta de 1669 quando o
Pe Betendorf duas vezes superior provincial dos jesuiacutetas lembra a ldquovila dos Maguasesrdquo
grafia antiga de Maueacutes [] (1980 p 209)rdquo ou seja Maueacutes foi residecircncia missionaacuteria mas
natildeo permanente dos padres pois os mesmos residiam mais em Tupinambarana (rio
Amazonas) atual Parintins e visitavam Maueacutes temporariamente
A etnia Satereacute-Maweacute sofreu muitas mudanccedilas de localidades devido muitos fatores
que contribuiacuteram para o deslocamento desse povo segundo explica Lorez apud Teixeira
(2005 p21)
Devido agraves guerras com os Munduruku e Parintintim e ao contato com os
portugueses os Satereacute-Maweacute perderam grande parte de seu territoacuterio original Em
1691 os Maweacute surgem na cartografia regional com o nome de Mabueacute(mapa do
Padre Samuel Fritz) Missotildees foram localizadas para os iacutendios Magueacute denominadas
Satildeo Joatildeo (Pinhel) e Santo Inaacutecio (Boim) Posteriormente em 1835 lutando ao lado
dos Munduruku e dos Mura como tambeacutem de outras tribos indiacutegenas do rio Negro
os Satereacute-Maweacute aderiram ao movimento cabano ateacute que em 1839 o conflito foi
debelado Devido agraves epidemias agraves lutas e agraves perseguiccedilotildees aos povos indiacutegenas que
combatiam ao lado dos cabanos enormes aacutereas da Amazocircnia foram devastadas o
que provocou deslocamentos desses grupos populacionais de seus territoacuterios
ancestrais e de populaccedilatildeo Segundo relatos de viajantes desde o seacuteculo XVIII o
territoacuterio dos Satereacute-Maweacute vem sendo paulatinamente reduzido Essa reduccedilatildeo se
deu a partir das tropas de resgate que penetraram grandes aacutereas da Amazocircnia da
implantaccedilatildeo de missotildees jesuiacutetas e carmelitas ao longo dos principais rios
13
Dom Arcacircngelo Bispo Prelado de Parintins de 1980
36
amazocircnicos da ldquobusca desenfreadardquo das drogas do sertatildeo com a exploraccedilatildeo da
borracha durante o seacuteculo XIX e iniacutecio do XX e por fim da ldquoexpansatildeo econocircmica
das cidades de Maueacutes Barreirinha Parintins e Itaituba para o interior dos
municiacutepios alocando fazendas extraindo pau-rosa abrindo garimpos dominando a
economia indiacutegena atraveacutes de regatotildeesrdquo As cidades de Maueacutes Parintins e Itaituba
inclusive foram fundadas sobre restos de malocas dos Satereacute-Maweacute
Cerqua (1980 p265) destaca a localizaccedilatildeo dessa tribo delimitando que ldquoA tribo estaacute
localizada em sua maioria no Alto Andiraacute e no Marau afluente do Rio Maueacutes e sua aacuterea de
cerca de 639500 ha foi demarcada pelo Decreto nordm 76999rdquo Atualmente segundo Teixeira
(apud ALVAREZ 2009) os Satereacute-Maweacute hoje satildeo grupos de 8500 indiacutegenas dos quais 7502
moram na terra indiacutegena Andiraacute-Marau nos municiacutepios de Barreirinha Maueacutes e Parintins e
aproximadamente mil residem em aacutereas urbanas destes municiacutepios Sendo que outro grupo
vive na terra indiacutegena Coataacute-Laranjal junto ao grupo Munduruku e no municiacutepio de Borba
Uggeacute (1993) comenta que os Satereacute-Maweacute sempre tiveram vontade de manter a
proacutepria identidade tribal contudo eram carentes de apoio praacutetico para ajudaacute-los a enfrentar o
perigo do mundo moderno que tentavam ldquoinvadi-losrdquo Ou seja manipulaccedilotildees externas entre a
lideranccedila indiacutegenas dos Satereacute-Maweacute o alcoolismo a dependecircncia a violecircncia dos ldquobrancosrdquo
eram os maiores perigos para este povo Satereacute-Maweacute
Poreacutem o foco de resistecircncia manteve vivo no povo Satereacute aspectos culturais
importantes como o ritual da tucandeira O ritual eacute um marco na vida dos homens porque satildeo
chamados pela formiga (tucandeira) caso o indiacutegena natildeo atenda o chamado a formiga o
levaraacute a loucura ateacute chegar agrave morte A tucandeira eacute uma divindade muito respeitada pelos
Satereacute-Maweacute Em determinado momento da histoacuteria do povo Satereacute-Maweacute o ritual da
tucandeira chegou ao ponto de natildeo ser mais praticado em decorrecircncia da imposiccedilatildeo religiosa
mas apoacutes perceberam a grande perda cultural que isso representaria voltaram a praticaacute-lo a
recuperando como parte de sua cultura
22 Classificaccedilatildeo da liacutengua Satereacute-Maweacute
Segundo Teixeira (2005) a anaacutelise da situaccedilatildeo linguiacutestica do povo Satereacute-Maweacute
baseia-se na concepccedilatildeo defendida por antropoacutelogos e linguistas que a liacutengua se configura
como um importante instrumento da cultura e da identidade de uma populaccedilatildeo
A populaccedilatildeo indiacutegena Satereacute-Maweacute pertence vaacuterios aspectos agrave famiacutelia Linguiacutestica
Tupi Rodrigues (apud ALVAREZ 2009 p17) aborda que a liacutengua da tribo Satereacute-Maweacute eacute a
37
uacutenica liacutengua de uma famiacutelia do tronco Tupi E sua classificaccedilatildeo linguiacutestica como pertencente
ao tronco Tupi foi dada pelo etnoacutegrafo Curt Nimuendajuacute (1948)
A liacutengua Satereacute-Maweacute integra o tronco linguiacutestico Tupi Segundo o etnoacutegrafo Curt
Nimuendajuacute (1948) ela difere do Guarani-Tupinambaacute Os pronomes concordam
perfeitamente com a liacutengua Curuaya-Munduruku e a gramaacutetica ao que tudo indica
eacute tupi O vocabulaacuterio Maweacute conteacutem elementos completamente estranhos ao Tupi
mas natildeo pode ser relacionada a nenhuma outra famiacutelia linguiacutestica Desde o seacuteculo
XVIII seu repertoacuterio incorporou numerosas palavras da liacutengua geral
Os homens atualmente satildeo biliacutengues falando o Satereacute-Maweacute e o portuguecircs mas a
maioria das mulheres apesar de trecircs seacuteculos de contato com os brancos soacute fala a
liacutengua Satereacute-Maweacute (TEIXEIRA 2005 p95)
A liacutengua Satereacute-Maweacute eacute falada tradicionalmente por quase todas as comunidades haacute
mais de 300 anos entretanto foi inevitaacutevel para os indiacutegenas Satereacute-Maweacute conhecer os
haacutebitos e a liacutengua portuguesa devido agrave invasatildeo dos europeus em suas terras no seacuteculo passado
o que causou a mistura de liacutenguas e consequentemente as influecircncias dos padrotildees culturais
natildeo indiacutegenas
Os Satereacute-Maweacute foram entatildeo forccedilados a se refugiarem nas zonas urbanas e ateacute mesmo
em outros estados Outro impacto que alterou o modo de falar dos liacutederes indiacutegenas foi a
necessidade de buscar apoio logiacutestico para suas comunidades principalmente para tratar da
sauacutede de sua populaccedilatildeo que sofria de doenccedilas como malaacuteria tuberculose sarampo e outras
por eles desconhecidas que causaram muitas mortes
Desta forma com o passar dos anos a liacutengua Satereacute-Maweacute sofreu influecircncias lexicais
e fonoloacutegicas do Nheengatu na regiatildeo do Andiraacute Pesquisas realizadas recentemente por
Teixeira (2005) delimitam um perfil linguiacutestico que permite conhecer um pouco mais da
cultura linguiacutestica Satereacute-Maweacute sendo esta considerada por meio da distribuiccedilatildeo geograacutefica e
etaacuteria dos que falam e natildeo falam o idioma Satereacute-Maweacute Desta feita segundo o autor
O idioma Satereacute-Maweacute eacute mais falado na aacuterea do Marau que nas demais (Andiraacute
Uaicurapaacute e Koataacute-Laranjal) Tanto na aacuterea do Andiraacute como no Marau o idioma
materno eacute falado por praticamente todas as comunidades situadas proacuteximo agraves
cabeceira dos rios (Alto Andiraacute e Alto Marau) Para as aacutereas mais proacuteximas das
cidades os falantes atingem a quase totalidade dos moradores do Baixo Marau Jaacute
no baixo Andiraacute esse nuacutemero aumenta bastante nas duas comunidades mais
proacuteximas de Parintins e Barreirinha ou seja Ponta Alegre e Guaranatuba As aacutereas
de povoamento mais recente (Uaicurapaacute Koataacute-Laranjal e mais duas no Andiraacute) tecircm
tendecircncia a apresentar proporccedilotildees menores de falantes do idioma Satereacute-Maweacute
(ibid p95)
38
O autor esclarece que moradores em terras indiacutegenas satildeo mais falantes da Liacutengua
Satereacute-Maweacute do que os que moram proacuteximo ou dentro da aacuterea urbana A pesquisa ainda
mostra agrave necessidade de sensibilizar a comunidade indiacutegena Maweacute sobre a importacircncia da
valorizaccedilatildeo de sua liacutengua agrave recuperaccedilatildeo de suas memoacuterias histoacutericas e a reafirmaccedilatildeo de suas
identidades eacutetnicas
221 Contexto educacional escolar entre os Satereacute-Maweacute
O contexto educacional Satereacute-Maweacute tem como base o reconhecimento constitucional
fundamentado na legislaccedilatildeo em vigor segundo a qual ldquosatildeo reconhecidos aos iacutendios sua
organizaccedilatildeo social costumes liacutenguas crenccedilas e tradiccedilotildees []rdquo
Por isso fundamentos gerais da educaccedilatildeo escolar indiacutegena baseiam-se na proposta do
Referencial Curricular Nacional para Escolas Indiacutegenas (1998) que contempla
Multietnicidade pluralidade e diversidade 2 Educaccedilatildeo e conhecimentos indiacutegenas 3
Autodeterminaccedilatildeo 4 Comunidade educativa indiacutegena 5 Educaccedilatildeo intercultural
comunitaacuteria especiacutefica e diferenciada Assim
Parte do sistema nacional de educaccedilatildeo a escola indiacutegena eacute um direito que deve ser
assegurado por uma nova poliacutetica puacuteblica a ser construiacuteda atenta e respeitosa frente
ao patrimocircnio linguiacutestico cultural e intelectual dos povos indiacutegenas Esse esforccedilo
de projetar uma nova educaccedilatildeo escolar indiacutegena soacute seraacute realmente concretizado com
a participaccedilatildeo direta com os principais interessados ndash os povos indiacutegenas atraveacutes de
suas comunidades educativas [] A participaccedilatildeo da comunidade no processo
pedagoacutegico da escola fundamentalmente na definiccedilatildeo dos objetivos dos conteuacutedos
curriculares e no exerciacutecio das praacuteticas metodoloacutegicas assume papel necessaacuterio para
a efetividade de uma educaccedilatildeo especifica e diferenciada (ibid p24)
Poreacutem para que de fato seja garantida uma educaccedilatildeo diferenciada natildeo eacute suficiente
que somente os conteuacutedos sejam ensinados atraveacutes do uso das liacutenguas maternas mas se faz
necessaacuterio que se incluam os conteuacutedos curriculares propriamente indiacutegenas assim como os
modos proacuteprios de transmissatildeo deste saber Em pesquisa realizada pela revista Amazocircnia
(AMAZONAS 2000) intitulada como ldquoA silenciosa revoluccedilatildeo dos Iacutendiosrdquo o povo Satereacute-
Maweacute foi considerada um dos melhores exemplos para se falar em educaccedilatildeo indiacutegena Tal
afirmaccedilatildeo foi proferida pelo antropoacutelogo Ademir Ramos (professor da Universidade do
Estado do Amazonas) Segundo o entrevistado a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 mudou a
postura em relaccedilatildeo aos iacutendios estabelecendo um processo de educaccedilatildeo diferenciada que
39
fomenta o orgulho de aprender sua lingua tambeacutem no ambiente escolar possibilitando relatos
como o transcrito abaixo
Alunos como Dati 11 da aldeia de Molongotuba carregam com orgulho a cartilha
bdquoMoweeghap onde estatildeo registrados escritos ndash liacutengua Satereacute do tronco tupi e
desenhos de situaccedilotildees do cotidiano das aldeias falando de peixes aves aacutervores e
animais A liacutengua o menino aprendeu a falar com os pais e depois na escola onde
haacute quatro anos aprendeu a escrevecirc-la Aleacutem disso ele tem aprendido tambeacutem a
bdquoliacutengua dos brancos‟
Ainda sobre a importacircncia desta perspectiva educacional em nota o vice-presidente
da organizaccedilatildeo dos professores indiacutegenas Satereacute Gecinaldo Cabral comentou sobre a
mesma enfatizando a relevacircncia do processo educacional na vida dos iacutendios da tribo Satereacute
que por serem biliacutengues satildeo capazes de expressarem e defenderem o seu povo Portanto ao
ensinar a liacutengua nativa agraves crianccedilas promovem o resgate da cultura tradiccedilatildeo e conhecimentos
indiacutegenas Uma educaccedilatildeo diferenciada natildeo resumida na liacutengua majoritaacuteria ou seja Liacutengua
Portuguesa mas na liacutengua proacutepria das etnias E desta forma sendo respeitada a diversidade
cultural de cada povo
Nesta perspectiva Teixeira (2005) em sua pesquisa descreve que a realidade do
contexto educacional escolar do povo Satereacute-Maweacute explicando que
O quadro situacional dos Satereacute-Maweacute no que concerne agrave escolarizaccedilatildeo e agrave
escolaridade apresenta elementos que devem ser entendidos natildeo soacute como resultado
da aplicaccedilatildeo de poliacuteticas educacionais mas tambeacutem como explicitaccedilatildeo de estrateacutegias
poliacuteticas usadas pelos iacutendios na negociaccedilatildeo de visibilidade e reconhecimento no
espaccedilo puacuteblico brasileiro A busca dos Satereacute-Maweacute por escola explicitada na
forma de documentos reivindicatoacuterios enviados ao poder puacuteblico solicitando
recursos para suas escolas demonstrarem os conhecimentos escolares e a
certificaccedilatildeo que a escolaridade concede importantes instrumentos de luta no
processo histoacuterico de construccedilatildeo de sua identidade cultural e de desenvolvimento de
seus projetos sociais (ibid p103)
O autor tambeacutem evidecircncia que a escolarizaccedilatildeo ainda natildeo estaacute alcanccedilando a totalidade
dos Satereacute-Maweacute sendo assim
[] com idade compreendida entre 7 e 24 anos nem nas aacutereas urbanas onde se
verifica o maior percentual de matriacuteculas (839) nem nas terras indiacutegenas (596)
Se forem consideradas as pessoas que tecircm entre 7 e 17 anos de idade os percentuais
sobem bastante mas ainda demonstram a falta de acesso da populaccedilatildeo satereacute-maweacute
agrave escola A pior situaccedilatildeo ocorre na aacuterea indiacutegena onde aproximadamente 13 dos
indiviacuteduos dessa faixa etaacuteria estatildeo fora da escola Na aacuterea urbana o percentual dos
que estatildeo fora eacute de 8 Aparentemente o elevado percentual de pessoas entre 7 e 17
40
anos de idade que estatildeo fora da escola em aacuterea indiacutegena deveria estar relacionado
com a ausecircncia de ensino fundamental de 4ordf a 8ordf seacuterie nas aldeias
No entanto isto eacute apenas uma parte da justificativa pois de 142 pessoas dessa faixa
etaacuteria que natildeo frequentam a escola apenas 32 (225) declararam ter concluiacutedo a
quarta seacuterie do ensino fundamental ou seja poderiam estar fora da escola por falta
do ensino de 5ordf a 8a seacuterie na aacuterea indiacutegena Aleacutem disso 148 crianccedilas entre 7 e 14
anos de idade natildeo frequentam a escola significando que haacute problemas na oferta de
vagas para as crianccedilas satereacute-maweacute na aacuterea indiacutegena Dessas crianccedilas mais da
metade se concentra em apenas 14 aldeias22 das quais 4 compreendendo as
pequenas comunidades de Satildeo Luiacutes Limoal Tigre a Arumatuba no Andiraacute natildeo tecircm
nenhuma crianccedila estudando Na aldeia de Tabatinga no Andiraacute apenas uma das
cinco crianccedilas moradoras estatildeo estudando e na de Santo Antocircnio tambeacutem no
Andiraacute 12 entre 16 crianccedilas de 7 a 14 anos natildeo frequentam a escola(TEIXEIRA
2005 p 104)
Segundo o autor nas cidades de Maueacutes Parintins e Barreirinha a escola frequentada
pelos Satereacute-Maweacute natildeo se define como escola indiacutegena nem tatildeo pouco como especiacutefica ou
diferenciada Talvez seja uma realidade encontrada em todas as escolas indiacutegenas no
Amazonas O que se configura em um problema na medida em que segundo Sobrinho
(2011) a escola esta definida a partir de um modelo da ldquoescola dos brancosrdquo que certamente
altera interferindo diretamente nas questotildees culturais que fazem parte do universo desses
povos gerando assim processo de exclusatildeo O autor ainda comenta que
mesmo diante da resoluccedilatildeo nordm 112011 do Conselho Estadual de Educaccedilatildeo que traz
garantias aos indiacutegenas independentemente de onde vivam ao respeito a sua liacutengua
conhecimentos e tradiccedilotildees proacuteprias nas escolas essa lei passa completamente
despercebida (ibid p 209)
Sobre a questatildeo Teixeira (2005) menciona que nas terras indiacutegenas onde estaacute em
curso a criaccedilatildeo da escola indiacutegena com educaccedilatildeo escolar especiacutefica e diferenciada - as taxas
de escolarizaccedilatildeo deixam evidente que o poder puacuteblico tem investido somente nas seacuteries
iniciais do ensino fundamental o qual apresenta o percentual de 871 de taxa liacutequida de
escolarizaccedilatildeo ou seja natildeo haacute oferta regular para as seacuteries finais do ensino fundamental nem
de ensino meacutedio Isso sem relatar a falta de formaccedilatildeo de professores indiacutegenas entre outros
fatores conforme Franceschini apresenta
A necessidade de formaccedilatildeo especiacutefica e diferenciada de nuacutemero maior de
professores principalmente para atuar nos segmentos mais adiantados do Ensino
Fundamental a implantaccedilatildeo de mais turmas de 6ordm ao 9ordm anos e do Ensino Meacutedio na
aacuterea indiacutegena construccedilatildeo-reflexatildeo do Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico das escolas
Satereacute-Maweacute associada a uma praacutetica pedagoacutegica condizente e a construccedilatildeo de
material didaacutetico proacuteprio satildeo necessidades urgentes do povo Satereacute-Maweacute Pois
apesar da legislaccedilatildeo vigente dar aos indiacutegenas o direito de escolherem seu modelo
educacional e ensinarem sua liacutengua e etnoconhecimentos na maioria das escolas das
41
comunidades Satereacute-Maweacute o modelo educacional adotado natildeo se diferencia muito
do modelo das escolas rurais da regiatildeo sendo que a liacutengua e os etnoconhecimentos
indiacutegenas natildeo constituem de fato conhecimentos que fazem parte do programa
educacional e que satildeo trabalhados de forma sistemaacutetica na escola (2012 p5)
Portanto os resultados apresentados pelo pesquisador comprovam que as accedilotildees
governamentais para educaccedilatildeo escolar indiacutegena estatildeo distantes de cumprir na sua plenitude
preceitos constitucionais o que implica em prejuiacutezo natildeo soacute na educaccedilatildeo escolar indiacutegena
como na proacutepria cultura desse povo
42
3 METODOLOGIA IMPLEMENTADA NA PESQUISA
A metodologia utilizada neste trabalho deu iniacutecio com o estudo bibliograacutefico e
pesquisa de campo Realizou-se uma investigaccedilatildeo primeiramente sobre os estudos surdos na
perspectiva linguiacutestica e cultural a posteriormente na literaturas e estudos sobre os iacutendios da
etnia Satereacute-Maweacute tomando como princiacutepio a origem os fundamentos e a histoacuteria do povo e
da Liacutengua Satereacute-Maweacute Na sequecircncia a concretizaccedilatildeo da pesquisa de campo com a
investigaccedilatildeo do objeto de estudo o iacutendio surdo e sua situaccedilatildeo sociolinguiacutestica da etnia Satereacute-
Maweacute
Figura 1 ndash Croqui da aacuterea e localidade da pesquisa
Fonte Mapa do Estado do Amazonas Censo 2010 ndash IBGE
Organizado por Vicente de Paulo Silva de Azevedo
31 Aacuterea e localidade da pesquisa
A proposta do processo investigativo para o mapeamento do objeto da pesquisa foi
demarcada delimitando a aacuterea do campo da pesquisa a Microrregiatildeo de Parintins A
Microrregiatildeo de Parintins (AMAZONAS 2012) eacute constituiacuteda por Barreirinha Boa Vista do
Ramos Maueacutes Nhamundaacute Parintins Satildeo Sebastiatildeo do Uatumatilde e Urucaraacute Vale ressaltar que
natildeo foi coberta pela pesquisa a populaccedilatildeo Satereacute-Maweacute residente em Manaus (AM)
43
32 Estrateacutegias gerais para a realizaccedilatildeo da coleta de dados
Primeiramente foi feita uma busca de dados pelo IBGE o qual informou que natildeo
havia qualquer registro sobre a populaccedilatildeo indiacutegena de surdos Sem resultado satisfatoacuterio foi
organizado um cronograma de viagens
A primeira viagem foi para o municiacutepio de Parintins onde foi feita uma visita na casa
de um iacutendio para possiacutevel coleta de dados Poreacutem o cacique Sr Luiz de Oliveira infelizmente
tambeacutem comunicou a falta desse dado na comunidade Portanto foi exposto a esse liacuteder o
objetivo da referida pesquisa apresentando assim a importacircncia da comunicaccedilatildeo entre os
seres humanos e interaccedilatildeo entre os diferentes modos linguiacutesticos de convivecircncia social e
educacional
O cacique prontamente mostrou-se aberto a contribuir para que a pesquisa fosse
concretizada Assim sendo iniciou-se a trajetoacuteria do levantamento de iacutendios surdos e sua
forma de comunicaccedilatildeo como tambeacutem seu contexto educacional escolar
Ao retornar a Manaus buscou-se apoio agraves instituiccedilotildees representativas com a visita agrave
sede da Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio ndash FUNAI oacutergatildeo responsaacutevel pelas accedilotildees indiacutegenas a
qual informou que se fazia necessaacuterio uma autorizaccedilatildeo para dar seguimento agrave pesquisa Logo
providecircnciou-se o documento requerido na Coordenaccedilatildeo de Educaccedilatildeo Indiacutegena localizada no
municiacutepio de Barreirinha
Ao chegar agrave cidade de Barreirinha um novo contato foi estabelecido com o
Coordenador indiacutegena o Sr Santino Lopes de Oliveira que se mostrou receptivo com o
projeto e se dispocircs prontamente a colaborar
Com a autorizaccedilatildeo e aprovaccedilatildeo das autoridades indiacutegenas e de posse do documento
houve o comprometimento de que seguiria as normas estabelecidas que disciplinam o
ingresso em terras indiacutegenas pela entidade (ANEXO A) Assim foi possiacutevel sistematizar os
procedimentos para a coleta de dados
33 Procedimentos da coleta
A coleta de dados foi realizada de acordo com o cronograma estabelecido para esta
etapa da pesquisa O procedimento metodoloacutegico usado para a coleta de dados foi
fundamentado em meacutetodo misto por meio de observaccedilotildees questionamento participaccedilotildees em
reuniotildees com representantes da lideranccedila indiacutegena local conversas informais e espontacircneas
44
com famiacutelias e comunidade indiacutegena Satereacute-Maweacute Utilizou-se como instrumento para
coleta caderno de registro de campo fotos filmagens gravaccedilotildees e questionaacuterio (ANEXO B)
34 Articulaccedilatildeo local
O primeiro passo foi estabelecer parcerias com colaboradores ou seja lideranccedilas
indiacutegenas professores indiacutegenas professores da rede puacuteblica inteacuterpretes oacutergatildeos ligados agraves
causas indiacutegenas alunos da Universidade do Estado Amazonas As instituiccedilotildees
representativas educacionais tambeacutem colaboraram telefonando ou perguntando para outras
pessoas sobre a existecircncia de indiacutegenas surdos e locais de suas residecircncias
A participaccedilatildeo das lideranccedilas indiacutegenas como os professores e colaboradores que
apoiaram e permitiram entrar em suas terras para fazer o levantamento foi de extrema
importacircncia pois muito contribuiacuteram nas traduccedilotildees das palavras indiacutegenas para a Liacutengua
Portuguesa
35 Abordagem ao objeto da pesquisa
Em cada viagem agraves comunidades primeiramente fazia-se contato com o tuxaua com
a finalidade de apresentar o objetivo da pesquisa Desta forma era explicado para eles a
importacircncia da contribuiccedilatildeo que o estudo poderia trazer agravequela comunidade Por meio da
autorizaccedilatildeo concedida obtinha-se a colaboraccedilatildeo para a coleta de dados junto ao objeto da
pesquisa Jaacute as abordagens feitas em ambiente familiar tambeacutem era solicitado o consentimento
para a realizaccedilatildeo da pesquisa Com permissatildeo concedida iniciamos as observaccedilotildees e
intervenccedilotildees Com devida autorizaccedilatildeo utilizaacutevamos para registro cacircmeras fotograacuteficas e em
seguida registraacutevamos no caderno de campo da pesquisa (ANEXO CC-1 e C-2)
45
4 MAPEAMENTO DOS IacuteNDIOS SURDOS DA ETNIA SATEREacute-MAWEacute NA
MICRORREGIAtildeO DE PARINTINS E SUA REALIDADE LINGUIacuteSTICA E
EDUCACIONAL ESCOLAR
No Brasil haacute uma diversidade de etnias indiacutegenas Rodrigues (2002) satildeo mais de 170
liacutenguas faladas e dialetos pelos povos indiacutegenas Estas liacutenguas satildeo distribuiacutedas em dois
grandes troncos linguiacutesticos
[] o Tupi (dividido em 10 famiacutelias) e o Macro-Jecirc (dividido em 9 famiacutelias) e de
outras 20 famiacutelias linguumliacutesticas natildeo classificadas em troncos Apenas nove liacutenguas
indiacutegenas tecircm acima de 5000 falantes guajajara (satereacute-) maueacute xavante
ianomacircmi terena macuxi caingangue ticuna e guarani estes uacuteltimos com 30000
indiviacuteduos Cerca de 110 liacutenguas contam com menos de 400 falantes 14
Entretanto em meio a essa diversidade linguiacutestica poucos satildeo documentados
Pesquisadores e grupos indiacutegenas tentam um reavivamento eacutetnico e linguiacutestico
documentando-os para salvar sua liacutengua seu idioma
Diante do exposto a uacutenica liacutengua de sinais indiacutegena registrada eacute a utilizada pela etnia
indiacutegena brasileira dos Urubu-Kaapor como jaacute mencionada anteriormente Pesquisas no Mato
Grosso do Sul em aldeias indiacutegenas apresentaram a existecircncia de iacutendios surdos que utilizam
sinais emergentes ainda natildeo registrados propriamente como uma liacutengua
Pouco registro tem-se encontrado sobre iacutendios surdos muito menos sobre a liacutengua ou
a forma desses sujeitos se comunicarem De acordo com dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatiacutestica (IBGE) natildeo haacute registros sobre iacutendios surdos nem no Anuaacuterio
Estatiacutestico do Amazonas do IBGE tatildeo pouco na Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio (FUNAI)
sendo portanto necessaacuteria uma pesquisa in loco para a busca desses dados
Eacute importante destacar que a pessoa surda natildeo nasce com a incapacidade de falar ou
seja a pessoa surda natildeo eacute muda natildeo fala por natildeo poder ouvir a ldquo[] A surdez natildeo estaacute
absolutamente vinculada agrave mudez []rdquo (RAMOS apud STROBEL 2008 p34)
Por isso as teorias da aquisiccedilatildeo da linguagem humana justificam como o ser humano
(re)inventa modos para expressar suas necessidades e formas de ver o mundo realizando a
comunicaccedilatildeo com seus pares
14
Classificaccedilatildeo das Liacutenguas Indigenas Brasileiras segundo Aryon Rodrigues (2002) Disponiacutevel em
lthttpwwwgeocitieswsindiosbr_nicolaiclassifhtmlgt
46
Partindo dessa percepccedilatildeo este estudo apresenta uma contribuiccedilatildeo de informaccedilotildees
cientiacuteficas que seratildeo um acreacutescimo aos conhecimentos existentes sobre a comunicaccedilatildeo dos
surdos indiacutegenas
41 Mapeamento da existecircncia dos iacutendios surdos na microrregiatildeo de Parintins
Conhecer os indiviacuteduos sujeitos da pesquisa ndash iacutendios surdos Satereacute-Maweacute - eacute a fase
fundamental deste estudo pois dessa forma eacute possiacutevel compreender a forma predominante de
comunicaccedilatildeo deles para poder elaborar material concreto ndash dicionaacuterio triliacutengue - pertinente
para auxiliar na forma da comunicaccedilatildeo deles com a sua etnia atraveacutes da liacutengua desse povo
indiacutegena Nesta seccedilatildeo estatildeo apresentados os dados que constituem um mapeamento da
quantidade de indiviacuteduos surdos que estatildeo inseridos no contexto de Parintins Barreirinha
Boa Vista do Ramos e Maueacutes locais estes onde haacute maior contato com etnia foco deste estudo
Abaixo segue o histoacuterico do municiacutepio de Parintins e demais microrregiotildees citadas na
pesquisa15
411 Histoacuterico de Parintins
Parintins eacute um municiacutepio brasileiro situado no interior do estado do Amazonas
proacuteximo agrave divisa com o estado do Paraacute Regiatildeo Norte do paiacutes Estaacute situado na mesorregiatildeo do
Centro Amazonense e microrregiatildeo de mesmo nome e localiza-se a leste da capital do estado
distando desta cerca de 370 quilocircmetros Com uma populaccedilatildeo estimada em 2012 pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 103 828 habitantes sendo o segundo
mais populoso do estado do Amazonas que tem uma aacuterea de 5 952 kmsup2 representando
03789 do Estado do Amazonas 01545 da regiatildeo Norte brasileira e 00701 do territoacuterio
brasileiro8
Desse total 12 4235 kmsup2 estatildeo em periacutemetro urbano
O municiacutepio de Parintins como quase todos os demais municiacutepios brasileiros foi
primitivamente habitado por indiacutegenas Sua descoberta ocorreu em 1749 quando descendo o
rio Amazonas o explorador Joseacute Gonccedilalves da Fonseca notou uma ilha que por sua extensatildeo
se sobressaiacutea das outras localizadas agrave direita do grande rio As primeiras viagens exploratoacuterias
da Coroa Portuguesa em Parintins foram registradas somente em 1796 A fundaccedilatildeo da
15
O histoacuterico de Parintins e demais microrregiotildees estatildeo disponiacuteveis no site lthttpptwikipediaorgwiki_Parintinsgt
47
localidade em 1796 foi feita por Joseacute Pedro Cordovil que veio com seus escravos e
agregados para se dedicar agrave pesca do pirarucu e agrave agricultura chamando-a Tupinambarana A
rainha D Maria I deu-lhe a ilha de presente Ali instalado fundou uma fazenda de cacau
dedicando-se agrave cultura desse produto em grande escala Tupinambarana foi aceita e elevada agrave
missatildeo religiosa em 1803 pelo capitatildeondashmor do Paraacute o Conde dos Arcos que incumbiu sua
direccedilatildeo ao frei Joseacute das Chagas passando a ser denominada como a Vila Nova da Rainha
O primeiro nome recebido por Parintins jaacute na categoria de Freguesia foi Nossa
Senhora do Carmo de Tupinambarana em 1833 O nome da Freguesia soacute foi alterado em
1880 quando a sede passou a chamar-se ldquoParintinsrdquo em homenagem aos povos indiacutegenas
Parintintins um dos inuacutemeros que habitavam a regiatildeo
A eficiente atuaccedilatildeo de frei Joseacute provocou um surto de progresso e desenvolvimento na
localidade mediante a organizaccedilatildeo da comarca do Alto Amazonas Em 25 de julho de 1833
passa agrave freguesia com o nome de Freguesia de Nossa Senhora do Carmo de Tupinambarana
Era ainda Tupinambarana simples freguesia quando iniciou a revoluccedilatildeo dos Cabanos no Paraacute
e se alastrou por toda a proviacutencia O seu vigaacuterio padre Torquato Antocircnio de Souza teve
atuaccedilatildeo destacada durante a sediccedilatildeo servindo de delegado dos legalistas no Baixo Amazonas
Tupinambarana talvez porque estivesse bem defendida foi poupada aos ataques dos
Cabanos
Em 24 de outubro de 1848 a lei provincial do Paraacute nordm 146 elevou a freguesia agrave
categoria de vila com a denominaccedilatildeo de Vila Bela da Imperatriz e constituiu o municiacutepio ateacute
entatildeo ligado a Maueacutes Em 15 de outubro de 1852 pela lei nordm 02 foi confirmada a criaccedilatildeo do
municiacutepio Em 14 de marccedilo de 1853 deu-se a instalaccedilatildeo do municiacutepio de Parintins Em 24 de
agosto de 1858 foi criada pela lei provincial a comarca compreendendo os termos judiciaacuterios
de Vila Bela da Imperatriz e Vila Nova da Conceiccedilatildeo Em 30 de outubro de 1880 pela lei
provincial nordm 499 a sede do municiacutepio recebeu foros de municiacutepio e passou a denominar-se
Parintins Em 1881 foi desmembrado do municiacutepio de Parintins o territoacuterio que constituiu o
municiacutepio de Vila Nova de Barreirinha
A divisatildeo administrativa de 1911 figurou o municiacutepio com quatro distritos Parintins
Paranaacute de Ramos Jamundaacute e Xibuiacute Em 1933 aparece no quadro da divisatildeo administrativa
com um distrito apenas ndash o de Parintins Em 1 de dezembro de 1938 pelo decreto-lei estadual
nordm 176 eacute criado o distrito da Ilha das Cotias passando assim o municiacutepio a constituir-se de
dois distritos Parintins e Ilha das Cotias
Pela lei estadual nordm 226 de 24 de agosto de 1952 a comarca de Parintins perdeu os
termos judiciaacuterios de Barreirinha e Urucaraacute que foram transformados em comarcas Em 19 de
48
dezembro de 1956 a lei estadual nordm 96 desmembrou o municiacutepio de Parintins o distrito da
Ilha das Cotias que passou a constituir o municiacutepio de Nhamundaacute Em 10 de dezembro de
1981 a emenda constitucional nordm 12 eacute acrescido o territoacuterio de Parintins ao distrito de
Mocambo
O primeiro municiacutepio pesquisado eacute considerado o centro da microrregiatildeo Parintins
Segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 2103 a
populaccedilatildeo eacute de 109225 habitantes16
nesta localidade A Microrregiatildeo de Parintins eacute uma das
microrregiotildees do estado brasileiro do Amazonas pertencente agrave Mesorregiatildeo do Centro
Amazonense Estaacute dividida em sete municiacutepios Barreirinha Boa Vista do Ramos Maueacutes
Nhamundaacute Parintins Satildeo Sebastiatildeo do Uatumatilde e Urucaraacute De acordo com estimativas do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) a populaccedilatildeo da microrregiatildeo era de 262
719 habitantes em 2013
Seus municiacutepios limiacutetrofes satildeo Nhamundaacute ao norte Barreirinha ao sul Urucurituba ao
leste e os municiacutepios de Terra Santa e Juruti no estado do Paraacute O limite territorial entre
Parintins e Nhamundaacute se inicia na margem esquerda do rio Amazonas subindo este rio ateacute a
Barreira do Pauraacute A Serra de Parintins eacute usada para delimitar o fim dos limites territoriais
deste municiacutepio com Nhamundaacute Para delimitar os limites territoriais entre Parintins e
Barreirinha usa-se o divisor de aacuteguas dos rios Andiraacute-Uaicuparaacute juntamente com a linha
geodeacutesica que limita os estados do Amazonas e Paraacute Jaacute os limites territoriais com
Urucurituba satildeo iniciados no lago Arapapaacute no Paranaacute de Urucurituba Com o Estado do Paraacute
o limite tem iniacutecio na boca do igarapeacute do Valeacuterio na margem direita do rio Amazonas
Parintins eacute uma cidade marcada pelos traccedilos culturais poliacuteticos e econocircmicos
herdados dos portugueses espanhoacuteis italianos e tambeacutem dos japoneses tendo em vista que a
cidade possuiu uma relevante colocircnia destes imigrantes Natildeo se pode esquecer a importacircncia
dos ameriacutendios no quesito contribuiccedilatildeo eacutetnica Foram os ameriacutendios que iniciaram a ocupaccedilatildeo
humana na Amazocircnia e seus descendentes caboclos desenvolveram-se em contato iacutentimo com
o meio ambiente adaptando-se agraves peculiaridades regionais e oportunidades oferecidas pela
floresta
A cidade eacute um importante centro educacional de niacutevel meacutedio e superior do Estado do
Amazonas A cidade possui um dos mini-campus do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)
que oferece cursos em diferentes niacuteveis ensino meacutedio e ensino teacutecnico
16
Disponiacutevel emlthttpcidadesibgegovbrxtrastemasamazonas|parintins|estimativa-da-populacao-2013gt
Acesso em 28072014
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Universidades puacuteblicas
- Universidade do Estado do Amazonas (UEA) eacute uma instituiccedilatildeo puacuteblica estadual de
ensino superior que oferece mais de vinte cursos distribuiacutedos em dezessete cidades
amazonenses (Parintins Manaus Presidente Figueiredo Itacoatiara Carauari Tabatinga
Tefeacute Laacutebrea Boca do Acre Coari Eirunepeacute Humaitaacute Manicoreacute Manacapuru Novo
Aripuanatilde Maueacutes e Satildeo Gabriel da Cachoeira) Foi criada pela lei estadual nordm 2637 de 12 de
janeiro de 2001 que proporcionou agraves fundaccedilotildees educacionais de ensino superior instituiacutedas
pelo Estado Em Parintins o Centro de Estudos Superiores (UEA) possui os cursos
Pedagogia Histoacuteria Geografia Fiacutesica Matemaacutetica Letras Portuguesa Quiacutemica Ciecircncias
Bioloacutegicas Tecnologia em Turismo Direito Sauacutede Coletiva Ciecircncias Econocircmicas e
Tecnologia em Gestatildeo Puacuteblica
- Instituto Federal do Amazonas (IFAM) O Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e
Tecnologia do Amazonas foi criado mediante integraccedilatildeo do Centro Federal de Educaccedilatildeo
Tecnoloacutegica do Amazonas e das Escolas Agroteacutecnicas Federais de Manaus e de Satildeo Gabriel
da Cachoeira
- Universidade Federal do Amazonas (UFAM) Instalada no municiacutepio desde 2007
possui os seguintes cursos Serviccedilo Social Comunicaccedilatildeo Social - Jornalismo Administraccedilatildeo
Organizacional Pedagogia Zootecnia Educaccedilatildeo Fiacutesica e Artes Plaacutesticas
No setor de educaccedilatildeo e capacitamento profissional o municiacutepio aleacutem de dispor de
uma ampla rede de escolas (estaduais municipais e privadas) conta com um campus da
Universidade do Estado do Amazonas e algumas faculdades privadas com diversos cursos
superiores ofertados Dispotildee ainda de unidades do SENAI SENAC e SESI e em funccedilatildeo
disso os iacutendices de alfabetizaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo profissional dos municiacutepios estatildeo em
crescimento
A cidade de Parintins eacute o local onde foram feitos os contatos frequentes com os
indiacutegenas da etnia Satereacute-Maweacute porque buscam as casas bancaacuterias para receberem os
benefiacutecios sociais tambeacutem buscam as escolas com ensino de todos os niacuteveis inclusive as
universidades puacuteblicas para as crianccedilas e jovens Outro fator eacute que tem um comeacutercio
desenvolvido em que podem adquirir seus bens de consumo aleacutem de ser de faacutecil acesso aos
demais centros da regiatildeo e do paiacutes atraveacutes dos diferentes meios comunicaccedilatildeo e transporte
Por isso o mapeamento foi iniciado nesta regiatildeo
Apesar de ter um nuacutemero consideraacutevel de habitantes os oacutergatildeos ligados agrave causa
indiacutegena natildeo dispotildeem de dados informativos sobre o objeto da pesquisa em meio agrave estimativa
populacional do municiacutepio mesmo assim outro oacutergatildeo foi procurado para que pudesse
50
fornecer algum dado ligado ao sujeito surdo da etnia Satereacute-Maweacute A instituiccedilatildeo pesquisada
foi a Escola de Aacuteudio Comunicaccedilatildeo ldquoPadre Paulo Mannardquo Esta eacute uma instituiccedilatildeo educacional
mantida pela Diocese de Parintins por meio de sua atual gestora a Professora Zilda Tavares
Atraveacutes desta colaboradora foram coletadas informaccedilotildees sobre os alunos indiacutegenas surdos da
etnia Satereacute-Maweacute que ali estudam ou estudaram que satildeo a seguir descritas
Embora a escola tivesse o conhecimento da existecircncia de dois indiacutegenas surdos da
etnia Satereacute-Maweacute apenas um se encontra matriculado na escola Eacute uma menina de seis anos
de idade cursando o preacute-escolar Para informaccedilotildees consistentes foi solicitado o contato
tambeacutem com a famiacutelia da aluna Ao contatar os pais foi feita uma abordagem por meio de
questionaacuterio mas diante das dificuldades encontradas por natildeo serem alfabetizados na liacutengua
nativa nem na liacutengua Portuguesa os dados utilizados satildeo resultante de entrevistas
assistemaacuteticas (conversas informais)
Os familiares tecircm papeacuteis importantes na formaccedilatildeo da linguagem da crianccedila Eacute atraveacutes
deles que acontece a formaccedilatildeo da identidade social e cultural desse sujeito em
desenvolvimento Satildeo eles que repassam o modo de vida os costumes e outros aspectos
sociais com os seus exemplos e empreendendo a funccedilatildeo da linguagem verbal atraveacutes de
relaccedilotildees dialoacutegicas que ativam a percepccedilatildeo do ser em maturaccedilatildeo no meio familiar Na visatildeo
de Ponzio (et al 2007 p 177)
Uma das funccedilotildees da linguagem verbal eacute a identificaccedilatildeo identificaccedilatildeo dos objetos
mediante um processo de modelaccedilatildeo e de articulaccedilatildeo da realidade que varia de
liacutengua para liacutengua identificaccedilatildeo de sujeito enquanto falante do sujeito do discurso
do tema do outro ao qual esse discurso se dirige de uma espeacutecie de bdquoauditoacuterio
universal‟ a que de modo geral se recorre na argumentaccedilatildeo identificaccedilatildeo de uma
comunidade e da pertenccedila ou da natildeo pertenccedila a esta etc
Um resumo histoacuterico sobre a referida indiacutegena aponta que a famiacutelia residia na
comunidade indiacutegena Ponta Alegre no Rio Andiraacute municiacutepio de Barreirinha Migraram para
a zona urbana em busca de condiccedilotildees para uma melhor qualidade de vida Ao descobrirem a
surdez da filha mudaram-se para a cidade de Parintins Declararam que a forma de se
comunicarem com a filha eacute por meio de gestos criados pela famiacutelia e a crianccedila pois natildeo
sabem a Liacutengua de Sinais
Analisa-se neste contexto a situaccedilatildeo complexa pela qual essa famiacutelia passou para se
entender com a ela posto que se esperasse que a crianccedila dominasse o sistema linguiacutestico que
usam para a comunicaccedilatildeo com os pares atraveacutes da liacutengua natural da etnia Este eacute um fato que
ocorre com as famiacutelias onde natildeo existe o desenvolvimento natural da fala
51
Considere-se assim que a liacutengua eacute adquirida a qual se manifesta em todas as
circunstacircncias normais no conhecimento de uso em processo de audiccedilatildeo desde o nascimento
os quais vatildeo tomando forma de significante e significado enquanto se distingue cada unidade
lexical do todo que existe no meio onde se estaacute inserido Para Lyons ldquoo termo aquisiccedilatildeo da
linguagem eacute normalmente usado sem ressalvas para o processo que resulta no conhecimento
da liacutengua nativa (ou liacutenguas nativas)rdquo (1987 p 231)
Neste caso para a crianccedila em evidecircncia deveria ser propiciado o ensino da Libras
como liacutengua para mediar a comunicaccedilatildeo o mais breve possiacutevel na medida em que ela estaacute
com idade proacutexima da faixa etaacuteria limite de aquisiccedilatildeo sem acarretar prejuiacutezos para o seu
desenvolvimento conforme explica teoria gerativista17
da aquisiccedilatildeo da linguagem proposta
por Lennenberg (1967)
[] a existecircncia de um periacuteodo criacutetico para a quisiccedilatildeo da linguagem tendo como
pressuposto a ideia de que esta eacute inata O periacuteodo criacutetico se iniciaria por volta dos
dois anos e se encerraria por volta da puberdade Esse periacuteodo eacute chamado de criacutetico
porque seria aquele mais sensiacutevel agrave aquisiccedilatildeo da linguagem[] concluiacutendo que o
cereacutebro humano inicialmente tem representaccedilatildeo bilateral das funccedilotildees da linguagem
e mediante o processo de aquisiccedilatildeo na puberdade apenas o hemisfeacuterio se torna
mais dominante em relaccedilatildeo a elas completando o periacuteodo de aquisiccedilatildeo Caso a
crianccedilas natildeo adquira a linguagem nesse periacuteodo seu desenvolvimento linguiacutestico
seraacute prejudicado (apud QUADROS 2008 p 78)
Deste modo no caso a crianccedila surda esta precisa aprender a liacutengua nativa de uma
forma diferenciada adequando-se os siacutembolos agraves formas visuais se natildeo apresentar esta
carecircncia tambeacutem posto que a faculdade da linguagem do ser humano eacute inata conforme
Chomsky esclarece (apud PONZIO etal 2007)
Trata-se de determinar agrave natureza do patrimocircnio bioloacutegico que constitui a bdquofaculdade
da linguagem‟ do ser humano o componente inato do conjunto menteceacuterebro que
uma vez tendo entrado em contato com a experiecircncia linguiacutestica produz o
conhecimento da linguagem isto eacute converte a experiecircncia em um sistema de
conhecimento (p 143)
O segundo indiacutegena surdo da etnia Satereacute-Maweacute havia sido transferido da escola Padre
ldquoPaulo Mannardquo para a Escola Estadual ldquoBrandatildeo de Amorimrdquo Segundo as informaccedilotildees da
famiacutelia ele nasceu na aacuterea indiacutegena de Ponta Alegre Poreacutem quando pequeno sua famiacutelia se
17
A teoria gerativista pressupotildee a existecircncia de um mecanismo inato responsaacutevel pela aquisiccedilatildeo da linguagem
denominado Gramaacutetica Universal (GU) tendo como responsaacutevel por essa concepccedilatildeo que caracteriza-se pela
elucidaccedilatildeo da natureza das linguas naturais Chomsky
52
mudou para zona urbana de Parintins Ele cresceu longe da cultura indiacutegena sem contato com
a liacutengua de sua etnia por estar fora desse contexto Por outro lado natildeo aprendeu a liacutengua
falada em seu entorno na medida em que natildeo pode na prendecirc-la de forma natural por natildeo
ouvir assim por natildeo ter domiacutenio da cultura da etnia deve aprender a liacutengua de sinais
inserindo os signos que significam as palavras do seu leacutexico atraveacutes de instruccedilatildeo especial
com a mediaccedilatildeo de algueacutem que tenha o conhecimento das duas formas de comunicaccedilatildeo Para
Lyons (1987) esses aprendizes adquirem habilidades comunicativas rapidamente pois o
progresso que alcanccedilam eacute pelo menos agraves vezes tatildeo raacutepido que como observam tanto os pais
quanto os pesquisadores eacute difiacutecil manter um registro compreensivo e sistemaacutetico do seu
processo de aprendizado Como tambeacutem eacute no total independente de inteligecircncia e de
diferenccedilas do meio social e cultural
A capacidade da pessoa para construir enunciados vai tomando forma agrave medida que
consegue compreender a relaccedilatildeo entre significante e significados dos signos com os quais tem
contato Por isso os indiacutegenas surdos podem ser beneficiados com um material escrito
triliacutengue Este pode constituir-se em um material de apoio para a aprendizagem das trecircs
liacutenguas sendo que a liacutengua de sinais eacute perspectivada como L1
O terceiro caso identificado eacute de um iacutendio surdo jaacute adulto da comunidade Uiacurapaacute
da etnia Maweacute As informaccedilotildees datildeo conta que ele se comunica por meio de gestos criados por
ele e os pares com quem tem relaccedilatildeo Poreacutem natildeo haacute dados detalhados pois natildeo foi possiacutevel
contato com o mesmo porque ele vive isolado sobrevivendo de caccedila e pesca em comunidade
rural indiacutegena Fato este que implica diretamente no aperfeiccediloamento da forma de
comunicaccedilatildeo desse sujeito posto que ldquoos fenocircmenos ambientais podem agir diretamente
sobre a pessoa ou individualmente atraveacutes de repasse de experiecircncias vividas pela sociedade
atraveacutes da linguagem veiculada pela liacutenguardquo (OLIVEIRA 2005 p134)
Assim estaacute constituiacuteda a populaccedilatildeo de indiacutegenas surdos que fazem parte da
microrregiatildeo de Parintins que se podem fazer os devidos registros neste estudo
412 Histoacuterico de Barreirinha
O municiacutepio de Barreirinha pertence a Mesorregiatildeo da Microrregiatildeo de Parintins que
estaacute localizado a leste de Manaus Capital do Estado distanciando cerca de 331 quilocircmetros
E ao norte de Parintins o municiacutepio de Barreirinha juntamente com Maueacutes satildeo principais
municiacutepios que possuem a maior populaccedilatildeo de indiacutegenas localizados nos rios Andiraacute e o
Marau Portanto sendo o municiacutepio como a sede urbana das comunidades inseridas os surdos
53
indiacutegenas vem apenas em busca de tratamento meacutedico quando necessitam ou para atividades
sociais acompanhados de seus pais mas na zona urbana natildeo localizamos nenhum indiacutegena
surdo
Barreirinha foi o segundo municiacutepio pesquisado E segundo o IBGE em 2013 a
populaccedilatildeo era de 29737 habitantes18
sendo o vigeacutesimo segundo municiacutepio mais populoso do
Estado do Amazonas e o terceiro de sua microrregiatildeo
Este muniacutecipio conta com um setor especiacutefico das causas indiacutegenas a Coordenaccedilatildeo
Iacutendiacutegena Satereacute-Maweacute sob responsabilidade do coodernador geral SrSantino Lopes Este
tornou possiacutevel o acesso agrave comunidade indiacutegena de Ponta Alegre no Rio Andiraacute Foi na
Escola Municipal Professora ldquoRosa Cabralrdquo que foi identificado um indiacutegena surdo da etnia
Satereacute-Maweacute um menino de 12 anos matriculado na 3ordf ano do ensino fundamental Nesse
contexto foi possiacutevel observar sua forma de se comunicar com as demais pessoas que faziam
parte do seu meio social Outros dados referente a relaccedilotildees familiares deste natildeo estatildeo
disponiacuteveis na medida em que natildeo foi possiacutevel fazer contato com sua famiacutelia Desta forma
permanece uma lacuna de respostas referente a esse aluno posto que
De uma forma geral e em regra a socializaccedilatildeo da crianccedila no mundo civilizado
comeccedila dentro de uma famiacutelia nuclear constituiacuteda de pai matildee e irmatildeos quando
existem Durante os primeiros anos da infacircncia adquire traccedilos culturais (menores
unidades de cultura) atraveacutes das pessoas da famiacutelia que satildeo reflexo da sociedade
onde vivem (OLIVEIRA 2005)
Entende-se que atraveacutes de informaccedilotildees que poderiam ser fornecidas pela famiacutelia
deveria ser esclarecido como ocorre a socializaccedilatildeo da crianccedila nesse contexto e de que modo
aprenderam a se comunicar com ela que estrateacutegias foram utilizadas para que ela conseguisse
ser alfabetizada
413 Histoacuterico de Maueacutes
Este municiacutepio que tambeacutem pertence agrave Mesorregiatildeo do Centro Amazonense e
Microrregiatildeo de Parintins tem uma populaccedilatildeo de 54079 habitantes conforme as estimativas
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) A cidade eacute reconhecida
nacionalmente por possuir uma das maiores expectativas de vida do paiacutes
18
Disponiacutevel emlthttpcidadesibgegovbrxtrastemasamazonas|barreirinha|estimativa-da-populacao-2013gt
Acesso em 28072014
54
Na margem direita do Rio Maueacutes-Accedilu Maueacutes foi fundada em 1798 por Luiz Pereira
da Cruz e Joseacute Rodrigues Preto agrave distacircncia de 268 km em linha reta e 356 km pela via
fluvial de Manaus O calendaacuterio festivo do municiacutepio conteacutem as datas festivas municipais
em homenagem agrave Satildeo Sebastiatildeo (10 a 20 de janeiro) ao Divino Espiacuterito Santo (22 a 30 de
maio) agrave Satildeo Pedro (27 a 30 de junho) agrave padroeira Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo (01 a 8 de
dezembro) assim como a Festa do Carnaval Popular (21 a 24 de fevereiro) do aniversaacuterio do
municiacutepio (26 a 27 de junho) da Ilha de Vera Cruz (23 a 25 de julho) do Veratildeo (de 05 a 7 de
setembro) da Feira Industrial (06 a 8 de novembro) e do Guaranaacute (em novembro)
Sobre a origem do nome deste municiacutepio observa-se que inicialmente foi
denominada Luseia e progredindo com o tempo transformou-se em missatildeo carmelita com
nome de Maueacutes O liacuteder nessa eacutepoca foi o frei Joaquim de Santa Luzia Por um decreto de 25
de junho de 1833 a missatildeo foi considerada vila sob a invocaccedilatildeo de Nossa Senhora da
Conceiccedilatildeo de Luseia Em 1853 pela lei nordm 25 de 3 de dezembro da iniciativa do Deputado
Marcos Antocircnio Rodrigues de Souza a vila tornou-se cidade chamada Satildeo Marcos de
Mundurucacircnia Consta como uma das freguesias da proviacutencia denominada Maueacutes em 1958
A oficializaccedilatildeo da mudanccedila do nome do municiacutepio ocorreu quando o Deputado Joseacute
Bernardo Michiles em 1865 apresentou um projeto para tal que tendo sido aprovado
oficializou-se a mudanccedila do nome de Maueacutes para Conceiccedilatildeo Enfim jaacute na Repuacuteblica em
1895 pela lei nordm 133 de 5 de outubro a localidade torna-se Comarca E em 4 de maio de 1896
eacute considerado municiacutepio pelo novo regime juriacutedico com o nome de Maueacutes pela lei nordm 137
As pesquisas de campo nesse municiacutepio natildeo foram realizadas conforme a previsatildeo
pois a viagem natildeo foi concretizada devido agraves dificuldades em relaccedilatildeo agrave distacircncia para chegar
ateacute agraves comunidades que satildeo distantes da cidade cede e havia necessidade de recurso material
e humano (professores guias indiacutegenas biliacutengues) para realizaacute-la Quando foi possiacutevel chegar
ao local ocorreu o contato com trecircs professores que residiam nas comunidades do rio
chamado Marau Ali foi possiacutevel tecirc-los em companhia na funccedilatildeo de guia inteacuterprete para
contato com os indiacutegenas surdos daquela localidade
Em resposta afirmativa ao questionamento se havia iacutendios surdos foram realizadas
reuniotildees com a comunidade local para coletar informaccedilotildees que apontou a existecircncia de um
caso na comunidade de Santa Maria Era um senhor na faixa etaacuteria de 67 anos que adquiriu a
surdez haacute muito tempo atraacutes Ele natildeo tem conhecimento da Liacutengua Portuguesa por isso natildeo
tivemos contato direto No entanto ele conhece a proacutepria liacutengua e assimilou a cultura da etnia
posto que
55
A liacutengua eacute aprendida simultaneamente a outros elementos da cultura A capacidade
de desenvolvimento da linguagem eacute inata O indiviacuteduo nasce com o ceacuterebro
preparado para aprender tudo que pertinente agrave cultura humana da qual a linguagem
faz parte (OLIVEIRA 2005 p 137)
Eacute no contexto social que se aprende os signos que fazem parte do mundo exterior e
que o ceacuterebro assimila pelo conhecimento que os sentidos possibilitam
O segundo iacutendio localizado foi um surdo de nascenccedila hoje com idade de 24 anos
Segundo relato da famiacutelia nunca frequentou uma escola portanto seu uacutenico meio de
comunicaccedilatildeo eacute gestual que aprendeu como forma para se fazer entender pois ldquoa linguagem eacute
atributo universal do ser humanordquo (OLIVEIRA 2005) assim constitui-se como necessidade
vital da pessoa conduzindo ao aprendizado
Em pesquisa de campo se obteve a informaccedilatildeo que havia outros trecircs iacutendios surdos que
moravam no Rio Marau mas natildeo foi possiacutevel chegar ateacute a aldeia onde se encontravam
devido ao difiacutecil acesso o que impossibilitou a ida ateacute a localidade
414 Histoacuterico de Boa Vista do Ramos
Uma das sete Mesorregiotildees de Parintins eacute Boa Vista do Ramos que possui
aproximadamente 16820 de habitantes segundo o IBGE (2013)
A histoacuteria de Boa Vista do Ramos encontra-se ligada agrave histoacuteria do municiacutepio de
Maueacutes Em 1798 foi fundada a Aldeia de Lusea Em meados do Seacuteculo XIX vaacuterios conflitos
ocorreram na regiatildeo entre brancos e povos indiacutegenas sendo efetiva tambeacutem a participaccedilatildeo de
cabanos oriundos da Cabanagem
Quando a Proviacutencia do Amazonas eacute criada em 1850 Lusea torna-se um dos quatorze
municiacutepios existentes na proviacutencia Seu nome eacute alterado em 1892 para Maueacutes tornando-se
sede da Comarca em 1895 Em 10 de dezembro de 1981 atraveacutes da Emenda Constitucional nordm
12 o povoado de Boa Vista do Ramos aleacutem de outros territoacuterios pertencentes agrave Maueacutes e
aacutereas adjacentes dos municiacutepios de Barreirinha e Urucurituba passam a constituir o novo
municiacutepio de Boa Vista do Ramos
Em pesquisa de campo nesse municiacutepio o primeiro contato que foi na Coordenadoria
Regional de Educaccedilatildeo da cidade (SEDUC) Embora esta professora responsaacutevel por essa
Instituiccedilatildeo tenha informado que natildeo conhecia nenhum caso de iacutendio surdo neste municiacutepio
alguns informantes afirmaram que na aldeia de Santo Antocircnio que faz parte do referido
municiacutepio foi localizada uma senhora que havia adquirido a surdez ainda muito jovem sem
56
nenhum conhecimento das liacutenguas ldquofaladasrdquo ou sinalizadas Desta forma ela utilizava de
gestos para se comunicar porque os seres humanos nascem com a capacidade para a
linguagem que se desenvolvem ao longo da primeira infacircncia mas que podem tambeacutem ser
aprendida no meio social atraveacutes de estiacutemulos Nesta perspectiva segundo a concepccedilatildeo de
Oliveira (2005 p 143)
A evoluccedilatildeo da linguagem depende de dois fatores principais da capacidade geneacutetica
cerebral para desenvolvecirc-la que eacute a principal e dos estiacutemulos ambientais que satildeo
sempre tatildeo importantes quanto aquela Esse desenvolvimento estaacute senpre inserido no
contexto de socializaccedilatildeo que eacute a responsaacutevel pela humanizaccedilatildeo do indiviacuteduo
Ainda sobre a importacircncia da socializaccedilatildeo para os sujeitos ressalta-se que estes
desenvolvendo no meio onde estatildeo inserido adquirem sua identidade cultural
concomitantemente sua identidade linguiacutestica que estaacute presente no discurso dos seus pares
posto que ela ldquoeacute adquirida nos processos de formaccedilatildeo e tranformaccedilatildeo de uma liacutengua
particularrdquo que eacute tambeacutem determinante no relacionamento cm outras liacutenguas E de acordo
com Ponzio (2007 p178) ldquoO espaccedilo em que uma liacutengua vive eacute um espaccedilo interlinguiacutestico e a
capacidade de expressatildeo e da adaptaccedilatildeo dessas liacuteguas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo eacute
diretamente proporcional agrave quantidade de contatos com outras liacutenguasrdquo O que deixa evidente
que um indiviacuteduo pode estar em contato com diferentes formas de intercomunicaccedilatildeo
415 Histoacuterico de Nhamundaacute
Eacute trigeacutesimo quinto municiacutepio mais populoso do estado do Amazonas Sendo o quarto
da Mesorregiatildeo em estudo Conforme o IBGE em 2013 o municiacutepio eacute composto por uma
populaccedilatildeo de 19 792 habitantes
O municiacutepio de Nhamundaacute estaacute localizado na zona fisiograacutefica do Baixo Amazonas
limitando com os municiacutepios de Parintins e Urucaraacute no Amazonas com o Estado de Roraima
(norte) e com os municiacutepios de Faro e Terra Santa no estado do Paraacute Distacircncia da capital 375
km em linha reta e cerca de 577 km por via fluvial Sua altitude eacute de 50 metros acima do
niacutevel do mar
As origens do municiacutepio de Nhamundaacute remontam agraves primitivas povoaccedilotildees dos iacutendios -
nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XVII composta pelos condurizes paraculamas canuris
guancaris paraquatas queremas jamundaacutes e uaboy cujo tuxaua se chamava Jamundaacute que
dada a luta em prol da liberdade de seu povo devido agrave exploraccedilatildeo e maus-tratos pelos
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colonizadores fez um levante conduzindo a tribo Uaboy para as cabeceiras do alto rio que em
sua homenagem ganhou o seu nome e por conseguinte daacute nome ao municiacutepio
Em 1653 mediante carta reacutegia a regiatildeo foi erigida a Missatildeo que foi confiada aos
missionaacuterios portugueses capuchos da Piedade Eles organizaram uma aldeia modelo na boca
do Tauacuera - aldeia velha afluente esquerdo onde ainda se podem ver ruiacutenas do antigo
convento no meio dos espinhais A sede da Missatildeo poreacutem foi transferida para o lugar da
atual cidade de Faro Os padres capuchos souberam unir os iacutendios uaboy residentes no
Trombetas aos da Missatildeo para aumentar a populaccedilatildeo Era entatildeo o chefe dos Uaboy o tuxaua
Jamundaacute que ligou seu nome agrave Missatildeo e agrave aldeia que doravante se chamou aldeia dos
Jamundaacute ou Missatildeo dos Jamundaacute
O primeiro documento sobre a Missatildeo eacute do ano de 1727 e foi escrito pelo superior da
Missatildeo frei Francisco de Satildeo Manccedilos Em 1758 Missatildeo tomou o nome de Faro No entanto
jaacute em 1755 o Marqucirces de Pombal mandou suspender as Missotildees para serem transformadas
em vilas e paroacutequias A Missatildeo dos Jamundaacute foi extinta em 1758 por ordem de Mendonccedila
Furtado quando de sua viagem de demarcaccedilatildeo da nova capitania Foram criadas assim a vila
de Faro e a Paroacutequia de Satildeo Joatildeo Batista em 21 de dezembro de 1758 mas a instalaccedilatildeo deu-se
somente em 27 de dezembro de 1768
Desse modo em 1911 quando ocorreu a divisatildeo administrativa do Brasil o municiacutepio
de Parintins foi contemplado com o distrito de Jamundaacute Com a extinccedilatildeo deste quando
aconteceu a nova divisatildeo administrativa em 1933 o municiacutepio de Parintins surgiu com apenas
um distrito assim em 10 de dezembro de 1938 pelo Decreto-lei no 176 do Estado do
Amazonas Parintins voltaria a dispor de um outro distrito aleacutem da sede o da Ilha das Cotias
Em 19121955 pela Lei Estadual no 96 o distrito de Ilha das Cotias eacute desmembrado de
Parintins e passa a constituir o municiacutepio autocircnomo de Nhamundaacute Em 31 de janeiro de 1956
foi instalado o municiacutepio de Nhamundaacute
A viagem a esse municiacutepio foi realizada com o apoio do aluno Fernando Gonccedilalves
acadecircmico do curso de Licenciatura em Geografia pela Universidade do Estado do
Amazonas-UEA Para maiores esclarecimentos foi feita a pesquisa na casa de sauacutede indiacutegena
localizada na cidade de Nhamundaacute onde informaram desconhecer a existecircncia da etnia
Satereacute-Maweacute no municiacutepio Mesmo assim foi feito outro contato com uma enfermeira da
Casa de Sauacutede Indiacutegena do municiacutepio A resposta foi a mesma ldquoQueremos informar ao
professor que no municiacutepio de Nhamundaacute que natildeo trabalhamos com a etnia Satereacute-Maweacute
Atendemos somente a etnia Hixkaryana existente na regiatildeo Natildeo haacute portanto nenhum surdo
Hixkaryana ou Satereacute-Maweacute cujo fato eacute comprovado pelo senso municipalrdquo
58
Foi feita uma pesquisa tambeacutem em outro oacutergatildeo que atua com indiacutegenas no caso as
Secretaria de Educaccedilatildeo do Municiacutepio com a finalidade de constatar a veracidade dos fatos
eou conseguir novos dados sobre o indiacutegena surdo Satereacute ou Hixkaryana O subsecretaacuterio de
Educaccedilatildeo relatou que natildeo existia dados sobre a liacutengua Satereacute-Maweacute nem indiacutegenas surdos
existentes
Realmente apoacutes pesquisas in loco ficou comprovado somente agrave existecircncia da etnia
Hixkaryana da famiacutelia linguiacutestica Karib Sobre esta ressalta-se que
A liacutengua hixkaryana pertence agrave famiacutelia linguiacutestica Karib e eacute falada por todos os
membros do grupo Esta liacutengua eacute muito semelhante agravequeles outros dialetos falados
na regiatildeo mais ampla circunscrita pelos vales dos rios Trombetas e Mapuera como
Waiwai Xereu Katuena Karapawyana Tunayana Desta maneira e pelo fato dos
Hixkaryana estabelecerem relaccedilotildees bem estreitas com estes grupos em uma rede de
trocas matrimoniais e rituais tais dialetos satildeo inteligiacuteveis entre si []
Os Kaxuyana que moram no rio Nhamundaacute quase todos tambeacutem falam a liacutengua
hixkaryana aleacutem da sua liacutengua proacutepria o Kaxuyana Contudo em geral um
Hixkaryana natildeo fala a liacutengua kaxuyana fato que de certa forma demonstra que os
Kaxuyana satildeo considerados os ldquoestrangeirosrdquo naquela regiatildeo e que devem aprender
a liacutengua ldquonativardquo o Hixkaryana
A maioria dos Hixkaryana eacute alfabetizada na liacutengua nativa sendo capaz de ler e
escrever neste idioma Em 2008 havia apenas uma escola de ensino fundamental na
aldeia Kassauaacute e muitos jovens depois desta seacuterie dirigiam-se agrave cidade de
Nhamundaacute (AM) para prosseguir os estudos de niacutevel meacutedio Em 2010 uma escola
de ensino meacutedio foi implantada na aldeia Kassauaacute Aleacutem disso uma dezena de
Hixkaryana jaacute cursou ou estaacute cursando o ensino superior em cidades como Parintins
e Manaus Contudo a maioria das mulheres dos velhos e das velhas fala muito
pouco o Portuguecircs sendo o Hixkaryana a liacutengua mais usada por todos19
Assim como no municiacutepio de Nhamundaacute ficou constatado tambeacutem que nos demais
municiacutepios de Satildeo Sebastiatildeo do Uatumatilde e de Urucaraacute que natildeo haacute registro sobre a existecircncia
da etnia Satereacute-Maweacute nem tatildeo pouco a existecircncia de iacutendios surdos A tabela 1- apresenta o
resultado da pesquisa que aponta o mapeamento
Tabela 1 Mapeamento da existecircncia de iacutendios surdos nas respectivas comunidades
indiacutegenas ou zona urbana da microrregiatildeo de Parintins
Fonte Azevedo (2014)
19
Disponiacutevel emlthttppibsocioambientalorgptpovohixkaryanagt Acesso em 07112014
Etnia Liacutengua Comunidade Indiacutegena
rural Zona Urbana
Municiacutepio Quantidade de iacutendios
surdos
Satereacute-Maweacute Tupi Parintins Parintins 02
Satereacute-Maweacute Tupi Uaucurupaacute Parintins 01
Satereacute-Maweacute Tupi Rio Andiraacute Barreirinha 01
Satereacute-Maweacute Tupi Santa Maria Maueacutes 02
Satereacute-Maweacute Tupi Rio Marau Maueacutes 03
Satereacute-Maweacute Tupi Boa Vista do Ramos Boa Vista do
Ramos
01
Total 10
59
De acordo com os dados pode-se observar a existecircncia de poucos iacutendios surdos
Poreacutem acredita-se que ainda existam outros em comunidades mais isoladas Como tambeacutem
pelo fato de serem consideradas ldquodeficientesrdquo algumas famiacutelias natildeo integram na comunidade
que vivem As dificuldades encontradas para coletar os dados a partir dos oacutergatildeos
responsaacuteveis tambeacutem foram encontrados em outros estudos realizados anteriormente para
estabelecer a populaccedilatildeo indiacutegena na Ameacuterica Latina o que pode ser vislumbrado pela
explicaccedilatildeo dos fatos complicadores transcritos a seguir
Uma das dificuldades para estabelecer a populaccedilatildeo indiacutegena estaacute relacionada com
fato de que o criteacuterio de filiaccedilatildeo segue mais a autodenominaccedilatildeo que as
caracteriacutesticas linguiacutesticas ou raciais como se considerava haacute algumas deacutecadas atraacutes
Outra dificuldade eacute que a uacutenica fonte disponiacutevel para estabelecer a quantidade de
populaccedilotildees indiacutegenas na regiatildeo satildeo precisamente os censos nacionais de populaccedilatildeo
que haacute bem pouco tempo permitiam inferir informaccedilatildeo sobre a populaccedilatildeo indiacutegena
a partir de uma uacutenica pergunta referente agrave liacutengua falada pelos entrevistados (LOPES
e SICHRA 2009 p 103)
Entretanto embora natildeo haja um nuacutemero expressivo de iacutendios surdos da etnia Satereacute-
Maweacute ficou constatado que haacute muitos surdos natildeo-iacutendios nos municiacutepios estudados
principalmente no municiacutepio de Parintins que precisam se comunicar com diferentes
interlocutores Este eacute um argumento que aponta para a necessidade de instrumentos
educacionais como um dicionaacuterio triliacutengue importante para os surdos que conseguiram
estabelecer elos comunicativos a partir das trecircs liacutenguas E jaacute que o homem eacute criativo ldquoagrave
medida que o tempo passa a humanidade vai agregando novas descobertas e inventos que se
concretizam e se somam para dar-lhe conforto e bem estarrdquo (OLIVEIRA 2005 p 144) Entatildeo
espera-se que este material contribua para que o sujeito surdo possa se comunicar
adequadamente no seio familiar e no processo educacional
42 Realidade linguiacutestica e educacional dos iacutendios surdos encontrados da etnia Satereacute-Maweacute
O sistema responsaacutevel pela educaccedilatildeo tem procurado fazer adequaccedilotildees para atender agraves
pessoas que apresentam necessidades na sua arquitetura fiacutesica para a inclusatildeo destas no
contexto da realidade linguiacutestica e educacional Embora exista uma legislaccedilatildeo pertinente
ainda haacute ausecircncia de qualidade para que um indiviacuteduo surdo possa estudar incluso em um
contexto regular de ensino Principalmente porque os professores natildeo estatildeo preparados para
lidar com essa situaccedilatildeo peculiar Haacute uma imposiccedilatildeo nos oacutergatildeos educacionais mas natildeo haacute
60
profissionais que atuem para o bom desempenho do aluno indiacutegena surdo A partir dessa
visatildeo Albres (2005) que realizou um estudo nesta aacuterea de conhecimento afirma
Nessa perspectiva o homem eacute produto e produtor da cultura conjunto das relaccedilotildees
sociais portanto mister se faz investigar a origem histoacuterica de alguns princiacutepios da
educaccedilatildeo biliacutengue para surdos e desvelar elementos conceituais Propomo-nos
entatildeo identificar e analisar as concepccedilotildees de linguagem que sob condiccedilotildees
histoacutericas fundamentaram o ensino de Liacutengua Portuguesa para surdos nos
documentos do MEC
Desta feita entende-se que se no contexto do ensino da Liacutengua Portuguesa existem
diversas dificuldades no contexto de uma liacutengua indiacutegena a situaccedilatildeo se torna mais complexa
Desse modo na anaacutelise da situaccedilatildeo linguiacutestica e educacional encontrada com os iacutendios surdos
identificados da etnia Satereacute-Maweacute eacute bastante diversificada Apresentam diferentes formas de
siacutembolos para conseguirem se comunicar com as pessoas com quem tecircm contato Precisam
fazer um esforccedilo aleacutem do necessaacuterio para manifestar seus desejos para informar e ter acesso a
informaccedilotildees
No caso da aluna indiacutegena surda de apenas seis anos de idade na escola especiacutefica para
atender alunos surdos foi constatado que sua situaccedilatildeo linguiacutestica e educacional se encontra
em processo de aquisiccedilatildeo de uma linguagem baacutesica para comunicaccedilatildeo com as pessoas com as
quais ela convive
Conforme os dados fornecidos pela escola por meio de um parecer pedagoacutegico sobre a
aluna indiacutegena surda (ANEXO D) Ficou atestado que a aluna da etnia Satereacute-Maweacute nasceu
de parto normal sem nenhum problema aparente Aos trecircs anos de idade a matildee percebeu que
a filha natildeo ouvia e nem falava pois seus outros filhos haviam comeccedilado a falar na presente
idade Para seguir se comunicar com a filha utilizava-se de gestos sendo difiacutecil a
comunicaccedilatildeo Foi essa situaccedilatildeo que levou a famiacutelia a procura da Escola Padre Paulo Manna
onde se encontra matriculada no preacute-escolar Nessa realidade ela recebe as mesmas
orientaccedilotildees dadas agraves crianccedilas natildeo indiacutegenas logo natildeo existe um direcionamento para a cultura
da sua etnia na escola nem na no contexto familiar
Sobre essa condiccedilatildeo Cool (2004) aborda que haacute um aspecto familiar que tem
relevacircncia particular o tipo de comunicaccedilatildeo que se utiliza em casa ou seja a forma e o estilo
de comunicaccedilatildeo que os pais utilizam com a crianccedila surda tem uma grande importacircncia para o
seu desenvolvimento e para sua aprendizagem No caso dos pais ouvintes estes necessitam do
conhecimento da educaccedilatildeo da cultura da liacutengua da pessoa surda para que possam promover
uma formaccedilatildeo linguiacutestica completa para o filho surdo E deste modo este ldquopossa consolidar e
61
aprofundar o uso e a compreensatildeo da liacutengua proacutepria enquanto veiacuteculo de cultura e
possibilidade de comunicaccedilatildeo no acircmbitordquo de conhecimento do aprendiz sem deixar agrave parte do
domiacutenio da liacutengua apropriada para esse sujeito (HERNAIZ 2009)
Desta forma a educaccedilatildeo escolar reconhecida pela proacutepria escola referente agrave inclusatildeo
da aluna indiacutegena surda aponta para a necessidade de instituir uma educaccedilatildeo triliacutengue de
forma que seu processo de ensino-aprendizagem pauta-se na Liacutengua Satereacute-Maweacute Liacutengua
Brasileira de Sinais e Liacutengua Portuguesa Mesmo sabendo da dificuldade em aprender trecircs
liacutenguas o parecer pedagoacutegico considera possiacutevel aprendizagem de trecircs liacutenguas
A partir dos argumentos referidos reitera-se a importacircncia de que a educaccedilatildeo escolar
dessa aluna deve abranger as liacutenguas de uso natural nativo e social Quando se destaca a
liacutengua de uso natural entende-se que eacute a Liacutengua de Sinais como primeira liacutengua E natildeo
inverter o processo e obrigar a crianccedila surda seja indiacutegena ou natildeo aprender a falar uma
liacutengua oral seja liacutengua indiacutegena ou Liacutengua Portuguesa Sobre a questatildeo Fernandes (2005
p20) pontua
fazer uma crianccedila surda ldquofalarrdquo ao inveacutes de propiciar a ela um meio raacutepido de
comunicaccedilatildeo linguiacutestica atraveacutes da aquisiccedilatildeo da liacutengua de sinais como primeira
liacutengua que proteja e cumpra o papel fundamental de resguardar o seu natural
desenvolvimento no que se refere a ter domiacutenio de fato de um instrumental
linguiacutestico que lhe sirva para as operaccedilotildees mentais que envolvam mecanismos
linguiacutesticos
Portanto primeiramente eacute necessaacuteria a aquisiccedilatildeo da primeira liacutengua a liacutengua de sinais
e como segunda liacutengua a liacutengua nativa de sua comunidade eacutetnica No caso da aluna indiacutegena
a liacutengua Tupi da etnia Satereacute-Maweacute na modalidade escrita Desta forma com a aprendizagem
das duas liacutenguas seraacute uma aluna biliacutengue Poreacutem diante da realidade do aluno indiacutegena surdo
que vive na zona urbana se faz necessaacuterio o aprendizado triliacutengue Liacutengua Portuguesa por
escrito
Como dito anteriormente o ensino-aprendizado da Liacutengua de Sinais deve ser
garantido ao sujeito surdo para que adquira a identidade a cultura do povo surdo20
acesso
pleno as informaccedilotildees aleacutem de significar a possibilidade de comunicaccedilatildeo e expressatildeo fluentes
do sujeito surdo com seu entorno Da mesma perspectiva o ensino da Liacutengua indiacutegena se daacute
20
Como ja mencionado no capiacutetulo 1 sobre Cultura Surda ldquo eacute o jeito surdo de ser de perceber de sentir de
vivenciar de comunicar de transformar o mundo a tornaacute-lo habitaacutevelrdquo (GLADIS PERLIN apud STROBEL
2008 p 21) Strobel ainda esclarece que o sujeito Surdo se comportam diferente do sujeito ouvinte e com isso
traz alguns ldquoartefatos culturaisrdquo (explicado no capiacutetulo 1) que satildeo as pecualiaridade da cultura surda as quais
descritas Parte das experiecircncias visuais linguiacutestico familiar literatura surda vida social e esportiva artes
visuais poliacutetica e materiais Todos estes artefatos concebidos a partir do VER (IDEM 2008 p36-77)
62
em respeito aos direitos da cultura indiacutegena previsto pela Constituiccedilatildeo Brasileira conforme
decreto nordm 6861 de maio de 2009 no seu Art 2o que determina ldquoSatildeo objetivos da educaccedilatildeo
escolar indiacutegena I- valorizaccedilatildeo das culturas dos povos indiacutegenas e a afirmaccedilatildeo e manutenccedilatildeo
de sua diversidade eacutetnica II- fortalecimento das praacuteticas socioculturais e da liacutengua e da liacutengua
materna de cada comunidade indiacutegenardquo
Neste caso a referida aluna iacutendia surda deveraacute ter a liacutengua indiacutegena como liacutengua de
conhecimento de sua cultura Para o ensino desta na forma escrita faz-se uso de cartilhas
gramaacuteticas dicionaacuterios etc
De acordo com o exposto a escola reconhece a necessidade da educaccedilatildeo escolar
triliacutengue poreacutem utiliza-se de outra realidade conforme citado pela proacutepria escola ldquoNo
primeiro momento fica junto com os colegas ouvintes onde procuramos trabalhar de forma
inclusiva no contexto biliacutengue Liacutengua Portuguesa e Liacutengua de Sinais
Sobre este aspecto Rodrigues (2005 p20) pontua
Quantas lacunas estariam sendo criadas em nome da pressuposiccedilatildeo de que a
aprendizagem da liacutengua da maioria dos falantes da comunidade (ouvintes) eacute que
daria agrave crianccedila surda condiccedilotildees de desenvolvimento social e cognitivo Quantas
etapas de desenvolvimento estariam sendo desprezadas nas fases naturais de sua
evoluccedilatildeo sob a alegaccedilatildeo de que ela seraacute capaz de alcanccedilar o que se estabelece como
meta social Que metas estariam sendo alcanccediladas afinal Que objetivos estatildeo sendo
perseguidos em prol desses paracircmetros ultrapassados em detrimento dos reais
objetivos de formaccedilatildeo psico-sociocultural deste individuo Em que a liacutengua de
sinais como primeira liacutengua ainda se encontra determinada pelo descreacutedito de
tantos especialistas da aacuterea
A realidade encontrada sobre a educaccedilatildeo natildeo soacute em uma escola que atende alunos
surdos mas tambeacutem em muitas escolas as chamadas escolas ldquoinclusivasrdquo apresentam
dificuldades no processo de ensino dos alunos surdos21
Todavia entre desencontros
sociocultural-linguiacutesticos eacute preciso fazer uma ressalva desta escola ldquoA escola disponibilizou
21
Sobre a temaacutetica da Inclusatildeo formula-se ldquoAo se avaliar que na contemporaneidade impera o discurso da
inclusatildeo indiscriminada em escolas regulares[]Esta diretriz tira o direito previsto na legislaccedilatildeo brasileira de
poder optar por uma educaccedilatildeo biliacutengue em escola proacutepria de modo que se repete a condiccedilatildeo em que aos surdos eacute
imposto um enorme sofrimento na medida em que nos denominamos processos inclusivos junto aos ouvintes
permanecem privados de conviver com seus pares e de acessar o conhecimento na Liacutengua de Sinais como liacutengua
de instruccedilatildeo [] Os surdosde diferentemente de outros segmentos tecircm a necessidade de agrupar-se para formar
comunidade linguiacutestica por meio das quais possam construir uma ldquocomunidade de experiecircnciasrdquo (WITKOSKI
2012 p33-34)
63
uma professora surda para a aquisiccedilatildeo da Liacutengua Brasileira de Sinais repassando o conteuacutedo
ministrado na salardquo onde cada um desses alunos eacute inserido
A escola positivamente conta com a colaboraccedilatildeo do trabalho docente de uma
professora surda Esta tem um papel fundamental como modelo linguiacutestico principalmente
quando alunos surdos provecircm de famiacutelias ouvintes que natildeo tecircm acesso agrave cultura e agrave Liacutengua
de Sinais Cabe ao professor surdo comunicar-se fluentemente com o aluno surdo ser um
input linguiacutestico para a identificaccedilatildeo da cultura do ser surdo
Dessa forma Strobel (2008 p 40) destaca
Este contato crianccedila surda x adulto surdo atraveacutes de uma liacutengua em comum que eacute a
liacutengua de sinais eacute que proporcionaraacute o acesso agrave linguagem e desta forma estaraacute
assegurada a identidade e a cultura surda que eacute transmitida naturalmente agrave crianccedila
surda em contato com a comunidade surda
Observa-se que caso a crianccedila surda natildeo tenha o direito a sua diferenccedila preservado
este aprendiz teraacute sua inserccedilatildeo no mundo dos ouvintes de forma incerta eou sem esperanccedila de
uma vida normal A situaccedilatildeo se agrava na medida em que a sociedade ouvinte deixa a desejar
quanto agrave participaccedilatildeo dos sujeitos surdos em decorrecircncia da escassez dos vaacuterios recursos
visuais que promovem acessibilidade para eles
Contudo os povos surdos hoje satildeo mais conscientes de seus direitos entatildeo esses
sujeitos cultural e politicamente lutam pelos mesmos Direitos estes tambeacutem dos povos
indiacutegenas como jaacute comentados anteriormente
Todavia esse aspecto ainda estaacute distante da realidade dos sujeitos focos do estudo de
acordo com relato da escola Segundo depoimentos de alguns indiacutegenas a aprendizagem
indiacutegena passa pela demonstraccedilatildeo observaccedilatildeo imitaccedilatildeo tentativa e erro e quando o aluno
vem para a escola tem que se socializar e obedecer a comandos regidos pelo sistema e isso
muitas vezes o deixa confuso e os maiores ateacute desistem A situaccedilatildeo se agrava quando esse fato
se refere ao sujeito iacutendio surdo incluiacutedo na escola pois este requer um diferencial ainda
maior reconhecido pela escola
Dessa forma satildeo necessaacuterias estrateacutegias de ensino diferenciadas que deem suporte
para que a aluna seja trabalhada de forma triliacutengue no contexto escolar para que ela
natildeo perca a sua essecircncia a sua cultura que sejam adaptados trabalhos de acordo
com a realidade indiacutegena para que ela natildeo perca a sua identidade e saiba conduzir
sua aprendizagem dentro de um contexto diferenciado podendo aprender o que lhe eacute
de direito como viver bem em sociedade22
22
Texto extraiacutedo do parecer pedagoacutegico da aluna indiacutegena surda que estuda na Escola de Aacuteudio e Comunicaccedilatildeo
Pe Paulo MannaParintinsAm (ANEXO D)
64
A partir das consideraccedilotildees tecidas no parecer pedagoacutegico torna-se evidente ema
necessidade de ampliar e aprofundar as reflexotildees sobre a inclusatildeo de iacutendios surdos em vaacuterios
espaccedilos da sociedade especialmente no espaccedilo educacional escolar Ou seja haacute necessidade
tambeacutem de poliacuteticas linguiacutesticas voltada para esse acircmbito
Nesse sentido eacute necessaacuterio que se tenha como meta uma tomada de decisotildees poliacuteticas
para que gradativamente se possa controlar a situaccedilatildeo de aprendizagem do surdo no processo
soacutecio cultural onde ele estiver inserido Ateacute por que existe uma proposta educativa
intercultural de modo biliacutengue no contexto indiacutegena Assim surge a necessidade de accedilotildees
objetivas para garantir na praacutetica esta proposta de ensino a fim de enriquecer o indiacutegena
surdo com desenvolvimento da liacutengua de sinais como veiacuteculo de comunicaccedilatildeo acrescendo
seus conhecimentos a partir do pluralismo cultural uma vez que estaacute amparado por
legislaccedilotildees especiacuteficas
Reitera-se a necessidade de accedilotildees objetivas especialmente no que tange a formaccedilatildeo
especiacutefica de professores pois mesmo com a garantia da legislaccedilatildeo a presente realidade
desses sujeitos estaacute distante do contexto sociocultural-linguiacutestico do ser iacutendio surdo A
exemplo disso tem-se outra realidade sociocultural-linguiacutestico do segundo aluno indiacutegena
surdo de 24 anos que foi transferido de uma escola que desenvolve atividades educacionais
especiacuteficas para outra no processo denominado de educaccedilatildeo inclusiva onde cursa o nono ano
do ensino fundamental das seacuteries finais e faz atendimento na sala de recurso porque os
professores das disciplinas do curso natildeo tecircm formaccedilatildeo para acompanhaacute-lo
Os relatos da famiacutelia indicam que o aluno nasceu na aacuterea indiacutegena de Ponta Alegre
poreacutem muito pequeno sua famiacutelia mudou-se para zona urbana municiacutepio de Parintins o qual
cresceu longe de sua cultura indiacutegena desconhecendo assim a liacutengua de sua etnia Este eacute um
caso que promove o desaparecimento de liacutenguas indiacutegenas o conhecido deslocamento
sociolinguiacutestico
Para entender o processo que instaura este deslocamento linguiacutestico ressalta-se que
primeiramente a educaccedilatildeo da pessoa perpassa pelo uso da liacutengua materna no ambiente
familiar nas relaccedilotildees famiacuteliares na qual utiliza uma comunicaccedilatildeo intra e extrafamiliar Se a
famiacutelia mantiver sua liacutengua nativa em uso os membros da mesma permaneceratildeo biliacutengues
Poreacutem se a famiacutelia por pressatildeo social do uso da liacutengua dos falantes da sociedade local seja
porque deseja se adequar ao meio onde se insere a liacutengua no caso indiacutegena entra no processo
de esquecimento para as geraccedilotildees vindouras
65
Eacute o caso do aluno acima que eacute biliacutengue (Liacutengua Brasileira de Sinais e Liacutengua
Portuguesa na modalidade escrita) contudo desconhece sua raiz cultural a liacutengua de sua
etnia Seu contexto educacional eacute baseado em ldquomodelo de escola inclusivardquo o aluno vai para
sala de aula com alunos ouvintes onde a liacutengua portuguesa eacute a liacutengua padratildeo a ser ensinada e
estudada e posteriormente faz atendimento na sala de recurso em sua liacutengua natural Libras
Logo a escola pode ajudar no incentivo favorecendo a revitalizaccedilatildeo da liacutengua
indiacutegena no contexto educacional Para isso haacute necessidade de um corpo docente com a
formaccedilatildeo em Liacutengua indiacutegena e Liacutengua Brasileira de Sinais aleacutem da Liacutengua Portuguesa que eacute
usada como a base de ensino
Jaacute na comunidade Uiacurapaacute da etnia Maweacute encontramos outra realidade de contexto
de um surdo indiacutegena Todavia natildeo foi possiacutevel fazer um acompanhamento mais preciso
sobre sua situaccedilatildeo educacional escolar O uacutenico dado correspondente agrave questatildeo linguiacutestica eacute o
modo como ele se comunica conforme foi relatado por membros da comunidade local se
caracteriza pela utilizaccedilatildeo de gestos criados para se fazer compreender Desta forma diante da
ausecircncia de uma liacutengua estruturada a Libras por fazer uso somente de gestos ele apresenta
dificuldades de entender o ensino e de se comunicar com seus pares Da mesma forma ocorre
no contexto familiar e na comunidade uma vez que o aluno surdo vive quase que isolado
devido ao preconceito existente ateacute mesmo pela proacutepria comunidade por natildeo o entenderem e
nem saberem qual a forma para se comunicar aquele indiviacuteduo Assim ele vive em uma
situaccedilatildeo de rejeiccedilatildeo e marginalizaccedilatildeo estabelecida a partir da ausecircncia de uma liacutengua que
promova a comunicaccedilatildeo com o predomiacutenio de um processo de estigmatizaccedilatildeo deste sujeito
surdo
No municiacutepio de Maueacutes Boa Vista do Ramos os iacutendios surdos localizados satildeo de
idade adulta natildeo tiveram a oportunidade de frequentar escola Portanto sua realidade
linguiacutestica fundamenta-se somente na forma gestual que denominam de caseira atribuindo
significados peculiares de seu contexto local No que diz respeito ao aspecto educacional as
pessoas contatadas demonstraram apenas uma preocupaccedilatildeo sobre a existecircncia futura de
possiacuteveis iacutendios surdos nesses municiacutepios e sua formaccedilatildeo educacional Contudo natildeo
afirmaram o que fariam se encontrassem outros sujeitos com essa necessidade de
comunicaccedilatildeo
Como jaacute mencionado natildeo haacute registro sobre a situaccedilatildeo linguiacutestica e educacional de
nenhum iacutendio surdo da etnia Satereacute-Maweacute nos municiacutepios de Nhamundaacute Satildeo Sebastiatildeo do
Uatumatilde e de Urucaraacute Portanto as informaccedilotildees educacionais natildeo satildeo apresentadas nestes
contextos
66
43 Inventaacuterio de gestos da linguagem caseira dos surdos Satereacute-Maweacute
A presente pesquisa baseia-se em um meacutetodo de estudos de etnografia com o intuito
de descrever e observar os gestos caseiros que os indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute usam para se
comunicarem com seus pares nas comunidades onde residem O meacutetodo tambeacutem ajuda a
conhecer a identidade e sua interaccedilatildeo no meio da comunidade visto haacute uma diversidade
linguiacutestica rica usada pelos surdos indiacutegenas nas diversas localidades percorridas pelo
pesquisador na microrregiatildeo de Parintins
431 Os sinais caseiros de indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute
O objetivo do mapeamento eacute coletar os sinais caseiros ou emergentes para que esses
sinais possam ser reconhecidos e compreendidos pela sua comunidade como meio linguiacutestico
de comunicaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo de sua cultura
Para a concretizaccedilatildeo do mapeamento foi necessaacuterio a pesquisa de campo na
comunidade onde se fazia presente o indiacutegena surdo para as devidas observaccedilotildees
432 O Municiacutepio de Parintins
No municiacutepio de Parintins foi localizado trecircs (03) indiacutegenas surdos com suas
caracteriacutesticas linguiacutesticas diferenciadas de suas origens sendo que dois indiacutegenas residem na
zona urbana e um indiacutegena localizado na comunidade de Uaicurapaacute os quais foram o objeto
investigativo para a coleta de dados Os registros foram feitos de forma diferenciada de modo
que primeiramente conversei com as lideranccedilas indiacutegenas acompanhado de inteacuterprete e guia
linguiacutestico Durante este encontro foram feitas no local observaccedilotildees visuais sendo que em
alguns casos realizamos registros de imagens filmagens e entrevistas Eacute importante destacar
que os registros soacute puderam ser feitos quando permitidos pelos sujeitos da pesquisa ou pela
lideranccedila prevalecendo em sua maior parte a observaccedilatildeo visto que materiais tecnoloacutegicos e
de miacutedias causavam incocircmodo aos entrevistados fazendo com que se tornassem
incomunicaacuteveis quando percebiam que estavam sendo monitorados
67
4321 O primeiro surdo
Esse primeiro indiacutegena possui surdez moderada Eacute um senhor com idade de 72 anos
residente no Uiacurapaacute23
O contato foi feito na Casa do Iacutendio de Parintins Em uma
conversaccedilatildeo informal explicou que perdeu a audiccedilatildeo com o tempo eacute oralizado24
e se
comunica com a comunidade na liacutengua nativa Satereacute-Maweacute Trata-se de um cidadatildeo calmo
fala apenas de suas necessidades visto que natildeo se manifesta muito devido suas limitaccedilotildees
auditivas que dificultam uma melhor compreensatildeo
Como referido o surdo em questatildeo tem surdez moderada Neste sentido observa-se
que a surdez ocorre de acordo com diferentes classificaccedilotildees quanto ao niacutevel de perda auditiva
Ou seja
Quanto ao grau - leve (perda de 26 a 40 dBNA) - moderada (perda de 41 a 55
dBNA) - moderadasevera (perda de 56 a 70 dBNA) - severa (perda de 71 a 90
dBNA) - profunda (a partir de 91 dBNA) (RUSSO e SANTOS 1988 apud
NADER 2011 p 2)
Retomando a histoacuteria do sujeito surdo em questatildeo observa-se que ele reside na zona
rural no Uiacurapaacute com seus parentes e sua sobrevivecircncia eacute atraveacutes do que planta e pesca
Observando-o percebo que o mesmo tem uma vida normal com seus pares o que falta para
uma interaccedilatildeo mais ativa na comunidade eacute estimulo e o incentivo linguiacutestico pois muitas
pessoas satildeo impacientes e acabam deixando-o isolado linguisticamente
4322 O segundo surdo
Eacute um indiacutegena natural de Ponta Alegre25
concluiu o ensino fundamental em uma
escola puacuteblica no municiacutepio de Parintins Sua surdez foi percebida por seus pais ainda
crianccedila causada por doenccedila congecircnita A famiacutelia mudou-se para o municiacutepio de Parintins em
busca de uma melhor educaccedilatildeo para filho surdo entretanto os pais eram usuaacuterios da Liacutengua
Satereacute-Maweacute mas natildeo mais praticam pela influecircncia da Liacutengua Portuguesa e tambeacutem natildeo 23 Rio que fica interliga com Rio Paranaacute do Ramos ndash Parintins (AZEVEDO 2014) 24
O modelo cliacutenico-terapecircutico baseia-se numa visatildeo patoloacutegica de surdez e num modelo individual de
atendimento aacute diversidade que tem como referecircncia o Oralismo O oralismo eacute uma filosofia educacional para
surdos cujo discurso propotildee a superaccedilatildeo da surdez e a aceitaccedilatildeo social do surdo por meio da oralizaccedilatildeo Em
outras palavras este modelo defende o aprendizado apenas da Liacutengua Portuguesa na sua modalidade oral e
escrita na escola por entender que esta eacute a uacutenica possibilidade de integrar o surdo na sociedade majoritaacuteria
ouvinte (SLOMSKI 2010 p 32) 25
A comunidade de Ponta Alegre situa-se no Rio Andiraacute com 4 horas de viagem de lancha para chegar a
comunidade (AZEVEDO 2014)
68
frequentam a comunidade Satereacute-Maweacute em busca de assistecircncia ou outros meios oferecidos
pela tribo Portanto a famiacutelia cresceu e disseminou deixando de lado a liacutengua nativa e
tradiccedilatildeo indiacutegena vivendo uma vida regular na zona urbana
O surdo hoje com 20 anos natildeo conhece a liacutengua nativa de sua comunidade se
comunica fluentemente com a Liacutengua de Sinais escreve o Portuguecircs e se oraliza na
comunicaccedilatildeo com seus pais que tambeacutem natildeo sabem a Liacutengua de Sinais
Atraveacutes de sua histoacuteria eacute possiacutevel perceber que este sujeito surdo por estudar em
escola inclusiva com forte influecircncia a oralista desenvolveu as duas linguas a Liacutengua
Brasileira de Sinais e a Liacutengua Portuguesa Poreacutem sua situaccedilatildeo eacute diferente de outros
indiacutegenas surdos que residem nas comunidades que usam os sinais caseiros para se
comunicarem Isso acaba sendo uma observaccedilatildeo abstrata da realidade entre os surdos que
moram na zona urbana e na comunidade Satereacute-Maweacute
4323 O terceiro surdo
Eacute uma crianccedila de 5 anos descendente da etnia Satereacute-Maweacute estuda em uma escola
filantroacutepica em Parintins Trata-se de uma aluna inteligente que demonstrava timidez na
presenccedila de pessoas estranhas Verificou-se que ela consegue aprender e identificar os objetos
apresentados para que identificasse Aos 4 anos antes de entrar para a escola utilizava alguns
sinais caseiros para se comunicar com seus familiares Na sala de aula o ensino oferecido a
ela eacute o biliacutengue26
tendo a Liacutengua Brasileira de Sinais e a Liacutengua Portuguesa compondo essa
educaccedilatildeo O ensino nessa instituiccedilatildeo vai ateacute a 5ordf serie Por esta razatildeo a aluna futuramente
precisaraacute ser transferida para uma escola de ensino fundamental
Tabela 2 11 Sinais caseiros utilizados pela crianccedila indiacutegena surda de 5 anos e seus
familiares
26
O Bilinguismo eacute uma filosofia de ensino cujo discurso propotildee a diversidade cultural e a aceitaccedilatildeo social do
surdo por meio do bilinguismo (duas liacutenguas Liacutengua de Sinais e segunda liacutengua) Essa filosofia concebe o surdo
como um ser diferente e a surdez como ldquoatributo humanordquo como uma caracteriacutestica da pessoa surda resultado
de uma deficiecircncia orgacircnica que natildeo se esgota nela mesma (SKLIAR 1997 apud SLOMSKI 2010 p 41)
SINAIS CASEIROS DESCRICcedilAtildeO
AacuteGUA Matildeo direita com o dedo polegar fazendo a expressatildeo de beber aacutegua
BRINCAR As duas matildeos fechadas batendo as pontas dos dedos em
movimento
BANHEIRO Matildeo direita mostra o local e a esquerda eacute posicionada na barriga
COMIDA As duas matildeos abrindo e fechando repetidamente proacuteximo da boca
DORMIR As duas matildeos com as palmas juntas encostar-se ao rosto com
expressatildeo de querer dormir
69
Fonte AZEVEDO (2014)
Figura 2 Sinais caseiros utilizado pela crianccedila de 5 anos
FOME Matildeo direita indo em direccedilatildeo da barriga fazendo expressatildeo facial de
fome
MAtildeE Matildeo direita aberta no rosto fazendo movimento nos dedos com
expressatildeo chamativa
IRMAtildeO Matildeo direita batendo no antebraccedilo para chamar atenccedilatildeo
PAI Matildeo direita com os dedos pegando o queixo
PESSOA Matildeo direita com dedo indicador fazendo expressatildeo de algueacutem
CHORAR As duas matildeos fechadas com os dorsos esfregando nos olhos
AacuteGUA BRINCAR
COMIDA DORMIR FOME
MAtildeE IRMAtildeO PAI
BANHEIRO
70
44 O indiacutegena surdo da Comunidade de Ponta Alegre do municiacutepio de Barreirinha
Foi localizado um aluno surdo na comunidade de Ponta Alegre que faz parte do
municiacutepio de Barreirinha trata-se de um jovem de 13 anos que estuda na Escola Municipal
Rosa Cabral e mora em uma aldeia mais distante a observaccedilatildeo foi feita na escola Nessa
viagem foi obtido a autorizaccedilatildeo de viagem para a aldeia na Secretaria de Educaccedilatildeo Municipal
de Barreirinha por meio do contato com o coordenador geral do setor indiacutegena daquela aacuterea
o senhor Santino Lopes que muito contribuiu com o projeto e de servir como guia de
viagem
O devido aluno estuda na 3ordf Serie do ensino fundamental De acordo com as
observaccedilotildees feitas O ensino predominante na sala para o ensino deste aluno eacute a Liacutengua
Portuguesa visto que os professores em sua maioria vem do municiacutepio de Barreirinha
Embora o ensino seja bem aplicado e a escola dispotildee de material didaacutetico apropriado para a
seacuterie natildeo haacute metodologia de ensino especializado para surdo natildeo existindo Sala de
Recursos27
O aluno aprende lentamente demonstrando dificuldades de entender os
conteuacutedos
A comunicaccedilatildeo com seus professores e colegas soacute acontecem atraveacutes de sinais
caseiros e expressotildees manuais O aluno surdo vive quase que isolado sem ter a possibilidade
de estabelecer uma comunicaccedilatildeo satisaftoacuteria dentro do contexto escolar devido ao
27
Uma das inovaccedilotildees trazidas pela Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Especial na Perspectiva da Educaccedilatildeo
Inclusiva (2008) eacute o Atendimento Educacional Especializado ndash AEE um serviccedilo da educaccedilatildeo especial que []
identifica elabora e organiza recursos pedagoacutegicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena
participaccedilatildeo dos alunos considerando suas necessidades especiacuteficas
O AEE complementa eou suplementa a formaccedilatildeo do aluno visando a sua autonomia na escola e fora dela
constituindo oferta obrigatoacuteria pelos sistemas de ensino Eacute realizado de preferecircncia nas escolas comuns em um
espaccedilo fiacutesico denominado Sala de Recursos Multifuncional Portanto eacute parte integrante do projeto poliacutetico
pedagoacutegico da escola (BRASIL 2008 p 3)
CHORAR PESSOA
71
preconceito existente Ateacute mesmo na proacutepria comunidade por natildeo entenderem e nem saberem
de que forma comunicarem-se com o mesmo a situaccedilatildeo de exclusatildeo se repete
Vale destacar que diante desta ausecircncia da qualidade de ensino para o aluno surdo a
professora Maria Inecircs ao responder um questionaacuterio segue algumas afirmativas para mudar
esta realidade Desta forma a educadora afirma que
- Eacute muito importante a capacitaccedilatildeo em cursos de libras e livros didaacuteticos proacuteprios
como forma de melhorar o ensino e a comunicaccedilatildeo com aluno surdo na
comunidade como parte da educaccedilatildeo inclusiva para facilitar o ensino e
aprendizado acima de tudo conhecer sua liacutengua materna identidade do povo
Satereacute-Maweacute
Pelo relato do Gestor da Escola Senhor Dulcemar a necessidade jaacute referida pela
educadora acima de materiais didaacuteticos para subsidiar o ensino eacute novamente colocada em
destaque conforme pode ser vislumbrado no relato transcito a seguir
- Eu como gestor sinto-me gratificado pelo trabalho a ser desenvolvido aqui com a
questatildeo da Libras um trabalho realizado pelo professor Marlon Jorge Pois eacute muito
importante devido agrave dificuldade que a educaccedilatildeo Satereacute- Maweacute vem tendo
principalmente quando se trata de alunos surdos indiacutegenas e ateacute mesmo por falta
de material didaacutetico Esse trabalho vai ser importante aqui na aacuterea indiacutegena para
ajudar o professor na sala de aula como ensinar como educar e como lidar com
esses alunos com necessidades especiais Entatildeo eacute um trabalho muito importante
pra noacutes e estamos aqui a disposiccedilatildeo e tambeacutem para contribuir como gestor da
escola juntamente com os professores e pra noacutes eacute muito bom esse trabalho e que o
Sr possa desenvolver esse seu projeto essa cartilha que com o aacutepice das aulas de
libras que com certeza vai fortalecer muito mais a educaccedilatildeo do povo Satereacute
Maweacuterdquo
Tabela 313 sinais caseiros coletados e utilizados pelo aluno da comunidade de Ponta Alegre
Fonte Azevedo (2014)
SINAIS CASEIROS DESCRICcedilAtildeO
AacuteGUA Usa as duas matildeos fazendo impressatildeo de beber alguma coisa
BARCO Usa-se a matildeo direita aberta em posiccedilatildeo vertical fazendo uma
expressatildeo da accedilatildeo do barco
BANHO Fazer a expressatildeo de pular na aacutegua com os braccedilos esticados
BANHEIRO Matildeo direita usando o indicador fazendo expressatildeo sair fora sala
COMIDA Matildeo esquerda aberta matildeo direita usando como o objeto metaacutelico
COBRA Usando os dedos da matildeo direita beliscando o pulso da matildeo esquerda
ESCOLA Faz-se o sinal de casa
ESTUDAR Faz a expressatildeo de escrever
FOME Matildeo direita levando em direccedilatildeo da barriga fazendo expressatildeo facial
de fome
FARINHA As duas matildeos palmas para baixo fazendo a expressatildeo de esfarelar
alguma coisa
LANCHA Usa a matildeo direita palma para cima fazendo uma accedilatildeo da rapidez
para frente
PEIXE Matildeo direita fazer a expressatildeo de caccedilar o peixe com o arpatildeo
PESSOA Matildeo direita com dedo indicador fazendo expressatildeo de algueacutem
72
Figura 3 Sinais caseiros utilizados pelo aluno da comunidade de Ponta alegre ndash
Barreirinha
AacuteGUA BARCO
BANHEIRO
BANHO
COMIDA
ESCOLA
FOME LANCHA PESCAR PEIXE
ESTUDAR FARINHA
COBRA
73
45 Os indiacutegenas surdos do Municiacutepio de Maueacutes
Situado entre os rios Madeira e Tapajoacutes o municiacutepio de Maueacutes estaacute localizado no
Meacutedio Amazonas que hoje eacute denominado como microrregiatildeo aacuterea leste do Estado Distante
de Manaus cerca de 30 km em linha reta ou o equivalente 45 minutos por via aeacuterea estando
a 356 km por via fluvial cerce de 16 a 18 horas de barco
Nesse municiacutepio foi realizado duas viagens com a finalidade de fazer um mapeamento
das aacutereas indiacutegenas bem como descobrir a existecircncia de surdos nas aldeias O primeiro
contato foi na Secretaria de Educaccedilatildeo do municiacutepio primeiramente me apresentado como
aluno pesquisador juntamente com os documentos comprobatoacuterios de acesso para realizar a
pesquisa nas aacutereas indiacutegenas As informaccedilotildees que tinha antes de estabelecer o contato
apontavam para a existecircncia de alunos indiacutegenas surdos matriculados na sede do municiacutepio
Poreacutem a secretaria informou desconhecer a existecircncia de alunos indiacutegenas matriculados na
rede publica do municiacutepio nem saber sua localizaccedilatildeo para contatos sendo orientado a
procurar na Casa do Estudante Indiacutegena Satereacute-Maweacute que se localiza em um bairro mais
distante dali
Chegando ao SESAI - Secretaria de Sauacutede Indiacutegena obtivemos acesso agraves informaccedilotildees
devido ao fato de que a pessoa responsaacutevel estava em viagem sendo que retornaria na outra
semana Em outra busca formos agrave Casa do Estudante Satereacute-Maweacute onde conversamos com o
coordenador Sr Jusivam que disse saber da existecircncia de indiacutegenas surdos nas comunidades
na Marau e Andiraacute mas natildeo ter dados quantitativos devido ao fato deles natildeo terem procurado
a Casa do Estudante em busca de assistecircncia que auxiliassem sua integraccedilatildeo em escolas
regulares ou inclusivas Observa-se que a Casa do Estudante podia auxiliar eles a
conseguirem uma escola para estudarem na zona urbana jaacute que esta eacute uma das atribuiccedilotildees da
instituiccedilatildeo
Ao sermos informados que as comunidades onde havia surdos eram distantes e
necessitava de apresentar outros documentos da Coordenaccedilatildeo Geral de Educaccedilatildeo que ficava
no municiacutepio de Barreirinha Tambeacutem se fazia necessaacuterio preparar uma programaccedilatildeo de
viagem para que pudessemos chegar ateacute aquela localidade de modo que nesta precisava
inclusive organizar para ter inteacuterpretes que falassem a liacutengua Satereacute-Maweacute e inteacuterpretes de
Libras Aleacutem destes precisava contar com um acompanhante para registrar as imagens e
filmagens se autorizadas anotando tudo que fosse necessaacuterio
Fazendo uma reflexatildeo sobre a viagem e os entraves que tinhamos pela frente para a
concretizaccedilatildeo do projeto e as distacircncias geograacuteficas para alcanccedilar os objetivos da pesquisa
74
Contudo ao encontrar um surdo indiacutegena sendo o principal objeto da pesquisa em funccedilatildeo da
grande satisfaccedilatildeo de poder contribuir para o desenvolvimento linguiacutestico dos indiacutegenas surdos
e para que a comunidade compreenda como um ser incluiacutedo a partir do respeito a sua cultura
inserindo em seus modos e haacutebitos foi compensador enfrentamos todos os obstaacuteculos
Visitamos a Universidade do Estado do Amazonas ndash UEA onde tivemos a grata
surpresa de saber que havia uma turma de formaccedilatildeo em licenciatura Indiacutegena para a
comunidade Esperamos a aula acabar para falar com o professor o qual pediu para vir outro
dia para conversar com os alunos Foi nessa ocasiatildeo que conhecemos trecircs professores com os
quais fizemos um acordo para que na proacutexima viagem me levassem para a aldeia a fim de
realizar o mapeamento
Voltando para Parintins foi elaborado um roteiro para viagem a aacuterea indiacutegena Satereacute-
Maweacute pelos rios Maueacutes-Accedilu Rio MarauUrupadi A viagem aconteceu no dia 02 de
fevereiro de 2014 saindo de barco de Parintins indo ateacute o municiacutepio de Maueacutes No dia
seguinte as 8 horas acompanhado do professor Jesiel pegamos uma voadeira de 150HP com
destino ao territoacuterio Satereacute-Maweacute Foi uma viagem perigosa devido agraves condiccedilotildees dos rios e de
difiacutecil acesso para chegarmos laacute Todavia fizemos um esforccedilo e conseguimos nos deslocar ateacute
a comunidade Percorremos de voadeira uma viagem que durou aproximadamente 8 horas
pelo Rio Maueacutes Accediluacute Depois de uma hora e meia de viagem chegamos ao Rio Urupadi e
seguimos mais uma hora e meia de viagem ateacute a comunidade indiacutegena Vale do Quiinha
Nessa aldeia pegamos o professor Jacob Santos de Souza que nos acompanhou para a
proacutexima aldeia Ilha Michiles que fica no Rio Marau Nessa aldeia pegamos outro professor
Satereacute-Maweacute Jocimar Alencar dos Santos Saiacutemos da Ilha Michiles com destino a
comunidade Santa Maria que fica na divisa do Rio Urupadi e Manjuru A cada visita que
faziamos nas comunidades indiacutegenas percebemos no cotidiano a diversidade presente nas
aacutereas indiacutegenas Satereacute-Maweacute Ao perguntar se havia algueacutem surdo na famiacutelia e a resposta
sempre vinha de forma afirmativa o que me demonstrou que todos os esforccedilos para realizar a
viagem foram compensados diante da riqueza de dados coletados
A primeira iniciativa adotada com relaccedilatildeo a esse momento foi reunir com os
comunitaacuterios envolvidos nas atividades escolares A reuniatildeo teve como objetivo observar e
entrevistar alguns indiacutegenas para posteriormente analisar como se procede agrave comunicaccedilatildeo
entre indiacutegenas surdos e ouvintes A reuniatildeo foi muito uacutetil para os estudos e anaacutelise de
informaccedilotildees Os surdos existentes na comunidade nunca estudaram devido agrave comunidade
Santa Maria ficar distante da zona urbana e a escola existente para alunos ouvintes ficar em
75
outra comunidade o que inviabiliza a ida deles sendo que tambeacutem natildeo haacute professores
especializados para atenderem a clientela surda existente no Rio Marau
Encontramos dois indiacutegenas surdos na comunidade de Santa Maria que foram objeto
de estudos No entanto houve informaccedilotildees repassadas de que haacute outros trecircs surdos em outras
comunidades mais distante na mesma aacuterea Satereacute-Maweacute A visita para contactar estes outros
trecircs surdos ficou para a proacutexima viagem de observaccedilatildeo e coleta dos dados
451 O primeiro surdo da Comunidade de Santa Maria
No contato e observaccedilatildeo que tivemos com o surdo o mais novo tem 24 anos mora
com a famiacutelia natildeo conhece nenhuma liacutengua se comunica com gestos e sinais caseiros A
comunidade assim com a famiacutelia demosntrou pouco se importar com ele de forma que natildeo
haacute estiacutemulo ou interesse para que haja uma interaccedilatildeo linguiacutestica satisfatoacuteria entre eles
O ponto de encontro com seus colegas fica na parte central da comunidade que tem
um campo de futebol Laacute eles se concentram embaixo de uma aacutervore Neste lugar o surdo
costuma ficar quase diariamente com intuito de se unir e brincar com os colegas Ele usa os
sinais caseiros com expressotildees com a intenccedilatildeo de conseguir se comunicar com os colegas
Poreacutem alguns natildeo conseguem entender enquanto outros falam a Liacutengua Satereacute-Maweacute
Apesar do esforccedilo do surdo de tentar compreender o que eacute falado via a leitura labial na
maioria das vezes natildeo consegue compreender Poreacutem mesmo assim sinaliza balanccedilando a
cabeccedila com expressatildeo de concordacircncia afirmativa mesmo natildeo entendendo a mensagem
Tabela 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa
Maria
SINAIS CASEIROS
COLETADOS
DESCRICcedilAtildeO
AacuteGUARIO Usam-se as duas matildeos fazendo a expressatildeo de banzeiro
ANTA Matildeo direita fazendo a expressatildeo do focinho do nariz
AacuteRVORE As matildeos abertas fazendo expressatildeo de segurar o troco ao mesmo tempo
levando para cima
BARCO Usa a matildeo direita fechada fazendo expressatildeo de abrir e fechar a matildeo
como sinal de fumaccedila
BANHO Fazer a expressatildeo de pular na aacutegua com os braccedilos esticados
CASA As duas matildeos palmas para baixo fazendo um balanccedilo de movimento de
uma rede
CACcedilAR PEIXE Matildeo direita fazer expressatildeo de soltar o arpatildeo
CUIA As duas matildeos juntas fazer a expressatildeo de raspar a cuia
COCO Fazer a expressatildeo de tirar o coco com a vara
COMIDA As duas matildeos levando ateacute a boca
76
Fonte Azevedo (2014)
Figura 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa Maria
(30 sinais coletados)
COBRA Matildeo direita fazendo a expressatildeo da picada da cobra
FACA Matildeo direita fachada fazendo a expressatildeo de furar alguma coisa para
baixo
FLECHA Fazer a expressatildeo de jogar a flecha
FORMIGA Matildeo direita com os dedos beliscando o braccedilo esquerdo
FOME Matildeo direita levando em direccedilatildeo da barriga fazendo expressatildeo facial de
fome
FARINHA As duas matildeos fazer a expressatildeo de fazer farinha
GUARANAacute Fazer a expressatildeo de ralar o guaranaacute
JACAREacute Os dois indicadores das matildeos fazendo expressatildeo de dentes grandes do
jacareacute
LANCHA As duas matildeos dedos juntos fazer a expressatildeo de uma accedilatildeo raacutepida para
frente
MACACO Com braccedilos abertos fazer a expressatildeo de macaco
MALOCA As duas matildeos com os dedos encostados puxar para os lados opostos
MANDIOCA Fazer expressatildeo de descascar algum
ONCcedilA Com as matildeos fazer pintas no rosto
PAI As duas matildeos esfregando os indicadores
PEIXE Faz se expressatildeo de descamar o peixe
PILAtildeO As duas matildeos juntas fazendo a expressatildeo de socar a crueira
POTE AacuteGUA As duas matildeos juntas palmas para cima elevando para cima em curvas
onduladas
PASSAacuteRO As duas matildeos fazendo o movimento de paacutessaro
PESSOA Matildeo direita fazendo a expressatildeo de pegar no cabelo
TIPITI As duas matildeos fazendo a expressatildeo de espremer algum
PENEIRAR As duas matildeos em forma letra A fazer expressatildeo de balanccedilar o objeto
AacuteGUA ANTA AacuteRVORE
VIAGEM BANHO
77
VIAJAR
CASA CACcedilAR ALIMENTO CUIA
COCO COMIDA
FACA
FARINHA
FORMIGA
GUARANAacute
FOME
FACA
FLECHA
78
JACAREacute LANCHA
MACACO
MANDIOCA ONCcedilA
MALOCA PAI
POTE DE AacuteGUA PILAtildeO
LANCHA JACAREacute
PEIXE
79
452 O segundo surdo da Comunidade de Santa Maria
O segundo surdo visitado um senhor adulto com identidade natildeo revelada residindo na
Comunidade de Santa Maria Eacute um cidadatildeo reservado e fechado para desconhecidos Como
nossa equipe era composta de 05 profissionais sendo 03 (trecircs) professores indiacutegenas que me
acompanharam para serem facilitadores linguiacutesticos e um colaborador local para captar as
imagens ficarmos 04 (quatro) dias na comunidade para observaccedilotildees Apesar do tempo o
investido para conseguir o contato o mesmo se mostrou irredutiacutevel e natildeo se dispos a
conversar conosco Observa-se que mora sozinha e eacute raro ele se manifestar na comunidade
Pela histoacuteria contada a seu respeito apesar de natildeo se comunicar manteacutem sua residecircncia de
maneira organizada cultiva de algumas plantaccedilotildees como mandioca banana guaranaacute aleacutem de
produzir farinha tambeacutem faz pescaria para se alimentar Foi relatado que ajuda alguns
vizinhos e amigos com o que produz aleacutem de ser experiecircncia em matildeo de obra na confecccedilatildeo
de trepadeira silvestre que facilita subir nas aacutervores coqueiros e accedilaizeiros
PASSAacuteRO PESSOA COBRA
TIPITI PENEIRAR
80
Sobre o contexto educacional tendo como tema central a educaccedilatildeo escolar indiacutegena
o professor Jesiel (2014)28
(que eacute indiacutegena e concluiu o curso de pedagogia intercultural na
Universidade do Estado do Amazonas localizado no municiacutepio de Maueacutes) argumentou que o
territoacuterio Satereacute-Maweacute eacute muito grande sendo longa a distacircncia para se chegar na zona
urbana ateacute de forma que mesmo o deslocamento de uma comunidade para outra dificulta os
indiacutegenas irem para a escola Estas segundo o educador referido satildeo algumas razotildees que
impedem muitos indiacutegenas de estudarem na medida em que acarreta prejuiacutezo para a famiacutelia
especialmente de perda de tempo principalmente para os adultos que tem compromisso no
campo e com a comunidade
Para solucionar este problema devido a distacircncia as famiacutelias e os liacutederes indiacutegenas
possuem propostas e lutas para a construccedilatildeo de escolas nas aldeias o que facilitaria o acesso
dos surdos indiacutegenas da comunidade na escola E ao considerar que o indiacutegena surdo
compreende e se comunica com seus pares atraveacutes de gestos e sinais caseiros de forma que
aleacutem de sua liacutengua nativa haacute outros meios para que o surdo possa se comunicar isso aponta
para a necessidade da criaccedilatildeo de propostas de acesso agrave educaccedilatildeo dessas pessoas Dessa
maneira foram catalogados alguns sinais utilizados por esse surdo adulto da Comunidade de
Santa Maria apresentado abaixo
Tabela 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais antigo residente isolado na
comunidade de Santa Maria no Rio Marau ( 18 sinais coletados)
28
As famiacutelias e os liacutederes indiacutegenas possuem propostas e lutas para a construccedilatildeo de escolas nas aldeias para a
facilitaccedilatildeo do acesso dos surdos indiacutegenas na comunidade e na escola O indiacutegena surdo apesar de natildeo ouvir
compreende e comunica com seus pares atraveacutes de gestos e sinais caseiros que aleacutem de sua liacutengua nativa haacute
outros meios para que o surdo possa se comunicar Isso contribui para a criaccedilatildeo de propostas de acesso agrave
educaccedilatildeo dessas pessoas Dessa maneira foram catalogados alguns sinais utilizados por esse surdo adulto da
Comunidade de Santa Maria apresentado abaixo
A contribuiccedilatildeo do professor indiacutegena Jesiel Santos foi de suma importacircncia para a coleta de dados nesta
pesquisa visto que atraveacutes dele que conseguimos chegar ateacute a comunidade de Santa Maria afim de termos os
contatos na comunidade
SINAIS CASEIROS DESCRICcedilAtildeO
ARCOFECHA As duas matildeos com expressatildeo de utilizar um arco com flecha
AacuteGUA Matildeo direita com utilizando somente o dedo polegar fazer a expressatildeo de
beber algum
BANHO Os braccedilos e matildeos esticadas fazer a expressatildeo de se soltar no rio
BEIJU As duas matildeos fazendo um circulo e em seguida levar ateacute a boca
CIGARRO A posiccedilatildeo para traduzir este sinal satildeo as duas matildeos em posiccedilatildeo dos dedos
polegar e indicador juntos fazendo expressatildeo de fazer um cigarro caseiro
CASA As duas matildeos com os dedos esticados fazer a expressatildeo de formato de uma
casa
COBRA A matildeo direita com os dedos indicador e polegar encostados fazer a expressatildeo
de beliscar o pulso de antebraccedilo
FARINHA Matildeos com os dedos todos juntos fazer a expressatildeo com o movimento de
81
Figura 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo idoso na comunidade de Santa Maria
soltar a farinha
FORNO DE ASSAR Matildeo direita fazendo um semiciacuterculo de com a caracteriacutestica de um forno de
barro
GARREIRA As duas matildeos juntas fazer a expressatildeo repetidamente de amassar uma massa
JACAREacute As duas matildeos pegando os dentes
LUVA DA TUCANDEIRA Fazendo a expressatildeo de usar uma luva de palha e fazer a expressatildeo de dor da
ferrada da tucandeira
MANDIOCA Usar o antebraccedilo esquerdo com a matildeo direita como um material cortante
fazendo a expressatildeo de descascar
MACACO Os dois braccedilos e corpo fazendo a expressatildeo do movimento caracteriacutestico do
macaco
PAJEacute As duas matildeos fazendo a expressatildeo de segurar algum e balanccedilar
PAacuteSSARO Fazer a expressatildeo de balanccedilar os braccedilos caracterizando o movimento de um
paacutessaro
TIPITI As duas matildeos fazendo o movimento de espremer a mandioca
TERRASOLO Matildeo direita fazendo expressatildeo de um pequeno monte de terra
ARCOFECHA BEBER
LIacuteQUIDOAacuteGUA
BEIJUCOMER COBRA
FARINHA FERRADA DA TUCANDEIRA MALOCACASA ESCOLA
ARCOFLECHA BEBER LIQUIDOAacuteGUA BANHOPULAR NA AacuteGUA
AacuteAacuteGUA
CIGARRO
82
FORNO DE ASSAR
JACAREacute
LUVA DA TUCANDEIRA MACACO
PAJEacute
TIPITI TERRA
GAREIRA
MANDIOCA
PAacuteSSARO
(( ))
JACAREacute
83
5 ICONICIDADE E ARBITRARIEDADE NA CRIACcedilAtildeO DOS SINAIS CASEIROS
Nos anos 60 a partir dos trabalhos de Stokoe (1960) foi comprovado que as Liacutenguas
de Sinais satildeo linguas Estas satildeo liacutenguas naturais com ldquoestrutura gramatical proacutepria em seus
niacuteveis fonoloacutegico (ou queroloacutegico) morfoloacutegico sintaacutetico e semacircntico aleacutem de seus aspectos
pragmaacuteticosrdquo
De acordo com Quadros (2006 p 221)
pelo fato de as liacutenguas de sinais natildeo serem faladas e de natildeo terem o seu coacutedigo
escrito ainda popularizado entre os surdos natildeo as elimina das consideraccedilotildees
cientiacuteficas visto que apresentam uma organizaccedilatildeo estrutural e fazem parte da
constituiccedilatildeo cultural desses sujeitos ndash crescendo envolvendo e transmitindo
dinamicamente tradiccedilotildees socioculturais Portanto as liacutenguas de sinais fazem parte
do conjunto da linguagem humana com a diferenccedila de se apresentarem em uma
terceira modalidade a visuo-espacial
Reiterando-se que a Liacutengua de Sinais eacute uma liacutengua natural uma vez que estaacute veiculada
a um canal que natildeo eacute o oral-auditivo e sim visual esta garante uma percepccedilatildeo e articulaccedilatildeo
mais faacutecil mais coerente e confortaacutevel aleacutem de contribuir para o desenvolvimento linguiacutestico
cognitivo e social do surdo
Sobre as caracteristicas linguiacutesticas das Liacutenguas de Sinais vale ressaltar que Sousa
(2010) ao tratar dos aspectos visuais quanto agraves propriedades das Liacutenguas de Sinais enfatiza a
iconicidade e arbitrariedade relacionada ao signo linguiacutestico que satildeo inerentes agraves liacutenguas
naturais Sobre as definiccedilotildees dos fenocircmenos das liacutenguas estes remontam a eacutepoca de Platatildeo
filoacutesofo grego que tratava os fenocircmenos sobre a linguagem e a relaccedilatildeo dela com o mundo
Cita-se tambeacutem Craacutetilo Hermoacutegenes e Soacutecrates que foram interlocutores desta relaccedilatildeo
discutindo a ligaccedilatildeo existente entre nome ideia e coisa A abordagem dos trecircs se diferenciava
de forma que Craacutetilo defendia o conceito de iconicidade Hermoacutegenes de arbitrariedade
Soacutecrates por seu turno integrava as duas concepccedilotildees Esta diferenciaccedilatildeo tecido pelos trecircs
filosofos pode ser vislumbrada no trecho transcrito abaixo
Para Craacutetilo a liacutengua eacute o espelho do mundo o que significa que existe uma relaccedilatildeo
natural e portanto similar ou icocircnica entre os elementos da liacutengua e os seres por
eles representados Para Hermoacutegenes a liacutengua eacute arbitraacuteria isto eacute convencional pois
entre o nome e as ideias ou as coisas designadas natildeo haacute transparecircncias ou
similaridade Soacutecrates por sua vez tem o papel de fazer a integraccedilatildeo entre os dois
pontos de vista (WILSON amp MARTELOTTA 2010 apud SOUSA 2010 p 4)
84
A modalidade gestual-visual espacial pela qual a Liacutengua de Sinais eacute produzida e
reconhecida pela comunidade Surda leva muitas vezes as pessoas a pensarem que todos os
sinais satildeo desenho no ar do referente que representam Para melhor esclarecimento por
decorecircncia de sua natureza linguiacutestica a realizaccedilatildeo de um sinal pode sim ser motivada pelas
caracteriacutesticas do dado da realidade a que se refere poreacutem natildeo eacute regra Ou seja a maioria dos
sinais da LIBRAS eacute arbitraacuteria natildeo mantendo relaccedilatildeo de semelhanccedila alguma com seu
referente Portanto essa condiccedilatildeo possibilita o enriquecimento da flexibilidade e versatilidade
da liacutengua (BASSO 2011 p47)
Exemplos de sinais arbitraacuterios
Figura 6 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos que se refere agrave
arbitrariedade
BISCOITO PESSOA DESCULPA
Fonte Azevedo (2014)
A ideia de arbitrariedade da liacutengua se relaciona com a ideia de convenccedilatildeo que se
efetiva em todas as liacutenguas como Liacutengua de Sinais e na Liacutengua Portuguesa ilustra-se o
processo com os exemplos das palavras ldquobiscoitordquo ldquodesculperdquo e ldquopessoardquo O processo de
definiccedilatildeo destes termos ocorre de forma arbitraacuteria pois soacute nomes foram atribuiacutedos devido a
uma convenccedilatildeo que estabelece esse conceito e natildeo porque haacute uma relaccedilatildeo entre o som da
palavra e o objeto que ela designa (SALLES 2007 p 5)
No caso da Libras os exemplos citados de sinais foram criados sem sofrer influecircncia
da imagem dos objetos aos quais eles se referem O que mostra que mesmo que a Libras
tambeacutem apresenta a caracteriacutestica de arbitraacuterios (TEIXEIRA 2015 p 5)
Para compreender melhor a importacircncia da visualidade na Liacutengua de Sinais dos
Satereacute-Maweacute eacute relevante entender trecircs conceitos da teoria de Pierce sobre a iconicidade que
pode ser considerada a base dos sinais dessa comunidade os quais satildeoo siacutembolo o iacutendice e o
iacutecone Segundo Martelotta (2011) (apud TEIXEIRA 2015 p 2)
85
O siacutembolo de acordo com Peirce refere-se a determinado objeto representando-o
com base em uma lei haacutebito ou convenccedilatildeo estabelecendo uma relaccedilatildeo entre dois
elementos Para citar alguns exemplos a cruz eacute o siacutembolo do cristianismo e a
balanccedila o siacutembolo da justiccedila Uma caracteriacutestica importante do siacutembolo relaciona-se
ao fato de que ele eacute parcialmente motivado ou seja haacute entre o siacutembolo e o conteuacutedo
simbolizado alguns traccedilos relacionados ao objeto
Haacute uma diferenccedila fundamental entre o siacutembolo de um lado e o iacutendice e o iacutecone de
outro jaacute que nesses dois uacuteltimos haacute um niacutevel ainda menor de arbitrariedade No caso
do iacutendice ocorre uma relaccedilatildeo de contiguidade com a realidade exterior a fumaccedila
por exemplo eacute o iacutendice do fogo e a presenccedila de nuvens negras o iacutendice de chuva
iminente
O iacutecone por sua vez tem uma natureza imagiacutestica apresentando portanto
propriedades que se assemelham ao objeto a que se refere A fotografia de um
indiviacuteduo por exemplo eacute uma representaccedilatildeo icocircnica desse indiviacuteduo assim como o
mapa do Rio de Janeiro representa a cidade Assim um iacutecone eacute qualquer coisa que
seja utilizada para designar algo que lhe seja semelhante em algum aspecto
Nesta perspectiva Quadros (1997) traz a reflexatildeo sobre os efeitos da modalidade ou
seja o fato de a Liacutengua de Sinais serem visuoespacial em vez de auditiva-oral implica nas
diferenccedilas para a aquisiccedilatildeo do surdo e nesse sentido tem-se a questatildeo da iconicidade das
Liacutenguas de Sinais uma vez que a iconicidade se refere
A transparecircncia entre significado e o significante ou seja a relaccedilatildeo de identidade
entre a palavra (o sinal) e o seu sentido Por exemplo nas liacutenguas faladas agraves
onomatopeias satildeo consideradas por alguns autores como icocircnicas pois a produccedilatildeo
sonora bdquoreal‟ (do objeto ou do animal) eacute reproduzida na fala expressando certa
identidade (QUADROS 2011 p 22)
Vale ressaltar que a iconicidade vem sendo estudada a partir da pesquisa semioacutetica de
Charles Sanders Peirce (1999) filoacutesofo norte-americano contemporacircneo de Saussure
Segundo Teixeira (2015) Peirce em seus estudos sobre a Semioacutetica o signo tem a funccedilatildeo de
proporcionar uma ideia do mundo e tudo que cerca o indiviacuteduo estaacute rodeado de signos Como
explica o filoacutesofo
[] para que algo possa ser um Signo (expressatildeo ou representamento) esse algo
deve bdquorepresentar‟ [] alguma outra coisa chamada seu Objeto apesar de ser talvez
arbitraacuteria a condiccedilatildeo segundo a qual um Signo deve ser algo distinto de seu objeto
(PEIRCE 1999 apud TEIXEIRA 2015 p 5)
Ao direcionar essas definiccedilotildees para agraves liacutenguas de sinais Sousa (2010) afirma que
muitas vezes essas liacutenguas satildeo consideradas puramente icocircnicas por serem de uma
modalidade diferente acreditando-se acredita que os sinais satildeo criados sempre a partir da
86
representaccedilatildeo do referente Eacute certo que um sinal pode ser realizado de acordo com a
caracteriacutestica daquilo que se refere mas de acordo com Strobel amp Fernandes (1998 apud
Sousa 2010 p 4) ldquoisto natildeo eacute uma regra jaacute que a maioria dos sinais em Libras eacute arbitraacuterio ou
seja natildeo manteacutem uma relaccedilatildeo de similitude com o referenterdquo
Reconhece-se que algumas Liacutenguas de Sinais parecem ter maior motivaccedilatildeo icocircnica
apresentando relaccedilotildees entre a sua forma e o seu significado comumente observado nas
Liacutenguas de Sinais caseiras dos Satereacute-Maweacute Isso significa a relaccedilatildeo entre o referente e o
referenciado Alguns estudos como os de Meier (1981) citado por Lillo-Martin (1986)
apontam para uma aparente iconicidade nas liacutenguas de sinais o que justifica considerar as
variaccedilotildees regionais e sociais e as mudanccedilas histoacutericas como fenocircmenos identificaacuteveis na
Liacutengua Brasileira de Sinais o que lhe confere o caraacuteter natural (STROBEL amp FERNANDES
1998 apud SOUSA 2010)
Nesse contexto a iconicidade como caracteriacutesticas semelhantes ao iacutecone tem em
comum o objeto que representa Por ser uma liacutengua de modalidade visuoespacial a
iconicidade estaacute presente em grande parte dos sinais da Libras pois a relaccedilatildeo entre a ldquoformardquo
e o ldquosentidordquo eacute mais visiacutevel Salles (2007) em bdquoEnsino de liacutengua portuguesa para surdos
caminhos para a praacutetica pedagoacutegica‟ comenta
Um aspecto que se sobressai no contraste entre as modalidades viacutesuo-espacial e oral-
auditiva eacute a questatildeo da arbitrariedade do signo linguiacutestico Esse conceito estabelece
que na constituiccedilatildeo do signo linguiacutestico a relaccedilatildeo entre o significante (imagem
acuacutestico-focircnica) e o significado eacute arbitraacuteria isto eacute natildeo existe nada na forma do
significante que seja motivado pelas propriedades da substacircncia do conteuacutedo
(significado) Uma caracteriacutestica das liacutenguas de sinais eacute que diferentemente das
liacutenguas orais muitos sinais tecircm forte motivaccedilatildeo icocircnica Natildeo eacute difiacutecil supor que esse
contraste se explique pela natureza do canal perceptual na modalidade viacutesuo-
espacial a articulaccedilatildeo das unidades da substacircncia gestual (significante) permite a
representaccedilatildeo icocircnica de traccedilos semacircnticos do referente (significado) o que explica
que muitos sinais reproduzam imagens do referente na modalidade oral-auditiva a
articulaccedilatildeo das unidades da substacircncia sonora (significante) produz sequecircncias que
em nada evocam os traccedilos semacircnticos do referente (significado) o que explica o
caraacuteter imotivado ou arbitraacuterio do signo linguiacutestico nas liacutenguas orais (SALLES
2007 p 83)
Todavia os mesmos sinais icocircnicos possuem um grau de arbitrariedade na definiccedilatildeo
dos mesmos como explica Frydrych (2012)
Pode haver contudo sinais com diferentes graus de iconicidade Um sinal pode natildeo
se assemelhar ao objeto que representa pela forma mas apresentar de alguma
forma uma similaridade por meio de expressotildees faciais ou movimentos Um
exemplo eacute o sinal ldquotristerdquo que possui como configuraccedilatildeo de matildeo o sinal Y
localizada abaixo do queixo em movimento de meia lua O sinal nada tem a ver
com o que a palavra representa no entanto a expressatildeo facial de tristeza que
acompanha o sinal daacute indiacutecios de que seu significado pode natildeo ser muito agradaacutevel
87
[] Falar de sinais icocircnicos em Libras pode parecer comum no entanto o sinal de
ldquocasardquo por exemplo motivado pelo formato do telhado de uma casa eacute tambeacutem
usado para o sinal de ldquomorarrdquo que pode ser usado para ldquomoradiardquo em diferentes
formatos de residecircncia como por exemplo casa apartamento cabana etc Embora o
sinal possa ter sido motivado na sua criaccedilatildeo por um tipo de casa passou a ser usado
de forma muito mais abrangente Sendo isto muito comum nas liacutenguas de sinais Os
sinais passam a ser signos linguiacutesticos altamente arbitraacuterios e passam a integrar o
leacutexico da liacutengua (Apud PIVETTA et al 2013 p8)
Como tambeacutem salienta Silva (2012) que ao passar do tempo o sinal icocircnico perde sua
motivaccedilatildeo inicial passando a ser arbitraacuterio
[] a transparecircncia eacute relativa porque a forma dos objetos ou movimentos que
originaram o sinal pode variar no tempo perdendo a sua motivaccedilatildeo inicial Um
exemplo eacute o sinal ldquoleiterdquo que faz referecircncia ao ato de ordenha que hoje ainda pode
ser considerado um sinal icocircnico Todavia para as futuras geraccedilotildees a motivaccedilatildeo de
sua representaccedilatildeo tende a se tornar uma convenccedilatildeo o que faz com que o sinal passe
a ser arbitraacuterio e de valor simboacutelico Sinais como o de ldquoleiterdquo satildeo frutos de um
processo histoacuterico e com o passar do tempo natildeo representam mais os artefatos e
procedimentos atuais sendo percebidos e interpretados apenas por meio da
arbitrariedade e da convenccedilatildeo(Apud PIVETTA et al 2013 p8)
A seguir temos alguns exemplos de sinais icocircnicos na Libras satildeo os sinais ldquoaacutervorerdquo
ldquocadeirardquo ldquocasardquo constituiacutedos a partir de caracteriacutesticas da imagem dos objetos aos quais se
referem Enquanto o primeiro lembra a imagem do tronco e das folhas de uma aacutervore o
segundo lembra as pernas de uma pessoa representadas pelos dedos indicador e meacutedio e a
terceira lembra a imagem de um telhado ou de uma casa sentada no objeto em questatildeo
(SALLES 2007 p 83)
Figura 7 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos aos quais se referem a
iconicidade
Fonte Azevedo (2014)
AacuteRVORE CADEIRA CASA
88
Figura 8 Caracteriacutesticas da imagem em Liacutengua de Sinais Satereacute-Maweacute dos objetos aos
quais se referem agrave iconicidade
Yara Wato Barco Libras
Fonte Azevedo (2014)
Man Beiju Libras
Fonte Azevedo (2014)
Kamunti hit Bilha Libras
Fonte Azevedo (2014)
89
Dessa maneira podem-se definir os sinais icocircnicos como aqueles que fazem alusatildeo agrave
imagem do seu significado natildeo implicando que todos os sinais satildeo iguais ou sinais icocircnicos
em todas as Liacutengua de Sinais cada grupo social absorve aspectos diferentes da imagem do
referente convencionando a representaccedilatildeo do sinal Os signos arbitraacuterios satildeo os que natildeo
trazem nenhuma relaccedilatildeo de semelhanccedila com o referente
90
6 INTERVENCcedilAtildeO E CONTRIBUICcedilAtildeO LINGUIacuteSTICA DO PROFESSOR SURDO
Os estudos sobre a educaccedilatildeo sistemaacutetica dos indiacutegenas surdos da etnia Satereacute-Maweacute
levaram agrave percepccedilatildeo da necessidade iminente de uma atuaccedilatildeo no processo ensino
aprendizagem desses sujeitos Desse modo apoacutes conhecer a realidade linguiacutestica e
educacional dos indiacutegenas surdos observados nas aldeias e na zona urbana de Parintins foi
possiacutevel intervir por meio do ensino da Liacutengua Brasileira de Sinais A intervenccedilatildeo foi feita
com o consentimento dos responsaacuteveis locais onde se faziam presentes acompanhando o
objeto da pesquisa - os indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute
Assim com a autorizaccedilatildeo da famiacutelia o primeiro contato foi estabelecido entre uma
crianccedila surda indiacutegena com professor tambeacutem surdo que ocorreu na residecircncia dela na zona
urbana do municiacutepio de Parintins cujo registro de imagem consta na Figura 9
Figura 9 Encontro da crianccedila surda Satereacute-Maweacute com o professor surdo
Fonte Azevedo (2014)
No contato foi possiacutevel verificar que a crianccedila natildeo conhecia a liacutengua Libras Sua
forma de comunicaccedilatildeo era com o uso dos siacutembolos ldquocaseirosrdquo Contudo ela respondeu ao
estiacutemulo de conversaccedilatildeo com muita facilidade buscando fazer a comunicaccedilatildeo As demais
observaccedilotildees e intervenccedilatildeo deram-se no ambiente educacional na Escola de Aacuteudio e
Comunicaccedilatildeo Padre Paulo Manna (Figura 10) Nesse contexto a crianccedila acompanhava com
atenccedilatildeo ao desempenho dos demais pares sempre atenta para compreensatildeo do conteuacutedo
comunicativo Ficou evidente a necessidade de um material de suporte escrito como recurso a
ser utilizado pelos docentes no processo ensino e aprendizagem
91
Figura 10 Contato com aluno Satereacute-Maweacute surdo no ambiente escolar
Fonte ndash Azevedo (2014)
Ocorreu tambeacutem o contato com o aluno surdo da Etnia Satereacute-Maweacute matriculado na
Escola Estadual Brandatildeo de Amorim em Parintins o qual foi feito em sua residecircncia dele A
conversa com ele foi feita fluentemente em Libras (Figura 10) Entretanto ao ser indagado
sobre a cultura a liacutengua falada de sua etnia natildeo soube responder Comprovou-se que o aluno
natildeo participa do contexto cultural da etnia por isso natildeo a conhece Por tal considera-se que o
material triliacutengue seria um recurso apropriado para promover o reconhecimento de muitos
signos que fazem parte da Liacutengua Satereacute-Maweacute
Figura 11 Contato com o aluno surdo Satereacute-Maweacute na Escola Estadual Brandatildeo de Amorim
Fonte ndash Azevedo (2014)
O contato com os familiares juntamente com professores indiacutegenas e inteacuterprete
linguiacutestica possibilitou ter uma visatildeo sobre o contexto comunicativo do indiacutegena surdo A
conversa com o pai do indiacutegena surdo na Aldeia de Santa Maria indicou a forma como
conseguem se comunicar com o filho desde o momento que perceberam que ele era surdo
Explicaram as dificuldades que tiveram no processo de entendimento com ele Confirmaram
92
que o aprendizado da liacutengua Libras indicando os signos que representam a cultura da etnia
seria muito importante para a comunicaccedilatildeo entre ele e os familiares eou educadores
Figura 12 Em viagem para aacuterea indiacutegena no Rio Marau ndash comunicaccedilatildeo com familiares
Fonte - Azevedo (2014)
O projeto da pesquisa foi apresentado na comunidade de Santa Maria para os
representantes da comunidade indiacutegena (Figura 12)
Figura 13 Apresentaccedilatildeo do projeto de pesquisa agraves lideranccedilas indiacutegenas na comunidade
Fonte Azevedo (2014)
Ressalta-se a importacircncia das lideranccedilas conhecerem e participarem do desenvolvimento
do projeto A relevacircncia desta participaccedilatildeo daacute-se em funccedilatildeo de que as mesmas contribuiram
informando vocabulaacuterios caracteristicos da regiatildeo que enriqueceram o minidicionaacuterio
triliacutengue Satereacute-MaweacutePortuguecircsLibras como pode ser evidenciado a seguir
93
Vocabulaacuterios e utensiacutelios indiacutegenas sinalizados em Libras
Liacutenguas
Satereacute-Maweacute Portuguecircs Libras
Mory‟ywat siomory‟awat Arco
Satereacute-Maweacute Portuguecircs Libras
T wa Aldeia
Ressalta-se a importacircncia do minidicionaacuterio ao considerar que o vocabulaacuterio contido no
mesmo poderaacute ser utilizado pelo indiacutegena surdo para ele aprenda a comunicaccedilatildeo utilizando os
signos que fazem parte da linguagem da etnia
E realizando uma mini oficina de Libras para professores da comunidade (Figura 6)
foi possiacutevel demonstrar o uso da Libras no contexto da sala de aula A participaccedilatildeo efetiva dos
mesmos proporcionou a troca de informaccedilotildees sobre o vocabulaacuterio da liacutengua indiacutegena
94
Figura 14 Desenvolvimento de oficina de Libras com professores indiacutegenas
Fonte Azevedo (2014)
Enfatiza-se que todo empenho em levar o conhecimento da Liacutengua Brasileira de Sinais
para os indiacutegenas surdos professores indiacutegenas familiares de surdos e comunidade manteve-
se em funccedilatildeo do ensejo de fazecirc-los conhecer e compreender a capacidade e modos dos
indiacutegenas surdos se comunicarem aleacutem de promover a aprendizagem da Libras em um lugar
de tatildeo difiacutecil acesso com pequenas escolas que sequer tecircm materiais didaacuteticos adaptados a
essa clientela Por este motivo considera-se que a contribuiccedilatildeo linguiacutestica em forma de um
minidicionaacuterio eacute um passo importante para levar aos indiacutegenas surdos a sua comunidade e o
nuacutecleo familiar destes o iniacutecio do resgate da sua liacutengua natural que eacute a Liacutengua Brasileira de
Sinais e a sua liacutengua nativa aleacutem de seus traccedilos culturais incluiacutedos no minidicionaacuterio
61 Libras e Liacutengua Satereacute-Maweacute intercacircmbio de construccedilatildeo sociocultural-linguiacutestico
Analisando a histoacuteria do povo surdo e do povo indiacutegena percebe-se uma trajetoacuteria
similar nas lutas por seus direitos culturais e linguiacutesticos Ambos tentam
fortalecer o conhecimento da proacutepria histoacuteria com seus acertos desacertos conflitos
e sucessos buscando a compreensatildeo do ator social como sujeito da histoacuteria e
possibilitando assim a construccedilatildeo de um projeto poliacutetico articulado com outros
setores que incremente as possibilidades de construccedilatildeo dos proacuteprios projetos de
uma vida melhor (HERNAIZ 2009)
Neste sentido destaca-se que esses indiviacuteduos satildeo esquecidos na realidade cultural do
paiacutes como se natildeo existissem enquanto cidadatildeos que tem as suas formas de produzir no
contexto social Mudar esta realidade faz-se fundamental Para tal Guerreiro (2009 p93)
argumenta que
Os direitos culturais satildeo por sua vez um campo complexo que inclui vaacuterios
conjuntos de direitos e garantias entre os quais me interessa destacar para essa
reflexatildeo os seguintes o reconhecimento da diversidade o exerciacutecio da identidade
como povos o uso restrito do idioma uma educaccedilatildeo proacutepria e o respeito pelo
patrimocircnio cultural
95
Os processos culturais linguiacutesticos entre os povos surdos e indiacutegenas surdos eacute uma
possibilidade bem proacutexima atraveacutes do intercacircmbio sociocultural-linguiacutestico que estaacute sendo
construiacutedo pois o surdo indiacutegena faz parte da cultura surda e tem cacircmbio com a cultura
indiacutegena e em muitos casos com a cultura do povo ouvinte
Todavia alguns aspectos da cultura surda satildeo desconhecidos pelo proacuteprio surdo
indiacutegena Por isso a necessidade de surdos indiacutegenas se relacionarem com seus semelhantes
surdos seja indiacutegena ou natildeo indiacutegena para que atraveacutes deste contato possa construir sua
identidade cultural da comunidade surda tornando conhecida sua cultura tribal por meio da
liacutengua de instruccedilatildeo a Libras No exemplo abaixo ilustra-se a percepccedilatildeo dessa realidade
Man ype Crueira Libras
Kui‟a Cuia Libras
Dessa forma conhecendo valorizando e respeitando sua cultura que eacute um patrimocircnio
cultural da sociedade
Logo a liacutengua em uso pelos iacutendios surdos seja ela a Liacutengua de Sinais Indiacutegena
ldquosinais emergentesrdquo ou a Liacutengua Brasileira de Sinais (como empreacutestimo sociocultural-
linguiacutestico) e a Liacutengua Satereacute-Maweacute devem ser valorizadas com respeito muacutetuo na
transmissatildeo de sua cultura Os indiviacuteduos que precisam se comunicar por meio delas lutam
96
pelo fortalecimento dessa inserccedilatildeo cultural pela construccedilatildeo de um futuro melhor e pelo
respeito aos direitos dos iacutendios localizados neste vasto territoacuterio Nesse sentido
A identidade cultural requer tambeacutem ela a alteridade como dialogicidade
intercultural No seu proacuteprio interior ela natildeo eacute nunca algo de compacto mas
apresenta toda uma seacuterie de relaccedilotildees no plano sincrocircnico e diacrocircnico com outras
culturas que lhes datildeo vida justamente pela sua diversificaccedilatildeo e discordacircncia por
mais que ela se obstine em realizar-se mediante a identificaccedilatildeo com alguns de seus
aspectos apenas com algumas formas culturais determinadas que se arvoram
oficiais e dominantes (PONZIO 2007 p179)
Para estes estudos a uniatildeo de esforccedilos que viabilizou a realizaccedilatildeo deste diagnoacutestico eacute
uma demonstraccedilatildeo clara de que eacute perfeitamente possiacutevel trilhar no mundo linguiacutestico
possibilitando a cada indiacutegena novos horizontes na comunicaccedilatildeo
97
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A presente pesquisa teve como foco principal o levantamento de indiacutegenas surdos nas
microrregiotildees do municiacutepio de Parintins da etnia Satereacute-Maweacute
Com base nas informaccedilotildees levantadas nas terras indiacutegenas e nas cidades onde vivem
os Satereacute-Maweacute evidenciou-se que as escolas de zonas rurais e comunidades que o iacutendio
surdo requenta natildeo possui uma educaccedilatildeo diferenciada especiacutefica a sua especificidade
A realidade encontrada no municiacutepio de Parintins para com os alunos iacutendios surdos
por ser em zona urbana jaacute apresenta um diferencial A escola dispotildee de sala de recursos para
alunos indiacutegenas surdos poreacutem dentro dessa realidade haacute falta de professores que dominem a
liacutengua nativa Satereacute-Maweacute para que a escola proporcione um aprendizado triliacutengue Liacutengua
Brasileira de Sinais Liacutengua Satereacute-Maweacute e Liacutengua Portuguesa na modalidade escrita
Nas escolas visitadas onde encontramos surdos foi observado falta de mateacuterias
visuais sala de recursos com atendimentos diferenciados para os alunos indiacutegenas surdos e
indiacutegenas surdos
Foram considerados no decorrer do texto aspectos da contextualizaccedilatildeo em que se deu
a pesquisa desde as discussotildees que antecederam a elaboraccedilatildeo do projeto passando pelas
parcerias que foram estabelecidas no decorrer do processo especialmente com as vaacuterias
organizaccedilotildees indiacutegenas Satereacute-Maweacute ateacute o desenvolvimento das condiccedilotildees que garantiram a
plena participaccedilatildeo da comunidade no decorrer das atividades de pesquisa Partindo da
enumeraccedilatildeo dos principais objetivos do projeto o relatoacuterio apresenta as aacutereas e localidades
cobertas o nuacutemero de domiciacutelios levantados e de moradores entrevistados assim como a
metodologia utilizada a operacionalizaccedilatildeo das atividades de campo o treinamento dos
entrevistadores o levantamento nas cidades e nas terras indiacutegenas a forma e a intensidade
como se desenvolveu a participaccedilatildeo das lideranccedilas e da comunidade como um todo
Durante a pesquisa a sociedade indiacutegena e natildeo indiacutegena juntamente com profissionais
da educaccedilatildeo da linguiacutestica e a proacutepria comunidade surda acompanharam a perspectiva para
uma nova trajetoacuteria destes os iacutendios surdos a qual reflete o reconhecimento linguiacutestico destes
como pessoas pertencentes agraves minorias linguiacutesticas
Ao analisar as questotildees linguiacutesticas nas aacutereas indiacutegenas das microrregiotildees de Parintins
verificou-se que a implantaccedilatildeo deste empreendimento representou como um novo modelo de
desenvolvimento para a comunicaccedilatildeo de indiacutegenas surdos nas comunidades indiacutegenas
98
Ressalta-se que cada municiacutepio onde existem membros da etnia Satereacute receberaacute como
retorno da pesquisa um minidicionaacuterio triliacutengue (Liacutengua de Sinais Liacutengua Satereacute-Maweacute e
Liacutengua Portuguesa) para intercacircmbio sociocultural-linguiacutestico
Este material tem a intenccedilatildeo de abrir o caminho para a participaccedilatildeo direta dos iacutendios
na construccedilatildeo de seu futuro Ele caracteriza uma mudanccedila da forma de olhar para os povos
indiacutegenas Agora eacute preciso trabalhar para que todas as comunidades e etnias possam produzir
seus diagnoacutesticos Todas elas precisam dispor das informaccedilotildees com as quais poderatildeo dar uma
direccedilatildeo a suas accedilotildees Nesse sentido deve haver iniciativas por parte do poder local para que o
governo e as entidades aliadas agraves causas indiacutegenas possam aproveitar as experiecircncias dos
vaacuterios pesquisadores sobre as causas dos Satereacute-Maweacute para ampliar esse tipo de trabalho
Satildeo diagnoacutesticos como este que iratildeo dar o norte para novos projetos e programas que
favoreccedilam realmente garantir a autonomia dos povos indiacutegenas
Finzaliza-se com a satisfaccedilatildeo de que a pesquisa presente contribuiu com um pequeno
passo no incentivo da conservaccedilatildeo e crescimento da identidade cultural-linguiacutestica do iacutendio
surdo
99
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______ Estudos surdos I Ronice Muumlller de Quadros (org) ndash Petroacutepolis Arara Azul 2006
QUADROS Ronice Muller de KARNOPP Lodenir Becker O BIrdquo em bilinguismo na
educaccedilatildeo de surdos FERNANDES Eulalia (org) et al Surdez e Bilinguismo3 ed Porto
Alegre Mediaccedilatildeo 2005
______ Liacutengua de sinais brasileira estudos linguiacutesticos Porto Alegre Artmed 2004
QUADROS Ronice Muller de PERLIN Gladis Estudos Surdos IIndash Petroacutepolis RJ Arara
Azul 2007
______ Teorias de aquisiccedilatildeo da linguagem Florianoacutepolis Ed da UFSC 2008
RAMOS Cleacutelia Regina LIBRAS A Liacutengua de Sinais dos Surdos Brasileiros Petroacutepolis
Arara Azul Rio de Janeiro Disponiacutevel em ltwwweditora-arara-azulcombr Acesso em
28122013
RAMOS F P Histoacuteria e Poliacutetica do Ensino Superior no Brasil algumas consideraccedilotildees
sobre o fomento normas e legislaccedilatildeo Para entender a histoacuteria ISSN 2179-4111 Ano 2
Volume mar Seacuterie 1403 2011 p01-17 Disponiacutevel em
˂httpfabiopestanaramosblogspotcombr201103historia-e-politica-do-ensino-
superiorhtmlgt Acesso em 12012014
REBOUCcedilAS Larissa Silva AZEVEDO Omar Barbosa A Centralidade da Liacutengua para os
surdos pelos espaccedilos de convivecircncia e uso da libras In SAacute Niacutedia Regina Limeira de (org)
[et al] Surdos qual escola Manaus Valer e Edu 2011 p 169-182
102
RODRIGUES Aryon DallacuteIgna Liacutenguas Brasileiras para o conhecimento das liacutenguas
indiacutegenas 4ordf ed Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 2002
ROUSSEAU Jean-Jacques Ensaio sobre a origem das liacutenguas Trad Fulvia M L Moretto
3 ed Campinas Editora da Unicamp 2008 p97-102 Original Francecircs
SAacute Niacutedia Regina Limeira de Cultura Poder e Educaccedilatildeo de Surdos Satildeo Paulo Paulinas
2006 (Coleccedilatildeo Pedagogia e Educaccedilatildeo)
______ Surdos qual escola ManausEditora Valer e Edua 2011
SACKS Oliver W Vendo Vozes uma viagem ao mundo dos surdos Traduccedilatildeo Laura
Teixeira Motta Satildeo Paulo Companhia das Letras 1998
SALLES Heloisa M M L [et al] Ensino da liacutengua portuguesa para surdos caminhos
para a praacutetica pedagoacutegica 2 ed Brasiacutelia MEC SEESP 2007 v 1
SOBRINHO Roberto Sanches Mubarac Vozes Infantis Indiacutegenas As culturas escolares
como elemento de (decircs)encontros com as culturas das crianccedilas Satereacute-Maweacute Manaus Valer
Fapeam 2011
SLOMSKI Vilma Geni Educaccedilatildeo biliacutengue para surdos concepccedilotildees e implicaccedilotildees
praacuteticasCuritiba Juruaacute 2010
SKLIAR Carlos A surdez um olhar sobre as diferenccedilas 2 ed Porto AlegreMediaccedilatildeo
2001
STROBEL Karin Lilian As imagens do outro sobre a cultura surda Florianoacutepolis UFSC
2008
______ Surdos Vestiacutegios Culturais natildeo registrados na histoacuteria Florianoacutepolis 2008 Tese
de Doutorado em EducaccedilatildeoUFSC Disponiacutevel em
ltwwwronicecceprofufscbrindex arquivoskarinstrobelpdf Acesso em 02072013
STROBEL K L FERNANDES S Aspectos linguiacutesticos da Liacutengua Brasileira de Sinais
Curitiba SEEDSUEDDEE 1998
TEIXEIRA Pery (Org) Satereacute-Maweacute Retrato de um povo indiacutegena Manaus
UFAMUNICEF 2005
TEIXEIRA Vanessa Gomes A iconicidade e a arbitrariedade na Libras Revista
Philologus Ano 21 n 61 Supl Anais do VII SINEFIL Rio de Janeiro CIFEFIL-
janabr 2015 Disponiacutevel em lthttpwwwfilologiaorgbrrphANO2161supl013pdfgt
UGGEacute Henrique Padre As Bonitas Histoacuterias Satereacute-Maweacute 1ordf ed Impressa Oficial do
Estado 1993
VILHALVA S Iacutendios surdos mapeamento das Liacutenguas de Sinais do Mato Grosso do Sul
Petroacutepolis Arara Azul 2012 (Cultura e Diversidade seacuterie iacutendio surdo 1)
103
ANEXOS
104
ANEXO A- Normas estabelecidas no ingresso em terras indiacutegenas pela FUNAI
Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio
INSTRUCcedilAtildeO NORMATIVA No 01PRESI DE 29NOVEMBRO1995
PRESIDENTE DA FUNDACcedilAtildeO NACIONAL DO IacuteNDIO - FUNAI
no uso de suas atribuiccedilotildees que lhe satildeo conferidas pelo estatuto aprovado pelo decreto no
564
de 08 de junho de 1992 tendo em vista o que consta do processo FUNAI BsB no210592
R E S O L V E
Art 1o Aprovar as normas que disciplinam o ingresso em Terras Indiacutegenas com finalidade de
desenvolver Pesquisa Cientiacutefica conforme documento em anexo
Art 2o Esta Instruccedilatildeo Normativa entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo
Art 3o Revoga-se a Instruccedilatildeo Normativa no 001PRESI94 de 08 de abril
de 1994 como qualquer outro dispositivo em contraacuterio
MAacuteRCIO JOSEacute BRANDO SANTILLI
Presidente da FUNAI
ASSINADO NO ORIGINAL
Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio
ANEXO DA INSTRUCcedilAtildeO NORMATIVA No 001PRESI de 29 de novembro de 1995
Art 4o Todo e qualquer pesquisador nacional ou estrangeiro que pretenda ingressar em terras
indiacutegenas para desenvolver projeto de pesquisa cientiacutefica deveraacute encaminhar sua solicitaccedilatildeo
agrave Presidecircncia da FUNAI e no caso de requerimento coletivo deveraacute ser subscrito por um dos
membros do grupo como seu responsaacutevel Art 5o O pesquisador ou pesquisadores deveratildeo
anexar ao pedido do que trata o Art 1o a seguinte documentaccedilatildeo
I carta de apresentaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo a que o pesquisador estaacute vinculado e no caso de
estudantes de graduaccedilatildeo e poacutesgraduaccedilatildeo carta de apresentaccedilatildeo do orientador responsaacutevel
II projeto de pesquisa em portuguecircs detalhando a(s) terra(s) indiacutegenas na(s) qual(is)
pretende ingressar e cronograma
III curriculum vitae do(s) pesquisador(es) redigido em portuguecircs
IV coacutepia autenticada da Carteira de Identidade ou Passaporte quando se tratar de
nacionalidade estrangeira
V atestado individual de vacina contra moleacutestia endecircmica na
aacuterea
VI atestado meacutedico de natildeo portador de moleacutestia contagiosa
105
VII quando se tratar de pesquisador(es) de nacionalidade estrangeira exigir-se-aacute para a
efetivaccedilatildeo de seu ingresso na terra indiacutegena a obtenccedilatildeo de seu respectivo visto temporaacuterio
como prevecirc o artigo 22 do decreto no 86715 de 10 de dezembro de 1981 aleacutem do
cumprimento do disposto no decreto no 98830 de 15 de janeiro de 1990
Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio
Art 6o O pesquisador deveraacute encaminhar diretamente ao CONSELHO
NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO - CNPq o
projeto de pesquisa e curriculum
vitae
Art 7o A solicitaccedilatildeo do ingresso em terra indiacutegena por parte de pesquisadores nacionais ou
estrangeiros seraacute objeto de anaacutelise pela Coordenadoria-Geral de Estudos e Pesquisas - CGEP
uma vez instruiacutedo o processo com o parecer favoraacutevel do CNPq quanto ao meacuterito da pesquisa
proposta e apoacutes ouvidas as lideranccedilas indiacutegenas
Paraacutegrafo Uacutenico - A consulta agraves lideranccedilas indiacutegenas seraacute realizada pela FUNAI com a
presenccedila e participaccedilatildeo do pesquisador podendo este em caso de resposta positiva
permanecer na terra indiacutegena com autorizaccedilatildeo provisoacuteria ateacute a emissatildeo de uma definitiva
Art 8o No caso de negativa das lideranccedilas indiacutegenas quanto ao pleito do ingresso ou
quaisquer outros entraves levantados no decorrer da anaacutelise do processo ou em qualquer outra
etapa de desenvolvimento da pesquisa a CGEP encaminharaacute a questatildeo ao Conselho
Indigenista atraveacutes da presidecircncia do Oacutergatildeo
Art 9o Quando se tratar de pesquisa em espaccedilo territorial de ocupaccedilatildeo tradicional de iacutendios
isolados o pedido seraacute ainda objeto de exame e parecer preacutevio especiacutefico por parte do
Departamento de Iacutendios Isolados - DII FUNAI
Art 10 A presidecircncia da FUNAI poderaacute suspendera qualquer tempo as
autorizaccedilotildees concedidas de acordo com as presentes normas desde que
I seja solicitada a sua interrupccedilatildeo por parte da comunidade indiacutegena em questatildeo
II a pesquisa em desenvolvimento venha a gerar conflitos dentro da terra indiacutegena
III a ocorrecircncia de situaccedilotildees epidecircmicas agudas ou conflitos graves envolvendo iacutendios e natildeo-
iacutendios
Paraacutegrafo Uacutenico - Fica automaticamente prorrogada a autorizaccedilatildeo pelo prazo que a terra
indiacutegena objeto do projeto estiver interditada pelos motivos apontados no Art 10 inciso III
Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio
MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA
Art 11 Todos os pesquisadores estrangeiros ou nacionais que tiverem autorizaccedilotildees
concedidas para ingresso em terras indiacutegenas obrigar-se-atildeo a
I cumprir todos os preceitos legais vigentes notadamente os previstos na Lei no 6001 de
1o1273
II remeter agrave FUNAI relatoacuterio dos Trabalhos de campo em portuguecircs ateacute 6 (seis) meses apoacutes
o teacutermino da pesquisa onde poderatildeo constar sugestotildees praacuteticas que possam trazer benefiacutecios
para as comunidades indiacutegenas que poderatildeo ser consideradas pela FUNAI nas definiccedilotildees de
sua poliacutetica
III remeter agrave FUNAI 2 (dois) exemplares de publicaccedilotildees artigos teses e outras produccedilotildees
intelectuais oriundas das referidas pesquisas
Art 12 Nos casos de solicitaccedilatildeo de prorrogaccedilatildeo do prazo para continuidade do projeto de
pesquisa cientiacutefica na mesma terra indiacutegena caberaacute a Coordenaccedilatildeo Geral de Estudos e
Pesquisas - CGEP os seguintes procedimentos
I notificar junto ao setor competente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e
Tecnoloacutegico - CNPq a solicitaccedilatildeo
II consultar as lideranccedilas quanto ao retorno do pesquisador na terra indiacutegena
106
III observar o cumprimento do Art 8o por parte do pesquisador interessado do Iacutendio
Art 6o O pesquisador deveraacute encaminhar diretamente ao CONSELHO NACIONAL DE
DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO - CNPq o projeto de pesquisa e
curriculum vitae
Art 7o A solicitaccedilatildeo do ingresso em terra indiacutegena por parte de pesquisadores nacionais ou
estrangeiros seraacute objeto de anaacutelise pela Coordenadoria-Geral de Estudos e Pesquisas - CGEP
uma vez instruiacutedo o processo com o parecer favoraacutevel do CNPq quanto ao meacuterito da pesquisa
proposta e apoacutes ouvidas as lideranccedilas indiacutegenas
Paraacutegrafo Uacutenico - A consulta agraves lideranccedilas indiacutegenas seraacute realizada pela FUNAI com a
presenccedila e participaccedilatildeo do pesquisador podendo este em caso de resposta positiva
permanecer na terra indiacutegena com autorizaccedilatildeo provisoacuteria ateacute a emissatildeo de uma definitiva
Art 8o No caso de negativa das lideranccedilas indiacutegenas quanto ao pleito do ingresso ou
quaisquer outros entraves levantados no decorrer da anaacutelise do processo ou em qualquer outra
etapa de desenvolvimento da pesquisa a CGEP encaminharaacute a questatildeo ao Conselho
Indigenista atraveacutes da presidecircncia do Oacutergatildeo
Art 9o Quando se tratar de pesquisa em espaccedilo territorial de ocupaccedilatildeo tradicional de iacutendios
isolados o pedido seraacute ainda objeto de exame e parecer preacutevio especiacutefico por parte do
Departamento de Iacutendios Isolados - DII FUNAI Art 10 A presidecircncia da FUNAI poderaacute
suspendera qualquer tempo as autorizaccedilotildees concedidas de acordo com as presentes normas
desde que
I seja solicitada a sua interrupccedilatildeo por parte da comunidade indiacutegena em questatildeo
II a pesquisa em desenvolvimento venha a gerar conflitos dentro da terra indiacutegena
III a ocorrecircncia de situaccedilotildees epidecircmicas agudas ou conflitos graves envolvendo iacutendios e natildeo-
iacutendios
Paraacutegrafo Uacutenico - Fica automaticamente prorrogada a autorizaccedilatildeo pelo prazo que a terra
indiacutegena objeto do projeto estiver interditada pelos motivos apontados no Art 10 inciso III
Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA
Art 11 Todos os pesquisadores estrangeiros ou nacionais que tiverem autorizaccedilotildees
concedidas para ingresso em terras indiacutegenas obrigar-se-atildeo a
I cumprir todos os preceitos legais vigentes notadamente osprevistos na Lei no 6001 de
1o1273
II remeter agrave FUNAI relatoacuterio dos Trabalhos de campo em portuguecircs ateacute 6 (seis) meses apoacutes
o teacutermino da pesquisa onde poderatildeo constar sugestotildees praacuteticas que possam trazer benefiacutecios
para as comunidades indiacutegenas que poderatildeo ser consideradas pela FUNAI nas definiccedilotildees de
sua poliacutetica
III remeter agrave FUNAI 2 (dois) exemplares de publicaccedilotildees artigos teses e outras produccedilotildees
intelectuais oriundas das referidas pesquisas
Art 12 Nos casos de solicitaccedilatildeo de prorrogaccedilatildeo do prazo para continuidade do projeto de
pesquisa cientiacutefica na mesma terra indiacutegena caberaacute a Coordenaccedilatildeo Geral de Estudos e
Pesquisas - CGEP os seguintes procedimentos
I notificar junto ao setor competente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e
Tecnoloacutegico - CNPq a solicitaccedilatildeo
II consultar as lideranccedilas quanto ao retorno do pesquisador na terra indiacutegena
III observar o cumprimento do Art 8o por parte do pesquisador interessado
107
ANEXO B ndash Questionaacuterio para coleta de dados com professores de comunidades indiacutegenas
QUESTIONAacuteRIO
Nome Prof(a)Nordm Cel
Nome da escola
Tribo Etnia
Quantos alunos surdos iacutendio Serie Idade
Nasceu cognitiva ou adquirida
1 ndash Como eacute a forma de comunicaccedilatildeo entre o professor e o iacutendio surdo
( ) Escrita
( ) Oralizado
( ) Libras
( ) Satereacute Maweacute
2 ndash Qual liacutengua o surdo iacutendio tem mais facilidade de aprender
( ) Portuguecircs
( ) Satereacute Maweacute
( ) libras
3 ndash Qual eacute a metodologia de ensino
4 ndash Como o aluno surdo indiacutegena aprende na sala de aula Tem dificuldade ou facilidade
5 ndash Como e que liacutengua o aluno surdo se comunica com outro surdo se tiver e os demais alunos
ouvintes na sala aula
108
6 ndash Vocecirc jaacute observou a comunicaccedilatildeo entre o aluno surdo iacutendio com a famiacutelia Qual liacutengua
7 ndash Como o aluno surdo iacutendio se comunica com as pessoas da comunidade
8 ndash Qual eacute a reaccedilatildeo das pessoas ouvintes quanto o iacutendio surdo na comunidade
9 ndash Professor(a) qual sua opiniatildeo para melhoria de ensino da educaccedilatildeo de iacutendios surdos
10 ndash Qual eacute a importacircncia da liacutengua indiacutegena Satereacute Maweacute para o aluno surdo
11 ndash Fale sobre a cultura e historia dos Satereacute Maweacute o iacutendio surdo participa
109
ANEXO C ndash Autorizaccedilatildeo para pesquisa de campo em terras indiacutegenas
110
ANEXO C-1 ndash Autorizaccedilatildeo para pequisa de campo com uso de imagem permitido
111
ANEXO C-2 ndash Autorizaccedilatildeo para pequisa de campo com uso de imagem permitido
112
ANEXO D ndash Parecere pedagoacutegico da Aluna Indiacutegena Surda
(ESCOLA PADRE PAULOMANNA)
ESCOLA DE AacuteUDIO COMUNICACcedilAtildeO
Pe PAULO MANNA Mantida pela Diocese de Parintins CNPJ 045945370001-88 Av Naccedilotildees Unidas 1792 FoneFax (092) 3533-3456 69151-060 ndash PARINTINS-AMAZONAS-BRASIL
Parecer Pedagoacutegico
Helena Ferreira Arauacutejo 06 anos de idade aluna da Escola Pe Paulo Manna desde
marccedilo de 2013 mora na rua 4 nordm 298 no bairro da Uniatildeo
Segundo relatos da matildee a aluna nasceu de parto normal comeccedilou a andar aos trecircs
anos de idade e eacute descendente dos iacutendios Satereacute- Maueacute Os anos passaram e ela comeccedilou a
perceber que sua filha natildeo ouvia e nem falava pois jaacute tinha outros filhos e estes comeccedilaram a
falar e andar cedo Informou-nos que para se comunicar com ela fazia gestos ateacute ela entender
o que se tornava muito difiacutecil
Disse-nos que falaram para ela do trabalho desenvolvido na Escola Paulo Manna com
alunos surdos e resolveu procurar a escola pois o tempo estava passando e a menina natildeo
falava e ela natildeo sabia mais o que fazer para reverter a situaccedilatildeo e a sua filha ser como os outros
irmatildeos
Atualmente estuda numa turma de Preacute ndash Escolar (2ordm periacuteodo) eacute uma aluna surda No
ano passado quando chegou agrave escola nos primeiros dias chorava muito e ficava zangada se
escondia embaixo da mesa para que ningueacutem a incomodasse visto que natildeo estava adaptada
ao ambiente e aos poucos foi se adaptando e passou a conviver com os colegas ouvintes em
sala de aula
A aluna gosta de fazer suas atividades escolares tem boa coordenaccedilatildeo motorainterage
com os colegas reconhece cores e formas gosta de desenhar e daacute formas aos seus desenhos realiza atividades de leitura de imagem montagem com jogos de encaixe participa de
brincadeiras na quadra parque e brinquedoteca
Em alguns momentos quando quer alguma coisa do colega e este natildeo lhe daacute fica com
raiva chora e se isola Em outros momentos penso que por natildeo saber se comunicar com os
colegas fica um pouco retraiacuteda e torna-se um a receptora diferenciada que requer cuidados
no tocante agrave comunicaccedilatildeo principalmente de como chegar ateacute ela
Procuramos adaptar brincadeiras para envolver a aluna trazendo-a de volta para
participar das atividades e conversar com ela que nem tudo o que a gente quer podemos ter e
fazemos alguma brincadeira que ela goste e rapidinho ela volta a participar e se integrar ao
grupo
Sabemos que eacute difiacutecil para ela o processo ensino aprendizagem porque ela tem que ter
uma aprendizagem triliacutengue visto que tem que aprender a Liacutengua Indiacutegena+ Libras + Liacutengua
Portuguesa e jaacute eacute difiacutecil aprender duas mas natildeo impossiacutevel
113
Neste ano de 2014 contamos com a ajuda da professora Caacutetia (surda) com aulas de
Libras No primeiro momento fica junto com os colegas ouvintes onde procuramos trabalhar
de forma biliacutengue (Portuguecircs + Libras) para que ela entenda o que estaacute sendo repassado em
sala de aula E o que se percebe eacute que a aluna nos daacute respostas precisas dentro dos objetivos
propostos Em outro momento a professora Caacutetia ensina agrave aluna os sinais em LIBRAS que eacute
a liacutengua oficial da pessoa surda trabalhando o concreto com ela ensinando-a com jogos
cartazes reaacutelias viacutedeos transformando tais atividades em aulas dinacircmicas e prazerosas
Dentro dessa realidade a aluna vai participando buscando se inserir nesse universo
cheio de duacutevidas e incertezas e noacutes professores procuramos fazer o melhor para que a aluna
se sinta bem no ambiente escolar visto que o processo ensino aprendizagem para uma crianccedila
de outra etnia natildeo eacute faacutecil pois segundo depoimentos de alguns indiacutegenas a aprendizagem
indiacutegena passa pela demonstraccedilatildeo observaccedilatildeo imitaccedilatildeo tentativa e erro e quando o aluno
vem para a escola tem que se socializar obedecer a comandos regidos pelo sistema e isso
muitas vezes o deixa confuso e os maiores ateacute desistem
Dessa forma satildeo necessaacuterias estrateacutegias de ensino diferenciadas que deem suporte para
que a aluna seja trabalhada de forma triliacutengue no contexto escolar para que ela natildeo perca a
sua essecircncia a sua cultura que sejam adaptados trabalhos de acordo com a realidade
indiacutegena para que ela natildeo perca a sua identidade e saiba conduzir sua aprendizagem dentro de
um contexto diferenciado podendo aprender o que lhe eacute de direito bem como viver bem em
sociedade
Parintins 14 de abril de 2014
MARLON JORGE SILVA DE AZEVEDO
MAPEAMENTO E CONTRIBUICcedilOtildeES LINGUIacuteSTICAS DO PROFESSOR SURDO
AOS IacuteNDIOS SURDOS DA ETNIA SATEREacute-MAWEacute NA MICRORREGIAtildeO DE
PARINTINS
Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Letras
Artes para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre
em Letras opccedilatildeo Etnolinguiacutestica
Indiacutegena Universidade do Estado
Estadual do Amazonas-UEA Programa
de Poacutes Graduaccedilatildeo em Letras Artes
Orientador Prof Dr Valteir Martins
MANAUS ndash AM
2015
Catalogaccedilatildeo na fonte Elaboraccedilatildeo Ana Castelo CRB11ordf -314
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS ndash wwwueaedubr
Av Leonardo Malcher 1728 ndash Ed Professor Samuel Benchimol
Pccedila XIV de Janeiro CEP 69010-170 Manaus - Am
A994M Azevedo Marlon Jorge Silva de
Mapeamento e contribuiccedilotildees linguiacutesticas do professor surdo aos iacutendios surdos da etnia Satereacute-Maweacute na microrregiatildeo de Parintins Marlon Jorge Silva de Azevedo ndash Manaus UEA 2015
115fls il 30cm
Dissertaccedilatildeo de Mestrado e Produto apresentada ao Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo em Letras e Artes da Universidade do Estado do Amazonas como requisito para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em Letras e Artes
Produto Minidicionaacuterio Triliacutengue indiacutegena Saterecirc-Maweacute em Libras e Liacutengua Portuguesa
Orientador Prof Dr Valteir Martins
1Linguiacutestica 2Liacutengua de Sinais 3 Satereacute-Maweacute 4 Dicionaacuterio I Orientador Prof Dr Valteir Martins IITiacutetulo
CDU 81rsquo3744
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS
PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM LETRAS ARTES
MESTRADO PROFISSIONAL EM LETRAS ARTES
DEDICATOacuteRIA
Aos meus familiares em especial a minha matildee Idalina
Azevedo que desde o ventre proporcionou-me seu amor com
dedicaccedilatildeo e todas suas forccedilas ao meu lado em momentos tatildeo
difiacuteceis nunca deixando de acreditar no poder de Deus sobre
minha vida
A minha amada esposa Rosana Valeacuteria mulher saacutebia
e auxiliadora de todos os momentos do meu viver
Aos meus filhos Caroline Camila e Benjamim Jorge
pelo amor que sempre me deram pela compreensatildeo de
minhas ausecircncias durante a trajetoacuteria de minha pesquisa
AGRADECIMENTOS
A Deus em primeiro lugar que planejou a minha vida quando eu ainda nem existia e
me libertou no momento que recorri a Ele E me fez acreditar que o impossiacutevel soacute existe
quando natildeo temos feacute
Agrave Coordenadora do Mestrado em Letras e Artes da Universidade do Estado do
Amazonas ndash UEA Professora Dra Juciane Cavalheiros pelo excelente trabalho que
desenvolve nesta instituiccedilatildeo contribuindo para a formaccedilatildeo de novos profissionais na
educaccedilatildeo do nosso paiacutes
Ao meu orientador Dr Valteir Martins Professor do Mestrado em Letras e Artes
com sua saacutebia experiecircncia de ensino acreditou que atraveacutes deste trabalho pudeacutessemos levar
contribuiccedilotildees linguiacutesticas no que tange agrave Liacutengua de Sinais dos indiacutegenas surdos Satereacute-
Maweacute habitantes da microrregiatildeo de Parintins
Aos meus professores do Mestrado em Letras e Artes Dra Silvana Martins Dr
Mauricio Mattos Dr Maacutercio e Dra Luciana Paacutescoa Dra Gleidys Maia Dr Camilo Ramos
pelas preciosas contribuiccedilotildees agrave minha pesquisa
Aos professores indiacutegenas Jacob de Souza Jocimar Alencar e Josiel Santos por me
introduzir nas comunidades indiacutegenas Satereacute-Maweacute pelas contribuiccedilotildees na traduccedilatildeo das
palavras da liacutengua portuguesa para a liacutengua Satereacute-Maweacute
Aos meus colegas do mestrado em Letras e Artes pelo companheirismo e dedicaccedilatildeo
no dia a dia
Agrave professora Elizandra de Lima Silva Bastos pela ajuda nas correccedilotildees textuais da
Liacutengua Portuguesa
Agraves instituiccedilotildees especiacuteficas que de alguma forma contribuiacuteram para concretizar esta
pesquisa
MANAUS
Escola Estadual Augusto Carneiro dos Santos
Centro de Atendimento ao surdo ndash CAS
A Igreja Tabernaacuteculo Batista Pastor Paulo Hatcher
PARINTINS
Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio ndash FUNAI
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE
Coordenadora Regional de Educaccedilatildeo de Parintins - CREP
Universidade Estadual do Amazonas ndash CESP
Casa da Sauacutede Indiacutegena
Casa do Iacutendio de Parintins
Escola Aacuteudio Comunicaccedilatildeo Pe Paulo Manna
Diocese de Parintins Pe Henrique Uggeacute
Escola Estadual Brandatildeo de Amorim
Escola Estadual Joatildeo Bosco Ramos de Lima
MAUEacuteS
Secretaria de Estado de Educaccedilatildeo
Secretaria de Educaccedilatildeo Municipal
Casa do estudante indiacutegena Sr Jusivan
Tuxaua da Comunidade de Santa Maria Sr Helito Barbosa
Sr Maxiliano Batista Barros
BARREIRINHA
Secretaria de Educaccedilatildeo Municipal - SEMED
Secretaria de Estado de Educaccedilatildeo
Coordenaccedilatildeo Municipal de Educaccedilatildeo Indiacutegena Sr Santino Lopes
Coordenador da Escola Profa Rosa Cabral Sr Dulcemar F dos Santos
Professora Indiacutegena Satereacute-Maweacute Maria Inez
NHAMUNDAacute
Casa de Sauacutede Indiacutegena - DSEI
Secretaria de Estadual de Educaccedilatildeo
BOA VISTA DO RAMOS
Secretaria de Estado e Educaccedilatildeo
Escola Estadual Princesa Izabel
Comunidade Satereacute-Maweacute
Professora Erly Tereza R Goacutees
URUCARAacute
Poacutelo Base de Urucaraacute ndash DSEI
Distrito Sanitaacuterio Especial Indiacutegena
Lider Indiacutegena Etnia Hexkaryana Caiacutenatilde Mohso
SraMaacuterlucia Kutasa
Enfermeiro SrJonas Pontes
SraDalva H Farias Cantalixto de Melo
SrLuiz Cantalixto de Melo
SAtildeO SEBASTIAtildeO DO UATUMAtilde
Poacutelo Base de Urucaraacute ndash DSEI
Lider Indiacutegena Etnia Hexkaryana Caiacutenatilde Mohso
EPIacuteGRAFE
Matildeos
corpo em movimento
captar e entender
Teu querer teu dizer
Sorrisos laacutegrimas
sentimentos e emoccedilotildees
Libras eacute amor eacute paixatildeo eacute liacutengua
(Marlon Jorge)
RESUMO
Esta pesquisa apresenta o resultado do mapeamento de iacutendios surdos nas comunidades
indiacutegenas Satereacute-Maweacute na microrregiatildeo de Parintins Partindo do levantamento buscou-se
identificar de que forma os iacutendios surdos estabeleciam a comunicaccedilatildeo com seus pares na sua
comunidade Para isso foi utilizado o procedimento metodoloacutegico por meio de entrevistas
abertas com as lideranccedilas indiacutegenas os familiares os professores e gestores escolares e
outros membros das comunidades assim como do proacuteprio iacutendio surdo O processo de anaacutelise
estabelecido para este estudo consistiu no enfoque de natureza linguiacutestica do leacutexico
(vocabulaacuterio) o qual foi registrado por meio de viacutedeos fotos e gravaccedilotildees A partir dos dados
iniciou-se a elaboraccedilatildeo de um minidicionaacuterio triliacutengue nas liacutenguas Satereacute-Maweacuteliacutengua de
sinais portuguecircs escrito a fim de facilitar a comunicaccedilatildeo principalmente no contexto da
comunidade educacional escolar entre os professores e os alunos iacutendios surdos Esta
contribuiccedilatildeo linguiacutestica portanto possibilitou uma nova percepccedilatildeo no processo histoacuterico da
diversidade linguiacutestica para valorizar e respeitar natildeo soacute uma liacutengua a liacutengua oficial do paiacutes
(Portuguecircs) mas tambeacutem a liacutengua natural do povo surdo (Libras) e a liacutengua indiacutegena do povo
Satereacute-Maweacute
Palavras chaves
1Linguiacutestica 2Liacutengua de sinais 3Satereacute-Maweacute 4 Dicionaacuterio
ABSTRACT
This research presents the results of the mapping deaf Indians in indigenous
communities Satereacute-Maweacute in the region of Parintins Starting from the survey we sought to
identify how the deaf Indians established communication with peers in their community For
this methodological procedure through open interviews with indigenous leaders family
members teachers and school administrators and other community members were used as
well as the Indian himself deaf The review process established for this study consisted of
focus linguistic lexicon (vocabulary) which was recorded through videos photos and
recordings From the data we initiated the development of a trilingual Mini Dictionary in
languages Satereacute-Maweacute sign language written Portuguese in order to facilitate
communication especially in the context of school learning community among teachers and
students deaf Indians This linguistic contribution therefore provided a new insight in the
historical process of linguistic diversity to value and respect not only one language the
official language (Portuguese) but also the natural language of deaf people (Libras) and the
indigenous language the people Satereacute-Maweacute
Key Words 1Linguiacutestica 2Liacutengua signal 3Satereacute-Maweacute 4Dictionary
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 13
1 CONSIDERACcedilOtildeES DOS ESTUDOS LINGUIacuteSTICOS DA LIacuteNGUA
BRASILEIRA DE SINAIS
17
11 Liacutengua de Sinais como Liacutengua Natural 20
12 Liacutengua Brasileira de Sinais 22
13 Liacutenguas de Sinais Indiacutegenas pesquisadas no Brasil 26
131 Liacutengua de Sinais Urubu-Kaapor 28
132 Liacutengua de Sinais Emergentes 29
1321 Realidade do Contexto educacional escolar do indiacutegena surdo 31
2 HISTOacuteRIA DO POVO INDIacuteGENA SATEREacute-MAWEacute CULTURA E
LIacuteNGUA
34
21 Breve Relato Histoacuterico 35
22 Classificaccedilatildeo da Liacutengua Satereacute-Maweacute 36
221 Contexto educacional escolar entre os Satereacute-Maweacute 38
3 METODOLOGIA IMPLEMENTADA NA PESQUISA 42
31 Aacuterea e localidade da pesquisa 42
32 Estrateacutegias gerais para a realizaccedilatildeo da coleta de dados 43
33 Procedimentos da coleta de dados 43
34 Articulaccedilatildeo local 44
35 Abordagem ao objeto da pesquisa 44
4 MAPEAMENTO DOS INDIOS SURDOS DA COMUNIDADE SATEREacute-
-MAWEacute NAS MICRORREGIOtildeES DE PARINTINS E SUA REALIDADE
EDUCACIONAL ESCOLAR
45
41 Mapeamento da existecircncia dos iacutendios surdos na microrregiatildeo de Parintins 46
411 Histoacuterico de Parintins 46
412 Histoacuterico de Barreirinha 52
413 Histoacuterico de Maueacutes 53
414 Histoacuterico de Boa Vista do Ramos 55
415 Histoacuterico de Nhamundaacute 56
42 Realidade linguiacutestica e educacional dos iacutendios surdos encontrados na etnia
Satereacute-Maweacute
59
43 Inventaacuterio de gestos da linguagem caseira dos surdos Satereacute-Maweacute 66
431 Os sinais caseiros dos indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute 66
432 Municiacutepio de Parintins 66
4321 O primeiro surdo 67
4322 O segundo surdo 67
4323 O terceiro surdo 68
44 O indiacutegena surdo da comunidade de Ponta Alegre do Municiacutepio de Barreirinha 70
45 Os indiacutegenas surdos do Municiacutepio de Maueacutes 73
451 O primeiro surdo da Comunidade de Santa Maria 75
452 O segundo surdo da Comunidade de Santa Maria 79
5 ICONICIDADE E ARBITRARIEDADE NA CRIACcedilAtildeO DOS SINAIS
CASEIROS
83
6 INTERVENCcedilAtildeO E CONTRIBUICcedilAtildeO LINGUIacuteSTICA DO PROFESSOR
SURDO
90
61 Libras e Liacutengua Satereacute-Maweacute intercacircmbio de construccedilatildeo sociocultural-
linguiacutestico
94
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 97
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 99
ANEXOS
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 Croqui da aacuterea e localidade da pesquisa
FIGURA 2 Sinais caseiros utilizado pela crianccedila de 5 anos
FIGURA 3 Sinais caseiros utilizados pelo aluno da comunidade de Ponta Alegre
Barreirinha
FIGURA 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa
Maria (30 sinais coletados)
FIGURA 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo idoso na comunidade de Santa Maria
FIGURA 6 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos que se refere agrave
arbitrariedade
FIGURA 7 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos aos quais se referem a
iconicidade
FIGURA 8 Caracteriacutesticas da imagem em Liacutengua de Sinais Satereacute-Maweacute dos objetos
aos quais se referem agrave iconicidade
FIGURA 9 Encontro da crianccedila surda Satereacute-Maweacute com o professor surdo
FIGURA 10 Contato com aluno Satereacute-Maweacute surdo no ambiente escolar
FIGURA 11 Contato com o aluno surdo Satereacute-Maweacute na Escola Estadual Brandatildeo de
Amorim
FIGURA 12 Em viagem para aacuterea indiacutegena no Rio Marau
FIGURA 13 Apresentaccedilatildeo do projeto de pesquisa agraves lideranccedilas indiacutegenas na
comunidade
FIGURA 14 Desenvolvimento de oficina de Libras com professores indiacutegenas
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Mapeamento da existecircncia de iacutendios surdos nas respectivas comunidades
indiacutegenas ou zona urbana da microrregiatildeo de Parintins
Tabela 2 11 Sinais caseiros utilizados pela crianccedila indiacutegena surda de 5 anos e seus
familiares
Tabela 3 13 Sinais caseiros coletados e utilizados pelo aluno da comunidade de
Ponta Alegre
Tabela 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa
Maria
Tabela 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais antigo residente isolado na
comunidade de Santa Maria no Rio Marau ( 18 sinais coletados)
56
66
69
73
77
13
INTRODUCcedilAtildeO
Todo cidadatildeo tem o direito de participar na vida poliacutetica social e econocircmica de um
paiacutes Neste contexto inclui-se o cidadatildeo surdo Infelizmente a histoacuteria relata que no passado
os sujeitos surdos1 eram colocados agraves margens da sociedade em todos seus aspectos social
poliacutetico econocircmico cultural linguiacutestico e educacional
Entretanto ao longo da histoacuteria os surdos com a participaccedilatildeo de ouvintes na luta
incessante pelos seus direitos muitas conquistas foram alcanccediladas Entre estas estaacute o direito
de ter sua proacutepria liacutengua a Liacutengua Brasileira de Sinais-LIBRAS A Lei nordm 10436 de 2002 a
qual a reconhece como sistema linguiacutestico de natureza visual-motora com estrutura
gramatical proacutepria constituindo-se um sistema linguiacutestico de transmissatildeo de ideias e fatos
oriundos da comunidade de pessoas surdas do Brasil Conforme Saacute (2006) no Brasil as
comunidades urbanas usam a ldquoliacutengua de sinais brasileirardquo ou simplesmente ldquoliacutengua de sinaisrdquo
Vale ressaltar que a Liacutengua de Sinais segundo Strobel (2008) eacute um aspecto
fundamental da cultura surda2 parte do artefato cultural linguiacutestico
3 do povo surdo e constitui
1 Na aacuterea de pesquisa vinculada a perspectiva socioantropoloacutegica existe uma clara diferenciaccedilatildeo entre a opccedilatildeo
de escrever surdo com letra minuacutescula ou maiuacutescula conforme explica Andreis-Witkoski (2011) ldquoapesar de
nas uacuteltimas deacutecadas ter sido estabelecido uma distinccedilatildeo entre a expressatildeo ldquoSurdordquo com letra maiuacutescula para
identificar uma categoria cultural e ldquosurdordquo com minuacutescula em referecircncia a deficiecircncia auditiva nesta Tese natildeo
se utiliza este tipo de marcaccedilatildeo Compartilha-se da concepccedilatildeo exposta por Owen Wrigley (1996 p53) quando
adverte que esta diferenciaccedilatildeo constitui-se em ldquoum dualismo riacutegido-bom Surdo mau surdo ndash que pouco faz para
ajudar os indiviacuteduos em suas vidas diaacuterias [sem] ajudar a clarear um alcance maior de estrateacutegias colocadas pelos
indiviacuteduos lidando com a exclusatildeo e as muitas faces da opressatildeo em suas rotinas Em termos simples a
dicotomia de bdquoSs‟ estaacute tatildeo cruelmente composta que embora inicialmente seja uacutetil ela agora serve para silenciar
o alcance total das experiecircncias dos sSurdosrdquo (2011 p13) Logo opta-se nesta dissertaccedilatildeo o uso da expressatildeo
ldquosurdordquo (minuacutescula) que refere-se aos ldquosurdordquo enquanto pessoas que pela impossibilidades formam uma
minoria diferente com caracteriacutesticas linguiacutesticas cognitivas culturais e comunitaacuterias especiacuteficas (SAacute 2006
p107) 2 Cultura Surda ldquoeacute o jeito de o surdo entender o mundo e de modificaacute-lo a fim de se tornaacute-lo acessiacutevel e habitaacutevel
ajustando-os com as suas percepccedilotildees visuais que contribuem para a definiccedilatildeo das identidades surdas e das
ldquoalmasrdquo das comunidades surdas Isto significa que abrange a liacutengua as ideacuteias as crenccedilas os costumes e os
haacutebitos de povordquo (STROBEL2008 p 24) 3Conforme Strobel (2008 p37) o que seriam artefatos culturais linguiacutesticos Ao referirmos ldquoartefatordquo
pensamos habitualmente no significado de objetos ou materiais produzidos pelos grupos culturais Realmente de
fato eacute uma forma material de expressar uma determinada cultura poreacutem tambeacutem podem incluir ldquotudo o que se
vecirc e senterdquo quando se estaacute em contato com a cultura de uma comunidade a exemplo vestuaacuterios tradiccedilotildees
crenccedilas valores e normas etc Ou seja no campo dos Estudos Culturais o conceito de ldquoartefatosrdquo natildeo se referem
apenas a materialismo culturais como tambeacutem naquilo que na cultura constitui produccedilotildees do sujeito que tem seu
proacuteprio modo de ser ver entender e transformar o mundo Logo um dos artefatos culturais que ilustram a
cultura do povo surdo eacute o linguiacutestico a liacutengua de sinais que eacute um aspecto fundamental da cultura surda sendo
uma das principais marcas da identidade surda
14
uma das principais marcas da identidade do ser surdo Incluem-se tambeacutem os ldquosinais
emergentesrdquo ou ldquosinais caseirosrdquo dos sujeitos surdos isolados de comunidades surdas no caso
dos surdos das zonas rurais e dos surdos iacutendios Estes surdos embora natildeo pertenccedilam agraves
mesmas comunidades se identificam com o povo surdo4 pois compartilham as mesmas
peculiaridades constroem sua formaccedilatildeo de mundo por meio de artefato cultural visual5
independentemente do grau linguiacutestico que possuem os quais podem ser os gestos caseiros
denominados tambeacutem como sinais emergentes Nesta perspectiva teoacuterica soacutecioantropoloacutegica
enfoca-se como o objeto da pesquisa o sujeito surdo indiacutegena ou seja o iacutendio surdo
Antes de prosseguir com a abordagem mencionada faz-se necessaacuterio destacar que
assim como o povo surdo o povo indiacutegena tambeacutem traccedilou diversas lutas na trajetoacuteria para
reconhecimento dos seus direitos O reconhecimento dos direitos dos povos indiacutegenas no
mundo contemporacircneo avanccedilou muito em relaccedilatildeo haacute algumas deacutecadas passadas De acordo
com Lucinda (apud Saacute 2006) em consenso geral nos debates da Comissatildeo Educaccedilatildeo
Cultura e Desporto que antecedem a elaboraccedilatildeo do texto da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica
Federativa do Brasil de 1988 tanto a liacutengua de sinais como as liacutenguas indiacutegenas deveriam ser
consideradas no texto da Constituiccedilatildeo como liacutenguas maternas Assim como resultado o
Referencial Curricular Nacional para Escolas Indiacutegenas (1998 p31) declara que ldquoA
Constituiccedilatildeo Federal aleacutem de perceber o iacutendio como pessoa com direitos e deveres como
qualquer outro cidadatildeo brasileiro o reconhece como membro de uma comunidade e de um
grupo isto eacute como membro de uma coletividade que eacute titular de direitos coletivos e
especiaisrdquo Ou seja reconhece para os iacutendios o direito agrave praacutetica de suas formas culturais
proacuteprias E no tiacutetulo VIII ldquoDa Ordem Socialrdquo conteacutem um capiacutetulo denominado ldquoDos Iacutendiosrdquo
onde se diz que ldquosatildeo reconhecidos aos iacutendios a sua organizaccedilatildeo social costumes liacutenguas
crenccedilas e tradiccedilotildees []rdquo (ibid p31)
Em meio a essa diversidade linguiacutestica que caracteriza o Brasil como sendo um paiacutes
pluriliacutengue estatildeo situados os ldquosurdos brasileirosrdquo que tecircm sua proacutepria liacutengua reconhecida
oficialmente a Liacutengua de Sinais Logo existem tambeacutem ldquoiacutendios surdosrdquo da etnia Satereacute-
4Quando referimos ldquopovo surdordquo estamos falando ldquode sujeitos surdos que natildeo habitam no mesmo local mas
que estatildeo ligados por uma origem por um coacutedigo de eacutetico de formaccedilatildeo visual independente do grau de evoluccedilatildeo
linguiacutestica tais como a liacutengua de sinais a cultura surda e quaisquer outros laccedilosrdquo (ibid p30) 5Perlin e Miranda (2003) complementam ldquoExperiecircncia visual significa a utilizaccedilatildeo visual em (substituiccedilatildeo total
agrave audiccedilatildeo) como meio de comunicaccedilatildeo Desta experiecircncia visual surge a cultura surda representada pela liacutengua
de sinais pelo modo diferente de ser de se expressar de conhecer o mundo de entrar nas artes no
conhecimento cientiacutefico e acadecircmicordquo (apud STROBEL 2008 p39)
15
Maweacute Qual sua forma de se comunicar Existe uma ldquoLiacutengua de Sinaisrdquo especifica do iacutendio
surdo
Diante das questotildees levantadas surgiu entatildeo agrave necessidade de realizar uma pesquisa
no campo da linguiacutestica na perspectiva dos estudos surdos6 voltado especificamente para o
iacutendio surdo da etnia Satereacute-Maweacute Foram traccedilados os seguintes objetivos i) mapear os iacutendios
surdos na microrregiatildeo de Parintins ii) identificar de que forma o iacutendio surdo estabelece a
comunicaccedilatildeo com sua comunidade especificamente no acircmbito educacional ou se utilizam
liacutenguas de sinais da comunidade local iii) registrar a forma de comunicaccedilatildeo no dia a dia do
iacutendio surdo nas comunidades indiacutegenas a partir dos estudos linguiacutesticos da Liacutengua de Sinais
dos grupos existentes e sua relaccedilatildeo com a comunidade local iv) promover o intercacircmbio entre
a Liacutengua de Sinais dos iacutendios surdos mapeados da etnia Satereacute-Maweacute e a LIBRAS da
comunidade surda do Municiacutepio de Parintins - Amazonas
Este trabalho conteacutem a seguinte divisatildeo primeiro capiacutetulo - apresenta consideraccedilotildees
linguiacutesticas fundamentais aos estudos surdos onde explicita o reconhecimento da Liacutengua de
Sinais como elemento cultural linguiacutestico do povo surdo abordando tambeacutem a oficializaccedilatildeo
da Liacutengua Brasileira de Sinais e as Liacutenguas Indiacutegenas pesquisadas no Brasil como a realidade
do contexto escolar linguiacutestico na comunidade indiacutegena segundo capiacutetulo - relata a histoacuteria
do povo indiacutegena Satereacute-Maweacute sua principal expressatildeo cultural sua liacutengua e seu respectivo
contexto educacional escolar terceiro capiacutetulo - apresenta os procedimentos metodoloacutegicos
utilizados na operacionalizaccedilatildeo da pesquisa e o capiacutetulo quatro - apresenta a anaacutelise do
resultado do Mapeamento dos iacutendios surdos da etnia Satereacute-Maweacute na microrregiatildeo de
Parintins Neste satildeo tambeacutem apresentadas as relaccedilotildees socioculturais-linguiacutesticas de iacutendios
surdos Satereacute-Maweacute com as contribuiccedilotildees linguiacutesticas do professor surdo aos Iacutendios surdos na
comunidade Satereacute-Maweacute estabelecendo assim as relaccedilotildees culturais na construccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo linguiacutestica LIBRAS e Liacutengua Satereacute-Maweacute como um intercacircmbio de construccedilatildeo
sociocultural
Desse modo a pesquisa tem como premissa baacutesica primeiramente mapear os iacutendios
surdos da etnia Satereacute-Maweacute e assim promover um intercacircmbio oferecendo contribuiccedilotildees
linguiacutesticas fundamentadas na pesquisa do leacutexico (vocabulaacuterio) da etnia referida com a Libras
(Liacutengua Brasileira de Sinais) e a Liacutengua Portuguesa por meio da elaboraccedilatildeo de um
6 Conforme Skliar eacute o campo de pesquisa em educaccedilatildeo onde as identidades a liacutenguas a histoacuteria a cultura da
comunidade surda satildeo focalizados e entendidos a partir da diferenccedila a partir do seu reconhecimento poliacutetico
(2001p29)
16
minidicionaacuterio triliacutengue Assim espera-se contribuir para a iniciaccedilatildeo dos indiacutegenas surdos da
etnia Satereacute-Maweacute na Liacutengua Brasileira de Sinais dando a eles um dos direitos universais do
ser humano que eacute direito a uma liacutengua Tambeacutem deseja-se contribuir para a iniciaccedilatildeo dos
indiacutegenas surdos da etnia Satereacute-Maweacute na Liacutengua Brasileira de Sinais dando a eles um dos
direitos universais do ser humano que eacute direito a uma liacutengua proacutepria
17
1 CONSIDERACcedilOtildeES DOS ESTUDOS LINGUIacuteSTICOS DA LIacuteNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
A Linguiacutestica conhecida hoje como a ciecircncia que estuda a linguagem humana eacute uma
ciecircncia recente poreacutem com um saber antigo Passou a se impor como ciecircncia agrave medida que
demonstrou seu meacutetodo e seu objeto de estudo Eacute definida como estudo cientiacutefico que visa
descrever ou explicar a linguagem verbal humana (ORLANDI 1999)
A Linguiacutestica diferencia-se da gramaacutetica tradicional normativa na medida que natildeo
tem como objetivo ditar regras de correccedilatildeo para uso da linguagem Seu interesse eacute a liacutengua
como mateacuteria de reflexatildeo (QUADROS e KARNOPP 2004) Segundo as pesquisas nesta
aacuterea Vandresen (1988 apud QUADROS 2007 p 83) tem-se ldquoa linguiacutestica contrastiva como
uma subaacuterea da linguiacutestica geral interessada em apontar as similaridades e diferenccedilas
estruturais entre a liacutengua materna (de um grupo de alunos) e uma liacutengua estrangeirardquo
Na taxonomia de similaridades e contrastes entre as liacutenguas existe uma seacuterie de
regularidades como haacute similaridades comportamentais que natildeo precisam ser explicitadas
porque constituem a base comum das liacutenguas naturais e o compartilhamento dessas
similaridades poderaacute servir como base para inferecircncias quanto agraves formas da liacutengua estrangeira
e quanto agraves diferenccedilas por serem sistemaacuteticas podem admitir tratamento inferencial e
heuriacutestico (KATO 1988 apud QUADROS 2007)
Segundo Nascimento (2009) a vitalidade da liacutengua depende de sua utilizaccedilatildeo efetiva
tanto em escala nacional quanto em escala mundial Quanto mais uma liacutengua eacute utilizada mais
ela eacute viva e inversamente quanto menos eacute utilizada mais ela eacute ameaccedilada de extinccedilatildeo Assim
sendo eacute o uso social da liacutengua que determina seu grau de revitalizaccedilatildeo
Por essas razotildees a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Linguiacutesticos (BARCELONA
1996 p 3) tem como ponto de partida
[] as comunidades linguiacutesticas e natildeo os Estados e inscreve-se no quadro do
reforccedilo das instituiccedilotildees internacionais capazes de garantir um desenvolvimento
duradouro e equitativo para toda a humanidade e tem como finalidade favorecer um
quadro de organizaccedilatildeo poliacutetica da diversidade linguiacutestica baseado no respeito na
convivecircncia e nos benefiacutecios reciacuteprocos
Em seu TITULO PREacuteVIO tem como conceitos
18
Artigo 1ordm
1 Esta Declaraccedilatildeo entende por comunidade linguiacutestica toda a sociedade humana
que radicada historicamente num determinado espaccedilo territorial reconhecido ou
natildeo se identifica como povo e desenvolveu uma liacutengua comum como meio de
comunicaccedilatildeo natural e de coesatildeo cultural entre os seus membros A denominaccedilatildeo
liacutengua proacutepria de um territoacuterio refere-se ao idioma da comunidade historicamente
estabelecida neste espaccedilo [grifo nosso]
2 Esta Declaraccedilatildeo parte do princiacutepio de que os direitos linguiacutesticos satildeo
simultaneamente individuais e colectivos e adapta como referecircncia da plenitude dos
direitos linguiacutesticos o caso de uma comunidade linguiacutestica histoacuterica no respectivo
espaccedilo territorial entendendo-se este natildeo apenas como a aacuterea geograacutefica onde esta
comunidade vive mas tambeacutem como um espaccedilo social e funcional indispensaacutevel ao
pleno desenvolvimento da liacutengua Eacute com base nesta premissa que se podem
estabelecer em termos de uma progressatildeo ou continuidade os direitos que
correspondem aos grupos linguiacutesticos mencionados no ponto 5 deste artigo e os das
pessoas que vivem fora do territoacuterio da sua comunidade []
Em referecircncia ao Artigo 3ordm
- o direito ao ensino da proacutepria liacutengua e da proacutepria cultura
- o direito a dispor de serviccedilos culturais
- o direito a uma presenccedila equitativa da liacutengua e da cultura do grupo nos meios de
comunicaccedilatildeo
- o direito a serem atendidos na sua liacutengua nos organismos oficiais e nas relaccedilotildees
socioeconomicas []
Em referecircncia ao Artigo 5ordm
Esta Declaraccedilatildeo baseia-se no princiacutepio de que os direitos de todas as comunidades
linguiacutesticas satildeo iguais e independentes do seu estatuto juriacutedico ou poliacutetico como
liacutenguas oficiais regionais ou minoritaacuterias Designaccedilotildees tais como liacutengua regional ou
minoritaacuteria natildeo satildeo usadas neste texto porque apesar de em certos casos o
reconhecimento como liacutengua minoritaacuteria ou regional poder facilitar o exerciacutecio de
determinados direitos a utilizaccedilatildeo destes e doutros adjetivos serve frequentemente
para restringir os direitos de uma comunidade linguiacutestica []
Em referecircncia ao Artigo 23ordm
1 O ensino deve contribuir para fomentar a capacidade de auto-expressatildeo
linguiacutestica e cultural da comunidade linguiacutestica do territoacuterio onde eacute
ministrado[grifo nosso]
2 O ensino deve contribuir para a manutenccedilatildeo e o desenvolvimento da liacutengua falada
pela comunidade linguiacutestica do territoacuterio onde eacute ministrado
3 O ensino deve estar sempre ao serviccedilo da diversidade linguiacutestica e cultural e das
relaccedilotildees harmoniosas entre as diferentes comunidades linguiacutesticas do mundo inteiro
4 No quadro dos princiacutepios anteriores todos tecircm direito a aprender qualquer liacutengua
Em referecircncia aos Artigos 26ordm a 28ordm Artigo 26ordm
Todas as comunidades linguiacutesticas tecircm direito a um ensino que permita a todos os
seus membros adquirirem o perfeito conhecimento da sua proacutepria liacutengua com as
diversas capacidades relativas a todos os domiacutenios de uso da liacutengua habituais bem
como o melhor conhecimento possiacutevel de qualquer outra liacutengua que desejem
aprender
Artigo 27ordm
Todas as comunidades linguiacutesticas tecircm direito a um ensino que permita aos seus
membros o conhecimento das liacutenguas ligadas agrave sua proacutepria tradiccedilatildeo cultural tais
como as liacutenguas literaacuterias ou sagradas usadas antigamente como liacutenguas habituais
da sua comunidade
Artigo 28ordm
Todas as comunidades linguiacutesticas tecircm direito a um ensino que permita aos seus
membros adquirirem um conhecimento profundo do seu patrimocircnio cultural (histoacute-
ria e geografia literatura e outras manifestaccedilotildees da proacutepria cultura) assim como o
melhor conhecimento possiacutevel de qualquer outra cultura que desejem conhecer
(BARCELONA 1996 p 4 a 14)
19
Assim nas Disposiccedilotildees Finais no Plenaacuterio da Associaccedilatildeo Internacional para o
Desenvolvimento da Comunicaccedilatildeo Intercultural recomenda agraves Naccedilotildees Unidas que tomem as
medidas necessaacuterias agrave adopccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de uma Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos
Linguiacutesticos considerando a Convenccedilatildeo nuacutemero 169 da Organizaccedilatildeo Internacional do
Trabalho de 26 de Junho de 1989 relativa aos povos indiacutegenas em paiacuteses independentes que
a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Colectivos dos Povos realizada em Maio de 1990 em
Barcelona declara que todos os povos tecircm direito a exprimir e a desenvolver a sua cultura a
sua liacutengua e as suas normas de organizaccedilatildeo e para o fazerem a dotarem-se de estruturas
poliacuteticas educacionais de comunicaccedilatildeo e de administraccedilatildeo puacuteblica proacuteprias em quadros
poliacuteticos diferentes Considerando tambeacutem a Declaraccedilatildeo Final da Assembleia Geral da
Federaccedilatildeo Internacional de Professores de Liacutenguas Vivas aprovada em Peacutecs (Hungria) em 16
de Agosto de 1991 recomenda-se tambeacutem que os direitos linguiacutesticos sejam consagrados
direitos fundamentais
Neste contexto Nascimento (2009 p 25) pontua
Como princiacutepio eacutetico qualquer poliacutetica de liacutenguas deveraacute trabalhar a unidade e a
diversidade Natildeo se trata de poacutelos de contradiccedilatildeo mas de eixos de transiccedilatildeo A
unidade eacute uma razatildeo do Estado e a diversidade ou variedade eacute a mateacuteria linguiacutestica
proacutepria da comunidade pois reflete a liacutengua em uso ou seja as linguagens verbais
por meio das quais os indiviacuteduos se comunicam A unidade eacute resguardada pelo
padratildeo oficializado em um modelo de gramaacutetica e a variedade se faz representar nas
diversas gramaacuteticas praacuteticas e pragmaacuteticas de um Estado linguiacutestico
Quadros e Karnopp (2004) ainda explicam que a linguiacutestica parte de pressupostos
baacutesicos que determinam as investigaccedilotildees Sendo um dos mais importantes eacute de que a
linguagem eacute restringida por determinados princiacutepios ou seja ldquoregrasrdquo que fazem parte do
conhecimento humano das liacutenguas (falada ou sinalizada) da formaccedilatildeo de palavras da
construccedilatildeo das sentenccedilas e da construccedilatildeo dos textos A partir deste pressuposto da
universalidade de tais princiacutepios as investigaccedilotildees linguiacutesticas objetivam estudar os aspectos
especiacuteficos de cada liacutengua os quais revelam as caracteriacutesticas da linguagem humana A
exemplo o inglecircs o portuguecircs a Liacutengua de Sinais Americana a Liacutengua Brasileira de Sinais
e outras Embora apresentem diferenccedilas entre as liacutenguas agraves estruturas satildeo comuns que por
sua vez interessam agraves investigaccedilotildees linguiacutesticas na medida em que eacute a ciecircncia que objetiva
por explicar a natureza da linguagem humana
A partir dessas concepccedilotildees entendemos que os seres humanos estabelecem relaccedilotildees
do mais simples ao mais complexo com o outro por meio de gestos olhares e contato seja
por meio de sons Tudo isso caracteriza a linguagem humana Observa-se que a ldquolinguagemrdquo
20
eacute um termo usado pelas pessoas com referecircncia agrave linguagem em geral ou seja em uma
variedade de sentidos para denominar sistemas de comunicaccedilatildeo linguagem musical
linguagem corporal linguagem entre animais etc
No que concerne agrave definiccedilatildeo do termo liacutengua Quadros e Karnopp (2004) encontraram
uma seacuterie de definiccedilotildees de liacutengua que apontam para sua diferenciaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao termo
linguagem Estas fornecem subsiacutedios para a indicaccedilatildeo de propriedades consideradas pela
linguiacutestica essenciais agraves liacutenguas naturais sendo que uma delas eacute dada por Saussure que
afirma
Liacutengua natildeo se confunde com a linguagem eacute somente uma parte determinada
essencial dela indubitavelmente Eacute ao mesmo tempo um produto social da
faculdade de linguagem e um conjunto de convenccedilotildees necessaacuterias adotadas pelo
corpo social para permitir o exerciacutecio dessa faculdade nos indiviacuteduos (QUADROS e
KARNOPP 2004 p24)
Portanto entende-se como liacutengua natural
uma liacutengua que foi criada e eacute utilizada por uma comunidade especiacutefica de usuaacuterios
transmitida de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo e que muda ndash tanto estrutural como
funcionalmente ndash com o passar do tempo Ora qualquer liacutengua pode ser considerada
natural independentemente da modalidade que utilize (SAacute 2006 p 134)
Assim a liacutengua natural eacute tratada enquanto sistema linguiacutestico altamente desenvolvido
apresentando as caracteriacutesticas citadas por Quadros e Karnopp (2004 p 25-28) de
flexibilidade versatilidade arbitrariedade descontinuidade criatividade produtividade dupla
articulaccedilatildeo padratildeo de organizaccedilatildeo dos elementos e dependecircncia estrutural Logo conclui-se
que tais caracteriacutesticas satildeo especiacuteficas da faculdade da linguagem humana
11 Liacutengua de Sinais como Liacutengua Natural
A Liacutengua de Sinais eacute uma liacutengua natural criada pelas comunidades surdas Segundo
Skliar (1998 p26) ldquoTodas as crianccedilas surdas podem adquirir a Liacutengua de Sinais desde que
participem das interaccedilotildees quotidianas com a comunidade surda como acontece com qualquer
outra crianccedila na aquisiccedilatildeo de uma liacutengua naturalrdquo Skliar esclarece que liacutengua ldquonaturalrdquo natildeo
se refere a uma espontaneidade bioloacutegica mas como liacutengua que foi criada e eacute utilizada por
uma comunidade especiacutefica de usuaacuterios que transmite de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo e que muda com
o passar do tempo tanto estruturalmente como funcionalmente (IDEM p27)
As Liacutenguas de Sinais satildeo diferentes em cada comunidade com caracteriacutesticas das
liacutenguas orais com estruturas gramaticais proacuteprias que as distingue dos demais sistemas de
21
comunicaccedilatildeo Para Quadros e Karnopp (2004 p 30) ldquoAs liacutenguas de sinais satildeo portanto
consideradas pela linguiacutestica como liacutenguas naturais ou como um sistema linguiacutestico legiacutetimo e
natildeo como um problema do surdo ou como uma patologia da linguagemrdquo7
Para o reconhecimento das Liacutenguas de Sinais como liacutenguas naturais Ramos (2013 p
8) destaca o conceito ldquonaturalrdquo em oposiccedilatildeo a ldquocoacutedigo e linguagemrdquo e a avaliaccedilatildeo apresenta
as semelhanccedilas existentes entre as mesmas e as liacutenguas orais Sendo que uma dessas
semelhanccedilas na linha saussuriana eacute a ldquoexistecircncia de unidades miacutenimas formadoras de
unidades complexas pode ser observada em todas as Liacutenguas de Sinais espalhadas pelo
mundo possuidoras dos niacuteveis fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico e pragmaacuteticordquo
As liacutenguas de sinais apresentam ldquoregistros diversos (por categoria profissional status social
idade niacutevel escolar etc) aleacutem de dialetos regionais tambeacutem referendam as semelhanccedilas com
as liacutenguas oraisrdquo (IDEM p 8)
Estudos aprofundados sobre a Liacutengua de Sinais iniciaram a partir da deacutecada de 1950
com o estudioso da linguiacutestica o americano William Stokoe o qual percebeu e provou que a
Liacutengua de Sinais
[] satisfazia todos os criteacuterios linguiacutesticos de uma liacutengua genuiacutena no leacutexico na
sintaxe na capacidade de gerar um nuacutemero infinito de proposiccedilotildees [] Stokoe
convenceu-se de que os sinais natildeo eram figuras e sim complexos siacutembolos abstratos
com uma estrutura interna complexa Foi entatildeo o primeiro a buscar uma estrutura a
analisar os sinais dissecaacute-los procurar as partes constituintes Desde o comeccedilo ele
tentou demonstrar que cada sinal possuiacutea pelo menos trecircs partes independentes ndash
7 Sobre a surdez temos duas abordagens segundo explica Skliar a cliacutenico terapecircutica e a soacutecio-antropoloacutegica
A visatildeo soacutecioantropoloacutegica descreve a surdez em termos contraacuterios agraves noccedilotildees de patologia e de deficiecircncia
(1998 p10) Durante o seacuteculo passado construi-se o imaginaacuterio de que o surdo era um deficiente que
necessitava falar Segundo Casarin (1996 p2) ldquoNesse discurso deacuteficit doenccedila patologia anomalia implicam
apenas a possibilidade de sequumlecircncia diagnoacutestico tratamento-cura caracteriacutesticas da abordagem meacutedicardquo [] Tal
concepccedilatildeo influecircnciou outras aacutereas do conhecimento inclusive na educaccedilatildeo sobre a forma de perceber o surdo
Cesarian ainda explica que a partir daiacute foram assimilando o imaginaacuterio de que a surdez era uma doenccedila e que o
surdo por natildeo falar era um deficiente que precisava ser curado construindo entre as aacutereas de tratamento um
modelo terapecircutico para o deficiente auditivo Apoacutes as influecircncias da medicina na educaccedilatildeo dos surdos o
modelo cliniacuteco-terapecircutico passa a impor propostas educativas do oralismo dando continuidade agora na aacuterea
educacional ao tratamento do deficiente o mais cedo possivel na escola a fim que ele se enquadre ao modelo
normal modelo ouvinte Logo as escolas apresentavam como instituiccedilotildees de reeducaccedilatildeo da fala desenvolvendo
atividades pedagoacutegicas que tinham como objetivo o treinamento e exerciacutecios com fins a trazer o surdo o mais
possiacutevel do ldquonormalrdquo Perde-se assim muito tempo no processo de ensino aprendizado do sujeito surdo levando
a um fracasso escolar Surge entatildeo a nova concepccedilatildeo nomeada como soacutecio-antropoloacutegica de surdez totalmente
oposta agrave anterior Essa concepccedilatildeo parte das capacidades do sujeito quando considera a liacutengua de sinais como
melhor garantia para o desenvolvimento normal do surdo Esta nova concepccedilatildeo traz a valorizaccedilatildeo da lingua de
sinais e como consequecircncia o reconhecimento das especificidade culturais das comunidades surdas Estudos
feitos por linguiacutesticas observaram o desempenho escolar de pessoas surdas que se comunicam desde a infacircncia
por meio da Liacutengua de Sinais e que demostraram ganhos significativos em divesas aacutereas do desenvolvimento
humano Deixando claro a necessidade do uso da Liacutengua de Sinais como liacutengua natural da pessoa surda (1996
p 3)
22
localizaccedilatildeo configuraccedilatildeo das matildeos e movimento executado (anaacuteloga aos fonemas
da fala) ndash e que cada parte apresentava um nuacutemero limitado de combinaccedilotildees []
(SACKS 1998 p 88-89)
Segundo Ramos (2013 p 9) em 1988 o venezuelano Saacutenchez fez pesquisas sobre as
liacutenguas de sinais e os resultados apresentou ao educador francecircs Jean Foucambert No debate
sobre suas pesquisas ldquosurgiu agrave proposta de um tipo de educaccedilatildeo que privilegiasse a liacutengua
natural da comunidade surda - a Liacutengua de Sinais Venezuelana e a escrita da liacutengua da
comunidade oral o Espanholrdquo Um dos primeiros princiacutepios que lanccedilou a base para a que a
liacutengua de sinais fosse reconhecida como liacutengua natural foi descrita por Foucambert (RAMOS
2013 p 10)
Natildeo soacute os surdos mas toda e qualquer crianccedila pode aprender a liacutengua escrita sem
basear-se na oral porque satildeo independentes Em segundo lugar chegou-se agrave
afirmaccedilatildeo de que a liacutengua de sinais eacute uma liacutengua natural e que os surdos satildeo uma
comunidade linguiacutestica minoritaacuteria com direito a desenvolver sua cultura proacutepria
dentro da cultura majoritaacuteria O fato de a Liacutengua de Sinais cumprir uma seacuterie de
requisitos que todas as liacutenguas naturais possuem - espanhol portuguecircs alematildeo
inglecircs polonecircs a criatividade eacute um deles - pode-se sempre dizer alguma coisa
nova Outro requisito eacute a combinaccedilatildeo de partiacuteculas natildeo significativas que usadas de
certa maneira criam significaccedilatildeo [] Com 30 40 configuraccedilotildees da matildeo podem-se
transmitir milhares de sinais significativos como os fonemas da liacutengua oral A
liacutengua de sinais que como as liacutenguas nacionais eacute diferente em cada paiacutes e ateacute em
regiotildees dos paiacuteses possui aleacutem do mais uma gramaacutetica toda proacutepria organizada e
complexa e nos permite transmitir qualquer coisa [] Com ela pode-se transmitir
criar e recriar o que se quiser poesia romance filosofia E pode-se ateacute formular
ideacuteias com duplo sentido ou mentir que eacute outra caracteriacutestica das liacutenguas naturais
Por meio das pesquisas e estudos diversos paiacuteses passaram a se dedicar no campo da
linguiacutestica da Liacutengua de Sinais eacute que criou-se a possibilidade do povo surdo lutar pelo seu
reconhecimento enquanto liacutengua na medida em que pode contar com estudos que provam
cientificamente de que as Liacutenguas de Sinais satildeo de fato liacutenguas e natildeo um conjunto de
miacutemica
12 Liacutengua Brasileira de Sinais
O ser humano se expressa atraveacutes da liacutengua e a partir dela estabelece sua cultura
valores e padrotildees sociais Para os surdos brasileiros a Libras estabelece essas condiccedilotildees pois
considera a modalidade visual-espacial e associa caracteriacutesticas sociolinguiacutesticas as funccedilotildees
pragmaacuteticas e discursivas semelhantes agraves liacutenguas orais poreacutem a Liacutengua de Sinais por muito
tempo natildeo foi percebida enquanto estrutura linguiacutestica
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A LIBRAS como toda Liacutengua de Sinais eacute uma liacutengua de modalidade gestual-visual
uma vez que faz uso para a comunicaccedilatildeo de movimentos gestuais e expressotildees faciais
percebidos pela visatildeo Neste sentido a Revista Feneis Ramos (2002 apud RAMOS 2013 p
7-8) ldquoa Liacutengua Portuguesa eacute uma liacutengua de modalidade oral-auditiva por utilizar como canal
ou meio de comunicaccedilatildeo sons articulados que satildeo percebidos pelos ouvidosrdquo Suas diferenccedilas
estatildeo na utilizaccedilatildeo de canais diferentes e nas estruturas gramaticais de cada liacutengua
Para Campello (2009) historicamente os primeiros estudos da Liacutengua de Sinais
apareceram no seacuteculo XIV exatamente nos anos de 1644 pelo inglecircs Bulwer J B com o livro
de Liacutengua de Sinais Inglesa Chirologia8 on the natural language of the hand com os estudos
destacando as figuras das matildeos e seus significados Menciona tambeacutem que era recompensa
de natureza que os surdos devam se comunicar atraveacutes dos gestos e acreditava firmemente na
ldquonecessidade que opera a Natureza dos homens que nascem Surdos-Mudos que podem
discutir mostrar sinalizar retoricamente por sinaisrdquo (p 13)
Em 1960 W C Stokoe pesquisador inglecircs da Gallaudet University fez uma pesquisa
entre as gramaacuteticas utilizadas pelos surdos em sala de aula e fora dela e os resultados foram
publicados no artigo Sign Language Structure na outline of the visual communication system
of the American Deaf na revista Studies in Linguistics Occassional Papers 8 (CAMPELLO
2009) E eacute a partir destes estudos que Stokoe afirma que a Liacutengua de Sinais eacute liacutengua
Stokoe (1960) ldquopercebeu e comprovou que a liacutengua de sinais atendia a todos os
criteacuterios linguiacutesticos de uma liacutengua genuiacutena no leacutexico na sintaxe e na capacidade de
gerar uma quantidade infinita de setenccedilasrdquo Stokoe observou que os sinais natildeo eram
imagens mas siacutembolos abstratos complexos com uma complexa estrutura interior
[] Comprovou inicialmente inicialmente que cada sinal apresentava pelo menos
trecircs partes independentes (em analogia com os fonemas da fala) ndash a localizaccedilatildeo a
configuraccedilatildeo de matildeos e o movimento ndash e que cada parte possuiacutea um nuacutemero
limitado de combinaccedilotildees [] (QUADROS E KARNOPP 2004 p 30-31)
Os estudos do linguiacutesta representou o primeiro passo para outras pesquisas em relaccedilatildeo
a Liacutengua de Sinais Em diversos paiacuteses pesquisas foram realizadas O Brasil foi um deles
No Brasil no final dos anos de 1970 a proposta da educaccedilatildeo biliacutengue reconhece a
Libras como liacutengua natural portanto deve ser ensinada como primeira liacutengua desde o iniacutecio
da escolarizaccedilatildeo da crianccedila surda e a comunidade surda reconhece o portuguecircs como a liacutengua
oficial do Brasil e deve ser ensinada como segunda liacutengua na forma oral ou escrita
(SLOMSKI 2010)
8 Bulwer (1644) em seu livro esclarece que a quirologia eacute um dicionaacuterio de gestos manuais e quirema eacute um
manual para o uso efetivo do gesto de falar em puacuteblico
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Segundo Quadros (2009 p144) no entanto a Liacutengua de Sinais comeccedilou a ser
investigada efetivamente nas deacutecadas de 80 e 90 por Ferreira Brito (1986 1995) Felipe
(1992 1993) Quadros (1995 1999) e a aquisiccedilatildeo da Liacutengua Brasileira de Sinais nos anos 90
(Karnopp (1994 1999 Quadros (1995 1997)
Na deacutecada de 1980 a 1990 tem-se um panorama mundial para a abordagem biliacutengue
na educaccedilatildeo de surdos Slomski (2010 p 61) destaca que em 1994 Lucinda Ferreira Brito
passa a utilizar a abreviaccedilatildeo de LIBRAS (Liacutengua Brasileira de Sinais) criada pela comunidade
surda Consequentemente pesquisas estudos e lutas da comunidade surda contribuiacuteram para a
instauraccedilatildeo de uma poliacutetica linguiacutestica da Liacutengua Brasileira de Sinais A que reconhece o
estatuto linguiacutestico legal por meio da Lei 10436 de 24042002
Art 1ordm Eacute reconhecida como meio legal de comunicaccedilatildeo e expressatildeo a Liacutengua
Brasileira de Sinais ndash Libras e outros recursos de expressatildeo e por ela associados
Paraacutegrafo uacutenico Entende-se como Liacutengua Brasileira de Sinais ndash Libras a forma e
comunicaccedilatildeo e expressatildeo em que o sistema linguiacutestico de natureza visual-motora
com estrutura gramatical proacutepria constituem um sistema linguiacutestico de transmissatildeo
de ideias e fatos oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil
[](BRASIL 2007 p 2)
A Liacutengua de Sinais como jaacute mencionado eacute uma liacutengua natural composta por de todos
os componentes agraves liacutenguas orais como gramaacutetica semacircntica pragmaacutetica sintaxe e outros
elementos preenchendo os requisitos cientiacuteficos para ser considerado um sistema linguiacutestico
Conforme Felipe e Monteiro (2004 p23) as Liacutenguas de Sinais satildeo compostas por
signos linguiacutesticos denominados bdquosinais‟ encontrados nos seguintes paracircmetros
Configuraccedilatildeo das Matildeos Ponto de Articulaccedilatildeo Movimento Orientaccedilatildeo Expressatildeo Facial eou
Corporal Estes paracircmetros satildeo requisitos necessaacuterios para que sejam constituiacutedos os sinais
Portanto a Liacutengua de Sinais eacute considerada como liacutengua natural do sujeito surdo
como sua primeira liacutengua-L1 Jaacute a liacutengua majoritaacuteria de um paiacutes no caso do Brasil eacute a
Liacutengua Portuguesa como L2 Partindo do pressuposto que a Liacutengua de Sinais eacute a primeira
liacutengua do surdo a aquisiccedilatildeo da primeira liacutengua pelas crianccedilas surdas deve se dar de forma
natural no contato com surdos sinalizados pertencentes agrave comunidade surda A Liacutengua
Portuguesa por sua vez eacute aprendida de forma sistemaacutetica ou seja precisa ser ensinada por
meio de teacutecnicas especiacuteficas de ensino de segunda liacutengua
A partir desta compreensatildeo as crianccedilas surdas precisam ter a oportunidade do contato
com seus pares Crianccedilas surdas que natildeo tecircm um conviacutevio com surdos por terem nascido
dentro de familias ouvintes que usam a liacutengua oral precisam que os pais familiares
25
oportunizem a elas o mundo essencialmente visual-espacial para conhecer a Liacutengua de
Sinais Sobre a questatildeo Quadros (2005 p30) afirma
As crianccedilas surdas e seus pais ouvintes poderiam compartilhar o bilinguismo liacutengua
portuguesa e liacutengua de sinais brasileira e ir aleacutem descobrindo os vieses das culturas
e identidade que se entrecruzam [] Assim as crianccedilas surdas precisam ter acesso
agrave liacutengua de sinais com sinalizantes fluentes desta liacutengua muito cedo Estes
sinalizantes satildeo pessoas que normalmente natildeo fazem parte do ciacuterculo de pessoas
que a crianccedila usualmente teria contato Os pais teratildeo que conhecer comunidade
surda que usa esta liacutengua
Nesta perspectiva Souza (apud QUADROS 2005) menciona que se no iniacutecio do seu
desenvolvimento a crianccedila surda tiver a chance de contar com pais dispostos a aprenderem a
liacutengua de sinais com adultos surdos colegas surdos e conversarem ldquosinalizandordquo a
dimensatildeo do seu processo educacional seraacute outra A aquisiccedilatildeo da liacutengua seraacute transferida para
o espaccedilo escolar ldquoO fato de passar a ter contato com a liacutengua portuguesa com significado
trazendo seus conceitos adquiridos na sua proacutepria liacutengua possibilitaraacute um processo muito
mais significativordquo (ibid p33)
Por isso eacute de importacircncia fundamental a crianccedila surda esteja em contato linguiacutestico
com a liacutengua de sinais o mais cedo possiacutevel seja com a comunidade surda ou com seus pais
ouvintes que adquiriram a Liacutengua de Sinais como L2 Estes fatores iratildeo influenciar a crianccedila
estabelecer a sua identidade e cultura surda naturalmente Neste sentido Fantinel (1999 p2)
menciona que ldquoo uso da Liacutengua de Sinais eacute uma condiccedilatildeo fundamental na construccedilatildeo da
identidade dessas pessoas pois eacute o fator que os aproxima e reuacutene em grupos permitindo-lhes
expressarem-se construindo significados para a vidardquo
A Liacutengua de Sinais portanto eacute um aspecto fundamental da cultura surda Para tanto
Strobel (2008 p44) ainda enfatiza que para que o sujeito surdo possa ter acesso agraves
informaccedilotildees e conhecimentos aleacutem de construir sua identidade eacute fundamental criar uma
ligaccedilatildeo com o povo surdo que usa a sua liacutengua em comum pois a Liacutengua de Sinais eacute uma das
principais marcas da identidade de um povo surdo uma particularidade da cultura surda uma
forma de comunicaccedilatildeo que capta as experiecircncias visuais dos sujeitos surdos E somente a
partir do uso desta liacutengua que a crianccedila conseguiraacute seu pleno desenvolvimento cognitivo
psicoloacutegico emocional e cultural proporcionando assim a aquisiccedilatildeo do conhecimento
universal
Desta forma ao refletirmos sobre a pessoa surda na construccedilatildeo de sua identidade e
cultura surda entende-se que o contato linguiacutestico eacute essencial Logo o que dizer das pessoas
26
surdas que vivem isoladas de comunidades surdas que natildeo tem esse contato com Liacutengua de
Sinais Sobre esta realidade Strobel esclarece que
No entanto incluem tambeacutem os gestos denominados ldquosinais emergentesrdquo ou ldquosinais
caseirosrdquo dos sujeitos surdos de zonas rurais ou sujeitos isolados de comunidades
surdas que procuram entender o mundo atraveacutes dos experimentos visuais e que
procuram comunicar apontando e criando sinais [] (ibidem p44)
Ainda sobre a questatildeo Vilhalva (2012 p 30) ressalta que ldquo[] Os sinais emergentes
tambeacutem conhecidos como sinais caseiros satildeo essenciais quando vistos como comunicaccedilatildeo
natural usada em um espaccedilo familiar ou social []rdquo Nesse caso podemos referir ao iacutendio
surdo que vive isolado do contato com a comunidade surda Este surdo tambeacutem se identifica
com o povo surdo apesar de natildeo ter contato e de natildeo pertencer agraves mesmas comunidades
surdas na medida em que de acordo com Strobel (2008) eles compartilham as mesmas
peculiaridades ou seja constroem sua formaccedilatildeo de mundo atraveacutes de artefato cultural visual
13 Liacutenguas de Sinais Indiacutegenas pesquisadas no Brasil
Os registros da existecircncia de iacutendios surdos segundo Vilhalva (2008) apontam para o
Estatuto do Iacutendio - Lei nordm 6001 de 19121973 que norteou as relaccedilotildees do Estado brasileiro
com as populaccedilotildees indiacutegenas ateacute a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 em seu Paraacutegrafo
uacutenico do Art 1ordm assegura
Aos iacutendios e agraves comunidades indiacutegenas se estende a proteccedilatildeo das leis do Paiacutes nos
mesmos termos em que se aplicam aos demais brasileiros resguardados os usos
costumes e tradiccedilotildees indiacutegenas bem como as condiccedilotildees peculiares reconhecidas
nesta Lei
Neste sentido no Brasil a liacutengua oficial eacute a Liacutengua Portuguesa Fossile (2013 p 4)
afirma que ldquoo paiacutes conta atualmente segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatiacutestica (IBGE) com aproximadamente 210 liacutenguas sendo 190 delas indiacutegenasrdquo Essas
liacutenguas indiacutegenas satildeo consideradas como liacutenguas minoritaacuterias sem importacircncia em relaccedilatildeo ao
portuguecircs No entanto algumas possuem mais prestiacutegio em relaccedilatildeo agraves outras
Em relaccedilatildeo ao conhecimento da liacutengua e da diversidade na dinacircmica soacutecio-cultural das
populaccedilotildees indiacutegenas deveria haver prioridades para estudos no campo linguiacutestico para
acadecircmicos e pesquisadores indios De fato o conhecimento das liacutenguas faladas e no
contexto tem-se essa diversidade para iacutendios surdos deveria ser compartilhada com a
27
sociedade indiacutegena de forma que esta possam participar ativamente na elaboraccedilatildeo de poliacuteticas
e programas que respondam agraves suas necessidades seus direitos considerando-se em particular
suas culturas e liacutenguas
Segundo Vilhalva (2008) pesquisas no campo da linguiacutestica e de poliacuteticas linguiacutesticas
avanccedilaram consideravelmente no Brasil Tendo poreacutem ainda uma grande necessidade de
maiores pesquisas principalmente referente a diferentes Liacutenguas de Sinais pertencentes a
diferentes comunidades como as dos povos indiacutegenas Neste sentido a autora argumenta
A Liacutengua de Sinais Indiacutegenas praticadas pelos iacutendios surdos existentes em diversas
comunidades indiacutegenas do paiacutes traz consigo caracteriacutesticas culturais e linguiacutesticas
variadas bdquoInfelizmente raramente satildeo registradas como satildeo registradas outras liacutenguas
brasileiras de diferentes comunidades com suas especificidades culturais e eacutetnicas ‟
(VILHALVA 2008 p 29)
Sobre a questatildeo Nonaka coloca que
desde 1960 quando se iniciaram os estudos linguiacutesticos e antropoloacutegicos em
referecircncia agraves Liacutenguas de Sinais a maior parte das investigaccedilotildees tem incidido sobre
as Liacutenguas de Sinais nacionais ou padratildeo usadas pelos surdos de diferentes paiacuteses
com escassa atenccedilatildeo agraves Liacutenguas de Sinais usadas pelos indiacutegenas em sua
comunicaccedilatildeo original (apud VILHALVA 2012 p 30)
Por isso Vilhalva defende a comunicaccedilatildeo dos iacutendios surdos como objeto de estudo da
linguiacutestica afirmando que
[] Sabemos tambeacutem que a Libras estaacute presente nas terras indiacutegenas
apontando que a influecircncia aconteceraacute Sendo assim consideramos quanto o leacutexico
das liacutenguas estaacute no processo de mudanccedilas atraveacutes do neologismo espontacircneo ou o
empreacutestimo linguiacutestico de outras liacutenguas (ibid p37)
Observa-se que os estudos sobre a Libras nas terras indiacutegenas comeccedilaram na deacutecada
de 1980 com pesquisas da brasileira Lucinda Ferreira Brito sobre a Liacutengua Brasileira de
Sinais Segundo Slomski (2010) Lucinda Ferreira Brito iniciou sua pesquisa atraveacutes de um
padratildeo internacional de abreviaccedilatildeo das Liacutenguas de Sinais adotando a sigla LSCB ndash Liacutengua de
Sinais dos Centros Urbanos Brasileiros para diferenciaacute-la da LSKB ndash Liacutengua de Sinais
Kaapor Brasileiros que eram a utilizada pelos iacutendios do Estado do Maranhatildeo
Diante do panorama exposto se faz necessaacuterio no campo da linguiacutestica dos estudos
surdos pesquisas sobre a Liacutengua de Sinais usadas pelos iacutendios surdos nas diferentes
comunidades indiacutegenas para que seja reconhecida e registrada Infelizmente somente uma
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liacutengua indiacutegena eacute oficialmente reconhecida no Brasil a Liacutengua de Sinais Indiacutegena da
comunidade Urubu-Kaapor devido ao alto iacutendice de surdos
131 Liacutengua de Sinais Urubu-Kaapor
Os resultados do Censo 2010 (IBGE 2013) apontam para 274 liacutenguas indiacutegenas
faladas por indiviacuteduos pertencentes a 305 etnias diferentes Embora haja a necessidade de
estudos linguiacutesticos e antropoloacutegicos mais aprofundados quanto aos nuacutemeros totais de liacutengua
e etnia
Dentro desse universo a uacutenica Liacutengua de Sinais indiacutegena reconhecida conforme
referido anteriormente eacute a utilizada pela etnia indiacutegena brasileira dos Urubu-Kaapor9
chamados tambeacutem por urubus-caapores Os estudos sobre essa Liacutengua de Sinais apontam para
o iniacutecio da deacutecada de 1950
De acordo com Ribeiro (1996 apud FASSILE 2013 p 2)
Em 1950 foi descoberto no Brasil um grupo indiacutegena atraveacutes de pesquisas
antropoloacutegicas os Urubu-Kaapor na floresta Amazocircnica (Maranhatildeo) que falava
uma variaccedilatildeo da liacutengua de sinais Somente a partir da deacutecada de 1980 estudos
linguiacutesticos relacionados agrave Liacutengua de Sinais Kaapor Brasileira (LSKB) foram
aprofundados (sobre a LSKB cf KAKUMASU J KAKUMASU K 1977)
Segundo Brito (1993 apud FASSILE 2013 p 2) J Kakumasu defendeu que ldquo[] a
Liacutengua de Sinais dos Urubu-Kaapor [] [se constituiacutea como] um veiacuteculo de comunicaccedilatildeo
intratribal e natildeo como meio de transaccedilatildeo comercialrdquo Neste sentido resgata-se que
No Brasil Lucinda Brito inicia seus importantes estudos linguiacutesticos em
1982 sobre a Liacutengua de Sinais dos iacutendios Urubu-Kaapor da floresta amazocircnica
brasileira apoacutes um mecircs de convivecircncia com os mesmos documentando em filme
sua experiecircncia A ideia para a pesquisa adveio da leitura de um artigo publicado no
livro de Umiker-Sebeok (1978) de autoria de J Kakumasu Urubu Sign Language
No estudo a Liacutengua de Sinais dos Urubu-Kaapor se diferenciaria da PSL por
constituir um veiacuteculo de comunicaccedilatildeo intratribal e natildeo como meio de transaccedilatildeo
comercial Lucinda Brito poreacutem constatou que a mesma se tratava de uma legiacutetima
Liacutengua de Sinais dos surdos pelos mesmos criados
O interessante de se observar no caso dos Urubu-Kaapor eacute que os ouvintes da
aldeia falam a Liacutengua de Sinais e a liacutengua oral evidentemente enquanto que os
surdos se restringem agrave Liacutengua de Sinais Assim os ouvintes da aldeia se tornam
biliacutengues enquanto os surdos se mantecircm monoliacutengues (RAMOS 2011 p 6)
9 Disponiacutevel emlthttpwwwlibrascombrurubu-kaaporgt Acesso em 19112013
29
A Liacutengua Kaapor eacute uma liacutengua da famiacutelia Tupi-Guarani natildeo falada por outra tribo ou
povo exceto como segunda liacutengua Possuem uma liacutengua de sinais proacutepria (a Liacutengua Brasileira
de Sinais Kaapor) usada tanto pela comunidade surda do povo como tambeacutem por seus
membros natildeo surdos na comunicaccedilatildeo com os surdos
[] os Kaapor satildeo linguisticamente peculiares na Amazocircnia por terem uma
linguagem padratildeo de sinais usada para a comunicaccedilatildeo com os surdos que ateacute a
metade dos anos 80 compunham cerca de 2 da totalidade de sua populaccedilatildeo A
incidecircncia de surdez deveu-se evidentemente agrave bouba neonatal e endecircmica que foi
erradicada10
O interessante eacute que a comunidade indiacutegena desenvolveu uma forma proacutepria de
comunicaccedilatildeo por sinais que comeccedilou a ser estudada na deacutecada de 1960 pelo pesquisador
canadense James Kakumasu em (1968) e em seguida pela linguista brasileira Linguista
Lucinda Ferreira Brito ldquo[] A Liacutengua de Sinais Brasileira para diferenciaacute-la da LSKB
(Liacutengua de Sinais Kaapor Brasileira) utilizados pelos iacutendios Urubu-Kaapor no Estado do
Maranhatildeordquo (GOLDFELD 1997 p 30) A pesquisadora registrou a existecircncia da Liacutengua de
Sinais Kaapor em sua pesquisa sobre termos baacutesicos para cores em Liacutengua de Sinais
132 Liacutengua de Sinais Emergentes
Vilhalva (2012) se preocupou sobre a situaccedilatildeo linguiacutestica dos iacutendios surdos trazendo
grandes contribuiccedilotildees cientiacuteficas na aacuterea da linguiacutestica referente agraves Liacutenguas de Sinais
Indiacutegenas Sua pesquisa iniciou em 1991 com iacutendios surdos na comunidade indiacutegena de Satildeo
Marcos
O estudo dos sinais emergentes que se deseja apresentar objetiva natildeo apenas
recuperar os registros sobre as liacutenguas padratildeo mas tambeacutem e sobretudo procurar
realizar um levantamento de como se apresenta atualmente o uso desses sinais
emergentes e ateacute mesmo da histoacuteria da produccedilatildeo desses sinais para que se possa
fazer o registro cientifico sobre a situaccedilatildeo linguiacutestica dos iacutendios surdos dentro das
escolas indiacutegenas [] (VILHALVA 2012 p11a)
Souza e Segala (2009 p28) abordam que a maior parte das liacutenguas nasceu do
contato entre duas ou mais liacutenguas ou de uma liacutengua e sistemas de sinais caseiros (Liacutengua de
Sinais Primaacuteria) Observa-se que ldquosinais caseiros ou Liacutengua de Sinais Primaacuterios
correspondentes aos gestos ou construccedilatildeo simboacutelica inventadas no acircmbito familiar eacute comum
10
Disponiacutevel emlthttppibsocioambientalorgptpovokaaporgt Acesso em 19112013
30
a constituiccedilatildeo de um sistema convencional de comunicaccedilatildeo entre matildee-ouvinte e crianccedila
surdardquo
Sobre a origem dos sinais emergentes Vilhalva explica que
[] os sinais emergentes foram criados devido a uma necessidade de comunicaccedilatildeo
passando por sinais indicativos icocircnicos e arbitraacuterios A maneira como cada sinal
surge levam tempo para se entender principalmente quando os sinais satildeo criados
conforme o neologismo11
Esses novos sinais passam a fazer parte da comunicaccedilatildeo
para depois designar algo consistentemente como acontece tambeacutem agraves liacutenguas
orais-auditivas (2012 p137-138)
Desta forma a autora em sua pesquisa argumenta que os sinais emergentes
considerados em seu estudo como Liacutengua de Sinais constituem como o meio de
comunicaccedilatildeo primaacuteria dos iacutendios surdos das comunidades indiacutegenas do Mato Grosso do Sul
Partindo deste achado Rousseau jaacute mencionava em seus estudos ldquoEnsaio sobre a origem das
liacutenguasrdquo que
O uso e a necessidade ensinam a cada um a liacutengua de seu paiacutes mas o que eacute que faz
com que essa liacutengua seja a de seu proacuteprio paiacutes e natildeo a de um outro [] No
momento em que um homem foi reconhecido por um outro como um ser sensiacutevel
pensante e semelhante a ele o desejo ou a necessidade de comunicar-lhe os proacuteprios
sentimentos e os proacuteprios pensamentos fez com que procurasse os meios de fazecirc-lo
(2008 p 97)
Assim o primeiro contato do ser humano eacute com o outro da mesma espeacutecie No caso da
matildee com seu filho Conforme Sacks (1998 p 7) comenta que
[] a primeira comunicaccedilatildeo geralmente se daacute entre matildee e filho e a liacutengua eacute
adquirida emerge entre eles dois Sendo assim Os sinais emergentes tambeacutem satildeo
fruto da linguagem num processo visual usados pelos surdos indiacutegenas e seus
familiares ouvintes na interaccedilatildeo com o meio (VILHALVA 2012 p 137)
Vilhalva (2012) entatildeo percebeu a predominacircncia dos gestos caseiros criados pelos
proacuteprios surdos para interagirem com suas famiacutelias e com as pessoas que os rodeiam Ou
seja a crianccedila surda que nasce na famiacutelia de ouvinte comeccedila a criar a partir de um meio de
comunicaccedilatildeo visual usando todas as formas naturais possiacuteveis desde o apontamento ateacute os
gestos naturais O uso que destes sinais criados pelas necessidades do ambiente familiar com
o passar do tempo vatildeo se convencionando a forma de interaccedilatildeo dialoacutegica passando a
transformar-se em um meio de comunicaccedilatildeo essencial resultando assim no processo
11
Satildeo palavras criadas para designar novas situaccedilotildees novos conceitos fatos objetos etc sendo que um
neologismo soacute eacute sentido como tal durante algum tempo pois passados anos ou seacuteculos deixa de ter sentido
como tal porque a realidade que ele designa jaacute natildeo eacute nova
31
evolutivo dos sinais familiares para os sinais emergentes para transiccedilatildeo para a Liacutengua de
Sinais ou seja arbitraacuteria convencional Esse processo se daacute por meio do processo cognitivo
fundamentada na teoria de Cuxac
Construccedilatildeo do dizer a partir do processo criativo de performance gestual Iconizando
da experiecircncia perceptivo-praacutetica Rotinas de Transferecircnciandashpassagem da ilustraccedilatildeo
especifica para a categorizaccedilatildeo geneacuterica Sinais estabelecidos num grupo reduzido
categorias e generalizaccedilotildees dos sinais gestuais Nasce uma liacutengua de Sinais com
todas as propriedades de uma liacutengua (apud VILHALVA 2012 p138)
Vilhalva (2012) ainda destaca que se observarmos a Lei nordm 10436 de 24 de abril de
2002 vamos verificar que em seu artigo primeiro ldquoficam reconhecidos como meio legal de
comunicaccedilatildeo e expressatildeo a Liacutengua Brasileira de Sinais-Libras ndash e outros recursos de
expressatildeo a ela associadosrdquo Nesses bdquooutros recursos‟ podem figurar segundo compreensatildeo
da mesma os sinais emergentes produzidos nas comunidades indiacutegenas Se a Liacutengua
Brasileira de Sinais uma forma de comunicaccedilatildeo e expressatildeo cujo canal de produccedilatildeo e
recepccedilatildeo eacute de natureza visual-motora com estrutura gramatical proacutepria constituindo um
sistema linguiacutestico de transmissatildeo de ideias e fatos oriundos de comunidades de pessoas
surdas no Brasil conforme estaacute na lei eacute compreensivo dizer que nada fala sobre um padratildeo de
sinalizaccedilatildeo (p34)
Conclui-se que conforme pesquisa da autora citada os estudos dos sinais emergentes
mostraram que este eacute o ponto inicial das novas Liacutenguas de Sinais que segundo a mesma
merecem ser aprofundadas
1321 Realidade do contexto educacional escolar do indiacutegena surdo
Vilhalva (2012) destaca que o indiviacuteduo surdo soacute teraacute um sistema gestual linguiacutestico
organizado no contato do agrupamento comunitaacuterio especificamente da comunidade surda
com o contato com a Liacutengua de Sinais E isso muitas vezes acontece em geral somente no
acircmbito escolar biliacutengue onde haacute outros surdos inteacuterpretes e professores ouvintes que fazem
uso da Liacutengua de Sinais Por isso eacute essencial uma escola que respeite a diversidade linguiacutestica
como no caso desta comunidade Desta forma se faz necessaacuterio presenccedila na escola de
inteacuterpretes vindo das cidades mais proacuteximas das terras indiacutegenas de modo que
32
[] o Professor ministra as aulas em Portuguecircs e tem disciplina em Guarani
Observamos que pelo fato de os professores da pedagogia diferenciada indiacutegena
realizarem sua formaccedilatildeo em universidades locais onde o assunto em torno da surdez
e da Libras satildeo discutidos estes profissionais tecircm uma formaccedilatildeo que respeita natildeo soacute
a cultura e a liacutengua indiacutegena mas tambeacutem a cultura e a Liacutengua de Sinais
caracteriacutesticas que estatildeo presentes nas escolas indiacutegenas biliacutengues em que a liacutengua
de instruccedilatildeo eacute o Guarani-Portuguecircs(VILHALVA 2012 p 11b)
Poreacutem o que natildeo eacute o caso da escola Araporatilde mencionada por Vilhalva (2012) que teve
preferecircncia do inteacuterprete indiacutegena para a preservaccedilatildeo da cultura liacutengua e saber Foi observado
na pesquisa que os indiacutegenas surdos com vinte anos de idade em diante demonstram
seguranccedila ao sinalizar com o pesquisador surdo usando seus sinais emergentes de forma
natural Os mais novos de escolas indiacutegenas mas da mesma comunidade indiacutegena natildeo
demonstraram o uso de sinais emergentes e sim apresentaram diretamente sua comunicaccedilatildeo
em Libras Entretanto os resultados apontam que natildeo haacute como dizer se o atendimento
educacional para o iacutendio surdo estaacute acontecendo em todas as comunidades indiacutegenas ldquopois
interfere numa questatildeo de respeitar o que diz o proacuteprio plano de educaccedilatildeo sobre uma visatildeo
amplamente ligada agrave liacutengua cultura e diversidade nas escolas e terras indiacutegenasrdquo (ibid p36)
Nesta oacutetica se realmente as poliacuteticas linguiacutesticas fossem mais enfaacuteticas em suas
propostas de realizar a planificaccedilatildeo linguiacutestica incluindo a criaccedilatildeo de escolas biliacutengues e de
legislaccedilotildees especiacuteficas para as questotildees referentes agraves liacutenguas o indiviacuteduo indiacutegena surdo
poderia ter seus direitos linguiacutesticos assegurados
Neste sentido resgata-se o Referencial Curricular Nacional para Escolas Indiacutegenas
(1998) o qual menciona que
[] as tradiccedilotildees culturais os conhecimentos acumulados a educaccedilatildeo das geraccedilotildees
mais novas as crenccedilas o pensamento e a praacutetica religiosa as representaccedilotildees
simboacutelicas a organizaccedilatildeo poliacutetica os projetos de futuro enfim a reproduccedilatildeo
sociocultural das sociedades indiacutegenas satildeo na maioria dos casos manifestaccedilotildees
atraveacutes do uso de uma liacutengua Mesmo os povos indiacutegenas que satildeo hoje monoliacutengues
em liacutengua portuguesa continuam a usar a liacutengua de seus ancestrais como um siacutembolo
poderoso para onde confluem muitos de seus traccedilos identificatoacuterios construindo
assim um quadro de bilinguismo simboacutelico importante [grifo nosso]
Ou seja assim como para o surdo urbano brasileiro eacute reconhecida legalmente sua
liacutengua natural - Libras e a Liacutengua Portuguesa como segunda liacutengua -L2 para o indiacutegena surdo
deveria ser assegurado o mesmo direito para aprender esta forma de comunicaccedilatildeo ndash Liacutengua de
Sinais como primeira liacutengua e como segunda liacutengua a Liacutengua de sua etnia na modalidade
33
escrita Sendo portanto biliacutengue ou ainda triliacutengue com aquisiccedilatildeo da Liacutengua Portuguesa
tambeacutem na modalidade escrita
Nesta perspectiva observa-se que Saacute (2011 p33) afirma que tanto indiacutegenas como
surdos tecircm uma liacutengua proacutepria e uma cultura diferenciada Entatildeo porque natildeo ser reconhecida
legalmente a Liacutengua de Sinais utilizada pelos iacutendios surdos e a Liacutengua de sua comunidade
Como bem percebido por Vilhalva haacute a carecircncia de pesquisas voltadas para o registro de
liacutengua de sinais entre os iacutendios surdos brasileiros o que certamente constitui-se em um dos
fatores que favorecem a existecircncia desta lacuna na legislaccedilatildeo E que tal fato deveria ser um
despertar para pesquisadores da linguiacutestica sejam ouvintes ou surdos
34
2 A HISTOacuteRIA DO POVO INDIacuteGENA SATEREacute-MAWEacute CULTURA E LIacuteNGUA
Os povos indiacutegenas durante muito tempo foram considerados como povos sem
histoacuteria e sem uma liacutengua proacutepria Poreacutem com as muitas lutas eacutetnicas com estudos
antropoloacutegicos e com as abordagens historiograacuteficas iniciou-se uma valorizaccedilatildeo da
sociedade indiacutegena passando assim o povo indiacutegena a ser perspectivado nas suas
singularidades histoacutericas culturais e linguiacutesticas
Vale ressaltar que quando se refere a ldquoliacutenguasrdquo sabe-se que natildeo haacute apenas uma liacutengua
indiacutegena Existem muitos povos ou etnias indiacutegenas distintas As liacutenguas indiacutegenas no Brasil
se agrupam em famiacutelias linguiacutesticas ou seja famiacutelias que tecircm semelhanccedilas entre si e que satildeo
agrupadas por sua vez em troncos linguiacutesticos assim como as liacutenguas isoladas12
ou seja
liacutenguas que natildeo parecem ter parentesco com nenhuma das famiacutelias linguiacutesticas conhecidas
Segundo Rodrigues (2002) as famiacutelias indiacutegenas estatildeo agrupadas em Tronco
Linguiacutestico Tupi famiacutelia Tupi-Guarani (Akwaacutewa Amanayeacute Anambeacute Apiakaacute Araweteacute
Asurini Avaacute Guajaacute Guarani Kamayuraacute Kayabi Suryiacute Kaiwaacute) famiacutelia Munduruku
(Kuruaacuteya Mundurukuacute) Famiacutelia Tupari (Makuraacutep Tupari Wayoroacute) Famiacutelia Arikeacutem
(Karitiaacutena) Famiacutelia Juruna (Juruna) Famiacutelia Mondeacute (Aruaacute Cinta-Larga Gaviatildeo Mekeacutem
Mondeacute Suruiacute Zoroacute) Famiacutelia Ramaraacutema (Araacutera Itoqapuk) Outras Liacutenguas (Aweti
Puruboraacute Satereacute-Maweacute) entre outros troncos linguiacutesticos como Macro-Jecirc e sua diversidade
de famiacutelias existentes entre elas as liacutenguas isoladas
Um desses povos indiacutegenas foi o da etnia Satereacute-Maweacute Estes sofreram muitas
influecircncias em seu modo de vida advinda do contato com grupos natildeo indigenas que implicou
no processo de perda de muitos dos seus aspectos culturais A histoacuteria relata que o contato se
deu pela chegada dos colonizadores e posteriormente das missotildees religiosas E na atualidade
por ocupantes de terras como fazendeiros madeireiros emigrantes de outros Estados Foram
perdas irreparaacuteveis todavia como elo de resistecircncia procuraram sustentar em sua estrutura
original sua liacutengua
12
Segundo Rodrigues (2002 p93) liacutenguas isoladas refere-se as liacutenguas isoladas linguisticamente ou seja
liacutenguas que natildeo revelam parentesco geneacutetico com nenhuma outra Natildeo pertencem a nenhuma famiacutelia (ou tronco)
isto eacute constituem famiacutelias de um soacute membro
35
21 Breve Relato Histoacuterico
A histoacuteria do povo indiacutegena Satereacute-Maweacute tem sido foco de estudos dos diversos
segmentos de pesquisas como as realizadas por antropoacutelogos historiadores religiosos e
cientistas da linguagem Estes relatam a origem a liacutengua e a cultura desse povo
Uggeacute (1993 p 5) informa que ldquoOs Maueacutes descendentes das tribos indiacutegenas
denominadas no passado pelo nome de ANDIRAacute e MARAGUAacute que faz parte da aacuterea cultural
Tapajoacutes-Madeira entre a divisa dos atuais Estados do Paraacute e Amazonasrdquo O autor ainda
menciona que cronistas exploradores missionaacuterios antropoacutelogos naturalistas do passado
identificaram os Maueacutes tambeacutem com outros nomes (Maooz Mabueacute Jaquezes Manguases
Mahueacutes Mauris Maweacute Maragua e Maraguazes)
A origem do nome Satereacute-Maweacute advem dos termos Satereacute (lagarta vermelha) que eacute o
nome do clatilde dos antigos chefes e Maweacute (papagaio inteligente guerreiro e curioso) que eacute o
nome mais comum de um dos grupos tribais que conseguiram sobreviver agrave extinccedilatildeo das
numerosas tribos indiacutegenas da ilha Tupinambarana do Meacutedio Amazonas (IDEM) Cerqua13
faz referecircncia agrave primeira notiacutecia sobre o povo Satereacute-Maweacute ldquoEacute por volta de 1669 quando o
Pe Betendorf duas vezes superior provincial dos jesuiacutetas lembra a ldquovila dos Maguasesrdquo
grafia antiga de Maueacutes [] (1980 p 209)rdquo ou seja Maueacutes foi residecircncia missionaacuteria mas
natildeo permanente dos padres pois os mesmos residiam mais em Tupinambarana (rio
Amazonas) atual Parintins e visitavam Maueacutes temporariamente
A etnia Satereacute-Maweacute sofreu muitas mudanccedilas de localidades devido muitos fatores
que contribuiacuteram para o deslocamento desse povo segundo explica Lorez apud Teixeira
(2005 p21)
Devido agraves guerras com os Munduruku e Parintintim e ao contato com os
portugueses os Satereacute-Maweacute perderam grande parte de seu territoacuterio original Em
1691 os Maweacute surgem na cartografia regional com o nome de Mabueacute(mapa do
Padre Samuel Fritz) Missotildees foram localizadas para os iacutendios Magueacute denominadas
Satildeo Joatildeo (Pinhel) e Santo Inaacutecio (Boim) Posteriormente em 1835 lutando ao lado
dos Munduruku e dos Mura como tambeacutem de outras tribos indiacutegenas do rio Negro
os Satereacute-Maweacute aderiram ao movimento cabano ateacute que em 1839 o conflito foi
debelado Devido agraves epidemias agraves lutas e agraves perseguiccedilotildees aos povos indiacutegenas que
combatiam ao lado dos cabanos enormes aacutereas da Amazocircnia foram devastadas o
que provocou deslocamentos desses grupos populacionais de seus territoacuterios
ancestrais e de populaccedilatildeo Segundo relatos de viajantes desde o seacuteculo XVIII o
territoacuterio dos Satereacute-Maweacute vem sendo paulatinamente reduzido Essa reduccedilatildeo se
deu a partir das tropas de resgate que penetraram grandes aacutereas da Amazocircnia da
implantaccedilatildeo de missotildees jesuiacutetas e carmelitas ao longo dos principais rios
13
Dom Arcacircngelo Bispo Prelado de Parintins de 1980
36
amazocircnicos da ldquobusca desenfreadardquo das drogas do sertatildeo com a exploraccedilatildeo da
borracha durante o seacuteculo XIX e iniacutecio do XX e por fim da ldquoexpansatildeo econocircmica
das cidades de Maueacutes Barreirinha Parintins e Itaituba para o interior dos
municiacutepios alocando fazendas extraindo pau-rosa abrindo garimpos dominando a
economia indiacutegena atraveacutes de regatotildeesrdquo As cidades de Maueacutes Parintins e Itaituba
inclusive foram fundadas sobre restos de malocas dos Satereacute-Maweacute
Cerqua (1980 p265) destaca a localizaccedilatildeo dessa tribo delimitando que ldquoA tribo estaacute
localizada em sua maioria no Alto Andiraacute e no Marau afluente do Rio Maueacutes e sua aacuterea de
cerca de 639500 ha foi demarcada pelo Decreto nordm 76999rdquo Atualmente segundo Teixeira
(apud ALVAREZ 2009) os Satereacute-Maweacute hoje satildeo grupos de 8500 indiacutegenas dos quais 7502
moram na terra indiacutegena Andiraacute-Marau nos municiacutepios de Barreirinha Maueacutes e Parintins e
aproximadamente mil residem em aacutereas urbanas destes municiacutepios Sendo que outro grupo
vive na terra indiacutegena Coataacute-Laranjal junto ao grupo Munduruku e no municiacutepio de Borba
Uggeacute (1993) comenta que os Satereacute-Maweacute sempre tiveram vontade de manter a
proacutepria identidade tribal contudo eram carentes de apoio praacutetico para ajudaacute-los a enfrentar o
perigo do mundo moderno que tentavam ldquoinvadi-losrdquo Ou seja manipulaccedilotildees externas entre a
lideranccedila indiacutegenas dos Satereacute-Maweacute o alcoolismo a dependecircncia a violecircncia dos ldquobrancosrdquo
eram os maiores perigos para este povo Satereacute-Maweacute
Poreacutem o foco de resistecircncia manteve vivo no povo Satereacute aspectos culturais
importantes como o ritual da tucandeira O ritual eacute um marco na vida dos homens porque satildeo
chamados pela formiga (tucandeira) caso o indiacutegena natildeo atenda o chamado a formiga o
levaraacute a loucura ateacute chegar agrave morte A tucandeira eacute uma divindade muito respeitada pelos
Satereacute-Maweacute Em determinado momento da histoacuteria do povo Satereacute-Maweacute o ritual da
tucandeira chegou ao ponto de natildeo ser mais praticado em decorrecircncia da imposiccedilatildeo religiosa
mas apoacutes perceberam a grande perda cultural que isso representaria voltaram a praticaacute-lo a
recuperando como parte de sua cultura
22 Classificaccedilatildeo da liacutengua Satereacute-Maweacute
Segundo Teixeira (2005) a anaacutelise da situaccedilatildeo linguiacutestica do povo Satereacute-Maweacute
baseia-se na concepccedilatildeo defendida por antropoacutelogos e linguistas que a liacutengua se configura
como um importante instrumento da cultura e da identidade de uma populaccedilatildeo
A populaccedilatildeo indiacutegena Satereacute-Maweacute pertence vaacuterios aspectos agrave famiacutelia Linguiacutestica
Tupi Rodrigues (apud ALVAREZ 2009 p17) aborda que a liacutengua da tribo Satereacute-Maweacute eacute a
37
uacutenica liacutengua de uma famiacutelia do tronco Tupi E sua classificaccedilatildeo linguiacutestica como pertencente
ao tronco Tupi foi dada pelo etnoacutegrafo Curt Nimuendajuacute (1948)
A liacutengua Satereacute-Maweacute integra o tronco linguiacutestico Tupi Segundo o etnoacutegrafo Curt
Nimuendajuacute (1948) ela difere do Guarani-Tupinambaacute Os pronomes concordam
perfeitamente com a liacutengua Curuaya-Munduruku e a gramaacutetica ao que tudo indica
eacute tupi O vocabulaacuterio Maweacute conteacutem elementos completamente estranhos ao Tupi
mas natildeo pode ser relacionada a nenhuma outra famiacutelia linguiacutestica Desde o seacuteculo
XVIII seu repertoacuterio incorporou numerosas palavras da liacutengua geral
Os homens atualmente satildeo biliacutengues falando o Satereacute-Maweacute e o portuguecircs mas a
maioria das mulheres apesar de trecircs seacuteculos de contato com os brancos soacute fala a
liacutengua Satereacute-Maweacute (TEIXEIRA 2005 p95)
A liacutengua Satereacute-Maweacute eacute falada tradicionalmente por quase todas as comunidades haacute
mais de 300 anos entretanto foi inevitaacutevel para os indiacutegenas Satereacute-Maweacute conhecer os
haacutebitos e a liacutengua portuguesa devido agrave invasatildeo dos europeus em suas terras no seacuteculo passado
o que causou a mistura de liacutenguas e consequentemente as influecircncias dos padrotildees culturais
natildeo indiacutegenas
Os Satereacute-Maweacute foram entatildeo forccedilados a se refugiarem nas zonas urbanas e ateacute mesmo
em outros estados Outro impacto que alterou o modo de falar dos liacutederes indiacutegenas foi a
necessidade de buscar apoio logiacutestico para suas comunidades principalmente para tratar da
sauacutede de sua populaccedilatildeo que sofria de doenccedilas como malaacuteria tuberculose sarampo e outras
por eles desconhecidas que causaram muitas mortes
Desta forma com o passar dos anos a liacutengua Satereacute-Maweacute sofreu influecircncias lexicais
e fonoloacutegicas do Nheengatu na regiatildeo do Andiraacute Pesquisas realizadas recentemente por
Teixeira (2005) delimitam um perfil linguiacutestico que permite conhecer um pouco mais da
cultura linguiacutestica Satereacute-Maweacute sendo esta considerada por meio da distribuiccedilatildeo geograacutefica e
etaacuteria dos que falam e natildeo falam o idioma Satereacute-Maweacute Desta feita segundo o autor
O idioma Satereacute-Maweacute eacute mais falado na aacuterea do Marau que nas demais (Andiraacute
Uaicurapaacute e Koataacute-Laranjal) Tanto na aacuterea do Andiraacute como no Marau o idioma
materno eacute falado por praticamente todas as comunidades situadas proacuteximo agraves
cabeceira dos rios (Alto Andiraacute e Alto Marau) Para as aacutereas mais proacuteximas das
cidades os falantes atingem a quase totalidade dos moradores do Baixo Marau Jaacute
no baixo Andiraacute esse nuacutemero aumenta bastante nas duas comunidades mais
proacuteximas de Parintins e Barreirinha ou seja Ponta Alegre e Guaranatuba As aacutereas
de povoamento mais recente (Uaicurapaacute Koataacute-Laranjal e mais duas no Andiraacute) tecircm
tendecircncia a apresentar proporccedilotildees menores de falantes do idioma Satereacute-Maweacute
(ibid p95)
38
O autor esclarece que moradores em terras indiacutegenas satildeo mais falantes da Liacutengua
Satereacute-Maweacute do que os que moram proacuteximo ou dentro da aacuterea urbana A pesquisa ainda
mostra agrave necessidade de sensibilizar a comunidade indiacutegena Maweacute sobre a importacircncia da
valorizaccedilatildeo de sua liacutengua agrave recuperaccedilatildeo de suas memoacuterias histoacutericas e a reafirmaccedilatildeo de suas
identidades eacutetnicas
221 Contexto educacional escolar entre os Satereacute-Maweacute
O contexto educacional Satereacute-Maweacute tem como base o reconhecimento constitucional
fundamentado na legislaccedilatildeo em vigor segundo a qual ldquosatildeo reconhecidos aos iacutendios sua
organizaccedilatildeo social costumes liacutenguas crenccedilas e tradiccedilotildees []rdquo
Por isso fundamentos gerais da educaccedilatildeo escolar indiacutegena baseiam-se na proposta do
Referencial Curricular Nacional para Escolas Indiacutegenas (1998) que contempla
Multietnicidade pluralidade e diversidade 2 Educaccedilatildeo e conhecimentos indiacutegenas 3
Autodeterminaccedilatildeo 4 Comunidade educativa indiacutegena 5 Educaccedilatildeo intercultural
comunitaacuteria especiacutefica e diferenciada Assim
Parte do sistema nacional de educaccedilatildeo a escola indiacutegena eacute um direito que deve ser
assegurado por uma nova poliacutetica puacuteblica a ser construiacuteda atenta e respeitosa frente
ao patrimocircnio linguiacutestico cultural e intelectual dos povos indiacutegenas Esse esforccedilo
de projetar uma nova educaccedilatildeo escolar indiacutegena soacute seraacute realmente concretizado com
a participaccedilatildeo direta com os principais interessados ndash os povos indiacutegenas atraveacutes de
suas comunidades educativas [] A participaccedilatildeo da comunidade no processo
pedagoacutegico da escola fundamentalmente na definiccedilatildeo dos objetivos dos conteuacutedos
curriculares e no exerciacutecio das praacuteticas metodoloacutegicas assume papel necessaacuterio para
a efetividade de uma educaccedilatildeo especifica e diferenciada (ibid p24)
Poreacutem para que de fato seja garantida uma educaccedilatildeo diferenciada natildeo eacute suficiente
que somente os conteuacutedos sejam ensinados atraveacutes do uso das liacutenguas maternas mas se faz
necessaacuterio que se incluam os conteuacutedos curriculares propriamente indiacutegenas assim como os
modos proacuteprios de transmissatildeo deste saber Em pesquisa realizada pela revista Amazocircnia
(AMAZONAS 2000) intitulada como ldquoA silenciosa revoluccedilatildeo dos Iacutendiosrdquo o povo Satereacute-
Maweacute foi considerada um dos melhores exemplos para se falar em educaccedilatildeo indiacutegena Tal
afirmaccedilatildeo foi proferida pelo antropoacutelogo Ademir Ramos (professor da Universidade do
Estado do Amazonas) Segundo o entrevistado a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 mudou a
postura em relaccedilatildeo aos iacutendios estabelecendo um processo de educaccedilatildeo diferenciada que
39
fomenta o orgulho de aprender sua lingua tambeacutem no ambiente escolar possibilitando relatos
como o transcrito abaixo
Alunos como Dati 11 da aldeia de Molongotuba carregam com orgulho a cartilha
bdquoMoweeghap onde estatildeo registrados escritos ndash liacutengua Satereacute do tronco tupi e
desenhos de situaccedilotildees do cotidiano das aldeias falando de peixes aves aacutervores e
animais A liacutengua o menino aprendeu a falar com os pais e depois na escola onde
haacute quatro anos aprendeu a escrevecirc-la Aleacutem disso ele tem aprendido tambeacutem a
bdquoliacutengua dos brancos‟
Ainda sobre a importacircncia desta perspectiva educacional em nota o vice-presidente
da organizaccedilatildeo dos professores indiacutegenas Satereacute Gecinaldo Cabral comentou sobre a
mesma enfatizando a relevacircncia do processo educacional na vida dos iacutendios da tribo Satereacute
que por serem biliacutengues satildeo capazes de expressarem e defenderem o seu povo Portanto ao
ensinar a liacutengua nativa agraves crianccedilas promovem o resgate da cultura tradiccedilatildeo e conhecimentos
indiacutegenas Uma educaccedilatildeo diferenciada natildeo resumida na liacutengua majoritaacuteria ou seja Liacutengua
Portuguesa mas na liacutengua proacutepria das etnias E desta forma sendo respeitada a diversidade
cultural de cada povo
Nesta perspectiva Teixeira (2005) em sua pesquisa descreve que a realidade do
contexto educacional escolar do povo Satereacute-Maweacute explicando que
O quadro situacional dos Satereacute-Maweacute no que concerne agrave escolarizaccedilatildeo e agrave
escolaridade apresenta elementos que devem ser entendidos natildeo soacute como resultado
da aplicaccedilatildeo de poliacuteticas educacionais mas tambeacutem como explicitaccedilatildeo de estrateacutegias
poliacuteticas usadas pelos iacutendios na negociaccedilatildeo de visibilidade e reconhecimento no
espaccedilo puacuteblico brasileiro A busca dos Satereacute-Maweacute por escola explicitada na
forma de documentos reivindicatoacuterios enviados ao poder puacuteblico solicitando
recursos para suas escolas demonstrarem os conhecimentos escolares e a
certificaccedilatildeo que a escolaridade concede importantes instrumentos de luta no
processo histoacuterico de construccedilatildeo de sua identidade cultural e de desenvolvimento de
seus projetos sociais (ibid p103)
O autor tambeacutem evidecircncia que a escolarizaccedilatildeo ainda natildeo estaacute alcanccedilando a totalidade
dos Satereacute-Maweacute sendo assim
[] com idade compreendida entre 7 e 24 anos nem nas aacutereas urbanas onde se
verifica o maior percentual de matriacuteculas (839) nem nas terras indiacutegenas (596)
Se forem consideradas as pessoas que tecircm entre 7 e 17 anos de idade os percentuais
sobem bastante mas ainda demonstram a falta de acesso da populaccedilatildeo satereacute-maweacute
agrave escola A pior situaccedilatildeo ocorre na aacuterea indiacutegena onde aproximadamente 13 dos
indiviacuteduos dessa faixa etaacuteria estatildeo fora da escola Na aacuterea urbana o percentual dos
que estatildeo fora eacute de 8 Aparentemente o elevado percentual de pessoas entre 7 e 17
40
anos de idade que estatildeo fora da escola em aacuterea indiacutegena deveria estar relacionado
com a ausecircncia de ensino fundamental de 4ordf a 8ordf seacuterie nas aldeias
No entanto isto eacute apenas uma parte da justificativa pois de 142 pessoas dessa faixa
etaacuteria que natildeo frequentam a escola apenas 32 (225) declararam ter concluiacutedo a
quarta seacuterie do ensino fundamental ou seja poderiam estar fora da escola por falta
do ensino de 5ordf a 8a seacuterie na aacuterea indiacutegena Aleacutem disso 148 crianccedilas entre 7 e 14
anos de idade natildeo frequentam a escola significando que haacute problemas na oferta de
vagas para as crianccedilas satereacute-maweacute na aacuterea indiacutegena Dessas crianccedilas mais da
metade se concentra em apenas 14 aldeias22 das quais 4 compreendendo as
pequenas comunidades de Satildeo Luiacutes Limoal Tigre a Arumatuba no Andiraacute natildeo tecircm
nenhuma crianccedila estudando Na aldeia de Tabatinga no Andiraacute apenas uma das
cinco crianccedilas moradoras estatildeo estudando e na de Santo Antocircnio tambeacutem no
Andiraacute 12 entre 16 crianccedilas de 7 a 14 anos natildeo frequentam a escola(TEIXEIRA
2005 p 104)
Segundo o autor nas cidades de Maueacutes Parintins e Barreirinha a escola frequentada
pelos Satereacute-Maweacute natildeo se define como escola indiacutegena nem tatildeo pouco como especiacutefica ou
diferenciada Talvez seja uma realidade encontrada em todas as escolas indiacutegenas no
Amazonas O que se configura em um problema na medida em que segundo Sobrinho
(2011) a escola esta definida a partir de um modelo da ldquoescola dos brancosrdquo que certamente
altera interferindo diretamente nas questotildees culturais que fazem parte do universo desses
povos gerando assim processo de exclusatildeo O autor ainda comenta que
mesmo diante da resoluccedilatildeo nordm 112011 do Conselho Estadual de Educaccedilatildeo que traz
garantias aos indiacutegenas independentemente de onde vivam ao respeito a sua liacutengua
conhecimentos e tradiccedilotildees proacuteprias nas escolas essa lei passa completamente
despercebida (ibid p 209)
Sobre a questatildeo Teixeira (2005) menciona que nas terras indiacutegenas onde estaacute em
curso a criaccedilatildeo da escola indiacutegena com educaccedilatildeo escolar especiacutefica e diferenciada - as taxas
de escolarizaccedilatildeo deixam evidente que o poder puacuteblico tem investido somente nas seacuteries
iniciais do ensino fundamental o qual apresenta o percentual de 871 de taxa liacutequida de
escolarizaccedilatildeo ou seja natildeo haacute oferta regular para as seacuteries finais do ensino fundamental nem
de ensino meacutedio Isso sem relatar a falta de formaccedilatildeo de professores indiacutegenas entre outros
fatores conforme Franceschini apresenta
A necessidade de formaccedilatildeo especiacutefica e diferenciada de nuacutemero maior de
professores principalmente para atuar nos segmentos mais adiantados do Ensino
Fundamental a implantaccedilatildeo de mais turmas de 6ordm ao 9ordm anos e do Ensino Meacutedio na
aacuterea indiacutegena construccedilatildeo-reflexatildeo do Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico das escolas
Satereacute-Maweacute associada a uma praacutetica pedagoacutegica condizente e a construccedilatildeo de
material didaacutetico proacuteprio satildeo necessidades urgentes do povo Satereacute-Maweacute Pois
apesar da legislaccedilatildeo vigente dar aos indiacutegenas o direito de escolherem seu modelo
educacional e ensinarem sua liacutengua e etnoconhecimentos na maioria das escolas das
41
comunidades Satereacute-Maweacute o modelo educacional adotado natildeo se diferencia muito
do modelo das escolas rurais da regiatildeo sendo que a liacutengua e os etnoconhecimentos
indiacutegenas natildeo constituem de fato conhecimentos que fazem parte do programa
educacional e que satildeo trabalhados de forma sistemaacutetica na escola (2012 p5)
Portanto os resultados apresentados pelo pesquisador comprovam que as accedilotildees
governamentais para educaccedilatildeo escolar indiacutegena estatildeo distantes de cumprir na sua plenitude
preceitos constitucionais o que implica em prejuiacutezo natildeo soacute na educaccedilatildeo escolar indiacutegena
como na proacutepria cultura desse povo
42
3 METODOLOGIA IMPLEMENTADA NA PESQUISA
A metodologia utilizada neste trabalho deu iniacutecio com o estudo bibliograacutefico e
pesquisa de campo Realizou-se uma investigaccedilatildeo primeiramente sobre os estudos surdos na
perspectiva linguiacutestica e cultural a posteriormente na literaturas e estudos sobre os iacutendios da
etnia Satereacute-Maweacute tomando como princiacutepio a origem os fundamentos e a histoacuteria do povo e
da Liacutengua Satereacute-Maweacute Na sequecircncia a concretizaccedilatildeo da pesquisa de campo com a
investigaccedilatildeo do objeto de estudo o iacutendio surdo e sua situaccedilatildeo sociolinguiacutestica da etnia Satereacute-
Maweacute
Figura 1 ndash Croqui da aacuterea e localidade da pesquisa
Fonte Mapa do Estado do Amazonas Censo 2010 ndash IBGE
Organizado por Vicente de Paulo Silva de Azevedo
31 Aacuterea e localidade da pesquisa
A proposta do processo investigativo para o mapeamento do objeto da pesquisa foi
demarcada delimitando a aacuterea do campo da pesquisa a Microrregiatildeo de Parintins A
Microrregiatildeo de Parintins (AMAZONAS 2012) eacute constituiacuteda por Barreirinha Boa Vista do
Ramos Maueacutes Nhamundaacute Parintins Satildeo Sebastiatildeo do Uatumatilde e Urucaraacute Vale ressaltar que
natildeo foi coberta pela pesquisa a populaccedilatildeo Satereacute-Maweacute residente em Manaus (AM)
43
32 Estrateacutegias gerais para a realizaccedilatildeo da coleta de dados
Primeiramente foi feita uma busca de dados pelo IBGE o qual informou que natildeo
havia qualquer registro sobre a populaccedilatildeo indiacutegena de surdos Sem resultado satisfatoacuterio foi
organizado um cronograma de viagens
A primeira viagem foi para o municiacutepio de Parintins onde foi feita uma visita na casa
de um iacutendio para possiacutevel coleta de dados Poreacutem o cacique Sr Luiz de Oliveira infelizmente
tambeacutem comunicou a falta desse dado na comunidade Portanto foi exposto a esse liacuteder o
objetivo da referida pesquisa apresentando assim a importacircncia da comunicaccedilatildeo entre os
seres humanos e interaccedilatildeo entre os diferentes modos linguiacutesticos de convivecircncia social e
educacional
O cacique prontamente mostrou-se aberto a contribuir para que a pesquisa fosse
concretizada Assim sendo iniciou-se a trajetoacuteria do levantamento de iacutendios surdos e sua
forma de comunicaccedilatildeo como tambeacutem seu contexto educacional escolar
Ao retornar a Manaus buscou-se apoio agraves instituiccedilotildees representativas com a visita agrave
sede da Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio ndash FUNAI oacutergatildeo responsaacutevel pelas accedilotildees indiacutegenas a
qual informou que se fazia necessaacuterio uma autorizaccedilatildeo para dar seguimento agrave pesquisa Logo
providecircnciou-se o documento requerido na Coordenaccedilatildeo de Educaccedilatildeo Indiacutegena localizada no
municiacutepio de Barreirinha
Ao chegar agrave cidade de Barreirinha um novo contato foi estabelecido com o
Coordenador indiacutegena o Sr Santino Lopes de Oliveira que se mostrou receptivo com o
projeto e se dispocircs prontamente a colaborar
Com a autorizaccedilatildeo e aprovaccedilatildeo das autoridades indiacutegenas e de posse do documento
houve o comprometimento de que seguiria as normas estabelecidas que disciplinam o
ingresso em terras indiacutegenas pela entidade (ANEXO A) Assim foi possiacutevel sistematizar os
procedimentos para a coleta de dados
33 Procedimentos da coleta
A coleta de dados foi realizada de acordo com o cronograma estabelecido para esta
etapa da pesquisa O procedimento metodoloacutegico usado para a coleta de dados foi
fundamentado em meacutetodo misto por meio de observaccedilotildees questionamento participaccedilotildees em
reuniotildees com representantes da lideranccedila indiacutegena local conversas informais e espontacircneas
44
com famiacutelias e comunidade indiacutegena Satereacute-Maweacute Utilizou-se como instrumento para
coleta caderno de registro de campo fotos filmagens gravaccedilotildees e questionaacuterio (ANEXO B)
34 Articulaccedilatildeo local
O primeiro passo foi estabelecer parcerias com colaboradores ou seja lideranccedilas
indiacutegenas professores indiacutegenas professores da rede puacuteblica inteacuterpretes oacutergatildeos ligados agraves
causas indiacutegenas alunos da Universidade do Estado Amazonas As instituiccedilotildees
representativas educacionais tambeacutem colaboraram telefonando ou perguntando para outras
pessoas sobre a existecircncia de indiacutegenas surdos e locais de suas residecircncias
A participaccedilatildeo das lideranccedilas indiacutegenas como os professores e colaboradores que
apoiaram e permitiram entrar em suas terras para fazer o levantamento foi de extrema
importacircncia pois muito contribuiacuteram nas traduccedilotildees das palavras indiacutegenas para a Liacutengua
Portuguesa
35 Abordagem ao objeto da pesquisa
Em cada viagem agraves comunidades primeiramente fazia-se contato com o tuxaua com
a finalidade de apresentar o objetivo da pesquisa Desta forma era explicado para eles a
importacircncia da contribuiccedilatildeo que o estudo poderia trazer agravequela comunidade Por meio da
autorizaccedilatildeo concedida obtinha-se a colaboraccedilatildeo para a coleta de dados junto ao objeto da
pesquisa Jaacute as abordagens feitas em ambiente familiar tambeacutem era solicitado o consentimento
para a realizaccedilatildeo da pesquisa Com permissatildeo concedida iniciamos as observaccedilotildees e
intervenccedilotildees Com devida autorizaccedilatildeo utilizaacutevamos para registro cacircmeras fotograacuteficas e em
seguida registraacutevamos no caderno de campo da pesquisa (ANEXO CC-1 e C-2)
45
4 MAPEAMENTO DOS IacuteNDIOS SURDOS DA ETNIA SATEREacute-MAWEacute NA
MICRORREGIAtildeO DE PARINTINS E SUA REALIDADE LINGUIacuteSTICA E
EDUCACIONAL ESCOLAR
No Brasil haacute uma diversidade de etnias indiacutegenas Rodrigues (2002) satildeo mais de 170
liacutenguas faladas e dialetos pelos povos indiacutegenas Estas liacutenguas satildeo distribuiacutedas em dois
grandes troncos linguiacutesticos
[] o Tupi (dividido em 10 famiacutelias) e o Macro-Jecirc (dividido em 9 famiacutelias) e de
outras 20 famiacutelias linguumliacutesticas natildeo classificadas em troncos Apenas nove liacutenguas
indiacutegenas tecircm acima de 5000 falantes guajajara (satereacute-) maueacute xavante
ianomacircmi terena macuxi caingangue ticuna e guarani estes uacuteltimos com 30000
indiviacuteduos Cerca de 110 liacutenguas contam com menos de 400 falantes 14
Entretanto em meio a essa diversidade linguiacutestica poucos satildeo documentados
Pesquisadores e grupos indiacutegenas tentam um reavivamento eacutetnico e linguiacutestico
documentando-os para salvar sua liacutengua seu idioma
Diante do exposto a uacutenica liacutengua de sinais indiacutegena registrada eacute a utilizada pela etnia
indiacutegena brasileira dos Urubu-Kaapor como jaacute mencionada anteriormente Pesquisas no Mato
Grosso do Sul em aldeias indiacutegenas apresentaram a existecircncia de iacutendios surdos que utilizam
sinais emergentes ainda natildeo registrados propriamente como uma liacutengua
Pouco registro tem-se encontrado sobre iacutendios surdos muito menos sobre a liacutengua ou
a forma desses sujeitos se comunicarem De acordo com dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatiacutestica (IBGE) natildeo haacute registros sobre iacutendios surdos nem no Anuaacuterio
Estatiacutestico do Amazonas do IBGE tatildeo pouco na Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio (FUNAI)
sendo portanto necessaacuteria uma pesquisa in loco para a busca desses dados
Eacute importante destacar que a pessoa surda natildeo nasce com a incapacidade de falar ou
seja a pessoa surda natildeo eacute muda natildeo fala por natildeo poder ouvir a ldquo[] A surdez natildeo estaacute
absolutamente vinculada agrave mudez []rdquo (RAMOS apud STROBEL 2008 p34)
Por isso as teorias da aquisiccedilatildeo da linguagem humana justificam como o ser humano
(re)inventa modos para expressar suas necessidades e formas de ver o mundo realizando a
comunicaccedilatildeo com seus pares
14
Classificaccedilatildeo das Liacutenguas Indigenas Brasileiras segundo Aryon Rodrigues (2002) Disponiacutevel em
lthttpwwwgeocitieswsindiosbr_nicolaiclassifhtmlgt
46
Partindo dessa percepccedilatildeo este estudo apresenta uma contribuiccedilatildeo de informaccedilotildees
cientiacuteficas que seratildeo um acreacutescimo aos conhecimentos existentes sobre a comunicaccedilatildeo dos
surdos indiacutegenas
41 Mapeamento da existecircncia dos iacutendios surdos na microrregiatildeo de Parintins
Conhecer os indiviacuteduos sujeitos da pesquisa ndash iacutendios surdos Satereacute-Maweacute - eacute a fase
fundamental deste estudo pois dessa forma eacute possiacutevel compreender a forma predominante de
comunicaccedilatildeo deles para poder elaborar material concreto ndash dicionaacuterio triliacutengue - pertinente
para auxiliar na forma da comunicaccedilatildeo deles com a sua etnia atraveacutes da liacutengua desse povo
indiacutegena Nesta seccedilatildeo estatildeo apresentados os dados que constituem um mapeamento da
quantidade de indiviacuteduos surdos que estatildeo inseridos no contexto de Parintins Barreirinha
Boa Vista do Ramos e Maueacutes locais estes onde haacute maior contato com etnia foco deste estudo
Abaixo segue o histoacuterico do municiacutepio de Parintins e demais microrregiotildees citadas na
pesquisa15
411 Histoacuterico de Parintins
Parintins eacute um municiacutepio brasileiro situado no interior do estado do Amazonas
proacuteximo agrave divisa com o estado do Paraacute Regiatildeo Norte do paiacutes Estaacute situado na mesorregiatildeo do
Centro Amazonense e microrregiatildeo de mesmo nome e localiza-se a leste da capital do estado
distando desta cerca de 370 quilocircmetros Com uma populaccedilatildeo estimada em 2012 pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 103 828 habitantes sendo o segundo
mais populoso do estado do Amazonas que tem uma aacuterea de 5 952 kmsup2 representando
03789 do Estado do Amazonas 01545 da regiatildeo Norte brasileira e 00701 do territoacuterio
brasileiro8
Desse total 12 4235 kmsup2 estatildeo em periacutemetro urbano
O municiacutepio de Parintins como quase todos os demais municiacutepios brasileiros foi
primitivamente habitado por indiacutegenas Sua descoberta ocorreu em 1749 quando descendo o
rio Amazonas o explorador Joseacute Gonccedilalves da Fonseca notou uma ilha que por sua extensatildeo
se sobressaiacutea das outras localizadas agrave direita do grande rio As primeiras viagens exploratoacuterias
da Coroa Portuguesa em Parintins foram registradas somente em 1796 A fundaccedilatildeo da
15
O histoacuterico de Parintins e demais microrregiotildees estatildeo disponiacuteveis no site lthttpptwikipediaorgwiki_Parintinsgt
47
localidade em 1796 foi feita por Joseacute Pedro Cordovil que veio com seus escravos e
agregados para se dedicar agrave pesca do pirarucu e agrave agricultura chamando-a Tupinambarana A
rainha D Maria I deu-lhe a ilha de presente Ali instalado fundou uma fazenda de cacau
dedicando-se agrave cultura desse produto em grande escala Tupinambarana foi aceita e elevada agrave
missatildeo religiosa em 1803 pelo capitatildeondashmor do Paraacute o Conde dos Arcos que incumbiu sua
direccedilatildeo ao frei Joseacute das Chagas passando a ser denominada como a Vila Nova da Rainha
O primeiro nome recebido por Parintins jaacute na categoria de Freguesia foi Nossa
Senhora do Carmo de Tupinambarana em 1833 O nome da Freguesia soacute foi alterado em
1880 quando a sede passou a chamar-se ldquoParintinsrdquo em homenagem aos povos indiacutegenas
Parintintins um dos inuacutemeros que habitavam a regiatildeo
A eficiente atuaccedilatildeo de frei Joseacute provocou um surto de progresso e desenvolvimento na
localidade mediante a organizaccedilatildeo da comarca do Alto Amazonas Em 25 de julho de 1833
passa agrave freguesia com o nome de Freguesia de Nossa Senhora do Carmo de Tupinambarana
Era ainda Tupinambarana simples freguesia quando iniciou a revoluccedilatildeo dos Cabanos no Paraacute
e se alastrou por toda a proviacutencia O seu vigaacuterio padre Torquato Antocircnio de Souza teve
atuaccedilatildeo destacada durante a sediccedilatildeo servindo de delegado dos legalistas no Baixo Amazonas
Tupinambarana talvez porque estivesse bem defendida foi poupada aos ataques dos
Cabanos
Em 24 de outubro de 1848 a lei provincial do Paraacute nordm 146 elevou a freguesia agrave
categoria de vila com a denominaccedilatildeo de Vila Bela da Imperatriz e constituiu o municiacutepio ateacute
entatildeo ligado a Maueacutes Em 15 de outubro de 1852 pela lei nordm 02 foi confirmada a criaccedilatildeo do
municiacutepio Em 14 de marccedilo de 1853 deu-se a instalaccedilatildeo do municiacutepio de Parintins Em 24 de
agosto de 1858 foi criada pela lei provincial a comarca compreendendo os termos judiciaacuterios
de Vila Bela da Imperatriz e Vila Nova da Conceiccedilatildeo Em 30 de outubro de 1880 pela lei
provincial nordm 499 a sede do municiacutepio recebeu foros de municiacutepio e passou a denominar-se
Parintins Em 1881 foi desmembrado do municiacutepio de Parintins o territoacuterio que constituiu o
municiacutepio de Vila Nova de Barreirinha
A divisatildeo administrativa de 1911 figurou o municiacutepio com quatro distritos Parintins
Paranaacute de Ramos Jamundaacute e Xibuiacute Em 1933 aparece no quadro da divisatildeo administrativa
com um distrito apenas ndash o de Parintins Em 1 de dezembro de 1938 pelo decreto-lei estadual
nordm 176 eacute criado o distrito da Ilha das Cotias passando assim o municiacutepio a constituir-se de
dois distritos Parintins e Ilha das Cotias
Pela lei estadual nordm 226 de 24 de agosto de 1952 a comarca de Parintins perdeu os
termos judiciaacuterios de Barreirinha e Urucaraacute que foram transformados em comarcas Em 19 de
48
dezembro de 1956 a lei estadual nordm 96 desmembrou o municiacutepio de Parintins o distrito da
Ilha das Cotias que passou a constituir o municiacutepio de Nhamundaacute Em 10 de dezembro de
1981 a emenda constitucional nordm 12 eacute acrescido o territoacuterio de Parintins ao distrito de
Mocambo
O primeiro municiacutepio pesquisado eacute considerado o centro da microrregiatildeo Parintins
Segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 2103 a
populaccedilatildeo eacute de 109225 habitantes16
nesta localidade A Microrregiatildeo de Parintins eacute uma das
microrregiotildees do estado brasileiro do Amazonas pertencente agrave Mesorregiatildeo do Centro
Amazonense Estaacute dividida em sete municiacutepios Barreirinha Boa Vista do Ramos Maueacutes
Nhamundaacute Parintins Satildeo Sebastiatildeo do Uatumatilde e Urucaraacute De acordo com estimativas do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) a populaccedilatildeo da microrregiatildeo era de 262
719 habitantes em 2013
Seus municiacutepios limiacutetrofes satildeo Nhamundaacute ao norte Barreirinha ao sul Urucurituba ao
leste e os municiacutepios de Terra Santa e Juruti no estado do Paraacute O limite territorial entre
Parintins e Nhamundaacute se inicia na margem esquerda do rio Amazonas subindo este rio ateacute a
Barreira do Pauraacute A Serra de Parintins eacute usada para delimitar o fim dos limites territoriais
deste municiacutepio com Nhamundaacute Para delimitar os limites territoriais entre Parintins e
Barreirinha usa-se o divisor de aacuteguas dos rios Andiraacute-Uaicuparaacute juntamente com a linha
geodeacutesica que limita os estados do Amazonas e Paraacute Jaacute os limites territoriais com
Urucurituba satildeo iniciados no lago Arapapaacute no Paranaacute de Urucurituba Com o Estado do Paraacute
o limite tem iniacutecio na boca do igarapeacute do Valeacuterio na margem direita do rio Amazonas
Parintins eacute uma cidade marcada pelos traccedilos culturais poliacuteticos e econocircmicos
herdados dos portugueses espanhoacuteis italianos e tambeacutem dos japoneses tendo em vista que a
cidade possuiu uma relevante colocircnia destes imigrantes Natildeo se pode esquecer a importacircncia
dos ameriacutendios no quesito contribuiccedilatildeo eacutetnica Foram os ameriacutendios que iniciaram a ocupaccedilatildeo
humana na Amazocircnia e seus descendentes caboclos desenvolveram-se em contato iacutentimo com
o meio ambiente adaptando-se agraves peculiaridades regionais e oportunidades oferecidas pela
floresta
A cidade eacute um importante centro educacional de niacutevel meacutedio e superior do Estado do
Amazonas A cidade possui um dos mini-campus do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)
que oferece cursos em diferentes niacuteveis ensino meacutedio e ensino teacutecnico
16
Disponiacutevel emlthttpcidadesibgegovbrxtrastemasamazonas|parintins|estimativa-da-populacao-2013gt
Acesso em 28072014
49
Universidades puacuteblicas
- Universidade do Estado do Amazonas (UEA) eacute uma instituiccedilatildeo puacuteblica estadual de
ensino superior que oferece mais de vinte cursos distribuiacutedos em dezessete cidades
amazonenses (Parintins Manaus Presidente Figueiredo Itacoatiara Carauari Tabatinga
Tefeacute Laacutebrea Boca do Acre Coari Eirunepeacute Humaitaacute Manicoreacute Manacapuru Novo
Aripuanatilde Maueacutes e Satildeo Gabriel da Cachoeira) Foi criada pela lei estadual nordm 2637 de 12 de
janeiro de 2001 que proporcionou agraves fundaccedilotildees educacionais de ensino superior instituiacutedas
pelo Estado Em Parintins o Centro de Estudos Superiores (UEA) possui os cursos
Pedagogia Histoacuteria Geografia Fiacutesica Matemaacutetica Letras Portuguesa Quiacutemica Ciecircncias
Bioloacutegicas Tecnologia em Turismo Direito Sauacutede Coletiva Ciecircncias Econocircmicas e
Tecnologia em Gestatildeo Puacuteblica
- Instituto Federal do Amazonas (IFAM) O Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e
Tecnologia do Amazonas foi criado mediante integraccedilatildeo do Centro Federal de Educaccedilatildeo
Tecnoloacutegica do Amazonas e das Escolas Agroteacutecnicas Federais de Manaus e de Satildeo Gabriel
da Cachoeira
- Universidade Federal do Amazonas (UFAM) Instalada no municiacutepio desde 2007
possui os seguintes cursos Serviccedilo Social Comunicaccedilatildeo Social - Jornalismo Administraccedilatildeo
Organizacional Pedagogia Zootecnia Educaccedilatildeo Fiacutesica e Artes Plaacutesticas
No setor de educaccedilatildeo e capacitamento profissional o municiacutepio aleacutem de dispor de
uma ampla rede de escolas (estaduais municipais e privadas) conta com um campus da
Universidade do Estado do Amazonas e algumas faculdades privadas com diversos cursos
superiores ofertados Dispotildee ainda de unidades do SENAI SENAC e SESI e em funccedilatildeo
disso os iacutendices de alfabetizaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo profissional dos municiacutepios estatildeo em
crescimento
A cidade de Parintins eacute o local onde foram feitos os contatos frequentes com os
indiacutegenas da etnia Satereacute-Maweacute porque buscam as casas bancaacuterias para receberem os
benefiacutecios sociais tambeacutem buscam as escolas com ensino de todos os niacuteveis inclusive as
universidades puacuteblicas para as crianccedilas e jovens Outro fator eacute que tem um comeacutercio
desenvolvido em que podem adquirir seus bens de consumo aleacutem de ser de faacutecil acesso aos
demais centros da regiatildeo e do paiacutes atraveacutes dos diferentes meios comunicaccedilatildeo e transporte
Por isso o mapeamento foi iniciado nesta regiatildeo
Apesar de ter um nuacutemero consideraacutevel de habitantes os oacutergatildeos ligados agrave causa
indiacutegena natildeo dispotildeem de dados informativos sobre o objeto da pesquisa em meio agrave estimativa
populacional do municiacutepio mesmo assim outro oacutergatildeo foi procurado para que pudesse
50
fornecer algum dado ligado ao sujeito surdo da etnia Satereacute-Maweacute A instituiccedilatildeo pesquisada
foi a Escola de Aacuteudio Comunicaccedilatildeo ldquoPadre Paulo Mannardquo Esta eacute uma instituiccedilatildeo educacional
mantida pela Diocese de Parintins por meio de sua atual gestora a Professora Zilda Tavares
Atraveacutes desta colaboradora foram coletadas informaccedilotildees sobre os alunos indiacutegenas surdos da
etnia Satereacute-Maweacute que ali estudam ou estudaram que satildeo a seguir descritas
Embora a escola tivesse o conhecimento da existecircncia de dois indiacutegenas surdos da
etnia Satereacute-Maweacute apenas um se encontra matriculado na escola Eacute uma menina de seis anos
de idade cursando o preacute-escolar Para informaccedilotildees consistentes foi solicitado o contato
tambeacutem com a famiacutelia da aluna Ao contatar os pais foi feita uma abordagem por meio de
questionaacuterio mas diante das dificuldades encontradas por natildeo serem alfabetizados na liacutengua
nativa nem na liacutengua Portuguesa os dados utilizados satildeo resultante de entrevistas
assistemaacuteticas (conversas informais)
Os familiares tecircm papeacuteis importantes na formaccedilatildeo da linguagem da crianccedila Eacute atraveacutes
deles que acontece a formaccedilatildeo da identidade social e cultural desse sujeito em
desenvolvimento Satildeo eles que repassam o modo de vida os costumes e outros aspectos
sociais com os seus exemplos e empreendendo a funccedilatildeo da linguagem verbal atraveacutes de
relaccedilotildees dialoacutegicas que ativam a percepccedilatildeo do ser em maturaccedilatildeo no meio familiar Na visatildeo
de Ponzio (et al 2007 p 177)
Uma das funccedilotildees da linguagem verbal eacute a identificaccedilatildeo identificaccedilatildeo dos objetos
mediante um processo de modelaccedilatildeo e de articulaccedilatildeo da realidade que varia de
liacutengua para liacutengua identificaccedilatildeo de sujeito enquanto falante do sujeito do discurso
do tema do outro ao qual esse discurso se dirige de uma espeacutecie de bdquoauditoacuterio
universal‟ a que de modo geral se recorre na argumentaccedilatildeo identificaccedilatildeo de uma
comunidade e da pertenccedila ou da natildeo pertenccedila a esta etc
Um resumo histoacuterico sobre a referida indiacutegena aponta que a famiacutelia residia na
comunidade indiacutegena Ponta Alegre no Rio Andiraacute municiacutepio de Barreirinha Migraram para
a zona urbana em busca de condiccedilotildees para uma melhor qualidade de vida Ao descobrirem a
surdez da filha mudaram-se para a cidade de Parintins Declararam que a forma de se
comunicarem com a filha eacute por meio de gestos criados pela famiacutelia e a crianccedila pois natildeo
sabem a Liacutengua de Sinais
Analisa-se neste contexto a situaccedilatildeo complexa pela qual essa famiacutelia passou para se
entender com a ela posto que se esperasse que a crianccedila dominasse o sistema linguiacutestico que
usam para a comunicaccedilatildeo com os pares atraveacutes da liacutengua natural da etnia Este eacute um fato que
ocorre com as famiacutelias onde natildeo existe o desenvolvimento natural da fala
51
Considere-se assim que a liacutengua eacute adquirida a qual se manifesta em todas as
circunstacircncias normais no conhecimento de uso em processo de audiccedilatildeo desde o nascimento
os quais vatildeo tomando forma de significante e significado enquanto se distingue cada unidade
lexical do todo que existe no meio onde se estaacute inserido Para Lyons ldquoo termo aquisiccedilatildeo da
linguagem eacute normalmente usado sem ressalvas para o processo que resulta no conhecimento
da liacutengua nativa (ou liacutenguas nativas)rdquo (1987 p 231)
Neste caso para a crianccedila em evidecircncia deveria ser propiciado o ensino da Libras
como liacutengua para mediar a comunicaccedilatildeo o mais breve possiacutevel na medida em que ela estaacute
com idade proacutexima da faixa etaacuteria limite de aquisiccedilatildeo sem acarretar prejuiacutezos para o seu
desenvolvimento conforme explica teoria gerativista17
da aquisiccedilatildeo da linguagem proposta
por Lennenberg (1967)
[] a existecircncia de um periacuteodo criacutetico para a quisiccedilatildeo da linguagem tendo como
pressuposto a ideia de que esta eacute inata O periacuteodo criacutetico se iniciaria por volta dos
dois anos e se encerraria por volta da puberdade Esse periacuteodo eacute chamado de criacutetico
porque seria aquele mais sensiacutevel agrave aquisiccedilatildeo da linguagem[] concluiacutendo que o
cereacutebro humano inicialmente tem representaccedilatildeo bilateral das funccedilotildees da linguagem
e mediante o processo de aquisiccedilatildeo na puberdade apenas o hemisfeacuterio se torna
mais dominante em relaccedilatildeo a elas completando o periacuteodo de aquisiccedilatildeo Caso a
crianccedilas natildeo adquira a linguagem nesse periacuteodo seu desenvolvimento linguiacutestico
seraacute prejudicado (apud QUADROS 2008 p 78)
Deste modo no caso a crianccedila surda esta precisa aprender a liacutengua nativa de uma
forma diferenciada adequando-se os siacutembolos agraves formas visuais se natildeo apresentar esta
carecircncia tambeacutem posto que a faculdade da linguagem do ser humano eacute inata conforme
Chomsky esclarece (apud PONZIO etal 2007)
Trata-se de determinar agrave natureza do patrimocircnio bioloacutegico que constitui a bdquofaculdade
da linguagem‟ do ser humano o componente inato do conjunto menteceacuterebro que
uma vez tendo entrado em contato com a experiecircncia linguiacutestica produz o
conhecimento da linguagem isto eacute converte a experiecircncia em um sistema de
conhecimento (p 143)
O segundo indiacutegena surdo da etnia Satereacute-Maweacute havia sido transferido da escola Padre
ldquoPaulo Mannardquo para a Escola Estadual ldquoBrandatildeo de Amorimrdquo Segundo as informaccedilotildees da
famiacutelia ele nasceu na aacuterea indiacutegena de Ponta Alegre Poreacutem quando pequeno sua famiacutelia se
17
A teoria gerativista pressupotildee a existecircncia de um mecanismo inato responsaacutevel pela aquisiccedilatildeo da linguagem
denominado Gramaacutetica Universal (GU) tendo como responsaacutevel por essa concepccedilatildeo que caracteriza-se pela
elucidaccedilatildeo da natureza das linguas naturais Chomsky
52
mudou para zona urbana de Parintins Ele cresceu longe da cultura indiacutegena sem contato com
a liacutengua de sua etnia por estar fora desse contexto Por outro lado natildeo aprendeu a liacutengua
falada em seu entorno na medida em que natildeo pode na prendecirc-la de forma natural por natildeo
ouvir assim por natildeo ter domiacutenio da cultura da etnia deve aprender a liacutengua de sinais
inserindo os signos que significam as palavras do seu leacutexico atraveacutes de instruccedilatildeo especial
com a mediaccedilatildeo de algueacutem que tenha o conhecimento das duas formas de comunicaccedilatildeo Para
Lyons (1987) esses aprendizes adquirem habilidades comunicativas rapidamente pois o
progresso que alcanccedilam eacute pelo menos agraves vezes tatildeo raacutepido que como observam tanto os pais
quanto os pesquisadores eacute difiacutecil manter um registro compreensivo e sistemaacutetico do seu
processo de aprendizado Como tambeacutem eacute no total independente de inteligecircncia e de
diferenccedilas do meio social e cultural
A capacidade da pessoa para construir enunciados vai tomando forma agrave medida que
consegue compreender a relaccedilatildeo entre significante e significados dos signos com os quais tem
contato Por isso os indiacutegenas surdos podem ser beneficiados com um material escrito
triliacutengue Este pode constituir-se em um material de apoio para a aprendizagem das trecircs
liacutenguas sendo que a liacutengua de sinais eacute perspectivada como L1
O terceiro caso identificado eacute de um iacutendio surdo jaacute adulto da comunidade Uiacurapaacute
da etnia Maweacute As informaccedilotildees datildeo conta que ele se comunica por meio de gestos criados por
ele e os pares com quem tem relaccedilatildeo Poreacutem natildeo haacute dados detalhados pois natildeo foi possiacutevel
contato com o mesmo porque ele vive isolado sobrevivendo de caccedila e pesca em comunidade
rural indiacutegena Fato este que implica diretamente no aperfeiccediloamento da forma de
comunicaccedilatildeo desse sujeito posto que ldquoos fenocircmenos ambientais podem agir diretamente
sobre a pessoa ou individualmente atraveacutes de repasse de experiecircncias vividas pela sociedade
atraveacutes da linguagem veiculada pela liacutenguardquo (OLIVEIRA 2005 p134)
Assim estaacute constituiacuteda a populaccedilatildeo de indiacutegenas surdos que fazem parte da
microrregiatildeo de Parintins que se podem fazer os devidos registros neste estudo
412 Histoacuterico de Barreirinha
O municiacutepio de Barreirinha pertence a Mesorregiatildeo da Microrregiatildeo de Parintins que
estaacute localizado a leste de Manaus Capital do Estado distanciando cerca de 331 quilocircmetros
E ao norte de Parintins o municiacutepio de Barreirinha juntamente com Maueacutes satildeo principais
municiacutepios que possuem a maior populaccedilatildeo de indiacutegenas localizados nos rios Andiraacute e o
Marau Portanto sendo o municiacutepio como a sede urbana das comunidades inseridas os surdos
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indiacutegenas vem apenas em busca de tratamento meacutedico quando necessitam ou para atividades
sociais acompanhados de seus pais mas na zona urbana natildeo localizamos nenhum indiacutegena
surdo
Barreirinha foi o segundo municiacutepio pesquisado E segundo o IBGE em 2013 a
populaccedilatildeo era de 29737 habitantes18
sendo o vigeacutesimo segundo municiacutepio mais populoso do
Estado do Amazonas e o terceiro de sua microrregiatildeo
Este muniacutecipio conta com um setor especiacutefico das causas indiacutegenas a Coordenaccedilatildeo
Iacutendiacutegena Satereacute-Maweacute sob responsabilidade do coodernador geral SrSantino Lopes Este
tornou possiacutevel o acesso agrave comunidade indiacutegena de Ponta Alegre no Rio Andiraacute Foi na
Escola Municipal Professora ldquoRosa Cabralrdquo que foi identificado um indiacutegena surdo da etnia
Satereacute-Maweacute um menino de 12 anos matriculado na 3ordf ano do ensino fundamental Nesse
contexto foi possiacutevel observar sua forma de se comunicar com as demais pessoas que faziam
parte do seu meio social Outros dados referente a relaccedilotildees familiares deste natildeo estatildeo
disponiacuteveis na medida em que natildeo foi possiacutevel fazer contato com sua famiacutelia Desta forma
permanece uma lacuna de respostas referente a esse aluno posto que
De uma forma geral e em regra a socializaccedilatildeo da crianccedila no mundo civilizado
comeccedila dentro de uma famiacutelia nuclear constituiacuteda de pai matildee e irmatildeos quando
existem Durante os primeiros anos da infacircncia adquire traccedilos culturais (menores
unidades de cultura) atraveacutes das pessoas da famiacutelia que satildeo reflexo da sociedade
onde vivem (OLIVEIRA 2005)
Entende-se que atraveacutes de informaccedilotildees que poderiam ser fornecidas pela famiacutelia
deveria ser esclarecido como ocorre a socializaccedilatildeo da crianccedila nesse contexto e de que modo
aprenderam a se comunicar com ela que estrateacutegias foram utilizadas para que ela conseguisse
ser alfabetizada
413 Histoacuterico de Maueacutes
Este municiacutepio que tambeacutem pertence agrave Mesorregiatildeo do Centro Amazonense e
Microrregiatildeo de Parintins tem uma populaccedilatildeo de 54079 habitantes conforme as estimativas
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) A cidade eacute reconhecida
nacionalmente por possuir uma das maiores expectativas de vida do paiacutes
18
Disponiacutevel emlthttpcidadesibgegovbrxtrastemasamazonas|barreirinha|estimativa-da-populacao-2013gt
Acesso em 28072014
54
Na margem direita do Rio Maueacutes-Accedilu Maueacutes foi fundada em 1798 por Luiz Pereira
da Cruz e Joseacute Rodrigues Preto agrave distacircncia de 268 km em linha reta e 356 km pela via
fluvial de Manaus O calendaacuterio festivo do municiacutepio conteacutem as datas festivas municipais
em homenagem agrave Satildeo Sebastiatildeo (10 a 20 de janeiro) ao Divino Espiacuterito Santo (22 a 30 de
maio) agrave Satildeo Pedro (27 a 30 de junho) agrave padroeira Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo (01 a 8 de
dezembro) assim como a Festa do Carnaval Popular (21 a 24 de fevereiro) do aniversaacuterio do
municiacutepio (26 a 27 de junho) da Ilha de Vera Cruz (23 a 25 de julho) do Veratildeo (de 05 a 7 de
setembro) da Feira Industrial (06 a 8 de novembro) e do Guaranaacute (em novembro)
Sobre a origem do nome deste municiacutepio observa-se que inicialmente foi
denominada Luseia e progredindo com o tempo transformou-se em missatildeo carmelita com
nome de Maueacutes O liacuteder nessa eacutepoca foi o frei Joaquim de Santa Luzia Por um decreto de 25
de junho de 1833 a missatildeo foi considerada vila sob a invocaccedilatildeo de Nossa Senhora da
Conceiccedilatildeo de Luseia Em 1853 pela lei nordm 25 de 3 de dezembro da iniciativa do Deputado
Marcos Antocircnio Rodrigues de Souza a vila tornou-se cidade chamada Satildeo Marcos de
Mundurucacircnia Consta como uma das freguesias da proviacutencia denominada Maueacutes em 1958
A oficializaccedilatildeo da mudanccedila do nome do municiacutepio ocorreu quando o Deputado Joseacute
Bernardo Michiles em 1865 apresentou um projeto para tal que tendo sido aprovado
oficializou-se a mudanccedila do nome de Maueacutes para Conceiccedilatildeo Enfim jaacute na Repuacuteblica em
1895 pela lei nordm 133 de 5 de outubro a localidade torna-se Comarca E em 4 de maio de 1896
eacute considerado municiacutepio pelo novo regime juriacutedico com o nome de Maueacutes pela lei nordm 137
As pesquisas de campo nesse municiacutepio natildeo foram realizadas conforme a previsatildeo
pois a viagem natildeo foi concretizada devido agraves dificuldades em relaccedilatildeo agrave distacircncia para chegar
ateacute agraves comunidades que satildeo distantes da cidade cede e havia necessidade de recurso material
e humano (professores guias indiacutegenas biliacutengues) para realizaacute-la Quando foi possiacutevel chegar
ao local ocorreu o contato com trecircs professores que residiam nas comunidades do rio
chamado Marau Ali foi possiacutevel tecirc-los em companhia na funccedilatildeo de guia inteacuterprete para
contato com os indiacutegenas surdos daquela localidade
Em resposta afirmativa ao questionamento se havia iacutendios surdos foram realizadas
reuniotildees com a comunidade local para coletar informaccedilotildees que apontou a existecircncia de um
caso na comunidade de Santa Maria Era um senhor na faixa etaacuteria de 67 anos que adquiriu a
surdez haacute muito tempo atraacutes Ele natildeo tem conhecimento da Liacutengua Portuguesa por isso natildeo
tivemos contato direto No entanto ele conhece a proacutepria liacutengua e assimilou a cultura da etnia
posto que
55
A liacutengua eacute aprendida simultaneamente a outros elementos da cultura A capacidade
de desenvolvimento da linguagem eacute inata O indiviacuteduo nasce com o ceacuterebro
preparado para aprender tudo que pertinente agrave cultura humana da qual a linguagem
faz parte (OLIVEIRA 2005 p 137)
Eacute no contexto social que se aprende os signos que fazem parte do mundo exterior e
que o ceacuterebro assimila pelo conhecimento que os sentidos possibilitam
O segundo iacutendio localizado foi um surdo de nascenccedila hoje com idade de 24 anos
Segundo relato da famiacutelia nunca frequentou uma escola portanto seu uacutenico meio de
comunicaccedilatildeo eacute gestual que aprendeu como forma para se fazer entender pois ldquoa linguagem eacute
atributo universal do ser humanordquo (OLIVEIRA 2005) assim constitui-se como necessidade
vital da pessoa conduzindo ao aprendizado
Em pesquisa de campo se obteve a informaccedilatildeo que havia outros trecircs iacutendios surdos que
moravam no Rio Marau mas natildeo foi possiacutevel chegar ateacute a aldeia onde se encontravam
devido ao difiacutecil acesso o que impossibilitou a ida ateacute a localidade
414 Histoacuterico de Boa Vista do Ramos
Uma das sete Mesorregiotildees de Parintins eacute Boa Vista do Ramos que possui
aproximadamente 16820 de habitantes segundo o IBGE (2013)
A histoacuteria de Boa Vista do Ramos encontra-se ligada agrave histoacuteria do municiacutepio de
Maueacutes Em 1798 foi fundada a Aldeia de Lusea Em meados do Seacuteculo XIX vaacuterios conflitos
ocorreram na regiatildeo entre brancos e povos indiacutegenas sendo efetiva tambeacutem a participaccedilatildeo de
cabanos oriundos da Cabanagem
Quando a Proviacutencia do Amazonas eacute criada em 1850 Lusea torna-se um dos quatorze
municiacutepios existentes na proviacutencia Seu nome eacute alterado em 1892 para Maueacutes tornando-se
sede da Comarca em 1895 Em 10 de dezembro de 1981 atraveacutes da Emenda Constitucional nordm
12 o povoado de Boa Vista do Ramos aleacutem de outros territoacuterios pertencentes agrave Maueacutes e
aacutereas adjacentes dos municiacutepios de Barreirinha e Urucurituba passam a constituir o novo
municiacutepio de Boa Vista do Ramos
Em pesquisa de campo nesse municiacutepio o primeiro contato que foi na Coordenadoria
Regional de Educaccedilatildeo da cidade (SEDUC) Embora esta professora responsaacutevel por essa
Instituiccedilatildeo tenha informado que natildeo conhecia nenhum caso de iacutendio surdo neste municiacutepio
alguns informantes afirmaram que na aldeia de Santo Antocircnio que faz parte do referido
municiacutepio foi localizada uma senhora que havia adquirido a surdez ainda muito jovem sem
56
nenhum conhecimento das liacutenguas ldquofaladasrdquo ou sinalizadas Desta forma ela utilizava de
gestos para se comunicar porque os seres humanos nascem com a capacidade para a
linguagem que se desenvolvem ao longo da primeira infacircncia mas que podem tambeacutem ser
aprendida no meio social atraveacutes de estiacutemulos Nesta perspectiva segundo a concepccedilatildeo de
Oliveira (2005 p 143)
A evoluccedilatildeo da linguagem depende de dois fatores principais da capacidade geneacutetica
cerebral para desenvolvecirc-la que eacute a principal e dos estiacutemulos ambientais que satildeo
sempre tatildeo importantes quanto aquela Esse desenvolvimento estaacute senpre inserido no
contexto de socializaccedilatildeo que eacute a responsaacutevel pela humanizaccedilatildeo do indiviacuteduo
Ainda sobre a importacircncia da socializaccedilatildeo para os sujeitos ressalta-se que estes
desenvolvendo no meio onde estatildeo inserido adquirem sua identidade cultural
concomitantemente sua identidade linguiacutestica que estaacute presente no discurso dos seus pares
posto que ela ldquoeacute adquirida nos processos de formaccedilatildeo e tranformaccedilatildeo de uma liacutengua
particularrdquo que eacute tambeacutem determinante no relacionamento cm outras liacutenguas E de acordo
com Ponzio (2007 p178) ldquoO espaccedilo em que uma liacutengua vive eacute um espaccedilo interlinguiacutestico e a
capacidade de expressatildeo e da adaptaccedilatildeo dessas liacuteguas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo eacute
diretamente proporcional agrave quantidade de contatos com outras liacutenguasrdquo O que deixa evidente
que um indiviacuteduo pode estar em contato com diferentes formas de intercomunicaccedilatildeo
415 Histoacuterico de Nhamundaacute
Eacute trigeacutesimo quinto municiacutepio mais populoso do estado do Amazonas Sendo o quarto
da Mesorregiatildeo em estudo Conforme o IBGE em 2013 o municiacutepio eacute composto por uma
populaccedilatildeo de 19 792 habitantes
O municiacutepio de Nhamundaacute estaacute localizado na zona fisiograacutefica do Baixo Amazonas
limitando com os municiacutepios de Parintins e Urucaraacute no Amazonas com o Estado de Roraima
(norte) e com os municiacutepios de Faro e Terra Santa no estado do Paraacute Distacircncia da capital 375
km em linha reta e cerca de 577 km por via fluvial Sua altitude eacute de 50 metros acima do
niacutevel do mar
As origens do municiacutepio de Nhamundaacute remontam agraves primitivas povoaccedilotildees dos iacutendios -
nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XVII composta pelos condurizes paraculamas canuris
guancaris paraquatas queremas jamundaacutes e uaboy cujo tuxaua se chamava Jamundaacute que
dada a luta em prol da liberdade de seu povo devido agrave exploraccedilatildeo e maus-tratos pelos
57
colonizadores fez um levante conduzindo a tribo Uaboy para as cabeceiras do alto rio que em
sua homenagem ganhou o seu nome e por conseguinte daacute nome ao municiacutepio
Em 1653 mediante carta reacutegia a regiatildeo foi erigida a Missatildeo que foi confiada aos
missionaacuterios portugueses capuchos da Piedade Eles organizaram uma aldeia modelo na boca
do Tauacuera - aldeia velha afluente esquerdo onde ainda se podem ver ruiacutenas do antigo
convento no meio dos espinhais A sede da Missatildeo poreacutem foi transferida para o lugar da
atual cidade de Faro Os padres capuchos souberam unir os iacutendios uaboy residentes no
Trombetas aos da Missatildeo para aumentar a populaccedilatildeo Era entatildeo o chefe dos Uaboy o tuxaua
Jamundaacute que ligou seu nome agrave Missatildeo e agrave aldeia que doravante se chamou aldeia dos
Jamundaacute ou Missatildeo dos Jamundaacute
O primeiro documento sobre a Missatildeo eacute do ano de 1727 e foi escrito pelo superior da
Missatildeo frei Francisco de Satildeo Manccedilos Em 1758 Missatildeo tomou o nome de Faro No entanto
jaacute em 1755 o Marqucirces de Pombal mandou suspender as Missotildees para serem transformadas
em vilas e paroacutequias A Missatildeo dos Jamundaacute foi extinta em 1758 por ordem de Mendonccedila
Furtado quando de sua viagem de demarcaccedilatildeo da nova capitania Foram criadas assim a vila
de Faro e a Paroacutequia de Satildeo Joatildeo Batista em 21 de dezembro de 1758 mas a instalaccedilatildeo deu-se
somente em 27 de dezembro de 1768
Desse modo em 1911 quando ocorreu a divisatildeo administrativa do Brasil o municiacutepio
de Parintins foi contemplado com o distrito de Jamundaacute Com a extinccedilatildeo deste quando
aconteceu a nova divisatildeo administrativa em 1933 o municiacutepio de Parintins surgiu com apenas
um distrito assim em 10 de dezembro de 1938 pelo Decreto-lei no 176 do Estado do
Amazonas Parintins voltaria a dispor de um outro distrito aleacutem da sede o da Ilha das Cotias
Em 19121955 pela Lei Estadual no 96 o distrito de Ilha das Cotias eacute desmembrado de
Parintins e passa a constituir o municiacutepio autocircnomo de Nhamundaacute Em 31 de janeiro de 1956
foi instalado o municiacutepio de Nhamundaacute
A viagem a esse municiacutepio foi realizada com o apoio do aluno Fernando Gonccedilalves
acadecircmico do curso de Licenciatura em Geografia pela Universidade do Estado do
Amazonas-UEA Para maiores esclarecimentos foi feita a pesquisa na casa de sauacutede indiacutegena
localizada na cidade de Nhamundaacute onde informaram desconhecer a existecircncia da etnia
Satereacute-Maweacute no municiacutepio Mesmo assim foi feito outro contato com uma enfermeira da
Casa de Sauacutede Indiacutegena do municiacutepio A resposta foi a mesma ldquoQueremos informar ao
professor que no municiacutepio de Nhamundaacute que natildeo trabalhamos com a etnia Satereacute-Maweacute
Atendemos somente a etnia Hixkaryana existente na regiatildeo Natildeo haacute portanto nenhum surdo
Hixkaryana ou Satereacute-Maweacute cujo fato eacute comprovado pelo senso municipalrdquo
58
Foi feita uma pesquisa tambeacutem em outro oacutergatildeo que atua com indiacutegenas no caso as
Secretaria de Educaccedilatildeo do Municiacutepio com a finalidade de constatar a veracidade dos fatos
eou conseguir novos dados sobre o indiacutegena surdo Satereacute ou Hixkaryana O subsecretaacuterio de
Educaccedilatildeo relatou que natildeo existia dados sobre a liacutengua Satereacute-Maweacute nem indiacutegenas surdos
existentes
Realmente apoacutes pesquisas in loco ficou comprovado somente agrave existecircncia da etnia
Hixkaryana da famiacutelia linguiacutestica Karib Sobre esta ressalta-se que
A liacutengua hixkaryana pertence agrave famiacutelia linguiacutestica Karib e eacute falada por todos os
membros do grupo Esta liacutengua eacute muito semelhante agravequeles outros dialetos falados
na regiatildeo mais ampla circunscrita pelos vales dos rios Trombetas e Mapuera como
Waiwai Xereu Katuena Karapawyana Tunayana Desta maneira e pelo fato dos
Hixkaryana estabelecerem relaccedilotildees bem estreitas com estes grupos em uma rede de
trocas matrimoniais e rituais tais dialetos satildeo inteligiacuteveis entre si []
Os Kaxuyana que moram no rio Nhamundaacute quase todos tambeacutem falam a liacutengua
hixkaryana aleacutem da sua liacutengua proacutepria o Kaxuyana Contudo em geral um
Hixkaryana natildeo fala a liacutengua kaxuyana fato que de certa forma demonstra que os
Kaxuyana satildeo considerados os ldquoestrangeirosrdquo naquela regiatildeo e que devem aprender
a liacutengua ldquonativardquo o Hixkaryana
A maioria dos Hixkaryana eacute alfabetizada na liacutengua nativa sendo capaz de ler e
escrever neste idioma Em 2008 havia apenas uma escola de ensino fundamental na
aldeia Kassauaacute e muitos jovens depois desta seacuterie dirigiam-se agrave cidade de
Nhamundaacute (AM) para prosseguir os estudos de niacutevel meacutedio Em 2010 uma escola
de ensino meacutedio foi implantada na aldeia Kassauaacute Aleacutem disso uma dezena de
Hixkaryana jaacute cursou ou estaacute cursando o ensino superior em cidades como Parintins
e Manaus Contudo a maioria das mulheres dos velhos e das velhas fala muito
pouco o Portuguecircs sendo o Hixkaryana a liacutengua mais usada por todos19
Assim como no municiacutepio de Nhamundaacute ficou constatado tambeacutem que nos demais
municiacutepios de Satildeo Sebastiatildeo do Uatumatilde e de Urucaraacute que natildeo haacute registro sobre a existecircncia
da etnia Satereacute-Maweacute nem tatildeo pouco a existecircncia de iacutendios surdos A tabela 1- apresenta o
resultado da pesquisa que aponta o mapeamento
Tabela 1 Mapeamento da existecircncia de iacutendios surdos nas respectivas comunidades
indiacutegenas ou zona urbana da microrregiatildeo de Parintins
Fonte Azevedo (2014)
19
Disponiacutevel emlthttppibsocioambientalorgptpovohixkaryanagt Acesso em 07112014
Etnia Liacutengua Comunidade Indiacutegena
rural Zona Urbana
Municiacutepio Quantidade de iacutendios
surdos
Satereacute-Maweacute Tupi Parintins Parintins 02
Satereacute-Maweacute Tupi Uaucurupaacute Parintins 01
Satereacute-Maweacute Tupi Rio Andiraacute Barreirinha 01
Satereacute-Maweacute Tupi Santa Maria Maueacutes 02
Satereacute-Maweacute Tupi Rio Marau Maueacutes 03
Satereacute-Maweacute Tupi Boa Vista do Ramos Boa Vista do
Ramos
01
Total 10
59
De acordo com os dados pode-se observar a existecircncia de poucos iacutendios surdos
Poreacutem acredita-se que ainda existam outros em comunidades mais isoladas Como tambeacutem
pelo fato de serem consideradas ldquodeficientesrdquo algumas famiacutelias natildeo integram na comunidade
que vivem As dificuldades encontradas para coletar os dados a partir dos oacutergatildeos
responsaacuteveis tambeacutem foram encontrados em outros estudos realizados anteriormente para
estabelecer a populaccedilatildeo indiacutegena na Ameacuterica Latina o que pode ser vislumbrado pela
explicaccedilatildeo dos fatos complicadores transcritos a seguir
Uma das dificuldades para estabelecer a populaccedilatildeo indiacutegena estaacute relacionada com
fato de que o criteacuterio de filiaccedilatildeo segue mais a autodenominaccedilatildeo que as
caracteriacutesticas linguiacutesticas ou raciais como se considerava haacute algumas deacutecadas atraacutes
Outra dificuldade eacute que a uacutenica fonte disponiacutevel para estabelecer a quantidade de
populaccedilotildees indiacutegenas na regiatildeo satildeo precisamente os censos nacionais de populaccedilatildeo
que haacute bem pouco tempo permitiam inferir informaccedilatildeo sobre a populaccedilatildeo indiacutegena
a partir de uma uacutenica pergunta referente agrave liacutengua falada pelos entrevistados (LOPES
e SICHRA 2009 p 103)
Entretanto embora natildeo haja um nuacutemero expressivo de iacutendios surdos da etnia Satereacute-
Maweacute ficou constatado que haacute muitos surdos natildeo-iacutendios nos municiacutepios estudados
principalmente no municiacutepio de Parintins que precisam se comunicar com diferentes
interlocutores Este eacute um argumento que aponta para a necessidade de instrumentos
educacionais como um dicionaacuterio triliacutengue importante para os surdos que conseguiram
estabelecer elos comunicativos a partir das trecircs liacutenguas E jaacute que o homem eacute criativo ldquoagrave
medida que o tempo passa a humanidade vai agregando novas descobertas e inventos que se
concretizam e se somam para dar-lhe conforto e bem estarrdquo (OLIVEIRA 2005 p 144) Entatildeo
espera-se que este material contribua para que o sujeito surdo possa se comunicar
adequadamente no seio familiar e no processo educacional
42 Realidade linguiacutestica e educacional dos iacutendios surdos encontrados da etnia Satereacute-Maweacute
O sistema responsaacutevel pela educaccedilatildeo tem procurado fazer adequaccedilotildees para atender agraves
pessoas que apresentam necessidades na sua arquitetura fiacutesica para a inclusatildeo destas no
contexto da realidade linguiacutestica e educacional Embora exista uma legislaccedilatildeo pertinente
ainda haacute ausecircncia de qualidade para que um indiviacuteduo surdo possa estudar incluso em um
contexto regular de ensino Principalmente porque os professores natildeo estatildeo preparados para
lidar com essa situaccedilatildeo peculiar Haacute uma imposiccedilatildeo nos oacutergatildeos educacionais mas natildeo haacute
60
profissionais que atuem para o bom desempenho do aluno indiacutegena surdo A partir dessa
visatildeo Albres (2005) que realizou um estudo nesta aacuterea de conhecimento afirma
Nessa perspectiva o homem eacute produto e produtor da cultura conjunto das relaccedilotildees
sociais portanto mister se faz investigar a origem histoacuterica de alguns princiacutepios da
educaccedilatildeo biliacutengue para surdos e desvelar elementos conceituais Propomo-nos
entatildeo identificar e analisar as concepccedilotildees de linguagem que sob condiccedilotildees
histoacutericas fundamentaram o ensino de Liacutengua Portuguesa para surdos nos
documentos do MEC
Desta feita entende-se que se no contexto do ensino da Liacutengua Portuguesa existem
diversas dificuldades no contexto de uma liacutengua indiacutegena a situaccedilatildeo se torna mais complexa
Desse modo na anaacutelise da situaccedilatildeo linguiacutestica e educacional encontrada com os iacutendios surdos
identificados da etnia Satereacute-Maweacute eacute bastante diversificada Apresentam diferentes formas de
siacutembolos para conseguirem se comunicar com as pessoas com quem tecircm contato Precisam
fazer um esforccedilo aleacutem do necessaacuterio para manifestar seus desejos para informar e ter acesso a
informaccedilotildees
No caso da aluna indiacutegena surda de apenas seis anos de idade na escola especiacutefica para
atender alunos surdos foi constatado que sua situaccedilatildeo linguiacutestica e educacional se encontra
em processo de aquisiccedilatildeo de uma linguagem baacutesica para comunicaccedilatildeo com as pessoas com as
quais ela convive
Conforme os dados fornecidos pela escola por meio de um parecer pedagoacutegico sobre a
aluna indiacutegena surda (ANEXO D) Ficou atestado que a aluna da etnia Satereacute-Maweacute nasceu
de parto normal sem nenhum problema aparente Aos trecircs anos de idade a matildee percebeu que
a filha natildeo ouvia e nem falava pois seus outros filhos haviam comeccedilado a falar na presente
idade Para seguir se comunicar com a filha utilizava-se de gestos sendo difiacutecil a
comunicaccedilatildeo Foi essa situaccedilatildeo que levou a famiacutelia a procura da Escola Padre Paulo Manna
onde se encontra matriculada no preacute-escolar Nessa realidade ela recebe as mesmas
orientaccedilotildees dadas agraves crianccedilas natildeo indiacutegenas logo natildeo existe um direcionamento para a cultura
da sua etnia na escola nem na no contexto familiar
Sobre essa condiccedilatildeo Cool (2004) aborda que haacute um aspecto familiar que tem
relevacircncia particular o tipo de comunicaccedilatildeo que se utiliza em casa ou seja a forma e o estilo
de comunicaccedilatildeo que os pais utilizam com a crianccedila surda tem uma grande importacircncia para o
seu desenvolvimento e para sua aprendizagem No caso dos pais ouvintes estes necessitam do
conhecimento da educaccedilatildeo da cultura da liacutengua da pessoa surda para que possam promover
uma formaccedilatildeo linguiacutestica completa para o filho surdo E deste modo este ldquopossa consolidar e
61
aprofundar o uso e a compreensatildeo da liacutengua proacutepria enquanto veiacuteculo de cultura e
possibilidade de comunicaccedilatildeo no acircmbitordquo de conhecimento do aprendiz sem deixar agrave parte do
domiacutenio da liacutengua apropriada para esse sujeito (HERNAIZ 2009)
Desta forma a educaccedilatildeo escolar reconhecida pela proacutepria escola referente agrave inclusatildeo
da aluna indiacutegena surda aponta para a necessidade de instituir uma educaccedilatildeo triliacutengue de
forma que seu processo de ensino-aprendizagem pauta-se na Liacutengua Satereacute-Maweacute Liacutengua
Brasileira de Sinais e Liacutengua Portuguesa Mesmo sabendo da dificuldade em aprender trecircs
liacutenguas o parecer pedagoacutegico considera possiacutevel aprendizagem de trecircs liacutenguas
A partir dos argumentos referidos reitera-se a importacircncia de que a educaccedilatildeo escolar
dessa aluna deve abranger as liacutenguas de uso natural nativo e social Quando se destaca a
liacutengua de uso natural entende-se que eacute a Liacutengua de Sinais como primeira liacutengua E natildeo
inverter o processo e obrigar a crianccedila surda seja indiacutegena ou natildeo aprender a falar uma
liacutengua oral seja liacutengua indiacutegena ou Liacutengua Portuguesa Sobre a questatildeo Fernandes (2005
p20) pontua
fazer uma crianccedila surda ldquofalarrdquo ao inveacutes de propiciar a ela um meio raacutepido de
comunicaccedilatildeo linguiacutestica atraveacutes da aquisiccedilatildeo da liacutengua de sinais como primeira
liacutengua que proteja e cumpra o papel fundamental de resguardar o seu natural
desenvolvimento no que se refere a ter domiacutenio de fato de um instrumental
linguiacutestico que lhe sirva para as operaccedilotildees mentais que envolvam mecanismos
linguiacutesticos
Portanto primeiramente eacute necessaacuteria a aquisiccedilatildeo da primeira liacutengua a liacutengua de sinais
e como segunda liacutengua a liacutengua nativa de sua comunidade eacutetnica No caso da aluna indiacutegena
a liacutengua Tupi da etnia Satereacute-Maweacute na modalidade escrita Desta forma com a aprendizagem
das duas liacutenguas seraacute uma aluna biliacutengue Poreacutem diante da realidade do aluno indiacutegena surdo
que vive na zona urbana se faz necessaacuterio o aprendizado triliacutengue Liacutengua Portuguesa por
escrito
Como dito anteriormente o ensino-aprendizado da Liacutengua de Sinais deve ser
garantido ao sujeito surdo para que adquira a identidade a cultura do povo surdo20
acesso
pleno as informaccedilotildees aleacutem de significar a possibilidade de comunicaccedilatildeo e expressatildeo fluentes
do sujeito surdo com seu entorno Da mesma perspectiva o ensino da Liacutengua indiacutegena se daacute
20
Como ja mencionado no capiacutetulo 1 sobre Cultura Surda ldquo eacute o jeito surdo de ser de perceber de sentir de
vivenciar de comunicar de transformar o mundo a tornaacute-lo habitaacutevelrdquo (GLADIS PERLIN apud STROBEL
2008 p 21) Strobel ainda esclarece que o sujeito Surdo se comportam diferente do sujeito ouvinte e com isso
traz alguns ldquoartefatos culturaisrdquo (explicado no capiacutetulo 1) que satildeo as pecualiaridade da cultura surda as quais
descritas Parte das experiecircncias visuais linguiacutestico familiar literatura surda vida social e esportiva artes
visuais poliacutetica e materiais Todos estes artefatos concebidos a partir do VER (IDEM 2008 p36-77)
62
em respeito aos direitos da cultura indiacutegena previsto pela Constituiccedilatildeo Brasileira conforme
decreto nordm 6861 de maio de 2009 no seu Art 2o que determina ldquoSatildeo objetivos da educaccedilatildeo
escolar indiacutegena I- valorizaccedilatildeo das culturas dos povos indiacutegenas e a afirmaccedilatildeo e manutenccedilatildeo
de sua diversidade eacutetnica II- fortalecimento das praacuteticas socioculturais e da liacutengua e da liacutengua
materna de cada comunidade indiacutegenardquo
Neste caso a referida aluna iacutendia surda deveraacute ter a liacutengua indiacutegena como liacutengua de
conhecimento de sua cultura Para o ensino desta na forma escrita faz-se uso de cartilhas
gramaacuteticas dicionaacuterios etc
De acordo com o exposto a escola reconhece a necessidade da educaccedilatildeo escolar
triliacutengue poreacutem utiliza-se de outra realidade conforme citado pela proacutepria escola ldquoNo
primeiro momento fica junto com os colegas ouvintes onde procuramos trabalhar de forma
inclusiva no contexto biliacutengue Liacutengua Portuguesa e Liacutengua de Sinais
Sobre este aspecto Rodrigues (2005 p20) pontua
Quantas lacunas estariam sendo criadas em nome da pressuposiccedilatildeo de que a
aprendizagem da liacutengua da maioria dos falantes da comunidade (ouvintes) eacute que
daria agrave crianccedila surda condiccedilotildees de desenvolvimento social e cognitivo Quantas
etapas de desenvolvimento estariam sendo desprezadas nas fases naturais de sua
evoluccedilatildeo sob a alegaccedilatildeo de que ela seraacute capaz de alcanccedilar o que se estabelece como
meta social Que metas estariam sendo alcanccediladas afinal Que objetivos estatildeo sendo
perseguidos em prol desses paracircmetros ultrapassados em detrimento dos reais
objetivos de formaccedilatildeo psico-sociocultural deste individuo Em que a liacutengua de
sinais como primeira liacutengua ainda se encontra determinada pelo descreacutedito de
tantos especialistas da aacuterea
A realidade encontrada sobre a educaccedilatildeo natildeo soacute em uma escola que atende alunos
surdos mas tambeacutem em muitas escolas as chamadas escolas ldquoinclusivasrdquo apresentam
dificuldades no processo de ensino dos alunos surdos21
Todavia entre desencontros
sociocultural-linguiacutesticos eacute preciso fazer uma ressalva desta escola ldquoA escola disponibilizou
21
Sobre a temaacutetica da Inclusatildeo formula-se ldquoAo se avaliar que na contemporaneidade impera o discurso da
inclusatildeo indiscriminada em escolas regulares[]Esta diretriz tira o direito previsto na legislaccedilatildeo brasileira de
poder optar por uma educaccedilatildeo biliacutengue em escola proacutepria de modo que se repete a condiccedilatildeo em que aos surdos eacute
imposto um enorme sofrimento na medida em que nos denominamos processos inclusivos junto aos ouvintes
permanecem privados de conviver com seus pares e de acessar o conhecimento na Liacutengua de Sinais como liacutengua
de instruccedilatildeo [] Os surdosde diferentemente de outros segmentos tecircm a necessidade de agrupar-se para formar
comunidade linguiacutestica por meio das quais possam construir uma ldquocomunidade de experiecircnciasrdquo (WITKOSKI
2012 p33-34)
63
uma professora surda para a aquisiccedilatildeo da Liacutengua Brasileira de Sinais repassando o conteuacutedo
ministrado na salardquo onde cada um desses alunos eacute inserido
A escola positivamente conta com a colaboraccedilatildeo do trabalho docente de uma
professora surda Esta tem um papel fundamental como modelo linguiacutestico principalmente
quando alunos surdos provecircm de famiacutelias ouvintes que natildeo tecircm acesso agrave cultura e agrave Liacutengua
de Sinais Cabe ao professor surdo comunicar-se fluentemente com o aluno surdo ser um
input linguiacutestico para a identificaccedilatildeo da cultura do ser surdo
Dessa forma Strobel (2008 p 40) destaca
Este contato crianccedila surda x adulto surdo atraveacutes de uma liacutengua em comum que eacute a
liacutengua de sinais eacute que proporcionaraacute o acesso agrave linguagem e desta forma estaraacute
assegurada a identidade e a cultura surda que eacute transmitida naturalmente agrave crianccedila
surda em contato com a comunidade surda
Observa-se que caso a crianccedila surda natildeo tenha o direito a sua diferenccedila preservado
este aprendiz teraacute sua inserccedilatildeo no mundo dos ouvintes de forma incerta eou sem esperanccedila de
uma vida normal A situaccedilatildeo se agrava na medida em que a sociedade ouvinte deixa a desejar
quanto agrave participaccedilatildeo dos sujeitos surdos em decorrecircncia da escassez dos vaacuterios recursos
visuais que promovem acessibilidade para eles
Contudo os povos surdos hoje satildeo mais conscientes de seus direitos entatildeo esses
sujeitos cultural e politicamente lutam pelos mesmos Direitos estes tambeacutem dos povos
indiacutegenas como jaacute comentados anteriormente
Todavia esse aspecto ainda estaacute distante da realidade dos sujeitos focos do estudo de
acordo com relato da escola Segundo depoimentos de alguns indiacutegenas a aprendizagem
indiacutegena passa pela demonstraccedilatildeo observaccedilatildeo imitaccedilatildeo tentativa e erro e quando o aluno
vem para a escola tem que se socializar e obedecer a comandos regidos pelo sistema e isso
muitas vezes o deixa confuso e os maiores ateacute desistem A situaccedilatildeo se agrava quando esse fato
se refere ao sujeito iacutendio surdo incluiacutedo na escola pois este requer um diferencial ainda
maior reconhecido pela escola
Dessa forma satildeo necessaacuterias estrateacutegias de ensino diferenciadas que deem suporte
para que a aluna seja trabalhada de forma triliacutengue no contexto escolar para que ela
natildeo perca a sua essecircncia a sua cultura que sejam adaptados trabalhos de acordo
com a realidade indiacutegena para que ela natildeo perca a sua identidade e saiba conduzir
sua aprendizagem dentro de um contexto diferenciado podendo aprender o que lhe eacute
de direito como viver bem em sociedade22
22
Texto extraiacutedo do parecer pedagoacutegico da aluna indiacutegena surda que estuda na Escola de Aacuteudio e Comunicaccedilatildeo
Pe Paulo MannaParintinsAm (ANEXO D)
64
A partir das consideraccedilotildees tecidas no parecer pedagoacutegico torna-se evidente ema
necessidade de ampliar e aprofundar as reflexotildees sobre a inclusatildeo de iacutendios surdos em vaacuterios
espaccedilos da sociedade especialmente no espaccedilo educacional escolar Ou seja haacute necessidade
tambeacutem de poliacuteticas linguiacutesticas voltada para esse acircmbito
Nesse sentido eacute necessaacuterio que se tenha como meta uma tomada de decisotildees poliacuteticas
para que gradativamente se possa controlar a situaccedilatildeo de aprendizagem do surdo no processo
soacutecio cultural onde ele estiver inserido Ateacute por que existe uma proposta educativa
intercultural de modo biliacutengue no contexto indiacutegena Assim surge a necessidade de accedilotildees
objetivas para garantir na praacutetica esta proposta de ensino a fim de enriquecer o indiacutegena
surdo com desenvolvimento da liacutengua de sinais como veiacuteculo de comunicaccedilatildeo acrescendo
seus conhecimentos a partir do pluralismo cultural uma vez que estaacute amparado por
legislaccedilotildees especiacuteficas
Reitera-se a necessidade de accedilotildees objetivas especialmente no que tange a formaccedilatildeo
especiacutefica de professores pois mesmo com a garantia da legislaccedilatildeo a presente realidade
desses sujeitos estaacute distante do contexto sociocultural-linguiacutestico do ser iacutendio surdo A
exemplo disso tem-se outra realidade sociocultural-linguiacutestico do segundo aluno indiacutegena
surdo de 24 anos que foi transferido de uma escola que desenvolve atividades educacionais
especiacuteficas para outra no processo denominado de educaccedilatildeo inclusiva onde cursa o nono ano
do ensino fundamental das seacuteries finais e faz atendimento na sala de recurso porque os
professores das disciplinas do curso natildeo tecircm formaccedilatildeo para acompanhaacute-lo
Os relatos da famiacutelia indicam que o aluno nasceu na aacuterea indiacutegena de Ponta Alegre
poreacutem muito pequeno sua famiacutelia mudou-se para zona urbana municiacutepio de Parintins o qual
cresceu longe de sua cultura indiacutegena desconhecendo assim a liacutengua de sua etnia Este eacute um
caso que promove o desaparecimento de liacutenguas indiacutegenas o conhecido deslocamento
sociolinguiacutestico
Para entender o processo que instaura este deslocamento linguiacutestico ressalta-se que
primeiramente a educaccedilatildeo da pessoa perpassa pelo uso da liacutengua materna no ambiente
familiar nas relaccedilotildees famiacuteliares na qual utiliza uma comunicaccedilatildeo intra e extrafamiliar Se a
famiacutelia mantiver sua liacutengua nativa em uso os membros da mesma permaneceratildeo biliacutengues
Poreacutem se a famiacutelia por pressatildeo social do uso da liacutengua dos falantes da sociedade local seja
porque deseja se adequar ao meio onde se insere a liacutengua no caso indiacutegena entra no processo
de esquecimento para as geraccedilotildees vindouras
65
Eacute o caso do aluno acima que eacute biliacutengue (Liacutengua Brasileira de Sinais e Liacutengua
Portuguesa na modalidade escrita) contudo desconhece sua raiz cultural a liacutengua de sua
etnia Seu contexto educacional eacute baseado em ldquomodelo de escola inclusivardquo o aluno vai para
sala de aula com alunos ouvintes onde a liacutengua portuguesa eacute a liacutengua padratildeo a ser ensinada e
estudada e posteriormente faz atendimento na sala de recurso em sua liacutengua natural Libras
Logo a escola pode ajudar no incentivo favorecendo a revitalizaccedilatildeo da liacutengua
indiacutegena no contexto educacional Para isso haacute necessidade de um corpo docente com a
formaccedilatildeo em Liacutengua indiacutegena e Liacutengua Brasileira de Sinais aleacutem da Liacutengua Portuguesa que eacute
usada como a base de ensino
Jaacute na comunidade Uiacurapaacute da etnia Maweacute encontramos outra realidade de contexto
de um surdo indiacutegena Todavia natildeo foi possiacutevel fazer um acompanhamento mais preciso
sobre sua situaccedilatildeo educacional escolar O uacutenico dado correspondente agrave questatildeo linguiacutestica eacute o
modo como ele se comunica conforme foi relatado por membros da comunidade local se
caracteriza pela utilizaccedilatildeo de gestos criados para se fazer compreender Desta forma diante da
ausecircncia de uma liacutengua estruturada a Libras por fazer uso somente de gestos ele apresenta
dificuldades de entender o ensino e de se comunicar com seus pares Da mesma forma ocorre
no contexto familiar e na comunidade uma vez que o aluno surdo vive quase que isolado
devido ao preconceito existente ateacute mesmo pela proacutepria comunidade por natildeo o entenderem e
nem saberem qual a forma para se comunicar aquele indiviacuteduo Assim ele vive em uma
situaccedilatildeo de rejeiccedilatildeo e marginalizaccedilatildeo estabelecida a partir da ausecircncia de uma liacutengua que
promova a comunicaccedilatildeo com o predomiacutenio de um processo de estigmatizaccedilatildeo deste sujeito
surdo
No municiacutepio de Maueacutes Boa Vista do Ramos os iacutendios surdos localizados satildeo de
idade adulta natildeo tiveram a oportunidade de frequentar escola Portanto sua realidade
linguiacutestica fundamenta-se somente na forma gestual que denominam de caseira atribuindo
significados peculiares de seu contexto local No que diz respeito ao aspecto educacional as
pessoas contatadas demonstraram apenas uma preocupaccedilatildeo sobre a existecircncia futura de
possiacuteveis iacutendios surdos nesses municiacutepios e sua formaccedilatildeo educacional Contudo natildeo
afirmaram o que fariam se encontrassem outros sujeitos com essa necessidade de
comunicaccedilatildeo
Como jaacute mencionado natildeo haacute registro sobre a situaccedilatildeo linguiacutestica e educacional de
nenhum iacutendio surdo da etnia Satereacute-Maweacute nos municiacutepios de Nhamundaacute Satildeo Sebastiatildeo do
Uatumatilde e de Urucaraacute Portanto as informaccedilotildees educacionais natildeo satildeo apresentadas nestes
contextos
66
43 Inventaacuterio de gestos da linguagem caseira dos surdos Satereacute-Maweacute
A presente pesquisa baseia-se em um meacutetodo de estudos de etnografia com o intuito
de descrever e observar os gestos caseiros que os indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute usam para se
comunicarem com seus pares nas comunidades onde residem O meacutetodo tambeacutem ajuda a
conhecer a identidade e sua interaccedilatildeo no meio da comunidade visto haacute uma diversidade
linguiacutestica rica usada pelos surdos indiacutegenas nas diversas localidades percorridas pelo
pesquisador na microrregiatildeo de Parintins
431 Os sinais caseiros de indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute
O objetivo do mapeamento eacute coletar os sinais caseiros ou emergentes para que esses
sinais possam ser reconhecidos e compreendidos pela sua comunidade como meio linguiacutestico
de comunicaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo de sua cultura
Para a concretizaccedilatildeo do mapeamento foi necessaacuterio a pesquisa de campo na
comunidade onde se fazia presente o indiacutegena surdo para as devidas observaccedilotildees
432 O Municiacutepio de Parintins
No municiacutepio de Parintins foi localizado trecircs (03) indiacutegenas surdos com suas
caracteriacutesticas linguiacutesticas diferenciadas de suas origens sendo que dois indiacutegenas residem na
zona urbana e um indiacutegena localizado na comunidade de Uaicurapaacute os quais foram o objeto
investigativo para a coleta de dados Os registros foram feitos de forma diferenciada de modo
que primeiramente conversei com as lideranccedilas indiacutegenas acompanhado de inteacuterprete e guia
linguiacutestico Durante este encontro foram feitas no local observaccedilotildees visuais sendo que em
alguns casos realizamos registros de imagens filmagens e entrevistas Eacute importante destacar
que os registros soacute puderam ser feitos quando permitidos pelos sujeitos da pesquisa ou pela
lideranccedila prevalecendo em sua maior parte a observaccedilatildeo visto que materiais tecnoloacutegicos e
de miacutedias causavam incocircmodo aos entrevistados fazendo com que se tornassem
incomunicaacuteveis quando percebiam que estavam sendo monitorados
67
4321 O primeiro surdo
Esse primeiro indiacutegena possui surdez moderada Eacute um senhor com idade de 72 anos
residente no Uiacurapaacute23
O contato foi feito na Casa do Iacutendio de Parintins Em uma
conversaccedilatildeo informal explicou que perdeu a audiccedilatildeo com o tempo eacute oralizado24
e se
comunica com a comunidade na liacutengua nativa Satereacute-Maweacute Trata-se de um cidadatildeo calmo
fala apenas de suas necessidades visto que natildeo se manifesta muito devido suas limitaccedilotildees
auditivas que dificultam uma melhor compreensatildeo
Como referido o surdo em questatildeo tem surdez moderada Neste sentido observa-se
que a surdez ocorre de acordo com diferentes classificaccedilotildees quanto ao niacutevel de perda auditiva
Ou seja
Quanto ao grau - leve (perda de 26 a 40 dBNA) - moderada (perda de 41 a 55
dBNA) - moderadasevera (perda de 56 a 70 dBNA) - severa (perda de 71 a 90
dBNA) - profunda (a partir de 91 dBNA) (RUSSO e SANTOS 1988 apud
NADER 2011 p 2)
Retomando a histoacuteria do sujeito surdo em questatildeo observa-se que ele reside na zona
rural no Uiacurapaacute com seus parentes e sua sobrevivecircncia eacute atraveacutes do que planta e pesca
Observando-o percebo que o mesmo tem uma vida normal com seus pares o que falta para
uma interaccedilatildeo mais ativa na comunidade eacute estimulo e o incentivo linguiacutestico pois muitas
pessoas satildeo impacientes e acabam deixando-o isolado linguisticamente
4322 O segundo surdo
Eacute um indiacutegena natural de Ponta Alegre25
concluiu o ensino fundamental em uma
escola puacuteblica no municiacutepio de Parintins Sua surdez foi percebida por seus pais ainda
crianccedila causada por doenccedila congecircnita A famiacutelia mudou-se para o municiacutepio de Parintins em
busca de uma melhor educaccedilatildeo para filho surdo entretanto os pais eram usuaacuterios da Liacutengua
Satereacute-Maweacute mas natildeo mais praticam pela influecircncia da Liacutengua Portuguesa e tambeacutem natildeo 23 Rio que fica interliga com Rio Paranaacute do Ramos ndash Parintins (AZEVEDO 2014) 24
O modelo cliacutenico-terapecircutico baseia-se numa visatildeo patoloacutegica de surdez e num modelo individual de
atendimento aacute diversidade que tem como referecircncia o Oralismo O oralismo eacute uma filosofia educacional para
surdos cujo discurso propotildee a superaccedilatildeo da surdez e a aceitaccedilatildeo social do surdo por meio da oralizaccedilatildeo Em
outras palavras este modelo defende o aprendizado apenas da Liacutengua Portuguesa na sua modalidade oral e
escrita na escola por entender que esta eacute a uacutenica possibilidade de integrar o surdo na sociedade majoritaacuteria
ouvinte (SLOMSKI 2010 p 32) 25
A comunidade de Ponta Alegre situa-se no Rio Andiraacute com 4 horas de viagem de lancha para chegar a
comunidade (AZEVEDO 2014)
68
frequentam a comunidade Satereacute-Maweacute em busca de assistecircncia ou outros meios oferecidos
pela tribo Portanto a famiacutelia cresceu e disseminou deixando de lado a liacutengua nativa e
tradiccedilatildeo indiacutegena vivendo uma vida regular na zona urbana
O surdo hoje com 20 anos natildeo conhece a liacutengua nativa de sua comunidade se
comunica fluentemente com a Liacutengua de Sinais escreve o Portuguecircs e se oraliza na
comunicaccedilatildeo com seus pais que tambeacutem natildeo sabem a Liacutengua de Sinais
Atraveacutes de sua histoacuteria eacute possiacutevel perceber que este sujeito surdo por estudar em
escola inclusiva com forte influecircncia a oralista desenvolveu as duas linguas a Liacutengua
Brasileira de Sinais e a Liacutengua Portuguesa Poreacutem sua situaccedilatildeo eacute diferente de outros
indiacutegenas surdos que residem nas comunidades que usam os sinais caseiros para se
comunicarem Isso acaba sendo uma observaccedilatildeo abstrata da realidade entre os surdos que
moram na zona urbana e na comunidade Satereacute-Maweacute
4323 O terceiro surdo
Eacute uma crianccedila de 5 anos descendente da etnia Satereacute-Maweacute estuda em uma escola
filantroacutepica em Parintins Trata-se de uma aluna inteligente que demonstrava timidez na
presenccedila de pessoas estranhas Verificou-se que ela consegue aprender e identificar os objetos
apresentados para que identificasse Aos 4 anos antes de entrar para a escola utilizava alguns
sinais caseiros para se comunicar com seus familiares Na sala de aula o ensino oferecido a
ela eacute o biliacutengue26
tendo a Liacutengua Brasileira de Sinais e a Liacutengua Portuguesa compondo essa
educaccedilatildeo O ensino nessa instituiccedilatildeo vai ateacute a 5ordf serie Por esta razatildeo a aluna futuramente
precisaraacute ser transferida para uma escola de ensino fundamental
Tabela 2 11 Sinais caseiros utilizados pela crianccedila indiacutegena surda de 5 anos e seus
familiares
26
O Bilinguismo eacute uma filosofia de ensino cujo discurso propotildee a diversidade cultural e a aceitaccedilatildeo social do
surdo por meio do bilinguismo (duas liacutenguas Liacutengua de Sinais e segunda liacutengua) Essa filosofia concebe o surdo
como um ser diferente e a surdez como ldquoatributo humanordquo como uma caracteriacutestica da pessoa surda resultado
de uma deficiecircncia orgacircnica que natildeo se esgota nela mesma (SKLIAR 1997 apud SLOMSKI 2010 p 41)
SINAIS CASEIROS DESCRICcedilAtildeO
AacuteGUA Matildeo direita com o dedo polegar fazendo a expressatildeo de beber aacutegua
BRINCAR As duas matildeos fechadas batendo as pontas dos dedos em
movimento
BANHEIRO Matildeo direita mostra o local e a esquerda eacute posicionada na barriga
COMIDA As duas matildeos abrindo e fechando repetidamente proacuteximo da boca
DORMIR As duas matildeos com as palmas juntas encostar-se ao rosto com
expressatildeo de querer dormir
69
Fonte AZEVEDO (2014)
Figura 2 Sinais caseiros utilizado pela crianccedila de 5 anos
FOME Matildeo direita indo em direccedilatildeo da barriga fazendo expressatildeo facial de
fome
MAtildeE Matildeo direita aberta no rosto fazendo movimento nos dedos com
expressatildeo chamativa
IRMAtildeO Matildeo direita batendo no antebraccedilo para chamar atenccedilatildeo
PAI Matildeo direita com os dedos pegando o queixo
PESSOA Matildeo direita com dedo indicador fazendo expressatildeo de algueacutem
CHORAR As duas matildeos fechadas com os dorsos esfregando nos olhos
AacuteGUA BRINCAR
COMIDA DORMIR FOME
MAtildeE IRMAtildeO PAI
BANHEIRO
70
44 O indiacutegena surdo da Comunidade de Ponta Alegre do municiacutepio de Barreirinha
Foi localizado um aluno surdo na comunidade de Ponta Alegre que faz parte do
municiacutepio de Barreirinha trata-se de um jovem de 13 anos que estuda na Escola Municipal
Rosa Cabral e mora em uma aldeia mais distante a observaccedilatildeo foi feita na escola Nessa
viagem foi obtido a autorizaccedilatildeo de viagem para a aldeia na Secretaria de Educaccedilatildeo Municipal
de Barreirinha por meio do contato com o coordenador geral do setor indiacutegena daquela aacuterea
o senhor Santino Lopes que muito contribuiu com o projeto e de servir como guia de
viagem
O devido aluno estuda na 3ordf Serie do ensino fundamental De acordo com as
observaccedilotildees feitas O ensino predominante na sala para o ensino deste aluno eacute a Liacutengua
Portuguesa visto que os professores em sua maioria vem do municiacutepio de Barreirinha
Embora o ensino seja bem aplicado e a escola dispotildee de material didaacutetico apropriado para a
seacuterie natildeo haacute metodologia de ensino especializado para surdo natildeo existindo Sala de
Recursos27
O aluno aprende lentamente demonstrando dificuldades de entender os
conteuacutedos
A comunicaccedilatildeo com seus professores e colegas soacute acontecem atraveacutes de sinais
caseiros e expressotildees manuais O aluno surdo vive quase que isolado sem ter a possibilidade
de estabelecer uma comunicaccedilatildeo satisaftoacuteria dentro do contexto escolar devido ao
27
Uma das inovaccedilotildees trazidas pela Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Especial na Perspectiva da Educaccedilatildeo
Inclusiva (2008) eacute o Atendimento Educacional Especializado ndash AEE um serviccedilo da educaccedilatildeo especial que []
identifica elabora e organiza recursos pedagoacutegicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena
participaccedilatildeo dos alunos considerando suas necessidades especiacuteficas
O AEE complementa eou suplementa a formaccedilatildeo do aluno visando a sua autonomia na escola e fora dela
constituindo oferta obrigatoacuteria pelos sistemas de ensino Eacute realizado de preferecircncia nas escolas comuns em um
espaccedilo fiacutesico denominado Sala de Recursos Multifuncional Portanto eacute parte integrante do projeto poliacutetico
pedagoacutegico da escola (BRASIL 2008 p 3)
CHORAR PESSOA
71
preconceito existente Ateacute mesmo na proacutepria comunidade por natildeo entenderem e nem saberem
de que forma comunicarem-se com o mesmo a situaccedilatildeo de exclusatildeo se repete
Vale destacar que diante desta ausecircncia da qualidade de ensino para o aluno surdo a
professora Maria Inecircs ao responder um questionaacuterio segue algumas afirmativas para mudar
esta realidade Desta forma a educadora afirma que
- Eacute muito importante a capacitaccedilatildeo em cursos de libras e livros didaacuteticos proacuteprios
como forma de melhorar o ensino e a comunicaccedilatildeo com aluno surdo na
comunidade como parte da educaccedilatildeo inclusiva para facilitar o ensino e
aprendizado acima de tudo conhecer sua liacutengua materna identidade do povo
Satereacute-Maweacute
Pelo relato do Gestor da Escola Senhor Dulcemar a necessidade jaacute referida pela
educadora acima de materiais didaacuteticos para subsidiar o ensino eacute novamente colocada em
destaque conforme pode ser vislumbrado no relato transcito a seguir
- Eu como gestor sinto-me gratificado pelo trabalho a ser desenvolvido aqui com a
questatildeo da Libras um trabalho realizado pelo professor Marlon Jorge Pois eacute muito
importante devido agrave dificuldade que a educaccedilatildeo Satereacute- Maweacute vem tendo
principalmente quando se trata de alunos surdos indiacutegenas e ateacute mesmo por falta
de material didaacutetico Esse trabalho vai ser importante aqui na aacuterea indiacutegena para
ajudar o professor na sala de aula como ensinar como educar e como lidar com
esses alunos com necessidades especiais Entatildeo eacute um trabalho muito importante
pra noacutes e estamos aqui a disposiccedilatildeo e tambeacutem para contribuir como gestor da
escola juntamente com os professores e pra noacutes eacute muito bom esse trabalho e que o
Sr possa desenvolver esse seu projeto essa cartilha que com o aacutepice das aulas de
libras que com certeza vai fortalecer muito mais a educaccedilatildeo do povo Satereacute
Maweacuterdquo
Tabela 313 sinais caseiros coletados e utilizados pelo aluno da comunidade de Ponta Alegre
Fonte Azevedo (2014)
SINAIS CASEIROS DESCRICcedilAtildeO
AacuteGUA Usa as duas matildeos fazendo impressatildeo de beber alguma coisa
BARCO Usa-se a matildeo direita aberta em posiccedilatildeo vertical fazendo uma
expressatildeo da accedilatildeo do barco
BANHO Fazer a expressatildeo de pular na aacutegua com os braccedilos esticados
BANHEIRO Matildeo direita usando o indicador fazendo expressatildeo sair fora sala
COMIDA Matildeo esquerda aberta matildeo direita usando como o objeto metaacutelico
COBRA Usando os dedos da matildeo direita beliscando o pulso da matildeo esquerda
ESCOLA Faz-se o sinal de casa
ESTUDAR Faz a expressatildeo de escrever
FOME Matildeo direita levando em direccedilatildeo da barriga fazendo expressatildeo facial
de fome
FARINHA As duas matildeos palmas para baixo fazendo a expressatildeo de esfarelar
alguma coisa
LANCHA Usa a matildeo direita palma para cima fazendo uma accedilatildeo da rapidez
para frente
PEIXE Matildeo direita fazer a expressatildeo de caccedilar o peixe com o arpatildeo
PESSOA Matildeo direita com dedo indicador fazendo expressatildeo de algueacutem
72
Figura 3 Sinais caseiros utilizados pelo aluno da comunidade de Ponta alegre ndash
Barreirinha
AacuteGUA BARCO
BANHEIRO
BANHO
COMIDA
ESCOLA
FOME LANCHA PESCAR PEIXE
ESTUDAR FARINHA
COBRA
73
45 Os indiacutegenas surdos do Municiacutepio de Maueacutes
Situado entre os rios Madeira e Tapajoacutes o municiacutepio de Maueacutes estaacute localizado no
Meacutedio Amazonas que hoje eacute denominado como microrregiatildeo aacuterea leste do Estado Distante
de Manaus cerca de 30 km em linha reta ou o equivalente 45 minutos por via aeacuterea estando
a 356 km por via fluvial cerce de 16 a 18 horas de barco
Nesse municiacutepio foi realizado duas viagens com a finalidade de fazer um mapeamento
das aacutereas indiacutegenas bem como descobrir a existecircncia de surdos nas aldeias O primeiro
contato foi na Secretaria de Educaccedilatildeo do municiacutepio primeiramente me apresentado como
aluno pesquisador juntamente com os documentos comprobatoacuterios de acesso para realizar a
pesquisa nas aacutereas indiacutegenas As informaccedilotildees que tinha antes de estabelecer o contato
apontavam para a existecircncia de alunos indiacutegenas surdos matriculados na sede do municiacutepio
Poreacutem a secretaria informou desconhecer a existecircncia de alunos indiacutegenas matriculados na
rede publica do municiacutepio nem saber sua localizaccedilatildeo para contatos sendo orientado a
procurar na Casa do Estudante Indiacutegena Satereacute-Maweacute que se localiza em um bairro mais
distante dali
Chegando ao SESAI - Secretaria de Sauacutede Indiacutegena obtivemos acesso agraves informaccedilotildees
devido ao fato de que a pessoa responsaacutevel estava em viagem sendo que retornaria na outra
semana Em outra busca formos agrave Casa do Estudante Satereacute-Maweacute onde conversamos com o
coordenador Sr Jusivam que disse saber da existecircncia de indiacutegenas surdos nas comunidades
na Marau e Andiraacute mas natildeo ter dados quantitativos devido ao fato deles natildeo terem procurado
a Casa do Estudante em busca de assistecircncia que auxiliassem sua integraccedilatildeo em escolas
regulares ou inclusivas Observa-se que a Casa do Estudante podia auxiliar eles a
conseguirem uma escola para estudarem na zona urbana jaacute que esta eacute uma das atribuiccedilotildees da
instituiccedilatildeo
Ao sermos informados que as comunidades onde havia surdos eram distantes e
necessitava de apresentar outros documentos da Coordenaccedilatildeo Geral de Educaccedilatildeo que ficava
no municiacutepio de Barreirinha Tambeacutem se fazia necessaacuterio preparar uma programaccedilatildeo de
viagem para que pudessemos chegar ateacute aquela localidade de modo que nesta precisava
inclusive organizar para ter inteacuterpretes que falassem a liacutengua Satereacute-Maweacute e inteacuterpretes de
Libras Aleacutem destes precisava contar com um acompanhante para registrar as imagens e
filmagens se autorizadas anotando tudo que fosse necessaacuterio
Fazendo uma reflexatildeo sobre a viagem e os entraves que tinhamos pela frente para a
concretizaccedilatildeo do projeto e as distacircncias geograacuteficas para alcanccedilar os objetivos da pesquisa
74
Contudo ao encontrar um surdo indiacutegena sendo o principal objeto da pesquisa em funccedilatildeo da
grande satisfaccedilatildeo de poder contribuir para o desenvolvimento linguiacutestico dos indiacutegenas surdos
e para que a comunidade compreenda como um ser incluiacutedo a partir do respeito a sua cultura
inserindo em seus modos e haacutebitos foi compensador enfrentamos todos os obstaacuteculos
Visitamos a Universidade do Estado do Amazonas ndash UEA onde tivemos a grata
surpresa de saber que havia uma turma de formaccedilatildeo em licenciatura Indiacutegena para a
comunidade Esperamos a aula acabar para falar com o professor o qual pediu para vir outro
dia para conversar com os alunos Foi nessa ocasiatildeo que conhecemos trecircs professores com os
quais fizemos um acordo para que na proacutexima viagem me levassem para a aldeia a fim de
realizar o mapeamento
Voltando para Parintins foi elaborado um roteiro para viagem a aacuterea indiacutegena Satereacute-
Maweacute pelos rios Maueacutes-Accedilu Rio MarauUrupadi A viagem aconteceu no dia 02 de
fevereiro de 2014 saindo de barco de Parintins indo ateacute o municiacutepio de Maueacutes No dia
seguinte as 8 horas acompanhado do professor Jesiel pegamos uma voadeira de 150HP com
destino ao territoacuterio Satereacute-Maweacute Foi uma viagem perigosa devido agraves condiccedilotildees dos rios e de
difiacutecil acesso para chegarmos laacute Todavia fizemos um esforccedilo e conseguimos nos deslocar ateacute
a comunidade Percorremos de voadeira uma viagem que durou aproximadamente 8 horas
pelo Rio Maueacutes Accediluacute Depois de uma hora e meia de viagem chegamos ao Rio Urupadi e
seguimos mais uma hora e meia de viagem ateacute a comunidade indiacutegena Vale do Quiinha
Nessa aldeia pegamos o professor Jacob Santos de Souza que nos acompanhou para a
proacutexima aldeia Ilha Michiles que fica no Rio Marau Nessa aldeia pegamos outro professor
Satereacute-Maweacute Jocimar Alencar dos Santos Saiacutemos da Ilha Michiles com destino a
comunidade Santa Maria que fica na divisa do Rio Urupadi e Manjuru A cada visita que
faziamos nas comunidades indiacutegenas percebemos no cotidiano a diversidade presente nas
aacutereas indiacutegenas Satereacute-Maweacute Ao perguntar se havia algueacutem surdo na famiacutelia e a resposta
sempre vinha de forma afirmativa o que me demonstrou que todos os esforccedilos para realizar a
viagem foram compensados diante da riqueza de dados coletados
A primeira iniciativa adotada com relaccedilatildeo a esse momento foi reunir com os
comunitaacuterios envolvidos nas atividades escolares A reuniatildeo teve como objetivo observar e
entrevistar alguns indiacutegenas para posteriormente analisar como se procede agrave comunicaccedilatildeo
entre indiacutegenas surdos e ouvintes A reuniatildeo foi muito uacutetil para os estudos e anaacutelise de
informaccedilotildees Os surdos existentes na comunidade nunca estudaram devido agrave comunidade
Santa Maria ficar distante da zona urbana e a escola existente para alunos ouvintes ficar em
75
outra comunidade o que inviabiliza a ida deles sendo que tambeacutem natildeo haacute professores
especializados para atenderem a clientela surda existente no Rio Marau
Encontramos dois indiacutegenas surdos na comunidade de Santa Maria que foram objeto
de estudos No entanto houve informaccedilotildees repassadas de que haacute outros trecircs surdos em outras
comunidades mais distante na mesma aacuterea Satereacute-Maweacute A visita para contactar estes outros
trecircs surdos ficou para a proacutexima viagem de observaccedilatildeo e coleta dos dados
451 O primeiro surdo da Comunidade de Santa Maria
No contato e observaccedilatildeo que tivemos com o surdo o mais novo tem 24 anos mora
com a famiacutelia natildeo conhece nenhuma liacutengua se comunica com gestos e sinais caseiros A
comunidade assim com a famiacutelia demosntrou pouco se importar com ele de forma que natildeo
haacute estiacutemulo ou interesse para que haja uma interaccedilatildeo linguiacutestica satisfatoacuteria entre eles
O ponto de encontro com seus colegas fica na parte central da comunidade que tem
um campo de futebol Laacute eles se concentram embaixo de uma aacutervore Neste lugar o surdo
costuma ficar quase diariamente com intuito de se unir e brincar com os colegas Ele usa os
sinais caseiros com expressotildees com a intenccedilatildeo de conseguir se comunicar com os colegas
Poreacutem alguns natildeo conseguem entender enquanto outros falam a Liacutengua Satereacute-Maweacute
Apesar do esforccedilo do surdo de tentar compreender o que eacute falado via a leitura labial na
maioria das vezes natildeo consegue compreender Poreacutem mesmo assim sinaliza balanccedilando a
cabeccedila com expressatildeo de concordacircncia afirmativa mesmo natildeo entendendo a mensagem
Tabela 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa
Maria
SINAIS CASEIROS
COLETADOS
DESCRICcedilAtildeO
AacuteGUARIO Usam-se as duas matildeos fazendo a expressatildeo de banzeiro
ANTA Matildeo direita fazendo a expressatildeo do focinho do nariz
AacuteRVORE As matildeos abertas fazendo expressatildeo de segurar o troco ao mesmo tempo
levando para cima
BARCO Usa a matildeo direita fechada fazendo expressatildeo de abrir e fechar a matildeo
como sinal de fumaccedila
BANHO Fazer a expressatildeo de pular na aacutegua com os braccedilos esticados
CASA As duas matildeos palmas para baixo fazendo um balanccedilo de movimento de
uma rede
CACcedilAR PEIXE Matildeo direita fazer expressatildeo de soltar o arpatildeo
CUIA As duas matildeos juntas fazer a expressatildeo de raspar a cuia
COCO Fazer a expressatildeo de tirar o coco com a vara
COMIDA As duas matildeos levando ateacute a boca
76
Fonte Azevedo (2014)
Figura 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa Maria
(30 sinais coletados)
COBRA Matildeo direita fazendo a expressatildeo da picada da cobra
FACA Matildeo direita fachada fazendo a expressatildeo de furar alguma coisa para
baixo
FLECHA Fazer a expressatildeo de jogar a flecha
FORMIGA Matildeo direita com os dedos beliscando o braccedilo esquerdo
FOME Matildeo direita levando em direccedilatildeo da barriga fazendo expressatildeo facial de
fome
FARINHA As duas matildeos fazer a expressatildeo de fazer farinha
GUARANAacute Fazer a expressatildeo de ralar o guaranaacute
JACAREacute Os dois indicadores das matildeos fazendo expressatildeo de dentes grandes do
jacareacute
LANCHA As duas matildeos dedos juntos fazer a expressatildeo de uma accedilatildeo raacutepida para
frente
MACACO Com braccedilos abertos fazer a expressatildeo de macaco
MALOCA As duas matildeos com os dedos encostados puxar para os lados opostos
MANDIOCA Fazer expressatildeo de descascar algum
ONCcedilA Com as matildeos fazer pintas no rosto
PAI As duas matildeos esfregando os indicadores
PEIXE Faz se expressatildeo de descamar o peixe
PILAtildeO As duas matildeos juntas fazendo a expressatildeo de socar a crueira
POTE AacuteGUA As duas matildeos juntas palmas para cima elevando para cima em curvas
onduladas
PASSAacuteRO As duas matildeos fazendo o movimento de paacutessaro
PESSOA Matildeo direita fazendo a expressatildeo de pegar no cabelo
TIPITI As duas matildeos fazendo a expressatildeo de espremer algum
PENEIRAR As duas matildeos em forma letra A fazer expressatildeo de balanccedilar o objeto
AacuteGUA ANTA AacuteRVORE
VIAGEM BANHO
77
VIAJAR
CASA CACcedilAR ALIMENTO CUIA
COCO COMIDA
FACA
FARINHA
FORMIGA
GUARANAacute
FOME
FACA
FLECHA
78
JACAREacute LANCHA
MACACO
MANDIOCA ONCcedilA
MALOCA PAI
POTE DE AacuteGUA PILAtildeO
LANCHA JACAREacute
PEIXE
79
452 O segundo surdo da Comunidade de Santa Maria
O segundo surdo visitado um senhor adulto com identidade natildeo revelada residindo na
Comunidade de Santa Maria Eacute um cidadatildeo reservado e fechado para desconhecidos Como
nossa equipe era composta de 05 profissionais sendo 03 (trecircs) professores indiacutegenas que me
acompanharam para serem facilitadores linguiacutesticos e um colaborador local para captar as
imagens ficarmos 04 (quatro) dias na comunidade para observaccedilotildees Apesar do tempo o
investido para conseguir o contato o mesmo se mostrou irredutiacutevel e natildeo se dispos a
conversar conosco Observa-se que mora sozinha e eacute raro ele se manifestar na comunidade
Pela histoacuteria contada a seu respeito apesar de natildeo se comunicar manteacutem sua residecircncia de
maneira organizada cultiva de algumas plantaccedilotildees como mandioca banana guaranaacute aleacutem de
produzir farinha tambeacutem faz pescaria para se alimentar Foi relatado que ajuda alguns
vizinhos e amigos com o que produz aleacutem de ser experiecircncia em matildeo de obra na confecccedilatildeo
de trepadeira silvestre que facilita subir nas aacutervores coqueiros e accedilaizeiros
PASSAacuteRO PESSOA COBRA
TIPITI PENEIRAR
80
Sobre o contexto educacional tendo como tema central a educaccedilatildeo escolar indiacutegena
o professor Jesiel (2014)28
(que eacute indiacutegena e concluiu o curso de pedagogia intercultural na
Universidade do Estado do Amazonas localizado no municiacutepio de Maueacutes) argumentou que o
territoacuterio Satereacute-Maweacute eacute muito grande sendo longa a distacircncia para se chegar na zona
urbana ateacute de forma que mesmo o deslocamento de uma comunidade para outra dificulta os
indiacutegenas irem para a escola Estas segundo o educador referido satildeo algumas razotildees que
impedem muitos indiacutegenas de estudarem na medida em que acarreta prejuiacutezo para a famiacutelia
especialmente de perda de tempo principalmente para os adultos que tem compromisso no
campo e com a comunidade
Para solucionar este problema devido a distacircncia as famiacutelias e os liacutederes indiacutegenas
possuem propostas e lutas para a construccedilatildeo de escolas nas aldeias o que facilitaria o acesso
dos surdos indiacutegenas da comunidade na escola E ao considerar que o indiacutegena surdo
compreende e se comunica com seus pares atraveacutes de gestos e sinais caseiros de forma que
aleacutem de sua liacutengua nativa haacute outros meios para que o surdo possa se comunicar isso aponta
para a necessidade da criaccedilatildeo de propostas de acesso agrave educaccedilatildeo dessas pessoas Dessa
maneira foram catalogados alguns sinais utilizados por esse surdo adulto da Comunidade de
Santa Maria apresentado abaixo
Tabela 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais antigo residente isolado na
comunidade de Santa Maria no Rio Marau ( 18 sinais coletados)
28
As famiacutelias e os liacutederes indiacutegenas possuem propostas e lutas para a construccedilatildeo de escolas nas aldeias para a
facilitaccedilatildeo do acesso dos surdos indiacutegenas na comunidade e na escola O indiacutegena surdo apesar de natildeo ouvir
compreende e comunica com seus pares atraveacutes de gestos e sinais caseiros que aleacutem de sua liacutengua nativa haacute
outros meios para que o surdo possa se comunicar Isso contribui para a criaccedilatildeo de propostas de acesso agrave
educaccedilatildeo dessas pessoas Dessa maneira foram catalogados alguns sinais utilizados por esse surdo adulto da
Comunidade de Santa Maria apresentado abaixo
A contribuiccedilatildeo do professor indiacutegena Jesiel Santos foi de suma importacircncia para a coleta de dados nesta
pesquisa visto que atraveacutes dele que conseguimos chegar ateacute a comunidade de Santa Maria afim de termos os
contatos na comunidade
SINAIS CASEIROS DESCRICcedilAtildeO
ARCOFECHA As duas matildeos com expressatildeo de utilizar um arco com flecha
AacuteGUA Matildeo direita com utilizando somente o dedo polegar fazer a expressatildeo de
beber algum
BANHO Os braccedilos e matildeos esticadas fazer a expressatildeo de se soltar no rio
BEIJU As duas matildeos fazendo um circulo e em seguida levar ateacute a boca
CIGARRO A posiccedilatildeo para traduzir este sinal satildeo as duas matildeos em posiccedilatildeo dos dedos
polegar e indicador juntos fazendo expressatildeo de fazer um cigarro caseiro
CASA As duas matildeos com os dedos esticados fazer a expressatildeo de formato de uma
casa
COBRA A matildeo direita com os dedos indicador e polegar encostados fazer a expressatildeo
de beliscar o pulso de antebraccedilo
FARINHA Matildeos com os dedos todos juntos fazer a expressatildeo com o movimento de
81
Figura 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo idoso na comunidade de Santa Maria
soltar a farinha
FORNO DE ASSAR Matildeo direita fazendo um semiciacuterculo de com a caracteriacutestica de um forno de
barro
GARREIRA As duas matildeos juntas fazer a expressatildeo repetidamente de amassar uma massa
JACAREacute As duas matildeos pegando os dentes
LUVA DA TUCANDEIRA Fazendo a expressatildeo de usar uma luva de palha e fazer a expressatildeo de dor da
ferrada da tucandeira
MANDIOCA Usar o antebraccedilo esquerdo com a matildeo direita como um material cortante
fazendo a expressatildeo de descascar
MACACO Os dois braccedilos e corpo fazendo a expressatildeo do movimento caracteriacutestico do
macaco
PAJEacute As duas matildeos fazendo a expressatildeo de segurar algum e balanccedilar
PAacuteSSARO Fazer a expressatildeo de balanccedilar os braccedilos caracterizando o movimento de um
paacutessaro
TIPITI As duas matildeos fazendo o movimento de espremer a mandioca
TERRASOLO Matildeo direita fazendo expressatildeo de um pequeno monte de terra
ARCOFECHA BEBER
LIacuteQUIDOAacuteGUA
BEIJUCOMER COBRA
FARINHA FERRADA DA TUCANDEIRA MALOCACASA ESCOLA
ARCOFLECHA BEBER LIQUIDOAacuteGUA BANHOPULAR NA AacuteGUA
AacuteAacuteGUA
CIGARRO
82
FORNO DE ASSAR
JACAREacute
LUVA DA TUCANDEIRA MACACO
PAJEacute
TIPITI TERRA
GAREIRA
MANDIOCA
PAacuteSSARO
(( ))
JACAREacute
83
5 ICONICIDADE E ARBITRARIEDADE NA CRIACcedilAtildeO DOS SINAIS CASEIROS
Nos anos 60 a partir dos trabalhos de Stokoe (1960) foi comprovado que as Liacutenguas
de Sinais satildeo linguas Estas satildeo liacutenguas naturais com ldquoestrutura gramatical proacutepria em seus
niacuteveis fonoloacutegico (ou queroloacutegico) morfoloacutegico sintaacutetico e semacircntico aleacutem de seus aspectos
pragmaacuteticosrdquo
De acordo com Quadros (2006 p 221)
pelo fato de as liacutenguas de sinais natildeo serem faladas e de natildeo terem o seu coacutedigo
escrito ainda popularizado entre os surdos natildeo as elimina das consideraccedilotildees
cientiacuteficas visto que apresentam uma organizaccedilatildeo estrutural e fazem parte da
constituiccedilatildeo cultural desses sujeitos ndash crescendo envolvendo e transmitindo
dinamicamente tradiccedilotildees socioculturais Portanto as liacutenguas de sinais fazem parte
do conjunto da linguagem humana com a diferenccedila de se apresentarem em uma
terceira modalidade a visuo-espacial
Reiterando-se que a Liacutengua de Sinais eacute uma liacutengua natural uma vez que estaacute veiculada
a um canal que natildeo eacute o oral-auditivo e sim visual esta garante uma percepccedilatildeo e articulaccedilatildeo
mais faacutecil mais coerente e confortaacutevel aleacutem de contribuir para o desenvolvimento linguiacutestico
cognitivo e social do surdo
Sobre as caracteristicas linguiacutesticas das Liacutenguas de Sinais vale ressaltar que Sousa
(2010) ao tratar dos aspectos visuais quanto agraves propriedades das Liacutenguas de Sinais enfatiza a
iconicidade e arbitrariedade relacionada ao signo linguiacutestico que satildeo inerentes agraves liacutenguas
naturais Sobre as definiccedilotildees dos fenocircmenos das liacutenguas estes remontam a eacutepoca de Platatildeo
filoacutesofo grego que tratava os fenocircmenos sobre a linguagem e a relaccedilatildeo dela com o mundo
Cita-se tambeacutem Craacutetilo Hermoacutegenes e Soacutecrates que foram interlocutores desta relaccedilatildeo
discutindo a ligaccedilatildeo existente entre nome ideia e coisa A abordagem dos trecircs se diferenciava
de forma que Craacutetilo defendia o conceito de iconicidade Hermoacutegenes de arbitrariedade
Soacutecrates por seu turno integrava as duas concepccedilotildees Esta diferenciaccedilatildeo tecido pelos trecircs
filosofos pode ser vislumbrada no trecho transcrito abaixo
Para Craacutetilo a liacutengua eacute o espelho do mundo o que significa que existe uma relaccedilatildeo
natural e portanto similar ou icocircnica entre os elementos da liacutengua e os seres por
eles representados Para Hermoacutegenes a liacutengua eacute arbitraacuteria isto eacute convencional pois
entre o nome e as ideias ou as coisas designadas natildeo haacute transparecircncias ou
similaridade Soacutecrates por sua vez tem o papel de fazer a integraccedilatildeo entre os dois
pontos de vista (WILSON amp MARTELOTTA 2010 apud SOUSA 2010 p 4)
84
A modalidade gestual-visual espacial pela qual a Liacutengua de Sinais eacute produzida e
reconhecida pela comunidade Surda leva muitas vezes as pessoas a pensarem que todos os
sinais satildeo desenho no ar do referente que representam Para melhor esclarecimento por
decorecircncia de sua natureza linguiacutestica a realizaccedilatildeo de um sinal pode sim ser motivada pelas
caracteriacutesticas do dado da realidade a que se refere poreacutem natildeo eacute regra Ou seja a maioria dos
sinais da LIBRAS eacute arbitraacuteria natildeo mantendo relaccedilatildeo de semelhanccedila alguma com seu
referente Portanto essa condiccedilatildeo possibilita o enriquecimento da flexibilidade e versatilidade
da liacutengua (BASSO 2011 p47)
Exemplos de sinais arbitraacuterios
Figura 6 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos que se refere agrave
arbitrariedade
BISCOITO PESSOA DESCULPA
Fonte Azevedo (2014)
A ideia de arbitrariedade da liacutengua se relaciona com a ideia de convenccedilatildeo que se
efetiva em todas as liacutenguas como Liacutengua de Sinais e na Liacutengua Portuguesa ilustra-se o
processo com os exemplos das palavras ldquobiscoitordquo ldquodesculperdquo e ldquopessoardquo O processo de
definiccedilatildeo destes termos ocorre de forma arbitraacuteria pois soacute nomes foram atribuiacutedos devido a
uma convenccedilatildeo que estabelece esse conceito e natildeo porque haacute uma relaccedilatildeo entre o som da
palavra e o objeto que ela designa (SALLES 2007 p 5)
No caso da Libras os exemplos citados de sinais foram criados sem sofrer influecircncia
da imagem dos objetos aos quais eles se referem O que mostra que mesmo que a Libras
tambeacutem apresenta a caracteriacutestica de arbitraacuterios (TEIXEIRA 2015 p 5)
Para compreender melhor a importacircncia da visualidade na Liacutengua de Sinais dos
Satereacute-Maweacute eacute relevante entender trecircs conceitos da teoria de Pierce sobre a iconicidade que
pode ser considerada a base dos sinais dessa comunidade os quais satildeoo siacutembolo o iacutendice e o
iacutecone Segundo Martelotta (2011) (apud TEIXEIRA 2015 p 2)
85
O siacutembolo de acordo com Peirce refere-se a determinado objeto representando-o
com base em uma lei haacutebito ou convenccedilatildeo estabelecendo uma relaccedilatildeo entre dois
elementos Para citar alguns exemplos a cruz eacute o siacutembolo do cristianismo e a
balanccedila o siacutembolo da justiccedila Uma caracteriacutestica importante do siacutembolo relaciona-se
ao fato de que ele eacute parcialmente motivado ou seja haacute entre o siacutembolo e o conteuacutedo
simbolizado alguns traccedilos relacionados ao objeto
Haacute uma diferenccedila fundamental entre o siacutembolo de um lado e o iacutendice e o iacutecone de
outro jaacute que nesses dois uacuteltimos haacute um niacutevel ainda menor de arbitrariedade No caso
do iacutendice ocorre uma relaccedilatildeo de contiguidade com a realidade exterior a fumaccedila
por exemplo eacute o iacutendice do fogo e a presenccedila de nuvens negras o iacutendice de chuva
iminente
O iacutecone por sua vez tem uma natureza imagiacutestica apresentando portanto
propriedades que se assemelham ao objeto a que se refere A fotografia de um
indiviacuteduo por exemplo eacute uma representaccedilatildeo icocircnica desse indiviacuteduo assim como o
mapa do Rio de Janeiro representa a cidade Assim um iacutecone eacute qualquer coisa que
seja utilizada para designar algo que lhe seja semelhante em algum aspecto
Nesta perspectiva Quadros (1997) traz a reflexatildeo sobre os efeitos da modalidade ou
seja o fato de a Liacutengua de Sinais serem visuoespacial em vez de auditiva-oral implica nas
diferenccedilas para a aquisiccedilatildeo do surdo e nesse sentido tem-se a questatildeo da iconicidade das
Liacutenguas de Sinais uma vez que a iconicidade se refere
A transparecircncia entre significado e o significante ou seja a relaccedilatildeo de identidade
entre a palavra (o sinal) e o seu sentido Por exemplo nas liacutenguas faladas agraves
onomatopeias satildeo consideradas por alguns autores como icocircnicas pois a produccedilatildeo
sonora bdquoreal‟ (do objeto ou do animal) eacute reproduzida na fala expressando certa
identidade (QUADROS 2011 p 22)
Vale ressaltar que a iconicidade vem sendo estudada a partir da pesquisa semioacutetica de
Charles Sanders Peirce (1999) filoacutesofo norte-americano contemporacircneo de Saussure
Segundo Teixeira (2015) Peirce em seus estudos sobre a Semioacutetica o signo tem a funccedilatildeo de
proporcionar uma ideia do mundo e tudo que cerca o indiviacuteduo estaacute rodeado de signos Como
explica o filoacutesofo
[] para que algo possa ser um Signo (expressatildeo ou representamento) esse algo
deve bdquorepresentar‟ [] alguma outra coisa chamada seu Objeto apesar de ser talvez
arbitraacuteria a condiccedilatildeo segundo a qual um Signo deve ser algo distinto de seu objeto
(PEIRCE 1999 apud TEIXEIRA 2015 p 5)
Ao direcionar essas definiccedilotildees para agraves liacutenguas de sinais Sousa (2010) afirma que
muitas vezes essas liacutenguas satildeo consideradas puramente icocircnicas por serem de uma
modalidade diferente acreditando-se acredita que os sinais satildeo criados sempre a partir da
86
representaccedilatildeo do referente Eacute certo que um sinal pode ser realizado de acordo com a
caracteriacutestica daquilo que se refere mas de acordo com Strobel amp Fernandes (1998 apud
Sousa 2010 p 4) ldquoisto natildeo eacute uma regra jaacute que a maioria dos sinais em Libras eacute arbitraacuterio ou
seja natildeo manteacutem uma relaccedilatildeo de similitude com o referenterdquo
Reconhece-se que algumas Liacutenguas de Sinais parecem ter maior motivaccedilatildeo icocircnica
apresentando relaccedilotildees entre a sua forma e o seu significado comumente observado nas
Liacutenguas de Sinais caseiras dos Satereacute-Maweacute Isso significa a relaccedilatildeo entre o referente e o
referenciado Alguns estudos como os de Meier (1981) citado por Lillo-Martin (1986)
apontam para uma aparente iconicidade nas liacutenguas de sinais o que justifica considerar as
variaccedilotildees regionais e sociais e as mudanccedilas histoacutericas como fenocircmenos identificaacuteveis na
Liacutengua Brasileira de Sinais o que lhe confere o caraacuteter natural (STROBEL amp FERNANDES
1998 apud SOUSA 2010)
Nesse contexto a iconicidade como caracteriacutesticas semelhantes ao iacutecone tem em
comum o objeto que representa Por ser uma liacutengua de modalidade visuoespacial a
iconicidade estaacute presente em grande parte dos sinais da Libras pois a relaccedilatildeo entre a ldquoformardquo
e o ldquosentidordquo eacute mais visiacutevel Salles (2007) em bdquoEnsino de liacutengua portuguesa para surdos
caminhos para a praacutetica pedagoacutegica‟ comenta
Um aspecto que se sobressai no contraste entre as modalidades viacutesuo-espacial e oral-
auditiva eacute a questatildeo da arbitrariedade do signo linguiacutestico Esse conceito estabelece
que na constituiccedilatildeo do signo linguiacutestico a relaccedilatildeo entre o significante (imagem
acuacutestico-focircnica) e o significado eacute arbitraacuteria isto eacute natildeo existe nada na forma do
significante que seja motivado pelas propriedades da substacircncia do conteuacutedo
(significado) Uma caracteriacutestica das liacutenguas de sinais eacute que diferentemente das
liacutenguas orais muitos sinais tecircm forte motivaccedilatildeo icocircnica Natildeo eacute difiacutecil supor que esse
contraste se explique pela natureza do canal perceptual na modalidade viacutesuo-
espacial a articulaccedilatildeo das unidades da substacircncia gestual (significante) permite a
representaccedilatildeo icocircnica de traccedilos semacircnticos do referente (significado) o que explica
que muitos sinais reproduzam imagens do referente na modalidade oral-auditiva a
articulaccedilatildeo das unidades da substacircncia sonora (significante) produz sequecircncias que
em nada evocam os traccedilos semacircnticos do referente (significado) o que explica o
caraacuteter imotivado ou arbitraacuterio do signo linguiacutestico nas liacutenguas orais (SALLES
2007 p 83)
Todavia os mesmos sinais icocircnicos possuem um grau de arbitrariedade na definiccedilatildeo
dos mesmos como explica Frydrych (2012)
Pode haver contudo sinais com diferentes graus de iconicidade Um sinal pode natildeo
se assemelhar ao objeto que representa pela forma mas apresentar de alguma
forma uma similaridade por meio de expressotildees faciais ou movimentos Um
exemplo eacute o sinal ldquotristerdquo que possui como configuraccedilatildeo de matildeo o sinal Y
localizada abaixo do queixo em movimento de meia lua O sinal nada tem a ver
com o que a palavra representa no entanto a expressatildeo facial de tristeza que
acompanha o sinal daacute indiacutecios de que seu significado pode natildeo ser muito agradaacutevel
87
[] Falar de sinais icocircnicos em Libras pode parecer comum no entanto o sinal de
ldquocasardquo por exemplo motivado pelo formato do telhado de uma casa eacute tambeacutem
usado para o sinal de ldquomorarrdquo que pode ser usado para ldquomoradiardquo em diferentes
formatos de residecircncia como por exemplo casa apartamento cabana etc Embora o
sinal possa ter sido motivado na sua criaccedilatildeo por um tipo de casa passou a ser usado
de forma muito mais abrangente Sendo isto muito comum nas liacutenguas de sinais Os
sinais passam a ser signos linguiacutesticos altamente arbitraacuterios e passam a integrar o
leacutexico da liacutengua (Apud PIVETTA et al 2013 p8)
Como tambeacutem salienta Silva (2012) que ao passar do tempo o sinal icocircnico perde sua
motivaccedilatildeo inicial passando a ser arbitraacuterio
[] a transparecircncia eacute relativa porque a forma dos objetos ou movimentos que
originaram o sinal pode variar no tempo perdendo a sua motivaccedilatildeo inicial Um
exemplo eacute o sinal ldquoleiterdquo que faz referecircncia ao ato de ordenha que hoje ainda pode
ser considerado um sinal icocircnico Todavia para as futuras geraccedilotildees a motivaccedilatildeo de
sua representaccedilatildeo tende a se tornar uma convenccedilatildeo o que faz com que o sinal passe
a ser arbitraacuterio e de valor simboacutelico Sinais como o de ldquoleiterdquo satildeo frutos de um
processo histoacuterico e com o passar do tempo natildeo representam mais os artefatos e
procedimentos atuais sendo percebidos e interpretados apenas por meio da
arbitrariedade e da convenccedilatildeo(Apud PIVETTA et al 2013 p8)
A seguir temos alguns exemplos de sinais icocircnicos na Libras satildeo os sinais ldquoaacutervorerdquo
ldquocadeirardquo ldquocasardquo constituiacutedos a partir de caracteriacutesticas da imagem dos objetos aos quais se
referem Enquanto o primeiro lembra a imagem do tronco e das folhas de uma aacutervore o
segundo lembra as pernas de uma pessoa representadas pelos dedos indicador e meacutedio e a
terceira lembra a imagem de um telhado ou de uma casa sentada no objeto em questatildeo
(SALLES 2007 p 83)
Figura 7 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos aos quais se referem a
iconicidade
Fonte Azevedo (2014)
AacuteRVORE CADEIRA CASA
88
Figura 8 Caracteriacutesticas da imagem em Liacutengua de Sinais Satereacute-Maweacute dos objetos aos
quais se referem agrave iconicidade
Yara Wato Barco Libras
Fonte Azevedo (2014)
Man Beiju Libras
Fonte Azevedo (2014)
Kamunti hit Bilha Libras
Fonte Azevedo (2014)
89
Dessa maneira podem-se definir os sinais icocircnicos como aqueles que fazem alusatildeo agrave
imagem do seu significado natildeo implicando que todos os sinais satildeo iguais ou sinais icocircnicos
em todas as Liacutengua de Sinais cada grupo social absorve aspectos diferentes da imagem do
referente convencionando a representaccedilatildeo do sinal Os signos arbitraacuterios satildeo os que natildeo
trazem nenhuma relaccedilatildeo de semelhanccedila com o referente
90
6 INTERVENCcedilAtildeO E CONTRIBUICcedilAtildeO LINGUIacuteSTICA DO PROFESSOR SURDO
Os estudos sobre a educaccedilatildeo sistemaacutetica dos indiacutegenas surdos da etnia Satereacute-Maweacute
levaram agrave percepccedilatildeo da necessidade iminente de uma atuaccedilatildeo no processo ensino
aprendizagem desses sujeitos Desse modo apoacutes conhecer a realidade linguiacutestica e
educacional dos indiacutegenas surdos observados nas aldeias e na zona urbana de Parintins foi
possiacutevel intervir por meio do ensino da Liacutengua Brasileira de Sinais A intervenccedilatildeo foi feita
com o consentimento dos responsaacuteveis locais onde se faziam presentes acompanhando o
objeto da pesquisa - os indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute
Assim com a autorizaccedilatildeo da famiacutelia o primeiro contato foi estabelecido entre uma
crianccedila surda indiacutegena com professor tambeacutem surdo que ocorreu na residecircncia dela na zona
urbana do municiacutepio de Parintins cujo registro de imagem consta na Figura 9
Figura 9 Encontro da crianccedila surda Satereacute-Maweacute com o professor surdo
Fonte Azevedo (2014)
No contato foi possiacutevel verificar que a crianccedila natildeo conhecia a liacutengua Libras Sua
forma de comunicaccedilatildeo era com o uso dos siacutembolos ldquocaseirosrdquo Contudo ela respondeu ao
estiacutemulo de conversaccedilatildeo com muita facilidade buscando fazer a comunicaccedilatildeo As demais
observaccedilotildees e intervenccedilatildeo deram-se no ambiente educacional na Escola de Aacuteudio e
Comunicaccedilatildeo Padre Paulo Manna (Figura 10) Nesse contexto a crianccedila acompanhava com
atenccedilatildeo ao desempenho dos demais pares sempre atenta para compreensatildeo do conteuacutedo
comunicativo Ficou evidente a necessidade de um material de suporte escrito como recurso a
ser utilizado pelos docentes no processo ensino e aprendizagem
91
Figura 10 Contato com aluno Satereacute-Maweacute surdo no ambiente escolar
Fonte ndash Azevedo (2014)
Ocorreu tambeacutem o contato com o aluno surdo da Etnia Satereacute-Maweacute matriculado na
Escola Estadual Brandatildeo de Amorim em Parintins o qual foi feito em sua residecircncia dele A
conversa com ele foi feita fluentemente em Libras (Figura 10) Entretanto ao ser indagado
sobre a cultura a liacutengua falada de sua etnia natildeo soube responder Comprovou-se que o aluno
natildeo participa do contexto cultural da etnia por isso natildeo a conhece Por tal considera-se que o
material triliacutengue seria um recurso apropriado para promover o reconhecimento de muitos
signos que fazem parte da Liacutengua Satereacute-Maweacute
Figura 11 Contato com o aluno surdo Satereacute-Maweacute na Escola Estadual Brandatildeo de Amorim
Fonte ndash Azevedo (2014)
O contato com os familiares juntamente com professores indiacutegenas e inteacuterprete
linguiacutestica possibilitou ter uma visatildeo sobre o contexto comunicativo do indiacutegena surdo A
conversa com o pai do indiacutegena surdo na Aldeia de Santa Maria indicou a forma como
conseguem se comunicar com o filho desde o momento que perceberam que ele era surdo
Explicaram as dificuldades que tiveram no processo de entendimento com ele Confirmaram
92
que o aprendizado da liacutengua Libras indicando os signos que representam a cultura da etnia
seria muito importante para a comunicaccedilatildeo entre ele e os familiares eou educadores
Figura 12 Em viagem para aacuterea indiacutegena no Rio Marau ndash comunicaccedilatildeo com familiares
Fonte - Azevedo (2014)
O projeto da pesquisa foi apresentado na comunidade de Santa Maria para os
representantes da comunidade indiacutegena (Figura 12)
Figura 13 Apresentaccedilatildeo do projeto de pesquisa agraves lideranccedilas indiacutegenas na comunidade
Fonte Azevedo (2014)
Ressalta-se a importacircncia das lideranccedilas conhecerem e participarem do desenvolvimento
do projeto A relevacircncia desta participaccedilatildeo daacute-se em funccedilatildeo de que as mesmas contribuiram
informando vocabulaacuterios caracteristicos da regiatildeo que enriqueceram o minidicionaacuterio
triliacutengue Satereacute-MaweacutePortuguecircsLibras como pode ser evidenciado a seguir
93
Vocabulaacuterios e utensiacutelios indiacutegenas sinalizados em Libras
Liacutenguas
Satereacute-Maweacute Portuguecircs Libras
Mory‟ywat siomory‟awat Arco
Satereacute-Maweacute Portuguecircs Libras
T wa Aldeia
Ressalta-se a importacircncia do minidicionaacuterio ao considerar que o vocabulaacuterio contido no
mesmo poderaacute ser utilizado pelo indiacutegena surdo para ele aprenda a comunicaccedilatildeo utilizando os
signos que fazem parte da linguagem da etnia
E realizando uma mini oficina de Libras para professores da comunidade (Figura 6)
foi possiacutevel demonstrar o uso da Libras no contexto da sala de aula A participaccedilatildeo efetiva dos
mesmos proporcionou a troca de informaccedilotildees sobre o vocabulaacuterio da liacutengua indiacutegena
94
Figura 14 Desenvolvimento de oficina de Libras com professores indiacutegenas
Fonte Azevedo (2014)
Enfatiza-se que todo empenho em levar o conhecimento da Liacutengua Brasileira de Sinais
para os indiacutegenas surdos professores indiacutegenas familiares de surdos e comunidade manteve-
se em funccedilatildeo do ensejo de fazecirc-los conhecer e compreender a capacidade e modos dos
indiacutegenas surdos se comunicarem aleacutem de promover a aprendizagem da Libras em um lugar
de tatildeo difiacutecil acesso com pequenas escolas que sequer tecircm materiais didaacuteticos adaptados a
essa clientela Por este motivo considera-se que a contribuiccedilatildeo linguiacutestica em forma de um
minidicionaacuterio eacute um passo importante para levar aos indiacutegenas surdos a sua comunidade e o
nuacutecleo familiar destes o iniacutecio do resgate da sua liacutengua natural que eacute a Liacutengua Brasileira de
Sinais e a sua liacutengua nativa aleacutem de seus traccedilos culturais incluiacutedos no minidicionaacuterio
61 Libras e Liacutengua Satereacute-Maweacute intercacircmbio de construccedilatildeo sociocultural-linguiacutestico
Analisando a histoacuteria do povo surdo e do povo indiacutegena percebe-se uma trajetoacuteria
similar nas lutas por seus direitos culturais e linguiacutesticos Ambos tentam
fortalecer o conhecimento da proacutepria histoacuteria com seus acertos desacertos conflitos
e sucessos buscando a compreensatildeo do ator social como sujeito da histoacuteria e
possibilitando assim a construccedilatildeo de um projeto poliacutetico articulado com outros
setores que incremente as possibilidades de construccedilatildeo dos proacuteprios projetos de
uma vida melhor (HERNAIZ 2009)
Neste sentido destaca-se que esses indiviacuteduos satildeo esquecidos na realidade cultural do
paiacutes como se natildeo existissem enquanto cidadatildeos que tem as suas formas de produzir no
contexto social Mudar esta realidade faz-se fundamental Para tal Guerreiro (2009 p93)
argumenta que
Os direitos culturais satildeo por sua vez um campo complexo que inclui vaacuterios
conjuntos de direitos e garantias entre os quais me interessa destacar para essa
reflexatildeo os seguintes o reconhecimento da diversidade o exerciacutecio da identidade
como povos o uso restrito do idioma uma educaccedilatildeo proacutepria e o respeito pelo
patrimocircnio cultural
95
Os processos culturais linguiacutesticos entre os povos surdos e indiacutegenas surdos eacute uma
possibilidade bem proacutexima atraveacutes do intercacircmbio sociocultural-linguiacutestico que estaacute sendo
construiacutedo pois o surdo indiacutegena faz parte da cultura surda e tem cacircmbio com a cultura
indiacutegena e em muitos casos com a cultura do povo ouvinte
Todavia alguns aspectos da cultura surda satildeo desconhecidos pelo proacuteprio surdo
indiacutegena Por isso a necessidade de surdos indiacutegenas se relacionarem com seus semelhantes
surdos seja indiacutegena ou natildeo indiacutegena para que atraveacutes deste contato possa construir sua
identidade cultural da comunidade surda tornando conhecida sua cultura tribal por meio da
liacutengua de instruccedilatildeo a Libras No exemplo abaixo ilustra-se a percepccedilatildeo dessa realidade
Man ype Crueira Libras
Kui‟a Cuia Libras
Dessa forma conhecendo valorizando e respeitando sua cultura que eacute um patrimocircnio
cultural da sociedade
Logo a liacutengua em uso pelos iacutendios surdos seja ela a Liacutengua de Sinais Indiacutegena
ldquosinais emergentesrdquo ou a Liacutengua Brasileira de Sinais (como empreacutestimo sociocultural-
linguiacutestico) e a Liacutengua Satereacute-Maweacute devem ser valorizadas com respeito muacutetuo na
transmissatildeo de sua cultura Os indiviacuteduos que precisam se comunicar por meio delas lutam
96
pelo fortalecimento dessa inserccedilatildeo cultural pela construccedilatildeo de um futuro melhor e pelo
respeito aos direitos dos iacutendios localizados neste vasto territoacuterio Nesse sentido
A identidade cultural requer tambeacutem ela a alteridade como dialogicidade
intercultural No seu proacuteprio interior ela natildeo eacute nunca algo de compacto mas
apresenta toda uma seacuterie de relaccedilotildees no plano sincrocircnico e diacrocircnico com outras
culturas que lhes datildeo vida justamente pela sua diversificaccedilatildeo e discordacircncia por
mais que ela se obstine em realizar-se mediante a identificaccedilatildeo com alguns de seus
aspectos apenas com algumas formas culturais determinadas que se arvoram
oficiais e dominantes (PONZIO 2007 p179)
Para estes estudos a uniatildeo de esforccedilos que viabilizou a realizaccedilatildeo deste diagnoacutestico eacute
uma demonstraccedilatildeo clara de que eacute perfeitamente possiacutevel trilhar no mundo linguiacutestico
possibilitando a cada indiacutegena novos horizontes na comunicaccedilatildeo
97
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A presente pesquisa teve como foco principal o levantamento de indiacutegenas surdos nas
microrregiotildees do municiacutepio de Parintins da etnia Satereacute-Maweacute
Com base nas informaccedilotildees levantadas nas terras indiacutegenas e nas cidades onde vivem
os Satereacute-Maweacute evidenciou-se que as escolas de zonas rurais e comunidades que o iacutendio
surdo requenta natildeo possui uma educaccedilatildeo diferenciada especiacutefica a sua especificidade
A realidade encontrada no municiacutepio de Parintins para com os alunos iacutendios surdos
por ser em zona urbana jaacute apresenta um diferencial A escola dispotildee de sala de recursos para
alunos indiacutegenas surdos poreacutem dentro dessa realidade haacute falta de professores que dominem a
liacutengua nativa Satereacute-Maweacute para que a escola proporcione um aprendizado triliacutengue Liacutengua
Brasileira de Sinais Liacutengua Satereacute-Maweacute e Liacutengua Portuguesa na modalidade escrita
Nas escolas visitadas onde encontramos surdos foi observado falta de mateacuterias
visuais sala de recursos com atendimentos diferenciados para os alunos indiacutegenas surdos e
indiacutegenas surdos
Foram considerados no decorrer do texto aspectos da contextualizaccedilatildeo em que se deu
a pesquisa desde as discussotildees que antecederam a elaboraccedilatildeo do projeto passando pelas
parcerias que foram estabelecidas no decorrer do processo especialmente com as vaacuterias
organizaccedilotildees indiacutegenas Satereacute-Maweacute ateacute o desenvolvimento das condiccedilotildees que garantiram a
plena participaccedilatildeo da comunidade no decorrer das atividades de pesquisa Partindo da
enumeraccedilatildeo dos principais objetivos do projeto o relatoacuterio apresenta as aacutereas e localidades
cobertas o nuacutemero de domiciacutelios levantados e de moradores entrevistados assim como a
metodologia utilizada a operacionalizaccedilatildeo das atividades de campo o treinamento dos
entrevistadores o levantamento nas cidades e nas terras indiacutegenas a forma e a intensidade
como se desenvolveu a participaccedilatildeo das lideranccedilas e da comunidade como um todo
Durante a pesquisa a sociedade indiacutegena e natildeo indiacutegena juntamente com profissionais
da educaccedilatildeo da linguiacutestica e a proacutepria comunidade surda acompanharam a perspectiva para
uma nova trajetoacuteria destes os iacutendios surdos a qual reflete o reconhecimento linguiacutestico destes
como pessoas pertencentes agraves minorias linguiacutesticas
Ao analisar as questotildees linguiacutesticas nas aacutereas indiacutegenas das microrregiotildees de Parintins
verificou-se que a implantaccedilatildeo deste empreendimento representou como um novo modelo de
desenvolvimento para a comunicaccedilatildeo de indiacutegenas surdos nas comunidades indiacutegenas
98
Ressalta-se que cada municiacutepio onde existem membros da etnia Satereacute receberaacute como
retorno da pesquisa um minidicionaacuterio triliacutengue (Liacutengua de Sinais Liacutengua Satereacute-Maweacute e
Liacutengua Portuguesa) para intercacircmbio sociocultural-linguiacutestico
Este material tem a intenccedilatildeo de abrir o caminho para a participaccedilatildeo direta dos iacutendios
na construccedilatildeo de seu futuro Ele caracteriza uma mudanccedila da forma de olhar para os povos
indiacutegenas Agora eacute preciso trabalhar para que todas as comunidades e etnias possam produzir
seus diagnoacutesticos Todas elas precisam dispor das informaccedilotildees com as quais poderatildeo dar uma
direccedilatildeo a suas accedilotildees Nesse sentido deve haver iniciativas por parte do poder local para que o
governo e as entidades aliadas agraves causas indiacutegenas possam aproveitar as experiecircncias dos
vaacuterios pesquisadores sobre as causas dos Satereacute-Maweacute para ampliar esse tipo de trabalho
Satildeo diagnoacutesticos como este que iratildeo dar o norte para novos projetos e programas que
favoreccedilam realmente garantir a autonomia dos povos indiacutegenas
Finzaliza-se com a satisfaccedilatildeo de que a pesquisa presente contribuiu com um pequeno
passo no incentivo da conservaccedilatildeo e crescimento da identidade cultural-linguiacutestica do iacutendio
surdo
99
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103
ANEXOS
104
ANEXO A- Normas estabelecidas no ingresso em terras indiacutegenas pela FUNAI
Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio
INSTRUCcedilAtildeO NORMATIVA No 01PRESI DE 29NOVEMBRO1995
PRESIDENTE DA FUNDACcedilAtildeO NACIONAL DO IacuteNDIO - FUNAI
no uso de suas atribuiccedilotildees que lhe satildeo conferidas pelo estatuto aprovado pelo decreto no
564
de 08 de junho de 1992 tendo em vista o que consta do processo FUNAI BsB no210592
R E S O L V E
Art 1o Aprovar as normas que disciplinam o ingresso em Terras Indiacutegenas com finalidade de
desenvolver Pesquisa Cientiacutefica conforme documento em anexo
Art 2o Esta Instruccedilatildeo Normativa entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo
Art 3o Revoga-se a Instruccedilatildeo Normativa no 001PRESI94 de 08 de abril
de 1994 como qualquer outro dispositivo em contraacuterio
MAacuteRCIO JOSEacute BRANDO SANTILLI
Presidente da FUNAI
ASSINADO NO ORIGINAL
Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio
ANEXO DA INSTRUCcedilAtildeO NORMATIVA No 001PRESI de 29 de novembro de 1995
Art 4o Todo e qualquer pesquisador nacional ou estrangeiro que pretenda ingressar em terras
indiacutegenas para desenvolver projeto de pesquisa cientiacutefica deveraacute encaminhar sua solicitaccedilatildeo
agrave Presidecircncia da FUNAI e no caso de requerimento coletivo deveraacute ser subscrito por um dos
membros do grupo como seu responsaacutevel Art 5o O pesquisador ou pesquisadores deveratildeo
anexar ao pedido do que trata o Art 1o a seguinte documentaccedilatildeo
I carta de apresentaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo a que o pesquisador estaacute vinculado e no caso de
estudantes de graduaccedilatildeo e poacutesgraduaccedilatildeo carta de apresentaccedilatildeo do orientador responsaacutevel
II projeto de pesquisa em portuguecircs detalhando a(s) terra(s) indiacutegenas na(s) qual(is)
pretende ingressar e cronograma
III curriculum vitae do(s) pesquisador(es) redigido em portuguecircs
IV coacutepia autenticada da Carteira de Identidade ou Passaporte quando se tratar de
nacionalidade estrangeira
V atestado individual de vacina contra moleacutestia endecircmica na
aacuterea
VI atestado meacutedico de natildeo portador de moleacutestia contagiosa
105
VII quando se tratar de pesquisador(es) de nacionalidade estrangeira exigir-se-aacute para a
efetivaccedilatildeo de seu ingresso na terra indiacutegena a obtenccedilatildeo de seu respectivo visto temporaacuterio
como prevecirc o artigo 22 do decreto no 86715 de 10 de dezembro de 1981 aleacutem do
cumprimento do disposto no decreto no 98830 de 15 de janeiro de 1990
Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio
Art 6o O pesquisador deveraacute encaminhar diretamente ao CONSELHO
NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO - CNPq o
projeto de pesquisa e curriculum
vitae
Art 7o A solicitaccedilatildeo do ingresso em terra indiacutegena por parte de pesquisadores nacionais ou
estrangeiros seraacute objeto de anaacutelise pela Coordenadoria-Geral de Estudos e Pesquisas - CGEP
uma vez instruiacutedo o processo com o parecer favoraacutevel do CNPq quanto ao meacuterito da pesquisa
proposta e apoacutes ouvidas as lideranccedilas indiacutegenas
Paraacutegrafo Uacutenico - A consulta agraves lideranccedilas indiacutegenas seraacute realizada pela FUNAI com a
presenccedila e participaccedilatildeo do pesquisador podendo este em caso de resposta positiva
permanecer na terra indiacutegena com autorizaccedilatildeo provisoacuteria ateacute a emissatildeo de uma definitiva
Art 8o No caso de negativa das lideranccedilas indiacutegenas quanto ao pleito do ingresso ou
quaisquer outros entraves levantados no decorrer da anaacutelise do processo ou em qualquer outra
etapa de desenvolvimento da pesquisa a CGEP encaminharaacute a questatildeo ao Conselho
Indigenista atraveacutes da presidecircncia do Oacutergatildeo
Art 9o Quando se tratar de pesquisa em espaccedilo territorial de ocupaccedilatildeo tradicional de iacutendios
isolados o pedido seraacute ainda objeto de exame e parecer preacutevio especiacutefico por parte do
Departamento de Iacutendios Isolados - DII FUNAI
Art 10 A presidecircncia da FUNAI poderaacute suspendera qualquer tempo as
autorizaccedilotildees concedidas de acordo com as presentes normas desde que
I seja solicitada a sua interrupccedilatildeo por parte da comunidade indiacutegena em questatildeo
II a pesquisa em desenvolvimento venha a gerar conflitos dentro da terra indiacutegena
III a ocorrecircncia de situaccedilotildees epidecircmicas agudas ou conflitos graves envolvendo iacutendios e natildeo-
iacutendios
Paraacutegrafo Uacutenico - Fica automaticamente prorrogada a autorizaccedilatildeo pelo prazo que a terra
indiacutegena objeto do projeto estiver interditada pelos motivos apontados no Art 10 inciso III
Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio
MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA
Art 11 Todos os pesquisadores estrangeiros ou nacionais que tiverem autorizaccedilotildees
concedidas para ingresso em terras indiacutegenas obrigar-se-atildeo a
I cumprir todos os preceitos legais vigentes notadamente os previstos na Lei no 6001 de
1o1273
II remeter agrave FUNAI relatoacuterio dos Trabalhos de campo em portuguecircs ateacute 6 (seis) meses apoacutes
o teacutermino da pesquisa onde poderatildeo constar sugestotildees praacuteticas que possam trazer benefiacutecios
para as comunidades indiacutegenas que poderatildeo ser consideradas pela FUNAI nas definiccedilotildees de
sua poliacutetica
III remeter agrave FUNAI 2 (dois) exemplares de publicaccedilotildees artigos teses e outras produccedilotildees
intelectuais oriundas das referidas pesquisas
Art 12 Nos casos de solicitaccedilatildeo de prorrogaccedilatildeo do prazo para continuidade do projeto de
pesquisa cientiacutefica na mesma terra indiacutegena caberaacute a Coordenaccedilatildeo Geral de Estudos e
Pesquisas - CGEP os seguintes procedimentos
I notificar junto ao setor competente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e
Tecnoloacutegico - CNPq a solicitaccedilatildeo
II consultar as lideranccedilas quanto ao retorno do pesquisador na terra indiacutegena
106
III observar o cumprimento do Art 8o por parte do pesquisador interessado do Iacutendio
Art 6o O pesquisador deveraacute encaminhar diretamente ao CONSELHO NACIONAL DE
DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO - CNPq o projeto de pesquisa e
curriculum vitae
Art 7o A solicitaccedilatildeo do ingresso em terra indiacutegena por parte de pesquisadores nacionais ou
estrangeiros seraacute objeto de anaacutelise pela Coordenadoria-Geral de Estudos e Pesquisas - CGEP
uma vez instruiacutedo o processo com o parecer favoraacutevel do CNPq quanto ao meacuterito da pesquisa
proposta e apoacutes ouvidas as lideranccedilas indiacutegenas
Paraacutegrafo Uacutenico - A consulta agraves lideranccedilas indiacutegenas seraacute realizada pela FUNAI com a
presenccedila e participaccedilatildeo do pesquisador podendo este em caso de resposta positiva
permanecer na terra indiacutegena com autorizaccedilatildeo provisoacuteria ateacute a emissatildeo de uma definitiva
Art 8o No caso de negativa das lideranccedilas indiacutegenas quanto ao pleito do ingresso ou
quaisquer outros entraves levantados no decorrer da anaacutelise do processo ou em qualquer outra
etapa de desenvolvimento da pesquisa a CGEP encaminharaacute a questatildeo ao Conselho
Indigenista atraveacutes da presidecircncia do Oacutergatildeo
Art 9o Quando se tratar de pesquisa em espaccedilo territorial de ocupaccedilatildeo tradicional de iacutendios
isolados o pedido seraacute ainda objeto de exame e parecer preacutevio especiacutefico por parte do
Departamento de Iacutendios Isolados - DII FUNAI Art 10 A presidecircncia da FUNAI poderaacute
suspendera qualquer tempo as autorizaccedilotildees concedidas de acordo com as presentes normas
desde que
I seja solicitada a sua interrupccedilatildeo por parte da comunidade indiacutegena em questatildeo
II a pesquisa em desenvolvimento venha a gerar conflitos dentro da terra indiacutegena
III a ocorrecircncia de situaccedilotildees epidecircmicas agudas ou conflitos graves envolvendo iacutendios e natildeo-
iacutendios
Paraacutegrafo Uacutenico - Fica automaticamente prorrogada a autorizaccedilatildeo pelo prazo que a terra
indiacutegena objeto do projeto estiver interditada pelos motivos apontados no Art 10 inciso III
Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA
Art 11 Todos os pesquisadores estrangeiros ou nacionais que tiverem autorizaccedilotildees
concedidas para ingresso em terras indiacutegenas obrigar-se-atildeo a
I cumprir todos os preceitos legais vigentes notadamente osprevistos na Lei no 6001 de
1o1273
II remeter agrave FUNAI relatoacuterio dos Trabalhos de campo em portuguecircs ateacute 6 (seis) meses apoacutes
o teacutermino da pesquisa onde poderatildeo constar sugestotildees praacuteticas que possam trazer benefiacutecios
para as comunidades indiacutegenas que poderatildeo ser consideradas pela FUNAI nas definiccedilotildees de
sua poliacutetica
III remeter agrave FUNAI 2 (dois) exemplares de publicaccedilotildees artigos teses e outras produccedilotildees
intelectuais oriundas das referidas pesquisas
Art 12 Nos casos de solicitaccedilatildeo de prorrogaccedilatildeo do prazo para continuidade do projeto de
pesquisa cientiacutefica na mesma terra indiacutegena caberaacute a Coordenaccedilatildeo Geral de Estudos e
Pesquisas - CGEP os seguintes procedimentos
I notificar junto ao setor competente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e
Tecnoloacutegico - CNPq a solicitaccedilatildeo
II consultar as lideranccedilas quanto ao retorno do pesquisador na terra indiacutegena
III observar o cumprimento do Art 8o por parte do pesquisador interessado
107
ANEXO B ndash Questionaacuterio para coleta de dados com professores de comunidades indiacutegenas
QUESTIONAacuteRIO
Nome Prof(a)Nordm Cel
Nome da escola
Tribo Etnia
Quantos alunos surdos iacutendio Serie Idade
Nasceu cognitiva ou adquirida
1 ndash Como eacute a forma de comunicaccedilatildeo entre o professor e o iacutendio surdo
( ) Escrita
( ) Oralizado
( ) Libras
( ) Satereacute Maweacute
2 ndash Qual liacutengua o surdo iacutendio tem mais facilidade de aprender
( ) Portuguecircs
( ) Satereacute Maweacute
( ) libras
3 ndash Qual eacute a metodologia de ensino
4 ndash Como o aluno surdo indiacutegena aprende na sala de aula Tem dificuldade ou facilidade
5 ndash Como e que liacutengua o aluno surdo se comunica com outro surdo se tiver e os demais alunos
ouvintes na sala aula
108
6 ndash Vocecirc jaacute observou a comunicaccedilatildeo entre o aluno surdo iacutendio com a famiacutelia Qual liacutengua
7 ndash Como o aluno surdo iacutendio se comunica com as pessoas da comunidade
8 ndash Qual eacute a reaccedilatildeo das pessoas ouvintes quanto o iacutendio surdo na comunidade
9 ndash Professor(a) qual sua opiniatildeo para melhoria de ensino da educaccedilatildeo de iacutendios surdos
10 ndash Qual eacute a importacircncia da liacutengua indiacutegena Satereacute Maweacute para o aluno surdo
11 ndash Fale sobre a cultura e historia dos Satereacute Maweacute o iacutendio surdo participa
109
ANEXO C ndash Autorizaccedilatildeo para pesquisa de campo em terras indiacutegenas
110
ANEXO C-1 ndash Autorizaccedilatildeo para pequisa de campo com uso de imagem permitido
111
ANEXO C-2 ndash Autorizaccedilatildeo para pequisa de campo com uso de imagem permitido
112
ANEXO D ndash Parecere pedagoacutegico da Aluna Indiacutegena Surda
(ESCOLA PADRE PAULOMANNA)
ESCOLA DE AacuteUDIO COMUNICACcedilAtildeO
Pe PAULO MANNA Mantida pela Diocese de Parintins CNPJ 045945370001-88 Av Naccedilotildees Unidas 1792 FoneFax (092) 3533-3456 69151-060 ndash PARINTINS-AMAZONAS-BRASIL
Parecer Pedagoacutegico
Helena Ferreira Arauacutejo 06 anos de idade aluna da Escola Pe Paulo Manna desde
marccedilo de 2013 mora na rua 4 nordm 298 no bairro da Uniatildeo
Segundo relatos da matildee a aluna nasceu de parto normal comeccedilou a andar aos trecircs
anos de idade e eacute descendente dos iacutendios Satereacute- Maueacute Os anos passaram e ela comeccedilou a
perceber que sua filha natildeo ouvia e nem falava pois jaacute tinha outros filhos e estes comeccedilaram a
falar e andar cedo Informou-nos que para se comunicar com ela fazia gestos ateacute ela entender
o que se tornava muito difiacutecil
Disse-nos que falaram para ela do trabalho desenvolvido na Escola Paulo Manna com
alunos surdos e resolveu procurar a escola pois o tempo estava passando e a menina natildeo
falava e ela natildeo sabia mais o que fazer para reverter a situaccedilatildeo e a sua filha ser como os outros
irmatildeos
Atualmente estuda numa turma de Preacute ndash Escolar (2ordm periacuteodo) eacute uma aluna surda No
ano passado quando chegou agrave escola nos primeiros dias chorava muito e ficava zangada se
escondia embaixo da mesa para que ningueacutem a incomodasse visto que natildeo estava adaptada
ao ambiente e aos poucos foi se adaptando e passou a conviver com os colegas ouvintes em
sala de aula
A aluna gosta de fazer suas atividades escolares tem boa coordenaccedilatildeo motorainterage
com os colegas reconhece cores e formas gosta de desenhar e daacute formas aos seus desenhos realiza atividades de leitura de imagem montagem com jogos de encaixe participa de
brincadeiras na quadra parque e brinquedoteca
Em alguns momentos quando quer alguma coisa do colega e este natildeo lhe daacute fica com
raiva chora e se isola Em outros momentos penso que por natildeo saber se comunicar com os
colegas fica um pouco retraiacuteda e torna-se um a receptora diferenciada que requer cuidados
no tocante agrave comunicaccedilatildeo principalmente de como chegar ateacute ela
Procuramos adaptar brincadeiras para envolver a aluna trazendo-a de volta para
participar das atividades e conversar com ela que nem tudo o que a gente quer podemos ter e
fazemos alguma brincadeira que ela goste e rapidinho ela volta a participar e se integrar ao
grupo
Sabemos que eacute difiacutecil para ela o processo ensino aprendizagem porque ela tem que ter
uma aprendizagem triliacutengue visto que tem que aprender a Liacutengua Indiacutegena+ Libras + Liacutengua
Portuguesa e jaacute eacute difiacutecil aprender duas mas natildeo impossiacutevel
113
Neste ano de 2014 contamos com a ajuda da professora Caacutetia (surda) com aulas de
Libras No primeiro momento fica junto com os colegas ouvintes onde procuramos trabalhar
de forma biliacutengue (Portuguecircs + Libras) para que ela entenda o que estaacute sendo repassado em
sala de aula E o que se percebe eacute que a aluna nos daacute respostas precisas dentro dos objetivos
propostos Em outro momento a professora Caacutetia ensina agrave aluna os sinais em LIBRAS que eacute
a liacutengua oficial da pessoa surda trabalhando o concreto com ela ensinando-a com jogos
cartazes reaacutelias viacutedeos transformando tais atividades em aulas dinacircmicas e prazerosas
Dentro dessa realidade a aluna vai participando buscando se inserir nesse universo
cheio de duacutevidas e incertezas e noacutes professores procuramos fazer o melhor para que a aluna
se sinta bem no ambiente escolar visto que o processo ensino aprendizagem para uma crianccedila
de outra etnia natildeo eacute faacutecil pois segundo depoimentos de alguns indiacutegenas a aprendizagem
indiacutegena passa pela demonstraccedilatildeo observaccedilatildeo imitaccedilatildeo tentativa e erro e quando o aluno
vem para a escola tem que se socializar obedecer a comandos regidos pelo sistema e isso
muitas vezes o deixa confuso e os maiores ateacute desistem
Dessa forma satildeo necessaacuterias estrateacutegias de ensino diferenciadas que deem suporte para
que a aluna seja trabalhada de forma triliacutengue no contexto escolar para que ela natildeo perca a
sua essecircncia a sua cultura que sejam adaptados trabalhos de acordo com a realidade
indiacutegena para que ela natildeo perca a sua identidade e saiba conduzir sua aprendizagem dentro de
um contexto diferenciado podendo aprender o que lhe eacute de direito bem como viver bem em
sociedade
Parintins 14 de abril de 2014
Catalogaccedilatildeo na fonte Elaboraccedilatildeo Ana Castelo CRB11ordf -314
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS ndash wwwueaedubr
Av Leonardo Malcher 1728 ndash Ed Professor Samuel Benchimol
Pccedila XIV de Janeiro CEP 69010-170 Manaus - Am
A994M Azevedo Marlon Jorge Silva de
Mapeamento e contribuiccedilotildees linguiacutesticas do professor surdo aos iacutendios surdos da etnia Satereacute-Maweacute na microrregiatildeo de Parintins Marlon Jorge Silva de Azevedo ndash Manaus UEA 2015
115fls il 30cm
Dissertaccedilatildeo de Mestrado e Produto apresentada ao Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo em Letras e Artes da Universidade do Estado do Amazonas como requisito para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em Letras e Artes
Produto Minidicionaacuterio Triliacutengue indiacutegena Saterecirc-Maweacute em Libras e Liacutengua Portuguesa
Orientador Prof Dr Valteir Martins
1Linguiacutestica 2Liacutengua de Sinais 3 Satereacute-Maweacute 4 Dicionaacuterio I Orientador Prof Dr Valteir Martins IITiacutetulo
CDU 81rsquo3744
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS
PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM LETRAS ARTES
MESTRADO PROFISSIONAL EM LETRAS ARTES
DEDICATOacuteRIA
Aos meus familiares em especial a minha matildee Idalina
Azevedo que desde o ventre proporcionou-me seu amor com
dedicaccedilatildeo e todas suas forccedilas ao meu lado em momentos tatildeo
difiacuteceis nunca deixando de acreditar no poder de Deus sobre
minha vida
A minha amada esposa Rosana Valeacuteria mulher saacutebia
e auxiliadora de todos os momentos do meu viver
Aos meus filhos Caroline Camila e Benjamim Jorge
pelo amor que sempre me deram pela compreensatildeo de
minhas ausecircncias durante a trajetoacuteria de minha pesquisa
AGRADECIMENTOS
A Deus em primeiro lugar que planejou a minha vida quando eu ainda nem existia e
me libertou no momento que recorri a Ele E me fez acreditar que o impossiacutevel soacute existe
quando natildeo temos feacute
Agrave Coordenadora do Mestrado em Letras e Artes da Universidade do Estado do
Amazonas ndash UEA Professora Dra Juciane Cavalheiros pelo excelente trabalho que
desenvolve nesta instituiccedilatildeo contribuindo para a formaccedilatildeo de novos profissionais na
educaccedilatildeo do nosso paiacutes
Ao meu orientador Dr Valteir Martins Professor do Mestrado em Letras e Artes
com sua saacutebia experiecircncia de ensino acreditou que atraveacutes deste trabalho pudeacutessemos levar
contribuiccedilotildees linguiacutesticas no que tange agrave Liacutengua de Sinais dos indiacutegenas surdos Satereacute-
Maweacute habitantes da microrregiatildeo de Parintins
Aos meus professores do Mestrado em Letras e Artes Dra Silvana Martins Dr
Mauricio Mattos Dr Maacutercio e Dra Luciana Paacutescoa Dra Gleidys Maia Dr Camilo Ramos
pelas preciosas contribuiccedilotildees agrave minha pesquisa
Aos professores indiacutegenas Jacob de Souza Jocimar Alencar e Josiel Santos por me
introduzir nas comunidades indiacutegenas Satereacute-Maweacute pelas contribuiccedilotildees na traduccedilatildeo das
palavras da liacutengua portuguesa para a liacutengua Satereacute-Maweacute
Aos meus colegas do mestrado em Letras e Artes pelo companheirismo e dedicaccedilatildeo
no dia a dia
Agrave professora Elizandra de Lima Silva Bastos pela ajuda nas correccedilotildees textuais da
Liacutengua Portuguesa
Agraves instituiccedilotildees especiacuteficas que de alguma forma contribuiacuteram para concretizar esta
pesquisa
MANAUS
Escola Estadual Augusto Carneiro dos Santos
Centro de Atendimento ao surdo ndash CAS
A Igreja Tabernaacuteculo Batista Pastor Paulo Hatcher
PARINTINS
Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio ndash FUNAI
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE
Coordenadora Regional de Educaccedilatildeo de Parintins - CREP
Universidade Estadual do Amazonas ndash CESP
Casa da Sauacutede Indiacutegena
Casa do Iacutendio de Parintins
Escola Aacuteudio Comunicaccedilatildeo Pe Paulo Manna
Diocese de Parintins Pe Henrique Uggeacute
Escola Estadual Brandatildeo de Amorim
Escola Estadual Joatildeo Bosco Ramos de Lima
MAUEacuteS
Secretaria de Estado de Educaccedilatildeo
Secretaria de Educaccedilatildeo Municipal
Casa do estudante indiacutegena Sr Jusivan
Tuxaua da Comunidade de Santa Maria Sr Helito Barbosa
Sr Maxiliano Batista Barros
BARREIRINHA
Secretaria de Educaccedilatildeo Municipal - SEMED
Secretaria de Estado de Educaccedilatildeo
Coordenaccedilatildeo Municipal de Educaccedilatildeo Indiacutegena Sr Santino Lopes
Coordenador da Escola Profa Rosa Cabral Sr Dulcemar F dos Santos
Professora Indiacutegena Satereacute-Maweacute Maria Inez
NHAMUNDAacute
Casa de Sauacutede Indiacutegena - DSEI
Secretaria de Estadual de Educaccedilatildeo
BOA VISTA DO RAMOS
Secretaria de Estado e Educaccedilatildeo
Escola Estadual Princesa Izabel
Comunidade Satereacute-Maweacute
Professora Erly Tereza R Goacutees
URUCARAacute
Poacutelo Base de Urucaraacute ndash DSEI
Distrito Sanitaacuterio Especial Indiacutegena
Lider Indiacutegena Etnia Hexkaryana Caiacutenatilde Mohso
SraMaacuterlucia Kutasa
Enfermeiro SrJonas Pontes
SraDalva H Farias Cantalixto de Melo
SrLuiz Cantalixto de Melo
SAtildeO SEBASTIAtildeO DO UATUMAtilde
Poacutelo Base de Urucaraacute ndash DSEI
Lider Indiacutegena Etnia Hexkaryana Caiacutenatilde Mohso
EPIacuteGRAFE
Matildeos
corpo em movimento
captar e entender
Teu querer teu dizer
Sorrisos laacutegrimas
sentimentos e emoccedilotildees
Libras eacute amor eacute paixatildeo eacute liacutengua
(Marlon Jorge)
RESUMO
Esta pesquisa apresenta o resultado do mapeamento de iacutendios surdos nas comunidades
indiacutegenas Satereacute-Maweacute na microrregiatildeo de Parintins Partindo do levantamento buscou-se
identificar de que forma os iacutendios surdos estabeleciam a comunicaccedilatildeo com seus pares na sua
comunidade Para isso foi utilizado o procedimento metodoloacutegico por meio de entrevistas
abertas com as lideranccedilas indiacutegenas os familiares os professores e gestores escolares e
outros membros das comunidades assim como do proacuteprio iacutendio surdo O processo de anaacutelise
estabelecido para este estudo consistiu no enfoque de natureza linguiacutestica do leacutexico
(vocabulaacuterio) o qual foi registrado por meio de viacutedeos fotos e gravaccedilotildees A partir dos dados
iniciou-se a elaboraccedilatildeo de um minidicionaacuterio triliacutengue nas liacutenguas Satereacute-Maweacuteliacutengua de
sinais portuguecircs escrito a fim de facilitar a comunicaccedilatildeo principalmente no contexto da
comunidade educacional escolar entre os professores e os alunos iacutendios surdos Esta
contribuiccedilatildeo linguiacutestica portanto possibilitou uma nova percepccedilatildeo no processo histoacuterico da
diversidade linguiacutestica para valorizar e respeitar natildeo soacute uma liacutengua a liacutengua oficial do paiacutes
(Portuguecircs) mas tambeacutem a liacutengua natural do povo surdo (Libras) e a liacutengua indiacutegena do povo
Satereacute-Maweacute
Palavras chaves
1Linguiacutestica 2Liacutengua de sinais 3Satereacute-Maweacute 4 Dicionaacuterio
ABSTRACT
This research presents the results of the mapping deaf Indians in indigenous
communities Satereacute-Maweacute in the region of Parintins Starting from the survey we sought to
identify how the deaf Indians established communication with peers in their community For
this methodological procedure through open interviews with indigenous leaders family
members teachers and school administrators and other community members were used as
well as the Indian himself deaf The review process established for this study consisted of
focus linguistic lexicon (vocabulary) which was recorded through videos photos and
recordings From the data we initiated the development of a trilingual Mini Dictionary in
languages Satereacute-Maweacute sign language written Portuguese in order to facilitate
communication especially in the context of school learning community among teachers and
students deaf Indians This linguistic contribution therefore provided a new insight in the
historical process of linguistic diversity to value and respect not only one language the
official language (Portuguese) but also the natural language of deaf people (Libras) and the
indigenous language the people Satereacute-Maweacute
Key Words 1Linguiacutestica 2Liacutengua signal 3Satereacute-Maweacute 4Dictionary
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 13
1 CONSIDERACcedilOtildeES DOS ESTUDOS LINGUIacuteSTICOS DA LIacuteNGUA
BRASILEIRA DE SINAIS
17
11 Liacutengua de Sinais como Liacutengua Natural 20
12 Liacutengua Brasileira de Sinais 22
13 Liacutenguas de Sinais Indiacutegenas pesquisadas no Brasil 26
131 Liacutengua de Sinais Urubu-Kaapor 28
132 Liacutengua de Sinais Emergentes 29
1321 Realidade do Contexto educacional escolar do indiacutegena surdo 31
2 HISTOacuteRIA DO POVO INDIacuteGENA SATEREacute-MAWEacute CULTURA E
LIacuteNGUA
34
21 Breve Relato Histoacuterico 35
22 Classificaccedilatildeo da Liacutengua Satereacute-Maweacute 36
221 Contexto educacional escolar entre os Satereacute-Maweacute 38
3 METODOLOGIA IMPLEMENTADA NA PESQUISA 42
31 Aacuterea e localidade da pesquisa 42
32 Estrateacutegias gerais para a realizaccedilatildeo da coleta de dados 43
33 Procedimentos da coleta de dados 43
34 Articulaccedilatildeo local 44
35 Abordagem ao objeto da pesquisa 44
4 MAPEAMENTO DOS INDIOS SURDOS DA COMUNIDADE SATEREacute-
-MAWEacute NAS MICRORREGIOtildeES DE PARINTINS E SUA REALIDADE
EDUCACIONAL ESCOLAR
45
41 Mapeamento da existecircncia dos iacutendios surdos na microrregiatildeo de Parintins 46
411 Histoacuterico de Parintins 46
412 Histoacuterico de Barreirinha 52
413 Histoacuterico de Maueacutes 53
414 Histoacuterico de Boa Vista do Ramos 55
415 Histoacuterico de Nhamundaacute 56
42 Realidade linguiacutestica e educacional dos iacutendios surdos encontrados na etnia
Satereacute-Maweacute
59
43 Inventaacuterio de gestos da linguagem caseira dos surdos Satereacute-Maweacute 66
431 Os sinais caseiros dos indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute 66
432 Municiacutepio de Parintins 66
4321 O primeiro surdo 67
4322 O segundo surdo 67
4323 O terceiro surdo 68
44 O indiacutegena surdo da comunidade de Ponta Alegre do Municiacutepio de Barreirinha 70
45 Os indiacutegenas surdos do Municiacutepio de Maueacutes 73
451 O primeiro surdo da Comunidade de Santa Maria 75
452 O segundo surdo da Comunidade de Santa Maria 79
5 ICONICIDADE E ARBITRARIEDADE NA CRIACcedilAtildeO DOS SINAIS
CASEIROS
83
6 INTERVENCcedilAtildeO E CONTRIBUICcedilAtildeO LINGUIacuteSTICA DO PROFESSOR
SURDO
90
61 Libras e Liacutengua Satereacute-Maweacute intercacircmbio de construccedilatildeo sociocultural-
linguiacutestico
94
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 97
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 99
ANEXOS
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 Croqui da aacuterea e localidade da pesquisa
FIGURA 2 Sinais caseiros utilizado pela crianccedila de 5 anos
FIGURA 3 Sinais caseiros utilizados pelo aluno da comunidade de Ponta Alegre
Barreirinha
FIGURA 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa
Maria (30 sinais coletados)
FIGURA 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo idoso na comunidade de Santa Maria
FIGURA 6 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos que se refere agrave
arbitrariedade
FIGURA 7 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos aos quais se referem a
iconicidade
FIGURA 8 Caracteriacutesticas da imagem em Liacutengua de Sinais Satereacute-Maweacute dos objetos
aos quais se referem agrave iconicidade
FIGURA 9 Encontro da crianccedila surda Satereacute-Maweacute com o professor surdo
FIGURA 10 Contato com aluno Satereacute-Maweacute surdo no ambiente escolar
FIGURA 11 Contato com o aluno surdo Satereacute-Maweacute na Escola Estadual Brandatildeo de
Amorim
FIGURA 12 Em viagem para aacuterea indiacutegena no Rio Marau
FIGURA 13 Apresentaccedilatildeo do projeto de pesquisa agraves lideranccedilas indiacutegenas na
comunidade
FIGURA 14 Desenvolvimento de oficina de Libras com professores indiacutegenas
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Mapeamento da existecircncia de iacutendios surdos nas respectivas comunidades
indiacutegenas ou zona urbana da microrregiatildeo de Parintins
Tabela 2 11 Sinais caseiros utilizados pela crianccedila indiacutegena surda de 5 anos e seus
familiares
Tabela 3 13 Sinais caseiros coletados e utilizados pelo aluno da comunidade de
Ponta Alegre
Tabela 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa
Maria
Tabela 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais antigo residente isolado na
comunidade de Santa Maria no Rio Marau ( 18 sinais coletados)
56
66
69
73
77
13
INTRODUCcedilAtildeO
Todo cidadatildeo tem o direito de participar na vida poliacutetica social e econocircmica de um
paiacutes Neste contexto inclui-se o cidadatildeo surdo Infelizmente a histoacuteria relata que no passado
os sujeitos surdos1 eram colocados agraves margens da sociedade em todos seus aspectos social
poliacutetico econocircmico cultural linguiacutestico e educacional
Entretanto ao longo da histoacuteria os surdos com a participaccedilatildeo de ouvintes na luta
incessante pelos seus direitos muitas conquistas foram alcanccediladas Entre estas estaacute o direito
de ter sua proacutepria liacutengua a Liacutengua Brasileira de Sinais-LIBRAS A Lei nordm 10436 de 2002 a
qual a reconhece como sistema linguiacutestico de natureza visual-motora com estrutura
gramatical proacutepria constituindo-se um sistema linguiacutestico de transmissatildeo de ideias e fatos
oriundos da comunidade de pessoas surdas do Brasil Conforme Saacute (2006) no Brasil as
comunidades urbanas usam a ldquoliacutengua de sinais brasileirardquo ou simplesmente ldquoliacutengua de sinaisrdquo
Vale ressaltar que a Liacutengua de Sinais segundo Strobel (2008) eacute um aspecto
fundamental da cultura surda2 parte do artefato cultural linguiacutestico
3 do povo surdo e constitui
1 Na aacuterea de pesquisa vinculada a perspectiva socioantropoloacutegica existe uma clara diferenciaccedilatildeo entre a opccedilatildeo
de escrever surdo com letra minuacutescula ou maiuacutescula conforme explica Andreis-Witkoski (2011) ldquoapesar de
nas uacuteltimas deacutecadas ter sido estabelecido uma distinccedilatildeo entre a expressatildeo ldquoSurdordquo com letra maiuacutescula para
identificar uma categoria cultural e ldquosurdordquo com minuacutescula em referecircncia a deficiecircncia auditiva nesta Tese natildeo
se utiliza este tipo de marcaccedilatildeo Compartilha-se da concepccedilatildeo exposta por Owen Wrigley (1996 p53) quando
adverte que esta diferenciaccedilatildeo constitui-se em ldquoum dualismo riacutegido-bom Surdo mau surdo ndash que pouco faz para
ajudar os indiviacuteduos em suas vidas diaacuterias [sem] ajudar a clarear um alcance maior de estrateacutegias colocadas pelos
indiviacuteduos lidando com a exclusatildeo e as muitas faces da opressatildeo em suas rotinas Em termos simples a
dicotomia de bdquoSs‟ estaacute tatildeo cruelmente composta que embora inicialmente seja uacutetil ela agora serve para silenciar
o alcance total das experiecircncias dos sSurdosrdquo (2011 p13) Logo opta-se nesta dissertaccedilatildeo o uso da expressatildeo
ldquosurdordquo (minuacutescula) que refere-se aos ldquosurdordquo enquanto pessoas que pela impossibilidades formam uma
minoria diferente com caracteriacutesticas linguiacutesticas cognitivas culturais e comunitaacuterias especiacuteficas (SAacute 2006
p107) 2 Cultura Surda ldquoeacute o jeito de o surdo entender o mundo e de modificaacute-lo a fim de se tornaacute-lo acessiacutevel e habitaacutevel
ajustando-os com as suas percepccedilotildees visuais que contribuem para a definiccedilatildeo das identidades surdas e das
ldquoalmasrdquo das comunidades surdas Isto significa que abrange a liacutengua as ideacuteias as crenccedilas os costumes e os
haacutebitos de povordquo (STROBEL2008 p 24) 3Conforme Strobel (2008 p37) o que seriam artefatos culturais linguiacutesticos Ao referirmos ldquoartefatordquo
pensamos habitualmente no significado de objetos ou materiais produzidos pelos grupos culturais Realmente de
fato eacute uma forma material de expressar uma determinada cultura poreacutem tambeacutem podem incluir ldquotudo o que se
vecirc e senterdquo quando se estaacute em contato com a cultura de uma comunidade a exemplo vestuaacuterios tradiccedilotildees
crenccedilas valores e normas etc Ou seja no campo dos Estudos Culturais o conceito de ldquoartefatosrdquo natildeo se referem
apenas a materialismo culturais como tambeacutem naquilo que na cultura constitui produccedilotildees do sujeito que tem seu
proacuteprio modo de ser ver entender e transformar o mundo Logo um dos artefatos culturais que ilustram a
cultura do povo surdo eacute o linguiacutestico a liacutengua de sinais que eacute um aspecto fundamental da cultura surda sendo
uma das principais marcas da identidade surda
14
uma das principais marcas da identidade do ser surdo Incluem-se tambeacutem os ldquosinais
emergentesrdquo ou ldquosinais caseirosrdquo dos sujeitos surdos isolados de comunidades surdas no caso
dos surdos das zonas rurais e dos surdos iacutendios Estes surdos embora natildeo pertenccedilam agraves
mesmas comunidades se identificam com o povo surdo4 pois compartilham as mesmas
peculiaridades constroem sua formaccedilatildeo de mundo por meio de artefato cultural visual5
independentemente do grau linguiacutestico que possuem os quais podem ser os gestos caseiros
denominados tambeacutem como sinais emergentes Nesta perspectiva teoacuterica soacutecioantropoloacutegica
enfoca-se como o objeto da pesquisa o sujeito surdo indiacutegena ou seja o iacutendio surdo
Antes de prosseguir com a abordagem mencionada faz-se necessaacuterio destacar que
assim como o povo surdo o povo indiacutegena tambeacutem traccedilou diversas lutas na trajetoacuteria para
reconhecimento dos seus direitos O reconhecimento dos direitos dos povos indiacutegenas no
mundo contemporacircneo avanccedilou muito em relaccedilatildeo haacute algumas deacutecadas passadas De acordo
com Lucinda (apud Saacute 2006) em consenso geral nos debates da Comissatildeo Educaccedilatildeo
Cultura e Desporto que antecedem a elaboraccedilatildeo do texto da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica
Federativa do Brasil de 1988 tanto a liacutengua de sinais como as liacutenguas indiacutegenas deveriam ser
consideradas no texto da Constituiccedilatildeo como liacutenguas maternas Assim como resultado o
Referencial Curricular Nacional para Escolas Indiacutegenas (1998 p31) declara que ldquoA
Constituiccedilatildeo Federal aleacutem de perceber o iacutendio como pessoa com direitos e deveres como
qualquer outro cidadatildeo brasileiro o reconhece como membro de uma comunidade e de um
grupo isto eacute como membro de uma coletividade que eacute titular de direitos coletivos e
especiaisrdquo Ou seja reconhece para os iacutendios o direito agrave praacutetica de suas formas culturais
proacuteprias E no tiacutetulo VIII ldquoDa Ordem Socialrdquo conteacutem um capiacutetulo denominado ldquoDos Iacutendiosrdquo
onde se diz que ldquosatildeo reconhecidos aos iacutendios a sua organizaccedilatildeo social costumes liacutenguas
crenccedilas e tradiccedilotildees []rdquo (ibid p31)
Em meio a essa diversidade linguiacutestica que caracteriza o Brasil como sendo um paiacutes
pluriliacutengue estatildeo situados os ldquosurdos brasileirosrdquo que tecircm sua proacutepria liacutengua reconhecida
oficialmente a Liacutengua de Sinais Logo existem tambeacutem ldquoiacutendios surdosrdquo da etnia Satereacute-
4Quando referimos ldquopovo surdordquo estamos falando ldquode sujeitos surdos que natildeo habitam no mesmo local mas
que estatildeo ligados por uma origem por um coacutedigo de eacutetico de formaccedilatildeo visual independente do grau de evoluccedilatildeo
linguiacutestica tais como a liacutengua de sinais a cultura surda e quaisquer outros laccedilosrdquo (ibid p30) 5Perlin e Miranda (2003) complementam ldquoExperiecircncia visual significa a utilizaccedilatildeo visual em (substituiccedilatildeo total
agrave audiccedilatildeo) como meio de comunicaccedilatildeo Desta experiecircncia visual surge a cultura surda representada pela liacutengua
de sinais pelo modo diferente de ser de se expressar de conhecer o mundo de entrar nas artes no
conhecimento cientiacutefico e acadecircmicordquo (apud STROBEL 2008 p39)
15
Maweacute Qual sua forma de se comunicar Existe uma ldquoLiacutengua de Sinaisrdquo especifica do iacutendio
surdo
Diante das questotildees levantadas surgiu entatildeo agrave necessidade de realizar uma pesquisa
no campo da linguiacutestica na perspectiva dos estudos surdos6 voltado especificamente para o
iacutendio surdo da etnia Satereacute-Maweacute Foram traccedilados os seguintes objetivos i) mapear os iacutendios
surdos na microrregiatildeo de Parintins ii) identificar de que forma o iacutendio surdo estabelece a
comunicaccedilatildeo com sua comunidade especificamente no acircmbito educacional ou se utilizam
liacutenguas de sinais da comunidade local iii) registrar a forma de comunicaccedilatildeo no dia a dia do
iacutendio surdo nas comunidades indiacutegenas a partir dos estudos linguiacutesticos da Liacutengua de Sinais
dos grupos existentes e sua relaccedilatildeo com a comunidade local iv) promover o intercacircmbio entre
a Liacutengua de Sinais dos iacutendios surdos mapeados da etnia Satereacute-Maweacute e a LIBRAS da
comunidade surda do Municiacutepio de Parintins - Amazonas
Este trabalho conteacutem a seguinte divisatildeo primeiro capiacutetulo - apresenta consideraccedilotildees
linguiacutesticas fundamentais aos estudos surdos onde explicita o reconhecimento da Liacutengua de
Sinais como elemento cultural linguiacutestico do povo surdo abordando tambeacutem a oficializaccedilatildeo
da Liacutengua Brasileira de Sinais e as Liacutenguas Indiacutegenas pesquisadas no Brasil como a realidade
do contexto escolar linguiacutestico na comunidade indiacutegena segundo capiacutetulo - relata a histoacuteria
do povo indiacutegena Satereacute-Maweacute sua principal expressatildeo cultural sua liacutengua e seu respectivo
contexto educacional escolar terceiro capiacutetulo - apresenta os procedimentos metodoloacutegicos
utilizados na operacionalizaccedilatildeo da pesquisa e o capiacutetulo quatro - apresenta a anaacutelise do
resultado do Mapeamento dos iacutendios surdos da etnia Satereacute-Maweacute na microrregiatildeo de
Parintins Neste satildeo tambeacutem apresentadas as relaccedilotildees socioculturais-linguiacutesticas de iacutendios
surdos Satereacute-Maweacute com as contribuiccedilotildees linguiacutesticas do professor surdo aos Iacutendios surdos na
comunidade Satereacute-Maweacute estabelecendo assim as relaccedilotildees culturais na construccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo linguiacutestica LIBRAS e Liacutengua Satereacute-Maweacute como um intercacircmbio de construccedilatildeo
sociocultural
Desse modo a pesquisa tem como premissa baacutesica primeiramente mapear os iacutendios
surdos da etnia Satereacute-Maweacute e assim promover um intercacircmbio oferecendo contribuiccedilotildees
linguiacutesticas fundamentadas na pesquisa do leacutexico (vocabulaacuterio) da etnia referida com a Libras
(Liacutengua Brasileira de Sinais) e a Liacutengua Portuguesa por meio da elaboraccedilatildeo de um
6 Conforme Skliar eacute o campo de pesquisa em educaccedilatildeo onde as identidades a liacutenguas a histoacuteria a cultura da
comunidade surda satildeo focalizados e entendidos a partir da diferenccedila a partir do seu reconhecimento poliacutetico
(2001p29)
16
minidicionaacuterio triliacutengue Assim espera-se contribuir para a iniciaccedilatildeo dos indiacutegenas surdos da
etnia Satereacute-Maweacute na Liacutengua Brasileira de Sinais dando a eles um dos direitos universais do
ser humano que eacute direito a uma liacutengua Tambeacutem deseja-se contribuir para a iniciaccedilatildeo dos
indiacutegenas surdos da etnia Satereacute-Maweacute na Liacutengua Brasileira de Sinais dando a eles um dos
direitos universais do ser humano que eacute direito a uma liacutengua proacutepria
17
1 CONSIDERACcedilOtildeES DOS ESTUDOS LINGUIacuteSTICOS DA LIacuteNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
A Linguiacutestica conhecida hoje como a ciecircncia que estuda a linguagem humana eacute uma
ciecircncia recente poreacutem com um saber antigo Passou a se impor como ciecircncia agrave medida que
demonstrou seu meacutetodo e seu objeto de estudo Eacute definida como estudo cientiacutefico que visa
descrever ou explicar a linguagem verbal humana (ORLANDI 1999)
A Linguiacutestica diferencia-se da gramaacutetica tradicional normativa na medida que natildeo
tem como objetivo ditar regras de correccedilatildeo para uso da linguagem Seu interesse eacute a liacutengua
como mateacuteria de reflexatildeo (QUADROS e KARNOPP 2004) Segundo as pesquisas nesta
aacuterea Vandresen (1988 apud QUADROS 2007 p 83) tem-se ldquoa linguiacutestica contrastiva como
uma subaacuterea da linguiacutestica geral interessada em apontar as similaridades e diferenccedilas
estruturais entre a liacutengua materna (de um grupo de alunos) e uma liacutengua estrangeirardquo
Na taxonomia de similaridades e contrastes entre as liacutenguas existe uma seacuterie de
regularidades como haacute similaridades comportamentais que natildeo precisam ser explicitadas
porque constituem a base comum das liacutenguas naturais e o compartilhamento dessas
similaridades poderaacute servir como base para inferecircncias quanto agraves formas da liacutengua estrangeira
e quanto agraves diferenccedilas por serem sistemaacuteticas podem admitir tratamento inferencial e
heuriacutestico (KATO 1988 apud QUADROS 2007)
Segundo Nascimento (2009) a vitalidade da liacutengua depende de sua utilizaccedilatildeo efetiva
tanto em escala nacional quanto em escala mundial Quanto mais uma liacutengua eacute utilizada mais
ela eacute viva e inversamente quanto menos eacute utilizada mais ela eacute ameaccedilada de extinccedilatildeo Assim
sendo eacute o uso social da liacutengua que determina seu grau de revitalizaccedilatildeo
Por essas razotildees a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Linguiacutesticos (BARCELONA
1996 p 3) tem como ponto de partida
[] as comunidades linguiacutesticas e natildeo os Estados e inscreve-se no quadro do
reforccedilo das instituiccedilotildees internacionais capazes de garantir um desenvolvimento
duradouro e equitativo para toda a humanidade e tem como finalidade favorecer um
quadro de organizaccedilatildeo poliacutetica da diversidade linguiacutestica baseado no respeito na
convivecircncia e nos benefiacutecios reciacuteprocos
Em seu TITULO PREacuteVIO tem como conceitos
18
Artigo 1ordm
1 Esta Declaraccedilatildeo entende por comunidade linguiacutestica toda a sociedade humana
que radicada historicamente num determinado espaccedilo territorial reconhecido ou
natildeo se identifica como povo e desenvolveu uma liacutengua comum como meio de
comunicaccedilatildeo natural e de coesatildeo cultural entre os seus membros A denominaccedilatildeo
liacutengua proacutepria de um territoacuterio refere-se ao idioma da comunidade historicamente
estabelecida neste espaccedilo [grifo nosso]
2 Esta Declaraccedilatildeo parte do princiacutepio de que os direitos linguiacutesticos satildeo
simultaneamente individuais e colectivos e adapta como referecircncia da plenitude dos
direitos linguiacutesticos o caso de uma comunidade linguiacutestica histoacuterica no respectivo
espaccedilo territorial entendendo-se este natildeo apenas como a aacuterea geograacutefica onde esta
comunidade vive mas tambeacutem como um espaccedilo social e funcional indispensaacutevel ao
pleno desenvolvimento da liacutengua Eacute com base nesta premissa que se podem
estabelecer em termos de uma progressatildeo ou continuidade os direitos que
correspondem aos grupos linguiacutesticos mencionados no ponto 5 deste artigo e os das
pessoas que vivem fora do territoacuterio da sua comunidade []
Em referecircncia ao Artigo 3ordm
- o direito ao ensino da proacutepria liacutengua e da proacutepria cultura
- o direito a dispor de serviccedilos culturais
- o direito a uma presenccedila equitativa da liacutengua e da cultura do grupo nos meios de
comunicaccedilatildeo
- o direito a serem atendidos na sua liacutengua nos organismos oficiais e nas relaccedilotildees
socioeconomicas []
Em referecircncia ao Artigo 5ordm
Esta Declaraccedilatildeo baseia-se no princiacutepio de que os direitos de todas as comunidades
linguiacutesticas satildeo iguais e independentes do seu estatuto juriacutedico ou poliacutetico como
liacutenguas oficiais regionais ou minoritaacuterias Designaccedilotildees tais como liacutengua regional ou
minoritaacuteria natildeo satildeo usadas neste texto porque apesar de em certos casos o
reconhecimento como liacutengua minoritaacuteria ou regional poder facilitar o exerciacutecio de
determinados direitos a utilizaccedilatildeo destes e doutros adjetivos serve frequentemente
para restringir os direitos de uma comunidade linguiacutestica []
Em referecircncia ao Artigo 23ordm
1 O ensino deve contribuir para fomentar a capacidade de auto-expressatildeo
linguiacutestica e cultural da comunidade linguiacutestica do territoacuterio onde eacute
ministrado[grifo nosso]
2 O ensino deve contribuir para a manutenccedilatildeo e o desenvolvimento da liacutengua falada
pela comunidade linguiacutestica do territoacuterio onde eacute ministrado
3 O ensino deve estar sempre ao serviccedilo da diversidade linguiacutestica e cultural e das
relaccedilotildees harmoniosas entre as diferentes comunidades linguiacutesticas do mundo inteiro
4 No quadro dos princiacutepios anteriores todos tecircm direito a aprender qualquer liacutengua
Em referecircncia aos Artigos 26ordm a 28ordm Artigo 26ordm
Todas as comunidades linguiacutesticas tecircm direito a um ensino que permita a todos os
seus membros adquirirem o perfeito conhecimento da sua proacutepria liacutengua com as
diversas capacidades relativas a todos os domiacutenios de uso da liacutengua habituais bem
como o melhor conhecimento possiacutevel de qualquer outra liacutengua que desejem
aprender
Artigo 27ordm
Todas as comunidades linguiacutesticas tecircm direito a um ensino que permita aos seus
membros o conhecimento das liacutenguas ligadas agrave sua proacutepria tradiccedilatildeo cultural tais
como as liacutenguas literaacuterias ou sagradas usadas antigamente como liacutenguas habituais
da sua comunidade
Artigo 28ordm
Todas as comunidades linguiacutesticas tecircm direito a um ensino que permita aos seus
membros adquirirem um conhecimento profundo do seu patrimocircnio cultural (histoacute-
ria e geografia literatura e outras manifestaccedilotildees da proacutepria cultura) assim como o
melhor conhecimento possiacutevel de qualquer outra cultura que desejem conhecer
(BARCELONA 1996 p 4 a 14)
19
Assim nas Disposiccedilotildees Finais no Plenaacuterio da Associaccedilatildeo Internacional para o
Desenvolvimento da Comunicaccedilatildeo Intercultural recomenda agraves Naccedilotildees Unidas que tomem as
medidas necessaacuterias agrave adopccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de uma Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos
Linguiacutesticos considerando a Convenccedilatildeo nuacutemero 169 da Organizaccedilatildeo Internacional do
Trabalho de 26 de Junho de 1989 relativa aos povos indiacutegenas em paiacuteses independentes que
a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Colectivos dos Povos realizada em Maio de 1990 em
Barcelona declara que todos os povos tecircm direito a exprimir e a desenvolver a sua cultura a
sua liacutengua e as suas normas de organizaccedilatildeo e para o fazerem a dotarem-se de estruturas
poliacuteticas educacionais de comunicaccedilatildeo e de administraccedilatildeo puacuteblica proacuteprias em quadros
poliacuteticos diferentes Considerando tambeacutem a Declaraccedilatildeo Final da Assembleia Geral da
Federaccedilatildeo Internacional de Professores de Liacutenguas Vivas aprovada em Peacutecs (Hungria) em 16
de Agosto de 1991 recomenda-se tambeacutem que os direitos linguiacutesticos sejam consagrados
direitos fundamentais
Neste contexto Nascimento (2009 p 25) pontua
Como princiacutepio eacutetico qualquer poliacutetica de liacutenguas deveraacute trabalhar a unidade e a
diversidade Natildeo se trata de poacutelos de contradiccedilatildeo mas de eixos de transiccedilatildeo A
unidade eacute uma razatildeo do Estado e a diversidade ou variedade eacute a mateacuteria linguiacutestica
proacutepria da comunidade pois reflete a liacutengua em uso ou seja as linguagens verbais
por meio das quais os indiviacuteduos se comunicam A unidade eacute resguardada pelo
padratildeo oficializado em um modelo de gramaacutetica e a variedade se faz representar nas
diversas gramaacuteticas praacuteticas e pragmaacuteticas de um Estado linguiacutestico
Quadros e Karnopp (2004) ainda explicam que a linguiacutestica parte de pressupostos
baacutesicos que determinam as investigaccedilotildees Sendo um dos mais importantes eacute de que a
linguagem eacute restringida por determinados princiacutepios ou seja ldquoregrasrdquo que fazem parte do
conhecimento humano das liacutenguas (falada ou sinalizada) da formaccedilatildeo de palavras da
construccedilatildeo das sentenccedilas e da construccedilatildeo dos textos A partir deste pressuposto da
universalidade de tais princiacutepios as investigaccedilotildees linguiacutesticas objetivam estudar os aspectos
especiacuteficos de cada liacutengua os quais revelam as caracteriacutesticas da linguagem humana A
exemplo o inglecircs o portuguecircs a Liacutengua de Sinais Americana a Liacutengua Brasileira de Sinais
e outras Embora apresentem diferenccedilas entre as liacutenguas agraves estruturas satildeo comuns que por
sua vez interessam agraves investigaccedilotildees linguiacutesticas na medida em que eacute a ciecircncia que objetiva
por explicar a natureza da linguagem humana
A partir dessas concepccedilotildees entendemos que os seres humanos estabelecem relaccedilotildees
do mais simples ao mais complexo com o outro por meio de gestos olhares e contato seja
por meio de sons Tudo isso caracteriza a linguagem humana Observa-se que a ldquolinguagemrdquo
20
eacute um termo usado pelas pessoas com referecircncia agrave linguagem em geral ou seja em uma
variedade de sentidos para denominar sistemas de comunicaccedilatildeo linguagem musical
linguagem corporal linguagem entre animais etc
No que concerne agrave definiccedilatildeo do termo liacutengua Quadros e Karnopp (2004) encontraram
uma seacuterie de definiccedilotildees de liacutengua que apontam para sua diferenciaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao termo
linguagem Estas fornecem subsiacutedios para a indicaccedilatildeo de propriedades consideradas pela
linguiacutestica essenciais agraves liacutenguas naturais sendo que uma delas eacute dada por Saussure que
afirma
Liacutengua natildeo se confunde com a linguagem eacute somente uma parte determinada
essencial dela indubitavelmente Eacute ao mesmo tempo um produto social da
faculdade de linguagem e um conjunto de convenccedilotildees necessaacuterias adotadas pelo
corpo social para permitir o exerciacutecio dessa faculdade nos indiviacuteduos (QUADROS e
KARNOPP 2004 p24)
Portanto entende-se como liacutengua natural
uma liacutengua que foi criada e eacute utilizada por uma comunidade especiacutefica de usuaacuterios
transmitida de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo e que muda ndash tanto estrutural como
funcionalmente ndash com o passar do tempo Ora qualquer liacutengua pode ser considerada
natural independentemente da modalidade que utilize (SAacute 2006 p 134)
Assim a liacutengua natural eacute tratada enquanto sistema linguiacutestico altamente desenvolvido
apresentando as caracteriacutesticas citadas por Quadros e Karnopp (2004 p 25-28) de
flexibilidade versatilidade arbitrariedade descontinuidade criatividade produtividade dupla
articulaccedilatildeo padratildeo de organizaccedilatildeo dos elementos e dependecircncia estrutural Logo conclui-se
que tais caracteriacutesticas satildeo especiacuteficas da faculdade da linguagem humana
11 Liacutengua de Sinais como Liacutengua Natural
A Liacutengua de Sinais eacute uma liacutengua natural criada pelas comunidades surdas Segundo
Skliar (1998 p26) ldquoTodas as crianccedilas surdas podem adquirir a Liacutengua de Sinais desde que
participem das interaccedilotildees quotidianas com a comunidade surda como acontece com qualquer
outra crianccedila na aquisiccedilatildeo de uma liacutengua naturalrdquo Skliar esclarece que liacutengua ldquonaturalrdquo natildeo
se refere a uma espontaneidade bioloacutegica mas como liacutengua que foi criada e eacute utilizada por
uma comunidade especiacutefica de usuaacuterios que transmite de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo e que muda com
o passar do tempo tanto estruturalmente como funcionalmente (IDEM p27)
As Liacutenguas de Sinais satildeo diferentes em cada comunidade com caracteriacutesticas das
liacutenguas orais com estruturas gramaticais proacuteprias que as distingue dos demais sistemas de
21
comunicaccedilatildeo Para Quadros e Karnopp (2004 p 30) ldquoAs liacutenguas de sinais satildeo portanto
consideradas pela linguiacutestica como liacutenguas naturais ou como um sistema linguiacutestico legiacutetimo e
natildeo como um problema do surdo ou como uma patologia da linguagemrdquo7
Para o reconhecimento das Liacutenguas de Sinais como liacutenguas naturais Ramos (2013 p
8) destaca o conceito ldquonaturalrdquo em oposiccedilatildeo a ldquocoacutedigo e linguagemrdquo e a avaliaccedilatildeo apresenta
as semelhanccedilas existentes entre as mesmas e as liacutenguas orais Sendo que uma dessas
semelhanccedilas na linha saussuriana eacute a ldquoexistecircncia de unidades miacutenimas formadoras de
unidades complexas pode ser observada em todas as Liacutenguas de Sinais espalhadas pelo
mundo possuidoras dos niacuteveis fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico e pragmaacuteticordquo
As liacutenguas de sinais apresentam ldquoregistros diversos (por categoria profissional status social
idade niacutevel escolar etc) aleacutem de dialetos regionais tambeacutem referendam as semelhanccedilas com
as liacutenguas oraisrdquo (IDEM p 8)
Estudos aprofundados sobre a Liacutengua de Sinais iniciaram a partir da deacutecada de 1950
com o estudioso da linguiacutestica o americano William Stokoe o qual percebeu e provou que a
Liacutengua de Sinais
[] satisfazia todos os criteacuterios linguiacutesticos de uma liacutengua genuiacutena no leacutexico na
sintaxe na capacidade de gerar um nuacutemero infinito de proposiccedilotildees [] Stokoe
convenceu-se de que os sinais natildeo eram figuras e sim complexos siacutembolos abstratos
com uma estrutura interna complexa Foi entatildeo o primeiro a buscar uma estrutura a
analisar os sinais dissecaacute-los procurar as partes constituintes Desde o comeccedilo ele
tentou demonstrar que cada sinal possuiacutea pelo menos trecircs partes independentes ndash
7 Sobre a surdez temos duas abordagens segundo explica Skliar a cliacutenico terapecircutica e a soacutecio-antropoloacutegica
A visatildeo soacutecioantropoloacutegica descreve a surdez em termos contraacuterios agraves noccedilotildees de patologia e de deficiecircncia
(1998 p10) Durante o seacuteculo passado construi-se o imaginaacuterio de que o surdo era um deficiente que
necessitava falar Segundo Casarin (1996 p2) ldquoNesse discurso deacuteficit doenccedila patologia anomalia implicam
apenas a possibilidade de sequumlecircncia diagnoacutestico tratamento-cura caracteriacutesticas da abordagem meacutedicardquo [] Tal
concepccedilatildeo influecircnciou outras aacutereas do conhecimento inclusive na educaccedilatildeo sobre a forma de perceber o surdo
Cesarian ainda explica que a partir daiacute foram assimilando o imaginaacuterio de que a surdez era uma doenccedila e que o
surdo por natildeo falar era um deficiente que precisava ser curado construindo entre as aacutereas de tratamento um
modelo terapecircutico para o deficiente auditivo Apoacutes as influecircncias da medicina na educaccedilatildeo dos surdos o
modelo cliniacuteco-terapecircutico passa a impor propostas educativas do oralismo dando continuidade agora na aacuterea
educacional ao tratamento do deficiente o mais cedo possivel na escola a fim que ele se enquadre ao modelo
normal modelo ouvinte Logo as escolas apresentavam como instituiccedilotildees de reeducaccedilatildeo da fala desenvolvendo
atividades pedagoacutegicas que tinham como objetivo o treinamento e exerciacutecios com fins a trazer o surdo o mais
possiacutevel do ldquonormalrdquo Perde-se assim muito tempo no processo de ensino aprendizado do sujeito surdo levando
a um fracasso escolar Surge entatildeo a nova concepccedilatildeo nomeada como soacutecio-antropoloacutegica de surdez totalmente
oposta agrave anterior Essa concepccedilatildeo parte das capacidades do sujeito quando considera a liacutengua de sinais como
melhor garantia para o desenvolvimento normal do surdo Esta nova concepccedilatildeo traz a valorizaccedilatildeo da lingua de
sinais e como consequecircncia o reconhecimento das especificidade culturais das comunidades surdas Estudos
feitos por linguiacutesticas observaram o desempenho escolar de pessoas surdas que se comunicam desde a infacircncia
por meio da Liacutengua de Sinais e que demostraram ganhos significativos em divesas aacutereas do desenvolvimento
humano Deixando claro a necessidade do uso da Liacutengua de Sinais como liacutengua natural da pessoa surda (1996
p 3)
22
localizaccedilatildeo configuraccedilatildeo das matildeos e movimento executado (anaacuteloga aos fonemas
da fala) ndash e que cada parte apresentava um nuacutemero limitado de combinaccedilotildees []
(SACKS 1998 p 88-89)
Segundo Ramos (2013 p 9) em 1988 o venezuelano Saacutenchez fez pesquisas sobre as
liacutenguas de sinais e os resultados apresentou ao educador francecircs Jean Foucambert No debate
sobre suas pesquisas ldquosurgiu agrave proposta de um tipo de educaccedilatildeo que privilegiasse a liacutengua
natural da comunidade surda - a Liacutengua de Sinais Venezuelana e a escrita da liacutengua da
comunidade oral o Espanholrdquo Um dos primeiros princiacutepios que lanccedilou a base para a que a
liacutengua de sinais fosse reconhecida como liacutengua natural foi descrita por Foucambert (RAMOS
2013 p 10)
Natildeo soacute os surdos mas toda e qualquer crianccedila pode aprender a liacutengua escrita sem
basear-se na oral porque satildeo independentes Em segundo lugar chegou-se agrave
afirmaccedilatildeo de que a liacutengua de sinais eacute uma liacutengua natural e que os surdos satildeo uma
comunidade linguiacutestica minoritaacuteria com direito a desenvolver sua cultura proacutepria
dentro da cultura majoritaacuteria O fato de a Liacutengua de Sinais cumprir uma seacuterie de
requisitos que todas as liacutenguas naturais possuem - espanhol portuguecircs alematildeo
inglecircs polonecircs a criatividade eacute um deles - pode-se sempre dizer alguma coisa
nova Outro requisito eacute a combinaccedilatildeo de partiacuteculas natildeo significativas que usadas de
certa maneira criam significaccedilatildeo [] Com 30 40 configuraccedilotildees da matildeo podem-se
transmitir milhares de sinais significativos como os fonemas da liacutengua oral A
liacutengua de sinais que como as liacutenguas nacionais eacute diferente em cada paiacutes e ateacute em
regiotildees dos paiacuteses possui aleacutem do mais uma gramaacutetica toda proacutepria organizada e
complexa e nos permite transmitir qualquer coisa [] Com ela pode-se transmitir
criar e recriar o que se quiser poesia romance filosofia E pode-se ateacute formular
ideacuteias com duplo sentido ou mentir que eacute outra caracteriacutestica das liacutenguas naturais
Por meio das pesquisas e estudos diversos paiacuteses passaram a se dedicar no campo da
linguiacutestica da Liacutengua de Sinais eacute que criou-se a possibilidade do povo surdo lutar pelo seu
reconhecimento enquanto liacutengua na medida em que pode contar com estudos que provam
cientificamente de que as Liacutenguas de Sinais satildeo de fato liacutenguas e natildeo um conjunto de
miacutemica
12 Liacutengua Brasileira de Sinais
O ser humano se expressa atraveacutes da liacutengua e a partir dela estabelece sua cultura
valores e padrotildees sociais Para os surdos brasileiros a Libras estabelece essas condiccedilotildees pois
considera a modalidade visual-espacial e associa caracteriacutesticas sociolinguiacutesticas as funccedilotildees
pragmaacuteticas e discursivas semelhantes agraves liacutenguas orais poreacutem a Liacutengua de Sinais por muito
tempo natildeo foi percebida enquanto estrutura linguiacutestica
23
A LIBRAS como toda Liacutengua de Sinais eacute uma liacutengua de modalidade gestual-visual
uma vez que faz uso para a comunicaccedilatildeo de movimentos gestuais e expressotildees faciais
percebidos pela visatildeo Neste sentido a Revista Feneis Ramos (2002 apud RAMOS 2013 p
7-8) ldquoa Liacutengua Portuguesa eacute uma liacutengua de modalidade oral-auditiva por utilizar como canal
ou meio de comunicaccedilatildeo sons articulados que satildeo percebidos pelos ouvidosrdquo Suas diferenccedilas
estatildeo na utilizaccedilatildeo de canais diferentes e nas estruturas gramaticais de cada liacutengua
Para Campello (2009) historicamente os primeiros estudos da Liacutengua de Sinais
apareceram no seacuteculo XIV exatamente nos anos de 1644 pelo inglecircs Bulwer J B com o livro
de Liacutengua de Sinais Inglesa Chirologia8 on the natural language of the hand com os estudos
destacando as figuras das matildeos e seus significados Menciona tambeacutem que era recompensa
de natureza que os surdos devam se comunicar atraveacutes dos gestos e acreditava firmemente na
ldquonecessidade que opera a Natureza dos homens que nascem Surdos-Mudos que podem
discutir mostrar sinalizar retoricamente por sinaisrdquo (p 13)
Em 1960 W C Stokoe pesquisador inglecircs da Gallaudet University fez uma pesquisa
entre as gramaacuteticas utilizadas pelos surdos em sala de aula e fora dela e os resultados foram
publicados no artigo Sign Language Structure na outline of the visual communication system
of the American Deaf na revista Studies in Linguistics Occassional Papers 8 (CAMPELLO
2009) E eacute a partir destes estudos que Stokoe afirma que a Liacutengua de Sinais eacute liacutengua
Stokoe (1960) ldquopercebeu e comprovou que a liacutengua de sinais atendia a todos os
criteacuterios linguiacutesticos de uma liacutengua genuiacutena no leacutexico na sintaxe e na capacidade de
gerar uma quantidade infinita de setenccedilasrdquo Stokoe observou que os sinais natildeo eram
imagens mas siacutembolos abstratos complexos com uma complexa estrutura interior
[] Comprovou inicialmente inicialmente que cada sinal apresentava pelo menos
trecircs partes independentes (em analogia com os fonemas da fala) ndash a localizaccedilatildeo a
configuraccedilatildeo de matildeos e o movimento ndash e que cada parte possuiacutea um nuacutemero
limitado de combinaccedilotildees [] (QUADROS E KARNOPP 2004 p 30-31)
Os estudos do linguiacutesta representou o primeiro passo para outras pesquisas em relaccedilatildeo
a Liacutengua de Sinais Em diversos paiacuteses pesquisas foram realizadas O Brasil foi um deles
No Brasil no final dos anos de 1970 a proposta da educaccedilatildeo biliacutengue reconhece a
Libras como liacutengua natural portanto deve ser ensinada como primeira liacutengua desde o iniacutecio
da escolarizaccedilatildeo da crianccedila surda e a comunidade surda reconhece o portuguecircs como a liacutengua
oficial do Brasil e deve ser ensinada como segunda liacutengua na forma oral ou escrita
(SLOMSKI 2010)
8 Bulwer (1644) em seu livro esclarece que a quirologia eacute um dicionaacuterio de gestos manuais e quirema eacute um
manual para o uso efetivo do gesto de falar em puacuteblico
24
Segundo Quadros (2009 p144) no entanto a Liacutengua de Sinais comeccedilou a ser
investigada efetivamente nas deacutecadas de 80 e 90 por Ferreira Brito (1986 1995) Felipe
(1992 1993) Quadros (1995 1999) e a aquisiccedilatildeo da Liacutengua Brasileira de Sinais nos anos 90
(Karnopp (1994 1999 Quadros (1995 1997)
Na deacutecada de 1980 a 1990 tem-se um panorama mundial para a abordagem biliacutengue
na educaccedilatildeo de surdos Slomski (2010 p 61) destaca que em 1994 Lucinda Ferreira Brito
passa a utilizar a abreviaccedilatildeo de LIBRAS (Liacutengua Brasileira de Sinais) criada pela comunidade
surda Consequentemente pesquisas estudos e lutas da comunidade surda contribuiacuteram para a
instauraccedilatildeo de uma poliacutetica linguiacutestica da Liacutengua Brasileira de Sinais A que reconhece o
estatuto linguiacutestico legal por meio da Lei 10436 de 24042002
Art 1ordm Eacute reconhecida como meio legal de comunicaccedilatildeo e expressatildeo a Liacutengua
Brasileira de Sinais ndash Libras e outros recursos de expressatildeo e por ela associados
Paraacutegrafo uacutenico Entende-se como Liacutengua Brasileira de Sinais ndash Libras a forma e
comunicaccedilatildeo e expressatildeo em que o sistema linguiacutestico de natureza visual-motora
com estrutura gramatical proacutepria constituem um sistema linguiacutestico de transmissatildeo
de ideias e fatos oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil
[](BRASIL 2007 p 2)
A Liacutengua de Sinais como jaacute mencionado eacute uma liacutengua natural composta por de todos
os componentes agraves liacutenguas orais como gramaacutetica semacircntica pragmaacutetica sintaxe e outros
elementos preenchendo os requisitos cientiacuteficos para ser considerado um sistema linguiacutestico
Conforme Felipe e Monteiro (2004 p23) as Liacutenguas de Sinais satildeo compostas por
signos linguiacutesticos denominados bdquosinais‟ encontrados nos seguintes paracircmetros
Configuraccedilatildeo das Matildeos Ponto de Articulaccedilatildeo Movimento Orientaccedilatildeo Expressatildeo Facial eou
Corporal Estes paracircmetros satildeo requisitos necessaacuterios para que sejam constituiacutedos os sinais
Portanto a Liacutengua de Sinais eacute considerada como liacutengua natural do sujeito surdo
como sua primeira liacutengua-L1 Jaacute a liacutengua majoritaacuteria de um paiacutes no caso do Brasil eacute a
Liacutengua Portuguesa como L2 Partindo do pressuposto que a Liacutengua de Sinais eacute a primeira
liacutengua do surdo a aquisiccedilatildeo da primeira liacutengua pelas crianccedilas surdas deve se dar de forma
natural no contato com surdos sinalizados pertencentes agrave comunidade surda A Liacutengua
Portuguesa por sua vez eacute aprendida de forma sistemaacutetica ou seja precisa ser ensinada por
meio de teacutecnicas especiacuteficas de ensino de segunda liacutengua
A partir desta compreensatildeo as crianccedilas surdas precisam ter a oportunidade do contato
com seus pares Crianccedilas surdas que natildeo tecircm um conviacutevio com surdos por terem nascido
dentro de familias ouvintes que usam a liacutengua oral precisam que os pais familiares
25
oportunizem a elas o mundo essencialmente visual-espacial para conhecer a Liacutengua de
Sinais Sobre a questatildeo Quadros (2005 p30) afirma
As crianccedilas surdas e seus pais ouvintes poderiam compartilhar o bilinguismo liacutengua
portuguesa e liacutengua de sinais brasileira e ir aleacutem descobrindo os vieses das culturas
e identidade que se entrecruzam [] Assim as crianccedilas surdas precisam ter acesso
agrave liacutengua de sinais com sinalizantes fluentes desta liacutengua muito cedo Estes
sinalizantes satildeo pessoas que normalmente natildeo fazem parte do ciacuterculo de pessoas
que a crianccedila usualmente teria contato Os pais teratildeo que conhecer comunidade
surda que usa esta liacutengua
Nesta perspectiva Souza (apud QUADROS 2005) menciona que se no iniacutecio do seu
desenvolvimento a crianccedila surda tiver a chance de contar com pais dispostos a aprenderem a
liacutengua de sinais com adultos surdos colegas surdos e conversarem ldquosinalizandordquo a
dimensatildeo do seu processo educacional seraacute outra A aquisiccedilatildeo da liacutengua seraacute transferida para
o espaccedilo escolar ldquoO fato de passar a ter contato com a liacutengua portuguesa com significado
trazendo seus conceitos adquiridos na sua proacutepria liacutengua possibilitaraacute um processo muito
mais significativordquo (ibid p33)
Por isso eacute de importacircncia fundamental a crianccedila surda esteja em contato linguiacutestico
com a liacutengua de sinais o mais cedo possiacutevel seja com a comunidade surda ou com seus pais
ouvintes que adquiriram a Liacutengua de Sinais como L2 Estes fatores iratildeo influenciar a crianccedila
estabelecer a sua identidade e cultura surda naturalmente Neste sentido Fantinel (1999 p2)
menciona que ldquoo uso da Liacutengua de Sinais eacute uma condiccedilatildeo fundamental na construccedilatildeo da
identidade dessas pessoas pois eacute o fator que os aproxima e reuacutene em grupos permitindo-lhes
expressarem-se construindo significados para a vidardquo
A Liacutengua de Sinais portanto eacute um aspecto fundamental da cultura surda Para tanto
Strobel (2008 p44) ainda enfatiza que para que o sujeito surdo possa ter acesso agraves
informaccedilotildees e conhecimentos aleacutem de construir sua identidade eacute fundamental criar uma
ligaccedilatildeo com o povo surdo que usa a sua liacutengua em comum pois a Liacutengua de Sinais eacute uma das
principais marcas da identidade de um povo surdo uma particularidade da cultura surda uma
forma de comunicaccedilatildeo que capta as experiecircncias visuais dos sujeitos surdos E somente a
partir do uso desta liacutengua que a crianccedila conseguiraacute seu pleno desenvolvimento cognitivo
psicoloacutegico emocional e cultural proporcionando assim a aquisiccedilatildeo do conhecimento
universal
Desta forma ao refletirmos sobre a pessoa surda na construccedilatildeo de sua identidade e
cultura surda entende-se que o contato linguiacutestico eacute essencial Logo o que dizer das pessoas
26
surdas que vivem isoladas de comunidades surdas que natildeo tem esse contato com Liacutengua de
Sinais Sobre esta realidade Strobel esclarece que
No entanto incluem tambeacutem os gestos denominados ldquosinais emergentesrdquo ou ldquosinais
caseirosrdquo dos sujeitos surdos de zonas rurais ou sujeitos isolados de comunidades
surdas que procuram entender o mundo atraveacutes dos experimentos visuais e que
procuram comunicar apontando e criando sinais [] (ibidem p44)
Ainda sobre a questatildeo Vilhalva (2012 p 30) ressalta que ldquo[] Os sinais emergentes
tambeacutem conhecidos como sinais caseiros satildeo essenciais quando vistos como comunicaccedilatildeo
natural usada em um espaccedilo familiar ou social []rdquo Nesse caso podemos referir ao iacutendio
surdo que vive isolado do contato com a comunidade surda Este surdo tambeacutem se identifica
com o povo surdo apesar de natildeo ter contato e de natildeo pertencer agraves mesmas comunidades
surdas na medida em que de acordo com Strobel (2008) eles compartilham as mesmas
peculiaridades ou seja constroem sua formaccedilatildeo de mundo atraveacutes de artefato cultural visual
13 Liacutenguas de Sinais Indiacutegenas pesquisadas no Brasil
Os registros da existecircncia de iacutendios surdos segundo Vilhalva (2008) apontam para o
Estatuto do Iacutendio - Lei nordm 6001 de 19121973 que norteou as relaccedilotildees do Estado brasileiro
com as populaccedilotildees indiacutegenas ateacute a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 em seu Paraacutegrafo
uacutenico do Art 1ordm assegura
Aos iacutendios e agraves comunidades indiacutegenas se estende a proteccedilatildeo das leis do Paiacutes nos
mesmos termos em que se aplicam aos demais brasileiros resguardados os usos
costumes e tradiccedilotildees indiacutegenas bem como as condiccedilotildees peculiares reconhecidas
nesta Lei
Neste sentido no Brasil a liacutengua oficial eacute a Liacutengua Portuguesa Fossile (2013 p 4)
afirma que ldquoo paiacutes conta atualmente segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatiacutestica (IBGE) com aproximadamente 210 liacutenguas sendo 190 delas indiacutegenasrdquo Essas
liacutenguas indiacutegenas satildeo consideradas como liacutenguas minoritaacuterias sem importacircncia em relaccedilatildeo ao
portuguecircs No entanto algumas possuem mais prestiacutegio em relaccedilatildeo agraves outras
Em relaccedilatildeo ao conhecimento da liacutengua e da diversidade na dinacircmica soacutecio-cultural das
populaccedilotildees indiacutegenas deveria haver prioridades para estudos no campo linguiacutestico para
acadecircmicos e pesquisadores indios De fato o conhecimento das liacutenguas faladas e no
contexto tem-se essa diversidade para iacutendios surdos deveria ser compartilhada com a
27
sociedade indiacutegena de forma que esta possam participar ativamente na elaboraccedilatildeo de poliacuteticas
e programas que respondam agraves suas necessidades seus direitos considerando-se em particular
suas culturas e liacutenguas
Segundo Vilhalva (2008) pesquisas no campo da linguiacutestica e de poliacuteticas linguiacutesticas
avanccedilaram consideravelmente no Brasil Tendo poreacutem ainda uma grande necessidade de
maiores pesquisas principalmente referente a diferentes Liacutenguas de Sinais pertencentes a
diferentes comunidades como as dos povos indiacutegenas Neste sentido a autora argumenta
A Liacutengua de Sinais Indiacutegenas praticadas pelos iacutendios surdos existentes em diversas
comunidades indiacutegenas do paiacutes traz consigo caracteriacutesticas culturais e linguiacutesticas
variadas bdquoInfelizmente raramente satildeo registradas como satildeo registradas outras liacutenguas
brasileiras de diferentes comunidades com suas especificidades culturais e eacutetnicas ‟
(VILHALVA 2008 p 29)
Sobre a questatildeo Nonaka coloca que
desde 1960 quando se iniciaram os estudos linguiacutesticos e antropoloacutegicos em
referecircncia agraves Liacutenguas de Sinais a maior parte das investigaccedilotildees tem incidido sobre
as Liacutenguas de Sinais nacionais ou padratildeo usadas pelos surdos de diferentes paiacuteses
com escassa atenccedilatildeo agraves Liacutenguas de Sinais usadas pelos indiacutegenas em sua
comunicaccedilatildeo original (apud VILHALVA 2012 p 30)
Por isso Vilhalva defende a comunicaccedilatildeo dos iacutendios surdos como objeto de estudo da
linguiacutestica afirmando que
[] Sabemos tambeacutem que a Libras estaacute presente nas terras indiacutegenas
apontando que a influecircncia aconteceraacute Sendo assim consideramos quanto o leacutexico
das liacutenguas estaacute no processo de mudanccedilas atraveacutes do neologismo espontacircneo ou o
empreacutestimo linguiacutestico de outras liacutenguas (ibid p37)
Observa-se que os estudos sobre a Libras nas terras indiacutegenas comeccedilaram na deacutecada
de 1980 com pesquisas da brasileira Lucinda Ferreira Brito sobre a Liacutengua Brasileira de
Sinais Segundo Slomski (2010) Lucinda Ferreira Brito iniciou sua pesquisa atraveacutes de um
padratildeo internacional de abreviaccedilatildeo das Liacutenguas de Sinais adotando a sigla LSCB ndash Liacutengua de
Sinais dos Centros Urbanos Brasileiros para diferenciaacute-la da LSKB ndash Liacutengua de Sinais
Kaapor Brasileiros que eram a utilizada pelos iacutendios do Estado do Maranhatildeo
Diante do panorama exposto se faz necessaacuterio no campo da linguiacutestica dos estudos
surdos pesquisas sobre a Liacutengua de Sinais usadas pelos iacutendios surdos nas diferentes
comunidades indiacutegenas para que seja reconhecida e registrada Infelizmente somente uma
28
liacutengua indiacutegena eacute oficialmente reconhecida no Brasil a Liacutengua de Sinais Indiacutegena da
comunidade Urubu-Kaapor devido ao alto iacutendice de surdos
131 Liacutengua de Sinais Urubu-Kaapor
Os resultados do Censo 2010 (IBGE 2013) apontam para 274 liacutenguas indiacutegenas
faladas por indiviacuteduos pertencentes a 305 etnias diferentes Embora haja a necessidade de
estudos linguiacutesticos e antropoloacutegicos mais aprofundados quanto aos nuacutemeros totais de liacutengua
e etnia
Dentro desse universo a uacutenica Liacutengua de Sinais indiacutegena reconhecida conforme
referido anteriormente eacute a utilizada pela etnia indiacutegena brasileira dos Urubu-Kaapor9
chamados tambeacutem por urubus-caapores Os estudos sobre essa Liacutengua de Sinais apontam para
o iniacutecio da deacutecada de 1950
De acordo com Ribeiro (1996 apud FASSILE 2013 p 2)
Em 1950 foi descoberto no Brasil um grupo indiacutegena atraveacutes de pesquisas
antropoloacutegicas os Urubu-Kaapor na floresta Amazocircnica (Maranhatildeo) que falava
uma variaccedilatildeo da liacutengua de sinais Somente a partir da deacutecada de 1980 estudos
linguiacutesticos relacionados agrave Liacutengua de Sinais Kaapor Brasileira (LSKB) foram
aprofundados (sobre a LSKB cf KAKUMASU J KAKUMASU K 1977)
Segundo Brito (1993 apud FASSILE 2013 p 2) J Kakumasu defendeu que ldquo[] a
Liacutengua de Sinais dos Urubu-Kaapor [] [se constituiacutea como] um veiacuteculo de comunicaccedilatildeo
intratribal e natildeo como meio de transaccedilatildeo comercialrdquo Neste sentido resgata-se que
No Brasil Lucinda Brito inicia seus importantes estudos linguiacutesticos em
1982 sobre a Liacutengua de Sinais dos iacutendios Urubu-Kaapor da floresta amazocircnica
brasileira apoacutes um mecircs de convivecircncia com os mesmos documentando em filme
sua experiecircncia A ideia para a pesquisa adveio da leitura de um artigo publicado no
livro de Umiker-Sebeok (1978) de autoria de J Kakumasu Urubu Sign Language
No estudo a Liacutengua de Sinais dos Urubu-Kaapor se diferenciaria da PSL por
constituir um veiacuteculo de comunicaccedilatildeo intratribal e natildeo como meio de transaccedilatildeo
comercial Lucinda Brito poreacutem constatou que a mesma se tratava de uma legiacutetima
Liacutengua de Sinais dos surdos pelos mesmos criados
O interessante de se observar no caso dos Urubu-Kaapor eacute que os ouvintes da
aldeia falam a Liacutengua de Sinais e a liacutengua oral evidentemente enquanto que os
surdos se restringem agrave Liacutengua de Sinais Assim os ouvintes da aldeia se tornam
biliacutengues enquanto os surdos se mantecircm monoliacutengues (RAMOS 2011 p 6)
9 Disponiacutevel emlthttpwwwlibrascombrurubu-kaaporgt Acesso em 19112013
29
A Liacutengua Kaapor eacute uma liacutengua da famiacutelia Tupi-Guarani natildeo falada por outra tribo ou
povo exceto como segunda liacutengua Possuem uma liacutengua de sinais proacutepria (a Liacutengua Brasileira
de Sinais Kaapor) usada tanto pela comunidade surda do povo como tambeacutem por seus
membros natildeo surdos na comunicaccedilatildeo com os surdos
[] os Kaapor satildeo linguisticamente peculiares na Amazocircnia por terem uma
linguagem padratildeo de sinais usada para a comunicaccedilatildeo com os surdos que ateacute a
metade dos anos 80 compunham cerca de 2 da totalidade de sua populaccedilatildeo A
incidecircncia de surdez deveu-se evidentemente agrave bouba neonatal e endecircmica que foi
erradicada10
O interessante eacute que a comunidade indiacutegena desenvolveu uma forma proacutepria de
comunicaccedilatildeo por sinais que comeccedilou a ser estudada na deacutecada de 1960 pelo pesquisador
canadense James Kakumasu em (1968) e em seguida pela linguista brasileira Linguista
Lucinda Ferreira Brito ldquo[] A Liacutengua de Sinais Brasileira para diferenciaacute-la da LSKB
(Liacutengua de Sinais Kaapor Brasileira) utilizados pelos iacutendios Urubu-Kaapor no Estado do
Maranhatildeordquo (GOLDFELD 1997 p 30) A pesquisadora registrou a existecircncia da Liacutengua de
Sinais Kaapor em sua pesquisa sobre termos baacutesicos para cores em Liacutengua de Sinais
132 Liacutengua de Sinais Emergentes
Vilhalva (2012) se preocupou sobre a situaccedilatildeo linguiacutestica dos iacutendios surdos trazendo
grandes contribuiccedilotildees cientiacuteficas na aacuterea da linguiacutestica referente agraves Liacutenguas de Sinais
Indiacutegenas Sua pesquisa iniciou em 1991 com iacutendios surdos na comunidade indiacutegena de Satildeo
Marcos
O estudo dos sinais emergentes que se deseja apresentar objetiva natildeo apenas
recuperar os registros sobre as liacutenguas padratildeo mas tambeacutem e sobretudo procurar
realizar um levantamento de como se apresenta atualmente o uso desses sinais
emergentes e ateacute mesmo da histoacuteria da produccedilatildeo desses sinais para que se possa
fazer o registro cientifico sobre a situaccedilatildeo linguiacutestica dos iacutendios surdos dentro das
escolas indiacutegenas [] (VILHALVA 2012 p11a)
Souza e Segala (2009 p28) abordam que a maior parte das liacutenguas nasceu do
contato entre duas ou mais liacutenguas ou de uma liacutengua e sistemas de sinais caseiros (Liacutengua de
Sinais Primaacuteria) Observa-se que ldquosinais caseiros ou Liacutengua de Sinais Primaacuterios
correspondentes aos gestos ou construccedilatildeo simboacutelica inventadas no acircmbito familiar eacute comum
10
Disponiacutevel emlthttppibsocioambientalorgptpovokaaporgt Acesso em 19112013
30
a constituiccedilatildeo de um sistema convencional de comunicaccedilatildeo entre matildee-ouvinte e crianccedila
surdardquo
Sobre a origem dos sinais emergentes Vilhalva explica que
[] os sinais emergentes foram criados devido a uma necessidade de comunicaccedilatildeo
passando por sinais indicativos icocircnicos e arbitraacuterios A maneira como cada sinal
surge levam tempo para se entender principalmente quando os sinais satildeo criados
conforme o neologismo11
Esses novos sinais passam a fazer parte da comunicaccedilatildeo
para depois designar algo consistentemente como acontece tambeacutem agraves liacutenguas
orais-auditivas (2012 p137-138)
Desta forma a autora em sua pesquisa argumenta que os sinais emergentes
considerados em seu estudo como Liacutengua de Sinais constituem como o meio de
comunicaccedilatildeo primaacuteria dos iacutendios surdos das comunidades indiacutegenas do Mato Grosso do Sul
Partindo deste achado Rousseau jaacute mencionava em seus estudos ldquoEnsaio sobre a origem das
liacutenguasrdquo que
O uso e a necessidade ensinam a cada um a liacutengua de seu paiacutes mas o que eacute que faz
com que essa liacutengua seja a de seu proacuteprio paiacutes e natildeo a de um outro [] No
momento em que um homem foi reconhecido por um outro como um ser sensiacutevel
pensante e semelhante a ele o desejo ou a necessidade de comunicar-lhe os proacuteprios
sentimentos e os proacuteprios pensamentos fez com que procurasse os meios de fazecirc-lo
(2008 p 97)
Assim o primeiro contato do ser humano eacute com o outro da mesma espeacutecie No caso da
matildee com seu filho Conforme Sacks (1998 p 7) comenta que
[] a primeira comunicaccedilatildeo geralmente se daacute entre matildee e filho e a liacutengua eacute
adquirida emerge entre eles dois Sendo assim Os sinais emergentes tambeacutem satildeo
fruto da linguagem num processo visual usados pelos surdos indiacutegenas e seus
familiares ouvintes na interaccedilatildeo com o meio (VILHALVA 2012 p 137)
Vilhalva (2012) entatildeo percebeu a predominacircncia dos gestos caseiros criados pelos
proacuteprios surdos para interagirem com suas famiacutelias e com as pessoas que os rodeiam Ou
seja a crianccedila surda que nasce na famiacutelia de ouvinte comeccedila a criar a partir de um meio de
comunicaccedilatildeo visual usando todas as formas naturais possiacuteveis desde o apontamento ateacute os
gestos naturais O uso que destes sinais criados pelas necessidades do ambiente familiar com
o passar do tempo vatildeo se convencionando a forma de interaccedilatildeo dialoacutegica passando a
transformar-se em um meio de comunicaccedilatildeo essencial resultando assim no processo
11
Satildeo palavras criadas para designar novas situaccedilotildees novos conceitos fatos objetos etc sendo que um
neologismo soacute eacute sentido como tal durante algum tempo pois passados anos ou seacuteculos deixa de ter sentido
como tal porque a realidade que ele designa jaacute natildeo eacute nova
31
evolutivo dos sinais familiares para os sinais emergentes para transiccedilatildeo para a Liacutengua de
Sinais ou seja arbitraacuteria convencional Esse processo se daacute por meio do processo cognitivo
fundamentada na teoria de Cuxac
Construccedilatildeo do dizer a partir do processo criativo de performance gestual Iconizando
da experiecircncia perceptivo-praacutetica Rotinas de Transferecircnciandashpassagem da ilustraccedilatildeo
especifica para a categorizaccedilatildeo geneacuterica Sinais estabelecidos num grupo reduzido
categorias e generalizaccedilotildees dos sinais gestuais Nasce uma liacutengua de Sinais com
todas as propriedades de uma liacutengua (apud VILHALVA 2012 p138)
Vilhalva (2012) ainda destaca que se observarmos a Lei nordm 10436 de 24 de abril de
2002 vamos verificar que em seu artigo primeiro ldquoficam reconhecidos como meio legal de
comunicaccedilatildeo e expressatildeo a Liacutengua Brasileira de Sinais-Libras ndash e outros recursos de
expressatildeo a ela associadosrdquo Nesses bdquooutros recursos‟ podem figurar segundo compreensatildeo
da mesma os sinais emergentes produzidos nas comunidades indiacutegenas Se a Liacutengua
Brasileira de Sinais uma forma de comunicaccedilatildeo e expressatildeo cujo canal de produccedilatildeo e
recepccedilatildeo eacute de natureza visual-motora com estrutura gramatical proacutepria constituindo um
sistema linguiacutestico de transmissatildeo de ideias e fatos oriundos de comunidades de pessoas
surdas no Brasil conforme estaacute na lei eacute compreensivo dizer que nada fala sobre um padratildeo de
sinalizaccedilatildeo (p34)
Conclui-se que conforme pesquisa da autora citada os estudos dos sinais emergentes
mostraram que este eacute o ponto inicial das novas Liacutenguas de Sinais que segundo a mesma
merecem ser aprofundadas
1321 Realidade do contexto educacional escolar do indiacutegena surdo
Vilhalva (2012) destaca que o indiviacuteduo surdo soacute teraacute um sistema gestual linguiacutestico
organizado no contato do agrupamento comunitaacuterio especificamente da comunidade surda
com o contato com a Liacutengua de Sinais E isso muitas vezes acontece em geral somente no
acircmbito escolar biliacutengue onde haacute outros surdos inteacuterpretes e professores ouvintes que fazem
uso da Liacutengua de Sinais Por isso eacute essencial uma escola que respeite a diversidade linguiacutestica
como no caso desta comunidade Desta forma se faz necessaacuterio presenccedila na escola de
inteacuterpretes vindo das cidades mais proacuteximas das terras indiacutegenas de modo que
32
[] o Professor ministra as aulas em Portuguecircs e tem disciplina em Guarani
Observamos que pelo fato de os professores da pedagogia diferenciada indiacutegena
realizarem sua formaccedilatildeo em universidades locais onde o assunto em torno da surdez
e da Libras satildeo discutidos estes profissionais tecircm uma formaccedilatildeo que respeita natildeo soacute
a cultura e a liacutengua indiacutegena mas tambeacutem a cultura e a Liacutengua de Sinais
caracteriacutesticas que estatildeo presentes nas escolas indiacutegenas biliacutengues em que a liacutengua
de instruccedilatildeo eacute o Guarani-Portuguecircs(VILHALVA 2012 p 11b)
Poreacutem o que natildeo eacute o caso da escola Araporatilde mencionada por Vilhalva (2012) que teve
preferecircncia do inteacuterprete indiacutegena para a preservaccedilatildeo da cultura liacutengua e saber Foi observado
na pesquisa que os indiacutegenas surdos com vinte anos de idade em diante demonstram
seguranccedila ao sinalizar com o pesquisador surdo usando seus sinais emergentes de forma
natural Os mais novos de escolas indiacutegenas mas da mesma comunidade indiacutegena natildeo
demonstraram o uso de sinais emergentes e sim apresentaram diretamente sua comunicaccedilatildeo
em Libras Entretanto os resultados apontam que natildeo haacute como dizer se o atendimento
educacional para o iacutendio surdo estaacute acontecendo em todas as comunidades indiacutegenas ldquopois
interfere numa questatildeo de respeitar o que diz o proacuteprio plano de educaccedilatildeo sobre uma visatildeo
amplamente ligada agrave liacutengua cultura e diversidade nas escolas e terras indiacutegenasrdquo (ibid p36)
Nesta oacutetica se realmente as poliacuteticas linguiacutesticas fossem mais enfaacuteticas em suas
propostas de realizar a planificaccedilatildeo linguiacutestica incluindo a criaccedilatildeo de escolas biliacutengues e de
legislaccedilotildees especiacuteficas para as questotildees referentes agraves liacutenguas o indiviacuteduo indiacutegena surdo
poderia ter seus direitos linguiacutesticos assegurados
Neste sentido resgata-se o Referencial Curricular Nacional para Escolas Indiacutegenas
(1998) o qual menciona que
[] as tradiccedilotildees culturais os conhecimentos acumulados a educaccedilatildeo das geraccedilotildees
mais novas as crenccedilas o pensamento e a praacutetica religiosa as representaccedilotildees
simboacutelicas a organizaccedilatildeo poliacutetica os projetos de futuro enfim a reproduccedilatildeo
sociocultural das sociedades indiacutegenas satildeo na maioria dos casos manifestaccedilotildees
atraveacutes do uso de uma liacutengua Mesmo os povos indiacutegenas que satildeo hoje monoliacutengues
em liacutengua portuguesa continuam a usar a liacutengua de seus ancestrais como um siacutembolo
poderoso para onde confluem muitos de seus traccedilos identificatoacuterios construindo
assim um quadro de bilinguismo simboacutelico importante [grifo nosso]
Ou seja assim como para o surdo urbano brasileiro eacute reconhecida legalmente sua
liacutengua natural - Libras e a Liacutengua Portuguesa como segunda liacutengua -L2 para o indiacutegena surdo
deveria ser assegurado o mesmo direito para aprender esta forma de comunicaccedilatildeo ndash Liacutengua de
Sinais como primeira liacutengua e como segunda liacutengua a Liacutengua de sua etnia na modalidade
33
escrita Sendo portanto biliacutengue ou ainda triliacutengue com aquisiccedilatildeo da Liacutengua Portuguesa
tambeacutem na modalidade escrita
Nesta perspectiva observa-se que Saacute (2011 p33) afirma que tanto indiacutegenas como
surdos tecircm uma liacutengua proacutepria e uma cultura diferenciada Entatildeo porque natildeo ser reconhecida
legalmente a Liacutengua de Sinais utilizada pelos iacutendios surdos e a Liacutengua de sua comunidade
Como bem percebido por Vilhalva haacute a carecircncia de pesquisas voltadas para o registro de
liacutengua de sinais entre os iacutendios surdos brasileiros o que certamente constitui-se em um dos
fatores que favorecem a existecircncia desta lacuna na legislaccedilatildeo E que tal fato deveria ser um
despertar para pesquisadores da linguiacutestica sejam ouvintes ou surdos
34
2 A HISTOacuteRIA DO POVO INDIacuteGENA SATEREacute-MAWEacute CULTURA E LIacuteNGUA
Os povos indiacutegenas durante muito tempo foram considerados como povos sem
histoacuteria e sem uma liacutengua proacutepria Poreacutem com as muitas lutas eacutetnicas com estudos
antropoloacutegicos e com as abordagens historiograacuteficas iniciou-se uma valorizaccedilatildeo da
sociedade indiacutegena passando assim o povo indiacutegena a ser perspectivado nas suas
singularidades histoacutericas culturais e linguiacutesticas
Vale ressaltar que quando se refere a ldquoliacutenguasrdquo sabe-se que natildeo haacute apenas uma liacutengua
indiacutegena Existem muitos povos ou etnias indiacutegenas distintas As liacutenguas indiacutegenas no Brasil
se agrupam em famiacutelias linguiacutesticas ou seja famiacutelias que tecircm semelhanccedilas entre si e que satildeo
agrupadas por sua vez em troncos linguiacutesticos assim como as liacutenguas isoladas12
ou seja
liacutenguas que natildeo parecem ter parentesco com nenhuma das famiacutelias linguiacutesticas conhecidas
Segundo Rodrigues (2002) as famiacutelias indiacutegenas estatildeo agrupadas em Tronco
Linguiacutestico Tupi famiacutelia Tupi-Guarani (Akwaacutewa Amanayeacute Anambeacute Apiakaacute Araweteacute
Asurini Avaacute Guajaacute Guarani Kamayuraacute Kayabi Suryiacute Kaiwaacute) famiacutelia Munduruku
(Kuruaacuteya Mundurukuacute) Famiacutelia Tupari (Makuraacutep Tupari Wayoroacute) Famiacutelia Arikeacutem
(Karitiaacutena) Famiacutelia Juruna (Juruna) Famiacutelia Mondeacute (Aruaacute Cinta-Larga Gaviatildeo Mekeacutem
Mondeacute Suruiacute Zoroacute) Famiacutelia Ramaraacutema (Araacutera Itoqapuk) Outras Liacutenguas (Aweti
Puruboraacute Satereacute-Maweacute) entre outros troncos linguiacutesticos como Macro-Jecirc e sua diversidade
de famiacutelias existentes entre elas as liacutenguas isoladas
Um desses povos indiacutegenas foi o da etnia Satereacute-Maweacute Estes sofreram muitas
influecircncias em seu modo de vida advinda do contato com grupos natildeo indigenas que implicou
no processo de perda de muitos dos seus aspectos culturais A histoacuteria relata que o contato se
deu pela chegada dos colonizadores e posteriormente das missotildees religiosas E na atualidade
por ocupantes de terras como fazendeiros madeireiros emigrantes de outros Estados Foram
perdas irreparaacuteveis todavia como elo de resistecircncia procuraram sustentar em sua estrutura
original sua liacutengua
12
Segundo Rodrigues (2002 p93) liacutenguas isoladas refere-se as liacutenguas isoladas linguisticamente ou seja
liacutenguas que natildeo revelam parentesco geneacutetico com nenhuma outra Natildeo pertencem a nenhuma famiacutelia (ou tronco)
isto eacute constituem famiacutelias de um soacute membro
35
21 Breve Relato Histoacuterico
A histoacuteria do povo indiacutegena Satereacute-Maweacute tem sido foco de estudos dos diversos
segmentos de pesquisas como as realizadas por antropoacutelogos historiadores religiosos e
cientistas da linguagem Estes relatam a origem a liacutengua e a cultura desse povo
Uggeacute (1993 p 5) informa que ldquoOs Maueacutes descendentes das tribos indiacutegenas
denominadas no passado pelo nome de ANDIRAacute e MARAGUAacute que faz parte da aacuterea cultural
Tapajoacutes-Madeira entre a divisa dos atuais Estados do Paraacute e Amazonasrdquo O autor ainda
menciona que cronistas exploradores missionaacuterios antropoacutelogos naturalistas do passado
identificaram os Maueacutes tambeacutem com outros nomes (Maooz Mabueacute Jaquezes Manguases
Mahueacutes Mauris Maweacute Maragua e Maraguazes)
A origem do nome Satereacute-Maweacute advem dos termos Satereacute (lagarta vermelha) que eacute o
nome do clatilde dos antigos chefes e Maweacute (papagaio inteligente guerreiro e curioso) que eacute o
nome mais comum de um dos grupos tribais que conseguiram sobreviver agrave extinccedilatildeo das
numerosas tribos indiacutegenas da ilha Tupinambarana do Meacutedio Amazonas (IDEM) Cerqua13
faz referecircncia agrave primeira notiacutecia sobre o povo Satereacute-Maweacute ldquoEacute por volta de 1669 quando o
Pe Betendorf duas vezes superior provincial dos jesuiacutetas lembra a ldquovila dos Maguasesrdquo
grafia antiga de Maueacutes [] (1980 p 209)rdquo ou seja Maueacutes foi residecircncia missionaacuteria mas
natildeo permanente dos padres pois os mesmos residiam mais em Tupinambarana (rio
Amazonas) atual Parintins e visitavam Maueacutes temporariamente
A etnia Satereacute-Maweacute sofreu muitas mudanccedilas de localidades devido muitos fatores
que contribuiacuteram para o deslocamento desse povo segundo explica Lorez apud Teixeira
(2005 p21)
Devido agraves guerras com os Munduruku e Parintintim e ao contato com os
portugueses os Satereacute-Maweacute perderam grande parte de seu territoacuterio original Em
1691 os Maweacute surgem na cartografia regional com o nome de Mabueacute(mapa do
Padre Samuel Fritz) Missotildees foram localizadas para os iacutendios Magueacute denominadas
Satildeo Joatildeo (Pinhel) e Santo Inaacutecio (Boim) Posteriormente em 1835 lutando ao lado
dos Munduruku e dos Mura como tambeacutem de outras tribos indiacutegenas do rio Negro
os Satereacute-Maweacute aderiram ao movimento cabano ateacute que em 1839 o conflito foi
debelado Devido agraves epidemias agraves lutas e agraves perseguiccedilotildees aos povos indiacutegenas que
combatiam ao lado dos cabanos enormes aacutereas da Amazocircnia foram devastadas o
que provocou deslocamentos desses grupos populacionais de seus territoacuterios
ancestrais e de populaccedilatildeo Segundo relatos de viajantes desde o seacuteculo XVIII o
territoacuterio dos Satereacute-Maweacute vem sendo paulatinamente reduzido Essa reduccedilatildeo se
deu a partir das tropas de resgate que penetraram grandes aacutereas da Amazocircnia da
implantaccedilatildeo de missotildees jesuiacutetas e carmelitas ao longo dos principais rios
13
Dom Arcacircngelo Bispo Prelado de Parintins de 1980
36
amazocircnicos da ldquobusca desenfreadardquo das drogas do sertatildeo com a exploraccedilatildeo da
borracha durante o seacuteculo XIX e iniacutecio do XX e por fim da ldquoexpansatildeo econocircmica
das cidades de Maueacutes Barreirinha Parintins e Itaituba para o interior dos
municiacutepios alocando fazendas extraindo pau-rosa abrindo garimpos dominando a
economia indiacutegena atraveacutes de regatotildeesrdquo As cidades de Maueacutes Parintins e Itaituba
inclusive foram fundadas sobre restos de malocas dos Satereacute-Maweacute
Cerqua (1980 p265) destaca a localizaccedilatildeo dessa tribo delimitando que ldquoA tribo estaacute
localizada em sua maioria no Alto Andiraacute e no Marau afluente do Rio Maueacutes e sua aacuterea de
cerca de 639500 ha foi demarcada pelo Decreto nordm 76999rdquo Atualmente segundo Teixeira
(apud ALVAREZ 2009) os Satereacute-Maweacute hoje satildeo grupos de 8500 indiacutegenas dos quais 7502
moram na terra indiacutegena Andiraacute-Marau nos municiacutepios de Barreirinha Maueacutes e Parintins e
aproximadamente mil residem em aacutereas urbanas destes municiacutepios Sendo que outro grupo
vive na terra indiacutegena Coataacute-Laranjal junto ao grupo Munduruku e no municiacutepio de Borba
Uggeacute (1993) comenta que os Satereacute-Maweacute sempre tiveram vontade de manter a
proacutepria identidade tribal contudo eram carentes de apoio praacutetico para ajudaacute-los a enfrentar o
perigo do mundo moderno que tentavam ldquoinvadi-losrdquo Ou seja manipulaccedilotildees externas entre a
lideranccedila indiacutegenas dos Satereacute-Maweacute o alcoolismo a dependecircncia a violecircncia dos ldquobrancosrdquo
eram os maiores perigos para este povo Satereacute-Maweacute
Poreacutem o foco de resistecircncia manteve vivo no povo Satereacute aspectos culturais
importantes como o ritual da tucandeira O ritual eacute um marco na vida dos homens porque satildeo
chamados pela formiga (tucandeira) caso o indiacutegena natildeo atenda o chamado a formiga o
levaraacute a loucura ateacute chegar agrave morte A tucandeira eacute uma divindade muito respeitada pelos
Satereacute-Maweacute Em determinado momento da histoacuteria do povo Satereacute-Maweacute o ritual da
tucandeira chegou ao ponto de natildeo ser mais praticado em decorrecircncia da imposiccedilatildeo religiosa
mas apoacutes perceberam a grande perda cultural que isso representaria voltaram a praticaacute-lo a
recuperando como parte de sua cultura
22 Classificaccedilatildeo da liacutengua Satereacute-Maweacute
Segundo Teixeira (2005) a anaacutelise da situaccedilatildeo linguiacutestica do povo Satereacute-Maweacute
baseia-se na concepccedilatildeo defendida por antropoacutelogos e linguistas que a liacutengua se configura
como um importante instrumento da cultura e da identidade de uma populaccedilatildeo
A populaccedilatildeo indiacutegena Satereacute-Maweacute pertence vaacuterios aspectos agrave famiacutelia Linguiacutestica
Tupi Rodrigues (apud ALVAREZ 2009 p17) aborda que a liacutengua da tribo Satereacute-Maweacute eacute a
37
uacutenica liacutengua de uma famiacutelia do tronco Tupi E sua classificaccedilatildeo linguiacutestica como pertencente
ao tronco Tupi foi dada pelo etnoacutegrafo Curt Nimuendajuacute (1948)
A liacutengua Satereacute-Maweacute integra o tronco linguiacutestico Tupi Segundo o etnoacutegrafo Curt
Nimuendajuacute (1948) ela difere do Guarani-Tupinambaacute Os pronomes concordam
perfeitamente com a liacutengua Curuaya-Munduruku e a gramaacutetica ao que tudo indica
eacute tupi O vocabulaacuterio Maweacute conteacutem elementos completamente estranhos ao Tupi
mas natildeo pode ser relacionada a nenhuma outra famiacutelia linguiacutestica Desde o seacuteculo
XVIII seu repertoacuterio incorporou numerosas palavras da liacutengua geral
Os homens atualmente satildeo biliacutengues falando o Satereacute-Maweacute e o portuguecircs mas a
maioria das mulheres apesar de trecircs seacuteculos de contato com os brancos soacute fala a
liacutengua Satereacute-Maweacute (TEIXEIRA 2005 p95)
A liacutengua Satereacute-Maweacute eacute falada tradicionalmente por quase todas as comunidades haacute
mais de 300 anos entretanto foi inevitaacutevel para os indiacutegenas Satereacute-Maweacute conhecer os
haacutebitos e a liacutengua portuguesa devido agrave invasatildeo dos europeus em suas terras no seacuteculo passado
o que causou a mistura de liacutenguas e consequentemente as influecircncias dos padrotildees culturais
natildeo indiacutegenas
Os Satereacute-Maweacute foram entatildeo forccedilados a se refugiarem nas zonas urbanas e ateacute mesmo
em outros estados Outro impacto que alterou o modo de falar dos liacutederes indiacutegenas foi a
necessidade de buscar apoio logiacutestico para suas comunidades principalmente para tratar da
sauacutede de sua populaccedilatildeo que sofria de doenccedilas como malaacuteria tuberculose sarampo e outras
por eles desconhecidas que causaram muitas mortes
Desta forma com o passar dos anos a liacutengua Satereacute-Maweacute sofreu influecircncias lexicais
e fonoloacutegicas do Nheengatu na regiatildeo do Andiraacute Pesquisas realizadas recentemente por
Teixeira (2005) delimitam um perfil linguiacutestico que permite conhecer um pouco mais da
cultura linguiacutestica Satereacute-Maweacute sendo esta considerada por meio da distribuiccedilatildeo geograacutefica e
etaacuteria dos que falam e natildeo falam o idioma Satereacute-Maweacute Desta feita segundo o autor
O idioma Satereacute-Maweacute eacute mais falado na aacuterea do Marau que nas demais (Andiraacute
Uaicurapaacute e Koataacute-Laranjal) Tanto na aacuterea do Andiraacute como no Marau o idioma
materno eacute falado por praticamente todas as comunidades situadas proacuteximo agraves
cabeceira dos rios (Alto Andiraacute e Alto Marau) Para as aacutereas mais proacuteximas das
cidades os falantes atingem a quase totalidade dos moradores do Baixo Marau Jaacute
no baixo Andiraacute esse nuacutemero aumenta bastante nas duas comunidades mais
proacuteximas de Parintins e Barreirinha ou seja Ponta Alegre e Guaranatuba As aacutereas
de povoamento mais recente (Uaicurapaacute Koataacute-Laranjal e mais duas no Andiraacute) tecircm
tendecircncia a apresentar proporccedilotildees menores de falantes do idioma Satereacute-Maweacute
(ibid p95)
38
O autor esclarece que moradores em terras indiacutegenas satildeo mais falantes da Liacutengua
Satereacute-Maweacute do que os que moram proacuteximo ou dentro da aacuterea urbana A pesquisa ainda
mostra agrave necessidade de sensibilizar a comunidade indiacutegena Maweacute sobre a importacircncia da
valorizaccedilatildeo de sua liacutengua agrave recuperaccedilatildeo de suas memoacuterias histoacutericas e a reafirmaccedilatildeo de suas
identidades eacutetnicas
221 Contexto educacional escolar entre os Satereacute-Maweacute
O contexto educacional Satereacute-Maweacute tem como base o reconhecimento constitucional
fundamentado na legislaccedilatildeo em vigor segundo a qual ldquosatildeo reconhecidos aos iacutendios sua
organizaccedilatildeo social costumes liacutenguas crenccedilas e tradiccedilotildees []rdquo
Por isso fundamentos gerais da educaccedilatildeo escolar indiacutegena baseiam-se na proposta do
Referencial Curricular Nacional para Escolas Indiacutegenas (1998) que contempla
Multietnicidade pluralidade e diversidade 2 Educaccedilatildeo e conhecimentos indiacutegenas 3
Autodeterminaccedilatildeo 4 Comunidade educativa indiacutegena 5 Educaccedilatildeo intercultural
comunitaacuteria especiacutefica e diferenciada Assim
Parte do sistema nacional de educaccedilatildeo a escola indiacutegena eacute um direito que deve ser
assegurado por uma nova poliacutetica puacuteblica a ser construiacuteda atenta e respeitosa frente
ao patrimocircnio linguiacutestico cultural e intelectual dos povos indiacutegenas Esse esforccedilo
de projetar uma nova educaccedilatildeo escolar indiacutegena soacute seraacute realmente concretizado com
a participaccedilatildeo direta com os principais interessados ndash os povos indiacutegenas atraveacutes de
suas comunidades educativas [] A participaccedilatildeo da comunidade no processo
pedagoacutegico da escola fundamentalmente na definiccedilatildeo dos objetivos dos conteuacutedos
curriculares e no exerciacutecio das praacuteticas metodoloacutegicas assume papel necessaacuterio para
a efetividade de uma educaccedilatildeo especifica e diferenciada (ibid p24)
Poreacutem para que de fato seja garantida uma educaccedilatildeo diferenciada natildeo eacute suficiente
que somente os conteuacutedos sejam ensinados atraveacutes do uso das liacutenguas maternas mas se faz
necessaacuterio que se incluam os conteuacutedos curriculares propriamente indiacutegenas assim como os
modos proacuteprios de transmissatildeo deste saber Em pesquisa realizada pela revista Amazocircnia
(AMAZONAS 2000) intitulada como ldquoA silenciosa revoluccedilatildeo dos Iacutendiosrdquo o povo Satereacute-
Maweacute foi considerada um dos melhores exemplos para se falar em educaccedilatildeo indiacutegena Tal
afirmaccedilatildeo foi proferida pelo antropoacutelogo Ademir Ramos (professor da Universidade do
Estado do Amazonas) Segundo o entrevistado a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 mudou a
postura em relaccedilatildeo aos iacutendios estabelecendo um processo de educaccedilatildeo diferenciada que
39
fomenta o orgulho de aprender sua lingua tambeacutem no ambiente escolar possibilitando relatos
como o transcrito abaixo
Alunos como Dati 11 da aldeia de Molongotuba carregam com orgulho a cartilha
bdquoMoweeghap onde estatildeo registrados escritos ndash liacutengua Satereacute do tronco tupi e
desenhos de situaccedilotildees do cotidiano das aldeias falando de peixes aves aacutervores e
animais A liacutengua o menino aprendeu a falar com os pais e depois na escola onde
haacute quatro anos aprendeu a escrevecirc-la Aleacutem disso ele tem aprendido tambeacutem a
bdquoliacutengua dos brancos‟
Ainda sobre a importacircncia desta perspectiva educacional em nota o vice-presidente
da organizaccedilatildeo dos professores indiacutegenas Satereacute Gecinaldo Cabral comentou sobre a
mesma enfatizando a relevacircncia do processo educacional na vida dos iacutendios da tribo Satereacute
que por serem biliacutengues satildeo capazes de expressarem e defenderem o seu povo Portanto ao
ensinar a liacutengua nativa agraves crianccedilas promovem o resgate da cultura tradiccedilatildeo e conhecimentos
indiacutegenas Uma educaccedilatildeo diferenciada natildeo resumida na liacutengua majoritaacuteria ou seja Liacutengua
Portuguesa mas na liacutengua proacutepria das etnias E desta forma sendo respeitada a diversidade
cultural de cada povo
Nesta perspectiva Teixeira (2005) em sua pesquisa descreve que a realidade do
contexto educacional escolar do povo Satereacute-Maweacute explicando que
O quadro situacional dos Satereacute-Maweacute no que concerne agrave escolarizaccedilatildeo e agrave
escolaridade apresenta elementos que devem ser entendidos natildeo soacute como resultado
da aplicaccedilatildeo de poliacuteticas educacionais mas tambeacutem como explicitaccedilatildeo de estrateacutegias
poliacuteticas usadas pelos iacutendios na negociaccedilatildeo de visibilidade e reconhecimento no
espaccedilo puacuteblico brasileiro A busca dos Satereacute-Maweacute por escola explicitada na
forma de documentos reivindicatoacuterios enviados ao poder puacuteblico solicitando
recursos para suas escolas demonstrarem os conhecimentos escolares e a
certificaccedilatildeo que a escolaridade concede importantes instrumentos de luta no
processo histoacuterico de construccedilatildeo de sua identidade cultural e de desenvolvimento de
seus projetos sociais (ibid p103)
O autor tambeacutem evidecircncia que a escolarizaccedilatildeo ainda natildeo estaacute alcanccedilando a totalidade
dos Satereacute-Maweacute sendo assim
[] com idade compreendida entre 7 e 24 anos nem nas aacutereas urbanas onde se
verifica o maior percentual de matriacuteculas (839) nem nas terras indiacutegenas (596)
Se forem consideradas as pessoas que tecircm entre 7 e 17 anos de idade os percentuais
sobem bastante mas ainda demonstram a falta de acesso da populaccedilatildeo satereacute-maweacute
agrave escola A pior situaccedilatildeo ocorre na aacuterea indiacutegena onde aproximadamente 13 dos
indiviacuteduos dessa faixa etaacuteria estatildeo fora da escola Na aacuterea urbana o percentual dos
que estatildeo fora eacute de 8 Aparentemente o elevado percentual de pessoas entre 7 e 17
40
anos de idade que estatildeo fora da escola em aacuterea indiacutegena deveria estar relacionado
com a ausecircncia de ensino fundamental de 4ordf a 8ordf seacuterie nas aldeias
No entanto isto eacute apenas uma parte da justificativa pois de 142 pessoas dessa faixa
etaacuteria que natildeo frequentam a escola apenas 32 (225) declararam ter concluiacutedo a
quarta seacuterie do ensino fundamental ou seja poderiam estar fora da escola por falta
do ensino de 5ordf a 8a seacuterie na aacuterea indiacutegena Aleacutem disso 148 crianccedilas entre 7 e 14
anos de idade natildeo frequentam a escola significando que haacute problemas na oferta de
vagas para as crianccedilas satereacute-maweacute na aacuterea indiacutegena Dessas crianccedilas mais da
metade se concentra em apenas 14 aldeias22 das quais 4 compreendendo as
pequenas comunidades de Satildeo Luiacutes Limoal Tigre a Arumatuba no Andiraacute natildeo tecircm
nenhuma crianccedila estudando Na aldeia de Tabatinga no Andiraacute apenas uma das
cinco crianccedilas moradoras estatildeo estudando e na de Santo Antocircnio tambeacutem no
Andiraacute 12 entre 16 crianccedilas de 7 a 14 anos natildeo frequentam a escola(TEIXEIRA
2005 p 104)
Segundo o autor nas cidades de Maueacutes Parintins e Barreirinha a escola frequentada
pelos Satereacute-Maweacute natildeo se define como escola indiacutegena nem tatildeo pouco como especiacutefica ou
diferenciada Talvez seja uma realidade encontrada em todas as escolas indiacutegenas no
Amazonas O que se configura em um problema na medida em que segundo Sobrinho
(2011) a escola esta definida a partir de um modelo da ldquoescola dos brancosrdquo que certamente
altera interferindo diretamente nas questotildees culturais que fazem parte do universo desses
povos gerando assim processo de exclusatildeo O autor ainda comenta que
mesmo diante da resoluccedilatildeo nordm 112011 do Conselho Estadual de Educaccedilatildeo que traz
garantias aos indiacutegenas independentemente de onde vivam ao respeito a sua liacutengua
conhecimentos e tradiccedilotildees proacuteprias nas escolas essa lei passa completamente
despercebida (ibid p 209)
Sobre a questatildeo Teixeira (2005) menciona que nas terras indiacutegenas onde estaacute em
curso a criaccedilatildeo da escola indiacutegena com educaccedilatildeo escolar especiacutefica e diferenciada - as taxas
de escolarizaccedilatildeo deixam evidente que o poder puacuteblico tem investido somente nas seacuteries
iniciais do ensino fundamental o qual apresenta o percentual de 871 de taxa liacutequida de
escolarizaccedilatildeo ou seja natildeo haacute oferta regular para as seacuteries finais do ensino fundamental nem
de ensino meacutedio Isso sem relatar a falta de formaccedilatildeo de professores indiacutegenas entre outros
fatores conforme Franceschini apresenta
A necessidade de formaccedilatildeo especiacutefica e diferenciada de nuacutemero maior de
professores principalmente para atuar nos segmentos mais adiantados do Ensino
Fundamental a implantaccedilatildeo de mais turmas de 6ordm ao 9ordm anos e do Ensino Meacutedio na
aacuterea indiacutegena construccedilatildeo-reflexatildeo do Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico das escolas
Satereacute-Maweacute associada a uma praacutetica pedagoacutegica condizente e a construccedilatildeo de
material didaacutetico proacuteprio satildeo necessidades urgentes do povo Satereacute-Maweacute Pois
apesar da legislaccedilatildeo vigente dar aos indiacutegenas o direito de escolherem seu modelo
educacional e ensinarem sua liacutengua e etnoconhecimentos na maioria das escolas das
41
comunidades Satereacute-Maweacute o modelo educacional adotado natildeo se diferencia muito
do modelo das escolas rurais da regiatildeo sendo que a liacutengua e os etnoconhecimentos
indiacutegenas natildeo constituem de fato conhecimentos que fazem parte do programa
educacional e que satildeo trabalhados de forma sistemaacutetica na escola (2012 p5)
Portanto os resultados apresentados pelo pesquisador comprovam que as accedilotildees
governamentais para educaccedilatildeo escolar indiacutegena estatildeo distantes de cumprir na sua plenitude
preceitos constitucionais o que implica em prejuiacutezo natildeo soacute na educaccedilatildeo escolar indiacutegena
como na proacutepria cultura desse povo
42
3 METODOLOGIA IMPLEMENTADA NA PESQUISA
A metodologia utilizada neste trabalho deu iniacutecio com o estudo bibliograacutefico e
pesquisa de campo Realizou-se uma investigaccedilatildeo primeiramente sobre os estudos surdos na
perspectiva linguiacutestica e cultural a posteriormente na literaturas e estudos sobre os iacutendios da
etnia Satereacute-Maweacute tomando como princiacutepio a origem os fundamentos e a histoacuteria do povo e
da Liacutengua Satereacute-Maweacute Na sequecircncia a concretizaccedilatildeo da pesquisa de campo com a
investigaccedilatildeo do objeto de estudo o iacutendio surdo e sua situaccedilatildeo sociolinguiacutestica da etnia Satereacute-
Maweacute
Figura 1 ndash Croqui da aacuterea e localidade da pesquisa
Fonte Mapa do Estado do Amazonas Censo 2010 ndash IBGE
Organizado por Vicente de Paulo Silva de Azevedo
31 Aacuterea e localidade da pesquisa
A proposta do processo investigativo para o mapeamento do objeto da pesquisa foi
demarcada delimitando a aacuterea do campo da pesquisa a Microrregiatildeo de Parintins A
Microrregiatildeo de Parintins (AMAZONAS 2012) eacute constituiacuteda por Barreirinha Boa Vista do
Ramos Maueacutes Nhamundaacute Parintins Satildeo Sebastiatildeo do Uatumatilde e Urucaraacute Vale ressaltar que
natildeo foi coberta pela pesquisa a populaccedilatildeo Satereacute-Maweacute residente em Manaus (AM)
43
32 Estrateacutegias gerais para a realizaccedilatildeo da coleta de dados
Primeiramente foi feita uma busca de dados pelo IBGE o qual informou que natildeo
havia qualquer registro sobre a populaccedilatildeo indiacutegena de surdos Sem resultado satisfatoacuterio foi
organizado um cronograma de viagens
A primeira viagem foi para o municiacutepio de Parintins onde foi feita uma visita na casa
de um iacutendio para possiacutevel coleta de dados Poreacutem o cacique Sr Luiz de Oliveira infelizmente
tambeacutem comunicou a falta desse dado na comunidade Portanto foi exposto a esse liacuteder o
objetivo da referida pesquisa apresentando assim a importacircncia da comunicaccedilatildeo entre os
seres humanos e interaccedilatildeo entre os diferentes modos linguiacutesticos de convivecircncia social e
educacional
O cacique prontamente mostrou-se aberto a contribuir para que a pesquisa fosse
concretizada Assim sendo iniciou-se a trajetoacuteria do levantamento de iacutendios surdos e sua
forma de comunicaccedilatildeo como tambeacutem seu contexto educacional escolar
Ao retornar a Manaus buscou-se apoio agraves instituiccedilotildees representativas com a visita agrave
sede da Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio ndash FUNAI oacutergatildeo responsaacutevel pelas accedilotildees indiacutegenas a
qual informou que se fazia necessaacuterio uma autorizaccedilatildeo para dar seguimento agrave pesquisa Logo
providecircnciou-se o documento requerido na Coordenaccedilatildeo de Educaccedilatildeo Indiacutegena localizada no
municiacutepio de Barreirinha
Ao chegar agrave cidade de Barreirinha um novo contato foi estabelecido com o
Coordenador indiacutegena o Sr Santino Lopes de Oliveira que se mostrou receptivo com o
projeto e se dispocircs prontamente a colaborar
Com a autorizaccedilatildeo e aprovaccedilatildeo das autoridades indiacutegenas e de posse do documento
houve o comprometimento de que seguiria as normas estabelecidas que disciplinam o
ingresso em terras indiacutegenas pela entidade (ANEXO A) Assim foi possiacutevel sistematizar os
procedimentos para a coleta de dados
33 Procedimentos da coleta
A coleta de dados foi realizada de acordo com o cronograma estabelecido para esta
etapa da pesquisa O procedimento metodoloacutegico usado para a coleta de dados foi
fundamentado em meacutetodo misto por meio de observaccedilotildees questionamento participaccedilotildees em
reuniotildees com representantes da lideranccedila indiacutegena local conversas informais e espontacircneas
44
com famiacutelias e comunidade indiacutegena Satereacute-Maweacute Utilizou-se como instrumento para
coleta caderno de registro de campo fotos filmagens gravaccedilotildees e questionaacuterio (ANEXO B)
34 Articulaccedilatildeo local
O primeiro passo foi estabelecer parcerias com colaboradores ou seja lideranccedilas
indiacutegenas professores indiacutegenas professores da rede puacuteblica inteacuterpretes oacutergatildeos ligados agraves
causas indiacutegenas alunos da Universidade do Estado Amazonas As instituiccedilotildees
representativas educacionais tambeacutem colaboraram telefonando ou perguntando para outras
pessoas sobre a existecircncia de indiacutegenas surdos e locais de suas residecircncias
A participaccedilatildeo das lideranccedilas indiacutegenas como os professores e colaboradores que
apoiaram e permitiram entrar em suas terras para fazer o levantamento foi de extrema
importacircncia pois muito contribuiacuteram nas traduccedilotildees das palavras indiacutegenas para a Liacutengua
Portuguesa
35 Abordagem ao objeto da pesquisa
Em cada viagem agraves comunidades primeiramente fazia-se contato com o tuxaua com
a finalidade de apresentar o objetivo da pesquisa Desta forma era explicado para eles a
importacircncia da contribuiccedilatildeo que o estudo poderia trazer agravequela comunidade Por meio da
autorizaccedilatildeo concedida obtinha-se a colaboraccedilatildeo para a coleta de dados junto ao objeto da
pesquisa Jaacute as abordagens feitas em ambiente familiar tambeacutem era solicitado o consentimento
para a realizaccedilatildeo da pesquisa Com permissatildeo concedida iniciamos as observaccedilotildees e
intervenccedilotildees Com devida autorizaccedilatildeo utilizaacutevamos para registro cacircmeras fotograacuteficas e em
seguida registraacutevamos no caderno de campo da pesquisa (ANEXO CC-1 e C-2)
45
4 MAPEAMENTO DOS IacuteNDIOS SURDOS DA ETNIA SATEREacute-MAWEacute NA
MICRORREGIAtildeO DE PARINTINS E SUA REALIDADE LINGUIacuteSTICA E
EDUCACIONAL ESCOLAR
No Brasil haacute uma diversidade de etnias indiacutegenas Rodrigues (2002) satildeo mais de 170
liacutenguas faladas e dialetos pelos povos indiacutegenas Estas liacutenguas satildeo distribuiacutedas em dois
grandes troncos linguiacutesticos
[] o Tupi (dividido em 10 famiacutelias) e o Macro-Jecirc (dividido em 9 famiacutelias) e de
outras 20 famiacutelias linguumliacutesticas natildeo classificadas em troncos Apenas nove liacutenguas
indiacutegenas tecircm acima de 5000 falantes guajajara (satereacute-) maueacute xavante
ianomacircmi terena macuxi caingangue ticuna e guarani estes uacuteltimos com 30000
indiviacuteduos Cerca de 110 liacutenguas contam com menos de 400 falantes 14
Entretanto em meio a essa diversidade linguiacutestica poucos satildeo documentados
Pesquisadores e grupos indiacutegenas tentam um reavivamento eacutetnico e linguiacutestico
documentando-os para salvar sua liacutengua seu idioma
Diante do exposto a uacutenica liacutengua de sinais indiacutegena registrada eacute a utilizada pela etnia
indiacutegena brasileira dos Urubu-Kaapor como jaacute mencionada anteriormente Pesquisas no Mato
Grosso do Sul em aldeias indiacutegenas apresentaram a existecircncia de iacutendios surdos que utilizam
sinais emergentes ainda natildeo registrados propriamente como uma liacutengua
Pouco registro tem-se encontrado sobre iacutendios surdos muito menos sobre a liacutengua ou
a forma desses sujeitos se comunicarem De acordo com dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatiacutestica (IBGE) natildeo haacute registros sobre iacutendios surdos nem no Anuaacuterio
Estatiacutestico do Amazonas do IBGE tatildeo pouco na Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio (FUNAI)
sendo portanto necessaacuteria uma pesquisa in loco para a busca desses dados
Eacute importante destacar que a pessoa surda natildeo nasce com a incapacidade de falar ou
seja a pessoa surda natildeo eacute muda natildeo fala por natildeo poder ouvir a ldquo[] A surdez natildeo estaacute
absolutamente vinculada agrave mudez []rdquo (RAMOS apud STROBEL 2008 p34)
Por isso as teorias da aquisiccedilatildeo da linguagem humana justificam como o ser humano
(re)inventa modos para expressar suas necessidades e formas de ver o mundo realizando a
comunicaccedilatildeo com seus pares
14
Classificaccedilatildeo das Liacutenguas Indigenas Brasileiras segundo Aryon Rodrigues (2002) Disponiacutevel em
lthttpwwwgeocitieswsindiosbr_nicolaiclassifhtmlgt
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Partindo dessa percepccedilatildeo este estudo apresenta uma contribuiccedilatildeo de informaccedilotildees
cientiacuteficas que seratildeo um acreacutescimo aos conhecimentos existentes sobre a comunicaccedilatildeo dos
surdos indiacutegenas
41 Mapeamento da existecircncia dos iacutendios surdos na microrregiatildeo de Parintins
Conhecer os indiviacuteduos sujeitos da pesquisa ndash iacutendios surdos Satereacute-Maweacute - eacute a fase
fundamental deste estudo pois dessa forma eacute possiacutevel compreender a forma predominante de
comunicaccedilatildeo deles para poder elaborar material concreto ndash dicionaacuterio triliacutengue - pertinente
para auxiliar na forma da comunicaccedilatildeo deles com a sua etnia atraveacutes da liacutengua desse povo
indiacutegena Nesta seccedilatildeo estatildeo apresentados os dados que constituem um mapeamento da
quantidade de indiviacuteduos surdos que estatildeo inseridos no contexto de Parintins Barreirinha
Boa Vista do Ramos e Maueacutes locais estes onde haacute maior contato com etnia foco deste estudo
Abaixo segue o histoacuterico do municiacutepio de Parintins e demais microrregiotildees citadas na
pesquisa15
411 Histoacuterico de Parintins
Parintins eacute um municiacutepio brasileiro situado no interior do estado do Amazonas
proacuteximo agrave divisa com o estado do Paraacute Regiatildeo Norte do paiacutes Estaacute situado na mesorregiatildeo do
Centro Amazonense e microrregiatildeo de mesmo nome e localiza-se a leste da capital do estado
distando desta cerca de 370 quilocircmetros Com uma populaccedilatildeo estimada em 2012 pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 103 828 habitantes sendo o segundo
mais populoso do estado do Amazonas que tem uma aacuterea de 5 952 kmsup2 representando
03789 do Estado do Amazonas 01545 da regiatildeo Norte brasileira e 00701 do territoacuterio
brasileiro8
Desse total 12 4235 kmsup2 estatildeo em periacutemetro urbano
O municiacutepio de Parintins como quase todos os demais municiacutepios brasileiros foi
primitivamente habitado por indiacutegenas Sua descoberta ocorreu em 1749 quando descendo o
rio Amazonas o explorador Joseacute Gonccedilalves da Fonseca notou uma ilha que por sua extensatildeo
se sobressaiacutea das outras localizadas agrave direita do grande rio As primeiras viagens exploratoacuterias
da Coroa Portuguesa em Parintins foram registradas somente em 1796 A fundaccedilatildeo da
15
O histoacuterico de Parintins e demais microrregiotildees estatildeo disponiacuteveis no site lthttpptwikipediaorgwiki_Parintinsgt
47
localidade em 1796 foi feita por Joseacute Pedro Cordovil que veio com seus escravos e
agregados para se dedicar agrave pesca do pirarucu e agrave agricultura chamando-a Tupinambarana A
rainha D Maria I deu-lhe a ilha de presente Ali instalado fundou uma fazenda de cacau
dedicando-se agrave cultura desse produto em grande escala Tupinambarana foi aceita e elevada agrave
missatildeo religiosa em 1803 pelo capitatildeondashmor do Paraacute o Conde dos Arcos que incumbiu sua
direccedilatildeo ao frei Joseacute das Chagas passando a ser denominada como a Vila Nova da Rainha
O primeiro nome recebido por Parintins jaacute na categoria de Freguesia foi Nossa
Senhora do Carmo de Tupinambarana em 1833 O nome da Freguesia soacute foi alterado em
1880 quando a sede passou a chamar-se ldquoParintinsrdquo em homenagem aos povos indiacutegenas
Parintintins um dos inuacutemeros que habitavam a regiatildeo
A eficiente atuaccedilatildeo de frei Joseacute provocou um surto de progresso e desenvolvimento na
localidade mediante a organizaccedilatildeo da comarca do Alto Amazonas Em 25 de julho de 1833
passa agrave freguesia com o nome de Freguesia de Nossa Senhora do Carmo de Tupinambarana
Era ainda Tupinambarana simples freguesia quando iniciou a revoluccedilatildeo dos Cabanos no Paraacute
e se alastrou por toda a proviacutencia O seu vigaacuterio padre Torquato Antocircnio de Souza teve
atuaccedilatildeo destacada durante a sediccedilatildeo servindo de delegado dos legalistas no Baixo Amazonas
Tupinambarana talvez porque estivesse bem defendida foi poupada aos ataques dos
Cabanos
Em 24 de outubro de 1848 a lei provincial do Paraacute nordm 146 elevou a freguesia agrave
categoria de vila com a denominaccedilatildeo de Vila Bela da Imperatriz e constituiu o municiacutepio ateacute
entatildeo ligado a Maueacutes Em 15 de outubro de 1852 pela lei nordm 02 foi confirmada a criaccedilatildeo do
municiacutepio Em 14 de marccedilo de 1853 deu-se a instalaccedilatildeo do municiacutepio de Parintins Em 24 de
agosto de 1858 foi criada pela lei provincial a comarca compreendendo os termos judiciaacuterios
de Vila Bela da Imperatriz e Vila Nova da Conceiccedilatildeo Em 30 de outubro de 1880 pela lei
provincial nordm 499 a sede do municiacutepio recebeu foros de municiacutepio e passou a denominar-se
Parintins Em 1881 foi desmembrado do municiacutepio de Parintins o territoacuterio que constituiu o
municiacutepio de Vila Nova de Barreirinha
A divisatildeo administrativa de 1911 figurou o municiacutepio com quatro distritos Parintins
Paranaacute de Ramos Jamundaacute e Xibuiacute Em 1933 aparece no quadro da divisatildeo administrativa
com um distrito apenas ndash o de Parintins Em 1 de dezembro de 1938 pelo decreto-lei estadual
nordm 176 eacute criado o distrito da Ilha das Cotias passando assim o municiacutepio a constituir-se de
dois distritos Parintins e Ilha das Cotias
Pela lei estadual nordm 226 de 24 de agosto de 1952 a comarca de Parintins perdeu os
termos judiciaacuterios de Barreirinha e Urucaraacute que foram transformados em comarcas Em 19 de
48
dezembro de 1956 a lei estadual nordm 96 desmembrou o municiacutepio de Parintins o distrito da
Ilha das Cotias que passou a constituir o municiacutepio de Nhamundaacute Em 10 de dezembro de
1981 a emenda constitucional nordm 12 eacute acrescido o territoacuterio de Parintins ao distrito de
Mocambo
O primeiro municiacutepio pesquisado eacute considerado o centro da microrregiatildeo Parintins
Segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 2103 a
populaccedilatildeo eacute de 109225 habitantes16
nesta localidade A Microrregiatildeo de Parintins eacute uma das
microrregiotildees do estado brasileiro do Amazonas pertencente agrave Mesorregiatildeo do Centro
Amazonense Estaacute dividida em sete municiacutepios Barreirinha Boa Vista do Ramos Maueacutes
Nhamundaacute Parintins Satildeo Sebastiatildeo do Uatumatilde e Urucaraacute De acordo com estimativas do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) a populaccedilatildeo da microrregiatildeo era de 262
719 habitantes em 2013
Seus municiacutepios limiacutetrofes satildeo Nhamundaacute ao norte Barreirinha ao sul Urucurituba ao
leste e os municiacutepios de Terra Santa e Juruti no estado do Paraacute O limite territorial entre
Parintins e Nhamundaacute se inicia na margem esquerda do rio Amazonas subindo este rio ateacute a
Barreira do Pauraacute A Serra de Parintins eacute usada para delimitar o fim dos limites territoriais
deste municiacutepio com Nhamundaacute Para delimitar os limites territoriais entre Parintins e
Barreirinha usa-se o divisor de aacuteguas dos rios Andiraacute-Uaicuparaacute juntamente com a linha
geodeacutesica que limita os estados do Amazonas e Paraacute Jaacute os limites territoriais com
Urucurituba satildeo iniciados no lago Arapapaacute no Paranaacute de Urucurituba Com o Estado do Paraacute
o limite tem iniacutecio na boca do igarapeacute do Valeacuterio na margem direita do rio Amazonas
Parintins eacute uma cidade marcada pelos traccedilos culturais poliacuteticos e econocircmicos
herdados dos portugueses espanhoacuteis italianos e tambeacutem dos japoneses tendo em vista que a
cidade possuiu uma relevante colocircnia destes imigrantes Natildeo se pode esquecer a importacircncia
dos ameriacutendios no quesito contribuiccedilatildeo eacutetnica Foram os ameriacutendios que iniciaram a ocupaccedilatildeo
humana na Amazocircnia e seus descendentes caboclos desenvolveram-se em contato iacutentimo com
o meio ambiente adaptando-se agraves peculiaridades regionais e oportunidades oferecidas pela
floresta
A cidade eacute um importante centro educacional de niacutevel meacutedio e superior do Estado do
Amazonas A cidade possui um dos mini-campus do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)
que oferece cursos em diferentes niacuteveis ensino meacutedio e ensino teacutecnico
16
Disponiacutevel emlthttpcidadesibgegovbrxtrastemasamazonas|parintins|estimativa-da-populacao-2013gt
Acesso em 28072014
49
Universidades puacuteblicas
- Universidade do Estado do Amazonas (UEA) eacute uma instituiccedilatildeo puacuteblica estadual de
ensino superior que oferece mais de vinte cursos distribuiacutedos em dezessete cidades
amazonenses (Parintins Manaus Presidente Figueiredo Itacoatiara Carauari Tabatinga
Tefeacute Laacutebrea Boca do Acre Coari Eirunepeacute Humaitaacute Manicoreacute Manacapuru Novo
Aripuanatilde Maueacutes e Satildeo Gabriel da Cachoeira) Foi criada pela lei estadual nordm 2637 de 12 de
janeiro de 2001 que proporcionou agraves fundaccedilotildees educacionais de ensino superior instituiacutedas
pelo Estado Em Parintins o Centro de Estudos Superiores (UEA) possui os cursos
Pedagogia Histoacuteria Geografia Fiacutesica Matemaacutetica Letras Portuguesa Quiacutemica Ciecircncias
Bioloacutegicas Tecnologia em Turismo Direito Sauacutede Coletiva Ciecircncias Econocircmicas e
Tecnologia em Gestatildeo Puacuteblica
- Instituto Federal do Amazonas (IFAM) O Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e
Tecnologia do Amazonas foi criado mediante integraccedilatildeo do Centro Federal de Educaccedilatildeo
Tecnoloacutegica do Amazonas e das Escolas Agroteacutecnicas Federais de Manaus e de Satildeo Gabriel
da Cachoeira
- Universidade Federal do Amazonas (UFAM) Instalada no municiacutepio desde 2007
possui os seguintes cursos Serviccedilo Social Comunicaccedilatildeo Social - Jornalismo Administraccedilatildeo
Organizacional Pedagogia Zootecnia Educaccedilatildeo Fiacutesica e Artes Plaacutesticas
No setor de educaccedilatildeo e capacitamento profissional o municiacutepio aleacutem de dispor de
uma ampla rede de escolas (estaduais municipais e privadas) conta com um campus da
Universidade do Estado do Amazonas e algumas faculdades privadas com diversos cursos
superiores ofertados Dispotildee ainda de unidades do SENAI SENAC e SESI e em funccedilatildeo
disso os iacutendices de alfabetizaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo profissional dos municiacutepios estatildeo em
crescimento
A cidade de Parintins eacute o local onde foram feitos os contatos frequentes com os
indiacutegenas da etnia Satereacute-Maweacute porque buscam as casas bancaacuterias para receberem os
benefiacutecios sociais tambeacutem buscam as escolas com ensino de todos os niacuteveis inclusive as
universidades puacuteblicas para as crianccedilas e jovens Outro fator eacute que tem um comeacutercio
desenvolvido em que podem adquirir seus bens de consumo aleacutem de ser de faacutecil acesso aos
demais centros da regiatildeo e do paiacutes atraveacutes dos diferentes meios comunicaccedilatildeo e transporte
Por isso o mapeamento foi iniciado nesta regiatildeo
Apesar de ter um nuacutemero consideraacutevel de habitantes os oacutergatildeos ligados agrave causa
indiacutegena natildeo dispotildeem de dados informativos sobre o objeto da pesquisa em meio agrave estimativa
populacional do municiacutepio mesmo assim outro oacutergatildeo foi procurado para que pudesse
50
fornecer algum dado ligado ao sujeito surdo da etnia Satereacute-Maweacute A instituiccedilatildeo pesquisada
foi a Escola de Aacuteudio Comunicaccedilatildeo ldquoPadre Paulo Mannardquo Esta eacute uma instituiccedilatildeo educacional
mantida pela Diocese de Parintins por meio de sua atual gestora a Professora Zilda Tavares
Atraveacutes desta colaboradora foram coletadas informaccedilotildees sobre os alunos indiacutegenas surdos da
etnia Satereacute-Maweacute que ali estudam ou estudaram que satildeo a seguir descritas
Embora a escola tivesse o conhecimento da existecircncia de dois indiacutegenas surdos da
etnia Satereacute-Maweacute apenas um se encontra matriculado na escola Eacute uma menina de seis anos
de idade cursando o preacute-escolar Para informaccedilotildees consistentes foi solicitado o contato
tambeacutem com a famiacutelia da aluna Ao contatar os pais foi feita uma abordagem por meio de
questionaacuterio mas diante das dificuldades encontradas por natildeo serem alfabetizados na liacutengua
nativa nem na liacutengua Portuguesa os dados utilizados satildeo resultante de entrevistas
assistemaacuteticas (conversas informais)
Os familiares tecircm papeacuteis importantes na formaccedilatildeo da linguagem da crianccedila Eacute atraveacutes
deles que acontece a formaccedilatildeo da identidade social e cultural desse sujeito em
desenvolvimento Satildeo eles que repassam o modo de vida os costumes e outros aspectos
sociais com os seus exemplos e empreendendo a funccedilatildeo da linguagem verbal atraveacutes de
relaccedilotildees dialoacutegicas que ativam a percepccedilatildeo do ser em maturaccedilatildeo no meio familiar Na visatildeo
de Ponzio (et al 2007 p 177)
Uma das funccedilotildees da linguagem verbal eacute a identificaccedilatildeo identificaccedilatildeo dos objetos
mediante um processo de modelaccedilatildeo e de articulaccedilatildeo da realidade que varia de
liacutengua para liacutengua identificaccedilatildeo de sujeito enquanto falante do sujeito do discurso
do tema do outro ao qual esse discurso se dirige de uma espeacutecie de bdquoauditoacuterio
universal‟ a que de modo geral se recorre na argumentaccedilatildeo identificaccedilatildeo de uma
comunidade e da pertenccedila ou da natildeo pertenccedila a esta etc
Um resumo histoacuterico sobre a referida indiacutegena aponta que a famiacutelia residia na
comunidade indiacutegena Ponta Alegre no Rio Andiraacute municiacutepio de Barreirinha Migraram para
a zona urbana em busca de condiccedilotildees para uma melhor qualidade de vida Ao descobrirem a
surdez da filha mudaram-se para a cidade de Parintins Declararam que a forma de se
comunicarem com a filha eacute por meio de gestos criados pela famiacutelia e a crianccedila pois natildeo
sabem a Liacutengua de Sinais
Analisa-se neste contexto a situaccedilatildeo complexa pela qual essa famiacutelia passou para se
entender com a ela posto que se esperasse que a crianccedila dominasse o sistema linguiacutestico que
usam para a comunicaccedilatildeo com os pares atraveacutes da liacutengua natural da etnia Este eacute um fato que
ocorre com as famiacutelias onde natildeo existe o desenvolvimento natural da fala
51
Considere-se assim que a liacutengua eacute adquirida a qual se manifesta em todas as
circunstacircncias normais no conhecimento de uso em processo de audiccedilatildeo desde o nascimento
os quais vatildeo tomando forma de significante e significado enquanto se distingue cada unidade
lexical do todo que existe no meio onde se estaacute inserido Para Lyons ldquoo termo aquisiccedilatildeo da
linguagem eacute normalmente usado sem ressalvas para o processo que resulta no conhecimento
da liacutengua nativa (ou liacutenguas nativas)rdquo (1987 p 231)
Neste caso para a crianccedila em evidecircncia deveria ser propiciado o ensino da Libras
como liacutengua para mediar a comunicaccedilatildeo o mais breve possiacutevel na medida em que ela estaacute
com idade proacutexima da faixa etaacuteria limite de aquisiccedilatildeo sem acarretar prejuiacutezos para o seu
desenvolvimento conforme explica teoria gerativista17
da aquisiccedilatildeo da linguagem proposta
por Lennenberg (1967)
[] a existecircncia de um periacuteodo criacutetico para a quisiccedilatildeo da linguagem tendo como
pressuposto a ideia de que esta eacute inata O periacuteodo criacutetico se iniciaria por volta dos
dois anos e se encerraria por volta da puberdade Esse periacuteodo eacute chamado de criacutetico
porque seria aquele mais sensiacutevel agrave aquisiccedilatildeo da linguagem[] concluiacutendo que o
cereacutebro humano inicialmente tem representaccedilatildeo bilateral das funccedilotildees da linguagem
e mediante o processo de aquisiccedilatildeo na puberdade apenas o hemisfeacuterio se torna
mais dominante em relaccedilatildeo a elas completando o periacuteodo de aquisiccedilatildeo Caso a
crianccedilas natildeo adquira a linguagem nesse periacuteodo seu desenvolvimento linguiacutestico
seraacute prejudicado (apud QUADROS 2008 p 78)
Deste modo no caso a crianccedila surda esta precisa aprender a liacutengua nativa de uma
forma diferenciada adequando-se os siacutembolos agraves formas visuais se natildeo apresentar esta
carecircncia tambeacutem posto que a faculdade da linguagem do ser humano eacute inata conforme
Chomsky esclarece (apud PONZIO etal 2007)
Trata-se de determinar agrave natureza do patrimocircnio bioloacutegico que constitui a bdquofaculdade
da linguagem‟ do ser humano o componente inato do conjunto menteceacuterebro que
uma vez tendo entrado em contato com a experiecircncia linguiacutestica produz o
conhecimento da linguagem isto eacute converte a experiecircncia em um sistema de
conhecimento (p 143)
O segundo indiacutegena surdo da etnia Satereacute-Maweacute havia sido transferido da escola Padre
ldquoPaulo Mannardquo para a Escola Estadual ldquoBrandatildeo de Amorimrdquo Segundo as informaccedilotildees da
famiacutelia ele nasceu na aacuterea indiacutegena de Ponta Alegre Poreacutem quando pequeno sua famiacutelia se
17
A teoria gerativista pressupotildee a existecircncia de um mecanismo inato responsaacutevel pela aquisiccedilatildeo da linguagem
denominado Gramaacutetica Universal (GU) tendo como responsaacutevel por essa concepccedilatildeo que caracteriza-se pela
elucidaccedilatildeo da natureza das linguas naturais Chomsky
52
mudou para zona urbana de Parintins Ele cresceu longe da cultura indiacutegena sem contato com
a liacutengua de sua etnia por estar fora desse contexto Por outro lado natildeo aprendeu a liacutengua
falada em seu entorno na medida em que natildeo pode na prendecirc-la de forma natural por natildeo
ouvir assim por natildeo ter domiacutenio da cultura da etnia deve aprender a liacutengua de sinais
inserindo os signos que significam as palavras do seu leacutexico atraveacutes de instruccedilatildeo especial
com a mediaccedilatildeo de algueacutem que tenha o conhecimento das duas formas de comunicaccedilatildeo Para
Lyons (1987) esses aprendizes adquirem habilidades comunicativas rapidamente pois o
progresso que alcanccedilam eacute pelo menos agraves vezes tatildeo raacutepido que como observam tanto os pais
quanto os pesquisadores eacute difiacutecil manter um registro compreensivo e sistemaacutetico do seu
processo de aprendizado Como tambeacutem eacute no total independente de inteligecircncia e de
diferenccedilas do meio social e cultural
A capacidade da pessoa para construir enunciados vai tomando forma agrave medida que
consegue compreender a relaccedilatildeo entre significante e significados dos signos com os quais tem
contato Por isso os indiacutegenas surdos podem ser beneficiados com um material escrito
triliacutengue Este pode constituir-se em um material de apoio para a aprendizagem das trecircs
liacutenguas sendo que a liacutengua de sinais eacute perspectivada como L1
O terceiro caso identificado eacute de um iacutendio surdo jaacute adulto da comunidade Uiacurapaacute
da etnia Maweacute As informaccedilotildees datildeo conta que ele se comunica por meio de gestos criados por
ele e os pares com quem tem relaccedilatildeo Poreacutem natildeo haacute dados detalhados pois natildeo foi possiacutevel
contato com o mesmo porque ele vive isolado sobrevivendo de caccedila e pesca em comunidade
rural indiacutegena Fato este que implica diretamente no aperfeiccediloamento da forma de
comunicaccedilatildeo desse sujeito posto que ldquoos fenocircmenos ambientais podem agir diretamente
sobre a pessoa ou individualmente atraveacutes de repasse de experiecircncias vividas pela sociedade
atraveacutes da linguagem veiculada pela liacutenguardquo (OLIVEIRA 2005 p134)
Assim estaacute constituiacuteda a populaccedilatildeo de indiacutegenas surdos que fazem parte da
microrregiatildeo de Parintins que se podem fazer os devidos registros neste estudo
412 Histoacuterico de Barreirinha
O municiacutepio de Barreirinha pertence a Mesorregiatildeo da Microrregiatildeo de Parintins que
estaacute localizado a leste de Manaus Capital do Estado distanciando cerca de 331 quilocircmetros
E ao norte de Parintins o municiacutepio de Barreirinha juntamente com Maueacutes satildeo principais
municiacutepios que possuem a maior populaccedilatildeo de indiacutegenas localizados nos rios Andiraacute e o
Marau Portanto sendo o municiacutepio como a sede urbana das comunidades inseridas os surdos
53
indiacutegenas vem apenas em busca de tratamento meacutedico quando necessitam ou para atividades
sociais acompanhados de seus pais mas na zona urbana natildeo localizamos nenhum indiacutegena
surdo
Barreirinha foi o segundo municiacutepio pesquisado E segundo o IBGE em 2013 a
populaccedilatildeo era de 29737 habitantes18
sendo o vigeacutesimo segundo municiacutepio mais populoso do
Estado do Amazonas e o terceiro de sua microrregiatildeo
Este muniacutecipio conta com um setor especiacutefico das causas indiacutegenas a Coordenaccedilatildeo
Iacutendiacutegena Satereacute-Maweacute sob responsabilidade do coodernador geral SrSantino Lopes Este
tornou possiacutevel o acesso agrave comunidade indiacutegena de Ponta Alegre no Rio Andiraacute Foi na
Escola Municipal Professora ldquoRosa Cabralrdquo que foi identificado um indiacutegena surdo da etnia
Satereacute-Maweacute um menino de 12 anos matriculado na 3ordf ano do ensino fundamental Nesse
contexto foi possiacutevel observar sua forma de se comunicar com as demais pessoas que faziam
parte do seu meio social Outros dados referente a relaccedilotildees familiares deste natildeo estatildeo
disponiacuteveis na medida em que natildeo foi possiacutevel fazer contato com sua famiacutelia Desta forma
permanece uma lacuna de respostas referente a esse aluno posto que
De uma forma geral e em regra a socializaccedilatildeo da crianccedila no mundo civilizado
comeccedila dentro de uma famiacutelia nuclear constituiacuteda de pai matildee e irmatildeos quando
existem Durante os primeiros anos da infacircncia adquire traccedilos culturais (menores
unidades de cultura) atraveacutes das pessoas da famiacutelia que satildeo reflexo da sociedade
onde vivem (OLIVEIRA 2005)
Entende-se que atraveacutes de informaccedilotildees que poderiam ser fornecidas pela famiacutelia
deveria ser esclarecido como ocorre a socializaccedilatildeo da crianccedila nesse contexto e de que modo
aprenderam a se comunicar com ela que estrateacutegias foram utilizadas para que ela conseguisse
ser alfabetizada
413 Histoacuterico de Maueacutes
Este municiacutepio que tambeacutem pertence agrave Mesorregiatildeo do Centro Amazonense e
Microrregiatildeo de Parintins tem uma populaccedilatildeo de 54079 habitantes conforme as estimativas
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) A cidade eacute reconhecida
nacionalmente por possuir uma das maiores expectativas de vida do paiacutes
18
Disponiacutevel emlthttpcidadesibgegovbrxtrastemasamazonas|barreirinha|estimativa-da-populacao-2013gt
Acesso em 28072014
54
Na margem direita do Rio Maueacutes-Accedilu Maueacutes foi fundada em 1798 por Luiz Pereira
da Cruz e Joseacute Rodrigues Preto agrave distacircncia de 268 km em linha reta e 356 km pela via
fluvial de Manaus O calendaacuterio festivo do municiacutepio conteacutem as datas festivas municipais
em homenagem agrave Satildeo Sebastiatildeo (10 a 20 de janeiro) ao Divino Espiacuterito Santo (22 a 30 de
maio) agrave Satildeo Pedro (27 a 30 de junho) agrave padroeira Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo (01 a 8 de
dezembro) assim como a Festa do Carnaval Popular (21 a 24 de fevereiro) do aniversaacuterio do
municiacutepio (26 a 27 de junho) da Ilha de Vera Cruz (23 a 25 de julho) do Veratildeo (de 05 a 7 de
setembro) da Feira Industrial (06 a 8 de novembro) e do Guaranaacute (em novembro)
Sobre a origem do nome deste municiacutepio observa-se que inicialmente foi
denominada Luseia e progredindo com o tempo transformou-se em missatildeo carmelita com
nome de Maueacutes O liacuteder nessa eacutepoca foi o frei Joaquim de Santa Luzia Por um decreto de 25
de junho de 1833 a missatildeo foi considerada vila sob a invocaccedilatildeo de Nossa Senhora da
Conceiccedilatildeo de Luseia Em 1853 pela lei nordm 25 de 3 de dezembro da iniciativa do Deputado
Marcos Antocircnio Rodrigues de Souza a vila tornou-se cidade chamada Satildeo Marcos de
Mundurucacircnia Consta como uma das freguesias da proviacutencia denominada Maueacutes em 1958
A oficializaccedilatildeo da mudanccedila do nome do municiacutepio ocorreu quando o Deputado Joseacute
Bernardo Michiles em 1865 apresentou um projeto para tal que tendo sido aprovado
oficializou-se a mudanccedila do nome de Maueacutes para Conceiccedilatildeo Enfim jaacute na Repuacuteblica em
1895 pela lei nordm 133 de 5 de outubro a localidade torna-se Comarca E em 4 de maio de 1896
eacute considerado municiacutepio pelo novo regime juriacutedico com o nome de Maueacutes pela lei nordm 137
As pesquisas de campo nesse municiacutepio natildeo foram realizadas conforme a previsatildeo
pois a viagem natildeo foi concretizada devido agraves dificuldades em relaccedilatildeo agrave distacircncia para chegar
ateacute agraves comunidades que satildeo distantes da cidade cede e havia necessidade de recurso material
e humano (professores guias indiacutegenas biliacutengues) para realizaacute-la Quando foi possiacutevel chegar
ao local ocorreu o contato com trecircs professores que residiam nas comunidades do rio
chamado Marau Ali foi possiacutevel tecirc-los em companhia na funccedilatildeo de guia inteacuterprete para
contato com os indiacutegenas surdos daquela localidade
Em resposta afirmativa ao questionamento se havia iacutendios surdos foram realizadas
reuniotildees com a comunidade local para coletar informaccedilotildees que apontou a existecircncia de um
caso na comunidade de Santa Maria Era um senhor na faixa etaacuteria de 67 anos que adquiriu a
surdez haacute muito tempo atraacutes Ele natildeo tem conhecimento da Liacutengua Portuguesa por isso natildeo
tivemos contato direto No entanto ele conhece a proacutepria liacutengua e assimilou a cultura da etnia
posto que
55
A liacutengua eacute aprendida simultaneamente a outros elementos da cultura A capacidade
de desenvolvimento da linguagem eacute inata O indiviacuteduo nasce com o ceacuterebro
preparado para aprender tudo que pertinente agrave cultura humana da qual a linguagem
faz parte (OLIVEIRA 2005 p 137)
Eacute no contexto social que se aprende os signos que fazem parte do mundo exterior e
que o ceacuterebro assimila pelo conhecimento que os sentidos possibilitam
O segundo iacutendio localizado foi um surdo de nascenccedila hoje com idade de 24 anos
Segundo relato da famiacutelia nunca frequentou uma escola portanto seu uacutenico meio de
comunicaccedilatildeo eacute gestual que aprendeu como forma para se fazer entender pois ldquoa linguagem eacute
atributo universal do ser humanordquo (OLIVEIRA 2005) assim constitui-se como necessidade
vital da pessoa conduzindo ao aprendizado
Em pesquisa de campo se obteve a informaccedilatildeo que havia outros trecircs iacutendios surdos que
moravam no Rio Marau mas natildeo foi possiacutevel chegar ateacute a aldeia onde se encontravam
devido ao difiacutecil acesso o que impossibilitou a ida ateacute a localidade
414 Histoacuterico de Boa Vista do Ramos
Uma das sete Mesorregiotildees de Parintins eacute Boa Vista do Ramos que possui
aproximadamente 16820 de habitantes segundo o IBGE (2013)
A histoacuteria de Boa Vista do Ramos encontra-se ligada agrave histoacuteria do municiacutepio de
Maueacutes Em 1798 foi fundada a Aldeia de Lusea Em meados do Seacuteculo XIX vaacuterios conflitos
ocorreram na regiatildeo entre brancos e povos indiacutegenas sendo efetiva tambeacutem a participaccedilatildeo de
cabanos oriundos da Cabanagem
Quando a Proviacutencia do Amazonas eacute criada em 1850 Lusea torna-se um dos quatorze
municiacutepios existentes na proviacutencia Seu nome eacute alterado em 1892 para Maueacutes tornando-se
sede da Comarca em 1895 Em 10 de dezembro de 1981 atraveacutes da Emenda Constitucional nordm
12 o povoado de Boa Vista do Ramos aleacutem de outros territoacuterios pertencentes agrave Maueacutes e
aacutereas adjacentes dos municiacutepios de Barreirinha e Urucurituba passam a constituir o novo
municiacutepio de Boa Vista do Ramos
Em pesquisa de campo nesse municiacutepio o primeiro contato que foi na Coordenadoria
Regional de Educaccedilatildeo da cidade (SEDUC) Embora esta professora responsaacutevel por essa
Instituiccedilatildeo tenha informado que natildeo conhecia nenhum caso de iacutendio surdo neste municiacutepio
alguns informantes afirmaram que na aldeia de Santo Antocircnio que faz parte do referido
municiacutepio foi localizada uma senhora que havia adquirido a surdez ainda muito jovem sem
56
nenhum conhecimento das liacutenguas ldquofaladasrdquo ou sinalizadas Desta forma ela utilizava de
gestos para se comunicar porque os seres humanos nascem com a capacidade para a
linguagem que se desenvolvem ao longo da primeira infacircncia mas que podem tambeacutem ser
aprendida no meio social atraveacutes de estiacutemulos Nesta perspectiva segundo a concepccedilatildeo de
Oliveira (2005 p 143)
A evoluccedilatildeo da linguagem depende de dois fatores principais da capacidade geneacutetica
cerebral para desenvolvecirc-la que eacute a principal e dos estiacutemulos ambientais que satildeo
sempre tatildeo importantes quanto aquela Esse desenvolvimento estaacute senpre inserido no
contexto de socializaccedilatildeo que eacute a responsaacutevel pela humanizaccedilatildeo do indiviacuteduo
Ainda sobre a importacircncia da socializaccedilatildeo para os sujeitos ressalta-se que estes
desenvolvendo no meio onde estatildeo inserido adquirem sua identidade cultural
concomitantemente sua identidade linguiacutestica que estaacute presente no discurso dos seus pares
posto que ela ldquoeacute adquirida nos processos de formaccedilatildeo e tranformaccedilatildeo de uma liacutengua
particularrdquo que eacute tambeacutem determinante no relacionamento cm outras liacutenguas E de acordo
com Ponzio (2007 p178) ldquoO espaccedilo em que uma liacutengua vive eacute um espaccedilo interlinguiacutestico e a
capacidade de expressatildeo e da adaptaccedilatildeo dessas liacuteguas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo eacute
diretamente proporcional agrave quantidade de contatos com outras liacutenguasrdquo O que deixa evidente
que um indiviacuteduo pode estar em contato com diferentes formas de intercomunicaccedilatildeo
415 Histoacuterico de Nhamundaacute
Eacute trigeacutesimo quinto municiacutepio mais populoso do estado do Amazonas Sendo o quarto
da Mesorregiatildeo em estudo Conforme o IBGE em 2013 o municiacutepio eacute composto por uma
populaccedilatildeo de 19 792 habitantes
O municiacutepio de Nhamundaacute estaacute localizado na zona fisiograacutefica do Baixo Amazonas
limitando com os municiacutepios de Parintins e Urucaraacute no Amazonas com o Estado de Roraima
(norte) e com os municiacutepios de Faro e Terra Santa no estado do Paraacute Distacircncia da capital 375
km em linha reta e cerca de 577 km por via fluvial Sua altitude eacute de 50 metros acima do
niacutevel do mar
As origens do municiacutepio de Nhamundaacute remontam agraves primitivas povoaccedilotildees dos iacutendios -
nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XVII composta pelos condurizes paraculamas canuris
guancaris paraquatas queremas jamundaacutes e uaboy cujo tuxaua se chamava Jamundaacute que
dada a luta em prol da liberdade de seu povo devido agrave exploraccedilatildeo e maus-tratos pelos
57
colonizadores fez um levante conduzindo a tribo Uaboy para as cabeceiras do alto rio que em
sua homenagem ganhou o seu nome e por conseguinte daacute nome ao municiacutepio
Em 1653 mediante carta reacutegia a regiatildeo foi erigida a Missatildeo que foi confiada aos
missionaacuterios portugueses capuchos da Piedade Eles organizaram uma aldeia modelo na boca
do Tauacuera - aldeia velha afluente esquerdo onde ainda se podem ver ruiacutenas do antigo
convento no meio dos espinhais A sede da Missatildeo poreacutem foi transferida para o lugar da
atual cidade de Faro Os padres capuchos souberam unir os iacutendios uaboy residentes no
Trombetas aos da Missatildeo para aumentar a populaccedilatildeo Era entatildeo o chefe dos Uaboy o tuxaua
Jamundaacute que ligou seu nome agrave Missatildeo e agrave aldeia que doravante se chamou aldeia dos
Jamundaacute ou Missatildeo dos Jamundaacute
O primeiro documento sobre a Missatildeo eacute do ano de 1727 e foi escrito pelo superior da
Missatildeo frei Francisco de Satildeo Manccedilos Em 1758 Missatildeo tomou o nome de Faro No entanto
jaacute em 1755 o Marqucirces de Pombal mandou suspender as Missotildees para serem transformadas
em vilas e paroacutequias A Missatildeo dos Jamundaacute foi extinta em 1758 por ordem de Mendonccedila
Furtado quando de sua viagem de demarcaccedilatildeo da nova capitania Foram criadas assim a vila
de Faro e a Paroacutequia de Satildeo Joatildeo Batista em 21 de dezembro de 1758 mas a instalaccedilatildeo deu-se
somente em 27 de dezembro de 1768
Desse modo em 1911 quando ocorreu a divisatildeo administrativa do Brasil o municiacutepio
de Parintins foi contemplado com o distrito de Jamundaacute Com a extinccedilatildeo deste quando
aconteceu a nova divisatildeo administrativa em 1933 o municiacutepio de Parintins surgiu com apenas
um distrito assim em 10 de dezembro de 1938 pelo Decreto-lei no 176 do Estado do
Amazonas Parintins voltaria a dispor de um outro distrito aleacutem da sede o da Ilha das Cotias
Em 19121955 pela Lei Estadual no 96 o distrito de Ilha das Cotias eacute desmembrado de
Parintins e passa a constituir o municiacutepio autocircnomo de Nhamundaacute Em 31 de janeiro de 1956
foi instalado o municiacutepio de Nhamundaacute
A viagem a esse municiacutepio foi realizada com o apoio do aluno Fernando Gonccedilalves
acadecircmico do curso de Licenciatura em Geografia pela Universidade do Estado do
Amazonas-UEA Para maiores esclarecimentos foi feita a pesquisa na casa de sauacutede indiacutegena
localizada na cidade de Nhamundaacute onde informaram desconhecer a existecircncia da etnia
Satereacute-Maweacute no municiacutepio Mesmo assim foi feito outro contato com uma enfermeira da
Casa de Sauacutede Indiacutegena do municiacutepio A resposta foi a mesma ldquoQueremos informar ao
professor que no municiacutepio de Nhamundaacute que natildeo trabalhamos com a etnia Satereacute-Maweacute
Atendemos somente a etnia Hixkaryana existente na regiatildeo Natildeo haacute portanto nenhum surdo
Hixkaryana ou Satereacute-Maweacute cujo fato eacute comprovado pelo senso municipalrdquo
58
Foi feita uma pesquisa tambeacutem em outro oacutergatildeo que atua com indiacutegenas no caso as
Secretaria de Educaccedilatildeo do Municiacutepio com a finalidade de constatar a veracidade dos fatos
eou conseguir novos dados sobre o indiacutegena surdo Satereacute ou Hixkaryana O subsecretaacuterio de
Educaccedilatildeo relatou que natildeo existia dados sobre a liacutengua Satereacute-Maweacute nem indiacutegenas surdos
existentes
Realmente apoacutes pesquisas in loco ficou comprovado somente agrave existecircncia da etnia
Hixkaryana da famiacutelia linguiacutestica Karib Sobre esta ressalta-se que
A liacutengua hixkaryana pertence agrave famiacutelia linguiacutestica Karib e eacute falada por todos os
membros do grupo Esta liacutengua eacute muito semelhante agravequeles outros dialetos falados
na regiatildeo mais ampla circunscrita pelos vales dos rios Trombetas e Mapuera como
Waiwai Xereu Katuena Karapawyana Tunayana Desta maneira e pelo fato dos
Hixkaryana estabelecerem relaccedilotildees bem estreitas com estes grupos em uma rede de
trocas matrimoniais e rituais tais dialetos satildeo inteligiacuteveis entre si []
Os Kaxuyana que moram no rio Nhamundaacute quase todos tambeacutem falam a liacutengua
hixkaryana aleacutem da sua liacutengua proacutepria o Kaxuyana Contudo em geral um
Hixkaryana natildeo fala a liacutengua kaxuyana fato que de certa forma demonstra que os
Kaxuyana satildeo considerados os ldquoestrangeirosrdquo naquela regiatildeo e que devem aprender
a liacutengua ldquonativardquo o Hixkaryana
A maioria dos Hixkaryana eacute alfabetizada na liacutengua nativa sendo capaz de ler e
escrever neste idioma Em 2008 havia apenas uma escola de ensino fundamental na
aldeia Kassauaacute e muitos jovens depois desta seacuterie dirigiam-se agrave cidade de
Nhamundaacute (AM) para prosseguir os estudos de niacutevel meacutedio Em 2010 uma escola
de ensino meacutedio foi implantada na aldeia Kassauaacute Aleacutem disso uma dezena de
Hixkaryana jaacute cursou ou estaacute cursando o ensino superior em cidades como Parintins
e Manaus Contudo a maioria das mulheres dos velhos e das velhas fala muito
pouco o Portuguecircs sendo o Hixkaryana a liacutengua mais usada por todos19
Assim como no municiacutepio de Nhamundaacute ficou constatado tambeacutem que nos demais
municiacutepios de Satildeo Sebastiatildeo do Uatumatilde e de Urucaraacute que natildeo haacute registro sobre a existecircncia
da etnia Satereacute-Maweacute nem tatildeo pouco a existecircncia de iacutendios surdos A tabela 1- apresenta o
resultado da pesquisa que aponta o mapeamento
Tabela 1 Mapeamento da existecircncia de iacutendios surdos nas respectivas comunidades
indiacutegenas ou zona urbana da microrregiatildeo de Parintins
Fonte Azevedo (2014)
19
Disponiacutevel emlthttppibsocioambientalorgptpovohixkaryanagt Acesso em 07112014
Etnia Liacutengua Comunidade Indiacutegena
rural Zona Urbana
Municiacutepio Quantidade de iacutendios
surdos
Satereacute-Maweacute Tupi Parintins Parintins 02
Satereacute-Maweacute Tupi Uaucurupaacute Parintins 01
Satereacute-Maweacute Tupi Rio Andiraacute Barreirinha 01
Satereacute-Maweacute Tupi Santa Maria Maueacutes 02
Satereacute-Maweacute Tupi Rio Marau Maueacutes 03
Satereacute-Maweacute Tupi Boa Vista do Ramos Boa Vista do
Ramos
01
Total 10
59
De acordo com os dados pode-se observar a existecircncia de poucos iacutendios surdos
Poreacutem acredita-se que ainda existam outros em comunidades mais isoladas Como tambeacutem
pelo fato de serem consideradas ldquodeficientesrdquo algumas famiacutelias natildeo integram na comunidade
que vivem As dificuldades encontradas para coletar os dados a partir dos oacutergatildeos
responsaacuteveis tambeacutem foram encontrados em outros estudos realizados anteriormente para
estabelecer a populaccedilatildeo indiacutegena na Ameacuterica Latina o que pode ser vislumbrado pela
explicaccedilatildeo dos fatos complicadores transcritos a seguir
Uma das dificuldades para estabelecer a populaccedilatildeo indiacutegena estaacute relacionada com
fato de que o criteacuterio de filiaccedilatildeo segue mais a autodenominaccedilatildeo que as
caracteriacutesticas linguiacutesticas ou raciais como se considerava haacute algumas deacutecadas atraacutes
Outra dificuldade eacute que a uacutenica fonte disponiacutevel para estabelecer a quantidade de
populaccedilotildees indiacutegenas na regiatildeo satildeo precisamente os censos nacionais de populaccedilatildeo
que haacute bem pouco tempo permitiam inferir informaccedilatildeo sobre a populaccedilatildeo indiacutegena
a partir de uma uacutenica pergunta referente agrave liacutengua falada pelos entrevistados (LOPES
e SICHRA 2009 p 103)
Entretanto embora natildeo haja um nuacutemero expressivo de iacutendios surdos da etnia Satereacute-
Maweacute ficou constatado que haacute muitos surdos natildeo-iacutendios nos municiacutepios estudados
principalmente no municiacutepio de Parintins que precisam se comunicar com diferentes
interlocutores Este eacute um argumento que aponta para a necessidade de instrumentos
educacionais como um dicionaacuterio triliacutengue importante para os surdos que conseguiram
estabelecer elos comunicativos a partir das trecircs liacutenguas E jaacute que o homem eacute criativo ldquoagrave
medida que o tempo passa a humanidade vai agregando novas descobertas e inventos que se
concretizam e se somam para dar-lhe conforto e bem estarrdquo (OLIVEIRA 2005 p 144) Entatildeo
espera-se que este material contribua para que o sujeito surdo possa se comunicar
adequadamente no seio familiar e no processo educacional
42 Realidade linguiacutestica e educacional dos iacutendios surdos encontrados da etnia Satereacute-Maweacute
O sistema responsaacutevel pela educaccedilatildeo tem procurado fazer adequaccedilotildees para atender agraves
pessoas que apresentam necessidades na sua arquitetura fiacutesica para a inclusatildeo destas no
contexto da realidade linguiacutestica e educacional Embora exista uma legislaccedilatildeo pertinente
ainda haacute ausecircncia de qualidade para que um indiviacuteduo surdo possa estudar incluso em um
contexto regular de ensino Principalmente porque os professores natildeo estatildeo preparados para
lidar com essa situaccedilatildeo peculiar Haacute uma imposiccedilatildeo nos oacutergatildeos educacionais mas natildeo haacute
60
profissionais que atuem para o bom desempenho do aluno indiacutegena surdo A partir dessa
visatildeo Albres (2005) que realizou um estudo nesta aacuterea de conhecimento afirma
Nessa perspectiva o homem eacute produto e produtor da cultura conjunto das relaccedilotildees
sociais portanto mister se faz investigar a origem histoacuterica de alguns princiacutepios da
educaccedilatildeo biliacutengue para surdos e desvelar elementos conceituais Propomo-nos
entatildeo identificar e analisar as concepccedilotildees de linguagem que sob condiccedilotildees
histoacutericas fundamentaram o ensino de Liacutengua Portuguesa para surdos nos
documentos do MEC
Desta feita entende-se que se no contexto do ensino da Liacutengua Portuguesa existem
diversas dificuldades no contexto de uma liacutengua indiacutegena a situaccedilatildeo se torna mais complexa
Desse modo na anaacutelise da situaccedilatildeo linguiacutestica e educacional encontrada com os iacutendios surdos
identificados da etnia Satereacute-Maweacute eacute bastante diversificada Apresentam diferentes formas de
siacutembolos para conseguirem se comunicar com as pessoas com quem tecircm contato Precisam
fazer um esforccedilo aleacutem do necessaacuterio para manifestar seus desejos para informar e ter acesso a
informaccedilotildees
No caso da aluna indiacutegena surda de apenas seis anos de idade na escola especiacutefica para
atender alunos surdos foi constatado que sua situaccedilatildeo linguiacutestica e educacional se encontra
em processo de aquisiccedilatildeo de uma linguagem baacutesica para comunicaccedilatildeo com as pessoas com as
quais ela convive
Conforme os dados fornecidos pela escola por meio de um parecer pedagoacutegico sobre a
aluna indiacutegena surda (ANEXO D) Ficou atestado que a aluna da etnia Satereacute-Maweacute nasceu
de parto normal sem nenhum problema aparente Aos trecircs anos de idade a matildee percebeu que
a filha natildeo ouvia e nem falava pois seus outros filhos haviam comeccedilado a falar na presente
idade Para seguir se comunicar com a filha utilizava-se de gestos sendo difiacutecil a
comunicaccedilatildeo Foi essa situaccedilatildeo que levou a famiacutelia a procura da Escola Padre Paulo Manna
onde se encontra matriculada no preacute-escolar Nessa realidade ela recebe as mesmas
orientaccedilotildees dadas agraves crianccedilas natildeo indiacutegenas logo natildeo existe um direcionamento para a cultura
da sua etnia na escola nem na no contexto familiar
Sobre essa condiccedilatildeo Cool (2004) aborda que haacute um aspecto familiar que tem
relevacircncia particular o tipo de comunicaccedilatildeo que se utiliza em casa ou seja a forma e o estilo
de comunicaccedilatildeo que os pais utilizam com a crianccedila surda tem uma grande importacircncia para o
seu desenvolvimento e para sua aprendizagem No caso dos pais ouvintes estes necessitam do
conhecimento da educaccedilatildeo da cultura da liacutengua da pessoa surda para que possam promover
uma formaccedilatildeo linguiacutestica completa para o filho surdo E deste modo este ldquopossa consolidar e
61
aprofundar o uso e a compreensatildeo da liacutengua proacutepria enquanto veiacuteculo de cultura e
possibilidade de comunicaccedilatildeo no acircmbitordquo de conhecimento do aprendiz sem deixar agrave parte do
domiacutenio da liacutengua apropriada para esse sujeito (HERNAIZ 2009)
Desta forma a educaccedilatildeo escolar reconhecida pela proacutepria escola referente agrave inclusatildeo
da aluna indiacutegena surda aponta para a necessidade de instituir uma educaccedilatildeo triliacutengue de
forma que seu processo de ensino-aprendizagem pauta-se na Liacutengua Satereacute-Maweacute Liacutengua
Brasileira de Sinais e Liacutengua Portuguesa Mesmo sabendo da dificuldade em aprender trecircs
liacutenguas o parecer pedagoacutegico considera possiacutevel aprendizagem de trecircs liacutenguas
A partir dos argumentos referidos reitera-se a importacircncia de que a educaccedilatildeo escolar
dessa aluna deve abranger as liacutenguas de uso natural nativo e social Quando se destaca a
liacutengua de uso natural entende-se que eacute a Liacutengua de Sinais como primeira liacutengua E natildeo
inverter o processo e obrigar a crianccedila surda seja indiacutegena ou natildeo aprender a falar uma
liacutengua oral seja liacutengua indiacutegena ou Liacutengua Portuguesa Sobre a questatildeo Fernandes (2005
p20) pontua
fazer uma crianccedila surda ldquofalarrdquo ao inveacutes de propiciar a ela um meio raacutepido de
comunicaccedilatildeo linguiacutestica atraveacutes da aquisiccedilatildeo da liacutengua de sinais como primeira
liacutengua que proteja e cumpra o papel fundamental de resguardar o seu natural
desenvolvimento no que se refere a ter domiacutenio de fato de um instrumental
linguiacutestico que lhe sirva para as operaccedilotildees mentais que envolvam mecanismos
linguiacutesticos
Portanto primeiramente eacute necessaacuteria a aquisiccedilatildeo da primeira liacutengua a liacutengua de sinais
e como segunda liacutengua a liacutengua nativa de sua comunidade eacutetnica No caso da aluna indiacutegena
a liacutengua Tupi da etnia Satereacute-Maweacute na modalidade escrita Desta forma com a aprendizagem
das duas liacutenguas seraacute uma aluna biliacutengue Poreacutem diante da realidade do aluno indiacutegena surdo
que vive na zona urbana se faz necessaacuterio o aprendizado triliacutengue Liacutengua Portuguesa por
escrito
Como dito anteriormente o ensino-aprendizado da Liacutengua de Sinais deve ser
garantido ao sujeito surdo para que adquira a identidade a cultura do povo surdo20
acesso
pleno as informaccedilotildees aleacutem de significar a possibilidade de comunicaccedilatildeo e expressatildeo fluentes
do sujeito surdo com seu entorno Da mesma perspectiva o ensino da Liacutengua indiacutegena se daacute
20
Como ja mencionado no capiacutetulo 1 sobre Cultura Surda ldquo eacute o jeito surdo de ser de perceber de sentir de
vivenciar de comunicar de transformar o mundo a tornaacute-lo habitaacutevelrdquo (GLADIS PERLIN apud STROBEL
2008 p 21) Strobel ainda esclarece que o sujeito Surdo se comportam diferente do sujeito ouvinte e com isso
traz alguns ldquoartefatos culturaisrdquo (explicado no capiacutetulo 1) que satildeo as pecualiaridade da cultura surda as quais
descritas Parte das experiecircncias visuais linguiacutestico familiar literatura surda vida social e esportiva artes
visuais poliacutetica e materiais Todos estes artefatos concebidos a partir do VER (IDEM 2008 p36-77)
62
em respeito aos direitos da cultura indiacutegena previsto pela Constituiccedilatildeo Brasileira conforme
decreto nordm 6861 de maio de 2009 no seu Art 2o que determina ldquoSatildeo objetivos da educaccedilatildeo
escolar indiacutegena I- valorizaccedilatildeo das culturas dos povos indiacutegenas e a afirmaccedilatildeo e manutenccedilatildeo
de sua diversidade eacutetnica II- fortalecimento das praacuteticas socioculturais e da liacutengua e da liacutengua
materna de cada comunidade indiacutegenardquo
Neste caso a referida aluna iacutendia surda deveraacute ter a liacutengua indiacutegena como liacutengua de
conhecimento de sua cultura Para o ensino desta na forma escrita faz-se uso de cartilhas
gramaacuteticas dicionaacuterios etc
De acordo com o exposto a escola reconhece a necessidade da educaccedilatildeo escolar
triliacutengue poreacutem utiliza-se de outra realidade conforme citado pela proacutepria escola ldquoNo
primeiro momento fica junto com os colegas ouvintes onde procuramos trabalhar de forma
inclusiva no contexto biliacutengue Liacutengua Portuguesa e Liacutengua de Sinais
Sobre este aspecto Rodrigues (2005 p20) pontua
Quantas lacunas estariam sendo criadas em nome da pressuposiccedilatildeo de que a
aprendizagem da liacutengua da maioria dos falantes da comunidade (ouvintes) eacute que
daria agrave crianccedila surda condiccedilotildees de desenvolvimento social e cognitivo Quantas
etapas de desenvolvimento estariam sendo desprezadas nas fases naturais de sua
evoluccedilatildeo sob a alegaccedilatildeo de que ela seraacute capaz de alcanccedilar o que se estabelece como
meta social Que metas estariam sendo alcanccediladas afinal Que objetivos estatildeo sendo
perseguidos em prol desses paracircmetros ultrapassados em detrimento dos reais
objetivos de formaccedilatildeo psico-sociocultural deste individuo Em que a liacutengua de
sinais como primeira liacutengua ainda se encontra determinada pelo descreacutedito de
tantos especialistas da aacuterea
A realidade encontrada sobre a educaccedilatildeo natildeo soacute em uma escola que atende alunos
surdos mas tambeacutem em muitas escolas as chamadas escolas ldquoinclusivasrdquo apresentam
dificuldades no processo de ensino dos alunos surdos21
Todavia entre desencontros
sociocultural-linguiacutesticos eacute preciso fazer uma ressalva desta escola ldquoA escola disponibilizou
21
Sobre a temaacutetica da Inclusatildeo formula-se ldquoAo se avaliar que na contemporaneidade impera o discurso da
inclusatildeo indiscriminada em escolas regulares[]Esta diretriz tira o direito previsto na legislaccedilatildeo brasileira de
poder optar por uma educaccedilatildeo biliacutengue em escola proacutepria de modo que se repete a condiccedilatildeo em que aos surdos eacute
imposto um enorme sofrimento na medida em que nos denominamos processos inclusivos junto aos ouvintes
permanecem privados de conviver com seus pares e de acessar o conhecimento na Liacutengua de Sinais como liacutengua
de instruccedilatildeo [] Os surdosde diferentemente de outros segmentos tecircm a necessidade de agrupar-se para formar
comunidade linguiacutestica por meio das quais possam construir uma ldquocomunidade de experiecircnciasrdquo (WITKOSKI
2012 p33-34)
63
uma professora surda para a aquisiccedilatildeo da Liacutengua Brasileira de Sinais repassando o conteuacutedo
ministrado na salardquo onde cada um desses alunos eacute inserido
A escola positivamente conta com a colaboraccedilatildeo do trabalho docente de uma
professora surda Esta tem um papel fundamental como modelo linguiacutestico principalmente
quando alunos surdos provecircm de famiacutelias ouvintes que natildeo tecircm acesso agrave cultura e agrave Liacutengua
de Sinais Cabe ao professor surdo comunicar-se fluentemente com o aluno surdo ser um
input linguiacutestico para a identificaccedilatildeo da cultura do ser surdo
Dessa forma Strobel (2008 p 40) destaca
Este contato crianccedila surda x adulto surdo atraveacutes de uma liacutengua em comum que eacute a
liacutengua de sinais eacute que proporcionaraacute o acesso agrave linguagem e desta forma estaraacute
assegurada a identidade e a cultura surda que eacute transmitida naturalmente agrave crianccedila
surda em contato com a comunidade surda
Observa-se que caso a crianccedila surda natildeo tenha o direito a sua diferenccedila preservado
este aprendiz teraacute sua inserccedilatildeo no mundo dos ouvintes de forma incerta eou sem esperanccedila de
uma vida normal A situaccedilatildeo se agrava na medida em que a sociedade ouvinte deixa a desejar
quanto agrave participaccedilatildeo dos sujeitos surdos em decorrecircncia da escassez dos vaacuterios recursos
visuais que promovem acessibilidade para eles
Contudo os povos surdos hoje satildeo mais conscientes de seus direitos entatildeo esses
sujeitos cultural e politicamente lutam pelos mesmos Direitos estes tambeacutem dos povos
indiacutegenas como jaacute comentados anteriormente
Todavia esse aspecto ainda estaacute distante da realidade dos sujeitos focos do estudo de
acordo com relato da escola Segundo depoimentos de alguns indiacutegenas a aprendizagem
indiacutegena passa pela demonstraccedilatildeo observaccedilatildeo imitaccedilatildeo tentativa e erro e quando o aluno
vem para a escola tem que se socializar e obedecer a comandos regidos pelo sistema e isso
muitas vezes o deixa confuso e os maiores ateacute desistem A situaccedilatildeo se agrava quando esse fato
se refere ao sujeito iacutendio surdo incluiacutedo na escola pois este requer um diferencial ainda
maior reconhecido pela escola
Dessa forma satildeo necessaacuterias estrateacutegias de ensino diferenciadas que deem suporte
para que a aluna seja trabalhada de forma triliacutengue no contexto escolar para que ela
natildeo perca a sua essecircncia a sua cultura que sejam adaptados trabalhos de acordo
com a realidade indiacutegena para que ela natildeo perca a sua identidade e saiba conduzir
sua aprendizagem dentro de um contexto diferenciado podendo aprender o que lhe eacute
de direito como viver bem em sociedade22
22
Texto extraiacutedo do parecer pedagoacutegico da aluna indiacutegena surda que estuda na Escola de Aacuteudio e Comunicaccedilatildeo
Pe Paulo MannaParintinsAm (ANEXO D)
64
A partir das consideraccedilotildees tecidas no parecer pedagoacutegico torna-se evidente ema
necessidade de ampliar e aprofundar as reflexotildees sobre a inclusatildeo de iacutendios surdos em vaacuterios
espaccedilos da sociedade especialmente no espaccedilo educacional escolar Ou seja haacute necessidade
tambeacutem de poliacuteticas linguiacutesticas voltada para esse acircmbito
Nesse sentido eacute necessaacuterio que se tenha como meta uma tomada de decisotildees poliacuteticas
para que gradativamente se possa controlar a situaccedilatildeo de aprendizagem do surdo no processo
soacutecio cultural onde ele estiver inserido Ateacute por que existe uma proposta educativa
intercultural de modo biliacutengue no contexto indiacutegena Assim surge a necessidade de accedilotildees
objetivas para garantir na praacutetica esta proposta de ensino a fim de enriquecer o indiacutegena
surdo com desenvolvimento da liacutengua de sinais como veiacuteculo de comunicaccedilatildeo acrescendo
seus conhecimentos a partir do pluralismo cultural uma vez que estaacute amparado por
legislaccedilotildees especiacuteficas
Reitera-se a necessidade de accedilotildees objetivas especialmente no que tange a formaccedilatildeo
especiacutefica de professores pois mesmo com a garantia da legislaccedilatildeo a presente realidade
desses sujeitos estaacute distante do contexto sociocultural-linguiacutestico do ser iacutendio surdo A
exemplo disso tem-se outra realidade sociocultural-linguiacutestico do segundo aluno indiacutegena
surdo de 24 anos que foi transferido de uma escola que desenvolve atividades educacionais
especiacuteficas para outra no processo denominado de educaccedilatildeo inclusiva onde cursa o nono ano
do ensino fundamental das seacuteries finais e faz atendimento na sala de recurso porque os
professores das disciplinas do curso natildeo tecircm formaccedilatildeo para acompanhaacute-lo
Os relatos da famiacutelia indicam que o aluno nasceu na aacuterea indiacutegena de Ponta Alegre
poreacutem muito pequeno sua famiacutelia mudou-se para zona urbana municiacutepio de Parintins o qual
cresceu longe de sua cultura indiacutegena desconhecendo assim a liacutengua de sua etnia Este eacute um
caso que promove o desaparecimento de liacutenguas indiacutegenas o conhecido deslocamento
sociolinguiacutestico
Para entender o processo que instaura este deslocamento linguiacutestico ressalta-se que
primeiramente a educaccedilatildeo da pessoa perpassa pelo uso da liacutengua materna no ambiente
familiar nas relaccedilotildees famiacuteliares na qual utiliza uma comunicaccedilatildeo intra e extrafamiliar Se a
famiacutelia mantiver sua liacutengua nativa em uso os membros da mesma permaneceratildeo biliacutengues
Poreacutem se a famiacutelia por pressatildeo social do uso da liacutengua dos falantes da sociedade local seja
porque deseja se adequar ao meio onde se insere a liacutengua no caso indiacutegena entra no processo
de esquecimento para as geraccedilotildees vindouras
65
Eacute o caso do aluno acima que eacute biliacutengue (Liacutengua Brasileira de Sinais e Liacutengua
Portuguesa na modalidade escrita) contudo desconhece sua raiz cultural a liacutengua de sua
etnia Seu contexto educacional eacute baseado em ldquomodelo de escola inclusivardquo o aluno vai para
sala de aula com alunos ouvintes onde a liacutengua portuguesa eacute a liacutengua padratildeo a ser ensinada e
estudada e posteriormente faz atendimento na sala de recurso em sua liacutengua natural Libras
Logo a escola pode ajudar no incentivo favorecendo a revitalizaccedilatildeo da liacutengua
indiacutegena no contexto educacional Para isso haacute necessidade de um corpo docente com a
formaccedilatildeo em Liacutengua indiacutegena e Liacutengua Brasileira de Sinais aleacutem da Liacutengua Portuguesa que eacute
usada como a base de ensino
Jaacute na comunidade Uiacurapaacute da etnia Maweacute encontramos outra realidade de contexto
de um surdo indiacutegena Todavia natildeo foi possiacutevel fazer um acompanhamento mais preciso
sobre sua situaccedilatildeo educacional escolar O uacutenico dado correspondente agrave questatildeo linguiacutestica eacute o
modo como ele se comunica conforme foi relatado por membros da comunidade local se
caracteriza pela utilizaccedilatildeo de gestos criados para se fazer compreender Desta forma diante da
ausecircncia de uma liacutengua estruturada a Libras por fazer uso somente de gestos ele apresenta
dificuldades de entender o ensino e de se comunicar com seus pares Da mesma forma ocorre
no contexto familiar e na comunidade uma vez que o aluno surdo vive quase que isolado
devido ao preconceito existente ateacute mesmo pela proacutepria comunidade por natildeo o entenderem e
nem saberem qual a forma para se comunicar aquele indiviacuteduo Assim ele vive em uma
situaccedilatildeo de rejeiccedilatildeo e marginalizaccedilatildeo estabelecida a partir da ausecircncia de uma liacutengua que
promova a comunicaccedilatildeo com o predomiacutenio de um processo de estigmatizaccedilatildeo deste sujeito
surdo
No municiacutepio de Maueacutes Boa Vista do Ramos os iacutendios surdos localizados satildeo de
idade adulta natildeo tiveram a oportunidade de frequentar escola Portanto sua realidade
linguiacutestica fundamenta-se somente na forma gestual que denominam de caseira atribuindo
significados peculiares de seu contexto local No que diz respeito ao aspecto educacional as
pessoas contatadas demonstraram apenas uma preocupaccedilatildeo sobre a existecircncia futura de
possiacuteveis iacutendios surdos nesses municiacutepios e sua formaccedilatildeo educacional Contudo natildeo
afirmaram o que fariam se encontrassem outros sujeitos com essa necessidade de
comunicaccedilatildeo
Como jaacute mencionado natildeo haacute registro sobre a situaccedilatildeo linguiacutestica e educacional de
nenhum iacutendio surdo da etnia Satereacute-Maweacute nos municiacutepios de Nhamundaacute Satildeo Sebastiatildeo do
Uatumatilde e de Urucaraacute Portanto as informaccedilotildees educacionais natildeo satildeo apresentadas nestes
contextos
66
43 Inventaacuterio de gestos da linguagem caseira dos surdos Satereacute-Maweacute
A presente pesquisa baseia-se em um meacutetodo de estudos de etnografia com o intuito
de descrever e observar os gestos caseiros que os indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute usam para se
comunicarem com seus pares nas comunidades onde residem O meacutetodo tambeacutem ajuda a
conhecer a identidade e sua interaccedilatildeo no meio da comunidade visto haacute uma diversidade
linguiacutestica rica usada pelos surdos indiacutegenas nas diversas localidades percorridas pelo
pesquisador na microrregiatildeo de Parintins
431 Os sinais caseiros de indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute
O objetivo do mapeamento eacute coletar os sinais caseiros ou emergentes para que esses
sinais possam ser reconhecidos e compreendidos pela sua comunidade como meio linguiacutestico
de comunicaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo de sua cultura
Para a concretizaccedilatildeo do mapeamento foi necessaacuterio a pesquisa de campo na
comunidade onde se fazia presente o indiacutegena surdo para as devidas observaccedilotildees
432 O Municiacutepio de Parintins
No municiacutepio de Parintins foi localizado trecircs (03) indiacutegenas surdos com suas
caracteriacutesticas linguiacutesticas diferenciadas de suas origens sendo que dois indiacutegenas residem na
zona urbana e um indiacutegena localizado na comunidade de Uaicurapaacute os quais foram o objeto
investigativo para a coleta de dados Os registros foram feitos de forma diferenciada de modo
que primeiramente conversei com as lideranccedilas indiacutegenas acompanhado de inteacuterprete e guia
linguiacutestico Durante este encontro foram feitas no local observaccedilotildees visuais sendo que em
alguns casos realizamos registros de imagens filmagens e entrevistas Eacute importante destacar
que os registros soacute puderam ser feitos quando permitidos pelos sujeitos da pesquisa ou pela
lideranccedila prevalecendo em sua maior parte a observaccedilatildeo visto que materiais tecnoloacutegicos e
de miacutedias causavam incocircmodo aos entrevistados fazendo com que se tornassem
incomunicaacuteveis quando percebiam que estavam sendo monitorados
67
4321 O primeiro surdo
Esse primeiro indiacutegena possui surdez moderada Eacute um senhor com idade de 72 anos
residente no Uiacurapaacute23
O contato foi feito na Casa do Iacutendio de Parintins Em uma
conversaccedilatildeo informal explicou que perdeu a audiccedilatildeo com o tempo eacute oralizado24
e se
comunica com a comunidade na liacutengua nativa Satereacute-Maweacute Trata-se de um cidadatildeo calmo
fala apenas de suas necessidades visto que natildeo se manifesta muito devido suas limitaccedilotildees
auditivas que dificultam uma melhor compreensatildeo
Como referido o surdo em questatildeo tem surdez moderada Neste sentido observa-se
que a surdez ocorre de acordo com diferentes classificaccedilotildees quanto ao niacutevel de perda auditiva
Ou seja
Quanto ao grau - leve (perda de 26 a 40 dBNA) - moderada (perda de 41 a 55
dBNA) - moderadasevera (perda de 56 a 70 dBNA) - severa (perda de 71 a 90
dBNA) - profunda (a partir de 91 dBNA) (RUSSO e SANTOS 1988 apud
NADER 2011 p 2)
Retomando a histoacuteria do sujeito surdo em questatildeo observa-se que ele reside na zona
rural no Uiacurapaacute com seus parentes e sua sobrevivecircncia eacute atraveacutes do que planta e pesca
Observando-o percebo que o mesmo tem uma vida normal com seus pares o que falta para
uma interaccedilatildeo mais ativa na comunidade eacute estimulo e o incentivo linguiacutestico pois muitas
pessoas satildeo impacientes e acabam deixando-o isolado linguisticamente
4322 O segundo surdo
Eacute um indiacutegena natural de Ponta Alegre25
concluiu o ensino fundamental em uma
escola puacuteblica no municiacutepio de Parintins Sua surdez foi percebida por seus pais ainda
crianccedila causada por doenccedila congecircnita A famiacutelia mudou-se para o municiacutepio de Parintins em
busca de uma melhor educaccedilatildeo para filho surdo entretanto os pais eram usuaacuterios da Liacutengua
Satereacute-Maweacute mas natildeo mais praticam pela influecircncia da Liacutengua Portuguesa e tambeacutem natildeo 23 Rio que fica interliga com Rio Paranaacute do Ramos ndash Parintins (AZEVEDO 2014) 24
O modelo cliacutenico-terapecircutico baseia-se numa visatildeo patoloacutegica de surdez e num modelo individual de
atendimento aacute diversidade que tem como referecircncia o Oralismo O oralismo eacute uma filosofia educacional para
surdos cujo discurso propotildee a superaccedilatildeo da surdez e a aceitaccedilatildeo social do surdo por meio da oralizaccedilatildeo Em
outras palavras este modelo defende o aprendizado apenas da Liacutengua Portuguesa na sua modalidade oral e
escrita na escola por entender que esta eacute a uacutenica possibilidade de integrar o surdo na sociedade majoritaacuteria
ouvinte (SLOMSKI 2010 p 32) 25
A comunidade de Ponta Alegre situa-se no Rio Andiraacute com 4 horas de viagem de lancha para chegar a
comunidade (AZEVEDO 2014)
68
frequentam a comunidade Satereacute-Maweacute em busca de assistecircncia ou outros meios oferecidos
pela tribo Portanto a famiacutelia cresceu e disseminou deixando de lado a liacutengua nativa e
tradiccedilatildeo indiacutegena vivendo uma vida regular na zona urbana
O surdo hoje com 20 anos natildeo conhece a liacutengua nativa de sua comunidade se
comunica fluentemente com a Liacutengua de Sinais escreve o Portuguecircs e se oraliza na
comunicaccedilatildeo com seus pais que tambeacutem natildeo sabem a Liacutengua de Sinais
Atraveacutes de sua histoacuteria eacute possiacutevel perceber que este sujeito surdo por estudar em
escola inclusiva com forte influecircncia a oralista desenvolveu as duas linguas a Liacutengua
Brasileira de Sinais e a Liacutengua Portuguesa Poreacutem sua situaccedilatildeo eacute diferente de outros
indiacutegenas surdos que residem nas comunidades que usam os sinais caseiros para se
comunicarem Isso acaba sendo uma observaccedilatildeo abstrata da realidade entre os surdos que
moram na zona urbana e na comunidade Satereacute-Maweacute
4323 O terceiro surdo
Eacute uma crianccedila de 5 anos descendente da etnia Satereacute-Maweacute estuda em uma escola
filantroacutepica em Parintins Trata-se de uma aluna inteligente que demonstrava timidez na
presenccedila de pessoas estranhas Verificou-se que ela consegue aprender e identificar os objetos
apresentados para que identificasse Aos 4 anos antes de entrar para a escola utilizava alguns
sinais caseiros para se comunicar com seus familiares Na sala de aula o ensino oferecido a
ela eacute o biliacutengue26
tendo a Liacutengua Brasileira de Sinais e a Liacutengua Portuguesa compondo essa
educaccedilatildeo O ensino nessa instituiccedilatildeo vai ateacute a 5ordf serie Por esta razatildeo a aluna futuramente
precisaraacute ser transferida para uma escola de ensino fundamental
Tabela 2 11 Sinais caseiros utilizados pela crianccedila indiacutegena surda de 5 anos e seus
familiares
26
O Bilinguismo eacute uma filosofia de ensino cujo discurso propotildee a diversidade cultural e a aceitaccedilatildeo social do
surdo por meio do bilinguismo (duas liacutenguas Liacutengua de Sinais e segunda liacutengua) Essa filosofia concebe o surdo
como um ser diferente e a surdez como ldquoatributo humanordquo como uma caracteriacutestica da pessoa surda resultado
de uma deficiecircncia orgacircnica que natildeo se esgota nela mesma (SKLIAR 1997 apud SLOMSKI 2010 p 41)
SINAIS CASEIROS DESCRICcedilAtildeO
AacuteGUA Matildeo direita com o dedo polegar fazendo a expressatildeo de beber aacutegua
BRINCAR As duas matildeos fechadas batendo as pontas dos dedos em
movimento
BANHEIRO Matildeo direita mostra o local e a esquerda eacute posicionada na barriga
COMIDA As duas matildeos abrindo e fechando repetidamente proacuteximo da boca
DORMIR As duas matildeos com as palmas juntas encostar-se ao rosto com
expressatildeo de querer dormir
69
Fonte AZEVEDO (2014)
Figura 2 Sinais caseiros utilizado pela crianccedila de 5 anos
FOME Matildeo direita indo em direccedilatildeo da barriga fazendo expressatildeo facial de
fome
MAtildeE Matildeo direita aberta no rosto fazendo movimento nos dedos com
expressatildeo chamativa
IRMAtildeO Matildeo direita batendo no antebraccedilo para chamar atenccedilatildeo
PAI Matildeo direita com os dedos pegando o queixo
PESSOA Matildeo direita com dedo indicador fazendo expressatildeo de algueacutem
CHORAR As duas matildeos fechadas com os dorsos esfregando nos olhos
AacuteGUA BRINCAR
COMIDA DORMIR FOME
MAtildeE IRMAtildeO PAI
BANHEIRO
70
44 O indiacutegena surdo da Comunidade de Ponta Alegre do municiacutepio de Barreirinha
Foi localizado um aluno surdo na comunidade de Ponta Alegre que faz parte do
municiacutepio de Barreirinha trata-se de um jovem de 13 anos que estuda na Escola Municipal
Rosa Cabral e mora em uma aldeia mais distante a observaccedilatildeo foi feita na escola Nessa
viagem foi obtido a autorizaccedilatildeo de viagem para a aldeia na Secretaria de Educaccedilatildeo Municipal
de Barreirinha por meio do contato com o coordenador geral do setor indiacutegena daquela aacuterea
o senhor Santino Lopes que muito contribuiu com o projeto e de servir como guia de
viagem
O devido aluno estuda na 3ordf Serie do ensino fundamental De acordo com as
observaccedilotildees feitas O ensino predominante na sala para o ensino deste aluno eacute a Liacutengua
Portuguesa visto que os professores em sua maioria vem do municiacutepio de Barreirinha
Embora o ensino seja bem aplicado e a escola dispotildee de material didaacutetico apropriado para a
seacuterie natildeo haacute metodologia de ensino especializado para surdo natildeo existindo Sala de
Recursos27
O aluno aprende lentamente demonstrando dificuldades de entender os
conteuacutedos
A comunicaccedilatildeo com seus professores e colegas soacute acontecem atraveacutes de sinais
caseiros e expressotildees manuais O aluno surdo vive quase que isolado sem ter a possibilidade
de estabelecer uma comunicaccedilatildeo satisaftoacuteria dentro do contexto escolar devido ao
27
Uma das inovaccedilotildees trazidas pela Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Especial na Perspectiva da Educaccedilatildeo
Inclusiva (2008) eacute o Atendimento Educacional Especializado ndash AEE um serviccedilo da educaccedilatildeo especial que []
identifica elabora e organiza recursos pedagoacutegicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena
participaccedilatildeo dos alunos considerando suas necessidades especiacuteficas
O AEE complementa eou suplementa a formaccedilatildeo do aluno visando a sua autonomia na escola e fora dela
constituindo oferta obrigatoacuteria pelos sistemas de ensino Eacute realizado de preferecircncia nas escolas comuns em um
espaccedilo fiacutesico denominado Sala de Recursos Multifuncional Portanto eacute parte integrante do projeto poliacutetico
pedagoacutegico da escola (BRASIL 2008 p 3)
CHORAR PESSOA
71
preconceito existente Ateacute mesmo na proacutepria comunidade por natildeo entenderem e nem saberem
de que forma comunicarem-se com o mesmo a situaccedilatildeo de exclusatildeo se repete
Vale destacar que diante desta ausecircncia da qualidade de ensino para o aluno surdo a
professora Maria Inecircs ao responder um questionaacuterio segue algumas afirmativas para mudar
esta realidade Desta forma a educadora afirma que
- Eacute muito importante a capacitaccedilatildeo em cursos de libras e livros didaacuteticos proacuteprios
como forma de melhorar o ensino e a comunicaccedilatildeo com aluno surdo na
comunidade como parte da educaccedilatildeo inclusiva para facilitar o ensino e
aprendizado acima de tudo conhecer sua liacutengua materna identidade do povo
Satereacute-Maweacute
Pelo relato do Gestor da Escola Senhor Dulcemar a necessidade jaacute referida pela
educadora acima de materiais didaacuteticos para subsidiar o ensino eacute novamente colocada em
destaque conforme pode ser vislumbrado no relato transcito a seguir
- Eu como gestor sinto-me gratificado pelo trabalho a ser desenvolvido aqui com a
questatildeo da Libras um trabalho realizado pelo professor Marlon Jorge Pois eacute muito
importante devido agrave dificuldade que a educaccedilatildeo Satereacute- Maweacute vem tendo
principalmente quando se trata de alunos surdos indiacutegenas e ateacute mesmo por falta
de material didaacutetico Esse trabalho vai ser importante aqui na aacuterea indiacutegena para
ajudar o professor na sala de aula como ensinar como educar e como lidar com
esses alunos com necessidades especiais Entatildeo eacute um trabalho muito importante
pra noacutes e estamos aqui a disposiccedilatildeo e tambeacutem para contribuir como gestor da
escola juntamente com os professores e pra noacutes eacute muito bom esse trabalho e que o
Sr possa desenvolver esse seu projeto essa cartilha que com o aacutepice das aulas de
libras que com certeza vai fortalecer muito mais a educaccedilatildeo do povo Satereacute
Maweacuterdquo
Tabela 313 sinais caseiros coletados e utilizados pelo aluno da comunidade de Ponta Alegre
Fonte Azevedo (2014)
SINAIS CASEIROS DESCRICcedilAtildeO
AacuteGUA Usa as duas matildeos fazendo impressatildeo de beber alguma coisa
BARCO Usa-se a matildeo direita aberta em posiccedilatildeo vertical fazendo uma
expressatildeo da accedilatildeo do barco
BANHO Fazer a expressatildeo de pular na aacutegua com os braccedilos esticados
BANHEIRO Matildeo direita usando o indicador fazendo expressatildeo sair fora sala
COMIDA Matildeo esquerda aberta matildeo direita usando como o objeto metaacutelico
COBRA Usando os dedos da matildeo direita beliscando o pulso da matildeo esquerda
ESCOLA Faz-se o sinal de casa
ESTUDAR Faz a expressatildeo de escrever
FOME Matildeo direita levando em direccedilatildeo da barriga fazendo expressatildeo facial
de fome
FARINHA As duas matildeos palmas para baixo fazendo a expressatildeo de esfarelar
alguma coisa
LANCHA Usa a matildeo direita palma para cima fazendo uma accedilatildeo da rapidez
para frente
PEIXE Matildeo direita fazer a expressatildeo de caccedilar o peixe com o arpatildeo
PESSOA Matildeo direita com dedo indicador fazendo expressatildeo de algueacutem
72
Figura 3 Sinais caseiros utilizados pelo aluno da comunidade de Ponta alegre ndash
Barreirinha
AacuteGUA BARCO
BANHEIRO
BANHO
COMIDA
ESCOLA
FOME LANCHA PESCAR PEIXE
ESTUDAR FARINHA
COBRA
73
45 Os indiacutegenas surdos do Municiacutepio de Maueacutes
Situado entre os rios Madeira e Tapajoacutes o municiacutepio de Maueacutes estaacute localizado no
Meacutedio Amazonas que hoje eacute denominado como microrregiatildeo aacuterea leste do Estado Distante
de Manaus cerca de 30 km em linha reta ou o equivalente 45 minutos por via aeacuterea estando
a 356 km por via fluvial cerce de 16 a 18 horas de barco
Nesse municiacutepio foi realizado duas viagens com a finalidade de fazer um mapeamento
das aacutereas indiacutegenas bem como descobrir a existecircncia de surdos nas aldeias O primeiro
contato foi na Secretaria de Educaccedilatildeo do municiacutepio primeiramente me apresentado como
aluno pesquisador juntamente com os documentos comprobatoacuterios de acesso para realizar a
pesquisa nas aacutereas indiacutegenas As informaccedilotildees que tinha antes de estabelecer o contato
apontavam para a existecircncia de alunos indiacutegenas surdos matriculados na sede do municiacutepio
Poreacutem a secretaria informou desconhecer a existecircncia de alunos indiacutegenas matriculados na
rede publica do municiacutepio nem saber sua localizaccedilatildeo para contatos sendo orientado a
procurar na Casa do Estudante Indiacutegena Satereacute-Maweacute que se localiza em um bairro mais
distante dali
Chegando ao SESAI - Secretaria de Sauacutede Indiacutegena obtivemos acesso agraves informaccedilotildees
devido ao fato de que a pessoa responsaacutevel estava em viagem sendo que retornaria na outra
semana Em outra busca formos agrave Casa do Estudante Satereacute-Maweacute onde conversamos com o
coordenador Sr Jusivam que disse saber da existecircncia de indiacutegenas surdos nas comunidades
na Marau e Andiraacute mas natildeo ter dados quantitativos devido ao fato deles natildeo terem procurado
a Casa do Estudante em busca de assistecircncia que auxiliassem sua integraccedilatildeo em escolas
regulares ou inclusivas Observa-se que a Casa do Estudante podia auxiliar eles a
conseguirem uma escola para estudarem na zona urbana jaacute que esta eacute uma das atribuiccedilotildees da
instituiccedilatildeo
Ao sermos informados que as comunidades onde havia surdos eram distantes e
necessitava de apresentar outros documentos da Coordenaccedilatildeo Geral de Educaccedilatildeo que ficava
no municiacutepio de Barreirinha Tambeacutem se fazia necessaacuterio preparar uma programaccedilatildeo de
viagem para que pudessemos chegar ateacute aquela localidade de modo que nesta precisava
inclusive organizar para ter inteacuterpretes que falassem a liacutengua Satereacute-Maweacute e inteacuterpretes de
Libras Aleacutem destes precisava contar com um acompanhante para registrar as imagens e
filmagens se autorizadas anotando tudo que fosse necessaacuterio
Fazendo uma reflexatildeo sobre a viagem e os entraves que tinhamos pela frente para a
concretizaccedilatildeo do projeto e as distacircncias geograacuteficas para alcanccedilar os objetivos da pesquisa
74
Contudo ao encontrar um surdo indiacutegena sendo o principal objeto da pesquisa em funccedilatildeo da
grande satisfaccedilatildeo de poder contribuir para o desenvolvimento linguiacutestico dos indiacutegenas surdos
e para que a comunidade compreenda como um ser incluiacutedo a partir do respeito a sua cultura
inserindo em seus modos e haacutebitos foi compensador enfrentamos todos os obstaacuteculos
Visitamos a Universidade do Estado do Amazonas ndash UEA onde tivemos a grata
surpresa de saber que havia uma turma de formaccedilatildeo em licenciatura Indiacutegena para a
comunidade Esperamos a aula acabar para falar com o professor o qual pediu para vir outro
dia para conversar com os alunos Foi nessa ocasiatildeo que conhecemos trecircs professores com os
quais fizemos um acordo para que na proacutexima viagem me levassem para a aldeia a fim de
realizar o mapeamento
Voltando para Parintins foi elaborado um roteiro para viagem a aacuterea indiacutegena Satereacute-
Maweacute pelos rios Maueacutes-Accedilu Rio MarauUrupadi A viagem aconteceu no dia 02 de
fevereiro de 2014 saindo de barco de Parintins indo ateacute o municiacutepio de Maueacutes No dia
seguinte as 8 horas acompanhado do professor Jesiel pegamos uma voadeira de 150HP com
destino ao territoacuterio Satereacute-Maweacute Foi uma viagem perigosa devido agraves condiccedilotildees dos rios e de
difiacutecil acesso para chegarmos laacute Todavia fizemos um esforccedilo e conseguimos nos deslocar ateacute
a comunidade Percorremos de voadeira uma viagem que durou aproximadamente 8 horas
pelo Rio Maueacutes Accediluacute Depois de uma hora e meia de viagem chegamos ao Rio Urupadi e
seguimos mais uma hora e meia de viagem ateacute a comunidade indiacutegena Vale do Quiinha
Nessa aldeia pegamos o professor Jacob Santos de Souza que nos acompanhou para a
proacutexima aldeia Ilha Michiles que fica no Rio Marau Nessa aldeia pegamos outro professor
Satereacute-Maweacute Jocimar Alencar dos Santos Saiacutemos da Ilha Michiles com destino a
comunidade Santa Maria que fica na divisa do Rio Urupadi e Manjuru A cada visita que
faziamos nas comunidades indiacutegenas percebemos no cotidiano a diversidade presente nas
aacutereas indiacutegenas Satereacute-Maweacute Ao perguntar se havia algueacutem surdo na famiacutelia e a resposta
sempre vinha de forma afirmativa o que me demonstrou que todos os esforccedilos para realizar a
viagem foram compensados diante da riqueza de dados coletados
A primeira iniciativa adotada com relaccedilatildeo a esse momento foi reunir com os
comunitaacuterios envolvidos nas atividades escolares A reuniatildeo teve como objetivo observar e
entrevistar alguns indiacutegenas para posteriormente analisar como se procede agrave comunicaccedilatildeo
entre indiacutegenas surdos e ouvintes A reuniatildeo foi muito uacutetil para os estudos e anaacutelise de
informaccedilotildees Os surdos existentes na comunidade nunca estudaram devido agrave comunidade
Santa Maria ficar distante da zona urbana e a escola existente para alunos ouvintes ficar em
75
outra comunidade o que inviabiliza a ida deles sendo que tambeacutem natildeo haacute professores
especializados para atenderem a clientela surda existente no Rio Marau
Encontramos dois indiacutegenas surdos na comunidade de Santa Maria que foram objeto
de estudos No entanto houve informaccedilotildees repassadas de que haacute outros trecircs surdos em outras
comunidades mais distante na mesma aacuterea Satereacute-Maweacute A visita para contactar estes outros
trecircs surdos ficou para a proacutexima viagem de observaccedilatildeo e coleta dos dados
451 O primeiro surdo da Comunidade de Santa Maria
No contato e observaccedilatildeo que tivemos com o surdo o mais novo tem 24 anos mora
com a famiacutelia natildeo conhece nenhuma liacutengua se comunica com gestos e sinais caseiros A
comunidade assim com a famiacutelia demosntrou pouco se importar com ele de forma que natildeo
haacute estiacutemulo ou interesse para que haja uma interaccedilatildeo linguiacutestica satisfatoacuteria entre eles
O ponto de encontro com seus colegas fica na parte central da comunidade que tem
um campo de futebol Laacute eles se concentram embaixo de uma aacutervore Neste lugar o surdo
costuma ficar quase diariamente com intuito de se unir e brincar com os colegas Ele usa os
sinais caseiros com expressotildees com a intenccedilatildeo de conseguir se comunicar com os colegas
Poreacutem alguns natildeo conseguem entender enquanto outros falam a Liacutengua Satereacute-Maweacute
Apesar do esforccedilo do surdo de tentar compreender o que eacute falado via a leitura labial na
maioria das vezes natildeo consegue compreender Poreacutem mesmo assim sinaliza balanccedilando a
cabeccedila com expressatildeo de concordacircncia afirmativa mesmo natildeo entendendo a mensagem
Tabela 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa
Maria
SINAIS CASEIROS
COLETADOS
DESCRICcedilAtildeO
AacuteGUARIO Usam-se as duas matildeos fazendo a expressatildeo de banzeiro
ANTA Matildeo direita fazendo a expressatildeo do focinho do nariz
AacuteRVORE As matildeos abertas fazendo expressatildeo de segurar o troco ao mesmo tempo
levando para cima
BARCO Usa a matildeo direita fechada fazendo expressatildeo de abrir e fechar a matildeo
como sinal de fumaccedila
BANHO Fazer a expressatildeo de pular na aacutegua com os braccedilos esticados
CASA As duas matildeos palmas para baixo fazendo um balanccedilo de movimento de
uma rede
CACcedilAR PEIXE Matildeo direita fazer expressatildeo de soltar o arpatildeo
CUIA As duas matildeos juntas fazer a expressatildeo de raspar a cuia
COCO Fazer a expressatildeo de tirar o coco com a vara
COMIDA As duas matildeos levando ateacute a boca
76
Fonte Azevedo (2014)
Figura 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa Maria
(30 sinais coletados)
COBRA Matildeo direita fazendo a expressatildeo da picada da cobra
FACA Matildeo direita fachada fazendo a expressatildeo de furar alguma coisa para
baixo
FLECHA Fazer a expressatildeo de jogar a flecha
FORMIGA Matildeo direita com os dedos beliscando o braccedilo esquerdo
FOME Matildeo direita levando em direccedilatildeo da barriga fazendo expressatildeo facial de
fome
FARINHA As duas matildeos fazer a expressatildeo de fazer farinha
GUARANAacute Fazer a expressatildeo de ralar o guaranaacute
JACAREacute Os dois indicadores das matildeos fazendo expressatildeo de dentes grandes do
jacareacute
LANCHA As duas matildeos dedos juntos fazer a expressatildeo de uma accedilatildeo raacutepida para
frente
MACACO Com braccedilos abertos fazer a expressatildeo de macaco
MALOCA As duas matildeos com os dedos encostados puxar para os lados opostos
MANDIOCA Fazer expressatildeo de descascar algum
ONCcedilA Com as matildeos fazer pintas no rosto
PAI As duas matildeos esfregando os indicadores
PEIXE Faz se expressatildeo de descamar o peixe
PILAtildeO As duas matildeos juntas fazendo a expressatildeo de socar a crueira
POTE AacuteGUA As duas matildeos juntas palmas para cima elevando para cima em curvas
onduladas
PASSAacuteRO As duas matildeos fazendo o movimento de paacutessaro
PESSOA Matildeo direita fazendo a expressatildeo de pegar no cabelo
TIPITI As duas matildeos fazendo a expressatildeo de espremer algum
PENEIRAR As duas matildeos em forma letra A fazer expressatildeo de balanccedilar o objeto
AacuteGUA ANTA AacuteRVORE
VIAGEM BANHO
77
VIAJAR
CASA CACcedilAR ALIMENTO CUIA
COCO COMIDA
FACA
FARINHA
FORMIGA
GUARANAacute
FOME
FACA
FLECHA
78
JACAREacute LANCHA
MACACO
MANDIOCA ONCcedilA
MALOCA PAI
POTE DE AacuteGUA PILAtildeO
LANCHA JACAREacute
PEIXE
79
452 O segundo surdo da Comunidade de Santa Maria
O segundo surdo visitado um senhor adulto com identidade natildeo revelada residindo na
Comunidade de Santa Maria Eacute um cidadatildeo reservado e fechado para desconhecidos Como
nossa equipe era composta de 05 profissionais sendo 03 (trecircs) professores indiacutegenas que me
acompanharam para serem facilitadores linguiacutesticos e um colaborador local para captar as
imagens ficarmos 04 (quatro) dias na comunidade para observaccedilotildees Apesar do tempo o
investido para conseguir o contato o mesmo se mostrou irredutiacutevel e natildeo se dispos a
conversar conosco Observa-se que mora sozinha e eacute raro ele se manifestar na comunidade
Pela histoacuteria contada a seu respeito apesar de natildeo se comunicar manteacutem sua residecircncia de
maneira organizada cultiva de algumas plantaccedilotildees como mandioca banana guaranaacute aleacutem de
produzir farinha tambeacutem faz pescaria para se alimentar Foi relatado que ajuda alguns
vizinhos e amigos com o que produz aleacutem de ser experiecircncia em matildeo de obra na confecccedilatildeo
de trepadeira silvestre que facilita subir nas aacutervores coqueiros e accedilaizeiros
PASSAacuteRO PESSOA COBRA
TIPITI PENEIRAR
80
Sobre o contexto educacional tendo como tema central a educaccedilatildeo escolar indiacutegena
o professor Jesiel (2014)28
(que eacute indiacutegena e concluiu o curso de pedagogia intercultural na
Universidade do Estado do Amazonas localizado no municiacutepio de Maueacutes) argumentou que o
territoacuterio Satereacute-Maweacute eacute muito grande sendo longa a distacircncia para se chegar na zona
urbana ateacute de forma que mesmo o deslocamento de uma comunidade para outra dificulta os
indiacutegenas irem para a escola Estas segundo o educador referido satildeo algumas razotildees que
impedem muitos indiacutegenas de estudarem na medida em que acarreta prejuiacutezo para a famiacutelia
especialmente de perda de tempo principalmente para os adultos que tem compromisso no
campo e com a comunidade
Para solucionar este problema devido a distacircncia as famiacutelias e os liacutederes indiacutegenas
possuem propostas e lutas para a construccedilatildeo de escolas nas aldeias o que facilitaria o acesso
dos surdos indiacutegenas da comunidade na escola E ao considerar que o indiacutegena surdo
compreende e se comunica com seus pares atraveacutes de gestos e sinais caseiros de forma que
aleacutem de sua liacutengua nativa haacute outros meios para que o surdo possa se comunicar isso aponta
para a necessidade da criaccedilatildeo de propostas de acesso agrave educaccedilatildeo dessas pessoas Dessa
maneira foram catalogados alguns sinais utilizados por esse surdo adulto da Comunidade de
Santa Maria apresentado abaixo
Tabela 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais antigo residente isolado na
comunidade de Santa Maria no Rio Marau ( 18 sinais coletados)
28
As famiacutelias e os liacutederes indiacutegenas possuem propostas e lutas para a construccedilatildeo de escolas nas aldeias para a
facilitaccedilatildeo do acesso dos surdos indiacutegenas na comunidade e na escola O indiacutegena surdo apesar de natildeo ouvir
compreende e comunica com seus pares atraveacutes de gestos e sinais caseiros que aleacutem de sua liacutengua nativa haacute
outros meios para que o surdo possa se comunicar Isso contribui para a criaccedilatildeo de propostas de acesso agrave
educaccedilatildeo dessas pessoas Dessa maneira foram catalogados alguns sinais utilizados por esse surdo adulto da
Comunidade de Santa Maria apresentado abaixo
A contribuiccedilatildeo do professor indiacutegena Jesiel Santos foi de suma importacircncia para a coleta de dados nesta
pesquisa visto que atraveacutes dele que conseguimos chegar ateacute a comunidade de Santa Maria afim de termos os
contatos na comunidade
SINAIS CASEIROS DESCRICcedilAtildeO
ARCOFECHA As duas matildeos com expressatildeo de utilizar um arco com flecha
AacuteGUA Matildeo direita com utilizando somente o dedo polegar fazer a expressatildeo de
beber algum
BANHO Os braccedilos e matildeos esticadas fazer a expressatildeo de se soltar no rio
BEIJU As duas matildeos fazendo um circulo e em seguida levar ateacute a boca
CIGARRO A posiccedilatildeo para traduzir este sinal satildeo as duas matildeos em posiccedilatildeo dos dedos
polegar e indicador juntos fazendo expressatildeo de fazer um cigarro caseiro
CASA As duas matildeos com os dedos esticados fazer a expressatildeo de formato de uma
casa
COBRA A matildeo direita com os dedos indicador e polegar encostados fazer a expressatildeo
de beliscar o pulso de antebraccedilo
FARINHA Matildeos com os dedos todos juntos fazer a expressatildeo com o movimento de
81
Figura 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo idoso na comunidade de Santa Maria
soltar a farinha
FORNO DE ASSAR Matildeo direita fazendo um semiciacuterculo de com a caracteriacutestica de um forno de
barro
GARREIRA As duas matildeos juntas fazer a expressatildeo repetidamente de amassar uma massa
JACAREacute As duas matildeos pegando os dentes
LUVA DA TUCANDEIRA Fazendo a expressatildeo de usar uma luva de palha e fazer a expressatildeo de dor da
ferrada da tucandeira
MANDIOCA Usar o antebraccedilo esquerdo com a matildeo direita como um material cortante
fazendo a expressatildeo de descascar
MACACO Os dois braccedilos e corpo fazendo a expressatildeo do movimento caracteriacutestico do
macaco
PAJEacute As duas matildeos fazendo a expressatildeo de segurar algum e balanccedilar
PAacuteSSARO Fazer a expressatildeo de balanccedilar os braccedilos caracterizando o movimento de um
paacutessaro
TIPITI As duas matildeos fazendo o movimento de espremer a mandioca
TERRASOLO Matildeo direita fazendo expressatildeo de um pequeno monte de terra
ARCOFECHA BEBER
LIacuteQUIDOAacuteGUA
BEIJUCOMER COBRA
FARINHA FERRADA DA TUCANDEIRA MALOCACASA ESCOLA
ARCOFLECHA BEBER LIQUIDOAacuteGUA BANHOPULAR NA AacuteGUA
AacuteAacuteGUA
CIGARRO
82
FORNO DE ASSAR
JACAREacute
LUVA DA TUCANDEIRA MACACO
PAJEacute
TIPITI TERRA
GAREIRA
MANDIOCA
PAacuteSSARO
(( ))
JACAREacute
83
5 ICONICIDADE E ARBITRARIEDADE NA CRIACcedilAtildeO DOS SINAIS CASEIROS
Nos anos 60 a partir dos trabalhos de Stokoe (1960) foi comprovado que as Liacutenguas
de Sinais satildeo linguas Estas satildeo liacutenguas naturais com ldquoestrutura gramatical proacutepria em seus
niacuteveis fonoloacutegico (ou queroloacutegico) morfoloacutegico sintaacutetico e semacircntico aleacutem de seus aspectos
pragmaacuteticosrdquo
De acordo com Quadros (2006 p 221)
pelo fato de as liacutenguas de sinais natildeo serem faladas e de natildeo terem o seu coacutedigo
escrito ainda popularizado entre os surdos natildeo as elimina das consideraccedilotildees
cientiacuteficas visto que apresentam uma organizaccedilatildeo estrutural e fazem parte da
constituiccedilatildeo cultural desses sujeitos ndash crescendo envolvendo e transmitindo
dinamicamente tradiccedilotildees socioculturais Portanto as liacutenguas de sinais fazem parte
do conjunto da linguagem humana com a diferenccedila de se apresentarem em uma
terceira modalidade a visuo-espacial
Reiterando-se que a Liacutengua de Sinais eacute uma liacutengua natural uma vez que estaacute veiculada
a um canal que natildeo eacute o oral-auditivo e sim visual esta garante uma percepccedilatildeo e articulaccedilatildeo
mais faacutecil mais coerente e confortaacutevel aleacutem de contribuir para o desenvolvimento linguiacutestico
cognitivo e social do surdo
Sobre as caracteristicas linguiacutesticas das Liacutenguas de Sinais vale ressaltar que Sousa
(2010) ao tratar dos aspectos visuais quanto agraves propriedades das Liacutenguas de Sinais enfatiza a
iconicidade e arbitrariedade relacionada ao signo linguiacutestico que satildeo inerentes agraves liacutenguas
naturais Sobre as definiccedilotildees dos fenocircmenos das liacutenguas estes remontam a eacutepoca de Platatildeo
filoacutesofo grego que tratava os fenocircmenos sobre a linguagem e a relaccedilatildeo dela com o mundo
Cita-se tambeacutem Craacutetilo Hermoacutegenes e Soacutecrates que foram interlocutores desta relaccedilatildeo
discutindo a ligaccedilatildeo existente entre nome ideia e coisa A abordagem dos trecircs se diferenciava
de forma que Craacutetilo defendia o conceito de iconicidade Hermoacutegenes de arbitrariedade
Soacutecrates por seu turno integrava as duas concepccedilotildees Esta diferenciaccedilatildeo tecido pelos trecircs
filosofos pode ser vislumbrada no trecho transcrito abaixo
Para Craacutetilo a liacutengua eacute o espelho do mundo o que significa que existe uma relaccedilatildeo
natural e portanto similar ou icocircnica entre os elementos da liacutengua e os seres por
eles representados Para Hermoacutegenes a liacutengua eacute arbitraacuteria isto eacute convencional pois
entre o nome e as ideias ou as coisas designadas natildeo haacute transparecircncias ou
similaridade Soacutecrates por sua vez tem o papel de fazer a integraccedilatildeo entre os dois
pontos de vista (WILSON amp MARTELOTTA 2010 apud SOUSA 2010 p 4)
84
A modalidade gestual-visual espacial pela qual a Liacutengua de Sinais eacute produzida e
reconhecida pela comunidade Surda leva muitas vezes as pessoas a pensarem que todos os
sinais satildeo desenho no ar do referente que representam Para melhor esclarecimento por
decorecircncia de sua natureza linguiacutestica a realizaccedilatildeo de um sinal pode sim ser motivada pelas
caracteriacutesticas do dado da realidade a que se refere poreacutem natildeo eacute regra Ou seja a maioria dos
sinais da LIBRAS eacute arbitraacuteria natildeo mantendo relaccedilatildeo de semelhanccedila alguma com seu
referente Portanto essa condiccedilatildeo possibilita o enriquecimento da flexibilidade e versatilidade
da liacutengua (BASSO 2011 p47)
Exemplos de sinais arbitraacuterios
Figura 6 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos que se refere agrave
arbitrariedade
BISCOITO PESSOA DESCULPA
Fonte Azevedo (2014)
A ideia de arbitrariedade da liacutengua se relaciona com a ideia de convenccedilatildeo que se
efetiva em todas as liacutenguas como Liacutengua de Sinais e na Liacutengua Portuguesa ilustra-se o
processo com os exemplos das palavras ldquobiscoitordquo ldquodesculperdquo e ldquopessoardquo O processo de
definiccedilatildeo destes termos ocorre de forma arbitraacuteria pois soacute nomes foram atribuiacutedos devido a
uma convenccedilatildeo que estabelece esse conceito e natildeo porque haacute uma relaccedilatildeo entre o som da
palavra e o objeto que ela designa (SALLES 2007 p 5)
No caso da Libras os exemplos citados de sinais foram criados sem sofrer influecircncia
da imagem dos objetos aos quais eles se referem O que mostra que mesmo que a Libras
tambeacutem apresenta a caracteriacutestica de arbitraacuterios (TEIXEIRA 2015 p 5)
Para compreender melhor a importacircncia da visualidade na Liacutengua de Sinais dos
Satereacute-Maweacute eacute relevante entender trecircs conceitos da teoria de Pierce sobre a iconicidade que
pode ser considerada a base dos sinais dessa comunidade os quais satildeoo siacutembolo o iacutendice e o
iacutecone Segundo Martelotta (2011) (apud TEIXEIRA 2015 p 2)
85
O siacutembolo de acordo com Peirce refere-se a determinado objeto representando-o
com base em uma lei haacutebito ou convenccedilatildeo estabelecendo uma relaccedilatildeo entre dois
elementos Para citar alguns exemplos a cruz eacute o siacutembolo do cristianismo e a
balanccedila o siacutembolo da justiccedila Uma caracteriacutestica importante do siacutembolo relaciona-se
ao fato de que ele eacute parcialmente motivado ou seja haacute entre o siacutembolo e o conteuacutedo
simbolizado alguns traccedilos relacionados ao objeto
Haacute uma diferenccedila fundamental entre o siacutembolo de um lado e o iacutendice e o iacutecone de
outro jaacute que nesses dois uacuteltimos haacute um niacutevel ainda menor de arbitrariedade No caso
do iacutendice ocorre uma relaccedilatildeo de contiguidade com a realidade exterior a fumaccedila
por exemplo eacute o iacutendice do fogo e a presenccedila de nuvens negras o iacutendice de chuva
iminente
O iacutecone por sua vez tem uma natureza imagiacutestica apresentando portanto
propriedades que se assemelham ao objeto a que se refere A fotografia de um
indiviacuteduo por exemplo eacute uma representaccedilatildeo icocircnica desse indiviacuteduo assim como o
mapa do Rio de Janeiro representa a cidade Assim um iacutecone eacute qualquer coisa que
seja utilizada para designar algo que lhe seja semelhante em algum aspecto
Nesta perspectiva Quadros (1997) traz a reflexatildeo sobre os efeitos da modalidade ou
seja o fato de a Liacutengua de Sinais serem visuoespacial em vez de auditiva-oral implica nas
diferenccedilas para a aquisiccedilatildeo do surdo e nesse sentido tem-se a questatildeo da iconicidade das
Liacutenguas de Sinais uma vez que a iconicidade se refere
A transparecircncia entre significado e o significante ou seja a relaccedilatildeo de identidade
entre a palavra (o sinal) e o seu sentido Por exemplo nas liacutenguas faladas agraves
onomatopeias satildeo consideradas por alguns autores como icocircnicas pois a produccedilatildeo
sonora bdquoreal‟ (do objeto ou do animal) eacute reproduzida na fala expressando certa
identidade (QUADROS 2011 p 22)
Vale ressaltar que a iconicidade vem sendo estudada a partir da pesquisa semioacutetica de
Charles Sanders Peirce (1999) filoacutesofo norte-americano contemporacircneo de Saussure
Segundo Teixeira (2015) Peirce em seus estudos sobre a Semioacutetica o signo tem a funccedilatildeo de
proporcionar uma ideia do mundo e tudo que cerca o indiviacuteduo estaacute rodeado de signos Como
explica o filoacutesofo
[] para que algo possa ser um Signo (expressatildeo ou representamento) esse algo
deve bdquorepresentar‟ [] alguma outra coisa chamada seu Objeto apesar de ser talvez
arbitraacuteria a condiccedilatildeo segundo a qual um Signo deve ser algo distinto de seu objeto
(PEIRCE 1999 apud TEIXEIRA 2015 p 5)
Ao direcionar essas definiccedilotildees para agraves liacutenguas de sinais Sousa (2010) afirma que
muitas vezes essas liacutenguas satildeo consideradas puramente icocircnicas por serem de uma
modalidade diferente acreditando-se acredita que os sinais satildeo criados sempre a partir da
86
representaccedilatildeo do referente Eacute certo que um sinal pode ser realizado de acordo com a
caracteriacutestica daquilo que se refere mas de acordo com Strobel amp Fernandes (1998 apud
Sousa 2010 p 4) ldquoisto natildeo eacute uma regra jaacute que a maioria dos sinais em Libras eacute arbitraacuterio ou
seja natildeo manteacutem uma relaccedilatildeo de similitude com o referenterdquo
Reconhece-se que algumas Liacutenguas de Sinais parecem ter maior motivaccedilatildeo icocircnica
apresentando relaccedilotildees entre a sua forma e o seu significado comumente observado nas
Liacutenguas de Sinais caseiras dos Satereacute-Maweacute Isso significa a relaccedilatildeo entre o referente e o
referenciado Alguns estudos como os de Meier (1981) citado por Lillo-Martin (1986)
apontam para uma aparente iconicidade nas liacutenguas de sinais o que justifica considerar as
variaccedilotildees regionais e sociais e as mudanccedilas histoacutericas como fenocircmenos identificaacuteveis na
Liacutengua Brasileira de Sinais o que lhe confere o caraacuteter natural (STROBEL amp FERNANDES
1998 apud SOUSA 2010)
Nesse contexto a iconicidade como caracteriacutesticas semelhantes ao iacutecone tem em
comum o objeto que representa Por ser uma liacutengua de modalidade visuoespacial a
iconicidade estaacute presente em grande parte dos sinais da Libras pois a relaccedilatildeo entre a ldquoformardquo
e o ldquosentidordquo eacute mais visiacutevel Salles (2007) em bdquoEnsino de liacutengua portuguesa para surdos
caminhos para a praacutetica pedagoacutegica‟ comenta
Um aspecto que se sobressai no contraste entre as modalidades viacutesuo-espacial e oral-
auditiva eacute a questatildeo da arbitrariedade do signo linguiacutestico Esse conceito estabelece
que na constituiccedilatildeo do signo linguiacutestico a relaccedilatildeo entre o significante (imagem
acuacutestico-focircnica) e o significado eacute arbitraacuteria isto eacute natildeo existe nada na forma do
significante que seja motivado pelas propriedades da substacircncia do conteuacutedo
(significado) Uma caracteriacutestica das liacutenguas de sinais eacute que diferentemente das
liacutenguas orais muitos sinais tecircm forte motivaccedilatildeo icocircnica Natildeo eacute difiacutecil supor que esse
contraste se explique pela natureza do canal perceptual na modalidade viacutesuo-
espacial a articulaccedilatildeo das unidades da substacircncia gestual (significante) permite a
representaccedilatildeo icocircnica de traccedilos semacircnticos do referente (significado) o que explica
que muitos sinais reproduzam imagens do referente na modalidade oral-auditiva a
articulaccedilatildeo das unidades da substacircncia sonora (significante) produz sequecircncias que
em nada evocam os traccedilos semacircnticos do referente (significado) o que explica o
caraacuteter imotivado ou arbitraacuterio do signo linguiacutestico nas liacutenguas orais (SALLES
2007 p 83)
Todavia os mesmos sinais icocircnicos possuem um grau de arbitrariedade na definiccedilatildeo
dos mesmos como explica Frydrych (2012)
Pode haver contudo sinais com diferentes graus de iconicidade Um sinal pode natildeo
se assemelhar ao objeto que representa pela forma mas apresentar de alguma
forma uma similaridade por meio de expressotildees faciais ou movimentos Um
exemplo eacute o sinal ldquotristerdquo que possui como configuraccedilatildeo de matildeo o sinal Y
localizada abaixo do queixo em movimento de meia lua O sinal nada tem a ver
com o que a palavra representa no entanto a expressatildeo facial de tristeza que
acompanha o sinal daacute indiacutecios de que seu significado pode natildeo ser muito agradaacutevel
87
[] Falar de sinais icocircnicos em Libras pode parecer comum no entanto o sinal de
ldquocasardquo por exemplo motivado pelo formato do telhado de uma casa eacute tambeacutem
usado para o sinal de ldquomorarrdquo que pode ser usado para ldquomoradiardquo em diferentes
formatos de residecircncia como por exemplo casa apartamento cabana etc Embora o
sinal possa ter sido motivado na sua criaccedilatildeo por um tipo de casa passou a ser usado
de forma muito mais abrangente Sendo isto muito comum nas liacutenguas de sinais Os
sinais passam a ser signos linguiacutesticos altamente arbitraacuterios e passam a integrar o
leacutexico da liacutengua (Apud PIVETTA et al 2013 p8)
Como tambeacutem salienta Silva (2012) que ao passar do tempo o sinal icocircnico perde sua
motivaccedilatildeo inicial passando a ser arbitraacuterio
[] a transparecircncia eacute relativa porque a forma dos objetos ou movimentos que
originaram o sinal pode variar no tempo perdendo a sua motivaccedilatildeo inicial Um
exemplo eacute o sinal ldquoleiterdquo que faz referecircncia ao ato de ordenha que hoje ainda pode
ser considerado um sinal icocircnico Todavia para as futuras geraccedilotildees a motivaccedilatildeo de
sua representaccedilatildeo tende a se tornar uma convenccedilatildeo o que faz com que o sinal passe
a ser arbitraacuterio e de valor simboacutelico Sinais como o de ldquoleiterdquo satildeo frutos de um
processo histoacuterico e com o passar do tempo natildeo representam mais os artefatos e
procedimentos atuais sendo percebidos e interpretados apenas por meio da
arbitrariedade e da convenccedilatildeo(Apud PIVETTA et al 2013 p8)
A seguir temos alguns exemplos de sinais icocircnicos na Libras satildeo os sinais ldquoaacutervorerdquo
ldquocadeirardquo ldquocasardquo constituiacutedos a partir de caracteriacutesticas da imagem dos objetos aos quais se
referem Enquanto o primeiro lembra a imagem do tronco e das folhas de uma aacutervore o
segundo lembra as pernas de uma pessoa representadas pelos dedos indicador e meacutedio e a
terceira lembra a imagem de um telhado ou de uma casa sentada no objeto em questatildeo
(SALLES 2007 p 83)
Figura 7 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos aos quais se referem a
iconicidade
Fonte Azevedo (2014)
AacuteRVORE CADEIRA CASA
88
Figura 8 Caracteriacutesticas da imagem em Liacutengua de Sinais Satereacute-Maweacute dos objetos aos
quais se referem agrave iconicidade
Yara Wato Barco Libras
Fonte Azevedo (2014)
Man Beiju Libras
Fonte Azevedo (2014)
Kamunti hit Bilha Libras
Fonte Azevedo (2014)
89
Dessa maneira podem-se definir os sinais icocircnicos como aqueles que fazem alusatildeo agrave
imagem do seu significado natildeo implicando que todos os sinais satildeo iguais ou sinais icocircnicos
em todas as Liacutengua de Sinais cada grupo social absorve aspectos diferentes da imagem do
referente convencionando a representaccedilatildeo do sinal Os signos arbitraacuterios satildeo os que natildeo
trazem nenhuma relaccedilatildeo de semelhanccedila com o referente
90
6 INTERVENCcedilAtildeO E CONTRIBUICcedilAtildeO LINGUIacuteSTICA DO PROFESSOR SURDO
Os estudos sobre a educaccedilatildeo sistemaacutetica dos indiacutegenas surdos da etnia Satereacute-Maweacute
levaram agrave percepccedilatildeo da necessidade iminente de uma atuaccedilatildeo no processo ensino
aprendizagem desses sujeitos Desse modo apoacutes conhecer a realidade linguiacutestica e
educacional dos indiacutegenas surdos observados nas aldeias e na zona urbana de Parintins foi
possiacutevel intervir por meio do ensino da Liacutengua Brasileira de Sinais A intervenccedilatildeo foi feita
com o consentimento dos responsaacuteveis locais onde se faziam presentes acompanhando o
objeto da pesquisa - os indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute
Assim com a autorizaccedilatildeo da famiacutelia o primeiro contato foi estabelecido entre uma
crianccedila surda indiacutegena com professor tambeacutem surdo que ocorreu na residecircncia dela na zona
urbana do municiacutepio de Parintins cujo registro de imagem consta na Figura 9
Figura 9 Encontro da crianccedila surda Satereacute-Maweacute com o professor surdo
Fonte Azevedo (2014)
No contato foi possiacutevel verificar que a crianccedila natildeo conhecia a liacutengua Libras Sua
forma de comunicaccedilatildeo era com o uso dos siacutembolos ldquocaseirosrdquo Contudo ela respondeu ao
estiacutemulo de conversaccedilatildeo com muita facilidade buscando fazer a comunicaccedilatildeo As demais
observaccedilotildees e intervenccedilatildeo deram-se no ambiente educacional na Escola de Aacuteudio e
Comunicaccedilatildeo Padre Paulo Manna (Figura 10) Nesse contexto a crianccedila acompanhava com
atenccedilatildeo ao desempenho dos demais pares sempre atenta para compreensatildeo do conteuacutedo
comunicativo Ficou evidente a necessidade de um material de suporte escrito como recurso a
ser utilizado pelos docentes no processo ensino e aprendizagem
91
Figura 10 Contato com aluno Satereacute-Maweacute surdo no ambiente escolar
Fonte ndash Azevedo (2014)
Ocorreu tambeacutem o contato com o aluno surdo da Etnia Satereacute-Maweacute matriculado na
Escola Estadual Brandatildeo de Amorim em Parintins o qual foi feito em sua residecircncia dele A
conversa com ele foi feita fluentemente em Libras (Figura 10) Entretanto ao ser indagado
sobre a cultura a liacutengua falada de sua etnia natildeo soube responder Comprovou-se que o aluno
natildeo participa do contexto cultural da etnia por isso natildeo a conhece Por tal considera-se que o
material triliacutengue seria um recurso apropriado para promover o reconhecimento de muitos
signos que fazem parte da Liacutengua Satereacute-Maweacute
Figura 11 Contato com o aluno surdo Satereacute-Maweacute na Escola Estadual Brandatildeo de Amorim
Fonte ndash Azevedo (2014)
O contato com os familiares juntamente com professores indiacutegenas e inteacuterprete
linguiacutestica possibilitou ter uma visatildeo sobre o contexto comunicativo do indiacutegena surdo A
conversa com o pai do indiacutegena surdo na Aldeia de Santa Maria indicou a forma como
conseguem se comunicar com o filho desde o momento que perceberam que ele era surdo
Explicaram as dificuldades que tiveram no processo de entendimento com ele Confirmaram
92
que o aprendizado da liacutengua Libras indicando os signos que representam a cultura da etnia
seria muito importante para a comunicaccedilatildeo entre ele e os familiares eou educadores
Figura 12 Em viagem para aacuterea indiacutegena no Rio Marau ndash comunicaccedilatildeo com familiares
Fonte - Azevedo (2014)
O projeto da pesquisa foi apresentado na comunidade de Santa Maria para os
representantes da comunidade indiacutegena (Figura 12)
Figura 13 Apresentaccedilatildeo do projeto de pesquisa agraves lideranccedilas indiacutegenas na comunidade
Fonte Azevedo (2014)
Ressalta-se a importacircncia das lideranccedilas conhecerem e participarem do desenvolvimento
do projeto A relevacircncia desta participaccedilatildeo daacute-se em funccedilatildeo de que as mesmas contribuiram
informando vocabulaacuterios caracteristicos da regiatildeo que enriqueceram o minidicionaacuterio
triliacutengue Satereacute-MaweacutePortuguecircsLibras como pode ser evidenciado a seguir
93
Vocabulaacuterios e utensiacutelios indiacutegenas sinalizados em Libras
Liacutenguas
Satereacute-Maweacute Portuguecircs Libras
Mory‟ywat siomory‟awat Arco
Satereacute-Maweacute Portuguecircs Libras
T wa Aldeia
Ressalta-se a importacircncia do minidicionaacuterio ao considerar que o vocabulaacuterio contido no
mesmo poderaacute ser utilizado pelo indiacutegena surdo para ele aprenda a comunicaccedilatildeo utilizando os
signos que fazem parte da linguagem da etnia
E realizando uma mini oficina de Libras para professores da comunidade (Figura 6)
foi possiacutevel demonstrar o uso da Libras no contexto da sala de aula A participaccedilatildeo efetiva dos
mesmos proporcionou a troca de informaccedilotildees sobre o vocabulaacuterio da liacutengua indiacutegena
94
Figura 14 Desenvolvimento de oficina de Libras com professores indiacutegenas
Fonte Azevedo (2014)
Enfatiza-se que todo empenho em levar o conhecimento da Liacutengua Brasileira de Sinais
para os indiacutegenas surdos professores indiacutegenas familiares de surdos e comunidade manteve-
se em funccedilatildeo do ensejo de fazecirc-los conhecer e compreender a capacidade e modos dos
indiacutegenas surdos se comunicarem aleacutem de promover a aprendizagem da Libras em um lugar
de tatildeo difiacutecil acesso com pequenas escolas que sequer tecircm materiais didaacuteticos adaptados a
essa clientela Por este motivo considera-se que a contribuiccedilatildeo linguiacutestica em forma de um
minidicionaacuterio eacute um passo importante para levar aos indiacutegenas surdos a sua comunidade e o
nuacutecleo familiar destes o iniacutecio do resgate da sua liacutengua natural que eacute a Liacutengua Brasileira de
Sinais e a sua liacutengua nativa aleacutem de seus traccedilos culturais incluiacutedos no minidicionaacuterio
61 Libras e Liacutengua Satereacute-Maweacute intercacircmbio de construccedilatildeo sociocultural-linguiacutestico
Analisando a histoacuteria do povo surdo e do povo indiacutegena percebe-se uma trajetoacuteria
similar nas lutas por seus direitos culturais e linguiacutesticos Ambos tentam
fortalecer o conhecimento da proacutepria histoacuteria com seus acertos desacertos conflitos
e sucessos buscando a compreensatildeo do ator social como sujeito da histoacuteria e
possibilitando assim a construccedilatildeo de um projeto poliacutetico articulado com outros
setores que incremente as possibilidades de construccedilatildeo dos proacuteprios projetos de
uma vida melhor (HERNAIZ 2009)
Neste sentido destaca-se que esses indiviacuteduos satildeo esquecidos na realidade cultural do
paiacutes como se natildeo existissem enquanto cidadatildeos que tem as suas formas de produzir no
contexto social Mudar esta realidade faz-se fundamental Para tal Guerreiro (2009 p93)
argumenta que
Os direitos culturais satildeo por sua vez um campo complexo que inclui vaacuterios
conjuntos de direitos e garantias entre os quais me interessa destacar para essa
reflexatildeo os seguintes o reconhecimento da diversidade o exerciacutecio da identidade
como povos o uso restrito do idioma uma educaccedilatildeo proacutepria e o respeito pelo
patrimocircnio cultural
95
Os processos culturais linguiacutesticos entre os povos surdos e indiacutegenas surdos eacute uma
possibilidade bem proacutexima atraveacutes do intercacircmbio sociocultural-linguiacutestico que estaacute sendo
construiacutedo pois o surdo indiacutegena faz parte da cultura surda e tem cacircmbio com a cultura
indiacutegena e em muitos casos com a cultura do povo ouvinte
Todavia alguns aspectos da cultura surda satildeo desconhecidos pelo proacuteprio surdo
indiacutegena Por isso a necessidade de surdos indiacutegenas se relacionarem com seus semelhantes
surdos seja indiacutegena ou natildeo indiacutegena para que atraveacutes deste contato possa construir sua
identidade cultural da comunidade surda tornando conhecida sua cultura tribal por meio da
liacutengua de instruccedilatildeo a Libras No exemplo abaixo ilustra-se a percepccedilatildeo dessa realidade
Man ype Crueira Libras
Kui‟a Cuia Libras
Dessa forma conhecendo valorizando e respeitando sua cultura que eacute um patrimocircnio
cultural da sociedade
Logo a liacutengua em uso pelos iacutendios surdos seja ela a Liacutengua de Sinais Indiacutegena
ldquosinais emergentesrdquo ou a Liacutengua Brasileira de Sinais (como empreacutestimo sociocultural-
linguiacutestico) e a Liacutengua Satereacute-Maweacute devem ser valorizadas com respeito muacutetuo na
transmissatildeo de sua cultura Os indiviacuteduos que precisam se comunicar por meio delas lutam
96
pelo fortalecimento dessa inserccedilatildeo cultural pela construccedilatildeo de um futuro melhor e pelo
respeito aos direitos dos iacutendios localizados neste vasto territoacuterio Nesse sentido
A identidade cultural requer tambeacutem ela a alteridade como dialogicidade
intercultural No seu proacuteprio interior ela natildeo eacute nunca algo de compacto mas
apresenta toda uma seacuterie de relaccedilotildees no plano sincrocircnico e diacrocircnico com outras
culturas que lhes datildeo vida justamente pela sua diversificaccedilatildeo e discordacircncia por
mais que ela se obstine em realizar-se mediante a identificaccedilatildeo com alguns de seus
aspectos apenas com algumas formas culturais determinadas que se arvoram
oficiais e dominantes (PONZIO 2007 p179)
Para estes estudos a uniatildeo de esforccedilos que viabilizou a realizaccedilatildeo deste diagnoacutestico eacute
uma demonstraccedilatildeo clara de que eacute perfeitamente possiacutevel trilhar no mundo linguiacutestico
possibilitando a cada indiacutegena novos horizontes na comunicaccedilatildeo
97
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A presente pesquisa teve como foco principal o levantamento de indiacutegenas surdos nas
microrregiotildees do municiacutepio de Parintins da etnia Satereacute-Maweacute
Com base nas informaccedilotildees levantadas nas terras indiacutegenas e nas cidades onde vivem
os Satereacute-Maweacute evidenciou-se que as escolas de zonas rurais e comunidades que o iacutendio
surdo requenta natildeo possui uma educaccedilatildeo diferenciada especiacutefica a sua especificidade
A realidade encontrada no municiacutepio de Parintins para com os alunos iacutendios surdos
por ser em zona urbana jaacute apresenta um diferencial A escola dispotildee de sala de recursos para
alunos indiacutegenas surdos poreacutem dentro dessa realidade haacute falta de professores que dominem a
liacutengua nativa Satereacute-Maweacute para que a escola proporcione um aprendizado triliacutengue Liacutengua
Brasileira de Sinais Liacutengua Satereacute-Maweacute e Liacutengua Portuguesa na modalidade escrita
Nas escolas visitadas onde encontramos surdos foi observado falta de mateacuterias
visuais sala de recursos com atendimentos diferenciados para os alunos indiacutegenas surdos e
indiacutegenas surdos
Foram considerados no decorrer do texto aspectos da contextualizaccedilatildeo em que se deu
a pesquisa desde as discussotildees que antecederam a elaboraccedilatildeo do projeto passando pelas
parcerias que foram estabelecidas no decorrer do processo especialmente com as vaacuterias
organizaccedilotildees indiacutegenas Satereacute-Maweacute ateacute o desenvolvimento das condiccedilotildees que garantiram a
plena participaccedilatildeo da comunidade no decorrer das atividades de pesquisa Partindo da
enumeraccedilatildeo dos principais objetivos do projeto o relatoacuterio apresenta as aacutereas e localidades
cobertas o nuacutemero de domiciacutelios levantados e de moradores entrevistados assim como a
metodologia utilizada a operacionalizaccedilatildeo das atividades de campo o treinamento dos
entrevistadores o levantamento nas cidades e nas terras indiacutegenas a forma e a intensidade
como se desenvolveu a participaccedilatildeo das lideranccedilas e da comunidade como um todo
Durante a pesquisa a sociedade indiacutegena e natildeo indiacutegena juntamente com profissionais
da educaccedilatildeo da linguiacutestica e a proacutepria comunidade surda acompanharam a perspectiva para
uma nova trajetoacuteria destes os iacutendios surdos a qual reflete o reconhecimento linguiacutestico destes
como pessoas pertencentes agraves minorias linguiacutesticas
Ao analisar as questotildees linguiacutesticas nas aacutereas indiacutegenas das microrregiotildees de Parintins
verificou-se que a implantaccedilatildeo deste empreendimento representou como um novo modelo de
desenvolvimento para a comunicaccedilatildeo de indiacutegenas surdos nas comunidades indiacutegenas
98
Ressalta-se que cada municiacutepio onde existem membros da etnia Satereacute receberaacute como
retorno da pesquisa um minidicionaacuterio triliacutengue (Liacutengua de Sinais Liacutengua Satereacute-Maweacute e
Liacutengua Portuguesa) para intercacircmbio sociocultural-linguiacutestico
Este material tem a intenccedilatildeo de abrir o caminho para a participaccedilatildeo direta dos iacutendios
na construccedilatildeo de seu futuro Ele caracteriza uma mudanccedila da forma de olhar para os povos
indiacutegenas Agora eacute preciso trabalhar para que todas as comunidades e etnias possam produzir
seus diagnoacutesticos Todas elas precisam dispor das informaccedilotildees com as quais poderatildeo dar uma
direccedilatildeo a suas accedilotildees Nesse sentido deve haver iniciativas por parte do poder local para que o
governo e as entidades aliadas agraves causas indiacutegenas possam aproveitar as experiecircncias dos
vaacuterios pesquisadores sobre as causas dos Satereacute-Maweacute para ampliar esse tipo de trabalho
Satildeo diagnoacutesticos como este que iratildeo dar o norte para novos projetos e programas que
favoreccedilam realmente garantir a autonomia dos povos indiacutegenas
Finzaliza-se com a satisfaccedilatildeo de que a pesquisa presente contribuiu com um pequeno
passo no incentivo da conservaccedilatildeo e crescimento da identidade cultural-linguiacutestica do iacutendio
surdo
99
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103
ANEXOS
104
ANEXO A- Normas estabelecidas no ingresso em terras indiacutegenas pela FUNAI
Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio
INSTRUCcedilAtildeO NORMATIVA No 01PRESI DE 29NOVEMBRO1995
PRESIDENTE DA FUNDACcedilAtildeO NACIONAL DO IacuteNDIO - FUNAI
no uso de suas atribuiccedilotildees que lhe satildeo conferidas pelo estatuto aprovado pelo decreto no
564
de 08 de junho de 1992 tendo em vista o que consta do processo FUNAI BsB no210592
R E S O L V E
Art 1o Aprovar as normas que disciplinam o ingresso em Terras Indiacutegenas com finalidade de
desenvolver Pesquisa Cientiacutefica conforme documento em anexo
Art 2o Esta Instruccedilatildeo Normativa entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo
Art 3o Revoga-se a Instruccedilatildeo Normativa no 001PRESI94 de 08 de abril
de 1994 como qualquer outro dispositivo em contraacuterio
MAacuteRCIO JOSEacute BRANDO SANTILLI
Presidente da FUNAI
ASSINADO NO ORIGINAL
Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio
ANEXO DA INSTRUCcedilAtildeO NORMATIVA No 001PRESI de 29 de novembro de 1995
Art 4o Todo e qualquer pesquisador nacional ou estrangeiro que pretenda ingressar em terras
indiacutegenas para desenvolver projeto de pesquisa cientiacutefica deveraacute encaminhar sua solicitaccedilatildeo
agrave Presidecircncia da FUNAI e no caso de requerimento coletivo deveraacute ser subscrito por um dos
membros do grupo como seu responsaacutevel Art 5o O pesquisador ou pesquisadores deveratildeo
anexar ao pedido do que trata o Art 1o a seguinte documentaccedilatildeo
I carta de apresentaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo a que o pesquisador estaacute vinculado e no caso de
estudantes de graduaccedilatildeo e poacutesgraduaccedilatildeo carta de apresentaccedilatildeo do orientador responsaacutevel
II projeto de pesquisa em portuguecircs detalhando a(s) terra(s) indiacutegenas na(s) qual(is)
pretende ingressar e cronograma
III curriculum vitae do(s) pesquisador(es) redigido em portuguecircs
IV coacutepia autenticada da Carteira de Identidade ou Passaporte quando se tratar de
nacionalidade estrangeira
V atestado individual de vacina contra moleacutestia endecircmica na
aacuterea
VI atestado meacutedico de natildeo portador de moleacutestia contagiosa
105
VII quando se tratar de pesquisador(es) de nacionalidade estrangeira exigir-se-aacute para a
efetivaccedilatildeo de seu ingresso na terra indiacutegena a obtenccedilatildeo de seu respectivo visto temporaacuterio
como prevecirc o artigo 22 do decreto no 86715 de 10 de dezembro de 1981 aleacutem do
cumprimento do disposto no decreto no 98830 de 15 de janeiro de 1990
Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio
Art 6o O pesquisador deveraacute encaminhar diretamente ao CONSELHO
NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO - CNPq o
projeto de pesquisa e curriculum
vitae
Art 7o A solicitaccedilatildeo do ingresso em terra indiacutegena por parte de pesquisadores nacionais ou
estrangeiros seraacute objeto de anaacutelise pela Coordenadoria-Geral de Estudos e Pesquisas - CGEP
uma vez instruiacutedo o processo com o parecer favoraacutevel do CNPq quanto ao meacuterito da pesquisa
proposta e apoacutes ouvidas as lideranccedilas indiacutegenas
Paraacutegrafo Uacutenico - A consulta agraves lideranccedilas indiacutegenas seraacute realizada pela FUNAI com a
presenccedila e participaccedilatildeo do pesquisador podendo este em caso de resposta positiva
permanecer na terra indiacutegena com autorizaccedilatildeo provisoacuteria ateacute a emissatildeo de uma definitiva
Art 8o No caso de negativa das lideranccedilas indiacutegenas quanto ao pleito do ingresso ou
quaisquer outros entraves levantados no decorrer da anaacutelise do processo ou em qualquer outra
etapa de desenvolvimento da pesquisa a CGEP encaminharaacute a questatildeo ao Conselho
Indigenista atraveacutes da presidecircncia do Oacutergatildeo
Art 9o Quando se tratar de pesquisa em espaccedilo territorial de ocupaccedilatildeo tradicional de iacutendios
isolados o pedido seraacute ainda objeto de exame e parecer preacutevio especiacutefico por parte do
Departamento de Iacutendios Isolados - DII FUNAI
Art 10 A presidecircncia da FUNAI poderaacute suspendera qualquer tempo as
autorizaccedilotildees concedidas de acordo com as presentes normas desde que
I seja solicitada a sua interrupccedilatildeo por parte da comunidade indiacutegena em questatildeo
II a pesquisa em desenvolvimento venha a gerar conflitos dentro da terra indiacutegena
III a ocorrecircncia de situaccedilotildees epidecircmicas agudas ou conflitos graves envolvendo iacutendios e natildeo-
iacutendios
Paraacutegrafo Uacutenico - Fica automaticamente prorrogada a autorizaccedilatildeo pelo prazo que a terra
indiacutegena objeto do projeto estiver interditada pelos motivos apontados no Art 10 inciso III
Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio
MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA
Art 11 Todos os pesquisadores estrangeiros ou nacionais que tiverem autorizaccedilotildees
concedidas para ingresso em terras indiacutegenas obrigar-se-atildeo a
I cumprir todos os preceitos legais vigentes notadamente os previstos na Lei no 6001 de
1o1273
II remeter agrave FUNAI relatoacuterio dos Trabalhos de campo em portuguecircs ateacute 6 (seis) meses apoacutes
o teacutermino da pesquisa onde poderatildeo constar sugestotildees praacuteticas que possam trazer benefiacutecios
para as comunidades indiacutegenas que poderatildeo ser consideradas pela FUNAI nas definiccedilotildees de
sua poliacutetica
III remeter agrave FUNAI 2 (dois) exemplares de publicaccedilotildees artigos teses e outras produccedilotildees
intelectuais oriundas das referidas pesquisas
Art 12 Nos casos de solicitaccedilatildeo de prorrogaccedilatildeo do prazo para continuidade do projeto de
pesquisa cientiacutefica na mesma terra indiacutegena caberaacute a Coordenaccedilatildeo Geral de Estudos e
Pesquisas - CGEP os seguintes procedimentos
I notificar junto ao setor competente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e
Tecnoloacutegico - CNPq a solicitaccedilatildeo
II consultar as lideranccedilas quanto ao retorno do pesquisador na terra indiacutegena
106
III observar o cumprimento do Art 8o por parte do pesquisador interessado do Iacutendio
Art 6o O pesquisador deveraacute encaminhar diretamente ao CONSELHO NACIONAL DE
DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO - CNPq o projeto de pesquisa e
curriculum vitae
Art 7o A solicitaccedilatildeo do ingresso em terra indiacutegena por parte de pesquisadores nacionais ou
estrangeiros seraacute objeto de anaacutelise pela Coordenadoria-Geral de Estudos e Pesquisas - CGEP
uma vez instruiacutedo o processo com o parecer favoraacutevel do CNPq quanto ao meacuterito da pesquisa
proposta e apoacutes ouvidas as lideranccedilas indiacutegenas
Paraacutegrafo Uacutenico - A consulta agraves lideranccedilas indiacutegenas seraacute realizada pela FUNAI com a
presenccedila e participaccedilatildeo do pesquisador podendo este em caso de resposta positiva
permanecer na terra indiacutegena com autorizaccedilatildeo provisoacuteria ateacute a emissatildeo de uma definitiva
Art 8o No caso de negativa das lideranccedilas indiacutegenas quanto ao pleito do ingresso ou
quaisquer outros entraves levantados no decorrer da anaacutelise do processo ou em qualquer outra
etapa de desenvolvimento da pesquisa a CGEP encaminharaacute a questatildeo ao Conselho
Indigenista atraveacutes da presidecircncia do Oacutergatildeo
Art 9o Quando se tratar de pesquisa em espaccedilo territorial de ocupaccedilatildeo tradicional de iacutendios
isolados o pedido seraacute ainda objeto de exame e parecer preacutevio especiacutefico por parte do
Departamento de Iacutendios Isolados - DII FUNAI Art 10 A presidecircncia da FUNAI poderaacute
suspendera qualquer tempo as autorizaccedilotildees concedidas de acordo com as presentes normas
desde que
I seja solicitada a sua interrupccedilatildeo por parte da comunidade indiacutegena em questatildeo
II a pesquisa em desenvolvimento venha a gerar conflitos dentro da terra indiacutegena
III a ocorrecircncia de situaccedilotildees epidecircmicas agudas ou conflitos graves envolvendo iacutendios e natildeo-
iacutendios
Paraacutegrafo Uacutenico - Fica automaticamente prorrogada a autorizaccedilatildeo pelo prazo que a terra
indiacutegena objeto do projeto estiver interditada pelos motivos apontados no Art 10 inciso III
Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA
Art 11 Todos os pesquisadores estrangeiros ou nacionais que tiverem autorizaccedilotildees
concedidas para ingresso em terras indiacutegenas obrigar-se-atildeo a
I cumprir todos os preceitos legais vigentes notadamente osprevistos na Lei no 6001 de
1o1273
II remeter agrave FUNAI relatoacuterio dos Trabalhos de campo em portuguecircs ateacute 6 (seis) meses apoacutes
o teacutermino da pesquisa onde poderatildeo constar sugestotildees praacuteticas que possam trazer benefiacutecios
para as comunidades indiacutegenas que poderatildeo ser consideradas pela FUNAI nas definiccedilotildees de
sua poliacutetica
III remeter agrave FUNAI 2 (dois) exemplares de publicaccedilotildees artigos teses e outras produccedilotildees
intelectuais oriundas das referidas pesquisas
Art 12 Nos casos de solicitaccedilatildeo de prorrogaccedilatildeo do prazo para continuidade do projeto de
pesquisa cientiacutefica na mesma terra indiacutegena caberaacute a Coordenaccedilatildeo Geral de Estudos e
Pesquisas - CGEP os seguintes procedimentos
I notificar junto ao setor competente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e
Tecnoloacutegico - CNPq a solicitaccedilatildeo
II consultar as lideranccedilas quanto ao retorno do pesquisador na terra indiacutegena
III observar o cumprimento do Art 8o por parte do pesquisador interessado
107
ANEXO B ndash Questionaacuterio para coleta de dados com professores de comunidades indiacutegenas
QUESTIONAacuteRIO
Nome Prof(a)Nordm Cel
Nome da escola
Tribo Etnia
Quantos alunos surdos iacutendio Serie Idade
Nasceu cognitiva ou adquirida
1 ndash Como eacute a forma de comunicaccedilatildeo entre o professor e o iacutendio surdo
( ) Escrita
( ) Oralizado
( ) Libras
( ) Satereacute Maweacute
2 ndash Qual liacutengua o surdo iacutendio tem mais facilidade de aprender
( ) Portuguecircs
( ) Satereacute Maweacute
( ) libras
3 ndash Qual eacute a metodologia de ensino
4 ndash Como o aluno surdo indiacutegena aprende na sala de aula Tem dificuldade ou facilidade
5 ndash Como e que liacutengua o aluno surdo se comunica com outro surdo se tiver e os demais alunos
ouvintes na sala aula
108
6 ndash Vocecirc jaacute observou a comunicaccedilatildeo entre o aluno surdo iacutendio com a famiacutelia Qual liacutengua
7 ndash Como o aluno surdo iacutendio se comunica com as pessoas da comunidade
8 ndash Qual eacute a reaccedilatildeo das pessoas ouvintes quanto o iacutendio surdo na comunidade
9 ndash Professor(a) qual sua opiniatildeo para melhoria de ensino da educaccedilatildeo de iacutendios surdos
10 ndash Qual eacute a importacircncia da liacutengua indiacutegena Satereacute Maweacute para o aluno surdo
11 ndash Fale sobre a cultura e historia dos Satereacute Maweacute o iacutendio surdo participa
109
ANEXO C ndash Autorizaccedilatildeo para pesquisa de campo em terras indiacutegenas
110
ANEXO C-1 ndash Autorizaccedilatildeo para pequisa de campo com uso de imagem permitido
111
ANEXO C-2 ndash Autorizaccedilatildeo para pequisa de campo com uso de imagem permitido
112
ANEXO D ndash Parecere pedagoacutegico da Aluna Indiacutegena Surda
(ESCOLA PADRE PAULOMANNA)
ESCOLA DE AacuteUDIO COMUNICACcedilAtildeO
Pe PAULO MANNA Mantida pela Diocese de Parintins CNPJ 045945370001-88 Av Naccedilotildees Unidas 1792 FoneFax (092) 3533-3456 69151-060 ndash PARINTINS-AMAZONAS-BRASIL
Parecer Pedagoacutegico
Helena Ferreira Arauacutejo 06 anos de idade aluna da Escola Pe Paulo Manna desde
marccedilo de 2013 mora na rua 4 nordm 298 no bairro da Uniatildeo
Segundo relatos da matildee a aluna nasceu de parto normal comeccedilou a andar aos trecircs
anos de idade e eacute descendente dos iacutendios Satereacute- Maueacute Os anos passaram e ela comeccedilou a
perceber que sua filha natildeo ouvia e nem falava pois jaacute tinha outros filhos e estes comeccedilaram a
falar e andar cedo Informou-nos que para se comunicar com ela fazia gestos ateacute ela entender
o que se tornava muito difiacutecil
Disse-nos que falaram para ela do trabalho desenvolvido na Escola Paulo Manna com
alunos surdos e resolveu procurar a escola pois o tempo estava passando e a menina natildeo
falava e ela natildeo sabia mais o que fazer para reverter a situaccedilatildeo e a sua filha ser como os outros
irmatildeos
Atualmente estuda numa turma de Preacute ndash Escolar (2ordm periacuteodo) eacute uma aluna surda No
ano passado quando chegou agrave escola nos primeiros dias chorava muito e ficava zangada se
escondia embaixo da mesa para que ningueacutem a incomodasse visto que natildeo estava adaptada
ao ambiente e aos poucos foi se adaptando e passou a conviver com os colegas ouvintes em
sala de aula
A aluna gosta de fazer suas atividades escolares tem boa coordenaccedilatildeo motorainterage
com os colegas reconhece cores e formas gosta de desenhar e daacute formas aos seus desenhos realiza atividades de leitura de imagem montagem com jogos de encaixe participa de
brincadeiras na quadra parque e brinquedoteca
Em alguns momentos quando quer alguma coisa do colega e este natildeo lhe daacute fica com
raiva chora e se isola Em outros momentos penso que por natildeo saber se comunicar com os
colegas fica um pouco retraiacuteda e torna-se um a receptora diferenciada que requer cuidados
no tocante agrave comunicaccedilatildeo principalmente de como chegar ateacute ela
Procuramos adaptar brincadeiras para envolver a aluna trazendo-a de volta para
participar das atividades e conversar com ela que nem tudo o que a gente quer podemos ter e
fazemos alguma brincadeira que ela goste e rapidinho ela volta a participar e se integrar ao
grupo
Sabemos que eacute difiacutecil para ela o processo ensino aprendizagem porque ela tem que ter
uma aprendizagem triliacutengue visto que tem que aprender a Liacutengua Indiacutegena+ Libras + Liacutengua
Portuguesa e jaacute eacute difiacutecil aprender duas mas natildeo impossiacutevel
113
Neste ano de 2014 contamos com a ajuda da professora Caacutetia (surda) com aulas de
Libras No primeiro momento fica junto com os colegas ouvintes onde procuramos trabalhar
de forma biliacutengue (Portuguecircs + Libras) para que ela entenda o que estaacute sendo repassado em
sala de aula E o que se percebe eacute que a aluna nos daacute respostas precisas dentro dos objetivos
propostos Em outro momento a professora Caacutetia ensina agrave aluna os sinais em LIBRAS que eacute
a liacutengua oficial da pessoa surda trabalhando o concreto com ela ensinando-a com jogos
cartazes reaacutelias viacutedeos transformando tais atividades em aulas dinacircmicas e prazerosas
Dentro dessa realidade a aluna vai participando buscando se inserir nesse universo
cheio de duacutevidas e incertezas e noacutes professores procuramos fazer o melhor para que a aluna
se sinta bem no ambiente escolar visto que o processo ensino aprendizagem para uma crianccedila
de outra etnia natildeo eacute faacutecil pois segundo depoimentos de alguns indiacutegenas a aprendizagem
indiacutegena passa pela demonstraccedilatildeo observaccedilatildeo imitaccedilatildeo tentativa e erro e quando o aluno
vem para a escola tem que se socializar obedecer a comandos regidos pelo sistema e isso
muitas vezes o deixa confuso e os maiores ateacute desistem
Dessa forma satildeo necessaacuterias estrateacutegias de ensino diferenciadas que deem suporte para
que a aluna seja trabalhada de forma triliacutengue no contexto escolar para que ela natildeo perca a
sua essecircncia a sua cultura que sejam adaptados trabalhos de acordo com a realidade
indiacutegena para que ela natildeo perca a sua identidade e saiba conduzir sua aprendizagem dentro de
um contexto diferenciado podendo aprender o que lhe eacute de direito bem como viver bem em
sociedade
Parintins 14 de abril de 2014
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS
PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM LETRAS ARTES
MESTRADO PROFISSIONAL EM LETRAS ARTES
DEDICATOacuteRIA
Aos meus familiares em especial a minha matildee Idalina
Azevedo que desde o ventre proporcionou-me seu amor com
dedicaccedilatildeo e todas suas forccedilas ao meu lado em momentos tatildeo
difiacuteceis nunca deixando de acreditar no poder de Deus sobre
minha vida
A minha amada esposa Rosana Valeacuteria mulher saacutebia
e auxiliadora de todos os momentos do meu viver
Aos meus filhos Caroline Camila e Benjamim Jorge
pelo amor que sempre me deram pela compreensatildeo de
minhas ausecircncias durante a trajetoacuteria de minha pesquisa
AGRADECIMENTOS
A Deus em primeiro lugar que planejou a minha vida quando eu ainda nem existia e
me libertou no momento que recorri a Ele E me fez acreditar que o impossiacutevel soacute existe
quando natildeo temos feacute
Agrave Coordenadora do Mestrado em Letras e Artes da Universidade do Estado do
Amazonas ndash UEA Professora Dra Juciane Cavalheiros pelo excelente trabalho que
desenvolve nesta instituiccedilatildeo contribuindo para a formaccedilatildeo de novos profissionais na
educaccedilatildeo do nosso paiacutes
Ao meu orientador Dr Valteir Martins Professor do Mestrado em Letras e Artes
com sua saacutebia experiecircncia de ensino acreditou que atraveacutes deste trabalho pudeacutessemos levar
contribuiccedilotildees linguiacutesticas no que tange agrave Liacutengua de Sinais dos indiacutegenas surdos Satereacute-
Maweacute habitantes da microrregiatildeo de Parintins
Aos meus professores do Mestrado em Letras e Artes Dra Silvana Martins Dr
Mauricio Mattos Dr Maacutercio e Dra Luciana Paacutescoa Dra Gleidys Maia Dr Camilo Ramos
pelas preciosas contribuiccedilotildees agrave minha pesquisa
Aos professores indiacutegenas Jacob de Souza Jocimar Alencar e Josiel Santos por me
introduzir nas comunidades indiacutegenas Satereacute-Maweacute pelas contribuiccedilotildees na traduccedilatildeo das
palavras da liacutengua portuguesa para a liacutengua Satereacute-Maweacute
Aos meus colegas do mestrado em Letras e Artes pelo companheirismo e dedicaccedilatildeo
no dia a dia
Agrave professora Elizandra de Lima Silva Bastos pela ajuda nas correccedilotildees textuais da
Liacutengua Portuguesa
Agraves instituiccedilotildees especiacuteficas que de alguma forma contribuiacuteram para concretizar esta
pesquisa
MANAUS
Escola Estadual Augusto Carneiro dos Santos
Centro de Atendimento ao surdo ndash CAS
A Igreja Tabernaacuteculo Batista Pastor Paulo Hatcher
PARINTINS
Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio ndash FUNAI
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE
Coordenadora Regional de Educaccedilatildeo de Parintins - CREP
Universidade Estadual do Amazonas ndash CESP
Casa da Sauacutede Indiacutegena
Casa do Iacutendio de Parintins
Escola Aacuteudio Comunicaccedilatildeo Pe Paulo Manna
Diocese de Parintins Pe Henrique Uggeacute
Escola Estadual Brandatildeo de Amorim
Escola Estadual Joatildeo Bosco Ramos de Lima
MAUEacuteS
Secretaria de Estado de Educaccedilatildeo
Secretaria de Educaccedilatildeo Municipal
Casa do estudante indiacutegena Sr Jusivan
Tuxaua da Comunidade de Santa Maria Sr Helito Barbosa
Sr Maxiliano Batista Barros
BARREIRINHA
Secretaria de Educaccedilatildeo Municipal - SEMED
Secretaria de Estado de Educaccedilatildeo
Coordenaccedilatildeo Municipal de Educaccedilatildeo Indiacutegena Sr Santino Lopes
Coordenador da Escola Profa Rosa Cabral Sr Dulcemar F dos Santos
Professora Indiacutegena Satereacute-Maweacute Maria Inez
NHAMUNDAacute
Casa de Sauacutede Indiacutegena - DSEI
Secretaria de Estadual de Educaccedilatildeo
BOA VISTA DO RAMOS
Secretaria de Estado e Educaccedilatildeo
Escola Estadual Princesa Izabel
Comunidade Satereacute-Maweacute
Professora Erly Tereza R Goacutees
URUCARAacute
Poacutelo Base de Urucaraacute ndash DSEI
Distrito Sanitaacuterio Especial Indiacutegena
Lider Indiacutegena Etnia Hexkaryana Caiacutenatilde Mohso
SraMaacuterlucia Kutasa
Enfermeiro SrJonas Pontes
SraDalva H Farias Cantalixto de Melo
SrLuiz Cantalixto de Melo
SAtildeO SEBASTIAtildeO DO UATUMAtilde
Poacutelo Base de Urucaraacute ndash DSEI
Lider Indiacutegena Etnia Hexkaryana Caiacutenatilde Mohso
EPIacuteGRAFE
Matildeos
corpo em movimento
captar e entender
Teu querer teu dizer
Sorrisos laacutegrimas
sentimentos e emoccedilotildees
Libras eacute amor eacute paixatildeo eacute liacutengua
(Marlon Jorge)
RESUMO
Esta pesquisa apresenta o resultado do mapeamento de iacutendios surdos nas comunidades
indiacutegenas Satereacute-Maweacute na microrregiatildeo de Parintins Partindo do levantamento buscou-se
identificar de que forma os iacutendios surdos estabeleciam a comunicaccedilatildeo com seus pares na sua
comunidade Para isso foi utilizado o procedimento metodoloacutegico por meio de entrevistas
abertas com as lideranccedilas indiacutegenas os familiares os professores e gestores escolares e
outros membros das comunidades assim como do proacuteprio iacutendio surdo O processo de anaacutelise
estabelecido para este estudo consistiu no enfoque de natureza linguiacutestica do leacutexico
(vocabulaacuterio) o qual foi registrado por meio de viacutedeos fotos e gravaccedilotildees A partir dos dados
iniciou-se a elaboraccedilatildeo de um minidicionaacuterio triliacutengue nas liacutenguas Satereacute-Maweacuteliacutengua de
sinais portuguecircs escrito a fim de facilitar a comunicaccedilatildeo principalmente no contexto da
comunidade educacional escolar entre os professores e os alunos iacutendios surdos Esta
contribuiccedilatildeo linguiacutestica portanto possibilitou uma nova percepccedilatildeo no processo histoacuterico da
diversidade linguiacutestica para valorizar e respeitar natildeo soacute uma liacutengua a liacutengua oficial do paiacutes
(Portuguecircs) mas tambeacutem a liacutengua natural do povo surdo (Libras) e a liacutengua indiacutegena do povo
Satereacute-Maweacute
Palavras chaves
1Linguiacutestica 2Liacutengua de sinais 3Satereacute-Maweacute 4 Dicionaacuterio
ABSTRACT
This research presents the results of the mapping deaf Indians in indigenous
communities Satereacute-Maweacute in the region of Parintins Starting from the survey we sought to
identify how the deaf Indians established communication with peers in their community For
this methodological procedure through open interviews with indigenous leaders family
members teachers and school administrators and other community members were used as
well as the Indian himself deaf The review process established for this study consisted of
focus linguistic lexicon (vocabulary) which was recorded through videos photos and
recordings From the data we initiated the development of a trilingual Mini Dictionary in
languages Satereacute-Maweacute sign language written Portuguese in order to facilitate
communication especially in the context of school learning community among teachers and
students deaf Indians This linguistic contribution therefore provided a new insight in the
historical process of linguistic diversity to value and respect not only one language the
official language (Portuguese) but also the natural language of deaf people (Libras) and the
indigenous language the people Satereacute-Maweacute
Key Words 1Linguiacutestica 2Liacutengua signal 3Satereacute-Maweacute 4Dictionary
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 13
1 CONSIDERACcedilOtildeES DOS ESTUDOS LINGUIacuteSTICOS DA LIacuteNGUA
BRASILEIRA DE SINAIS
17
11 Liacutengua de Sinais como Liacutengua Natural 20
12 Liacutengua Brasileira de Sinais 22
13 Liacutenguas de Sinais Indiacutegenas pesquisadas no Brasil 26
131 Liacutengua de Sinais Urubu-Kaapor 28
132 Liacutengua de Sinais Emergentes 29
1321 Realidade do Contexto educacional escolar do indiacutegena surdo 31
2 HISTOacuteRIA DO POVO INDIacuteGENA SATEREacute-MAWEacute CULTURA E
LIacuteNGUA
34
21 Breve Relato Histoacuterico 35
22 Classificaccedilatildeo da Liacutengua Satereacute-Maweacute 36
221 Contexto educacional escolar entre os Satereacute-Maweacute 38
3 METODOLOGIA IMPLEMENTADA NA PESQUISA 42
31 Aacuterea e localidade da pesquisa 42
32 Estrateacutegias gerais para a realizaccedilatildeo da coleta de dados 43
33 Procedimentos da coleta de dados 43
34 Articulaccedilatildeo local 44
35 Abordagem ao objeto da pesquisa 44
4 MAPEAMENTO DOS INDIOS SURDOS DA COMUNIDADE SATEREacute-
-MAWEacute NAS MICRORREGIOtildeES DE PARINTINS E SUA REALIDADE
EDUCACIONAL ESCOLAR
45
41 Mapeamento da existecircncia dos iacutendios surdos na microrregiatildeo de Parintins 46
411 Histoacuterico de Parintins 46
412 Histoacuterico de Barreirinha 52
413 Histoacuterico de Maueacutes 53
414 Histoacuterico de Boa Vista do Ramos 55
415 Histoacuterico de Nhamundaacute 56
42 Realidade linguiacutestica e educacional dos iacutendios surdos encontrados na etnia
Satereacute-Maweacute
59
43 Inventaacuterio de gestos da linguagem caseira dos surdos Satereacute-Maweacute 66
431 Os sinais caseiros dos indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute 66
432 Municiacutepio de Parintins 66
4321 O primeiro surdo 67
4322 O segundo surdo 67
4323 O terceiro surdo 68
44 O indiacutegena surdo da comunidade de Ponta Alegre do Municiacutepio de Barreirinha 70
45 Os indiacutegenas surdos do Municiacutepio de Maueacutes 73
451 O primeiro surdo da Comunidade de Santa Maria 75
452 O segundo surdo da Comunidade de Santa Maria 79
5 ICONICIDADE E ARBITRARIEDADE NA CRIACcedilAtildeO DOS SINAIS
CASEIROS
83
6 INTERVENCcedilAtildeO E CONTRIBUICcedilAtildeO LINGUIacuteSTICA DO PROFESSOR
SURDO
90
61 Libras e Liacutengua Satereacute-Maweacute intercacircmbio de construccedilatildeo sociocultural-
linguiacutestico
94
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 97
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 99
ANEXOS
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 Croqui da aacuterea e localidade da pesquisa
FIGURA 2 Sinais caseiros utilizado pela crianccedila de 5 anos
FIGURA 3 Sinais caseiros utilizados pelo aluno da comunidade de Ponta Alegre
Barreirinha
FIGURA 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa
Maria (30 sinais coletados)
FIGURA 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo idoso na comunidade de Santa Maria
FIGURA 6 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos que se refere agrave
arbitrariedade
FIGURA 7 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos aos quais se referem a
iconicidade
FIGURA 8 Caracteriacutesticas da imagem em Liacutengua de Sinais Satereacute-Maweacute dos objetos
aos quais se referem agrave iconicidade
FIGURA 9 Encontro da crianccedila surda Satereacute-Maweacute com o professor surdo
FIGURA 10 Contato com aluno Satereacute-Maweacute surdo no ambiente escolar
FIGURA 11 Contato com o aluno surdo Satereacute-Maweacute na Escola Estadual Brandatildeo de
Amorim
FIGURA 12 Em viagem para aacuterea indiacutegena no Rio Marau
FIGURA 13 Apresentaccedilatildeo do projeto de pesquisa agraves lideranccedilas indiacutegenas na
comunidade
FIGURA 14 Desenvolvimento de oficina de Libras com professores indiacutegenas
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Mapeamento da existecircncia de iacutendios surdos nas respectivas comunidades
indiacutegenas ou zona urbana da microrregiatildeo de Parintins
Tabela 2 11 Sinais caseiros utilizados pela crianccedila indiacutegena surda de 5 anos e seus
familiares
Tabela 3 13 Sinais caseiros coletados e utilizados pelo aluno da comunidade de
Ponta Alegre
Tabela 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa
Maria
Tabela 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais antigo residente isolado na
comunidade de Santa Maria no Rio Marau ( 18 sinais coletados)
56
66
69
73
77
13
INTRODUCcedilAtildeO
Todo cidadatildeo tem o direito de participar na vida poliacutetica social e econocircmica de um
paiacutes Neste contexto inclui-se o cidadatildeo surdo Infelizmente a histoacuteria relata que no passado
os sujeitos surdos1 eram colocados agraves margens da sociedade em todos seus aspectos social
poliacutetico econocircmico cultural linguiacutestico e educacional
Entretanto ao longo da histoacuteria os surdos com a participaccedilatildeo de ouvintes na luta
incessante pelos seus direitos muitas conquistas foram alcanccediladas Entre estas estaacute o direito
de ter sua proacutepria liacutengua a Liacutengua Brasileira de Sinais-LIBRAS A Lei nordm 10436 de 2002 a
qual a reconhece como sistema linguiacutestico de natureza visual-motora com estrutura
gramatical proacutepria constituindo-se um sistema linguiacutestico de transmissatildeo de ideias e fatos
oriundos da comunidade de pessoas surdas do Brasil Conforme Saacute (2006) no Brasil as
comunidades urbanas usam a ldquoliacutengua de sinais brasileirardquo ou simplesmente ldquoliacutengua de sinaisrdquo
Vale ressaltar que a Liacutengua de Sinais segundo Strobel (2008) eacute um aspecto
fundamental da cultura surda2 parte do artefato cultural linguiacutestico
3 do povo surdo e constitui
1 Na aacuterea de pesquisa vinculada a perspectiva socioantropoloacutegica existe uma clara diferenciaccedilatildeo entre a opccedilatildeo
de escrever surdo com letra minuacutescula ou maiuacutescula conforme explica Andreis-Witkoski (2011) ldquoapesar de
nas uacuteltimas deacutecadas ter sido estabelecido uma distinccedilatildeo entre a expressatildeo ldquoSurdordquo com letra maiuacutescula para
identificar uma categoria cultural e ldquosurdordquo com minuacutescula em referecircncia a deficiecircncia auditiva nesta Tese natildeo
se utiliza este tipo de marcaccedilatildeo Compartilha-se da concepccedilatildeo exposta por Owen Wrigley (1996 p53) quando
adverte que esta diferenciaccedilatildeo constitui-se em ldquoum dualismo riacutegido-bom Surdo mau surdo ndash que pouco faz para
ajudar os indiviacuteduos em suas vidas diaacuterias [sem] ajudar a clarear um alcance maior de estrateacutegias colocadas pelos
indiviacuteduos lidando com a exclusatildeo e as muitas faces da opressatildeo em suas rotinas Em termos simples a
dicotomia de bdquoSs‟ estaacute tatildeo cruelmente composta que embora inicialmente seja uacutetil ela agora serve para silenciar
o alcance total das experiecircncias dos sSurdosrdquo (2011 p13) Logo opta-se nesta dissertaccedilatildeo o uso da expressatildeo
ldquosurdordquo (minuacutescula) que refere-se aos ldquosurdordquo enquanto pessoas que pela impossibilidades formam uma
minoria diferente com caracteriacutesticas linguiacutesticas cognitivas culturais e comunitaacuterias especiacuteficas (SAacute 2006
p107) 2 Cultura Surda ldquoeacute o jeito de o surdo entender o mundo e de modificaacute-lo a fim de se tornaacute-lo acessiacutevel e habitaacutevel
ajustando-os com as suas percepccedilotildees visuais que contribuem para a definiccedilatildeo das identidades surdas e das
ldquoalmasrdquo das comunidades surdas Isto significa que abrange a liacutengua as ideacuteias as crenccedilas os costumes e os
haacutebitos de povordquo (STROBEL2008 p 24) 3Conforme Strobel (2008 p37) o que seriam artefatos culturais linguiacutesticos Ao referirmos ldquoartefatordquo
pensamos habitualmente no significado de objetos ou materiais produzidos pelos grupos culturais Realmente de
fato eacute uma forma material de expressar uma determinada cultura poreacutem tambeacutem podem incluir ldquotudo o que se
vecirc e senterdquo quando se estaacute em contato com a cultura de uma comunidade a exemplo vestuaacuterios tradiccedilotildees
crenccedilas valores e normas etc Ou seja no campo dos Estudos Culturais o conceito de ldquoartefatosrdquo natildeo se referem
apenas a materialismo culturais como tambeacutem naquilo que na cultura constitui produccedilotildees do sujeito que tem seu
proacuteprio modo de ser ver entender e transformar o mundo Logo um dos artefatos culturais que ilustram a
cultura do povo surdo eacute o linguiacutestico a liacutengua de sinais que eacute um aspecto fundamental da cultura surda sendo
uma das principais marcas da identidade surda
14
uma das principais marcas da identidade do ser surdo Incluem-se tambeacutem os ldquosinais
emergentesrdquo ou ldquosinais caseirosrdquo dos sujeitos surdos isolados de comunidades surdas no caso
dos surdos das zonas rurais e dos surdos iacutendios Estes surdos embora natildeo pertenccedilam agraves
mesmas comunidades se identificam com o povo surdo4 pois compartilham as mesmas
peculiaridades constroem sua formaccedilatildeo de mundo por meio de artefato cultural visual5
independentemente do grau linguiacutestico que possuem os quais podem ser os gestos caseiros
denominados tambeacutem como sinais emergentes Nesta perspectiva teoacuterica soacutecioantropoloacutegica
enfoca-se como o objeto da pesquisa o sujeito surdo indiacutegena ou seja o iacutendio surdo
Antes de prosseguir com a abordagem mencionada faz-se necessaacuterio destacar que
assim como o povo surdo o povo indiacutegena tambeacutem traccedilou diversas lutas na trajetoacuteria para
reconhecimento dos seus direitos O reconhecimento dos direitos dos povos indiacutegenas no
mundo contemporacircneo avanccedilou muito em relaccedilatildeo haacute algumas deacutecadas passadas De acordo
com Lucinda (apud Saacute 2006) em consenso geral nos debates da Comissatildeo Educaccedilatildeo
Cultura e Desporto que antecedem a elaboraccedilatildeo do texto da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica
Federativa do Brasil de 1988 tanto a liacutengua de sinais como as liacutenguas indiacutegenas deveriam ser
consideradas no texto da Constituiccedilatildeo como liacutenguas maternas Assim como resultado o
Referencial Curricular Nacional para Escolas Indiacutegenas (1998 p31) declara que ldquoA
Constituiccedilatildeo Federal aleacutem de perceber o iacutendio como pessoa com direitos e deveres como
qualquer outro cidadatildeo brasileiro o reconhece como membro de uma comunidade e de um
grupo isto eacute como membro de uma coletividade que eacute titular de direitos coletivos e
especiaisrdquo Ou seja reconhece para os iacutendios o direito agrave praacutetica de suas formas culturais
proacuteprias E no tiacutetulo VIII ldquoDa Ordem Socialrdquo conteacutem um capiacutetulo denominado ldquoDos Iacutendiosrdquo
onde se diz que ldquosatildeo reconhecidos aos iacutendios a sua organizaccedilatildeo social costumes liacutenguas
crenccedilas e tradiccedilotildees []rdquo (ibid p31)
Em meio a essa diversidade linguiacutestica que caracteriza o Brasil como sendo um paiacutes
pluriliacutengue estatildeo situados os ldquosurdos brasileirosrdquo que tecircm sua proacutepria liacutengua reconhecida
oficialmente a Liacutengua de Sinais Logo existem tambeacutem ldquoiacutendios surdosrdquo da etnia Satereacute-
4Quando referimos ldquopovo surdordquo estamos falando ldquode sujeitos surdos que natildeo habitam no mesmo local mas
que estatildeo ligados por uma origem por um coacutedigo de eacutetico de formaccedilatildeo visual independente do grau de evoluccedilatildeo
linguiacutestica tais como a liacutengua de sinais a cultura surda e quaisquer outros laccedilosrdquo (ibid p30) 5Perlin e Miranda (2003) complementam ldquoExperiecircncia visual significa a utilizaccedilatildeo visual em (substituiccedilatildeo total
agrave audiccedilatildeo) como meio de comunicaccedilatildeo Desta experiecircncia visual surge a cultura surda representada pela liacutengua
de sinais pelo modo diferente de ser de se expressar de conhecer o mundo de entrar nas artes no
conhecimento cientiacutefico e acadecircmicordquo (apud STROBEL 2008 p39)
15
Maweacute Qual sua forma de se comunicar Existe uma ldquoLiacutengua de Sinaisrdquo especifica do iacutendio
surdo
Diante das questotildees levantadas surgiu entatildeo agrave necessidade de realizar uma pesquisa
no campo da linguiacutestica na perspectiva dos estudos surdos6 voltado especificamente para o
iacutendio surdo da etnia Satereacute-Maweacute Foram traccedilados os seguintes objetivos i) mapear os iacutendios
surdos na microrregiatildeo de Parintins ii) identificar de que forma o iacutendio surdo estabelece a
comunicaccedilatildeo com sua comunidade especificamente no acircmbito educacional ou se utilizam
liacutenguas de sinais da comunidade local iii) registrar a forma de comunicaccedilatildeo no dia a dia do
iacutendio surdo nas comunidades indiacutegenas a partir dos estudos linguiacutesticos da Liacutengua de Sinais
dos grupos existentes e sua relaccedilatildeo com a comunidade local iv) promover o intercacircmbio entre
a Liacutengua de Sinais dos iacutendios surdos mapeados da etnia Satereacute-Maweacute e a LIBRAS da
comunidade surda do Municiacutepio de Parintins - Amazonas
Este trabalho conteacutem a seguinte divisatildeo primeiro capiacutetulo - apresenta consideraccedilotildees
linguiacutesticas fundamentais aos estudos surdos onde explicita o reconhecimento da Liacutengua de
Sinais como elemento cultural linguiacutestico do povo surdo abordando tambeacutem a oficializaccedilatildeo
da Liacutengua Brasileira de Sinais e as Liacutenguas Indiacutegenas pesquisadas no Brasil como a realidade
do contexto escolar linguiacutestico na comunidade indiacutegena segundo capiacutetulo - relata a histoacuteria
do povo indiacutegena Satereacute-Maweacute sua principal expressatildeo cultural sua liacutengua e seu respectivo
contexto educacional escolar terceiro capiacutetulo - apresenta os procedimentos metodoloacutegicos
utilizados na operacionalizaccedilatildeo da pesquisa e o capiacutetulo quatro - apresenta a anaacutelise do
resultado do Mapeamento dos iacutendios surdos da etnia Satereacute-Maweacute na microrregiatildeo de
Parintins Neste satildeo tambeacutem apresentadas as relaccedilotildees socioculturais-linguiacutesticas de iacutendios
surdos Satereacute-Maweacute com as contribuiccedilotildees linguiacutesticas do professor surdo aos Iacutendios surdos na
comunidade Satereacute-Maweacute estabelecendo assim as relaccedilotildees culturais na construccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo linguiacutestica LIBRAS e Liacutengua Satereacute-Maweacute como um intercacircmbio de construccedilatildeo
sociocultural
Desse modo a pesquisa tem como premissa baacutesica primeiramente mapear os iacutendios
surdos da etnia Satereacute-Maweacute e assim promover um intercacircmbio oferecendo contribuiccedilotildees
linguiacutesticas fundamentadas na pesquisa do leacutexico (vocabulaacuterio) da etnia referida com a Libras
(Liacutengua Brasileira de Sinais) e a Liacutengua Portuguesa por meio da elaboraccedilatildeo de um
6 Conforme Skliar eacute o campo de pesquisa em educaccedilatildeo onde as identidades a liacutenguas a histoacuteria a cultura da
comunidade surda satildeo focalizados e entendidos a partir da diferenccedila a partir do seu reconhecimento poliacutetico
(2001p29)
16
minidicionaacuterio triliacutengue Assim espera-se contribuir para a iniciaccedilatildeo dos indiacutegenas surdos da
etnia Satereacute-Maweacute na Liacutengua Brasileira de Sinais dando a eles um dos direitos universais do
ser humano que eacute direito a uma liacutengua Tambeacutem deseja-se contribuir para a iniciaccedilatildeo dos
indiacutegenas surdos da etnia Satereacute-Maweacute na Liacutengua Brasileira de Sinais dando a eles um dos
direitos universais do ser humano que eacute direito a uma liacutengua proacutepria
17
1 CONSIDERACcedilOtildeES DOS ESTUDOS LINGUIacuteSTICOS DA LIacuteNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
A Linguiacutestica conhecida hoje como a ciecircncia que estuda a linguagem humana eacute uma
ciecircncia recente poreacutem com um saber antigo Passou a se impor como ciecircncia agrave medida que
demonstrou seu meacutetodo e seu objeto de estudo Eacute definida como estudo cientiacutefico que visa
descrever ou explicar a linguagem verbal humana (ORLANDI 1999)
A Linguiacutestica diferencia-se da gramaacutetica tradicional normativa na medida que natildeo
tem como objetivo ditar regras de correccedilatildeo para uso da linguagem Seu interesse eacute a liacutengua
como mateacuteria de reflexatildeo (QUADROS e KARNOPP 2004) Segundo as pesquisas nesta
aacuterea Vandresen (1988 apud QUADROS 2007 p 83) tem-se ldquoa linguiacutestica contrastiva como
uma subaacuterea da linguiacutestica geral interessada em apontar as similaridades e diferenccedilas
estruturais entre a liacutengua materna (de um grupo de alunos) e uma liacutengua estrangeirardquo
Na taxonomia de similaridades e contrastes entre as liacutenguas existe uma seacuterie de
regularidades como haacute similaridades comportamentais que natildeo precisam ser explicitadas
porque constituem a base comum das liacutenguas naturais e o compartilhamento dessas
similaridades poderaacute servir como base para inferecircncias quanto agraves formas da liacutengua estrangeira
e quanto agraves diferenccedilas por serem sistemaacuteticas podem admitir tratamento inferencial e
heuriacutestico (KATO 1988 apud QUADROS 2007)
Segundo Nascimento (2009) a vitalidade da liacutengua depende de sua utilizaccedilatildeo efetiva
tanto em escala nacional quanto em escala mundial Quanto mais uma liacutengua eacute utilizada mais
ela eacute viva e inversamente quanto menos eacute utilizada mais ela eacute ameaccedilada de extinccedilatildeo Assim
sendo eacute o uso social da liacutengua que determina seu grau de revitalizaccedilatildeo
Por essas razotildees a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Linguiacutesticos (BARCELONA
1996 p 3) tem como ponto de partida
[] as comunidades linguiacutesticas e natildeo os Estados e inscreve-se no quadro do
reforccedilo das instituiccedilotildees internacionais capazes de garantir um desenvolvimento
duradouro e equitativo para toda a humanidade e tem como finalidade favorecer um
quadro de organizaccedilatildeo poliacutetica da diversidade linguiacutestica baseado no respeito na
convivecircncia e nos benefiacutecios reciacuteprocos
Em seu TITULO PREacuteVIO tem como conceitos
18
Artigo 1ordm
1 Esta Declaraccedilatildeo entende por comunidade linguiacutestica toda a sociedade humana
que radicada historicamente num determinado espaccedilo territorial reconhecido ou
natildeo se identifica como povo e desenvolveu uma liacutengua comum como meio de
comunicaccedilatildeo natural e de coesatildeo cultural entre os seus membros A denominaccedilatildeo
liacutengua proacutepria de um territoacuterio refere-se ao idioma da comunidade historicamente
estabelecida neste espaccedilo [grifo nosso]
2 Esta Declaraccedilatildeo parte do princiacutepio de que os direitos linguiacutesticos satildeo
simultaneamente individuais e colectivos e adapta como referecircncia da plenitude dos
direitos linguiacutesticos o caso de uma comunidade linguiacutestica histoacuterica no respectivo
espaccedilo territorial entendendo-se este natildeo apenas como a aacuterea geograacutefica onde esta
comunidade vive mas tambeacutem como um espaccedilo social e funcional indispensaacutevel ao
pleno desenvolvimento da liacutengua Eacute com base nesta premissa que se podem
estabelecer em termos de uma progressatildeo ou continuidade os direitos que
correspondem aos grupos linguiacutesticos mencionados no ponto 5 deste artigo e os das
pessoas que vivem fora do territoacuterio da sua comunidade []
Em referecircncia ao Artigo 3ordm
- o direito ao ensino da proacutepria liacutengua e da proacutepria cultura
- o direito a dispor de serviccedilos culturais
- o direito a uma presenccedila equitativa da liacutengua e da cultura do grupo nos meios de
comunicaccedilatildeo
- o direito a serem atendidos na sua liacutengua nos organismos oficiais e nas relaccedilotildees
socioeconomicas []
Em referecircncia ao Artigo 5ordm
Esta Declaraccedilatildeo baseia-se no princiacutepio de que os direitos de todas as comunidades
linguiacutesticas satildeo iguais e independentes do seu estatuto juriacutedico ou poliacutetico como
liacutenguas oficiais regionais ou minoritaacuterias Designaccedilotildees tais como liacutengua regional ou
minoritaacuteria natildeo satildeo usadas neste texto porque apesar de em certos casos o
reconhecimento como liacutengua minoritaacuteria ou regional poder facilitar o exerciacutecio de
determinados direitos a utilizaccedilatildeo destes e doutros adjetivos serve frequentemente
para restringir os direitos de uma comunidade linguiacutestica []
Em referecircncia ao Artigo 23ordm
1 O ensino deve contribuir para fomentar a capacidade de auto-expressatildeo
linguiacutestica e cultural da comunidade linguiacutestica do territoacuterio onde eacute
ministrado[grifo nosso]
2 O ensino deve contribuir para a manutenccedilatildeo e o desenvolvimento da liacutengua falada
pela comunidade linguiacutestica do territoacuterio onde eacute ministrado
3 O ensino deve estar sempre ao serviccedilo da diversidade linguiacutestica e cultural e das
relaccedilotildees harmoniosas entre as diferentes comunidades linguiacutesticas do mundo inteiro
4 No quadro dos princiacutepios anteriores todos tecircm direito a aprender qualquer liacutengua
Em referecircncia aos Artigos 26ordm a 28ordm Artigo 26ordm
Todas as comunidades linguiacutesticas tecircm direito a um ensino que permita a todos os
seus membros adquirirem o perfeito conhecimento da sua proacutepria liacutengua com as
diversas capacidades relativas a todos os domiacutenios de uso da liacutengua habituais bem
como o melhor conhecimento possiacutevel de qualquer outra liacutengua que desejem
aprender
Artigo 27ordm
Todas as comunidades linguiacutesticas tecircm direito a um ensino que permita aos seus
membros o conhecimento das liacutenguas ligadas agrave sua proacutepria tradiccedilatildeo cultural tais
como as liacutenguas literaacuterias ou sagradas usadas antigamente como liacutenguas habituais
da sua comunidade
Artigo 28ordm
Todas as comunidades linguiacutesticas tecircm direito a um ensino que permita aos seus
membros adquirirem um conhecimento profundo do seu patrimocircnio cultural (histoacute-
ria e geografia literatura e outras manifestaccedilotildees da proacutepria cultura) assim como o
melhor conhecimento possiacutevel de qualquer outra cultura que desejem conhecer
(BARCELONA 1996 p 4 a 14)
19
Assim nas Disposiccedilotildees Finais no Plenaacuterio da Associaccedilatildeo Internacional para o
Desenvolvimento da Comunicaccedilatildeo Intercultural recomenda agraves Naccedilotildees Unidas que tomem as
medidas necessaacuterias agrave adopccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de uma Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos
Linguiacutesticos considerando a Convenccedilatildeo nuacutemero 169 da Organizaccedilatildeo Internacional do
Trabalho de 26 de Junho de 1989 relativa aos povos indiacutegenas em paiacuteses independentes que
a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Colectivos dos Povos realizada em Maio de 1990 em
Barcelona declara que todos os povos tecircm direito a exprimir e a desenvolver a sua cultura a
sua liacutengua e as suas normas de organizaccedilatildeo e para o fazerem a dotarem-se de estruturas
poliacuteticas educacionais de comunicaccedilatildeo e de administraccedilatildeo puacuteblica proacuteprias em quadros
poliacuteticos diferentes Considerando tambeacutem a Declaraccedilatildeo Final da Assembleia Geral da
Federaccedilatildeo Internacional de Professores de Liacutenguas Vivas aprovada em Peacutecs (Hungria) em 16
de Agosto de 1991 recomenda-se tambeacutem que os direitos linguiacutesticos sejam consagrados
direitos fundamentais
Neste contexto Nascimento (2009 p 25) pontua
Como princiacutepio eacutetico qualquer poliacutetica de liacutenguas deveraacute trabalhar a unidade e a
diversidade Natildeo se trata de poacutelos de contradiccedilatildeo mas de eixos de transiccedilatildeo A
unidade eacute uma razatildeo do Estado e a diversidade ou variedade eacute a mateacuteria linguiacutestica
proacutepria da comunidade pois reflete a liacutengua em uso ou seja as linguagens verbais
por meio das quais os indiviacuteduos se comunicam A unidade eacute resguardada pelo
padratildeo oficializado em um modelo de gramaacutetica e a variedade se faz representar nas
diversas gramaacuteticas praacuteticas e pragmaacuteticas de um Estado linguiacutestico
Quadros e Karnopp (2004) ainda explicam que a linguiacutestica parte de pressupostos
baacutesicos que determinam as investigaccedilotildees Sendo um dos mais importantes eacute de que a
linguagem eacute restringida por determinados princiacutepios ou seja ldquoregrasrdquo que fazem parte do
conhecimento humano das liacutenguas (falada ou sinalizada) da formaccedilatildeo de palavras da
construccedilatildeo das sentenccedilas e da construccedilatildeo dos textos A partir deste pressuposto da
universalidade de tais princiacutepios as investigaccedilotildees linguiacutesticas objetivam estudar os aspectos
especiacuteficos de cada liacutengua os quais revelam as caracteriacutesticas da linguagem humana A
exemplo o inglecircs o portuguecircs a Liacutengua de Sinais Americana a Liacutengua Brasileira de Sinais
e outras Embora apresentem diferenccedilas entre as liacutenguas agraves estruturas satildeo comuns que por
sua vez interessam agraves investigaccedilotildees linguiacutesticas na medida em que eacute a ciecircncia que objetiva
por explicar a natureza da linguagem humana
A partir dessas concepccedilotildees entendemos que os seres humanos estabelecem relaccedilotildees
do mais simples ao mais complexo com o outro por meio de gestos olhares e contato seja
por meio de sons Tudo isso caracteriza a linguagem humana Observa-se que a ldquolinguagemrdquo
20
eacute um termo usado pelas pessoas com referecircncia agrave linguagem em geral ou seja em uma
variedade de sentidos para denominar sistemas de comunicaccedilatildeo linguagem musical
linguagem corporal linguagem entre animais etc
No que concerne agrave definiccedilatildeo do termo liacutengua Quadros e Karnopp (2004) encontraram
uma seacuterie de definiccedilotildees de liacutengua que apontam para sua diferenciaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao termo
linguagem Estas fornecem subsiacutedios para a indicaccedilatildeo de propriedades consideradas pela
linguiacutestica essenciais agraves liacutenguas naturais sendo que uma delas eacute dada por Saussure que
afirma
Liacutengua natildeo se confunde com a linguagem eacute somente uma parte determinada
essencial dela indubitavelmente Eacute ao mesmo tempo um produto social da
faculdade de linguagem e um conjunto de convenccedilotildees necessaacuterias adotadas pelo
corpo social para permitir o exerciacutecio dessa faculdade nos indiviacuteduos (QUADROS e
KARNOPP 2004 p24)
Portanto entende-se como liacutengua natural
uma liacutengua que foi criada e eacute utilizada por uma comunidade especiacutefica de usuaacuterios
transmitida de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo e que muda ndash tanto estrutural como
funcionalmente ndash com o passar do tempo Ora qualquer liacutengua pode ser considerada
natural independentemente da modalidade que utilize (SAacute 2006 p 134)
Assim a liacutengua natural eacute tratada enquanto sistema linguiacutestico altamente desenvolvido
apresentando as caracteriacutesticas citadas por Quadros e Karnopp (2004 p 25-28) de
flexibilidade versatilidade arbitrariedade descontinuidade criatividade produtividade dupla
articulaccedilatildeo padratildeo de organizaccedilatildeo dos elementos e dependecircncia estrutural Logo conclui-se
que tais caracteriacutesticas satildeo especiacuteficas da faculdade da linguagem humana
11 Liacutengua de Sinais como Liacutengua Natural
A Liacutengua de Sinais eacute uma liacutengua natural criada pelas comunidades surdas Segundo
Skliar (1998 p26) ldquoTodas as crianccedilas surdas podem adquirir a Liacutengua de Sinais desde que
participem das interaccedilotildees quotidianas com a comunidade surda como acontece com qualquer
outra crianccedila na aquisiccedilatildeo de uma liacutengua naturalrdquo Skliar esclarece que liacutengua ldquonaturalrdquo natildeo
se refere a uma espontaneidade bioloacutegica mas como liacutengua que foi criada e eacute utilizada por
uma comunidade especiacutefica de usuaacuterios que transmite de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo e que muda com
o passar do tempo tanto estruturalmente como funcionalmente (IDEM p27)
As Liacutenguas de Sinais satildeo diferentes em cada comunidade com caracteriacutesticas das
liacutenguas orais com estruturas gramaticais proacuteprias que as distingue dos demais sistemas de
21
comunicaccedilatildeo Para Quadros e Karnopp (2004 p 30) ldquoAs liacutenguas de sinais satildeo portanto
consideradas pela linguiacutestica como liacutenguas naturais ou como um sistema linguiacutestico legiacutetimo e
natildeo como um problema do surdo ou como uma patologia da linguagemrdquo7
Para o reconhecimento das Liacutenguas de Sinais como liacutenguas naturais Ramos (2013 p
8) destaca o conceito ldquonaturalrdquo em oposiccedilatildeo a ldquocoacutedigo e linguagemrdquo e a avaliaccedilatildeo apresenta
as semelhanccedilas existentes entre as mesmas e as liacutenguas orais Sendo que uma dessas
semelhanccedilas na linha saussuriana eacute a ldquoexistecircncia de unidades miacutenimas formadoras de
unidades complexas pode ser observada em todas as Liacutenguas de Sinais espalhadas pelo
mundo possuidoras dos niacuteveis fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico e pragmaacuteticordquo
As liacutenguas de sinais apresentam ldquoregistros diversos (por categoria profissional status social
idade niacutevel escolar etc) aleacutem de dialetos regionais tambeacutem referendam as semelhanccedilas com
as liacutenguas oraisrdquo (IDEM p 8)
Estudos aprofundados sobre a Liacutengua de Sinais iniciaram a partir da deacutecada de 1950
com o estudioso da linguiacutestica o americano William Stokoe o qual percebeu e provou que a
Liacutengua de Sinais
[] satisfazia todos os criteacuterios linguiacutesticos de uma liacutengua genuiacutena no leacutexico na
sintaxe na capacidade de gerar um nuacutemero infinito de proposiccedilotildees [] Stokoe
convenceu-se de que os sinais natildeo eram figuras e sim complexos siacutembolos abstratos
com uma estrutura interna complexa Foi entatildeo o primeiro a buscar uma estrutura a
analisar os sinais dissecaacute-los procurar as partes constituintes Desde o comeccedilo ele
tentou demonstrar que cada sinal possuiacutea pelo menos trecircs partes independentes ndash
7 Sobre a surdez temos duas abordagens segundo explica Skliar a cliacutenico terapecircutica e a soacutecio-antropoloacutegica
A visatildeo soacutecioantropoloacutegica descreve a surdez em termos contraacuterios agraves noccedilotildees de patologia e de deficiecircncia
(1998 p10) Durante o seacuteculo passado construi-se o imaginaacuterio de que o surdo era um deficiente que
necessitava falar Segundo Casarin (1996 p2) ldquoNesse discurso deacuteficit doenccedila patologia anomalia implicam
apenas a possibilidade de sequumlecircncia diagnoacutestico tratamento-cura caracteriacutesticas da abordagem meacutedicardquo [] Tal
concepccedilatildeo influecircnciou outras aacutereas do conhecimento inclusive na educaccedilatildeo sobre a forma de perceber o surdo
Cesarian ainda explica que a partir daiacute foram assimilando o imaginaacuterio de que a surdez era uma doenccedila e que o
surdo por natildeo falar era um deficiente que precisava ser curado construindo entre as aacutereas de tratamento um
modelo terapecircutico para o deficiente auditivo Apoacutes as influecircncias da medicina na educaccedilatildeo dos surdos o
modelo cliniacuteco-terapecircutico passa a impor propostas educativas do oralismo dando continuidade agora na aacuterea
educacional ao tratamento do deficiente o mais cedo possivel na escola a fim que ele se enquadre ao modelo
normal modelo ouvinte Logo as escolas apresentavam como instituiccedilotildees de reeducaccedilatildeo da fala desenvolvendo
atividades pedagoacutegicas que tinham como objetivo o treinamento e exerciacutecios com fins a trazer o surdo o mais
possiacutevel do ldquonormalrdquo Perde-se assim muito tempo no processo de ensino aprendizado do sujeito surdo levando
a um fracasso escolar Surge entatildeo a nova concepccedilatildeo nomeada como soacutecio-antropoloacutegica de surdez totalmente
oposta agrave anterior Essa concepccedilatildeo parte das capacidades do sujeito quando considera a liacutengua de sinais como
melhor garantia para o desenvolvimento normal do surdo Esta nova concepccedilatildeo traz a valorizaccedilatildeo da lingua de
sinais e como consequecircncia o reconhecimento das especificidade culturais das comunidades surdas Estudos
feitos por linguiacutesticas observaram o desempenho escolar de pessoas surdas que se comunicam desde a infacircncia
por meio da Liacutengua de Sinais e que demostraram ganhos significativos em divesas aacutereas do desenvolvimento
humano Deixando claro a necessidade do uso da Liacutengua de Sinais como liacutengua natural da pessoa surda (1996
p 3)
22
localizaccedilatildeo configuraccedilatildeo das matildeos e movimento executado (anaacuteloga aos fonemas
da fala) ndash e que cada parte apresentava um nuacutemero limitado de combinaccedilotildees []
(SACKS 1998 p 88-89)
Segundo Ramos (2013 p 9) em 1988 o venezuelano Saacutenchez fez pesquisas sobre as
liacutenguas de sinais e os resultados apresentou ao educador francecircs Jean Foucambert No debate
sobre suas pesquisas ldquosurgiu agrave proposta de um tipo de educaccedilatildeo que privilegiasse a liacutengua
natural da comunidade surda - a Liacutengua de Sinais Venezuelana e a escrita da liacutengua da
comunidade oral o Espanholrdquo Um dos primeiros princiacutepios que lanccedilou a base para a que a
liacutengua de sinais fosse reconhecida como liacutengua natural foi descrita por Foucambert (RAMOS
2013 p 10)
Natildeo soacute os surdos mas toda e qualquer crianccedila pode aprender a liacutengua escrita sem
basear-se na oral porque satildeo independentes Em segundo lugar chegou-se agrave
afirmaccedilatildeo de que a liacutengua de sinais eacute uma liacutengua natural e que os surdos satildeo uma
comunidade linguiacutestica minoritaacuteria com direito a desenvolver sua cultura proacutepria
dentro da cultura majoritaacuteria O fato de a Liacutengua de Sinais cumprir uma seacuterie de
requisitos que todas as liacutenguas naturais possuem - espanhol portuguecircs alematildeo
inglecircs polonecircs a criatividade eacute um deles - pode-se sempre dizer alguma coisa
nova Outro requisito eacute a combinaccedilatildeo de partiacuteculas natildeo significativas que usadas de
certa maneira criam significaccedilatildeo [] Com 30 40 configuraccedilotildees da matildeo podem-se
transmitir milhares de sinais significativos como os fonemas da liacutengua oral A
liacutengua de sinais que como as liacutenguas nacionais eacute diferente em cada paiacutes e ateacute em
regiotildees dos paiacuteses possui aleacutem do mais uma gramaacutetica toda proacutepria organizada e
complexa e nos permite transmitir qualquer coisa [] Com ela pode-se transmitir
criar e recriar o que se quiser poesia romance filosofia E pode-se ateacute formular
ideacuteias com duplo sentido ou mentir que eacute outra caracteriacutestica das liacutenguas naturais
Por meio das pesquisas e estudos diversos paiacuteses passaram a se dedicar no campo da
linguiacutestica da Liacutengua de Sinais eacute que criou-se a possibilidade do povo surdo lutar pelo seu
reconhecimento enquanto liacutengua na medida em que pode contar com estudos que provam
cientificamente de que as Liacutenguas de Sinais satildeo de fato liacutenguas e natildeo um conjunto de
miacutemica
12 Liacutengua Brasileira de Sinais
O ser humano se expressa atraveacutes da liacutengua e a partir dela estabelece sua cultura
valores e padrotildees sociais Para os surdos brasileiros a Libras estabelece essas condiccedilotildees pois
considera a modalidade visual-espacial e associa caracteriacutesticas sociolinguiacutesticas as funccedilotildees
pragmaacuteticas e discursivas semelhantes agraves liacutenguas orais poreacutem a Liacutengua de Sinais por muito
tempo natildeo foi percebida enquanto estrutura linguiacutestica
23
A LIBRAS como toda Liacutengua de Sinais eacute uma liacutengua de modalidade gestual-visual
uma vez que faz uso para a comunicaccedilatildeo de movimentos gestuais e expressotildees faciais
percebidos pela visatildeo Neste sentido a Revista Feneis Ramos (2002 apud RAMOS 2013 p
7-8) ldquoa Liacutengua Portuguesa eacute uma liacutengua de modalidade oral-auditiva por utilizar como canal
ou meio de comunicaccedilatildeo sons articulados que satildeo percebidos pelos ouvidosrdquo Suas diferenccedilas
estatildeo na utilizaccedilatildeo de canais diferentes e nas estruturas gramaticais de cada liacutengua
Para Campello (2009) historicamente os primeiros estudos da Liacutengua de Sinais
apareceram no seacuteculo XIV exatamente nos anos de 1644 pelo inglecircs Bulwer J B com o livro
de Liacutengua de Sinais Inglesa Chirologia8 on the natural language of the hand com os estudos
destacando as figuras das matildeos e seus significados Menciona tambeacutem que era recompensa
de natureza que os surdos devam se comunicar atraveacutes dos gestos e acreditava firmemente na
ldquonecessidade que opera a Natureza dos homens que nascem Surdos-Mudos que podem
discutir mostrar sinalizar retoricamente por sinaisrdquo (p 13)
Em 1960 W C Stokoe pesquisador inglecircs da Gallaudet University fez uma pesquisa
entre as gramaacuteticas utilizadas pelos surdos em sala de aula e fora dela e os resultados foram
publicados no artigo Sign Language Structure na outline of the visual communication system
of the American Deaf na revista Studies in Linguistics Occassional Papers 8 (CAMPELLO
2009) E eacute a partir destes estudos que Stokoe afirma que a Liacutengua de Sinais eacute liacutengua
Stokoe (1960) ldquopercebeu e comprovou que a liacutengua de sinais atendia a todos os
criteacuterios linguiacutesticos de uma liacutengua genuiacutena no leacutexico na sintaxe e na capacidade de
gerar uma quantidade infinita de setenccedilasrdquo Stokoe observou que os sinais natildeo eram
imagens mas siacutembolos abstratos complexos com uma complexa estrutura interior
[] Comprovou inicialmente inicialmente que cada sinal apresentava pelo menos
trecircs partes independentes (em analogia com os fonemas da fala) ndash a localizaccedilatildeo a
configuraccedilatildeo de matildeos e o movimento ndash e que cada parte possuiacutea um nuacutemero
limitado de combinaccedilotildees [] (QUADROS E KARNOPP 2004 p 30-31)
Os estudos do linguiacutesta representou o primeiro passo para outras pesquisas em relaccedilatildeo
a Liacutengua de Sinais Em diversos paiacuteses pesquisas foram realizadas O Brasil foi um deles
No Brasil no final dos anos de 1970 a proposta da educaccedilatildeo biliacutengue reconhece a
Libras como liacutengua natural portanto deve ser ensinada como primeira liacutengua desde o iniacutecio
da escolarizaccedilatildeo da crianccedila surda e a comunidade surda reconhece o portuguecircs como a liacutengua
oficial do Brasil e deve ser ensinada como segunda liacutengua na forma oral ou escrita
(SLOMSKI 2010)
8 Bulwer (1644) em seu livro esclarece que a quirologia eacute um dicionaacuterio de gestos manuais e quirema eacute um
manual para o uso efetivo do gesto de falar em puacuteblico
24
Segundo Quadros (2009 p144) no entanto a Liacutengua de Sinais comeccedilou a ser
investigada efetivamente nas deacutecadas de 80 e 90 por Ferreira Brito (1986 1995) Felipe
(1992 1993) Quadros (1995 1999) e a aquisiccedilatildeo da Liacutengua Brasileira de Sinais nos anos 90
(Karnopp (1994 1999 Quadros (1995 1997)
Na deacutecada de 1980 a 1990 tem-se um panorama mundial para a abordagem biliacutengue
na educaccedilatildeo de surdos Slomski (2010 p 61) destaca que em 1994 Lucinda Ferreira Brito
passa a utilizar a abreviaccedilatildeo de LIBRAS (Liacutengua Brasileira de Sinais) criada pela comunidade
surda Consequentemente pesquisas estudos e lutas da comunidade surda contribuiacuteram para a
instauraccedilatildeo de uma poliacutetica linguiacutestica da Liacutengua Brasileira de Sinais A que reconhece o
estatuto linguiacutestico legal por meio da Lei 10436 de 24042002
Art 1ordm Eacute reconhecida como meio legal de comunicaccedilatildeo e expressatildeo a Liacutengua
Brasileira de Sinais ndash Libras e outros recursos de expressatildeo e por ela associados
Paraacutegrafo uacutenico Entende-se como Liacutengua Brasileira de Sinais ndash Libras a forma e
comunicaccedilatildeo e expressatildeo em que o sistema linguiacutestico de natureza visual-motora
com estrutura gramatical proacutepria constituem um sistema linguiacutestico de transmissatildeo
de ideias e fatos oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil
[](BRASIL 2007 p 2)
A Liacutengua de Sinais como jaacute mencionado eacute uma liacutengua natural composta por de todos
os componentes agraves liacutenguas orais como gramaacutetica semacircntica pragmaacutetica sintaxe e outros
elementos preenchendo os requisitos cientiacuteficos para ser considerado um sistema linguiacutestico
Conforme Felipe e Monteiro (2004 p23) as Liacutenguas de Sinais satildeo compostas por
signos linguiacutesticos denominados bdquosinais‟ encontrados nos seguintes paracircmetros
Configuraccedilatildeo das Matildeos Ponto de Articulaccedilatildeo Movimento Orientaccedilatildeo Expressatildeo Facial eou
Corporal Estes paracircmetros satildeo requisitos necessaacuterios para que sejam constituiacutedos os sinais
Portanto a Liacutengua de Sinais eacute considerada como liacutengua natural do sujeito surdo
como sua primeira liacutengua-L1 Jaacute a liacutengua majoritaacuteria de um paiacutes no caso do Brasil eacute a
Liacutengua Portuguesa como L2 Partindo do pressuposto que a Liacutengua de Sinais eacute a primeira
liacutengua do surdo a aquisiccedilatildeo da primeira liacutengua pelas crianccedilas surdas deve se dar de forma
natural no contato com surdos sinalizados pertencentes agrave comunidade surda A Liacutengua
Portuguesa por sua vez eacute aprendida de forma sistemaacutetica ou seja precisa ser ensinada por
meio de teacutecnicas especiacuteficas de ensino de segunda liacutengua
A partir desta compreensatildeo as crianccedilas surdas precisam ter a oportunidade do contato
com seus pares Crianccedilas surdas que natildeo tecircm um conviacutevio com surdos por terem nascido
dentro de familias ouvintes que usam a liacutengua oral precisam que os pais familiares
25
oportunizem a elas o mundo essencialmente visual-espacial para conhecer a Liacutengua de
Sinais Sobre a questatildeo Quadros (2005 p30) afirma
As crianccedilas surdas e seus pais ouvintes poderiam compartilhar o bilinguismo liacutengua
portuguesa e liacutengua de sinais brasileira e ir aleacutem descobrindo os vieses das culturas
e identidade que se entrecruzam [] Assim as crianccedilas surdas precisam ter acesso
agrave liacutengua de sinais com sinalizantes fluentes desta liacutengua muito cedo Estes
sinalizantes satildeo pessoas que normalmente natildeo fazem parte do ciacuterculo de pessoas
que a crianccedila usualmente teria contato Os pais teratildeo que conhecer comunidade
surda que usa esta liacutengua
Nesta perspectiva Souza (apud QUADROS 2005) menciona que se no iniacutecio do seu
desenvolvimento a crianccedila surda tiver a chance de contar com pais dispostos a aprenderem a
liacutengua de sinais com adultos surdos colegas surdos e conversarem ldquosinalizandordquo a
dimensatildeo do seu processo educacional seraacute outra A aquisiccedilatildeo da liacutengua seraacute transferida para
o espaccedilo escolar ldquoO fato de passar a ter contato com a liacutengua portuguesa com significado
trazendo seus conceitos adquiridos na sua proacutepria liacutengua possibilitaraacute um processo muito
mais significativordquo (ibid p33)
Por isso eacute de importacircncia fundamental a crianccedila surda esteja em contato linguiacutestico
com a liacutengua de sinais o mais cedo possiacutevel seja com a comunidade surda ou com seus pais
ouvintes que adquiriram a Liacutengua de Sinais como L2 Estes fatores iratildeo influenciar a crianccedila
estabelecer a sua identidade e cultura surda naturalmente Neste sentido Fantinel (1999 p2)
menciona que ldquoo uso da Liacutengua de Sinais eacute uma condiccedilatildeo fundamental na construccedilatildeo da
identidade dessas pessoas pois eacute o fator que os aproxima e reuacutene em grupos permitindo-lhes
expressarem-se construindo significados para a vidardquo
A Liacutengua de Sinais portanto eacute um aspecto fundamental da cultura surda Para tanto
Strobel (2008 p44) ainda enfatiza que para que o sujeito surdo possa ter acesso agraves
informaccedilotildees e conhecimentos aleacutem de construir sua identidade eacute fundamental criar uma
ligaccedilatildeo com o povo surdo que usa a sua liacutengua em comum pois a Liacutengua de Sinais eacute uma das
principais marcas da identidade de um povo surdo uma particularidade da cultura surda uma
forma de comunicaccedilatildeo que capta as experiecircncias visuais dos sujeitos surdos E somente a
partir do uso desta liacutengua que a crianccedila conseguiraacute seu pleno desenvolvimento cognitivo
psicoloacutegico emocional e cultural proporcionando assim a aquisiccedilatildeo do conhecimento
universal
Desta forma ao refletirmos sobre a pessoa surda na construccedilatildeo de sua identidade e
cultura surda entende-se que o contato linguiacutestico eacute essencial Logo o que dizer das pessoas
26
surdas que vivem isoladas de comunidades surdas que natildeo tem esse contato com Liacutengua de
Sinais Sobre esta realidade Strobel esclarece que
No entanto incluem tambeacutem os gestos denominados ldquosinais emergentesrdquo ou ldquosinais
caseirosrdquo dos sujeitos surdos de zonas rurais ou sujeitos isolados de comunidades
surdas que procuram entender o mundo atraveacutes dos experimentos visuais e que
procuram comunicar apontando e criando sinais [] (ibidem p44)
Ainda sobre a questatildeo Vilhalva (2012 p 30) ressalta que ldquo[] Os sinais emergentes
tambeacutem conhecidos como sinais caseiros satildeo essenciais quando vistos como comunicaccedilatildeo
natural usada em um espaccedilo familiar ou social []rdquo Nesse caso podemos referir ao iacutendio
surdo que vive isolado do contato com a comunidade surda Este surdo tambeacutem se identifica
com o povo surdo apesar de natildeo ter contato e de natildeo pertencer agraves mesmas comunidades
surdas na medida em que de acordo com Strobel (2008) eles compartilham as mesmas
peculiaridades ou seja constroem sua formaccedilatildeo de mundo atraveacutes de artefato cultural visual
13 Liacutenguas de Sinais Indiacutegenas pesquisadas no Brasil
Os registros da existecircncia de iacutendios surdos segundo Vilhalva (2008) apontam para o
Estatuto do Iacutendio - Lei nordm 6001 de 19121973 que norteou as relaccedilotildees do Estado brasileiro
com as populaccedilotildees indiacutegenas ateacute a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 em seu Paraacutegrafo
uacutenico do Art 1ordm assegura
Aos iacutendios e agraves comunidades indiacutegenas se estende a proteccedilatildeo das leis do Paiacutes nos
mesmos termos em que se aplicam aos demais brasileiros resguardados os usos
costumes e tradiccedilotildees indiacutegenas bem como as condiccedilotildees peculiares reconhecidas
nesta Lei
Neste sentido no Brasil a liacutengua oficial eacute a Liacutengua Portuguesa Fossile (2013 p 4)
afirma que ldquoo paiacutes conta atualmente segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatiacutestica (IBGE) com aproximadamente 210 liacutenguas sendo 190 delas indiacutegenasrdquo Essas
liacutenguas indiacutegenas satildeo consideradas como liacutenguas minoritaacuterias sem importacircncia em relaccedilatildeo ao
portuguecircs No entanto algumas possuem mais prestiacutegio em relaccedilatildeo agraves outras
Em relaccedilatildeo ao conhecimento da liacutengua e da diversidade na dinacircmica soacutecio-cultural das
populaccedilotildees indiacutegenas deveria haver prioridades para estudos no campo linguiacutestico para
acadecircmicos e pesquisadores indios De fato o conhecimento das liacutenguas faladas e no
contexto tem-se essa diversidade para iacutendios surdos deveria ser compartilhada com a
27
sociedade indiacutegena de forma que esta possam participar ativamente na elaboraccedilatildeo de poliacuteticas
e programas que respondam agraves suas necessidades seus direitos considerando-se em particular
suas culturas e liacutenguas
Segundo Vilhalva (2008) pesquisas no campo da linguiacutestica e de poliacuteticas linguiacutesticas
avanccedilaram consideravelmente no Brasil Tendo poreacutem ainda uma grande necessidade de
maiores pesquisas principalmente referente a diferentes Liacutenguas de Sinais pertencentes a
diferentes comunidades como as dos povos indiacutegenas Neste sentido a autora argumenta
A Liacutengua de Sinais Indiacutegenas praticadas pelos iacutendios surdos existentes em diversas
comunidades indiacutegenas do paiacutes traz consigo caracteriacutesticas culturais e linguiacutesticas
variadas bdquoInfelizmente raramente satildeo registradas como satildeo registradas outras liacutenguas
brasileiras de diferentes comunidades com suas especificidades culturais e eacutetnicas ‟
(VILHALVA 2008 p 29)
Sobre a questatildeo Nonaka coloca que
desde 1960 quando se iniciaram os estudos linguiacutesticos e antropoloacutegicos em
referecircncia agraves Liacutenguas de Sinais a maior parte das investigaccedilotildees tem incidido sobre
as Liacutenguas de Sinais nacionais ou padratildeo usadas pelos surdos de diferentes paiacuteses
com escassa atenccedilatildeo agraves Liacutenguas de Sinais usadas pelos indiacutegenas em sua
comunicaccedilatildeo original (apud VILHALVA 2012 p 30)
Por isso Vilhalva defende a comunicaccedilatildeo dos iacutendios surdos como objeto de estudo da
linguiacutestica afirmando que
[] Sabemos tambeacutem que a Libras estaacute presente nas terras indiacutegenas
apontando que a influecircncia aconteceraacute Sendo assim consideramos quanto o leacutexico
das liacutenguas estaacute no processo de mudanccedilas atraveacutes do neologismo espontacircneo ou o
empreacutestimo linguiacutestico de outras liacutenguas (ibid p37)
Observa-se que os estudos sobre a Libras nas terras indiacutegenas comeccedilaram na deacutecada
de 1980 com pesquisas da brasileira Lucinda Ferreira Brito sobre a Liacutengua Brasileira de
Sinais Segundo Slomski (2010) Lucinda Ferreira Brito iniciou sua pesquisa atraveacutes de um
padratildeo internacional de abreviaccedilatildeo das Liacutenguas de Sinais adotando a sigla LSCB ndash Liacutengua de
Sinais dos Centros Urbanos Brasileiros para diferenciaacute-la da LSKB ndash Liacutengua de Sinais
Kaapor Brasileiros que eram a utilizada pelos iacutendios do Estado do Maranhatildeo
Diante do panorama exposto se faz necessaacuterio no campo da linguiacutestica dos estudos
surdos pesquisas sobre a Liacutengua de Sinais usadas pelos iacutendios surdos nas diferentes
comunidades indiacutegenas para que seja reconhecida e registrada Infelizmente somente uma
28
liacutengua indiacutegena eacute oficialmente reconhecida no Brasil a Liacutengua de Sinais Indiacutegena da
comunidade Urubu-Kaapor devido ao alto iacutendice de surdos
131 Liacutengua de Sinais Urubu-Kaapor
Os resultados do Censo 2010 (IBGE 2013) apontam para 274 liacutenguas indiacutegenas
faladas por indiviacuteduos pertencentes a 305 etnias diferentes Embora haja a necessidade de
estudos linguiacutesticos e antropoloacutegicos mais aprofundados quanto aos nuacutemeros totais de liacutengua
e etnia
Dentro desse universo a uacutenica Liacutengua de Sinais indiacutegena reconhecida conforme
referido anteriormente eacute a utilizada pela etnia indiacutegena brasileira dos Urubu-Kaapor9
chamados tambeacutem por urubus-caapores Os estudos sobre essa Liacutengua de Sinais apontam para
o iniacutecio da deacutecada de 1950
De acordo com Ribeiro (1996 apud FASSILE 2013 p 2)
Em 1950 foi descoberto no Brasil um grupo indiacutegena atraveacutes de pesquisas
antropoloacutegicas os Urubu-Kaapor na floresta Amazocircnica (Maranhatildeo) que falava
uma variaccedilatildeo da liacutengua de sinais Somente a partir da deacutecada de 1980 estudos
linguiacutesticos relacionados agrave Liacutengua de Sinais Kaapor Brasileira (LSKB) foram
aprofundados (sobre a LSKB cf KAKUMASU J KAKUMASU K 1977)
Segundo Brito (1993 apud FASSILE 2013 p 2) J Kakumasu defendeu que ldquo[] a
Liacutengua de Sinais dos Urubu-Kaapor [] [se constituiacutea como] um veiacuteculo de comunicaccedilatildeo
intratribal e natildeo como meio de transaccedilatildeo comercialrdquo Neste sentido resgata-se que
No Brasil Lucinda Brito inicia seus importantes estudos linguiacutesticos em
1982 sobre a Liacutengua de Sinais dos iacutendios Urubu-Kaapor da floresta amazocircnica
brasileira apoacutes um mecircs de convivecircncia com os mesmos documentando em filme
sua experiecircncia A ideia para a pesquisa adveio da leitura de um artigo publicado no
livro de Umiker-Sebeok (1978) de autoria de J Kakumasu Urubu Sign Language
No estudo a Liacutengua de Sinais dos Urubu-Kaapor se diferenciaria da PSL por
constituir um veiacuteculo de comunicaccedilatildeo intratribal e natildeo como meio de transaccedilatildeo
comercial Lucinda Brito poreacutem constatou que a mesma se tratava de uma legiacutetima
Liacutengua de Sinais dos surdos pelos mesmos criados
O interessante de se observar no caso dos Urubu-Kaapor eacute que os ouvintes da
aldeia falam a Liacutengua de Sinais e a liacutengua oral evidentemente enquanto que os
surdos se restringem agrave Liacutengua de Sinais Assim os ouvintes da aldeia se tornam
biliacutengues enquanto os surdos se mantecircm monoliacutengues (RAMOS 2011 p 6)
9 Disponiacutevel emlthttpwwwlibrascombrurubu-kaaporgt Acesso em 19112013
29
A Liacutengua Kaapor eacute uma liacutengua da famiacutelia Tupi-Guarani natildeo falada por outra tribo ou
povo exceto como segunda liacutengua Possuem uma liacutengua de sinais proacutepria (a Liacutengua Brasileira
de Sinais Kaapor) usada tanto pela comunidade surda do povo como tambeacutem por seus
membros natildeo surdos na comunicaccedilatildeo com os surdos
[] os Kaapor satildeo linguisticamente peculiares na Amazocircnia por terem uma
linguagem padratildeo de sinais usada para a comunicaccedilatildeo com os surdos que ateacute a
metade dos anos 80 compunham cerca de 2 da totalidade de sua populaccedilatildeo A
incidecircncia de surdez deveu-se evidentemente agrave bouba neonatal e endecircmica que foi
erradicada10
O interessante eacute que a comunidade indiacutegena desenvolveu uma forma proacutepria de
comunicaccedilatildeo por sinais que comeccedilou a ser estudada na deacutecada de 1960 pelo pesquisador
canadense James Kakumasu em (1968) e em seguida pela linguista brasileira Linguista
Lucinda Ferreira Brito ldquo[] A Liacutengua de Sinais Brasileira para diferenciaacute-la da LSKB
(Liacutengua de Sinais Kaapor Brasileira) utilizados pelos iacutendios Urubu-Kaapor no Estado do
Maranhatildeordquo (GOLDFELD 1997 p 30) A pesquisadora registrou a existecircncia da Liacutengua de
Sinais Kaapor em sua pesquisa sobre termos baacutesicos para cores em Liacutengua de Sinais
132 Liacutengua de Sinais Emergentes
Vilhalva (2012) se preocupou sobre a situaccedilatildeo linguiacutestica dos iacutendios surdos trazendo
grandes contribuiccedilotildees cientiacuteficas na aacuterea da linguiacutestica referente agraves Liacutenguas de Sinais
Indiacutegenas Sua pesquisa iniciou em 1991 com iacutendios surdos na comunidade indiacutegena de Satildeo
Marcos
O estudo dos sinais emergentes que se deseja apresentar objetiva natildeo apenas
recuperar os registros sobre as liacutenguas padratildeo mas tambeacutem e sobretudo procurar
realizar um levantamento de como se apresenta atualmente o uso desses sinais
emergentes e ateacute mesmo da histoacuteria da produccedilatildeo desses sinais para que se possa
fazer o registro cientifico sobre a situaccedilatildeo linguiacutestica dos iacutendios surdos dentro das
escolas indiacutegenas [] (VILHALVA 2012 p11a)
Souza e Segala (2009 p28) abordam que a maior parte das liacutenguas nasceu do
contato entre duas ou mais liacutenguas ou de uma liacutengua e sistemas de sinais caseiros (Liacutengua de
Sinais Primaacuteria) Observa-se que ldquosinais caseiros ou Liacutengua de Sinais Primaacuterios
correspondentes aos gestos ou construccedilatildeo simboacutelica inventadas no acircmbito familiar eacute comum
10
Disponiacutevel emlthttppibsocioambientalorgptpovokaaporgt Acesso em 19112013
30
a constituiccedilatildeo de um sistema convencional de comunicaccedilatildeo entre matildee-ouvinte e crianccedila
surdardquo
Sobre a origem dos sinais emergentes Vilhalva explica que
[] os sinais emergentes foram criados devido a uma necessidade de comunicaccedilatildeo
passando por sinais indicativos icocircnicos e arbitraacuterios A maneira como cada sinal
surge levam tempo para se entender principalmente quando os sinais satildeo criados
conforme o neologismo11
Esses novos sinais passam a fazer parte da comunicaccedilatildeo
para depois designar algo consistentemente como acontece tambeacutem agraves liacutenguas
orais-auditivas (2012 p137-138)
Desta forma a autora em sua pesquisa argumenta que os sinais emergentes
considerados em seu estudo como Liacutengua de Sinais constituem como o meio de
comunicaccedilatildeo primaacuteria dos iacutendios surdos das comunidades indiacutegenas do Mato Grosso do Sul
Partindo deste achado Rousseau jaacute mencionava em seus estudos ldquoEnsaio sobre a origem das
liacutenguasrdquo que
O uso e a necessidade ensinam a cada um a liacutengua de seu paiacutes mas o que eacute que faz
com que essa liacutengua seja a de seu proacuteprio paiacutes e natildeo a de um outro [] No
momento em que um homem foi reconhecido por um outro como um ser sensiacutevel
pensante e semelhante a ele o desejo ou a necessidade de comunicar-lhe os proacuteprios
sentimentos e os proacuteprios pensamentos fez com que procurasse os meios de fazecirc-lo
(2008 p 97)
Assim o primeiro contato do ser humano eacute com o outro da mesma espeacutecie No caso da
matildee com seu filho Conforme Sacks (1998 p 7) comenta que
[] a primeira comunicaccedilatildeo geralmente se daacute entre matildee e filho e a liacutengua eacute
adquirida emerge entre eles dois Sendo assim Os sinais emergentes tambeacutem satildeo
fruto da linguagem num processo visual usados pelos surdos indiacutegenas e seus
familiares ouvintes na interaccedilatildeo com o meio (VILHALVA 2012 p 137)
Vilhalva (2012) entatildeo percebeu a predominacircncia dos gestos caseiros criados pelos
proacuteprios surdos para interagirem com suas famiacutelias e com as pessoas que os rodeiam Ou
seja a crianccedila surda que nasce na famiacutelia de ouvinte comeccedila a criar a partir de um meio de
comunicaccedilatildeo visual usando todas as formas naturais possiacuteveis desde o apontamento ateacute os
gestos naturais O uso que destes sinais criados pelas necessidades do ambiente familiar com
o passar do tempo vatildeo se convencionando a forma de interaccedilatildeo dialoacutegica passando a
transformar-se em um meio de comunicaccedilatildeo essencial resultando assim no processo
11
Satildeo palavras criadas para designar novas situaccedilotildees novos conceitos fatos objetos etc sendo que um
neologismo soacute eacute sentido como tal durante algum tempo pois passados anos ou seacuteculos deixa de ter sentido
como tal porque a realidade que ele designa jaacute natildeo eacute nova
31
evolutivo dos sinais familiares para os sinais emergentes para transiccedilatildeo para a Liacutengua de
Sinais ou seja arbitraacuteria convencional Esse processo se daacute por meio do processo cognitivo
fundamentada na teoria de Cuxac
Construccedilatildeo do dizer a partir do processo criativo de performance gestual Iconizando
da experiecircncia perceptivo-praacutetica Rotinas de Transferecircnciandashpassagem da ilustraccedilatildeo
especifica para a categorizaccedilatildeo geneacuterica Sinais estabelecidos num grupo reduzido
categorias e generalizaccedilotildees dos sinais gestuais Nasce uma liacutengua de Sinais com
todas as propriedades de uma liacutengua (apud VILHALVA 2012 p138)
Vilhalva (2012) ainda destaca que se observarmos a Lei nordm 10436 de 24 de abril de
2002 vamos verificar que em seu artigo primeiro ldquoficam reconhecidos como meio legal de
comunicaccedilatildeo e expressatildeo a Liacutengua Brasileira de Sinais-Libras ndash e outros recursos de
expressatildeo a ela associadosrdquo Nesses bdquooutros recursos‟ podem figurar segundo compreensatildeo
da mesma os sinais emergentes produzidos nas comunidades indiacutegenas Se a Liacutengua
Brasileira de Sinais uma forma de comunicaccedilatildeo e expressatildeo cujo canal de produccedilatildeo e
recepccedilatildeo eacute de natureza visual-motora com estrutura gramatical proacutepria constituindo um
sistema linguiacutestico de transmissatildeo de ideias e fatos oriundos de comunidades de pessoas
surdas no Brasil conforme estaacute na lei eacute compreensivo dizer que nada fala sobre um padratildeo de
sinalizaccedilatildeo (p34)
Conclui-se que conforme pesquisa da autora citada os estudos dos sinais emergentes
mostraram que este eacute o ponto inicial das novas Liacutenguas de Sinais que segundo a mesma
merecem ser aprofundadas
1321 Realidade do contexto educacional escolar do indiacutegena surdo
Vilhalva (2012) destaca que o indiviacuteduo surdo soacute teraacute um sistema gestual linguiacutestico
organizado no contato do agrupamento comunitaacuterio especificamente da comunidade surda
com o contato com a Liacutengua de Sinais E isso muitas vezes acontece em geral somente no
acircmbito escolar biliacutengue onde haacute outros surdos inteacuterpretes e professores ouvintes que fazem
uso da Liacutengua de Sinais Por isso eacute essencial uma escola que respeite a diversidade linguiacutestica
como no caso desta comunidade Desta forma se faz necessaacuterio presenccedila na escola de
inteacuterpretes vindo das cidades mais proacuteximas das terras indiacutegenas de modo que
32
[] o Professor ministra as aulas em Portuguecircs e tem disciplina em Guarani
Observamos que pelo fato de os professores da pedagogia diferenciada indiacutegena
realizarem sua formaccedilatildeo em universidades locais onde o assunto em torno da surdez
e da Libras satildeo discutidos estes profissionais tecircm uma formaccedilatildeo que respeita natildeo soacute
a cultura e a liacutengua indiacutegena mas tambeacutem a cultura e a Liacutengua de Sinais
caracteriacutesticas que estatildeo presentes nas escolas indiacutegenas biliacutengues em que a liacutengua
de instruccedilatildeo eacute o Guarani-Portuguecircs(VILHALVA 2012 p 11b)
Poreacutem o que natildeo eacute o caso da escola Araporatilde mencionada por Vilhalva (2012) que teve
preferecircncia do inteacuterprete indiacutegena para a preservaccedilatildeo da cultura liacutengua e saber Foi observado
na pesquisa que os indiacutegenas surdos com vinte anos de idade em diante demonstram
seguranccedila ao sinalizar com o pesquisador surdo usando seus sinais emergentes de forma
natural Os mais novos de escolas indiacutegenas mas da mesma comunidade indiacutegena natildeo
demonstraram o uso de sinais emergentes e sim apresentaram diretamente sua comunicaccedilatildeo
em Libras Entretanto os resultados apontam que natildeo haacute como dizer se o atendimento
educacional para o iacutendio surdo estaacute acontecendo em todas as comunidades indiacutegenas ldquopois
interfere numa questatildeo de respeitar o que diz o proacuteprio plano de educaccedilatildeo sobre uma visatildeo
amplamente ligada agrave liacutengua cultura e diversidade nas escolas e terras indiacutegenasrdquo (ibid p36)
Nesta oacutetica se realmente as poliacuteticas linguiacutesticas fossem mais enfaacuteticas em suas
propostas de realizar a planificaccedilatildeo linguiacutestica incluindo a criaccedilatildeo de escolas biliacutengues e de
legislaccedilotildees especiacuteficas para as questotildees referentes agraves liacutenguas o indiviacuteduo indiacutegena surdo
poderia ter seus direitos linguiacutesticos assegurados
Neste sentido resgata-se o Referencial Curricular Nacional para Escolas Indiacutegenas
(1998) o qual menciona que
[] as tradiccedilotildees culturais os conhecimentos acumulados a educaccedilatildeo das geraccedilotildees
mais novas as crenccedilas o pensamento e a praacutetica religiosa as representaccedilotildees
simboacutelicas a organizaccedilatildeo poliacutetica os projetos de futuro enfim a reproduccedilatildeo
sociocultural das sociedades indiacutegenas satildeo na maioria dos casos manifestaccedilotildees
atraveacutes do uso de uma liacutengua Mesmo os povos indiacutegenas que satildeo hoje monoliacutengues
em liacutengua portuguesa continuam a usar a liacutengua de seus ancestrais como um siacutembolo
poderoso para onde confluem muitos de seus traccedilos identificatoacuterios construindo
assim um quadro de bilinguismo simboacutelico importante [grifo nosso]
Ou seja assim como para o surdo urbano brasileiro eacute reconhecida legalmente sua
liacutengua natural - Libras e a Liacutengua Portuguesa como segunda liacutengua -L2 para o indiacutegena surdo
deveria ser assegurado o mesmo direito para aprender esta forma de comunicaccedilatildeo ndash Liacutengua de
Sinais como primeira liacutengua e como segunda liacutengua a Liacutengua de sua etnia na modalidade
33
escrita Sendo portanto biliacutengue ou ainda triliacutengue com aquisiccedilatildeo da Liacutengua Portuguesa
tambeacutem na modalidade escrita
Nesta perspectiva observa-se que Saacute (2011 p33) afirma que tanto indiacutegenas como
surdos tecircm uma liacutengua proacutepria e uma cultura diferenciada Entatildeo porque natildeo ser reconhecida
legalmente a Liacutengua de Sinais utilizada pelos iacutendios surdos e a Liacutengua de sua comunidade
Como bem percebido por Vilhalva haacute a carecircncia de pesquisas voltadas para o registro de
liacutengua de sinais entre os iacutendios surdos brasileiros o que certamente constitui-se em um dos
fatores que favorecem a existecircncia desta lacuna na legislaccedilatildeo E que tal fato deveria ser um
despertar para pesquisadores da linguiacutestica sejam ouvintes ou surdos
34
2 A HISTOacuteRIA DO POVO INDIacuteGENA SATEREacute-MAWEacute CULTURA E LIacuteNGUA
Os povos indiacutegenas durante muito tempo foram considerados como povos sem
histoacuteria e sem uma liacutengua proacutepria Poreacutem com as muitas lutas eacutetnicas com estudos
antropoloacutegicos e com as abordagens historiograacuteficas iniciou-se uma valorizaccedilatildeo da
sociedade indiacutegena passando assim o povo indiacutegena a ser perspectivado nas suas
singularidades histoacutericas culturais e linguiacutesticas
Vale ressaltar que quando se refere a ldquoliacutenguasrdquo sabe-se que natildeo haacute apenas uma liacutengua
indiacutegena Existem muitos povos ou etnias indiacutegenas distintas As liacutenguas indiacutegenas no Brasil
se agrupam em famiacutelias linguiacutesticas ou seja famiacutelias que tecircm semelhanccedilas entre si e que satildeo
agrupadas por sua vez em troncos linguiacutesticos assim como as liacutenguas isoladas12
ou seja
liacutenguas que natildeo parecem ter parentesco com nenhuma das famiacutelias linguiacutesticas conhecidas
Segundo Rodrigues (2002) as famiacutelias indiacutegenas estatildeo agrupadas em Tronco
Linguiacutestico Tupi famiacutelia Tupi-Guarani (Akwaacutewa Amanayeacute Anambeacute Apiakaacute Araweteacute
Asurini Avaacute Guajaacute Guarani Kamayuraacute Kayabi Suryiacute Kaiwaacute) famiacutelia Munduruku
(Kuruaacuteya Mundurukuacute) Famiacutelia Tupari (Makuraacutep Tupari Wayoroacute) Famiacutelia Arikeacutem
(Karitiaacutena) Famiacutelia Juruna (Juruna) Famiacutelia Mondeacute (Aruaacute Cinta-Larga Gaviatildeo Mekeacutem
Mondeacute Suruiacute Zoroacute) Famiacutelia Ramaraacutema (Araacutera Itoqapuk) Outras Liacutenguas (Aweti
Puruboraacute Satereacute-Maweacute) entre outros troncos linguiacutesticos como Macro-Jecirc e sua diversidade
de famiacutelias existentes entre elas as liacutenguas isoladas
Um desses povos indiacutegenas foi o da etnia Satereacute-Maweacute Estes sofreram muitas
influecircncias em seu modo de vida advinda do contato com grupos natildeo indigenas que implicou
no processo de perda de muitos dos seus aspectos culturais A histoacuteria relata que o contato se
deu pela chegada dos colonizadores e posteriormente das missotildees religiosas E na atualidade
por ocupantes de terras como fazendeiros madeireiros emigrantes de outros Estados Foram
perdas irreparaacuteveis todavia como elo de resistecircncia procuraram sustentar em sua estrutura
original sua liacutengua
12
Segundo Rodrigues (2002 p93) liacutenguas isoladas refere-se as liacutenguas isoladas linguisticamente ou seja
liacutenguas que natildeo revelam parentesco geneacutetico com nenhuma outra Natildeo pertencem a nenhuma famiacutelia (ou tronco)
isto eacute constituem famiacutelias de um soacute membro
35
21 Breve Relato Histoacuterico
A histoacuteria do povo indiacutegena Satereacute-Maweacute tem sido foco de estudos dos diversos
segmentos de pesquisas como as realizadas por antropoacutelogos historiadores religiosos e
cientistas da linguagem Estes relatam a origem a liacutengua e a cultura desse povo
Uggeacute (1993 p 5) informa que ldquoOs Maueacutes descendentes das tribos indiacutegenas
denominadas no passado pelo nome de ANDIRAacute e MARAGUAacute que faz parte da aacuterea cultural
Tapajoacutes-Madeira entre a divisa dos atuais Estados do Paraacute e Amazonasrdquo O autor ainda
menciona que cronistas exploradores missionaacuterios antropoacutelogos naturalistas do passado
identificaram os Maueacutes tambeacutem com outros nomes (Maooz Mabueacute Jaquezes Manguases
Mahueacutes Mauris Maweacute Maragua e Maraguazes)
A origem do nome Satereacute-Maweacute advem dos termos Satereacute (lagarta vermelha) que eacute o
nome do clatilde dos antigos chefes e Maweacute (papagaio inteligente guerreiro e curioso) que eacute o
nome mais comum de um dos grupos tribais que conseguiram sobreviver agrave extinccedilatildeo das
numerosas tribos indiacutegenas da ilha Tupinambarana do Meacutedio Amazonas (IDEM) Cerqua13
faz referecircncia agrave primeira notiacutecia sobre o povo Satereacute-Maweacute ldquoEacute por volta de 1669 quando o
Pe Betendorf duas vezes superior provincial dos jesuiacutetas lembra a ldquovila dos Maguasesrdquo
grafia antiga de Maueacutes [] (1980 p 209)rdquo ou seja Maueacutes foi residecircncia missionaacuteria mas
natildeo permanente dos padres pois os mesmos residiam mais em Tupinambarana (rio
Amazonas) atual Parintins e visitavam Maueacutes temporariamente
A etnia Satereacute-Maweacute sofreu muitas mudanccedilas de localidades devido muitos fatores
que contribuiacuteram para o deslocamento desse povo segundo explica Lorez apud Teixeira
(2005 p21)
Devido agraves guerras com os Munduruku e Parintintim e ao contato com os
portugueses os Satereacute-Maweacute perderam grande parte de seu territoacuterio original Em
1691 os Maweacute surgem na cartografia regional com o nome de Mabueacute(mapa do
Padre Samuel Fritz) Missotildees foram localizadas para os iacutendios Magueacute denominadas
Satildeo Joatildeo (Pinhel) e Santo Inaacutecio (Boim) Posteriormente em 1835 lutando ao lado
dos Munduruku e dos Mura como tambeacutem de outras tribos indiacutegenas do rio Negro
os Satereacute-Maweacute aderiram ao movimento cabano ateacute que em 1839 o conflito foi
debelado Devido agraves epidemias agraves lutas e agraves perseguiccedilotildees aos povos indiacutegenas que
combatiam ao lado dos cabanos enormes aacutereas da Amazocircnia foram devastadas o
que provocou deslocamentos desses grupos populacionais de seus territoacuterios
ancestrais e de populaccedilatildeo Segundo relatos de viajantes desde o seacuteculo XVIII o
territoacuterio dos Satereacute-Maweacute vem sendo paulatinamente reduzido Essa reduccedilatildeo se
deu a partir das tropas de resgate que penetraram grandes aacutereas da Amazocircnia da
implantaccedilatildeo de missotildees jesuiacutetas e carmelitas ao longo dos principais rios
13
Dom Arcacircngelo Bispo Prelado de Parintins de 1980
36
amazocircnicos da ldquobusca desenfreadardquo das drogas do sertatildeo com a exploraccedilatildeo da
borracha durante o seacuteculo XIX e iniacutecio do XX e por fim da ldquoexpansatildeo econocircmica
das cidades de Maueacutes Barreirinha Parintins e Itaituba para o interior dos
municiacutepios alocando fazendas extraindo pau-rosa abrindo garimpos dominando a
economia indiacutegena atraveacutes de regatotildeesrdquo As cidades de Maueacutes Parintins e Itaituba
inclusive foram fundadas sobre restos de malocas dos Satereacute-Maweacute
Cerqua (1980 p265) destaca a localizaccedilatildeo dessa tribo delimitando que ldquoA tribo estaacute
localizada em sua maioria no Alto Andiraacute e no Marau afluente do Rio Maueacutes e sua aacuterea de
cerca de 639500 ha foi demarcada pelo Decreto nordm 76999rdquo Atualmente segundo Teixeira
(apud ALVAREZ 2009) os Satereacute-Maweacute hoje satildeo grupos de 8500 indiacutegenas dos quais 7502
moram na terra indiacutegena Andiraacute-Marau nos municiacutepios de Barreirinha Maueacutes e Parintins e
aproximadamente mil residem em aacutereas urbanas destes municiacutepios Sendo que outro grupo
vive na terra indiacutegena Coataacute-Laranjal junto ao grupo Munduruku e no municiacutepio de Borba
Uggeacute (1993) comenta que os Satereacute-Maweacute sempre tiveram vontade de manter a
proacutepria identidade tribal contudo eram carentes de apoio praacutetico para ajudaacute-los a enfrentar o
perigo do mundo moderno que tentavam ldquoinvadi-losrdquo Ou seja manipulaccedilotildees externas entre a
lideranccedila indiacutegenas dos Satereacute-Maweacute o alcoolismo a dependecircncia a violecircncia dos ldquobrancosrdquo
eram os maiores perigos para este povo Satereacute-Maweacute
Poreacutem o foco de resistecircncia manteve vivo no povo Satereacute aspectos culturais
importantes como o ritual da tucandeira O ritual eacute um marco na vida dos homens porque satildeo
chamados pela formiga (tucandeira) caso o indiacutegena natildeo atenda o chamado a formiga o
levaraacute a loucura ateacute chegar agrave morte A tucandeira eacute uma divindade muito respeitada pelos
Satereacute-Maweacute Em determinado momento da histoacuteria do povo Satereacute-Maweacute o ritual da
tucandeira chegou ao ponto de natildeo ser mais praticado em decorrecircncia da imposiccedilatildeo religiosa
mas apoacutes perceberam a grande perda cultural que isso representaria voltaram a praticaacute-lo a
recuperando como parte de sua cultura
22 Classificaccedilatildeo da liacutengua Satereacute-Maweacute
Segundo Teixeira (2005) a anaacutelise da situaccedilatildeo linguiacutestica do povo Satereacute-Maweacute
baseia-se na concepccedilatildeo defendida por antropoacutelogos e linguistas que a liacutengua se configura
como um importante instrumento da cultura e da identidade de uma populaccedilatildeo
A populaccedilatildeo indiacutegena Satereacute-Maweacute pertence vaacuterios aspectos agrave famiacutelia Linguiacutestica
Tupi Rodrigues (apud ALVAREZ 2009 p17) aborda que a liacutengua da tribo Satereacute-Maweacute eacute a
37
uacutenica liacutengua de uma famiacutelia do tronco Tupi E sua classificaccedilatildeo linguiacutestica como pertencente
ao tronco Tupi foi dada pelo etnoacutegrafo Curt Nimuendajuacute (1948)
A liacutengua Satereacute-Maweacute integra o tronco linguiacutestico Tupi Segundo o etnoacutegrafo Curt
Nimuendajuacute (1948) ela difere do Guarani-Tupinambaacute Os pronomes concordam
perfeitamente com a liacutengua Curuaya-Munduruku e a gramaacutetica ao que tudo indica
eacute tupi O vocabulaacuterio Maweacute conteacutem elementos completamente estranhos ao Tupi
mas natildeo pode ser relacionada a nenhuma outra famiacutelia linguiacutestica Desde o seacuteculo
XVIII seu repertoacuterio incorporou numerosas palavras da liacutengua geral
Os homens atualmente satildeo biliacutengues falando o Satereacute-Maweacute e o portuguecircs mas a
maioria das mulheres apesar de trecircs seacuteculos de contato com os brancos soacute fala a
liacutengua Satereacute-Maweacute (TEIXEIRA 2005 p95)
A liacutengua Satereacute-Maweacute eacute falada tradicionalmente por quase todas as comunidades haacute
mais de 300 anos entretanto foi inevitaacutevel para os indiacutegenas Satereacute-Maweacute conhecer os
haacutebitos e a liacutengua portuguesa devido agrave invasatildeo dos europeus em suas terras no seacuteculo passado
o que causou a mistura de liacutenguas e consequentemente as influecircncias dos padrotildees culturais
natildeo indiacutegenas
Os Satereacute-Maweacute foram entatildeo forccedilados a se refugiarem nas zonas urbanas e ateacute mesmo
em outros estados Outro impacto que alterou o modo de falar dos liacutederes indiacutegenas foi a
necessidade de buscar apoio logiacutestico para suas comunidades principalmente para tratar da
sauacutede de sua populaccedilatildeo que sofria de doenccedilas como malaacuteria tuberculose sarampo e outras
por eles desconhecidas que causaram muitas mortes
Desta forma com o passar dos anos a liacutengua Satereacute-Maweacute sofreu influecircncias lexicais
e fonoloacutegicas do Nheengatu na regiatildeo do Andiraacute Pesquisas realizadas recentemente por
Teixeira (2005) delimitam um perfil linguiacutestico que permite conhecer um pouco mais da
cultura linguiacutestica Satereacute-Maweacute sendo esta considerada por meio da distribuiccedilatildeo geograacutefica e
etaacuteria dos que falam e natildeo falam o idioma Satereacute-Maweacute Desta feita segundo o autor
O idioma Satereacute-Maweacute eacute mais falado na aacuterea do Marau que nas demais (Andiraacute
Uaicurapaacute e Koataacute-Laranjal) Tanto na aacuterea do Andiraacute como no Marau o idioma
materno eacute falado por praticamente todas as comunidades situadas proacuteximo agraves
cabeceira dos rios (Alto Andiraacute e Alto Marau) Para as aacutereas mais proacuteximas das
cidades os falantes atingem a quase totalidade dos moradores do Baixo Marau Jaacute
no baixo Andiraacute esse nuacutemero aumenta bastante nas duas comunidades mais
proacuteximas de Parintins e Barreirinha ou seja Ponta Alegre e Guaranatuba As aacutereas
de povoamento mais recente (Uaicurapaacute Koataacute-Laranjal e mais duas no Andiraacute) tecircm
tendecircncia a apresentar proporccedilotildees menores de falantes do idioma Satereacute-Maweacute
(ibid p95)
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O autor esclarece que moradores em terras indiacutegenas satildeo mais falantes da Liacutengua
Satereacute-Maweacute do que os que moram proacuteximo ou dentro da aacuterea urbana A pesquisa ainda
mostra agrave necessidade de sensibilizar a comunidade indiacutegena Maweacute sobre a importacircncia da
valorizaccedilatildeo de sua liacutengua agrave recuperaccedilatildeo de suas memoacuterias histoacutericas e a reafirmaccedilatildeo de suas
identidades eacutetnicas
221 Contexto educacional escolar entre os Satereacute-Maweacute
O contexto educacional Satereacute-Maweacute tem como base o reconhecimento constitucional
fundamentado na legislaccedilatildeo em vigor segundo a qual ldquosatildeo reconhecidos aos iacutendios sua
organizaccedilatildeo social costumes liacutenguas crenccedilas e tradiccedilotildees []rdquo
Por isso fundamentos gerais da educaccedilatildeo escolar indiacutegena baseiam-se na proposta do
Referencial Curricular Nacional para Escolas Indiacutegenas (1998) que contempla
Multietnicidade pluralidade e diversidade 2 Educaccedilatildeo e conhecimentos indiacutegenas 3
Autodeterminaccedilatildeo 4 Comunidade educativa indiacutegena 5 Educaccedilatildeo intercultural
comunitaacuteria especiacutefica e diferenciada Assim
Parte do sistema nacional de educaccedilatildeo a escola indiacutegena eacute um direito que deve ser
assegurado por uma nova poliacutetica puacuteblica a ser construiacuteda atenta e respeitosa frente
ao patrimocircnio linguiacutestico cultural e intelectual dos povos indiacutegenas Esse esforccedilo
de projetar uma nova educaccedilatildeo escolar indiacutegena soacute seraacute realmente concretizado com
a participaccedilatildeo direta com os principais interessados ndash os povos indiacutegenas atraveacutes de
suas comunidades educativas [] A participaccedilatildeo da comunidade no processo
pedagoacutegico da escola fundamentalmente na definiccedilatildeo dos objetivos dos conteuacutedos
curriculares e no exerciacutecio das praacuteticas metodoloacutegicas assume papel necessaacuterio para
a efetividade de uma educaccedilatildeo especifica e diferenciada (ibid p24)
Poreacutem para que de fato seja garantida uma educaccedilatildeo diferenciada natildeo eacute suficiente
que somente os conteuacutedos sejam ensinados atraveacutes do uso das liacutenguas maternas mas se faz
necessaacuterio que se incluam os conteuacutedos curriculares propriamente indiacutegenas assim como os
modos proacuteprios de transmissatildeo deste saber Em pesquisa realizada pela revista Amazocircnia
(AMAZONAS 2000) intitulada como ldquoA silenciosa revoluccedilatildeo dos Iacutendiosrdquo o povo Satereacute-
Maweacute foi considerada um dos melhores exemplos para se falar em educaccedilatildeo indiacutegena Tal
afirmaccedilatildeo foi proferida pelo antropoacutelogo Ademir Ramos (professor da Universidade do
Estado do Amazonas) Segundo o entrevistado a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 mudou a
postura em relaccedilatildeo aos iacutendios estabelecendo um processo de educaccedilatildeo diferenciada que
39
fomenta o orgulho de aprender sua lingua tambeacutem no ambiente escolar possibilitando relatos
como o transcrito abaixo
Alunos como Dati 11 da aldeia de Molongotuba carregam com orgulho a cartilha
bdquoMoweeghap onde estatildeo registrados escritos ndash liacutengua Satereacute do tronco tupi e
desenhos de situaccedilotildees do cotidiano das aldeias falando de peixes aves aacutervores e
animais A liacutengua o menino aprendeu a falar com os pais e depois na escola onde
haacute quatro anos aprendeu a escrevecirc-la Aleacutem disso ele tem aprendido tambeacutem a
bdquoliacutengua dos brancos‟
Ainda sobre a importacircncia desta perspectiva educacional em nota o vice-presidente
da organizaccedilatildeo dos professores indiacutegenas Satereacute Gecinaldo Cabral comentou sobre a
mesma enfatizando a relevacircncia do processo educacional na vida dos iacutendios da tribo Satereacute
que por serem biliacutengues satildeo capazes de expressarem e defenderem o seu povo Portanto ao
ensinar a liacutengua nativa agraves crianccedilas promovem o resgate da cultura tradiccedilatildeo e conhecimentos
indiacutegenas Uma educaccedilatildeo diferenciada natildeo resumida na liacutengua majoritaacuteria ou seja Liacutengua
Portuguesa mas na liacutengua proacutepria das etnias E desta forma sendo respeitada a diversidade
cultural de cada povo
Nesta perspectiva Teixeira (2005) em sua pesquisa descreve que a realidade do
contexto educacional escolar do povo Satereacute-Maweacute explicando que
O quadro situacional dos Satereacute-Maweacute no que concerne agrave escolarizaccedilatildeo e agrave
escolaridade apresenta elementos que devem ser entendidos natildeo soacute como resultado
da aplicaccedilatildeo de poliacuteticas educacionais mas tambeacutem como explicitaccedilatildeo de estrateacutegias
poliacuteticas usadas pelos iacutendios na negociaccedilatildeo de visibilidade e reconhecimento no
espaccedilo puacuteblico brasileiro A busca dos Satereacute-Maweacute por escola explicitada na
forma de documentos reivindicatoacuterios enviados ao poder puacuteblico solicitando
recursos para suas escolas demonstrarem os conhecimentos escolares e a
certificaccedilatildeo que a escolaridade concede importantes instrumentos de luta no
processo histoacuterico de construccedilatildeo de sua identidade cultural e de desenvolvimento de
seus projetos sociais (ibid p103)
O autor tambeacutem evidecircncia que a escolarizaccedilatildeo ainda natildeo estaacute alcanccedilando a totalidade
dos Satereacute-Maweacute sendo assim
[] com idade compreendida entre 7 e 24 anos nem nas aacutereas urbanas onde se
verifica o maior percentual de matriacuteculas (839) nem nas terras indiacutegenas (596)
Se forem consideradas as pessoas que tecircm entre 7 e 17 anos de idade os percentuais
sobem bastante mas ainda demonstram a falta de acesso da populaccedilatildeo satereacute-maweacute
agrave escola A pior situaccedilatildeo ocorre na aacuterea indiacutegena onde aproximadamente 13 dos
indiviacuteduos dessa faixa etaacuteria estatildeo fora da escola Na aacuterea urbana o percentual dos
que estatildeo fora eacute de 8 Aparentemente o elevado percentual de pessoas entre 7 e 17
40
anos de idade que estatildeo fora da escola em aacuterea indiacutegena deveria estar relacionado
com a ausecircncia de ensino fundamental de 4ordf a 8ordf seacuterie nas aldeias
No entanto isto eacute apenas uma parte da justificativa pois de 142 pessoas dessa faixa
etaacuteria que natildeo frequentam a escola apenas 32 (225) declararam ter concluiacutedo a
quarta seacuterie do ensino fundamental ou seja poderiam estar fora da escola por falta
do ensino de 5ordf a 8a seacuterie na aacuterea indiacutegena Aleacutem disso 148 crianccedilas entre 7 e 14
anos de idade natildeo frequentam a escola significando que haacute problemas na oferta de
vagas para as crianccedilas satereacute-maweacute na aacuterea indiacutegena Dessas crianccedilas mais da
metade se concentra em apenas 14 aldeias22 das quais 4 compreendendo as
pequenas comunidades de Satildeo Luiacutes Limoal Tigre a Arumatuba no Andiraacute natildeo tecircm
nenhuma crianccedila estudando Na aldeia de Tabatinga no Andiraacute apenas uma das
cinco crianccedilas moradoras estatildeo estudando e na de Santo Antocircnio tambeacutem no
Andiraacute 12 entre 16 crianccedilas de 7 a 14 anos natildeo frequentam a escola(TEIXEIRA
2005 p 104)
Segundo o autor nas cidades de Maueacutes Parintins e Barreirinha a escola frequentada
pelos Satereacute-Maweacute natildeo se define como escola indiacutegena nem tatildeo pouco como especiacutefica ou
diferenciada Talvez seja uma realidade encontrada em todas as escolas indiacutegenas no
Amazonas O que se configura em um problema na medida em que segundo Sobrinho
(2011) a escola esta definida a partir de um modelo da ldquoescola dos brancosrdquo que certamente
altera interferindo diretamente nas questotildees culturais que fazem parte do universo desses
povos gerando assim processo de exclusatildeo O autor ainda comenta que
mesmo diante da resoluccedilatildeo nordm 112011 do Conselho Estadual de Educaccedilatildeo que traz
garantias aos indiacutegenas independentemente de onde vivam ao respeito a sua liacutengua
conhecimentos e tradiccedilotildees proacuteprias nas escolas essa lei passa completamente
despercebida (ibid p 209)
Sobre a questatildeo Teixeira (2005) menciona que nas terras indiacutegenas onde estaacute em
curso a criaccedilatildeo da escola indiacutegena com educaccedilatildeo escolar especiacutefica e diferenciada - as taxas
de escolarizaccedilatildeo deixam evidente que o poder puacuteblico tem investido somente nas seacuteries
iniciais do ensino fundamental o qual apresenta o percentual de 871 de taxa liacutequida de
escolarizaccedilatildeo ou seja natildeo haacute oferta regular para as seacuteries finais do ensino fundamental nem
de ensino meacutedio Isso sem relatar a falta de formaccedilatildeo de professores indiacutegenas entre outros
fatores conforme Franceschini apresenta
A necessidade de formaccedilatildeo especiacutefica e diferenciada de nuacutemero maior de
professores principalmente para atuar nos segmentos mais adiantados do Ensino
Fundamental a implantaccedilatildeo de mais turmas de 6ordm ao 9ordm anos e do Ensino Meacutedio na
aacuterea indiacutegena construccedilatildeo-reflexatildeo do Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico das escolas
Satereacute-Maweacute associada a uma praacutetica pedagoacutegica condizente e a construccedilatildeo de
material didaacutetico proacuteprio satildeo necessidades urgentes do povo Satereacute-Maweacute Pois
apesar da legislaccedilatildeo vigente dar aos indiacutegenas o direito de escolherem seu modelo
educacional e ensinarem sua liacutengua e etnoconhecimentos na maioria das escolas das
41
comunidades Satereacute-Maweacute o modelo educacional adotado natildeo se diferencia muito
do modelo das escolas rurais da regiatildeo sendo que a liacutengua e os etnoconhecimentos
indiacutegenas natildeo constituem de fato conhecimentos que fazem parte do programa
educacional e que satildeo trabalhados de forma sistemaacutetica na escola (2012 p5)
Portanto os resultados apresentados pelo pesquisador comprovam que as accedilotildees
governamentais para educaccedilatildeo escolar indiacutegena estatildeo distantes de cumprir na sua plenitude
preceitos constitucionais o que implica em prejuiacutezo natildeo soacute na educaccedilatildeo escolar indiacutegena
como na proacutepria cultura desse povo
42
3 METODOLOGIA IMPLEMENTADA NA PESQUISA
A metodologia utilizada neste trabalho deu iniacutecio com o estudo bibliograacutefico e
pesquisa de campo Realizou-se uma investigaccedilatildeo primeiramente sobre os estudos surdos na
perspectiva linguiacutestica e cultural a posteriormente na literaturas e estudos sobre os iacutendios da
etnia Satereacute-Maweacute tomando como princiacutepio a origem os fundamentos e a histoacuteria do povo e
da Liacutengua Satereacute-Maweacute Na sequecircncia a concretizaccedilatildeo da pesquisa de campo com a
investigaccedilatildeo do objeto de estudo o iacutendio surdo e sua situaccedilatildeo sociolinguiacutestica da etnia Satereacute-
Maweacute
Figura 1 ndash Croqui da aacuterea e localidade da pesquisa
Fonte Mapa do Estado do Amazonas Censo 2010 ndash IBGE
Organizado por Vicente de Paulo Silva de Azevedo
31 Aacuterea e localidade da pesquisa
A proposta do processo investigativo para o mapeamento do objeto da pesquisa foi
demarcada delimitando a aacuterea do campo da pesquisa a Microrregiatildeo de Parintins A
Microrregiatildeo de Parintins (AMAZONAS 2012) eacute constituiacuteda por Barreirinha Boa Vista do
Ramos Maueacutes Nhamundaacute Parintins Satildeo Sebastiatildeo do Uatumatilde e Urucaraacute Vale ressaltar que
natildeo foi coberta pela pesquisa a populaccedilatildeo Satereacute-Maweacute residente em Manaus (AM)
43
32 Estrateacutegias gerais para a realizaccedilatildeo da coleta de dados
Primeiramente foi feita uma busca de dados pelo IBGE o qual informou que natildeo
havia qualquer registro sobre a populaccedilatildeo indiacutegena de surdos Sem resultado satisfatoacuterio foi
organizado um cronograma de viagens
A primeira viagem foi para o municiacutepio de Parintins onde foi feita uma visita na casa
de um iacutendio para possiacutevel coleta de dados Poreacutem o cacique Sr Luiz de Oliveira infelizmente
tambeacutem comunicou a falta desse dado na comunidade Portanto foi exposto a esse liacuteder o
objetivo da referida pesquisa apresentando assim a importacircncia da comunicaccedilatildeo entre os
seres humanos e interaccedilatildeo entre os diferentes modos linguiacutesticos de convivecircncia social e
educacional
O cacique prontamente mostrou-se aberto a contribuir para que a pesquisa fosse
concretizada Assim sendo iniciou-se a trajetoacuteria do levantamento de iacutendios surdos e sua
forma de comunicaccedilatildeo como tambeacutem seu contexto educacional escolar
Ao retornar a Manaus buscou-se apoio agraves instituiccedilotildees representativas com a visita agrave
sede da Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio ndash FUNAI oacutergatildeo responsaacutevel pelas accedilotildees indiacutegenas a
qual informou que se fazia necessaacuterio uma autorizaccedilatildeo para dar seguimento agrave pesquisa Logo
providecircnciou-se o documento requerido na Coordenaccedilatildeo de Educaccedilatildeo Indiacutegena localizada no
municiacutepio de Barreirinha
Ao chegar agrave cidade de Barreirinha um novo contato foi estabelecido com o
Coordenador indiacutegena o Sr Santino Lopes de Oliveira que se mostrou receptivo com o
projeto e se dispocircs prontamente a colaborar
Com a autorizaccedilatildeo e aprovaccedilatildeo das autoridades indiacutegenas e de posse do documento
houve o comprometimento de que seguiria as normas estabelecidas que disciplinam o
ingresso em terras indiacutegenas pela entidade (ANEXO A) Assim foi possiacutevel sistematizar os
procedimentos para a coleta de dados
33 Procedimentos da coleta
A coleta de dados foi realizada de acordo com o cronograma estabelecido para esta
etapa da pesquisa O procedimento metodoloacutegico usado para a coleta de dados foi
fundamentado em meacutetodo misto por meio de observaccedilotildees questionamento participaccedilotildees em
reuniotildees com representantes da lideranccedila indiacutegena local conversas informais e espontacircneas
44
com famiacutelias e comunidade indiacutegena Satereacute-Maweacute Utilizou-se como instrumento para
coleta caderno de registro de campo fotos filmagens gravaccedilotildees e questionaacuterio (ANEXO B)
34 Articulaccedilatildeo local
O primeiro passo foi estabelecer parcerias com colaboradores ou seja lideranccedilas
indiacutegenas professores indiacutegenas professores da rede puacuteblica inteacuterpretes oacutergatildeos ligados agraves
causas indiacutegenas alunos da Universidade do Estado Amazonas As instituiccedilotildees
representativas educacionais tambeacutem colaboraram telefonando ou perguntando para outras
pessoas sobre a existecircncia de indiacutegenas surdos e locais de suas residecircncias
A participaccedilatildeo das lideranccedilas indiacutegenas como os professores e colaboradores que
apoiaram e permitiram entrar em suas terras para fazer o levantamento foi de extrema
importacircncia pois muito contribuiacuteram nas traduccedilotildees das palavras indiacutegenas para a Liacutengua
Portuguesa
35 Abordagem ao objeto da pesquisa
Em cada viagem agraves comunidades primeiramente fazia-se contato com o tuxaua com
a finalidade de apresentar o objetivo da pesquisa Desta forma era explicado para eles a
importacircncia da contribuiccedilatildeo que o estudo poderia trazer agravequela comunidade Por meio da
autorizaccedilatildeo concedida obtinha-se a colaboraccedilatildeo para a coleta de dados junto ao objeto da
pesquisa Jaacute as abordagens feitas em ambiente familiar tambeacutem era solicitado o consentimento
para a realizaccedilatildeo da pesquisa Com permissatildeo concedida iniciamos as observaccedilotildees e
intervenccedilotildees Com devida autorizaccedilatildeo utilizaacutevamos para registro cacircmeras fotograacuteficas e em
seguida registraacutevamos no caderno de campo da pesquisa (ANEXO CC-1 e C-2)
45
4 MAPEAMENTO DOS IacuteNDIOS SURDOS DA ETNIA SATEREacute-MAWEacute NA
MICRORREGIAtildeO DE PARINTINS E SUA REALIDADE LINGUIacuteSTICA E
EDUCACIONAL ESCOLAR
No Brasil haacute uma diversidade de etnias indiacutegenas Rodrigues (2002) satildeo mais de 170
liacutenguas faladas e dialetos pelos povos indiacutegenas Estas liacutenguas satildeo distribuiacutedas em dois
grandes troncos linguiacutesticos
[] o Tupi (dividido em 10 famiacutelias) e o Macro-Jecirc (dividido em 9 famiacutelias) e de
outras 20 famiacutelias linguumliacutesticas natildeo classificadas em troncos Apenas nove liacutenguas
indiacutegenas tecircm acima de 5000 falantes guajajara (satereacute-) maueacute xavante
ianomacircmi terena macuxi caingangue ticuna e guarani estes uacuteltimos com 30000
indiviacuteduos Cerca de 110 liacutenguas contam com menos de 400 falantes 14
Entretanto em meio a essa diversidade linguiacutestica poucos satildeo documentados
Pesquisadores e grupos indiacutegenas tentam um reavivamento eacutetnico e linguiacutestico
documentando-os para salvar sua liacutengua seu idioma
Diante do exposto a uacutenica liacutengua de sinais indiacutegena registrada eacute a utilizada pela etnia
indiacutegena brasileira dos Urubu-Kaapor como jaacute mencionada anteriormente Pesquisas no Mato
Grosso do Sul em aldeias indiacutegenas apresentaram a existecircncia de iacutendios surdos que utilizam
sinais emergentes ainda natildeo registrados propriamente como uma liacutengua
Pouco registro tem-se encontrado sobre iacutendios surdos muito menos sobre a liacutengua ou
a forma desses sujeitos se comunicarem De acordo com dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatiacutestica (IBGE) natildeo haacute registros sobre iacutendios surdos nem no Anuaacuterio
Estatiacutestico do Amazonas do IBGE tatildeo pouco na Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio (FUNAI)
sendo portanto necessaacuteria uma pesquisa in loco para a busca desses dados
Eacute importante destacar que a pessoa surda natildeo nasce com a incapacidade de falar ou
seja a pessoa surda natildeo eacute muda natildeo fala por natildeo poder ouvir a ldquo[] A surdez natildeo estaacute
absolutamente vinculada agrave mudez []rdquo (RAMOS apud STROBEL 2008 p34)
Por isso as teorias da aquisiccedilatildeo da linguagem humana justificam como o ser humano
(re)inventa modos para expressar suas necessidades e formas de ver o mundo realizando a
comunicaccedilatildeo com seus pares
14
Classificaccedilatildeo das Liacutenguas Indigenas Brasileiras segundo Aryon Rodrigues (2002) Disponiacutevel em
lthttpwwwgeocitieswsindiosbr_nicolaiclassifhtmlgt
46
Partindo dessa percepccedilatildeo este estudo apresenta uma contribuiccedilatildeo de informaccedilotildees
cientiacuteficas que seratildeo um acreacutescimo aos conhecimentos existentes sobre a comunicaccedilatildeo dos
surdos indiacutegenas
41 Mapeamento da existecircncia dos iacutendios surdos na microrregiatildeo de Parintins
Conhecer os indiviacuteduos sujeitos da pesquisa ndash iacutendios surdos Satereacute-Maweacute - eacute a fase
fundamental deste estudo pois dessa forma eacute possiacutevel compreender a forma predominante de
comunicaccedilatildeo deles para poder elaborar material concreto ndash dicionaacuterio triliacutengue - pertinente
para auxiliar na forma da comunicaccedilatildeo deles com a sua etnia atraveacutes da liacutengua desse povo
indiacutegena Nesta seccedilatildeo estatildeo apresentados os dados que constituem um mapeamento da
quantidade de indiviacuteduos surdos que estatildeo inseridos no contexto de Parintins Barreirinha
Boa Vista do Ramos e Maueacutes locais estes onde haacute maior contato com etnia foco deste estudo
Abaixo segue o histoacuterico do municiacutepio de Parintins e demais microrregiotildees citadas na
pesquisa15
411 Histoacuterico de Parintins
Parintins eacute um municiacutepio brasileiro situado no interior do estado do Amazonas
proacuteximo agrave divisa com o estado do Paraacute Regiatildeo Norte do paiacutes Estaacute situado na mesorregiatildeo do
Centro Amazonense e microrregiatildeo de mesmo nome e localiza-se a leste da capital do estado
distando desta cerca de 370 quilocircmetros Com uma populaccedilatildeo estimada em 2012 pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 103 828 habitantes sendo o segundo
mais populoso do estado do Amazonas que tem uma aacuterea de 5 952 kmsup2 representando
03789 do Estado do Amazonas 01545 da regiatildeo Norte brasileira e 00701 do territoacuterio
brasileiro8
Desse total 12 4235 kmsup2 estatildeo em periacutemetro urbano
O municiacutepio de Parintins como quase todos os demais municiacutepios brasileiros foi
primitivamente habitado por indiacutegenas Sua descoberta ocorreu em 1749 quando descendo o
rio Amazonas o explorador Joseacute Gonccedilalves da Fonseca notou uma ilha que por sua extensatildeo
se sobressaiacutea das outras localizadas agrave direita do grande rio As primeiras viagens exploratoacuterias
da Coroa Portuguesa em Parintins foram registradas somente em 1796 A fundaccedilatildeo da
15
O histoacuterico de Parintins e demais microrregiotildees estatildeo disponiacuteveis no site lthttpptwikipediaorgwiki_Parintinsgt
47
localidade em 1796 foi feita por Joseacute Pedro Cordovil que veio com seus escravos e
agregados para se dedicar agrave pesca do pirarucu e agrave agricultura chamando-a Tupinambarana A
rainha D Maria I deu-lhe a ilha de presente Ali instalado fundou uma fazenda de cacau
dedicando-se agrave cultura desse produto em grande escala Tupinambarana foi aceita e elevada agrave
missatildeo religiosa em 1803 pelo capitatildeondashmor do Paraacute o Conde dos Arcos que incumbiu sua
direccedilatildeo ao frei Joseacute das Chagas passando a ser denominada como a Vila Nova da Rainha
O primeiro nome recebido por Parintins jaacute na categoria de Freguesia foi Nossa
Senhora do Carmo de Tupinambarana em 1833 O nome da Freguesia soacute foi alterado em
1880 quando a sede passou a chamar-se ldquoParintinsrdquo em homenagem aos povos indiacutegenas
Parintintins um dos inuacutemeros que habitavam a regiatildeo
A eficiente atuaccedilatildeo de frei Joseacute provocou um surto de progresso e desenvolvimento na
localidade mediante a organizaccedilatildeo da comarca do Alto Amazonas Em 25 de julho de 1833
passa agrave freguesia com o nome de Freguesia de Nossa Senhora do Carmo de Tupinambarana
Era ainda Tupinambarana simples freguesia quando iniciou a revoluccedilatildeo dos Cabanos no Paraacute
e se alastrou por toda a proviacutencia O seu vigaacuterio padre Torquato Antocircnio de Souza teve
atuaccedilatildeo destacada durante a sediccedilatildeo servindo de delegado dos legalistas no Baixo Amazonas
Tupinambarana talvez porque estivesse bem defendida foi poupada aos ataques dos
Cabanos
Em 24 de outubro de 1848 a lei provincial do Paraacute nordm 146 elevou a freguesia agrave
categoria de vila com a denominaccedilatildeo de Vila Bela da Imperatriz e constituiu o municiacutepio ateacute
entatildeo ligado a Maueacutes Em 15 de outubro de 1852 pela lei nordm 02 foi confirmada a criaccedilatildeo do
municiacutepio Em 14 de marccedilo de 1853 deu-se a instalaccedilatildeo do municiacutepio de Parintins Em 24 de
agosto de 1858 foi criada pela lei provincial a comarca compreendendo os termos judiciaacuterios
de Vila Bela da Imperatriz e Vila Nova da Conceiccedilatildeo Em 30 de outubro de 1880 pela lei
provincial nordm 499 a sede do municiacutepio recebeu foros de municiacutepio e passou a denominar-se
Parintins Em 1881 foi desmembrado do municiacutepio de Parintins o territoacuterio que constituiu o
municiacutepio de Vila Nova de Barreirinha
A divisatildeo administrativa de 1911 figurou o municiacutepio com quatro distritos Parintins
Paranaacute de Ramos Jamundaacute e Xibuiacute Em 1933 aparece no quadro da divisatildeo administrativa
com um distrito apenas ndash o de Parintins Em 1 de dezembro de 1938 pelo decreto-lei estadual
nordm 176 eacute criado o distrito da Ilha das Cotias passando assim o municiacutepio a constituir-se de
dois distritos Parintins e Ilha das Cotias
Pela lei estadual nordm 226 de 24 de agosto de 1952 a comarca de Parintins perdeu os
termos judiciaacuterios de Barreirinha e Urucaraacute que foram transformados em comarcas Em 19 de
48
dezembro de 1956 a lei estadual nordm 96 desmembrou o municiacutepio de Parintins o distrito da
Ilha das Cotias que passou a constituir o municiacutepio de Nhamundaacute Em 10 de dezembro de
1981 a emenda constitucional nordm 12 eacute acrescido o territoacuterio de Parintins ao distrito de
Mocambo
O primeiro municiacutepio pesquisado eacute considerado o centro da microrregiatildeo Parintins
Segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 2103 a
populaccedilatildeo eacute de 109225 habitantes16
nesta localidade A Microrregiatildeo de Parintins eacute uma das
microrregiotildees do estado brasileiro do Amazonas pertencente agrave Mesorregiatildeo do Centro
Amazonense Estaacute dividida em sete municiacutepios Barreirinha Boa Vista do Ramos Maueacutes
Nhamundaacute Parintins Satildeo Sebastiatildeo do Uatumatilde e Urucaraacute De acordo com estimativas do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) a populaccedilatildeo da microrregiatildeo era de 262
719 habitantes em 2013
Seus municiacutepios limiacutetrofes satildeo Nhamundaacute ao norte Barreirinha ao sul Urucurituba ao
leste e os municiacutepios de Terra Santa e Juruti no estado do Paraacute O limite territorial entre
Parintins e Nhamundaacute se inicia na margem esquerda do rio Amazonas subindo este rio ateacute a
Barreira do Pauraacute A Serra de Parintins eacute usada para delimitar o fim dos limites territoriais
deste municiacutepio com Nhamundaacute Para delimitar os limites territoriais entre Parintins e
Barreirinha usa-se o divisor de aacuteguas dos rios Andiraacute-Uaicuparaacute juntamente com a linha
geodeacutesica que limita os estados do Amazonas e Paraacute Jaacute os limites territoriais com
Urucurituba satildeo iniciados no lago Arapapaacute no Paranaacute de Urucurituba Com o Estado do Paraacute
o limite tem iniacutecio na boca do igarapeacute do Valeacuterio na margem direita do rio Amazonas
Parintins eacute uma cidade marcada pelos traccedilos culturais poliacuteticos e econocircmicos
herdados dos portugueses espanhoacuteis italianos e tambeacutem dos japoneses tendo em vista que a
cidade possuiu uma relevante colocircnia destes imigrantes Natildeo se pode esquecer a importacircncia
dos ameriacutendios no quesito contribuiccedilatildeo eacutetnica Foram os ameriacutendios que iniciaram a ocupaccedilatildeo
humana na Amazocircnia e seus descendentes caboclos desenvolveram-se em contato iacutentimo com
o meio ambiente adaptando-se agraves peculiaridades regionais e oportunidades oferecidas pela
floresta
A cidade eacute um importante centro educacional de niacutevel meacutedio e superior do Estado do
Amazonas A cidade possui um dos mini-campus do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)
que oferece cursos em diferentes niacuteveis ensino meacutedio e ensino teacutecnico
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Disponiacutevel emlthttpcidadesibgegovbrxtrastemasamazonas|parintins|estimativa-da-populacao-2013gt
Acesso em 28072014
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Universidades puacuteblicas
- Universidade do Estado do Amazonas (UEA) eacute uma instituiccedilatildeo puacuteblica estadual de
ensino superior que oferece mais de vinte cursos distribuiacutedos em dezessete cidades
amazonenses (Parintins Manaus Presidente Figueiredo Itacoatiara Carauari Tabatinga
Tefeacute Laacutebrea Boca do Acre Coari Eirunepeacute Humaitaacute Manicoreacute Manacapuru Novo
Aripuanatilde Maueacutes e Satildeo Gabriel da Cachoeira) Foi criada pela lei estadual nordm 2637 de 12 de
janeiro de 2001 que proporcionou agraves fundaccedilotildees educacionais de ensino superior instituiacutedas
pelo Estado Em Parintins o Centro de Estudos Superiores (UEA) possui os cursos
Pedagogia Histoacuteria Geografia Fiacutesica Matemaacutetica Letras Portuguesa Quiacutemica Ciecircncias
Bioloacutegicas Tecnologia em Turismo Direito Sauacutede Coletiva Ciecircncias Econocircmicas e
Tecnologia em Gestatildeo Puacuteblica
- Instituto Federal do Amazonas (IFAM) O Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e
Tecnologia do Amazonas foi criado mediante integraccedilatildeo do Centro Federal de Educaccedilatildeo
Tecnoloacutegica do Amazonas e das Escolas Agroteacutecnicas Federais de Manaus e de Satildeo Gabriel
da Cachoeira
- Universidade Federal do Amazonas (UFAM) Instalada no municiacutepio desde 2007
possui os seguintes cursos Serviccedilo Social Comunicaccedilatildeo Social - Jornalismo Administraccedilatildeo
Organizacional Pedagogia Zootecnia Educaccedilatildeo Fiacutesica e Artes Plaacutesticas
No setor de educaccedilatildeo e capacitamento profissional o municiacutepio aleacutem de dispor de
uma ampla rede de escolas (estaduais municipais e privadas) conta com um campus da
Universidade do Estado do Amazonas e algumas faculdades privadas com diversos cursos
superiores ofertados Dispotildee ainda de unidades do SENAI SENAC e SESI e em funccedilatildeo
disso os iacutendices de alfabetizaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo profissional dos municiacutepios estatildeo em
crescimento
A cidade de Parintins eacute o local onde foram feitos os contatos frequentes com os
indiacutegenas da etnia Satereacute-Maweacute porque buscam as casas bancaacuterias para receberem os
benefiacutecios sociais tambeacutem buscam as escolas com ensino de todos os niacuteveis inclusive as
universidades puacuteblicas para as crianccedilas e jovens Outro fator eacute que tem um comeacutercio
desenvolvido em que podem adquirir seus bens de consumo aleacutem de ser de faacutecil acesso aos
demais centros da regiatildeo e do paiacutes atraveacutes dos diferentes meios comunicaccedilatildeo e transporte
Por isso o mapeamento foi iniciado nesta regiatildeo
Apesar de ter um nuacutemero consideraacutevel de habitantes os oacutergatildeos ligados agrave causa
indiacutegena natildeo dispotildeem de dados informativos sobre o objeto da pesquisa em meio agrave estimativa
populacional do municiacutepio mesmo assim outro oacutergatildeo foi procurado para que pudesse
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fornecer algum dado ligado ao sujeito surdo da etnia Satereacute-Maweacute A instituiccedilatildeo pesquisada
foi a Escola de Aacuteudio Comunicaccedilatildeo ldquoPadre Paulo Mannardquo Esta eacute uma instituiccedilatildeo educacional
mantida pela Diocese de Parintins por meio de sua atual gestora a Professora Zilda Tavares
Atraveacutes desta colaboradora foram coletadas informaccedilotildees sobre os alunos indiacutegenas surdos da
etnia Satereacute-Maweacute que ali estudam ou estudaram que satildeo a seguir descritas
Embora a escola tivesse o conhecimento da existecircncia de dois indiacutegenas surdos da
etnia Satereacute-Maweacute apenas um se encontra matriculado na escola Eacute uma menina de seis anos
de idade cursando o preacute-escolar Para informaccedilotildees consistentes foi solicitado o contato
tambeacutem com a famiacutelia da aluna Ao contatar os pais foi feita uma abordagem por meio de
questionaacuterio mas diante das dificuldades encontradas por natildeo serem alfabetizados na liacutengua
nativa nem na liacutengua Portuguesa os dados utilizados satildeo resultante de entrevistas
assistemaacuteticas (conversas informais)
Os familiares tecircm papeacuteis importantes na formaccedilatildeo da linguagem da crianccedila Eacute atraveacutes
deles que acontece a formaccedilatildeo da identidade social e cultural desse sujeito em
desenvolvimento Satildeo eles que repassam o modo de vida os costumes e outros aspectos
sociais com os seus exemplos e empreendendo a funccedilatildeo da linguagem verbal atraveacutes de
relaccedilotildees dialoacutegicas que ativam a percepccedilatildeo do ser em maturaccedilatildeo no meio familiar Na visatildeo
de Ponzio (et al 2007 p 177)
Uma das funccedilotildees da linguagem verbal eacute a identificaccedilatildeo identificaccedilatildeo dos objetos
mediante um processo de modelaccedilatildeo e de articulaccedilatildeo da realidade que varia de
liacutengua para liacutengua identificaccedilatildeo de sujeito enquanto falante do sujeito do discurso
do tema do outro ao qual esse discurso se dirige de uma espeacutecie de bdquoauditoacuterio
universal‟ a que de modo geral se recorre na argumentaccedilatildeo identificaccedilatildeo de uma
comunidade e da pertenccedila ou da natildeo pertenccedila a esta etc
Um resumo histoacuterico sobre a referida indiacutegena aponta que a famiacutelia residia na
comunidade indiacutegena Ponta Alegre no Rio Andiraacute municiacutepio de Barreirinha Migraram para
a zona urbana em busca de condiccedilotildees para uma melhor qualidade de vida Ao descobrirem a
surdez da filha mudaram-se para a cidade de Parintins Declararam que a forma de se
comunicarem com a filha eacute por meio de gestos criados pela famiacutelia e a crianccedila pois natildeo
sabem a Liacutengua de Sinais
Analisa-se neste contexto a situaccedilatildeo complexa pela qual essa famiacutelia passou para se
entender com a ela posto que se esperasse que a crianccedila dominasse o sistema linguiacutestico que
usam para a comunicaccedilatildeo com os pares atraveacutes da liacutengua natural da etnia Este eacute um fato que
ocorre com as famiacutelias onde natildeo existe o desenvolvimento natural da fala
51
Considere-se assim que a liacutengua eacute adquirida a qual se manifesta em todas as
circunstacircncias normais no conhecimento de uso em processo de audiccedilatildeo desde o nascimento
os quais vatildeo tomando forma de significante e significado enquanto se distingue cada unidade
lexical do todo que existe no meio onde se estaacute inserido Para Lyons ldquoo termo aquisiccedilatildeo da
linguagem eacute normalmente usado sem ressalvas para o processo que resulta no conhecimento
da liacutengua nativa (ou liacutenguas nativas)rdquo (1987 p 231)
Neste caso para a crianccedila em evidecircncia deveria ser propiciado o ensino da Libras
como liacutengua para mediar a comunicaccedilatildeo o mais breve possiacutevel na medida em que ela estaacute
com idade proacutexima da faixa etaacuteria limite de aquisiccedilatildeo sem acarretar prejuiacutezos para o seu
desenvolvimento conforme explica teoria gerativista17
da aquisiccedilatildeo da linguagem proposta
por Lennenberg (1967)
[] a existecircncia de um periacuteodo criacutetico para a quisiccedilatildeo da linguagem tendo como
pressuposto a ideia de que esta eacute inata O periacuteodo criacutetico se iniciaria por volta dos
dois anos e se encerraria por volta da puberdade Esse periacuteodo eacute chamado de criacutetico
porque seria aquele mais sensiacutevel agrave aquisiccedilatildeo da linguagem[] concluiacutendo que o
cereacutebro humano inicialmente tem representaccedilatildeo bilateral das funccedilotildees da linguagem
e mediante o processo de aquisiccedilatildeo na puberdade apenas o hemisfeacuterio se torna
mais dominante em relaccedilatildeo a elas completando o periacuteodo de aquisiccedilatildeo Caso a
crianccedilas natildeo adquira a linguagem nesse periacuteodo seu desenvolvimento linguiacutestico
seraacute prejudicado (apud QUADROS 2008 p 78)
Deste modo no caso a crianccedila surda esta precisa aprender a liacutengua nativa de uma
forma diferenciada adequando-se os siacutembolos agraves formas visuais se natildeo apresentar esta
carecircncia tambeacutem posto que a faculdade da linguagem do ser humano eacute inata conforme
Chomsky esclarece (apud PONZIO etal 2007)
Trata-se de determinar agrave natureza do patrimocircnio bioloacutegico que constitui a bdquofaculdade
da linguagem‟ do ser humano o componente inato do conjunto menteceacuterebro que
uma vez tendo entrado em contato com a experiecircncia linguiacutestica produz o
conhecimento da linguagem isto eacute converte a experiecircncia em um sistema de
conhecimento (p 143)
O segundo indiacutegena surdo da etnia Satereacute-Maweacute havia sido transferido da escola Padre
ldquoPaulo Mannardquo para a Escola Estadual ldquoBrandatildeo de Amorimrdquo Segundo as informaccedilotildees da
famiacutelia ele nasceu na aacuterea indiacutegena de Ponta Alegre Poreacutem quando pequeno sua famiacutelia se
17
A teoria gerativista pressupotildee a existecircncia de um mecanismo inato responsaacutevel pela aquisiccedilatildeo da linguagem
denominado Gramaacutetica Universal (GU) tendo como responsaacutevel por essa concepccedilatildeo que caracteriza-se pela
elucidaccedilatildeo da natureza das linguas naturais Chomsky
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mudou para zona urbana de Parintins Ele cresceu longe da cultura indiacutegena sem contato com
a liacutengua de sua etnia por estar fora desse contexto Por outro lado natildeo aprendeu a liacutengua
falada em seu entorno na medida em que natildeo pode na prendecirc-la de forma natural por natildeo
ouvir assim por natildeo ter domiacutenio da cultura da etnia deve aprender a liacutengua de sinais
inserindo os signos que significam as palavras do seu leacutexico atraveacutes de instruccedilatildeo especial
com a mediaccedilatildeo de algueacutem que tenha o conhecimento das duas formas de comunicaccedilatildeo Para
Lyons (1987) esses aprendizes adquirem habilidades comunicativas rapidamente pois o
progresso que alcanccedilam eacute pelo menos agraves vezes tatildeo raacutepido que como observam tanto os pais
quanto os pesquisadores eacute difiacutecil manter um registro compreensivo e sistemaacutetico do seu
processo de aprendizado Como tambeacutem eacute no total independente de inteligecircncia e de
diferenccedilas do meio social e cultural
A capacidade da pessoa para construir enunciados vai tomando forma agrave medida que
consegue compreender a relaccedilatildeo entre significante e significados dos signos com os quais tem
contato Por isso os indiacutegenas surdos podem ser beneficiados com um material escrito
triliacutengue Este pode constituir-se em um material de apoio para a aprendizagem das trecircs
liacutenguas sendo que a liacutengua de sinais eacute perspectivada como L1
O terceiro caso identificado eacute de um iacutendio surdo jaacute adulto da comunidade Uiacurapaacute
da etnia Maweacute As informaccedilotildees datildeo conta que ele se comunica por meio de gestos criados por
ele e os pares com quem tem relaccedilatildeo Poreacutem natildeo haacute dados detalhados pois natildeo foi possiacutevel
contato com o mesmo porque ele vive isolado sobrevivendo de caccedila e pesca em comunidade
rural indiacutegena Fato este que implica diretamente no aperfeiccediloamento da forma de
comunicaccedilatildeo desse sujeito posto que ldquoos fenocircmenos ambientais podem agir diretamente
sobre a pessoa ou individualmente atraveacutes de repasse de experiecircncias vividas pela sociedade
atraveacutes da linguagem veiculada pela liacutenguardquo (OLIVEIRA 2005 p134)
Assim estaacute constituiacuteda a populaccedilatildeo de indiacutegenas surdos que fazem parte da
microrregiatildeo de Parintins que se podem fazer os devidos registros neste estudo
412 Histoacuterico de Barreirinha
O municiacutepio de Barreirinha pertence a Mesorregiatildeo da Microrregiatildeo de Parintins que
estaacute localizado a leste de Manaus Capital do Estado distanciando cerca de 331 quilocircmetros
E ao norte de Parintins o municiacutepio de Barreirinha juntamente com Maueacutes satildeo principais
municiacutepios que possuem a maior populaccedilatildeo de indiacutegenas localizados nos rios Andiraacute e o
Marau Portanto sendo o municiacutepio como a sede urbana das comunidades inseridas os surdos
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indiacutegenas vem apenas em busca de tratamento meacutedico quando necessitam ou para atividades
sociais acompanhados de seus pais mas na zona urbana natildeo localizamos nenhum indiacutegena
surdo
Barreirinha foi o segundo municiacutepio pesquisado E segundo o IBGE em 2013 a
populaccedilatildeo era de 29737 habitantes18
sendo o vigeacutesimo segundo municiacutepio mais populoso do
Estado do Amazonas e o terceiro de sua microrregiatildeo
Este muniacutecipio conta com um setor especiacutefico das causas indiacutegenas a Coordenaccedilatildeo
Iacutendiacutegena Satereacute-Maweacute sob responsabilidade do coodernador geral SrSantino Lopes Este
tornou possiacutevel o acesso agrave comunidade indiacutegena de Ponta Alegre no Rio Andiraacute Foi na
Escola Municipal Professora ldquoRosa Cabralrdquo que foi identificado um indiacutegena surdo da etnia
Satereacute-Maweacute um menino de 12 anos matriculado na 3ordf ano do ensino fundamental Nesse
contexto foi possiacutevel observar sua forma de se comunicar com as demais pessoas que faziam
parte do seu meio social Outros dados referente a relaccedilotildees familiares deste natildeo estatildeo
disponiacuteveis na medida em que natildeo foi possiacutevel fazer contato com sua famiacutelia Desta forma
permanece uma lacuna de respostas referente a esse aluno posto que
De uma forma geral e em regra a socializaccedilatildeo da crianccedila no mundo civilizado
comeccedila dentro de uma famiacutelia nuclear constituiacuteda de pai matildee e irmatildeos quando
existem Durante os primeiros anos da infacircncia adquire traccedilos culturais (menores
unidades de cultura) atraveacutes das pessoas da famiacutelia que satildeo reflexo da sociedade
onde vivem (OLIVEIRA 2005)
Entende-se que atraveacutes de informaccedilotildees que poderiam ser fornecidas pela famiacutelia
deveria ser esclarecido como ocorre a socializaccedilatildeo da crianccedila nesse contexto e de que modo
aprenderam a se comunicar com ela que estrateacutegias foram utilizadas para que ela conseguisse
ser alfabetizada
413 Histoacuterico de Maueacutes
Este municiacutepio que tambeacutem pertence agrave Mesorregiatildeo do Centro Amazonense e
Microrregiatildeo de Parintins tem uma populaccedilatildeo de 54079 habitantes conforme as estimativas
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) A cidade eacute reconhecida
nacionalmente por possuir uma das maiores expectativas de vida do paiacutes
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Disponiacutevel emlthttpcidadesibgegovbrxtrastemasamazonas|barreirinha|estimativa-da-populacao-2013gt
Acesso em 28072014
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Na margem direita do Rio Maueacutes-Accedilu Maueacutes foi fundada em 1798 por Luiz Pereira
da Cruz e Joseacute Rodrigues Preto agrave distacircncia de 268 km em linha reta e 356 km pela via
fluvial de Manaus O calendaacuterio festivo do municiacutepio conteacutem as datas festivas municipais
em homenagem agrave Satildeo Sebastiatildeo (10 a 20 de janeiro) ao Divino Espiacuterito Santo (22 a 30 de
maio) agrave Satildeo Pedro (27 a 30 de junho) agrave padroeira Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo (01 a 8 de
dezembro) assim como a Festa do Carnaval Popular (21 a 24 de fevereiro) do aniversaacuterio do
municiacutepio (26 a 27 de junho) da Ilha de Vera Cruz (23 a 25 de julho) do Veratildeo (de 05 a 7 de
setembro) da Feira Industrial (06 a 8 de novembro) e do Guaranaacute (em novembro)
Sobre a origem do nome deste municiacutepio observa-se que inicialmente foi
denominada Luseia e progredindo com o tempo transformou-se em missatildeo carmelita com
nome de Maueacutes O liacuteder nessa eacutepoca foi o frei Joaquim de Santa Luzia Por um decreto de 25
de junho de 1833 a missatildeo foi considerada vila sob a invocaccedilatildeo de Nossa Senhora da
Conceiccedilatildeo de Luseia Em 1853 pela lei nordm 25 de 3 de dezembro da iniciativa do Deputado
Marcos Antocircnio Rodrigues de Souza a vila tornou-se cidade chamada Satildeo Marcos de
Mundurucacircnia Consta como uma das freguesias da proviacutencia denominada Maueacutes em 1958
A oficializaccedilatildeo da mudanccedila do nome do municiacutepio ocorreu quando o Deputado Joseacute
Bernardo Michiles em 1865 apresentou um projeto para tal que tendo sido aprovado
oficializou-se a mudanccedila do nome de Maueacutes para Conceiccedilatildeo Enfim jaacute na Repuacuteblica em
1895 pela lei nordm 133 de 5 de outubro a localidade torna-se Comarca E em 4 de maio de 1896
eacute considerado municiacutepio pelo novo regime juriacutedico com o nome de Maueacutes pela lei nordm 137
As pesquisas de campo nesse municiacutepio natildeo foram realizadas conforme a previsatildeo
pois a viagem natildeo foi concretizada devido agraves dificuldades em relaccedilatildeo agrave distacircncia para chegar
ateacute agraves comunidades que satildeo distantes da cidade cede e havia necessidade de recurso material
e humano (professores guias indiacutegenas biliacutengues) para realizaacute-la Quando foi possiacutevel chegar
ao local ocorreu o contato com trecircs professores que residiam nas comunidades do rio
chamado Marau Ali foi possiacutevel tecirc-los em companhia na funccedilatildeo de guia inteacuterprete para
contato com os indiacutegenas surdos daquela localidade
Em resposta afirmativa ao questionamento se havia iacutendios surdos foram realizadas
reuniotildees com a comunidade local para coletar informaccedilotildees que apontou a existecircncia de um
caso na comunidade de Santa Maria Era um senhor na faixa etaacuteria de 67 anos que adquiriu a
surdez haacute muito tempo atraacutes Ele natildeo tem conhecimento da Liacutengua Portuguesa por isso natildeo
tivemos contato direto No entanto ele conhece a proacutepria liacutengua e assimilou a cultura da etnia
posto que
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A liacutengua eacute aprendida simultaneamente a outros elementos da cultura A capacidade
de desenvolvimento da linguagem eacute inata O indiviacuteduo nasce com o ceacuterebro
preparado para aprender tudo que pertinente agrave cultura humana da qual a linguagem
faz parte (OLIVEIRA 2005 p 137)
Eacute no contexto social que se aprende os signos que fazem parte do mundo exterior e
que o ceacuterebro assimila pelo conhecimento que os sentidos possibilitam
O segundo iacutendio localizado foi um surdo de nascenccedila hoje com idade de 24 anos
Segundo relato da famiacutelia nunca frequentou uma escola portanto seu uacutenico meio de
comunicaccedilatildeo eacute gestual que aprendeu como forma para se fazer entender pois ldquoa linguagem eacute
atributo universal do ser humanordquo (OLIVEIRA 2005) assim constitui-se como necessidade
vital da pessoa conduzindo ao aprendizado
Em pesquisa de campo se obteve a informaccedilatildeo que havia outros trecircs iacutendios surdos que
moravam no Rio Marau mas natildeo foi possiacutevel chegar ateacute a aldeia onde se encontravam
devido ao difiacutecil acesso o que impossibilitou a ida ateacute a localidade
414 Histoacuterico de Boa Vista do Ramos
Uma das sete Mesorregiotildees de Parintins eacute Boa Vista do Ramos que possui
aproximadamente 16820 de habitantes segundo o IBGE (2013)
A histoacuteria de Boa Vista do Ramos encontra-se ligada agrave histoacuteria do municiacutepio de
Maueacutes Em 1798 foi fundada a Aldeia de Lusea Em meados do Seacuteculo XIX vaacuterios conflitos
ocorreram na regiatildeo entre brancos e povos indiacutegenas sendo efetiva tambeacutem a participaccedilatildeo de
cabanos oriundos da Cabanagem
Quando a Proviacutencia do Amazonas eacute criada em 1850 Lusea torna-se um dos quatorze
municiacutepios existentes na proviacutencia Seu nome eacute alterado em 1892 para Maueacutes tornando-se
sede da Comarca em 1895 Em 10 de dezembro de 1981 atraveacutes da Emenda Constitucional nordm
12 o povoado de Boa Vista do Ramos aleacutem de outros territoacuterios pertencentes agrave Maueacutes e
aacutereas adjacentes dos municiacutepios de Barreirinha e Urucurituba passam a constituir o novo
municiacutepio de Boa Vista do Ramos
Em pesquisa de campo nesse municiacutepio o primeiro contato que foi na Coordenadoria
Regional de Educaccedilatildeo da cidade (SEDUC) Embora esta professora responsaacutevel por essa
Instituiccedilatildeo tenha informado que natildeo conhecia nenhum caso de iacutendio surdo neste municiacutepio
alguns informantes afirmaram que na aldeia de Santo Antocircnio que faz parte do referido
municiacutepio foi localizada uma senhora que havia adquirido a surdez ainda muito jovem sem
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nenhum conhecimento das liacutenguas ldquofaladasrdquo ou sinalizadas Desta forma ela utilizava de
gestos para se comunicar porque os seres humanos nascem com a capacidade para a
linguagem que se desenvolvem ao longo da primeira infacircncia mas que podem tambeacutem ser
aprendida no meio social atraveacutes de estiacutemulos Nesta perspectiva segundo a concepccedilatildeo de
Oliveira (2005 p 143)
A evoluccedilatildeo da linguagem depende de dois fatores principais da capacidade geneacutetica
cerebral para desenvolvecirc-la que eacute a principal e dos estiacutemulos ambientais que satildeo
sempre tatildeo importantes quanto aquela Esse desenvolvimento estaacute senpre inserido no
contexto de socializaccedilatildeo que eacute a responsaacutevel pela humanizaccedilatildeo do indiviacuteduo
Ainda sobre a importacircncia da socializaccedilatildeo para os sujeitos ressalta-se que estes
desenvolvendo no meio onde estatildeo inserido adquirem sua identidade cultural
concomitantemente sua identidade linguiacutestica que estaacute presente no discurso dos seus pares
posto que ela ldquoeacute adquirida nos processos de formaccedilatildeo e tranformaccedilatildeo de uma liacutengua
particularrdquo que eacute tambeacutem determinante no relacionamento cm outras liacutenguas E de acordo
com Ponzio (2007 p178) ldquoO espaccedilo em que uma liacutengua vive eacute um espaccedilo interlinguiacutestico e a
capacidade de expressatildeo e da adaptaccedilatildeo dessas liacuteguas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo eacute
diretamente proporcional agrave quantidade de contatos com outras liacutenguasrdquo O que deixa evidente
que um indiviacuteduo pode estar em contato com diferentes formas de intercomunicaccedilatildeo
415 Histoacuterico de Nhamundaacute
Eacute trigeacutesimo quinto municiacutepio mais populoso do estado do Amazonas Sendo o quarto
da Mesorregiatildeo em estudo Conforme o IBGE em 2013 o municiacutepio eacute composto por uma
populaccedilatildeo de 19 792 habitantes
O municiacutepio de Nhamundaacute estaacute localizado na zona fisiograacutefica do Baixo Amazonas
limitando com os municiacutepios de Parintins e Urucaraacute no Amazonas com o Estado de Roraima
(norte) e com os municiacutepios de Faro e Terra Santa no estado do Paraacute Distacircncia da capital 375
km em linha reta e cerca de 577 km por via fluvial Sua altitude eacute de 50 metros acima do
niacutevel do mar
As origens do municiacutepio de Nhamundaacute remontam agraves primitivas povoaccedilotildees dos iacutendios -
nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XVII composta pelos condurizes paraculamas canuris
guancaris paraquatas queremas jamundaacutes e uaboy cujo tuxaua se chamava Jamundaacute que
dada a luta em prol da liberdade de seu povo devido agrave exploraccedilatildeo e maus-tratos pelos
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colonizadores fez um levante conduzindo a tribo Uaboy para as cabeceiras do alto rio que em
sua homenagem ganhou o seu nome e por conseguinte daacute nome ao municiacutepio
Em 1653 mediante carta reacutegia a regiatildeo foi erigida a Missatildeo que foi confiada aos
missionaacuterios portugueses capuchos da Piedade Eles organizaram uma aldeia modelo na boca
do Tauacuera - aldeia velha afluente esquerdo onde ainda se podem ver ruiacutenas do antigo
convento no meio dos espinhais A sede da Missatildeo poreacutem foi transferida para o lugar da
atual cidade de Faro Os padres capuchos souberam unir os iacutendios uaboy residentes no
Trombetas aos da Missatildeo para aumentar a populaccedilatildeo Era entatildeo o chefe dos Uaboy o tuxaua
Jamundaacute que ligou seu nome agrave Missatildeo e agrave aldeia que doravante se chamou aldeia dos
Jamundaacute ou Missatildeo dos Jamundaacute
O primeiro documento sobre a Missatildeo eacute do ano de 1727 e foi escrito pelo superior da
Missatildeo frei Francisco de Satildeo Manccedilos Em 1758 Missatildeo tomou o nome de Faro No entanto
jaacute em 1755 o Marqucirces de Pombal mandou suspender as Missotildees para serem transformadas
em vilas e paroacutequias A Missatildeo dos Jamundaacute foi extinta em 1758 por ordem de Mendonccedila
Furtado quando de sua viagem de demarcaccedilatildeo da nova capitania Foram criadas assim a vila
de Faro e a Paroacutequia de Satildeo Joatildeo Batista em 21 de dezembro de 1758 mas a instalaccedilatildeo deu-se
somente em 27 de dezembro de 1768
Desse modo em 1911 quando ocorreu a divisatildeo administrativa do Brasil o municiacutepio
de Parintins foi contemplado com o distrito de Jamundaacute Com a extinccedilatildeo deste quando
aconteceu a nova divisatildeo administrativa em 1933 o municiacutepio de Parintins surgiu com apenas
um distrito assim em 10 de dezembro de 1938 pelo Decreto-lei no 176 do Estado do
Amazonas Parintins voltaria a dispor de um outro distrito aleacutem da sede o da Ilha das Cotias
Em 19121955 pela Lei Estadual no 96 o distrito de Ilha das Cotias eacute desmembrado de
Parintins e passa a constituir o municiacutepio autocircnomo de Nhamundaacute Em 31 de janeiro de 1956
foi instalado o municiacutepio de Nhamundaacute
A viagem a esse municiacutepio foi realizada com o apoio do aluno Fernando Gonccedilalves
acadecircmico do curso de Licenciatura em Geografia pela Universidade do Estado do
Amazonas-UEA Para maiores esclarecimentos foi feita a pesquisa na casa de sauacutede indiacutegena
localizada na cidade de Nhamundaacute onde informaram desconhecer a existecircncia da etnia
Satereacute-Maweacute no municiacutepio Mesmo assim foi feito outro contato com uma enfermeira da
Casa de Sauacutede Indiacutegena do municiacutepio A resposta foi a mesma ldquoQueremos informar ao
professor que no municiacutepio de Nhamundaacute que natildeo trabalhamos com a etnia Satereacute-Maweacute
Atendemos somente a etnia Hixkaryana existente na regiatildeo Natildeo haacute portanto nenhum surdo
Hixkaryana ou Satereacute-Maweacute cujo fato eacute comprovado pelo senso municipalrdquo
58
Foi feita uma pesquisa tambeacutem em outro oacutergatildeo que atua com indiacutegenas no caso as
Secretaria de Educaccedilatildeo do Municiacutepio com a finalidade de constatar a veracidade dos fatos
eou conseguir novos dados sobre o indiacutegena surdo Satereacute ou Hixkaryana O subsecretaacuterio de
Educaccedilatildeo relatou que natildeo existia dados sobre a liacutengua Satereacute-Maweacute nem indiacutegenas surdos
existentes
Realmente apoacutes pesquisas in loco ficou comprovado somente agrave existecircncia da etnia
Hixkaryana da famiacutelia linguiacutestica Karib Sobre esta ressalta-se que
A liacutengua hixkaryana pertence agrave famiacutelia linguiacutestica Karib e eacute falada por todos os
membros do grupo Esta liacutengua eacute muito semelhante agravequeles outros dialetos falados
na regiatildeo mais ampla circunscrita pelos vales dos rios Trombetas e Mapuera como
Waiwai Xereu Katuena Karapawyana Tunayana Desta maneira e pelo fato dos
Hixkaryana estabelecerem relaccedilotildees bem estreitas com estes grupos em uma rede de
trocas matrimoniais e rituais tais dialetos satildeo inteligiacuteveis entre si []
Os Kaxuyana que moram no rio Nhamundaacute quase todos tambeacutem falam a liacutengua
hixkaryana aleacutem da sua liacutengua proacutepria o Kaxuyana Contudo em geral um
Hixkaryana natildeo fala a liacutengua kaxuyana fato que de certa forma demonstra que os
Kaxuyana satildeo considerados os ldquoestrangeirosrdquo naquela regiatildeo e que devem aprender
a liacutengua ldquonativardquo o Hixkaryana
A maioria dos Hixkaryana eacute alfabetizada na liacutengua nativa sendo capaz de ler e
escrever neste idioma Em 2008 havia apenas uma escola de ensino fundamental na
aldeia Kassauaacute e muitos jovens depois desta seacuterie dirigiam-se agrave cidade de
Nhamundaacute (AM) para prosseguir os estudos de niacutevel meacutedio Em 2010 uma escola
de ensino meacutedio foi implantada na aldeia Kassauaacute Aleacutem disso uma dezena de
Hixkaryana jaacute cursou ou estaacute cursando o ensino superior em cidades como Parintins
e Manaus Contudo a maioria das mulheres dos velhos e das velhas fala muito
pouco o Portuguecircs sendo o Hixkaryana a liacutengua mais usada por todos19
Assim como no municiacutepio de Nhamundaacute ficou constatado tambeacutem que nos demais
municiacutepios de Satildeo Sebastiatildeo do Uatumatilde e de Urucaraacute que natildeo haacute registro sobre a existecircncia
da etnia Satereacute-Maweacute nem tatildeo pouco a existecircncia de iacutendios surdos A tabela 1- apresenta o
resultado da pesquisa que aponta o mapeamento
Tabela 1 Mapeamento da existecircncia de iacutendios surdos nas respectivas comunidades
indiacutegenas ou zona urbana da microrregiatildeo de Parintins
Fonte Azevedo (2014)
19
Disponiacutevel emlthttppibsocioambientalorgptpovohixkaryanagt Acesso em 07112014
Etnia Liacutengua Comunidade Indiacutegena
rural Zona Urbana
Municiacutepio Quantidade de iacutendios
surdos
Satereacute-Maweacute Tupi Parintins Parintins 02
Satereacute-Maweacute Tupi Uaucurupaacute Parintins 01
Satereacute-Maweacute Tupi Rio Andiraacute Barreirinha 01
Satereacute-Maweacute Tupi Santa Maria Maueacutes 02
Satereacute-Maweacute Tupi Rio Marau Maueacutes 03
Satereacute-Maweacute Tupi Boa Vista do Ramos Boa Vista do
Ramos
01
Total 10
59
De acordo com os dados pode-se observar a existecircncia de poucos iacutendios surdos
Poreacutem acredita-se que ainda existam outros em comunidades mais isoladas Como tambeacutem
pelo fato de serem consideradas ldquodeficientesrdquo algumas famiacutelias natildeo integram na comunidade
que vivem As dificuldades encontradas para coletar os dados a partir dos oacutergatildeos
responsaacuteveis tambeacutem foram encontrados em outros estudos realizados anteriormente para
estabelecer a populaccedilatildeo indiacutegena na Ameacuterica Latina o que pode ser vislumbrado pela
explicaccedilatildeo dos fatos complicadores transcritos a seguir
Uma das dificuldades para estabelecer a populaccedilatildeo indiacutegena estaacute relacionada com
fato de que o criteacuterio de filiaccedilatildeo segue mais a autodenominaccedilatildeo que as
caracteriacutesticas linguiacutesticas ou raciais como se considerava haacute algumas deacutecadas atraacutes
Outra dificuldade eacute que a uacutenica fonte disponiacutevel para estabelecer a quantidade de
populaccedilotildees indiacutegenas na regiatildeo satildeo precisamente os censos nacionais de populaccedilatildeo
que haacute bem pouco tempo permitiam inferir informaccedilatildeo sobre a populaccedilatildeo indiacutegena
a partir de uma uacutenica pergunta referente agrave liacutengua falada pelos entrevistados (LOPES
e SICHRA 2009 p 103)
Entretanto embora natildeo haja um nuacutemero expressivo de iacutendios surdos da etnia Satereacute-
Maweacute ficou constatado que haacute muitos surdos natildeo-iacutendios nos municiacutepios estudados
principalmente no municiacutepio de Parintins que precisam se comunicar com diferentes
interlocutores Este eacute um argumento que aponta para a necessidade de instrumentos
educacionais como um dicionaacuterio triliacutengue importante para os surdos que conseguiram
estabelecer elos comunicativos a partir das trecircs liacutenguas E jaacute que o homem eacute criativo ldquoagrave
medida que o tempo passa a humanidade vai agregando novas descobertas e inventos que se
concretizam e se somam para dar-lhe conforto e bem estarrdquo (OLIVEIRA 2005 p 144) Entatildeo
espera-se que este material contribua para que o sujeito surdo possa se comunicar
adequadamente no seio familiar e no processo educacional
42 Realidade linguiacutestica e educacional dos iacutendios surdos encontrados da etnia Satereacute-Maweacute
O sistema responsaacutevel pela educaccedilatildeo tem procurado fazer adequaccedilotildees para atender agraves
pessoas que apresentam necessidades na sua arquitetura fiacutesica para a inclusatildeo destas no
contexto da realidade linguiacutestica e educacional Embora exista uma legislaccedilatildeo pertinente
ainda haacute ausecircncia de qualidade para que um indiviacuteduo surdo possa estudar incluso em um
contexto regular de ensino Principalmente porque os professores natildeo estatildeo preparados para
lidar com essa situaccedilatildeo peculiar Haacute uma imposiccedilatildeo nos oacutergatildeos educacionais mas natildeo haacute
60
profissionais que atuem para o bom desempenho do aluno indiacutegena surdo A partir dessa
visatildeo Albres (2005) que realizou um estudo nesta aacuterea de conhecimento afirma
Nessa perspectiva o homem eacute produto e produtor da cultura conjunto das relaccedilotildees
sociais portanto mister se faz investigar a origem histoacuterica de alguns princiacutepios da
educaccedilatildeo biliacutengue para surdos e desvelar elementos conceituais Propomo-nos
entatildeo identificar e analisar as concepccedilotildees de linguagem que sob condiccedilotildees
histoacutericas fundamentaram o ensino de Liacutengua Portuguesa para surdos nos
documentos do MEC
Desta feita entende-se que se no contexto do ensino da Liacutengua Portuguesa existem
diversas dificuldades no contexto de uma liacutengua indiacutegena a situaccedilatildeo se torna mais complexa
Desse modo na anaacutelise da situaccedilatildeo linguiacutestica e educacional encontrada com os iacutendios surdos
identificados da etnia Satereacute-Maweacute eacute bastante diversificada Apresentam diferentes formas de
siacutembolos para conseguirem se comunicar com as pessoas com quem tecircm contato Precisam
fazer um esforccedilo aleacutem do necessaacuterio para manifestar seus desejos para informar e ter acesso a
informaccedilotildees
No caso da aluna indiacutegena surda de apenas seis anos de idade na escola especiacutefica para
atender alunos surdos foi constatado que sua situaccedilatildeo linguiacutestica e educacional se encontra
em processo de aquisiccedilatildeo de uma linguagem baacutesica para comunicaccedilatildeo com as pessoas com as
quais ela convive
Conforme os dados fornecidos pela escola por meio de um parecer pedagoacutegico sobre a
aluna indiacutegena surda (ANEXO D) Ficou atestado que a aluna da etnia Satereacute-Maweacute nasceu
de parto normal sem nenhum problema aparente Aos trecircs anos de idade a matildee percebeu que
a filha natildeo ouvia e nem falava pois seus outros filhos haviam comeccedilado a falar na presente
idade Para seguir se comunicar com a filha utilizava-se de gestos sendo difiacutecil a
comunicaccedilatildeo Foi essa situaccedilatildeo que levou a famiacutelia a procura da Escola Padre Paulo Manna
onde se encontra matriculada no preacute-escolar Nessa realidade ela recebe as mesmas
orientaccedilotildees dadas agraves crianccedilas natildeo indiacutegenas logo natildeo existe um direcionamento para a cultura
da sua etnia na escola nem na no contexto familiar
Sobre essa condiccedilatildeo Cool (2004) aborda que haacute um aspecto familiar que tem
relevacircncia particular o tipo de comunicaccedilatildeo que se utiliza em casa ou seja a forma e o estilo
de comunicaccedilatildeo que os pais utilizam com a crianccedila surda tem uma grande importacircncia para o
seu desenvolvimento e para sua aprendizagem No caso dos pais ouvintes estes necessitam do
conhecimento da educaccedilatildeo da cultura da liacutengua da pessoa surda para que possam promover
uma formaccedilatildeo linguiacutestica completa para o filho surdo E deste modo este ldquopossa consolidar e
61
aprofundar o uso e a compreensatildeo da liacutengua proacutepria enquanto veiacuteculo de cultura e
possibilidade de comunicaccedilatildeo no acircmbitordquo de conhecimento do aprendiz sem deixar agrave parte do
domiacutenio da liacutengua apropriada para esse sujeito (HERNAIZ 2009)
Desta forma a educaccedilatildeo escolar reconhecida pela proacutepria escola referente agrave inclusatildeo
da aluna indiacutegena surda aponta para a necessidade de instituir uma educaccedilatildeo triliacutengue de
forma que seu processo de ensino-aprendizagem pauta-se na Liacutengua Satereacute-Maweacute Liacutengua
Brasileira de Sinais e Liacutengua Portuguesa Mesmo sabendo da dificuldade em aprender trecircs
liacutenguas o parecer pedagoacutegico considera possiacutevel aprendizagem de trecircs liacutenguas
A partir dos argumentos referidos reitera-se a importacircncia de que a educaccedilatildeo escolar
dessa aluna deve abranger as liacutenguas de uso natural nativo e social Quando se destaca a
liacutengua de uso natural entende-se que eacute a Liacutengua de Sinais como primeira liacutengua E natildeo
inverter o processo e obrigar a crianccedila surda seja indiacutegena ou natildeo aprender a falar uma
liacutengua oral seja liacutengua indiacutegena ou Liacutengua Portuguesa Sobre a questatildeo Fernandes (2005
p20) pontua
fazer uma crianccedila surda ldquofalarrdquo ao inveacutes de propiciar a ela um meio raacutepido de
comunicaccedilatildeo linguiacutestica atraveacutes da aquisiccedilatildeo da liacutengua de sinais como primeira
liacutengua que proteja e cumpra o papel fundamental de resguardar o seu natural
desenvolvimento no que se refere a ter domiacutenio de fato de um instrumental
linguiacutestico que lhe sirva para as operaccedilotildees mentais que envolvam mecanismos
linguiacutesticos
Portanto primeiramente eacute necessaacuteria a aquisiccedilatildeo da primeira liacutengua a liacutengua de sinais
e como segunda liacutengua a liacutengua nativa de sua comunidade eacutetnica No caso da aluna indiacutegena
a liacutengua Tupi da etnia Satereacute-Maweacute na modalidade escrita Desta forma com a aprendizagem
das duas liacutenguas seraacute uma aluna biliacutengue Poreacutem diante da realidade do aluno indiacutegena surdo
que vive na zona urbana se faz necessaacuterio o aprendizado triliacutengue Liacutengua Portuguesa por
escrito
Como dito anteriormente o ensino-aprendizado da Liacutengua de Sinais deve ser
garantido ao sujeito surdo para que adquira a identidade a cultura do povo surdo20
acesso
pleno as informaccedilotildees aleacutem de significar a possibilidade de comunicaccedilatildeo e expressatildeo fluentes
do sujeito surdo com seu entorno Da mesma perspectiva o ensino da Liacutengua indiacutegena se daacute
20
Como ja mencionado no capiacutetulo 1 sobre Cultura Surda ldquo eacute o jeito surdo de ser de perceber de sentir de
vivenciar de comunicar de transformar o mundo a tornaacute-lo habitaacutevelrdquo (GLADIS PERLIN apud STROBEL
2008 p 21) Strobel ainda esclarece que o sujeito Surdo se comportam diferente do sujeito ouvinte e com isso
traz alguns ldquoartefatos culturaisrdquo (explicado no capiacutetulo 1) que satildeo as pecualiaridade da cultura surda as quais
descritas Parte das experiecircncias visuais linguiacutestico familiar literatura surda vida social e esportiva artes
visuais poliacutetica e materiais Todos estes artefatos concebidos a partir do VER (IDEM 2008 p36-77)
62
em respeito aos direitos da cultura indiacutegena previsto pela Constituiccedilatildeo Brasileira conforme
decreto nordm 6861 de maio de 2009 no seu Art 2o que determina ldquoSatildeo objetivos da educaccedilatildeo
escolar indiacutegena I- valorizaccedilatildeo das culturas dos povos indiacutegenas e a afirmaccedilatildeo e manutenccedilatildeo
de sua diversidade eacutetnica II- fortalecimento das praacuteticas socioculturais e da liacutengua e da liacutengua
materna de cada comunidade indiacutegenardquo
Neste caso a referida aluna iacutendia surda deveraacute ter a liacutengua indiacutegena como liacutengua de
conhecimento de sua cultura Para o ensino desta na forma escrita faz-se uso de cartilhas
gramaacuteticas dicionaacuterios etc
De acordo com o exposto a escola reconhece a necessidade da educaccedilatildeo escolar
triliacutengue poreacutem utiliza-se de outra realidade conforme citado pela proacutepria escola ldquoNo
primeiro momento fica junto com os colegas ouvintes onde procuramos trabalhar de forma
inclusiva no contexto biliacutengue Liacutengua Portuguesa e Liacutengua de Sinais
Sobre este aspecto Rodrigues (2005 p20) pontua
Quantas lacunas estariam sendo criadas em nome da pressuposiccedilatildeo de que a
aprendizagem da liacutengua da maioria dos falantes da comunidade (ouvintes) eacute que
daria agrave crianccedila surda condiccedilotildees de desenvolvimento social e cognitivo Quantas
etapas de desenvolvimento estariam sendo desprezadas nas fases naturais de sua
evoluccedilatildeo sob a alegaccedilatildeo de que ela seraacute capaz de alcanccedilar o que se estabelece como
meta social Que metas estariam sendo alcanccediladas afinal Que objetivos estatildeo sendo
perseguidos em prol desses paracircmetros ultrapassados em detrimento dos reais
objetivos de formaccedilatildeo psico-sociocultural deste individuo Em que a liacutengua de
sinais como primeira liacutengua ainda se encontra determinada pelo descreacutedito de
tantos especialistas da aacuterea
A realidade encontrada sobre a educaccedilatildeo natildeo soacute em uma escola que atende alunos
surdos mas tambeacutem em muitas escolas as chamadas escolas ldquoinclusivasrdquo apresentam
dificuldades no processo de ensino dos alunos surdos21
Todavia entre desencontros
sociocultural-linguiacutesticos eacute preciso fazer uma ressalva desta escola ldquoA escola disponibilizou
21
Sobre a temaacutetica da Inclusatildeo formula-se ldquoAo se avaliar que na contemporaneidade impera o discurso da
inclusatildeo indiscriminada em escolas regulares[]Esta diretriz tira o direito previsto na legislaccedilatildeo brasileira de
poder optar por uma educaccedilatildeo biliacutengue em escola proacutepria de modo que se repete a condiccedilatildeo em que aos surdos eacute
imposto um enorme sofrimento na medida em que nos denominamos processos inclusivos junto aos ouvintes
permanecem privados de conviver com seus pares e de acessar o conhecimento na Liacutengua de Sinais como liacutengua
de instruccedilatildeo [] Os surdosde diferentemente de outros segmentos tecircm a necessidade de agrupar-se para formar
comunidade linguiacutestica por meio das quais possam construir uma ldquocomunidade de experiecircnciasrdquo (WITKOSKI
2012 p33-34)
63
uma professora surda para a aquisiccedilatildeo da Liacutengua Brasileira de Sinais repassando o conteuacutedo
ministrado na salardquo onde cada um desses alunos eacute inserido
A escola positivamente conta com a colaboraccedilatildeo do trabalho docente de uma
professora surda Esta tem um papel fundamental como modelo linguiacutestico principalmente
quando alunos surdos provecircm de famiacutelias ouvintes que natildeo tecircm acesso agrave cultura e agrave Liacutengua
de Sinais Cabe ao professor surdo comunicar-se fluentemente com o aluno surdo ser um
input linguiacutestico para a identificaccedilatildeo da cultura do ser surdo
Dessa forma Strobel (2008 p 40) destaca
Este contato crianccedila surda x adulto surdo atraveacutes de uma liacutengua em comum que eacute a
liacutengua de sinais eacute que proporcionaraacute o acesso agrave linguagem e desta forma estaraacute
assegurada a identidade e a cultura surda que eacute transmitida naturalmente agrave crianccedila
surda em contato com a comunidade surda
Observa-se que caso a crianccedila surda natildeo tenha o direito a sua diferenccedila preservado
este aprendiz teraacute sua inserccedilatildeo no mundo dos ouvintes de forma incerta eou sem esperanccedila de
uma vida normal A situaccedilatildeo se agrava na medida em que a sociedade ouvinte deixa a desejar
quanto agrave participaccedilatildeo dos sujeitos surdos em decorrecircncia da escassez dos vaacuterios recursos
visuais que promovem acessibilidade para eles
Contudo os povos surdos hoje satildeo mais conscientes de seus direitos entatildeo esses
sujeitos cultural e politicamente lutam pelos mesmos Direitos estes tambeacutem dos povos
indiacutegenas como jaacute comentados anteriormente
Todavia esse aspecto ainda estaacute distante da realidade dos sujeitos focos do estudo de
acordo com relato da escola Segundo depoimentos de alguns indiacutegenas a aprendizagem
indiacutegena passa pela demonstraccedilatildeo observaccedilatildeo imitaccedilatildeo tentativa e erro e quando o aluno
vem para a escola tem que se socializar e obedecer a comandos regidos pelo sistema e isso
muitas vezes o deixa confuso e os maiores ateacute desistem A situaccedilatildeo se agrava quando esse fato
se refere ao sujeito iacutendio surdo incluiacutedo na escola pois este requer um diferencial ainda
maior reconhecido pela escola
Dessa forma satildeo necessaacuterias estrateacutegias de ensino diferenciadas que deem suporte
para que a aluna seja trabalhada de forma triliacutengue no contexto escolar para que ela
natildeo perca a sua essecircncia a sua cultura que sejam adaptados trabalhos de acordo
com a realidade indiacutegena para que ela natildeo perca a sua identidade e saiba conduzir
sua aprendizagem dentro de um contexto diferenciado podendo aprender o que lhe eacute
de direito como viver bem em sociedade22
22
Texto extraiacutedo do parecer pedagoacutegico da aluna indiacutegena surda que estuda na Escola de Aacuteudio e Comunicaccedilatildeo
Pe Paulo MannaParintinsAm (ANEXO D)
64
A partir das consideraccedilotildees tecidas no parecer pedagoacutegico torna-se evidente ema
necessidade de ampliar e aprofundar as reflexotildees sobre a inclusatildeo de iacutendios surdos em vaacuterios
espaccedilos da sociedade especialmente no espaccedilo educacional escolar Ou seja haacute necessidade
tambeacutem de poliacuteticas linguiacutesticas voltada para esse acircmbito
Nesse sentido eacute necessaacuterio que se tenha como meta uma tomada de decisotildees poliacuteticas
para que gradativamente se possa controlar a situaccedilatildeo de aprendizagem do surdo no processo
soacutecio cultural onde ele estiver inserido Ateacute por que existe uma proposta educativa
intercultural de modo biliacutengue no contexto indiacutegena Assim surge a necessidade de accedilotildees
objetivas para garantir na praacutetica esta proposta de ensino a fim de enriquecer o indiacutegena
surdo com desenvolvimento da liacutengua de sinais como veiacuteculo de comunicaccedilatildeo acrescendo
seus conhecimentos a partir do pluralismo cultural uma vez que estaacute amparado por
legislaccedilotildees especiacuteficas
Reitera-se a necessidade de accedilotildees objetivas especialmente no que tange a formaccedilatildeo
especiacutefica de professores pois mesmo com a garantia da legislaccedilatildeo a presente realidade
desses sujeitos estaacute distante do contexto sociocultural-linguiacutestico do ser iacutendio surdo A
exemplo disso tem-se outra realidade sociocultural-linguiacutestico do segundo aluno indiacutegena
surdo de 24 anos que foi transferido de uma escola que desenvolve atividades educacionais
especiacuteficas para outra no processo denominado de educaccedilatildeo inclusiva onde cursa o nono ano
do ensino fundamental das seacuteries finais e faz atendimento na sala de recurso porque os
professores das disciplinas do curso natildeo tecircm formaccedilatildeo para acompanhaacute-lo
Os relatos da famiacutelia indicam que o aluno nasceu na aacuterea indiacutegena de Ponta Alegre
poreacutem muito pequeno sua famiacutelia mudou-se para zona urbana municiacutepio de Parintins o qual
cresceu longe de sua cultura indiacutegena desconhecendo assim a liacutengua de sua etnia Este eacute um
caso que promove o desaparecimento de liacutenguas indiacutegenas o conhecido deslocamento
sociolinguiacutestico
Para entender o processo que instaura este deslocamento linguiacutestico ressalta-se que
primeiramente a educaccedilatildeo da pessoa perpassa pelo uso da liacutengua materna no ambiente
familiar nas relaccedilotildees famiacuteliares na qual utiliza uma comunicaccedilatildeo intra e extrafamiliar Se a
famiacutelia mantiver sua liacutengua nativa em uso os membros da mesma permaneceratildeo biliacutengues
Poreacutem se a famiacutelia por pressatildeo social do uso da liacutengua dos falantes da sociedade local seja
porque deseja se adequar ao meio onde se insere a liacutengua no caso indiacutegena entra no processo
de esquecimento para as geraccedilotildees vindouras
65
Eacute o caso do aluno acima que eacute biliacutengue (Liacutengua Brasileira de Sinais e Liacutengua
Portuguesa na modalidade escrita) contudo desconhece sua raiz cultural a liacutengua de sua
etnia Seu contexto educacional eacute baseado em ldquomodelo de escola inclusivardquo o aluno vai para
sala de aula com alunos ouvintes onde a liacutengua portuguesa eacute a liacutengua padratildeo a ser ensinada e
estudada e posteriormente faz atendimento na sala de recurso em sua liacutengua natural Libras
Logo a escola pode ajudar no incentivo favorecendo a revitalizaccedilatildeo da liacutengua
indiacutegena no contexto educacional Para isso haacute necessidade de um corpo docente com a
formaccedilatildeo em Liacutengua indiacutegena e Liacutengua Brasileira de Sinais aleacutem da Liacutengua Portuguesa que eacute
usada como a base de ensino
Jaacute na comunidade Uiacurapaacute da etnia Maweacute encontramos outra realidade de contexto
de um surdo indiacutegena Todavia natildeo foi possiacutevel fazer um acompanhamento mais preciso
sobre sua situaccedilatildeo educacional escolar O uacutenico dado correspondente agrave questatildeo linguiacutestica eacute o
modo como ele se comunica conforme foi relatado por membros da comunidade local se
caracteriza pela utilizaccedilatildeo de gestos criados para se fazer compreender Desta forma diante da
ausecircncia de uma liacutengua estruturada a Libras por fazer uso somente de gestos ele apresenta
dificuldades de entender o ensino e de se comunicar com seus pares Da mesma forma ocorre
no contexto familiar e na comunidade uma vez que o aluno surdo vive quase que isolado
devido ao preconceito existente ateacute mesmo pela proacutepria comunidade por natildeo o entenderem e
nem saberem qual a forma para se comunicar aquele indiviacuteduo Assim ele vive em uma
situaccedilatildeo de rejeiccedilatildeo e marginalizaccedilatildeo estabelecida a partir da ausecircncia de uma liacutengua que
promova a comunicaccedilatildeo com o predomiacutenio de um processo de estigmatizaccedilatildeo deste sujeito
surdo
No municiacutepio de Maueacutes Boa Vista do Ramos os iacutendios surdos localizados satildeo de
idade adulta natildeo tiveram a oportunidade de frequentar escola Portanto sua realidade
linguiacutestica fundamenta-se somente na forma gestual que denominam de caseira atribuindo
significados peculiares de seu contexto local No que diz respeito ao aspecto educacional as
pessoas contatadas demonstraram apenas uma preocupaccedilatildeo sobre a existecircncia futura de
possiacuteveis iacutendios surdos nesses municiacutepios e sua formaccedilatildeo educacional Contudo natildeo
afirmaram o que fariam se encontrassem outros sujeitos com essa necessidade de
comunicaccedilatildeo
Como jaacute mencionado natildeo haacute registro sobre a situaccedilatildeo linguiacutestica e educacional de
nenhum iacutendio surdo da etnia Satereacute-Maweacute nos municiacutepios de Nhamundaacute Satildeo Sebastiatildeo do
Uatumatilde e de Urucaraacute Portanto as informaccedilotildees educacionais natildeo satildeo apresentadas nestes
contextos
66
43 Inventaacuterio de gestos da linguagem caseira dos surdos Satereacute-Maweacute
A presente pesquisa baseia-se em um meacutetodo de estudos de etnografia com o intuito
de descrever e observar os gestos caseiros que os indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute usam para se
comunicarem com seus pares nas comunidades onde residem O meacutetodo tambeacutem ajuda a
conhecer a identidade e sua interaccedilatildeo no meio da comunidade visto haacute uma diversidade
linguiacutestica rica usada pelos surdos indiacutegenas nas diversas localidades percorridas pelo
pesquisador na microrregiatildeo de Parintins
431 Os sinais caseiros de indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute
O objetivo do mapeamento eacute coletar os sinais caseiros ou emergentes para que esses
sinais possam ser reconhecidos e compreendidos pela sua comunidade como meio linguiacutestico
de comunicaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo de sua cultura
Para a concretizaccedilatildeo do mapeamento foi necessaacuterio a pesquisa de campo na
comunidade onde se fazia presente o indiacutegena surdo para as devidas observaccedilotildees
432 O Municiacutepio de Parintins
No municiacutepio de Parintins foi localizado trecircs (03) indiacutegenas surdos com suas
caracteriacutesticas linguiacutesticas diferenciadas de suas origens sendo que dois indiacutegenas residem na
zona urbana e um indiacutegena localizado na comunidade de Uaicurapaacute os quais foram o objeto
investigativo para a coleta de dados Os registros foram feitos de forma diferenciada de modo
que primeiramente conversei com as lideranccedilas indiacutegenas acompanhado de inteacuterprete e guia
linguiacutestico Durante este encontro foram feitas no local observaccedilotildees visuais sendo que em
alguns casos realizamos registros de imagens filmagens e entrevistas Eacute importante destacar
que os registros soacute puderam ser feitos quando permitidos pelos sujeitos da pesquisa ou pela
lideranccedila prevalecendo em sua maior parte a observaccedilatildeo visto que materiais tecnoloacutegicos e
de miacutedias causavam incocircmodo aos entrevistados fazendo com que se tornassem
incomunicaacuteveis quando percebiam que estavam sendo monitorados
67
4321 O primeiro surdo
Esse primeiro indiacutegena possui surdez moderada Eacute um senhor com idade de 72 anos
residente no Uiacurapaacute23
O contato foi feito na Casa do Iacutendio de Parintins Em uma
conversaccedilatildeo informal explicou que perdeu a audiccedilatildeo com o tempo eacute oralizado24
e se
comunica com a comunidade na liacutengua nativa Satereacute-Maweacute Trata-se de um cidadatildeo calmo
fala apenas de suas necessidades visto que natildeo se manifesta muito devido suas limitaccedilotildees
auditivas que dificultam uma melhor compreensatildeo
Como referido o surdo em questatildeo tem surdez moderada Neste sentido observa-se
que a surdez ocorre de acordo com diferentes classificaccedilotildees quanto ao niacutevel de perda auditiva
Ou seja
Quanto ao grau - leve (perda de 26 a 40 dBNA) - moderada (perda de 41 a 55
dBNA) - moderadasevera (perda de 56 a 70 dBNA) - severa (perda de 71 a 90
dBNA) - profunda (a partir de 91 dBNA) (RUSSO e SANTOS 1988 apud
NADER 2011 p 2)
Retomando a histoacuteria do sujeito surdo em questatildeo observa-se que ele reside na zona
rural no Uiacurapaacute com seus parentes e sua sobrevivecircncia eacute atraveacutes do que planta e pesca
Observando-o percebo que o mesmo tem uma vida normal com seus pares o que falta para
uma interaccedilatildeo mais ativa na comunidade eacute estimulo e o incentivo linguiacutestico pois muitas
pessoas satildeo impacientes e acabam deixando-o isolado linguisticamente
4322 O segundo surdo
Eacute um indiacutegena natural de Ponta Alegre25
concluiu o ensino fundamental em uma
escola puacuteblica no municiacutepio de Parintins Sua surdez foi percebida por seus pais ainda
crianccedila causada por doenccedila congecircnita A famiacutelia mudou-se para o municiacutepio de Parintins em
busca de uma melhor educaccedilatildeo para filho surdo entretanto os pais eram usuaacuterios da Liacutengua
Satereacute-Maweacute mas natildeo mais praticam pela influecircncia da Liacutengua Portuguesa e tambeacutem natildeo 23 Rio que fica interliga com Rio Paranaacute do Ramos ndash Parintins (AZEVEDO 2014) 24
O modelo cliacutenico-terapecircutico baseia-se numa visatildeo patoloacutegica de surdez e num modelo individual de
atendimento aacute diversidade que tem como referecircncia o Oralismo O oralismo eacute uma filosofia educacional para
surdos cujo discurso propotildee a superaccedilatildeo da surdez e a aceitaccedilatildeo social do surdo por meio da oralizaccedilatildeo Em
outras palavras este modelo defende o aprendizado apenas da Liacutengua Portuguesa na sua modalidade oral e
escrita na escola por entender que esta eacute a uacutenica possibilidade de integrar o surdo na sociedade majoritaacuteria
ouvinte (SLOMSKI 2010 p 32) 25
A comunidade de Ponta Alegre situa-se no Rio Andiraacute com 4 horas de viagem de lancha para chegar a
comunidade (AZEVEDO 2014)
68
frequentam a comunidade Satereacute-Maweacute em busca de assistecircncia ou outros meios oferecidos
pela tribo Portanto a famiacutelia cresceu e disseminou deixando de lado a liacutengua nativa e
tradiccedilatildeo indiacutegena vivendo uma vida regular na zona urbana
O surdo hoje com 20 anos natildeo conhece a liacutengua nativa de sua comunidade se
comunica fluentemente com a Liacutengua de Sinais escreve o Portuguecircs e se oraliza na
comunicaccedilatildeo com seus pais que tambeacutem natildeo sabem a Liacutengua de Sinais
Atraveacutes de sua histoacuteria eacute possiacutevel perceber que este sujeito surdo por estudar em
escola inclusiva com forte influecircncia a oralista desenvolveu as duas linguas a Liacutengua
Brasileira de Sinais e a Liacutengua Portuguesa Poreacutem sua situaccedilatildeo eacute diferente de outros
indiacutegenas surdos que residem nas comunidades que usam os sinais caseiros para se
comunicarem Isso acaba sendo uma observaccedilatildeo abstrata da realidade entre os surdos que
moram na zona urbana e na comunidade Satereacute-Maweacute
4323 O terceiro surdo
Eacute uma crianccedila de 5 anos descendente da etnia Satereacute-Maweacute estuda em uma escola
filantroacutepica em Parintins Trata-se de uma aluna inteligente que demonstrava timidez na
presenccedila de pessoas estranhas Verificou-se que ela consegue aprender e identificar os objetos
apresentados para que identificasse Aos 4 anos antes de entrar para a escola utilizava alguns
sinais caseiros para se comunicar com seus familiares Na sala de aula o ensino oferecido a
ela eacute o biliacutengue26
tendo a Liacutengua Brasileira de Sinais e a Liacutengua Portuguesa compondo essa
educaccedilatildeo O ensino nessa instituiccedilatildeo vai ateacute a 5ordf serie Por esta razatildeo a aluna futuramente
precisaraacute ser transferida para uma escola de ensino fundamental
Tabela 2 11 Sinais caseiros utilizados pela crianccedila indiacutegena surda de 5 anos e seus
familiares
26
O Bilinguismo eacute uma filosofia de ensino cujo discurso propotildee a diversidade cultural e a aceitaccedilatildeo social do
surdo por meio do bilinguismo (duas liacutenguas Liacutengua de Sinais e segunda liacutengua) Essa filosofia concebe o surdo
como um ser diferente e a surdez como ldquoatributo humanordquo como uma caracteriacutestica da pessoa surda resultado
de uma deficiecircncia orgacircnica que natildeo se esgota nela mesma (SKLIAR 1997 apud SLOMSKI 2010 p 41)
SINAIS CASEIROS DESCRICcedilAtildeO
AacuteGUA Matildeo direita com o dedo polegar fazendo a expressatildeo de beber aacutegua
BRINCAR As duas matildeos fechadas batendo as pontas dos dedos em
movimento
BANHEIRO Matildeo direita mostra o local e a esquerda eacute posicionada na barriga
COMIDA As duas matildeos abrindo e fechando repetidamente proacuteximo da boca
DORMIR As duas matildeos com as palmas juntas encostar-se ao rosto com
expressatildeo de querer dormir
69
Fonte AZEVEDO (2014)
Figura 2 Sinais caseiros utilizado pela crianccedila de 5 anos
FOME Matildeo direita indo em direccedilatildeo da barriga fazendo expressatildeo facial de
fome
MAtildeE Matildeo direita aberta no rosto fazendo movimento nos dedos com
expressatildeo chamativa
IRMAtildeO Matildeo direita batendo no antebraccedilo para chamar atenccedilatildeo
PAI Matildeo direita com os dedos pegando o queixo
PESSOA Matildeo direita com dedo indicador fazendo expressatildeo de algueacutem
CHORAR As duas matildeos fechadas com os dorsos esfregando nos olhos
AacuteGUA BRINCAR
COMIDA DORMIR FOME
MAtildeE IRMAtildeO PAI
BANHEIRO
70
44 O indiacutegena surdo da Comunidade de Ponta Alegre do municiacutepio de Barreirinha
Foi localizado um aluno surdo na comunidade de Ponta Alegre que faz parte do
municiacutepio de Barreirinha trata-se de um jovem de 13 anos que estuda na Escola Municipal
Rosa Cabral e mora em uma aldeia mais distante a observaccedilatildeo foi feita na escola Nessa
viagem foi obtido a autorizaccedilatildeo de viagem para a aldeia na Secretaria de Educaccedilatildeo Municipal
de Barreirinha por meio do contato com o coordenador geral do setor indiacutegena daquela aacuterea
o senhor Santino Lopes que muito contribuiu com o projeto e de servir como guia de
viagem
O devido aluno estuda na 3ordf Serie do ensino fundamental De acordo com as
observaccedilotildees feitas O ensino predominante na sala para o ensino deste aluno eacute a Liacutengua
Portuguesa visto que os professores em sua maioria vem do municiacutepio de Barreirinha
Embora o ensino seja bem aplicado e a escola dispotildee de material didaacutetico apropriado para a
seacuterie natildeo haacute metodologia de ensino especializado para surdo natildeo existindo Sala de
Recursos27
O aluno aprende lentamente demonstrando dificuldades de entender os
conteuacutedos
A comunicaccedilatildeo com seus professores e colegas soacute acontecem atraveacutes de sinais
caseiros e expressotildees manuais O aluno surdo vive quase que isolado sem ter a possibilidade
de estabelecer uma comunicaccedilatildeo satisaftoacuteria dentro do contexto escolar devido ao
27
Uma das inovaccedilotildees trazidas pela Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Especial na Perspectiva da Educaccedilatildeo
Inclusiva (2008) eacute o Atendimento Educacional Especializado ndash AEE um serviccedilo da educaccedilatildeo especial que []
identifica elabora e organiza recursos pedagoacutegicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena
participaccedilatildeo dos alunos considerando suas necessidades especiacuteficas
O AEE complementa eou suplementa a formaccedilatildeo do aluno visando a sua autonomia na escola e fora dela
constituindo oferta obrigatoacuteria pelos sistemas de ensino Eacute realizado de preferecircncia nas escolas comuns em um
espaccedilo fiacutesico denominado Sala de Recursos Multifuncional Portanto eacute parte integrante do projeto poliacutetico
pedagoacutegico da escola (BRASIL 2008 p 3)
CHORAR PESSOA
71
preconceito existente Ateacute mesmo na proacutepria comunidade por natildeo entenderem e nem saberem
de que forma comunicarem-se com o mesmo a situaccedilatildeo de exclusatildeo se repete
Vale destacar que diante desta ausecircncia da qualidade de ensino para o aluno surdo a
professora Maria Inecircs ao responder um questionaacuterio segue algumas afirmativas para mudar
esta realidade Desta forma a educadora afirma que
- Eacute muito importante a capacitaccedilatildeo em cursos de libras e livros didaacuteticos proacuteprios
como forma de melhorar o ensino e a comunicaccedilatildeo com aluno surdo na
comunidade como parte da educaccedilatildeo inclusiva para facilitar o ensino e
aprendizado acima de tudo conhecer sua liacutengua materna identidade do povo
Satereacute-Maweacute
Pelo relato do Gestor da Escola Senhor Dulcemar a necessidade jaacute referida pela
educadora acima de materiais didaacuteticos para subsidiar o ensino eacute novamente colocada em
destaque conforme pode ser vislumbrado no relato transcito a seguir
- Eu como gestor sinto-me gratificado pelo trabalho a ser desenvolvido aqui com a
questatildeo da Libras um trabalho realizado pelo professor Marlon Jorge Pois eacute muito
importante devido agrave dificuldade que a educaccedilatildeo Satereacute- Maweacute vem tendo
principalmente quando se trata de alunos surdos indiacutegenas e ateacute mesmo por falta
de material didaacutetico Esse trabalho vai ser importante aqui na aacuterea indiacutegena para
ajudar o professor na sala de aula como ensinar como educar e como lidar com
esses alunos com necessidades especiais Entatildeo eacute um trabalho muito importante
pra noacutes e estamos aqui a disposiccedilatildeo e tambeacutem para contribuir como gestor da
escola juntamente com os professores e pra noacutes eacute muito bom esse trabalho e que o
Sr possa desenvolver esse seu projeto essa cartilha que com o aacutepice das aulas de
libras que com certeza vai fortalecer muito mais a educaccedilatildeo do povo Satereacute
Maweacuterdquo
Tabela 313 sinais caseiros coletados e utilizados pelo aluno da comunidade de Ponta Alegre
Fonte Azevedo (2014)
SINAIS CASEIROS DESCRICcedilAtildeO
AacuteGUA Usa as duas matildeos fazendo impressatildeo de beber alguma coisa
BARCO Usa-se a matildeo direita aberta em posiccedilatildeo vertical fazendo uma
expressatildeo da accedilatildeo do barco
BANHO Fazer a expressatildeo de pular na aacutegua com os braccedilos esticados
BANHEIRO Matildeo direita usando o indicador fazendo expressatildeo sair fora sala
COMIDA Matildeo esquerda aberta matildeo direita usando como o objeto metaacutelico
COBRA Usando os dedos da matildeo direita beliscando o pulso da matildeo esquerda
ESCOLA Faz-se o sinal de casa
ESTUDAR Faz a expressatildeo de escrever
FOME Matildeo direita levando em direccedilatildeo da barriga fazendo expressatildeo facial
de fome
FARINHA As duas matildeos palmas para baixo fazendo a expressatildeo de esfarelar
alguma coisa
LANCHA Usa a matildeo direita palma para cima fazendo uma accedilatildeo da rapidez
para frente
PEIXE Matildeo direita fazer a expressatildeo de caccedilar o peixe com o arpatildeo
PESSOA Matildeo direita com dedo indicador fazendo expressatildeo de algueacutem
72
Figura 3 Sinais caseiros utilizados pelo aluno da comunidade de Ponta alegre ndash
Barreirinha
AacuteGUA BARCO
BANHEIRO
BANHO
COMIDA
ESCOLA
FOME LANCHA PESCAR PEIXE
ESTUDAR FARINHA
COBRA
73
45 Os indiacutegenas surdos do Municiacutepio de Maueacutes
Situado entre os rios Madeira e Tapajoacutes o municiacutepio de Maueacutes estaacute localizado no
Meacutedio Amazonas que hoje eacute denominado como microrregiatildeo aacuterea leste do Estado Distante
de Manaus cerca de 30 km em linha reta ou o equivalente 45 minutos por via aeacuterea estando
a 356 km por via fluvial cerce de 16 a 18 horas de barco
Nesse municiacutepio foi realizado duas viagens com a finalidade de fazer um mapeamento
das aacutereas indiacutegenas bem como descobrir a existecircncia de surdos nas aldeias O primeiro
contato foi na Secretaria de Educaccedilatildeo do municiacutepio primeiramente me apresentado como
aluno pesquisador juntamente com os documentos comprobatoacuterios de acesso para realizar a
pesquisa nas aacutereas indiacutegenas As informaccedilotildees que tinha antes de estabelecer o contato
apontavam para a existecircncia de alunos indiacutegenas surdos matriculados na sede do municiacutepio
Poreacutem a secretaria informou desconhecer a existecircncia de alunos indiacutegenas matriculados na
rede publica do municiacutepio nem saber sua localizaccedilatildeo para contatos sendo orientado a
procurar na Casa do Estudante Indiacutegena Satereacute-Maweacute que se localiza em um bairro mais
distante dali
Chegando ao SESAI - Secretaria de Sauacutede Indiacutegena obtivemos acesso agraves informaccedilotildees
devido ao fato de que a pessoa responsaacutevel estava em viagem sendo que retornaria na outra
semana Em outra busca formos agrave Casa do Estudante Satereacute-Maweacute onde conversamos com o
coordenador Sr Jusivam que disse saber da existecircncia de indiacutegenas surdos nas comunidades
na Marau e Andiraacute mas natildeo ter dados quantitativos devido ao fato deles natildeo terem procurado
a Casa do Estudante em busca de assistecircncia que auxiliassem sua integraccedilatildeo em escolas
regulares ou inclusivas Observa-se que a Casa do Estudante podia auxiliar eles a
conseguirem uma escola para estudarem na zona urbana jaacute que esta eacute uma das atribuiccedilotildees da
instituiccedilatildeo
Ao sermos informados que as comunidades onde havia surdos eram distantes e
necessitava de apresentar outros documentos da Coordenaccedilatildeo Geral de Educaccedilatildeo que ficava
no municiacutepio de Barreirinha Tambeacutem se fazia necessaacuterio preparar uma programaccedilatildeo de
viagem para que pudessemos chegar ateacute aquela localidade de modo que nesta precisava
inclusive organizar para ter inteacuterpretes que falassem a liacutengua Satereacute-Maweacute e inteacuterpretes de
Libras Aleacutem destes precisava contar com um acompanhante para registrar as imagens e
filmagens se autorizadas anotando tudo que fosse necessaacuterio
Fazendo uma reflexatildeo sobre a viagem e os entraves que tinhamos pela frente para a
concretizaccedilatildeo do projeto e as distacircncias geograacuteficas para alcanccedilar os objetivos da pesquisa
74
Contudo ao encontrar um surdo indiacutegena sendo o principal objeto da pesquisa em funccedilatildeo da
grande satisfaccedilatildeo de poder contribuir para o desenvolvimento linguiacutestico dos indiacutegenas surdos
e para que a comunidade compreenda como um ser incluiacutedo a partir do respeito a sua cultura
inserindo em seus modos e haacutebitos foi compensador enfrentamos todos os obstaacuteculos
Visitamos a Universidade do Estado do Amazonas ndash UEA onde tivemos a grata
surpresa de saber que havia uma turma de formaccedilatildeo em licenciatura Indiacutegena para a
comunidade Esperamos a aula acabar para falar com o professor o qual pediu para vir outro
dia para conversar com os alunos Foi nessa ocasiatildeo que conhecemos trecircs professores com os
quais fizemos um acordo para que na proacutexima viagem me levassem para a aldeia a fim de
realizar o mapeamento
Voltando para Parintins foi elaborado um roteiro para viagem a aacuterea indiacutegena Satereacute-
Maweacute pelos rios Maueacutes-Accedilu Rio MarauUrupadi A viagem aconteceu no dia 02 de
fevereiro de 2014 saindo de barco de Parintins indo ateacute o municiacutepio de Maueacutes No dia
seguinte as 8 horas acompanhado do professor Jesiel pegamos uma voadeira de 150HP com
destino ao territoacuterio Satereacute-Maweacute Foi uma viagem perigosa devido agraves condiccedilotildees dos rios e de
difiacutecil acesso para chegarmos laacute Todavia fizemos um esforccedilo e conseguimos nos deslocar ateacute
a comunidade Percorremos de voadeira uma viagem que durou aproximadamente 8 horas
pelo Rio Maueacutes Accediluacute Depois de uma hora e meia de viagem chegamos ao Rio Urupadi e
seguimos mais uma hora e meia de viagem ateacute a comunidade indiacutegena Vale do Quiinha
Nessa aldeia pegamos o professor Jacob Santos de Souza que nos acompanhou para a
proacutexima aldeia Ilha Michiles que fica no Rio Marau Nessa aldeia pegamos outro professor
Satereacute-Maweacute Jocimar Alencar dos Santos Saiacutemos da Ilha Michiles com destino a
comunidade Santa Maria que fica na divisa do Rio Urupadi e Manjuru A cada visita que
faziamos nas comunidades indiacutegenas percebemos no cotidiano a diversidade presente nas
aacutereas indiacutegenas Satereacute-Maweacute Ao perguntar se havia algueacutem surdo na famiacutelia e a resposta
sempre vinha de forma afirmativa o que me demonstrou que todos os esforccedilos para realizar a
viagem foram compensados diante da riqueza de dados coletados
A primeira iniciativa adotada com relaccedilatildeo a esse momento foi reunir com os
comunitaacuterios envolvidos nas atividades escolares A reuniatildeo teve como objetivo observar e
entrevistar alguns indiacutegenas para posteriormente analisar como se procede agrave comunicaccedilatildeo
entre indiacutegenas surdos e ouvintes A reuniatildeo foi muito uacutetil para os estudos e anaacutelise de
informaccedilotildees Os surdos existentes na comunidade nunca estudaram devido agrave comunidade
Santa Maria ficar distante da zona urbana e a escola existente para alunos ouvintes ficar em
75
outra comunidade o que inviabiliza a ida deles sendo que tambeacutem natildeo haacute professores
especializados para atenderem a clientela surda existente no Rio Marau
Encontramos dois indiacutegenas surdos na comunidade de Santa Maria que foram objeto
de estudos No entanto houve informaccedilotildees repassadas de que haacute outros trecircs surdos em outras
comunidades mais distante na mesma aacuterea Satereacute-Maweacute A visita para contactar estes outros
trecircs surdos ficou para a proacutexima viagem de observaccedilatildeo e coleta dos dados
451 O primeiro surdo da Comunidade de Santa Maria
No contato e observaccedilatildeo que tivemos com o surdo o mais novo tem 24 anos mora
com a famiacutelia natildeo conhece nenhuma liacutengua se comunica com gestos e sinais caseiros A
comunidade assim com a famiacutelia demosntrou pouco se importar com ele de forma que natildeo
haacute estiacutemulo ou interesse para que haja uma interaccedilatildeo linguiacutestica satisfatoacuteria entre eles
O ponto de encontro com seus colegas fica na parte central da comunidade que tem
um campo de futebol Laacute eles se concentram embaixo de uma aacutervore Neste lugar o surdo
costuma ficar quase diariamente com intuito de se unir e brincar com os colegas Ele usa os
sinais caseiros com expressotildees com a intenccedilatildeo de conseguir se comunicar com os colegas
Poreacutem alguns natildeo conseguem entender enquanto outros falam a Liacutengua Satereacute-Maweacute
Apesar do esforccedilo do surdo de tentar compreender o que eacute falado via a leitura labial na
maioria das vezes natildeo consegue compreender Poreacutem mesmo assim sinaliza balanccedilando a
cabeccedila com expressatildeo de concordacircncia afirmativa mesmo natildeo entendendo a mensagem
Tabela 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa
Maria
SINAIS CASEIROS
COLETADOS
DESCRICcedilAtildeO
AacuteGUARIO Usam-se as duas matildeos fazendo a expressatildeo de banzeiro
ANTA Matildeo direita fazendo a expressatildeo do focinho do nariz
AacuteRVORE As matildeos abertas fazendo expressatildeo de segurar o troco ao mesmo tempo
levando para cima
BARCO Usa a matildeo direita fechada fazendo expressatildeo de abrir e fechar a matildeo
como sinal de fumaccedila
BANHO Fazer a expressatildeo de pular na aacutegua com os braccedilos esticados
CASA As duas matildeos palmas para baixo fazendo um balanccedilo de movimento de
uma rede
CACcedilAR PEIXE Matildeo direita fazer expressatildeo de soltar o arpatildeo
CUIA As duas matildeos juntas fazer a expressatildeo de raspar a cuia
COCO Fazer a expressatildeo de tirar o coco com a vara
COMIDA As duas matildeos levando ateacute a boca
76
Fonte Azevedo (2014)
Figura 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa Maria
(30 sinais coletados)
COBRA Matildeo direita fazendo a expressatildeo da picada da cobra
FACA Matildeo direita fachada fazendo a expressatildeo de furar alguma coisa para
baixo
FLECHA Fazer a expressatildeo de jogar a flecha
FORMIGA Matildeo direita com os dedos beliscando o braccedilo esquerdo
FOME Matildeo direita levando em direccedilatildeo da barriga fazendo expressatildeo facial de
fome
FARINHA As duas matildeos fazer a expressatildeo de fazer farinha
GUARANAacute Fazer a expressatildeo de ralar o guaranaacute
JACAREacute Os dois indicadores das matildeos fazendo expressatildeo de dentes grandes do
jacareacute
LANCHA As duas matildeos dedos juntos fazer a expressatildeo de uma accedilatildeo raacutepida para
frente
MACACO Com braccedilos abertos fazer a expressatildeo de macaco
MALOCA As duas matildeos com os dedos encostados puxar para os lados opostos
MANDIOCA Fazer expressatildeo de descascar algum
ONCcedilA Com as matildeos fazer pintas no rosto
PAI As duas matildeos esfregando os indicadores
PEIXE Faz se expressatildeo de descamar o peixe
PILAtildeO As duas matildeos juntas fazendo a expressatildeo de socar a crueira
POTE AacuteGUA As duas matildeos juntas palmas para cima elevando para cima em curvas
onduladas
PASSAacuteRO As duas matildeos fazendo o movimento de paacutessaro
PESSOA Matildeo direita fazendo a expressatildeo de pegar no cabelo
TIPITI As duas matildeos fazendo a expressatildeo de espremer algum
PENEIRAR As duas matildeos em forma letra A fazer expressatildeo de balanccedilar o objeto
AacuteGUA ANTA AacuteRVORE
VIAGEM BANHO
77
VIAJAR
CASA CACcedilAR ALIMENTO CUIA
COCO COMIDA
FACA
FARINHA
FORMIGA
GUARANAacute
FOME
FACA
FLECHA
78
JACAREacute LANCHA
MACACO
MANDIOCA ONCcedilA
MALOCA PAI
POTE DE AacuteGUA PILAtildeO
LANCHA JACAREacute
PEIXE
79
452 O segundo surdo da Comunidade de Santa Maria
O segundo surdo visitado um senhor adulto com identidade natildeo revelada residindo na
Comunidade de Santa Maria Eacute um cidadatildeo reservado e fechado para desconhecidos Como
nossa equipe era composta de 05 profissionais sendo 03 (trecircs) professores indiacutegenas que me
acompanharam para serem facilitadores linguiacutesticos e um colaborador local para captar as
imagens ficarmos 04 (quatro) dias na comunidade para observaccedilotildees Apesar do tempo o
investido para conseguir o contato o mesmo se mostrou irredutiacutevel e natildeo se dispos a
conversar conosco Observa-se que mora sozinha e eacute raro ele se manifestar na comunidade
Pela histoacuteria contada a seu respeito apesar de natildeo se comunicar manteacutem sua residecircncia de
maneira organizada cultiva de algumas plantaccedilotildees como mandioca banana guaranaacute aleacutem de
produzir farinha tambeacutem faz pescaria para se alimentar Foi relatado que ajuda alguns
vizinhos e amigos com o que produz aleacutem de ser experiecircncia em matildeo de obra na confecccedilatildeo
de trepadeira silvestre que facilita subir nas aacutervores coqueiros e accedilaizeiros
PASSAacuteRO PESSOA COBRA
TIPITI PENEIRAR
80
Sobre o contexto educacional tendo como tema central a educaccedilatildeo escolar indiacutegena
o professor Jesiel (2014)28
(que eacute indiacutegena e concluiu o curso de pedagogia intercultural na
Universidade do Estado do Amazonas localizado no municiacutepio de Maueacutes) argumentou que o
territoacuterio Satereacute-Maweacute eacute muito grande sendo longa a distacircncia para se chegar na zona
urbana ateacute de forma que mesmo o deslocamento de uma comunidade para outra dificulta os
indiacutegenas irem para a escola Estas segundo o educador referido satildeo algumas razotildees que
impedem muitos indiacutegenas de estudarem na medida em que acarreta prejuiacutezo para a famiacutelia
especialmente de perda de tempo principalmente para os adultos que tem compromisso no
campo e com a comunidade
Para solucionar este problema devido a distacircncia as famiacutelias e os liacutederes indiacutegenas
possuem propostas e lutas para a construccedilatildeo de escolas nas aldeias o que facilitaria o acesso
dos surdos indiacutegenas da comunidade na escola E ao considerar que o indiacutegena surdo
compreende e se comunica com seus pares atraveacutes de gestos e sinais caseiros de forma que
aleacutem de sua liacutengua nativa haacute outros meios para que o surdo possa se comunicar isso aponta
para a necessidade da criaccedilatildeo de propostas de acesso agrave educaccedilatildeo dessas pessoas Dessa
maneira foram catalogados alguns sinais utilizados por esse surdo adulto da Comunidade de
Santa Maria apresentado abaixo
Tabela 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais antigo residente isolado na
comunidade de Santa Maria no Rio Marau ( 18 sinais coletados)
28
As famiacutelias e os liacutederes indiacutegenas possuem propostas e lutas para a construccedilatildeo de escolas nas aldeias para a
facilitaccedilatildeo do acesso dos surdos indiacutegenas na comunidade e na escola O indiacutegena surdo apesar de natildeo ouvir
compreende e comunica com seus pares atraveacutes de gestos e sinais caseiros que aleacutem de sua liacutengua nativa haacute
outros meios para que o surdo possa se comunicar Isso contribui para a criaccedilatildeo de propostas de acesso agrave
educaccedilatildeo dessas pessoas Dessa maneira foram catalogados alguns sinais utilizados por esse surdo adulto da
Comunidade de Santa Maria apresentado abaixo
A contribuiccedilatildeo do professor indiacutegena Jesiel Santos foi de suma importacircncia para a coleta de dados nesta
pesquisa visto que atraveacutes dele que conseguimos chegar ateacute a comunidade de Santa Maria afim de termos os
contatos na comunidade
SINAIS CASEIROS DESCRICcedilAtildeO
ARCOFECHA As duas matildeos com expressatildeo de utilizar um arco com flecha
AacuteGUA Matildeo direita com utilizando somente o dedo polegar fazer a expressatildeo de
beber algum
BANHO Os braccedilos e matildeos esticadas fazer a expressatildeo de se soltar no rio
BEIJU As duas matildeos fazendo um circulo e em seguida levar ateacute a boca
CIGARRO A posiccedilatildeo para traduzir este sinal satildeo as duas matildeos em posiccedilatildeo dos dedos
polegar e indicador juntos fazendo expressatildeo de fazer um cigarro caseiro
CASA As duas matildeos com os dedos esticados fazer a expressatildeo de formato de uma
casa
COBRA A matildeo direita com os dedos indicador e polegar encostados fazer a expressatildeo
de beliscar o pulso de antebraccedilo
FARINHA Matildeos com os dedos todos juntos fazer a expressatildeo com o movimento de
81
Figura 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo idoso na comunidade de Santa Maria
soltar a farinha
FORNO DE ASSAR Matildeo direita fazendo um semiciacuterculo de com a caracteriacutestica de um forno de
barro
GARREIRA As duas matildeos juntas fazer a expressatildeo repetidamente de amassar uma massa
JACAREacute As duas matildeos pegando os dentes
LUVA DA TUCANDEIRA Fazendo a expressatildeo de usar uma luva de palha e fazer a expressatildeo de dor da
ferrada da tucandeira
MANDIOCA Usar o antebraccedilo esquerdo com a matildeo direita como um material cortante
fazendo a expressatildeo de descascar
MACACO Os dois braccedilos e corpo fazendo a expressatildeo do movimento caracteriacutestico do
macaco
PAJEacute As duas matildeos fazendo a expressatildeo de segurar algum e balanccedilar
PAacuteSSARO Fazer a expressatildeo de balanccedilar os braccedilos caracterizando o movimento de um
paacutessaro
TIPITI As duas matildeos fazendo o movimento de espremer a mandioca
TERRASOLO Matildeo direita fazendo expressatildeo de um pequeno monte de terra
ARCOFECHA BEBER
LIacuteQUIDOAacuteGUA
BEIJUCOMER COBRA
FARINHA FERRADA DA TUCANDEIRA MALOCACASA ESCOLA
ARCOFLECHA BEBER LIQUIDOAacuteGUA BANHOPULAR NA AacuteGUA
AacuteAacuteGUA
CIGARRO
82
FORNO DE ASSAR
JACAREacute
LUVA DA TUCANDEIRA MACACO
PAJEacute
TIPITI TERRA
GAREIRA
MANDIOCA
PAacuteSSARO
(( ))
JACAREacute
83
5 ICONICIDADE E ARBITRARIEDADE NA CRIACcedilAtildeO DOS SINAIS CASEIROS
Nos anos 60 a partir dos trabalhos de Stokoe (1960) foi comprovado que as Liacutenguas
de Sinais satildeo linguas Estas satildeo liacutenguas naturais com ldquoestrutura gramatical proacutepria em seus
niacuteveis fonoloacutegico (ou queroloacutegico) morfoloacutegico sintaacutetico e semacircntico aleacutem de seus aspectos
pragmaacuteticosrdquo
De acordo com Quadros (2006 p 221)
pelo fato de as liacutenguas de sinais natildeo serem faladas e de natildeo terem o seu coacutedigo
escrito ainda popularizado entre os surdos natildeo as elimina das consideraccedilotildees
cientiacuteficas visto que apresentam uma organizaccedilatildeo estrutural e fazem parte da
constituiccedilatildeo cultural desses sujeitos ndash crescendo envolvendo e transmitindo
dinamicamente tradiccedilotildees socioculturais Portanto as liacutenguas de sinais fazem parte
do conjunto da linguagem humana com a diferenccedila de se apresentarem em uma
terceira modalidade a visuo-espacial
Reiterando-se que a Liacutengua de Sinais eacute uma liacutengua natural uma vez que estaacute veiculada
a um canal que natildeo eacute o oral-auditivo e sim visual esta garante uma percepccedilatildeo e articulaccedilatildeo
mais faacutecil mais coerente e confortaacutevel aleacutem de contribuir para o desenvolvimento linguiacutestico
cognitivo e social do surdo
Sobre as caracteristicas linguiacutesticas das Liacutenguas de Sinais vale ressaltar que Sousa
(2010) ao tratar dos aspectos visuais quanto agraves propriedades das Liacutenguas de Sinais enfatiza a
iconicidade e arbitrariedade relacionada ao signo linguiacutestico que satildeo inerentes agraves liacutenguas
naturais Sobre as definiccedilotildees dos fenocircmenos das liacutenguas estes remontam a eacutepoca de Platatildeo
filoacutesofo grego que tratava os fenocircmenos sobre a linguagem e a relaccedilatildeo dela com o mundo
Cita-se tambeacutem Craacutetilo Hermoacutegenes e Soacutecrates que foram interlocutores desta relaccedilatildeo
discutindo a ligaccedilatildeo existente entre nome ideia e coisa A abordagem dos trecircs se diferenciava
de forma que Craacutetilo defendia o conceito de iconicidade Hermoacutegenes de arbitrariedade
Soacutecrates por seu turno integrava as duas concepccedilotildees Esta diferenciaccedilatildeo tecido pelos trecircs
filosofos pode ser vislumbrada no trecho transcrito abaixo
Para Craacutetilo a liacutengua eacute o espelho do mundo o que significa que existe uma relaccedilatildeo
natural e portanto similar ou icocircnica entre os elementos da liacutengua e os seres por
eles representados Para Hermoacutegenes a liacutengua eacute arbitraacuteria isto eacute convencional pois
entre o nome e as ideias ou as coisas designadas natildeo haacute transparecircncias ou
similaridade Soacutecrates por sua vez tem o papel de fazer a integraccedilatildeo entre os dois
pontos de vista (WILSON amp MARTELOTTA 2010 apud SOUSA 2010 p 4)
84
A modalidade gestual-visual espacial pela qual a Liacutengua de Sinais eacute produzida e
reconhecida pela comunidade Surda leva muitas vezes as pessoas a pensarem que todos os
sinais satildeo desenho no ar do referente que representam Para melhor esclarecimento por
decorecircncia de sua natureza linguiacutestica a realizaccedilatildeo de um sinal pode sim ser motivada pelas
caracteriacutesticas do dado da realidade a que se refere poreacutem natildeo eacute regra Ou seja a maioria dos
sinais da LIBRAS eacute arbitraacuteria natildeo mantendo relaccedilatildeo de semelhanccedila alguma com seu
referente Portanto essa condiccedilatildeo possibilita o enriquecimento da flexibilidade e versatilidade
da liacutengua (BASSO 2011 p47)
Exemplos de sinais arbitraacuterios
Figura 6 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos que se refere agrave
arbitrariedade
BISCOITO PESSOA DESCULPA
Fonte Azevedo (2014)
A ideia de arbitrariedade da liacutengua se relaciona com a ideia de convenccedilatildeo que se
efetiva em todas as liacutenguas como Liacutengua de Sinais e na Liacutengua Portuguesa ilustra-se o
processo com os exemplos das palavras ldquobiscoitordquo ldquodesculperdquo e ldquopessoardquo O processo de
definiccedilatildeo destes termos ocorre de forma arbitraacuteria pois soacute nomes foram atribuiacutedos devido a
uma convenccedilatildeo que estabelece esse conceito e natildeo porque haacute uma relaccedilatildeo entre o som da
palavra e o objeto que ela designa (SALLES 2007 p 5)
No caso da Libras os exemplos citados de sinais foram criados sem sofrer influecircncia
da imagem dos objetos aos quais eles se referem O que mostra que mesmo que a Libras
tambeacutem apresenta a caracteriacutestica de arbitraacuterios (TEIXEIRA 2015 p 5)
Para compreender melhor a importacircncia da visualidade na Liacutengua de Sinais dos
Satereacute-Maweacute eacute relevante entender trecircs conceitos da teoria de Pierce sobre a iconicidade que
pode ser considerada a base dos sinais dessa comunidade os quais satildeoo siacutembolo o iacutendice e o
iacutecone Segundo Martelotta (2011) (apud TEIXEIRA 2015 p 2)
85
O siacutembolo de acordo com Peirce refere-se a determinado objeto representando-o
com base em uma lei haacutebito ou convenccedilatildeo estabelecendo uma relaccedilatildeo entre dois
elementos Para citar alguns exemplos a cruz eacute o siacutembolo do cristianismo e a
balanccedila o siacutembolo da justiccedila Uma caracteriacutestica importante do siacutembolo relaciona-se
ao fato de que ele eacute parcialmente motivado ou seja haacute entre o siacutembolo e o conteuacutedo
simbolizado alguns traccedilos relacionados ao objeto
Haacute uma diferenccedila fundamental entre o siacutembolo de um lado e o iacutendice e o iacutecone de
outro jaacute que nesses dois uacuteltimos haacute um niacutevel ainda menor de arbitrariedade No caso
do iacutendice ocorre uma relaccedilatildeo de contiguidade com a realidade exterior a fumaccedila
por exemplo eacute o iacutendice do fogo e a presenccedila de nuvens negras o iacutendice de chuva
iminente
O iacutecone por sua vez tem uma natureza imagiacutestica apresentando portanto
propriedades que se assemelham ao objeto a que se refere A fotografia de um
indiviacuteduo por exemplo eacute uma representaccedilatildeo icocircnica desse indiviacuteduo assim como o
mapa do Rio de Janeiro representa a cidade Assim um iacutecone eacute qualquer coisa que
seja utilizada para designar algo que lhe seja semelhante em algum aspecto
Nesta perspectiva Quadros (1997) traz a reflexatildeo sobre os efeitos da modalidade ou
seja o fato de a Liacutengua de Sinais serem visuoespacial em vez de auditiva-oral implica nas
diferenccedilas para a aquisiccedilatildeo do surdo e nesse sentido tem-se a questatildeo da iconicidade das
Liacutenguas de Sinais uma vez que a iconicidade se refere
A transparecircncia entre significado e o significante ou seja a relaccedilatildeo de identidade
entre a palavra (o sinal) e o seu sentido Por exemplo nas liacutenguas faladas agraves
onomatopeias satildeo consideradas por alguns autores como icocircnicas pois a produccedilatildeo
sonora bdquoreal‟ (do objeto ou do animal) eacute reproduzida na fala expressando certa
identidade (QUADROS 2011 p 22)
Vale ressaltar que a iconicidade vem sendo estudada a partir da pesquisa semioacutetica de
Charles Sanders Peirce (1999) filoacutesofo norte-americano contemporacircneo de Saussure
Segundo Teixeira (2015) Peirce em seus estudos sobre a Semioacutetica o signo tem a funccedilatildeo de
proporcionar uma ideia do mundo e tudo que cerca o indiviacuteduo estaacute rodeado de signos Como
explica o filoacutesofo
[] para que algo possa ser um Signo (expressatildeo ou representamento) esse algo
deve bdquorepresentar‟ [] alguma outra coisa chamada seu Objeto apesar de ser talvez
arbitraacuteria a condiccedilatildeo segundo a qual um Signo deve ser algo distinto de seu objeto
(PEIRCE 1999 apud TEIXEIRA 2015 p 5)
Ao direcionar essas definiccedilotildees para agraves liacutenguas de sinais Sousa (2010) afirma que
muitas vezes essas liacutenguas satildeo consideradas puramente icocircnicas por serem de uma
modalidade diferente acreditando-se acredita que os sinais satildeo criados sempre a partir da
86
representaccedilatildeo do referente Eacute certo que um sinal pode ser realizado de acordo com a
caracteriacutestica daquilo que se refere mas de acordo com Strobel amp Fernandes (1998 apud
Sousa 2010 p 4) ldquoisto natildeo eacute uma regra jaacute que a maioria dos sinais em Libras eacute arbitraacuterio ou
seja natildeo manteacutem uma relaccedilatildeo de similitude com o referenterdquo
Reconhece-se que algumas Liacutenguas de Sinais parecem ter maior motivaccedilatildeo icocircnica
apresentando relaccedilotildees entre a sua forma e o seu significado comumente observado nas
Liacutenguas de Sinais caseiras dos Satereacute-Maweacute Isso significa a relaccedilatildeo entre o referente e o
referenciado Alguns estudos como os de Meier (1981) citado por Lillo-Martin (1986)
apontam para uma aparente iconicidade nas liacutenguas de sinais o que justifica considerar as
variaccedilotildees regionais e sociais e as mudanccedilas histoacutericas como fenocircmenos identificaacuteveis na
Liacutengua Brasileira de Sinais o que lhe confere o caraacuteter natural (STROBEL amp FERNANDES
1998 apud SOUSA 2010)
Nesse contexto a iconicidade como caracteriacutesticas semelhantes ao iacutecone tem em
comum o objeto que representa Por ser uma liacutengua de modalidade visuoespacial a
iconicidade estaacute presente em grande parte dos sinais da Libras pois a relaccedilatildeo entre a ldquoformardquo
e o ldquosentidordquo eacute mais visiacutevel Salles (2007) em bdquoEnsino de liacutengua portuguesa para surdos
caminhos para a praacutetica pedagoacutegica‟ comenta
Um aspecto que se sobressai no contraste entre as modalidades viacutesuo-espacial e oral-
auditiva eacute a questatildeo da arbitrariedade do signo linguiacutestico Esse conceito estabelece
que na constituiccedilatildeo do signo linguiacutestico a relaccedilatildeo entre o significante (imagem
acuacutestico-focircnica) e o significado eacute arbitraacuteria isto eacute natildeo existe nada na forma do
significante que seja motivado pelas propriedades da substacircncia do conteuacutedo
(significado) Uma caracteriacutestica das liacutenguas de sinais eacute que diferentemente das
liacutenguas orais muitos sinais tecircm forte motivaccedilatildeo icocircnica Natildeo eacute difiacutecil supor que esse
contraste se explique pela natureza do canal perceptual na modalidade viacutesuo-
espacial a articulaccedilatildeo das unidades da substacircncia gestual (significante) permite a
representaccedilatildeo icocircnica de traccedilos semacircnticos do referente (significado) o que explica
que muitos sinais reproduzam imagens do referente na modalidade oral-auditiva a
articulaccedilatildeo das unidades da substacircncia sonora (significante) produz sequecircncias que
em nada evocam os traccedilos semacircnticos do referente (significado) o que explica o
caraacuteter imotivado ou arbitraacuterio do signo linguiacutestico nas liacutenguas orais (SALLES
2007 p 83)
Todavia os mesmos sinais icocircnicos possuem um grau de arbitrariedade na definiccedilatildeo
dos mesmos como explica Frydrych (2012)
Pode haver contudo sinais com diferentes graus de iconicidade Um sinal pode natildeo
se assemelhar ao objeto que representa pela forma mas apresentar de alguma
forma uma similaridade por meio de expressotildees faciais ou movimentos Um
exemplo eacute o sinal ldquotristerdquo que possui como configuraccedilatildeo de matildeo o sinal Y
localizada abaixo do queixo em movimento de meia lua O sinal nada tem a ver
com o que a palavra representa no entanto a expressatildeo facial de tristeza que
acompanha o sinal daacute indiacutecios de que seu significado pode natildeo ser muito agradaacutevel
87
[] Falar de sinais icocircnicos em Libras pode parecer comum no entanto o sinal de
ldquocasardquo por exemplo motivado pelo formato do telhado de uma casa eacute tambeacutem
usado para o sinal de ldquomorarrdquo que pode ser usado para ldquomoradiardquo em diferentes
formatos de residecircncia como por exemplo casa apartamento cabana etc Embora o
sinal possa ter sido motivado na sua criaccedilatildeo por um tipo de casa passou a ser usado
de forma muito mais abrangente Sendo isto muito comum nas liacutenguas de sinais Os
sinais passam a ser signos linguiacutesticos altamente arbitraacuterios e passam a integrar o
leacutexico da liacutengua (Apud PIVETTA et al 2013 p8)
Como tambeacutem salienta Silva (2012) que ao passar do tempo o sinal icocircnico perde sua
motivaccedilatildeo inicial passando a ser arbitraacuterio
[] a transparecircncia eacute relativa porque a forma dos objetos ou movimentos que
originaram o sinal pode variar no tempo perdendo a sua motivaccedilatildeo inicial Um
exemplo eacute o sinal ldquoleiterdquo que faz referecircncia ao ato de ordenha que hoje ainda pode
ser considerado um sinal icocircnico Todavia para as futuras geraccedilotildees a motivaccedilatildeo de
sua representaccedilatildeo tende a se tornar uma convenccedilatildeo o que faz com que o sinal passe
a ser arbitraacuterio e de valor simboacutelico Sinais como o de ldquoleiterdquo satildeo frutos de um
processo histoacuterico e com o passar do tempo natildeo representam mais os artefatos e
procedimentos atuais sendo percebidos e interpretados apenas por meio da
arbitrariedade e da convenccedilatildeo(Apud PIVETTA et al 2013 p8)
A seguir temos alguns exemplos de sinais icocircnicos na Libras satildeo os sinais ldquoaacutervorerdquo
ldquocadeirardquo ldquocasardquo constituiacutedos a partir de caracteriacutesticas da imagem dos objetos aos quais se
referem Enquanto o primeiro lembra a imagem do tronco e das folhas de uma aacutervore o
segundo lembra as pernas de uma pessoa representadas pelos dedos indicador e meacutedio e a
terceira lembra a imagem de um telhado ou de uma casa sentada no objeto em questatildeo
(SALLES 2007 p 83)
Figura 7 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos aos quais se referem a
iconicidade
Fonte Azevedo (2014)
AacuteRVORE CADEIRA CASA
88
Figura 8 Caracteriacutesticas da imagem em Liacutengua de Sinais Satereacute-Maweacute dos objetos aos
quais se referem agrave iconicidade
Yara Wato Barco Libras
Fonte Azevedo (2014)
Man Beiju Libras
Fonte Azevedo (2014)
Kamunti hit Bilha Libras
Fonte Azevedo (2014)
89
Dessa maneira podem-se definir os sinais icocircnicos como aqueles que fazem alusatildeo agrave
imagem do seu significado natildeo implicando que todos os sinais satildeo iguais ou sinais icocircnicos
em todas as Liacutengua de Sinais cada grupo social absorve aspectos diferentes da imagem do
referente convencionando a representaccedilatildeo do sinal Os signos arbitraacuterios satildeo os que natildeo
trazem nenhuma relaccedilatildeo de semelhanccedila com o referente
90
6 INTERVENCcedilAtildeO E CONTRIBUICcedilAtildeO LINGUIacuteSTICA DO PROFESSOR SURDO
Os estudos sobre a educaccedilatildeo sistemaacutetica dos indiacutegenas surdos da etnia Satereacute-Maweacute
levaram agrave percepccedilatildeo da necessidade iminente de uma atuaccedilatildeo no processo ensino
aprendizagem desses sujeitos Desse modo apoacutes conhecer a realidade linguiacutestica e
educacional dos indiacutegenas surdos observados nas aldeias e na zona urbana de Parintins foi
possiacutevel intervir por meio do ensino da Liacutengua Brasileira de Sinais A intervenccedilatildeo foi feita
com o consentimento dos responsaacuteveis locais onde se faziam presentes acompanhando o
objeto da pesquisa - os indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute
Assim com a autorizaccedilatildeo da famiacutelia o primeiro contato foi estabelecido entre uma
crianccedila surda indiacutegena com professor tambeacutem surdo que ocorreu na residecircncia dela na zona
urbana do municiacutepio de Parintins cujo registro de imagem consta na Figura 9
Figura 9 Encontro da crianccedila surda Satereacute-Maweacute com o professor surdo
Fonte Azevedo (2014)
No contato foi possiacutevel verificar que a crianccedila natildeo conhecia a liacutengua Libras Sua
forma de comunicaccedilatildeo era com o uso dos siacutembolos ldquocaseirosrdquo Contudo ela respondeu ao
estiacutemulo de conversaccedilatildeo com muita facilidade buscando fazer a comunicaccedilatildeo As demais
observaccedilotildees e intervenccedilatildeo deram-se no ambiente educacional na Escola de Aacuteudio e
Comunicaccedilatildeo Padre Paulo Manna (Figura 10) Nesse contexto a crianccedila acompanhava com
atenccedilatildeo ao desempenho dos demais pares sempre atenta para compreensatildeo do conteuacutedo
comunicativo Ficou evidente a necessidade de um material de suporte escrito como recurso a
ser utilizado pelos docentes no processo ensino e aprendizagem
91
Figura 10 Contato com aluno Satereacute-Maweacute surdo no ambiente escolar
Fonte ndash Azevedo (2014)
Ocorreu tambeacutem o contato com o aluno surdo da Etnia Satereacute-Maweacute matriculado na
Escola Estadual Brandatildeo de Amorim em Parintins o qual foi feito em sua residecircncia dele A
conversa com ele foi feita fluentemente em Libras (Figura 10) Entretanto ao ser indagado
sobre a cultura a liacutengua falada de sua etnia natildeo soube responder Comprovou-se que o aluno
natildeo participa do contexto cultural da etnia por isso natildeo a conhece Por tal considera-se que o
material triliacutengue seria um recurso apropriado para promover o reconhecimento de muitos
signos que fazem parte da Liacutengua Satereacute-Maweacute
Figura 11 Contato com o aluno surdo Satereacute-Maweacute na Escola Estadual Brandatildeo de Amorim
Fonte ndash Azevedo (2014)
O contato com os familiares juntamente com professores indiacutegenas e inteacuterprete
linguiacutestica possibilitou ter uma visatildeo sobre o contexto comunicativo do indiacutegena surdo A
conversa com o pai do indiacutegena surdo na Aldeia de Santa Maria indicou a forma como
conseguem se comunicar com o filho desde o momento que perceberam que ele era surdo
Explicaram as dificuldades que tiveram no processo de entendimento com ele Confirmaram
92
que o aprendizado da liacutengua Libras indicando os signos que representam a cultura da etnia
seria muito importante para a comunicaccedilatildeo entre ele e os familiares eou educadores
Figura 12 Em viagem para aacuterea indiacutegena no Rio Marau ndash comunicaccedilatildeo com familiares
Fonte - Azevedo (2014)
O projeto da pesquisa foi apresentado na comunidade de Santa Maria para os
representantes da comunidade indiacutegena (Figura 12)
Figura 13 Apresentaccedilatildeo do projeto de pesquisa agraves lideranccedilas indiacutegenas na comunidade
Fonte Azevedo (2014)
Ressalta-se a importacircncia das lideranccedilas conhecerem e participarem do desenvolvimento
do projeto A relevacircncia desta participaccedilatildeo daacute-se em funccedilatildeo de que as mesmas contribuiram
informando vocabulaacuterios caracteristicos da regiatildeo que enriqueceram o minidicionaacuterio
triliacutengue Satereacute-MaweacutePortuguecircsLibras como pode ser evidenciado a seguir
93
Vocabulaacuterios e utensiacutelios indiacutegenas sinalizados em Libras
Liacutenguas
Satereacute-Maweacute Portuguecircs Libras
Mory‟ywat siomory‟awat Arco
Satereacute-Maweacute Portuguecircs Libras
T wa Aldeia
Ressalta-se a importacircncia do minidicionaacuterio ao considerar que o vocabulaacuterio contido no
mesmo poderaacute ser utilizado pelo indiacutegena surdo para ele aprenda a comunicaccedilatildeo utilizando os
signos que fazem parte da linguagem da etnia
E realizando uma mini oficina de Libras para professores da comunidade (Figura 6)
foi possiacutevel demonstrar o uso da Libras no contexto da sala de aula A participaccedilatildeo efetiva dos
mesmos proporcionou a troca de informaccedilotildees sobre o vocabulaacuterio da liacutengua indiacutegena
94
Figura 14 Desenvolvimento de oficina de Libras com professores indiacutegenas
Fonte Azevedo (2014)
Enfatiza-se que todo empenho em levar o conhecimento da Liacutengua Brasileira de Sinais
para os indiacutegenas surdos professores indiacutegenas familiares de surdos e comunidade manteve-
se em funccedilatildeo do ensejo de fazecirc-los conhecer e compreender a capacidade e modos dos
indiacutegenas surdos se comunicarem aleacutem de promover a aprendizagem da Libras em um lugar
de tatildeo difiacutecil acesso com pequenas escolas que sequer tecircm materiais didaacuteticos adaptados a
essa clientela Por este motivo considera-se que a contribuiccedilatildeo linguiacutestica em forma de um
minidicionaacuterio eacute um passo importante para levar aos indiacutegenas surdos a sua comunidade e o
nuacutecleo familiar destes o iniacutecio do resgate da sua liacutengua natural que eacute a Liacutengua Brasileira de
Sinais e a sua liacutengua nativa aleacutem de seus traccedilos culturais incluiacutedos no minidicionaacuterio
61 Libras e Liacutengua Satereacute-Maweacute intercacircmbio de construccedilatildeo sociocultural-linguiacutestico
Analisando a histoacuteria do povo surdo e do povo indiacutegena percebe-se uma trajetoacuteria
similar nas lutas por seus direitos culturais e linguiacutesticos Ambos tentam
fortalecer o conhecimento da proacutepria histoacuteria com seus acertos desacertos conflitos
e sucessos buscando a compreensatildeo do ator social como sujeito da histoacuteria e
possibilitando assim a construccedilatildeo de um projeto poliacutetico articulado com outros
setores que incremente as possibilidades de construccedilatildeo dos proacuteprios projetos de
uma vida melhor (HERNAIZ 2009)
Neste sentido destaca-se que esses indiviacuteduos satildeo esquecidos na realidade cultural do
paiacutes como se natildeo existissem enquanto cidadatildeos que tem as suas formas de produzir no
contexto social Mudar esta realidade faz-se fundamental Para tal Guerreiro (2009 p93)
argumenta que
Os direitos culturais satildeo por sua vez um campo complexo que inclui vaacuterios
conjuntos de direitos e garantias entre os quais me interessa destacar para essa
reflexatildeo os seguintes o reconhecimento da diversidade o exerciacutecio da identidade
como povos o uso restrito do idioma uma educaccedilatildeo proacutepria e o respeito pelo
patrimocircnio cultural
95
Os processos culturais linguiacutesticos entre os povos surdos e indiacutegenas surdos eacute uma
possibilidade bem proacutexima atraveacutes do intercacircmbio sociocultural-linguiacutestico que estaacute sendo
construiacutedo pois o surdo indiacutegena faz parte da cultura surda e tem cacircmbio com a cultura
indiacutegena e em muitos casos com a cultura do povo ouvinte
Todavia alguns aspectos da cultura surda satildeo desconhecidos pelo proacuteprio surdo
indiacutegena Por isso a necessidade de surdos indiacutegenas se relacionarem com seus semelhantes
surdos seja indiacutegena ou natildeo indiacutegena para que atraveacutes deste contato possa construir sua
identidade cultural da comunidade surda tornando conhecida sua cultura tribal por meio da
liacutengua de instruccedilatildeo a Libras No exemplo abaixo ilustra-se a percepccedilatildeo dessa realidade
Man ype Crueira Libras
Kui‟a Cuia Libras
Dessa forma conhecendo valorizando e respeitando sua cultura que eacute um patrimocircnio
cultural da sociedade
Logo a liacutengua em uso pelos iacutendios surdos seja ela a Liacutengua de Sinais Indiacutegena
ldquosinais emergentesrdquo ou a Liacutengua Brasileira de Sinais (como empreacutestimo sociocultural-
linguiacutestico) e a Liacutengua Satereacute-Maweacute devem ser valorizadas com respeito muacutetuo na
transmissatildeo de sua cultura Os indiviacuteduos que precisam se comunicar por meio delas lutam
96
pelo fortalecimento dessa inserccedilatildeo cultural pela construccedilatildeo de um futuro melhor e pelo
respeito aos direitos dos iacutendios localizados neste vasto territoacuterio Nesse sentido
A identidade cultural requer tambeacutem ela a alteridade como dialogicidade
intercultural No seu proacuteprio interior ela natildeo eacute nunca algo de compacto mas
apresenta toda uma seacuterie de relaccedilotildees no plano sincrocircnico e diacrocircnico com outras
culturas que lhes datildeo vida justamente pela sua diversificaccedilatildeo e discordacircncia por
mais que ela se obstine em realizar-se mediante a identificaccedilatildeo com alguns de seus
aspectos apenas com algumas formas culturais determinadas que se arvoram
oficiais e dominantes (PONZIO 2007 p179)
Para estes estudos a uniatildeo de esforccedilos que viabilizou a realizaccedilatildeo deste diagnoacutestico eacute
uma demonstraccedilatildeo clara de que eacute perfeitamente possiacutevel trilhar no mundo linguiacutestico
possibilitando a cada indiacutegena novos horizontes na comunicaccedilatildeo
97
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A presente pesquisa teve como foco principal o levantamento de indiacutegenas surdos nas
microrregiotildees do municiacutepio de Parintins da etnia Satereacute-Maweacute
Com base nas informaccedilotildees levantadas nas terras indiacutegenas e nas cidades onde vivem
os Satereacute-Maweacute evidenciou-se que as escolas de zonas rurais e comunidades que o iacutendio
surdo requenta natildeo possui uma educaccedilatildeo diferenciada especiacutefica a sua especificidade
A realidade encontrada no municiacutepio de Parintins para com os alunos iacutendios surdos
por ser em zona urbana jaacute apresenta um diferencial A escola dispotildee de sala de recursos para
alunos indiacutegenas surdos poreacutem dentro dessa realidade haacute falta de professores que dominem a
liacutengua nativa Satereacute-Maweacute para que a escola proporcione um aprendizado triliacutengue Liacutengua
Brasileira de Sinais Liacutengua Satereacute-Maweacute e Liacutengua Portuguesa na modalidade escrita
Nas escolas visitadas onde encontramos surdos foi observado falta de mateacuterias
visuais sala de recursos com atendimentos diferenciados para os alunos indiacutegenas surdos e
indiacutegenas surdos
Foram considerados no decorrer do texto aspectos da contextualizaccedilatildeo em que se deu
a pesquisa desde as discussotildees que antecederam a elaboraccedilatildeo do projeto passando pelas
parcerias que foram estabelecidas no decorrer do processo especialmente com as vaacuterias
organizaccedilotildees indiacutegenas Satereacute-Maweacute ateacute o desenvolvimento das condiccedilotildees que garantiram a
plena participaccedilatildeo da comunidade no decorrer das atividades de pesquisa Partindo da
enumeraccedilatildeo dos principais objetivos do projeto o relatoacuterio apresenta as aacutereas e localidades
cobertas o nuacutemero de domiciacutelios levantados e de moradores entrevistados assim como a
metodologia utilizada a operacionalizaccedilatildeo das atividades de campo o treinamento dos
entrevistadores o levantamento nas cidades e nas terras indiacutegenas a forma e a intensidade
como se desenvolveu a participaccedilatildeo das lideranccedilas e da comunidade como um todo
Durante a pesquisa a sociedade indiacutegena e natildeo indiacutegena juntamente com profissionais
da educaccedilatildeo da linguiacutestica e a proacutepria comunidade surda acompanharam a perspectiva para
uma nova trajetoacuteria destes os iacutendios surdos a qual reflete o reconhecimento linguiacutestico destes
como pessoas pertencentes agraves minorias linguiacutesticas
Ao analisar as questotildees linguiacutesticas nas aacutereas indiacutegenas das microrregiotildees de Parintins
verificou-se que a implantaccedilatildeo deste empreendimento representou como um novo modelo de
desenvolvimento para a comunicaccedilatildeo de indiacutegenas surdos nas comunidades indiacutegenas
98
Ressalta-se que cada municiacutepio onde existem membros da etnia Satereacute receberaacute como
retorno da pesquisa um minidicionaacuterio triliacutengue (Liacutengua de Sinais Liacutengua Satereacute-Maweacute e
Liacutengua Portuguesa) para intercacircmbio sociocultural-linguiacutestico
Este material tem a intenccedilatildeo de abrir o caminho para a participaccedilatildeo direta dos iacutendios
na construccedilatildeo de seu futuro Ele caracteriza uma mudanccedila da forma de olhar para os povos
indiacutegenas Agora eacute preciso trabalhar para que todas as comunidades e etnias possam produzir
seus diagnoacutesticos Todas elas precisam dispor das informaccedilotildees com as quais poderatildeo dar uma
direccedilatildeo a suas accedilotildees Nesse sentido deve haver iniciativas por parte do poder local para que o
governo e as entidades aliadas agraves causas indiacutegenas possam aproveitar as experiecircncias dos
vaacuterios pesquisadores sobre as causas dos Satereacute-Maweacute para ampliar esse tipo de trabalho
Satildeo diagnoacutesticos como este que iratildeo dar o norte para novos projetos e programas que
favoreccedilam realmente garantir a autonomia dos povos indiacutegenas
Finzaliza-se com a satisfaccedilatildeo de que a pesquisa presente contribuiu com um pequeno
passo no incentivo da conservaccedilatildeo e crescimento da identidade cultural-linguiacutestica do iacutendio
surdo
99
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103
ANEXOS
104
ANEXO A- Normas estabelecidas no ingresso em terras indiacutegenas pela FUNAI
Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio
INSTRUCcedilAtildeO NORMATIVA No 01PRESI DE 29NOVEMBRO1995
PRESIDENTE DA FUNDACcedilAtildeO NACIONAL DO IacuteNDIO - FUNAI
no uso de suas atribuiccedilotildees que lhe satildeo conferidas pelo estatuto aprovado pelo decreto no
564
de 08 de junho de 1992 tendo em vista o que consta do processo FUNAI BsB no210592
R E S O L V E
Art 1o Aprovar as normas que disciplinam o ingresso em Terras Indiacutegenas com finalidade de
desenvolver Pesquisa Cientiacutefica conforme documento em anexo
Art 2o Esta Instruccedilatildeo Normativa entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo
Art 3o Revoga-se a Instruccedilatildeo Normativa no 001PRESI94 de 08 de abril
de 1994 como qualquer outro dispositivo em contraacuterio
MAacuteRCIO JOSEacute BRANDO SANTILLI
Presidente da FUNAI
ASSINADO NO ORIGINAL
Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio
ANEXO DA INSTRUCcedilAtildeO NORMATIVA No 001PRESI de 29 de novembro de 1995
Art 4o Todo e qualquer pesquisador nacional ou estrangeiro que pretenda ingressar em terras
indiacutegenas para desenvolver projeto de pesquisa cientiacutefica deveraacute encaminhar sua solicitaccedilatildeo
agrave Presidecircncia da FUNAI e no caso de requerimento coletivo deveraacute ser subscrito por um dos
membros do grupo como seu responsaacutevel Art 5o O pesquisador ou pesquisadores deveratildeo
anexar ao pedido do que trata o Art 1o a seguinte documentaccedilatildeo
I carta de apresentaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo a que o pesquisador estaacute vinculado e no caso de
estudantes de graduaccedilatildeo e poacutesgraduaccedilatildeo carta de apresentaccedilatildeo do orientador responsaacutevel
II projeto de pesquisa em portuguecircs detalhando a(s) terra(s) indiacutegenas na(s) qual(is)
pretende ingressar e cronograma
III curriculum vitae do(s) pesquisador(es) redigido em portuguecircs
IV coacutepia autenticada da Carteira de Identidade ou Passaporte quando se tratar de
nacionalidade estrangeira
V atestado individual de vacina contra moleacutestia endecircmica na
aacuterea
VI atestado meacutedico de natildeo portador de moleacutestia contagiosa
105
VII quando se tratar de pesquisador(es) de nacionalidade estrangeira exigir-se-aacute para a
efetivaccedilatildeo de seu ingresso na terra indiacutegena a obtenccedilatildeo de seu respectivo visto temporaacuterio
como prevecirc o artigo 22 do decreto no 86715 de 10 de dezembro de 1981 aleacutem do
cumprimento do disposto no decreto no 98830 de 15 de janeiro de 1990
Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio
Art 6o O pesquisador deveraacute encaminhar diretamente ao CONSELHO
NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO - CNPq o
projeto de pesquisa e curriculum
vitae
Art 7o A solicitaccedilatildeo do ingresso em terra indiacutegena por parte de pesquisadores nacionais ou
estrangeiros seraacute objeto de anaacutelise pela Coordenadoria-Geral de Estudos e Pesquisas - CGEP
uma vez instruiacutedo o processo com o parecer favoraacutevel do CNPq quanto ao meacuterito da pesquisa
proposta e apoacutes ouvidas as lideranccedilas indiacutegenas
Paraacutegrafo Uacutenico - A consulta agraves lideranccedilas indiacutegenas seraacute realizada pela FUNAI com a
presenccedila e participaccedilatildeo do pesquisador podendo este em caso de resposta positiva
permanecer na terra indiacutegena com autorizaccedilatildeo provisoacuteria ateacute a emissatildeo de uma definitiva
Art 8o No caso de negativa das lideranccedilas indiacutegenas quanto ao pleito do ingresso ou
quaisquer outros entraves levantados no decorrer da anaacutelise do processo ou em qualquer outra
etapa de desenvolvimento da pesquisa a CGEP encaminharaacute a questatildeo ao Conselho
Indigenista atraveacutes da presidecircncia do Oacutergatildeo
Art 9o Quando se tratar de pesquisa em espaccedilo territorial de ocupaccedilatildeo tradicional de iacutendios
isolados o pedido seraacute ainda objeto de exame e parecer preacutevio especiacutefico por parte do
Departamento de Iacutendios Isolados - DII FUNAI
Art 10 A presidecircncia da FUNAI poderaacute suspendera qualquer tempo as
autorizaccedilotildees concedidas de acordo com as presentes normas desde que
I seja solicitada a sua interrupccedilatildeo por parte da comunidade indiacutegena em questatildeo
II a pesquisa em desenvolvimento venha a gerar conflitos dentro da terra indiacutegena
III a ocorrecircncia de situaccedilotildees epidecircmicas agudas ou conflitos graves envolvendo iacutendios e natildeo-
iacutendios
Paraacutegrafo Uacutenico - Fica automaticamente prorrogada a autorizaccedilatildeo pelo prazo que a terra
indiacutegena objeto do projeto estiver interditada pelos motivos apontados no Art 10 inciso III
Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio
MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA
Art 11 Todos os pesquisadores estrangeiros ou nacionais que tiverem autorizaccedilotildees
concedidas para ingresso em terras indiacutegenas obrigar-se-atildeo a
I cumprir todos os preceitos legais vigentes notadamente os previstos na Lei no 6001 de
1o1273
II remeter agrave FUNAI relatoacuterio dos Trabalhos de campo em portuguecircs ateacute 6 (seis) meses apoacutes
o teacutermino da pesquisa onde poderatildeo constar sugestotildees praacuteticas que possam trazer benefiacutecios
para as comunidades indiacutegenas que poderatildeo ser consideradas pela FUNAI nas definiccedilotildees de
sua poliacutetica
III remeter agrave FUNAI 2 (dois) exemplares de publicaccedilotildees artigos teses e outras produccedilotildees
intelectuais oriundas das referidas pesquisas
Art 12 Nos casos de solicitaccedilatildeo de prorrogaccedilatildeo do prazo para continuidade do projeto de
pesquisa cientiacutefica na mesma terra indiacutegena caberaacute a Coordenaccedilatildeo Geral de Estudos e
Pesquisas - CGEP os seguintes procedimentos
I notificar junto ao setor competente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e
Tecnoloacutegico - CNPq a solicitaccedilatildeo
II consultar as lideranccedilas quanto ao retorno do pesquisador na terra indiacutegena
106
III observar o cumprimento do Art 8o por parte do pesquisador interessado do Iacutendio
Art 6o O pesquisador deveraacute encaminhar diretamente ao CONSELHO NACIONAL DE
DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO - CNPq o projeto de pesquisa e
curriculum vitae
Art 7o A solicitaccedilatildeo do ingresso em terra indiacutegena por parte de pesquisadores nacionais ou
estrangeiros seraacute objeto de anaacutelise pela Coordenadoria-Geral de Estudos e Pesquisas - CGEP
uma vez instruiacutedo o processo com o parecer favoraacutevel do CNPq quanto ao meacuterito da pesquisa
proposta e apoacutes ouvidas as lideranccedilas indiacutegenas
Paraacutegrafo Uacutenico - A consulta agraves lideranccedilas indiacutegenas seraacute realizada pela FUNAI com a
presenccedila e participaccedilatildeo do pesquisador podendo este em caso de resposta positiva
permanecer na terra indiacutegena com autorizaccedilatildeo provisoacuteria ateacute a emissatildeo de uma definitiva
Art 8o No caso de negativa das lideranccedilas indiacutegenas quanto ao pleito do ingresso ou
quaisquer outros entraves levantados no decorrer da anaacutelise do processo ou em qualquer outra
etapa de desenvolvimento da pesquisa a CGEP encaminharaacute a questatildeo ao Conselho
Indigenista atraveacutes da presidecircncia do Oacutergatildeo
Art 9o Quando se tratar de pesquisa em espaccedilo territorial de ocupaccedilatildeo tradicional de iacutendios
isolados o pedido seraacute ainda objeto de exame e parecer preacutevio especiacutefico por parte do
Departamento de Iacutendios Isolados - DII FUNAI Art 10 A presidecircncia da FUNAI poderaacute
suspendera qualquer tempo as autorizaccedilotildees concedidas de acordo com as presentes normas
desde que
I seja solicitada a sua interrupccedilatildeo por parte da comunidade indiacutegena em questatildeo
II a pesquisa em desenvolvimento venha a gerar conflitos dentro da terra indiacutegena
III a ocorrecircncia de situaccedilotildees epidecircmicas agudas ou conflitos graves envolvendo iacutendios e natildeo-
iacutendios
Paraacutegrafo Uacutenico - Fica automaticamente prorrogada a autorizaccedilatildeo pelo prazo que a terra
indiacutegena objeto do projeto estiver interditada pelos motivos apontados no Art 10 inciso III
Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA
Art 11 Todos os pesquisadores estrangeiros ou nacionais que tiverem autorizaccedilotildees
concedidas para ingresso em terras indiacutegenas obrigar-se-atildeo a
I cumprir todos os preceitos legais vigentes notadamente osprevistos na Lei no 6001 de
1o1273
II remeter agrave FUNAI relatoacuterio dos Trabalhos de campo em portuguecircs ateacute 6 (seis) meses apoacutes
o teacutermino da pesquisa onde poderatildeo constar sugestotildees praacuteticas que possam trazer benefiacutecios
para as comunidades indiacutegenas que poderatildeo ser consideradas pela FUNAI nas definiccedilotildees de
sua poliacutetica
III remeter agrave FUNAI 2 (dois) exemplares de publicaccedilotildees artigos teses e outras produccedilotildees
intelectuais oriundas das referidas pesquisas
Art 12 Nos casos de solicitaccedilatildeo de prorrogaccedilatildeo do prazo para continuidade do projeto de
pesquisa cientiacutefica na mesma terra indiacutegena caberaacute a Coordenaccedilatildeo Geral de Estudos e
Pesquisas - CGEP os seguintes procedimentos
I notificar junto ao setor competente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e
Tecnoloacutegico - CNPq a solicitaccedilatildeo
II consultar as lideranccedilas quanto ao retorno do pesquisador na terra indiacutegena
III observar o cumprimento do Art 8o por parte do pesquisador interessado
107
ANEXO B ndash Questionaacuterio para coleta de dados com professores de comunidades indiacutegenas
QUESTIONAacuteRIO
Nome Prof(a)Nordm Cel
Nome da escola
Tribo Etnia
Quantos alunos surdos iacutendio Serie Idade
Nasceu cognitiva ou adquirida
1 ndash Como eacute a forma de comunicaccedilatildeo entre o professor e o iacutendio surdo
( ) Escrita
( ) Oralizado
( ) Libras
( ) Satereacute Maweacute
2 ndash Qual liacutengua o surdo iacutendio tem mais facilidade de aprender
( ) Portuguecircs
( ) Satereacute Maweacute
( ) libras
3 ndash Qual eacute a metodologia de ensino
4 ndash Como o aluno surdo indiacutegena aprende na sala de aula Tem dificuldade ou facilidade
5 ndash Como e que liacutengua o aluno surdo se comunica com outro surdo se tiver e os demais alunos
ouvintes na sala aula
108
6 ndash Vocecirc jaacute observou a comunicaccedilatildeo entre o aluno surdo iacutendio com a famiacutelia Qual liacutengua
7 ndash Como o aluno surdo iacutendio se comunica com as pessoas da comunidade
8 ndash Qual eacute a reaccedilatildeo das pessoas ouvintes quanto o iacutendio surdo na comunidade
9 ndash Professor(a) qual sua opiniatildeo para melhoria de ensino da educaccedilatildeo de iacutendios surdos
10 ndash Qual eacute a importacircncia da liacutengua indiacutegena Satereacute Maweacute para o aluno surdo
11 ndash Fale sobre a cultura e historia dos Satereacute Maweacute o iacutendio surdo participa
109
ANEXO C ndash Autorizaccedilatildeo para pesquisa de campo em terras indiacutegenas
110
ANEXO C-1 ndash Autorizaccedilatildeo para pequisa de campo com uso de imagem permitido
111
ANEXO C-2 ndash Autorizaccedilatildeo para pequisa de campo com uso de imagem permitido
112
ANEXO D ndash Parecere pedagoacutegico da Aluna Indiacutegena Surda
(ESCOLA PADRE PAULOMANNA)
ESCOLA DE AacuteUDIO COMUNICACcedilAtildeO
Pe PAULO MANNA Mantida pela Diocese de Parintins CNPJ 045945370001-88 Av Naccedilotildees Unidas 1792 FoneFax (092) 3533-3456 69151-060 ndash PARINTINS-AMAZONAS-BRASIL
Parecer Pedagoacutegico
Helena Ferreira Arauacutejo 06 anos de idade aluna da Escola Pe Paulo Manna desde
marccedilo de 2013 mora na rua 4 nordm 298 no bairro da Uniatildeo
Segundo relatos da matildee a aluna nasceu de parto normal comeccedilou a andar aos trecircs
anos de idade e eacute descendente dos iacutendios Satereacute- Maueacute Os anos passaram e ela comeccedilou a
perceber que sua filha natildeo ouvia e nem falava pois jaacute tinha outros filhos e estes comeccedilaram a
falar e andar cedo Informou-nos que para se comunicar com ela fazia gestos ateacute ela entender
o que se tornava muito difiacutecil
Disse-nos que falaram para ela do trabalho desenvolvido na Escola Paulo Manna com
alunos surdos e resolveu procurar a escola pois o tempo estava passando e a menina natildeo
falava e ela natildeo sabia mais o que fazer para reverter a situaccedilatildeo e a sua filha ser como os outros
irmatildeos
Atualmente estuda numa turma de Preacute ndash Escolar (2ordm periacuteodo) eacute uma aluna surda No
ano passado quando chegou agrave escola nos primeiros dias chorava muito e ficava zangada se
escondia embaixo da mesa para que ningueacutem a incomodasse visto que natildeo estava adaptada
ao ambiente e aos poucos foi se adaptando e passou a conviver com os colegas ouvintes em
sala de aula
A aluna gosta de fazer suas atividades escolares tem boa coordenaccedilatildeo motorainterage
com os colegas reconhece cores e formas gosta de desenhar e daacute formas aos seus desenhos realiza atividades de leitura de imagem montagem com jogos de encaixe participa de
brincadeiras na quadra parque e brinquedoteca
Em alguns momentos quando quer alguma coisa do colega e este natildeo lhe daacute fica com
raiva chora e se isola Em outros momentos penso que por natildeo saber se comunicar com os
colegas fica um pouco retraiacuteda e torna-se um a receptora diferenciada que requer cuidados
no tocante agrave comunicaccedilatildeo principalmente de como chegar ateacute ela
Procuramos adaptar brincadeiras para envolver a aluna trazendo-a de volta para
participar das atividades e conversar com ela que nem tudo o que a gente quer podemos ter e
fazemos alguma brincadeira que ela goste e rapidinho ela volta a participar e se integrar ao
grupo
Sabemos que eacute difiacutecil para ela o processo ensino aprendizagem porque ela tem que ter
uma aprendizagem triliacutengue visto que tem que aprender a Liacutengua Indiacutegena+ Libras + Liacutengua
Portuguesa e jaacute eacute difiacutecil aprender duas mas natildeo impossiacutevel
113
Neste ano de 2014 contamos com a ajuda da professora Caacutetia (surda) com aulas de
Libras No primeiro momento fica junto com os colegas ouvintes onde procuramos trabalhar
de forma biliacutengue (Portuguecircs + Libras) para que ela entenda o que estaacute sendo repassado em
sala de aula E o que se percebe eacute que a aluna nos daacute respostas precisas dentro dos objetivos
propostos Em outro momento a professora Caacutetia ensina agrave aluna os sinais em LIBRAS que eacute
a liacutengua oficial da pessoa surda trabalhando o concreto com ela ensinando-a com jogos
cartazes reaacutelias viacutedeos transformando tais atividades em aulas dinacircmicas e prazerosas
Dentro dessa realidade a aluna vai participando buscando se inserir nesse universo
cheio de duacutevidas e incertezas e noacutes professores procuramos fazer o melhor para que a aluna
se sinta bem no ambiente escolar visto que o processo ensino aprendizagem para uma crianccedila
de outra etnia natildeo eacute faacutecil pois segundo depoimentos de alguns indiacutegenas a aprendizagem
indiacutegena passa pela demonstraccedilatildeo observaccedilatildeo imitaccedilatildeo tentativa e erro e quando o aluno
vem para a escola tem que se socializar obedecer a comandos regidos pelo sistema e isso
muitas vezes o deixa confuso e os maiores ateacute desistem
Dessa forma satildeo necessaacuterias estrateacutegias de ensino diferenciadas que deem suporte para
que a aluna seja trabalhada de forma triliacutengue no contexto escolar para que ela natildeo perca a
sua essecircncia a sua cultura que sejam adaptados trabalhos de acordo com a realidade
indiacutegena para que ela natildeo perca a sua identidade e saiba conduzir sua aprendizagem dentro de
um contexto diferenciado podendo aprender o que lhe eacute de direito bem como viver bem em
sociedade
Parintins 14 de abril de 2014
DEDICATOacuteRIA
Aos meus familiares em especial a minha matildee Idalina
Azevedo que desde o ventre proporcionou-me seu amor com
dedicaccedilatildeo e todas suas forccedilas ao meu lado em momentos tatildeo
difiacuteceis nunca deixando de acreditar no poder de Deus sobre
minha vida
A minha amada esposa Rosana Valeacuteria mulher saacutebia
e auxiliadora de todos os momentos do meu viver
Aos meus filhos Caroline Camila e Benjamim Jorge
pelo amor que sempre me deram pela compreensatildeo de
minhas ausecircncias durante a trajetoacuteria de minha pesquisa
AGRADECIMENTOS
A Deus em primeiro lugar que planejou a minha vida quando eu ainda nem existia e
me libertou no momento que recorri a Ele E me fez acreditar que o impossiacutevel soacute existe
quando natildeo temos feacute
Agrave Coordenadora do Mestrado em Letras e Artes da Universidade do Estado do
Amazonas ndash UEA Professora Dra Juciane Cavalheiros pelo excelente trabalho que
desenvolve nesta instituiccedilatildeo contribuindo para a formaccedilatildeo de novos profissionais na
educaccedilatildeo do nosso paiacutes
Ao meu orientador Dr Valteir Martins Professor do Mestrado em Letras e Artes
com sua saacutebia experiecircncia de ensino acreditou que atraveacutes deste trabalho pudeacutessemos levar
contribuiccedilotildees linguiacutesticas no que tange agrave Liacutengua de Sinais dos indiacutegenas surdos Satereacute-
Maweacute habitantes da microrregiatildeo de Parintins
Aos meus professores do Mestrado em Letras e Artes Dra Silvana Martins Dr
Mauricio Mattos Dr Maacutercio e Dra Luciana Paacutescoa Dra Gleidys Maia Dr Camilo Ramos
pelas preciosas contribuiccedilotildees agrave minha pesquisa
Aos professores indiacutegenas Jacob de Souza Jocimar Alencar e Josiel Santos por me
introduzir nas comunidades indiacutegenas Satereacute-Maweacute pelas contribuiccedilotildees na traduccedilatildeo das
palavras da liacutengua portuguesa para a liacutengua Satereacute-Maweacute
Aos meus colegas do mestrado em Letras e Artes pelo companheirismo e dedicaccedilatildeo
no dia a dia
Agrave professora Elizandra de Lima Silva Bastos pela ajuda nas correccedilotildees textuais da
Liacutengua Portuguesa
Agraves instituiccedilotildees especiacuteficas que de alguma forma contribuiacuteram para concretizar esta
pesquisa
MANAUS
Escola Estadual Augusto Carneiro dos Santos
Centro de Atendimento ao surdo ndash CAS
A Igreja Tabernaacuteculo Batista Pastor Paulo Hatcher
PARINTINS
Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio ndash FUNAI
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE
Coordenadora Regional de Educaccedilatildeo de Parintins - CREP
Universidade Estadual do Amazonas ndash CESP
Casa da Sauacutede Indiacutegena
Casa do Iacutendio de Parintins
Escola Aacuteudio Comunicaccedilatildeo Pe Paulo Manna
Diocese de Parintins Pe Henrique Uggeacute
Escola Estadual Brandatildeo de Amorim
Escola Estadual Joatildeo Bosco Ramos de Lima
MAUEacuteS
Secretaria de Estado de Educaccedilatildeo
Secretaria de Educaccedilatildeo Municipal
Casa do estudante indiacutegena Sr Jusivan
Tuxaua da Comunidade de Santa Maria Sr Helito Barbosa
Sr Maxiliano Batista Barros
BARREIRINHA
Secretaria de Educaccedilatildeo Municipal - SEMED
Secretaria de Estado de Educaccedilatildeo
Coordenaccedilatildeo Municipal de Educaccedilatildeo Indiacutegena Sr Santino Lopes
Coordenador da Escola Profa Rosa Cabral Sr Dulcemar F dos Santos
Professora Indiacutegena Satereacute-Maweacute Maria Inez
NHAMUNDAacute
Casa de Sauacutede Indiacutegena - DSEI
Secretaria de Estadual de Educaccedilatildeo
BOA VISTA DO RAMOS
Secretaria de Estado e Educaccedilatildeo
Escola Estadual Princesa Izabel
Comunidade Satereacute-Maweacute
Professora Erly Tereza R Goacutees
URUCARAacute
Poacutelo Base de Urucaraacute ndash DSEI
Distrito Sanitaacuterio Especial Indiacutegena
Lider Indiacutegena Etnia Hexkaryana Caiacutenatilde Mohso
SraMaacuterlucia Kutasa
Enfermeiro SrJonas Pontes
SraDalva H Farias Cantalixto de Melo
SrLuiz Cantalixto de Melo
SAtildeO SEBASTIAtildeO DO UATUMAtilde
Poacutelo Base de Urucaraacute ndash DSEI
Lider Indiacutegena Etnia Hexkaryana Caiacutenatilde Mohso
EPIacuteGRAFE
Matildeos
corpo em movimento
captar e entender
Teu querer teu dizer
Sorrisos laacutegrimas
sentimentos e emoccedilotildees
Libras eacute amor eacute paixatildeo eacute liacutengua
(Marlon Jorge)
RESUMO
Esta pesquisa apresenta o resultado do mapeamento de iacutendios surdos nas comunidades
indiacutegenas Satereacute-Maweacute na microrregiatildeo de Parintins Partindo do levantamento buscou-se
identificar de que forma os iacutendios surdos estabeleciam a comunicaccedilatildeo com seus pares na sua
comunidade Para isso foi utilizado o procedimento metodoloacutegico por meio de entrevistas
abertas com as lideranccedilas indiacutegenas os familiares os professores e gestores escolares e
outros membros das comunidades assim como do proacuteprio iacutendio surdo O processo de anaacutelise
estabelecido para este estudo consistiu no enfoque de natureza linguiacutestica do leacutexico
(vocabulaacuterio) o qual foi registrado por meio de viacutedeos fotos e gravaccedilotildees A partir dos dados
iniciou-se a elaboraccedilatildeo de um minidicionaacuterio triliacutengue nas liacutenguas Satereacute-Maweacuteliacutengua de
sinais portuguecircs escrito a fim de facilitar a comunicaccedilatildeo principalmente no contexto da
comunidade educacional escolar entre os professores e os alunos iacutendios surdos Esta
contribuiccedilatildeo linguiacutestica portanto possibilitou uma nova percepccedilatildeo no processo histoacuterico da
diversidade linguiacutestica para valorizar e respeitar natildeo soacute uma liacutengua a liacutengua oficial do paiacutes
(Portuguecircs) mas tambeacutem a liacutengua natural do povo surdo (Libras) e a liacutengua indiacutegena do povo
Satereacute-Maweacute
Palavras chaves
1Linguiacutestica 2Liacutengua de sinais 3Satereacute-Maweacute 4 Dicionaacuterio
ABSTRACT
This research presents the results of the mapping deaf Indians in indigenous
communities Satereacute-Maweacute in the region of Parintins Starting from the survey we sought to
identify how the deaf Indians established communication with peers in their community For
this methodological procedure through open interviews with indigenous leaders family
members teachers and school administrators and other community members were used as
well as the Indian himself deaf The review process established for this study consisted of
focus linguistic lexicon (vocabulary) which was recorded through videos photos and
recordings From the data we initiated the development of a trilingual Mini Dictionary in
languages Satereacute-Maweacute sign language written Portuguese in order to facilitate
communication especially in the context of school learning community among teachers and
students deaf Indians This linguistic contribution therefore provided a new insight in the
historical process of linguistic diversity to value and respect not only one language the
official language (Portuguese) but also the natural language of deaf people (Libras) and the
indigenous language the people Satereacute-Maweacute
Key Words 1Linguiacutestica 2Liacutengua signal 3Satereacute-Maweacute 4Dictionary
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 13
1 CONSIDERACcedilOtildeES DOS ESTUDOS LINGUIacuteSTICOS DA LIacuteNGUA
BRASILEIRA DE SINAIS
17
11 Liacutengua de Sinais como Liacutengua Natural 20
12 Liacutengua Brasileira de Sinais 22
13 Liacutenguas de Sinais Indiacutegenas pesquisadas no Brasil 26
131 Liacutengua de Sinais Urubu-Kaapor 28
132 Liacutengua de Sinais Emergentes 29
1321 Realidade do Contexto educacional escolar do indiacutegena surdo 31
2 HISTOacuteRIA DO POVO INDIacuteGENA SATEREacute-MAWEacute CULTURA E
LIacuteNGUA
34
21 Breve Relato Histoacuterico 35
22 Classificaccedilatildeo da Liacutengua Satereacute-Maweacute 36
221 Contexto educacional escolar entre os Satereacute-Maweacute 38
3 METODOLOGIA IMPLEMENTADA NA PESQUISA 42
31 Aacuterea e localidade da pesquisa 42
32 Estrateacutegias gerais para a realizaccedilatildeo da coleta de dados 43
33 Procedimentos da coleta de dados 43
34 Articulaccedilatildeo local 44
35 Abordagem ao objeto da pesquisa 44
4 MAPEAMENTO DOS INDIOS SURDOS DA COMUNIDADE SATEREacute-
-MAWEacute NAS MICRORREGIOtildeES DE PARINTINS E SUA REALIDADE
EDUCACIONAL ESCOLAR
45
41 Mapeamento da existecircncia dos iacutendios surdos na microrregiatildeo de Parintins 46
411 Histoacuterico de Parintins 46
412 Histoacuterico de Barreirinha 52
413 Histoacuterico de Maueacutes 53
414 Histoacuterico de Boa Vista do Ramos 55
415 Histoacuterico de Nhamundaacute 56
42 Realidade linguiacutestica e educacional dos iacutendios surdos encontrados na etnia
Satereacute-Maweacute
59
43 Inventaacuterio de gestos da linguagem caseira dos surdos Satereacute-Maweacute 66
431 Os sinais caseiros dos indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute 66
432 Municiacutepio de Parintins 66
4321 O primeiro surdo 67
4322 O segundo surdo 67
4323 O terceiro surdo 68
44 O indiacutegena surdo da comunidade de Ponta Alegre do Municiacutepio de Barreirinha 70
45 Os indiacutegenas surdos do Municiacutepio de Maueacutes 73
451 O primeiro surdo da Comunidade de Santa Maria 75
452 O segundo surdo da Comunidade de Santa Maria 79
5 ICONICIDADE E ARBITRARIEDADE NA CRIACcedilAtildeO DOS SINAIS
CASEIROS
83
6 INTERVENCcedilAtildeO E CONTRIBUICcedilAtildeO LINGUIacuteSTICA DO PROFESSOR
SURDO
90
61 Libras e Liacutengua Satereacute-Maweacute intercacircmbio de construccedilatildeo sociocultural-
linguiacutestico
94
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 97
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 99
ANEXOS
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 Croqui da aacuterea e localidade da pesquisa
FIGURA 2 Sinais caseiros utilizado pela crianccedila de 5 anos
FIGURA 3 Sinais caseiros utilizados pelo aluno da comunidade de Ponta Alegre
Barreirinha
FIGURA 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa
Maria (30 sinais coletados)
FIGURA 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo idoso na comunidade de Santa Maria
FIGURA 6 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos que se refere agrave
arbitrariedade
FIGURA 7 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos aos quais se referem a
iconicidade
FIGURA 8 Caracteriacutesticas da imagem em Liacutengua de Sinais Satereacute-Maweacute dos objetos
aos quais se referem agrave iconicidade
FIGURA 9 Encontro da crianccedila surda Satereacute-Maweacute com o professor surdo
FIGURA 10 Contato com aluno Satereacute-Maweacute surdo no ambiente escolar
FIGURA 11 Contato com o aluno surdo Satereacute-Maweacute na Escola Estadual Brandatildeo de
Amorim
FIGURA 12 Em viagem para aacuterea indiacutegena no Rio Marau
FIGURA 13 Apresentaccedilatildeo do projeto de pesquisa agraves lideranccedilas indiacutegenas na
comunidade
FIGURA 14 Desenvolvimento de oficina de Libras com professores indiacutegenas
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Mapeamento da existecircncia de iacutendios surdos nas respectivas comunidades
indiacutegenas ou zona urbana da microrregiatildeo de Parintins
Tabela 2 11 Sinais caseiros utilizados pela crianccedila indiacutegena surda de 5 anos e seus
familiares
Tabela 3 13 Sinais caseiros coletados e utilizados pelo aluno da comunidade de
Ponta Alegre
Tabela 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa
Maria
Tabela 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais antigo residente isolado na
comunidade de Santa Maria no Rio Marau ( 18 sinais coletados)
56
66
69
73
77
13
INTRODUCcedilAtildeO
Todo cidadatildeo tem o direito de participar na vida poliacutetica social e econocircmica de um
paiacutes Neste contexto inclui-se o cidadatildeo surdo Infelizmente a histoacuteria relata que no passado
os sujeitos surdos1 eram colocados agraves margens da sociedade em todos seus aspectos social
poliacutetico econocircmico cultural linguiacutestico e educacional
Entretanto ao longo da histoacuteria os surdos com a participaccedilatildeo de ouvintes na luta
incessante pelos seus direitos muitas conquistas foram alcanccediladas Entre estas estaacute o direito
de ter sua proacutepria liacutengua a Liacutengua Brasileira de Sinais-LIBRAS A Lei nordm 10436 de 2002 a
qual a reconhece como sistema linguiacutestico de natureza visual-motora com estrutura
gramatical proacutepria constituindo-se um sistema linguiacutestico de transmissatildeo de ideias e fatos
oriundos da comunidade de pessoas surdas do Brasil Conforme Saacute (2006) no Brasil as
comunidades urbanas usam a ldquoliacutengua de sinais brasileirardquo ou simplesmente ldquoliacutengua de sinaisrdquo
Vale ressaltar que a Liacutengua de Sinais segundo Strobel (2008) eacute um aspecto
fundamental da cultura surda2 parte do artefato cultural linguiacutestico
3 do povo surdo e constitui
1 Na aacuterea de pesquisa vinculada a perspectiva socioantropoloacutegica existe uma clara diferenciaccedilatildeo entre a opccedilatildeo
de escrever surdo com letra minuacutescula ou maiuacutescula conforme explica Andreis-Witkoski (2011) ldquoapesar de
nas uacuteltimas deacutecadas ter sido estabelecido uma distinccedilatildeo entre a expressatildeo ldquoSurdordquo com letra maiuacutescula para
identificar uma categoria cultural e ldquosurdordquo com minuacutescula em referecircncia a deficiecircncia auditiva nesta Tese natildeo
se utiliza este tipo de marcaccedilatildeo Compartilha-se da concepccedilatildeo exposta por Owen Wrigley (1996 p53) quando
adverte que esta diferenciaccedilatildeo constitui-se em ldquoum dualismo riacutegido-bom Surdo mau surdo ndash que pouco faz para
ajudar os indiviacuteduos em suas vidas diaacuterias [sem] ajudar a clarear um alcance maior de estrateacutegias colocadas pelos
indiviacuteduos lidando com a exclusatildeo e as muitas faces da opressatildeo em suas rotinas Em termos simples a
dicotomia de bdquoSs‟ estaacute tatildeo cruelmente composta que embora inicialmente seja uacutetil ela agora serve para silenciar
o alcance total das experiecircncias dos sSurdosrdquo (2011 p13) Logo opta-se nesta dissertaccedilatildeo o uso da expressatildeo
ldquosurdordquo (minuacutescula) que refere-se aos ldquosurdordquo enquanto pessoas que pela impossibilidades formam uma
minoria diferente com caracteriacutesticas linguiacutesticas cognitivas culturais e comunitaacuterias especiacuteficas (SAacute 2006
p107) 2 Cultura Surda ldquoeacute o jeito de o surdo entender o mundo e de modificaacute-lo a fim de se tornaacute-lo acessiacutevel e habitaacutevel
ajustando-os com as suas percepccedilotildees visuais que contribuem para a definiccedilatildeo das identidades surdas e das
ldquoalmasrdquo das comunidades surdas Isto significa que abrange a liacutengua as ideacuteias as crenccedilas os costumes e os
haacutebitos de povordquo (STROBEL2008 p 24) 3Conforme Strobel (2008 p37) o que seriam artefatos culturais linguiacutesticos Ao referirmos ldquoartefatordquo
pensamos habitualmente no significado de objetos ou materiais produzidos pelos grupos culturais Realmente de
fato eacute uma forma material de expressar uma determinada cultura poreacutem tambeacutem podem incluir ldquotudo o que se
vecirc e senterdquo quando se estaacute em contato com a cultura de uma comunidade a exemplo vestuaacuterios tradiccedilotildees
crenccedilas valores e normas etc Ou seja no campo dos Estudos Culturais o conceito de ldquoartefatosrdquo natildeo se referem
apenas a materialismo culturais como tambeacutem naquilo que na cultura constitui produccedilotildees do sujeito que tem seu
proacuteprio modo de ser ver entender e transformar o mundo Logo um dos artefatos culturais que ilustram a
cultura do povo surdo eacute o linguiacutestico a liacutengua de sinais que eacute um aspecto fundamental da cultura surda sendo
uma das principais marcas da identidade surda
14
uma das principais marcas da identidade do ser surdo Incluem-se tambeacutem os ldquosinais
emergentesrdquo ou ldquosinais caseirosrdquo dos sujeitos surdos isolados de comunidades surdas no caso
dos surdos das zonas rurais e dos surdos iacutendios Estes surdos embora natildeo pertenccedilam agraves
mesmas comunidades se identificam com o povo surdo4 pois compartilham as mesmas
peculiaridades constroem sua formaccedilatildeo de mundo por meio de artefato cultural visual5
independentemente do grau linguiacutestico que possuem os quais podem ser os gestos caseiros
denominados tambeacutem como sinais emergentes Nesta perspectiva teoacuterica soacutecioantropoloacutegica
enfoca-se como o objeto da pesquisa o sujeito surdo indiacutegena ou seja o iacutendio surdo
Antes de prosseguir com a abordagem mencionada faz-se necessaacuterio destacar que
assim como o povo surdo o povo indiacutegena tambeacutem traccedilou diversas lutas na trajetoacuteria para
reconhecimento dos seus direitos O reconhecimento dos direitos dos povos indiacutegenas no
mundo contemporacircneo avanccedilou muito em relaccedilatildeo haacute algumas deacutecadas passadas De acordo
com Lucinda (apud Saacute 2006) em consenso geral nos debates da Comissatildeo Educaccedilatildeo
Cultura e Desporto que antecedem a elaboraccedilatildeo do texto da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica
Federativa do Brasil de 1988 tanto a liacutengua de sinais como as liacutenguas indiacutegenas deveriam ser
consideradas no texto da Constituiccedilatildeo como liacutenguas maternas Assim como resultado o
Referencial Curricular Nacional para Escolas Indiacutegenas (1998 p31) declara que ldquoA
Constituiccedilatildeo Federal aleacutem de perceber o iacutendio como pessoa com direitos e deveres como
qualquer outro cidadatildeo brasileiro o reconhece como membro de uma comunidade e de um
grupo isto eacute como membro de uma coletividade que eacute titular de direitos coletivos e
especiaisrdquo Ou seja reconhece para os iacutendios o direito agrave praacutetica de suas formas culturais
proacuteprias E no tiacutetulo VIII ldquoDa Ordem Socialrdquo conteacutem um capiacutetulo denominado ldquoDos Iacutendiosrdquo
onde se diz que ldquosatildeo reconhecidos aos iacutendios a sua organizaccedilatildeo social costumes liacutenguas
crenccedilas e tradiccedilotildees []rdquo (ibid p31)
Em meio a essa diversidade linguiacutestica que caracteriza o Brasil como sendo um paiacutes
pluriliacutengue estatildeo situados os ldquosurdos brasileirosrdquo que tecircm sua proacutepria liacutengua reconhecida
oficialmente a Liacutengua de Sinais Logo existem tambeacutem ldquoiacutendios surdosrdquo da etnia Satereacute-
4Quando referimos ldquopovo surdordquo estamos falando ldquode sujeitos surdos que natildeo habitam no mesmo local mas
que estatildeo ligados por uma origem por um coacutedigo de eacutetico de formaccedilatildeo visual independente do grau de evoluccedilatildeo
linguiacutestica tais como a liacutengua de sinais a cultura surda e quaisquer outros laccedilosrdquo (ibid p30) 5Perlin e Miranda (2003) complementam ldquoExperiecircncia visual significa a utilizaccedilatildeo visual em (substituiccedilatildeo total
agrave audiccedilatildeo) como meio de comunicaccedilatildeo Desta experiecircncia visual surge a cultura surda representada pela liacutengua
de sinais pelo modo diferente de ser de se expressar de conhecer o mundo de entrar nas artes no
conhecimento cientiacutefico e acadecircmicordquo (apud STROBEL 2008 p39)
15
Maweacute Qual sua forma de se comunicar Existe uma ldquoLiacutengua de Sinaisrdquo especifica do iacutendio
surdo
Diante das questotildees levantadas surgiu entatildeo agrave necessidade de realizar uma pesquisa
no campo da linguiacutestica na perspectiva dos estudos surdos6 voltado especificamente para o
iacutendio surdo da etnia Satereacute-Maweacute Foram traccedilados os seguintes objetivos i) mapear os iacutendios
surdos na microrregiatildeo de Parintins ii) identificar de que forma o iacutendio surdo estabelece a
comunicaccedilatildeo com sua comunidade especificamente no acircmbito educacional ou se utilizam
liacutenguas de sinais da comunidade local iii) registrar a forma de comunicaccedilatildeo no dia a dia do
iacutendio surdo nas comunidades indiacutegenas a partir dos estudos linguiacutesticos da Liacutengua de Sinais
dos grupos existentes e sua relaccedilatildeo com a comunidade local iv) promover o intercacircmbio entre
a Liacutengua de Sinais dos iacutendios surdos mapeados da etnia Satereacute-Maweacute e a LIBRAS da
comunidade surda do Municiacutepio de Parintins - Amazonas
Este trabalho conteacutem a seguinte divisatildeo primeiro capiacutetulo - apresenta consideraccedilotildees
linguiacutesticas fundamentais aos estudos surdos onde explicita o reconhecimento da Liacutengua de
Sinais como elemento cultural linguiacutestico do povo surdo abordando tambeacutem a oficializaccedilatildeo
da Liacutengua Brasileira de Sinais e as Liacutenguas Indiacutegenas pesquisadas no Brasil como a realidade
do contexto escolar linguiacutestico na comunidade indiacutegena segundo capiacutetulo - relata a histoacuteria
do povo indiacutegena Satereacute-Maweacute sua principal expressatildeo cultural sua liacutengua e seu respectivo
contexto educacional escolar terceiro capiacutetulo - apresenta os procedimentos metodoloacutegicos
utilizados na operacionalizaccedilatildeo da pesquisa e o capiacutetulo quatro - apresenta a anaacutelise do
resultado do Mapeamento dos iacutendios surdos da etnia Satereacute-Maweacute na microrregiatildeo de
Parintins Neste satildeo tambeacutem apresentadas as relaccedilotildees socioculturais-linguiacutesticas de iacutendios
surdos Satereacute-Maweacute com as contribuiccedilotildees linguiacutesticas do professor surdo aos Iacutendios surdos na
comunidade Satereacute-Maweacute estabelecendo assim as relaccedilotildees culturais na construccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo linguiacutestica LIBRAS e Liacutengua Satereacute-Maweacute como um intercacircmbio de construccedilatildeo
sociocultural
Desse modo a pesquisa tem como premissa baacutesica primeiramente mapear os iacutendios
surdos da etnia Satereacute-Maweacute e assim promover um intercacircmbio oferecendo contribuiccedilotildees
linguiacutesticas fundamentadas na pesquisa do leacutexico (vocabulaacuterio) da etnia referida com a Libras
(Liacutengua Brasileira de Sinais) e a Liacutengua Portuguesa por meio da elaboraccedilatildeo de um
6 Conforme Skliar eacute o campo de pesquisa em educaccedilatildeo onde as identidades a liacutenguas a histoacuteria a cultura da
comunidade surda satildeo focalizados e entendidos a partir da diferenccedila a partir do seu reconhecimento poliacutetico
(2001p29)
16
minidicionaacuterio triliacutengue Assim espera-se contribuir para a iniciaccedilatildeo dos indiacutegenas surdos da
etnia Satereacute-Maweacute na Liacutengua Brasileira de Sinais dando a eles um dos direitos universais do
ser humano que eacute direito a uma liacutengua Tambeacutem deseja-se contribuir para a iniciaccedilatildeo dos
indiacutegenas surdos da etnia Satereacute-Maweacute na Liacutengua Brasileira de Sinais dando a eles um dos
direitos universais do ser humano que eacute direito a uma liacutengua proacutepria
17
1 CONSIDERACcedilOtildeES DOS ESTUDOS LINGUIacuteSTICOS DA LIacuteNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
A Linguiacutestica conhecida hoje como a ciecircncia que estuda a linguagem humana eacute uma
ciecircncia recente poreacutem com um saber antigo Passou a se impor como ciecircncia agrave medida que
demonstrou seu meacutetodo e seu objeto de estudo Eacute definida como estudo cientiacutefico que visa
descrever ou explicar a linguagem verbal humana (ORLANDI 1999)
A Linguiacutestica diferencia-se da gramaacutetica tradicional normativa na medida que natildeo
tem como objetivo ditar regras de correccedilatildeo para uso da linguagem Seu interesse eacute a liacutengua
como mateacuteria de reflexatildeo (QUADROS e KARNOPP 2004) Segundo as pesquisas nesta
aacuterea Vandresen (1988 apud QUADROS 2007 p 83) tem-se ldquoa linguiacutestica contrastiva como
uma subaacuterea da linguiacutestica geral interessada em apontar as similaridades e diferenccedilas
estruturais entre a liacutengua materna (de um grupo de alunos) e uma liacutengua estrangeirardquo
Na taxonomia de similaridades e contrastes entre as liacutenguas existe uma seacuterie de
regularidades como haacute similaridades comportamentais que natildeo precisam ser explicitadas
porque constituem a base comum das liacutenguas naturais e o compartilhamento dessas
similaridades poderaacute servir como base para inferecircncias quanto agraves formas da liacutengua estrangeira
e quanto agraves diferenccedilas por serem sistemaacuteticas podem admitir tratamento inferencial e
heuriacutestico (KATO 1988 apud QUADROS 2007)
Segundo Nascimento (2009) a vitalidade da liacutengua depende de sua utilizaccedilatildeo efetiva
tanto em escala nacional quanto em escala mundial Quanto mais uma liacutengua eacute utilizada mais
ela eacute viva e inversamente quanto menos eacute utilizada mais ela eacute ameaccedilada de extinccedilatildeo Assim
sendo eacute o uso social da liacutengua que determina seu grau de revitalizaccedilatildeo
Por essas razotildees a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Linguiacutesticos (BARCELONA
1996 p 3) tem como ponto de partida
[] as comunidades linguiacutesticas e natildeo os Estados e inscreve-se no quadro do
reforccedilo das instituiccedilotildees internacionais capazes de garantir um desenvolvimento
duradouro e equitativo para toda a humanidade e tem como finalidade favorecer um
quadro de organizaccedilatildeo poliacutetica da diversidade linguiacutestica baseado no respeito na
convivecircncia e nos benefiacutecios reciacuteprocos
Em seu TITULO PREacuteVIO tem como conceitos
18
Artigo 1ordm
1 Esta Declaraccedilatildeo entende por comunidade linguiacutestica toda a sociedade humana
que radicada historicamente num determinado espaccedilo territorial reconhecido ou
natildeo se identifica como povo e desenvolveu uma liacutengua comum como meio de
comunicaccedilatildeo natural e de coesatildeo cultural entre os seus membros A denominaccedilatildeo
liacutengua proacutepria de um territoacuterio refere-se ao idioma da comunidade historicamente
estabelecida neste espaccedilo [grifo nosso]
2 Esta Declaraccedilatildeo parte do princiacutepio de que os direitos linguiacutesticos satildeo
simultaneamente individuais e colectivos e adapta como referecircncia da plenitude dos
direitos linguiacutesticos o caso de uma comunidade linguiacutestica histoacuterica no respectivo
espaccedilo territorial entendendo-se este natildeo apenas como a aacuterea geograacutefica onde esta
comunidade vive mas tambeacutem como um espaccedilo social e funcional indispensaacutevel ao
pleno desenvolvimento da liacutengua Eacute com base nesta premissa que se podem
estabelecer em termos de uma progressatildeo ou continuidade os direitos que
correspondem aos grupos linguiacutesticos mencionados no ponto 5 deste artigo e os das
pessoas que vivem fora do territoacuterio da sua comunidade []
Em referecircncia ao Artigo 3ordm
- o direito ao ensino da proacutepria liacutengua e da proacutepria cultura
- o direito a dispor de serviccedilos culturais
- o direito a uma presenccedila equitativa da liacutengua e da cultura do grupo nos meios de
comunicaccedilatildeo
- o direito a serem atendidos na sua liacutengua nos organismos oficiais e nas relaccedilotildees
socioeconomicas []
Em referecircncia ao Artigo 5ordm
Esta Declaraccedilatildeo baseia-se no princiacutepio de que os direitos de todas as comunidades
linguiacutesticas satildeo iguais e independentes do seu estatuto juriacutedico ou poliacutetico como
liacutenguas oficiais regionais ou minoritaacuterias Designaccedilotildees tais como liacutengua regional ou
minoritaacuteria natildeo satildeo usadas neste texto porque apesar de em certos casos o
reconhecimento como liacutengua minoritaacuteria ou regional poder facilitar o exerciacutecio de
determinados direitos a utilizaccedilatildeo destes e doutros adjetivos serve frequentemente
para restringir os direitos de uma comunidade linguiacutestica []
Em referecircncia ao Artigo 23ordm
1 O ensino deve contribuir para fomentar a capacidade de auto-expressatildeo
linguiacutestica e cultural da comunidade linguiacutestica do territoacuterio onde eacute
ministrado[grifo nosso]
2 O ensino deve contribuir para a manutenccedilatildeo e o desenvolvimento da liacutengua falada
pela comunidade linguiacutestica do territoacuterio onde eacute ministrado
3 O ensino deve estar sempre ao serviccedilo da diversidade linguiacutestica e cultural e das
relaccedilotildees harmoniosas entre as diferentes comunidades linguiacutesticas do mundo inteiro
4 No quadro dos princiacutepios anteriores todos tecircm direito a aprender qualquer liacutengua
Em referecircncia aos Artigos 26ordm a 28ordm Artigo 26ordm
Todas as comunidades linguiacutesticas tecircm direito a um ensino que permita a todos os
seus membros adquirirem o perfeito conhecimento da sua proacutepria liacutengua com as
diversas capacidades relativas a todos os domiacutenios de uso da liacutengua habituais bem
como o melhor conhecimento possiacutevel de qualquer outra liacutengua que desejem
aprender
Artigo 27ordm
Todas as comunidades linguiacutesticas tecircm direito a um ensino que permita aos seus
membros o conhecimento das liacutenguas ligadas agrave sua proacutepria tradiccedilatildeo cultural tais
como as liacutenguas literaacuterias ou sagradas usadas antigamente como liacutenguas habituais
da sua comunidade
Artigo 28ordm
Todas as comunidades linguiacutesticas tecircm direito a um ensino que permita aos seus
membros adquirirem um conhecimento profundo do seu patrimocircnio cultural (histoacute-
ria e geografia literatura e outras manifestaccedilotildees da proacutepria cultura) assim como o
melhor conhecimento possiacutevel de qualquer outra cultura que desejem conhecer
(BARCELONA 1996 p 4 a 14)
19
Assim nas Disposiccedilotildees Finais no Plenaacuterio da Associaccedilatildeo Internacional para o
Desenvolvimento da Comunicaccedilatildeo Intercultural recomenda agraves Naccedilotildees Unidas que tomem as
medidas necessaacuterias agrave adopccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de uma Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos
Linguiacutesticos considerando a Convenccedilatildeo nuacutemero 169 da Organizaccedilatildeo Internacional do
Trabalho de 26 de Junho de 1989 relativa aos povos indiacutegenas em paiacuteses independentes que
a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Colectivos dos Povos realizada em Maio de 1990 em
Barcelona declara que todos os povos tecircm direito a exprimir e a desenvolver a sua cultura a
sua liacutengua e as suas normas de organizaccedilatildeo e para o fazerem a dotarem-se de estruturas
poliacuteticas educacionais de comunicaccedilatildeo e de administraccedilatildeo puacuteblica proacuteprias em quadros
poliacuteticos diferentes Considerando tambeacutem a Declaraccedilatildeo Final da Assembleia Geral da
Federaccedilatildeo Internacional de Professores de Liacutenguas Vivas aprovada em Peacutecs (Hungria) em 16
de Agosto de 1991 recomenda-se tambeacutem que os direitos linguiacutesticos sejam consagrados
direitos fundamentais
Neste contexto Nascimento (2009 p 25) pontua
Como princiacutepio eacutetico qualquer poliacutetica de liacutenguas deveraacute trabalhar a unidade e a
diversidade Natildeo se trata de poacutelos de contradiccedilatildeo mas de eixos de transiccedilatildeo A
unidade eacute uma razatildeo do Estado e a diversidade ou variedade eacute a mateacuteria linguiacutestica
proacutepria da comunidade pois reflete a liacutengua em uso ou seja as linguagens verbais
por meio das quais os indiviacuteduos se comunicam A unidade eacute resguardada pelo
padratildeo oficializado em um modelo de gramaacutetica e a variedade se faz representar nas
diversas gramaacuteticas praacuteticas e pragmaacuteticas de um Estado linguiacutestico
Quadros e Karnopp (2004) ainda explicam que a linguiacutestica parte de pressupostos
baacutesicos que determinam as investigaccedilotildees Sendo um dos mais importantes eacute de que a
linguagem eacute restringida por determinados princiacutepios ou seja ldquoregrasrdquo que fazem parte do
conhecimento humano das liacutenguas (falada ou sinalizada) da formaccedilatildeo de palavras da
construccedilatildeo das sentenccedilas e da construccedilatildeo dos textos A partir deste pressuposto da
universalidade de tais princiacutepios as investigaccedilotildees linguiacutesticas objetivam estudar os aspectos
especiacuteficos de cada liacutengua os quais revelam as caracteriacutesticas da linguagem humana A
exemplo o inglecircs o portuguecircs a Liacutengua de Sinais Americana a Liacutengua Brasileira de Sinais
e outras Embora apresentem diferenccedilas entre as liacutenguas agraves estruturas satildeo comuns que por
sua vez interessam agraves investigaccedilotildees linguiacutesticas na medida em que eacute a ciecircncia que objetiva
por explicar a natureza da linguagem humana
A partir dessas concepccedilotildees entendemos que os seres humanos estabelecem relaccedilotildees
do mais simples ao mais complexo com o outro por meio de gestos olhares e contato seja
por meio de sons Tudo isso caracteriza a linguagem humana Observa-se que a ldquolinguagemrdquo
20
eacute um termo usado pelas pessoas com referecircncia agrave linguagem em geral ou seja em uma
variedade de sentidos para denominar sistemas de comunicaccedilatildeo linguagem musical
linguagem corporal linguagem entre animais etc
No que concerne agrave definiccedilatildeo do termo liacutengua Quadros e Karnopp (2004) encontraram
uma seacuterie de definiccedilotildees de liacutengua que apontam para sua diferenciaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao termo
linguagem Estas fornecem subsiacutedios para a indicaccedilatildeo de propriedades consideradas pela
linguiacutestica essenciais agraves liacutenguas naturais sendo que uma delas eacute dada por Saussure que
afirma
Liacutengua natildeo se confunde com a linguagem eacute somente uma parte determinada
essencial dela indubitavelmente Eacute ao mesmo tempo um produto social da
faculdade de linguagem e um conjunto de convenccedilotildees necessaacuterias adotadas pelo
corpo social para permitir o exerciacutecio dessa faculdade nos indiviacuteduos (QUADROS e
KARNOPP 2004 p24)
Portanto entende-se como liacutengua natural
uma liacutengua que foi criada e eacute utilizada por uma comunidade especiacutefica de usuaacuterios
transmitida de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo e que muda ndash tanto estrutural como
funcionalmente ndash com o passar do tempo Ora qualquer liacutengua pode ser considerada
natural independentemente da modalidade que utilize (SAacute 2006 p 134)
Assim a liacutengua natural eacute tratada enquanto sistema linguiacutestico altamente desenvolvido
apresentando as caracteriacutesticas citadas por Quadros e Karnopp (2004 p 25-28) de
flexibilidade versatilidade arbitrariedade descontinuidade criatividade produtividade dupla
articulaccedilatildeo padratildeo de organizaccedilatildeo dos elementos e dependecircncia estrutural Logo conclui-se
que tais caracteriacutesticas satildeo especiacuteficas da faculdade da linguagem humana
11 Liacutengua de Sinais como Liacutengua Natural
A Liacutengua de Sinais eacute uma liacutengua natural criada pelas comunidades surdas Segundo
Skliar (1998 p26) ldquoTodas as crianccedilas surdas podem adquirir a Liacutengua de Sinais desde que
participem das interaccedilotildees quotidianas com a comunidade surda como acontece com qualquer
outra crianccedila na aquisiccedilatildeo de uma liacutengua naturalrdquo Skliar esclarece que liacutengua ldquonaturalrdquo natildeo
se refere a uma espontaneidade bioloacutegica mas como liacutengua que foi criada e eacute utilizada por
uma comunidade especiacutefica de usuaacuterios que transmite de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo e que muda com
o passar do tempo tanto estruturalmente como funcionalmente (IDEM p27)
As Liacutenguas de Sinais satildeo diferentes em cada comunidade com caracteriacutesticas das
liacutenguas orais com estruturas gramaticais proacuteprias que as distingue dos demais sistemas de
21
comunicaccedilatildeo Para Quadros e Karnopp (2004 p 30) ldquoAs liacutenguas de sinais satildeo portanto
consideradas pela linguiacutestica como liacutenguas naturais ou como um sistema linguiacutestico legiacutetimo e
natildeo como um problema do surdo ou como uma patologia da linguagemrdquo7
Para o reconhecimento das Liacutenguas de Sinais como liacutenguas naturais Ramos (2013 p
8) destaca o conceito ldquonaturalrdquo em oposiccedilatildeo a ldquocoacutedigo e linguagemrdquo e a avaliaccedilatildeo apresenta
as semelhanccedilas existentes entre as mesmas e as liacutenguas orais Sendo que uma dessas
semelhanccedilas na linha saussuriana eacute a ldquoexistecircncia de unidades miacutenimas formadoras de
unidades complexas pode ser observada em todas as Liacutenguas de Sinais espalhadas pelo
mundo possuidoras dos niacuteveis fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico e pragmaacuteticordquo
As liacutenguas de sinais apresentam ldquoregistros diversos (por categoria profissional status social
idade niacutevel escolar etc) aleacutem de dialetos regionais tambeacutem referendam as semelhanccedilas com
as liacutenguas oraisrdquo (IDEM p 8)
Estudos aprofundados sobre a Liacutengua de Sinais iniciaram a partir da deacutecada de 1950
com o estudioso da linguiacutestica o americano William Stokoe o qual percebeu e provou que a
Liacutengua de Sinais
[] satisfazia todos os criteacuterios linguiacutesticos de uma liacutengua genuiacutena no leacutexico na
sintaxe na capacidade de gerar um nuacutemero infinito de proposiccedilotildees [] Stokoe
convenceu-se de que os sinais natildeo eram figuras e sim complexos siacutembolos abstratos
com uma estrutura interna complexa Foi entatildeo o primeiro a buscar uma estrutura a
analisar os sinais dissecaacute-los procurar as partes constituintes Desde o comeccedilo ele
tentou demonstrar que cada sinal possuiacutea pelo menos trecircs partes independentes ndash
7 Sobre a surdez temos duas abordagens segundo explica Skliar a cliacutenico terapecircutica e a soacutecio-antropoloacutegica
A visatildeo soacutecioantropoloacutegica descreve a surdez em termos contraacuterios agraves noccedilotildees de patologia e de deficiecircncia
(1998 p10) Durante o seacuteculo passado construi-se o imaginaacuterio de que o surdo era um deficiente que
necessitava falar Segundo Casarin (1996 p2) ldquoNesse discurso deacuteficit doenccedila patologia anomalia implicam
apenas a possibilidade de sequumlecircncia diagnoacutestico tratamento-cura caracteriacutesticas da abordagem meacutedicardquo [] Tal
concepccedilatildeo influecircnciou outras aacutereas do conhecimento inclusive na educaccedilatildeo sobre a forma de perceber o surdo
Cesarian ainda explica que a partir daiacute foram assimilando o imaginaacuterio de que a surdez era uma doenccedila e que o
surdo por natildeo falar era um deficiente que precisava ser curado construindo entre as aacutereas de tratamento um
modelo terapecircutico para o deficiente auditivo Apoacutes as influecircncias da medicina na educaccedilatildeo dos surdos o
modelo cliniacuteco-terapecircutico passa a impor propostas educativas do oralismo dando continuidade agora na aacuterea
educacional ao tratamento do deficiente o mais cedo possivel na escola a fim que ele se enquadre ao modelo
normal modelo ouvinte Logo as escolas apresentavam como instituiccedilotildees de reeducaccedilatildeo da fala desenvolvendo
atividades pedagoacutegicas que tinham como objetivo o treinamento e exerciacutecios com fins a trazer o surdo o mais
possiacutevel do ldquonormalrdquo Perde-se assim muito tempo no processo de ensino aprendizado do sujeito surdo levando
a um fracasso escolar Surge entatildeo a nova concepccedilatildeo nomeada como soacutecio-antropoloacutegica de surdez totalmente
oposta agrave anterior Essa concepccedilatildeo parte das capacidades do sujeito quando considera a liacutengua de sinais como
melhor garantia para o desenvolvimento normal do surdo Esta nova concepccedilatildeo traz a valorizaccedilatildeo da lingua de
sinais e como consequecircncia o reconhecimento das especificidade culturais das comunidades surdas Estudos
feitos por linguiacutesticas observaram o desempenho escolar de pessoas surdas que se comunicam desde a infacircncia
por meio da Liacutengua de Sinais e que demostraram ganhos significativos em divesas aacutereas do desenvolvimento
humano Deixando claro a necessidade do uso da Liacutengua de Sinais como liacutengua natural da pessoa surda (1996
p 3)
22
localizaccedilatildeo configuraccedilatildeo das matildeos e movimento executado (anaacuteloga aos fonemas
da fala) ndash e que cada parte apresentava um nuacutemero limitado de combinaccedilotildees []
(SACKS 1998 p 88-89)
Segundo Ramos (2013 p 9) em 1988 o venezuelano Saacutenchez fez pesquisas sobre as
liacutenguas de sinais e os resultados apresentou ao educador francecircs Jean Foucambert No debate
sobre suas pesquisas ldquosurgiu agrave proposta de um tipo de educaccedilatildeo que privilegiasse a liacutengua
natural da comunidade surda - a Liacutengua de Sinais Venezuelana e a escrita da liacutengua da
comunidade oral o Espanholrdquo Um dos primeiros princiacutepios que lanccedilou a base para a que a
liacutengua de sinais fosse reconhecida como liacutengua natural foi descrita por Foucambert (RAMOS
2013 p 10)
Natildeo soacute os surdos mas toda e qualquer crianccedila pode aprender a liacutengua escrita sem
basear-se na oral porque satildeo independentes Em segundo lugar chegou-se agrave
afirmaccedilatildeo de que a liacutengua de sinais eacute uma liacutengua natural e que os surdos satildeo uma
comunidade linguiacutestica minoritaacuteria com direito a desenvolver sua cultura proacutepria
dentro da cultura majoritaacuteria O fato de a Liacutengua de Sinais cumprir uma seacuterie de
requisitos que todas as liacutenguas naturais possuem - espanhol portuguecircs alematildeo
inglecircs polonecircs a criatividade eacute um deles - pode-se sempre dizer alguma coisa
nova Outro requisito eacute a combinaccedilatildeo de partiacuteculas natildeo significativas que usadas de
certa maneira criam significaccedilatildeo [] Com 30 40 configuraccedilotildees da matildeo podem-se
transmitir milhares de sinais significativos como os fonemas da liacutengua oral A
liacutengua de sinais que como as liacutenguas nacionais eacute diferente em cada paiacutes e ateacute em
regiotildees dos paiacuteses possui aleacutem do mais uma gramaacutetica toda proacutepria organizada e
complexa e nos permite transmitir qualquer coisa [] Com ela pode-se transmitir
criar e recriar o que se quiser poesia romance filosofia E pode-se ateacute formular
ideacuteias com duplo sentido ou mentir que eacute outra caracteriacutestica das liacutenguas naturais
Por meio das pesquisas e estudos diversos paiacuteses passaram a se dedicar no campo da
linguiacutestica da Liacutengua de Sinais eacute que criou-se a possibilidade do povo surdo lutar pelo seu
reconhecimento enquanto liacutengua na medida em que pode contar com estudos que provam
cientificamente de que as Liacutenguas de Sinais satildeo de fato liacutenguas e natildeo um conjunto de
miacutemica
12 Liacutengua Brasileira de Sinais
O ser humano se expressa atraveacutes da liacutengua e a partir dela estabelece sua cultura
valores e padrotildees sociais Para os surdos brasileiros a Libras estabelece essas condiccedilotildees pois
considera a modalidade visual-espacial e associa caracteriacutesticas sociolinguiacutesticas as funccedilotildees
pragmaacuteticas e discursivas semelhantes agraves liacutenguas orais poreacutem a Liacutengua de Sinais por muito
tempo natildeo foi percebida enquanto estrutura linguiacutestica
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A LIBRAS como toda Liacutengua de Sinais eacute uma liacutengua de modalidade gestual-visual
uma vez que faz uso para a comunicaccedilatildeo de movimentos gestuais e expressotildees faciais
percebidos pela visatildeo Neste sentido a Revista Feneis Ramos (2002 apud RAMOS 2013 p
7-8) ldquoa Liacutengua Portuguesa eacute uma liacutengua de modalidade oral-auditiva por utilizar como canal
ou meio de comunicaccedilatildeo sons articulados que satildeo percebidos pelos ouvidosrdquo Suas diferenccedilas
estatildeo na utilizaccedilatildeo de canais diferentes e nas estruturas gramaticais de cada liacutengua
Para Campello (2009) historicamente os primeiros estudos da Liacutengua de Sinais
apareceram no seacuteculo XIV exatamente nos anos de 1644 pelo inglecircs Bulwer J B com o livro
de Liacutengua de Sinais Inglesa Chirologia8 on the natural language of the hand com os estudos
destacando as figuras das matildeos e seus significados Menciona tambeacutem que era recompensa
de natureza que os surdos devam se comunicar atraveacutes dos gestos e acreditava firmemente na
ldquonecessidade que opera a Natureza dos homens que nascem Surdos-Mudos que podem
discutir mostrar sinalizar retoricamente por sinaisrdquo (p 13)
Em 1960 W C Stokoe pesquisador inglecircs da Gallaudet University fez uma pesquisa
entre as gramaacuteticas utilizadas pelos surdos em sala de aula e fora dela e os resultados foram
publicados no artigo Sign Language Structure na outline of the visual communication system
of the American Deaf na revista Studies in Linguistics Occassional Papers 8 (CAMPELLO
2009) E eacute a partir destes estudos que Stokoe afirma que a Liacutengua de Sinais eacute liacutengua
Stokoe (1960) ldquopercebeu e comprovou que a liacutengua de sinais atendia a todos os
criteacuterios linguiacutesticos de uma liacutengua genuiacutena no leacutexico na sintaxe e na capacidade de
gerar uma quantidade infinita de setenccedilasrdquo Stokoe observou que os sinais natildeo eram
imagens mas siacutembolos abstratos complexos com uma complexa estrutura interior
[] Comprovou inicialmente inicialmente que cada sinal apresentava pelo menos
trecircs partes independentes (em analogia com os fonemas da fala) ndash a localizaccedilatildeo a
configuraccedilatildeo de matildeos e o movimento ndash e que cada parte possuiacutea um nuacutemero
limitado de combinaccedilotildees [] (QUADROS E KARNOPP 2004 p 30-31)
Os estudos do linguiacutesta representou o primeiro passo para outras pesquisas em relaccedilatildeo
a Liacutengua de Sinais Em diversos paiacuteses pesquisas foram realizadas O Brasil foi um deles
No Brasil no final dos anos de 1970 a proposta da educaccedilatildeo biliacutengue reconhece a
Libras como liacutengua natural portanto deve ser ensinada como primeira liacutengua desde o iniacutecio
da escolarizaccedilatildeo da crianccedila surda e a comunidade surda reconhece o portuguecircs como a liacutengua
oficial do Brasil e deve ser ensinada como segunda liacutengua na forma oral ou escrita
(SLOMSKI 2010)
8 Bulwer (1644) em seu livro esclarece que a quirologia eacute um dicionaacuterio de gestos manuais e quirema eacute um
manual para o uso efetivo do gesto de falar em puacuteblico
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Segundo Quadros (2009 p144) no entanto a Liacutengua de Sinais comeccedilou a ser
investigada efetivamente nas deacutecadas de 80 e 90 por Ferreira Brito (1986 1995) Felipe
(1992 1993) Quadros (1995 1999) e a aquisiccedilatildeo da Liacutengua Brasileira de Sinais nos anos 90
(Karnopp (1994 1999 Quadros (1995 1997)
Na deacutecada de 1980 a 1990 tem-se um panorama mundial para a abordagem biliacutengue
na educaccedilatildeo de surdos Slomski (2010 p 61) destaca que em 1994 Lucinda Ferreira Brito
passa a utilizar a abreviaccedilatildeo de LIBRAS (Liacutengua Brasileira de Sinais) criada pela comunidade
surda Consequentemente pesquisas estudos e lutas da comunidade surda contribuiacuteram para a
instauraccedilatildeo de uma poliacutetica linguiacutestica da Liacutengua Brasileira de Sinais A que reconhece o
estatuto linguiacutestico legal por meio da Lei 10436 de 24042002
Art 1ordm Eacute reconhecida como meio legal de comunicaccedilatildeo e expressatildeo a Liacutengua
Brasileira de Sinais ndash Libras e outros recursos de expressatildeo e por ela associados
Paraacutegrafo uacutenico Entende-se como Liacutengua Brasileira de Sinais ndash Libras a forma e
comunicaccedilatildeo e expressatildeo em que o sistema linguiacutestico de natureza visual-motora
com estrutura gramatical proacutepria constituem um sistema linguiacutestico de transmissatildeo
de ideias e fatos oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil
[](BRASIL 2007 p 2)
A Liacutengua de Sinais como jaacute mencionado eacute uma liacutengua natural composta por de todos
os componentes agraves liacutenguas orais como gramaacutetica semacircntica pragmaacutetica sintaxe e outros
elementos preenchendo os requisitos cientiacuteficos para ser considerado um sistema linguiacutestico
Conforme Felipe e Monteiro (2004 p23) as Liacutenguas de Sinais satildeo compostas por
signos linguiacutesticos denominados bdquosinais‟ encontrados nos seguintes paracircmetros
Configuraccedilatildeo das Matildeos Ponto de Articulaccedilatildeo Movimento Orientaccedilatildeo Expressatildeo Facial eou
Corporal Estes paracircmetros satildeo requisitos necessaacuterios para que sejam constituiacutedos os sinais
Portanto a Liacutengua de Sinais eacute considerada como liacutengua natural do sujeito surdo
como sua primeira liacutengua-L1 Jaacute a liacutengua majoritaacuteria de um paiacutes no caso do Brasil eacute a
Liacutengua Portuguesa como L2 Partindo do pressuposto que a Liacutengua de Sinais eacute a primeira
liacutengua do surdo a aquisiccedilatildeo da primeira liacutengua pelas crianccedilas surdas deve se dar de forma
natural no contato com surdos sinalizados pertencentes agrave comunidade surda A Liacutengua
Portuguesa por sua vez eacute aprendida de forma sistemaacutetica ou seja precisa ser ensinada por
meio de teacutecnicas especiacuteficas de ensino de segunda liacutengua
A partir desta compreensatildeo as crianccedilas surdas precisam ter a oportunidade do contato
com seus pares Crianccedilas surdas que natildeo tecircm um conviacutevio com surdos por terem nascido
dentro de familias ouvintes que usam a liacutengua oral precisam que os pais familiares
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oportunizem a elas o mundo essencialmente visual-espacial para conhecer a Liacutengua de
Sinais Sobre a questatildeo Quadros (2005 p30) afirma
As crianccedilas surdas e seus pais ouvintes poderiam compartilhar o bilinguismo liacutengua
portuguesa e liacutengua de sinais brasileira e ir aleacutem descobrindo os vieses das culturas
e identidade que se entrecruzam [] Assim as crianccedilas surdas precisam ter acesso
agrave liacutengua de sinais com sinalizantes fluentes desta liacutengua muito cedo Estes
sinalizantes satildeo pessoas que normalmente natildeo fazem parte do ciacuterculo de pessoas
que a crianccedila usualmente teria contato Os pais teratildeo que conhecer comunidade
surda que usa esta liacutengua
Nesta perspectiva Souza (apud QUADROS 2005) menciona que se no iniacutecio do seu
desenvolvimento a crianccedila surda tiver a chance de contar com pais dispostos a aprenderem a
liacutengua de sinais com adultos surdos colegas surdos e conversarem ldquosinalizandordquo a
dimensatildeo do seu processo educacional seraacute outra A aquisiccedilatildeo da liacutengua seraacute transferida para
o espaccedilo escolar ldquoO fato de passar a ter contato com a liacutengua portuguesa com significado
trazendo seus conceitos adquiridos na sua proacutepria liacutengua possibilitaraacute um processo muito
mais significativordquo (ibid p33)
Por isso eacute de importacircncia fundamental a crianccedila surda esteja em contato linguiacutestico
com a liacutengua de sinais o mais cedo possiacutevel seja com a comunidade surda ou com seus pais
ouvintes que adquiriram a Liacutengua de Sinais como L2 Estes fatores iratildeo influenciar a crianccedila
estabelecer a sua identidade e cultura surda naturalmente Neste sentido Fantinel (1999 p2)
menciona que ldquoo uso da Liacutengua de Sinais eacute uma condiccedilatildeo fundamental na construccedilatildeo da
identidade dessas pessoas pois eacute o fator que os aproxima e reuacutene em grupos permitindo-lhes
expressarem-se construindo significados para a vidardquo
A Liacutengua de Sinais portanto eacute um aspecto fundamental da cultura surda Para tanto
Strobel (2008 p44) ainda enfatiza que para que o sujeito surdo possa ter acesso agraves
informaccedilotildees e conhecimentos aleacutem de construir sua identidade eacute fundamental criar uma
ligaccedilatildeo com o povo surdo que usa a sua liacutengua em comum pois a Liacutengua de Sinais eacute uma das
principais marcas da identidade de um povo surdo uma particularidade da cultura surda uma
forma de comunicaccedilatildeo que capta as experiecircncias visuais dos sujeitos surdos E somente a
partir do uso desta liacutengua que a crianccedila conseguiraacute seu pleno desenvolvimento cognitivo
psicoloacutegico emocional e cultural proporcionando assim a aquisiccedilatildeo do conhecimento
universal
Desta forma ao refletirmos sobre a pessoa surda na construccedilatildeo de sua identidade e
cultura surda entende-se que o contato linguiacutestico eacute essencial Logo o que dizer das pessoas
26
surdas que vivem isoladas de comunidades surdas que natildeo tem esse contato com Liacutengua de
Sinais Sobre esta realidade Strobel esclarece que
No entanto incluem tambeacutem os gestos denominados ldquosinais emergentesrdquo ou ldquosinais
caseirosrdquo dos sujeitos surdos de zonas rurais ou sujeitos isolados de comunidades
surdas que procuram entender o mundo atraveacutes dos experimentos visuais e que
procuram comunicar apontando e criando sinais [] (ibidem p44)
Ainda sobre a questatildeo Vilhalva (2012 p 30) ressalta que ldquo[] Os sinais emergentes
tambeacutem conhecidos como sinais caseiros satildeo essenciais quando vistos como comunicaccedilatildeo
natural usada em um espaccedilo familiar ou social []rdquo Nesse caso podemos referir ao iacutendio
surdo que vive isolado do contato com a comunidade surda Este surdo tambeacutem se identifica
com o povo surdo apesar de natildeo ter contato e de natildeo pertencer agraves mesmas comunidades
surdas na medida em que de acordo com Strobel (2008) eles compartilham as mesmas
peculiaridades ou seja constroem sua formaccedilatildeo de mundo atraveacutes de artefato cultural visual
13 Liacutenguas de Sinais Indiacutegenas pesquisadas no Brasil
Os registros da existecircncia de iacutendios surdos segundo Vilhalva (2008) apontam para o
Estatuto do Iacutendio - Lei nordm 6001 de 19121973 que norteou as relaccedilotildees do Estado brasileiro
com as populaccedilotildees indiacutegenas ateacute a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 em seu Paraacutegrafo
uacutenico do Art 1ordm assegura
Aos iacutendios e agraves comunidades indiacutegenas se estende a proteccedilatildeo das leis do Paiacutes nos
mesmos termos em que se aplicam aos demais brasileiros resguardados os usos
costumes e tradiccedilotildees indiacutegenas bem como as condiccedilotildees peculiares reconhecidas
nesta Lei
Neste sentido no Brasil a liacutengua oficial eacute a Liacutengua Portuguesa Fossile (2013 p 4)
afirma que ldquoo paiacutes conta atualmente segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatiacutestica (IBGE) com aproximadamente 210 liacutenguas sendo 190 delas indiacutegenasrdquo Essas
liacutenguas indiacutegenas satildeo consideradas como liacutenguas minoritaacuterias sem importacircncia em relaccedilatildeo ao
portuguecircs No entanto algumas possuem mais prestiacutegio em relaccedilatildeo agraves outras
Em relaccedilatildeo ao conhecimento da liacutengua e da diversidade na dinacircmica soacutecio-cultural das
populaccedilotildees indiacutegenas deveria haver prioridades para estudos no campo linguiacutestico para
acadecircmicos e pesquisadores indios De fato o conhecimento das liacutenguas faladas e no
contexto tem-se essa diversidade para iacutendios surdos deveria ser compartilhada com a
27
sociedade indiacutegena de forma que esta possam participar ativamente na elaboraccedilatildeo de poliacuteticas
e programas que respondam agraves suas necessidades seus direitos considerando-se em particular
suas culturas e liacutenguas
Segundo Vilhalva (2008) pesquisas no campo da linguiacutestica e de poliacuteticas linguiacutesticas
avanccedilaram consideravelmente no Brasil Tendo poreacutem ainda uma grande necessidade de
maiores pesquisas principalmente referente a diferentes Liacutenguas de Sinais pertencentes a
diferentes comunidades como as dos povos indiacutegenas Neste sentido a autora argumenta
A Liacutengua de Sinais Indiacutegenas praticadas pelos iacutendios surdos existentes em diversas
comunidades indiacutegenas do paiacutes traz consigo caracteriacutesticas culturais e linguiacutesticas
variadas bdquoInfelizmente raramente satildeo registradas como satildeo registradas outras liacutenguas
brasileiras de diferentes comunidades com suas especificidades culturais e eacutetnicas ‟
(VILHALVA 2008 p 29)
Sobre a questatildeo Nonaka coloca que
desde 1960 quando se iniciaram os estudos linguiacutesticos e antropoloacutegicos em
referecircncia agraves Liacutenguas de Sinais a maior parte das investigaccedilotildees tem incidido sobre
as Liacutenguas de Sinais nacionais ou padratildeo usadas pelos surdos de diferentes paiacuteses
com escassa atenccedilatildeo agraves Liacutenguas de Sinais usadas pelos indiacutegenas em sua
comunicaccedilatildeo original (apud VILHALVA 2012 p 30)
Por isso Vilhalva defende a comunicaccedilatildeo dos iacutendios surdos como objeto de estudo da
linguiacutestica afirmando que
[] Sabemos tambeacutem que a Libras estaacute presente nas terras indiacutegenas
apontando que a influecircncia aconteceraacute Sendo assim consideramos quanto o leacutexico
das liacutenguas estaacute no processo de mudanccedilas atraveacutes do neologismo espontacircneo ou o
empreacutestimo linguiacutestico de outras liacutenguas (ibid p37)
Observa-se que os estudos sobre a Libras nas terras indiacutegenas comeccedilaram na deacutecada
de 1980 com pesquisas da brasileira Lucinda Ferreira Brito sobre a Liacutengua Brasileira de
Sinais Segundo Slomski (2010) Lucinda Ferreira Brito iniciou sua pesquisa atraveacutes de um
padratildeo internacional de abreviaccedilatildeo das Liacutenguas de Sinais adotando a sigla LSCB ndash Liacutengua de
Sinais dos Centros Urbanos Brasileiros para diferenciaacute-la da LSKB ndash Liacutengua de Sinais
Kaapor Brasileiros que eram a utilizada pelos iacutendios do Estado do Maranhatildeo
Diante do panorama exposto se faz necessaacuterio no campo da linguiacutestica dos estudos
surdos pesquisas sobre a Liacutengua de Sinais usadas pelos iacutendios surdos nas diferentes
comunidades indiacutegenas para que seja reconhecida e registrada Infelizmente somente uma
28
liacutengua indiacutegena eacute oficialmente reconhecida no Brasil a Liacutengua de Sinais Indiacutegena da
comunidade Urubu-Kaapor devido ao alto iacutendice de surdos
131 Liacutengua de Sinais Urubu-Kaapor
Os resultados do Censo 2010 (IBGE 2013) apontam para 274 liacutenguas indiacutegenas
faladas por indiviacuteduos pertencentes a 305 etnias diferentes Embora haja a necessidade de
estudos linguiacutesticos e antropoloacutegicos mais aprofundados quanto aos nuacutemeros totais de liacutengua
e etnia
Dentro desse universo a uacutenica Liacutengua de Sinais indiacutegena reconhecida conforme
referido anteriormente eacute a utilizada pela etnia indiacutegena brasileira dos Urubu-Kaapor9
chamados tambeacutem por urubus-caapores Os estudos sobre essa Liacutengua de Sinais apontam para
o iniacutecio da deacutecada de 1950
De acordo com Ribeiro (1996 apud FASSILE 2013 p 2)
Em 1950 foi descoberto no Brasil um grupo indiacutegena atraveacutes de pesquisas
antropoloacutegicas os Urubu-Kaapor na floresta Amazocircnica (Maranhatildeo) que falava
uma variaccedilatildeo da liacutengua de sinais Somente a partir da deacutecada de 1980 estudos
linguiacutesticos relacionados agrave Liacutengua de Sinais Kaapor Brasileira (LSKB) foram
aprofundados (sobre a LSKB cf KAKUMASU J KAKUMASU K 1977)
Segundo Brito (1993 apud FASSILE 2013 p 2) J Kakumasu defendeu que ldquo[] a
Liacutengua de Sinais dos Urubu-Kaapor [] [se constituiacutea como] um veiacuteculo de comunicaccedilatildeo
intratribal e natildeo como meio de transaccedilatildeo comercialrdquo Neste sentido resgata-se que
No Brasil Lucinda Brito inicia seus importantes estudos linguiacutesticos em
1982 sobre a Liacutengua de Sinais dos iacutendios Urubu-Kaapor da floresta amazocircnica
brasileira apoacutes um mecircs de convivecircncia com os mesmos documentando em filme
sua experiecircncia A ideia para a pesquisa adveio da leitura de um artigo publicado no
livro de Umiker-Sebeok (1978) de autoria de J Kakumasu Urubu Sign Language
No estudo a Liacutengua de Sinais dos Urubu-Kaapor se diferenciaria da PSL por
constituir um veiacuteculo de comunicaccedilatildeo intratribal e natildeo como meio de transaccedilatildeo
comercial Lucinda Brito poreacutem constatou que a mesma se tratava de uma legiacutetima
Liacutengua de Sinais dos surdos pelos mesmos criados
O interessante de se observar no caso dos Urubu-Kaapor eacute que os ouvintes da
aldeia falam a Liacutengua de Sinais e a liacutengua oral evidentemente enquanto que os
surdos se restringem agrave Liacutengua de Sinais Assim os ouvintes da aldeia se tornam
biliacutengues enquanto os surdos se mantecircm monoliacutengues (RAMOS 2011 p 6)
9 Disponiacutevel emlthttpwwwlibrascombrurubu-kaaporgt Acesso em 19112013
29
A Liacutengua Kaapor eacute uma liacutengua da famiacutelia Tupi-Guarani natildeo falada por outra tribo ou
povo exceto como segunda liacutengua Possuem uma liacutengua de sinais proacutepria (a Liacutengua Brasileira
de Sinais Kaapor) usada tanto pela comunidade surda do povo como tambeacutem por seus
membros natildeo surdos na comunicaccedilatildeo com os surdos
[] os Kaapor satildeo linguisticamente peculiares na Amazocircnia por terem uma
linguagem padratildeo de sinais usada para a comunicaccedilatildeo com os surdos que ateacute a
metade dos anos 80 compunham cerca de 2 da totalidade de sua populaccedilatildeo A
incidecircncia de surdez deveu-se evidentemente agrave bouba neonatal e endecircmica que foi
erradicada10
O interessante eacute que a comunidade indiacutegena desenvolveu uma forma proacutepria de
comunicaccedilatildeo por sinais que comeccedilou a ser estudada na deacutecada de 1960 pelo pesquisador
canadense James Kakumasu em (1968) e em seguida pela linguista brasileira Linguista
Lucinda Ferreira Brito ldquo[] A Liacutengua de Sinais Brasileira para diferenciaacute-la da LSKB
(Liacutengua de Sinais Kaapor Brasileira) utilizados pelos iacutendios Urubu-Kaapor no Estado do
Maranhatildeordquo (GOLDFELD 1997 p 30) A pesquisadora registrou a existecircncia da Liacutengua de
Sinais Kaapor em sua pesquisa sobre termos baacutesicos para cores em Liacutengua de Sinais
132 Liacutengua de Sinais Emergentes
Vilhalva (2012) se preocupou sobre a situaccedilatildeo linguiacutestica dos iacutendios surdos trazendo
grandes contribuiccedilotildees cientiacuteficas na aacuterea da linguiacutestica referente agraves Liacutenguas de Sinais
Indiacutegenas Sua pesquisa iniciou em 1991 com iacutendios surdos na comunidade indiacutegena de Satildeo
Marcos
O estudo dos sinais emergentes que se deseja apresentar objetiva natildeo apenas
recuperar os registros sobre as liacutenguas padratildeo mas tambeacutem e sobretudo procurar
realizar um levantamento de como se apresenta atualmente o uso desses sinais
emergentes e ateacute mesmo da histoacuteria da produccedilatildeo desses sinais para que se possa
fazer o registro cientifico sobre a situaccedilatildeo linguiacutestica dos iacutendios surdos dentro das
escolas indiacutegenas [] (VILHALVA 2012 p11a)
Souza e Segala (2009 p28) abordam que a maior parte das liacutenguas nasceu do
contato entre duas ou mais liacutenguas ou de uma liacutengua e sistemas de sinais caseiros (Liacutengua de
Sinais Primaacuteria) Observa-se que ldquosinais caseiros ou Liacutengua de Sinais Primaacuterios
correspondentes aos gestos ou construccedilatildeo simboacutelica inventadas no acircmbito familiar eacute comum
10
Disponiacutevel emlthttppibsocioambientalorgptpovokaaporgt Acesso em 19112013
30
a constituiccedilatildeo de um sistema convencional de comunicaccedilatildeo entre matildee-ouvinte e crianccedila
surdardquo
Sobre a origem dos sinais emergentes Vilhalva explica que
[] os sinais emergentes foram criados devido a uma necessidade de comunicaccedilatildeo
passando por sinais indicativos icocircnicos e arbitraacuterios A maneira como cada sinal
surge levam tempo para se entender principalmente quando os sinais satildeo criados
conforme o neologismo11
Esses novos sinais passam a fazer parte da comunicaccedilatildeo
para depois designar algo consistentemente como acontece tambeacutem agraves liacutenguas
orais-auditivas (2012 p137-138)
Desta forma a autora em sua pesquisa argumenta que os sinais emergentes
considerados em seu estudo como Liacutengua de Sinais constituem como o meio de
comunicaccedilatildeo primaacuteria dos iacutendios surdos das comunidades indiacutegenas do Mato Grosso do Sul
Partindo deste achado Rousseau jaacute mencionava em seus estudos ldquoEnsaio sobre a origem das
liacutenguasrdquo que
O uso e a necessidade ensinam a cada um a liacutengua de seu paiacutes mas o que eacute que faz
com que essa liacutengua seja a de seu proacuteprio paiacutes e natildeo a de um outro [] No
momento em que um homem foi reconhecido por um outro como um ser sensiacutevel
pensante e semelhante a ele o desejo ou a necessidade de comunicar-lhe os proacuteprios
sentimentos e os proacuteprios pensamentos fez com que procurasse os meios de fazecirc-lo
(2008 p 97)
Assim o primeiro contato do ser humano eacute com o outro da mesma espeacutecie No caso da
matildee com seu filho Conforme Sacks (1998 p 7) comenta que
[] a primeira comunicaccedilatildeo geralmente se daacute entre matildee e filho e a liacutengua eacute
adquirida emerge entre eles dois Sendo assim Os sinais emergentes tambeacutem satildeo
fruto da linguagem num processo visual usados pelos surdos indiacutegenas e seus
familiares ouvintes na interaccedilatildeo com o meio (VILHALVA 2012 p 137)
Vilhalva (2012) entatildeo percebeu a predominacircncia dos gestos caseiros criados pelos
proacuteprios surdos para interagirem com suas famiacutelias e com as pessoas que os rodeiam Ou
seja a crianccedila surda que nasce na famiacutelia de ouvinte comeccedila a criar a partir de um meio de
comunicaccedilatildeo visual usando todas as formas naturais possiacuteveis desde o apontamento ateacute os
gestos naturais O uso que destes sinais criados pelas necessidades do ambiente familiar com
o passar do tempo vatildeo se convencionando a forma de interaccedilatildeo dialoacutegica passando a
transformar-se em um meio de comunicaccedilatildeo essencial resultando assim no processo
11
Satildeo palavras criadas para designar novas situaccedilotildees novos conceitos fatos objetos etc sendo que um
neologismo soacute eacute sentido como tal durante algum tempo pois passados anos ou seacuteculos deixa de ter sentido
como tal porque a realidade que ele designa jaacute natildeo eacute nova
31
evolutivo dos sinais familiares para os sinais emergentes para transiccedilatildeo para a Liacutengua de
Sinais ou seja arbitraacuteria convencional Esse processo se daacute por meio do processo cognitivo
fundamentada na teoria de Cuxac
Construccedilatildeo do dizer a partir do processo criativo de performance gestual Iconizando
da experiecircncia perceptivo-praacutetica Rotinas de Transferecircnciandashpassagem da ilustraccedilatildeo
especifica para a categorizaccedilatildeo geneacuterica Sinais estabelecidos num grupo reduzido
categorias e generalizaccedilotildees dos sinais gestuais Nasce uma liacutengua de Sinais com
todas as propriedades de uma liacutengua (apud VILHALVA 2012 p138)
Vilhalva (2012) ainda destaca que se observarmos a Lei nordm 10436 de 24 de abril de
2002 vamos verificar que em seu artigo primeiro ldquoficam reconhecidos como meio legal de
comunicaccedilatildeo e expressatildeo a Liacutengua Brasileira de Sinais-Libras ndash e outros recursos de
expressatildeo a ela associadosrdquo Nesses bdquooutros recursos‟ podem figurar segundo compreensatildeo
da mesma os sinais emergentes produzidos nas comunidades indiacutegenas Se a Liacutengua
Brasileira de Sinais uma forma de comunicaccedilatildeo e expressatildeo cujo canal de produccedilatildeo e
recepccedilatildeo eacute de natureza visual-motora com estrutura gramatical proacutepria constituindo um
sistema linguiacutestico de transmissatildeo de ideias e fatos oriundos de comunidades de pessoas
surdas no Brasil conforme estaacute na lei eacute compreensivo dizer que nada fala sobre um padratildeo de
sinalizaccedilatildeo (p34)
Conclui-se que conforme pesquisa da autora citada os estudos dos sinais emergentes
mostraram que este eacute o ponto inicial das novas Liacutenguas de Sinais que segundo a mesma
merecem ser aprofundadas
1321 Realidade do contexto educacional escolar do indiacutegena surdo
Vilhalva (2012) destaca que o indiviacuteduo surdo soacute teraacute um sistema gestual linguiacutestico
organizado no contato do agrupamento comunitaacuterio especificamente da comunidade surda
com o contato com a Liacutengua de Sinais E isso muitas vezes acontece em geral somente no
acircmbito escolar biliacutengue onde haacute outros surdos inteacuterpretes e professores ouvintes que fazem
uso da Liacutengua de Sinais Por isso eacute essencial uma escola que respeite a diversidade linguiacutestica
como no caso desta comunidade Desta forma se faz necessaacuterio presenccedila na escola de
inteacuterpretes vindo das cidades mais proacuteximas das terras indiacutegenas de modo que
32
[] o Professor ministra as aulas em Portuguecircs e tem disciplina em Guarani
Observamos que pelo fato de os professores da pedagogia diferenciada indiacutegena
realizarem sua formaccedilatildeo em universidades locais onde o assunto em torno da surdez
e da Libras satildeo discutidos estes profissionais tecircm uma formaccedilatildeo que respeita natildeo soacute
a cultura e a liacutengua indiacutegena mas tambeacutem a cultura e a Liacutengua de Sinais
caracteriacutesticas que estatildeo presentes nas escolas indiacutegenas biliacutengues em que a liacutengua
de instruccedilatildeo eacute o Guarani-Portuguecircs(VILHALVA 2012 p 11b)
Poreacutem o que natildeo eacute o caso da escola Araporatilde mencionada por Vilhalva (2012) que teve
preferecircncia do inteacuterprete indiacutegena para a preservaccedilatildeo da cultura liacutengua e saber Foi observado
na pesquisa que os indiacutegenas surdos com vinte anos de idade em diante demonstram
seguranccedila ao sinalizar com o pesquisador surdo usando seus sinais emergentes de forma
natural Os mais novos de escolas indiacutegenas mas da mesma comunidade indiacutegena natildeo
demonstraram o uso de sinais emergentes e sim apresentaram diretamente sua comunicaccedilatildeo
em Libras Entretanto os resultados apontam que natildeo haacute como dizer se o atendimento
educacional para o iacutendio surdo estaacute acontecendo em todas as comunidades indiacutegenas ldquopois
interfere numa questatildeo de respeitar o que diz o proacuteprio plano de educaccedilatildeo sobre uma visatildeo
amplamente ligada agrave liacutengua cultura e diversidade nas escolas e terras indiacutegenasrdquo (ibid p36)
Nesta oacutetica se realmente as poliacuteticas linguiacutesticas fossem mais enfaacuteticas em suas
propostas de realizar a planificaccedilatildeo linguiacutestica incluindo a criaccedilatildeo de escolas biliacutengues e de
legislaccedilotildees especiacuteficas para as questotildees referentes agraves liacutenguas o indiviacuteduo indiacutegena surdo
poderia ter seus direitos linguiacutesticos assegurados
Neste sentido resgata-se o Referencial Curricular Nacional para Escolas Indiacutegenas
(1998) o qual menciona que
[] as tradiccedilotildees culturais os conhecimentos acumulados a educaccedilatildeo das geraccedilotildees
mais novas as crenccedilas o pensamento e a praacutetica religiosa as representaccedilotildees
simboacutelicas a organizaccedilatildeo poliacutetica os projetos de futuro enfim a reproduccedilatildeo
sociocultural das sociedades indiacutegenas satildeo na maioria dos casos manifestaccedilotildees
atraveacutes do uso de uma liacutengua Mesmo os povos indiacutegenas que satildeo hoje monoliacutengues
em liacutengua portuguesa continuam a usar a liacutengua de seus ancestrais como um siacutembolo
poderoso para onde confluem muitos de seus traccedilos identificatoacuterios construindo
assim um quadro de bilinguismo simboacutelico importante [grifo nosso]
Ou seja assim como para o surdo urbano brasileiro eacute reconhecida legalmente sua
liacutengua natural - Libras e a Liacutengua Portuguesa como segunda liacutengua -L2 para o indiacutegena surdo
deveria ser assegurado o mesmo direito para aprender esta forma de comunicaccedilatildeo ndash Liacutengua de
Sinais como primeira liacutengua e como segunda liacutengua a Liacutengua de sua etnia na modalidade
33
escrita Sendo portanto biliacutengue ou ainda triliacutengue com aquisiccedilatildeo da Liacutengua Portuguesa
tambeacutem na modalidade escrita
Nesta perspectiva observa-se que Saacute (2011 p33) afirma que tanto indiacutegenas como
surdos tecircm uma liacutengua proacutepria e uma cultura diferenciada Entatildeo porque natildeo ser reconhecida
legalmente a Liacutengua de Sinais utilizada pelos iacutendios surdos e a Liacutengua de sua comunidade
Como bem percebido por Vilhalva haacute a carecircncia de pesquisas voltadas para o registro de
liacutengua de sinais entre os iacutendios surdos brasileiros o que certamente constitui-se em um dos
fatores que favorecem a existecircncia desta lacuna na legislaccedilatildeo E que tal fato deveria ser um
despertar para pesquisadores da linguiacutestica sejam ouvintes ou surdos
34
2 A HISTOacuteRIA DO POVO INDIacuteGENA SATEREacute-MAWEacute CULTURA E LIacuteNGUA
Os povos indiacutegenas durante muito tempo foram considerados como povos sem
histoacuteria e sem uma liacutengua proacutepria Poreacutem com as muitas lutas eacutetnicas com estudos
antropoloacutegicos e com as abordagens historiograacuteficas iniciou-se uma valorizaccedilatildeo da
sociedade indiacutegena passando assim o povo indiacutegena a ser perspectivado nas suas
singularidades histoacutericas culturais e linguiacutesticas
Vale ressaltar que quando se refere a ldquoliacutenguasrdquo sabe-se que natildeo haacute apenas uma liacutengua
indiacutegena Existem muitos povos ou etnias indiacutegenas distintas As liacutenguas indiacutegenas no Brasil
se agrupam em famiacutelias linguiacutesticas ou seja famiacutelias que tecircm semelhanccedilas entre si e que satildeo
agrupadas por sua vez em troncos linguiacutesticos assim como as liacutenguas isoladas12
ou seja
liacutenguas que natildeo parecem ter parentesco com nenhuma das famiacutelias linguiacutesticas conhecidas
Segundo Rodrigues (2002) as famiacutelias indiacutegenas estatildeo agrupadas em Tronco
Linguiacutestico Tupi famiacutelia Tupi-Guarani (Akwaacutewa Amanayeacute Anambeacute Apiakaacute Araweteacute
Asurini Avaacute Guajaacute Guarani Kamayuraacute Kayabi Suryiacute Kaiwaacute) famiacutelia Munduruku
(Kuruaacuteya Mundurukuacute) Famiacutelia Tupari (Makuraacutep Tupari Wayoroacute) Famiacutelia Arikeacutem
(Karitiaacutena) Famiacutelia Juruna (Juruna) Famiacutelia Mondeacute (Aruaacute Cinta-Larga Gaviatildeo Mekeacutem
Mondeacute Suruiacute Zoroacute) Famiacutelia Ramaraacutema (Araacutera Itoqapuk) Outras Liacutenguas (Aweti
Puruboraacute Satereacute-Maweacute) entre outros troncos linguiacutesticos como Macro-Jecirc e sua diversidade
de famiacutelias existentes entre elas as liacutenguas isoladas
Um desses povos indiacutegenas foi o da etnia Satereacute-Maweacute Estes sofreram muitas
influecircncias em seu modo de vida advinda do contato com grupos natildeo indigenas que implicou
no processo de perda de muitos dos seus aspectos culturais A histoacuteria relata que o contato se
deu pela chegada dos colonizadores e posteriormente das missotildees religiosas E na atualidade
por ocupantes de terras como fazendeiros madeireiros emigrantes de outros Estados Foram
perdas irreparaacuteveis todavia como elo de resistecircncia procuraram sustentar em sua estrutura
original sua liacutengua
12
Segundo Rodrigues (2002 p93) liacutenguas isoladas refere-se as liacutenguas isoladas linguisticamente ou seja
liacutenguas que natildeo revelam parentesco geneacutetico com nenhuma outra Natildeo pertencem a nenhuma famiacutelia (ou tronco)
isto eacute constituem famiacutelias de um soacute membro
35
21 Breve Relato Histoacuterico
A histoacuteria do povo indiacutegena Satereacute-Maweacute tem sido foco de estudos dos diversos
segmentos de pesquisas como as realizadas por antropoacutelogos historiadores religiosos e
cientistas da linguagem Estes relatam a origem a liacutengua e a cultura desse povo
Uggeacute (1993 p 5) informa que ldquoOs Maueacutes descendentes das tribos indiacutegenas
denominadas no passado pelo nome de ANDIRAacute e MARAGUAacute que faz parte da aacuterea cultural
Tapajoacutes-Madeira entre a divisa dos atuais Estados do Paraacute e Amazonasrdquo O autor ainda
menciona que cronistas exploradores missionaacuterios antropoacutelogos naturalistas do passado
identificaram os Maueacutes tambeacutem com outros nomes (Maooz Mabueacute Jaquezes Manguases
Mahueacutes Mauris Maweacute Maragua e Maraguazes)
A origem do nome Satereacute-Maweacute advem dos termos Satereacute (lagarta vermelha) que eacute o
nome do clatilde dos antigos chefes e Maweacute (papagaio inteligente guerreiro e curioso) que eacute o
nome mais comum de um dos grupos tribais que conseguiram sobreviver agrave extinccedilatildeo das
numerosas tribos indiacutegenas da ilha Tupinambarana do Meacutedio Amazonas (IDEM) Cerqua13
faz referecircncia agrave primeira notiacutecia sobre o povo Satereacute-Maweacute ldquoEacute por volta de 1669 quando o
Pe Betendorf duas vezes superior provincial dos jesuiacutetas lembra a ldquovila dos Maguasesrdquo
grafia antiga de Maueacutes [] (1980 p 209)rdquo ou seja Maueacutes foi residecircncia missionaacuteria mas
natildeo permanente dos padres pois os mesmos residiam mais em Tupinambarana (rio
Amazonas) atual Parintins e visitavam Maueacutes temporariamente
A etnia Satereacute-Maweacute sofreu muitas mudanccedilas de localidades devido muitos fatores
que contribuiacuteram para o deslocamento desse povo segundo explica Lorez apud Teixeira
(2005 p21)
Devido agraves guerras com os Munduruku e Parintintim e ao contato com os
portugueses os Satereacute-Maweacute perderam grande parte de seu territoacuterio original Em
1691 os Maweacute surgem na cartografia regional com o nome de Mabueacute(mapa do
Padre Samuel Fritz) Missotildees foram localizadas para os iacutendios Magueacute denominadas
Satildeo Joatildeo (Pinhel) e Santo Inaacutecio (Boim) Posteriormente em 1835 lutando ao lado
dos Munduruku e dos Mura como tambeacutem de outras tribos indiacutegenas do rio Negro
os Satereacute-Maweacute aderiram ao movimento cabano ateacute que em 1839 o conflito foi
debelado Devido agraves epidemias agraves lutas e agraves perseguiccedilotildees aos povos indiacutegenas que
combatiam ao lado dos cabanos enormes aacutereas da Amazocircnia foram devastadas o
que provocou deslocamentos desses grupos populacionais de seus territoacuterios
ancestrais e de populaccedilatildeo Segundo relatos de viajantes desde o seacuteculo XVIII o
territoacuterio dos Satereacute-Maweacute vem sendo paulatinamente reduzido Essa reduccedilatildeo se
deu a partir das tropas de resgate que penetraram grandes aacutereas da Amazocircnia da
implantaccedilatildeo de missotildees jesuiacutetas e carmelitas ao longo dos principais rios
13
Dom Arcacircngelo Bispo Prelado de Parintins de 1980
36
amazocircnicos da ldquobusca desenfreadardquo das drogas do sertatildeo com a exploraccedilatildeo da
borracha durante o seacuteculo XIX e iniacutecio do XX e por fim da ldquoexpansatildeo econocircmica
das cidades de Maueacutes Barreirinha Parintins e Itaituba para o interior dos
municiacutepios alocando fazendas extraindo pau-rosa abrindo garimpos dominando a
economia indiacutegena atraveacutes de regatotildeesrdquo As cidades de Maueacutes Parintins e Itaituba
inclusive foram fundadas sobre restos de malocas dos Satereacute-Maweacute
Cerqua (1980 p265) destaca a localizaccedilatildeo dessa tribo delimitando que ldquoA tribo estaacute
localizada em sua maioria no Alto Andiraacute e no Marau afluente do Rio Maueacutes e sua aacuterea de
cerca de 639500 ha foi demarcada pelo Decreto nordm 76999rdquo Atualmente segundo Teixeira
(apud ALVAREZ 2009) os Satereacute-Maweacute hoje satildeo grupos de 8500 indiacutegenas dos quais 7502
moram na terra indiacutegena Andiraacute-Marau nos municiacutepios de Barreirinha Maueacutes e Parintins e
aproximadamente mil residem em aacutereas urbanas destes municiacutepios Sendo que outro grupo
vive na terra indiacutegena Coataacute-Laranjal junto ao grupo Munduruku e no municiacutepio de Borba
Uggeacute (1993) comenta que os Satereacute-Maweacute sempre tiveram vontade de manter a
proacutepria identidade tribal contudo eram carentes de apoio praacutetico para ajudaacute-los a enfrentar o
perigo do mundo moderno que tentavam ldquoinvadi-losrdquo Ou seja manipulaccedilotildees externas entre a
lideranccedila indiacutegenas dos Satereacute-Maweacute o alcoolismo a dependecircncia a violecircncia dos ldquobrancosrdquo
eram os maiores perigos para este povo Satereacute-Maweacute
Poreacutem o foco de resistecircncia manteve vivo no povo Satereacute aspectos culturais
importantes como o ritual da tucandeira O ritual eacute um marco na vida dos homens porque satildeo
chamados pela formiga (tucandeira) caso o indiacutegena natildeo atenda o chamado a formiga o
levaraacute a loucura ateacute chegar agrave morte A tucandeira eacute uma divindade muito respeitada pelos
Satereacute-Maweacute Em determinado momento da histoacuteria do povo Satereacute-Maweacute o ritual da
tucandeira chegou ao ponto de natildeo ser mais praticado em decorrecircncia da imposiccedilatildeo religiosa
mas apoacutes perceberam a grande perda cultural que isso representaria voltaram a praticaacute-lo a
recuperando como parte de sua cultura
22 Classificaccedilatildeo da liacutengua Satereacute-Maweacute
Segundo Teixeira (2005) a anaacutelise da situaccedilatildeo linguiacutestica do povo Satereacute-Maweacute
baseia-se na concepccedilatildeo defendida por antropoacutelogos e linguistas que a liacutengua se configura
como um importante instrumento da cultura e da identidade de uma populaccedilatildeo
A populaccedilatildeo indiacutegena Satereacute-Maweacute pertence vaacuterios aspectos agrave famiacutelia Linguiacutestica
Tupi Rodrigues (apud ALVAREZ 2009 p17) aborda que a liacutengua da tribo Satereacute-Maweacute eacute a
37
uacutenica liacutengua de uma famiacutelia do tronco Tupi E sua classificaccedilatildeo linguiacutestica como pertencente
ao tronco Tupi foi dada pelo etnoacutegrafo Curt Nimuendajuacute (1948)
A liacutengua Satereacute-Maweacute integra o tronco linguiacutestico Tupi Segundo o etnoacutegrafo Curt
Nimuendajuacute (1948) ela difere do Guarani-Tupinambaacute Os pronomes concordam
perfeitamente com a liacutengua Curuaya-Munduruku e a gramaacutetica ao que tudo indica
eacute tupi O vocabulaacuterio Maweacute conteacutem elementos completamente estranhos ao Tupi
mas natildeo pode ser relacionada a nenhuma outra famiacutelia linguiacutestica Desde o seacuteculo
XVIII seu repertoacuterio incorporou numerosas palavras da liacutengua geral
Os homens atualmente satildeo biliacutengues falando o Satereacute-Maweacute e o portuguecircs mas a
maioria das mulheres apesar de trecircs seacuteculos de contato com os brancos soacute fala a
liacutengua Satereacute-Maweacute (TEIXEIRA 2005 p95)
A liacutengua Satereacute-Maweacute eacute falada tradicionalmente por quase todas as comunidades haacute
mais de 300 anos entretanto foi inevitaacutevel para os indiacutegenas Satereacute-Maweacute conhecer os
haacutebitos e a liacutengua portuguesa devido agrave invasatildeo dos europeus em suas terras no seacuteculo passado
o que causou a mistura de liacutenguas e consequentemente as influecircncias dos padrotildees culturais
natildeo indiacutegenas
Os Satereacute-Maweacute foram entatildeo forccedilados a se refugiarem nas zonas urbanas e ateacute mesmo
em outros estados Outro impacto que alterou o modo de falar dos liacutederes indiacutegenas foi a
necessidade de buscar apoio logiacutestico para suas comunidades principalmente para tratar da
sauacutede de sua populaccedilatildeo que sofria de doenccedilas como malaacuteria tuberculose sarampo e outras
por eles desconhecidas que causaram muitas mortes
Desta forma com o passar dos anos a liacutengua Satereacute-Maweacute sofreu influecircncias lexicais
e fonoloacutegicas do Nheengatu na regiatildeo do Andiraacute Pesquisas realizadas recentemente por
Teixeira (2005) delimitam um perfil linguiacutestico que permite conhecer um pouco mais da
cultura linguiacutestica Satereacute-Maweacute sendo esta considerada por meio da distribuiccedilatildeo geograacutefica e
etaacuteria dos que falam e natildeo falam o idioma Satereacute-Maweacute Desta feita segundo o autor
O idioma Satereacute-Maweacute eacute mais falado na aacuterea do Marau que nas demais (Andiraacute
Uaicurapaacute e Koataacute-Laranjal) Tanto na aacuterea do Andiraacute como no Marau o idioma
materno eacute falado por praticamente todas as comunidades situadas proacuteximo agraves
cabeceira dos rios (Alto Andiraacute e Alto Marau) Para as aacutereas mais proacuteximas das
cidades os falantes atingem a quase totalidade dos moradores do Baixo Marau Jaacute
no baixo Andiraacute esse nuacutemero aumenta bastante nas duas comunidades mais
proacuteximas de Parintins e Barreirinha ou seja Ponta Alegre e Guaranatuba As aacutereas
de povoamento mais recente (Uaicurapaacute Koataacute-Laranjal e mais duas no Andiraacute) tecircm
tendecircncia a apresentar proporccedilotildees menores de falantes do idioma Satereacute-Maweacute
(ibid p95)
38
O autor esclarece que moradores em terras indiacutegenas satildeo mais falantes da Liacutengua
Satereacute-Maweacute do que os que moram proacuteximo ou dentro da aacuterea urbana A pesquisa ainda
mostra agrave necessidade de sensibilizar a comunidade indiacutegena Maweacute sobre a importacircncia da
valorizaccedilatildeo de sua liacutengua agrave recuperaccedilatildeo de suas memoacuterias histoacutericas e a reafirmaccedilatildeo de suas
identidades eacutetnicas
221 Contexto educacional escolar entre os Satereacute-Maweacute
O contexto educacional Satereacute-Maweacute tem como base o reconhecimento constitucional
fundamentado na legislaccedilatildeo em vigor segundo a qual ldquosatildeo reconhecidos aos iacutendios sua
organizaccedilatildeo social costumes liacutenguas crenccedilas e tradiccedilotildees []rdquo
Por isso fundamentos gerais da educaccedilatildeo escolar indiacutegena baseiam-se na proposta do
Referencial Curricular Nacional para Escolas Indiacutegenas (1998) que contempla
Multietnicidade pluralidade e diversidade 2 Educaccedilatildeo e conhecimentos indiacutegenas 3
Autodeterminaccedilatildeo 4 Comunidade educativa indiacutegena 5 Educaccedilatildeo intercultural
comunitaacuteria especiacutefica e diferenciada Assim
Parte do sistema nacional de educaccedilatildeo a escola indiacutegena eacute um direito que deve ser
assegurado por uma nova poliacutetica puacuteblica a ser construiacuteda atenta e respeitosa frente
ao patrimocircnio linguiacutestico cultural e intelectual dos povos indiacutegenas Esse esforccedilo
de projetar uma nova educaccedilatildeo escolar indiacutegena soacute seraacute realmente concretizado com
a participaccedilatildeo direta com os principais interessados ndash os povos indiacutegenas atraveacutes de
suas comunidades educativas [] A participaccedilatildeo da comunidade no processo
pedagoacutegico da escola fundamentalmente na definiccedilatildeo dos objetivos dos conteuacutedos
curriculares e no exerciacutecio das praacuteticas metodoloacutegicas assume papel necessaacuterio para
a efetividade de uma educaccedilatildeo especifica e diferenciada (ibid p24)
Poreacutem para que de fato seja garantida uma educaccedilatildeo diferenciada natildeo eacute suficiente
que somente os conteuacutedos sejam ensinados atraveacutes do uso das liacutenguas maternas mas se faz
necessaacuterio que se incluam os conteuacutedos curriculares propriamente indiacutegenas assim como os
modos proacuteprios de transmissatildeo deste saber Em pesquisa realizada pela revista Amazocircnia
(AMAZONAS 2000) intitulada como ldquoA silenciosa revoluccedilatildeo dos Iacutendiosrdquo o povo Satereacute-
Maweacute foi considerada um dos melhores exemplos para se falar em educaccedilatildeo indiacutegena Tal
afirmaccedilatildeo foi proferida pelo antropoacutelogo Ademir Ramos (professor da Universidade do
Estado do Amazonas) Segundo o entrevistado a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 mudou a
postura em relaccedilatildeo aos iacutendios estabelecendo um processo de educaccedilatildeo diferenciada que
39
fomenta o orgulho de aprender sua lingua tambeacutem no ambiente escolar possibilitando relatos
como o transcrito abaixo
Alunos como Dati 11 da aldeia de Molongotuba carregam com orgulho a cartilha
bdquoMoweeghap onde estatildeo registrados escritos ndash liacutengua Satereacute do tronco tupi e
desenhos de situaccedilotildees do cotidiano das aldeias falando de peixes aves aacutervores e
animais A liacutengua o menino aprendeu a falar com os pais e depois na escola onde
haacute quatro anos aprendeu a escrevecirc-la Aleacutem disso ele tem aprendido tambeacutem a
bdquoliacutengua dos brancos‟
Ainda sobre a importacircncia desta perspectiva educacional em nota o vice-presidente
da organizaccedilatildeo dos professores indiacutegenas Satereacute Gecinaldo Cabral comentou sobre a
mesma enfatizando a relevacircncia do processo educacional na vida dos iacutendios da tribo Satereacute
que por serem biliacutengues satildeo capazes de expressarem e defenderem o seu povo Portanto ao
ensinar a liacutengua nativa agraves crianccedilas promovem o resgate da cultura tradiccedilatildeo e conhecimentos
indiacutegenas Uma educaccedilatildeo diferenciada natildeo resumida na liacutengua majoritaacuteria ou seja Liacutengua
Portuguesa mas na liacutengua proacutepria das etnias E desta forma sendo respeitada a diversidade
cultural de cada povo
Nesta perspectiva Teixeira (2005) em sua pesquisa descreve que a realidade do
contexto educacional escolar do povo Satereacute-Maweacute explicando que
O quadro situacional dos Satereacute-Maweacute no que concerne agrave escolarizaccedilatildeo e agrave
escolaridade apresenta elementos que devem ser entendidos natildeo soacute como resultado
da aplicaccedilatildeo de poliacuteticas educacionais mas tambeacutem como explicitaccedilatildeo de estrateacutegias
poliacuteticas usadas pelos iacutendios na negociaccedilatildeo de visibilidade e reconhecimento no
espaccedilo puacuteblico brasileiro A busca dos Satereacute-Maweacute por escola explicitada na
forma de documentos reivindicatoacuterios enviados ao poder puacuteblico solicitando
recursos para suas escolas demonstrarem os conhecimentos escolares e a
certificaccedilatildeo que a escolaridade concede importantes instrumentos de luta no
processo histoacuterico de construccedilatildeo de sua identidade cultural e de desenvolvimento de
seus projetos sociais (ibid p103)
O autor tambeacutem evidecircncia que a escolarizaccedilatildeo ainda natildeo estaacute alcanccedilando a totalidade
dos Satereacute-Maweacute sendo assim
[] com idade compreendida entre 7 e 24 anos nem nas aacutereas urbanas onde se
verifica o maior percentual de matriacuteculas (839) nem nas terras indiacutegenas (596)
Se forem consideradas as pessoas que tecircm entre 7 e 17 anos de idade os percentuais
sobem bastante mas ainda demonstram a falta de acesso da populaccedilatildeo satereacute-maweacute
agrave escola A pior situaccedilatildeo ocorre na aacuterea indiacutegena onde aproximadamente 13 dos
indiviacuteduos dessa faixa etaacuteria estatildeo fora da escola Na aacuterea urbana o percentual dos
que estatildeo fora eacute de 8 Aparentemente o elevado percentual de pessoas entre 7 e 17
40
anos de idade que estatildeo fora da escola em aacuterea indiacutegena deveria estar relacionado
com a ausecircncia de ensino fundamental de 4ordf a 8ordf seacuterie nas aldeias
No entanto isto eacute apenas uma parte da justificativa pois de 142 pessoas dessa faixa
etaacuteria que natildeo frequentam a escola apenas 32 (225) declararam ter concluiacutedo a
quarta seacuterie do ensino fundamental ou seja poderiam estar fora da escola por falta
do ensino de 5ordf a 8a seacuterie na aacuterea indiacutegena Aleacutem disso 148 crianccedilas entre 7 e 14
anos de idade natildeo frequentam a escola significando que haacute problemas na oferta de
vagas para as crianccedilas satereacute-maweacute na aacuterea indiacutegena Dessas crianccedilas mais da
metade se concentra em apenas 14 aldeias22 das quais 4 compreendendo as
pequenas comunidades de Satildeo Luiacutes Limoal Tigre a Arumatuba no Andiraacute natildeo tecircm
nenhuma crianccedila estudando Na aldeia de Tabatinga no Andiraacute apenas uma das
cinco crianccedilas moradoras estatildeo estudando e na de Santo Antocircnio tambeacutem no
Andiraacute 12 entre 16 crianccedilas de 7 a 14 anos natildeo frequentam a escola(TEIXEIRA
2005 p 104)
Segundo o autor nas cidades de Maueacutes Parintins e Barreirinha a escola frequentada
pelos Satereacute-Maweacute natildeo se define como escola indiacutegena nem tatildeo pouco como especiacutefica ou
diferenciada Talvez seja uma realidade encontrada em todas as escolas indiacutegenas no
Amazonas O que se configura em um problema na medida em que segundo Sobrinho
(2011) a escola esta definida a partir de um modelo da ldquoescola dos brancosrdquo que certamente
altera interferindo diretamente nas questotildees culturais que fazem parte do universo desses
povos gerando assim processo de exclusatildeo O autor ainda comenta que
mesmo diante da resoluccedilatildeo nordm 112011 do Conselho Estadual de Educaccedilatildeo que traz
garantias aos indiacutegenas independentemente de onde vivam ao respeito a sua liacutengua
conhecimentos e tradiccedilotildees proacuteprias nas escolas essa lei passa completamente
despercebida (ibid p 209)
Sobre a questatildeo Teixeira (2005) menciona que nas terras indiacutegenas onde estaacute em
curso a criaccedilatildeo da escola indiacutegena com educaccedilatildeo escolar especiacutefica e diferenciada - as taxas
de escolarizaccedilatildeo deixam evidente que o poder puacuteblico tem investido somente nas seacuteries
iniciais do ensino fundamental o qual apresenta o percentual de 871 de taxa liacutequida de
escolarizaccedilatildeo ou seja natildeo haacute oferta regular para as seacuteries finais do ensino fundamental nem
de ensino meacutedio Isso sem relatar a falta de formaccedilatildeo de professores indiacutegenas entre outros
fatores conforme Franceschini apresenta
A necessidade de formaccedilatildeo especiacutefica e diferenciada de nuacutemero maior de
professores principalmente para atuar nos segmentos mais adiantados do Ensino
Fundamental a implantaccedilatildeo de mais turmas de 6ordm ao 9ordm anos e do Ensino Meacutedio na
aacuterea indiacutegena construccedilatildeo-reflexatildeo do Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico das escolas
Satereacute-Maweacute associada a uma praacutetica pedagoacutegica condizente e a construccedilatildeo de
material didaacutetico proacuteprio satildeo necessidades urgentes do povo Satereacute-Maweacute Pois
apesar da legislaccedilatildeo vigente dar aos indiacutegenas o direito de escolherem seu modelo
educacional e ensinarem sua liacutengua e etnoconhecimentos na maioria das escolas das
41
comunidades Satereacute-Maweacute o modelo educacional adotado natildeo se diferencia muito
do modelo das escolas rurais da regiatildeo sendo que a liacutengua e os etnoconhecimentos
indiacutegenas natildeo constituem de fato conhecimentos que fazem parte do programa
educacional e que satildeo trabalhados de forma sistemaacutetica na escola (2012 p5)
Portanto os resultados apresentados pelo pesquisador comprovam que as accedilotildees
governamentais para educaccedilatildeo escolar indiacutegena estatildeo distantes de cumprir na sua plenitude
preceitos constitucionais o que implica em prejuiacutezo natildeo soacute na educaccedilatildeo escolar indiacutegena
como na proacutepria cultura desse povo
42
3 METODOLOGIA IMPLEMENTADA NA PESQUISA
A metodologia utilizada neste trabalho deu iniacutecio com o estudo bibliograacutefico e
pesquisa de campo Realizou-se uma investigaccedilatildeo primeiramente sobre os estudos surdos na
perspectiva linguiacutestica e cultural a posteriormente na literaturas e estudos sobre os iacutendios da
etnia Satereacute-Maweacute tomando como princiacutepio a origem os fundamentos e a histoacuteria do povo e
da Liacutengua Satereacute-Maweacute Na sequecircncia a concretizaccedilatildeo da pesquisa de campo com a
investigaccedilatildeo do objeto de estudo o iacutendio surdo e sua situaccedilatildeo sociolinguiacutestica da etnia Satereacute-
Maweacute
Figura 1 ndash Croqui da aacuterea e localidade da pesquisa
Fonte Mapa do Estado do Amazonas Censo 2010 ndash IBGE
Organizado por Vicente de Paulo Silva de Azevedo
31 Aacuterea e localidade da pesquisa
A proposta do processo investigativo para o mapeamento do objeto da pesquisa foi
demarcada delimitando a aacuterea do campo da pesquisa a Microrregiatildeo de Parintins A
Microrregiatildeo de Parintins (AMAZONAS 2012) eacute constituiacuteda por Barreirinha Boa Vista do
Ramos Maueacutes Nhamundaacute Parintins Satildeo Sebastiatildeo do Uatumatilde e Urucaraacute Vale ressaltar que
natildeo foi coberta pela pesquisa a populaccedilatildeo Satereacute-Maweacute residente em Manaus (AM)
43
32 Estrateacutegias gerais para a realizaccedilatildeo da coleta de dados
Primeiramente foi feita uma busca de dados pelo IBGE o qual informou que natildeo
havia qualquer registro sobre a populaccedilatildeo indiacutegena de surdos Sem resultado satisfatoacuterio foi
organizado um cronograma de viagens
A primeira viagem foi para o municiacutepio de Parintins onde foi feita uma visita na casa
de um iacutendio para possiacutevel coleta de dados Poreacutem o cacique Sr Luiz de Oliveira infelizmente
tambeacutem comunicou a falta desse dado na comunidade Portanto foi exposto a esse liacuteder o
objetivo da referida pesquisa apresentando assim a importacircncia da comunicaccedilatildeo entre os
seres humanos e interaccedilatildeo entre os diferentes modos linguiacutesticos de convivecircncia social e
educacional
O cacique prontamente mostrou-se aberto a contribuir para que a pesquisa fosse
concretizada Assim sendo iniciou-se a trajetoacuteria do levantamento de iacutendios surdos e sua
forma de comunicaccedilatildeo como tambeacutem seu contexto educacional escolar
Ao retornar a Manaus buscou-se apoio agraves instituiccedilotildees representativas com a visita agrave
sede da Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio ndash FUNAI oacutergatildeo responsaacutevel pelas accedilotildees indiacutegenas a
qual informou que se fazia necessaacuterio uma autorizaccedilatildeo para dar seguimento agrave pesquisa Logo
providecircnciou-se o documento requerido na Coordenaccedilatildeo de Educaccedilatildeo Indiacutegena localizada no
municiacutepio de Barreirinha
Ao chegar agrave cidade de Barreirinha um novo contato foi estabelecido com o
Coordenador indiacutegena o Sr Santino Lopes de Oliveira que se mostrou receptivo com o
projeto e se dispocircs prontamente a colaborar
Com a autorizaccedilatildeo e aprovaccedilatildeo das autoridades indiacutegenas e de posse do documento
houve o comprometimento de que seguiria as normas estabelecidas que disciplinam o
ingresso em terras indiacutegenas pela entidade (ANEXO A) Assim foi possiacutevel sistematizar os
procedimentos para a coleta de dados
33 Procedimentos da coleta
A coleta de dados foi realizada de acordo com o cronograma estabelecido para esta
etapa da pesquisa O procedimento metodoloacutegico usado para a coleta de dados foi
fundamentado em meacutetodo misto por meio de observaccedilotildees questionamento participaccedilotildees em
reuniotildees com representantes da lideranccedila indiacutegena local conversas informais e espontacircneas
44
com famiacutelias e comunidade indiacutegena Satereacute-Maweacute Utilizou-se como instrumento para
coleta caderno de registro de campo fotos filmagens gravaccedilotildees e questionaacuterio (ANEXO B)
34 Articulaccedilatildeo local
O primeiro passo foi estabelecer parcerias com colaboradores ou seja lideranccedilas
indiacutegenas professores indiacutegenas professores da rede puacuteblica inteacuterpretes oacutergatildeos ligados agraves
causas indiacutegenas alunos da Universidade do Estado Amazonas As instituiccedilotildees
representativas educacionais tambeacutem colaboraram telefonando ou perguntando para outras
pessoas sobre a existecircncia de indiacutegenas surdos e locais de suas residecircncias
A participaccedilatildeo das lideranccedilas indiacutegenas como os professores e colaboradores que
apoiaram e permitiram entrar em suas terras para fazer o levantamento foi de extrema
importacircncia pois muito contribuiacuteram nas traduccedilotildees das palavras indiacutegenas para a Liacutengua
Portuguesa
35 Abordagem ao objeto da pesquisa
Em cada viagem agraves comunidades primeiramente fazia-se contato com o tuxaua com
a finalidade de apresentar o objetivo da pesquisa Desta forma era explicado para eles a
importacircncia da contribuiccedilatildeo que o estudo poderia trazer agravequela comunidade Por meio da
autorizaccedilatildeo concedida obtinha-se a colaboraccedilatildeo para a coleta de dados junto ao objeto da
pesquisa Jaacute as abordagens feitas em ambiente familiar tambeacutem era solicitado o consentimento
para a realizaccedilatildeo da pesquisa Com permissatildeo concedida iniciamos as observaccedilotildees e
intervenccedilotildees Com devida autorizaccedilatildeo utilizaacutevamos para registro cacircmeras fotograacuteficas e em
seguida registraacutevamos no caderno de campo da pesquisa (ANEXO CC-1 e C-2)
45
4 MAPEAMENTO DOS IacuteNDIOS SURDOS DA ETNIA SATEREacute-MAWEacute NA
MICRORREGIAtildeO DE PARINTINS E SUA REALIDADE LINGUIacuteSTICA E
EDUCACIONAL ESCOLAR
No Brasil haacute uma diversidade de etnias indiacutegenas Rodrigues (2002) satildeo mais de 170
liacutenguas faladas e dialetos pelos povos indiacutegenas Estas liacutenguas satildeo distribuiacutedas em dois
grandes troncos linguiacutesticos
[] o Tupi (dividido em 10 famiacutelias) e o Macro-Jecirc (dividido em 9 famiacutelias) e de
outras 20 famiacutelias linguumliacutesticas natildeo classificadas em troncos Apenas nove liacutenguas
indiacutegenas tecircm acima de 5000 falantes guajajara (satereacute-) maueacute xavante
ianomacircmi terena macuxi caingangue ticuna e guarani estes uacuteltimos com 30000
indiviacuteduos Cerca de 110 liacutenguas contam com menos de 400 falantes 14
Entretanto em meio a essa diversidade linguiacutestica poucos satildeo documentados
Pesquisadores e grupos indiacutegenas tentam um reavivamento eacutetnico e linguiacutestico
documentando-os para salvar sua liacutengua seu idioma
Diante do exposto a uacutenica liacutengua de sinais indiacutegena registrada eacute a utilizada pela etnia
indiacutegena brasileira dos Urubu-Kaapor como jaacute mencionada anteriormente Pesquisas no Mato
Grosso do Sul em aldeias indiacutegenas apresentaram a existecircncia de iacutendios surdos que utilizam
sinais emergentes ainda natildeo registrados propriamente como uma liacutengua
Pouco registro tem-se encontrado sobre iacutendios surdos muito menos sobre a liacutengua ou
a forma desses sujeitos se comunicarem De acordo com dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatiacutestica (IBGE) natildeo haacute registros sobre iacutendios surdos nem no Anuaacuterio
Estatiacutestico do Amazonas do IBGE tatildeo pouco na Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio (FUNAI)
sendo portanto necessaacuteria uma pesquisa in loco para a busca desses dados
Eacute importante destacar que a pessoa surda natildeo nasce com a incapacidade de falar ou
seja a pessoa surda natildeo eacute muda natildeo fala por natildeo poder ouvir a ldquo[] A surdez natildeo estaacute
absolutamente vinculada agrave mudez []rdquo (RAMOS apud STROBEL 2008 p34)
Por isso as teorias da aquisiccedilatildeo da linguagem humana justificam como o ser humano
(re)inventa modos para expressar suas necessidades e formas de ver o mundo realizando a
comunicaccedilatildeo com seus pares
14
Classificaccedilatildeo das Liacutenguas Indigenas Brasileiras segundo Aryon Rodrigues (2002) Disponiacutevel em
lthttpwwwgeocitieswsindiosbr_nicolaiclassifhtmlgt
46
Partindo dessa percepccedilatildeo este estudo apresenta uma contribuiccedilatildeo de informaccedilotildees
cientiacuteficas que seratildeo um acreacutescimo aos conhecimentos existentes sobre a comunicaccedilatildeo dos
surdos indiacutegenas
41 Mapeamento da existecircncia dos iacutendios surdos na microrregiatildeo de Parintins
Conhecer os indiviacuteduos sujeitos da pesquisa ndash iacutendios surdos Satereacute-Maweacute - eacute a fase
fundamental deste estudo pois dessa forma eacute possiacutevel compreender a forma predominante de
comunicaccedilatildeo deles para poder elaborar material concreto ndash dicionaacuterio triliacutengue - pertinente
para auxiliar na forma da comunicaccedilatildeo deles com a sua etnia atraveacutes da liacutengua desse povo
indiacutegena Nesta seccedilatildeo estatildeo apresentados os dados que constituem um mapeamento da
quantidade de indiviacuteduos surdos que estatildeo inseridos no contexto de Parintins Barreirinha
Boa Vista do Ramos e Maueacutes locais estes onde haacute maior contato com etnia foco deste estudo
Abaixo segue o histoacuterico do municiacutepio de Parintins e demais microrregiotildees citadas na
pesquisa15
411 Histoacuterico de Parintins
Parintins eacute um municiacutepio brasileiro situado no interior do estado do Amazonas
proacuteximo agrave divisa com o estado do Paraacute Regiatildeo Norte do paiacutes Estaacute situado na mesorregiatildeo do
Centro Amazonense e microrregiatildeo de mesmo nome e localiza-se a leste da capital do estado
distando desta cerca de 370 quilocircmetros Com uma populaccedilatildeo estimada em 2012 pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 103 828 habitantes sendo o segundo
mais populoso do estado do Amazonas que tem uma aacuterea de 5 952 kmsup2 representando
03789 do Estado do Amazonas 01545 da regiatildeo Norte brasileira e 00701 do territoacuterio
brasileiro8
Desse total 12 4235 kmsup2 estatildeo em periacutemetro urbano
O municiacutepio de Parintins como quase todos os demais municiacutepios brasileiros foi
primitivamente habitado por indiacutegenas Sua descoberta ocorreu em 1749 quando descendo o
rio Amazonas o explorador Joseacute Gonccedilalves da Fonseca notou uma ilha que por sua extensatildeo
se sobressaiacutea das outras localizadas agrave direita do grande rio As primeiras viagens exploratoacuterias
da Coroa Portuguesa em Parintins foram registradas somente em 1796 A fundaccedilatildeo da
15
O histoacuterico de Parintins e demais microrregiotildees estatildeo disponiacuteveis no site lthttpptwikipediaorgwiki_Parintinsgt
47
localidade em 1796 foi feita por Joseacute Pedro Cordovil que veio com seus escravos e
agregados para se dedicar agrave pesca do pirarucu e agrave agricultura chamando-a Tupinambarana A
rainha D Maria I deu-lhe a ilha de presente Ali instalado fundou uma fazenda de cacau
dedicando-se agrave cultura desse produto em grande escala Tupinambarana foi aceita e elevada agrave
missatildeo religiosa em 1803 pelo capitatildeondashmor do Paraacute o Conde dos Arcos que incumbiu sua
direccedilatildeo ao frei Joseacute das Chagas passando a ser denominada como a Vila Nova da Rainha
O primeiro nome recebido por Parintins jaacute na categoria de Freguesia foi Nossa
Senhora do Carmo de Tupinambarana em 1833 O nome da Freguesia soacute foi alterado em
1880 quando a sede passou a chamar-se ldquoParintinsrdquo em homenagem aos povos indiacutegenas
Parintintins um dos inuacutemeros que habitavam a regiatildeo
A eficiente atuaccedilatildeo de frei Joseacute provocou um surto de progresso e desenvolvimento na
localidade mediante a organizaccedilatildeo da comarca do Alto Amazonas Em 25 de julho de 1833
passa agrave freguesia com o nome de Freguesia de Nossa Senhora do Carmo de Tupinambarana
Era ainda Tupinambarana simples freguesia quando iniciou a revoluccedilatildeo dos Cabanos no Paraacute
e se alastrou por toda a proviacutencia O seu vigaacuterio padre Torquato Antocircnio de Souza teve
atuaccedilatildeo destacada durante a sediccedilatildeo servindo de delegado dos legalistas no Baixo Amazonas
Tupinambarana talvez porque estivesse bem defendida foi poupada aos ataques dos
Cabanos
Em 24 de outubro de 1848 a lei provincial do Paraacute nordm 146 elevou a freguesia agrave
categoria de vila com a denominaccedilatildeo de Vila Bela da Imperatriz e constituiu o municiacutepio ateacute
entatildeo ligado a Maueacutes Em 15 de outubro de 1852 pela lei nordm 02 foi confirmada a criaccedilatildeo do
municiacutepio Em 14 de marccedilo de 1853 deu-se a instalaccedilatildeo do municiacutepio de Parintins Em 24 de
agosto de 1858 foi criada pela lei provincial a comarca compreendendo os termos judiciaacuterios
de Vila Bela da Imperatriz e Vila Nova da Conceiccedilatildeo Em 30 de outubro de 1880 pela lei
provincial nordm 499 a sede do municiacutepio recebeu foros de municiacutepio e passou a denominar-se
Parintins Em 1881 foi desmembrado do municiacutepio de Parintins o territoacuterio que constituiu o
municiacutepio de Vila Nova de Barreirinha
A divisatildeo administrativa de 1911 figurou o municiacutepio com quatro distritos Parintins
Paranaacute de Ramos Jamundaacute e Xibuiacute Em 1933 aparece no quadro da divisatildeo administrativa
com um distrito apenas ndash o de Parintins Em 1 de dezembro de 1938 pelo decreto-lei estadual
nordm 176 eacute criado o distrito da Ilha das Cotias passando assim o municiacutepio a constituir-se de
dois distritos Parintins e Ilha das Cotias
Pela lei estadual nordm 226 de 24 de agosto de 1952 a comarca de Parintins perdeu os
termos judiciaacuterios de Barreirinha e Urucaraacute que foram transformados em comarcas Em 19 de
48
dezembro de 1956 a lei estadual nordm 96 desmembrou o municiacutepio de Parintins o distrito da
Ilha das Cotias que passou a constituir o municiacutepio de Nhamundaacute Em 10 de dezembro de
1981 a emenda constitucional nordm 12 eacute acrescido o territoacuterio de Parintins ao distrito de
Mocambo
O primeiro municiacutepio pesquisado eacute considerado o centro da microrregiatildeo Parintins
Segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 2103 a
populaccedilatildeo eacute de 109225 habitantes16
nesta localidade A Microrregiatildeo de Parintins eacute uma das
microrregiotildees do estado brasileiro do Amazonas pertencente agrave Mesorregiatildeo do Centro
Amazonense Estaacute dividida em sete municiacutepios Barreirinha Boa Vista do Ramos Maueacutes
Nhamundaacute Parintins Satildeo Sebastiatildeo do Uatumatilde e Urucaraacute De acordo com estimativas do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) a populaccedilatildeo da microrregiatildeo era de 262
719 habitantes em 2013
Seus municiacutepios limiacutetrofes satildeo Nhamundaacute ao norte Barreirinha ao sul Urucurituba ao
leste e os municiacutepios de Terra Santa e Juruti no estado do Paraacute O limite territorial entre
Parintins e Nhamundaacute se inicia na margem esquerda do rio Amazonas subindo este rio ateacute a
Barreira do Pauraacute A Serra de Parintins eacute usada para delimitar o fim dos limites territoriais
deste municiacutepio com Nhamundaacute Para delimitar os limites territoriais entre Parintins e
Barreirinha usa-se o divisor de aacuteguas dos rios Andiraacute-Uaicuparaacute juntamente com a linha
geodeacutesica que limita os estados do Amazonas e Paraacute Jaacute os limites territoriais com
Urucurituba satildeo iniciados no lago Arapapaacute no Paranaacute de Urucurituba Com o Estado do Paraacute
o limite tem iniacutecio na boca do igarapeacute do Valeacuterio na margem direita do rio Amazonas
Parintins eacute uma cidade marcada pelos traccedilos culturais poliacuteticos e econocircmicos
herdados dos portugueses espanhoacuteis italianos e tambeacutem dos japoneses tendo em vista que a
cidade possuiu uma relevante colocircnia destes imigrantes Natildeo se pode esquecer a importacircncia
dos ameriacutendios no quesito contribuiccedilatildeo eacutetnica Foram os ameriacutendios que iniciaram a ocupaccedilatildeo
humana na Amazocircnia e seus descendentes caboclos desenvolveram-se em contato iacutentimo com
o meio ambiente adaptando-se agraves peculiaridades regionais e oportunidades oferecidas pela
floresta
A cidade eacute um importante centro educacional de niacutevel meacutedio e superior do Estado do
Amazonas A cidade possui um dos mini-campus do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)
que oferece cursos em diferentes niacuteveis ensino meacutedio e ensino teacutecnico
16
Disponiacutevel emlthttpcidadesibgegovbrxtrastemasamazonas|parintins|estimativa-da-populacao-2013gt
Acesso em 28072014
49
Universidades puacuteblicas
- Universidade do Estado do Amazonas (UEA) eacute uma instituiccedilatildeo puacuteblica estadual de
ensino superior que oferece mais de vinte cursos distribuiacutedos em dezessete cidades
amazonenses (Parintins Manaus Presidente Figueiredo Itacoatiara Carauari Tabatinga
Tefeacute Laacutebrea Boca do Acre Coari Eirunepeacute Humaitaacute Manicoreacute Manacapuru Novo
Aripuanatilde Maueacutes e Satildeo Gabriel da Cachoeira) Foi criada pela lei estadual nordm 2637 de 12 de
janeiro de 2001 que proporcionou agraves fundaccedilotildees educacionais de ensino superior instituiacutedas
pelo Estado Em Parintins o Centro de Estudos Superiores (UEA) possui os cursos
Pedagogia Histoacuteria Geografia Fiacutesica Matemaacutetica Letras Portuguesa Quiacutemica Ciecircncias
Bioloacutegicas Tecnologia em Turismo Direito Sauacutede Coletiva Ciecircncias Econocircmicas e
Tecnologia em Gestatildeo Puacuteblica
- Instituto Federal do Amazonas (IFAM) O Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e
Tecnologia do Amazonas foi criado mediante integraccedilatildeo do Centro Federal de Educaccedilatildeo
Tecnoloacutegica do Amazonas e das Escolas Agroteacutecnicas Federais de Manaus e de Satildeo Gabriel
da Cachoeira
- Universidade Federal do Amazonas (UFAM) Instalada no municiacutepio desde 2007
possui os seguintes cursos Serviccedilo Social Comunicaccedilatildeo Social - Jornalismo Administraccedilatildeo
Organizacional Pedagogia Zootecnia Educaccedilatildeo Fiacutesica e Artes Plaacutesticas
No setor de educaccedilatildeo e capacitamento profissional o municiacutepio aleacutem de dispor de
uma ampla rede de escolas (estaduais municipais e privadas) conta com um campus da
Universidade do Estado do Amazonas e algumas faculdades privadas com diversos cursos
superiores ofertados Dispotildee ainda de unidades do SENAI SENAC e SESI e em funccedilatildeo
disso os iacutendices de alfabetizaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo profissional dos municiacutepios estatildeo em
crescimento
A cidade de Parintins eacute o local onde foram feitos os contatos frequentes com os
indiacutegenas da etnia Satereacute-Maweacute porque buscam as casas bancaacuterias para receberem os
benefiacutecios sociais tambeacutem buscam as escolas com ensino de todos os niacuteveis inclusive as
universidades puacuteblicas para as crianccedilas e jovens Outro fator eacute que tem um comeacutercio
desenvolvido em que podem adquirir seus bens de consumo aleacutem de ser de faacutecil acesso aos
demais centros da regiatildeo e do paiacutes atraveacutes dos diferentes meios comunicaccedilatildeo e transporte
Por isso o mapeamento foi iniciado nesta regiatildeo
Apesar de ter um nuacutemero consideraacutevel de habitantes os oacutergatildeos ligados agrave causa
indiacutegena natildeo dispotildeem de dados informativos sobre o objeto da pesquisa em meio agrave estimativa
populacional do municiacutepio mesmo assim outro oacutergatildeo foi procurado para que pudesse
50
fornecer algum dado ligado ao sujeito surdo da etnia Satereacute-Maweacute A instituiccedilatildeo pesquisada
foi a Escola de Aacuteudio Comunicaccedilatildeo ldquoPadre Paulo Mannardquo Esta eacute uma instituiccedilatildeo educacional
mantida pela Diocese de Parintins por meio de sua atual gestora a Professora Zilda Tavares
Atraveacutes desta colaboradora foram coletadas informaccedilotildees sobre os alunos indiacutegenas surdos da
etnia Satereacute-Maweacute que ali estudam ou estudaram que satildeo a seguir descritas
Embora a escola tivesse o conhecimento da existecircncia de dois indiacutegenas surdos da
etnia Satereacute-Maweacute apenas um se encontra matriculado na escola Eacute uma menina de seis anos
de idade cursando o preacute-escolar Para informaccedilotildees consistentes foi solicitado o contato
tambeacutem com a famiacutelia da aluna Ao contatar os pais foi feita uma abordagem por meio de
questionaacuterio mas diante das dificuldades encontradas por natildeo serem alfabetizados na liacutengua
nativa nem na liacutengua Portuguesa os dados utilizados satildeo resultante de entrevistas
assistemaacuteticas (conversas informais)
Os familiares tecircm papeacuteis importantes na formaccedilatildeo da linguagem da crianccedila Eacute atraveacutes
deles que acontece a formaccedilatildeo da identidade social e cultural desse sujeito em
desenvolvimento Satildeo eles que repassam o modo de vida os costumes e outros aspectos
sociais com os seus exemplos e empreendendo a funccedilatildeo da linguagem verbal atraveacutes de
relaccedilotildees dialoacutegicas que ativam a percepccedilatildeo do ser em maturaccedilatildeo no meio familiar Na visatildeo
de Ponzio (et al 2007 p 177)
Uma das funccedilotildees da linguagem verbal eacute a identificaccedilatildeo identificaccedilatildeo dos objetos
mediante um processo de modelaccedilatildeo e de articulaccedilatildeo da realidade que varia de
liacutengua para liacutengua identificaccedilatildeo de sujeito enquanto falante do sujeito do discurso
do tema do outro ao qual esse discurso se dirige de uma espeacutecie de bdquoauditoacuterio
universal‟ a que de modo geral se recorre na argumentaccedilatildeo identificaccedilatildeo de uma
comunidade e da pertenccedila ou da natildeo pertenccedila a esta etc
Um resumo histoacuterico sobre a referida indiacutegena aponta que a famiacutelia residia na
comunidade indiacutegena Ponta Alegre no Rio Andiraacute municiacutepio de Barreirinha Migraram para
a zona urbana em busca de condiccedilotildees para uma melhor qualidade de vida Ao descobrirem a
surdez da filha mudaram-se para a cidade de Parintins Declararam que a forma de se
comunicarem com a filha eacute por meio de gestos criados pela famiacutelia e a crianccedila pois natildeo
sabem a Liacutengua de Sinais
Analisa-se neste contexto a situaccedilatildeo complexa pela qual essa famiacutelia passou para se
entender com a ela posto que se esperasse que a crianccedila dominasse o sistema linguiacutestico que
usam para a comunicaccedilatildeo com os pares atraveacutes da liacutengua natural da etnia Este eacute um fato que
ocorre com as famiacutelias onde natildeo existe o desenvolvimento natural da fala
51
Considere-se assim que a liacutengua eacute adquirida a qual se manifesta em todas as
circunstacircncias normais no conhecimento de uso em processo de audiccedilatildeo desde o nascimento
os quais vatildeo tomando forma de significante e significado enquanto se distingue cada unidade
lexical do todo que existe no meio onde se estaacute inserido Para Lyons ldquoo termo aquisiccedilatildeo da
linguagem eacute normalmente usado sem ressalvas para o processo que resulta no conhecimento
da liacutengua nativa (ou liacutenguas nativas)rdquo (1987 p 231)
Neste caso para a crianccedila em evidecircncia deveria ser propiciado o ensino da Libras
como liacutengua para mediar a comunicaccedilatildeo o mais breve possiacutevel na medida em que ela estaacute
com idade proacutexima da faixa etaacuteria limite de aquisiccedilatildeo sem acarretar prejuiacutezos para o seu
desenvolvimento conforme explica teoria gerativista17
da aquisiccedilatildeo da linguagem proposta
por Lennenberg (1967)
[] a existecircncia de um periacuteodo criacutetico para a quisiccedilatildeo da linguagem tendo como
pressuposto a ideia de que esta eacute inata O periacuteodo criacutetico se iniciaria por volta dos
dois anos e se encerraria por volta da puberdade Esse periacuteodo eacute chamado de criacutetico
porque seria aquele mais sensiacutevel agrave aquisiccedilatildeo da linguagem[] concluiacutendo que o
cereacutebro humano inicialmente tem representaccedilatildeo bilateral das funccedilotildees da linguagem
e mediante o processo de aquisiccedilatildeo na puberdade apenas o hemisfeacuterio se torna
mais dominante em relaccedilatildeo a elas completando o periacuteodo de aquisiccedilatildeo Caso a
crianccedilas natildeo adquira a linguagem nesse periacuteodo seu desenvolvimento linguiacutestico
seraacute prejudicado (apud QUADROS 2008 p 78)
Deste modo no caso a crianccedila surda esta precisa aprender a liacutengua nativa de uma
forma diferenciada adequando-se os siacutembolos agraves formas visuais se natildeo apresentar esta
carecircncia tambeacutem posto que a faculdade da linguagem do ser humano eacute inata conforme
Chomsky esclarece (apud PONZIO etal 2007)
Trata-se de determinar agrave natureza do patrimocircnio bioloacutegico que constitui a bdquofaculdade
da linguagem‟ do ser humano o componente inato do conjunto menteceacuterebro que
uma vez tendo entrado em contato com a experiecircncia linguiacutestica produz o
conhecimento da linguagem isto eacute converte a experiecircncia em um sistema de
conhecimento (p 143)
O segundo indiacutegena surdo da etnia Satereacute-Maweacute havia sido transferido da escola Padre
ldquoPaulo Mannardquo para a Escola Estadual ldquoBrandatildeo de Amorimrdquo Segundo as informaccedilotildees da
famiacutelia ele nasceu na aacuterea indiacutegena de Ponta Alegre Poreacutem quando pequeno sua famiacutelia se
17
A teoria gerativista pressupotildee a existecircncia de um mecanismo inato responsaacutevel pela aquisiccedilatildeo da linguagem
denominado Gramaacutetica Universal (GU) tendo como responsaacutevel por essa concepccedilatildeo que caracteriza-se pela
elucidaccedilatildeo da natureza das linguas naturais Chomsky
52
mudou para zona urbana de Parintins Ele cresceu longe da cultura indiacutegena sem contato com
a liacutengua de sua etnia por estar fora desse contexto Por outro lado natildeo aprendeu a liacutengua
falada em seu entorno na medida em que natildeo pode na prendecirc-la de forma natural por natildeo
ouvir assim por natildeo ter domiacutenio da cultura da etnia deve aprender a liacutengua de sinais
inserindo os signos que significam as palavras do seu leacutexico atraveacutes de instruccedilatildeo especial
com a mediaccedilatildeo de algueacutem que tenha o conhecimento das duas formas de comunicaccedilatildeo Para
Lyons (1987) esses aprendizes adquirem habilidades comunicativas rapidamente pois o
progresso que alcanccedilam eacute pelo menos agraves vezes tatildeo raacutepido que como observam tanto os pais
quanto os pesquisadores eacute difiacutecil manter um registro compreensivo e sistemaacutetico do seu
processo de aprendizado Como tambeacutem eacute no total independente de inteligecircncia e de
diferenccedilas do meio social e cultural
A capacidade da pessoa para construir enunciados vai tomando forma agrave medida que
consegue compreender a relaccedilatildeo entre significante e significados dos signos com os quais tem
contato Por isso os indiacutegenas surdos podem ser beneficiados com um material escrito
triliacutengue Este pode constituir-se em um material de apoio para a aprendizagem das trecircs
liacutenguas sendo que a liacutengua de sinais eacute perspectivada como L1
O terceiro caso identificado eacute de um iacutendio surdo jaacute adulto da comunidade Uiacurapaacute
da etnia Maweacute As informaccedilotildees datildeo conta que ele se comunica por meio de gestos criados por
ele e os pares com quem tem relaccedilatildeo Poreacutem natildeo haacute dados detalhados pois natildeo foi possiacutevel
contato com o mesmo porque ele vive isolado sobrevivendo de caccedila e pesca em comunidade
rural indiacutegena Fato este que implica diretamente no aperfeiccediloamento da forma de
comunicaccedilatildeo desse sujeito posto que ldquoos fenocircmenos ambientais podem agir diretamente
sobre a pessoa ou individualmente atraveacutes de repasse de experiecircncias vividas pela sociedade
atraveacutes da linguagem veiculada pela liacutenguardquo (OLIVEIRA 2005 p134)
Assim estaacute constituiacuteda a populaccedilatildeo de indiacutegenas surdos que fazem parte da
microrregiatildeo de Parintins que se podem fazer os devidos registros neste estudo
412 Histoacuterico de Barreirinha
O municiacutepio de Barreirinha pertence a Mesorregiatildeo da Microrregiatildeo de Parintins que
estaacute localizado a leste de Manaus Capital do Estado distanciando cerca de 331 quilocircmetros
E ao norte de Parintins o municiacutepio de Barreirinha juntamente com Maueacutes satildeo principais
municiacutepios que possuem a maior populaccedilatildeo de indiacutegenas localizados nos rios Andiraacute e o
Marau Portanto sendo o municiacutepio como a sede urbana das comunidades inseridas os surdos
53
indiacutegenas vem apenas em busca de tratamento meacutedico quando necessitam ou para atividades
sociais acompanhados de seus pais mas na zona urbana natildeo localizamos nenhum indiacutegena
surdo
Barreirinha foi o segundo municiacutepio pesquisado E segundo o IBGE em 2013 a
populaccedilatildeo era de 29737 habitantes18
sendo o vigeacutesimo segundo municiacutepio mais populoso do
Estado do Amazonas e o terceiro de sua microrregiatildeo
Este muniacutecipio conta com um setor especiacutefico das causas indiacutegenas a Coordenaccedilatildeo
Iacutendiacutegena Satereacute-Maweacute sob responsabilidade do coodernador geral SrSantino Lopes Este
tornou possiacutevel o acesso agrave comunidade indiacutegena de Ponta Alegre no Rio Andiraacute Foi na
Escola Municipal Professora ldquoRosa Cabralrdquo que foi identificado um indiacutegena surdo da etnia
Satereacute-Maweacute um menino de 12 anos matriculado na 3ordf ano do ensino fundamental Nesse
contexto foi possiacutevel observar sua forma de se comunicar com as demais pessoas que faziam
parte do seu meio social Outros dados referente a relaccedilotildees familiares deste natildeo estatildeo
disponiacuteveis na medida em que natildeo foi possiacutevel fazer contato com sua famiacutelia Desta forma
permanece uma lacuna de respostas referente a esse aluno posto que
De uma forma geral e em regra a socializaccedilatildeo da crianccedila no mundo civilizado
comeccedila dentro de uma famiacutelia nuclear constituiacuteda de pai matildee e irmatildeos quando
existem Durante os primeiros anos da infacircncia adquire traccedilos culturais (menores
unidades de cultura) atraveacutes das pessoas da famiacutelia que satildeo reflexo da sociedade
onde vivem (OLIVEIRA 2005)
Entende-se que atraveacutes de informaccedilotildees que poderiam ser fornecidas pela famiacutelia
deveria ser esclarecido como ocorre a socializaccedilatildeo da crianccedila nesse contexto e de que modo
aprenderam a se comunicar com ela que estrateacutegias foram utilizadas para que ela conseguisse
ser alfabetizada
413 Histoacuterico de Maueacutes
Este municiacutepio que tambeacutem pertence agrave Mesorregiatildeo do Centro Amazonense e
Microrregiatildeo de Parintins tem uma populaccedilatildeo de 54079 habitantes conforme as estimativas
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) A cidade eacute reconhecida
nacionalmente por possuir uma das maiores expectativas de vida do paiacutes
18
Disponiacutevel emlthttpcidadesibgegovbrxtrastemasamazonas|barreirinha|estimativa-da-populacao-2013gt
Acesso em 28072014
54
Na margem direita do Rio Maueacutes-Accedilu Maueacutes foi fundada em 1798 por Luiz Pereira
da Cruz e Joseacute Rodrigues Preto agrave distacircncia de 268 km em linha reta e 356 km pela via
fluvial de Manaus O calendaacuterio festivo do municiacutepio conteacutem as datas festivas municipais
em homenagem agrave Satildeo Sebastiatildeo (10 a 20 de janeiro) ao Divino Espiacuterito Santo (22 a 30 de
maio) agrave Satildeo Pedro (27 a 30 de junho) agrave padroeira Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo (01 a 8 de
dezembro) assim como a Festa do Carnaval Popular (21 a 24 de fevereiro) do aniversaacuterio do
municiacutepio (26 a 27 de junho) da Ilha de Vera Cruz (23 a 25 de julho) do Veratildeo (de 05 a 7 de
setembro) da Feira Industrial (06 a 8 de novembro) e do Guaranaacute (em novembro)
Sobre a origem do nome deste municiacutepio observa-se que inicialmente foi
denominada Luseia e progredindo com o tempo transformou-se em missatildeo carmelita com
nome de Maueacutes O liacuteder nessa eacutepoca foi o frei Joaquim de Santa Luzia Por um decreto de 25
de junho de 1833 a missatildeo foi considerada vila sob a invocaccedilatildeo de Nossa Senhora da
Conceiccedilatildeo de Luseia Em 1853 pela lei nordm 25 de 3 de dezembro da iniciativa do Deputado
Marcos Antocircnio Rodrigues de Souza a vila tornou-se cidade chamada Satildeo Marcos de
Mundurucacircnia Consta como uma das freguesias da proviacutencia denominada Maueacutes em 1958
A oficializaccedilatildeo da mudanccedila do nome do municiacutepio ocorreu quando o Deputado Joseacute
Bernardo Michiles em 1865 apresentou um projeto para tal que tendo sido aprovado
oficializou-se a mudanccedila do nome de Maueacutes para Conceiccedilatildeo Enfim jaacute na Repuacuteblica em
1895 pela lei nordm 133 de 5 de outubro a localidade torna-se Comarca E em 4 de maio de 1896
eacute considerado municiacutepio pelo novo regime juriacutedico com o nome de Maueacutes pela lei nordm 137
As pesquisas de campo nesse municiacutepio natildeo foram realizadas conforme a previsatildeo
pois a viagem natildeo foi concretizada devido agraves dificuldades em relaccedilatildeo agrave distacircncia para chegar
ateacute agraves comunidades que satildeo distantes da cidade cede e havia necessidade de recurso material
e humano (professores guias indiacutegenas biliacutengues) para realizaacute-la Quando foi possiacutevel chegar
ao local ocorreu o contato com trecircs professores que residiam nas comunidades do rio
chamado Marau Ali foi possiacutevel tecirc-los em companhia na funccedilatildeo de guia inteacuterprete para
contato com os indiacutegenas surdos daquela localidade
Em resposta afirmativa ao questionamento se havia iacutendios surdos foram realizadas
reuniotildees com a comunidade local para coletar informaccedilotildees que apontou a existecircncia de um
caso na comunidade de Santa Maria Era um senhor na faixa etaacuteria de 67 anos que adquiriu a
surdez haacute muito tempo atraacutes Ele natildeo tem conhecimento da Liacutengua Portuguesa por isso natildeo
tivemos contato direto No entanto ele conhece a proacutepria liacutengua e assimilou a cultura da etnia
posto que
55
A liacutengua eacute aprendida simultaneamente a outros elementos da cultura A capacidade
de desenvolvimento da linguagem eacute inata O indiviacuteduo nasce com o ceacuterebro
preparado para aprender tudo que pertinente agrave cultura humana da qual a linguagem
faz parte (OLIVEIRA 2005 p 137)
Eacute no contexto social que se aprende os signos que fazem parte do mundo exterior e
que o ceacuterebro assimila pelo conhecimento que os sentidos possibilitam
O segundo iacutendio localizado foi um surdo de nascenccedila hoje com idade de 24 anos
Segundo relato da famiacutelia nunca frequentou uma escola portanto seu uacutenico meio de
comunicaccedilatildeo eacute gestual que aprendeu como forma para se fazer entender pois ldquoa linguagem eacute
atributo universal do ser humanordquo (OLIVEIRA 2005) assim constitui-se como necessidade
vital da pessoa conduzindo ao aprendizado
Em pesquisa de campo se obteve a informaccedilatildeo que havia outros trecircs iacutendios surdos que
moravam no Rio Marau mas natildeo foi possiacutevel chegar ateacute a aldeia onde se encontravam
devido ao difiacutecil acesso o que impossibilitou a ida ateacute a localidade
414 Histoacuterico de Boa Vista do Ramos
Uma das sete Mesorregiotildees de Parintins eacute Boa Vista do Ramos que possui
aproximadamente 16820 de habitantes segundo o IBGE (2013)
A histoacuteria de Boa Vista do Ramos encontra-se ligada agrave histoacuteria do municiacutepio de
Maueacutes Em 1798 foi fundada a Aldeia de Lusea Em meados do Seacuteculo XIX vaacuterios conflitos
ocorreram na regiatildeo entre brancos e povos indiacutegenas sendo efetiva tambeacutem a participaccedilatildeo de
cabanos oriundos da Cabanagem
Quando a Proviacutencia do Amazonas eacute criada em 1850 Lusea torna-se um dos quatorze
municiacutepios existentes na proviacutencia Seu nome eacute alterado em 1892 para Maueacutes tornando-se
sede da Comarca em 1895 Em 10 de dezembro de 1981 atraveacutes da Emenda Constitucional nordm
12 o povoado de Boa Vista do Ramos aleacutem de outros territoacuterios pertencentes agrave Maueacutes e
aacutereas adjacentes dos municiacutepios de Barreirinha e Urucurituba passam a constituir o novo
municiacutepio de Boa Vista do Ramos
Em pesquisa de campo nesse municiacutepio o primeiro contato que foi na Coordenadoria
Regional de Educaccedilatildeo da cidade (SEDUC) Embora esta professora responsaacutevel por essa
Instituiccedilatildeo tenha informado que natildeo conhecia nenhum caso de iacutendio surdo neste municiacutepio
alguns informantes afirmaram que na aldeia de Santo Antocircnio que faz parte do referido
municiacutepio foi localizada uma senhora que havia adquirido a surdez ainda muito jovem sem
56
nenhum conhecimento das liacutenguas ldquofaladasrdquo ou sinalizadas Desta forma ela utilizava de
gestos para se comunicar porque os seres humanos nascem com a capacidade para a
linguagem que se desenvolvem ao longo da primeira infacircncia mas que podem tambeacutem ser
aprendida no meio social atraveacutes de estiacutemulos Nesta perspectiva segundo a concepccedilatildeo de
Oliveira (2005 p 143)
A evoluccedilatildeo da linguagem depende de dois fatores principais da capacidade geneacutetica
cerebral para desenvolvecirc-la que eacute a principal e dos estiacutemulos ambientais que satildeo
sempre tatildeo importantes quanto aquela Esse desenvolvimento estaacute senpre inserido no
contexto de socializaccedilatildeo que eacute a responsaacutevel pela humanizaccedilatildeo do indiviacuteduo
Ainda sobre a importacircncia da socializaccedilatildeo para os sujeitos ressalta-se que estes
desenvolvendo no meio onde estatildeo inserido adquirem sua identidade cultural
concomitantemente sua identidade linguiacutestica que estaacute presente no discurso dos seus pares
posto que ela ldquoeacute adquirida nos processos de formaccedilatildeo e tranformaccedilatildeo de uma liacutengua
particularrdquo que eacute tambeacutem determinante no relacionamento cm outras liacutenguas E de acordo
com Ponzio (2007 p178) ldquoO espaccedilo em que uma liacutengua vive eacute um espaccedilo interlinguiacutestico e a
capacidade de expressatildeo e da adaptaccedilatildeo dessas liacuteguas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo eacute
diretamente proporcional agrave quantidade de contatos com outras liacutenguasrdquo O que deixa evidente
que um indiviacuteduo pode estar em contato com diferentes formas de intercomunicaccedilatildeo
415 Histoacuterico de Nhamundaacute
Eacute trigeacutesimo quinto municiacutepio mais populoso do estado do Amazonas Sendo o quarto
da Mesorregiatildeo em estudo Conforme o IBGE em 2013 o municiacutepio eacute composto por uma
populaccedilatildeo de 19 792 habitantes
O municiacutepio de Nhamundaacute estaacute localizado na zona fisiograacutefica do Baixo Amazonas
limitando com os municiacutepios de Parintins e Urucaraacute no Amazonas com o Estado de Roraima
(norte) e com os municiacutepios de Faro e Terra Santa no estado do Paraacute Distacircncia da capital 375
km em linha reta e cerca de 577 km por via fluvial Sua altitude eacute de 50 metros acima do
niacutevel do mar
As origens do municiacutepio de Nhamundaacute remontam agraves primitivas povoaccedilotildees dos iacutendios -
nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XVII composta pelos condurizes paraculamas canuris
guancaris paraquatas queremas jamundaacutes e uaboy cujo tuxaua se chamava Jamundaacute que
dada a luta em prol da liberdade de seu povo devido agrave exploraccedilatildeo e maus-tratos pelos
57
colonizadores fez um levante conduzindo a tribo Uaboy para as cabeceiras do alto rio que em
sua homenagem ganhou o seu nome e por conseguinte daacute nome ao municiacutepio
Em 1653 mediante carta reacutegia a regiatildeo foi erigida a Missatildeo que foi confiada aos
missionaacuterios portugueses capuchos da Piedade Eles organizaram uma aldeia modelo na boca
do Tauacuera - aldeia velha afluente esquerdo onde ainda se podem ver ruiacutenas do antigo
convento no meio dos espinhais A sede da Missatildeo poreacutem foi transferida para o lugar da
atual cidade de Faro Os padres capuchos souberam unir os iacutendios uaboy residentes no
Trombetas aos da Missatildeo para aumentar a populaccedilatildeo Era entatildeo o chefe dos Uaboy o tuxaua
Jamundaacute que ligou seu nome agrave Missatildeo e agrave aldeia que doravante se chamou aldeia dos
Jamundaacute ou Missatildeo dos Jamundaacute
O primeiro documento sobre a Missatildeo eacute do ano de 1727 e foi escrito pelo superior da
Missatildeo frei Francisco de Satildeo Manccedilos Em 1758 Missatildeo tomou o nome de Faro No entanto
jaacute em 1755 o Marqucirces de Pombal mandou suspender as Missotildees para serem transformadas
em vilas e paroacutequias A Missatildeo dos Jamundaacute foi extinta em 1758 por ordem de Mendonccedila
Furtado quando de sua viagem de demarcaccedilatildeo da nova capitania Foram criadas assim a vila
de Faro e a Paroacutequia de Satildeo Joatildeo Batista em 21 de dezembro de 1758 mas a instalaccedilatildeo deu-se
somente em 27 de dezembro de 1768
Desse modo em 1911 quando ocorreu a divisatildeo administrativa do Brasil o municiacutepio
de Parintins foi contemplado com o distrito de Jamundaacute Com a extinccedilatildeo deste quando
aconteceu a nova divisatildeo administrativa em 1933 o municiacutepio de Parintins surgiu com apenas
um distrito assim em 10 de dezembro de 1938 pelo Decreto-lei no 176 do Estado do
Amazonas Parintins voltaria a dispor de um outro distrito aleacutem da sede o da Ilha das Cotias
Em 19121955 pela Lei Estadual no 96 o distrito de Ilha das Cotias eacute desmembrado de
Parintins e passa a constituir o municiacutepio autocircnomo de Nhamundaacute Em 31 de janeiro de 1956
foi instalado o municiacutepio de Nhamundaacute
A viagem a esse municiacutepio foi realizada com o apoio do aluno Fernando Gonccedilalves
acadecircmico do curso de Licenciatura em Geografia pela Universidade do Estado do
Amazonas-UEA Para maiores esclarecimentos foi feita a pesquisa na casa de sauacutede indiacutegena
localizada na cidade de Nhamundaacute onde informaram desconhecer a existecircncia da etnia
Satereacute-Maweacute no municiacutepio Mesmo assim foi feito outro contato com uma enfermeira da
Casa de Sauacutede Indiacutegena do municiacutepio A resposta foi a mesma ldquoQueremos informar ao
professor que no municiacutepio de Nhamundaacute que natildeo trabalhamos com a etnia Satereacute-Maweacute
Atendemos somente a etnia Hixkaryana existente na regiatildeo Natildeo haacute portanto nenhum surdo
Hixkaryana ou Satereacute-Maweacute cujo fato eacute comprovado pelo senso municipalrdquo
58
Foi feita uma pesquisa tambeacutem em outro oacutergatildeo que atua com indiacutegenas no caso as
Secretaria de Educaccedilatildeo do Municiacutepio com a finalidade de constatar a veracidade dos fatos
eou conseguir novos dados sobre o indiacutegena surdo Satereacute ou Hixkaryana O subsecretaacuterio de
Educaccedilatildeo relatou que natildeo existia dados sobre a liacutengua Satereacute-Maweacute nem indiacutegenas surdos
existentes
Realmente apoacutes pesquisas in loco ficou comprovado somente agrave existecircncia da etnia
Hixkaryana da famiacutelia linguiacutestica Karib Sobre esta ressalta-se que
A liacutengua hixkaryana pertence agrave famiacutelia linguiacutestica Karib e eacute falada por todos os
membros do grupo Esta liacutengua eacute muito semelhante agravequeles outros dialetos falados
na regiatildeo mais ampla circunscrita pelos vales dos rios Trombetas e Mapuera como
Waiwai Xereu Katuena Karapawyana Tunayana Desta maneira e pelo fato dos
Hixkaryana estabelecerem relaccedilotildees bem estreitas com estes grupos em uma rede de
trocas matrimoniais e rituais tais dialetos satildeo inteligiacuteveis entre si []
Os Kaxuyana que moram no rio Nhamundaacute quase todos tambeacutem falam a liacutengua
hixkaryana aleacutem da sua liacutengua proacutepria o Kaxuyana Contudo em geral um
Hixkaryana natildeo fala a liacutengua kaxuyana fato que de certa forma demonstra que os
Kaxuyana satildeo considerados os ldquoestrangeirosrdquo naquela regiatildeo e que devem aprender
a liacutengua ldquonativardquo o Hixkaryana
A maioria dos Hixkaryana eacute alfabetizada na liacutengua nativa sendo capaz de ler e
escrever neste idioma Em 2008 havia apenas uma escola de ensino fundamental na
aldeia Kassauaacute e muitos jovens depois desta seacuterie dirigiam-se agrave cidade de
Nhamundaacute (AM) para prosseguir os estudos de niacutevel meacutedio Em 2010 uma escola
de ensino meacutedio foi implantada na aldeia Kassauaacute Aleacutem disso uma dezena de
Hixkaryana jaacute cursou ou estaacute cursando o ensino superior em cidades como Parintins
e Manaus Contudo a maioria das mulheres dos velhos e das velhas fala muito
pouco o Portuguecircs sendo o Hixkaryana a liacutengua mais usada por todos19
Assim como no municiacutepio de Nhamundaacute ficou constatado tambeacutem que nos demais
municiacutepios de Satildeo Sebastiatildeo do Uatumatilde e de Urucaraacute que natildeo haacute registro sobre a existecircncia
da etnia Satereacute-Maweacute nem tatildeo pouco a existecircncia de iacutendios surdos A tabela 1- apresenta o
resultado da pesquisa que aponta o mapeamento
Tabela 1 Mapeamento da existecircncia de iacutendios surdos nas respectivas comunidades
indiacutegenas ou zona urbana da microrregiatildeo de Parintins
Fonte Azevedo (2014)
19
Disponiacutevel emlthttppibsocioambientalorgptpovohixkaryanagt Acesso em 07112014
Etnia Liacutengua Comunidade Indiacutegena
rural Zona Urbana
Municiacutepio Quantidade de iacutendios
surdos
Satereacute-Maweacute Tupi Parintins Parintins 02
Satereacute-Maweacute Tupi Uaucurupaacute Parintins 01
Satereacute-Maweacute Tupi Rio Andiraacute Barreirinha 01
Satereacute-Maweacute Tupi Santa Maria Maueacutes 02
Satereacute-Maweacute Tupi Rio Marau Maueacutes 03
Satereacute-Maweacute Tupi Boa Vista do Ramos Boa Vista do
Ramos
01
Total 10
59
De acordo com os dados pode-se observar a existecircncia de poucos iacutendios surdos
Poreacutem acredita-se que ainda existam outros em comunidades mais isoladas Como tambeacutem
pelo fato de serem consideradas ldquodeficientesrdquo algumas famiacutelias natildeo integram na comunidade
que vivem As dificuldades encontradas para coletar os dados a partir dos oacutergatildeos
responsaacuteveis tambeacutem foram encontrados em outros estudos realizados anteriormente para
estabelecer a populaccedilatildeo indiacutegena na Ameacuterica Latina o que pode ser vislumbrado pela
explicaccedilatildeo dos fatos complicadores transcritos a seguir
Uma das dificuldades para estabelecer a populaccedilatildeo indiacutegena estaacute relacionada com
fato de que o criteacuterio de filiaccedilatildeo segue mais a autodenominaccedilatildeo que as
caracteriacutesticas linguiacutesticas ou raciais como se considerava haacute algumas deacutecadas atraacutes
Outra dificuldade eacute que a uacutenica fonte disponiacutevel para estabelecer a quantidade de
populaccedilotildees indiacutegenas na regiatildeo satildeo precisamente os censos nacionais de populaccedilatildeo
que haacute bem pouco tempo permitiam inferir informaccedilatildeo sobre a populaccedilatildeo indiacutegena
a partir de uma uacutenica pergunta referente agrave liacutengua falada pelos entrevistados (LOPES
e SICHRA 2009 p 103)
Entretanto embora natildeo haja um nuacutemero expressivo de iacutendios surdos da etnia Satereacute-
Maweacute ficou constatado que haacute muitos surdos natildeo-iacutendios nos municiacutepios estudados
principalmente no municiacutepio de Parintins que precisam se comunicar com diferentes
interlocutores Este eacute um argumento que aponta para a necessidade de instrumentos
educacionais como um dicionaacuterio triliacutengue importante para os surdos que conseguiram
estabelecer elos comunicativos a partir das trecircs liacutenguas E jaacute que o homem eacute criativo ldquoagrave
medida que o tempo passa a humanidade vai agregando novas descobertas e inventos que se
concretizam e se somam para dar-lhe conforto e bem estarrdquo (OLIVEIRA 2005 p 144) Entatildeo
espera-se que este material contribua para que o sujeito surdo possa se comunicar
adequadamente no seio familiar e no processo educacional
42 Realidade linguiacutestica e educacional dos iacutendios surdos encontrados da etnia Satereacute-Maweacute
O sistema responsaacutevel pela educaccedilatildeo tem procurado fazer adequaccedilotildees para atender agraves
pessoas que apresentam necessidades na sua arquitetura fiacutesica para a inclusatildeo destas no
contexto da realidade linguiacutestica e educacional Embora exista uma legislaccedilatildeo pertinente
ainda haacute ausecircncia de qualidade para que um indiviacuteduo surdo possa estudar incluso em um
contexto regular de ensino Principalmente porque os professores natildeo estatildeo preparados para
lidar com essa situaccedilatildeo peculiar Haacute uma imposiccedilatildeo nos oacutergatildeos educacionais mas natildeo haacute
60
profissionais que atuem para o bom desempenho do aluno indiacutegena surdo A partir dessa
visatildeo Albres (2005) que realizou um estudo nesta aacuterea de conhecimento afirma
Nessa perspectiva o homem eacute produto e produtor da cultura conjunto das relaccedilotildees
sociais portanto mister se faz investigar a origem histoacuterica de alguns princiacutepios da
educaccedilatildeo biliacutengue para surdos e desvelar elementos conceituais Propomo-nos
entatildeo identificar e analisar as concepccedilotildees de linguagem que sob condiccedilotildees
histoacutericas fundamentaram o ensino de Liacutengua Portuguesa para surdos nos
documentos do MEC
Desta feita entende-se que se no contexto do ensino da Liacutengua Portuguesa existem
diversas dificuldades no contexto de uma liacutengua indiacutegena a situaccedilatildeo se torna mais complexa
Desse modo na anaacutelise da situaccedilatildeo linguiacutestica e educacional encontrada com os iacutendios surdos
identificados da etnia Satereacute-Maweacute eacute bastante diversificada Apresentam diferentes formas de
siacutembolos para conseguirem se comunicar com as pessoas com quem tecircm contato Precisam
fazer um esforccedilo aleacutem do necessaacuterio para manifestar seus desejos para informar e ter acesso a
informaccedilotildees
No caso da aluna indiacutegena surda de apenas seis anos de idade na escola especiacutefica para
atender alunos surdos foi constatado que sua situaccedilatildeo linguiacutestica e educacional se encontra
em processo de aquisiccedilatildeo de uma linguagem baacutesica para comunicaccedilatildeo com as pessoas com as
quais ela convive
Conforme os dados fornecidos pela escola por meio de um parecer pedagoacutegico sobre a
aluna indiacutegena surda (ANEXO D) Ficou atestado que a aluna da etnia Satereacute-Maweacute nasceu
de parto normal sem nenhum problema aparente Aos trecircs anos de idade a matildee percebeu que
a filha natildeo ouvia e nem falava pois seus outros filhos haviam comeccedilado a falar na presente
idade Para seguir se comunicar com a filha utilizava-se de gestos sendo difiacutecil a
comunicaccedilatildeo Foi essa situaccedilatildeo que levou a famiacutelia a procura da Escola Padre Paulo Manna
onde se encontra matriculada no preacute-escolar Nessa realidade ela recebe as mesmas
orientaccedilotildees dadas agraves crianccedilas natildeo indiacutegenas logo natildeo existe um direcionamento para a cultura
da sua etnia na escola nem na no contexto familiar
Sobre essa condiccedilatildeo Cool (2004) aborda que haacute um aspecto familiar que tem
relevacircncia particular o tipo de comunicaccedilatildeo que se utiliza em casa ou seja a forma e o estilo
de comunicaccedilatildeo que os pais utilizam com a crianccedila surda tem uma grande importacircncia para o
seu desenvolvimento e para sua aprendizagem No caso dos pais ouvintes estes necessitam do
conhecimento da educaccedilatildeo da cultura da liacutengua da pessoa surda para que possam promover
uma formaccedilatildeo linguiacutestica completa para o filho surdo E deste modo este ldquopossa consolidar e
61
aprofundar o uso e a compreensatildeo da liacutengua proacutepria enquanto veiacuteculo de cultura e
possibilidade de comunicaccedilatildeo no acircmbitordquo de conhecimento do aprendiz sem deixar agrave parte do
domiacutenio da liacutengua apropriada para esse sujeito (HERNAIZ 2009)
Desta forma a educaccedilatildeo escolar reconhecida pela proacutepria escola referente agrave inclusatildeo
da aluna indiacutegena surda aponta para a necessidade de instituir uma educaccedilatildeo triliacutengue de
forma que seu processo de ensino-aprendizagem pauta-se na Liacutengua Satereacute-Maweacute Liacutengua
Brasileira de Sinais e Liacutengua Portuguesa Mesmo sabendo da dificuldade em aprender trecircs
liacutenguas o parecer pedagoacutegico considera possiacutevel aprendizagem de trecircs liacutenguas
A partir dos argumentos referidos reitera-se a importacircncia de que a educaccedilatildeo escolar
dessa aluna deve abranger as liacutenguas de uso natural nativo e social Quando se destaca a
liacutengua de uso natural entende-se que eacute a Liacutengua de Sinais como primeira liacutengua E natildeo
inverter o processo e obrigar a crianccedila surda seja indiacutegena ou natildeo aprender a falar uma
liacutengua oral seja liacutengua indiacutegena ou Liacutengua Portuguesa Sobre a questatildeo Fernandes (2005
p20) pontua
fazer uma crianccedila surda ldquofalarrdquo ao inveacutes de propiciar a ela um meio raacutepido de
comunicaccedilatildeo linguiacutestica atraveacutes da aquisiccedilatildeo da liacutengua de sinais como primeira
liacutengua que proteja e cumpra o papel fundamental de resguardar o seu natural
desenvolvimento no que se refere a ter domiacutenio de fato de um instrumental
linguiacutestico que lhe sirva para as operaccedilotildees mentais que envolvam mecanismos
linguiacutesticos
Portanto primeiramente eacute necessaacuteria a aquisiccedilatildeo da primeira liacutengua a liacutengua de sinais
e como segunda liacutengua a liacutengua nativa de sua comunidade eacutetnica No caso da aluna indiacutegena
a liacutengua Tupi da etnia Satereacute-Maweacute na modalidade escrita Desta forma com a aprendizagem
das duas liacutenguas seraacute uma aluna biliacutengue Poreacutem diante da realidade do aluno indiacutegena surdo
que vive na zona urbana se faz necessaacuterio o aprendizado triliacutengue Liacutengua Portuguesa por
escrito
Como dito anteriormente o ensino-aprendizado da Liacutengua de Sinais deve ser
garantido ao sujeito surdo para que adquira a identidade a cultura do povo surdo20
acesso
pleno as informaccedilotildees aleacutem de significar a possibilidade de comunicaccedilatildeo e expressatildeo fluentes
do sujeito surdo com seu entorno Da mesma perspectiva o ensino da Liacutengua indiacutegena se daacute
20
Como ja mencionado no capiacutetulo 1 sobre Cultura Surda ldquo eacute o jeito surdo de ser de perceber de sentir de
vivenciar de comunicar de transformar o mundo a tornaacute-lo habitaacutevelrdquo (GLADIS PERLIN apud STROBEL
2008 p 21) Strobel ainda esclarece que o sujeito Surdo se comportam diferente do sujeito ouvinte e com isso
traz alguns ldquoartefatos culturaisrdquo (explicado no capiacutetulo 1) que satildeo as pecualiaridade da cultura surda as quais
descritas Parte das experiecircncias visuais linguiacutestico familiar literatura surda vida social e esportiva artes
visuais poliacutetica e materiais Todos estes artefatos concebidos a partir do VER (IDEM 2008 p36-77)
62
em respeito aos direitos da cultura indiacutegena previsto pela Constituiccedilatildeo Brasileira conforme
decreto nordm 6861 de maio de 2009 no seu Art 2o que determina ldquoSatildeo objetivos da educaccedilatildeo
escolar indiacutegena I- valorizaccedilatildeo das culturas dos povos indiacutegenas e a afirmaccedilatildeo e manutenccedilatildeo
de sua diversidade eacutetnica II- fortalecimento das praacuteticas socioculturais e da liacutengua e da liacutengua
materna de cada comunidade indiacutegenardquo
Neste caso a referida aluna iacutendia surda deveraacute ter a liacutengua indiacutegena como liacutengua de
conhecimento de sua cultura Para o ensino desta na forma escrita faz-se uso de cartilhas
gramaacuteticas dicionaacuterios etc
De acordo com o exposto a escola reconhece a necessidade da educaccedilatildeo escolar
triliacutengue poreacutem utiliza-se de outra realidade conforme citado pela proacutepria escola ldquoNo
primeiro momento fica junto com os colegas ouvintes onde procuramos trabalhar de forma
inclusiva no contexto biliacutengue Liacutengua Portuguesa e Liacutengua de Sinais
Sobre este aspecto Rodrigues (2005 p20) pontua
Quantas lacunas estariam sendo criadas em nome da pressuposiccedilatildeo de que a
aprendizagem da liacutengua da maioria dos falantes da comunidade (ouvintes) eacute que
daria agrave crianccedila surda condiccedilotildees de desenvolvimento social e cognitivo Quantas
etapas de desenvolvimento estariam sendo desprezadas nas fases naturais de sua
evoluccedilatildeo sob a alegaccedilatildeo de que ela seraacute capaz de alcanccedilar o que se estabelece como
meta social Que metas estariam sendo alcanccediladas afinal Que objetivos estatildeo sendo
perseguidos em prol desses paracircmetros ultrapassados em detrimento dos reais
objetivos de formaccedilatildeo psico-sociocultural deste individuo Em que a liacutengua de
sinais como primeira liacutengua ainda se encontra determinada pelo descreacutedito de
tantos especialistas da aacuterea
A realidade encontrada sobre a educaccedilatildeo natildeo soacute em uma escola que atende alunos
surdos mas tambeacutem em muitas escolas as chamadas escolas ldquoinclusivasrdquo apresentam
dificuldades no processo de ensino dos alunos surdos21
Todavia entre desencontros
sociocultural-linguiacutesticos eacute preciso fazer uma ressalva desta escola ldquoA escola disponibilizou
21
Sobre a temaacutetica da Inclusatildeo formula-se ldquoAo se avaliar que na contemporaneidade impera o discurso da
inclusatildeo indiscriminada em escolas regulares[]Esta diretriz tira o direito previsto na legislaccedilatildeo brasileira de
poder optar por uma educaccedilatildeo biliacutengue em escola proacutepria de modo que se repete a condiccedilatildeo em que aos surdos eacute
imposto um enorme sofrimento na medida em que nos denominamos processos inclusivos junto aos ouvintes
permanecem privados de conviver com seus pares e de acessar o conhecimento na Liacutengua de Sinais como liacutengua
de instruccedilatildeo [] Os surdosde diferentemente de outros segmentos tecircm a necessidade de agrupar-se para formar
comunidade linguiacutestica por meio das quais possam construir uma ldquocomunidade de experiecircnciasrdquo (WITKOSKI
2012 p33-34)
63
uma professora surda para a aquisiccedilatildeo da Liacutengua Brasileira de Sinais repassando o conteuacutedo
ministrado na salardquo onde cada um desses alunos eacute inserido
A escola positivamente conta com a colaboraccedilatildeo do trabalho docente de uma
professora surda Esta tem um papel fundamental como modelo linguiacutestico principalmente
quando alunos surdos provecircm de famiacutelias ouvintes que natildeo tecircm acesso agrave cultura e agrave Liacutengua
de Sinais Cabe ao professor surdo comunicar-se fluentemente com o aluno surdo ser um
input linguiacutestico para a identificaccedilatildeo da cultura do ser surdo
Dessa forma Strobel (2008 p 40) destaca
Este contato crianccedila surda x adulto surdo atraveacutes de uma liacutengua em comum que eacute a
liacutengua de sinais eacute que proporcionaraacute o acesso agrave linguagem e desta forma estaraacute
assegurada a identidade e a cultura surda que eacute transmitida naturalmente agrave crianccedila
surda em contato com a comunidade surda
Observa-se que caso a crianccedila surda natildeo tenha o direito a sua diferenccedila preservado
este aprendiz teraacute sua inserccedilatildeo no mundo dos ouvintes de forma incerta eou sem esperanccedila de
uma vida normal A situaccedilatildeo se agrava na medida em que a sociedade ouvinte deixa a desejar
quanto agrave participaccedilatildeo dos sujeitos surdos em decorrecircncia da escassez dos vaacuterios recursos
visuais que promovem acessibilidade para eles
Contudo os povos surdos hoje satildeo mais conscientes de seus direitos entatildeo esses
sujeitos cultural e politicamente lutam pelos mesmos Direitos estes tambeacutem dos povos
indiacutegenas como jaacute comentados anteriormente
Todavia esse aspecto ainda estaacute distante da realidade dos sujeitos focos do estudo de
acordo com relato da escola Segundo depoimentos de alguns indiacutegenas a aprendizagem
indiacutegena passa pela demonstraccedilatildeo observaccedilatildeo imitaccedilatildeo tentativa e erro e quando o aluno
vem para a escola tem que se socializar e obedecer a comandos regidos pelo sistema e isso
muitas vezes o deixa confuso e os maiores ateacute desistem A situaccedilatildeo se agrava quando esse fato
se refere ao sujeito iacutendio surdo incluiacutedo na escola pois este requer um diferencial ainda
maior reconhecido pela escola
Dessa forma satildeo necessaacuterias estrateacutegias de ensino diferenciadas que deem suporte
para que a aluna seja trabalhada de forma triliacutengue no contexto escolar para que ela
natildeo perca a sua essecircncia a sua cultura que sejam adaptados trabalhos de acordo
com a realidade indiacutegena para que ela natildeo perca a sua identidade e saiba conduzir
sua aprendizagem dentro de um contexto diferenciado podendo aprender o que lhe eacute
de direito como viver bem em sociedade22
22
Texto extraiacutedo do parecer pedagoacutegico da aluna indiacutegena surda que estuda na Escola de Aacuteudio e Comunicaccedilatildeo
Pe Paulo MannaParintinsAm (ANEXO D)
64
A partir das consideraccedilotildees tecidas no parecer pedagoacutegico torna-se evidente ema
necessidade de ampliar e aprofundar as reflexotildees sobre a inclusatildeo de iacutendios surdos em vaacuterios
espaccedilos da sociedade especialmente no espaccedilo educacional escolar Ou seja haacute necessidade
tambeacutem de poliacuteticas linguiacutesticas voltada para esse acircmbito
Nesse sentido eacute necessaacuterio que se tenha como meta uma tomada de decisotildees poliacuteticas
para que gradativamente se possa controlar a situaccedilatildeo de aprendizagem do surdo no processo
soacutecio cultural onde ele estiver inserido Ateacute por que existe uma proposta educativa
intercultural de modo biliacutengue no contexto indiacutegena Assim surge a necessidade de accedilotildees
objetivas para garantir na praacutetica esta proposta de ensino a fim de enriquecer o indiacutegena
surdo com desenvolvimento da liacutengua de sinais como veiacuteculo de comunicaccedilatildeo acrescendo
seus conhecimentos a partir do pluralismo cultural uma vez que estaacute amparado por
legislaccedilotildees especiacuteficas
Reitera-se a necessidade de accedilotildees objetivas especialmente no que tange a formaccedilatildeo
especiacutefica de professores pois mesmo com a garantia da legislaccedilatildeo a presente realidade
desses sujeitos estaacute distante do contexto sociocultural-linguiacutestico do ser iacutendio surdo A
exemplo disso tem-se outra realidade sociocultural-linguiacutestico do segundo aluno indiacutegena
surdo de 24 anos que foi transferido de uma escola que desenvolve atividades educacionais
especiacuteficas para outra no processo denominado de educaccedilatildeo inclusiva onde cursa o nono ano
do ensino fundamental das seacuteries finais e faz atendimento na sala de recurso porque os
professores das disciplinas do curso natildeo tecircm formaccedilatildeo para acompanhaacute-lo
Os relatos da famiacutelia indicam que o aluno nasceu na aacuterea indiacutegena de Ponta Alegre
poreacutem muito pequeno sua famiacutelia mudou-se para zona urbana municiacutepio de Parintins o qual
cresceu longe de sua cultura indiacutegena desconhecendo assim a liacutengua de sua etnia Este eacute um
caso que promove o desaparecimento de liacutenguas indiacutegenas o conhecido deslocamento
sociolinguiacutestico
Para entender o processo que instaura este deslocamento linguiacutestico ressalta-se que
primeiramente a educaccedilatildeo da pessoa perpassa pelo uso da liacutengua materna no ambiente
familiar nas relaccedilotildees famiacuteliares na qual utiliza uma comunicaccedilatildeo intra e extrafamiliar Se a
famiacutelia mantiver sua liacutengua nativa em uso os membros da mesma permaneceratildeo biliacutengues
Poreacutem se a famiacutelia por pressatildeo social do uso da liacutengua dos falantes da sociedade local seja
porque deseja se adequar ao meio onde se insere a liacutengua no caso indiacutegena entra no processo
de esquecimento para as geraccedilotildees vindouras
65
Eacute o caso do aluno acima que eacute biliacutengue (Liacutengua Brasileira de Sinais e Liacutengua
Portuguesa na modalidade escrita) contudo desconhece sua raiz cultural a liacutengua de sua
etnia Seu contexto educacional eacute baseado em ldquomodelo de escola inclusivardquo o aluno vai para
sala de aula com alunos ouvintes onde a liacutengua portuguesa eacute a liacutengua padratildeo a ser ensinada e
estudada e posteriormente faz atendimento na sala de recurso em sua liacutengua natural Libras
Logo a escola pode ajudar no incentivo favorecendo a revitalizaccedilatildeo da liacutengua
indiacutegena no contexto educacional Para isso haacute necessidade de um corpo docente com a
formaccedilatildeo em Liacutengua indiacutegena e Liacutengua Brasileira de Sinais aleacutem da Liacutengua Portuguesa que eacute
usada como a base de ensino
Jaacute na comunidade Uiacurapaacute da etnia Maweacute encontramos outra realidade de contexto
de um surdo indiacutegena Todavia natildeo foi possiacutevel fazer um acompanhamento mais preciso
sobre sua situaccedilatildeo educacional escolar O uacutenico dado correspondente agrave questatildeo linguiacutestica eacute o
modo como ele se comunica conforme foi relatado por membros da comunidade local se
caracteriza pela utilizaccedilatildeo de gestos criados para se fazer compreender Desta forma diante da
ausecircncia de uma liacutengua estruturada a Libras por fazer uso somente de gestos ele apresenta
dificuldades de entender o ensino e de se comunicar com seus pares Da mesma forma ocorre
no contexto familiar e na comunidade uma vez que o aluno surdo vive quase que isolado
devido ao preconceito existente ateacute mesmo pela proacutepria comunidade por natildeo o entenderem e
nem saberem qual a forma para se comunicar aquele indiviacuteduo Assim ele vive em uma
situaccedilatildeo de rejeiccedilatildeo e marginalizaccedilatildeo estabelecida a partir da ausecircncia de uma liacutengua que
promova a comunicaccedilatildeo com o predomiacutenio de um processo de estigmatizaccedilatildeo deste sujeito
surdo
No municiacutepio de Maueacutes Boa Vista do Ramos os iacutendios surdos localizados satildeo de
idade adulta natildeo tiveram a oportunidade de frequentar escola Portanto sua realidade
linguiacutestica fundamenta-se somente na forma gestual que denominam de caseira atribuindo
significados peculiares de seu contexto local No que diz respeito ao aspecto educacional as
pessoas contatadas demonstraram apenas uma preocupaccedilatildeo sobre a existecircncia futura de
possiacuteveis iacutendios surdos nesses municiacutepios e sua formaccedilatildeo educacional Contudo natildeo
afirmaram o que fariam se encontrassem outros sujeitos com essa necessidade de
comunicaccedilatildeo
Como jaacute mencionado natildeo haacute registro sobre a situaccedilatildeo linguiacutestica e educacional de
nenhum iacutendio surdo da etnia Satereacute-Maweacute nos municiacutepios de Nhamundaacute Satildeo Sebastiatildeo do
Uatumatilde e de Urucaraacute Portanto as informaccedilotildees educacionais natildeo satildeo apresentadas nestes
contextos
66
43 Inventaacuterio de gestos da linguagem caseira dos surdos Satereacute-Maweacute
A presente pesquisa baseia-se em um meacutetodo de estudos de etnografia com o intuito
de descrever e observar os gestos caseiros que os indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute usam para se
comunicarem com seus pares nas comunidades onde residem O meacutetodo tambeacutem ajuda a
conhecer a identidade e sua interaccedilatildeo no meio da comunidade visto haacute uma diversidade
linguiacutestica rica usada pelos surdos indiacutegenas nas diversas localidades percorridas pelo
pesquisador na microrregiatildeo de Parintins
431 Os sinais caseiros de indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute
O objetivo do mapeamento eacute coletar os sinais caseiros ou emergentes para que esses
sinais possam ser reconhecidos e compreendidos pela sua comunidade como meio linguiacutestico
de comunicaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo de sua cultura
Para a concretizaccedilatildeo do mapeamento foi necessaacuterio a pesquisa de campo na
comunidade onde se fazia presente o indiacutegena surdo para as devidas observaccedilotildees
432 O Municiacutepio de Parintins
No municiacutepio de Parintins foi localizado trecircs (03) indiacutegenas surdos com suas
caracteriacutesticas linguiacutesticas diferenciadas de suas origens sendo que dois indiacutegenas residem na
zona urbana e um indiacutegena localizado na comunidade de Uaicurapaacute os quais foram o objeto
investigativo para a coleta de dados Os registros foram feitos de forma diferenciada de modo
que primeiramente conversei com as lideranccedilas indiacutegenas acompanhado de inteacuterprete e guia
linguiacutestico Durante este encontro foram feitas no local observaccedilotildees visuais sendo que em
alguns casos realizamos registros de imagens filmagens e entrevistas Eacute importante destacar
que os registros soacute puderam ser feitos quando permitidos pelos sujeitos da pesquisa ou pela
lideranccedila prevalecendo em sua maior parte a observaccedilatildeo visto que materiais tecnoloacutegicos e
de miacutedias causavam incocircmodo aos entrevistados fazendo com que se tornassem
incomunicaacuteveis quando percebiam que estavam sendo monitorados
67
4321 O primeiro surdo
Esse primeiro indiacutegena possui surdez moderada Eacute um senhor com idade de 72 anos
residente no Uiacurapaacute23
O contato foi feito na Casa do Iacutendio de Parintins Em uma
conversaccedilatildeo informal explicou que perdeu a audiccedilatildeo com o tempo eacute oralizado24
e se
comunica com a comunidade na liacutengua nativa Satereacute-Maweacute Trata-se de um cidadatildeo calmo
fala apenas de suas necessidades visto que natildeo se manifesta muito devido suas limitaccedilotildees
auditivas que dificultam uma melhor compreensatildeo
Como referido o surdo em questatildeo tem surdez moderada Neste sentido observa-se
que a surdez ocorre de acordo com diferentes classificaccedilotildees quanto ao niacutevel de perda auditiva
Ou seja
Quanto ao grau - leve (perda de 26 a 40 dBNA) - moderada (perda de 41 a 55
dBNA) - moderadasevera (perda de 56 a 70 dBNA) - severa (perda de 71 a 90
dBNA) - profunda (a partir de 91 dBNA) (RUSSO e SANTOS 1988 apud
NADER 2011 p 2)
Retomando a histoacuteria do sujeito surdo em questatildeo observa-se que ele reside na zona
rural no Uiacurapaacute com seus parentes e sua sobrevivecircncia eacute atraveacutes do que planta e pesca
Observando-o percebo que o mesmo tem uma vida normal com seus pares o que falta para
uma interaccedilatildeo mais ativa na comunidade eacute estimulo e o incentivo linguiacutestico pois muitas
pessoas satildeo impacientes e acabam deixando-o isolado linguisticamente
4322 O segundo surdo
Eacute um indiacutegena natural de Ponta Alegre25
concluiu o ensino fundamental em uma
escola puacuteblica no municiacutepio de Parintins Sua surdez foi percebida por seus pais ainda
crianccedila causada por doenccedila congecircnita A famiacutelia mudou-se para o municiacutepio de Parintins em
busca de uma melhor educaccedilatildeo para filho surdo entretanto os pais eram usuaacuterios da Liacutengua
Satereacute-Maweacute mas natildeo mais praticam pela influecircncia da Liacutengua Portuguesa e tambeacutem natildeo 23 Rio que fica interliga com Rio Paranaacute do Ramos ndash Parintins (AZEVEDO 2014) 24
O modelo cliacutenico-terapecircutico baseia-se numa visatildeo patoloacutegica de surdez e num modelo individual de
atendimento aacute diversidade que tem como referecircncia o Oralismo O oralismo eacute uma filosofia educacional para
surdos cujo discurso propotildee a superaccedilatildeo da surdez e a aceitaccedilatildeo social do surdo por meio da oralizaccedilatildeo Em
outras palavras este modelo defende o aprendizado apenas da Liacutengua Portuguesa na sua modalidade oral e
escrita na escola por entender que esta eacute a uacutenica possibilidade de integrar o surdo na sociedade majoritaacuteria
ouvinte (SLOMSKI 2010 p 32) 25
A comunidade de Ponta Alegre situa-se no Rio Andiraacute com 4 horas de viagem de lancha para chegar a
comunidade (AZEVEDO 2014)
68
frequentam a comunidade Satereacute-Maweacute em busca de assistecircncia ou outros meios oferecidos
pela tribo Portanto a famiacutelia cresceu e disseminou deixando de lado a liacutengua nativa e
tradiccedilatildeo indiacutegena vivendo uma vida regular na zona urbana
O surdo hoje com 20 anos natildeo conhece a liacutengua nativa de sua comunidade se
comunica fluentemente com a Liacutengua de Sinais escreve o Portuguecircs e se oraliza na
comunicaccedilatildeo com seus pais que tambeacutem natildeo sabem a Liacutengua de Sinais
Atraveacutes de sua histoacuteria eacute possiacutevel perceber que este sujeito surdo por estudar em
escola inclusiva com forte influecircncia a oralista desenvolveu as duas linguas a Liacutengua
Brasileira de Sinais e a Liacutengua Portuguesa Poreacutem sua situaccedilatildeo eacute diferente de outros
indiacutegenas surdos que residem nas comunidades que usam os sinais caseiros para se
comunicarem Isso acaba sendo uma observaccedilatildeo abstrata da realidade entre os surdos que
moram na zona urbana e na comunidade Satereacute-Maweacute
4323 O terceiro surdo
Eacute uma crianccedila de 5 anos descendente da etnia Satereacute-Maweacute estuda em uma escola
filantroacutepica em Parintins Trata-se de uma aluna inteligente que demonstrava timidez na
presenccedila de pessoas estranhas Verificou-se que ela consegue aprender e identificar os objetos
apresentados para que identificasse Aos 4 anos antes de entrar para a escola utilizava alguns
sinais caseiros para se comunicar com seus familiares Na sala de aula o ensino oferecido a
ela eacute o biliacutengue26
tendo a Liacutengua Brasileira de Sinais e a Liacutengua Portuguesa compondo essa
educaccedilatildeo O ensino nessa instituiccedilatildeo vai ateacute a 5ordf serie Por esta razatildeo a aluna futuramente
precisaraacute ser transferida para uma escola de ensino fundamental
Tabela 2 11 Sinais caseiros utilizados pela crianccedila indiacutegena surda de 5 anos e seus
familiares
26
O Bilinguismo eacute uma filosofia de ensino cujo discurso propotildee a diversidade cultural e a aceitaccedilatildeo social do
surdo por meio do bilinguismo (duas liacutenguas Liacutengua de Sinais e segunda liacutengua) Essa filosofia concebe o surdo
como um ser diferente e a surdez como ldquoatributo humanordquo como uma caracteriacutestica da pessoa surda resultado
de uma deficiecircncia orgacircnica que natildeo se esgota nela mesma (SKLIAR 1997 apud SLOMSKI 2010 p 41)
SINAIS CASEIROS DESCRICcedilAtildeO
AacuteGUA Matildeo direita com o dedo polegar fazendo a expressatildeo de beber aacutegua
BRINCAR As duas matildeos fechadas batendo as pontas dos dedos em
movimento
BANHEIRO Matildeo direita mostra o local e a esquerda eacute posicionada na barriga
COMIDA As duas matildeos abrindo e fechando repetidamente proacuteximo da boca
DORMIR As duas matildeos com as palmas juntas encostar-se ao rosto com
expressatildeo de querer dormir
69
Fonte AZEVEDO (2014)
Figura 2 Sinais caseiros utilizado pela crianccedila de 5 anos
FOME Matildeo direita indo em direccedilatildeo da barriga fazendo expressatildeo facial de
fome
MAtildeE Matildeo direita aberta no rosto fazendo movimento nos dedos com
expressatildeo chamativa
IRMAtildeO Matildeo direita batendo no antebraccedilo para chamar atenccedilatildeo
PAI Matildeo direita com os dedos pegando o queixo
PESSOA Matildeo direita com dedo indicador fazendo expressatildeo de algueacutem
CHORAR As duas matildeos fechadas com os dorsos esfregando nos olhos
AacuteGUA BRINCAR
COMIDA DORMIR FOME
MAtildeE IRMAtildeO PAI
BANHEIRO
70
44 O indiacutegena surdo da Comunidade de Ponta Alegre do municiacutepio de Barreirinha
Foi localizado um aluno surdo na comunidade de Ponta Alegre que faz parte do
municiacutepio de Barreirinha trata-se de um jovem de 13 anos que estuda na Escola Municipal
Rosa Cabral e mora em uma aldeia mais distante a observaccedilatildeo foi feita na escola Nessa
viagem foi obtido a autorizaccedilatildeo de viagem para a aldeia na Secretaria de Educaccedilatildeo Municipal
de Barreirinha por meio do contato com o coordenador geral do setor indiacutegena daquela aacuterea
o senhor Santino Lopes que muito contribuiu com o projeto e de servir como guia de
viagem
O devido aluno estuda na 3ordf Serie do ensino fundamental De acordo com as
observaccedilotildees feitas O ensino predominante na sala para o ensino deste aluno eacute a Liacutengua
Portuguesa visto que os professores em sua maioria vem do municiacutepio de Barreirinha
Embora o ensino seja bem aplicado e a escola dispotildee de material didaacutetico apropriado para a
seacuterie natildeo haacute metodologia de ensino especializado para surdo natildeo existindo Sala de
Recursos27
O aluno aprende lentamente demonstrando dificuldades de entender os
conteuacutedos
A comunicaccedilatildeo com seus professores e colegas soacute acontecem atraveacutes de sinais
caseiros e expressotildees manuais O aluno surdo vive quase que isolado sem ter a possibilidade
de estabelecer uma comunicaccedilatildeo satisaftoacuteria dentro do contexto escolar devido ao
27
Uma das inovaccedilotildees trazidas pela Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Especial na Perspectiva da Educaccedilatildeo
Inclusiva (2008) eacute o Atendimento Educacional Especializado ndash AEE um serviccedilo da educaccedilatildeo especial que []
identifica elabora e organiza recursos pedagoacutegicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena
participaccedilatildeo dos alunos considerando suas necessidades especiacuteficas
O AEE complementa eou suplementa a formaccedilatildeo do aluno visando a sua autonomia na escola e fora dela
constituindo oferta obrigatoacuteria pelos sistemas de ensino Eacute realizado de preferecircncia nas escolas comuns em um
espaccedilo fiacutesico denominado Sala de Recursos Multifuncional Portanto eacute parte integrante do projeto poliacutetico
pedagoacutegico da escola (BRASIL 2008 p 3)
CHORAR PESSOA
71
preconceito existente Ateacute mesmo na proacutepria comunidade por natildeo entenderem e nem saberem
de que forma comunicarem-se com o mesmo a situaccedilatildeo de exclusatildeo se repete
Vale destacar que diante desta ausecircncia da qualidade de ensino para o aluno surdo a
professora Maria Inecircs ao responder um questionaacuterio segue algumas afirmativas para mudar
esta realidade Desta forma a educadora afirma que
- Eacute muito importante a capacitaccedilatildeo em cursos de libras e livros didaacuteticos proacuteprios
como forma de melhorar o ensino e a comunicaccedilatildeo com aluno surdo na
comunidade como parte da educaccedilatildeo inclusiva para facilitar o ensino e
aprendizado acima de tudo conhecer sua liacutengua materna identidade do povo
Satereacute-Maweacute
Pelo relato do Gestor da Escola Senhor Dulcemar a necessidade jaacute referida pela
educadora acima de materiais didaacuteticos para subsidiar o ensino eacute novamente colocada em
destaque conforme pode ser vislumbrado no relato transcito a seguir
- Eu como gestor sinto-me gratificado pelo trabalho a ser desenvolvido aqui com a
questatildeo da Libras um trabalho realizado pelo professor Marlon Jorge Pois eacute muito
importante devido agrave dificuldade que a educaccedilatildeo Satereacute- Maweacute vem tendo
principalmente quando se trata de alunos surdos indiacutegenas e ateacute mesmo por falta
de material didaacutetico Esse trabalho vai ser importante aqui na aacuterea indiacutegena para
ajudar o professor na sala de aula como ensinar como educar e como lidar com
esses alunos com necessidades especiais Entatildeo eacute um trabalho muito importante
pra noacutes e estamos aqui a disposiccedilatildeo e tambeacutem para contribuir como gestor da
escola juntamente com os professores e pra noacutes eacute muito bom esse trabalho e que o
Sr possa desenvolver esse seu projeto essa cartilha que com o aacutepice das aulas de
libras que com certeza vai fortalecer muito mais a educaccedilatildeo do povo Satereacute
Maweacuterdquo
Tabela 313 sinais caseiros coletados e utilizados pelo aluno da comunidade de Ponta Alegre
Fonte Azevedo (2014)
SINAIS CASEIROS DESCRICcedilAtildeO
AacuteGUA Usa as duas matildeos fazendo impressatildeo de beber alguma coisa
BARCO Usa-se a matildeo direita aberta em posiccedilatildeo vertical fazendo uma
expressatildeo da accedilatildeo do barco
BANHO Fazer a expressatildeo de pular na aacutegua com os braccedilos esticados
BANHEIRO Matildeo direita usando o indicador fazendo expressatildeo sair fora sala
COMIDA Matildeo esquerda aberta matildeo direita usando como o objeto metaacutelico
COBRA Usando os dedos da matildeo direita beliscando o pulso da matildeo esquerda
ESCOLA Faz-se o sinal de casa
ESTUDAR Faz a expressatildeo de escrever
FOME Matildeo direita levando em direccedilatildeo da barriga fazendo expressatildeo facial
de fome
FARINHA As duas matildeos palmas para baixo fazendo a expressatildeo de esfarelar
alguma coisa
LANCHA Usa a matildeo direita palma para cima fazendo uma accedilatildeo da rapidez
para frente
PEIXE Matildeo direita fazer a expressatildeo de caccedilar o peixe com o arpatildeo
PESSOA Matildeo direita com dedo indicador fazendo expressatildeo de algueacutem
72
Figura 3 Sinais caseiros utilizados pelo aluno da comunidade de Ponta alegre ndash
Barreirinha
AacuteGUA BARCO
BANHEIRO
BANHO
COMIDA
ESCOLA
FOME LANCHA PESCAR PEIXE
ESTUDAR FARINHA
COBRA
73
45 Os indiacutegenas surdos do Municiacutepio de Maueacutes
Situado entre os rios Madeira e Tapajoacutes o municiacutepio de Maueacutes estaacute localizado no
Meacutedio Amazonas que hoje eacute denominado como microrregiatildeo aacuterea leste do Estado Distante
de Manaus cerca de 30 km em linha reta ou o equivalente 45 minutos por via aeacuterea estando
a 356 km por via fluvial cerce de 16 a 18 horas de barco
Nesse municiacutepio foi realizado duas viagens com a finalidade de fazer um mapeamento
das aacutereas indiacutegenas bem como descobrir a existecircncia de surdos nas aldeias O primeiro
contato foi na Secretaria de Educaccedilatildeo do municiacutepio primeiramente me apresentado como
aluno pesquisador juntamente com os documentos comprobatoacuterios de acesso para realizar a
pesquisa nas aacutereas indiacutegenas As informaccedilotildees que tinha antes de estabelecer o contato
apontavam para a existecircncia de alunos indiacutegenas surdos matriculados na sede do municiacutepio
Poreacutem a secretaria informou desconhecer a existecircncia de alunos indiacutegenas matriculados na
rede publica do municiacutepio nem saber sua localizaccedilatildeo para contatos sendo orientado a
procurar na Casa do Estudante Indiacutegena Satereacute-Maweacute que se localiza em um bairro mais
distante dali
Chegando ao SESAI - Secretaria de Sauacutede Indiacutegena obtivemos acesso agraves informaccedilotildees
devido ao fato de que a pessoa responsaacutevel estava em viagem sendo que retornaria na outra
semana Em outra busca formos agrave Casa do Estudante Satereacute-Maweacute onde conversamos com o
coordenador Sr Jusivam que disse saber da existecircncia de indiacutegenas surdos nas comunidades
na Marau e Andiraacute mas natildeo ter dados quantitativos devido ao fato deles natildeo terem procurado
a Casa do Estudante em busca de assistecircncia que auxiliassem sua integraccedilatildeo em escolas
regulares ou inclusivas Observa-se que a Casa do Estudante podia auxiliar eles a
conseguirem uma escola para estudarem na zona urbana jaacute que esta eacute uma das atribuiccedilotildees da
instituiccedilatildeo
Ao sermos informados que as comunidades onde havia surdos eram distantes e
necessitava de apresentar outros documentos da Coordenaccedilatildeo Geral de Educaccedilatildeo que ficava
no municiacutepio de Barreirinha Tambeacutem se fazia necessaacuterio preparar uma programaccedilatildeo de
viagem para que pudessemos chegar ateacute aquela localidade de modo que nesta precisava
inclusive organizar para ter inteacuterpretes que falassem a liacutengua Satereacute-Maweacute e inteacuterpretes de
Libras Aleacutem destes precisava contar com um acompanhante para registrar as imagens e
filmagens se autorizadas anotando tudo que fosse necessaacuterio
Fazendo uma reflexatildeo sobre a viagem e os entraves que tinhamos pela frente para a
concretizaccedilatildeo do projeto e as distacircncias geograacuteficas para alcanccedilar os objetivos da pesquisa
74
Contudo ao encontrar um surdo indiacutegena sendo o principal objeto da pesquisa em funccedilatildeo da
grande satisfaccedilatildeo de poder contribuir para o desenvolvimento linguiacutestico dos indiacutegenas surdos
e para que a comunidade compreenda como um ser incluiacutedo a partir do respeito a sua cultura
inserindo em seus modos e haacutebitos foi compensador enfrentamos todos os obstaacuteculos
Visitamos a Universidade do Estado do Amazonas ndash UEA onde tivemos a grata
surpresa de saber que havia uma turma de formaccedilatildeo em licenciatura Indiacutegena para a
comunidade Esperamos a aula acabar para falar com o professor o qual pediu para vir outro
dia para conversar com os alunos Foi nessa ocasiatildeo que conhecemos trecircs professores com os
quais fizemos um acordo para que na proacutexima viagem me levassem para a aldeia a fim de
realizar o mapeamento
Voltando para Parintins foi elaborado um roteiro para viagem a aacuterea indiacutegena Satereacute-
Maweacute pelos rios Maueacutes-Accedilu Rio MarauUrupadi A viagem aconteceu no dia 02 de
fevereiro de 2014 saindo de barco de Parintins indo ateacute o municiacutepio de Maueacutes No dia
seguinte as 8 horas acompanhado do professor Jesiel pegamos uma voadeira de 150HP com
destino ao territoacuterio Satereacute-Maweacute Foi uma viagem perigosa devido agraves condiccedilotildees dos rios e de
difiacutecil acesso para chegarmos laacute Todavia fizemos um esforccedilo e conseguimos nos deslocar ateacute
a comunidade Percorremos de voadeira uma viagem que durou aproximadamente 8 horas
pelo Rio Maueacutes Accediluacute Depois de uma hora e meia de viagem chegamos ao Rio Urupadi e
seguimos mais uma hora e meia de viagem ateacute a comunidade indiacutegena Vale do Quiinha
Nessa aldeia pegamos o professor Jacob Santos de Souza que nos acompanhou para a
proacutexima aldeia Ilha Michiles que fica no Rio Marau Nessa aldeia pegamos outro professor
Satereacute-Maweacute Jocimar Alencar dos Santos Saiacutemos da Ilha Michiles com destino a
comunidade Santa Maria que fica na divisa do Rio Urupadi e Manjuru A cada visita que
faziamos nas comunidades indiacutegenas percebemos no cotidiano a diversidade presente nas
aacutereas indiacutegenas Satereacute-Maweacute Ao perguntar se havia algueacutem surdo na famiacutelia e a resposta
sempre vinha de forma afirmativa o que me demonstrou que todos os esforccedilos para realizar a
viagem foram compensados diante da riqueza de dados coletados
A primeira iniciativa adotada com relaccedilatildeo a esse momento foi reunir com os
comunitaacuterios envolvidos nas atividades escolares A reuniatildeo teve como objetivo observar e
entrevistar alguns indiacutegenas para posteriormente analisar como se procede agrave comunicaccedilatildeo
entre indiacutegenas surdos e ouvintes A reuniatildeo foi muito uacutetil para os estudos e anaacutelise de
informaccedilotildees Os surdos existentes na comunidade nunca estudaram devido agrave comunidade
Santa Maria ficar distante da zona urbana e a escola existente para alunos ouvintes ficar em
75
outra comunidade o que inviabiliza a ida deles sendo que tambeacutem natildeo haacute professores
especializados para atenderem a clientela surda existente no Rio Marau
Encontramos dois indiacutegenas surdos na comunidade de Santa Maria que foram objeto
de estudos No entanto houve informaccedilotildees repassadas de que haacute outros trecircs surdos em outras
comunidades mais distante na mesma aacuterea Satereacute-Maweacute A visita para contactar estes outros
trecircs surdos ficou para a proacutexima viagem de observaccedilatildeo e coleta dos dados
451 O primeiro surdo da Comunidade de Santa Maria
No contato e observaccedilatildeo que tivemos com o surdo o mais novo tem 24 anos mora
com a famiacutelia natildeo conhece nenhuma liacutengua se comunica com gestos e sinais caseiros A
comunidade assim com a famiacutelia demosntrou pouco se importar com ele de forma que natildeo
haacute estiacutemulo ou interesse para que haja uma interaccedilatildeo linguiacutestica satisfatoacuteria entre eles
O ponto de encontro com seus colegas fica na parte central da comunidade que tem
um campo de futebol Laacute eles se concentram embaixo de uma aacutervore Neste lugar o surdo
costuma ficar quase diariamente com intuito de se unir e brincar com os colegas Ele usa os
sinais caseiros com expressotildees com a intenccedilatildeo de conseguir se comunicar com os colegas
Poreacutem alguns natildeo conseguem entender enquanto outros falam a Liacutengua Satereacute-Maweacute
Apesar do esforccedilo do surdo de tentar compreender o que eacute falado via a leitura labial na
maioria das vezes natildeo consegue compreender Poreacutem mesmo assim sinaliza balanccedilando a
cabeccedila com expressatildeo de concordacircncia afirmativa mesmo natildeo entendendo a mensagem
Tabela 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa
Maria
SINAIS CASEIROS
COLETADOS
DESCRICcedilAtildeO
AacuteGUARIO Usam-se as duas matildeos fazendo a expressatildeo de banzeiro
ANTA Matildeo direita fazendo a expressatildeo do focinho do nariz
AacuteRVORE As matildeos abertas fazendo expressatildeo de segurar o troco ao mesmo tempo
levando para cima
BARCO Usa a matildeo direita fechada fazendo expressatildeo de abrir e fechar a matildeo
como sinal de fumaccedila
BANHO Fazer a expressatildeo de pular na aacutegua com os braccedilos esticados
CASA As duas matildeos palmas para baixo fazendo um balanccedilo de movimento de
uma rede
CACcedilAR PEIXE Matildeo direita fazer expressatildeo de soltar o arpatildeo
CUIA As duas matildeos juntas fazer a expressatildeo de raspar a cuia
COCO Fazer a expressatildeo de tirar o coco com a vara
COMIDA As duas matildeos levando ateacute a boca
76
Fonte Azevedo (2014)
Figura 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa Maria
(30 sinais coletados)
COBRA Matildeo direita fazendo a expressatildeo da picada da cobra
FACA Matildeo direita fachada fazendo a expressatildeo de furar alguma coisa para
baixo
FLECHA Fazer a expressatildeo de jogar a flecha
FORMIGA Matildeo direita com os dedos beliscando o braccedilo esquerdo
FOME Matildeo direita levando em direccedilatildeo da barriga fazendo expressatildeo facial de
fome
FARINHA As duas matildeos fazer a expressatildeo de fazer farinha
GUARANAacute Fazer a expressatildeo de ralar o guaranaacute
JACAREacute Os dois indicadores das matildeos fazendo expressatildeo de dentes grandes do
jacareacute
LANCHA As duas matildeos dedos juntos fazer a expressatildeo de uma accedilatildeo raacutepida para
frente
MACACO Com braccedilos abertos fazer a expressatildeo de macaco
MALOCA As duas matildeos com os dedos encostados puxar para os lados opostos
MANDIOCA Fazer expressatildeo de descascar algum
ONCcedilA Com as matildeos fazer pintas no rosto
PAI As duas matildeos esfregando os indicadores
PEIXE Faz se expressatildeo de descamar o peixe
PILAtildeO As duas matildeos juntas fazendo a expressatildeo de socar a crueira
POTE AacuteGUA As duas matildeos juntas palmas para cima elevando para cima em curvas
onduladas
PASSAacuteRO As duas matildeos fazendo o movimento de paacutessaro
PESSOA Matildeo direita fazendo a expressatildeo de pegar no cabelo
TIPITI As duas matildeos fazendo a expressatildeo de espremer algum
PENEIRAR As duas matildeos em forma letra A fazer expressatildeo de balanccedilar o objeto
AacuteGUA ANTA AacuteRVORE
VIAGEM BANHO
77
VIAJAR
CASA CACcedilAR ALIMENTO CUIA
COCO COMIDA
FACA
FARINHA
FORMIGA
GUARANAacute
FOME
FACA
FLECHA
78
JACAREacute LANCHA
MACACO
MANDIOCA ONCcedilA
MALOCA PAI
POTE DE AacuteGUA PILAtildeO
LANCHA JACAREacute
PEIXE
79
452 O segundo surdo da Comunidade de Santa Maria
O segundo surdo visitado um senhor adulto com identidade natildeo revelada residindo na
Comunidade de Santa Maria Eacute um cidadatildeo reservado e fechado para desconhecidos Como
nossa equipe era composta de 05 profissionais sendo 03 (trecircs) professores indiacutegenas que me
acompanharam para serem facilitadores linguiacutesticos e um colaborador local para captar as
imagens ficarmos 04 (quatro) dias na comunidade para observaccedilotildees Apesar do tempo o
investido para conseguir o contato o mesmo se mostrou irredutiacutevel e natildeo se dispos a
conversar conosco Observa-se que mora sozinha e eacute raro ele se manifestar na comunidade
Pela histoacuteria contada a seu respeito apesar de natildeo se comunicar manteacutem sua residecircncia de
maneira organizada cultiva de algumas plantaccedilotildees como mandioca banana guaranaacute aleacutem de
produzir farinha tambeacutem faz pescaria para se alimentar Foi relatado que ajuda alguns
vizinhos e amigos com o que produz aleacutem de ser experiecircncia em matildeo de obra na confecccedilatildeo
de trepadeira silvestre que facilita subir nas aacutervores coqueiros e accedilaizeiros
PASSAacuteRO PESSOA COBRA
TIPITI PENEIRAR
80
Sobre o contexto educacional tendo como tema central a educaccedilatildeo escolar indiacutegena
o professor Jesiel (2014)28
(que eacute indiacutegena e concluiu o curso de pedagogia intercultural na
Universidade do Estado do Amazonas localizado no municiacutepio de Maueacutes) argumentou que o
territoacuterio Satereacute-Maweacute eacute muito grande sendo longa a distacircncia para se chegar na zona
urbana ateacute de forma que mesmo o deslocamento de uma comunidade para outra dificulta os
indiacutegenas irem para a escola Estas segundo o educador referido satildeo algumas razotildees que
impedem muitos indiacutegenas de estudarem na medida em que acarreta prejuiacutezo para a famiacutelia
especialmente de perda de tempo principalmente para os adultos que tem compromisso no
campo e com a comunidade
Para solucionar este problema devido a distacircncia as famiacutelias e os liacutederes indiacutegenas
possuem propostas e lutas para a construccedilatildeo de escolas nas aldeias o que facilitaria o acesso
dos surdos indiacutegenas da comunidade na escola E ao considerar que o indiacutegena surdo
compreende e se comunica com seus pares atraveacutes de gestos e sinais caseiros de forma que
aleacutem de sua liacutengua nativa haacute outros meios para que o surdo possa se comunicar isso aponta
para a necessidade da criaccedilatildeo de propostas de acesso agrave educaccedilatildeo dessas pessoas Dessa
maneira foram catalogados alguns sinais utilizados por esse surdo adulto da Comunidade de
Santa Maria apresentado abaixo
Tabela 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais antigo residente isolado na
comunidade de Santa Maria no Rio Marau ( 18 sinais coletados)
28
As famiacutelias e os liacutederes indiacutegenas possuem propostas e lutas para a construccedilatildeo de escolas nas aldeias para a
facilitaccedilatildeo do acesso dos surdos indiacutegenas na comunidade e na escola O indiacutegena surdo apesar de natildeo ouvir
compreende e comunica com seus pares atraveacutes de gestos e sinais caseiros que aleacutem de sua liacutengua nativa haacute
outros meios para que o surdo possa se comunicar Isso contribui para a criaccedilatildeo de propostas de acesso agrave
educaccedilatildeo dessas pessoas Dessa maneira foram catalogados alguns sinais utilizados por esse surdo adulto da
Comunidade de Santa Maria apresentado abaixo
A contribuiccedilatildeo do professor indiacutegena Jesiel Santos foi de suma importacircncia para a coleta de dados nesta
pesquisa visto que atraveacutes dele que conseguimos chegar ateacute a comunidade de Santa Maria afim de termos os
contatos na comunidade
SINAIS CASEIROS DESCRICcedilAtildeO
ARCOFECHA As duas matildeos com expressatildeo de utilizar um arco com flecha
AacuteGUA Matildeo direita com utilizando somente o dedo polegar fazer a expressatildeo de
beber algum
BANHO Os braccedilos e matildeos esticadas fazer a expressatildeo de se soltar no rio
BEIJU As duas matildeos fazendo um circulo e em seguida levar ateacute a boca
CIGARRO A posiccedilatildeo para traduzir este sinal satildeo as duas matildeos em posiccedilatildeo dos dedos
polegar e indicador juntos fazendo expressatildeo de fazer um cigarro caseiro
CASA As duas matildeos com os dedos esticados fazer a expressatildeo de formato de uma
casa
COBRA A matildeo direita com os dedos indicador e polegar encostados fazer a expressatildeo
de beliscar o pulso de antebraccedilo
FARINHA Matildeos com os dedos todos juntos fazer a expressatildeo com o movimento de
81
Figura 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo idoso na comunidade de Santa Maria
soltar a farinha
FORNO DE ASSAR Matildeo direita fazendo um semiciacuterculo de com a caracteriacutestica de um forno de
barro
GARREIRA As duas matildeos juntas fazer a expressatildeo repetidamente de amassar uma massa
JACAREacute As duas matildeos pegando os dentes
LUVA DA TUCANDEIRA Fazendo a expressatildeo de usar uma luva de palha e fazer a expressatildeo de dor da
ferrada da tucandeira
MANDIOCA Usar o antebraccedilo esquerdo com a matildeo direita como um material cortante
fazendo a expressatildeo de descascar
MACACO Os dois braccedilos e corpo fazendo a expressatildeo do movimento caracteriacutestico do
macaco
PAJEacute As duas matildeos fazendo a expressatildeo de segurar algum e balanccedilar
PAacuteSSARO Fazer a expressatildeo de balanccedilar os braccedilos caracterizando o movimento de um
paacutessaro
TIPITI As duas matildeos fazendo o movimento de espremer a mandioca
TERRASOLO Matildeo direita fazendo expressatildeo de um pequeno monte de terra
ARCOFECHA BEBER
LIacuteQUIDOAacuteGUA
BEIJUCOMER COBRA
FARINHA FERRADA DA TUCANDEIRA MALOCACASA ESCOLA
ARCOFLECHA BEBER LIQUIDOAacuteGUA BANHOPULAR NA AacuteGUA
AacuteAacuteGUA
CIGARRO
82
FORNO DE ASSAR
JACAREacute
LUVA DA TUCANDEIRA MACACO
PAJEacute
TIPITI TERRA
GAREIRA
MANDIOCA
PAacuteSSARO
(( ))
JACAREacute
83
5 ICONICIDADE E ARBITRARIEDADE NA CRIACcedilAtildeO DOS SINAIS CASEIROS
Nos anos 60 a partir dos trabalhos de Stokoe (1960) foi comprovado que as Liacutenguas
de Sinais satildeo linguas Estas satildeo liacutenguas naturais com ldquoestrutura gramatical proacutepria em seus
niacuteveis fonoloacutegico (ou queroloacutegico) morfoloacutegico sintaacutetico e semacircntico aleacutem de seus aspectos
pragmaacuteticosrdquo
De acordo com Quadros (2006 p 221)
pelo fato de as liacutenguas de sinais natildeo serem faladas e de natildeo terem o seu coacutedigo
escrito ainda popularizado entre os surdos natildeo as elimina das consideraccedilotildees
cientiacuteficas visto que apresentam uma organizaccedilatildeo estrutural e fazem parte da
constituiccedilatildeo cultural desses sujeitos ndash crescendo envolvendo e transmitindo
dinamicamente tradiccedilotildees socioculturais Portanto as liacutenguas de sinais fazem parte
do conjunto da linguagem humana com a diferenccedila de se apresentarem em uma
terceira modalidade a visuo-espacial
Reiterando-se que a Liacutengua de Sinais eacute uma liacutengua natural uma vez que estaacute veiculada
a um canal que natildeo eacute o oral-auditivo e sim visual esta garante uma percepccedilatildeo e articulaccedilatildeo
mais faacutecil mais coerente e confortaacutevel aleacutem de contribuir para o desenvolvimento linguiacutestico
cognitivo e social do surdo
Sobre as caracteristicas linguiacutesticas das Liacutenguas de Sinais vale ressaltar que Sousa
(2010) ao tratar dos aspectos visuais quanto agraves propriedades das Liacutenguas de Sinais enfatiza a
iconicidade e arbitrariedade relacionada ao signo linguiacutestico que satildeo inerentes agraves liacutenguas
naturais Sobre as definiccedilotildees dos fenocircmenos das liacutenguas estes remontam a eacutepoca de Platatildeo
filoacutesofo grego que tratava os fenocircmenos sobre a linguagem e a relaccedilatildeo dela com o mundo
Cita-se tambeacutem Craacutetilo Hermoacutegenes e Soacutecrates que foram interlocutores desta relaccedilatildeo
discutindo a ligaccedilatildeo existente entre nome ideia e coisa A abordagem dos trecircs se diferenciava
de forma que Craacutetilo defendia o conceito de iconicidade Hermoacutegenes de arbitrariedade
Soacutecrates por seu turno integrava as duas concepccedilotildees Esta diferenciaccedilatildeo tecido pelos trecircs
filosofos pode ser vislumbrada no trecho transcrito abaixo
Para Craacutetilo a liacutengua eacute o espelho do mundo o que significa que existe uma relaccedilatildeo
natural e portanto similar ou icocircnica entre os elementos da liacutengua e os seres por
eles representados Para Hermoacutegenes a liacutengua eacute arbitraacuteria isto eacute convencional pois
entre o nome e as ideias ou as coisas designadas natildeo haacute transparecircncias ou
similaridade Soacutecrates por sua vez tem o papel de fazer a integraccedilatildeo entre os dois
pontos de vista (WILSON amp MARTELOTTA 2010 apud SOUSA 2010 p 4)
84
A modalidade gestual-visual espacial pela qual a Liacutengua de Sinais eacute produzida e
reconhecida pela comunidade Surda leva muitas vezes as pessoas a pensarem que todos os
sinais satildeo desenho no ar do referente que representam Para melhor esclarecimento por
decorecircncia de sua natureza linguiacutestica a realizaccedilatildeo de um sinal pode sim ser motivada pelas
caracteriacutesticas do dado da realidade a que se refere poreacutem natildeo eacute regra Ou seja a maioria dos
sinais da LIBRAS eacute arbitraacuteria natildeo mantendo relaccedilatildeo de semelhanccedila alguma com seu
referente Portanto essa condiccedilatildeo possibilita o enriquecimento da flexibilidade e versatilidade
da liacutengua (BASSO 2011 p47)
Exemplos de sinais arbitraacuterios
Figura 6 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos que se refere agrave
arbitrariedade
BISCOITO PESSOA DESCULPA
Fonte Azevedo (2014)
A ideia de arbitrariedade da liacutengua se relaciona com a ideia de convenccedilatildeo que se
efetiva em todas as liacutenguas como Liacutengua de Sinais e na Liacutengua Portuguesa ilustra-se o
processo com os exemplos das palavras ldquobiscoitordquo ldquodesculperdquo e ldquopessoardquo O processo de
definiccedilatildeo destes termos ocorre de forma arbitraacuteria pois soacute nomes foram atribuiacutedos devido a
uma convenccedilatildeo que estabelece esse conceito e natildeo porque haacute uma relaccedilatildeo entre o som da
palavra e o objeto que ela designa (SALLES 2007 p 5)
No caso da Libras os exemplos citados de sinais foram criados sem sofrer influecircncia
da imagem dos objetos aos quais eles se referem O que mostra que mesmo que a Libras
tambeacutem apresenta a caracteriacutestica de arbitraacuterios (TEIXEIRA 2015 p 5)
Para compreender melhor a importacircncia da visualidade na Liacutengua de Sinais dos
Satereacute-Maweacute eacute relevante entender trecircs conceitos da teoria de Pierce sobre a iconicidade que
pode ser considerada a base dos sinais dessa comunidade os quais satildeoo siacutembolo o iacutendice e o
iacutecone Segundo Martelotta (2011) (apud TEIXEIRA 2015 p 2)
85
O siacutembolo de acordo com Peirce refere-se a determinado objeto representando-o
com base em uma lei haacutebito ou convenccedilatildeo estabelecendo uma relaccedilatildeo entre dois
elementos Para citar alguns exemplos a cruz eacute o siacutembolo do cristianismo e a
balanccedila o siacutembolo da justiccedila Uma caracteriacutestica importante do siacutembolo relaciona-se
ao fato de que ele eacute parcialmente motivado ou seja haacute entre o siacutembolo e o conteuacutedo
simbolizado alguns traccedilos relacionados ao objeto
Haacute uma diferenccedila fundamental entre o siacutembolo de um lado e o iacutendice e o iacutecone de
outro jaacute que nesses dois uacuteltimos haacute um niacutevel ainda menor de arbitrariedade No caso
do iacutendice ocorre uma relaccedilatildeo de contiguidade com a realidade exterior a fumaccedila
por exemplo eacute o iacutendice do fogo e a presenccedila de nuvens negras o iacutendice de chuva
iminente
O iacutecone por sua vez tem uma natureza imagiacutestica apresentando portanto
propriedades que se assemelham ao objeto a que se refere A fotografia de um
indiviacuteduo por exemplo eacute uma representaccedilatildeo icocircnica desse indiviacuteduo assim como o
mapa do Rio de Janeiro representa a cidade Assim um iacutecone eacute qualquer coisa que
seja utilizada para designar algo que lhe seja semelhante em algum aspecto
Nesta perspectiva Quadros (1997) traz a reflexatildeo sobre os efeitos da modalidade ou
seja o fato de a Liacutengua de Sinais serem visuoespacial em vez de auditiva-oral implica nas
diferenccedilas para a aquisiccedilatildeo do surdo e nesse sentido tem-se a questatildeo da iconicidade das
Liacutenguas de Sinais uma vez que a iconicidade se refere
A transparecircncia entre significado e o significante ou seja a relaccedilatildeo de identidade
entre a palavra (o sinal) e o seu sentido Por exemplo nas liacutenguas faladas agraves
onomatopeias satildeo consideradas por alguns autores como icocircnicas pois a produccedilatildeo
sonora bdquoreal‟ (do objeto ou do animal) eacute reproduzida na fala expressando certa
identidade (QUADROS 2011 p 22)
Vale ressaltar que a iconicidade vem sendo estudada a partir da pesquisa semioacutetica de
Charles Sanders Peirce (1999) filoacutesofo norte-americano contemporacircneo de Saussure
Segundo Teixeira (2015) Peirce em seus estudos sobre a Semioacutetica o signo tem a funccedilatildeo de
proporcionar uma ideia do mundo e tudo que cerca o indiviacuteduo estaacute rodeado de signos Como
explica o filoacutesofo
[] para que algo possa ser um Signo (expressatildeo ou representamento) esse algo
deve bdquorepresentar‟ [] alguma outra coisa chamada seu Objeto apesar de ser talvez
arbitraacuteria a condiccedilatildeo segundo a qual um Signo deve ser algo distinto de seu objeto
(PEIRCE 1999 apud TEIXEIRA 2015 p 5)
Ao direcionar essas definiccedilotildees para agraves liacutenguas de sinais Sousa (2010) afirma que
muitas vezes essas liacutenguas satildeo consideradas puramente icocircnicas por serem de uma
modalidade diferente acreditando-se acredita que os sinais satildeo criados sempre a partir da
86
representaccedilatildeo do referente Eacute certo que um sinal pode ser realizado de acordo com a
caracteriacutestica daquilo que se refere mas de acordo com Strobel amp Fernandes (1998 apud
Sousa 2010 p 4) ldquoisto natildeo eacute uma regra jaacute que a maioria dos sinais em Libras eacute arbitraacuterio ou
seja natildeo manteacutem uma relaccedilatildeo de similitude com o referenterdquo
Reconhece-se que algumas Liacutenguas de Sinais parecem ter maior motivaccedilatildeo icocircnica
apresentando relaccedilotildees entre a sua forma e o seu significado comumente observado nas
Liacutenguas de Sinais caseiras dos Satereacute-Maweacute Isso significa a relaccedilatildeo entre o referente e o
referenciado Alguns estudos como os de Meier (1981) citado por Lillo-Martin (1986)
apontam para uma aparente iconicidade nas liacutenguas de sinais o que justifica considerar as
variaccedilotildees regionais e sociais e as mudanccedilas histoacutericas como fenocircmenos identificaacuteveis na
Liacutengua Brasileira de Sinais o que lhe confere o caraacuteter natural (STROBEL amp FERNANDES
1998 apud SOUSA 2010)
Nesse contexto a iconicidade como caracteriacutesticas semelhantes ao iacutecone tem em
comum o objeto que representa Por ser uma liacutengua de modalidade visuoespacial a
iconicidade estaacute presente em grande parte dos sinais da Libras pois a relaccedilatildeo entre a ldquoformardquo
e o ldquosentidordquo eacute mais visiacutevel Salles (2007) em bdquoEnsino de liacutengua portuguesa para surdos
caminhos para a praacutetica pedagoacutegica‟ comenta
Um aspecto que se sobressai no contraste entre as modalidades viacutesuo-espacial e oral-
auditiva eacute a questatildeo da arbitrariedade do signo linguiacutestico Esse conceito estabelece
que na constituiccedilatildeo do signo linguiacutestico a relaccedilatildeo entre o significante (imagem
acuacutestico-focircnica) e o significado eacute arbitraacuteria isto eacute natildeo existe nada na forma do
significante que seja motivado pelas propriedades da substacircncia do conteuacutedo
(significado) Uma caracteriacutestica das liacutenguas de sinais eacute que diferentemente das
liacutenguas orais muitos sinais tecircm forte motivaccedilatildeo icocircnica Natildeo eacute difiacutecil supor que esse
contraste se explique pela natureza do canal perceptual na modalidade viacutesuo-
espacial a articulaccedilatildeo das unidades da substacircncia gestual (significante) permite a
representaccedilatildeo icocircnica de traccedilos semacircnticos do referente (significado) o que explica
que muitos sinais reproduzam imagens do referente na modalidade oral-auditiva a
articulaccedilatildeo das unidades da substacircncia sonora (significante) produz sequecircncias que
em nada evocam os traccedilos semacircnticos do referente (significado) o que explica o
caraacuteter imotivado ou arbitraacuterio do signo linguiacutestico nas liacutenguas orais (SALLES
2007 p 83)
Todavia os mesmos sinais icocircnicos possuem um grau de arbitrariedade na definiccedilatildeo
dos mesmos como explica Frydrych (2012)
Pode haver contudo sinais com diferentes graus de iconicidade Um sinal pode natildeo
se assemelhar ao objeto que representa pela forma mas apresentar de alguma
forma uma similaridade por meio de expressotildees faciais ou movimentos Um
exemplo eacute o sinal ldquotristerdquo que possui como configuraccedilatildeo de matildeo o sinal Y
localizada abaixo do queixo em movimento de meia lua O sinal nada tem a ver
com o que a palavra representa no entanto a expressatildeo facial de tristeza que
acompanha o sinal daacute indiacutecios de que seu significado pode natildeo ser muito agradaacutevel
87
[] Falar de sinais icocircnicos em Libras pode parecer comum no entanto o sinal de
ldquocasardquo por exemplo motivado pelo formato do telhado de uma casa eacute tambeacutem
usado para o sinal de ldquomorarrdquo que pode ser usado para ldquomoradiardquo em diferentes
formatos de residecircncia como por exemplo casa apartamento cabana etc Embora o
sinal possa ter sido motivado na sua criaccedilatildeo por um tipo de casa passou a ser usado
de forma muito mais abrangente Sendo isto muito comum nas liacutenguas de sinais Os
sinais passam a ser signos linguiacutesticos altamente arbitraacuterios e passam a integrar o
leacutexico da liacutengua (Apud PIVETTA et al 2013 p8)
Como tambeacutem salienta Silva (2012) que ao passar do tempo o sinal icocircnico perde sua
motivaccedilatildeo inicial passando a ser arbitraacuterio
[] a transparecircncia eacute relativa porque a forma dos objetos ou movimentos que
originaram o sinal pode variar no tempo perdendo a sua motivaccedilatildeo inicial Um
exemplo eacute o sinal ldquoleiterdquo que faz referecircncia ao ato de ordenha que hoje ainda pode
ser considerado um sinal icocircnico Todavia para as futuras geraccedilotildees a motivaccedilatildeo de
sua representaccedilatildeo tende a se tornar uma convenccedilatildeo o que faz com que o sinal passe
a ser arbitraacuterio e de valor simboacutelico Sinais como o de ldquoleiterdquo satildeo frutos de um
processo histoacuterico e com o passar do tempo natildeo representam mais os artefatos e
procedimentos atuais sendo percebidos e interpretados apenas por meio da
arbitrariedade e da convenccedilatildeo(Apud PIVETTA et al 2013 p8)
A seguir temos alguns exemplos de sinais icocircnicos na Libras satildeo os sinais ldquoaacutervorerdquo
ldquocadeirardquo ldquocasardquo constituiacutedos a partir de caracteriacutesticas da imagem dos objetos aos quais se
referem Enquanto o primeiro lembra a imagem do tronco e das folhas de uma aacutervore o
segundo lembra as pernas de uma pessoa representadas pelos dedos indicador e meacutedio e a
terceira lembra a imagem de um telhado ou de uma casa sentada no objeto em questatildeo
(SALLES 2007 p 83)
Figura 7 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos aos quais se referem a
iconicidade
Fonte Azevedo (2014)
AacuteRVORE CADEIRA CASA
88
Figura 8 Caracteriacutesticas da imagem em Liacutengua de Sinais Satereacute-Maweacute dos objetos aos
quais se referem agrave iconicidade
Yara Wato Barco Libras
Fonte Azevedo (2014)
Man Beiju Libras
Fonte Azevedo (2014)
Kamunti hit Bilha Libras
Fonte Azevedo (2014)
89
Dessa maneira podem-se definir os sinais icocircnicos como aqueles que fazem alusatildeo agrave
imagem do seu significado natildeo implicando que todos os sinais satildeo iguais ou sinais icocircnicos
em todas as Liacutengua de Sinais cada grupo social absorve aspectos diferentes da imagem do
referente convencionando a representaccedilatildeo do sinal Os signos arbitraacuterios satildeo os que natildeo
trazem nenhuma relaccedilatildeo de semelhanccedila com o referente
90
6 INTERVENCcedilAtildeO E CONTRIBUICcedilAtildeO LINGUIacuteSTICA DO PROFESSOR SURDO
Os estudos sobre a educaccedilatildeo sistemaacutetica dos indiacutegenas surdos da etnia Satereacute-Maweacute
levaram agrave percepccedilatildeo da necessidade iminente de uma atuaccedilatildeo no processo ensino
aprendizagem desses sujeitos Desse modo apoacutes conhecer a realidade linguiacutestica e
educacional dos indiacutegenas surdos observados nas aldeias e na zona urbana de Parintins foi
possiacutevel intervir por meio do ensino da Liacutengua Brasileira de Sinais A intervenccedilatildeo foi feita
com o consentimento dos responsaacuteveis locais onde se faziam presentes acompanhando o
objeto da pesquisa - os indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute
Assim com a autorizaccedilatildeo da famiacutelia o primeiro contato foi estabelecido entre uma
crianccedila surda indiacutegena com professor tambeacutem surdo que ocorreu na residecircncia dela na zona
urbana do municiacutepio de Parintins cujo registro de imagem consta na Figura 9
Figura 9 Encontro da crianccedila surda Satereacute-Maweacute com o professor surdo
Fonte Azevedo (2014)
No contato foi possiacutevel verificar que a crianccedila natildeo conhecia a liacutengua Libras Sua
forma de comunicaccedilatildeo era com o uso dos siacutembolos ldquocaseirosrdquo Contudo ela respondeu ao
estiacutemulo de conversaccedilatildeo com muita facilidade buscando fazer a comunicaccedilatildeo As demais
observaccedilotildees e intervenccedilatildeo deram-se no ambiente educacional na Escola de Aacuteudio e
Comunicaccedilatildeo Padre Paulo Manna (Figura 10) Nesse contexto a crianccedila acompanhava com
atenccedilatildeo ao desempenho dos demais pares sempre atenta para compreensatildeo do conteuacutedo
comunicativo Ficou evidente a necessidade de um material de suporte escrito como recurso a
ser utilizado pelos docentes no processo ensino e aprendizagem
91
Figura 10 Contato com aluno Satereacute-Maweacute surdo no ambiente escolar
Fonte ndash Azevedo (2014)
Ocorreu tambeacutem o contato com o aluno surdo da Etnia Satereacute-Maweacute matriculado na
Escola Estadual Brandatildeo de Amorim em Parintins o qual foi feito em sua residecircncia dele A
conversa com ele foi feita fluentemente em Libras (Figura 10) Entretanto ao ser indagado
sobre a cultura a liacutengua falada de sua etnia natildeo soube responder Comprovou-se que o aluno
natildeo participa do contexto cultural da etnia por isso natildeo a conhece Por tal considera-se que o
material triliacutengue seria um recurso apropriado para promover o reconhecimento de muitos
signos que fazem parte da Liacutengua Satereacute-Maweacute
Figura 11 Contato com o aluno surdo Satereacute-Maweacute na Escola Estadual Brandatildeo de Amorim
Fonte ndash Azevedo (2014)
O contato com os familiares juntamente com professores indiacutegenas e inteacuterprete
linguiacutestica possibilitou ter uma visatildeo sobre o contexto comunicativo do indiacutegena surdo A
conversa com o pai do indiacutegena surdo na Aldeia de Santa Maria indicou a forma como
conseguem se comunicar com o filho desde o momento que perceberam que ele era surdo
Explicaram as dificuldades que tiveram no processo de entendimento com ele Confirmaram
92
que o aprendizado da liacutengua Libras indicando os signos que representam a cultura da etnia
seria muito importante para a comunicaccedilatildeo entre ele e os familiares eou educadores
Figura 12 Em viagem para aacuterea indiacutegena no Rio Marau ndash comunicaccedilatildeo com familiares
Fonte - Azevedo (2014)
O projeto da pesquisa foi apresentado na comunidade de Santa Maria para os
representantes da comunidade indiacutegena (Figura 12)
Figura 13 Apresentaccedilatildeo do projeto de pesquisa agraves lideranccedilas indiacutegenas na comunidade
Fonte Azevedo (2014)
Ressalta-se a importacircncia das lideranccedilas conhecerem e participarem do desenvolvimento
do projeto A relevacircncia desta participaccedilatildeo daacute-se em funccedilatildeo de que as mesmas contribuiram
informando vocabulaacuterios caracteristicos da regiatildeo que enriqueceram o minidicionaacuterio
triliacutengue Satereacute-MaweacutePortuguecircsLibras como pode ser evidenciado a seguir
93
Vocabulaacuterios e utensiacutelios indiacutegenas sinalizados em Libras
Liacutenguas
Satereacute-Maweacute Portuguecircs Libras
Mory‟ywat siomory‟awat Arco
Satereacute-Maweacute Portuguecircs Libras
T wa Aldeia
Ressalta-se a importacircncia do minidicionaacuterio ao considerar que o vocabulaacuterio contido no
mesmo poderaacute ser utilizado pelo indiacutegena surdo para ele aprenda a comunicaccedilatildeo utilizando os
signos que fazem parte da linguagem da etnia
E realizando uma mini oficina de Libras para professores da comunidade (Figura 6)
foi possiacutevel demonstrar o uso da Libras no contexto da sala de aula A participaccedilatildeo efetiva dos
mesmos proporcionou a troca de informaccedilotildees sobre o vocabulaacuterio da liacutengua indiacutegena
94
Figura 14 Desenvolvimento de oficina de Libras com professores indiacutegenas
Fonte Azevedo (2014)
Enfatiza-se que todo empenho em levar o conhecimento da Liacutengua Brasileira de Sinais
para os indiacutegenas surdos professores indiacutegenas familiares de surdos e comunidade manteve-
se em funccedilatildeo do ensejo de fazecirc-los conhecer e compreender a capacidade e modos dos
indiacutegenas surdos se comunicarem aleacutem de promover a aprendizagem da Libras em um lugar
de tatildeo difiacutecil acesso com pequenas escolas que sequer tecircm materiais didaacuteticos adaptados a
essa clientela Por este motivo considera-se que a contribuiccedilatildeo linguiacutestica em forma de um
minidicionaacuterio eacute um passo importante para levar aos indiacutegenas surdos a sua comunidade e o
nuacutecleo familiar destes o iniacutecio do resgate da sua liacutengua natural que eacute a Liacutengua Brasileira de
Sinais e a sua liacutengua nativa aleacutem de seus traccedilos culturais incluiacutedos no minidicionaacuterio
61 Libras e Liacutengua Satereacute-Maweacute intercacircmbio de construccedilatildeo sociocultural-linguiacutestico
Analisando a histoacuteria do povo surdo e do povo indiacutegena percebe-se uma trajetoacuteria
similar nas lutas por seus direitos culturais e linguiacutesticos Ambos tentam
fortalecer o conhecimento da proacutepria histoacuteria com seus acertos desacertos conflitos
e sucessos buscando a compreensatildeo do ator social como sujeito da histoacuteria e
possibilitando assim a construccedilatildeo de um projeto poliacutetico articulado com outros
setores que incremente as possibilidades de construccedilatildeo dos proacuteprios projetos de
uma vida melhor (HERNAIZ 2009)
Neste sentido destaca-se que esses indiviacuteduos satildeo esquecidos na realidade cultural do
paiacutes como se natildeo existissem enquanto cidadatildeos que tem as suas formas de produzir no
contexto social Mudar esta realidade faz-se fundamental Para tal Guerreiro (2009 p93)
argumenta que
Os direitos culturais satildeo por sua vez um campo complexo que inclui vaacuterios
conjuntos de direitos e garantias entre os quais me interessa destacar para essa
reflexatildeo os seguintes o reconhecimento da diversidade o exerciacutecio da identidade
como povos o uso restrito do idioma uma educaccedilatildeo proacutepria e o respeito pelo
patrimocircnio cultural
95
Os processos culturais linguiacutesticos entre os povos surdos e indiacutegenas surdos eacute uma
possibilidade bem proacutexima atraveacutes do intercacircmbio sociocultural-linguiacutestico que estaacute sendo
construiacutedo pois o surdo indiacutegena faz parte da cultura surda e tem cacircmbio com a cultura
indiacutegena e em muitos casos com a cultura do povo ouvinte
Todavia alguns aspectos da cultura surda satildeo desconhecidos pelo proacuteprio surdo
indiacutegena Por isso a necessidade de surdos indiacutegenas se relacionarem com seus semelhantes
surdos seja indiacutegena ou natildeo indiacutegena para que atraveacutes deste contato possa construir sua
identidade cultural da comunidade surda tornando conhecida sua cultura tribal por meio da
liacutengua de instruccedilatildeo a Libras No exemplo abaixo ilustra-se a percepccedilatildeo dessa realidade
Man ype Crueira Libras
Kui‟a Cuia Libras
Dessa forma conhecendo valorizando e respeitando sua cultura que eacute um patrimocircnio
cultural da sociedade
Logo a liacutengua em uso pelos iacutendios surdos seja ela a Liacutengua de Sinais Indiacutegena
ldquosinais emergentesrdquo ou a Liacutengua Brasileira de Sinais (como empreacutestimo sociocultural-
linguiacutestico) e a Liacutengua Satereacute-Maweacute devem ser valorizadas com respeito muacutetuo na
transmissatildeo de sua cultura Os indiviacuteduos que precisam se comunicar por meio delas lutam
96
pelo fortalecimento dessa inserccedilatildeo cultural pela construccedilatildeo de um futuro melhor e pelo
respeito aos direitos dos iacutendios localizados neste vasto territoacuterio Nesse sentido
A identidade cultural requer tambeacutem ela a alteridade como dialogicidade
intercultural No seu proacuteprio interior ela natildeo eacute nunca algo de compacto mas
apresenta toda uma seacuterie de relaccedilotildees no plano sincrocircnico e diacrocircnico com outras
culturas que lhes datildeo vida justamente pela sua diversificaccedilatildeo e discordacircncia por
mais que ela se obstine em realizar-se mediante a identificaccedilatildeo com alguns de seus
aspectos apenas com algumas formas culturais determinadas que se arvoram
oficiais e dominantes (PONZIO 2007 p179)
Para estes estudos a uniatildeo de esforccedilos que viabilizou a realizaccedilatildeo deste diagnoacutestico eacute
uma demonstraccedilatildeo clara de que eacute perfeitamente possiacutevel trilhar no mundo linguiacutestico
possibilitando a cada indiacutegena novos horizontes na comunicaccedilatildeo
97
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A presente pesquisa teve como foco principal o levantamento de indiacutegenas surdos nas
microrregiotildees do municiacutepio de Parintins da etnia Satereacute-Maweacute
Com base nas informaccedilotildees levantadas nas terras indiacutegenas e nas cidades onde vivem
os Satereacute-Maweacute evidenciou-se que as escolas de zonas rurais e comunidades que o iacutendio
surdo requenta natildeo possui uma educaccedilatildeo diferenciada especiacutefica a sua especificidade
A realidade encontrada no municiacutepio de Parintins para com os alunos iacutendios surdos
por ser em zona urbana jaacute apresenta um diferencial A escola dispotildee de sala de recursos para
alunos indiacutegenas surdos poreacutem dentro dessa realidade haacute falta de professores que dominem a
liacutengua nativa Satereacute-Maweacute para que a escola proporcione um aprendizado triliacutengue Liacutengua
Brasileira de Sinais Liacutengua Satereacute-Maweacute e Liacutengua Portuguesa na modalidade escrita
Nas escolas visitadas onde encontramos surdos foi observado falta de mateacuterias
visuais sala de recursos com atendimentos diferenciados para os alunos indiacutegenas surdos e
indiacutegenas surdos
Foram considerados no decorrer do texto aspectos da contextualizaccedilatildeo em que se deu
a pesquisa desde as discussotildees que antecederam a elaboraccedilatildeo do projeto passando pelas
parcerias que foram estabelecidas no decorrer do processo especialmente com as vaacuterias
organizaccedilotildees indiacutegenas Satereacute-Maweacute ateacute o desenvolvimento das condiccedilotildees que garantiram a
plena participaccedilatildeo da comunidade no decorrer das atividades de pesquisa Partindo da
enumeraccedilatildeo dos principais objetivos do projeto o relatoacuterio apresenta as aacutereas e localidades
cobertas o nuacutemero de domiciacutelios levantados e de moradores entrevistados assim como a
metodologia utilizada a operacionalizaccedilatildeo das atividades de campo o treinamento dos
entrevistadores o levantamento nas cidades e nas terras indiacutegenas a forma e a intensidade
como se desenvolveu a participaccedilatildeo das lideranccedilas e da comunidade como um todo
Durante a pesquisa a sociedade indiacutegena e natildeo indiacutegena juntamente com profissionais
da educaccedilatildeo da linguiacutestica e a proacutepria comunidade surda acompanharam a perspectiva para
uma nova trajetoacuteria destes os iacutendios surdos a qual reflete o reconhecimento linguiacutestico destes
como pessoas pertencentes agraves minorias linguiacutesticas
Ao analisar as questotildees linguiacutesticas nas aacutereas indiacutegenas das microrregiotildees de Parintins
verificou-se que a implantaccedilatildeo deste empreendimento representou como um novo modelo de
desenvolvimento para a comunicaccedilatildeo de indiacutegenas surdos nas comunidades indiacutegenas
98
Ressalta-se que cada municiacutepio onde existem membros da etnia Satereacute receberaacute como
retorno da pesquisa um minidicionaacuterio triliacutengue (Liacutengua de Sinais Liacutengua Satereacute-Maweacute e
Liacutengua Portuguesa) para intercacircmbio sociocultural-linguiacutestico
Este material tem a intenccedilatildeo de abrir o caminho para a participaccedilatildeo direta dos iacutendios
na construccedilatildeo de seu futuro Ele caracteriza uma mudanccedila da forma de olhar para os povos
indiacutegenas Agora eacute preciso trabalhar para que todas as comunidades e etnias possam produzir
seus diagnoacutesticos Todas elas precisam dispor das informaccedilotildees com as quais poderatildeo dar uma
direccedilatildeo a suas accedilotildees Nesse sentido deve haver iniciativas por parte do poder local para que o
governo e as entidades aliadas agraves causas indiacutegenas possam aproveitar as experiecircncias dos
vaacuterios pesquisadores sobre as causas dos Satereacute-Maweacute para ampliar esse tipo de trabalho
Satildeo diagnoacutesticos como este que iratildeo dar o norte para novos projetos e programas que
favoreccedilam realmente garantir a autonomia dos povos indiacutegenas
Finzaliza-se com a satisfaccedilatildeo de que a pesquisa presente contribuiu com um pequeno
passo no incentivo da conservaccedilatildeo e crescimento da identidade cultural-linguiacutestica do iacutendio
surdo
99
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103
ANEXOS
104
ANEXO A- Normas estabelecidas no ingresso em terras indiacutegenas pela FUNAI
Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio
INSTRUCcedilAtildeO NORMATIVA No 01PRESI DE 29NOVEMBRO1995
PRESIDENTE DA FUNDACcedilAtildeO NACIONAL DO IacuteNDIO - FUNAI
no uso de suas atribuiccedilotildees que lhe satildeo conferidas pelo estatuto aprovado pelo decreto no
564
de 08 de junho de 1992 tendo em vista o que consta do processo FUNAI BsB no210592
R E S O L V E
Art 1o Aprovar as normas que disciplinam o ingresso em Terras Indiacutegenas com finalidade de
desenvolver Pesquisa Cientiacutefica conforme documento em anexo
Art 2o Esta Instruccedilatildeo Normativa entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo
Art 3o Revoga-se a Instruccedilatildeo Normativa no 001PRESI94 de 08 de abril
de 1994 como qualquer outro dispositivo em contraacuterio
MAacuteRCIO JOSEacute BRANDO SANTILLI
Presidente da FUNAI
ASSINADO NO ORIGINAL
Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio
ANEXO DA INSTRUCcedilAtildeO NORMATIVA No 001PRESI de 29 de novembro de 1995
Art 4o Todo e qualquer pesquisador nacional ou estrangeiro que pretenda ingressar em terras
indiacutegenas para desenvolver projeto de pesquisa cientiacutefica deveraacute encaminhar sua solicitaccedilatildeo
agrave Presidecircncia da FUNAI e no caso de requerimento coletivo deveraacute ser subscrito por um dos
membros do grupo como seu responsaacutevel Art 5o O pesquisador ou pesquisadores deveratildeo
anexar ao pedido do que trata o Art 1o a seguinte documentaccedilatildeo
I carta de apresentaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo a que o pesquisador estaacute vinculado e no caso de
estudantes de graduaccedilatildeo e poacutesgraduaccedilatildeo carta de apresentaccedilatildeo do orientador responsaacutevel
II projeto de pesquisa em portuguecircs detalhando a(s) terra(s) indiacutegenas na(s) qual(is)
pretende ingressar e cronograma
III curriculum vitae do(s) pesquisador(es) redigido em portuguecircs
IV coacutepia autenticada da Carteira de Identidade ou Passaporte quando se tratar de
nacionalidade estrangeira
V atestado individual de vacina contra moleacutestia endecircmica na
aacuterea
VI atestado meacutedico de natildeo portador de moleacutestia contagiosa
105
VII quando se tratar de pesquisador(es) de nacionalidade estrangeira exigir-se-aacute para a
efetivaccedilatildeo de seu ingresso na terra indiacutegena a obtenccedilatildeo de seu respectivo visto temporaacuterio
como prevecirc o artigo 22 do decreto no 86715 de 10 de dezembro de 1981 aleacutem do
cumprimento do disposto no decreto no 98830 de 15 de janeiro de 1990
Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio
Art 6o O pesquisador deveraacute encaminhar diretamente ao CONSELHO
NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO - CNPq o
projeto de pesquisa e curriculum
vitae
Art 7o A solicitaccedilatildeo do ingresso em terra indiacutegena por parte de pesquisadores nacionais ou
estrangeiros seraacute objeto de anaacutelise pela Coordenadoria-Geral de Estudos e Pesquisas - CGEP
uma vez instruiacutedo o processo com o parecer favoraacutevel do CNPq quanto ao meacuterito da pesquisa
proposta e apoacutes ouvidas as lideranccedilas indiacutegenas
Paraacutegrafo Uacutenico - A consulta agraves lideranccedilas indiacutegenas seraacute realizada pela FUNAI com a
presenccedila e participaccedilatildeo do pesquisador podendo este em caso de resposta positiva
permanecer na terra indiacutegena com autorizaccedilatildeo provisoacuteria ateacute a emissatildeo de uma definitiva
Art 8o No caso de negativa das lideranccedilas indiacutegenas quanto ao pleito do ingresso ou
quaisquer outros entraves levantados no decorrer da anaacutelise do processo ou em qualquer outra
etapa de desenvolvimento da pesquisa a CGEP encaminharaacute a questatildeo ao Conselho
Indigenista atraveacutes da presidecircncia do Oacutergatildeo
Art 9o Quando se tratar de pesquisa em espaccedilo territorial de ocupaccedilatildeo tradicional de iacutendios
isolados o pedido seraacute ainda objeto de exame e parecer preacutevio especiacutefico por parte do
Departamento de Iacutendios Isolados - DII FUNAI
Art 10 A presidecircncia da FUNAI poderaacute suspendera qualquer tempo as
autorizaccedilotildees concedidas de acordo com as presentes normas desde que
I seja solicitada a sua interrupccedilatildeo por parte da comunidade indiacutegena em questatildeo
II a pesquisa em desenvolvimento venha a gerar conflitos dentro da terra indiacutegena
III a ocorrecircncia de situaccedilotildees epidecircmicas agudas ou conflitos graves envolvendo iacutendios e natildeo-
iacutendios
Paraacutegrafo Uacutenico - Fica automaticamente prorrogada a autorizaccedilatildeo pelo prazo que a terra
indiacutegena objeto do projeto estiver interditada pelos motivos apontados no Art 10 inciso III
Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio
MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA
Art 11 Todos os pesquisadores estrangeiros ou nacionais que tiverem autorizaccedilotildees
concedidas para ingresso em terras indiacutegenas obrigar-se-atildeo a
I cumprir todos os preceitos legais vigentes notadamente os previstos na Lei no 6001 de
1o1273
II remeter agrave FUNAI relatoacuterio dos Trabalhos de campo em portuguecircs ateacute 6 (seis) meses apoacutes
o teacutermino da pesquisa onde poderatildeo constar sugestotildees praacuteticas que possam trazer benefiacutecios
para as comunidades indiacutegenas que poderatildeo ser consideradas pela FUNAI nas definiccedilotildees de
sua poliacutetica
III remeter agrave FUNAI 2 (dois) exemplares de publicaccedilotildees artigos teses e outras produccedilotildees
intelectuais oriundas das referidas pesquisas
Art 12 Nos casos de solicitaccedilatildeo de prorrogaccedilatildeo do prazo para continuidade do projeto de
pesquisa cientiacutefica na mesma terra indiacutegena caberaacute a Coordenaccedilatildeo Geral de Estudos e
Pesquisas - CGEP os seguintes procedimentos
I notificar junto ao setor competente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e
Tecnoloacutegico - CNPq a solicitaccedilatildeo
II consultar as lideranccedilas quanto ao retorno do pesquisador na terra indiacutegena
106
III observar o cumprimento do Art 8o por parte do pesquisador interessado do Iacutendio
Art 6o O pesquisador deveraacute encaminhar diretamente ao CONSELHO NACIONAL DE
DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO - CNPq o projeto de pesquisa e
curriculum vitae
Art 7o A solicitaccedilatildeo do ingresso em terra indiacutegena por parte de pesquisadores nacionais ou
estrangeiros seraacute objeto de anaacutelise pela Coordenadoria-Geral de Estudos e Pesquisas - CGEP
uma vez instruiacutedo o processo com o parecer favoraacutevel do CNPq quanto ao meacuterito da pesquisa
proposta e apoacutes ouvidas as lideranccedilas indiacutegenas
Paraacutegrafo Uacutenico - A consulta agraves lideranccedilas indiacutegenas seraacute realizada pela FUNAI com a
presenccedila e participaccedilatildeo do pesquisador podendo este em caso de resposta positiva
permanecer na terra indiacutegena com autorizaccedilatildeo provisoacuteria ateacute a emissatildeo de uma definitiva
Art 8o No caso de negativa das lideranccedilas indiacutegenas quanto ao pleito do ingresso ou
quaisquer outros entraves levantados no decorrer da anaacutelise do processo ou em qualquer outra
etapa de desenvolvimento da pesquisa a CGEP encaminharaacute a questatildeo ao Conselho
Indigenista atraveacutes da presidecircncia do Oacutergatildeo
Art 9o Quando se tratar de pesquisa em espaccedilo territorial de ocupaccedilatildeo tradicional de iacutendios
isolados o pedido seraacute ainda objeto de exame e parecer preacutevio especiacutefico por parte do
Departamento de Iacutendios Isolados - DII FUNAI Art 10 A presidecircncia da FUNAI poderaacute
suspendera qualquer tempo as autorizaccedilotildees concedidas de acordo com as presentes normas
desde que
I seja solicitada a sua interrupccedilatildeo por parte da comunidade indiacutegena em questatildeo
II a pesquisa em desenvolvimento venha a gerar conflitos dentro da terra indiacutegena
III a ocorrecircncia de situaccedilotildees epidecircmicas agudas ou conflitos graves envolvendo iacutendios e natildeo-
iacutendios
Paraacutegrafo Uacutenico - Fica automaticamente prorrogada a autorizaccedilatildeo pelo prazo que a terra
indiacutegena objeto do projeto estiver interditada pelos motivos apontados no Art 10 inciso III
Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA
Art 11 Todos os pesquisadores estrangeiros ou nacionais que tiverem autorizaccedilotildees
concedidas para ingresso em terras indiacutegenas obrigar-se-atildeo a
I cumprir todos os preceitos legais vigentes notadamente osprevistos na Lei no 6001 de
1o1273
II remeter agrave FUNAI relatoacuterio dos Trabalhos de campo em portuguecircs ateacute 6 (seis) meses apoacutes
o teacutermino da pesquisa onde poderatildeo constar sugestotildees praacuteticas que possam trazer benefiacutecios
para as comunidades indiacutegenas que poderatildeo ser consideradas pela FUNAI nas definiccedilotildees de
sua poliacutetica
III remeter agrave FUNAI 2 (dois) exemplares de publicaccedilotildees artigos teses e outras produccedilotildees
intelectuais oriundas das referidas pesquisas
Art 12 Nos casos de solicitaccedilatildeo de prorrogaccedilatildeo do prazo para continuidade do projeto de
pesquisa cientiacutefica na mesma terra indiacutegena caberaacute a Coordenaccedilatildeo Geral de Estudos e
Pesquisas - CGEP os seguintes procedimentos
I notificar junto ao setor competente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e
Tecnoloacutegico - CNPq a solicitaccedilatildeo
II consultar as lideranccedilas quanto ao retorno do pesquisador na terra indiacutegena
III observar o cumprimento do Art 8o por parte do pesquisador interessado
107
ANEXO B ndash Questionaacuterio para coleta de dados com professores de comunidades indiacutegenas
QUESTIONAacuteRIO
Nome Prof(a)Nordm Cel
Nome da escola
Tribo Etnia
Quantos alunos surdos iacutendio Serie Idade
Nasceu cognitiva ou adquirida
1 ndash Como eacute a forma de comunicaccedilatildeo entre o professor e o iacutendio surdo
( ) Escrita
( ) Oralizado
( ) Libras
( ) Satereacute Maweacute
2 ndash Qual liacutengua o surdo iacutendio tem mais facilidade de aprender
( ) Portuguecircs
( ) Satereacute Maweacute
( ) libras
3 ndash Qual eacute a metodologia de ensino
4 ndash Como o aluno surdo indiacutegena aprende na sala de aula Tem dificuldade ou facilidade
5 ndash Como e que liacutengua o aluno surdo se comunica com outro surdo se tiver e os demais alunos
ouvintes na sala aula
108
6 ndash Vocecirc jaacute observou a comunicaccedilatildeo entre o aluno surdo iacutendio com a famiacutelia Qual liacutengua
7 ndash Como o aluno surdo iacutendio se comunica com as pessoas da comunidade
8 ndash Qual eacute a reaccedilatildeo das pessoas ouvintes quanto o iacutendio surdo na comunidade
9 ndash Professor(a) qual sua opiniatildeo para melhoria de ensino da educaccedilatildeo de iacutendios surdos
10 ndash Qual eacute a importacircncia da liacutengua indiacutegena Satereacute Maweacute para o aluno surdo
11 ndash Fale sobre a cultura e historia dos Satereacute Maweacute o iacutendio surdo participa
109
ANEXO C ndash Autorizaccedilatildeo para pesquisa de campo em terras indiacutegenas
110
ANEXO C-1 ndash Autorizaccedilatildeo para pequisa de campo com uso de imagem permitido
111
ANEXO C-2 ndash Autorizaccedilatildeo para pequisa de campo com uso de imagem permitido
112
ANEXO D ndash Parecere pedagoacutegico da Aluna Indiacutegena Surda
(ESCOLA PADRE PAULOMANNA)
ESCOLA DE AacuteUDIO COMUNICACcedilAtildeO
Pe PAULO MANNA Mantida pela Diocese de Parintins CNPJ 045945370001-88 Av Naccedilotildees Unidas 1792 FoneFax (092) 3533-3456 69151-060 ndash PARINTINS-AMAZONAS-BRASIL
Parecer Pedagoacutegico
Helena Ferreira Arauacutejo 06 anos de idade aluna da Escola Pe Paulo Manna desde
marccedilo de 2013 mora na rua 4 nordm 298 no bairro da Uniatildeo
Segundo relatos da matildee a aluna nasceu de parto normal comeccedilou a andar aos trecircs
anos de idade e eacute descendente dos iacutendios Satereacute- Maueacute Os anos passaram e ela comeccedilou a
perceber que sua filha natildeo ouvia e nem falava pois jaacute tinha outros filhos e estes comeccedilaram a
falar e andar cedo Informou-nos que para se comunicar com ela fazia gestos ateacute ela entender
o que se tornava muito difiacutecil
Disse-nos que falaram para ela do trabalho desenvolvido na Escola Paulo Manna com
alunos surdos e resolveu procurar a escola pois o tempo estava passando e a menina natildeo
falava e ela natildeo sabia mais o que fazer para reverter a situaccedilatildeo e a sua filha ser como os outros
irmatildeos
Atualmente estuda numa turma de Preacute ndash Escolar (2ordm periacuteodo) eacute uma aluna surda No
ano passado quando chegou agrave escola nos primeiros dias chorava muito e ficava zangada se
escondia embaixo da mesa para que ningueacutem a incomodasse visto que natildeo estava adaptada
ao ambiente e aos poucos foi se adaptando e passou a conviver com os colegas ouvintes em
sala de aula
A aluna gosta de fazer suas atividades escolares tem boa coordenaccedilatildeo motorainterage
com os colegas reconhece cores e formas gosta de desenhar e daacute formas aos seus desenhos realiza atividades de leitura de imagem montagem com jogos de encaixe participa de
brincadeiras na quadra parque e brinquedoteca
Em alguns momentos quando quer alguma coisa do colega e este natildeo lhe daacute fica com
raiva chora e se isola Em outros momentos penso que por natildeo saber se comunicar com os
colegas fica um pouco retraiacuteda e torna-se um a receptora diferenciada que requer cuidados
no tocante agrave comunicaccedilatildeo principalmente de como chegar ateacute ela
Procuramos adaptar brincadeiras para envolver a aluna trazendo-a de volta para
participar das atividades e conversar com ela que nem tudo o que a gente quer podemos ter e
fazemos alguma brincadeira que ela goste e rapidinho ela volta a participar e se integrar ao
grupo
Sabemos que eacute difiacutecil para ela o processo ensino aprendizagem porque ela tem que ter
uma aprendizagem triliacutengue visto que tem que aprender a Liacutengua Indiacutegena+ Libras + Liacutengua
Portuguesa e jaacute eacute difiacutecil aprender duas mas natildeo impossiacutevel
113
Neste ano de 2014 contamos com a ajuda da professora Caacutetia (surda) com aulas de
Libras No primeiro momento fica junto com os colegas ouvintes onde procuramos trabalhar
de forma biliacutengue (Portuguecircs + Libras) para que ela entenda o que estaacute sendo repassado em
sala de aula E o que se percebe eacute que a aluna nos daacute respostas precisas dentro dos objetivos
propostos Em outro momento a professora Caacutetia ensina agrave aluna os sinais em LIBRAS que eacute
a liacutengua oficial da pessoa surda trabalhando o concreto com ela ensinando-a com jogos
cartazes reaacutelias viacutedeos transformando tais atividades em aulas dinacircmicas e prazerosas
Dentro dessa realidade a aluna vai participando buscando se inserir nesse universo
cheio de duacutevidas e incertezas e noacutes professores procuramos fazer o melhor para que a aluna
se sinta bem no ambiente escolar visto que o processo ensino aprendizagem para uma crianccedila
de outra etnia natildeo eacute faacutecil pois segundo depoimentos de alguns indiacutegenas a aprendizagem
indiacutegena passa pela demonstraccedilatildeo observaccedilatildeo imitaccedilatildeo tentativa e erro e quando o aluno
vem para a escola tem que se socializar obedecer a comandos regidos pelo sistema e isso
muitas vezes o deixa confuso e os maiores ateacute desistem
Dessa forma satildeo necessaacuterias estrateacutegias de ensino diferenciadas que deem suporte para
que a aluna seja trabalhada de forma triliacutengue no contexto escolar para que ela natildeo perca a
sua essecircncia a sua cultura que sejam adaptados trabalhos de acordo com a realidade
indiacutegena para que ela natildeo perca a sua identidade e saiba conduzir sua aprendizagem dentro de
um contexto diferenciado podendo aprender o que lhe eacute de direito bem como viver bem em
sociedade
Parintins 14 de abril de 2014
AGRADECIMENTOS
A Deus em primeiro lugar que planejou a minha vida quando eu ainda nem existia e
me libertou no momento que recorri a Ele E me fez acreditar que o impossiacutevel soacute existe
quando natildeo temos feacute
Agrave Coordenadora do Mestrado em Letras e Artes da Universidade do Estado do
Amazonas ndash UEA Professora Dra Juciane Cavalheiros pelo excelente trabalho que
desenvolve nesta instituiccedilatildeo contribuindo para a formaccedilatildeo de novos profissionais na
educaccedilatildeo do nosso paiacutes
Ao meu orientador Dr Valteir Martins Professor do Mestrado em Letras e Artes
com sua saacutebia experiecircncia de ensino acreditou que atraveacutes deste trabalho pudeacutessemos levar
contribuiccedilotildees linguiacutesticas no que tange agrave Liacutengua de Sinais dos indiacutegenas surdos Satereacute-
Maweacute habitantes da microrregiatildeo de Parintins
Aos meus professores do Mestrado em Letras e Artes Dra Silvana Martins Dr
Mauricio Mattos Dr Maacutercio e Dra Luciana Paacutescoa Dra Gleidys Maia Dr Camilo Ramos
pelas preciosas contribuiccedilotildees agrave minha pesquisa
Aos professores indiacutegenas Jacob de Souza Jocimar Alencar e Josiel Santos por me
introduzir nas comunidades indiacutegenas Satereacute-Maweacute pelas contribuiccedilotildees na traduccedilatildeo das
palavras da liacutengua portuguesa para a liacutengua Satereacute-Maweacute
Aos meus colegas do mestrado em Letras e Artes pelo companheirismo e dedicaccedilatildeo
no dia a dia
Agrave professora Elizandra de Lima Silva Bastos pela ajuda nas correccedilotildees textuais da
Liacutengua Portuguesa
Agraves instituiccedilotildees especiacuteficas que de alguma forma contribuiacuteram para concretizar esta
pesquisa
MANAUS
Escola Estadual Augusto Carneiro dos Santos
Centro de Atendimento ao surdo ndash CAS
A Igreja Tabernaacuteculo Batista Pastor Paulo Hatcher
PARINTINS
Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio ndash FUNAI
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE
Coordenadora Regional de Educaccedilatildeo de Parintins - CREP
Universidade Estadual do Amazonas ndash CESP
Casa da Sauacutede Indiacutegena
Casa do Iacutendio de Parintins
Escola Aacuteudio Comunicaccedilatildeo Pe Paulo Manna
Diocese de Parintins Pe Henrique Uggeacute
Escola Estadual Brandatildeo de Amorim
Escola Estadual Joatildeo Bosco Ramos de Lima
MAUEacuteS
Secretaria de Estado de Educaccedilatildeo
Secretaria de Educaccedilatildeo Municipal
Casa do estudante indiacutegena Sr Jusivan
Tuxaua da Comunidade de Santa Maria Sr Helito Barbosa
Sr Maxiliano Batista Barros
BARREIRINHA
Secretaria de Educaccedilatildeo Municipal - SEMED
Secretaria de Estado de Educaccedilatildeo
Coordenaccedilatildeo Municipal de Educaccedilatildeo Indiacutegena Sr Santino Lopes
Coordenador da Escola Profa Rosa Cabral Sr Dulcemar F dos Santos
Professora Indiacutegena Satereacute-Maweacute Maria Inez
NHAMUNDAacute
Casa de Sauacutede Indiacutegena - DSEI
Secretaria de Estadual de Educaccedilatildeo
BOA VISTA DO RAMOS
Secretaria de Estado e Educaccedilatildeo
Escola Estadual Princesa Izabel
Comunidade Satereacute-Maweacute
Professora Erly Tereza R Goacutees
URUCARAacute
Poacutelo Base de Urucaraacute ndash DSEI
Distrito Sanitaacuterio Especial Indiacutegena
Lider Indiacutegena Etnia Hexkaryana Caiacutenatilde Mohso
SraMaacuterlucia Kutasa
Enfermeiro SrJonas Pontes
SraDalva H Farias Cantalixto de Melo
SrLuiz Cantalixto de Melo
SAtildeO SEBASTIAtildeO DO UATUMAtilde
Poacutelo Base de Urucaraacute ndash DSEI
Lider Indiacutegena Etnia Hexkaryana Caiacutenatilde Mohso
EPIacuteGRAFE
Matildeos
corpo em movimento
captar e entender
Teu querer teu dizer
Sorrisos laacutegrimas
sentimentos e emoccedilotildees
Libras eacute amor eacute paixatildeo eacute liacutengua
(Marlon Jorge)
RESUMO
Esta pesquisa apresenta o resultado do mapeamento de iacutendios surdos nas comunidades
indiacutegenas Satereacute-Maweacute na microrregiatildeo de Parintins Partindo do levantamento buscou-se
identificar de que forma os iacutendios surdos estabeleciam a comunicaccedilatildeo com seus pares na sua
comunidade Para isso foi utilizado o procedimento metodoloacutegico por meio de entrevistas
abertas com as lideranccedilas indiacutegenas os familiares os professores e gestores escolares e
outros membros das comunidades assim como do proacuteprio iacutendio surdo O processo de anaacutelise
estabelecido para este estudo consistiu no enfoque de natureza linguiacutestica do leacutexico
(vocabulaacuterio) o qual foi registrado por meio de viacutedeos fotos e gravaccedilotildees A partir dos dados
iniciou-se a elaboraccedilatildeo de um minidicionaacuterio triliacutengue nas liacutenguas Satereacute-Maweacuteliacutengua de
sinais portuguecircs escrito a fim de facilitar a comunicaccedilatildeo principalmente no contexto da
comunidade educacional escolar entre os professores e os alunos iacutendios surdos Esta
contribuiccedilatildeo linguiacutestica portanto possibilitou uma nova percepccedilatildeo no processo histoacuterico da
diversidade linguiacutestica para valorizar e respeitar natildeo soacute uma liacutengua a liacutengua oficial do paiacutes
(Portuguecircs) mas tambeacutem a liacutengua natural do povo surdo (Libras) e a liacutengua indiacutegena do povo
Satereacute-Maweacute
Palavras chaves
1Linguiacutestica 2Liacutengua de sinais 3Satereacute-Maweacute 4 Dicionaacuterio
ABSTRACT
This research presents the results of the mapping deaf Indians in indigenous
communities Satereacute-Maweacute in the region of Parintins Starting from the survey we sought to
identify how the deaf Indians established communication with peers in their community For
this methodological procedure through open interviews with indigenous leaders family
members teachers and school administrators and other community members were used as
well as the Indian himself deaf The review process established for this study consisted of
focus linguistic lexicon (vocabulary) which was recorded through videos photos and
recordings From the data we initiated the development of a trilingual Mini Dictionary in
languages Satereacute-Maweacute sign language written Portuguese in order to facilitate
communication especially in the context of school learning community among teachers and
students deaf Indians This linguistic contribution therefore provided a new insight in the
historical process of linguistic diversity to value and respect not only one language the
official language (Portuguese) but also the natural language of deaf people (Libras) and the
indigenous language the people Satereacute-Maweacute
Key Words 1Linguiacutestica 2Liacutengua signal 3Satereacute-Maweacute 4Dictionary
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 13
1 CONSIDERACcedilOtildeES DOS ESTUDOS LINGUIacuteSTICOS DA LIacuteNGUA
BRASILEIRA DE SINAIS
17
11 Liacutengua de Sinais como Liacutengua Natural 20
12 Liacutengua Brasileira de Sinais 22
13 Liacutenguas de Sinais Indiacutegenas pesquisadas no Brasil 26
131 Liacutengua de Sinais Urubu-Kaapor 28
132 Liacutengua de Sinais Emergentes 29
1321 Realidade do Contexto educacional escolar do indiacutegena surdo 31
2 HISTOacuteRIA DO POVO INDIacuteGENA SATEREacute-MAWEacute CULTURA E
LIacuteNGUA
34
21 Breve Relato Histoacuterico 35
22 Classificaccedilatildeo da Liacutengua Satereacute-Maweacute 36
221 Contexto educacional escolar entre os Satereacute-Maweacute 38
3 METODOLOGIA IMPLEMENTADA NA PESQUISA 42
31 Aacuterea e localidade da pesquisa 42
32 Estrateacutegias gerais para a realizaccedilatildeo da coleta de dados 43
33 Procedimentos da coleta de dados 43
34 Articulaccedilatildeo local 44
35 Abordagem ao objeto da pesquisa 44
4 MAPEAMENTO DOS INDIOS SURDOS DA COMUNIDADE SATEREacute-
-MAWEacute NAS MICRORREGIOtildeES DE PARINTINS E SUA REALIDADE
EDUCACIONAL ESCOLAR
45
41 Mapeamento da existecircncia dos iacutendios surdos na microrregiatildeo de Parintins 46
411 Histoacuterico de Parintins 46
412 Histoacuterico de Barreirinha 52
413 Histoacuterico de Maueacutes 53
414 Histoacuterico de Boa Vista do Ramos 55
415 Histoacuterico de Nhamundaacute 56
42 Realidade linguiacutestica e educacional dos iacutendios surdos encontrados na etnia
Satereacute-Maweacute
59
43 Inventaacuterio de gestos da linguagem caseira dos surdos Satereacute-Maweacute 66
431 Os sinais caseiros dos indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute 66
432 Municiacutepio de Parintins 66
4321 O primeiro surdo 67
4322 O segundo surdo 67
4323 O terceiro surdo 68
44 O indiacutegena surdo da comunidade de Ponta Alegre do Municiacutepio de Barreirinha 70
45 Os indiacutegenas surdos do Municiacutepio de Maueacutes 73
451 O primeiro surdo da Comunidade de Santa Maria 75
452 O segundo surdo da Comunidade de Santa Maria 79
5 ICONICIDADE E ARBITRARIEDADE NA CRIACcedilAtildeO DOS SINAIS
CASEIROS
83
6 INTERVENCcedilAtildeO E CONTRIBUICcedilAtildeO LINGUIacuteSTICA DO PROFESSOR
SURDO
90
61 Libras e Liacutengua Satereacute-Maweacute intercacircmbio de construccedilatildeo sociocultural-
linguiacutestico
94
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 97
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 99
ANEXOS
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 Croqui da aacuterea e localidade da pesquisa
FIGURA 2 Sinais caseiros utilizado pela crianccedila de 5 anos
FIGURA 3 Sinais caseiros utilizados pelo aluno da comunidade de Ponta Alegre
Barreirinha
FIGURA 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa
Maria (30 sinais coletados)
FIGURA 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo idoso na comunidade de Santa Maria
FIGURA 6 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos que se refere agrave
arbitrariedade
FIGURA 7 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos aos quais se referem a
iconicidade
FIGURA 8 Caracteriacutesticas da imagem em Liacutengua de Sinais Satereacute-Maweacute dos objetos
aos quais se referem agrave iconicidade
FIGURA 9 Encontro da crianccedila surda Satereacute-Maweacute com o professor surdo
FIGURA 10 Contato com aluno Satereacute-Maweacute surdo no ambiente escolar
FIGURA 11 Contato com o aluno surdo Satereacute-Maweacute na Escola Estadual Brandatildeo de
Amorim
FIGURA 12 Em viagem para aacuterea indiacutegena no Rio Marau
FIGURA 13 Apresentaccedilatildeo do projeto de pesquisa agraves lideranccedilas indiacutegenas na
comunidade
FIGURA 14 Desenvolvimento de oficina de Libras com professores indiacutegenas
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Mapeamento da existecircncia de iacutendios surdos nas respectivas comunidades
indiacutegenas ou zona urbana da microrregiatildeo de Parintins
Tabela 2 11 Sinais caseiros utilizados pela crianccedila indiacutegena surda de 5 anos e seus
familiares
Tabela 3 13 Sinais caseiros coletados e utilizados pelo aluno da comunidade de
Ponta Alegre
Tabela 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa
Maria
Tabela 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais antigo residente isolado na
comunidade de Santa Maria no Rio Marau ( 18 sinais coletados)
56
66
69
73
77
13
INTRODUCcedilAtildeO
Todo cidadatildeo tem o direito de participar na vida poliacutetica social e econocircmica de um
paiacutes Neste contexto inclui-se o cidadatildeo surdo Infelizmente a histoacuteria relata que no passado
os sujeitos surdos1 eram colocados agraves margens da sociedade em todos seus aspectos social
poliacutetico econocircmico cultural linguiacutestico e educacional
Entretanto ao longo da histoacuteria os surdos com a participaccedilatildeo de ouvintes na luta
incessante pelos seus direitos muitas conquistas foram alcanccediladas Entre estas estaacute o direito
de ter sua proacutepria liacutengua a Liacutengua Brasileira de Sinais-LIBRAS A Lei nordm 10436 de 2002 a
qual a reconhece como sistema linguiacutestico de natureza visual-motora com estrutura
gramatical proacutepria constituindo-se um sistema linguiacutestico de transmissatildeo de ideias e fatos
oriundos da comunidade de pessoas surdas do Brasil Conforme Saacute (2006) no Brasil as
comunidades urbanas usam a ldquoliacutengua de sinais brasileirardquo ou simplesmente ldquoliacutengua de sinaisrdquo
Vale ressaltar que a Liacutengua de Sinais segundo Strobel (2008) eacute um aspecto
fundamental da cultura surda2 parte do artefato cultural linguiacutestico
3 do povo surdo e constitui
1 Na aacuterea de pesquisa vinculada a perspectiva socioantropoloacutegica existe uma clara diferenciaccedilatildeo entre a opccedilatildeo
de escrever surdo com letra minuacutescula ou maiuacutescula conforme explica Andreis-Witkoski (2011) ldquoapesar de
nas uacuteltimas deacutecadas ter sido estabelecido uma distinccedilatildeo entre a expressatildeo ldquoSurdordquo com letra maiuacutescula para
identificar uma categoria cultural e ldquosurdordquo com minuacutescula em referecircncia a deficiecircncia auditiva nesta Tese natildeo
se utiliza este tipo de marcaccedilatildeo Compartilha-se da concepccedilatildeo exposta por Owen Wrigley (1996 p53) quando
adverte que esta diferenciaccedilatildeo constitui-se em ldquoum dualismo riacutegido-bom Surdo mau surdo ndash que pouco faz para
ajudar os indiviacuteduos em suas vidas diaacuterias [sem] ajudar a clarear um alcance maior de estrateacutegias colocadas pelos
indiviacuteduos lidando com a exclusatildeo e as muitas faces da opressatildeo em suas rotinas Em termos simples a
dicotomia de bdquoSs‟ estaacute tatildeo cruelmente composta que embora inicialmente seja uacutetil ela agora serve para silenciar
o alcance total das experiecircncias dos sSurdosrdquo (2011 p13) Logo opta-se nesta dissertaccedilatildeo o uso da expressatildeo
ldquosurdordquo (minuacutescula) que refere-se aos ldquosurdordquo enquanto pessoas que pela impossibilidades formam uma
minoria diferente com caracteriacutesticas linguiacutesticas cognitivas culturais e comunitaacuterias especiacuteficas (SAacute 2006
p107) 2 Cultura Surda ldquoeacute o jeito de o surdo entender o mundo e de modificaacute-lo a fim de se tornaacute-lo acessiacutevel e habitaacutevel
ajustando-os com as suas percepccedilotildees visuais que contribuem para a definiccedilatildeo das identidades surdas e das
ldquoalmasrdquo das comunidades surdas Isto significa que abrange a liacutengua as ideacuteias as crenccedilas os costumes e os
haacutebitos de povordquo (STROBEL2008 p 24) 3Conforme Strobel (2008 p37) o que seriam artefatos culturais linguiacutesticos Ao referirmos ldquoartefatordquo
pensamos habitualmente no significado de objetos ou materiais produzidos pelos grupos culturais Realmente de
fato eacute uma forma material de expressar uma determinada cultura poreacutem tambeacutem podem incluir ldquotudo o que se
vecirc e senterdquo quando se estaacute em contato com a cultura de uma comunidade a exemplo vestuaacuterios tradiccedilotildees
crenccedilas valores e normas etc Ou seja no campo dos Estudos Culturais o conceito de ldquoartefatosrdquo natildeo se referem
apenas a materialismo culturais como tambeacutem naquilo que na cultura constitui produccedilotildees do sujeito que tem seu
proacuteprio modo de ser ver entender e transformar o mundo Logo um dos artefatos culturais que ilustram a
cultura do povo surdo eacute o linguiacutestico a liacutengua de sinais que eacute um aspecto fundamental da cultura surda sendo
uma das principais marcas da identidade surda
14
uma das principais marcas da identidade do ser surdo Incluem-se tambeacutem os ldquosinais
emergentesrdquo ou ldquosinais caseirosrdquo dos sujeitos surdos isolados de comunidades surdas no caso
dos surdos das zonas rurais e dos surdos iacutendios Estes surdos embora natildeo pertenccedilam agraves
mesmas comunidades se identificam com o povo surdo4 pois compartilham as mesmas
peculiaridades constroem sua formaccedilatildeo de mundo por meio de artefato cultural visual5
independentemente do grau linguiacutestico que possuem os quais podem ser os gestos caseiros
denominados tambeacutem como sinais emergentes Nesta perspectiva teoacuterica soacutecioantropoloacutegica
enfoca-se como o objeto da pesquisa o sujeito surdo indiacutegena ou seja o iacutendio surdo
Antes de prosseguir com a abordagem mencionada faz-se necessaacuterio destacar que
assim como o povo surdo o povo indiacutegena tambeacutem traccedilou diversas lutas na trajetoacuteria para
reconhecimento dos seus direitos O reconhecimento dos direitos dos povos indiacutegenas no
mundo contemporacircneo avanccedilou muito em relaccedilatildeo haacute algumas deacutecadas passadas De acordo
com Lucinda (apud Saacute 2006) em consenso geral nos debates da Comissatildeo Educaccedilatildeo
Cultura e Desporto que antecedem a elaboraccedilatildeo do texto da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica
Federativa do Brasil de 1988 tanto a liacutengua de sinais como as liacutenguas indiacutegenas deveriam ser
consideradas no texto da Constituiccedilatildeo como liacutenguas maternas Assim como resultado o
Referencial Curricular Nacional para Escolas Indiacutegenas (1998 p31) declara que ldquoA
Constituiccedilatildeo Federal aleacutem de perceber o iacutendio como pessoa com direitos e deveres como
qualquer outro cidadatildeo brasileiro o reconhece como membro de uma comunidade e de um
grupo isto eacute como membro de uma coletividade que eacute titular de direitos coletivos e
especiaisrdquo Ou seja reconhece para os iacutendios o direito agrave praacutetica de suas formas culturais
proacuteprias E no tiacutetulo VIII ldquoDa Ordem Socialrdquo conteacutem um capiacutetulo denominado ldquoDos Iacutendiosrdquo
onde se diz que ldquosatildeo reconhecidos aos iacutendios a sua organizaccedilatildeo social costumes liacutenguas
crenccedilas e tradiccedilotildees []rdquo (ibid p31)
Em meio a essa diversidade linguiacutestica que caracteriza o Brasil como sendo um paiacutes
pluriliacutengue estatildeo situados os ldquosurdos brasileirosrdquo que tecircm sua proacutepria liacutengua reconhecida
oficialmente a Liacutengua de Sinais Logo existem tambeacutem ldquoiacutendios surdosrdquo da etnia Satereacute-
4Quando referimos ldquopovo surdordquo estamos falando ldquode sujeitos surdos que natildeo habitam no mesmo local mas
que estatildeo ligados por uma origem por um coacutedigo de eacutetico de formaccedilatildeo visual independente do grau de evoluccedilatildeo
linguiacutestica tais como a liacutengua de sinais a cultura surda e quaisquer outros laccedilosrdquo (ibid p30) 5Perlin e Miranda (2003) complementam ldquoExperiecircncia visual significa a utilizaccedilatildeo visual em (substituiccedilatildeo total
agrave audiccedilatildeo) como meio de comunicaccedilatildeo Desta experiecircncia visual surge a cultura surda representada pela liacutengua
de sinais pelo modo diferente de ser de se expressar de conhecer o mundo de entrar nas artes no
conhecimento cientiacutefico e acadecircmicordquo (apud STROBEL 2008 p39)
15
Maweacute Qual sua forma de se comunicar Existe uma ldquoLiacutengua de Sinaisrdquo especifica do iacutendio
surdo
Diante das questotildees levantadas surgiu entatildeo agrave necessidade de realizar uma pesquisa
no campo da linguiacutestica na perspectiva dos estudos surdos6 voltado especificamente para o
iacutendio surdo da etnia Satereacute-Maweacute Foram traccedilados os seguintes objetivos i) mapear os iacutendios
surdos na microrregiatildeo de Parintins ii) identificar de que forma o iacutendio surdo estabelece a
comunicaccedilatildeo com sua comunidade especificamente no acircmbito educacional ou se utilizam
liacutenguas de sinais da comunidade local iii) registrar a forma de comunicaccedilatildeo no dia a dia do
iacutendio surdo nas comunidades indiacutegenas a partir dos estudos linguiacutesticos da Liacutengua de Sinais
dos grupos existentes e sua relaccedilatildeo com a comunidade local iv) promover o intercacircmbio entre
a Liacutengua de Sinais dos iacutendios surdos mapeados da etnia Satereacute-Maweacute e a LIBRAS da
comunidade surda do Municiacutepio de Parintins - Amazonas
Este trabalho conteacutem a seguinte divisatildeo primeiro capiacutetulo - apresenta consideraccedilotildees
linguiacutesticas fundamentais aos estudos surdos onde explicita o reconhecimento da Liacutengua de
Sinais como elemento cultural linguiacutestico do povo surdo abordando tambeacutem a oficializaccedilatildeo
da Liacutengua Brasileira de Sinais e as Liacutenguas Indiacutegenas pesquisadas no Brasil como a realidade
do contexto escolar linguiacutestico na comunidade indiacutegena segundo capiacutetulo - relata a histoacuteria
do povo indiacutegena Satereacute-Maweacute sua principal expressatildeo cultural sua liacutengua e seu respectivo
contexto educacional escolar terceiro capiacutetulo - apresenta os procedimentos metodoloacutegicos
utilizados na operacionalizaccedilatildeo da pesquisa e o capiacutetulo quatro - apresenta a anaacutelise do
resultado do Mapeamento dos iacutendios surdos da etnia Satereacute-Maweacute na microrregiatildeo de
Parintins Neste satildeo tambeacutem apresentadas as relaccedilotildees socioculturais-linguiacutesticas de iacutendios
surdos Satereacute-Maweacute com as contribuiccedilotildees linguiacutesticas do professor surdo aos Iacutendios surdos na
comunidade Satereacute-Maweacute estabelecendo assim as relaccedilotildees culturais na construccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo linguiacutestica LIBRAS e Liacutengua Satereacute-Maweacute como um intercacircmbio de construccedilatildeo
sociocultural
Desse modo a pesquisa tem como premissa baacutesica primeiramente mapear os iacutendios
surdos da etnia Satereacute-Maweacute e assim promover um intercacircmbio oferecendo contribuiccedilotildees
linguiacutesticas fundamentadas na pesquisa do leacutexico (vocabulaacuterio) da etnia referida com a Libras
(Liacutengua Brasileira de Sinais) e a Liacutengua Portuguesa por meio da elaboraccedilatildeo de um
6 Conforme Skliar eacute o campo de pesquisa em educaccedilatildeo onde as identidades a liacutenguas a histoacuteria a cultura da
comunidade surda satildeo focalizados e entendidos a partir da diferenccedila a partir do seu reconhecimento poliacutetico
(2001p29)
16
minidicionaacuterio triliacutengue Assim espera-se contribuir para a iniciaccedilatildeo dos indiacutegenas surdos da
etnia Satereacute-Maweacute na Liacutengua Brasileira de Sinais dando a eles um dos direitos universais do
ser humano que eacute direito a uma liacutengua Tambeacutem deseja-se contribuir para a iniciaccedilatildeo dos
indiacutegenas surdos da etnia Satereacute-Maweacute na Liacutengua Brasileira de Sinais dando a eles um dos
direitos universais do ser humano que eacute direito a uma liacutengua proacutepria
17
1 CONSIDERACcedilOtildeES DOS ESTUDOS LINGUIacuteSTICOS DA LIacuteNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
A Linguiacutestica conhecida hoje como a ciecircncia que estuda a linguagem humana eacute uma
ciecircncia recente poreacutem com um saber antigo Passou a se impor como ciecircncia agrave medida que
demonstrou seu meacutetodo e seu objeto de estudo Eacute definida como estudo cientiacutefico que visa
descrever ou explicar a linguagem verbal humana (ORLANDI 1999)
A Linguiacutestica diferencia-se da gramaacutetica tradicional normativa na medida que natildeo
tem como objetivo ditar regras de correccedilatildeo para uso da linguagem Seu interesse eacute a liacutengua
como mateacuteria de reflexatildeo (QUADROS e KARNOPP 2004) Segundo as pesquisas nesta
aacuterea Vandresen (1988 apud QUADROS 2007 p 83) tem-se ldquoa linguiacutestica contrastiva como
uma subaacuterea da linguiacutestica geral interessada em apontar as similaridades e diferenccedilas
estruturais entre a liacutengua materna (de um grupo de alunos) e uma liacutengua estrangeirardquo
Na taxonomia de similaridades e contrastes entre as liacutenguas existe uma seacuterie de
regularidades como haacute similaridades comportamentais que natildeo precisam ser explicitadas
porque constituem a base comum das liacutenguas naturais e o compartilhamento dessas
similaridades poderaacute servir como base para inferecircncias quanto agraves formas da liacutengua estrangeira
e quanto agraves diferenccedilas por serem sistemaacuteticas podem admitir tratamento inferencial e
heuriacutestico (KATO 1988 apud QUADROS 2007)
Segundo Nascimento (2009) a vitalidade da liacutengua depende de sua utilizaccedilatildeo efetiva
tanto em escala nacional quanto em escala mundial Quanto mais uma liacutengua eacute utilizada mais
ela eacute viva e inversamente quanto menos eacute utilizada mais ela eacute ameaccedilada de extinccedilatildeo Assim
sendo eacute o uso social da liacutengua que determina seu grau de revitalizaccedilatildeo
Por essas razotildees a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Linguiacutesticos (BARCELONA
1996 p 3) tem como ponto de partida
[] as comunidades linguiacutesticas e natildeo os Estados e inscreve-se no quadro do
reforccedilo das instituiccedilotildees internacionais capazes de garantir um desenvolvimento
duradouro e equitativo para toda a humanidade e tem como finalidade favorecer um
quadro de organizaccedilatildeo poliacutetica da diversidade linguiacutestica baseado no respeito na
convivecircncia e nos benefiacutecios reciacuteprocos
Em seu TITULO PREacuteVIO tem como conceitos
18
Artigo 1ordm
1 Esta Declaraccedilatildeo entende por comunidade linguiacutestica toda a sociedade humana
que radicada historicamente num determinado espaccedilo territorial reconhecido ou
natildeo se identifica como povo e desenvolveu uma liacutengua comum como meio de
comunicaccedilatildeo natural e de coesatildeo cultural entre os seus membros A denominaccedilatildeo
liacutengua proacutepria de um territoacuterio refere-se ao idioma da comunidade historicamente
estabelecida neste espaccedilo [grifo nosso]
2 Esta Declaraccedilatildeo parte do princiacutepio de que os direitos linguiacutesticos satildeo
simultaneamente individuais e colectivos e adapta como referecircncia da plenitude dos
direitos linguiacutesticos o caso de uma comunidade linguiacutestica histoacuterica no respectivo
espaccedilo territorial entendendo-se este natildeo apenas como a aacuterea geograacutefica onde esta
comunidade vive mas tambeacutem como um espaccedilo social e funcional indispensaacutevel ao
pleno desenvolvimento da liacutengua Eacute com base nesta premissa que se podem
estabelecer em termos de uma progressatildeo ou continuidade os direitos que
correspondem aos grupos linguiacutesticos mencionados no ponto 5 deste artigo e os das
pessoas que vivem fora do territoacuterio da sua comunidade []
Em referecircncia ao Artigo 3ordm
- o direito ao ensino da proacutepria liacutengua e da proacutepria cultura
- o direito a dispor de serviccedilos culturais
- o direito a uma presenccedila equitativa da liacutengua e da cultura do grupo nos meios de
comunicaccedilatildeo
- o direito a serem atendidos na sua liacutengua nos organismos oficiais e nas relaccedilotildees
socioeconomicas []
Em referecircncia ao Artigo 5ordm
Esta Declaraccedilatildeo baseia-se no princiacutepio de que os direitos de todas as comunidades
linguiacutesticas satildeo iguais e independentes do seu estatuto juriacutedico ou poliacutetico como
liacutenguas oficiais regionais ou minoritaacuterias Designaccedilotildees tais como liacutengua regional ou
minoritaacuteria natildeo satildeo usadas neste texto porque apesar de em certos casos o
reconhecimento como liacutengua minoritaacuteria ou regional poder facilitar o exerciacutecio de
determinados direitos a utilizaccedilatildeo destes e doutros adjetivos serve frequentemente
para restringir os direitos de uma comunidade linguiacutestica []
Em referecircncia ao Artigo 23ordm
1 O ensino deve contribuir para fomentar a capacidade de auto-expressatildeo
linguiacutestica e cultural da comunidade linguiacutestica do territoacuterio onde eacute
ministrado[grifo nosso]
2 O ensino deve contribuir para a manutenccedilatildeo e o desenvolvimento da liacutengua falada
pela comunidade linguiacutestica do territoacuterio onde eacute ministrado
3 O ensino deve estar sempre ao serviccedilo da diversidade linguiacutestica e cultural e das
relaccedilotildees harmoniosas entre as diferentes comunidades linguiacutesticas do mundo inteiro
4 No quadro dos princiacutepios anteriores todos tecircm direito a aprender qualquer liacutengua
Em referecircncia aos Artigos 26ordm a 28ordm Artigo 26ordm
Todas as comunidades linguiacutesticas tecircm direito a um ensino que permita a todos os
seus membros adquirirem o perfeito conhecimento da sua proacutepria liacutengua com as
diversas capacidades relativas a todos os domiacutenios de uso da liacutengua habituais bem
como o melhor conhecimento possiacutevel de qualquer outra liacutengua que desejem
aprender
Artigo 27ordm
Todas as comunidades linguiacutesticas tecircm direito a um ensino que permita aos seus
membros o conhecimento das liacutenguas ligadas agrave sua proacutepria tradiccedilatildeo cultural tais
como as liacutenguas literaacuterias ou sagradas usadas antigamente como liacutenguas habituais
da sua comunidade
Artigo 28ordm
Todas as comunidades linguiacutesticas tecircm direito a um ensino que permita aos seus
membros adquirirem um conhecimento profundo do seu patrimocircnio cultural (histoacute-
ria e geografia literatura e outras manifestaccedilotildees da proacutepria cultura) assim como o
melhor conhecimento possiacutevel de qualquer outra cultura que desejem conhecer
(BARCELONA 1996 p 4 a 14)
19
Assim nas Disposiccedilotildees Finais no Plenaacuterio da Associaccedilatildeo Internacional para o
Desenvolvimento da Comunicaccedilatildeo Intercultural recomenda agraves Naccedilotildees Unidas que tomem as
medidas necessaacuterias agrave adopccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de uma Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos
Linguiacutesticos considerando a Convenccedilatildeo nuacutemero 169 da Organizaccedilatildeo Internacional do
Trabalho de 26 de Junho de 1989 relativa aos povos indiacutegenas em paiacuteses independentes que
a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Colectivos dos Povos realizada em Maio de 1990 em
Barcelona declara que todos os povos tecircm direito a exprimir e a desenvolver a sua cultura a
sua liacutengua e as suas normas de organizaccedilatildeo e para o fazerem a dotarem-se de estruturas
poliacuteticas educacionais de comunicaccedilatildeo e de administraccedilatildeo puacuteblica proacuteprias em quadros
poliacuteticos diferentes Considerando tambeacutem a Declaraccedilatildeo Final da Assembleia Geral da
Federaccedilatildeo Internacional de Professores de Liacutenguas Vivas aprovada em Peacutecs (Hungria) em 16
de Agosto de 1991 recomenda-se tambeacutem que os direitos linguiacutesticos sejam consagrados
direitos fundamentais
Neste contexto Nascimento (2009 p 25) pontua
Como princiacutepio eacutetico qualquer poliacutetica de liacutenguas deveraacute trabalhar a unidade e a
diversidade Natildeo se trata de poacutelos de contradiccedilatildeo mas de eixos de transiccedilatildeo A
unidade eacute uma razatildeo do Estado e a diversidade ou variedade eacute a mateacuteria linguiacutestica
proacutepria da comunidade pois reflete a liacutengua em uso ou seja as linguagens verbais
por meio das quais os indiviacuteduos se comunicam A unidade eacute resguardada pelo
padratildeo oficializado em um modelo de gramaacutetica e a variedade se faz representar nas
diversas gramaacuteticas praacuteticas e pragmaacuteticas de um Estado linguiacutestico
Quadros e Karnopp (2004) ainda explicam que a linguiacutestica parte de pressupostos
baacutesicos que determinam as investigaccedilotildees Sendo um dos mais importantes eacute de que a
linguagem eacute restringida por determinados princiacutepios ou seja ldquoregrasrdquo que fazem parte do
conhecimento humano das liacutenguas (falada ou sinalizada) da formaccedilatildeo de palavras da
construccedilatildeo das sentenccedilas e da construccedilatildeo dos textos A partir deste pressuposto da
universalidade de tais princiacutepios as investigaccedilotildees linguiacutesticas objetivam estudar os aspectos
especiacuteficos de cada liacutengua os quais revelam as caracteriacutesticas da linguagem humana A
exemplo o inglecircs o portuguecircs a Liacutengua de Sinais Americana a Liacutengua Brasileira de Sinais
e outras Embora apresentem diferenccedilas entre as liacutenguas agraves estruturas satildeo comuns que por
sua vez interessam agraves investigaccedilotildees linguiacutesticas na medida em que eacute a ciecircncia que objetiva
por explicar a natureza da linguagem humana
A partir dessas concepccedilotildees entendemos que os seres humanos estabelecem relaccedilotildees
do mais simples ao mais complexo com o outro por meio de gestos olhares e contato seja
por meio de sons Tudo isso caracteriza a linguagem humana Observa-se que a ldquolinguagemrdquo
20
eacute um termo usado pelas pessoas com referecircncia agrave linguagem em geral ou seja em uma
variedade de sentidos para denominar sistemas de comunicaccedilatildeo linguagem musical
linguagem corporal linguagem entre animais etc
No que concerne agrave definiccedilatildeo do termo liacutengua Quadros e Karnopp (2004) encontraram
uma seacuterie de definiccedilotildees de liacutengua que apontam para sua diferenciaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao termo
linguagem Estas fornecem subsiacutedios para a indicaccedilatildeo de propriedades consideradas pela
linguiacutestica essenciais agraves liacutenguas naturais sendo que uma delas eacute dada por Saussure que
afirma
Liacutengua natildeo se confunde com a linguagem eacute somente uma parte determinada
essencial dela indubitavelmente Eacute ao mesmo tempo um produto social da
faculdade de linguagem e um conjunto de convenccedilotildees necessaacuterias adotadas pelo
corpo social para permitir o exerciacutecio dessa faculdade nos indiviacuteduos (QUADROS e
KARNOPP 2004 p24)
Portanto entende-se como liacutengua natural
uma liacutengua que foi criada e eacute utilizada por uma comunidade especiacutefica de usuaacuterios
transmitida de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo e que muda ndash tanto estrutural como
funcionalmente ndash com o passar do tempo Ora qualquer liacutengua pode ser considerada
natural independentemente da modalidade que utilize (SAacute 2006 p 134)
Assim a liacutengua natural eacute tratada enquanto sistema linguiacutestico altamente desenvolvido
apresentando as caracteriacutesticas citadas por Quadros e Karnopp (2004 p 25-28) de
flexibilidade versatilidade arbitrariedade descontinuidade criatividade produtividade dupla
articulaccedilatildeo padratildeo de organizaccedilatildeo dos elementos e dependecircncia estrutural Logo conclui-se
que tais caracteriacutesticas satildeo especiacuteficas da faculdade da linguagem humana
11 Liacutengua de Sinais como Liacutengua Natural
A Liacutengua de Sinais eacute uma liacutengua natural criada pelas comunidades surdas Segundo
Skliar (1998 p26) ldquoTodas as crianccedilas surdas podem adquirir a Liacutengua de Sinais desde que
participem das interaccedilotildees quotidianas com a comunidade surda como acontece com qualquer
outra crianccedila na aquisiccedilatildeo de uma liacutengua naturalrdquo Skliar esclarece que liacutengua ldquonaturalrdquo natildeo
se refere a uma espontaneidade bioloacutegica mas como liacutengua que foi criada e eacute utilizada por
uma comunidade especiacutefica de usuaacuterios que transmite de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo e que muda com
o passar do tempo tanto estruturalmente como funcionalmente (IDEM p27)
As Liacutenguas de Sinais satildeo diferentes em cada comunidade com caracteriacutesticas das
liacutenguas orais com estruturas gramaticais proacuteprias que as distingue dos demais sistemas de
21
comunicaccedilatildeo Para Quadros e Karnopp (2004 p 30) ldquoAs liacutenguas de sinais satildeo portanto
consideradas pela linguiacutestica como liacutenguas naturais ou como um sistema linguiacutestico legiacutetimo e
natildeo como um problema do surdo ou como uma patologia da linguagemrdquo7
Para o reconhecimento das Liacutenguas de Sinais como liacutenguas naturais Ramos (2013 p
8) destaca o conceito ldquonaturalrdquo em oposiccedilatildeo a ldquocoacutedigo e linguagemrdquo e a avaliaccedilatildeo apresenta
as semelhanccedilas existentes entre as mesmas e as liacutenguas orais Sendo que uma dessas
semelhanccedilas na linha saussuriana eacute a ldquoexistecircncia de unidades miacutenimas formadoras de
unidades complexas pode ser observada em todas as Liacutenguas de Sinais espalhadas pelo
mundo possuidoras dos niacuteveis fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico e pragmaacuteticordquo
As liacutenguas de sinais apresentam ldquoregistros diversos (por categoria profissional status social
idade niacutevel escolar etc) aleacutem de dialetos regionais tambeacutem referendam as semelhanccedilas com
as liacutenguas oraisrdquo (IDEM p 8)
Estudos aprofundados sobre a Liacutengua de Sinais iniciaram a partir da deacutecada de 1950
com o estudioso da linguiacutestica o americano William Stokoe o qual percebeu e provou que a
Liacutengua de Sinais
[] satisfazia todos os criteacuterios linguiacutesticos de uma liacutengua genuiacutena no leacutexico na
sintaxe na capacidade de gerar um nuacutemero infinito de proposiccedilotildees [] Stokoe
convenceu-se de que os sinais natildeo eram figuras e sim complexos siacutembolos abstratos
com uma estrutura interna complexa Foi entatildeo o primeiro a buscar uma estrutura a
analisar os sinais dissecaacute-los procurar as partes constituintes Desde o comeccedilo ele
tentou demonstrar que cada sinal possuiacutea pelo menos trecircs partes independentes ndash
7 Sobre a surdez temos duas abordagens segundo explica Skliar a cliacutenico terapecircutica e a soacutecio-antropoloacutegica
A visatildeo soacutecioantropoloacutegica descreve a surdez em termos contraacuterios agraves noccedilotildees de patologia e de deficiecircncia
(1998 p10) Durante o seacuteculo passado construi-se o imaginaacuterio de que o surdo era um deficiente que
necessitava falar Segundo Casarin (1996 p2) ldquoNesse discurso deacuteficit doenccedila patologia anomalia implicam
apenas a possibilidade de sequumlecircncia diagnoacutestico tratamento-cura caracteriacutesticas da abordagem meacutedicardquo [] Tal
concepccedilatildeo influecircnciou outras aacutereas do conhecimento inclusive na educaccedilatildeo sobre a forma de perceber o surdo
Cesarian ainda explica que a partir daiacute foram assimilando o imaginaacuterio de que a surdez era uma doenccedila e que o
surdo por natildeo falar era um deficiente que precisava ser curado construindo entre as aacutereas de tratamento um
modelo terapecircutico para o deficiente auditivo Apoacutes as influecircncias da medicina na educaccedilatildeo dos surdos o
modelo cliniacuteco-terapecircutico passa a impor propostas educativas do oralismo dando continuidade agora na aacuterea
educacional ao tratamento do deficiente o mais cedo possivel na escola a fim que ele se enquadre ao modelo
normal modelo ouvinte Logo as escolas apresentavam como instituiccedilotildees de reeducaccedilatildeo da fala desenvolvendo
atividades pedagoacutegicas que tinham como objetivo o treinamento e exerciacutecios com fins a trazer o surdo o mais
possiacutevel do ldquonormalrdquo Perde-se assim muito tempo no processo de ensino aprendizado do sujeito surdo levando
a um fracasso escolar Surge entatildeo a nova concepccedilatildeo nomeada como soacutecio-antropoloacutegica de surdez totalmente
oposta agrave anterior Essa concepccedilatildeo parte das capacidades do sujeito quando considera a liacutengua de sinais como
melhor garantia para o desenvolvimento normal do surdo Esta nova concepccedilatildeo traz a valorizaccedilatildeo da lingua de
sinais e como consequecircncia o reconhecimento das especificidade culturais das comunidades surdas Estudos
feitos por linguiacutesticas observaram o desempenho escolar de pessoas surdas que se comunicam desde a infacircncia
por meio da Liacutengua de Sinais e que demostraram ganhos significativos em divesas aacutereas do desenvolvimento
humano Deixando claro a necessidade do uso da Liacutengua de Sinais como liacutengua natural da pessoa surda (1996
p 3)
22
localizaccedilatildeo configuraccedilatildeo das matildeos e movimento executado (anaacuteloga aos fonemas
da fala) ndash e que cada parte apresentava um nuacutemero limitado de combinaccedilotildees []
(SACKS 1998 p 88-89)
Segundo Ramos (2013 p 9) em 1988 o venezuelano Saacutenchez fez pesquisas sobre as
liacutenguas de sinais e os resultados apresentou ao educador francecircs Jean Foucambert No debate
sobre suas pesquisas ldquosurgiu agrave proposta de um tipo de educaccedilatildeo que privilegiasse a liacutengua
natural da comunidade surda - a Liacutengua de Sinais Venezuelana e a escrita da liacutengua da
comunidade oral o Espanholrdquo Um dos primeiros princiacutepios que lanccedilou a base para a que a
liacutengua de sinais fosse reconhecida como liacutengua natural foi descrita por Foucambert (RAMOS
2013 p 10)
Natildeo soacute os surdos mas toda e qualquer crianccedila pode aprender a liacutengua escrita sem
basear-se na oral porque satildeo independentes Em segundo lugar chegou-se agrave
afirmaccedilatildeo de que a liacutengua de sinais eacute uma liacutengua natural e que os surdos satildeo uma
comunidade linguiacutestica minoritaacuteria com direito a desenvolver sua cultura proacutepria
dentro da cultura majoritaacuteria O fato de a Liacutengua de Sinais cumprir uma seacuterie de
requisitos que todas as liacutenguas naturais possuem - espanhol portuguecircs alematildeo
inglecircs polonecircs a criatividade eacute um deles - pode-se sempre dizer alguma coisa
nova Outro requisito eacute a combinaccedilatildeo de partiacuteculas natildeo significativas que usadas de
certa maneira criam significaccedilatildeo [] Com 30 40 configuraccedilotildees da matildeo podem-se
transmitir milhares de sinais significativos como os fonemas da liacutengua oral A
liacutengua de sinais que como as liacutenguas nacionais eacute diferente em cada paiacutes e ateacute em
regiotildees dos paiacuteses possui aleacutem do mais uma gramaacutetica toda proacutepria organizada e
complexa e nos permite transmitir qualquer coisa [] Com ela pode-se transmitir
criar e recriar o que se quiser poesia romance filosofia E pode-se ateacute formular
ideacuteias com duplo sentido ou mentir que eacute outra caracteriacutestica das liacutenguas naturais
Por meio das pesquisas e estudos diversos paiacuteses passaram a se dedicar no campo da
linguiacutestica da Liacutengua de Sinais eacute que criou-se a possibilidade do povo surdo lutar pelo seu
reconhecimento enquanto liacutengua na medida em que pode contar com estudos que provam
cientificamente de que as Liacutenguas de Sinais satildeo de fato liacutenguas e natildeo um conjunto de
miacutemica
12 Liacutengua Brasileira de Sinais
O ser humano se expressa atraveacutes da liacutengua e a partir dela estabelece sua cultura
valores e padrotildees sociais Para os surdos brasileiros a Libras estabelece essas condiccedilotildees pois
considera a modalidade visual-espacial e associa caracteriacutesticas sociolinguiacutesticas as funccedilotildees
pragmaacuteticas e discursivas semelhantes agraves liacutenguas orais poreacutem a Liacutengua de Sinais por muito
tempo natildeo foi percebida enquanto estrutura linguiacutestica
23
A LIBRAS como toda Liacutengua de Sinais eacute uma liacutengua de modalidade gestual-visual
uma vez que faz uso para a comunicaccedilatildeo de movimentos gestuais e expressotildees faciais
percebidos pela visatildeo Neste sentido a Revista Feneis Ramos (2002 apud RAMOS 2013 p
7-8) ldquoa Liacutengua Portuguesa eacute uma liacutengua de modalidade oral-auditiva por utilizar como canal
ou meio de comunicaccedilatildeo sons articulados que satildeo percebidos pelos ouvidosrdquo Suas diferenccedilas
estatildeo na utilizaccedilatildeo de canais diferentes e nas estruturas gramaticais de cada liacutengua
Para Campello (2009) historicamente os primeiros estudos da Liacutengua de Sinais
apareceram no seacuteculo XIV exatamente nos anos de 1644 pelo inglecircs Bulwer J B com o livro
de Liacutengua de Sinais Inglesa Chirologia8 on the natural language of the hand com os estudos
destacando as figuras das matildeos e seus significados Menciona tambeacutem que era recompensa
de natureza que os surdos devam se comunicar atraveacutes dos gestos e acreditava firmemente na
ldquonecessidade que opera a Natureza dos homens que nascem Surdos-Mudos que podem
discutir mostrar sinalizar retoricamente por sinaisrdquo (p 13)
Em 1960 W C Stokoe pesquisador inglecircs da Gallaudet University fez uma pesquisa
entre as gramaacuteticas utilizadas pelos surdos em sala de aula e fora dela e os resultados foram
publicados no artigo Sign Language Structure na outline of the visual communication system
of the American Deaf na revista Studies in Linguistics Occassional Papers 8 (CAMPELLO
2009) E eacute a partir destes estudos que Stokoe afirma que a Liacutengua de Sinais eacute liacutengua
Stokoe (1960) ldquopercebeu e comprovou que a liacutengua de sinais atendia a todos os
criteacuterios linguiacutesticos de uma liacutengua genuiacutena no leacutexico na sintaxe e na capacidade de
gerar uma quantidade infinita de setenccedilasrdquo Stokoe observou que os sinais natildeo eram
imagens mas siacutembolos abstratos complexos com uma complexa estrutura interior
[] Comprovou inicialmente inicialmente que cada sinal apresentava pelo menos
trecircs partes independentes (em analogia com os fonemas da fala) ndash a localizaccedilatildeo a
configuraccedilatildeo de matildeos e o movimento ndash e que cada parte possuiacutea um nuacutemero
limitado de combinaccedilotildees [] (QUADROS E KARNOPP 2004 p 30-31)
Os estudos do linguiacutesta representou o primeiro passo para outras pesquisas em relaccedilatildeo
a Liacutengua de Sinais Em diversos paiacuteses pesquisas foram realizadas O Brasil foi um deles
No Brasil no final dos anos de 1970 a proposta da educaccedilatildeo biliacutengue reconhece a
Libras como liacutengua natural portanto deve ser ensinada como primeira liacutengua desde o iniacutecio
da escolarizaccedilatildeo da crianccedila surda e a comunidade surda reconhece o portuguecircs como a liacutengua
oficial do Brasil e deve ser ensinada como segunda liacutengua na forma oral ou escrita
(SLOMSKI 2010)
8 Bulwer (1644) em seu livro esclarece que a quirologia eacute um dicionaacuterio de gestos manuais e quirema eacute um
manual para o uso efetivo do gesto de falar em puacuteblico
24
Segundo Quadros (2009 p144) no entanto a Liacutengua de Sinais comeccedilou a ser
investigada efetivamente nas deacutecadas de 80 e 90 por Ferreira Brito (1986 1995) Felipe
(1992 1993) Quadros (1995 1999) e a aquisiccedilatildeo da Liacutengua Brasileira de Sinais nos anos 90
(Karnopp (1994 1999 Quadros (1995 1997)
Na deacutecada de 1980 a 1990 tem-se um panorama mundial para a abordagem biliacutengue
na educaccedilatildeo de surdos Slomski (2010 p 61) destaca que em 1994 Lucinda Ferreira Brito
passa a utilizar a abreviaccedilatildeo de LIBRAS (Liacutengua Brasileira de Sinais) criada pela comunidade
surda Consequentemente pesquisas estudos e lutas da comunidade surda contribuiacuteram para a
instauraccedilatildeo de uma poliacutetica linguiacutestica da Liacutengua Brasileira de Sinais A que reconhece o
estatuto linguiacutestico legal por meio da Lei 10436 de 24042002
Art 1ordm Eacute reconhecida como meio legal de comunicaccedilatildeo e expressatildeo a Liacutengua
Brasileira de Sinais ndash Libras e outros recursos de expressatildeo e por ela associados
Paraacutegrafo uacutenico Entende-se como Liacutengua Brasileira de Sinais ndash Libras a forma e
comunicaccedilatildeo e expressatildeo em que o sistema linguiacutestico de natureza visual-motora
com estrutura gramatical proacutepria constituem um sistema linguiacutestico de transmissatildeo
de ideias e fatos oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil
[](BRASIL 2007 p 2)
A Liacutengua de Sinais como jaacute mencionado eacute uma liacutengua natural composta por de todos
os componentes agraves liacutenguas orais como gramaacutetica semacircntica pragmaacutetica sintaxe e outros
elementos preenchendo os requisitos cientiacuteficos para ser considerado um sistema linguiacutestico
Conforme Felipe e Monteiro (2004 p23) as Liacutenguas de Sinais satildeo compostas por
signos linguiacutesticos denominados bdquosinais‟ encontrados nos seguintes paracircmetros
Configuraccedilatildeo das Matildeos Ponto de Articulaccedilatildeo Movimento Orientaccedilatildeo Expressatildeo Facial eou
Corporal Estes paracircmetros satildeo requisitos necessaacuterios para que sejam constituiacutedos os sinais
Portanto a Liacutengua de Sinais eacute considerada como liacutengua natural do sujeito surdo
como sua primeira liacutengua-L1 Jaacute a liacutengua majoritaacuteria de um paiacutes no caso do Brasil eacute a
Liacutengua Portuguesa como L2 Partindo do pressuposto que a Liacutengua de Sinais eacute a primeira
liacutengua do surdo a aquisiccedilatildeo da primeira liacutengua pelas crianccedilas surdas deve se dar de forma
natural no contato com surdos sinalizados pertencentes agrave comunidade surda A Liacutengua
Portuguesa por sua vez eacute aprendida de forma sistemaacutetica ou seja precisa ser ensinada por
meio de teacutecnicas especiacuteficas de ensino de segunda liacutengua
A partir desta compreensatildeo as crianccedilas surdas precisam ter a oportunidade do contato
com seus pares Crianccedilas surdas que natildeo tecircm um conviacutevio com surdos por terem nascido
dentro de familias ouvintes que usam a liacutengua oral precisam que os pais familiares
25
oportunizem a elas o mundo essencialmente visual-espacial para conhecer a Liacutengua de
Sinais Sobre a questatildeo Quadros (2005 p30) afirma
As crianccedilas surdas e seus pais ouvintes poderiam compartilhar o bilinguismo liacutengua
portuguesa e liacutengua de sinais brasileira e ir aleacutem descobrindo os vieses das culturas
e identidade que se entrecruzam [] Assim as crianccedilas surdas precisam ter acesso
agrave liacutengua de sinais com sinalizantes fluentes desta liacutengua muito cedo Estes
sinalizantes satildeo pessoas que normalmente natildeo fazem parte do ciacuterculo de pessoas
que a crianccedila usualmente teria contato Os pais teratildeo que conhecer comunidade
surda que usa esta liacutengua
Nesta perspectiva Souza (apud QUADROS 2005) menciona que se no iniacutecio do seu
desenvolvimento a crianccedila surda tiver a chance de contar com pais dispostos a aprenderem a
liacutengua de sinais com adultos surdos colegas surdos e conversarem ldquosinalizandordquo a
dimensatildeo do seu processo educacional seraacute outra A aquisiccedilatildeo da liacutengua seraacute transferida para
o espaccedilo escolar ldquoO fato de passar a ter contato com a liacutengua portuguesa com significado
trazendo seus conceitos adquiridos na sua proacutepria liacutengua possibilitaraacute um processo muito
mais significativordquo (ibid p33)
Por isso eacute de importacircncia fundamental a crianccedila surda esteja em contato linguiacutestico
com a liacutengua de sinais o mais cedo possiacutevel seja com a comunidade surda ou com seus pais
ouvintes que adquiriram a Liacutengua de Sinais como L2 Estes fatores iratildeo influenciar a crianccedila
estabelecer a sua identidade e cultura surda naturalmente Neste sentido Fantinel (1999 p2)
menciona que ldquoo uso da Liacutengua de Sinais eacute uma condiccedilatildeo fundamental na construccedilatildeo da
identidade dessas pessoas pois eacute o fator que os aproxima e reuacutene em grupos permitindo-lhes
expressarem-se construindo significados para a vidardquo
A Liacutengua de Sinais portanto eacute um aspecto fundamental da cultura surda Para tanto
Strobel (2008 p44) ainda enfatiza que para que o sujeito surdo possa ter acesso agraves
informaccedilotildees e conhecimentos aleacutem de construir sua identidade eacute fundamental criar uma
ligaccedilatildeo com o povo surdo que usa a sua liacutengua em comum pois a Liacutengua de Sinais eacute uma das
principais marcas da identidade de um povo surdo uma particularidade da cultura surda uma
forma de comunicaccedilatildeo que capta as experiecircncias visuais dos sujeitos surdos E somente a
partir do uso desta liacutengua que a crianccedila conseguiraacute seu pleno desenvolvimento cognitivo
psicoloacutegico emocional e cultural proporcionando assim a aquisiccedilatildeo do conhecimento
universal
Desta forma ao refletirmos sobre a pessoa surda na construccedilatildeo de sua identidade e
cultura surda entende-se que o contato linguiacutestico eacute essencial Logo o que dizer das pessoas
26
surdas que vivem isoladas de comunidades surdas que natildeo tem esse contato com Liacutengua de
Sinais Sobre esta realidade Strobel esclarece que
No entanto incluem tambeacutem os gestos denominados ldquosinais emergentesrdquo ou ldquosinais
caseirosrdquo dos sujeitos surdos de zonas rurais ou sujeitos isolados de comunidades
surdas que procuram entender o mundo atraveacutes dos experimentos visuais e que
procuram comunicar apontando e criando sinais [] (ibidem p44)
Ainda sobre a questatildeo Vilhalva (2012 p 30) ressalta que ldquo[] Os sinais emergentes
tambeacutem conhecidos como sinais caseiros satildeo essenciais quando vistos como comunicaccedilatildeo
natural usada em um espaccedilo familiar ou social []rdquo Nesse caso podemos referir ao iacutendio
surdo que vive isolado do contato com a comunidade surda Este surdo tambeacutem se identifica
com o povo surdo apesar de natildeo ter contato e de natildeo pertencer agraves mesmas comunidades
surdas na medida em que de acordo com Strobel (2008) eles compartilham as mesmas
peculiaridades ou seja constroem sua formaccedilatildeo de mundo atraveacutes de artefato cultural visual
13 Liacutenguas de Sinais Indiacutegenas pesquisadas no Brasil
Os registros da existecircncia de iacutendios surdos segundo Vilhalva (2008) apontam para o
Estatuto do Iacutendio - Lei nordm 6001 de 19121973 que norteou as relaccedilotildees do Estado brasileiro
com as populaccedilotildees indiacutegenas ateacute a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 em seu Paraacutegrafo
uacutenico do Art 1ordm assegura
Aos iacutendios e agraves comunidades indiacutegenas se estende a proteccedilatildeo das leis do Paiacutes nos
mesmos termos em que se aplicam aos demais brasileiros resguardados os usos
costumes e tradiccedilotildees indiacutegenas bem como as condiccedilotildees peculiares reconhecidas
nesta Lei
Neste sentido no Brasil a liacutengua oficial eacute a Liacutengua Portuguesa Fossile (2013 p 4)
afirma que ldquoo paiacutes conta atualmente segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatiacutestica (IBGE) com aproximadamente 210 liacutenguas sendo 190 delas indiacutegenasrdquo Essas
liacutenguas indiacutegenas satildeo consideradas como liacutenguas minoritaacuterias sem importacircncia em relaccedilatildeo ao
portuguecircs No entanto algumas possuem mais prestiacutegio em relaccedilatildeo agraves outras
Em relaccedilatildeo ao conhecimento da liacutengua e da diversidade na dinacircmica soacutecio-cultural das
populaccedilotildees indiacutegenas deveria haver prioridades para estudos no campo linguiacutestico para
acadecircmicos e pesquisadores indios De fato o conhecimento das liacutenguas faladas e no
contexto tem-se essa diversidade para iacutendios surdos deveria ser compartilhada com a
27
sociedade indiacutegena de forma que esta possam participar ativamente na elaboraccedilatildeo de poliacuteticas
e programas que respondam agraves suas necessidades seus direitos considerando-se em particular
suas culturas e liacutenguas
Segundo Vilhalva (2008) pesquisas no campo da linguiacutestica e de poliacuteticas linguiacutesticas
avanccedilaram consideravelmente no Brasil Tendo poreacutem ainda uma grande necessidade de
maiores pesquisas principalmente referente a diferentes Liacutenguas de Sinais pertencentes a
diferentes comunidades como as dos povos indiacutegenas Neste sentido a autora argumenta
A Liacutengua de Sinais Indiacutegenas praticadas pelos iacutendios surdos existentes em diversas
comunidades indiacutegenas do paiacutes traz consigo caracteriacutesticas culturais e linguiacutesticas
variadas bdquoInfelizmente raramente satildeo registradas como satildeo registradas outras liacutenguas
brasileiras de diferentes comunidades com suas especificidades culturais e eacutetnicas ‟
(VILHALVA 2008 p 29)
Sobre a questatildeo Nonaka coloca que
desde 1960 quando se iniciaram os estudos linguiacutesticos e antropoloacutegicos em
referecircncia agraves Liacutenguas de Sinais a maior parte das investigaccedilotildees tem incidido sobre
as Liacutenguas de Sinais nacionais ou padratildeo usadas pelos surdos de diferentes paiacuteses
com escassa atenccedilatildeo agraves Liacutenguas de Sinais usadas pelos indiacutegenas em sua
comunicaccedilatildeo original (apud VILHALVA 2012 p 30)
Por isso Vilhalva defende a comunicaccedilatildeo dos iacutendios surdos como objeto de estudo da
linguiacutestica afirmando que
[] Sabemos tambeacutem que a Libras estaacute presente nas terras indiacutegenas
apontando que a influecircncia aconteceraacute Sendo assim consideramos quanto o leacutexico
das liacutenguas estaacute no processo de mudanccedilas atraveacutes do neologismo espontacircneo ou o
empreacutestimo linguiacutestico de outras liacutenguas (ibid p37)
Observa-se que os estudos sobre a Libras nas terras indiacutegenas comeccedilaram na deacutecada
de 1980 com pesquisas da brasileira Lucinda Ferreira Brito sobre a Liacutengua Brasileira de
Sinais Segundo Slomski (2010) Lucinda Ferreira Brito iniciou sua pesquisa atraveacutes de um
padratildeo internacional de abreviaccedilatildeo das Liacutenguas de Sinais adotando a sigla LSCB ndash Liacutengua de
Sinais dos Centros Urbanos Brasileiros para diferenciaacute-la da LSKB ndash Liacutengua de Sinais
Kaapor Brasileiros que eram a utilizada pelos iacutendios do Estado do Maranhatildeo
Diante do panorama exposto se faz necessaacuterio no campo da linguiacutestica dos estudos
surdos pesquisas sobre a Liacutengua de Sinais usadas pelos iacutendios surdos nas diferentes
comunidades indiacutegenas para que seja reconhecida e registrada Infelizmente somente uma
28
liacutengua indiacutegena eacute oficialmente reconhecida no Brasil a Liacutengua de Sinais Indiacutegena da
comunidade Urubu-Kaapor devido ao alto iacutendice de surdos
131 Liacutengua de Sinais Urubu-Kaapor
Os resultados do Censo 2010 (IBGE 2013) apontam para 274 liacutenguas indiacutegenas
faladas por indiviacuteduos pertencentes a 305 etnias diferentes Embora haja a necessidade de
estudos linguiacutesticos e antropoloacutegicos mais aprofundados quanto aos nuacutemeros totais de liacutengua
e etnia
Dentro desse universo a uacutenica Liacutengua de Sinais indiacutegena reconhecida conforme
referido anteriormente eacute a utilizada pela etnia indiacutegena brasileira dos Urubu-Kaapor9
chamados tambeacutem por urubus-caapores Os estudos sobre essa Liacutengua de Sinais apontam para
o iniacutecio da deacutecada de 1950
De acordo com Ribeiro (1996 apud FASSILE 2013 p 2)
Em 1950 foi descoberto no Brasil um grupo indiacutegena atraveacutes de pesquisas
antropoloacutegicas os Urubu-Kaapor na floresta Amazocircnica (Maranhatildeo) que falava
uma variaccedilatildeo da liacutengua de sinais Somente a partir da deacutecada de 1980 estudos
linguiacutesticos relacionados agrave Liacutengua de Sinais Kaapor Brasileira (LSKB) foram
aprofundados (sobre a LSKB cf KAKUMASU J KAKUMASU K 1977)
Segundo Brito (1993 apud FASSILE 2013 p 2) J Kakumasu defendeu que ldquo[] a
Liacutengua de Sinais dos Urubu-Kaapor [] [se constituiacutea como] um veiacuteculo de comunicaccedilatildeo
intratribal e natildeo como meio de transaccedilatildeo comercialrdquo Neste sentido resgata-se que
No Brasil Lucinda Brito inicia seus importantes estudos linguiacutesticos em
1982 sobre a Liacutengua de Sinais dos iacutendios Urubu-Kaapor da floresta amazocircnica
brasileira apoacutes um mecircs de convivecircncia com os mesmos documentando em filme
sua experiecircncia A ideia para a pesquisa adveio da leitura de um artigo publicado no
livro de Umiker-Sebeok (1978) de autoria de J Kakumasu Urubu Sign Language
No estudo a Liacutengua de Sinais dos Urubu-Kaapor se diferenciaria da PSL por
constituir um veiacuteculo de comunicaccedilatildeo intratribal e natildeo como meio de transaccedilatildeo
comercial Lucinda Brito poreacutem constatou que a mesma se tratava de uma legiacutetima
Liacutengua de Sinais dos surdos pelos mesmos criados
O interessante de se observar no caso dos Urubu-Kaapor eacute que os ouvintes da
aldeia falam a Liacutengua de Sinais e a liacutengua oral evidentemente enquanto que os
surdos se restringem agrave Liacutengua de Sinais Assim os ouvintes da aldeia se tornam
biliacutengues enquanto os surdos se mantecircm monoliacutengues (RAMOS 2011 p 6)
9 Disponiacutevel emlthttpwwwlibrascombrurubu-kaaporgt Acesso em 19112013
29
A Liacutengua Kaapor eacute uma liacutengua da famiacutelia Tupi-Guarani natildeo falada por outra tribo ou
povo exceto como segunda liacutengua Possuem uma liacutengua de sinais proacutepria (a Liacutengua Brasileira
de Sinais Kaapor) usada tanto pela comunidade surda do povo como tambeacutem por seus
membros natildeo surdos na comunicaccedilatildeo com os surdos
[] os Kaapor satildeo linguisticamente peculiares na Amazocircnia por terem uma
linguagem padratildeo de sinais usada para a comunicaccedilatildeo com os surdos que ateacute a
metade dos anos 80 compunham cerca de 2 da totalidade de sua populaccedilatildeo A
incidecircncia de surdez deveu-se evidentemente agrave bouba neonatal e endecircmica que foi
erradicada10
O interessante eacute que a comunidade indiacutegena desenvolveu uma forma proacutepria de
comunicaccedilatildeo por sinais que comeccedilou a ser estudada na deacutecada de 1960 pelo pesquisador
canadense James Kakumasu em (1968) e em seguida pela linguista brasileira Linguista
Lucinda Ferreira Brito ldquo[] A Liacutengua de Sinais Brasileira para diferenciaacute-la da LSKB
(Liacutengua de Sinais Kaapor Brasileira) utilizados pelos iacutendios Urubu-Kaapor no Estado do
Maranhatildeordquo (GOLDFELD 1997 p 30) A pesquisadora registrou a existecircncia da Liacutengua de
Sinais Kaapor em sua pesquisa sobre termos baacutesicos para cores em Liacutengua de Sinais
132 Liacutengua de Sinais Emergentes
Vilhalva (2012) se preocupou sobre a situaccedilatildeo linguiacutestica dos iacutendios surdos trazendo
grandes contribuiccedilotildees cientiacuteficas na aacuterea da linguiacutestica referente agraves Liacutenguas de Sinais
Indiacutegenas Sua pesquisa iniciou em 1991 com iacutendios surdos na comunidade indiacutegena de Satildeo
Marcos
O estudo dos sinais emergentes que se deseja apresentar objetiva natildeo apenas
recuperar os registros sobre as liacutenguas padratildeo mas tambeacutem e sobretudo procurar
realizar um levantamento de como se apresenta atualmente o uso desses sinais
emergentes e ateacute mesmo da histoacuteria da produccedilatildeo desses sinais para que se possa
fazer o registro cientifico sobre a situaccedilatildeo linguiacutestica dos iacutendios surdos dentro das
escolas indiacutegenas [] (VILHALVA 2012 p11a)
Souza e Segala (2009 p28) abordam que a maior parte das liacutenguas nasceu do
contato entre duas ou mais liacutenguas ou de uma liacutengua e sistemas de sinais caseiros (Liacutengua de
Sinais Primaacuteria) Observa-se que ldquosinais caseiros ou Liacutengua de Sinais Primaacuterios
correspondentes aos gestos ou construccedilatildeo simboacutelica inventadas no acircmbito familiar eacute comum
10
Disponiacutevel emlthttppibsocioambientalorgptpovokaaporgt Acesso em 19112013
30
a constituiccedilatildeo de um sistema convencional de comunicaccedilatildeo entre matildee-ouvinte e crianccedila
surdardquo
Sobre a origem dos sinais emergentes Vilhalva explica que
[] os sinais emergentes foram criados devido a uma necessidade de comunicaccedilatildeo
passando por sinais indicativos icocircnicos e arbitraacuterios A maneira como cada sinal
surge levam tempo para se entender principalmente quando os sinais satildeo criados
conforme o neologismo11
Esses novos sinais passam a fazer parte da comunicaccedilatildeo
para depois designar algo consistentemente como acontece tambeacutem agraves liacutenguas
orais-auditivas (2012 p137-138)
Desta forma a autora em sua pesquisa argumenta que os sinais emergentes
considerados em seu estudo como Liacutengua de Sinais constituem como o meio de
comunicaccedilatildeo primaacuteria dos iacutendios surdos das comunidades indiacutegenas do Mato Grosso do Sul
Partindo deste achado Rousseau jaacute mencionava em seus estudos ldquoEnsaio sobre a origem das
liacutenguasrdquo que
O uso e a necessidade ensinam a cada um a liacutengua de seu paiacutes mas o que eacute que faz
com que essa liacutengua seja a de seu proacuteprio paiacutes e natildeo a de um outro [] No
momento em que um homem foi reconhecido por um outro como um ser sensiacutevel
pensante e semelhante a ele o desejo ou a necessidade de comunicar-lhe os proacuteprios
sentimentos e os proacuteprios pensamentos fez com que procurasse os meios de fazecirc-lo
(2008 p 97)
Assim o primeiro contato do ser humano eacute com o outro da mesma espeacutecie No caso da
matildee com seu filho Conforme Sacks (1998 p 7) comenta que
[] a primeira comunicaccedilatildeo geralmente se daacute entre matildee e filho e a liacutengua eacute
adquirida emerge entre eles dois Sendo assim Os sinais emergentes tambeacutem satildeo
fruto da linguagem num processo visual usados pelos surdos indiacutegenas e seus
familiares ouvintes na interaccedilatildeo com o meio (VILHALVA 2012 p 137)
Vilhalva (2012) entatildeo percebeu a predominacircncia dos gestos caseiros criados pelos
proacuteprios surdos para interagirem com suas famiacutelias e com as pessoas que os rodeiam Ou
seja a crianccedila surda que nasce na famiacutelia de ouvinte comeccedila a criar a partir de um meio de
comunicaccedilatildeo visual usando todas as formas naturais possiacuteveis desde o apontamento ateacute os
gestos naturais O uso que destes sinais criados pelas necessidades do ambiente familiar com
o passar do tempo vatildeo se convencionando a forma de interaccedilatildeo dialoacutegica passando a
transformar-se em um meio de comunicaccedilatildeo essencial resultando assim no processo
11
Satildeo palavras criadas para designar novas situaccedilotildees novos conceitos fatos objetos etc sendo que um
neologismo soacute eacute sentido como tal durante algum tempo pois passados anos ou seacuteculos deixa de ter sentido
como tal porque a realidade que ele designa jaacute natildeo eacute nova
31
evolutivo dos sinais familiares para os sinais emergentes para transiccedilatildeo para a Liacutengua de
Sinais ou seja arbitraacuteria convencional Esse processo se daacute por meio do processo cognitivo
fundamentada na teoria de Cuxac
Construccedilatildeo do dizer a partir do processo criativo de performance gestual Iconizando
da experiecircncia perceptivo-praacutetica Rotinas de Transferecircnciandashpassagem da ilustraccedilatildeo
especifica para a categorizaccedilatildeo geneacuterica Sinais estabelecidos num grupo reduzido
categorias e generalizaccedilotildees dos sinais gestuais Nasce uma liacutengua de Sinais com
todas as propriedades de uma liacutengua (apud VILHALVA 2012 p138)
Vilhalva (2012) ainda destaca que se observarmos a Lei nordm 10436 de 24 de abril de
2002 vamos verificar que em seu artigo primeiro ldquoficam reconhecidos como meio legal de
comunicaccedilatildeo e expressatildeo a Liacutengua Brasileira de Sinais-Libras ndash e outros recursos de
expressatildeo a ela associadosrdquo Nesses bdquooutros recursos‟ podem figurar segundo compreensatildeo
da mesma os sinais emergentes produzidos nas comunidades indiacutegenas Se a Liacutengua
Brasileira de Sinais uma forma de comunicaccedilatildeo e expressatildeo cujo canal de produccedilatildeo e
recepccedilatildeo eacute de natureza visual-motora com estrutura gramatical proacutepria constituindo um
sistema linguiacutestico de transmissatildeo de ideias e fatos oriundos de comunidades de pessoas
surdas no Brasil conforme estaacute na lei eacute compreensivo dizer que nada fala sobre um padratildeo de
sinalizaccedilatildeo (p34)
Conclui-se que conforme pesquisa da autora citada os estudos dos sinais emergentes
mostraram que este eacute o ponto inicial das novas Liacutenguas de Sinais que segundo a mesma
merecem ser aprofundadas
1321 Realidade do contexto educacional escolar do indiacutegena surdo
Vilhalva (2012) destaca que o indiviacuteduo surdo soacute teraacute um sistema gestual linguiacutestico
organizado no contato do agrupamento comunitaacuterio especificamente da comunidade surda
com o contato com a Liacutengua de Sinais E isso muitas vezes acontece em geral somente no
acircmbito escolar biliacutengue onde haacute outros surdos inteacuterpretes e professores ouvintes que fazem
uso da Liacutengua de Sinais Por isso eacute essencial uma escola que respeite a diversidade linguiacutestica
como no caso desta comunidade Desta forma se faz necessaacuterio presenccedila na escola de
inteacuterpretes vindo das cidades mais proacuteximas das terras indiacutegenas de modo que
32
[] o Professor ministra as aulas em Portuguecircs e tem disciplina em Guarani
Observamos que pelo fato de os professores da pedagogia diferenciada indiacutegena
realizarem sua formaccedilatildeo em universidades locais onde o assunto em torno da surdez
e da Libras satildeo discutidos estes profissionais tecircm uma formaccedilatildeo que respeita natildeo soacute
a cultura e a liacutengua indiacutegena mas tambeacutem a cultura e a Liacutengua de Sinais
caracteriacutesticas que estatildeo presentes nas escolas indiacutegenas biliacutengues em que a liacutengua
de instruccedilatildeo eacute o Guarani-Portuguecircs(VILHALVA 2012 p 11b)
Poreacutem o que natildeo eacute o caso da escola Araporatilde mencionada por Vilhalva (2012) que teve
preferecircncia do inteacuterprete indiacutegena para a preservaccedilatildeo da cultura liacutengua e saber Foi observado
na pesquisa que os indiacutegenas surdos com vinte anos de idade em diante demonstram
seguranccedila ao sinalizar com o pesquisador surdo usando seus sinais emergentes de forma
natural Os mais novos de escolas indiacutegenas mas da mesma comunidade indiacutegena natildeo
demonstraram o uso de sinais emergentes e sim apresentaram diretamente sua comunicaccedilatildeo
em Libras Entretanto os resultados apontam que natildeo haacute como dizer se o atendimento
educacional para o iacutendio surdo estaacute acontecendo em todas as comunidades indiacutegenas ldquopois
interfere numa questatildeo de respeitar o que diz o proacuteprio plano de educaccedilatildeo sobre uma visatildeo
amplamente ligada agrave liacutengua cultura e diversidade nas escolas e terras indiacutegenasrdquo (ibid p36)
Nesta oacutetica se realmente as poliacuteticas linguiacutesticas fossem mais enfaacuteticas em suas
propostas de realizar a planificaccedilatildeo linguiacutestica incluindo a criaccedilatildeo de escolas biliacutengues e de
legislaccedilotildees especiacuteficas para as questotildees referentes agraves liacutenguas o indiviacuteduo indiacutegena surdo
poderia ter seus direitos linguiacutesticos assegurados
Neste sentido resgata-se o Referencial Curricular Nacional para Escolas Indiacutegenas
(1998) o qual menciona que
[] as tradiccedilotildees culturais os conhecimentos acumulados a educaccedilatildeo das geraccedilotildees
mais novas as crenccedilas o pensamento e a praacutetica religiosa as representaccedilotildees
simboacutelicas a organizaccedilatildeo poliacutetica os projetos de futuro enfim a reproduccedilatildeo
sociocultural das sociedades indiacutegenas satildeo na maioria dos casos manifestaccedilotildees
atraveacutes do uso de uma liacutengua Mesmo os povos indiacutegenas que satildeo hoje monoliacutengues
em liacutengua portuguesa continuam a usar a liacutengua de seus ancestrais como um siacutembolo
poderoso para onde confluem muitos de seus traccedilos identificatoacuterios construindo
assim um quadro de bilinguismo simboacutelico importante [grifo nosso]
Ou seja assim como para o surdo urbano brasileiro eacute reconhecida legalmente sua
liacutengua natural - Libras e a Liacutengua Portuguesa como segunda liacutengua -L2 para o indiacutegena surdo
deveria ser assegurado o mesmo direito para aprender esta forma de comunicaccedilatildeo ndash Liacutengua de
Sinais como primeira liacutengua e como segunda liacutengua a Liacutengua de sua etnia na modalidade
33
escrita Sendo portanto biliacutengue ou ainda triliacutengue com aquisiccedilatildeo da Liacutengua Portuguesa
tambeacutem na modalidade escrita
Nesta perspectiva observa-se que Saacute (2011 p33) afirma que tanto indiacutegenas como
surdos tecircm uma liacutengua proacutepria e uma cultura diferenciada Entatildeo porque natildeo ser reconhecida
legalmente a Liacutengua de Sinais utilizada pelos iacutendios surdos e a Liacutengua de sua comunidade
Como bem percebido por Vilhalva haacute a carecircncia de pesquisas voltadas para o registro de
liacutengua de sinais entre os iacutendios surdos brasileiros o que certamente constitui-se em um dos
fatores que favorecem a existecircncia desta lacuna na legislaccedilatildeo E que tal fato deveria ser um
despertar para pesquisadores da linguiacutestica sejam ouvintes ou surdos
34
2 A HISTOacuteRIA DO POVO INDIacuteGENA SATEREacute-MAWEacute CULTURA E LIacuteNGUA
Os povos indiacutegenas durante muito tempo foram considerados como povos sem
histoacuteria e sem uma liacutengua proacutepria Poreacutem com as muitas lutas eacutetnicas com estudos
antropoloacutegicos e com as abordagens historiograacuteficas iniciou-se uma valorizaccedilatildeo da
sociedade indiacutegena passando assim o povo indiacutegena a ser perspectivado nas suas
singularidades histoacutericas culturais e linguiacutesticas
Vale ressaltar que quando se refere a ldquoliacutenguasrdquo sabe-se que natildeo haacute apenas uma liacutengua
indiacutegena Existem muitos povos ou etnias indiacutegenas distintas As liacutenguas indiacutegenas no Brasil
se agrupam em famiacutelias linguiacutesticas ou seja famiacutelias que tecircm semelhanccedilas entre si e que satildeo
agrupadas por sua vez em troncos linguiacutesticos assim como as liacutenguas isoladas12
ou seja
liacutenguas que natildeo parecem ter parentesco com nenhuma das famiacutelias linguiacutesticas conhecidas
Segundo Rodrigues (2002) as famiacutelias indiacutegenas estatildeo agrupadas em Tronco
Linguiacutestico Tupi famiacutelia Tupi-Guarani (Akwaacutewa Amanayeacute Anambeacute Apiakaacute Araweteacute
Asurini Avaacute Guajaacute Guarani Kamayuraacute Kayabi Suryiacute Kaiwaacute) famiacutelia Munduruku
(Kuruaacuteya Mundurukuacute) Famiacutelia Tupari (Makuraacutep Tupari Wayoroacute) Famiacutelia Arikeacutem
(Karitiaacutena) Famiacutelia Juruna (Juruna) Famiacutelia Mondeacute (Aruaacute Cinta-Larga Gaviatildeo Mekeacutem
Mondeacute Suruiacute Zoroacute) Famiacutelia Ramaraacutema (Araacutera Itoqapuk) Outras Liacutenguas (Aweti
Puruboraacute Satereacute-Maweacute) entre outros troncos linguiacutesticos como Macro-Jecirc e sua diversidade
de famiacutelias existentes entre elas as liacutenguas isoladas
Um desses povos indiacutegenas foi o da etnia Satereacute-Maweacute Estes sofreram muitas
influecircncias em seu modo de vida advinda do contato com grupos natildeo indigenas que implicou
no processo de perda de muitos dos seus aspectos culturais A histoacuteria relata que o contato se
deu pela chegada dos colonizadores e posteriormente das missotildees religiosas E na atualidade
por ocupantes de terras como fazendeiros madeireiros emigrantes de outros Estados Foram
perdas irreparaacuteveis todavia como elo de resistecircncia procuraram sustentar em sua estrutura
original sua liacutengua
12
Segundo Rodrigues (2002 p93) liacutenguas isoladas refere-se as liacutenguas isoladas linguisticamente ou seja
liacutenguas que natildeo revelam parentesco geneacutetico com nenhuma outra Natildeo pertencem a nenhuma famiacutelia (ou tronco)
isto eacute constituem famiacutelias de um soacute membro
35
21 Breve Relato Histoacuterico
A histoacuteria do povo indiacutegena Satereacute-Maweacute tem sido foco de estudos dos diversos
segmentos de pesquisas como as realizadas por antropoacutelogos historiadores religiosos e
cientistas da linguagem Estes relatam a origem a liacutengua e a cultura desse povo
Uggeacute (1993 p 5) informa que ldquoOs Maueacutes descendentes das tribos indiacutegenas
denominadas no passado pelo nome de ANDIRAacute e MARAGUAacute que faz parte da aacuterea cultural
Tapajoacutes-Madeira entre a divisa dos atuais Estados do Paraacute e Amazonasrdquo O autor ainda
menciona que cronistas exploradores missionaacuterios antropoacutelogos naturalistas do passado
identificaram os Maueacutes tambeacutem com outros nomes (Maooz Mabueacute Jaquezes Manguases
Mahueacutes Mauris Maweacute Maragua e Maraguazes)
A origem do nome Satereacute-Maweacute advem dos termos Satereacute (lagarta vermelha) que eacute o
nome do clatilde dos antigos chefes e Maweacute (papagaio inteligente guerreiro e curioso) que eacute o
nome mais comum de um dos grupos tribais que conseguiram sobreviver agrave extinccedilatildeo das
numerosas tribos indiacutegenas da ilha Tupinambarana do Meacutedio Amazonas (IDEM) Cerqua13
faz referecircncia agrave primeira notiacutecia sobre o povo Satereacute-Maweacute ldquoEacute por volta de 1669 quando o
Pe Betendorf duas vezes superior provincial dos jesuiacutetas lembra a ldquovila dos Maguasesrdquo
grafia antiga de Maueacutes [] (1980 p 209)rdquo ou seja Maueacutes foi residecircncia missionaacuteria mas
natildeo permanente dos padres pois os mesmos residiam mais em Tupinambarana (rio
Amazonas) atual Parintins e visitavam Maueacutes temporariamente
A etnia Satereacute-Maweacute sofreu muitas mudanccedilas de localidades devido muitos fatores
que contribuiacuteram para o deslocamento desse povo segundo explica Lorez apud Teixeira
(2005 p21)
Devido agraves guerras com os Munduruku e Parintintim e ao contato com os
portugueses os Satereacute-Maweacute perderam grande parte de seu territoacuterio original Em
1691 os Maweacute surgem na cartografia regional com o nome de Mabueacute(mapa do
Padre Samuel Fritz) Missotildees foram localizadas para os iacutendios Magueacute denominadas
Satildeo Joatildeo (Pinhel) e Santo Inaacutecio (Boim) Posteriormente em 1835 lutando ao lado
dos Munduruku e dos Mura como tambeacutem de outras tribos indiacutegenas do rio Negro
os Satereacute-Maweacute aderiram ao movimento cabano ateacute que em 1839 o conflito foi
debelado Devido agraves epidemias agraves lutas e agraves perseguiccedilotildees aos povos indiacutegenas que
combatiam ao lado dos cabanos enormes aacutereas da Amazocircnia foram devastadas o
que provocou deslocamentos desses grupos populacionais de seus territoacuterios
ancestrais e de populaccedilatildeo Segundo relatos de viajantes desde o seacuteculo XVIII o
territoacuterio dos Satereacute-Maweacute vem sendo paulatinamente reduzido Essa reduccedilatildeo se
deu a partir das tropas de resgate que penetraram grandes aacutereas da Amazocircnia da
implantaccedilatildeo de missotildees jesuiacutetas e carmelitas ao longo dos principais rios
13
Dom Arcacircngelo Bispo Prelado de Parintins de 1980
36
amazocircnicos da ldquobusca desenfreadardquo das drogas do sertatildeo com a exploraccedilatildeo da
borracha durante o seacuteculo XIX e iniacutecio do XX e por fim da ldquoexpansatildeo econocircmica
das cidades de Maueacutes Barreirinha Parintins e Itaituba para o interior dos
municiacutepios alocando fazendas extraindo pau-rosa abrindo garimpos dominando a
economia indiacutegena atraveacutes de regatotildeesrdquo As cidades de Maueacutes Parintins e Itaituba
inclusive foram fundadas sobre restos de malocas dos Satereacute-Maweacute
Cerqua (1980 p265) destaca a localizaccedilatildeo dessa tribo delimitando que ldquoA tribo estaacute
localizada em sua maioria no Alto Andiraacute e no Marau afluente do Rio Maueacutes e sua aacuterea de
cerca de 639500 ha foi demarcada pelo Decreto nordm 76999rdquo Atualmente segundo Teixeira
(apud ALVAREZ 2009) os Satereacute-Maweacute hoje satildeo grupos de 8500 indiacutegenas dos quais 7502
moram na terra indiacutegena Andiraacute-Marau nos municiacutepios de Barreirinha Maueacutes e Parintins e
aproximadamente mil residem em aacutereas urbanas destes municiacutepios Sendo que outro grupo
vive na terra indiacutegena Coataacute-Laranjal junto ao grupo Munduruku e no municiacutepio de Borba
Uggeacute (1993) comenta que os Satereacute-Maweacute sempre tiveram vontade de manter a
proacutepria identidade tribal contudo eram carentes de apoio praacutetico para ajudaacute-los a enfrentar o
perigo do mundo moderno que tentavam ldquoinvadi-losrdquo Ou seja manipulaccedilotildees externas entre a
lideranccedila indiacutegenas dos Satereacute-Maweacute o alcoolismo a dependecircncia a violecircncia dos ldquobrancosrdquo
eram os maiores perigos para este povo Satereacute-Maweacute
Poreacutem o foco de resistecircncia manteve vivo no povo Satereacute aspectos culturais
importantes como o ritual da tucandeira O ritual eacute um marco na vida dos homens porque satildeo
chamados pela formiga (tucandeira) caso o indiacutegena natildeo atenda o chamado a formiga o
levaraacute a loucura ateacute chegar agrave morte A tucandeira eacute uma divindade muito respeitada pelos
Satereacute-Maweacute Em determinado momento da histoacuteria do povo Satereacute-Maweacute o ritual da
tucandeira chegou ao ponto de natildeo ser mais praticado em decorrecircncia da imposiccedilatildeo religiosa
mas apoacutes perceberam a grande perda cultural que isso representaria voltaram a praticaacute-lo a
recuperando como parte de sua cultura
22 Classificaccedilatildeo da liacutengua Satereacute-Maweacute
Segundo Teixeira (2005) a anaacutelise da situaccedilatildeo linguiacutestica do povo Satereacute-Maweacute
baseia-se na concepccedilatildeo defendida por antropoacutelogos e linguistas que a liacutengua se configura
como um importante instrumento da cultura e da identidade de uma populaccedilatildeo
A populaccedilatildeo indiacutegena Satereacute-Maweacute pertence vaacuterios aspectos agrave famiacutelia Linguiacutestica
Tupi Rodrigues (apud ALVAREZ 2009 p17) aborda que a liacutengua da tribo Satereacute-Maweacute eacute a
37
uacutenica liacutengua de uma famiacutelia do tronco Tupi E sua classificaccedilatildeo linguiacutestica como pertencente
ao tronco Tupi foi dada pelo etnoacutegrafo Curt Nimuendajuacute (1948)
A liacutengua Satereacute-Maweacute integra o tronco linguiacutestico Tupi Segundo o etnoacutegrafo Curt
Nimuendajuacute (1948) ela difere do Guarani-Tupinambaacute Os pronomes concordam
perfeitamente com a liacutengua Curuaya-Munduruku e a gramaacutetica ao que tudo indica
eacute tupi O vocabulaacuterio Maweacute conteacutem elementos completamente estranhos ao Tupi
mas natildeo pode ser relacionada a nenhuma outra famiacutelia linguiacutestica Desde o seacuteculo
XVIII seu repertoacuterio incorporou numerosas palavras da liacutengua geral
Os homens atualmente satildeo biliacutengues falando o Satereacute-Maweacute e o portuguecircs mas a
maioria das mulheres apesar de trecircs seacuteculos de contato com os brancos soacute fala a
liacutengua Satereacute-Maweacute (TEIXEIRA 2005 p95)
A liacutengua Satereacute-Maweacute eacute falada tradicionalmente por quase todas as comunidades haacute
mais de 300 anos entretanto foi inevitaacutevel para os indiacutegenas Satereacute-Maweacute conhecer os
haacutebitos e a liacutengua portuguesa devido agrave invasatildeo dos europeus em suas terras no seacuteculo passado
o que causou a mistura de liacutenguas e consequentemente as influecircncias dos padrotildees culturais
natildeo indiacutegenas
Os Satereacute-Maweacute foram entatildeo forccedilados a se refugiarem nas zonas urbanas e ateacute mesmo
em outros estados Outro impacto que alterou o modo de falar dos liacutederes indiacutegenas foi a
necessidade de buscar apoio logiacutestico para suas comunidades principalmente para tratar da
sauacutede de sua populaccedilatildeo que sofria de doenccedilas como malaacuteria tuberculose sarampo e outras
por eles desconhecidas que causaram muitas mortes
Desta forma com o passar dos anos a liacutengua Satereacute-Maweacute sofreu influecircncias lexicais
e fonoloacutegicas do Nheengatu na regiatildeo do Andiraacute Pesquisas realizadas recentemente por
Teixeira (2005) delimitam um perfil linguiacutestico que permite conhecer um pouco mais da
cultura linguiacutestica Satereacute-Maweacute sendo esta considerada por meio da distribuiccedilatildeo geograacutefica e
etaacuteria dos que falam e natildeo falam o idioma Satereacute-Maweacute Desta feita segundo o autor
O idioma Satereacute-Maweacute eacute mais falado na aacuterea do Marau que nas demais (Andiraacute
Uaicurapaacute e Koataacute-Laranjal) Tanto na aacuterea do Andiraacute como no Marau o idioma
materno eacute falado por praticamente todas as comunidades situadas proacuteximo agraves
cabeceira dos rios (Alto Andiraacute e Alto Marau) Para as aacutereas mais proacuteximas das
cidades os falantes atingem a quase totalidade dos moradores do Baixo Marau Jaacute
no baixo Andiraacute esse nuacutemero aumenta bastante nas duas comunidades mais
proacuteximas de Parintins e Barreirinha ou seja Ponta Alegre e Guaranatuba As aacutereas
de povoamento mais recente (Uaicurapaacute Koataacute-Laranjal e mais duas no Andiraacute) tecircm
tendecircncia a apresentar proporccedilotildees menores de falantes do idioma Satereacute-Maweacute
(ibid p95)
38
O autor esclarece que moradores em terras indiacutegenas satildeo mais falantes da Liacutengua
Satereacute-Maweacute do que os que moram proacuteximo ou dentro da aacuterea urbana A pesquisa ainda
mostra agrave necessidade de sensibilizar a comunidade indiacutegena Maweacute sobre a importacircncia da
valorizaccedilatildeo de sua liacutengua agrave recuperaccedilatildeo de suas memoacuterias histoacutericas e a reafirmaccedilatildeo de suas
identidades eacutetnicas
221 Contexto educacional escolar entre os Satereacute-Maweacute
O contexto educacional Satereacute-Maweacute tem como base o reconhecimento constitucional
fundamentado na legislaccedilatildeo em vigor segundo a qual ldquosatildeo reconhecidos aos iacutendios sua
organizaccedilatildeo social costumes liacutenguas crenccedilas e tradiccedilotildees []rdquo
Por isso fundamentos gerais da educaccedilatildeo escolar indiacutegena baseiam-se na proposta do
Referencial Curricular Nacional para Escolas Indiacutegenas (1998) que contempla
Multietnicidade pluralidade e diversidade 2 Educaccedilatildeo e conhecimentos indiacutegenas 3
Autodeterminaccedilatildeo 4 Comunidade educativa indiacutegena 5 Educaccedilatildeo intercultural
comunitaacuteria especiacutefica e diferenciada Assim
Parte do sistema nacional de educaccedilatildeo a escola indiacutegena eacute um direito que deve ser
assegurado por uma nova poliacutetica puacuteblica a ser construiacuteda atenta e respeitosa frente
ao patrimocircnio linguiacutestico cultural e intelectual dos povos indiacutegenas Esse esforccedilo
de projetar uma nova educaccedilatildeo escolar indiacutegena soacute seraacute realmente concretizado com
a participaccedilatildeo direta com os principais interessados ndash os povos indiacutegenas atraveacutes de
suas comunidades educativas [] A participaccedilatildeo da comunidade no processo
pedagoacutegico da escola fundamentalmente na definiccedilatildeo dos objetivos dos conteuacutedos
curriculares e no exerciacutecio das praacuteticas metodoloacutegicas assume papel necessaacuterio para
a efetividade de uma educaccedilatildeo especifica e diferenciada (ibid p24)
Poreacutem para que de fato seja garantida uma educaccedilatildeo diferenciada natildeo eacute suficiente
que somente os conteuacutedos sejam ensinados atraveacutes do uso das liacutenguas maternas mas se faz
necessaacuterio que se incluam os conteuacutedos curriculares propriamente indiacutegenas assim como os
modos proacuteprios de transmissatildeo deste saber Em pesquisa realizada pela revista Amazocircnia
(AMAZONAS 2000) intitulada como ldquoA silenciosa revoluccedilatildeo dos Iacutendiosrdquo o povo Satereacute-
Maweacute foi considerada um dos melhores exemplos para se falar em educaccedilatildeo indiacutegena Tal
afirmaccedilatildeo foi proferida pelo antropoacutelogo Ademir Ramos (professor da Universidade do
Estado do Amazonas) Segundo o entrevistado a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 mudou a
postura em relaccedilatildeo aos iacutendios estabelecendo um processo de educaccedilatildeo diferenciada que
39
fomenta o orgulho de aprender sua lingua tambeacutem no ambiente escolar possibilitando relatos
como o transcrito abaixo
Alunos como Dati 11 da aldeia de Molongotuba carregam com orgulho a cartilha
bdquoMoweeghap onde estatildeo registrados escritos ndash liacutengua Satereacute do tronco tupi e
desenhos de situaccedilotildees do cotidiano das aldeias falando de peixes aves aacutervores e
animais A liacutengua o menino aprendeu a falar com os pais e depois na escola onde
haacute quatro anos aprendeu a escrevecirc-la Aleacutem disso ele tem aprendido tambeacutem a
bdquoliacutengua dos brancos‟
Ainda sobre a importacircncia desta perspectiva educacional em nota o vice-presidente
da organizaccedilatildeo dos professores indiacutegenas Satereacute Gecinaldo Cabral comentou sobre a
mesma enfatizando a relevacircncia do processo educacional na vida dos iacutendios da tribo Satereacute
que por serem biliacutengues satildeo capazes de expressarem e defenderem o seu povo Portanto ao
ensinar a liacutengua nativa agraves crianccedilas promovem o resgate da cultura tradiccedilatildeo e conhecimentos
indiacutegenas Uma educaccedilatildeo diferenciada natildeo resumida na liacutengua majoritaacuteria ou seja Liacutengua
Portuguesa mas na liacutengua proacutepria das etnias E desta forma sendo respeitada a diversidade
cultural de cada povo
Nesta perspectiva Teixeira (2005) em sua pesquisa descreve que a realidade do
contexto educacional escolar do povo Satereacute-Maweacute explicando que
O quadro situacional dos Satereacute-Maweacute no que concerne agrave escolarizaccedilatildeo e agrave
escolaridade apresenta elementos que devem ser entendidos natildeo soacute como resultado
da aplicaccedilatildeo de poliacuteticas educacionais mas tambeacutem como explicitaccedilatildeo de estrateacutegias
poliacuteticas usadas pelos iacutendios na negociaccedilatildeo de visibilidade e reconhecimento no
espaccedilo puacuteblico brasileiro A busca dos Satereacute-Maweacute por escola explicitada na
forma de documentos reivindicatoacuterios enviados ao poder puacuteblico solicitando
recursos para suas escolas demonstrarem os conhecimentos escolares e a
certificaccedilatildeo que a escolaridade concede importantes instrumentos de luta no
processo histoacuterico de construccedilatildeo de sua identidade cultural e de desenvolvimento de
seus projetos sociais (ibid p103)
O autor tambeacutem evidecircncia que a escolarizaccedilatildeo ainda natildeo estaacute alcanccedilando a totalidade
dos Satereacute-Maweacute sendo assim
[] com idade compreendida entre 7 e 24 anos nem nas aacutereas urbanas onde se
verifica o maior percentual de matriacuteculas (839) nem nas terras indiacutegenas (596)
Se forem consideradas as pessoas que tecircm entre 7 e 17 anos de idade os percentuais
sobem bastante mas ainda demonstram a falta de acesso da populaccedilatildeo satereacute-maweacute
agrave escola A pior situaccedilatildeo ocorre na aacuterea indiacutegena onde aproximadamente 13 dos
indiviacuteduos dessa faixa etaacuteria estatildeo fora da escola Na aacuterea urbana o percentual dos
que estatildeo fora eacute de 8 Aparentemente o elevado percentual de pessoas entre 7 e 17
40
anos de idade que estatildeo fora da escola em aacuterea indiacutegena deveria estar relacionado
com a ausecircncia de ensino fundamental de 4ordf a 8ordf seacuterie nas aldeias
No entanto isto eacute apenas uma parte da justificativa pois de 142 pessoas dessa faixa
etaacuteria que natildeo frequentam a escola apenas 32 (225) declararam ter concluiacutedo a
quarta seacuterie do ensino fundamental ou seja poderiam estar fora da escola por falta
do ensino de 5ordf a 8a seacuterie na aacuterea indiacutegena Aleacutem disso 148 crianccedilas entre 7 e 14
anos de idade natildeo frequentam a escola significando que haacute problemas na oferta de
vagas para as crianccedilas satereacute-maweacute na aacuterea indiacutegena Dessas crianccedilas mais da
metade se concentra em apenas 14 aldeias22 das quais 4 compreendendo as
pequenas comunidades de Satildeo Luiacutes Limoal Tigre a Arumatuba no Andiraacute natildeo tecircm
nenhuma crianccedila estudando Na aldeia de Tabatinga no Andiraacute apenas uma das
cinco crianccedilas moradoras estatildeo estudando e na de Santo Antocircnio tambeacutem no
Andiraacute 12 entre 16 crianccedilas de 7 a 14 anos natildeo frequentam a escola(TEIXEIRA
2005 p 104)
Segundo o autor nas cidades de Maueacutes Parintins e Barreirinha a escola frequentada
pelos Satereacute-Maweacute natildeo se define como escola indiacutegena nem tatildeo pouco como especiacutefica ou
diferenciada Talvez seja uma realidade encontrada em todas as escolas indiacutegenas no
Amazonas O que se configura em um problema na medida em que segundo Sobrinho
(2011) a escola esta definida a partir de um modelo da ldquoescola dos brancosrdquo que certamente
altera interferindo diretamente nas questotildees culturais que fazem parte do universo desses
povos gerando assim processo de exclusatildeo O autor ainda comenta que
mesmo diante da resoluccedilatildeo nordm 112011 do Conselho Estadual de Educaccedilatildeo que traz
garantias aos indiacutegenas independentemente de onde vivam ao respeito a sua liacutengua
conhecimentos e tradiccedilotildees proacuteprias nas escolas essa lei passa completamente
despercebida (ibid p 209)
Sobre a questatildeo Teixeira (2005) menciona que nas terras indiacutegenas onde estaacute em
curso a criaccedilatildeo da escola indiacutegena com educaccedilatildeo escolar especiacutefica e diferenciada - as taxas
de escolarizaccedilatildeo deixam evidente que o poder puacuteblico tem investido somente nas seacuteries
iniciais do ensino fundamental o qual apresenta o percentual de 871 de taxa liacutequida de
escolarizaccedilatildeo ou seja natildeo haacute oferta regular para as seacuteries finais do ensino fundamental nem
de ensino meacutedio Isso sem relatar a falta de formaccedilatildeo de professores indiacutegenas entre outros
fatores conforme Franceschini apresenta
A necessidade de formaccedilatildeo especiacutefica e diferenciada de nuacutemero maior de
professores principalmente para atuar nos segmentos mais adiantados do Ensino
Fundamental a implantaccedilatildeo de mais turmas de 6ordm ao 9ordm anos e do Ensino Meacutedio na
aacuterea indiacutegena construccedilatildeo-reflexatildeo do Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico das escolas
Satereacute-Maweacute associada a uma praacutetica pedagoacutegica condizente e a construccedilatildeo de
material didaacutetico proacuteprio satildeo necessidades urgentes do povo Satereacute-Maweacute Pois
apesar da legislaccedilatildeo vigente dar aos indiacutegenas o direito de escolherem seu modelo
educacional e ensinarem sua liacutengua e etnoconhecimentos na maioria das escolas das
41
comunidades Satereacute-Maweacute o modelo educacional adotado natildeo se diferencia muito
do modelo das escolas rurais da regiatildeo sendo que a liacutengua e os etnoconhecimentos
indiacutegenas natildeo constituem de fato conhecimentos que fazem parte do programa
educacional e que satildeo trabalhados de forma sistemaacutetica na escola (2012 p5)
Portanto os resultados apresentados pelo pesquisador comprovam que as accedilotildees
governamentais para educaccedilatildeo escolar indiacutegena estatildeo distantes de cumprir na sua plenitude
preceitos constitucionais o que implica em prejuiacutezo natildeo soacute na educaccedilatildeo escolar indiacutegena
como na proacutepria cultura desse povo
42
3 METODOLOGIA IMPLEMENTADA NA PESQUISA
A metodologia utilizada neste trabalho deu iniacutecio com o estudo bibliograacutefico e
pesquisa de campo Realizou-se uma investigaccedilatildeo primeiramente sobre os estudos surdos na
perspectiva linguiacutestica e cultural a posteriormente na literaturas e estudos sobre os iacutendios da
etnia Satereacute-Maweacute tomando como princiacutepio a origem os fundamentos e a histoacuteria do povo e
da Liacutengua Satereacute-Maweacute Na sequecircncia a concretizaccedilatildeo da pesquisa de campo com a
investigaccedilatildeo do objeto de estudo o iacutendio surdo e sua situaccedilatildeo sociolinguiacutestica da etnia Satereacute-
Maweacute
Figura 1 ndash Croqui da aacuterea e localidade da pesquisa
Fonte Mapa do Estado do Amazonas Censo 2010 ndash IBGE
Organizado por Vicente de Paulo Silva de Azevedo
31 Aacuterea e localidade da pesquisa
A proposta do processo investigativo para o mapeamento do objeto da pesquisa foi
demarcada delimitando a aacuterea do campo da pesquisa a Microrregiatildeo de Parintins A
Microrregiatildeo de Parintins (AMAZONAS 2012) eacute constituiacuteda por Barreirinha Boa Vista do
Ramos Maueacutes Nhamundaacute Parintins Satildeo Sebastiatildeo do Uatumatilde e Urucaraacute Vale ressaltar que
natildeo foi coberta pela pesquisa a populaccedilatildeo Satereacute-Maweacute residente em Manaus (AM)
43
32 Estrateacutegias gerais para a realizaccedilatildeo da coleta de dados
Primeiramente foi feita uma busca de dados pelo IBGE o qual informou que natildeo
havia qualquer registro sobre a populaccedilatildeo indiacutegena de surdos Sem resultado satisfatoacuterio foi
organizado um cronograma de viagens
A primeira viagem foi para o municiacutepio de Parintins onde foi feita uma visita na casa
de um iacutendio para possiacutevel coleta de dados Poreacutem o cacique Sr Luiz de Oliveira infelizmente
tambeacutem comunicou a falta desse dado na comunidade Portanto foi exposto a esse liacuteder o
objetivo da referida pesquisa apresentando assim a importacircncia da comunicaccedilatildeo entre os
seres humanos e interaccedilatildeo entre os diferentes modos linguiacutesticos de convivecircncia social e
educacional
O cacique prontamente mostrou-se aberto a contribuir para que a pesquisa fosse
concretizada Assim sendo iniciou-se a trajetoacuteria do levantamento de iacutendios surdos e sua
forma de comunicaccedilatildeo como tambeacutem seu contexto educacional escolar
Ao retornar a Manaus buscou-se apoio agraves instituiccedilotildees representativas com a visita agrave
sede da Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio ndash FUNAI oacutergatildeo responsaacutevel pelas accedilotildees indiacutegenas a
qual informou que se fazia necessaacuterio uma autorizaccedilatildeo para dar seguimento agrave pesquisa Logo
providecircnciou-se o documento requerido na Coordenaccedilatildeo de Educaccedilatildeo Indiacutegena localizada no
municiacutepio de Barreirinha
Ao chegar agrave cidade de Barreirinha um novo contato foi estabelecido com o
Coordenador indiacutegena o Sr Santino Lopes de Oliveira que se mostrou receptivo com o
projeto e se dispocircs prontamente a colaborar
Com a autorizaccedilatildeo e aprovaccedilatildeo das autoridades indiacutegenas e de posse do documento
houve o comprometimento de que seguiria as normas estabelecidas que disciplinam o
ingresso em terras indiacutegenas pela entidade (ANEXO A) Assim foi possiacutevel sistematizar os
procedimentos para a coleta de dados
33 Procedimentos da coleta
A coleta de dados foi realizada de acordo com o cronograma estabelecido para esta
etapa da pesquisa O procedimento metodoloacutegico usado para a coleta de dados foi
fundamentado em meacutetodo misto por meio de observaccedilotildees questionamento participaccedilotildees em
reuniotildees com representantes da lideranccedila indiacutegena local conversas informais e espontacircneas
44
com famiacutelias e comunidade indiacutegena Satereacute-Maweacute Utilizou-se como instrumento para
coleta caderno de registro de campo fotos filmagens gravaccedilotildees e questionaacuterio (ANEXO B)
34 Articulaccedilatildeo local
O primeiro passo foi estabelecer parcerias com colaboradores ou seja lideranccedilas
indiacutegenas professores indiacutegenas professores da rede puacuteblica inteacuterpretes oacutergatildeos ligados agraves
causas indiacutegenas alunos da Universidade do Estado Amazonas As instituiccedilotildees
representativas educacionais tambeacutem colaboraram telefonando ou perguntando para outras
pessoas sobre a existecircncia de indiacutegenas surdos e locais de suas residecircncias
A participaccedilatildeo das lideranccedilas indiacutegenas como os professores e colaboradores que
apoiaram e permitiram entrar em suas terras para fazer o levantamento foi de extrema
importacircncia pois muito contribuiacuteram nas traduccedilotildees das palavras indiacutegenas para a Liacutengua
Portuguesa
35 Abordagem ao objeto da pesquisa
Em cada viagem agraves comunidades primeiramente fazia-se contato com o tuxaua com
a finalidade de apresentar o objetivo da pesquisa Desta forma era explicado para eles a
importacircncia da contribuiccedilatildeo que o estudo poderia trazer agravequela comunidade Por meio da
autorizaccedilatildeo concedida obtinha-se a colaboraccedilatildeo para a coleta de dados junto ao objeto da
pesquisa Jaacute as abordagens feitas em ambiente familiar tambeacutem era solicitado o consentimento
para a realizaccedilatildeo da pesquisa Com permissatildeo concedida iniciamos as observaccedilotildees e
intervenccedilotildees Com devida autorizaccedilatildeo utilizaacutevamos para registro cacircmeras fotograacuteficas e em
seguida registraacutevamos no caderno de campo da pesquisa (ANEXO CC-1 e C-2)
45
4 MAPEAMENTO DOS IacuteNDIOS SURDOS DA ETNIA SATEREacute-MAWEacute NA
MICRORREGIAtildeO DE PARINTINS E SUA REALIDADE LINGUIacuteSTICA E
EDUCACIONAL ESCOLAR
No Brasil haacute uma diversidade de etnias indiacutegenas Rodrigues (2002) satildeo mais de 170
liacutenguas faladas e dialetos pelos povos indiacutegenas Estas liacutenguas satildeo distribuiacutedas em dois
grandes troncos linguiacutesticos
[] o Tupi (dividido em 10 famiacutelias) e o Macro-Jecirc (dividido em 9 famiacutelias) e de
outras 20 famiacutelias linguumliacutesticas natildeo classificadas em troncos Apenas nove liacutenguas
indiacutegenas tecircm acima de 5000 falantes guajajara (satereacute-) maueacute xavante
ianomacircmi terena macuxi caingangue ticuna e guarani estes uacuteltimos com 30000
indiviacuteduos Cerca de 110 liacutenguas contam com menos de 400 falantes 14
Entretanto em meio a essa diversidade linguiacutestica poucos satildeo documentados
Pesquisadores e grupos indiacutegenas tentam um reavivamento eacutetnico e linguiacutestico
documentando-os para salvar sua liacutengua seu idioma
Diante do exposto a uacutenica liacutengua de sinais indiacutegena registrada eacute a utilizada pela etnia
indiacutegena brasileira dos Urubu-Kaapor como jaacute mencionada anteriormente Pesquisas no Mato
Grosso do Sul em aldeias indiacutegenas apresentaram a existecircncia de iacutendios surdos que utilizam
sinais emergentes ainda natildeo registrados propriamente como uma liacutengua
Pouco registro tem-se encontrado sobre iacutendios surdos muito menos sobre a liacutengua ou
a forma desses sujeitos se comunicarem De acordo com dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatiacutestica (IBGE) natildeo haacute registros sobre iacutendios surdos nem no Anuaacuterio
Estatiacutestico do Amazonas do IBGE tatildeo pouco na Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio (FUNAI)
sendo portanto necessaacuteria uma pesquisa in loco para a busca desses dados
Eacute importante destacar que a pessoa surda natildeo nasce com a incapacidade de falar ou
seja a pessoa surda natildeo eacute muda natildeo fala por natildeo poder ouvir a ldquo[] A surdez natildeo estaacute
absolutamente vinculada agrave mudez []rdquo (RAMOS apud STROBEL 2008 p34)
Por isso as teorias da aquisiccedilatildeo da linguagem humana justificam como o ser humano
(re)inventa modos para expressar suas necessidades e formas de ver o mundo realizando a
comunicaccedilatildeo com seus pares
14
Classificaccedilatildeo das Liacutenguas Indigenas Brasileiras segundo Aryon Rodrigues (2002) Disponiacutevel em
lthttpwwwgeocitieswsindiosbr_nicolaiclassifhtmlgt
46
Partindo dessa percepccedilatildeo este estudo apresenta uma contribuiccedilatildeo de informaccedilotildees
cientiacuteficas que seratildeo um acreacutescimo aos conhecimentos existentes sobre a comunicaccedilatildeo dos
surdos indiacutegenas
41 Mapeamento da existecircncia dos iacutendios surdos na microrregiatildeo de Parintins
Conhecer os indiviacuteduos sujeitos da pesquisa ndash iacutendios surdos Satereacute-Maweacute - eacute a fase
fundamental deste estudo pois dessa forma eacute possiacutevel compreender a forma predominante de
comunicaccedilatildeo deles para poder elaborar material concreto ndash dicionaacuterio triliacutengue - pertinente
para auxiliar na forma da comunicaccedilatildeo deles com a sua etnia atraveacutes da liacutengua desse povo
indiacutegena Nesta seccedilatildeo estatildeo apresentados os dados que constituem um mapeamento da
quantidade de indiviacuteduos surdos que estatildeo inseridos no contexto de Parintins Barreirinha
Boa Vista do Ramos e Maueacutes locais estes onde haacute maior contato com etnia foco deste estudo
Abaixo segue o histoacuterico do municiacutepio de Parintins e demais microrregiotildees citadas na
pesquisa15
411 Histoacuterico de Parintins
Parintins eacute um municiacutepio brasileiro situado no interior do estado do Amazonas
proacuteximo agrave divisa com o estado do Paraacute Regiatildeo Norte do paiacutes Estaacute situado na mesorregiatildeo do
Centro Amazonense e microrregiatildeo de mesmo nome e localiza-se a leste da capital do estado
distando desta cerca de 370 quilocircmetros Com uma populaccedilatildeo estimada em 2012 pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 103 828 habitantes sendo o segundo
mais populoso do estado do Amazonas que tem uma aacuterea de 5 952 kmsup2 representando
03789 do Estado do Amazonas 01545 da regiatildeo Norte brasileira e 00701 do territoacuterio
brasileiro8
Desse total 12 4235 kmsup2 estatildeo em periacutemetro urbano
O municiacutepio de Parintins como quase todos os demais municiacutepios brasileiros foi
primitivamente habitado por indiacutegenas Sua descoberta ocorreu em 1749 quando descendo o
rio Amazonas o explorador Joseacute Gonccedilalves da Fonseca notou uma ilha que por sua extensatildeo
se sobressaiacutea das outras localizadas agrave direita do grande rio As primeiras viagens exploratoacuterias
da Coroa Portuguesa em Parintins foram registradas somente em 1796 A fundaccedilatildeo da
15
O histoacuterico de Parintins e demais microrregiotildees estatildeo disponiacuteveis no site lthttpptwikipediaorgwiki_Parintinsgt
47
localidade em 1796 foi feita por Joseacute Pedro Cordovil que veio com seus escravos e
agregados para se dedicar agrave pesca do pirarucu e agrave agricultura chamando-a Tupinambarana A
rainha D Maria I deu-lhe a ilha de presente Ali instalado fundou uma fazenda de cacau
dedicando-se agrave cultura desse produto em grande escala Tupinambarana foi aceita e elevada agrave
missatildeo religiosa em 1803 pelo capitatildeondashmor do Paraacute o Conde dos Arcos que incumbiu sua
direccedilatildeo ao frei Joseacute das Chagas passando a ser denominada como a Vila Nova da Rainha
O primeiro nome recebido por Parintins jaacute na categoria de Freguesia foi Nossa
Senhora do Carmo de Tupinambarana em 1833 O nome da Freguesia soacute foi alterado em
1880 quando a sede passou a chamar-se ldquoParintinsrdquo em homenagem aos povos indiacutegenas
Parintintins um dos inuacutemeros que habitavam a regiatildeo
A eficiente atuaccedilatildeo de frei Joseacute provocou um surto de progresso e desenvolvimento na
localidade mediante a organizaccedilatildeo da comarca do Alto Amazonas Em 25 de julho de 1833
passa agrave freguesia com o nome de Freguesia de Nossa Senhora do Carmo de Tupinambarana
Era ainda Tupinambarana simples freguesia quando iniciou a revoluccedilatildeo dos Cabanos no Paraacute
e se alastrou por toda a proviacutencia O seu vigaacuterio padre Torquato Antocircnio de Souza teve
atuaccedilatildeo destacada durante a sediccedilatildeo servindo de delegado dos legalistas no Baixo Amazonas
Tupinambarana talvez porque estivesse bem defendida foi poupada aos ataques dos
Cabanos
Em 24 de outubro de 1848 a lei provincial do Paraacute nordm 146 elevou a freguesia agrave
categoria de vila com a denominaccedilatildeo de Vila Bela da Imperatriz e constituiu o municiacutepio ateacute
entatildeo ligado a Maueacutes Em 15 de outubro de 1852 pela lei nordm 02 foi confirmada a criaccedilatildeo do
municiacutepio Em 14 de marccedilo de 1853 deu-se a instalaccedilatildeo do municiacutepio de Parintins Em 24 de
agosto de 1858 foi criada pela lei provincial a comarca compreendendo os termos judiciaacuterios
de Vila Bela da Imperatriz e Vila Nova da Conceiccedilatildeo Em 30 de outubro de 1880 pela lei
provincial nordm 499 a sede do municiacutepio recebeu foros de municiacutepio e passou a denominar-se
Parintins Em 1881 foi desmembrado do municiacutepio de Parintins o territoacuterio que constituiu o
municiacutepio de Vila Nova de Barreirinha
A divisatildeo administrativa de 1911 figurou o municiacutepio com quatro distritos Parintins
Paranaacute de Ramos Jamundaacute e Xibuiacute Em 1933 aparece no quadro da divisatildeo administrativa
com um distrito apenas ndash o de Parintins Em 1 de dezembro de 1938 pelo decreto-lei estadual
nordm 176 eacute criado o distrito da Ilha das Cotias passando assim o municiacutepio a constituir-se de
dois distritos Parintins e Ilha das Cotias
Pela lei estadual nordm 226 de 24 de agosto de 1952 a comarca de Parintins perdeu os
termos judiciaacuterios de Barreirinha e Urucaraacute que foram transformados em comarcas Em 19 de
48
dezembro de 1956 a lei estadual nordm 96 desmembrou o municiacutepio de Parintins o distrito da
Ilha das Cotias que passou a constituir o municiacutepio de Nhamundaacute Em 10 de dezembro de
1981 a emenda constitucional nordm 12 eacute acrescido o territoacuterio de Parintins ao distrito de
Mocambo
O primeiro municiacutepio pesquisado eacute considerado o centro da microrregiatildeo Parintins
Segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 2103 a
populaccedilatildeo eacute de 109225 habitantes16
nesta localidade A Microrregiatildeo de Parintins eacute uma das
microrregiotildees do estado brasileiro do Amazonas pertencente agrave Mesorregiatildeo do Centro
Amazonense Estaacute dividida em sete municiacutepios Barreirinha Boa Vista do Ramos Maueacutes
Nhamundaacute Parintins Satildeo Sebastiatildeo do Uatumatilde e Urucaraacute De acordo com estimativas do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) a populaccedilatildeo da microrregiatildeo era de 262
719 habitantes em 2013
Seus municiacutepios limiacutetrofes satildeo Nhamundaacute ao norte Barreirinha ao sul Urucurituba ao
leste e os municiacutepios de Terra Santa e Juruti no estado do Paraacute O limite territorial entre
Parintins e Nhamundaacute se inicia na margem esquerda do rio Amazonas subindo este rio ateacute a
Barreira do Pauraacute A Serra de Parintins eacute usada para delimitar o fim dos limites territoriais
deste municiacutepio com Nhamundaacute Para delimitar os limites territoriais entre Parintins e
Barreirinha usa-se o divisor de aacuteguas dos rios Andiraacute-Uaicuparaacute juntamente com a linha
geodeacutesica que limita os estados do Amazonas e Paraacute Jaacute os limites territoriais com
Urucurituba satildeo iniciados no lago Arapapaacute no Paranaacute de Urucurituba Com o Estado do Paraacute
o limite tem iniacutecio na boca do igarapeacute do Valeacuterio na margem direita do rio Amazonas
Parintins eacute uma cidade marcada pelos traccedilos culturais poliacuteticos e econocircmicos
herdados dos portugueses espanhoacuteis italianos e tambeacutem dos japoneses tendo em vista que a
cidade possuiu uma relevante colocircnia destes imigrantes Natildeo se pode esquecer a importacircncia
dos ameriacutendios no quesito contribuiccedilatildeo eacutetnica Foram os ameriacutendios que iniciaram a ocupaccedilatildeo
humana na Amazocircnia e seus descendentes caboclos desenvolveram-se em contato iacutentimo com
o meio ambiente adaptando-se agraves peculiaridades regionais e oportunidades oferecidas pela
floresta
A cidade eacute um importante centro educacional de niacutevel meacutedio e superior do Estado do
Amazonas A cidade possui um dos mini-campus do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)
que oferece cursos em diferentes niacuteveis ensino meacutedio e ensino teacutecnico
16
Disponiacutevel emlthttpcidadesibgegovbrxtrastemasamazonas|parintins|estimativa-da-populacao-2013gt
Acesso em 28072014
49
Universidades puacuteblicas
- Universidade do Estado do Amazonas (UEA) eacute uma instituiccedilatildeo puacuteblica estadual de
ensino superior que oferece mais de vinte cursos distribuiacutedos em dezessete cidades
amazonenses (Parintins Manaus Presidente Figueiredo Itacoatiara Carauari Tabatinga
Tefeacute Laacutebrea Boca do Acre Coari Eirunepeacute Humaitaacute Manicoreacute Manacapuru Novo
Aripuanatilde Maueacutes e Satildeo Gabriel da Cachoeira) Foi criada pela lei estadual nordm 2637 de 12 de
janeiro de 2001 que proporcionou agraves fundaccedilotildees educacionais de ensino superior instituiacutedas
pelo Estado Em Parintins o Centro de Estudos Superiores (UEA) possui os cursos
Pedagogia Histoacuteria Geografia Fiacutesica Matemaacutetica Letras Portuguesa Quiacutemica Ciecircncias
Bioloacutegicas Tecnologia em Turismo Direito Sauacutede Coletiva Ciecircncias Econocircmicas e
Tecnologia em Gestatildeo Puacuteblica
- Instituto Federal do Amazonas (IFAM) O Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e
Tecnologia do Amazonas foi criado mediante integraccedilatildeo do Centro Federal de Educaccedilatildeo
Tecnoloacutegica do Amazonas e das Escolas Agroteacutecnicas Federais de Manaus e de Satildeo Gabriel
da Cachoeira
- Universidade Federal do Amazonas (UFAM) Instalada no municiacutepio desde 2007
possui os seguintes cursos Serviccedilo Social Comunicaccedilatildeo Social - Jornalismo Administraccedilatildeo
Organizacional Pedagogia Zootecnia Educaccedilatildeo Fiacutesica e Artes Plaacutesticas
No setor de educaccedilatildeo e capacitamento profissional o municiacutepio aleacutem de dispor de
uma ampla rede de escolas (estaduais municipais e privadas) conta com um campus da
Universidade do Estado do Amazonas e algumas faculdades privadas com diversos cursos
superiores ofertados Dispotildee ainda de unidades do SENAI SENAC e SESI e em funccedilatildeo
disso os iacutendices de alfabetizaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo profissional dos municiacutepios estatildeo em
crescimento
A cidade de Parintins eacute o local onde foram feitos os contatos frequentes com os
indiacutegenas da etnia Satereacute-Maweacute porque buscam as casas bancaacuterias para receberem os
benefiacutecios sociais tambeacutem buscam as escolas com ensino de todos os niacuteveis inclusive as
universidades puacuteblicas para as crianccedilas e jovens Outro fator eacute que tem um comeacutercio
desenvolvido em que podem adquirir seus bens de consumo aleacutem de ser de faacutecil acesso aos
demais centros da regiatildeo e do paiacutes atraveacutes dos diferentes meios comunicaccedilatildeo e transporte
Por isso o mapeamento foi iniciado nesta regiatildeo
Apesar de ter um nuacutemero consideraacutevel de habitantes os oacutergatildeos ligados agrave causa
indiacutegena natildeo dispotildeem de dados informativos sobre o objeto da pesquisa em meio agrave estimativa
populacional do municiacutepio mesmo assim outro oacutergatildeo foi procurado para que pudesse
50
fornecer algum dado ligado ao sujeito surdo da etnia Satereacute-Maweacute A instituiccedilatildeo pesquisada
foi a Escola de Aacuteudio Comunicaccedilatildeo ldquoPadre Paulo Mannardquo Esta eacute uma instituiccedilatildeo educacional
mantida pela Diocese de Parintins por meio de sua atual gestora a Professora Zilda Tavares
Atraveacutes desta colaboradora foram coletadas informaccedilotildees sobre os alunos indiacutegenas surdos da
etnia Satereacute-Maweacute que ali estudam ou estudaram que satildeo a seguir descritas
Embora a escola tivesse o conhecimento da existecircncia de dois indiacutegenas surdos da
etnia Satereacute-Maweacute apenas um se encontra matriculado na escola Eacute uma menina de seis anos
de idade cursando o preacute-escolar Para informaccedilotildees consistentes foi solicitado o contato
tambeacutem com a famiacutelia da aluna Ao contatar os pais foi feita uma abordagem por meio de
questionaacuterio mas diante das dificuldades encontradas por natildeo serem alfabetizados na liacutengua
nativa nem na liacutengua Portuguesa os dados utilizados satildeo resultante de entrevistas
assistemaacuteticas (conversas informais)
Os familiares tecircm papeacuteis importantes na formaccedilatildeo da linguagem da crianccedila Eacute atraveacutes
deles que acontece a formaccedilatildeo da identidade social e cultural desse sujeito em
desenvolvimento Satildeo eles que repassam o modo de vida os costumes e outros aspectos
sociais com os seus exemplos e empreendendo a funccedilatildeo da linguagem verbal atraveacutes de
relaccedilotildees dialoacutegicas que ativam a percepccedilatildeo do ser em maturaccedilatildeo no meio familiar Na visatildeo
de Ponzio (et al 2007 p 177)
Uma das funccedilotildees da linguagem verbal eacute a identificaccedilatildeo identificaccedilatildeo dos objetos
mediante um processo de modelaccedilatildeo e de articulaccedilatildeo da realidade que varia de
liacutengua para liacutengua identificaccedilatildeo de sujeito enquanto falante do sujeito do discurso
do tema do outro ao qual esse discurso se dirige de uma espeacutecie de bdquoauditoacuterio
universal‟ a que de modo geral se recorre na argumentaccedilatildeo identificaccedilatildeo de uma
comunidade e da pertenccedila ou da natildeo pertenccedila a esta etc
Um resumo histoacuterico sobre a referida indiacutegena aponta que a famiacutelia residia na
comunidade indiacutegena Ponta Alegre no Rio Andiraacute municiacutepio de Barreirinha Migraram para
a zona urbana em busca de condiccedilotildees para uma melhor qualidade de vida Ao descobrirem a
surdez da filha mudaram-se para a cidade de Parintins Declararam que a forma de se
comunicarem com a filha eacute por meio de gestos criados pela famiacutelia e a crianccedila pois natildeo
sabem a Liacutengua de Sinais
Analisa-se neste contexto a situaccedilatildeo complexa pela qual essa famiacutelia passou para se
entender com a ela posto que se esperasse que a crianccedila dominasse o sistema linguiacutestico que
usam para a comunicaccedilatildeo com os pares atraveacutes da liacutengua natural da etnia Este eacute um fato que
ocorre com as famiacutelias onde natildeo existe o desenvolvimento natural da fala
51
Considere-se assim que a liacutengua eacute adquirida a qual se manifesta em todas as
circunstacircncias normais no conhecimento de uso em processo de audiccedilatildeo desde o nascimento
os quais vatildeo tomando forma de significante e significado enquanto se distingue cada unidade
lexical do todo que existe no meio onde se estaacute inserido Para Lyons ldquoo termo aquisiccedilatildeo da
linguagem eacute normalmente usado sem ressalvas para o processo que resulta no conhecimento
da liacutengua nativa (ou liacutenguas nativas)rdquo (1987 p 231)
Neste caso para a crianccedila em evidecircncia deveria ser propiciado o ensino da Libras
como liacutengua para mediar a comunicaccedilatildeo o mais breve possiacutevel na medida em que ela estaacute
com idade proacutexima da faixa etaacuteria limite de aquisiccedilatildeo sem acarretar prejuiacutezos para o seu
desenvolvimento conforme explica teoria gerativista17
da aquisiccedilatildeo da linguagem proposta
por Lennenberg (1967)
[] a existecircncia de um periacuteodo criacutetico para a quisiccedilatildeo da linguagem tendo como
pressuposto a ideia de que esta eacute inata O periacuteodo criacutetico se iniciaria por volta dos
dois anos e se encerraria por volta da puberdade Esse periacuteodo eacute chamado de criacutetico
porque seria aquele mais sensiacutevel agrave aquisiccedilatildeo da linguagem[] concluiacutendo que o
cereacutebro humano inicialmente tem representaccedilatildeo bilateral das funccedilotildees da linguagem
e mediante o processo de aquisiccedilatildeo na puberdade apenas o hemisfeacuterio se torna
mais dominante em relaccedilatildeo a elas completando o periacuteodo de aquisiccedilatildeo Caso a
crianccedilas natildeo adquira a linguagem nesse periacuteodo seu desenvolvimento linguiacutestico
seraacute prejudicado (apud QUADROS 2008 p 78)
Deste modo no caso a crianccedila surda esta precisa aprender a liacutengua nativa de uma
forma diferenciada adequando-se os siacutembolos agraves formas visuais se natildeo apresentar esta
carecircncia tambeacutem posto que a faculdade da linguagem do ser humano eacute inata conforme
Chomsky esclarece (apud PONZIO etal 2007)
Trata-se de determinar agrave natureza do patrimocircnio bioloacutegico que constitui a bdquofaculdade
da linguagem‟ do ser humano o componente inato do conjunto menteceacuterebro que
uma vez tendo entrado em contato com a experiecircncia linguiacutestica produz o
conhecimento da linguagem isto eacute converte a experiecircncia em um sistema de
conhecimento (p 143)
O segundo indiacutegena surdo da etnia Satereacute-Maweacute havia sido transferido da escola Padre
ldquoPaulo Mannardquo para a Escola Estadual ldquoBrandatildeo de Amorimrdquo Segundo as informaccedilotildees da
famiacutelia ele nasceu na aacuterea indiacutegena de Ponta Alegre Poreacutem quando pequeno sua famiacutelia se
17
A teoria gerativista pressupotildee a existecircncia de um mecanismo inato responsaacutevel pela aquisiccedilatildeo da linguagem
denominado Gramaacutetica Universal (GU) tendo como responsaacutevel por essa concepccedilatildeo que caracteriza-se pela
elucidaccedilatildeo da natureza das linguas naturais Chomsky
52
mudou para zona urbana de Parintins Ele cresceu longe da cultura indiacutegena sem contato com
a liacutengua de sua etnia por estar fora desse contexto Por outro lado natildeo aprendeu a liacutengua
falada em seu entorno na medida em que natildeo pode na prendecirc-la de forma natural por natildeo
ouvir assim por natildeo ter domiacutenio da cultura da etnia deve aprender a liacutengua de sinais
inserindo os signos que significam as palavras do seu leacutexico atraveacutes de instruccedilatildeo especial
com a mediaccedilatildeo de algueacutem que tenha o conhecimento das duas formas de comunicaccedilatildeo Para
Lyons (1987) esses aprendizes adquirem habilidades comunicativas rapidamente pois o
progresso que alcanccedilam eacute pelo menos agraves vezes tatildeo raacutepido que como observam tanto os pais
quanto os pesquisadores eacute difiacutecil manter um registro compreensivo e sistemaacutetico do seu
processo de aprendizado Como tambeacutem eacute no total independente de inteligecircncia e de
diferenccedilas do meio social e cultural
A capacidade da pessoa para construir enunciados vai tomando forma agrave medida que
consegue compreender a relaccedilatildeo entre significante e significados dos signos com os quais tem
contato Por isso os indiacutegenas surdos podem ser beneficiados com um material escrito
triliacutengue Este pode constituir-se em um material de apoio para a aprendizagem das trecircs
liacutenguas sendo que a liacutengua de sinais eacute perspectivada como L1
O terceiro caso identificado eacute de um iacutendio surdo jaacute adulto da comunidade Uiacurapaacute
da etnia Maweacute As informaccedilotildees datildeo conta que ele se comunica por meio de gestos criados por
ele e os pares com quem tem relaccedilatildeo Poreacutem natildeo haacute dados detalhados pois natildeo foi possiacutevel
contato com o mesmo porque ele vive isolado sobrevivendo de caccedila e pesca em comunidade
rural indiacutegena Fato este que implica diretamente no aperfeiccediloamento da forma de
comunicaccedilatildeo desse sujeito posto que ldquoos fenocircmenos ambientais podem agir diretamente
sobre a pessoa ou individualmente atraveacutes de repasse de experiecircncias vividas pela sociedade
atraveacutes da linguagem veiculada pela liacutenguardquo (OLIVEIRA 2005 p134)
Assim estaacute constituiacuteda a populaccedilatildeo de indiacutegenas surdos que fazem parte da
microrregiatildeo de Parintins que se podem fazer os devidos registros neste estudo
412 Histoacuterico de Barreirinha
O municiacutepio de Barreirinha pertence a Mesorregiatildeo da Microrregiatildeo de Parintins que
estaacute localizado a leste de Manaus Capital do Estado distanciando cerca de 331 quilocircmetros
E ao norte de Parintins o municiacutepio de Barreirinha juntamente com Maueacutes satildeo principais
municiacutepios que possuem a maior populaccedilatildeo de indiacutegenas localizados nos rios Andiraacute e o
Marau Portanto sendo o municiacutepio como a sede urbana das comunidades inseridas os surdos
53
indiacutegenas vem apenas em busca de tratamento meacutedico quando necessitam ou para atividades
sociais acompanhados de seus pais mas na zona urbana natildeo localizamos nenhum indiacutegena
surdo
Barreirinha foi o segundo municiacutepio pesquisado E segundo o IBGE em 2013 a
populaccedilatildeo era de 29737 habitantes18
sendo o vigeacutesimo segundo municiacutepio mais populoso do
Estado do Amazonas e o terceiro de sua microrregiatildeo
Este muniacutecipio conta com um setor especiacutefico das causas indiacutegenas a Coordenaccedilatildeo
Iacutendiacutegena Satereacute-Maweacute sob responsabilidade do coodernador geral SrSantino Lopes Este
tornou possiacutevel o acesso agrave comunidade indiacutegena de Ponta Alegre no Rio Andiraacute Foi na
Escola Municipal Professora ldquoRosa Cabralrdquo que foi identificado um indiacutegena surdo da etnia
Satereacute-Maweacute um menino de 12 anos matriculado na 3ordf ano do ensino fundamental Nesse
contexto foi possiacutevel observar sua forma de se comunicar com as demais pessoas que faziam
parte do seu meio social Outros dados referente a relaccedilotildees familiares deste natildeo estatildeo
disponiacuteveis na medida em que natildeo foi possiacutevel fazer contato com sua famiacutelia Desta forma
permanece uma lacuna de respostas referente a esse aluno posto que
De uma forma geral e em regra a socializaccedilatildeo da crianccedila no mundo civilizado
comeccedila dentro de uma famiacutelia nuclear constituiacuteda de pai matildee e irmatildeos quando
existem Durante os primeiros anos da infacircncia adquire traccedilos culturais (menores
unidades de cultura) atraveacutes das pessoas da famiacutelia que satildeo reflexo da sociedade
onde vivem (OLIVEIRA 2005)
Entende-se que atraveacutes de informaccedilotildees que poderiam ser fornecidas pela famiacutelia
deveria ser esclarecido como ocorre a socializaccedilatildeo da crianccedila nesse contexto e de que modo
aprenderam a se comunicar com ela que estrateacutegias foram utilizadas para que ela conseguisse
ser alfabetizada
413 Histoacuterico de Maueacutes
Este municiacutepio que tambeacutem pertence agrave Mesorregiatildeo do Centro Amazonense e
Microrregiatildeo de Parintins tem uma populaccedilatildeo de 54079 habitantes conforme as estimativas
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) A cidade eacute reconhecida
nacionalmente por possuir uma das maiores expectativas de vida do paiacutes
18
Disponiacutevel emlthttpcidadesibgegovbrxtrastemasamazonas|barreirinha|estimativa-da-populacao-2013gt
Acesso em 28072014
54
Na margem direita do Rio Maueacutes-Accedilu Maueacutes foi fundada em 1798 por Luiz Pereira
da Cruz e Joseacute Rodrigues Preto agrave distacircncia de 268 km em linha reta e 356 km pela via
fluvial de Manaus O calendaacuterio festivo do municiacutepio conteacutem as datas festivas municipais
em homenagem agrave Satildeo Sebastiatildeo (10 a 20 de janeiro) ao Divino Espiacuterito Santo (22 a 30 de
maio) agrave Satildeo Pedro (27 a 30 de junho) agrave padroeira Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo (01 a 8 de
dezembro) assim como a Festa do Carnaval Popular (21 a 24 de fevereiro) do aniversaacuterio do
municiacutepio (26 a 27 de junho) da Ilha de Vera Cruz (23 a 25 de julho) do Veratildeo (de 05 a 7 de
setembro) da Feira Industrial (06 a 8 de novembro) e do Guaranaacute (em novembro)
Sobre a origem do nome deste municiacutepio observa-se que inicialmente foi
denominada Luseia e progredindo com o tempo transformou-se em missatildeo carmelita com
nome de Maueacutes O liacuteder nessa eacutepoca foi o frei Joaquim de Santa Luzia Por um decreto de 25
de junho de 1833 a missatildeo foi considerada vila sob a invocaccedilatildeo de Nossa Senhora da
Conceiccedilatildeo de Luseia Em 1853 pela lei nordm 25 de 3 de dezembro da iniciativa do Deputado
Marcos Antocircnio Rodrigues de Souza a vila tornou-se cidade chamada Satildeo Marcos de
Mundurucacircnia Consta como uma das freguesias da proviacutencia denominada Maueacutes em 1958
A oficializaccedilatildeo da mudanccedila do nome do municiacutepio ocorreu quando o Deputado Joseacute
Bernardo Michiles em 1865 apresentou um projeto para tal que tendo sido aprovado
oficializou-se a mudanccedila do nome de Maueacutes para Conceiccedilatildeo Enfim jaacute na Repuacuteblica em
1895 pela lei nordm 133 de 5 de outubro a localidade torna-se Comarca E em 4 de maio de 1896
eacute considerado municiacutepio pelo novo regime juriacutedico com o nome de Maueacutes pela lei nordm 137
As pesquisas de campo nesse municiacutepio natildeo foram realizadas conforme a previsatildeo
pois a viagem natildeo foi concretizada devido agraves dificuldades em relaccedilatildeo agrave distacircncia para chegar
ateacute agraves comunidades que satildeo distantes da cidade cede e havia necessidade de recurso material
e humano (professores guias indiacutegenas biliacutengues) para realizaacute-la Quando foi possiacutevel chegar
ao local ocorreu o contato com trecircs professores que residiam nas comunidades do rio
chamado Marau Ali foi possiacutevel tecirc-los em companhia na funccedilatildeo de guia inteacuterprete para
contato com os indiacutegenas surdos daquela localidade
Em resposta afirmativa ao questionamento se havia iacutendios surdos foram realizadas
reuniotildees com a comunidade local para coletar informaccedilotildees que apontou a existecircncia de um
caso na comunidade de Santa Maria Era um senhor na faixa etaacuteria de 67 anos que adquiriu a
surdez haacute muito tempo atraacutes Ele natildeo tem conhecimento da Liacutengua Portuguesa por isso natildeo
tivemos contato direto No entanto ele conhece a proacutepria liacutengua e assimilou a cultura da etnia
posto que
55
A liacutengua eacute aprendida simultaneamente a outros elementos da cultura A capacidade
de desenvolvimento da linguagem eacute inata O indiviacuteduo nasce com o ceacuterebro
preparado para aprender tudo que pertinente agrave cultura humana da qual a linguagem
faz parte (OLIVEIRA 2005 p 137)
Eacute no contexto social que se aprende os signos que fazem parte do mundo exterior e
que o ceacuterebro assimila pelo conhecimento que os sentidos possibilitam
O segundo iacutendio localizado foi um surdo de nascenccedila hoje com idade de 24 anos
Segundo relato da famiacutelia nunca frequentou uma escola portanto seu uacutenico meio de
comunicaccedilatildeo eacute gestual que aprendeu como forma para se fazer entender pois ldquoa linguagem eacute
atributo universal do ser humanordquo (OLIVEIRA 2005) assim constitui-se como necessidade
vital da pessoa conduzindo ao aprendizado
Em pesquisa de campo se obteve a informaccedilatildeo que havia outros trecircs iacutendios surdos que
moravam no Rio Marau mas natildeo foi possiacutevel chegar ateacute a aldeia onde se encontravam
devido ao difiacutecil acesso o que impossibilitou a ida ateacute a localidade
414 Histoacuterico de Boa Vista do Ramos
Uma das sete Mesorregiotildees de Parintins eacute Boa Vista do Ramos que possui
aproximadamente 16820 de habitantes segundo o IBGE (2013)
A histoacuteria de Boa Vista do Ramos encontra-se ligada agrave histoacuteria do municiacutepio de
Maueacutes Em 1798 foi fundada a Aldeia de Lusea Em meados do Seacuteculo XIX vaacuterios conflitos
ocorreram na regiatildeo entre brancos e povos indiacutegenas sendo efetiva tambeacutem a participaccedilatildeo de
cabanos oriundos da Cabanagem
Quando a Proviacutencia do Amazonas eacute criada em 1850 Lusea torna-se um dos quatorze
municiacutepios existentes na proviacutencia Seu nome eacute alterado em 1892 para Maueacutes tornando-se
sede da Comarca em 1895 Em 10 de dezembro de 1981 atraveacutes da Emenda Constitucional nordm
12 o povoado de Boa Vista do Ramos aleacutem de outros territoacuterios pertencentes agrave Maueacutes e
aacutereas adjacentes dos municiacutepios de Barreirinha e Urucurituba passam a constituir o novo
municiacutepio de Boa Vista do Ramos
Em pesquisa de campo nesse municiacutepio o primeiro contato que foi na Coordenadoria
Regional de Educaccedilatildeo da cidade (SEDUC) Embora esta professora responsaacutevel por essa
Instituiccedilatildeo tenha informado que natildeo conhecia nenhum caso de iacutendio surdo neste municiacutepio
alguns informantes afirmaram que na aldeia de Santo Antocircnio que faz parte do referido
municiacutepio foi localizada uma senhora que havia adquirido a surdez ainda muito jovem sem
56
nenhum conhecimento das liacutenguas ldquofaladasrdquo ou sinalizadas Desta forma ela utilizava de
gestos para se comunicar porque os seres humanos nascem com a capacidade para a
linguagem que se desenvolvem ao longo da primeira infacircncia mas que podem tambeacutem ser
aprendida no meio social atraveacutes de estiacutemulos Nesta perspectiva segundo a concepccedilatildeo de
Oliveira (2005 p 143)
A evoluccedilatildeo da linguagem depende de dois fatores principais da capacidade geneacutetica
cerebral para desenvolvecirc-la que eacute a principal e dos estiacutemulos ambientais que satildeo
sempre tatildeo importantes quanto aquela Esse desenvolvimento estaacute senpre inserido no
contexto de socializaccedilatildeo que eacute a responsaacutevel pela humanizaccedilatildeo do indiviacuteduo
Ainda sobre a importacircncia da socializaccedilatildeo para os sujeitos ressalta-se que estes
desenvolvendo no meio onde estatildeo inserido adquirem sua identidade cultural
concomitantemente sua identidade linguiacutestica que estaacute presente no discurso dos seus pares
posto que ela ldquoeacute adquirida nos processos de formaccedilatildeo e tranformaccedilatildeo de uma liacutengua
particularrdquo que eacute tambeacutem determinante no relacionamento cm outras liacutenguas E de acordo
com Ponzio (2007 p178) ldquoO espaccedilo em que uma liacutengua vive eacute um espaccedilo interlinguiacutestico e a
capacidade de expressatildeo e da adaptaccedilatildeo dessas liacuteguas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo eacute
diretamente proporcional agrave quantidade de contatos com outras liacutenguasrdquo O que deixa evidente
que um indiviacuteduo pode estar em contato com diferentes formas de intercomunicaccedilatildeo
415 Histoacuterico de Nhamundaacute
Eacute trigeacutesimo quinto municiacutepio mais populoso do estado do Amazonas Sendo o quarto
da Mesorregiatildeo em estudo Conforme o IBGE em 2013 o municiacutepio eacute composto por uma
populaccedilatildeo de 19 792 habitantes
O municiacutepio de Nhamundaacute estaacute localizado na zona fisiograacutefica do Baixo Amazonas
limitando com os municiacutepios de Parintins e Urucaraacute no Amazonas com o Estado de Roraima
(norte) e com os municiacutepios de Faro e Terra Santa no estado do Paraacute Distacircncia da capital 375
km em linha reta e cerca de 577 km por via fluvial Sua altitude eacute de 50 metros acima do
niacutevel do mar
As origens do municiacutepio de Nhamundaacute remontam agraves primitivas povoaccedilotildees dos iacutendios -
nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XVII composta pelos condurizes paraculamas canuris
guancaris paraquatas queremas jamundaacutes e uaboy cujo tuxaua se chamava Jamundaacute que
dada a luta em prol da liberdade de seu povo devido agrave exploraccedilatildeo e maus-tratos pelos
57
colonizadores fez um levante conduzindo a tribo Uaboy para as cabeceiras do alto rio que em
sua homenagem ganhou o seu nome e por conseguinte daacute nome ao municiacutepio
Em 1653 mediante carta reacutegia a regiatildeo foi erigida a Missatildeo que foi confiada aos
missionaacuterios portugueses capuchos da Piedade Eles organizaram uma aldeia modelo na boca
do Tauacuera - aldeia velha afluente esquerdo onde ainda se podem ver ruiacutenas do antigo
convento no meio dos espinhais A sede da Missatildeo poreacutem foi transferida para o lugar da
atual cidade de Faro Os padres capuchos souberam unir os iacutendios uaboy residentes no
Trombetas aos da Missatildeo para aumentar a populaccedilatildeo Era entatildeo o chefe dos Uaboy o tuxaua
Jamundaacute que ligou seu nome agrave Missatildeo e agrave aldeia que doravante se chamou aldeia dos
Jamundaacute ou Missatildeo dos Jamundaacute
O primeiro documento sobre a Missatildeo eacute do ano de 1727 e foi escrito pelo superior da
Missatildeo frei Francisco de Satildeo Manccedilos Em 1758 Missatildeo tomou o nome de Faro No entanto
jaacute em 1755 o Marqucirces de Pombal mandou suspender as Missotildees para serem transformadas
em vilas e paroacutequias A Missatildeo dos Jamundaacute foi extinta em 1758 por ordem de Mendonccedila
Furtado quando de sua viagem de demarcaccedilatildeo da nova capitania Foram criadas assim a vila
de Faro e a Paroacutequia de Satildeo Joatildeo Batista em 21 de dezembro de 1758 mas a instalaccedilatildeo deu-se
somente em 27 de dezembro de 1768
Desse modo em 1911 quando ocorreu a divisatildeo administrativa do Brasil o municiacutepio
de Parintins foi contemplado com o distrito de Jamundaacute Com a extinccedilatildeo deste quando
aconteceu a nova divisatildeo administrativa em 1933 o municiacutepio de Parintins surgiu com apenas
um distrito assim em 10 de dezembro de 1938 pelo Decreto-lei no 176 do Estado do
Amazonas Parintins voltaria a dispor de um outro distrito aleacutem da sede o da Ilha das Cotias
Em 19121955 pela Lei Estadual no 96 o distrito de Ilha das Cotias eacute desmembrado de
Parintins e passa a constituir o municiacutepio autocircnomo de Nhamundaacute Em 31 de janeiro de 1956
foi instalado o municiacutepio de Nhamundaacute
A viagem a esse municiacutepio foi realizada com o apoio do aluno Fernando Gonccedilalves
acadecircmico do curso de Licenciatura em Geografia pela Universidade do Estado do
Amazonas-UEA Para maiores esclarecimentos foi feita a pesquisa na casa de sauacutede indiacutegena
localizada na cidade de Nhamundaacute onde informaram desconhecer a existecircncia da etnia
Satereacute-Maweacute no municiacutepio Mesmo assim foi feito outro contato com uma enfermeira da
Casa de Sauacutede Indiacutegena do municiacutepio A resposta foi a mesma ldquoQueremos informar ao
professor que no municiacutepio de Nhamundaacute que natildeo trabalhamos com a etnia Satereacute-Maweacute
Atendemos somente a etnia Hixkaryana existente na regiatildeo Natildeo haacute portanto nenhum surdo
Hixkaryana ou Satereacute-Maweacute cujo fato eacute comprovado pelo senso municipalrdquo
58
Foi feita uma pesquisa tambeacutem em outro oacutergatildeo que atua com indiacutegenas no caso as
Secretaria de Educaccedilatildeo do Municiacutepio com a finalidade de constatar a veracidade dos fatos
eou conseguir novos dados sobre o indiacutegena surdo Satereacute ou Hixkaryana O subsecretaacuterio de
Educaccedilatildeo relatou que natildeo existia dados sobre a liacutengua Satereacute-Maweacute nem indiacutegenas surdos
existentes
Realmente apoacutes pesquisas in loco ficou comprovado somente agrave existecircncia da etnia
Hixkaryana da famiacutelia linguiacutestica Karib Sobre esta ressalta-se que
A liacutengua hixkaryana pertence agrave famiacutelia linguiacutestica Karib e eacute falada por todos os
membros do grupo Esta liacutengua eacute muito semelhante agravequeles outros dialetos falados
na regiatildeo mais ampla circunscrita pelos vales dos rios Trombetas e Mapuera como
Waiwai Xereu Katuena Karapawyana Tunayana Desta maneira e pelo fato dos
Hixkaryana estabelecerem relaccedilotildees bem estreitas com estes grupos em uma rede de
trocas matrimoniais e rituais tais dialetos satildeo inteligiacuteveis entre si []
Os Kaxuyana que moram no rio Nhamundaacute quase todos tambeacutem falam a liacutengua
hixkaryana aleacutem da sua liacutengua proacutepria o Kaxuyana Contudo em geral um
Hixkaryana natildeo fala a liacutengua kaxuyana fato que de certa forma demonstra que os
Kaxuyana satildeo considerados os ldquoestrangeirosrdquo naquela regiatildeo e que devem aprender
a liacutengua ldquonativardquo o Hixkaryana
A maioria dos Hixkaryana eacute alfabetizada na liacutengua nativa sendo capaz de ler e
escrever neste idioma Em 2008 havia apenas uma escola de ensino fundamental na
aldeia Kassauaacute e muitos jovens depois desta seacuterie dirigiam-se agrave cidade de
Nhamundaacute (AM) para prosseguir os estudos de niacutevel meacutedio Em 2010 uma escola
de ensino meacutedio foi implantada na aldeia Kassauaacute Aleacutem disso uma dezena de
Hixkaryana jaacute cursou ou estaacute cursando o ensino superior em cidades como Parintins
e Manaus Contudo a maioria das mulheres dos velhos e das velhas fala muito
pouco o Portuguecircs sendo o Hixkaryana a liacutengua mais usada por todos19
Assim como no municiacutepio de Nhamundaacute ficou constatado tambeacutem que nos demais
municiacutepios de Satildeo Sebastiatildeo do Uatumatilde e de Urucaraacute que natildeo haacute registro sobre a existecircncia
da etnia Satereacute-Maweacute nem tatildeo pouco a existecircncia de iacutendios surdos A tabela 1- apresenta o
resultado da pesquisa que aponta o mapeamento
Tabela 1 Mapeamento da existecircncia de iacutendios surdos nas respectivas comunidades
indiacutegenas ou zona urbana da microrregiatildeo de Parintins
Fonte Azevedo (2014)
19
Disponiacutevel emlthttppibsocioambientalorgptpovohixkaryanagt Acesso em 07112014
Etnia Liacutengua Comunidade Indiacutegena
rural Zona Urbana
Municiacutepio Quantidade de iacutendios
surdos
Satereacute-Maweacute Tupi Parintins Parintins 02
Satereacute-Maweacute Tupi Uaucurupaacute Parintins 01
Satereacute-Maweacute Tupi Rio Andiraacute Barreirinha 01
Satereacute-Maweacute Tupi Santa Maria Maueacutes 02
Satereacute-Maweacute Tupi Rio Marau Maueacutes 03
Satereacute-Maweacute Tupi Boa Vista do Ramos Boa Vista do
Ramos
01
Total 10
59
De acordo com os dados pode-se observar a existecircncia de poucos iacutendios surdos
Poreacutem acredita-se que ainda existam outros em comunidades mais isoladas Como tambeacutem
pelo fato de serem consideradas ldquodeficientesrdquo algumas famiacutelias natildeo integram na comunidade
que vivem As dificuldades encontradas para coletar os dados a partir dos oacutergatildeos
responsaacuteveis tambeacutem foram encontrados em outros estudos realizados anteriormente para
estabelecer a populaccedilatildeo indiacutegena na Ameacuterica Latina o que pode ser vislumbrado pela
explicaccedilatildeo dos fatos complicadores transcritos a seguir
Uma das dificuldades para estabelecer a populaccedilatildeo indiacutegena estaacute relacionada com
fato de que o criteacuterio de filiaccedilatildeo segue mais a autodenominaccedilatildeo que as
caracteriacutesticas linguiacutesticas ou raciais como se considerava haacute algumas deacutecadas atraacutes
Outra dificuldade eacute que a uacutenica fonte disponiacutevel para estabelecer a quantidade de
populaccedilotildees indiacutegenas na regiatildeo satildeo precisamente os censos nacionais de populaccedilatildeo
que haacute bem pouco tempo permitiam inferir informaccedilatildeo sobre a populaccedilatildeo indiacutegena
a partir de uma uacutenica pergunta referente agrave liacutengua falada pelos entrevistados (LOPES
e SICHRA 2009 p 103)
Entretanto embora natildeo haja um nuacutemero expressivo de iacutendios surdos da etnia Satereacute-
Maweacute ficou constatado que haacute muitos surdos natildeo-iacutendios nos municiacutepios estudados
principalmente no municiacutepio de Parintins que precisam se comunicar com diferentes
interlocutores Este eacute um argumento que aponta para a necessidade de instrumentos
educacionais como um dicionaacuterio triliacutengue importante para os surdos que conseguiram
estabelecer elos comunicativos a partir das trecircs liacutenguas E jaacute que o homem eacute criativo ldquoagrave
medida que o tempo passa a humanidade vai agregando novas descobertas e inventos que se
concretizam e se somam para dar-lhe conforto e bem estarrdquo (OLIVEIRA 2005 p 144) Entatildeo
espera-se que este material contribua para que o sujeito surdo possa se comunicar
adequadamente no seio familiar e no processo educacional
42 Realidade linguiacutestica e educacional dos iacutendios surdos encontrados da etnia Satereacute-Maweacute
O sistema responsaacutevel pela educaccedilatildeo tem procurado fazer adequaccedilotildees para atender agraves
pessoas que apresentam necessidades na sua arquitetura fiacutesica para a inclusatildeo destas no
contexto da realidade linguiacutestica e educacional Embora exista uma legislaccedilatildeo pertinente
ainda haacute ausecircncia de qualidade para que um indiviacuteduo surdo possa estudar incluso em um
contexto regular de ensino Principalmente porque os professores natildeo estatildeo preparados para
lidar com essa situaccedilatildeo peculiar Haacute uma imposiccedilatildeo nos oacutergatildeos educacionais mas natildeo haacute
60
profissionais que atuem para o bom desempenho do aluno indiacutegena surdo A partir dessa
visatildeo Albres (2005) que realizou um estudo nesta aacuterea de conhecimento afirma
Nessa perspectiva o homem eacute produto e produtor da cultura conjunto das relaccedilotildees
sociais portanto mister se faz investigar a origem histoacuterica de alguns princiacutepios da
educaccedilatildeo biliacutengue para surdos e desvelar elementos conceituais Propomo-nos
entatildeo identificar e analisar as concepccedilotildees de linguagem que sob condiccedilotildees
histoacutericas fundamentaram o ensino de Liacutengua Portuguesa para surdos nos
documentos do MEC
Desta feita entende-se que se no contexto do ensino da Liacutengua Portuguesa existem
diversas dificuldades no contexto de uma liacutengua indiacutegena a situaccedilatildeo se torna mais complexa
Desse modo na anaacutelise da situaccedilatildeo linguiacutestica e educacional encontrada com os iacutendios surdos
identificados da etnia Satereacute-Maweacute eacute bastante diversificada Apresentam diferentes formas de
siacutembolos para conseguirem se comunicar com as pessoas com quem tecircm contato Precisam
fazer um esforccedilo aleacutem do necessaacuterio para manifestar seus desejos para informar e ter acesso a
informaccedilotildees
No caso da aluna indiacutegena surda de apenas seis anos de idade na escola especiacutefica para
atender alunos surdos foi constatado que sua situaccedilatildeo linguiacutestica e educacional se encontra
em processo de aquisiccedilatildeo de uma linguagem baacutesica para comunicaccedilatildeo com as pessoas com as
quais ela convive
Conforme os dados fornecidos pela escola por meio de um parecer pedagoacutegico sobre a
aluna indiacutegena surda (ANEXO D) Ficou atestado que a aluna da etnia Satereacute-Maweacute nasceu
de parto normal sem nenhum problema aparente Aos trecircs anos de idade a matildee percebeu que
a filha natildeo ouvia e nem falava pois seus outros filhos haviam comeccedilado a falar na presente
idade Para seguir se comunicar com a filha utilizava-se de gestos sendo difiacutecil a
comunicaccedilatildeo Foi essa situaccedilatildeo que levou a famiacutelia a procura da Escola Padre Paulo Manna
onde se encontra matriculada no preacute-escolar Nessa realidade ela recebe as mesmas
orientaccedilotildees dadas agraves crianccedilas natildeo indiacutegenas logo natildeo existe um direcionamento para a cultura
da sua etnia na escola nem na no contexto familiar
Sobre essa condiccedilatildeo Cool (2004) aborda que haacute um aspecto familiar que tem
relevacircncia particular o tipo de comunicaccedilatildeo que se utiliza em casa ou seja a forma e o estilo
de comunicaccedilatildeo que os pais utilizam com a crianccedila surda tem uma grande importacircncia para o
seu desenvolvimento e para sua aprendizagem No caso dos pais ouvintes estes necessitam do
conhecimento da educaccedilatildeo da cultura da liacutengua da pessoa surda para que possam promover
uma formaccedilatildeo linguiacutestica completa para o filho surdo E deste modo este ldquopossa consolidar e
61
aprofundar o uso e a compreensatildeo da liacutengua proacutepria enquanto veiacuteculo de cultura e
possibilidade de comunicaccedilatildeo no acircmbitordquo de conhecimento do aprendiz sem deixar agrave parte do
domiacutenio da liacutengua apropriada para esse sujeito (HERNAIZ 2009)
Desta forma a educaccedilatildeo escolar reconhecida pela proacutepria escola referente agrave inclusatildeo
da aluna indiacutegena surda aponta para a necessidade de instituir uma educaccedilatildeo triliacutengue de
forma que seu processo de ensino-aprendizagem pauta-se na Liacutengua Satereacute-Maweacute Liacutengua
Brasileira de Sinais e Liacutengua Portuguesa Mesmo sabendo da dificuldade em aprender trecircs
liacutenguas o parecer pedagoacutegico considera possiacutevel aprendizagem de trecircs liacutenguas
A partir dos argumentos referidos reitera-se a importacircncia de que a educaccedilatildeo escolar
dessa aluna deve abranger as liacutenguas de uso natural nativo e social Quando se destaca a
liacutengua de uso natural entende-se que eacute a Liacutengua de Sinais como primeira liacutengua E natildeo
inverter o processo e obrigar a crianccedila surda seja indiacutegena ou natildeo aprender a falar uma
liacutengua oral seja liacutengua indiacutegena ou Liacutengua Portuguesa Sobre a questatildeo Fernandes (2005
p20) pontua
fazer uma crianccedila surda ldquofalarrdquo ao inveacutes de propiciar a ela um meio raacutepido de
comunicaccedilatildeo linguiacutestica atraveacutes da aquisiccedilatildeo da liacutengua de sinais como primeira
liacutengua que proteja e cumpra o papel fundamental de resguardar o seu natural
desenvolvimento no que se refere a ter domiacutenio de fato de um instrumental
linguiacutestico que lhe sirva para as operaccedilotildees mentais que envolvam mecanismos
linguiacutesticos
Portanto primeiramente eacute necessaacuteria a aquisiccedilatildeo da primeira liacutengua a liacutengua de sinais
e como segunda liacutengua a liacutengua nativa de sua comunidade eacutetnica No caso da aluna indiacutegena
a liacutengua Tupi da etnia Satereacute-Maweacute na modalidade escrita Desta forma com a aprendizagem
das duas liacutenguas seraacute uma aluna biliacutengue Poreacutem diante da realidade do aluno indiacutegena surdo
que vive na zona urbana se faz necessaacuterio o aprendizado triliacutengue Liacutengua Portuguesa por
escrito
Como dito anteriormente o ensino-aprendizado da Liacutengua de Sinais deve ser
garantido ao sujeito surdo para que adquira a identidade a cultura do povo surdo20
acesso
pleno as informaccedilotildees aleacutem de significar a possibilidade de comunicaccedilatildeo e expressatildeo fluentes
do sujeito surdo com seu entorno Da mesma perspectiva o ensino da Liacutengua indiacutegena se daacute
20
Como ja mencionado no capiacutetulo 1 sobre Cultura Surda ldquo eacute o jeito surdo de ser de perceber de sentir de
vivenciar de comunicar de transformar o mundo a tornaacute-lo habitaacutevelrdquo (GLADIS PERLIN apud STROBEL
2008 p 21) Strobel ainda esclarece que o sujeito Surdo se comportam diferente do sujeito ouvinte e com isso
traz alguns ldquoartefatos culturaisrdquo (explicado no capiacutetulo 1) que satildeo as pecualiaridade da cultura surda as quais
descritas Parte das experiecircncias visuais linguiacutestico familiar literatura surda vida social e esportiva artes
visuais poliacutetica e materiais Todos estes artefatos concebidos a partir do VER (IDEM 2008 p36-77)
62
em respeito aos direitos da cultura indiacutegena previsto pela Constituiccedilatildeo Brasileira conforme
decreto nordm 6861 de maio de 2009 no seu Art 2o que determina ldquoSatildeo objetivos da educaccedilatildeo
escolar indiacutegena I- valorizaccedilatildeo das culturas dos povos indiacutegenas e a afirmaccedilatildeo e manutenccedilatildeo
de sua diversidade eacutetnica II- fortalecimento das praacuteticas socioculturais e da liacutengua e da liacutengua
materna de cada comunidade indiacutegenardquo
Neste caso a referida aluna iacutendia surda deveraacute ter a liacutengua indiacutegena como liacutengua de
conhecimento de sua cultura Para o ensino desta na forma escrita faz-se uso de cartilhas
gramaacuteticas dicionaacuterios etc
De acordo com o exposto a escola reconhece a necessidade da educaccedilatildeo escolar
triliacutengue poreacutem utiliza-se de outra realidade conforme citado pela proacutepria escola ldquoNo
primeiro momento fica junto com os colegas ouvintes onde procuramos trabalhar de forma
inclusiva no contexto biliacutengue Liacutengua Portuguesa e Liacutengua de Sinais
Sobre este aspecto Rodrigues (2005 p20) pontua
Quantas lacunas estariam sendo criadas em nome da pressuposiccedilatildeo de que a
aprendizagem da liacutengua da maioria dos falantes da comunidade (ouvintes) eacute que
daria agrave crianccedila surda condiccedilotildees de desenvolvimento social e cognitivo Quantas
etapas de desenvolvimento estariam sendo desprezadas nas fases naturais de sua
evoluccedilatildeo sob a alegaccedilatildeo de que ela seraacute capaz de alcanccedilar o que se estabelece como
meta social Que metas estariam sendo alcanccediladas afinal Que objetivos estatildeo sendo
perseguidos em prol desses paracircmetros ultrapassados em detrimento dos reais
objetivos de formaccedilatildeo psico-sociocultural deste individuo Em que a liacutengua de
sinais como primeira liacutengua ainda se encontra determinada pelo descreacutedito de
tantos especialistas da aacuterea
A realidade encontrada sobre a educaccedilatildeo natildeo soacute em uma escola que atende alunos
surdos mas tambeacutem em muitas escolas as chamadas escolas ldquoinclusivasrdquo apresentam
dificuldades no processo de ensino dos alunos surdos21
Todavia entre desencontros
sociocultural-linguiacutesticos eacute preciso fazer uma ressalva desta escola ldquoA escola disponibilizou
21
Sobre a temaacutetica da Inclusatildeo formula-se ldquoAo se avaliar que na contemporaneidade impera o discurso da
inclusatildeo indiscriminada em escolas regulares[]Esta diretriz tira o direito previsto na legislaccedilatildeo brasileira de
poder optar por uma educaccedilatildeo biliacutengue em escola proacutepria de modo que se repete a condiccedilatildeo em que aos surdos eacute
imposto um enorme sofrimento na medida em que nos denominamos processos inclusivos junto aos ouvintes
permanecem privados de conviver com seus pares e de acessar o conhecimento na Liacutengua de Sinais como liacutengua
de instruccedilatildeo [] Os surdosde diferentemente de outros segmentos tecircm a necessidade de agrupar-se para formar
comunidade linguiacutestica por meio das quais possam construir uma ldquocomunidade de experiecircnciasrdquo (WITKOSKI
2012 p33-34)
63
uma professora surda para a aquisiccedilatildeo da Liacutengua Brasileira de Sinais repassando o conteuacutedo
ministrado na salardquo onde cada um desses alunos eacute inserido
A escola positivamente conta com a colaboraccedilatildeo do trabalho docente de uma
professora surda Esta tem um papel fundamental como modelo linguiacutestico principalmente
quando alunos surdos provecircm de famiacutelias ouvintes que natildeo tecircm acesso agrave cultura e agrave Liacutengua
de Sinais Cabe ao professor surdo comunicar-se fluentemente com o aluno surdo ser um
input linguiacutestico para a identificaccedilatildeo da cultura do ser surdo
Dessa forma Strobel (2008 p 40) destaca
Este contato crianccedila surda x adulto surdo atraveacutes de uma liacutengua em comum que eacute a
liacutengua de sinais eacute que proporcionaraacute o acesso agrave linguagem e desta forma estaraacute
assegurada a identidade e a cultura surda que eacute transmitida naturalmente agrave crianccedila
surda em contato com a comunidade surda
Observa-se que caso a crianccedila surda natildeo tenha o direito a sua diferenccedila preservado
este aprendiz teraacute sua inserccedilatildeo no mundo dos ouvintes de forma incerta eou sem esperanccedila de
uma vida normal A situaccedilatildeo se agrava na medida em que a sociedade ouvinte deixa a desejar
quanto agrave participaccedilatildeo dos sujeitos surdos em decorrecircncia da escassez dos vaacuterios recursos
visuais que promovem acessibilidade para eles
Contudo os povos surdos hoje satildeo mais conscientes de seus direitos entatildeo esses
sujeitos cultural e politicamente lutam pelos mesmos Direitos estes tambeacutem dos povos
indiacutegenas como jaacute comentados anteriormente
Todavia esse aspecto ainda estaacute distante da realidade dos sujeitos focos do estudo de
acordo com relato da escola Segundo depoimentos de alguns indiacutegenas a aprendizagem
indiacutegena passa pela demonstraccedilatildeo observaccedilatildeo imitaccedilatildeo tentativa e erro e quando o aluno
vem para a escola tem que se socializar e obedecer a comandos regidos pelo sistema e isso
muitas vezes o deixa confuso e os maiores ateacute desistem A situaccedilatildeo se agrava quando esse fato
se refere ao sujeito iacutendio surdo incluiacutedo na escola pois este requer um diferencial ainda
maior reconhecido pela escola
Dessa forma satildeo necessaacuterias estrateacutegias de ensino diferenciadas que deem suporte
para que a aluna seja trabalhada de forma triliacutengue no contexto escolar para que ela
natildeo perca a sua essecircncia a sua cultura que sejam adaptados trabalhos de acordo
com a realidade indiacutegena para que ela natildeo perca a sua identidade e saiba conduzir
sua aprendizagem dentro de um contexto diferenciado podendo aprender o que lhe eacute
de direito como viver bem em sociedade22
22
Texto extraiacutedo do parecer pedagoacutegico da aluna indiacutegena surda que estuda na Escola de Aacuteudio e Comunicaccedilatildeo
Pe Paulo MannaParintinsAm (ANEXO D)
64
A partir das consideraccedilotildees tecidas no parecer pedagoacutegico torna-se evidente ema
necessidade de ampliar e aprofundar as reflexotildees sobre a inclusatildeo de iacutendios surdos em vaacuterios
espaccedilos da sociedade especialmente no espaccedilo educacional escolar Ou seja haacute necessidade
tambeacutem de poliacuteticas linguiacutesticas voltada para esse acircmbito
Nesse sentido eacute necessaacuterio que se tenha como meta uma tomada de decisotildees poliacuteticas
para que gradativamente se possa controlar a situaccedilatildeo de aprendizagem do surdo no processo
soacutecio cultural onde ele estiver inserido Ateacute por que existe uma proposta educativa
intercultural de modo biliacutengue no contexto indiacutegena Assim surge a necessidade de accedilotildees
objetivas para garantir na praacutetica esta proposta de ensino a fim de enriquecer o indiacutegena
surdo com desenvolvimento da liacutengua de sinais como veiacuteculo de comunicaccedilatildeo acrescendo
seus conhecimentos a partir do pluralismo cultural uma vez que estaacute amparado por
legislaccedilotildees especiacuteficas
Reitera-se a necessidade de accedilotildees objetivas especialmente no que tange a formaccedilatildeo
especiacutefica de professores pois mesmo com a garantia da legislaccedilatildeo a presente realidade
desses sujeitos estaacute distante do contexto sociocultural-linguiacutestico do ser iacutendio surdo A
exemplo disso tem-se outra realidade sociocultural-linguiacutestico do segundo aluno indiacutegena
surdo de 24 anos que foi transferido de uma escola que desenvolve atividades educacionais
especiacuteficas para outra no processo denominado de educaccedilatildeo inclusiva onde cursa o nono ano
do ensino fundamental das seacuteries finais e faz atendimento na sala de recurso porque os
professores das disciplinas do curso natildeo tecircm formaccedilatildeo para acompanhaacute-lo
Os relatos da famiacutelia indicam que o aluno nasceu na aacuterea indiacutegena de Ponta Alegre
poreacutem muito pequeno sua famiacutelia mudou-se para zona urbana municiacutepio de Parintins o qual
cresceu longe de sua cultura indiacutegena desconhecendo assim a liacutengua de sua etnia Este eacute um
caso que promove o desaparecimento de liacutenguas indiacutegenas o conhecido deslocamento
sociolinguiacutestico
Para entender o processo que instaura este deslocamento linguiacutestico ressalta-se que
primeiramente a educaccedilatildeo da pessoa perpassa pelo uso da liacutengua materna no ambiente
familiar nas relaccedilotildees famiacuteliares na qual utiliza uma comunicaccedilatildeo intra e extrafamiliar Se a
famiacutelia mantiver sua liacutengua nativa em uso os membros da mesma permaneceratildeo biliacutengues
Poreacutem se a famiacutelia por pressatildeo social do uso da liacutengua dos falantes da sociedade local seja
porque deseja se adequar ao meio onde se insere a liacutengua no caso indiacutegena entra no processo
de esquecimento para as geraccedilotildees vindouras
65
Eacute o caso do aluno acima que eacute biliacutengue (Liacutengua Brasileira de Sinais e Liacutengua
Portuguesa na modalidade escrita) contudo desconhece sua raiz cultural a liacutengua de sua
etnia Seu contexto educacional eacute baseado em ldquomodelo de escola inclusivardquo o aluno vai para
sala de aula com alunos ouvintes onde a liacutengua portuguesa eacute a liacutengua padratildeo a ser ensinada e
estudada e posteriormente faz atendimento na sala de recurso em sua liacutengua natural Libras
Logo a escola pode ajudar no incentivo favorecendo a revitalizaccedilatildeo da liacutengua
indiacutegena no contexto educacional Para isso haacute necessidade de um corpo docente com a
formaccedilatildeo em Liacutengua indiacutegena e Liacutengua Brasileira de Sinais aleacutem da Liacutengua Portuguesa que eacute
usada como a base de ensino
Jaacute na comunidade Uiacurapaacute da etnia Maweacute encontramos outra realidade de contexto
de um surdo indiacutegena Todavia natildeo foi possiacutevel fazer um acompanhamento mais preciso
sobre sua situaccedilatildeo educacional escolar O uacutenico dado correspondente agrave questatildeo linguiacutestica eacute o
modo como ele se comunica conforme foi relatado por membros da comunidade local se
caracteriza pela utilizaccedilatildeo de gestos criados para se fazer compreender Desta forma diante da
ausecircncia de uma liacutengua estruturada a Libras por fazer uso somente de gestos ele apresenta
dificuldades de entender o ensino e de se comunicar com seus pares Da mesma forma ocorre
no contexto familiar e na comunidade uma vez que o aluno surdo vive quase que isolado
devido ao preconceito existente ateacute mesmo pela proacutepria comunidade por natildeo o entenderem e
nem saberem qual a forma para se comunicar aquele indiviacuteduo Assim ele vive em uma
situaccedilatildeo de rejeiccedilatildeo e marginalizaccedilatildeo estabelecida a partir da ausecircncia de uma liacutengua que
promova a comunicaccedilatildeo com o predomiacutenio de um processo de estigmatizaccedilatildeo deste sujeito
surdo
No municiacutepio de Maueacutes Boa Vista do Ramos os iacutendios surdos localizados satildeo de
idade adulta natildeo tiveram a oportunidade de frequentar escola Portanto sua realidade
linguiacutestica fundamenta-se somente na forma gestual que denominam de caseira atribuindo
significados peculiares de seu contexto local No que diz respeito ao aspecto educacional as
pessoas contatadas demonstraram apenas uma preocupaccedilatildeo sobre a existecircncia futura de
possiacuteveis iacutendios surdos nesses municiacutepios e sua formaccedilatildeo educacional Contudo natildeo
afirmaram o que fariam se encontrassem outros sujeitos com essa necessidade de
comunicaccedilatildeo
Como jaacute mencionado natildeo haacute registro sobre a situaccedilatildeo linguiacutestica e educacional de
nenhum iacutendio surdo da etnia Satereacute-Maweacute nos municiacutepios de Nhamundaacute Satildeo Sebastiatildeo do
Uatumatilde e de Urucaraacute Portanto as informaccedilotildees educacionais natildeo satildeo apresentadas nestes
contextos
66
43 Inventaacuterio de gestos da linguagem caseira dos surdos Satereacute-Maweacute
A presente pesquisa baseia-se em um meacutetodo de estudos de etnografia com o intuito
de descrever e observar os gestos caseiros que os indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute usam para se
comunicarem com seus pares nas comunidades onde residem O meacutetodo tambeacutem ajuda a
conhecer a identidade e sua interaccedilatildeo no meio da comunidade visto haacute uma diversidade
linguiacutestica rica usada pelos surdos indiacutegenas nas diversas localidades percorridas pelo
pesquisador na microrregiatildeo de Parintins
431 Os sinais caseiros de indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute
O objetivo do mapeamento eacute coletar os sinais caseiros ou emergentes para que esses
sinais possam ser reconhecidos e compreendidos pela sua comunidade como meio linguiacutestico
de comunicaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo de sua cultura
Para a concretizaccedilatildeo do mapeamento foi necessaacuterio a pesquisa de campo na
comunidade onde se fazia presente o indiacutegena surdo para as devidas observaccedilotildees
432 O Municiacutepio de Parintins
No municiacutepio de Parintins foi localizado trecircs (03) indiacutegenas surdos com suas
caracteriacutesticas linguiacutesticas diferenciadas de suas origens sendo que dois indiacutegenas residem na
zona urbana e um indiacutegena localizado na comunidade de Uaicurapaacute os quais foram o objeto
investigativo para a coleta de dados Os registros foram feitos de forma diferenciada de modo
que primeiramente conversei com as lideranccedilas indiacutegenas acompanhado de inteacuterprete e guia
linguiacutestico Durante este encontro foram feitas no local observaccedilotildees visuais sendo que em
alguns casos realizamos registros de imagens filmagens e entrevistas Eacute importante destacar
que os registros soacute puderam ser feitos quando permitidos pelos sujeitos da pesquisa ou pela
lideranccedila prevalecendo em sua maior parte a observaccedilatildeo visto que materiais tecnoloacutegicos e
de miacutedias causavam incocircmodo aos entrevistados fazendo com que se tornassem
incomunicaacuteveis quando percebiam que estavam sendo monitorados
67
4321 O primeiro surdo
Esse primeiro indiacutegena possui surdez moderada Eacute um senhor com idade de 72 anos
residente no Uiacurapaacute23
O contato foi feito na Casa do Iacutendio de Parintins Em uma
conversaccedilatildeo informal explicou que perdeu a audiccedilatildeo com o tempo eacute oralizado24
e se
comunica com a comunidade na liacutengua nativa Satereacute-Maweacute Trata-se de um cidadatildeo calmo
fala apenas de suas necessidades visto que natildeo se manifesta muito devido suas limitaccedilotildees
auditivas que dificultam uma melhor compreensatildeo
Como referido o surdo em questatildeo tem surdez moderada Neste sentido observa-se
que a surdez ocorre de acordo com diferentes classificaccedilotildees quanto ao niacutevel de perda auditiva
Ou seja
Quanto ao grau - leve (perda de 26 a 40 dBNA) - moderada (perda de 41 a 55
dBNA) - moderadasevera (perda de 56 a 70 dBNA) - severa (perda de 71 a 90
dBNA) - profunda (a partir de 91 dBNA) (RUSSO e SANTOS 1988 apud
NADER 2011 p 2)
Retomando a histoacuteria do sujeito surdo em questatildeo observa-se que ele reside na zona
rural no Uiacurapaacute com seus parentes e sua sobrevivecircncia eacute atraveacutes do que planta e pesca
Observando-o percebo que o mesmo tem uma vida normal com seus pares o que falta para
uma interaccedilatildeo mais ativa na comunidade eacute estimulo e o incentivo linguiacutestico pois muitas
pessoas satildeo impacientes e acabam deixando-o isolado linguisticamente
4322 O segundo surdo
Eacute um indiacutegena natural de Ponta Alegre25
concluiu o ensino fundamental em uma
escola puacuteblica no municiacutepio de Parintins Sua surdez foi percebida por seus pais ainda
crianccedila causada por doenccedila congecircnita A famiacutelia mudou-se para o municiacutepio de Parintins em
busca de uma melhor educaccedilatildeo para filho surdo entretanto os pais eram usuaacuterios da Liacutengua
Satereacute-Maweacute mas natildeo mais praticam pela influecircncia da Liacutengua Portuguesa e tambeacutem natildeo 23 Rio que fica interliga com Rio Paranaacute do Ramos ndash Parintins (AZEVEDO 2014) 24
O modelo cliacutenico-terapecircutico baseia-se numa visatildeo patoloacutegica de surdez e num modelo individual de
atendimento aacute diversidade que tem como referecircncia o Oralismo O oralismo eacute uma filosofia educacional para
surdos cujo discurso propotildee a superaccedilatildeo da surdez e a aceitaccedilatildeo social do surdo por meio da oralizaccedilatildeo Em
outras palavras este modelo defende o aprendizado apenas da Liacutengua Portuguesa na sua modalidade oral e
escrita na escola por entender que esta eacute a uacutenica possibilidade de integrar o surdo na sociedade majoritaacuteria
ouvinte (SLOMSKI 2010 p 32) 25
A comunidade de Ponta Alegre situa-se no Rio Andiraacute com 4 horas de viagem de lancha para chegar a
comunidade (AZEVEDO 2014)
68
frequentam a comunidade Satereacute-Maweacute em busca de assistecircncia ou outros meios oferecidos
pela tribo Portanto a famiacutelia cresceu e disseminou deixando de lado a liacutengua nativa e
tradiccedilatildeo indiacutegena vivendo uma vida regular na zona urbana
O surdo hoje com 20 anos natildeo conhece a liacutengua nativa de sua comunidade se
comunica fluentemente com a Liacutengua de Sinais escreve o Portuguecircs e se oraliza na
comunicaccedilatildeo com seus pais que tambeacutem natildeo sabem a Liacutengua de Sinais
Atraveacutes de sua histoacuteria eacute possiacutevel perceber que este sujeito surdo por estudar em
escola inclusiva com forte influecircncia a oralista desenvolveu as duas linguas a Liacutengua
Brasileira de Sinais e a Liacutengua Portuguesa Poreacutem sua situaccedilatildeo eacute diferente de outros
indiacutegenas surdos que residem nas comunidades que usam os sinais caseiros para se
comunicarem Isso acaba sendo uma observaccedilatildeo abstrata da realidade entre os surdos que
moram na zona urbana e na comunidade Satereacute-Maweacute
4323 O terceiro surdo
Eacute uma crianccedila de 5 anos descendente da etnia Satereacute-Maweacute estuda em uma escola
filantroacutepica em Parintins Trata-se de uma aluna inteligente que demonstrava timidez na
presenccedila de pessoas estranhas Verificou-se que ela consegue aprender e identificar os objetos
apresentados para que identificasse Aos 4 anos antes de entrar para a escola utilizava alguns
sinais caseiros para se comunicar com seus familiares Na sala de aula o ensino oferecido a
ela eacute o biliacutengue26
tendo a Liacutengua Brasileira de Sinais e a Liacutengua Portuguesa compondo essa
educaccedilatildeo O ensino nessa instituiccedilatildeo vai ateacute a 5ordf serie Por esta razatildeo a aluna futuramente
precisaraacute ser transferida para uma escola de ensino fundamental
Tabela 2 11 Sinais caseiros utilizados pela crianccedila indiacutegena surda de 5 anos e seus
familiares
26
O Bilinguismo eacute uma filosofia de ensino cujo discurso propotildee a diversidade cultural e a aceitaccedilatildeo social do
surdo por meio do bilinguismo (duas liacutenguas Liacutengua de Sinais e segunda liacutengua) Essa filosofia concebe o surdo
como um ser diferente e a surdez como ldquoatributo humanordquo como uma caracteriacutestica da pessoa surda resultado
de uma deficiecircncia orgacircnica que natildeo se esgota nela mesma (SKLIAR 1997 apud SLOMSKI 2010 p 41)
SINAIS CASEIROS DESCRICcedilAtildeO
AacuteGUA Matildeo direita com o dedo polegar fazendo a expressatildeo de beber aacutegua
BRINCAR As duas matildeos fechadas batendo as pontas dos dedos em
movimento
BANHEIRO Matildeo direita mostra o local e a esquerda eacute posicionada na barriga
COMIDA As duas matildeos abrindo e fechando repetidamente proacuteximo da boca
DORMIR As duas matildeos com as palmas juntas encostar-se ao rosto com
expressatildeo de querer dormir
69
Fonte AZEVEDO (2014)
Figura 2 Sinais caseiros utilizado pela crianccedila de 5 anos
FOME Matildeo direita indo em direccedilatildeo da barriga fazendo expressatildeo facial de
fome
MAtildeE Matildeo direita aberta no rosto fazendo movimento nos dedos com
expressatildeo chamativa
IRMAtildeO Matildeo direita batendo no antebraccedilo para chamar atenccedilatildeo
PAI Matildeo direita com os dedos pegando o queixo
PESSOA Matildeo direita com dedo indicador fazendo expressatildeo de algueacutem
CHORAR As duas matildeos fechadas com os dorsos esfregando nos olhos
AacuteGUA BRINCAR
COMIDA DORMIR FOME
MAtildeE IRMAtildeO PAI
BANHEIRO
70
44 O indiacutegena surdo da Comunidade de Ponta Alegre do municiacutepio de Barreirinha
Foi localizado um aluno surdo na comunidade de Ponta Alegre que faz parte do
municiacutepio de Barreirinha trata-se de um jovem de 13 anos que estuda na Escola Municipal
Rosa Cabral e mora em uma aldeia mais distante a observaccedilatildeo foi feita na escola Nessa
viagem foi obtido a autorizaccedilatildeo de viagem para a aldeia na Secretaria de Educaccedilatildeo Municipal
de Barreirinha por meio do contato com o coordenador geral do setor indiacutegena daquela aacuterea
o senhor Santino Lopes que muito contribuiu com o projeto e de servir como guia de
viagem
O devido aluno estuda na 3ordf Serie do ensino fundamental De acordo com as
observaccedilotildees feitas O ensino predominante na sala para o ensino deste aluno eacute a Liacutengua
Portuguesa visto que os professores em sua maioria vem do municiacutepio de Barreirinha
Embora o ensino seja bem aplicado e a escola dispotildee de material didaacutetico apropriado para a
seacuterie natildeo haacute metodologia de ensino especializado para surdo natildeo existindo Sala de
Recursos27
O aluno aprende lentamente demonstrando dificuldades de entender os
conteuacutedos
A comunicaccedilatildeo com seus professores e colegas soacute acontecem atraveacutes de sinais
caseiros e expressotildees manuais O aluno surdo vive quase que isolado sem ter a possibilidade
de estabelecer uma comunicaccedilatildeo satisaftoacuteria dentro do contexto escolar devido ao
27
Uma das inovaccedilotildees trazidas pela Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Especial na Perspectiva da Educaccedilatildeo
Inclusiva (2008) eacute o Atendimento Educacional Especializado ndash AEE um serviccedilo da educaccedilatildeo especial que []
identifica elabora e organiza recursos pedagoacutegicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena
participaccedilatildeo dos alunos considerando suas necessidades especiacuteficas
O AEE complementa eou suplementa a formaccedilatildeo do aluno visando a sua autonomia na escola e fora dela
constituindo oferta obrigatoacuteria pelos sistemas de ensino Eacute realizado de preferecircncia nas escolas comuns em um
espaccedilo fiacutesico denominado Sala de Recursos Multifuncional Portanto eacute parte integrante do projeto poliacutetico
pedagoacutegico da escola (BRASIL 2008 p 3)
CHORAR PESSOA
71
preconceito existente Ateacute mesmo na proacutepria comunidade por natildeo entenderem e nem saberem
de que forma comunicarem-se com o mesmo a situaccedilatildeo de exclusatildeo se repete
Vale destacar que diante desta ausecircncia da qualidade de ensino para o aluno surdo a
professora Maria Inecircs ao responder um questionaacuterio segue algumas afirmativas para mudar
esta realidade Desta forma a educadora afirma que
- Eacute muito importante a capacitaccedilatildeo em cursos de libras e livros didaacuteticos proacuteprios
como forma de melhorar o ensino e a comunicaccedilatildeo com aluno surdo na
comunidade como parte da educaccedilatildeo inclusiva para facilitar o ensino e
aprendizado acima de tudo conhecer sua liacutengua materna identidade do povo
Satereacute-Maweacute
Pelo relato do Gestor da Escola Senhor Dulcemar a necessidade jaacute referida pela
educadora acima de materiais didaacuteticos para subsidiar o ensino eacute novamente colocada em
destaque conforme pode ser vislumbrado no relato transcito a seguir
- Eu como gestor sinto-me gratificado pelo trabalho a ser desenvolvido aqui com a
questatildeo da Libras um trabalho realizado pelo professor Marlon Jorge Pois eacute muito
importante devido agrave dificuldade que a educaccedilatildeo Satereacute- Maweacute vem tendo
principalmente quando se trata de alunos surdos indiacutegenas e ateacute mesmo por falta
de material didaacutetico Esse trabalho vai ser importante aqui na aacuterea indiacutegena para
ajudar o professor na sala de aula como ensinar como educar e como lidar com
esses alunos com necessidades especiais Entatildeo eacute um trabalho muito importante
pra noacutes e estamos aqui a disposiccedilatildeo e tambeacutem para contribuir como gestor da
escola juntamente com os professores e pra noacutes eacute muito bom esse trabalho e que o
Sr possa desenvolver esse seu projeto essa cartilha que com o aacutepice das aulas de
libras que com certeza vai fortalecer muito mais a educaccedilatildeo do povo Satereacute
Maweacuterdquo
Tabela 313 sinais caseiros coletados e utilizados pelo aluno da comunidade de Ponta Alegre
Fonte Azevedo (2014)
SINAIS CASEIROS DESCRICcedilAtildeO
AacuteGUA Usa as duas matildeos fazendo impressatildeo de beber alguma coisa
BARCO Usa-se a matildeo direita aberta em posiccedilatildeo vertical fazendo uma
expressatildeo da accedilatildeo do barco
BANHO Fazer a expressatildeo de pular na aacutegua com os braccedilos esticados
BANHEIRO Matildeo direita usando o indicador fazendo expressatildeo sair fora sala
COMIDA Matildeo esquerda aberta matildeo direita usando como o objeto metaacutelico
COBRA Usando os dedos da matildeo direita beliscando o pulso da matildeo esquerda
ESCOLA Faz-se o sinal de casa
ESTUDAR Faz a expressatildeo de escrever
FOME Matildeo direita levando em direccedilatildeo da barriga fazendo expressatildeo facial
de fome
FARINHA As duas matildeos palmas para baixo fazendo a expressatildeo de esfarelar
alguma coisa
LANCHA Usa a matildeo direita palma para cima fazendo uma accedilatildeo da rapidez
para frente
PEIXE Matildeo direita fazer a expressatildeo de caccedilar o peixe com o arpatildeo
PESSOA Matildeo direita com dedo indicador fazendo expressatildeo de algueacutem
72
Figura 3 Sinais caseiros utilizados pelo aluno da comunidade de Ponta alegre ndash
Barreirinha
AacuteGUA BARCO
BANHEIRO
BANHO
COMIDA
ESCOLA
FOME LANCHA PESCAR PEIXE
ESTUDAR FARINHA
COBRA
73
45 Os indiacutegenas surdos do Municiacutepio de Maueacutes
Situado entre os rios Madeira e Tapajoacutes o municiacutepio de Maueacutes estaacute localizado no
Meacutedio Amazonas que hoje eacute denominado como microrregiatildeo aacuterea leste do Estado Distante
de Manaus cerca de 30 km em linha reta ou o equivalente 45 minutos por via aeacuterea estando
a 356 km por via fluvial cerce de 16 a 18 horas de barco
Nesse municiacutepio foi realizado duas viagens com a finalidade de fazer um mapeamento
das aacutereas indiacutegenas bem como descobrir a existecircncia de surdos nas aldeias O primeiro
contato foi na Secretaria de Educaccedilatildeo do municiacutepio primeiramente me apresentado como
aluno pesquisador juntamente com os documentos comprobatoacuterios de acesso para realizar a
pesquisa nas aacutereas indiacutegenas As informaccedilotildees que tinha antes de estabelecer o contato
apontavam para a existecircncia de alunos indiacutegenas surdos matriculados na sede do municiacutepio
Poreacutem a secretaria informou desconhecer a existecircncia de alunos indiacutegenas matriculados na
rede publica do municiacutepio nem saber sua localizaccedilatildeo para contatos sendo orientado a
procurar na Casa do Estudante Indiacutegena Satereacute-Maweacute que se localiza em um bairro mais
distante dali
Chegando ao SESAI - Secretaria de Sauacutede Indiacutegena obtivemos acesso agraves informaccedilotildees
devido ao fato de que a pessoa responsaacutevel estava em viagem sendo que retornaria na outra
semana Em outra busca formos agrave Casa do Estudante Satereacute-Maweacute onde conversamos com o
coordenador Sr Jusivam que disse saber da existecircncia de indiacutegenas surdos nas comunidades
na Marau e Andiraacute mas natildeo ter dados quantitativos devido ao fato deles natildeo terem procurado
a Casa do Estudante em busca de assistecircncia que auxiliassem sua integraccedilatildeo em escolas
regulares ou inclusivas Observa-se que a Casa do Estudante podia auxiliar eles a
conseguirem uma escola para estudarem na zona urbana jaacute que esta eacute uma das atribuiccedilotildees da
instituiccedilatildeo
Ao sermos informados que as comunidades onde havia surdos eram distantes e
necessitava de apresentar outros documentos da Coordenaccedilatildeo Geral de Educaccedilatildeo que ficava
no municiacutepio de Barreirinha Tambeacutem se fazia necessaacuterio preparar uma programaccedilatildeo de
viagem para que pudessemos chegar ateacute aquela localidade de modo que nesta precisava
inclusive organizar para ter inteacuterpretes que falassem a liacutengua Satereacute-Maweacute e inteacuterpretes de
Libras Aleacutem destes precisava contar com um acompanhante para registrar as imagens e
filmagens se autorizadas anotando tudo que fosse necessaacuterio
Fazendo uma reflexatildeo sobre a viagem e os entraves que tinhamos pela frente para a
concretizaccedilatildeo do projeto e as distacircncias geograacuteficas para alcanccedilar os objetivos da pesquisa
74
Contudo ao encontrar um surdo indiacutegena sendo o principal objeto da pesquisa em funccedilatildeo da
grande satisfaccedilatildeo de poder contribuir para o desenvolvimento linguiacutestico dos indiacutegenas surdos
e para que a comunidade compreenda como um ser incluiacutedo a partir do respeito a sua cultura
inserindo em seus modos e haacutebitos foi compensador enfrentamos todos os obstaacuteculos
Visitamos a Universidade do Estado do Amazonas ndash UEA onde tivemos a grata
surpresa de saber que havia uma turma de formaccedilatildeo em licenciatura Indiacutegena para a
comunidade Esperamos a aula acabar para falar com o professor o qual pediu para vir outro
dia para conversar com os alunos Foi nessa ocasiatildeo que conhecemos trecircs professores com os
quais fizemos um acordo para que na proacutexima viagem me levassem para a aldeia a fim de
realizar o mapeamento
Voltando para Parintins foi elaborado um roteiro para viagem a aacuterea indiacutegena Satereacute-
Maweacute pelos rios Maueacutes-Accedilu Rio MarauUrupadi A viagem aconteceu no dia 02 de
fevereiro de 2014 saindo de barco de Parintins indo ateacute o municiacutepio de Maueacutes No dia
seguinte as 8 horas acompanhado do professor Jesiel pegamos uma voadeira de 150HP com
destino ao territoacuterio Satereacute-Maweacute Foi uma viagem perigosa devido agraves condiccedilotildees dos rios e de
difiacutecil acesso para chegarmos laacute Todavia fizemos um esforccedilo e conseguimos nos deslocar ateacute
a comunidade Percorremos de voadeira uma viagem que durou aproximadamente 8 horas
pelo Rio Maueacutes Accediluacute Depois de uma hora e meia de viagem chegamos ao Rio Urupadi e
seguimos mais uma hora e meia de viagem ateacute a comunidade indiacutegena Vale do Quiinha
Nessa aldeia pegamos o professor Jacob Santos de Souza que nos acompanhou para a
proacutexima aldeia Ilha Michiles que fica no Rio Marau Nessa aldeia pegamos outro professor
Satereacute-Maweacute Jocimar Alencar dos Santos Saiacutemos da Ilha Michiles com destino a
comunidade Santa Maria que fica na divisa do Rio Urupadi e Manjuru A cada visita que
faziamos nas comunidades indiacutegenas percebemos no cotidiano a diversidade presente nas
aacutereas indiacutegenas Satereacute-Maweacute Ao perguntar se havia algueacutem surdo na famiacutelia e a resposta
sempre vinha de forma afirmativa o que me demonstrou que todos os esforccedilos para realizar a
viagem foram compensados diante da riqueza de dados coletados
A primeira iniciativa adotada com relaccedilatildeo a esse momento foi reunir com os
comunitaacuterios envolvidos nas atividades escolares A reuniatildeo teve como objetivo observar e
entrevistar alguns indiacutegenas para posteriormente analisar como se procede agrave comunicaccedilatildeo
entre indiacutegenas surdos e ouvintes A reuniatildeo foi muito uacutetil para os estudos e anaacutelise de
informaccedilotildees Os surdos existentes na comunidade nunca estudaram devido agrave comunidade
Santa Maria ficar distante da zona urbana e a escola existente para alunos ouvintes ficar em
75
outra comunidade o que inviabiliza a ida deles sendo que tambeacutem natildeo haacute professores
especializados para atenderem a clientela surda existente no Rio Marau
Encontramos dois indiacutegenas surdos na comunidade de Santa Maria que foram objeto
de estudos No entanto houve informaccedilotildees repassadas de que haacute outros trecircs surdos em outras
comunidades mais distante na mesma aacuterea Satereacute-Maweacute A visita para contactar estes outros
trecircs surdos ficou para a proacutexima viagem de observaccedilatildeo e coleta dos dados
451 O primeiro surdo da Comunidade de Santa Maria
No contato e observaccedilatildeo que tivemos com o surdo o mais novo tem 24 anos mora
com a famiacutelia natildeo conhece nenhuma liacutengua se comunica com gestos e sinais caseiros A
comunidade assim com a famiacutelia demosntrou pouco se importar com ele de forma que natildeo
haacute estiacutemulo ou interesse para que haja uma interaccedilatildeo linguiacutestica satisfatoacuteria entre eles
O ponto de encontro com seus colegas fica na parte central da comunidade que tem
um campo de futebol Laacute eles se concentram embaixo de uma aacutervore Neste lugar o surdo
costuma ficar quase diariamente com intuito de se unir e brincar com os colegas Ele usa os
sinais caseiros com expressotildees com a intenccedilatildeo de conseguir se comunicar com os colegas
Poreacutem alguns natildeo conseguem entender enquanto outros falam a Liacutengua Satereacute-Maweacute
Apesar do esforccedilo do surdo de tentar compreender o que eacute falado via a leitura labial na
maioria das vezes natildeo consegue compreender Poreacutem mesmo assim sinaliza balanccedilando a
cabeccedila com expressatildeo de concordacircncia afirmativa mesmo natildeo entendendo a mensagem
Tabela 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa
Maria
SINAIS CASEIROS
COLETADOS
DESCRICcedilAtildeO
AacuteGUARIO Usam-se as duas matildeos fazendo a expressatildeo de banzeiro
ANTA Matildeo direita fazendo a expressatildeo do focinho do nariz
AacuteRVORE As matildeos abertas fazendo expressatildeo de segurar o troco ao mesmo tempo
levando para cima
BARCO Usa a matildeo direita fechada fazendo expressatildeo de abrir e fechar a matildeo
como sinal de fumaccedila
BANHO Fazer a expressatildeo de pular na aacutegua com os braccedilos esticados
CASA As duas matildeos palmas para baixo fazendo um balanccedilo de movimento de
uma rede
CACcedilAR PEIXE Matildeo direita fazer expressatildeo de soltar o arpatildeo
CUIA As duas matildeos juntas fazer a expressatildeo de raspar a cuia
COCO Fazer a expressatildeo de tirar o coco com a vara
COMIDA As duas matildeos levando ateacute a boca
76
Fonte Azevedo (2014)
Figura 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa Maria
(30 sinais coletados)
COBRA Matildeo direita fazendo a expressatildeo da picada da cobra
FACA Matildeo direita fachada fazendo a expressatildeo de furar alguma coisa para
baixo
FLECHA Fazer a expressatildeo de jogar a flecha
FORMIGA Matildeo direita com os dedos beliscando o braccedilo esquerdo
FOME Matildeo direita levando em direccedilatildeo da barriga fazendo expressatildeo facial de
fome
FARINHA As duas matildeos fazer a expressatildeo de fazer farinha
GUARANAacute Fazer a expressatildeo de ralar o guaranaacute
JACAREacute Os dois indicadores das matildeos fazendo expressatildeo de dentes grandes do
jacareacute
LANCHA As duas matildeos dedos juntos fazer a expressatildeo de uma accedilatildeo raacutepida para
frente
MACACO Com braccedilos abertos fazer a expressatildeo de macaco
MALOCA As duas matildeos com os dedos encostados puxar para os lados opostos
MANDIOCA Fazer expressatildeo de descascar algum
ONCcedilA Com as matildeos fazer pintas no rosto
PAI As duas matildeos esfregando os indicadores
PEIXE Faz se expressatildeo de descamar o peixe
PILAtildeO As duas matildeos juntas fazendo a expressatildeo de socar a crueira
POTE AacuteGUA As duas matildeos juntas palmas para cima elevando para cima em curvas
onduladas
PASSAacuteRO As duas matildeos fazendo o movimento de paacutessaro
PESSOA Matildeo direita fazendo a expressatildeo de pegar no cabelo
TIPITI As duas matildeos fazendo a expressatildeo de espremer algum
PENEIRAR As duas matildeos em forma letra A fazer expressatildeo de balanccedilar o objeto
AacuteGUA ANTA AacuteRVORE
VIAGEM BANHO
77
VIAJAR
CASA CACcedilAR ALIMENTO CUIA
COCO COMIDA
FACA
FARINHA
FORMIGA
GUARANAacute
FOME
FACA
FLECHA
78
JACAREacute LANCHA
MACACO
MANDIOCA ONCcedilA
MALOCA PAI
POTE DE AacuteGUA PILAtildeO
LANCHA JACAREacute
PEIXE
79
452 O segundo surdo da Comunidade de Santa Maria
O segundo surdo visitado um senhor adulto com identidade natildeo revelada residindo na
Comunidade de Santa Maria Eacute um cidadatildeo reservado e fechado para desconhecidos Como
nossa equipe era composta de 05 profissionais sendo 03 (trecircs) professores indiacutegenas que me
acompanharam para serem facilitadores linguiacutesticos e um colaborador local para captar as
imagens ficarmos 04 (quatro) dias na comunidade para observaccedilotildees Apesar do tempo o
investido para conseguir o contato o mesmo se mostrou irredutiacutevel e natildeo se dispos a
conversar conosco Observa-se que mora sozinha e eacute raro ele se manifestar na comunidade
Pela histoacuteria contada a seu respeito apesar de natildeo se comunicar manteacutem sua residecircncia de
maneira organizada cultiva de algumas plantaccedilotildees como mandioca banana guaranaacute aleacutem de
produzir farinha tambeacutem faz pescaria para se alimentar Foi relatado que ajuda alguns
vizinhos e amigos com o que produz aleacutem de ser experiecircncia em matildeo de obra na confecccedilatildeo
de trepadeira silvestre que facilita subir nas aacutervores coqueiros e accedilaizeiros
PASSAacuteRO PESSOA COBRA
TIPITI PENEIRAR
80
Sobre o contexto educacional tendo como tema central a educaccedilatildeo escolar indiacutegena
o professor Jesiel (2014)28
(que eacute indiacutegena e concluiu o curso de pedagogia intercultural na
Universidade do Estado do Amazonas localizado no municiacutepio de Maueacutes) argumentou que o
territoacuterio Satereacute-Maweacute eacute muito grande sendo longa a distacircncia para se chegar na zona
urbana ateacute de forma que mesmo o deslocamento de uma comunidade para outra dificulta os
indiacutegenas irem para a escola Estas segundo o educador referido satildeo algumas razotildees que
impedem muitos indiacutegenas de estudarem na medida em que acarreta prejuiacutezo para a famiacutelia
especialmente de perda de tempo principalmente para os adultos que tem compromisso no
campo e com a comunidade
Para solucionar este problema devido a distacircncia as famiacutelias e os liacutederes indiacutegenas
possuem propostas e lutas para a construccedilatildeo de escolas nas aldeias o que facilitaria o acesso
dos surdos indiacutegenas da comunidade na escola E ao considerar que o indiacutegena surdo
compreende e se comunica com seus pares atraveacutes de gestos e sinais caseiros de forma que
aleacutem de sua liacutengua nativa haacute outros meios para que o surdo possa se comunicar isso aponta
para a necessidade da criaccedilatildeo de propostas de acesso agrave educaccedilatildeo dessas pessoas Dessa
maneira foram catalogados alguns sinais utilizados por esse surdo adulto da Comunidade de
Santa Maria apresentado abaixo
Tabela 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais antigo residente isolado na
comunidade de Santa Maria no Rio Marau ( 18 sinais coletados)
28
As famiacutelias e os liacutederes indiacutegenas possuem propostas e lutas para a construccedilatildeo de escolas nas aldeias para a
facilitaccedilatildeo do acesso dos surdos indiacutegenas na comunidade e na escola O indiacutegena surdo apesar de natildeo ouvir
compreende e comunica com seus pares atraveacutes de gestos e sinais caseiros que aleacutem de sua liacutengua nativa haacute
outros meios para que o surdo possa se comunicar Isso contribui para a criaccedilatildeo de propostas de acesso agrave
educaccedilatildeo dessas pessoas Dessa maneira foram catalogados alguns sinais utilizados por esse surdo adulto da
Comunidade de Santa Maria apresentado abaixo
A contribuiccedilatildeo do professor indiacutegena Jesiel Santos foi de suma importacircncia para a coleta de dados nesta
pesquisa visto que atraveacutes dele que conseguimos chegar ateacute a comunidade de Santa Maria afim de termos os
contatos na comunidade
SINAIS CASEIROS DESCRICcedilAtildeO
ARCOFECHA As duas matildeos com expressatildeo de utilizar um arco com flecha
AacuteGUA Matildeo direita com utilizando somente o dedo polegar fazer a expressatildeo de
beber algum
BANHO Os braccedilos e matildeos esticadas fazer a expressatildeo de se soltar no rio
BEIJU As duas matildeos fazendo um circulo e em seguida levar ateacute a boca
CIGARRO A posiccedilatildeo para traduzir este sinal satildeo as duas matildeos em posiccedilatildeo dos dedos
polegar e indicador juntos fazendo expressatildeo de fazer um cigarro caseiro
CASA As duas matildeos com os dedos esticados fazer a expressatildeo de formato de uma
casa
COBRA A matildeo direita com os dedos indicador e polegar encostados fazer a expressatildeo
de beliscar o pulso de antebraccedilo
FARINHA Matildeos com os dedos todos juntos fazer a expressatildeo com o movimento de
81
Figura 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo idoso na comunidade de Santa Maria
soltar a farinha
FORNO DE ASSAR Matildeo direita fazendo um semiciacuterculo de com a caracteriacutestica de um forno de
barro
GARREIRA As duas matildeos juntas fazer a expressatildeo repetidamente de amassar uma massa
JACAREacute As duas matildeos pegando os dentes
LUVA DA TUCANDEIRA Fazendo a expressatildeo de usar uma luva de palha e fazer a expressatildeo de dor da
ferrada da tucandeira
MANDIOCA Usar o antebraccedilo esquerdo com a matildeo direita como um material cortante
fazendo a expressatildeo de descascar
MACACO Os dois braccedilos e corpo fazendo a expressatildeo do movimento caracteriacutestico do
macaco
PAJEacute As duas matildeos fazendo a expressatildeo de segurar algum e balanccedilar
PAacuteSSARO Fazer a expressatildeo de balanccedilar os braccedilos caracterizando o movimento de um
paacutessaro
TIPITI As duas matildeos fazendo o movimento de espremer a mandioca
TERRASOLO Matildeo direita fazendo expressatildeo de um pequeno monte de terra
ARCOFECHA BEBER
LIacuteQUIDOAacuteGUA
BEIJUCOMER COBRA
FARINHA FERRADA DA TUCANDEIRA MALOCACASA ESCOLA
ARCOFLECHA BEBER LIQUIDOAacuteGUA BANHOPULAR NA AacuteGUA
AacuteAacuteGUA
CIGARRO
82
FORNO DE ASSAR
JACAREacute
LUVA DA TUCANDEIRA MACACO
PAJEacute
TIPITI TERRA
GAREIRA
MANDIOCA
PAacuteSSARO
(( ))
JACAREacute
83
5 ICONICIDADE E ARBITRARIEDADE NA CRIACcedilAtildeO DOS SINAIS CASEIROS
Nos anos 60 a partir dos trabalhos de Stokoe (1960) foi comprovado que as Liacutenguas
de Sinais satildeo linguas Estas satildeo liacutenguas naturais com ldquoestrutura gramatical proacutepria em seus
niacuteveis fonoloacutegico (ou queroloacutegico) morfoloacutegico sintaacutetico e semacircntico aleacutem de seus aspectos
pragmaacuteticosrdquo
De acordo com Quadros (2006 p 221)
pelo fato de as liacutenguas de sinais natildeo serem faladas e de natildeo terem o seu coacutedigo
escrito ainda popularizado entre os surdos natildeo as elimina das consideraccedilotildees
cientiacuteficas visto que apresentam uma organizaccedilatildeo estrutural e fazem parte da
constituiccedilatildeo cultural desses sujeitos ndash crescendo envolvendo e transmitindo
dinamicamente tradiccedilotildees socioculturais Portanto as liacutenguas de sinais fazem parte
do conjunto da linguagem humana com a diferenccedila de se apresentarem em uma
terceira modalidade a visuo-espacial
Reiterando-se que a Liacutengua de Sinais eacute uma liacutengua natural uma vez que estaacute veiculada
a um canal que natildeo eacute o oral-auditivo e sim visual esta garante uma percepccedilatildeo e articulaccedilatildeo
mais faacutecil mais coerente e confortaacutevel aleacutem de contribuir para o desenvolvimento linguiacutestico
cognitivo e social do surdo
Sobre as caracteristicas linguiacutesticas das Liacutenguas de Sinais vale ressaltar que Sousa
(2010) ao tratar dos aspectos visuais quanto agraves propriedades das Liacutenguas de Sinais enfatiza a
iconicidade e arbitrariedade relacionada ao signo linguiacutestico que satildeo inerentes agraves liacutenguas
naturais Sobre as definiccedilotildees dos fenocircmenos das liacutenguas estes remontam a eacutepoca de Platatildeo
filoacutesofo grego que tratava os fenocircmenos sobre a linguagem e a relaccedilatildeo dela com o mundo
Cita-se tambeacutem Craacutetilo Hermoacutegenes e Soacutecrates que foram interlocutores desta relaccedilatildeo
discutindo a ligaccedilatildeo existente entre nome ideia e coisa A abordagem dos trecircs se diferenciava
de forma que Craacutetilo defendia o conceito de iconicidade Hermoacutegenes de arbitrariedade
Soacutecrates por seu turno integrava as duas concepccedilotildees Esta diferenciaccedilatildeo tecido pelos trecircs
filosofos pode ser vislumbrada no trecho transcrito abaixo
Para Craacutetilo a liacutengua eacute o espelho do mundo o que significa que existe uma relaccedilatildeo
natural e portanto similar ou icocircnica entre os elementos da liacutengua e os seres por
eles representados Para Hermoacutegenes a liacutengua eacute arbitraacuteria isto eacute convencional pois
entre o nome e as ideias ou as coisas designadas natildeo haacute transparecircncias ou
similaridade Soacutecrates por sua vez tem o papel de fazer a integraccedilatildeo entre os dois
pontos de vista (WILSON amp MARTELOTTA 2010 apud SOUSA 2010 p 4)
84
A modalidade gestual-visual espacial pela qual a Liacutengua de Sinais eacute produzida e
reconhecida pela comunidade Surda leva muitas vezes as pessoas a pensarem que todos os
sinais satildeo desenho no ar do referente que representam Para melhor esclarecimento por
decorecircncia de sua natureza linguiacutestica a realizaccedilatildeo de um sinal pode sim ser motivada pelas
caracteriacutesticas do dado da realidade a que se refere poreacutem natildeo eacute regra Ou seja a maioria dos
sinais da LIBRAS eacute arbitraacuteria natildeo mantendo relaccedilatildeo de semelhanccedila alguma com seu
referente Portanto essa condiccedilatildeo possibilita o enriquecimento da flexibilidade e versatilidade
da liacutengua (BASSO 2011 p47)
Exemplos de sinais arbitraacuterios
Figura 6 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos que se refere agrave
arbitrariedade
BISCOITO PESSOA DESCULPA
Fonte Azevedo (2014)
A ideia de arbitrariedade da liacutengua se relaciona com a ideia de convenccedilatildeo que se
efetiva em todas as liacutenguas como Liacutengua de Sinais e na Liacutengua Portuguesa ilustra-se o
processo com os exemplos das palavras ldquobiscoitordquo ldquodesculperdquo e ldquopessoardquo O processo de
definiccedilatildeo destes termos ocorre de forma arbitraacuteria pois soacute nomes foram atribuiacutedos devido a
uma convenccedilatildeo que estabelece esse conceito e natildeo porque haacute uma relaccedilatildeo entre o som da
palavra e o objeto que ela designa (SALLES 2007 p 5)
No caso da Libras os exemplos citados de sinais foram criados sem sofrer influecircncia
da imagem dos objetos aos quais eles se referem O que mostra que mesmo que a Libras
tambeacutem apresenta a caracteriacutestica de arbitraacuterios (TEIXEIRA 2015 p 5)
Para compreender melhor a importacircncia da visualidade na Liacutengua de Sinais dos
Satereacute-Maweacute eacute relevante entender trecircs conceitos da teoria de Pierce sobre a iconicidade que
pode ser considerada a base dos sinais dessa comunidade os quais satildeoo siacutembolo o iacutendice e o
iacutecone Segundo Martelotta (2011) (apud TEIXEIRA 2015 p 2)
85
O siacutembolo de acordo com Peirce refere-se a determinado objeto representando-o
com base em uma lei haacutebito ou convenccedilatildeo estabelecendo uma relaccedilatildeo entre dois
elementos Para citar alguns exemplos a cruz eacute o siacutembolo do cristianismo e a
balanccedila o siacutembolo da justiccedila Uma caracteriacutestica importante do siacutembolo relaciona-se
ao fato de que ele eacute parcialmente motivado ou seja haacute entre o siacutembolo e o conteuacutedo
simbolizado alguns traccedilos relacionados ao objeto
Haacute uma diferenccedila fundamental entre o siacutembolo de um lado e o iacutendice e o iacutecone de
outro jaacute que nesses dois uacuteltimos haacute um niacutevel ainda menor de arbitrariedade No caso
do iacutendice ocorre uma relaccedilatildeo de contiguidade com a realidade exterior a fumaccedila
por exemplo eacute o iacutendice do fogo e a presenccedila de nuvens negras o iacutendice de chuva
iminente
O iacutecone por sua vez tem uma natureza imagiacutestica apresentando portanto
propriedades que se assemelham ao objeto a que se refere A fotografia de um
indiviacuteduo por exemplo eacute uma representaccedilatildeo icocircnica desse indiviacuteduo assim como o
mapa do Rio de Janeiro representa a cidade Assim um iacutecone eacute qualquer coisa que
seja utilizada para designar algo que lhe seja semelhante em algum aspecto
Nesta perspectiva Quadros (1997) traz a reflexatildeo sobre os efeitos da modalidade ou
seja o fato de a Liacutengua de Sinais serem visuoespacial em vez de auditiva-oral implica nas
diferenccedilas para a aquisiccedilatildeo do surdo e nesse sentido tem-se a questatildeo da iconicidade das
Liacutenguas de Sinais uma vez que a iconicidade se refere
A transparecircncia entre significado e o significante ou seja a relaccedilatildeo de identidade
entre a palavra (o sinal) e o seu sentido Por exemplo nas liacutenguas faladas agraves
onomatopeias satildeo consideradas por alguns autores como icocircnicas pois a produccedilatildeo
sonora bdquoreal‟ (do objeto ou do animal) eacute reproduzida na fala expressando certa
identidade (QUADROS 2011 p 22)
Vale ressaltar que a iconicidade vem sendo estudada a partir da pesquisa semioacutetica de
Charles Sanders Peirce (1999) filoacutesofo norte-americano contemporacircneo de Saussure
Segundo Teixeira (2015) Peirce em seus estudos sobre a Semioacutetica o signo tem a funccedilatildeo de
proporcionar uma ideia do mundo e tudo que cerca o indiviacuteduo estaacute rodeado de signos Como
explica o filoacutesofo
[] para que algo possa ser um Signo (expressatildeo ou representamento) esse algo
deve bdquorepresentar‟ [] alguma outra coisa chamada seu Objeto apesar de ser talvez
arbitraacuteria a condiccedilatildeo segundo a qual um Signo deve ser algo distinto de seu objeto
(PEIRCE 1999 apud TEIXEIRA 2015 p 5)
Ao direcionar essas definiccedilotildees para agraves liacutenguas de sinais Sousa (2010) afirma que
muitas vezes essas liacutenguas satildeo consideradas puramente icocircnicas por serem de uma
modalidade diferente acreditando-se acredita que os sinais satildeo criados sempre a partir da
86
representaccedilatildeo do referente Eacute certo que um sinal pode ser realizado de acordo com a
caracteriacutestica daquilo que se refere mas de acordo com Strobel amp Fernandes (1998 apud
Sousa 2010 p 4) ldquoisto natildeo eacute uma regra jaacute que a maioria dos sinais em Libras eacute arbitraacuterio ou
seja natildeo manteacutem uma relaccedilatildeo de similitude com o referenterdquo
Reconhece-se que algumas Liacutenguas de Sinais parecem ter maior motivaccedilatildeo icocircnica
apresentando relaccedilotildees entre a sua forma e o seu significado comumente observado nas
Liacutenguas de Sinais caseiras dos Satereacute-Maweacute Isso significa a relaccedilatildeo entre o referente e o
referenciado Alguns estudos como os de Meier (1981) citado por Lillo-Martin (1986)
apontam para uma aparente iconicidade nas liacutenguas de sinais o que justifica considerar as
variaccedilotildees regionais e sociais e as mudanccedilas histoacutericas como fenocircmenos identificaacuteveis na
Liacutengua Brasileira de Sinais o que lhe confere o caraacuteter natural (STROBEL amp FERNANDES
1998 apud SOUSA 2010)
Nesse contexto a iconicidade como caracteriacutesticas semelhantes ao iacutecone tem em
comum o objeto que representa Por ser uma liacutengua de modalidade visuoespacial a
iconicidade estaacute presente em grande parte dos sinais da Libras pois a relaccedilatildeo entre a ldquoformardquo
e o ldquosentidordquo eacute mais visiacutevel Salles (2007) em bdquoEnsino de liacutengua portuguesa para surdos
caminhos para a praacutetica pedagoacutegica‟ comenta
Um aspecto que se sobressai no contraste entre as modalidades viacutesuo-espacial e oral-
auditiva eacute a questatildeo da arbitrariedade do signo linguiacutestico Esse conceito estabelece
que na constituiccedilatildeo do signo linguiacutestico a relaccedilatildeo entre o significante (imagem
acuacutestico-focircnica) e o significado eacute arbitraacuteria isto eacute natildeo existe nada na forma do
significante que seja motivado pelas propriedades da substacircncia do conteuacutedo
(significado) Uma caracteriacutestica das liacutenguas de sinais eacute que diferentemente das
liacutenguas orais muitos sinais tecircm forte motivaccedilatildeo icocircnica Natildeo eacute difiacutecil supor que esse
contraste se explique pela natureza do canal perceptual na modalidade viacutesuo-
espacial a articulaccedilatildeo das unidades da substacircncia gestual (significante) permite a
representaccedilatildeo icocircnica de traccedilos semacircnticos do referente (significado) o que explica
que muitos sinais reproduzam imagens do referente na modalidade oral-auditiva a
articulaccedilatildeo das unidades da substacircncia sonora (significante) produz sequecircncias que
em nada evocam os traccedilos semacircnticos do referente (significado) o que explica o
caraacuteter imotivado ou arbitraacuterio do signo linguiacutestico nas liacutenguas orais (SALLES
2007 p 83)
Todavia os mesmos sinais icocircnicos possuem um grau de arbitrariedade na definiccedilatildeo
dos mesmos como explica Frydrych (2012)
Pode haver contudo sinais com diferentes graus de iconicidade Um sinal pode natildeo
se assemelhar ao objeto que representa pela forma mas apresentar de alguma
forma uma similaridade por meio de expressotildees faciais ou movimentos Um
exemplo eacute o sinal ldquotristerdquo que possui como configuraccedilatildeo de matildeo o sinal Y
localizada abaixo do queixo em movimento de meia lua O sinal nada tem a ver
com o que a palavra representa no entanto a expressatildeo facial de tristeza que
acompanha o sinal daacute indiacutecios de que seu significado pode natildeo ser muito agradaacutevel
87
[] Falar de sinais icocircnicos em Libras pode parecer comum no entanto o sinal de
ldquocasardquo por exemplo motivado pelo formato do telhado de uma casa eacute tambeacutem
usado para o sinal de ldquomorarrdquo que pode ser usado para ldquomoradiardquo em diferentes
formatos de residecircncia como por exemplo casa apartamento cabana etc Embora o
sinal possa ter sido motivado na sua criaccedilatildeo por um tipo de casa passou a ser usado
de forma muito mais abrangente Sendo isto muito comum nas liacutenguas de sinais Os
sinais passam a ser signos linguiacutesticos altamente arbitraacuterios e passam a integrar o
leacutexico da liacutengua (Apud PIVETTA et al 2013 p8)
Como tambeacutem salienta Silva (2012) que ao passar do tempo o sinal icocircnico perde sua
motivaccedilatildeo inicial passando a ser arbitraacuterio
[] a transparecircncia eacute relativa porque a forma dos objetos ou movimentos que
originaram o sinal pode variar no tempo perdendo a sua motivaccedilatildeo inicial Um
exemplo eacute o sinal ldquoleiterdquo que faz referecircncia ao ato de ordenha que hoje ainda pode
ser considerado um sinal icocircnico Todavia para as futuras geraccedilotildees a motivaccedilatildeo de
sua representaccedilatildeo tende a se tornar uma convenccedilatildeo o que faz com que o sinal passe
a ser arbitraacuterio e de valor simboacutelico Sinais como o de ldquoleiterdquo satildeo frutos de um
processo histoacuterico e com o passar do tempo natildeo representam mais os artefatos e
procedimentos atuais sendo percebidos e interpretados apenas por meio da
arbitrariedade e da convenccedilatildeo(Apud PIVETTA et al 2013 p8)
A seguir temos alguns exemplos de sinais icocircnicos na Libras satildeo os sinais ldquoaacutervorerdquo
ldquocadeirardquo ldquocasardquo constituiacutedos a partir de caracteriacutesticas da imagem dos objetos aos quais se
referem Enquanto o primeiro lembra a imagem do tronco e das folhas de uma aacutervore o
segundo lembra as pernas de uma pessoa representadas pelos dedos indicador e meacutedio e a
terceira lembra a imagem de um telhado ou de uma casa sentada no objeto em questatildeo
(SALLES 2007 p 83)
Figura 7 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos aos quais se referem a
iconicidade
Fonte Azevedo (2014)
AacuteRVORE CADEIRA CASA
88
Figura 8 Caracteriacutesticas da imagem em Liacutengua de Sinais Satereacute-Maweacute dos objetos aos
quais se referem agrave iconicidade
Yara Wato Barco Libras
Fonte Azevedo (2014)
Man Beiju Libras
Fonte Azevedo (2014)
Kamunti hit Bilha Libras
Fonte Azevedo (2014)
89
Dessa maneira podem-se definir os sinais icocircnicos como aqueles que fazem alusatildeo agrave
imagem do seu significado natildeo implicando que todos os sinais satildeo iguais ou sinais icocircnicos
em todas as Liacutengua de Sinais cada grupo social absorve aspectos diferentes da imagem do
referente convencionando a representaccedilatildeo do sinal Os signos arbitraacuterios satildeo os que natildeo
trazem nenhuma relaccedilatildeo de semelhanccedila com o referente
90
6 INTERVENCcedilAtildeO E CONTRIBUICcedilAtildeO LINGUIacuteSTICA DO PROFESSOR SURDO
Os estudos sobre a educaccedilatildeo sistemaacutetica dos indiacutegenas surdos da etnia Satereacute-Maweacute
levaram agrave percepccedilatildeo da necessidade iminente de uma atuaccedilatildeo no processo ensino
aprendizagem desses sujeitos Desse modo apoacutes conhecer a realidade linguiacutestica e
educacional dos indiacutegenas surdos observados nas aldeias e na zona urbana de Parintins foi
possiacutevel intervir por meio do ensino da Liacutengua Brasileira de Sinais A intervenccedilatildeo foi feita
com o consentimento dos responsaacuteveis locais onde se faziam presentes acompanhando o
objeto da pesquisa - os indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute
Assim com a autorizaccedilatildeo da famiacutelia o primeiro contato foi estabelecido entre uma
crianccedila surda indiacutegena com professor tambeacutem surdo que ocorreu na residecircncia dela na zona
urbana do municiacutepio de Parintins cujo registro de imagem consta na Figura 9
Figura 9 Encontro da crianccedila surda Satereacute-Maweacute com o professor surdo
Fonte Azevedo (2014)
No contato foi possiacutevel verificar que a crianccedila natildeo conhecia a liacutengua Libras Sua
forma de comunicaccedilatildeo era com o uso dos siacutembolos ldquocaseirosrdquo Contudo ela respondeu ao
estiacutemulo de conversaccedilatildeo com muita facilidade buscando fazer a comunicaccedilatildeo As demais
observaccedilotildees e intervenccedilatildeo deram-se no ambiente educacional na Escola de Aacuteudio e
Comunicaccedilatildeo Padre Paulo Manna (Figura 10) Nesse contexto a crianccedila acompanhava com
atenccedilatildeo ao desempenho dos demais pares sempre atenta para compreensatildeo do conteuacutedo
comunicativo Ficou evidente a necessidade de um material de suporte escrito como recurso a
ser utilizado pelos docentes no processo ensino e aprendizagem
91
Figura 10 Contato com aluno Satereacute-Maweacute surdo no ambiente escolar
Fonte ndash Azevedo (2014)
Ocorreu tambeacutem o contato com o aluno surdo da Etnia Satereacute-Maweacute matriculado na
Escola Estadual Brandatildeo de Amorim em Parintins o qual foi feito em sua residecircncia dele A
conversa com ele foi feita fluentemente em Libras (Figura 10) Entretanto ao ser indagado
sobre a cultura a liacutengua falada de sua etnia natildeo soube responder Comprovou-se que o aluno
natildeo participa do contexto cultural da etnia por isso natildeo a conhece Por tal considera-se que o
material triliacutengue seria um recurso apropriado para promover o reconhecimento de muitos
signos que fazem parte da Liacutengua Satereacute-Maweacute
Figura 11 Contato com o aluno surdo Satereacute-Maweacute na Escola Estadual Brandatildeo de Amorim
Fonte ndash Azevedo (2014)
O contato com os familiares juntamente com professores indiacutegenas e inteacuterprete
linguiacutestica possibilitou ter uma visatildeo sobre o contexto comunicativo do indiacutegena surdo A
conversa com o pai do indiacutegena surdo na Aldeia de Santa Maria indicou a forma como
conseguem se comunicar com o filho desde o momento que perceberam que ele era surdo
Explicaram as dificuldades que tiveram no processo de entendimento com ele Confirmaram
92
que o aprendizado da liacutengua Libras indicando os signos que representam a cultura da etnia
seria muito importante para a comunicaccedilatildeo entre ele e os familiares eou educadores
Figura 12 Em viagem para aacuterea indiacutegena no Rio Marau ndash comunicaccedilatildeo com familiares
Fonte - Azevedo (2014)
O projeto da pesquisa foi apresentado na comunidade de Santa Maria para os
representantes da comunidade indiacutegena (Figura 12)
Figura 13 Apresentaccedilatildeo do projeto de pesquisa agraves lideranccedilas indiacutegenas na comunidade
Fonte Azevedo (2014)
Ressalta-se a importacircncia das lideranccedilas conhecerem e participarem do desenvolvimento
do projeto A relevacircncia desta participaccedilatildeo daacute-se em funccedilatildeo de que as mesmas contribuiram
informando vocabulaacuterios caracteristicos da regiatildeo que enriqueceram o minidicionaacuterio
triliacutengue Satereacute-MaweacutePortuguecircsLibras como pode ser evidenciado a seguir
93
Vocabulaacuterios e utensiacutelios indiacutegenas sinalizados em Libras
Liacutenguas
Satereacute-Maweacute Portuguecircs Libras
Mory‟ywat siomory‟awat Arco
Satereacute-Maweacute Portuguecircs Libras
T wa Aldeia
Ressalta-se a importacircncia do minidicionaacuterio ao considerar que o vocabulaacuterio contido no
mesmo poderaacute ser utilizado pelo indiacutegena surdo para ele aprenda a comunicaccedilatildeo utilizando os
signos que fazem parte da linguagem da etnia
E realizando uma mini oficina de Libras para professores da comunidade (Figura 6)
foi possiacutevel demonstrar o uso da Libras no contexto da sala de aula A participaccedilatildeo efetiva dos
mesmos proporcionou a troca de informaccedilotildees sobre o vocabulaacuterio da liacutengua indiacutegena
94
Figura 14 Desenvolvimento de oficina de Libras com professores indiacutegenas
Fonte Azevedo (2014)
Enfatiza-se que todo empenho em levar o conhecimento da Liacutengua Brasileira de Sinais
para os indiacutegenas surdos professores indiacutegenas familiares de surdos e comunidade manteve-
se em funccedilatildeo do ensejo de fazecirc-los conhecer e compreender a capacidade e modos dos
indiacutegenas surdos se comunicarem aleacutem de promover a aprendizagem da Libras em um lugar
de tatildeo difiacutecil acesso com pequenas escolas que sequer tecircm materiais didaacuteticos adaptados a
essa clientela Por este motivo considera-se que a contribuiccedilatildeo linguiacutestica em forma de um
minidicionaacuterio eacute um passo importante para levar aos indiacutegenas surdos a sua comunidade e o
nuacutecleo familiar destes o iniacutecio do resgate da sua liacutengua natural que eacute a Liacutengua Brasileira de
Sinais e a sua liacutengua nativa aleacutem de seus traccedilos culturais incluiacutedos no minidicionaacuterio
61 Libras e Liacutengua Satereacute-Maweacute intercacircmbio de construccedilatildeo sociocultural-linguiacutestico
Analisando a histoacuteria do povo surdo e do povo indiacutegena percebe-se uma trajetoacuteria
similar nas lutas por seus direitos culturais e linguiacutesticos Ambos tentam
fortalecer o conhecimento da proacutepria histoacuteria com seus acertos desacertos conflitos
e sucessos buscando a compreensatildeo do ator social como sujeito da histoacuteria e
possibilitando assim a construccedilatildeo de um projeto poliacutetico articulado com outros
setores que incremente as possibilidades de construccedilatildeo dos proacuteprios projetos de
uma vida melhor (HERNAIZ 2009)
Neste sentido destaca-se que esses indiviacuteduos satildeo esquecidos na realidade cultural do
paiacutes como se natildeo existissem enquanto cidadatildeos que tem as suas formas de produzir no
contexto social Mudar esta realidade faz-se fundamental Para tal Guerreiro (2009 p93)
argumenta que
Os direitos culturais satildeo por sua vez um campo complexo que inclui vaacuterios
conjuntos de direitos e garantias entre os quais me interessa destacar para essa
reflexatildeo os seguintes o reconhecimento da diversidade o exerciacutecio da identidade
como povos o uso restrito do idioma uma educaccedilatildeo proacutepria e o respeito pelo
patrimocircnio cultural
95
Os processos culturais linguiacutesticos entre os povos surdos e indiacutegenas surdos eacute uma
possibilidade bem proacutexima atraveacutes do intercacircmbio sociocultural-linguiacutestico que estaacute sendo
construiacutedo pois o surdo indiacutegena faz parte da cultura surda e tem cacircmbio com a cultura
indiacutegena e em muitos casos com a cultura do povo ouvinte
Todavia alguns aspectos da cultura surda satildeo desconhecidos pelo proacuteprio surdo
indiacutegena Por isso a necessidade de surdos indiacutegenas se relacionarem com seus semelhantes
surdos seja indiacutegena ou natildeo indiacutegena para que atraveacutes deste contato possa construir sua
identidade cultural da comunidade surda tornando conhecida sua cultura tribal por meio da
liacutengua de instruccedilatildeo a Libras No exemplo abaixo ilustra-se a percepccedilatildeo dessa realidade
Man ype Crueira Libras
Kui‟a Cuia Libras
Dessa forma conhecendo valorizando e respeitando sua cultura que eacute um patrimocircnio
cultural da sociedade
Logo a liacutengua em uso pelos iacutendios surdos seja ela a Liacutengua de Sinais Indiacutegena
ldquosinais emergentesrdquo ou a Liacutengua Brasileira de Sinais (como empreacutestimo sociocultural-
linguiacutestico) e a Liacutengua Satereacute-Maweacute devem ser valorizadas com respeito muacutetuo na
transmissatildeo de sua cultura Os indiviacuteduos que precisam se comunicar por meio delas lutam
96
pelo fortalecimento dessa inserccedilatildeo cultural pela construccedilatildeo de um futuro melhor e pelo
respeito aos direitos dos iacutendios localizados neste vasto territoacuterio Nesse sentido
A identidade cultural requer tambeacutem ela a alteridade como dialogicidade
intercultural No seu proacuteprio interior ela natildeo eacute nunca algo de compacto mas
apresenta toda uma seacuterie de relaccedilotildees no plano sincrocircnico e diacrocircnico com outras
culturas que lhes datildeo vida justamente pela sua diversificaccedilatildeo e discordacircncia por
mais que ela se obstine em realizar-se mediante a identificaccedilatildeo com alguns de seus
aspectos apenas com algumas formas culturais determinadas que se arvoram
oficiais e dominantes (PONZIO 2007 p179)
Para estes estudos a uniatildeo de esforccedilos que viabilizou a realizaccedilatildeo deste diagnoacutestico eacute
uma demonstraccedilatildeo clara de que eacute perfeitamente possiacutevel trilhar no mundo linguiacutestico
possibilitando a cada indiacutegena novos horizontes na comunicaccedilatildeo
97
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A presente pesquisa teve como foco principal o levantamento de indiacutegenas surdos nas
microrregiotildees do municiacutepio de Parintins da etnia Satereacute-Maweacute
Com base nas informaccedilotildees levantadas nas terras indiacutegenas e nas cidades onde vivem
os Satereacute-Maweacute evidenciou-se que as escolas de zonas rurais e comunidades que o iacutendio
surdo requenta natildeo possui uma educaccedilatildeo diferenciada especiacutefica a sua especificidade
A realidade encontrada no municiacutepio de Parintins para com os alunos iacutendios surdos
por ser em zona urbana jaacute apresenta um diferencial A escola dispotildee de sala de recursos para
alunos indiacutegenas surdos poreacutem dentro dessa realidade haacute falta de professores que dominem a
liacutengua nativa Satereacute-Maweacute para que a escola proporcione um aprendizado triliacutengue Liacutengua
Brasileira de Sinais Liacutengua Satereacute-Maweacute e Liacutengua Portuguesa na modalidade escrita
Nas escolas visitadas onde encontramos surdos foi observado falta de mateacuterias
visuais sala de recursos com atendimentos diferenciados para os alunos indiacutegenas surdos e
indiacutegenas surdos
Foram considerados no decorrer do texto aspectos da contextualizaccedilatildeo em que se deu
a pesquisa desde as discussotildees que antecederam a elaboraccedilatildeo do projeto passando pelas
parcerias que foram estabelecidas no decorrer do processo especialmente com as vaacuterias
organizaccedilotildees indiacutegenas Satereacute-Maweacute ateacute o desenvolvimento das condiccedilotildees que garantiram a
plena participaccedilatildeo da comunidade no decorrer das atividades de pesquisa Partindo da
enumeraccedilatildeo dos principais objetivos do projeto o relatoacuterio apresenta as aacutereas e localidades
cobertas o nuacutemero de domiciacutelios levantados e de moradores entrevistados assim como a
metodologia utilizada a operacionalizaccedilatildeo das atividades de campo o treinamento dos
entrevistadores o levantamento nas cidades e nas terras indiacutegenas a forma e a intensidade
como se desenvolveu a participaccedilatildeo das lideranccedilas e da comunidade como um todo
Durante a pesquisa a sociedade indiacutegena e natildeo indiacutegena juntamente com profissionais
da educaccedilatildeo da linguiacutestica e a proacutepria comunidade surda acompanharam a perspectiva para
uma nova trajetoacuteria destes os iacutendios surdos a qual reflete o reconhecimento linguiacutestico destes
como pessoas pertencentes agraves minorias linguiacutesticas
Ao analisar as questotildees linguiacutesticas nas aacutereas indiacutegenas das microrregiotildees de Parintins
verificou-se que a implantaccedilatildeo deste empreendimento representou como um novo modelo de
desenvolvimento para a comunicaccedilatildeo de indiacutegenas surdos nas comunidades indiacutegenas
98
Ressalta-se que cada municiacutepio onde existem membros da etnia Satereacute receberaacute como
retorno da pesquisa um minidicionaacuterio triliacutengue (Liacutengua de Sinais Liacutengua Satereacute-Maweacute e
Liacutengua Portuguesa) para intercacircmbio sociocultural-linguiacutestico
Este material tem a intenccedilatildeo de abrir o caminho para a participaccedilatildeo direta dos iacutendios
na construccedilatildeo de seu futuro Ele caracteriza uma mudanccedila da forma de olhar para os povos
indiacutegenas Agora eacute preciso trabalhar para que todas as comunidades e etnias possam produzir
seus diagnoacutesticos Todas elas precisam dispor das informaccedilotildees com as quais poderatildeo dar uma
direccedilatildeo a suas accedilotildees Nesse sentido deve haver iniciativas por parte do poder local para que o
governo e as entidades aliadas agraves causas indiacutegenas possam aproveitar as experiecircncias dos
vaacuterios pesquisadores sobre as causas dos Satereacute-Maweacute para ampliar esse tipo de trabalho
Satildeo diagnoacutesticos como este que iratildeo dar o norte para novos projetos e programas que
favoreccedilam realmente garantir a autonomia dos povos indiacutegenas
Finzaliza-se com a satisfaccedilatildeo de que a pesquisa presente contribuiu com um pequeno
passo no incentivo da conservaccedilatildeo e crescimento da identidade cultural-linguiacutestica do iacutendio
surdo
99
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103
ANEXOS
104
ANEXO A- Normas estabelecidas no ingresso em terras indiacutegenas pela FUNAI
Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio
INSTRUCcedilAtildeO NORMATIVA No 01PRESI DE 29NOVEMBRO1995
PRESIDENTE DA FUNDACcedilAtildeO NACIONAL DO IacuteNDIO - FUNAI
no uso de suas atribuiccedilotildees que lhe satildeo conferidas pelo estatuto aprovado pelo decreto no
564
de 08 de junho de 1992 tendo em vista o que consta do processo FUNAI BsB no210592
R E S O L V E
Art 1o Aprovar as normas que disciplinam o ingresso em Terras Indiacutegenas com finalidade de
desenvolver Pesquisa Cientiacutefica conforme documento em anexo
Art 2o Esta Instruccedilatildeo Normativa entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo
Art 3o Revoga-se a Instruccedilatildeo Normativa no 001PRESI94 de 08 de abril
de 1994 como qualquer outro dispositivo em contraacuterio
MAacuteRCIO JOSEacute BRANDO SANTILLI
Presidente da FUNAI
ASSINADO NO ORIGINAL
Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio
ANEXO DA INSTRUCcedilAtildeO NORMATIVA No 001PRESI de 29 de novembro de 1995
Art 4o Todo e qualquer pesquisador nacional ou estrangeiro que pretenda ingressar em terras
indiacutegenas para desenvolver projeto de pesquisa cientiacutefica deveraacute encaminhar sua solicitaccedilatildeo
agrave Presidecircncia da FUNAI e no caso de requerimento coletivo deveraacute ser subscrito por um dos
membros do grupo como seu responsaacutevel Art 5o O pesquisador ou pesquisadores deveratildeo
anexar ao pedido do que trata o Art 1o a seguinte documentaccedilatildeo
I carta de apresentaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo a que o pesquisador estaacute vinculado e no caso de
estudantes de graduaccedilatildeo e poacutesgraduaccedilatildeo carta de apresentaccedilatildeo do orientador responsaacutevel
II projeto de pesquisa em portuguecircs detalhando a(s) terra(s) indiacutegenas na(s) qual(is)
pretende ingressar e cronograma
III curriculum vitae do(s) pesquisador(es) redigido em portuguecircs
IV coacutepia autenticada da Carteira de Identidade ou Passaporte quando se tratar de
nacionalidade estrangeira
V atestado individual de vacina contra moleacutestia endecircmica na
aacuterea
VI atestado meacutedico de natildeo portador de moleacutestia contagiosa
105
VII quando se tratar de pesquisador(es) de nacionalidade estrangeira exigir-se-aacute para a
efetivaccedilatildeo de seu ingresso na terra indiacutegena a obtenccedilatildeo de seu respectivo visto temporaacuterio
como prevecirc o artigo 22 do decreto no 86715 de 10 de dezembro de 1981 aleacutem do
cumprimento do disposto no decreto no 98830 de 15 de janeiro de 1990
Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio
Art 6o O pesquisador deveraacute encaminhar diretamente ao CONSELHO
NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO - CNPq o
projeto de pesquisa e curriculum
vitae
Art 7o A solicitaccedilatildeo do ingresso em terra indiacutegena por parte de pesquisadores nacionais ou
estrangeiros seraacute objeto de anaacutelise pela Coordenadoria-Geral de Estudos e Pesquisas - CGEP
uma vez instruiacutedo o processo com o parecer favoraacutevel do CNPq quanto ao meacuterito da pesquisa
proposta e apoacutes ouvidas as lideranccedilas indiacutegenas
Paraacutegrafo Uacutenico - A consulta agraves lideranccedilas indiacutegenas seraacute realizada pela FUNAI com a
presenccedila e participaccedilatildeo do pesquisador podendo este em caso de resposta positiva
permanecer na terra indiacutegena com autorizaccedilatildeo provisoacuteria ateacute a emissatildeo de uma definitiva
Art 8o No caso de negativa das lideranccedilas indiacutegenas quanto ao pleito do ingresso ou
quaisquer outros entraves levantados no decorrer da anaacutelise do processo ou em qualquer outra
etapa de desenvolvimento da pesquisa a CGEP encaminharaacute a questatildeo ao Conselho
Indigenista atraveacutes da presidecircncia do Oacutergatildeo
Art 9o Quando se tratar de pesquisa em espaccedilo territorial de ocupaccedilatildeo tradicional de iacutendios
isolados o pedido seraacute ainda objeto de exame e parecer preacutevio especiacutefico por parte do
Departamento de Iacutendios Isolados - DII FUNAI
Art 10 A presidecircncia da FUNAI poderaacute suspendera qualquer tempo as
autorizaccedilotildees concedidas de acordo com as presentes normas desde que
I seja solicitada a sua interrupccedilatildeo por parte da comunidade indiacutegena em questatildeo
II a pesquisa em desenvolvimento venha a gerar conflitos dentro da terra indiacutegena
III a ocorrecircncia de situaccedilotildees epidecircmicas agudas ou conflitos graves envolvendo iacutendios e natildeo-
iacutendios
Paraacutegrafo Uacutenico - Fica automaticamente prorrogada a autorizaccedilatildeo pelo prazo que a terra
indiacutegena objeto do projeto estiver interditada pelos motivos apontados no Art 10 inciso III
Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio
MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA
Art 11 Todos os pesquisadores estrangeiros ou nacionais que tiverem autorizaccedilotildees
concedidas para ingresso em terras indiacutegenas obrigar-se-atildeo a
I cumprir todos os preceitos legais vigentes notadamente os previstos na Lei no 6001 de
1o1273
II remeter agrave FUNAI relatoacuterio dos Trabalhos de campo em portuguecircs ateacute 6 (seis) meses apoacutes
o teacutermino da pesquisa onde poderatildeo constar sugestotildees praacuteticas que possam trazer benefiacutecios
para as comunidades indiacutegenas que poderatildeo ser consideradas pela FUNAI nas definiccedilotildees de
sua poliacutetica
III remeter agrave FUNAI 2 (dois) exemplares de publicaccedilotildees artigos teses e outras produccedilotildees
intelectuais oriundas das referidas pesquisas
Art 12 Nos casos de solicitaccedilatildeo de prorrogaccedilatildeo do prazo para continuidade do projeto de
pesquisa cientiacutefica na mesma terra indiacutegena caberaacute a Coordenaccedilatildeo Geral de Estudos e
Pesquisas - CGEP os seguintes procedimentos
I notificar junto ao setor competente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e
Tecnoloacutegico - CNPq a solicitaccedilatildeo
II consultar as lideranccedilas quanto ao retorno do pesquisador na terra indiacutegena
106
III observar o cumprimento do Art 8o por parte do pesquisador interessado do Iacutendio
Art 6o O pesquisador deveraacute encaminhar diretamente ao CONSELHO NACIONAL DE
DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO - CNPq o projeto de pesquisa e
curriculum vitae
Art 7o A solicitaccedilatildeo do ingresso em terra indiacutegena por parte de pesquisadores nacionais ou
estrangeiros seraacute objeto de anaacutelise pela Coordenadoria-Geral de Estudos e Pesquisas - CGEP
uma vez instruiacutedo o processo com o parecer favoraacutevel do CNPq quanto ao meacuterito da pesquisa
proposta e apoacutes ouvidas as lideranccedilas indiacutegenas
Paraacutegrafo Uacutenico - A consulta agraves lideranccedilas indiacutegenas seraacute realizada pela FUNAI com a
presenccedila e participaccedilatildeo do pesquisador podendo este em caso de resposta positiva
permanecer na terra indiacutegena com autorizaccedilatildeo provisoacuteria ateacute a emissatildeo de uma definitiva
Art 8o No caso de negativa das lideranccedilas indiacutegenas quanto ao pleito do ingresso ou
quaisquer outros entraves levantados no decorrer da anaacutelise do processo ou em qualquer outra
etapa de desenvolvimento da pesquisa a CGEP encaminharaacute a questatildeo ao Conselho
Indigenista atraveacutes da presidecircncia do Oacutergatildeo
Art 9o Quando se tratar de pesquisa em espaccedilo territorial de ocupaccedilatildeo tradicional de iacutendios
isolados o pedido seraacute ainda objeto de exame e parecer preacutevio especiacutefico por parte do
Departamento de Iacutendios Isolados - DII FUNAI Art 10 A presidecircncia da FUNAI poderaacute
suspendera qualquer tempo as autorizaccedilotildees concedidas de acordo com as presentes normas
desde que
I seja solicitada a sua interrupccedilatildeo por parte da comunidade indiacutegena em questatildeo
II a pesquisa em desenvolvimento venha a gerar conflitos dentro da terra indiacutegena
III a ocorrecircncia de situaccedilotildees epidecircmicas agudas ou conflitos graves envolvendo iacutendios e natildeo-
iacutendios
Paraacutegrafo Uacutenico - Fica automaticamente prorrogada a autorizaccedilatildeo pelo prazo que a terra
indiacutegena objeto do projeto estiver interditada pelos motivos apontados no Art 10 inciso III
Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA
Art 11 Todos os pesquisadores estrangeiros ou nacionais que tiverem autorizaccedilotildees
concedidas para ingresso em terras indiacutegenas obrigar-se-atildeo a
I cumprir todos os preceitos legais vigentes notadamente osprevistos na Lei no 6001 de
1o1273
II remeter agrave FUNAI relatoacuterio dos Trabalhos de campo em portuguecircs ateacute 6 (seis) meses apoacutes
o teacutermino da pesquisa onde poderatildeo constar sugestotildees praacuteticas que possam trazer benefiacutecios
para as comunidades indiacutegenas que poderatildeo ser consideradas pela FUNAI nas definiccedilotildees de
sua poliacutetica
III remeter agrave FUNAI 2 (dois) exemplares de publicaccedilotildees artigos teses e outras produccedilotildees
intelectuais oriundas das referidas pesquisas
Art 12 Nos casos de solicitaccedilatildeo de prorrogaccedilatildeo do prazo para continuidade do projeto de
pesquisa cientiacutefica na mesma terra indiacutegena caberaacute a Coordenaccedilatildeo Geral de Estudos e
Pesquisas - CGEP os seguintes procedimentos
I notificar junto ao setor competente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e
Tecnoloacutegico - CNPq a solicitaccedilatildeo
II consultar as lideranccedilas quanto ao retorno do pesquisador na terra indiacutegena
III observar o cumprimento do Art 8o por parte do pesquisador interessado
107
ANEXO B ndash Questionaacuterio para coleta de dados com professores de comunidades indiacutegenas
QUESTIONAacuteRIO
Nome Prof(a)Nordm Cel
Nome da escola
Tribo Etnia
Quantos alunos surdos iacutendio Serie Idade
Nasceu cognitiva ou adquirida
1 ndash Como eacute a forma de comunicaccedilatildeo entre o professor e o iacutendio surdo
( ) Escrita
( ) Oralizado
( ) Libras
( ) Satereacute Maweacute
2 ndash Qual liacutengua o surdo iacutendio tem mais facilidade de aprender
( ) Portuguecircs
( ) Satereacute Maweacute
( ) libras
3 ndash Qual eacute a metodologia de ensino
4 ndash Como o aluno surdo indiacutegena aprende na sala de aula Tem dificuldade ou facilidade
5 ndash Como e que liacutengua o aluno surdo se comunica com outro surdo se tiver e os demais alunos
ouvintes na sala aula
108
6 ndash Vocecirc jaacute observou a comunicaccedilatildeo entre o aluno surdo iacutendio com a famiacutelia Qual liacutengua
7 ndash Como o aluno surdo iacutendio se comunica com as pessoas da comunidade
8 ndash Qual eacute a reaccedilatildeo das pessoas ouvintes quanto o iacutendio surdo na comunidade
9 ndash Professor(a) qual sua opiniatildeo para melhoria de ensino da educaccedilatildeo de iacutendios surdos
10 ndash Qual eacute a importacircncia da liacutengua indiacutegena Satereacute Maweacute para o aluno surdo
11 ndash Fale sobre a cultura e historia dos Satereacute Maweacute o iacutendio surdo participa
109
ANEXO C ndash Autorizaccedilatildeo para pesquisa de campo em terras indiacutegenas
110
ANEXO C-1 ndash Autorizaccedilatildeo para pequisa de campo com uso de imagem permitido
111
ANEXO C-2 ndash Autorizaccedilatildeo para pequisa de campo com uso de imagem permitido
112
ANEXO D ndash Parecere pedagoacutegico da Aluna Indiacutegena Surda
(ESCOLA PADRE PAULOMANNA)
ESCOLA DE AacuteUDIO COMUNICACcedilAtildeO
Pe PAULO MANNA Mantida pela Diocese de Parintins CNPJ 045945370001-88 Av Naccedilotildees Unidas 1792 FoneFax (092) 3533-3456 69151-060 ndash PARINTINS-AMAZONAS-BRASIL
Parecer Pedagoacutegico
Helena Ferreira Arauacutejo 06 anos de idade aluna da Escola Pe Paulo Manna desde
marccedilo de 2013 mora na rua 4 nordm 298 no bairro da Uniatildeo
Segundo relatos da matildee a aluna nasceu de parto normal comeccedilou a andar aos trecircs
anos de idade e eacute descendente dos iacutendios Satereacute- Maueacute Os anos passaram e ela comeccedilou a
perceber que sua filha natildeo ouvia e nem falava pois jaacute tinha outros filhos e estes comeccedilaram a
falar e andar cedo Informou-nos que para se comunicar com ela fazia gestos ateacute ela entender
o que se tornava muito difiacutecil
Disse-nos que falaram para ela do trabalho desenvolvido na Escola Paulo Manna com
alunos surdos e resolveu procurar a escola pois o tempo estava passando e a menina natildeo
falava e ela natildeo sabia mais o que fazer para reverter a situaccedilatildeo e a sua filha ser como os outros
irmatildeos
Atualmente estuda numa turma de Preacute ndash Escolar (2ordm periacuteodo) eacute uma aluna surda No
ano passado quando chegou agrave escola nos primeiros dias chorava muito e ficava zangada se
escondia embaixo da mesa para que ningueacutem a incomodasse visto que natildeo estava adaptada
ao ambiente e aos poucos foi se adaptando e passou a conviver com os colegas ouvintes em
sala de aula
A aluna gosta de fazer suas atividades escolares tem boa coordenaccedilatildeo motorainterage
com os colegas reconhece cores e formas gosta de desenhar e daacute formas aos seus desenhos realiza atividades de leitura de imagem montagem com jogos de encaixe participa de
brincadeiras na quadra parque e brinquedoteca
Em alguns momentos quando quer alguma coisa do colega e este natildeo lhe daacute fica com
raiva chora e se isola Em outros momentos penso que por natildeo saber se comunicar com os
colegas fica um pouco retraiacuteda e torna-se um a receptora diferenciada que requer cuidados
no tocante agrave comunicaccedilatildeo principalmente de como chegar ateacute ela
Procuramos adaptar brincadeiras para envolver a aluna trazendo-a de volta para
participar das atividades e conversar com ela que nem tudo o que a gente quer podemos ter e
fazemos alguma brincadeira que ela goste e rapidinho ela volta a participar e se integrar ao
grupo
Sabemos que eacute difiacutecil para ela o processo ensino aprendizagem porque ela tem que ter
uma aprendizagem triliacutengue visto que tem que aprender a Liacutengua Indiacutegena+ Libras + Liacutengua
Portuguesa e jaacute eacute difiacutecil aprender duas mas natildeo impossiacutevel
113
Neste ano de 2014 contamos com a ajuda da professora Caacutetia (surda) com aulas de
Libras No primeiro momento fica junto com os colegas ouvintes onde procuramos trabalhar
de forma biliacutengue (Portuguecircs + Libras) para que ela entenda o que estaacute sendo repassado em
sala de aula E o que se percebe eacute que a aluna nos daacute respostas precisas dentro dos objetivos
propostos Em outro momento a professora Caacutetia ensina agrave aluna os sinais em LIBRAS que eacute
a liacutengua oficial da pessoa surda trabalhando o concreto com ela ensinando-a com jogos
cartazes reaacutelias viacutedeos transformando tais atividades em aulas dinacircmicas e prazerosas
Dentro dessa realidade a aluna vai participando buscando se inserir nesse universo
cheio de duacutevidas e incertezas e noacutes professores procuramos fazer o melhor para que a aluna
se sinta bem no ambiente escolar visto que o processo ensino aprendizagem para uma crianccedila
de outra etnia natildeo eacute faacutecil pois segundo depoimentos de alguns indiacutegenas a aprendizagem
indiacutegena passa pela demonstraccedilatildeo observaccedilatildeo imitaccedilatildeo tentativa e erro e quando o aluno
vem para a escola tem que se socializar obedecer a comandos regidos pelo sistema e isso
muitas vezes o deixa confuso e os maiores ateacute desistem
Dessa forma satildeo necessaacuterias estrateacutegias de ensino diferenciadas que deem suporte para
que a aluna seja trabalhada de forma triliacutengue no contexto escolar para que ela natildeo perca a
sua essecircncia a sua cultura que sejam adaptados trabalhos de acordo com a realidade
indiacutegena para que ela natildeo perca a sua identidade e saiba conduzir sua aprendizagem dentro de
um contexto diferenciado podendo aprender o que lhe eacute de direito bem como viver bem em
sociedade
Parintins 14 de abril de 2014
PARINTINS
Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio ndash FUNAI
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE
Coordenadora Regional de Educaccedilatildeo de Parintins - CREP
Universidade Estadual do Amazonas ndash CESP
Casa da Sauacutede Indiacutegena
Casa do Iacutendio de Parintins
Escola Aacuteudio Comunicaccedilatildeo Pe Paulo Manna
Diocese de Parintins Pe Henrique Uggeacute
Escola Estadual Brandatildeo de Amorim
Escola Estadual Joatildeo Bosco Ramos de Lima
MAUEacuteS
Secretaria de Estado de Educaccedilatildeo
Secretaria de Educaccedilatildeo Municipal
Casa do estudante indiacutegena Sr Jusivan
Tuxaua da Comunidade de Santa Maria Sr Helito Barbosa
Sr Maxiliano Batista Barros
BARREIRINHA
Secretaria de Educaccedilatildeo Municipal - SEMED
Secretaria de Estado de Educaccedilatildeo
Coordenaccedilatildeo Municipal de Educaccedilatildeo Indiacutegena Sr Santino Lopes
Coordenador da Escola Profa Rosa Cabral Sr Dulcemar F dos Santos
Professora Indiacutegena Satereacute-Maweacute Maria Inez
NHAMUNDAacute
Casa de Sauacutede Indiacutegena - DSEI
Secretaria de Estadual de Educaccedilatildeo
BOA VISTA DO RAMOS
Secretaria de Estado e Educaccedilatildeo
Escola Estadual Princesa Izabel
Comunidade Satereacute-Maweacute
Professora Erly Tereza R Goacutees
URUCARAacute
Poacutelo Base de Urucaraacute ndash DSEI
Distrito Sanitaacuterio Especial Indiacutegena
Lider Indiacutegena Etnia Hexkaryana Caiacutenatilde Mohso
SraMaacuterlucia Kutasa
Enfermeiro SrJonas Pontes
SraDalva H Farias Cantalixto de Melo
SrLuiz Cantalixto de Melo
SAtildeO SEBASTIAtildeO DO UATUMAtilde
Poacutelo Base de Urucaraacute ndash DSEI
Lider Indiacutegena Etnia Hexkaryana Caiacutenatilde Mohso
EPIacuteGRAFE
Matildeos
corpo em movimento
captar e entender
Teu querer teu dizer
Sorrisos laacutegrimas
sentimentos e emoccedilotildees
Libras eacute amor eacute paixatildeo eacute liacutengua
(Marlon Jorge)
RESUMO
Esta pesquisa apresenta o resultado do mapeamento de iacutendios surdos nas comunidades
indiacutegenas Satereacute-Maweacute na microrregiatildeo de Parintins Partindo do levantamento buscou-se
identificar de que forma os iacutendios surdos estabeleciam a comunicaccedilatildeo com seus pares na sua
comunidade Para isso foi utilizado o procedimento metodoloacutegico por meio de entrevistas
abertas com as lideranccedilas indiacutegenas os familiares os professores e gestores escolares e
outros membros das comunidades assim como do proacuteprio iacutendio surdo O processo de anaacutelise
estabelecido para este estudo consistiu no enfoque de natureza linguiacutestica do leacutexico
(vocabulaacuterio) o qual foi registrado por meio de viacutedeos fotos e gravaccedilotildees A partir dos dados
iniciou-se a elaboraccedilatildeo de um minidicionaacuterio triliacutengue nas liacutenguas Satereacute-Maweacuteliacutengua de
sinais portuguecircs escrito a fim de facilitar a comunicaccedilatildeo principalmente no contexto da
comunidade educacional escolar entre os professores e os alunos iacutendios surdos Esta
contribuiccedilatildeo linguiacutestica portanto possibilitou uma nova percepccedilatildeo no processo histoacuterico da
diversidade linguiacutestica para valorizar e respeitar natildeo soacute uma liacutengua a liacutengua oficial do paiacutes
(Portuguecircs) mas tambeacutem a liacutengua natural do povo surdo (Libras) e a liacutengua indiacutegena do povo
Satereacute-Maweacute
Palavras chaves
1Linguiacutestica 2Liacutengua de sinais 3Satereacute-Maweacute 4 Dicionaacuterio
ABSTRACT
This research presents the results of the mapping deaf Indians in indigenous
communities Satereacute-Maweacute in the region of Parintins Starting from the survey we sought to
identify how the deaf Indians established communication with peers in their community For
this methodological procedure through open interviews with indigenous leaders family
members teachers and school administrators and other community members were used as
well as the Indian himself deaf The review process established for this study consisted of
focus linguistic lexicon (vocabulary) which was recorded through videos photos and
recordings From the data we initiated the development of a trilingual Mini Dictionary in
languages Satereacute-Maweacute sign language written Portuguese in order to facilitate
communication especially in the context of school learning community among teachers and
students deaf Indians This linguistic contribution therefore provided a new insight in the
historical process of linguistic diversity to value and respect not only one language the
official language (Portuguese) but also the natural language of deaf people (Libras) and the
indigenous language the people Satereacute-Maweacute
Key Words 1Linguiacutestica 2Liacutengua signal 3Satereacute-Maweacute 4Dictionary
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 13
1 CONSIDERACcedilOtildeES DOS ESTUDOS LINGUIacuteSTICOS DA LIacuteNGUA
BRASILEIRA DE SINAIS
17
11 Liacutengua de Sinais como Liacutengua Natural 20
12 Liacutengua Brasileira de Sinais 22
13 Liacutenguas de Sinais Indiacutegenas pesquisadas no Brasil 26
131 Liacutengua de Sinais Urubu-Kaapor 28
132 Liacutengua de Sinais Emergentes 29
1321 Realidade do Contexto educacional escolar do indiacutegena surdo 31
2 HISTOacuteRIA DO POVO INDIacuteGENA SATEREacute-MAWEacute CULTURA E
LIacuteNGUA
34
21 Breve Relato Histoacuterico 35
22 Classificaccedilatildeo da Liacutengua Satereacute-Maweacute 36
221 Contexto educacional escolar entre os Satereacute-Maweacute 38
3 METODOLOGIA IMPLEMENTADA NA PESQUISA 42
31 Aacuterea e localidade da pesquisa 42
32 Estrateacutegias gerais para a realizaccedilatildeo da coleta de dados 43
33 Procedimentos da coleta de dados 43
34 Articulaccedilatildeo local 44
35 Abordagem ao objeto da pesquisa 44
4 MAPEAMENTO DOS INDIOS SURDOS DA COMUNIDADE SATEREacute-
-MAWEacute NAS MICRORREGIOtildeES DE PARINTINS E SUA REALIDADE
EDUCACIONAL ESCOLAR
45
41 Mapeamento da existecircncia dos iacutendios surdos na microrregiatildeo de Parintins 46
411 Histoacuterico de Parintins 46
412 Histoacuterico de Barreirinha 52
413 Histoacuterico de Maueacutes 53
414 Histoacuterico de Boa Vista do Ramos 55
415 Histoacuterico de Nhamundaacute 56
42 Realidade linguiacutestica e educacional dos iacutendios surdos encontrados na etnia
Satereacute-Maweacute
59
43 Inventaacuterio de gestos da linguagem caseira dos surdos Satereacute-Maweacute 66
431 Os sinais caseiros dos indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute 66
432 Municiacutepio de Parintins 66
4321 O primeiro surdo 67
4322 O segundo surdo 67
4323 O terceiro surdo 68
44 O indiacutegena surdo da comunidade de Ponta Alegre do Municiacutepio de Barreirinha 70
45 Os indiacutegenas surdos do Municiacutepio de Maueacutes 73
451 O primeiro surdo da Comunidade de Santa Maria 75
452 O segundo surdo da Comunidade de Santa Maria 79
5 ICONICIDADE E ARBITRARIEDADE NA CRIACcedilAtildeO DOS SINAIS
CASEIROS
83
6 INTERVENCcedilAtildeO E CONTRIBUICcedilAtildeO LINGUIacuteSTICA DO PROFESSOR
SURDO
90
61 Libras e Liacutengua Satereacute-Maweacute intercacircmbio de construccedilatildeo sociocultural-
linguiacutestico
94
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 97
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 99
ANEXOS
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 Croqui da aacuterea e localidade da pesquisa
FIGURA 2 Sinais caseiros utilizado pela crianccedila de 5 anos
FIGURA 3 Sinais caseiros utilizados pelo aluno da comunidade de Ponta Alegre
Barreirinha
FIGURA 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa
Maria (30 sinais coletados)
FIGURA 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo idoso na comunidade de Santa Maria
FIGURA 6 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos que se refere agrave
arbitrariedade
FIGURA 7 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos aos quais se referem a
iconicidade
FIGURA 8 Caracteriacutesticas da imagem em Liacutengua de Sinais Satereacute-Maweacute dos objetos
aos quais se referem agrave iconicidade
FIGURA 9 Encontro da crianccedila surda Satereacute-Maweacute com o professor surdo
FIGURA 10 Contato com aluno Satereacute-Maweacute surdo no ambiente escolar
FIGURA 11 Contato com o aluno surdo Satereacute-Maweacute na Escola Estadual Brandatildeo de
Amorim
FIGURA 12 Em viagem para aacuterea indiacutegena no Rio Marau
FIGURA 13 Apresentaccedilatildeo do projeto de pesquisa agraves lideranccedilas indiacutegenas na
comunidade
FIGURA 14 Desenvolvimento de oficina de Libras com professores indiacutegenas
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Mapeamento da existecircncia de iacutendios surdos nas respectivas comunidades
indiacutegenas ou zona urbana da microrregiatildeo de Parintins
Tabela 2 11 Sinais caseiros utilizados pela crianccedila indiacutegena surda de 5 anos e seus
familiares
Tabela 3 13 Sinais caseiros coletados e utilizados pelo aluno da comunidade de
Ponta Alegre
Tabela 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa
Maria
Tabela 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais antigo residente isolado na
comunidade de Santa Maria no Rio Marau ( 18 sinais coletados)
56
66
69
73
77
13
INTRODUCcedilAtildeO
Todo cidadatildeo tem o direito de participar na vida poliacutetica social e econocircmica de um
paiacutes Neste contexto inclui-se o cidadatildeo surdo Infelizmente a histoacuteria relata que no passado
os sujeitos surdos1 eram colocados agraves margens da sociedade em todos seus aspectos social
poliacutetico econocircmico cultural linguiacutestico e educacional
Entretanto ao longo da histoacuteria os surdos com a participaccedilatildeo de ouvintes na luta
incessante pelos seus direitos muitas conquistas foram alcanccediladas Entre estas estaacute o direito
de ter sua proacutepria liacutengua a Liacutengua Brasileira de Sinais-LIBRAS A Lei nordm 10436 de 2002 a
qual a reconhece como sistema linguiacutestico de natureza visual-motora com estrutura
gramatical proacutepria constituindo-se um sistema linguiacutestico de transmissatildeo de ideias e fatos
oriundos da comunidade de pessoas surdas do Brasil Conforme Saacute (2006) no Brasil as
comunidades urbanas usam a ldquoliacutengua de sinais brasileirardquo ou simplesmente ldquoliacutengua de sinaisrdquo
Vale ressaltar que a Liacutengua de Sinais segundo Strobel (2008) eacute um aspecto
fundamental da cultura surda2 parte do artefato cultural linguiacutestico
3 do povo surdo e constitui
1 Na aacuterea de pesquisa vinculada a perspectiva socioantropoloacutegica existe uma clara diferenciaccedilatildeo entre a opccedilatildeo
de escrever surdo com letra minuacutescula ou maiuacutescula conforme explica Andreis-Witkoski (2011) ldquoapesar de
nas uacuteltimas deacutecadas ter sido estabelecido uma distinccedilatildeo entre a expressatildeo ldquoSurdordquo com letra maiuacutescula para
identificar uma categoria cultural e ldquosurdordquo com minuacutescula em referecircncia a deficiecircncia auditiva nesta Tese natildeo
se utiliza este tipo de marcaccedilatildeo Compartilha-se da concepccedilatildeo exposta por Owen Wrigley (1996 p53) quando
adverte que esta diferenciaccedilatildeo constitui-se em ldquoum dualismo riacutegido-bom Surdo mau surdo ndash que pouco faz para
ajudar os indiviacuteduos em suas vidas diaacuterias [sem] ajudar a clarear um alcance maior de estrateacutegias colocadas pelos
indiviacuteduos lidando com a exclusatildeo e as muitas faces da opressatildeo em suas rotinas Em termos simples a
dicotomia de bdquoSs‟ estaacute tatildeo cruelmente composta que embora inicialmente seja uacutetil ela agora serve para silenciar
o alcance total das experiecircncias dos sSurdosrdquo (2011 p13) Logo opta-se nesta dissertaccedilatildeo o uso da expressatildeo
ldquosurdordquo (minuacutescula) que refere-se aos ldquosurdordquo enquanto pessoas que pela impossibilidades formam uma
minoria diferente com caracteriacutesticas linguiacutesticas cognitivas culturais e comunitaacuterias especiacuteficas (SAacute 2006
p107) 2 Cultura Surda ldquoeacute o jeito de o surdo entender o mundo e de modificaacute-lo a fim de se tornaacute-lo acessiacutevel e habitaacutevel
ajustando-os com as suas percepccedilotildees visuais que contribuem para a definiccedilatildeo das identidades surdas e das
ldquoalmasrdquo das comunidades surdas Isto significa que abrange a liacutengua as ideacuteias as crenccedilas os costumes e os
haacutebitos de povordquo (STROBEL2008 p 24) 3Conforme Strobel (2008 p37) o que seriam artefatos culturais linguiacutesticos Ao referirmos ldquoartefatordquo
pensamos habitualmente no significado de objetos ou materiais produzidos pelos grupos culturais Realmente de
fato eacute uma forma material de expressar uma determinada cultura poreacutem tambeacutem podem incluir ldquotudo o que se
vecirc e senterdquo quando se estaacute em contato com a cultura de uma comunidade a exemplo vestuaacuterios tradiccedilotildees
crenccedilas valores e normas etc Ou seja no campo dos Estudos Culturais o conceito de ldquoartefatosrdquo natildeo se referem
apenas a materialismo culturais como tambeacutem naquilo que na cultura constitui produccedilotildees do sujeito que tem seu
proacuteprio modo de ser ver entender e transformar o mundo Logo um dos artefatos culturais que ilustram a
cultura do povo surdo eacute o linguiacutestico a liacutengua de sinais que eacute um aspecto fundamental da cultura surda sendo
uma das principais marcas da identidade surda
14
uma das principais marcas da identidade do ser surdo Incluem-se tambeacutem os ldquosinais
emergentesrdquo ou ldquosinais caseirosrdquo dos sujeitos surdos isolados de comunidades surdas no caso
dos surdos das zonas rurais e dos surdos iacutendios Estes surdos embora natildeo pertenccedilam agraves
mesmas comunidades se identificam com o povo surdo4 pois compartilham as mesmas
peculiaridades constroem sua formaccedilatildeo de mundo por meio de artefato cultural visual5
independentemente do grau linguiacutestico que possuem os quais podem ser os gestos caseiros
denominados tambeacutem como sinais emergentes Nesta perspectiva teoacuterica soacutecioantropoloacutegica
enfoca-se como o objeto da pesquisa o sujeito surdo indiacutegena ou seja o iacutendio surdo
Antes de prosseguir com a abordagem mencionada faz-se necessaacuterio destacar que
assim como o povo surdo o povo indiacutegena tambeacutem traccedilou diversas lutas na trajetoacuteria para
reconhecimento dos seus direitos O reconhecimento dos direitos dos povos indiacutegenas no
mundo contemporacircneo avanccedilou muito em relaccedilatildeo haacute algumas deacutecadas passadas De acordo
com Lucinda (apud Saacute 2006) em consenso geral nos debates da Comissatildeo Educaccedilatildeo
Cultura e Desporto que antecedem a elaboraccedilatildeo do texto da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica
Federativa do Brasil de 1988 tanto a liacutengua de sinais como as liacutenguas indiacutegenas deveriam ser
consideradas no texto da Constituiccedilatildeo como liacutenguas maternas Assim como resultado o
Referencial Curricular Nacional para Escolas Indiacutegenas (1998 p31) declara que ldquoA
Constituiccedilatildeo Federal aleacutem de perceber o iacutendio como pessoa com direitos e deveres como
qualquer outro cidadatildeo brasileiro o reconhece como membro de uma comunidade e de um
grupo isto eacute como membro de uma coletividade que eacute titular de direitos coletivos e
especiaisrdquo Ou seja reconhece para os iacutendios o direito agrave praacutetica de suas formas culturais
proacuteprias E no tiacutetulo VIII ldquoDa Ordem Socialrdquo conteacutem um capiacutetulo denominado ldquoDos Iacutendiosrdquo
onde se diz que ldquosatildeo reconhecidos aos iacutendios a sua organizaccedilatildeo social costumes liacutenguas
crenccedilas e tradiccedilotildees []rdquo (ibid p31)
Em meio a essa diversidade linguiacutestica que caracteriza o Brasil como sendo um paiacutes
pluriliacutengue estatildeo situados os ldquosurdos brasileirosrdquo que tecircm sua proacutepria liacutengua reconhecida
oficialmente a Liacutengua de Sinais Logo existem tambeacutem ldquoiacutendios surdosrdquo da etnia Satereacute-
4Quando referimos ldquopovo surdordquo estamos falando ldquode sujeitos surdos que natildeo habitam no mesmo local mas
que estatildeo ligados por uma origem por um coacutedigo de eacutetico de formaccedilatildeo visual independente do grau de evoluccedilatildeo
linguiacutestica tais como a liacutengua de sinais a cultura surda e quaisquer outros laccedilosrdquo (ibid p30) 5Perlin e Miranda (2003) complementam ldquoExperiecircncia visual significa a utilizaccedilatildeo visual em (substituiccedilatildeo total
agrave audiccedilatildeo) como meio de comunicaccedilatildeo Desta experiecircncia visual surge a cultura surda representada pela liacutengua
de sinais pelo modo diferente de ser de se expressar de conhecer o mundo de entrar nas artes no
conhecimento cientiacutefico e acadecircmicordquo (apud STROBEL 2008 p39)
15
Maweacute Qual sua forma de se comunicar Existe uma ldquoLiacutengua de Sinaisrdquo especifica do iacutendio
surdo
Diante das questotildees levantadas surgiu entatildeo agrave necessidade de realizar uma pesquisa
no campo da linguiacutestica na perspectiva dos estudos surdos6 voltado especificamente para o
iacutendio surdo da etnia Satereacute-Maweacute Foram traccedilados os seguintes objetivos i) mapear os iacutendios
surdos na microrregiatildeo de Parintins ii) identificar de que forma o iacutendio surdo estabelece a
comunicaccedilatildeo com sua comunidade especificamente no acircmbito educacional ou se utilizam
liacutenguas de sinais da comunidade local iii) registrar a forma de comunicaccedilatildeo no dia a dia do
iacutendio surdo nas comunidades indiacutegenas a partir dos estudos linguiacutesticos da Liacutengua de Sinais
dos grupos existentes e sua relaccedilatildeo com a comunidade local iv) promover o intercacircmbio entre
a Liacutengua de Sinais dos iacutendios surdos mapeados da etnia Satereacute-Maweacute e a LIBRAS da
comunidade surda do Municiacutepio de Parintins - Amazonas
Este trabalho conteacutem a seguinte divisatildeo primeiro capiacutetulo - apresenta consideraccedilotildees
linguiacutesticas fundamentais aos estudos surdos onde explicita o reconhecimento da Liacutengua de
Sinais como elemento cultural linguiacutestico do povo surdo abordando tambeacutem a oficializaccedilatildeo
da Liacutengua Brasileira de Sinais e as Liacutenguas Indiacutegenas pesquisadas no Brasil como a realidade
do contexto escolar linguiacutestico na comunidade indiacutegena segundo capiacutetulo - relata a histoacuteria
do povo indiacutegena Satereacute-Maweacute sua principal expressatildeo cultural sua liacutengua e seu respectivo
contexto educacional escolar terceiro capiacutetulo - apresenta os procedimentos metodoloacutegicos
utilizados na operacionalizaccedilatildeo da pesquisa e o capiacutetulo quatro - apresenta a anaacutelise do
resultado do Mapeamento dos iacutendios surdos da etnia Satereacute-Maweacute na microrregiatildeo de
Parintins Neste satildeo tambeacutem apresentadas as relaccedilotildees socioculturais-linguiacutesticas de iacutendios
surdos Satereacute-Maweacute com as contribuiccedilotildees linguiacutesticas do professor surdo aos Iacutendios surdos na
comunidade Satereacute-Maweacute estabelecendo assim as relaccedilotildees culturais na construccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo linguiacutestica LIBRAS e Liacutengua Satereacute-Maweacute como um intercacircmbio de construccedilatildeo
sociocultural
Desse modo a pesquisa tem como premissa baacutesica primeiramente mapear os iacutendios
surdos da etnia Satereacute-Maweacute e assim promover um intercacircmbio oferecendo contribuiccedilotildees
linguiacutesticas fundamentadas na pesquisa do leacutexico (vocabulaacuterio) da etnia referida com a Libras
(Liacutengua Brasileira de Sinais) e a Liacutengua Portuguesa por meio da elaboraccedilatildeo de um
6 Conforme Skliar eacute o campo de pesquisa em educaccedilatildeo onde as identidades a liacutenguas a histoacuteria a cultura da
comunidade surda satildeo focalizados e entendidos a partir da diferenccedila a partir do seu reconhecimento poliacutetico
(2001p29)
16
minidicionaacuterio triliacutengue Assim espera-se contribuir para a iniciaccedilatildeo dos indiacutegenas surdos da
etnia Satereacute-Maweacute na Liacutengua Brasileira de Sinais dando a eles um dos direitos universais do
ser humano que eacute direito a uma liacutengua Tambeacutem deseja-se contribuir para a iniciaccedilatildeo dos
indiacutegenas surdos da etnia Satereacute-Maweacute na Liacutengua Brasileira de Sinais dando a eles um dos
direitos universais do ser humano que eacute direito a uma liacutengua proacutepria
17
1 CONSIDERACcedilOtildeES DOS ESTUDOS LINGUIacuteSTICOS DA LIacuteNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
A Linguiacutestica conhecida hoje como a ciecircncia que estuda a linguagem humana eacute uma
ciecircncia recente poreacutem com um saber antigo Passou a se impor como ciecircncia agrave medida que
demonstrou seu meacutetodo e seu objeto de estudo Eacute definida como estudo cientiacutefico que visa
descrever ou explicar a linguagem verbal humana (ORLANDI 1999)
A Linguiacutestica diferencia-se da gramaacutetica tradicional normativa na medida que natildeo
tem como objetivo ditar regras de correccedilatildeo para uso da linguagem Seu interesse eacute a liacutengua
como mateacuteria de reflexatildeo (QUADROS e KARNOPP 2004) Segundo as pesquisas nesta
aacuterea Vandresen (1988 apud QUADROS 2007 p 83) tem-se ldquoa linguiacutestica contrastiva como
uma subaacuterea da linguiacutestica geral interessada em apontar as similaridades e diferenccedilas
estruturais entre a liacutengua materna (de um grupo de alunos) e uma liacutengua estrangeirardquo
Na taxonomia de similaridades e contrastes entre as liacutenguas existe uma seacuterie de
regularidades como haacute similaridades comportamentais que natildeo precisam ser explicitadas
porque constituem a base comum das liacutenguas naturais e o compartilhamento dessas
similaridades poderaacute servir como base para inferecircncias quanto agraves formas da liacutengua estrangeira
e quanto agraves diferenccedilas por serem sistemaacuteticas podem admitir tratamento inferencial e
heuriacutestico (KATO 1988 apud QUADROS 2007)
Segundo Nascimento (2009) a vitalidade da liacutengua depende de sua utilizaccedilatildeo efetiva
tanto em escala nacional quanto em escala mundial Quanto mais uma liacutengua eacute utilizada mais
ela eacute viva e inversamente quanto menos eacute utilizada mais ela eacute ameaccedilada de extinccedilatildeo Assim
sendo eacute o uso social da liacutengua que determina seu grau de revitalizaccedilatildeo
Por essas razotildees a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Linguiacutesticos (BARCELONA
1996 p 3) tem como ponto de partida
[] as comunidades linguiacutesticas e natildeo os Estados e inscreve-se no quadro do
reforccedilo das instituiccedilotildees internacionais capazes de garantir um desenvolvimento
duradouro e equitativo para toda a humanidade e tem como finalidade favorecer um
quadro de organizaccedilatildeo poliacutetica da diversidade linguiacutestica baseado no respeito na
convivecircncia e nos benefiacutecios reciacuteprocos
Em seu TITULO PREacuteVIO tem como conceitos
18
Artigo 1ordm
1 Esta Declaraccedilatildeo entende por comunidade linguiacutestica toda a sociedade humana
que radicada historicamente num determinado espaccedilo territorial reconhecido ou
natildeo se identifica como povo e desenvolveu uma liacutengua comum como meio de
comunicaccedilatildeo natural e de coesatildeo cultural entre os seus membros A denominaccedilatildeo
liacutengua proacutepria de um territoacuterio refere-se ao idioma da comunidade historicamente
estabelecida neste espaccedilo [grifo nosso]
2 Esta Declaraccedilatildeo parte do princiacutepio de que os direitos linguiacutesticos satildeo
simultaneamente individuais e colectivos e adapta como referecircncia da plenitude dos
direitos linguiacutesticos o caso de uma comunidade linguiacutestica histoacuterica no respectivo
espaccedilo territorial entendendo-se este natildeo apenas como a aacuterea geograacutefica onde esta
comunidade vive mas tambeacutem como um espaccedilo social e funcional indispensaacutevel ao
pleno desenvolvimento da liacutengua Eacute com base nesta premissa que se podem
estabelecer em termos de uma progressatildeo ou continuidade os direitos que
correspondem aos grupos linguiacutesticos mencionados no ponto 5 deste artigo e os das
pessoas que vivem fora do territoacuterio da sua comunidade []
Em referecircncia ao Artigo 3ordm
- o direito ao ensino da proacutepria liacutengua e da proacutepria cultura
- o direito a dispor de serviccedilos culturais
- o direito a uma presenccedila equitativa da liacutengua e da cultura do grupo nos meios de
comunicaccedilatildeo
- o direito a serem atendidos na sua liacutengua nos organismos oficiais e nas relaccedilotildees
socioeconomicas []
Em referecircncia ao Artigo 5ordm
Esta Declaraccedilatildeo baseia-se no princiacutepio de que os direitos de todas as comunidades
linguiacutesticas satildeo iguais e independentes do seu estatuto juriacutedico ou poliacutetico como
liacutenguas oficiais regionais ou minoritaacuterias Designaccedilotildees tais como liacutengua regional ou
minoritaacuteria natildeo satildeo usadas neste texto porque apesar de em certos casos o
reconhecimento como liacutengua minoritaacuteria ou regional poder facilitar o exerciacutecio de
determinados direitos a utilizaccedilatildeo destes e doutros adjetivos serve frequentemente
para restringir os direitos de uma comunidade linguiacutestica []
Em referecircncia ao Artigo 23ordm
1 O ensino deve contribuir para fomentar a capacidade de auto-expressatildeo
linguiacutestica e cultural da comunidade linguiacutestica do territoacuterio onde eacute
ministrado[grifo nosso]
2 O ensino deve contribuir para a manutenccedilatildeo e o desenvolvimento da liacutengua falada
pela comunidade linguiacutestica do territoacuterio onde eacute ministrado
3 O ensino deve estar sempre ao serviccedilo da diversidade linguiacutestica e cultural e das
relaccedilotildees harmoniosas entre as diferentes comunidades linguiacutesticas do mundo inteiro
4 No quadro dos princiacutepios anteriores todos tecircm direito a aprender qualquer liacutengua
Em referecircncia aos Artigos 26ordm a 28ordm Artigo 26ordm
Todas as comunidades linguiacutesticas tecircm direito a um ensino que permita a todos os
seus membros adquirirem o perfeito conhecimento da sua proacutepria liacutengua com as
diversas capacidades relativas a todos os domiacutenios de uso da liacutengua habituais bem
como o melhor conhecimento possiacutevel de qualquer outra liacutengua que desejem
aprender
Artigo 27ordm
Todas as comunidades linguiacutesticas tecircm direito a um ensino que permita aos seus
membros o conhecimento das liacutenguas ligadas agrave sua proacutepria tradiccedilatildeo cultural tais
como as liacutenguas literaacuterias ou sagradas usadas antigamente como liacutenguas habituais
da sua comunidade
Artigo 28ordm
Todas as comunidades linguiacutesticas tecircm direito a um ensino que permita aos seus
membros adquirirem um conhecimento profundo do seu patrimocircnio cultural (histoacute-
ria e geografia literatura e outras manifestaccedilotildees da proacutepria cultura) assim como o
melhor conhecimento possiacutevel de qualquer outra cultura que desejem conhecer
(BARCELONA 1996 p 4 a 14)
19
Assim nas Disposiccedilotildees Finais no Plenaacuterio da Associaccedilatildeo Internacional para o
Desenvolvimento da Comunicaccedilatildeo Intercultural recomenda agraves Naccedilotildees Unidas que tomem as
medidas necessaacuterias agrave adopccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de uma Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos
Linguiacutesticos considerando a Convenccedilatildeo nuacutemero 169 da Organizaccedilatildeo Internacional do
Trabalho de 26 de Junho de 1989 relativa aos povos indiacutegenas em paiacuteses independentes que
a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Colectivos dos Povos realizada em Maio de 1990 em
Barcelona declara que todos os povos tecircm direito a exprimir e a desenvolver a sua cultura a
sua liacutengua e as suas normas de organizaccedilatildeo e para o fazerem a dotarem-se de estruturas
poliacuteticas educacionais de comunicaccedilatildeo e de administraccedilatildeo puacuteblica proacuteprias em quadros
poliacuteticos diferentes Considerando tambeacutem a Declaraccedilatildeo Final da Assembleia Geral da
Federaccedilatildeo Internacional de Professores de Liacutenguas Vivas aprovada em Peacutecs (Hungria) em 16
de Agosto de 1991 recomenda-se tambeacutem que os direitos linguiacutesticos sejam consagrados
direitos fundamentais
Neste contexto Nascimento (2009 p 25) pontua
Como princiacutepio eacutetico qualquer poliacutetica de liacutenguas deveraacute trabalhar a unidade e a
diversidade Natildeo se trata de poacutelos de contradiccedilatildeo mas de eixos de transiccedilatildeo A
unidade eacute uma razatildeo do Estado e a diversidade ou variedade eacute a mateacuteria linguiacutestica
proacutepria da comunidade pois reflete a liacutengua em uso ou seja as linguagens verbais
por meio das quais os indiviacuteduos se comunicam A unidade eacute resguardada pelo
padratildeo oficializado em um modelo de gramaacutetica e a variedade se faz representar nas
diversas gramaacuteticas praacuteticas e pragmaacuteticas de um Estado linguiacutestico
Quadros e Karnopp (2004) ainda explicam que a linguiacutestica parte de pressupostos
baacutesicos que determinam as investigaccedilotildees Sendo um dos mais importantes eacute de que a
linguagem eacute restringida por determinados princiacutepios ou seja ldquoregrasrdquo que fazem parte do
conhecimento humano das liacutenguas (falada ou sinalizada) da formaccedilatildeo de palavras da
construccedilatildeo das sentenccedilas e da construccedilatildeo dos textos A partir deste pressuposto da
universalidade de tais princiacutepios as investigaccedilotildees linguiacutesticas objetivam estudar os aspectos
especiacuteficos de cada liacutengua os quais revelam as caracteriacutesticas da linguagem humana A
exemplo o inglecircs o portuguecircs a Liacutengua de Sinais Americana a Liacutengua Brasileira de Sinais
e outras Embora apresentem diferenccedilas entre as liacutenguas agraves estruturas satildeo comuns que por
sua vez interessam agraves investigaccedilotildees linguiacutesticas na medida em que eacute a ciecircncia que objetiva
por explicar a natureza da linguagem humana
A partir dessas concepccedilotildees entendemos que os seres humanos estabelecem relaccedilotildees
do mais simples ao mais complexo com o outro por meio de gestos olhares e contato seja
por meio de sons Tudo isso caracteriza a linguagem humana Observa-se que a ldquolinguagemrdquo
20
eacute um termo usado pelas pessoas com referecircncia agrave linguagem em geral ou seja em uma
variedade de sentidos para denominar sistemas de comunicaccedilatildeo linguagem musical
linguagem corporal linguagem entre animais etc
No que concerne agrave definiccedilatildeo do termo liacutengua Quadros e Karnopp (2004) encontraram
uma seacuterie de definiccedilotildees de liacutengua que apontam para sua diferenciaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao termo
linguagem Estas fornecem subsiacutedios para a indicaccedilatildeo de propriedades consideradas pela
linguiacutestica essenciais agraves liacutenguas naturais sendo que uma delas eacute dada por Saussure que
afirma
Liacutengua natildeo se confunde com a linguagem eacute somente uma parte determinada
essencial dela indubitavelmente Eacute ao mesmo tempo um produto social da
faculdade de linguagem e um conjunto de convenccedilotildees necessaacuterias adotadas pelo
corpo social para permitir o exerciacutecio dessa faculdade nos indiviacuteduos (QUADROS e
KARNOPP 2004 p24)
Portanto entende-se como liacutengua natural
uma liacutengua que foi criada e eacute utilizada por uma comunidade especiacutefica de usuaacuterios
transmitida de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo e que muda ndash tanto estrutural como
funcionalmente ndash com o passar do tempo Ora qualquer liacutengua pode ser considerada
natural independentemente da modalidade que utilize (SAacute 2006 p 134)
Assim a liacutengua natural eacute tratada enquanto sistema linguiacutestico altamente desenvolvido
apresentando as caracteriacutesticas citadas por Quadros e Karnopp (2004 p 25-28) de
flexibilidade versatilidade arbitrariedade descontinuidade criatividade produtividade dupla
articulaccedilatildeo padratildeo de organizaccedilatildeo dos elementos e dependecircncia estrutural Logo conclui-se
que tais caracteriacutesticas satildeo especiacuteficas da faculdade da linguagem humana
11 Liacutengua de Sinais como Liacutengua Natural
A Liacutengua de Sinais eacute uma liacutengua natural criada pelas comunidades surdas Segundo
Skliar (1998 p26) ldquoTodas as crianccedilas surdas podem adquirir a Liacutengua de Sinais desde que
participem das interaccedilotildees quotidianas com a comunidade surda como acontece com qualquer
outra crianccedila na aquisiccedilatildeo de uma liacutengua naturalrdquo Skliar esclarece que liacutengua ldquonaturalrdquo natildeo
se refere a uma espontaneidade bioloacutegica mas como liacutengua que foi criada e eacute utilizada por
uma comunidade especiacutefica de usuaacuterios que transmite de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo e que muda com
o passar do tempo tanto estruturalmente como funcionalmente (IDEM p27)
As Liacutenguas de Sinais satildeo diferentes em cada comunidade com caracteriacutesticas das
liacutenguas orais com estruturas gramaticais proacuteprias que as distingue dos demais sistemas de
21
comunicaccedilatildeo Para Quadros e Karnopp (2004 p 30) ldquoAs liacutenguas de sinais satildeo portanto
consideradas pela linguiacutestica como liacutenguas naturais ou como um sistema linguiacutestico legiacutetimo e
natildeo como um problema do surdo ou como uma patologia da linguagemrdquo7
Para o reconhecimento das Liacutenguas de Sinais como liacutenguas naturais Ramos (2013 p
8) destaca o conceito ldquonaturalrdquo em oposiccedilatildeo a ldquocoacutedigo e linguagemrdquo e a avaliaccedilatildeo apresenta
as semelhanccedilas existentes entre as mesmas e as liacutenguas orais Sendo que uma dessas
semelhanccedilas na linha saussuriana eacute a ldquoexistecircncia de unidades miacutenimas formadoras de
unidades complexas pode ser observada em todas as Liacutenguas de Sinais espalhadas pelo
mundo possuidoras dos niacuteveis fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico e pragmaacuteticordquo
As liacutenguas de sinais apresentam ldquoregistros diversos (por categoria profissional status social
idade niacutevel escolar etc) aleacutem de dialetos regionais tambeacutem referendam as semelhanccedilas com
as liacutenguas oraisrdquo (IDEM p 8)
Estudos aprofundados sobre a Liacutengua de Sinais iniciaram a partir da deacutecada de 1950
com o estudioso da linguiacutestica o americano William Stokoe o qual percebeu e provou que a
Liacutengua de Sinais
[] satisfazia todos os criteacuterios linguiacutesticos de uma liacutengua genuiacutena no leacutexico na
sintaxe na capacidade de gerar um nuacutemero infinito de proposiccedilotildees [] Stokoe
convenceu-se de que os sinais natildeo eram figuras e sim complexos siacutembolos abstratos
com uma estrutura interna complexa Foi entatildeo o primeiro a buscar uma estrutura a
analisar os sinais dissecaacute-los procurar as partes constituintes Desde o comeccedilo ele
tentou demonstrar que cada sinal possuiacutea pelo menos trecircs partes independentes ndash
7 Sobre a surdez temos duas abordagens segundo explica Skliar a cliacutenico terapecircutica e a soacutecio-antropoloacutegica
A visatildeo soacutecioantropoloacutegica descreve a surdez em termos contraacuterios agraves noccedilotildees de patologia e de deficiecircncia
(1998 p10) Durante o seacuteculo passado construi-se o imaginaacuterio de que o surdo era um deficiente que
necessitava falar Segundo Casarin (1996 p2) ldquoNesse discurso deacuteficit doenccedila patologia anomalia implicam
apenas a possibilidade de sequumlecircncia diagnoacutestico tratamento-cura caracteriacutesticas da abordagem meacutedicardquo [] Tal
concepccedilatildeo influecircnciou outras aacutereas do conhecimento inclusive na educaccedilatildeo sobre a forma de perceber o surdo
Cesarian ainda explica que a partir daiacute foram assimilando o imaginaacuterio de que a surdez era uma doenccedila e que o
surdo por natildeo falar era um deficiente que precisava ser curado construindo entre as aacutereas de tratamento um
modelo terapecircutico para o deficiente auditivo Apoacutes as influecircncias da medicina na educaccedilatildeo dos surdos o
modelo cliniacuteco-terapecircutico passa a impor propostas educativas do oralismo dando continuidade agora na aacuterea
educacional ao tratamento do deficiente o mais cedo possivel na escola a fim que ele se enquadre ao modelo
normal modelo ouvinte Logo as escolas apresentavam como instituiccedilotildees de reeducaccedilatildeo da fala desenvolvendo
atividades pedagoacutegicas que tinham como objetivo o treinamento e exerciacutecios com fins a trazer o surdo o mais
possiacutevel do ldquonormalrdquo Perde-se assim muito tempo no processo de ensino aprendizado do sujeito surdo levando
a um fracasso escolar Surge entatildeo a nova concepccedilatildeo nomeada como soacutecio-antropoloacutegica de surdez totalmente
oposta agrave anterior Essa concepccedilatildeo parte das capacidades do sujeito quando considera a liacutengua de sinais como
melhor garantia para o desenvolvimento normal do surdo Esta nova concepccedilatildeo traz a valorizaccedilatildeo da lingua de
sinais e como consequecircncia o reconhecimento das especificidade culturais das comunidades surdas Estudos
feitos por linguiacutesticas observaram o desempenho escolar de pessoas surdas que se comunicam desde a infacircncia
por meio da Liacutengua de Sinais e que demostraram ganhos significativos em divesas aacutereas do desenvolvimento
humano Deixando claro a necessidade do uso da Liacutengua de Sinais como liacutengua natural da pessoa surda (1996
p 3)
22
localizaccedilatildeo configuraccedilatildeo das matildeos e movimento executado (anaacuteloga aos fonemas
da fala) ndash e que cada parte apresentava um nuacutemero limitado de combinaccedilotildees []
(SACKS 1998 p 88-89)
Segundo Ramos (2013 p 9) em 1988 o venezuelano Saacutenchez fez pesquisas sobre as
liacutenguas de sinais e os resultados apresentou ao educador francecircs Jean Foucambert No debate
sobre suas pesquisas ldquosurgiu agrave proposta de um tipo de educaccedilatildeo que privilegiasse a liacutengua
natural da comunidade surda - a Liacutengua de Sinais Venezuelana e a escrita da liacutengua da
comunidade oral o Espanholrdquo Um dos primeiros princiacutepios que lanccedilou a base para a que a
liacutengua de sinais fosse reconhecida como liacutengua natural foi descrita por Foucambert (RAMOS
2013 p 10)
Natildeo soacute os surdos mas toda e qualquer crianccedila pode aprender a liacutengua escrita sem
basear-se na oral porque satildeo independentes Em segundo lugar chegou-se agrave
afirmaccedilatildeo de que a liacutengua de sinais eacute uma liacutengua natural e que os surdos satildeo uma
comunidade linguiacutestica minoritaacuteria com direito a desenvolver sua cultura proacutepria
dentro da cultura majoritaacuteria O fato de a Liacutengua de Sinais cumprir uma seacuterie de
requisitos que todas as liacutenguas naturais possuem - espanhol portuguecircs alematildeo
inglecircs polonecircs a criatividade eacute um deles - pode-se sempre dizer alguma coisa
nova Outro requisito eacute a combinaccedilatildeo de partiacuteculas natildeo significativas que usadas de
certa maneira criam significaccedilatildeo [] Com 30 40 configuraccedilotildees da matildeo podem-se
transmitir milhares de sinais significativos como os fonemas da liacutengua oral A
liacutengua de sinais que como as liacutenguas nacionais eacute diferente em cada paiacutes e ateacute em
regiotildees dos paiacuteses possui aleacutem do mais uma gramaacutetica toda proacutepria organizada e
complexa e nos permite transmitir qualquer coisa [] Com ela pode-se transmitir
criar e recriar o que se quiser poesia romance filosofia E pode-se ateacute formular
ideacuteias com duplo sentido ou mentir que eacute outra caracteriacutestica das liacutenguas naturais
Por meio das pesquisas e estudos diversos paiacuteses passaram a se dedicar no campo da
linguiacutestica da Liacutengua de Sinais eacute que criou-se a possibilidade do povo surdo lutar pelo seu
reconhecimento enquanto liacutengua na medida em que pode contar com estudos que provam
cientificamente de que as Liacutenguas de Sinais satildeo de fato liacutenguas e natildeo um conjunto de
miacutemica
12 Liacutengua Brasileira de Sinais
O ser humano se expressa atraveacutes da liacutengua e a partir dela estabelece sua cultura
valores e padrotildees sociais Para os surdos brasileiros a Libras estabelece essas condiccedilotildees pois
considera a modalidade visual-espacial e associa caracteriacutesticas sociolinguiacutesticas as funccedilotildees
pragmaacuteticas e discursivas semelhantes agraves liacutenguas orais poreacutem a Liacutengua de Sinais por muito
tempo natildeo foi percebida enquanto estrutura linguiacutestica
23
A LIBRAS como toda Liacutengua de Sinais eacute uma liacutengua de modalidade gestual-visual
uma vez que faz uso para a comunicaccedilatildeo de movimentos gestuais e expressotildees faciais
percebidos pela visatildeo Neste sentido a Revista Feneis Ramos (2002 apud RAMOS 2013 p
7-8) ldquoa Liacutengua Portuguesa eacute uma liacutengua de modalidade oral-auditiva por utilizar como canal
ou meio de comunicaccedilatildeo sons articulados que satildeo percebidos pelos ouvidosrdquo Suas diferenccedilas
estatildeo na utilizaccedilatildeo de canais diferentes e nas estruturas gramaticais de cada liacutengua
Para Campello (2009) historicamente os primeiros estudos da Liacutengua de Sinais
apareceram no seacuteculo XIV exatamente nos anos de 1644 pelo inglecircs Bulwer J B com o livro
de Liacutengua de Sinais Inglesa Chirologia8 on the natural language of the hand com os estudos
destacando as figuras das matildeos e seus significados Menciona tambeacutem que era recompensa
de natureza que os surdos devam se comunicar atraveacutes dos gestos e acreditava firmemente na
ldquonecessidade que opera a Natureza dos homens que nascem Surdos-Mudos que podem
discutir mostrar sinalizar retoricamente por sinaisrdquo (p 13)
Em 1960 W C Stokoe pesquisador inglecircs da Gallaudet University fez uma pesquisa
entre as gramaacuteticas utilizadas pelos surdos em sala de aula e fora dela e os resultados foram
publicados no artigo Sign Language Structure na outline of the visual communication system
of the American Deaf na revista Studies in Linguistics Occassional Papers 8 (CAMPELLO
2009) E eacute a partir destes estudos que Stokoe afirma que a Liacutengua de Sinais eacute liacutengua
Stokoe (1960) ldquopercebeu e comprovou que a liacutengua de sinais atendia a todos os
criteacuterios linguiacutesticos de uma liacutengua genuiacutena no leacutexico na sintaxe e na capacidade de
gerar uma quantidade infinita de setenccedilasrdquo Stokoe observou que os sinais natildeo eram
imagens mas siacutembolos abstratos complexos com uma complexa estrutura interior
[] Comprovou inicialmente inicialmente que cada sinal apresentava pelo menos
trecircs partes independentes (em analogia com os fonemas da fala) ndash a localizaccedilatildeo a
configuraccedilatildeo de matildeos e o movimento ndash e que cada parte possuiacutea um nuacutemero
limitado de combinaccedilotildees [] (QUADROS E KARNOPP 2004 p 30-31)
Os estudos do linguiacutesta representou o primeiro passo para outras pesquisas em relaccedilatildeo
a Liacutengua de Sinais Em diversos paiacuteses pesquisas foram realizadas O Brasil foi um deles
No Brasil no final dos anos de 1970 a proposta da educaccedilatildeo biliacutengue reconhece a
Libras como liacutengua natural portanto deve ser ensinada como primeira liacutengua desde o iniacutecio
da escolarizaccedilatildeo da crianccedila surda e a comunidade surda reconhece o portuguecircs como a liacutengua
oficial do Brasil e deve ser ensinada como segunda liacutengua na forma oral ou escrita
(SLOMSKI 2010)
8 Bulwer (1644) em seu livro esclarece que a quirologia eacute um dicionaacuterio de gestos manuais e quirema eacute um
manual para o uso efetivo do gesto de falar em puacuteblico
24
Segundo Quadros (2009 p144) no entanto a Liacutengua de Sinais comeccedilou a ser
investigada efetivamente nas deacutecadas de 80 e 90 por Ferreira Brito (1986 1995) Felipe
(1992 1993) Quadros (1995 1999) e a aquisiccedilatildeo da Liacutengua Brasileira de Sinais nos anos 90
(Karnopp (1994 1999 Quadros (1995 1997)
Na deacutecada de 1980 a 1990 tem-se um panorama mundial para a abordagem biliacutengue
na educaccedilatildeo de surdos Slomski (2010 p 61) destaca que em 1994 Lucinda Ferreira Brito
passa a utilizar a abreviaccedilatildeo de LIBRAS (Liacutengua Brasileira de Sinais) criada pela comunidade
surda Consequentemente pesquisas estudos e lutas da comunidade surda contribuiacuteram para a
instauraccedilatildeo de uma poliacutetica linguiacutestica da Liacutengua Brasileira de Sinais A que reconhece o
estatuto linguiacutestico legal por meio da Lei 10436 de 24042002
Art 1ordm Eacute reconhecida como meio legal de comunicaccedilatildeo e expressatildeo a Liacutengua
Brasileira de Sinais ndash Libras e outros recursos de expressatildeo e por ela associados
Paraacutegrafo uacutenico Entende-se como Liacutengua Brasileira de Sinais ndash Libras a forma e
comunicaccedilatildeo e expressatildeo em que o sistema linguiacutestico de natureza visual-motora
com estrutura gramatical proacutepria constituem um sistema linguiacutestico de transmissatildeo
de ideias e fatos oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil
[](BRASIL 2007 p 2)
A Liacutengua de Sinais como jaacute mencionado eacute uma liacutengua natural composta por de todos
os componentes agraves liacutenguas orais como gramaacutetica semacircntica pragmaacutetica sintaxe e outros
elementos preenchendo os requisitos cientiacuteficos para ser considerado um sistema linguiacutestico
Conforme Felipe e Monteiro (2004 p23) as Liacutenguas de Sinais satildeo compostas por
signos linguiacutesticos denominados bdquosinais‟ encontrados nos seguintes paracircmetros
Configuraccedilatildeo das Matildeos Ponto de Articulaccedilatildeo Movimento Orientaccedilatildeo Expressatildeo Facial eou
Corporal Estes paracircmetros satildeo requisitos necessaacuterios para que sejam constituiacutedos os sinais
Portanto a Liacutengua de Sinais eacute considerada como liacutengua natural do sujeito surdo
como sua primeira liacutengua-L1 Jaacute a liacutengua majoritaacuteria de um paiacutes no caso do Brasil eacute a
Liacutengua Portuguesa como L2 Partindo do pressuposto que a Liacutengua de Sinais eacute a primeira
liacutengua do surdo a aquisiccedilatildeo da primeira liacutengua pelas crianccedilas surdas deve se dar de forma
natural no contato com surdos sinalizados pertencentes agrave comunidade surda A Liacutengua
Portuguesa por sua vez eacute aprendida de forma sistemaacutetica ou seja precisa ser ensinada por
meio de teacutecnicas especiacuteficas de ensino de segunda liacutengua
A partir desta compreensatildeo as crianccedilas surdas precisam ter a oportunidade do contato
com seus pares Crianccedilas surdas que natildeo tecircm um conviacutevio com surdos por terem nascido
dentro de familias ouvintes que usam a liacutengua oral precisam que os pais familiares
25
oportunizem a elas o mundo essencialmente visual-espacial para conhecer a Liacutengua de
Sinais Sobre a questatildeo Quadros (2005 p30) afirma
As crianccedilas surdas e seus pais ouvintes poderiam compartilhar o bilinguismo liacutengua
portuguesa e liacutengua de sinais brasileira e ir aleacutem descobrindo os vieses das culturas
e identidade que se entrecruzam [] Assim as crianccedilas surdas precisam ter acesso
agrave liacutengua de sinais com sinalizantes fluentes desta liacutengua muito cedo Estes
sinalizantes satildeo pessoas que normalmente natildeo fazem parte do ciacuterculo de pessoas
que a crianccedila usualmente teria contato Os pais teratildeo que conhecer comunidade
surda que usa esta liacutengua
Nesta perspectiva Souza (apud QUADROS 2005) menciona que se no iniacutecio do seu
desenvolvimento a crianccedila surda tiver a chance de contar com pais dispostos a aprenderem a
liacutengua de sinais com adultos surdos colegas surdos e conversarem ldquosinalizandordquo a
dimensatildeo do seu processo educacional seraacute outra A aquisiccedilatildeo da liacutengua seraacute transferida para
o espaccedilo escolar ldquoO fato de passar a ter contato com a liacutengua portuguesa com significado
trazendo seus conceitos adquiridos na sua proacutepria liacutengua possibilitaraacute um processo muito
mais significativordquo (ibid p33)
Por isso eacute de importacircncia fundamental a crianccedila surda esteja em contato linguiacutestico
com a liacutengua de sinais o mais cedo possiacutevel seja com a comunidade surda ou com seus pais
ouvintes que adquiriram a Liacutengua de Sinais como L2 Estes fatores iratildeo influenciar a crianccedila
estabelecer a sua identidade e cultura surda naturalmente Neste sentido Fantinel (1999 p2)
menciona que ldquoo uso da Liacutengua de Sinais eacute uma condiccedilatildeo fundamental na construccedilatildeo da
identidade dessas pessoas pois eacute o fator que os aproxima e reuacutene em grupos permitindo-lhes
expressarem-se construindo significados para a vidardquo
A Liacutengua de Sinais portanto eacute um aspecto fundamental da cultura surda Para tanto
Strobel (2008 p44) ainda enfatiza que para que o sujeito surdo possa ter acesso agraves
informaccedilotildees e conhecimentos aleacutem de construir sua identidade eacute fundamental criar uma
ligaccedilatildeo com o povo surdo que usa a sua liacutengua em comum pois a Liacutengua de Sinais eacute uma das
principais marcas da identidade de um povo surdo uma particularidade da cultura surda uma
forma de comunicaccedilatildeo que capta as experiecircncias visuais dos sujeitos surdos E somente a
partir do uso desta liacutengua que a crianccedila conseguiraacute seu pleno desenvolvimento cognitivo
psicoloacutegico emocional e cultural proporcionando assim a aquisiccedilatildeo do conhecimento
universal
Desta forma ao refletirmos sobre a pessoa surda na construccedilatildeo de sua identidade e
cultura surda entende-se que o contato linguiacutestico eacute essencial Logo o que dizer das pessoas
26
surdas que vivem isoladas de comunidades surdas que natildeo tem esse contato com Liacutengua de
Sinais Sobre esta realidade Strobel esclarece que
No entanto incluem tambeacutem os gestos denominados ldquosinais emergentesrdquo ou ldquosinais
caseirosrdquo dos sujeitos surdos de zonas rurais ou sujeitos isolados de comunidades
surdas que procuram entender o mundo atraveacutes dos experimentos visuais e que
procuram comunicar apontando e criando sinais [] (ibidem p44)
Ainda sobre a questatildeo Vilhalva (2012 p 30) ressalta que ldquo[] Os sinais emergentes
tambeacutem conhecidos como sinais caseiros satildeo essenciais quando vistos como comunicaccedilatildeo
natural usada em um espaccedilo familiar ou social []rdquo Nesse caso podemos referir ao iacutendio
surdo que vive isolado do contato com a comunidade surda Este surdo tambeacutem se identifica
com o povo surdo apesar de natildeo ter contato e de natildeo pertencer agraves mesmas comunidades
surdas na medida em que de acordo com Strobel (2008) eles compartilham as mesmas
peculiaridades ou seja constroem sua formaccedilatildeo de mundo atraveacutes de artefato cultural visual
13 Liacutenguas de Sinais Indiacutegenas pesquisadas no Brasil
Os registros da existecircncia de iacutendios surdos segundo Vilhalva (2008) apontam para o
Estatuto do Iacutendio - Lei nordm 6001 de 19121973 que norteou as relaccedilotildees do Estado brasileiro
com as populaccedilotildees indiacutegenas ateacute a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 em seu Paraacutegrafo
uacutenico do Art 1ordm assegura
Aos iacutendios e agraves comunidades indiacutegenas se estende a proteccedilatildeo das leis do Paiacutes nos
mesmos termos em que se aplicam aos demais brasileiros resguardados os usos
costumes e tradiccedilotildees indiacutegenas bem como as condiccedilotildees peculiares reconhecidas
nesta Lei
Neste sentido no Brasil a liacutengua oficial eacute a Liacutengua Portuguesa Fossile (2013 p 4)
afirma que ldquoo paiacutes conta atualmente segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatiacutestica (IBGE) com aproximadamente 210 liacutenguas sendo 190 delas indiacutegenasrdquo Essas
liacutenguas indiacutegenas satildeo consideradas como liacutenguas minoritaacuterias sem importacircncia em relaccedilatildeo ao
portuguecircs No entanto algumas possuem mais prestiacutegio em relaccedilatildeo agraves outras
Em relaccedilatildeo ao conhecimento da liacutengua e da diversidade na dinacircmica soacutecio-cultural das
populaccedilotildees indiacutegenas deveria haver prioridades para estudos no campo linguiacutestico para
acadecircmicos e pesquisadores indios De fato o conhecimento das liacutenguas faladas e no
contexto tem-se essa diversidade para iacutendios surdos deveria ser compartilhada com a
27
sociedade indiacutegena de forma que esta possam participar ativamente na elaboraccedilatildeo de poliacuteticas
e programas que respondam agraves suas necessidades seus direitos considerando-se em particular
suas culturas e liacutenguas
Segundo Vilhalva (2008) pesquisas no campo da linguiacutestica e de poliacuteticas linguiacutesticas
avanccedilaram consideravelmente no Brasil Tendo poreacutem ainda uma grande necessidade de
maiores pesquisas principalmente referente a diferentes Liacutenguas de Sinais pertencentes a
diferentes comunidades como as dos povos indiacutegenas Neste sentido a autora argumenta
A Liacutengua de Sinais Indiacutegenas praticadas pelos iacutendios surdos existentes em diversas
comunidades indiacutegenas do paiacutes traz consigo caracteriacutesticas culturais e linguiacutesticas
variadas bdquoInfelizmente raramente satildeo registradas como satildeo registradas outras liacutenguas
brasileiras de diferentes comunidades com suas especificidades culturais e eacutetnicas ‟
(VILHALVA 2008 p 29)
Sobre a questatildeo Nonaka coloca que
desde 1960 quando se iniciaram os estudos linguiacutesticos e antropoloacutegicos em
referecircncia agraves Liacutenguas de Sinais a maior parte das investigaccedilotildees tem incidido sobre
as Liacutenguas de Sinais nacionais ou padratildeo usadas pelos surdos de diferentes paiacuteses
com escassa atenccedilatildeo agraves Liacutenguas de Sinais usadas pelos indiacutegenas em sua
comunicaccedilatildeo original (apud VILHALVA 2012 p 30)
Por isso Vilhalva defende a comunicaccedilatildeo dos iacutendios surdos como objeto de estudo da
linguiacutestica afirmando que
[] Sabemos tambeacutem que a Libras estaacute presente nas terras indiacutegenas
apontando que a influecircncia aconteceraacute Sendo assim consideramos quanto o leacutexico
das liacutenguas estaacute no processo de mudanccedilas atraveacutes do neologismo espontacircneo ou o
empreacutestimo linguiacutestico de outras liacutenguas (ibid p37)
Observa-se que os estudos sobre a Libras nas terras indiacutegenas comeccedilaram na deacutecada
de 1980 com pesquisas da brasileira Lucinda Ferreira Brito sobre a Liacutengua Brasileira de
Sinais Segundo Slomski (2010) Lucinda Ferreira Brito iniciou sua pesquisa atraveacutes de um
padratildeo internacional de abreviaccedilatildeo das Liacutenguas de Sinais adotando a sigla LSCB ndash Liacutengua de
Sinais dos Centros Urbanos Brasileiros para diferenciaacute-la da LSKB ndash Liacutengua de Sinais
Kaapor Brasileiros que eram a utilizada pelos iacutendios do Estado do Maranhatildeo
Diante do panorama exposto se faz necessaacuterio no campo da linguiacutestica dos estudos
surdos pesquisas sobre a Liacutengua de Sinais usadas pelos iacutendios surdos nas diferentes
comunidades indiacutegenas para que seja reconhecida e registrada Infelizmente somente uma
28
liacutengua indiacutegena eacute oficialmente reconhecida no Brasil a Liacutengua de Sinais Indiacutegena da
comunidade Urubu-Kaapor devido ao alto iacutendice de surdos
131 Liacutengua de Sinais Urubu-Kaapor
Os resultados do Censo 2010 (IBGE 2013) apontam para 274 liacutenguas indiacutegenas
faladas por indiviacuteduos pertencentes a 305 etnias diferentes Embora haja a necessidade de
estudos linguiacutesticos e antropoloacutegicos mais aprofundados quanto aos nuacutemeros totais de liacutengua
e etnia
Dentro desse universo a uacutenica Liacutengua de Sinais indiacutegena reconhecida conforme
referido anteriormente eacute a utilizada pela etnia indiacutegena brasileira dos Urubu-Kaapor9
chamados tambeacutem por urubus-caapores Os estudos sobre essa Liacutengua de Sinais apontam para
o iniacutecio da deacutecada de 1950
De acordo com Ribeiro (1996 apud FASSILE 2013 p 2)
Em 1950 foi descoberto no Brasil um grupo indiacutegena atraveacutes de pesquisas
antropoloacutegicas os Urubu-Kaapor na floresta Amazocircnica (Maranhatildeo) que falava
uma variaccedilatildeo da liacutengua de sinais Somente a partir da deacutecada de 1980 estudos
linguiacutesticos relacionados agrave Liacutengua de Sinais Kaapor Brasileira (LSKB) foram
aprofundados (sobre a LSKB cf KAKUMASU J KAKUMASU K 1977)
Segundo Brito (1993 apud FASSILE 2013 p 2) J Kakumasu defendeu que ldquo[] a
Liacutengua de Sinais dos Urubu-Kaapor [] [se constituiacutea como] um veiacuteculo de comunicaccedilatildeo
intratribal e natildeo como meio de transaccedilatildeo comercialrdquo Neste sentido resgata-se que
No Brasil Lucinda Brito inicia seus importantes estudos linguiacutesticos em
1982 sobre a Liacutengua de Sinais dos iacutendios Urubu-Kaapor da floresta amazocircnica
brasileira apoacutes um mecircs de convivecircncia com os mesmos documentando em filme
sua experiecircncia A ideia para a pesquisa adveio da leitura de um artigo publicado no
livro de Umiker-Sebeok (1978) de autoria de J Kakumasu Urubu Sign Language
No estudo a Liacutengua de Sinais dos Urubu-Kaapor se diferenciaria da PSL por
constituir um veiacuteculo de comunicaccedilatildeo intratribal e natildeo como meio de transaccedilatildeo
comercial Lucinda Brito poreacutem constatou que a mesma se tratava de uma legiacutetima
Liacutengua de Sinais dos surdos pelos mesmos criados
O interessante de se observar no caso dos Urubu-Kaapor eacute que os ouvintes da
aldeia falam a Liacutengua de Sinais e a liacutengua oral evidentemente enquanto que os
surdos se restringem agrave Liacutengua de Sinais Assim os ouvintes da aldeia se tornam
biliacutengues enquanto os surdos se mantecircm monoliacutengues (RAMOS 2011 p 6)
9 Disponiacutevel emlthttpwwwlibrascombrurubu-kaaporgt Acesso em 19112013
29
A Liacutengua Kaapor eacute uma liacutengua da famiacutelia Tupi-Guarani natildeo falada por outra tribo ou
povo exceto como segunda liacutengua Possuem uma liacutengua de sinais proacutepria (a Liacutengua Brasileira
de Sinais Kaapor) usada tanto pela comunidade surda do povo como tambeacutem por seus
membros natildeo surdos na comunicaccedilatildeo com os surdos
[] os Kaapor satildeo linguisticamente peculiares na Amazocircnia por terem uma
linguagem padratildeo de sinais usada para a comunicaccedilatildeo com os surdos que ateacute a
metade dos anos 80 compunham cerca de 2 da totalidade de sua populaccedilatildeo A
incidecircncia de surdez deveu-se evidentemente agrave bouba neonatal e endecircmica que foi
erradicada10
O interessante eacute que a comunidade indiacutegena desenvolveu uma forma proacutepria de
comunicaccedilatildeo por sinais que comeccedilou a ser estudada na deacutecada de 1960 pelo pesquisador
canadense James Kakumasu em (1968) e em seguida pela linguista brasileira Linguista
Lucinda Ferreira Brito ldquo[] A Liacutengua de Sinais Brasileira para diferenciaacute-la da LSKB
(Liacutengua de Sinais Kaapor Brasileira) utilizados pelos iacutendios Urubu-Kaapor no Estado do
Maranhatildeordquo (GOLDFELD 1997 p 30) A pesquisadora registrou a existecircncia da Liacutengua de
Sinais Kaapor em sua pesquisa sobre termos baacutesicos para cores em Liacutengua de Sinais
132 Liacutengua de Sinais Emergentes
Vilhalva (2012) se preocupou sobre a situaccedilatildeo linguiacutestica dos iacutendios surdos trazendo
grandes contribuiccedilotildees cientiacuteficas na aacuterea da linguiacutestica referente agraves Liacutenguas de Sinais
Indiacutegenas Sua pesquisa iniciou em 1991 com iacutendios surdos na comunidade indiacutegena de Satildeo
Marcos
O estudo dos sinais emergentes que se deseja apresentar objetiva natildeo apenas
recuperar os registros sobre as liacutenguas padratildeo mas tambeacutem e sobretudo procurar
realizar um levantamento de como se apresenta atualmente o uso desses sinais
emergentes e ateacute mesmo da histoacuteria da produccedilatildeo desses sinais para que se possa
fazer o registro cientifico sobre a situaccedilatildeo linguiacutestica dos iacutendios surdos dentro das
escolas indiacutegenas [] (VILHALVA 2012 p11a)
Souza e Segala (2009 p28) abordam que a maior parte das liacutenguas nasceu do
contato entre duas ou mais liacutenguas ou de uma liacutengua e sistemas de sinais caseiros (Liacutengua de
Sinais Primaacuteria) Observa-se que ldquosinais caseiros ou Liacutengua de Sinais Primaacuterios
correspondentes aos gestos ou construccedilatildeo simboacutelica inventadas no acircmbito familiar eacute comum
10
Disponiacutevel emlthttppibsocioambientalorgptpovokaaporgt Acesso em 19112013
30
a constituiccedilatildeo de um sistema convencional de comunicaccedilatildeo entre matildee-ouvinte e crianccedila
surdardquo
Sobre a origem dos sinais emergentes Vilhalva explica que
[] os sinais emergentes foram criados devido a uma necessidade de comunicaccedilatildeo
passando por sinais indicativos icocircnicos e arbitraacuterios A maneira como cada sinal
surge levam tempo para se entender principalmente quando os sinais satildeo criados
conforme o neologismo11
Esses novos sinais passam a fazer parte da comunicaccedilatildeo
para depois designar algo consistentemente como acontece tambeacutem agraves liacutenguas
orais-auditivas (2012 p137-138)
Desta forma a autora em sua pesquisa argumenta que os sinais emergentes
considerados em seu estudo como Liacutengua de Sinais constituem como o meio de
comunicaccedilatildeo primaacuteria dos iacutendios surdos das comunidades indiacutegenas do Mato Grosso do Sul
Partindo deste achado Rousseau jaacute mencionava em seus estudos ldquoEnsaio sobre a origem das
liacutenguasrdquo que
O uso e a necessidade ensinam a cada um a liacutengua de seu paiacutes mas o que eacute que faz
com que essa liacutengua seja a de seu proacuteprio paiacutes e natildeo a de um outro [] No
momento em que um homem foi reconhecido por um outro como um ser sensiacutevel
pensante e semelhante a ele o desejo ou a necessidade de comunicar-lhe os proacuteprios
sentimentos e os proacuteprios pensamentos fez com que procurasse os meios de fazecirc-lo
(2008 p 97)
Assim o primeiro contato do ser humano eacute com o outro da mesma espeacutecie No caso da
matildee com seu filho Conforme Sacks (1998 p 7) comenta que
[] a primeira comunicaccedilatildeo geralmente se daacute entre matildee e filho e a liacutengua eacute
adquirida emerge entre eles dois Sendo assim Os sinais emergentes tambeacutem satildeo
fruto da linguagem num processo visual usados pelos surdos indiacutegenas e seus
familiares ouvintes na interaccedilatildeo com o meio (VILHALVA 2012 p 137)
Vilhalva (2012) entatildeo percebeu a predominacircncia dos gestos caseiros criados pelos
proacuteprios surdos para interagirem com suas famiacutelias e com as pessoas que os rodeiam Ou
seja a crianccedila surda que nasce na famiacutelia de ouvinte comeccedila a criar a partir de um meio de
comunicaccedilatildeo visual usando todas as formas naturais possiacuteveis desde o apontamento ateacute os
gestos naturais O uso que destes sinais criados pelas necessidades do ambiente familiar com
o passar do tempo vatildeo se convencionando a forma de interaccedilatildeo dialoacutegica passando a
transformar-se em um meio de comunicaccedilatildeo essencial resultando assim no processo
11
Satildeo palavras criadas para designar novas situaccedilotildees novos conceitos fatos objetos etc sendo que um
neologismo soacute eacute sentido como tal durante algum tempo pois passados anos ou seacuteculos deixa de ter sentido
como tal porque a realidade que ele designa jaacute natildeo eacute nova
31
evolutivo dos sinais familiares para os sinais emergentes para transiccedilatildeo para a Liacutengua de
Sinais ou seja arbitraacuteria convencional Esse processo se daacute por meio do processo cognitivo
fundamentada na teoria de Cuxac
Construccedilatildeo do dizer a partir do processo criativo de performance gestual Iconizando
da experiecircncia perceptivo-praacutetica Rotinas de Transferecircnciandashpassagem da ilustraccedilatildeo
especifica para a categorizaccedilatildeo geneacuterica Sinais estabelecidos num grupo reduzido
categorias e generalizaccedilotildees dos sinais gestuais Nasce uma liacutengua de Sinais com
todas as propriedades de uma liacutengua (apud VILHALVA 2012 p138)
Vilhalva (2012) ainda destaca que se observarmos a Lei nordm 10436 de 24 de abril de
2002 vamos verificar que em seu artigo primeiro ldquoficam reconhecidos como meio legal de
comunicaccedilatildeo e expressatildeo a Liacutengua Brasileira de Sinais-Libras ndash e outros recursos de
expressatildeo a ela associadosrdquo Nesses bdquooutros recursos‟ podem figurar segundo compreensatildeo
da mesma os sinais emergentes produzidos nas comunidades indiacutegenas Se a Liacutengua
Brasileira de Sinais uma forma de comunicaccedilatildeo e expressatildeo cujo canal de produccedilatildeo e
recepccedilatildeo eacute de natureza visual-motora com estrutura gramatical proacutepria constituindo um
sistema linguiacutestico de transmissatildeo de ideias e fatos oriundos de comunidades de pessoas
surdas no Brasil conforme estaacute na lei eacute compreensivo dizer que nada fala sobre um padratildeo de
sinalizaccedilatildeo (p34)
Conclui-se que conforme pesquisa da autora citada os estudos dos sinais emergentes
mostraram que este eacute o ponto inicial das novas Liacutenguas de Sinais que segundo a mesma
merecem ser aprofundadas
1321 Realidade do contexto educacional escolar do indiacutegena surdo
Vilhalva (2012) destaca que o indiviacuteduo surdo soacute teraacute um sistema gestual linguiacutestico
organizado no contato do agrupamento comunitaacuterio especificamente da comunidade surda
com o contato com a Liacutengua de Sinais E isso muitas vezes acontece em geral somente no
acircmbito escolar biliacutengue onde haacute outros surdos inteacuterpretes e professores ouvintes que fazem
uso da Liacutengua de Sinais Por isso eacute essencial uma escola que respeite a diversidade linguiacutestica
como no caso desta comunidade Desta forma se faz necessaacuterio presenccedila na escola de
inteacuterpretes vindo das cidades mais proacuteximas das terras indiacutegenas de modo que
32
[] o Professor ministra as aulas em Portuguecircs e tem disciplina em Guarani
Observamos que pelo fato de os professores da pedagogia diferenciada indiacutegena
realizarem sua formaccedilatildeo em universidades locais onde o assunto em torno da surdez
e da Libras satildeo discutidos estes profissionais tecircm uma formaccedilatildeo que respeita natildeo soacute
a cultura e a liacutengua indiacutegena mas tambeacutem a cultura e a Liacutengua de Sinais
caracteriacutesticas que estatildeo presentes nas escolas indiacutegenas biliacutengues em que a liacutengua
de instruccedilatildeo eacute o Guarani-Portuguecircs(VILHALVA 2012 p 11b)
Poreacutem o que natildeo eacute o caso da escola Araporatilde mencionada por Vilhalva (2012) que teve
preferecircncia do inteacuterprete indiacutegena para a preservaccedilatildeo da cultura liacutengua e saber Foi observado
na pesquisa que os indiacutegenas surdos com vinte anos de idade em diante demonstram
seguranccedila ao sinalizar com o pesquisador surdo usando seus sinais emergentes de forma
natural Os mais novos de escolas indiacutegenas mas da mesma comunidade indiacutegena natildeo
demonstraram o uso de sinais emergentes e sim apresentaram diretamente sua comunicaccedilatildeo
em Libras Entretanto os resultados apontam que natildeo haacute como dizer se o atendimento
educacional para o iacutendio surdo estaacute acontecendo em todas as comunidades indiacutegenas ldquopois
interfere numa questatildeo de respeitar o que diz o proacuteprio plano de educaccedilatildeo sobre uma visatildeo
amplamente ligada agrave liacutengua cultura e diversidade nas escolas e terras indiacutegenasrdquo (ibid p36)
Nesta oacutetica se realmente as poliacuteticas linguiacutesticas fossem mais enfaacuteticas em suas
propostas de realizar a planificaccedilatildeo linguiacutestica incluindo a criaccedilatildeo de escolas biliacutengues e de
legislaccedilotildees especiacuteficas para as questotildees referentes agraves liacutenguas o indiviacuteduo indiacutegena surdo
poderia ter seus direitos linguiacutesticos assegurados
Neste sentido resgata-se o Referencial Curricular Nacional para Escolas Indiacutegenas
(1998) o qual menciona que
[] as tradiccedilotildees culturais os conhecimentos acumulados a educaccedilatildeo das geraccedilotildees
mais novas as crenccedilas o pensamento e a praacutetica religiosa as representaccedilotildees
simboacutelicas a organizaccedilatildeo poliacutetica os projetos de futuro enfim a reproduccedilatildeo
sociocultural das sociedades indiacutegenas satildeo na maioria dos casos manifestaccedilotildees
atraveacutes do uso de uma liacutengua Mesmo os povos indiacutegenas que satildeo hoje monoliacutengues
em liacutengua portuguesa continuam a usar a liacutengua de seus ancestrais como um siacutembolo
poderoso para onde confluem muitos de seus traccedilos identificatoacuterios construindo
assim um quadro de bilinguismo simboacutelico importante [grifo nosso]
Ou seja assim como para o surdo urbano brasileiro eacute reconhecida legalmente sua
liacutengua natural - Libras e a Liacutengua Portuguesa como segunda liacutengua -L2 para o indiacutegena surdo
deveria ser assegurado o mesmo direito para aprender esta forma de comunicaccedilatildeo ndash Liacutengua de
Sinais como primeira liacutengua e como segunda liacutengua a Liacutengua de sua etnia na modalidade
33
escrita Sendo portanto biliacutengue ou ainda triliacutengue com aquisiccedilatildeo da Liacutengua Portuguesa
tambeacutem na modalidade escrita
Nesta perspectiva observa-se que Saacute (2011 p33) afirma que tanto indiacutegenas como
surdos tecircm uma liacutengua proacutepria e uma cultura diferenciada Entatildeo porque natildeo ser reconhecida
legalmente a Liacutengua de Sinais utilizada pelos iacutendios surdos e a Liacutengua de sua comunidade
Como bem percebido por Vilhalva haacute a carecircncia de pesquisas voltadas para o registro de
liacutengua de sinais entre os iacutendios surdos brasileiros o que certamente constitui-se em um dos
fatores que favorecem a existecircncia desta lacuna na legislaccedilatildeo E que tal fato deveria ser um
despertar para pesquisadores da linguiacutestica sejam ouvintes ou surdos
34
2 A HISTOacuteRIA DO POVO INDIacuteGENA SATEREacute-MAWEacute CULTURA E LIacuteNGUA
Os povos indiacutegenas durante muito tempo foram considerados como povos sem
histoacuteria e sem uma liacutengua proacutepria Poreacutem com as muitas lutas eacutetnicas com estudos
antropoloacutegicos e com as abordagens historiograacuteficas iniciou-se uma valorizaccedilatildeo da
sociedade indiacutegena passando assim o povo indiacutegena a ser perspectivado nas suas
singularidades histoacutericas culturais e linguiacutesticas
Vale ressaltar que quando se refere a ldquoliacutenguasrdquo sabe-se que natildeo haacute apenas uma liacutengua
indiacutegena Existem muitos povos ou etnias indiacutegenas distintas As liacutenguas indiacutegenas no Brasil
se agrupam em famiacutelias linguiacutesticas ou seja famiacutelias que tecircm semelhanccedilas entre si e que satildeo
agrupadas por sua vez em troncos linguiacutesticos assim como as liacutenguas isoladas12
ou seja
liacutenguas que natildeo parecem ter parentesco com nenhuma das famiacutelias linguiacutesticas conhecidas
Segundo Rodrigues (2002) as famiacutelias indiacutegenas estatildeo agrupadas em Tronco
Linguiacutestico Tupi famiacutelia Tupi-Guarani (Akwaacutewa Amanayeacute Anambeacute Apiakaacute Araweteacute
Asurini Avaacute Guajaacute Guarani Kamayuraacute Kayabi Suryiacute Kaiwaacute) famiacutelia Munduruku
(Kuruaacuteya Mundurukuacute) Famiacutelia Tupari (Makuraacutep Tupari Wayoroacute) Famiacutelia Arikeacutem
(Karitiaacutena) Famiacutelia Juruna (Juruna) Famiacutelia Mondeacute (Aruaacute Cinta-Larga Gaviatildeo Mekeacutem
Mondeacute Suruiacute Zoroacute) Famiacutelia Ramaraacutema (Araacutera Itoqapuk) Outras Liacutenguas (Aweti
Puruboraacute Satereacute-Maweacute) entre outros troncos linguiacutesticos como Macro-Jecirc e sua diversidade
de famiacutelias existentes entre elas as liacutenguas isoladas
Um desses povos indiacutegenas foi o da etnia Satereacute-Maweacute Estes sofreram muitas
influecircncias em seu modo de vida advinda do contato com grupos natildeo indigenas que implicou
no processo de perda de muitos dos seus aspectos culturais A histoacuteria relata que o contato se
deu pela chegada dos colonizadores e posteriormente das missotildees religiosas E na atualidade
por ocupantes de terras como fazendeiros madeireiros emigrantes de outros Estados Foram
perdas irreparaacuteveis todavia como elo de resistecircncia procuraram sustentar em sua estrutura
original sua liacutengua
12
Segundo Rodrigues (2002 p93) liacutenguas isoladas refere-se as liacutenguas isoladas linguisticamente ou seja
liacutenguas que natildeo revelam parentesco geneacutetico com nenhuma outra Natildeo pertencem a nenhuma famiacutelia (ou tronco)
isto eacute constituem famiacutelias de um soacute membro
35
21 Breve Relato Histoacuterico
A histoacuteria do povo indiacutegena Satereacute-Maweacute tem sido foco de estudos dos diversos
segmentos de pesquisas como as realizadas por antropoacutelogos historiadores religiosos e
cientistas da linguagem Estes relatam a origem a liacutengua e a cultura desse povo
Uggeacute (1993 p 5) informa que ldquoOs Maueacutes descendentes das tribos indiacutegenas
denominadas no passado pelo nome de ANDIRAacute e MARAGUAacute que faz parte da aacuterea cultural
Tapajoacutes-Madeira entre a divisa dos atuais Estados do Paraacute e Amazonasrdquo O autor ainda
menciona que cronistas exploradores missionaacuterios antropoacutelogos naturalistas do passado
identificaram os Maueacutes tambeacutem com outros nomes (Maooz Mabueacute Jaquezes Manguases
Mahueacutes Mauris Maweacute Maragua e Maraguazes)
A origem do nome Satereacute-Maweacute advem dos termos Satereacute (lagarta vermelha) que eacute o
nome do clatilde dos antigos chefes e Maweacute (papagaio inteligente guerreiro e curioso) que eacute o
nome mais comum de um dos grupos tribais que conseguiram sobreviver agrave extinccedilatildeo das
numerosas tribos indiacutegenas da ilha Tupinambarana do Meacutedio Amazonas (IDEM) Cerqua13
faz referecircncia agrave primeira notiacutecia sobre o povo Satereacute-Maweacute ldquoEacute por volta de 1669 quando o
Pe Betendorf duas vezes superior provincial dos jesuiacutetas lembra a ldquovila dos Maguasesrdquo
grafia antiga de Maueacutes [] (1980 p 209)rdquo ou seja Maueacutes foi residecircncia missionaacuteria mas
natildeo permanente dos padres pois os mesmos residiam mais em Tupinambarana (rio
Amazonas) atual Parintins e visitavam Maueacutes temporariamente
A etnia Satereacute-Maweacute sofreu muitas mudanccedilas de localidades devido muitos fatores
que contribuiacuteram para o deslocamento desse povo segundo explica Lorez apud Teixeira
(2005 p21)
Devido agraves guerras com os Munduruku e Parintintim e ao contato com os
portugueses os Satereacute-Maweacute perderam grande parte de seu territoacuterio original Em
1691 os Maweacute surgem na cartografia regional com o nome de Mabueacute(mapa do
Padre Samuel Fritz) Missotildees foram localizadas para os iacutendios Magueacute denominadas
Satildeo Joatildeo (Pinhel) e Santo Inaacutecio (Boim) Posteriormente em 1835 lutando ao lado
dos Munduruku e dos Mura como tambeacutem de outras tribos indiacutegenas do rio Negro
os Satereacute-Maweacute aderiram ao movimento cabano ateacute que em 1839 o conflito foi
debelado Devido agraves epidemias agraves lutas e agraves perseguiccedilotildees aos povos indiacutegenas que
combatiam ao lado dos cabanos enormes aacutereas da Amazocircnia foram devastadas o
que provocou deslocamentos desses grupos populacionais de seus territoacuterios
ancestrais e de populaccedilatildeo Segundo relatos de viajantes desde o seacuteculo XVIII o
territoacuterio dos Satereacute-Maweacute vem sendo paulatinamente reduzido Essa reduccedilatildeo se
deu a partir das tropas de resgate que penetraram grandes aacutereas da Amazocircnia da
implantaccedilatildeo de missotildees jesuiacutetas e carmelitas ao longo dos principais rios
13
Dom Arcacircngelo Bispo Prelado de Parintins de 1980
36
amazocircnicos da ldquobusca desenfreadardquo das drogas do sertatildeo com a exploraccedilatildeo da
borracha durante o seacuteculo XIX e iniacutecio do XX e por fim da ldquoexpansatildeo econocircmica
das cidades de Maueacutes Barreirinha Parintins e Itaituba para o interior dos
municiacutepios alocando fazendas extraindo pau-rosa abrindo garimpos dominando a
economia indiacutegena atraveacutes de regatotildeesrdquo As cidades de Maueacutes Parintins e Itaituba
inclusive foram fundadas sobre restos de malocas dos Satereacute-Maweacute
Cerqua (1980 p265) destaca a localizaccedilatildeo dessa tribo delimitando que ldquoA tribo estaacute
localizada em sua maioria no Alto Andiraacute e no Marau afluente do Rio Maueacutes e sua aacuterea de
cerca de 639500 ha foi demarcada pelo Decreto nordm 76999rdquo Atualmente segundo Teixeira
(apud ALVAREZ 2009) os Satereacute-Maweacute hoje satildeo grupos de 8500 indiacutegenas dos quais 7502
moram na terra indiacutegena Andiraacute-Marau nos municiacutepios de Barreirinha Maueacutes e Parintins e
aproximadamente mil residem em aacutereas urbanas destes municiacutepios Sendo que outro grupo
vive na terra indiacutegena Coataacute-Laranjal junto ao grupo Munduruku e no municiacutepio de Borba
Uggeacute (1993) comenta que os Satereacute-Maweacute sempre tiveram vontade de manter a
proacutepria identidade tribal contudo eram carentes de apoio praacutetico para ajudaacute-los a enfrentar o
perigo do mundo moderno que tentavam ldquoinvadi-losrdquo Ou seja manipulaccedilotildees externas entre a
lideranccedila indiacutegenas dos Satereacute-Maweacute o alcoolismo a dependecircncia a violecircncia dos ldquobrancosrdquo
eram os maiores perigos para este povo Satereacute-Maweacute
Poreacutem o foco de resistecircncia manteve vivo no povo Satereacute aspectos culturais
importantes como o ritual da tucandeira O ritual eacute um marco na vida dos homens porque satildeo
chamados pela formiga (tucandeira) caso o indiacutegena natildeo atenda o chamado a formiga o
levaraacute a loucura ateacute chegar agrave morte A tucandeira eacute uma divindade muito respeitada pelos
Satereacute-Maweacute Em determinado momento da histoacuteria do povo Satereacute-Maweacute o ritual da
tucandeira chegou ao ponto de natildeo ser mais praticado em decorrecircncia da imposiccedilatildeo religiosa
mas apoacutes perceberam a grande perda cultural que isso representaria voltaram a praticaacute-lo a
recuperando como parte de sua cultura
22 Classificaccedilatildeo da liacutengua Satereacute-Maweacute
Segundo Teixeira (2005) a anaacutelise da situaccedilatildeo linguiacutestica do povo Satereacute-Maweacute
baseia-se na concepccedilatildeo defendida por antropoacutelogos e linguistas que a liacutengua se configura
como um importante instrumento da cultura e da identidade de uma populaccedilatildeo
A populaccedilatildeo indiacutegena Satereacute-Maweacute pertence vaacuterios aspectos agrave famiacutelia Linguiacutestica
Tupi Rodrigues (apud ALVAREZ 2009 p17) aborda que a liacutengua da tribo Satereacute-Maweacute eacute a
37
uacutenica liacutengua de uma famiacutelia do tronco Tupi E sua classificaccedilatildeo linguiacutestica como pertencente
ao tronco Tupi foi dada pelo etnoacutegrafo Curt Nimuendajuacute (1948)
A liacutengua Satereacute-Maweacute integra o tronco linguiacutestico Tupi Segundo o etnoacutegrafo Curt
Nimuendajuacute (1948) ela difere do Guarani-Tupinambaacute Os pronomes concordam
perfeitamente com a liacutengua Curuaya-Munduruku e a gramaacutetica ao que tudo indica
eacute tupi O vocabulaacuterio Maweacute conteacutem elementos completamente estranhos ao Tupi
mas natildeo pode ser relacionada a nenhuma outra famiacutelia linguiacutestica Desde o seacuteculo
XVIII seu repertoacuterio incorporou numerosas palavras da liacutengua geral
Os homens atualmente satildeo biliacutengues falando o Satereacute-Maweacute e o portuguecircs mas a
maioria das mulheres apesar de trecircs seacuteculos de contato com os brancos soacute fala a
liacutengua Satereacute-Maweacute (TEIXEIRA 2005 p95)
A liacutengua Satereacute-Maweacute eacute falada tradicionalmente por quase todas as comunidades haacute
mais de 300 anos entretanto foi inevitaacutevel para os indiacutegenas Satereacute-Maweacute conhecer os
haacutebitos e a liacutengua portuguesa devido agrave invasatildeo dos europeus em suas terras no seacuteculo passado
o que causou a mistura de liacutenguas e consequentemente as influecircncias dos padrotildees culturais
natildeo indiacutegenas
Os Satereacute-Maweacute foram entatildeo forccedilados a se refugiarem nas zonas urbanas e ateacute mesmo
em outros estados Outro impacto que alterou o modo de falar dos liacutederes indiacutegenas foi a
necessidade de buscar apoio logiacutestico para suas comunidades principalmente para tratar da
sauacutede de sua populaccedilatildeo que sofria de doenccedilas como malaacuteria tuberculose sarampo e outras
por eles desconhecidas que causaram muitas mortes
Desta forma com o passar dos anos a liacutengua Satereacute-Maweacute sofreu influecircncias lexicais
e fonoloacutegicas do Nheengatu na regiatildeo do Andiraacute Pesquisas realizadas recentemente por
Teixeira (2005) delimitam um perfil linguiacutestico que permite conhecer um pouco mais da
cultura linguiacutestica Satereacute-Maweacute sendo esta considerada por meio da distribuiccedilatildeo geograacutefica e
etaacuteria dos que falam e natildeo falam o idioma Satereacute-Maweacute Desta feita segundo o autor
O idioma Satereacute-Maweacute eacute mais falado na aacuterea do Marau que nas demais (Andiraacute
Uaicurapaacute e Koataacute-Laranjal) Tanto na aacuterea do Andiraacute como no Marau o idioma
materno eacute falado por praticamente todas as comunidades situadas proacuteximo agraves
cabeceira dos rios (Alto Andiraacute e Alto Marau) Para as aacutereas mais proacuteximas das
cidades os falantes atingem a quase totalidade dos moradores do Baixo Marau Jaacute
no baixo Andiraacute esse nuacutemero aumenta bastante nas duas comunidades mais
proacuteximas de Parintins e Barreirinha ou seja Ponta Alegre e Guaranatuba As aacutereas
de povoamento mais recente (Uaicurapaacute Koataacute-Laranjal e mais duas no Andiraacute) tecircm
tendecircncia a apresentar proporccedilotildees menores de falantes do idioma Satereacute-Maweacute
(ibid p95)
38
O autor esclarece que moradores em terras indiacutegenas satildeo mais falantes da Liacutengua
Satereacute-Maweacute do que os que moram proacuteximo ou dentro da aacuterea urbana A pesquisa ainda
mostra agrave necessidade de sensibilizar a comunidade indiacutegena Maweacute sobre a importacircncia da
valorizaccedilatildeo de sua liacutengua agrave recuperaccedilatildeo de suas memoacuterias histoacutericas e a reafirmaccedilatildeo de suas
identidades eacutetnicas
221 Contexto educacional escolar entre os Satereacute-Maweacute
O contexto educacional Satereacute-Maweacute tem como base o reconhecimento constitucional
fundamentado na legislaccedilatildeo em vigor segundo a qual ldquosatildeo reconhecidos aos iacutendios sua
organizaccedilatildeo social costumes liacutenguas crenccedilas e tradiccedilotildees []rdquo
Por isso fundamentos gerais da educaccedilatildeo escolar indiacutegena baseiam-se na proposta do
Referencial Curricular Nacional para Escolas Indiacutegenas (1998) que contempla
Multietnicidade pluralidade e diversidade 2 Educaccedilatildeo e conhecimentos indiacutegenas 3
Autodeterminaccedilatildeo 4 Comunidade educativa indiacutegena 5 Educaccedilatildeo intercultural
comunitaacuteria especiacutefica e diferenciada Assim
Parte do sistema nacional de educaccedilatildeo a escola indiacutegena eacute um direito que deve ser
assegurado por uma nova poliacutetica puacuteblica a ser construiacuteda atenta e respeitosa frente
ao patrimocircnio linguiacutestico cultural e intelectual dos povos indiacutegenas Esse esforccedilo
de projetar uma nova educaccedilatildeo escolar indiacutegena soacute seraacute realmente concretizado com
a participaccedilatildeo direta com os principais interessados ndash os povos indiacutegenas atraveacutes de
suas comunidades educativas [] A participaccedilatildeo da comunidade no processo
pedagoacutegico da escola fundamentalmente na definiccedilatildeo dos objetivos dos conteuacutedos
curriculares e no exerciacutecio das praacuteticas metodoloacutegicas assume papel necessaacuterio para
a efetividade de uma educaccedilatildeo especifica e diferenciada (ibid p24)
Poreacutem para que de fato seja garantida uma educaccedilatildeo diferenciada natildeo eacute suficiente
que somente os conteuacutedos sejam ensinados atraveacutes do uso das liacutenguas maternas mas se faz
necessaacuterio que se incluam os conteuacutedos curriculares propriamente indiacutegenas assim como os
modos proacuteprios de transmissatildeo deste saber Em pesquisa realizada pela revista Amazocircnia
(AMAZONAS 2000) intitulada como ldquoA silenciosa revoluccedilatildeo dos Iacutendiosrdquo o povo Satereacute-
Maweacute foi considerada um dos melhores exemplos para se falar em educaccedilatildeo indiacutegena Tal
afirmaccedilatildeo foi proferida pelo antropoacutelogo Ademir Ramos (professor da Universidade do
Estado do Amazonas) Segundo o entrevistado a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 mudou a
postura em relaccedilatildeo aos iacutendios estabelecendo um processo de educaccedilatildeo diferenciada que
39
fomenta o orgulho de aprender sua lingua tambeacutem no ambiente escolar possibilitando relatos
como o transcrito abaixo
Alunos como Dati 11 da aldeia de Molongotuba carregam com orgulho a cartilha
bdquoMoweeghap onde estatildeo registrados escritos ndash liacutengua Satereacute do tronco tupi e
desenhos de situaccedilotildees do cotidiano das aldeias falando de peixes aves aacutervores e
animais A liacutengua o menino aprendeu a falar com os pais e depois na escola onde
haacute quatro anos aprendeu a escrevecirc-la Aleacutem disso ele tem aprendido tambeacutem a
bdquoliacutengua dos brancos‟
Ainda sobre a importacircncia desta perspectiva educacional em nota o vice-presidente
da organizaccedilatildeo dos professores indiacutegenas Satereacute Gecinaldo Cabral comentou sobre a
mesma enfatizando a relevacircncia do processo educacional na vida dos iacutendios da tribo Satereacute
que por serem biliacutengues satildeo capazes de expressarem e defenderem o seu povo Portanto ao
ensinar a liacutengua nativa agraves crianccedilas promovem o resgate da cultura tradiccedilatildeo e conhecimentos
indiacutegenas Uma educaccedilatildeo diferenciada natildeo resumida na liacutengua majoritaacuteria ou seja Liacutengua
Portuguesa mas na liacutengua proacutepria das etnias E desta forma sendo respeitada a diversidade
cultural de cada povo
Nesta perspectiva Teixeira (2005) em sua pesquisa descreve que a realidade do
contexto educacional escolar do povo Satereacute-Maweacute explicando que
O quadro situacional dos Satereacute-Maweacute no que concerne agrave escolarizaccedilatildeo e agrave
escolaridade apresenta elementos que devem ser entendidos natildeo soacute como resultado
da aplicaccedilatildeo de poliacuteticas educacionais mas tambeacutem como explicitaccedilatildeo de estrateacutegias
poliacuteticas usadas pelos iacutendios na negociaccedilatildeo de visibilidade e reconhecimento no
espaccedilo puacuteblico brasileiro A busca dos Satereacute-Maweacute por escola explicitada na
forma de documentos reivindicatoacuterios enviados ao poder puacuteblico solicitando
recursos para suas escolas demonstrarem os conhecimentos escolares e a
certificaccedilatildeo que a escolaridade concede importantes instrumentos de luta no
processo histoacuterico de construccedilatildeo de sua identidade cultural e de desenvolvimento de
seus projetos sociais (ibid p103)
O autor tambeacutem evidecircncia que a escolarizaccedilatildeo ainda natildeo estaacute alcanccedilando a totalidade
dos Satereacute-Maweacute sendo assim
[] com idade compreendida entre 7 e 24 anos nem nas aacutereas urbanas onde se
verifica o maior percentual de matriacuteculas (839) nem nas terras indiacutegenas (596)
Se forem consideradas as pessoas que tecircm entre 7 e 17 anos de idade os percentuais
sobem bastante mas ainda demonstram a falta de acesso da populaccedilatildeo satereacute-maweacute
agrave escola A pior situaccedilatildeo ocorre na aacuterea indiacutegena onde aproximadamente 13 dos
indiviacuteduos dessa faixa etaacuteria estatildeo fora da escola Na aacuterea urbana o percentual dos
que estatildeo fora eacute de 8 Aparentemente o elevado percentual de pessoas entre 7 e 17
40
anos de idade que estatildeo fora da escola em aacuterea indiacutegena deveria estar relacionado
com a ausecircncia de ensino fundamental de 4ordf a 8ordf seacuterie nas aldeias
No entanto isto eacute apenas uma parte da justificativa pois de 142 pessoas dessa faixa
etaacuteria que natildeo frequentam a escola apenas 32 (225) declararam ter concluiacutedo a
quarta seacuterie do ensino fundamental ou seja poderiam estar fora da escola por falta
do ensino de 5ordf a 8a seacuterie na aacuterea indiacutegena Aleacutem disso 148 crianccedilas entre 7 e 14
anos de idade natildeo frequentam a escola significando que haacute problemas na oferta de
vagas para as crianccedilas satereacute-maweacute na aacuterea indiacutegena Dessas crianccedilas mais da
metade se concentra em apenas 14 aldeias22 das quais 4 compreendendo as
pequenas comunidades de Satildeo Luiacutes Limoal Tigre a Arumatuba no Andiraacute natildeo tecircm
nenhuma crianccedila estudando Na aldeia de Tabatinga no Andiraacute apenas uma das
cinco crianccedilas moradoras estatildeo estudando e na de Santo Antocircnio tambeacutem no
Andiraacute 12 entre 16 crianccedilas de 7 a 14 anos natildeo frequentam a escola(TEIXEIRA
2005 p 104)
Segundo o autor nas cidades de Maueacutes Parintins e Barreirinha a escola frequentada
pelos Satereacute-Maweacute natildeo se define como escola indiacutegena nem tatildeo pouco como especiacutefica ou
diferenciada Talvez seja uma realidade encontrada em todas as escolas indiacutegenas no
Amazonas O que se configura em um problema na medida em que segundo Sobrinho
(2011) a escola esta definida a partir de um modelo da ldquoescola dos brancosrdquo que certamente
altera interferindo diretamente nas questotildees culturais que fazem parte do universo desses
povos gerando assim processo de exclusatildeo O autor ainda comenta que
mesmo diante da resoluccedilatildeo nordm 112011 do Conselho Estadual de Educaccedilatildeo que traz
garantias aos indiacutegenas independentemente de onde vivam ao respeito a sua liacutengua
conhecimentos e tradiccedilotildees proacuteprias nas escolas essa lei passa completamente
despercebida (ibid p 209)
Sobre a questatildeo Teixeira (2005) menciona que nas terras indiacutegenas onde estaacute em
curso a criaccedilatildeo da escola indiacutegena com educaccedilatildeo escolar especiacutefica e diferenciada - as taxas
de escolarizaccedilatildeo deixam evidente que o poder puacuteblico tem investido somente nas seacuteries
iniciais do ensino fundamental o qual apresenta o percentual de 871 de taxa liacutequida de
escolarizaccedilatildeo ou seja natildeo haacute oferta regular para as seacuteries finais do ensino fundamental nem
de ensino meacutedio Isso sem relatar a falta de formaccedilatildeo de professores indiacutegenas entre outros
fatores conforme Franceschini apresenta
A necessidade de formaccedilatildeo especiacutefica e diferenciada de nuacutemero maior de
professores principalmente para atuar nos segmentos mais adiantados do Ensino
Fundamental a implantaccedilatildeo de mais turmas de 6ordm ao 9ordm anos e do Ensino Meacutedio na
aacuterea indiacutegena construccedilatildeo-reflexatildeo do Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico das escolas
Satereacute-Maweacute associada a uma praacutetica pedagoacutegica condizente e a construccedilatildeo de
material didaacutetico proacuteprio satildeo necessidades urgentes do povo Satereacute-Maweacute Pois
apesar da legislaccedilatildeo vigente dar aos indiacutegenas o direito de escolherem seu modelo
educacional e ensinarem sua liacutengua e etnoconhecimentos na maioria das escolas das
41
comunidades Satereacute-Maweacute o modelo educacional adotado natildeo se diferencia muito
do modelo das escolas rurais da regiatildeo sendo que a liacutengua e os etnoconhecimentos
indiacutegenas natildeo constituem de fato conhecimentos que fazem parte do programa
educacional e que satildeo trabalhados de forma sistemaacutetica na escola (2012 p5)
Portanto os resultados apresentados pelo pesquisador comprovam que as accedilotildees
governamentais para educaccedilatildeo escolar indiacutegena estatildeo distantes de cumprir na sua plenitude
preceitos constitucionais o que implica em prejuiacutezo natildeo soacute na educaccedilatildeo escolar indiacutegena
como na proacutepria cultura desse povo
42
3 METODOLOGIA IMPLEMENTADA NA PESQUISA
A metodologia utilizada neste trabalho deu iniacutecio com o estudo bibliograacutefico e
pesquisa de campo Realizou-se uma investigaccedilatildeo primeiramente sobre os estudos surdos na
perspectiva linguiacutestica e cultural a posteriormente na literaturas e estudos sobre os iacutendios da
etnia Satereacute-Maweacute tomando como princiacutepio a origem os fundamentos e a histoacuteria do povo e
da Liacutengua Satereacute-Maweacute Na sequecircncia a concretizaccedilatildeo da pesquisa de campo com a
investigaccedilatildeo do objeto de estudo o iacutendio surdo e sua situaccedilatildeo sociolinguiacutestica da etnia Satereacute-
Maweacute
Figura 1 ndash Croqui da aacuterea e localidade da pesquisa
Fonte Mapa do Estado do Amazonas Censo 2010 ndash IBGE
Organizado por Vicente de Paulo Silva de Azevedo
31 Aacuterea e localidade da pesquisa
A proposta do processo investigativo para o mapeamento do objeto da pesquisa foi
demarcada delimitando a aacuterea do campo da pesquisa a Microrregiatildeo de Parintins A
Microrregiatildeo de Parintins (AMAZONAS 2012) eacute constituiacuteda por Barreirinha Boa Vista do
Ramos Maueacutes Nhamundaacute Parintins Satildeo Sebastiatildeo do Uatumatilde e Urucaraacute Vale ressaltar que
natildeo foi coberta pela pesquisa a populaccedilatildeo Satereacute-Maweacute residente em Manaus (AM)
43
32 Estrateacutegias gerais para a realizaccedilatildeo da coleta de dados
Primeiramente foi feita uma busca de dados pelo IBGE o qual informou que natildeo
havia qualquer registro sobre a populaccedilatildeo indiacutegena de surdos Sem resultado satisfatoacuterio foi
organizado um cronograma de viagens
A primeira viagem foi para o municiacutepio de Parintins onde foi feita uma visita na casa
de um iacutendio para possiacutevel coleta de dados Poreacutem o cacique Sr Luiz de Oliveira infelizmente
tambeacutem comunicou a falta desse dado na comunidade Portanto foi exposto a esse liacuteder o
objetivo da referida pesquisa apresentando assim a importacircncia da comunicaccedilatildeo entre os
seres humanos e interaccedilatildeo entre os diferentes modos linguiacutesticos de convivecircncia social e
educacional
O cacique prontamente mostrou-se aberto a contribuir para que a pesquisa fosse
concretizada Assim sendo iniciou-se a trajetoacuteria do levantamento de iacutendios surdos e sua
forma de comunicaccedilatildeo como tambeacutem seu contexto educacional escolar
Ao retornar a Manaus buscou-se apoio agraves instituiccedilotildees representativas com a visita agrave
sede da Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio ndash FUNAI oacutergatildeo responsaacutevel pelas accedilotildees indiacutegenas a
qual informou que se fazia necessaacuterio uma autorizaccedilatildeo para dar seguimento agrave pesquisa Logo
providecircnciou-se o documento requerido na Coordenaccedilatildeo de Educaccedilatildeo Indiacutegena localizada no
municiacutepio de Barreirinha
Ao chegar agrave cidade de Barreirinha um novo contato foi estabelecido com o
Coordenador indiacutegena o Sr Santino Lopes de Oliveira que se mostrou receptivo com o
projeto e se dispocircs prontamente a colaborar
Com a autorizaccedilatildeo e aprovaccedilatildeo das autoridades indiacutegenas e de posse do documento
houve o comprometimento de que seguiria as normas estabelecidas que disciplinam o
ingresso em terras indiacutegenas pela entidade (ANEXO A) Assim foi possiacutevel sistematizar os
procedimentos para a coleta de dados
33 Procedimentos da coleta
A coleta de dados foi realizada de acordo com o cronograma estabelecido para esta
etapa da pesquisa O procedimento metodoloacutegico usado para a coleta de dados foi
fundamentado em meacutetodo misto por meio de observaccedilotildees questionamento participaccedilotildees em
reuniotildees com representantes da lideranccedila indiacutegena local conversas informais e espontacircneas
44
com famiacutelias e comunidade indiacutegena Satereacute-Maweacute Utilizou-se como instrumento para
coleta caderno de registro de campo fotos filmagens gravaccedilotildees e questionaacuterio (ANEXO B)
34 Articulaccedilatildeo local
O primeiro passo foi estabelecer parcerias com colaboradores ou seja lideranccedilas
indiacutegenas professores indiacutegenas professores da rede puacuteblica inteacuterpretes oacutergatildeos ligados agraves
causas indiacutegenas alunos da Universidade do Estado Amazonas As instituiccedilotildees
representativas educacionais tambeacutem colaboraram telefonando ou perguntando para outras
pessoas sobre a existecircncia de indiacutegenas surdos e locais de suas residecircncias
A participaccedilatildeo das lideranccedilas indiacutegenas como os professores e colaboradores que
apoiaram e permitiram entrar em suas terras para fazer o levantamento foi de extrema
importacircncia pois muito contribuiacuteram nas traduccedilotildees das palavras indiacutegenas para a Liacutengua
Portuguesa
35 Abordagem ao objeto da pesquisa
Em cada viagem agraves comunidades primeiramente fazia-se contato com o tuxaua com
a finalidade de apresentar o objetivo da pesquisa Desta forma era explicado para eles a
importacircncia da contribuiccedilatildeo que o estudo poderia trazer agravequela comunidade Por meio da
autorizaccedilatildeo concedida obtinha-se a colaboraccedilatildeo para a coleta de dados junto ao objeto da
pesquisa Jaacute as abordagens feitas em ambiente familiar tambeacutem era solicitado o consentimento
para a realizaccedilatildeo da pesquisa Com permissatildeo concedida iniciamos as observaccedilotildees e
intervenccedilotildees Com devida autorizaccedilatildeo utilizaacutevamos para registro cacircmeras fotograacuteficas e em
seguida registraacutevamos no caderno de campo da pesquisa (ANEXO CC-1 e C-2)
45
4 MAPEAMENTO DOS IacuteNDIOS SURDOS DA ETNIA SATEREacute-MAWEacute NA
MICRORREGIAtildeO DE PARINTINS E SUA REALIDADE LINGUIacuteSTICA E
EDUCACIONAL ESCOLAR
No Brasil haacute uma diversidade de etnias indiacutegenas Rodrigues (2002) satildeo mais de 170
liacutenguas faladas e dialetos pelos povos indiacutegenas Estas liacutenguas satildeo distribuiacutedas em dois
grandes troncos linguiacutesticos
[] o Tupi (dividido em 10 famiacutelias) e o Macro-Jecirc (dividido em 9 famiacutelias) e de
outras 20 famiacutelias linguumliacutesticas natildeo classificadas em troncos Apenas nove liacutenguas
indiacutegenas tecircm acima de 5000 falantes guajajara (satereacute-) maueacute xavante
ianomacircmi terena macuxi caingangue ticuna e guarani estes uacuteltimos com 30000
indiviacuteduos Cerca de 110 liacutenguas contam com menos de 400 falantes 14
Entretanto em meio a essa diversidade linguiacutestica poucos satildeo documentados
Pesquisadores e grupos indiacutegenas tentam um reavivamento eacutetnico e linguiacutestico
documentando-os para salvar sua liacutengua seu idioma
Diante do exposto a uacutenica liacutengua de sinais indiacutegena registrada eacute a utilizada pela etnia
indiacutegena brasileira dos Urubu-Kaapor como jaacute mencionada anteriormente Pesquisas no Mato
Grosso do Sul em aldeias indiacutegenas apresentaram a existecircncia de iacutendios surdos que utilizam
sinais emergentes ainda natildeo registrados propriamente como uma liacutengua
Pouco registro tem-se encontrado sobre iacutendios surdos muito menos sobre a liacutengua ou
a forma desses sujeitos se comunicarem De acordo com dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatiacutestica (IBGE) natildeo haacute registros sobre iacutendios surdos nem no Anuaacuterio
Estatiacutestico do Amazonas do IBGE tatildeo pouco na Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio (FUNAI)
sendo portanto necessaacuteria uma pesquisa in loco para a busca desses dados
Eacute importante destacar que a pessoa surda natildeo nasce com a incapacidade de falar ou
seja a pessoa surda natildeo eacute muda natildeo fala por natildeo poder ouvir a ldquo[] A surdez natildeo estaacute
absolutamente vinculada agrave mudez []rdquo (RAMOS apud STROBEL 2008 p34)
Por isso as teorias da aquisiccedilatildeo da linguagem humana justificam como o ser humano
(re)inventa modos para expressar suas necessidades e formas de ver o mundo realizando a
comunicaccedilatildeo com seus pares
14
Classificaccedilatildeo das Liacutenguas Indigenas Brasileiras segundo Aryon Rodrigues (2002) Disponiacutevel em
lthttpwwwgeocitieswsindiosbr_nicolaiclassifhtmlgt
46
Partindo dessa percepccedilatildeo este estudo apresenta uma contribuiccedilatildeo de informaccedilotildees
cientiacuteficas que seratildeo um acreacutescimo aos conhecimentos existentes sobre a comunicaccedilatildeo dos
surdos indiacutegenas
41 Mapeamento da existecircncia dos iacutendios surdos na microrregiatildeo de Parintins
Conhecer os indiviacuteduos sujeitos da pesquisa ndash iacutendios surdos Satereacute-Maweacute - eacute a fase
fundamental deste estudo pois dessa forma eacute possiacutevel compreender a forma predominante de
comunicaccedilatildeo deles para poder elaborar material concreto ndash dicionaacuterio triliacutengue - pertinente
para auxiliar na forma da comunicaccedilatildeo deles com a sua etnia atraveacutes da liacutengua desse povo
indiacutegena Nesta seccedilatildeo estatildeo apresentados os dados que constituem um mapeamento da
quantidade de indiviacuteduos surdos que estatildeo inseridos no contexto de Parintins Barreirinha
Boa Vista do Ramos e Maueacutes locais estes onde haacute maior contato com etnia foco deste estudo
Abaixo segue o histoacuterico do municiacutepio de Parintins e demais microrregiotildees citadas na
pesquisa15
411 Histoacuterico de Parintins
Parintins eacute um municiacutepio brasileiro situado no interior do estado do Amazonas
proacuteximo agrave divisa com o estado do Paraacute Regiatildeo Norte do paiacutes Estaacute situado na mesorregiatildeo do
Centro Amazonense e microrregiatildeo de mesmo nome e localiza-se a leste da capital do estado
distando desta cerca de 370 quilocircmetros Com uma populaccedilatildeo estimada em 2012 pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 103 828 habitantes sendo o segundo
mais populoso do estado do Amazonas que tem uma aacuterea de 5 952 kmsup2 representando
03789 do Estado do Amazonas 01545 da regiatildeo Norte brasileira e 00701 do territoacuterio
brasileiro8
Desse total 12 4235 kmsup2 estatildeo em periacutemetro urbano
O municiacutepio de Parintins como quase todos os demais municiacutepios brasileiros foi
primitivamente habitado por indiacutegenas Sua descoberta ocorreu em 1749 quando descendo o
rio Amazonas o explorador Joseacute Gonccedilalves da Fonseca notou uma ilha que por sua extensatildeo
se sobressaiacutea das outras localizadas agrave direita do grande rio As primeiras viagens exploratoacuterias
da Coroa Portuguesa em Parintins foram registradas somente em 1796 A fundaccedilatildeo da
15
O histoacuterico de Parintins e demais microrregiotildees estatildeo disponiacuteveis no site lthttpptwikipediaorgwiki_Parintinsgt
47
localidade em 1796 foi feita por Joseacute Pedro Cordovil que veio com seus escravos e
agregados para se dedicar agrave pesca do pirarucu e agrave agricultura chamando-a Tupinambarana A
rainha D Maria I deu-lhe a ilha de presente Ali instalado fundou uma fazenda de cacau
dedicando-se agrave cultura desse produto em grande escala Tupinambarana foi aceita e elevada agrave
missatildeo religiosa em 1803 pelo capitatildeondashmor do Paraacute o Conde dos Arcos que incumbiu sua
direccedilatildeo ao frei Joseacute das Chagas passando a ser denominada como a Vila Nova da Rainha
O primeiro nome recebido por Parintins jaacute na categoria de Freguesia foi Nossa
Senhora do Carmo de Tupinambarana em 1833 O nome da Freguesia soacute foi alterado em
1880 quando a sede passou a chamar-se ldquoParintinsrdquo em homenagem aos povos indiacutegenas
Parintintins um dos inuacutemeros que habitavam a regiatildeo
A eficiente atuaccedilatildeo de frei Joseacute provocou um surto de progresso e desenvolvimento na
localidade mediante a organizaccedilatildeo da comarca do Alto Amazonas Em 25 de julho de 1833
passa agrave freguesia com o nome de Freguesia de Nossa Senhora do Carmo de Tupinambarana
Era ainda Tupinambarana simples freguesia quando iniciou a revoluccedilatildeo dos Cabanos no Paraacute
e se alastrou por toda a proviacutencia O seu vigaacuterio padre Torquato Antocircnio de Souza teve
atuaccedilatildeo destacada durante a sediccedilatildeo servindo de delegado dos legalistas no Baixo Amazonas
Tupinambarana talvez porque estivesse bem defendida foi poupada aos ataques dos
Cabanos
Em 24 de outubro de 1848 a lei provincial do Paraacute nordm 146 elevou a freguesia agrave
categoria de vila com a denominaccedilatildeo de Vila Bela da Imperatriz e constituiu o municiacutepio ateacute
entatildeo ligado a Maueacutes Em 15 de outubro de 1852 pela lei nordm 02 foi confirmada a criaccedilatildeo do
municiacutepio Em 14 de marccedilo de 1853 deu-se a instalaccedilatildeo do municiacutepio de Parintins Em 24 de
agosto de 1858 foi criada pela lei provincial a comarca compreendendo os termos judiciaacuterios
de Vila Bela da Imperatriz e Vila Nova da Conceiccedilatildeo Em 30 de outubro de 1880 pela lei
provincial nordm 499 a sede do municiacutepio recebeu foros de municiacutepio e passou a denominar-se
Parintins Em 1881 foi desmembrado do municiacutepio de Parintins o territoacuterio que constituiu o
municiacutepio de Vila Nova de Barreirinha
A divisatildeo administrativa de 1911 figurou o municiacutepio com quatro distritos Parintins
Paranaacute de Ramos Jamundaacute e Xibuiacute Em 1933 aparece no quadro da divisatildeo administrativa
com um distrito apenas ndash o de Parintins Em 1 de dezembro de 1938 pelo decreto-lei estadual
nordm 176 eacute criado o distrito da Ilha das Cotias passando assim o municiacutepio a constituir-se de
dois distritos Parintins e Ilha das Cotias
Pela lei estadual nordm 226 de 24 de agosto de 1952 a comarca de Parintins perdeu os
termos judiciaacuterios de Barreirinha e Urucaraacute que foram transformados em comarcas Em 19 de
48
dezembro de 1956 a lei estadual nordm 96 desmembrou o municiacutepio de Parintins o distrito da
Ilha das Cotias que passou a constituir o municiacutepio de Nhamundaacute Em 10 de dezembro de
1981 a emenda constitucional nordm 12 eacute acrescido o territoacuterio de Parintins ao distrito de
Mocambo
O primeiro municiacutepio pesquisado eacute considerado o centro da microrregiatildeo Parintins
Segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 2103 a
populaccedilatildeo eacute de 109225 habitantes16
nesta localidade A Microrregiatildeo de Parintins eacute uma das
microrregiotildees do estado brasileiro do Amazonas pertencente agrave Mesorregiatildeo do Centro
Amazonense Estaacute dividida em sete municiacutepios Barreirinha Boa Vista do Ramos Maueacutes
Nhamundaacute Parintins Satildeo Sebastiatildeo do Uatumatilde e Urucaraacute De acordo com estimativas do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) a populaccedilatildeo da microrregiatildeo era de 262
719 habitantes em 2013
Seus municiacutepios limiacutetrofes satildeo Nhamundaacute ao norte Barreirinha ao sul Urucurituba ao
leste e os municiacutepios de Terra Santa e Juruti no estado do Paraacute O limite territorial entre
Parintins e Nhamundaacute se inicia na margem esquerda do rio Amazonas subindo este rio ateacute a
Barreira do Pauraacute A Serra de Parintins eacute usada para delimitar o fim dos limites territoriais
deste municiacutepio com Nhamundaacute Para delimitar os limites territoriais entre Parintins e
Barreirinha usa-se o divisor de aacuteguas dos rios Andiraacute-Uaicuparaacute juntamente com a linha
geodeacutesica que limita os estados do Amazonas e Paraacute Jaacute os limites territoriais com
Urucurituba satildeo iniciados no lago Arapapaacute no Paranaacute de Urucurituba Com o Estado do Paraacute
o limite tem iniacutecio na boca do igarapeacute do Valeacuterio na margem direita do rio Amazonas
Parintins eacute uma cidade marcada pelos traccedilos culturais poliacuteticos e econocircmicos
herdados dos portugueses espanhoacuteis italianos e tambeacutem dos japoneses tendo em vista que a
cidade possuiu uma relevante colocircnia destes imigrantes Natildeo se pode esquecer a importacircncia
dos ameriacutendios no quesito contribuiccedilatildeo eacutetnica Foram os ameriacutendios que iniciaram a ocupaccedilatildeo
humana na Amazocircnia e seus descendentes caboclos desenvolveram-se em contato iacutentimo com
o meio ambiente adaptando-se agraves peculiaridades regionais e oportunidades oferecidas pela
floresta
A cidade eacute um importante centro educacional de niacutevel meacutedio e superior do Estado do
Amazonas A cidade possui um dos mini-campus do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)
que oferece cursos em diferentes niacuteveis ensino meacutedio e ensino teacutecnico
16
Disponiacutevel emlthttpcidadesibgegovbrxtrastemasamazonas|parintins|estimativa-da-populacao-2013gt
Acesso em 28072014
49
Universidades puacuteblicas
- Universidade do Estado do Amazonas (UEA) eacute uma instituiccedilatildeo puacuteblica estadual de
ensino superior que oferece mais de vinte cursos distribuiacutedos em dezessete cidades
amazonenses (Parintins Manaus Presidente Figueiredo Itacoatiara Carauari Tabatinga
Tefeacute Laacutebrea Boca do Acre Coari Eirunepeacute Humaitaacute Manicoreacute Manacapuru Novo
Aripuanatilde Maueacutes e Satildeo Gabriel da Cachoeira) Foi criada pela lei estadual nordm 2637 de 12 de
janeiro de 2001 que proporcionou agraves fundaccedilotildees educacionais de ensino superior instituiacutedas
pelo Estado Em Parintins o Centro de Estudos Superiores (UEA) possui os cursos
Pedagogia Histoacuteria Geografia Fiacutesica Matemaacutetica Letras Portuguesa Quiacutemica Ciecircncias
Bioloacutegicas Tecnologia em Turismo Direito Sauacutede Coletiva Ciecircncias Econocircmicas e
Tecnologia em Gestatildeo Puacuteblica
- Instituto Federal do Amazonas (IFAM) O Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e
Tecnologia do Amazonas foi criado mediante integraccedilatildeo do Centro Federal de Educaccedilatildeo
Tecnoloacutegica do Amazonas e das Escolas Agroteacutecnicas Federais de Manaus e de Satildeo Gabriel
da Cachoeira
- Universidade Federal do Amazonas (UFAM) Instalada no municiacutepio desde 2007
possui os seguintes cursos Serviccedilo Social Comunicaccedilatildeo Social - Jornalismo Administraccedilatildeo
Organizacional Pedagogia Zootecnia Educaccedilatildeo Fiacutesica e Artes Plaacutesticas
No setor de educaccedilatildeo e capacitamento profissional o municiacutepio aleacutem de dispor de
uma ampla rede de escolas (estaduais municipais e privadas) conta com um campus da
Universidade do Estado do Amazonas e algumas faculdades privadas com diversos cursos
superiores ofertados Dispotildee ainda de unidades do SENAI SENAC e SESI e em funccedilatildeo
disso os iacutendices de alfabetizaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo profissional dos municiacutepios estatildeo em
crescimento
A cidade de Parintins eacute o local onde foram feitos os contatos frequentes com os
indiacutegenas da etnia Satereacute-Maweacute porque buscam as casas bancaacuterias para receberem os
benefiacutecios sociais tambeacutem buscam as escolas com ensino de todos os niacuteveis inclusive as
universidades puacuteblicas para as crianccedilas e jovens Outro fator eacute que tem um comeacutercio
desenvolvido em que podem adquirir seus bens de consumo aleacutem de ser de faacutecil acesso aos
demais centros da regiatildeo e do paiacutes atraveacutes dos diferentes meios comunicaccedilatildeo e transporte
Por isso o mapeamento foi iniciado nesta regiatildeo
Apesar de ter um nuacutemero consideraacutevel de habitantes os oacutergatildeos ligados agrave causa
indiacutegena natildeo dispotildeem de dados informativos sobre o objeto da pesquisa em meio agrave estimativa
populacional do municiacutepio mesmo assim outro oacutergatildeo foi procurado para que pudesse
50
fornecer algum dado ligado ao sujeito surdo da etnia Satereacute-Maweacute A instituiccedilatildeo pesquisada
foi a Escola de Aacuteudio Comunicaccedilatildeo ldquoPadre Paulo Mannardquo Esta eacute uma instituiccedilatildeo educacional
mantida pela Diocese de Parintins por meio de sua atual gestora a Professora Zilda Tavares
Atraveacutes desta colaboradora foram coletadas informaccedilotildees sobre os alunos indiacutegenas surdos da
etnia Satereacute-Maweacute que ali estudam ou estudaram que satildeo a seguir descritas
Embora a escola tivesse o conhecimento da existecircncia de dois indiacutegenas surdos da
etnia Satereacute-Maweacute apenas um se encontra matriculado na escola Eacute uma menina de seis anos
de idade cursando o preacute-escolar Para informaccedilotildees consistentes foi solicitado o contato
tambeacutem com a famiacutelia da aluna Ao contatar os pais foi feita uma abordagem por meio de
questionaacuterio mas diante das dificuldades encontradas por natildeo serem alfabetizados na liacutengua
nativa nem na liacutengua Portuguesa os dados utilizados satildeo resultante de entrevistas
assistemaacuteticas (conversas informais)
Os familiares tecircm papeacuteis importantes na formaccedilatildeo da linguagem da crianccedila Eacute atraveacutes
deles que acontece a formaccedilatildeo da identidade social e cultural desse sujeito em
desenvolvimento Satildeo eles que repassam o modo de vida os costumes e outros aspectos
sociais com os seus exemplos e empreendendo a funccedilatildeo da linguagem verbal atraveacutes de
relaccedilotildees dialoacutegicas que ativam a percepccedilatildeo do ser em maturaccedilatildeo no meio familiar Na visatildeo
de Ponzio (et al 2007 p 177)
Uma das funccedilotildees da linguagem verbal eacute a identificaccedilatildeo identificaccedilatildeo dos objetos
mediante um processo de modelaccedilatildeo e de articulaccedilatildeo da realidade que varia de
liacutengua para liacutengua identificaccedilatildeo de sujeito enquanto falante do sujeito do discurso
do tema do outro ao qual esse discurso se dirige de uma espeacutecie de bdquoauditoacuterio
universal‟ a que de modo geral se recorre na argumentaccedilatildeo identificaccedilatildeo de uma
comunidade e da pertenccedila ou da natildeo pertenccedila a esta etc
Um resumo histoacuterico sobre a referida indiacutegena aponta que a famiacutelia residia na
comunidade indiacutegena Ponta Alegre no Rio Andiraacute municiacutepio de Barreirinha Migraram para
a zona urbana em busca de condiccedilotildees para uma melhor qualidade de vida Ao descobrirem a
surdez da filha mudaram-se para a cidade de Parintins Declararam que a forma de se
comunicarem com a filha eacute por meio de gestos criados pela famiacutelia e a crianccedila pois natildeo
sabem a Liacutengua de Sinais
Analisa-se neste contexto a situaccedilatildeo complexa pela qual essa famiacutelia passou para se
entender com a ela posto que se esperasse que a crianccedila dominasse o sistema linguiacutestico que
usam para a comunicaccedilatildeo com os pares atraveacutes da liacutengua natural da etnia Este eacute um fato que
ocorre com as famiacutelias onde natildeo existe o desenvolvimento natural da fala
51
Considere-se assim que a liacutengua eacute adquirida a qual se manifesta em todas as
circunstacircncias normais no conhecimento de uso em processo de audiccedilatildeo desde o nascimento
os quais vatildeo tomando forma de significante e significado enquanto se distingue cada unidade
lexical do todo que existe no meio onde se estaacute inserido Para Lyons ldquoo termo aquisiccedilatildeo da
linguagem eacute normalmente usado sem ressalvas para o processo que resulta no conhecimento
da liacutengua nativa (ou liacutenguas nativas)rdquo (1987 p 231)
Neste caso para a crianccedila em evidecircncia deveria ser propiciado o ensino da Libras
como liacutengua para mediar a comunicaccedilatildeo o mais breve possiacutevel na medida em que ela estaacute
com idade proacutexima da faixa etaacuteria limite de aquisiccedilatildeo sem acarretar prejuiacutezos para o seu
desenvolvimento conforme explica teoria gerativista17
da aquisiccedilatildeo da linguagem proposta
por Lennenberg (1967)
[] a existecircncia de um periacuteodo criacutetico para a quisiccedilatildeo da linguagem tendo como
pressuposto a ideia de que esta eacute inata O periacuteodo criacutetico se iniciaria por volta dos
dois anos e se encerraria por volta da puberdade Esse periacuteodo eacute chamado de criacutetico
porque seria aquele mais sensiacutevel agrave aquisiccedilatildeo da linguagem[] concluiacutendo que o
cereacutebro humano inicialmente tem representaccedilatildeo bilateral das funccedilotildees da linguagem
e mediante o processo de aquisiccedilatildeo na puberdade apenas o hemisfeacuterio se torna
mais dominante em relaccedilatildeo a elas completando o periacuteodo de aquisiccedilatildeo Caso a
crianccedilas natildeo adquira a linguagem nesse periacuteodo seu desenvolvimento linguiacutestico
seraacute prejudicado (apud QUADROS 2008 p 78)
Deste modo no caso a crianccedila surda esta precisa aprender a liacutengua nativa de uma
forma diferenciada adequando-se os siacutembolos agraves formas visuais se natildeo apresentar esta
carecircncia tambeacutem posto que a faculdade da linguagem do ser humano eacute inata conforme
Chomsky esclarece (apud PONZIO etal 2007)
Trata-se de determinar agrave natureza do patrimocircnio bioloacutegico que constitui a bdquofaculdade
da linguagem‟ do ser humano o componente inato do conjunto menteceacuterebro que
uma vez tendo entrado em contato com a experiecircncia linguiacutestica produz o
conhecimento da linguagem isto eacute converte a experiecircncia em um sistema de
conhecimento (p 143)
O segundo indiacutegena surdo da etnia Satereacute-Maweacute havia sido transferido da escola Padre
ldquoPaulo Mannardquo para a Escola Estadual ldquoBrandatildeo de Amorimrdquo Segundo as informaccedilotildees da
famiacutelia ele nasceu na aacuterea indiacutegena de Ponta Alegre Poreacutem quando pequeno sua famiacutelia se
17
A teoria gerativista pressupotildee a existecircncia de um mecanismo inato responsaacutevel pela aquisiccedilatildeo da linguagem
denominado Gramaacutetica Universal (GU) tendo como responsaacutevel por essa concepccedilatildeo que caracteriza-se pela
elucidaccedilatildeo da natureza das linguas naturais Chomsky
52
mudou para zona urbana de Parintins Ele cresceu longe da cultura indiacutegena sem contato com
a liacutengua de sua etnia por estar fora desse contexto Por outro lado natildeo aprendeu a liacutengua
falada em seu entorno na medida em que natildeo pode na prendecirc-la de forma natural por natildeo
ouvir assim por natildeo ter domiacutenio da cultura da etnia deve aprender a liacutengua de sinais
inserindo os signos que significam as palavras do seu leacutexico atraveacutes de instruccedilatildeo especial
com a mediaccedilatildeo de algueacutem que tenha o conhecimento das duas formas de comunicaccedilatildeo Para
Lyons (1987) esses aprendizes adquirem habilidades comunicativas rapidamente pois o
progresso que alcanccedilam eacute pelo menos agraves vezes tatildeo raacutepido que como observam tanto os pais
quanto os pesquisadores eacute difiacutecil manter um registro compreensivo e sistemaacutetico do seu
processo de aprendizado Como tambeacutem eacute no total independente de inteligecircncia e de
diferenccedilas do meio social e cultural
A capacidade da pessoa para construir enunciados vai tomando forma agrave medida que
consegue compreender a relaccedilatildeo entre significante e significados dos signos com os quais tem
contato Por isso os indiacutegenas surdos podem ser beneficiados com um material escrito
triliacutengue Este pode constituir-se em um material de apoio para a aprendizagem das trecircs
liacutenguas sendo que a liacutengua de sinais eacute perspectivada como L1
O terceiro caso identificado eacute de um iacutendio surdo jaacute adulto da comunidade Uiacurapaacute
da etnia Maweacute As informaccedilotildees datildeo conta que ele se comunica por meio de gestos criados por
ele e os pares com quem tem relaccedilatildeo Poreacutem natildeo haacute dados detalhados pois natildeo foi possiacutevel
contato com o mesmo porque ele vive isolado sobrevivendo de caccedila e pesca em comunidade
rural indiacutegena Fato este que implica diretamente no aperfeiccediloamento da forma de
comunicaccedilatildeo desse sujeito posto que ldquoos fenocircmenos ambientais podem agir diretamente
sobre a pessoa ou individualmente atraveacutes de repasse de experiecircncias vividas pela sociedade
atraveacutes da linguagem veiculada pela liacutenguardquo (OLIVEIRA 2005 p134)
Assim estaacute constituiacuteda a populaccedilatildeo de indiacutegenas surdos que fazem parte da
microrregiatildeo de Parintins que se podem fazer os devidos registros neste estudo
412 Histoacuterico de Barreirinha
O municiacutepio de Barreirinha pertence a Mesorregiatildeo da Microrregiatildeo de Parintins que
estaacute localizado a leste de Manaus Capital do Estado distanciando cerca de 331 quilocircmetros
E ao norte de Parintins o municiacutepio de Barreirinha juntamente com Maueacutes satildeo principais
municiacutepios que possuem a maior populaccedilatildeo de indiacutegenas localizados nos rios Andiraacute e o
Marau Portanto sendo o municiacutepio como a sede urbana das comunidades inseridas os surdos
53
indiacutegenas vem apenas em busca de tratamento meacutedico quando necessitam ou para atividades
sociais acompanhados de seus pais mas na zona urbana natildeo localizamos nenhum indiacutegena
surdo
Barreirinha foi o segundo municiacutepio pesquisado E segundo o IBGE em 2013 a
populaccedilatildeo era de 29737 habitantes18
sendo o vigeacutesimo segundo municiacutepio mais populoso do
Estado do Amazonas e o terceiro de sua microrregiatildeo
Este muniacutecipio conta com um setor especiacutefico das causas indiacutegenas a Coordenaccedilatildeo
Iacutendiacutegena Satereacute-Maweacute sob responsabilidade do coodernador geral SrSantino Lopes Este
tornou possiacutevel o acesso agrave comunidade indiacutegena de Ponta Alegre no Rio Andiraacute Foi na
Escola Municipal Professora ldquoRosa Cabralrdquo que foi identificado um indiacutegena surdo da etnia
Satereacute-Maweacute um menino de 12 anos matriculado na 3ordf ano do ensino fundamental Nesse
contexto foi possiacutevel observar sua forma de se comunicar com as demais pessoas que faziam
parte do seu meio social Outros dados referente a relaccedilotildees familiares deste natildeo estatildeo
disponiacuteveis na medida em que natildeo foi possiacutevel fazer contato com sua famiacutelia Desta forma
permanece uma lacuna de respostas referente a esse aluno posto que
De uma forma geral e em regra a socializaccedilatildeo da crianccedila no mundo civilizado
comeccedila dentro de uma famiacutelia nuclear constituiacuteda de pai matildee e irmatildeos quando
existem Durante os primeiros anos da infacircncia adquire traccedilos culturais (menores
unidades de cultura) atraveacutes das pessoas da famiacutelia que satildeo reflexo da sociedade
onde vivem (OLIVEIRA 2005)
Entende-se que atraveacutes de informaccedilotildees que poderiam ser fornecidas pela famiacutelia
deveria ser esclarecido como ocorre a socializaccedilatildeo da crianccedila nesse contexto e de que modo
aprenderam a se comunicar com ela que estrateacutegias foram utilizadas para que ela conseguisse
ser alfabetizada
413 Histoacuterico de Maueacutes
Este municiacutepio que tambeacutem pertence agrave Mesorregiatildeo do Centro Amazonense e
Microrregiatildeo de Parintins tem uma populaccedilatildeo de 54079 habitantes conforme as estimativas
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) A cidade eacute reconhecida
nacionalmente por possuir uma das maiores expectativas de vida do paiacutes
18
Disponiacutevel emlthttpcidadesibgegovbrxtrastemasamazonas|barreirinha|estimativa-da-populacao-2013gt
Acesso em 28072014
54
Na margem direita do Rio Maueacutes-Accedilu Maueacutes foi fundada em 1798 por Luiz Pereira
da Cruz e Joseacute Rodrigues Preto agrave distacircncia de 268 km em linha reta e 356 km pela via
fluvial de Manaus O calendaacuterio festivo do municiacutepio conteacutem as datas festivas municipais
em homenagem agrave Satildeo Sebastiatildeo (10 a 20 de janeiro) ao Divino Espiacuterito Santo (22 a 30 de
maio) agrave Satildeo Pedro (27 a 30 de junho) agrave padroeira Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo (01 a 8 de
dezembro) assim como a Festa do Carnaval Popular (21 a 24 de fevereiro) do aniversaacuterio do
municiacutepio (26 a 27 de junho) da Ilha de Vera Cruz (23 a 25 de julho) do Veratildeo (de 05 a 7 de
setembro) da Feira Industrial (06 a 8 de novembro) e do Guaranaacute (em novembro)
Sobre a origem do nome deste municiacutepio observa-se que inicialmente foi
denominada Luseia e progredindo com o tempo transformou-se em missatildeo carmelita com
nome de Maueacutes O liacuteder nessa eacutepoca foi o frei Joaquim de Santa Luzia Por um decreto de 25
de junho de 1833 a missatildeo foi considerada vila sob a invocaccedilatildeo de Nossa Senhora da
Conceiccedilatildeo de Luseia Em 1853 pela lei nordm 25 de 3 de dezembro da iniciativa do Deputado
Marcos Antocircnio Rodrigues de Souza a vila tornou-se cidade chamada Satildeo Marcos de
Mundurucacircnia Consta como uma das freguesias da proviacutencia denominada Maueacutes em 1958
A oficializaccedilatildeo da mudanccedila do nome do municiacutepio ocorreu quando o Deputado Joseacute
Bernardo Michiles em 1865 apresentou um projeto para tal que tendo sido aprovado
oficializou-se a mudanccedila do nome de Maueacutes para Conceiccedilatildeo Enfim jaacute na Repuacuteblica em
1895 pela lei nordm 133 de 5 de outubro a localidade torna-se Comarca E em 4 de maio de 1896
eacute considerado municiacutepio pelo novo regime juriacutedico com o nome de Maueacutes pela lei nordm 137
As pesquisas de campo nesse municiacutepio natildeo foram realizadas conforme a previsatildeo
pois a viagem natildeo foi concretizada devido agraves dificuldades em relaccedilatildeo agrave distacircncia para chegar
ateacute agraves comunidades que satildeo distantes da cidade cede e havia necessidade de recurso material
e humano (professores guias indiacutegenas biliacutengues) para realizaacute-la Quando foi possiacutevel chegar
ao local ocorreu o contato com trecircs professores que residiam nas comunidades do rio
chamado Marau Ali foi possiacutevel tecirc-los em companhia na funccedilatildeo de guia inteacuterprete para
contato com os indiacutegenas surdos daquela localidade
Em resposta afirmativa ao questionamento se havia iacutendios surdos foram realizadas
reuniotildees com a comunidade local para coletar informaccedilotildees que apontou a existecircncia de um
caso na comunidade de Santa Maria Era um senhor na faixa etaacuteria de 67 anos que adquiriu a
surdez haacute muito tempo atraacutes Ele natildeo tem conhecimento da Liacutengua Portuguesa por isso natildeo
tivemos contato direto No entanto ele conhece a proacutepria liacutengua e assimilou a cultura da etnia
posto que
55
A liacutengua eacute aprendida simultaneamente a outros elementos da cultura A capacidade
de desenvolvimento da linguagem eacute inata O indiviacuteduo nasce com o ceacuterebro
preparado para aprender tudo que pertinente agrave cultura humana da qual a linguagem
faz parte (OLIVEIRA 2005 p 137)
Eacute no contexto social que se aprende os signos que fazem parte do mundo exterior e
que o ceacuterebro assimila pelo conhecimento que os sentidos possibilitam
O segundo iacutendio localizado foi um surdo de nascenccedila hoje com idade de 24 anos
Segundo relato da famiacutelia nunca frequentou uma escola portanto seu uacutenico meio de
comunicaccedilatildeo eacute gestual que aprendeu como forma para se fazer entender pois ldquoa linguagem eacute
atributo universal do ser humanordquo (OLIVEIRA 2005) assim constitui-se como necessidade
vital da pessoa conduzindo ao aprendizado
Em pesquisa de campo se obteve a informaccedilatildeo que havia outros trecircs iacutendios surdos que
moravam no Rio Marau mas natildeo foi possiacutevel chegar ateacute a aldeia onde se encontravam
devido ao difiacutecil acesso o que impossibilitou a ida ateacute a localidade
414 Histoacuterico de Boa Vista do Ramos
Uma das sete Mesorregiotildees de Parintins eacute Boa Vista do Ramos que possui
aproximadamente 16820 de habitantes segundo o IBGE (2013)
A histoacuteria de Boa Vista do Ramos encontra-se ligada agrave histoacuteria do municiacutepio de
Maueacutes Em 1798 foi fundada a Aldeia de Lusea Em meados do Seacuteculo XIX vaacuterios conflitos
ocorreram na regiatildeo entre brancos e povos indiacutegenas sendo efetiva tambeacutem a participaccedilatildeo de
cabanos oriundos da Cabanagem
Quando a Proviacutencia do Amazonas eacute criada em 1850 Lusea torna-se um dos quatorze
municiacutepios existentes na proviacutencia Seu nome eacute alterado em 1892 para Maueacutes tornando-se
sede da Comarca em 1895 Em 10 de dezembro de 1981 atraveacutes da Emenda Constitucional nordm
12 o povoado de Boa Vista do Ramos aleacutem de outros territoacuterios pertencentes agrave Maueacutes e
aacutereas adjacentes dos municiacutepios de Barreirinha e Urucurituba passam a constituir o novo
municiacutepio de Boa Vista do Ramos
Em pesquisa de campo nesse municiacutepio o primeiro contato que foi na Coordenadoria
Regional de Educaccedilatildeo da cidade (SEDUC) Embora esta professora responsaacutevel por essa
Instituiccedilatildeo tenha informado que natildeo conhecia nenhum caso de iacutendio surdo neste municiacutepio
alguns informantes afirmaram que na aldeia de Santo Antocircnio que faz parte do referido
municiacutepio foi localizada uma senhora que havia adquirido a surdez ainda muito jovem sem
56
nenhum conhecimento das liacutenguas ldquofaladasrdquo ou sinalizadas Desta forma ela utilizava de
gestos para se comunicar porque os seres humanos nascem com a capacidade para a
linguagem que se desenvolvem ao longo da primeira infacircncia mas que podem tambeacutem ser
aprendida no meio social atraveacutes de estiacutemulos Nesta perspectiva segundo a concepccedilatildeo de
Oliveira (2005 p 143)
A evoluccedilatildeo da linguagem depende de dois fatores principais da capacidade geneacutetica
cerebral para desenvolvecirc-la que eacute a principal e dos estiacutemulos ambientais que satildeo
sempre tatildeo importantes quanto aquela Esse desenvolvimento estaacute senpre inserido no
contexto de socializaccedilatildeo que eacute a responsaacutevel pela humanizaccedilatildeo do indiviacuteduo
Ainda sobre a importacircncia da socializaccedilatildeo para os sujeitos ressalta-se que estes
desenvolvendo no meio onde estatildeo inserido adquirem sua identidade cultural
concomitantemente sua identidade linguiacutestica que estaacute presente no discurso dos seus pares
posto que ela ldquoeacute adquirida nos processos de formaccedilatildeo e tranformaccedilatildeo de uma liacutengua
particularrdquo que eacute tambeacutem determinante no relacionamento cm outras liacutenguas E de acordo
com Ponzio (2007 p178) ldquoO espaccedilo em que uma liacutengua vive eacute um espaccedilo interlinguiacutestico e a
capacidade de expressatildeo e da adaptaccedilatildeo dessas liacuteguas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo eacute
diretamente proporcional agrave quantidade de contatos com outras liacutenguasrdquo O que deixa evidente
que um indiviacuteduo pode estar em contato com diferentes formas de intercomunicaccedilatildeo
415 Histoacuterico de Nhamundaacute
Eacute trigeacutesimo quinto municiacutepio mais populoso do estado do Amazonas Sendo o quarto
da Mesorregiatildeo em estudo Conforme o IBGE em 2013 o municiacutepio eacute composto por uma
populaccedilatildeo de 19 792 habitantes
O municiacutepio de Nhamundaacute estaacute localizado na zona fisiograacutefica do Baixo Amazonas
limitando com os municiacutepios de Parintins e Urucaraacute no Amazonas com o Estado de Roraima
(norte) e com os municiacutepios de Faro e Terra Santa no estado do Paraacute Distacircncia da capital 375
km em linha reta e cerca de 577 km por via fluvial Sua altitude eacute de 50 metros acima do
niacutevel do mar
As origens do municiacutepio de Nhamundaacute remontam agraves primitivas povoaccedilotildees dos iacutendios -
nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XVII composta pelos condurizes paraculamas canuris
guancaris paraquatas queremas jamundaacutes e uaboy cujo tuxaua se chamava Jamundaacute que
dada a luta em prol da liberdade de seu povo devido agrave exploraccedilatildeo e maus-tratos pelos
57
colonizadores fez um levante conduzindo a tribo Uaboy para as cabeceiras do alto rio que em
sua homenagem ganhou o seu nome e por conseguinte daacute nome ao municiacutepio
Em 1653 mediante carta reacutegia a regiatildeo foi erigida a Missatildeo que foi confiada aos
missionaacuterios portugueses capuchos da Piedade Eles organizaram uma aldeia modelo na boca
do Tauacuera - aldeia velha afluente esquerdo onde ainda se podem ver ruiacutenas do antigo
convento no meio dos espinhais A sede da Missatildeo poreacutem foi transferida para o lugar da
atual cidade de Faro Os padres capuchos souberam unir os iacutendios uaboy residentes no
Trombetas aos da Missatildeo para aumentar a populaccedilatildeo Era entatildeo o chefe dos Uaboy o tuxaua
Jamundaacute que ligou seu nome agrave Missatildeo e agrave aldeia que doravante se chamou aldeia dos
Jamundaacute ou Missatildeo dos Jamundaacute
O primeiro documento sobre a Missatildeo eacute do ano de 1727 e foi escrito pelo superior da
Missatildeo frei Francisco de Satildeo Manccedilos Em 1758 Missatildeo tomou o nome de Faro No entanto
jaacute em 1755 o Marqucirces de Pombal mandou suspender as Missotildees para serem transformadas
em vilas e paroacutequias A Missatildeo dos Jamundaacute foi extinta em 1758 por ordem de Mendonccedila
Furtado quando de sua viagem de demarcaccedilatildeo da nova capitania Foram criadas assim a vila
de Faro e a Paroacutequia de Satildeo Joatildeo Batista em 21 de dezembro de 1758 mas a instalaccedilatildeo deu-se
somente em 27 de dezembro de 1768
Desse modo em 1911 quando ocorreu a divisatildeo administrativa do Brasil o municiacutepio
de Parintins foi contemplado com o distrito de Jamundaacute Com a extinccedilatildeo deste quando
aconteceu a nova divisatildeo administrativa em 1933 o municiacutepio de Parintins surgiu com apenas
um distrito assim em 10 de dezembro de 1938 pelo Decreto-lei no 176 do Estado do
Amazonas Parintins voltaria a dispor de um outro distrito aleacutem da sede o da Ilha das Cotias
Em 19121955 pela Lei Estadual no 96 o distrito de Ilha das Cotias eacute desmembrado de
Parintins e passa a constituir o municiacutepio autocircnomo de Nhamundaacute Em 31 de janeiro de 1956
foi instalado o municiacutepio de Nhamundaacute
A viagem a esse municiacutepio foi realizada com o apoio do aluno Fernando Gonccedilalves
acadecircmico do curso de Licenciatura em Geografia pela Universidade do Estado do
Amazonas-UEA Para maiores esclarecimentos foi feita a pesquisa na casa de sauacutede indiacutegena
localizada na cidade de Nhamundaacute onde informaram desconhecer a existecircncia da etnia
Satereacute-Maweacute no municiacutepio Mesmo assim foi feito outro contato com uma enfermeira da
Casa de Sauacutede Indiacutegena do municiacutepio A resposta foi a mesma ldquoQueremos informar ao
professor que no municiacutepio de Nhamundaacute que natildeo trabalhamos com a etnia Satereacute-Maweacute
Atendemos somente a etnia Hixkaryana existente na regiatildeo Natildeo haacute portanto nenhum surdo
Hixkaryana ou Satereacute-Maweacute cujo fato eacute comprovado pelo senso municipalrdquo
58
Foi feita uma pesquisa tambeacutem em outro oacutergatildeo que atua com indiacutegenas no caso as
Secretaria de Educaccedilatildeo do Municiacutepio com a finalidade de constatar a veracidade dos fatos
eou conseguir novos dados sobre o indiacutegena surdo Satereacute ou Hixkaryana O subsecretaacuterio de
Educaccedilatildeo relatou que natildeo existia dados sobre a liacutengua Satereacute-Maweacute nem indiacutegenas surdos
existentes
Realmente apoacutes pesquisas in loco ficou comprovado somente agrave existecircncia da etnia
Hixkaryana da famiacutelia linguiacutestica Karib Sobre esta ressalta-se que
A liacutengua hixkaryana pertence agrave famiacutelia linguiacutestica Karib e eacute falada por todos os
membros do grupo Esta liacutengua eacute muito semelhante agravequeles outros dialetos falados
na regiatildeo mais ampla circunscrita pelos vales dos rios Trombetas e Mapuera como
Waiwai Xereu Katuena Karapawyana Tunayana Desta maneira e pelo fato dos
Hixkaryana estabelecerem relaccedilotildees bem estreitas com estes grupos em uma rede de
trocas matrimoniais e rituais tais dialetos satildeo inteligiacuteveis entre si []
Os Kaxuyana que moram no rio Nhamundaacute quase todos tambeacutem falam a liacutengua
hixkaryana aleacutem da sua liacutengua proacutepria o Kaxuyana Contudo em geral um
Hixkaryana natildeo fala a liacutengua kaxuyana fato que de certa forma demonstra que os
Kaxuyana satildeo considerados os ldquoestrangeirosrdquo naquela regiatildeo e que devem aprender
a liacutengua ldquonativardquo o Hixkaryana
A maioria dos Hixkaryana eacute alfabetizada na liacutengua nativa sendo capaz de ler e
escrever neste idioma Em 2008 havia apenas uma escola de ensino fundamental na
aldeia Kassauaacute e muitos jovens depois desta seacuterie dirigiam-se agrave cidade de
Nhamundaacute (AM) para prosseguir os estudos de niacutevel meacutedio Em 2010 uma escola
de ensino meacutedio foi implantada na aldeia Kassauaacute Aleacutem disso uma dezena de
Hixkaryana jaacute cursou ou estaacute cursando o ensino superior em cidades como Parintins
e Manaus Contudo a maioria das mulheres dos velhos e das velhas fala muito
pouco o Portuguecircs sendo o Hixkaryana a liacutengua mais usada por todos19
Assim como no municiacutepio de Nhamundaacute ficou constatado tambeacutem que nos demais
municiacutepios de Satildeo Sebastiatildeo do Uatumatilde e de Urucaraacute que natildeo haacute registro sobre a existecircncia
da etnia Satereacute-Maweacute nem tatildeo pouco a existecircncia de iacutendios surdos A tabela 1- apresenta o
resultado da pesquisa que aponta o mapeamento
Tabela 1 Mapeamento da existecircncia de iacutendios surdos nas respectivas comunidades
indiacutegenas ou zona urbana da microrregiatildeo de Parintins
Fonte Azevedo (2014)
19
Disponiacutevel emlthttppibsocioambientalorgptpovohixkaryanagt Acesso em 07112014
Etnia Liacutengua Comunidade Indiacutegena
rural Zona Urbana
Municiacutepio Quantidade de iacutendios
surdos
Satereacute-Maweacute Tupi Parintins Parintins 02
Satereacute-Maweacute Tupi Uaucurupaacute Parintins 01
Satereacute-Maweacute Tupi Rio Andiraacute Barreirinha 01
Satereacute-Maweacute Tupi Santa Maria Maueacutes 02
Satereacute-Maweacute Tupi Rio Marau Maueacutes 03
Satereacute-Maweacute Tupi Boa Vista do Ramos Boa Vista do
Ramos
01
Total 10
59
De acordo com os dados pode-se observar a existecircncia de poucos iacutendios surdos
Poreacutem acredita-se que ainda existam outros em comunidades mais isoladas Como tambeacutem
pelo fato de serem consideradas ldquodeficientesrdquo algumas famiacutelias natildeo integram na comunidade
que vivem As dificuldades encontradas para coletar os dados a partir dos oacutergatildeos
responsaacuteveis tambeacutem foram encontrados em outros estudos realizados anteriormente para
estabelecer a populaccedilatildeo indiacutegena na Ameacuterica Latina o que pode ser vislumbrado pela
explicaccedilatildeo dos fatos complicadores transcritos a seguir
Uma das dificuldades para estabelecer a populaccedilatildeo indiacutegena estaacute relacionada com
fato de que o criteacuterio de filiaccedilatildeo segue mais a autodenominaccedilatildeo que as
caracteriacutesticas linguiacutesticas ou raciais como se considerava haacute algumas deacutecadas atraacutes
Outra dificuldade eacute que a uacutenica fonte disponiacutevel para estabelecer a quantidade de
populaccedilotildees indiacutegenas na regiatildeo satildeo precisamente os censos nacionais de populaccedilatildeo
que haacute bem pouco tempo permitiam inferir informaccedilatildeo sobre a populaccedilatildeo indiacutegena
a partir de uma uacutenica pergunta referente agrave liacutengua falada pelos entrevistados (LOPES
e SICHRA 2009 p 103)
Entretanto embora natildeo haja um nuacutemero expressivo de iacutendios surdos da etnia Satereacute-
Maweacute ficou constatado que haacute muitos surdos natildeo-iacutendios nos municiacutepios estudados
principalmente no municiacutepio de Parintins que precisam se comunicar com diferentes
interlocutores Este eacute um argumento que aponta para a necessidade de instrumentos
educacionais como um dicionaacuterio triliacutengue importante para os surdos que conseguiram
estabelecer elos comunicativos a partir das trecircs liacutenguas E jaacute que o homem eacute criativo ldquoagrave
medida que o tempo passa a humanidade vai agregando novas descobertas e inventos que se
concretizam e se somam para dar-lhe conforto e bem estarrdquo (OLIVEIRA 2005 p 144) Entatildeo
espera-se que este material contribua para que o sujeito surdo possa se comunicar
adequadamente no seio familiar e no processo educacional
42 Realidade linguiacutestica e educacional dos iacutendios surdos encontrados da etnia Satereacute-Maweacute
O sistema responsaacutevel pela educaccedilatildeo tem procurado fazer adequaccedilotildees para atender agraves
pessoas que apresentam necessidades na sua arquitetura fiacutesica para a inclusatildeo destas no
contexto da realidade linguiacutestica e educacional Embora exista uma legislaccedilatildeo pertinente
ainda haacute ausecircncia de qualidade para que um indiviacuteduo surdo possa estudar incluso em um
contexto regular de ensino Principalmente porque os professores natildeo estatildeo preparados para
lidar com essa situaccedilatildeo peculiar Haacute uma imposiccedilatildeo nos oacutergatildeos educacionais mas natildeo haacute
60
profissionais que atuem para o bom desempenho do aluno indiacutegena surdo A partir dessa
visatildeo Albres (2005) que realizou um estudo nesta aacuterea de conhecimento afirma
Nessa perspectiva o homem eacute produto e produtor da cultura conjunto das relaccedilotildees
sociais portanto mister se faz investigar a origem histoacuterica de alguns princiacutepios da
educaccedilatildeo biliacutengue para surdos e desvelar elementos conceituais Propomo-nos
entatildeo identificar e analisar as concepccedilotildees de linguagem que sob condiccedilotildees
histoacutericas fundamentaram o ensino de Liacutengua Portuguesa para surdos nos
documentos do MEC
Desta feita entende-se que se no contexto do ensino da Liacutengua Portuguesa existem
diversas dificuldades no contexto de uma liacutengua indiacutegena a situaccedilatildeo se torna mais complexa
Desse modo na anaacutelise da situaccedilatildeo linguiacutestica e educacional encontrada com os iacutendios surdos
identificados da etnia Satereacute-Maweacute eacute bastante diversificada Apresentam diferentes formas de
siacutembolos para conseguirem se comunicar com as pessoas com quem tecircm contato Precisam
fazer um esforccedilo aleacutem do necessaacuterio para manifestar seus desejos para informar e ter acesso a
informaccedilotildees
No caso da aluna indiacutegena surda de apenas seis anos de idade na escola especiacutefica para
atender alunos surdos foi constatado que sua situaccedilatildeo linguiacutestica e educacional se encontra
em processo de aquisiccedilatildeo de uma linguagem baacutesica para comunicaccedilatildeo com as pessoas com as
quais ela convive
Conforme os dados fornecidos pela escola por meio de um parecer pedagoacutegico sobre a
aluna indiacutegena surda (ANEXO D) Ficou atestado que a aluna da etnia Satereacute-Maweacute nasceu
de parto normal sem nenhum problema aparente Aos trecircs anos de idade a matildee percebeu que
a filha natildeo ouvia e nem falava pois seus outros filhos haviam comeccedilado a falar na presente
idade Para seguir se comunicar com a filha utilizava-se de gestos sendo difiacutecil a
comunicaccedilatildeo Foi essa situaccedilatildeo que levou a famiacutelia a procura da Escola Padre Paulo Manna
onde se encontra matriculada no preacute-escolar Nessa realidade ela recebe as mesmas
orientaccedilotildees dadas agraves crianccedilas natildeo indiacutegenas logo natildeo existe um direcionamento para a cultura
da sua etnia na escola nem na no contexto familiar
Sobre essa condiccedilatildeo Cool (2004) aborda que haacute um aspecto familiar que tem
relevacircncia particular o tipo de comunicaccedilatildeo que se utiliza em casa ou seja a forma e o estilo
de comunicaccedilatildeo que os pais utilizam com a crianccedila surda tem uma grande importacircncia para o
seu desenvolvimento e para sua aprendizagem No caso dos pais ouvintes estes necessitam do
conhecimento da educaccedilatildeo da cultura da liacutengua da pessoa surda para que possam promover
uma formaccedilatildeo linguiacutestica completa para o filho surdo E deste modo este ldquopossa consolidar e
61
aprofundar o uso e a compreensatildeo da liacutengua proacutepria enquanto veiacuteculo de cultura e
possibilidade de comunicaccedilatildeo no acircmbitordquo de conhecimento do aprendiz sem deixar agrave parte do
domiacutenio da liacutengua apropriada para esse sujeito (HERNAIZ 2009)
Desta forma a educaccedilatildeo escolar reconhecida pela proacutepria escola referente agrave inclusatildeo
da aluna indiacutegena surda aponta para a necessidade de instituir uma educaccedilatildeo triliacutengue de
forma que seu processo de ensino-aprendizagem pauta-se na Liacutengua Satereacute-Maweacute Liacutengua
Brasileira de Sinais e Liacutengua Portuguesa Mesmo sabendo da dificuldade em aprender trecircs
liacutenguas o parecer pedagoacutegico considera possiacutevel aprendizagem de trecircs liacutenguas
A partir dos argumentos referidos reitera-se a importacircncia de que a educaccedilatildeo escolar
dessa aluna deve abranger as liacutenguas de uso natural nativo e social Quando se destaca a
liacutengua de uso natural entende-se que eacute a Liacutengua de Sinais como primeira liacutengua E natildeo
inverter o processo e obrigar a crianccedila surda seja indiacutegena ou natildeo aprender a falar uma
liacutengua oral seja liacutengua indiacutegena ou Liacutengua Portuguesa Sobre a questatildeo Fernandes (2005
p20) pontua
fazer uma crianccedila surda ldquofalarrdquo ao inveacutes de propiciar a ela um meio raacutepido de
comunicaccedilatildeo linguiacutestica atraveacutes da aquisiccedilatildeo da liacutengua de sinais como primeira
liacutengua que proteja e cumpra o papel fundamental de resguardar o seu natural
desenvolvimento no que se refere a ter domiacutenio de fato de um instrumental
linguiacutestico que lhe sirva para as operaccedilotildees mentais que envolvam mecanismos
linguiacutesticos
Portanto primeiramente eacute necessaacuteria a aquisiccedilatildeo da primeira liacutengua a liacutengua de sinais
e como segunda liacutengua a liacutengua nativa de sua comunidade eacutetnica No caso da aluna indiacutegena
a liacutengua Tupi da etnia Satereacute-Maweacute na modalidade escrita Desta forma com a aprendizagem
das duas liacutenguas seraacute uma aluna biliacutengue Poreacutem diante da realidade do aluno indiacutegena surdo
que vive na zona urbana se faz necessaacuterio o aprendizado triliacutengue Liacutengua Portuguesa por
escrito
Como dito anteriormente o ensino-aprendizado da Liacutengua de Sinais deve ser
garantido ao sujeito surdo para que adquira a identidade a cultura do povo surdo20
acesso
pleno as informaccedilotildees aleacutem de significar a possibilidade de comunicaccedilatildeo e expressatildeo fluentes
do sujeito surdo com seu entorno Da mesma perspectiva o ensino da Liacutengua indiacutegena se daacute
20
Como ja mencionado no capiacutetulo 1 sobre Cultura Surda ldquo eacute o jeito surdo de ser de perceber de sentir de
vivenciar de comunicar de transformar o mundo a tornaacute-lo habitaacutevelrdquo (GLADIS PERLIN apud STROBEL
2008 p 21) Strobel ainda esclarece que o sujeito Surdo se comportam diferente do sujeito ouvinte e com isso
traz alguns ldquoartefatos culturaisrdquo (explicado no capiacutetulo 1) que satildeo as pecualiaridade da cultura surda as quais
descritas Parte das experiecircncias visuais linguiacutestico familiar literatura surda vida social e esportiva artes
visuais poliacutetica e materiais Todos estes artefatos concebidos a partir do VER (IDEM 2008 p36-77)
62
em respeito aos direitos da cultura indiacutegena previsto pela Constituiccedilatildeo Brasileira conforme
decreto nordm 6861 de maio de 2009 no seu Art 2o que determina ldquoSatildeo objetivos da educaccedilatildeo
escolar indiacutegena I- valorizaccedilatildeo das culturas dos povos indiacutegenas e a afirmaccedilatildeo e manutenccedilatildeo
de sua diversidade eacutetnica II- fortalecimento das praacuteticas socioculturais e da liacutengua e da liacutengua
materna de cada comunidade indiacutegenardquo
Neste caso a referida aluna iacutendia surda deveraacute ter a liacutengua indiacutegena como liacutengua de
conhecimento de sua cultura Para o ensino desta na forma escrita faz-se uso de cartilhas
gramaacuteticas dicionaacuterios etc
De acordo com o exposto a escola reconhece a necessidade da educaccedilatildeo escolar
triliacutengue poreacutem utiliza-se de outra realidade conforme citado pela proacutepria escola ldquoNo
primeiro momento fica junto com os colegas ouvintes onde procuramos trabalhar de forma
inclusiva no contexto biliacutengue Liacutengua Portuguesa e Liacutengua de Sinais
Sobre este aspecto Rodrigues (2005 p20) pontua
Quantas lacunas estariam sendo criadas em nome da pressuposiccedilatildeo de que a
aprendizagem da liacutengua da maioria dos falantes da comunidade (ouvintes) eacute que
daria agrave crianccedila surda condiccedilotildees de desenvolvimento social e cognitivo Quantas
etapas de desenvolvimento estariam sendo desprezadas nas fases naturais de sua
evoluccedilatildeo sob a alegaccedilatildeo de que ela seraacute capaz de alcanccedilar o que se estabelece como
meta social Que metas estariam sendo alcanccediladas afinal Que objetivos estatildeo sendo
perseguidos em prol desses paracircmetros ultrapassados em detrimento dos reais
objetivos de formaccedilatildeo psico-sociocultural deste individuo Em que a liacutengua de
sinais como primeira liacutengua ainda se encontra determinada pelo descreacutedito de
tantos especialistas da aacuterea
A realidade encontrada sobre a educaccedilatildeo natildeo soacute em uma escola que atende alunos
surdos mas tambeacutem em muitas escolas as chamadas escolas ldquoinclusivasrdquo apresentam
dificuldades no processo de ensino dos alunos surdos21
Todavia entre desencontros
sociocultural-linguiacutesticos eacute preciso fazer uma ressalva desta escola ldquoA escola disponibilizou
21
Sobre a temaacutetica da Inclusatildeo formula-se ldquoAo se avaliar que na contemporaneidade impera o discurso da
inclusatildeo indiscriminada em escolas regulares[]Esta diretriz tira o direito previsto na legislaccedilatildeo brasileira de
poder optar por uma educaccedilatildeo biliacutengue em escola proacutepria de modo que se repete a condiccedilatildeo em que aos surdos eacute
imposto um enorme sofrimento na medida em que nos denominamos processos inclusivos junto aos ouvintes
permanecem privados de conviver com seus pares e de acessar o conhecimento na Liacutengua de Sinais como liacutengua
de instruccedilatildeo [] Os surdosde diferentemente de outros segmentos tecircm a necessidade de agrupar-se para formar
comunidade linguiacutestica por meio das quais possam construir uma ldquocomunidade de experiecircnciasrdquo (WITKOSKI
2012 p33-34)
63
uma professora surda para a aquisiccedilatildeo da Liacutengua Brasileira de Sinais repassando o conteuacutedo
ministrado na salardquo onde cada um desses alunos eacute inserido
A escola positivamente conta com a colaboraccedilatildeo do trabalho docente de uma
professora surda Esta tem um papel fundamental como modelo linguiacutestico principalmente
quando alunos surdos provecircm de famiacutelias ouvintes que natildeo tecircm acesso agrave cultura e agrave Liacutengua
de Sinais Cabe ao professor surdo comunicar-se fluentemente com o aluno surdo ser um
input linguiacutestico para a identificaccedilatildeo da cultura do ser surdo
Dessa forma Strobel (2008 p 40) destaca
Este contato crianccedila surda x adulto surdo atraveacutes de uma liacutengua em comum que eacute a
liacutengua de sinais eacute que proporcionaraacute o acesso agrave linguagem e desta forma estaraacute
assegurada a identidade e a cultura surda que eacute transmitida naturalmente agrave crianccedila
surda em contato com a comunidade surda
Observa-se que caso a crianccedila surda natildeo tenha o direito a sua diferenccedila preservado
este aprendiz teraacute sua inserccedilatildeo no mundo dos ouvintes de forma incerta eou sem esperanccedila de
uma vida normal A situaccedilatildeo se agrava na medida em que a sociedade ouvinte deixa a desejar
quanto agrave participaccedilatildeo dos sujeitos surdos em decorrecircncia da escassez dos vaacuterios recursos
visuais que promovem acessibilidade para eles
Contudo os povos surdos hoje satildeo mais conscientes de seus direitos entatildeo esses
sujeitos cultural e politicamente lutam pelos mesmos Direitos estes tambeacutem dos povos
indiacutegenas como jaacute comentados anteriormente
Todavia esse aspecto ainda estaacute distante da realidade dos sujeitos focos do estudo de
acordo com relato da escola Segundo depoimentos de alguns indiacutegenas a aprendizagem
indiacutegena passa pela demonstraccedilatildeo observaccedilatildeo imitaccedilatildeo tentativa e erro e quando o aluno
vem para a escola tem que se socializar e obedecer a comandos regidos pelo sistema e isso
muitas vezes o deixa confuso e os maiores ateacute desistem A situaccedilatildeo se agrava quando esse fato
se refere ao sujeito iacutendio surdo incluiacutedo na escola pois este requer um diferencial ainda
maior reconhecido pela escola
Dessa forma satildeo necessaacuterias estrateacutegias de ensino diferenciadas que deem suporte
para que a aluna seja trabalhada de forma triliacutengue no contexto escolar para que ela
natildeo perca a sua essecircncia a sua cultura que sejam adaptados trabalhos de acordo
com a realidade indiacutegena para que ela natildeo perca a sua identidade e saiba conduzir
sua aprendizagem dentro de um contexto diferenciado podendo aprender o que lhe eacute
de direito como viver bem em sociedade22
22
Texto extraiacutedo do parecer pedagoacutegico da aluna indiacutegena surda que estuda na Escola de Aacuteudio e Comunicaccedilatildeo
Pe Paulo MannaParintinsAm (ANEXO D)
64
A partir das consideraccedilotildees tecidas no parecer pedagoacutegico torna-se evidente ema
necessidade de ampliar e aprofundar as reflexotildees sobre a inclusatildeo de iacutendios surdos em vaacuterios
espaccedilos da sociedade especialmente no espaccedilo educacional escolar Ou seja haacute necessidade
tambeacutem de poliacuteticas linguiacutesticas voltada para esse acircmbito
Nesse sentido eacute necessaacuterio que se tenha como meta uma tomada de decisotildees poliacuteticas
para que gradativamente se possa controlar a situaccedilatildeo de aprendizagem do surdo no processo
soacutecio cultural onde ele estiver inserido Ateacute por que existe uma proposta educativa
intercultural de modo biliacutengue no contexto indiacutegena Assim surge a necessidade de accedilotildees
objetivas para garantir na praacutetica esta proposta de ensino a fim de enriquecer o indiacutegena
surdo com desenvolvimento da liacutengua de sinais como veiacuteculo de comunicaccedilatildeo acrescendo
seus conhecimentos a partir do pluralismo cultural uma vez que estaacute amparado por
legislaccedilotildees especiacuteficas
Reitera-se a necessidade de accedilotildees objetivas especialmente no que tange a formaccedilatildeo
especiacutefica de professores pois mesmo com a garantia da legislaccedilatildeo a presente realidade
desses sujeitos estaacute distante do contexto sociocultural-linguiacutestico do ser iacutendio surdo A
exemplo disso tem-se outra realidade sociocultural-linguiacutestico do segundo aluno indiacutegena
surdo de 24 anos que foi transferido de uma escola que desenvolve atividades educacionais
especiacuteficas para outra no processo denominado de educaccedilatildeo inclusiva onde cursa o nono ano
do ensino fundamental das seacuteries finais e faz atendimento na sala de recurso porque os
professores das disciplinas do curso natildeo tecircm formaccedilatildeo para acompanhaacute-lo
Os relatos da famiacutelia indicam que o aluno nasceu na aacuterea indiacutegena de Ponta Alegre
poreacutem muito pequeno sua famiacutelia mudou-se para zona urbana municiacutepio de Parintins o qual
cresceu longe de sua cultura indiacutegena desconhecendo assim a liacutengua de sua etnia Este eacute um
caso que promove o desaparecimento de liacutenguas indiacutegenas o conhecido deslocamento
sociolinguiacutestico
Para entender o processo que instaura este deslocamento linguiacutestico ressalta-se que
primeiramente a educaccedilatildeo da pessoa perpassa pelo uso da liacutengua materna no ambiente
familiar nas relaccedilotildees famiacuteliares na qual utiliza uma comunicaccedilatildeo intra e extrafamiliar Se a
famiacutelia mantiver sua liacutengua nativa em uso os membros da mesma permaneceratildeo biliacutengues
Poreacutem se a famiacutelia por pressatildeo social do uso da liacutengua dos falantes da sociedade local seja
porque deseja se adequar ao meio onde se insere a liacutengua no caso indiacutegena entra no processo
de esquecimento para as geraccedilotildees vindouras
65
Eacute o caso do aluno acima que eacute biliacutengue (Liacutengua Brasileira de Sinais e Liacutengua
Portuguesa na modalidade escrita) contudo desconhece sua raiz cultural a liacutengua de sua
etnia Seu contexto educacional eacute baseado em ldquomodelo de escola inclusivardquo o aluno vai para
sala de aula com alunos ouvintes onde a liacutengua portuguesa eacute a liacutengua padratildeo a ser ensinada e
estudada e posteriormente faz atendimento na sala de recurso em sua liacutengua natural Libras
Logo a escola pode ajudar no incentivo favorecendo a revitalizaccedilatildeo da liacutengua
indiacutegena no contexto educacional Para isso haacute necessidade de um corpo docente com a
formaccedilatildeo em Liacutengua indiacutegena e Liacutengua Brasileira de Sinais aleacutem da Liacutengua Portuguesa que eacute
usada como a base de ensino
Jaacute na comunidade Uiacurapaacute da etnia Maweacute encontramos outra realidade de contexto
de um surdo indiacutegena Todavia natildeo foi possiacutevel fazer um acompanhamento mais preciso
sobre sua situaccedilatildeo educacional escolar O uacutenico dado correspondente agrave questatildeo linguiacutestica eacute o
modo como ele se comunica conforme foi relatado por membros da comunidade local se
caracteriza pela utilizaccedilatildeo de gestos criados para se fazer compreender Desta forma diante da
ausecircncia de uma liacutengua estruturada a Libras por fazer uso somente de gestos ele apresenta
dificuldades de entender o ensino e de se comunicar com seus pares Da mesma forma ocorre
no contexto familiar e na comunidade uma vez que o aluno surdo vive quase que isolado
devido ao preconceito existente ateacute mesmo pela proacutepria comunidade por natildeo o entenderem e
nem saberem qual a forma para se comunicar aquele indiviacuteduo Assim ele vive em uma
situaccedilatildeo de rejeiccedilatildeo e marginalizaccedilatildeo estabelecida a partir da ausecircncia de uma liacutengua que
promova a comunicaccedilatildeo com o predomiacutenio de um processo de estigmatizaccedilatildeo deste sujeito
surdo
No municiacutepio de Maueacutes Boa Vista do Ramos os iacutendios surdos localizados satildeo de
idade adulta natildeo tiveram a oportunidade de frequentar escola Portanto sua realidade
linguiacutestica fundamenta-se somente na forma gestual que denominam de caseira atribuindo
significados peculiares de seu contexto local No que diz respeito ao aspecto educacional as
pessoas contatadas demonstraram apenas uma preocupaccedilatildeo sobre a existecircncia futura de
possiacuteveis iacutendios surdos nesses municiacutepios e sua formaccedilatildeo educacional Contudo natildeo
afirmaram o que fariam se encontrassem outros sujeitos com essa necessidade de
comunicaccedilatildeo
Como jaacute mencionado natildeo haacute registro sobre a situaccedilatildeo linguiacutestica e educacional de
nenhum iacutendio surdo da etnia Satereacute-Maweacute nos municiacutepios de Nhamundaacute Satildeo Sebastiatildeo do
Uatumatilde e de Urucaraacute Portanto as informaccedilotildees educacionais natildeo satildeo apresentadas nestes
contextos
66
43 Inventaacuterio de gestos da linguagem caseira dos surdos Satereacute-Maweacute
A presente pesquisa baseia-se em um meacutetodo de estudos de etnografia com o intuito
de descrever e observar os gestos caseiros que os indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute usam para se
comunicarem com seus pares nas comunidades onde residem O meacutetodo tambeacutem ajuda a
conhecer a identidade e sua interaccedilatildeo no meio da comunidade visto haacute uma diversidade
linguiacutestica rica usada pelos surdos indiacutegenas nas diversas localidades percorridas pelo
pesquisador na microrregiatildeo de Parintins
431 Os sinais caseiros de indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute
O objetivo do mapeamento eacute coletar os sinais caseiros ou emergentes para que esses
sinais possam ser reconhecidos e compreendidos pela sua comunidade como meio linguiacutestico
de comunicaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo de sua cultura
Para a concretizaccedilatildeo do mapeamento foi necessaacuterio a pesquisa de campo na
comunidade onde se fazia presente o indiacutegena surdo para as devidas observaccedilotildees
432 O Municiacutepio de Parintins
No municiacutepio de Parintins foi localizado trecircs (03) indiacutegenas surdos com suas
caracteriacutesticas linguiacutesticas diferenciadas de suas origens sendo que dois indiacutegenas residem na
zona urbana e um indiacutegena localizado na comunidade de Uaicurapaacute os quais foram o objeto
investigativo para a coleta de dados Os registros foram feitos de forma diferenciada de modo
que primeiramente conversei com as lideranccedilas indiacutegenas acompanhado de inteacuterprete e guia
linguiacutestico Durante este encontro foram feitas no local observaccedilotildees visuais sendo que em
alguns casos realizamos registros de imagens filmagens e entrevistas Eacute importante destacar
que os registros soacute puderam ser feitos quando permitidos pelos sujeitos da pesquisa ou pela
lideranccedila prevalecendo em sua maior parte a observaccedilatildeo visto que materiais tecnoloacutegicos e
de miacutedias causavam incocircmodo aos entrevistados fazendo com que se tornassem
incomunicaacuteveis quando percebiam que estavam sendo monitorados
67
4321 O primeiro surdo
Esse primeiro indiacutegena possui surdez moderada Eacute um senhor com idade de 72 anos
residente no Uiacurapaacute23
O contato foi feito na Casa do Iacutendio de Parintins Em uma
conversaccedilatildeo informal explicou que perdeu a audiccedilatildeo com o tempo eacute oralizado24
e se
comunica com a comunidade na liacutengua nativa Satereacute-Maweacute Trata-se de um cidadatildeo calmo
fala apenas de suas necessidades visto que natildeo se manifesta muito devido suas limitaccedilotildees
auditivas que dificultam uma melhor compreensatildeo
Como referido o surdo em questatildeo tem surdez moderada Neste sentido observa-se
que a surdez ocorre de acordo com diferentes classificaccedilotildees quanto ao niacutevel de perda auditiva
Ou seja
Quanto ao grau - leve (perda de 26 a 40 dBNA) - moderada (perda de 41 a 55
dBNA) - moderadasevera (perda de 56 a 70 dBNA) - severa (perda de 71 a 90
dBNA) - profunda (a partir de 91 dBNA) (RUSSO e SANTOS 1988 apud
NADER 2011 p 2)
Retomando a histoacuteria do sujeito surdo em questatildeo observa-se que ele reside na zona
rural no Uiacurapaacute com seus parentes e sua sobrevivecircncia eacute atraveacutes do que planta e pesca
Observando-o percebo que o mesmo tem uma vida normal com seus pares o que falta para
uma interaccedilatildeo mais ativa na comunidade eacute estimulo e o incentivo linguiacutestico pois muitas
pessoas satildeo impacientes e acabam deixando-o isolado linguisticamente
4322 O segundo surdo
Eacute um indiacutegena natural de Ponta Alegre25
concluiu o ensino fundamental em uma
escola puacuteblica no municiacutepio de Parintins Sua surdez foi percebida por seus pais ainda
crianccedila causada por doenccedila congecircnita A famiacutelia mudou-se para o municiacutepio de Parintins em
busca de uma melhor educaccedilatildeo para filho surdo entretanto os pais eram usuaacuterios da Liacutengua
Satereacute-Maweacute mas natildeo mais praticam pela influecircncia da Liacutengua Portuguesa e tambeacutem natildeo 23 Rio que fica interliga com Rio Paranaacute do Ramos ndash Parintins (AZEVEDO 2014) 24
O modelo cliacutenico-terapecircutico baseia-se numa visatildeo patoloacutegica de surdez e num modelo individual de
atendimento aacute diversidade que tem como referecircncia o Oralismo O oralismo eacute uma filosofia educacional para
surdos cujo discurso propotildee a superaccedilatildeo da surdez e a aceitaccedilatildeo social do surdo por meio da oralizaccedilatildeo Em
outras palavras este modelo defende o aprendizado apenas da Liacutengua Portuguesa na sua modalidade oral e
escrita na escola por entender que esta eacute a uacutenica possibilidade de integrar o surdo na sociedade majoritaacuteria
ouvinte (SLOMSKI 2010 p 32) 25
A comunidade de Ponta Alegre situa-se no Rio Andiraacute com 4 horas de viagem de lancha para chegar a
comunidade (AZEVEDO 2014)
68
frequentam a comunidade Satereacute-Maweacute em busca de assistecircncia ou outros meios oferecidos
pela tribo Portanto a famiacutelia cresceu e disseminou deixando de lado a liacutengua nativa e
tradiccedilatildeo indiacutegena vivendo uma vida regular na zona urbana
O surdo hoje com 20 anos natildeo conhece a liacutengua nativa de sua comunidade se
comunica fluentemente com a Liacutengua de Sinais escreve o Portuguecircs e se oraliza na
comunicaccedilatildeo com seus pais que tambeacutem natildeo sabem a Liacutengua de Sinais
Atraveacutes de sua histoacuteria eacute possiacutevel perceber que este sujeito surdo por estudar em
escola inclusiva com forte influecircncia a oralista desenvolveu as duas linguas a Liacutengua
Brasileira de Sinais e a Liacutengua Portuguesa Poreacutem sua situaccedilatildeo eacute diferente de outros
indiacutegenas surdos que residem nas comunidades que usam os sinais caseiros para se
comunicarem Isso acaba sendo uma observaccedilatildeo abstrata da realidade entre os surdos que
moram na zona urbana e na comunidade Satereacute-Maweacute
4323 O terceiro surdo
Eacute uma crianccedila de 5 anos descendente da etnia Satereacute-Maweacute estuda em uma escola
filantroacutepica em Parintins Trata-se de uma aluna inteligente que demonstrava timidez na
presenccedila de pessoas estranhas Verificou-se que ela consegue aprender e identificar os objetos
apresentados para que identificasse Aos 4 anos antes de entrar para a escola utilizava alguns
sinais caseiros para se comunicar com seus familiares Na sala de aula o ensino oferecido a
ela eacute o biliacutengue26
tendo a Liacutengua Brasileira de Sinais e a Liacutengua Portuguesa compondo essa
educaccedilatildeo O ensino nessa instituiccedilatildeo vai ateacute a 5ordf serie Por esta razatildeo a aluna futuramente
precisaraacute ser transferida para uma escola de ensino fundamental
Tabela 2 11 Sinais caseiros utilizados pela crianccedila indiacutegena surda de 5 anos e seus
familiares
26
O Bilinguismo eacute uma filosofia de ensino cujo discurso propotildee a diversidade cultural e a aceitaccedilatildeo social do
surdo por meio do bilinguismo (duas liacutenguas Liacutengua de Sinais e segunda liacutengua) Essa filosofia concebe o surdo
como um ser diferente e a surdez como ldquoatributo humanordquo como uma caracteriacutestica da pessoa surda resultado
de uma deficiecircncia orgacircnica que natildeo se esgota nela mesma (SKLIAR 1997 apud SLOMSKI 2010 p 41)
SINAIS CASEIROS DESCRICcedilAtildeO
AacuteGUA Matildeo direita com o dedo polegar fazendo a expressatildeo de beber aacutegua
BRINCAR As duas matildeos fechadas batendo as pontas dos dedos em
movimento
BANHEIRO Matildeo direita mostra o local e a esquerda eacute posicionada na barriga
COMIDA As duas matildeos abrindo e fechando repetidamente proacuteximo da boca
DORMIR As duas matildeos com as palmas juntas encostar-se ao rosto com
expressatildeo de querer dormir
69
Fonte AZEVEDO (2014)
Figura 2 Sinais caseiros utilizado pela crianccedila de 5 anos
FOME Matildeo direita indo em direccedilatildeo da barriga fazendo expressatildeo facial de
fome
MAtildeE Matildeo direita aberta no rosto fazendo movimento nos dedos com
expressatildeo chamativa
IRMAtildeO Matildeo direita batendo no antebraccedilo para chamar atenccedilatildeo
PAI Matildeo direita com os dedos pegando o queixo
PESSOA Matildeo direita com dedo indicador fazendo expressatildeo de algueacutem
CHORAR As duas matildeos fechadas com os dorsos esfregando nos olhos
AacuteGUA BRINCAR
COMIDA DORMIR FOME
MAtildeE IRMAtildeO PAI
BANHEIRO
70
44 O indiacutegena surdo da Comunidade de Ponta Alegre do municiacutepio de Barreirinha
Foi localizado um aluno surdo na comunidade de Ponta Alegre que faz parte do
municiacutepio de Barreirinha trata-se de um jovem de 13 anos que estuda na Escola Municipal
Rosa Cabral e mora em uma aldeia mais distante a observaccedilatildeo foi feita na escola Nessa
viagem foi obtido a autorizaccedilatildeo de viagem para a aldeia na Secretaria de Educaccedilatildeo Municipal
de Barreirinha por meio do contato com o coordenador geral do setor indiacutegena daquela aacuterea
o senhor Santino Lopes que muito contribuiu com o projeto e de servir como guia de
viagem
O devido aluno estuda na 3ordf Serie do ensino fundamental De acordo com as
observaccedilotildees feitas O ensino predominante na sala para o ensino deste aluno eacute a Liacutengua
Portuguesa visto que os professores em sua maioria vem do municiacutepio de Barreirinha
Embora o ensino seja bem aplicado e a escola dispotildee de material didaacutetico apropriado para a
seacuterie natildeo haacute metodologia de ensino especializado para surdo natildeo existindo Sala de
Recursos27
O aluno aprende lentamente demonstrando dificuldades de entender os
conteuacutedos
A comunicaccedilatildeo com seus professores e colegas soacute acontecem atraveacutes de sinais
caseiros e expressotildees manuais O aluno surdo vive quase que isolado sem ter a possibilidade
de estabelecer uma comunicaccedilatildeo satisaftoacuteria dentro do contexto escolar devido ao
27
Uma das inovaccedilotildees trazidas pela Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Especial na Perspectiva da Educaccedilatildeo
Inclusiva (2008) eacute o Atendimento Educacional Especializado ndash AEE um serviccedilo da educaccedilatildeo especial que []
identifica elabora e organiza recursos pedagoacutegicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena
participaccedilatildeo dos alunos considerando suas necessidades especiacuteficas
O AEE complementa eou suplementa a formaccedilatildeo do aluno visando a sua autonomia na escola e fora dela
constituindo oferta obrigatoacuteria pelos sistemas de ensino Eacute realizado de preferecircncia nas escolas comuns em um
espaccedilo fiacutesico denominado Sala de Recursos Multifuncional Portanto eacute parte integrante do projeto poliacutetico
pedagoacutegico da escola (BRASIL 2008 p 3)
CHORAR PESSOA
71
preconceito existente Ateacute mesmo na proacutepria comunidade por natildeo entenderem e nem saberem
de que forma comunicarem-se com o mesmo a situaccedilatildeo de exclusatildeo se repete
Vale destacar que diante desta ausecircncia da qualidade de ensino para o aluno surdo a
professora Maria Inecircs ao responder um questionaacuterio segue algumas afirmativas para mudar
esta realidade Desta forma a educadora afirma que
- Eacute muito importante a capacitaccedilatildeo em cursos de libras e livros didaacuteticos proacuteprios
como forma de melhorar o ensino e a comunicaccedilatildeo com aluno surdo na
comunidade como parte da educaccedilatildeo inclusiva para facilitar o ensino e
aprendizado acima de tudo conhecer sua liacutengua materna identidade do povo
Satereacute-Maweacute
Pelo relato do Gestor da Escola Senhor Dulcemar a necessidade jaacute referida pela
educadora acima de materiais didaacuteticos para subsidiar o ensino eacute novamente colocada em
destaque conforme pode ser vislumbrado no relato transcito a seguir
- Eu como gestor sinto-me gratificado pelo trabalho a ser desenvolvido aqui com a
questatildeo da Libras um trabalho realizado pelo professor Marlon Jorge Pois eacute muito
importante devido agrave dificuldade que a educaccedilatildeo Satereacute- Maweacute vem tendo
principalmente quando se trata de alunos surdos indiacutegenas e ateacute mesmo por falta
de material didaacutetico Esse trabalho vai ser importante aqui na aacuterea indiacutegena para
ajudar o professor na sala de aula como ensinar como educar e como lidar com
esses alunos com necessidades especiais Entatildeo eacute um trabalho muito importante
pra noacutes e estamos aqui a disposiccedilatildeo e tambeacutem para contribuir como gestor da
escola juntamente com os professores e pra noacutes eacute muito bom esse trabalho e que o
Sr possa desenvolver esse seu projeto essa cartilha que com o aacutepice das aulas de
libras que com certeza vai fortalecer muito mais a educaccedilatildeo do povo Satereacute
Maweacuterdquo
Tabela 313 sinais caseiros coletados e utilizados pelo aluno da comunidade de Ponta Alegre
Fonte Azevedo (2014)
SINAIS CASEIROS DESCRICcedilAtildeO
AacuteGUA Usa as duas matildeos fazendo impressatildeo de beber alguma coisa
BARCO Usa-se a matildeo direita aberta em posiccedilatildeo vertical fazendo uma
expressatildeo da accedilatildeo do barco
BANHO Fazer a expressatildeo de pular na aacutegua com os braccedilos esticados
BANHEIRO Matildeo direita usando o indicador fazendo expressatildeo sair fora sala
COMIDA Matildeo esquerda aberta matildeo direita usando como o objeto metaacutelico
COBRA Usando os dedos da matildeo direita beliscando o pulso da matildeo esquerda
ESCOLA Faz-se o sinal de casa
ESTUDAR Faz a expressatildeo de escrever
FOME Matildeo direita levando em direccedilatildeo da barriga fazendo expressatildeo facial
de fome
FARINHA As duas matildeos palmas para baixo fazendo a expressatildeo de esfarelar
alguma coisa
LANCHA Usa a matildeo direita palma para cima fazendo uma accedilatildeo da rapidez
para frente
PEIXE Matildeo direita fazer a expressatildeo de caccedilar o peixe com o arpatildeo
PESSOA Matildeo direita com dedo indicador fazendo expressatildeo de algueacutem
72
Figura 3 Sinais caseiros utilizados pelo aluno da comunidade de Ponta alegre ndash
Barreirinha
AacuteGUA BARCO
BANHEIRO
BANHO
COMIDA
ESCOLA
FOME LANCHA PESCAR PEIXE
ESTUDAR FARINHA
COBRA
73
45 Os indiacutegenas surdos do Municiacutepio de Maueacutes
Situado entre os rios Madeira e Tapajoacutes o municiacutepio de Maueacutes estaacute localizado no
Meacutedio Amazonas que hoje eacute denominado como microrregiatildeo aacuterea leste do Estado Distante
de Manaus cerca de 30 km em linha reta ou o equivalente 45 minutos por via aeacuterea estando
a 356 km por via fluvial cerce de 16 a 18 horas de barco
Nesse municiacutepio foi realizado duas viagens com a finalidade de fazer um mapeamento
das aacutereas indiacutegenas bem como descobrir a existecircncia de surdos nas aldeias O primeiro
contato foi na Secretaria de Educaccedilatildeo do municiacutepio primeiramente me apresentado como
aluno pesquisador juntamente com os documentos comprobatoacuterios de acesso para realizar a
pesquisa nas aacutereas indiacutegenas As informaccedilotildees que tinha antes de estabelecer o contato
apontavam para a existecircncia de alunos indiacutegenas surdos matriculados na sede do municiacutepio
Poreacutem a secretaria informou desconhecer a existecircncia de alunos indiacutegenas matriculados na
rede publica do municiacutepio nem saber sua localizaccedilatildeo para contatos sendo orientado a
procurar na Casa do Estudante Indiacutegena Satereacute-Maweacute que se localiza em um bairro mais
distante dali
Chegando ao SESAI - Secretaria de Sauacutede Indiacutegena obtivemos acesso agraves informaccedilotildees
devido ao fato de que a pessoa responsaacutevel estava em viagem sendo que retornaria na outra
semana Em outra busca formos agrave Casa do Estudante Satereacute-Maweacute onde conversamos com o
coordenador Sr Jusivam que disse saber da existecircncia de indiacutegenas surdos nas comunidades
na Marau e Andiraacute mas natildeo ter dados quantitativos devido ao fato deles natildeo terem procurado
a Casa do Estudante em busca de assistecircncia que auxiliassem sua integraccedilatildeo em escolas
regulares ou inclusivas Observa-se que a Casa do Estudante podia auxiliar eles a
conseguirem uma escola para estudarem na zona urbana jaacute que esta eacute uma das atribuiccedilotildees da
instituiccedilatildeo
Ao sermos informados que as comunidades onde havia surdos eram distantes e
necessitava de apresentar outros documentos da Coordenaccedilatildeo Geral de Educaccedilatildeo que ficava
no municiacutepio de Barreirinha Tambeacutem se fazia necessaacuterio preparar uma programaccedilatildeo de
viagem para que pudessemos chegar ateacute aquela localidade de modo que nesta precisava
inclusive organizar para ter inteacuterpretes que falassem a liacutengua Satereacute-Maweacute e inteacuterpretes de
Libras Aleacutem destes precisava contar com um acompanhante para registrar as imagens e
filmagens se autorizadas anotando tudo que fosse necessaacuterio
Fazendo uma reflexatildeo sobre a viagem e os entraves que tinhamos pela frente para a
concretizaccedilatildeo do projeto e as distacircncias geograacuteficas para alcanccedilar os objetivos da pesquisa
74
Contudo ao encontrar um surdo indiacutegena sendo o principal objeto da pesquisa em funccedilatildeo da
grande satisfaccedilatildeo de poder contribuir para o desenvolvimento linguiacutestico dos indiacutegenas surdos
e para que a comunidade compreenda como um ser incluiacutedo a partir do respeito a sua cultura
inserindo em seus modos e haacutebitos foi compensador enfrentamos todos os obstaacuteculos
Visitamos a Universidade do Estado do Amazonas ndash UEA onde tivemos a grata
surpresa de saber que havia uma turma de formaccedilatildeo em licenciatura Indiacutegena para a
comunidade Esperamos a aula acabar para falar com o professor o qual pediu para vir outro
dia para conversar com os alunos Foi nessa ocasiatildeo que conhecemos trecircs professores com os
quais fizemos um acordo para que na proacutexima viagem me levassem para a aldeia a fim de
realizar o mapeamento
Voltando para Parintins foi elaborado um roteiro para viagem a aacuterea indiacutegena Satereacute-
Maweacute pelos rios Maueacutes-Accedilu Rio MarauUrupadi A viagem aconteceu no dia 02 de
fevereiro de 2014 saindo de barco de Parintins indo ateacute o municiacutepio de Maueacutes No dia
seguinte as 8 horas acompanhado do professor Jesiel pegamos uma voadeira de 150HP com
destino ao territoacuterio Satereacute-Maweacute Foi uma viagem perigosa devido agraves condiccedilotildees dos rios e de
difiacutecil acesso para chegarmos laacute Todavia fizemos um esforccedilo e conseguimos nos deslocar ateacute
a comunidade Percorremos de voadeira uma viagem que durou aproximadamente 8 horas
pelo Rio Maueacutes Accediluacute Depois de uma hora e meia de viagem chegamos ao Rio Urupadi e
seguimos mais uma hora e meia de viagem ateacute a comunidade indiacutegena Vale do Quiinha
Nessa aldeia pegamos o professor Jacob Santos de Souza que nos acompanhou para a
proacutexima aldeia Ilha Michiles que fica no Rio Marau Nessa aldeia pegamos outro professor
Satereacute-Maweacute Jocimar Alencar dos Santos Saiacutemos da Ilha Michiles com destino a
comunidade Santa Maria que fica na divisa do Rio Urupadi e Manjuru A cada visita que
faziamos nas comunidades indiacutegenas percebemos no cotidiano a diversidade presente nas
aacutereas indiacutegenas Satereacute-Maweacute Ao perguntar se havia algueacutem surdo na famiacutelia e a resposta
sempre vinha de forma afirmativa o que me demonstrou que todos os esforccedilos para realizar a
viagem foram compensados diante da riqueza de dados coletados
A primeira iniciativa adotada com relaccedilatildeo a esse momento foi reunir com os
comunitaacuterios envolvidos nas atividades escolares A reuniatildeo teve como objetivo observar e
entrevistar alguns indiacutegenas para posteriormente analisar como se procede agrave comunicaccedilatildeo
entre indiacutegenas surdos e ouvintes A reuniatildeo foi muito uacutetil para os estudos e anaacutelise de
informaccedilotildees Os surdos existentes na comunidade nunca estudaram devido agrave comunidade
Santa Maria ficar distante da zona urbana e a escola existente para alunos ouvintes ficar em
75
outra comunidade o que inviabiliza a ida deles sendo que tambeacutem natildeo haacute professores
especializados para atenderem a clientela surda existente no Rio Marau
Encontramos dois indiacutegenas surdos na comunidade de Santa Maria que foram objeto
de estudos No entanto houve informaccedilotildees repassadas de que haacute outros trecircs surdos em outras
comunidades mais distante na mesma aacuterea Satereacute-Maweacute A visita para contactar estes outros
trecircs surdos ficou para a proacutexima viagem de observaccedilatildeo e coleta dos dados
451 O primeiro surdo da Comunidade de Santa Maria
No contato e observaccedilatildeo que tivemos com o surdo o mais novo tem 24 anos mora
com a famiacutelia natildeo conhece nenhuma liacutengua se comunica com gestos e sinais caseiros A
comunidade assim com a famiacutelia demosntrou pouco se importar com ele de forma que natildeo
haacute estiacutemulo ou interesse para que haja uma interaccedilatildeo linguiacutestica satisfatoacuteria entre eles
O ponto de encontro com seus colegas fica na parte central da comunidade que tem
um campo de futebol Laacute eles se concentram embaixo de uma aacutervore Neste lugar o surdo
costuma ficar quase diariamente com intuito de se unir e brincar com os colegas Ele usa os
sinais caseiros com expressotildees com a intenccedilatildeo de conseguir se comunicar com os colegas
Poreacutem alguns natildeo conseguem entender enquanto outros falam a Liacutengua Satereacute-Maweacute
Apesar do esforccedilo do surdo de tentar compreender o que eacute falado via a leitura labial na
maioria das vezes natildeo consegue compreender Poreacutem mesmo assim sinaliza balanccedilando a
cabeccedila com expressatildeo de concordacircncia afirmativa mesmo natildeo entendendo a mensagem
Tabela 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa
Maria
SINAIS CASEIROS
COLETADOS
DESCRICcedilAtildeO
AacuteGUARIO Usam-se as duas matildeos fazendo a expressatildeo de banzeiro
ANTA Matildeo direita fazendo a expressatildeo do focinho do nariz
AacuteRVORE As matildeos abertas fazendo expressatildeo de segurar o troco ao mesmo tempo
levando para cima
BARCO Usa a matildeo direita fechada fazendo expressatildeo de abrir e fechar a matildeo
como sinal de fumaccedila
BANHO Fazer a expressatildeo de pular na aacutegua com os braccedilos esticados
CASA As duas matildeos palmas para baixo fazendo um balanccedilo de movimento de
uma rede
CACcedilAR PEIXE Matildeo direita fazer expressatildeo de soltar o arpatildeo
CUIA As duas matildeos juntas fazer a expressatildeo de raspar a cuia
COCO Fazer a expressatildeo de tirar o coco com a vara
COMIDA As duas matildeos levando ateacute a boca
76
Fonte Azevedo (2014)
Figura 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa Maria
(30 sinais coletados)
COBRA Matildeo direita fazendo a expressatildeo da picada da cobra
FACA Matildeo direita fachada fazendo a expressatildeo de furar alguma coisa para
baixo
FLECHA Fazer a expressatildeo de jogar a flecha
FORMIGA Matildeo direita com os dedos beliscando o braccedilo esquerdo
FOME Matildeo direita levando em direccedilatildeo da barriga fazendo expressatildeo facial de
fome
FARINHA As duas matildeos fazer a expressatildeo de fazer farinha
GUARANAacute Fazer a expressatildeo de ralar o guaranaacute
JACAREacute Os dois indicadores das matildeos fazendo expressatildeo de dentes grandes do
jacareacute
LANCHA As duas matildeos dedos juntos fazer a expressatildeo de uma accedilatildeo raacutepida para
frente
MACACO Com braccedilos abertos fazer a expressatildeo de macaco
MALOCA As duas matildeos com os dedos encostados puxar para os lados opostos
MANDIOCA Fazer expressatildeo de descascar algum
ONCcedilA Com as matildeos fazer pintas no rosto
PAI As duas matildeos esfregando os indicadores
PEIXE Faz se expressatildeo de descamar o peixe
PILAtildeO As duas matildeos juntas fazendo a expressatildeo de socar a crueira
POTE AacuteGUA As duas matildeos juntas palmas para cima elevando para cima em curvas
onduladas
PASSAacuteRO As duas matildeos fazendo o movimento de paacutessaro
PESSOA Matildeo direita fazendo a expressatildeo de pegar no cabelo
TIPITI As duas matildeos fazendo a expressatildeo de espremer algum
PENEIRAR As duas matildeos em forma letra A fazer expressatildeo de balanccedilar o objeto
AacuteGUA ANTA AacuteRVORE
VIAGEM BANHO
77
VIAJAR
CASA CACcedilAR ALIMENTO CUIA
COCO COMIDA
FACA
FARINHA
FORMIGA
GUARANAacute
FOME
FACA
FLECHA
78
JACAREacute LANCHA
MACACO
MANDIOCA ONCcedilA
MALOCA PAI
POTE DE AacuteGUA PILAtildeO
LANCHA JACAREacute
PEIXE
79
452 O segundo surdo da Comunidade de Santa Maria
O segundo surdo visitado um senhor adulto com identidade natildeo revelada residindo na
Comunidade de Santa Maria Eacute um cidadatildeo reservado e fechado para desconhecidos Como
nossa equipe era composta de 05 profissionais sendo 03 (trecircs) professores indiacutegenas que me
acompanharam para serem facilitadores linguiacutesticos e um colaborador local para captar as
imagens ficarmos 04 (quatro) dias na comunidade para observaccedilotildees Apesar do tempo o
investido para conseguir o contato o mesmo se mostrou irredutiacutevel e natildeo se dispos a
conversar conosco Observa-se que mora sozinha e eacute raro ele se manifestar na comunidade
Pela histoacuteria contada a seu respeito apesar de natildeo se comunicar manteacutem sua residecircncia de
maneira organizada cultiva de algumas plantaccedilotildees como mandioca banana guaranaacute aleacutem de
produzir farinha tambeacutem faz pescaria para se alimentar Foi relatado que ajuda alguns
vizinhos e amigos com o que produz aleacutem de ser experiecircncia em matildeo de obra na confecccedilatildeo
de trepadeira silvestre que facilita subir nas aacutervores coqueiros e accedilaizeiros
PASSAacuteRO PESSOA COBRA
TIPITI PENEIRAR
80
Sobre o contexto educacional tendo como tema central a educaccedilatildeo escolar indiacutegena
o professor Jesiel (2014)28
(que eacute indiacutegena e concluiu o curso de pedagogia intercultural na
Universidade do Estado do Amazonas localizado no municiacutepio de Maueacutes) argumentou que o
territoacuterio Satereacute-Maweacute eacute muito grande sendo longa a distacircncia para se chegar na zona
urbana ateacute de forma que mesmo o deslocamento de uma comunidade para outra dificulta os
indiacutegenas irem para a escola Estas segundo o educador referido satildeo algumas razotildees que
impedem muitos indiacutegenas de estudarem na medida em que acarreta prejuiacutezo para a famiacutelia
especialmente de perda de tempo principalmente para os adultos que tem compromisso no
campo e com a comunidade
Para solucionar este problema devido a distacircncia as famiacutelias e os liacutederes indiacutegenas
possuem propostas e lutas para a construccedilatildeo de escolas nas aldeias o que facilitaria o acesso
dos surdos indiacutegenas da comunidade na escola E ao considerar que o indiacutegena surdo
compreende e se comunica com seus pares atraveacutes de gestos e sinais caseiros de forma que
aleacutem de sua liacutengua nativa haacute outros meios para que o surdo possa se comunicar isso aponta
para a necessidade da criaccedilatildeo de propostas de acesso agrave educaccedilatildeo dessas pessoas Dessa
maneira foram catalogados alguns sinais utilizados por esse surdo adulto da Comunidade de
Santa Maria apresentado abaixo
Tabela 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais antigo residente isolado na
comunidade de Santa Maria no Rio Marau ( 18 sinais coletados)
28
As famiacutelias e os liacutederes indiacutegenas possuem propostas e lutas para a construccedilatildeo de escolas nas aldeias para a
facilitaccedilatildeo do acesso dos surdos indiacutegenas na comunidade e na escola O indiacutegena surdo apesar de natildeo ouvir
compreende e comunica com seus pares atraveacutes de gestos e sinais caseiros que aleacutem de sua liacutengua nativa haacute
outros meios para que o surdo possa se comunicar Isso contribui para a criaccedilatildeo de propostas de acesso agrave
educaccedilatildeo dessas pessoas Dessa maneira foram catalogados alguns sinais utilizados por esse surdo adulto da
Comunidade de Santa Maria apresentado abaixo
A contribuiccedilatildeo do professor indiacutegena Jesiel Santos foi de suma importacircncia para a coleta de dados nesta
pesquisa visto que atraveacutes dele que conseguimos chegar ateacute a comunidade de Santa Maria afim de termos os
contatos na comunidade
SINAIS CASEIROS DESCRICcedilAtildeO
ARCOFECHA As duas matildeos com expressatildeo de utilizar um arco com flecha
AacuteGUA Matildeo direita com utilizando somente o dedo polegar fazer a expressatildeo de
beber algum
BANHO Os braccedilos e matildeos esticadas fazer a expressatildeo de se soltar no rio
BEIJU As duas matildeos fazendo um circulo e em seguida levar ateacute a boca
CIGARRO A posiccedilatildeo para traduzir este sinal satildeo as duas matildeos em posiccedilatildeo dos dedos
polegar e indicador juntos fazendo expressatildeo de fazer um cigarro caseiro
CASA As duas matildeos com os dedos esticados fazer a expressatildeo de formato de uma
casa
COBRA A matildeo direita com os dedos indicador e polegar encostados fazer a expressatildeo
de beliscar o pulso de antebraccedilo
FARINHA Matildeos com os dedos todos juntos fazer a expressatildeo com o movimento de
81
Figura 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo idoso na comunidade de Santa Maria
soltar a farinha
FORNO DE ASSAR Matildeo direita fazendo um semiciacuterculo de com a caracteriacutestica de um forno de
barro
GARREIRA As duas matildeos juntas fazer a expressatildeo repetidamente de amassar uma massa
JACAREacute As duas matildeos pegando os dentes
LUVA DA TUCANDEIRA Fazendo a expressatildeo de usar uma luva de palha e fazer a expressatildeo de dor da
ferrada da tucandeira
MANDIOCA Usar o antebraccedilo esquerdo com a matildeo direita como um material cortante
fazendo a expressatildeo de descascar
MACACO Os dois braccedilos e corpo fazendo a expressatildeo do movimento caracteriacutestico do
macaco
PAJEacute As duas matildeos fazendo a expressatildeo de segurar algum e balanccedilar
PAacuteSSARO Fazer a expressatildeo de balanccedilar os braccedilos caracterizando o movimento de um
paacutessaro
TIPITI As duas matildeos fazendo o movimento de espremer a mandioca
TERRASOLO Matildeo direita fazendo expressatildeo de um pequeno monte de terra
ARCOFECHA BEBER
LIacuteQUIDOAacuteGUA
BEIJUCOMER COBRA
FARINHA FERRADA DA TUCANDEIRA MALOCACASA ESCOLA
ARCOFLECHA BEBER LIQUIDOAacuteGUA BANHOPULAR NA AacuteGUA
AacuteAacuteGUA
CIGARRO
82
FORNO DE ASSAR
JACAREacute
LUVA DA TUCANDEIRA MACACO
PAJEacute
TIPITI TERRA
GAREIRA
MANDIOCA
PAacuteSSARO
(( ))
JACAREacute
83
5 ICONICIDADE E ARBITRARIEDADE NA CRIACcedilAtildeO DOS SINAIS CASEIROS
Nos anos 60 a partir dos trabalhos de Stokoe (1960) foi comprovado que as Liacutenguas
de Sinais satildeo linguas Estas satildeo liacutenguas naturais com ldquoestrutura gramatical proacutepria em seus
niacuteveis fonoloacutegico (ou queroloacutegico) morfoloacutegico sintaacutetico e semacircntico aleacutem de seus aspectos
pragmaacuteticosrdquo
De acordo com Quadros (2006 p 221)
pelo fato de as liacutenguas de sinais natildeo serem faladas e de natildeo terem o seu coacutedigo
escrito ainda popularizado entre os surdos natildeo as elimina das consideraccedilotildees
cientiacuteficas visto que apresentam uma organizaccedilatildeo estrutural e fazem parte da
constituiccedilatildeo cultural desses sujeitos ndash crescendo envolvendo e transmitindo
dinamicamente tradiccedilotildees socioculturais Portanto as liacutenguas de sinais fazem parte
do conjunto da linguagem humana com a diferenccedila de se apresentarem em uma
terceira modalidade a visuo-espacial
Reiterando-se que a Liacutengua de Sinais eacute uma liacutengua natural uma vez que estaacute veiculada
a um canal que natildeo eacute o oral-auditivo e sim visual esta garante uma percepccedilatildeo e articulaccedilatildeo
mais faacutecil mais coerente e confortaacutevel aleacutem de contribuir para o desenvolvimento linguiacutestico
cognitivo e social do surdo
Sobre as caracteristicas linguiacutesticas das Liacutenguas de Sinais vale ressaltar que Sousa
(2010) ao tratar dos aspectos visuais quanto agraves propriedades das Liacutenguas de Sinais enfatiza a
iconicidade e arbitrariedade relacionada ao signo linguiacutestico que satildeo inerentes agraves liacutenguas
naturais Sobre as definiccedilotildees dos fenocircmenos das liacutenguas estes remontam a eacutepoca de Platatildeo
filoacutesofo grego que tratava os fenocircmenos sobre a linguagem e a relaccedilatildeo dela com o mundo
Cita-se tambeacutem Craacutetilo Hermoacutegenes e Soacutecrates que foram interlocutores desta relaccedilatildeo
discutindo a ligaccedilatildeo existente entre nome ideia e coisa A abordagem dos trecircs se diferenciava
de forma que Craacutetilo defendia o conceito de iconicidade Hermoacutegenes de arbitrariedade
Soacutecrates por seu turno integrava as duas concepccedilotildees Esta diferenciaccedilatildeo tecido pelos trecircs
filosofos pode ser vislumbrada no trecho transcrito abaixo
Para Craacutetilo a liacutengua eacute o espelho do mundo o que significa que existe uma relaccedilatildeo
natural e portanto similar ou icocircnica entre os elementos da liacutengua e os seres por
eles representados Para Hermoacutegenes a liacutengua eacute arbitraacuteria isto eacute convencional pois
entre o nome e as ideias ou as coisas designadas natildeo haacute transparecircncias ou
similaridade Soacutecrates por sua vez tem o papel de fazer a integraccedilatildeo entre os dois
pontos de vista (WILSON amp MARTELOTTA 2010 apud SOUSA 2010 p 4)
84
A modalidade gestual-visual espacial pela qual a Liacutengua de Sinais eacute produzida e
reconhecida pela comunidade Surda leva muitas vezes as pessoas a pensarem que todos os
sinais satildeo desenho no ar do referente que representam Para melhor esclarecimento por
decorecircncia de sua natureza linguiacutestica a realizaccedilatildeo de um sinal pode sim ser motivada pelas
caracteriacutesticas do dado da realidade a que se refere poreacutem natildeo eacute regra Ou seja a maioria dos
sinais da LIBRAS eacute arbitraacuteria natildeo mantendo relaccedilatildeo de semelhanccedila alguma com seu
referente Portanto essa condiccedilatildeo possibilita o enriquecimento da flexibilidade e versatilidade
da liacutengua (BASSO 2011 p47)
Exemplos de sinais arbitraacuterios
Figura 6 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos que se refere agrave
arbitrariedade
BISCOITO PESSOA DESCULPA
Fonte Azevedo (2014)
A ideia de arbitrariedade da liacutengua se relaciona com a ideia de convenccedilatildeo que se
efetiva em todas as liacutenguas como Liacutengua de Sinais e na Liacutengua Portuguesa ilustra-se o
processo com os exemplos das palavras ldquobiscoitordquo ldquodesculperdquo e ldquopessoardquo O processo de
definiccedilatildeo destes termos ocorre de forma arbitraacuteria pois soacute nomes foram atribuiacutedos devido a
uma convenccedilatildeo que estabelece esse conceito e natildeo porque haacute uma relaccedilatildeo entre o som da
palavra e o objeto que ela designa (SALLES 2007 p 5)
No caso da Libras os exemplos citados de sinais foram criados sem sofrer influecircncia
da imagem dos objetos aos quais eles se referem O que mostra que mesmo que a Libras
tambeacutem apresenta a caracteriacutestica de arbitraacuterios (TEIXEIRA 2015 p 5)
Para compreender melhor a importacircncia da visualidade na Liacutengua de Sinais dos
Satereacute-Maweacute eacute relevante entender trecircs conceitos da teoria de Pierce sobre a iconicidade que
pode ser considerada a base dos sinais dessa comunidade os quais satildeoo siacutembolo o iacutendice e o
iacutecone Segundo Martelotta (2011) (apud TEIXEIRA 2015 p 2)
85
O siacutembolo de acordo com Peirce refere-se a determinado objeto representando-o
com base em uma lei haacutebito ou convenccedilatildeo estabelecendo uma relaccedilatildeo entre dois
elementos Para citar alguns exemplos a cruz eacute o siacutembolo do cristianismo e a
balanccedila o siacutembolo da justiccedila Uma caracteriacutestica importante do siacutembolo relaciona-se
ao fato de que ele eacute parcialmente motivado ou seja haacute entre o siacutembolo e o conteuacutedo
simbolizado alguns traccedilos relacionados ao objeto
Haacute uma diferenccedila fundamental entre o siacutembolo de um lado e o iacutendice e o iacutecone de
outro jaacute que nesses dois uacuteltimos haacute um niacutevel ainda menor de arbitrariedade No caso
do iacutendice ocorre uma relaccedilatildeo de contiguidade com a realidade exterior a fumaccedila
por exemplo eacute o iacutendice do fogo e a presenccedila de nuvens negras o iacutendice de chuva
iminente
O iacutecone por sua vez tem uma natureza imagiacutestica apresentando portanto
propriedades que se assemelham ao objeto a que se refere A fotografia de um
indiviacuteduo por exemplo eacute uma representaccedilatildeo icocircnica desse indiviacuteduo assim como o
mapa do Rio de Janeiro representa a cidade Assim um iacutecone eacute qualquer coisa que
seja utilizada para designar algo que lhe seja semelhante em algum aspecto
Nesta perspectiva Quadros (1997) traz a reflexatildeo sobre os efeitos da modalidade ou
seja o fato de a Liacutengua de Sinais serem visuoespacial em vez de auditiva-oral implica nas
diferenccedilas para a aquisiccedilatildeo do surdo e nesse sentido tem-se a questatildeo da iconicidade das
Liacutenguas de Sinais uma vez que a iconicidade se refere
A transparecircncia entre significado e o significante ou seja a relaccedilatildeo de identidade
entre a palavra (o sinal) e o seu sentido Por exemplo nas liacutenguas faladas agraves
onomatopeias satildeo consideradas por alguns autores como icocircnicas pois a produccedilatildeo
sonora bdquoreal‟ (do objeto ou do animal) eacute reproduzida na fala expressando certa
identidade (QUADROS 2011 p 22)
Vale ressaltar que a iconicidade vem sendo estudada a partir da pesquisa semioacutetica de
Charles Sanders Peirce (1999) filoacutesofo norte-americano contemporacircneo de Saussure
Segundo Teixeira (2015) Peirce em seus estudos sobre a Semioacutetica o signo tem a funccedilatildeo de
proporcionar uma ideia do mundo e tudo que cerca o indiviacuteduo estaacute rodeado de signos Como
explica o filoacutesofo
[] para que algo possa ser um Signo (expressatildeo ou representamento) esse algo
deve bdquorepresentar‟ [] alguma outra coisa chamada seu Objeto apesar de ser talvez
arbitraacuteria a condiccedilatildeo segundo a qual um Signo deve ser algo distinto de seu objeto
(PEIRCE 1999 apud TEIXEIRA 2015 p 5)
Ao direcionar essas definiccedilotildees para agraves liacutenguas de sinais Sousa (2010) afirma que
muitas vezes essas liacutenguas satildeo consideradas puramente icocircnicas por serem de uma
modalidade diferente acreditando-se acredita que os sinais satildeo criados sempre a partir da
86
representaccedilatildeo do referente Eacute certo que um sinal pode ser realizado de acordo com a
caracteriacutestica daquilo que se refere mas de acordo com Strobel amp Fernandes (1998 apud
Sousa 2010 p 4) ldquoisto natildeo eacute uma regra jaacute que a maioria dos sinais em Libras eacute arbitraacuterio ou
seja natildeo manteacutem uma relaccedilatildeo de similitude com o referenterdquo
Reconhece-se que algumas Liacutenguas de Sinais parecem ter maior motivaccedilatildeo icocircnica
apresentando relaccedilotildees entre a sua forma e o seu significado comumente observado nas
Liacutenguas de Sinais caseiras dos Satereacute-Maweacute Isso significa a relaccedilatildeo entre o referente e o
referenciado Alguns estudos como os de Meier (1981) citado por Lillo-Martin (1986)
apontam para uma aparente iconicidade nas liacutenguas de sinais o que justifica considerar as
variaccedilotildees regionais e sociais e as mudanccedilas histoacutericas como fenocircmenos identificaacuteveis na
Liacutengua Brasileira de Sinais o que lhe confere o caraacuteter natural (STROBEL amp FERNANDES
1998 apud SOUSA 2010)
Nesse contexto a iconicidade como caracteriacutesticas semelhantes ao iacutecone tem em
comum o objeto que representa Por ser uma liacutengua de modalidade visuoespacial a
iconicidade estaacute presente em grande parte dos sinais da Libras pois a relaccedilatildeo entre a ldquoformardquo
e o ldquosentidordquo eacute mais visiacutevel Salles (2007) em bdquoEnsino de liacutengua portuguesa para surdos
caminhos para a praacutetica pedagoacutegica‟ comenta
Um aspecto que se sobressai no contraste entre as modalidades viacutesuo-espacial e oral-
auditiva eacute a questatildeo da arbitrariedade do signo linguiacutestico Esse conceito estabelece
que na constituiccedilatildeo do signo linguiacutestico a relaccedilatildeo entre o significante (imagem
acuacutestico-focircnica) e o significado eacute arbitraacuteria isto eacute natildeo existe nada na forma do
significante que seja motivado pelas propriedades da substacircncia do conteuacutedo
(significado) Uma caracteriacutestica das liacutenguas de sinais eacute que diferentemente das
liacutenguas orais muitos sinais tecircm forte motivaccedilatildeo icocircnica Natildeo eacute difiacutecil supor que esse
contraste se explique pela natureza do canal perceptual na modalidade viacutesuo-
espacial a articulaccedilatildeo das unidades da substacircncia gestual (significante) permite a
representaccedilatildeo icocircnica de traccedilos semacircnticos do referente (significado) o que explica
que muitos sinais reproduzam imagens do referente na modalidade oral-auditiva a
articulaccedilatildeo das unidades da substacircncia sonora (significante) produz sequecircncias que
em nada evocam os traccedilos semacircnticos do referente (significado) o que explica o
caraacuteter imotivado ou arbitraacuterio do signo linguiacutestico nas liacutenguas orais (SALLES
2007 p 83)
Todavia os mesmos sinais icocircnicos possuem um grau de arbitrariedade na definiccedilatildeo
dos mesmos como explica Frydrych (2012)
Pode haver contudo sinais com diferentes graus de iconicidade Um sinal pode natildeo
se assemelhar ao objeto que representa pela forma mas apresentar de alguma
forma uma similaridade por meio de expressotildees faciais ou movimentos Um
exemplo eacute o sinal ldquotristerdquo que possui como configuraccedilatildeo de matildeo o sinal Y
localizada abaixo do queixo em movimento de meia lua O sinal nada tem a ver
com o que a palavra representa no entanto a expressatildeo facial de tristeza que
acompanha o sinal daacute indiacutecios de que seu significado pode natildeo ser muito agradaacutevel
87
[] Falar de sinais icocircnicos em Libras pode parecer comum no entanto o sinal de
ldquocasardquo por exemplo motivado pelo formato do telhado de uma casa eacute tambeacutem
usado para o sinal de ldquomorarrdquo que pode ser usado para ldquomoradiardquo em diferentes
formatos de residecircncia como por exemplo casa apartamento cabana etc Embora o
sinal possa ter sido motivado na sua criaccedilatildeo por um tipo de casa passou a ser usado
de forma muito mais abrangente Sendo isto muito comum nas liacutenguas de sinais Os
sinais passam a ser signos linguiacutesticos altamente arbitraacuterios e passam a integrar o
leacutexico da liacutengua (Apud PIVETTA et al 2013 p8)
Como tambeacutem salienta Silva (2012) que ao passar do tempo o sinal icocircnico perde sua
motivaccedilatildeo inicial passando a ser arbitraacuterio
[] a transparecircncia eacute relativa porque a forma dos objetos ou movimentos que
originaram o sinal pode variar no tempo perdendo a sua motivaccedilatildeo inicial Um
exemplo eacute o sinal ldquoleiterdquo que faz referecircncia ao ato de ordenha que hoje ainda pode
ser considerado um sinal icocircnico Todavia para as futuras geraccedilotildees a motivaccedilatildeo de
sua representaccedilatildeo tende a se tornar uma convenccedilatildeo o que faz com que o sinal passe
a ser arbitraacuterio e de valor simboacutelico Sinais como o de ldquoleiterdquo satildeo frutos de um
processo histoacuterico e com o passar do tempo natildeo representam mais os artefatos e
procedimentos atuais sendo percebidos e interpretados apenas por meio da
arbitrariedade e da convenccedilatildeo(Apud PIVETTA et al 2013 p8)
A seguir temos alguns exemplos de sinais icocircnicos na Libras satildeo os sinais ldquoaacutervorerdquo
ldquocadeirardquo ldquocasardquo constituiacutedos a partir de caracteriacutesticas da imagem dos objetos aos quais se
referem Enquanto o primeiro lembra a imagem do tronco e das folhas de uma aacutervore o
segundo lembra as pernas de uma pessoa representadas pelos dedos indicador e meacutedio e a
terceira lembra a imagem de um telhado ou de uma casa sentada no objeto em questatildeo
(SALLES 2007 p 83)
Figura 7 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos aos quais se referem a
iconicidade
Fonte Azevedo (2014)
AacuteRVORE CADEIRA CASA
88
Figura 8 Caracteriacutesticas da imagem em Liacutengua de Sinais Satereacute-Maweacute dos objetos aos
quais se referem agrave iconicidade
Yara Wato Barco Libras
Fonte Azevedo (2014)
Man Beiju Libras
Fonte Azevedo (2014)
Kamunti hit Bilha Libras
Fonte Azevedo (2014)
89
Dessa maneira podem-se definir os sinais icocircnicos como aqueles que fazem alusatildeo agrave
imagem do seu significado natildeo implicando que todos os sinais satildeo iguais ou sinais icocircnicos
em todas as Liacutengua de Sinais cada grupo social absorve aspectos diferentes da imagem do
referente convencionando a representaccedilatildeo do sinal Os signos arbitraacuterios satildeo os que natildeo
trazem nenhuma relaccedilatildeo de semelhanccedila com o referente
90
6 INTERVENCcedilAtildeO E CONTRIBUICcedilAtildeO LINGUIacuteSTICA DO PROFESSOR SURDO
Os estudos sobre a educaccedilatildeo sistemaacutetica dos indiacutegenas surdos da etnia Satereacute-Maweacute
levaram agrave percepccedilatildeo da necessidade iminente de uma atuaccedilatildeo no processo ensino
aprendizagem desses sujeitos Desse modo apoacutes conhecer a realidade linguiacutestica e
educacional dos indiacutegenas surdos observados nas aldeias e na zona urbana de Parintins foi
possiacutevel intervir por meio do ensino da Liacutengua Brasileira de Sinais A intervenccedilatildeo foi feita
com o consentimento dos responsaacuteveis locais onde se faziam presentes acompanhando o
objeto da pesquisa - os indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute
Assim com a autorizaccedilatildeo da famiacutelia o primeiro contato foi estabelecido entre uma
crianccedila surda indiacutegena com professor tambeacutem surdo que ocorreu na residecircncia dela na zona
urbana do municiacutepio de Parintins cujo registro de imagem consta na Figura 9
Figura 9 Encontro da crianccedila surda Satereacute-Maweacute com o professor surdo
Fonte Azevedo (2014)
No contato foi possiacutevel verificar que a crianccedila natildeo conhecia a liacutengua Libras Sua
forma de comunicaccedilatildeo era com o uso dos siacutembolos ldquocaseirosrdquo Contudo ela respondeu ao
estiacutemulo de conversaccedilatildeo com muita facilidade buscando fazer a comunicaccedilatildeo As demais
observaccedilotildees e intervenccedilatildeo deram-se no ambiente educacional na Escola de Aacuteudio e
Comunicaccedilatildeo Padre Paulo Manna (Figura 10) Nesse contexto a crianccedila acompanhava com
atenccedilatildeo ao desempenho dos demais pares sempre atenta para compreensatildeo do conteuacutedo
comunicativo Ficou evidente a necessidade de um material de suporte escrito como recurso a
ser utilizado pelos docentes no processo ensino e aprendizagem
91
Figura 10 Contato com aluno Satereacute-Maweacute surdo no ambiente escolar
Fonte ndash Azevedo (2014)
Ocorreu tambeacutem o contato com o aluno surdo da Etnia Satereacute-Maweacute matriculado na
Escola Estadual Brandatildeo de Amorim em Parintins o qual foi feito em sua residecircncia dele A
conversa com ele foi feita fluentemente em Libras (Figura 10) Entretanto ao ser indagado
sobre a cultura a liacutengua falada de sua etnia natildeo soube responder Comprovou-se que o aluno
natildeo participa do contexto cultural da etnia por isso natildeo a conhece Por tal considera-se que o
material triliacutengue seria um recurso apropriado para promover o reconhecimento de muitos
signos que fazem parte da Liacutengua Satereacute-Maweacute
Figura 11 Contato com o aluno surdo Satereacute-Maweacute na Escola Estadual Brandatildeo de Amorim
Fonte ndash Azevedo (2014)
O contato com os familiares juntamente com professores indiacutegenas e inteacuterprete
linguiacutestica possibilitou ter uma visatildeo sobre o contexto comunicativo do indiacutegena surdo A
conversa com o pai do indiacutegena surdo na Aldeia de Santa Maria indicou a forma como
conseguem se comunicar com o filho desde o momento que perceberam que ele era surdo
Explicaram as dificuldades que tiveram no processo de entendimento com ele Confirmaram
92
que o aprendizado da liacutengua Libras indicando os signos que representam a cultura da etnia
seria muito importante para a comunicaccedilatildeo entre ele e os familiares eou educadores
Figura 12 Em viagem para aacuterea indiacutegena no Rio Marau ndash comunicaccedilatildeo com familiares
Fonte - Azevedo (2014)
O projeto da pesquisa foi apresentado na comunidade de Santa Maria para os
representantes da comunidade indiacutegena (Figura 12)
Figura 13 Apresentaccedilatildeo do projeto de pesquisa agraves lideranccedilas indiacutegenas na comunidade
Fonte Azevedo (2014)
Ressalta-se a importacircncia das lideranccedilas conhecerem e participarem do desenvolvimento
do projeto A relevacircncia desta participaccedilatildeo daacute-se em funccedilatildeo de que as mesmas contribuiram
informando vocabulaacuterios caracteristicos da regiatildeo que enriqueceram o minidicionaacuterio
triliacutengue Satereacute-MaweacutePortuguecircsLibras como pode ser evidenciado a seguir
93
Vocabulaacuterios e utensiacutelios indiacutegenas sinalizados em Libras
Liacutenguas
Satereacute-Maweacute Portuguecircs Libras
Mory‟ywat siomory‟awat Arco
Satereacute-Maweacute Portuguecircs Libras
T wa Aldeia
Ressalta-se a importacircncia do minidicionaacuterio ao considerar que o vocabulaacuterio contido no
mesmo poderaacute ser utilizado pelo indiacutegena surdo para ele aprenda a comunicaccedilatildeo utilizando os
signos que fazem parte da linguagem da etnia
E realizando uma mini oficina de Libras para professores da comunidade (Figura 6)
foi possiacutevel demonstrar o uso da Libras no contexto da sala de aula A participaccedilatildeo efetiva dos
mesmos proporcionou a troca de informaccedilotildees sobre o vocabulaacuterio da liacutengua indiacutegena
94
Figura 14 Desenvolvimento de oficina de Libras com professores indiacutegenas
Fonte Azevedo (2014)
Enfatiza-se que todo empenho em levar o conhecimento da Liacutengua Brasileira de Sinais
para os indiacutegenas surdos professores indiacutegenas familiares de surdos e comunidade manteve-
se em funccedilatildeo do ensejo de fazecirc-los conhecer e compreender a capacidade e modos dos
indiacutegenas surdos se comunicarem aleacutem de promover a aprendizagem da Libras em um lugar
de tatildeo difiacutecil acesso com pequenas escolas que sequer tecircm materiais didaacuteticos adaptados a
essa clientela Por este motivo considera-se que a contribuiccedilatildeo linguiacutestica em forma de um
minidicionaacuterio eacute um passo importante para levar aos indiacutegenas surdos a sua comunidade e o
nuacutecleo familiar destes o iniacutecio do resgate da sua liacutengua natural que eacute a Liacutengua Brasileira de
Sinais e a sua liacutengua nativa aleacutem de seus traccedilos culturais incluiacutedos no minidicionaacuterio
61 Libras e Liacutengua Satereacute-Maweacute intercacircmbio de construccedilatildeo sociocultural-linguiacutestico
Analisando a histoacuteria do povo surdo e do povo indiacutegena percebe-se uma trajetoacuteria
similar nas lutas por seus direitos culturais e linguiacutesticos Ambos tentam
fortalecer o conhecimento da proacutepria histoacuteria com seus acertos desacertos conflitos
e sucessos buscando a compreensatildeo do ator social como sujeito da histoacuteria e
possibilitando assim a construccedilatildeo de um projeto poliacutetico articulado com outros
setores que incremente as possibilidades de construccedilatildeo dos proacuteprios projetos de
uma vida melhor (HERNAIZ 2009)
Neste sentido destaca-se que esses indiviacuteduos satildeo esquecidos na realidade cultural do
paiacutes como se natildeo existissem enquanto cidadatildeos que tem as suas formas de produzir no
contexto social Mudar esta realidade faz-se fundamental Para tal Guerreiro (2009 p93)
argumenta que
Os direitos culturais satildeo por sua vez um campo complexo que inclui vaacuterios
conjuntos de direitos e garantias entre os quais me interessa destacar para essa
reflexatildeo os seguintes o reconhecimento da diversidade o exerciacutecio da identidade
como povos o uso restrito do idioma uma educaccedilatildeo proacutepria e o respeito pelo
patrimocircnio cultural
95
Os processos culturais linguiacutesticos entre os povos surdos e indiacutegenas surdos eacute uma
possibilidade bem proacutexima atraveacutes do intercacircmbio sociocultural-linguiacutestico que estaacute sendo
construiacutedo pois o surdo indiacutegena faz parte da cultura surda e tem cacircmbio com a cultura
indiacutegena e em muitos casos com a cultura do povo ouvinte
Todavia alguns aspectos da cultura surda satildeo desconhecidos pelo proacuteprio surdo
indiacutegena Por isso a necessidade de surdos indiacutegenas se relacionarem com seus semelhantes
surdos seja indiacutegena ou natildeo indiacutegena para que atraveacutes deste contato possa construir sua
identidade cultural da comunidade surda tornando conhecida sua cultura tribal por meio da
liacutengua de instruccedilatildeo a Libras No exemplo abaixo ilustra-se a percepccedilatildeo dessa realidade
Man ype Crueira Libras
Kui‟a Cuia Libras
Dessa forma conhecendo valorizando e respeitando sua cultura que eacute um patrimocircnio
cultural da sociedade
Logo a liacutengua em uso pelos iacutendios surdos seja ela a Liacutengua de Sinais Indiacutegena
ldquosinais emergentesrdquo ou a Liacutengua Brasileira de Sinais (como empreacutestimo sociocultural-
linguiacutestico) e a Liacutengua Satereacute-Maweacute devem ser valorizadas com respeito muacutetuo na
transmissatildeo de sua cultura Os indiviacuteduos que precisam se comunicar por meio delas lutam
96
pelo fortalecimento dessa inserccedilatildeo cultural pela construccedilatildeo de um futuro melhor e pelo
respeito aos direitos dos iacutendios localizados neste vasto territoacuterio Nesse sentido
A identidade cultural requer tambeacutem ela a alteridade como dialogicidade
intercultural No seu proacuteprio interior ela natildeo eacute nunca algo de compacto mas
apresenta toda uma seacuterie de relaccedilotildees no plano sincrocircnico e diacrocircnico com outras
culturas que lhes datildeo vida justamente pela sua diversificaccedilatildeo e discordacircncia por
mais que ela se obstine em realizar-se mediante a identificaccedilatildeo com alguns de seus
aspectos apenas com algumas formas culturais determinadas que se arvoram
oficiais e dominantes (PONZIO 2007 p179)
Para estes estudos a uniatildeo de esforccedilos que viabilizou a realizaccedilatildeo deste diagnoacutestico eacute
uma demonstraccedilatildeo clara de que eacute perfeitamente possiacutevel trilhar no mundo linguiacutestico
possibilitando a cada indiacutegena novos horizontes na comunicaccedilatildeo
97
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A presente pesquisa teve como foco principal o levantamento de indiacutegenas surdos nas
microrregiotildees do municiacutepio de Parintins da etnia Satereacute-Maweacute
Com base nas informaccedilotildees levantadas nas terras indiacutegenas e nas cidades onde vivem
os Satereacute-Maweacute evidenciou-se que as escolas de zonas rurais e comunidades que o iacutendio
surdo requenta natildeo possui uma educaccedilatildeo diferenciada especiacutefica a sua especificidade
A realidade encontrada no municiacutepio de Parintins para com os alunos iacutendios surdos
por ser em zona urbana jaacute apresenta um diferencial A escola dispotildee de sala de recursos para
alunos indiacutegenas surdos poreacutem dentro dessa realidade haacute falta de professores que dominem a
liacutengua nativa Satereacute-Maweacute para que a escola proporcione um aprendizado triliacutengue Liacutengua
Brasileira de Sinais Liacutengua Satereacute-Maweacute e Liacutengua Portuguesa na modalidade escrita
Nas escolas visitadas onde encontramos surdos foi observado falta de mateacuterias
visuais sala de recursos com atendimentos diferenciados para os alunos indiacutegenas surdos e
indiacutegenas surdos
Foram considerados no decorrer do texto aspectos da contextualizaccedilatildeo em que se deu
a pesquisa desde as discussotildees que antecederam a elaboraccedilatildeo do projeto passando pelas
parcerias que foram estabelecidas no decorrer do processo especialmente com as vaacuterias
organizaccedilotildees indiacutegenas Satereacute-Maweacute ateacute o desenvolvimento das condiccedilotildees que garantiram a
plena participaccedilatildeo da comunidade no decorrer das atividades de pesquisa Partindo da
enumeraccedilatildeo dos principais objetivos do projeto o relatoacuterio apresenta as aacutereas e localidades
cobertas o nuacutemero de domiciacutelios levantados e de moradores entrevistados assim como a
metodologia utilizada a operacionalizaccedilatildeo das atividades de campo o treinamento dos
entrevistadores o levantamento nas cidades e nas terras indiacutegenas a forma e a intensidade
como se desenvolveu a participaccedilatildeo das lideranccedilas e da comunidade como um todo
Durante a pesquisa a sociedade indiacutegena e natildeo indiacutegena juntamente com profissionais
da educaccedilatildeo da linguiacutestica e a proacutepria comunidade surda acompanharam a perspectiva para
uma nova trajetoacuteria destes os iacutendios surdos a qual reflete o reconhecimento linguiacutestico destes
como pessoas pertencentes agraves minorias linguiacutesticas
Ao analisar as questotildees linguiacutesticas nas aacutereas indiacutegenas das microrregiotildees de Parintins
verificou-se que a implantaccedilatildeo deste empreendimento representou como um novo modelo de
desenvolvimento para a comunicaccedilatildeo de indiacutegenas surdos nas comunidades indiacutegenas
98
Ressalta-se que cada municiacutepio onde existem membros da etnia Satereacute receberaacute como
retorno da pesquisa um minidicionaacuterio triliacutengue (Liacutengua de Sinais Liacutengua Satereacute-Maweacute e
Liacutengua Portuguesa) para intercacircmbio sociocultural-linguiacutestico
Este material tem a intenccedilatildeo de abrir o caminho para a participaccedilatildeo direta dos iacutendios
na construccedilatildeo de seu futuro Ele caracteriza uma mudanccedila da forma de olhar para os povos
indiacutegenas Agora eacute preciso trabalhar para que todas as comunidades e etnias possam produzir
seus diagnoacutesticos Todas elas precisam dispor das informaccedilotildees com as quais poderatildeo dar uma
direccedilatildeo a suas accedilotildees Nesse sentido deve haver iniciativas por parte do poder local para que o
governo e as entidades aliadas agraves causas indiacutegenas possam aproveitar as experiecircncias dos
vaacuterios pesquisadores sobre as causas dos Satereacute-Maweacute para ampliar esse tipo de trabalho
Satildeo diagnoacutesticos como este que iratildeo dar o norte para novos projetos e programas que
favoreccedilam realmente garantir a autonomia dos povos indiacutegenas
Finzaliza-se com a satisfaccedilatildeo de que a pesquisa presente contribuiu com um pequeno
passo no incentivo da conservaccedilatildeo e crescimento da identidade cultural-linguiacutestica do iacutendio
surdo
99
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TEIXEIRA Vanessa Gomes A iconicidade e a arbitrariedade na Libras Revista
Philologus Ano 21 n 61 Supl Anais do VII SINEFIL Rio de Janeiro CIFEFIL-
janabr 2015 Disponiacutevel em lthttpwwwfilologiaorgbrrphANO2161supl013pdfgt
UGGEacute Henrique Padre As Bonitas Histoacuterias Satereacute-Maweacute 1ordf ed Impressa Oficial do
Estado 1993
VILHALVA S Iacutendios surdos mapeamento das Liacutenguas de Sinais do Mato Grosso do Sul
Petroacutepolis Arara Azul 2012 (Cultura e Diversidade seacuterie iacutendio surdo 1)
103
ANEXOS
104
ANEXO A- Normas estabelecidas no ingresso em terras indiacutegenas pela FUNAI
Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio
INSTRUCcedilAtildeO NORMATIVA No 01PRESI DE 29NOVEMBRO1995
PRESIDENTE DA FUNDACcedilAtildeO NACIONAL DO IacuteNDIO - FUNAI
no uso de suas atribuiccedilotildees que lhe satildeo conferidas pelo estatuto aprovado pelo decreto no
564
de 08 de junho de 1992 tendo em vista o que consta do processo FUNAI BsB no210592
R E S O L V E
Art 1o Aprovar as normas que disciplinam o ingresso em Terras Indiacutegenas com finalidade de
desenvolver Pesquisa Cientiacutefica conforme documento em anexo
Art 2o Esta Instruccedilatildeo Normativa entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo
Art 3o Revoga-se a Instruccedilatildeo Normativa no 001PRESI94 de 08 de abril
de 1994 como qualquer outro dispositivo em contraacuterio
MAacuteRCIO JOSEacute BRANDO SANTILLI
Presidente da FUNAI
ASSINADO NO ORIGINAL
Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio
ANEXO DA INSTRUCcedilAtildeO NORMATIVA No 001PRESI de 29 de novembro de 1995
Art 4o Todo e qualquer pesquisador nacional ou estrangeiro que pretenda ingressar em terras
indiacutegenas para desenvolver projeto de pesquisa cientiacutefica deveraacute encaminhar sua solicitaccedilatildeo
agrave Presidecircncia da FUNAI e no caso de requerimento coletivo deveraacute ser subscrito por um dos
membros do grupo como seu responsaacutevel Art 5o O pesquisador ou pesquisadores deveratildeo
anexar ao pedido do que trata o Art 1o a seguinte documentaccedilatildeo
I carta de apresentaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo a que o pesquisador estaacute vinculado e no caso de
estudantes de graduaccedilatildeo e poacutesgraduaccedilatildeo carta de apresentaccedilatildeo do orientador responsaacutevel
II projeto de pesquisa em portuguecircs detalhando a(s) terra(s) indiacutegenas na(s) qual(is)
pretende ingressar e cronograma
III curriculum vitae do(s) pesquisador(es) redigido em portuguecircs
IV coacutepia autenticada da Carteira de Identidade ou Passaporte quando se tratar de
nacionalidade estrangeira
V atestado individual de vacina contra moleacutestia endecircmica na
aacuterea
VI atestado meacutedico de natildeo portador de moleacutestia contagiosa
105
VII quando se tratar de pesquisador(es) de nacionalidade estrangeira exigir-se-aacute para a
efetivaccedilatildeo de seu ingresso na terra indiacutegena a obtenccedilatildeo de seu respectivo visto temporaacuterio
como prevecirc o artigo 22 do decreto no 86715 de 10 de dezembro de 1981 aleacutem do
cumprimento do disposto no decreto no 98830 de 15 de janeiro de 1990
Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio
Art 6o O pesquisador deveraacute encaminhar diretamente ao CONSELHO
NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO - CNPq o
projeto de pesquisa e curriculum
vitae
Art 7o A solicitaccedilatildeo do ingresso em terra indiacutegena por parte de pesquisadores nacionais ou
estrangeiros seraacute objeto de anaacutelise pela Coordenadoria-Geral de Estudos e Pesquisas - CGEP
uma vez instruiacutedo o processo com o parecer favoraacutevel do CNPq quanto ao meacuterito da pesquisa
proposta e apoacutes ouvidas as lideranccedilas indiacutegenas
Paraacutegrafo Uacutenico - A consulta agraves lideranccedilas indiacutegenas seraacute realizada pela FUNAI com a
presenccedila e participaccedilatildeo do pesquisador podendo este em caso de resposta positiva
permanecer na terra indiacutegena com autorizaccedilatildeo provisoacuteria ateacute a emissatildeo de uma definitiva
Art 8o No caso de negativa das lideranccedilas indiacutegenas quanto ao pleito do ingresso ou
quaisquer outros entraves levantados no decorrer da anaacutelise do processo ou em qualquer outra
etapa de desenvolvimento da pesquisa a CGEP encaminharaacute a questatildeo ao Conselho
Indigenista atraveacutes da presidecircncia do Oacutergatildeo
Art 9o Quando se tratar de pesquisa em espaccedilo territorial de ocupaccedilatildeo tradicional de iacutendios
isolados o pedido seraacute ainda objeto de exame e parecer preacutevio especiacutefico por parte do
Departamento de Iacutendios Isolados - DII FUNAI
Art 10 A presidecircncia da FUNAI poderaacute suspendera qualquer tempo as
autorizaccedilotildees concedidas de acordo com as presentes normas desde que
I seja solicitada a sua interrupccedilatildeo por parte da comunidade indiacutegena em questatildeo
II a pesquisa em desenvolvimento venha a gerar conflitos dentro da terra indiacutegena
III a ocorrecircncia de situaccedilotildees epidecircmicas agudas ou conflitos graves envolvendo iacutendios e natildeo-
iacutendios
Paraacutegrafo Uacutenico - Fica automaticamente prorrogada a autorizaccedilatildeo pelo prazo que a terra
indiacutegena objeto do projeto estiver interditada pelos motivos apontados no Art 10 inciso III
Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio
MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA
Art 11 Todos os pesquisadores estrangeiros ou nacionais que tiverem autorizaccedilotildees
concedidas para ingresso em terras indiacutegenas obrigar-se-atildeo a
I cumprir todos os preceitos legais vigentes notadamente os previstos na Lei no 6001 de
1o1273
II remeter agrave FUNAI relatoacuterio dos Trabalhos de campo em portuguecircs ateacute 6 (seis) meses apoacutes
o teacutermino da pesquisa onde poderatildeo constar sugestotildees praacuteticas que possam trazer benefiacutecios
para as comunidades indiacutegenas que poderatildeo ser consideradas pela FUNAI nas definiccedilotildees de
sua poliacutetica
III remeter agrave FUNAI 2 (dois) exemplares de publicaccedilotildees artigos teses e outras produccedilotildees
intelectuais oriundas das referidas pesquisas
Art 12 Nos casos de solicitaccedilatildeo de prorrogaccedilatildeo do prazo para continuidade do projeto de
pesquisa cientiacutefica na mesma terra indiacutegena caberaacute a Coordenaccedilatildeo Geral de Estudos e
Pesquisas - CGEP os seguintes procedimentos
I notificar junto ao setor competente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e
Tecnoloacutegico - CNPq a solicitaccedilatildeo
II consultar as lideranccedilas quanto ao retorno do pesquisador na terra indiacutegena
106
III observar o cumprimento do Art 8o por parte do pesquisador interessado do Iacutendio
Art 6o O pesquisador deveraacute encaminhar diretamente ao CONSELHO NACIONAL DE
DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO - CNPq o projeto de pesquisa e
curriculum vitae
Art 7o A solicitaccedilatildeo do ingresso em terra indiacutegena por parte de pesquisadores nacionais ou
estrangeiros seraacute objeto de anaacutelise pela Coordenadoria-Geral de Estudos e Pesquisas - CGEP
uma vez instruiacutedo o processo com o parecer favoraacutevel do CNPq quanto ao meacuterito da pesquisa
proposta e apoacutes ouvidas as lideranccedilas indiacutegenas
Paraacutegrafo Uacutenico - A consulta agraves lideranccedilas indiacutegenas seraacute realizada pela FUNAI com a
presenccedila e participaccedilatildeo do pesquisador podendo este em caso de resposta positiva
permanecer na terra indiacutegena com autorizaccedilatildeo provisoacuteria ateacute a emissatildeo de uma definitiva
Art 8o No caso de negativa das lideranccedilas indiacutegenas quanto ao pleito do ingresso ou
quaisquer outros entraves levantados no decorrer da anaacutelise do processo ou em qualquer outra
etapa de desenvolvimento da pesquisa a CGEP encaminharaacute a questatildeo ao Conselho
Indigenista atraveacutes da presidecircncia do Oacutergatildeo
Art 9o Quando se tratar de pesquisa em espaccedilo territorial de ocupaccedilatildeo tradicional de iacutendios
isolados o pedido seraacute ainda objeto de exame e parecer preacutevio especiacutefico por parte do
Departamento de Iacutendios Isolados - DII FUNAI Art 10 A presidecircncia da FUNAI poderaacute
suspendera qualquer tempo as autorizaccedilotildees concedidas de acordo com as presentes normas
desde que
I seja solicitada a sua interrupccedilatildeo por parte da comunidade indiacutegena em questatildeo
II a pesquisa em desenvolvimento venha a gerar conflitos dentro da terra indiacutegena
III a ocorrecircncia de situaccedilotildees epidecircmicas agudas ou conflitos graves envolvendo iacutendios e natildeo-
iacutendios
Paraacutegrafo Uacutenico - Fica automaticamente prorrogada a autorizaccedilatildeo pelo prazo que a terra
indiacutegena objeto do projeto estiver interditada pelos motivos apontados no Art 10 inciso III
Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA
Art 11 Todos os pesquisadores estrangeiros ou nacionais que tiverem autorizaccedilotildees
concedidas para ingresso em terras indiacutegenas obrigar-se-atildeo a
I cumprir todos os preceitos legais vigentes notadamente osprevistos na Lei no 6001 de
1o1273
II remeter agrave FUNAI relatoacuterio dos Trabalhos de campo em portuguecircs ateacute 6 (seis) meses apoacutes
o teacutermino da pesquisa onde poderatildeo constar sugestotildees praacuteticas que possam trazer benefiacutecios
para as comunidades indiacutegenas que poderatildeo ser consideradas pela FUNAI nas definiccedilotildees de
sua poliacutetica
III remeter agrave FUNAI 2 (dois) exemplares de publicaccedilotildees artigos teses e outras produccedilotildees
intelectuais oriundas das referidas pesquisas
Art 12 Nos casos de solicitaccedilatildeo de prorrogaccedilatildeo do prazo para continuidade do projeto de
pesquisa cientiacutefica na mesma terra indiacutegena caberaacute a Coordenaccedilatildeo Geral de Estudos e
Pesquisas - CGEP os seguintes procedimentos
I notificar junto ao setor competente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e
Tecnoloacutegico - CNPq a solicitaccedilatildeo
II consultar as lideranccedilas quanto ao retorno do pesquisador na terra indiacutegena
III observar o cumprimento do Art 8o por parte do pesquisador interessado
107
ANEXO B ndash Questionaacuterio para coleta de dados com professores de comunidades indiacutegenas
QUESTIONAacuteRIO
Nome Prof(a)Nordm Cel
Nome da escola
Tribo Etnia
Quantos alunos surdos iacutendio Serie Idade
Nasceu cognitiva ou adquirida
1 ndash Como eacute a forma de comunicaccedilatildeo entre o professor e o iacutendio surdo
( ) Escrita
( ) Oralizado
( ) Libras
( ) Satereacute Maweacute
2 ndash Qual liacutengua o surdo iacutendio tem mais facilidade de aprender
( ) Portuguecircs
( ) Satereacute Maweacute
( ) libras
3 ndash Qual eacute a metodologia de ensino
4 ndash Como o aluno surdo indiacutegena aprende na sala de aula Tem dificuldade ou facilidade
5 ndash Como e que liacutengua o aluno surdo se comunica com outro surdo se tiver e os demais alunos
ouvintes na sala aula
108
6 ndash Vocecirc jaacute observou a comunicaccedilatildeo entre o aluno surdo iacutendio com a famiacutelia Qual liacutengua
7 ndash Como o aluno surdo iacutendio se comunica com as pessoas da comunidade
8 ndash Qual eacute a reaccedilatildeo das pessoas ouvintes quanto o iacutendio surdo na comunidade
9 ndash Professor(a) qual sua opiniatildeo para melhoria de ensino da educaccedilatildeo de iacutendios surdos
10 ndash Qual eacute a importacircncia da liacutengua indiacutegena Satereacute Maweacute para o aluno surdo
11 ndash Fale sobre a cultura e historia dos Satereacute Maweacute o iacutendio surdo participa
109
ANEXO C ndash Autorizaccedilatildeo para pesquisa de campo em terras indiacutegenas
110
ANEXO C-1 ndash Autorizaccedilatildeo para pequisa de campo com uso de imagem permitido
111
ANEXO C-2 ndash Autorizaccedilatildeo para pequisa de campo com uso de imagem permitido
112
ANEXO D ndash Parecere pedagoacutegico da Aluna Indiacutegena Surda
(ESCOLA PADRE PAULOMANNA)
ESCOLA DE AacuteUDIO COMUNICACcedilAtildeO
Pe PAULO MANNA Mantida pela Diocese de Parintins CNPJ 045945370001-88 Av Naccedilotildees Unidas 1792 FoneFax (092) 3533-3456 69151-060 ndash PARINTINS-AMAZONAS-BRASIL
Parecer Pedagoacutegico
Helena Ferreira Arauacutejo 06 anos de idade aluna da Escola Pe Paulo Manna desde
marccedilo de 2013 mora na rua 4 nordm 298 no bairro da Uniatildeo
Segundo relatos da matildee a aluna nasceu de parto normal comeccedilou a andar aos trecircs
anos de idade e eacute descendente dos iacutendios Satereacute- Maueacute Os anos passaram e ela comeccedilou a
perceber que sua filha natildeo ouvia e nem falava pois jaacute tinha outros filhos e estes comeccedilaram a
falar e andar cedo Informou-nos que para se comunicar com ela fazia gestos ateacute ela entender
o que se tornava muito difiacutecil
Disse-nos que falaram para ela do trabalho desenvolvido na Escola Paulo Manna com
alunos surdos e resolveu procurar a escola pois o tempo estava passando e a menina natildeo
falava e ela natildeo sabia mais o que fazer para reverter a situaccedilatildeo e a sua filha ser como os outros
irmatildeos
Atualmente estuda numa turma de Preacute ndash Escolar (2ordm periacuteodo) eacute uma aluna surda No
ano passado quando chegou agrave escola nos primeiros dias chorava muito e ficava zangada se
escondia embaixo da mesa para que ningueacutem a incomodasse visto que natildeo estava adaptada
ao ambiente e aos poucos foi se adaptando e passou a conviver com os colegas ouvintes em
sala de aula
A aluna gosta de fazer suas atividades escolares tem boa coordenaccedilatildeo motorainterage
com os colegas reconhece cores e formas gosta de desenhar e daacute formas aos seus desenhos realiza atividades de leitura de imagem montagem com jogos de encaixe participa de
brincadeiras na quadra parque e brinquedoteca
Em alguns momentos quando quer alguma coisa do colega e este natildeo lhe daacute fica com
raiva chora e se isola Em outros momentos penso que por natildeo saber se comunicar com os
colegas fica um pouco retraiacuteda e torna-se um a receptora diferenciada que requer cuidados
no tocante agrave comunicaccedilatildeo principalmente de como chegar ateacute ela
Procuramos adaptar brincadeiras para envolver a aluna trazendo-a de volta para
participar das atividades e conversar com ela que nem tudo o que a gente quer podemos ter e
fazemos alguma brincadeira que ela goste e rapidinho ela volta a participar e se integrar ao
grupo
Sabemos que eacute difiacutecil para ela o processo ensino aprendizagem porque ela tem que ter
uma aprendizagem triliacutengue visto que tem que aprender a Liacutengua Indiacutegena+ Libras + Liacutengua
Portuguesa e jaacute eacute difiacutecil aprender duas mas natildeo impossiacutevel
113
Neste ano de 2014 contamos com a ajuda da professora Caacutetia (surda) com aulas de
Libras No primeiro momento fica junto com os colegas ouvintes onde procuramos trabalhar
de forma biliacutengue (Portuguecircs + Libras) para que ela entenda o que estaacute sendo repassado em
sala de aula E o que se percebe eacute que a aluna nos daacute respostas precisas dentro dos objetivos
propostos Em outro momento a professora Caacutetia ensina agrave aluna os sinais em LIBRAS que eacute
a liacutengua oficial da pessoa surda trabalhando o concreto com ela ensinando-a com jogos
cartazes reaacutelias viacutedeos transformando tais atividades em aulas dinacircmicas e prazerosas
Dentro dessa realidade a aluna vai participando buscando se inserir nesse universo
cheio de duacutevidas e incertezas e noacutes professores procuramos fazer o melhor para que a aluna
se sinta bem no ambiente escolar visto que o processo ensino aprendizagem para uma crianccedila
de outra etnia natildeo eacute faacutecil pois segundo depoimentos de alguns indiacutegenas a aprendizagem
indiacutegena passa pela demonstraccedilatildeo observaccedilatildeo imitaccedilatildeo tentativa e erro e quando o aluno
vem para a escola tem que se socializar obedecer a comandos regidos pelo sistema e isso
muitas vezes o deixa confuso e os maiores ateacute desistem
Dessa forma satildeo necessaacuterias estrateacutegias de ensino diferenciadas que deem suporte para
que a aluna seja trabalhada de forma triliacutengue no contexto escolar para que ela natildeo perca a
sua essecircncia a sua cultura que sejam adaptados trabalhos de acordo com a realidade
indiacutegena para que ela natildeo perca a sua identidade e saiba conduzir sua aprendizagem dentro de
um contexto diferenciado podendo aprender o que lhe eacute de direito bem como viver bem em
sociedade
Parintins 14 de abril de 2014
EPIacuteGRAFE
Matildeos
corpo em movimento
captar e entender
Teu querer teu dizer
Sorrisos laacutegrimas
sentimentos e emoccedilotildees
Libras eacute amor eacute paixatildeo eacute liacutengua
(Marlon Jorge)
RESUMO
Esta pesquisa apresenta o resultado do mapeamento de iacutendios surdos nas comunidades
indiacutegenas Satereacute-Maweacute na microrregiatildeo de Parintins Partindo do levantamento buscou-se
identificar de que forma os iacutendios surdos estabeleciam a comunicaccedilatildeo com seus pares na sua
comunidade Para isso foi utilizado o procedimento metodoloacutegico por meio de entrevistas
abertas com as lideranccedilas indiacutegenas os familiares os professores e gestores escolares e
outros membros das comunidades assim como do proacuteprio iacutendio surdo O processo de anaacutelise
estabelecido para este estudo consistiu no enfoque de natureza linguiacutestica do leacutexico
(vocabulaacuterio) o qual foi registrado por meio de viacutedeos fotos e gravaccedilotildees A partir dos dados
iniciou-se a elaboraccedilatildeo de um minidicionaacuterio triliacutengue nas liacutenguas Satereacute-Maweacuteliacutengua de
sinais portuguecircs escrito a fim de facilitar a comunicaccedilatildeo principalmente no contexto da
comunidade educacional escolar entre os professores e os alunos iacutendios surdos Esta
contribuiccedilatildeo linguiacutestica portanto possibilitou uma nova percepccedilatildeo no processo histoacuterico da
diversidade linguiacutestica para valorizar e respeitar natildeo soacute uma liacutengua a liacutengua oficial do paiacutes
(Portuguecircs) mas tambeacutem a liacutengua natural do povo surdo (Libras) e a liacutengua indiacutegena do povo
Satereacute-Maweacute
Palavras chaves
1Linguiacutestica 2Liacutengua de sinais 3Satereacute-Maweacute 4 Dicionaacuterio
ABSTRACT
This research presents the results of the mapping deaf Indians in indigenous
communities Satereacute-Maweacute in the region of Parintins Starting from the survey we sought to
identify how the deaf Indians established communication with peers in their community For
this methodological procedure through open interviews with indigenous leaders family
members teachers and school administrators and other community members were used as
well as the Indian himself deaf The review process established for this study consisted of
focus linguistic lexicon (vocabulary) which was recorded through videos photos and
recordings From the data we initiated the development of a trilingual Mini Dictionary in
languages Satereacute-Maweacute sign language written Portuguese in order to facilitate
communication especially in the context of school learning community among teachers and
students deaf Indians This linguistic contribution therefore provided a new insight in the
historical process of linguistic diversity to value and respect not only one language the
official language (Portuguese) but also the natural language of deaf people (Libras) and the
indigenous language the people Satereacute-Maweacute
Key Words 1Linguiacutestica 2Liacutengua signal 3Satereacute-Maweacute 4Dictionary
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 13
1 CONSIDERACcedilOtildeES DOS ESTUDOS LINGUIacuteSTICOS DA LIacuteNGUA
BRASILEIRA DE SINAIS
17
11 Liacutengua de Sinais como Liacutengua Natural 20
12 Liacutengua Brasileira de Sinais 22
13 Liacutenguas de Sinais Indiacutegenas pesquisadas no Brasil 26
131 Liacutengua de Sinais Urubu-Kaapor 28
132 Liacutengua de Sinais Emergentes 29
1321 Realidade do Contexto educacional escolar do indiacutegena surdo 31
2 HISTOacuteRIA DO POVO INDIacuteGENA SATEREacute-MAWEacute CULTURA E
LIacuteNGUA
34
21 Breve Relato Histoacuterico 35
22 Classificaccedilatildeo da Liacutengua Satereacute-Maweacute 36
221 Contexto educacional escolar entre os Satereacute-Maweacute 38
3 METODOLOGIA IMPLEMENTADA NA PESQUISA 42
31 Aacuterea e localidade da pesquisa 42
32 Estrateacutegias gerais para a realizaccedilatildeo da coleta de dados 43
33 Procedimentos da coleta de dados 43
34 Articulaccedilatildeo local 44
35 Abordagem ao objeto da pesquisa 44
4 MAPEAMENTO DOS INDIOS SURDOS DA COMUNIDADE SATEREacute-
-MAWEacute NAS MICRORREGIOtildeES DE PARINTINS E SUA REALIDADE
EDUCACIONAL ESCOLAR
45
41 Mapeamento da existecircncia dos iacutendios surdos na microrregiatildeo de Parintins 46
411 Histoacuterico de Parintins 46
412 Histoacuterico de Barreirinha 52
413 Histoacuterico de Maueacutes 53
414 Histoacuterico de Boa Vista do Ramos 55
415 Histoacuterico de Nhamundaacute 56
42 Realidade linguiacutestica e educacional dos iacutendios surdos encontrados na etnia
Satereacute-Maweacute
59
43 Inventaacuterio de gestos da linguagem caseira dos surdos Satereacute-Maweacute 66
431 Os sinais caseiros dos indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute 66
432 Municiacutepio de Parintins 66
4321 O primeiro surdo 67
4322 O segundo surdo 67
4323 O terceiro surdo 68
44 O indiacutegena surdo da comunidade de Ponta Alegre do Municiacutepio de Barreirinha 70
45 Os indiacutegenas surdos do Municiacutepio de Maueacutes 73
451 O primeiro surdo da Comunidade de Santa Maria 75
452 O segundo surdo da Comunidade de Santa Maria 79
5 ICONICIDADE E ARBITRARIEDADE NA CRIACcedilAtildeO DOS SINAIS
CASEIROS
83
6 INTERVENCcedilAtildeO E CONTRIBUICcedilAtildeO LINGUIacuteSTICA DO PROFESSOR
SURDO
90
61 Libras e Liacutengua Satereacute-Maweacute intercacircmbio de construccedilatildeo sociocultural-
linguiacutestico
94
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 97
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 99
ANEXOS
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 Croqui da aacuterea e localidade da pesquisa
FIGURA 2 Sinais caseiros utilizado pela crianccedila de 5 anos
FIGURA 3 Sinais caseiros utilizados pelo aluno da comunidade de Ponta Alegre
Barreirinha
FIGURA 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa
Maria (30 sinais coletados)
FIGURA 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo idoso na comunidade de Santa Maria
FIGURA 6 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos que se refere agrave
arbitrariedade
FIGURA 7 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos aos quais se referem a
iconicidade
FIGURA 8 Caracteriacutesticas da imagem em Liacutengua de Sinais Satereacute-Maweacute dos objetos
aos quais se referem agrave iconicidade
FIGURA 9 Encontro da crianccedila surda Satereacute-Maweacute com o professor surdo
FIGURA 10 Contato com aluno Satereacute-Maweacute surdo no ambiente escolar
FIGURA 11 Contato com o aluno surdo Satereacute-Maweacute na Escola Estadual Brandatildeo de
Amorim
FIGURA 12 Em viagem para aacuterea indiacutegena no Rio Marau
FIGURA 13 Apresentaccedilatildeo do projeto de pesquisa agraves lideranccedilas indiacutegenas na
comunidade
FIGURA 14 Desenvolvimento de oficina de Libras com professores indiacutegenas
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Mapeamento da existecircncia de iacutendios surdos nas respectivas comunidades
indiacutegenas ou zona urbana da microrregiatildeo de Parintins
Tabela 2 11 Sinais caseiros utilizados pela crianccedila indiacutegena surda de 5 anos e seus
familiares
Tabela 3 13 Sinais caseiros coletados e utilizados pelo aluno da comunidade de
Ponta Alegre
Tabela 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa
Maria
Tabela 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais antigo residente isolado na
comunidade de Santa Maria no Rio Marau ( 18 sinais coletados)
56
66
69
73
77
13
INTRODUCcedilAtildeO
Todo cidadatildeo tem o direito de participar na vida poliacutetica social e econocircmica de um
paiacutes Neste contexto inclui-se o cidadatildeo surdo Infelizmente a histoacuteria relata que no passado
os sujeitos surdos1 eram colocados agraves margens da sociedade em todos seus aspectos social
poliacutetico econocircmico cultural linguiacutestico e educacional
Entretanto ao longo da histoacuteria os surdos com a participaccedilatildeo de ouvintes na luta
incessante pelos seus direitos muitas conquistas foram alcanccediladas Entre estas estaacute o direito
de ter sua proacutepria liacutengua a Liacutengua Brasileira de Sinais-LIBRAS A Lei nordm 10436 de 2002 a
qual a reconhece como sistema linguiacutestico de natureza visual-motora com estrutura
gramatical proacutepria constituindo-se um sistema linguiacutestico de transmissatildeo de ideias e fatos
oriundos da comunidade de pessoas surdas do Brasil Conforme Saacute (2006) no Brasil as
comunidades urbanas usam a ldquoliacutengua de sinais brasileirardquo ou simplesmente ldquoliacutengua de sinaisrdquo
Vale ressaltar que a Liacutengua de Sinais segundo Strobel (2008) eacute um aspecto
fundamental da cultura surda2 parte do artefato cultural linguiacutestico
3 do povo surdo e constitui
1 Na aacuterea de pesquisa vinculada a perspectiva socioantropoloacutegica existe uma clara diferenciaccedilatildeo entre a opccedilatildeo
de escrever surdo com letra minuacutescula ou maiuacutescula conforme explica Andreis-Witkoski (2011) ldquoapesar de
nas uacuteltimas deacutecadas ter sido estabelecido uma distinccedilatildeo entre a expressatildeo ldquoSurdordquo com letra maiuacutescula para
identificar uma categoria cultural e ldquosurdordquo com minuacutescula em referecircncia a deficiecircncia auditiva nesta Tese natildeo
se utiliza este tipo de marcaccedilatildeo Compartilha-se da concepccedilatildeo exposta por Owen Wrigley (1996 p53) quando
adverte que esta diferenciaccedilatildeo constitui-se em ldquoum dualismo riacutegido-bom Surdo mau surdo ndash que pouco faz para
ajudar os indiviacuteduos em suas vidas diaacuterias [sem] ajudar a clarear um alcance maior de estrateacutegias colocadas pelos
indiviacuteduos lidando com a exclusatildeo e as muitas faces da opressatildeo em suas rotinas Em termos simples a
dicotomia de bdquoSs‟ estaacute tatildeo cruelmente composta que embora inicialmente seja uacutetil ela agora serve para silenciar
o alcance total das experiecircncias dos sSurdosrdquo (2011 p13) Logo opta-se nesta dissertaccedilatildeo o uso da expressatildeo
ldquosurdordquo (minuacutescula) que refere-se aos ldquosurdordquo enquanto pessoas que pela impossibilidades formam uma
minoria diferente com caracteriacutesticas linguiacutesticas cognitivas culturais e comunitaacuterias especiacuteficas (SAacute 2006
p107) 2 Cultura Surda ldquoeacute o jeito de o surdo entender o mundo e de modificaacute-lo a fim de se tornaacute-lo acessiacutevel e habitaacutevel
ajustando-os com as suas percepccedilotildees visuais que contribuem para a definiccedilatildeo das identidades surdas e das
ldquoalmasrdquo das comunidades surdas Isto significa que abrange a liacutengua as ideacuteias as crenccedilas os costumes e os
haacutebitos de povordquo (STROBEL2008 p 24) 3Conforme Strobel (2008 p37) o que seriam artefatos culturais linguiacutesticos Ao referirmos ldquoartefatordquo
pensamos habitualmente no significado de objetos ou materiais produzidos pelos grupos culturais Realmente de
fato eacute uma forma material de expressar uma determinada cultura poreacutem tambeacutem podem incluir ldquotudo o que se
vecirc e senterdquo quando se estaacute em contato com a cultura de uma comunidade a exemplo vestuaacuterios tradiccedilotildees
crenccedilas valores e normas etc Ou seja no campo dos Estudos Culturais o conceito de ldquoartefatosrdquo natildeo se referem
apenas a materialismo culturais como tambeacutem naquilo que na cultura constitui produccedilotildees do sujeito que tem seu
proacuteprio modo de ser ver entender e transformar o mundo Logo um dos artefatos culturais que ilustram a
cultura do povo surdo eacute o linguiacutestico a liacutengua de sinais que eacute um aspecto fundamental da cultura surda sendo
uma das principais marcas da identidade surda
14
uma das principais marcas da identidade do ser surdo Incluem-se tambeacutem os ldquosinais
emergentesrdquo ou ldquosinais caseirosrdquo dos sujeitos surdos isolados de comunidades surdas no caso
dos surdos das zonas rurais e dos surdos iacutendios Estes surdos embora natildeo pertenccedilam agraves
mesmas comunidades se identificam com o povo surdo4 pois compartilham as mesmas
peculiaridades constroem sua formaccedilatildeo de mundo por meio de artefato cultural visual5
independentemente do grau linguiacutestico que possuem os quais podem ser os gestos caseiros
denominados tambeacutem como sinais emergentes Nesta perspectiva teoacuterica soacutecioantropoloacutegica
enfoca-se como o objeto da pesquisa o sujeito surdo indiacutegena ou seja o iacutendio surdo
Antes de prosseguir com a abordagem mencionada faz-se necessaacuterio destacar que
assim como o povo surdo o povo indiacutegena tambeacutem traccedilou diversas lutas na trajetoacuteria para
reconhecimento dos seus direitos O reconhecimento dos direitos dos povos indiacutegenas no
mundo contemporacircneo avanccedilou muito em relaccedilatildeo haacute algumas deacutecadas passadas De acordo
com Lucinda (apud Saacute 2006) em consenso geral nos debates da Comissatildeo Educaccedilatildeo
Cultura e Desporto que antecedem a elaboraccedilatildeo do texto da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica
Federativa do Brasil de 1988 tanto a liacutengua de sinais como as liacutenguas indiacutegenas deveriam ser
consideradas no texto da Constituiccedilatildeo como liacutenguas maternas Assim como resultado o
Referencial Curricular Nacional para Escolas Indiacutegenas (1998 p31) declara que ldquoA
Constituiccedilatildeo Federal aleacutem de perceber o iacutendio como pessoa com direitos e deveres como
qualquer outro cidadatildeo brasileiro o reconhece como membro de uma comunidade e de um
grupo isto eacute como membro de uma coletividade que eacute titular de direitos coletivos e
especiaisrdquo Ou seja reconhece para os iacutendios o direito agrave praacutetica de suas formas culturais
proacuteprias E no tiacutetulo VIII ldquoDa Ordem Socialrdquo conteacutem um capiacutetulo denominado ldquoDos Iacutendiosrdquo
onde se diz que ldquosatildeo reconhecidos aos iacutendios a sua organizaccedilatildeo social costumes liacutenguas
crenccedilas e tradiccedilotildees []rdquo (ibid p31)
Em meio a essa diversidade linguiacutestica que caracteriza o Brasil como sendo um paiacutes
pluriliacutengue estatildeo situados os ldquosurdos brasileirosrdquo que tecircm sua proacutepria liacutengua reconhecida
oficialmente a Liacutengua de Sinais Logo existem tambeacutem ldquoiacutendios surdosrdquo da etnia Satereacute-
4Quando referimos ldquopovo surdordquo estamos falando ldquode sujeitos surdos que natildeo habitam no mesmo local mas
que estatildeo ligados por uma origem por um coacutedigo de eacutetico de formaccedilatildeo visual independente do grau de evoluccedilatildeo
linguiacutestica tais como a liacutengua de sinais a cultura surda e quaisquer outros laccedilosrdquo (ibid p30) 5Perlin e Miranda (2003) complementam ldquoExperiecircncia visual significa a utilizaccedilatildeo visual em (substituiccedilatildeo total
agrave audiccedilatildeo) como meio de comunicaccedilatildeo Desta experiecircncia visual surge a cultura surda representada pela liacutengua
de sinais pelo modo diferente de ser de se expressar de conhecer o mundo de entrar nas artes no
conhecimento cientiacutefico e acadecircmicordquo (apud STROBEL 2008 p39)
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Maweacute Qual sua forma de se comunicar Existe uma ldquoLiacutengua de Sinaisrdquo especifica do iacutendio
surdo
Diante das questotildees levantadas surgiu entatildeo agrave necessidade de realizar uma pesquisa
no campo da linguiacutestica na perspectiva dos estudos surdos6 voltado especificamente para o
iacutendio surdo da etnia Satereacute-Maweacute Foram traccedilados os seguintes objetivos i) mapear os iacutendios
surdos na microrregiatildeo de Parintins ii) identificar de que forma o iacutendio surdo estabelece a
comunicaccedilatildeo com sua comunidade especificamente no acircmbito educacional ou se utilizam
liacutenguas de sinais da comunidade local iii) registrar a forma de comunicaccedilatildeo no dia a dia do
iacutendio surdo nas comunidades indiacutegenas a partir dos estudos linguiacutesticos da Liacutengua de Sinais
dos grupos existentes e sua relaccedilatildeo com a comunidade local iv) promover o intercacircmbio entre
a Liacutengua de Sinais dos iacutendios surdos mapeados da etnia Satereacute-Maweacute e a LIBRAS da
comunidade surda do Municiacutepio de Parintins - Amazonas
Este trabalho conteacutem a seguinte divisatildeo primeiro capiacutetulo - apresenta consideraccedilotildees
linguiacutesticas fundamentais aos estudos surdos onde explicita o reconhecimento da Liacutengua de
Sinais como elemento cultural linguiacutestico do povo surdo abordando tambeacutem a oficializaccedilatildeo
da Liacutengua Brasileira de Sinais e as Liacutenguas Indiacutegenas pesquisadas no Brasil como a realidade
do contexto escolar linguiacutestico na comunidade indiacutegena segundo capiacutetulo - relata a histoacuteria
do povo indiacutegena Satereacute-Maweacute sua principal expressatildeo cultural sua liacutengua e seu respectivo
contexto educacional escolar terceiro capiacutetulo - apresenta os procedimentos metodoloacutegicos
utilizados na operacionalizaccedilatildeo da pesquisa e o capiacutetulo quatro - apresenta a anaacutelise do
resultado do Mapeamento dos iacutendios surdos da etnia Satereacute-Maweacute na microrregiatildeo de
Parintins Neste satildeo tambeacutem apresentadas as relaccedilotildees socioculturais-linguiacutesticas de iacutendios
surdos Satereacute-Maweacute com as contribuiccedilotildees linguiacutesticas do professor surdo aos Iacutendios surdos na
comunidade Satereacute-Maweacute estabelecendo assim as relaccedilotildees culturais na construccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo linguiacutestica LIBRAS e Liacutengua Satereacute-Maweacute como um intercacircmbio de construccedilatildeo
sociocultural
Desse modo a pesquisa tem como premissa baacutesica primeiramente mapear os iacutendios
surdos da etnia Satereacute-Maweacute e assim promover um intercacircmbio oferecendo contribuiccedilotildees
linguiacutesticas fundamentadas na pesquisa do leacutexico (vocabulaacuterio) da etnia referida com a Libras
(Liacutengua Brasileira de Sinais) e a Liacutengua Portuguesa por meio da elaboraccedilatildeo de um
6 Conforme Skliar eacute o campo de pesquisa em educaccedilatildeo onde as identidades a liacutenguas a histoacuteria a cultura da
comunidade surda satildeo focalizados e entendidos a partir da diferenccedila a partir do seu reconhecimento poliacutetico
(2001p29)
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minidicionaacuterio triliacutengue Assim espera-se contribuir para a iniciaccedilatildeo dos indiacutegenas surdos da
etnia Satereacute-Maweacute na Liacutengua Brasileira de Sinais dando a eles um dos direitos universais do
ser humano que eacute direito a uma liacutengua Tambeacutem deseja-se contribuir para a iniciaccedilatildeo dos
indiacutegenas surdos da etnia Satereacute-Maweacute na Liacutengua Brasileira de Sinais dando a eles um dos
direitos universais do ser humano que eacute direito a uma liacutengua proacutepria
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1 CONSIDERACcedilOtildeES DOS ESTUDOS LINGUIacuteSTICOS DA LIacuteNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
A Linguiacutestica conhecida hoje como a ciecircncia que estuda a linguagem humana eacute uma
ciecircncia recente poreacutem com um saber antigo Passou a se impor como ciecircncia agrave medida que
demonstrou seu meacutetodo e seu objeto de estudo Eacute definida como estudo cientiacutefico que visa
descrever ou explicar a linguagem verbal humana (ORLANDI 1999)
A Linguiacutestica diferencia-se da gramaacutetica tradicional normativa na medida que natildeo
tem como objetivo ditar regras de correccedilatildeo para uso da linguagem Seu interesse eacute a liacutengua
como mateacuteria de reflexatildeo (QUADROS e KARNOPP 2004) Segundo as pesquisas nesta
aacuterea Vandresen (1988 apud QUADROS 2007 p 83) tem-se ldquoa linguiacutestica contrastiva como
uma subaacuterea da linguiacutestica geral interessada em apontar as similaridades e diferenccedilas
estruturais entre a liacutengua materna (de um grupo de alunos) e uma liacutengua estrangeirardquo
Na taxonomia de similaridades e contrastes entre as liacutenguas existe uma seacuterie de
regularidades como haacute similaridades comportamentais que natildeo precisam ser explicitadas
porque constituem a base comum das liacutenguas naturais e o compartilhamento dessas
similaridades poderaacute servir como base para inferecircncias quanto agraves formas da liacutengua estrangeira
e quanto agraves diferenccedilas por serem sistemaacuteticas podem admitir tratamento inferencial e
heuriacutestico (KATO 1988 apud QUADROS 2007)
Segundo Nascimento (2009) a vitalidade da liacutengua depende de sua utilizaccedilatildeo efetiva
tanto em escala nacional quanto em escala mundial Quanto mais uma liacutengua eacute utilizada mais
ela eacute viva e inversamente quanto menos eacute utilizada mais ela eacute ameaccedilada de extinccedilatildeo Assim
sendo eacute o uso social da liacutengua que determina seu grau de revitalizaccedilatildeo
Por essas razotildees a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Linguiacutesticos (BARCELONA
1996 p 3) tem como ponto de partida
[] as comunidades linguiacutesticas e natildeo os Estados e inscreve-se no quadro do
reforccedilo das instituiccedilotildees internacionais capazes de garantir um desenvolvimento
duradouro e equitativo para toda a humanidade e tem como finalidade favorecer um
quadro de organizaccedilatildeo poliacutetica da diversidade linguiacutestica baseado no respeito na
convivecircncia e nos benefiacutecios reciacuteprocos
Em seu TITULO PREacuteVIO tem como conceitos
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Artigo 1ordm
1 Esta Declaraccedilatildeo entende por comunidade linguiacutestica toda a sociedade humana
que radicada historicamente num determinado espaccedilo territorial reconhecido ou
natildeo se identifica como povo e desenvolveu uma liacutengua comum como meio de
comunicaccedilatildeo natural e de coesatildeo cultural entre os seus membros A denominaccedilatildeo
liacutengua proacutepria de um territoacuterio refere-se ao idioma da comunidade historicamente
estabelecida neste espaccedilo [grifo nosso]
2 Esta Declaraccedilatildeo parte do princiacutepio de que os direitos linguiacutesticos satildeo
simultaneamente individuais e colectivos e adapta como referecircncia da plenitude dos
direitos linguiacutesticos o caso de uma comunidade linguiacutestica histoacuterica no respectivo
espaccedilo territorial entendendo-se este natildeo apenas como a aacuterea geograacutefica onde esta
comunidade vive mas tambeacutem como um espaccedilo social e funcional indispensaacutevel ao
pleno desenvolvimento da liacutengua Eacute com base nesta premissa que se podem
estabelecer em termos de uma progressatildeo ou continuidade os direitos que
correspondem aos grupos linguiacutesticos mencionados no ponto 5 deste artigo e os das
pessoas que vivem fora do territoacuterio da sua comunidade []
Em referecircncia ao Artigo 3ordm
- o direito ao ensino da proacutepria liacutengua e da proacutepria cultura
- o direito a dispor de serviccedilos culturais
- o direito a uma presenccedila equitativa da liacutengua e da cultura do grupo nos meios de
comunicaccedilatildeo
- o direito a serem atendidos na sua liacutengua nos organismos oficiais e nas relaccedilotildees
socioeconomicas []
Em referecircncia ao Artigo 5ordm
Esta Declaraccedilatildeo baseia-se no princiacutepio de que os direitos de todas as comunidades
linguiacutesticas satildeo iguais e independentes do seu estatuto juriacutedico ou poliacutetico como
liacutenguas oficiais regionais ou minoritaacuterias Designaccedilotildees tais como liacutengua regional ou
minoritaacuteria natildeo satildeo usadas neste texto porque apesar de em certos casos o
reconhecimento como liacutengua minoritaacuteria ou regional poder facilitar o exerciacutecio de
determinados direitos a utilizaccedilatildeo destes e doutros adjetivos serve frequentemente
para restringir os direitos de uma comunidade linguiacutestica []
Em referecircncia ao Artigo 23ordm
1 O ensino deve contribuir para fomentar a capacidade de auto-expressatildeo
linguiacutestica e cultural da comunidade linguiacutestica do territoacuterio onde eacute
ministrado[grifo nosso]
2 O ensino deve contribuir para a manutenccedilatildeo e o desenvolvimento da liacutengua falada
pela comunidade linguiacutestica do territoacuterio onde eacute ministrado
3 O ensino deve estar sempre ao serviccedilo da diversidade linguiacutestica e cultural e das
relaccedilotildees harmoniosas entre as diferentes comunidades linguiacutesticas do mundo inteiro
4 No quadro dos princiacutepios anteriores todos tecircm direito a aprender qualquer liacutengua
Em referecircncia aos Artigos 26ordm a 28ordm Artigo 26ordm
Todas as comunidades linguiacutesticas tecircm direito a um ensino que permita a todos os
seus membros adquirirem o perfeito conhecimento da sua proacutepria liacutengua com as
diversas capacidades relativas a todos os domiacutenios de uso da liacutengua habituais bem
como o melhor conhecimento possiacutevel de qualquer outra liacutengua que desejem
aprender
Artigo 27ordm
Todas as comunidades linguiacutesticas tecircm direito a um ensino que permita aos seus
membros o conhecimento das liacutenguas ligadas agrave sua proacutepria tradiccedilatildeo cultural tais
como as liacutenguas literaacuterias ou sagradas usadas antigamente como liacutenguas habituais
da sua comunidade
Artigo 28ordm
Todas as comunidades linguiacutesticas tecircm direito a um ensino que permita aos seus
membros adquirirem um conhecimento profundo do seu patrimocircnio cultural (histoacute-
ria e geografia literatura e outras manifestaccedilotildees da proacutepria cultura) assim como o
melhor conhecimento possiacutevel de qualquer outra cultura que desejem conhecer
(BARCELONA 1996 p 4 a 14)
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Assim nas Disposiccedilotildees Finais no Plenaacuterio da Associaccedilatildeo Internacional para o
Desenvolvimento da Comunicaccedilatildeo Intercultural recomenda agraves Naccedilotildees Unidas que tomem as
medidas necessaacuterias agrave adopccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de uma Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos
Linguiacutesticos considerando a Convenccedilatildeo nuacutemero 169 da Organizaccedilatildeo Internacional do
Trabalho de 26 de Junho de 1989 relativa aos povos indiacutegenas em paiacuteses independentes que
a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Colectivos dos Povos realizada em Maio de 1990 em
Barcelona declara que todos os povos tecircm direito a exprimir e a desenvolver a sua cultura a
sua liacutengua e as suas normas de organizaccedilatildeo e para o fazerem a dotarem-se de estruturas
poliacuteticas educacionais de comunicaccedilatildeo e de administraccedilatildeo puacuteblica proacuteprias em quadros
poliacuteticos diferentes Considerando tambeacutem a Declaraccedilatildeo Final da Assembleia Geral da
Federaccedilatildeo Internacional de Professores de Liacutenguas Vivas aprovada em Peacutecs (Hungria) em 16
de Agosto de 1991 recomenda-se tambeacutem que os direitos linguiacutesticos sejam consagrados
direitos fundamentais
Neste contexto Nascimento (2009 p 25) pontua
Como princiacutepio eacutetico qualquer poliacutetica de liacutenguas deveraacute trabalhar a unidade e a
diversidade Natildeo se trata de poacutelos de contradiccedilatildeo mas de eixos de transiccedilatildeo A
unidade eacute uma razatildeo do Estado e a diversidade ou variedade eacute a mateacuteria linguiacutestica
proacutepria da comunidade pois reflete a liacutengua em uso ou seja as linguagens verbais
por meio das quais os indiviacuteduos se comunicam A unidade eacute resguardada pelo
padratildeo oficializado em um modelo de gramaacutetica e a variedade se faz representar nas
diversas gramaacuteticas praacuteticas e pragmaacuteticas de um Estado linguiacutestico
Quadros e Karnopp (2004) ainda explicam que a linguiacutestica parte de pressupostos
baacutesicos que determinam as investigaccedilotildees Sendo um dos mais importantes eacute de que a
linguagem eacute restringida por determinados princiacutepios ou seja ldquoregrasrdquo que fazem parte do
conhecimento humano das liacutenguas (falada ou sinalizada) da formaccedilatildeo de palavras da
construccedilatildeo das sentenccedilas e da construccedilatildeo dos textos A partir deste pressuposto da
universalidade de tais princiacutepios as investigaccedilotildees linguiacutesticas objetivam estudar os aspectos
especiacuteficos de cada liacutengua os quais revelam as caracteriacutesticas da linguagem humana A
exemplo o inglecircs o portuguecircs a Liacutengua de Sinais Americana a Liacutengua Brasileira de Sinais
e outras Embora apresentem diferenccedilas entre as liacutenguas agraves estruturas satildeo comuns que por
sua vez interessam agraves investigaccedilotildees linguiacutesticas na medida em que eacute a ciecircncia que objetiva
por explicar a natureza da linguagem humana
A partir dessas concepccedilotildees entendemos que os seres humanos estabelecem relaccedilotildees
do mais simples ao mais complexo com o outro por meio de gestos olhares e contato seja
por meio de sons Tudo isso caracteriza a linguagem humana Observa-se que a ldquolinguagemrdquo
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eacute um termo usado pelas pessoas com referecircncia agrave linguagem em geral ou seja em uma
variedade de sentidos para denominar sistemas de comunicaccedilatildeo linguagem musical
linguagem corporal linguagem entre animais etc
No que concerne agrave definiccedilatildeo do termo liacutengua Quadros e Karnopp (2004) encontraram
uma seacuterie de definiccedilotildees de liacutengua que apontam para sua diferenciaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao termo
linguagem Estas fornecem subsiacutedios para a indicaccedilatildeo de propriedades consideradas pela
linguiacutestica essenciais agraves liacutenguas naturais sendo que uma delas eacute dada por Saussure que
afirma
Liacutengua natildeo se confunde com a linguagem eacute somente uma parte determinada
essencial dela indubitavelmente Eacute ao mesmo tempo um produto social da
faculdade de linguagem e um conjunto de convenccedilotildees necessaacuterias adotadas pelo
corpo social para permitir o exerciacutecio dessa faculdade nos indiviacuteduos (QUADROS e
KARNOPP 2004 p24)
Portanto entende-se como liacutengua natural
uma liacutengua que foi criada e eacute utilizada por uma comunidade especiacutefica de usuaacuterios
transmitida de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo e que muda ndash tanto estrutural como
funcionalmente ndash com o passar do tempo Ora qualquer liacutengua pode ser considerada
natural independentemente da modalidade que utilize (SAacute 2006 p 134)
Assim a liacutengua natural eacute tratada enquanto sistema linguiacutestico altamente desenvolvido
apresentando as caracteriacutesticas citadas por Quadros e Karnopp (2004 p 25-28) de
flexibilidade versatilidade arbitrariedade descontinuidade criatividade produtividade dupla
articulaccedilatildeo padratildeo de organizaccedilatildeo dos elementos e dependecircncia estrutural Logo conclui-se
que tais caracteriacutesticas satildeo especiacuteficas da faculdade da linguagem humana
11 Liacutengua de Sinais como Liacutengua Natural
A Liacutengua de Sinais eacute uma liacutengua natural criada pelas comunidades surdas Segundo
Skliar (1998 p26) ldquoTodas as crianccedilas surdas podem adquirir a Liacutengua de Sinais desde que
participem das interaccedilotildees quotidianas com a comunidade surda como acontece com qualquer
outra crianccedila na aquisiccedilatildeo de uma liacutengua naturalrdquo Skliar esclarece que liacutengua ldquonaturalrdquo natildeo
se refere a uma espontaneidade bioloacutegica mas como liacutengua que foi criada e eacute utilizada por
uma comunidade especiacutefica de usuaacuterios que transmite de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo e que muda com
o passar do tempo tanto estruturalmente como funcionalmente (IDEM p27)
As Liacutenguas de Sinais satildeo diferentes em cada comunidade com caracteriacutesticas das
liacutenguas orais com estruturas gramaticais proacuteprias que as distingue dos demais sistemas de
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comunicaccedilatildeo Para Quadros e Karnopp (2004 p 30) ldquoAs liacutenguas de sinais satildeo portanto
consideradas pela linguiacutestica como liacutenguas naturais ou como um sistema linguiacutestico legiacutetimo e
natildeo como um problema do surdo ou como uma patologia da linguagemrdquo7
Para o reconhecimento das Liacutenguas de Sinais como liacutenguas naturais Ramos (2013 p
8) destaca o conceito ldquonaturalrdquo em oposiccedilatildeo a ldquocoacutedigo e linguagemrdquo e a avaliaccedilatildeo apresenta
as semelhanccedilas existentes entre as mesmas e as liacutenguas orais Sendo que uma dessas
semelhanccedilas na linha saussuriana eacute a ldquoexistecircncia de unidades miacutenimas formadoras de
unidades complexas pode ser observada em todas as Liacutenguas de Sinais espalhadas pelo
mundo possuidoras dos niacuteveis fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico e pragmaacuteticordquo
As liacutenguas de sinais apresentam ldquoregistros diversos (por categoria profissional status social
idade niacutevel escolar etc) aleacutem de dialetos regionais tambeacutem referendam as semelhanccedilas com
as liacutenguas oraisrdquo (IDEM p 8)
Estudos aprofundados sobre a Liacutengua de Sinais iniciaram a partir da deacutecada de 1950
com o estudioso da linguiacutestica o americano William Stokoe o qual percebeu e provou que a
Liacutengua de Sinais
[] satisfazia todos os criteacuterios linguiacutesticos de uma liacutengua genuiacutena no leacutexico na
sintaxe na capacidade de gerar um nuacutemero infinito de proposiccedilotildees [] Stokoe
convenceu-se de que os sinais natildeo eram figuras e sim complexos siacutembolos abstratos
com uma estrutura interna complexa Foi entatildeo o primeiro a buscar uma estrutura a
analisar os sinais dissecaacute-los procurar as partes constituintes Desde o comeccedilo ele
tentou demonstrar que cada sinal possuiacutea pelo menos trecircs partes independentes ndash
7 Sobre a surdez temos duas abordagens segundo explica Skliar a cliacutenico terapecircutica e a soacutecio-antropoloacutegica
A visatildeo soacutecioantropoloacutegica descreve a surdez em termos contraacuterios agraves noccedilotildees de patologia e de deficiecircncia
(1998 p10) Durante o seacuteculo passado construi-se o imaginaacuterio de que o surdo era um deficiente que
necessitava falar Segundo Casarin (1996 p2) ldquoNesse discurso deacuteficit doenccedila patologia anomalia implicam
apenas a possibilidade de sequumlecircncia diagnoacutestico tratamento-cura caracteriacutesticas da abordagem meacutedicardquo [] Tal
concepccedilatildeo influecircnciou outras aacutereas do conhecimento inclusive na educaccedilatildeo sobre a forma de perceber o surdo
Cesarian ainda explica que a partir daiacute foram assimilando o imaginaacuterio de que a surdez era uma doenccedila e que o
surdo por natildeo falar era um deficiente que precisava ser curado construindo entre as aacutereas de tratamento um
modelo terapecircutico para o deficiente auditivo Apoacutes as influecircncias da medicina na educaccedilatildeo dos surdos o
modelo cliniacuteco-terapecircutico passa a impor propostas educativas do oralismo dando continuidade agora na aacuterea
educacional ao tratamento do deficiente o mais cedo possivel na escola a fim que ele se enquadre ao modelo
normal modelo ouvinte Logo as escolas apresentavam como instituiccedilotildees de reeducaccedilatildeo da fala desenvolvendo
atividades pedagoacutegicas que tinham como objetivo o treinamento e exerciacutecios com fins a trazer o surdo o mais
possiacutevel do ldquonormalrdquo Perde-se assim muito tempo no processo de ensino aprendizado do sujeito surdo levando
a um fracasso escolar Surge entatildeo a nova concepccedilatildeo nomeada como soacutecio-antropoloacutegica de surdez totalmente
oposta agrave anterior Essa concepccedilatildeo parte das capacidades do sujeito quando considera a liacutengua de sinais como
melhor garantia para o desenvolvimento normal do surdo Esta nova concepccedilatildeo traz a valorizaccedilatildeo da lingua de
sinais e como consequecircncia o reconhecimento das especificidade culturais das comunidades surdas Estudos
feitos por linguiacutesticas observaram o desempenho escolar de pessoas surdas que se comunicam desde a infacircncia
por meio da Liacutengua de Sinais e que demostraram ganhos significativos em divesas aacutereas do desenvolvimento
humano Deixando claro a necessidade do uso da Liacutengua de Sinais como liacutengua natural da pessoa surda (1996
p 3)
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localizaccedilatildeo configuraccedilatildeo das matildeos e movimento executado (anaacuteloga aos fonemas
da fala) ndash e que cada parte apresentava um nuacutemero limitado de combinaccedilotildees []
(SACKS 1998 p 88-89)
Segundo Ramos (2013 p 9) em 1988 o venezuelano Saacutenchez fez pesquisas sobre as
liacutenguas de sinais e os resultados apresentou ao educador francecircs Jean Foucambert No debate
sobre suas pesquisas ldquosurgiu agrave proposta de um tipo de educaccedilatildeo que privilegiasse a liacutengua
natural da comunidade surda - a Liacutengua de Sinais Venezuelana e a escrita da liacutengua da
comunidade oral o Espanholrdquo Um dos primeiros princiacutepios que lanccedilou a base para a que a
liacutengua de sinais fosse reconhecida como liacutengua natural foi descrita por Foucambert (RAMOS
2013 p 10)
Natildeo soacute os surdos mas toda e qualquer crianccedila pode aprender a liacutengua escrita sem
basear-se na oral porque satildeo independentes Em segundo lugar chegou-se agrave
afirmaccedilatildeo de que a liacutengua de sinais eacute uma liacutengua natural e que os surdos satildeo uma
comunidade linguiacutestica minoritaacuteria com direito a desenvolver sua cultura proacutepria
dentro da cultura majoritaacuteria O fato de a Liacutengua de Sinais cumprir uma seacuterie de
requisitos que todas as liacutenguas naturais possuem - espanhol portuguecircs alematildeo
inglecircs polonecircs a criatividade eacute um deles - pode-se sempre dizer alguma coisa
nova Outro requisito eacute a combinaccedilatildeo de partiacuteculas natildeo significativas que usadas de
certa maneira criam significaccedilatildeo [] Com 30 40 configuraccedilotildees da matildeo podem-se
transmitir milhares de sinais significativos como os fonemas da liacutengua oral A
liacutengua de sinais que como as liacutenguas nacionais eacute diferente em cada paiacutes e ateacute em
regiotildees dos paiacuteses possui aleacutem do mais uma gramaacutetica toda proacutepria organizada e
complexa e nos permite transmitir qualquer coisa [] Com ela pode-se transmitir
criar e recriar o que se quiser poesia romance filosofia E pode-se ateacute formular
ideacuteias com duplo sentido ou mentir que eacute outra caracteriacutestica das liacutenguas naturais
Por meio das pesquisas e estudos diversos paiacuteses passaram a se dedicar no campo da
linguiacutestica da Liacutengua de Sinais eacute que criou-se a possibilidade do povo surdo lutar pelo seu
reconhecimento enquanto liacutengua na medida em que pode contar com estudos que provam
cientificamente de que as Liacutenguas de Sinais satildeo de fato liacutenguas e natildeo um conjunto de
miacutemica
12 Liacutengua Brasileira de Sinais
O ser humano se expressa atraveacutes da liacutengua e a partir dela estabelece sua cultura
valores e padrotildees sociais Para os surdos brasileiros a Libras estabelece essas condiccedilotildees pois
considera a modalidade visual-espacial e associa caracteriacutesticas sociolinguiacutesticas as funccedilotildees
pragmaacuteticas e discursivas semelhantes agraves liacutenguas orais poreacutem a Liacutengua de Sinais por muito
tempo natildeo foi percebida enquanto estrutura linguiacutestica
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A LIBRAS como toda Liacutengua de Sinais eacute uma liacutengua de modalidade gestual-visual
uma vez que faz uso para a comunicaccedilatildeo de movimentos gestuais e expressotildees faciais
percebidos pela visatildeo Neste sentido a Revista Feneis Ramos (2002 apud RAMOS 2013 p
7-8) ldquoa Liacutengua Portuguesa eacute uma liacutengua de modalidade oral-auditiva por utilizar como canal
ou meio de comunicaccedilatildeo sons articulados que satildeo percebidos pelos ouvidosrdquo Suas diferenccedilas
estatildeo na utilizaccedilatildeo de canais diferentes e nas estruturas gramaticais de cada liacutengua
Para Campello (2009) historicamente os primeiros estudos da Liacutengua de Sinais
apareceram no seacuteculo XIV exatamente nos anos de 1644 pelo inglecircs Bulwer J B com o livro
de Liacutengua de Sinais Inglesa Chirologia8 on the natural language of the hand com os estudos
destacando as figuras das matildeos e seus significados Menciona tambeacutem que era recompensa
de natureza que os surdos devam se comunicar atraveacutes dos gestos e acreditava firmemente na
ldquonecessidade que opera a Natureza dos homens que nascem Surdos-Mudos que podem
discutir mostrar sinalizar retoricamente por sinaisrdquo (p 13)
Em 1960 W C Stokoe pesquisador inglecircs da Gallaudet University fez uma pesquisa
entre as gramaacuteticas utilizadas pelos surdos em sala de aula e fora dela e os resultados foram
publicados no artigo Sign Language Structure na outline of the visual communication system
of the American Deaf na revista Studies in Linguistics Occassional Papers 8 (CAMPELLO
2009) E eacute a partir destes estudos que Stokoe afirma que a Liacutengua de Sinais eacute liacutengua
Stokoe (1960) ldquopercebeu e comprovou que a liacutengua de sinais atendia a todos os
criteacuterios linguiacutesticos de uma liacutengua genuiacutena no leacutexico na sintaxe e na capacidade de
gerar uma quantidade infinita de setenccedilasrdquo Stokoe observou que os sinais natildeo eram
imagens mas siacutembolos abstratos complexos com uma complexa estrutura interior
[] Comprovou inicialmente inicialmente que cada sinal apresentava pelo menos
trecircs partes independentes (em analogia com os fonemas da fala) ndash a localizaccedilatildeo a
configuraccedilatildeo de matildeos e o movimento ndash e que cada parte possuiacutea um nuacutemero
limitado de combinaccedilotildees [] (QUADROS E KARNOPP 2004 p 30-31)
Os estudos do linguiacutesta representou o primeiro passo para outras pesquisas em relaccedilatildeo
a Liacutengua de Sinais Em diversos paiacuteses pesquisas foram realizadas O Brasil foi um deles
No Brasil no final dos anos de 1970 a proposta da educaccedilatildeo biliacutengue reconhece a
Libras como liacutengua natural portanto deve ser ensinada como primeira liacutengua desde o iniacutecio
da escolarizaccedilatildeo da crianccedila surda e a comunidade surda reconhece o portuguecircs como a liacutengua
oficial do Brasil e deve ser ensinada como segunda liacutengua na forma oral ou escrita
(SLOMSKI 2010)
8 Bulwer (1644) em seu livro esclarece que a quirologia eacute um dicionaacuterio de gestos manuais e quirema eacute um
manual para o uso efetivo do gesto de falar em puacuteblico
24
Segundo Quadros (2009 p144) no entanto a Liacutengua de Sinais comeccedilou a ser
investigada efetivamente nas deacutecadas de 80 e 90 por Ferreira Brito (1986 1995) Felipe
(1992 1993) Quadros (1995 1999) e a aquisiccedilatildeo da Liacutengua Brasileira de Sinais nos anos 90
(Karnopp (1994 1999 Quadros (1995 1997)
Na deacutecada de 1980 a 1990 tem-se um panorama mundial para a abordagem biliacutengue
na educaccedilatildeo de surdos Slomski (2010 p 61) destaca que em 1994 Lucinda Ferreira Brito
passa a utilizar a abreviaccedilatildeo de LIBRAS (Liacutengua Brasileira de Sinais) criada pela comunidade
surda Consequentemente pesquisas estudos e lutas da comunidade surda contribuiacuteram para a
instauraccedilatildeo de uma poliacutetica linguiacutestica da Liacutengua Brasileira de Sinais A que reconhece o
estatuto linguiacutestico legal por meio da Lei 10436 de 24042002
Art 1ordm Eacute reconhecida como meio legal de comunicaccedilatildeo e expressatildeo a Liacutengua
Brasileira de Sinais ndash Libras e outros recursos de expressatildeo e por ela associados
Paraacutegrafo uacutenico Entende-se como Liacutengua Brasileira de Sinais ndash Libras a forma e
comunicaccedilatildeo e expressatildeo em que o sistema linguiacutestico de natureza visual-motora
com estrutura gramatical proacutepria constituem um sistema linguiacutestico de transmissatildeo
de ideias e fatos oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil
[](BRASIL 2007 p 2)
A Liacutengua de Sinais como jaacute mencionado eacute uma liacutengua natural composta por de todos
os componentes agraves liacutenguas orais como gramaacutetica semacircntica pragmaacutetica sintaxe e outros
elementos preenchendo os requisitos cientiacuteficos para ser considerado um sistema linguiacutestico
Conforme Felipe e Monteiro (2004 p23) as Liacutenguas de Sinais satildeo compostas por
signos linguiacutesticos denominados bdquosinais‟ encontrados nos seguintes paracircmetros
Configuraccedilatildeo das Matildeos Ponto de Articulaccedilatildeo Movimento Orientaccedilatildeo Expressatildeo Facial eou
Corporal Estes paracircmetros satildeo requisitos necessaacuterios para que sejam constituiacutedos os sinais
Portanto a Liacutengua de Sinais eacute considerada como liacutengua natural do sujeito surdo
como sua primeira liacutengua-L1 Jaacute a liacutengua majoritaacuteria de um paiacutes no caso do Brasil eacute a
Liacutengua Portuguesa como L2 Partindo do pressuposto que a Liacutengua de Sinais eacute a primeira
liacutengua do surdo a aquisiccedilatildeo da primeira liacutengua pelas crianccedilas surdas deve se dar de forma
natural no contato com surdos sinalizados pertencentes agrave comunidade surda A Liacutengua
Portuguesa por sua vez eacute aprendida de forma sistemaacutetica ou seja precisa ser ensinada por
meio de teacutecnicas especiacuteficas de ensino de segunda liacutengua
A partir desta compreensatildeo as crianccedilas surdas precisam ter a oportunidade do contato
com seus pares Crianccedilas surdas que natildeo tecircm um conviacutevio com surdos por terem nascido
dentro de familias ouvintes que usam a liacutengua oral precisam que os pais familiares
25
oportunizem a elas o mundo essencialmente visual-espacial para conhecer a Liacutengua de
Sinais Sobre a questatildeo Quadros (2005 p30) afirma
As crianccedilas surdas e seus pais ouvintes poderiam compartilhar o bilinguismo liacutengua
portuguesa e liacutengua de sinais brasileira e ir aleacutem descobrindo os vieses das culturas
e identidade que se entrecruzam [] Assim as crianccedilas surdas precisam ter acesso
agrave liacutengua de sinais com sinalizantes fluentes desta liacutengua muito cedo Estes
sinalizantes satildeo pessoas que normalmente natildeo fazem parte do ciacuterculo de pessoas
que a crianccedila usualmente teria contato Os pais teratildeo que conhecer comunidade
surda que usa esta liacutengua
Nesta perspectiva Souza (apud QUADROS 2005) menciona que se no iniacutecio do seu
desenvolvimento a crianccedila surda tiver a chance de contar com pais dispostos a aprenderem a
liacutengua de sinais com adultos surdos colegas surdos e conversarem ldquosinalizandordquo a
dimensatildeo do seu processo educacional seraacute outra A aquisiccedilatildeo da liacutengua seraacute transferida para
o espaccedilo escolar ldquoO fato de passar a ter contato com a liacutengua portuguesa com significado
trazendo seus conceitos adquiridos na sua proacutepria liacutengua possibilitaraacute um processo muito
mais significativordquo (ibid p33)
Por isso eacute de importacircncia fundamental a crianccedila surda esteja em contato linguiacutestico
com a liacutengua de sinais o mais cedo possiacutevel seja com a comunidade surda ou com seus pais
ouvintes que adquiriram a Liacutengua de Sinais como L2 Estes fatores iratildeo influenciar a crianccedila
estabelecer a sua identidade e cultura surda naturalmente Neste sentido Fantinel (1999 p2)
menciona que ldquoo uso da Liacutengua de Sinais eacute uma condiccedilatildeo fundamental na construccedilatildeo da
identidade dessas pessoas pois eacute o fator que os aproxima e reuacutene em grupos permitindo-lhes
expressarem-se construindo significados para a vidardquo
A Liacutengua de Sinais portanto eacute um aspecto fundamental da cultura surda Para tanto
Strobel (2008 p44) ainda enfatiza que para que o sujeito surdo possa ter acesso agraves
informaccedilotildees e conhecimentos aleacutem de construir sua identidade eacute fundamental criar uma
ligaccedilatildeo com o povo surdo que usa a sua liacutengua em comum pois a Liacutengua de Sinais eacute uma das
principais marcas da identidade de um povo surdo uma particularidade da cultura surda uma
forma de comunicaccedilatildeo que capta as experiecircncias visuais dos sujeitos surdos E somente a
partir do uso desta liacutengua que a crianccedila conseguiraacute seu pleno desenvolvimento cognitivo
psicoloacutegico emocional e cultural proporcionando assim a aquisiccedilatildeo do conhecimento
universal
Desta forma ao refletirmos sobre a pessoa surda na construccedilatildeo de sua identidade e
cultura surda entende-se que o contato linguiacutestico eacute essencial Logo o que dizer das pessoas
26
surdas que vivem isoladas de comunidades surdas que natildeo tem esse contato com Liacutengua de
Sinais Sobre esta realidade Strobel esclarece que
No entanto incluem tambeacutem os gestos denominados ldquosinais emergentesrdquo ou ldquosinais
caseirosrdquo dos sujeitos surdos de zonas rurais ou sujeitos isolados de comunidades
surdas que procuram entender o mundo atraveacutes dos experimentos visuais e que
procuram comunicar apontando e criando sinais [] (ibidem p44)
Ainda sobre a questatildeo Vilhalva (2012 p 30) ressalta que ldquo[] Os sinais emergentes
tambeacutem conhecidos como sinais caseiros satildeo essenciais quando vistos como comunicaccedilatildeo
natural usada em um espaccedilo familiar ou social []rdquo Nesse caso podemos referir ao iacutendio
surdo que vive isolado do contato com a comunidade surda Este surdo tambeacutem se identifica
com o povo surdo apesar de natildeo ter contato e de natildeo pertencer agraves mesmas comunidades
surdas na medida em que de acordo com Strobel (2008) eles compartilham as mesmas
peculiaridades ou seja constroem sua formaccedilatildeo de mundo atraveacutes de artefato cultural visual
13 Liacutenguas de Sinais Indiacutegenas pesquisadas no Brasil
Os registros da existecircncia de iacutendios surdos segundo Vilhalva (2008) apontam para o
Estatuto do Iacutendio - Lei nordm 6001 de 19121973 que norteou as relaccedilotildees do Estado brasileiro
com as populaccedilotildees indiacutegenas ateacute a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 em seu Paraacutegrafo
uacutenico do Art 1ordm assegura
Aos iacutendios e agraves comunidades indiacutegenas se estende a proteccedilatildeo das leis do Paiacutes nos
mesmos termos em que se aplicam aos demais brasileiros resguardados os usos
costumes e tradiccedilotildees indiacutegenas bem como as condiccedilotildees peculiares reconhecidas
nesta Lei
Neste sentido no Brasil a liacutengua oficial eacute a Liacutengua Portuguesa Fossile (2013 p 4)
afirma que ldquoo paiacutes conta atualmente segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatiacutestica (IBGE) com aproximadamente 210 liacutenguas sendo 190 delas indiacutegenasrdquo Essas
liacutenguas indiacutegenas satildeo consideradas como liacutenguas minoritaacuterias sem importacircncia em relaccedilatildeo ao
portuguecircs No entanto algumas possuem mais prestiacutegio em relaccedilatildeo agraves outras
Em relaccedilatildeo ao conhecimento da liacutengua e da diversidade na dinacircmica soacutecio-cultural das
populaccedilotildees indiacutegenas deveria haver prioridades para estudos no campo linguiacutestico para
acadecircmicos e pesquisadores indios De fato o conhecimento das liacutenguas faladas e no
contexto tem-se essa diversidade para iacutendios surdos deveria ser compartilhada com a
27
sociedade indiacutegena de forma que esta possam participar ativamente na elaboraccedilatildeo de poliacuteticas
e programas que respondam agraves suas necessidades seus direitos considerando-se em particular
suas culturas e liacutenguas
Segundo Vilhalva (2008) pesquisas no campo da linguiacutestica e de poliacuteticas linguiacutesticas
avanccedilaram consideravelmente no Brasil Tendo poreacutem ainda uma grande necessidade de
maiores pesquisas principalmente referente a diferentes Liacutenguas de Sinais pertencentes a
diferentes comunidades como as dos povos indiacutegenas Neste sentido a autora argumenta
A Liacutengua de Sinais Indiacutegenas praticadas pelos iacutendios surdos existentes em diversas
comunidades indiacutegenas do paiacutes traz consigo caracteriacutesticas culturais e linguiacutesticas
variadas bdquoInfelizmente raramente satildeo registradas como satildeo registradas outras liacutenguas
brasileiras de diferentes comunidades com suas especificidades culturais e eacutetnicas ‟
(VILHALVA 2008 p 29)
Sobre a questatildeo Nonaka coloca que
desde 1960 quando se iniciaram os estudos linguiacutesticos e antropoloacutegicos em
referecircncia agraves Liacutenguas de Sinais a maior parte das investigaccedilotildees tem incidido sobre
as Liacutenguas de Sinais nacionais ou padratildeo usadas pelos surdos de diferentes paiacuteses
com escassa atenccedilatildeo agraves Liacutenguas de Sinais usadas pelos indiacutegenas em sua
comunicaccedilatildeo original (apud VILHALVA 2012 p 30)
Por isso Vilhalva defende a comunicaccedilatildeo dos iacutendios surdos como objeto de estudo da
linguiacutestica afirmando que
[] Sabemos tambeacutem que a Libras estaacute presente nas terras indiacutegenas
apontando que a influecircncia aconteceraacute Sendo assim consideramos quanto o leacutexico
das liacutenguas estaacute no processo de mudanccedilas atraveacutes do neologismo espontacircneo ou o
empreacutestimo linguiacutestico de outras liacutenguas (ibid p37)
Observa-se que os estudos sobre a Libras nas terras indiacutegenas comeccedilaram na deacutecada
de 1980 com pesquisas da brasileira Lucinda Ferreira Brito sobre a Liacutengua Brasileira de
Sinais Segundo Slomski (2010) Lucinda Ferreira Brito iniciou sua pesquisa atraveacutes de um
padratildeo internacional de abreviaccedilatildeo das Liacutenguas de Sinais adotando a sigla LSCB ndash Liacutengua de
Sinais dos Centros Urbanos Brasileiros para diferenciaacute-la da LSKB ndash Liacutengua de Sinais
Kaapor Brasileiros que eram a utilizada pelos iacutendios do Estado do Maranhatildeo
Diante do panorama exposto se faz necessaacuterio no campo da linguiacutestica dos estudos
surdos pesquisas sobre a Liacutengua de Sinais usadas pelos iacutendios surdos nas diferentes
comunidades indiacutegenas para que seja reconhecida e registrada Infelizmente somente uma
28
liacutengua indiacutegena eacute oficialmente reconhecida no Brasil a Liacutengua de Sinais Indiacutegena da
comunidade Urubu-Kaapor devido ao alto iacutendice de surdos
131 Liacutengua de Sinais Urubu-Kaapor
Os resultados do Censo 2010 (IBGE 2013) apontam para 274 liacutenguas indiacutegenas
faladas por indiviacuteduos pertencentes a 305 etnias diferentes Embora haja a necessidade de
estudos linguiacutesticos e antropoloacutegicos mais aprofundados quanto aos nuacutemeros totais de liacutengua
e etnia
Dentro desse universo a uacutenica Liacutengua de Sinais indiacutegena reconhecida conforme
referido anteriormente eacute a utilizada pela etnia indiacutegena brasileira dos Urubu-Kaapor9
chamados tambeacutem por urubus-caapores Os estudos sobre essa Liacutengua de Sinais apontam para
o iniacutecio da deacutecada de 1950
De acordo com Ribeiro (1996 apud FASSILE 2013 p 2)
Em 1950 foi descoberto no Brasil um grupo indiacutegena atraveacutes de pesquisas
antropoloacutegicas os Urubu-Kaapor na floresta Amazocircnica (Maranhatildeo) que falava
uma variaccedilatildeo da liacutengua de sinais Somente a partir da deacutecada de 1980 estudos
linguiacutesticos relacionados agrave Liacutengua de Sinais Kaapor Brasileira (LSKB) foram
aprofundados (sobre a LSKB cf KAKUMASU J KAKUMASU K 1977)
Segundo Brito (1993 apud FASSILE 2013 p 2) J Kakumasu defendeu que ldquo[] a
Liacutengua de Sinais dos Urubu-Kaapor [] [se constituiacutea como] um veiacuteculo de comunicaccedilatildeo
intratribal e natildeo como meio de transaccedilatildeo comercialrdquo Neste sentido resgata-se que
No Brasil Lucinda Brito inicia seus importantes estudos linguiacutesticos em
1982 sobre a Liacutengua de Sinais dos iacutendios Urubu-Kaapor da floresta amazocircnica
brasileira apoacutes um mecircs de convivecircncia com os mesmos documentando em filme
sua experiecircncia A ideia para a pesquisa adveio da leitura de um artigo publicado no
livro de Umiker-Sebeok (1978) de autoria de J Kakumasu Urubu Sign Language
No estudo a Liacutengua de Sinais dos Urubu-Kaapor se diferenciaria da PSL por
constituir um veiacuteculo de comunicaccedilatildeo intratribal e natildeo como meio de transaccedilatildeo
comercial Lucinda Brito poreacutem constatou que a mesma se tratava de uma legiacutetima
Liacutengua de Sinais dos surdos pelos mesmos criados
O interessante de se observar no caso dos Urubu-Kaapor eacute que os ouvintes da
aldeia falam a Liacutengua de Sinais e a liacutengua oral evidentemente enquanto que os
surdos se restringem agrave Liacutengua de Sinais Assim os ouvintes da aldeia se tornam
biliacutengues enquanto os surdos se mantecircm monoliacutengues (RAMOS 2011 p 6)
9 Disponiacutevel emlthttpwwwlibrascombrurubu-kaaporgt Acesso em 19112013
29
A Liacutengua Kaapor eacute uma liacutengua da famiacutelia Tupi-Guarani natildeo falada por outra tribo ou
povo exceto como segunda liacutengua Possuem uma liacutengua de sinais proacutepria (a Liacutengua Brasileira
de Sinais Kaapor) usada tanto pela comunidade surda do povo como tambeacutem por seus
membros natildeo surdos na comunicaccedilatildeo com os surdos
[] os Kaapor satildeo linguisticamente peculiares na Amazocircnia por terem uma
linguagem padratildeo de sinais usada para a comunicaccedilatildeo com os surdos que ateacute a
metade dos anos 80 compunham cerca de 2 da totalidade de sua populaccedilatildeo A
incidecircncia de surdez deveu-se evidentemente agrave bouba neonatal e endecircmica que foi
erradicada10
O interessante eacute que a comunidade indiacutegena desenvolveu uma forma proacutepria de
comunicaccedilatildeo por sinais que comeccedilou a ser estudada na deacutecada de 1960 pelo pesquisador
canadense James Kakumasu em (1968) e em seguida pela linguista brasileira Linguista
Lucinda Ferreira Brito ldquo[] A Liacutengua de Sinais Brasileira para diferenciaacute-la da LSKB
(Liacutengua de Sinais Kaapor Brasileira) utilizados pelos iacutendios Urubu-Kaapor no Estado do
Maranhatildeordquo (GOLDFELD 1997 p 30) A pesquisadora registrou a existecircncia da Liacutengua de
Sinais Kaapor em sua pesquisa sobre termos baacutesicos para cores em Liacutengua de Sinais
132 Liacutengua de Sinais Emergentes
Vilhalva (2012) se preocupou sobre a situaccedilatildeo linguiacutestica dos iacutendios surdos trazendo
grandes contribuiccedilotildees cientiacuteficas na aacuterea da linguiacutestica referente agraves Liacutenguas de Sinais
Indiacutegenas Sua pesquisa iniciou em 1991 com iacutendios surdos na comunidade indiacutegena de Satildeo
Marcos
O estudo dos sinais emergentes que se deseja apresentar objetiva natildeo apenas
recuperar os registros sobre as liacutenguas padratildeo mas tambeacutem e sobretudo procurar
realizar um levantamento de como se apresenta atualmente o uso desses sinais
emergentes e ateacute mesmo da histoacuteria da produccedilatildeo desses sinais para que se possa
fazer o registro cientifico sobre a situaccedilatildeo linguiacutestica dos iacutendios surdos dentro das
escolas indiacutegenas [] (VILHALVA 2012 p11a)
Souza e Segala (2009 p28) abordam que a maior parte das liacutenguas nasceu do
contato entre duas ou mais liacutenguas ou de uma liacutengua e sistemas de sinais caseiros (Liacutengua de
Sinais Primaacuteria) Observa-se que ldquosinais caseiros ou Liacutengua de Sinais Primaacuterios
correspondentes aos gestos ou construccedilatildeo simboacutelica inventadas no acircmbito familiar eacute comum
10
Disponiacutevel emlthttppibsocioambientalorgptpovokaaporgt Acesso em 19112013
30
a constituiccedilatildeo de um sistema convencional de comunicaccedilatildeo entre matildee-ouvinte e crianccedila
surdardquo
Sobre a origem dos sinais emergentes Vilhalva explica que
[] os sinais emergentes foram criados devido a uma necessidade de comunicaccedilatildeo
passando por sinais indicativos icocircnicos e arbitraacuterios A maneira como cada sinal
surge levam tempo para se entender principalmente quando os sinais satildeo criados
conforme o neologismo11
Esses novos sinais passam a fazer parte da comunicaccedilatildeo
para depois designar algo consistentemente como acontece tambeacutem agraves liacutenguas
orais-auditivas (2012 p137-138)
Desta forma a autora em sua pesquisa argumenta que os sinais emergentes
considerados em seu estudo como Liacutengua de Sinais constituem como o meio de
comunicaccedilatildeo primaacuteria dos iacutendios surdos das comunidades indiacutegenas do Mato Grosso do Sul
Partindo deste achado Rousseau jaacute mencionava em seus estudos ldquoEnsaio sobre a origem das
liacutenguasrdquo que
O uso e a necessidade ensinam a cada um a liacutengua de seu paiacutes mas o que eacute que faz
com que essa liacutengua seja a de seu proacuteprio paiacutes e natildeo a de um outro [] No
momento em que um homem foi reconhecido por um outro como um ser sensiacutevel
pensante e semelhante a ele o desejo ou a necessidade de comunicar-lhe os proacuteprios
sentimentos e os proacuteprios pensamentos fez com que procurasse os meios de fazecirc-lo
(2008 p 97)
Assim o primeiro contato do ser humano eacute com o outro da mesma espeacutecie No caso da
matildee com seu filho Conforme Sacks (1998 p 7) comenta que
[] a primeira comunicaccedilatildeo geralmente se daacute entre matildee e filho e a liacutengua eacute
adquirida emerge entre eles dois Sendo assim Os sinais emergentes tambeacutem satildeo
fruto da linguagem num processo visual usados pelos surdos indiacutegenas e seus
familiares ouvintes na interaccedilatildeo com o meio (VILHALVA 2012 p 137)
Vilhalva (2012) entatildeo percebeu a predominacircncia dos gestos caseiros criados pelos
proacuteprios surdos para interagirem com suas famiacutelias e com as pessoas que os rodeiam Ou
seja a crianccedila surda que nasce na famiacutelia de ouvinte comeccedila a criar a partir de um meio de
comunicaccedilatildeo visual usando todas as formas naturais possiacuteveis desde o apontamento ateacute os
gestos naturais O uso que destes sinais criados pelas necessidades do ambiente familiar com
o passar do tempo vatildeo se convencionando a forma de interaccedilatildeo dialoacutegica passando a
transformar-se em um meio de comunicaccedilatildeo essencial resultando assim no processo
11
Satildeo palavras criadas para designar novas situaccedilotildees novos conceitos fatos objetos etc sendo que um
neologismo soacute eacute sentido como tal durante algum tempo pois passados anos ou seacuteculos deixa de ter sentido
como tal porque a realidade que ele designa jaacute natildeo eacute nova
31
evolutivo dos sinais familiares para os sinais emergentes para transiccedilatildeo para a Liacutengua de
Sinais ou seja arbitraacuteria convencional Esse processo se daacute por meio do processo cognitivo
fundamentada na teoria de Cuxac
Construccedilatildeo do dizer a partir do processo criativo de performance gestual Iconizando
da experiecircncia perceptivo-praacutetica Rotinas de Transferecircnciandashpassagem da ilustraccedilatildeo
especifica para a categorizaccedilatildeo geneacuterica Sinais estabelecidos num grupo reduzido
categorias e generalizaccedilotildees dos sinais gestuais Nasce uma liacutengua de Sinais com
todas as propriedades de uma liacutengua (apud VILHALVA 2012 p138)
Vilhalva (2012) ainda destaca que se observarmos a Lei nordm 10436 de 24 de abril de
2002 vamos verificar que em seu artigo primeiro ldquoficam reconhecidos como meio legal de
comunicaccedilatildeo e expressatildeo a Liacutengua Brasileira de Sinais-Libras ndash e outros recursos de
expressatildeo a ela associadosrdquo Nesses bdquooutros recursos‟ podem figurar segundo compreensatildeo
da mesma os sinais emergentes produzidos nas comunidades indiacutegenas Se a Liacutengua
Brasileira de Sinais uma forma de comunicaccedilatildeo e expressatildeo cujo canal de produccedilatildeo e
recepccedilatildeo eacute de natureza visual-motora com estrutura gramatical proacutepria constituindo um
sistema linguiacutestico de transmissatildeo de ideias e fatos oriundos de comunidades de pessoas
surdas no Brasil conforme estaacute na lei eacute compreensivo dizer que nada fala sobre um padratildeo de
sinalizaccedilatildeo (p34)
Conclui-se que conforme pesquisa da autora citada os estudos dos sinais emergentes
mostraram que este eacute o ponto inicial das novas Liacutenguas de Sinais que segundo a mesma
merecem ser aprofundadas
1321 Realidade do contexto educacional escolar do indiacutegena surdo
Vilhalva (2012) destaca que o indiviacuteduo surdo soacute teraacute um sistema gestual linguiacutestico
organizado no contato do agrupamento comunitaacuterio especificamente da comunidade surda
com o contato com a Liacutengua de Sinais E isso muitas vezes acontece em geral somente no
acircmbito escolar biliacutengue onde haacute outros surdos inteacuterpretes e professores ouvintes que fazem
uso da Liacutengua de Sinais Por isso eacute essencial uma escola que respeite a diversidade linguiacutestica
como no caso desta comunidade Desta forma se faz necessaacuterio presenccedila na escola de
inteacuterpretes vindo das cidades mais proacuteximas das terras indiacutegenas de modo que
32
[] o Professor ministra as aulas em Portuguecircs e tem disciplina em Guarani
Observamos que pelo fato de os professores da pedagogia diferenciada indiacutegena
realizarem sua formaccedilatildeo em universidades locais onde o assunto em torno da surdez
e da Libras satildeo discutidos estes profissionais tecircm uma formaccedilatildeo que respeita natildeo soacute
a cultura e a liacutengua indiacutegena mas tambeacutem a cultura e a Liacutengua de Sinais
caracteriacutesticas que estatildeo presentes nas escolas indiacutegenas biliacutengues em que a liacutengua
de instruccedilatildeo eacute o Guarani-Portuguecircs(VILHALVA 2012 p 11b)
Poreacutem o que natildeo eacute o caso da escola Araporatilde mencionada por Vilhalva (2012) que teve
preferecircncia do inteacuterprete indiacutegena para a preservaccedilatildeo da cultura liacutengua e saber Foi observado
na pesquisa que os indiacutegenas surdos com vinte anos de idade em diante demonstram
seguranccedila ao sinalizar com o pesquisador surdo usando seus sinais emergentes de forma
natural Os mais novos de escolas indiacutegenas mas da mesma comunidade indiacutegena natildeo
demonstraram o uso de sinais emergentes e sim apresentaram diretamente sua comunicaccedilatildeo
em Libras Entretanto os resultados apontam que natildeo haacute como dizer se o atendimento
educacional para o iacutendio surdo estaacute acontecendo em todas as comunidades indiacutegenas ldquopois
interfere numa questatildeo de respeitar o que diz o proacuteprio plano de educaccedilatildeo sobre uma visatildeo
amplamente ligada agrave liacutengua cultura e diversidade nas escolas e terras indiacutegenasrdquo (ibid p36)
Nesta oacutetica se realmente as poliacuteticas linguiacutesticas fossem mais enfaacuteticas em suas
propostas de realizar a planificaccedilatildeo linguiacutestica incluindo a criaccedilatildeo de escolas biliacutengues e de
legislaccedilotildees especiacuteficas para as questotildees referentes agraves liacutenguas o indiviacuteduo indiacutegena surdo
poderia ter seus direitos linguiacutesticos assegurados
Neste sentido resgata-se o Referencial Curricular Nacional para Escolas Indiacutegenas
(1998) o qual menciona que
[] as tradiccedilotildees culturais os conhecimentos acumulados a educaccedilatildeo das geraccedilotildees
mais novas as crenccedilas o pensamento e a praacutetica religiosa as representaccedilotildees
simboacutelicas a organizaccedilatildeo poliacutetica os projetos de futuro enfim a reproduccedilatildeo
sociocultural das sociedades indiacutegenas satildeo na maioria dos casos manifestaccedilotildees
atraveacutes do uso de uma liacutengua Mesmo os povos indiacutegenas que satildeo hoje monoliacutengues
em liacutengua portuguesa continuam a usar a liacutengua de seus ancestrais como um siacutembolo
poderoso para onde confluem muitos de seus traccedilos identificatoacuterios construindo
assim um quadro de bilinguismo simboacutelico importante [grifo nosso]
Ou seja assim como para o surdo urbano brasileiro eacute reconhecida legalmente sua
liacutengua natural - Libras e a Liacutengua Portuguesa como segunda liacutengua -L2 para o indiacutegena surdo
deveria ser assegurado o mesmo direito para aprender esta forma de comunicaccedilatildeo ndash Liacutengua de
Sinais como primeira liacutengua e como segunda liacutengua a Liacutengua de sua etnia na modalidade
33
escrita Sendo portanto biliacutengue ou ainda triliacutengue com aquisiccedilatildeo da Liacutengua Portuguesa
tambeacutem na modalidade escrita
Nesta perspectiva observa-se que Saacute (2011 p33) afirma que tanto indiacutegenas como
surdos tecircm uma liacutengua proacutepria e uma cultura diferenciada Entatildeo porque natildeo ser reconhecida
legalmente a Liacutengua de Sinais utilizada pelos iacutendios surdos e a Liacutengua de sua comunidade
Como bem percebido por Vilhalva haacute a carecircncia de pesquisas voltadas para o registro de
liacutengua de sinais entre os iacutendios surdos brasileiros o que certamente constitui-se em um dos
fatores que favorecem a existecircncia desta lacuna na legislaccedilatildeo E que tal fato deveria ser um
despertar para pesquisadores da linguiacutestica sejam ouvintes ou surdos
34
2 A HISTOacuteRIA DO POVO INDIacuteGENA SATEREacute-MAWEacute CULTURA E LIacuteNGUA
Os povos indiacutegenas durante muito tempo foram considerados como povos sem
histoacuteria e sem uma liacutengua proacutepria Poreacutem com as muitas lutas eacutetnicas com estudos
antropoloacutegicos e com as abordagens historiograacuteficas iniciou-se uma valorizaccedilatildeo da
sociedade indiacutegena passando assim o povo indiacutegena a ser perspectivado nas suas
singularidades histoacutericas culturais e linguiacutesticas
Vale ressaltar que quando se refere a ldquoliacutenguasrdquo sabe-se que natildeo haacute apenas uma liacutengua
indiacutegena Existem muitos povos ou etnias indiacutegenas distintas As liacutenguas indiacutegenas no Brasil
se agrupam em famiacutelias linguiacutesticas ou seja famiacutelias que tecircm semelhanccedilas entre si e que satildeo
agrupadas por sua vez em troncos linguiacutesticos assim como as liacutenguas isoladas12
ou seja
liacutenguas que natildeo parecem ter parentesco com nenhuma das famiacutelias linguiacutesticas conhecidas
Segundo Rodrigues (2002) as famiacutelias indiacutegenas estatildeo agrupadas em Tronco
Linguiacutestico Tupi famiacutelia Tupi-Guarani (Akwaacutewa Amanayeacute Anambeacute Apiakaacute Araweteacute
Asurini Avaacute Guajaacute Guarani Kamayuraacute Kayabi Suryiacute Kaiwaacute) famiacutelia Munduruku
(Kuruaacuteya Mundurukuacute) Famiacutelia Tupari (Makuraacutep Tupari Wayoroacute) Famiacutelia Arikeacutem
(Karitiaacutena) Famiacutelia Juruna (Juruna) Famiacutelia Mondeacute (Aruaacute Cinta-Larga Gaviatildeo Mekeacutem
Mondeacute Suruiacute Zoroacute) Famiacutelia Ramaraacutema (Araacutera Itoqapuk) Outras Liacutenguas (Aweti
Puruboraacute Satereacute-Maweacute) entre outros troncos linguiacutesticos como Macro-Jecirc e sua diversidade
de famiacutelias existentes entre elas as liacutenguas isoladas
Um desses povos indiacutegenas foi o da etnia Satereacute-Maweacute Estes sofreram muitas
influecircncias em seu modo de vida advinda do contato com grupos natildeo indigenas que implicou
no processo de perda de muitos dos seus aspectos culturais A histoacuteria relata que o contato se
deu pela chegada dos colonizadores e posteriormente das missotildees religiosas E na atualidade
por ocupantes de terras como fazendeiros madeireiros emigrantes de outros Estados Foram
perdas irreparaacuteveis todavia como elo de resistecircncia procuraram sustentar em sua estrutura
original sua liacutengua
12
Segundo Rodrigues (2002 p93) liacutenguas isoladas refere-se as liacutenguas isoladas linguisticamente ou seja
liacutenguas que natildeo revelam parentesco geneacutetico com nenhuma outra Natildeo pertencem a nenhuma famiacutelia (ou tronco)
isto eacute constituem famiacutelias de um soacute membro
35
21 Breve Relato Histoacuterico
A histoacuteria do povo indiacutegena Satereacute-Maweacute tem sido foco de estudos dos diversos
segmentos de pesquisas como as realizadas por antropoacutelogos historiadores religiosos e
cientistas da linguagem Estes relatam a origem a liacutengua e a cultura desse povo
Uggeacute (1993 p 5) informa que ldquoOs Maueacutes descendentes das tribos indiacutegenas
denominadas no passado pelo nome de ANDIRAacute e MARAGUAacute que faz parte da aacuterea cultural
Tapajoacutes-Madeira entre a divisa dos atuais Estados do Paraacute e Amazonasrdquo O autor ainda
menciona que cronistas exploradores missionaacuterios antropoacutelogos naturalistas do passado
identificaram os Maueacutes tambeacutem com outros nomes (Maooz Mabueacute Jaquezes Manguases
Mahueacutes Mauris Maweacute Maragua e Maraguazes)
A origem do nome Satereacute-Maweacute advem dos termos Satereacute (lagarta vermelha) que eacute o
nome do clatilde dos antigos chefes e Maweacute (papagaio inteligente guerreiro e curioso) que eacute o
nome mais comum de um dos grupos tribais que conseguiram sobreviver agrave extinccedilatildeo das
numerosas tribos indiacutegenas da ilha Tupinambarana do Meacutedio Amazonas (IDEM) Cerqua13
faz referecircncia agrave primeira notiacutecia sobre o povo Satereacute-Maweacute ldquoEacute por volta de 1669 quando o
Pe Betendorf duas vezes superior provincial dos jesuiacutetas lembra a ldquovila dos Maguasesrdquo
grafia antiga de Maueacutes [] (1980 p 209)rdquo ou seja Maueacutes foi residecircncia missionaacuteria mas
natildeo permanente dos padres pois os mesmos residiam mais em Tupinambarana (rio
Amazonas) atual Parintins e visitavam Maueacutes temporariamente
A etnia Satereacute-Maweacute sofreu muitas mudanccedilas de localidades devido muitos fatores
que contribuiacuteram para o deslocamento desse povo segundo explica Lorez apud Teixeira
(2005 p21)
Devido agraves guerras com os Munduruku e Parintintim e ao contato com os
portugueses os Satereacute-Maweacute perderam grande parte de seu territoacuterio original Em
1691 os Maweacute surgem na cartografia regional com o nome de Mabueacute(mapa do
Padre Samuel Fritz) Missotildees foram localizadas para os iacutendios Magueacute denominadas
Satildeo Joatildeo (Pinhel) e Santo Inaacutecio (Boim) Posteriormente em 1835 lutando ao lado
dos Munduruku e dos Mura como tambeacutem de outras tribos indiacutegenas do rio Negro
os Satereacute-Maweacute aderiram ao movimento cabano ateacute que em 1839 o conflito foi
debelado Devido agraves epidemias agraves lutas e agraves perseguiccedilotildees aos povos indiacutegenas que
combatiam ao lado dos cabanos enormes aacutereas da Amazocircnia foram devastadas o
que provocou deslocamentos desses grupos populacionais de seus territoacuterios
ancestrais e de populaccedilatildeo Segundo relatos de viajantes desde o seacuteculo XVIII o
territoacuterio dos Satereacute-Maweacute vem sendo paulatinamente reduzido Essa reduccedilatildeo se
deu a partir das tropas de resgate que penetraram grandes aacutereas da Amazocircnia da
implantaccedilatildeo de missotildees jesuiacutetas e carmelitas ao longo dos principais rios
13
Dom Arcacircngelo Bispo Prelado de Parintins de 1980
36
amazocircnicos da ldquobusca desenfreadardquo das drogas do sertatildeo com a exploraccedilatildeo da
borracha durante o seacuteculo XIX e iniacutecio do XX e por fim da ldquoexpansatildeo econocircmica
das cidades de Maueacutes Barreirinha Parintins e Itaituba para o interior dos
municiacutepios alocando fazendas extraindo pau-rosa abrindo garimpos dominando a
economia indiacutegena atraveacutes de regatotildeesrdquo As cidades de Maueacutes Parintins e Itaituba
inclusive foram fundadas sobre restos de malocas dos Satereacute-Maweacute
Cerqua (1980 p265) destaca a localizaccedilatildeo dessa tribo delimitando que ldquoA tribo estaacute
localizada em sua maioria no Alto Andiraacute e no Marau afluente do Rio Maueacutes e sua aacuterea de
cerca de 639500 ha foi demarcada pelo Decreto nordm 76999rdquo Atualmente segundo Teixeira
(apud ALVAREZ 2009) os Satereacute-Maweacute hoje satildeo grupos de 8500 indiacutegenas dos quais 7502
moram na terra indiacutegena Andiraacute-Marau nos municiacutepios de Barreirinha Maueacutes e Parintins e
aproximadamente mil residem em aacutereas urbanas destes municiacutepios Sendo que outro grupo
vive na terra indiacutegena Coataacute-Laranjal junto ao grupo Munduruku e no municiacutepio de Borba
Uggeacute (1993) comenta que os Satereacute-Maweacute sempre tiveram vontade de manter a
proacutepria identidade tribal contudo eram carentes de apoio praacutetico para ajudaacute-los a enfrentar o
perigo do mundo moderno que tentavam ldquoinvadi-losrdquo Ou seja manipulaccedilotildees externas entre a
lideranccedila indiacutegenas dos Satereacute-Maweacute o alcoolismo a dependecircncia a violecircncia dos ldquobrancosrdquo
eram os maiores perigos para este povo Satereacute-Maweacute
Poreacutem o foco de resistecircncia manteve vivo no povo Satereacute aspectos culturais
importantes como o ritual da tucandeira O ritual eacute um marco na vida dos homens porque satildeo
chamados pela formiga (tucandeira) caso o indiacutegena natildeo atenda o chamado a formiga o
levaraacute a loucura ateacute chegar agrave morte A tucandeira eacute uma divindade muito respeitada pelos
Satereacute-Maweacute Em determinado momento da histoacuteria do povo Satereacute-Maweacute o ritual da
tucandeira chegou ao ponto de natildeo ser mais praticado em decorrecircncia da imposiccedilatildeo religiosa
mas apoacutes perceberam a grande perda cultural que isso representaria voltaram a praticaacute-lo a
recuperando como parte de sua cultura
22 Classificaccedilatildeo da liacutengua Satereacute-Maweacute
Segundo Teixeira (2005) a anaacutelise da situaccedilatildeo linguiacutestica do povo Satereacute-Maweacute
baseia-se na concepccedilatildeo defendida por antropoacutelogos e linguistas que a liacutengua se configura
como um importante instrumento da cultura e da identidade de uma populaccedilatildeo
A populaccedilatildeo indiacutegena Satereacute-Maweacute pertence vaacuterios aspectos agrave famiacutelia Linguiacutestica
Tupi Rodrigues (apud ALVAREZ 2009 p17) aborda que a liacutengua da tribo Satereacute-Maweacute eacute a
37
uacutenica liacutengua de uma famiacutelia do tronco Tupi E sua classificaccedilatildeo linguiacutestica como pertencente
ao tronco Tupi foi dada pelo etnoacutegrafo Curt Nimuendajuacute (1948)
A liacutengua Satereacute-Maweacute integra o tronco linguiacutestico Tupi Segundo o etnoacutegrafo Curt
Nimuendajuacute (1948) ela difere do Guarani-Tupinambaacute Os pronomes concordam
perfeitamente com a liacutengua Curuaya-Munduruku e a gramaacutetica ao que tudo indica
eacute tupi O vocabulaacuterio Maweacute conteacutem elementos completamente estranhos ao Tupi
mas natildeo pode ser relacionada a nenhuma outra famiacutelia linguiacutestica Desde o seacuteculo
XVIII seu repertoacuterio incorporou numerosas palavras da liacutengua geral
Os homens atualmente satildeo biliacutengues falando o Satereacute-Maweacute e o portuguecircs mas a
maioria das mulheres apesar de trecircs seacuteculos de contato com os brancos soacute fala a
liacutengua Satereacute-Maweacute (TEIXEIRA 2005 p95)
A liacutengua Satereacute-Maweacute eacute falada tradicionalmente por quase todas as comunidades haacute
mais de 300 anos entretanto foi inevitaacutevel para os indiacutegenas Satereacute-Maweacute conhecer os
haacutebitos e a liacutengua portuguesa devido agrave invasatildeo dos europeus em suas terras no seacuteculo passado
o que causou a mistura de liacutenguas e consequentemente as influecircncias dos padrotildees culturais
natildeo indiacutegenas
Os Satereacute-Maweacute foram entatildeo forccedilados a se refugiarem nas zonas urbanas e ateacute mesmo
em outros estados Outro impacto que alterou o modo de falar dos liacutederes indiacutegenas foi a
necessidade de buscar apoio logiacutestico para suas comunidades principalmente para tratar da
sauacutede de sua populaccedilatildeo que sofria de doenccedilas como malaacuteria tuberculose sarampo e outras
por eles desconhecidas que causaram muitas mortes
Desta forma com o passar dos anos a liacutengua Satereacute-Maweacute sofreu influecircncias lexicais
e fonoloacutegicas do Nheengatu na regiatildeo do Andiraacute Pesquisas realizadas recentemente por
Teixeira (2005) delimitam um perfil linguiacutestico que permite conhecer um pouco mais da
cultura linguiacutestica Satereacute-Maweacute sendo esta considerada por meio da distribuiccedilatildeo geograacutefica e
etaacuteria dos que falam e natildeo falam o idioma Satereacute-Maweacute Desta feita segundo o autor
O idioma Satereacute-Maweacute eacute mais falado na aacuterea do Marau que nas demais (Andiraacute
Uaicurapaacute e Koataacute-Laranjal) Tanto na aacuterea do Andiraacute como no Marau o idioma
materno eacute falado por praticamente todas as comunidades situadas proacuteximo agraves
cabeceira dos rios (Alto Andiraacute e Alto Marau) Para as aacutereas mais proacuteximas das
cidades os falantes atingem a quase totalidade dos moradores do Baixo Marau Jaacute
no baixo Andiraacute esse nuacutemero aumenta bastante nas duas comunidades mais
proacuteximas de Parintins e Barreirinha ou seja Ponta Alegre e Guaranatuba As aacutereas
de povoamento mais recente (Uaicurapaacute Koataacute-Laranjal e mais duas no Andiraacute) tecircm
tendecircncia a apresentar proporccedilotildees menores de falantes do idioma Satereacute-Maweacute
(ibid p95)
38
O autor esclarece que moradores em terras indiacutegenas satildeo mais falantes da Liacutengua
Satereacute-Maweacute do que os que moram proacuteximo ou dentro da aacuterea urbana A pesquisa ainda
mostra agrave necessidade de sensibilizar a comunidade indiacutegena Maweacute sobre a importacircncia da
valorizaccedilatildeo de sua liacutengua agrave recuperaccedilatildeo de suas memoacuterias histoacutericas e a reafirmaccedilatildeo de suas
identidades eacutetnicas
221 Contexto educacional escolar entre os Satereacute-Maweacute
O contexto educacional Satereacute-Maweacute tem como base o reconhecimento constitucional
fundamentado na legislaccedilatildeo em vigor segundo a qual ldquosatildeo reconhecidos aos iacutendios sua
organizaccedilatildeo social costumes liacutenguas crenccedilas e tradiccedilotildees []rdquo
Por isso fundamentos gerais da educaccedilatildeo escolar indiacutegena baseiam-se na proposta do
Referencial Curricular Nacional para Escolas Indiacutegenas (1998) que contempla
Multietnicidade pluralidade e diversidade 2 Educaccedilatildeo e conhecimentos indiacutegenas 3
Autodeterminaccedilatildeo 4 Comunidade educativa indiacutegena 5 Educaccedilatildeo intercultural
comunitaacuteria especiacutefica e diferenciada Assim
Parte do sistema nacional de educaccedilatildeo a escola indiacutegena eacute um direito que deve ser
assegurado por uma nova poliacutetica puacuteblica a ser construiacuteda atenta e respeitosa frente
ao patrimocircnio linguiacutestico cultural e intelectual dos povos indiacutegenas Esse esforccedilo
de projetar uma nova educaccedilatildeo escolar indiacutegena soacute seraacute realmente concretizado com
a participaccedilatildeo direta com os principais interessados ndash os povos indiacutegenas atraveacutes de
suas comunidades educativas [] A participaccedilatildeo da comunidade no processo
pedagoacutegico da escola fundamentalmente na definiccedilatildeo dos objetivos dos conteuacutedos
curriculares e no exerciacutecio das praacuteticas metodoloacutegicas assume papel necessaacuterio para
a efetividade de uma educaccedilatildeo especifica e diferenciada (ibid p24)
Poreacutem para que de fato seja garantida uma educaccedilatildeo diferenciada natildeo eacute suficiente
que somente os conteuacutedos sejam ensinados atraveacutes do uso das liacutenguas maternas mas se faz
necessaacuterio que se incluam os conteuacutedos curriculares propriamente indiacutegenas assim como os
modos proacuteprios de transmissatildeo deste saber Em pesquisa realizada pela revista Amazocircnia
(AMAZONAS 2000) intitulada como ldquoA silenciosa revoluccedilatildeo dos Iacutendiosrdquo o povo Satereacute-
Maweacute foi considerada um dos melhores exemplos para se falar em educaccedilatildeo indiacutegena Tal
afirmaccedilatildeo foi proferida pelo antropoacutelogo Ademir Ramos (professor da Universidade do
Estado do Amazonas) Segundo o entrevistado a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 mudou a
postura em relaccedilatildeo aos iacutendios estabelecendo um processo de educaccedilatildeo diferenciada que
39
fomenta o orgulho de aprender sua lingua tambeacutem no ambiente escolar possibilitando relatos
como o transcrito abaixo
Alunos como Dati 11 da aldeia de Molongotuba carregam com orgulho a cartilha
bdquoMoweeghap onde estatildeo registrados escritos ndash liacutengua Satereacute do tronco tupi e
desenhos de situaccedilotildees do cotidiano das aldeias falando de peixes aves aacutervores e
animais A liacutengua o menino aprendeu a falar com os pais e depois na escola onde
haacute quatro anos aprendeu a escrevecirc-la Aleacutem disso ele tem aprendido tambeacutem a
bdquoliacutengua dos brancos‟
Ainda sobre a importacircncia desta perspectiva educacional em nota o vice-presidente
da organizaccedilatildeo dos professores indiacutegenas Satereacute Gecinaldo Cabral comentou sobre a
mesma enfatizando a relevacircncia do processo educacional na vida dos iacutendios da tribo Satereacute
que por serem biliacutengues satildeo capazes de expressarem e defenderem o seu povo Portanto ao
ensinar a liacutengua nativa agraves crianccedilas promovem o resgate da cultura tradiccedilatildeo e conhecimentos
indiacutegenas Uma educaccedilatildeo diferenciada natildeo resumida na liacutengua majoritaacuteria ou seja Liacutengua
Portuguesa mas na liacutengua proacutepria das etnias E desta forma sendo respeitada a diversidade
cultural de cada povo
Nesta perspectiva Teixeira (2005) em sua pesquisa descreve que a realidade do
contexto educacional escolar do povo Satereacute-Maweacute explicando que
O quadro situacional dos Satereacute-Maweacute no que concerne agrave escolarizaccedilatildeo e agrave
escolaridade apresenta elementos que devem ser entendidos natildeo soacute como resultado
da aplicaccedilatildeo de poliacuteticas educacionais mas tambeacutem como explicitaccedilatildeo de estrateacutegias
poliacuteticas usadas pelos iacutendios na negociaccedilatildeo de visibilidade e reconhecimento no
espaccedilo puacuteblico brasileiro A busca dos Satereacute-Maweacute por escola explicitada na
forma de documentos reivindicatoacuterios enviados ao poder puacuteblico solicitando
recursos para suas escolas demonstrarem os conhecimentos escolares e a
certificaccedilatildeo que a escolaridade concede importantes instrumentos de luta no
processo histoacuterico de construccedilatildeo de sua identidade cultural e de desenvolvimento de
seus projetos sociais (ibid p103)
O autor tambeacutem evidecircncia que a escolarizaccedilatildeo ainda natildeo estaacute alcanccedilando a totalidade
dos Satereacute-Maweacute sendo assim
[] com idade compreendida entre 7 e 24 anos nem nas aacutereas urbanas onde se
verifica o maior percentual de matriacuteculas (839) nem nas terras indiacutegenas (596)
Se forem consideradas as pessoas que tecircm entre 7 e 17 anos de idade os percentuais
sobem bastante mas ainda demonstram a falta de acesso da populaccedilatildeo satereacute-maweacute
agrave escola A pior situaccedilatildeo ocorre na aacuterea indiacutegena onde aproximadamente 13 dos
indiviacuteduos dessa faixa etaacuteria estatildeo fora da escola Na aacuterea urbana o percentual dos
que estatildeo fora eacute de 8 Aparentemente o elevado percentual de pessoas entre 7 e 17
40
anos de idade que estatildeo fora da escola em aacuterea indiacutegena deveria estar relacionado
com a ausecircncia de ensino fundamental de 4ordf a 8ordf seacuterie nas aldeias
No entanto isto eacute apenas uma parte da justificativa pois de 142 pessoas dessa faixa
etaacuteria que natildeo frequentam a escola apenas 32 (225) declararam ter concluiacutedo a
quarta seacuterie do ensino fundamental ou seja poderiam estar fora da escola por falta
do ensino de 5ordf a 8a seacuterie na aacuterea indiacutegena Aleacutem disso 148 crianccedilas entre 7 e 14
anos de idade natildeo frequentam a escola significando que haacute problemas na oferta de
vagas para as crianccedilas satereacute-maweacute na aacuterea indiacutegena Dessas crianccedilas mais da
metade se concentra em apenas 14 aldeias22 das quais 4 compreendendo as
pequenas comunidades de Satildeo Luiacutes Limoal Tigre a Arumatuba no Andiraacute natildeo tecircm
nenhuma crianccedila estudando Na aldeia de Tabatinga no Andiraacute apenas uma das
cinco crianccedilas moradoras estatildeo estudando e na de Santo Antocircnio tambeacutem no
Andiraacute 12 entre 16 crianccedilas de 7 a 14 anos natildeo frequentam a escola(TEIXEIRA
2005 p 104)
Segundo o autor nas cidades de Maueacutes Parintins e Barreirinha a escola frequentada
pelos Satereacute-Maweacute natildeo se define como escola indiacutegena nem tatildeo pouco como especiacutefica ou
diferenciada Talvez seja uma realidade encontrada em todas as escolas indiacutegenas no
Amazonas O que se configura em um problema na medida em que segundo Sobrinho
(2011) a escola esta definida a partir de um modelo da ldquoescola dos brancosrdquo que certamente
altera interferindo diretamente nas questotildees culturais que fazem parte do universo desses
povos gerando assim processo de exclusatildeo O autor ainda comenta que
mesmo diante da resoluccedilatildeo nordm 112011 do Conselho Estadual de Educaccedilatildeo que traz
garantias aos indiacutegenas independentemente de onde vivam ao respeito a sua liacutengua
conhecimentos e tradiccedilotildees proacuteprias nas escolas essa lei passa completamente
despercebida (ibid p 209)
Sobre a questatildeo Teixeira (2005) menciona que nas terras indiacutegenas onde estaacute em
curso a criaccedilatildeo da escola indiacutegena com educaccedilatildeo escolar especiacutefica e diferenciada - as taxas
de escolarizaccedilatildeo deixam evidente que o poder puacuteblico tem investido somente nas seacuteries
iniciais do ensino fundamental o qual apresenta o percentual de 871 de taxa liacutequida de
escolarizaccedilatildeo ou seja natildeo haacute oferta regular para as seacuteries finais do ensino fundamental nem
de ensino meacutedio Isso sem relatar a falta de formaccedilatildeo de professores indiacutegenas entre outros
fatores conforme Franceschini apresenta
A necessidade de formaccedilatildeo especiacutefica e diferenciada de nuacutemero maior de
professores principalmente para atuar nos segmentos mais adiantados do Ensino
Fundamental a implantaccedilatildeo de mais turmas de 6ordm ao 9ordm anos e do Ensino Meacutedio na
aacuterea indiacutegena construccedilatildeo-reflexatildeo do Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico das escolas
Satereacute-Maweacute associada a uma praacutetica pedagoacutegica condizente e a construccedilatildeo de
material didaacutetico proacuteprio satildeo necessidades urgentes do povo Satereacute-Maweacute Pois
apesar da legislaccedilatildeo vigente dar aos indiacutegenas o direito de escolherem seu modelo
educacional e ensinarem sua liacutengua e etnoconhecimentos na maioria das escolas das
41
comunidades Satereacute-Maweacute o modelo educacional adotado natildeo se diferencia muito
do modelo das escolas rurais da regiatildeo sendo que a liacutengua e os etnoconhecimentos
indiacutegenas natildeo constituem de fato conhecimentos que fazem parte do programa
educacional e que satildeo trabalhados de forma sistemaacutetica na escola (2012 p5)
Portanto os resultados apresentados pelo pesquisador comprovam que as accedilotildees
governamentais para educaccedilatildeo escolar indiacutegena estatildeo distantes de cumprir na sua plenitude
preceitos constitucionais o que implica em prejuiacutezo natildeo soacute na educaccedilatildeo escolar indiacutegena
como na proacutepria cultura desse povo
42
3 METODOLOGIA IMPLEMENTADA NA PESQUISA
A metodologia utilizada neste trabalho deu iniacutecio com o estudo bibliograacutefico e
pesquisa de campo Realizou-se uma investigaccedilatildeo primeiramente sobre os estudos surdos na
perspectiva linguiacutestica e cultural a posteriormente na literaturas e estudos sobre os iacutendios da
etnia Satereacute-Maweacute tomando como princiacutepio a origem os fundamentos e a histoacuteria do povo e
da Liacutengua Satereacute-Maweacute Na sequecircncia a concretizaccedilatildeo da pesquisa de campo com a
investigaccedilatildeo do objeto de estudo o iacutendio surdo e sua situaccedilatildeo sociolinguiacutestica da etnia Satereacute-
Maweacute
Figura 1 ndash Croqui da aacuterea e localidade da pesquisa
Fonte Mapa do Estado do Amazonas Censo 2010 ndash IBGE
Organizado por Vicente de Paulo Silva de Azevedo
31 Aacuterea e localidade da pesquisa
A proposta do processo investigativo para o mapeamento do objeto da pesquisa foi
demarcada delimitando a aacuterea do campo da pesquisa a Microrregiatildeo de Parintins A
Microrregiatildeo de Parintins (AMAZONAS 2012) eacute constituiacuteda por Barreirinha Boa Vista do
Ramos Maueacutes Nhamundaacute Parintins Satildeo Sebastiatildeo do Uatumatilde e Urucaraacute Vale ressaltar que
natildeo foi coberta pela pesquisa a populaccedilatildeo Satereacute-Maweacute residente em Manaus (AM)
43
32 Estrateacutegias gerais para a realizaccedilatildeo da coleta de dados
Primeiramente foi feita uma busca de dados pelo IBGE o qual informou que natildeo
havia qualquer registro sobre a populaccedilatildeo indiacutegena de surdos Sem resultado satisfatoacuterio foi
organizado um cronograma de viagens
A primeira viagem foi para o municiacutepio de Parintins onde foi feita uma visita na casa
de um iacutendio para possiacutevel coleta de dados Poreacutem o cacique Sr Luiz de Oliveira infelizmente
tambeacutem comunicou a falta desse dado na comunidade Portanto foi exposto a esse liacuteder o
objetivo da referida pesquisa apresentando assim a importacircncia da comunicaccedilatildeo entre os
seres humanos e interaccedilatildeo entre os diferentes modos linguiacutesticos de convivecircncia social e
educacional
O cacique prontamente mostrou-se aberto a contribuir para que a pesquisa fosse
concretizada Assim sendo iniciou-se a trajetoacuteria do levantamento de iacutendios surdos e sua
forma de comunicaccedilatildeo como tambeacutem seu contexto educacional escolar
Ao retornar a Manaus buscou-se apoio agraves instituiccedilotildees representativas com a visita agrave
sede da Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio ndash FUNAI oacutergatildeo responsaacutevel pelas accedilotildees indiacutegenas a
qual informou que se fazia necessaacuterio uma autorizaccedilatildeo para dar seguimento agrave pesquisa Logo
providecircnciou-se o documento requerido na Coordenaccedilatildeo de Educaccedilatildeo Indiacutegena localizada no
municiacutepio de Barreirinha
Ao chegar agrave cidade de Barreirinha um novo contato foi estabelecido com o
Coordenador indiacutegena o Sr Santino Lopes de Oliveira que se mostrou receptivo com o
projeto e se dispocircs prontamente a colaborar
Com a autorizaccedilatildeo e aprovaccedilatildeo das autoridades indiacutegenas e de posse do documento
houve o comprometimento de que seguiria as normas estabelecidas que disciplinam o
ingresso em terras indiacutegenas pela entidade (ANEXO A) Assim foi possiacutevel sistematizar os
procedimentos para a coleta de dados
33 Procedimentos da coleta
A coleta de dados foi realizada de acordo com o cronograma estabelecido para esta
etapa da pesquisa O procedimento metodoloacutegico usado para a coleta de dados foi
fundamentado em meacutetodo misto por meio de observaccedilotildees questionamento participaccedilotildees em
reuniotildees com representantes da lideranccedila indiacutegena local conversas informais e espontacircneas
44
com famiacutelias e comunidade indiacutegena Satereacute-Maweacute Utilizou-se como instrumento para
coleta caderno de registro de campo fotos filmagens gravaccedilotildees e questionaacuterio (ANEXO B)
34 Articulaccedilatildeo local
O primeiro passo foi estabelecer parcerias com colaboradores ou seja lideranccedilas
indiacutegenas professores indiacutegenas professores da rede puacuteblica inteacuterpretes oacutergatildeos ligados agraves
causas indiacutegenas alunos da Universidade do Estado Amazonas As instituiccedilotildees
representativas educacionais tambeacutem colaboraram telefonando ou perguntando para outras
pessoas sobre a existecircncia de indiacutegenas surdos e locais de suas residecircncias
A participaccedilatildeo das lideranccedilas indiacutegenas como os professores e colaboradores que
apoiaram e permitiram entrar em suas terras para fazer o levantamento foi de extrema
importacircncia pois muito contribuiacuteram nas traduccedilotildees das palavras indiacutegenas para a Liacutengua
Portuguesa
35 Abordagem ao objeto da pesquisa
Em cada viagem agraves comunidades primeiramente fazia-se contato com o tuxaua com
a finalidade de apresentar o objetivo da pesquisa Desta forma era explicado para eles a
importacircncia da contribuiccedilatildeo que o estudo poderia trazer agravequela comunidade Por meio da
autorizaccedilatildeo concedida obtinha-se a colaboraccedilatildeo para a coleta de dados junto ao objeto da
pesquisa Jaacute as abordagens feitas em ambiente familiar tambeacutem era solicitado o consentimento
para a realizaccedilatildeo da pesquisa Com permissatildeo concedida iniciamos as observaccedilotildees e
intervenccedilotildees Com devida autorizaccedilatildeo utilizaacutevamos para registro cacircmeras fotograacuteficas e em
seguida registraacutevamos no caderno de campo da pesquisa (ANEXO CC-1 e C-2)
45
4 MAPEAMENTO DOS IacuteNDIOS SURDOS DA ETNIA SATEREacute-MAWEacute NA
MICRORREGIAtildeO DE PARINTINS E SUA REALIDADE LINGUIacuteSTICA E
EDUCACIONAL ESCOLAR
No Brasil haacute uma diversidade de etnias indiacutegenas Rodrigues (2002) satildeo mais de 170
liacutenguas faladas e dialetos pelos povos indiacutegenas Estas liacutenguas satildeo distribuiacutedas em dois
grandes troncos linguiacutesticos
[] o Tupi (dividido em 10 famiacutelias) e o Macro-Jecirc (dividido em 9 famiacutelias) e de
outras 20 famiacutelias linguumliacutesticas natildeo classificadas em troncos Apenas nove liacutenguas
indiacutegenas tecircm acima de 5000 falantes guajajara (satereacute-) maueacute xavante
ianomacircmi terena macuxi caingangue ticuna e guarani estes uacuteltimos com 30000
indiviacuteduos Cerca de 110 liacutenguas contam com menos de 400 falantes 14
Entretanto em meio a essa diversidade linguiacutestica poucos satildeo documentados
Pesquisadores e grupos indiacutegenas tentam um reavivamento eacutetnico e linguiacutestico
documentando-os para salvar sua liacutengua seu idioma
Diante do exposto a uacutenica liacutengua de sinais indiacutegena registrada eacute a utilizada pela etnia
indiacutegena brasileira dos Urubu-Kaapor como jaacute mencionada anteriormente Pesquisas no Mato
Grosso do Sul em aldeias indiacutegenas apresentaram a existecircncia de iacutendios surdos que utilizam
sinais emergentes ainda natildeo registrados propriamente como uma liacutengua
Pouco registro tem-se encontrado sobre iacutendios surdos muito menos sobre a liacutengua ou
a forma desses sujeitos se comunicarem De acordo com dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatiacutestica (IBGE) natildeo haacute registros sobre iacutendios surdos nem no Anuaacuterio
Estatiacutestico do Amazonas do IBGE tatildeo pouco na Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio (FUNAI)
sendo portanto necessaacuteria uma pesquisa in loco para a busca desses dados
Eacute importante destacar que a pessoa surda natildeo nasce com a incapacidade de falar ou
seja a pessoa surda natildeo eacute muda natildeo fala por natildeo poder ouvir a ldquo[] A surdez natildeo estaacute
absolutamente vinculada agrave mudez []rdquo (RAMOS apud STROBEL 2008 p34)
Por isso as teorias da aquisiccedilatildeo da linguagem humana justificam como o ser humano
(re)inventa modos para expressar suas necessidades e formas de ver o mundo realizando a
comunicaccedilatildeo com seus pares
14
Classificaccedilatildeo das Liacutenguas Indigenas Brasileiras segundo Aryon Rodrigues (2002) Disponiacutevel em
lthttpwwwgeocitieswsindiosbr_nicolaiclassifhtmlgt
46
Partindo dessa percepccedilatildeo este estudo apresenta uma contribuiccedilatildeo de informaccedilotildees
cientiacuteficas que seratildeo um acreacutescimo aos conhecimentos existentes sobre a comunicaccedilatildeo dos
surdos indiacutegenas
41 Mapeamento da existecircncia dos iacutendios surdos na microrregiatildeo de Parintins
Conhecer os indiviacuteduos sujeitos da pesquisa ndash iacutendios surdos Satereacute-Maweacute - eacute a fase
fundamental deste estudo pois dessa forma eacute possiacutevel compreender a forma predominante de
comunicaccedilatildeo deles para poder elaborar material concreto ndash dicionaacuterio triliacutengue - pertinente
para auxiliar na forma da comunicaccedilatildeo deles com a sua etnia atraveacutes da liacutengua desse povo
indiacutegena Nesta seccedilatildeo estatildeo apresentados os dados que constituem um mapeamento da
quantidade de indiviacuteduos surdos que estatildeo inseridos no contexto de Parintins Barreirinha
Boa Vista do Ramos e Maueacutes locais estes onde haacute maior contato com etnia foco deste estudo
Abaixo segue o histoacuterico do municiacutepio de Parintins e demais microrregiotildees citadas na
pesquisa15
411 Histoacuterico de Parintins
Parintins eacute um municiacutepio brasileiro situado no interior do estado do Amazonas
proacuteximo agrave divisa com o estado do Paraacute Regiatildeo Norte do paiacutes Estaacute situado na mesorregiatildeo do
Centro Amazonense e microrregiatildeo de mesmo nome e localiza-se a leste da capital do estado
distando desta cerca de 370 quilocircmetros Com uma populaccedilatildeo estimada em 2012 pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 103 828 habitantes sendo o segundo
mais populoso do estado do Amazonas que tem uma aacuterea de 5 952 kmsup2 representando
03789 do Estado do Amazonas 01545 da regiatildeo Norte brasileira e 00701 do territoacuterio
brasileiro8
Desse total 12 4235 kmsup2 estatildeo em periacutemetro urbano
O municiacutepio de Parintins como quase todos os demais municiacutepios brasileiros foi
primitivamente habitado por indiacutegenas Sua descoberta ocorreu em 1749 quando descendo o
rio Amazonas o explorador Joseacute Gonccedilalves da Fonseca notou uma ilha que por sua extensatildeo
se sobressaiacutea das outras localizadas agrave direita do grande rio As primeiras viagens exploratoacuterias
da Coroa Portuguesa em Parintins foram registradas somente em 1796 A fundaccedilatildeo da
15
O histoacuterico de Parintins e demais microrregiotildees estatildeo disponiacuteveis no site lthttpptwikipediaorgwiki_Parintinsgt
47
localidade em 1796 foi feita por Joseacute Pedro Cordovil que veio com seus escravos e
agregados para se dedicar agrave pesca do pirarucu e agrave agricultura chamando-a Tupinambarana A
rainha D Maria I deu-lhe a ilha de presente Ali instalado fundou uma fazenda de cacau
dedicando-se agrave cultura desse produto em grande escala Tupinambarana foi aceita e elevada agrave
missatildeo religiosa em 1803 pelo capitatildeondashmor do Paraacute o Conde dos Arcos que incumbiu sua
direccedilatildeo ao frei Joseacute das Chagas passando a ser denominada como a Vila Nova da Rainha
O primeiro nome recebido por Parintins jaacute na categoria de Freguesia foi Nossa
Senhora do Carmo de Tupinambarana em 1833 O nome da Freguesia soacute foi alterado em
1880 quando a sede passou a chamar-se ldquoParintinsrdquo em homenagem aos povos indiacutegenas
Parintintins um dos inuacutemeros que habitavam a regiatildeo
A eficiente atuaccedilatildeo de frei Joseacute provocou um surto de progresso e desenvolvimento na
localidade mediante a organizaccedilatildeo da comarca do Alto Amazonas Em 25 de julho de 1833
passa agrave freguesia com o nome de Freguesia de Nossa Senhora do Carmo de Tupinambarana
Era ainda Tupinambarana simples freguesia quando iniciou a revoluccedilatildeo dos Cabanos no Paraacute
e se alastrou por toda a proviacutencia O seu vigaacuterio padre Torquato Antocircnio de Souza teve
atuaccedilatildeo destacada durante a sediccedilatildeo servindo de delegado dos legalistas no Baixo Amazonas
Tupinambarana talvez porque estivesse bem defendida foi poupada aos ataques dos
Cabanos
Em 24 de outubro de 1848 a lei provincial do Paraacute nordm 146 elevou a freguesia agrave
categoria de vila com a denominaccedilatildeo de Vila Bela da Imperatriz e constituiu o municiacutepio ateacute
entatildeo ligado a Maueacutes Em 15 de outubro de 1852 pela lei nordm 02 foi confirmada a criaccedilatildeo do
municiacutepio Em 14 de marccedilo de 1853 deu-se a instalaccedilatildeo do municiacutepio de Parintins Em 24 de
agosto de 1858 foi criada pela lei provincial a comarca compreendendo os termos judiciaacuterios
de Vila Bela da Imperatriz e Vila Nova da Conceiccedilatildeo Em 30 de outubro de 1880 pela lei
provincial nordm 499 a sede do municiacutepio recebeu foros de municiacutepio e passou a denominar-se
Parintins Em 1881 foi desmembrado do municiacutepio de Parintins o territoacuterio que constituiu o
municiacutepio de Vila Nova de Barreirinha
A divisatildeo administrativa de 1911 figurou o municiacutepio com quatro distritos Parintins
Paranaacute de Ramos Jamundaacute e Xibuiacute Em 1933 aparece no quadro da divisatildeo administrativa
com um distrito apenas ndash o de Parintins Em 1 de dezembro de 1938 pelo decreto-lei estadual
nordm 176 eacute criado o distrito da Ilha das Cotias passando assim o municiacutepio a constituir-se de
dois distritos Parintins e Ilha das Cotias
Pela lei estadual nordm 226 de 24 de agosto de 1952 a comarca de Parintins perdeu os
termos judiciaacuterios de Barreirinha e Urucaraacute que foram transformados em comarcas Em 19 de
48
dezembro de 1956 a lei estadual nordm 96 desmembrou o municiacutepio de Parintins o distrito da
Ilha das Cotias que passou a constituir o municiacutepio de Nhamundaacute Em 10 de dezembro de
1981 a emenda constitucional nordm 12 eacute acrescido o territoacuterio de Parintins ao distrito de
Mocambo
O primeiro municiacutepio pesquisado eacute considerado o centro da microrregiatildeo Parintins
Segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 2103 a
populaccedilatildeo eacute de 109225 habitantes16
nesta localidade A Microrregiatildeo de Parintins eacute uma das
microrregiotildees do estado brasileiro do Amazonas pertencente agrave Mesorregiatildeo do Centro
Amazonense Estaacute dividida em sete municiacutepios Barreirinha Boa Vista do Ramos Maueacutes
Nhamundaacute Parintins Satildeo Sebastiatildeo do Uatumatilde e Urucaraacute De acordo com estimativas do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) a populaccedilatildeo da microrregiatildeo era de 262
719 habitantes em 2013
Seus municiacutepios limiacutetrofes satildeo Nhamundaacute ao norte Barreirinha ao sul Urucurituba ao
leste e os municiacutepios de Terra Santa e Juruti no estado do Paraacute O limite territorial entre
Parintins e Nhamundaacute se inicia na margem esquerda do rio Amazonas subindo este rio ateacute a
Barreira do Pauraacute A Serra de Parintins eacute usada para delimitar o fim dos limites territoriais
deste municiacutepio com Nhamundaacute Para delimitar os limites territoriais entre Parintins e
Barreirinha usa-se o divisor de aacuteguas dos rios Andiraacute-Uaicuparaacute juntamente com a linha
geodeacutesica que limita os estados do Amazonas e Paraacute Jaacute os limites territoriais com
Urucurituba satildeo iniciados no lago Arapapaacute no Paranaacute de Urucurituba Com o Estado do Paraacute
o limite tem iniacutecio na boca do igarapeacute do Valeacuterio na margem direita do rio Amazonas
Parintins eacute uma cidade marcada pelos traccedilos culturais poliacuteticos e econocircmicos
herdados dos portugueses espanhoacuteis italianos e tambeacutem dos japoneses tendo em vista que a
cidade possuiu uma relevante colocircnia destes imigrantes Natildeo se pode esquecer a importacircncia
dos ameriacutendios no quesito contribuiccedilatildeo eacutetnica Foram os ameriacutendios que iniciaram a ocupaccedilatildeo
humana na Amazocircnia e seus descendentes caboclos desenvolveram-se em contato iacutentimo com
o meio ambiente adaptando-se agraves peculiaridades regionais e oportunidades oferecidas pela
floresta
A cidade eacute um importante centro educacional de niacutevel meacutedio e superior do Estado do
Amazonas A cidade possui um dos mini-campus do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)
que oferece cursos em diferentes niacuteveis ensino meacutedio e ensino teacutecnico
16
Disponiacutevel emlthttpcidadesibgegovbrxtrastemasamazonas|parintins|estimativa-da-populacao-2013gt
Acesso em 28072014
49
Universidades puacuteblicas
- Universidade do Estado do Amazonas (UEA) eacute uma instituiccedilatildeo puacuteblica estadual de
ensino superior que oferece mais de vinte cursos distribuiacutedos em dezessete cidades
amazonenses (Parintins Manaus Presidente Figueiredo Itacoatiara Carauari Tabatinga
Tefeacute Laacutebrea Boca do Acre Coari Eirunepeacute Humaitaacute Manicoreacute Manacapuru Novo
Aripuanatilde Maueacutes e Satildeo Gabriel da Cachoeira) Foi criada pela lei estadual nordm 2637 de 12 de
janeiro de 2001 que proporcionou agraves fundaccedilotildees educacionais de ensino superior instituiacutedas
pelo Estado Em Parintins o Centro de Estudos Superiores (UEA) possui os cursos
Pedagogia Histoacuteria Geografia Fiacutesica Matemaacutetica Letras Portuguesa Quiacutemica Ciecircncias
Bioloacutegicas Tecnologia em Turismo Direito Sauacutede Coletiva Ciecircncias Econocircmicas e
Tecnologia em Gestatildeo Puacuteblica
- Instituto Federal do Amazonas (IFAM) O Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e
Tecnologia do Amazonas foi criado mediante integraccedilatildeo do Centro Federal de Educaccedilatildeo
Tecnoloacutegica do Amazonas e das Escolas Agroteacutecnicas Federais de Manaus e de Satildeo Gabriel
da Cachoeira
- Universidade Federal do Amazonas (UFAM) Instalada no municiacutepio desde 2007
possui os seguintes cursos Serviccedilo Social Comunicaccedilatildeo Social - Jornalismo Administraccedilatildeo
Organizacional Pedagogia Zootecnia Educaccedilatildeo Fiacutesica e Artes Plaacutesticas
No setor de educaccedilatildeo e capacitamento profissional o municiacutepio aleacutem de dispor de
uma ampla rede de escolas (estaduais municipais e privadas) conta com um campus da
Universidade do Estado do Amazonas e algumas faculdades privadas com diversos cursos
superiores ofertados Dispotildee ainda de unidades do SENAI SENAC e SESI e em funccedilatildeo
disso os iacutendices de alfabetizaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo profissional dos municiacutepios estatildeo em
crescimento
A cidade de Parintins eacute o local onde foram feitos os contatos frequentes com os
indiacutegenas da etnia Satereacute-Maweacute porque buscam as casas bancaacuterias para receberem os
benefiacutecios sociais tambeacutem buscam as escolas com ensino de todos os niacuteveis inclusive as
universidades puacuteblicas para as crianccedilas e jovens Outro fator eacute que tem um comeacutercio
desenvolvido em que podem adquirir seus bens de consumo aleacutem de ser de faacutecil acesso aos
demais centros da regiatildeo e do paiacutes atraveacutes dos diferentes meios comunicaccedilatildeo e transporte
Por isso o mapeamento foi iniciado nesta regiatildeo
Apesar de ter um nuacutemero consideraacutevel de habitantes os oacutergatildeos ligados agrave causa
indiacutegena natildeo dispotildeem de dados informativos sobre o objeto da pesquisa em meio agrave estimativa
populacional do municiacutepio mesmo assim outro oacutergatildeo foi procurado para que pudesse
50
fornecer algum dado ligado ao sujeito surdo da etnia Satereacute-Maweacute A instituiccedilatildeo pesquisada
foi a Escola de Aacuteudio Comunicaccedilatildeo ldquoPadre Paulo Mannardquo Esta eacute uma instituiccedilatildeo educacional
mantida pela Diocese de Parintins por meio de sua atual gestora a Professora Zilda Tavares
Atraveacutes desta colaboradora foram coletadas informaccedilotildees sobre os alunos indiacutegenas surdos da
etnia Satereacute-Maweacute que ali estudam ou estudaram que satildeo a seguir descritas
Embora a escola tivesse o conhecimento da existecircncia de dois indiacutegenas surdos da
etnia Satereacute-Maweacute apenas um se encontra matriculado na escola Eacute uma menina de seis anos
de idade cursando o preacute-escolar Para informaccedilotildees consistentes foi solicitado o contato
tambeacutem com a famiacutelia da aluna Ao contatar os pais foi feita uma abordagem por meio de
questionaacuterio mas diante das dificuldades encontradas por natildeo serem alfabetizados na liacutengua
nativa nem na liacutengua Portuguesa os dados utilizados satildeo resultante de entrevistas
assistemaacuteticas (conversas informais)
Os familiares tecircm papeacuteis importantes na formaccedilatildeo da linguagem da crianccedila Eacute atraveacutes
deles que acontece a formaccedilatildeo da identidade social e cultural desse sujeito em
desenvolvimento Satildeo eles que repassam o modo de vida os costumes e outros aspectos
sociais com os seus exemplos e empreendendo a funccedilatildeo da linguagem verbal atraveacutes de
relaccedilotildees dialoacutegicas que ativam a percepccedilatildeo do ser em maturaccedilatildeo no meio familiar Na visatildeo
de Ponzio (et al 2007 p 177)
Uma das funccedilotildees da linguagem verbal eacute a identificaccedilatildeo identificaccedilatildeo dos objetos
mediante um processo de modelaccedilatildeo e de articulaccedilatildeo da realidade que varia de
liacutengua para liacutengua identificaccedilatildeo de sujeito enquanto falante do sujeito do discurso
do tema do outro ao qual esse discurso se dirige de uma espeacutecie de bdquoauditoacuterio
universal‟ a que de modo geral se recorre na argumentaccedilatildeo identificaccedilatildeo de uma
comunidade e da pertenccedila ou da natildeo pertenccedila a esta etc
Um resumo histoacuterico sobre a referida indiacutegena aponta que a famiacutelia residia na
comunidade indiacutegena Ponta Alegre no Rio Andiraacute municiacutepio de Barreirinha Migraram para
a zona urbana em busca de condiccedilotildees para uma melhor qualidade de vida Ao descobrirem a
surdez da filha mudaram-se para a cidade de Parintins Declararam que a forma de se
comunicarem com a filha eacute por meio de gestos criados pela famiacutelia e a crianccedila pois natildeo
sabem a Liacutengua de Sinais
Analisa-se neste contexto a situaccedilatildeo complexa pela qual essa famiacutelia passou para se
entender com a ela posto que se esperasse que a crianccedila dominasse o sistema linguiacutestico que
usam para a comunicaccedilatildeo com os pares atraveacutes da liacutengua natural da etnia Este eacute um fato que
ocorre com as famiacutelias onde natildeo existe o desenvolvimento natural da fala
51
Considere-se assim que a liacutengua eacute adquirida a qual se manifesta em todas as
circunstacircncias normais no conhecimento de uso em processo de audiccedilatildeo desde o nascimento
os quais vatildeo tomando forma de significante e significado enquanto se distingue cada unidade
lexical do todo que existe no meio onde se estaacute inserido Para Lyons ldquoo termo aquisiccedilatildeo da
linguagem eacute normalmente usado sem ressalvas para o processo que resulta no conhecimento
da liacutengua nativa (ou liacutenguas nativas)rdquo (1987 p 231)
Neste caso para a crianccedila em evidecircncia deveria ser propiciado o ensino da Libras
como liacutengua para mediar a comunicaccedilatildeo o mais breve possiacutevel na medida em que ela estaacute
com idade proacutexima da faixa etaacuteria limite de aquisiccedilatildeo sem acarretar prejuiacutezos para o seu
desenvolvimento conforme explica teoria gerativista17
da aquisiccedilatildeo da linguagem proposta
por Lennenberg (1967)
[] a existecircncia de um periacuteodo criacutetico para a quisiccedilatildeo da linguagem tendo como
pressuposto a ideia de que esta eacute inata O periacuteodo criacutetico se iniciaria por volta dos
dois anos e se encerraria por volta da puberdade Esse periacuteodo eacute chamado de criacutetico
porque seria aquele mais sensiacutevel agrave aquisiccedilatildeo da linguagem[] concluiacutendo que o
cereacutebro humano inicialmente tem representaccedilatildeo bilateral das funccedilotildees da linguagem
e mediante o processo de aquisiccedilatildeo na puberdade apenas o hemisfeacuterio se torna
mais dominante em relaccedilatildeo a elas completando o periacuteodo de aquisiccedilatildeo Caso a
crianccedilas natildeo adquira a linguagem nesse periacuteodo seu desenvolvimento linguiacutestico
seraacute prejudicado (apud QUADROS 2008 p 78)
Deste modo no caso a crianccedila surda esta precisa aprender a liacutengua nativa de uma
forma diferenciada adequando-se os siacutembolos agraves formas visuais se natildeo apresentar esta
carecircncia tambeacutem posto que a faculdade da linguagem do ser humano eacute inata conforme
Chomsky esclarece (apud PONZIO etal 2007)
Trata-se de determinar agrave natureza do patrimocircnio bioloacutegico que constitui a bdquofaculdade
da linguagem‟ do ser humano o componente inato do conjunto menteceacuterebro que
uma vez tendo entrado em contato com a experiecircncia linguiacutestica produz o
conhecimento da linguagem isto eacute converte a experiecircncia em um sistema de
conhecimento (p 143)
O segundo indiacutegena surdo da etnia Satereacute-Maweacute havia sido transferido da escola Padre
ldquoPaulo Mannardquo para a Escola Estadual ldquoBrandatildeo de Amorimrdquo Segundo as informaccedilotildees da
famiacutelia ele nasceu na aacuterea indiacutegena de Ponta Alegre Poreacutem quando pequeno sua famiacutelia se
17
A teoria gerativista pressupotildee a existecircncia de um mecanismo inato responsaacutevel pela aquisiccedilatildeo da linguagem
denominado Gramaacutetica Universal (GU) tendo como responsaacutevel por essa concepccedilatildeo que caracteriza-se pela
elucidaccedilatildeo da natureza das linguas naturais Chomsky
52
mudou para zona urbana de Parintins Ele cresceu longe da cultura indiacutegena sem contato com
a liacutengua de sua etnia por estar fora desse contexto Por outro lado natildeo aprendeu a liacutengua
falada em seu entorno na medida em que natildeo pode na prendecirc-la de forma natural por natildeo
ouvir assim por natildeo ter domiacutenio da cultura da etnia deve aprender a liacutengua de sinais
inserindo os signos que significam as palavras do seu leacutexico atraveacutes de instruccedilatildeo especial
com a mediaccedilatildeo de algueacutem que tenha o conhecimento das duas formas de comunicaccedilatildeo Para
Lyons (1987) esses aprendizes adquirem habilidades comunicativas rapidamente pois o
progresso que alcanccedilam eacute pelo menos agraves vezes tatildeo raacutepido que como observam tanto os pais
quanto os pesquisadores eacute difiacutecil manter um registro compreensivo e sistemaacutetico do seu
processo de aprendizado Como tambeacutem eacute no total independente de inteligecircncia e de
diferenccedilas do meio social e cultural
A capacidade da pessoa para construir enunciados vai tomando forma agrave medida que
consegue compreender a relaccedilatildeo entre significante e significados dos signos com os quais tem
contato Por isso os indiacutegenas surdos podem ser beneficiados com um material escrito
triliacutengue Este pode constituir-se em um material de apoio para a aprendizagem das trecircs
liacutenguas sendo que a liacutengua de sinais eacute perspectivada como L1
O terceiro caso identificado eacute de um iacutendio surdo jaacute adulto da comunidade Uiacurapaacute
da etnia Maweacute As informaccedilotildees datildeo conta que ele se comunica por meio de gestos criados por
ele e os pares com quem tem relaccedilatildeo Poreacutem natildeo haacute dados detalhados pois natildeo foi possiacutevel
contato com o mesmo porque ele vive isolado sobrevivendo de caccedila e pesca em comunidade
rural indiacutegena Fato este que implica diretamente no aperfeiccediloamento da forma de
comunicaccedilatildeo desse sujeito posto que ldquoos fenocircmenos ambientais podem agir diretamente
sobre a pessoa ou individualmente atraveacutes de repasse de experiecircncias vividas pela sociedade
atraveacutes da linguagem veiculada pela liacutenguardquo (OLIVEIRA 2005 p134)
Assim estaacute constituiacuteda a populaccedilatildeo de indiacutegenas surdos que fazem parte da
microrregiatildeo de Parintins que se podem fazer os devidos registros neste estudo
412 Histoacuterico de Barreirinha
O municiacutepio de Barreirinha pertence a Mesorregiatildeo da Microrregiatildeo de Parintins que
estaacute localizado a leste de Manaus Capital do Estado distanciando cerca de 331 quilocircmetros
E ao norte de Parintins o municiacutepio de Barreirinha juntamente com Maueacutes satildeo principais
municiacutepios que possuem a maior populaccedilatildeo de indiacutegenas localizados nos rios Andiraacute e o
Marau Portanto sendo o municiacutepio como a sede urbana das comunidades inseridas os surdos
53
indiacutegenas vem apenas em busca de tratamento meacutedico quando necessitam ou para atividades
sociais acompanhados de seus pais mas na zona urbana natildeo localizamos nenhum indiacutegena
surdo
Barreirinha foi o segundo municiacutepio pesquisado E segundo o IBGE em 2013 a
populaccedilatildeo era de 29737 habitantes18
sendo o vigeacutesimo segundo municiacutepio mais populoso do
Estado do Amazonas e o terceiro de sua microrregiatildeo
Este muniacutecipio conta com um setor especiacutefico das causas indiacutegenas a Coordenaccedilatildeo
Iacutendiacutegena Satereacute-Maweacute sob responsabilidade do coodernador geral SrSantino Lopes Este
tornou possiacutevel o acesso agrave comunidade indiacutegena de Ponta Alegre no Rio Andiraacute Foi na
Escola Municipal Professora ldquoRosa Cabralrdquo que foi identificado um indiacutegena surdo da etnia
Satereacute-Maweacute um menino de 12 anos matriculado na 3ordf ano do ensino fundamental Nesse
contexto foi possiacutevel observar sua forma de se comunicar com as demais pessoas que faziam
parte do seu meio social Outros dados referente a relaccedilotildees familiares deste natildeo estatildeo
disponiacuteveis na medida em que natildeo foi possiacutevel fazer contato com sua famiacutelia Desta forma
permanece uma lacuna de respostas referente a esse aluno posto que
De uma forma geral e em regra a socializaccedilatildeo da crianccedila no mundo civilizado
comeccedila dentro de uma famiacutelia nuclear constituiacuteda de pai matildee e irmatildeos quando
existem Durante os primeiros anos da infacircncia adquire traccedilos culturais (menores
unidades de cultura) atraveacutes das pessoas da famiacutelia que satildeo reflexo da sociedade
onde vivem (OLIVEIRA 2005)
Entende-se que atraveacutes de informaccedilotildees que poderiam ser fornecidas pela famiacutelia
deveria ser esclarecido como ocorre a socializaccedilatildeo da crianccedila nesse contexto e de que modo
aprenderam a se comunicar com ela que estrateacutegias foram utilizadas para que ela conseguisse
ser alfabetizada
413 Histoacuterico de Maueacutes
Este municiacutepio que tambeacutem pertence agrave Mesorregiatildeo do Centro Amazonense e
Microrregiatildeo de Parintins tem uma populaccedilatildeo de 54079 habitantes conforme as estimativas
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) A cidade eacute reconhecida
nacionalmente por possuir uma das maiores expectativas de vida do paiacutes
18
Disponiacutevel emlthttpcidadesibgegovbrxtrastemasamazonas|barreirinha|estimativa-da-populacao-2013gt
Acesso em 28072014
54
Na margem direita do Rio Maueacutes-Accedilu Maueacutes foi fundada em 1798 por Luiz Pereira
da Cruz e Joseacute Rodrigues Preto agrave distacircncia de 268 km em linha reta e 356 km pela via
fluvial de Manaus O calendaacuterio festivo do municiacutepio conteacutem as datas festivas municipais
em homenagem agrave Satildeo Sebastiatildeo (10 a 20 de janeiro) ao Divino Espiacuterito Santo (22 a 30 de
maio) agrave Satildeo Pedro (27 a 30 de junho) agrave padroeira Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo (01 a 8 de
dezembro) assim como a Festa do Carnaval Popular (21 a 24 de fevereiro) do aniversaacuterio do
municiacutepio (26 a 27 de junho) da Ilha de Vera Cruz (23 a 25 de julho) do Veratildeo (de 05 a 7 de
setembro) da Feira Industrial (06 a 8 de novembro) e do Guaranaacute (em novembro)
Sobre a origem do nome deste municiacutepio observa-se que inicialmente foi
denominada Luseia e progredindo com o tempo transformou-se em missatildeo carmelita com
nome de Maueacutes O liacuteder nessa eacutepoca foi o frei Joaquim de Santa Luzia Por um decreto de 25
de junho de 1833 a missatildeo foi considerada vila sob a invocaccedilatildeo de Nossa Senhora da
Conceiccedilatildeo de Luseia Em 1853 pela lei nordm 25 de 3 de dezembro da iniciativa do Deputado
Marcos Antocircnio Rodrigues de Souza a vila tornou-se cidade chamada Satildeo Marcos de
Mundurucacircnia Consta como uma das freguesias da proviacutencia denominada Maueacutes em 1958
A oficializaccedilatildeo da mudanccedila do nome do municiacutepio ocorreu quando o Deputado Joseacute
Bernardo Michiles em 1865 apresentou um projeto para tal que tendo sido aprovado
oficializou-se a mudanccedila do nome de Maueacutes para Conceiccedilatildeo Enfim jaacute na Repuacuteblica em
1895 pela lei nordm 133 de 5 de outubro a localidade torna-se Comarca E em 4 de maio de 1896
eacute considerado municiacutepio pelo novo regime juriacutedico com o nome de Maueacutes pela lei nordm 137
As pesquisas de campo nesse municiacutepio natildeo foram realizadas conforme a previsatildeo
pois a viagem natildeo foi concretizada devido agraves dificuldades em relaccedilatildeo agrave distacircncia para chegar
ateacute agraves comunidades que satildeo distantes da cidade cede e havia necessidade de recurso material
e humano (professores guias indiacutegenas biliacutengues) para realizaacute-la Quando foi possiacutevel chegar
ao local ocorreu o contato com trecircs professores que residiam nas comunidades do rio
chamado Marau Ali foi possiacutevel tecirc-los em companhia na funccedilatildeo de guia inteacuterprete para
contato com os indiacutegenas surdos daquela localidade
Em resposta afirmativa ao questionamento se havia iacutendios surdos foram realizadas
reuniotildees com a comunidade local para coletar informaccedilotildees que apontou a existecircncia de um
caso na comunidade de Santa Maria Era um senhor na faixa etaacuteria de 67 anos que adquiriu a
surdez haacute muito tempo atraacutes Ele natildeo tem conhecimento da Liacutengua Portuguesa por isso natildeo
tivemos contato direto No entanto ele conhece a proacutepria liacutengua e assimilou a cultura da etnia
posto que
55
A liacutengua eacute aprendida simultaneamente a outros elementos da cultura A capacidade
de desenvolvimento da linguagem eacute inata O indiviacuteduo nasce com o ceacuterebro
preparado para aprender tudo que pertinente agrave cultura humana da qual a linguagem
faz parte (OLIVEIRA 2005 p 137)
Eacute no contexto social que se aprende os signos que fazem parte do mundo exterior e
que o ceacuterebro assimila pelo conhecimento que os sentidos possibilitam
O segundo iacutendio localizado foi um surdo de nascenccedila hoje com idade de 24 anos
Segundo relato da famiacutelia nunca frequentou uma escola portanto seu uacutenico meio de
comunicaccedilatildeo eacute gestual que aprendeu como forma para se fazer entender pois ldquoa linguagem eacute
atributo universal do ser humanordquo (OLIVEIRA 2005) assim constitui-se como necessidade
vital da pessoa conduzindo ao aprendizado
Em pesquisa de campo se obteve a informaccedilatildeo que havia outros trecircs iacutendios surdos que
moravam no Rio Marau mas natildeo foi possiacutevel chegar ateacute a aldeia onde se encontravam
devido ao difiacutecil acesso o que impossibilitou a ida ateacute a localidade
414 Histoacuterico de Boa Vista do Ramos
Uma das sete Mesorregiotildees de Parintins eacute Boa Vista do Ramos que possui
aproximadamente 16820 de habitantes segundo o IBGE (2013)
A histoacuteria de Boa Vista do Ramos encontra-se ligada agrave histoacuteria do municiacutepio de
Maueacutes Em 1798 foi fundada a Aldeia de Lusea Em meados do Seacuteculo XIX vaacuterios conflitos
ocorreram na regiatildeo entre brancos e povos indiacutegenas sendo efetiva tambeacutem a participaccedilatildeo de
cabanos oriundos da Cabanagem
Quando a Proviacutencia do Amazonas eacute criada em 1850 Lusea torna-se um dos quatorze
municiacutepios existentes na proviacutencia Seu nome eacute alterado em 1892 para Maueacutes tornando-se
sede da Comarca em 1895 Em 10 de dezembro de 1981 atraveacutes da Emenda Constitucional nordm
12 o povoado de Boa Vista do Ramos aleacutem de outros territoacuterios pertencentes agrave Maueacutes e
aacutereas adjacentes dos municiacutepios de Barreirinha e Urucurituba passam a constituir o novo
municiacutepio de Boa Vista do Ramos
Em pesquisa de campo nesse municiacutepio o primeiro contato que foi na Coordenadoria
Regional de Educaccedilatildeo da cidade (SEDUC) Embora esta professora responsaacutevel por essa
Instituiccedilatildeo tenha informado que natildeo conhecia nenhum caso de iacutendio surdo neste municiacutepio
alguns informantes afirmaram que na aldeia de Santo Antocircnio que faz parte do referido
municiacutepio foi localizada uma senhora que havia adquirido a surdez ainda muito jovem sem
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nenhum conhecimento das liacutenguas ldquofaladasrdquo ou sinalizadas Desta forma ela utilizava de
gestos para se comunicar porque os seres humanos nascem com a capacidade para a
linguagem que se desenvolvem ao longo da primeira infacircncia mas que podem tambeacutem ser
aprendida no meio social atraveacutes de estiacutemulos Nesta perspectiva segundo a concepccedilatildeo de
Oliveira (2005 p 143)
A evoluccedilatildeo da linguagem depende de dois fatores principais da capacidade geneacutetica
cerebral para desenvolvecirc-la que eacute a principal e dos estiacutemulos ambientais que satildeo
sempre tatildeo importantes quanto aquela Esse desenvolvimento estaacute senpre inserido no
contexto de socializaccedilatildeo que eacute a responsaacutevel pela humanizaccedilatildeo do indiviacuteduo
Ainda sobre a importacircncia da socializaccedilatildeo para os sujeitos ressalta-se que estes
desenvolvendo no meio onde estatildeo inserido adquirem sua identidade cultural
concomitantemente sua identidade linguiacutestica que estaacute presente no discurso dos seus pares
posto que ela ldquoeacute adquirida nos processos de formaccedilatildeo e tranformaccedilatildeo de uma liacutengua
particularrdquo que eacute tambeacutem determinante no relacionamento cm outras liacutenguas E de acordo
com Ponzio (2007 p178) ldquoO espaccedilo em que uma liacutengua vive eacute um espaccedilo interlinguiacutestico e a
capacidade de expressatildeo e da adaptaccedilatildeo dessas liacuteguas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo eacute
diretamente proporcional agrave quantidade de contatos com outras liacutenguasrdquo O que deixa evidente
que um indiviacuteduo pode estar em contato com diferentes formas de intercomunicaccedilatildeo
415 Histoacuterico de Nhamundaacute
Eacute trigeacutesimo quinto municiacutepio mais populoso do estado do Amazonas Sendo o quarto
da Mesorregiatildeo em estudo Conforme o IBGE em 2013 o municiacutepio eacute composto por uma
populaccedilatildeo de 19 792 habitantes
O municiacutepio de Nhamundaacute estaacute localizado na zona fisiograacutefica do Baixo Amazonas
limitando com os municiacutepios de Parintins e Urucaraacute no Amazonas com o Estado de Roraima
(norte) e com os municiacutepios de Faro e Terra Santa no estado do Paraacute Distacircncia da capital 375
km em linha reta e cerca de 577 km por via fluvial Sua altitude eacute de 50 metros acima do
niacutevel do mar
As origens do municiacutepio de Nhamundaacute remontam agraves primitivas povoaccedilotildees dos iacutendios -
nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XVII composta pelos condurizes paraculamas canuris
guancaris paraquatas queremas jamundaacutes e uaboy cujo tuxaua se chamava Jamundaacute que
dada a luta em prol da liberdade de seu povo devido agrave exploraccedilatildeo e maus-tratos pelos
57
colonizadores fez um levante conduzindo a tribo Uaboy para as cabeceiras do alto rio que em
sua homenagem ganhou o seu nome e por conseguinte daacute nome ao municiacutepio
Em 1653 mediante carta reacutegia a regiatildeo foi erigida a Missatildeo que foi confiada aos
missionaacuterios portugueses capuchos da Piedade Eles organizaram uma aldeia modelo na boca
do Tauacuera - aldeia velha afluente esquerdo onde ainda se podem ver ruiacutenas do antigo
convento no meio dos espinhais A sede da Missatildeo poreacutem foi transferida para o lugar da
atual cidade de Faro Os padres capuchos souberam unir os iacutendios uaboy residentes no
Trombetas aos da Missatildeo para aumentar a populaccedilatildeo Era entatildeo o chefe dos Uaboy o tuxaua
Jamundaacute que ligou seu nome agrave Missatildeo e agrave aldeia que doravante se chamou aldeia dos
Jamundaacute ou Missatildeo dos Jamundaacute
O primeiro documento sobre a Missatildeo eacute do ano de 1727 e foi escrito pelo superior da
Missatildeo frei Francisco de Satildeo Manccedilos Em 1758 Missatildeo tomou o nome de Faro No entanto
jaacute em 1755 o Marqucirces de Pombal mandou suspender as Missotildees para serem transformadas
em vilas e paroacutequias A Missatildeo dos Jamundaacute foi extinta em 1758 por ordem de Mendonccedila
Furtado quando de sua viagem de demarcaccedilatildeo da nova capitania Foram criadas assim a vila
de Faro e a Paroacutequia de Satildeo Joatildeo Batista em 21 de dezembro de 1758 mas a instalaccedilatildeo deu-se
somente em 27 de dezembro de 1768
Desse modo em 1911 quando ocorreu a divisatildeo administrativa do Brasil o municiacutepio
de Parintins foi contemplado com o distrito de Jamundaacute Com a extinccedilatildeo deste quando
aconteceu a nova divisatildeo administrativa em 1933 o municiacutepio de Parintins surgiu com apenas
um distrito assim em 10 de dezembro de 1938 pelo Decreto-lei no 176 do Estado do
Amazonas Parintins voltaria a dispor de um outro distrito aleacutem da sede o da Ilha das Cotias
Em 19121955 pela Lei Estadual no 96 o distrito de Ilha das Cotias eacute desmembrado de
Parintins e passa a constituir o municiacutepio autocircnomo de Nhamundaacute Em 31 de janeiro de 1956
foi instalado o municiacutepio de Nhamundaacute
A viagem a esse municiacutepio foi realizada com o apoio do aluno Fernando Gonccedilalves
acadecircmico do curso de Licenciatura em Geografia pela Universidade do Estado do
Amazonas-UEA Para maiores esclarecimentos foi feita a pesquisa na casa de sauacutede indiacutegena
localizada na cidade de Nhamundaacute onde informaram desconhecer a existecircncia da etnia
Satereacute-Maweacute no municiacutepio Mesmo assim foi feito outro contato com uma enfermeira da
Casa de Sauacutede Indiacutegena do municiacutepio A resposta foi a mesma ldquoQueremos informar ao
professor que no municiacutepio de Nhamundaacute que natildeo trabalhamos com a etnia Satereacute-Maweacute
Atendemos somente a etnia Hixkaryana existente na regiatildeo Natildeo haacute portanto nenhum surdo
Hixkaryana ou Satereacute-Maweacute cujo fato eacute comprovado pelo senso municipalrdquo
58
Foi feita uma pesquisa tambeacutem em outro oacutergatildeo que atua com indiacutegenas no caso as
Secretaria de Educaccedilatildeo do Municiacutepio com a finalidade de constatar a veracidade dos fatos
eou conseguir novos dados sobre o indiacutegena surdo Satereacute ou Hixkaryana O subsecretaacuterio de
Educaccedilatildeo relatou que natildeo existia dados sobre a liacutengua Satereacute-Maweacute nem indiacutegenas surdos
existentes
Realmente apoacutes pesquisas in loco ficou comprovado somente agrave existecircncia da etnia
Hixkaryana da famiacutelia linguiacutestica Karib Sobre esta ressalta-se que
A liacutengua hixkaryana pertence agrave famiacutelia linguiacutestica Karib e eacute falada por todos os
membros do grupo Esta liacutengua eacute muito semelhante agravequeles outros dialetos falados
na regiatildeo mais ampla circunscrita pelos vales dos rios Trombetas e Mapuera como
Waiwai Xereu Katuena Karapawyana Tunayana Desta maneira e pelo fato dos
Hixkaryana estabelecerem relaccedilotildees bem estreitas com estes grupos em uma rede de
trocas matrimoniais e rituais tais dialetos satildeo inteligiacuteveis entre si []
Os Kaxuyana que moram no rio Nhamundaacute quase todos tambeacutem falam a liacutengua
hixkaryana aleacutem da sua liacutengua proacutepria o Kaxuyana Contudo em geral um
Hixkaryana natildeo fala a liacutengua kaxuyana fato que de certa forma demonstra que os
Kaxuyana satildeo considerados os ldquoestrangeirosrdquo naquela regiatildeo e que devem aprender
a liacutengua ldquonativardquo o Hixkaryana
A maioria dos Hixkaryana eacute alfabetizada na liacutengua nativa sendo capaz de ler e
escrever neste idioma Em 2008 havia apenas uma escola de ensino fundamental na
aldeia Kassauaacute e muitos jovens depois desta seacuterie dirigiam-se agrave cidade de
Nhamundaacute (AM) para prosseguir os estudos de niacutevel meacutedio Em 2010 uma escola
de ensino meacutedio foi implantada na aldeia Kassauaacute Aleacutem disso uma dezena de
Hixkaryana jaacute cursou ou estaacute cursando o ensino superior em cidades como Parintins
e Manaus Contudo a maioria das mulheres dos velhos e das velhas fala muito
pouco o Portuguecircs sendo o Hixkaryana a liacutengua mais usada por todos19
Assim como no municiacutepio de Nhamundaacute ficou constatado tambeacutem que nos demais
municiacutepios de Satildeo Sebastiatildeo do Uatumatilde e de Urucaraacute que natildeo haacute registro sobre a existecircncia
da etnia Satereacute-Maweacute nem tatildeo pouco a existecircncia de iacutendios surdos A tabela 1- apresenta o
resultado da pesquisa que aponta o mapeamento
Tabela 1 Mapeamento da existecircncia de iacutendios surdos nas respectivas comunidades
indiacutegenas ou zona urbana da microrregiatildeo de Parintins
Fonte Azevedo (2014)
19
Disponiacutevel emlthttppibsocioambientalorgptpovohixkaryanagt Acesso em 07112014
Etnia Liacutengua Comunidade Indiacutegena
rural Zona Urbana
Municiacutepio Quantidade de iacutendios
surdos
Satereacute-Maweacute Tupi Parintins Parintins 02
Satereacute-Maweacute Tupi Uaucurupaacute Parintins 01
Satereacute-Maweacute Tupi Rio Andiraacute Barreirinha 01
Satereacute-Maweacute Tupi Santa Maria Maueacutes 02
Satereacute-Maweacute Tupi Rio Marau Maueacutes 03
Satereacute-Maweacute Tupi Boa Vista do Ramos Boa Vista do
Ramos
01
Total 10
59
De acordo com os dados pode-se observar a existecircncia de poucos iacutendios surdos
Poreacutem acredita-se que ainda existam outros em comunidades mais isoladas Como tambeacutem
pelo fato de serem consideradas ldquodeficientesrdquo algumas famiacutelias natildeo integram na comunidade
que vivem As dificuldades encontradas para coletar os dados a partir dos oacutergatildeos
responsaacuteveis tambeacutem foram encontrados em outros estudos realizados anteriormente para
estabelecer a populaccedilatildeo indiacutegena na Ameacuterica Latina o que pode ser vislumbrado pela
explicaccedilatildeo dos fatos complicadores transcritos a seguir
Uma das dificuldades para estabelecer a populaccedilatildeo indiacutegena estaacute relacionada com
fato de que o criteacuterio de filiaccedilatildeo segue mais a autodenominaccedilatildeo que as
caracteriacutesticas linguiacutesticas ou raciais como se considerava haacute algumas deacutecadas atraacutes
Outra dificuldade eacute que a uacutenica fonte disponiacutevel para estabelecer a quantidade de
populaccedilotildees indiacutegenas na regiatildeo satildeo precisamente os censos nacionais de populaccedilatildeo
que haacute bem pouco tempo permitiam inferir informaccedilatildeo sobre a populaccedilatildeo indiacutegena
a partir de uma uacutenica pergunta referente agrave liacutengua falada pelos entrevistados (LOPES
e SICHRA 2009 p 103)
Entretanto embora natildeo haja um nuacutemero expressivo de iacutendios surdos da etnia Satereacute-
Maweacute ficou constatado que haacute muitos surdos natildeo-iacutendios nos municiacutepios estudados
principalmente no municiacutepio de Parintins que precisam se comunicar com diferentes
interlocutores Este eacute um argumento que aponta para a necessidade de instrumentos
educacionais como um dicionaacuterio triliacutengue importante para os surdos que conseguiram
estabelecer elos comunicativos a partir das trecircs liacutenguas E jaacute que o homem eacute criativo ldquoagrave
medida que o tempo passa a humanidade vai agregando novas descobertas e inventos que se
concretizam e se somam para dar-lhe conforto e bem estarrdquo (OLIVEIRA 2005 p 144) Entatildeo
espera-se que este material contribua para que o sujeito surdo possa se comunicar
adequadamente no seio familiar e no processo educacional
42 Realidade linguiacutestica e educacional dos iacutendios surdos encontrados da etnia Satereacute-Maweacute
O sistema responsaacutevel pela educaccedilatildeo tem procurado fazer adequaccedilotildees para atender agraves
pessoas que apresentam necessidades na sua arquitetura fiacutesica para a inclusatildeo destas no
contexto da realidade linguiacutestica e educacional Embora exista uma legislaccedilatildeo pertinente
ainda haacute ausecircncia de qualidade para que um indiviacuteduo surdo possa estudar incluso em um
contexto regular de ensino Principalmente porque os professores natildeo estatildeo preparados para
lidar com essa situaccedilatildeo peculiar Haacute uma imposiccedilatildeo nos oacutergatildeos educacionais mas natildeo haacute
60
profissionais que atuem para o bom desempenho do aluno indiacutegena surdo A partir dessa
visatildeo Albres (2005) que realizou um estudo nesta aacuterea de conhecimento afirma
Nessa perspectiva o homem eacute produto e produtor da cultura conjunto das relaccedilotildees
sociais portanto mister se faz investigar a origem histoacuterica de alguns princiacutepios da
educaccedilatildeo biliacutengue para surdos e desvelar elementos conceituais Propomo-nos
entatildeo identificar e analisar as concepccedilotildees de linguagem que sob condiccedilotildees
histoacutericas fundamentaram o ensino de Liacutengua Portuguesa para surdos nos
documentos do MEC
Desta feita entende-se que se no contexto do ensino da Liacutengua Portuguesa existem
diversas dificuldades no contexto de uma liacutengua indiacutegena a situaccedilatildeo se torna mais complexa
Desse modo na anaacutelise da situaccedilatildeo linguiacutestica e educacional encontrada com os iacutendios surdos
identificados da etnia Satereacute-Maweacute eacute bastante diversificada Apresentam diferentes formas de
siacutembolos para conseguirem se comunicar com as pessoas com quem tecircm contato Precisam
fazer um esforccedilo aleacutem do necessaacuterio para manifestar seus desejos para informar e ter acesso a
informaccedilotildees
No caso da aluna indiacutegena surda de apenas seis anos de idade na escola especiacutefica para
atender alunos surdos foi constatado que sua situaccedilatildeo linguiacutestica e educacional se encontra
em processo de aquisiccedilatildeo de uma linguagem baacutesica para comunicaccedilatildeo com as pessoas com as
quais ela convive
Conforme os dados fornecidos pela escola por meio de um parecer pedagoacutegico sobre a
aluna indiacutegena surda (ANEXO D) Ficou atestado que a aluna da etnia Satereacute-Maweacute nasceu
de parto normal sem nenhum problema aparente Aos trecircs anos de idade a matildee percebeu que
a filha natildeo ouvia e nem falava pois seus outros filhos haviam comeccedilado a falar na presente
idade Para seguir se comunicar com a filha utilizava-se de gestos sendo difiacutecil a
comunicaccedilatildeo Foi essa situaccedilatildeo que levou a famiacutelia a procura da Escola Padre Paulo Manna
onde se encontra matriculada no preacute-escolar Nessa realidade ela recebe as mesmas
orientaccedilotildees dadas agraves crianccedilas natildeo indiacutegenas logo natildeo existe um direcionamento para a cultura
da sua etnia na escola nem na no contexto familiar
Sobre essa condiccedilatildeo Cool (2004) aborda que haacute um aspecto familiar que tem
relevacircncia particular o tipo de comunicaccedilatildeo que se utiliza em casa ou seja a forma e o estilo
de comunicaccedilatildeo que os pais utilizam com a crianccedila surda tem uma grande importacircncia para o
seu desenvolvimento e para sua aprendizagem No caso dos pais ouvintes estes necessitam do
conhecimento da educaccedilatildeo da cultura da liacutengua da pessoa surda para que possam promover
uma formaccedilatildeo linguiacutestica completa para o filho surdo E deste modo este ldquopossa consolidar e
61
aprofundar o uso e a compreensatildeo da liacutengua proacutepria enquanto veiacuteculo de cultura e
possibilidade de comunicaccedilatildeo no acircmbitordquo de conhecimento do aprendiz sem deixar agrave parte do
domiacutenio da liacutengua apropriada para esse sujeito (HERNAIZ 2009)
Desta forma a educaccedilatildeo escolar reconhecida pela proacutepria escola referente agrave inclusatildeo
da aluna indiacutegena surda aponta para a necessidade de instituir uma educaccedilatildeo triliacutengue de
forma que seu processo de ensino-aprendizagem pauta-se na Liacutengua Satereacute-Maweacute Liacutengua
Brasileira de Sinais e Liacutengua Portuguesa Mesmo sabendo da dificuldade em aprender trecircs
liacutenguas o parecer pedagoacutegico considera possiacutevel aprendizagem de trecircs liacutenguas
A partir dos argumentos referidos reitera-se a importacircncia de que a educaccedilatildeo escolar
dessa aluna deve abranger as liacutenguas de uso natural nativo e social Quando se destaca a
liacutengua de uso natural entende-se que eacute a Liacutengua de Sinais como primeira liacutengua E natildeo
inverter o processo e obrigar a crianccedila surda seja indiacutegena ou natildeo aprender a falar uma
liacutengua oral seja liacutengua indiacutegena ou Liacutengua Portuguesa Sobre a questatildeo Fernandes (2005
p20) pontua
fazer uma crianccedila surda ldquofalarrdquo ao inveacutes de propiciar a ela um meio raacutepido de
comunicaccedilatildeo linguiacutestica atraveacutes da aquisiccedilatildeo da liacutengua de sinais como primeira
liacutengua que proteja e cumpra o papel fundamental de resguardar o seu natural
desenvolvimento no que se refere a ter domiacutenio de fato de um instrumental
linguiacutestico que lhe sirva para as operaccedilotildees mentais que envolvam mecanismos
linguiacutesticos
Portanto primeiramente eacute necessaacuteria a aquisiccedilatildeo da primeira liacutengua a liacutengua de sinais
e como segunda liacutengua a liacutengua nativa de sua comunidade eacutetnica No caso da aluna indiacutegena
a liacutengua Tupi da etnia Satereacute-Maweacute na modalidade escrita Desta forma com a aprendizagem
das duas liacutenguas seraacute uma aluna biliacutengue Poreacutem diante da realidade do aluno indiacutegena surdo
que vive na zona urbana se faz necessaacuterio o aprendizado triliacutengue Liacutengua Portuguesa por
escrito
Como dito anteriormente o ensino-aprendizado da Liacutengua de Sinais deve ser
garantido ao sujeito surdo para que adquira a identidade a cultura do povo surdo20
acesso
pleno as informaccedilotildees aleacutem de significar a possibilidade de comunicaccedilatildeo e expressatildeo fluentes
do sujeito surdo com seu entorno Da mesma perspectiva o ensino da Liacutengua indiacutegena se daacute
20
Como ja mencionado no capiacutetulo 1 sobre Cultura Surda ldquo eacute o jeito surdo de ser de perceber de sentir de
vivenciar de comunicar de transformar o mundo a tornaacute-lo habitaacutevelrdquo (GLADIS PERLIN apud STROBEL
2008 p 21) Strobel ainda esclarece que o sujeito Surdo se comportam diferente do sujeito ouvinte e com isso
traz alguns ldquoartefatos culturaisrdquo (explicado no capiacutetulo 1) que satildeo as pecualiaridade da cultura surda as quais
descritas Parte das experiecircncias visuais linguiacutestico familiar literatura surda vida social e esportiva artes
visuais poliacutetica e materiais Todos estes artefatos concebidos a partir do VER (IDEM 2008 p36-77)
62
em respeito aos direitos da cultura indiacutegena previsto pela Constituiccedilatildeo Brasileira conforme
decreto nordm 6861 de maio de 2009 no seu Art 2o que determina ldquoSatildeo objetivos da educaccedilatildeo
escolar indiacutegena I- valorizaccedilatildeo das culturas dos povos indiacutegenas e a afirmaccedilatildeo e manutenccedilatildeo
de sua diversidade eacutetnica II- fortalecimento das praacuteticas socioculturais e da liacutengua e da liacutengua
materna de cada comunidade indiacutegenardquo
Neste caso a referida aluna iacutendia surda deveraacute ter a liacutengua indiacutegena como liacutengua de
conhecimento de sua cultura Para o ensino desta na forma escrita faz-se uso de cartilhas
gramaacuteticas dicionaacuterios etc
De acordo com o exposto a escola reconhece a necessidade da educaccedilatildeo escolar
triliacutengue poreacutem utiliza-se de outra realidade conforme citado pela proacutepria escola ldquoNo
primeiro momento fica junto com os colegas ouvintes onde procuramos trabalhar de forma
inclusiva no contexto biliacutengue Liacutengua Portuguesa e Liacutengua de Sinais
Sobre este aspecto Rodrigues (2005 p20) pontua
Quantas lacunas estariam sendo criadas em nome da pressuposiccedilatildeo de que a
aprendizagem da liacutengua da maioria dos falantes da comunidade (ouvintes) eacute que
daria agrave crianccedila surda condiccedilotildees de desenvolvimento social e cognitivo Quantas
etapas de desenvolvimento estariam sendo desprezadas nas fases naturais de sua
evoluccedilatildeo sob a alegaccedilatildeo de que ela seraacute capaz de alcanccedilar o que se estabelece como
meta social Que metas estariam sendo alcanccediladas afinal Que objetivos estatildeo sendo
perseguidos em prol desses paracircmetros ultrapassados em detrimento dos reais
objetivos de formaccedilatildeo psico-sociocultural deste individuo Em que a liacutengua de
sinais como primeira liacutengua ainda se encontra determinada pelo descreacutedito de
tantos especialistas da aacuterea
A realidade encontrada sobre a educaccedilatildeo natildeo soacute em uma escola que atende alunos
surdos mas tambeacutem em muitas escolas as chamadas escolas ldquoinclusivasrdquo apresentam
dificuldades no processo de ensino dos alunos surdos21
Todavia entre desencontros
sociocultural-linguiacutesticos eacute preciso fazer uma ressalva desta escola ldquoA escola disponibilizou
21
Sobre a temaacutetica da Inclusatildeo formula-se ldquoAo se avaliar que na contemporaneidade impera o discurso da
inclusatildeo indiscriminada em escolas regulares[]Esta diretriz tira o direito previsto na legislaccedilatildeo brasileira de
poder optar por uma educaccedilatildeo biliacutengue em escola proacutepria de modo que se repete a condiccedilatildeo em que aos surdos eacute
imposto um enorme sofrimento na medida em que nos denominamos processos inclusivos junto aos ouvintes
permanecem privados de conviver com seus pares e de acessar o conhecimento na Liacutengua de Sinais como liacutengua
de instruccedilatildeo [] Os surdosde diferentemente de outros segmentos tecircm a necessidade de agrupar-se para formar
comunidade linguiacutestica por meio das quais possam construir uma ldquocomunidade de experiecircnciasrdquo (WITKOSKI
2012 p33-34)
63
uma professora surda para a aquisiccedilatildeo da Liacutengua Brasileira de Sinais repassando o conteuacutedo
ministrado na salardquo onde cada um desses alunos eacute inserido
A escola positivamente conta com a colaboraccedilatildeo do trabalho docente de uma
professora surda Esta tem um papel fundamental como modelo linguiacutestico principalmente
quando alunos surdos provecircm de famiacutelias ouvintes que natildeo tecircm acesso agrave cultura e agrave Liacutengua
de Sinais Cabe ao professor surdo comunicar-se fluentemente com o aluno surdo ser um
input linguiacutestico para a identificaccedilatildeo da cultura do ser surdo
Dessa forma Strobel (2008 p 40) destaca
Este contato crianccedila surda x adulto surdo atraveacutes de uma liacutengua em comum que eacute a
liacutengua de sinais eacute que proporcionaraacute o acesso agrave linguagem e desta forma estaraacute
assegurada a identidade e a cultura surda que eacute transmitida naturalmente agrave crianccedila
surda em contato com a comunidade surda
Observa-se que caso a crianccedila surda natildeo tenha o direito a sua diferenccedila preservado
este aprendiz teraacute sua inserccedilatildeo no mundo dos ouvintes de forma incerta eou sem esperanccedila de
uma vida normal A situaccedilatildeo se agrava na medida em que a sociedade ouvinte deixa a desejar
quanto agrave participaccedilatildeo dos sujeitos surdos em decorrecircncia da escassez dos vaacuterios recursos
visuais que promovem acessibilidade para eles
Contudo os povos surdos hoje satildeo mais conscientes de seus direitos entatildeo esses
sujeitos cultural e politicamente lutam pelos mesmos Direitos estes tambeacutem dos povos
indiacutegenas como jaacute comentados anteriormente
Todavia esse aspecto ainda estaacute distante da realidade dos sujeitos focos do estudo de
acordo com relato da escola Segundo depoimentos de alguns indiacutegenas a aprendizagem
indiacutegena passa pela demonstraccedilatildeo observaccedilatildeo imitaccedilatildeo tentativa e erro e quando o aluno
vem para a escola tem que se socializar e obedecer a comandos regidos pelo sistema e isso
muitas vezes o deixa confuso e os maiores ateacute desistem A situaccedilatildeo se agrava quando esse fato
se refere ao sujeito iacutendio surdo incluiacutedo na escola pois este requer um diferencial ainda
maior reconhecido pela escola
Dessa forma satildeo necessaacuterias estrateacutegias de ensino diferenciadas que deem suporte
para que a aluna seja trabalhada de forma triliacutengue no contexto escolar para que ela
natildeo perca a sua essecircncia a sua cultura que sejam adaptados trabalhos de acordo
com a realidade indiacutegena para que ela natildeo perca a sua identidade e saiba conduzir
sua aprendizagem dentro de um contexto diferenciado podendo aprender o que lhe eacute
de direito como viver bem em sociedade22
22
Texto extraiacutedo do parecer pedagoacutegico da aluna indiacutegena surda que estuda na Escola de Aacuteudio e Comunicaccedilatildeo
Pe Paulo MannaParintinsAm (ANEXO D)
64
A partir das consideraccedilotildees tecidas no parecer pedagoacutegico torna-se evidente ema
necessidade de ampliar e aprofundar as reflexotildees sobre a inclusatildeo de iacutendios surdos em vaacuterios
espaccedilos da sociedade especialmente no espaccedilo educacional escolar Ou seja haacute necessidade
tambeacutem de poliacuteticas linguiacutesticas voltada para esse acircmbito
Nesse sentido eacute necessaacuterio que se tenha como meta uma tomada de decisotildees poliacuteticas
para que gradativamente se possa controlar a situaccedilatildeo de aprendizagem do surdo no processo
soacutecio cultural onde ele estiver inserido Ateacute por que existe uma proposta educativa
intercultural de modo biliacutengue no contexto indiacutegena Assim surge a necessidade de accedilotildees
objetivas para garantir na praacutetica esta proposta de ensino a fim de enriquecer o indiacutegena
surdo com desenvolvimento da liacutengua de sinais como veiacuteculo de comunicaccedilatildeo acrescendo
seus conhecimentos a partir do pluralismo cultural uma vez que estaacute amparado por
legislaccedilotildees especiacuteficas
Reitera-se a necessidade de accedilotildees objetivas especialmente no que tange a formaccedilatildeo
especiacutefica de professores pois mesmo com a garantia da legislaccedilatildeo a presente realidade
desses sujeitos estaacute distante do contexto sociocultural-linguiacutestico do ser iacutendio surdo A
exemplo disso tem-se outra realidade sociocultural-linguiacutestico do segundo aluno indiacutegena
surdo de 24 anos que foi transferido de uma escola que desenvolve atividades educacionais
especiacuteficas para outra no processo denominado de educaccedilatildeo inclusiva onde cursa o nono ano
do ensino fundamental das seacuteries finais e faz atendimento na sala de recurso porque os
professores das disciplinas do curso natildeo tecircm formaccedilatildeo para acompanhaacute-lo
Os relatos da famiacutelia indicam que o aluno nasceu na aacuterea indiacutegena de Ponta Alegre
poreacutem muito pequeno sua famiacutelia mudou-se para zona urbana municiacutepio de Parintins o qual
cresceu longe de sua cultura indiacutegena desconhecendo assim a liacutengua de sua etnia Este eacute um
caso que promove o desaparecimento de liacutenguas indiacutegenas o conhecido deslocamento
sociolinguiacutestico
Para entender o processo que instaura este deslocamento linguiacutestico ressalta-se que
primeiramente a educaccedilatildeo da pessoa perpassa pelo uso da liacutengua materna no ambiente
familiar nas relaccedilotildees famiacuteliares na qual utiliza uma comunicaccedilatildeo intra e extrafamiliar Se a
famiacutelia mantiver sua liacutengua nativa em uso os membros da mesma permaneceratildeo biliacutengues
Poreacutem se a famiacutelia por pressatildeo social do uso da liacutengua dos falantes da sociedade local seja
porque deseja se adequar ao meio onde se insere a liacutengua no caso indiacutegena entra no processo
de esquecimento para as geraccedilotildees vindouras
65
Eacute o caso do aluno acima que eacute biliacutengue (Liacutengua Brasileira de Sinais e Liacutengua
Portuguesa na modalidade escrita) contudo desconhece sua raiz cultural a liacutengua de sua
etnia Seu contexto educacional eacute baseado em ldquomodelo de escola inclusivardquo o aluno vai para
sala de aula com alunos ouvintes onde a liacutengua portuguesa eacute a liacutengua padratildeo a ser ensinada e
estudada e posteriormente faz atendimento na sala de recurso em sua liacutengua natural Libras
Logo a escola pode ajudar no incentivo favorecendo a revitalizaccedilatildeo da liacutengua
indiacutegena no contexto educacional Para isso haacute necessidade de um corpo docente com a
formaccedilatildeo em Liacutengua indiacutegena e Liacutengua Brasileira de Sinais aleacutem da Liacutengua Portuguesa que eacute
usada como a base de ensino
Jaacute na comunidade Uiacurapaacute da etnia Maweacute encontramos outra realidade de contexto
de um surdo indiacutegena Todavia natildeo foi possiacutevel fazer um acompanhamento mais preciso
sobre sua situaccedilatildeo educacional escolar O uacutenico dado correspondente agrave questatildeo linguiacutestica eacute o
modo como ele se comunica conforme foi relatado por membros da comunidade local se
caracteriza pela utilizaccedilatildeo de gestos criados para se fazer compreender Desta forma diante da
ausecircncia de uma liacutengua estruturada a Libras por fazer uso somente de gestos ele apresenta
dificuldades de entender o ensino e de se comunicar com seus pares Da mesma forma ocorre
no contexto familiar e na comunidade uma vez que o aluno surdo vive quase que isolado
devido ao preconceito existente ateacute mesmo pela proacutepria comunidade por natildeo o entenderem e
nem saberem qual a forma para se comunicar aquele indiviacuteduo Assim ele vive em uma
situaccedilatildeo de rejeiccedilatildeo e marginalizaccedilatildeo estabelecida a partir da ausecircncia de uma liacutengua que
promova a comunicaccedilatildeo com o predomiacutenio de um processo de estigmatizaccedilatildeo deste sujeito
surdo
No municiacutepio de Maueacutes Boa Vista do Ramos os iacutendios surdos localizados satildeo de
idade adulta natildeo tiveram a oportunidade de frequentar escola Portanto sua realidade
linguiacutestica fundamenta-se somente na forma gestual que denominam de caseira atribuindo
significados peculiares de seu contexto local No que diz respeito ao aspecto educacional as
pessoas contatadas demonstraram apenas uma preocupaccedilatildeo sobre a existecircncia futura de
possiacuteveis iacutendios surdos nesses municiacutepios e sua formaccedilatildeo educacional Contudo natildeo
afirmaram o que fariam se encontrassem outros sujeitos com essa necessidade de
comunicaccedilatildeo
Como jaacute mencionado natildeo haacute registro sobre a situaccedilatildeo linguiacutestica e educacional de
nenhum iacutendio surdo da etnia Satereacute-Maweacute nos municiacutepios de Nhamundaacute Satildeo Sebastiatildeo do
Uatumatilde e de Urucaraacute Portanto as informaccedilotildees educacionais natildeo satildeo apresentadas nestes
contextos
66
43 Inventaacuterio de gestos da linguagem caseira dos surdos Satereacute-Maweacute
A presente pesquisa baseia-se em um meacutetodo de estudos de etnografia com o intuito
de descrever e observar os gestos caseiros que os indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute usam para se
comunicarem com seus pares nas comunidades onde residem O meacutetodo tambeacutem ajuda a
conhecer a identidade e sua interaccedilatildeo no meio da comunidade visto haacute uma diversidade
linguiacutestica rica usada pelos surdos indiacutegenas nas diversas localidades percorridas pelo
pesquisador na microrregiatildeo de Parintins
431 Os sinais caseiros de indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute
O objetivo do mapeamento eacute coletar os sinais caseiros ou emergentes para que esses
sinais possam ser reconhecidos e compreendidos pela sua comunidade como meio linguiacutestico
de comunicaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo de sua cultura
Para a concretizaccedilatildeo do mapeamento foi necessaacuterio a pesquisa de campo na
comunidade onde se fazia presente o indiacutegena surdo para as devidas observaccedilotildees
432 O Municiacutepio de Parintins
No municiacutepio de Parintins foi localizado trecircs (03) indiacutegenas surdos com suas
caracteriacutesticas linguiacutesticas diferenciadas de suas origens sendo que dois indiacutegenas residem na
zona urbana e um indiacutegena localizado na comunidade de Uaicurapaacute os quais foram o objeto
investigativo para a coleta de dados Os registros foram feitos de forma diferenciada de modo
que primeiramente conversei com as lideranccedilas indiacutegenas acompanhado de inteacuterprete e guia
linguiacutestico Durante este encontro foram feitas no local observaccedilotildees visuais sendo que em
alguns casos realizamos registros de imagens filmagens e entrevistas Eacute importante destacar
que os registros soacute puderam ser feitos quando permitidos pelos sujeitos da pesquisa ou pela
lideranccedila prevalecendo em sua maior parte a observaccedilatildeo visto que materiais tecnoloacutegicos e
de miacutedias causavam incocircmodo aos entrevistados fazendo com que se tornassem
incomunicaacuteveis quando percebiam que estavam sendo monitorados
67
4321 O primeiro surdo
Esse primeiro indiacutegena possui surdez moderada Eacute um senhor com idade de 72 anos
residente no Uiacurapaacute23
O contato foi feito na Casa do Iacutendio de Parintins Em uma
conversaccedilatildeo informal explicou que perdeu a audiccedilatildeo com o tempo eacute oralizado24
e se
comunica com a comunidade na liacutengua nativa Satereacute-Maweacute Trata-se de um cidadatildeo calmo
fala apenas de suas necessidades visto que natildeo se manifesta muito devido suas limitaccedilotildees
auditivas que dificultam uma melhor compreensatildeo
Como referido o surdo em questatildeo tem surdez moderada Neste sentido observa-se
que a surdez ocorre de acordo com diferentes classificaccedilotildees quanto ao niacutevel de perda auditiva
Ou seja
Quanto ao grau - leve (perda de 26 a 40 dBNA) - moderada (perda de 41 a 55
dBNA) - moderadasevera (perda de 56 a 70 dBNA) - severa (perda de 71 a 90
dBNA) - profunda (a partir de 91 dBNA) (RUSSO e SANTOS 1988 apud
NADER 2011 p 2)
Retomando a histoacuteria do sujeito surdo em questatildeo observa-se que ele reside na zona
rural no Uiacurapaacute com seus parentes e sua sobrevivecircncia eacute atraveacutes do que planta e pesca
Observando-o percebo que o mesmo tem uma vida normal com seus pares o que falta para
uma interaccedilatildeo mais ativa na comunidade eacute estimulo e o incentivo linguiacutestico pois muitas
pessoas satildeo impacientes e acabam deixando-o isolado linguisticamente
4322 O segundo surdo
Eacute um indiacutegena natural de Ponta Alegre25
concluiu o ensino fundamental em uma
escola puacuteblica no municiacutepio de Parintins Sua surdez foi percebida por seus pais ainda
crianccedila causada por doenccedila congecircnita A famiacutelia mudou-se para o municiacutepio de Parintins em
busca de uma melhor educaccedilatildeo para filho surdo entretanto os pais eram usuaacuterios da Liacutengua
Satereacute-Maweacute mas natildeo mais praticam pela influecircncia da Liacutengua Portuguesa e tambeacutem natildeo 23 Rio que fica interliga com Rio Paranaacute do Ramos ndash Parintins (AZEVEDO 2014) 24
O modelo cliacutenico-terapecircutico baseia-se numa visatildeo patoloacutegica de surdez e num modelo individual de
atendimento aacute diversidade que tem como referecircncia o Oralismo O oralismo eacute uma filosofia educacional para
surdos cujo discurso propotildee a superaccedilatildeo da surdez e a aceitaccedilatildeo social do surdo por meio da oralizaccedilatildeo Em
outras palavras este modelo defende o aprendizado apenas da Liacutengua Portuguesa na sua modalidade oral e
escrita na escola por entender que esta eacute a uacutenica possibilidade de integrar o surdo na sociedade majoritaacuteria
ouvinte (SLOMSKI 2010 p 32) 25
A comunidade de Ponta Alegre situa-se no Rio Andiraacute com 4 horas de viagem de lancha para chegar a
comunidade (AZEVEDO 2014)
68
frequentam a comunidade Satereacute-Maweacute em busca de assistecircncia ou outros meios oferecidos
pela tribo Portanto a famiacutelia cresceu e disseminou deixando de lado a liacutengua nativa e
tradiccedilatildeo indiacutegena vivendo uma vida regular na zona urbana
O surdo hoje com 20 anos natildeo conhece a liacutengua nativa de sua comunidade se
comunica fluentemente com a Liacutengua de Sinais escreve o Portuguecircs e se oraliza na
comunicaccedilatildeo com seus pais que tambeacutem natildeo sabem a Liacutengua de Sinais
Atraveacutes de sua histoacuteria eacute possiacutevel perceber que este sujeito surdo por estudar em
escola inclusiva com forte influecircncia a oralista desenvolveu as duas linguas a Liacutengua
Brasileira de Sinais e a Liacutengua Portuguesa Poreacutem sua situaccedilatildeo eacute diferente de outros
indiacutegenas surdos que residem nas comunidades que usam os sinais caseiros para se
comunicarem Isso acaba sendo uma observaccedilatildeo abstrata da realidade entre os surdos que
moram na zona urbana e na comunidade Satereacute-Maweacute
4323 O terceiro surdo
Eacute uma crianccedila de 5 anos descendente da etnia Satereacute-Maweacute estuda em uma escola
filantroacutepica em Parintins Trata-se de uma aluna inteligente que demonstrava timidez na
presenccedila de pessoas estranhas Verificou-se que ela consegue aprender e identificar os objetos
apresentados para que identificasse Aos 4 anos antes de entrar para a escola utilizava alguns
sinais caseiros para se comunicar com seus familiares Na sala de aula o ensino oferecido a
ela eacute o biliacutengue26
tendo a Liacutengua Brasileira de Sinais e a Liacutengua Portuguesa compondo essa
educaccedilatildeo O ensino nessa instituiccedilatildeo vai ateacute a 5ordf serie Por esta razatildeo a aluna futuramente
precisaraacute ser transferida para uma escola de ensino fundamental
Tabela 2 11 Sinais caseiros utilizados pela crianccedila indiacutegena surda de 5 anos e seus
familiares
26
O Bilinguismo eacute uma filosofia de ensino cujo discurso propotildee a diversidade cultural e a aceitaccedilatildeo social do
surdo por meio do bilinguismo (duas liacutenguas Liacutengua de Sinais e segunda liacutengua) Essa filosofia concebe o surdo
como um ser diferente e a surdez como ldquoatributo humanordquo como uma caracteriacutestica da pessoa surda resultado
de uma deficiecircncia orgacircnica que natildeo se esgota nela mesma (SKLIAR 1997 apud SLOMSKI 2010 p 41)
SINAIS CASEIROS DESCRICcedilAtildeO
AacuteGUA Matildeo direita com o dedo polegar fazendo a expressatildeo de beber aacutegua
BRINCAR As duas matildeos fechadas batendo as pontas dos dedos em
movimento
BANHEIRO Matildeo direita mostra o local e a esquerda eacute posicionada na barriga
COMIDA As duas matildeos abrindo e fechando repetidamente proacuteximo da boca
DORMIR As duas matildeos com as palmas juntas encostar-se ao rosto com
expressatildeo de querer dormir
69
Fonte AZEVEDO (2014)
Figura 2 Sinais caseiros utilizado pela crianccedila de 5 anos
FOME Matildeo direita indo em direccedilatildeo da barriga fazendo expressatildeo facial de
fome
MAtildeE Matildeo direita aberta no rosto fazendo movimento nos dedos com
expressatildeo chamativa
IRMAtildeO Matildeo direita batendo no antebraccedilo para chamar atenccedilatildeo
PAI Matildeo direita com os dedos pegando o queixo
PESSOA Matildeo direita com dedo indicador fazendo expressatildeo de algueacutem
CHORAR As duas matildeos fechadas com os dorsos esfregando nos olhos
AacuteGUA BRINCAR
COMIDA DORMIR FOME
MAtildeE IRMAtildeO PAI
BANHEIRO
70
44 O indiacutegena surdo da Comunidade de Ponta Alegre do municiacutepio de Barreirinha
Foi localizado um aluno surdo na comunidade de Ponta Alegre que faz parte do
municiacutepio de Barreirinha trata-se de um jovem de 13 anos que estuda na Escola Municipal
Rosa Cabral e mora em uma aldeia mais distante a observaccedilatildeo foi feita na escola Nessa
viagem foi obtido a autorizaccedilatildeo de viagem para a aldeia na Secretaria de Educaccedilatildeo Municipal
de Barreirinha por meio do contato com o coordenador geral do setor indiacutegena daquela aacuterea
o senhor Santino Lopes que muito contribuiu com o projeto e de servir como guia de
viagem
O devido aluno estuda na 3ordf Serie do ensino fundamental De acordo com as
observaccedilotildees feitas O ensino predominante na sala para o ensino deste aluno eacute a Liacutengua
Portuguesa visto que os professores em sua maioria vem do municiacutepio de Barreirinha
Embora o ensino seja bem aplicado e a escola dispotildee de material didaacutetico apropriado para a
seacuterie natildeo haacute metodologia de ensino especializado para surdo natildeo existindo Sala de
Recursos27
O aluno aprende lentamente demonstrando dificuldades de entender os
conteuacutedos
A comunicaccedilatildeo com seus professores e colegas soacute acontecem atraveacutes de sinais
caseiros e expressotildees manuais O aluno surdo vive quase que isolado sem ter a possibilidade
de estabelecer uma comunicaccedilatildeo satisaftoacuteria dentro do contexto escolar devido ao
27
Uma das inovaccedilotildees trazidas pela Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Especial na Perspectiva da Educaccedilatildeo
Inclusiva (2008) eacute o Atendimento Educacional Especializado ndash AEE um serviccedilo da educaccedilatildeo especial que []
identifica elabora e organiza recursos pedagoacutegicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena
participaccedilatildeo dos alunos considerando suas necessidades especiacuteficas
O AEE complementa eou suplementa a formaccedilatildeo do aluno visando a sua autonomia na escola e fora dela
constituindo oferta obrigatoacuteria pelos sistemas de ensino Eacute realizado de preferecircncia nas escolas comuns em um
espaccedilo fiacutesico denominado Sala de Recursos Multifuncional Portanto eacute parte integrante do projeto poliacutetico
pedagoacutegico da escola (BRASIL 2008 p 3)
CHORAR PESSOA
71
preconceito existente Ateacute mesmo na proacutepria comunidade por natildeo entenderem e nem saberem
de que forma comunicarem-se com o mesmo a situaccedilatildeo de exclusatildeo se repete
Vale destacar que diante desta ausecircncia da qualidade de ensino para o aluno surdo a
professora Maria Inecircs ao responder um questionaacuterio segue algumas afirmativas para mudar
esta realidade Desta forma a educadora afirma que
- Eacute muito importante a capacitaccedilatildeo em cursos de libras e livros didaacuteticos proacuteprios
como forma de melhorar o ensino e a comunicaccedilatildeo com aluno surdo na
comunidade como parte da educaccedilatildeo inclusiva para facilitar o ensino e
aprendizado acima de tudo conhecer sua liacutengua materna identidade do povo
Satereacute-Maweacute
Pelo relato do Gestor da Escola Senhor Dulcemar a necessidade jaacute referida pela
educadora acima de materiais didaacuteticos para subsidiar o ensino eacute novamente colocada em
destaque conforme pode ser vislumbrado no relato transcito a seguir
- Eu como gestor sinto-me gratificado pelo trabalho a ser desenvolvido aqui com a
questatildeo da Libras um trabalho realizado pelo professor Marlon Jorge Pois eacute muito
importante devido agrave dificuldade que a educaccedilatildeo Satereacute- Maweacute vem tendo
principalmente quando se trata de alunos surdos indiacutegenas e ateacute mesmo por falta
de material didaacutetico Esse trabalho vai ser importante aqui na aacuterea indiacutegena para
ajudar o professor na sala de aula como ensinar como educar e como lidar com
esses alunos com necessidades especiais Entatildeo eacute um trabalho muito importante
pra noacutes e estamos aqui a disposiccedilatildeo e tambeacutem para contribuir como gestor da
escola juntamente com os professores e pra noacutes eacute muito bom esse trabalho e que o
Sr possa desenvolver esse seu projeto essa cartilha que com o aacutepice das aulas de
libras que com certeza vai fortalecer muito mais a educaccedilatildeo do povo Satereacute
Maweacuterdquo
Tabela 313 sinais caseiros coletados e utilizados pelo aluno da comunidade de Ponta Alegre
Fonte Azevedo (2014)
SINAIS CASEIROS DESCRICcedilAtildeO
AacuteGUA Usa as duas matildeos fazendo impressatildeo de beber alguma coisa
BARCO Usa-se a matildeo direita aberta em posiccedilatildeo vertical fazendo uma
expressatildeo da accedilatildeo do barco
BANHO Fazer a expressatildeo de pular na aacutegua com os braccedilos esticados
BANHEIRO Matildeo direita usando o indicador fazendo expressatildeo sair fora sala
COMIDA Matildeo esquerda aberta matildeo direita usando como o objeto metaacutelico
COBRA Usando os dedos da matildeo direita beliscando o pulso da matildeo esquerda
ESCOLA Faz-se o sinal de casa
ESTUDAR Faz a expressatildeo de escrever
FOME Matildeo direita levando em direccedilatildeo da barriga fazendo expressatildeo facial
de fome
FARINHA As duas matildeos palmas para baixo fazendo a expressatildeo de esfarelar
alguma coisa
LANCHA Usa a matildeo direita palma para cima fazendo uma accedilatildeo da rapidez
para frente
PEIXE Matildeo direita fazer a expressatildeo de caccedilar o peixe com o arpatildeo
PESSOA Matildeo direita com dedo indicador fazendo expressatildeo de algueacutem
72
Figura 3 Sinais caseiros utilizados pelo aluno da comunidade de Ponta alegre ndash
Barreirinha
AacuteGUA BARCO
BANHEIRO
BANHO
COMIDA
ESCOLA
FOME LANCHA PESCAR PEIXE
ESTUDAR FARINHA
COBRA
73
45 Os indiacutegenas surdos do Municiacutepio de Maueacutes
Situado entre os rios Madeira e Tapajoacutes o municiacutepio de Maueacutes estaacute localizado no
Meacutedio Amazonas que hoje eacute denominado como microrregiatildeo aacuterea leste do Estado Distante
de Manaus cerca de 30 km em linha reta ou o equivalente 45 minutos por via aeacuterea estando
a 356 km por via fluvial cerce de 16 a 18 horas de barco
Nesse municiacutepio foi realizado duas viagens com a finalidade de fazer um mapeamento
das aacutereas indiacutegenas bem como descobrir a existecircncia de surdos nas aldeias O primeiro
contato foi na Secretaria de Educaccedilatildeo do municiacutepio primeiramente me apresentado como
aluno pesquisador juntamente com os documentos comprobatoacuterios de acesso para realizar a
pesquisa nas aacutereas indiacutegenas As informaccedilotildees que tinha antes de estabelecer o contato
apontavam para a existecircncia de alunos indiacutegenas surdos matriculados na sede do municiacutepio
Poreacutem a secretaria informou desconhecer a existecircncia de alunos indiacutegenas matriculados na
rede publica do municiacutepio nem saber sua localizaccedilatildeo para contatos sendo orientado a
procurar na Casa do Estudante Indiacutegena Satereacute-Maweacute que se localiza em um bairro mais
distante dali
Chegando ao SESAI - Secretaria de Sauacutede Indiacutegena obtivemos acesso agraves informaccedilotildees
devido ao fato de que a pessoa responsaacutevel estava em viagem sendo que retornaria na outra
semana Em outra busca formos agrave Casa do Estudante Satereacute-Maweacute onde conversamos com o
coordenador Sr Jusivam que disse saber da existecircncia de indiacutegenas surdos nas comunidades
na Marau e Andiraacute mas natildeo ter dados quantitativos devido ao fato deles natildeo terem procurado
a Casa do Estudante em busca de assistecircncia que auxiliassem sua integraccedilatildeo em escolas
regulares ou inclusivas Observa-se que a Casa do Estudante podia auxiliar eles a
conseguirem uma escola para estudarem na zona urbana jaacute que esta eacute uma das atribuiccedilotildees da
instituiccedilatildeo
Ao sermos informados que as comunidades onde havia surdos eram distantes e
necessitava de apresentar outros documentos da Coordenaccedilatildeo Geral de Educaccedilatildeo que ficava
no municiacutepio de Barreirinha Tambeacutem se fazia necessaacuterio preparar uma programaccedilatildeo de
viagem para que pudessemos chegar ateacute aquela localidade de modo que nesta precisava
inclusive organizar para ter inteacuterpretes que falassem a liacutengua Satereacute-Maweacute e inteacuterpretes de
Libras Aleacutem destes precisava contar com um acompanhante para registrar as imagens e
filmagens se autorizadas anotando tudo que fosse necessaacuterio
Fazendo uma reflexatildeo sobre a viagem e os entraves que tinhamos pela frente para a
concretizaccedilatildeo do projeto e as distacircncias geograacuteficas para alcanccedilar os objetivos da pesquisa
74
Contudo ao encontrar um surdo indiacutegena sendo o principal objeto da pesquisa em funccedilatildeo da
grande satisfaccedilatildeo de poder contribuir para o desenvolvimento linguiacutestico dos indiacutegenas surdos
e para que a comunidade compreenda como um ser incluiacutedo a partir do respeito a sua cultura
inserindo em seus modos e haacutebitos foi compensador enfrentamos todos os obstaacuteculos
Visitamos a Universidade do Estado do Amazonas ndash UEA onde tivemos a grata
surpresa de saber que havia uma turma de formaccedilatildeo em licenciatura Indiacutegena para a
comunidade Esperamos a aula acabar para falar com o professor o qual pediu para vir outro
dia para conversar com os alunos Foi nessa ocasiatildeo que conhecemos trecircs professores com os
quais fizemos um acordo para que na proacutexima viagem me levassem para a aldeia a fim de
realizar o mapeamento
Voltando para Parintins foi elaborado um roteiro para viagem a aacuterea indiacutegena Satereacute-
Maweacute pelos rios Maueacutes-Accedilu Rio MarauUrupadi A viagem aconteceu no dia 02 de
fevereiro de 2014 saindo de barco de Parintins indo ateacute o municiacutepio de Maueacutes No dia
seguinte as 8 horas acompanhado do professor Jesiel pegamos uma voadeira de 150HP com
destino ao territoacuterio Satereacute-Maweacute Foi uma viagem perigosa devido agraves condiccedilotildees dos rios e de
difiacutecil acesso para chegarmos laacute Todavia fizemos um esforccedilo e conseguimos nos deslocar ateacute
a comunidade Percorremos de voadeira uma viagem que durou aproximadamente 8 horas
pelo Rio Maueacutes Accediluacute Depois de uma hora e meia de viagem chegamos ao Rio Urupadi e
seguimos mais uma hora e meia de viagem ateacute a comunidade indiacutegena Vale do Quiinha
Nessa aldeia pegamos o professor Jacob Santos de Souza que nos acompanhou para a
proacutexima aldeia Ilha Michiles que fica no Rio Marau Nessa aldeia pegamos outro professor
Satereacute-Maweacute Jocimar Alencar dos Santos Saiacutemos da Ilha Michiles com destino a
comunidade Santa Maria que fica na divisa do Rio Urupadi e Manjuru A cada visita que
faziamos nas comunidades indiacutegenas percebemos no cotidiano a diversidade presente nas
aacutereas indiacutegenas Satereacute-Maweacute Ao perguntar se havia algueacutem surdo na famiacutelia e a resposta
sempre vinha de forma afirmativa o que me demonstrou que todos os esforccedilos para realizar a
viagem foram compensados diante da riqueza de dados coletados
A primeira iniciativa adotada com relaccedilatildeo a esse momento foi reunir com os
comunitaacuterios envolvidos nas atividades escolares A reuniatildeo teve como objetivo observar e
entrevistar alguns indiacutegenas para posteriormente analisar como se procede agrave comunicaccedilatildeo
entre indiacutegenas surdos e ouvintes A reuniatildeo foi muito uacutetil para os estudos e anaacutelise de
informaccedilotildees Os surdos existentes na comunidade nunca estudaram devido agrave comunidade
Santa Maria ficar distante da zona urbana e a escola existente para alunos ouvintes ficar em
75
outra comunidade o que inviabiliza a ida deles sendo que tambeacutem natildeo haacute professores
especializados para atenderem a clientela surda existente no Rio Marau
Encontramos dois indiacutegenas surdos na comunidade de Santa Maria que foram objeto
de estudos No entanto houve informaccedilotildees repassadas de que haacute outros trecircs surdos em outras
comunidades mais distante na mesma aacuterea Satereacute-Maweacute A visita para contactar estes outros
trecircs surdos ficou para a proacutexima viagem de observaccedilatildeo e coleta dos dados
451 O primeiro surdo da Comunidade de Santa Maria
No contato e observaccedilatildeo que tivemos com o surdo o mais novo tem 24 anos mora
com a famiacutelia natildeo conhece nenhuma liacutengua se comunica com gestos e sinais caseiros A
comunidade assim com a famiacutelia demosntrou pouco se importar com ele de forma que natildeo
haacute estiacutemulo ou interesse para que haja uma interaccedilatildeo linguiacutestica satisfatoacuteria entre eles
O ponto de encontro com seus colegas fica na parte central da comunidade que tem
um campo de futebol Laacute eles se concentram embaixo de uma aacutervore Neste lugar o surdo
costuma ficar quase diariamente com intuito de se unir e brincar com os colegas Ele usa os
sinais caseiros com expressotildees com a intenccedilatildeo de conseguir se comunicar com os colegas
Poreacutem alguns natildeo conseguem entender enquanto outros falam a Liacutengua Satereacute-Maweacute
Apesar do esforccedilo do surdo de tentar compreender o que eacute falado via a leitura labial na
maioria das vezes natildeo consegue compreender Poreacutem mesmo assim sinaliza balanccedilando a
cabeccedila com expressatildeo de concordacircncia afirmativa mesmo natildeo entendendo a mensagem
Tabela 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa
Maria
SINAIS CASEIROS
COLETADOS
DESCRICcedilAtildeO
AacuteGUARIO Usam-se as duas matildeos fazendo a expressatildeo de banzeiro
ANTA Matildeo direita fazendo a expressatildeo do focinho do nariz
AacuteRVORE As matildeos abertas fazendo expressatildeo de segurar o troco ao mesmo tempo
levando para cima
BARCO Usa a matildeo direita fechada fazendo expressatildeo de abrir e fechar a matildeo
como sinal de fumaccedila
BANHO Fazer a expressatildeo de pular na aacutegua com os braccedilos esticados
CASA As duas matildeos palmas para baixo fazendo um balanccedilo de movimento de
uma rede
CACcedilAR PEIXE Matildeo direita fazer expressatildeo de soltar o arpatildeo
CUIA As duas matildeos juntas fazer a expressatildeo de raspar a cuia
COCO Fazer a expressatildeo de tirar o coco com a vara
COMIDA As duas matildeos levando ateacute a boca
76
Fonte Azevedo (2014)
Figura 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa Maria
(30 sinais coletados)
COBRA Matildeo direita fazendo a expressatildeo da picada da cobra
FACA Matildeo direita fachada fazendo a expressatildeo de furar alguma coisa para
baixo
FLECHA Fazer a expressatildeo de jogar a flecha
FORMIGA Matildeo direita com os dedos beliscando o braccedilo esquerdo
FOME Matildeo direita levando em direccedilatildeo da barriga fazendo expressatildeo facial de
fome
FARINHA As duas matildeos fazer a expressatildeo de fazer farinha
GUARANAacute Fazer a expressatildeo de ralar o guaranaacute
JACAREacute Os dois indicadores das matildeos fazendo expressatildeo de dentes grandes do
jacareacute
LANCHA As duas matildeos dedos juntos fazer a expressatildeo de uma accedilatildeo raacutepida para
frente
MACACO Com braccedilos abertos fazer a expressatildeo de macaco
MALOCA As duas matildeos com os dedos encostados puxar para os lados opostos
MANDIOCA Fazer expressatildeo de descascar algum
ONCcedilA Com as matildeos fazer pintas no rosto
PAI As duas matildeos esfregando os indicadores
PEIXE Faz se expressatildeo de descamar o peixe
PILAtildeO As duas matildeos juntas fazendo a expressatildeo de socar a crueira
POTE AacuteGUA As duas matildeos juntas palmas para cima elevando para cima em curvas
onduladas
PASSAacuteRO As duas matildeos fazendo o movimento de paacutessaro
PESSOA Matildeo direita fazendo a expressatildeo de pegar no cabelo
TIPITI As duas matildeos fazendo a expressatildeo de espremer algum
PENEIRAR As duas matildeos em forma letra A fazer expressatildeo de balanccedilar o objeto
AacuteGUA ANTA AacuteRVORE
VIAGEM BANHO
77
VIAJAR
CASA CACcedilAR ALIMENTO CUIA
COCO COMIDA
FACA
FARINHA
FORMIGA
GUARANAacute
FOME
FACA
FLECHA
78
JACAREacute LANCHA
MACACO
MANDIOCA ONCcedilA
MALOCA PAI
POTE DE AacuteGUA PILAtildeO
LANCHA JACAREacute
PEIXE
79
452 O segundo surdo da Comunidade de Santa Maria
O segundo surdo visitado um senhor adulto com identidade natildeo revelada residindo na
Comunidade de Santa Maria Eacute um cidadatildeo reservado e fechado para desconhecidos Como
nossa equipe era composta de 05 profissionais sendo 03 (trecircs) professores indiacutegenas que me
acompanharam para serem facilitadores linguiacutesticos e um colaborador local para captar as
imagens ficarmos 04 (quatro) dias na comunidade para observaccedilotildees Apesar do tempo o
investido para conseguir o contato o mesmo se mostrou irredutiacutevel e natildeo se dispos a
conversar conosco Observa-se que mora sozinha e eacute raro ele se manifestar na comunidade
Pela histoacuteria contada a seu respeito apesar de natildeo se comunicar manteacutem sua residecircncia de
maneira organizada cultiva de algumas plantaccedilotildees como mandioca banana guaranaacute aleacutem de
produzir farinha tambeacutem faz pescaria para se alimentar Foi relatado que ajuda alguns
vizinhos e amigos com o que produz aleacutem de ser experiecircncia em matildeo de obra na confecccedilatildeo
de trepadeira silvestre que facilita subir nas aacutervores coqueiros e accedilaizeiros
PASSAacuteRO PESSOA COBRA
TIPITI PENEIRAR
80
Sobre o contexto educacional tendo como tema central a educaccedilatildeo escolar indiacutegena
o professor Jesiel (2014)28
(que eacute indiacutegena e concluiu o curso de pedagogia intercultural na
Universidade do Estado do Amazonas localizado no municiacutepio de Maueacutes) argumentou que o
territoacuterio Satereacute-Maweacute eacute muito grande sendo longa a distacircncia para se chegar na zona
urbana ateacute de forma que mesmo o deslocamento de uma comunidade para outra dificulta os
indiacutegenas irem para a escola Estas segundo o educador referido satildeo algumas razotildees que
impedem muitos indiacutegenas de estudarem na medida em que acarreta prejuiacutezo para a famiacutelia
especialmente de perda de tempo principalmente para os adultos que tem compromisso no
campo e com a comunidade
Para solucionar este problema devido a distacircncia as famiacutelias e os liacutederes indiacutegenas
possuem propostas e lutas para a construccedilatildeo de escolas nas aldeias o que facilitaria o acesso
dos surdos indiacutegenas da comunidade na escola E ao considerar que o indiacutegena surdo
compreende e se comunica com seus pares atraveacutes de gestos e sinais caseiros de forma que
aleacutem de sua liacutengua nativa haacute outros meios para que o surdo possa se comunicar isso aponta
para a necessidade da criaccedilatildeo de propostas de acesso agrave educaccedilatildeo dessas pessoas Dessa
maneira foram catalogados alguns sinais utilizados por esse surdo adulto da Comunidade de
Santa Maria apresentado abaixo
Tabela 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais antigo residente isolado na
comunidade de Santa Maria no Rio Marau ( 18 sinais coletados)
28
As famiacutelias e os liacutederes indiacutegenas possuem propostas e lutas para a construccedilatildeo de escolas nas aldeias para a
facilitaccedilatildeo do acesso dos surdos indiacutegenas na comunidade e na escola O indiacutegena surdo apesar de natildeo ouvir
compreende e comunica com seus pares atraveacutes de gestos e sinais caseiros que aleacutem de sua liacutengua nativa haacute
outros meios para que o surdo possa se comunicar Isso contribui para a criaccedilatildeo de propostas de acesso agrave
educaccedilatildeo dessas pessoas Dessa maneira foram catalogados alguns sinais utilizados por esse surdo adulto da
Comunidade de Santa Maria apresentado abaixo
A contribuiccedilatildeo do professor indiacutegena Jesiel Santos foi de suma importacircncia para a coleta de dados nesta
pesquisa visto que atraveacutes dele que conseguimos chegar ateacute a comunidade de Santa Maria afim de termos os
contatos na comunidade
SINAIS CASEIROS DESCRICcedilAtildeO
ARCOFECHA As duas matildeos com expressatildeo de utilizar um arco com flecha
AacuteGUA Matildeo direita com utilizando somente o dedo polegar fazer a expressatildeo de
beber algum
BANHO Os braccedilos e matildeos esticadas fazer a expressatildeo de se soltar no rio
BEIJU As duas matildeos fazendo um circulo e em seguida levar ateacute a boca
CIGARRO A posiccedilatildeo para traduzir este sinal satildeo as duas matildeos em posiccedilatildeo dos dedos
polegar e indicador juntos fazendo expressatildeo de fazer um cigarro caseiro
CASA As duas matildeos com os dedos esticados fazer a expressatildeo de formato de uma
casa
COBRA A matildeo direita com os dedos indicador e polegar encostados fazer a expressatildeo
de beliscar o pulso de antebraccedilo
FARINHA Matildeos com os dedos todos juntos fazer a expressatildeo com o movimento de
81
Figura 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo idoso na comunidade de Santa Maria
soltar a farinha
FORNO DE ASSAR Matildeo direita fazendo um semiciacuterculo de com a caracteriacutestica de um forno de
barro
GARREIRA As duas matildeos juntas fazer a expressatildeo repetidamente de amassar uma massa
JACAREacute As duas matildeos pegando os dentes
LUVA DA TUCANDEIRA Fazendo a expressatildeo de usar uma luva de palha e fazer a expressatildeo de dor da
ferrada da tucandeira
MANDIOCA Usar o antebraccedilo esquerdo com a matildeo direita como um material cortante
fazendo a expressatildeo de descascar
MACACO Os dois braccedilos e corpo fazendo a expressatildeo do movimento caracteriacutestico do
macaco
PAJEacute As duas matildeos fazendo a expressatildeo de segurar algum e balanccedilar
PAacuteSSARO Fazer a expressatildeo de balanccedilar os braccedilos caracterizando o movimento de um
paacutessaro
TIPITI As duas matildeos fazendo o movimento de espremer a mandioca
TERRASOLO Matildeo direita fazendo expressatildeo de um pequeno monte de terra
ARCOFECHA BEBER
LIacuteQUIDOAacuteGUA
BEIJUCOMER COBRA
FARINHA FERRADA DA TUCANDEIRA MALOCACASA ESCOLA
ARCOFLECHA BEBER LIQUIDOAacuteGUA BANHOPULAR NA AacuteGUA
AacuteAacuteGUA
CIGARRO
82
FORNO DE ASSAR
JACAREacute
LUVA DA TUCANDEIRA MACACO
PAJEacute
TIPITI TERRA
GAREIRA
MANDIOCA
PAacuteSSARO
(( ))
JACAREacute
83
5 ICONICIDADE E ARBITRARIEDADE NA CRIACcedilAtildeO DOS SINAIS CASEIROS
Nos anos 60 a partir dos trabalhos de Stokoe (1960) foi comprovado que as Liacutenguas
de Sinais satildeo linguas Estas satildeo liacutenguas naturais com ldquoestrutura gramatical proacutepria em seus
niacuteveis fonoloacutegico (ou queroloacutegico) morfoloacutegico sintaacutetico e semacircntico aleacutem de seus aspectos
pragmaacuteticosrdquo
De acordo com Quadros (2006 p 221)
pelo fato de as liacutenguas de sinais natildeo serem faladas e de natildeo terem o seu coacutedigo
escrito ainda popularizado entre os surdos natildeo as elimina das consideraccedilotildees
cientiacuteficas visto que apresentam uma organizaccedilatildeo estrutural e fazem parte da
constituiccedilatildeo cultural desses sujeitos ndash crescendo envolvendo e transmitindo
dinamicamente tradiccedilotildees socioculturais Portanto as liacutenguas de sinais fazem parte
do conjunto da linguagem humana com a diferenccedila de se apresentarem em uma
terceira modalidade a visuo-espacial
Reiterando-se que a Liacutengua de Sinais eacute uma liacutengua natural uma vez que estaacute veiculada
a um canal que natildeo eacute o oral-auditivo e sim visual esta garante uma percepccedilatildeo e articulaccedilatildeo
mais faacutecil mais coerente e confortaacutevel aleacutem de contribuir para o desenvolvimento linguiacutestico
cognitivo e social do surdo
Sobre as caracteristicas linguiacutesticas das Liacutenguas de Sinais vale ressaltar que Sousa
(2010) ao tratar dos aspectos visuais quanto agraves propriedades das Liacutenguas de Sinais enfatiza a
iconicidade e arbitrariedade relacionada ao signo linguiacutestico que satildeo inerentes agraves liacutenguas
naturais Sobre as definiccedilotildees dos fenocircmenos das liacutenguas estes remontam a eacutepoca de Platatildeo
filoacutesofo grego que tratava os fenocircmenos sobre a linguagem e a relaccedilatildeo dela com o mundo
Cita-se tambeacutem Craacutetilo Hermoacutegenes e Soacutecrates que foram interlocutores desta relaccedilatildeo
discutindo a ligaccedilatildeo existente entre nome ideia e coisa A abordagem dos trecircs se diferenciava
de forma que Craacutetilo defendia o conceito de iconicidade Hermoacutegenes de arbitrariedade
Soacutecrates por seu turno integrava as duas concepccedilotildees Esta diferenciaccedilatildeo tecido pelos trecircs
filosofos pode ser vislumbrada no trecho transcrito abaixo
Para Craacutetilo a liacutengua eacute o espelho do mundo o que significa que existe uma relaccedilatildeo
natural e portanto similar ou icocircnica entre os elementos da liacutengua e os seres por
eles representados Para Hermoacutegenes a liacutengua eacute arbitraacuteria isto eacute convencional pois
entre o nome e as ideias ou as coisas designadas natildeo haacute transparecircncias ou
similaridade Soacutecrates por sua vez tem o papel de fazer a integraccedilatildeo entre os dois
pontos de vista (WILSON amp MARTELOTTA 2010 apud SOUSA 2010 p 4)
84
A modalidade gestual-visual espacial pela qual a Liacutengua de Sinais eacute produzida e
reconhecida pela comunidade Surda leva muitas vezes as pessoas a pensarem que todos os
sinais satildeo desenho no ar do referente que representam Para melhor esclarecimento por
decorecircncia de sua natureza linguiacutestica a realizaccedilatildeo de um sinal pode sim ser motivada pelas
caracteriacutesticas do dado da realidade a que se refere poreacutem natildeo eacute regra Ou seja a maioria dos
sinais da LIBRAS eacute arbitraacuteria natildeo mantendo relaccedilatildeo de semelhanccedila alguma com seu
referente Portanto essa condiccedilatildeo possibilita o enriquecimento da flexibilidade e versatilidade
da liacutengua (BASSO 2011 p47)
Exemplos de sinais arbitraacuterios
Figura 6 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos que se refere agrave
arbitrariedade
BISCOITO PESSOA DESCULPA
Fonte Azevedo (2014)
A ideia de arbitrariedade da liacutengua se relaciona com a ideia de convenccedilatildeo que se
efetiva em todas as liacutenguas como Liacutengua de Sinais e na Liacutengua Portuguesa ilustra-se o
processo com os exemplos das palavras ldquobiscoitordquo ldquodesculperdquo e ldquopessoardquo O processo de
definiccedilatildeo destes termos ocorre de forma arbitraacuteria pois soacute nomes foram atribuiacutedos devido a
uma convenccedilatildeo que estabelece esse conceito e natildeo porque haacute uma relaccedilatildeo entre o som da
palavra e o objeto que ela designa (SALLES 2007 p 5)
No caso da Libras os exemplos citados de sinais foram criados sem sofrer influecircncia
da imagem dos objetos aos quais eles se referem O que mostra que mesmo que a Libras
tambeacutem apresenta a caracteriacutestica de arbitraacuterios (TEIXEIRA 2015 p 5)
Para compreender melhor a importacircncia da visualidade na Liacutengua de Sinais dos
Satereacute-Maweacute eacute relevante entender trecircs conceitos da teoria de Pierce sobre a iconicidade que
pode ser considerada a base dos sinais dessa comunidade os quais satildeoo siacutembolo o iacutendice e o
iacutecone Segundo Martelotta (2011) (apud TEIXEIRA 2015 p 2)
85
O siacutembolo de acordo com Peirce refere-se a determinado objeto representando-o
com base em uma lei haacutebito ou convenccedilatildeo estabelecendo uma relaccedilatildeo entre dois
elementos Para citar alguns exemplos a cruz eacute o siacutembolo do cristianismo e a
balanccedila o siacutembolo da justiccedila Uma caracteriacutestica importante do siacutembolo relaciona-se
ao fato de que ele eacute parcialmente motivado ou seja haacute entre o siacutembolo e o conteuacutedo
simbolizado alguns traccedilos relacionados ao objeto
Haacute uma diferenccedila fundamental entre o siacutembolo de um lado e o iacutendice e o iacutecone de
outro jaacute que nesses dois uacuteltimos haacute um niacutevel ainda menor de arbitrariedade No caso
do iacutendice ocorre uma relaccedilatildeo de contiguidade com a realidade exterior a fumaccedila
por exemplo eacute o iacutendice do fogo e a presenccedila de nuvens negras o iacutendice de chuva
iminente
O iacutecone por sua vez tem uma natureza imagiacutestica apresentando portanto
propriedades que se assemelham ao objeto a que se refere A fotografia de um
indiviacuteduo por exemplo eacute uma representaccedilatildeo icocircnica desse indiviacuteduo assim como o
mapa do Rio de Janeiro representa a cidade Assim um iacutecone eacute qualquer coisa que
seja utilizada para designar algo que lhe seja semelhante em algum aspecto
Nesta perspectiva Quadros (1997) traz a reflexatildeo sobre os efeitos da modalidade ou
seja o fato de a Liacutengua de Sinais serem visuoespacial em vez de auditiva-oral implica nas
diferenccedilas para a aquisiccedilatildeo do surdo e nesse sentido tem-se a questatildeo da iconicidade das
Liacutenguas de Sinais uma vez que a iconicidade se refere
A transparecircncia entre significado e o significante ou seja a relaccedilatildeo de identidade
entre a palavra (o sinal) e o seu sentido Por exemplo nas liacutenguas faladas agraves
onomatopeias satildeo consideradas por alguns autores como icocircnicas pois a produccedilatildeo
sonora bdquoreal‟ (do objeto ou do animal) eacute reproduzida na fala expressando certa
identidade (QUADROS 2011 p 22)
Vale ressaltar que a iconicidade vem sendo estudada a partir da pesquisa semioacutetica de
Charles Sanders Peirce (1999) filoacutesofo norte-americano contemporacircneo de Saussure
Segundo Teixeira (2015) Peirce em seus estudos sobre a Semioacutetica o signo tem a funccedilatildeo de
proporcionar uma ideia do mundo e tudo que cerca o indiviacuteduo estaacute rodeado de signos Como
explica o filoacutesofo
[] para que algo possa ser um Signo (expressatildeo ou representamento) esse algo
deve bdquorepresentar‟ [] alguma outra coisa chamada seu Objeto apesar de ser talvez
arbitraacuteria a condiccedilatildeo segundo a qual um Signo deve ser algo distinto de seu objeto
(PEIRCE 1999 apud TEIXEIRA 2015 p 5)
Ao direcionar essas definiccedilotildees para agraves liacutenguas de sinais Sousa (2010) afirma que
muitas vezes essas liacutenguas satildeo consideradas puramente icocircnicas por serem de uma
modalidade diferente acreditando-se acredita que os sinais satildeo criados sempre a partir da
86
representaccedilatildeo do referente Eacute certo que um sinal pode ser realizado de acordo com a
caracteriacutestica daquilo que se refere mas de acordo com Strobel amp Fernandes (1998 apud
Sousa 2010 p 4) ldquoisto natildeo eacute uma regra jaacute que a maioria dos sinais em Libras eacute arbitraacuterio ou
seja natildeo manteacutem uma relaccedilatildeo de similitude com o referenterdquo
Reconhece-se que algumas Liacutenguas de Sinais parecem ter maior motivaccedilatildeo icocircnica
apresentando relaccedilotildees entre a sua forma e o seu significado comumente observado nas
Liacutenguas de Sinais caseiras dos Satereacute-Maweacute Isso significa a relaccedilatildeo entre o referente e o
referenciado Alguns estudos como os de Meier (1981) citado por Lillo-Martin (1986)
apontam para uma aparente iconicidade nas liacutenguas de sinais o que justifica considerar as
variaccedilotildees regionais e sociais e as mudanccedilas histoacutericas como fenocircmenos identificaacuteveis na
Liacutengua Brasileira de Sinais o que lhe confere o caraacuteter natural (STROBEL amp FERNANDES
1998 apud SOUSA 2010)
Nesse contexto a iconicidade como caracteriacutesticas semelhantes ao iacutecone tem em
comum o objeto que representa Por ser uma liacutengua de modalidade visuoespacial a
iconicidade estaacute presente em grande parte dos sinais da Libras pois a relaccedilatildeo entre a ldquoformardquo
e o ldquosentidordquo eacute mais visiacutevel Salles (2007) em bdquoEnsino de liacutengua portuguesa para surdos
caminhos para a praacutetica pedagoacutegica‟ comenta
Um aspecto que se sobressai no contraste entre as modalidades viacutesuo-espacial e oral-
auditiva eacute a questatildeo da arbitrariedade do signo linguiacutestico Esse conceito estabelece
que na constituiccedilatildeo do signo linguiacutestico a relaccedilatildeo entre o significante (imagem
acuacutestico-focircnica) e o significado eacute arbitraacuteria isto eacute natildeo existe nada na forma do
significante que seja motivado pelas propriedades da substacircncia do conteuacutedo
(significado) Uma caracteriacutestica das liacutenguas de sinais eacute que diferentemente das
liacutenguas orais muitos sinais tecircm forte motivaccedilatildeo icocircnica Natildeo eacute difiacutecil supor que esse
contraste se explique pela natureza do canal perceptual na modalidade viacutesuo-
espacial a articulaccedilatildeo das unidades da substacircncia gestual (significante) permite a
representaccedilatildeo icocircnica de traccedilos semacircnticos do referente (significado) o que explica
que muitos sinais reproduzam imagens do referente na modalidade oral-auditiva a
articulaccedilatildeo das unidades da substacircncia sonora (significante) produz sequecircncias que
em nada evocam os traccedilos semacircnticos do referente (significado) o que explica o
caraacuteter imotivado ou arbitraacuterio do signo linguiacutestico nas liacutenguas orais (SALLES
2007 p 83)
Todavia os mesmos sinais icocircnicos possuem um grau de arbitrariedade na definiccedilatildeo
dos mesmos como explica Frydrych (2012)
Pode haver contudo sinais com diferentes graus de iconicidade Um sinal pode natildeo
se assemelhar ao objeto que representa pela forma mas apresentar de alguma
forma uma similaridade por meio de expressotildees faciais ou movimentos Um
exemplo eacute o sinal ldquotristerdquo que possui como configuraccedilatildeo de matildeo o sinal Y
localizada abaixo do queixo em movimento de meia lua O sinal nada tem a ver
com o que a palavra representa no entanto a expressatildeo facial de tristeza que
acompanha o sinal daacute indiacutecios de que seu significado pode natildeo ser muito agradaacutevel
87
[] Falar de sinais icocircnicos em Libras pode parecer comum no entanto o sinal de
ldquocasardquo por exemplo motivado pelo formato do telhado de uma casa eacute tambeacutem
usado para o sinal de ldquomorarrdquo que pode ser usado para ldquomoradiardquo em diferentes
formatos de residecircncia como por exemplo casa apartamento cabana etc Embora o
sinal possa ter sido motivado na sua criaccedilatildeo por um tipo de casa passou a ser usado
de forma muito mais abrangente Sendo isto muito comum nas liacutenguas de sinais Os
sinais passam a ser signos linguiacutesticos altamente arbitraacuterios e passam a integrar o
leacutexico da liacutengua (Apud PIVETTA et al 2013 p8)
Como tambeacutem salienta Silva (2012) que ao passar do tempo o sinal icocircnico perde sua
motivaccedilatildeo inicial passando a ser arbitraacuterio
[] a transparecircncia eacute relativa porque a forma dos objetos ou movimentos que
originaram o sinal pode variar no tempo perdendo a sua motivaccedilatildeo inicial Um
exemplo eacute o sinal ldquoleiterdquo que faz referecircncia ao ato de ordenha que hoje ainda pode
ser considerado um sinal icocircnico Todavia para as futuras geraccedilotildees a motivaccedilatildeo de
sua representaccedilatildeo tende a se tornar uma convenccedilatildeo o que faz com que o sinal passe
a ser arbitraacuterio e de valor simboacutelico Sinais como o de ldquoleiterdquo satildeo frutos de um
processo histoacuterico e com o passar do tempo natildeo representam mais os artefatos e
procedimentos atuais sendo percebidos e interpretados apenas por meio da
arbitrariedade e da convenccedilatildeo(Apud PIVETTA et al 2013 p8)
A seguir temos alguns exemplos de sinais icocircnicos na Libras satildeo os sinais ldquoaacutervorerdquo
ldquocadeirardquo ldquocasardquo constituiacutedos a partir de caracteriacutesticas da imagem dos objetos aos quais se
referem Enquanto o primeiro lembra a imagem do tronco e das folhas de uma aacutervore o
segundo lembra as pernas de uma pessoa representadas pelos dedos indicador e meacutedio e a
terceira lembra a imagem de um telhado ou de uma casa sentada no objeto em questatildeo
(SALLES 2007 p 83)
Figura 7 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos aos quais se referem a
iconicidade
Fonte Azevedo (2014)
AacuteRVORE CADEIRA CASA
88
Figura 8 Caracteriacutesticas da imagem em Liacutengua de Sinais Satereacute-Maweacute dos objetos aos
quais se referem agrave iconicidade
Yara Wato Barco Libras
Fonte Azevedo (2014)
Man Beiju Libras
Fonte Azevedo (2014)
Kamunti hit Bilha Libras
Fonte Azevedo (2014)
89
Dessa maneira podem-se definir os sinais icocircnicos como aqueles que fazem alusatildeo agrave
imagem do seu significado natildeo implicando que todos os sinais satildeo iguais ou sinais icocircnicos
em todas as Liacutengua de Sinais cada grupo social absorve aspectos diferentes da imagem do
referente convencionando a representaccedilatildeo do sinal Os signos arbitraacuterios satildeo os que natildeo
trazem nenhuma relaccedilatildeo de semelhanccedila com o referente
90
6 INTERVENCcedilAtildeO E CONTRIBUICcedilAtildeO LINGUIacuteSTICA DO PROFESSOR SURDO
Os estudos sobre a educaccedilatildeo sistemaacutetica dos indiacutegenas surdos da etnia Satereacute-Maweacute
levaram agrave percepccedilatildeo da necessidade iminente de uma atuaccedilatildeo no processo ensino
aprendizagem desses sujeitos Desse modo apoacutes conhecer a realidade linguiacutestica e
educacional dos indiacutegenas surdos observados nas aldeias e na zona urbana de Parintins foi
possiacutevel intervir por meio do ensino da Liacutengua Brasileira de Sinais A intervenccedilatildeo foi feita
com o consentimento dos responsaacuteveis locais onde se faziam presentes acompanhando o
objeto da pesquisa - os indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute
Assim com a autorizaccedilatildeo da famiacutelia o primeiro contato foi estabelecido entre uma
crianccedila surda indiacutegena com professor tambeacutem surdo que ocorreu na residecircncia dela na zona
urbana do municiacutepio de Parintins cujo registro de imagem consta na Figura 9
Figura 9 Encontro da crianccedila surda Satereacute-Maweacute com o professor surdo
Fonte Azevedo (2014)
No contato foi possiacutevel verificar que a crianccedila natildeo conhecia a liacutengua Libras Sua
forma de comunicaccedilatildeo era com o uso dos siacutembolos ldquocaseirosrdquo Contudo ela respondeu ao
estiacutemulo de conversaccedilatildeo com muita facilidade buscando fazer a comunicaccedilatildeo As demais
observaccedilotildees e intervenccedilatildeo deram-se no ambiente educacional na Escola de Aacuteudio e
Comunicaccedilatildeo Padre Paulo Manna (Figura 10) Nesse contexto a crianccedila acompanhava com
atenccedilatildeo ao desempenho dos demais pares sempre atenta para compreensatildeo do conteuacutedo
comunicativo Ficou evidente a necessidade de um material de suporte escrito como recurso a
ser utilizado pelos docentes no processo ensino e aprendizagem
91
Figura 10 Contato com aluno Satereacute-Maweacute surdo no ambiente escolar
Fonte ndash Azevedo (2014)
Ocorreu tambeacutem o contato com o aluno surdo da Etnia Satereacute-Maweacute matriculado na
Escola Estadual Brandatildeo de Amorim em Parintins o qual foi feito em sua residecircncia dele A
conversa com ele foi feita fluentemente em Libras (Figura 10) Entretanto ao ser indagado
sobre a cultura a liacutengua falada de sua etnia natildeo soube responder Comprovou-se que o aluno
natildeo participa do contexto cultural da etnia por isso natildeo a conhece Por tal considera-se que o
material triliacutengue seria um recurso apropriado para promover o reconhecimento de muitos
signos que fazem parte da Liacutengua Satereacute-Maweacute
Figura 11 Contato com o aluno surdo Satereacute-Maweacute na Escola Estadual Brandatildeo de Amorim
Fonte ndash Azevedo (2014)
O contato com os familiares juntamente com professores indiacutegenas e inteacuterprete
linguiacutestica possibilitou ter uma visatildeo sobre o contexto comunicativo do indiacutegena surdo A
conversa com o pai do indiacutegena surdo na Aldeia de Santa Maria indicou a forma como
conseguem se comunicar com o filho desde o momento que perceberam que ele era surdo
Explicaram as dificuldades que tiveram no processo de entendimento com ele Confirmaram
92
que o aprendizado da liacutengua Libras indicando os signos que representam a cultura da etnia
seria muito importante para a comunicaccedilatildeo entre ele e os familiares eou educadores
Figura 12 Em viagem para aacuterea indiacutegena no Rio Marau ndash comunicaccedilatildeo com familiares
Fonte - Azevedo (2014)
O projeto da pesquisa foi apresentado na comunidade de Santa Maria para os
representantes da comunidade indiacutegena (Figura 12)
Figura 13 Apresentaccedilatildeo do projeto de pesquisa agraves lideranccedilas indiacutegenas na comunidade
Fonte Azevedo (2014)
Ressalta-se a importacircncia das lideranccedilas conhecerem e participarem do desenvolvimento
do projeto A relevacircncia desta participaccedilatildeo daacute-se em funccedilatildeo de que as mesmas contribuiram
informando vocabulaacuterios caracteristicos da regiatildeo que enriqueceram o minidicionaacuterio
triliacutengue Satereacute-MaweacutePortuguecircsLibras como pode ser evidenciado a seguir
93
Vocabulaacuterios e utensiacutelios indiacutegenas sinalizados em Libras
Liacutenguas
Satereacute-Maweacute Portuguecircs Libras
Mory‟ywat siomory‟awat Arco
Satereacute-Maweacute Portuguecircs Libras
T wa Aldeia
Ressalta-se a importacircncia do minidicionaacuterio ao considerar que o vocabulaacuterio contido no
mesmo poderaacute ser utilizado pelo indiacutegena surdo para ele aprenda a comunicaccedilatildeo utilizando os
signos que fazem parte da linguagem da etnia
E realizando uma mini oficina de Libras para professores da comunidade (Figura 6)
foi possiacutevel demonstrar o uso da Libras no contexto da sala de aula A participaccedilatildeo efetiva dos
mesmos proporcionou a troca de informaccedilotildees sobre o vocabulaacuterio da liacutengua indiacutegena
94
Figura 14 Desenvolvimento de oficina de Libras com professores indiacutegenas
Fonte Azevedo (2014)
Enfatiza-se que todo empenho em levar o conhecimento da Liacutengua Brasileira de Sinais
para os indiacutegenas surdos professores indiacutegenas familiares de surdos e comunidade manteve-
se em funccedilatildeo do ensejo de fazecirc-los conhecer e compreender a capacidade e modos dos
indiacutegenas surdos se comunicarem aleacutem de promover a aprendizagem da Libras em um lugar
de tatildeo difiacutecil acesso com pequenas escolas que sequer tecircm materiais didaacuteticos adaptados a
essa clientela Por este motivo considera-se que a contribuiccedilatildeo linguiacutestica em forma de um
minidicionaacuterio eacute um passo importante para levar aos indiacutegenas surdos a sua comunidade e o
nuacutecleo familiar destes o iniacutecio do resgate da sua liacutengua natural que eacute a Liacutengua Brasileira de
Sinais e a sua liacutengua nativa aleacutem de seus traccedilos culturais incluiacutedos no minidicionaacuterio
61 Libras e Liacutengua Satereacute-Maweacute intercacircmbio de construccedilatildeo sociocultural-linguiacutestico
Analisando a histoacuteria do povo surdo e do povo indiacutegena percebe-se uma trajetoacuteria
similar nas lutas por seus direitos culturais e linguiacutesticos Ambos tentam
fortalecer o conhecimento da proacutepria histoacuteria com seus acertos desacertos conflitos
e sucessos buscando a compreensatildeo do ator social como sujeito da histoacuteria e
possibilitando assim a construccedilatildeo de um projeto poliacutetico articulado com outros
setores que incremente as possibilidades de construccedilatildeo dos proacuteprios projetos de
uma vida melhor (HERNAIZ 2009)
Neste sentido destaca-se que esses indiviacuteduos satildeo esquecidos na realidade cultural do
paiacutes como se natildeo existissem enquanto cidadatildeos que tem as suas formas de produzir no
contexto social Mudar esta realidade faz-se fundamental Para tal Guerreiro (2009 p93)
argumenta que
Os direitos culturais satildeo por sua vez um campo complexo que inclui vaacuterios
conjuntos de direitos e garantias entre os quais me interessa destacar para essa
reflexatildeo os seguintes o reconhecimento da diversidade o exerciacutecio da identidade
como povos o uso restrito do idioma uma educaccedilatildeo proacutepria e o respeito pelo
patrimocircnio cultural
95
Os processos culturais linguiacutesticos entre os povos surdos e indiacutegenas surdos eacute uma
possibilidade bem proacutexima atraveacutes do intercacircmbio sociocultural-linguiacutestico que estaacute sendo
construiacutedo pois o surdo indiacutegena faz parte da cultura surda e tem cacircmbio com a cultura
indiacutegena e em muitos casos com a cultura do povo ouvinte
Todavia alguns aspectos da cultura surda satildeo desconhecidos pelo proacuteprio surdo
indiacutegena Por isso a necessidade de surdos indiacutegenas se relacionarem com seus semelhantes
surdos seja indiacutegena ou natildeo indiacutegena para que atraveacutes deste contato possa construir sua
identidade cultural da comunidade surda tornando conhecida sua cultura tribal por meio da
liacutengua de instruccedilatildeo a Libras No exemplo abaixo ilustra-se a percepccedilatildeo dessa realidade
Man ype Crueira Libras
Kui‟a Cuia Libras
Dessa forma conhecendo valorizando e respeitando sua cultura que eacute um patrimocircnio
cultural da sociedade
Logo a liacutengua em uso pelos iacutendios surdos seja ela a Liacutengua de Sinais Indiacutegena
ldquosinais emergentesrdquo ou a Liacutengua Brasileira de Sinais (como empreacutestimo sociocultural-
linguiacutestico) e a Liacutengua Satereacute-Maweacute devem ser valorizadas com respeito muacutetuo na
transmissatildeo de sua cultura Os indiviacuteduos que precisam se comunicar por meio delas lutam
96
pelo fortalecimento dessa inserccedilatildeo cultural pela construccedilatildeo de um futuro melhor e pelo
respeito aos direitos dos iacutendios localizados neste vasto territoacuterio Nesse sentido
A identidade cultural requer tambeacutem ela a alteridade como dialogicidade
intercultural No seu proacuteprio interior ela natildeo eacute nunca algo de compacto mas
apresenta toda uma seacuterie de relaccedilotildees no plano sincrocircnico e diacrocircnico com outras
culturas que lhes datildeo vida justamente pela sua diversificaccedilatildeo e discordacircncia por
mais que ela se obstine em realizar-se mediante a identificaccedilatildeo com alguns de seus
aspectos apenas com algumas formas culturais determinadas que se arvoram
oficiais e dominantes (PONZIO 2007 p179)
Para estes estudos a uniatildeo de esforccedilos que viabilizou a realizaccedilatildeo deste diagnoacutestico eacute
uma demonstraccedilatildeo clara de que eacute perfeitamente possiacutevel trilhar no mundo linguiacutestico
possibilitando a cada indiacutegena novos horizontes na comunicaccedilatildeo
97
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A presente pesquisa teve como foco principal o levantamento de indiacutegenas surdos nas
microrregiotildees do municiacutepio de Parintins da etnia Satereacute-Maweacute
Com base nas informaccedilotildees levantadas nas terras indiacutegenas e nas cidades onde vivem
os Satereacute-Maweacute evidenciou-se que as escolas de zonas rurais e comunidades que o iacutendio
surdo requenta natildeo possui uma educaccedilatildeo diferenciada especiacutefica a sua especificidade
A realidade encontrada no municiacutepio de Parintins para com os alunos iacutendios surdos
por ser em zona urbana jaacute apresenta um diferencial A escola dispotildee de sala de recursos para
alunos indiacutegenas surdos poreacutem dentro dessa realidade haacute falta de professores que dominem a
liacutengua nativa Satereacute-Maweacute para que a escola proporcione um aprendizado triliacutengue Liacutengua
Brasileira de Sinais Liacutengua Satereacute-Maweacute e Liacutengua Portuguesa na modalidade escrita
Nas escolas visitadas onde encontramos surdos foi observado falta de mateacuterias
visuais sala de recursos com atendimentos diferenciados para os alunos indiacutegenas surdos e
indiacutegenas surdos
Foram considerados no decorrer do texto aspectos da contextualizaccedilatildeo em que se deu
a pesquisa desde as discussotildees que antecederam a elaboraccedilatildeo do projeto passando pelas
parcerias que foram estabelecidas no decorrer do processo especialmente com as vaacuterias
organizaccedilotildees indiacutegenas Satereacute-Maweacute ateacute o desenvolvimento das condiccedilotildees que garantiram a
plena participaccedilatildeo da comunidade no decorrer das atividades de pesquisa Partindo da
enumeraccedilatildeo dos principais objetivos do projeto o relatoacuterio apresenta as aacutereas e localidades
cobertas o nuacutemero de domiciacutelios levantados e de moradores entrevistados assim como a
metodologia utilizada a operacionalizaccedilatildeo das atividades de campo o treinamento dos
entrevistadores o levantamento nas cidades e nas terras indiacutegenas a forma e a intensidade
como se desenvolveu a participaccedilatildeo das lideranccedilas e da comunidade como um todo
Durante a pesquisa a sociedade indiacutegena e natildeo indiacutegena juntamente com profissionais
da educaccedilatildeo da linguiacutestica e a proacutepria comunidade surda acompanharam a perspectiva para
uma nova trajetoacuteria destes os iacutendios surdos a qual reflete o reconhecimento linguiacutestico destes
como pessoas pertencentes agraves minorias linguiacutesticas
Ao analisar as questotildees linguiacutesticas nas aacutereas indiacutegenas das microrregiotildees de Parintins
verificou-se que a implantaccedilatildeo deste empreendimento representou como um novo modelo de
desenvolvimento para a comunicaccedilatildeo de indiacutegenas surdos nas comunidades indiacutegenas
98
Ressalta-se que cada municiacutepio onde existem membros da etnia Satereacute receberaacute como
retorno da pesquisa um minidicionaacuterio triliacutengue (Liacutengua de Sinais Liacutengua Satereacute-Maweacute e
Liacutengua Portuguesa) para intercacircmbio sociocultural-linguiacutestico
Este material tem a intenccedilatildeo de abrir o caminho para a participaccedilatildeo direta dos iacutendios
na construccedilatildeo de seu futuro Ele caracteriza uma mudanccedila da forma de olhar para os povos
indiacutegenas Agora eacute preciso trabalhar para que todas as comunidades e etnias possam produzir
seus diagnoacutesticos Todas elas precisam dispor das informaccedilotildees com as quais poderatildeo dar uma
direccedilatildeo a suas accedilotildees Nesse sentido deve haver iniciativas por parte do poder local para que o
governo e as entidades aliadas agraves causas indiacutegenas possam aproveitar as experiecircncias dos
vaacuterios pesquisadores sobre as causas dos Satereacute-Maweacute para ampliar esse tipo de trabalho
Satildeo diagnoacutesticos como este que iratildeo dar o norte para novos projetos e programas que
favoreccedilam realmente garantir a autonomia dos povos indiacutegenas
Finzaliza-se com a satisfaccedilatildeo de que a pesquisa presente contribuiu com um pequeno
passo no incentivo da conservaccedilatildeo e crescimento da identidade cultural-linguiacutestica do iacutendio
surdo
99
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103
ANEXOS
104
ANEXO A- Normas estabelecidas no ingresso em terras indiacutegenas pela FUNAI
Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio
INSTRUCcedilAtildeO NORMATIVA No 01PRESI DE 29NOVEMBRO1995
PRESIDENTE DA FUNDACcedilAtildeO NACIONAL DO IacuteNDIO - FUNAI
no uso de suas atribuiccedilotildees que lhe satildeo conferidas pelo estatuto aprovado pelo decreto no
564
de 08 de junho de 1992 tendo em vista o que consta do processo FUNAI BsB no210592
R E S O L V E
Art 1o Aprovar as normas que disciplinam o ingresso em Terras Indiacutegenas com finalidade de
desenvolver Pesquisa Cientiacutefica conforme documento em anexo
Art 2o Esta Instruccedilatildeo Normativa entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo
Art 3o Revoga-se a Instruccedilatildeo Normativa no 001PRESI94 de 08 de abril
de 1994 como qualquer outro dispositivo em contraacuterio
MAacuteRCIO JOSEacute BRANDO SANTILLI
Presidente da FUNAI
ASSINADO NO ORIGINAL
Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio
ANEXO DA INSTRUCcedilAtildeO NORMATIVA No 001PRESI de 29 de novembro de 1995
Art 4o Todo e qualquer pesquisador nacional ou estrangeiro que pretenda ingressar em terras
indiacutegenas para desenvolver projeto de pesquisa cientiacutefica deveraacute encaminhar sua solicitaccedilatildeo
agrave Presidecircncia da FUNAI e no caso de requerimento coletivo deveraacute ser subscrito por um dos
membros do grupo como seu responsaacutevel Art 5o O pesquisador ou pesquisadores deveratildeo
anexar ao pedido do que trata o Art 1o a seguinte documentaccedilatildeo
I carta de apresentaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo a que o pesquisador estaacute vinculado e no caso de
estudantes de graduaccedilatildeo e poacutesgraduaccedilatildeo carta de apresentaccedilatildeo do orientador responsaacutevel
II projeto de pesquisa em portuguecircs detalhando a(s) terra(s) indiacutegenas na(s) qual(is)
pretende ingressar e cronograma
III curriculum vitae do(s) pesquisador(es) redigido em portuguecircs
IV coacutepia autenticada da Carteira de Identidade ou Passaporte quando se tratar de
nacionalidade estrangeira
V atestado individual de vacina contra moleacutestia endecircmica na
aacuterea
VI atestado meacutedico de natildeo portador de moleacutestia contagiosa
105
VII quando se tratar de pesquisador(es) de nacionalidade estrangeira exigir-se-aacute para a
efetivaccedilatildeo de seu ingresso na terra indiacutegena a obtenccedilatildeo de seu respectivo visto temporaacuterio
como prevecirc o artigo 22 do decreto no 86715 de 10 de dezembro de 1981 aleacutem do
cumprimento do disposto no decreto no 98830 de 15 de janeiro de 1990
Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio
Art 6o O pesquisador deveraacute encaminhar diretamente ao CONSELHO
NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO - CNPq o
projeto de pesquisa e curriculum
vitae
Art 7o A solicitaccedilatildeo do ingresso em terra indiacutegena por parte de pesquisadores nacionais ou
estrangeiros seraacute objeto de anaacutelise pela Coordenadoria-Geral de Estudos e Pesquisas - CGEP
uma vez instruiacutedo o processo com o parecer favoraacutevel do CNPq quanto ao meacuterito da pesquisa
proposta e apoacutes ouvidas as lideranccedilas indiacutegenas
Paraacutegrafo Uacutenico - A consulta agraves lideranccedilas indiacutegenas seraacute realizada pela FUNAI com a
presenccedila e participaccedilatildeo do pesquisador podendo este em caso de resposta positiva
permanecer na terra indiacutegena com autorizaccedilatildeo provisoacuteria ateacute a emissatildeo de uma definitiva
Art 8o No caso de negativa das lideranccedilas indiacutegenas quanto ao pleito do ingresso ou
quaisquer outros entraves levantados no decorrer da anaacutelise do processo ou em qualquer outra
etapa de desenvolvimento da pesquisa a CGEP encaminharaacute a questatildeo ao Conselho
Indigenista atraveacutes da presidecircncia do Oacutergatildeo
Art 9o Quando se tratar de pesquisa em espaccedilo territorial de ocupaccedilatildeo tradicional de iacutendios
isolados o pedido seraacute ainda objeto de exame e parecer preacutevio especiacutefico por parte do
Departamento de Iacutendios Isolados - DII FUNAI
Art 10 A presidecircncia da FUNAI poderaacute suspendera qualquer tempo as
autorizaccedilotildees concedidas de acordo com as presentes normas desde que
I seja solicitada a sua interrupccedilatildeo por parte da comunidade indiacutegena em questatildeo
II a pesquisa em desenvolvimento venha a gerar conflitos dentro da terra indiacutegena
III a ocorrecircncia de situaccedilotildees epidecircmicas agudas ou conflitos graves envolvendo iacutendios e natildeo-
iacutendios
Paraacutegrafo Uacutenico - Fica automaticamente prorrogada a autorizaccedilatildeo pelo prazo que a terra
indiacutegena objeto do projeto estiver interditada pelos motivos apontados no Art 10 inciso III
Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio
MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA
Art 11 Todos os pesquisadores estrangeiros ou nacionais que tiverem autorizaccedilotildees
concedidas para ingresso em terras indiacutegenas obrigar-se-atildeo a
I cumprir todos os preceitos legais vigentes notadamente os previstos na Lei no 6001 de
1o1273
II remeter agrave FUNAI relatoacuterio dos Trabalhos de campo em portuguecircs ateacute 6 (seis) meses apoacutes
o teacutermino da pesquisa onde poderatildeo constar sugestotildees praacuteticas que possam trazer benefiacutecios
para as comunidades indiacutegenas que poderatildeo ser consideradas pela FUNAI nas definiccedilotildees de
sua poliacutetica
III remeter agrave FUNAI 2 (dois) exemplares de publicaccedilotildees artigos teses e outras produccedilotildees
intelectuais oriundas das referidas pesquisas
Art 12 Nos casos de solicitaccedilatildeo de prorrogaccedilatildeo do prazo para continuidade do projeto de
pesquisa cientiacutefica na mesma terra indiacutegena caberaacute a Coordenaccedilatildeo Geral de Estudos e
Pesquisas - CGEP os seguintes procedimentos
I notificar junto ao setor competente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e
Tecnoloacutegico - CNPq a solicitaccedilatildeo
II consultar as lideranccedilas quanto ao retorno do pesquisador na terra indiacutegena
106
III observar o cumprimento do Art 8o por parte do pesquisador interessado do Iacutendio
Art 6o O pesquisador deveraacute encaminhar diretamente ao CONSELHO NACIONAL DE
DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO - CNPq o projeto de pesquisa e
curriculum vitae
Art 7o A solicitaccedilatildeo do ingresso em terra indiacutegena por parte de pesquisadores nacionais ou
estrangeiros seraacute objeto de anaacutelise pela Coordenadoria-Geral de Estudos e Pesquisas - CGEP
uma vez instruiacutedo o processo com o parecer favoraacutevel do CNPq quanto ao meacuterito da pesquisa
proposta e apoacutes ouvidas as lideranccedilas indiacutegenas
Paraacutegrafo Uacutenico - A consulta agraves lideranccedilas indiacutegenas seraacute realizada pela FUNAI com a
presenccedila e participaccedilatildeo do pesquisador podendo este em caso de resposta positiva
permanecer na terra indiacutegena com autorizaccedilatildeo provisoacuteria ateacute a emissatildeo de uma definitiva
Art 8o No caso de negativa das lideranccedilas indiacutegenas quanto ao pleito do ingresso ou
quaisquer outros entraves levantados no decorrer da anaacutelise do processo ou em qualquer outra
etapa de desenvolvimento da pesquisa a CGEP encaminharaacute a questatildeo ao Conselho
Indigenista atraveacutes da presidecircncia do Oacutergatildeo
Art 9o Quando se tratar de pesquisa em espaccedilo territorial de ocupaccedilatildeo tradicional de iacutendios
isolados o pedido seraacute ainda objeto de exame e parecer preacutevio especiacutefico por parte do
Departamento de Iacutendios Isolados - DII FUNAI Art 10 A presidecircncia da FUNAI poderaacute
suspendera qualquer tempo as autorizaccedilotildees concedidas de acordo com as presentes normas
desde que
I seja solicitada a sua interrupccedilatildeo por parte da comunidade indiacutegena em questatildeo
II a pesquisa em desenvolvimento venha a gerar conflitos dentro da terra indiacutegena
III a ocorrecircncia de situaccedilotildees epidecircmicas agudas ou conflitos graves envolvendo iacutendios e natildeo-
iacutendios
Paraacutegrafo Uacutenico - Fica automaticamente prorrogada a autorizaccedilatildeo pelo prazo que a terra
indiacutegena objeto do projeto estiver interditada pelos motivos apontados no Art 10 inciso III
Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA
Art 11 Todos os pesquisadores estrangeiros ou nacionais que tiverem autorizaccedilotildees
concedidas para ingresso em terras indiacutegenas obrigar-se-atildeo a
I cumprir todos os preceitos legais vigentes notadamente osprevistos na Lei no 6001 de
1o1273
II remeter agrave FUNAI relatoacuterio dos Trabalhos de campo em portuguecircs ateacute 6 (seis) meses apoacutes
o teacutermino da pesquisa onde poderatildeo constar sugestotildees praacuteticas que possam trazer benefiacutecios
para as comunidades indiacutegenas que poderatildeo ser consideradas pela FUNAI nas definiccedilotildees de
sua poliacutetica
III remeter agrave FUNAI 2 (dois) exemplares de publicaccedilotildees artigos teses e outras produccedilotildees
intelectuais oriundas das referidas pesquisas
Art 12 Nos casos de solicitaccedilatildeo de prorrogaccedilatildeo do prazo para continuidade do projeto de
pesquisa cientiacutefica na mesma terra indiacutegena caberaacute a Coordenaccedilatildeo Geral de Estudos e
Pesquisas - CGEP os seguintes procedimentos
I notificar junto ao setor competente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e
Tecnoloacutegico - CNPq a solicitaccedilatildeo
II consultar as lideranccedilas quanto ao retorno do pesquisador na terra indiacutegena
III observar o cumprimento do Art 8o por parte do pesquisador interessado
107
ANEXO B ndash Questionaacuterio para coleta de dados com professores de comunidades indiacutegenas
QUESTIONAacuteRIO
Nome Prof(a)Nordm Cel
Nome da escola
Tribo Etnia
Quantos alunos surdos iacutendio Serie Idade
Nasceu cognitiva ou adquirida
1 ndash Como eacute a forma de comunicaccedilatildeo entre o professor e o iacutendio surdo
( ) Escrita
( ) Oralizado
( ) Libras
( ) Satereacute Maweacute
2 ndash Qual liacutengua o surdo iacutendio tem mais facilidade de aprender
( ) Portuguecircs
( ) Satereacute Maweacute
( ) libras
3 ndash Qual eacute a metodologia de ensino
4 ndash Como o aluno surdo indiacutegena aprende na sala de aula Tem dificuldade ou facilidade
5 ndash Como e que liacutengua o aluno surdo se comunica com outro surdo se tiver e os demais alunos
ouvintes na sala aula
108
6 ndash Vocecirc jaacute observou a comunicaccedilatildeo entre o aluno surdo iacutendio com a famiacutelia Qual liacutengua
7 ndash Como o aluno surdo iacutendio se comunica com as pessoas da comunidade
8 ndash Qual eacute a reaccedilatildeo das pessoas ouvintes quanto o iacutendio surdo na comunidade
9 ndash Professor(a) qual sua opiniatildeo para melhoria de ensino da educaccedilatildeo de iacutendios surdos
10 ndash Qual eacute a importacircncia da liacutengua indiacutegena Satereacute Maweacute para o aluno surdo
11 ndash Fale sobre a cultura e historia dos Satereacute Maweacute o iacutendio surdo participa
109
ANEXO C ndash Autorizaccedilatildeo para pesquisa de campo em terras indiacutegenas
110
ANEXO C-1 ndash Autorizaccedilatildeo para pequisa de campo com uso de imagem permitido
111
ANEXO C-2 ndash Autorizaccedilatildeo para pequisa de campo com uso de imagem permitido
112
ANEXO D ndash Parecere pedagoacutegico da Aluna Indiacutegena Surda
(ESCOLA PADRE PAULOMANNA)
ESCOLA DE AacuteUDIO COMUNICACcedilAtildeO
Pe PAULO MANNA Mantida pela Diocese de Parintins CNPJ 045945370001-88 Av Naccedilotildees Unidas 1792 FoneFax (092) 3533-3456 69151-060 ndash PARINTINS-AMAZONAS-BRASIL
Parecer Pedagoacutegico
Helena Ferreira Arauacutejo 06 anos de idade aluna da Escola Pe Paulo Manna desde
marccedilo de 2013 mora na rua 4 nordm 298 no bairro da Uniatildeo
Segundo relatos da matildee a aluna nasceu de parto normal comeccedilou a andar aos trecircs
anos de idade e eacute descendente dos iacutendios Satereacute- Maueacute Os anos passaram e ela comeccedilou a
perceber que sua filha natildeo ouvia e nem falava pois jaacute tinha outros filhos e estes comeccedilaram a
falar e andar cedo Informou-nos que para se comunicar com ela fazia gestos ateacute ela entender
o que se tornava muito difiacutecil
Disse-nos que falaram para ela do trabalho desenvolvido na Escola Paulo Manna com
alunos surdos e resolveu procurar a escola pois o tempo estava passando e a menina natildeo
falava e ela natildeo sabia mais o que fazer para reverter a situaccedilatildeo e a sua filha ser como os outros
irmatildeos
Atualmente estuda numa turma de Preacute ndash Escolar (2ordm periacuteodo) eacute uma aluna surda No
ano passado quando chegou agrave escola nos primeiros dias chorava muito e ficava zangada se
escondia embaixo da mesa para que ningueacutem a incomodasse visto que natildeo estava adaptada
ao ambiente e aos poucos foi se adaptando e passou a conviver com os colegas ouvintes em
sala de aula
A aluna gosta de fazer suas atividades escolares tem boa coordenaccedilatildeo motorainterage
com os colegas reconhece cores e formas gosta de desenhar e daacute formas aos seus desenhos realiza atividades de leitura de imagem montagem com jogos de encaixe participa de
brincadeiras na quadra parque e brinquedoteca
Em alguns momentos quando quer alguma coisa do colega e este natildeo lhe daacute fica com
raiva chora e se isola Em outros momentos penso que por natildeo saber se comunicar com os
colegas fica um pouco retraiacuteda e torna-se um a receptora diferenciada que requer cuidados
no tocante agrave comunicaccedilatildeo principalmente de como chegar ateacute ela
Procuramos adaptar brincadeiras para envolver a aluna trazendo-a de volta para
participar das atividades e conversar com ela que nem tudo o que a gente quer podemos ter e
fazemos alguma brincadeira que ela goste e rapidinho ela volta a participar e se integrar ao
grupo
Sabemos que eacute difiacutecil para ela o processo ensino aprendizagem porque ela tem que ter
uma aprendizagem triliacutengue visto que tem que aprender a Liacutengua Indiacutegena+ Libras + Liacutengua
Portuguesa e jaacute eacute difiacutecil aprender duas mas natildeo impossiacutevel
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Neste ano de 2014 contamos com a ajuda da professora Caacutetia (surda) com aulas de
Libras No primeiro momento fica junto com os colegas ouvintes onde procuramos trabalhar
de forma biliacutengue (Portuguecircs + Libras) para que ela entenda o que estaacute sendo repassado em
sala de aula E o que se percebe eacute que a aluna nos daacute respostas precisas dentro dos objetivos
propostos Em outro momento a professora Caacutetia ensina agrave aluna os sinais em LIBRAS que eacute
a liacutengua oficial da pessoa surda trabalhando o concreto com ela ensinando-a com jogos
cartazes reaacutelias viacutedeos transformando tais atividades em aulas dinacircmicas e prazerosas
Dentro dessa realidade a aluna vai participando buscando se inserir nesse universo
cheio de duacutevidas e incertezas e noacutes professores procuramos fazer o melhor para que a aluna
se sinta bem no ambiente escolar visto que o processo ensino aprendizagem para uma crianccedila
de outra etnia natildeo eacute faacutecil pois segundo depoimentos de alguns indiacutegenas a aprendizagem
indiacutegena passa pela demonstraccedilatildeo observaccedilatildeo imitaccedilatildeo tentativa e erro e quando o aluno
vem para a escola tem que se socializar obedecer a comandos regidos pelo sistema e isso
muitas vezes o deixa confuso e os maiores ateacute desistem
Dessa forma satildeo necessaacuterias estrateacutegias de ensino diferenciadas que deem suporte para
que a aluna seja trabalhada de forma triliacutengue no contexto escolar para que ela natildeo perca a
sua essecircncia a sua cultura que sejam adaptados trabalhos de acordo com a realidade
indiacutegena para que ela natildeo perca a sua identidade e saiba conduzir sua aprendizagem dentro de
um contexto diferenciado podendo aprender o que lhe eacute de direito bem como viver bem em
sociedade
Parintins 14 de abril de 2014