UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS PROGRAMA DE …

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS ARTES MESTRADO PROFISSIONAL EM LETRAS ARTES MARLON JORGE SILVA DE AZEVEDO MAPEAMENTO E CONTRIBUIÇÕES LINGUÍSTICAS DO PROFESSOR SURDO AOS ÍNDIOS SURDOS DA ETNIA SATERÉ-MAWÉ NA MICRORREGIÃO DE PARINTINS MANAUS AM. 2015

Transcript of UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS PROGRAMA DE …

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM LETRAS ARTES

MESTRADO PROFISSIONAL EM LETRAS ARTES

MARLON JORGE SILVA DE AZEVEDO

MAPEAMENTO E CONTRIBUICcedilOtildeES LINGUIacuteSTICAS DO PROFESSOR SURDO

AOS IacuteNDIOS SURDOS DA ETNIA SATEREacute-MAWEacute NA MICRORREGIAtildeO DE

PARINTINS

MANAUS ndash AM

2015

MARLON JORGE SILVA DE AZEVEDO

MAPEAMENTO E CONTRIBUICcedilOtildeES LINGUIacuteSTICAS DO PROFESSOR SURDO

AOS IacuteNDIOS SURDOS DA ETNIA SATEREacute-MAWEacute NA MICRORREGIAtildeO DE

PARINTINS

Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Letras

Artes para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre

em Letras opccedilatildeo Etnolinguiacutestica

Indiacutegena Universidade do Estado

Estadual do Amazonas-UEA Programa

de Poacutes Graduaccedilatildeo em Letras Artes

Orientador Prof Dr Valteir Martins

MANAUS ndash AM

2015

Catalogaccedilatildeo na fonte Elaboraccedilatildeo Ana Castelo CRB11ordf -314

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS ndash wwwueaedubr

Av Leonardo Malcher 1728 ndash Ed Professor Samuel Benchimol

Pccedila XIV de Janeiro CEP 69010-170 Manaus - Am

A994M Azevedo Marlon Jorge Silva de

Mapeamento e contribuiccedilotildees linguiacutesticas do professor surdo aos iacutendios surdos da etnia Satereacute-Maweacute na microrregiatildeo de Parintins Marlon Jorge Silva de Azevedo ndash Manaus UEA 2015

115fls il 30cm

Dissertaccedilatildeo de Mestrado e Produto apresentada ao Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo em Letras e Artes da Universidade do Estado do Amazonas como requisito para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em Letras e Artes

Produto Minidicionaacuterio Triliacutengue indiacutegena Saterecirc-Maweacute em Libras e Liacutengua Portuguesa

Orientador Prof Dr Valteir Martins

1Linguiacutestica 2Liacutengua de Sinais 3 Satereacute-Maweacute 4 Dicionaacuterio I Orientador Prof Dr Valteir Martins IITiacutetulo

CDU 81rsquo3744

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM LETRAS ARTES

MESTRADO PROFISSIONAL EM LETRAS ARTES

DEDICATOacuteRIA

Aos meus familiares em especial a minha matildee Idalina

Azevedo que desde o ventre proporcionou-me seu amor com

dedicaccedilatildeo e todas suas forccedilas ao meu lado em momentos tatildeo

difiacuteceis nunca deixando de acreditar no poder de Deus sobre

minha vida

A minha amada esposa Rosana Valeacuteria mulher saacutebia

e auxiliadora de todos os momentos do meu viver

Aos meus filhos Caroline Camila e Benjamim Jorge

pelo amor que sempre me deram pela compreensatildeo de

minhas ausecircncias durante a trajetoacuteria de minha pesquisa

AGRADECIMENTOS

A Deus em primeiro lugar que planejou a minha vida quando eu ainda nem existia e

me libertou no momento que recorri a Ele E me fez acreditar que o impossiacutevel soacute existe

quando natildeo temos feacute

Agrave Coordenadora do Mestrado em Letras e Artes da Universidade do Estado do

Amazonas ndash UEA Professora Dra Juciane Cavalheiros pelo excelente trabalho que

desenvolve nesta instituiccedilatildeo contribuindo para a formaccedilatildeo de novos profissionais na

educaccedilatildeo do nosso paiacutes

Ao meu orientador Dr Valteir Martins Professor do Mestrado em Letras e Artes

com sua saacutebia experiecircncia de ensino acreditou que atraveacutes deste trabalho pudeacutessemos levar

contribuiccedilotildees linguiacutesticas no que tange agrave Liacutengua de Sinais dos indiacutegenas surdos Satereacute-

Maweacute habitantes da microrregiatildeo de Parintins

Aos meus professores do Mestrado em Letras e Artes Dra Silvana Martins Dr

Mauricio Mattos Dr Maacutercio e Dra Luciana Paacutescoa Dra Gleidys Maia Dr Camilo Ramos

pelas preciosas contribuiccedilotildees agrave minha pesquisa

Aos professores indiacutegenas Jacob de Souza Jocimar Alencar e Josiel Santos por me

introduzir nas comunidades indiacutegenas Satereacute-Maweacute pelas contribuiccedilotildees na traduccedilatildeo das

palavras da liacutengua portuguesa para a liacutengua Satereacute-Maweacute

Aos meus colegas do mestrado em Letras e Artes pelo companheirismo e dedicaccedilatildeo

no dia a dia

Agrave professora Elizandra de Lima Silva Bastos pela ajuda nas correccedilotildees textuais da

Liacutengua Portuguesa

Agraves instituiccedilotildees especiacuteficas que de alguma forma contribuiacuteram para concretizar esta

pesquisa

MANAUS

Escola Estadual Augusto Carneiro dos Santos

Centro de Atendimento ao surdo ndash CAS

A Igreja Tabernaacuteculo Batista Pastor Paulo Hatcher

PARINTINS

Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio ndash FUNAI

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE

Coordenadora Regional de Educaccedilatildeo de Parintins - CREP

Universidade Estadual do Amazonas ndash CESP

Casa da Sauacutede Indiacutegena

Casa do Iacutendio de Parintins

Escola Aacuteudio Comunicaccedilatildeo Pe Paulo Manna

Diocese de Parintins Pe Henrique Uggeacute

Escola Estadual Brandatildeo de Amorim

Escola Estadual Joatildeo Bosco Ramos de Lima

MAUEacuteS

Secretaria de Estado de Educaccedilatildeo

Secretaria de Educaccedilatildeo Municipal

Casa do estudante indiacutegena Sr Jusivan

Tuxaua da Comunidade de Santa Maria Sr Helito Barbosa

Sr Maxiliano Batista Barros

BARREIRINHA

Secretaria de Educaccedilatildeo Municipal - SEMED

Secretaria de Estado de Educaccedilatildeo

Coordenaccedilatildeo Municipal de Educaccedilatildeo Indiacutegena Sr Santino Lopes

Coordenador da Escola Profa Rosa Cabral Sr Dulcemar F dos Santos

Professora Indiacutegena Satereacute-Maweacute Maria Inez

NHAMUNDAacute

Casa de Sauacutede Indiacutegena - DSEI

Secretaria de Estadual de Educaccedilatildeo

BOA VISTA DO RAMOS

Secretaria de Estado e Educaccedilatildeo

Escola Estadual Princesa Izabel

Comunidade Satereacute-Maweacute

Professora Erly Tereza R Goacutees

URUCARAacute

Poacutelo Base de Urucaraacute ndash DSEI

Distrito Sanitaacuterio Especial Indiacutegena

Lider Indiacutegena Etnia Hexkaryana Caiacutenatilde Mohso

SraMaacuterlucia Kutasa

Enfermeiro SrJonas Pontes

SraDalva H Farias Cantalixto de Melo

SrLuiz Cantalixto de Melo

SAtildeO SEBASTIAtildeO DO UATUMAtilde

Poacutelo Base de Urucaraacute ndash DSEI

Lider Indiacutegena Etnia Hexkaryana Caiacutenatilde Mohso

EPIacuteGRAFE

Matildeos

corpo em movimento

captar e entender

Teu querer teu dizer

Sorrisos laacutegrimas

sentimentos e emoccedilotildees

Libras eacute amor eacute paixatildeo eacute liacutengua

(Marlon Jorge)

RESUMO

Esta pesquisa apresenta o resultado do mapeamento de iacutendios surdos nas comunidades

indiacutegenas Satereacute-Maweacute na microrregiatildeo de Parintins Partindo do levantamento buscou-se

identificar de que forma os iacutendios surdos estabeleciam a comunicaccedilatildeo com seus pares na sua

comunidade Para isso foi utilizado o procedimento metodoloacutegico por meio de entrevistas

abertas com as lideranccedilas indiacutegenas os familiares os professores e gestores escolares e

outros membros das comunidades assim como do proacuteprio iacutendio surdo O processo de anaacutelise

estabelecido para este estudo consistiu no enfoque de natureza linguiacutestica do leacutexico

(vocabulaacuterio) o qual foi registrado por meio de viacutedeos fotos e gravaccedilotildees A partir dos dados

iniciou-se a elaboraccedilatildeo de um minidicionaacuterio triliacutengue nas liacutenguas Satereacute-Maweacuteliacutengua de

sinais portuguecircs escrito a fim de facilitar a comunicaccedilatildeo principalmente no contexto da

comunidade educacional escolar entre os professores e os alunos iacutendios surdos Esta

contribuiccedilatildeo linguiacutestica portanto possibilitou uma nova percepccedilatildeo no processo histoacuterico da

diversidade linguiacutestica para valorizar e respeitar natildeo soacute uma liacutengua a liacutengua oficial do paiacutes

(Portuguecircs) mas tambeacutem a liacutengua natural do povo surdo (Libras) e a liacutengua indiacutegena do povo

Satereacute-Maweacute

Palavras chaves

1Linguiacutestica 2Liacutengua de sinais 3Satereacute-Maweacute 4 Dicionaacuterio

ABSTRACT

This research presents the results of the mapping deaf Indians in indigenous

communities Satereacute-Maweacute in the region of Parintins Starting from the survey we sought to

identify how the deaf Indians established communication with peers in their community For

this methodological procedure through open interviews with indigenous leaders family

members teachers and school administrators and other community members were used as

well as the Indian himself deaf The review process established for this study consisted of

focus linguistic lexicon (vocabulary) which was recorded through videos photos and

recordings From the data we initiated the development of a trilingual Mini Dictionary in

languages Satereacute-Maweacute sign language written Portuguese in order to facilitate

communication especially in the context of school learning community among teachers and

students deaf Indians This linguistic contribution therefore provided a new insight in the

historical process of linguistic diversity to value and respect not only one language the

official language (Portuguese) but also the natural language of deaf people (Libras) and the

indigenous language the people Satereacute-Maweacute

Key Words 1Linguiacutestica 2Liacutengua signal 3Satereacute-Maweacute 4Dictionary

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 13

1 CONSIDERACcedilOtildeES DOS ESTUDOS LINGUIacuteSTICOS DA LIacuteNGUA

BRASILEIRA DE SINAIS

17

11 Liacutengua de Sinais como Liacutengua Natural 20

12 Liacutengua Brasileira de Sinais 22

13 Liacutenguas de Sinais Indiacutegenas pesquisadas no Brasil 26

131 Liacutengua de Sinais Urubu-Kaapor 28

132 Liacutengua de Sinais Emergentes 29

1321 Realidade do Contexto educacional escolar do indiacutegena surdo 31

2 HISTOacuteRIA DO POVO INDIacuteGENA SATEREacute-MAWEacute CULTURA E

LIacuteNGUA

34

21 Breve Relato Histoacuterico 35

22 Classificaccedilatildeo da Liacutengua Satereacute-Maweacute 36

221 Contexto educacional escolar entre os Satereacute-Maweacute 38

3 METODOLOGIA IMPLEMENTADA NA PESQUISA 42

31 Aacuterea e localidade da pesquisa 42

32 Estrateacutegias gerais para a realizaccedilatildeo da coleta de dados 43

33 Procedimentos da coleta de dados 43

34 Articulaccedilatildeo local 44

35 Abordagem ao objeto da pesquisa 44

4 MAPEAMENTO DOS INDIOS SURDOS DA COMUNIDADE SATEREacute-

-MAWEacute NAS MICRORREGIOtildeES DE PARINTINS E SUA REALIDADE

EDUCACIONAL ESCOLAR

45

41 Mapeamento da existecircncia dos iacutendios surdos na microrregiatildeo de Parintins 46

411 Histoacuterico de Parintins 46

412 Histoacuterico de Barreirinha 52

413 Histoacuterico de Maueacutes 53

414 Histoacuterico de Boa Vista do Ramos 55

415 Histoacuterico de Nhamundaacute 56

42 Realidade linguiacutestica e educacional dos iacutendios surdos encontrados na etnia

Satereacute-Maweacute

59

43 Inventaacuterio de gestos da linguagem caseira dos surdos Satereacute-Maweacute 66

431 Os sinais caseiros dos indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute 66

432 Municiacutepio de Parintins 66

4321 O primeiro surdo 67

4322 O segundo surdo 67

4323 O terceiro surdo 68

44 O indiacutegena surdo da comunidade de Ponta Alegre do Municiacutepio de Barreirinha 70

45 Os indiacutegenas surdos do Municiacutepio de Maueacutes 73

451 O primeiro surdo da Comunidade de Santa Maria 75

452 O segundo surdo da Comunidade de Santa Maria 79

5 ICONICIDADE E ARBITRARIEDADE NA CRIACcedilAtildeO DOS SINAIS

CASEIROS

83

6 INTERVENCcedilAtildeO E CONTRIBUICcedilAtildeO LINGUIacuteSTICA DO PROFESSOR

SURDO

90

61 Libras e Liacutengua Satereacute-Maweacute intercacircmbio de construccedilatildeo sociocultural-

linguiacutestico

94

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 97

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 99

ANEXOS

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 Croqui da aacuterea e localidade da pesquisa

FIGURA 2 Sinais caseiros utilizado pela crianccedila de 5 anos

FIGURA 3 Sinais caseiros utilizados pelo aluno da comunidade de Ponta Alegre

Barreirinha

FIGURA 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa

Maria (30 sinais coletados)

FIGURA 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo idoso na comunidade de Santa Maria

FIGURA 6 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos que se refere agrave

arbitrariedade

FIGURA 7 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos aos quais se referem a

iconicidade

FIGURA 8 Caracteriacutesticas da imagem em Liacutengua de Sinais Satereacute-Maweacute dos objetos

aos quais se referem agrave iconicidade

FIGURA 9 Encontro da crianccedila surda Satereacute-Maweacute com o professor surdo

FIGURA 10 Contato com aluno Satereacute-Maweacute surdo no ambiente escolar

FIGURA 11 Contato com o aluno surdo Satereacute-Maweacute na Escola Estadual Brandatildeo de

Amorim

FIGURA 12 Em viagem para aacuterea indiacutegena no Rio Marau

FIGURA 13 Apresentaccedilatildeo do projeto de pesquisa agraves lideranccedilas indiacutegenas na

comunidade

FIGURA 14 Desenvolvimento de oficina de Libras com professores indiacutegenas

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Mapeamento da existecircncia de iacutendios surdos nas respectivas comunidades

indiacutegenas ou zona urbana da microrregiatildeo de Parintins

Tabela 2 11 Sinais caseiros utilizados pela crianccedila indiacutegena surda de 5 anos e seus

familiares

Tabela 3 13 Sinais caseiros coletados e utilizados pelo aluno da comunidade de

Ponta Alegre

Tabela 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa

Maria

Tabela 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais antigo residente isolado na

comunidade de Santa Maria no Rio Marau ( 18 sinais coletados)

56

66

69

73

77

13

INTRODUCcedilAtildeO

Todo cidadatildeo tem o direito de participar na vida poliacutetica social e econocircmica de um

paiacutes Neste contexto inclui-se o cidadatildeo surdo Infelizmente a histoacuteria relata que no passado

os sujeitos surdos1 eram colocados agraves margens da sociedade em todos seus aspectos social

poliacutetico econocircmico cultural linguiacutestico e educacional

Entretanto ao longo da histoacuteria os surdos com a participaccedilatildeo de ouvintes na luta

incessante pelos seus direitos muitas conquistas foram alcanccediladas Entre estas estaacute o direito

de ter sua proacutepria liacutengua a Liacutengua Brasileira de Sinais-LIBRAS A Lei nordm 10436 de 2002 a

qual a reconhece como sistema linguiacutestico de natureza visual-motora com estrutura

gramatical proacutepria constituindo-se um sistema linguiacutestico de transmissatildeo de ideias e fatos

oriundos da comunidade de pessoas surdas do Brasil Conforme Saacute (2006) no Brasil as

comunidades urbanas usam a ldquoliacutengua de sinais brasileirardquo ou simplesmente ldquoliacutengua de sinaisrdquo

Vale ressaltar que a Liacutengua de Sinais segundo Strobel (2008) eacute um aspecto

fundamental da cultura surda2 parte do artefato cultural linguiacutestico

3 do povo surdo e constitui

1 Na aacuterea de pesquisa vinculada a perspectiva socioantropoloacutegica existe uma clara diferenciaccedilatildeo entre a opccedilatildeo

de escrever surdo com letra minuacutescula ou maiuacutescula conforme explica Andreis-Witkoski (2011) ldquoapesar de

nas uacuteltimas deacutecadas ter sido estabelecido uma distinccedilatildeo entre a expressatildeo ldquoSurdordquo com letra maiuacutescula para

identificar uma categoria cultural e ldquosurdordquo com minuacutescula em referecircncia a deficiecircncia auditiva nesta Tese natildeo

se utiliza este tipo de marcaccedilatildeo Compartilha-se da concepccedilatildeo exposta por Owen Wrigley (1996 p53) quando

adverte que esta diferenciaccedilatildeo constitui-se em ldquoum dualismo riacutegido-bom Surdo mau surdo ndash que pouco faz para

ajudar os indiviacuteduos em suas vidas diaacuterias [sem] ajudar a clarear um alcance maior de estrateacutegias colocadas pelos

indiviacuteduos lidando com a exclusatildeo e as muitas faces da opressatildeo em suas rotinas Em termos simples a

dicotomia de bdquoSs‟ estaacute tatildeo cruelmente composta que embora inicialmente seja uacutetil ela agora serve para silenciar

o alcance total das experiecircncias dos sSurdosrdquo (2011 p13) Logo opta-se nesta dissertaccedilatildeo o uso da expressatildeo

ldquosurdordquo (minuacutescula) que refere-se aos ldquosurdordquo enquanto pessoas que pela impossibilidades formam uma

minoria diferente com caracteriacutesticas linguiacutesticas cognitivas culturais e comunitaacuterias especiacuteficas (SAacute 2006

p107) 2 Cultura Surda ldquoeacute o jeito de o surdo entender o mundo e de modificaacute-lo a fim de se tornaacute-lo acessiacutevel e habitaacutevel

ajustando-os com as suas percepccedilotildees visuais que contribuem para a definiccedilatildeo das identidades surdas e das

ldquoalmasrdquo das comunidades surdas Isto significa que abrange a liacutengua as ideacuteias as crenccedilas os costumes e os

haacutebitos de povordquo (STROBEL2008 p 24) 3Conforme Strobel (2008 p37) o que seriam artefatos culturais linguiacutesticos Ao referirmos ldquoartefatordquo

pensamos habitualmente no significado de objetos ou materiais produzidos pelos grupos culturais Realmente de

fato eacute uma forma material de expressar uma determinada cultura poreacutem tambeacutem podem incluir ldquotudo o que se

vecirc e senterdquo quando se estaacute em contato com a cultura de uma comunidade a exemplo vestuaacuterios tradiccedilotildees

crenccedilas valores e normas etc Ou seja no campo dos Estudos Culturais o conceito de ldquoartefatosrdquo natildeo se referem

apenas a materialismo culturais como tambeacutem naquilo que na cultura constitui produccedilotildees do sujeito que tem seu

proacuteprio modo de ser ver entender e transformar o mundo Logo um dos artefatos culturais que ilustram a

cultura do povo surdo eacute o linguiacutestico a liacutengua de sinais que eacute um aspecto fundamental da cultura surda sendo

uma das principais marcas da identidade surda

14

uma das principais marcas da identidade do ser surdo Incluem-se tambeacutem os ldquosinais

emergentesrdquo ou ldquosinais caseirosrdquo dos sujeitos surdos isolados de comunidades surdas no caso

dos surdos das zonas rurais e dos surdos iacutendios Estes surdos embora natildeo pertenccedilam agraves

mesmas comunidades se identificam com o povo surdo4 pois compartilham as mesmas

peculiaridades constroem sua formaccedilatildeo de mundo por meio de artefato cultural visual5

independentemente do grau linguiacutestico que possuem os quais podem ser os gestos caseiros

denominados tambeacutem como sinais emergentes Nesta perspectiva teoacuterica soacutecioantropoloacutegica

enfoca-se como o objeto da pesquisa o sujeito surdo indiacutegena ou seja o iacutendio surdo

Antes de prosseguir com a abordagem mencionada faz-se necessaacuterio destacar que

assim como o povo surdo o povo indiacutegena tambeacutem traccedilou diversas lutas na trajetoacuteria para

reconhecimento dos seus direitos O reconhecimento dos direitos dos povos indiacutegenas no

mundo contemporacircneo avanccedilou muito em relaccedilatildeo haacute algumas deacutecadas passadas De acordo

com Lucinda (apud Saacute 2006) em consenso geral nos debates da Comissatildeo Educaccedilatildeo

Cultura e Desporto que antecedem a elaboraccedilatildeo do texto da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica

Federativa do Brasil de 1988 tanto a liacutengua de sinais como as liacutenguas indiacutegenas deveriam ser

consideradas no texto da Constituiccedilatildeo como liacutenguas maternas Assim como resultado o

Referencial Curricular Nacional para Escolas Indiacutegenas (1998 p31) declara que ldquoA

Constituiccedilatildeo Federal aleacutem de perceber o iacutendio como pessoa com direitos e deveres como

qualquer outro cidadatildeo brasileiro o reconhece como membro de uma comunidade e de um

grupo isto eacute como membro de uma coletividade que eacute titular de direitos coletivos e

especiaisrdquo Ou seja reconhece para os iacutendios o direito agrave praacutetica de suas formas culturais

proacuteprias E no tiacutetulo VIII ldquoDa Ordem Socialrdquo conteacutem um capiacutetulo denominado ldquoDos Iacutendiosrdquo

onde se diz que ldquosatildeo reconhecidos aos iacutendios a sua organizaccedilatildeo social costumes liacutenguas

crenccedilas e tradiccedilotildees []rdquo (ibid p31)

Em meio a essa diversidade linguiacutestica que caracteriza o Brasil como sendo um paiacutes

pluriliacutengue estatildeo situados os ldquosurdos brasileirosrdquo que tecircm sua proacutepria liacutengua reconhecida

oficialmente a Liacutengua de Sinais Logo existem tambeacutem ldquoiacutendios surdosrdquo da etnia Satereacute-

4Quando referimos ldquopovo surdordquo estamos falando ldquode sujeitos surdos que natildeo habitam no mesmo local mas

que estatildeo ligados por uma origem por um coacutedigo de eacutetico de formaccedilatildeo visual independente do grau de evoluccedilatildeo

linguiacutestica tais como a liacutengua de sinais a cultura surda e quaisquer outros laccedilosrdquo (ibid p30) 5Perlin e Miranda (2003) complementam ldquoExperiecircncia visual significa a utilizaccedilatildeo visual em (substituiccedilatildeo total

agrave audiccedilatildeo) como meio de comunicaccedilatildeo Desta experiecircncia visual surge a cultura surda representada pela liacutengua

de sinais pelo modo diferente de ser de se expressar de conhecer o mundo de entrar nas artes no

conhecimento cientiacutefico e acadecircmicordquo (apud STROBEL 2008 p39)

15

Maweacute Qual sua forma de se comunicar Existe uma ldquoLiacutengua de Sinaisrdquo especifica do iacutendio

surdo

Diante das questotildees levantadas surgiu entatildeo agrave necessidade de realizar uma pesquisa

no campo da linguiacutestica na perspectiva dos estudos surdos6 voltado especificamente para o

iacutendio surdo da etnia Satereacute-Maweacute Foram traccedilados os seguintes objetivos i) mapear os iacutendios

surdos na microrregiatildeo de Parintins ii) identificar de que forma o iacutendio surdo estabelece a

comunicaccedilatildeo com sua comunidade especificamente no acircmbito educacional ou se utilizam

liacutenguas de sinais da comunidade local iii) registrar a forma de comunicaccedilatildeo no dia a dia do

iacutendio surdo nas comunidades indiacutegenas a partir dos estudos linguiacutesticos da Liacutengua de Sinais

dos grupos existentes e sua relaccedilatildeo com a comunidade local iv) promover o intercacircmbio entre

a Liacutengua de Sinais dos iacutendios surdos mapeados da etnia Satereacute-Maweacute e a LIBRAS da

comunidade surda do Municiacutepio de Parintins - Amazonas

Este trabalho conteacutem a seguinte divisatildeo primeiro capiacutetulo - apresenta consideraccedilotildees

linguiacutesticas fundamentais aos estudos surdos onde explicita o reconhecimento da Liacutengua de

Sinais como elemento cultural linguiacutestico do povo surdo abordando tambeacutem a oficializaccedilatildeo

da Liacutengua Brasileira de Sinais e as Liacutenguas Indiacutegenas pesquisadas no Brasil como a realidade

do contexto escolar linguiacutestico na comunidade indiacutegena segundo capiacutetulo - relata a histoacuteria

do povo indiacutegena Satereacute-Maweacute sua principal expressatildeo cultural sua liacutengua e seu respectivo

contexto educacional escolar terceiro capiacutetulo - apresenta os procedimentos metodoloacutegicos

utilizados na operacionalizaccedilatildeo da pesquisa e o capiacutetulo quatro - apresenta a anaacutelise do

resultado do Mapeamento dos iacutendios surdos da etnia Satereacute-Maweacute na microrregiatildeo de

Parintins Neste satildeo tambeacutem apresentadas as relaccedilotildees socioculturais-linguiacutesticas de iacutendios

surdos Satereacute-Maweacute com as contribuiccedilotildees linguiacutesticas do professor surdo aos Iacutendios surdos na

comunidade Satereacute-Maweacute estabelecendo assim as relaccedilotildees culturais na construccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo linguiacutestica LIBRAS e Liacutengua Satereacute-Maweacute como um intercacircmbio de construccedilatildeo

sociocultural

Desse modo a pesquisa tem como premissa baacutesica primeiramente mapear os iacutendios

surdos da etnia Satereacute-Maweacute e assim promover um intercacircmbio oferecendo contribuiccedilotildees

linguiacutesticas fundamentadas na pesquisa do leacutexico (vocabulaacuterio) da etnia referida com a Libras

(Liacutengua Brasileira de Sinais) e a Liacutengua Portuguesa por meio da elaboraccedilatildeo de um

6 Conforme Skliar eacute o campo de pesquisa em educaccedilatildeo onde as identidades a liacutenguas a histoacuteria a cultura da

comunidade surda satildeo focalizados e entendidos a partir da diferenccedila a partir do seu reconhecimento poliacutetico

(2001p29)

16

minidicionaacuterio triliacutengue Assim espera-se contribuir para a iniciaccedilatildeo dos indiacutegenas surdos da

etnia Satereacute-Maweacute na Liacutengua Brasileira de Sinais dando a eles um dos direitos universais do

ser humano que eacute direito a uma liacutengua Tambeacutem deseja-se contribuir para a iniciaccedilatildeo dos

indiacutegenas surdos da etnia Satereacute-Maweacute na Liacutengua Brasileira de Sinais dando a eles um dos

direitos universais do ser humano que eacute direito a uma liacutengua proacutepria

17

1 CONSIDERACcedilOtildeES DOS ESTUDOS LINGUIacuteSTICOS DA LIacuteNGUA BRASILEIRA DE SINAIS

A Linguiacutestica conhecida hoje como a ciecircncia que estuda a linguagem humana eacute uma

ciecircncia recente poreacutem com um saber antigo Passou a se impor como ciecircncia agrave medida que

demonstrou seu meacutetodo e seu objeto de estudo Eacute definida como estudo cientiacutefico que visa

descrever ou explicar a linguagem verbal humana (ORLANDI 1999)

A Linguiacutestica diferencia-se da gramaacutetica tradicional normativa na medida que natildeo

tem como objetivo ditar regras de correccedilatildeo para uso da linguagem Seu interesse eacute a liacutengua

como mateacuteria de reflexatildeo (QUADROS e KARNOPP 2004) Segundo as pesquisas nesta

aacuterea Vandresen (1988 apud QUADROS 2007 p 83) tem-se ldquoa linguiacutestica contrastiva como

uma subaacuterea da linguiacutestica geral interessada em apontar as similaridades e diferenccedilas

estruturais entre a liacutengua materna (de um grupo de alunos) e uma liacutengua estrangeirardquo

Na taxonomia de similaridades e contrastes entre as liacutenguas existe uma seacuterie de

regularidades como haacute similaridades comportamentais que natildeo precisam ser explicitadas

porque constituem a base comum das liacutenguas naturais e o compartilhamento dessas

similaridades poderaacute servir como base para inferecircncias quanto agraves formas da liacutengua estrangeira

e quanto agraves diferenccedilas por serem sistemaacuteticas podem admitir tratamento inferencial e

heuriacutestico (KATO 1988 apud QUADROS 2007)

Segundo Nascimento (2009) a vitalidade da liacutengua depende de sua utilizaccedilatildeo efetiva

tanto em escala nacional quanto em escala mundial Quanto mais uma liacutengua eacute utilizada mais

ela eacute viva e inversamente quanto menos eacute utilizada mais ela eacute ameaccedilada de extinccedilatildeo Assim

sendo eacute o uso social da liacutengua que determina seu grau de revitalizaccedilatildeo

Por essas razotildees a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Linguiacutesticos (BARCELONA

1996 p 3) tem como ponto de partida

[] as comunidades linguiacutesticas e natildeo os Estados e inscreve-se no quadro do

reforccedilo das instituiccedilotildees internacionais capazes de garantir um desenvolvimento

duradouro e equitativo para toda a humanidade e tem como finalidade favorecer um

quadro de organizaccedilatildeo poliacutetica da diversidade linguiacutestica baseado no respeito na

convivecircncia e nos benefiacutecios reciacuteprocos

Em seu TITULO PREacuteVIO tem como conceitos

18

Artigo 1ordm

1 Esta Declaraccedilatildeo entende por comunidade linguiacutestica toda a sociedade humana

que radicada historicamente num determinado espaccedilo territorial reconhecido ou

natildeo se identifica como povo e desenvolveu uma liacutengua comum como meio de

comunicaccedilatildeo natural e de coesatildeo cultural entre os seus membros A denominaccedilatildeo

liacutengua proacutepria de um territoacuterio refere-se ao idioma da comunidade historicamente

estabelecida neste espaccedilo [grifo nosso]

2 Esta Declaraccedilatildeo parte do princiacutepio de que os direitos linguiacutesticos satildeo

simultaneamente individuais e colectivos e adapta como referecircncia da plenitude dos

direitos linguiacutesticos o caso de uma comunidade linguiacutestica histoacuterica no respectivo

espaccedilo territorial entendendo-se este natildeo apenas como a aacuterea geograacutefica onde esta

comunidade vive mas tambeacutem como um espaccedilo social e funcional indispensaacutevel ao

pleno desenvolvimento da liacutengua Eacute com base nesta premissa que se podem

estabelecer em termos de uma progressatildeo ou continuidade os direitos que

correspondem aos grupos linguiacutesticos mencionados no ponto 5 deste artigo e os das

pessoas que vivem fora do territoacuterio da sua comunidade []

Em referecircncia ao Artigo 3ordm

- o direito ao ensino da proacutepria liacutengua e da proacutepria cultura

- o direito a dispor de serviccedilos culturais

- o direito a uma presenccedila equitativa da liacutengua e da cultura do grupo nos meios de

comunicaccedilatildeo

- o direito a serem atendidos na sua liacutengua nos organismos oficiais e nas relaccedilotildees

socioeconomicas []

Em referecircncia ao Artigo 5ordm

Esta Declaraccedilatildeo baseia-se no princiacutepio de que os direitos de todas as comunidades

linguiacutesticas satildeo iguais e independentes do seu estatuto juriacutedico ou poliacutetico como

liacutenguas oficiais regionais ou minoritaacuterias Designaccedilotildees tais como liacutengua regional ou

minoritaacuteria natildeo satildeo usadas neste texto porque apesar de em certos casos o

reconhecimento como liacutengua minoritaacuteria ou regional poder facilitar o exerciacutecio de

determinados direitos a utilizaccedilatildeo destes e doutros adjetivos serve frequentemente

para restringir os direitos de uma comunidade linguiacutestica []

Em referecircncia ao Artigo 23ordm

1 O ensino deve contribuir para fomentar a capacidade de auto-expressatildeo

linguiacutestica e cultural da comunidade linguiacutestica do territoacuterio onde eacute

ministrado[grifo nosso]

2 O ensino deve contribuir para a manutenccedilatildeo e o desenvolvimento da liacutengua falada

pela comunidade linguiacutestica do territoacuterio onde eacute ministrado

3 O ensino deve estar sempre ao serviccedilo da diversidade linguiacutestica e cultural e das

relaccedilotildees harmoniosas entre as diferentes comunidades linguiacutesticas do mundo inteiro

4 No quadro dos princiacutepios anteriores todos tecircm direito a aprender qualquer liacutengua

Em referecircncia aos Artigos 26ordm a 28ordm Artigo 26ordm

Todas as comunidades linguiacutesticas tecircm direito a um ensino que permita a todos os

seus membros adquirirem o perfeito conhecimento da sua proacutepria liacutengua com as

diversas capacidades relativas a todos os domiacutenios de uso da liacutengua habituais bem

como o melhor conhecimento possiacutevel de qualquer outra liacutengua que desejem

aprender

Artigo 27ordm

Todas as comunidades linguiacutesticas tecircm direito a um ensino que permita aos seus

membros o conhecimento das liacutenguas ligadas agrave sua proacutepria tradiccedilatildeo cultural tais

como as liacutenguas literaacuterias ou sagradas usadas antigamente como liacutenguas habituais

da sua comunidade

Artigo 28ordm

Todas as comunidades linguiacutesticas tecircm direito a um ensino que permita aos seus

membros adquirirem um conhecimento profundo do seu patrimocircnio cultural (histoacute-

ria e geografia literatura e outras manifestaccedilotildees da proacutepria cultura) assim como o

melhor conhecimento possiacutevel de qualquer outra cultura que desejem conhecer

(BARCELONA 1996 p 4 a 14)

19

Assim nas Disposiccedilotildees Finais no Plenaacuterio da Associaccedilatildeo Internacional para o

Desenvolvimento da Comunicaccedilatildeo Intercultural recomenda agraves Naccedilotildees Unidas que tomem as

medidas necessaacuterias agrave adopccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de uma Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Linguiacutesticos considerando a Convenccedilatildeo nuacutemero 169 da Organizaccedilatildeo Internacional do

Trabalho de 26 de Junho de 1989 relativa aos povos indiacutegenas em paiacuteses independentes que

a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Colectivos dos Povos realizada em Maio de 1990 em

Barcelona declara que todos os povos tecircm direito a exprimir e a desenvolver a sua cultura a

sua liacutengua e as suas normas de organizaccedilatildeo e para o fazerem a dotarem-se de estruturas

poliacuteticas educacionais de comunicaccedilatildeo e de administraccedilatildeo puacuteblica proacuteprias em quadros

poliacuteticos diferentes Considerando tambeacutem a Declaraccedilatildeo Final da Assembleia Geral da

Federaccedilatildeo Internacional de Professores de Liacutenguas Vivas aprovada em Peacutecs (Hungria) em 16

de Agosto de 1991 recomenda-se tambeacutem que os direitos linguiacutesticos sejam consagrados

direitos fundamentais

Neste contexto Nascimento (2009 p 25) pontua

Como princiacutepio eacutetico qualquer poliacutetica de liacutenguas deveraacute trabalhar a unidade e a

diversidade Natildeo se trata de poacutelos de contradiccedilatildeo mas de eixos de transiccedilatildeo A

unidade eacute uma razatildeo do Estado e a diversidade ou variedade eacute a mateacuteria linguiacutestica

proacutepria da comunidade pois reflete a liacutengua em uso ou seja as linguagens verbais

por meio das quais os indiviacuteduos se comunicam A unidade eacute resguardada pelo

padratildeo oficializado em um modelo de gramaacutetica e a variedade se faz representar nas

diversas gramaacuteticas praacuteticas e pragmaacuteticas de um Estado linguiacutestico

Quadros e Karnopp (2004) ainda explicam que a linguiacutestica parte de pressupostos

baacutesicos que determinam as investigaccedilotildees Sendo um dos mais importantes eacute de que a

linguagem eacute restringida por determinados princiacutepios ou seja ldquoregrasrdquo que fazem parte do

conhecimento humano das liacutenguas (falada ou sinalizada) da formaccedilatildeo de palavras da

construccedilatildeo das sentenccedilas e da construccedilatildeo dos textos A partir deste pressuposto da

universalidade de tais princiacutepios as investigaccedilotildees linguiacutesticas objetivam estudar os aspectos

especiacuteficos de cada liacutengua os quais revelam as caracteriacutesticas da linguagem humana A

exemplo o inglecircs o portuguecircs a Liacutengua de Sinais Americana a Liacutengua Brasileira de Sinais

e outras Embora apresentem diferenccedilas entre as liacutenguas agraves estruturas satildeo comuns que por

sua vez interessam agraves investigaccedilotildees linguiacutesticas na medida em que eacute a ciecircncia que objetiva

por explicar a natureza da linguagem humana

A partir dessas concepccedilotildees entendemos que os seres humanos estabelecem relaccedilotildees

do mais simples ao mais complexo com o outro por meio de gestos olhares e contato seja

por meio de sons Tudo isso caracteriza a linguagem humana Observa-se que a ldquolinguagemrdquo

20

eacute um termo usado pelas pessoas com referecircncia agrave linguagem em geral ou seja em uma

variedade de sentidos para denominar sistemas de comunicaccedilatildeo linguagem musical

linguagem corporal linguagem entre animais etc

No que concerne agrave definiccedilatildeo do termo liacutengua Quadros e Karnopp (2004) encontraram

uma seacuterie de definiccedilotildees de liacutengua que apontam para sua diferenciaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao termo

linguagem Estas fornecem subsiacutedios para a indicaccedilatildeo de propriedades consideradas pela

linguiacutestica essenciais agraves liacutenguas naturais sendo que uma delas eacute dada por Saussure que

afirma

Liacutengua natildeo se confunde com a linguagem eacute somente uma parte determinada

essencial dela indubitavelmente Eacute ao mesmo tempo um produto social da

faculdade de linguagem e um conjunto de convenccedilotildees necessaacuterias adotadas pelo

corpo social para permitir o exerciacutecio dessa faculdade nos indiviacuteduos (QUADROS e

KARNOPP 2004 p24)

Portanto entende-se como liacutengua natural

uma liacutengua que foi criada e eacute utilizada por uma comunidade especiacutefica de usuaacuterios

transmitida de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo e que muda ndash tanto estrutural como

funcionalmente ndash com o passar do tempo Ora qualquer liacutengua pode ser considerada

natural independentemente da modalidade que utilize (SAacute 2006 p 134)

Assim a liacutengua natural eacute tratada enquanto sistema linguiacutestico altamente desenvolvido

apresentando as caracteriacutesticas citadas por Quadros e Karnopp (2004 p 25-28) de

flexibilidade versatilidade arbitrariedade descontinuidade criatividade produtividade dupla

articulaccedilatildeo padratildeo de organizaccedilatildeo dos elementos e dependecircncia estrutural Logo conclui-se

que tais caracteriacutesticas satildeo especiacuteficas da faculdade da linguagem humana

11 Liacutengua de Sinais como Liacutengua Natural

A Liacutengua de Sinais eacute uma liacutengua natural criada pelas comunidades surdas Segundo

Skliar (1998 p26) ldquoTodas as crianccedilas surdas podem adquirir a Liacutengua de Sinais desde que

participem das interaccedilotildees quotidianas com a comunidade surda como acontece com qualquer

outra crianccedila na aquisiccedilatildeo de uma liacutengua naturalrdquo Skliar esclarece que liacutengua ldquonaturalrdquo natildeo

se refere a uma espontaneidade bioloacutegica mas como liacutengua que foi criada e eacute utilizada por

uma comunidade especiacutefica de usuaacuterios que transmite de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo e que muda com

o passar do tempo tanto estruturalmente como funcionalmente (IDEM p27)

As Liacutenguas de Sinais satildeo diferentes em cada comunidade com caracteriacutesticas das

liacutenguas orais com estruturas gramaticais proacuteprias que as distingue dos demais sistemas de

21

comunicaccedilatildeo Para Quadros e Karnopp (2004 p 30) ldquoAs liacutenguas de sinais satildeo portanto

consideradas pela linguiacutestica como liacutenguas naturais ou como um sistema linguiacutestico legiacutetimo e

natildeo como um problema do surdo ou como uma patologia da linguagemrdquo7

Para o reconhecimento das Liacutenguas de Sinais como liacutenguas naturais Ramos (2013 p

8) destaca o conceito ldquonaturalrdquo em oposiccedilatildeo a ldquocoacutedigo e linguagemrdquo e a avaliaccedilatildeo apresenta

as semelhanccedilas existentes entre as mesmas e as liacutenguas orais Sendo que uma dessas

semelhanccedilas na linha saussuriana eacute a ldquoexistecircncia de unidades miacutenimas formadoras de

unidades complexas pode ser observada em todas as Liacutenguas de Sinais espalhadas pelo

mundo possuidoras dos niacuteveis fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico e pragmaacuteticordquo

As liacutenguas de sinais apresentam ldquoregistros diversos (por categoria profissional status social

idade niacutevel escolar etc) aleacutem de dialetos regionais tambeacutem referendam as semelhanccedilas com

as liacutenguas oraisrdquo (IDEM p 8)

Estudos aprofundados sobre a Liacutengua de Sinais iniciaram a partir da deacutecada de 1950

com o estudioso da linguiacutestica o americano William Stokoe o qual percebeu e provou que a

Liacutengua de Sinais

[] satisfazia todos os criteacuterios linguiacutesticos de uma liacutengua genuiacutena no leacutexico na

sintaxe na capacidade de gerar um nuacutemero infinito de proposiccedilotildees [] Stokoe

convenceu-se de que os sinais natildeo eram figuras e sim complexos siacutembolos abstratos

com uma estrutura interna complexa Foi entatildeo o primeiro a buscar uma estrutura a

analisar os sinais dissecaacute-los procurar as partes constituintes Desde o comeccedilo ele

tentou demonstrar que cada sinal possuiacutea pelo menos trecircs partes independentes ndash

7 Sobre a surdez temos duas abordagens segundo explica Skliar a cliacutenico terapecircutica e a soacutecio-antropoloacutegica

A visatildeo soacutecioantropoloacutegica descreve a surdez em termos contraacuterios agraves noccedilotildees de patologia e de deficiecircncia

(1998 p10) Durante o seacuteculo passado construi-se o imaginaacuterio de que o surdo era um deficiente que

necessitava falar Segundo Casarin (1996 p2) ldquoNesse discurso deacuteficit doenccedila patologia anomalia implicam

apenas a possibilidade de sequumlecircncia diagnoacutestico tratamento-cura caracteriacutesticas da abordagem meacutedicardquo [] Tal

concepccedilatildeo influecircnciou outras aacutereas do conhecimento inclusive na educaccedilatildeo sobre a forma de perceber o surdo

Cesarian ainda explica que a partir daiacute foram assimilando o imaginaacuterio de que a surdez era uma doenccedila e que o

surdo por natildeo falar era um deficiente que precisava ser curado construindo entre as aacutereas de tratamento um

modelo terapecircutico para o deficiente auditivo Apoacutes as influecircncias da medicina na educaccedilatildeo dos surdos o

modelo cliniacuteco-terapecircutico passa a impor propostas educativas do oralismo dando continuidade agora na aacuterea

educacional ao tratamento do deficiente o mais cedo possivel na escola a fim que ele se enquadre ao modelo

normal modelo ouvinte Logo as escolas apresentavam como instituiccedilotildees de reeducaccedilatildeo da fala desenvolvendo

atividades pedagoacutegicas que tinham como objetivo o treinamento e exerciacutecios com fins a trazer o surdo o mais

possiacutevel do ldquonormalrdquo Perde-se assim muito tempo no processo de ensino aprendizado do sujeito surdo levando

a um fracasso escolar Surge entatildeo a nova concepccedilatildeo nomeada como soacutecio-antropoloacutegica de surdez totalmente

oposta agrave anterior Essa concepccedilatildeo parte das capacidades do sujeito quando considera a liacutengua de sinais como

melhor garantia para o desenvolvimento normal do surdo Esta nova concepccedilatildeo traz a valorizaccedilatildeo da lingua de

sinais e como consequecircncia o reconhecimento das especificidade culturais das comunidades surdas Estudos

feitos por linguiacutesticas observaram o desempenho escolar de pessoas surdas que se comunicam desde a infacircncia

por meio da Liacutengua de Sinais e que demostraram ganhos significativos em divesas aacutereas do desenvolvimento

humano Deixando claro a necessidade do uso da Liacutengua de Sinais como liacutengua natural da pessoa surda (1996

p 3)

22

localizaccedilatildeo configuraccedilatildeo das matildeos e movimento executado (anaacuteloga aos fonemas

da fala) ndash e que cada parte apresentava um nuacutemero limitado de combinaccedilotildees []

(SACKS 1998 p 88-89)

Segundo Ramos (2013 p 9) em 1988 o venezuelano Saacutenchez fez pesquisas sobre as

liacutenguas de sinais e os resultados apresentou ao educador francecircs Jean Foucambert No debate

sobre suas pesquisas ldquosurgiu agrave proposta de um tipo de educaccedilatildeo que privilegiasse a liacutengua

natural da comunidade surda - a Liacutengua de Sinais Venezuelana e a escrita da liacutengua da

comunidade oral o Espanholrdquo Um dos primeiros princiacutepios que lanccedilou a base para a que a

liacutengua de sinais fosse reconhecida como liacutengua natural foi descrita por Foucambert (RAMOS

2013 p 10)

Natildeo soacute os surdos mas toda e qualquer crianccedila pode aprender a liacutengua escrita sem

basear-se na oral porque satildeo independentes Em segundo lugar chegou-se agrave

afirmaccedilatildeo de que a liacutengua de sinais eacute uma liacutengua natural e que os surdos satildeo uma

comunidade linguiacutestica minoritaacuteria com direito a desenvolver sua cultura proacutepria

dentro da cultura majoritaacuteria O fato de a Liacutengua de Sinais cumprir uma seacuterie de

requisitos que todas as liacutenguas naturais possuem - espanhol portuguecircs alematildeo

inglecircs polonecircs a criatividade eacute um deles - pode-se sempre dizer alguma coisa

nova Outro requisito eacute a combinaccedilatildeo de partiacuteculas natildeo significativas que usadas de

certa maneira criam significaccedilatildeo [] Com 30 40 configuraccedilotildees da matildeo podem-se

transmitir milhares de sinais significativos como os fonemas da liacutengua oral A

liacutengua de sinais que como as liacutenguas nacionais eacute diferente em cada paiacutes e ateacute em

regiotildees dos paiacuteses possui aleacutem do mais uma gramaacutetica toda proacutepria organizada e

complexa e nos permite transmitir qualquer coisa [] Com ela pode-se transmitir

criar e recriar o que se quiser poesia romance filosofia E pode-se ateacute formular

ideacuteias com duplo sentido ou mentir que eacute outra caracteriacutestica das liacutenguas naturais

Por meio das pesquisas e estudos diversos paiacuteses passaram a se dedicar no campo da

linguiacutestica da Liacutengua de Sinais eacute que criou-se a possibilidade do povo surdo lutar pelo seu

reconhecimento enquanto liacutengua na medida em que pode contar com estudos que provam

cientificamente de que as Liacutenguas de Sinais satildeo de fato liacutenguas e natildeo um conjunto de

miacutemica

12 Liacutengua Brasileira de Sinais

O ser humano se expressa atraveacutes da liacutengua e a partir dela estabelece sua cultura

valores e padrotildees sociais Para os surdos brasileiros a Libras estabelece essas condiccedilotildees pois

considera a modalidade visual-espacial e associa caracteriacutesticas sociolinguiacutesticas as funccedilotildees

pragmaacuteticas e discursivas semelhantes agraves liacutenguas orais poreacutem a Liacutengua de Sinais por muito

tempo natildeo foi percebida enquanto estrutura linguiacutestica

23

A LIBRAS como toda Liacutengua de Sinais eacute uma liacutengua de modalidade gestual-visual

uma vez que faz uso para a comunicaccedilatildeo de movimentos gestuais e expressotildees faciais

percebidos pela visatildeo Neste sentido a Revista Feneis Ramos (2002 apud RAMOS 2013 p

7-8) ldquoa Liacutengua Portuguesa eacute uma liacutengua de modalidade oral-auditiva por utilizar como canal

ou meio de comunicaccedilatildeo sons articulados que satildeo percebidos pelos ouvidosrdquo Suas diferenccedilas

estatildeo na utilizaccedilatildeo de canais diferentes e nas estruturas gramaticais de cada liacutengua

Para Campello (2009) historicamente os primeiros estudos da Liacutengua de Sinais

apareceram no seacuteculo XIV exatamente nos anos de 1644 pelo inglecircs Bulwer J B com o livro

de Liacutengua de Sinais Inglesa Chirologia8 on the natural language of the hand com os estudos

destacando as figuras das matildeos e seus significados Menciona tambeacutem que era recompensa

de natureza que os surdos devam se comunicar atraveacutes dos gestos e acreditava firmemente na

ldquonecessidade que opera a Natureza dos homens que nascem Surdos-Mudos que podem

discutir mostrar sinalizar retoricamente por sinaisrdquo (p 13)

Em 1960 W C Stokoe pesquisador inglecircs da Gallaudet University fez uma pesquisa

entre as gramaacuteticas utilizadas pelos surdos em sala de aula e fora dela e os resultados foram

publicados no artigo Sign Language Structure na outline of the visual communication system

of the American Deaf na revista Studies in Linguistics Occassional Papers 8 (CAMPELLO

2009) E eacute a partir destes estudos que Stokoe afirma que a Liacutengua de Sinais eacute liacutengua

Stokoe (1960) ldquopercebeu e comprovou que a liacutengua de sinais atendia a todos os

criteacuterios linguiacutesticos de uma liacutengua genuiacutena no leacutexico na sintaxe e na capacidade de

gerar uma quantidade infinita de setenccedilasrdquo Stokoe observou que os sinais natildeo eram

imagens mas siacutembolos abstratos complexos com uma complexa estrutura interior

[] Comprovou inicialmente inicialmente que cada sinal apresentava pelo menos

trecircs partes independentes (em analogia com os fonemas da fala) ndash a localizaccedilatildeo a

configuraccedilatildeo de matildeos e o movimento ndash e que cada parte possuiacutea um nuacutemero

limitado de combinaccedilotildees [] (QUADROS E KARNOPP 2004 p 30-31)

Os estudos do linguiacutesta representou o primeiro passo para outras pesquisas em relaccedilatildeo

a Liacutengua de Sinais Em diversos paiacuteses pesquisas foram realizadas O Brasil foi um deles

No Brasil no final dos anos de 1970 a proposta da educaccedilatildeo biliacutengue reconhece a

Libras como liacutengua natural portanto deve ser ensinada como primeira liacutengua desde o iniacutecio

da escolarizaccedilatildeo da crianccedila surda e a comunidade surda reconhece o portuguecircs como a liacutengua

oficial do Brasil e deve ser ensinada como segunda liacutengua na forma oral ou escrita

(SLOMSKI 2010)

8 Bulwer (1644) em seu livro esclarece que a quirologia eacute um dicionaacuterio de gestos manuais e quirema eacute um

manual para o uso efetivo do gesto de falar em puacuteblico

24

Segundo Quadros (2009 p144) no entanto a Liacutengua de Sinais comeccedilou a ser

investigada efetivamente nas deacutecadas de 80 e 90 por Ferreira Brito (1986 1995) Felipe

(1992 1993) Quadros (1995 1999) e a aquisiccedilatildeo da Liacutengua Brasileira de Sinais nos anos 90

(Karnopp (1994 1999 Quadros (1995 1997)

Na deacutecada de 1980 a 1990 tem-se um panorama mundial para a abordagem biliacutengue

na educaccedilatildeo de surdos Slomski (2010 p 61) destaca que em 1994 Lucinda Ferreira Brito

passa a utilizar a abreviaccedilatildeo de LIBRAS (Liacutengua Brasileira de Sinais) criada pela comunidade

surda Consequentemente pesquisas estudos e lutas da comunidade surda contribuiacuteram para a

instauraccedilatildeo de uma poliacutetica linguiacutestica da Liacutengua Brasileira de Sinais A que reconhece o

estatuto linguiacutestico legal por meio da Lei 10436 de 24042002

Art 1ordm Eacute reconhecida como meio legal de comunicaccedilatildeo e expressatildeo a Liacutengua

Brasileira de Sinais ndash Libras e outros recursos de expressatildeo e por ela associados

Paraacutegrafo uacutenico Entende-se como Liacutengua Brasileira de Sinais ndash Libras a forma e

comunicaccedilatildeo e expressatildeo em que o sistema linguiacutestico de natureza visual-motora

com estrutura gramatical proacutepria constituem um sistema linguiacutestico de transmissatildeo

de ideias e fatos oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil

[](BRASIL 2007 p 2)

A Liacutengua de Sinais como jaacute mencionado eacute uma liacutengua natural composta por de todos

os componentes agraves liacutenguas orais como gramaacutetica semacircntica pragmaacutetica sintaxe e outros

elementos preenchendo os requisitos cientiacuteficos para ser considerado um sistema linguiacutestico

Conforme Felipe e Monteiro (2004 p23) as Liacutenguas de Sinais satildeo compostas por

signos linguiacutesticos denominados bdquosinais‟ encontrados nos seguintes paracircmetros

Configuraccedilatildeo das Matildeos Ponto de Articulaccedilatildeo Movimento Orientaccedilatildeo Expressatildeo Facial eou

Corporal Estes paracircmetros satildeo requisitos necessaacuterios para que sejam constituiacutedos os sinais

Portanto a Liacutengua de Sinais eacute considerada como liacutengua natural do sujeito surdo

como sua primeira liacutengua-L1 Jaacute a liacutengua majoritaacuteria de um paiacutes no caso do Brasil eacute a

Liacutengua Portuguesa como L2 Partindo do pressuposto que a Liacutengua de Sinais eacute a primeira

liacutengua do surdo a aquisiccedilatildeo da primeira liacutengua pelas crianccedilas surdas deve se dar de forma

natural no contato com surdos sinalizados pertencentes agrave comunidade surda A Liacutengua

Portuguesa por sua vez eacute aprendida de forma sistemaacutetica ou seja precisa ser ensinada por

meio de teacutecnicas especiacuteficas de ensino de segunda liacutengua

A partir desta compreensatildeo as crianccedilas surdas precisam ter a oportunidade do contato

com seus pares Crianccedilas surdas que natildeo tecircm um conviacutevio com surdos por terem nascido

dentro de familias ouvintes que usam a liacutengua oral precisam que os pais familiares

25

oportunizem a elas o mundo essencialmente visual-espacial para conhecer a Liacutengua de

Sinais Sobre a questatildeo Quadros (2005 p30) afirma

As crianccedilas surdas e seus pais ouvintes poderiam compartilhar o bilinguismo liacutengua

portuguesa e liacutengua de sinais brasileira e ir aleacutem descobrindo os vieses das culturas

e identidade que se entrecruzam [] Assim as crianccedilas surdas precisam ter acesso

agrave liacutengua de sinais com sinalizantes fluentes desta liacutengua muito cedo Estes

sinalizantes satildeo pessoas que normalmente natildeo fazem parte do ciacuterculo de pessoas

que a crianccedila usualmente teria contato Os pais teratildeo que conhecer comunidade

surda que usa esta liacutengua

Nesta perspectiva Souza (apud QUADROS 2005) menciona que se no iniacutecio do seu

desenvolvimento a crianccedila surda tiver a chance de contar com pais dispostos a aprenderem a

liacutengua de sinais com adultos surdos colegas surdos e conversarem ldquosinalizandordquo a

dimensatildeo do seu processo educacional seraacute outra A aquisiccedilatildeo da liacutengua seraacute transferida para

o espaccedilo escolar ldquoO fato de passar a ter contato com a liacutengua portuguesa com significado

trazendo seus conceitos adquiridos na sua proacutepria liacutengua possibilitaraacute um processo muito

mais significativordquo (ibid p33)

Por isso eacute de importacircncia fundamental a crianccedila surda esteja em contato linguiacutestico

com a liacutengua de sinais o mais cedo possiacutevel seja com a comunidade surda ou com seus pais

ouvintes que adquiriram a Liacutengua de Sinais como L2 Estes fatores iratildeo influenciar a crianccedila

estabelecer a sua identidade e cultura surda naturalmente Neste sentido Fantinel (1999 p2)

menciona que ldquoo uso da Liacutengua de Sinais eacute uma condiccedilatildeo fundamental na construccedilatildeo da

identidade dessas pessoas pois eacute o fator que os aproxima e reuacutene em grupos permitindo-lhes

expressarem-se construindo significados para a vidardquo

A Liacutengua de Sinais portanto eacute um aspecto fundamental da cultura surda Para tanto

Strobel (2008 p44) ainda enfatiza que para que o sujeito surdo possa ter acesso agraves

informaccedilotildees e conhecimentos aleacutem de construir sua identidade eacute fundamental criar uma

ligaccedilatildeo com o povo surdo que usa a sua liacutengua em comum pois a Liacutengua de Sinais eacute uma das

principais marcas da identidade de um povo surdo uma particularidade da cultura surda uma

forma de comunicaccedilatildeo que capta as experiecircncias visuais dos sujeitos surdos E somente a

partir do uso desta liacutengua que a crianccedila conseguiraacute seu pleno desenvolvimento cognitivo

psicoloacutegico emocional e cultural proporcionando assim a aquisiccedilatildeo do conhecimento

universal

Desta forma ao refletirmos sobre a pessoa surda na construccedilatildeo de sua identidade e

cultura surda entende-se que o contato linguiacutestico eacute essencial Logo o que dizer das pessoas

26

surdas que vivem isoladas de comunidades surdas que natildeo tem esse contato com Liacutengua de

Sinais Sobre esta realidade Strobel esclarece que

No entanto incluem tambeacutem os gestos denominados ldquosinais emergentesrdquo ou ldquosinais

caseirosrdquo dos sujeitos surdos de zonas rurais ou sujeitos isolados de comunidades

surdas que procuram entender o mundo atraveacutes dos experimentos visuais e que

procuram comunicar apontando e criando sinais [] (ibidem p44)

Ainda sobre a questatildeo Vilhalva (2012 p 30) ressalta que ldquo[] Os sinais emergentes

tambeacutem conhecidos como sinais caseiros satildeo essenciais quando vistos como comunicaccedilatildeo

natural usada em um espaccedilo familiar ou social []rdquo Nesse caso podemos referir ao iacutendio

surdo que vive isolado do contato com a comunidade surda Este surdo tambeacutem se identifica

com o povo surdo apesar de natildeo ter contato e de natildeo pertencer agraves mesmas comunidades

surdas na medida em que de acordo com Strobel (2008) eles compartilham as mesmas

peculiaridades ou seja constroem sua formaccedilatildeo de mundo atraveacutes de artefato cultural visual

13 Liacutenguas de Sinais Indiacutegenas pesquisadas no Brasil

Os registros da existecircncia de iacutendios surdos segundo Vilhalva (2008) apontam para o

Estatuto do Iacutendio - Lei nordm 6001 de 19121973 que norteou as relaccedilotildees do Estado brasileiro

com as populaccedilotildees indiacutegenas ateacute a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 em seu Paraacutegrafo

uacutenico do Art 1ordm assegura

Aos iacutendios e agraves comunidades indiacutegenas se estende a proteccedilatildeo das leis do Paiacutes nos

mesmos termos em que se aplicam aos demais brasileiros resguardados os usos

costumes e tradiccedilotildees indiacutegenas bem como as condiccedilotildees peculiares reconhecidas

nesta Lei

Neste sentido no Brasil a liacutengua oficial eacute a Liacutengua Portuguesa Fossile (2013 p 4)

afirma que ldquoo paiacutes conta atualmente segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatiacutestica (IBGE) com aproximadamente 210 liacutenguas sendo 190 delas indiacutegenasrdquo Essas

liacutenguas indiacutegenas satildeo consideradas como liacutenguas minoritaacuterias sem importacircncia em relaccedilatildeo ao

portuguecircs No entanto algumas possuem mais prestiacutegio em relaccedilatildeo agraves outras

Em relaccedilatildeo ao conhecimento da liacutengua e da diversidade na dinacircmica soacutecio-cultural das

populaccedilotildees indiacutegenas deveria haver prioridades para estudos no campo linguiacutestico para

acadecircmicos e pesquisadores indios De fato o conhecimento das liacutenguas faladas e no

contexto tem-se essa diversidade para iacutendios surdos deveria ser compartilhada com a

27

sociedade indiacutegena de forma que esta possam participar ativamente na elaboraccedilatildeo de poliacuteticas

e programas que respondam agraves suas necessidades seus direitos considerando-se em particular

suas culturas e liacutenguas

Segundo Vilhalva (2008) pesquisas no campo da linguiacutestica e de poliacuteticas linguiacutesticas

avanccedilaram consideravelmente no Brasil Tendo poreacutem ainda uma grande necessidade de

maiores pesquisas principalmente referente a diferentes Liacutenguas de Sinais pertencentes a

diferentes comunidades como as dos povos indiacutegenas Neste sentido a autora argumenta

A Liacutengua de Sinais Indiacutegenas praticadas pelos iacutendios surdos existentes em diversas

comunidades indiacutegenas do paiacutes traz consigo caracteriacutesticas culturais e linguiacutesticas

variadas bdquoInfelizmente raramente satildeo registradas como satildeo registradas outras liacutenguas

brasileiras de diferentes comunidades com suas especificidades culturais e eacutetnicas ‟

(VILHALVA 2008 p 29)

Sobre a questatildeo Nonaka coloca que

desde 1960 quando se iniciaram os estudos linguiacutesticos e antropoloacutegicos em

referecircncia agraves Liacutenguas de Sinais a maior parte das investigaccedilotildees tem incidido sobre

as Liacutenguas de Sinais nacionais ou padratildeo usadas pelos surdos de diferentes paiacuteses

com escassa atenccedilatildeo agraves Liacutenguas de Sinais usadas pelos indiacutegenas em sua

comunicaccedilatildeo original (apud VILHALVA 2012 p 30)

Por isso Vilhalva defende a comunicaccedilatildeo dos iacutendios surdos como objeto de estudo da

linguiacutestica afirmando que

[] Sabemos tambeacutem que a Libras estaacute presente nas terras indiacutegenas

apontando que a influecircncia aconteceraacute Sendo assim consideramos quanto o leacutexico

das liacutenguas estaacute no processo de mudanccedilas atraveacutes do neologismo espontacircneo ou o

empreacutestimo linguiacutestico de outras liacutenguas (ibid p37)

Observa-se que os estudos sobre a Libras nas terras indiacutegenas comeccedilaram na deacutecada

de 1980 com pesquisas da brasileira Lucinda Ferreira Brito sobre a Liacutengua Brasileira de

Sinais Segundo Slomski (2010) Lucinda Ferreira Brito iniciou sua pesquisa atraveacutes de um

padratildeo internacional de abreviaccedilatildeo das Liacutenguas de Sinais adotando a sigla LSCB ndash Liacutengua de

Sinais dos Centros Urbanos Brasileiros para diferenciaacute-la da LSKB ndash Liacutengua de Sinais

Kaapor Brasileiros que eram a utilizada pelos iacutendios do Estado do Maranhatildeo

Diante do panorama exposto se faz necessaacuterio no campo da linguiacutestica dos estudos

surdos pesquisas sobre a Liacutengua de Sinais usadas pelos iacutendios surdos nas diferentes

comunidades indiacutegenas para que seja reconhecida e registrada Infelizmente somente uma

28

liacutengua indiacutegena eacute oficialmente reconhecida no Brasil a Liacutengua de Sinais Indiacutegena da

comunidade Urubu-Kaapor devido ao alto iacutendice de surdos

131 Liacutengua de Sinais Urubu-Kaapor

Os resultados do Censo 2010 (IBGE 2013) apontam para 274 liacutenguas indiacutegenas

faladas por indiviacuteduos pertencentes a 305 etnias diferentes Embora haja a necessidade de

estudos linguiacutesticos e antropoloacutegicos mais aprofundados quanto aos nuacutemeros totais de liacutengua

e etnia

Dentro desse universo a uacutenica Liacutengua de Sinais indiacutegena reconhecida conforme

referido anteriormente eacute a utilizada pela etnia indiacutegena brasileira dos Urubu-Kaapor9

chamados tambeacutem por urubus-caapores Os estudos sobre essa Liacutengua de Sinais apontam para

o iniacutecio da deacutecada de 1950

De acordo com Ribeiro (1996 apud FASSILE 2013 p 2)

Em 1950 foi descoberto no Brasil um grupo indiacutegena atraveacutes de pesquisas

antropoloacutegicas os Urubu-Kaapor na floresta Amazocircnica (Maranhatildeo) que falava

uma variaccedilatildeo da liacutengua de sinais Somente a partir da deacutecada de 1980 estudos

linguiacutesticos relacionados agrave Liacutengua de Sinais Kaapor Brasileira (LSKB) foram

aprofundados (sobre a LSKB cf KAKUMASU J KAKUMASU K 1977)

Segundo Brito (1993 apud FASSILE 2013 p 2) J Kakumasu defendeu que ldquo[] a

Liacutengua de Sinais dos Urubu-Kaapor [] [se constituiacutea como] um veiacuteculo de comunicaccedilatildeo

intratribal e natildeo como meio de transaccedilatildeo comercialrdquo Neste sentido resgata-se que

No Brasil Lucinda Brito inicia seus importantes estudos linguiacutesticos em

1982 sobre a Liacutengua de Sinais dos iacutendios Urubu-Kaapor da floresta amazocircnica

brasileira apoacutes um mecircs de convivecircncia com os mesmos documentando em filme

sua experiecircncia A ideia para a pesquisa adveio da leitura de um artigo publicado no

livro de Umiker-Sebeok (1978) de autoria de J Kakumasu Urubu Sign Language

No estudo a Liacutengua de Sinais dos Urubu-Kaapor se diferenciaria da PSL por

constituir um veiacuteculo de comunicaccedilatildeo intratribal e natildeo como meio de transaccedilatildeo

comercial Lucinda Brito poreacutem constatou que a mesma se tratava de uma legiacutetima

Liacutengua de Sinais dos surdos pelos mesmos criados

O interessante de se observar no caso dos Urubu-Kaapor eacute que os ouvintes da

aldeia falam a Liacutengua de Sinais e a liacutengua oral evidentemente enquanto que os

surdos se restringem agrave Liacutengua de Sinais Assim os ouvintes da aldeia se tornam

biliacutengues enquanto os surdos se mantecircm monoliacutengues (RAMOS 2011 p 6)

9 Disponiacutevel emlthttpwwwlibrascombrurubu-kaaporgt Acesso em 19112013

29

A Liacutengua Kaapor eacute uma liacutengua da famiacutelia Tupi-Guarani natildeo falada por outra tribo ou

povo exceto como segunda liacutengua Possuem uma liacutengua de sinais proacutepria (a Liacutengua Brasileira

de Sinais Kaapor) usada tanto pela comunidade surda do povo como tambeacutem por seus

membros natildeo surdos na comunicaccedilatildeo com os surdos

[] os Kaapor satildeo linguisticamente peculiares na Amazocircnia por terem uma

linguagem padratildeo de sinais usada para a comunicaccedilatildeo com os surdos que ateacute a

metade dos anos 80 compunham cerca de 2 da totalidade de sua populaccedilatildeo A

incidecircncia de surdez deveu-se evidentemente agrave bouba neonatal e endecircmica que foi

erradicada10

O interessante eacute que a comunidade indiacutegena desenvolveu uma forma proacutepria de

comunicaccedilatildeo por sinais que comeccedilou a ser estudada na deacutecada de 1960 pelo pesquisador

canadense James Kakumasu em (1968) e em seguida pela linguista brasileira Linguista

Lucinda Ferreira Brito ldquo[] A Liacutengua de Sinais Brasileira para diferenciaacute-la da LSKB

(Liacutengua de Sinais Kaapor Brasileira) utilizados pelos iacutendios Urubu-Kaapor no Estado do

Maranhatildeordquo (GOLDFELD 1997 p 30) A pesquisadora registrou a existecircncia da Liacutengua de

Sinais Kaapor em sua pesquisa sobre termos baacutesicos para cores em Liacutengua de Sinais

132 Liacutengua de Sinais Emergentes

Vilhalva (2012) se preocupou sobre a situaccedilatildeo linguiacutestica dos iacutendios surdos trazendo

grandes contribuiccedilotildees cientiacuteficas na aacuterea da linguiacutestica referente agraves Liacutenguas de Sinais

Indiacutegenas Sua pesquisa iniciou em 1991 com iacutendios surdos na comunidade indiacutegena de Satildeo

Marcos

O estudo dos sinais emergentes que se deseja apresentar objetiva natildeo apenas

recuperar os registros sobre as liacutenguas padratildeo mas tambeacutem e sobretudo procurar

realizar um levantamento de como se apresenta atualmente o uso desses sinais

emergentes e ateacute mesmo da histoacuteria da produccedilatildeo desses sinais para que se possa

fazer o registro cientifico sobre a situaccedilatildeo linguiacutestica dos iacutendios surdos dentro das

escolas indiacutegenas [] (VILHALVA 2012 p11a)

Souza e Segala (2009 p28) abordam que a maior parte das liacutenguas nasceu do

contato entre duas ou mais liacutenguas ou de uma liacutengua e sistemas de sinais caseiros (Liacutengua de

Sinais Primaacuteria) Observa-se que ldquosinais caseiros ou Liacutengua de Sinais Primaacuterios

correspondentes aos gestos ou construccedilatildeo simboacutelica inventadas no acircmbito familiar eacute comum

10

Disponiacutevel emlthttppibsocioambientalorgptpovokaaporgt Acesso em 19112013

30

a constituiccedilatildeo de um sistema convencional de comunicaccedilatildeo entre matildee-ouvinte e crianccedila

surdardquo

Sobre a origem dos sinais emergentes Vilhalva explica que

[] os sinais emergentes foram criados devido a uma necessidade de comunicaccedilatildeo

passando por sinais indicativos icocircnicos e arbitraacuterios A maneira como cada sinal

surge levam tempo para se entender principalmente quando os sinais satildeo criados

conforme o neologismo11

Esses novos sinais passam a fazer parte da comunicaccedilatildeo

para depois designar algo consistentemente como acontece tambeacutem agraves liacutenguas

orais-auditivas (2012 p137-138)

Desta forma a autora em sua pesquisa argumenta que os sinais emergentes

considerados em seu estudo como Liacutengua de Sinais constituem como o meio de

comunicaccedilatildeo primaacuteria dos iacutendios surdos das comunidades indiacutegenas do Mato Grosso do Sul

Partindo deste achado Rousseau jaacute mencionava em seus estudos ldquoEnsaio sobre a origem das

liacutenguasrdquo que

O uso e a necessidade ensinam a cada um a liacutengua de seu paiacutes mas o que eacute que faz

com que essa liacutengua seja a de seu proacuteprio paiacutes e natildeo a de um outro [] No

momento em que um homem foi reconhecido por um outro como um ser sensiacutevel

pensante e semelhante a ele o desejo ou a necessidade de comunicar-lhe os proacuteprios

sentimentos e os proacuteprios pensamentos fez com que procurasse os meios de fazecirc-lo

(2008 p 97)

Assim o primeiro contato do ser humano eacute com o outro da mesma espeacutecie No caso da

matildee com seu filho Conforme Sacks (1998 p 7) comenta que

[] a primeira comunicaccedilatildeo geralmente se daacute entre matildee e filho e a liacutengua eacute

adquirida emerge entre eles dois Sendo assim Os sinais emergentes tambeacutem satildeo

fruto da linguagem num processo visual usados pelos surdos indiacutegenas e seus

familiares ouvintes na interaccedilatildeo com o meio (VILHALVA 2012 p 137)

Vilhalva (2012) entatildeo percebeu a predominacircncia dos gestos caseiros criados pelos

proacuteprios surdos para interagirem com suas famiacutelias e com as pessoas que os rodeiam Ou

seja a crianccedila surda que nasce na famiacutelia de ouvinte comeccedila a criar a partir de um meio de

comunicaccedilatildeo visual usando todas as formas naturais possiacuteveis desde o apontamento ateacute os

gestos naturais O uso que destes sinais criados pelas necessidades do ambiente familiar com

o passar do tempo vatildeo se convencionando a forma de interaccedilatildeo dialoacutegica passando a

transformar-se em um meio de comunicaccedilatildeo essencial resultando assim no processo

11

Satildeo palavras criadas para designar novas situaccedilotildees novos conceitos fatos objetos etc sendo que um

neologismo soacute eacute sentido como tal durante algum tempo pois passados anos ou seacuteculos deixa de ter sentido

como tal porque a realidade que ele designa jaacute natildeo eacute nova

31

evolutivo dos sinais familiares para os sinais emergentes para transiccedilatildeo para a Liacutengua de

Sinais ou seja arbitraacuteria convencional Esse processo se daacute por meio do processo cognitivo

fundamentada na teoria de Cuxac

Construccedilatildeo do dizer a partir do processo criativo de performance gestual Iconizando

da experiecircncia perceptivo-praacutetica Rotinas de Transferecircnciandashpassagem da ilustraccedilatildeo

especifica para a categorizaccedilatildeo geneacuterica Sinais estabelecidos num grupo reduzido

categorias e generalizaccedilotildees dos sinais gestuais Nasce uma liacutengua de Sinais com

todas as propriedades de uma liacutengua (apud VILHALVA 2012 p138)

Vilhalva (2012) ainda destaca que se observarmos a Lei nordm 10436 de 24 de abril de

2002 vamos verificar que em seu artigo primeiro ldquoficam reconhecidos como meio legal de

comunicaccedilatildeo e expressatildeo a Liacutengua Brasileira de Sinais-Libras ndash e outros recursos de

expressatildeo a ela associadosrdquo Nesses bdquooutros recursos‟ podem figurar segundo compreensatildeo

da mesma os sinais emergentes produzidos nas comunidades indiacutegenas Se a Liacutengua

Brasileira de Sinais uma forma de comunicaccedilatildeo e expressatildeo cujo canal de produccedilatildeo e

recepccedilatildeo eacute de natureza visual-motora com estrutura gramatical proacutepria constituindo um

sistema linguiacutestico de transmissatildeo de ideias e fatos oriundos de comunidades de pessoas

surdas no Brasil conforme estaacute na lei eacute compreensivo dizer que nada fala sobre um padratildeo de

sinalizaccedilatildeo (p34)

Conclui-se que conforme pesquisa da autora citada os estudos dos sinais emergentes

mostraram que este eacute o ponto inicial das novas Liacutenguas de Sinais que segundo a mesma

merecem ser aprofundadas

1321 Realidade do contexto educacional escolar do indiacutegena surdo

Vilhalva (2012) destaca que o indiviacuteduo surdo soacute teraacute um sistema gestual linguiacutestico

organizado no contato do agrupamento comunitaacuterio especificamente da comunidade surda

com o contato com a Liacutengua de Sinais E isso muitas vezes acontece em geral somente no

acircmbito escolar biliacutengue onde haacute outros surdos inteacuterpretes e professores ouvintes que fazem

uso da Liacutengua de Sinais Por isso eacute essencial uma escola que respeite a diversidade linguiacutestica

como no caso desta comunidade Desta forma se faz necessaacuterio presenccedila na escola de

inteacuterpretes vindo das cidades mais proacuteximas das terras indiacutegenas de modo que

32

[] o Professor ministra as aulas em Portuguecircs e tem disciplina em Guarani

Observamos que pelo fato de os professores da pedagogia diferenciada indiacutegena

realizarem sua formaccedilatildeo em universidades locais onde o assunto em torno da surdez

e da Libras satildeo discutidos estes profissionais tecircm uma formaccedilatildeo que respeita natildeo soacute

a cultura e a liacutengua indiacutegena mas tambeacutem a cultura e a Liacutengua de Sinais

caracteriacutesticas que estatildeo presentes nas escolas indiacutegenas biliacutengues em que a liacutengua

de instruccedilatildeo eacute o Guarani-Portuguecircs(VILHALVA 2012 p 11b)

Poreacutem o que natildeo eacute o caso da escola Araporatilde mencionada por Vilhalva (2012) que teve

preferecircncia do inteacuterprete indiacutegena para a preservaccedilatildeo da cultura liacutengua e saber Foi observado

na pesquisa que os indiacutegenas surdos com vinte anos de idade em diante demonstram

seguranccedila ao sinalizar com o pesquisador surdo usando seus sinais emergentes de forma

natural Os mais novos de escolas indiacutegenas mas da mesma comunidade indiacutegena natildeo

demonstraram o uso de sinais emergentes e sim apresentaram diretamente sua comunicaccedilatildeo

em Libras Entretanto os resultados apontam que natildeo haacute como dizer se o atendimento

educacional para o iacutendio surdo estaacute acontecendo em todas as comunidades indiacutegenas ldquopois

interfere numa questatildeo de respeitar o que diz o proacuteprio plano de educaccedilatildeo sobre uma visatildeo

amplamente ligada agrave liacutengua cultura e diversidade nas escolas e terras indiacutegenasrdquo (ibid p36)

Nesta oacutetica se realmente as poliacuteticas linguiacutesticas fossem mais enfaacuteticas em suas

propostas de realizar a planificaccedilatildeo linguiacutestica incluindo a criaccedilatildeo de escolas biliacutengues e de

legislaccedilotildees especiacuteficas para as questotildees referentes agraves liacutenguas o indiviacuteduo indiacutegena surdo

poderia ter seus direitos linguiacutesticos assegurados

Neste sentido resgata-se o Referencial Curricular Nacional para Escolas Indiacutegenas

(1998) o qual menciona que

[] as tradiccedilotildees culturais os conhecimentos acumulados a educaccedilatildeo das geraccedilotildees

mais novas as crenccedilas o pensamento e a praacutetica religiosa as representaccedilotildees

simboacutelicas a organizaccedilatildeo poliacutetica os projetos de futuro enfim a reproduccedilatildeo

sociocultural das sociedades indiacutegenas satildeo na maioria dos casos manifestaccedilotildees

atraveacutes do uso de uma liacutengua Mesmo os povos indiacutegenas que satildeo hoje monoliacutengues

em liacutengua portuguesa continuam a usar a liacutengua de seus ancestrais como um siacutembolo

poderoso para onde confluem muitos de seus traccedilos identificatoacuterios construindo

assim um quadro de bilinguismo simboacutelico importante [grifo nosso]

Ou seja assim como para o surdo urbano brasileiro eacute reconhecida legalmente sua

liacutengua natural - Libras e a Liacutengua Portuguesa como segunda liacutengua -L2 para o indiacutegena surdo

deveria ser assegurado o mesmo direito para aprender esta forma de comunicaccedilatildeo ndash Liacutengua de

Sinais como primeira liacutengua e como segunda liacutengua a Liacutengua de sua etnia na modalidade

33

escrita Sendo portanto biliacutengue ou ainda triliacutengue com aquisiccedilatildeo da Liacutengua Portuguesa

tambeacutem na modalidade escrita

Nesta perspectiva observa-se que Saacute (2011 p33) afirma que tanto indiacutegenas como

surdos tecircm uma liacutengua proacutepria e uma cultura diferenciada Entatildeo porque natildeo ser reconhecida

legalmente a Liacutengua de Sinais utilizada pelos iacutendios surdos e a Liacutengua de sua comunidade

Como bem percebido por Vilhalva haacute a carecircncia de pesquisas voltadas para o registro de

liacutengua de sinais entre os iacutendios surdos brasileiros o que certamente constitui-se em um dos

fatores que favorecem a existecircncia desta lacuna na legislaccedilatildeo E que tal fato deveria ser um

despertar para pesquisadores da linguiacutestica sejam ouvintes ou surdos

34

2 A HISTOacuteRIA DO POVO INDIacuteGENA SATEREacute-MAWEacute CULTURA E LIacuteNGUA

Os povos indiacutegenas durante muito tempo foram considerados como povos sem

histoacuteria e sem uma liacutengua proacutepria Poreacutem com as muitas lutas eacutetnicas com estudos

antropoloacutegicos e com as abordagens historiograacuteficas iniciou-se uma valorizaccedilatildeo da

sociedade indiacutegena passando assim o povo indiacutegena a ser perspectivado nas suas

singularidades histoacutericas culturais e linguiacutesticas

Vale ressaltar que quando se refere a ldquoliacutenguasrdquo sabe-se que natildeo haacute apenas uma liacutengua

indiacutegena Existem muitos povos ou etnias indiacutegenas distintas As liacutenguas indiacutegenas no Brasil

se agrupam em famiacutelias linguiacutesticas ou seja famiacutelias que tecircm semelhanccedilas entre si e que satildeo

agrupadas por sua vez em troncos linguiacutesticos assim como as liacutenguas isoladas12

ou seja

liacutenguas que natildeo parecem ter parentesco com nenhuma das famiacutelias linguiacutesticas conhecidas

Segundo Rodrigues (2002) as famiacutelias indiacutegenas estatildeo agrupadas em Tronco

Linguiacutestico Tupi famiacutelia Tupi-Guarani (Akwaacutewa Amanayeacute Anambeacute Apiakaacute Araweteacute

Asurini Avaacute Guajaacute Guarani Kamayuraacute Kayabi Suryiacute Kaiwaacute) famiacutelia Munduruku

(Kuruaacuteya Mundurukuacute) Famiacutelia Tupari (Makuraacutep Tupari Wayoroacute) Famiacutelia Arikeacutem

(Karitiaacutena) Famiacutelia Juruna (Juruna) Famiacutelia Mondeacute (Aruaacute Cinta-Larga Gaviatildeo Mekeacutem

Mondeacute Suruiacute Zoroacute) Famiacutelia Ramaraacutema (Araacutera Itoqapuk) Outras Liacutenguas (Aweti

Puruboraacute Satereacute-Maweacute) entre outros troncos linguiacutesticos como Macro-Jecirc e sua diversidade

de famiacutelias existentes entre elas as liacutenguas isoladas

Um desses povos indiacutegenas foi o da etnia Satereacute-Maweacute Estes sofreram muitas

influecircncias em seu modo de vida advinda do contato com grupos natildeo indigenas que implicou

no processo de perda de muitos dos seus aspectos culturais A histoacuteria relata que o contato se

deu pela chegada dos colonizadores e posteriormente das missotildees religiosas E na atualidade

por ocupantes de terras como fazendeiros madeireiros emigrantes de outros Estados Foram

perdas irreparaacuteveis todavia como elo de resistecircncia procuraram sustentar em sua estrutura

original sua liacutengua

12

Segundo Rodrigues (2002 p93) liacutenguas isoladas refere-se as liacutenguas isoladas linguisticamente ou seja

liacutenguas que natildeo revelam parentesco geneacutetico com nenhuma outra Natildeo pertencem a nenhuma famiacutelia (ou tronco)

isto eacute constituem famiacutelias de um soacute membro

35

21 Breve Relato Histoacuterico

A histoacuteria do povo indiacutegena Satereacute-Maweacute tem sido foco de estudos dos diversos

segmentos de pesquisas como as realizadas por antropoacutelogos historiadores religiosos e

cientistas da linguagem Estes relatam a origem a liacutengua e a cultura desse povo

Uggeacute (1993 p 5) informa que ldquoOs Maueacutes descendentes das tribos indiacutegenas

denominadas no passado pelo nome de ANDIRAacute e MARAGUAacute que faz parte da aacuterea cultural

Tapajoacutes-Madeira entre a divisa dos atuais Estados do Paraacute e Amazonasrdquo O autor ainda

menciona que cronistas exploradores missionaacuterios antropoacutelogos naturalistas do passado

identificaram os Maueacutes tambeacutem com outros nomes (Maooz Mabueacute Jaquezes Manguases

Mahueacutes Mauris Maweacute Maragua e Maraguazes)

A origem do nome Satereacute-Maweacute advem dos termos Satereacute (lagarta vermelha) que eacute o

nome do clatilde dos antigos chefes e Maweacute (papagaio inteligente guerreiro e curioso) que eacute o

nome mais comum de um dos grupos tribais que conseguiram sobreviver agrave extinccedilatildeo das

numerosas tribos indiacutegenas da ilha Tupinambarana do Meacutedio Amazonas (IDEM) Cerqua13

faz referecircncia agrave primeira notiacutecia sobre o povo Satereacute-Maweacute ldquoEacute por volta de 1669 quando o

Pe Betendorf duas vezes superior provincial dos jesuiacutetas lembra a ldquovila dos Maguasesrdquo

grafia antiga de Maueacutes [] (1980 p 209)rdquo ou seja Maueacutes foi residecircncia missionaacuteria mas

natildeo permanente dos padres pois os mesmos residiam mais em Tupinambarana (rio

Amazonas) atual Parintins e visitavam Maueacutes temporariamente

A etnia Satereacute-Maweacute sofreu muitas mudanccedilas de localidades devido muitos fatores

que contribuiacuteram para o deslocamento desse povo segundo explica Lorez apud Teixeira

(2005 p21)

Devido agraves guerras com os Munduruku e Parintintim e ao contato com os

portugueses os Satereacute-Maweacute perderam grande parte de seu territoacuterio original Em

1691 os Maweacute surgem na cartografia regional com o nome de Mabueacute(mapa do

Padre Samuel Fritz) Missotildees foram localizadas para os iacutendios Magueacute denominadas

Satildeo Joatildeo (Pinhel) e Santo Inaacutecio (Boim) Posteriormente em 1835 lutando ao lado

dos Munduruku e dos Mura como tambeacutem de outras tribos indiacutegenas do rio Negro

os Satereacute-Maweacute aderiram ao movimento cabano ateacute que em 1839 o conflito foi

debelado Devido agraves epidemias agraves lutas e agraves perseguiccedilotildees aos povos indiacutegenas que

combatiam ao lado dos cabanos enormes aacutereas da Amazocircnia foram devastadas o

que provocou deslocamentos desses grupos populacionais de seus territoacuterios

ancestrais e de populaccedilatildeo Segundo relatos de viajantes desde o seacuteculo XVIII o

territoacuterio dos Satereacute-Maweacute vem sendo paulatinamente reduzido Essa reduccedilatildeo se

deu a partir das tropas de resgate que penetraram grandes aacutereas da Amazocircnia da

implantaccedilatildeo de missotildees jesuiacutetas e carmelitas ao longo dos principais rios

13

Dom Arcacircngelo Bispo Prelado de Parintins de 1980

36

amazocircnicos da ldquobusca desenfreadardquo das drogas do sertatildeo com a exploraccedilatildeo da

borracha durante o seacuteculo XIX e iniacutecio do XX e por fim da ldquoexpansatildeo econocircmica

das cidades de Maueacutes Barreirinha Parintins e Itaituba para o interior dos

municiacutepios alocando fazendas extraindo pau-rosa abrindo garimpos dominando a

economia indiacutegena atraveacutes de regatotildeesrdquo As cidades de Maueacutes Parintins e Itaituba

inclusive foram fundadas sobre restos de malocas dos Satereacute-Maweacute

Cerqua (1980 p265) destaca a localizaccedilatildeo dessa tribo delimitando que ldquoA tribo estaacute

localizada em sua maioria no Alto Andiraacute e no Marau afluente do Rio Maueacutes e sua aacuterea de

cerca de 639500 ha foi demarcada pelo Decreto nordm 76999rdquo Atualmente segundo Teixeira

(apud ALVAREZ 2009) os Satereacute-Maweacute hoje satildeo grupos de 8500 indiacutegenas dos quais 7502

moram na terra indiacutegena Andiraacute-Marau nos municiacutepios de Barreirinha Maueacutes e Parintins e

aproximadamente mil residem em aacutereas urbanas destes municiacutepios Sendo que outro grupo

vive na terra indiacutegena Coataacute-Laranjal junto ao grupo Munduruku e no municiacutepio de Borba

Uggeacute (1993) comenta que os Satereacute-Maweacute sempre tiveram vontade de manter a

proacutepria identidade tribal contudo eram carentes de apoio praacutetico para ajudaacute-los a enfrentar o

perigo do mundo moderno que tentavam ldquoinvadi-losrdquo Ou seja manipulaccedilotildees externas entre a

lideranccedila indiacutegenas dos Satereacute-Maweacute o alcoolismo a dependecircncia a violecircncia dos ldquobrancosrdquo

eram os maiores perigos para este povo Satereacute-Maweacute

Poreacutem o foco de resistecircncia manteve vivo no povo Satereacute aspectos culturais

importantes como o ritual da tucandeira O ritual eacute um marco na vida dos homens porque satildeo

chamados pela formiga (tucandeira) caso o indiacutegena natildeo atenda o chamado a formiga o

levaraacute a loucura ateacute chegar agrave morte A tucandeira eacute uma divindade muito respeitada pelos

Satereacute-Maweacute Em determinado momento da histoacuteria do povo Satereacute-Maweacute o ritual da

tucandeira chegou ao ponto de natildeo ser mais praticado em decorrecircncia da imposiccedilatildeo religiosa

mas apoacutes perceberam a grande perda cultural que isso representaria voltaram a praticaacute-lo a

recuperando como parte de sua cultura

22 Classificaccedilatildeo da liacutengua Satereacute-Maweacute

Segundo Teixeira (2005) a anaacutelise da situaccedilatildeo linguiacutestica do povo Satereacute-Maweacute

baseia-se na concepccedilatildeo defendida por antropoacutelogos e linguistas que a liacutengua se configura

como um importante instrumento da cultura e da identidade de uma populaccedilatildeo

A populaccedilatildeo indiacutegena Satereacute-Maweacute pertence vaacuterios aspectos agrave famiacutelia Linguiacutestica

Tupi Rodrigues (apud ALVAREZ 2009 p17) aborda que a liacutengua da tribo Satereacute-Maweacute eacute a

37

uacutenica liacutengua de uma famiacutelia do tronco Tupi E sua classificaccedilatildeo linguiacutestica como pertencente

ao tronco Tupi foi dada pelo etnoacutegrafo Curt Nimuendajuacute (1948)

A liacutengua Satereacute-Maweacute integra o tronco linguiacutestico Tupi Segundo o etnoacutegrafo Curt

Nimuendajuacute (1948) ela difere do Guarani-Tupinambaacute Os pronomes concordam

perfeitamente com a liacutengua Curuaya-Munduruku e a gramaacutetica ao que tudo indica

eacute tupi O vocabulaacuterio Maweacute conteacutem elementos completamente estranhos ao Tupi

mas natildeo pode ser relacionada a nenhuma outra famiacutelia linguiacutestica Desde o seacuteculo

XVIII seu repertoacuterio incorporou numerosas palavras da liacutengua geral

Os homens atualmente satildeo biliacutengues falando o Satereacute-Maweacute e o portuguecircs mas a

maioria das mulheres apesar de trecircs seacuteculos de contato com os brancos soacute fala a

liacutengua Satereacute-Maweacute (TEIXEIRA 2005 p95)

A liacutengua Satereacute-Maweacute eacute falada tradicionalmente por quase todas as comunidades haacute

mais de 300 anos entretanto foi inevitaacutevel para os indiacutegenas Satereacute-Maweacute conhecer os

haacutebitos e a liacutengua portuguesa devido agrave invasatildeo dos europeus em suas terras no seacuteculo passado

o que causou a mistura de liacutenguas e consequentemente as influecircncias dos padrotildees culturais

natildeo indiacutegenas

Os Satereacute-Maweacute foram entatildeo forccedilados a se refugiarem nas zonas urbanas e ateacute mesmo

em outros estados Outro impacto que alterou o modo de falar dos liacutederes indiacutegenas foi a

necessidade de buscar apoio logiacutestico para suas comunidades principalmente para tratar da

sauacutede de sua populaccedilatildeo que sofria de doenccedilas como malaacuteria tuberculose sarampo e outras

por eles desconhecidas que causaram muitas mortes

Desta forma com o passar dos anos a liacutengua Satereacute-Maweacute sofreu influecircncias lexicais

e fonoloacutegicas do Nheengatu na regiatildeo do Andiraacute Pesquisas realizadas recentemente por

Teixeira (2005) delimitam um perfil linguiacutestico que permite conhecer um pouco mais da

cultura linguiacutestica Satereacute-Maweacute sendo esta considerada por meio da distribuiccedilatildeo geograacutefica e

etaacuteria dos que falam e natildeo falam o idioma Satereacute-Maweacute Desta feita segundo o autor

O idioma Satereacute-Maweacute eacute mais falado na aacuterea do Marau que nas demais (Andiraacute

Uaicurapaacute e Koataacute-Laranjal) Tanto na aacuterea do Andiraacute como no Marau o idioma

materno eacute falado por praticamente todas as comunidades situadas proacuteximo agraves

cabeceira dos rios (Alto Andiraacute e Alto Marau) Para as aacutereas mais proacuteximas das

cidades os falantes atingem a quase totalidade dos moradores do Baixo Marau Jaacute

no baixo Andiraacute esse nuacutemero aumenta bastante nas duas comunidades mais

proacuteximas de Parintins e Barreirinha ou seja Ponta Alegre e Guaranatuba As aacutereas

de povoamento mais recente (Uaicurapaacute Koataacute-Laranjal e mais duas no Andiraacute) tecircm

tendecircncia a apresentar proporccedilotildees menores de falantes do idioma Satereacute-Maweacute

(ibid p95)

38

O autor esclarece que moradores em terras indiacutegenas satildeo mais falantes da Liacutengua

Satereacute-Maweacute do que os que moram proacuteximo ou dentro da aacuterea urbana A pesquisa ainda

mostra agrave necessidade de sensibilizar a comunidade indiacutegena Maweacute sobre a importacircncia da

valorizaccedilatildeo de sua liacutengua agrave recuperaccedilatildeo de suas memoacuterias histoacutericas e a reafirmaccedilatildeo de suas

identidades eacutetnicas

221 Contexto educacional escolar entre os Satereacute-Maweacute

O contexto educacional Satereacute-Maweacute tem como base o reconhecimento constitucional

fundamentado na legislaccedilatildeo em vigor segundo a qual ldquosatildeo reconhecidos aos iacutendios sua

organizaccedilatildeo social costumes liacutenguas crenccedilas e tradiccedilotildees []rdquo

Por isso fundamentos gerais da educaccedilatildeo escolar indiacutegena baseiam-se na proposta do

Referencial Curricular Nacional para Escolas Indiacutegenas (1998) que contempla

Multietnicidade pluralidade e diversidade 2 Educaccedilatildeo e conhecimentos indiacutegenas 3

Autodeterminaccedilatildeo 4 Comunidade educativa indiacutegena 5 Educaccedilatildeo intercultural

comunitaacuteria especiacutefica e diferenciada Assim

Parte do sistema nacional de educaccedilatildeo a escola indiacutegena eacute um direito que deve ser

assegurado por uma nova poliacutetica puacuteblica a ser construiacuteda atenta e respeitosa frente

ao patrimocircnio linguiacutestico cultural e intelectual dos povos indiacutegenas Esse esforccedilo

de projetar uma nova educaccedilatildeo escolar indiacutegena soacute seraacute realmente concretizado com

a participaccedilatildeo direta com os principais interessados ndash os povos indiacutegenas atraveacutes de

suas comunidades educativas [] A participaccedilatildeo da comunidade no processo

pedagoacutegico da escola fundamentalmente na definiccedilatildeo dos objetivos dos conteuacutedos

curriculares e no exerciacutecio das praacuteticas metodoloacutegicas assume papel necessaacuterio para

a efetividade de uma educaccedilatildeo especifica e diferenciada (ibid p24)

Poreacutem para que de fato seja garantida uma educaccedilatildeo diferenciada natildeo eacute suficiente

que somente os conteuacutedos sejam ensinados atraveacutes do uso das liacutenguas maternas mas se faz

necessaacuterio que se incluam os conteuacutedos curriculares propriamente indiacutegenas assim como os

modos proacuteprios de transmissatildeo deste saber Em pesquisa realizada pela revista Amazocircnia

(AMAZONAS 2000) intitulada como ldquoA silenciosa revoluccedilatildeo dos Iacutendiosrdquo o povo Satereacute-

Maweacute foi considerada um dos melhores exemplos para se falar em educaccedilatildeo indiacutegena Tal

afirmaccedilatildeo foi proferida pelo antropoacutelogo Ademir Ramos (professor da Universidade do

Estado do Amazonas) Segundo o entrevistado a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 mudou a

postura em relaccedilatildeo aos iacutendios estabelecendo um processo de educaccedilatildeo diferenciada que

39

fomenta o orgulho de aprender sua lingua tambeacutem no ambiente escolar possibilitando relatos

como o transcrito abaixo

Alunos como Dati 11 da aldeia de Molongotuba carregam com orgulho a cartilha

bdquoMoweeghap onde estatildeo registrados escritos ndash liacutengua Satereacute do tronco tupi e

desenhos de situaccedilotildees do cotidiano das aldeias falando de peixes aves aacutervores e

animais A liacutengua o menino aprendeu a falar com os pais e depois na escola onde

haacute quatro anos aprendeu a escrevecirc-la Aleacutem disso ele tem aprendido tambeacutem a

bdquoliacutengua dos brancos‟

Ainda sobre a importacircncia desta perspectiva educacional em nota o vice-presidente

da organizaccedilatildeo dos professores indiacutegenas Satereacute Gecinaldo Cabral comentou sobre a

mesma enfatizando a relevacircncia do processo educacional na vida dos iacutendios da tribo Satereacute

que por serem biliacutengues satildeo capazes de expressarem e defenderem o seu povo Portanto ao

ensinar a liacutengua nativa agraves crianccedilas promovem o resgate da cultura tradiccedilatildeo e conhecimentos

indiacutegenas Uma educaccedilatildeo diferenciada natildeo resumida na liacutengua majoritaacuteria ou seja Liacutengua

Portuguesa mas na liacutengua proacutepria das etnias E desta forma sendo respeitada a diversidade

cultural de cada povo

Nesta perspectiva Teixeira (2005) em sua pesquisa descreve que a realidade do

contexto educacional escolar do povo Satereacute-Maweacute explicando que

O quadro situacional dos Satereacute-Maweacute no que concerne agrave escolarizaccedilatildeo e agrave

escolaridade apresenta elementos que devem ser entendidos natildeo soacute como resultado

da aplicaccedilatildeo de poliacuteticas educacionais mas tambeacutem como explicitaccedilatildeo de estrateacutegias

poliacuteticas usadas pelos iacutendios na negociaccedilatildeo de visibilidade e reconhecimento no

espaccedilo puacuteblico brasileiro A busca dos Satereacute-Maweacute por escola explicitada na

forma de documentos reivindicatoacuterios enviados ao poder puacuteblico solicitando

recursos para suas escolas demonstrarem os conhecimentos escolares e a

certificaccedilatildeo que a escolaridade concede importantes instrumentos de luta no

processo histoacuterico de construccedilatildeo de sua identidade cultural e de desenvolvimento de

seus projetos sociais (ibid p103)

O autor tambeacutem evidecircncia que a escolarizaccedilatildeo ainda natildeo estaacute alcanccedilando a totalidade

dos Satereacute-Maweacute sendo assim

[] com idade compreendida entre 7 e 24 anos nem nas aacutereas urbanas onde se

verifica o maior percentual de matriacuteculas (839) nem nas terras indiacutegenas (596)

Se forem consideradas as pessoas que tecircm entre 7 e 17 anos de idade os percentuais

sobem bastante mas ainda demonstram a falta de acesso da populaccedilatildeo satereacute-maweacute

agrave escola A pior situaccedilatildeo ocorre na aacuterea indiacutegena onde aproximadamente 13 dos

indiviacuteduos dessa faixa etaacuteria estatildeo fora da escola Na aacuterea urbana o percentual dos

que estatildeo fora eacute de 8 Aparentemente o elevado percentual de pessoas entre 7 e 17

40

anos de idade que estatildeo fora da escola em aacuterea indiacutegena deveria estar relacionado

com a ausecircncia de ensino fundamental de 4ordf a 8ordf seacuterie nas aldeias

No entanto isto eacute apenas uma parte da justificativa pois de 142 pessoas dessa faixa

etaacuteria que natildeo frequentam a escola apenas 32 (225) declararam ter concluiacutedo a

quarta seacuterie do ensino fundamental ou seja poderiam estar fora da escola por falta

do ensino de 5ordf a 8a seacuterie na aacuterea indiacutegena Aleacutem disso 148 crianccedilas entre 7 e 14

anos de idade natildeo frequentam a escola significando que haacute problemas na oferta de

vagas para as crianccedilas satereacute-maweacute na aacuterea indiacutegena Dessas crianccedilas mais da

metade se concentra em apenas 14 aldeias22 das quais 4 compreendendo as

pequenas comunidades de Satildeo Luiacutes Limoal Tigre a Arumatuba no Andiraacute natildeo tecircm

nenhuma crianccedila estudando Na aldeia de Tabatinga no Andiraacute apenas uma das

cinco crianccedilas moradoras estatildeo estudando e na de Santo Antocircnio tambeacutem no

Andiraacute 12 entre 16 crianccedilas de 7 a 14 anos natildeo frequentam a escola(TEIXEIRA

2005 p 104)

Segundo o autor nas cidades de Maueacutes Parintins e Barreirinha a escola frequentada

pelos Satereacute-Maweacute natildeo se define como escola indiacutegena nem tatildeo pouco como especiacutefica ou

diferenciada Talvez seja uma realidade encontrada em todas as escolas indiacutegenas no

Amazonas O que se configura em um problema na medida em que segundo Sobrinho

(2011) a escola esta definida a partir de um modelo da ldquoescola dos brancosrdquo que certamente

altera interferindo diretamente nas questotildees culturais que fazem parte do universo desses

povos gerando assim processo de exclusatildeo O autor ainda comenta que

mesmo diante da resoluccedilatildeo nordm 112011 do Conselho Estadual de Educaccedilatildeo que traz

garantias aos indiacutegenas independentemente de onde vivam ao respeito a sua liacutengua

conhecimentos e tradiccedilotildees proacuteprias nas escolas essa lei passa completamente

despercebida (ibid p 209)

Sobre a questatildeo Teixeira (2005) menciona que nas terras indiacutegenas onde estaacute em

curso a criaccedilatildeo da escola indiacutegena com educaccedilatildeo escolar especiacutefica e diferenciada - as taxas

de escolarizaccedilatildeo deixam evidente que o poder puacuteblico tem investido somente nas seacuteries

iniciais do ensino fundamental o qual apresenta o percentual de 871 de taxa liacutequida de

escolarizaccedilatildeo ou seja natildeo haacute oferta regular para as seacuteries finais do ensino fundamental nem

de ensino meacutedio Isso sem relatar a falta de formaccedilatildeo de professores indiacutegenas entre outros

fatores conforme Franceschini apresenta

A necessidade de formaccedilatildeo especiacutefica e diferenciada de nuacutemero maior de

professores principalmente para atuar nos segmentos mais adiantados do Ensino

Fundamental a implantaccedilatildeo de mais turmas de 6ordm ao 9ordm anos e do Ensino Meacutedio na

aacuterea indiacutegena construccedilatildeo-reflexatildeo do Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico das escolas

Satereacute-Maweacute associada a uma praacutetica pedagoacutegica condizente e a construccedilatildeo de

material didaacutetico proacuteprio satildeo necessidades urgentes do povo Satereacute-Maweacute Pois

apesar da legislaccedilatildeo vigente dar aos indiacutegenas o direito de escolherem seu modelo

educacional e ensinarem sua liacutengua e etnoconhecimentos na maioria das escolas das

41

comunidades Satereacute-Maweacute o modelo educacional adotado natildeo se diferencia muito

do modelo das escolas rurais da regiatildeo sendo que a liacutengua e os etnoconhecimentos

indiacutegenas natildeo constituem de fato conhecimentos que fazem parte do programa

educacional e que satildeo trabalhados de forma sistemaacutetica na escola (2012 p5)

Portanto os resultados apresentados pelo pesquisador comprovam que as accedilotildees

governamentais para educaccedilatildeo escolar indiacutegena estatildeo distantes de cumprir na sua plenitude

preceitos constitucionais o que implica em prejuiacutezo natildeo soacute na educaccedilatildeo escolar indiacutegena

como na proacutepria cultura desse povo

42

3 METODOLOGIA IMPLEMENTADA NA PESQUISA

A metodologia utilizada neste trabalho deu iniacutecio com o estudo bibliograacutefico e

pesquisa de campo Realizou-se uma investigaccedilatildeo primeiramente sobre os estudos surdos na

perspectiva linguiacutestica e cultural a posteriormente na literaturas e estudos sobre os iacutendios da

etnia Satereacute-Maweacute tomando como princiacutepio a origem os fundamentos e a histoacuteria do povo e

da Liacutengua Satereacute-Maweacute Na sequecircncia a concretizaccedilatildeo da pesquisa de campo com a

investigaccedilatildeo do objeto de estudo o iacutendio surdo e sua situaccedilatildeo sociolinguiacutestica da etnia Satereacute-

Maweacute

Figura 1 ndash Croqui da aacuterea e localidade da pesquisa

Fonte Mapa do Estado do Amazonas Censo 2010 ndash IBGE

Organizado por Vicente de Paulo Silva de Azevedo

31 Aacuterea e localidade da pesquisa

A proposta do processo investigativo para o mapeamento do objeto da pesquisa foi

demarcada delimitando a aacuterea do campo da pesquisa a Microrregiatildeo de Parintins A

Microrregiatildeo de Parintins (AMAZONAS 2012) eacute constituiacuteda por Barreirinha Boa Vista do

Ramos Maueacutes Nhamundaacute Parintins Satildeo Sebastiatildeo do Uatumatilde e Urucaraacute Vale ressaltar que

natildeo foi coberta pela pesquisa a populaccedilatildeo Satereacute-Maweacute residente em Manaus (AM)

43

32 Estrateacutegias gerais para a realizaccedilatildeo da coleta de dados

Primeiramente foi feita uma busca de dados pelo IBGE o qual informou que natildeo

havia qualquer registro sobre a populaccedilatildeo indiacutegena de surdos Sem resultado satisfatoacuterio foi

organizado um cronograma de viagens

A primeira viagem foi para o municiacutepio de Parintins onde foi feita uma visita na casa

de um iacutendio para possiacutevel coleta de dados Poreacutem o cacique Sr Luiz de Oliveira infelizmente

tambeacutem comunicou a falta desse dado na comunidade Portanto foi exposto a esse liacuteder o

objetivo da referida pesquisa apresentando assim a importacircncia da comunicaccedilatildeo entre os

seres humanos e interaccedilatildeo entre os diferentes modos linguiacutesticos de convivecircncia social e

educacional

O cacique prontamente mostrou-se aberto a contribuir para que a pesquisa fosse

concretizada Assim sendo iniciou-se a trajetoacuteria do levantamento de iacutendios surdos e sua

forma de comunicaccedilatildeo como tambeacutem seu contexto educacional escolar

Ao retornar a Manaus buscou-se apoio agraves instituiccedilotildees representativas com a visita agrave

sede da Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio ndash FUNAI oacutergatildeo responsaacutevel pelas accedilotildees indiacutegenas a

qual informou que se fazia necessaacuterio uma autorizaccedilatildeo para dar seguimento agrave pesquisa Logo

providecircnciou-se o documento requerido na Coordenaccedilatildeo de Educaccedilatildeo Indiacutegena localizada no

municiacutepio de Barreirinha

Ao chegar agrave cidade de Barreirinha um novo contato foi estabelecido com o

Coordenador indiacutegena o Sr Santino Lopes de Oliveira que se mostrou receptivo com o

projeto e se dispocircs prontamente a colaborar

Com a autorizaccedilatildeo e aprovaccedilatildeo das autoridades indiacutegenas e de posse do documento

houve o comprometimento de que seguiria as normas estabelecidas que disciplinam o

ingresso em terras indiacutegenas pela entidade (ANEXO A) Assim foi possiacutevel sistematizar os

procedimentos para a coleta de dados

33 Procedimentos da coleta

A coleta de dados foi realizada de acordo com o cronograma estabelecido para esta

etapa da pesquisa O procedimento metodoloacutegico usado para a coleta de dados foi

fundamentado em meacutetodo misto por meio de observaccedilotildees questionamento participaccedilotildees em

reuniotildees com representantes da lideranccedila indiacutegena local conversas informais e espontacircneas

44

com famiacutelias e comunidade indiacutegena Satereacute-Maweacute Utilizou-se como instrumento para

coleta caderno de registro de campo fotos filmagens gravaccedilotildees e questionaacuterio (ANEXO B)

34 Articulaccedilatildeo local

O primeiro passo foi estabelecer parcerias com colaboradores ou seja lideranccedilas

indiacutegenas professores indiacutegenas professores da rede puacuteblica inteacuterpretes oacutergatildeos ligados agraves

causas indiacutegenas alunos da Universidade do Estado Amazonas As instituiccedilotildees

representativas educacionais tambeacutem colaboraram telefonando ou perguntando para outras

pessoas sobre a existecircncia de indiacutegenas surdos e locais de suas residecircncias

A participaccedilatildeo das lideranccedilas indiacutegenas como os professores e colaboradores que

apoiaram e permitiram entrar em suas terras para fazer o levantamento foi de extrema

importacircncia pois muito contribuiacuteram nas traduccedilotildees das palavras indiacutegenas para a Liacutengua

Portuguesa

35 Abordagem ao objeto da pesquisa

Em cada viagem agraves comunidades primeiramente fazia-se contato com o tuxaua com

a finalidade de apresentar o objetivo da pesquisa Desta forma era explicado para eles a

importacircncia da contribuiccedilatildeo que o estudo poderia trazer agravequela comunidade Por meio da

autorizaccedilatildeo concedida obtinha-se a colaboraccedilatildeo para a coleta de dados junto ao objeto da

pesquisa Jaacute as abordagens feitas em ambiente familiar tambeacutem era solicitado o consentimento

para a realizaccedilatildeo da pesquisa Com permissatildeo concedida iniciamos as observaccedilotildees e

intervenccedilotildees Com devida autorizaccedilatildeo utilizaacutevamos para registro cacircmeras fotograacuteficas e em

seguida registraacutevamos no caderno de campo da pesquisa (ANEXO CC-1 e C-2)

45

4 MAPEAMENTO DOS IacuteNDIOS SURDOS DA ETNIA SATEREacute-MAWEacute NA

MICRORREGIAtildeO DE PARINTINS E SUA REALIDADE LINGUIacuteSTICA E

EDUCACIONAL ESCOLAR

No Brasil haacute uma diversidade de etnias indiacutegenas Rodrigues (2002) satildeo mais de 170

liacutenguas faladas e dialetos pelos povos indiacutegenas Estas liacutenguas satildeo distribuiacutedas em dois

grandes troncos linguiacutesticos

[] o Tupi (dividido em 10 famiacutelias) e o Macro-Jecirc (dividido em 9 famiacutelias) e de

outras 20 famiacutelias linguumliacutesticas natildeo classificadas em troncos Apenas nove liacutenguas

indiacutegenas tecircm acima de 5000 falantes guajajara (satereacute-) maueacute xavante

ianomacircmi terena macuxi caingangue ticuna e guarani estes uacuteltimos com 30000

indiviacuteduos Cerca de 110 liacutenguas contam com menos de 400 falantes 14

Entretanto em meio a essa diversidade linguiacutestica poucos satildeo documentados

Pesquisadores e grupos indiacutegenas tentam um reavivamento eacutetnico e linguiacutestico

documentando-os para salvar sua liacutengua seu idioma

Diante do exposto a uacutenica liacutengua de sinais indiacutegena registrada eacute a utilizada pela etnia

indiacutegena brasileira dos Urubu-Kaapor como jaacute mencionada anteriormente Pesquisas no Mato

Grosso do Sul em aldeias indiacutegenas apresentaram a existecircncia de iacutendios surdos que utilizam

sinais emergentes ainda natildeo registrados propriamente como uma liacutengua

Pouco registro tem-se encontrado sobre iacutendios surdos muito menos sobre a liacutengua ou

a forma desses sujeitos se comunicarem De acordo com dados do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatiacutestica (IBGE) natildeo haacute registros sobre iacutendios surdos nem no Anuaacuterio

Estatiacutestico do Amazonas do IBGE tatildeo pouco na Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio (FUNAI)

sendo portanto necessaacuteria uma pesquisa in loco para a busca desses dados

Eacute importante destacar que a pessoa surda natildeo nasce com a incapacidade de falar ou

seja a pessoa surda natildeo eacute muda natildeo fala por natildeo poder ouvir a ldquo[] A surdez natildeo estaacute

absolutamente vinculada agrave mudez []rdquo (RAMOS apud STROBEL 2008 p34)

Por isso as teorias da aquisiccedilatildeo da linguagem humana justificam como o ser humano

(re)inventa modos para expressar suas necessidades e formas de ver o mundo realizando a

comunicaccedilatildeo com seus pares

14

Classificaccedilatildeo das Liacutenguas Indigenas Brasileiras segundo Aryon Rodrigues (2002) Disponiacutevel em

lthttpwwwgeocitieswsindiosbr_nicolaiclassifhtmlgt

46

Partindo dessa percepccedilatildeo este estudo apresenta uma contribuiccedilatildeo de informaccedilotildees

cientiacuteficas que seratildeo um acreacutescimo aos conhecimentos existentes sobre a comunicaccedilatildeo dos

surdos indiacutegenas

41 Mapeamento da existecircncia dos iacutendios surdos na microrregiatildeo de Parintins

Conhecer os indiviacuteduos sujeitos da pesquisa ndash iacutendios surdos Satereacute-Maweacute - eacute a fase

fundamental deste estudo pois dessa forma eacute possiacutevel compreender a forma predominante de

comunicaccedilatildeo deles para poder elaborar material concreto ndash dicionaacuterio triliacutengue - pertinente

para auxiliar na forma da comunicaccedilatildeo deles com a sua etnia atraveacutes da liacutengua desse povo

indiacutegena Nesta seccedilatildeo estatildeo apresentados os dados que constituem um mapeamento da

quantidade de indiviacuteduos surdos que estatildeo inseridos no contexto de Parintins Barreirinha

Boa Vista do Ramos e Maueacutes locais estes onde haacute maior contato com etnia foco deste estudo

Abaixo segue o histoacuterico do municiacutepio de Parintins e demais microrregiotildees citadas na

pesquisa15

411 Histoacuterico de Parintins

Parintins eacute um municiacutepio brasileiro situado no interior do estado do Amazonas

proacuteximo agrave divisa com o estado do Paraacute Regiatildeo Norte do paiacutes Estaacute situado na mesorregiatildeo do

Centro Amazonense e microrregiatildeo de mesmo nome e localiza-se a leste da capital do estado

distando desta cerca de 370 quilocircmetros Com uma populaccedilatildeo estimada em 2012 pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 103 828 habitantes sendo o segundo

mais populoso do estado do Amazonas que tem uma aacuterea de 5 952 kmsup2 representando

03789 do Estado do Amazonas 01545 da regiatildeo Norte brasileira e 00701 do territoacuterio

brasileiro8

Desse total 12 4235 kmsup2 estatildeo em periacutemetro urbano

O municiacutepio de Parintins como quase todos os demais municiacutepios brasileiros foi

primitivamente habitado por indiacutegenas Sua descoberta ocorreu em 1749 quando descendo o

rio Amazonas o explorador Joseacute Gonccedilalves da Fonseca notou uma ilha que por sua extensatildeo

se sobressaiacutea das outras localizadas agrave direita do grande rio As primeiras viagens exploratoacuterias

da Coroa Portuguesa em Parintins foram registradas somente em 1796 A fundaccedilatildeo da

15

O histoacuterico de Parintins e demais microrregiotildees estatildeo disponiacuteveis no site lthttpptwikipediaorgwiki_Parintinsgt

47

localidade em 1796 foi feita por Joseacute Pedro Cordovil que veio com seus escravos e

agregados para se dedicar agrave pesca do pirarucu e agrave agricultura chamando-a Tupinambarana A

rainha D Maria I deu-lhe a ilha de presente Ali instalado fundou uma fazenda de cacau

dedicando-se agrave cultura desse produto em grande escala Tupinambarana foi aceita e elevada agrave

missatildeo religiosa em 1803 pelo capitatildeondashmor do Paraacute o Conde dos Arcos que incumbiu sua

direccedilatildeo ao frei Joseacute das Chagas passando a ser denominada como a Vila Nova da Rainha

O primeiro nome recebido por Parintins jaacute na categoria de Freguesia foi Nossa

Senhora do Carmo de Tupinambarana em 1833 O nome da Freguesia soacute foi alterado em

1880 quando a sede passou a chamar-se ldquoParintinsrdquo em homenagem aos povos indiacutegenas

Parintintins um dos inuacutemeros que habitavam a regiatildeo

A eficiente atuaccedilatildeo de frei Joseacute provocou um surto de progresso e desenvolvimento na

localidade mediante a organizaccedilatildeo da comarca do Alto Amazonas Em 25 de julho de 1833

passa agrave freguesia com o nome de Freguesia de Nossa Senhora do Carmo de Tupinambarana

Era ainda Tupinambarana simples freguesia quando iniciou a revoluccedilatildeo dos Cabanos no Paraacute

e se alastrou por toda a proviacutencia O seu vigaacuterio padre Torquato Antocircnio de Souza teve

atuaccedilatildeo destacada durante a sediccedilatildeo servindo de delegado dos legalistas no Baixo Amazonas

Tupinambarana talvez porque estivesse bem defendida foi poupada aos ataques dos

Cabanos

Em 24 de outubro de 1848 a lei provincial do Paraacute nordm 146 elevou a freguesia agrave

categoria de vila com a denominaccedilatildeo de Vila Bela da Imperatriz e constituiu o municiacutepio ateacute

entatildeo ligado a Maueacutes Em 15 de outubro de 1852 pela lei nordm 02 foi confirmada a criaccedilatildeo do

municiacutepio Em 14 de marccedilo de 1853 deu-se a instalaccedilatildeo do municiacutepio de Parintins Em 24 de

agosto de 1858 foi criada pela lei provincial a comarca compreendendo os termos judiciaacuterios

de Vila Bela da Imperatriz e Vila Nova da Conceiccedilatildeo Em 30 de outubro de 1880 pela lei

provincial nordm 499 a sede do municiacutepio recebeu foros de municiacutepio e passou a denominar-se

Parintins Em 1881 foi desmembrado do municiacutepio de Parintins o territoacuterio que constituiu o

municiacutepio de Vila Nova de Barreirinha

A divisatildeo administrativa de 1911 figurou o municiacutepio com quatro distritos Parintins

Paranaacute de Ramos Jamundaacute e Xibuiacute Em 1933 aparece no quadro da divisatildeo administrativa

com um distrito apenas ndash o de Parintins Em 1 de dezembro de 1938 pelo decreto-lei estadual

nordm 176 eacute criado o distrito da Ilha das Cotias passando assim o municiacutepio a constituir-se de

dois distritos Parintins e Ilha das Cotias

Pela lei estadual nordm 226 de 24 de agosto de 1952 a comarca de Parintins perdeu os

termos judiciaacuterios de Barreirinha e Urucaraacute que foram transformados em comarcas Em 19 de

48

dezembro de 1956 a lei estadual nordm 96 desmembrou o municiacutepio de Parintins o distrito da

Ilha das Cotias que passou a constituir o municiacutepio de Nhamundaacute Em 10 de dezembro de

1981 a emenda constitucional nordm 12 eacute acrescido o territoacuterio de Parintins ao distrito de

Mocambo

O primeiro municiacutepio pesquisado eacute considerado o centro da microrregiatildeo Parintins

Segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 2103 a

populaccedilatildeo eacute de 109225 habitantes16

nesta localidade A Microrregiatildeo de Parintins eacute uma das

microrregiotildees do estado brasileiro do Amazonas pertencente agrave Mesorregiatildeo do Centro

Amazonense Estaacute dividida em sete municiacutepios Barreirinha Boa Vista do Ramos Maueacutes

Nhamundaacute Parintins Satildeo Sebastiatildeo do Uatumatilde e Urucaraacute De acordo com estimativas do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) a populaccedilatildeo da microrregiatildeo era de 262

719 habitantes em 2013

Seus municiacutepios limiacutetrofes satildeo Nhamundaacute ao norte Barreirinha ao sul Urucurituba ao

leste e os municiacutepios de Terra Santa e Juruti no estado do Paraacute O limite territorial entre

Parintins e Nhamundaacute se inicia na margem esquerda do rio Amazonas subindo este rio ateacute a

Barreira do Pauraacute A Serra de Parintins eacute usada para delimitar o fim dos limites territoriais

deste municiacutepio com Nhamundaacute Para delimitar os limites territoriais entre Parintins e

Barreirinha usa-se o divisor de aacuteguas dos rios Andiraacute-Uaicuparaacute juntamente com a linha

geodeacutesica que limita os estados do Amazonas e Paraacute Jaacute os limites territoriais com

Urucurituba satildeo iniciados no lago Arapapaacute no Paranaacute de Urucurituba Com o Estado do Paraacute

o limite tem iniacutecio na boca do igarapeacute do Valeacuterio na margem direita do rio Amazonas

Parintins eacute uma cidade marcada pelos traccedilos culturais poliacuteticos e econocircmicos

herdados dos portugueses espanhoacuteis italianos e tambeacutem dos japoneses tendo em vista que a

cidade possuiu uma relevante colocircnia destes imigrantes Natildeo se pode esquecer a importacircncia

dos ameriacutendios no quesito contribuiccedilatildeo eacutetnica Foram os ameriacutendios que iniciaram a ocupaccedilatildeo

humana na Amazocircnia e seus descendentes caboclos desenvolveram-se em contato iacutentimo com

o meio ambiente adaptando-se agraves peculiaridades regionais e oportunidades oferecidas pela

floresta

A cidade eacute um importante centro educacional de niacutevel meacutedio e superior do Estado do

Amazonas A cidade possui um dos mini-campus do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)

que oferece cursos em diferentes niacuteveis ensino meacutedio e ensino teacutecnico

16

Disponiacutevel emlthttpcidadesibgegovbrxtrastemasamazonas|parintins|estimativa-da-populacao-2013gt

Acesso em 28072014

49

Universidades puacuteblicas

- Universidade do Estado do Amazonas (UEA) eacute uma instituiccedilatildeo puacuteblica estadual de

ensino superior que oferece mais de vinte cursos distribuiacutedos em dezessete cidades

amazonenses (Parintins Manaus Presidente Figueiredo Itacoatiara Carauari Tabatinga

Tefeacute Laacutebrea Boca do Acre Coari Eirunepeacute Humaitaacute Manicoreacute Manacapuru Novo

Aripuanatilde Maueacutes e Satildeo Gabriel da Cachoeira) Foi criada pela lei estadual nordm 2637 de 12 de

janeiro de 2001 que proporcionou agraves fundaccedilotildees educacionais de ensino superior instituiacutedas

pelo Estado Em Parintins o Centro de Estudos Superiores (UEA) possui os cursos

Pedagogia Histoacuteria Geografia Fiacutesica Matemaacutetica Letras Portuguesa Quiacutemica Ciecircncias

Bioloacutegicas Tecnologia em Turismo Direito Sauacutede Coletiva Ciecircncias Econocircmicas e

Tecnologia em Gestatildeo Puacuteblica

- Instituto Federal do Amazonas (IFAM) O Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e

Tecnologia do Amazonas foi criado mediante integraccedilatildeo do Centro Federal de Educaccedilatildeo

Tecnoloacutegica do Amazonas e das Escolas Agroteacutecnicas Federais de Manaus e de Satildeo Gabriel

da Cachoeira

- Universidade Federal do Amazonas (UFAM) Instalada no municiacutepio desde 2007

possui os seguintes cursos Serviccedilo Social Comunicaccedilatildeo Social - Jornalismo Administraccedilatildeo

Organizacional Pedagogia Zootecnia Educaccedilatildeo Fiacutesica e Artes Plaacutesticas

No setor de educaccedilatildeo e capacitamento profissional o municiacutepio aleacutem de dispor de

uma ampla rede de escolas (estaduais municipais e privadas) conta com um campus da

Universidade do Estado do Amazonas e algumas faculdades privadas com diversos cursos

superiores ofertados Dispotildee ainda de unidades do SENAI SENAC e SESI e em funccedilatildeo

disso os iacutendices de alfabetizaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo profissional dos municiacutepios estatildeo em

crescimento

A cidade de Parintins eacute o local onde foram feitos os contatos frequentes com os

indiacutegenas da etnia Satereacute-Maweacute porque buscam as casas bancaacuterias para receberem os

benefiacutecios sociais tambeacutem buscam as escolas com ensino de todos os niacuteveis inclusive as

universidades puacuteblicas para as crianccedilas e jovens Outro fator eacute que tem um comeacutercio

desenvolvido em que podem adquirir seus bens de consumo aleacutem de ser de faacutecil acesso aos

demais centros da regiatildeo e do paiacutes atraveacutes dos diferentes meios comunicaccedilatildeo e transporte

Por isso o mapeamento foi iniciado nesta regiatildeo

Apesar de ter um nuacutemero consideraacutevel de habitantes os oacutergatildeos ligados agrave causa

indiacutegena natildeo dispotildeem de dados informativos sobre o objeto da pesquisa em meio agrave estimativa

populacional do municiacutepio mesmo assim outro oacutergatildeo foi procurado para que pudesse

50

fornecer algum dado ligado ao sujeito surdo da etnia Satereacute-Maweacute A instituiccedilatildeo pesquisada

foi a Escola de Aacuteudio Comunicaccedilatildeo ldquoPadre Paulo Mannardquo Esta eacute uma instituiccedilatildeo educacional

mantida pela Diocese de Parintins por meio de sua atual gestora a Professora Zilda Tavares

Atraveacutes desta colaboradora foram coletadas informaccedilotildees sobre os alunos indiacutegenas surdos da

etnia Satereacute-Maweacute que ali estudam ou estudaram que satildeo a seguir descritas

Embora a escola tivesse o conhecimento da existecircncia de dois indiacutegenas surdos da

etnia Satereacute-Maweacute apenas um se encontra matriculado na escola Eacute uma menina de seis anos

de idade cursando o preacute-escolar Para informaccedilotildees consistentes foi solicitado o contato

tambeacutem com a famiacutelia da aluna Ao contatar os pais foi feita uma abordagem por meio de

questionaacuterio mas diante das dificuldades encontradas por natildeo serem alfabetizados na liacutengua

nativa nem na liacutengua Portuguesa os dados utilizados satildeo resultante de entrevistas

assistemaacuteticas (conversas informais)

Os familiares tecircm papeacuteis importantes na formaccedilatildeo da linguagem da crianccedila Eacute atraveacutes

deles que acontece a formaccedilatildeo da identidade social e cultural desse sujeito em

desenvolvimento Satildeo eles que repassam o modo de vida os costumes e outros aspectos

sociais com os seus exemplos e empreendendo a funccedilatildeo da linguagem verbal atraveacutes de

relaccedilotildees dialoacutegicas que ativam a percepccedilatildeo do ser em maturaccedilatildeo no meio familiar Na visatildeo

de Ponzio (et al 2007 p 177)

Uma das funccedilotildees da linguagem verbal eacute a identificaccedilatildeo identificaccedilatildeo dos objetos

mediante um processo de modelaccedilatildeo e de articulaccedilatildeo da realidade que varia de

liacutengua para liacutengua identificaccedilatildeo de sujeito enquanto falante do sujeito do discurso

do tema do outro ao qual esse discurso se dirige de uma espeacutecie de bdquoauditoacuterio

universal‟ a que de modo geral se recorre na argumentaccedilatildeo identificaccedilatildeo de uma

comunidade e da pertenccedila ou da natildeo pertenccedila a esta etc

Um resumo histoacuterico sobre a referida indiacutegena aponta que a famiacutelia residia na

comunidade indiacutegena Ponta Alegre no Rio Andiraacute municiacutepio de Barreirinha Migraram para

a zona urbana em busca de condiccedilotildees para uma melhor qualidade de vida Ao descobrirem a

surdez da filha mudaram-se para a cidade de Parintins Declararam que a forma de se

comunicarem com a filha eacute por meio de gestos criados pela famiacutelia e a crianccedila pois natildeo

sabem a Liacutengua de Sinais

Analisa-se neste contexto a situaccedilatildeo complexa pela qual essa famiacutelia passou para se

entender com a ela posto que se esperasse que a crianccedila dominasse o sistema linguiacutestico que

usam para a comunicaccedilatildeo com os pares atraveacutes da liacutengua natural da etnia Este eacute um fato que

ocorre com as famiacutelias onde natildeo existe o desenvolvimento natural da fala

51

Considere-se assim que a liacutengua eacute adquirida a qual se manifesta em todas as

circunstacircncias normais no conhecimento de uso em processo de audiccedilatildeo desde o nascimento

os quais vatildeo tomando forma de significante e significado enquanto se distingue cada unidade

lexical do todo que existe no meio onde se estaacute inserido Para Lyons ldquoo termo aquisiccedilatildeo da

linguagem eacute normalmente usado sem ressalvas para o processo que resulta no conhecimento

da liacutengua nativa (ou liacutenguas nativas)rdquo (1987 p 231)

Neste caso para a crianccedila em evidecircncia deveria ser propiciado o ensino da Libras

como liacutengua para mediar a comunicaccedilatildeo o mais breve possiacutevel na medida em que ela estaacute

com idade proacutexima da faixa etaacuteria limite de aquisiccedilatildeo sem acarretar prejuiacutezos para o seu

desenvolvimento conforme explica teoria gerativista17

da aquisiccedilatildeo da linguagem proposta

por Lennenberg (1967)

[] a existecircncia de um periacuteodo criacutetico para a quisiccedilatildeo da linguagem tendo como

pressuposto a ideia de que esta eacute inata O periacuteodo criacutetico se iniciaria por volta dos

dois anos e se encerraria por volta da puberdade Esse periacuteodo eacute chamado de criacutetico

porque seria aquele mais sensiacutevel agrave aquisiccedilatildeo da linguagem[] concluiacutendo que o

cereacutebro humano inicialmente tem representaccedilatildeo bilateral das funccedilotildees da linguagem

e mediante o processo de aquisiccedilatildeo na puberdade apenas o hemisfeacuterio se torna

mais dominante em relaccedilatildeo a elas completando o periacuteodo de aquisiccedilatildeo Caso a

crianccedilas natildeo adquira a linguagem nesse periacuteodo seu desenvolvimento linguiacutestico

seraacute prejudicado (apud QUADROS 2008 p 78)

Deste modo no caso a crianccedila surda esta precisa aprender a liacutengua nativa de uma

forma diferenciada adequando-se os siacutembolos agraves formas visuais se natildeo apresentar esta

carecircncia tambeacutem posto que a faculdade da linguagem do ser humano eacute inata conforme

Chomsky esclarece (apud PONZIO etal 2007)

Trata-se de determinar agrave natureza do patrimocircnio bioloacutegico que constitui a bdquofaculdade

da linguagem‟ do ser humano o componente inato do conjunto menteceacuterebro que

uma vez tendo entrado em contato com a experiecircncia linguiacutestica produz o

conhecimento da linguagem isto eacute converte a experiecircncia em um sistema de

conhecimento (p 143)

O segundo indiacutegena surdo da etnia Satereacute-Maweacute havia sido transferido da escola Padre

ldquoPaulo Mannardquo para a Escola Estadual ldquoBrandatildeo de Amorimrdquo Segundo as informaccedilotildees da

famiacutelia ele nasceu na aacuterea indiacutegena de Ponta Alegre Poreacutem quando pequeno sua famiacutelia se

17

A teoria gerativista pressupotildee a existecircncia de um mecanismo inato responsaacutevel pela aquisiccedilatildeo da linguagem

denominado Gramaacutetica Universal (GU) tendo como responsaacutevel por essa concepccedilatildeo que caracteriza-se pela

elucidaccedilatildeo da natureza das linguas naturais Chomsky

52

mudou para zona urbana de Parintins Ele cresceu longe da cultura indiacutegena sem contato com

a liacutengua de sua etnia por estar fora desse contexto Por outro lado natildeo aprendeu a liacutengua

falada em seu entorno na medida em que natildeo pode na prendecirc-la de forma natural por natildeo

ouvir assim por natildeo ter domiacutenio da cultura da etnia deve aprender a liacutengua de sinais

inserindo os signos que significam as palavras do seu leacutexico atraveacutes de instruccedilatildeo especial

com a mediaccedilatildeo de algueacutem que tenha o conhecimento das duas formas de comunicaccedilatildeo Para

Lyons (1987) esses aprendizes adquirem habilidades comunicativas rapidamente pois o

progresso que alcanccedilam eacute pelo menos agraves vezes tatildeo raacutepido que como observam tanto os pais

quanto os pesquisadores eacute difiacutecil manter um registro compreensivo e sistemaacutetico do seu

processo de aprendizado Como tambeacutem eacute no total independente de inteligecircncia e de

diferenccedilas do meio social e cultural

A capacidade da pessoa para construir enunciados vai tomando forma agrave medida que

consegue compreender a relaccedilatildeo entre significante e significados dos signos com os quais tem

contato Por isso os indiacutegenas surdos podem ser beneficiados com um material escrito

triliacutengue Este pode constituir-se em um material de apoio para a aprendizagem das trecircs

liacutenguas sendo que a liacutengua de sinais eacute perspectivada como L1

O terceiro caso identificado eacute de um iacutendio surdo jaacute adulto da comunidade Uiacurapaacute

da etnia Maweacute As informaccedilotildees datildeo conta que ele se comunica por meio de gestos criados por

ele e os pares com quem tem relaccedilatildeo Poreacutem natildeo haacute dados detalhados pois natildeo foi possiacutevel

contato com o mesmo porque ele vive isolado sobrevivendo de caccedila e pesca em comunidade

rural indiacutegena Fato este que implica diretamente no aperfeiccediloamento da forma de

comunicaccedilatildeo desse sujeito posto que ldquoos fenocircmenos ambientais podem agir diretamente

sobre a pessoa ou individualmente atraveacutes de repasse de experiecircncias vividas pela sociedade

atraveacutes da linguagem veiculada pela liacutenguardquo (OLIVEIRA 2005 p134)

Assim estaacute constituiacuteda a populaccedilatildeo de indiacutegenas surdos que fazem parte da

microrregiatildeo de Parintins que se podem fazer os devidos registros neste estudo

412 Histoacuterico de Barreirinha

O municiacutepio de Barreirinha pertence a Mesorregiatildeo da Microrregiatildeo de Parintins que

estaacute localizado a leste de Manaus Capital do Estado distanciando cerca de 331 quilocircmetros

E ao norte de Parintins o municiacutepio de Barreirinha juntamente com Maueacutes satildeo principais

municiacutepios que possuem a maior populaccedilatildeo de indiacutegenas localizados nos rios Andiraacute e o

Marau Portanto sendo o municiacutepio como a sede urbana das comunidades inseridas os surdos

53

indiacutegenas vem apenas em busca de tratamento meacutedico quando necessitam ou para atividades

sociais acompanhados de seus pais mas na zona urbana natildeo localizamos nenhum indiacutegena

surdo

Barreirinha foi o segundo municiacutepio pesquisado E segundo o IBGE em 2013 a

populaccedilatildeo era de 29737 habitantes18

sendo o vigeacutesimo segundo municiacutepio mais populoso do

Estado do Amazonas e o terceiro de sua microrregiatildeo

Este muniacutecipio conta com um setor especiacutefico das causas indiacutegenas a Coordenaccedilatildeo

Iacutendiacutegena Satereacute-Maweacute sob responsabilidade do coodernador geral SrSantino Lopes Este

tornou possiacutevel o acesso agrave comunidade indiacutegena de Ponta Alegre no Rio Andiraacute Foi na

Escola Municipal Professora ldquoRosa Cabralrdquo que foi identificado um indiacutegena surdo da etnia

Satereacute-Maweacute um menino de 12 anos matriculado na 3ordf ano do ensino fundamental Nesse

contexto foi possiacutevel observar sua forma de se comunicar com as demais pessoas que faziam

parte do seu meio social Outros dados referente a relaccedilotildees familiares deste natildeo estatildeo

disponiacuteveis na medida em que natildeo foi possiacutevel fazer contato com sua famiacutelia Desta forma

permanece uma lacuna de respostas referente a esse aluno posto que

De uma forma geral e em regra a socializaccedilatildeo da crianccedila no mundo civilizado

comeccedila dentro de uma famiacutelia nuclear constituiacuteda de pai matildee e irmatildeos quando

existem Durante os primeiros anos da infacircncia adquire traccedilos culturais (menores

unidades de cultura) atraveacutes das pessoas da famiacutelia que satildeo reflexo da sociedade

onde vivem (OLIVEIRA 2005)

Entende-se que atraveacutes de informaccedilotildees que poderiam ser fornecidas pela famiacutelia

deveria ser esclarecido como ocorre a socializaccedilatildeo da crianccedila nesse contexto e de que modo

aprenderam a se comunicar com ela que estrateacutegias foram utilizadas para que ela conseguisse

ser alfabetizada

413 Histoacuterico de Maueacutes

Este municiacutepio que tambeacutem pertence agrave Mesorregiatildeo do Centro Amazonense e

Microrregiatildeo de Parintins tem uma populaccedilatildeo de 54079 habitantes conforme as estimativas

do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) A cidade eacute reconhecida

nacionalmente por possuir uma das maiores expectativas de vida do paiacutes

18

Disponiacutevel emlthttpcidadesibgegovbrxtrastemasamazonas|barreirinha|estimativa-da-populacao-2013gt

Acesso em 28072014

54

Na margem direita do Rio Maueacutes-Accedilu Maueacutes foi fundada em 1798 por Luiz Pereira

da Cruz e Joseacute Rodrigues Preto agrave distacircncia de 268 km em linha reta e 356 km pela via

fluvial de Manaus O calendaacuterio festivo do municiacutepio conteacutem as datas festivas municipais

em homenagem agrave Satildeo Sebastiatildeo (10 a 20 de janeiro) ao Divino Espiacuterito Santo (22 a 30 de

maio) agrave Satildeo Pedro (27 a 30 de junho) agrave padroeira Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo (01 a 8 de

dezembro) assim como a Festa do Carnaval Popular (21 a 24 de fevereiro) do aniversaacuterio do

municiacutepio (26 a 27 de junho) da Ilha de Vera Cruz (23 a 25 de julho) do Veratildeo (de 05 a 7 de

setembro) da Feira Industrial (06 a 8 de novembro) e do Guaranaacute (em novembro)

Sobre a origem do nome deste municiacutepio observa-se que inicialmente foi

denominada Luseia e progredindo com o tempo transformou-se em missatildeo carmelita com

nome de Maueacutes O liacuteder nessa eacutepoca foi o frei Joaquim de Santa Luzia Por um decreto de 25

de junho de 1833 a missatildeo foi considerada vila sob a invocaccedilatildeo de Nossa Senhora da

Conceiccedilatildeo de Luseia Em 1853 pela lei nordm 25 de 3 de dezembro da iniciativa do Deputado

Marcos Antocircnio Rodrigues de Souza a vila tornou-se cidade chamada Satildeo Marcos de

Mundurucacircnia Consta como uma das freguesias da proviacutencia denominada Maueacutes em 1958

A oficializaccedilatildeo da mudanccedila do nome do municiacutepio ocorreu quando o Deputado Joseacute

Bernardo Michiles em 1865 apresentou um projeto para tal que tendo sido aprovado

oficializou-se a mudanccedila do nome de Maueacutes para Conceiccedilatildeo Enfim jaacute na Repuacuteblica em

1895 pela lei nordm 133 de 5 de outubro a localidade torna-se Comarca E em 4 de maio de 1896

eacute considerado municiacutepio pelo novo regime juriacutedico com o nome de Maueacutes pela lei nordm 137

As pesquisas de campo nesse municiacutepio natildeo foram realizadas conforme a previsatildeo

pois a viagem natildeo foi concretizada devido agraves dificuldades em relaccedilatildeo agrave distacircncia para chegar

ateacute agraves comunidades que satildeo distantes da cidade cede e havia necessidade de recurso material

e humano (professores guias indiacutegenas biliacutengues) para realizaacute-la Quando foi possiacutevel chegar

ao local ocorreu o contato com trecircs professores que residiam nas comunidades do rio

chamado Marau Ali foi possiacutevel tecirc-los em companhia na funccedilatildeo de guia inteacuterprete para

contato com os indiacutegenas surdos daquela localidade

Em resposta afirmativa ao questionamento se havia iacutendios surdos foram realizadas

reuniotildees com a comunidade local para coletar informaccedilotildees que apontou a existecircncia de um

caso na comunidade de Santa Maria Era um senhor na faixa etaacuteria de 67 anos que adquiriu a

surdez haacute muito tempo atraacutes Ele natildeo tem conhecimento da Liacutengua Portuguesa por isso natildeo

tivemos contato direto No entanto ele conhece a proacutepria liacutengua e assimilou a cultura da etnia

posto que

55

A liacutengua eacute aprendida simultaneamente a outros elementos da cultura A capacidade

de desenvolvimento da linguagem eacute inata O indiviacuteduo nasce com o ceacuterebro

preparado para aprender tudo que pertinente agrave cultura humana da qual a linguagem

faz parte (OLIVEIRA 2005 p 137)

Eacute no contexto social que se aprende os signos que fazem parte do mundo exterior e

que o ceacuterebro assimila pelo conhecimento que os sentidos possibilitam

O segundo iacutendio localizado foi um surdo de nascenccedila hoje com idade de 24 anos

Segundo relato da famiacutelia nunca frequentou uma escola portanto seu uacutenico meio de

comunicaccedilatildeo eacute gestual que aprendeu como forma para se fazer entender pois ldquoa linguagem eacute

atributo universal do ser humanordquo (OLIVEIRA 2005) assim constitui-se como necessidade

vital da pessoa conduzindo ao aprendizado

Em pesquisa de campo se obteve a informaccedilatildeo que havia outros trecircs iacutendios surdos que

moravam no Rio Marau mas natildeo foi possiacutevel chegar ateacute a aldeia onde se encontravam

devido ao difiacutecil acesso o que impossibilitou a ida ateacute a localidade

414 Histoacuterico de Boa Vista do Ramos

Uma das sete Mesorregiotildees de Parintins eacute Boa Vista do Ramos que possui

aproximadamente 16820 de habitantes segundo o IBGE (2013)

A histoacuteria de Boa Vista do Ramos encontra-se ligada agrave histoacuteria do municiacutepio de

Maueacutes Em 1798 foi fundada a Aldeia de Lusea Em meados do Seacuteculo XIX vaacuterios conflitos

ocorreram na regiatildeo entre brancos e povos indiacutegenas sendo efetiva tambeacutem a participaccedilatildeo de

cabanos oriundos da Cabanagem

Quando a Proviacutencia do Amazonas eacute criada em 1850 Lusea torna-se um dos quatorze

municiacutepios existentes na proviacutencia Seu nome eacute alterado em 1892 para Maueacutes tornando-se

sede da Comarca em 1895 Em 10 de dezembro de 1981 atraveacutes da Emenda Constitucional nordm

12 o povoado de Boa Vista do Ramos aleacutem de outros territoacuterios pertencentes agrave Maueacutes e

aacutereas adjacentes dos municiacutepios de Barreirinha e Urucurituba passam a constituir o novo

municiacutepio de Boa Vista do Ramos

Em pesquisa de campo nesse municiacutepio o primeiro contato que foi na Coordenadoria

Regional de Educaccedilatildeo da cidade (SEDUC) Embora esta professora responsaacutevel por essa

Instituiccedilatildeo tenha informado que natildeo conhecia nenhum caso de iacutendio surdo neste municiacutepio

alguns informantes afirmaram que na aldeia de Santo Antocircnio que faz parte do referido

municiacutepio foi localizada uma senhora que havia adquirido a surdez ainda muito jovem sem

56

nenhum conhecimento das liacutenguas ldquofaladasrdquo ou sinalizadas Desta forma ela utilizava de

gestos para se comunicar porque os seres humanos nascem com a capacidade para a

linguagem que se desenvolvem ao longo da primeira infacircncia mas que podem tambeacutem ser

aprendida no meio social atraveacutes de estiacutemulos Nesta perspectiva segundo a concepccedilatildeo de

Oliveira (2005 p 143)

A evoluccedilatildeo da linguagem depende de dois fatores principais da capacidade geneacutetica

cerebral para desenvolvecirc-la que eacute a principal e dos estiacutemulos ambientais que satildeo

sempre tatildeo importantes quanto aquela Esse desenvolvimento estaacute senpre inserido no

contexto de socializaccedilatildeo que eacute a responsaacutevel pela humanizaccedilatildeo do indiviacuteduo

Ainda sobre a importacircncia da socializaccedilatildeo para os sujeitos ressalta-se que estes

desenvolvendo no meio onde estatildeo inserido adquirem sua identidade cultural

concomitantemente sua identidade linguiacutestica que estaacute presente no discurso dos seus pares

posto que ela ldquoeacute adquirida nos processos de formaccedilatildeo e tranformaccedilatildeo de uma liacutengua

particularrdquo que eacute tambeacutem determinante no relacionamento cm outras liacutenguas E de acordo

com Ponzio (2007 p178) ldquoO espaccedilo em que uma liacutengua vive eacute um espaccedilo interlinguiacutestico e a

capacidade de expressatildeo e da adaptaccedilatildeo dessas liacuteguas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo eacute

diretamente proporcional agrave quantidade de contatos com outras liacutenguasrdquo O que deixa evidente

que um indiviacuteduo pode estar em contato com diferentes formas de intercomunicaccedilatildeo

415 Histoacuterico de Nhamundaacute

Eacute trigeacutesimo quinto municiacutepio mais populoso do estado do Amazonas Sendo o quarto

da Mesorregiatildeo em estudo Conforme o IBGE em 2013 o municiacutepio eacute composto por uma

populaccedilatildeo de 19 792 habitantes

O municiacutepio de Nhamundaacute estaacute localizado na zona fisiograacutefica do Baixo Amazonas

limitando com os municiacutepios de Parintins e Urucaraacute no Amazonas com o Estado de Roraima

(norte) e com os municiacutepios de Faro e Terra Santa no estado do Paraacute Distacircncia da capital 375

km em linha reta e cerca de 577 km por via fluvial Sua altitude eacute de 50 metros acima do

niacutevel do mar

As origens do municiacutepio de Nhamundaacute remontam agraves primitivas povoaccedilotildees dos iacutendios -

nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XVII composta pelos condurizes paraculamas canuris

guancaris paraquatas queremas jamundaacutes e uaboy cujo tuxaua se chamava Jamundaacute que

dada a luta em prol da liberdade de seu povo devido agrave exploraccedilatildeo e maus-tratos pelos

57

colonizadores fez um levante conduzindo a tribo Uaboy para as cabeceiras do alto rio que em

sua homenagem ganhou o seu nome e por conseguinte daacute nome ao municiacutepio

Em 1653 mediante carta reacutegia a regiatildeo foi erigida a Missatildeo que foi confiada aos

missionaacuterios portugueses capuchos da Piedade Eles organizaram uma aldeia modelo na boca

do Tauacuera - aldeia velha afluente esquerdo onde ainda se podem ver ruiacutenas do antigo

convento no meio dos espinhais A sede da Missatildeo poreacutem foi transferida para o lugar da

atual cidade de Faro Os padres capuchos souberam unir os iacutendios uaboy residentes no

Trombetas aos da Missatildeo para aumentar a populaccedilatildeo Era entatildeo o chefe dos Uaboy o tuxaua

Jamundaacute que ligou seu nome agrave Missatildeo e agrave aldeia que doravante se chamou aldeia dos

Jamundaacute ou Missatildeo dos Jamundaacute

O primeiro documento sobre a Missatildeo eacute do ano de 1727 e foi escrito pelo superior da

Missatildeo frei Francisco de Satildeo Manccedilos Em 1758 Missatildeo tomou o nome de Faro No entanto

jaacute em 1755 o Marqucirces de Pombal mandou suspender as Missotildees para serem transformadas

em vilas e paroacutequias A Missatildeo dos Jamundaacute foi extinta em 1758 por ordem de Mendonccedila

Furtado quando de sua viagem de demarcaccedilatildeo da nova capitania Foram criadas assim a vila

de Faro e a Paroacutequia de Satildeo Joatildeo Batista em 21 de dezembro de 1758 mas a instalaccedilatildeo deu-se

somente em 27 de dezembro de 1768

Desse modo em 1911 quando ocorreu a divisatildeo administrativa do Brasil o municiacutepio

de Parintins foi contemplado com o distrito de Jamundaacute Com a extinccedilatildeo deste quando

aconteceu a nova divisatildeo administrativa em 1933 o municiacutepio de Parintins surgiu com apenas

um distrito assim em 10 de dezembro de 1938 pelo Decreto-lei no 176 do Estado do

Amazonas Parintins voltaria a dispor de um outro distrito aleacutem da sede o da Ilha das Cotias

Em 19121955 pela Lei Estadual no 96 o distrito de Ilha das Cotias eacute desmembrado de

Parintins e passa a constituir o municiacutepio autocircnomo de Nhamundaacute Em 31 de janeiro de 1956

foi instalado o municiacutepio de Nhamundaacute

A viagem a esse municiacutepio foi realizada com o apoio do aluno Fernando Gonccedilalves

acadecircmico do curso de Licenciatura em Geografia pela Universidade do Estado do

Amazonas-UEA Para maiores esclarecimentos foi feita a pesquisa na casa de sauacutede indiacutegena

localizada na cidade de Nhamundaacute onde informaram desconhecer a existecircncia da etnia

Satereacute-Maweacute no municiacutepio Mesmo assim foi feito outro contato com uma enfermeira da

Casa de Sauacutede Indiacutegena do municiacutepio A resposta foi a mesma ldquoQueremos informar ao

professor que no municiacutepio de Nhamundaacute que natildeo trabalhamos com a etnia Satereacute-Maweacute

Atendemos somente a etnia Hixkaryana existente na regiatildeo Natildeo haacute portanto nenhum surdo

Hixkaryana ou Satereacute-Maweacute cujo fato eacute comprovado pelo senso municipalrdquo

58

Foi feita uma pesquisa tambeacutem em outro oacutergatildeo que atua com indiacutegenas no caso as

Secretaria de Educaccedilatildeo do Municiacutepio com a finalidade de constatar a veracidade dos fatos

eou conseguir novos dados sobre o indiacutegena surdo Satereacute ou Hixkaryana O subsecretaacuterio de

Educaccedilatildeo relatou que natildeo existia dados sobre a liacutengua Satereacute-Maweacute nem indiacutegenas surdos

existentes

Realmente apoacutes pesquisas in loco ficou comprovado somente agrave existecircncia da etnia

Hixkaryana da famiacutelia linguiacutestica Karib Sobre esta ressalta-se que

A liacutengua hixkaryana pertence agrave famiacutelia linguiacutestica Karib e eacute falada por todos os

membros do grupo Esta liacutengua eacute muito semelhante agravequeles outros dialetos falados

na regiatildeo mais ampla circunscrita pelos vales dos rios Trombetas e Mapuera como

Waiwai Xereu Katuena Karapawyana Tunayana Desta maneira e pelo fato dos

Hixkaryana estabelecerem relaccedilotildees bem estreitas com estes grupos em uma rede de

trocas matrimoniais e rituais tais dialetos satildeo inteligiacuteveis entre si []

Os Kaxuyana que moram no rio Nhamundaacute quase todos tambeacutem falam a liacutengua

hixkaryana aleacutem da sua liacutengua proacutepria o Kaxuyana Contudo em geral um

Hixkaryana natildeo fala a liacutengua kaxuyana fato que de certa forma demonstra que os

Kaxuyana satildeo considerados os ldquoestrangeirosrdquo naquela regiatildeo e que devem aprender

a liacutengua ldquonativardquo o Hixkaryana

A maioria dos Hixkaryana eacute alfabetizada na liacutengua nativa sendo capaz de ler e

escrever neste idioma Em 2008 havia apenas uma escola de ensino fundamental na

aldeia Kassauaacute e muitos jovens depois desta seacuterie dirigiam-se agrave cidade de

Nhamundaacute (AM) para prosseguir os estudos de niacutevel meacutedio Em 2010 uma escola

de ensino meacutedio foi implantada na aldeia Kassauaacute Aleacutem disso uma dezena de

Hixkaryana jaacute cursou ou estaacute cursando o ensino superior em cidades como Parintins

e Manaus Contudo a maioria das mulheres dos velhos e das velhas fala muito

pouco o Portuguecircs sendo o Hixkaryana a liacutengua mais usada por todos19

Assim como no municiacutepio de Nhamundaacute ficou constatado tambeacutem que nos demais

municiacutepios de Satildeo Sebastiatildeo do Uatumatilde e de Urucaraacute que natildeo haacute registro sobre a existecircncia

da etnia Satereacute-Maweacute nem tatildeo pouco a existecircncia de iacutendios surdos A tabela 1- apresenta o

resultado da pesquisa que aponta o mapeamento

Tabela 1 Mapeamento da existecircncia de iacutendios surdos nas respectivas comunidades

indiacutegenas ou zona urbana da microrregiatildeo de Parintins

Fonte Azevedo (2014)

19

Disponiacutevel emlthttppibsocioambientalorgptpovohixkaryanagt Acesso em 07112014

Etnia Liacutengua Comunidade Indiacutegena

rural Zona Urbana

Municiacutepio Quantidade de iacutendios

surdos

Satereacute-Maweacute Tupi Parintins Parintins 02

Satereacute-Maweacute Tupi Uaucurupaacute Parintins 01

Satereacute-Maweacute Tupi Rio Andiraacute Barreirinha 01

Satereacute-Maweacute Tupi Santa Maria Maueacutes 02

Satereacute-Maweacute Tupi Rio Marau Maueacutes 03

Satereacute-Maweacute Tupi Boa Vista do Ramos Boa Vista do

Ramos

01

Total 10

59

De acordo com os dados pode-se observar a existecircncia de poucos iacutendios surdos

Poreacutem acredita-se que ainda existam outros em comunidades mais isoladas Como tambeacutem

pelo fato de serem consideradas ldquodeficientesrdquo algumas famiacutelias natildeo integram na comunidade

que vivem As dificuldades encontradas para coletar os dados a partir dos oacutergatildeos

responsaacuteveis tambeacutem foram encontrados em outros estudos realizados anteriormente para

estabelecer a populaccedilatildeo indiacutegena na Ameacuterica Latina o que pode ser vislumbrado pela

explicaccedilatildeo dos fatos complicadores transcritos a seguir

Uma das dificuldades para estabelecer a populaccedilatildeo indiacutegena estaacute relacionada com

fato de que o criteacuterio de filiaccedilatildeo segue mais a autodenominaccedilatildeo que as

caracteriacutesticas linguiacutesticas ou raciais como se considerava haacute algumas deacutecadas atraacutes

Outra dificuldade eacute que a uacutenica fonte disponiacutevel para estabelecer a quantidade de

populaccedilotildees indiacutegenas na regiatildeo satildeo precisamente os censos nacionais de populaccedilatildeo

que haacute bem pouco tempo permitiam inferir informaccedilatildeo sobre a populaccedilatildeo indiacutegena

a partir de uma uacutenica pergunta referente agrave liacutengua falada pelos entrevistados (LOPES

e SICHRA 2009 p 103)

Entretanto embora natildeo haja um nuacutemero expressivo de iacutendios surdos da etnia Satereacute-

Maweacute ficou constatado que haacute muitos surdos natildeo-iacutendios nos municiacutepios estudados

principalmente no municiacutepio de Parintins que precisam se comunicar com diferentes

interlocutores Este eacute um argumento que aponta para a necessidade de instrumentos

educacionais como um dicionaacuterio triliacutengue importante para os surdos que conseguiram

estabelecer elos comunicativos a partir das trecircs liacutenguas E jaacute que o homem eacute criativo ldquoagrave

medida que o tempo passa a humanidade vai agregando novas descobertas e inventos que se

concretizam e se somam para dar-lhe conforto e bem estarrdquo (OLIVEIRA 2005 p 144) Entatildeo

espera-se que este material contribua para que o sujeito surdo possa se comunicar

adequadamente no seio familiar e no processo educacional

42 Realidade linguiacutestica e educacional dos iacutendios surdos encontrados da etnia Satereacute-Maweacute

O sistema responsaacutevel pela educaccedilatildeo tem procurado fazer adequaccedilotildees para atender agraves

pessoas que apresentam necessidades na sua arquitetura fiacutesica para a inclusatildeo destas no

contexto da realidade linguiacutestica e educacional Embora exista uma legislaccedilatildeo pertinente

ainda haacute ausecircncia de qualidade para que um indiviacuteduo surdo possa estudar incluso em um

contexto regular de ensino Principalmente porque os professores natildeo estatildeo preparados para

lidar com essa situaccedilatildeo peculiar Haacute uma imposiccedilatildeo nos oacutergatildeos educacionais mas natildeo haacute

60

profissionais que atuem para o bom desempenho do aluno indiacutegena surdo A partir dessa

visatildeo Albres (2005) que realizou um estudo nesta aacuterea de conhecimento afirma

Nessa perspectiva o homem eacute produto e produtor da cultura conjunto das relaccedilotildees

sociais portanto mister se faz investigar a origem histoacuterica de alguns princiacutepios da

educaccedilatildeo biliacutengue para surdos e desvelar elementos conceituais Propomo-nos

entatildeo identificar e analisar as concepccedilotildees de linguagem que sob condiccedilotildees

histoacutericas fundamentaram o ensino de Liacutengua Portuguesa para surdos nos

documentos do MEC

Desta feita entende-se que se no contexto do ensino da Liacutengua Portuguesa existem

diversas dificuldades no contexto de uma liacutengua indiacutegena a situaccedilatildeo se torna mais complexa

Desse modo na anaacutelise da situaccedilatildeo linguiacutestica e educacional encontrada com os iacutendios surdos

identificados da etnia Satereacute-Maweacute eacute bastante diversificada Apresentam diferentes formas de

siacutembolos para conseguirem se comunicar com as pessoas com quem tecircm contato Precisam

fazer um esforccedilo aleacutem do necessaacuterio para manifestar seus desejos para informar e ter acesso a

informaccedilotildees

No caso da aluna indiacutegena surda de apenas seis anos de idade na escola especiacutefica para

atender alunos surdos foi constatado que sua situaccedilatildeo linguiacutestica e educacional se encontra

em processo de aquisiccedilatildeo de uma linguagem baacutesica para comunicaccedilatildeo com as pessoas com as

quais ela convive

Conforme os dados fornecidos pela escola por meio de um parecer pedagoacutegico sobre a

aluna indiacutegena surda (ANEXO D) Ficou atestado que a aluna da etnia Satereacute-Maweacute nasceu

de parto normal sem nenhum problema aparente Aos trecircs anos de idade a matildee percebeu que

a filha natildeo ouvia e nem falava pois seus outros filhos haviam comeccedilado a falar na presente

idade Para seguir se comunicar com a filha utilizava-se de gestos sendo difiacutecil a

comunicaccedilatildeo Foi essa situaccedilatildeo que levou a famiacutelia a procura da Escola Padre Paulo Manna

onde se encontra matriculada no preacute-escolar Nessa realidade ela recebe as mesmas

orientaccedilotildees dadas agraves crianccedilas natildeo indiacutegenas logo natildeo existe um direcionamento para a cultura

da sua etnia na escola nem na no contexto familiar

Sobre essa condiccedilatildeo Cool (2004) aborda que haacute um aspecto familiar que tem

relevacircncia particular o tipo de comunicaccedilatildeo que se utiliza em casa ou seja a forma e o estilo

de comunicaccedilatildeo que os pais utilizam com a crianccedila surda tem uma grande importacircncia para o

seu desenvolvimento e para sua aprendizagem No caso dos pais ouvintes estes necessitam do

conhecimento da educaccedilatildeo da cultura da liacutengua da pessoa surda para que possam promover

uma formaccedilatildeo linguiacutestica completa para o filho surdo E deste modo este ldquopossa consolidar e

61

aprofundar o uso e a compreensatildeo da liacutengua proacutepria enquanto veiacuteculo de cultura e

possibilidade de comunicaccedilatildeo no acircmbitordquo de conhecimento do aprendiz sem deixar agrave parte do

domiacutenio da liacutengua apropriada para esse sujeito (HERNAIZ 2009)

Desta forma a educaccedilatildeo escolar reconhecida pela proacutepria escola referente agrave inclusatildeo

da aluna indiacutegena surda aponta para a necessidade de instituir uma educaccedilatildeo triliacutengue de

forma que seu processo de ensino-aprendizagem pauta-se na Liacutengua Satereacute-Maweacute Liacutengua

Brasileira de Sinais e Liacutengua Portuguesa Mesmo sabendo da dificuldade em aprender trecircs

liacutenguas o parecer pedagoacutegico considera possiacutevel aprendizagem de trecircs liacutenguas

A partir dos argumentos referidos reitera-se a importacircncia de que a educaccedilatildeo escolar

dessa aluna deve abranger as liacutenguas de uso natural nativo e social Quando se destaca a

liacutengua de uso natural entende-se que eacute a Liacutengua de Sinais como primeira liacutengua E natildeo

inverter o processo e obrigar a crianccedila surda seja indiacutegena ou natildeo aprender a falar uma

liacutengua oral seja liacutengua indiacutegena ou Liacutengua Portuguesa Sobre a questatildeo Fernandes (2005

p20) pontua

fazer uma crianccedila surda ldquofalarrdquo ao inveacutes de propiciar a ela um meio raacutepido de

comunicaccedilatildeo linguiacutestica atraveacutes da aquisiccedilatildeo da liacutengua de sinais como primeira

liacutengua que proteja e cumpra o papel fundamental de resguardar o seu natural

desenvolvimento no que se refere a ter domiacutenio de fato de um instrumental

linguiacutestico que lhe sirva para as operaccedilotildees mentais que envolvam mecanismos

linguiacutesticos

Portanto primeiramente eacute necessaacuteria a aquisiccedilatildeo da primeira liacutengua a liacutengua de sinais

e como segunda liacutengua a liacutengua nativa de sua comunidade eacutetnica No caso da aluna indiacutegena

a liacutengua Tupi da etnia Satereacute-Maweacute na modalidade escrita Desta forma com a aprendizagem

das duas liacutenguas seraacute uma aluna biliacutengue Poreacutem diante da realidade do aluno indiacutegena surdo

que vive na zona urbana se faz necessaacuterio o aprendizado triliacutengue Liacutengua Portuguesa por

escrito

Como dito anteriormente o ensino-aprendizado da Liacutengua de Sinais deve ser

garantido ao sujeito surdo para que adquira a identidade a cultura do povo surdo20

acesso

pleno as informaccedilotildees aleacutem de significar a possibilidade de comunicaccedilatildeo e expressatildeo fluentes

do sujeito surdo com seu entorno Da mesma perspectiva o ensino da Liacutengua indiacutegena se daacute

20

Como ja mencionado no capiacutetulo 1 sobre Cultura Surda ldquo eacute o jeito surdo de ser de perceber de sentir de

vivenciar de comunicar de transformar o mundo a tornaacute-lo habitaacutevelrdquo (GLADIS PERLIN apud STROBEL

2008 p 21) Strobel ainda esclarece que o sujeito Surdo se comportam diferente do sujeito ouvinte e com isso

traz alguns ldquoartefatos culturaisrdquo (explicado no capiacutetulo 1) que satildeo as pecualiaridade da cultura surda as quais

descritas Parte das experiecircncias visuais linguiacutestico familiar literatura surda vida social e esportiva artes

visuais poliacutetica e materiais Todos estes artefatos concebidos a partir do VER (IDEM 2008 p36-77)

62

em respeito aos direitos da cultura indiacutegena previsto pela Constituiccedilatildeo Brasileira conforme

decreto nordm 6861 de maio de 2009 no seu Art 2o que determina ldquoSatildeo objetivos da educaccedilatildeo

escolar indiacutegena I- valorizaccedilatildeo das culturas dos povos indiacutegenas e a afirmaccedilatildeo e manutenccedilatildeo

de sua diversidade eacutetnica II- fortalecimento das praacuteticas socioculturais e da liacutengua e da liacutengua

materna de cada comunidade indiacutegenardquo

Neste caso a referida aluna iacutendia surda deveraacute ter a liacutengua indiacutegena como liacutengua de

conhecimento de sua cultura Para o ensino desta na forma escrita faz-se uso de cartilhas

gramaacuteticas dicionaacuterios etc

De acordo com o exposto a escola reconhece a necessidade da educaccedilatildeo escolar

triliacutengue poreacutem utiliza-se de outra realidade conforme citado pela proacutepria escola ldquoNo

primeiro momento fica junto com os colegas ouvintes onde procuramos trabalhar de forma

inclusiva no contexto biliacutengue Liacutengua Portuguesa e Liacutengua de Sinais

Sobre este aspecto Rodrigues (2005 p20) pontua

Quantas lacunas estariam sendo criadas em nome da pressuposiccedilatildeo de que a

aprendizagem da liacutengua da maioria dos falantes da comunidade (ouvintes) eacute que

daria agrave crianccedila surda condiccedilotildees de desenvolvimento social e cognitivo Quantas

etapas de desenvolvimento estariam sendo desprezadas nas fases naturais de sua

evoluccedilatildeo sob a alegaccedilatildeo de que ela seraacute capaz de alcanccedilar o que se estabelece como

meta social Que metas estariam sendo alcanccediladas afinal Que objetivos estatildeo sendo

perseguidos em prol desses paracircmetros ultrapassados em detrimento dos reais

objetivos de formaccedilatildeo psico-sociocultural deste individuo Em que a liacutengua de

sinais como primeira liacutengua ainda se encontra determinada pelo descreacutedito de

tantos especialistas da aacuterea

A realidade encontrada sobre a educaccedilatildeo natildeo soacute em uma escola que atende alunos

surdos mas tambeacutem em muitas escolas as chamadas escolas ldquoinclusivasrdquo apresentam

dificuldades no processo de ensino dos alunos surdos21

Todavia entre desencontros

sociocultural-linguiacutesticos eacute preciso fazer uma ressalva desta escola ldquoA escola disponibilizou

21

Sobre a temaacutetica da Inclusatildeo formula-se ldquoAo se avaliar que na contemporaneidade impera o discurso da

inclusatildeo indiscriminada em escolas regulares[]Esta diretriz tira o direito previsto na legislaccedilatildeo brasileira de

poder optar por uma educaccedilatildeo biliacutengue em escola proacutepria de modo que se repete a condiccedilatildeo em que aos surdos eacute

imposto um enorme sofrimento na medida em que nos denominamos processos inclusivos junto aos ouvintes

permanecem privados de conviver com seus pares e de acessar o conhecimento na Liacutengua de Sinais como liacutengua

de instruccedilatildeo [] Os surdosde diferentemente de outros segmentos tecircm a necessidade de agrupar-se para formar

comunidade linguiacutestica por meio das quais possam construir uma ldquocomunidade de experiecircnciasrdquo (WITKOSKI

2012 p33-34)

63

uma professora surda para a aquisiccedilatildeo da Liacutengua Brasileira de Sinais repassando o conteuacutedo

ministrado na salardquo onde cada um desses alunos eacute inserido

A escola positivamente conta com a colaboraccedilatildeo do trabalho docente de uma

professora surda Esta tem um papel fundamental como modelo linguiacutestico principalmente

quando alunos surdos provecircm de famiacutelias ouvintes que natildeo tecircm acesso agrave cultura e agrave Liacutengua

de Sinais Cabe ao professor surdo comunicar-se fluentemente com o aluno surdo ser um

input linguiacutestico para a identificaccedilatildeo da cultura do ser surdo

Dessa forma Strobel (2008 p 40) destaca

Este contato crianccedila surda x adulto surdo atraveacutes de uma liacutengua em comum que eacute a

liacutengua de sinais eacute que proporcionaraacute o acesso agrave linguagem e desta forma estaraacute

assegurada a identidade e a cultura surda que eacute transmitida naturalmente agrave crianccedila

surda em contato com a comunidade surda

Observa-se que caso a crianccedila surda natildeo tenha o direito a sua diferenccedila preservado

este aprendiz teraacute sua inserccedilatildeo no mundo dos ouvintes de forma incerta eou sem esperanccedila de

uma vida normal A situaccedilatildeo se agrava na medida em que a sociedade ouvinte deixa a desejar

quanto agrave participaccedilatildeo dos sujeitos surdos em decorrecircncia da escassez dos vaacuterios recursos

visuais que promovem acessibilidade para eles

Contudo os povos surdos hoje satildeo mais conscientes de seus direitos entatildeo esses

sujeitos cultural e politicamente lutam pelos mesmos Direitos estes tambeacutem dos povos

indiacutegenas como jaacute comentados anteriormente

Todavia esse aspecto ainda estaacute distante da realidade dos sujeitos focos do estudo de

acordo com relato da escola Segundo depoimentos de alguns indiacutegenas a aprendizagem

indiacutegena passa pela demonstraccedilatildeo observaccedilatildeo imitaccedilatildeo tentativa e erro e quando o aluno

vem para a escola tem que se socializar e obedecer a comandos regidos pelo sistema e isso

muitas vezes o deixa confuso e os maiores ateacute desistem A situaccedilatildeo se agrava quando esse fato

se refere ao sujeito iacutendio surdo incluiacutedo na escola pois este requer um diferencial ainda

maior reconhecido pela escola

Dessa forma satildeo necessaacuterias estrateacutegias de ensino diferenciadas que deem suporte

para que a aluna seja trabalhada de forma triliacutengue no contexto escolar para que ela

natildeo perca a sua essecircncia a sua cultura que sejam adaptados trabalhos de acordo

com a realidade indiacutegena para que ela natildeo perca a sua identidade e saiba conduzir

sua aprendizagem dentro de um contexto diferenciado podendo aprender o que lhe eacute

de direito como viver bem em sociedade22

22

Texto extraiacutedo do parecer pedagoacutegico da aluna indiacutegena surda que estuda na Escola de Aacuteudio e Comunicaccedilatildeo

Pe Paulo MannaParintinsAm (ANEXO D)

64

A partir das consideraccedilotildees tecidas no parecer pedagoacutegico torna-se evidente ema

necessidade de ampliar e aprofundar as reflexotildees sobre a inclusatildeo de iacutendios surdos em vaacuterios

espaccedilos da sociedade especialmente no espaccedilo educacional escolar Ou seja haacute necessidade

tambeacutem de poliacuteticas linguiacutesticas voltada para esse acircmbito

Nesse sentido eacute necessaacuterio que se tenha como meta uma tomada de decisotildees poliacuteticas

para que gradativamente se possa controlar a situaccedilatildeo de aprendizagem do surdo no processo

soacutecio cultural onde ele estiver inserido Ateacute por que existe uma proposta educativa

intercultural de modo biliacutengue no contexto indiacutegena Assim surge a necessidade de accedilotildees

objetivas para garantir na praacutetica esta proposta de ensino a fim de enriquecer o indiacutegena

surdo com desenvolvimento da liacutengua de sinais como veiacuteculo de comunicaccedilatildeo acrescendo

seus conhecimentos a partir do pluralismo cultural uma vez que estaacute amparado por

legislaccedilotildees especiacuteficas

Reitera-se a necessidade de accedilotildees objetivas especialmente no que tange a formaccedilatildeo

especiacutefica de professores pois mesmo com a garantia da legislaccedilatildeo a presente realidade

desses sujeitos estaacute distante do contexto sociocultural-linguiacutestico do ser iacutendio surdo A

exemplo disso tem-se outra realidade sociocultural-linguiacutestico do segundo aluno indiacutegena

surdo de 24 anos que foi transferido de uma escola que desenvolve atividades educacionais

especiacuteficas para outra no processo denominado de educaccedilatildeo inclusiva onde cursa o nono ano

do ensino fundamental das seacuteries finais e faz atendimento na sala de recurso porque os

professores das disciplinas do curso natildeo tecircm formaccedilatildeo para acompanhaacute-lo

Os relatos da famiacutelia indicam que o aluno nasceu na aacuterea indiacutegena de Ponta Alegre

poreacutem muito pequeno sua famiacutelia mudou-se para zona urbana municiacutepio de Parintins o qual

cresceu longe de sua cultura indiacutegena desconhecendo assim a liacutengua de sua etnia Este eacute um

caso que promove o desaparecimento de liacutenguas indiacutegenas o conhecido deslocamento

sociolinguiacutestico

Para entender o processo que instaura este deslocamento linguiacutestico ressalta-se que

primeiramente a educaccedilatildeo da pessoa perpassa pelo uso da liacutengua materna no ambiente

familiar nas relaccedilotildees famiacuteliares na qual utiliza uma comunicaccedilatildeo intra e extrafamiliar Se a

famiacutelia mantiver sua liacutengua nativa em uso os membros da mesma permaneceratildeo biliacutengues

Poreacutem se a famiacutelia por pressatildeo social do uso da liacutengua dos falantes da sociedade local seja

porque deseja se adequar ao meio onde se insere a liacutengua no caso indiacutegena entra no processo

de esquecimento para as geraccedilotildees vindouras

65

Eacute o caso do aluno acima que eacute biliacutengue (Liacutengua Brasileira de Sinais e Liacutengua

Portuguesa na modalidade escrita) contudo desconhece sua raiz cultural a liacutengua de sua

etnia Seu contexto educacional eacute baseado em ldquomodelo de escola inclusivardquo o aluno vai para

sala de aula com alunos ouvintes onde a liacutengua portuguesa eacute a liacutengua padratildeo a ser ensinada e

estudada e posteriormente faz atendimento na sala de recurso em sua liacutengua natural Libras

Logo a escola pode ajudar no incentivo favorecendo a revitalizaccedilatildeo da liacutengua

indiacutegena no contexto educacional Para isso haacute necessidade de um corpo docente com a

formaccedilatildeo em Liacutengua indiacutegena e Liacutengua Brasileira de Sinais aleacutem da Liacutengua Portuguesa que eacute

usada como a base de ensino

Jaacute na comunidade Uiacurapaacute da etnia Maweacute encontramos outra realidade de contexto

de um surdo indiacutegena Todavia natildeo foi possiacutevel fazer um acompanhamento mais preciso

sobre sua situaccedilatildeo educacional escolar O uacutenico dado correspondente agrave questatildeo linguiacutestica eacute o

modo como ele se comunica conforme foi relatado por membros da comunidade local se

caracteriza pela utilizaccedilatildeo de gestos criados para se fazer compreender Desta forma diante da

ausecircncia de uma liacutengua estruturada a Libras por fazer uso somente de gestos ele apresenta

dificuldades de entender o ensino e de se comunicar com seus pares Da mesma forma ocorre

no contexto familiar e na comunidade uma vez que o aluno surdo vive quase que isolado

devido ao preconceito existente ateacute mesmo pela proacutepria comunidade por natildeo o entenderem e

nem saberem qual a forma para se comunicar aquele indiviacuteduo Assim ele vive em uma

situaccedilatildeo de rejeiccedilatildeo e marginalizaccedilatildeo estabelecida a partir da ausecircncia de uma liacutengua que

promova a comunicaccedilatildeo com o predomiacutenio de um processo de estigmatizaccedilatildeo deste sujeito

surdo

No municiacutepio de Maueacutes Boa Vista do Ramos os iacutendios surdos localizados satildeo de

idade adulta natildeo tiveram a oportunidade de frequentar escola Portanto sua realidade

linguiacutestica fundamenta-se somente na forma gestual que denominam de caseira atribuindo

significados peculiares de seu contexto local No que diz respeito ao aspecto educacional as

pessoas contatadas demonstraram apenas uma preocupaccedilatildeo sobre a existecircncia futura de

possiacuteveis iacutendios surdos nesses municiacutepios e sua formaccedilatildeo educacional Contudo natildeo

afirmaram o que fariam se encontrassem outros sujeitos com essa necessidade de

comunicaccedilatildeo

Como jaacute mencionado natildeo haacute registro sobre a situaccedilatildeo linguiacutestica e educacional de

nenhum iacutendio surdo da etnia Satereacute-Maweacute nos municiacutepios de Nhamundaacute Satildeo Sebastiatildeo do

Uatumatilde e de Urucaraacute Portanto as informaccedilotildees educacionais natildeo satildeo apresentadas nestes

contextos

66

43 Inventaacuterio de gestos da linguagem caseira dos surdos Satereacute-Maweacute

A presente pesquisa baseia-se em um meacutetodo de estudos de etnografia com o intuito

de descrever e observar os gestos caseiros que os indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute usam para se

comunicarem com seus pares nas comunidades onde residem O meacutetodo tambeacutem ajuda a

conhecer a identidade e sua interaccedilatildeo no meio da comunidade visto haacute uma diversidade

linguiacutestica rica usada pelos surdos indiacutegenas nas diversas localidades percorridas pelo

pesquisador na microrregiatildeo de Parintins

431 Os sinais caseiros de indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute

O objetivo do mapeamento eacute coletar os sinais caseiros ou emergentes para que esses

sinais possam ser reconhecidos e compreendidos pela sua comunidade como meio linguiacutestico

de comunicaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo de sua cultura

Para a concretizaccedilatildeo do mapeamento foi necessaacuterio a pesquisa de campo na

comunidade onde se fazia presente o indiacutegena surdo para as devidas observaccedilotildees

432 O Municiacutepio de Parintins

No municiacutepio de Parintins foi localizado trecircs (03) indiacutegenas surdos com suas

caracteriacutesticas linguiacutesticas diferenciadas de suas origens sendo que dois indiacutegenas residem na

zona urbana e um indiacutegena localizado na comunidade de Uaicurapaacute os quais foram o objeto

investigativo para a coleta de dados Os registros foram feitos de forma diferenciada de modo

que primeiramente conversei com as lideranccedilas indiacutegenas acompanhado de inteacuterprete e guia

linguiacutestico Durante este encontro foram feitas no local observaccedilotildees visuais sendo que em

alguns casos realizamos registros de imagens filmagens e entrevistas Eacute importante destacar

que os registros soacute puderam ser feitos quando permitidos pelos sujeitos da pesquisa ou pela

lideranccedila prevalecendo em sua maior parte a observaccedilatildeo visto que materiais tecnoloacutegicos e

de miacutedias causavam incocircmodo aos entrevistados fazendo com que se tornassem

incomunicaacuteveis quando percebiam que estavam sendo monitorados

67

4321 O primeiro surdo

Esse primeiro indiacutegena possui surdez moderada Eacute um senhor com idade de 72 anos

residente no Uiacurapaacute23

O contato foi feito na Casa do Iacutendio de Parintins Em uma

conversaccedilatildeo informal explicou que perdeu a audiccedilatildeo com o tempo eacute oralizado24

e se

comunica com a comunidade na liacutengua nativa Satereacute-Maweacute Trata-se de um cidadatildeo calmo

fala apenas de suas necessidades visto que natildeo se manifesta muito devido suas limitaccedilotildees

auditivas que dificultam uma melhor compreensatildeo

Como referido o surdo em questatildeo tem surdez moderada Neste sentido observa-se

que a surdez ocorre de acordo com diferentes classificaccedilotildees quanto ao niacutevel de perda auditiva

Ou seja

Quanto ao grau - leve (perda de 26 a 40 dBNA) - moderada (perda de 41 a 55

dBNA) - moderadasevera (perda de 56 a 70 dBNA) - severa (perda de 71 a 90

dBNA) - profunda (a partir de 91 dBNA) (RUSSO e SANTOS 1988 apud

NADER 2011 p 2)

Retomando a histoacuteria do sujeito surdo em questatildeo observa-se que ele reside na zona

rural no Uiacurapaacute com seus parentes e sua sobrevivecircncia eacute atraveacutes do que planta e pesca

Observando-o percebo que o mesmo tem uma vida normal com seus pares o que falta para

uma interaccedilatildeo mais ativa na comunidade eacute estimulo e o incentivo linguiacutestico pois muitas

pessoas satildeo impacientes e acabam deixando-o isolado linguisticamente

4322 O segundo surdo

Eacute um indiacutegena natural de Ponta Alegre25

concluiu o ensino fundamental em uma

escola puacuteblica no municiacutepio de Parintins Sua surdez foi percebida por seus pais ainda

crianccedila causada por doenccedila congecircnita A famiacutelia mudou-se para o municiacutepio de Parintins em

busca de uma melhor educaccedilatildeo para filho surdo entretanto os pais eram usuaacuterios da Liacutengua

Satereacute-Maweacute mas natildeo mais praticam pela influecircncia da Liacutengua Portuguesa e tambeacutem natildeo 23 Rio que fica interliga com Rio Paranaacute do Ramos ndash Parintins (AZEVEDO 2014) 24

O modelo cliacutenico-terapecircutico baseia-se numa visatildeo patoloacutegica de surdez e num modelo individual de

atendimento aacute diversidade que tem como referecircncia o Oralismo O oralismo eacute uma filosofia educacional para

surdos cujo discurso propotildee a superaccedilatildeo da surdez e a aceitaccedilatildeo social do surdo por meio da oralizaccedilatildeo Em

outras palavras este modelo defende o aprendizado apenas da Liacutengua Portuguesa na sua modalidade oral e

escrita na escola por entender que esta eacute a uacutenica possibilidade de integrar o surdo na sociedade majoritaacuteria

ouvinte (SLOMSKI 2010 p 32) 25

A comunidade de Ponta Alegre situa-se no Rio Andiraacute com 4 horas de viagem de lancha para chegar a

comunidade (AZEVEDO 2014)

68

frequentam a comunidade Satereacute-Maweacute em busca de assistecircncia ou outros meios oferecidos

pela tribo Portanto a famiacutelia cresceu e disseminou deixando de lado a liacutengua nativa e

tradiccedilatildeo indiacutegena vivendo uma vida regular na zona urbana

O surdo hoje com 20 anos natildeo conhece a liacutengua nativa de sua comunidade se

comunica fluentemente com a Liacutengua de Sinais escreve o Portuguecircs e se oraliza na

comunicaccedilatildeo com seus pais que tambeacutem natildeo sabem a Liacutengua de Sinais

Atraveacutes de sua histoacuteria eacute possiacutevel perceber que este sujeito surdo por estudar em

escola inclusiva com forte influecircncia a oralista desenvolveu as duas linguas a Liacutengua

Brasileira de Sinais e a Liacutengua Portuguesa Poreacutem sua situaccedilatildeo eacute diferente de outros

indiacutegenas surdos que residem nas comunidades que usam os sinais caseiros para se

comunicarem Isso acaba sendo uma observaccedilatildeo abstrata da realidade entre os surdos que

moram na zona urbana e na comunidade Satereacute-Maweacute

4323 O terceiro surdo

Eacute uma crianccedila de 5 anos descendente da etnia Satereacute-Maweacute estuda em uma escola

filantroacutepica em Parintins Trata-se de uma aluna inteligente que demonstrava timidez na

presenccedila de pessoas estranhas Verificou-se que ela consegue aprender e identificar os objetos

apresentados para que identificasse Aos 4 anos antes de entrar para a escola utilizava alguns

sinais caseiros para se comunicar com seus familiares Na sala de aula o ensino oferecido a

ela eacute o biliacutengue26

tendo a Liacutengua Brasileira de Sinais e a Liacutengua Portuguesa compondo essa

educaccedilatildeo O ensino nessa instituiccedilatildeo vai ateacute a 5ordf serie Por esta razatildeo a aluna futuramente

precisaraacute ser transferida para uma escola de ensino fundamental

Tabela 2 11 Sinais caseiros utilizados pela crianccedila indiacutegena surda de 5 anos e seus

familiares

26

O Bilinguismo eacute uma filosofia de ensino cujo discurso propotildee a diversidade cultural e a aceitaccedilatildeo social do

surdo por meio do bilinguismo (duas liacutenguas Liacutengua de Sinais e segunda liacutengua) Essa filosofia concebe o surdo

como um ser diferente e a surdez como ldquoatributo humanordquo como uma caracteriacutestica da pessoa surda resultado

de uma deficiecircncia orgacircnica que natildeo se esgota nela mesma (SKLIAR 1997 apud SLOMSKI 2010 p 41)

SINAIS CASEIROS DESCRICcedilAtildeO

AacuteGUA Matildeo direita com o dedo polegar fazendo a expressatildeo de beber aacutegua

BRINCAR As duas matildeos fechadas batendo as pontas dos dedos em

movimento

BANHEIRO Matildeo direita mostra o local e a esquerda eacute posicionada na barriga

COMIDA As duas matildeos abrindo e fechando repetidamente proacuteximo da boca

DORMIR As duas matildeos com as palmas juntas encostar-se ao rosto com

expressatildeo de querer dormir

69

Fonte AZEVEDO (2014)

Figura 2 Sinais caseiros utilizado pela crianccedila de 5 anos

FOME Matildeo direita indo em direccedilatildeo da barriga fazendo expressatildeo facial de

fome

MAtildeE Matildeo direita aberta no rosto fazendo movimento nos dedos com

expressatildeo chamativa

IRMAtildeO Matildeo direita batendo no antebraccedilo para chamar atenccedilatildeo

PAI Matildeo direita com os dedos pegando o queixo

PESSOA Matildeo direita com dedo indicador fazendo expressatildeo de algueacutem

CHORAR As duas matildeos fechadas com os dorsos esfregando nos olhos

AacuteGUA BRINCAR

COMIDA DORMIR FOME

MAtildeE IRMAtildeO PAI

BANHEIRO

70

44 O indiacutegena surdo da Comunidade de Ponta Alegre do municiacutepio de Barreirinha

Foi localizado um aluno surdo na comunidade de Ponta Alegre que faz parte do

municiacutepio de Barreirinha trata-se de um jovem de 13 anos que estuda na Escola Municipal

Rosa Cabral e mora em uma aldeia mais distante a observaccedilatildeo foi feita na escola Nessa

viagem foi obtido a autorizaccedilatildeo de viagem para a aldeia na Secretaria de Educaccedilatildeo Municipal

de Barreirinha por meio do contato com o coordenador geral do setor indiacutegena daquela aacuterea

o senhor Santino Lopes que muito contribuiu com o projeto e de servir como guia de

viagem

O devido aluno estuda na 3ordf Serie do ensino fundamental De acordo com as

observaccedilotildees feitas O ensino predominante na sala para o ensino deste aluno eacute a Liacutengua

Portuguesa visto que os professores em sua maioria vem do municiacutepio de Barreirinha

Embora o ensino seja bem aplicado e a escola dispotildee de material didaacutetico apropriado para a

seacuterie natildeo haacute metodologia de ensino especializado para surdo natildeo existindo Sala de

Recursos27

O aluno aprende lentamente demonstrando dificuldades de entender os

conteuacutedos

A comunicaccedilatildeo com seus professores e colegas soacute acontecem atraveacutes de sinais

caseiros e expressotildees manuais O aluno surdo vive quase que isolado sem ter a possibilidade

de estabelecer uma comunicaccedilatildeo satisaftoacuteria dentro do contexto escolar devido ao

27

Uma das inovaccedilotildees trazidas pela Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Especial na Perspectiva da Educaccedilatildeo

Inclusiva (2008) eacute o Atendimento Educacional Especializado ndash AEE um serviccedilo da educaccedilatildeo especial que []

identifica elabora e organiza recursos pedagoacutegicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena

participaccedilatildeo dos alunos considerando suas necessidades especiacuteficas

O AEE complementa eou suplementa a formaccedilatildeo do aluno visando a sua autonomia na escola e fora dela

constituindo oferta obrigatoacuteria pelos sistemas de ensino Eacute realizado de preferecircncia nas escolas comuns em um

espaccedilo fiacutesico denominado Sala de Recursos Multifuncional Portanto eacute parte integrante do projeto poliacutetico

pedagoacutegico da escola (BRASIL 2008 p 3)

CHORAR PESSOA

71

preconceito existente Ateacute mesmo na proacutepria comunidade por natildeo entenderem e nem saberem

de que forma comunicarem-se com o mesmo a situaccedilatildeo de exclusatildeo se repete

Vale destacar que diante desta ausecircncia da qualidade de ensino para o aluno surdo a

professora Maria Inecircs ao responder um questionaacuterio segue algumas afirmativas para mudar

esta realidade Desta forma a educadora afirma que

- Eacute muito importante a capacitaccedilatildeo em cursos de libras e livros didaacuteticos proacuteprios

como forma de melhorar o ensino e a comunicaccedilatildeo com aluno surdo na

comunidade como parte da educaccedilatildeo inclusiva para facilitar o ensino e

aprendizado acima de tudo conhecer sua liacutengua materna identidade do povo

Satereacute-Maweacute

Pelo relato do Gestor da Escola Senhor Dulcemar a necessidade jaacute referida pela

educadora acima de materiais didaacuteticos para subsidiar o ensino eacute novamente colocada em

destaque conforme pode ser vislumbrado no relato transcito a seguir

- Eu como gestor sinto-me gratificado pelo trabalho a ser desenvolvido aqui com a

questatildeo da Libras um trabalho realizado pelo professor Marlon Jorge Pois eacute muito

importante devido agrave dificuldade que a educaccedilatildeo Satereacute- Maweacute vem tendo

principalmente quando se trata de alunos surdos indiacutegenas e ateacute mesmo por falta

de material didaacutetico Esse trabalho vai ser importante aqui na aacuterea indiacutegena para

ajudar o professor na sala de aula como ensinar como educar e como lidar com

esses alunos com necessidades especiais Entatildeo eacute um trabalho muito importante

pra noacutes e estamos aqui a disposiccedilatildeo e tambeacutem para contribuir como gestor da

escola juntamente com os professores e pra noacutes eacute muito bom esse trabalho e que o

Sr possa desenvolver esse seu projeto essa cartilha que com o aacutepice das aulas de

libras que com certeza vai fortalecer muito mais a educaccedilatildeo do povo Satereacute

Maweacuterdquo

Tabela 313 sinais caseiros coletados e utilizados pelo aluno da comunidade de Ponta Alegre

Fonte Azevedo (2014)

SINAIS CASEIROS DESCRICcedilAtildeO

AacuteGUA Usa as duas matildeos fazendo impressatildeo de beber alguma coisa

BARCO Usa-se a matildeo direita aberta em posiccedilatildeo vertical fazendo uma

expressatildeo da accedilatildeo do barco

BANHO Fazer a expressatildeo de pular na aacutegua com os braccedilos esticados

BANHEIRO Matildeo direita usando o indicador fazendo expressatildeo sair fora sala

COMIDA Matildeo esquerda aberta matildeo direita usando como o objeto metaacutelico

COBRA Usando os dedos da matildeo direita beliscando o pulso da matildeo esquerda

ESCOLA Faz-se o sinal de casa

ESTUDAR Faz a expressatildeo de escrever

FOME Matildeo direita levando em direccedilatildeo da barriga fazendo expressatildeo facial

de fome

FARINHA As duas matildeos palmas para baixo fazendo a expressatildeo de esfarelar

alguma coisa

LANCHA Usa a matildeo direita palma para cima fazendo uma accedilatildeo da rapidez

para frente

PEIXE Matildeo direita fazer a expressatildeo de caccedilar o peixe com o arpatildeo

PESSOA Matildeo direita com dedo indicador fazendo expressatildeo de algueacutem

72

Figura 3 Sinais caseiros utilizados pelo aluno da comunidade de Ponta alegre ndash

Barreirinha

AacuteGUA BARCO

BANHEIRO

BANHO

COMIDA

ESCOLA

FOME LANCHA PESCAR PEIXE

ESTUDAR FARINHA

COBRA

73

45 Os indiacutegenas surdos do Municiacutepio de Maueacutes

Situado entre os rios Madeira e Tapajoacutes o municiacutepio de Maueacutes estaacute localizado no

Meacutedio Amazonas que hoje eacute denominado como microrregiatildeo aacuterea leste do Estado Distante

de Manaus cerca de 30 km em linha reta ou o equivalente 45 minutos por via aeacuterea estando

a 356 km por via fluvial cerce de 16 a 18 horas de barco

Nesse municiacutepio foi realizado duas viagens com a finalidade de fazer um mapeamento

das aacutereas indiacutegenas bem como descobrir a existecircncia de surdos nas aldeias O primeiro

contato foi na Secretaria de Educaccedilatildeo do municiacutepio primeiramente me apresentado como

aluno pesquisador juntamente com os documentos comprobatoacuterios de acesso para realizar a

pesquisa nas aacutereas indiacutegenas As informaccedilotildees que tinha antes de estabelecer o contato

apontavam para a existecircncia de alunos indiacutegenas surdos matriculados na sede do municiacutepio

Poreacutem a secretaria informou desconhecer a existecircncia de alunos indiacutegenas matriculados na

rede publica do municiacutepio nem saber sua localizaccedilatildeo para contatos sendo orientado a

procurar na Casa do Estudante Indiacutegena Satereacute-Maweacute que se localiza em um bairro mais

distante dali

Chegando ao SESAI - Secretaria de Sauacutede Indiacutegena obtivemos acesso agraves informaccedilotildees

devido ao fato de que a pessoa responsaacutevel estava em viagem sendo que retornaria na outra

semana Em outra busca formos agrave Casa do Estudante Satereacute-Maweacute onde conversamos com o

coordenador Sr Jusivam que disse saber da existecircncia de indiacutegenas surdos nas comunidades

na Marau e Andiraacute mas natildeo ter dados quantitativos devido ao fato deles natildeo terem procurado

a Casa do Estudante em busca de assistecircncia que auxiliassem sua integraccedilatildeo em escolas

regulares ou inclusivas Observa-se que a Casa do Estudante podia auxiliar eles a

conseguirem uma escola para estudarem na zona urbana jaacute que esta eacute uma das atribuiccedilotildees da

instituiccedilatildeo

Ao sermos informados que as comunidades onde havia surdos eram distantes e

necessitava de apresentar outros documentos da Coordenaccedilatildeo Geral de Educaccedilatildeo que ficava

no municiacutepio de Barreirinha Tambeacutem se fazia necessaacuterio preparar uma programaccedilatildeo de

viagem para que pudessemos chegar ateacute aquela localidade de modo que nesta precisava

inclusive organizar para ter inteacuterpretes que falassem a liacutengua Satereacute-Maweacute e inteacuterpretes de

Libras Aleacutem destes precisava contar com um acompanhante para registrar as imagens e

filmagens se autorizadas anotando tudo que fosse necessaacuterio

Fazendo uma reflexatildeo sobre a viagem e os entraves que tinhamos pela frente para a

concretizaccedilatildeo do projeto e as distacircncias geograacuteficas para alcanccedilar os objetivos da pesquisa

74

Contudo ao encontrar um surdo indiacutegena sendo o principal objeto da pesquisa em funccedilatildeo da

grande satisfaccedilatildeo de poder contribuir para o desenvolvimento linguiacutestico dos indiacutegenas surdos

e para que a comunidade compreenda como um ser incluiacutedo a partir do respeito a sua cultura

inserindo em seus modos e haacutebitos foi compensador enfrentamos todos os obstaacuteculos

Visitamos a Universidade do Estado do Amazonas ndash UEA onde tivemos a grata

surpresa de saber que havia uma turma de formaccedilatildeo em licenciatura Indiacutegena para a

comunidade Esperamos a aula acabar para falar com o professor o qual pediu para vir outro

dia para conversar com os alunos Foi nessa ocasiatildeo que conhecemos trecircs professores com os

quais fizemos um acordo para que na proacutexima viagem me levassem para a aldeia a fim de

realizar o mapeamento

Voltando para Parintins foi elaborado um roteiro para viagem a aacuterea indiacutegena Satereacute-

Maweacute pelos rios Maueacutes-Accedilu Rio MarauUrupadi A viagem aconteceu no dia 02 de

fevereiro de 2014 saindo de barco de Parintins indo ateacute o municiacutepio de Maueacutes No dia

seguinte as 8 horas acompanhado do professor Jesiel pegamos uma voadeira de 150HP com

destino ao territoacuterio Satereacute-Maweacute Foi uma viagem perigosa devido agraves condiccedilotildees dos rios e de

difiacutecil acesso para chegarmos laacute Todavia fizemos um esforccedilo e conseguimos nos deslocar ateacute

a comunidade Percorremos de voadeira uma viagem que durou aproximadamente 8 horas

pelo Rio Maueacutes Accediluacute Depois de uma hora e meia de viagem chegamos ao Rio Urupadi e

seguimos mais uma hora e meia de viagem ateacute a comunidade indiacutegena Vale do Quiinha

Nessa aldeia pegamos o professor Jacob Santos de Souza que nos acompanhou para a

proacutexima aldeia Ilha Michiles que fica no Rio Marau Nessa aldeia pegamos outro professor

Satereacute-Maweacute Jocimar Alencar dos Santos Saiacutemos da Ilha Michiles com destino a

comunidade Santa Maria que fica na divisa do Rio Urupadi e Manjuru A cada visita que

faziamos nas comunidades indiacutegenas percebemos no cotidiano a diversidade presente nas

aacutereas indiacutegenas Satereacute-Maweacute Ao perguntar se havia algueacutem surdo na famiacutelia e a resposta

sempre vinha de forma afirmativa o que me demonstrou que todos os esforccedilos para realizar a

viagem foram compensados diante da riqueza de dados coletados

A primeira iniciativa adotada com relaccedilatildeo a esse momento foi reunir com os

comunitaacuterios envolvidos nas atividades escolares A reuniatildeo teve como objetivo observar e

entrevistar alguns indiacutegenas para posteriormente analisar como se procede agrave comunicaccedilatildeo

entre indiacutegenas surdos e ouvintes A reuniatildeo foi muito uacutetil para os estudos e anaacutelise de

informaccedilotildees Os surdos existentes na comunidade nunca estudaram devido agrave comunidade

Santa Maria ficar distante da zona urbana e a escola existente para alunos ouvintes ficar em

75

outra comunidade o que inviabiliza a ida deles sendo que tambeacutem natildeo haacute professores

especializados para atenderem a clientela surda existente no Rio Marau

Encontramos dois indiacutegenas surdos na comunidade de Santa Maria que foram objeto

de estudos No entanto houve informaccedilotildees repassadas de que haacute outros trecircs surdos em outras

comunidades mais distante na mesma aacuterea Satereacute-Maweacute A visita para contactar estes outros

trecircs surdos ficou para a proacutexima viagem de observaccedilatildeo e coleta dos dados

451 O primeiro surdo da Comunidade de Santa Maria

No contato e observaccedilatildeo que tivemos com o surdo o mais novo tem 24 anos mora

com a famiacutelia natildeo conhece nenhuma liacutengua se comunica com gestos e sinais caseiros A

comunidade assim com a famiacutelia demosntrou pouco se importar com ele de forma que natildeo

haacute estiacutemulo ou interesse para que haja uma interaccedilatildeo linguiacutestica satisfatoacuteria entre eles

O ponto de encontro com seus colegas fica na parte central da comunidade que tem

um campo de futebol Laacute eles se concentram embaixo de uma aacutervore Neste lugar o surdo

costuma ficar quase diariamente com intuito de se unir e brincar com os colegas Ele usa os

sinais caseiros com expressotildees com a intenccedilatildeo de conseguir se comunicar com os colegas

Poreacutem alguns natildeo conseguem entender enquanto outros falam a Liacutengua Satereacute-Maweacute

Apesar do esforccedilo do surdo de tentar compreender o que eacute falado via a leitura labial na

maioria das vezes natildeo consegue compreender Poreacutem mesmo assim sinaliza balanccedilando a

cabeccedila com expressatildeo de concordacircncia afirmativa mesmo natildeo entendendo a mensagem

Tabela 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa

Maria

SINAIS CASEIROS

COLETADOS

DESCRICcedilAtildeO

AacuteGUARIO Usam-se as duas matildeos fazendo a expressatildeo de banzeiro

ANTA Matildeo direita fazendo a expressatildeo do focinho do nariz

AacuteRVORE As matildeos abertas fazendo expressatildeo de segurar o troco ao mesmo tempo

levando para cima

BARCO Usa a matildeo direita fechada fazendo expressatildeo de abrir e fechar a matildeo

como sinal de fumaccedila

BANHO Fazer a expressatildeo de pular na aacutegua com os braccedilos esticados

CASA As duas matildeos palmas para baixo fazendo um balanccedilo de movimento de

uma rede

CACcedilAR PEIXE Matildeo direita fazer expressatildeo de soltar o arpatildeo

CUIA As duas matildeos juntas fazer a expressatildeo de raspar a cuia

COCO Fazer a expressatildeo de tirar o coco com a vara

COMIDA As duas matildeos levando ateacute a boca

76

Fonte Azevedo (2014)

Figura 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa Maria

(30 sinais coletados)

COBRA Matildeo direita fazendo a expressatildeo da picada da cobra

FACA Matildeo direita fachada fazendo a expressatildeo de furar alguma coisa para

baixo

FLECHA Fazer a expressatildeo de jogar a flecha

FORMIGA Matildeo direita com os dedos beliscando o braccedilo esquerdo

FOME Matildeo direita levando em direccedilatildeo da barriga fazendo expressatildeo facial de

fome

FARINHA As duas matildeos fazer a expressatildeo de fazer farinha

GUARANAacute Fazer a expressatildeo de ralar o guaranaacute

JACAREacute Os dois indicadores das matildeos fazendo expressatildeo de dentes grandes do

jacareacute

LANCHA As duas matildeos dedos juntos fazer a expressatildeo de uma accedilatildeo raacutepida para

frente

MACACO Com braccedilos abertos fazer a expressatildeo de macaco

MALOCA As duas matildeos com os dedos encostados puxar para os lados opostos

MANDIOCA Fazer expressatildeo de descascar algum

ONCcedilA Com as matildeos fazer pintas no rosto

PAI As duas matildeos esfregando os indicadores

PEIXE Faz se expressatildeo de descamar o peixe

PILAtildeO As duas matildeos juntas fazendo a expressatildeo de socar a crueira

POTE AacuteGUA As duas matildeos juntas palmas para cima elevando para cima em curvas

onduladas

PASSAacuteRO As duas matildeos fazendo o movimento de paacutessaro

PESSOA Matildeo direita fazendo a expressatildeo de pegar no cabelo

TIPITI As duas matildeos fazendo a expressatildeo de espremer algum

PENEIRAR As duas matildeos em forma letra A fazer expressatildeo de balanccedilar o objeto

AacuteGUA ANTA AacuteRVORE

VIAGEM BANHO

77

VIAJAR

CASA CACcedilAR ALIMENTO CUIA

COCO COMIDA

FACA

FARINHA

FORMIGA

GUARANAacute

FOME

FACA

FLECHA

78

JACAREacute LANCHA

MACACO

MANDIOCA ONCcedilA

MALOCA PAI

POTE DE AacuteGUA PILAtildeO

LANCHA JACAREacute

PEIXE

79

452 O segundo surdo da Comunidade de Santa Maria

O segundo surdo visitado um senhor adulto com identidade natildeo revelada residindo na

Comunidade de Santa Maria Eacute um cidadatildeo reservado e fechado para desconhecidos Como

nossa equipe era composta de 05 profissionais sendo 03 (trecircs) professores indiacutegenas que me

acompanharam para serem facilitadores linguiacutesticos e um colaborador local para captar as

imagens ficarmos 04 (quatro) dias na comunidade para observaccedilotildees Apesar do tempo o

investido para conseguir o contato o mesmo se mostrou irredutiacutevel e natildeo se dispos a

conversar conosco Observa-se que mora sozinha e eacute raro ele se manifestar na comunidade

Pela histoacuteria contada a seu respeito apesar de natildeo se comunicar manteacutem sua residecircncia de

maneira organizada cultiva de algumas plantaccedilotildees como mandioca banana guaranaacute aleacutem de

produzir farinha tambeacutem faz pescaria para se alimentar Foi relatado que ajuda alguns

vizinhos e amigos com o que produz aleacutem de ser experiecircncia em matildeo de obra na confecccedilatildeo

de trepadeira silvestre que facilita subir nas aacutervores coqueiros e accedilaizeiros

PASSAacuteRO PESSOA COBRA

TIPITI PENEIRAR

80

Sobre o contexto educacional tendo como tema central a educaccedilatildeo escolar indiacutegena

o professor Jesiel (2014)28

(que eacute indiacutegena e concluiu o curso de pedagogia intercultural na

Universidade do Estado do Amazonas localizado no municiacutepio de Maueacutes) argumentou que o

territoacuterio Satereacute-Maweacute eacute muito grande sendo longa a distacircncia para se chegar na zona

urbana ateacute de forma que mesmo o deslocamento de uma comunidade para outra dificulta os

indiacutegenas irem para a escola Estas segundo o educador referido satildeo algumas razotildees que

impedem muitos indiacutegenas de estudarem na medida em que acarreta prejuiacutezo para a famiacutelia

especialmente de perda de tempo principalmente para os adultos que tem compromisso no

campo e com a comunidade

Para solucionar este problema devido a distacircncia as famiacutelias e os liacutederes indiacutegenas

possuem propostas e lutas para a construccedilatildeo de escolas nas aldeias o que facilitaria o acesso

dos surdos indiacutegenas da comunidade na escola E ao considerar que o indiacutegena surdo

compreende e se comunica com seus pares atraveacutes de gestos e sinais caseiros de forma que

aleacutem de sua liacutengua nativa haacute outros meios para que o surdo possa se comunicar isso aponta

para a necessidade da criaccedilatildeo de propostas de acesso agrave educaccedilatildeo dessas pessoas Dessa

maneira foram catalogados alguns sinais utilizados por esse surdo adulto da Comunidade de

Santa Maria apresentado abaixo

Tabela 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais antigo residente isolado na

comunidade de Santa Maria no Rio Marau ( 18 sinais coletados)

28

As famiacutelias e os liacutederes indiacutegenas possuem propostas e lutas para a construccedilatildeo de escolas nas aldeias para a

facilitaccedilatildeo do acesso dos surdos indiacutegenas na comunidade e na escola O indiacutegena surdo apesar de natildeo ouvir

compreende e comunica com seus pares atraveacutes de gestos e sinais caseiros que aleacutem de sua liacutengua nativa haacute

outros meios para que o surdo possa se comunicar Isso contribui para a criaccedilatildeo de propostas de acesso agrave

educaccedilatildeo dessas pessoas Dessa maneira foram catalogados alguns sinais utilizados por esse surdo adulto da

Comunidade de Santa Maria apresentado abaixo

A contribuiccedilatildeo do professor indiacutegena Jesiel Santos foi de suma importacircncia para a coleta de dados nesta

pesquisa visto que atraveacutes dele que conseguimos chegar ateacute a comunidade de Santa Maria afim de termos os

contatos na comunidade

SINAIS CASEIROS DESCRICcedilAtildeO

ARCOFECHA As duas matildeos com expressatildeo de utilizar um arco com flecha

AacuteGUA Matildeo direita com utilizando somente o dedo polegar fazer a expressatildeo de

beber algum

BANHO Os braccedilos e matildeos esticadas fazer a expressatildeo de se soltar no rio

BEIJU As duas matildeos fazendo um circulo e em seguida levar ateacute a boca

CIGARRO A posiccedilatildeo para traduzir este sinal satildeo as duas matildeos em posiccedilatildeo dos dedos

polegar e indicador juntos fazendo expressatildeo de fazer um cigarro caseiro

CASA As duas matildeos com os dedos esticados fazer a expressatildeo de formato de uma

casa

COBRA A matildeo direita com os dedos indicador e polegar encostados fazer a expressatildeo

de beliscar o pulso de antebraccedilo

FARINHA Matildeos com os dedos todos juntos fazer a expressatildeo com o movimento de

81

Figura 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo idoso na comunidade de Santa Maria

soltar a farinha

FORNO DE ASSAR Matildeo direita fazendo um semiciacuterculo de com a caracteriacutestica de um forno de

barro

GARREIRA As duas matildeos juntas fazer a expressatildeo repetidamente de amassar uma massa

JACAREacute As duas matildeos pegando os dentes

LUVA DA TUCANDEIRA Fazendo a expressatildeo de usar uma luva de palha e fazer a expressatildeo de dor da

ferrada da tucandeira

MANDIOCA Usar o antebraccedilo esquerdo com a matildeo direita como um material cortante

fazendo a expressatildeo de descascar

MACACO Os dois braccedilos e corpo fazendo a expressatildeo do movimento caracteriacutestico do

macaco

PAJEacute As duas matildeos fazendo a expressatildeo de segurar algum e balanccedilar

PAacuteSSARO Fazer a expressatildeo de balanccedilar os braccedilos caracterizando o movimento de um

paacutessaro

TIPITI As duas matildeos fazendo o movimento de espremer a mandioca

TERRASOLO Matildeo direita fazendo expressatildeo de um pequeno monte de terra

ARCOFECHA BEBER

LIacuteQUIDOAacuteGUA

BEIJUCOMER COBRA

FARINHA FERRADA DA TUCANDEIRA MALOCACASA ESCOLA

ARCOFLECHA BEBER LIQUIDOAacuteGUA BANHOPULAR NA AacuteGUA

AacuteAacuteGUA

CIGARRO

82

FORNO DE ASSAR

JACAREacute

LUVA DA TUCANDEIRA MACACO

PAJEacute

TIPITI TERRA

GAREIRA

MANDIOCA

PAacuteSSARO

(( ))

JACAREacute

83

5 ICONICIDADE E ARBITRARIEDADE NA CRIACcedilAtildeO DOS SINAIS CASEIROS

Nos anos 60 a partir dos trabalhos de Stokoe (1960) foi comprovado que as Liacutenguas

de Sinais satildeo linguas Estas satildeo liacutenguas naturais com ldquoestrutura gramatical proacutepria em seus

niacuteveis fonoloacutegico (ou queroloacutegico) morfoloacutegico sintaacutetico e semacircntico aleacutem de seus aspectos

pragmaacuteticosrdquo

De acordo com Quadros (2006 p 221)

pelo fato de as liacutenguas de sinais natildeo serem faladas e de natildeo terem o seu coacutedigo

escrito ainda popularizado entre os surdos natildeo as elimina das consideraccedilotildees

cientiacuteficas visto que apresentam uma organizaccedilatildeo estrutural e fazem parte da

constituiccedilatildeo cultural desses sujeitos ndash crescendo envolvendo e transmitindo

dinamicamente tradiccedilotildees socioculturais Portanto as liacutenguas de sinais fazem parte

do conjunto da linguagem humana com a diferenccedila de se apresentarem em uma

terceira modalidade a visuo-espacial

Reiterando-se que a Liacutengua de Sinais eacute uma liacutengua natural uma vez que estaacute veiculada

a um canal que natildeo eacute o oral-auditivo e sim visual esta garante uma percepccedilatildeo e articulaccedilatildeo

mais faacutecil mais coerente e confortaacutevel aleacutem de contribuir para o desenvolvimento linguiacutestico

cognitivo e social do surdo

Sobre as caracteristicas linguiacutesticas das Liacutenguas de Sinais vale ressaltar que Sousa

(2010) ao tratar dos aspectos visuais quanto agraves propriedades das Liacutenguas de Sinais enfatiza a

iconicidade e arbitrariedade relacionada ao signo linguiacutestico que satildeo inerentes agraves liacutenguas

naturais Sobre as definiccedilotildees dos fenocircmenos das liacutenguas estes remontam a eacutepoca de Platatildeo

filoacutesofo grego que tratava os fenocircmenos sobre a linguagem e a relaccedilatildeo dela com o mundo

Cita-se tambeacutem Craacutetilo Hermoacutegenes e Soacutecrates que foram interlocutores desta relaccedilatildeo

discutindo a ligaccedilatildeo existente entre nome ideia e coisa A abordagem dos trecircs se diferenciava

de forma que Craacutetilo defendia o conceito de iconicidade Hermoacutegenes de arbitrariedade

Soacutecrates por seu turno integrava as duas concepccedilotildees Esta diferenciaccedilatildeo tecido pelos trecircs

filosofos pode ser vislumbrada no trecho transcrito abaixo

Para Craacutetilo a liacutengua eacute o espelho do mundo o que significa que existe uma relaccedilatildeo

natural e portanto similar ou icocircnica entre os elementos da liacutengua e os seres por

eles representados Para Hermoacutegenes a liacutengua eacute arbitraacuteria isto eacute convencional pois

entre o nome e as ideias ou as coisas designadas natildeo haacute transparecircncias ou

similaridade Soacutecrates por sua vez tem o papel de fazer a integraccedilatildeo entre os dois

pontos de vista (WILSON amp MARTELOTTA 2010 apud SOUSA 2010 p 4)

84

A modalidade gestual-visual espacial pela qual a Liacutengua de Sinais eacute produzida e

reconhecida pela comunidade Surda leva muitas vezes as pessoas a pensarem que todos os

sinais satildeo desenho no ar do referente que representam Para melhor esclarecimento por

decorecircncia de sua natureza linguiacutestica a realizaccedilatildeo de um sinal pode sim ser motivada pelas

caracteriacutesticas do dado da realidade a que se refere poreacutem natildeo eacute regra Ou seja a maioria dos

sinais da LIBRAS eacute arbitraacuteria natildeo mantendo relaccedilatildeo de semelhanccedila alguma com seu

referente Portanto essa condiccedilatildeo possibilita o enriquecimento da flexibilidade e versatilidade

da liacutengua (BASSO 2011 p47)

Exemplos de sinais arbitraacuterios

Figura 6 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos que se refere agrave

arbitrariedade

BISCOITO PESSOA DESCULPA

Fonte Azevedo (2014)

A ideia de arbitrariedade da liacutengua se relaciona com a ideia de convenccedilatildeo que se

efetiva em todas as liacutenguas como Liacutengua de Sinais e na Liacutengua Portuguesa ilustra-se o

processo com os exemplos das palavras ldquobiscoitordquo ldquodesculperdquo e ldquopessoardquo O processo de

definiccedilatildeo destes termos ocorre de forma arbitraacuteria pois soacute nomes foram atribuiacutedos devido a

uma convenccedilatildeo que estabelece esse conceito e natildeo porque haacute uma relaccedilatildeo entre o som da

palavra e o objeto que ela designa (SALLES 2007 p 5)

No caso da Libras os exemplos citados de sinais foram criados sem sofrer influecircncia

da imagem dos objetos aos quais eles se referem O que mostra que mesmo que a Libras

tambeacutem apresenta a caracteriacutestica de arbitraacuterios (TEIXEIRA 2015 p 5)

Para compreender melhor a importacircncia da visualidade na Liacutengua de Sinais dos

Satereacute-Maweacute eacute relevante entender trecircs conceitos da teoria de Pierce sobre a iconicidade que

pode ser considerada a base dos sinais dessa comunidade os quais satildeoo siacutembolo o iacutendice e o

iacutecone Segundo Martelotta (2011) (apud TEIXEIRA 2015 p 2)

85

O siacutembolo de acordo com Peirce refere-se a determinado objeto representando-o

com base em uma lei haacutebito ou convenccedilatildeo estabelecendo uma relaccedilatildeo entre dois

elementos Para citar alguns exemplos a cruz eacute o siacutembolo do cristianismo e a

balanccedila o siacutembolo da justiccedila Uma caracteriacutestica importante do siacutembolo relaciona-se

ao fato de que ele eacute parcialmente motivado ou seja haacute entre o siacutembolo e o conteuacutedo

simbolizado alguns traccedilos relacionados ao objeto

Haacute uma diferenccedila fundamental entre o siacutembolo de um lado e o iacutendice e o iacutecone de

outro jaacute que nesses dois uacuteltimos haacute um niacutevel ainda menor de arbitrariedade No caso

do iacutendice ocorre uma relaccedilatildeo de contiguidade com a realidade exterior a fumaccedila

por exemplo eacute o iacutendice do fogo e a presenccedila de nuvens negras o iacutendice de chuva

iminente

O iacutecone por sua vez tem uma natureza imagiacutestica apresentando portanto

propriedades que se assemelham ao objeto a que se refere A fotografia de um

indiviacuteduo por exemplo eacute uma representaccedilatildeo icocircnica desse indiviacuteduo assim como o

mapa do Rio de Janeiro representa a cidade Assim um iacutecone eacute qualquer coisa que

seja utilizada para designar algo que lhe seja semelhante em algum aspecto

Nesta perspectiva Quadros (1997) traz a reflexatildeo sobre os efeitos da modalidade ou

seja o fato de a Liacutengua de Sinais serem visuoespacial em vez de auditiva-oral implica nas

diferenccedilas para a aquisiccedilatildeo do surdo e nesse sentido tem-se a questatildeo da iconicidade das

Liacutenguas de Sinais uma vez que a iconicidade se refere

A transparecircncia entre significado e o significante ou seja a relaccedilatildeo de identidade

entre a palavra (o sinal) e o seu sentido Por exemplo nas liacutenguas faladas agraves

onomatopeias satildeo consideradas por alguns autores como icocircnicas pois a produccedilatildeo

sonora bdquoreal‟ (do objeto ou do animal) eacute reproduzida na fala expressando certa

identidade (QUADROS 2011 p 22)

Vale ressaltar que a iconicidade vem sendo estudada a partir da pesquisa semioacutetica de

Charles Sanders Peirce (1999) filoacutesofo norte-americano contemporacircneo de Saussure

Segundo Teixeira (2015) Peirce em seus estudos sobre a Semioacutetica o signo tem a funccedilatildeo de

proporcionar uma ideia do mundo e tudo que cerca o indiviacuteduo estaacute rodeado de signos Como

explica o filoacutesofo

[] para que algo possa ser um Signo (expressatildeo ou representamento) esse algo

deve bdquorepresentar‟ [] alguma outra coisa chamada seu Objeto apesar de ser talvez

arbitraacuteria a condiccedilatildeo segundo a qual um Signo deve ser algo distinto de seu objeto

(PEIRCE 1999 apud TEIXEIRA 2015 p 5)

Ao direcionar essas definiccedilotildees para agraves liacutenguas de sinais Sousa (2010) afirma que

muitas vezes essas liacutenguas satildeo consideradas puramente icocircnicas por serem de uma

modalidade diferente acreditando-se acredita que os sinais satildeo criados sempre a partir da

86

representaccedilatildeo do referente Eacute certo que um sinal pode ser realizado de acordo com a

caracteriacutestica daquilo que se refere mas de acordo com Strobel amp Fernandes (1998 apud

Sousa 2010 p 4) ldquoisto natildeo eacute uma regra jaacute que a maioria dos sinais em Libras eacute arbitraacuterio ou

seja natildeo manteacutem uma relaccedilatildeo de similitude com o referenterdquo

Reconhece-se que algumas Liacutenguas de Sinais parecem ter maior motivaccedilatildeo icocircnica

apresentando relaccedilotildees entre a sua forma e o seu significado comumente observado nas

Liacutenguas de Sinais caseiras dos Satereacute-Maweacute Isso significa a relaccedilatildeo entre o referente e o

referenciado Alguns estudos como os de Meier (1981) citado por Lillo-Martin (1986)

apontam para uma aparente iconicidade nas liacutenguas de sinais o que justifica considerar as

variaccedilotildees regionais e sociais e as mudanccedilas histoacutericas como fenocircmenos identificaacuteveis na

Liacutengua Brasileira de Sinais o que lhe confere o caraacuteter natural (STROBEL amp FERNANDES

1998 apud SOUSA 2010)

Nesse contexto a iconicidade como caracteriacutesticas semelhantes ao iacutecone tem em

comum o objeto que representa Por ser uma liacutengua de modalidade visuoespacial a

iconicidade estaacute presente em grande parte dos sinais da Libras pois a relaccedilatildeo entre a ldquoformardquo

e o ldquosentidordquo eacute mais visiacutevel Salles (2007) em bdquoEnsino de liacutengua portuguesa para surdos

caminhos para a praacutetica pedagoacutegica‟ comenta

Um aspecto que se sobressai no contraste entre as modalidades viacutesuo-espacial e oral-

auditiva eacute a questatildeo da arbitrariedade do signo linguiacutestico Esse conceito estabelece

que na constituiccedilatildeo do signo linguiacutestico a relaccedilatildeo entre o significante (imagem

acuacutestico-focircnica) e o significado eacute arbitraacuteria isto eacute natildeo existe nada na forma do

significante que seja motivado pelas propriedades da substacircncia do conteuacutedo

(significado) Uma caracteriacutestica das liacutenguas de sinais eacute que diferentemente das

liacutenguas orais muitos sinais tecircm forte motivaccedilatildeo icocircnica Natildeo eacute difiacutecil supor que esse

contraste se explique pela natureza do canal perceptual na modalidade viacutesuo-

espacial a articulaccedilatildeo das unidades da substacircncia gestual (significante) permite a

representaccedilatildeo icocircnica de traccedilos semacircnticos do referente (significado) o que explica

que muitos sinais reproduzam imagens do referente na modalidade oral-auditiva a

articulaccedilatildeo das unidades da substacircncia sonora (significante) produz sequecircncias que

em nada evocam os traccedilos semacircnticos do referente (significado) o que explica o

caraacuteter imotivado ou arbitraacuterio do signo linguiacutestico nas liacutenguas orais (SALLES

2007 p 83)

Todavia os mesmos sinais icocircnicos possuem um grau de arbitrariedade na definiccedilatildeo

dos mesmos como explica Frydrych (2012)

Pode haver contudo sinais com diferentes graus de iconicidade Um sinal pode natildeo

se assemelhar ao objeto que representa pela forma mas apresentar de alguma

forma uma similaridade por meio de expressotildees faciais ou movimentos Um

exemplo eacute o sinal ldquotristerdquo que possui como configuraccedilatildeo de matildeo o sinal Y

localizada abaixo do queixo em movimento de meia lua O sinal nada tem a ver

com o que a palavra representa no entanto a expressatildeo facial de tristeza que

acompanha o sinal daacute indiacutecios de que seu significado pode natildeo ser muito agradaacutevel

87

[] Falar de sinais icocircnicos em Libras pode parecer comum no entanto o sinal de

ldquocasardquo por exemplo motivado pelo formato do telhado de uma casa eacute tambeacutem

usado para o sinal de ldquomorarrdquo que pode ser usado para ldquomoradiardquo em diferentes

formatos de residecircncia como por exemplo casa apartamento cabana etc Embora o

sinal possa ter sido motivado na sua criaccedilatildeo por um tipo de casa passou a ser usado

de forma muito mais abrangente Sendo isto muito comum nas liacutenguas de sinais Os

sinais passam a ser signos linguiacutesticos altamente arbitraacuterios e passam a integrar o

leacutexico da liacutengua (Apud PIVETTA et al 2013 p8)

Como tambeacutem salienta Silva (2012) que ao passar do tempo o sinal icocircnico perde sua

motivaccedilatildeo inicial passando a ser arbitraacuterio

[] a transparecircncia eacute relativa porque a forma dos objetos ou movimentos que

originaram o sinal pode variar no tempo perdendo a sua motivaccedilatildeo inicial Um

exemplo eacute o sinal ldquoleiterdquo que faz referecircncia ao ato de ordenha que hoje ainda pode

ser considerado um sinal icocircnico Todavia para as futuras geraccedilotildees a motivaccedilatildeo de

sua representaccedilatildeo tende a se tornar uma convenccedilatildeo o que faz com que o sinal passe

a ser arbitraacuterio e de valor simboacutelico Sinais como o de ldquoleiterdquo satildeo frutos de um

processo histoacuterico e com o passar do tempo natildeo representam mais os artefatos e

procedimentos atuais sendo percebidos e interpretados apenas por meio da

arbitrariedade e da convenccedilatildeo(Apud PIVETTA et al 2013 p8)

A seguir temos alguns exemplos de sinais icocircnicos na Libras satildeo os sinais ldquoaacutervorerdquo

ldquocadeirardquo ldquocasardquo constituiacutedos a partir de caracteriacutesticas da imagem dos objetos aos quais se

referem Enquanto o primeiro lembra a imagem do tronco e das folhas de uma aacutervore o

segundo lembra as pernas de uma pessoa representadas pelos dedos indicador e meacutedio e a

terceira lembra a imagem de um telhado ou de uma casa sentada no objeto em questatildeo

(SALLES 2007 p 83)

Figura 7 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos aos quais se referem a

iconicidade

Fonte Azevedo (2014)

AacuteRVORE CADEIRA CASA

88

Figura 8 Caracteriacutesticas da imagem em Liacutengua de Sinais Satereacute-Maweacute dos objetos aos

quais se referem agrave iconicidade

Yara Wato Barco Libras

Fonte Azevedo (2014)

Man Beiju Libras

Fonte Azevedo (2014)

Kamunti hit Bilha Libras

Fonte Azevedo (2014)

89

Dessa maneira podem-se definir os sinais icocircnicos como aqueles que fazem alusatildeo agrave

imagem do seu significado natildeo implicando que todos os sinais satildeo iguais ou sinais icocircnicos

em todas as Liacutengua de Sinais cada grupo social absorve aspectos diferentes da imagem do

referente convencionando a representaccedilatildeo do sinal Os signos arbitraacuterios satildeo os que natildeo

trazem nenhuma relaccedilatildeo de semelhanccedila com o referente

90

6 INTERVENCcedilAtildeO E CONTRIBUICcedilAtildeO LINGUIacuteSTICA DO PROFESSOR SURDO

Os estudos sobre a educaccedilatildeo sistemaacutetica dos indiacutegenas surdos da etnia Satereacute-Maweacute

levaram agrave percepccedilatildeo da necessidade iminente de uma atuaccedilatildeo no processo ensino

aprendizagem desses sujeitos Desse modo apoacutes conhecer a realidade linguiacutestica e

educacional dos indiacutegenas surdos observados nas aldeias e na zona urbana de Parintins foi

possiacutevel intervir por meio do ensino da Liacutengua Brasileira de Sinais A intervenccedilatildeo foi feita

com o consentimento dos responsaacuteveis locais onde se faziam presentes acompanhando o

objeto da pesquisa - os indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute

Assim com a autorizaccedilatildeo da famiacutelia o primeiro contato foi estabelecido entre uma

crianccedila surda indiacutegena com professor tambeacutem surdo que ocorreu na residecircncia dela na zona

urbana do municiacutepio de Parintins cujo registro de imagem consta na Figura 9

Figura 9 Encontro da crianccedila surda Satereacute-Maweacute com o professor surdo

Fonte Azevedo (2014)

No contato foi possiacutevel verificar que a crianccedila natildeo conhecia a liacutengua Libras Sua

forma de comunicaccedilatildeo era com o uso dos siacutembolos ldquocaseirosrdquo Contudo ela respondeu ao

estiacutemulo de conversaccedilatildeo com muita facilidade buscando fazer a comunicaccedilatildeo As demais

observaccedilotildees e intervenccedilatildeo deram-se no ambiente educacional na Escola de Aacuteudio e

Comunicaccedilatildeo Padre Paulo Manna (Figura 10) Nesse contexto a crianccedila acompanhava com

atenccedilatildeo ao desempenho dos demais pares sempre atenta para compreensatildeo do conteuacutedo

comunicativo Ficou evidente a necessidade de um material de suporte escrito como recurso a

ser utilizado pelos docentes no processo ensino e aprendizagem

91

Figura 10 Contato com aluno Satereacute-Maweacute surdo no ambiente escolar

Fonte ndash Azevedo (2014)

Ocorreu tambeacutem o contato com o aluno surdo da Etnia Satereacute-Maweacute matriculado na

Escola Estadual Brandatildeo de Amorim em Parintins o qual foi feito em sua residecircncia dele A

conversa com ele foi feita fluentemente em Libras (Figura 10) Entretanto ao ser indagado

sobre a cultura a liacutengua falada de sua etnia natildeo soube responder Comprovou-se que o aluno

natildeo participa do contexto cultural da etnia por isso natildeo a conhece Por tal considera-se que o

material triliacutengue seria um recurso apropriado para promover o reconhecimento de muitos

signos que fazem parte da Liacutengua Satereacute-Maweacute

Figura 11 Contato com o aluno surdo Satereacute-Maweacute na Escola Estadual Brandatildeo de Amorim

Fonte ndash Azevedo (2014)

O contato com os familiares juntamente com professores indiacutegenas e inteacuterprete

linguiacutestica possibilitou ter uma visatildeo sobre o contexto comunicativo do indiacutegena surdo A

conversa com o pai do indiacutegena surdo na Aldeia de Santa Maria indicou a forma como

conseguem se comunicar com o filho desde o momento que perceberam que ele era surdo

Explicaram as dificuldades que tiveram no processo de entendimento com ele Confirmaram

92

que o aprendizado da liacutengua Libras indicando os signos que representam a cultura da etnia

seria muito importante para a comunicaccedilatildeo entre ele e os familiares eou educadores

Figura 12 Em viagem para aacuterea indiacutegena no Rio Marau ndash comunicaccedilatildeo com familiares

Fonte - Azevedo (2014)

O projeto da pesquisa foi apresentado na comunidade de Santa Maria para os

representantes da comunidade indiacutegena (Figura 12)

Figura 13 Apresentaccedilatildeo do projeto de pesquisa agraves lideranccedilas indiacutegenas na comunidade

Fonte Azevedo (2014)

Ressalta-se a importacircncia das lideranccedilas conhecerem e participarem do desenvolvimento

do projeto A relevacircncia desta participaccedilatildeo daacute-se em funccedilatildeo de que as mesmas contribuiram

informando vocabulaacuterios caracteristicos da regiatildeo que enriqueceram o minidicionaacuterio

triliacutengue Satereacute-MaweacutePortuguecircsLibras como pode ser evidenciado a seguir

93

Vocabulaacuterios e utensiacutelios indiacutegenas sinalizados em Libras

Liacutenguas

Satereacute-Maweacute Portuguecircs Libras

Mory‟ywat siomory‟awat Arco

Satereacute-Maweacute Portuguecircs Libras

T wa Aldeia

Ressalta-se a importacircncia do minidicionaacuterio ao considerar que o vocabulaacuterio contido no

mesmo poderaacute ser utilizado pelo indiacutegena surdo para ele aprenda a comunicaccedilatildeo utilizando os

signos que fazem parte da linguagem da etnia

E realizando uma mini oficina de Libras para professores da comunidade (Figura 6)

foi possiacutevel demonstrar o uso da Libras no contexto da sala de aula A participaccedilatildeo efetiva dos

mesmos proporcionou a troca de informaccedilotildees sobre o vocabulaacuterio da liacutengua indiacutegena

94

Figura 14 Desenvolvimento de oficina de Libras com professores indiacutegenas

Fonte Azevedo (2014)

Enfatiza-se que todo empenho em levar o conhecimento da Liacutengua Brasileira de Sinais

para os indiacutegenas surdos professores indiacutegenas familiares de surdos e comunidade manteve-

se em funccedilatildeo do ensejo de fazecirc-los conhecer e compreender a capacidade e modos dos

indiacutegenas surdos se comunicarem aleacutem de promover a aprendizagem da Libras em um lugar

de tatildeo difiacutecil acesso com pequenas escolas que sequer tecircm materiais didaacuteticos adaptados a

essa clientela Por este motivo considera-se que a contribuiccedilatildeo linguiacutestica em forma de um

minidicionaacuterio eacute um passo importante para levar aos indiacutegenas surdos a sua comunidade e o

nuacutecleo familiar destes o iniacutecio do resgate da sua liacutengua natural que eacute a Liacutengua Brasileira de

Sinais e a sua liacutengua nativa aleacutem de seus traccedilos culturais incluiacutedos no minidicionaacuterio

61 Libras e Liacutengua Satereacute-Maweacute intercacircmbio de construccedilatildeo sociocultural-linguiacutestico

Analisando a histoacuteria do povo surdo e do povo indiacutegena percebe-se uma trajetoacuteria

similar nas lutas por seus direitos culturais e linguiacutesticos Ambos tentam

fortalecer o conhecimento da proacutepria histoacuteria com seus acertos desacertos conflitos

e sucessos buscando a compreensatildeo do ator social como sujeito da histoacuteria e

possibilitando assim a construccedilatildeo de um projeto poliacutetico articulado com outros

setores que incremente as possibilidades de construccedilatildeo dos proacuteprios projetos de

uma vida melhor (HERNAIZ 2009)

Neste sentido destaca-se que esses indiviacuteduos satildeo esquecidos na realidade cultural do

paiacutes como se natildeo existissem enquanto cidadatildeos que tem as suas formas de produzir no

contexto social Mudar esta realidade faz-se fundamental Para tal Guerreiro (2009 p93)

argumenta que

Os direitos culturais satildeo por sua vez um campo complexo que inclui vaacuterios

conjuntos de direitos e garantias entre os quais me interessa destacar para essa

reflexatildeo os seguintes o reconhecimento da diversidade o exerciacutecio da identidade

como povos o uso restrito do idioma uma educaccedilatildeo proacutepria e o respeito pelo

patrimocircnio cultural

95

Os processos culturais linguiacutesticos entre os povos surdos e indiacutegenas surdos eacute uma

possibilidade bem proacutexima atraveacutes do intercacircmbio sociocultural-linguiacutestico que estaacute sendo

construiacutedo pois o surdo indiacutegena faz parte da cultura surda e tem cacircmbio com a cultura

indiacutegena e em muitos casos com a cultura do povo ouvinte

Todavia alguns aspectos da cultura surda satildeo desconhecidos pelo proacuteprio surdo

indiacutegena Por isso a necessidade de surdos indiacutegenas se relacionarem com seus semelhantes

surdos seja indiacutegena ou natildeo indiacutegena para que atraveacutes deste contato possa construir sua

identidade cultural da comunidade surda tornando conhecida sua cultura tribal por meio da

liacutengua de instruccedilatildeo a Libras No exemplo abaixo ilustra-se a percepccedilatildeo dessa realidade

Man ype Crueira Libras

Kui‟a Cuia Libras

Dessa forma conhecendo valorizando e respeitando sua cultura que eacute um patrimocircnio

cultural da sociedade

Logo a liacutengua em uso pelos iacutendios surdos seja ela a Liacutengua de Sinais Indiacutegena

ldquosinais emergentesrdquo ou a Liacutengua Brasileira de Sinais (como empreacutestimo sociocultural-

linguiacutestico) e a Liacutengua Satereacute-Maweacute devem ser valorizadas com respeito muacutetuo na

transmissatildeo de sua cultura Os indiviacuteduos que precisam se comunicar por meio delas lutam

96

pelo fortalecimento dessa inserccedilatildeo cultural pela construccedilatildeo de um futuro melhor e pelo

respeito aos direitos dos iacutendios localizados neste vasto territoacuterio Nesse sentido

A identidade cultural requer tambeacutem ela a alteridade como dialogicidade

intercultural No seu proacuteprio interior ela natildeo eacute nunca algo de compacto mas

apresenta toda uma seacuterie de relaccedilotildees no plano sincrocircnico e diacrocircnico com outras

culturas que lhes datildeo vida justamente pela sua diversificaccedilatildeo e discordacircncia por

mais que ela se obstine em realizar-se mediante a identificaccedilatildeo com alguns de seus

aspectos apenas com algumas formas culturais determinadas que se arvoram

oficiais e dominantes (PONZIO 2007 p179)

Para estes estudos a uniatildeo de esforccedilos que viabilizou a realizaccedilatildeo deste diagnoacutestico eacute

uma demonstraccedilatildeo clara de que eacute perfeitamente possiacutevel trilhar no mundo linguiacutestico

possibilitando a cada indiacutegena novos horizontes na comunicaccedilatildeo

97

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A presente pesquisa teve como foco principal o levantamento de indiacutegenas surdos nas

microrregiotildees do municiacutepio de Parintins da etnia Satereacute-Maweacute

Com base nas informaccedilotildees levantadas nas terras indiacutegenas e nas cidades onde vivem

os Satereacute-Maweacute evidenciou-se que as escolas de zonas rurais e comunidades que o iacutendio

surdo requenta natildeo possui uma educaccedilatildeo diferenciada especiacutefica a sua especificidade

A realidade encontrada no municiacutepio de Parintins para com os alunos iacutendios surdos

por ser em zona urbana jaacute apresenta um diferencial A escola dispotildee de sala de recursos para

alunos indiacutegenas surdos poreacutem dentro dessa realidade haacute falta de professores que dominem a

liacutengua nativa Satereacute-Maweacute para que a escola proporcione um aprendizado triliacutengue Liacutengua

Brasileira de Sinais Liacutengua Satereacute-Maweacute e Liacutengua Portuguesa na modalidade escrita

Nas escolas visitadas onde encontramos surdos foi observado falta de mateacuterias

visuais sala de recursos com atendimentos diferenciados para os alunos indiacutegenas surdos e

indiacutegenas surdos

Foram considerados no decorrer do texto aspectos da contextualizaccedilatildeo em que se deu

a pesquisa desde as discussotildees que antecederam a elaboraccedilatildeo do projeto passando pelas

parcerias que foram estabelecidas no decorrer do processo especialmente com as vaacuterias

organizaccedilotildees indiacutegenas Satereacute-Maweacute ateacute o desenvolvimento das condiccedilotildees que garantiram a

plena participaccedilatildeo da comunidade no decorrer das atividades de pesquisa Partindo da

enumeraccedilatildeo dos principais objetivos do projeto o relatoacuterio apresenta as aacutereas e localidades

cobertas o nuacutemero de domiciacutelios levantados e de moradores entrevistados assim como a

metodologia utilizada a operacionalizaccedilatildeo das atividades de campo o treinamento dos

entrevistadores o levantamento nas cidades e nas terras indiacutegenas a forma e a intensidade

como se desenvolveu a participaccedilatildeo das lideranccedilas e da comunidade como um todo

Durante a pesquisa a sociedade indiacutegena e natildeo indiacutegena juntamente com profissionais

da educaccedilatildeo da linguiacutestica e a proacutepria comunidade surda acompanharam a perspectiva para

uma nova trajetoacuteria destes os iacutendios surdos a qual reflete o reconhecimento linguiacutestico destes

como pessoas pertencentes agraves minorias linguiacutesticas

Ao analisar as questotildees linguiacutesticas nas aacutereas indiacutegenas das microrregiotildees de Parintins

verificou-se que a implantaccedilatildeo deste empreendimento representou como um novo modelo de

desenvolvimento para a comunicaccedilatildeo de indiacutegenas surdos nas comunidades indiacutegenas

98

Ressalta-se que cada municiacutepio onde existem membros da etnia Satereacute receberaacute como

retorno da pesquisa um minidicionaacuterio triliacutengue (Liacutengua de Sinais Liacutengua Satereacute-Maweacute e

Liacutengua Portuguesa) para intercacircmbio sociocultural-linguiacutestico

Este material tem a intenccedilatildeo de abrir o caminho para a participaccedilatildeo direta dos iacutendios

na construccedilatildeo de seu futuro Ele caracteriza uma mudanccedila da forma de olhar para os povos

indiacutegenas Agora eacute preciso trabalhar para que todas as comunidades e etnias possam produzir

seus diagnoacutesticos Todas elas precisam dispor das informaccedilotildees com as quais poderatildeo dar uma

direccedilatildeo a suas accedilotildees Nesse sentido deve haver iniciativas por parte do poder local para que o

governo e as entidades aliadas agraves causas indiacutegenas possam aproveitar as experiecircncias dos

vaacuterios pesquisadores sobre as causas dos Satereacute-Maweacute para ampliar esse tipo de trabalho

Satildeo diagnoacutesticos como este que iratildeo dar o norte para novos projetos e programas que

favoreccedilam realmente garantir a autonomia dos povos indiacutegenas

Finzaliza-se com a satisfaccedilatildeo de que a pesquisa presente contribuiu com um pequeno

passo no incentivo da conservaccedilatildeo e crescimento da identidade cultural-linguiacutestica do iacutendio

surdo

99

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______ (Org) O tradutor e inteacuterprete de liacutengua brasileira de sinais e liacutengua portuguesa

Secretaria de Educaccedilatildeo Especial 2ordf ed Brasiacutelia MEC SEESP 2007

______ Estudos surdos I Ronice Muumlller de Quadros (org) ndash Petroacutepolis Arara Azul 2006

QUADROS Ronice Muller de KARNOPP Lodenir Becker O BIrdquo em bilinguismo na

educaccedilatildeo de surdos FERNANDES Eulalia (org) et al Surdez e Bilinguismo3 ed Porto

Alegre Mediaccedilatildeo 2005

______ Liacutengua de sinais brasileira estudos linguiacutesticos Porto Alegre Artmed 2004

QUADROS Ronice Muller de PERLIN Gladis Estudos Surdos IIndash Petroacutepolis RJ Arara

Azul 2007

______ Teorias de aquisiccedilatildeo da linguagem Florianoacutepolis Ed da UFSC 2008

RAMOS Cleacutelia Regina LIBRAS A Liacutengua de Sinais dos Surdos Brasileiros Petroacutepolis

Arara Azul Rio de Janeiro Disponiacutevel em ltwwweditora-arara-azulcombr Acesso em

28122013

RAMOS F P Histoacuteria e Poliacutetica do Ensino Superior no Brasil algumas consideraccedilotildees

sobre o fomento normas e legislaccedilatildeo Para entender a histoacuteria ISSN 2179-4111 Ano 2

Volume mar Seacuterie 1403 2011 p01-17 Disponiacutevel em

˂httpfabiopestanaramosblogspotcombr201103historia-e-politica-do-ensino-

superiorhtmlgt Acesso em 12012014

REBOUCcedilAS Larissa Silva AZEVEDO Omar Barbosa A Centralidade da Liacutengua para os

surdos pelos espaccedilos de convivecircncia e uso da libras In SAacute Niacutedia Regina Limeira de (org)

[et al] Surdos qual escola Manaus Valer e Edu 2011 p 169-182

102

RODRIGUES Aryon DallacuteIgna Liacutenguas Brasileiras para o conhecimento das liacutenguas

indiacutegenas 4ordf ed Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 2002

ROUSSEAU Jean-Jacques Ensaio sobre a origem das liacutenguas Trad Fulvia M L Moretto

3 ed Campinas Editora da Unicamp 2008 p97-102 Original Francecircs

SAacute Niacutedia Regina Limeira de Cultura Poder e Educaccedilatildeo de Surdos Satildeo Paulo Paulinas

2006 (Coleccedilatildeo Pedagogia e Educaccedilatildeo)

______ Surdos qual escola ManausEditora Valer e Edua 2011

SACKS Oliver W Vendo Vozes uma viagem ao mundo dos surdos Traduccedilatildeo Laura

Teixeira Motta Satildeo Paulo Companhia das Letras 1998

SALLES Heloisa M M L [et al] Ensino da liacutengua portuguesa para surdos caminhos

para a praacutetica pedagoacutegica 2 ed Brasiacutelia MEC SEESP 2007 v 1

SOBRINHO Roberto Sanches Mubarac Vozes Infantis Indiacutegenas As culturas escolares

como elemento de (decircs)encontros com as culturas das crianccedilas Satereacute-Maweacute Manaus Valer

Fapeam 2011

SLOMSKI Vilma Geni Educaccedilatildeo biliacutengue para surdos concepccedilotildees e implicaccedilotildees

praacuteticasCuritiba Juruaacute 2010

SKLIAR Carlos A surdez um olhar sobre as diferenccedilas 2 ed Porto AlegreMediaccedilatildeo

2001

STROBEL Karin Lilian As imagens do outro sobre a cultura surda Florianoacutepolis UFSC

2008

______ Surdos Vestiacutegios Culturais natildeo registrados na histoacuteria Florianoacutepolis 2008 Tese

de Doutorado em EducaccedilatildeoUFSC Disponiacutevel em

ltwwwronicecceprofufscbrindex arquivoskarinstrobelpdf Acesso em 02072013

STROBEL K L FERNANDES S Aspectos linguiacutesticos da Liacutengua Brasileira de Sinais

Curitiba SEEDSUEDDEE 1998

TEIXEIRA Pery (Org) Satereacute-Maweacute Retrato de um povo indiacutegena Manaus

UFAMUNICEF 2005

TEIXEIRA Vanessa Gomes A iconicidade e a arbitrariedade na Libras Revista

Philologus Ano 21 n 61 Supl Anais do VII SINEFIL Rio de Janeiro CIFEFIL-

janabr 2015 Disponiacutevel em lthttpwwwfilologiaorgbrrphANO2161supl013pdfgt

UGGEacute Henrique Padre As Bonitas Histoacuterias Satereacute-Maweacute 1ordf ed Impressa Oficial do

Estado 1993

VILHALVA S Iacutendios surdos mapeamento das Liacutenguas de Sinais do Mato Grosso do Sul

Petroacutepolis Arara Azul 2012 (Cultura e Diversidade seacuterie iacutendio surdo 1)

103

ANEXOS

104

ANEXO A- Normas estabelecidas no ingresso em terras indiacutegenas pela FUNAI

Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio

INSTRUCcedilAtildeO NORMATIVA No 01PRESI DE 29NOVEMBRO1995

PRESIDENTE DA FUNDACcedilAtildeO NACIONAL DO IacuteNDIO - FUNAI

no uso de suas atribuiccedilotildees que lhe satildeo conferidas pelo estatuto aprovado pelo decreto no

564

de 08 de junho de 1992 tendo em vista o que consta do processo FUNAI BsB no210592

R E S O L V E

Art 1o Aprovar as normas que disciplinam o ingresso em Terras Indiacutegenas com finalidade de

desenvolver Pesquisa Cientiacutefica conforme documento em anexo

Art 2o Esta Instruccedilatildeo Normativa entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Art 3o Revoga-se a Instruccedilatildeo Normativa no 001PRESI94 de 08 de abril

de 1994 como qualquer outro dispositivo em contraacuterio

MAacuteRCIO JOSEacute BRANDO SANTILLI

Presidente da FUNAI

ASSINADO NO ORIGINAL

Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio

ANEXO DA INSTRUCcedilAtildeO NORMATIVA No 001PRESI de 29 de novembro de 1995

Art 4o Todo e qualquer pesquisador nacional ou estrangeiro que pretenda ingressar em terras

indiacutegenas para desenvolver projeto de pesquisa cientiacutefica deveraacute encaminhar sua solicitaccedilatildeo

agrave Presidecircncia da FUNAI e no caso de requerimento coletivo deveraacute ser subscrito por um dos

membros do grupo como seu responsaacutevel Art 5o O pesquisador ou pesquisadores deveratildeo

anexar ao pedido do que trata o Art 1o a seguinte documentaccedilatildeo

I carta de apresentaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo a que o pesquisador estaacute vinculado e no caso de

estudantes de graduaccedilatildeo e poacutesgraduaccedilatildeo carta de apresentaccedilatildeo do orientador responsaacutevel

II projeto de pesquisa em portuguecircs detalhando a(s) terra(s) indiacutegenas na(s) qual(is)

pretende ingressar e cronograma

III curriculum vitae do(s) pesquisador(es) redigido em portuguecircs

IV coacutepia autenticada da Carteira de Identidade ou Passaporte quando se tratar de

nacionalidade estrangeira

V atestado individual de vacina contra moleacutestia endecircmica na

aacuterea

VI atestado meacutedico de natildeo portador de moleacutestia contagiosa

105

VII quando se tratar de pesquisador(es) de nacionalidade estrangeira exigir-se-aacute para a

efetivaccedilatildeo de seu ingresso na terra indiacutegena a obtenccedilatildeo de seu respectivo visto temporaacuterio

como prevecirc o artigo 22 do decreto no 86715 de 10 de dezembro de 1981 aleacutem do

cumprimento do disposto no decreto no 98830 de 15 de janeiro de 1990

Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio

Art 6o O pesquisador deveraacute encaminhar diretamente ao CONSELHO

NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO - CNPq o

projeto de pesquisa e curriculum

vitae

Art 7o A solicitaccedilatildeo do ingresso em terra indiacutegena por parte de pesquisadores nacionais ou

estrangeiros seraacute objeto de anaacutelise pela Coordenadoria-Geral de Estudos e Pesquisas - CGEP

uma vez instruiacutedo o processo com o parecer favoraacutevel do CNPq quanto ao meacuterito da pesquisa

proposta e apoacutes ouvidas as lideranccedilas indiacutegenas

Paraacutegrafo Uacutenico - A consulta agraves lideranccedilas indiacutegenas seraacute realizada pela FUNAI com a

presenccedila e participaccedilatildeo do pesquisador podendo este em caso de resposta positiva

permanecer na terra indiacutegena com autorizaccedilatildeo provisoacuteria ateacute a emissatildeo de uma definitiva

Art 8o No caso de negativa das lideranccedilas indiacutegenas quanto ao pleito do ingresso ou

quaisquer outros entraves levantados no decorrer da anaacutelise do processo ou em qualquer outra

etapa de desenvolvimento da pesquisa a CGEP encaminharaacute a questatildeo ao Conselho

Indigenista atraveacutes da presidecircncia do Oacutergatildeo

Art 9o Quando se tratar de pesquisa em espaccedilo territorial de ocupaccedilatildeo tradicional de iacutendios

isolados o pedido seraacute ainda objeto de exame e parecer preacutevio especiacutefico por parte do

Departamento de Iacutendios Isolados - DII FUNAI

Art 10 A presidecircncia da FUNAI poderaacute suspendera qualquer tempo as

autorizaccedilotildees concedidas de acordo com as presentes normas desde que

I seja solicitada a sua interrupccedilatildeo por parte da comunidade indiacutegena em questatildeo

II a pesquisa em desenvolvimento venha a gerar conflitos dentro da terra indiacutegena

III a ocorrecircncia de situaccedilotildees epidecircmicas agudas ou conflitos graves envolvendo iacutendios e natildeo-

iacutendios

Paraacutegrafo Uacutenico - Fica automaticamente prorrogada a autorizaccedilatildeo pelo prazo que a terra

indiacutegena objeto do projeto estiver interditada pelos motivos apontados no Art 10 inciso III

Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio

MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA

Art 11 Todos os pesquisadores estrangeiros ou nacionais que tiverem autorizaccedilotildees

concedidas para ingresso em terras indiacutegenas obrigar-se-atildeo a

I cumprir todos os preceitos legais vigentes notadamente os previstos na Lei no 6001 de

1o1273

II remeter agrave FUNAI relatoacuterio dos Trabalhos de campo em portuguecircs ateacute 6 (seis) meses apoacutes

o teacutermino da pesquisa onde poderatildeo constar sugestotildees praacuteticas que possam trazer benefiacutecios

para as comunidades indiacutegenas que poderatildeo ser consideradas pela FUNAI nas definiccedilotildees de

sua poliacutetica

III remeter agrave FUNAI 2 (dois) exemplares de publicaccedilotildees artigos teses e outras produccedilotildees

intelectuais oriundas das referidas pesquisas

Art 12 Nos casos de solicitaccedilatildeo de prorrogaccedilatildeo do prazo para continuidade do projeto de

pesquisa cientiacutefica na mesma terra indiacutegena caberaacute a Coordenaccedilatildeo Geral de Estudos e

Pesquisas - CGEP os seguintes procedimentos

I notificar junto ao setor competente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e

Tecnoloacutegico - CNPq a solicitaccedilatildeo

II consultar as lideranccedilas quanto ao retorno do pesquisador na terra indiacutegena

106

III observar o cumprimento do Art 8o por parte do pesquisador interessado do Iacutendio

Art 6o O pesquisador deveraacute encaminhar diretamente ao CONSELHO NACIONAL DE

DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO - CNPq o projeto de pesquisa e

curriculum vitae

Art 7o A solicitaccedilatildeo do ingresso em terra indiacutegena por parte de pesquisadores nacionais ou

estrangeiros seraacute objeto de anaacutelise pela Coordenadoria-Geral de Estudos e Pesquisas - CGEP

uma vez instruiacutedo o processo com o parecer favoraacutevel do CNPq quanto ao meacuterito da pesquisa

proposta e apoacutes ouvidas as lideranccedilas indiacutegenas

Paraacutegrafo Uacutenico - A consulta agraves lideranccedilas indiacutegenas seraacute realizada pela FUNAI com a

presenccedila e participaccedilatildeo do pesquisador podendo este em caso de resposta positiva

permanecer na terra indiacutegena com autorizaccedilatildeo provisoacuteria ateacute a emissatildeo de uma definitiva

Art 8o No caso de negativa das lideranccedilas indiacutegenas quanto ao pleito do ingresso ou

quaisquer outros entraves levantados no decorrer da anaacutelise do processo ou em qualquer outra

etapa de desenvolvimento da pesquisa a CGEP encaminharaacute a questatildeo ao Conselho

Indigenista atraveacutes da presidecircncia do Oacutergatildeo

Art 9o Quando se tratar de pesquisa em espaccedilo territorial de ocupaccedilatildeo tradicional de iacutendios

isolados o pedido seraacute ainda objeto de exame e parecer preacutevio especiacutefico por parte do

Departamento de Iacutendios Isolados - DII FUNAI Art 10 A presidecircncia da FUNAI poderaacute

suspendera qualquer tempo as autorizaccedilotildees concedidas de acordo com as presentes normas

desde que

I seja solicitada a sua interrupccedilatildeo por parte da comunidade indiacutegena em questatildeo

II a pesquisa em desenvolvimento venha a gerar conflitos dentro da terra indiacutegena

III a ocorrecircncia de situaccedilotildees epidecircmicas agudas ou conflitos graves envolvendo iacutendios e natildeo-

iacutendios

Paraacutegrafo Uacutenico - Fica automaticamente prorrogada a autorizaccedilatildeo pelo prazo que a terra

indiacutegena objeto do projeto estiver interditada pelos motivos apontados no Art 10 inciso III

Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA

Art 11 Todos os pesquisadores estrangeiros ou nacionais que tiverem autorizaccedilotildees

concedidas para ingresso em terras indiacutegenas obrigar-se-atildeo a

I cumprir todos os preceitos legais vigentes notadamente osprevistos na Lei no 6001 de

1o1273

II remeter agrave FUNAI relatoacuterio dos Trabalhos de campo em portuguecircs ateacute 6 (seis) meses apoacutes

o teacutermino da pesquisa onde poderatildeo constar sugestotildees praacuteticas que possam trazer benefiacutecios

para as comunidades indiacutegenas que poderatildeo ser consideradas pela FUNAI nas definiccedilotildees de

sua poliacutetica

III remeter agrave FUNAI 2 (dois) exemplares de publicaccedilotildees artigos teses e outras produccedilotildees

intelectuais oriundas das referidas pesquisas

Art 12 Nos casos de solicitaccedilatildeo de prorrogaccedilatildeo do prazo para continuidade do projeto de

pesquisa cientiacutefica na mesma terra indiacutegena caberaacute a Coordenaccedilatildeo Geral de Estudos e

Pesquisas - CGEP os seguintes procedimentos

I notificar junto ao setor competente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e

Tecnoloacutegico - CNPq a solicitaccedilatildeo

II consultar as lideranccedilas quanto ao retorno do pesquisador na terra indiacutegena

III observar o cumprimento do Art 8o por parte do pesquisador interessado

107

ANEXO B ndash Questionaacuterio para coleta de dados com professores de comunidades indiacutegenas

QUESTIONAacuteRIO

Nome Prof(a)Nordm Cel

Nome da escola

Tribo Etnia

Quantos alunos surdos iacutendio Serie Idade

Nasceu cognitiva ou adquirida

1 ndash Como eacute a forma de comunicaccedilatildeo entre o professor e o iacutendio surdo

( ) Escrita

( ) Oralizado

( ) Libras

( ) Satereacute Maweacute

2 ndash Qual liacutengua o surdo iacutendio tem mais facilidade de aprender

( ) Portuguecircs

( ) Satereacute Maweacute

( ) libras

3 ndash Qual eacute a metodologia de ensino

4 ndash Como o aluno surdo indiacutegena aprende na sala de aula Tem dificuldade ou facilidade

5 ndash Como e que liacutengua o aluno surdo se comunica com outro surdo se tiver e os demais alunos

ouvintes na sala aula

108

6 ndash Vocecirc jaacute observou a comunicaccedilatildeo entre o aluno surdo iacutendio com a famiacutelia Qual liacutengua

7 ndash Como o aluno surdo iacutendio se comunica com as pessoas da comunidade

8 ndash Qual eacute a reaccedilatildeo das pessoas ouvintes quanto o iacutendio surdo na comunidade

9 ndash Professor(a) qual sua opiniatildeo para melhoria de ensino da educaccedilatildeo de iacutendios surdos

10 ndash Qual eacute a importacircncia da liacutengua indiacutegena Satereacute Maweacute para o aluno surdo

11 ndash Fale sobre a cultura e historia dos Satereacute Maweacute o iacutendio surdo participa

109

ANEXO C ndash Autorizaccedilatildeo para pesquisa de campo em terras indiacutegenas

110

ANEXO C-1 ndash Autorizaccedilatildeo para pequisa de campo com uso de imagem permitido

111

ANEXO C-2 ndash Autorizaccedilatildeo para pequisa de campo com uso de imagem permitido

112

ANEXO D ndash Parecere pedagoacutegico da Aluna Indiacutegena Surda

(ESCOLA PADRE PAULOMANNA)

ESCOLA DE AacuteUDIO COMUNICACcedilAtildeO

Pe PAULO MANNA Mantida pela Diocese de Parintins CNPJ 045945370001-88 Av Naccedilotildees Unidas 1792 FoneFax (092) 3533-3456 69151-060 ndash PARINTINS-AMAZONAS-BRASIL

Parecer Pedagoacutegico

Helena Ferreira Arauacutejo 06 anos de idade aluna da Escola Pe Paulo Manna desde

marccedilo de 2013 mora na rua 4 nordm 298 no bairro da Uniatildeo

Segundo relatos da matildee a aluna nasceu de parto normal comeccedilou a andar aos trecircs

anos de idade e eacute descendente dos iacutendios Satereacute- Maueacute Os anos passaram e ela comeccedilou a

perceber que sua filha natildeo ouvia e nem falava pois jaacute tinha outros filhos e estes comeccedilaram a

falar e andar cedo Informou-nos que para se comunicar com ela fazia gestos ateacute ela entender

o que se tornava muito difiacutecil

Disse-nos que falaram para ela do trabalho desenvolvido na Escola Paulo Manna com

alunos surdos e resolveu procurar a escola pois o tempo estava passando e a menina natildeo

falava e ela natildeo sabia mais o que fazer para reverter a situaccedilatildeo e a sua filha ser como os outros

irmatildeos

Atualmente estuda numa turma de Preacute ndash Escolar (2ordm periacuteodo) eacute uma aluna surda No

ano passado quando chegou agrave escola nos primeiros dias chorava muito e ficava zangada se

escondia embaixo da mesa para que ningueacutem a incomodasse visto que natildeo estava adaptada

ao ambiente e aos poucos foi se adaptando e passou a conviver com os colegas ouvintes em

sala de aula

A aluna gosta de fazer suas atividades escolares tem boa coordenaccedilatildeo motorainterage

com os colegas reconhece cores e formas gosta de desenhar e daacute formas aos seus desenhos realiza atividades de leitura de imagem montagem com jogos de encaixe participa de

brincadeiras na quadra parque e brinquedoteca

Em alguns momentos quando quer alguma coisa do colega e este natildeo lhe daacute fica com

raiva chora e se isola Em outros momentos penso que por natildeo saber se comunicar com os

colegas fica um pouco retraiacuteda e torna-se um a receptora diferenciada que requer cuidados

no tocante agrave comunicaccedilatildeo principalmente de como chegar ateacute ela

Procuramos adaptar brincadeiras para envolver a aluna trazendo-a de volta para

participar das atividades e conversar com ela que nem tudo o que a gente quer podemos ter e

fazemos alguma brincadeira que ela goste e rapidinho ela volta a participar e se integrar ao

grupo

Sabemos que eacute difiacutecil para ela o processo ensino aprendizagem porque ela tem que ter

uma aprendizagem triliacutengue visto que tem que aprender a Liacutengua Indiacutegena+ Libras + Liacutengua

Portuguesa e jaacute eacute difiacutecil aprender duas mas natildeo impossiacutevel

113

Neste ano de 2014 contamos com a ajuda da professora Caacutetia (surda) com aulas de

Libras No primeiro momento fica junto com os colegas ouvintes onde procuramos trabalhar

de forma biliacutengue (Portuguecircs + Libras) para que ela entenda o que estaacute sendo repassado em

sala de aula E o que se percebe eacute que a aluna nos daacute respostas precisas dentro dos objetivos

propostos Em outro momento a professora Caacutetia ensina agrave aluna os sinais em LIBRAS que eacute

a liacutengua oficial da pessoa surda trabalhando o concreto com ela ensinando-a com jogos

cartazes reaacutelias viacutedeos transformando tais atividades em aulas dinacircmicas e prazerosas

Dentro dessa realidade a aluna vai participando buscando se inserir nesse universo

cheio de duacutevidas e incertezas e noacutes professores procuramos fazer o melhor para que a aluna

se sinta bem no ambiente escolar visto que o processo ensino aprendizagem para uma crianccedila

de outra etnia natildeo eacute faacutecil pois segundo depoimentos de alguns indiacutegenas a aprendizagem

indiacutegena passa pela demonstraccedilatildeo observaccedilatildeo imitaccedilatildeo tentativa e erro e quando o aluno

vem para a escola tem que se socializar obedecer a comandos regidos pelo sistema e isso

muitas vezes o deixa confuso e os maiores ateacute desistem

Dessa forma satildeo necessaacuterias estrateacutegias de ensino diferenciadas que deem suporte para

que a aluna seja trabalhada de forma triliacutengue no contexto escolar para que ela natildeo perca a

sua essecircncia a sua cultura que sejam adaptados trabalhos de acordo com a realidade

indiacutegena para que ela natildeo perca a sua identidade e saiba conduzir sua aprendizagem dentro de

um contexto diferenciado podendo aprender o que lhe eacute de direito bem como viver bem em

sociedade

Parintins 14 de abril de 2014

MARLON JORGE SILVA DE AZEVEDO

MAPEAMENTO E CONTRIBUICcedilOtildeES LINGUIacuteSTICAS DO PROFESSOR SURDO

AOS IacuteNDIOS SURDOS DA ETNIA SATEREacute-MAWEacute NA MICRORREGIAtildeO DE

PARINTINS

Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Letras

Artes para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre

em Letras opccedilatildeo Etnolinguiacutestica

Indiacutegena Universidade do Estado

Estadual do Amazonas-UEA Programa

de Poacutes Graduaccedilatildeo em Letras Artes

Orientador Prof Dr Valteir Martins

MANAUS ndash AM

2015

Catalogaccedilatildeo na fonte Elaboraccedilatildeo Ana Castelo CRB11ordf -314

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS ndash wwwueaedubr

Av Leonardo Malcher 1728 ndash Ed Professor Samuel Benchimol

Pccedila XIV de Janeiro CEP 69010-170 Manaus - Am

A994M Azevedo Marlon Jorge Silva de

Mapeamento e contribuiccedilotildees linguiacutesticas do professor surdo aos iacutendios surdos da etnia Satereacute-Maweacute na microrregiatildeo de Parintins Marlon Jorge Silva de Azevedo ndash Manaus UEA 2015

115fls il 30cm

Dissertaccedilatildeo de Mestrado e Produto apresentada ao Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo em Letras e Artes da Universidade do Estado do Amazonas como requisito para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em Letras e Artes

Produto Minidicionaacuterio Triliacutengue indiacutegena Saterecirc-Maweacute em Libras e Liacutengua Portuguesa

Orientador Prof Dr Valteir Martins

1Linguiacutestica 2Liacutengua de Sinais 3 Satereacute-Maweacute 4 Dicionaacuterio I Orientador Prof Dr Valteir Martins IITiacutetulo

CDU 81rsquo3744

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM LETRAS ARTES

MESTRADO PROFISSIONAL EM LETRAS ARTES

DEDICATOacuteRIA

Aos meus familiares em especial a minha matildee Idalina

Azevedo que desde o ventre proporcionou-me seu amor com

dedicaccedilatildeo e todas suas forccedilas ao meu lado em momentos tatildeo

difiacuteceis nunca deixando de acreditar no poder de Deus sobre

minha vida

A minha amada esposa Rosana Valeacuteria mulher saacutebia

e auxiliadora de todos os momentos do meu viver

Aos meus filhos Caroline Camila e Benjamim Jorge

pelo amor que sempre me deram pela compreensatildeo de

minhas ausecircncias durante a trajetoacuteria de minha pesquisa

AGRADECIMENTOS

A Deus em primeiro lugar que planejou a minha vida quando eu ainda nem existia e

me libertou no momento que recorri a Ele E me fez acreditar que o impossiacutevel soacute existe

quando natildeo temos feacute

Agrave Coordenadora do Mestrado em Letras e Artes da Universidade do Estado do

Amazonas ndash UEA Professora Dra Juciane Cavalheiros pelo excelente trabalho que

desenvolve nesta instituiccedilatildeo contribuindo para a formaccedilatildeo de novos profissionais na

educaccedilatildeo do nosso paiacutes

Ao meu orientador Dr Valteir Martins Professor do Mestrado em Letras e Artes

com sua saacutebia experiecircncia de ensino acreditou que atraveacutes deste trabalho pudeacutessemos levar

contribuiccedilotildees linguiacutesticas no que tange agrave Liacutengua de Sinais dos indiacutegenas surdos Satereacute-

Maweacute habitantes da microrregiatildeo de Parintins

Aos meus professores do Mestrado em Letras e Artes Dra Silvana Martins Dr

Mauricio Mattos Dr Maacutercio e Dra Luciana Paacutescoa Dra Gleidys Maia Dr Camilo Ramos

pelas preciosas contribuiccedilotildees agrave minha pesquisa

Aos professores indiacutegenas Jacob de Souza Jocimar Alencar e Josiel Santos por me

introduzir nas comunidades indiacutegenas Satereacute-Maweacute pelas contribuiccedilotildees na traduccedilatildeo das

palavras da liacutengua portuguesa para a liacutengua Satereacute-Maweacute

Aos meus colegas do mestrado em Letras e Artes pelo companheirismo e dedicaccedilatildeo

no dia a dia

Agrave professora Elizandra de Lima Silva Bastos pela ajuda nas correccedilotildees textuais da

Liacutengua Portuguesa

Agraves instituiccedilotildees especiacuteficas que de alguma forma contribuiacuteram para concretizar esta

pesquisa

MANAUS

Escola Estadual Augusto Carneiro dos Santos

Centro de Atendimento ao surdo ndash CAS

A Igreja Tabernaacuteculo Batista Pastor Paulo Hatcher

PARINTINS

Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio ndash FUNAI

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE

Coordenadora Regional de Educaccedilatildeo de Parintins - CREP

Universidade Estadual do Amazonas ndash CESP

Casa da Sauacutede Indiacutegena

Casa do Iacutendio de Parintins

Escola Aacuteudio Comunicaccedilatildeo Pe Paulo Manna

Diocese de Parintins Pe Henrique Uggeacute

Escola Estadual Brandatildeo de Amorim

Escola Estadual Joatildeo Bosco Ramos de Lima

MAUEacuteS

Secretaria de Estado de Educaccedilatildeo

Secretaria de Educaccedilatildeo Municipal

Casa do estudante indiacutegena Sr Jusivan

Tuxaua da Comunidade de Santa Maria Sr Helito Barbosa

Sr Maxiliano Batista Barros

BARREIRINHA

Secretaria de Educaccedilatildeo Municipal - SEMED

Secretaria de Estado de Educaccedilatildeo

Coordenaccedilatildeo Municipal de Educaccedilatildeo Indiacutegena Sr Santino Lopes

Coordenador da Escola Profa Rosa Cabral Sr Dulcemar F dos Santos

Professora Indiacutegena Satereacute-Maweacute Maria Inez

NHAMUNDAacute

Casa de Sauacutede Indiacutegena - DSEI

Secretaria de Estadual de Educaccedilatildeo

BOA VISTA DO RAMOS

Secretaria de Estado e Educaccedilatildeo

Escola Estadual Princesa Izabel

Comunidade Satereacute-Maweacute

Professora Erly Tereza R Goacutees

URUCARAacute

Poacutelo Base de Urucaraacute ndash DSEI

Distrito Sanitaacuterio Especial Indiacutegena

Lider Indiacutegena Etnia Hexkaryana Caiacutenatilde Mohso

SraMaacuterlucia Kutasa

Enfermeiro SrJonas Pontes

SraDalva H Farias Cantalixto de Melo

SrLuiz Cantalixto de Melo

SAtildeO SEBASTIAtildeO DO UATUMAtilde

Poacutelo Base de Urucaraacute ndash DSEI

Lider Indiacutegena Etnia Hexkaryana Caiacutenatilde Mohso

EPIacuteGRAFE

Matildeos

corpo em movimento

captar e entender

Teu querer teu dizer

Sorrisos laacutegrimas

sentimentos e emoccedilotildees

Libras eacute amor eacute paixatildeo eacute liacutengua

(Marlon Jorge)

RESUMO

Esta pesquisa apresenta o resultado do mapeamento de iacutendios surdos nas comunidades

indiacutegenas Satereacute-Maweacute na microrregiatildeo de Parintins Partindo do levantamento buscou-se

identificar de que forma os iacutendios surdos estabeleciam a comunicaccedilatildeo com seus pares na sua

comunidade Para isso foi utilizado o procedimento metodoloacutegico por meio de entrevistas

abertas com as lideranccedilas indiacutegenas os familiares os professores e gestores escolares e

outros membros das comunidades assim como do proacuteprio iacutendio surdo O processo de anaacutelise

estabelecido para este estudo consistiu no enfoque de natureza linguiacutestica do leacutexico

(vocabulaacuterio) o qual foi registrado por meio de viacutedeos fotos e gravaccedilotildees A partir dos dados

iniciou-se a elaboraccedilatildeo de um minidicionaacuterio triliacutengue nas liacutenguas Satereacute-Maweacuteliacutengua de

sinais portuguecircs escrito a fim de facilitar a comunicaccedilatildeo principalmente no contexto da

comunidade educacional escolar entre os professores e os alunos iacutendios surdos Esta

contribuiccedilatildeo linguiacutestica portanto possibilitou uma nova percepccedilatildeo no processo histoacuterico da

diversidade linguiacutestica para valorizar e respeitar natildeo soacute uma liacutengua a liacutengua oficial do paiacutes

(Portuguecircs) mas tambeacutem a liacutengua natural do povo surdo (Libras) e a liacutengua indiacutegena do povo

Satereacute-Maweacute

Palavras chaves

1Linguiacutestica 2Liacutengua de sinais 3Satereacute-Maweacute 4 Dicionaacuterio

ABSTRACT

This research presents the results of the mapping deaf Indians in indigenous

communities Satereacute-Maweacute in the region of Parintins Starting from the survey we sought to

identify how the deaf Indians established communication with peers in their community For

this methodological procedure through open interviews with indigenous leaders family

members teachers and school administrators and other community members were used as

well as the Indian himself deaf The review process established for this study consisted of

focus linguistic lexicon (vocabulary) which was recorded through videos photos and

recordings From the data we initiated the development of a trilingual Mini Dictionary in

languages Satereacute-Maweacute sign language written Portuguese in order to facilitate

communication especially in the context of school learning community among teachers and

students deaf Indians This linguistic contribution therefore provided a new insight in the

historical process of linguistic diversity to value and respect not only one language the

official language (Portuguese) but also the natural language of deaf people (Libras) and the

indigenous language the people Satereacute-Maweacute

Key Words 1Linguiacutestica 2Liacutengua signal 3Satereacute-Maweacute 4Dictionary

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 13

1 CONSIDERACcedilOtildeES DOS ESTUDOS LINGUIacuteSTICOS DA LIacuteNGUA

BRASILEIRA DE SINAIS

17

11 Liacutengua de Sinais como Liacutengua Natural 20

12 Liacutengua Brasileira de Sinais 22

13 Liacutenguas de Sinais Indiacutegenas pesquisadas no Brasil 26

131 Liacutengua de Sinais Urubu-Kaapor 28

132 Liacutengua de Sinais Emergentes 29

1321 Realidade do Contexto educacional escolar do indiacutegena surdo 31

2 HISTOacuteRIA DO POVO INDIacuteGENA SATEREacute-MAWEacute CULTURA E

LIacuteNGUA

34

21 Breve Relato Histoacuterico 35

22 Classificaccedilatildeo da Liacutengua Satereacute-Maweacute 36

221 Contexto educacional escolar entre os Satereacute-Maweacute 38

3 METODOLOGIA IMPLEMENTADA NA PESQUISA 42

31 Aacuterea e localidade da pesquisa 42

32 Estrateacutegias gerais para a realizaccedilatildeo da coleta de dados 43

33 Procedimentos da coleta de dados 43

34 Articulaccedilatildeo local 44

35 Abordagem ao objeto da pesquisa 44

4 MAPEAMENTO DOS INDIOS SURDOS DA COMUNIDADE SATEREacute-

-MAWEacute NAS MICRORREGIOtildeES DE PARINTINS E SUA REALIDADE

EDUCACIONAL ESCOLAR

45

41 Mapeamento da existecircncia dos iacutendios surdos na microrregiatildeo de Parintins 46

411 Histoacuterico de Parintins 46

412 Histoacuterico de Barreirinha 52

413 Histoacuterico de Maueacutes 53

414 Histoacuterico de Boa Vista do Ramos 55

415 Histoacuterico de Nhamundaacute 56

42 Realidade linguiacutestica e educacional dos iacutendios surdos encontrados na etnia

Satereacute-Maweacute

59

43 Inventaacuterio de gestos da linguagem caseira dos surdos Satereacute-Maweacute 66

431 Os sinais caseiros dos indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute 66

432 Municiacutepio de Parintins 66

4321 O primeiro surdo 67

4322 O segundo surdo 67

4323 O terceiro surdo 68

44 O indiacutegena surdo da comunidade de Ponta Alegre do Municiacutepio de Barreirinha 70

45 Os indiacutegenas surdos do Municiacutepio de Maueacutes 73

451 O primeiro surdo da Comunidade de Santa Maria 75

452 O segundo surdo da Comunidade de Santa Maria 79

5 ICONICIDADE E ARBITRARIEDADE NA CRIACcedilAtildeO DOS SINAIS

CASEIROS

83

6 INTERVENCcedilAtildeO E CONTRIBUICcedilAtildeO LINGUIacuteSTICA DO PROFESSOR

SURDO

90

61 Libras e Liacutengua Satereacute-Maweacute intercacircmbio de construccedilatildeo sociocultural-

linguiacutestico

94

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 97

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 99

ANEXOS

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 Croqui da aacuterea e localidade da pesquisa

FIGURA 2 Sinais caseiros utilizado pela crianccedila de 5 anos

FIGURA 3 Sinais caseiros utilizados pelo aluno da comunidade de Ponta Alegre

Barreirinha

FIGURA 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa

Maria (30 sinais coletados)

FIGURA 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo idoso na comunidade de Santa Maria

FIGURA 6 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos que se refere agrave

arbitrariedade

FIGURA 7 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos aos quais se referem a

iconicidade

FIGURA 8 Caracteriacutesticas da imagem em Liacutengua de Sinais Satereacute-Maweacute dos objetos

aos quais se referem agrave iconicidade

FIGURA 9 Encontro da crianccedila surda Satereacute-Maweacute com o professor surdo

FIGURA 10 Contato com aluno Satereacute-Maweacute surdo no ambiente escolar

FIGURA 11 Contato com o aluno surdo Satereacute-Maweacute na Escola Estadual Brandatildeo de

Amorim

FIGURA 12 Em viagem para aacuterea indiacutegena no Rio Marau

FIGURA 13 Apresentaccedilatildeo do projeto de pesquisa agraves lideranccedilas indiacutegenas na

comunidade

FIGURA 14 Desenvolvimento de oficina de Libras com professores indiacutegenas

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Mapeamento da existecircncia de iacutendios surdos nas respectivas comunidades

indiacutegenas ou zona urbana da microrregiatildeo de Parintins

Tabela 2 11 Sinais caseiros utilizados pela crianccedila indiacutegena surda de 5 anos e seus

familiares

Tabela 3 13 Sinais caseiros coletados e utilizados pelo aluno da comunidade de

Ponta Alegre

Tabela 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa

Maria

Tabela 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais antigo residente isolado na

comunidade de Santa Maria no Rio Marau ( 18 sinais coletados)

56

66

69

73

77

13

INTRODUCcedilAtildeO

Todo cidadatildeo tem o direito de participar na vida poliacutetica social e econocircmica de um

paiacutes Neste contexto inclui-se o cidadatildeo surdo Infelizmente a histoacuteria relata que no passado

os sujeitos surdos1 eram colocados agraves margens da sociedade em todos seus aspectos social

poliacutetico econocircmico cultural linguiacutestico e educacional

Entretanto ao longo da histoacuteria os surdos com a participaccedilatildeo de ouvintes na luta

incessante pelos seus direitos muitas conquistas foram alcanccediladas Entre estas estaacute o direito

de ter sua proacutepria liacutengua a Liacutengua Brasileira de Sinais-LIBRAS A Lei nordm 10436 de 2002 a

qual a reconhece como sistema linguiacutestico de natureza visual-motora com estrutura

gramatical proacutepria constituindo-se um sistema linguiacutestico de transmissatildeo de ideias e fatos

oriundos da comunidade de pessoas surdas do Brasil Conforme Saacute (2006) no Brasil as

comunidades urbanas usam a ldquoliacutengua de sinais brasileirardquo ou simplesmente ldquoliacutengua de sinaisrdquo

Vale ressaltar que a Liacutengua de Sinais segundo Strobel (2008) eacute um aspecto

fundamental da cultura surda2 parte do artefato cultural linguiacutestico

3 do povo surdo e constitui

1 Na aacuterea de pesquisa vinculada a perspectiva socioantropoloacutegica existe uma clara diferenciaccedilatildeo entre a opccedilatildeo

de escrever surdo com letra minuacutescula ou maiuacutescula conforme explica Andreis-Witkoski (2011) ldquoapesar de

nas uacuteltimas deacutecadas ter sido estabelecido uma distinccedilatildeo entre a expressatildeo ldquoSurdordquo com letra maiuacutescula para

identificar uma categoria cultural e ldquosurdordquo com minuacutescula em referecircncia a deficiecircncia auditiva nesta Tese natildeo

se utiliza este tipo de marcaccedilatildeo Compartilha-se da concepccedilatildeo exposta por Owen Wrigley (1996 p53) quando

adverte que esta diferenciaccedilatildeo constitui-se em ldquoum dualismo riacutegido-bom Surdo mau surdo ndash que pouco faz para

ajudar os indiviacuteduos em suas vidas diaacuterias [sem] ajudar a clarear um alcance maior de estrateacutegias colocadas pelos

indiviacuteduos lidando com a exclusatildeo e as muitas faces da opressatildeo em suas rotinas Em termos simples a

dicotomia de bdquoSs‟ estaacute tatildeo cruelmente composta que embora inicialmente seja uacutetil ela agora serve para silenciar

o alcance total das experiecircncias dos sSurdosrdquo (2011 p13) Logo opta-se nesta dissertaccedilatildeo o uso da expressatildeo

ldquosurdordquo (minuacutescula) que refere-se aos ldquosurdordquo enquanto pessoas que pela impossibilidades formam uma

minoria diferente com caracteriacutesticas linguiacutesticas cognitivas culturais e comunitaacuterias especiacuteficas (SAacute 2006

p107) 2 Cultura Surda ldquoeacute o jeito de o surdo entender o mundo e de modificaacute-lo a fim de se tornaacute-lo acessiacutevel e habitaacutevel

ajustando-os com as suas percepccedilotildees visuais que contribuem para a definiccedilatildeo das identidades surdas e das

ldquoalmasrdquo das comunidades surdas Isto significa que abrange a liacutengua as ideacuteias as crenccedilas os costumes e os

haacutebitos de povordquo (STROBEL2008 p 24) 3Conforme Strobel (2008 p37) o que seriam artefatos culturais linguiacutesticos Ao referirmos ldquoartefatordquo

pensamos habitualmente no significado de objetos ou materiais produzidos pelos grupos culturais Realmente de

fato eacute uma forma material de expressar uma determinada cultura poreacutem tambeacutem podem incluir ldquotudo o que se

vecirc e senterdquo quando se estaacute em contato com a cultura de uma comunidade a exemplo vestuaacuterios tradiccedilotildees

crenccedilas valores e normas etc Ou seja no campo dos Estudos Culturais o conceito de ldquoartefatosrdquo natildeo se referem

apenas a materialismo culturais como tambeacutem naquilo que na cultura constitui produccedilotildees do sujeito que tem seu

proacuteprio modo de ser ver entender e transformar o mundo Logo um dos artefatos culturais que ilustram a

cultura do povo surdo eacute o linguiacutestico a liacutengua de sinais que eacute um aspecto fundamental da cultura surda sendo

uma das principais marcas da identidade surda

14

uma das principais marcas da identidade do ser surdo Incluem-se tambeacutem os ldquosinais

emergentesrdquo ou ldquosinais caseirosrdquo dos sujeitos surdos isolados de comunidades surdas no caso

dos surdos das zonas rurais e dos surdos iacutendios Estes surdos embora natildeo pertenccedilam agraves

mesmas comunidades se identificam com o povo surdo4 pois compartilham as mesmas

peculiaridades constroem sua formaccedilatildeo de mundo por meio de artefato cultural visual5

independentemente do grau linguiacutestico que possuem os quais podem ser os gestos caseiros

denominados tambeacutem como sinais emergentes Nesta perspectiva teoacuterica soacutecioantropoloacutegica

enfoca-se como o objeto da pesquisa o sujeito surdo indiacutegena ou seja o iacutendio surdo

Antes de prosseguir com a abordagem mencionada faz-se necessaacuterio destacar que

assim como o povo surdo o povo indiacutegena tambeacutem traccedilou diversas lutas na trajetoacuteria para

reconhecimento dos seus direitos O reconhecimento dos direitos dos povos indiacutegenas no

mundo contemporacircneo avanccedilou muito em relaccedilatildeo haacute algumas deacutecadas passadas De acordo

com Lucinda (apud Saacute 2006) em consenso geral nos debates da Comissatildeo Educaccedilatildeo

Cultura e Desporto que antecedem a elaboraccedilatildeo do texto da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica

Federativa do Brasil de 1988 tanto a liacutengua de sinais como as liacutenguas indiacutegenas deveriam ser

consideradas no texto da Constituiccedilatildeo como liacutenguas maternas Assim como resultado o

Referencial Curricular Nacional para Escolas Indiacutegenas (1998 p31) declara que ldquoA

Constituiccedilatildeo Federal aleacutem de perceber o iacutendio como pessoa com direitos e deveres como

qualquer outro cidadatildeo brasileiro o reconhece como membro de uma comunidade e de um

grupo isto eacute como membro de uma coletividade que eacute titular de direitos coletivos e

especiaisrdquo Ou seja reconhece para os iacutendios o direito agrave praacutetica de suas formas culturais

proacuteprias E no tiacutetulo VIII ldquoDa Ordem Socialrdquo conteacutem um capiacutetulo denominado ldquoDos Iacutendiosrdquo

onde se diz que ldquosatildeo reconhecidos aos iacutendios a sua organizaccedilatildeo social costumes liacutenguas

crenccedilas e tradiccedilotildees []rdquo (ibid p31)

Em meio a essa diversidade linguiacutestica que caracteriza o Brasil como sendo um paiacutes

pluriliacutengue estatildeo situados os ldquosurdos brasileirosrdquo que tecircm sua proacutepria liacutengua reconhecida

oficialmente a Liacutengua de Sinais Logo existem tambeacutem ldquoiacutendios surdosrdquo da etnia Satereacute-

4Quando referimos ldquopovo surdordquo estamos falando ldquode sujeitos surdos que natildeo habitam no mesmo local mas

que estatildeo ligados por uma origem por um coacutedigo de eacutetico de formaccedilatildeo visual independente do grau de evoluccedilatildeo

linguiacutestica tais como a liacutengua de sinais a cultura surda e quaisquer outros laccedilosrdquo (ibid p30) 5Perlin e Miranda (2003) complementam ldquoExperiecircncia visual significa a utilizaccedilatildeo visual em (substituiccedilatildeo total

agrave audiccedilatildeo) como meio de comunicaccedilatildeo Desta experiecircncia visual surge a cultura surda representada pela liacutengua

de sinais pelo modo diferente de ser de se expressar de conhecer o mundo de entrar nas artes no

conhecimento cientiacutefico e acadecircmicordquo (apud STROBEL 2008 p39)

15

Maweacute Qual sua forma de se comunicar Existe uma ldquoLiacutengua de Sinaisrdquo especifica do iacutendio

surdo

Diante das questotildees levantadas surgiu entatildeo agrave necessidade de realizar uma pesquisa

no campo da linguiacutestica na perspectiva dos estudos surdos6 voltado especificamente para o

iacutendio surdo da etnia Satereacute-Maweacute Foram traccedilados os seguintes objetivos i) mapear os iacutendios

surdos na microrregiatildeo de Parintins ii) identificar de que forma o iacutendio surdo estabelece a

comunicaccedilatildeo com sua comunidade especificamente no acircmbito educacional ou se utilizam

liacutenguas de sinais da comunidade local iii) registrar a forma de comunicaccedilatildeo no dia a dia do

iacutendio surdo nas comunidades indiacutegenas a partir dos estudos linguiacutesticos da Liacutengua de Sinais

dos grupos existentes e sua relaccedilatildeo com a comunidade local iv) promover o intercacircmbio entre

a Liacutengua de Sinais dos iacutendios surdos mapeados da etnia Satereacute-Maweacute e a LIBRAS da

comunidade surda do Municiacutepio de Parintins - Amazonas

Este trabalho conteacutem a seguinte divisatildeo primeiro capiacutetulo - apresenta consideraccedilotildees

linguiacutesticas fundamentais aos estudos surdos onde explicita o reconhecimento da Liacutengua de

Sinais como elemento cultural linguiacutestico do povo surdo abordando tambeacutem a oficializaccedilatildeo

da Liacutengua Brasileira de Sinais e as Liacutenguas Indiacutegenas pesquisadas no Brasil como a realidade

do contexto escolar linguiacutestico na comunidade indiacutegena segundo capiacutetulo - relata a histoacuteria

do povo indiacutegena Satereacute-Maweacute sua principal expressatildeo cultural sua liacutengua e seu respectivo

contexto educacional escolar terceiro capiacutetulo - apresenta os procedimentos metodoloacutegicos

utilizados na operacionalizaccedilatildeo da pesquisa e o capiacutetulo quatro - apresenta a anaacutelise do

resultado do Mapeamento dos iacutendios surdos da etnia Satereacute-Maweacute na microrregiatildeo de

Parintins Neste satildeo tambeacutem apresentadas as relaccedilotildees socioculturais-linguiacutesticas de iacutendios

surdos Satereacute-Maweacute com as contribuiccedilotildees linguiacutesticas do professor surdo aos Iacutendios surdos na

comunidade Satereacute-Maweacute estabelecendo assim as relaccedilotildees culturais na construccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo linguiacutestica LIBRAS e Liacutengua Satereacute-Maweacute como um intercacircmbio de construccedilatildeo

sociocultural

Desse modo a pesquisa tem como premissa baacutesica primeiramente mapear os iacutendios

surdos da etnia Satereacute-Maweacute e assim promover um intercacircmbio oferecendo contribuiccedilotildees

linguiacutesticas fundamentadas na pesquisa do leacutexico (vocabulaacuterio) da etnia referida com a Libras

(Liacutengua Brasileira de Sinais) e a Liacutengua Portuguesa por meio da elaboraccedilatildeo de um

6 Conforme Skliar eacute o campo de pesquisa em educaccedilatildeo onde as identidades a liacutenguas a histoacuteria a cultura da

comunidade surda satildeo focalizados e entendidos a partir da diferenccedila a partir do seu reconhecimento poliacutetico

(2001p29)

16

minidicionaacuterio triliacutengue Assim espera-se contribuir para a iniciaccedilatildeo dos indiacutegenas surdos da

etnia Satereacute-Maweacute na Liacutengua Brasileira de Sinais dando a eles um dos direitos universais do

ser humano que eacute direito a uma liacutengua Tambeacutem deseja-se contribuir para a iniciaccedilatildeo dos

indiacutegenas surdos da etnia Satereacute-Maweacute na Liacutengua Brasileira de Sinais dando a eles um dos

direitos universais do ser humano que eacute direito a uma liacutengua proacutepria

17

1 CONSIDERACcedilOtildeES DOS ESTUDOS LINGUIacuteSTICOS DA LIacuteNGUA BRASILEIRA DE SINAIS

A Linguiacutestica conhecida hoje como a ciecircncia que estuda a linguagem humana eacute uma

ciecircncia recente poreacutem com um saber antigo Passou a se impor como ciecircncia agrave medida que

demonstrou seu meacutetodo e seu objeto de estudo Eacute definida como estudo cientiacutefico que visa

descrever ou explicar a linguagem verbal humana (ORLANDI 1999)

A Linguiacutestica diferencia-se da gramaacutetica tradicional normativa na medida que natildeo

tem como objetivo ditar regras de correccedilatildeo para uso da linguagem Seu interesse eacute a liacutengua

como mateacuteria de reflexatildeo (QUADROS e KARNOPP 2004) Segundo as pesquisas nesta

aacuterea Vandresen (1988 apud QUADROS 2007 p 83) tem-se ldquoa linguiacutestica contrastiva como

uma subaacuterea da linguiacutestica geral interessada em apontar as similaridades e diferenccedilas

estruturais entre a liacutengua materna (de um grupo de alunos) e uma liacutengua estrangeirardquo

Na taxonomia de similaridades e contrastes entre as liacutenguas existe uma seacuterie de

regularidades como haacute similaridades comportamentais que natildeo precisam ser explicitadas

porque constituem a base comum das liacutenguas naturais e o compartilhamento dessas

similaridades poderaacute servir como base para inferecircncias quanto agraves formas da liacutengua estrangeira

e quanto agraves diferenccedilas por serem sistemaacuteticas podem admitir tratamento inferencial e

heuriacutestico (KATO 1988 apud QUADROS 2007)

Segundo Nascimento (2009) a vitalidade da liacutengua depende de sua utilizaccedilatildeo efetiva

tanto em escala nacional quanto em escala mundial Quanto mais uma liacutengua eacute utilizada mais

ela eacute viva e inversamente quanto menos eacute utilizada mais ela eacute ameaccedilada de extinccedilatildeo Assim

sendo eacute o uso social da liacutengua que determina seu grau de revitalizaccedilatildeo

Por essas razotildees a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Linguiacutesticos (BARCELONA

1996 p 3) tem como ponto de partida

[] as comunidades linguiacutesticas e natildeo os Estados e inscreve-se no quadro do

reforccedilo das instituiccedilotildees internacionais capazes de garantir um desenvolvimento

duradouro e equitativo para toda a humanidade e tem como finalidade favorecer um

quadro de organizaccedilatildeo poliacutetica da diversidade linguiacutestica baseado no respeito na

convivecircncia e nos benefiacutecios reciacuteprocos

Em seu TITULO PREacuteVIO tem como conceitos

18

Artigo 1ordm

1 Esta Declaraccedilatildeo entende por comunidade linguiacutestica toda a sociedade humana

que radicada historicamente num determinado espaccedilo territorial reconhecido ou

natildeo se identifica como povo e desenvolveu uma liacutengua comum como meio de

comunicaccedilatildeo natural e de coesatildeo cultural entre os seus membros A denominaccedilatildeo

liacutengua proacutepria de um territoacuterio refere-se ao idioma da comunidade historicamente

estabelecida neste espaccedilo [grifo nosso]

2 Esta Declaraccedilatildeo parte do princiacutepio de que os direitos linguiacutesticos satildeo

simultaneamente individuais e colectivos e adapta como referecircncia da plenitude dos

direitos linguiacutesticos o caso de uma comunidade linguiacutestica histoacuterica no respectivo

espaccedilo territorial entendendo-se este natildeo apenas como a aacuterea geograacutefica onde esta

comunidade vive mas tambeacutem como um espaccedilo social e funcional indispensaacutevel ao

pleno desenvolvimento da liacutengua Eacute com base nesta premissa que se podem

estabelecer em termos de uma progressatildeo ou continuidade os direitos que

correspondem aos grupos linguiacutesticos mencionados no ponto 5 deste artigo e os das

pessoas que vivem fora do territoacuterio da sua comunidade []

Em referecircncia ao Artigo 3ordm

- o direito ao ensino da proacutepria liacutengua e da proacutepria cultura

- o direito a dispor de serviccedilos culturais

- o direito a uma presenccedila equitativa da liacutengua e da cultura do grupo nos meios de

comunicaccedilatildeo

- o direito a serem atendidos na sua liacutengua nos organismos oficiais e nas relaccedilotildees

socioeconomicas []

Em referecircncia ao Artigo 5ordm

Esta Declaraccedilatildeo baseia-se no princiacutepio de que os direitos de todas as comunidades

linguiacutesticas satildeo iguais e independentes do seu estatuto juriacutedico ou poliacutetico como

liacutenguas oficiais regionais ou minoritaacuterias Designaccedilotildees tais como liacutengua regional ou

minoritaacuteria natildeo satildeo usadas neste texto porque apesar de em certos casos o

reconhecimento como liacutengua minoritaacuteria ou regional poder facilitar o exerciacutecio de

determinados direitos a utilizaccedilatildeo destes e doutros adjetivos serve frequentemente

para restringir os direitos de uma comunidade linguiacutestica []

Em referecircncia ao Artigo 23ordm

1 O ensino deve contribuir para fomentar a capacidade de auto-expressatildeo

linguiacutestica e cultural da comunidade linguiacutestica do territoacuterio onde eacute

ministrado[grifo nosso]

2 O ensino deve contribuir para a manutenccedilatildeo e o desenvolvimento da liacutengua falada

pela comunidade linguiacutestica do territoacuterio onde eacute ministrado

3 O ensino deve estar sempre ao serviccedilo da diversidade linguiacutestica e cultural e das

relaccedilotildees harmoniosas entre as diferentes comunidades linguiacutesticas do mundo inteiro

4 No quadro dos princiacutepios anteriores todos tecircm direito a aprender qualquer liacutengua

Em referecircncia aos Artigos 26ordm a 28ordm Artigo 26ordm

Todas as comunidades linguiacutesticas tecircm direito a um ensino que permita a todos os

seus membros adquirirem o perfeito conhecimento da sua proacutepria liacutengua com as

diversas capacidades relativas a todos os domiacutenios de uso da liacutengua habituais bem

como o melhor conhecimento possiacutevel de qualquer outra liacutengua que desejem

aprender

Artigo 27ordm

Todas as comunidades linguiacutesticas tecircm direito a um ensino que permita aos seus

membros o conhecimento das liacutenguas ligadas agrave sua proacutepria tradiccedilatildeo cultural tais

como as liacutenguas literaacuterias ou sagradas usadas antigamente como liacutenguas habituais

da sua comunidade

Artigo 28ordm

Todas as comunidades linguiacutesticas tecircm direito a um ensino que permita aos seus

membros adquirirem um conhecimento profundo do seu patrimocircnio cultural (histoacute-

ria e geografia literatura e outras manifestaccedilotildees da proacutepria cultura) assim como o

melhor conhecimento possiacutevel de qualquer outra cultura que desejem conhecer

(BARCELONA 1996 p 4 a 14)

19

Assim nas Disposiccedilotildees Finais no Plenaacuterio da Associaccedilatildeo Internacional para o

Desenvolvimento da Comunicaccedilatildeo Intercultural recomenda agraves Naccedilotildees Unidas que tomem as

medidas necessaacuterias agrave adopccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de uma Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Linguiacutesticos considerando a Convenccedilatildeo nuacutemero 169 da Organizaccedilatildeo Internacional do

Trabalho de 26 de Junho de 1989 relativa aos povos indiacutegenas em paiacuteses independentes que

a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Colectivos dos Povos realizada em Maio de 1990 em

Barcelona declara que todos os povos tecircm direito a exprimir e a desenvolver a sua cultura a

sua liacutengua e as suas normas de organizaccedilatildeo e para o fazerem a dotarem-se de estruturas

poliacuteticas educacionais de comunicaccedilatildeo e de administraccedilatildeo puacuteblica proacuteprias em quadros

poliacuteticos diferentes Considerando tambeacutem a Declaraccedilatildeo Final da Assembleia Geral da

Federaccedilatildeo Internacional de Professores de Liacutenguas Vivas aprovada em Peacutecs (Hungria) em 16

de Agosto de 1991 recomenda-se tambeacutem que os direitos linguiacutesticos sejam consagrados

direitos fundamentais

Neste contexto Nascimento (2009 p 25) pontua

Como princiacutepio eacutetico qualquer poliacutetica de liacutenguas deveraacute trabalhar a unidade e a

diversidade Natildeo se trata de poacutelos de contradiccedilatildeo mas de eixos de transiccedilatildeo A

unidade eacute uma razatildeo do Estado e a diversidade ou variedade eacute a mateacuteria linguiacutestica

proacutepria da comunidade pois reflete a liacutengua em uso ou seja as linguagens verbais

por meio das quais os indiviacuteduos se comunicam A unidade eacute resguardada pelo

padratildeo oficializado em um modelo de gramaacutetica e a variedade se faz representar nas

diversas gramaacuteticas praacuteticas e pragmaacuteticas de um Estado linguiacutestico

Quadros e Karnopp (2004) ainda explicam que a linguiacutestica parte de pressupostos

baacutesicos que determinam as investigaccedilotildees Sendo um dos mais importantes eacute de que a

linguagem eacute restringida por determinados princiacutepios ou seja ldquoregrasrdquo que fazem parte do

conhecimento humano das liacutenguas (falada ou sinalizada) da formaccedilatildeo de palavras da

construccedilatildeo das sentenccedilas e da construccedilatildeo dos textos A partir deste pressuposto da

universalidade de tais princiacutepios as investigaccedilotildees linguiacutesticas objetivam estudar os aspectos

especiacuteficos de cada liacutengua os quais revelam as caracteriacutesticas da linguagem humana A

exemplo o inglecircs o portuguecircs a Liacutengua de Sinais Americana a Liacutengua Brasileira de Sinais

e outras Embora apresentem diferenccedilas entre as liacutenguas agraves estruturas satildeo comuns que por

sua vez interessam agraves investigaccedilotildees linguiacutesticas na medida em que eacute a ciecircncia que objetiva

por explicar a natureza da linguagem humana

A partir dessas concepccedilotildees entendemos que os seres humanos estabelecem relaccedilotildees

do mais simples ao mais complexo com o outro por meio de gestos olhares e contato seja

por meio de sons Tudo isso caracteriza a linguagem humana Observa-se que a ldquolinguagemrdquo

20

eacute um termo usado pelas pessoas com referecircncia agrave linguagem em geral ou seja em uma

variedade de sentidos para denominar sistemas de comunicaccedilatildeo linguagem musical

linguagem corporal linguagem entre animais etc

No que concerne agrave definiccedilatildeo do termo liacutengua Quadros e Karnopp (2004) encontraram

uma seacuterie de definiccedilotildees de liacutengua que apontam para sua diferenciaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao termo

linguagem Estas fornecem subsiacutedios para a indicaccedilatildeo de propriedades consideradas pela

linguiacutestica essenciais agraves liacutenguas naturais sendo que uma delas eacute dada por Saussure que

afirma

Liacutengua natildeo se confunde com a linguagem eacute somente uma parte determinada

essencial dela indubitavelmente Eacute ao mesmo tempo um produto social da

faculdade de linguagem e um conjunto de convenccedilotildees necessaacuterias adotadas pelo

corpo social para permitir o exerciacutecio dessa faculdade nos indiviacuteduos (QUADROS e

KARNOPP 2004 p24)

Portanto entende-se como liacutengua natural

uma liacutengua que foi criada e eacute utilizada por uma comunidade especiacutefica de usuaacuterios

transmitida de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo e que muda ndash tanto estrutural como

funcionalmente ndash com o passar do tempo Ora qualquer liacutengua pode ser considerada

natural independentemente da modalidade que utilize (SAacute 2006 p 134)

Assim a liacutengua natural eacute tratada enquanto sistema linguiacutestico altamente desenvolvido

apresentando as caracteriacutesticas citadas por Quadros e Karnopp (2004 p 25-28) de

flexibilidade versatilidade arbitrariedade descontinuidade criatividade produtividade dupla

articulaccedilatildeo padratildeo de organizaccedilatildeo dos elementos e dependecircncia estrutural Logo conclui-se

que tais caracteriacutesticas satildeo especiacuteficas da faculdade da linguagem humana

11 Liacutengua de Sinais como Liacutengua Natural

A Liacutengua de Sinais eacute uma liacutengua natural criada pelas comunidades surdas Segundo

Skliar (1998 p26) ldquoTodas as crianccedilas surdas podem adquirir a Liacutengua de Sinais desde que

participem das interaccedilotildees quotidianas com a comunidade surda como acontece com qualquer

outra crianccedila na aquisiccedilatildeo de uma liacutengua naturalrdquo Skliar esclarece que liacutengua ldquonaturalrdquo natildeo

se refere a uma espontaneidade bioloacutegica mas como liacutengua que foi criada e eacute utilizada por

uma comunidade especiacutefica de usuaacuterios que transmite de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo e que muda com

o passar do tempo tanto estruturalmente como funcionalmente (IDEM p27)

As Liacutenguas de Sinais satildeo diferentes em cada comunidade com caracteriacutesticas das

liacutenguas orais com estruturas gramaticais proacuteprias que as distingue dos demais sistemas de

21

comunicaccedilatildeo Para Quadros e Karnopp (2004 p 30) ldquoAs liacutenguas de sinais satildeo portanto

consideradas pela linguiacutestica como liacutenguas naturais ou como um sistema linguiacutestico legiacutetimo e

natildeo como um problema do surdo ou como uma patologia da linguagemrdquo7

Para o reconhecimento das Liacutenguas de Sinais como liacutenguas naturais Ramos (2013 p

8) destaca o conceito ldquonaturalrdquo em oposiccedilatildeo a ldquocoacutedigo e linguagemrdquo e a avaliaccedilatildeo apresenta

as semelhanccedilas existentes entre as mesmas e as liacutenguas orais Sendo que uma dessas

semelhanccedilas na linha saussuriana eacute a ldquoexistecircncia de unidades miacutenimas formadoras de

unidades complexas pode ser observada em todas as Liacutenguas de Sinais espalhadas pelo

mundo possuidoras dos niacuteveis fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico e pragmaacuteticordquo

As liacutenguas de sinais apresentam ldquoregistros diversos (por categoria profissional status social

idade niacutevel escolar etc) aleacutem de dialetos regionais tambeacutem referendam as semelhanccedilas com

as liacutenguas oraisrdquo (IDEM p 8)

Estudos aprofundados sobre a Liacutengua de Sinais iniciaram a partir da deacutecada de 1950

com o estudioso da linguiacutestica o americano William Stokoe o qual percebeu e provou que a

Liacutengua de Sinais

[] satisfazia todos os criteacuterios linguiacutesticos de uma liacutengua genuiacutena no leacutexico na

sintaxe na capacidade de gerar um nuacutemero infinito de proposiccedilotildees [] Stokoe

convenceu-se de que os sinais natildeo eram figuras e sim complexos siacutembolos abstratos

com uma estrutura interna complexa Foi entatildeo o primeiro a buscar uma estrutura a

analisar os sinais dissecaacute-los procurar as partes constituintes Desde o comeccedilo ele

tentou demonstrar que cada sinal possuiacutea pelo menos trecircs partes independentes ndash

7 Sobre a surdez temos duas abordagens segundo explica Skliar a cliacutenico terapecircutica e a soacutecio-antropoloacutegica

A visatildeo soacutecioantropoloacutegica descreve a surdez em termos contraacuterios agraves noccedilotildees de patologia e de deficiecircncia

(1998 p10) Durante o seacuteculo passado construi-se o imaginaacuterio de que o surdo era um deficiente que

necessitava falar Segundo Casarin (1996 p2) ldquoNesse discurso deacuteficit doenccedila patologia anomalia implicam

apenas a possibilidade de sequumlecircncia diagnoacutestico tratamento-cura caracteriacutesticas da abordagem meacutedicardquo [] Tal

concepccedilatildeo influecircnciou outras aacutereas do conhecimento inclusive na educaccedilatildeo sobre a forma de perceber o surdo

Cesarian ainda explica que a partir daiacute foram assimilando o imaginaacuterio de que a surdez era uma doenccedila e que o

surdo por natildeo falar era um deficiente que precisava ser curado construindo entre as aacutereas de tratamento um

modelo terapecircutico para o deficiente auditivo Apoacutes as influecircncias da medicina na educaccedilatildeo dos surdos o

modelo cliniacuteco-terapecircutico passa a impor propostas educativas do oralismo dando continuidade agora na aacuterea

educacional ao tratamento do deficiente o mais cedo possivel na escola a fim que ele se enquadre ao modelo

normal modelo ouvinte Logo as escolas apresentavam como instituiccedilotildees de reeducaccedilatildeo da fala desenvolvendo

atividades pedagoacutegicas que tinham como objetivo o treinamento e exerciacutecios com fins a trazer o surdo o mais

possiacutevel do ldquonormalrdquo Perde-se assim muito tempo no processo de ensino aprendizado do sujeito surdo levando

a um fracasso escolar Surge entatildeo a nova concepccedilatildeo nomeada como soacutecio-antropoloacutegica de surdez totalmente

oposta agrave anterior Essa concepccedilatildeo parte das capacidades do sujeito quando considera a liacutengua de sinais como

melhor garantia para o desenvolvimento normal do surdo Esta nova concepccedilatildeo traz a valorizaccedilatildeo da lingua de

sinais e como consequecircncia o reconhecimento das especificidade culturais das comunidades surdas Estudos

feitos por linguiacutesticas observaram o desempenho escolar de pessoas surdas que se comunicam desde a infacircncia

por meio da Liacutengua de Sinais e que demostraram ganhos significativos em divesas aacutereas do desenvolvimento

humano Deixando claro a necessidade do uso da Liacutengua de Sinais como liacutengua natural da pessoa surda (1996

p 3)

22

localizaccedilatildeo configuraccedilatildeo das matildeos e movimento executado (anaacuteloga aos fonemas

da fala) ndash e que cada parte apresentava um nuacutemero limitado de combinaccedilotildees []

(SACKS 1998 p 88-89)

Segundo Ramos (2013 p 9) em 1988 o venezuelano Saacutenchez fez pesquisas sobre as

liacutenguas de sinais e os resultados apresentou ao educador francecircs Jean Foucambert No debate

sobre suas pesquisas ldquosurgiu agrave proposta de um tipo de educaccedilatildeo que privilegiasse a liacutengua

natural da comunidade surda - a Liacutengua de Sinais Venezuelana e a escrita da liacutengua da

comunidade oral o Espanholrdquo Um dos primeiros princiacutepios que lanccedilou a base para a que a

liacutengua de sinais fosse reconhecida como liacutengua natural foi descrita por Foucambert (RAMOS

2013 p 10)

Natildeo soacute os surdos mas toda e qualquer crianccedila pode aprender a liacutengua escrita sem

basear-se na oral porque satildeo independentes Em segundo lugar chegou-se agrave

afirmaccedilatildeo de que a liacutengua de sinais eacute uma liacutengua natural e que os surdos satildeo uma

comunidade linguiacutestica minoritaacuteria com direito a desenvolver sua cultura proacutepria

dentro da cultura majoritaacuteria O fato de a Liacutengua de Sinais cumprir uma seacuterie de

requisitos que todas as liacutenguas naturais possuem - espanhol portuguecircs alematildeo

inglecircs polonecircs a criatividade eacute um deles - pode-se sempre dizer alguma coisa

nova Outro requisito eacute a combinaccedilatildeo de partiacuteculas natildeo significativas que usadas de

certa maneira criam significaccedilatildeo [] Com 30 40 configuraccedilotildees da matildeo podem-se

transmitir milhares de sinais significativos como os fonemas da liacutengua oral A

liacutengua de sinais que como as liacutenguas nacionais eacute diferente em cada paiacutes e ateacute em

regiotildees dos paiacuteses possui aleacutem do mais uma gramaacutetica toda proacutepria organizada e

complexa e nos permite transmitir qualquer coisa [] Com ela pode-se transmitir

criar e recriar o que se quiser poesia romance filosofia E pode-se ateacute formular

ideacuteias com duplo sentido ou mentir que eacute outra caracteriacutestica das liacutenguas naturais

Por meio das pesquisas e estudos diversos paiacuteses passaram a se dedicar no campo da

linguiacutestica da Liacutengua de Sinais eacute que criou-se a possibilidade do povo surdo lutar pelo seu

reconhecimento enquanto liacutengua na medida em que pode contar com estudos que provam

cientificamente de que as Liacutenguas de Sinais satildeo de fato liacutenguas e natildeo um conjunto de

miacutemica

12 Liacutengua Brasileira de Sinais

O ser humano se expressa atraveacutes da liacutengua e a partir dela estabelece sua cultura

valores e padrotildees sociais Para os surdos brasileiros a Libras estabelece essas condiccedilotildees pois

considera a modalidade visual-espacial e associa caracteriacutesticas sociolinguiacutesticas as funccedilotildees

pragmaacuteticas e discursivas semelhantes agraves liacutenguas orais poreacutem a Liacutengua de Sinais por muito

tempo natildeo foi percebida enquanto estrutura linguiacutestica

23

A LIBRAS como toda Liacutengua de Sinais eacute uma liacutengua de modalidade gestual-visual

uma vez que faz uso para a comunicaccedilatildeo de movimentos gestuais e expressotildees faciais

percebidos pela visatildeo Neste sentido a Revista Feneis Ramos (2002 apud RAMOS 2013 p

7-8) ldquoa Liacutengua Portuguesa eacute uma liacutengua de modalidade oral-auditiva por utilizar como canal

ou meio de comunicaccedilatildeo sons articulados que satildeo percebidos pelos ouvidosrdquo Suas diferenccedilas

estatildeo na utilizaccedilatildeo de canais diferentes e nas estruturas gramaticais de cada liacutengua

Para Campello (2009) historicamente os primeiros estudos da Liacutengua de Sinais

apareceram no seacuteculo XIV exatamente nos anos de 1644 pelo inglecircs Bulwer J B com o livro

de Liacutengua de Sinais Inglesa Chirologia8 on the natural language of the hand com os estudos

destacando as figuras das matildeos e seus significados Menciona tambeacutem que era recompensa

de natureza que os surdos devam se comunicar atraveacutes dos gestos e acreditava firmemente na

ldquonecessidade que opera a Natureza dos homens que nascem Surdos-Mudos que podem

discutir mostrar sinalizar retoricamente por sinaisrdquo (p 13)

Em 1960 W C Stokoe pesquisador inglecircs da Gallaudet University fez uma pesquisa

entre as gramaacuteticas utilizadas pelos surdos em sala de aula e fora dela e os resultados foram

publicados no artigo Sign Language Structure na outline of the visual communication system

of the American Deaf na revista Studies in Linguistics Occassional Papers 8 (CAMPELLO

2009) E eacute a partir destes estudos que Stokoe afirma que a Liacutengua de Sinais eacute liacutengua

Stokoe (1960) ldquopercebeu e comprovou que a liacutengua de sinais atendia a todos os

criteacuterios linguiacutesticos de uma liacutengua genuiacutena no leacutexico na sintaxe e na capacidade de

gerar uma quantidade infinita de setenccedilasrdquo Stokoe observou que os sinais natildeo eram

imagens mas siacutembolos abstratos complexos com uma complexa estrutura interior

[] Comprovou inicialmente inicialmente que cada sinal apresentava pelo menos

trecircs partes independentes (em analogia com os fonemas da fala) ndash a localizaccedilatildeo a

configuraccedilatildeo de matildeos e o movimento ndash e que cada parte possuiacutea um nuacutemero

limitado de combinaccedilotildees [] (QUADROS E KARNOPP 2004 p 30-31)

Os estudos do linguiacutesta representou o primeiro passo para outras pesquisas em relaccedilatildeo

a Liacutengua de Sinais Em diversos paiacuteses pesquisas foram realizadas O Brasil foi um deles

No Brasil no final dos anos de 1970 a proposta da educaccedilatildeo biliacutengue reconhece a

Libras como liacutengua natural portanto deve ser ensinada como primeira liacutengua desde o iniacutecio

da escolarizaccedilatildeo da crianccedila surda e a comunidade surda reconhece o portuguecircs como a liacutengua

oficial do Brasil e deve ser ensinada como segunda liacutengua na forma oral ou escrita

(SLOMSKI 2010)

8 Bulwer (1644) em seu livro esclarece que a quirologia eacute um dicionaacuterio de gestos manuais e quirema eacute um

manual para o uso efetivo do gesto de falar em puacuteblico

24

Segundo Quadros (2009 p144) no entanto a Liacutengua de Sinais comeccedilou a ser

investigada efetivamente nas deacutecadas de 80 e 90 por Ferreira Brito (1986 1995) Felipe

(1992 1993) Quadros (1995 1999) e a aquisiccedilatildeo da Liacutengua Brasileira de Sinais nos anos 90

(Karnopp (1994 1999 Quadros (1995 1997)

Na deacutecada de 1980 a 1990 tem-se um panorama mundial para a abordagem biliacutengue

na educaccedilatildeo de surdos Slomski (2010 p 61) destaca que em 1994 Lucinda Ferreira Brito

passa a utilizar a abreviaccedilatildeo de LIBRAS (Liacutengua Brasileira de Sinais) criada pela comunidade

surda Consequentemente pesquisas estudos e lutas da comunidade surda contribuiacuteram para a

instauraccedilatildeo de uma poliacutetica linguiacutestica da Liacutengua Brasileira de Sinais A que reconhece o

estatuto linguiacutestico legal por meio da Lei 10436 de 24042002

Art 1ordm Eacute reconhecida como meio legal de comunicaccedilatildeo e expressatildeo a Liacutengua

Brasileira de Sinais ndash Libras e outros recursos de expressatildeo e por ela associados

Paraacutegrafo uacutenico Entende-se como Liacutengua Brasileira de Sinais ndash Libras a forma e

comunicaccedilatildeo e expressatildeo em que o sistema linguiacutestico de natureza visual-motora

com estrutura gramatical proacutepria constituem um sistema linguiacutestico de transmissatildeo

de ideias e fatos oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil

[](BRASIL 2007 p 2)

A Liacutengua de Sinais como jaacute mencionado eacute uma liacutengua natural composta por de todos

os componentes agraves liacutenguas orais como gramaacutetica semacircntica pragmaacutetica sintaxe e outros

elementos preenchendo os requisitos cientiacuteficos para ser considerado um sistema linguiacutestico

Conforme Felipe e Monteiro (2004 p23) as Liacutenguas de Sinais satildeo compostas por

signos linguiacutesticos denominados bdquosinais‟ encontrados nos seguintes paracircmetros

Configuraccedilatildeo das Matildeos Ponto de Articulaccedilatildeo Movimento Orientaccedilatildeo Expressatildeo Facial eou

Corporal Estes paracircmetros satildeo requisitos necessaacuterios para que sejam constituiacutedos os sinais

Portanto a Liacutengua de Sinais eacute considerada como liacutengua natural do sujeito surdo

como sua primeira liacutengua-L1 Jaacute a liacutengua majoritaacuteria de um paiacutes no caso do Brasil eacute a

Liacutengua Portuguesa como L2 Partindo do pressuposto que a Liacutengua de Sinais eacute a primeira

liacutengua do surdo a aquisiccedilatildeo da primeira liacutengua pelas crianccedilas surdas deve se dar de forma

natural no contato com surdos sinalizados pertencentes agrave comunidade surda A Liacutengua

Portuguesa por sua vez eacute aprendida de forma sistemaacutetica ou seja precisa ser ensinada por

meio de teacutecnicas especiacuteficas de ensino de segunda liacutengua

A partir desta compreensatildeo as crianccedilas surdas precisam ter a oportunidade do contato

com seus pares Crianccedilas surdas que natildeo tecircm um conviacutevio com surdos por terem nascido

dentro de familias ouvintes que usam a liacutengua oral precisam que os pais familiares

25

oportunizem a elas o mundo essencialmente visual-espacial para conhecer a Liacutengua de

Sinais Sobre a questatildeo Quadros (2005 p30) afirma

As crianccedilas surdas e seus pais ouvintes poderiam compartilhar o bilinguismo liacutengua

portuguesa e liacutengua de sinais brasileira e ir aleacutem descobrindo os vieses das culturas

e identidade que se entrecruzam [] Assim as crianccedilas surdas precisam ter acesso

agrave liacutengua de sinais com sinalizantes fluentes desta liacutengua muito cedo Estes

sinalizantes satildeo pessoas que normalmente natildeo fazem parte do ciacuterculo de pessoas

que a crianccedila usualmente teria contato Os pais teratildeo que conhecer comunidade

surda que usa esta liacutengua

Nesta perspectiva Souza (apud QUADROS 2005) menciona que se no iniacutecio do seu

desenvolvimento a crianccedila surda tiver a chance de contar com pais dispostos a aprenderem a

liacutengua de sinais com adultos surdos colegas surdos e conversarem ldquosinalizandordquo a

dimensatildeo do seu processo educacional seraacute outra A aquisiccedilatildeo da liacutengua seraacute transferida para

o espaccedilo escolar ldquoO fato de passar a ter contato com a liacutengua portuguesa com significado

trazendo seus conceitos adquiridos na sua proacutepria liacutengua possibilitaraacute um processo muito

mais significativordquo (ibid p33)

Por isso eacute de importacircncia fundamental a crianccedila surda esteja em contato linguiacutestico

com a liacutengua de sinais o mais cedo possiacutevel seja com a comunidade surda ou com seus pais

ouvintes que adquiriram a Liacutengua de Sinais como L2 Estes fatores iratildeo influenciar a crianccedila

estabelecer a sua identidade e cultura surda naturalmente Neste sentido Fantinel (1999 p2)

menciona que ldquoo uso da Liacutengua de Sinais eacute uma condiccedilatildeo fundamental na construccedilatildeo da

identidade dessas pessoas pois eacute o fator que os aproxima e reuacutene em grupos permitindo-lhes

expressarem-se construindo significados para a vidardquo

A Liacutengua de Sinais portanto eacute um aspecto fundamental da cultura surda Para tanto

Strobel (2008 p44) ainda enfatiza que para que o sujeito surdo possa ter acesso agraves

informaccedilotildees e conhecimentos aleacutem de construir sua identidade eacute fundamental criar uma

ligaccedilatildeo com o povo surdo que usa a sua liacutengua em comum pois a Liacutengua de Sinais eacute uma das

principais marcas da identidade de um povo surdo uma particularidade da cultura surda uma

forma de comunicaccedilatildeo que capta as experiecircncias visuais dos sujeitos surdos E somente a

partir do uso desta liacutengua que a crianccedila conseguiraacute seu pleno desenvolvimento cognitivo

psicoloacutegico emocional e cultural proporcionando assim a aquisiccedilatildeo do conhecimento

universal

Desta forma ao refletirmos sobre a pessoa surda na construccedilatildeo de sua identidade e

cultura surda entende-se que o contato linguiacutestico eacute essencial Logo o que dizer das pessoas

26

surdas que vivem isoladas de comunidades surdas que natildeo tem esse contato com Liacutengua de

Sinais Sobre esta realidade Strobel esclarece que

No entanto incluem tambeacutem os gestos denominados ldquosinais emergentesrdquo ou ldquosinais

caseirosrdquo dos sujeitos surdos de zonas rurais ou sujeitos isolados de comunidades

surdas que procuram entender o mundo atraveacutes dos experimentos visuais e que

procuram comunicar apontando e criando sinais [] (ibidem p44)

Ainda sobre a questatildeo Vilhalva (2012 p 30) ressalta que ldquo[] Os sinais emergentes

tambeacutem conhecidos como sinais caseiros satildeo essenciais quando vistos como comunicaccedilatildeo

natural usada em um espaccedilo familiar ou social []rdquo Nesse caso podemos referir ao iacutendio

surdo que vive isolado do contato com a comunidade surda Este surdo tambeacutem se identifica

com o povo surdo apesar de natildeo ter contato e de natildeo pertencer agraves mesmas comunidades

surdas na medida em que de acordo com Strobel (2008) eles compartilham as mesmas

peculiaridades ou seja constroem sua formaccedilatildeo de mundo atraveacutes de artefato cultural visual

13 Liacutenguas de Sinais Indiacutegenas pesquisadas no Brasil

Os registros da existecircncia de iacutendios surdos segundo Vilhalva (2008) apontam para o

Estatuto do Iacutendio - Lei nordm 6001 de 19121973 que norteou as relaccedilotildees do Estado brasileiro

com as populaccedilotildees indiacutegenas ateacute a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 em seu Paraacutegrafo

uacutenico do Art 1ordm assegura

Aos iacutendios e agraves comunidades indiacutegenas se estende a proteccedilatildeo das leis do Paiacutes nos

mesmos termos em que se aplicam aos demais brasileiros resguardados os usos

costumes e tradiccedilotildees indiacutegenas bem como as condiccedilotildees peculiares reconhecidas

nesta Lei

Neste sentido no Brasil a liacutengua oficial eacute a Liacutengua Portuguesa Fossile (2013 p 4)

afirma que ldquoo paiacutes conta atualmente segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatiacutestica (IBGE) com aproximadamente 210 liacutenguas sendo 190 delas indiacutegenasrdquo Essas

liacutenguas indiacutegenas satildeo consideradas como liacutenguas minoritaacuterias sem importacircncia em relaccedilatildeo ao

portuguecircs No entanto algumas possuem mais prestiacutegio em relaccedilatildeo agraves outras

Em relaccedilatildeo ao conhecimento da liacutengua e da diversidade na dinacircmica soacutecio-cultural das

populaccedilotildees indiacutegenas deveria haver prioridades para estudos no campo linguiacutestico para

acadecircmicos e pesquisadores indios De fato o conhecimento das liacutenguas faladas e no

contexto tem-se essa diversidade para iacutendios surdos deveria ser compartilhada com a

27

sociedade indiacutegena de forma que esta possam participar ativamente na elaboraccedilatildeo de poliacuteticas

e programas que respondam agraves suas necessidades seus direitos considerando-se em particular

suas culturas e liacutenguas

Segundo Vilhalva (2008) pesquisas no campo da linguiacutestica e de poliacuteticas linguiacutesticas

avanccedilaram consideravelmente no Brasil Tendo poreacutem ainda uma grande necessidade de

maiores pesquisas principalmente referente a diferentes Liacutenguas de Sinais pertencentes a

diferentes comunidades como as dos povos indiacutegenas Neste sentido a autora argumenta

A Liacutengua de Sinais Indiacutegenas praticadas pelos iacutendios surdos existentes em diversas

comunidades indiacutegenas do paiacutes traz consigo caracteriacutesticas culturais e linguiacutesticas

variadas bdquoInfelizmente raramente satildeo registradas como satildeo registradas outras liacutenguas

brasileiras de diferentes comunidades com suas especificidades culturais e eacutetnicas ‟

(VILHALVA 2008 p 29)

Sobre a questatildeo Nonaka coloca que

desde 1960 quando se iniciaram os estudos linguiacutesticos e antropoloacutegicos em

referecircncia agraves Liacutenguas de Sinais a maior parte das investigaccedilotildees tem incidido sobre

as Liacutenguas de Sinais nacionais ou padratildeo usadas pelos surdos de diferentes paiacuteses

com escassa atenccedilatildeo agraves Liacutenguas de Sinais usadas pelos indiacutegenas em sua

comunicaccedilatildeo original (apud VILHALVA 2012 p 30)

Por isso Vilhalva defende a comunicaccedilatildeo dos iacutendios surdos como objeto de estudo da

linguiacutestica afirmando que

[] Sabemos tambeacutem que a Libras estaacute presente nas terras indiacutegenas

apontando que a influecircncia aconteceraacute Sendo assim consideramos quanto o leacutexico

das liacutenguas estaacute no processo de mudanccedilas atraveacutes do neologismo espontacircneo ou o

empreacutestimo linguiacutestico de outras liacutenguas (ibid p37)

Observa-se que os estudos sobre a Libras nas terras indiacutegenas comeccedilaram na deacutecada

de 1980 com pesquisas da brasileira Lucinda Ferreira Brito sobre a Liacutengua Brasileira de

Sinais Segundo Slomski (2010) Lucinda Ferreira Brito iniciou sua pesquisa atraveacutes de um

padratildeo internacional de abreviaccedilatildeo das Liacutenguas de Sinais adotando a sigla LSCB ndash Liacutengua de

Sinais dos Centros Urbanos Brasileiros para diferenciaacute-la da LSKB ndash Liacutengua de Sinais

Kaapor Brasileiros que eram a utilizada pelos iacutendios do Estado do Maranhatildeo

Diante do panorama exposto se faz necessaacuterio no campo da linguiacutestica dos estudos

surdos pesquisas sobre a Liacutengua de Sinais usadas pelos iacutendios surdos nas diferentes

comunidades indiacutegenas para que seja reconhecida e registrada Infelizmente somente uma

28

liacutengua indiacutegena eacute oficialmente reconhecida no Brasil a Liacutengua de Sinais Indiacutegena da

comunidade Urubu-Kaapor devido ao alto iacutendice de surdos

131 Liacutengua de Sinais Urubu-Kaapor

Os resultados do Censo 2010 (IBGE 2013) apontam para 274 liacutenguas indiacutegenas

faladas por indiviacuteduos pertencentes a 305 etnias diferentes Embora haja a necessidade de

estudos linguiacutesticos e antropoloacutegicos mais aprofundados quanto aos nuacutemeros totais de liacutengua

e etnia

Dentro desse universo a uacutenica Liacutengua de Sinais indiacutegena reconhecida conforme

referido anteriormente eacute a utilizada pela etnia indiacutegena brasileira dos Urubu-Kaapor9

chamados tambeacutem por urubus-caapores Os estudos sobre essa Liacutengua de Sinais apontam para

o iniacutecio da deacutecada de 1950

De acordo com Ribeiro (1996 apud FASSILE 2013 p 2)

Em 1950 foi descoberto no Brasil um grupo indiacutegena atraveacutes de pesquisas

antropoloacutegicas os Urubu-Kaapor na floresta Amazocircnica (Maranhatildeo) que falava

uma variaccedilatildeo da liacutengua de sinais Somente a partir da deacutecada de 1980 estudos

linguiacutesticos relacionados agrave Liacutengua de Sinais Kaapor Brasileira (LSKB) foram

aprofundados (sobre a LSKB cf KAKUMASU J KAKUMASU K 1977)

Segundo Brito (1993 apud FASSILE 2013 p 2) J Kakumasu defendeu que ldquo[] a

Liacutengua de Sinais dos Urubu-Kaapor [] [se constituiacutea como] um veiacuteculo de comunicaccedilatildeo

intratribal e natildeo como meio de transaccedilatildeo comercialrdquo Neste sentido resgata-se que

No Brasil Lucinda Brito inicia seus importantes estudos linguiacutesticos em

1982 sobre a Liacutengua de Sinais dos iacutendios Urubu-Kaapor da floresta amazocircnica

brasileira apoacutes um mecircs de convivecircncia com os mesmos documentando em filme

sua experiecircncia A ideia para a pesquisa adveio da leitura de um artigo publicado no

livro de Umiker-Sebeok (1978) de autoria de J Kakumasu Urubu Sign Language

No estudo a Liacutengua de Sinais dos Urubu-Kaapor se diferenciaria da PSL por

constituir um veiacuteculo de comunicaccedilatildeo intratribal e natildeo como meio de transaccedilatildeo

comercial Lucinda Brito poreacutem constatou que a mesma se tratava de uma legiacutetima

Liacutengua de Sinais dos surdos pelos mesmos criados

O interessante de se observar no caso dos Urubu-Kaapor eacute que os ouvintes da

aldeia falam a Liacutengua de Sinais e a liacutengua oral evidentemente enquanto que os

surdos se restringem agrave Liacutengua de Sinais Assim os ouvintes da aldeia se tornam

biliacutengues enquanto os surdos se mantecircm monoliacutengues (RAMOS 2011 p 6)

9 Disponiacutevel emlthttpwwwlibrascombrurubu-kaaporgt Acesso em 19112013

29

A Liacutengua Kaapor eacute uma liacutengua da famiacutelia Tupi-Guarani natildeo falada por outra tribo ou

povo exceto como segunda liacutengua Possuem uma liacutengua de sinais proacutepria (a Liacutengua Brasileira

de Sinais Kaapor) usada tanto pela comunidade surda do povo como tambeacutem por seus

membros natildeo surdos na comunicaccedilatildeo com os surdos

[] os Kaapor satildeo linguisticamente peculiares na Amazocircnia por terem uma

linguagem padratildeo de sinais usada para a comunicaccedilatildeo com os surdos que ateacute a

metade dos anos 80 compunham cerca de 2 da totalidade de sua populaccedilatildeo A

incidecircncia de surdez deveu-se evidentemente agrave bouba neonatal e endecircmica que foi

erradicada10

O interessante eacute que a comunidade indiacutegena desenvolveu uma forma proacutepria de

comunicaccedilatildeo por sinais que comeccedilou a ser estudada na deacutecada de 1960 pelo pesquisador

canadense James Kakumasu em (1968) e em seguida pela linguista brasileira Linguista

Lucinda Ferreira Brito ldquo[] A Liacutengua de Sinais Brasileira para diferenciaacute-la da LSKB

(Liacutengua de Sinais Kaapor Brasileira) utilizados pelos iacutendios Urubu-Kaapor no Estado do

Maranhatildeordquo (GOLDFELD 1997 p 30) A pesquisadora registrou a existecircncia da Liacutengua de

Sinais Kaapor em sua pesquisa sobre termos baacutesicos para cores em Liacutengua de Sinais

132 Liacutengua de Sinais Emergentes

Vilhalva (2012) se preocupou sobre a situaccedilatildeo linguiacutestica dos iacutendios surdos trazendo

grandes contribuiccedilotildees cientiacuteficas na aacuterea da linguiacutestica referente agraves Liacutenguas de Sinais

Indiacutegenas Sua pesquisa iniciou em 1991 com iacutendios surdos na comunidade indiacutegena de Satildeo

Marcos

O estudo dos sinais emergentes que se deseja apresentar objetiva natildeo apenas

recuperar os registros sobre as liacutenguas padratildeo mas tambeacutem e sobretudo procurar

realizar um levantamento de como se apresenta atualmente o uso desses sinais

emergentes e ateacute mesmo da histoacuteria da produccedilatildeo desses sinais para que se possa

fazer o registro cientifico sobre a situaccedilatildeo linguiacutestica dos iacutendios surdos dentro das

escolas indiacutegenas [] (VILHALVA 2012 p11a)

Souza e Segala (2009 p28) abordam que a maior parte das liacutenguas nasceu do

contato entre duas ou mais liacutenguas ou de uma liacutengua e sistemas de sinais caseiros (Liacutengua de

Sinais Primaacuteria) Observa-se que ldquosinais caseiros ou Liacutengua de Sinais Primaacuterios

correspondentes aos gestos ou construccedilatildeo simboacutelica inventadas no acircmbito familiar eacute comum

10

Disponiacutevel emlthttppibsocioambientalorgptpovokaaporgt Acesso em 19112013

30

a constituiccedilatildeo de um sistema convencional de comunicaccedilatildeo entre matildee-ouvinte e crianccedila

surdardquo

Sobre a origem dos sinais emergentes Vilhalva explica que

[] os sinais emergentes foram criados devido a uma necessidade de comunicaccedilatildeo

passando por sinais indicativos icocircnicos e arbitraacuterios A maneira como cada sinal

surge levam tempo para se entender principalmente quando os sinais satildeo criados

conforme o neologismo11

Esses novos sinais passam a fazer parte da comunicaccedilatildeo

para depois designar algo consistentemente como acontece tambeacutem agraves liacutenguas

orais-auditivas (2012 p137-138)

Desta forma a autora em sua pesquisa argumenta que os sinais emergentes

considerados em seu estudo como Liacutengua de Sinais constituem como o meio de

comunicaccedilatildeo primaacuteria dos iacutendios surdos das comunidades indiacutegenas do Mato Grosso do Sul

Partindo deste achado Rousseau jaacute mencionava em seus estudos ldquoEnsaio sobre a origem das

liacutenguasrdquo que

O uso e a necessidade ensinam a cada um a liacutengua de seu paiacutes mas o que eacute que faz

com que essa liacutengua seja a de seu proacuteprio paiacutes e natildeo a de um outro [] No

momento em que um homem foi reconhecido por um outro como um ser sensiacutevel

pensante e semelhante a ele o desejo ou a necessidade de comunicar-lhe os proacuteprios

sentimentos e os proacuteprios pensamentos fez com que procurasse os meios de fazecirc-lo

(2008 p 97)

Assim o primeiro contato do ser humano eacute com o outro da mesma espeacutecie No caso da

matildee com seu filho Conforme Sacks (1998 p 7) comenta que

[] a primeira comunicaccedilatildeo geralmente se daacute entre matildee e filho e a liacutengua eacute

adquirida emerge entre eles dois Sendo assim Os sinais emergentes tambeacutem satildeo

fruto da linguagem num processo visual usados pelos surdos indiacutegenas e seus

familiares ouvintes na interaccedilatildeo com o meio (VILHALVA 2012 p 137)

Vilhalva (2012) entatildeo percebeu a predominacircncia dos gestos caseiros criados pelos

proacuteprios surdos para interagirem com suas famiacutelias e com as pessoas que os rodeiam Ou

seja a crianccedila surda que nasce na famiacutelia de ouvinte comeccedila a criar a partir de um meio de

comunicaccedilatildeo visual usando todas as formas naturais possiacuteveis desde o apontamento ateacute os

gestos naturais O uso que destes sinais criados pelas necessidades do ambiente familiar com

o passar do tempo vatildeo se convencionando a forma de interaccedilatildeo dialoacutegica passando a

transformar-se em um meio de comunicaccedilatildeo essencial resultando assim no processo

11

Satildeo palavras criadas para designar novas situaccedilotildees novos conceitos fatos objetos etc sendo que um

neologismo soacute eacute sentido como tal durante algum tempo pois passados anos ou seacuteculos deixa de ter sentido

como tal porque a realidade que ele designa jaacute natildeo eacute nova

31

evolutivo dos sinais familiares para os sinais emergentes para transiccedilatildeo para a Liacutengua de

Sinais ou seja arbitraacuteria convencional Esse processo se daacute por meio do processo cognitivo

fundamentada na teoria de Cuxac

Construccedilatildeo do dizer a partir do processo criativo de performance gestual Iconizando

da experiecircncia perceptivo-praacutetica Rotinas de Transferecircnciandashpassagem da ilustraccedilatildeo

especifica para a categorizaccedilatildeo geneacuterica Sinais estabelecidos num grupo reduzido

categorias e generalizaccedilotildees dos sinais gestuais Nasce uma liacutengua de Sinais com

todas as propriedades de uma liacutengua (apud VILHALVA 2012 p138)

Vilhalva (2012) ainda destaca que se observarmos a Lei nordm 10436 de 24 de abril de

2002 vamos verificar que em seu artigo primeiro ldquoficam reconhecidos como meio legal de

comunicaccedilatildeo e expressatildeo a Liacutengua Brasileira de Sinais-Libras ndash e outros recursos de

expressatildeo a ela associadosrdquo Nesses bdquooutros recursos‟ podem figurar segundo compreensatildeo

da mesma os sinais emergentes produzidos nas comunidades indiacutegenas Se a Liacutengua

Brasileira de Sinais uma forma de comunicaccedilatildeo e expressatildeo cujo canal de produccedilatildeo e

recepccedilatildeo eacute de natureza visual-motora com estrutura gramatical proacutepria constituindo um

sistema linguiacutestico de transmissatildeo de ideias e fatos oriundos de comunidades de pessoas

surdas no Brasil conforme estaacute na lei eacute compreensivo dizer que nada fala sobre um padratildeo de

sinalizaccedilatildeo (p34)

Conclui-se que conforme pesquisa da autora citada os estudos dos sinais emergentes

mostraram que este eacute o ponto inicial das novas Liacutenguas de Sinais que segundo a mesma

merecem ser aprofundadas

1321 Realidade do contexto educacional escolar do indiacutegena surdo

Vilhalva (2012) destaca que o indiviacuteduo surdo soacute teraacute um sistema gestual linguiacutestico

organizado no contato do agrupamento comunitaacuterio especificamente da comunidade surda

com o contato com a Liacutengua de Sinais E isso muitas vezes acontece em geral somente no

acircmbito escolar biliacutengue onde haacute outros surdos inteacuterpretes e professores ouvintes que fazem

uso da Liacutengua de Sinais Por isso eacute essencial uma escola que respeite a diversidade linguiacutestica

como no caso desta comunidade Desta forma se faz necessaacuterio presenccedila na escola de

inteacuterpretes vindo das cidades mais proacuteximas das terras indiacutegenas de modo que

32

[] o Professor ministra as aulas em Portuguecircs e tem disciplina em Guarani

Observamos que pelo fato de os professores da pedagogia diferenciada indiacutegena

realizarem sua formaccedilatildeo em universidades locais onde o assunto em torno da surdez

e da Libras satildeo discutidos estes profissionais tecircm uma formaccedilatildeo que respeita natildeo soacute

a cultura e a liacutengua indiacutegena mas tambeacutem a cultura e a Liacutengua de Sinais

caracteriacutesticas que estatildeo presentes nas escolas indiacutegenas biliacutengues em que a liacutengua

de instruccedilatildeo eacute o Guarani-Portuguecircs(VILHALVA 2012 p 11b)

Poreacutem o que natildeo eacute o caso da escola Araporatilde mencionada por Vilhalva (2012) que teve

preferecircncia do inteacuterprete indiacutegena para a preservaccedilatildeo da cultura liacutengua e saber Foi observado

na pesquisa que os indiacutegenas surdos com vinte anos de idade em diante demonstram

seguranccedila ao sinalizar com o pesquisador surdo usando seus sinais emergentes de forma

natural Os mais novos de escolas indiacutegenas mas da mesma comunidade indiacutegena natildeo

demonstraram o uso de sinais emergentes e sim apresentaram diretamente sua comunicaccedilatildeo

em Libras Entretanto os resultados apontam que natildeo haacute como dizer se o atendimento

educacional para o iacutendio surdo estaacute acontecendo em todas as comunidades indiacutegenas ldquopois

interfere numa questatildeo de respeitar o que diz o proacuteprio plano de educaccedilatildeo sobre uma visatildeo

amplamente ligada agrave liacutengua cultura e diversidade nas escolas e terras indiacutegenasrdquo (ibid p36)

Nesta oacutetica se realmente as poliacuteticas linguiacutesticas fossem mais enfaacuteticas em suas

propostas de realizar a planificaccedilatildeo linguiacutestica incluindo a criaccedilatildeo de escolas biliacutengues e de

legislaccedilotildees especiacuteficas para as questotildees referentes agraves liacutenguas o indiviacuteduo indiacutegena surdo

poderia ter seus direitos linguiacutesticos assegurados

Neste sentido resgata-se o Referencial Curricular Nacional para Escolas Indiacutegenas

(1998) o qual menciona que

[] as tradiccedilotildees culturais os conhecimentos acumulados a educaccedilatildeo das geraccedilotildees

mais novas as crenccedilas o pensamento e a praacutetica religiosa as representaccedilotildees

simboacutelicas a organizaccedilatildeo poliacutetica os projetos de futuro enfim a reproduccedilatildeo

sociocultural das sociedades indiacutegenas satildeo na maioria dos casos manifestaccedilotildees

atraveacutes do uso de uma liacutengua Mesmo os povos indiacutegenas que satildeo hoje monoliacutengues

em liacutengua portuguesa continuam a usar a liacutengua de seus ancestrais como um siacutembolo

poderoso para onde confluem muitos de seus traccedilos identificatoacuterios construindo

assim um quadro de bilinguismo simboacutelico importante [grifo nosso]

Ou seja assim como para o surdo urbano brasileiro eacute reconhecida legalmente sua

liacutengua natural - Libras e a Liacutengua Portuguesa como segunda liacutengua -L2 para o indiacutegena surdo

deveria ser assegurado o mesmo direito para aprender esta forma de comunicaccedilatildeo ndash Liacutengua de

Sinais como primeira liacutengua e como segunda liacutengua a Liacutengua de sua etnia na modalidade

33

escrita Sendo portanto biliacutengue ou ainda triliacutengue com aquisiccedilatildeo da Liacutengua Portuguesa

tambeacutem na modalidade escrita

Nesta perspectiva observa-se que Saacute (2011 p33) afirma que tanto indiacutegenas como

surdos tecircm uma liacutengua proacutepria e uma cultura diferenciada Entatildeo porque natildeo ser reconhecida

legalmente a Liacutengua de Sinais utilizada pelos iacutendios surdos e a Liacutengua de sua comunidade

Como bem percebido por Vilhalva haacute a carecircncia de pesquisas voltadas para o registro de

liacutengua de sinais entre os iacutendios surdos brasileiros o que certamente constitui-se em um dos

fatores que favorecem a existecircncia desta lacuna na legislaccedilatildeo E que tal fato deveria ser um

despertar para pesquisadores da linguiacutestica sejam ouvintes ou surdos

34

2 A HISTOacuteRIA DO POVO INDIacuteGENA SATEREacute-MAWEacute CULTURA E LIacuteNGUA

Os povos indiacutegenas durante muito tempo foram considerados como povos sem

histoacuteria e sem uma liacutengua proacutepria Poreacutem com as muitas lutas eacutetnicas com estudos

antropoloacutegicos e com as abordagens historiograacuteficas iniciou-se uma valorizaccedilatildeo da

sociedade indiacutegena passando assim o povo indiacutegena a ser perspectivado nas suas

singularidades histoacutericas culturais e linguiacutesticas

Vale ressaltar que quando se refere a ldquoliacutenguasrdquo sabe-se que natildeo haacute apenas uma liacutengua

indiacutegena Existem muitos povos ou etnias indiacutegenas distintas As liacutenguas indiacutegenas no Brasil

se agrupam em famiacutelias linguiacutesticas ou seja famiacutelias que tecircm semelhanccedilas entre si e que satildeo

agrupadas por sua vez em troncos linguiacutesticos assim como as liacutenguas isoladas12

ou seja

liacutenguas que natildeo parecem ter parentesco com nenhuma das famiacutelias linguiacutesticas conhecidas

Segundo Rodrigues (2002) as famiacutelias indiacutegenas estatildeo agrupadas em Tronco

Linguiacutestico Tupi famiacutelia Tupi-Guarani (Akwaacutewa Amanayeacute Anambeacute Apiakaacute Araweteacute

Asurini Avaacute Guajaacute Guarani Kamayuraacute Kayabi Suryiacute Kaiwaacute) famiacutelia Munduruku

(Kuruaacuteya Mundurukuacute) Famiacutelia Tupari (Makuraacutep Tupari Wayoroacute) Famiacutelia Arikeacutem

(Karitiaacutena) Famiacutelia Juruna (Juruna) Famiacutelia Mondeacute (Aruaacute Cinta-Larga Gaviatildeo Mekeacutem

Mondeacute Suruiacute Zoroacute) Famiacutelia Ramaraacutema (Araacutera Itoqapuk) Outras Liacutenguas (Aweti

Puruboraacute Satereacute-Maweacute) entre outros troncos linguiacutesticos como Macro-Jecirc e sua diversidade

de famiacutelias existentes entre elas as liacutenguas isoladas

Um desses povos indiacutegenas foi o da etnia Satereacute-Maweacute Estes sofreram muitas

influecircncias em seu modo de vida advinda do contato com grupos natildeo indigenas que implicou

no processo de perda de muitos dos seus aspectos culturais A histoacuteria relata que o contato se

deu pela chegada dos colonizadores e posteriormente das missotildees religiosas E na atualidade

por ocupantes de terras como fazendeiros madeireiros emigrantes de outros Estados Foram

perdas irreparaacuteveis todavia como elo de resistecircncia procuraram sustentar em sua estrutura

original sua liacutengua

12

Segundo Rodrigues (2002 p93) liacutenguas isoladas refere-se as liacutenguas isoladas linguisticamente ou seja

liacutenguas que natildeo revelam parentesco geneacutetico com nenhuma outra Natildeo pertencem a nenhuma famiacutelia (ou tronco)

isto eacute constituem famiacutelias de um soacute membro

35

21 Breve Relato Histoacuterico

A histoacuteria do povo indiacutegena Satereacute-Maweacute tem sido foco de estudos dos diversos

segmentos de pesquisas como as realizadas por antropoacutelogos historiadores religiosos e

cientistas da linguagem Estes relatam a origem a liacutengua e a cultura desse povo

Uggeacute (1993 p 5) informa que ldquoOs Maueacutes descendentes das tribos indiacutegenas

denominadas no passado pelo nome de ANDIRAacute e MARAGUAacute que faz parte da aacuterea cultural

Tapajoacutes-Madeira entre a divisa dos atuais Estados do Paraacute e Amazonasrdquo O autor ainda

menciona que cronistas exploradores missionaacuterios antropoacutelogos naturalistas do passado

identificaram os Maueacutes tambeacutem com outros nomes (Maooz Mabueacute Jaquezes Manguases

Mahueacutes Mauris Maweacute Maragua e Maraguazes)

A origem do nome Satereacute-Maweacute advem dos termos Satereacute (lagarta vermelha) que eacute o

nome do clatilde dos antigos chefes e Maweacute (papagaio inteligente guerreiro e curioso) que eacute o

nome mais comum de um dos grupos tribais que conseguiram sobreviver agrave extinccedilatildeo das

numerosas tribos indiacutegenas da ilha Tupinambarana do Meacutedio Amazonas (IDEM) Cerqua13

faz referecircncia agrave primeira notiacutecia sobre o povo Satereacute-Maweacute ldquoEacute por volta de 1669 quando o

Pe Betendorf duas vezes superior provincial dos jesuiacutetas lembra a ldquovila dos Maguasesrdquo

grafia antiga de Maueacutes [] (1980 p 209)rdquo ou seja Maueacutes foi residecircncia missionaacuteria mas

natildeo permanente dos padres pois os mesmos residiam mais em Tupinambarana (rio

Amazonas) atual Parintins e visitavam Maueacutes temporariamente

A etnia Satereacute-Maweacute sofreu muitas mudanccedilas de localidades devido muitos fatores

que contribuiacuteram para o deslocamento desse povo segundo explica Lorez apud Teixeira

(2005 p21)

Devido agraves guerras com os Munduruku e Parintintim e ao contato com os

portugueses os Satereacute-Maweacute perderam grande parte de seu territoacuterio original Em

1691 os Maweacute surgem na cartografia regional com o nome de Mabueacute(mapa do

Padre Samuel Fritz) Missotildees foram localizadas para os iacutendios Magueacute denominadas

Satildeo Joatildeo (Pinhel) e Santo Inaacutecio (Boim) Posteriormente em 1835 lutando ao lado

dos Munduruku e dos Mura como tambeacutem de outras tribos indiacutegenas do rio Negro

os Satereacute-Maweacute aderiram ao movimento cabano ateacute que em 1839 o conflito foi

debelado Devido agraves epidemias agraves lutas e agraves perseguiccedilotildees aos povos indiacutegenas que

combatiam ao lado dos cabanos enormes aacutereas da Amazocircnia foram devastadas o

que provocou deslocamentos desses grupos populacionais de seus territoacuterios

ancestrais e de populaccedilatildeo Segundo relatos de viajantes desde o seacuteculo XVIII o

territoacuterio dos Satereacute-Maweacute vem sendo paulatinamente reduzido Essa reduccedilatildeo se

deu a partir das tropas de resgate que penetraram grandes aacutereas da Amazocircnia da

implantaccedilatildeo de missotildees jesuiacutetas e carmelitas ao longo dos principais rios

13

Dom Arcacircngelo Bispo Prelado de Parintins de 1980

36

amazocircnicos da ldquobusca desenfreadardquo das drogas do sertatildeo com a exploraccedilatildeo da

borracha durante o seacuteculo XIX e iniacutecio do XX e por fim da ldquoexpansatildeo econocircmica

das cidades de Maueacutes Barreirinha Parintins e Itaituba para o interior dos

municiacutepios alocando fazendas extraindo pau-rosa abrindo garimpos dominando a

economia indiacutegena atraveacutes de regatotildeesrdquo As cidades de Maueacutes Parintins e Itaituba

inclusive foram fundadas sobre restos de malocas dos Satereacute-Maweacute

Cerqua (1980 p265) destaca a localizaccedilatildeo dessa tribo delimitando que ldquoA tribo estaacute

localizada em sua maioria no Alto Andiraacute e no Marau afluente do Rio Maueacutes e sua aacuterea de

cerca de 639500 ha foi demarcada pelo Decreto nordm 76999rdquo Atualmente segundo Teixeira

(apud ALVAREZ 2009) os Satereacute-Maweacute hoje satildeo grupos de 8500 indiacutegenas dos quais 7502

moram na terra indiacutegena Andiraacute-Marau nos municiacutepios de Barreirinha Maueacutes e Parintins e

aproximadamente mil residem em aacutereas urbanas destes municiacutepios Sendo que outro grupo

vive na terra indiacutegena Coataacute-Laranjal junto ao grupo Munduruku e no municiacutepio de Borba

Uggeacute (1993) comenta que os Satereacute-Maweacute sempre tiveram vontade de manter a

proacutepria identidade tribal contudo eram carentes de apoio praacutetico para ajudaacute-los a enfrentar o

perigo do mundo moderno que tentavam ldquoinvadi-losrdquo Ou seja manipulaccedilotildees externas entre a

lideranccedila indiacutegenas dos Satereacute-Maweacute o alcoolismo a dependecircncia a violecircncia dos ldquobrancosrdquo

eram os maiores perigos para este povo Satereacute-Maweacute

Poreacutem o foco de resistecircncia manteve vivo no povo Satereacute aspectos culturais

importantes como o ritual da tucandeira O ritual eacute um marco na vida dos homens porque satildeo

chamados pela formiga (tucandeira) caso o indiacutegena natildeo atenda o chamado a formiga o

levaraacute a loucura ateacute chegar agrave morte A tucandeira eacute uma divindade muito respeitada pelos

Satereacute-Maweacute Em determinado momento da histoacuteria do povo Satereacute-Maweacute o ritual da

tucandeira chegou ao ponto de natildeo ser mais praticado em decorrecircncia da imposiccedilatildeo religiosa

mas apoacutes perceberam a grande perda cultural que isso representaria voltaram a praticaacute-lo a

recuperando como parte de sua cultura

22 Classificaccedilatildeo da liacutengua Satereacute-Maweacute

Segundo Teixeira (2005) a anaacutelise da situaccedilatildeo linguiacutestica do povo Satereacute-Maweacute

baseia-se na concepccedilatildeo defendida por antropoacutelogos e linguistas que a liacutengua se configura

como um importante instrumento da cultura e da identidade de uma populaccedilatildeo

A populaccedilatildeo indiacutegena Satereacute-Maweacute pertence vaacuterios aspectos agrave famiacutelia Linguiacutestica

Tupi Rodrigues (apud ALVAREZ 2009 p17) aborda que a liacutengua da tribo Satereacute-Maweacute eacute a

37

uacutenica liacutengua de uma famiacutelia do tronco Tupi E sua classificaccedilatildeo linguiacutestica como pertencente

ao tronco Tupi foi dada pelo etnoacutegrafo Curt Nimuendajuacute (1948)

A liacutengua Satereacute-Maweacute integra o tronco linguiacutestico Tupi Segundo o etnoacutegrafo Curt

Nimuendajuacute (1948) ela difere do Guarani-Tupinambaacute Os pronomes concordam

perfeitamente com a liacutengua Curuaya-Munduruku e a gramaacutetica ao que tudo indica

eacute tupi O vocabulaacuterio Maweacute conteacutem elementos completamente estranhos ao Tupi

mas natildeo pode ser relacionada a nenhuma outra famiacutelia linguiacutestica Desde o seacuteculo

XVIII seu repertoacuterio incorporou numerosas palavras da liacutengua geral

Os homens atualmente satildeo biliacutengues falando o Satereacute-Maweacute e o portuguecircs mas a

maioria das mulheres apesar de trecircs seacuteculos de contato com os brancos soacute fala a

liacutengua Satereacute-Maweacute (TEIXEIRA 2005 p95)

A liacutengua Satereacute-Maweacute eacute falada tradicionalmente por quase todas as comunidades haacute

mais de 300 anos entretanto foi inevitaacutevel para os indiacutegenas Satereacute-Maweacute conhecer os

haacutebitos e a liacutengua portuguesa devido agrave invasatildeo dos europeus em suas terras no seacuteculo passado

o que causou a mistura de liacutenguas e consequentemente as influecircncias dos padrotildees culturais

natildeo indiacutegenas

Os Satereacute-Maweacute foram entatildeo forccedilados a se refugiarem nas zonas urbanas e ateacute mesmo

em outros estados Outro impacto que alterou o modo de falar dos liacutederes indiacutegenas foi a

necessidade de buscar apoio logiacutestico para suas comunidades principalmente para tratar da

sauacutede de sua populaccedilatildeo que sofria de doenccedilas como malaacuteria tuberculose sarampo e outras

por eles desconhecidas que causaram muitas mortes

Desta forma com o passar dos anos a liacutengua Satereacute-Maweacute sofreu influecircncias lexicais

e fonoloacutegicas do Nheengatu na regiatildeo do Andiraacute Pesquisas realizadas recentemente por

Teixeira (2005) delimitam um perfil linguiacutestico que permite conhecer um pouco mais da

cultura linguiacutestica Satereacute-Maweacute sendo esta considerada por meio da distribuiccedilatildeo geograacutefica e

etaacuteria dos que falam e natildeo falam o idioma Satereacute-Maweacute Desta feita segundo o autor

O idioma Satereacute-Maweacute eacute mais falado na aacuterea do Marau que nas demais (Andiraacute

Uaicurapaacute e Koataacute-Laranjal) Tanto na aacuterea do Andiraacute como no Marau o idioma

materno eacute falado por praticamente todas as comunidades situadas proacuteximo agraves

cabeceira dos rios (Alto Andiraacute e Alto Marau) Para as aacutereas mais proacuteximas das

cidades os falantes atingem a quase totalidade dos moradores do Baixo Marau Jaacute

no baixo Andiraacute esse nuacutemero aumenta bastante nas duas comunidades mais

proacuteximas de Parintins e Barreirinha ou seja Ponta Alegre e Guaranatuba As aacutereas

de povoamento mais recente (Uaicurapaacute Koataacute-Laranjal e mais duas no Andiraacute) tecircm

tendecircncia a apresentar proporccedilotildees menores de falantes do idioma Satereacute-Maweacute

(ibid p95)

38

O autor esclarece que moradores em terras indiacutegenas satildeo mais falantes da Liacutengua

Satereacute-Maweacute do que os que moram proacuteximo ou dentro da aacuterea urbana A pesquisa ainda

mostra agrave necessidade de sensibilizar a comunidade indiacutegena Maweacute sobre a importacircncia da

valorizaccedilatildeo de sua liacutengua agrave recuperaccedilatildeo de suas memoacuterias histoacutericas e a reafirmaccedilatildeo de suas

identidades eacutetnicas

221 Contexto educacional escolar entre os Satereacute-Maweacute

O contexto educacional Satereacute-Maweacute tem como base o reconhecimento constitucional

fundamentado na legislaccedilatildeo em vigor segundo a qual ldquosatildeo reconhecidos aos iacutendios sua

organizaccedilatildeo social costumes liacutenguas crenccedilas e tradiccedilotildees []rdquo

Por isso fundamentos gerais da educaccedilatildeo escolar indiacutegena baseiam-se na proposta do

Referencial Curricular Nacional para Escolas Indiacutegenas (1998) que contempla

Multietnicidade pluralidade e diversidade 2 Educaccedilatildeo e conhecimentos indiacutegenas 3

Autodeterminaccedilatildeo 4 Comunidade educativa indiacutegena 5 Educaccedilatildeo intercultural

comunitaacuteria especiacutefica e diferenciada Assim

Parte do sistema nacional de educaccedilatildeo a escola indiacutegena eacute um direito que deve ser

assegurado por uma nova poliacutetica puacuteblica a ser construiacuteda atenta e respeitosa frente

ao patrimocircnio linguiacutestico cultural e intelectual dos povos indiacutegenas Esse esforccedilo

de projetar uma nova educaccedilatildeo escolar indiacutegena soacute seraacute realmente concretizado com

a participaccedilatildeo direta com os principais interessados ndash os povos indiacutegenas atraveacutes de

suas comunidades educativas [] A participaccedilatildeo da comunidade no processo

pedagoacutegico da escola fundamentalmente na definiccedilatildeo dos objetivos dos conteuacutedos

curriculares e no exerciacutecio das praacuteticas metodoloacutegicas assume papel necessaacuterio para

a efetividade de uma educaccedilatildeo especifica e diferenciada (ibid p24)

Poreacutem para que de fato seja garantida uma educaccedilatildeo diferenciada natildeo eacute suficiente

que somente os conteuacutedos sejam ensinados atraveacutes do uso das liacutenguas maternas mas se faz

necessaacuterio que se incluam os conteuacutedos curriculares propriamente indiacutegenas assim como os

modos proacuteprios de transmissatildeo deste saber Em pesquisa realizada pela revista Amazocircnia

(AMAZONAS 2000) intitulada como ldquoA silenciosa revoluccedilatildeo dos Iacutendiosrdquo o povo Satereacute-

Maweacute foi considerada um dos melhores exemplos para se falar em educaccedilatildeo indiacutegena Tal

afirmaccedilatildeo foi proferida pelo antropoacutelogo Ademir Ramos (professor da Universidade do

Estado do Amazonas) Segundo o entrevistado a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 mudou a

postura em relaccedilatildeo aos iacutendios estabelecendo um processo de educaccedilatildeo diferenciada que

39

fomenta o orgulho de aprender sua lingua tambeacutem no ambiente escolar possibilitando relatos

como o transcrito abaixo

Alunos como Dati 11 da aldeia de Molongotuba carregam com orgulho a cartilha

bdquoMoweeghap onde estatildeo registrados escritos ndash liacutengua Satereacute do tronco tupi e

desenhos de situaccedilotildees do cotidiano das aldeias falando de peixes aves aacutervores e

animais A liacutengua o menino aprendeu a falar com os pais e depois na escola onde

haacute quatro anos aprendeu a escrevecirc-la Aleacutem disso ele tem aprendido tambeacutem a

bdquoliacutengua dos brancos‟

Ainda sobre a importacircncia desta perspectiva educacional em nota o vice-presidente

da organizaccedilatildeo dos professores indiacutegenas Satereacute Gecinaldo Cabral comentou sobre a

mesma enfatizando a relevacircncia do processo educacional na vida dos iacutendios da tribo Satereacute

que por serem biliacutengues satildeo capazes de expressarem e defenderem o seu povo Portanto ao

ensinar a liacutengua nativa agraves crianccedilas promovem o resgate da cultura tradiccedilatildeo e conhecimentos

indiacutegenas Uma educaccedilatildeo diferenciada natildeo resumida na liacutengua majoritaacuteria ou seja Liacutengua

Portuguesa mas na liacutengua proacutepria das etnias E desta forma sendo respeitada a diversidade

cultural de cada povo

Nesta perspectiva Teixeira (2005) em sua pesquisa descreve que a realidade do

contexto educacional escolar do povo Satereacute-Maweacute explicando que

O quadro situacional dos Satereacute-Maweacute no que concerne agrave escolarizaccedilatildeo e agrave

escolaridade apresenta elementos que devem ser entendidos natildeo soacute como resultado

da aplicaccedilatildeo de poliacuteticas educacionais mas tambeacutem como explicitaccedilatildeo de estrateacutegias

poliacuteticas usadas pelos iacutendios na negociaccedilatildeo de visibilidade e reconhecimento no

espaccedilo puacuteblico brasileiro A busca dos Satereacute-Maweacute por escola explicitada na

forma de documentos reivindicatoacuterios enviados ao poder puacuteblico solicitando

recursos para suas escolas demonstrarem os conhecimentos escolares e a

certificaccedilatildeo que a escolaridade concede importantes instrumentos de luta no

processo histoacuterico de construccedilatildeo de sua identidade cultural e de desenvolvimento de

seus projetos sociais (ibid p103)

O autor tambeacutem evidecircncia que a escolarizaccedilatildeo ainda natildeo estaacute alcanccedilando a totalidade

dos Satereacute-Maweacute sendo assim

[] com idade compreendida entre 7 e 24 anos nem nas aacutereas urbanas onde se

verifica o maior percentual de matriacuteculas (839) nem nas terras indiacutegenas (596)

Se forem consideradas as pessoas que tecircm entre 7 e 17 anos de idade os percentuais

sobem bastante mas ainda demonstram a falta de acesso da populaccedilatildeo satereacute-maweacute

agrave escola A pior situaccedilatildeo ocorre na aacuterea indiacutegena onde aproximadamente 13 dos

indiviacuteduos dessa faixa etaacuteria estatildeo fora da escola Na aacuterea urbana o percentual dos

que estatildeo fora eacute de 8 Aparentemente o elevado percentual de pessoas entre 7 e 17

40

anos de idade que estatildeo fora da escola em aacuterea indiacutegena deveria estar relacionado

com a ausecircncia de ensino fundamental de 4ordf a 8ordf seacuterie nas aldeias

No entanto isto eacute apenas uma parte da justificativa pois de 142 pessoas dessa faixa

etaacuteria que natildeo frequentam a escola apenas 32 (225) declararam ter concluiacutedo a

quarta seacuterie do ensino fundamental ou seja poderiam estar fora da escola por falta

do ensino de 5ordf a 8a seacuterie na aacuterea indiacutegena Aleacutem disso 148 crianccedilas entre 7 e 14

anos de idade natildeo frequentam a escola significando que haacute problemas na oferta de

vagas para as crianccedilas satereacute-maweacute na aacuterea indiacutegena Dessas crianccedilas mais da

metade se concentra em apenas 14 aldeias22 das quais 4 compreendendo as

pequenas comunidades de Satildeo Luiacutes Limoal Tigre a Arumatuba no Andiraacute natildeo tecircm

nenhuma crianccedila estudando Na aldeia de Tabatinga no Andiraacute apenas uma das

cinco crianccedilas moradoras estatildeo estudando e na de Santo Antocircnio tambeacutem no

Andiraacute 12 entre 16 crianccedilas de 7 a 14 anos natildeo frequentam a escola(TEIXEIRA

2005 p 104)

Segundo o autor nas cidades de Maueacutes Parintins e Barreirinha a escola frequentada

pelos Satereacute-Maweacute natildeo se define como escola indiacutegena nem tatildeo pouco como especiacutefica ou

diferenciada Talvez seja uma realidade encontrada em todas as escolas indiacutegenas no

Amazonas O que se configura em um problema na medida em que segundo Sobrinho

(2011) a escola esta definida a partir de um modelo da ldquoescola dos brancosrdquo que certamente

altera interferindo diretamente nas questotildees culturais que fazem parte do universo desses

povos gerando assim processo de exclusatildeo O autor ainda comenta que

mesmo diante da resoluccedilatildeo nordm 112011 do Conselho Estadual de Educaccedilatildeo que traz

garantias aos indiacutegenas independentemente de onde vivam ao respeito a sua liacutengua

conhecimentos e tradiccedilotildees proacuteprias nas escolas essa lei passa completamente

despercebida (ibid p 209)

Sobre a questatildeo Teixeira (2005) menciona que nas terras indiacutegenas onde estaacute em

curso a criaccedilatildeo da escola indiacutegena com educaccedilatildeo escolar especiacutefica e diferenciada - as taxas

de escolarizaccedilatildeo deixam evidente que o poder puacuteblico tem investido somente nas seacuteries

iniciais do ensino fundamental o qual apresenta o percentual de 871 de taxa liacutequida de

escolarizaccedilatildeo ou seja natildeo haacute oferta regular para as seacuteries finais do ensino fundamental nem

de ensino meacutedio Isso sem relatar a falta de formaccedilatildeo de professores indiacutegenas entre outros

fatores conforme Franceschini apresenta

A necessidade de formaccedilatildeo especiacutefica e diferenciada de nuacutemero maior de

professores principalmente para atuar nos segmentos mais adiantados do Ensino

Fundamental a implantaccedilatildeo de mais turmas de 6ordm ao 9ordm anos e do Ensino Meacutedio na

aacuterea indiacutegena construccedilatildeo-reflexatildeo do Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico das escolas

Satereacute-Maweacute associada a uma praacutetica pedagoacutegica condizente e a construccedilatildeo de

material didaacutetico proacuteprio satildeo necessidades urgentes do povo Satereacute-Maweacute Pois

apesar da legislaccedilatildeo vigente dar aos indiacutegenas o direito de escolherem seu modelo

educacional e ensinarem sua liacutengua e etnoconhecimentos na maioria das escolas das

41

comunidades Satereacute-Maweacute o modelo educacional adotado natildeo se diferencia muito

do modelo das escolas rurais da regiatildeo sendo que a liacutengua e os etnoconhecimentos

indiacutegenas natildeo constituem de fato conhecimentos que fazem parte do programa

educacional e que satildeo trabalhados de forma sistemaacutetica na escola (2012 p5)

Portanto os resultados apresentados pelo pesquisador comprovam que as accedilotildees

governamentais para educaccedilatildeo escolar indiacutegena estatildeo distantes de cumprir na sua plenitude

preceitos constitucionais o que implica em prejuiacutezo natildeo soacute na educaccedilatildeo escolar indiacutegena

como na proacutepria cultura desse povo

42

3 METODOLOGIA IMPLEMENTADA NA PESQUISA

A metodologia utilizada neste trabalho deu iniacutecio com o estudo bibliograacutefico e

pesquisa de campo Realizou-se uma investigaccedilatildeo primeiramente sobre os estudos surdos na

perspectiva linguiacutestica e cultural a posteriormente na literaturas e estudos sobre os iacutendios da

etnia Satereacute-Maweacute tomando como princiacutepio a origem os fundamentos e a histoacuteria do povo e

da Liacutengua Satereacute-Maweacute Na sequecircncia a concretizaccedilatildeo da pesquisa de campo com a

investigaccedilatildeo do objeto de estudo o iacutendio surdo e sua situaccedilatildeo sociolinguiacutestica da etnia Satereacute-

Maweacute

Figura 1 ndash Croqui da aacuterea e localidade da pesquisa

Fonte Mapa do Estado do Amazonas Censo 2010 ndash IBGE

Organizado por Vicente de Paulo Silva de Azevedo

31 Aacuterea e localidade da pesquisa

A proposta do processo investigativo para o mapeamento do objeto da pesquisa foi

demarcada delimitando a aacuterea do campo da pesquisa a Microrregiatildeo de Parintins A

Microrregiatildeo de Parintins (AMAZONAS 2012) eacute constituiacuteda por Barreirinha Boa Vista do

Ramos Maueacutes Nhamundaacute Parintins Satildeo Sebastiatildeo do Uatumatilde e Urucaraacute Vale ressaltar que

natildeo foi coberta pela pesquisa a populaccedilatildeo Satereacute-Maweacute residente em Manaus (AM)

43

32 Estrateacutegias gerais para a realizaccedilatildeo da coleta de dados

Primeiramente foi feita uma busca de dados pelo IBGE o qual informou que natildeo

havia qualquer registro sobre a populaccedilatildeo indiacutegena de surdos Sem resultado satisfatoacuterio foi

organizado um cronograma de viagens

A primeira viagem foi para o municiacutepio de Parintins onde foi feita uma visita na casa

de um iacutendio para possiacutevel coleta de dados Poreacutem o cacique Sr Luiz de Oliveira infelizmente

tambeacutem comunicou a falta desse dado na comunidade Portanto foi exposto a esse liacuteder o

objetivo da referida pesquisa apresentando assim a importacircncia da comunicaccedilatildeo entre os

seres humanos e interaccedilatildeo entre os diferentes modos linguiacutesticos de convivecircncia social e

educacional

O cacique prontamente mostrou-se aberto a contribuir para que a pesquisa fosse

concretizada Assim sendo iniciou-se a trajetoacuteria do levantamento de iacutendios surdos e sua

forma de comunicaccedilatildeo como tambeacutem seu contexto educacional escolar

Ao retornar a Manaus buscou-se apoio agraves instituiccedilotildees representativas com a visita agrave

sede da Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio ndash FUNAI oacutergatildeo responsaacutevel pelas accedilotildees indiacutegenas a

qual informou que se fazia necessaacuterio uma autorizaccedilatildeo para dar seguimento agrave pesquisa Logo

providecircnciou-se o documento requerido na Coordenaccedilatildeo de Educaccedilatildeo Indiacutegena localizada no

municiacutepio de Barreirinha

Ao chegar agrave cidade de Barreirinha um novo contato foi estabelecido com o

Coordenador indiacutegena o Sr Santino Lopes de Oliveira que se mostrou receptivo com o

projeto e se dispocircs prontamente a colaborar

Com a autorizaccedilatildeo e aprovaccedilatildeo das autoridades indiacutegenas e de posse do documento

houve o comprometimento de que seguiria as normas estabelecidas que disciplinam o

ingresso em terras indiacutegenas pela entidade (ANEXO A) Assim foi possiacutevel sistematizar os

procedimentos para a coleta de dados

33 Procedimentos da coleta

A coleta de dados foi realizada de acordo com o cronograma estabelecido para esta

etapa da pesquisa O procedimento metodoloacutegico usado para a coleta de dados foi

fundamentado em meacutetodo misto por meio de observaccedilotildees questionamento participaccedilotildees em

reuniotildees com representantes da lideranccedila indiacutegena local conversas informais e espontacircneas

44

com famiacutelias e comunidade indiacutegena Satereacute-Maweacute Utilizou-se como instrumento para

coleta caderno de registro de campo fotos filmagens gravaccedilotildees e questionaacuterio (ANEXO B)

34 Articulaccedilatildeo local

O primeiro passo foi estabelecer parcerias com colaboradores ou seja lideranccedilas

indiacutegenas professores indiacutegenas professores da rede puacuteblica inteacuterpretes oacutergatildeos ligados agraves

causas indiacutegenas alunos da Universidade do Estado Amazonas As instituiccedilotildees

representativas educacionais tambeacutem colaboraram telefonando ou perguntando para outras

pessoas sobre a existecircncia de indiacutegenas surdos e locais de suas residecircncias

A participaccedilatildeo das lideranccedilas indiacutegenas como os professores e colaboradores que

apoiaram e permitiram entrar em suas terras para fazer o levantamento foi de extrema

importacircncia pois muito contribuiacuteram nas traduccedilotildees das palavras indiacutegenas para a Liacutengua

Portuguesa

35 Abordagem ao objeto da pesquisa

Em cada viagem agraves comunidades primeiramente fazia-se contato com o tuxaua com

a finalidade de apresentar o objetivo da pesquisa Desta forma era explicado para eles a

importacircncia da contribuiccedilatildeo que o estudo poderia trazer agravequela comunidade Por meio da

autorizaccedilatildeo concedida obtinha-se a colaboraccedilatildeo para a coleta de dados junto ao objeto da

pesquisa Jaacute as abordagens feitas em ambiente familiar tambeacutem era solicitado o consentimento

para a realizaccedilatildeo da pesquisa Com permissatildeo concedida iniciamos as observaccedilotildees e

intervenccedilotildees Com devida autorizaccedilatildeo utilizaacutevamos para registro cacircmeras fotograacuteficas e em

seguida registraacutevamos no caderno de campo da pesquisa (ANEXO CC-1 e C-2)

45

4 MAPEAMENTO DOS IacuteNDIOS SURDOS DA ETNIA SATEREacute-MAWEacute NA

MICRORREGIAtildeO DE PARINTINS E SUA REALIDADE LINGUIacuteSTICA E

EDUCACIONAL ESCOLAR

No Brasil haacute uma diversidade de etnias indiacutegenas Rodrigues (2002) satildeo mais de 170

liacutenguas faladas e dialetos pelos povos indiacutegenas Estas liacutenguas satildeo distribuiacutedas em dois

grandes troncos linguiacutesticos

[] o Tupi (dividido em 10 famiacutelias) e o Macro-Jecirc (dividido em 9 famiacutelias) e de

outras 20 famiacutelias linguumliacutesticas natildeo classificadas em troncos Apenas nove liacutenguas

indiacutegenas tecircm acima de 5000 falantes guajajara (satereacute-) maueacute xavante

ianomacircmi terena macuxi caingangue ticuna e guarani estes uacuteltimos com 30000

indiviacuteduos Cerca de 110 liacutenguas contam com menos de 400 falantes 14

Entretanto em meio a essa diversidade linguiacutestica poucos satildeo documentados

Pesquisadores e grupos indiacutegenas tentam um reavivamento eacutetnico e linguiacutestico

documentando-os para salvar sua liacutengua seu idioma

Diante do exposto a uacutenica liacutengua de sinais indiacutegena registrada eacute a utilizada pela etnia

indiacutegena brasileira dos Urubu-Kaapor como jaacute mencionada anteriormente Pesquisas no Mato

Grosso do Sul em aldeias indiacutegenas apresentaram a existecircncia de iacutendios surdos que utilizam

sinais emergentes ainda natildeo registrados propriamente como uma liacutengua

Pouco registro tem-se encontrado sobre iacutendios surdos muito menos sobre a liacutengua ou

a forma desses sujeitos se comunicarem De acordo com dados do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatiacutestica (IBGE) natildeo haacute registros sobre iacutendios surdos nem no Anuaacuterio

Estatiacutestico do Amazonas do IBGE tatildeo pouco na Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio (FUNAI)

sendo portanto necessaacuteria uma pesquisa in loco para a busca desses dados

Eacute importante destacar que a pessoa surda natildeo nasce com a incapacidade de falar ou

seja a pessoa surda natildeo eacute muda natildeo fala por natildeo poder ouvir a ldquo[] A surdez natildeo estaacute

absolutamente vinculada agrave mudez []rdquo (RAMOS apud STROBEL 2008 p34)

Por isso as teorias da aquisiccedilatildeo da linguagem humana justificam como o ser humano

(re)inventa modos para expressar suas necessidades e formas de ver o mundo realizando a

comunicaccedilatildeo com seus pares

14

Classificaccedilatildeo das Liacutenguas Indigenas Brasileiras segundo Aryon Rodrigues (2002) Disponiacutevel em

lthttpwwwgeocitieswsindiosbr_nicolaiclassifhtmlgt

46

Partindo dessa percepccedilatildeo este estudo apresenta uma contribuiccedilatildeo de informaccedilotildees

cientiacuteficas que seratildeo um acreacutescimo aos conhecimentos existentes sobre a comunicaccedilatildeo dos

surdos indiacutegenas

41 Mapeamento da existecircncia dos iacutendios surdos na microrregiatildeo de Parintins

Conhecer os indiviacuteduos sujeitos da pesquisa ndash iacutendios surdos Satereacute-Maweacute - eacute a fase

fundamental deste estudo pois dessa forma eacute possiacutevel compreender a forma predominante de

comunicaccedilatildeo deles para poder elaborar material concreto ndash dicionaacuterio triliacutengue - pertinente

para auxiliar na forma da comunicaccedilatildeo deles com a sua etnia atraveacutes da liacutengua desse povo

indiacutegena Nesta seccedilatildeo estatildeo apresentados os dados que constituem um mapeamento da

quantidade de indiviacuteduos surdos que estatildeo inseridos no contexto de Parintins Barreirinha

Boa Vista do Ramos e Maueacutes locais estes onde haacute maior contato com etnia foco deste estudo

Abaixo segue o histoacuterico do municiacutepio de Parintins e demais microrregiotildees citadas na

pesquisa15

411 Histoacuterico de Parintins

Parintins eacute um municiacutepio brasileiro situado no interior do estado do Amazonas

proacuteximo agrave divisa com o estado do Paraacute Regiatildeo Norte do paiacutes Estaacute situado na mesorregiatildeo do

Centro Amazonense e microrregiatildeo de mesmo nome e localiza-se a leste da capital do estado

distando desta cerca de 370 quilocircmetros Com uma populaccedilatildeo estimada em 2012 pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 103 828 habitantes sendo o segundo

mais populoso do estado do Amazonas que tem uma aacuterea de 5 952 kmsup2 representando

03789 do Estado do Amazonas 01545 da regiatildeo Norte brasileira e 00701 do territoacuterio

brasileiro8

Desse total 12 4235 kmsup2 estatildeo em periacutemetro urbano

O municiacutepio de Parintins como quase todos os demais municiacutepios brasileiros foi

primitivamente habitado por indiacutegenas Sua descoberta ocorreu em 1749 quando descendo o

rio Amazonas o explorador Joseacute Gonccedilalves da Fonseca notou uma ilha que por sua extensatildeo

se sobressaiacutea das outras localizadas agrave direita do grande rio As primeiras viagens exploratoacuterias

da Coroa Portuguesa em Parintins foram registradas somente em 1796 A fundaccedilatildeo da

15

O histoacuterico de Parintins e demais microrregiotildees estatildeo disponiacuteveis no site lthttpptwikipediaorgwiki_Parintinsgt

47

localidade em 1796 foi feita por Joseacute Pedro Cordovil que veio com seus escravos e

agregados para se dedicar agrave pesca do pirarucu e agrave agricultura chamando-a Tupinambarana A

rainha D Maria I deu-lhe a ilha de presente Ali instalado fundou uma fazenda de cacau

dedicando-se agrave cultura desse produto em grande escala Tupinambarana foi aceita e elevada agrave

missatildeo religiosa em 1803 pelo capitatildeondashmor do Paraacute o Conde dos Arcos que incumbiu sua

direccedilatildeo ao frei Joseacute das Chagas passando a ser denominada como a Vila Nova da Rainha

O primeiro nome recebido por Parintins jaacute na categoria de Freguesia foi Nossa

Senhora do Carmo de Tupinambarana em 1833 O nome da Freguesia soacute foi alterado em

1880 quando a sede passou a chamar-se ldquoParintinsrdquo em homenagem aos povos indiacutegenas

Parintintins um dos inuacutemeros que habitavam a regiatildeo

A eficiente atuaccedilatildeo de frei Joseacute provocou um surto de progresso e desenvolvimento na

localidade mediante a organizaccedilatildeo da comarca do Alto Amazonas Em 25 de julho de 1833

passa agrave freguesia com o nome de Freguesia de Nossa Senhora do Carmo de Tupinambarana

Era ainda Tupinambarana simples freguesia quando iniciou a revoluccedilatildeo dos Cabanos no Paraacute

e se alastrou por toda a proviacutencia O seu vigaacuterio padre Torquato Antocircnio de Souza teve

atuaccedilatildeo destacada durante a sediccedilatildeo servindo de delegado dos legalistas no Baixo Amazonas

Tupinambarana talvez porque estivesse bem defendida foi poupada aos ataques dos

Cabanos

Em 24 de outubro de 1848 a lei provincial do Paraacute nordm 146 elevou a freguesia agrave

categoria de vila com a denominaccedilatildeo de Vila Bela da Imperatriz e constituiu o municiacutepio ateacute

entatildeo ligado a Maueacutes Em 15 de outubro de 1852 pela lei nordm 02 foi confirmada a criaccedilatildeo do

municiacutepio Em 14 de marccedilo de 1853 deu-se a instalaccedilatildeo do municiacutepio de Parintins Em 24 de

agosto de 1858 foi criada pela lei provincial a comarca compreendendo os termos judiciaacuterios

de Vila Bela da Imperatriz e Vila Nova da Conceiccedilatildeo Em 30 de outubro de 1880 pela lei

provincial nordm 499 a sede do municiacutepio recebeu foros de municiacutepio e passou a denominar-se

Parintins Em 1881 foi desmembrado do municiacutepio de Parintins o territoacuterio que constituiu o

municiacutepio de Vila Nova de Barreirinha

A divisatildeo administrativa de 1911 figurou o municiacutepio com quatro distritos Parintins

Paranaacute de Ramos Jamundaacute e Xibuiacute Em 1933 aparece no quadro da divisatildeo administrativa

com um distrito apenas ndash o de Parintins Em 1 de dezembro de 1938 pelo decreto-lei estadual

nordm 176 eacute criado o distrito da Ilha das Cotias passando assim o municiacutepio a constituir-se de

dois distritos Parintins e Ilha das Cotias

Pela lei estadual nordm 226 de 24 de agosto de 1952 a comarca de Parintins perdeu os

termos judiciaacuterios de Barreirinha e Urucaraacute que foram transformados em comarcas Em 19 de

48

dezembro de 1956 a lei estadual nordm 96 desmembrou o municiacutepio de Parintins o distrito da

Ilha das Cotias que passou a constituir o municiacutepio de Nhamundaacute Em 10 de dezembro de

1981 a emenda constitucional nordm 12 eacute acrescido o territoacuterio de Parintins ao distrito de

Mocambo

O primeiro municiacutepio pesquisado eacute considerado o centro da microrregiatildeo Parintins

Segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 2103 a

populaccedilatildeo eacute de 109225 habitantes16

nesta localidade A Microrregiatildeo de Parintins eacute uma das

microrregiotildees do estado brasileiro do Amazonas pertencente agrave Mesorregiatildeo do Centro

Amazonense Estaacute dividida em sete municiacutepios Barreirinha Boa Vista do Ramos Maueacutes

Nhamundaacute Parintins Satildeo Sebastiatildeo do Uatumatilde e Urucaraacute De acordo com estimativas do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) a populaccedilatildeo da microrregiatildeo era de 262

719 habitantes em 2013

Seus municiacutepios limiacutetrofes satildeo Nhamundaacute ao norte Barreirinha ao sul Urucurituba ao

leste e os municiacutepios de Terra Santa e Juruti no estado do Paraacute O limite territorial entre

Parintins e Nhamundaacute se inicia na margem esquerda do rio Amazonas subindo este rio ateacute a

Barreira do Pauraacute A Serra de Parintins eacute usada para delimitar o fim dos limites territoriais

deste municiacutepio com Nhamundaacute Para delimitar os limites territoriais entre Parintins e

Barreirinha usa-se o divisor de aacuteguas dos rios Andiraacute-Uaicuparaacute juntamente com a linha

geodeacutesica que limita os estados do Amazonas e Paraacute Jaacute os limites territoriais com

Urucurituba satildeo iniciados no lago Arapapaacute no Paranaacute de Urucurituba Com o Estado do Paraacute

o limite tem iniacutecio na boca do igarapeacute do Valeacuterio na margem direita do rio Amazonas

Parintins eacute uma cidade marcada pelos traccedilos culturais poliacuteticos e econocircmicos

herdados dos portugueses espanhoacuteis italianos e tambeacutem dos japoneses tendo em vista que a

cidade possuiu uma relevante colocircnia destes imigrantes Natildeo se pode esquecer a importacircncia

dos ameriacutendios no quesito contribuiccedilatildeo eacutetnica Foram os ameriacutendios que iniciaram a ocupaccedilatildeo

humana na Amazocircnia e seus descendentes caboclos desenvolveram-se em contato iacutentimo com

o meio ambiente adaptando-se agraves peculiaridades regionais e oportunidades oferecidas pela

floresta

A cidade eacute um importante centro educacional de niacutevel meacutedio e superior do Estado do

Amazonas A cidade possui um dos mini-campus do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)

que oferece cursos em diferentes niacuteveis ensino meacutedio e ensino teacutecnico

16

Disponiacutevel emlthttpcidadesibgegovbrxtrastemasamazonas|parintins|estimativa-da-populacao-2013gt

Acesso em 28072014

49

Universidades puacuteblicas

- Universidade do Estado do Amazonas (UEA) eacute uma instituiccedilatildeo puacuteblica estadual de

ensino superior que oferece mais de vinte cursos distribuiacutedos em dezessete cidades

amazonenses (Parintins Manaus Presidente Figueiredo Itacoatiara Carauari Tabatinga

Tefeacute Laacutebrea Boca do Acre Coari Eirunepeacute Humaitaacute Manicoreacute Manacapuru Novo

Aripuanatilde Maueacutes e Satildeo Gabriel da Cachoeira) Foi criada pela lei estadual nordm 2637 de 12 de

janeiro de 2001 que proporcionou agraves fundaccedilotildees educacionais de ensino superior instituiacutedas

pelo Estado Em Parintins o Centro de Estudos Superiores (UEA) possui os cursos

Pedagogia Histoacuteria Geografia Fiacutesica Matemaacutetica Letras Portuguesa Quiacutemica Ciecircncias

Bioloacutegicas Tecnologia em Turismo Direito Sauacutede Coletiva Ciecircncias Econocircmicas e

Tecnologia em Gestatildeo Puacuteblica

- Instituto Federal do Amazonas (IFAM) O Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e

Tecnologia do Amazonas foi criado mediante integraccedilatildeo do Centro Federal de Educaccedilatildeo

Tecnoloacutegica do Amazonas e das Escolas Agroteacutecnicas Federais de Manaus e de Satildeo Gabriel

da Cachoeira

- Universidade Federal do Amazonas (UFAM) Instalada no municiacutepio desde 2007

possui os seguintes cursos Serviccedilo Social Comunicaccedilatildeo Social - Jornalismo Administraccedilatildeo

Organizacional Pedagogia Zootecnia Educaccedilatildeo Fiacutesica e Artes Plaacutesticas

No setor de educaccedilatildeo e capacitamento profissional o municiacutepio aleacutem de dispor de

uma ampla rede de escolas (estaduais municipais e privadas) conta com um campus da

Universidade do Estado do Amazonas e algumas faculdades privadas com diversos cursos

superiores ofertados Dispotildee ainda de unidades do SENAI SENAC e SESI e em funccedilatildeo

disso os iacutendices de alfabetizaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo profissional dos municiacutepios estatildeo em

crescimento

A cidade de Parintins eacute o local onde foram feitos os contatos frequentes com os

indiacutegenas da etnia Satereacute-Maweacute porque buscam as casas bancaacuterias para receberem os

benefiacutecios sociais tambeacutem buscam as escolas com ensino de todos os niacuteveis inclusive as

universidades puacuteblicas para as crianccedilas e jovens Outro fator eacute que tem um comeacutercio

desenvolvido em que podem adquirir seus bens de consumo aleacutem de ser de faacutecil acesso aos

demais centros da regiatildeo e do paiacutes atraveacutes dos diferentes meios comunicaccedilatildeo e transporte

Por isso o mapeamento foi iniciado nesta regiatildeo

Apesar de ter um nuacutemero consideraacutevel de habitantes os oacutergatildeos ligados agrave causa

indiacutegena natildeo dispotildeem de dados informativos sobre o objeto da pesquisa em meio agrave estimativa

populacional do municiacutepio mesmo assim outro oacutergatildeo foi procurado para que pudesse

50

fornecer algum dado ligado ao sujeito surdo da etnia Satereacute-Maweacute A instituiccedilatildeo pesquisada

foi a Escola de Aacuteudio Comunicaccedilatildeo ldquoPadre Paulo Mannardquo Esta eacute uma instituiccedilatildeo educacional

mantida pela Diocese de Parintins por meio de sua atual gestora a Professora Zilda Tavares

Atraveacutes desta colaboradora foram coletadas informaccedilotildees sobre os alunos indiacutegenas surdos da

etnia Satereacute-Maweacute que ali estudam ou estudaram que satildeo a seguir descritas

Embora a escola tivesse o conhecimento da existecircncia de dois indiacutegenas surdos da

etnia Satereacute-Maweacute apenas um se encontra matriculado na escola Eacute uma menina de seis anos

de idade cursando o preacute-escolar Para informaccedilotildees consistentes foi solicitado o contato

tambeacutem com a famiacutelia da aluna Ao contatar os pais foi feita uma abordagem por meio de

questionaacuterio mas diante das dificuldades encontradas por natildeo serem alfabetizados na liacutengua

nativa nem na liacutengua Portuguesa os dados utilizados satildeo resultante de entrevistas

assistemaacuteticas (conversas informais)

Os familiares tecircm papeacuteis importantes na formaccedilatildeo da linguagem da crianccedila Eacute atraveacutes

deles que acontece a formaccedilatildeo da identidade social e cultural desse sujeito em

desenvolvimento Satildeo eles que repassam o modo de vida os costumes e outros aspectos

sociais com os seus exemplos e empreendendo a funccedilatildeo da linguagem verbal atraveacutes de

relaccedilotildees dialoacutegicas que ativam a percepccedilatildeo do ser em maturaccedilatildeo no meio familiar Na visatildeo

de Ponzio (et al 2007 p 177)

Uma das funccedilotildees da linguagem verbal eacute a identificaccedilatildeo identificaccedilatildeo dos objetos

mediante um processo de modelaccedilatildeo e de articulaccedilatildeo da realidade que varia de

liacutengua para liacutengua identificaccedilatildeo de sujeito enquanto falante do sujeito do discurso

do tema do outro ao qual esse discurso se dirige de uma espeacutecie de bdquoauditoacuterio

universal‟ a que de modo geral se recorre na argumentaccedilatildeo identificaccedilatildeo de uma

comunidade e da pertenccedila ou da natildeo pertenccedila a esta etc

Um resumo histoacuterico sobre a referida indiacutegena aponta que a famiacutelia residia na

comunidade indiacutegena Ponta Alegre no Rio Andiraacute municiacutepio de Barreirinha Migraram para

a zona urbana em busca de condiccedilotildees para uma melhor qualidade de vida Ao descobrirem a

surdez da filha mudaram-se para a cidade de Parintins Declararam que a forma de se

comunicarem com a filha eacute por meio de gestos criados pela famiacutelia e a crianccedila pois natildeo

sabem a Liacutengua de Sinais

Analisa-se neste contexto a situaccedilatildeo complexa pela qual essa famiacutelia passou para se

entender com a ela posto que se esperasse que a crianccedila dominasse o sistema linguiacutestico que

usam para a comunicaccedilatildeo com os pares atraveacutes da liacutengua natural da etnia Este eacute um fato que

ocorre com as famiacutelias onde natildeo existe o desenvolvimento natural da fala

51

Considere-se assim que a liacutengua eacute adquirida a qual se manifesta em todas as

circunstacircncias normais no conhecimento de uso em processo de audiccedilatildeo desde o nascimento

os quais vatildeo tomando forma de significante e significado enquanto se distingue cada unidade

lexical do todo que existe no meio onde se estaacute inserido Para Lyons ldquoo termo aquisiccedilatildeo da

linguagem eacute normalmente usado sem ressalvas para o processo que resulta no conhecimento

da liacutengua nativa (ou liacutenguas nativas)rdquo (1987 p 231)

Neste caso para a crianccedila em evidecircncia deveria ser propiciado o ensino da Libras

como liacutengua para mediar a comunicaccedilatildeo o mais breve possiacutevel na medida em que ela estaacute

com idade proacutexima da faixa etaacuteria limite de aquisiccedilatildeo sem acarretar prejuiacutezos para o seu

desenvolvimento conforme explica teoria gerativista17

da aquisiccedilatildeo da linguagem proposta

por Lennenberg (1967)

[] a existecircncia de um periacuteodo criacutetico para a quisiccedilatildeo da linguagem tendo como

pressuposto a ideia de que esta eacute inata O periacuteodo criacutetico se iniciaria por volta dos

dois anos e se encerraria por volta da puberdade Esse periacuteodo eacute chamado de criacutetico

porque seria aquele mais sensiacutevel agrave aquisiccedilatildeo da linguagem[] concluiacutendo que o

cereacutebro humano inicialmente tem representaccedilatildeo bilateral das funccedilotildees da linguagem

e mediante o processo de aquisiccedilatildeo na puberdade apenas o hemisfeacuterio se torna

mais dominante em relaccedilatildeo a elas completando o periacuteodo de aquisiccedilatildeo Caso a

crianccedilas natildeo adquira a linguagem nesse periacuteodo seu desenvolvimento linguiacutestico

seraacute prejudicado (apud QUADROS 2008 p 78)

Deste modo no caso a crianccedila surda esta precisa aprender a liacutengua nativa de uma

forma diferenciada adequando-se os siacutembolos agraves formas visuais se natildeo apresentar esta

carecircncia tambeacutem posto que a faculdade da linguagem do ser humano eacute inata conforme

Chomsky esclarece (apud PONZIO etal 2007)

Trata-se de determinar agrave natureza do patrimocircnio bioloacutegico que constitui a bdquofaculdade

da linguagem‟ do ser humano o componente inato do conjunto menteceacuterebro que

uma vez tendo entrado em contato com a experiecircncia linguiacutestica produz o

conhecimento da linguagem isto eacute converte a experiecircncia em um sistema de

conhecimento (p 143)

O segundo indiacutegena surdo da etnia Satereacute-Maweacute havia sido transferido da escola Padre

ldquoPaulo Mannardquo para a Escola Estadual ldquoBrandatildeo de Amorimrdquo Segundo as informaccedilotildees da

famiacutelia ele nasceu na aacuterea indiacutegena de Ponta Alegre Poreacutem quando pequeno sua famiacutelia se

17

A teoria gerativista pressupotildee a existecircncia de um mecanismo inato responsaacutevel pela aquisiccedilatildeo da linguagem

denominado Gramaacutetica Universal (GU) tendo como responsaacutevel por essa concepccedilatildeo que caracteriza-se pela

elucidaccedilatildeo da natureza das linguas naturais Chomsky

52

mudou para zona urbana de Parintins Ele cresceu longe da cultura indiacutegena sem contato com

a liacutengua de sua etnia por estar fora desse contexto Por outro lado natildeo aprendeu a liacutengua

falada em seu entorno na medida em que natildeo pode na prendecirc-la de forma natural por natildeo

ouvir assim por natildeo ter domiacutenio da cultura da etnia deve aprender a liacutengua de sinais

inserindo os signos que significam as palavras do seu leacutexico atraveacutes de instruccedilatildeo especial

com a mediaccedilatildeo de algueacutem que tenha o conhecimento das duas formas de comunicaccedilatildeo Para

Lyons (1987) esses aprendizes adquirem habilidades comunicativas rapidamente pois o

progresso que alcanccedilam eacute pelo menos agraves vezes tatildeo raacutepido que como observam tanto os pais

quanto os pesquisadores eacute difiacutecil manter um registro compreensivo e sistemaacutetico do seu

processo de aprendizado Como tambeacutem eacute no total independente de inteligecircncia e de

diferenccedilas do meio social e cultural

A capacidade da pessoa para construir enunciados vai tomando forma agrave medida que

consegue compreender a relaccedilatildeo entre significante e significados dos signos com os quais tem

contato Por isso os indiacutegenas surdos podem ser beneficiados com um material escrito

triliacutengue Este pode constituir-se em um material de apoio para a aprendizagem das trecircs

liacutenguas sendo que a liacutengua de sinais eacute perspectivada como L1

O terceiro caso identificado eacute de um iacutendio surdo jaacute adulto da comunidade Uiacurapaacute

da etnia Maweacute As informaccedilotildees datildeo conta que ele se comunica por meio de gestos criados por

ele e os pares com quem tem relaccedilatildeo Poreacutem natildeo haacute dados detalhados pois natildeo foi possiacutevel

contato com o mesmo porque ele vive isolado sobrevivendo de caccedila e pesca em comunidade

rural indiacutegena Fato este que implica diretamente no aperfeiccediloamento da forma de

comunicaccedilatildeo desse sujeito posto que ldquoos fenocircmenos ambientais podem agir diretamente

sobre a pessoa ou individualmente atraveacutes de repasse de experiecircncias vividas pela sociedade

atraveacutes da linguagem veiculada pela liacutenguardquo (OLIVEIRA 2005 p134)

Assim estaacute constituiacuteda a populaccedilatildeo de indiacutegenas surdos que fazem parte da

microrregiatildeo de Parintins que se podem fazer os devidos registros neste estudo

412 Histoacuterico de Barreirinha

O municiacutepio de Barreirinha pertence a Mesorregiatildeo da Microrregiatildeo de Parintins que

estaacute localizado a leste de Manaus Capital do Estado distanciando cerca de 331 quilocircmetros

E ao norte de Parintins o municiacutepio de Barreirinha juntamente com Maueacutes satildeo principais

municiacutepios que possuem a maior populaccedilatildeo de indiacutegenas localizados nos rios Andiraacute e o

Marau Portanto sendo o municiacutepio como a sede urbana das comunidades inseridas os surdos

53

indiacutegenas vem apenas em busca de tratamento meacutedico quando necessitam ou para atividades

sociais acompanhados de seus pais mas na zona urbana natildeo localizamos nenhum indiacutegena

surdo

Barreirinha foi o segundo municiacutepio pesquisado E segundo o IBGE em 2013 a

populaccedilatildeo era de 29737 habitantes18

sendo o vigeacutesimo segundo municiacutepio mais populoso do

Estado do Amazonas e o terceiro de sua microrregiatildeo

Este muniacutecipio conta com um setor especiacutefico das causas indiacutegenas a Coordenaccedilatildeo

Iacutendiacutegena Satereacute-Maweacute sob responsabilidade do coodernador geral SrSantino Lopes Este

tornou possiacutevel o acesso agrave comunidade indiacutegena de Ponta Alegre no Rio Andiraacute Foi na

Escola Municipal Professora ldquoRosa Cabralrdquo que foi identificado um indiacutegena surdo da etnia

Satereacute-Maweacute um menino de 12 anos matriculado na 3ordf ano do ensino fundamental Nesse

contexto foi possiacutevel observar sua forma de se comunicar com as demais pessoas que faziam

parte do seu meio social Outros dados referente a relaccedilotildees familiares deste natildeo estatildeo

disponiacuteveis na medida em que natildeo foi possiacutevel fazer contato com sua famiacutelia Desta forma

permanece uma lacuna de respostas referente a esse aluno posto que

De uma forma geral e em regra a socializaccedilatildeo da crianccedila no mundo civilizado

comeccedila dentro de uma famiacutelia nuclear constituiacuteda de pai matildee e irmatildeos quando

existem Durante os primeiros anos da infacircncia adquire traccedilos culturais (menores

unidades de cultura) atraveacutes das pessoas da famiacutelia que satildeo reflexo da sociedade

onde vivem (OLIVEIRA 2005)

Entende-se que atraveacutes de informaccedilotildees que poderiam ser fornecidas pela famiacutelia

deveria ser esclarecido como ocorre a socializaccedilatildeo da crianccedila nesse contexto e de que modo

aprenderam a se comunicar com ela que estrateacutegias foram utilizadas para que ela conseguisse

ser alfabetizada

413 Histoacuterico de Maueacutes

Este municiacutepio que tambeacutem pertence agrave Mesorregiatildeo do Centro Amazonense e

Microrregiatildeo de Parintins tem uma populaccedilatildeo de 54079 habitantes conforme as estimativas

do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) A cidade eacute reconhecida

nacionalmente por possuir uma das maiores expectativas de vida do paiacutes

18

Disponiacutevel emlthttpcidadesibgegovbrxtrastemasamazonas|barreirinha|estimativa-da-populacao-2013gt

Acesso em 28072014

54

Na margem direita do Rio Maueacutes-Accedilu Maueacutes foi fundada em 1798 por Luiz Pereira

da Cruz e Joseacute Rodrigues Preto agrave distacircncia de 268 km em linha reta e 356 km pela via

fluvial de Manaus O calendaacuterio festivo do municiacutepio conteacutem as datas festivas municipais

em homenagem agrave Satildeo Sebastiatildeo (10 a 20 de janeiro) ao Divino Espiacuterito Santo (22 a 30 de

maio) agrave Satildeo Pedro (27 a 30 de junho) agrave padroeira Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo (01 a 8 de

dezembro) assim como a Festa do Carnaval Popular (21 a 24 de fevereiro) do aniversaacuterio do

municiacutepio (26 a 27 de junho) da Ilha de Vera Cruz (23 a 25 de julho) do Veratildeo (de 05 a 7 de

setembro) da Feira Industrial (06 a 8 de novembro) e do Guaranaacute (em novembro)

Sobre a origem do nome deste municiacutepio observa-se que inicialmente foi

denominada Luseia e progredindo com o tempo transformou-se em missatildeo carmelita com

nome de Maueacutes O liacuteder nessa eacutepoca foi o frei Joaquim de Santa Luzia Por um decreto de 25

de junho de 1833 a missatildeo foi considerada vila sob a invocaccedilatildeo de Nossa Senhora da

Conceiccedilatildeo de Luseia Em 1853 pela lei nordm 25 de 3 de dezembro da iniciativa do Deputado

Marcos Antocircnio Rodrigues de Souza a vila tornou-se cidade chamada Satildeo Marcos de

Mundurucacircnia Consta como uma das freguesias da proviacutencia denominada Maueacutes em 1958

A oficializaccedilatildeo da mudanccedila do nome do municiacutepio ocorreu quando o Deputado Joseacute

Bernardo Michiles em 1865 apresentou um projeto para tal que tendo sido aprovado

oficializou-se a mudanccedila do nome de Maueacutes para Conceiccedilatildeo Enfim jaacute na Repuacuteblica em

1895 pela lei nordm 133 de 5 de outubro a localidade torna-se Comarca E em 4 de maio de 1896

eacute considerado municiacutepio pelo novo regime juriacutedico com o nome de Maueacutes pela lei nordm 137

As pesquisas de campo nesse municiacutepio natildeo foram realizadas conforme a previsatildeo

pois a viagem natildeo foi concretizada devido agraves dificuldades em relaccedilatildeo agrave distacircncia para chegar

ateacute agraves comunidades que satildeo distantes da cidade cede e havia necessidade de recurso material

e humano (professores guias indiacutegenas biliacutengues) para realizaacute-la Quando foi possiacutevel chegar

ao local ocorreu o contato com trecircs professores que residiam nas comunidades do rio

chamado Marau Ali foi possiacutevel tecirc-los em companhia na funccedilatildeo de guia inteacuterprete para

contato com os indiacutegenas surdos daquela localidade

Em resposta afirmativa ao questionamento se havia iacutendios surdos foram realizadas

reuniotildees com a comunidade local para coletar informaccedilotildees que apontou a existecircncia de um

caso na comunidade de Santa Maria Era um senhor na faixa etaacuteria de 67 anos que adquiriu a

surdez haacute muito tempo atraacutes Ele natildeo tem conhecimento da Liacutengua Portuguesa por isso natildeo

tivemos contato direto No entanto ele conhece a proacutepria liacutengua e assimilou a cultura da etnia

posto que

55

A liacutengua eacute aprendida simultaneamente a outros elementos da cultura A capacidade

de desenvolvimento da linguagem eacute inata O indiviacuteduo nasce com o ceacuterebro

preparado para aprender tudo que pertinente agrave cultura humana da qual a linguagem

faz parte (OLIVEIRA 2005 p 137)

Eacute no contexto social que se aprende os signos que fazem parte do mundo exterior e

que o ceacuterebro assimila pelo conhecimento que os sentidos possibilitam

O segundo iacutendio localizado foi um surdo de nascenccedila hoje com idade de 24 anos

Segundo relato da famiacutelia nunca frequentou uma escola portanto seu uacutenico meio de

comunicaccedilatildeo eacute gestual que aprendeu como forma para se fazer entender pois ldquoa linguagem eacute

atributo universal do ser humanordquo (OLIVEIRA 2005) assim constitui-se como necessidade

vital da pessoa conduzindo ao aprendizado

Em pesquisa de campo se obteve a informaccedilatildeo que havia outros trecircs iacutendios surdos que

moravam no Rio Marau mas natildeo foi possiacutevel chegar ateacute a aldeia onde se encontravam

devido ao difiacutecil acesso o que impossibilitou a ida ateacute a localidade

414 Histoacuterico de Boa Vista do Ramos

Uma das sete Mesorregiotildees de Parintins eacute Boa Vista do Ramos que possui

aproximadamente 16820 de habitantes segundo o IBGE (2013)

A histoacuteria de Boa Vista do Ramos encontra-se ligada agrave histoacuteria do municiacutepio de

Maueacutes Em 1798 foi fundada a Aldeia de Lusea Em meados do Seacuteculo XIX vaacuterios conflitos

ocorreram na regiatildeo entre brancos e povos indiacutegenas sendo efetiva tambeacutem a participaccedilatildeo de

cabanos oriundos da Cabanagem

Quando a Proviacutencia do Amazonas eacute criada em 1850 Lusea torna-se um dos quatorze

municiacutepios existentes na proviacutencia Seu nome eacute alterado em 1892 para Maueacutes tornando-se

sede da Comarca em 1895 Em 10 de dezembro de 1981 atraveacutes da Emenda Constitucional nordm

12 o povoado de Boa Vista do Ramos aleacutem de outros territoacuterios pertencentes agrave Maueacutes e

aacutereas adjacentes dos municiacutepios de Barreirinha e Urucurituba passam a constituir o novo

municiacutepio de Boa Vista do Ramos

Em pesquisa de campo nesse municiacutepio o primeiro contato que foi na Coordenadoria

Regional de Educaccedilatildeo da cidade (SEDUC) Embora esta professora responsaacutevel por essa

Instituiccedilatildeo tenha informado que natildeo conhecia nenhum caso de iacutendio surdo neste municiacutepio

alguns informantes afirmaram que na aldeia de Santo Antocircnio que faz parte do referido

municiacutepio foi localizada uma senhora que havia adquirido a surdez ainda muito jovem sem

56

nenhum conhecimento das liacutenguas ldquofaladasrdquo ou sinalizadas Desta forma ela utilizava de

gestos para se comunicar porque os seres humanos nascem com a capacidade para a

linguagem que se desenvolvem ao longo da primeira infacircncia mas que podem tambeacutem ser

aprendida no meio social atraveacutes de estiacutemulos Nesta perspectiva segundo a concepccedilatildeo de

Oliveira (2005 p 143)

A evoluccedilatildeo da linguagem depende de dois fatores principais da capacidade geneacutetica

cerebral para desenvolvecirc-la que eacute a principal e dos estiacutemulos ambientais que satildeo

sempre tatildeo importantes quanto aquela Esse desenvolvimento estaacute senpre inserido no

contexto de socializaccedilatildeo que eacute a responsaacutevel pela humanizaccedilatildeo do indiviacuteduo

Ainda sobre a importacircncia da socializaccedilatildeo para os sujeitos ressalta-se que estes

desenvolvendo no meio onde estatildeo inserido adquirem sua identidade cultural

concomitantemente sua identidade linguiacutestica que estaacute presente no discurso dos seus pares

posto que ela ldquoeacute adquirida nos processos de formaccedilatildeo e tranformaccedilatildeo de uma liacutengua

particularrdquo que eacute tambeacutem determinante no relacionamento cm outras liacutenguas E de acordo

com Ponzio (2007 p178) ldquoO espaccedilo em que uma liacutengua vive eacute um espaccedilo interlinguiacutestico e a

capacidade de expressatildeo e da adaptaccedilatildeo dessas liacuteguas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo eacute

diretamente proporcional agrave quantidade de contatos com outras liacutenguasrdquo O que deixa evidente

que um indiviacuteduo pode estar em contato com diferentes formas de intercomunicaccedilatildeo

415 Histoacuterico de Nhamundaacute

Eacute trigeacutesimo quinto municiacutepio mais populoso do estado do Amazonas Sendo o quarto

da Mesorregiatildeo em estudo Conforme o IBGE em 2013 o municiacutepio eacute composto por uma

populaccedilatildeo de 19 792 habitantes

O municiacutepio de Nhamundaacute estaacute localizado na zona fisiograacutefica do Baixo Amazonas

limitando com os municiacutepios de Parintins e Urucaraacute no Amazonas com o Estado de Roraima

(norte) e com os municiacutepios de Faro e Terra Santa no estado do Paraacute Distacircncia da capital 375

km em linha reta e cerca de 577 km por via fluvial Sua altitude eacute de 50 metros acima do

niacutevel do mar

As origens do municiacutepio de Nhamundaacute remontam agraves primitivas povoaccedilotildees dos iacutendios -

nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XVII composta pelos condurizes paraculamas canuris

guancaris paraquatas queremas jamundaacutes e uaboy cujo tuxaua se chamava Jamundaacute que

dada a luta em prol da liberdade de seu povo devido agrave exploraccedilatildeo e maus-tratos pelos

57

colonizadores fez um levante conduzindo a tribo Uaboy para as cabeceiras do alto rio que em

sua homenagem ganhou o seu nome e por conseguinte daacute nome ao municiacutepio

Em 1653 mediante carta reacutegia a regiatildeo foi erigida a Missatildeo que foi confiada aos

missionaacuterios portugueses capuchos da Piedade Eles organizaram uma aldeia modelo na boca

do Tauacuera - aldeia velha afluente esquerdo onde ainda se podem ver ruiacutenas do antigo

convento no meio dos espinhais A sede da Missatildeo poreacutem foi transferida para o lugar da

atual cidade de Faro Os padres capuchos souberam unir os iacutendios uaboy residentes no

Trombetas aos da Missatildeo para aumentar a populaccedilatildeo Era entatildeo o chefe dos Uaboy o tuxaua

Jamundaacute que ligou seu nome agrave Missatildeo e agrave aldeia que doravante se chamou aldeia dos

Jamundaacute ou Missatildeo dos Jamundaacute

O primeiro documento sobre a Missatildeo eacute do ano de 1727 e foi escrito pelo superior da

Missatildeo frei Francisco de Satildeo Manccedilos Em 1758 Missatildeo tomou o nome de Faro No entanto

jaacute em 1755 o Marqucirces de Pombal mandou suspender as Missotildees para serem transformadas

em vilas e paroacutequias A Missatildeo dos Jamundaacute foi extinta em 1758 por ordem de Mendonccedila

Furtado quando de sua viagem de demarcaccedilatildeo da nova capitania Foram criadas assim a vila

de Faro e a Paroacutequia de Satildeo Joatildeo Batista em 21 de dezembro de 1758 mas a instalaccedilatildeo deu-se

somente em 27 de dezembro de 1768

Desse modo em 1911 quando ocorreu a divisatildeo administrativa do Brasil o municiacutepio

de Parintins foi contemplado com o distrito de Jamundaacute Com a extinccedilatildeo deste quando

aconteceu a nova divisatildeo administrativa em 1933 o municiacutepio de Parintins surgiu com apenas

um distrito assim em 10 de dezembro de 1938 pelo Decreto-lei no 176 do Estado do

Amazonas Parintins voltaria a dispor de um outro distrito aleacutem da sede o da Ilha das Cotias

Em 19121955 pela Lei Estadual no 96 o distrito de Ilha das Cotias eacute desmembrado de

Parintins e passa a constituir o municiacutepio autocircnomo de Nhamundaacute Em 31 de janeiro de 1956

foi instalado o municiacutepio de Nhamundaacute

A viagem a esse municiacutepio foi realizada com o apoio do aluno Fernando Gonccedilalves

acadecircmico do curso de Licenciatura em Geografia pela Universidade do Estado do

Amazonas-UEA Para maiores esclarecimentos foi feita a pesquisa na casa de sauacutede indiacutegena

localizada na cidade de Nhamundaacute onde informaram desconhecer a existecircncia da etnia

Satereacute-Maweacute no municiacutepio Mesmo assim foi feito outro contato com uma enfermeira da

Casa de Sauacutede Indiacutegena do municiacutepio A resposta foi a mesma ldquoQueremos informar ao

professor que no municiacutepio de Nhamundaacute que natildeo trabalhamos com a etnia Satereacute-Maweacute

Atendemos somente a etnia Hixkaryana existente na regiatildeo Natildeo haacute portanto nenhum surdo

Hixkaryana ou Satereacute-Maweacute cujo fato eacute comprovado pelo senso municipalrdquo

58

Foi feita uma pesquisa tambeacutem em outro oacutergatildeo que atua com indiacutegenas no caso as

Secretaria de Educaccedilatildeo do Municiacutepio com a finalidade de constatar a veracidade dos fatos

eou conseguir novos dados sobre o indiacutegena surdo Satereacute ou Hixkaryana O subsecretaacuterio de

Educaccedilatildeo relatou que natildeo existia dados sobre a liacutengua Satereacute-Maweacute nem indiacutegenas surdos

existentes

Realmente apoacutes pesquisas in loco ficou comprovado somente agrave existecircncia da etnia

Hixkaryana da famiacutelia linguiacutestica Karib Sobre esta ressalta-se que

A liacutengua hixkaryana pertence agrave famiacutelia linguiacutestica Karib e eacute falada por todos os

membros do grupo Esta liacutengua eacute muito semelhante agravequeles outros dialetos falados

na regiatildeo mais ampla circunscrita pelos vales dos rios Trombetas e Mapuera como

Waiwai Xereu Katuena Karapawyana Tunayana Desta maneira e pelo fato dos

Hixkaryana estabelecerem relaccedilotildees bem estreitas com estes grupos em uma rede de

trocas matrimoniais e rituais tais dialetos satildeo inteligiacuteveis entre si []

Os Kaxuyana que moram no rio Nhamundaacute quase todos tambeacutem falam a liacutengua

hixkaryana aleacutem da sua liacutengua proacutepria o Kaxuyana Contudo em geral um

Hixkaryana natildeo fala a liacutengua kaxuyana fato que de certa forma demonstra que os

Kaxuyana satildeo considerados os ldquoestrangeirosrdquo naquela regiatildeo e que devem aprender

a liacutengua ldquonativardquo o Hixkaryana

A maioria dos Hixkaryana eacute alfabetizada na liacutengua nativa sendo capaz de ler e

escrever neste idioma Em 2008 havia apenas uma escola de ensino fundamental na

aldeia Kassauaacute e muitos jovens depois desta seacuterie dirigiam-se agrave cidade de

Nhamundaacute (AM) para prosseguir os estudos de niacutevel meacutedio Em 2010 uma escola

de ensino meacutedio foi implantada na aldeia Kassauaacute Aleacutem disso uma dezena de

Hixkaryana jaacute cursou ou estaacute cursando o ensino superior em cidades como Parintins

e Manaus Contudo a maioria das mulheres dos velhos e das velhas fala muito

pouco o Portuguecircs sendo o Hixkaryana a liacutengua mais usada por todos19

Assim como no municiacutepio de Nhamundaacute ficou constatado tambeacutem que nos demais

municiacutepios de Satildeo Sebastiatildeo do Uatumatilde e de Urucaraacute que natildeo haacute registro sobre a existecircncia

da etnia Satereacute-Maweacute nem tatildeo pouco a existecircncia de iacutendios surdos A tabela 1- apresenta o

resultado da pesquisa que aponta o mapeamento

Tabela 1 Mapeamento da existecircncia de iacutendios surdos nas respectivas comunidades

indiacutegenas ou zona urbana da microrregiatildeo de Parintins

Fonte Azevedo (2014)

19

Disponiacutevel emlthttppibsocioambientalorgptpovohixkaryanagt Acesso em 07112014

Etnia Liacutengua Comunidade Indiacutegena

rural Zona Urbana

Municiacutepio Quantidade de iacutendios

surdos

Satereacute-Maweacute Tupi Parintins Parintins 02

Satereacute-Maweacute Tupi Uaucurupaacute Parintins 01

Satereacute-Maweacute Tupi Rio Andiraacute Barreirinha 01

Satereacute-Maweacute Tupi Santa Maria Maueacutes 02

Satereacute-Maweacute Tupi Rio Marau Maueacutes 03

Satereacute-Maweacute Tupi Boa Vista do Ramos Boa Vista do

Ramos

01

Total 10

59

De acordo com os dados pode-se observar a existecircncia de poucos iacutendios surdos

Poreacutem acredita-se que ainda existam outros em comunidades mais isoladas Como tambeacutem

pelo fato de serem consideradas ldquodeficientesrdquo algumas famiacutelias natildeo integram na comunidade

que vivem As dificuldades encontradas para coletar os dados a partir dos oacutergatildeos

responsaacuteveis tambeacutem foram encontrados em outros estudos realizados anteriormente para

estabelecer a populaccedilatildeo indiacutegena na Ameacuterica Latina o que pode ser vislumbrado pela

explicaccedilatildeo dos fatos complicadores transcritos a seguir

Uma das dificuldades para estabelecer a populaccedilatildeo indiacutegena estaacute relacionada com

fato de que o criteacuterio de filiaccedilatildeo segue mais a autodenominaccedilatildeo que as

caracteriacutesticas linguiacutesticas ou raciais como se considerava haacute algumas deacutecadas atraacutes

Outra dificuldade eacute que a uacutenica fonte disponiacutevel para estabelecer a quantidade de

populaccedilotildees indiacutegenas na regiatildeo satildeo precisamente os censos nacionais de populaccedilatildeo

que haacute bem pouco tempo permitiam inferir informaccedilatildeo sobre a populaccedilatildeo indiacutegena

a partir de uma uacutenica pergunta referente agrave liacutengua falada pelos entrevistados (LOPES

e SICHRA 2009 p 103)

Entretanto embora natildeo haja um nuacutemero expressivo de iacutendios surdos da etnia Satereacute-

Maweacute ficou constatado que haacute muitos surdos natildeo-iacutendios nos municiacutepios estudados

principalmente no municiacutepio de Parintins que precisam se comunicar com diferentes

interlocutores Este eacute um argumento que aponta para a necessidade de instrumentos

educacionais como um dicionaacuterio triliacutengue importante para os surdos que conseguiram

estabelecer elos comunicativos a partir das trecircs liacutenguas E jaacute que o homem eacute criativo ldquoagrave

medida que o tempo passa a humanidade vai agregando novas descobertas e inventos que se

concretizam e se somam para dar-lhe conforto e bem estarrdquo (OLIVEIRA 2005 p 144) Entatildeo

espera-se que este material contribua para que o sujeito surdo possa se comunicar

adequadamente no seio familiar e no processo educacional

42 Realidade linguiacutestica e educacional dos iacutendios surdos encontrados da etnia Satereacute-Maweacute

O sistema responsaacutevel pela educaccedilatildeo tem procurado fazer adequaccedilotildees para atender agraves

pessoas que apresentam necessidades na sua arquitetura fiacutesica para a inclusatildeo destas no

contexto da realidade linguiacutestica e educacional Embora exista uma legislaccedilatildeo pertinente

ainda haacute ausecircncia de qualidade para que um indiviacuteduo surdo possa estudar incluso em um

contexto regular de ensino Principalmente porque os professores natildeo estatildeo preparados para

lidar com essa situaccedilatildeo peculiar Haacute uma imposiccedilatildeo nos oacutergatildeos educacionais mas natildeo haacute

60

profissionais que atuem para o bom desempenho do aluno indiacutegena surdo A partir dessa

visatildeo Albres (2005) que realizou um estudo nesta aacuterea de conhecimento afirma

Nessa perspectiva o homem eacute produto e produtor da cultura conjunto das relaccedilotildees

sociais portanto mister se faz investigar a origem histoacuterica de alguns princiacutepios da

educaccedilatildeo biliacutengue para surdos e desvelar elementos conceituais Propomo-nos

entatildeo identificar e analisar as concepccedilotildees de linguagem que sob condiccedilotildees

histoacutericas fundamentaram o ensino de Liacutengua Portuguesa para surdos nos

documentos do MEC

Desta feita entende-se que se no contexto do ensino da Liacutengua Portuguesa existem

diversas dificuldades no contexto de uma liacutengua indiacutegena a situaccedilatildeo se torna mais complexa

Desse modo na anaacutelise da situaccedilatildeo linguiacutestica e educacional encontrada com os iacutendios surdos

identificados da etnia Satereacute-Maweacute eacute bastante diversificada Apresentam diferentes formas de

siacutembolos para conseguirem se comunicar com as pessoas com quem tecircm contato Precisam

fazer um esforccedilo aleacutem do necessaacuterio para manifestar seus desejos para informar e ter acesso a

informaccedilotildees

No caso da aluna indiacutegena surda de apenas seis anos de idade na escola especiacutefica para

atender alunos surdos foi constatado que sua situaccedilatildeo linguiacutestica e educacional se encontra

em processo de aquisiccedilatildeo de uma linguagem baacutesica para comunicaccedilatildeo com as pessoas com as

quais ela convive

Conforme os dados fornecidos pela escola por meio de um parecer pedagoacutegico sobre a

aluna indiacutegena surda (ANEXO D) Ficou atestado que a aluna da etnia Satereacute-Maweacute nasceu

de parto normal sem nenhum problema aparente Aos trecircs anos de idade a matildee percebeu que

a filha natildeo ouvia e nem falava pois seus outros filhos haviam comeccedilado a falar na presente

idade Para seguir se comunicar com a filha utilizava-se de gestos sendo difiacutecil a

comunicaccedilatildeo Foi essa situaccedilatildeo que levou a famiacutelia a procura da Escola Padre Paulo Manna

onde se encontra matriculada no preacute-escolar Nessa realidade ela recebe as mesmas

orientaccedilotildees dadas agraves crianccedilas natildeo indiacutegenas logo natildeo existe um direcionamento para a cultura

da sua etnia na escola nem na no contexto familiar

Sobre essa condiccedilatildeo Cool (2004) aborda que haacute um aspecto familiar que tem

relevacircncia particular o tipo de comunicaccedilatildeo que se utiliza em casa ou seja a forma e o estilo

de comunicaccedilatildeo que os pais utilizam com a crianccedila surda tem uma grande importacircncia para o

seu desenvolvimento e para sua aprendizagem No caso dos pais ouvintes estes necessitam do

conhecimento da educaccedilatildeo da cultura da liacutengua da pessoa surda para que possam promover

uma formaccedilatildeo linguiacutestica completa para o filho surdo E deste modo este ldquopossa consolidar e

61

aprofundar o uso e a compreensatildeo da liacutengua proacutepria enquanto veiacuteculo de cultura e

possibilidade de comunicaccedilatildeo no acircmbitordquo de conhecimento do aprendiz sem deixar agrave parte do

domiacutenio da liacutengua apropriada para esse sujeito (HERNAIZ 2009)

Desta forma a educaccedilatildeo escolar reconhecida pela proacutepria escola referente agrave inclusatildeo

da aluna indiacutegena surda aponta para a necessidade de instituir uma educaccedilatildeo triliacutengue de

forma que seu processo de ensino-aprendizagem pauta-se na Liacutengua Satereacute-Maweacute Liacutengua

Brasileira de Sinais e Liacutengua Portuguesa Mesmo sabendo da dificuldade em aprender trecircs

liacutenguas o parecer pedagoacutegico considera possiacutevel aprendizagem de trecircs liacutenguas

A partir dos argumentos referidos reitera-se a importacircncia de que a educaccedilatildeo escolar

dessa aluna deve abranger as liacutenguas de uso natural nativo e social Quando se destaca a

liacutengua de uso natural entende-se que eacute a Liacutengua de Sinais como primeira liacutengua E natildeo

inverter o processo e obrigar a crianccedila surda seja indiacutegena ou natildeo aprender a falar uma

liacutengua oral seja liacutengua indiacutegena ou Liacutengua Portuguesa Sobre a questatildeo Fernandes (2005

p20) pontua

fazer uma crianccedila surda ldquofalarrdquo ao inveacutes de propiciar a ela um meio raacutepido de

comunicaccedilatildeo linguiacutestica atraveacutes da aquisiccedilatildeo da liacutengua de sinais como primeira

liacutengua que proteja e cumpra o papel fundamental de resguardar o seu natural

desenvolvimento no que se refere a ter domiacutenio de fato de um instrumental

linguiacutestico que lhe sirva para as operaccedilotildees mentais que envolvam mecanismos

linguiacutesticos

Portanto primeiramente eacute necessaacuteria a aquisiccedilatildeo da primeira liacutengua a liacutengua de sinais

e como segunda liacutengua a liacutengua nativa de sua comunidade eacutetnica No caso da aluna indiacutegena

a liacutengua Tupi da etnia Satereacute-Maweacute na modalidade escrita Desta forma com a aprendizagem

das duas liacutenguas seraacute uma aluna biliacutengue Poreacutem diante da realidade do aluno indiacutegena surdo

que vive na zona urbana se faz necessaacuterio o aprendizado triliacutengue Liacutengua Portuguesa por

escrito

Como dito anteriormente o ensino-aprendizado da Liacutengua de Sinais deve ser

garantido ao sujeito surdo para que adquira a identidade a cultura do povo surdo20

acesso

pleno as informaccedilotildees aleacutem de significar a possibilidade de comunicaccedilatildeo e expressatildeo fluentes

do sujeito surdo com seu entorno Da mesma perspectiva o ensino da Liacutengua indiacutegena se daacute

20

Como ja mencionado no capiacutetulo 1 sobre Cultura Surda ldquo eacute o jeito surdo de ser de perceber de sentir de

vivenciar de comunicar de transformar o mundo a tornaacute-lo habitaacutevelrdquo (GLADIS PERLIN apud STROBEL

2008 p 21) Strobel ainda esclarece que o sujeito Surdo se comportam diferente do sujeito ouvinte e com isso

traz alguns ldquoartefatos culturaisrdquo (explicado no capiacutetulo 1) que satildeo as pecualiaridade da cultura surda as quais

descritas Parte das experiecircncias visuais linguiacutestico familiar literatura surda vida social e esportiva artes

visuais poliacutetica e materiais Todos estes artefatos concebidos a partir do VER (IDEM 2008 p36-77)

62

em respeito aos direitos da cultura indiacutegena previsto pela Constituiccedilatildeo Brasileira conforme

decreto nordm 6861 de maio de 2009 no seu Art 2o que determina ldquoSatildeo objetivos da educaccedilatildeo

escolar indiacutegena I- valorizaccedilatildeo das culturas dos povos indiacutegenas e a afirmaccedilatildeo e manutenccedilatildeo

de sua diversidade eacutetnica II- fortalecimento das praacuteticas socioculturais e da liacutengua e da liacutengua

materna de cada comunidade indiacutegenardquo

Neste caso a referida aluna iacutendia surda deveraacute ter a liacutengua indiacutegena como liacutengua de

conhecimento de sua cultura Para o ensino desta na forma escrita faz-se uso de cartilhas

gramaacuteticas dicionaacuterios etc

De acordo com o exposto a escola reconhece a necessidade da educaccedilatildeo escolar

triliacutengue poreacutem utiliza-se de outra realidade conforme citado pela proacutepria escola ldquoNo

primeiro momento fica junto com os colegas ouvintes onde procuramos trabalhar de forma

inclusiva no contexto biliacutengue Liacutengua Portuguesa e Liacutengua de Sinais

Sobre este aspecto Rodrigues (2005 p20) pontua

Quantas lacunas estariam sendo criadas em nome da pressuposiccedilatildeo de que a

aprendizagem da liacutengua da maioria dos falantes da comunidade (ouvintes) eacute que

daria agrave crianccedila surda condiccedilotildees de desenvolvimento social e cognitivo Quantas

etapas de desenvolvimento estariam sendo desprezadas nas fases naturais de sua

evoluccedilatildeo sob a alegaccedilatildeo de que ela seraacute capaz de alcanccedilar o que se estabelece como

meta social Que metas estariam sendo alcanccediladas afinal Que objetivos estatildeo sendo

perseguidos em prol desses paracircmetros ultrapassados em detrimento dos reais

objetivos de formaccedilatildeo psico-sociocultural deste individuo Em que a liacutengua de

sinais como primeira liacutengua ainda se encontra determinada pelo descreacutedito de

tantos especialistas da aacuterea

A realidade encontrada sobre a educaccedilatildeo natildeo soacute em uma escola que atende alunos

surdos mas tambeacutem em muitas escolas as chamadas escolas ldquoinclusivasrdquo apresentam

dificuldades no processo de ensino dos alunos surdos21

Todavia entre desencontros

sociocultural-linguiacutesticos eacute preciso fazer uma ressalva desta escola ldquoA escola disponibilizou

21

Sobre a temaacutetica da Inclusatildeo formula-se ldquoAo se avaliar que na contemporaneidade impera o discurso da

inclusatildeo indiscriminada em escolas regulares[]Esta diretriz tira o direito previsto na legislaccedilatildeo brasileira de

poder optar por uma educaccedilatildeo biliacutengue em escola proacutepria de modo que se repete a condiccedilatildeo em que aos surdos eacute

imposto um enorme sofrimento na medida em que nos denominamos processos inclusivos junto aos ouvintes

permanecem privados de conviver com seus pares e de acessar o conhecimento na Liacutengua de Sinais como liacutengua

de instruccedilatildeo [] Os surdosde diferentemente de outros segmentos tecircm a necessidade de agrupar-se para formar

comunidade linguiacutestica por meio das quais possam construir uma ldquocomunidade de experiecircnciasrdquo (WITKOSKI

2012 p33-34)

63

uma professora surda para a aquisiccedilatildeo da Liacutengua Brasileira de Sinais repassando o conteuacutedo

ministrado na salardquo onde cada um desses alunos eacute inserido

A escola positivamente conta com a colaboraccedilatildeo do trabalho docente de uma

professora surda Esta tem um papel fundamental como modelo linguiacutestico principalmente

quando alunos surdos provecircm de famiacutelias ouvintes que natildeo tecircm acesso agrave cultura e agrave Liacutengua

de Sinais Cabe ao professor surdo comunicar-se fluentemente com o aluno surdo ser um

input linguiacutestico para a identificaccedilatildeo da cultura do ser surdo

Dessa forma Strobel (2008 p 40) destaca

Este contato crianccedila surda x adulto surdo atraveacutes de uma liacutengua em comum que eacute a

liacutengua de sinais eacute que proporcionaraacute o acesso agrave linguagem e desta forma estaraacute

assegurada a identidade e a cultura surda que eacute transmitida naturalmente agrave crianccedila

surda em contato com a comunidade surda

Observa-se que caso a crianccedila surda natildeo tenha o direito a sua diferenccedila preservado

este aprendiz teraacute sua inserccedilatildeo no mundo dos ouvintes de forma incerta eou sem esperanccedila de

uma vida normal A situaccedilatildeo se agrava na medida em que a sociedade ouvinte deixa a desejar

quanto agrave participaccedilatildeo dos sujeitos surdos em decorrecircncia da escassez dos vaacuterios recursos

visuais que promovem acessibilidade para eles

Contudo os povos surdos hoje satildeo mais conscientes de seus direitos entatildeo esses

sujeitos cultural e politicamente lutam pelos mesmos Direitos estes tambeacutem dos povos

indiacutegenas como jaacute comentados anteriormente

Todavia esse aspecto ainda estaacute distante da realidade dos sujeitos focos do estudo de

acordo com relato da escola Segundo depoimentos de alguns indiacutegenas a aprendizagem

indiacutegena passa pela demonstraccedilatildeo observaccedilatildeo imitaccedilatildeo tentativa e erro e quando o aluno

vem para a escola tem que se socializar e obedecer a comandos regidos pelo sistema e isso

muitas vezes o deixa confuso e os maiores ateacute desistem A situaccedilatildeo se agrava quando esse fato

se refere ao sujeito iacutendio surdo incluiacutedo na escola pois este requer um diferencial ainda

maior reconhecido pela escola

Dessa forma satildeo necessaacuterias estrateacutegias de ensino diferenciadas que deem suporte

para que a aluna seja trabalhada de forma triliacutengue no contexto escolar para que ela

natildeo perca a sua essecircncia a sua cultura que sejam adaptados trabalhos de acordo

com a realidade indiacutegena para que ela natildeo perca a sua identidade e saiba conduzir

sua aprendizagem dentro de um contexto diferenciado podendo aprender o que lhe eacute

de direito como viver bem em sociedade22

22

Texto extraiacutedo do parecer pedagoacutegico da aluna indiacutegena surda que estuda na Escola de Aacuteudio e Comunicaccedilatildeo

Pe Paulo MannaParintinsAm (ANEXO D)

64

A partir das consideraccedilotildees tecidas no parecer pedagoacutegico torna-se evidente ema

necessidade de ampliar e aprofundar as reflexotildees sobre a inclusatildeo de iacutendios surdos em vaacuterios

espaccedilos da sociedade especialmente no espaccedilo educacional escolar Ou seja haacute necessidade

tambeacutem de poliacuteticas linguiacutesticas voltada para esse acircmbito

Nesse sentido eacute necessaacuterio que se tenha como meta uma tomada de decisotildees poliacuteticas

para que gradativamente se possa controlar a situaccedilatildeo de aprendizagem do surdo no processo

soacutecio cultural onde ele estiver inserido Ateacute por que existe uma proposta educativa

intercultural de modo biliacutengue no contexto indiacutegena Assim surge a necessidade de accedilotildees

objetivas para garantir na praacutetica esta proposta de ensino a fim de enriquecer o indiacutegena

surdo com desenvolvimento da liacutengua de sinais como veiacuteculo de comunicaccedilatildeo acrescendo

seus conhecimentos a partir do pluralismo cultural uma vez que estaacute amparado por

legislaccedilotildees especiacuteficas

Reitera-se a necessidade de accedilotildees objetivas especialmente no que tange a formaccedilatildeo

especiacutefica de professores pois mesmo com a garantia da legislaccedilatildeo a presente realidade

desses sujeitos estaacute distante do contexto sociocultural-linguiacutestico do ser iacutendio surdo A

exemplo disso tem-se outra realidade sociocultural-linguiacutestico do segundo aluno indiacutegena

surdo de 24 anos que foi transferido de uma escola que desenvolve atividades educacionais

especiacuteficas para outra no processo denominado de educaccedilatildeo inclusiva onde cursa o nono ano

do ensino fundamental das seacuteries finais e faz atendimento na sala de recurso porque os

professores das disciplinas do curso natildeo tecircm formaccedilatildeo para acompanhaacute-lo

Os relatos da famiacutelia indicam que o aluno nasceu na aacuterea indiacutegena de Ponta Alegre

poreacutem muito pequeno sua famiacutelia mudou-se para zona urbana municiacutepio de Parintins o qual

cresceu longe de sua cultura indiacutegena desconhecendo assim a liacutengua de sua etnia Este eacute um

caso que promove o desaparecimento de liacutenguas indiacutegenas o conhecido deslocamento

sociolinguiacutestico

Para entender o processo que instaura este deslocamento linguiacutestico ressalta-se que

primeiramente a educaccedilatildeo da pessoa perpassa pelo uso da liacutengua materna no ambiente

familiar nas relaccedilotildees famiacuteliares na qual utiliza uma comunicaccedilatildeo intra e extrafamiliar Se a

famiacutelia mantiver sua liacutengua nativa em uso os membros da mesma permaneceratildeo biliacutengues

Poreacutem se a famiacutelia por pressatildeo social do uso da liacutengua dos falantes da sociedade local seja

porque deseja se adequar ao meio onde se insere a liacutengua no caso indiacutegena entra no processo

de esquecimento para as geraccedilotildees vindouras

65

Eacute o caso do aluno acima que eacute biliacutengue (Liacutengua Brasileira de Sinais e Liacutengua

Portuguesa na modalidade escrita) contudo desconhece sua raiz cultural a liacutengua de sua

etnia Seu contexto educacional eacute baseado em ldquomodelo de escola inclusivardquo o aluno vai para

sala de aula com alunos ouvintes onde a liacutengua portuguesa eacute a liacutengua padratildeo a ser ensinada e

estudada e posteriormente faz atendimento na sala de recurso em sua liacutengua natural Libras

Logo a escola pode ajudar no incentivo favorecendo a revitalizaccedilatildeo da liacutengua

indiacutegena no contexto educacional Para isso haacute necessidade de um corpo docente com a

formaccedilatildeo em Liacutengua indiacutegena e Liacutengua Brasileira de Sinais aleacutem da Liacutengua Portuguesa que eacute

usada como a base de ensino

Jaacute na comunidade Uiacurapaacute da etnia Maweacute encontramos outra realidade de contexto

de um surdo indiacutegena Todavia natildeo foi possiacutevel fazer um acompanhamento mais preciso

sobre sua situaccedilatildeo educacional escolar O uacutenico dado correspondente agrave questatildeo linguiacutestica eacute o

modo como ele se comunica conforme foi relatado por membros da comunidade local se

caracteriza pela utilizaccedilatildeo de gestos criados para se fazer compreender Desta forma diante da

ausecircncia de uma liacutengua estruturada a Libras por fazer uso somente de gestos ele apresenta

dificuldades de entender o ensino e de se comunicar com seus pares Da mesma forma ocorre

no contexto familiar e na comunidade uma vez que o aluno surdo vive quase que isolado

devido ao preconceito existente ateacute mesmo pela proacutepria comunidade por natildeo o entenderem e

nem saberem qual a forma para se comunicar aquele indiviacuteduo Assim ele vive em uma

situaccedilatildeo de rejeiccedilatildeo e marginalizaccedilatildeo estabelecida a partir da ausecircncia de uma liacutengua que

promova a comunicaccedilatildeo com o predomiacutenio de um processo de estigmatizaccedilatildeo deste sujeito

surdo

No municiacutepio de Maueacutes Boa Vista do Ramos os iacutendios surdos localizados satildeo de

idade adulta natildeo tiveram a oportunidade de frequentar escola Portanto sua realidade

linguiacutestica fundamenta-se somente na forma gestual que denominam de caseira atribuindo

significados peculiares de seu contexto local No que diz respeito ao aspecto educacional as

pessoas contatadas demonstraram apenas uma preocupaccedilatildeo sobre a existecircncia futura de

possiacuteveis iacutendios surdos nesses municiacutepios e sua formaccedilatildeo educacional Contudo natildeo

afirmaram o que fariam se encontrassem outros sujeitos com essa necessidade de

comunicaccedilatildeo

Como jaacute mencionado natildeo haacute registro sobre a situaccedilatildeo linguiacutestica e educacional de

nenhum iacutendio surdo da etnia Satereacute-Maweacute nos municiacutepios de Nhamundaacute Satildeo Sebastiatildeo do

Uatumatilde e de Urucaraacute Portanto as informaccedilotildees educacionais natildeo satildeo apresentadas nestes

contextos

66

43 Inventaacuterio de gestos da linguagem caseira dos surdos Satereacute-Maweacute

A presente pesquisa baseia-se em um meacutetodo de estudos de etnografia com o intuito

de descrever e observar os gestos caseiros que os indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute usam para se

comunicarem com seus pares nas comunidades onde residem O meacutetodo tambeacutem ajuda a

conhecer a identidade e sua interaccedilatildeo no meio da comunidade visto haacute uma diversidade

linguiacutestica rica usada pelos surdos indiacutegenas nas diversas localidades percorridas pelo

pesquisador na microrregiatildeo de Parintins

431 Os sinais caseiros de indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute

O objetivo do mapeamento eacute coletar os sinais caseiros ou emergentes para que esses

sinais possam ser reconhecidos e compreendidos pela sua comunidade como meio linguiacutestico

de comunicaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo de sua cultura

Para a concretizaccedilatildeo do mapeamento foi necessaacuterio a pesquisa de campo na

comunidade onde se fazia presente o indiacutegena surdo para as devidas observaccedilotildees

432 O Municiacutepio de Parintins

No municiacutepio de Parintins foi localizado trecircs (03) indiacutegenas surdos com suas

caracteriacutesticas linguiacutesticas diferenciadas de suas origens sendo que dois indiacutegenas residem na

zona urbana e um indiacutegena localizado na comunidade de Uaicurapaacute os quais foram o objeto

investigativo para a coleta de dados Os registros foram feitos de forma diferenciada de modo

que primeiramente conversei com as lideranccedilas indiacutegenas acompanhado de inteacuterprete e guia

linguiacutestico Durante este encontro foram feitas no local observaccedilotildees visuais sendo que em

alguns casos realizamos registros de imagens filmagens e entrevistas Eacute importante destacar

que os registros soacute puderam ser feitos quando permitidos pelos sujeitos da pesquisa ou pela

lideranccedila prevalecendo em sua maior parte a observaccedilatildeo visto que materiais tecnoloacutegicos e

de miacutedias causavam incocircmodo aos entrevistados fazendo com que se tornassem

incomunicaacuteveis quando percebiam que estavam sendo monitorados

67

4321 O primeiro surdo

Esse primeiro indiacutegena possui surdez moderada Eacute um senhor com idade de 72 anos

residente no Uiacurapaacute23

O contato foi feito na Casa do Iacutendio de Parintins Em uma

conversaccedilatildeo informal explicou que perdeu a audiccedilatildeo com o tempo eacute oralizado24

e se

comunica com a comunidade na liacutengua nativa Satereacute-Maweacute Trata-se de um cidadatildeo calmo

fala apenas de suas necessidades visto que natildeo se manifesta muito devido suas limitaccedilotildees

auditivas que dificultam uma melhor compreensatildeo

Como referido o surdo em questatildeo tem surdez moderada Neste sentido observa-se

que a surdez ocorre de acordo com diferentes classificaccedilotildees quanto ao niacutevel de perda auditiva

Ou seja

Quanto ao grau - leve (perda de 26 a 40 dBNA) - moderada (perda de 41 a 55

dBNA) - moderadasevera (perda de 56 a 70 dBNA) - severa (perda de 71 a 90

dBNA) - profunda (a partir de 91 dBNA) (RUSSO e SANTOS 1988 apud

NADER 2011 p 2)

Retomando a histoacuteria do sujeito surdo em questatildeo observa-se que ele reside na zona

rural no Uiacurapaacute com seus parentes e sua sobrevivecircncia eacute atraveacutes do que planta e pesca

Observando-o percebo que o mesmo tem uma vida normal com seus pares o que falta para

uma interaccedilatildeo mais ativa na comunidade eacute estimulo e o incentivo linguiacutestico pois muitas

pessoas satildeo impacientes e acabam deixando-o isolado linguisticamente

4322 O segundo surdo

Eacute um indiacutegena natural de Ponta Alegre25

concluiu o ensino fundamental em uma

escola puacuteblica no municiacutepio de Parintins Sua surdez foi percebida por seus pais ainda

crianccedila causada por doenccedila congecircnita A famiacutelia mudou-se para o municiacutepio de Parintins em

busca de uma melhor educaccedilatildeo para filho surdo entretanto os pais eram usuaacuterios da Liacutengua

Satereacute-Maweacute mas natildeo mais praticam pela influecircncia da Liacutengua Portuguesa e tambeacutem natildeo 23 Rio que fica interliga com Rio Paranaacute do Ramos ndash Parintins (AZEVEDO 2014) 24

O modelo cliacutenico-terapecircutico baseia-se numa visatildeo patoloacutegica de surdez e num modelo individual de

atendimento aacute diversidade que tem como referecircncia o Oralismo O oralismo eacute uma filosofia educacional para

surdos cujo discurso propotildee a superaccedilatildeo da surdez e a aceitaccedilatildeo social do surdo por meio da oralizaccedilatildeo Em

outras palavras este modelo defende o aprendizado apenas da Liacutengua Portuguesa na sua modalidade oral e

escrita na escola por entender que esta eacute a uacutenica possibilidade de integrar o surdo na sociedade majoritaacuteria

ouvinte (SLOMSKI 2010 p 32) 25

A comunidade de Ponta Alegre situa-se no Rio Andiraacute com 4 horas de viagem de lancha para chegar a

comunidade (AZEVEDO 2014)

68

frequentam a comunidade Satereacute-Maweacute em busca de assistecircncia ou outros meios oferecidos

pela tribo Portanto a famiacutelia cresceu e disseminou deixando de lado a liacutengua nativa e

tradiccedilatildeo indiacutegena vivendo uma vida regular na zona urbana

O surdo hoje com 20 anos natildeo conhece a liacutengua nativa de sua comunidade se

comunica fluentemente com a Liacutengua de Sinais escreve o Portuguecircs e se oraliza na

comunicaccedilatildeo com seus pais que tambeacutem natildeo sabem a Liacutengua de Sinais

Atraveacutes de sua histoacuteria eacute possiacutevel perceber que este sujeito surdo por estudar em

escola inclusiva com forte influecircncia a oralista desenvolveu as duas linguas a Liacutengua

Brasileira de Sinais e a Liacutengua Portuguesa Poreacutem sua situaccedilatildeo eacute diferente de outros

indiacutegenas surdos que residem nas comunidades que usam os sinais caseiros para se

comunicarem Isso acaba sendo uma observaccedilatildeo abstrata da realidade entre os surdos que

moram na zona urbana e na comunidade Satereacute-Maweacute

4323 O terceiro surdo

Eacute uma crianccedila de 5 anos descendente da etnia Satereacute-Maweacute estuda em uma escola

filantroacutepica em Parintins Trata-se de uma aluna inteligente que demonstrava timidez na

presenccedila de pessoas estranhas Verificou-se que ela consegue aprender e identificar os objetos

apresentados para que identificasse Aos 4 anos antes de entrar para a escola utilizava alguns

sinais caseiros para se comunicar com seus familiares Na sala de aula o ensino oferecido a

ela eacute o biliacutengue26

tendo a Liacutengua Brasileira de Sinais e a Liacutengua Portuguesa compondo essa

educaccedilatildeo O ensino nessa instituiccedilatildeo vai ateacute a 5ordf serie Por esta razatildeo a aluna futuramente

precisaraacute ser transferida para uma escola de ensino fundamental

Tabela 2 11 Sinais caseiros utilizados pela crianccedila indiacutegena surda de 5 anos e seus

familiares

26

O Bilinguismo eacute uma filosofia de ensino cujo discurso propotildee a diversidade cultural e a aceitaccedilatildeo social do

surdo por meio do bilinguismo (duas liacutenguas Liacutengua de Sinais e segunda liacutengua) Essa filosofia concebe o surdo

como um ser diferente e a surdez como ldquoatributo humanordquo como uma caracteriacutestica da pessoa surda resultado

de uma deficiecircncia orgacircnica que natildeo se esgota nela mesma (SKLIAR 1997 apud SLOMSKI 2010 p 41)

SINAIS CASEIROS DESCRICcedilAtildeO

AacuteGUA Matildeo direita com o dedo polegar fazendo a expressatildeo de beber aacutegua

BRINCAR As duas matildeos fechadas batendo as pontas dos dedos em

movimento

BANHEIRO Matildeo direita mostra o local e a esquerda eacute posicionada na barriga

COMIDA As duas matildeos abrindo e fechando repetidamente proacuteximo da boca

DORMIR As duas matildeos com as palmas juntas encostar-se ao rosto com

expressatildeo de querer dormir

69

Fonte AZEVEDO (2014)

Figura 2 Sinais caseiros utilizado pela crianccedila de 5 anos

FOME Matildeo direita indo em direccedilatildeo da barriga fazendo expressatildeo facial de

fome

MAtildeE Matildeo direita aberta no rosto fazendo movimento nos dedos com

expressatildeo chamativa

IRMAtildeO Matildeo direita batendo no antebraccedilo para chamar atenccedilatildeo

PAI Matildeo direita com os dedos pegando o queixo

PESSOA Matildeo direita com dedo indicador fazendo expressatildeo de algueacutem

CHORAR As duas matildeos fechadas com os dorsos esfregando nos olhos

AacuteGUA BRINCAR

COMIDA DORMIR FOME

MAtildeE IRMAtildeO PAI

BANHEIRO

70

44 O indiacutegena surdo da Comunidade de Ponta Alegre do municiacutepio de Barreirinha

Foi localizado um aluno surdo na comunidade de Ponta Alegre que faz parte do

municiacutepio de Barreirinha trata-se de um jovem de 13 anos que estuda na Escola Municipal

Rosa Cabral e mora em uma aldeia mais distante a observaccedilatildeo foi feita na escola Nessa

viagem foi obtido a autorizaccedilatildeo de viagem para a aldeia na Secretaria de Educaccedilatildeo Municipal

de Barreirinha por meio do contato com o coordenador geral do setor indiacutegena daquela aacuterea

o senhor Santino Lopes que muito contribuiu com o projeto e de servir como guia de

viagem

O devido aluno estuda na 3ordf Serie do ensino fundamental De acordo com as

observaccedilotildees feitas O ensino predominante na sala para o ensino deste aluno eacute a Liacutengua

Portuguesa visto que os professores em sua maioria vem do municiacutepio de Barreirinha

Embora o ensino seja bem aplicado e a escola dispotildee de material didaacutetico apropriado para a

seacuterie natildeo haacute metodologia de ensino especializado para surdo natildeo existindo Sala de

Recursos27

O aluno aprende lentamente demonstrando dificuldades de entender os

conteuacutedos

A comunicaccedilatildeo com seus professores e colegas soacute acontecem atraveacutes de sinais

caseiros e expressotildees manuais O aluno surdo vive quase que isolado sem ter a possibilidade

de estabelecer uma comunicaccedilatildeo satisaftoacuteria dentro do contexto escolar devido ao

27

Uma das inovaccedilotildees trazidas pela Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Especial na Perspectiva da Educaccedilatildeo

Inclusiva (2008) eacute o Atendimento Educacional Especializado ndash AEE um serviccedilo da educaccedilatildeo especial que []

identifica elabora e organiza recursos pedagoacutegicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena

participaccedilatildeo dos alunos considerando suas necessidades especiacuteficas

O AEE complementa eou suplementa a formaccedilatildeo do aluno visando a sua autonomia na escola e fora dela

constituindo oferta obrigatoacuteria pelos sistemas de ensino Eacute realizado de preferecircncia nas escolas comuns em um

espaccedilo fiacutesico denominado Sala de Recursos Multifuncional Portanto eacute parte integrante do projeto poliacutetico

pedagoacutegico da escola (BRASIL 2008 p 3)

CHORAR PESSOA

71

preconceito existente Ateacute mesmo na proacutepria comunidade por natildeo entenderem e nem saberem

de que forma comunicarem-se com o mesmo a situaccedilatildeo de exclusatildeo se repete

Vale destacar que diante desta ausecircncia da qualidade de ensino para o aluno surdo a

professora Maria Inecircs ao responder um questionaacuterio segue algumas afirmativas para mudar

esta realidade Desta forma a educadora afirma que

- Eacute muito importante a capacitaccedilatildeo em cursos de libras e livros didaacuteticos proacuteprios

como forma de melhorar o ensino e a comunicaccedilatildeo com aluno surdo na

comunidade como parte da educaccedilatildeo inclusiva para facilitar o ensino e

aprendizado acima de tudo conhecer sua liacutengua materna identidade do povo

Satereacute-Maweacute

Pelo relato do Gestor da Escola Senhor Dulcemar a necessidade jaacute referida pela

educadora acima de materiais didaacuteticos para subsidiar o ensino eacute novamente colocada em

destaque conforme pode ser vislumbrado no relato transcito a seguir

- Eu como gestor sinto-me gratificado pelo trabalho a ser desenvolvido aqui com a

questatildeo da Libras um trabalho realizado pelo professor Marlon Jorge Pois eacute muito

importante devido agrave dificuldade que a educaccedilatildeo Satereacute- Maweacute vem tendo

principalmente quando se trata de alunos surdos indiacutegenas e ateacute mesmo por falta

de material didaacutetico Esse trabalho vai ser importante aqui na aacuterea indiacutegena para

ajudar o professor na sala de aula como ensinar como educar e como lidar com

esses alunos com necessidades especiais Entatildeo eacute um trabalho muito importante

pra noacutes e estamos aqui a disposiccedilatildeo e tambeacutem para contribuir como gestor da

escola juntamente com os professores e pra noacutes eacute muito bom esse trabalho e que o

Sr possa desenvolver esse seu projeto essa cartilha que com o aacutepice das aulas de

libras que com certeza vai fortalecer muito mais a educaccedilatildeo do povo Satereacute

Maweacuterdquo

Tabela 313 sinais caseiros coletados e utilizados pelo aluno da comunidade de Ponta Alegre

Fonte Azevedo (2014)

SINAIS CASEIROS DESCRICcedilAtildeO

AacuteGUA Usa as duas matildeos fazendo impressatildeo de beber alguma coisa

BARCO Usa-se a matildeo direita aberta em posiccedilatildeo vertical fazendo uma

expressatildeo da accedilatildeo do barco

BANHO Fazer a expressatildeo de pular na aacutegua com os braccedilos esticados

BANHEIRO Matildeo direita usando o indicador fazendo expressatildeo sair fora sala

COMIDA Matildeo esquerda aberta matildeo direita usando como o objeto metaacutelico

COBRA Usando os dedos da matildeo direita beliscando o pulso da matildeo esquerda

ESCOLA Faz-se o sinal de casa

ESTUDAR Faz a expressatildeo de escrever

FOME Matildeo direita levando em direccedilatildeo da barriga fazendo expressatildeo facial

de fome

FARINHA As duas matildeos palmas para baixo fazendo a expressatildeo de esfarelar

alguma coisa

LANCHA Usa a matildeo direita palma para cima fazendo uma accedilatildeo da rapidez

para frente

PEIXE Matildeo direita fazer a expressatildeo de caccedilar o peixe com o arpatildeo

PESSOA Matildeo direita com dedo indicador fazendo expressatildeo de algueacutem

72

Figura 3 Sinais caseiros utilizados pelo aluno da comunidade de Ponta alegre ndash

Barreirinha

AacuteGUA BARCO

BANHEIRO

BANHO

COMIDA

ESCOLA

FOME LANCHA PESCAR PEIXE

ESTUDAR FARINHA

COBRA

73

45 Os indiacutegenas surdos do Municiacutepio de Maueacutes

Situado entre os rios Madeira e Tapajoacutes o municiacutepio de Maueacutes estaacute localizado no

Meacutedio Amazonas que hoje eacute denominado como microrregiatildeo aacuterea leste do Estado Distante

de Manaus cerca de 30 km em linha reta ou o equivalente 45 minutos por via aeacuterea estando

a 356 km por via fluvial cerce de 16 a 18 horas de barco

Nesse municiacutepio foi realizado duas viagens com a finalidade de fazer um mapeamento

das aacutereas indiacutegenas bem como descobrir a existecircncia de surdos nas aldeias O primeiro

contato foi na Secretaria de Educaccedilatildeo do municiacutepio primeiramente me apresentado como

aluno pesquisador juntamente com os documentos comprobatoacuterios de acesso para realizar a

pesquisa nas aacutereas indiacutegenas As informaccedilotildees que tinha antes de estabelecer o contato

apontavam para a existecircncia de alunos indiacutegenas surdos matriculados na sede do municiacutepio

Poreacutem a secretaria informou desconhecer a existecircncia de alunos indiacutegenas matriculados na

rede publica do municiacutepio nem saber sua localizaccedilatildeo para contatos sendo orientado a

procurar na Casa do Estudante Indiacutegena Satereacute-Maweacute que se localiza em um bairro mais

distante dali

Chegando ao SESAI - Secretaria de Sauacutede Indiacutegena obtivemos acesso agraves informaccedilotildees

devido ao fato de que a pessoa responsaacutevel estava em viagem sendo que retornaria na outra

semana Em outra busca formos agrave Casa do Estudante Satereacute-Maweacute onde conversamos com o

coordenador Sr Jusivam que disse saber da existecircncia de indiacutegenas surdos nas comunidades

na Marau e Andiraacute mas natildeo ter dados quantitativos devido ao fato deles natildeo terem procurado

a Casa do Estudante em busca de assistecircncia que auxiliassem sua integraccedilatildeo em escolas

regulares ou inclusivas Observa-se que a Casa do Estudante podia auxiliar eles a

conseguirem uma escola para estudarem na zona urbana jaacute que esta eacute uma das atribuiccedilotildees da

instituiccedilatildeo

Ao sermos informados que as comunidades onde havia surdos eram distantes e

necessitava de apresentar outros documentos da Coordenaccedilatildeo Geral de Educaccedilatildeo que ficava

no municiacutepio de Barreirinha Tambeacutem se fazia necessaacuterio preparar uma programaccedilatildeo de

viagem para que pudessemos chegar ateacute aquela localidade de modo que nesta precisava

inclusive organizar para ter inteacuterpretes que falassem a liacutengua Satereacute-Maweacute e inteacuterpretes de

Libras Aleacutem destes precisava contar com um acompanhante para registrar as imagens e

filmagens se autorizadas anotando tudo que fosse necessaacuterio

Fazendo uma reflexatildeo sobre a viagem e os entraves que tinhamos pela frente para a

concretizaccedilatildeo do projeto e as distacircncias geograacuteficas para alcanccedilar os objetivos da pesquisa

74

Contudo ao encontrar um surdo indiacutegena sendo o principal objeto da pesquisa em funccedilatildeo da

grande satisfaccedilatildeo de poder contribuir para o desenvolvimento linguiacutestico dos indiacutegenas surdos

e para que a comunidade compreenda como um ser incluiacutedo a partir do respeito a sua cultura

inserindo em seus modos e haacutebitos foi compensador enfrentamos todos os obstaacuteculos

Visitamos a Universidade do Estado do Amazonas ndash UEA onde tivemos a grata

surpresa de saber que havia uma turma de formaccedilatildeo em licenciatura Indiacutegena para a

comunidade Esperamos a aula acabar para falar com o professor o qual pediu para vir outro

dia para conversar com os alunos Foi nessa ocasiatildeo que conhecemos trecircs professores com os

quais fizemos um acordo para que na proacutexima viagem me levassem para a aldeia a fim de

realizar o mapeamento

Voltando para Parintins foi elaborado um roteiro para viagem a aacuterea indiacutegena Satereacute-

Maweacute pelos rios Maueacutes-Accedilu Rio MarauUrupadi A viagem aconteceu no dia 02 de

fevereiro de 2014 saindo de barco de Parintins indo ateacute o municiacutepio de Maueacutes No dia

seguinte as 8 horas acompanhado do professor Jesiel pegamos uma voadeira de 150HP com

destino ao territoacuterio Satereacute-Maweacute Foi uma viagem perigosa devido agraves condiccedilotildees dos rios e de

difiacutecil acesso para chegarmos laacute Todavia fizemos um esforccedilo e conseguimos nos deslocar ateacute

a comunidade Percorremos de voadeira uma viagem que durou aproximadamente 8 horas

pelo Rio Maueacutes Accediluacute Depois de uma hora e meia de viagem chegamos ao Rio Urupadi e

seguimos mais uma hora e meia de viagem ateacute a comunidade indiacutegena Vale do Quiinha

Nessa aldeia pegamos o professor Jacob Santos de Souza que nos acompanhou para a

proacutexima aldeia Ilha Michiles que fica no Rio Marau Nessa aldeia pegamos outro professor

Satereacute-Maweacute Jocimar Alencar dos Santos Saiacutemos da Ilha Michiles com destino a

comunidade Santa Maria que fica na divisa do Rio Urupadi e Manjuru A cada visita que

faziamos nas comunidades indiacutegenas percebemos no cotidiano a diversidade presente nas

aacutereas indiacutegenas Satereacute-Maweacute Ao perguntar se havia algueacutem surdo na famiacutelia e a resposta

sempre vinha de forma afirmativa o que me demonstrou que todos os esforccedilos para realizar a

viagem foram compensados diante da riqueza de dados coletados

A primeira iniciativa adotada com relaccedilatildeo a esse momento foi reunir com os

comunitaacuterios envolvidos nas atividades escolares A reuniatildeo teve como objetivo observar e

entrevistar alguns indiacutegenas para posteriormente analisar como se procede agrave comunicaccedilatildeo

entre indiacutegenas surdos e ouvintes A reuniatildeo foi muito uacutetil para os estudos e anaacutelise de

informaccedilotildees Os surdos existentes na comunidade nunca estudaram devido agrave comunidade

Santa Maria ficar distante da zona urbana e a escola existente para alunos ouvintes ficar em

75

outra comunidade o que inviabiliza a ida deles sendo que tambeacutem natildeo haacute professores

especializados para atenderem a clientela surda existente no Rio Marau

Encontramos dois indiacutegenas surdos na comunidade de Santa Maria que foram objeto

de estudos No entanto houve informaccedilotildees repassadas de que haacute outros trecircs surdos em outras

comunidades mais distante na mesma aacuterea Satereacute-Maweacute A visita para contactar estes outros

trecircs surdos ficou para a proacutexima viagem de observaccedilatildeo e coleta dos dados

451 O primeiro surdo da Comunidade de Santa Maria

No contato e observaccedilatildeo que tivemos com o surdo o mais novo tem 24 anos mora

com a famiacutelia natildeo conhece nenhuma liacutengua se comunica com gestos e sinais caseiros A

comunidade assim com a famiacutelia demosntrou pouco se importar com ele de forma que natildeo

haacute estiacutemulo ou interesse para que haja uma interaccedilatildeo linguiacutestica satisfatoacuteria entre eles

O ponto de encontro com seus colegas fica na parte central da comunidade que tem

um campo de futebol Laacute eles se concentram embaixo de uma aacutervore Neste lugar o surdo

costuma ficar quase diariamente com intuito de se unir e brincar com os colegas Ele usa os

sinais caseiros com expressotildees com a intenccedilatildeo de conseguir se comunicar com os colegas

Poreacutem alguns natildeo conseguem entender enquanto outros falam a Liacutengua Satereacute-Maweacute

Apesar do esforccedilo do surdo de tentar compreender o que eacute falado via a leitura labial na

maioria das vezes natildeo consegue compreender Poreacutem mesmo assim sinaliza balanccedilando a

cabeccedila com expressatildeo de concordacircncia afirmativa mesmo natildeo entendendo a mensagem

Tabela 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa

Maria

SINAIS CASEIROS

COLETADOS

DESCRICcedilAtildeO

AacuteGUARIO Usam-se as duas matildeos fazendo a expressatildeo de banzeiro

ANTA Matildeo direita fazendo a expressatildeo do focinho do nariz

AacuteRVORE As matildeos abertas fazendo expressatildeo de segurar o troco ao mesmo tempo

levando para cima

BARCO Usa a matildeo direita fechada fazendo expressatildeo de abrir e fechar a matildeo

como sinal de fumaccedila

BANHO Fazer a expressatildeo de pular na aacutegua com os braccedilos esticados

CASA As duas matildeos palmas para baixo fazendo um balanccedilo de movimento de

uma rede

CACcedilAR PEIXE Matildeo direita fazer expressatildeo de soltar o arpatildeo

CUIA As duas matildeos juntas fazer a expressatildeo de raspar a cuia

COCO Fazer a expressatildeo de tirar o coco com a vara

COMIDA As duas matildeos levando ateacute a boca

76

Fonte Azevedo (2014)

Figura 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa Maria

(30 sinais coletados)

COBRA Matildeo direita fazendo a expressatildeo da picada da cobra

FACA Matildeo direita fachada fazendo a expressatildeo de furar alguma coisa para

baixo

FLECHA Fazer a expressatildeo de jogar a flecha

FORMIGA Matildeo direita com os dedos beliscando o braccedilo esquerdo

FOME Matildeo direita levando em direccedilatildeo da barriga fazendo expressatildeo facial de

fome

FARINHA As duas matildeos fazer a expressatildeo de fazer farinha

GUARANAacute Fazer a expressatildeo de ralar o guaranaacute

JACAREacute Os dois indicadores das matildeos fazendo expressatildeo de dentes grandes do

jacareacute

LANCHA As duas matildeos dedos juntos fazer a expressatildeo de uma accedilatildeo raacutepida para

frente

MACACO Com braccedilos abertos fazer a expressatildeo de macaco

MALOCA As duas matildeos com os dedos encostados puxar para os lados opostos

MANDIOCA Fazer expressatildeo de descascar algum

ONCcedilA Com as matildeos fazer pintas no rosto

PAI As duas matildeos esfregando os indicadores

PEIXE Faz se expressatildeo de descamar o peixe

PILAtildeO As duas matildeos juntas fazendo a expressatildeo de socar a crueira

POTE AacuteGUA As duas matildeos juntas palmas para cima elevando para cima em curvas

onduladas

PASSAacuteRO As duas matildeos fazendo o movimento de paacutessaro

PESSOA Matildeo direita fazendo a expressatildeo de pegar no cabelo

TIPITI As duas matildeos fazendo a expressatildeo de espremer algum

PENEIRAR As duas matildeos em forma letra A fazer expressatildeo de balanccedilar o objeto

AacuteGUA ANTA AacuteRVORE

VIAGEM BANHO

77

VIAJAR

CASA CACcedilAR ALIMENTO CUIA

COCO COMIDA

FACA

FARINHA

FORMIGA

GUARANAacute

FOME

FACA

FLECHA

78

JACAREacute LANCHA

MACACO

MANDIOCA ONCcedilA

MALOCA PAI

POTE DE AacuteGUA PILAtildeO

LANCHA JACAREacute

PEIXE

79

452 O segundo surdo da Comunidade de Santa Maria

O segundo surdo visitado um senhor adulto com identidade natildeo revelada residindo na

Comunidade de Santa Maria Eacute um cidadatildeo reservado e fechado para desconhecidos Como

nossa equipe era composta de 05 profissionais sendo 03 (trecircs) professores indiacutegenas que me

acompanharam para serem facilitadores linguiacutesticos e um colaborador local para captar as

imagens ficarmos 04 (quatro) dias na comunidade para observaccedilotildees Apesar do tempo o

investido para conseguir o contato o mesmo se mostrou irredutiacutevel e natildeo se dispos a

conversar conosco Observa-se que mora sozinha e eacute raro ele se manifestar na comunidade

Pela histoacuteria contada a seu respeito apesar de natildeo se comunicar manteacutem sua residecircncia de

maneira organizada cultiva de algumas plantaccedilotildees como mandioca banana guaranaacute aleacutem de

produzir farinha tambeacutem faz pescaria para se alimentar Foi relatado que ajuda alguns

vizinhos e amigos com o que produz aleacutem de ser experiecircncia em matildeo de obra na confecccedilatildeo

de trepadeira silvestre que facilita subir nas aacutervores coqueiros e accedilaizeiros

PASSAacuteRO PESSOA COBRA

TIPITI PENEIRAR

80

Sobre o contexto educacional tendo como tema central a educaccedilatildeo escolar indiacutegena

o professor Jesiel (2014)28

(que eacute indiacutegena e concluiu o curso de pedagogia intercultural na

Universidade do Estado do Amazonas localizado no municiacutepio de Maueacutes) argumentou que o

territoacuterio Satereacute-Maweacute eacute muito grande sendo longa a distacircncia para se chegar na zona

urbana ateacute de forma que mesmo o deslocamento de uma comunidade para outra dificulta os

indiacutegenas irem para a escola Estas segundo o educador referido satildeo algumas razotildees que

impedem muitos indiacutegenas de estudarem na medida em que acarreta prejuiacutezo para a famiacutelia

especialmente de perda de tempo principalmente para os adultos que tem compromisso no

campo e com a comunidade

Para solucionar este problema devido a distacircncia as famiacutelias e os liacutederes indiacutegenas

possuem propostas e lutas para a construccedilatildeo de escolas nas aldeias o que facilitaria o acesso

dos surdos indiacutegenas da comunidade na escola E ao considerar que o indiacutegena surdo

compreende e se comunica com seus pares atraveacutes de gestos e sinais caseiros de forma que

aleacutem de sua liacutengua nativa haacute outros meios para que o surdo possa se comunicar isso aponta

para a necessidade da criaccedilatildeo de propostas de acesso agrave educaccedilatildeo dessas pessoas Dessa

maneira foram catalogados alguns sinais utilizados por esse surdo adulto da Comunidade de

Santa Maria apresentado abaixo

Tabela 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais antigo residente isolado na

comunidade de Santa Maria no Rio Marau ( 18 sinais coletados)

28

As famiacutelias e os liacutederes indiacutegenas possuem propostas e lutas para a construccedilatildeo de escolas nas aldeias para a

facilitaccedilatildeo do acesso dos surdos indiacutegenas na comunidade e na escola O indiacutegena surdo apesar de natildeo ouvir

compreende e comunica com seus pares atraveacutes de gestos e sinais caseiros que aleacutem de sua liacutengua nativa haacute

outros meios para que o surdo possa se comunicar Isso contribui para a criaccedilatildeo de propostas de acesso agrave

educaccedilatildeo dessas pessoas Dessa maneira foram catalogados alguns sinais utilizados por esse surdo adulto da

Comunidade de Santa Maria apresentado abaixo

A contribuiccedilatildeo do professor indiacutegena Jesiel Santos foi de suma importacircncia para a coleta de dados nesta

pesquisa visto que atraveacutes dele que conseguimos chegar ateacute a comunidade de Santa Maria afim de termos os

contatos na comunidade

SINAIS CASEIROS DESCRICcedilAtildeO

ARCOFECHA As duas matildeos com expressatildeo de utilizar um arco com flecha

AacuteGUA Matildeo direita com utilizando somente o dedo polegar fazer a expressatildeo de

beber algum

BANHO Os braccedilos e matildeos esticadas fazer a expressatildeo de se soltar no rio

BEIJU As duas matildeos fazendo um circulo e em seguida levar ateacute a boca

CIGARRO A posiccedilatildeo para traduzir este sinal satildeo as duas matildeos em posiccedilatildeo dos dedos

polegar e indicador juntos fazendo expressatildeo de fazer um cigarro caseiro

CASA As duas matildeos com os dedos esticados fazer a expressatildeo de formato de uma

casa

COBRA A matildeo direita com os dedos indicador e polegar encostados fazer a expressatildeo

de beliscar o pulso de antebraccedilo

FARINHA Matildeos com os dedos todos juntos fazer a expressatildeo com o movimento de

81

Figura 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo idoso na comunidade de Santa Maria

soltar a farinha

FORNO DE ASSAR Matildeo direita fazendo um semiciacuterculo de com a caracteriacutestica de um forno de

barro

GARREIRA As duas matildeos juntas fazer a expressatildeo repetidamente de amassar uma massa

JACAREacute As duas matildeos pegando os dentes

LUVA DA TUCANDEIRA Fazendo a expressatildeo de usar uma luva de palha e fazer a expressatildeo de dor da

ferrada da tucandeira

MANDIOCA Usar o antebraccedilo esquerdo com a matildeo direita como um material cortante

fazendo a expressatildeo de descascar

MACACO Os dois braccedilos e corpo fazendo a expressatildeo do movimento caracteriacutestico do

macaco

PAJEacute As duas matildeos fazendo a expressatildeo de segurar algum e balanccedilar

PAacuteSSARO Fazer a expressatildeo de balanccedilar os braccedilos caracterizando o movimento de um

paacutessaro

TIPITI As duas matildeos fazendo o movimento de espremer a mandioca

TERRASOLO Matildeo direita fazendo expressatildeo de um pequeno monte de terra

ARCOFECHA BEBER

LIacuteQUIDOAacuteGUA

BEIJUCOMER COBRA

FARINHA FERRADA DA TUCANDEIRA MALOCACASA ESCOLA

ARCOFLECHA BEBER LIQUIDOAacuteGUA BANHOPULAR NA AacuteGUA

AacuteAacuteGUA

CIGARRO

82

FORNO DE ASSAR

JACAREacute

LUVA DA TUCANDEIRA MACACO

PAJEacute

TIPITI TERRA

GAREIRA

MANDIOCA

PAacuteSSARO

(( ))

JACAREacute

83

5 ICONICIDADE E ARBITRARIEDADE NA CRIACcedilAtildeO DOS SINAIS CASEIROS

Nos anos 60 a partir dos trabalhos de Stokoe (1960) foi comprovado que as Liacutenguas

de Sinais satildeo linguas Estas satildeo liacutenguas naturais com ldquoestrutura gramatical proacutepria em seus

niacuteveis fonoloacutegico (ou queroloacutegico) morfoloacutegico sintaacutetico e semacircntico aleacutem de seus aspectos

pragmaacuteticosrdquo

De acordo com Quadros (2006 p 221)

pelo fato de as liacutenguas de sinais natildeo serem faladas e de natildeo terem o seu coacutedigo

escrito ainda popularizado entre os surdos natildeo as elimina das consideraccedilotildees

cientiacuteficas visto que apresentam uma organizaccedilatildeo estrutural e fazem parte da

constituiccedilatildeo cultural desses sujeitos ndash crescendo envolvendo e transmitindo

dinamicamente tradiccedilotildees socioculturais Portanto as liacutenguas de sinais fazem parte

do conjunto da linguagem humana com a diferenccedila de se apresentarem em uma

terceira modalidade a visuo-espacial

Reiterando-se que a Liacutengua de Sinais eacute uma liacutengua natural uma vez que estaacute veiculada

a um canal que natildeo eacute o oral-auditivo e sim visual esta garante uma percepccedilatildeo e articulaccedilatildeo

mais faacutecil mais coerente e confortaacutevel aleacutem de contribuir para o desenvolvimento linguiacutestico

cognitivo e social do surdo

Sobre as caracteristicas linguiacutesticas das Liacutenguas de Sinais vale ressaltar que Sousa

(2010) ao tratar dos aspectos visuais quanto agraves propriedades das Liacutenguas de Sinais enfatiza a

iconicidade e arbitrariedade relacionada ao signo linguiacutestico que satildeo inerentes agraves liacutenguas

naturais Sobre as definiccedilotildees dos fenocircmenos das liacutenguas estes remontam a eacutepoca de Platatildeo

filoacutesofo grego que tratava os fenocircmenos sobre a linguagem e a relaccedilatildeo dela com o mundo

Cita-se tambeacutem Craacutetilo Hermoacutegenes e Soacutecrates que foram interlocutores desta relaccedilatildeo

discutindo a ligaccedilatildeo existente entre nome ideia e coisa A abordagem dos trecircs se diferenciava

de forma que Craacutetilo defendia o conceito de iconicidade Hermoacutegenes de arbitrariedade

Soacutecrates por seu turno integrava as duas concepccedilotildees Esta diferenciaccedilatildeo tecido pelos trecircs

filosofos pode ser vislumbrada no trecho transcrito abaixo

Para Craacutetilo a liacutengua eacute o espelho do mundo o que significa que existe uma relaccedilatildeo

natural e portanto similar ou icocircnica entre os elementos da liacutengua e os seres por

eles representados Para Hermoacutegenes a liacutengua eacute arbitraacuteria isto eacute convencional pois

entre o nome e as ideias ou as coisas designadas natildeo haacute transparecircncias ou

similaridade Soacutecrates por sua vez tem o papel de fazer a integraccedilatildeo entre os dois

pontos de vista (WILSON amp MARTELOTTA 2010 apud SOUSA 2010 p 4)

84

A modalidade gestual-visual espacial pela qual a Liacutengua de Sinais eacute produzida e

reconhecida pela comunidade Surda leva muitas vezes as pessoas a pensarem que todos os

sinais satildeo desenho no ar do referente que representam Para melhor esclarecimento por

decorecircncia de sua natureza linguiacutestica a realizaccedilatildeo de um sinal pode sim ser motivada pelas

caracteriacutesticas do dado da realidade a que se refere poreacutem natildeo eacute regra Ou seja a maioria dos

sinais da LIBRAS eacute arbitraacuteria natildeo mantendo relaccedilatildeo de semelhanccedila alguma com seu

referente Portanto essa condiccedilatildeo possibilita o enriquecimento da flexibilidade e versatilidade

da liacutengua (BASSO 2011 p47)

Exemplos de sinais arbitraacuterios

Figura 6 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos que se refere agrave

arbitrariedade

BISCOITO PESSOA DESCULPA

Fonte Azevedo (2014)

A ideia de arbitrariedade da liacutengua se relaciona com a ideia de convenccedilatildeo que se

efetiva em todas as liacutenguas como Liacutengua de Sinais e na Liacutengua Portuguesa ilustra-se o

processo com os exemplos das palavras ldquobiscoitordquo ldquodesculperdquo e ldquopessoardquo O processo de

definiccedilatildeo destes termos ocorre de forma arbitraacuteria pois soacute nomes foram atribuiacutedos devido a

uma convenccedilatildeo que estabelece esse conceito e natildeo porque haacute uma relaccedilatildeo entre o som da

palavra e o objeto que ela designa (SALLES 2007 p 5)

No caso da Libras os exemplos citados de sinais foram criados sem sofrer influecircncia

da imagem dos objetos aos quais eles se referem O que mostra que mesmo que a Libras

tambeacutem apresenta a caracteriacutestica de arbitraacuterios (TEIXEIRA 2015 p 5)

Para compreender melhor a importacircncia da visualidade na Liacutengua de Sinais dos

Satereacute-Maweacute eacute relevante entender trecircs conceitos da teoria de Pierce sobre a iconicidade que

pode ser considerada a base dos sinais dessa comunidade os quais satildeoo siacutembolo o iacutendice e o

iacutecone Segundo Martelotta (2011) (apud TEIXEIRA 2015 p 2)

85

O siacutembolo de acordo com Peirce refere-se a determinado objeto representando-o

com base em uma lei haacutebito ou convenccedilatildeo estabelecendo uma relaccedilatildeo entre dois

elementos Para citar alguns exemplos a cruz eacute o siacutembolo do cristianismo e a

balanccedila o siacutembolo da justiccedila Uma caracteriacutestica importante do siacutembolo relaciona-se

ao fato de que ele eacute parcialmente motivado ou seja haacute entre o siacutembolo e o conteuacutedo

simbolizado alguns traccedilos relacionados ao objeto

Haacute uma diferenccedila fundamental entre o siacutembolo de um lado e o iacutendice e o iacutecone de

outro jaacute que nesses dois uacuteltimos haacute um niacutevel ainda menor de arbitrariedade No caso

do iacutendice ocorre uma relaccedilatildeo de contiguidade com a realidade exterior a fumaccedila

por exemplo eacute o iacutendice do fogo e a presenccedila de nuvens negras o iacutendice de chuva

iminente

O iacutecone por sua vez tem uma natureza imagiacutestica apresentando portanto

propriedades que se assemelham ao objeto a que se refere A fotografia de um

indiviacuteduo por exemplo eacute uma representaccedilatildeo icocircnica desse indiviacuteduo assim como o

mapa do Rio de Janeiro representa a cidade Assim um iacutecone eacute qualquer coisa que

seja utilizada para designar algo que lhe seja semelhante em algum aspecto

Nesta perspectiva Quadros (1997) traz a reflexatildeo sobre os efeitos da modalidade ou

seja o fato de a Liacutengua de Sinais serem visuoespacial em vez de auditiva-oral implica nas

diferenccedilas para a aquisiccedilatildeo do surdo e nesse sentido tem-se a questatildeo da iconicidade das

Liacutenguas de Sinais uma vez que a iconicidade se refere

A transparecircncia entre significado e o significante ou seja a relaccedilatildeo de identidade

entre a palavra (o sinal) e o seu sentido Por exemplo nas liacutenguas faladas agraves

onomatopeias satildeo consideradas por alguns autores como icocircnicas pois a produccedilatildeo

sonora bdquoreal‟ (do objeto ou do animal) eacute reproduzida na fala expressando certa

identidade (QUADROS 2011 p 22)

Vale ressaltar que a iconicidade vem sendo estudada a partir da pesquisa semioacutetica de

Charles Sanders Peirce (1999) filoacutesofo norte-americano contemporacircneo de Saussure

Segundo Teixeira (2015) Peirce em seus estudos sobre a Semioacutetica o signo tem a funccedilatildeo de

proporcionar uma ideia do mundo e tudo que cerca o indiviacuteduo estaacute rodeado de signos Como

explica o filoacutesofo

[] para que algo possa ser um Signo (expressatildeo ou representamento) esse algo

deve bdquorepresentar‟ [] alguma outra coisa chamada seu Objeto apesar de ser talvez

arbitraacuteria a condiccedilatildeo segundo a qual um Signo deve ser algo distinto de seu objeto

(PEIRCE 1999 apud TEIXEIRA 2015 p 5)

Ao direcionar essas definiccedilotildees para agraves liacutenguas de sinais Sousa (2010) afirma que

muitas vezes essas liacutenguas satildeo consideradas puramente icocircnicas por serem de uma

modalidade diferente acreditando-se acredita que os sinais satildeo criados sempre a partir da

86

representaccedilatildeo do referente Eacute certo que um sinal pode ser realizado de acordo com a

caracteriacutestica daquilo que se refere mas de acordo com Strobel amp Fernandes (1998 apud

Sousa 2010 p 4) ldquoisto natildeo eacute uma regra jaacute que a maioria dos sinais em Libras eacute arbitraacuterio ou

seja natildeo manteacutem uma relaccedilatildeo de similitude com o referenterdquo

Reconhece-se que algumas Liacutenguas de Sinais parecem ter maior motivaccedilatildeo icocircnica

apresentando relaccedilotildees entre a sua forma e o seu significado comumente observado nas

Liacutenguas de Sinais caseiras dos Satereacute-Maweacute Isso significa a relaccedilatildeo entre o referente e o

referenciado Alguns estudos como os de Meier (1981) citado por Lillo-Martin (1986)

apontam para uma aparente iconicidade nas liacutenguas de sinais o que justifica considerar as

variaccedilotildees regionais e sociais e as mudanccedilas histoacutericas como fenocircmenos identificaacuteveis na

Liacutengua Brasileira de Sinais o que lhe confere o caraacuteter natural (STROBEL amp FERNANDES

1998 apud SOUSA 2010)

Nesse contexto a iconicidade como caracteriacutesticas semelhantes ao iacutecone tem em

comum o objeto que representa Por ser uma liacutengua de modalidade visuoespacial a

iconicidade estaacute presente em grande parte dos sinais da Libras pois a relaccedilatildeo entre a ldquoformardquo

e o ldquosentidordquo eacute mais visiacutevel Salles (2007) em bdquoEnsino de liacutengua portuguesa para surdos

caminhos para a praacutetica pedagoacutegica‟ comenta

Um aspecto que se sobressai no contraste entre as modalidades viacutesuo-espacial e oral-

auditiva eacute a questatildeo da arbitrariedade do signo linguiacutestico Esse conceito estabelece

que na constituiccedilatildeo do signo linguiacutestico a relaccedilatildeo entre o significante (imagem

acuacutestico-focircnica) e o significado eacute arbitraacuteria isto eacute natildeo existe nada na forma do

significante que seja motivado pelas propriedades da substacircncia do conteuacutedo

(significado) Uma caracteriacutestica das liacutenguas de sinais eacute que diferentemente das

liacutenguas orais muitos sinais tecircm forte motivaccedilatildeo icocircnica Natildeo eacute difiacutecil supor que esse

contraste se explique pela natureza do canal perceptual na modalidade viacutesuo-

espacial a articulaccedilatildeo das unidades da substacircncia gestual (significante) permite a

representaccedilatildeo icocircnica de traccedilos semacircnticos do referente (significado) o que explica

que muitos sinais reproduzam imagens do referente na modalidade oral-auditiva a

articulaccedilatildeo das unidades da substacircncia sonora (significante) produz sequecircncias que

em nada evocam os traccedilos semacircnticos do referente (significado) o que explica o

caraacuteter imotivado ou arbitraacuterio do signo linguiacutestico nas liacutenguas orais (SALLES

2007 p 83)

Todavia os mesmos sinais icocircnicos possuem um grau de arbitrariedade na definiccedilatildeo

dos mesmos como explica Frydrych (2012)

Pode haver contudo sinais com diferentes graus de iconicidade Um sinal pode natildeo

se assemelhar ao objeto que representa pela forma mas apresentar de alguma

forma uma similaridade por meio de expressotildees faciais ou movimentos Um

exemplo eacute o sinal ldquotristerdquo que possui como configuraccedilatildeo de matildeo o sinal Y

localizada abaixo do queixo em movimento de meia lua O sinal nada tem a ver

com o que a palavra representa no entanto a expressatildeo facial de tristeza que

acompanha o sinal daacute indiacutecios de que seu significado pode natildeo ser muito agradaacutevel

87

[] Falar de sinais icocircnicos em Libras pode parecer comum no entanto o sinal de

ldquocasardquo por exemplo motivado pelo formato do telhado de uma casa eacute tambeacutem

usado para o sinal de ldquomorarrdquo que pode ser usado para ldquomoradiardquo em diferentes

formatos de residecircncia como por exemplo casa apartamento cabana etc Embora o

sinal possa ter sido motivado na sua criaccedilatildeo por um tipo de casa passou a ser usado

de forma muito mais abrangente Sendo isto muito comum nas liacutenguas de sinais Os

sinais passam a ser signos linguiacutesticos altamente arbitraacuterios e passam a integrar o

leacutexico da liacutengua (Apud PIVETTA et al 2013 p8)

Como tambeacutem salienta Silva (2012) que ao passar do tempo o sinal icocircnico perde sua

motivaccedilatildeo inicial passando a ser arbitraacuterio

[] a transparecircncia eacute relativa porque a forma dos objetos ou movimentos que

originaram o sinal pode variar no tempo perdendo a sua motivaccedilatildeo inicial Um

exemplo eacute o sinal ldquoleiterdquo que faz referecircncia ao ato de ordenha que hoje ainda pode

ser considerado um sinal icocircnico Todavia para as futuras geraccedilotildees a motivaccedilatildeo de

sua representaccedilatildeo tende a se tornar uma convenccedilatildeo o que faz com que o sinal passe

a ser arbitraacuterio e de valor simboacutelico Sinais como o de ldquoleiterdquo satildeo frutos de um

processo histoacuterico e com o passar do tempo natildeo representam mais os artefatos e

procedimentos atuais sendo percebidos e interpretados apenas por meio da

arbitrariedade e da convenccedilatildeo(Apud PIVETTA et al 2013 p8)

A seguir temos alguns exemplos de sinais icocircnicos na Libras satildeo os sinais ldquoaacutervorerdquo

ldquocadeirardquo ldquocasardquo constituiacutedos a partir de caracteriacutesticas da imagem dos objetos aos quais se

referem Enquanto o primeiro lembra a imagem do tronco e das folhas de uma aacutervore o

segundo lembra as pernas de uma pessoa representadas pelos dedos indicador e meacutedio e a

terceira lembra a imagem de um telhado ou de uma casa sentada no objeto em questatildeo

(SALLES 2007 p 83)

Figura 7 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos aos quais se referem a

iconicidade

Fonte Azevedo (2014)

AacuteRVORE CADEIRA CASA

88

Figura 8 Caracteriacutesticas da imagem em Liacutengua de Sinais Satereacute-Maweacute dos objetos aos

quais se referem agrave iconicidade

Yara Wato Barco Libras

Fonte Azevedo (2014)

Man Beiju Libras

Fonte Azevedo (2014)

Kamunti hit Bilha Libras

Fonte Azevedo (2014)

89

Dessa maneira podem-se definir os sinais icocircnicos como aqueles que fazem alusatildeo agrave

imagem do seu significado natildeo implicando que todos os sinais satildeo iguais ou sinais icocircnicos

em todas as Liacutengua de Sinais cada grupo social absorve aspectos diferentes da imagem do

referente convencionando a representaccedilatildeo do sinal Os signos arbitraacuterios satildeo os que natildeo

trazem nenhuma relaccedilatildeo de semelhanccedila com o referente

90

6 INTERVENCcedilAtildeO E CONTRIBUICcedilAtildeO LINGUIacuteSTICA DO PROFESSOR SURDO

Os estudos sobre a educaccedilatildeo sistemaacutetica dos indiacutegenas surdos da etnia Satereacute-Maweacute

levaram agrave percepccedilatildeo da necessidade iminente de uma atuaccedilatildeo no processo ensino

aprendizagem desses sujeitos Desse modo apoacutes conhecer a realidade linguiacutestica e

educacional dos indiacutegenas surdos observados nas aldeias e na zona urbana de Parintins foi

possiacutevel intervir por meio do ensino da Liacutengua Brasileira de Sinais A intervenccedilatildeo foi feita

com o consentimento dos responsaacuteveis locais onde se faziam presentes acompanhando o

objeto da pesquisa - os indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute

Assim com a autorizaccedilatildeo da famiacutelia o primeiro contato foi estabelecido entre uma

crianccedila surda indiacutegena com professor tambeacutem surdo que ocorreu na residecircncia dela na zona

urbana do municiacutepio de Parintins cujo registro de imagem consta na Figura 9

Figura 9 Encontro da crianccedila surda Satereacute-Maweacute com o professor surdo

Fonte Azevedo (2014)

No contato foi possiacutevel verificar que a crianccedila natildeo conhecia a liacutengua Libras Sua

forma de comunicaccedilatildeo era com o uso dos siacutembolos ldquocaseirosrdquo Contudo ela respondeu ao

estiacutemulo de conversaccedilatildeo com muita facilidade buscando fazer a comunicaccedilatildeo As demais

observaccedilotildees e intervenccedilatildeo deram-se no ambiente educacional na Escola de Aacuteudio e

Comunicaccedilatildeo Padre Paulo Manna (Figura 10) Nesse contexto a crianccedila acompanhava com

atenccedilatildeo ao desempenho dos demais pares sempre atenta para compreensatildeo do conteuacutedo

comunicativo Ficou evidente a necessidade de um material de suporte escrito como recurso a

ser utilizado pelos docentes no processo ensino e aprendizagem

91

Figura 10 Contato com aluno Satereacute-Maweacute surdo no ambiente escolar

Fonte ndash Azevedo (2014)

Ocorreu tambeacutem o contato com o aluno surdo da Etnia Satereacute-Maweacute matriculado na

Escola Estadual Brandatildeo de Amorim em Parintins o qual foi feito em sua residecircncia dele A

conversa com ele foi feita fluentemente em Libras (Figura 10) Entretanto ao ser indagado

sobre a cultura a liacutengua falada de sua etnia natildeo soube responder Comprovou-se que o aluno

natildeo participa do contexto cultural da etnia por isso natildeo a conhece Por tal considera-se que o

material triliacutengue seria um recurso apropriado para promover o reconhecimento de muitos

signos que fazem parte da Liacutengua Satereacute-Maweacute

Figura 11 Contato com o aluno surdo Satereacute-Maweacute na Escola Estadual Brandatildeo de Amorim

Fonte ndash Azevedo (2014)

O contato com os familiares juntamente com professores indiacutegenas e inteacuterprete

linguiacutestica possibilitou ter uma visatildeo sobre o contexto comunicativo do indiacutegena surdo A

conversa com o pai do indiacutegena surdo na Aldeia de Santa Maria indicou a forma como

conseguem se comunicar com o filho desde o momento que perceberam que ele era surdo

Explicaram as dificuldades que tiveram no processo de entendimento com ele Confirmaram

92

que o aprendizado da liacutengua Libras indicando os signos que representam a cultura da etnia

seria muito importante para a comunicaccedilatildeo entre ele e os familiares eou educadores

Figura 12 Em viagem para aacuterea indiacutegena no Rio Marau ndash comunicaccedilatildeo com familiares

Fonte - Azevedo (2014)

O projeto da pesquisa foi apresentado na comunidade de Santa Maria para os

representantes da comunidade indiacutegena (Figura 12)

Figura 13 Apresentaccedilatildeo do projeto de pesquisa agraves lideranccedilas indiacutegenas na comunidade

Fonte Azevedo (2014)

Ressalta-se a importacircncia das lideranccedilas conhecerem e participarem do desenvolvimento

do projeto A relevacircncia desta participaccedilatildeo daacute-se em funccedilatildeo de que as mesmas contribuiram

informando vocabulaacuterios caracteristicos da regiatildeo que enriqueceram o minidicionaacuterio

triliacutengue Satereacute-MaweacutePortuguecircsLibras como pode ser evidenciado a seguir

93

Vocabulaacuterios e utensiacutelios indiacutegenas sinalizados em Libras

Liacutenguas

Satereacute-Maweacute Portuguecircs Libras

Mory‟ywat siomory‟awat Arco

Satereacute-Maweacute Portuguecircs Libras

T wa Aldeia

Ressalta-se a importacircncia do minidicionaacuterio ao considerar que o vocabulaacuterio contido no

mesmo poderaacute ser utilizado pelo indiacutegena surdo para ele aprenda a comunicaccedilatildeo utilizando os

signos que fazem parte da linguagem da etnia

E realizando uma mini oficina de Libras para professores da comunidade (Figura 6)

foi possiacutevel demonstrar o uso da Libras no contexto da sala de aula A participaccedilatildeo efetiva dos

mesmos proporcionou a troca de informaccedilotildees sobre o vocabulaacuterio da liacutengua indiacutegena

94

Figura 14 Desenvolvimento de oficina de Libras com professores indiacutegenas

Fonte Azevedo (2014)

Enfatiza-se que todo empenho em levar o conhecimento da Liacutengua Brasileira de Sinais

para os indiacutegenas surdos professores indiacutegenas familiares de surdos e comunidade manteve-

se em funccedilatildeo do ensejo de fazecirc-los conhecer e compreender a capacidade e modos dos

indiacutegenas surdos se comunicarem aleacutem de promover a aprendizagem da Libras em um lugar

de tatildeo difiacutecil acesso com pequenas escolas que sequer tecircm materiais didaacuteticos adaptados a

essa clientela Por este motivo considera-se que a contribuiccedilatildeo linguiacutestica em forma de um

minidicionaacuterio eacute um passo importante para levar aos indiacutegenas surdos a sua comunidade e o

nuacutecleo familiar destes o iniacutecio do resgate da sua liacutengua natural que eacute a Liacutengua Brasileira de

Sinais e a sua liacutengua nativa aleacutem de seus traccedilos culturais incluiacutedos no minidicionaacuterio

61 Libras e Liacutengua Satereacute-Maweacute intercacircmbio de construccedilatildeo sociocultural-linguiacutestico

Analisando a histoacuteria do povo surdo e do povo indiacutegena percebe-se uma trajetoacuteria

similar nas lutas por seus direitos culturais e linguiacutesticos Ambos tentam

fortalecer o conhecimento da proacutepria histoacuteria com seus acertos desacertos conflitos

e sucessos buscando a compreensatildeo do ator social como sujeito da histoacuteria e

possibilitando assim a construccedilatildeo de um projeto poliacutetico articulado com outros

setores que incremente as possibilidades de construccedilatildeo dos proacuteprios projetos de

uma vida melhor (HERNAIZ 2009)

Neste sentido destaca-se que esses indiviacuteduos satildeo esquecidos na realidade cultural do

paiacutes como se natildeo existissem enquanto cidadatildeos que tem as suas formas de produzir no

contexto social Mudar esta realidade faz-se fundamental Para tal Guerreiro (2009 p93)

argumenta que

Os direitos culturais satildeo por sua vez um campo complexo que inclui vaacuterios

conjuntos de direitos e garantias entre os quais me interessa destacar para essa

reflexatildeo os seguintes o reconhecimento da diversidade o exerciacutecio da identidade

como povos o uso restrito do idioma uma educaccedilatildeo proacutepria e o respeito pelo

patrimocircnio cultural

95

Os processos culturais linguiacutesticos entre os povos surdos e indiacutegenas surdos eacute uma

possibilidade bem proacutexima atraveacutes do intercacircmbio sociocultural-linguiacutestico que estaacute sendo

construiacutedo pois o surdo indiacutegena faz parte da cultura surda e tem cacircmbio com a cultura

indiacutegena e em muitos casos com a cultura do povo ouvinte

Todavia alguns aspectos da cultura surda satildeo desconhecidos pelo proacuteprio surdo

indiacutegena Por isso a necessidade de surdos indiacutegenas se relacionarem com seus semelhantes

surdos seja indiacutegena ou natildeo indiacutegena para que atraveacutes deste contato possa construir sua

identidade cultural da comunidade surda tornando conhecida sua cultura tribal por meio da

liacutengua de instruccedilatildeo a Libras No exemplo abaixo ilustra-se a percepccedilatildeo dessa realidade

Man ype Crueira Libras

Kui‟a Cuia Libras

Dessa forma conhecendo valorizando e respeitando sua cultura que eacute um patrimocircnio

cultural da sociedade

Logo a liacutengua em uso pelos iacutendios surdos seja ela a Liacutengua de Sinais Indiacutegena

ldquosinais emergentesrdquo ou a Liacutengua Brasileira de Sinais (como empreacutestimo sociocultural-

linguiacutestico) e a Liacutengua Satereacute-Maweacute devem ser valorizadas com respeito muacutetuo na

transmissatildeo de sua cultura Os indiviacuteduos que precisam se comunicar por meio delas lutam

96

pelo fortalecimento dessa inserccedilatildeo cultural pela construccedilatildeo de um futuro melhor e pelo

respeito aos direitos dos iacutendios localizados neste vasto territoacuterio Nesse sentido

A identidade cultural requer tambeacutem ela a alteridade como dialogicidade

intercultural No seu proacuteprio interior ela natildeo eacute nunca algo de compacto mas

apresenta toda uma seacuterie de relaccedilotildees no plano sincrocircnico e diacrocircnico com outras

culturas que lhes datildeo vida justamente pela sua diversificaccedilatildeo e discordacircncia por

mais que ela se obstine em realizar-se mediante a identificaccedilatildeo com alguns de seus

aspectos apenas com algumas formas culturais determinadas que se arvoram

oficiais e dominantes (PONZIO 2007 p179)

Para estes estudos a uniatildeo de esforccedilos que viabilizou a realizaccedilatildeo deste diagnoacutestico eacute

uma demonstraccedilatildeo clara de que eacute perfeitamente possiacutevel trilhar no mundo linguiacutestico

possibilitando a cada indiacutegena novos horizontes na comunicaccedilatildeo

97

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A presente pesquisa teve como foco principal o levantamento de indiacutegenas surdos nas

microrregiotildees do municiacutepio de Parintins da etnia Satereacute-Maweacute

Com base nas informaccedilotildees levantadas nas terras indiacutegenas e nas cidades onde vivem

os Satereacute-Maweacute evidenciou-se que as escolas de zonas rurais e comunidades que o iacutendio

surdo requenta natildeo possui uma educaccedilatildeo diferenciada especiacutefica a sua especificidade

A realidade encontrada no municiacutepio de Parintins para com os alunos iacutendios surdos

por ser em zona urbana jaacute apresenta um diferencial A escola dispotildee de sala de recursos para

alunos indiacutegenas surdos poreacutem dentro dessa realidade haacute falta de professores que dominem a

liacutengua nativa Satereacute-Maweacute para que a escola proporcione um aprendizado triliacutengue Liacutengua

Brasileira de Sinais Liacutengua Satereacute-Maweacute e Liacutengua Portuguesa na modalidade escrita

Nas escolas visitadas onde encontramos surdos foi observado falta de mateacuterias

visuais sala de recursos com atendimentos diferenciados para os alunos indiacutegenas surdos e

indiacutegenas surdos

Foram considerados no decorrer do texto aspectos da contextualizaccedilatildeo em que se deu

a pesquisa desde as discussotildees que antecederam a elaboraccedilatildeo do projeto passando pelas

parcerias que foram estabelecidas no decorrer do processo especialmente com as vaacuterias

organizaccedilotildees indiacutegenas Satereacute-Maweacute ateacute o desenvolvimento das condiccedilotildees que garantiram a

plena participaccedilatildeo da comunidade no decorrer das atividades de pesquisa Partindo da

enumeraccedilatildeo dos principais objetivos do projeto o relatoacuterio apresenta as aacutereas e localidades

cobertas o nuacutemero de domiciacutelios levantados e de moradores entrevistados assim como a

metodologia utilizada a operacionalizaccedilatildeo das atividades de campo o treinamento dos

entrevistadores o levantamento nas cidades e nas terras indiacutegenas a forma e a intensidade

como se desenvolveu a participaccedilatildeo das lideranccedilas e da comunidade como um todo

Durante a pesquisa a sociedade indiacutegena e natildeo indiacutegena juntamente com profissionais

da educaccedilatildeo da linguiacutestica e a proacutepria comunidade surda acompanharam a perspectiva para

uma nova trajetoacuteria destes os iacutendios surdos a qual reflete o reconhecimento linguiacutestico destes

como pessoas pertencentes agraves minorias linguiacutesticas

Ao analisar as questotildees linguiacutesticas nas aacutereas indiacutegenas das microrregiotildees de Parintins

verificou-se que a implantaccedilatildeo deste empreendimento representou como um novo modelo de

desenvolvimento para a comunicaccedilatildeo de indiacutegenas surdos nas comunidades indiacutegenas

98

Ressalta-se que cada municiacutepio onde existem membros da etnia Satereacute receberaacute como

retorno da pesquisa um minidicionaacuterio triliacutengue (Liacutengua de Sinais Liacutengua Satereacute-Maweacute e

Liacutengua Portuguesa) para intercacircmbio sociocultural-linguiacutestico

Este material tem a intenccedilatildeo de abrir o caminho para a participaccedilatildeo direta dos iacutendios

na construccedilatildeo de seu futuro Ele caracteriza uma mudanccedila da forma de olhar para os povos

indiacutegenas Agora eacute preciso trabalhar para que todas as comunidades e etnias possam produzir

seus diagnoacutesticos Todas elas precisam dispor das informaccedilotildees com as quais poderatildeo dar uma

direccedilatildeo a suas accedilotildees Nesse sentido deve haver iniciativas por parte do poder local para que o

governo e as entidades aliadas agraves causas indiacutegenas possam aproveitar as experiecircncias dos

vaacuterios pesquisadores sobre as causas dos Satereacute-Maweacute para ampliar esse tipo de trabalho

Satildeo diagnoacutesticos como este que iratildeo dar o norte para novos projetos e programas que

favoreccedilam realmente garantir a autonomia dos povos indiacutegenas

Finzaliza-se com a satisfaccedilatildeo de que a pesquisa presente contribuiu com um pequeno

passo no incentivo da conservaccedilatildeo e crescimento da identidade cultural-linguiacutestica do iacutendio

surdo

99

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103

ANEXOS

104

ANEXO A- Normas estabelecidas no ingresso em terras indiacutegenas pela FUNAI

Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio

INSTRUCcedilAtildeO NORMATIVA No 01PRESI DE 29NOVEMBRO1995

PRESIDENTE DA FUNDACcedilAtildeO NACIONAL DO IacuteNDIO - FUNAI

no uso de suas atribuiccedilotildees que lhe satildeo conferidas pelo estatuto aprovado pelo decreto no

564

de 08 de junho de 1992 tendo em vista o que consta do processo FUNAI BsB no210592

R E S O L V E

Art 1o Aprovar as normas que disciplinam o ingresso em Terras Indiacutegenas com finalidade de

desenvolver Pesquisa Cientiacutefica conforme documento em anexo

Art 2o Esta Instruccedilatildeo Normativa entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Art 3o Revoga-se a Instruccedilatildeo Normativa no 001PRESI94 de 08 de abril

de 1994 como qualquer outro dispositivo em contraacuterio

MAacuteRCIO JOSEacute BRANDO SANTILLI

Presidente da FUNAI

ASSINADO NO ORIGINAL

Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio

ANEXO DA INSTRUCcedilAtildeO NORMATIVA No 001PRESI de 29 de novembro de 1995

Art 4o Todo e qualquer pesquisador nacional ou estrangeiro que pretenda ingressar em terras

indiacutegenas para desenvolver projeto de pesquisa cientiacutefica deveraacute encaminhar sua solicitaccedilatildeo

agrave Presidecircncia da FUNAI e no caso de requerimento coletivo deveraacute ser subscrito por um dos

membros do grupo como seu responsaacutevel Art 5o O pesquisador ou pesquisadores deveratildeo

anexar ao pedido do que trata o Art 1o a seguinte documentaccedilatildeo

I carta de apresentaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo a que o pesquisador estaacute vinculado e no caso de

estudantes de graduaccedilatildeo e poacutesgraduaccedilatildeo carta de apresentaccedilatildeo do orientador responsaacutevel

II projeto de pesquisa em portuguecircs detalhando a(s) terra(s) indiacutegenas na(s) qual(is)

pretende ingressar e cronograma

III curriculum vitae do(s) pesquisador(es) redigido em portuguecircs

IV coacutepia autenticada da Carteira de Identidade ou Passaporte quando se tratar de

nacionalidade estrangeira

V atestado individual de vacina contra moleacutestia endecircmica na

aacuterea

VI atestado meacutedico de natildeo portador de moleacutestia contagiosa

105

VII quando se tratar de pesquisador(es) de nacionalidade estrangeira exigir-se-aacute para a

efetivaccedilatildeo de seu ingresso na terra indiacutegena a obtenccedilatildeo de seu respectivo visto temporaacuterio

como prevecirc o artigo 22 do decreto no 86715 de 10 de dezembro de 1981 aleacutem do

cumprimento do disposto no decreto no 98830 de 15 de janeiro de 1990

Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio

Art 6o O pesquisador deveraacute encaminhar diretamente ao CONSELHO

NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO - CNPq o

projeto de pesquisa e curriculum

vitae

Art 7o A solicitaccedilatildeo do ingresso em terra indiacutegena por parte de pesquisadores nacionais ou

estrangeiros seraacute objeto de anaacutelise pela Coordenadoria-Geral de Estudos e Pesquisas - CGEP

uma vez instruiacutedo o processo com o parecer favoraacutevel do CNPq quanto ao meacuterito da pesquisa

proposta e apoacutes ouvidas as lideranccedilas indiacutegenas

Paraacutegrafo Uacutenico - A consulta agraves lideranccedilas indiacutegenas seraacute realizada pela FUNAI com a

presenccedila e participaccedilatildeo do pesquisador podendo este em caso de resposta positiva

permanecer na terra indiacutegena com autorizaccedilatildeo provisoacuteria ateacute a emissatildeo de uma definitiva

Art 8o No caso de negativa das lideranccedilas indiacutegenas quanto ao pleito do ingresso ou

quaisquer outros entraves levantados no decorrer da anaacutelise do processo ou em qualquer outra

etapa de desenvolvimento da pesquisa a CGEP encaminharaacute a questatildeo ao Conselho

Indigenista atraveacutes da presidecircncia do Oacutergatildeo

Art 9o Quando se tratar de pesquisa em espaccedilo territorial de ocupaccedilatildeo tradicional de iacutendios

isolados o pedido seraacute ainda objeto de exame e parecer preacutevio especiacutefico por parte do

Departamento de Iacutendios Isolados - DII FUNAI

Art 10 A presidecircncia da FUNAI poderaacute suspendera qualquer tempo as

autorizaccedilotildees concedidas de acordo com as presentes normas desde que

I seja solicitada a sua interrupccedilatildeo por parte da comunidade indiacutegena em questatildeo

II a pesquisa em desenvolvimento venha a gerar conflitos dentro da terra indiacutegena

III a ocorrecircncia de situaccedilotildees epidecircmicas agudas ou conflitos graves envolvendo iacutendios e natildeo-

iacutendios

Paraacutegrafo Uacutenico - Fica automaticamente prorrogada a autorizaccedilatildeo pelo prazo que a terra

indiacutegena objeto do projeto estiver interditada pelos motivos apontados no Art 10 inciso III

Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio

MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA

Art 11 Todos os pesquisadores estrangeiros ou nacionais que tiverem autorizaccedilotildees

concedidas para ingresso em terras indiacutegenas obrigar-se-atildeo a

I cumprir todos os preceitos legais vigentes notadamente os previstos na Lei no 6001 de

1o1273

II remeter agrave FUNAI relatoacuterio dos Trabalhos de campo em portuguecircs ateacute 6 (seis) meses apoacutes

o teacutermino da pesquisa onde poderatildeo constar sugestotildees praacuteticas que possam trazer benefiacutecios

para as comunidades indiacutegenas que poderatildeo ser consideradas pela FUNAI nas definiccedilotildees de

sua poliacutetica

III remeter agrave FUNAI 2 (dois) exemplares de publicaccedilotildees artigos teses e outras produccedilotildees

intelectuais oriundas das referidas pesquisas

Art 12 Nos casos de solicitaccedilatildeo de prorrogaccedilatildeo do prazo para continuidade do projeto de

pesquisa cientiacutefica na mesma terra indiacutegena caberaacute a Coordenaccedilatildeo Geral de Estudos e

Pesquisas - CGEP os seguintes procedimentos

I notificar junto ao setor competente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e

Tecnoloacutegico - CNPq a solicitaccedilatildeo

II consultar as lideranccedilas quanto ao retorno do pesquisador na terra indiacutegena

106

III observar o cumprimento do Art 8o por parte do pesquisador interessado do Iacutendio

Art 6o O pesquisador deveraacute encaminhar diretamente ao CONSELHO NACIONAL DE

DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO - CNPq o projeto de pesquisa e

curriculum vitae

Art 7o A solicitaccedilatildeo do ingresso em terra indiacutegena por parte de pesquisadores nacionais ou

estrangeiros seraacute objeto de anaacutelise pela Coordenadoria-Geral de Estudos e Pesquisas - CGEP

uma vez instruiacutedo o processo com o parecer favoraacutevel do CNPq quanto ao meacuterito da pesquisa

proposta e apoacutes ouvidas as lideranccedilas indiacutegenas

Paraacutegrafo Uacutenico - A consulta agraves lideranccedilas indiacutegenas seraacute realizada pela FUNAI com a

presenccedila e participaccedilatildeo do pesquisador podendo este em caso de resposta positiva

permanecer na terra indiacutegena com autorizaccedilatildeo provisoacuteria ateacute a emissatildeo de uma definitiva

Art 8o No caso de negativa das lideranccedilas indiacutegenas quanto ao pleito do ingresso ou

quaisquer outros entraves levantados no decorrer da anaacutelise do processo ou em qualquer outra

etapa de desenvolvimento da pesquisa a CGEP encaminharaacute a questatildeo ao Conselho

Indigenista atraveacutes da presidecircncia do Oacutergatildeo

Art 9o Quando se tratar de pesquisa em espaccedilo territorial de ocupaccedilatildeo tradicional de iacutendios

isolados o pedido seraacute ainda objeto de exame e parecer preacutevio especiacutefico por parte do

Departamento de Iacutendios Isolados - DII FUNAI Art 10 A presidecircncia da FUNAI poderaacute

suspendera qualquer tempo as autorizaccedilotildees concedidas de acordo com as presentes normas

desde que

I seja solicitada a sua interrupccedilatildeo por parte da comunidade indiacutegena em questatildeo

II a pesquisa em desenvolvimento venha a gerar conflitos dentro da terra indiacutegena

III a ocorrecircncia de situaccedilotildees epidecircmicas agudas ou conflitos graves envolvendo iacutendios e natildeo-

iacutendios

Paraacutegrafo Uacutenico - Fica automaticamente prorrogada a autorizaccedilatildeo pelo prazo que a terra

indiacutegena objeto do projeto estiver interditada pelos motivos apontados no Art 10 inciso III

Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA

Art 11 Todos os pesquisadores estrangeiros ou nacionais que tiverem autorizaccedilotildees

concedidas para ingresso em terras indiacutegenas obrigar-se-atildeo a

I cumprir todos os preceitos legais vigentes notadamente osprevistos na Lei no 6001 de

1o1273

II remeter agrave FUNAI relatoacuterio dos Trabalhos de campo em portuguecircs ateacute 6 (seis) meses apoacutes

o teacutermino da pesquisa onde poderatildeo constar sugestotildees praacuteticas que possam trazer benefiacutecios

para as comunidades indiacutegenas que poderatildeo ser consideradas pela FUNAI nas definiccedilotildees de

sua poliacutetica

III remeter agrave FUNAI 2 (dois) exemplares de publicaccedilotildees artigos teses e outras produccedilotildees

intelectuais oriundas das referidas pesquisas

Art 12 Nos casos de solicitaccedilatildeo de prorrogaccedilatildeo do prazo para continuidade do projeto de

pesquisa cientiacutefica na mesma terra indiacutegena caberaacute a Coordenaccedilatildeo Geral de Estudos e

Pesquisas - CGEP os seguintes procedimentos

I notificar junto ao setor competente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e

Tecnoloacutegico - CNPq a solicitaccedilatildeo

II consultar as lideranccedilas quanto ao retorno do pesquisador na terra indiacutegena

III observar o cumprimento do Art 8o por parte do pesquisador interessado

107

ANEXO B ndash Questionaacuterio para coleta de dados com professores de comunidades indiacutegenas

QUESTIONAacuteRIO

Nome Prof(a)Nordm Cel

Nome da escola

Tribo Etnia

Quantos alunos surdos iacutendio Serie Idade

Nasceu cognitiva ou adquirida

1 ndash Como eacute a forma de comunicaccedilatildeo entre o professor e o iacutendio surdo

( ) Escrita

( ) Oralizado

( ) Libras

( ) Satereacute Maweacute

2 ndash Qual liacutengua o surdo iacutendio tem mais facilidade de aprender

( ) Portuguecircs

( ) Satereacute Maweacute

( ) libras

3 ndash Qual eacute a metodologia de ensino

4 ndash Como o aluno surdo indiacutegena aprende na sala de aula Tem dificuldade ou facilidade

5 ndash Como e que liacutengua o aluno surdo se comunica com outro surdo se tiver e os demais alunos

ouvintes na sala aula

108

6 ndash Vocecirc jaacute observou a comunicaccedilatildeo entre o aluno surdo iacutendio com a famiacutelia Qual liacutengua

7 ndash Como o aluno surdo iacutendio se comunica com as pessoas da comunidade

8 ndash Qual eacute a reaccedilatildeo das pessoas ouvintes quanto o iacutendio surdo na comunidade

9 ndash Professor(a) qual sua opiniatildeo para melhoria de ensino da educaccedilatildeo de iacutendios surdos

10 ndash Qual eacute a importacircncia da liacutengua indiacutegena Satereacute Maweacute para o aluno surdo

11 ndash Fale sobre a cultura e historia dos Satereacute Maweacute o iacutendio surdo participa

109

ANEXO C ndash Autorizaccedilatildeo para pesquisa de campo em terras indiacutegenas

110

ANEXO C-1 ndash Autorizaccedilatildeo para pequisa de campo com uso de imagem permitido

111

ANEXO C-2 ndash Autorizaccedilatildeo para pequisa de campo com uso de imagem permitido

112

ANEXO D ndash Parecere pedagoacutegico da Aluna Indiacutegena Surda

(ESCOLA PADRE PAULOMANNA)

ESCOLA DE AacuteUDIO COMUNICACcedilAtildeO

Pe PAULO MANNA Mantida pela Diocese de Parintins CNPJ 045945370001-88 Av Naccedilotildees Unidas 1792 FoneFax (092) 3533-3456 69151-060 ndash PARINTINS-AMAZONAS-BRASIL

Parecer Pedagoacutegico

Helena Ferreira Arauacutejo 06 anos de idade aluna da Escola Pe Paulo Manna desde

marccedilo de 2013 mora na rua 4 nordm 298 no bairro da Uniatildeo

Segundo relatos da matildee a aluna nasceu de parto normal comeccedilou a andar aos trecircs

anos de idade e eacute descendente dos iacutendios Satereacute- Maueacute Os anos passaram e ela comeccedilou a

perceber que sua filha natildeo ouvia e nem falava pois jaacute tinha outros filhos e estes comeccedilaram a

falar e andar cedo Informou-nos que para se comunicar com ela fazia gestos ateacute ela entender

o que se tornava muito difiacutecil

Disse-nos que falaram para ela do trabalho desenvolvido na Escola Paulo Manna com

alunos surdos e resolveu procurar a escola pois o tempo estava passando e a menina natildeo

falava e ela natildeo sabia mais o que fazer para reverter a situaccedilatildeo e a sua filha ser como os outros

irmatildeos

Atualmente estuda numa turma de Preacute ndash Escolar (2ordm periacuteodo) eacute uma aluna surda No

ano passado quando chegou agrave escola nos primeiros dias chorava muito e ficava zangada se

escondia embaixo da mesa para que ningueacutem a incomodasse visto que natildeo estava adaptada

ao ambiente e aos poucos foi se adaptando e passou a conviver com os colegas ouvintes em

sala de aula

A aluna gosta de fazer suas atividades escolares tem boa coordenaccedilatildeo motorainterage

com os colegas reconhece cores e formas gosta de desenhar e daacute formas aos seus desenhos realiza atividades de leitura de imagem montagem com jogos de encaixe participa de

brincadeiras na quadra parque e brinquedoteca

Em alguns momentos quando quer alguma coisa do colega e este natildeo lhe daacute fica com

raiva chora e se isola Em outros momentos penso que por natildeo saber se comunicar com os

colegas fica um pouco retraiacuteda e torna-se um a receptora diferenciada que requer cuidados

no tocante agrave comunicaccedilatildeo principalmente de como chegar ateacute ela

Procuramos adaptar brincadeiras para envolver a aluna trazendo-a de volta para

participar das atividades e conversar com ela que nem tudo o que a gente quer podemos ter e

fazemos alguma brincadeira que ela goste e rapidinho ela volta a participar e se integrar ao

grupo

Sabemos que eacute difiacutecil para ela o processo ensino aprendizagem porque ela tem que ter

uma aprendizagem triliacutengue visto que tem que aprender a Liacutengua Indiacutegena+ Libras + Liacutengua

Portuguesa e jaacute eacute difiacutecil aprender duas mas natildeo impossiacutevel

113

Neste ano de 2014 contamos com a ajuda da professora Caacutetia (surda) com aulas de

Libras No primeiro momento fica junto com os colegas ouvintes onde procuramos trabalhar

de forma biliacutengue (Portuguecircs + Libras) para que ela entenda o que estaacute sendo repassado em

sala de aula E o que se percebe eacute que a aluna nos daacute respostas precisas dentro dos objetivos

propostos Em outro momento a professora Caacutetia ensina agrave aluna os sinais em LIBRAS que eacute

a liacutengua oficial da pessoa surda trabalhando o concreto com ela ensinando-a com jogos

cartazes reaacutelias viacutedeos transformando tais atividades em aulas dinacircmicas e prazerosas

Dentro dessa realidade a aluna vai participando buscando se inserir nesse universo

cheio de duacutevidas e incertezas e noacutes professores procuramos fazer o melhor para que a aluna

se sinta bem no ambiente escolar visto que o processo ensino aprendizagem para uma crianccedila

de outra etnia natildeo eacute faacutecil pois segundo depoimentos de alguns indiacutegenas a aprendizagem

indiacutegena passa pela demonstraccedilatildeo observaccedilatildeo imitaccedilatildeo tentativa e erro e quando o aluno

vem para a escola tem que se socializar obedecer a comandos regidos pelo sistema e isso

muitas vezes o deixa confuso e os maiores ateacute desistem

Dessa forma satildeo necessaacuterias estrateacutegias de ensino diferenciadas que deem suporte para

que a aluna seja trabalhada de forma triliacutengue no contexto escolar para que ela natildeo perca a

sua essecircncia a sua cultura que sejam adaptados trabalhos de acordo com a realidade

indiacutegena para que ela natildeo perca a sua identidade e saiba conduzir sua aprendizagem dentro de

um contexto diferenciado podendo aprender o que lhe eacute de direito bem como viver bem em

sociedade

Parintins 14 de abril de 2014

Catalogaccedilatildeo na fonte Elaboraccedilatildeo Ana Castelo CRB11ordf -314

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS ndash wwwueaedubr

Av Leonardo Malcher 1728 ndash Ed Professor Samuel Benchimol

Pccedila XIV de Janeiro CEP 69010-170 Manaus - Am

A994M Azevedo Marlon Jorge Silva de

Mapeamento e contribuiccedilotildees linguiacutesticas do professor surdo aos iacutendios surdos da etnia Satereacute-Maweacute na microrregiatildeo de Parintins Marlon Jorge Silva de Azevedo ndash Manaus UEA 2015

115fls il 30cm

Dissertaccedilatildeo de Mestrado e Produto apresentada ao Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo em Letras e Artes da Universidade do Estado do Amazonas como requisito para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em Letras e Artes

Produto Minidicionaacuterio Triliacutengue indiacutegena Saterecirc-Maweacute em Libras e Liacutengua Portuguesa

Orientador Prof Dr Valteir Martins

1Linguiacutestica 2Liacutengua de Sinais 3 Satereacute-Maweacute 4 Dicionaacuterio I Orientador Prof Dr Valteir Martins IITiacutetulo

CDU 81rsquo3744

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM LETRAS ARTES

MESTRADO PROFISSIONAL EM LETRAS ARTES

DEDICATOacuteRIA

Aos meus familiares em especial a minha matildee Idalina

Azevedo que desde o ventre proporcionou-me seu amor com

dedicaccedilatildeo e todas suas forccedilas ao meu lado em momentos tatildeo

difiacuteceis nunca deixando de acreditar no poder de Deus sobre

minha vida

A minha amada esposa Rosana Valeacuteria mulher saacutebia

e auxiliadora de todos os momentos do meu viver

Aos meus filhos Caroline Camila e Benjamim Jorge

pelo amor que sempre me deram pela compreensatildeo de

minhas ausecircncias durante a trajetoacuteria de minha pesquisa

AGRADECIMENTOS

A Deus em primeiro lugar que planejou a minha vida quando eu ainda nem existia e

me libertou no momento que recorri a Ele E me fez acreditar que o impossiacutevel soacute existe

quando natildeo temos feacute

Agrave Coordenadora do Mestrado em Letras e Artes da Universidade do Estado do

Amazonas ndash UEA Professora Dra Juciane Cavalheiros pelo excelente trabalho que

desenvolve nesta instituiccedilatildeo contribuindo para a formaccedilatildeo de novos profissionais na

educaccedilatildeo do nosso paiacutes

Ao meu orientador Dr Valteir Martins Professor do Mestrado em Letras e Artes

com sua saacutebia experiecircncia de ensino acreditou que atraveacutes deste trabalho pudeacutessemos levar

contribuiccedilotildees linguiacutesticas no que tange agrave Liacutengua de Sinais dos indiacutegenas surdos Satereacute-

Maweacute habitantes da microrregiatildeo de Parintins

Aos meus professores do Mestrado em Letras e Artes Dra Silvana Martins Dr

Mauricio Mattos Dr Maacutercio e Dra Luciana Paacutescoa Dra Gleidys Maia Dr Camilo Ramos

pelas preciosas contribuiccedilotildees agrave minha pesquisa

Aos professores indiacutegenas Jacob de Souza Jocimar Alencar e Josiel Santos por me

introduzir nas comunidades indiacutegenas Satereacute-Maweacute pelas contribuiccedilotildees na traduccedilatildeo das

palavras da liacutengua portuguesa para a liacutengua Satereacute-Maweacute

Aos meus colegas do mestrado em Letras e Artes pelo companheirismo e dedicaccedilatildeo

no dia a dia

Agrave professora Elizandra de Lima Silva Bastos pela ajuda nas correccedilotildees textuais da

Liacutengua Portuguesa

Agraves instituiccedilotildees especiacuteficas que de alguma forma contribuiacuteram para concretizar esta

pesquisa

MANAUS

Escola Estadual Augusto Carneiro dos Santos

Centro de Atendimento ao surdo ndash CAS

A Igreja Tabernaacuteculo Batista Pastor Paulo Hatcher

PARINTINS

Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio ndash FUNAI

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE

Coordenadora Regional de Educaccedilatildeo de Parintins - CREP

Universidade Estadual do Amazonas ndash CESP

Casa da Sauacutede Indiacutegena

Casa do Iacutendio de Parintins

Escola Aacuteudio Comunicaccedilatildeo Pe Paulo Manna

Diocese de Parintins Pe Henrique Uggeacute

Escola Estadual Brandatildeo de Amorim

Escola Estadual Joatildeo Bosco Ramos de Lima

MAUEacuteS

Secretaria de Estado de Educaccedilatildeo

Secretaria de Educaccedilatildeo Municipal

Casa do estudante indiacutegena Sr Jusivan

Tuxaua da Comunidade de Santa Maria Sr Helito Barbosa

Sr Maxiliano Batista Barros

BARREIRINHA

Secretaria de Educaccedilatildeo Municipal - SEMED

Secretaria de Estado de Educaccedilatildeo

Coordenaccedilatildeo Municipal de Educaccedilatildeo Indiacutegena Sr Santino Lopes

Coordenador da Escola Profa Rosa Cabral Sr Dulcemar F dos Santos

Professora Indiacutegena Satereacute-Maweacute Maria Inez

NHAMUNDAacute

Casa de Sauacutede Indiacutegena - DSEI

Secretaria de Estadual de Educaccedilatildeo

BOA VISTA DO RAMOS

Secretaria de Estado e Educaccedilatildeo

Escola Estadual Princesa Izabel

Comunidade Satereacute-Maweacute

Professora Erly Tereza R Goacutees

URUCARAacute

Poacutelo Base de Urucaraacute ndash DSEI

Distrito Sanitaacuterio Especial Indiacutegena

Lider Indiacutegena Etnia Hexkaryana Caiacutenatilde Mohso

SraMaacuterlucia Kutasa

Enfermeiro SrJonas Pontes

SraDalva H Farias Cantalixto de Melo

SrLuiz Cantalixto de Melo

SAtildeO SEBASTIAtildeO DO UATUMAtilde

Poacutelo Base de Urucaraacute ndash DSEI

Lider Indiacutegena Etnia Hexkaryana Caiacutenatilde Mohso

EPIacuteGRAFE

Matildeos

corpo em movimento

captar e entender

Teu querer teu dizer

Sorrisos laacutegrimas

sentimentos e emoccedilotildees

Libras eacute amor eacute paixatildeo eacute liacutengua

(Marlon Jorge)

RESUMO

Esta pesquisa apresenta o resultado do mapeamento de iacutendios surdos nas comunidades

indiacutegenas Satereacute-Maweacute na microrregiatildeo de Parintins Partindo do levantamento buscou-se

identificar de que forma os iacutendios surdos estabeleciam a comunicaccedilatildeo com seus pares na sua

comunidade Para isso foi utilizado o procedimento metodoloacutegico por meio de entrevistas

abertas com as lideranccedilas indiacutegenas os familiares os professores e gestores escolares e

outros membros das comunidades assim como do proacuteprio iacutendio surdo O processo de anaacutelise

estabelecido para este estudo consistiu no enfoque de natureza linguiacutestica do leacutexico

(vocabulaacuterio) o qual foi registrado por meio de viacutedeos fotos e gravaccedilotildees A partir dos dados

iniciou-se a elaboraccedilatildeo de um minidicionaacuterio triliacutengue nas liacutenguas Satereacute-Maweacuteliacutengua de

sinais portuguecircs escrito a fim de facilitar a comunicaccedilatildeo principalmente no contexto da

comunidade educacional escolar entre os professores e os alunos iacutendios surdos Esta

contribuiccedilatildeo linguiacutestica portanto possibilitou uma nova percepccedilatildeo no processo histoacuterico da

diversidade linguiacutestica para valorizar e respeitar natildeo soacute uma liacutengua a liacutengua oficial do paiacutes

(Portuguecircs) mas tambeacutem a liacutengua natural do povo surdo (Libras) e a liacutengua indiacutegena do povo

Satereacute-Maweacute

Palavras chaves

1Linguiacutestica 2Liacutengua de sinais 3Satereacute-Maweacute 4 Dicionaacuterio

ABSTRACT

This research presents the results of the mapping deaf Indians in indigenous

communities Satereacute-Maweacute in the region of Parintins Starting from the survey we sought to

identify how the deaf Indians established communication with peers in their community For

this methodological procedure through open interviews with indigenous leaders family

members teachers and school administrators and other community members were used as

well as the Indian himself deaf The review process established for this study consisted of

focus linguistic lexicon (vocabulary) which was recorded through videos photos and

recordings From the data we initiated the development of a trilingual Mini Dictionary in

languages Satereacute-Maweacute sign language written Portuguese in order to facilitate

communication especially in the context of school learning community among teachers and

students deaf Indians This linguistic contribution therefore provided a new insight in the

historical process of linguistic diversity to value and respect not only one language the

official language (Portuguese) but also the natural language of deaf people (Libras) and the

indigenous language the people Satereacute-Maweacute

Key Words 1Linguiacutestica 2Liacutengua signal 3Satereacute-Maweacute 4Dictionary

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 13

1 CONSIDERACcedilOtildeES DOS ESTUDOS LINGUIacuteSTICOS DA LIacuteNGUA

BRASILEIRA DE SINAIS

17

11 Liacutengua de Sinais como Liacutengua Natural 20

12 Liacutengua Brasileira de Sinais 22

13 Liacutenguas de Sinais Indiacutegenas pesquisadas no Brasil 26

131 Liacutengua de Sinais Urubu-Kaapor 28

132 Liacutengua de Sinais Emergentes 29

1321 Realidade do Contexto educacional escolar do indiacutegena surdo 31

2 HISTOacuteRIA DO POVO INDIacuteGENA SATEREacute-MAWEacute CULTURA E

LIacuteNGUA

34

21 Breve Relato Histoacuterico 35

22 Classificaccedilatildeo da Liacutengua Satereacute-Maweacute 36

221 Contexto educacional escolar entre os Satereacute-Maweacute 38

3 METODOLOGIA IMPLEMENTADA NA PESQUISA 42

31 Aacuterea e localidade da pesquisa 42

32 Estrateacutegias gerais para a realizaccedilatildeo da coleta de dados 43

33 Procedimentos da coleta de dados 43

34 Articulaccedilatildeo local 44

35 Abordagem ao objeto da pesquisa 44

4 MAPEAMENTO DOS INDIOS SURDOS DA COMUNIDADE SATEREacute-

-MAWEacute NAS MICRORREGIOtildeES DE PARINTINS E SUA REALIDADE

EDUCACIONAL ESCOLAR

45

41 Mapeamento da existecircncia dos iacutendios surdos na microrregiatildeo de Parintins 46

411 Histoacuterico de Parintins 46

412 Histoacuterico de Barreirinha 52

413 Histoacuterico de Maueacutes 53

414 Histoacuterico de Boa Vista do Ramos 55

415 Histoacuterico de Nhamundaacute 56

42 Realidade linguiacutestica e educacional dos iacutendios surdos encontrados na etnia

Satereacute-Maweacute

59

43 Inventaacuterio de gestos da linguagem caseira dos surdos Satereacute-Maweacute 66

431 Os sinais caseiros dos indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute 66

432 Municiacutepio de Parintins 66

4321 O primeiro surdo 67

4322 O segundo surdo 67

4323 O terceiro surdo 68

44 O indiacutegena surdo da comunidade de Ponta Alegre do Municiacutepio de Barreirinha 70

45 Os indiacutegenas surdos do Municiacutepio de Maueacutes 73

451 O primeiro surdo da Comunidade de Santa Maria 75

452 O segundo surdo da Comunidade de Santa Maria 79

5 ICONICIDADE E ARBITRARIEDADE NA CRIACcedilAtildeO DOS SINAIS

CASEIROS

83

6 INTERVENCcedilAtildeO E CONTRIBUICcedilAtildeO LINGUIacuteSTICA DO PROFESSOR

SURDO

90

61 Libras e Liacutengua Satereacute-Maweacute intercacircmbio de construccedilatildeo sociocultural-

linguiacutestico

94

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 97

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 99

ANEXOS

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 Croqui da aacuterea e localidade da pesquisa

FIGURA 2 Sinais caseiros utilizado pela crianccedila de 5 anos

FIGURA 3 Sinais caseiros utilizados pelo aluno da comunidade de Ponta Alegre

Barreirinha

FIGURA 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa

Maria (30 sinais coletados)

FIGURA 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo idoso na comunidade de Santa Maria

FIGURA 6 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos que se refere agrave

arbitrariedade

FIGURA 7 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos aos quais se referem a

iconicidade

FIGURA 8 Caracteriacutesticas da imagem em Liacutengua de Sinais Satereacute-Maweacute dos objetos

aos quais se referem agrave iconicidade

FIGURA 9 Encontro da crianccedila surda Satereacute-Maweacute com o professor surdo

FIGURA 10 Contato com aluno Satereacute-Maweacute surdo no ambiente escolar

FIGURA 11 Contato com o aluno surdo Satereacute-Maweacute na Escola Estadual Brandatildeo de

Amorim

FIGURA 12 Em viagem para aacuterea indiacutegena no Rio Marau

FIGURA 13 Apresentaccedilatildeo do projeto de pesquisa agraves lideranccedilas indiacutegenas na

comunidade

FIGURA 14 Desenvolvimento de oficina de Libras com professores indiacutegenas

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Mapeamento da existecircncia de iacutendios surdos nas respectivas comunidades

indiacutegenas ou zona urbana da microrregiatildeo de Parintins

Tabela 2 11 Sinais caseiros utilizados pela crianccedila indiacutegena surda de 5 anos e seus

familiares

Tabela 3 13 Sinais caseiros coletados e utilizados pelo aluno da comunidade de

Ponta Alegre

Tabela 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa

Maria

Tabela 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais antigo residente isolado na

comunidade de Santa Maria no Rio Marau ( 18 sinais coletados)

56

66

69

73

77

13

INTRODUCcedilAtildeO

Todo cidadatildeo tem o direito de participar na vida poliacutetica social e econocircmica de um

paiacutes Neste contexto inclui-se o cidadatildeo surdo Infelizmente a histoacuteria relata que no passado

os sujeitos surdos1 eram colocados agraves margens da sociedade em todos seus aspectos social

poliacutetico econocircmico cultural linguiacutestico e educacional

Entretanto ao longo da histoacuteria os surdos com a participaccedilatildeo de ouvintes na luta

incessante pelos seus direitos muitas conquistas foram alcanccediladas Entre estas estaacute o direito

de ter sua proacutepria liacutengua a Liacutengua Brasileira de Sinais-LIBRAS A Lei nordm 10436 de 2002 a

qual a reconhece como sistema linguiacutestico de natureza visual-motora com estrutura

gramatical proacutepria constituindo-se um sistema linguiacutestico de transmissatildeo de ideias e fatos

oriundos da comunidade de pessoas surdas do Brasil Conforme Saacute (2006) no Brasil as

comunidades urbanas usam a ldquoliacutengua de sinais brasileirardquo ou simplesmente ldquoliacutengua de sinaisrdquo

Vale ressaltar que a Liacutengua de Sinais segundo Strobel (2008) eacute um aspecto

fundamental da cultura surda2 parte do artefato cultural linguiacutestico

3 do povo surdo e constitui

1 Na aacuterea de pesquisa vinculada a perspectiva socioantropoloacutegica existe uma clara diferenciaccedilatildeo entre a opccedilatildeo

de escrever surdo com letra minuacutescula ou maiuacutescula conforme explica Andreis-Witkoski (2011) ldquoapesar de

nas uacuteltimas deacutecadas ter sido estabelecido uma distinccedilatildeo entre a expressatildeo ldquoSurdordquo com letra maiuacutescula para

identificar uma categoria cultural e ldquosurdordquo com minuacutescula em referecircncia a deficiecircncia auditiva nesta Tese natildeo

se utiliza este tipo de marcaccedilatildeo Compartilha-se da concepccedilatildeo exposta por Owen Wrigley (1996 p53) quando

adverte que esta diferenciaccedilatildeo constitui-se em ldquoum dualismo riacutegido-bom Surdo mau surdo ndash que pouco faz para

ajudar os indiviacuteduos em suas vidas diaacuterias [sem] ajudar a clarear um alcance maior de estrateacutegias colocadas pelos

indiviacuteduos lidando com a exclusatildeo e as muitas faces da opressatildeo em suas rotinas Em termos simples a

dicotomia de bdquoSs‟ estaacute tatildeo cruelmente composta que embora inicialmente seja uacutetil ela agora serve para silenciar

o alcance total das experiecircncias dos sSurdosrdquo (2011 p13) Logo opta-se nesta dissertaccedilatildeo o uso da expressatildeo

ldquosurdordquo (minuacutescula) que refere-se aos ldquosurdordquo enquanto pessoas que pela impossibilidades formam uma

minoria diferente com caracteriacutesticas linguiacutesticas cognitivas culturais e comunitaacuterias especiacuteficas (SAacute 2006

p107) 2 Cultura Surda ldquoeacute o jeito de o surdo entender o mundo e de modificaacute-lo a fim de se tornaacute-lo acessiacutevel e habitaacutevel

ajustando-os com as suas percepccedilotildees visuais que contribuem para a definiccedilatildeo das identidades surdas e das

ldquoalmasrdquo das comunidades surdas Isto significa que abrange a liacutengua as ideacuteias as crenccedilas os costumes e os

haacutebitos de povordquo (STROBEL2008 p 24) 3Conforme Strobel (2008 p37) o que seriam artefatos culturais linguiacutesticos Ao referirmos ldquoartefatordquo

pensamos habitualmente no significado de objetos ou materiais produzidos pelos grupos culturais Realmente de

fato eacute uma forma material de expressar uma determinada cultura poreacutem tambeacutem podem incluir ldquotudo o que se

vecirc e senterdquo quando se estaacute em contato com a cultura de uma comunidade a exemplo vestuaacuterios tradiccedilotildees

crenccedilas valores e normas etc Ou seja no campo dos Estudos Culturais o conceito de ldquoartefatosrdquo natildeo se referem

apenas a materialismo culturais como tambeacutem naquilo que na cultura constitui produccedilotildees do sujeito que tem seu

proacuteprio modo de ser ver entender e transformar o mundo Logo um dos artefatos culturais que ilustram a

cultura do povo surdo eacute o linguiacutestico a liacutengua de sinais que eacute um aspecto fundamental da cultura surda sendo

uma das principais marcas da identidade surda

14

uma das principais marcas da identidade do ser surdo Incluem-se tambeacutem os ldquosinais

emergentesrdquo ou ldquosinais caseirosrdquo dos sujeitos surdos isolados de comunidades surdas no caso

dos surdos das zonas rurais e dos surdos iacutendios Estes surdos embora natildeo pertenccedilam agraves

mesmas comunidades se identificam com o povo surdo4 pois compartilham as mesmas

peculiaridades constroem sua formaccedilatildeo de mundo por meio de artefato cultural visual5

independentemente do grau linguiacutestico que possuem os quais podem ser os gestos caseiros

denominados tambeacutem como sinais emergentes Nesta perspectiva teoacuterica soacutecioantropoloacutegica

enfoca-se como o objeto da pesquisa o sujeito surdo indiacutegena ou seja o iacutendio surdo

Antes de prosseguir com a abordagem mencionada faz-se necessaacuterio destacar que

assim como o povo surdo o povo indiacutegena tambeacutem traccedilou diversas lutas na trajetoacuteria para

reconhecimento dos seus direitos O reconhecimento dos direitos dos povos indiacutegenas no

mundo contemporacircneo avanccedilou muito em relaccedilatildeo haacute algumas deacutecadas passadas De acordo

com Lucinda (apud Saacute 2006) em consenso geral nos debates da Comissatildeo Educaccedilatildeo

Cultura e Desporto que antecedem a elaboraccedilatildeo do texto da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica

Federativa do Brasil de 1988 tanto a liacutengua de sinais como as liacutenguas indiacutegenas deveriam ser

consideradas no texto da Constituiccedilatildeo como liacutenguas maternas Assim como resultado o

Referencial Curricular Nacional para Escolas Indiacutegenas (1998 p31) declara que ldquoA

Constituiccedilatildeo Federal aleacutem de perceber o iacutendio como pessoa com direitos e deveres como

qualquer outro cidadatildeo brasileiro o reconhece como membro de uma comunidade e de um

grupo isto eacute como membro de uma coletividade que eacute titular de direitos coletivos e

especiaisrdquo Ou seja reconhece para os iacutendios o direito agrave praacutetica de suas formas culturais

proacuteprias E no tiacutetulo VIII ldquoDa Ordem Socialrdquo conteacutem um capiacutetulo denominado ldquoDos Iacutendiosrdquo

onde se diz que ldquosatildeo reconhecidos aos iacutendios a sua organizaccedilatildeo social costumes liacutenguas

crenccedilas e tradiccedilotildees []rdquo (ibid p31)

Em meio a essa diversidade linguiacutestica que caracteriza o Brasil como sendo um paiacutes

pluriliacutengue estatildeo situados os ldquosurdos brasileirosrdquo que tecircm sua proacutepria liacutengua reconhecida

oficialmente a Liacutengua de Sinais Logo existem tambeacutem ldquoiacutendios surdosrdquo da etnia Satereacute-

4Quando referimos ldquopovo surdordquo estamos falando ldquode sujeitos surdos que natildeo habitam no mesmo local mas

que estatildeo ligados por uma origem por um coacutedigo de eacutetico de formaccedilatildeo visual independente do grau de evoluccedilatildeo

linguiacutestica tais como a liacutengua de sinais a cultura surda e quaisquer outros laccedilosrdquo (ibid p30) 5Perlin e Miranda (2003) complementam ldquoExperiecircncia visual significa a utilizaccedilatildeo visual em (substituiccedilatildeo total

agrave audiccedilatildeo) como meio de comunicaccedilatildeo Desta experiecircncia visual surge a cultura surda representada pela liacutengua

de sinais pelo modo diferente de ser de se expressar de conhecer o mundo de entrar nas artes no

conhecimento cientiacutefico e acadecircmicordquo (apud STROBEL 2008 p39)

15

Maweacute Qual sua forma de se comunicar Existe uma ldquoLiacutengua de Sinaisrdquo especifica do iacutendio

surdo

Diante das questotildees levantadas surgiu entatildeo agrave necessidade de realizar uma pesquisa

no campo da linguiacutestica na perspectiva dos estudos surdos6 voltado especificamente para o

iacutendio surdo da etnia Satereacute-Maweacute Foram traccedilados os seguintes objetivos i) mapear os iacutendios

surdos na microrregiatildeo de Parintins ii) identificar de que forma o iacutendio surdo estabelece a

comunicaccedilatildeo com sua comunidade especificamente no acircmbito educacional ou se utilizam

liacutenguas de sinais da comunidade local iii) registrar a forma de comunicaccedilatildeo no dia a dia do

iacutendio surdo nas comunidades indiacutegenas a partir dos estudos linguiacutesticos da Liacutengua de Sinais

dos grupos existentes e sua relaccedilatildeo com a comunidade local iv) promover o intercacircmbio entre

a Liacutengua de Sinais dos iacutendios surdos mapeados da etnia Satereacute-Maweacute e a LIBRAS da

comunidade surda do Municiacutepio de Parintins - Amazonas

Este trabalho conteacutem a seguinte divisatildeo primeiro capiacutetulo - apresenta consideraccedilotildees

linguiacutesticas fundamentais aos estudos surdos onde explicita o reconhecimento da Liacutengua de

Sinais como elemento cultural linguiacutestico do povo surdo abordando tambeacutem a oficializaccedilatildeo

da Liacutengua Brasileira de Sinais e as Liacutenguas Indiacutegenas pesquisadas no Brasil como a realidade

do contexto escolar linguiacutestico na comunidade indiacutegena segundo capiacutetulo - relata a histoacuteria

do povo indiacutegena Satereacute-Maweacute sua principal expressatildeo cultural sua liacutengua e seu respectivo

contexto educacional escolar terceiro capiacutetulo - apresenta os procedimentos metodoloacutegicos

utilizados na operacionalizaccedilatildeo da pesquisa e o capiacutetulo quatro - apresenta a anaacutelise do

resultado do Mapeamento dos iacutendios surdos da etnia Satereacute-Maweacute na microrregiatildeo de

Parintins Neste satildeo tambeacutem apresentadas as relaccedilotildees socioculturais-linguiacutesticas de iacutendios

surdos Satereacute-Maweacute com as contribuiccedilotildees linguiacutesticas do professor surdo aos Iacutendios surdos na

comunidade Satereacute-Maweacute estabelecendo assim as relaccedilotildees culturais na construccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo linguiacutestica LIBRAS e Liacutengua Satereacute-Maweacute como um intercacircmbio de construccedilatildeo

sociocultural

Desse modo a pesquisa tem como premissa baacutesica primeiramente mapear os iacutendios

surdos da etnia Satereacute-Maweacute e assim promover um intercacircmbio oferecendo contribuiccedilotildees

linguiacutesticas fundamentadas na pesquisa do leacutexico (vocabulaacuterio) da etnia referida com a Libras

(Liacutengua Brasileira de Sinais) e a Liacutengua Portuguesa por meio da elaboraccedilatildeo de um

6 Conforme Skliar eacute o campo de pesquisa em educaccedilatildeo onde as identidades a liacutenguas a histoacuteria a cultura da

comunidade surda satildeo focalizados e entendidos a partir da diferenccedila a partir do seu reconhecimento poliacutetico

(2001p29)

16

minidicionaacuterio triliacutengue Assim espera-se contribuir para a iniciaccedilatildeo dos indiacutegenas surdos da

etnia Satereacute-Maweacute na Liacutengua Brasileira de Sinais dando a eles um dos direitos universais do

ser humano que eacute direito a uma liacutengua Tambeacutem deseja-se contribuir para a iniciaccedilatildeo dos

indiacutegenas surdos da etnia Satereacute-Maweacute na Liacutengua Brasileira de Sinais dando a eles um dos

direitos universais do ser humano que eacute direito a uma liacutengua proacutepria

17

1 CONSIDERACcedilOtildeES DOS ESTUDOS LINGUIacuteSTICOS DA LIacuteNGUA BRASILEIRA DE SINAIS

A Linguiacutestica conhecida hoje como a ciecircncia que estuda a linguagem humana eacute uma

ciecircncia recente poreacutem com um saber antigo Passou a se impor como ciecircncia agrave medida que

demonstrou seu meacutetodo e seu objeto de estudo Eacute definida como estudo cientiacutefico que visa

descrever ou explicar a linguagem verbal humana (ORLANDI 1999)

A Linguiacutestica diferencia-se da gramaacutetica tradicional normativa na medida que natildeo

tem como objetivo ditar regras de correccedilatildeo para uso da linguagem Seu interesse eacute a liacutengua

como mateacuteria de reflexatildeo (QUADROS e KARNOPP 2004) Segundo as pesquisas nesta

aacuterea Vandresen (1988 apud QUADROS 2007 p 83) tem-se ldquoa linguiacutestica contrastiva como

uma subaacuterea da linguiacutestica geral interessada em apontar as similaridades e diferenccedilas

estruturais entre a liacutengua materna (de um grupo de alunos) e uma liacutengua estrangeirardquo

Na taxonomia de similaridades e contrastes entre as liacutenguas existe uma seacuterie de

regularidades como haacute similaridades comportamentais que natildeo precisam ser explicitadas

porque constituem a base comum das liacutenguas naturais e o compartilhamento dessas

similaridades poderaacute servir como base para inferecircncias quanto agraves formas da liacutengua estrangeira

e quanto agraves diferenccedilas por serem sistemaacuteticas podem admitir tratamento inferencial e

heuriacutestico (KATO 1988 apud QUADROS 2007)

Segundo Nascimento (2009) a vitalidade da liacutengua depende de sua utilizaccedilatildeo efetiva

tanto em escala nacional quanto em escala mundial Quanto mais uma liacutengua eacute utilizada mais

ela eacute viva e inversamente quanto menos eacute utilizada mais ela eacute ameaccedilada de extinccedilatildeo Assim

sendo eacute o uso social da liacutengua que determina seu grau de revitalizaccedilatildeo

Por essas razotildees a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Linguiacutesticos (BARCELONA

1996 p 3) tem como ponto de partida

[] as comunidades linguiacutesticas e natildeo os Estados e inscreve-se no quadro do

reforccedilo das instituiccedilotildees internacionais capazes de garantir um desenvolvimento

duradouro e equitativo para toda a humanidade e tem como finalidade favorecer um

quadro de organizaccedilatildeo poliacutetica da diversidade linguiacutestica baseado no respeito na

convivecircncia e nos benefiacutecios reciacuteprocos

Em seu TITULO PREacuteVIO tem como conceitos

18

Artigo 1ordm

1 Esta Declaraccedilatildeo entende por comunidade linguiacutestica toda a sociedade humana

que radicada historicamente num determinado espaccedilo territorial reconhecido ou

natildeo se identifica como povo e desenvolveu uma liacutengua comum como meio de

comunicaccedilatildeo natural e de coesatildeo cultural entre os seus membros A denominaccedilatildeo

liacutengua proacutepria de um territoacuterio refere-se ao idioma da comunidade historicamente

estabelecida neste espaccedilo [grifo nosso]

2 Esta Declaraccedilatildeo parte do princiacutepio de que os direitos linguiacutesticos satildeo

simultaneamente individuais e colectivos e adapta como referecircncia da plenitude dos

direitos linguiacutesticos o caso de uma comunidade linguiacutestica histoacuterica no respectivo

espaccedilo territorial entendendo-se este natildeo apenas como a aacuterea geograacutefica onde esta

comunidade vive mas tambeacutem como um espaccedilo social e funcional indispensaacutevel ao

pleno desenvolvimento da liacutengua Eacute com base nesta premissa que se podem

estabelecer em termos de uma progressatildeo ou continuidade os direitos que

correspondem aos grupos linguiacutesticos mencionados no ponto 5 deste artigo e os das

pessoas que vivem fora do territoacuterio da sua comunidade []

Em referecircncia ao Artigo 3ordm

- o direito ao ensino da proacutepria liacutengua e da proacutepria cultura

- o direito a dispor de serviccedilos culturais

- o direito a uma presenccedila equitativa da liacutengua e da cultura do grupo nos meios de

comunicaccedilatildeo

- o direito a serem atendidos na sua liacutengua nos organismos oficiais e nas relaccedilotildees

socioeconomicas []

Em referecircncia ao Artigo 5ordm

Esta Declaraccedilatildeo baseia-se no princiacutepio de que os direitos de todas as comunidades

linguiacutesticas satildeo iguais e independentes do seu estatuto juriacutedico ou poliacutetico como

liacutenguas oficiais regionais ou minoritaacuterias Designaccedilotildees tais como liacutengua regional ou

minoritaacuteria natildeo satildeo usadas neste texto porque apesar de em certos casos o

reconhecimento como liacutengua minoritaacuteria ou regional poder facilitar o exerciacutecio de

determinados direitos a utilizaccedilatildeo destes e doutros adjetivos serve frequentemente

para restringir os direitos de uma comunidade linguiacutestica []

Em referecircncia ao Artigo 23ordm

1 O ensino deve contribuir para fomentar a capacidade de auto-expressatildeo

linguiacutestica e cultural da comunidade linguiacutestica do territoacuterio onde eacute

ministrado[grifo nosso]

2 O ensino deve contribuir para a manutenccedilatildeo e o desenvolvimento da liacutengua falada

pela comunidade linguiacutestica do territoacuterio onde eacute ministrado

3 O ensino deve estar sempre ao serviccedilo da diversidade linguiacutestica e cultural e das

relaccedilotildees harmoniosas entre as diferentes comunidades linguiacutesticas do mundo inteiro

4 No quadro dos princiacutepios anteriores todos tecircm direito a aprender qualquer liacutengua

Em referecircncia aos Artigos 26ordm a 28ordm Artigo 26ordm

Todas as comunidades linguiacutesticas tecircm direito a um ensino que permita a todos os

seus membros adquirirem o perfeito conhecimento da sua proacutepria liacutengua com as

diversas capacidades relativas a todos os domiacutenios de uso da liacutengua habituais bem

como o melhor conhecimento possiacutevel de qualquer outra liacutengua que desejem

aprender

Artigo 27ordm

Todas as comunidades linguiacutesticas tecircm direito a um ensino que permita aos seus

membros o conhecimento das liacutenguas ligadas agrave sua proacutepria tradiccedilatildeo cultural tais

como as liacutenguas literaacuterias ou sagradas usadas antigamente como liacutenguas habituais

da sua comunidade

Artigo 28ordm

Todas as comunidades linguiacutesticas tecircm direito a um ensino que permita aos seus

membros adquirirem um conhecimento profundo do seu patrimocircnio cultural (histoacute-

ria e geografia literatura e outras manifestaccedilotildees da proacutepria cultura) assim como o

melhor conhecimento possiacutevel de qualquer outra cultura que desejem conhecer

(BARCELONA 1996 p 4 a 14)

19

Assim nas Disposiccedilotildees Finais no Plenaacuterio da Associaccedilatildeo Internacional para o

Desenvolvimento da Comunicaccedilatildeo Intercultural recomenda agraves Naccedilotildees Unidas que tomem as

medidas necessaacuterias agrave adopccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de uma Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Linguiacutesticos considerando a Convenccedilatildeo nuacutemero 169 da Organizaccedilatildeo Internacional do

Trabalho de 26 de Junho de 1989 relativa aos povos indiacutegenas em paiacuteses independentes que

a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Colectivos dos Povos realizada em Maio de 1990 em

Barcelona declara que todos os povos tecircm direito a exprimir e a desenvolver a sua cultura a

sua liacutengua e as suas normas de organizaccedilatildeo e para o fazerem a dotarem-se de estruturas

poliacuteticas educacionais de comunicaccedilatildeo e de administraccedilatildeo puacuteblica proacuteprias em quadros

poliacuteticos diferentes Considerando tambeacutem a Declaraccedilatildeo Final da Assembleia Geral da

Federaccedilatildeo Internacional de Professores de Liacutenguas Vivas aprovada em Peacutecs (Hungria) em 16

de Agosto de 1991 recomenda-se tambeacutem que os direitos linguiacutesticos sejam consagrados

direitos fundamentais

Neste contexto Nascimento (2009 p 25) pontua

Como princiacutepio eacutetico qualquer poliacutetica de liacutenguas deveraacute trabalhar a unidade e a

diversidade Natildeo se trata de poacutelos de contradiccedilatildeo mas de eixos de transiccedilatildeo A

unidade eacute uma razatildeo do Estado e a diversidade ou variedade eacute a mateacuteria linguiacutestica

proacutepria da comunidade pois reflete a liacutengua em uso ou seja as linguagens verbais

por meio das quais os indiviacuteduos se comunicam A unidade eacute resguardada pelo

padratildeo oficializado em um modelo de gramaacutetica e a variedade se faz representar nas

diversas gramaacuteticas praacuteticas e pragmaacuteticas de um Estado linguiacutestico

Quadros e Karnopp (2004) ainda explicam que a linguiacutestica parte de pressupostos

baacutesicos que determinam as investigaccedilotildees Sendo um dos mais importantes eacute de que a

linguagem eacute restringida por determinados princiacutepios ou seja ldquoregrasrdquo que fazem parte do

conhecimento humano das liacutenguas (falada ou sinalizada) da formaccedilatildeo de palavras da

construccedilatildeo das sentenccedilas e da construccedilatildeo dos textos A partir deste pressuposto da

universalidade de tais princiacutepios as investigaccedilotildees linguiacutesticas objetivam estudar os aspectos

especiacuteficos de cada liacutengua os quais revelam as caracteriacutesticas da linguagem humana A

exemplo o inglecircs o portuguecircs a Liacutengua de Sinais Americana a Liacutengua Brasileira de Sinais

e outras Embora apresentem diferenccedilas entre as liacutenguas agraves estruturas satildeo comuns que por

sua vez interessam agraves investigaccedilotildees linguiacutesticas na medida em que eacute a ciecircncia que objetiva

por explicar a natureza da linguagem humana

A partir dessas concepccedilotildees entendemos que os seres humanos estabelecem relaccedilotildees

do mais simples ao mais complexo com o outro por meio de gestos olhares e contato seja

por meio de sons Tudo isso caracteriza a linguagem humana Observa-se que a ldquolinguagemrdquo

20

eacute um termo usado pelas pessoas com referecircncia agrave linguagem em geral ou seja em uma

variedade de sentidos para denominar sistemas de comunicaccedilatildeo linguagem musical

linguagem corporal linguagem entre animais etc

No que concerne agrave definiccedilatildeo do termo liacutengua Quadros e Karnopp (2004) encontraram

uma seacuterie de definiccedilotildees de liacutengua que apontam para sua diferenciaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao termo

linguagem Estas fornecem subsiacutedios para a indicaccedilatildeo de propriedades consideradas pela

linguiacutestica essenciais agraves liacutenguas naturais sendo que uma delas eacute dada por Saussure que

afirma

Liacutengua natildeo se confunde com a linguagem eacute somente uma parte determinada

essencial dela indubitavelmente Eacute ao mesmo tempo um produto social da

faculdade de linguagem e um conjunto de convenccedilotildees necessaacuterias adotadas pelo

corpo social para permitir o exerciacutecio dessa faculdade nos indiviacuteduos (QUADROS e

KARNOPP 2004 p24)

Portanto entende-se como liacutengua natural

uma liacutengua que foi criada e eacute utilizada por uma comunidade especiacutefica de usuaacuterios

transmitida de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo e que muda ndash tanto estrutural como

funcionalmente ndash com o passar do tempo Ora qualquer liacutengua pode ser considerada

natural independentemente da modalidade que utilize (SAacute 2006 p 134)

Assim a liacutengua natural eacute tratada enquanto sistema linguiacutestico altamente desenvolvido

apresentando as caracteriacutesticas citadas por Quadros e Karnopp (2004 p 25-28) de

flexibilidade versatilidade arbitrariedade descontinuidade criatividade produtividade dupla

articulaccedilatildeo padratildeo de organizaccedilatildeo dos elementos e dependecircncia estrutural Logo conclui-se

que tais caracteriacutesticas satildeo especiacuteficas da faculdade da linguagem humana

11 Liacutengua de Sinais como Liacutengua Natural

A Liacutengua de Sinais eacute uma liacutengua natural criada pelas comunidades surdas Segundo

Skliar (1998 p26) ldquoTodas as crianccedilas surdas podem adquirir a Liacutengua de Sinais desde que

participem das interaccedilotildees quotidianas com a comunidade surda como acontece com qualquer

outra crianccedila na aquisiccedilatildeo de uma liacutengua naturalrdquo Skliar esclarece que liacutengua ldquonaturalrdquo natildeo

se refere a uma espontaneidade bioloacutegica mas como liacutengua que foi criada e eacute utilizada por

uma comunidade especiacutefica de usuaacuterios que transmite de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo e que muda com

o passar do tempo tanto estruturalmente como funcionalmente (IDEM p27)

As Liacutenguas de Sinais satildeo diferentes em cada comunidade com caracteriacutesticas das

liacutenguas orais com estruturas gramaticais proacuteprias que as distingue dos demais sistemas de

21

comunicaccedilatildeo Para Quadros e Karnopp (2004 p 30) ldquoAs liacutenguas de sinais satildeo portanto

consideradas pela linguiacutestica como liacutenguas naturais ou como um sistema linguiacutestico legiacutetimo e

natildeo como um problema do surdo ou como uma patologia da linguagemrdquo7

Para o reconhecimento das Liacutenguas de Sinais como liacutenguas naturais Ramos (2013 p

8) destaca o conceito ldquonaturalrdquo em oposiccedilatildeo a ldquocoacutedigo e linguagemrdquo e a avaliaccedilatildeo apresenta

as semelhanccedilas existentes entre as mesmas e as liacutenguas orais Sendo que uma dessas

semelhanccedilas na linha saussuriana eacute a ldquoexistecircncia de unidades miacutenimas formadoras de

unidades complexas pode ser observada em todas as Liacutenguas de Sinais espalhadas pelo

mundo possuidoras dos niacuteveis fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico e pragmaacuteticordquo

As liacutenguas de sinais apresentam ldquoregistros diversos (por categoria profissional status social

idade niacutevel escolar etc) aleacutem de dialetos regionais tambeacutem referendam as semelhanccedilas com

as liacutenguas oraisrdquo (IDEM p 8)

Estudos aprofundados sobre a Liacutengua de Sinais iniciaram a partir da deacutecada de 1950

com o estudioso da linguiacutestica o americano William Stokoe o qual percebeu e provou que a

Liacutengua de Sinais

[] satisfazia todos os criteacuterios linguiacutesticos de uma liacutengua genuiacutena no leacutexico na

sintaxe na capacidade de gerar um nuacutemero infinito de proposiccedilotildees [] Stokoe

convenceu-se de que os sinais natildeo eram figuras e sim complexos siacutembolos abstratos

com uma estrutura interna complexa Foi entatildeo o primeiro a buscar uma estrutura a

analisar os sinais dissecaacute-los procurar as partes constituintes Desde o comeccedilo ele

tentou demonstrar que cada sinal possuiacutea pelo menos trecircs partes independentes ndash

7 Sobre a surdez temos duas abordagens segundo explica Skliar a cliacutenico terapecircutica e a soacutecio-antropoloacutegica

A visatildeo soacutecioantropoloacutegica descreve a surdez em termos contraacuterios agraves noccedilotildees de patologia e de deficiecircncia

(1998 p10) Durante o seacuteculo passado construi-se o imaginaacuterio de que o surdo era um deficiente que

necessitava falar Segundo Casarin (1996 p2) ldquoNesse discurso deacuteficit doenccedila patologia anomalia implicam

apenas a possibilidade de sequumlecircncia diagnoacutestico tratamento-cura caracteriacutesticas da abordagem meacutedicardquo [] Tal

concepccedilatildeo influecircnciou outras aacutereas do conhecimento inclusive na educaccedilatildeo sobre a forma de perceber o surdo

Cesarian ainda explica que a partir daiacute foram assimilando o imaginaacuterio de que a surdez era uma doenccedila e que o

surdo por natildeo falar era um deficiente que precisava ser curado construindo entre as aacutereas de tratamento um

modelo terapecircutico para o deficiente auditivo Apoacutes as influecircncias da medicina na educaccedilatildeo dos surdos o

modelo cliniacuteco-terapecircutico passa a impor propostas educativas do oralismo dando continuidade agora na aacuterea

educacional ao tratamento do deficiente o mais cedo possivel na escola a fim que ele se enquadre ao modelo

normal modelo ouvinte Logo as escolas apresentavam como instituiccedilotildees de reeducaccedilatildeo da fala desenvolvendo

atividades pedagoacutegicas que tinham como objetivo o treinamento e exerciacutecios com fins a trazer o surdo o mais

possiacutevel do ldquonormalrdquo Perde-se assim muito tempo no processo de ensino aprendizado do sujeito surdo levando

a um fracasso escolar Surge entatildeo a nova concepccedilatildeo nomeada como soacutecio-antropoloacutegica de surdez totalmente

oposta agrave anterior Essa concepccedilatildeo parte das capacidades do sujeito quando considera a liacutengua de sinais como

melhor garantia para o desenvolvimento normal do surdo Esta nova concepccedilatildeo traz a valorizaccedilatildeo da lingua de

sinais e como consequecircncia o reconhecimento das especificidade culturais das comunidades surdas Estudos

feitos por linguiacutesticas observaram o desempenho escolar de pessoas surdas que se comunicam desde a infacircncia

por meio da Liacutengua de Sinais e que demostraram ganhos significativos em divesas aacutereas do desenvolvimento

humano Deixando claro a necessidade do uso da Liacutengua de Sinais como liacutengua natural da pessoa surda (1996

p 3)

22

localizaccedilatildeo configuraccedilatildeo das matildeos e movimento executado (anaacuteloga aos fonemas

da fala) ndash e que cada parte apresentava um nuacutemero limitado de combinaccedilotildees []

(SACKS 1998 p 88-89)

Segundo Ramos (2013 p 9) em 1988 o venezuelano Saacutenchez fez pesquisas sobre as

liacutenguas de sinais e os resultados apresentou ao educador francecircs Jean Foucambert No debate

sobre suas pesquisas ldquosurgiu agrave proposta de um tipo de educaccedilatildeo que privilegiasse a liacutengua

natural da comunidade surda - a Liacutengua de Sinais Venezuelana e a escrita da liacutengua da

comunidade oral o Espanholrdquo Um dos primeiros princiacutepios que lanccedilou a base para a que a

liacutengua de sinais fosse reconhecida como liacutengua natural foi descrita por Foucambert (RAMOS

2013 p 10)

Natildeo soacute os surdos mas toda e qualquer crianccedila pode aprender a liacutengua escrita sem

basear-se na oral porque satildeo independentes Em segundo lugar chegou-se agrave

afirmaccedilatildeo de que a liacutengua de sinais eacute uma liacutengua natural e que os surdos satildeo uma

comunidade linguiacutestica minoritaacuteria com direito a desenvolver sua cultura proacutepria

dentro da cultura majoritaacuteria O fato de a Liacutengua de Sinais cumprir uma seacuterie de

requisitos que todas as liacutenguas naturais possuem - espanhol portuguecircs alematildeo

inglecircs polonecircs a criatividade eacute um deles - pode-se sempre dizer alguma coisa

nova Outro requisito eacute a combinaccedilatildeo de partiacuteculas natildeo significativas que usadas de

certa maneira criam significaccedilatildeo [] Com 30 40 configuraccedilotildees da matildeo podem-se

transmitir milhares de sinais significativos como os fonemas da liacutengua oral A

liacutengua de sinais que como as liacutenguas nacionais eacute diferente em cada paiacutes e ateacute em

regiotildees dos paiacuteses possui aleacutem do mais uma gramaacutetica toda proacutepria organizada e

complexa e nos permite transmitir qualquer coisa [] Com ela pode-se transmitir

criar e recriar o que se quiser poesia romance filosofia E pode-se ateacute formular

ideacuteias com duplo sentido ou mentir que eacute outra caracteriacutestica das liacutenguas naturais

Por meio das pesquisas e estudos diversos paiacuteses passaram a se dedicar no campo da

linguiacutestica da Liacutengua de Sinais eacute que criou-se a possibilidade do povo surdo lutar pelo seu

reconhecimento enquanto liacutengua na medida em que pode contar com estudos que provam

cientificamente de que as Liacutenguas de Sinais satildeo de fato liacutenguas e natildeo um conjunto de

miacutemica

12 Liacutengua Brasileira de Sinais

O ser humano se expressa atraveacutes da liacutengua e a partir dela estabelece sua cultura

valores e padrotildees sociais Para os surdos brasileiros a Libras estabelece essas condiccedilotildees pois

considera a modalidade visual-espacial e associa caracteriacutesticas sociolinguiacutesticas as funccedilotildees

pragmaacuteticas e discursivas semelhantes agraves liacutenguas orais poreacutem a Liacutengua de Sinais por muito

tempo natildeo foi percebida enquanto estrutura linguiacutestica

23

A LIBRAS como toda Liacutengua de Sinais eacute uma liacutengua de modalidade gestual-visual

uma vez que faz uso para a comunicaccedilatildeo de movimentos gestuais e expressotildees faciais

percebidos pela visatildeo Neste sentido a Revista Feneis Ramos (2002 apud RAMOS 2013 p

7-8) ldquoa Liacutengua Portuguesa eacute uma liacutengua de modalidade oral-auditiva por utilizar como canal

ou meio de comunicaccedilatildeo sons articulados que satildeo percebidos pelos ouvidosrdquo Suas diferenccedilas

estatildeo na utilizaccedilatildeo de canais diferentes e nas estruturas gramaticais de cada liacutengua

Para Campello (2009) historicamente os primeiros estudos da Liacutengua de Sinais

apareceram no seacuteculo XIV exatamente nos anos de 1644 pelo inglecircs Bulwer J B com o livro

de Liacutengua de Sinais Inglesa Chirologia8 on the natural language of the hand com os estudos

destacando as figuras das matildeos e seus significados Menciona tambeacutem que era recompensa

de natureza que os surdos devam se comunicar atraveacutes dos gestos e acreditava firmemente na

ldquonecessidade que opera a Natureza dos homens que nascem Surdos-Mudos que podem

discutir mostrar sinalizar retoricamente por sinaisrdquo (p 13)

Em 1960 W C Stokoe pesquisador inglecircs da Gallaudet University fez uma pesquisa

entre as gramaacuteticas utilizadas pelos surdos em sala de aula e fora dela e os resultados foram

publicados no artigo Sign Language Structure na outline of the visual communication system

of the American Deaf na revista Studies in Linguistics Occassional Papers 8 (CAMPELLO

2009) E eacute a partir destes estudos que Stokoe afirma que a Liacutengua de Sinais eacute liacutengua

Stokoe (1960) ldquopercebeu e comprovou que a liacutengua de sinais atendia a todos os

criteacuterios linguiacutesticos de uma liacutengua genuiacutena no leacutexico na sintaxe e na capacidade de

gerar uma quantidade infinita de setenccedilasrdquo Stokoe observou que os sinais natildeo eram

imagens mas siacutembolos abstratos complexos com uma complexa estrutura interior

[] Comprovou inicialmente inicialmente que cada sinal apresentava pelo menos

trecircs partes independentes (em analogia com os fonemas da fala) ndash a localizaccedilatildeo a

configuraccedilatildeo de matildeos e o movimento ndash e que cada parte possuiacutea um nuacutemero

limitado de combinaccedilotildees [] (QUADROS E KARNOPP 2004 p 30-31)

Os estudos do linguiacutesta representou o primeiro passo para outras pesquisas em relaccedilatildeo

a Liacutengua de Sinais Em diversos paiacuteses pesquisas foram realizadas O Brasil foi um deles

No Brasil no final dos anos de 1970 a proposta da educaccedilatildeo biliacutengue reconhece a

Libras como liacutengua natural portanto deve ser ensinada como primeira liacutengua desde o iniacutecio

da escolarizaccedilatildeo da crianccedila surda e a comunidade surda reconhece o portuguecircs como a liacutengua

oficial do Brasil e deve ser ensinada como segunda liacutengua na forma oral ou escrita

(SLOMSKI 2010)

8 Bulwer (1644) em seu livro esclarece que a quirologia eacute um dicionaacuterio de gestos manuais e quirema eacute um

manual para o uso efetivo do gesto de falar em puacuteblico

24

Segundo Quadros (2009 p144) no entanto a Liacutengua de Sinais comeccedilou a ser

investigada efetivamente nas deacutecadas de 80 e 90 por Ferreira Brito (1986 1995) Felipe

(1992 1993) Quadros (1995 1999) e a aquisiccedilatildeo da Liacutengua Brasileira de Sinais nos anos 90

(Karnopp (1994 1999 Quadros (1995 1997)

Na deacutecada de 1980 a 1990 tem-se um panorama mundial para a abordagem biliacutengue

na educaccedilatildeo de surdos Slomski (2010 p 61) destaca que em 1994 Lucinda Ferreira Brito

passa a utilizar a abreviaccedilatildeo de LIBRAS (Liacutengua Brasileira de Sinais) criada pela comunidade

surda Consequentemente pesquisas estudos e lutas da comunidade surda contribuiacuteram para a

instauraccedilatildeo de uma poliacutetica linguiacutestica da Liacutengua Brasileira de Sinais A que reconhece o

estatuto linguiacutestico legal por meio da Lei 10436 de 24042002

Art 1ordm Eacute reconhecida como meio legal de comunicaccedilatildeo e expressatildeo a Liacutengua

Brasileira de Sinais ndash Libras e outros recursos de expressatildeo e por ela associados

Paraacutegrafo uacutenico Entende-se como Liacutengua Brasileira de Sinais ndash Libras a forma e

comunicaccedilatildeo e expressatildeo em que o sistema linguiacutestico de natureza visual-motora

com estrutura gramatical proacutepria constituem um sistema linguiacutestico de transmissatildeo

de ideias e fatos oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil

[](BRASIL 2007 p 2)

A Liacutengua de Sinais como jaacute mencionado eacute uma liacutengua natural composta por de todos

os componentes agraves liacutenguas orais como gramaacutetica semacircntica pragmaacutetica sintaxe e outros

elementos preenchendo os requisitos cientiacuteficos para ser considerado um sistema linguiacutestico

Conforme Felipe e Monteiro (2004 p23) as Liacutenguas de Sinais satildeo compostas por

signos linguiacutesticos denominados bdquosinais‟ encontrados nos seguintes paracircmetros

Configuraccedilatildeo das Matildeos Ponto de Articulaccedilatildeo Movimento Orientaccedilatildeo Expressatildeo Facial eou

Corporal Estes paracircmetros satildeo requisitos necessaacuterios para que sejam constituiacutedos os sinais

Portanto a Liacutengua de Sinais eacute considerada como liacutengua natural do sujeito surdo

como sua primeira liacutengua-L1 Jaacute a liacutengua majoritaacuteria de um paiacutes no caso do Brasil eacute a

Liacutengua Portuguesa como L2 Partindo do pressuposto que a Liacutengua de Sinais eacute a primeira

liacutengua do surdo a aquisiccedilatildeo da primeira liacutengua pelas crianccedilas surdas deve se dar de forma

natural no contato com surdos sinalizados pertencentes agrave comunidade surda A Liacutengua

Portuguesa por sua vez eacute aprendida de forma sistemaacutetica ou seja precisa ser ensinada por

meio de teacutecnicas especiacuteficas de ensino de segunda liacutengua

A partir desta compreensatildeo as crianccedilas surdas precisam ter a oportunidade do contato

com seus pares Crianccedilas surdas que natildeo tecircm um conviacutevio com surdos por terem nascido

dentro de familias ouvintes que usam a liacutengua oral precisam que os pais familiares

25

oportunizem a elas o mundo essencialmente visual-espacial para conhecer a Liacutengua de

Sinais Sobre a questatildeo Quadros (2005 p30) afirma

As crianccedilas surdas e seus pais ouvintes poderiam compartilhar o bilinguismo liacutengua

portuguesa e liacutengua de sinais brasileira e ir aleacutem descobrindo os vieses das culturas

e identidade que se entrecruzam [] Assim as crianccedilas surdas precisam ter acesso

agrave liacutengua de sinais com sinalizantes fluentes desta liacutengua muito cedo Estes

sinalizantes satildeo pessoas que normalmente natildeo fazem parte do ciacuterculo de pessoas

que a crianccedila usualmente teria contato Os pais teratildeo que conhecer comunidade

surda que usa esta liacutengua

Nesta perspectiva Souza (apud QUADROS 2005) menciona que se no iniacutecio do seu

desenvolvimento a crianccedila surda tiver a chance de contar com pais dispostos a aprenderem a

liacutengua de sinais com adultos surdos colegas surdos e conversarem ldquosinalizandordquo a

dimensatildeo do seu processo educacional seraacute outra A aquisiccedilatildeo da liacutengua seraacute transferida para

o espaccedilo escolar ldquoO fato de passar a ter contato com a liacutengua portuguesa com significado

trazendo seus conceitos adquiridos na sua proacutepria liacutengua possibilitaraacute um processo muito

mais significativordquo (ibid p33)

Por isso eacute de importacircncia fundamental a crianccedila surda esteja em contato linguiacutestico

com a liacutengua de sinais o mais cedo possiacutevel seja com a comunidade surda ou com seus pais

ouvintes que adquiriram a Liacutengua de Sinais como L2 Estes fatores iratildeo influenciar a crianccedila

estabelecer a sua identidade e cultura surda naturalmente Neste sentido Fantinel (1999 p2)

menciona que ldquoo uso da Liacutengua de Sinais eacute uma condiccedilatildeo fundamental na construccedilatildeo da

identidade dessas pessoas pois eacute o fator que os aproxima e reuacutene em grupos permitindo-lhes

expressarem-se construindo significados para a vidardquo

A Liacutengua de Sinais portanto eacute um aspecto fundamental da cultura surda Para tanto

Strobel (2008 p44) ainda enfatiza que para que o sujeito surdo possa ter acesso agraves

informaccedilotildees e conhecimentos aleacutem de construir sua identidade eacute fundamental criar uma

ligaccedilatildeo com o povo surdo que usa a sua liacutengua em comum pois a Liacutengua de Sinais eacute uma das

principais marcas da identidade de um povo surdo uma particularidade da cultura surda uma

forma de comunicaccedilatildeo que capta as experiecircncias visuais dos sujeitos surdos E somente a

partir do uso desta liacutengua que a crianccedila conseguiraacute seu pleno desenvolvimento cognitivo

psicoloacutegico emocional e cultural proporcionando assim a aquisiccedilatildeo do conhecimento

universal

Desta forma ao refletirmos sobre a pessoa surda na construccedilatildeo de sua identidade e

cultura surda entende-se que o contato linguiacutestico eacute essencial Logo o que dizer das pessoas

26

surdas que vivem isoladas de comunidades surdas que natildeo tem esse contato com Liacutengua de

Sinais Sobre esta realidade Strobel esclarece que

No entanto incluem tambeacutem os gestos denominados ldquosinais emergentesrdquo ou ldquosinais

caseirosrdquo dos sujeitos surdos de zonas rurais ou sujeitos isolados de comunidades

surdas que procuram entender o mundo atraveacutes dos experimentos visuais e que

procuram comunicar apontando e criando sinais [] (ibidem p44)

Ainda sobre a questatildeo Vilhalva (2012 p 30) ressalta que ldquo[] Os sinais emergentes

tambeacutem conhecidos como sinais caseiros satildeo essenciais quando vistos como comunicaccedilatildeo

natural usada em um espaccedilo familiar ou social []rdquo Nesse caso podemos referir ao iacutendio

surdo que vive isolado do contato com a comunidade surda Este surdo tambeacutem se identifica

com o povo surdo apesar de natildeo ter contato e de natildeo pertencer agraves mesmas comunidades

surdas na medida em que de acordo com Strobel (2008) eles compartilham as mesmas

peculiaridades ou seja constroem sua formaccedilatildeo de mundo atraveacutes de artefato cultural visual

13 Liacutenguas de Sinais Indiacutegenas pesquisadas no Brasil

Os registros da existecircncia de iacutendios surdos segundo Vilhalva (2008) apontam para o

Estatuto do Iacutendio - Lei nordm 6001 de 19121973 que norteou as relaccedilotildees do Estado brasileiro

com as populaccedilotildees indiacutegenas ateacute a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 em seu Paraacutegrafo

uacutenico do Art 1ordm assegura

Aos iacutendios e agraves comunidades indiacutegenas se estende a proteccedilatildeo das leis do Paiacutes nos

mesmos termos em que se aplicam aos demais brasileiros resguardados os usos

costumes e tradiccedilotildees indiacutegenas bem como as condiccedilotildees peculiares reconhecidas

nesta Lei

Neste sentido no Brasil a liacutengua oficial eacute a Liacutengua Portuguesa Fossile (2013 p 4)

afirma que ldquoo paiacutes conta atualmente segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatiacutestica (IBGE) com aproximadamente 210 liacutenguas sendo 190 delas indiacutegenasrdquo Essas

liacutenguas indiacutegenas satildeo consideradas como liacutenguas minoritaacuterias sem importacircncia em relaccedilatildeo ao

portuguecircs No entanto algumas possuem mais prestiacutegio em relaccedilatildeo agraves outras

Em relaccedilatildeo ao conhecimento da liacutengua e da diversidade na dinacircmica soacutecio-cultural das

populaccedilotildees indiacutegenas deveria haver prioridades para estudos no campo linguiacutestico para

acadecircmicos e pesquisadores indios De fato o conhecimento das liacutenguas faladas e no

contexto tem-se essa diversidade para iacutendios surdos deveria ser compartilhada com a

27

sociedade indiacutegena de forma que esta possam participar ativamente na elaboraccedilatildeo de poliacuteticas

e programas que respondam agraves suas necessidades seus direitos considerando-se em particular

suas culturas e liacutenguas

Segundo Vilhalva (2008) pesquisas no campo da linguiacutestica e de poliacuteticas linguiacutesticas

avanccedilaram consideravelmente no Brasil Tendo poreacutem ainda uma grande necessidade de

maiores pesquisas principalmente referente a diferentes Liacutenguas de Sinais pertencentes a

diferentes comunidades como as dos povos indiacutegenas Neste sentido a autora argumenta

A Liacutengua de Sinais Indiacutegenas praticadas pelos iacutendios surdos existentes em diversas

comunidades indiacutegenas do paiacutes traz consigo caracteriacutesticas culturais e linguiacutesticas

variadas bdquoInfelizmente raramente satildeo registradas como satildeo registradas outras liacutenguas

brasileiras de diferentes comunidades com suas especificidades culturais e eacutetnicas ‟

(VILHALVA 2008 p 29)

Sobre a questatildeo Nonaka coloca que

desde 1960 quando se iniciaram os estudos linguiacutesticos e antropoloacutegicos em

referecircncia agraves Liacutenguas de Sinais a maior parte das investigaccedilotildees tem incidido sobre

as Liacutenguas de Sinais nacionais ou padratildeo usadas pelos surdos de diferentes paiacuteses

com escassa atenccedilatildeo agraves Liacutenguas de Sinais usadas pelos indiacutegenas em sua

comunicaccedilatildeo original (apud VILHALVA 2012 p 30)

Por isso Vilhalva defende a comunicaccedilatildeo dos iacutendios surdos como objeto de estudo da

linguiacutestica afirmando que

[] Sabemos tambeacutem que a Libras estaacute presente nas terras indiacutegenas

apontando que a influecircncia aconteceraacute Sendo assim consideramos quanto o leacutexico

das liacutenguas estaacute no processo de mudanccedilas atraveacutes do neologismo espontacircneo ou o

empreacutestimo linguiacutestico de outras liacutenguas (ibid p37)

Observa-se que os estudos sobre a Libras nas terras indiacutegenas comeccedilaram na deacutecada

de 1980 com pesquisas da brasileira Lucinda Ferreira Brito sobre a Liacutengua Brasileira de

Sinais Segundo Slomski (2010) Lucinda Ferreira Brito iniciou sua pesquisa atraveacutes de um

padratildeo internacional de abreviaccedilatildeo das Liacutenguas de Sinais adotando a sigla LSCB ndash Liacutengua de

Sinais dos Centros Urbanos Brasileiros para diferenciaacute-la da LSKB ndash Liacutengua de Sinais

Kaapor Brasileiros que eram a utilizada pelos iacutendios do Estado do Maranhatildeo

Diante do panorama exposto se faz necessaacuterio no campo da linguiacutestica dos estudos

surdos pesquisas sobre a Liacutengua de Sinais usadas pelos iacutendios surdos nas diferentes

comunidades indiacutegenas para que seja reconhecida e registrada Infelizmente somente uma

28

liacutengua indiacutegena eacute oficialmente reconhecida no Brasil a Liacutengua de Sinais Indiacutegena da

comunidade Urubu-Kaapor devido ao alto iacutendice de surdos

131 Liacutengua de Sinais Urubu-Kaapor

Os resultados do Censo 2010 (IBGE 2013) apontam para 274 liacutenguas indiacutegenas

faladas por indiviacuteduos pertencentes a 305 etnias diferentes Embora haja a necessidade de

estudos linguiacutesticos e antropoloacutegicos mais aprofundados quanto aos nuacutemeros totais de liacutengua

e etnia

Dentro desse universo a uacutenica Liacutengua de Sinais indiacutegena reconhecida conforme

referido anteriormente eacute a utilizada pela etnia indiacutegena brasileira dos Urubu-Kaapor9

chamados tambeacutem por urubus-caapores Os estudos sobre essa Liacutengua de Sinais apontam para

o iniacutecio da deacutecada de 1950

De acordo com Ribeiro (1996 apud FASSILE 2013 p 2)

Em 1950 foi descoberto no Brasil um grupo indiacutegena atraveacutes de pesquisas

antropoloacutegicas os Urubu-Kaapor na floresta Amazocircnica (Maranhatildeo) que falava

uma variaccedilatildeo da liacutengua de sinais Somente a partir da deacutecada de 1980 estudos

linguiacutesticos relacionados agrave Liacutengua de Sinais Kaapor Brasileira (LSKB) foram

aprofundados (sobre a LSKB cf KAKUMASU J KAKUMASU K 1977)

Segundo Brito (1993 apud FASSILE 2013 p 2) J Kakumasu defendeu que ldquo[] a

Liacutengua de Sinais dos Urubu-Kaapor [] [se constituiacutea como] um veiacuteculo de comunicaccedilatildeo

intratribal e natildeo como meio de transaccedilatildeo comercialrdquo Neste sentido resgata-se que

No Brasil Lucinda Brito inicia seus importantes estudos linguiacutesticos em

1982 sobre a Liacutengua de Sinais dos iacutendios Urubu-Kaapor da floresta amazocircnica

brasileira apoacutes um mecircs de convivecircncia com os mesmos documentando em filme

sua experiecircncia A ideia para a pesquisa adveio da leitura de um artigo publicado no

livro de Umiker-Sebeok (1978) de autoria de J Kakumasu Urubu Sign Language

No estudo a Liacutengua de Sinais dos Urubu-Kaapor se diferenciaria da PSL por

constituir um veiacuteculo de comunicaccedilatildeo intratribal e natildeo como meio de transaccedilatildeo

comercial Lucinda Brito poreacutem constatou que a mesma se tratava de uma legiacutetima

Liacutengua de Sinais dos surdos pelos mesmos criados

O interessante de se observar no caso dos Urubu-Kaapor eacute que os ouvintes da

aldeia falam a Liacutengua de Sinais e a liacutengua oral evidentemente enquanto que os

surdos se restringem agrave Liacutengua de Sinais Assim os ouvintes da aldeia se tornam

biliacutengues enquanto os surdos se mantecircm monoliacutengues (RAMOS 2011 p 6)

9 Disponiacutevel emlthttpwwwlibrascombrurubu-kaaporgt Acesso em 19112013

29

A Liacutengua Kaapor eacute uma liacutengua da famiacutelia Tupi-Guarani natildeo falada por outra tribo ou

povo exceto como segunda liacutengua Possuem uma liacutengua de sinais proacutepria (a Liacutengua Brasileira

de Sinais Kaapor) usada tanto pela comunidade surda do povo como tambeacutem por seus

membros natildeo surdos na comunicaccedilatildeo com os surdos

[] os Kaapor satildeo linguisticamente peculiares na Amazocircnia por terem uma

linguagem padratildeo de sinais usada para a comunicaccedilatildeo com os surdos que ateacute a

metade dos anos 80 compunham cerca de 2 da totalidade de sua populaccedilatildeo A

incidecircncia de surdez deveu-se evidentemente agrave bouba neonatal e endecircmica que foi

erradicada10

O interessante eacute que a comunidade indiacutegena desenvolveu uma forma proacutepria de

comunicaccedilatildeo por sinais que comeccedilou a ser estudada na deacutecada de 1960 pelo pesquisador

canadense James Kakumasu em (1968) e em seguida pela linguista brasileira Linguista

Lucinda Ferreira Brito ldquo[] A Liacutengua de Sinais Brasileira para diferenciaacute-la da LSKB

(Liacutengua de Sinais Kaapor Brasileira) utilizados pelos iacutendios Urubu-Kaapor no Estado do

Maranhatildeordquo (GOLDFELD 1997 p 30) A pesquisadora registrou a existecircncia da Liacutengua de

Sinais Kaapor em sua pesquisa sobre termos baacutesicos para cores em Liacutengua de Sinais

132 Liacutengua de Sinais Emergentes

Vilhalva (2012) se preocupou sobre a situaccedilatildeo linguiacutestica dos iacutendios surdos trazendo

grandes contribuiccedilotildees cientiacuteficas na aacuterea da linguiacutestica referente agraves Liacutenguas de Sinais

Indiacutegenas Sua pesquisa iniciou em 1991 com iacutendios surdos na comunidade indiacutegena de Satildeo

Marcos

O estudo dos sinais emergentes que se deseja apresentar objetiva natildeo apenas

recuperar os registros sobre as liacutenguas padratildeo mas tambeacutem e sobretudo procurar

realizar um levantamento de como se apresenta atualmente o uso desses sinais

emergentes e ateacute mesmo da histoacuteria da produccedilatildeo desses sinais para que se possa

fazer o registro cientifico sobre a situaccedilatildeo linguiacutestica dos iacutendios surdos dentro das

escolas indiacutegenas [] (VILHALVA 2012 p11a)

Souza e Segala (2009 p28) abordam que a maior parte das liacutenguas nasceu do

contato entre duas ou mais liacutenguas ou de uma liacutengua e sistemas de sinais caseiros (Liacutengua de

Sinais Primaacuteria) Observa-se que ldquosinais caseiros ou Liacutengua de Sinais Primaacuterios

correspondentes aos gestos ou construccedilatildeo simboacutelica inventadas no acircmbito familiar eacute comum

10

Disponiacutevel emlthttppibsocioambientalorgptpovokaaporgt Acesso em 19112013

30

a constituiccedilatildeo de um sistema convencional de comunicaccedilatildeo entre matildee-ouvinte e crianccedila

surdardquo

Sobre a origem dos sinais emergentes Vilhalva explica que

[] os sinais emergentes foram criados devido a uma necessidade de comunicaccedilatildeo

passando por sinais indicativos icocircnicos e arbitraacuterios A maneira como cada sinal

surge levam tempo para se entender principalmente quando os sinais satildeo criados

conforme o neologismo11

Esses novos sinais passam a fazer parte da comunicaccedilatildeo

para depois designar algo consistentemente como acontece tambeacutem agraves liacutenguas

orais-auditivas (2012 p137-138)

Desta forma a autora em sua pesquisa argumenta que os sinais emergentes

considerados em seu estudo como Liacutengua de Sinais constituem como o meio de

comunicaccedilatildeo primaacuteria dos iacutendios surdos das comunidades indiacutegenas do Mato Grosso do Sul

Partindo deste achado Rousseau jaacute mencionava em seus estudos ldquoEnsaio sobre a origem das

liacutenguasrdquo que

O uso e a necessidade ensinam a cada um a liacutengua de seu paiacutes mas o que eacute que faz

com que essa liacutengua seja a de seu proacuteprio paiacutes e natildeo a de um outro [] No

momento em que um homem foi reconhecido por um outro como um ser sensiacutevel

pensante e semelhante a ele o desejo ou a necessidade de comunicar-lhe os proacuteprios

sentimentos e os proacuteprios pensamentos fez com que procurasse os meios de fazecirc-lo

(2008 p 97)

Assim o primeiro contato do ser humano eacute com o outro da mesma espeacutecie No caso da

matildee com seu filho Conforme Sacks (1998 p 7) comenta que

[] a primeira comunicaccedilatildeo geralmente se daacute entre matildee e filho e a liacutengua eacute

adquirida emerge entre eles dois Sendo assim Os sinais emergentes tambeacutem satildeo

fruto da linguagem num processo visual usados pelos surdos indiacutegenas e seus

familiares ouvintes na interaccedilatildeo com o meio (VILHALVA 2012 p 137)

Vilhalva (2012) entatildeo percebeu a predominacircncia dos gestos caseiros criados pelos

proacuteprios surdos para interagirem com suas famiacutelias e com as pessoas que os rodeiam Ou

seja a crianccedila surda que nasce na famiacutelia de ouvinte comeccedila a criar a partir de um meio de

comunicaccedilatildeo visual usando todas as formas naturais possiacuteveis desde o apontamento ateacute os

gestos naturais O uso que destes sinais criados pelas necessidades do ambiente familiar com

o passar do tempo vatildeo se convencionando a forma de interaccedilatildeo dialoacutegica passando a

transformar-se em um meio de comunicaccedilatildeo essencial resultando assim no processo

11

Satildeo palavras criadas para designar novas situaccedilotildees novos conceitos fatos objetos etc sendo que um

neologismo soacute eacute sentido como tal durante algum tempo pois passados anos ou seacuteculos deixa de ter sentido

como tal porque a realidade que ele designa jaacute natildeo eacute nova

31

evolutivo dos sinais familiares para os sinais emergentes para transiccedilatildeo para a Liacutengua de

Sinais ou seja arbitraacuteria convencional Esse processo se daacute por meio do processo cognitivo

fundamentada na teoria de Cuxac

Construccedilatildeo do dizer a partir do processo criativo de performance gestual Iconizando

da experiecircncia perceptivo-praacutetica Rotinas de Transferecircnciandashpassagem da ilustraccedilatildeo

especifica para a categorizaccedilatildeo geneacuterica Sinais estabelecidos num grupo reduzido

categorias e generalizaccedilotildees dos sinais gestuais Nasce uma liacutengua de Sinais com

todas as propriedades de uma liacutengua (apud VILHALVA 2012 p138)

Vilhalva (2012) ainda destaca que se observarmos a Lei nordm 10436 de 24 de abril de

2002 vamos verificar que em seu artigo primeiro ldquoficam reconhecidos como meio legal de

comunicaccedilatildeo e expressatildeo a Liacutengua Brasileira de Sinais-Libras ndash e outros recursos de

expressatildeo a ela associadosrdquo Nesses bdquooutros recursos‟ podem figurar segundo compreensatildeo

da mesma os sinais emergentes produzidos nas comunidades indiacutegenas Se a Liacutengua

Brasileira de Sinais uma forma de comunicaccedilatildeo e expressatildeo cujo canal de produccedilatildeo e

recepccedilatildeo eacute de natureza visual-motora com estrutura gramatical proacutepria constituindo um

sistema linguiacutestico de transmissatildeo de ideias e fatos oriundos de comunidades de pessoas

surdas no Brasil conforme estaacute na lei eacute compreensivo dizer que nada fala sobre um padratildeo de

sinalizaccedilatildeo (p34)

Conclui-se que conforme pesquisa da autora citada os estudos dos sinais emergentes

mostraram que este eacute o ponto inicial das novas Liacutenguas de Sinais que segundo a mesma

merecem ser aprofundadas

1321 Realidade do contexto educacional escolar do indiacutegena surdo

Vilhalva (2012) destaca que o indiviacuteduo surdo soacute teraacute um sistema gestual linguiacutestico

organizado no contato do agrupamento comunitaacuterio especificamente da comunidade surda

com o contato com a Liacutengua de Sinais E isso muitas vezes acontece em geral somente no

acircmbito escolar biliacutengue onde haacute outros surdos inteacuterpretes e professores ouvintes que fazem

uso da Liacutengua de Sinais Por isso eacute essencial uma escola que respeite a diversidade linguiacutestica

como no caso desta comunidade Desta forma se faz necessaacuterio presenccedila na escola de

inteacuterpretes vindo das cidades mais proacuteximas das terras indiacutegenas de modo que

32

[] o Professor ministra as aulas em Portuguecircs e tem disciplina em Guarani

Observamos que pelo fato de os professores da pedagogia diferenciada indiacutegena

realizarem sua formaccedilatildeo em universidades locais onde o assunto em torno da surdez

e da Libras satildeo discutidos estes profissionais tecircm uma formaccedilatildeo que respeita natildeo soacute

a cultura e a liacutengua indiacutegena mas tambeacutem a cultura e a Liacutengua de Sinais

caracteriacutesticas que estatildeo presentes nas escolas indiacutegenas biliacutengues em que a liacutengua

de instruccedilatildeo eacute o Guarani-Portuguecircs(VILHALVA 2012 p 11b)

Poreacutem o que natildeo eacute o caso da escola Araporatilde mencionada por Vilhalva (2012) que teve

preferecircncia do inteacuterprete indiacutegena para a preservaccedilatildeo da cultura liacutengua e saber Foi observado

na pesquisa que os indiacutegenas surdos com vinte anos de idade em diante demonstram

seguranccedila ao sinalizar com o pesquisador surdo usando seus sinais emergentes de forma

natural Os mais novos de escolas indiacutegenas mas da mesma comunidade indiacutegena natildeo

demonstraram o uso de sinais emergentes e sim apresentaram diretamente sua comunicaccedilatildeo

em Libras Entretanto os resultados apontam que natildeo haacute como dizer se o atendimento

educacional para o iacutendio surdo estaacute acontecendo em todas as comunidades indiacutegenas ldquopois

interfere numa questatildeo de respeitar o que diz o proacuteprio plano de educaccedilatildeo sobre uma visatildeo

amplamente ligada agrave liacutengua cultura e diversidade nas escolas e terras indiacutegenasrdquo (ibid p36)

Nesta oacutetica se realmente as poliacuteticas linguiacutesticas fossem mais enfaacuteticas em suas

propostas de realizar a planificaccedilatildeo linguiacutestica incluindo a criaccedilatildeo de escolas biliacutengues e de

legislaccedilotildees especiacuteficas para as questotildees referentes agraves liacutenguas o indiviacuteduo indiacutegena surdo

poderia ter seus direitos linguiacutesticos assegurados

Neste sentido resgata-se o Referencial Curricular Nacional para Escolas Indiacutegenas

(1998) o qual menciona que

[] as tradiccedilotildees culturais os conhecimentos acumulados a educaccedilatildeo das geraccedilotildees

mais novas as crenccedilas o pensamento e a praacutetica religiosa as representaccedilotildees

simboacutelicas a organizaccedilatildeo poliacutetica os projetos de futuro enfim a reproduccedilatildeo

sociocultural das sociedades indiacutegenas satildeo na maioria dos casos manifestaccedilotildees

atraveacutes do uso de uma liacutengua Mesmo os povos indiacutegenas que satildeo hoje monoliacutengues

em liacutengua portuguesa continuam a usar a liacutengua de seus ancestrais como um siacutembolo

poderoso para onde confluem muitos de seus traccedilos identificatoacuterios construindo

assim um quadro de bilinguismo simboacutelico importante [grifo nosso]

Ou seja assim como para o surdo urbano brasileiro eacute reconhecida legalmente sua

liacutengua natural - Libras e a Liacutengua Portuguesa como segunda liacutengua -L2 para o indiacutegena surdo

deveria ser assegurado o mesmo direito para aprender esta forma de comunicaccedilatildeo ndash Liacutengua de

Sinais como primeira liacutengua e como segunda liacutengua a Liacutengua de sua etnia na modalidade

33

escrita Sendo portanto biliacutengue ou ainda triliacutengue com aquisiccedilatildeo da Liacutengua Portuguesa

tambeacutem na modalidade escrita

Nesta perspectiva observa-se que Saacute (2011 p33) afirma que tanto indiacutegenas como

surdos tecircm uma liacutengua proacutepria e uma cultura diferenciada Entatildeo porque natildeo ser reconhecida

legalmente a Liacutengua de Sinais utilizada pelos iacutendios surdos e a Liacutengua de sua comunidade

Como bem percebido por Vilhalva haacute a carecircncia de pesquisas voltadas para o registro de

liacutengua de sinais entre os iacutendios surdos brasileiros o que certamente constitui-se em um dos

fatores que favorecem a existecircncia desta lacuna na legislaccedilatildeo E que tal fato deveria ser um

despertar para pesquisadores da linguiacutestica sejam ouvintes ou surdos

34

2 A HISTOacuteRIA DO POVO INDIacuteGENA SATEREacute-MAWEacute CULTURA E LIacuteNGUA

Os povos indiacutegenas durante muito tempo foram considerados como povos sem

histoacuteria e sem uma liacutengua proacutepria Poreacutem com as muitas lutas eacutetnicas com estudos

antropoloacutegicos e com as abordagens historiograacuteficas iniciou-se uma valorizaccedilatildeo da

sociedade indiacutegena passando assim o povo indiacutegena a ser perspectivado nas suas

singularidades histoacutericas culturais e linguiacutesticas

Vale ressaltar que quando se refere a ldquoliacutenguasrdquo sabe-se que natildeo haacute apenas uma liacutengua

indiacutegena Existem muitos povos ou etnias indiacutegenas distintas As liacutenguas indiacutegenas no Brasil

se agrupam em famiacutelias linguiacutesticas ou seja famiacutelias que tecircm semelhanccedilas entre si e que satildeo

agrupadas por sua vez em troncos linguiacutesticos assim como as liacutenguas isoladas12

ou seja

liacutenguas que natildeo parecem ter parentesco com nenhuma das famiacutelias linguiacutesticas conhecidas

Segundo Rodrigues (2002) as famiacutelias indiacutegenas estatildeo agrupadas em Tronco

Linguiacutestico Tupi famiacutelia Tupi-Guarani (Akwaacutewa Amanayeacute Anambeacute Apiakaacute Araweteacute

Asurini Avaacute Guajaacute Guarani Kamayuraacute Kayabi Suryiacute Kaiwaacute) famiacutelia Munduruku

(Kuruaacuteya Mundurukuacute) Famiacutelia Tupari (Makuraacutep Tupari Wayoroacute) Famiacutelia Arikeacutem

(Karitiaacutena) Famiacutelia Juruna (Juruna) Famiacutelia Mondeacute (Aruaacute Cinta-Larga Gaviatildeo Mekeacutem

Mondeacute Suruiacute Zoroacute) Famiacutelia Ramaraacutema (Araacutera Itoqapuk) Outras Liacutenguas (Aweti

Puruboraacute Satereacute-Maweacute) entre outros troncos linguiacutesticos como Macro-Jecirc e sua diversidade

de famiacutelias existentes entre elas as liacutenguas isoladas

Um desses povos indiacutegenas foi o da etnia Satereacute-Maweacute Estes sofreram muitas

influecircncias em seu modo de vida advinda do contato com grupos natildeo indigenas que implicou

no processo de perda de muitos dos seus aspectos culturais A histoacuteria relata que o contato se

deu pela chegada dos colonizadores e posteriormente das missotildees religiosas E na atualidade

por ocupantes de terras como fazendeiros madeireiros emigrantes de outros Estados Foram

perdas irreparaacuteveis todavia como elo de resistecircncia procuraram sustentar em sua estrutura

original sua liacutengua

12

Segundo Rodrigues (2002 p93) liacutenguas isoladas refere-se as liacutenguas isoladas linguisticamente ou seja

liacutenguas que natildeo revelam parentesco geneacutetico com nenhuma outra Natildeo pertencem a nenhuma famiacutelia (ou tronco)

isto eacute constituem famiacutelias de um soacute membro

35

21 Breve Relato Histoacuterico

A histoacuteria do povo indiacutegena Satereacute-Maweacute tem sido foco de estudos dos diversos

segmentos de pesquisas como as realizadas por antropoacutelogos historiadores religiosos e

cientistas da linguagem Estes relatam a origem a liacutengua e a cultura desse povo

Uggeacute (1993 p 5) informa que ldquoOs Maueacutes descendentes das tribos indiacutegenas

denominadas no passado pelo nome de ANDIRAacute e MARAGUAacute que faz parte da aacuterea cultural

Tapajoacutes-Madeira entre a divisa dos atuais Estados do Paraacute e Amazonasrdquo O autor ainda

menciona que cronistas exploradores missionaacuterios antropoacutelogos naturalistas do passado

identificaram os Maueacutes tambeacutem com outros nomes (Maooz Mabueacute Jaquezes Manguases

Mahueacutes Mauris Maweacute Maragua e Maraguazes)

A origem do nome Satereacute-Maweacute advem dos termos Satereacute (lagarta vermelha) que eacute o

nome do clatilde dos antigos chefes e Maweacute (papagaio inteligente guerreiro e curioso) que eacute o

nome mais comum de um dos grupos tribais que conseguiram sobreviver agrave extinccedilatildeo das

numerosas tribos indiacutegenas da ilha Tupinambarana do Meacutedio Amazonas (IDEM) Cerqua13

faz referecircncia agrave primeira notiacutecia sobre o povo Satereacute-Maweacute ldquoEacute por volta de 1669 quando o

Pe Betendorf duas vezes superior provincial dos jesuiacutetas lembra a ldquovila dos Maguasesrdquo

grafia antiga de Maueacutes [] (1980 p 209)rdquo ou seja Maueacutes foi residecircncia missionaacuteria mas

natildeo permanente dos padres pois os mesmos residiam mais em Tupinambarana (rio

Amazonas) atual Parintins e visitavam Maueacutes temporariamente

A etnia Satereacute-Maweacute sofreu muitas mudanccedilas de localidades devido muitos fatores

que contribuiacuteram para o deslocamento desse povo segundo explica Lorez apud Teixeira

(2005 p21)

Devido agraves guerras com os Munduruku e Parintintim e ao contato com os

portugueses os Satereacute-Maweacute perderam grande parte de seu territoacuterio original Em

1691 os Maweacute surgem na cartografia regional com o nome de Mabueacute(mapa do

Padre Samuel Fritz) Missotildees foram localizadas para os iacutendios Magueacute denominadas

Satildeo Joatildeo (Pinhel) e Santo Inaacutecio (Boim) Posteriormente em 1835 lutando ao lado

dos Munduruku e dos Mura como tambeacutem de outras tribos indiacutegenas do rio Negro

os Satereacute-Maweacute aderiram ao movimento cabano ateacute que em 1839 o conflito foi

debelado Devido agraves epidemias agraves lutas e agraves perseguiccedilotildees aos povos indiacutegenas que

combatiam ao lado dos cabanos enormes aacutereas da Amazocircnia foram devastadas o

que provocou deslocamentos desses grupos populacionais de seus territoacuterios

ancestrais e de populaccedilatildeo Segundo relatos de viajantes desde o seacuteculo XVIII o

territoacuterio dos Satereacute-Maweacute vem sendo paulatinamente reduzido Essa reduccedilatildeo se

deu a partir das tropas de resgate que penetraram grandes aacutereas da Amazocircnia da

implantaccedilatildeo de missotildees jesuiacutetas e carmelitas ao longo dos principais rios

13

Dom Arcacircngelo Bispo Prelado de Parintins de 1980

36

amazocircnicos da ldquobusca desenfreadardquo das drogas do sertatildeo com a exploraccedilatildeo da

borracha durante o seacuteculo XIX e iniacutecio do XX e por fim da ldquoexpansatildeo econocircmica

das cidades de Maueacutes Barreirinha Parintins e Itaituba para o interior dos

municiacutepios alocando fazendas extraindo pau-rosa abrindo garimpos dominando a

economia indiacutegena atraveacutes de regatotildeesrdquo As cidades de Maueacutes Parintins e Itaituba

inclusive foram fundadas sobre restos de malocas dos Satereacute-Maweacute

Cerqua (1980 p265) destaca a localizaccedilatildeo dessa tribo delimitando que ldquoA tribo estaacute

localizada em sua maioria no Alto Andiraacute e no Marau afluente do Rio Maueacutes e sua aacuterea de

cerca de 639500 ha foi demarcada pelo Decreto nordm 76999rdquo Atualmente segundo Teixeira

(apud ALVAREZ 2009) os Satereacute-Maweacute hoje satildeo grupos de 8500 indiacutegenas dos quais 7502

moram na terra indiacutegena Andiraacute-Marau nos municiacutepios de Barreirinha Maueacutes e Parintins e

aproximadamente mil residem em aacutereas urbanas destes municiacutepios Sendo que outro grupo

vive na terra indiacutegena Coataacute-Laranjal junto ao grupo Munduruku e no municiacutepio de Borba

Uggeacute (1993) comenta que os Satereacute-Maweacute sempre tiveram vontade de manter a

proacutepria identidade tribal contudo eram carentes de apoio praacutetico para ajudaacute-los a enfrentar o

perigo do mundo moderno que tentavam ldquoinvadi-losrdquo Ou seja manipulaccedilotildees externas entre a

lideranccedila indiacutegenas dos Satereacute-Maweacute o alcoolismo a dependecircncia a violecircncia dos ldquobrancosrdquo

eram os maiores perigos para este povo Satereacute-Maweacute

Poreacutem o foco de resistecircncia manteve vivo no povo Satereacute aspectos culturais

importantes como o ritual da tucandeira O ritual eacute um marco na vida dos homens porque satildeo

chamados pela formiga (tucandeira) caso o indiacutegena natildeo atenda o chamado a formiga o

levaraacute a loucura ateacute chegar agrave morte A tucandeira eacute uma divindade muito respeitada pelos

Satereacute-Maweacute Em determinado momento da histoacuteria do povo Satereacute-Maweacute o ritual da

tucandeira chegou ao ponto de natildeo ser mais praticado em decorrecircncia da imposiccedilatildeo religiosa

mas apoacutes perceberam a grande perda cultural que isso representaria voltaram a praticaacute-lo a

recuperando como parte de sua cultura

22 Classificaccedilatildeo da liacutengua Satereacute-Maweacute

Segundo Teixeira (2005) a anaacutelise da situaccedilatildeo linguiacutestica do povo Satereacute-Maweacute

baseia-se na concepccedilatildeo defendida por antropoacutelogos e linguistas que a liacutengua se configura

como um importante instrumento da cultura e da identidade de uma populaccedilatildeo

A populaccedilatildeo indiacutegena Satereacute-Maweacute pertence vaacuterios aspectos agrave famiacutelia Linguiacutestica

Tupi Rodrigues (apud ALVAREZ 2009 p17) aborda que a liacutengua da tribo Satereacute-Maweacute eacute a

37

uacutenica liacutengua de uma famiacutelia do tronco Tupi E sua classificaccedilatildeo linguiacutestica como pertencente

ao tronco Tupi foi dada pelo etnoacutegrafo Curt Nimuendajuacute (1948)

A liacutengua Satereacute-Maweacute integra o tronco linguiacutestico Tupi Segundo o etnoacutegrafo Curt

Nimuendajuacute (1948) ela difere do Guarani-Tupinambaacute Os pronomes concordam

perfeitamente com a liacutengua Curuaya-Munduruku e a gramaacutetica ao que tudo indica

eacute tupi O vocabulaacuterio Maweacute conteacutem elementos completamente estranhos ao Tupi

mas natildeo pode ser relacionada a nenhuma outra famiacutelia linguiacutestica Desde o seacuteculo

XVIII seu repertoacuterio incorporou numerosas palavras da liacutengua geral

Os homens atualmente satildeo biliacutengues falando o Satereacute-Maweacute e o portuguecircs mas a

maioria das mulheres apesar de trecircs seacuteculos de contato com os brancos soacute fala a

liacutengua Satereacute-Maweacute (TEIXEIRA 2005 p95)

A liacutengua Satereacute-Maweacute eacute falada tradicionalmente por quase todas as comunidades haacute

mais de 300 anos entretanto foi inevitaacutevel para os indiacutegenas Satereacute-Maweacute conhecer os

haacutebitos e a liacutengua portuguesa devido agrave invasatildeo dos europeus em suas terras no seacuteculo passado

o que causou a mistura de liacutenguas e consequentemente as influecircncias dos padrotildees culturais

natildeo indiacutegenas

Os Satereacute-Maweacute foram entatildeo forccedilados a se refugiarem nas zonas urbanas e ateacute mesmo

em outros estados Outro impacto que alterou o modo de falar dos liacutederes indiacutegenas foi a

necessidade de buscar apoio logiacutestico para suas comunidades principalmente para tratar da

sauacutede de sua populaccedilatildeo que sofria de doenccedilas como malaacuteria tuberculose sarampo e outras

por eles desconhecidas que causaram muitas mortes

Desta forma com o passar dos anos a liacutengua Satereacute-Maweacute sofreu influecircncias lexicais

e fonoloacutegicas do Nheengatu na regiatildeo do Andiraacute Pesquisas realizadas recentemente por

Teixeira (2005) delimitam um perfil linguiacutestico que permite conhecer um pouco mais da

cultura linguiacutestica Satereacute-Maweacute sendo esta considerada por meio da distribuiccedilatildeo geograacutefica e

etaacuteria dos que falam e natildeo falam o idioma Satereacute-Maweacute Desta feita segundo o autor

O idioma Satereacute-Maweacute eacute mais falado na aacuterea do Marau que nas demais (Andiraacute

Uaicurapaacute e Koataacute-Laranjal) Tanto na aacuterea do Andiraacute como no Marau o idioma

materno eacute falado por praticamente todas as comunidades situadas proacuteximo agraves

cabeceira dos rios (Alto Andiraacute e Alto Marau) Para as aacutereas mais proacuteximas das

cidades os falantes atingem a quase totalidade dos moradores do Baixo Marau Jaacute

no baixo Andiraacute esse nuacutemero aumenta bastante nas duas comunidades mais

proacuteximas de Parintins e Barreirinha ou seja Ponta Alegre e Guaranatuba As aacutereas

de povoamento mais recente (Uaicurapaacute Koataacute-Laranjal e mais duas no Andiraacute) tecircm

tendecircncia a apresentar proporccedilotildees menores de falantes do idioma Satereacute-Maweacute

(ibid p95)

38

O autor esclarece que moradores em terras indiacutegenas satildeo mais falantes da Liacutengua

Satereacute-Maweacute do que os que moram proacuteximo ou dentro da aacuterea urbana A pesquisa ainda

mostra agrave necessidade de sensibilizar a comunidade indiacutegena Maweacute sobre a importacircncia da

valorizaccedilatildeo de sua liacutengua agrave recuperaccedilatildeo de suas memoacuterias histoacutericas e a reafirmaccedilatildeo de suas

identidades eacutetnicas

221 Contexto educacional escolar entre os Satereacute-Maweacute

O contexto educacional Satereacute-Maweacute tem como base o reconhecimento constitucional

fundamentado na legislaccedilatildeo em vigor segundo a qual ldquosatildeo reconhecidos aos iacutendios sua

organizaccedilatildeo social costumes liacutenguas crenccedilas e tradiccedilotildees []rdquo

Por isso fundamentos gerais da educaccedilatildeo escolar indiacutegena baseiam-se na proposta do

Referencial Curricular Nacional para Escolas Indiacutegenas (1998) que contempla

Multietnicidade pluralidade e diversidade 2 Educaccedilatildeo e conhecimentos indiacutegenas 3

Autodeterminaccedilatildeo 4 Comunidade educativa indiacutegena 5 Educaccedilatildeo intercultural

comunitaacuteria especiacutefica e diferenciada Assim

Parte do sistema nacional de educaccedilatildeo a escola indiacutegena eacute um direito que deve ser

assegurado por uma nova poliacutetica puacuteblica a ser construiacuteda atenta e respeitosa frente

ao patrimocircnio linguiacutestico cultural e intelectual dos povos indiacutegenas Esse esforccedilo

de projetar uma nova educaccedilatildeo escolar indiacutegena soacute seraacute realmente concretizado com

a participaccedilatildeo direta com os principais interessados ndash os povos indiacutegenas atraveacutes de

suas comunidades educativas [] A participaccedilatildeo da comunidade no processo

pedagoacutegico da escola fundamentalmente na definiccedilatildeo dos objetivos dos conteuacutedos

curriculares e no exerciacutecio das praacuteticas metodoloacutegicas assume papel necessaacuterio para

a efetividade de uma educaccedilatildeo especifica e diferenciada (ibid p24)

Poreacutem para que de fato seja garantida uma educaccedilatildeo diferenciada natildeo eacute suficiente

que somente os conteuacutedos sejam ensinados atraveacutes do uso das liacutenguas maternas mas se faz

necessaacuterio que se incluam os conteuacutedos curriculares propriamente indiacutegenas assim como os

modos proacuteprios de transmissatildeo deste saber Em pesquisa realizada pela revista Amazocircnia

(AMAZONAS 2000) intitulada como ldquoA silenciosa revoluccedilatildeo dos Iacutendiosrdquo o povo Satereacute-

Maweacute foi considerada um dos melhores exemplos para se falar em educaccedilatildeo indiacutegena Tal

afirmaccedilatildeo foi proferida pelo antropoacutelogo Ademir Ramos (professor da Universidade do

Estado do Amazonas) Segundo o entrevistado a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 mudou a

postura em relaccedilatildeo aos iacutendios estabelecendo um processo de educaccedilatildeo diferenciada que

39

fomenta o orgulho de aprender sua lingua tambeacutem no ambiente escolar possibilitando relatos

como o transcrito abaixo

Alunos como Dati 11 da aldeia de Molongotuba carregam com orgulho a cartilha

bdquoMoweeghap onde estatildeo registrados escritos ndash liacutengua Satereacute do tronco tupi e

desenhos de situaccedilotildees do cotidiano das aldeias falando de peixes aves aacutervores e

animais A liacutengua o menino aprendeu a falar com os pais e depois na escola onde

haacute quatro anos aprendeu a escrevecirc-la Aleacutem disso ele tem aprendido tambeacutem a

bdquoliacutengua dos brancos‟

Ainda sobre a importacircncia desta perspectiva educacional em nota o vice-presidente

da organizaccedilatildeo dos professores indiacutegenas Satereacute Gecinaldo Cabral comentou sobre a

mesma enfatizando a relevacircncia do processo educacional na vida dos iacutendios da tribo Satereacute

que por serem biliacutengues satildeo capazes de expressarem e defenderem o seu povo Portanto ao

ensinar a liacutengua nativa agraves crianccedilas promovem o resgate da cultura tradiccedilatildeo e conhecimentos

indiacutegenas Uma educaccedilatildeo diferenciada natildeo resumida na liacutengua majoritaacuteria ou seja Liacutengua

Portuguesa mas na liacutengua proacutepria das etnias E desta forma sendo respeitada a diversidade

cultural de cada povo

Nesta perspectiva Teixeira (2005) em sua pesquisa descreve que a realidade do

contexto educacional escolar do povo Satereacute-Maweacute explicando que

O quadro situacional dos Satereacute-Maweacute no que concerne agrave escolarizaccedilatildeo e agrave

escolaridade apresenta elementos que devem ser entendidos natildeo soacute como resultado

da aplicaccedilatildeo de poliacuteticas educacionais mas tambeacutem como explicitaccedilatildeo de estrateacutegias

poliacuteticas usadas pelos iacutendios na negociaccedilatildeo de visibilidade e reconhecimento no

espaccedilo puacuteblico brasileiro A busca dos Satereacute-Maweacute por escola explicitada na

forma de documentos reivindicatoacuterios enviados ao poder puacuteblico solicitando

recursos para suas escolas demonstrarem os conhecimentos escolares e a

certificaccedilatildeo que a escolaridade concede importantes instrumentos de luta no

processo histoacuterico de construccedilatildeo de sua identidade cultural e de desenvolvimento de

seus projetos sociais (ibid p103)

O autor tambeacutem evidecircncia que a escolarizaccedilatildeo ainda natildeo estaacute alcanccedilando a totalidade

dos Satereacute-Maweacute sendo assim

[] com idade compreendida entre 7 e 24 anos nem nas aacutereas urbanas onde se

verifica o maior percentual de matriacuteculas (839) nem nas terras indiacutegenas (596)

Se forem consideradas as pessoas que tecircm entre 7 e 17 anos de idade os percentuais

sobem bastante mas ainda demonstram a falta de acesso da populaccedilatildeo satereacute-maweacute

agrave escola A pior situaccedilatildeo ocorre na aacuterea indiacutegena onde aproximadamente 13 dos

indiviacuteduos dessa faixa etaacuteria estatildeo fora da escola Na aacuterea urbana o percentual dos

que estatildeo fora eacute de 8 Aparentemente o elevado percentual de pessoas entre 7 e 17

40

anos de idade que estatildeo fora da escola em aacuterea indiacutegena deveria estar relacionado

com a ausecircncia de ensino fundamental de 4ordf a 8ordf seacuterie nas aldeias

No entanto isto eacute apenas uma parte da justificativa pois de 142 pessoas dessa faixa

etaacuteria que natildeo frequentam a escola apenas 32 (225) declararam ter concluiacutedo a

quarta seacuterie do ensino fundamental ou seja poderiam estar fora da escola por falta

do ensino de 5ordf a 8a seacuterie na aacuterea indiacutegena Aleacutem disso 148 crianccedilas entre 7 e 14

anos de idade natildeo frequentam a escola significando que haacute problemas na oferta de

vagas para as crianccedilas satereacute-maweacute na aacuterea indiacutegena Dessas crianccedilas mais da

metade se concentra em apenas 14 aldeias22 das quais 4 compreendendo as

pequenas comunidades de Satildeo Luiacutes Limoal Tigre a Arumatuba no Andiraacute natildeo tecircm

nenhuma crianccedila estudando Na aldeia de Tabatinga no Andiraacute apenas uma das

cinco crianccedilas moradoras estatildeo estudando e na de Santo Antocircnio tambeacutem no

Andiraacute 12 entre 16 crianccedilas de 7 a 14 anos natildeo frequentam a escola(TEIXEIRA

2005 p 104)

Segundo o autor nas cidades de Maueacutes Parintins e Barreirinha a escola frequentada

pelos Satereacute-Maweacute natildeo se define como escola indiacutegena nem tatildeo pouco como especiacutefica ou

diferenciada Talvez seja uma realidade encontrada em todas as escolas indiacutegenas no

Amazonas O que se configura em um problema na medida em que segundo Sobrinho

(2011) a escola esta definida a partir de um modelo da ldquoescola dos brancosrdquo que certamente

altera interferindo diretamente nas questotildees culturais que fazem parte do universo desses

povos gerando assim processo de exclusatildeo O autor ainda comenta que

mesmo diante da resoluccedilatildeo nordm 112011 do Conselho Estadual de Educaccedilatildeo que traz

garantias aos indiacutegenas independentemente de onde vivam ao respeito a sua liacutengua

conhecimentos e tradiccedilotildees proacuteprias nas escolas essa lei passa completamente

despercebida (ibid p 209)

Sobre a questatildeo Teixeira (2005) menciona que nas terras indiacutegenas onde estaacute em

curso a criaccedilatildeo da escola indiacutegena com educaccedilatildeo escolar especiacutefica e diferenciada - as taxas

de escolarizaccedilatildeo deixam evidente que o poder puacuteblico tem investido somente nas seacuteries

iniciais do ensino fundamental o qual apresenta o percentual de 871 de taxa liacutequida de

escolarizaccedilatildeo ou seja natildeo haacute oferta regular para as seacuteries finais do ensino fundamental nem

de ensino meacutedio Isso sem relatar a falta de formaccedilatildeo de professores indiacutegenas entre outros

fatores conforme Franceschini apresenta

A necessidade de formaccedilatildeo especiacutefica e diferenciada de nuacutemero maior de

professores principalmente para atuar nos segmentos mais adiantados do Ensino

Fundamental a implantaccedilatildeo de mais turmas de 6ordm ao 9ordm anos e do Ensino Meacutedio na

aacuterea indiacutegena construccedilatildeo-reflexatildeo do Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico das escolas

Satereacute-Maweacute associada a uma praacutetica pedagoacutegica condizente e a construccedilatildeo de

material didaacutetico proacuteprio satildeo necessidades urgentes do povo Satereacute-Maweacute Pois

apesar da legislaccedilatildeo vigente dar aos indiacutegenas o direito de escolherem seu modelo

educacional e ensinarem sua liacutengua e etnoconhecimentos na maioria das escolas das

41

comunidades Satereacute-Maweacute o modelo educacional adotado natildeo se diferencia muito

do modelo das escolas rurais da regiatildeo sendo que a liacutengua e os etnoconhecimentos

indiacutegenas natildeo constituem de fato conhecimentos que fazem parte do programa

educacional e que satildeo trabalhados de forma sistemaacutetica na escola (2012 p5)

Portanto os resultados apresentados pelo pesquisador comprovam que as accedilotildees

governamentais para educaccedilatildeo escolar indiacutegena estatildeo distantes de cumprir na sua plenitude

preceitos constitucionais o que implica em prejuiacutezo natildeo soacute na educaccedilatildeo escolar indiacutegena

como na proacutepria cultura desse povo

42

3 METODOLOGIA IMPLEMENTADA NA PESQUISA

A metodologia utilizada neste trabalho deu iniacutecio com o estudo bibliograacutefico e

pesquisa de campo Realizou-se uma investigaccedilatildeo primeiramente sobre os estudos surdos na

perspectiva linguiacutestica e cultural a posteriormente na literaturas e estudos sobre os iacutendios da

etnia Satereacute-Maweacute tomando como princiacutepio a origem os fundamentos e a histoacuteria do povo e

da Liacutengua Satereacute-Maweacute Na sequecircncia a concretizaccedilatildeo da pesquisa de campo com a

investigaccedilatildeo do objeto de estudo o iacutendio surdo e sua situaccedilatildeo sociolinguiacutestica da etnia Satereacute-

Maweacute

Figura 1 ndash Croqui da aacuterea e localidade da pesquisa

Fonte Mapa do Estado do Amazonas Censo 2010 ndash IBGE

Organizado por Vicente de Paulo Silva de Azevedo

31 Aacuterea e localidade da pesquisa

A proposta do processo investigativo para o mapeamento do objeto da pesquisa foi

demarcada delimitando a aacuterea do campo da pesquisa a Microrregiatildeo de Parintins A

Microrregiatildeo de Parintins (AMAZONAS 2012) eacute constituiacuteda por Barreirinha Boa Vista do

Ramos Maueacutes Nhamundaacute Parintins Satildeo Sebastiatildeo do Uatumatilde e Urucaraacute Vale ressaltar que

natildeo foi coberta pela pesquisa a populaccedilatildeo Satereacute-Maweacute residente em Manaus (AM)

43

32 Estrateacutegias gerais para a realizaccedilatildeo da coleta de dados

Primeiramente foi feita uma busca de dados pelo IBGE o qual informou que natildeo

havia qualquer registro sobre a populaccedilatildeo indiacutegena de surdos Sem resultado satisfatoacuterio foi

organizado um cronograma de viagens

A primeira viagem foi para o municiacutepio de Parintins onde foi feita uma visita na casa

de um iacutendio para possiacutevel coleta de dados Poreacutem o cacique Sr Luiz de Oliveira infelizmente

tambeacutem comunicou a falta desse dado na comunidade Portanto foi exposto a esse liacuteder o

objetivo da referida pesquisa apresentando assim a importacircncia da comunicaccedilatildeo entre os

seres humanos e interaccedilatildeo entre os diferentes modos linguiacutesticos de convivecircncia social e

educacional

O cacique prontamente mostrou-se aberto a contribuir para que a pesquisa fosse

concretizada Assim sendo iniciou-se a trajetoacuteria do levantamento de iacutendios surdos e sua

forma de comunicaccedilatildeo como tambeacutem seu contexto educacional escolar

Ao retornar a Manaus buscou-se apoio agraves instituiccedilotildees representativas com a visita agrave

sede da Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio ndash FUNAI oacutergatildeo responsaacutevel pelas accedilotildees indiacutegenas a

qual informou que se fazia necessaacuterio uma autorizaccedilatildeo para dar seguimento agrave pesquisa Logo

providecircnciou-se o documento requerido na Coordenaccedilatildeo de Educaccedilatildeo Indiacutegena localizada no

municiacutepio de Barreirinha

Ao chegar agrave cidade de Barreirinha um novo contato foi estabelecido com o

Coordenador indiacutegena o Sr Santino Lopes de Oliveira que se mostrou receptivo com o

projeto e se dispocircs prontamente a colaborar

Com a autorizaccedilatildeo e aprovaccedilatildeo das autoridades indiacutegenas e de posse do documento

houve o comprometimento de que seguiria as normas estabelecidas que disciplinam o

ingresso em terras indiacutegenas pela entidade (ANEXO A) Assim foi possiacutevel sistematizar os

procedimentos para a coleta de dados

33 Procedimentos da coleta

A coleta de dados foi realizada de acordo com o cronograma estabelecido para esta

etapa da pesquisa O procedimento metodoloacutegico usado para a coleta de dados foi

fundamentado em meacutetodo misto por meio de observaccedilotildees questionamento participaccedilotildees em

reuniotildees com representantes da lideranccedila indiacutegena local conversas informais e espontacircneas

44

com famiacutelias e comunidade indiacutegena Satereacute-Maweacute Utilizou-se como instrumento para

coleta caderno de registro de campo fotos filmagens gravaccedilotildees e questionaacuterio (ANEXO B)

34 Articulaccedilatildeo local

O primeiro passo foi estabelecer parcerias com colaboradores ou seja lideranccedilas

indiacutegenas professores indiacutegenas professores da rede puacuteblica inteacuterpretes oacutergatildeos ligados agraves

causas indiacutegenas alunos da Universidade do Estado Amazonas As instituiccedilotildees

representativas educacionais tambeacutem colaboraram telefonando ou perguntando para outras

pessoas sobre a existecircncia de indiacutegenas surdos e locais de suas residecircncias

A participaccedilatildeo das lideranccedilas indiacutegenas como os professores e colaboradores que

apoiaram e permitiram entrar em suas terras para fazer o levantamento foi de extrema

importacircncia pois muito contribuiacuteram nas traduccedilotildees das palavras indiacutegenas para a Liacutengua

Portuguesa

35 Abordagem ao objeto da pesquisa

Em cada viagem agraves comunidades primeiramente fazia-se contato com o tuxaua com

a finalidade de apresentar o objetivo da pesquisa Desta forma era explicado para eles a

importacircncia da contribuiccedilatildeo que o estudo poderia trazer agravequela comunidade Por meio da

autorizaccedilatildeo concedida obtinha-se a colaboraccedilatildeo para a coleta de dados junto ao objeto da

pesquisa Jaacute as abordagens feitas em ambiente familiar tambeacutem era solicitado o consentimento

para a realizaccedilatildeo da pesquisa Com permissatildeo concedida iniciamos as observaccedilotildees e

intervenccedilotildees Com devida autorizaccedilatildeo utilizaacutevamos para registro cacircmeras fotograacuteficas e em

seguida registraacutevamos no caderno de campo da pesquisa (ANEXO CC-1 e C-2)

45

4 MAPEAMENTO DOS IacuteNDIOS SURDOS DA ETNIA SATEREacute-MAWEacute NA

MICRORREGIAtildeO DE PARINTINS E SUA REALIDADE LINGUIacuteSTICA E

EDUCACIONAL ESCOLAR

No Brasil haacute uma diversidade de etnias indiacutegenas Rodrigues (2002) satildeo mais de 170

liacutenguas faladas e dialetos pelos povos indiacutegenas Estas liacutenguas satildeo distribuiacutedas em dois

grandes troncos linguiacutesticos

[] o Tupi (dividido em 10 famiacutelias) e o Macro-Jecirc (dividido em 9 famiacutelias) e de

outras 20 famiacutelias linguumliacutesticas natildeo classificadas em troncos Apenas nove liacutenguas

indiacutegenas tecircm acima de 5000 falantes guajajara (satereacute-) maueacute xavante

ianomacircmi terena macuxi caingangue ticuna e guarani estes uacuteltimos com 30000

indiviacuteduos Cerca de 110 liacutenguas contam com menos de 400 falantes 14

Entretanto em meio a essa diversidade linguiacutestica poucos satildeo documentados

Pesquisadores e grupos indiacutegenas tentam um reavivamento eacutetnico e linguiacutestico

documentando-os para salvar sua liacutengua seu idioma

Diante do exposto a uacutenica liacutengua de sinais indiacutegena registrada eacute a utilizada pela etnia

indiacutegena brasileira dos Urubu-Kaapor como jaacute mencionada anteriormente Pesquisas no Mato

Grosso do Sul em aldeias indiacutegenas apresentaram a existecircncia de iacutendios surdos que utilizam

sinais emergentes ainda natildeo registrados propriamente como uma liacutengua

Pouco registro tem-se encontrado sobre iacutendios surdos muito menos sobre a liacutengua ou

a forma desses sujeitos se comunicarem De acordo com dados do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatiacutestica (IBGE) natildeo haacute registros sobre iacutendios surdos nem no Anuaacuterio

Estatiacutestico do Amazonas do IBGE tatildeo pouco na Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio (FUNAI)

sendo portanto necessaacuteria uma pesquisa in loco para a busca desses dados

Eacute importante destacar que a pessoa surda natildeo nasce com a incapacidade de falar ou

seja a pessoa surda natildeo eacute muda natildeo fala por natildeo poder ouvir a ldquo[] A surdez natildeo estaacute

absolutamente vinculada agrave mudez []rdquo (RAMOS apud STROBEL 2008 p34)

Por isso as teorias da aquisiccedilatildeo da linguagem humana justificam como o ser humano

(re)inventa modos para expressar suas necessidades e formas de ver o mundo realizando a

comunicaccedilatildeo com seus pares

14

Classificaccedilatildeo das Liacutenguas Indigenas Brasileiras segundo Aryon Rodrigues (2002) Disponiacutevel em

lthttpwwwgeocitieswsindiosbr_nicolaiclassifhtmlgt

46

Partindo dessa percepccedilatildeo este estudo apresenta uma contribuiccedilatildeo de informaccedilotildees

cientiacuteficas que seratildeo um acreacutescimo aos conhecimentos existentes sobre a comunicaccedilatildeo dos

surdos indiacutegenas

41 Mapeamento da existecircncia dos iacutendios surdos na microrregiatildeo de Parintins

Conhecer os indiviacuteduos sujeitos da pesquisa ndash iacutendios surdos Satereacute-Maweacute - eacute a fase

fundamental deste estudo pois dessa forma eacute possiacutevel compreender a forma predominante de

comunicaccedilatildeo deles para poder elaborar material concreto ndash dicionaacuterio triliacutengue - pertinente

para auxiliar na forma da comunicaccedilatildeo deles com a sua etnia atraveacutes da liacutengua desse povo

indiacutegena Nesta seccedilatildeo estatildeo apresentados os dados que constituem um mapeamento da

quantidade de indiviacuteduos surdos que estatildeo inseridos no contexto de Parintins Barreirinha

Boa Vista do Ramos e Maueacutes locais estes onde haacute maior contato com etnia foco deste estudo

Abaixo segue o histoacuterico do municiacutepio de Parintins e demais microrregiotildees citadas na

pesquisa15

411 Histoacuterico de Parintins

Parintins eacute um municiacutepio brasileiro situado no interior do estado do Amazonas

proacuteximo agrave divisa com o estado do Paraacute Regiatildeo Norte do paiacutes Estaacute situado na mesorregiatildeo do

Centro Amazonense e microrregiatildeo de mesmo nome e localiza-se a leste da capital do estado

distando desta cerca de 370 quilocircmetros Com uma populaccedilatildeo estimada em 2012 pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 103 828 habitantes sendo o segundo

mais populoso do estado do Amazonas que tem uma aacuterea de 5 952 kmsup2 representando

03789 do Estado do Amazonas 01545 da regiatildeo Norte brasileira e 00701 do territoacuterio

brasileiro8

Desse total 12 4235 kmsup2 estatildeo em periacutemetro urbano

O municiacutepio de Parintins como quase todos os demais municiacutepios brasileiros foi

primitivamente habitado por indiacutegenas Sua descoberta ocorreu em 1749 quando descendo o

rio Amazonas o explorador Joseacute Gonccedilalves da Fonseca notou uma ilha que por sua extensatildeo

se sobressaiacutea das outras localizadas agrave direita do grande rio As primeiras viagens exploratoacuterias

da Coroa Portuguesa em Parintins foram registradas somente em 1796 A fundaccedilatildeo da

15

O histoacuterico de Parintins e demais microrregiotildees estatildeo disponiacuteveis no site lthttpptwikipediaorgwiki_Parintinsgt

47

localidade em 1796 foi feita por Joseacute Pedro Cordovil que veio com seus escravos e

agregados para se dedicar agrave pesca do pirarucu e agrave agricultura chamando-a Tupinambarana A

rainha D Maria I deu-lhe a ilha de presente Ali instalado fundou uma fazenda de cacau

dedicando-se agrave cultura desse produto em grande escala Tupinambarana foi aceita e elevada agrave

missatildeo religiosa em 1803 pelo capitatildeondashmor do Paraacute o Conde dos Arcos que incumbiu sua

direccedilatildeo ao frei Joseacute das Chagas passando a ser denominada como a Vila Nova da Rainha

O primeiro nome recebido por Parintins jaacute na categoria de Freguesia foi Nossa

Senhora do Carmo de Tupinambarana em 1833 O nome da Freguesia soacute foi alterado em

1880 quando a sede passou a chamar-se ldquoParintinsrdquo em homenagem aos povos indiacutegenas

Parintintins um dos inuacutemeros que habitavam a regiatildeo

A eficiente atuaccedilatildeo de frei Joseacute provocou um surto de progresso e desenvolvimento na

localidade mediante a organizaccedilatildeo da comarca do Alto Amazonas Em 25 de julho de 1833

passa agrave freguesia com o nome de Freguesia de Nossa Senhora do Carmo de Tupinambarana

Era ainda Tupinambarana simples freguesia quando iniciou a revoluccedilatildeo dos Cabanos no Paraacute

e se alastrou por toda a proviacutencia O seu vigaacuterio padre Torquato Antocircnio de Souza teve

atuaccedilatildeo destacada durante a sediccedilatildeo servindo de delegado dos legalistas no Baixo Amazonas

Tupinambarana talvez porque estivesse bem defendida foi poupada aos ataques dos

Cabanos

Em 24 de outubro de 1848 a lei provincial do Paraacute nordm 146 elevou a freguesia agrave

categoria de vila com a denominaccedilatildeo de Vila Bela da Imperatriz e constituiu o municiacutepio ateacute

entatildeo ligado a Maueacutes Em 15 de outubro de 1852 pela lei nordm 02 foi confirmada a criaccedilatildeo do

municiacutepio Em 14 de marccedilo de 1853 deu-se a instalaccedilatildeo do municiacutepio de Parintins Em 24 de

agosto de 1858 foi criada pela lei provincial a comarca compreendendo os termos judiciaacuterios

de Vila Bela da Imperatriz e Vila Nova da Conceiccedilatildeo Em 30 de outubro de 1880 pela lei

provincial nordm 499 a sede do municiacutepio recebeu foros de municiacutepio e passou a denominar-se

Parintins Em 1881 foi desmembrado do municiacutepio de Parintins o territoacuterio que constituiu o

municiacutepio de Vila Nova de Barreirinha

A divisatildeo administrativa de 1911 figurou o municiacutepio com quatro distritos Parintins

Paranaacute de Ramos Jamundaacute e Xibuiacute Em 1933 aparece no quadro da divisatildeo administrativa

com um distrito apenas ndash o de Parintins Em 1 de dezembro de 1938 pelo decreto-lei estadual

nordm 176 eacute criado o distrito da Ilha das Cotias passando assim o municiacutepio a constituir-se de

dois distritos Parintins e Ilha das Cotias

Pela lei estadual nordm 226 de 24 de agosto de 1952 a comarca de Parintins perdeu os

termos judiciaacuterios de Barreirinha e Urucaraacute que foram transformados em comarcas Em 19 de

48

dezembro de 1956 a lei estadual nordm 96 desmembrou o municiacutepio de Parintins o distrito da

Ilha das Cotias que passou a constituir o municiacutepio de Nhamundaacute Em 10 de dezembro de

1981 a emenda constitucional nordm 12 eacute acrescido o territoacuterio de Parintins ao distrito de

Mocambo

O primeiro municiacutepio pesquisado eacute considerado o centro da microrregiatildeo Parintins

Segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 2103 a

populaccedilatildeo eacute de 109225 habitantes16

nesta localidade A Microrregiatildeo de Parintins eacute uma das

microrregiotildees do estado brasileiro do Amazonas pertencente agrave Mesorregiatildeo do Centro

Amazonense Estaacute dividida em sete municiacutepios Barreirinha Boa Vista do Ramos Maueacutes

Nhamundaacute Parintins Satildeo Sebastiatildeo do Uatumatilde e Urucaraacute De acordo com estimativas do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) a populaccedilatildeo da microrregiatildeo era de 262

719 habitantes em 2013

Seus municiacutepios limiacutetrofes satildeo Nhamundaacute ao norte Barreirinha ao sul Urucurituba ao

leste e os municiacutepios de Terra Santa e Juruti no estado do Paraacute O limite territorial entre

Parintins e Nhamundaacute se inicia na margem esquerda do rio Amazonas subindo este rio ateacute a

Barreira do Pauraacute A Serra de Parintins eacute usada para delimitar o fim dos limites territoriais

deste municiacutepio com Nhamundaacute Para delimitar os limites territoriais entre Parintins e

Barreirinha usa-se o divisor de aacuteguas dos rios Andiraacute-Uaicuparaacute juntamente com a linha

geodeacutesica que limita os estados do Amazonas e Paraacute Jaacute os limites territoriais com

Urucurituba satildeo iniciados no lago Arapapaacute no Paranaacute de Urucurituba Com o Estado do Paraacute

o limite tem iniacutecio na boca do igarapeacute do Valeacuterio na margem direita do rio Amazonas

Parintins eacute uma cidade marcada pelos traccedilos culturais poliacuteticos e econocircmicos

herdados dos portugueses espanhoacuteis italianos e tambeacutem dos japoneses tendo em vista que a

cidade possuiu uma relevante colocircnia destes imigrantes Natildeo se pode esquecer a importacircncia

dos ameriacutendios no quesito contribuiccedilatildeo eacutetnica Foram os ameriacutendios que iniciaram a ocupaccedilatildeo

humana na Amazocircnia e seus descendentes caboclos desenvolveram-se em contato iacutentimo com

o meio ambiente adaptando-se agraves peculiaridades regionais e oportunidades oferecidas pela

floresta

A cidade eacute um importante centro educacional de niacutevel meacutedio e superior do Estado do

Amazonas A cidade possui um dos mini-campus do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)

que oferece cursos em diferentes niacuteveis ensino meacutedio e ensino teacutecnico

16

Disponiacutevel emlthttpcidadesibgegovbrxtrastemasamazonas|parintins|estimativa-da-populacao-2013gt

Acesso em 28072014

49

Universidades puacuteblicas

- Universidade do Estado do Amazonas (UEA) eacute uma instituiccedilatildeo puacuteblica estadual de

ensino superior que oferece mais de vinte cursos distribuiacutedos em dezessete cidades

amazonenses (Parintins Manaus Presidente Figueiredo Itacoatiara Carauari Tabatinga

Tefeacute Laacutebrea Boca do Acre Coari Eirunepeacute Humaitaacute Manicoreacute Manacapuru Novo

Aripuanatilde Maueacutes e Satildeo Gabriel da Cachoeira) Foi criada pela lei estadual nordm 2637 de 12 de

janeiro de 2001 que proporcionou agraves fundaccedilotildees educacionais de ensino superior instituiacutedas

pelo Estado Em Parintins o Centro de Estudos Superiores (UEA) possui os cursos

Pedagogia Histoacuteria Geografia Fiacutesica Matemaacutetica Letras Portuguesa Quiacutemica Ciecircncias

Bioloacutegicas Tecnologia em Turismo Direito Sauacutede Coletiva Ciecircncias Econocircmicas e

Tecnologia em Gestatildeo Puacuteblica

- Instituto Federal do Amazonas (IFAM) O Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e

Tecnologia do Amazonas foi criado mediante integraccedilatildeo do Centro Federal de Educaccedilatildeo

Tecnoloacutegica do Amazonas e das Escolas Agroteacutecnicas Federais de Manaus e de Satildeo Gabriel

da Cachoeira

- Universidade Federal do Amazonas (UFAM) Instalada no municiacutepio desde 2007

possui os seguintes cursos Serviccedilo Social Comunicaccedilatildeo Social - Jornalismo Administraccedilatildeo

Organizacional Pedagogia Zootecnia Educaccedilatildeo Fiacutesica e Artes Plaacutesticas

No setor de educaccedilatildeo e capacitamento profissional o municiacutepio aleacutem de dispor de

uma ampla rede de escolas (estaduais municipais e privadas) conta com um campus da

Universidade do Estado do Amazonas e algumas faculdades privadas com diversos cursos

superiores ofertados Dispotildee ainda de unidades do SENAI SENAC e SESI e em funccedilatildeo

disso os iacutendices de alfabetizaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo profissional dos municiacutepios estatildeo em

crescimento

A cidade de Parintins eacute o local onde foram feitos os contatos frequentes com os

indiacutegenas da etnia Satereacute-Maweacute porque buscam as casas bancaacuterias para receberem os

benefiacutecios sociais tambeacutem buscam as escolas com ensino de todos os niacuteveis inclusive as

universidades puacuteblicas para as crianccedilas e jovens Outro fator eacute que tem um comeacutercio

desenvolvido em que podem adquirir seus bens de consumo aleacutem de ser de faacutecil acesso aos

demais centros da regiatildeo e do paiacutes atraveacutes dos diferentes meios comunicaccedilatildeo e transporte

Por isso o mapeamento foi iniciado nesta regiatildeo

Apesar de ter um nuacutemero consideraacutevel de habitantes os oacutergatildeos ligados agrave causa

indiacutegena natildeo dispotildeem de dados informativos sobre o objeto da pesquisa em meio agrave estimativa

populacional do municiacutepio mesmo assim outro oacutergatildeo foi procurado para que pudesse

50

fornecer algum dado ligado ao sujeito surdo da etnia Satereacute-Maweacute A instituiccedilatildeo pesquisada

foi a Escola de Aacuteudio Comunicaccedilatildeo ldquoPadre Paulo Mannardquo Esta eacute uma instituiccedilatildeo educacional

mantida pela Diocese de Parintins por meio de sua atual gestora a Professora Zilda Tavares

Atraveacutes desta colaboradora foram coletadas informaccedilotildees sobre os alunos indiacutegenas surdos da

etnia Satereacute-Maweacute que ali estudam ou estudaram que satildeo a seguir descritas

Embora a escola tivesse o conhecimento da existecircncia de dois indiacutegenas surdos da

etnia Satereacute-Maweacute apenas um se encontra matriculado na escola Eacute uma menina de seis anos

de idade cursando o preacute-escolar Para informaccedilotildees consistentes foi solicitado o contato

tambeacutem com a famiacutelia da aluna Ao contatar os pais foi feita uma abordagem por meio de

questionaacuterio mas diante das dificuldades encontradas por natildeo serem alfabetizados na liacutengua

nativa nem na liacutengua Portuguesa os dados utilizados satildeo resultante de entrevistas

assistemaacuteticas (conversas informais)

Os familiares tecircm papeacuteis importantes na formaccedilatildeo da linguagem da crianccedila Eacute atraveacutes

deles que acontece a formaccedilatildeo da identidade social e cultural desse sujeito em

desenvolvimento Satildeo eles que repassam o modo de vida os costumes e outros aspectos

sociais com os seus exemplos e empreendendo a funccedilatildeo da linguagem verbal atraveacutes de

relaccedilotildees dialoacutegicas que ativam a percepccedilatildeo do ser em maturaccedilatildeo no meio familiar Na visatildeo

de Ponzio (et al 2007 p 177)

Uma das funccedilotildees da linguagem verbal eacute a identificaccedilatildeo identificaccedilatildeo dos objetos

mediante um processo de modelaccedilatildeo e de articulaccedilatildeo da realidade que varia de

liacutengua para liacutengua identificaccedilatildeo de sujeito enquanto falante do sujeito do discurso

do tema do outro ao qual esse discurso se dirige de uma espeacutecie de bdquoauditoacuterio

universal‟ a que de modo geral se recorre na argumentaccedilatildeo identificaccedilatildeo de uma

comunidade e da pertenccedila ou da natildeo pertenccedila a esta etc

Um resumo histoacuterico sobre a referida indiacutegena aponta que a famiacutelia residia na

comunidade indiacutegena Ponta Alegre no Rio Andiraacute municiacutepio de Barreirinha Migraram para

a zona urbana em busca de condiccedilotildees para uma melhor qualidade de vida Ao descobrirem a

surdez da filha mudaram-se para a cidade de Parintins Declararam que a forma de se

comunicarem com a filha eacute por meio de gestos criados pela famiacutelia e a crianccedila pois natildeo

sabem a Liacutengua de Sinais

Analisa-se neste contexto a situaccedilatildeo complexa pela qual essa famiacutelia passou para se

entender com a ela posto que se esperasse que a crianccedila dominasse o sistema linguiacutestico que

usam para a comunicaccedilatildeo com os pares atraveacutes da liacutengua natural da etnia Este eacute um fato que

ocorre com as famiacutelias onde natildeo existe o desenvolvimento natural da fala

51

Considere-se assim que a liacutengua eacute adquirida a qual se manifesta em todas as

circunstacircncias normais no conhecimento de uso em processo de audiccedilatildeo desde o nascimento

os quais vatildeo tomando forma de significante e significado enquanto se distingue cada unidade

lexical do todo que existe no meio onde se estaacute inserido Para Lyons ldquoo termo aquisiccedilatildeo da

linguagem eacute normalmente usado sem ressalvas para o processo que resulta no conhecimento

da liacutengua nativa (ou liacutenguas nativas)rdquo (1987 p 231)

Neste caso para a crianccedila em evidecircncia deveria ser propiciado o ensino da Libras

como liacutengua para mediar a comunicaccedilatildeo o mais breve possiacutevel na medida em que ela estaacute

com idade proacutexima da faixa etaacuteria limite de aquisiccedilatildeo sem acarretar prejuiacutezos para o seu

desenvolvimento conforme explica teoria gerativista17

da aquisiccedilatildeo da linguagem proposta

por Lennenberg (1967)

[] a existecircncia de um periacuteodo criacutetico para a quisiccedilatildeo da linguagem tendo como

pressuposto a ideia de que esta eacute inata O periacuteodo criacutetico se iniciaria por volta dos

dois anos e se encerraria por volta da puberdade Esse periacuteodo eacute chamado de criacutetico

porque seria aquele mais sensiacutevel agrave aquisiccedilatildeo da linguagem[] concluiacutendo que o

cereacutebro humano inicialmente tem representaccedilatildeo bilateral das funccedilotildees da linguagem

e mediante o processo de aquisiccedilatildeo na puberdade apenas o hemisfeacuterio se torna

mais dominante em relaccedilatildeo a elas completando o periacuteodo de aquisiccedilatildeo Caso a

crianccedilas natildeo adquira a linguagem nesse periacuteodo seu desenvolvimento linguiacutestico

seraacute prejudicado (apud QUADROS 2008 p 78)

Deste modo no caso a crianccedila surda esta precisa aprender a liacutengua nativa de uma

forma diferenciada adequando-se os siacutembolos agraves formas visuais se natildeo apresentar esta

carecircncia tambeacutem posto que a faculdade da linguagem do ser humano eacute inata conforme

Chomsky esclarece (apud PONZIO etal 2007)

Trata-se de determinar agrave natureza do patrimocircnio bioloacutegico que constitui a bdquofaculdade

da linguagem‟ do ser humano o componente inato do conjunto menteceacuterebro que

uma vez tendo entrado em contato com a experiecircncia linguiacutestica produz o

conhecimento da linguagem isto eacute converte a experiecircncia em um sistema de

conhecimento (p 143)

O segundo indiacutegena surdo da etnia Satereacute-Maweacute havia sido transferido da escola Padre

ldquoPaulo Mannardquo para a Escola Estadual ldquoBrandatildeo de Amorimrdquo Segundo as informaccedilotildees da

famiacutelia ele nasceu na aacuterea indiacutegena de Ponta Alegre Poreacutem quando pequeno sua famiacutelia se

17

A teoria gerativista pressupotildee a existecircncia de um mecanismo inato responsaacutevel pela aquisiccedilatildeo da linguagem

denominado Gramaacutetica Universal (GU) tendo como responsaacutevel por essa concepccedilatildeo que caracteriza-se pela

elucidaccedilatildeo da natureza das linguas naturais Chomsky

52

mudou para zona urbana de Parintins Ele cresceu longe da cultura indiacutegena sem contato com

a liacutengua de sua etnia por estar fora desse contexto Por outro lado natildeo aprendeu a liacutengua

falada em seu entorno na medida em que natildeo pode na prendecirc-la de forma natural por natildeo

ouvir assim por natildeo ter domiacutenio da cultura da etnia deve aprender a liacutengua de sinais

inserindo os signos que significam as palavras do seu leacutexico atraveacutes de instruccedilatildeo especial

com a mediaccedilatildeo de algueacutem que tenha o conhecimento das duas formas de comunicaccedilatildeo Para

Lyons (1987) esses aprendizes adquirem habilidades comunicativas rapidamente pois o

progresso que alcanccedilam eacute pelo menos agraves vezes tatildeo raacutepido que como observam tanto os pais

quanto os pesquisadores eacute difiacutecil manter um registro compreensivo e sistemaacutetico do seu

processo de aprendizado Como tambeacutem eacute no total independente de inteligecircncia e de

diferenccedilas do meio social e cultural

A capacidade da pessoa para construir enunciados vai tomando forma agrave medida que

consegue compreender a relaccedilatildeo entre significante e significados dos signos com os quais tem

contato Por isso os indiacutegenas surdos podem ser beneficiados com um material escrito

triliacutengue Este pode constituir-se em um material de apoio para a aprendizagem das trecircs

liacutenguas sendo que a liacutengua de sinais eacute perspectivada como L1

O terceiro caso identificado eacute de um iacutendio surdo jaacute adulto da comunidade Uiacurapaacute

da etnia Maweacute As informaccedilotildees datildeo conta que ele se comunica por meio de gestos criados por

ele e os pares com quem tem relaccedilatildeo Poreacutem natildeo haacute dados detalhados pois natildeo foi possiacutevel

contato com o mesmo porque ele vive isolado sobrevivendo de caccedila e pesca em comunidade

rural indiacutegena Fato este que implica diretamente no aperfeiccediloamento da forma de

comunicaccedilatildeo desse sujeito posto que ldquoos fenocircmenos ambientais podem agir diretamente

sobre a pessoa ou individualmente atraveacutes de repasse de experiecircncias vividas pela sociedade

atraveacutes da linguagem veiculada pela liacutenguardquo (OLIVEIRA 2005 p134)

Assim estaacute constituiacuteda a populaccedilatildeo de indiacutegenas surdos que fazem parte da

microrregiatildeo de Parintins que se podem fazer os devidos registros neste estudo

412 Histoacuterico de Barreirinha

O municiacutepio de Barreirinha pertence a Mesorregiatildeo da Microrregiatildeo de Parintins que

estaacute localizado a leste de Manaus Capital do Estado distanciando cerca de 331 quilocircmetros

E ao norte de Parintins o municiacutepio de Barreirinha juntamente com Maueacutes satildeo principais

municiacutepios que possuem a maior populaccedilatildeo de indiacutegenas localizados nos rios Andiraacute e o

Marau Portanto sendo o municiacutepio como a sede urbana das comunidades inseridas os surdos

53

indiacutegenas vem apenas em busca de tratamento meacutedico quando necessitam ou para atividades

sociais acompanhados de seus pais mas na zona urbana natildeo localizamos nenhum indiacutegena

surdo

Barreirinha foi o segundo municiacutepio pesquisado E segundo o IBGE em 2013 a

populaccedilatildeo era de 29737 habitantes18

sendo o vigeacutesimo segundo municiacutepio mais populoso do

Estado do Amazonas e o terceiro de sua microrregiatildeo

Este muniacutecipio conta com um setor especiacutefico das causas indiacutegenas a Coordenaccedilatildeo

Iacutendiacutegena Satereacute-Maweacute sob responsabilidade do coodernador geral SrSantino Lopes Este

tornou possiacutevel o acesso agrave comunidade indiacutegena de Ponta Alegre no Rio Andiraacute Foi na

Escola Municipal Professora ldquoRosa Cabralrdquo que foi identificado um indiacutegena surdo da etnia

Satereacute-Maweacute um menino de 12 anos matriculado na 3ordf ano do ensino fundamental Nesse

contexto foi possiacutevel observar sua forma de se comunicar com as demais pessoas que faziam

parte do seu meio social Outros dados referente a relaccedilotildees familiares deste natildeo estatildeo

disponiacuteveis na medida em que natildeo foi possiacutevel fazer contato com sua famiacutelia Desta forma

permanece uma lacuna de respostas referente a esse aluno posto que

De uma forma geral e em regra a socializaccedilatildeo da crianccedila no mundo civilizado

comeccedila dentro de uma famiacutelia nuclear constituiacuteda de pai matildee e irmatildeos quando

existem Durante os primeiros anos da infacircncia adquire traccedilos culturais (menores

unidades de cultura) atraveacutes das pessoas da famiacutelia que satildeo reflexo da sociedade

onde vivem (OLIVEIRA 2005)

Entende-se que atraveacutes de informaccedilotildees que poderiam ser fornecidas pela famiacutelia

deveria ser esclarecido como ocorre a socializaccedilatildeo da crianccedila nesse contexto e de que modo

aprenderam a se comunicar com ela que estrateacutegias foram utilizadas para que ela conseguisse

ser alfabetizada

413 Histoacuterico de Maueacutes

Este municiacutepio que tambeacutem pertence agrave Mesorregiatildeo do Centro Amazonense e

Microrregiatildeo de Parintins tem uma populaccedilatildeo de 54079 habitantes conforme as estimativas

do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) A cidade eacute reconhecida

nacionalmente por possuir uma das maiores expectativas de vida do paiacutes

18

Disponiacutevel emlthttpcidadesibgegovbrxtrastemasamazonas|barreirinha|estimativa-da-populacao-2013gt

Acesso em 28072014

54

Na margem direita do Rio Maueacutes-Accedilu Maueacutes foi fundada em 1798 por Luiz Pereira

da Cruz e Joseacute Rodrigues Preto agrave distacircncia de 268 km em linha reta e 356 km pela via

fluvial de Manaus O calendaacuterio festivo do municiacutepio conteacutem as datas festivas municipais

em homenagem agrave Satildeo Sebastiatildeo (10 a 20 de janeiro) ao Divino Espiacuterito Santo (22 a 30 de

maio) agrave Satildeo Pedro (27 a 30 de junho) agrave padroeira Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo (01 a 8 de

dezembro) assim como a Festa do Carnaval Popular (21 a 24 de fevereiro) do aniversaacuterio do

municiacutepio (26 a 27 de junho) da Ilha de Vera Cruz (23 a 25 de julho) do Veratildeo (de 05 a 7 de

setembro) da Feira Industrial (06 a 8 de novembro) e do Guaranaacute (em novembro)

Sobre a origem do nome deste municiacutepio observa-se que inicialmente foi

denominada Luseia e progredindo com o tempo transformou-se em missatildeo carmelita com

nome de Maueacutes O liacuteder nessa eacutepoca foi o frei Joaquim de Santa Luzia Por um decreto de 25

de junho de 1833 a missatildeo foi considerada vila sob a invocaccedilatildeo de Nossa Senhora da

Conceiccedilatildeo de Luseia Em 1853 pela lei nordm 25 de 3 de dezembro da iniciativa do Deputado

Marcos Antocircnio Rodrigues de Souza a vila tornou-se cidade chamada Satildeo Marcos de

Mundurucacircnia Consta como uma das freguesias da proviacutencia denominada Maueacutes em 1958

A oficializaccedilatildeo da mudanccedila do nome do municiacutepio ocorreu quando o Deputado Joseacute

Bernardo Michiles em 1865 apresentou um projeto para tal que tendo sido aprovado

oficializou-se a mudanccedila do nome de Maueacutes para Conceiccedilatildeo Enfim jaacute na Repuacuteblica em

1895 pela lei nordm 133 de 5 de outubro a localidade torna-se Comarca E em 4 de maio de 1896

eacute considerado municiacutepio pelo novo regime juriacutedico com o nome de Maueacutes pela lei nordm 137

As pesquisas de campo nesse municiacutepio natildeo foram realizadas conforme a previsatildeo

pois a viagem natildeo foi concretizada devido agraves dificuldades em relaccedilatildeo agrave distacircncia para chegar

ateacute agraves comunidades que satildeo distantes da cidade cede e havia necessidade de recurso material

e humano (professores guias indiacutegenas biliacutengues) para realizaacute-la Quando foi possiacutevel chegar

ao local ocorreu o contato com trecircs professores que residiam nas comunidades do rio

chamado Marau Ali foi possiacutevel tecirc-los em companhia na funccedilatildeo de guia inteacuterprete para

contato com os indiacutegenas surdos daquela localidade

Em resposta afirmativa ao questionamento se havia iacutendios surdos foram realizadas

reuniotildees com a comunidade local para coletar informaccedilotildees que apontou a existecircncia de um

caso na comunidade de Santa Maria Era um senhor na faixa etaacuteria de 67 anos que adquiriu a

surdez haacute muito tempo atraacutes Ele natildeo tem conhecimento da Liacutengua Portuguesa por isso natildeo

tivemos contato direto No entanto ele conhece a proacutepria liacutengua e assimilou a cultura da etnia

posto que

55

A liacutengua eacute aprendida simultaneamente a outros elementos da cultura A capacidade

de desenvolvimento da linguagem eacute inata O indiviacuteduo nasce com o ceacuterebro

preparado para aprender tudo que pertinente agrave cultura humana da qual a linguagem

faz parte (OLIVEIRA 2005 p 137)

Eacute no contexto social que se aprende os signos que fazem parte do mundo exterior e

que o ceacuterebro assimila pelo conhecimento que os sentidos possibilitam

O segundo iacutendio localizado foi um surdo de nascenccedila hoje com idade de 24 anos

Segundo relato da famiacutelia nunca frequentou uma escola portanto seu uacutenico meio de

comunicaccedilatildeo eacute gestual que aprendeu como forma para se fazer entender pois ldquoa linguagem eacute

atributo universal do ser humanordquo (OLIVEIRA 2005) assim constitui-se como necessidade

vital da pessoa conduzindo ao aprendizado

Em pesquisa de campo se obteve a informaccedilatildeo que havia outros trecircs iacutendios surdos que

moravam no Rio Marau mas natildeo foi possiacutevel chegar ateacute a aldeia onde se encontravam

devido ao difiacutecil acesso o que impossibilitou a ida ateacute a localidade

414 Histoacuterico de Boa Vista do Ramos

Uma das sete Mesorregiotildees de Parintins eacute Boa Vista do Ramos que possui

aproximadamente 16820 de habitantes segundo o IBGE (2013)

A histoacuteria de Boa Vista do Ramos encontra-se ligada agrave histoacuteria do municiacutepio de

Maueacutes Em 1798 foi fundada a Aldeia de Lusea Em meados do Seacuteculo XIX vaacuterios conflitos

ocorreram na regiatildeo entre brancos e povos indiacutegenas sendo efetiva tambeacutem a participaccedilatildeo de

cabanos oriundos da Cabanagem

Quando a Proviacutencia do Amazonas eacute criada em 1850 Lusea torna-se um dos quatorze

municiacutepios existentes na proviacutencia Seu nome eacute alterado em 1892 para Maueacutes tornando-se

sede da Comarca em 1895 Em 10 de dezembro de 1981 atraveacutes da Emenda Constitucional nordm

12 o povoado de Boa Vista do Ramos aleacutem de outros territoacuterios pertencentes agrave Maueacutes e

aacutereas adjacentes dos municiacutepios de Barreirinha e Urucurituba passam a constituir o novo

municiacutepio de Boa Vista do Ramos

Em pesquisa de campo nesse municiacutepio o primeiro contato que foi na Coordenadoria

Regional de Educaccedilatildeo da cidade (SEDUC) Embora esta professora responsaacutevel por essa

Instituiccedilatildeo tenha informado que natildeo conhecia nenhum caso de iacutendio surdo neste municiacutepio

alguns informantes afirmaram que na aldeia de Santo Antocircnio que faz parte do referido

municiacutepio foi localizada uma senhora que havia adquirido a surdez ainda muito jovem sem

56

nenhum conhecimento das liacutenguas ldquofaladasrdquo ou sinalizadas Desta forma ela utilizava de

gestos para se comunicar porque os seres humanos nascem com a capacidade para a

linguagem que se desenvolvem ao longo da primeira infacircncia mas que podem tambeacutem ser

aprendida no meio social atraveacutes de estiacutemulos Nesta perspectiva segundo a concepccedilatildeo de

Oliveira (2005 p 143)

A evoluccedilatildeo da linguagem depende de dois fatores principais da capacidade geneacutetica

cerebral para desenvolvecirc-la que eacute a principal e dos estiacutemulos ambientais que satildeo

sempre tatildeo importantes quanto aquela Esse desenvolvimento estaacute senpre inserido no

contexto de socializaccedilatildeo que eacute a responsaacutevel pela humanizaccedilatildeo do indiviacuteduo

Ainda sobre a importacircncia da socializaccedilatildeo para os sujeitos ressalta-se que estes

desenvolvendo no meio onde estatildeo inserido adquirem sua identidade cultural

concomitantemente sua identidade linguiacutestica que estaacute presente no discurso dos seus pares

posto que ela ldquoeacute adquirida nos processos de formaccedilatildeo e tranformaccedilatildeo de uma liacutengua

particularrdquo que eacute tambeacutem determinante no relacionamento cm outras liacutenguas E de acordo

com Ponzio (2007 p178) ldquoO espaccedilo em que uma liacutengua vive eacute um espaccedilo interlinguiacutestico e a

capacidade de expressatildeo e da adaptaccedilatildeo dessas liacuteguas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo eacute

diretamente proporcional agrave quantidade de contatos com outras liacutenguasrdquo O que deixa evidente

que um indiviacuteduo pode estar em contato com diferentes formas de intercomunicaccedilatildeo

415 Histoacuterico de Nhamundaacute

Eacute trigeacutesimo quinto municiacutepio mais populoso do estado do Amazonas Sendo o quarto

da Mesorregiatildeo em estudo Conforme o IBGE em 2013 o municiacutepio eacute composto por uma

populaccedilatildeo de 19 792 habitantes

O municiacutepio de Nhamundaacute estaacute localizado na zona fisiograacutefica do Baixo Amazonas

limitando com os municiacutepios de Parintins e Urucaraacute no Amazonas com o Estado de Roraima

(norte) e com os municiacutepios de Faro e Terra Santa no estado do Paraacute Distacircncia da capital 375

km em linha reta e cerca de 577 km por via fluvial Sua altitude eacute de 50 metros acima do

niacutevel do mar

As origens do municiacutepio de Nhamundaacute remontam agraves primitivas povoaccedilotildees dos iacutendios -

nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XVII composta pelos condurizes paraculamas canuris

guancaris paraquatas queremas jamundaacutes e uaboy cujo tuxaua se chamava Jamundaacute que

dada a luta em prol da liberdade de seu povo devido agrave exploraccedilatildeo e maus-tratos pelos

57

colonizadores fez um levante conduzindo a tribo Uaboy para as cabeceiras do alto rio que em

sua homenagem ganhou o seu nome e por conseguinte daacute nome ao municiacutepio

Em 1653 mediante carta reacutegia a regiatildeo foi erigida a Missatildeo que foi confiada aos

missionaacuterios portugueses capuchos da Piedade Eles organizaram uma aldeia modelo na boca

do Tauacuera - aldeia velha afluente esquerdo onde ainda se podem ver ruiacutenas do antigo

convento no meio dos espinhais A sede da Missatildeo poreacutem foi transferida para o lugar da

atual cidade de Faro Os padres capuchos souberam unir os iacutendios uaboy residentes no

Trombetas aos da Missatildeo para aumentar a populaccedilatildeo Era entatildeo o chefe dos Uaboy o tuxaua

Jamundaacute que ligou seu nome agrave Missatildeo e agrave aldeia que doravante se chamou aldeia dos

Jamundaacute ou Missatildeo dos Jamundaacute

O primeiro documento sobre a Missatildeo eacute do ano de 1727 e foi escrito pelo superior da

Missatildeo frei Francisco de Satildeo Manccedilos Em 1758 Missatildeo tomou o nome de Faro No entanto

jaacute em 1755 o Marqucirces de Pombal mandou suspender as Missotildees para serem transformadas

em vilas e paroacutequias A Missatildeo dos Jamundaacute foi extinta em 1758 por ordem de Mendonccedila

Furtado quando de sua viagem de demarcaccedilatildeo da nova capitania Foram criadas assim a vila

de Faro e a Paroacutequia de Satildeo Joatildeo Batista em 21 de dezembro de 1758 mas a instalaccedilatildeo deu-se

somente em 27 de dezembro de 1768

Desse modo em 1911 quando ocorreu a divisatildeo administrativa do Brasil o municiacutepio

de Parintins foi contemplado com o distrito de Jamundaacute Com a extinccedilatildeo deste quando

aconteceu a nova divisatildeo administrativa em 1933 o municiacutepio de Parintins surgiu com apenas

um distrito assim em 10 de dezembro de 1938 pelo Decreto-lei no 176 do Estado do

Amazonas Parintins voltaria a dispor de um outro distrito aleacutem da sede o da Ilha das Cotias

Em 19121955 pela Lei Estadual no 96 o distrito de Ilha das Cotias eacute desmembrado de

Parintins e passa a constituir o municiacutepio autocircnomo de Nhamundaacute Em 31 de janeiro de 1956

foi instalado o municiacutepio de Nhamundaacute

A viagem a esse municiacutepio foi realizada com o apoio do aluno Fernando Gonccedilalves

acadecircmico do curso de Licenciatura em Geografia pela Universidade do Estado do

Amazonas-UEA Para maiores esclarecimentos foi feita a pesquisa na casa de sauacutede indiacutegena

localizada na cidade de Nhamundaacute onde informaram desconhecer a existecircncia da etnia

Satereacute-Maweacute no municiacutepio Mesmo assim foi feito outro contato com uma enfermeira da

Casa de Sauacutede Indiacutegena do municiacutepio A resposta foi a mesma ldquoQueremos informar ao

professor que no municiacutepio de Nhamundaacute que natildeo trabalhamos com a etnia Satereacute-Maweacute

Atendemos somente a etnia Hixkaryana existente na regiatildeo Natildeo haacute portanto nenhum surdo

Hixkaryana ou Satereacute-Maweacute cujo fato eacute comprovado pelo senso municipalrdquo

58

Foi feita uma pesquisa tambeacutem em outro oacutergatildeo que atua com indiacutegenas no caso as

Secretaria de Educaccedilatildeo do Municiacutepio com a finalidade de constatar a veracidade dos fatos

eou conseguir novos dados sobre o indiacutegena surdo Satereacute ou Hixkaryana O subsecretaacuterio de

Educaccedilatildeo relatou que natildeo existia dados sobre a liacutengua Satereacute-Maweacute nem indiacutegenas surdos

existentes

Realmente apoacutes pesquisas in loco ficou comprovado somente agrave existecircncia da etnia

Hixkaryana da famiacutelia linguiacutestica Karib Sobre esta ressalta-se que

A liacutengua hixkaryana pertence agrave famiacutelia linguiacutestica Karib e eacute falada por todos os

membros do grupo Esta liacutengua eacute muito semelhante agravequeles outros dialetos falados

na regiatildeo mais ampla circunscrita pelos vales dos rios Trombetas e Mapuera como

Waiwai Xereu Katuena Karapawyana Tunayana Desta maneira e pelo fato dos

Hixkaryana estabelecerem relaccedilotildees bem estreitas com estes grupos em uma rede de

trocas matrimoniais e rituais tais dialetos satildeo inteligiacuteveis entre si []

Os Kaxuyana que moram no rio Nhamundaacute quase todos tambeacutem falam a liacutengua

hixkaryana aleacutem da sua liacutengua proacutepria o Kaxuyana Contudo em geral um

Hixkaryana natildeo fala a liacutengua kaxuyana fato que de certa forma demonstra que os

Kaxuyana satildeo considerados os ldquoestrangeirosrdquo naquela regiatildeo e que devem aprender

a liacutengua ldquonativardquo o Hixkaryana

A maioria dos Hixkaryana eacute alfabetizada na liacutengua nativa sendo capaz de ler e

escrever neste idioma Em 2008 havia apenas uma escola de ensino fundamental na

aldeia Kassauaacute e muitos jovens depois desta seacuterie dirigiam-se agrave cidade de

Nhamundaacute (AM) para prosseguir os estudos de niacutevel meacutedio Em 2010 uma escola

de ensino meacutedio foi implantada na aldeia Kassauaacute Aleacutem disso uma dezena de

Hixkaryana jaacute cursou ou estaacute cursando o ensino superior em cidades como Parintins

e Manaus Contudo a maioria das mulheres dos velhos e das velhas fala muito

pouco o Portuguecircs sendo o Hixkaryana a liacutengua mais usada por todos19

Assim como no municiacutepio de Nhamundaacute ficou constatado tambeacutem que nos demais

municiacutepios de Satildeo Sebastiatildeo do Uatumatilde e de Urucaraacute que natildeo haacute registro sobre a existecircncia

da etnia Satereacute-Maweacute nem tatildeo pouco a existecircncia de iacutendios surdos A tabela 1- apresenta o

resultado da pesquisa que aponta o mapeamento

Tabela 1 Mapeamento da existecircncia de iacutendios surdos nas respectivas comunidades

indiacutegenas ou zona urbana da microrregiatildeo de Parintins

Fonte Azevedo (2014)

19

Disponiacutevel emlthttppibsocioambientalorgptpovohixkaryanagt Acesso em 07112014

Etnia Liacutengua Comunidade Indiacutegena

rural Zona Urbana

Municiacutepio Quantidade de iacutendios

surdos

Satereacute-Maweacute Tupi Parintins Parintins 02

Satereacute-Maweacute Tupi Uaucurupaacute Parintins 01

Satereacute-Maweacute Tupi Rio Andiraacute Barreirinha 01

Satereacute-Maweacute Tupi Santa Maria Maueacutes 02

Satereacute-Maweacute Tupi Rio Marau Maueacutes 03

Satereacute-Maweacute Tupi Boa Vista do Ramos Boa Vista do

Ramos

01

Total 10

59

De acordo com os dados pode-se observar a existecircncia de poucos iacutendios surdos

Poreacutem acredita-se que ainda existam outros em comunidades mais isoladas Como tambeacutem

pelo fato de serem consideradas ldquodeficientesrdquo algumas famiacutelias natildeo integram na comunidade

que vivem As dificuldades encontradas para coletar os dados a partir dos oacutergatildeos

responsaacuteveis tambeacutem foram encontrados em outros estudos realizados anteriormente para

estabelecer a populaccedilatildeo indiacutegena na Ameacuterica Latina o que pode ser vislumbrado pela

explicaccedilatildeo dos fatos complicadores transcritos a seguir

Uma das dificuldades para estabelecer a populaccedilatildeo indiacutegena estaacute relacionada com

fato de que o criteacuterio de filiaccedilatildeo segue mais a autodenominaccedilatildeo que as

caracteriacutesticas linguiacutesticas ou raciais como se considerava haacute algumas deacutecadas atraacutes

Outra dificuldade eacute que a uacutenica fonte disponiacutevel para estabelecer a quantidade de

populaccedilotildees indiacutegenas na regiatildeo satildeo precisamente os censos nacionais de populaccedilatildeo

que haacute bem pouco tempo permitiam inferir informaccedilatildeo sobre a populaccedilatildeo indiacutegena

a partir de uma uacutenica pergunta referente agrave liacutengua falada pelos entrevistados (LOPES

e SICHRA 2009 p 103)

Entretanto embora natildeo haja um nuacutemero expressivo de iacutendios surdos da etnia Satereacute-

Maweacute ficou constatado que haacute muitos surdos natildeo-iacutendios nos municiacutepios estudados

principalmente no municiacutepio de Parintins que precisam se comunicar com diferentes

interlocutores Este eacute um argumento que aponta para a necessidade de instrumentos

educacionais como um dicionaacuterio triliacutengue importante para os surdos que conseguiram

estabelecer elos comunicativos a partir das trecircs liacutenguas E jaacute que o homem eacute criativo ldquoagrave

medida que o tempo passa a humanidade vai agregando novas descobertas e inventos que se

concretizam e se somam para dar-lhe conforto e bem estarrdquo (OLIVEIRA 2005 p 144) Entatildeo

espera-se que este material contribua para que o sujeito surdo possa se comunicar

adequadamente no seio familiar e no processo educacional

42 Realidade linguiacutestica e educacional dos iacutendios surdos encontrados da etnia Satereacute-Maweacute

O sistema responsaacutevel pela educaccedilatildeo tem procurado fazer adequaccedilotildees para atender agraves

pessoas que apresentam necessidades na sua arquitetura fiacutesica para a inclusatildeo destas no

contexto da realidade linguiacutestica e educacional Embora exista uma legislaccedilatildeo pertinente

ainda haacute ausecircncia de qualidade para que um indiviacuteduo surdo possa estudar incluso em um

contexto regular de ensino Principalmente porque os professores natildeo estatildeo preparados para

lidar com essa situaccedilatildeo peculiar Haacute uma imposiccedilatildeo nos oacutergatildeos educacionais mas natildeo haacute

60

profissionais que atuem para o bom desempenho do aluno indiacutegena surdo A partir dessa

visatildeo Albres (2005) que realizou um estudo nesta aacuterea de conhecimento afirma

Nessa perspectiva o homem eacute produto e produtor da cultura conjunto das relaccedilotildees

sociais portanto mister se faz investigar a origem histoacuterica de alguns princiacutepios da

educaccedilatildeo biliacutengue para surdos e desvelar elementos conceituais Propomo-nos

entatildeo identificar e analisar as concepccedilotildees de linguagem que sob condiccedilotildees

histoacutericas fundamentaram o ensino de Liacutengua Portuguesa para surdos nos

documentos do MEC

Desta feita entende-se que se no contexto do ensino da Liacutengua Portuguesa existem

diversas dificuldades no contexto de uma liacutengua indiacutegena a situaccedilatildeo se torna mais complexa

Desse modo na anaacutelise da situaccedilatildeo linguiacutestica e educacional encontrada com os iacutendios surdos

identificados da etnia Satereacute-Maweacute eacute bastante diversificada Apresentam diferentes formas de

siacutembolos para conseguirem se comunicar com as pessoas com quem tecircm contato Precisam

fazer um esforccedilo aleacutem do necessaacuterio para manifestar seus desejos para informar e ter acesso a

informaccedilotildees

No caso da aluna indiacutegena surda de apenas seis anos de idade na escola especiacutefica para

atender alunos surdos foi constatado que sua situaccedilatildeo linguiacutestica e educacional se encontra

em processo de aquisiccedilatildeo de uma linguagem baacutesica para comunicaccedilatildeo com as pessoas com as

quais ela convive

Conforme os dados fornecidos pela escola por meio de um parecer pedagoacutegico sobre a

aluna indiacutegena surda (ANEXO D) Ficou atestado que a aluna da etnia Satereacute-Maweacute nasceu

de parto normal sem nenhum problema aparente Aos trecircs anos de idade a matildee percebeu que

a filha natildeo ouvia e nem falava pois seus outros filhos haviam comeccedilado a falar na presente

idade Para seguir se comunicar com a filha utilizava-se de gestos sendo difiacutecil a

comunicaccedilatildeo Foi essa situaccedilatildeo que levou a famiacutelia a procura da Escola Padre Paulo Manna

onde se encontra matriculada no preacute-escolar Nessa realidade ela recebe as mesmas

orientaccedilotildees dadas agraves crianccedilas natildeo indiacutegenas logo natildeo existe um direcionamento para a cultura

da sua etnia na escola nem na no contexto familiar

Sobre essa condiccedilatildeo Cool (2004) aborda que haacute um aspecto familiar que tem

relevacircncia particular o tipo de comunicaccedilatildeo que se utiliza em casa ou seja a forma e o estilo

de comunicaccedilatildeo que os pais utilizam com a crianccedila surda tem uma grande importacircncia para o

seu desenvolvimento e para sua aprendizagem No caso dos pais ouvintes estes necessitam do

conhecimento da educaccedilatildeo da cultura da liacutengua da pessoa surda para que possam promover

uma formaccedilatildeo linguiacutestica completa para o filho surdo E deste modo este ldquopossa consolidar e

61

aprofundar o uso e a compreensatildeo da liacutengua proacutepria enquanto veiacuteculo de cultura e

possibilidade de comunicaccedilatildeo no acircmbitordquo de conhecimento do aprendiz sem deixar agrave parte do

domiacutenio da liacutengua apropriada para esse sujeito (HERNAIZ 2009)

Desta forma a educaccedilatildeo escolar reconhecida pela proacutepria escola referente agrave inclusatildeo

da aluna indiacutegena surda aponta para a necessidade de instituir uma educaccedilatildeo triliacutengue de

forma que seu processo de ensino-aprendizagem pauta-se na Liacutengua Satereacute-Maweacute Liacutengua

Brasileira de Sinais e Liacutengua Portuguesa Mesmo sabendo da dificuldade em aprender trecircs

liacutenguas o parecer pedagoacutegico considera possiacutevel aprendizagem de trecircs liacutenguas

A partir dos argumentos referidos reitera-se a importacircncia de que a educaccedilatildeo escolar

dessa aluna deve abranger as liacutenguas de uso natural nativo e social Quando se destaca a

liacutengua de uso natural entende-se que eacute a Liacutengua de Sinais como primeira liacutengua E natildeo

inverter o processo e obrigar a crianccedila surda seja indiacutegena ou natildeo aprender a falar uma

liacutengua oral seja liacutengua indiacutegena ou Liacutengua Portuguesa Sobre a questatildeo Fernandes (2005

p20) pontua

fazer uma crianccedila surda ldquofalarrdquo ao inveacutes de propiciar a ela um meio raacutepido de

comunicaccedilatildeo linguiacutestica atraveacutes da aquisiccedilatildeo da liacutengua de sinais como primeira

liacutengua que proteja e cumpra o papel fundamental de resguardar o seu natural

desenvolvimento no que se refere a ter domiacutenio de fato de um instrumental

linguiacutestico que lhe sirva para as operaccedilotildees mentais que envolvam mecanismos

linguiacutesticos

Portanto primeiramente eacute necessaacuteria a aquisiccedilatildeo da primeira liacutengua a liacutengua de sinais

e como segunda liacutengua a liacutengua nativa de sua comunidade eacutetnica No caso da aluna indiacutegena

a liacutengua Tupi da etnia Satereacute-Maweacute na modalidade escrita Desta forma com a aprendizagem

das duas liacutenguas seraacute uma aluna biliacutengue Poreacutem diante da realidade do aluno indiacutegena surdo

que vive na zona urbana se faz necessaacuterio o aprendizado triliacutengue Liacutengua Portuguesa por

escrito

Como dito anteriormente o ensino-aprendizado da Liacutengua de Sinais deve ser

garantido ao sujeito surdo para que adquira a identidade a cultura do povo surdo20

acesso

pleno as informaccedilotildees aleacutem de significar a possibilidade de comunicaccedilatildeo e expressatildeo fluentes

do sujeito surdo com seu entorno Da mesma perspectiva o ensino da Liacutengua indiacutegena se daacute

20

Como ja mencionado no capiacutetulo 1 sobre Cultura Surda ldquo eacute o jeito surdo de ser de perceber de sentir de

vivenciar de comunicar de transformar o mundo a tornaacute-lo habitaacutevelrdquo (GLADIS PERLIN apud STROBEL

2008 p 21) Strobel ainda esclarece que o sujeito Surdo se comportam diferente do sujeito ouvinte e com isso

traz alguns ldquoartefatos culturaisrdquo (explicado no capiacutetulo 1) que satildeo as pecualiaridade da cultura surda as quais

descritas Parte das experiecircncias visuais linguiacutestico familiar literatura surda vida social e esportiva artes

visuais poliacutetica e materiais Todos estes artefatos concebidos a partir do VER (IDEM 2008 p36-77)

62

em respeito aos direitos da cultura indiacutegena previsto pela Constituiccedilatildeo Brasileira conforme

decreto nordm 6861 de maio de 2009 no seu Art 2o que determina ldquoSatildeo objetivos da educaccedilatildeo

escolar indiacutegena I- valorizaccedilatildeo das culturas dos povos indiacutegenas e a afirmaccedilatildeo e manutenccedilatildeo

de sua diversidade eacutetnica II- fortalecimento das praacuteticas socioculturais e da liacutengua e da liacutengua

materna de cada comunidade indiacutegenardquo

Neste caso a referida aluna iacutendia surda deveraacute ter a liacutengua indiacutegena como liacutengua de

conhecimento de sua cultura Para o ensino desta na forma escrita faz-se uso de cartilhas

gramaacuteticas dicionaacuterios etc

De acordo com o exposto a escola reconhece a necessidade da educaccedilatildeo escolar

triliacutengue poreacutem utiliza-se de outra realidade conforme citado pela proacutepria escola ldquoNo

primeiro momento fica junto com os colegas ouvintes onde procuramos trabalhar de forma

inclusiva no contexto biliacutengue Liacutengua Portuguesa e Liacutengua de Sinais

Sobre este aspecto Rodrigues (2005 p20) pontua

Quantas lacunas estariam sendo criadas em nome da pressuposiccedilatildeo de que a

aprendizagem da liacutengua da maioria dos falantes da comunidade (ouvintes) eacute que

daria agrave crianccedila surda condiccedilotildees de desenvolvimento social e cognitivo Quantas

etapas de desenvolvimento estariam sendo desprezadas nas fases naturais de sua

evoluccedilatildeo sob a alegaccedilatildeo de que ela seraacute capaz de alcanccedilar o que se estabelece como

meta social Que metas estariam sendo alcanccediladas afinal Que objetivos estatildeo sendo

perseguidos em prol desses paracircmetros ultrapassados em detrimento dos reais

objetivos de formaccedilatildeo psico-sociocultural deste individuo Em que a liacutengua de

sinais como primeira liacutengua ainda se encontra determinada pelo descreacutedito de

tantos especialistas da aacuterea

A realidade encontrada sobre a educaccedilatildeo natildeo soacute em uma escola que atende alunos

surdos mas tambeacutem em muitas escolas as chamadas escolas ldquoinclusivasrdquo apresentam

dificuldades no processo de ensino dos alunos surdos21

Todavia entre desencontros

sociocultural-linguiacutesticos eacute preciso fazer uma ressalva desta escola ldquoA escola disponibilizou

21

Sobre a temaacutetica da Inclusatildeo formula-se ldquoAo se avaliar que na contemporaneidade impera o discurso da

inclusatildeo indiscriminada em escolas regulares[]Esta diretriz tira o direito previsto na legislaccedilatildeo brasileira de

poder optar por uma educaccedilatildeo biliacutengue em escola proacutepria de modo que se repete a condiccedilatildeo em que aos surdos eacute

imposto um enorme sofrimento na medida em que nos denominamos processos inclusivos junto aos ouvintes

permanecem privados de conviver com seus pares e de acessar o conhecimento na Liacutengua de Sinais como liacutengua

de instruccedilatildeo [] Os surdosde diferentemente de outros segmentos tecircm a necessidade de agrupar-se para formar

comunidade linguiacutestica por meio das quais possam construir uma ldquocomunidade de experiecircnciasrdquo (WITKOSKI

2012 p33-34)

63

uma professora surda para a aquisiccedilatildeo da Liacutengua Brasileira de Sinais repassando o conteuacutedo

ministrado na salardquo onde cada um desses alunos eacute inserido

A escola positivamente conta com a colaboraccedilatildeo do trabalho docente de uma

professora surda Esta tem um papel fundamental como modelo linguiacutestico principalmente

quando alunos surdos provecircm de famiacutelias ouvintes que natildeo tecircm acesso agrave cultura e agrave Liacutengua

de Sinais Cabe ao professor surdo comunicar-se fluentemente com o aluno surdo ser um

input linguiacutestico para a identificaccedilatildeo da cultura do ser surdo

Dessa forma Strobel (2008 p 40) destaca

Este contato crianccedila surda x adulto surdo atraveacutes de uma liacutengua em comum que eacute a

liacutengua de sinais eacute que proporcionaraacute o acesso agrave linguagem e desta forma estaraacute

assegurada a identidade e a cultura surda que eacute transmitida naturalmente agrave crianccedila

surda em contato com a comunidade surda

Observa-se que caso a crianccedila surda natildeo tenha o direito a sua diferenccedila preservado

este aprendiz teraacute sua inserccedilatildeo no mundo dos ouvintes de forma incerta eou sem esperanccedila de

uma vida normal A situaccedilatildeo se agrava na medida em que a sociedade ouvinte deixa a desejar

quanto agrave participaccedilatildeo dos sujeitos surdos em decorrecircncia da escassez dos vaacuterios recursos

visuais que promovem acessibilidade para eles

Contudo os povos surdos hoje satildeo mais conscientes de seus direitos entatildeo esses

sujeitos cultural e politicamente lutam pelos mesmos Direitos estes tambeacutem dos povos

indiacutegenas como jaacute comentados anteriormente

Todavia esse aspecto ainda estaacute distante da realidade dos sujeitos focos do estudo de

acordo com relato da escola Segundo depoimentos de alguns indiacutegenas a aprendizagem

indiacutegena passa pela demonstraccedilatildeo observaccedilatildeo imitaccedilatildeo tentativa e erro e quando o aluno

vem para a escola tem que se socializar e obedecer a comandos regidos pelo sistema e isso

muitas vezes o deixa confuso e os maiores ateacute desistem A situaccedilatildeo se agrava quando esse fato

se refere ao sujeito iacutendio surdo incluiacutedo na escola pois este requer um diferencial ainda

maior reconhecido pela escola

Dessa forma satildeo necessaacuterias estrateacutegias de ensino diferenciadas que deem suporte

para que a aluna seja trabalhada de forma triliacutengue no contexto escolar para que ela

natildeo perca a sua essecircncia a sua cultura que sejam adaptados trabalhos de acordo

com a realidade indiacutegena para que ela natildeo perca a sua identidade e saiba conduzir

sua aprendizagem dentro de um contexto diferenciado podendo aprender o que lhe eacute

de direito como viver bem em sociedade22

22

Texto extraiacutedo do parecer pedagoacutegico da aluna indiacutegena surda que estuda na Escola de Aacuteudio e Comunicaccedilatildeo

Pe Paulo MannaParintinsAm (ANEXO D)

64

A partir das consideraccedilotildees tecidas no parecer pedagoacutegico torna-se evidente ema

necessidade de ampliar e aprofundar as reflexotildees sobre a inclusatildeo de iacutendios surdos em vaacuterios

espaccedilos da sociedade especialmente no espaccedilo educacional escolar Ou seja haacute necessidade

tambeacutem de poliacuteticas linguiacutesticas voltada para esse acircmbito

Nesse sentido eacute necessaacuterio que se tenha como meta uma tomada de decisotildees poliacuteticas

para que gradativamente se possa controlar a situaccedilatildeo de aprendizagem do surdo no processo

soacutecio cultural onde ele estiver inserido Ateacute por que existe uma proposta educativa

intercultural de modo biliacutengue no contexto indiacutegena Assim surge a necessidade de accedilotildees

objetivas para garantir na praacutetica esta proposta de ensino a fim de enriquecer o indiacutegena

surdo com desenvolvimento da liacutengua de sinais como veiacuteculo de comunicaccedilatildeo acrescendo

seus conhecimentos a partir do pluralismo cultural uma vez que estaacute amparado por

legislaccedilotildees especiacuteficas

Reitera-se a necessidade de accedilotildees objetivas especialmente no que tange a formaccedilatildeo

especiacutefica de professores pois mesmo com a garantia da legislaccedilatildeo a presente realidade

desses sujeitos estaacute distante do contexto sociocultural-linguiacutestico do ser iacutendio surdo A

exemplo disso tem-se outra realidade sociocultural-linguiacutestico do segundo aluno indiacutegena

surdo de 24 anos que foi transferido de uma escola que desenvolve atividades educacionais

especiacuteficas para outra no processo denominado de educaccedilatildeo inclusiva onde cursa o nono ano

do ensino fundamental das seacuteries finais e faz atendimento na sala de recurso porque os

professores das disciplinas do curso natildeo tecircm formaccedilatildeo para acompanhaacute-lo

Os relatos da famiacutelia indicam que o aluno nasceu na aacuterea indiacutegena de Ponta Alegre

poreacutem muito pequeno sua famiacutelia mudou-se para zona urbana municiacutepio de Parintins o qual

cresceu longe de sua cultura indiacutegena desconhecendo assim a liacutengua de sua etnia Este eacute um

caso que promove o desaparecimento de liacutenguas indiacutegenas o conhecido deslocamento

sociolinguiacutestico

Para entender o processo que instaura este deslocamento linguiacutestico ressalta-se que

primeiramente a educaccedilatildeo da pessoa perpassa pelo uso da liacutengua materna no ambiente

familiar nas relaccedilotildees famiacuteliares na qual utiliza uma comunicaccedilatildeo intra e extrafamiliar Se a

famiacutelia mantiver sua liacutengua nativa em uso os membros da mesma permaneceratildeo biliacutengues

Poreacutem se a famiacutelia por pressatildeo social do uso da liacutengua dos falantes da sociedade local seja

porque deseja se adequar ao meio onde se insere a liacutengua no caso indiacutegena entra no processo

de esquecimento para as geraccedilotildees vindouras

65

Eacute o caso do aluno acima que eacute biliacutengue (Liacutengua Brasileira de Sinais e Liacutengua

Portuguesa na modalidade escrita) contudo desconhece sua raiz cultural a liacutengua de sua

etnia Seu contexto educacional eacute baseado em ldquomodelo de escola inclusivardquo o aluno vai para

sala de aula com alunos ouvintes onde a liacutengua portuguesa eacute a liacutengua padratildeo a ser ensinada e

estudada e posteriormente faz atendimento na sala de recurso em sua liacutengua natural Libras

Logo a escola pode ajudar no incentivo favorecendo a revitalizaccedilatildeo da liacutengua

indiacutegena no contexto educacional Para isso haacute necessidade de um corpo docente com a

formaccedilatildeo em Liacutengua indiacutegena e Liacutengua Brasileira de Sinais aleacutem da Liacutengua Portuguesa que eacute

usada como a base de ensino

Jaacute na comunidade Uiacurapaacute da etnia Maweacute encontramos outra realidade de contexto

de um surdo indiacutegena Todavia natildeo foi possiacutevel fazer um acompanhamento mais preciso

sobre sua situaccedilatildeo educacional escolar O uacutenico dado correspondente agrave questatildeo linguiacutestica eacute o

modo como ele se comunica conforme foi relatado por membros da comunidade local se

caracteriza pela utilizaccedilatildeo de gestos criados para se fazer compreender Desta forma diante da

ausecircncia de uma liacutengua estruturada a Libras por fazer uso somente de gestos ele apresenta

dificuldades de entender o ensino e de se comunicar com seus pares Da mesma forma ocorre

no contexto familiar e na comunidade uma vez que o aluno surdo vive quase que isolado

devido ao preconceito existente ateacute mesmo pela proacutepria comunidade por natildeo o entenderem e

nem saberem qual a forma para se comunicar aquele indiviacuteduo Assim ele vive em uma

situaccedilatildeo de rejeiccedilatildeo e marginalizaccedilatildeo estabelecida a partir da ausecircncia de uma liacutengua que

promova a comunicaccedilatildeo com o predomiacutenio de um processo de estigmatizaccedilatildeo deste sujeito

surdo

No municiacutepio de Maueacutes Boa Vista do Ramos os iacutendios surdos localizados satildeo de

idade adulta natildeo tiveram a oportunidade de frequentar escola Portanto sua realidade

linguiacutestica fundamenta-se somente na forma gestual que denominam de caseira atribuindo

significados peculiares de seu contexto local No que diz respeito ao aspecto educacional as

pessoas contatadas demonstraram apenas uma preocupaccedilatildeo sobre a existecircncia futura de

possiacuteveis iacutendios surdos nesses municiacutepios e sua formaccedilatildeo educacional Contudo natildeo

afirmaram o que fariam se encontrassem outros sujeitos com essa necessidade de

comunicaccedilatildeo

Como jaacute mencionado natildeo haacute registro sobre a situaccedilatildeo linguiacutestica e educacional de

nenhum iacutendio surdo da etnia Satereacute-Maweacute nos municiacutepios de Nhamundaacute Satildeo Sebastiatildeo do

Uatumatilde e de Urucaraacute Portanto as informaccedilotildees educacionais natildeo satildeo apresentadas nestes

contextos

66

43 Inventaacuterio de gestos da linguagem caseira dos surdos Satereacute-Maweacute

A presente pesquisa baseia-se em um meacutetodo de estudos de etnografia com o intuito

de descrever e observar os gestos caseiros que os indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute usam para se

comunicarem com seus pares nas comunidades onde residem O meacutetodo tambeacutem ajuda a

conhecer a identidade e sua interaccedilatildeo no meio da comunidade visto haacute uma diversidade

linguiacutestica rica usada pelos surdos indiacutegenas nas diversas localidades percorridas pelo

pesquisador na microrregiatildeo de Parintins

431 Os sinais caseiros de indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute

O objetivo do mapeamento eacute coletar os sinais caseiros ou emergentes para que esses

sinais possam ser reconhecidos e compreendidos pela sua comunidade como meio linguiacutestico

de comunicaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo de sua cultura

Para a concretizaccedilatildeo do mapeamento foi necessaacuterio a pesquisa de campo na

comunidade onde se fazia presente o indiacutegena surdo para as devidas observaccedilotildees

432 O Municiacutepio de Parintins

No municiacutepio de Parintins foi localizado trecircs (03) indiacutegenas surdos com suas

caracteriacutesticas linguiacutesticas diferenciadas de suas origens sendo que dois indiacutegenas residem na

zona urbana e um indiacutegena localizado na comunidade de Uaicurapaacute os quais foram o objeto

investigativo para a coleta de dados Os registros foram feitos de forma diferenciada de modo

que primeiramente conversei com as lideranccedilas indiacutegenas acompanhado de inteacuterprete e guia

linguiacutestico Durante este encontro foram feitas no local observaccedilotildees visuais sendo que em

alguns casos realizamos registros de imagens filmagens e entrevistas Eacute importante destacar

que os registros soacute puderam ser feitos quando permitidos pelos sujeitos da pesquisa ou pela

lideranccedila prevalecendo em sua maior parte a observaccedilatildeo visto que materiais tecnoloacutegicos e

de miacutedias causavam incocircmodo aos entrevistados fazendo com que se tornassem

incomunicaacuteveis quando percebiam que estavam sendo monitorados

67

4321 O primeiro surdo

Esse primeiro indiacutegena possui surdez moderada Eacute um senhor com idade de 72 anos

residente no Uiacurapaacute23

O contato foi feito na Casa do Iacutendio de Parintins Em uma

conversaccedilatildeo informal explicou que perdeu a audiccedilatildeo com o tempo eacute oralizado24

e se

comunica com a comunidade na liacutengua nativa Satereacute-Maweacute Trata-se de um cidadatildeo calmo

fala apenas de suas necessidades visto que natildeo se manifesta muito devido suas limitaccedilotildees

auditivas que dificultam uma melhor compreensatildeo

Como referido o surdo em questatildeo tem surdez moderada Neste sentido observa-se

que a surdez ocorre de acordo com diferentes classificaccedilotildees quanto ao niacutevel de perda auditiva

Ou seja

Quanto ao grau - leve (perda de 26 a 40 dBNA) - moderada (perda de 41 a 55

dBNA) - moderadasevera (perda de 56 a 70 dBNA) - severa (perda de 71 a 90

dBNA) - profunda (a partir de 91 dBNA) (RUSSO e SANTOS 1988 apud

NADER 2011 p 2)

Retomando a histoacuteria do sujeito surdo em questatildeo observa-se que ele reside na zona

rural no Uiacurapaacute com seus parentes e sua sobrevivecircncia eacute atraveacutes do que planta e pesca

Observando-o percebo que o mesmo tem uma vida normal com seus pares o que falta para

uma interaccedilatildeo mais ativa na comunidade eacute estimulo e o incentivo linguiacutestico pois muitas

pessoas satildeo impacientes e acabam deixando-o isolado linguisticamente

4322 O segundo surdo

Eacute um indiacutegena natural de Ponta Alegre25

concluiu o ensino fundamental em uma

escola puacuteblica no municiacutepio de Parintins Sua surdez foi percebida por seus pais ainda

crianccedila causada por doenccedila congecircnita A famiacutelia mudou-se para o municiacutepio de Parintins em

busca de uma melhor educaccedilatildeo para filho surdo entretanto os pais eram usuaacuterios da Liacutengua

Satereacute-Maweacute mas natildeo mais praticam pela influecircncia da Liacutengua Portuguesa e tambeacutem natildeo 23 Rio que fica interliga com Rio Paranaacute do Ramos ndash Parintins (AZEVEDO 2014) 24

O modelo cliacutenico-terapecircutico baseia-se numa visatildeo patoloacutegica de surdez e num modelo individual de

atendimento aacute diversidade que tem como referecircncia o Oralismo O oralismo eacute uma filosofia educacional para

surdos cujo discurso propotildee a superaccedilatildeo da surdez e a aceitaccedilatildeo social do surdo por meio da oralizaccedilatildeo Em

outras palavras este modelo defende o aprendizado apenas da Liacutengua Portuguesa na sua modalidade oral e

escrita na escola por entender que esta eacute a uacutenica possibilidade de integrar o surdo na sociedade majoritaacuteria

ouvinte (SLOMSKI 2010 p 32) 25

A comunidade de Ponta Alegre situa-se no Rio Andiraacute com 4 horas de viagem de lancha para chegar a

comunidade (AZEVEDO 2014)

68

frequentam a comunidade Satereacute-Maweacute em busca de assistecircncia ou outros meios oferecidos

pela tribo Portanto a famiacutelia cresceu e disseminou deixando de lado a liacutengua nativa e

tradiccedilatildeo indiacutegena vivendo uma vida regular na zona urbana

O surdo hoje com 20 anos natildeo conhece a liacutengua nativa de sua comunidade se

comunica fluentemente com a Liacutengua de Sinais escreve o Portuguecircs e se oraliza na

comunicaccedilatildeo com seus pais que tambeacutem natildeo sabem a Liacutengua de Sinais

Atraveacutes de sua histoacuteria eacute possiacutevel perceber que este sujeito surdo por estudar em

escola inclusiva com forte influecircncia a oralista desenvolveu as duas linguas a Liacutengua

Brasileira de Sinais e a Liacutengua Portuguesa Poreacutem sua situaccedilatildeo eacute diferente de outros

indiacutegenas surdos que residem nas comunidades que usam os sinais caseiros para se

comunicarem Isso acaba sendo uma observaccedilatildeo abstrata da realidade entre os surdos que

moram na zona urbana e na comunidade Satereacute-Maweacute

4323 O terceiro surdo

Eacute uma crianccedila de 5 anos descendente da etnia Satereacute-Maweacute estuda em uma escola

filantroacutepica em Parintins Trata-se de uma aluna inteligente que demonstrava timidez na

presenccedila de pessoas estranhas Verificou-se que ela consegue aprender e identificar os objetos

apresentados para que identificasse Aos 4 anos antes de entrar para a escola utilizava alguns

sinais caseiros para se comunicar com seus familiares Na sala de aula o ensino oferecido a

ela eacute o biliacutengue26

tendo a Liacutengua Brasileira de Sinais e a Liacutengua Portuguesa compondo essa

educaccedilatildeo O ensino nessa instituiccedilatildeo vai ateacute a 5ordf serie Por esta razatildeo a aluna futuramente

precisaraacute ser transferida para uma escola de ensino fundamental

Tabela 2 11 Sinais caseiros utilizados pela crianccedila indiacutegena surda de 5 anos e seus

familiares

26

O Bilinguismo eacute uma filosofia de ensino cujo discurso propotildee a diversidade cultural e a aceitaccedilatildeo social do

surdo por meio do bilinguismo (duas liacutenguas Liacutengua de Sinais e segunda liacutengua) Essa filosofia concebe o surdo

como um ser diferente e a surdez como ldquoatributo humanordquo como uma caracteriacutestica da pessoa surda resultado

de uma deficiecircncia orgacircnica que natildeo se esgota nela mesma (SKLIAR 1997 apud SLOMSKI 2010 p 41)

SINAIS CASEIROS DESCRICcedilAtildeO

AacuteGUA Matildeo direita com o dedo polegar fazendo a expressatildeo de beber aacutegua

BRINCAR As duas matildeos fechadas batendo as pontas dos dedos em

movimento

BANHEIRO Matildeo direita mostra o local e a esquerda eacute posicionada na barriga

COMIDA As duas matildeos abrindo e fechando repetidamente proacuteximo da boca

DORMIR As duas matildeos com as palmas juntas encostar-se ao rosto com

expressatildeo de querer dormir

69

Fonte AZEVEDO (2014)

Figura 2 Sinais caseiros utilizado pela crianccedila de 5 anos

FOME Matildeo direita indo em direccedilatildeo da barriga fazendo expressatildeo facial de

fome

MAtildeE Matildeo direita aberta no rosto fazendo movimento nos dedos com

expressatildeo chamativa

IRMAtildeO Matildeo direita batendo no antebraccedilo para chamar atenccedilatildeo

PAI Matildeo direita com os dedos pegando o queixo

PESSOA Matildeo direita com dedo indicador fazendo expressatildeo de algueacutem

CHORAR As duas matildeos fechadas com os dorsos esfregando nos olhos

AacuteGUA BRINCAR

COMIDA DORMIR FOME

MAtildeE IRMAtildeO PAI

BANHEIRO

70

44 O indiacutegena surdo da Comunidade de Ponta Alegre do municiacutepio de Barreirinha

Foi localizado um aluno surdo na comunidade de Ponta Alegre que faz parte do

municiacutepio de Barreirinha trata-se de um jovem de 13 anos que estuda na Escola Municipal

Rosa Cabral e mora em uma aldeia mais distante a observaccedilatildeo foi feita na escola Nessa

viagem foi obtido a autorizaccedilatildeo de viagem para a aldeia na Secretaria de Educaccedilatildeo Municipal

de Barreirinha por meio do contato com o coordenador geral do setor indiacutegena daquela aacuterea

o senhor Santino Lopes que muito contribuiu com o projeto e de servir como guia de

viagem

O devido aluno estuda na 3ordf Serie do ensino fundamental De acordo com as

observaccedilotildees feitas O ensino predominante na sala para o ensino deste aluno eacute a Liacutengua

Portuguesa visto que os professores em sua maioria vem do municiacutepio de Barreirinha

Embora o ensino seja bem aplicado e a escola dispotildee de material didaacutetico apropriado para a

seacuterie natildeo haacute metodologia de ensino especializado para surdo natildeo existindo Sala de

Recursos27

O aluno aprende lentamente demonstrando dificuldades de entender os

conteuacutedos

A comunicaccedilatildeo com seus professores e colegas soacute acontecem atraveacutes de sinais

caseiros e expressotildees manuais O aluno surdo vive quase que isolado sem ter a possibilidade

de estabelecer uma comunicaccedilatildeo satisaftoacuteria dentro do contexto escolar devido ao

27

Uma das inovaccedilotildees trazidas pela Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Especial na Perspectiva da Educaccedilatildeo

Inclusiva (2008) eacute o Atendimento Educacional Especializado ndash AEE um serviccedilo da educaccedilatildeo especial que []

identifica elabora e organiza recursos pedagoacutegicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena

participaccedilatildeo dos alunos considerando suas necessidades especiacuteficas

O AEE complementa eou suplementa a formaccedilatildeo do aluno visando a sua autonomia na escola e fora dela

constituindo oferta obrigatoacuteria pelos sistemas de ensino Eacute realizado de preferecircncia nas escolas comuns em um

espaccedilo fiacutesico denominado Sala de Recursos Multifuncional Portanto eacute parte integrante do projeto poliacutetico

pedagoacutegico da escola (BRASIL 2008 p 3)

CHORAR PESSOA

71

preconceito existente Ateacute mesmo na proacutepria comunidade por natildeo entenderem e nem saberem

de que forma comunicarem-se com o mesmo a situaccedilatildeo de exclusatildeo se repete

Vale destacar que diante desta ausecircncia da qualidade de ensino para o aluno surdo a

professora Maria Inecircs ao responder um questionaacuterio segue algumas afirmativas para mudar

esta realidade Desta forma a educadora afirma que

- Eacute muito importante a capacitaccedilatildeo em cursos de libras e livros didaacuteticos proacuteprios

como forma de melhorar o ensino e a comunicaccedilatildeo com aluno surdo na

comunidade como parte da educaccedilatildeo inclusiva para facilitar o ensino e

aprendizado acima de tudo conhecer sua liacutengua materna identidade do povo

Satereacute-Maweacute

Pelo relato do Gestor da Escola Senhor Dulcemar a necessidade jaacute referida pela

educadora acima de materiais didaacuteticos para subsidiar o ensino eacute novamente colocada em

destaque conforme pode ser vislumbrado no relato transcito a seguir

- Eu como gestor sinto-me gratificado pelo trabalho a ser desenvolvido aqui com a

questatildeo da Libras um trabalho realizado pelo professor Marlon Jorge Pois eacute muito

importante devido agrave dificuldade que a educaccedilatildeo Satereacute- Maweacute vem tendo

principalmente quando se trata de alunos surdos indiacutegenas e ateacute mesmo por falta

de material didaacutetico Esse trabalho vai ser importante aqui na aacuterea indiacutegena para

ajudar o professor na sala de aula como ensinar como educar e como lidar com

esses alunos com necessidades especiais Entatildeo eacute um trabalho muito importante

pra noacutes e estamos aqui a disposiccedilatildeo e tambeacutem para contribuir como gestor da

escola juntamente com os professores e pra noacutes eacute muito bom esse trabalho e que o

Sr possa desenvolver esse seu projeto essa cartilha que com o aacutepice das aulas de

libras que com certeza vai fortalecer muito mais a educaccedilatildeo do povo Satereacute

Maweacuterdquo

Tabela 313 sinais caseiros coletados e utilizados pelo aluno da comunidade de Ponta Alegre

Fonte Azevedo (2014)

SINAIS CASEIROS DESCRICcedilAtildeO

AacuteGUA Usa as duas matildeos fazendo impressatildeo de beber alguma coisa

BARCO Usa-se a matildeo direita aberta em posiccedilatildeo vertical fazendo uma

expressatildeo da accedilatildeo do barco

BANHO Fazer a expressatildeo de pular na aacutegua com os braccedilos esticados

BANHEIRO Matildeo direita usando o indicador fazendo expressatildeo sair fora sala

COMIDA Matildeo esquerda aberta matildeo direita usando como o objeto metaacutelico

COBRA Usando os dedos da matildeo direita beliscando o pulso da matildeo esquerda

ESCOLA Faz-se o sinal de casa

ESTUDAR Faz a expressatildeo de escrever

FOME Matildeo direita levando em direccedilatildeo da barriga fazendo expressatildeo facial

de fome

FARINHA As duas matildeos palmas para baixo fazendo a expressatildeo de esfarelar

alguma coisa

LANCHA Usa a matildeo direita palma para cima fazendo uma accedilatildeo da rapidez

para frente

PEIXE Matildeo direita fazer a expressatildeo de caccedilar o peixe com o arpatildeo

PESSOA Matildeo direita com dedo indicador fazendo expressatildeo de algueacutem

72

Figura 3 Sinais caseiros utilizados pelo aluno da comunidade de Ponta alegre ndash

Barreirinha

AacuteGUA BARCO

BANHEIRO

BANHO

COMIDA

ESCOLA

FOME LANCHA PESCAR PEIXE

ESTUDAR FARINHA

COBRA

73

45 Os indiacutegenas surdos do Municiacutepio de Maueacutes

Situado entre os rios Madeira e Tapajoacutes o municiacutepio de Maueacutes estaacute localizado no

Meacutedio Amazonas que hoje eacute denominado como microrregiatildeo aacuterea leste do Estado Distante

de Manaus cerca de 30 km em linha reta ou o equivalente 45 minutos por via aeacuterea estando

a 356 km por via fluvial cerce de 16 a 18 horas de barco

Nesse municiacutepio foi realizado duas viagens com a finalidade de fazer um mapeamento

das aacutereas indiacutegenas bem como descobrir a existecircncia de surdos nas aldeias O primeiro

contato foi na Secretaria de Educaccedilatildeo do municiacutepio primeiramente me apresentado como

aluno pesquisador juntamente com os documentos comprobatoacuterios de acesso para realizar a

pesquisa nas aacutereas indiacutegenas As informaccedilotildees que tinha antes de estabelecer o contato

apontavam para a existecircncia de alunos indiacutegenas surdos matriculados na sede do municiacutepio

Poreacutem a secretaria informou desconhecer a existecircncia de alunos indiacutegenas matriculados na

rede publica do municiacutepio nem saber sua localizaccedilatildeo para contatos sendo orientado a

procurar na Casa do Estudante Indiacutegena Satereacute-Maweacute que se localiza em um bairro mais

distante dali

Chegando ao SESAI - Secretaria de Sauacutede Indiacutegena obtivemos acesso agraves informaccedilotildees

devido ao fato de que a pessoa responsaacutevel estava em viagem sendo que retornaria na outra

semana Em outra busca formos agrave Casa do Estudante Satereacute-Maweacute onde conversamos com o

coordenador Sr Jusivam que disse saber da existecircncia de indiacutegenas surdos nas comunidades

na Marau e Andiraacute mas natildeo ter dados quantitativos devido ao fato deles natildeo terem procurado

a Casa do Estudante em busca de assistecircncia que auxiliassem sua integraccedilatildeo em escolas

regulares ou inclusivas Observa-se que a Casa do Estudante podia auxiliar eles a

conseguirem uma escola para estudarem na zona urbana jaacute que esta eacute uma das atribuiccedilotildees da

instituiccedilatildeo

Ao sermos informados que as comunidades onde havia surdos eram distantes e

necessitava de apresentar outros documentos da Coordenaccedilatildeo Geral de Educaccedilatildeo que ficava

no municiacutepio de Barreirinha Tambeacutem se fazia necessaacuterio preparar uma programaccedilatildeo de

viagem para que pudessemos chegar ateacute aquela localidade de modo que nesta precisava

inclusive organizar para ter inteacuterpretes que falassem a liacutengua Satereacute-Maweacute e inteacuterpretes de

Libras Aleacutem destes precisava contar com um acompanhante para registrar as imagens e

filmagens se autorizadas anotando tudo que fosse necessaacuterio

Fazendo uma reflexatildeo sobre a viagem e os entraves que tinhamos pela frente para a

concretizaccedilatildeo do projeto e as distacircncias geograacuteficas para alcanccedilar os objetivos da pesquisa

74

Contudo ao encontrar um surdo indiacutegena sendo o principal objeto da pesquisa em funccedilatildeo da

grande satisfaccedilatildeo de poder contribuir para o desenvolvimento linguiacutestico dos indiacutegenas surdos

e para que a comunidade compreenda como um ser incluiacutedo a partir do respeito a sua cultura

inserindo em seus modos e haacutebitos foi compensador enfrentamos todos os obstaacuteculos

Visitamos a Universidade do Estado do Amazonas ndash UEA onde tivemos a grata

surpresa de saber que havia uma turma de formaccedilatildeo em licenciatura Indiacutegena para a

comunidade Esperamos a aula acabar para falar com o professor o qual pediu para vir outro

dia para conversar com os alunos Foi nessa ocasiatildeo que conhecemos trecircs professores com os

quais fizemos um acordo para que na proacutexima viagem me levassem para a aldeia a fim de

realizar o mapeamento

Voltando para Parintins foi elaborado um roteiro para viagem a aacuterea indiacutegena Satereacute-

Maweacute pelos rios Maueacutes-Accedilu Rio MarauUrupadi A viagem aconteceu no dia 02 de

fevereiro de 2014 saindo de barco de Parintins indo ateacute o municiacutepio de Maueacutes No dia

seguinte as 8 horas acompanhado do professor Jesiel pegamos uma voadeira de 150HP com

destino ao territoacuterio Satereacute-Maweacute Foi uma viagem perigosa devido agraves condiccedilotildees dos rios e de

difiacutecil acesso para chegarmos laacute Todavia fizemos um esforccedilo e conseguimos nos deslocar ateacute

a comunidade Percorremos de voadeira uma viagem que durou aproximadamente 8 horas

pelo Rio Maueacutes Accediluacute Depois de uma hora e meia de viagem chegamos ao Rio Urupadi e

seguimos mais uma hora e meia de viagem ateacute a comunidade indiacutegena Vale do Quiinha

Nessa aldeia pegamos o professor Jacob Santos de Souza que nos acompanhou para a

proacutexima aldeia Ilha Michiles que fica no Rio Marau Nessa aldeia pegamos outro professor

Satereacute-Maweacute Jocimar Alencar dos Santos Saiacutemos da Ilha Michiles com destino a

comunidade Santa Maria que fica na divisa do Rio Urupadi e Manjuru A cada visita que

faziamos nas comunidades indiacutegenas percebemos no cotidiano a diversidade presente nas

aacutereas indiacutegenas Satereacute-Maweacute Ao perguntar se havia algueacutem surdo na famiacutelia e a resposta

sempre vinha de forma afirmativa o que me demonstrou que todos os esforccedilos para realizar a

viagem foram compensados diante da riqueza de dados coletados

A primeira iniciativa adotada com relaccedilatildeo a esse momento foi reunir com os

comunitaacuterios envolvidos nas atividades escolares A reuniatildeo teve como objetivo observar e

entrevistar alguns indiacutegenas para posteriormente analisar como se procede agrave comunicaccedilatildeo

entre indiacutegenas surdos e ouvintes A reuniatildeo foi muito uacutetil para os estudos e anaacutelise de

informaccedilotildees Os surdos existentes na comunidade nunca estudaram devido agrave comunidade

Santa Maria ficar distante da zona urbana e a escola existente para alunos ouvintes ficar em

75

outra comunidade o que inviabiliza a ida deles sendo que tambeacutem natildeo haacute professores

especializados para atenderem a clientela surda existente no Rio Marau

Encontramos dois indiacutegenas surdos na comunidade de Santa Maria que foram objeto

de estudos No entanto houve informaccedilotildees repassadas de que haacute outros trecircs surdos em outras

comunidades mais distante na mesma aacuterea Satereacute-Maweacute A visita para contactar estes outros

trecircs surdos ficou para a proacutexima viagem de observaccedilatildeo e coleta dos dados

451 O primeiro surdo da Comunidade de Santa Maria

No contato e observaccedilatildeo que tivemos com o surdo o mais novo tem 24 anos mora

com a famiacutelia natildeo conhece nenhuma liacutengua se comunica com gestos e sinais caseiros A

comunidade assim com a famiacutelia demosntrou pouco se importar com ele de forma que natildeo

haacute estiacutemulo ou interesse para que haja uma interaccedilatildeo linguiacutestica satisfatoacuteria entre eles

O ponto de encontro com seus colegas fica na parte central da comunidade que tem

um campo de futebol Laacute eles se concentram embaixo de uma aacutervore Neste lugar o surdo

costuma ficar quase diariamente com intuito de se unir e brincar com os colegas Ele usa os

sinais caseiros com expressotildees com a intenccedilatildeo de conseguir se comunicar com os colegas

Poreacutem alguns natildeo conseguem entender enquanto outros falam a Liacutengua Satereacute-Maweacute

Apesar do esforccedilo do surdo de tentar compreender o que eacute falado via a leitura labial na

maioria das vezes natildeo consegue compreender Poreacutem mesmo assim sinaliza balanccedilando a

cabeccedila com expressatildeo de concordacircncia afirmativa mesmo natildeo entendendo a mensagem

Tabela 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa

Maria

SINAIS CASEIROS

COLETADOS

DESCRICcedilAtildeO

AacuteGUARIO Usam-se as duas matildeos fazendo a expressatildeo de banzeiro

ANTA Matildeo direita fazendo a expressatildeo do focinho do nariz

AacuteRVORE As matildeos abertas fazendo expressatildeo de segurar o troco ao mesmo tempo

levando para cima

BARCO Usa a matildeo direita fechada fazendo expressatildeo de abrir e fechar a matildeo

como sinal de fumaccedila

BANHO Fazer a expressatildeo de pular na aacutegua com os braccedilos esticados

CASA As duas matildeos palmas para baixo fazendo um balanccedilo de movimento de

uma rede

CACcedilAR PEIXE Matildeo direita fazer expressatildeo de soltar o arpatildeo

CUIA As duas matildeos juntas fazer a expressatildeo de raspar a cuia

COCO Fazer a expressatildeo de tirar o coco com a vara

COMIDA As duas matildeos levando ateacute a boca

76

Fonte Azevedo (2014)

Figura 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa Maria

(30 sinais coletados)

COBRA Matildeo direita fazendo a expressatildeo da picada da cobra

FACA Matildeo direita fachada fazendo a expressatildeo de furar alguma coisa para

baixo

FLECHA Fazer a expressatildeo de jogar a flecha

FORMIGA Matildeo direita com os dedos beliscando o braccedilo esquerdo

FOME Matildeo direita levando em direccedilatildeo da barriga fazendo expressatildeo facial de

fome

FARINHA As duas matildeos fazer a expressatildeo de fazer farinha

GUARANAacute Fazer a expressatildeo de ralar o guaranaacute

JACAREacute Os dois indicadores das matildeos fazendo expressatildeo de dentes grandes do

jacareacute

LANCHA As duas matildeos dedos juntos fazer a expressatildeo de uma accedilatildeo raacutepida para

frente

MACACO Com braccedilos abertos fazer a expressatildeo de macaco

MALOCA As duas matildeos com os dedos encostados puxar para os lados opostos

MANDIOCA Fazer expressatildeo de descascar algum

ONCcedilA Com as matildeos fazer pintas no rosto

PAI As duas matildeos esfregando os indicadores

PEIXE Faz se expressatildeo de descamar o peixe

PILAtildeO As duas matildeos juntas fazendo a expressatildeo de socar a crueira

POTE AacuteGUA As duas matildeos juntas palmas para cima elevando para cima em curvas

onduladas

PASSAacuteRO As duas matildeos fazendo o movimento de paacutessaro

PESSOA Matildeo direita fazendo a expressatildeo de pegar no cabelo

TIPITI As duas matildeos fazendo a expressatildeo de espremer algum

PENEIRAR As duas matildeos em forma letra A fazer expressatildeo de balanccedilar o objeto

AacuteGUA ANTA AacuteRVORE

VIAGEM BANHO

77

VIAJAR

CASA CACcedilAR ALIMENTO CUIA

COCO COMIDA

FACA

FARINHA

FORMIGA

GUARANAacute

FOME

FACA

FLECHA

78

JACAREacute LANCHA

MACACO

MANDIOCA ONCcedilA

MALOCA PAI

POTE DE AacuteGUA PILAtildeO

LANCHA JACAREacute

PEIXE

79

452 O segundo surdo da Comunidade de Santa Maria

O segundo surdo visitado um senhor adulto com identidade natildeo revelada residindo na

Comunidade de Santa Maria Eacute um cidadatildeo reservado e fechado para desconhecidos Como

nossa equipe era composta de 05 profissionais sendo 03 (trecircs) professores indiacutegenas que me

acompanharam para serem facilitadores linguiacutesticos e um colaborador local para captar as

imagens ficarmos 04 (quatro) dias na comunidade para observaccedilotildees Apesar do tempo o

investido para conseguir o contato o mesmo se mostrou irredutiacutevel e natildeo se dispos a

conversar conosco Observa-se que mora sozinha e eacute raro ele se manifestar na comunidade

Pela histoacuteria contada a seu respeito apesar de natildeo se comunicar manteacutem sua residecircncia de

maneira organizada cultiva de algumas plantaccedilotildees como mandioca banana guaranaacute aleacutem de

produzir farinha tambeacutem faz pescaria para se alimentar Foi relatado que ajuda alguns

vizinhos e amigos com o que produz aleacutem de ser experiecircncia em matildeo de obra na confecccedilatildeo

de trepadeira silvestre que facilita subir nas aacutervores coqueiros e accedilaizeiros

PASSAacuteRO PESSOA COBRA

TIPITI PENEIRAR

80

Sobre o contexto educacional tendo como tema central a educaccedilatildeo escolar indiacutegena

o professor Jesiel (2014)28

(que eacute indiacutegena e concluiu o curso de pedagogia intercultural na

Universidade do Estado do Amazonas localizado no municiacutepio de Maueacutes) argumentou que o

territoacuterio Satereacute-Maweacute eacute muito grande sendo longa a distacircncia para se chegar na zona

urbana ateacute de forma que mesmo o deslocamento de uma comunidade para outra dificulta os

indiacutegenas irem para a escola Estas segundo o educador referido satildeo algumas razotildees que

impedem muitos indiacutegenas de estudarem na medida em que acarreta prejuiacutezo para a famiacutelia

especialmente de perda de tempo principalmente para os adultos que tem compromisso no

campo e com a comunidade

Para solucionar este problema devido a distacircncia as famiacutelias e os liacutederes indiacutegenas

possuem propostas e lutas para a construccedilatildeo de escolas nas aldeias o que facilitaria o acesso

dos surdos indiacutegenas da comunidade na escola E ao considerar que o indiacutegena surdo

compreende e se comunica com seus pares atraveacutes de gestos e sinais caseiros de forma que

aleacutem de sua liacutengua nativa haacute outros meios para que o surdo possa se comunicar isso aponta

para a necessidade da criaccedilatildeo de propostas de acesso agrave educaccedilatildeo dessas pessoas Dessa

maneira foram catalogados alguns sinais utilizados por esse surdo adulto da Comunidade de

Santa Maria apresentado abaixo

Tabela 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais antigo residente isolado na

comunidade de Santa Maria no Rio Marau ( 18 sinais coletados)

28

As famiacutelias e os liacutederes indiacutegenas possuem propostas e lutas para a construccedilatildeo de escolas nas aldeias para a

facilitaccedilatildeo do acesso dos surdos indiacutegenas na comunidade e na escola O indiacutegena surdo apesar de natildeo ouvir

compreende e comunica com seus pares atraveacutes de gestos e sinais caseiros que aleacutem de sua liacutengua nativa haacute

outros meios para que o surdo possa se comunicar Isso contribui para a criaccedilatildeo de propostas de acesso agrave

educaccedilatildeo dessas pessoas Dessa maneira foram catalogados alguns sinais utilizados por esse surdo adulto da

Comunidade de Santa Maria apresentado abaixo

A contribuiccedilatildeo do professor indiacutegena Jesiel Santos foi de suma importacircncia para a coleta de dados nesta

pesquisa visto que atraveacutes dele que conseguimos chegar ateacute a comunidade de Santa Maria afim de termos os

contatos na comunidade

SINAIS CASEIROS DESCRICcedilAtildeO

ARCOFECHA As duas matildeos com expressatildeo de utilizar um arco com flecha

AacuteGUA Matildeo direita com utilizando somente o dedo polegar fazer a expressatildeo de

beber algum

BANHO Os braccedilos e matildeos esticadas fazer a expressatildeo de se soltar no rio

BEIJU As duas matildeos fazendo um circulo e em seguida levar ateacute a boca

CIGARRO A posiccedilatildeo para traduzir este sinal satildeo as duas matildeos em posiccedilatildeo dos dedos

polegar e indicador juntos fazendo expressatildeo de fazer um cigarro caseiro

CASA As duas matildeos com os dedos esticados fazer a expressatildeo de formato de uma

casa

COBRA A matildeo direita com os dedos indicador e polegar encostados fazer a expressatildeo

de beliscar o pulso de antebraccedilo

FARINHA Matildeos com os dedos todos juntos fazer a expressatildeo com o movimento de

81

Figura 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo idoso na comunidade de Santa Maria

soltar a farinha

FORNO DE ASSAR Matildeo direita fazendo um semiciacuterculo de com a caracteriacutestica de um forno de

barro

GARREIRA As duas matildeos juntas fazer a expressatildeo repetidamente de amassar uma massa

JACAREacute As duas matildeos pegando os dentes

LUVA DA TUCANDEIRA Fazendo a expressatildeo de usar uma luva de palha e fazer a expressatildeo de dor da

ferrada da tucandeira

MANDIOCA Usar o antebraccedilo esquerdo com a matildeo direita como um material cortante

fazendo a expressatildeo de descascar

MACACO Os dois braccedilos e corpo fazendo a expressatildeo do movimento caracteriacutestico do

macaco

PAJEacute As duas matildeos fazendo a expressatildeo de segurar algum e balanccedilar

PAacuteSSARO Fazer a expressatildeo de balanccedilar os braccedilos caracterizando o movimento de um

paacutessaro

TIPITI As duas matildeos fazendo o movimento de espremer a mandioca

TERRASOLO Matildeo direita fazendo expressatildeo de um pequeno monte de terra

ARCOFECHA BEBER

LIacuteQUIDOAacuteGUA

BEIJUCOMER COBRA

FARINHA FERRADA DA TUCANDEIRA MALOCACASA ESCOLA

ARCOFLECHA BEBER LIQUIDOAacuteGUA BANHOPULAR NA AacuteGUA

AacuteAacuteGUA

CIGARRO

82

FORNO DE ASSAR

JACAREacute

LUVA DA TUCANDEIRA MACACO

PAJEacute

TIPITI TERRA

GAREIRA

MANDIOCA

PAacuteSSARO

(( ))

JACAREacute

83

5 ICONICIDADE E ARBITRARIEDADE NA CRIACcedilAtildeO DOS SINAIS CASEIROS

Nos anos 60 a partir dos trabalhos de Stokoe (1960) foi comprovado que as Liacutenguas

de Sinais satildeo linguas Estas satildeo liacutenguas naturais com ldquoestrutura gramatical proacutepria em seus

niacuteveis fonoloacutegico (ou queroloacutegico) morfoloacutegico sintaacutetico e semacircntico aleacutem de seus aspectos

pragmaacuteticosrdquo

De acordo com Quadros (2006 p 221)

pelo fato de as liacutenguas de sinais natildeo serem faladas e de natildeo terem o seu coacutedigo

escrito ainda popularizado entre os surdos natildeo as elimina das consideraccedilotildees

cientiacuteficas visto que apresentam uma organizaccedilatildeo estrutural e fazem parte da

constituiccedilatildeo cultural desses sujeitos ndash crescendo envolvendo e transmitindo

dinamicamente tradiccedilotildees socioculturais Portanto as liacutenguas de sinais fazem parte

do conjunto da linguagem humana com a diferenccedila de se apresentarem em uma

terceira modalidade a visuo-espacial

Reiterando-se que a Liacutengua de Sinais eacute uma liacutengua natural uma vez que estaacute veiculada

a um canal que natildeo eacute o oral-auditivo e sim visual esta garante uma percepccedilatildeo e articulaccedilatildeo

mais faacutecil mais coerente e confortaacutevel aleacutem de contribuir para o desenvolvimento linguiacutestico

cognitivo e social do surdo

Sobre as caracteristicas linguiacutesticas das Liacutenguas de Sinais vale ressaltar que Sousa

(2010) ao tratar dos aspectos visuais quanto agraves propriedades das Liacutenguas de Sinais enfatiza a

iconicidade e arbitrariedade relacionada ao signo linguiacutestico que satildeo inerentes agraves liacutenguas

naturais Sobre as definiccedilotildees dos fenocircmenos das liacutenguas estes remontam a eacutepoca de Platatildeo

filoacutesofo grego que tratava os fenocircmenos sobre a linguagem e a relaccedilatildeo dela com o mundo

Cita-se tambeacutem Craacutetilo Hermoacutegenes e Soacutecrates que foram interlocutores desta relaccedilatildeo

discutindo a ligaccedilatildeo existente entre nome ideia e coisa A abordagem dos trecircs se diferenciava

de forma que Craacutetilo defendia o conceito de iconicidade Hermoacutegenes de arbitrariedade

Soacutecrates por seu turno integrava as duas concepccedilotildees Esta diferenciaccedilatildeo tecido pelos trecircs

filosofos pode ser vislumbrada no trecho transcrito abaixo

Para Craacutetilo a liacutengua eacute o espelho do mundo o que significa que existe uma relaccedilatildeo

natural e portanto similar ou icocircnica entre os elementos da liacutengua e os seres por

eles representados Para Hermoacutegenes a liacutengua eacute arbitraacuteria isto eacute convencional pois

entre o nome e as ideias ou as coisas designadas natildeo haacute transparecircncias ou

similaridade Soacutecrates por sua vez tem o papel de fazer a integraccedilatildeo entre os dois

pontos de vista (WILSON amp MARTELOTTA 2010 apud SOUSA 2010 p 4)

84

A modalidade gestual-visual espacial pela qual a Liacutengua de Sinais eacute produzida e

reconhecida pela comunidade Surda leva muitas vezes as pessoas a pensarem que todos os

sinais satildeo desenho no ar do referente que representam Para melhor esclarecimento por

decorecircncia de sua natureza linguiacutestica a realizaccedilatildeo de um sinal pode sim ser motivada pelas

caracteriacutesticas do dado da realidade a que se refere poreacutem natildeo eacute regra Ou seja a maioria dos

sinais da LIBRAS eacute arbitraacuteria natildeo mantendo relaccedilatildeo de semelhanccedila alguma com seu

referente Portanto essa condiccedilatildeo possibilita o enriquecimento da flexibilidade e versatilidade

da liacutengua (BASSO 2011 p47)

Exemplos de sinais arbitraacuterios

Figura 6 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos que se refere agrave

arbitrariedade

BISCOITO PESSOA DESCULPA

Fonte Azevedo (2014)

A ideia de arbitrariedade da liacutengua se relaciona com a ideia de convenccedilatildeo que se

efetiva em todas as liacutenguas como Liacutengua de Sinais e na Liacutengua Portuguesa ilustra-se o

processo com os exemplos das palavras ldquobiscoitordquo ldquodesculperdquo e ldquopessoardquo O processo de

definiccedilatildeo destes termos ocorre de forma arbitraacuteria pois soacute nomes foram atribuiacutedos devido a

uma convenccedilatildeo que estabelece esse conceito e natildeo porque haacute uma relaccedilatildeo entre o som da

palavra e o objeto que ela designa (SALLES 2007 p 5)

No caso da Libras os exemplos citados de sinais foram criados sem sofrer influecircncia

da imagem dos objetos aos quais eles se referem O que mostra que mesmo que a Libras

tambeacutem apresenta a caracteriacutestica de arbitraacuterios (TEIXEIRA 2015 p 5)

Para compreender melhor a importacircncia da visualidade na Liacutengua de Sinais dos

Satereacute-Maweacute eacute relevante entender trecircs conceitos da teoria de Pierce sobre a iconicidade que

pode ser considerada a base dos sinais dessa comunidade os quais satildeoo siacutembolo o iacutendice e o

iacutecone Segundo Martelotta (2011) (apud TEIXEIRA 2015 p 2)

85

O siacutembolo de acordo com Peirce refere-se a determinado objeto representando-o

com base em uma lei haacutebito ou convenccedilatildeo estabelecendo uma relaccedilatildeo entre dois

elementos Para citar alguns exemplos a cruz eacute o siacutembolo do cristianismo e a

balanccedila o siacutembolo da justiccedila Uma caracteriacutestica importante do siacutembolo relaciona-se

ao fato de que ele eacute parcialmente motivado ou seja haacute entre o siacutembolo e o conteuacutedo

simbolizado alguns traccedilos relacionados ao objeto

Haacute uma diferenccedila fundamental entre o siacutembolo de um lado e o iacutendice e o iacutecone de

outro jaacute que nesses dois uacuteltimos haacute um niacutevel ainda menor de arbitrariedade No caso

do iacutendice ocorre uma relaccedilatildeo de contiguidade com a realidade exterior a fumaccedila

por exemplo eacute o iacutendice do fogo e a presenccedila de nuvens negras o iacutendice de chuva

iminente

O iacutecone por sua vez tem uma natureza imagiacutestica apresentando portanto

propriedades que se assemelham ao objeto a que se refere A fotografia de um

indiviacuteduo por exemplo eacute uma representaccedilatildeo icocircnica desse indiviacuteduo assim como o

mapa do Rio de Janeiro representa a cidade Assim um iacutecone eacute qualquer coisa que

seja utilizada para designar algo que lhe seja semelhante em algum aspecto

Nesta perspectiva Quadros (1997) traz a reflexatildeo sobre os efeitos da modalidade ou

seja o fato de a Liacutengua de Sinais serem visuoespacial em vez de auditiva-oral implica nas

diferenccedilas para a aquisiccedilatildeo do surdo e nesse sentido tem-se a questatildeo da iconicidade das

Liacutenguas de Sinais uma vez que a iconicidade se refere

A transparecircncia entre significado e o significante ou seja a relaccedilatildeo de identidade

entre a palavra (o sinal) e o seu sentido Por exemplo nas liacutenguas faladas agraves

onomatopeias satildeo consideradas por alguns autores como icocircnicas pois a produccedilatildeo

sonora bdquoreal‟ (do objeto ou do animal) eacute reproduzida na fala expressando certa

identidade (QUADROS 2011 p 22)

Vale ressaltar que a iconicidade vem sendo estudada a partir da pesquisa semioacutetica de

Charles Sanders Peirce (1999) filoacutesofo norte-americano contemporacircneo de Saussure

Segundo Teixeira (2015) Peirce em seus estudos sobre a Semioacutetica o signo tem a funccedilatildeo de

proporcionar uma ideia do mundo e tudo que cerca o indiviacuteduo estaacute rodeado de signos Como

explica o filoacutesofo

[] para que algo possa ser um Signo (expressatildeo ou representamento) esse algo

deve bdquorepresentar‟ [] alguma outra coisa chamada seu Objeto apesar de ser talvez

arbitraacuteria a condiccedilatildeo segundo a qual um Signo deve ser algo distinto de seu objeto

(PEIRCE 1999 apud TEIXEIRA 2015 p 5)

Ao direcionar essas definiccedilotildees para agraves liacutenguas de sinais Sousa (2010) afirma que

muitas vezes essas liacutenguas satildeo consideradas puramente icocircnicas por serem de uma

modalidade diferente acreditando-se acredita que os sinais satildeo criados sempre a partir da

86

representaccedilatildeo do referente Eacute certo que um sinal pode ser realizado de acordo com a

caracteriacutestica daquilo que se refere mas de acordo com Strobel amp Fernandes (1998 apud

Sousa 2010 p 4) ldquoisto natildeo eacute uma regra jaacute que a maioria dos sinais em Libras eacute arbitraacuterio ou

seja natildeo manteacutem uma relaccedilatildeo de similitude com o referenterdquo

Reconhece-se que algumas Liacutenguas de Sinais parecem ter maior motivaccedilatildeo icocircnica

apresentando relaccedilotildees entre a sua forma e o seu significado comumente observado nas

Liacutenguas de Sinais caseiras dos Satereacute-Maweacute Isso significa a relaccedilatildeo entre o referente e o

referenciado Alguns estudos como os de Meier (1981) citado por Lillo-Martin (1986)

apontam para uma aparente iconicidade nas liacutenguas de sinais o que justifica considerar as

variaccedilotildees regionais e sociais e as mudanccedilas histoacutericas como fenocircmenos identificaacuteveis na

Liacutengua Brasileira de Sinais o que lhe confere o caraacuteter natural (STROBEL amp FERNANDES

1998 apud SOUSA 2010)

Nesse contexto a iconicidade como caracteriacutesticas semelhantes ao iacutecone tem em

comum o objeto que representa Por ser uma liacutengua de modalidade visuoespacial a

iconicidade estaacute presente em grande parte dos sinais da Libras pois a relaccedilatildeo entre a ldquoformardquo

e o ldquosentidordquo eacute mais visiacutevel Salles (2007) em bdquoEnsino de liacutengua portuguesa para surdos

caminhos para a praacutetica pedagoacutegica‟ comenta

Um aspecto que se sobressai no contraste entre as modalidades viacutesuo-espacial e oral-

auditiva eacute a questatildeo da arbitrariedade do signo linguiacutestico Esse conceito estabelece

que na constituiccedilatildeo do signo linguiacutestico a relaccedilatildeo entre o significante (imagem

acuacutestico-focircnica) e o significado eacute arbitraacuteria isto eacute natildeo existe nada na forma do

significante que seja motivado pelas propriedades da substacircncia do conteuacutedo

(significado) Uma caracteriacutestica das liacutenguas de sinais eacute que diferentemente das

liacutenguas orais muitos sinais tecircm forte motivaccedilatildeo icocircnica Natildeo eacute difiacutecil supor que esse

contraste se explique pela natureza do canal perceptual na modalidade viacutesuo-

espacial a articulaccedilatildeo das unidades da substacircncia gestual (significante) permite a

representaccedilatildeo icocircnica de traccedilos semacircnticos do referente (significado) o que explica

que muitos sinais reproduzam imagens do referente na modalidade oral-auditiva a

articulaccedilatildeo das unidades da substacircncia sonora (significante) produz sequecircncias que

em nada evocam os traccedilos semacircnticos do referente (significado) o que explica o

caraacuteter imotivado ou arbitraacuterio do signo linguiacutestico nas liacutenguas orais (SALLES

2007 p 83)

Todavia os mesmos sinais icocircnicos possuem um grau de arbitrariedade na definiccedilatildeo

dos mesmos como explica Frydrych (2012)

Pode haver contudo sinais com diferentes graus de iconicidade Um sinal pode natildeo

se assemelhar ao objeto que representa pela forma mas apresentar de alguma

forma uma similaridade por meio de expressotildees faciais ou movimentos Um

exemplo eacute o sinal ldquotristerdquo que possui como configuraccedilatildeo de matildeo o sinal Y

localizada abaixo do queixo em movimento de meia lua O sinal nada tem a ver

com o que a palavra representa no entanto a expressatildeo facial de tristeza que

acompanha o sinal daacute indiacutecios de que seu significado pode natildeo ser muito agradaacutevel

87

[] Falar de sinais icocircnicos em Libras pode parecer comum no entanto o sinal de

ldquocasardquo por exemplo motivado pelo formato do telhado de uma casa eacute tambeacutem

usado para o sinal de ldquomorarrdquo que pode ser usado para ldquomoradiardquo em diferentes

formatos de residecircncia como por exemplo casa apartamento cabana etc Embora o

sinal possa ter sido motivado na sua criaccedilatildeo por um tipo de casa passou a ser usado

de forma muito mais abrangente Sendo isto muito comum nas liacutenguas de sinais Os

sinais passam a ser signos linguiacutesticos altamente arbitraacuterios e passam a integrar o

leacutexico da liacutengua (Apud PIVETTA et al 2013 p8)

Como tambeacutem salienta Silva (2012) que ao passar do tempo o sinal icocircnico perde sua

motivaccedilatildeo inicial passando a ser arbitraacuterio

[] a transparecircncia eacute relativa porque a forma dos objetos ou movimentos que

originaram o sinal pode variar no tempo perdendo a sua motivaccedilatildeo inicial Um

exemplo eacute o sinal ldquoleiterdquo que faz referecircncia ao ato de ordenha que hoje ainda pode

ser considerado um sinal icocircnico Todavia para as futuras geraccedilotildees a motivaccedilatildeo de

sua representaccedilatildeo tende a se tornar uma convenccedilatildeo o que faz com que o sinal passe

a ser arbitraacuterio e de valor simboacutelico Sinais como o de ldquoleiterdquo satildeo frutos de um

processo histoacuterico e com o passar do tempo natildeo representam mais os artefatos e

procedimentos atuais sendo percebidos e interpretados apenas por meio da

arbitrariedade e da convenccedilatildeo(Apud PIVETTA et al 2013 p8)

A seguir temos alguns exemplos de sinais icocircnicos na Libras satildeo os sinais ldquoaacutervorerdquo

ldquocadeirardquo ldquocasardquo constituiacutedos a partir de caracteriacutesticas da imagem dos objetos aos quais se

referem Enquanto o primeiro lembra a imagem do tronco e das folhas de uma aacutervore o

segundo lembra as pernas de uma pessoa representadas pelos dedos indicador e meacutedio e a

terceira lembra a imagem de um telhado ou de uma casa sentada no objeto em questatildeo

(SALLES 2007 p 83)

Figura 7 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos aos quais se referem a

iconicidade

Fonte Azevedo (2014)

AacuteRVORE CADEIRA CASA

88

Figura 8 Caracteriacutesticas da imagem em Liacutengua de Sinais Satereacute-Maweacute dos objetos aos

quais se referem agrave iconicidade

Yara Wato Barco Libras

Fonte Azevedo (2014)

Man Beiju Libras

Fonte Azevedo (2014)

Kamunti hit Bilha Libras

Fonte Azevedo (2014)

89

Dessa maneira podem-se definir os sinais icocircnicos como aqueles que fazem alusatildeo agrave

imagem do seu significado natildeo implicando que todos os sinais satildeo iguais ou sinais icocircnicos

em todas as Liacutengua de Sinais cada grupo social absorve aspectos diferentes da imagem do

referente convencionando a representaccedilatildeo do sinal Os signos arbitraacuterios satildeo os que natildeo

trazem nenhuma relaccedilatildeo de semelhanccedila com o referente

90

6 INTERVENCcedilAtildeO E CONTRIBUICcedilAtildeO LINGUIacuteSTICA DO PROFESSOR SURDO

Os estudos sobre a educaccedilatildeo sistemaacutetica dos indiacutegenas surdos da etnia Satereacute-Maweacute

levaram agrave percepccedilatildeo da necessidade iminente de uma atuaccedilatildeo no processo ensino

aprendizagem desses sujeitos Desse modo apoacutes conhecer a realidade linguiacutestica e

educacional dos indiacutegenas surdos observados nas aldeias e na zona urbana de Parintins foi

possiacutevel intervir por meio do ensino da Liacutengua Brasileira de Sinais A intervenccedilatildeo foi feita

com o consentimento dos responsaacuteveis locais onde se faziam presentes acompanhando o

objeto da pesquisa - os indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute

Assim com a autorizaccedilatildeo da famiacutelia o primeiro contato foi estabelecido entre uma

crianccedila surda indiacutegena com professor tambeacutem surdo que ocorreu na residecircncia dela na zona

urbana do municiacutepio de Parintins cujo registro de imagem consta na Figura 9

Figura 9 Encontro da crianccedila surda Satereacute-Maweacute com o professor surdo

Fonte Azevedo (2014)

No contato foi possiacutevel verificar que a crianccedila natildeo conhecia a liacutengua Libras Sua

forma de comunicaccedilatildeo era com o uso dos siacutembolos ldquocaseirosrdquo Contudo ela respondeu ao

estiacutemulo de conversaccedilatildeo com muita facilidade buscando fazer a comunicaccedilatildeo As demais

observaccedilotildees e intervenccedilatildeo deram-se no ambiente educacional na Escola de Aacuteudio e

Comunicaccedilatildeo Padre Paulo Manna (Figura 10) Nesse contexto a crianccedila acompanhava com

atenccedilatildeo ao desempenho dos demais pares sempre atenta para compreensatildeo do conteuacutedo

comunicativo Ficou evidente a necessidade de um material de suporte escrito como recurso a

ser utilizado pelos docentes no processo ensino e aprendizagem

91

Figura 10 Contato com aluno Satereacute-Maweacute surdo no ambiente escolar

Fonte ndash Azevedo (2014)

Ocorreu tambeacutem o contato com o aluno surdo da Etnia Satereacute-Maweacute matriculado na

Escola Estadual Brandatildeo de Amorim em Parintins o qual foi feito em sua residecircncia dele A

conversa com ele foi feita fluentemente em Libras (Figura 10) Entretanto ao ser indagado

sobre a cultura a liacutengua falada de sua etnia natildeo soube responder Comprovou-se que o aluno

natildeo participa do contexto cultural da etnia por isso natildeo a conhece Por tal considera-se que o

material triliacutengue seria um recurso apropriado para promover o reconhecimento de muitos

signos que fazem parte da Liacutengua Satereacute-Maweacute

Figura 11 Contato com o aluno surdo Satereacute-Maweacute na Escola Estadual Brandatildeo de Amorim

Fonte ndash Azevedo (2014)

O contato com os familiares juntamente com professores indiacutegenas e inteacuterprete

linguiacutestica possibilitou ter uma visatildeo sobre o contexto comunicativo do indiacutegena surdo A

conversa com o pai do indiacutegena surdo na Aldeia de Santa Maria indicou a forma como

conseguem se comunicar com o filho desde o momento que perceberam que ele era surdo

Explicaram as dificuldades que tiveram no processo de entendimento com ele Confirmaram

92

que o aprendizado da liacutengua Libras indicando os signos que representam a cultura da etnia

seria muito importante para a comunicaccedilatildeo entre ele e os familiares eou educadores

Figura 12 Em viagem para aacuterea indiacutegena no Rio Marau ndash comunicaccedilatildeo com familiares

Fonte - Azevedo (2014)

O projeto da pesquisa foi apresentado na comunidade de Santa Maria para os

representantes da comunidade indiacutegena (Figura 12)

Figura 13 Apresentaccedilatildeo do projeto de pesquisa agraves lideranccedilas indiacutegenas na comunidade

Fonte Azevedo (2014)

Ressalta-se a importacircncia das lideranccedilas conhecerem e participarem do desenvolvimento

do projeto A relevacircncia desta participaccedilatildeo daacute-se em funccedilatildeo de que as mesmas contribuiram

informando vocabulaacuterios caracteristicos da regiatildeo que enriqueceram o minidicionaacuterio

triliacutengue Satereacute-MaweacutePortuguecircsLibras como pode ser evidenciado a seguir

93

Vocabulaacuterios e utensiacutelios indiacutegenas sinalizados em Libras

Liacutenguas

Satereacute-Maweacute Portuguecircs Libras

Mory‟ywat siomory‟awat Arco

Satereacute-Maweacute Portuguecircs Libras

T wa Aldeia

Ressalta-se a importacircncia do minidicionaacuterio ao considerar que o vocabulaacuterio contido no

mesmo poderaacute ser utilizado pelo indiacutegena surdo para ele aprenda a comunicaccedilatildeo utilizando os

signos que fazem parte da linguagem da etnia

E realizando uma mini oficina de Libras para professores da comunidade (Figura 6)

foi possiacutevel demonstrar o uso da Libras no contexto da sala de aula A participaccedilatildeo efetiva dos

mesmos proporcionou a troca de informaccedilotildees sobre o vocabulaacuterio da liacutengua indiacutegena

94

Figura 14 Desenvolvimento de oficina de Libras com professores indiacutegenas

Fonte Azevedo (2014)

Enfatiza-se que todo empenho em levar o conhecimento da Liacutengua Brasileira de Sinais

para os indiacutegenas surdos professores indiacutegenas familiares de surdos e comunidade manteve-

se em funccedilatildeo do ensejo de fazecirc-los conhecer e compreender a capacidade e modos dos

indiacutegenas surdos se comunicarem aleacutem de promover a aprendizagem da Libras em um lugar

de tatildeo difiacutecil acesso com pequenas escolas que sequer tecircm materiais didaacuteticos adaptados a

essa clientela Por este motivo considera-se que a contribuiccedilatildeo linguiacutestica em forma de um

minidicionaacuterio eacute um passo importante para levar aos indiacutegenas surdos a sua comunidade e o

nuacutecleo familiar destes o iniacutecio do resgate da sua liacutengua natural que eacute a Liacutengua Brasileira de

Sinais e a sua liacutengua nativa aleacutem de seus traccedilos culturais incluiacutedos no minidicionaacuterio

61 Libras e Liacutengua Satereacute-Maweacute intercacircmbio de construccedilatildeo sociocultural-linguiacutestico

Analisando a histoacuteria do povo surdo e do povo indiacutegena percebe-se uma trajetoacuteria

similar nas lutas por seus direitos culturais e linguiacutesticos Ambos tentam

fortalecer o conhecimento da proacutepria histoacuteria com seus acertos desacertos conflitos

e sucessos buscando a compreensatildeo do ator social como sujeito da histoacuteria e

possibilitando assim a construccedilatildeo de um projeto poliacutetico articulado com outros

setores que incremente as possibilidades de construccedilatildeo dos proacuteprios projetos de

uma vida melhor (HERNAIZ 2009)

Neste sentido destaca-se que esses indiviacuteduos satildeo esquecidos na realidade cultural do

paiacutes como se natildeo existissem enquanto cidadatildeos que tem as suas formas de produzir no

contexto social Mudar esta realidade faz-se fundamental Para tal Guerreiro (2009 p93)

argumenta que

Os direitos culturais satildeo por sua vez um campo complexo que inclui vaacuterios

conjuntos de direitos e garantias entre os quais me interessa destacar para essa

reflexatildeo os seguintes o reconhecimento da diversidade o exerciacutecio da identidade

como povos o uso restrito do idioma uma educaccedilatildeo proacutepria e o respeito pelo

patrimocircnio cultural

95

Os processos culturais linguiacutesticos entre os povos surdos e indiacutegenas surdos eacute uma

possibilidade bem proacutexima atraveacutes do intercacircmbio sociocultural-linguiacutestico que estaacute sendo

construiacutedo pois o surdo indiacutegena faz parte da cultura surda e tem cacircmbio com a cultura

indiacutegena e em muitos casos com a cultura do povo ouvinte

Todavia alguns aspectos da cultura surda satildeo desconhecidos pelo proacuteprio surdo

indiacutegena Por isso a necessidade de surdos indiacutegenas se relacionarem com seus semelhantes

surdos seja indiacutegena ou natildeo indiacutegena para que atraveacutes deste contato possa construir sua

identidade cultural da comunidade surda tornando conhecida sua cultura tribal por meio da

liacutengua de instruccedilatildeo a Libras No exemplo abaixo ilustra-se a percepccedilatildeo dessa realidade

Man ype Crueira Libras

Kui‟a Cuia Libras

Dessa forma conhecendo valorizando e respeitando sua cultura que eacute um patrimocircnio

cultural da sociedade

Logo a liacutengua em uso pelos iacutendios surdos seja ela a Liacutengua de Sinais Indiacutegena

ldquosinais emergentesrdquo ou a Liacutengua Brasileira de Sinais (como empreacutestimo sociocultural-

linguiacutestico) e a Liacutengua Satereacute-Maweacute devem ser valorizadas com respeito muacutetuo na

transmissatildeo de sua cultura Os indiviacuteduos que precisam se comunicar por meio delas lutam

96

pelo fortalecimento dessa inserccedilatildeo cultural pela construccedilatildeo de um futuro melhor e pelo

respeito aos direitos dos iacutendios localizados neste vasto territoacuterio Nesse sentido

A identidade cultural requer tambeacutem ela a alteridade como dialogicidade

intercultural No seu proacuteprio interior ela natildeo eacute nunca algo de compacto mas

apresenta toda uma seacuterie de relaccedilotildees no plano sincrocircnico e diacrocircnico com outras

culturas que lhes datildeo vida justamente pela sua diversificaccedilatildeo e discordacircncia por

mais que ela se obstine em realizar-se mediante a identificaccedilatildeo com alguns de seus

aspectos apenas com algumas formas culturais determinadas que se arvoram

oficiais e dominantes (PONZIO 2007 p179)

Para estes estudos a uniatildeo de esforccedilos que viabilizou a realizaccedilatildeo deste diagnoacutestico eacute

uma demonstraccedilatildeo clara de que eacute perfeitamente possiacutevel trilhar no mundo linguiacutestico

possibilitando a cada indiacutegena novos horizontes na comunicaccedilatildeo

97

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A presente pesquisa teve como foco principal o levantamento de indiacutegenas surdos nas

microrregiotildees do municiacutepio de Parintins da etnia Satereacute-Maweacute

Com base nas informaccedilotildees levantadas nas terras indiacutegenas e nas cidades onde vivem

os Satereacute-Maweacute evidenciou-se que as escolas de zonas rurais e comunidades que o iacutendio

surdo requenta natildeo possui uma educaccedilatildeo diferenciada especiacutefica a sua especificidade

A realidade encontrada no municiacutepio de Parintins para com os alunos iacutendios surdos

por ser em zona urbana jaacute apresenta um diferencial A escola dispotildee de sala de recursos para

alunos indiacutegenas surdos poreacutem dentro dessa realidade haacute falta de professores que dominem a

liacutengua nativa Satereacute-Maweacute para que a escola proporcione um aprendizado triliacutengue Liacutengua

Brasileira de Sinais Liacutengua Satereacute-Maweacute e Liacutengua Portuguesa na modalidade escrita

Nas escolas visitadas onde encontramos surdos foi observado falta de mateacuterias

visuais sala de recursos com atendimentos diferenciados para os alunos indiacutegenas surdos e

indiacutegenas surdos

Foram considerados no decorrer do texto aspectos da contextualizaccedilatildeo em que se deu

a pesquisa desde as discussotildees que antecederam a elaboraccedilatildeo do projeto passando pelas

parcerias que foram estabelecidas no decorrer do processo especialmente com as vaacuterias

organizaccedilotildees indiacutegenas Satereacute-Maweacute ateacute o desenvolvimento das condiccedilotildees que garantiram a

plena participaccedilatildeo da comunidade no decorrer das atividades de pesquisa Partindo da

enumeraccedilatildeo dos principais objetivos do projeto o relatoacuterio apresenta as aacutereas e localidades

cobertas o nuacutemero de domiciacutelios levantados e de moradores entrevistados assim como a

metodologia utilizada a operacionalizaccedilatildeo das atividades de campo o treinamento dos

entrevistadores o levantamento nas cidades e nas terras indiacutegenas a forma e a intensidade

como se desenvolveu a participaccedilatildeo das lideranccedilas e da comunidade como um todo

Durante a pesquisa a sociedade indiacutegena e natildeo indiacutegena juntamente com profissionais

da educaccedilatildeo da linguiacutestica e a proacutepria comunidade surda acompanharam a perspectiva para

uma nova trajetoacuteria destes os iacutendios surdos a qual reflete o reconhecimento linguiacutestico destes

como pessoas pertencentes agraves minorias linguiacutesticas

Ao analisar as questotildees linguiacutesticas nas aacutereas indiacutegenas das microrregiotildees de Parintins

verificou-se que a implantaccedilatildeo deste empreendimento representou como um novo modelo de

desenvolvimento para a comunicaccedilatildeo de indiacutegenas surdos nas comunidades indiacutegenas

98

Ressalta-se que cada municiacutepio onde existem membros da etnia Satereacute receberaacute como

retorno da pesquisa um minidicionaacuterio triliacutengue (Liacutengua de Sinais Liacutengua Satereacute-Maweacute e

Liacutengua Portuguesa) para intercacircmbio sociocultural-linguiacutestico

Este material tem a intenccedilatildeo de abrir o caminho para a participaccedilatildeo direta dos iacutendios

na construccedilatildeo de seu futuro Ele caracteriza uma mudanccedila da forma de olhar para os povos

indiacutegenas Agora eacute preciso trabalhar para que todas as comunidades e etnias possam produzir

seus diagnoacutesticos Todas elas precisam dispor das informaccedilotildees com as quais poderatildeo dar uma

direccedilatildeo a suas accedilotildees Nesse sentido deve haver iniciativas por parte do poder local para que o

governo e as entidades aliadas agraves causas indiacutegenas possam aproveitar as experiecircncias dos

vaacuterios pesquisadores sobre as causas dos Satereacute-Maweacute para ampliar esse tipo de trabalho

Satildeo diagnoacutesticos como este que iratildeo dar o norte para novos projetos e programas que

favoreccedilam realmente garantir a autonomia dos povos indiacutegenas

Finzaliza-se com a satisfaccedilatildeo de que a pesquisa presente contribuiu com um pequeno

passo no incentivo da conservaccedilatildeo e crescimento da identidade cultural-linguiacutestica do iacutendio

surdo

99

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103

ANEXOS

104

ANEXO A- Normas estabelecidas no ingresso em terras indiacutegenas pela FUNAI

Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio

INSTRUCcedilAtildeO NORMATIVA No 01PRESI DE 29NOVEMBRO1995

PRESIDENTE DA FUNDACcedilAtildeO NACIONAL DO IacuteNDIO - FUNAI

no uso de suas atribuiccedilotildees que lhe satildeo conferidas pelo estatuto aprovado pelo decreto no

564

de 08 de junho de 1992 tendo em vista o que consta do processo FUNAI BsB no210592

R E S O L V E

Art 1o Aprovar as normas que disciplinam o ingresso em Terras Indiacutegenas com finalidade de

desenvolver Pesquisa Cientiacutefica conforme documento em anexo

Art 2o Esta Instruccedilatildeo Normativa entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Art 3o Revoga-se a Instruccedilatildeo Normativa no 001PRESI94 de 08 de abril

de 1994 como qualquer outro dispositivo em contraacuterio

MAacuteRCIO JOSEacute BRANDO SANTILLI

Presidente da FUNAI

ASSINADO NO ORIGINAL

Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio

ANEXO DA INSTRUCcedilAtildeO NORMATIVA No 001PRESI de 29 de novembro de 1995

Art 4o Todo e qualquer pesquisador nacional ou estrangeiro que pretenda ingressar em terras

indiacutegenas para desenvolver projeto de pesquisa cientiacutefica deveraacute encaminhar sua solicitaccedilatildeo

agrave Presidecircncia da FUNAI e no caso de requerimento coletivo deveraacute ser subscrito por um dos

membros do grupo como seu responsaacutevel Art 5o O pesquisador ou pesquisadores deveratildeo

anexar ao pedido do que trata o Art 1o a seguinte documentaccedilatildeo

I carta de apresentaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo a que o pesquisador estaacute vinculado e no caso de

estudantes de graduaccedilatildeo e poacutesgraduaccedilatildeo carta de apresentaccedilatildeo do orientador responsaacutevel

II projeto de pesquisa em portuguecircs detalhando a(s) terra(s) indiacutegenas na(s) qual(is)

pretende ingressar e cronograma

III curriculum vitae do(s) pesquisador(es) redigido em portuguecircs

IV coacutepia autenticada da Carteira de Identidade ou Passaporte quando se tratar de

nacionalidade estrangeira

V atestado individual de vacina contra moleacutestia endecircmica na

aacuterea

VI atestado meacutedico de natildeo portador de moleacutestia contagiosa

105

VII quando se tratar de pesquisador(es) de nacionalidade estrangeira exigir-se-aacute para a

efetivaccedilatildeo de seu ingresso na terra indiacutegena a obtenccedilatildeo de seu respectivo visto temporaacuterio

como prevecirc o artigo 22 do decreto no 86715 de 10 de dezembro de 1981 aleacutem do

cumprimento do disposto no decreto no 98830 de 15 de janeiro de 1990

Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio

Art 6o O pesquisador deveraacute encaminhar diretamente ao CONSELHO

NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO - CNPq o

projeto de pesquisa e curriculum

vitae

Art 7o A solicitaccedilatildeo do ingresso em terra indiacutegena por parte de pesquisadores nacionais ou

estrangeiros seraacute objeto de anaacutelise pela Coordenadoria-Geral de Estudos e Pesquisas - CGEP

uma vez instruiacutedo o processo com o parecer favoraacutevel do CNPq quanto ao meacuterito da pesquisa

proposta e apoacutes ouvidas as lideranccedilas indiacutegenas

Paraacutegrafo Uacutenico - A consulta agraves lideranccedilas indiacutegenas seraacute realizada pela FUNAI com a

presenccedila e participaccedilatildeo do pesquisador podendo este em caso de resposta positiva

permanecer na terra indiacutegena com autorizaccedilatildeo provisoacuteria ateacute a emissatildeo de uma definitiva

Art 8o No caso de negativa das lideranccedilas indiacutegenas quanto ao pleito do ingresso ou

quaisquer outros entraves levantados no decorrer da anaacutelise do processo ou em qualquer outra

etapa de desenvolvimento da pesquisa a CGEP encaminharaacute a questatildeo ao Conselho

Indigenista atraveacutes da presidecircncia do Oacutergatildeo

Art 9o Quando se tratar de pesquisa em espaccedilo territorial de ocupaccedilatildeo tradicional de iacutendios

isolados o pedido seraacute ainda objeto de exame e parecer preacutevio especiacutefico por parte do

Departamento de Iacutendios Isolados - DII FUNAI

Art 10 A presidecircncia da FUNAI poderaacute suspendera qualquer tempo as

autorizaccedilotildees concedidas de acordo com as presentes normas desde que

I seja solicitada a sua interrupccedilatildeo por parte da comunidade indiacutegena em questatildeo

II a pesquisa em desenvolvimento venha a gerar conflitos dentro da terra indiacutegena

III a ocorrecircncia de situaccedilotildees epidecircmicas agudas ou conflitos graves envolvendo iacutendios e natildeo-

iacutendios

Paraacutegrafo Uacutenico - Fica automaticamente prorrogada a autorizaccedilatildeo pelo prazo que a terra

indiacutegena objeto do projeto estiver interditada pelos motivos apontados no Art 10 inciso III

Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio

MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA

Art 11 Todos os pesquisadores estrangeiros ou nacionais que tiverem autorizaccedilotildees

concedidas para ingresso em terras indiacutegenas obrigar-se-atildeo a

I cumprir todos os preceitos legais vigentes notadamente os previstos na Lei no 6001 de

1o1273

II remeter agrave FUNAI relatoacuterio dos Trabalhos de campo em portuguecircs ateacute 6 (seis) meses apoacutes

o teacutermino da pesquisa onde poderatildeo constar sugestotildees praacuteticas que possam trazer benefiacutecios

para as comunidades indiacutegenas que poderatildeo ser consideradas pela FUNAI nas definiccedilotildees de

sua poliacutetica

III remeter agrave FUNAI 2 (dois) exemplares de publicaccedilotildees artigos teses e outras produccedilotildees

intelectuais oriundas das referidas pesquisas

Art 12 Nos casos de solicitaccedilatildeo de prorrogaccedilatildeo do prazo para continuidade do projeto de

pesquisa cientiacutefica na mesma terra indiacutegena caberaacute a Coordenaccedilatildeo Geral de Estudos e

Pesquisas - CGEP os seguintes procedimentos

I notificar junto ao setor competente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e

Tecnoloacutegico - CNPq a solicitaccedilatildeo

II consultar as lideranccedilas quanto ao retorno do pesquisador na terra indiacutegena

106

III observar o cumprimento do Art 8o por parte do pesquisador interessado do Iacutendio

Art 6o O pesquisador deveraacute encaminhar diretamente ao CONSELHO NACIONAL DE

DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO - CNPq o projeto de pesquisa e

curriculum vitae

Art 7o A solicitaccedilatildeo do ingresso em terra indiacutegena por parte de pesquisadores nacionais ou

estrangeiros seraacute objeto de anaacutelise pela Coordenadoria-Geral de Estudos e Pesquisas - CGEP

uma vez instruiacutedo o processo com o parecer favoraacutevel do CNPq quanto ao meacuterito da pesquisa

proposta e apoacutes ouvidas as lideranccedilas indiacutegenas

Paraacutegrafo Uacutenico - A consulta agraves lideranccedilas indiacutegenas seraacute realizada pela FUNAI com a

presenccedila e participaccedilatildeo do pesquisador podendo este em caso de resposta positiva

permanecer na terra indiacutegena com autorizaccedilatildeo provisoacuteria ateacute a emissatildeo de uma definitiva

Art 8o No caso de negativa das lideranccedilas indiacutegenas quanto ao pleito do ingresso ou

quaisquer outros entraves levantados no decorrer da anaacutelise do processo ou em qualquer outra

etapa de desenvolvimento da pesquisa a CGEP encaminharaacute a questatildeo ao Conselho

Indigenista atraveacutes da presidecircncia do Oacutergatildeo

Art 9o Quando se tratar de pesquisa em espaccedilo territorial de ocupaccedilatildeo tradicional de iacutendios

isolados o pedido seraacute ainda objeto de exame e parecer preacutevio especiacutefico por parte do

Departamento de Iacutendios Isolados - DII FUNAI Art 10 A presidecircncia da FUNAI poderaacute

suspendera qualquer tempo as autorizaccedilotildees concedidas de acordo com as presentes normas

desde que

I seja solicitada a sua interrupccedilatildeo por parte da comunidade indiacutegena em questatildeo

II a pesquisa em desenvolvimento venha a gerar conflitos dentro da terra indiacutegena

III a ocorrecircncia de situaccedilotildees epidecircmicas agudas ou conflitos graves envolvendo iacutendios e natildeo-

iacutendios

Paraacutegrafo Uacutenico - Fica automaticamente prorrogada a autorizaccedilatildeo pelo prazo que a terra

indiacutegena objeto do projeto estiver interditada pelos motivos apontados no Art 10 inciso III

Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA

Art 11 Todos os pesquisadores estrangeiros ou nacionais que tiverem autorizaccedilotildees

concedidas para ingresso em terras indiacutegenas obrigar-se-atildeo a

I cumprir todos os preceitos legais vigentes notadamente osprevistos na Lei no 6001 de

1o1273

II remeter agrave FUNAI relatoacuterio dos Trabalhos de campo em portuguecircs ateacute 6 (seis) meses apoacutes

o teacutermino da pesquisa onde poderatildeo constar sugestotildees praacuteticas que possam trazer benefiacutecios

para as comunidades indiacutegenas que poderatildeo ser consideradas pela FUNAI nas definiccedilotildees de

sua poliacutetica

III remeter agrave FUNAI 2 (dois) exemplares de publicaccedilotildees artigos teses e outras produccedilotildees

intelectuais oriundas das referidas pesquisas

Art 12 Nos casos de solicitaccedilatildeo de prorrogaccedilatildeo do prazo para continuidade do projeto de

pesquisa cientiacutefica na mesma terra indiacutegena caberaacute a Coordenaccedilatildeo Geral de Estudos e

Pesquisas - CGEP os seguintes procedimentos

I notificar junto ao setor competente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e

Tecnoloacutegico - CNPq a solicitaccedilatildeo

II consultar as lideranccedilas quanto ao retorno do pesquisador na terra indiacutegena

III observar o cumprimento do Art 8o por parte do pesquisador interessado

107

ANEXO B ndash Questionaacuterio para coleta de dados com professores de comunidades indiacutegenas

QUESTIONAacuteRIO

Nome Prof(a)Nordm Cel

Nome da escola

Tribo Etnia

Quantos alunos surdos iacutendio Serie Idade

Nasceu cognitiva ou adquirida

1 ndash Como eacute a forma de comunicaccedilatildeo entre o professor e o iacutendio surdo

( ) Escrita

( ) Oralizado

( ) Libras

( ) Satereacute Maweacute

2 ndash Qual liacutengua o surdo iacutendio tem mais facilidade de aprender

( ) Portuguecircs

( ) Satereacute Maweacute

( ) libras

3 ndash Qual eacute a metodologia de ensino

4 ndash Como o aluno surdo indiacutegena aprende na sala de aula Tem dificuldade ou facilidade

5 ndash Como e que liacutengua o aluno surdo se comunica com outro surdo se tiver e os demais alunos

ouvintes na sala aula

108

6 ndash Vocecirc jaacute observou a comunicaccedilatildeo entre o aluno surdo iacutendio com a famiacutelia Qual liacutengua

7 ndash Como o aluno surdo iacutendio se comunica com as pessoas da comunidade

8 ndash Qual eacute a reaccedilatildeo das pessoas ouvintes quanto o iacutendio surdo na comunidade

9 ndash Professor(a) qual sua opiniatildeo para melhoria de ensino da educaccedilatildeo de iacutendios surdos

10 ndash Qual eacute a importacircncia da liacutengua indiacutegena Satereacute Maweacute para o aluno surdo

11 ndash Fale sobre a cultura e historia dos Satereacute Maweacute o iacutendio surdo participa

109

ANEXO C ndash Autorizaccedilatildeo para pesquisa de campo em terras indiacutegenas

110

ANEXO C-1 ndash Autorizaccedilatildeo para pequisa de campo com uso de imagem permitido

111

ANEXO C-2 ndash Autorizaccedilatildeo para pequisa de campo com uso de imagem permitido

112

ANEXO D ndash Parecere pedagoacutegico da Aluna Indiacutegena Surda

(ESCOLA PADRE PAULOMANNA)

ESCOLA DE AacuteUDIO COMUNICACcedilAtildeO

Pe PAULO MANNA Mantida pela Diocese de Parintins CNPJ 045945370001-88 Av Naccedilotildees Unidas 1792 FoneFax (092) 3533-3456 69151-060 ndash PARINTINS-AMAZONAS-BRASIL

Parecer Pedagoacutegico

Helena Ferreira Arauacutejo 06 anos de idade aluna da Escola Pe Paulo Manna desde

marccedilo de 2013 mora na rua 4 nordm 298 no bairro da Uniatildeo

Segundo relatos da matildee a aluna nasceu de parto normal comeccedilou a andar aos trecircs

anos de idade e eacute descendente dos iacutendios Satereacute- Maueacute Os anos passaram e ela comeccedilou a

perceber que sua filha natildeo ouvia e nem falava pois jaacute tinha outros filhos e estes comeccedilaram a

falar e andar cedo Informou-nos que para se comunicar com ela fazia gestos ateacute ela entender

o que se tornava muito difiacutecil

Disse-nos que falaram para ela do trabalho desenvolvido na Escola Paulo Manna com

alunos surdos e resolveu procurar a escola pois o tempo estava passando e a menina natildeo

falava e ela natildeo sabia mais o que fazer para reverter a situaccedilatildeo e a sua filha ser como os outros

irmatildeos

Atualmente estuda numa turma de Preacute ndash Escolar (2ordm periacuteodo) eacute uma aluna surda No

ano passado quando chegou agrave escola nos primeiros dias chorava muito e ficava zangada se

escondia embaixo da mesa para que ningueacutem a incomodasse visto que natildeo estava adaptada

ao ambiente e aos poucos foi se adaptando e passou a conviver com os colegas ouvintes em

sala de aula

A aluna gosta de fazer suas atividades escolares tem boa coordenaccedilatildeo motorainterage

com os colegas reconhece cores e formas gosta de desenhar e daacute formas aos seus desenhos realiza atividades de leitura de imagem montagem com jogos de encaixe participa de

brincadeiras na quadra parque e brinquedoteca

Em alguns momentos quando quer alguma coisa do colega e este natildeo lhe daacute fica com

raiva chora e se isola Em outros momentos penso que por natildeo saber se comunicar com os

colegas fica um pouco retraiacuteda e torna-se um a receptora diferenciada que requer cuidados

no tocante agrave comunicaccedilatildeo principalmente de como chegar ateacute ela

Procuramos adaptar brincadeiras para envolver a aluna trazendo-a de volta para

participar das atividades e conversar com ela que nem tudo o que a gente quer podemos ter e

fazemos alguma brincadeira que ela goste e rapidinho ela volta a participar e se integrar ao

grupo

Sabemos que eacute difiacutecil para ela o processo ensino aprendizagem porque ela tem que ter

uma aprendizagem triliacutengue visto que tem que aprender a Liacutengua Indiacutegena+ Libras + Liacutengua

Portuguesa e jaacute eacute difiacutecil aprender duas mas natildeo impossiacutevel

113

Neste ano de 2014 contamos com a ajuda da professora Caacutetia (surda) com aulas de

Libras No primeiro momento fica junto com os colegas ouvintes onde procuramos trabalhar

de forma biliacutengue (Portuguecircs + Libras) para que ela entenda o que estaacute sendo repassado em

sala de aula E o que se percebe eacute que a aluna nos daacute respostas precisas dentro dos objetivos

propostos Em outro momento a professora Caacutetia ensina agrave aluna os sinais em LIBRAS que eacute

a liacutengua oficial da pessoa surda trabalhando o concreto com ela ensinando-a com jogos

cartazes reaacutelias viacutedeos transformando tais atividades em aulas dinacircmicas e prazerosas

Dentro dessa realidade a aluna vai participando buscando se inserir nesse universo

cheio de duacutevidas e incertezas e noacutes professores procuramos fazer o melhor para que a aluna

se sinta bem no ambiente escolar visto que o processo ensino aprendizagem para uma crianccedila

de outra etnia natildeo eacute faacutecil pois segundo depoimentos de alguns indiacutegenas a aprendizagem

indiacutegena passa pela demonstraccedilatildeo observaccedilatildeo imitaccedilatildeo tentativa e erro e quando o aluno

vem para a escola tem que se socializar obedecer a comandos regidos pelo sistema e isso

muitas vezes o deixa confuso e os maiores ateacute desistem

Dessa forma satildeo necessaacuterias estrateacutegias de ensino diferenciadas que deem suporte para

que a aluna seja trabalhada de forma triliacutengue no contexto escolar para que ela natildeo perca a

sua essecircncia a sua cultura que sejam adaptados trabalhos de acordo com a realidade

indiacutegena para que ela natildeo perca a sua identidade e saiba conduzir sua aprendizagem dentro de

um contexto diferenciado podendo aprender o que lhe eacute de direito bem como viver bem em

sociedade

Parintins 14 de abril de 2014

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM LETRAS ARTES

MESTRADO PROFISSIONAL EM LETRAS ARTES

DEDICATOacuteRIA

Aos meus familiares em especial a minha matildee Idalina

Azevedo que desde o ventre proporcionou-me seu amor com

dedicaccedilatildeo e todas suas forccedilas ao meu lado em momentos tatildeo

difiacuteceis nunca deixando de acreditar no poder de Deus sobre

minha vida

A minha amada esposa Rosana Valeacuteria mulher saacutebia

e auxiliadora de todos os momentos do meu viver

Aos meus filhos Caroline Camila e Benjamim Jorge

pelo amor que sempre me deram pela compreensatildeo de

minhas ausecircncias durante a trajetoacuteria de minha pesquisa

AGRADECIMENTOS

A Deus em primeiro lugar que planejou a minha vida quando eu ainda nem existia e

me libertou no momento que recorri a Ele E me fez acreditar que o impossiacutevel soacute existe

quando natildeo temos feacute

Agrave Coordenadora do Mestrado em Letras e Artes da Universidade do Estado do

Amazonas ndash UEA Professora Dra Juciane Cavalheiros pelo excelente trabalho que

desenvolve nesta instituiccedilatildeo contribuindo para a formaccedilatildeo de novos profissionais na

educaccedilatildeo do nosso paiacutes

Ao meu orientador Dr Valteir Martins Professor do Mestrado em Letras e Artes

com sua saacutebia experiecircncia de ensino acreditou que atraveacutes deste trabalho pudeacutessemos levar

contribuiccedilotildees linguiacutesticas no que tange agrave Liacutengua de Sinais dos indiacutegenas surdos Satereacute-

Maweacute habitantes da microrregiatildeo de Parintins

Aos meus professores do Mestrado em Letras e Artes Dra Silvana Martins Dr

Mauricio Mattos Dr Maacutercio e Dra Luciana Paacutescoa Dra Gleidys Maia Dr Camilo Ramos

pelas preciosas contribuiccedilotildees agrave minha pesquisa

Aos professores indiacutegenas Jacob de Souza Jocimar Alencar e Josiel Santos por me

introduzir nas comunidades indiacutegenas Satereacute-Maweacute pelas contribuiccedilotildees na traduccedilatildeo das

palavras da liacutengua portuguesa para a liacutengua Satereacute-Maweacute

Aos meus colegas do mestrado em Letras e Artes pelo companheirismo e dedicaccedilatildeo

no dia a dia

Agrave professora Elizandra de Lima Silva Bastos pela ajuda nas correccedilotildees textuais da

Liacutengua Portuguesa

Agraves instituiccedilotildees especiacuteficas que de alguma forma contribuiacuteram para concretizar esta

pesquisa

MANAUS

Escola Estadual Augusto Carneiro dos Santos

Centro de Atendimento ao surdo ndash CAS

A Igreja Tabernaacuteculo Batista Pastor Paulo Hatcher

PARINTINS

Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio ndash FUNAI

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE

Coordenadora Regional de Educaccedilatildeo de Parintins - CREP

Universidade Estadual do Amazonas ndash CESP

Casa da Sauacutede Indiacutegena

Casa do Iacutendio de Parintins

Escola Aacuteudio Comunicaccedilatildeo Pe Paulo Manna

Diocese de Parintins Pe Henrique Uggeacute

Escola Estadual Brandatildeo de Amorim

Escola Estadual Joatildeo Bosco Ramos de Lima

MAUEacuteS

Secretaria de Estado de Educaccedilatildeo

Secretaria de Educaccedilatildeo Municipal

Casa do estudante indiacutegena Sr Jusivan

Tuxaua da Comunidade de Santa Maria Sr Helito Barbosa

Sr Maxiliano Batista Barros

BARREIRINHA

Secretaria de Educaccedilatildeo Municipal - SEMED

Secretaria de Estado de Educaccedilatildeo

Coordenaccedilatildeo Municipal de Educaccedilatildeo Indiacutegena Sr Santino Lopes

Coordenador da Escola Profa Rosa Cabral Sr Dulcemar F dos Santos

Professora Indiacutegena Satereacute-Maweacute Maria Inez

NHAMUNDAacute

Casa de Sauacutede Indiacutegena - DSEI

Secretaria de Estadual de Educaccedilatildeo

BOA VISTA DO RAMOS

Secretaria de Estado e Educaccedilatildeo

Escola Estadual Princesa Izabel

Comunidade Satereacute-Maweacute

Professora Erly Tereza R Goacutees

URUCARAacute

Poacutelo Base de Urucaraacute ndash DSEI

Distrito Sanitaacuterio Especial Indiacutegena

Lider Indiacutegena Etnia Hexkaryana Caiacutenatilde Mohso

SraMaacuterlucia Kutasa

Enfermeiro SrJonas Pontes

SraDalva H Farias Cantalixto de Melo

SrLuiz Cantalixto de Melo

SAtildeO SEBASTIAtildeO DO UATUMAtilde

Poacutelo Base de Urucaraacute ndash DSEI

Lider Indiacutegena Etnia Hexkaryana Caiacutenatilde Mohso

EPIacuteGRAFE

Matildeos

corpo em movimento

captar e entender

Teu querer teu dizer

Sorrisos laacutegrimas

sentimentos e emoccedilotildees

Libras eacute amor eacute paixatildeo eacute liacutengua

(Marlon Jorge)

RESUMO

Esta pesquisa apresenta o resultado do mapeamento de iacutendios surdos nas comunidades

indiacutegenas Satereacute-Maweacute na microrregiatildeo de Parintins Partindo do levantamento buscou-se

identificar de que forma os iacutendios surdos estabeleciam a comunicaccedilatildeo com seus pares na sua

comunidade Para isso foi utilizado o procedimento metodoloacutegico por meio de entrevistas

abertas com as lideranccedilas indiacutegenas os familiares os professores e gestores escolares e

outros membros das comunidades assim como do proacuteprio iacutendio surdo O processo de anaacutelise

estabelecido para este estudo consistiu no enfoque de natureza linguiacutestica do leacutexico

(vocabulaacuterio) o qual foi registrado por meio de viacutedeos fotos e gravaccedilotildees A partir dos dados

iniciou-se a elaboraccedilatildeo de um minidicionaacuterio triliacutengue nas liacutenguas Satereacute-Maweacuteliacutengua de

sinais portuguecircs escrito a fim de facilitar a comunicaccedilatildeo principalmente no contexto da

comunidade educacional escolar entre os professores e os alunos iacutendios surdos Esta

contribuiccedilatildeo linguiacutestica portanto possibilitou uma nova percepccedilatildeo no processo histoacuterico da

diversidade linguiacutestica para valorizar e respeitar natildeo soacute uma liacutengua a liacutengua oficial do paiacutes

(Portuguecircs) mas tambeacutem a liacutengua natural do povo surdo (Libras) e a liacutengua indiacutegena do povo

Satereacute-Maweacute

Palavras chaves

1Linguiacutestica 2Liacutengua de sinais 3Satereacute-Maweacute 4 Dicionaacuterio

ABSTRACT

This research presents the results of the mapping deaf Indians in indigenous

communities Satereacute-Maweacute in the region of Parintins Starting from the survey we sought to

identify how the deaf Indians established communication with peers in their community For

this methodological procedure through open interviews with indigenous leaders family

members teachers and school administrators and other community members were used as

well as the Indian himself deaf The review process established for this study consisted of

focus linguistic lexicon (vocabulary) which was recorded through videos photos and

recordings From the data we initiated the development of a trilingual Mini Dictionary in

languages Satereacute-Maweacute sign language written Portuguese in order to facilitate

communication especially in the context of school learning community among teachers and

students deaf Indians This linguistic contribution therefore provided a new insight in the

historical process of linguistic diversity to value and respect not only one language the

official language (Portuguese) but also the natural language of deaf people (Libras) and the

indigenous language the people Satereacute-Maweacute

Key Words 1Linguiacutestica 2Liacutengua signal 3Satereacute-Maweacute 4Dictionary

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 13

1 CONSIDERACcedilOtildeES DOS ESTUDOS LINGUIacuteSTICOS DA LIacuteNGUA

BRASILEIRA DE SINAIS

17

11 Liacutengua de Sinais como Liacutengua Natural 20

12 Liacutengua Brasileira de Sinais 22

13 Liacutenguas de Sinais Indiacutegenas pesquisadas no Brasil 26

131 Liacutengua de Sinais Urubu-Kaapor 28

132 Liacutengua de Sinais Emergentes 29

1321 Realidade do Contexto educacional escolar do indiacutegena surdo 31

2 HISTOacuteRIA DO POVO INDIacuteGENA SATEREacute-MAWEacute CULTURA E

LIacuteNGUA

34

21 Breve Relato Histoacuterico 35

22 Classificaccedilatildeo da Liacutengua Satereacute-Maweacute 36

221 Contexto educacional escolar entre os Satereacute-Maweacute 38

3 METODOLOGIA IMPLEMENTADA NA PESQUISA 42

31 Aacuterea e localidade da pesquisa 42

32 Estrateacutegias gerais para a realizaccedilatildeo da coleta de dados 43

33 Procedimentos da coleta de dados 43

34 Articulaccedilatildeo local 44

35 Abordagem ao objeto da pesquisa 44

4 MAPEAMENTO DOS INDIOS SURDOS DA COMUNIDADE SATEREacute-

-MAWEacute NAS MICRORREGIOtildeES DE PARINTINS E SUA REALIDADE

EDUCACIONAL ESCOLAR

45

41 Mapeamento da existecircncia dos iacutendios surdos na microrregiatildeo de Parintins 46

411 Histoacuterico de Parintins 46

412 Histoacuterico de Barreirinha 52

413 Histoacuterico de Maueacutes 53

414 Histoacuterico de Boa Vista do Ramos 55

415 Histoacuterico de Nhamundaacute 56

42 Realidade linguiacutestica e educacional dos iacutendios surdos encontrados na etnia

Satereacute-Maweacute

59

43 Inventaacuterio de gestos da linguagem caseira dos surdos Satereacute-Maweacute 66

431 Os sinais caseiros dos indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute 66

432 Municiacutepio de Parintins 66

4321 O primeiro surdo 67

4322 O segundo surdo 67

4323 O terceiro surdo 68

44 O indiacutegena surdo da comunidade de Ponta Alegre do Municiacutepio de Barreirinha 70

45 Os indiacutegenas surdos do Municiacutepio de Maueacutes 73

451 O primeiro surdo da Comunidade de Santa Maria 75

452 O segundo surdo da Comunidade de Santa Maria 79

5 ICONICIDADE E ARBITRARIEDADE NA CRIACcedilAtildeO DOS SINAIS

CASEIROS

83

6 INTERVENCcedilAtildeO E CONTRIBUICcedilAtildeO LINGUIacuteSTICA DO PROFESSOR

SURDO

90

61 Libras e Liacutengua Satereacute-Maweacute intercacircmbio de construccedilatildeo sociocultural-

linguiacutestico

94

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 97

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 99

ANEXOS

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 Croqui da aacuterea e localidade da pesquisa

FIGURA 2 Sinais caseiros utilizado pela crianccedila de 5 anos

FIGURA 3 Sinais caseiros utilizados pelo aluno da comunidade de Ponta Alegre

Barreirinha

FIGURA 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa

Maria (30 sinais coletados)

FIGURA 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo idoso na comunidade de Santa Maria

FIGURA 6 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos que se refere agrave

arbitrariedade

FIGURA 7 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos aos quais se referem a

iconicidade

FIGURA 8 Caracteriacutesticas da imagem em Liacutengua de Sinais Satereacute-Maweacute dos objetos

aos quais se referem agrave iconicidade

FIGURA 9 Encontro da crianccedila surda Satereacute-Maweacute com o professor surdo

FIGURA 10 Contato com aluno Satereacute-Maweacute surdo no ambiente escolar

FIGURA 11 Contato com o aluno surdo Satereacute-Maweacute na Escola Estadual Brandatildeo de

Amorim

FIGURA 12 Em viagem para aacuterea indiacutegena no Rio Marau

FIGURA 13 Apresentaccedilatildeo do projeto de pesquisa agraves lideranccedilas indiacutegenas na

comunidade

FIGURA 14 Desenvolvimento de oficina de Libras com professores indiacutegenas

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Mapeamento da existecircncia de iacutendios surdos nas respectivas comunidades

indiacutegenas ou zona urbana da microrregiatildeo de Parintins

Tabela 2 11 Sinais caseiros utilizados pela crianccedila indiacutegena surda de 5 anos e seus

familiares

Tabela 3 13 Sinais caseiros coletados e utilizados pelo aluno da comunidade de

Ponta Alegre

Tabela 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa

Maria

Tabela 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais antigo residente isolado na

comunidade de Santa Maria no Rio Marau ( 18 sinais coletados)

56

66

69

73

77

13

INTRODUCcedilAtildeO

Todo cidadatildeo tem o direito de participar na vida poliacutetica social e econocircmica de um

paiacutes Neste contexto inclui-se o cidadatildeo surdo Infelizmente a histoacuteria relata que no passado

os sujeitos surdos1 eram colocados agraves margens da sociedade em todos seus aspectos social

poliacutetico econocircmico cultural linguiacutestico e educacional

Entretanto ao longo da histoacuteria os surdos com a participaccedilatildeo de ouvintes na luta

incessante pelos seus direitos muitas conquistas foram alcanccediladas Entre estas estaacute o direito

de ter sua proacutepria liacutengua a Liacutengua Brasileira de Sinais-LIBRAS A Lei nordm 10436 de 2002 a

qual a reconhece como sistema linguiacutestico de natureza visual-motora com estrutura

gramatical proacutepria constituindo-se um sistema linguiacutestico de transmissatildeo de ideias e fatos

oriundos da comunidade de pessoas surdas do Brasil Conforme Saacute (2006) no Brasil as

comunidades urbanas usam a ldquoliacutengua de sinais brasileirardquo ou simplesmente ldquoliacutengua de sinaisrdquo

Vale ressaltar que a Liacutengua de Sinais segundo Strobel (2008) eacute um aspecto

fundamental da cultura surda2 parte do artefato cultural linguiacutestico

3 do povo surdo e constitui

1 Na aacuterea de pesquisa vinculada a perspectiva socioantropoloacutegica existe uma clara diferenciaccedilatildeo entre a opccedilatildeo

de escrever surdo com letra minuacutescula ou maiuacutescula conforme explica Andreis-Witkoski (2011) ldquoapesar de

nas uacuteltimas deacutecadas ter sido estabelecido uma distinccedilatildeo entre a expressatildeo ldquoSurdordquo com letra maiuacutescula para

identificar uma categoria cultural e ldquosurdordquo com minuacutescula em referecircncia a deficiecircncia auditiva nesta Tese natildeo

se utiliza este tipo de marcaccedilatildeo Compartilha-se da concepccedilatildeo exposta por Owen Wrigley (1996 p53) quando

adverte que esta diferenciaccedilatildeo constitui-se em ldquoum dualismo riacutegido-bom Surdo mau surdo ndash que pouco faz para

ajudar os indiviacuteduos em suas vidas diaacuterias [sem] ajudar a clarear um alcance maior de estrateacutegias colocadas pelos

indiviacuteduos lidando com a exclusatildeo e as muitas faces da opressatildeo em suas rotinas Em termos simples a

dicotomia de bdquoSs‟ estaacute tatildeo cruelmente composta que embora inicialmente seja uacutetil ela agora serve para silenciar

o alcance total das experiecircncias dos sSurdosrdquo (2011 p13) Logo opta-se nesta dissertaccedilatildeo o uso da expressatildeo

ldquosurdordquo (minuacutescula) que refere-se aos ldquosurdordquo enquanto pessoas que pela impossibilidades formam uma

minoria diferente com caracteriacutesticas linguiacutesticas cognitivas culturais e comunitaacuterias especiacuteficas (SAacute 2006

p107) 2 Cultura Surda ldquoeacute o jeito de o surdo entender o mundo e de modificaacute-lo a fim de se tornaacute-lo acessiacutevel e habitaacutevel

ajustando-os com as suas percepccedilotildees visuais que contribuem para a definiccedilatildeo das identidades surdas e das

ldquoalmasrdquo das comunidades surdas Isto significa que abrange a liacutengua as ideacuteias as crenccedilas os costumes e os

haacutebitos de povordquo (STROBEL2008 p 24) 3Conforme Strobel (2008 p37) o que seriam artefatos culturais linguiacutesticos Ao referirmos ldquoartefatordquo

pensamos habitualmente no significado de objetos ou materiais produzidos pelos grupos culturais Realmente de

fato eacute uma forma material de expressar uma determinada cultura poreacutem tambeacutem podem incluir ldquotudo o que se

vecirc e senterdquo quando se estaacute em contato com a cultura de uma comunidade a exemplo vestuaacuterios tradiccedilotildees

crenccedilas valores e normas etc Ou seja no campo dos Estudos Culturais o conceito de ldquoartefatosrdquo natildeo se referem

apenas a materialismo culturais como tambeacutem naquilo que na cultura constitui produccedilotildees do sujeito que tem seu

proacuteprio modo de ser ver entender e transformar o mundo Logo um dos artefatos culturais que ilustram a

cultura do povo surdo eacute o linguiacutestico a liacutengua de sinais que eacute um aspecto fundamental da cultura surda sendo

uma das principais marcas da identidade surda

14

uma das principais marcas da identidade do ser surdo Incluem-se tambeacutem os ldquosinais

emergentesrdquo ou ldquosinais caseirosrdquo dos sujeitos surdos isolados de comunidades surdas no caso

dos surdos das zonas rurais e dos surdos iacutendios Estes surdos embora natildeo pertenccedilam agraves

mesmas comunidades se identificam com o povo surdo4 pois compartilham as mesmas

peculiaridades constroem sua formaccedilatildeo de mundo por meio de artefato cultural visual5

independentemente do grau linguiacutestico que possuem os quais podem ser os gestos caseiros

denominados tambeacutem como sinais emergentes Nesta perspectiva teoacuterica soacutecioantropoloacutegica

enfoca-se como o objeto da pesquisa o sujeito surdo indiacutegena ou seja o iacutendio surdo

Antes de prosseguir com a abordagem mencionada faz-se necessaacuterio destacar que

assim como o povo surdo o povo indiacutegena tambeacutem traccedilou diversas lutas na trajetoacuteria para

reconhecimento dos seus direitos O reconhecimento dos direitos dos povos indiacutegenas no

mundo contemporacircneo avanccedilou muito em relaccedilatildeo haacute algumas deacutecadas passadas De acordo

com Lucinda (apud Saacute 2006) em consenso geral nos debates da Comissatildeo Educaccedilatildeo

Cultura e Desporto que antecedem a elaboraccedilatildeo do texto da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica

Federativa do Brasil de 1988 tanto a liacutengua de sinais como as liacutenguas indiacutegenas deveriam ser

consideradas no texto da Constituiccedilatildeo como liacutenguas maternas Assim como resultado o

Referencial Curricular Nacional para Escolas Indiacutegenas (1998 p31) declara que ldquoA

Constituiccedilatildeo Federal aleacutem de perceber o iacutendio como pessoa com direitos e deveres como

qualquer outro cidadatildeo brasileiro o reconhece como membro de uma comunidade e de um

grupo isto eacute como membro de uma coletividade que eacute titular de direitos coletivos e

especiaisrdquo Ou seja reconhece para os iacutendios o direito agrave praacutetica de suas formas culturais

proacuteprias E no tiacutetulo VIII ldquoDa Ordem Socialrdquo conteacutem um capiacutetulo denominado ldquoDos Iacutendiosrdquo

onde se diz que ldquosatildeo reconhecidos aos iacutendios a sua organizaccedilatildeo social costumes liacutenguas

crenccedilas e tradiccedilotildees []rdquo (ibid p31)

Em meio a essa diversidade linguiacutestica que caracteriza o Brasil como sendo um paiacutes

pluriliacutengue estatildeo situados os ldquosurdos brasileirosrdquo que tecircm sua proacutepria liacutengua reconhecida

oficialmente a Liacutengua de Sinais Logo existem tambeacutem ldquoiacutendios surdosrdquo da etnia Satereacute-

4Quando referimos ldquopovo surdordquo estamos falando ldquode sujeitos surdos que natildeo habitam no mesmo local mas

que estatildeo ligados por uma origem por um coacutedigo de eacutetico de formaccedilatildeo visual independente do grau de evoluccedilatildeo

linguiacutestica tais como a liacutengua de sinais a cultura surda e quaisquer outros laccedilosrdquo (ibid p30) 5Perlin e Miranda (2003) complementam ldquoExperiecircncia visual significa a utilizaccedilatildeo visual em (substituiccedilatildeo total

agrave audiccedilatildeo) como meio de comunicaccedilatildeo Desta experiecircncia visual surge a cultura surda representada pela liacutengua

de sinais pelo modo diferente de ser de se expressar de conhecer o mundo de entrar nas artes no

conhecimento cientiacutefico e acadecircmicordquo (apud STROBEL 2008 p39)

15

Maweacute Qual sua forma de se comunicar Existe uma ldquoLiacutengua de Sinaisrdquo especifica do iacutendio

surdo

Diante das questotildees levantadas surgiu entatildeo agrave necessidade de realizar uma pesquisa

no campo da linguiacutestica na perspectiva dos estudos surdos6 voltado especificamente para o

iacutendio surdo da etnia Satereacute-Maweacute Foram traccedilados os seguintes objetivos i) mapear os iacutendios

surdos na microrregiatildeo de Parintins ii) identificar de que forma o iacutendio surdo estabelece a

comunicaccedilatildeo com sua comunidade especificamente no acircmbito educacional ou se utilizam

liacutenguas de sinais da comunidade local iii) registrar a forma de comunicaccedilatildeo no dia a dia do

iacutendio surdo nas comunidades indiacutegenas a partir dos estudos linguiacutesticos da Liacutengua de Sinais

dos grupos existentes e sua relaccedilatildeo com a comunidade local iv) promover o intercacircmbio entre

a Liacutengua de Sinais dos iacutendios surdos mapeados da etnia Satereacute-Maweacute e a LIBRAS da

comunidade surda do Municiacutepio de Parintins - Amazonas

Este trabalho conteacutem a seguinte divisatildeo primeiro capiacutetulo - apresenta consideraccedilotildees

linguiacutesticas fundamentais aos estudos surdos onde explicita o reconhecimento da Liacutengua de

Sinais como elemento cultural linguiacutestico do povo surdo abordando tambeacutem a oficializaccedilatildeo

da Liacutengua Brasileira de Sinais e as Liacutenguas Indiacutegenas pesquisadas no Brasil como a realidade

do contexto escolar linguiacutestico na comunidade indiacutegena segundo capiacutetulo - relata a histoacuteria

do povo indiacutegena Satereacute-Maweacute sua principal expressatildeo cultural sua liacutengua e seu respectivo

contexto educacional escolar terceiro capiacutetulo - apresenta os procedimentos metodoloacutegicos

utilizados na operacionalizaccedilatildeo da pesquisa e o capiacutetulo quatro - apresenta a anaacutelise do

resultado do Mapeamento dos iacutendios surdos da etnia Satereacute-Maweacute na microrregiatildeo de

Parintins Neste satildeo tambeacutem apresentadas as relaccedilotildees socioculturais-linguiacutesticas de iacutendios

surdos Satereacute-Maweacute com as contribuiccedilotildees linguiacutesticas do professor surdo aos Iacutendios surdos na

comunidade Satereacute-Maweacute estabelecendo assim as relaccedilotildees culturais na construccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo linguiacutestica LIBRAS e Liacutengua Satereacute-Maweacute como um intercacircmbio de construccedilatildeo

sociocultural

Desse modo a pesquisa tem como premissa baacutesica primeiramente mapear os iacutendios

surdos da etnia Satereacute-Maweacute e assim promover um intercacircmbio oferecendo contribuiccedilotildees

linguiacutesticas fundamentadas na pesquisa do leacutexico (vocabulaacuterio) da etnia referida com a Libras

(Liacutengua Brasileira de Sinais) e a Liacutengua Portuguesa por meio da elaboraccedilatildeo de um

6 Conforme Skliar eacute o campo de pesquisa em educaccedilatildeo onde as identidades a liacutenguas a histoacuteria a cultura da

comunidade surda satildeo focalizados e entendidos a partir da diferenccedila a partir do seu reconhecimento poliacutetico

(2001p29)

16

minidicionaacuterio triliacutengue Assim espera-se contribuir para a iniciaccedilatildeo dos indiacutegenas surdos da

etnia Satereacute-Maweacute na Liacutengua Brasileira de Sinais dando a eles um dos direitos universais do

ser humano que eacute direito a uma liacutengua Tambeacutem deseja-se contribuir para a iniciaccedilatildeo dos

indiacutegenas surdos da etnia Satereacute-Maweacute na Liacutengua Brasileira de Sinais dando a eles um dos

direitos universais do ser humano que eacute direito a uma liacutengua proacutepria

17

1 CONSIDERACcedilOtildeES DOS ESTUDOS LINGUIacuteSTICOS DA LIacuteNGUA BRASILEIRA DE SINAIS

A Linguiacutestica conhecida hoje como a ciecircncia que estuda a linguagem humana eacute uma

ciecircncia recente poreacutem com um saber antigo Passou a se impor como ciecircncia agrave medida que

demonstrou seu meacutetodo e seu objeto de estudo Eacute definida como estudo cientiacutefico que visa

descrever ou explicar a linguagem verbal humana (ORLANDI 1999)

A Linguiacutestica diferencia-se da gramaacutetica tradicional normativa na medida que natildeo

tem como objetivo ditar regras de correccedilatildeo para uso da linguagem Seu interesse eacute a liacutengua

como mateacuteria de reflexatildeo (QUADROS e KARNOPP 2004) Segundo as pesquisas nesta

aacuterea Vandresen (1988 apud QUADROS 2007 p 83) tem-se ldquoa linguiacutestica contrastiva como

uma subaacuterea da linguiacutestica geral interessada em apontar as similaridades e diferenccedilas

estruturais entre a liacutengua materna (de um grupo de alunos) e uma liacutengua estrangeirardquo

Na taxonomia de similaridades e contrastes entre as liacutenguas existe uma seacuterie de

regularidades como haacute similaridades comportamentais que natildeo precisam ser explicitadas

porque constituem a base comum das liacutenguas naturais e o compartilhamento dessas

similaridades poderaacute servir como base para inferecircncias quanto agraves formas da liacutengua estrangeira

e quanto agraves diferenccedilas por serem sistemaacuteticas podem admitir tratamento inferencial e

heuriacutestico (KATO 1988 apud QUADROS 2007)

Segundo Nascimento (2009) a vitalidade da liacutengua depende de sua utilizaccedilatildeo efetiva

tanto em escala nacional quanto em escala mundial Quanto mais uma liacutengua eacute utilizada mais

ela eacute viva e inversamente quanto menos eacute utilizada mais ela eacute ameaccedilada de extinccedilatildeo Assim

sendo eacute o uso social da liacutengua que determina seu grau de revitalizaccedilatildeo

Por essas razotildees a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Linguiacutesticos (BARCELONA

1996 p 3) tem como ponto de partida

[] as comunidades linguiacutesticas e natildeo os Estados e inscreve-se no quadro do

reforccedilo das instituiccedilotildees internacionais capazes de garantir um desenvolvimento

duradouro e equitativo para toda a humanidade e tem como finalidade favorecer um

quadro de organizaccedilatildeo poliacutetica da diversidade linguiacutestica baseado no respeito na

convivecircncia e nos benefiacutecios reciacuteprocos

Em seu TITULO PREacuteVIO tem como conceitos

18

Artigo 1ordm

1 Esta Declaraccedilatildeo entende por comunidade linguiacutestica toda a sociedade humana

que radicada historicamente num determinado espaccedilo territorial reconhecido ou

natildeo se identifica como povo e desenvolveu uma liacutengua comum como meio de

comunicaccedilatildeo natural e de coesatildeo cultural entre os seus membros A denominaccedilatildeo

liacutengua proacutepria de um territoacuterio refere-se ao idioma da comunidade historicamente

estabelecida neste espaccedilo [grifo nosso]

2 Esta Declaraccedilatildeo parte do princiacutepio de que os direitos linguiacutesticos satildeo

simultaneamente individuais e colectivos e adapta como referecircncia da plenitude dos

direitos linguiacutesticos o caso de uma comunidade linguiacutestica histoacuterica no respectivo

espaccedilo territorial entendendo-se este natildeo apenas como a aacuterea geograacutefica onde esta

comunidade vive mas tambeacutem como um espaccedilo social e funcional indispensaacutevel ao

pleno desenvolvimento da liacutengua Eacute com base nesta premissa que se podem

estabelecer em termos de uma progressatildeo ou continuidade os direitos que

correspondem aos grupos linguiacutesticos mencionados no ponto 5 deste artigo e os das

pessoas que vivem fora do territoacuterio da sua comunidade []

Em referecircncia ao Artigo 3ordm

- o direito ao ensino da proacutepria liacutengua e da proacutepria cultura

- o direito a dispor de serviccedilos culturais

- o direito a uma presenccedila equitativa da liacutengua e da cultura do grupo nos meios de

comunicaccedilatildeo

- o direito a serem atendidos na sua liacutengua nos organismos oficiais e nas relaccedilotildees

socioeconomicas []

Em referecircncia ao Artigo 5ordm

Esta Declaraccedilatildeo baseia-se no princiacutepio de que os direitos de todas as comunidades

linguiacutesticas satildeo iguais e independentes do seu estatuto juriacutedico ou poliacutetico como

liacutenguas oficiais regionais ou minoritaacuterias Designaccedilotildees tais como liacutengua regional ou

minoritaacuteria natildeo satildeo usadas neste texto porque apesar de em certos casos o

reconhecimento como liacutengua minoritaacuteria ou regional poder facilitar o exerciacutecio de

determinados direitos a utilizaccedilatildeo destes e doutros adjetivos serve frequentemente

para restringir os direitos de uma comunidade linguiacutestica []

Em referecircncia ao Artigo 23ordm

1 O ensino deve contribuir para fomentar a capacidade de auto-expressatildeo

linguiacutestica e cultural da comunidade linguiacutestica do territoacuterio onde eacute

ministrado[grifo nosso]

2 O ensino deve contribuir para a manutenccedilatildeo e o desenvolvimento da liacutengua falada

pela comunidade linguiacutestica do territoacuterio onde eacute ministrado

3 O ensino deve estar sempre ao serviccedilo da diversidade linguiacutestica e cultural e das

relaccedilotildees harmoniosas entre as diferentes comunidades linguiacutesticas do mundo inteiro

4 No quadro dos princiacutepios anteriores todos tecircm direito a aprender qualquer liacutengua

Em referecircncia aos Artigos 26ordm a 28ordm Artigo 26ordm

Todas as comunidades linguiacutesticas tecircm direito a um ensino que permita a todos os

seus membros adquirirem o perfeito conhecimento da sua proacutepria liacutengua com as

diversas capacidades relativas a todos os domiacutenios de uso da liacutengua habituais bem

como o melhor conhecimento possiacutevel de qualquer outra liacutengua que desejem

aprender

Artigo 27ordm

Todas as comunidades linguiacutesticas tecircm direito a um ensino que permita aos seus

membros o conhecimento das liacutenguas ligadas agrave sua proacutepria tradiccedilatildeo cultural tais

como as liacutenguas literaacuterias ou sagradas usadas antigamente como liacutenguas habituais

da sua comunidade

Artigo 28ordm

Todas as comunidades linguiacutesticas tecircm direito a um ensino que permita aos seus

membros adquirirem um conhecimento profundo do seu patrimocircnio cultural (histoacute-

ria e geografia literatura e outras manifestaccedilotildees da proacutepria cultura) assim como o

melhor conhecimento possiacutevel de qualquer outra cultura que desejem conhecer

(BARCELONA 1996 p 4 a 14)

19

Assim nas Disposiccedilotildees Finais no Plenaacuterio da Associaccedilatildeo Internacional para o

Desenvolvimento da Comunicaccedilatildeo Intercultural recomenda agraves Naccedilotildees Unidas que tomem as

medidas necessaacuterias agrave adopccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de uma Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Linguiacutesticos considerando a Convenccedilatildeo nuacutemero 169 da Organizaccedilatildeo Internacional do

Trabalho de 26 de Junho de 1989 relativa aos povos indiacutegenas em paiacuteses independentes que

a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Colectivos dos Povos realizada em Maio de 1990 em

Barcelona declara que todos os povos tecircm direito a exprimir e a desenvolver a sua cultura a

sua liacutengua e as suas normas de organizaccedilatildeo e para o fazerem a dotarem-se de estruturas

poliacuteticas educacionais de comunicaccedilatildeo e de administraccedilatildeo puacuteblica proacuteprias em quadros

poliacuteticos diferentes Considerando tambeacutem a Declaraccedilatildeo Final da Assembleia Geral da

Federaccedilatildeo Internacional de Professores de Liacutenguas Vivas aprovada em Peacutecs (Hungria) em 16

de Agosto de 1991 recomenda-se tambeacutem que os direitos linguiacutesticos sejam consagrados

direitos fundamentais

Neste contexto Nascimento (2009 p 25) pontua

Como princiacutepio eacutetico qualquer poliacutetica de liacutenguas deveraacute trabalhar a unidade e a

diversidade Natildeo se trata de poacutelos de contradiccedilatildeo mas de eixos de transiccedilatildeo A

unidade eacute uma razatildeo do Estado e a diversidade ou variedade eacute a mateacuteria linguiacutestica

proacutepria da comunidade pois reflete a liacutengua em uso ou seja as linguagens verbais

por meio das quais os indiviacuteduos se comunicam A unidade eacute resguardada pelo

padratildeo oficializado em um modelo de gramaacutetica e a variedade se faz representar nas

diversas gramaacuteticas praacuteticas e pragmaacuteticas de um Estado linguiacutestico

Quadros e Karnopp (2004) ainda explicam que a linguiacutestica parte de pressupostos

baacutesicos que determinam as investigaccedilotildees Sendo um dos mais importantes eacute de que a

linguagem eacute restringida por determinados princiacutepios ou seja ldquoregrasrdquo que fazem parte do

conhecimento humano das liacutenguas (falada ou sinalizada) da formaccedilatildeo de palavras da

construccedilatildeo das sentenccedilas e da construccedilatildeo dos textos A partir deste pressuposto da

universalidade de tais princiacutepios as investigaccedilotildees linguiacutesticas objetivam estudar os aspectos

especiacuteficos de cada liacutengua os quais revelam as caracteriacutesticas da linguagem humana A

exemplo o inglecircs o portuguecircs a Liacutengua de Sinais Americana a Liacutengua Brasileira de Sinais

e outras Embora apresentem diferenccedilas entre as liacutenguas agraves estruturas satildeo comuns que por

sua vez interessam agraves investigaccedilotildees linguiacutesticas na medida em que eacute a ciecircncia que objetiva

por explicar a natureza da linguagem humana

A partir dessas concepccedilotildees entendemos que os seres humanos estabelecem relaccedilotildees

do mais simples ao mais complexo com o outro por meio de gestos olhares e contato seja

por meio de sons Tudo isso caracteriza a linguagem humana Observa-se que a ldquolinguagemrdquo

20

eacute um termo usado pelas pessoas com referecircncia agrave linguagem em geral ou seja em uma

variedade de sentidos para denominar sistemas de comunicaccedilatildeo linguagem musical

linguagem corporal linguagem entre animais etc

No que concerne agrave definiccedilatildeo do termo liacutengua Quadros e Karnopp (2004) encontraram

uma seacuterie de definiccedilotildees de liacutengua que apontam para sua diferenciaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao termo

linguagem Estas fornecem subsiacutedios para a indicaccedilatildeo de propriedades consideradas pela

linguiacutestica essenciais agraves liacutenguas naturais sendo que uma delas eacute dada por Saussure que

afirma

Liacutengua natildeo se confunde com a linguagem eacute somente uma parte determinada

essencial dela indubitavelmente Eacute ao mesmo tempo um produto social da

faculdade de linguagem e um conjunto de convenccedilotildees necessaacuterias adotadas pelo

corpo social para permitir o exerciacutecio dessa faculdade nos indiviacuteduos (QUADROS e

KARNOPP 2004 p24)

Portanto entende-se como liacutengua natural

uma liacutengua que foi criada e eacute utilizada por uma comunidade especiacutefica de usuaacuterios

transmitida de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo e que muda ndash tanto estrutural como

funcionalmente ndash com o passar do tempo Ora qualquer liacutengua pode ser considerada

natural independentemente da modalidade que utilize (SAacute 2006 p 134)

Assim a liacutengua natural eacute tratada enquanto sistema linguiacutestico altamente desenvolvido

apresentando as caracteriacutesticas citadas por Quadros e Karnopp (2004 p 25-28) de

flexibilidade versatilidade arbitrariedade descontinuidade criatividade produtividade dupla

articulaccedilatildeo padratildeo de organizaccedilatildeo dos elementos e dependecircncia estrutural Logo conclui-se

que tais caracteriacutesticas satildeo especiacuteficas da faculdade da linguagem humana

11 Liacutengua de Sinais como Liacutengua Natural

A Liacutengua de Sinais eacute uma liacutengua natural criada pelas comunidades surdas Segundo

Skliar (1998 p26) ldquoTodas as crianccedilas surdas podem adquirir a Liacutengua de Sinais desde que

participem das interaccedilotildees quotidianas com a comunidade surda como acontece com qualquer

outra crianccedila na aquisiccedilatildeo de uma liacutengua naturalrdquo Skliar esclarece que liacutengua ldquonaturalrdquo natildeo

se refere a uma espontaneidade bioloacutegica mas como liacutengua que foi criada e eacute utilizada por

uma comunidade especiacutefica de usuaacuterios que transmite de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo e que muda com

o passar do tempo tanto estruturalmente como funcionalmente (IDEM p27)

As Liacutenguas de Sinais satildeo diferentes em cada comunidade com caracteriacutesticas das

liacutenguas orais com estruturas gramaticais proacuteprias que as distingue dos demais sistemas de

21

comunicaccedilatildeo Para Quadros e Karnopp (2004 p 30) ldquoAs liacutenguas de sinais satildeo portanto

consideradas pela linguiacutestica como liacutenguas naturais ou como um sistema linguiacutestico legiacutetimo e

natildeo como um problema do surdo ou como uma patologia da linguagemrdquo7

Para o reconhecimento das Liacutenguas de Sinais como liacutenguas naturais Ramos (2013 p

8) destaca o conceito ldquonaturalrdquo em oposiccedilatildeo a ldquocoacutedigo e linguagemrdquo e a avaliaccedilatildeo apresenta

as semelhanccedilas existentes entre as mesmas e as liacutenguas orais Sendo que uma dessas

semelhanccedilas na linha saussuriana eacute a ldquoexistecircncia de unidades miacutenimas formadoras de

unidades complexas pode ser observada em todas as Liacutenguas de Sinais espalhadas pelo

mundo possuidoras dos niacuteveis fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico e pragmaacuteticordquo

As liacutenguas de sinais apresentam ldquoregistros diversos (por categoria profissional status social

idade niacutevel escolar etc) aleacutem de dialetos regionais tambeacutem referendam as semelhanccedilas com

as liacutenguas oraisrdquo (IDEM p 8)

Estudos aprofundados sobre a Liacutengua de Sinais iniciaram a partir da deacutecada de 1950

com o estudioso da linguiacutestica o americano William Stokoe o qual percebeu e provou que a

Liacutengua de Sinais

[] satisfazia todos os criteacuterios linguiacutesticos de uma liacutengua genuiacutena no leacutexico na

sintaxe na capacidade de gerar um nuacutemero infinito de proposiccedilotildees [] Stokoe

convenceu-se de que os sinais natildeo eram figuras e sim complexos siacutembolos abstratos

com uma estrutura interna complexa Foi entatildeo o primeiro a buscar uma estrutura a

analisar os sinais dissecaacute-los procurar as partes constituintes Desde o comeccedilo ele

tentou demonstrar que cada sinal possuiacutea pelo menos trecircs partes independentes ndash

7 Sobre a surdez temos duas abordagens segundo explica Skliar a cliacutenico terapecircutica e a soacutecio-antropoloacutegica

A visatildeo soacutecioantropoloacutegica descreve a surdez em termos contraacuterios agraves noccedilotildees de patologia e de deficiecircncia

(1998 p10) Durante o seacuteculo passado construi-se o imaginaacuterio de que o surdo era um deficiente que

necessitava falar Segundo Casarin (1996 p2) ldquoNesse discurso deacuteficit doenccedila patologia anomalia implicam

apenas a possibilidade de sequumlecircncia diagnoacutestico tratamento-cura caracteriacutesticas da abordagem meacutedicardquo [] Tal

concepccedilatildeo influecircnciou outras aacutereas do conhecimento inclusive na educaccedilatildeo sobre a forma de perceber o surdo

Cesarian ainda explica que a partir daiacute foram assimilando o imaginaacuterio de que a surdez era uma doenccedila e que o

surdo por natildeo falar era um deficiente que precisava ser curado construindo entre as aacutereas de tratamento um

modelo terapecircutico para o deficiente auditivo Apoacutes as influecircncias da medicina na educaccedilatildeo dos surdos o

modelo cliniacuteco-terapecircutico passa a impor propostas educativas do oralismo dando continuidade agora na aacuterea

educacional ao tratamento do deficiente o mais cedo possivel na escola a fim que ele se enquadre ao modelo

normal modelo ouvinte Logo as escolas apresentavam como instituiccedilotildees de reeducaccedilatildeo da fala desenvolvendo

atividades pedagoacutegicas que tinham como objetivo o treinamento e exerciacutecios com fins a trazer o surdo o mais

possiacutevel do ldquonormalrdquo Perde-se assim muito tempo no processo de ensino aprendizado do sujeito surdo levando

a um fracasso escolar Surge entatildeo a nova concepccedilatildeo nomeada como soacutecio-antropoloacutegica de surdez totalmente

oposta agrave anterior Essa concepccedilatildeo parte das capacidades do sujeito quando considera a liacutengua de sinais como

melhor garantia para o desenvolvimento normal do surdo Esta nova concepccedilatildeo traz a valorizaccedilatildeo da lingua de

sinais e como consequecircncia o reconhecimento das especificidade culturais das comunidades surdas Estudos

feitos por linguiacutesticas observaram o desempenho escolar de pessoas surdas que se comunicam desde a infacircncia

por meio da Liacutengua de Sinais e que demostraram ganhos significativos em divesas aacutereas do desenvolvimento

humano Deixando claro a necessidade do uso da Liacutengua de Sinais como liacutengua natural da pessoa surda (1996

p 3)

22

localizaccedilatildeo configuraccedilatildeo das matildeos e movimento executado (anaacuteloga aos fonemas

da fala) ndash e que cada parte apresentava um nuacutemero limitado de combinaccedilotildees []

(SACKS 1998 p 88-89)

Segundo Ramos (2013 p 9) em 1988 o venezuelano Saacutenchez fez pesquisas sobre as

liacutenguas de sinais e os resultados apresentou ao educador francecircs Jean Foucambert No debate

sobre suas pesquisas ldquosurgiu agrave proposta de um tipo de educaccedilatildeo que privilegiasse a liacutengua

natural da comunidade surda - a Liacutengua de Sinais Venezuelana e a escrita da liacutengua da

comunidade oral o Espanholrdquo Um dos primeiros princiacutepios que lanccedilou a base para a que a

liacutengua de sinais fosse reconhecida como liacutengua natural foi descrita por Foucambert (RAMOS

2013 p 10)

Natildeo soacute os surdos mas toda e qualquer crianccedila pode aprender a liacutengua escrita sem

basear-se na oral porque satildeo independentes Em segundo lugar chegou-se agrave

afirmaccedilatildeo de que a liacutengua de sinais eacute uma liacutengua natural e que os surdos satildeo uma

comunidade linguiacutestica minoritaacuteria com direito a desenvolver sua cultura proacutepria

dentro da cultura majoritaacuteria O fato de a Liacutengua de Sinais cumprir uma seacuterie de

requisitos que todas as liacutenguas naturais possuem - espanhol portuguecircs alematildeo

inglecircs polonecircs a criatividade eacute um deles - pode-se sempre dizer alguma coisa

nova Outro requisito eacute a combinaccedilatildeo de partiacuteculas natildeo significativas que usadas de

certa maneira criam significaccedilatildeo [] Com 30 40 configuraccedilotildees da matildeo podem-se

transmitir milhares de sinais significativos como os fonemas da liacutengua oral A

liacutengua de sinais que como as liacutenguas nacionais eacute diferente em cada paiacutes e ateacute em

regiotildees dos paiacuteses possui aleacutem do mais uma gramaacutetica toda proacutepria organizada e

complexa e nos permite transmitir qualquer coisa [] Com ela pode-se transmitir

criar e recriar o que se quiser poesia romance filosofia E pode-se ateacute formular

ideacuteias com duplo sentido ou mentir que eacute outra caracteriacutestica das liacutenguas naturais

Por meio das pesquisas e estudos diversos paiacuteses passaram a se dedicar no campo da

linguiacutestica da Liacutengua de Sinais eacute que criou-se a possibilidade do povo surdo lutar pelo seu

reconhecimento enquanto liacutengua na medida em que pode contar com estudos que provam

cientificamente de que as Liacutenguas de Sinais satildeo de fato liacutenguas e natildeo um conjunto de

miacutemica

12 Liacutengua Brasileira de Sinais

O ser humano se expressa atraveacutes da liacutengua e a partir dela estabelece sua cultura

valores e padrotildees sociais Para os surdos brasileiros a Libras estabelece essas condiccedilotildees pois

considera a modalidade visual-espacial e associa caracteriacutesticas sociolinguiacutesticas as funccedilotildees

pragmaacuteticas e discursivas semelhantes agraves liacutenguas orais poreacutem a Liacutengua de Sinais por muito

tempo natildeo foi percebida enquanto estrutura linguiacutestica

23

A LIBRAS como toda Liacutengua de Sinais eacute uma liacutengua de modalidade gestual-visual

uma vez que faz uso para a comunicaccedilatildeo de movimentos gestuais e expressotildees faciais

percebidos pela visatildeo Neste sentido a Revista Feneis Ramos (2002 apud RAMOS 2013 p

7-8) ldquoa Liacutengua Portuguesa eacute uma liacutengua de modalidade oral-auditiva por utilizar como canal

ou meio de comunicaccedilatildeo sons articulados que satildeo percebidos pelos ouvidosrdquo Suas diferenccedilas

estatildeo na utilizaccedilatildeo de canais diferentes e nas estruturas gramaticais de cada liacutengua

Para Campello (2009) historicamente os primeiros estudos da Liacutengua de Sinais

apareceram no seacuteculo XIV exatamente nos anos de 1644 pelo inglecircs Bulwer J B com o livro

de Liacutengua de Sinais Inglesa Chirologia8 on the natural language of the hand com os estudos

destacando as figuras das matildeos e seus significados Menciona tambeacutem que era recompensa

de natureza que os surdos devam se comunicar atraveacutes dos gestos e acreditava firmemente na

ldquonecessidade que opera a Natureza dos homens que nascem Surdos-Mudos que podem

discutir mostrar sinalizar retoricamente por sinaisrdquo (p 13)

Em 1960 W C Stokoe pesquisador inglecircs da Gallaudet University fez uma pesquisa

entre as gramaacuteticas utilizadas pelos surdos em sala de aula e fora dela e os resultados foram

publicados no artigo Sign Language Structure na outline of the visual communication system

of the American Deaf na revista Studies in Linguistics Occassional Papers 8 (CAMPELLO

2009) E eacute a partir destes estudos que Stokoe afirma que a Liacutengua de Sinais eacute liacutengua

Stokoe (1960) ldquopercebeu e comprovou que a liacutengua de sinais atendia a todos os

criteacuterios linguiacutesticos de uma liacutengua genuiacutena no leacutexico na sintaxe e na capacidade de

gerar uma quantidade infinita de setenccedilasrdquo Stokoe observou que os sinais natildeo eram

imagens mas siacutembolos abstratos complexos com uma complexa estrutura interior

[] Comprovou inicialmente inicialmente que cada sinal apresentava pelo menos

trecircs partes independentes (em analogia com os fonemas da fala) ndash a localizaccedilatildeo a

configuraccedilatildeo de matildeos e o movimento ndash e que cada parte possuiacutea um nuacutemero

limitado de combinaccedilotildees [] (QUADROS E KARNOPP 2004 p 30-31)

Os estudos do linguiacutesta representou o primeiro passo para outras pesquisas em relaccedilatildeo

a Liacutengua de Sinais Em diversos paiacuteses pesquisas foram realizadas O Brasil foi um deles

No Brasil no final dos anos de 1970 a proposta da educaccedilatildeo biliacutengue reconhece a

Libras como liacutengua natural portanto deve ser ensinada como primeira liacutengua desde o iniacutecio

da escolarizaccedilatildeo da crianccedila surda e a comunidade surda reconhece o portuguecircs como a liacutengua

oficial do Brasil e deve ser ensinada como segunda liacutengua na forma oral ou escrita

(SLOMSKI 2010)

8 Bulwer (1644) em seu livro esclarece que a quirologia eacute um dicionaacuterio de gestos manuais e quirema eacute um

manual para o uso efetivo do gesto de falar em puacuteblico

24

Segundo Quadros (2009 p144) no entanto a Liacutengua de Sinais comeccedilou a ser

investigada efetivamente nas deacutecadas de 80 e 90 por Ferreira Brito (1986 1995) Felipe

(1992 1993) Quadros (1995 1999) e a aquisiccedilatildeo da Liacutengua Brasileira de Sinais nos anos 90

(Karnopp (1994 1999 Quadros (1995 1997)

Na deacutecada de 1980 a 1990 tem-se um panorama mundial para a abordagem biliacutengue

na educaccedilatildeo de surdos Slomski (2010 p 61) destaca que em 1994 Lucinda Ferreira Brito

passa a utilizar a abreviaccedilatildeo de LIBRAS (Liacutengua Brasileira de Sinais) criada pela comunidade

surda Consequentemente pesquisas estudos e lutas da comunidade surda contribuiacuteram para a

instauraccedilatildeo de uma poliacutetica linguiacutestica da Liacutengua Brasileira de Sinais A que reconhece o

estatuto linguiacutestico legal por meio da Lei 10436 de 24042002

Art 1ordm Eacute reconhecida como meio legal de comunicaccedilatildeo e expressatildeo a Liacutengua

Brasileira de Sinais ndash Libras e outros recursos de expressatildeo e por ela associados

Paraacutegrafo uacutenico Entende-se como Liacutengua Brasileira de Sinais ndash Libras a forma e

comunicaccedilatildeo e expressatildeo em que o sistema linguiacutestico de natureza visual-motora

com estrutura gramatical proacutepria constituem um sistema linguiacutestico de transmissatildeo

de ideias e fatos oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil

[](BRASIL 2007 p 2)

A Liacutengua de Sinais como jaacute mencionado eacute uma liacutengua natural composta por de todos

os componentes agraves liacutenguas orais como gramaacutetica semacircntica pragmaacutetica sintaxe e outros

elementos preenchendo os requisitos cientiacuteficos para ser considerado um sistema linguiacutestico

Conforme Felipe e Monteiro (2004 p23) as Liacutenguas de Sinais satildeo compostas por

signos linguiacutesticos denominados bdquosinais‟ encontrados nos seguintes paracircmetros

Configuraccedilatildeo das Matildeos Ponto de Articulaccedilatildeo Movimento Orientaccedilatildeo Expressatildeo Facial eou

Corporal Estes paracircmetros satildeo requisitos necessaacuterios para que sejam constituiacutedos os sinais

Portanto a Liacutengua de Sinais eacute considerada como liacutengua natural do sujeito surdo

como sua primeira liacutengua-L1 Jaacute a liacutengua majoritaacuteria de um paiacutes no caso do Brasil eacute a

Liacutengua Portuguesa como L2 Partindo do pressuposto que a Liacutengua de Sinais eacute a primeira

liacutengua do surdo a aquisiccedilatildeo da primeira liacutengua pelas crianccedilas surdas deve se dar de forma

natural no contato com surdos sinalizados pertencentes agrave comunidade surda A Liacutengua

Portuguesa por sua vez eacute aprendida de forma sistemaacutetica ou seja precisa ser ensinada por

meio de teacutecnicas especiacuteficas de ensino de segunda liacutengua

A partir desta compreensatildeo as crianccedilas surdas precisam ter a oportunidade do contato

com seus pares Crianccedilas surdas que natildeo tecircm um conviacutevio com surdos por terem nascido

dentro de familias ouvintes que usam a liacutengua oral precisam que os pais familiares

25

oportunizem a elas o mundo essencialmente visual-espacial para conhecer a Liacutengua de

Sinais Sobre a questatildeo Quadros (2005 p30) afirma

As crianccedilas surdas e seus pais ouvintes poderiam compartilhar o bilinguismo liacutengua

portuguesa e liacutengua de sinais brasileira e ir aleacutem descobrindo os vieses das culturas

e identidade que se entrecruzam [] Assim as crianccedilas surdas precisam ter acesso

agrave liacutengua de sinais com sinalizantes fluentes desta liacutengua muito cedo Estes

sinalizantes satildeo pessoas que normalmente natildeo fazem parte do ciacuterculo de pessoas

que a crianccedila usualmente teria contato Os pais teratildeo que conhecer comunidade

surda que usa esta liacutengua

Nesta perspectiva Souza (apud QUADROS 2005) menciona que se no iniacutecio do seu

desenvolvimento a crianccedila surda tiver a chance de contar com pais dispostos a aprenderem a

liacutengua de sinais com adultos surdos colegas surdos e conversarem ldquosinalizandordquo a

dimensatildeo do seu processo educacional seraacute outra A aquisiccedilatildeo da liacutengua seraacute transferida para

o espaccedilo escolar ldquoO fato de passar a ter contato com a liacutengua portuguesa com significado

trazendo seus conceitos adquiridos na sua proacutepria liacutengua possibilitaraacute um processo muito

mais significativordquo (ibid p33)

Por isso eacute de importacircncia fundamental a crianccedila surda esteja em contato linguiacutestico

com a liacutengua de sinais o mais cedo possiacutevel seja com a comunidade surda ou com seus pais

ouvintes que adquiriram a Liacutengua de Sinais como L2 Estes fatores iratildeo influenciar a crianccedila

estabelecer a sua identidade e cultura surda naturalmente Neste sentido Fantinel (1999 p2)

menciona que ldquoo uso da Liacutengua de Sinais eacute uma condiccedilatildeo fundamental na construccedilatildeo da

identidade dessas pessoas pois eacute o fator que os aproxima e reuacutene em grupos permitindo-lhes

expressarem-se construindo significados para a vidardquo

A Liacutengua de Sinais portanto eacute um aspecto fundamental da cultura surda Para tanto

Strobel (2008 p44) ainda enfatiza que para que o sujeito surdo possa ter acesso agraves

informaccedilotildees e conhecimentos aleacutem de construir sua identidade eacute fundamental criar uma

ligaccedilatildeo com o povo surdo que usa a sua liacutengua em comum pois a Liacutengua de Sinais eacute uma das

principais marcas da identidade de um povo surdo uma particularidade da cultura surda uma

forma de comunicaccedilatildeo que capta as experiecircncias visuais dos sujeitos surdos E somente a

partir do uso desta liacutengua que a crianccedila conseguiraacute seu pleno desenvolvimento cognitivo

psicoloacutegico emocional e cultural proporcionando assim a aquisiccedilatildeo do conhecimento

universal

Desta forma ao refletirmos sobre a pessoa surda na construccedilatildeo de sua identidade e

cultura surda entende-se que o contato linguiacutestico eacute essencial Logo o que dizer das pessoas

26

surdas que vivem isoladas de comunidades surdas que natildeo tem esse contato com Liacutengua de

Sinais Sobre esta realidade Strobel esclarece que

No entanto incluem tambeacutem os gestos denominados ldquosinais emergentesrdquo ou ldquosinais

caseirosrdquo dos sujeitos surdos de zonas rurais ou sujeitos isolados de comunidades

surdas que procuram entender o mundo atraveacutes dos experimentos visuais e que

procuram comunicar apontando e criando sinais [] (ibidem p44)

Ainda sobre a questatildeo Vilhalva (2012 p 30) ressalta que ldquo[] Os sinais emergentes

tambeacutem conhecidos como sinais caseiros satildeo essenciais quando vistos como comunicaccedilatildeo

natural usada em um espaccedilo familiar ou social []rdquo Nesse caso podemos referir ao iacutendio

surdo que vive isolado do contato com a comunidade surda Este surdo tambeacutem se identifica

com o povo surdo apesar de natildeo ter contato e de natildeo pertencer agraves mesmas comunidades

surdas na medida em que de acordo com Strobel (2008) eles compartilham as mesmas

peculiaridades ou seja constroem sua formaccedilatildeo de mundo atraveacutes de artefato cultural visual

13 Liacutenguas de Sinais Indiacutegenas pesquisadas no Brasil

Os registros da existecircncia de iacutendios surdos segundo Vilhalva (2008) apontam para o

Estatuto do Iacutendio - Lei nordm 6001 de 19121973 que norteou as relaccedilotildees do Estado brasileiro

com as populaccedilotildees indiacutegenas ateacute a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 em seu Paraacutegrafo

uacutenico do Art 1ordm assegura

Aos iacutendios e agraves comunidades indiacutegenas se estende a proteccedilatildeo das leis do Paiacutes nos

mesmos termos em que se aplicam aos demais brasileiros resguardados os usos

costumes e tradiccedilotildees indiacutegenas bem como as condiccedilotildees peculiares reconhecidas

nesta Lei

Neste sentido no Brasil a liacutengua oficial eacute a Liacutengua Portuguesa Fossile (2013 p 4)

afirma que ldquoo paiacutes conta atualmente segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatiacutestica (IBGE) com aproximadamente 210 liacutenguas sendo 190 delas indiacutegenasrdquo Essas

liacutenguas indiacutegenas satildeo consideradas como liacutenguas minoritaacuterias sem importacircncia em relaccedilatildeo ao

portuguecircs No entanto algumas possuem mais prestiacutegio em relaccedilatildeo agraves outras

Em relaccedilatildeo ao conhecimento da liacutengua e da diversidade na dinacircmica soacutecio-cultural das

populaccedilotildees indiacutegenas deveria haver prioridades para estudos no campo linguiacutestico para

acadecircmicos e pesquisadores indios De fato o conhecimento das liacutenguas faladas e no

contexto tem-se essa diversidade para iacutendios surdos deveria ser compartilhada com a

27

sociedade indiacutegena de forma que esta possam participar ativamente na elaboraccedilatildeo de poliacuteticas

e programas que respondam agraves suas necessidades seus direitos considerando-se em particular

suas culturas e liacutenguas

Segundo Vilhalva (2008) pesquisas no campo da linguiacutestica e de poliacuteticas linguiacutesticas

avanccedilaram consideravelmente no Brasil Tendo poreacutem ainda uma grande necessidade de

maiores pesquisas principalmente referente a diferentes Liacutenguas de Sinais pertencentes a

diferentes comunidades como as dos povos indiacutegenas Neste sentido a autora argumenta

A Liacutengua de Sinais Indiacutegenas praticadas pelos iacutendios surdos existentes em diversas

comunidades indiacutegenas do paiacutes traz consigo caracteriacutesticas culturais e linguiacutesticas

variadas bdquoInfelizmente raramente satildeo registradas como satildeo registradas outras liacutenguas

brasileiras de diferentes comunidades com suas especificidades culturais e eacutetnicas ‟

(VILHALVA 2008 p 29)

Sobre a questatildeo Nonaka coloca que

desde 1960 quando se iniciaram os estudos linguiacutesticos e antropoloacutegicos em

referecircncia agraves Liacutenguas de Sinais a maior parte das investigaccedilotildees tem incidido sobre

as Liacutenguas de Sinais nacionais ou padratildeo usadas pelos surdos de diferentes paiacuteses

com escassa atenccedilatildeo agraves Liacutenguas de Sinais usadas pelos indiacutegenas em sua

comunicaccedilatildeo original (apud VILHALVA 2012 p 30)

Por isso Vilhalva defende a comunicaccedilatildeo dos iacutendios surdos como objeto de estudo da

linguiacutestica afirmando que

[] Sabemos tambeacutem que a Libras estaacute presente nas terras indiacutegenas

apontando que a influecircncia aconteceraacute Sendo assim consideramos quanto o leacutexico

das liacutenguas estaacute no processo de mudanccedilas atraveacutes do neologismo espontacircneo ou o

empreacutestimo linguiacutestico de outras liacutenguas (ibid p37)

Observa-se que os estudos sobre a Libras nas terras indiacutegenas comeccedilaram na deacutecada

de 1980 com pesquisas da brasileira Lucinda Ferreira Brito sobre a Liacutengua Brasileira de

Sinais Segundo Slomski (2010) Lucinda Ferreira Brito iniciou sua pesquisa atraveacutes de um

padratildeo internacional de abreviaccedilatildeo das Liacutenguas de Sinais adotando a sigla LSCB ndash Liacutengua de

Sinais dos Centros Urbanos Brasileiros para diferenciaacute-la da LSKB ndash Liacutengua de Sinais

Kaapor Brasileiros que eram a utilizada pelos iacutendios do Estado do Maranhatildeo

Diante do panorama exposto se faz necessaacuterio no campo da linguiacutestica dos estudos

surdos pesquisas sobre a Liacutengua de Sinais usadas pelos iacutendios surdos nas diferentes

comunidades indiacutegenas para que seja reconhecida e registrada Infelizmente somente uma

28

liacutengua indiacutegena eacute oficialmente reconhecida no Brasil a Liacutengua de Sinais Indiacutegena da

comunidade Urubu-Kaapor devido ao alto iacutendice de surdos

131 Liacutengua de Sinais Urubu-Kaapor

Os resultados do Censo 2010 (IBGE 2013) apontam para 274 liacutenguas indiacutegenas

faladas por indiviacuteduos pertencentes a 305 etnias diferentes Embora haja a necessidade de

estudos linguiacutesticos e antropoloacutegicos mais aprofundados quanto aos nuacutemeros totais de liacutengua

e etnia

Dentro desse universo a uacutenica Liacutengua de Sinais indiacutegena reconhecida conforme

referido anteriormente eacute a utilizada pela etnia indiacutegena brasileira dos Urubu-Kaapor9

chamados tambeacutem por urubus-caapores Os estudos sobre essa Liacutengua de Sinais apontam para

o iniacutecio da deacutecada de 1950

De acordo com Ribeiro (1996 apud FASSILE 2013 p 2)

Em 1950 foi descoberto no Brasil um grupo indiacutegena atraveacutes de pesquisas

antropoloacutegicas os Urubu-Kaapor na floresta Amazocircnica (Maranhatildeo) que falava

uma variaccedilatildeo da liacutengua de sinais Somente a partir da deacutecada de 1980 estudos

linguiacutesticos relacionados agrave Liacutengua de Sinais Kaapor Brasileira (LSKB) foram

aprofundados (sobre a LSKB cf KAKUMASU J KAKUMASU K 1977)

Segundo Brito (1993 apud FASSILE 2013 p 2) J Kakumasu defendeu que ldquo[] a

Liacutengua de Sinais dos Urubu-Kaapor [] [se constituiacutea como] um veiacuteculo de comunicaccedilatildeo

intratribal e natildeo como meio de transaccedilatildeo comercialrdquo Neste sentido resgata-se que

No Brasil Lucinda Brito inicia seus importantes estudos linguiacutesticos em

1982 sobre a Liacutengua de Sinais dos iacutendios Urubu-Kaapor da floresta amazocircnica

brasileira apoacutes um mecircs de convivecircncia com os mesmos documentando em filme

sua experiecircncia A ideia para a pesquisa adveio da leitura de um artigo publicado no

livro de Umiker-Sebeok (1978) de autoria de J Kakumasu Urubu Sign Language

No estudo a Liacutengua de Sinais dos Urubu-Kaapor se diferenciaria da PSL por

constituir um veiacuteculo de comunicaccedilatildeo intratribal e natildeo como meio de transaccedilatildeo

comercial Lucinda Brito poreacutem constatou que a mesma se tratava de uma legiacutetima

Liacutengua de Sinais dos surdos pelos mesmos criados

O interessante de se observar no caso dos Urubu-Kaapor eacute que os ouvintes da

aldeia falam a Liacutengua de Sinais e a liacutengua oral evidentemente enquanto que os

surdos se restringem agrave Liacutengua de Sinais Assim os ouvintes da aldeia se tornam

biliacutengues enquanto os surdos se mantecircm monoliacutengues (RAMOS 2011 p 6)

9 Disponiacutevel emlthttpwwwlibrascombrurubu-kaaporgt Acesso em 19112013

29

A Liacutengua Kaapor eacute uma liacutengua da famiacutelia Tupi-Guarani natildeo falada por outra tribo ou

povo exceto como segunda liacutengua Possuem uma liacutengua de sinais proacutepria (a Liacutengua Brasileira

de Sinais Kaapor) usada tanto pela comunidade surda do povo como tambeacutem por seus

membros natildeo surdos na comunicaccedilatildeo com os surdos

[] os Kaapor satildeo linguisticamente peculiares na Amazocircnia por terem uma

linguagem padratildeo de sinais usada para a comunicaccedilatildeo com os surdos que ateacute a

metade dos anos 80 compunham cerca de 2 da totalidade de sua populaccedilatildeo A

incidecircncia de surdez deveu-se evidentemente agrave bouba neonatal e endecircmica que foi

erradicada10

O interessante eacute que a comunidade indiacutegena desenvolveu uma forma proacutepria de

comunicaccedilatildeo por sinais que comeccedilou a ser estudada na deacutecada de 1960 pelo pesquisador

canadense James Kakumasu em (1968) e em seguida pela linguista brasileira Linguista

Lucinda Ferreira Brito ldquo[] A Liacutengua de Sinais Brasileira para diferenciaacute-la da LSKB

(Liacutengua de Sinais Kaapor Brasileira) utilizados pelos iacutendios Urubu-Kaapor no Estado do

Maranhatildeordquo (GOLDFELD 1997 p 30) A pesquisadora registrou a existecircncia da Liacutengua de

Sinais Kaapor em sua pesquisa sobre termos baacutesicos para cores em Liacutengua de Sinais

132 Liacutengua de Sinais Emergentes

Vilhalva (2012) se preocupou sobre a situaccedilatildeo linguiacutestica dos iacutendios surdos trazendo

grandes contribuiccedilotildees cientiacuteficas na aacuterea da linguiacutestica referente agraves Liacutenguas de Sinais

Indiacutegenas Sua pesquisa iniciou em 1991 com iacutendios surdos na comunidade indiacutegena de Satildeo

Marcos

O estudo dos sinais emergentes que se deseja apresentar objetiva natildeo apenas

recuperar os registros sobre as liacutenguas padratildeo mas tambeacutem e sobretudo procurar

realizar um levantamento de como se apresenta atualmente o uso desses sinais

emergentes e ateacute mesmo da histoacuteria da produccedilatildeo desses sinais para que se possa

fazer o registro cientifico sobre a situaccedilatildeo linguiacutestica dos iacutendios surdos dentro das

escolas indiacutegenas [] (VILHALVA 2012 p11a)

Souza e Segala (2009 p28) abordam que a maior parte das liacutenguas nasceu do

contato entre duas ou mais liacutenguas ou de uma liacutengua e sistemas de sinais caseiros (Liacutengua de

Sinais Primaacuteria) Observa-se que ldquosinais caseiros ou Liacutengua de Sinais Primaacuterios

correspondentes aos gestos ou construccedilatildeo simboacutelica inventadas no acircmbito familiar eacute comum

10

Disponiacutevel emlthttppibsocioambientalorgptpovokaaporgt Acesso em 19112013

30

a constituiccedilatildeo de um sistema convencional de comunicaccedilatildeo entre matildee-ouvinte e crianccedila

surdardquo

Sobre a origem dos sinais emergentes Vilhalva explica que

[] os sinais emergentes foram criados devido a uma necessidade de comunicaccedilatildeo

passando por sinais indicativos icocircnicos e arbitraacuterios A maneira como cada sinal

surge levam tempo para se entender principalmente quando os sinais satildeo criados

conforme o neologismo11

Esses novos sinais passam a fazer parte da comunicaccedilatildeo

para depois designar algo consistentemente como acontece tambeacutem agraves liacutenguas

orais-auditivas (2012 p137-138)

Desta forma a autora em sua pesquisa argumenta que os sinais emergentes

considerados em seu estudo como Liacutengua de Sinais constituem como o meio de

comunicaccedilatildeo primaacuteria dos iacutendios surdos das comunidades indiacutegenas do Mato Grosso do Sul

Partindo deste achado Rousseau jaacute mencionava em seus estudos ldquoEnsaio sobre a origem das

liacutenguasrdquo que

O uso e a necessidade ensinam a cada um a liacutengua de seu paiacutes mas o que eacute que faz

com que essa liacutengua seja a de seu proacuteprio paiacutes e natildeo a de um outro [] No

momento em que um homem foi reconhecido por um outro como um ser sensiacutevel

pensante e semelhante a ele o desejo ou a necessidade de comunicar-lhe os proacuteprios

sentimentos e os proacuteprios pensamentos fez com que procurasse os meios de fazecirc-lo

(2008 p 97)

Assim o primeiro contato do ser humano eacute com o outro da mesma espeacutecie No caso da

matildee com seu filho Conforme Sacks (1998 p 7) comenta que

[] a primeira comunicaccedilatildeo geralmente se daacute entre matildee e filho e a liacutengua eacute

adquirida emerge entre eles dois Sendo assim Os sinais emergentes tambeacutem satildeo

fruto da linguagem num processo visual usados pelos surdos indiacutegenas e seus

familiares ouvintes na interaccedilatildeo com o meio (VILHALVA 2012 p 137)

Vilhalva (2012) entatildeo percebeu a predominacircncia dos gestos caseiros criados pelos

proacuteprios surdos para interagirem com suas famiacutelias e com as pessoas que os rodeiam Ou

seja a crianccedila surda que nasce na famiacutelia de ouvinte comeccedila a criar a partir de um meio de

comunicaccedilatildeo visual usando todas as formas naturais possiacuteveis desde o apontamento ateacute os

gestos naturais O uso que destes sinais criados pelas necessidades do ambiente familiar com

o passar do tempo vatildeo se convencionando a forma de interaccedilatildeo dialoacutegica passando a

transformar-se em um meio de comunicaccedilatildeo essencial resultando assim no processo

11

Satildeo palavras criadas para designar novas situaccedilotildees novos conceitos fatos objetos etc sendo que um

neologismo soacute eacute sentido como tal durante algum tempo pois passados anos ou seacuteculos deixa de ter sentido

como tal porque a realidade que ele designa jaacute natildeo eacute nova

31

evolutivo dos sinais familiares para os sinais emergentes para transiccedilatildeo para a Liacutengua de

Sinais ou seja arbitraacuteria convencional Esse processo se daacute por meio do processo cognitivo

fundamentada na teoria de Cuxac

Construccedilatildeo do dizer a partir do processo criativo de performance gestual Iconizando

da experiecircncia perceptivo-praacutetica Rotinas de Transferecircnciandashpassagem da ilustraccedilatildeo

especifica para a categorizaccedilatildeo geneacuterica Sinais estabelecidos num grupo reduzido

categorias e generalizaccedilotildees dos sinais gestuais Nasce uma liacutengua de Sinais com

todas as propriedades de uma liacutengua (apud VILHALVA 2012 p138)

Vilhalva (2012) ainda destaca que se observarmos a Lei nordm 10436 de 24 de abril de

2002 vamos verificar que em seu artigo primeiro ldquoficam reconhecidos como meio legal de

comunicaccedilatildeo e expressatildeo a Liacutengua Brasileira de Sinais-Libras ndash e outros recursos de

expressatildeo a ela associadosrdquo Nesses bdquooutros recursos‟ podem figurar segundo compreensatildeo

da mesma os sinais emergentes produzidos nas comunidades indiacutegenas Se a Liacutengua

Brasileira de Sinais uma forma de comunicaccedilatildeo e expressatildeo cujo canal de produccedilatildeo e

recepccedilatildeo eacute de natureza visual-motora com estrutura gramatical proacutepria constituindo um

sistema linguiacutestico de transmissatildeo de ideias e fatos oriundos de comunidades de pessoas

surdas no Brasil conforme estaacute na lei eacute compreensivo dizer que nada fala sobre um padratildeo de

sinalizaccedilatildeo (p34)

Conclui-se que conforme pesquisa da autora citada os estudos dos sinais emergentes

mostraram que este eacute o ponto inicial das novas Liacutenguas de Sinais que segundo a mesma

merecem ser aprofundadas

1321 Realidade do contexto educacional escolar do indiacutegena surdo

Vilhalva (2012) destaca que o indiviacuteduo surdo soacute teraacute um sistema gestual linguiacutestico

organizado no contato do agrupamento comunitaacuterio especificamente da comunidade surda

com o contato com a Liacutengua de Sinais E isso muitas vezes acontece em geral somente no

acircmbito escolar biliacutengue onde haacute outros surdos inteacuterpretes e professores ouvintes que fazem

uso da Liacutengua de Sinais Por isso eacute essencial uma escola que respeite a diversidade linguiacutestica

como no caso desta comunidade Desta forma se faz necessaacuterio presenccedila na escola de

inteacuterpretes vindo das cidades mais proacuteximas das terras indiacutegenas de modo que

32

[] o Professor ministra as aulas em Portuguecircs e tem disciplina em Guarani

Observamos que pelo fato de os professores da pedagogia diferenciada indiacutegena

realizarem sua formaccedilatildeo em universidades locais onde o assunto em torno da surdez

e da Libras satildeo discutidos estes profissionais tecircm uma formaccedilatildeo que respeita natildeo soacute

a cultura e a liacutengua indiacutegena mas tambeacutem a cultura e a Liacutengua de Sinais

caracteriacutesticas que estatildeo presentes nas escolas indiacutegenas biliacutengues em que a liacutengua

de instruccedilatildeo eacute o Guarani-Portuguecircs(VILHALVA 2012 p 11b)

Poreacutem o que natildeo eacute o caso da escola Araporatilde mencionada por Vilhalva (2012) que teve

preferecircncia do inteacuterprete indiacutegena para a preservaccedilatildeo da cultura liacutengua e saber Foi observado

na pesquisa que os indiacutegenas surdos com vinte anos de idade em diante demonstram

seguranccedila ao sinalizar com o pesquisador surdo usando seus sinais emergentes de forma

natural Os mais novos de escolas indiacutegenas mas da mesma comunidade indiacutegena natildeo

demonstraram o uso de sinais emergentes e sim apresentaram diretamente sua comunicaccedilatildeo

em Libras Entretanto os resultados apontam que natildeo haacute como dizer se o atendimento

educacional para o iacutendio surdo estaacute acontecendo em todas as comunidades indiacutegenas ldquopois

interfere numa questatildeo de respeitar o que diz o proacuteprio plano de educaccedilatildeo sobre uma visatildeo

amplamente ligada agrave liacutengua cultura e diversidade nas escolas e terras indiacutegenasrdquo (ibid p36)

Nesta oacutetica se realmente as poliacuteticas linguiacutesticas fossem mais enfaacuteticas em suas

propostas de realizar a planificaccedilatildeo linguiacutestica incluindo a criaccedilatildeo de escolas biliacutengues e de

legislaccedilotildees especiacuteficas para as questotildees referentes agraves liacutenguas o indiviacuteduo indiacutegena surdo

poderia ter seus direitos linguiacutesticos assegurados

Neste sentido resgata-se o Referencial Curricular Nacional para Escolas Indiacutegenas

(1998) o qual menciona que

[] as tradiccedilotildees culturais os conhecimentos acumulados a educaccedilatildeo das geraccedilotildees

mais novas as crenccedilas o pensamento e a praacutetica religiosa as representaccedilotildees

simboacutelicas a organizaccedilatildeo poliacutetica os projetos de futuro enfim a reproduccedilatildeo

sociocultural das sociedades indiacutegenas satildeo na maioria dos casos manifestaccedilotildees

atraveacutes do uso de uma liacutengua Mesmo os povos indiacutegenas que satildeo hoje monoliacutengues

em liacutengua portuguesa continuam a usar a liacutengua de seus ancestrais como um siacutembolo

poderoso para onde confluem muitos de seus traccedilos identificatoacuterios construindo

assim um quadro de bilinguismo simboacutelico importante [grifo nosso]

Ou seja assim como para o surdo urbano brasileiro eacute reconhecida legalmente sua

liacutengua natural - Libras e a Liacutengua Portuguesa como segunda liacutengua -L2 para o indiacutegena surdo

deveria ser assegurado o mesmo direito para aprender esta forma de comunicaccedilatildeo ndash Liacutengua de

Sinais como primeira liacutengua e como segunda liacutengua a Liacutengua de sua etnia na modalidade

33

escrita Sendo portanto biliacutengue ou ainda triliacutengue com aquisiccedilatildeo da Liacutengua Portuguesa

tambeacutem na modalidade escrita

Nesta perspectiva observa-se que Saacute (2011 p33) afirma que tanto indiacutegenas como

surdos tecircm uma liacutengua proacutepria e uma cultura diferenciada Entatildeo porque natildeo ser reconhecida

legalmente a Liacutengua de Sinais utilizada pelos iacutendios surdos e a Liacutengua de sua comunidade

Como bem percebido por Vilhalva haacute a carecircncia de pesquisas voltadas para o registro de

liacutengua de sinais entre os iacutendios surdos brasileiros o que certamente constitui-se em um dos

fatores que favorecem a existecircncia desta lacuna na legislaccedilatildeo E que tal fato deveria ser um

despertar para pesquisadores da linguiacutestica sejam ouvintes ou surdos

34

2 A HISTOacuteRIA DO POVO INDIacuteGENA SATEREacute-MAWEacute CULTURA E LIacuteNGUA

Os povos indiacutegenas durante muito tempo foram considerados como povos sem

histoacuteria e sem uma liacutengua proacutepria Poreacutem com as muitas lutas eacutetnicas com estudos

antropoloacutegicos e com as abordagens historiograacuteficas iniciou-se uma valorizaccedilatildeo da

sociedade indiacutegena passando assim o povo indiacutegena a ser perspectivado nas suas

singularidades histoacutericas culturais e linguiacutesticas

Vale ressaltar que quando se refere a ldquoliacutenguasrdquo sabe-se que natildeo haacute apenas uma liacutengua

indiacutegena Existem muitos povos ou etnias indiacutegenas distintas As liacutenguas indiacutegenas no Brasil

se agrupam em famiacutelias linguiacutesticas ou seja famiacutelias que tecircm semelhanccedilas entre si e que satildeo

agrupadas por sua vez em troncos linguiacutesticos assim como as liacutenguas isoladas12

ou seja

liacutenguas que natildeo parecem ter parentesco com nenhuma das famiacutelias linguiacutesticas conhecidas

Segundo Rodrigues (2002) as famiacutelias indiacutegenas estatildeo agrupadas em Tronco

Linguiacutestico Tupi famiacutelia Tupi-Guarani (Akwaacutewa Amanayeacute Anambeacute Apiakaacute Araweteacute

Asurini Avaacute Guajaacute Guarani Kamayuraacute Kayabi Suryiacute Kaiwaacute) famiacutelia Munduruku

(Kuruaacuteya Mundurukuacute) Famiacutelia Tupari (Makuraacutep Tupari Wayoroacute) Famiacutelia Arikeacutem

(Karitiaacutena) Famiacutelia Juruna (Juruna) Famiacutelia Mondeacute (Aruaacute Cinta-Larga Gaviatildeo Mekeacutem

Mondeacute Suruiacute Zoroacute) Famiacutelia Ramaraacutema (Araacutera Itoqapuk) Outras Liacutenguas (Aweti

Puruboraacute Satereacute-Maweacute) entre outros troncos linguiacutesticos como Macro-Jecirc e sua diversidade

de famiacutelias existentes entre elas as liacutenguas isoladas

Um desses povos indiacutegenas foi o da etnia Satereacute-Maweacute Estes sofreram muitas

influecircncias em seu modo de vida advinda do contato com grupos natildeo indigenas que implicou

no processo de perda de muitos dos seus aspectos culturais A histoacuteria relata que o contato se

deu pela chegada dos colonizadores e posteriormente das missotildees religiosas E na atualidade

por ocupantes de terras como fazendeiros madeireiros emigrantes de outros Estados Foram

perdas irreparaacuteveis todavia como elo de resistecircncia procuraram sustentar em sua estrutura

original sua liacutengua

12

Segundo Rodrigues (2002 p93) liacutenguas isoladas refere-se as liacutenguas isoladas linguisticamente ou seja

liacutenguas que natildeo revelam parentesco geneacutetico com nenhuma outra Natildeo pertencem a nenhuma famiacutelia (ou tronco)

isto eacute constituem famiacutelias de um soacute membro

35

21 Breve Relato Histoacuterico

A histoacuteria do povo indiacutegena Satereacute-Maweacute tem sido foco de estudos dos diversos

segmentos de pesquisas como as realizadas por antropoacutelogos historiadores religiosos e

cientistas da linguagem Estes relatam a origem a liacutengua e a cultura desse povo

Uggeacute (1993 p 5) informa que ldquoOs Maueacutes descendentes das tribos indiacutegenas

denominadas no passado pelo nome de ANDIRAacute e MARAGUAacute que faz parte da aacuterea cultural

Tapajoacutes-Madeira entre a divisa dos atuais Estados do Paraacute e Amazonasrdquo O autor ainda

menciona que cronistas exploradores missionaacuterios antropoacutelogos naturalistas do passado

identificaram os Maueacutes tambeacutem com outros nomes (Maooz Mabueacute Jaquezes Manguases

Mahueacutes Mauris Maweacute Maragua e Maraguazes)

A origem do nome Satereacute-Maweacute advem dos termos Satereacute (lagarta vermelha) que eacute o

nome do clatilde dos antigos chefes e Maweacute (papagaio inteligente guerreiro e curioso) que eacute o

nome mais comum de um dos grupos tribais que conseguiram sobreviver agrave extinccedilatildeo das

numerosas tribos indiacutegenas da ilha Tupinambarana do Meacutedio Amazonas (IDEM) Cerqua13

faz referecircncia agrave primeira notiacutecia sobre o povo Satereacute-Maweacute ldquoEacute por volta de 1669 quando o

Pe Betendorf duas vezes superior provincial dos jesuiacutetas lembra a ldquovila dos Maguasesrdquo

grafia antiga de Maueacutes [] (1980 p 209)rdquo ou seja Maueacutes foi residecircncia missionaacuteria mas

natildeo permanente dos padres pois os mesmos residiam mais em Tupinambarana (rio

Amazonas) atual Parintins e visitavam Maueacutes temporariamente

A etnia Satereacute-Maweacute sofreu muitas mudanccedilas de localidades devido muitos fatores

que contribuiacuteram para o deslocamento desse povo segundo explica Lorez apud Teixeira

(2005 p21)

Devido agraves guerras com os Munduruku e Parintintim e ao contato com os

portugueses os Satereacute-Maweacute perderam grande parte de seu territoacuterio original Em

1691 os Maweacute surgem na cartografia regional com o nome de Mabueacute(mapa do

Padre Samuel Fritz) Missotildees foram localizadas para os iacutendios Magueacute denominadas

Satildeo Joatildeo (Pinhel) e Santo Inaacutecio (Boim) Posteriormente em 1835 lutando ao lado

dos Munduruku e dos Mura como tambeacutem de outras tribos indiacutegenas do rio Negro

os Satereacute-Maweacute aderiram ao movimento cabano ateacute que em 1839 o conflito foi

debelado Devido agraves epidemias agraves lutas e agraves perseguiccedilotildees aos povos indiacutegenas que

combatiam ao lado dos cabanos enormes aacutereas da Amazocircnia foram devastadas o

que provocou deslocamentos desses grupos populacionais de seus territoacuterios

ancestrais e de populaccedilatildeo Segundo relatos de viajantes desde o seacuteculo XVIII o

territoacuterio dos Satereacute-Maweacute vem sendo paulatinamente reduzido Essa reduccedilatildeo se

deu a partir das tropas de resgate que penetraram grandes aacutereas da Amazocircnia da

implantaccedilatildeo de missotildees jesuiacutetas e carmelitas ao longo dos principais rios

13

Dom Arcacircngelo Bispo Prelado de Parintins de 1980

36

amazocircnicos da ldquobusca desenfreadardquo das drogas do sertatildeo com a exploraccedilatildeo da

borracha durante o seacuteculo XIX e iniacutecio do XX e por fim da ldquoexpansatildeo econocircmica

das cidades de Maueacutes Barreirinha Parintins e Itaituba para o interior dos

municiacutepios alocando fazendas extraindo pau-rosa abrindo garimpos dominando a

economia indiacutegena atraveacutes de regatotildeesrdquo As cidades de Maueacutes Parintins e Itaituba

inclusive foram fundadas sobre restos de malocas dos Satereacute-Maweacute

Cerqua (1980 p265) destaca a localizaccedilatildeo dessa tribo delimitando que ldquoA tribo estaacute

localizada em sua maioria no Alto Andiraacute e no Marau afluente do Rio Maueacutes e sua aacuterea de

cerca de 639500 ha foi demarcada pelo Decreto nordm 76999rdquo Atualmente segundo Teixeira

(apud ALVAREZ 2009) os Satereacute-Maweacute hoje satildeo grupos de 8500 indiacutegenas dos quais 7502

moram na terra indiacutegena Andiraacute-Marau nos municiacutepios de Barreirinha Maueacutes e Parintins e

aproximadamente mil residem em aacutereas urbanas destes municiacutepios Sendo que outro grupo

vive na terra indiacutegena Coataacute-Laranjal junto ao grupo Munduruku e no municiacutepio de Borba

Uggeacute (1993) comenta que os Satereacute-Maweacute sempre tiveram vontade de manter a

proacutepria identidade tribal contudo eram carentes de apoio praacutetico para ajudaacute-los a enfrentar o

perigo do mundo moderno que tentavam ldquoinvadi-losrdquo Ou seja manipulaccedilotildees externas entre a

lideranccedila indiacutegenas dos Satereacute-Maweacute o alcoolismo a dependecircncia a violecircncia dos ldquobrancosrdquo

eram os maiores perigos para este povo Satereacute-Maweacute

Poreacutem o foco de resistecircncia manteve vivo no povo Satereacute aspectos culturais

importantes como o ritual da tucandeira O ritual eacute um marco na vida dos homens porque satildeo

chamados pela formiga (tucandeira) caso o indiacutegena natildeo atenda o chamado a formiga o

levaraacute a loucura ateacute chegar agrave morte A tucandeira eacute uma divindade muito respeitada pelos

Satereacute-Maweacute Em determinado momento da histoacuteria do povo Satereacute-Maweacute o ritual da

tucandeira chegou ao ponto de natildeo ser mais praticado em decorrecircncia da imposiccedilatildeo religiosa

mas apoacutes perceberam a grande perda cultural que isso representaria voltaram a praticaacute-lo a

recuperando como parte de sua cultura

22 Classificaccedilatildeo da liacutengua Satereacute-Maweacute

Segundo Teixeira (2005) a anaacutelise da situaccedilatildeo linguiacutestica do povo Satereacute-Maweacute

baseia-se na concepccedilatildeo defendida por antropoacutelogos e linguistas que a liacutengua se configura

como um importante instrumento da cultura e da identidade de uma populaccedilatildeo

A populaccedilatildeo indiacutegena Satereacute-Maweacute pertence vaacuterios aspectos agrave famiacutelia Linguiacutestica

Tupi Rodrigues (apud ALVAREZ 2009 p17) aborda que a liacutengua da tribo Satereacute-Maweacute eacute a

37

uacutenica liacutengua de uma famiacutelia do tronco Tupi E sua classificaccedilatildeo linguiacutestica como pertencente

ao tronco Tupi foi dada pelo etnoacutegrafo Curt Nimuendajuacute (1948)

A liacutengua Satereacute-Maweacute integra o tronco linguiacutestico Tupi Segundo o etnoacutegrafo Curt

Nimuendajuacute (1948) ela difere do Guarani-Tupinambaacute Os pronomes concordam

perfeitamente com a liacutengua Curuaya-Munduruku e a gramaacutetica ao que tudo indica

eacute tupi O vocabulaacuterio Maweacute conteacutem elementos completamente estranhos ao Tupi

mas natildeo pode ser relacionada a nenhuma outra famiacutelia linguiacutestica Desde o seacuteculo

XVIII seu repertoacuterio incorporou numerosas palavras da liacutengua geral

Os homens atualmente satildeo biliacutengues falando o Satereacute-Maweacute e o portuguecircs mas a

maioria das mulheres apesar de trecircs seacuteculos de contato com os brancos soacute fala a

liacutengua Satereacute-Maweacute (TEIXEIRA 2005 p95)

A liacutengua Satereacute-Maweacute eacute falada tradicionalmente por quase todas as comunidades haacute

mais de 300 anos entretanto foi inevitaacutevel para os indiacutegenas Satereacute-Maweacute conhecer os

haacutebitos e a liacutengua portuguesa devido agrave invasatildeo dos europeus em suas terras no seacuteculo passado

o que causou a mistura de liacutenguas e consequentemente as influecircncias dos padrotildees culturais

natildeo indiacutegenas

Os Satereacute-Maweacute foram entatildeo forccedilados a se refugiarem nas zonas urbanas e ateacute mesmo

em outros estados Outro impacto que alterou o modo de falar dos liacutederes indiacutegenas foi a

necessidade de buscar apoio logiacutestico para suas comunidades principalmente para tratar da

sauacutede de sua populaccedilatildeo que sofria de doenccedilas como malaacuteria tuberculose sarampo e outras

por eles desconhecidas que causaram muitas mortes

Desta forma com o passar dos anos a liacutengua Satereacute-Maweacute sofreu influecircncias lexicais

e fonoloacutegicas do Nheengatu na regiatildeo do Andiraacute Pesquisas realizadas recentemente por

Teixeira (2005) delimitam um perfil linguiacutestico que permite conhecer um pouco mais da

cultura linguiacutestica Satereacute-Maweacute sendo esta considerada por meio da distribuiccedilatildeo geograacutefica e

etaacuteria dos que falam e natildeo falam o idioma Satereacute-Maweacute Desta feita segundo o autor

O idioma Satereacute-Maweacute eacute mais falado na aacuterea do Marau que nas demais (Andiraacute

Uaicurapaacute e Koataacute-Laranjal) Tanto na aacuterea do Andiraacute como no Marau o idioma

materno eacute falado por praticamente todas as comunidades situadas proacuteximo agraves

cabeceira dos rios (Alto Andiraacute e Alto Marau) Para as aacutereas mais proacuteximas das

cidades os falantes atingem a quase totalidade dos moradores do Baixo Marau Jaacute

no baixo Andiraacute esse nuacutemero aumenta bastante nas duas comunidades mais

proacuteximas de Parintins e Barreirinha ou seja Ponta Alegre e Guaranatuba As aacutereas

de povoamento mais recente (Uaicurapaacute Koataacute-Laranjal e mais duas no Andiraacute) tecircm

tendecircncia a apresentar proporccedilotildees menores de falantes do idioma Satereacute-Maweacute

(ibid p95)

38

O autor esclarece que moradores em terras indiacutegenas satildeo mais falantes da Liacutengua

Satereacute-Maweacute do que os que moram proacuteximo ou dentro da aacuterea urbana A pesquisa ainda

mostra agrave necessidade de sensibilizar a comunidade indiacutegena Maweacute sobre a importacircncia da

valorizaccedilatildeo de sua liacutengua agrave recuperaccedilatildeo de suas memoacuterias histoacutericas e a reafirmaccedilatildeo de suas

identidades eacutetnicas

221 Contexto educacional escolar entre os Satereacute-Maweacute

O contexto educacional Satereacute-Maweacute tem como base o reconhecimento constitucional

fundamentado na legislaccedilatildeo em vigor segundo a qual ldquosatildeo reconhecidos aos iacutendios sua

organizaccedilatildeo social costumes liacutenguas crenccedilas e tradiccedilotildees []rdquo

Por isso fundamentos gerais da educaccedilatildeo escolar indiacutegena baseiam-se na proposta do

Referencial Curricular Nacional para Escolas Indiacutegenas (1998) que contempla

Multietnicidade pluralidade e diversidade 2 Educaccedilatildeo e conhecimentos indiacutegenas 3

Autodeterminaccedilatildeo 4 Comunidade educativa indiacutegena 5 Educaccedilatildeo intercultural

comunitaacuteria especiacutefica e diferenciada Assim

Parte do sistema nacional de educaccedilatildeo a escola indiacutegena eacute um direito que deve ser

assegurado por uma nova poliacutetica puacuteblica a ser construiacuteda atenta e respeitosa frente

ao patrimocircnio linguiacutestico cultural e intelectual dos povos indiacutegenas Esse esforccedilo

de projetar uma nova educaccedilatildeo escolar indiacutegena soacute seraacute realmente concretizado com

a participaccedilatildeo direta com os principais interessados ndash os povos indiacutegenas atraveacutes de

suas comunidades educativas [] A participaccedilatildeo da comunidade no processo

pedagoacutegico da escola fundamentalmente na definiccedilatildeo dos objetivos dos conteuacutedos

curriculares e no exerciacutecio das praacuteticas metodoloacutegicas assume papel necessaacuterio para

a efetividade de uma educaccedilatildeo especifica e diferenciada (ibid p24)

Poreacutem para que de fato seja garantida uma educaccedilatildeo diferenciada natildeo eacute suficiente

que somente os conteuacutedos sejam ensinados atraveacutes do uso das liacutenguas maternas mas se faz

necessaacuterio que se incluam os conteuacutedos curriculares propriamente indiacutegenas assim como os

modos proacuteprios de transmissatildeo deste saber Em pesquisa realizada pela revista Amazocircnia

(AMAZONAS 2000) intitulada como ldquoA silenciosa revoluccedilatildeo dos Iacutendiosrdquo o povo Satereacute-

Maweacute foi considerada um dos melhores exemplos para se falar em educaccedilatildeo indiacutegena Tal

afirmaccedilatildeo foi proferida pelo antropoacutelogo Ademir Ramos (professor da Universidade do

Estado do Amazonas) Segundo o entrevistado a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 mudou a

postura em relaccedilatildeo aos iacutendios estabelecendo um processo de educaccedilatildeo diferenciada que

39

fomenta o orgulho de aprender sua lingua tambeacutem no ambiente escolar possibilitando relatos

como o transcrito abaixo

Alunos como Dati 11 da aldeia de Molongotuba carregam com orgulho a cartilha

bdquoMoweeghap onde estatildeo registrados escritos ndash liacutengua Satereacute do tronco tupi e

desenhos de situaccedilotildees do cotidiano das aldeias falando de peixes aves aacutervores e

animais A liacutengua o menino aprendeu a falar com os pais e depois na escola onde

haacute quatro anos aprendeu a escrevecirc-la Aleacutem disso ele tem aprendido tambeacutem a

bdquoliacutengua dos brancos‟

Ainda sobre a importacircncia desta perspectiva educacional em nota o vice-presidente

da organizaccedilatildeo dos professores indiacutegenas Satereacute Gecinaldo Cabral comentou sobre a

mesma enfatizando a relevacircncia do processo educacional na vida dos iacutendios da tribo Satereacute

que por serem biliacutengues satildeo capazes de expressarem e defenderem o seu povo Portanto ao

ensinar a liacutengua nativa agraves crianccedilas promovem o resgate da cultura tradiccedilatildeo e conhecimentos

indiacutegenas Uma educaccedilatildeo diferenciada natildeo resumida na liacutengua majoritaacuteria ou seja Liacutengua

Portuguesa mas na liacutengua proacutepria das etnias E desta forma sendo respeitada a diversidade

cultural de cada povo

Nesta perspectiva Teixeira (2005) em sua pesquisa descreve que a realidade do

contexto educacional escolar do povo Satereacute-Maweacute explicando que

O quadro situacional dos Satereacute-Maweacute no que concerne agrave escolarizaccedilatildeo e agrave

escolaridade apresenta elementos que devem ser entendidos natildeo soacute como resultado

da aplicaccedilatildeo de poliacuteticas educacionais mas tambeacutem como explicitaccedilatildeo de estrateacutegias

poliacuteticas usadas pelos iacutendios na negociaccedilatildeo de visibilidade e reconhecimento no

espaccedilo puacuteblico brasileiro A busca dos Satereacute-Maweacute por escola explicitada na

forma de documentos reivindicatoacuterios enviados ao poder puacuteblico solicitando

recursos para suas escolas demonstrarem os conhecimentos escolares e a

certificaccedilatildeo que a escolaridade concede importantes instrumentos de luta no

processo histoacuterico de construccedilatildeo de sua identidade cultural e de desenvolvimento de

seus projetos sociais (ibid p103)

O autor tambeacutem evidecircncia que a escolarizaccedilatildeo ainda natildeo estaacute alcanccedilando a totalidade

dos Satereacute-Maweacute sendo assim

[] com idade compreendida entre 7 e 24 anos nem nas aacutereas urbanas onde se

verifica o maior percentual de matriacuteculas (839) nem nas terras indiacutegenas (596)

Se forem consideradas as pessoas que tecircm entre 7 e 17 anos de idade os percentuais

sobem bastante mas ainda demonstram a falta de acesso da populaccedilatildeo satereacute-maweacute

agrave escola A pior situaccedilatildeo ocorre na aacuterea indiacutegena onde aproximadamente 13 dos

indiviacuteduos dessa faixa etaacuteria estatildeo fora da escola Na aacuterea urbana o percentual dos

que estatildeo fora eacute de 8 Aparentemente o elevado percentual de pessoas entre 7 e 17

40

anos de idade que estatildeo fora da escola em aacuterea indiacutegena deveria estar relacionado

com a ausecircncia de ensino fundamental de 4ordf a 8ordf seacuterie nas aldeias

No entanto isto eacute apenas uma parte da justificativa pois de 142 pessoas dessa faixa

etaacuteria que natildeo frequentam a escola apenas 32 (225) declararam ter concluiacutedo a

quarta seacuterie do ensino fundamental ou seja poderiam estar fora da escola por falta

do ensino de 5ordf a 8a seacuterie na aacuterea indiacutegena Aleacutem disso 148 crianccedilas entre 7 e 14

anos de idade natildeo frequentam a escola significando que haacute problemas na oferta de

vagas para as crianccedilas satereacute-maweacute na aacuterea indiacutegena Dessas crianccedilas mais da

metade se concentra em apenas 14 aldeias22 das quais 4 compreendendo as

pequenas comunidades de Satildeo Luiacutes Limoal Tigre a Arumatuba no Andiraacute natildeo tecircm

nenhuma crianccedila estudando Na aldeia de Tabatinga no Andiraacute apenas uma das

cinco crianccedilas moradoras estatildeo estudando e na de Santo Antocircnio tambeacutem no

Andiraacute 12 entre 16 crianccedilas de 7 a 14 anos natildeo frequentam a escola(TEIXEIRA

2005 p 104)

Segundo o autor nas cidades de Maueacutes Parintins e Barreirinha a escola frequentada

pelos Satereacute-Maweacute natildeo se define como escola indiacutegena nem tatildeo pouco como especiacutefica ou

diferenciada Talvez seja uma realidade encontrada em todas as escolas indiacutegenas no

Amazonas O que se configura em um problema na medida em que segundo Sobrinho

(2011) a escola esta definida a partir de um modelo da ldquoescola dos brancosrdquo que certamente

altera interferindo diretamente nas questotildees culturais que fazem parte do universo desses

povos gerando assim processo de exclusatildeo O autor ainda comenta que

mesmo diante da resoluccedilatildeo nordm 112011 do Conselho Estadual de Educaccedilatildeo que traz

garantias aos indiacutegenas independentemente de onde vivam ao respeito a sua liacutengua

conhecimentos e tradiccedilotildees proacuteprias nas escolas essa lei passa completamente

despercebida (ibid p 209)

Sobre a questatildeo Teixeira (2005) menciona que nas terras indiacutegenas onde estaacute em

curso a criaccedilatildeo da escola indiacutegena com educaccedilatildeo escolar especiacutefica e diferenciada - as taxas

de escolarizaccedilatildeo deixam evidente que o poder puacuteblico tem investido somente nas seacuteries

iniciais do ensino fundamental o qual apresenta o percentual de 871 de taxa liacutequida de

escolarizaccedilatildeo ou seja natildeo haacute oferta regular para as seacuteries finais do ensino fundamental nem

de ensino meacutedio Isso sem relatar a falta de formaccedilatildeo de professores indiacutegenas entre outros

fatores conforme Franceschini apresenta

A necessidade de formaccedilatildeo especiacutefica e diferenciada de nuacutemero maior de

professores principalmente para atuar nos segmentos mais adiantados do Ensino

Fundamental a implantaccedilatildeo de mais turmas de 6ordm ao 9ordm anos e do Ensino Meacutedio na

aacuterea indiacutegena construccedilatildeo-reflexatildeo do Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico das escolas

Satereacute-Maweacute associada a uma praacutetica pedagoacutegica condizente e a construccedilatildeo de

material didaacutetico proacuteprio satildeo necessidades urgentes do povo Satereacute-Maweacute Pois

apesar da legislaccedilatildeo vigente dar aos indiacutegenas o direito de escolherem seu modelo

educacional e ensinarem sua liacutengua e etnoconhecimentos na maioria das escolas das

41

comunidades Satereacute-Maweacute o modelo educacional adotado natildeo se diferencia muito

do modelo das escolas rurais da regiatildeo sendo que a liacutengua e os etnoconhecimentos

indiacutegenas natildeo constituem de fato conhecimentos que fazem parte do programa

educacional e que satildeo trabalhados de forma sistemaacutetica na escola (2012 p5)

Portanto os resultados apresentados pelo pesquisador comprovam que as accedilotildees

governamentais para educaccedilatildeo escolar indiacutegena estatildeo distantes de cumprir na sua plenitude

preceitos constitucionais o que implica em prejuiacutezo natildeo soacute na educaccedilatildeo escolar indiacutegena

como na proacutepria cultura desse povo

42

3 METODOLOGIA IMPLEMENTADA NA PESQUISA

A metodologia utilizada neste trabalho deu iniacutecio com o estudo bibliograacutefico e

pesquisa de campo Realizou-se uma investigaccedilatildeo primeiramente sobre os estudos surdos na

perspectiva linguiacutestica e cultural a posteriormente na literaturas e estudos sobre os iacutendios da

etnia Satereacute-Maweacute tomando como princiacutepio a origem os fundamentos e a histoacuteria do povo e

da Liacutengua Satereacute-Maweacute Na sequecircncia a concretizaccedilatildeo da pesquisa de campo com a

investigaccedilatildeo do objeto de estudo o iacutendio surdo e sua situaccedilatildeo sociolinguiacutestica da etnia Satereacute-

Maweacute

Figura 1 ndash Croqui da aacuterea e localidade da pesquisa

Fonte Mapa do Estado do Amazonas Censo 2010 ndash IBGE

Organizado por Vicente de Paulo Silva de Azevedo

31 Aacuterea e localidade da pesquisa

A proposta do processo investigativo para o mapeamento do objeto da pesquisa foi

demarcada delimitando a aacuterea do campo da pesquisa a Microrregiatildeo de Parintins A

Microrregiatildeo de Parintins (AMAZONAS 2012) eacute constituiacuteda por Barreirinha Boa Vista do

Ramos Maueacutes Nhamundaacute Parintins Satildeo Sebastiatildeo do Uatumatilde e Urucaraacute Vale ressaltar que

natildeo foi coberta pela pesquisa a populaccedilatildeo Satereacute-Maweacute residente em Manaus (AM)

43

32 Estrateacutegias gerais para a realizaccedilatildeo da coleta de dados

Primeiramente foi feita uma busca de dados pelo IBGE o qual informou que natildeo

havia qualquer registro sobre a populaccedilatildeo indiacutegena de surdos Sem resultado satisfatoacuterio foi

organizado um cronograma de viagens

A primeira viagem foi para o municiacutepio de Parintins onde foi feita uma visita na casa

de um iacutendio para possiacutevel coleta de dados Poreacutem o cacique Sr Luiz de Oliveira infelizmente

tambeacutem comunicou a falta desse dado na comunidade Portanto foi exposto a esse liacuteder o

objetivo da referida pesquisa apresentando assim a importacircncia da comunicaccedilatildeo entre os

seres humanos e interaccedilatildeo entre os diferentes modos linguiacutesticos de convivecircncia social e

educacional

O cacique prontamente mostrou-se aberto a contribuir para que a pesquisa fosse

concretizada Assim sendo iniciou-se a trajetoacuteria do levantamento de iacutendios surdos e sua

forma de comunicaccedilatildeo como tambeacutem seu contexto educacional escolar

Ao retornar a Manaus buscou-se apoio agraves instituiccedilotildees representativas com a visita agrave

sede da Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio ndash FUNAI oacutergatildeo responsaacutevel pelas accedilotildees indiacutegenas a

qual informou que se fazia necessaacuterio uma autorizaccedilatildeo para dar seguimento agrave pesquisa Logo

providecircnciou-se o documento requerido na Coordenaccedilatildeo de Educaccedilatildeo Indiacutegena localizada no

municiacutepio de Barreirinha

Ao chegar agrave cidade de Barreirinha um novo contato foi estabelecido com o

Coordenador indiacutegena o Sr Santino Lopes de Oliveira que se mostrou receptivo com o

projeto e se dispocircs prontamente a colaborar

Com a autorizaccedilatildeo e aprovaccedilatildeo das autoridades indiacutegenas e de posse do documento

houve o comprometimento de que seguiria as normas estabelecidas que disciplinam o

ingresso em terras indiacutegenas pela entidade (ANEXO A) Assim foi possiacutevel sistematizar os

procedimentos para a coleta de dados

33 Procedimentos da coleta

A coleta de dados foi realizada de acordo com o cronograma estabelecido para esta

etapa da pesquisa O procedimento metodoloacutegico usado para a coleta de dados foi

fundamentado em meacutetodo misto por meio de observaccedilotildees questionamento participaccedilotildees em

reuniotildees com representantes da lideranccedila indiacutegena local conversas informais e espontacircneas

44

com famiacutelias e comunidade indiacutegena Satereacute-Maweacute Utilizou-se como instrumento para

coleta caderno de registro de campo fotos filmagens gravaccedilotildees e questionaacuterio (ANEXO B)

34 Articulaccedilatildeo local

O primeiro passo foi estabelecer parcerias com colaboradores ou seja lideranccedilas

indiacutegenas professores indiacutegenas professores da rede puacuteblica inteacuterpretes oacutergatildeos ligados agraves

causas indiacutegenas alunos da Universidade do Estado Amazonas As instituiccedilotildees

representativas educacionais tambeacutem colaboraram telefonando ou perguntando para outras

pessoas sobre a existecircncia de indiacutegenas surdos e locais de suas residecircncias

A participaccedilatildeo das lideranccedilas indiacutegenas como os professores e colaboradores que

apoiaram e permitiram entrar em suas terras para fazer o levantamento foi de extrema

importacircncia pois muito contribuiacuteram nas traduccedilotildees das palavras indiacutegenas para a Liacutengua

Portuguesa

35 Abordagem ao objeto da pesquisa

Em cada viagem agraves comunidades primeiramente fazia-se contato com o tuxaua com

a finalidade de apresentar o objetivo da pesquisa Desta forma era explicado para eles a

importacircncia da contribuiccedilatildeo que o estudo poderia trazer agravequela comunidade Por meio da

autorizaccedilatildeo concedida obtinha-se a colaboraccedilatildeo para a coleta de dados junto ao objeto da

pesquisa Jaacute as abordagens feitas em ambiente familiar tambeacutem era solicitado o consentimento

para a realizaccedilatildeo da pesquisa Com permissatildeo concedida iniciamos as observaccedilotildees e

intervenccedilotildees Com devida autorizaccedilatildeo utilizaacutevamos para registro cacircmeras fotograacuteficas e em

seguida registraacutevamos no caderno de campo da pesquisa (ANEXO CC-1 e C-2)

45

4 MAPEAMENTO DOS IacuteNDIOS SURDOS DA ETNIA SATEREacute-MAWEacute NA

MICRORREGIAtildeO DE PARINTINS E SUA REALIDADE LINGUIacuteSTICA E

EDUCACIONAL ESCOLAR

No Brasil haacute uma diversidade de etnias indiacutegenas Rodrigues (2002) satildeo mais de 170

liacutenguas faladas e dialetos pelos povos indiacutegenas Estas liacutenguas satildeo distribuiacutedas em dois

grandes troncos linguiacutesticos

[] o Tupi (dividido em 10 famiacutelias) e o Macro-Jecirc (dividido em 9 famiacutelias) e de

outras 20 famiacutelias linguumliacutesticas natildeo classificadas em troncos Apenas nove liacutenguas

indiacutegenas tecircm acima de 5000 falantes guajajara (satereacute-) maueacute xavante

ianomacircmi terena macuxi caingangue ticuna e guarani estes uacuteltimos com 30000

indiviacuteduos Cerca de 110 liacutenguas contam com menos de 400 falantes 14

Entretanto em meio a essa diversidade linguiacutestica poucos satildeo documentados

Pesquisadores e grupos indiacutegenas tentam um reavivamento eacutetnico e linguiacutestico

documentando-os para salvar sua liacutengua seu idioma

Diante do exposto a uacutenica liacutengua de sinais indiacutegena registrada eacute a utilizada pela etnia

indiacutegena brasileira dos Urubu-Kaapor como jaacute mencionada anteriormente Pesquisas no Mato

Grosso do Sul em aldeias indiacutegenas apresentaram a existecircncia de iacutendios surdos que utilizam

sinais emergentes ainda natildeo registrados propriamente como uma liacutengua

Pouco registro tem-se encontrado sobre iacutendios surdos muito menos sobre a liacutengua ou

a forma desses sujeitos se comunicarem De acordo com dados do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatiacutestica (IBGE) natildeo haacute registros sobre iacutendios surdos nem no Anuaacuterio

Estatiacutestico do Amazonas do IBGE tatildeo pouco na Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio (FUNAI)

sendo portanto necessaacuteria uma pesquisa in loco para a busca desses dados

Eacute importante destacar que a pessoa surda natildeo nasce com a incapacidade de falar ou

seja a pessoa surda natildeo eacute muda natildeo fala por natildeo poder ouvir a ldquo[] A surdez natildeo estaacute

absolutamente vinculada agrave mudez []rdquo (RAMOS apud STROBEL 2008 p34)

Por isso as teorias da aquisiccedilatildeo da linguagem humana justificam como o ser humano

(re)inventa modos para expressar suas necessidades e formas de ver o mundo realizando a

comunicaccedilatildeo com seus pares

14

Classificaccedilatildeo das Liacutenguas Indigenas Brasileiras segundo Aryon Rodrigues (2002) Disponiacutevel em

lthttpwwwgeocitieswsindiosbr_nicolaiclassifhtmlgt

46

Partindo dessa percepccedilatildeo este estudo apresenta uma contribuiccedilatildeo de informaccedilotildees

cientiacuteficas que seratildeo um acreacutescimo aos conhecimentos existentes sobre a comunicaccedilatildeo dos

surdos indiacutegenas

41 Mapeamento da existecircncia dos iacutendios surdos na microrregiatildeo de Parintins

Conhecer os indiviacuteduos sujeitos da pesquisa ndash iacutendios surdos Satereacute-Maweacute - eacute a fase

fundamental deste estudo pois dessa forma eacute possiacutevel compreender a forma predominante de

comunicaccedilatildeo deles para poder elaborar material concreto ndash dicionaacuterio triliacutengue - pertinente

para auxiliar na forma da comunicaccedilatildeo deles com a sua etnia atraveacutes da liacutengua desse povo

indiacutegena Nesta seccedilatildeo estatildeo apresentados os dados que constituem um mapeamento da

quantidade de indiviacuteduos surdos que estatildeo inseridos no contexto de Parintins Barreirinha

Boa Vista do Ramos e Maueacutes locais estes onde haacute maior contato com etnia foco deste estudo

Abaixo segue o histoacuterico do municiacutepio de Parintins e demais microrregiotildees citadas na

pesquisa15

411 Histoacuterico de Parintins

Parintins eacute um municiacutepio brasileiro situado no interior do estado do Amazonas

proacuteximo agrave divisa com o estado do Paraacute Regiatildeo Norte do paiacutes Estaacute situado na mesorregiatildeo do

Centro Amazonense e microrregiatildeo de mesmo nome e localiza-se a leste da capital do estado

distando desta cerca de 370 quilocircmetros Com uma populaccedilatildeo estimada em 2012 pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 103 828 habitantes sendo o segundo

mais populoso do estado do Amazonas que tem uma aacuterea de 5 952 kmsup2 representando

03789 do Estado do Amazonas 01545 da regiatildeo Norte brasileira e 00701 do territoacuterio

brasileiro8

Desse total 12 4235 kmsup2 estatildeo em periacutemetro urbano

O municiacutepio de Parintins como quase todos os demais municiacutepios brasileiros foi

primitivamente habitado por indiacutegenas Sua descoberta ocorreu em 1749 quando descendo o

rio Amazonas o explorador Joseacute Gonccedilalves da Fonseca notou uma ilha que por sua extensatildeo

se sobressaiacutea das outras localizadas agrave direita do grande rio As primeiras viagens exploratoacuterias

da Coroa Portuguesa em Parintins foram registradas somente em 1796 A fundaccedilatildeo da

15

O histoacuterico de Parintins e demais microrregiotildees estatildeo disponiacuteveis no site lthttpptwikipediaorgwiki_Parintinsgt

47

localidade em 1796 foi feita por Joseacute Pedro Cordovil que veio com seus escravos e

agregados para se dedicar agrave pesca do pirarucu e agrave agricultura chamando-a Tupinambarana A

rainha D Maria I deu-lhe a ilha de presente Ali instalado fundou uma fazenda de cacau

dedicando-se agrave cultura desse produto em grande escala Tupinambarana foi aceita e elevada agrave

missatildeo religiosa em 1803 pelo capitatildeondashmor do Paraacute o Conde dos Arcos que incumbiu sua

direccedilatildeo ao frei Joseacute das Chagas passando a ser denominada como a Vila Nova da Rainha

O primeiro nome recebido por Parintins jaacute na categoria de Freguesia foi Nossa

Senhora do Carmo de Tupinambarana em 1833 O nome da Freguesia soacute foi alterado em

1880 quando a sede passou a chamar-se ldquoParintinsrdquo em homenagem aos povos indiacutegenas

Parintintins um dos inuacutemeros que habitavam a regiatildeo

A eficiente atuaccedilatildeo de frei Joseacute provocou um surto de progresso e desenvolvimento na

localidade mediante a organizaccedilatildeo da comarca do Alto Amazonas Em 25 de julho de 1833

passa agrave freguesia com o nome de Freguesia de Nossa Senhora do Carmo de Tupinambarana

Era ainda Tupinambarana simples freguesia quando iniciou a revoluccedilatildeo dos Cabanos no Paraacute

e se alastrou por toda a proviacutencia O seu vigaacuterio padre Torquato Antocircnio de Souza teve

atuaccedilatildeo destacada durante a sediccedilatildeo servindo de delegado dos legalistas no Baixo Amazonas

Tupinambarana talvez porque estivesse bem defendida foi poupada aos ataques dos

Cabanos

Em 24 de outubro de 1848 a lei provincial do Paraacute nordm 146 elevou a freguesia agrave

categoria de vila com a denominaccedilatildeo de Vila Bela da Imperatriz e constituiu o municiacutepio ateacute

entatildeo ligado a Maueacutes Em 15 de outubro de 1852 pela lei nordm 02 foi confirmada a criaccedilatildeo do

municiacutepio Em 14 de marccedilo de 1853 deu-se a instalaccedilatildeo do municiacutepio de Parintins Em 24 de

agosto de 1858 foi criada pela lei provincial a comarca compreendendo os termos judiciaacuterios

de Vila Bela da Imperatriz e Vila Nova da Conceiccedilatildeo Em 30 de outubro de 1880 pela lei

provincial nordm 499 a sede do municiacutepio recebeu foros de municiacutepio e passou a denominar-se

Parintins Em 1881 foi desmembrado do municiacutepio de Parintins o territoacuterio que constituiu o

municiacutepio de Vila Nova de Barreirinha

A divisatildeo administrativa de 1911 figurou o municiacutepio com quatro distritos Parintins

Paranaacute de Ramos Jamundaacute e Xibuiacute Em 1933 aparece no quadro da divisatildeo administrativa

com um distrito apenas ndash o de Parintins Em 1 de dezembro de 1938 pelo decreto-lei estadual

nordm 176 eacute criado o distrito da Ilha das Cotias passando assim o municiacutepio a constituir-se de

dois distritos Parintins e Ilha das Cotias

Pela lei estadual nordm 226 de 24 de agosto de 1952 a comarca de Parintins perdeu os

termos judiciaacuterios de Barreirinha e Urucaraacute que foram transformados em comarcas Em 19 de

48

dezembro de 1956 a lei estadual nordm 96 desmembrou o municiacutepio de Parintins o distrito da

Ilha das Cotias que passou a constituir o municiacutepio de Nhamundaacute Em 10 de dezembro de

1981 a emenda constitucional nordm 12 eacute acrescido o territoacuterio de Parintins ao distrito de

Mocambo

O primeiro municiacutepio pesquisado eacute considerado o centro da microrregiatildeo Parintins

Segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 2103 a

populaccedilatildeo eacute de 109225 habitantes16

nesta localidade A Microrregiatildeo de Parintins eacute uma das

microrregiotildees do estado brasileiro do Amazonas pertencente agrave Mesorregiatildeo do Centro

Amazonense Estaacute dividida em sete municiacutepios Barreirinha Boa Vista do Ramos Maueacutes

Nhamundaacute Parintins Satildeo Sebastiatildeo do Uatumatilde e Urucaraacute De acordo com estimativas do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) a populaccedilatildeo da microrregiatildeo era de 262

719 habitantes em 2013

Seus municiacutepios limiacutetrofes satildeo Nhamundaacute ao norte Barreirinha ao sul Urucurituba ao

leste e os municiacutepios de Terra Santa e Juruti no estado do Paraacute O limite territorial entre

Parintins e Nhamundaacute se inicia na margem esquerda do rio Amazonas subindo este rio ateacute a

Barreira do Pauraacute A Serra de Parintins eacute usada para delimitar o fim dos limites territoriais

deste municiacutepio com Nhamundaacute Para delimitar os limites territoriais entre Parintins e

Barreirinha usa-se o divisor de aacuteguas dos rios Andiraacute-Uaicuparaacute juntamente com a linha

geodeacutesica que limita os estados do Amazonas e Paraacute Jaacute os limites territoriais com

Urucurituba satildeo iniciados no lago Arapapaacute no Paranaacute de Urucurituba Com o Estado do Paraacute

o limite tem iniacutecio na boca do igarapeacute do Valeacuterio na margem direita do rio Amazonas

Parintins eacute uma cidade marcada pelos traccedilos culturais poliacuteticos e econocircmicos

herdados dos portugueses espanhoacuteis italianos e tambeacutem dos japoneses tendo em vista que a

cidade possuiu uma relevante colocircnia destes imigrantes Natildeo se pode esquecer a importacircncia

dos ameriacutendios no quesito contribuiccedilatildeo eacutetnica Foram os ameriacutendios que iniciaram a ocupaccedilatildeo

humana na Amazocircnia e seus descendentes caboclos desenvolveram-se em contato iacutentimo com

o meio ambiente adaptando-se agraves peculiaridades regionais e oportunidades oferecidas pela

floresta

A cidade eacute um importante centro educacional de niacutevel meacutedio e superior do Estado do

Amazonas A cidade possui um dos mini-campus do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)

que oferece cursos em diferentes niacuteveis ensino meacutedio e ensino teacutecnico

16

Disponiacutevel emlthttpcidadesibgegovbrxtrastemasamazonas|parintins|estimativa-da-populacao-2013gt

Acesso em 28072014

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Universidades puacuteblicas

- Universidade do Estado do Amazonas (UEA) eacute uma instituiccedilatildeo puacuteblica estadual de

ensino superior que oferece mais de vinte cursos distribuiacutedos em dezessete cidades

amazonenses (Parintins Manaus Presidente Figueiredo Itacoatiara Carauari Tabatinga

Tefeacute Laacutebrea Boca do Acre Coari Eirunepeacute Humaitaacute Manicoreacute Manacapuru Novo

Aripuanatilde Maueacutes e Satildeo Gabriel da Cachoeira) Foi criada pela lei estadual nordm 2637 de 12 de

janeiro de 2001 que proporcionou agraves fundaccedilotildees educacionais de ensino superior instituiacutedas

pelo Estado Em Parintins o Centro de Estudos Superiores (UEA) possui os cursos

Pedagogia Histoacuteria Geografia Fiacutesica Matemaacutetica Letras Portuguesa Quiacutemica Ciecircncias

Bioloacutegicas Tecnologia em Turismo Direito Sauacutede Coletiva Ciecircncias Econocircmicas e

Tecnologia em Gestatildeo Puacuteblica

- Instituto Federal do Amazonas (IFAM) O Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e

Tecnologia do Amazonas foi criado mediante integraccedilatildeo do Centro Federal de Educaccedilatildeo

Tecnoloacutegica do Amazonas e das Escolas Agroteacutecnicas Federais de Manaus e de Satildeo Gabriel

da Cachoeira

- Universidade Federal do Amazonas (UFAM) Instalada no municiacutepio desde 2007

possui os seguintes cursos Serviccedilo Social Comunicaccedilatildeo Social - Jornalismo Administraccedilatildeo

Organizacional Pedagogia Zootecnia Educaccedilatildeo Fiacutesica e Artes Plaacutesticas

No setor de educaccedilatildeo e capacitamento profissional o municiacutepio aleacutem de dispor de

uma ampla rede de escolas (estaduais municipais e privadas) conta com um campus da

Universidade do Estado do Amazonas e algumas faculdades privadas com diversos cursos

superiores ofertados Dispotildee ainda de unidades do SENAI SENAC e SESI e em funccedilatildeo

disso os iacutendices de alfabetizaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo profissional dos municiacutepios estatildeo em

crescimento

A cidade de Parintins eacute o local onde foram feitos os contatos frequentes com os

indiacutegenas da etnia Satereacute-Maweacute porque buscam as casas bancaacuterias para receberem os

benefiacutecios sociais tambeacutem buscam as escolas com ensino de todos os niacuteveis inclusive as

universidades puacuteblicas para as crianccedilas e jovens Outro fator eacute que tem um comeacutercio

desenvolvido em que podem adquirir seus bens de consumo aleacutem de ser de faacutecil acesso aos

demais centros da regiatildeo e do paiacutes atraveacutes dos diferentes meios comunicaccedilatildeo e transporte

Por isso o mapeamento foi iniciado nesta regiatildeo

Apesar de ter um nuacutemero consideraacutevel de habitantes os oacutergatildeos ligados agrave causa

indiacutegena natildeo dispotildeem de dados informativos sobre o objeto da pesquisa em meio agrave estimativa

populacional do municiacutepio mesmo assim outro oacutergatildeo foi procurado para que pudesse

50

fornecer algum dado ligado ao sujeito surdo da etnia Satereacute-Maweacute A instituiccedilatildeo pesquisada

foi a Escola de Aacuteudio Comunicaccedilatildeo ldquoPadre Paulo Mannardquo Esta eacute uma instituiccedilatildeo educacional

mantida pela Diocese de Parintins por meio de sua atual gestora a Professora Zilda Tavares

Atraveacutes desta colaboradora foram coletadas informaccedilotildees sobre os alunos indiacutegenas surdos da

etnia Satereacute-Maweacute que ali estudam ou estudaram que satildeo a seguir descritas

Embora a escola tivesse o conhecimento da existecircncia de dois indiacutegenas surdos da

etnia Satereacute-Maweacute apenas um se encontra matriculado na escola Eacute uma menina de seis anos

de idade cursando o preacute-escolar Para informaccedilotildees consistentes foi solicitado o contato

tambeacutem com a famiacutelia da aluna Ao contatar os pais foi feita uma abordagem por meio de

questionaacuterio mas diante das dificuldades encontradas por natildeo serem alfabetizados na liacutengua

nativa nem na liacutengua Portuguesa os dados utilizados satildeo resultante de entrevistas

assistemaacuteticas (conversas informais)

Os familiares tecircm papeacuteis importantes na formaccedilatildeo da linguagem da crianccedila Eacute atraveacutes

deles que acontece a formaccedilatildeo da identidade social e cultural desse sujeito em

desenvolvimento Satildeo eles que repassam o modo de vida os costumes e outros aspectos

sociais com os seus exemplos e empreendendo a funccedilatildeo da linguagem verbal atraveacutes de

relaccedilotildees dialoacutegicas que ativam a percepccedilatildeo do ser em maturaccedilatildeo no meio familiar Na visatildeo

de Ponzio (et al 2007 p 177)

Uma das funccedilotildees da linguagem verbal eacute a identificaccedilatildeo identificaccedilatildeo dos objetos

mediante um processo de modelaccedilatildeo e de articulaccedilatildeo da realidade que varia de

liacutengua para liacutengua identificaccedilatildeo de sujeito enquanto falante do sujeito do discurso

do tema do outro ao qual esse discurso se dirige de uma espeacutecie de bdquoauditoacuterio

universal‟ a que de modo geral se recorre na argumentaccedilatildeo identificaccedilatildeo de uma

comunidade e da pertenccedila ou da natildeo pertenccedila a esta etc

Um resumo histoacuterico sobre a referida indiacutegena aponta que a famiacutelia residia na

comunidade indiacutegena Ponta Alegre no Rio Andiraacute municiacutepio de Barreirinha Migraram para

a zona urbana em busca de condiccedilotildees para uma melhor qualidade de vida Ao descobrirem a

surdez da filha mudaram-se para a cidade de Parintins Declararam que a forma de se

comunicarem com a filha eacute por meio de gestos criados pela famiacutelia e a crianccedila pois natildeo

sabem a Liacutengua de Sinais

Analisa-se neste contexto a situaccedilatildeo complexa pela qual essa famiacutelia passou para se

entender com a ela posto que se esperasse que a crianccedila dominasse o sistema linguiacutestico que

usam para a comunicaccedilatildeo com os pares atraveacutes da liacutengua natural da etnia Este eacute um fato que

ocorre com as famiacutelias onde natildeo existe o desenvolvimento natural da fala

51

Considere-se assim que a liacutengua eacute adquirida a qual se manifesta em todas as

circunstacircncias normais no conhecimento de uso em processo de audiccedilatildeo desde o nascimento

os quais vatildeo tomando forma de significante e significado enquanto se distingue cada unidade

lexical do todo que existe no meio onde se estaacute inserido Para Lyons ldquoo termo aquisiccedilatildeo da

linguagem eacute normalmente usado sem ressalvas para o processo que resulta no conhecimento

da liacutengua nativa (ou liacutenguas nativas)rdquo (1987 p 231)

Neste caso para a crianccedila em evidecircncia deveria ser propiciado o ensino da Libras

como liacutengua para mediar a comunicaccedilatildeo o mais breve possiacutevel na medida em que ela estaacute

com idade proacutexima da faixa etaacuteria limite de aquisiccedilatildeo sem acarretar prejuiacutezos para o seu

desenvolvimento conforme explica teoria gerativista17

da aquisiccedilatildeo da linguagem proposta

por Lennenberg (1967)

[] a existecircncia de um periacuteodo criacutetico para a quisiccedilatildeo da linguagem tendo como

pressuposto a ideia de que esta eacute inata O periacuteodo criacutetico se iniciaria por volta dos

dois anos e se encerraria por volta da puberdade Esse periacuteodo eacute chamado de criacutetico

porque seria aquele mais sensiacutevel agrave aquisiccedilatildeo da linguagem[] concluiacutendo que o

cereacutebro humano inicialmente tem representaccedilatildeo bilateral das funccedilotildees da linguagem

e mediante o processo de aquisiccedilatildeo na puberdade apenas o hemisfeacuterio se torna

mais dominante em relaccedilatildeo a elas completando o periacuteodo de aquisiccedilatildeo Caso a

crianccedilas natildeo adquira a linguagem nesse periacuteodo seu desenvolvimento linguiacutestico

seraacute prejudicado (apud QUADROS 2008 p 78)

Deste modo no caso a crianccedila surda esta precisa aprender a liacutengua nativa de uma

forma diferenciada adequando-se os siacutembolos agraves formas visuais se natildeo apresentar esta

carecircncia tambeacutem posto que a faculdade da linguagem do ser humano eacute inata conforme

Chomsky esclarece (apud PONZIO etal 2007)

Trata-se de determinar agrave natureza do patrimocircnio bioloacutegico que constitui a bdquofaculdade

da linguagem‟ do ser humano o componente inato do conjunto menteceacuterebro que

uma vez tendo entrado em contato com a experiecircncia linguiacutestica produz o

conhecimento da linguagem isto eacute converte a experiecircncia em um sistema de

conhecimento (p 143)

O segundo indiacutegena surdo da etnia Satereacute-Maweacute havia sido transferido da escola Padre

ldquoPaulo Mannardquo para a Escola Estadual ldquoBrandatildeo de Amorimrdquo Segundo as informaccedilotildees da

famiacutelia ele nasceu na aacuterea indiacutegena de Ponta Alegre Poreacutem quando pequeno sua famiacutelia se

17

A teoria gerativista pressupotildee a existecircncia de um mecanismo inato responsaacutevel pela aquisiccedilatildeo da linguagem

denominado Gramaacutetica Universal (GU) tendo como responsaacutevel por essa concepccedilatildeo que caracteriza-se pela

elucidaccedilatildeo da natureza das linguas naturais Chomsky

52

mudou para zona urbana de Parintins Ele cresceu longe da cultura indiacutegena sem contato com

a liacutengua de sua etnia por estar fora desse contexto Por outro lado natildeo aprendeu a liacutengua

falada em seu entorno na medida em que natildeo pode na prendecirc-la de forma natural por natildeo

ouvir assim por natildeo ter domiacutenio da cultura da etnia deve aprender a liacutengua de sinais

inserindo os signos que significam as palavras do seu leacutexico atraveacutes de instruccedilatildeo especial

com a mediaccedilatildeo de algueacutem que tenha o conhecimento das duas formas de comunicaccedilatildeo Para

Lyons (1987) esses aprendizes adquirem habilidades comunicativas rapidamente pois o

progresso que alcanccedilam eacute pelo menos agraves vezes tatildeo raacutepido que como observam tanto os pais

quanto os pesquisadores eacute difiacutecil manter um registro compreensivo e sistemaacutetico do seu

processo de aprendizado Como tambeacutem eacute no total independente de inteligecircncia e de

diferenccedilas do meio social e cultural

A capacidade da pessoa para construir enunciados vai tomando forma agrave medida que

consegue compreender a relaccedilatildeo entre significante e significados dos signos com os quais tem

contato Por isso os indiacutegenas surdos podem ser beneficiados com um material escrito

triliacutengue Este pode constituir-se em um material de apoio para a aprendizagem das trecircs

liacutenguas sendo que a liacutengua de sinais eacute perspectivada como L1

O terceiro caso identificado eacute de um iacutendio surdo jaacute adulto da comunidade Uiacurapaacute

da etnia Maweacute As informaccedilotildees datildeo conta que ele se comunica por meio de gestos criados por

ele e os pares com quem tem relaccedilatildeo Poreacutem natildeo haacute dados detalhados pois natildeo foi possiacutevel

contato com o mesmo porque ele vive isolado sobrevivendo de caccedila e pesca em comunidade

rural indiacutegena Fato este que implica diretamente no aperfeiccediloamento da forma de

comunicaccedilatildeo desse sujeito posto que ldquoos fenocircmenos ambientais podem agir diretamente

sobre a pessoa ou individualmente atraveacutes de repasse de experiecircncias vividas pela sociedade

atraveacutes da linguagem veiculada pela liacutenguardquo (OLIVEIRA 2005 p134)

Assim estaacute constituiacuteda a populaccedilatildeo de indiacutegenas surdos que fazem parte da

microrregiatildeo de Parintins que se podem fazer os devidos registros neste estudo

412 Histoacuterico de Barreirinha

O municiacutepio de Barreirinha pertence a Mesorregiatildeo da Microrregiatildeo de Parintins que

estaacute localizado a leste de Manaus Capital do Estado distanciando cerca de 331 quilocircmetros

E ao norte de Parintins o municiacutepio de Barreirinha juntamente com Maueacutes satildeo principais

municiacutepios que possuem a maior populaccedilatildeo de indiacutegenas localizados nos rios Andiraacute e o

Marau Portanto sendo o municiacutepio como a sede urbana das comunidades inseridas os surdos

53

indiacutegenas vem apenas em busca de tratamento meacutedico quando necessitam ou para atividades

sociais acompanhados de seus pais mas na zona urbana natildeo localizamos nenhum indiacutegena

surdo

Barreirinha foi o segundo municiacutepio pesquisado E segundo o IBGE em 2013 a

populaccedilatildeo era de 29737 habitantes18

sendo o vigeacutesimo segundo municiacutepio mais populoso do

Estado do Amazonas e o terceiro de sua microrregiatildeo

Este muniacutecipio conta com um setor especiacutefico das causas indiacutegenas a Coordenaccedilatildeo

Iacutendiacutegena Satereacute-Maweacute sob responsabilidade do coodernador geral SrSantino Lopes Este

tornou possiacutevel o acesso agrave comunidade indiacutegena de Ponta Alegre no Rio Andiraacute Foi na

Escola Municipal Professora ldquoRosa Cabralrdquo que foi identificado um indiacutegena surdo da etnia

Satereacute-Maweacute um menino de 12 anos matriculado na 3ordf ano do ensino fundamental Nesse

contexto foi possiacutevel observar sua forma de se comunicar com as demais pessoas que faziam

parte do seu meio social Outros dados referente a relaccedilotildees familiares deste natildeo estatildeo

disponiacuteveis na medida em que natildeo foi possiacutevel fazer contato com sua famiacutelia Desta forma

permanece uma lacuna de respostas referente a esse aluno posto que

De uma forma geral e em regra a socializaccedilatildeo da crianccedila no mundo civilizado

comeccedila dentro de uma famiacutelia nuclear constituiacuteda de pai matildee e irmatildeos quando

existem Durante os primeiros anos da infacircncia adquire traccedilos culturais (menores

unidades de cultura) atraveacutes das pessoas da famiacutelia que satildeo reflexo da sociedade

onde vivem (OLIVEIRA 2005)

Entende-se que atraveacutes de informaccedilotildees que poderiam ser fornecidas pela famiacutelia

deveria ser esclarecido como ocorre a socializaccedilatildeo da crianccedila nesse contexto e de que modo

aprenderam a se comunicar com ela que estrateacutegias foram utilizadas para que ela conseguisse

ser alfabetizada

413 Histoacuterico de Maueacutes

Este municiacutepio que tambeacutem pertence agrave Mesorregiatildeo do Centro Amazonense e

Microrregiatildeo de Parintins tem uma populaccedilatildeo de 54079 habitantes conforme as estimativas

do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) A cidade eacute reconhecida

nacionalmente por possuir uma das maiores expectativas de vida do paiacutes

18

Disponiacutevel emlthttpcidadesibgegovbrxtrastemasamazonas|barreirinha|estimativa-da-populacao-2013gt

Acesso em 28072014

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Na margem direita do Rio Maueacutes-Accedilu Maueacutes foi fundada em 1798 por Luiz Pereira

da Cruz e Joseacute Rodrigues Preto agrave distacircncia de 268 km em linha reta e 356 km pela via

fluvial de Manaus O calendaacuterio festivo do municiacutepio conteacutem as datas festivas municipais

em homenagem agrave Satildeo Sebastiatildeo (10 a 20 de janeiro) ao Divino Espiacuterito Santo (22 a 30 de

maio) agrave Satildeo Pedro (27 a 30 de junho) agrave padroeira Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo (01 a 8 de

dezembro) assim como a Festa do Carnaval Popular (21 a 24 de fevereiro) do aniversaacuterio do

municiacutepio (26 a 27 de junho) da Ilha de Vera Cruz (23 a 25 de julho) do Veratildeo (de 05 a 7 de

setembro) da Feira Industrial (06 a 8 de novembro) e do Guaranaacute (em novembro)

Sobre a origem do nome deste municiacutepio observa-se que inicialmente foi

denominada Luseia e progredindo com o tempo transformou-se em missatildeo carmelita com

nome de Maueacutes O liacuteder nessa eacutepoca foi o frei Joaquim de Santa Luzia Por um decreto de 25

de junho de 1833 a missatildeo foi considerada vila sob a invocaccedilatildeo de Nossa Senhora da

Conceiccedilatildeo de Luseia Em 1853 pela lei nordm 25 de 3 de dezembro da iniciativa do Deputado

Marcos Antocircnio Rodrigues de Souza a vila tornou-se cidade chamada Satildeo Marcos de

Mundurucacircnia Consta como uma das freguesias da proviacutencia denominada Maueacutes em 1958

A oficializaccedilatildeo da mudanccedila do nome do municiacutepio ocorreu quando o Deputado Joseacute

Bernardo Michiles em 1865 apresentou um projeto para tal que tendo sido aprovado

oficializou-se a mudanccedila do nome de Maueacutes para Conceiccedilatildeo Enfim jaacute na Repuacuteblica em

1895 pela lei nordm 133 de 5 de outubro a localidade torna-se Comarca E em 4 de maio de 1896

eacute considerado municiacutepio pelo novo regime juriacutedico com o nome de Maueacutes pela lei nordm 137

As pesquisas de campo nesse municiacutepio natildeo foram realizadas conforme a previsatildeo

pois a viagem natildeo foi concretizada devido agraves dificuldades em relaccedilatildeo agrave distacircncia para chegar

ateacute agraves comunidades que satildeo distantes da cidade cede e havia necessidade de recurso material

e humano (professores guias indiacutegenas biliacutengues) para realizaacute-la Quando foi possiacutevel chegar

ao local ocorreu o contato com trecircs professores que residiam nas comunidades do rio

chamado Marau Ali foi possiacutevel tecirc-los em companhia na funccedilatildeo de guia inteacuterprete para

contato com os indiacutegenas surdos daquela localidade

Em resposta afirmativa ao questionamento se havia iacutendios surdos foram realizadas

reuniotildees com a comunidade local para coletar informaccedilotildees que apontou a existecircncia de um

caso na comunidade de Santa Maria Era um senhor na faixa etaacuteria de 67 anos que adquiriu a

surdez haacute muito tempo atraacutes Ele natildeo tem conhecimento da Liacutengua Portuguesa por isso natildeo

tivemos contato direto No entanto ele conhece a proacutepria liacutengua e assimilou a cultura da etnia

posto que

55

A liacutengua eacute aprendida simultaneamente a outros elementos da cultura A capacidade

de desenvolvimento da linguagem eacute inata O indiviacuteduo nasce com o ceacuterebro

preparado para aprender tudo que pertinente agrave cultura humana da qual a linguagem

faz parte (OLIVEIRA 2005 p 137)

Eacute no contexto social que se aprende os signos que fazem parte do mundo exterior e

que o ceacuterebro assimila pelo conhecimento que os sentidos possibilitam

O segundo iacutendio localizado foi um surdo de nascenccedila hoje com idade de 24 anos

Segundo relato da famiacutelia nunca frequentou uma escola portanto seu uacutenico meio de

comunicaccedilatildeo eacute gestual que aprendeu como forma para se fazer entender pois ldquoa linguagem eacute

atributo universal do ser humanordquo (OLIVEIRA 2005) assim constitui-se como necessidade

vital da pessoa conduzindo ao aprendizado

Em pesquisa de campo se obteve a informaccedilatildeo que havia outros trecircs iacutendios surdos que

moravam no Rio Marau mas natildeo foi possiacutevel chegar ateacute a aldeia onde se encontravam

devido ao difiacutecil acesso o que impossibilitou a ida ateacute a localidade

414 Histoacuterico de Boa Vista do Ramos

Uma das sete Mesorregiotildees de Parintins eacute Boa Vista do Ramos que possui

aproximadamente 16820 de habitantes segundo o IBGE (2013)

A histoacuteria de Boa Vista do Ramos encontra-se ligada agrave histoacuteria do municiacutepio de

Maueacutes Em 1798 foi fundada a Aldeia de Lusea Em meados do Seacuteculo XIX vaacuterios conflitos

ocorreram na regiatildeo entre brancos e povos indiacutegenas sendo efetiva tambeacutem a participaccedilatildeo de

cabanos oriundos da Cabanagem

Quando a Proviacutencia do Amazonas eacute criada em 1850 Lusea torna-se um dos quatorze

municiacutepios existentes na proviacutencia Seu nome eacute alterado em 1892 para Maueacutes tornando-se

sede da Comarca em 1895 Em 10 de dezembro de 1981 atraveacutes da Emenda Constitucional nordm

12 o povoado de Boa Vista do Ramos aleacutem de outros territoacuterios pertencentes agrave Maueacutes e

aacutereas adjacentes dos municiacutepios de Barreirinha e Urucurituba passam a constituir o novo

municiacutepio de Boa Vista do Ramos

Em pesquisa de campo nesse municiacutepio o primeiro contato que foi na Coordenadoria

Regional de Educaccedilatildeo da cidade (SEDUC) Embora esta professora responsaacutevel por essa

Instituiccedilatildeo tenha informado que natildeo conhecia nenhum caso de iacutendio surdo neste municiacutepio

alguns informantes afirmaram que na aldeia de Santo Antocircnio que faz parte do referido

municiacutepio foi localizada uma senhora que havia adquirido a surdez ainda muito jovem sem

56

nenhum conhecimento das liacutenguas ldquofaladasrdquo ou sinalizadas Desta forma ela utilizava de

gestos para se comunicar porque os seres humanos nascem com a capacidade para a

linguagem que se desenvolvem ao longo da primeira infacircncia mas que podem tambeacutem ser

aprendida no meio social atraveacutes de estiacutemulos Nesta perspectiva segundo a concepccedilatildeo de

Oliveira (2005 p 143)

A evoluccedilatildeo da linguagem depende de dois fatores principais da capacidade geneacutetica

cerebral para desenvolvecirc-la que eacute a principal e dos estiacutemulos ambientais que satildeo

sempre tatildeo importantes quanto aquela Esse desenvolvimento estaacute senpre inserido no

contexto de socializaccedilatildeo que eacute a responsaacutevel pela humanizaccedilatildeo do indiviacuteduo

Ainda sobre a importacircncia da socializaccedilatildeo para os sujeitos ressalta-se que estes

desenvolvendo no meio onde estatildeo inserido adquirem sua identidade cultural

concomitantemente sua identidade linguiacutestica que estaacute presente no discurso dos seus pares

posto que ela ldquoeacute adquirida nos processos de formaccedilatildeo e tranformaccedilatildeo de uma liacutengua

particularrdquo que eacute tambeacutem determinante no relacionamento cm outras liacutenguas E de acordo

com Ponzio (2007 p178) ldquoO espaccedilo em que uma liacutengua vive eacute um espaccedilo interlinguiacutestico e a

capacidade de expressatildeo e da adaptaccedilatildeo dessas liacuteguas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo eacute

diretamente proporcional agrave quantidade de contatos com outras liacutenguasrdquo O que deixa evidente

que um indiviacuteduo pode estar em contato com diferentes formas de intercomunicaccedilatildeo

415 Histoacuterico de Nhamundaacute

Eacute trigeacutesimo quinto municiacutepio mais populoso do estado do Amazonas Sendo o quarto

da Mesorregiatildeo em estudo Conforme o IBGE em 2013 o municiacutepio eacute composto por uma

populaccedilatildeo de 19 792 habitantes

O municiacutepio de Nhamundaacute estaacute localizado na zona fisiograacutefica do Baixo Amazonas

limitando com os municiacutepios de Parintins e Urucaraacute no Amazonas com o Estado de Roraima

(norte) e com os municiacutepios de Faro e Terra Santa no estado do Paraacute Distacircncia da capital 375

km em linha reta e cerca de 577 km por via fluvial Sua altitude eacute de 50 metros acima do

niacutevel do mar

As origens do municiacutepio de Nhamundaacute remontam agraves primitivas povoaccedilotildees dos iacutendios -

nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XVII composta pelos condurizes paraculamas canuris

guancaris paraquatas queremas jamundaacutes e uaboy cujo tuxaua se chamava Jamundaacute que

dada a luta em prol da liberdade de seu povo devido agrave exploraccedilatildeo e maus-tratos pelos

57

colonizadores fez um levante conduzindo a tribo Uaboy para as cabeceiras do alto rio que em

sua homenagem ganhou o seu nome e por conseguinte daacute nome ao municiacutepio

Em 1653 mediante carta reacutegia a regiatildeo foi erigida a Missatildeo que foi confiada aos

missionaacuterios portugueses capuchos da Piedade Eles organizaram uma aldeia modelo na boca

do Tauacuera - aldeia velha afluente esquerdo onde ainda se podem ver ruiacutenas do antigo

convento no meio dos espinhais A sede da Missatildeo poreacutem foi transferida para o lugar da

atual cidade de Faro Os padres capuchos souberam unir os iacutendios uaboy residentes no

Trombetas aos da Missatildeo para aumentar a populaccedilatildeo Era entatildeo o chefe dos Uaboy o tuxaua

Jamundaacute que ligou seu nome agrave Missatildeo e agrave aldeia que doravante se chamou aldeia dos

Jamundaacute ou Missatildeo dos Jamundaacute

O primeiro documento sobre a Missatildeo eacute do ano de 1727 e foi escrito pelo superior da

Missatildeo frei Francisco de Satildeo Manccedilos Em 1758 Missatildeo tomou o nome de Faro No entanto

jaacute em 1755 o Marqucirces de Pombal mandou suspender as Missotildees para serem transformadas

em vilas e paroacutequias A Missatildeo dos Jamundaacute foi extinta em 1758 por ordem de Mendonccedila

Furtado quando de sua viagem de demarcaccedilatildeo da nova capitania Foram criadas assim a vila

de Faro e a Paroacutequia de Satildeo Joatildeo Batista em 21 de dezembro de 1758 mas a instalaccedilatildeo deu-se

somente em 27 de dezembro de 1768

Desse modo em 1911 quando ocorreu a divisatildeo administrativa do Brasil o municiacutepio

de Parintins foi contemplado com o distrito de Jamundaacute Com a extinccedilatildeo deste quando

aconteceu a nova divisatildeo administrativa em 1933 o municiacutepio de Parintins surgiu com apenas

um distrito assim em 10 de dezembro de 1938 pelo Decreto-lei no 176 do Estado do

Amazonas Parintins voltaria a dispor de um outro distrito aleacutem da sede o da Ilha das Cotias

Em 19121955 pela Lei Estadual no 96 o distrito de Ilha das Cotias eacute desmembrado de

Parintins e passa a constituir o municiacutepio autocircnomo de Nhamundaacute Em 31 de janeiro de 1956

foi instalado o municiacutepio de Nhamundaacute

A viagem a esse municiacutepio foi realizada com o apoio do aluno Fernando Gonccedilalves

acadecircmico do curso de Licenciatura em Geografia pela Universidade do Estado do

Amazonas-UEA Para maiores esclarecimentos foi feita a pesquisa na casa de sauacutede indiacutegena

localizada na cidade de Nhamundaacute onde informaram desconhecer a existecircncia da etnia

Satereacute-Maweacute no municiacutepio Mesmo assim foi feito outro contato com uma enfermeira da

Casa de Sauacutede Indiacutegena do municiacutepio A resposta foi a mesma ldquoQueremos informar ao

professor que no municiacutepio de Nhamundaacute que natildeo trabalhamos com a etnia Satereacute-Maweacute

Atendemos somente a etnia Hixkaryana existente na regiatildeo Natildeo haacute portanto nenhum surdo

Hixkaryana ou Satereacute-Maweacute cujo fato eacute comprovado pelo senso municipalrdquo

58

Foi feita uma pesquisa tambeacutem em outro oacutergatildeo que atua com indiacutegenas no caso as

Secretaria de Educaccedilatildeo do Municiacutepio com a finalidade de constatar a veracidade dos fatos

eou conseguir novos dados sobre o indiacutegena surdo Satereacute ou Hixkaryana O subsecretaacuterio de

Educaccedilatildeo relatou que natildeo existia dados sobre a liacutengua Satereacute-Maweacute nem indiacutegenas surdos

existentes

Realmente apoacutes pesquisas in loco ficou comprovado somente agrave existecircncia da etnia

Hixkaryana da famiacutelia linguiacutestica Karib Sobre esta ressalta-se que

A liacutengua hixkaryana pertence agrave famiacutelia linguiacutestica Karib e eacute falada por todos os

membros do grupo Esta liacutengua eacute muito semelhante agravequeles outros dialetos falados

na regiatildeo mais ampla circunscrita pelos vales dos rios Trombetas e Mapuera como

Waiwai Xereu Katuena Karapawyana Tunayana Desta maneira e pelo fato dos

Hixkaryana estabelecerem relaccedilotildees bem estreitas com estes grupos em uma rede de

trocas matrimoniais e rituais tais dialetos satildeo inteligiacuteveis entre si []

Os Kaxuyana que moram no rio Nhamundaacute quase todos tambeacutem falam a liacutengua

hixkaryana aleacutem da sua liacutengua proacutepria o Kaxuyana Contudo em geral um

Hixkaryana natildeo fala a liacutengua kaxuyana fato que de certa forma demonstra que os

Kaxuyana satildeo considerados os ldquoestrangeirosrdquo naquela regiatildeo e que devem aprender

a liacutengua ldquonativardquo o Hixkaryana

A maioria dos Hixkaryana eacute alfabetizada na liacutengua nativa sendo capaz de ler e

escrever neste idioma Em 2008 havia apenas uma escola de ensino fundamental na

aldeia Kassauaacute e muitos jovens depois desta seacuterie dirigiam-se agrave cidade de

Nhamundaacute (AM) para prosseguir os estudos de niacutevel meacutedio Em 2010 uma escola

de ensino meacutedio foi implantada na aldeia Kassauaacute Aleacutem disso uma dezena de

Hixkaryana jaacute cursou ou estaacute cursando o ensino superior em cidades como Parintins

e Manaus Contudo a maioria das mulheres dos velhos e das velhas fala muito

pouco o Portuguecircs sendo o Hixkaryana a liacutengua mais usada por todos19

Assim como no municiacutepio de Nhamundaacute ficou constatado tambeacutem que nos demais

municiacutepios de Satildeo Sebastiatildeo do Uatumatilde e de Urucaraacute que natildeo haacute registro sobre a existecircncia

da etnia Satereacute-Maweacute nem tatildeo pouco a existecircncia de iacutendios surdos A tabela 1- apresenta o

resultado da pesquisa que aponta o mapeamento

Tabela 1 Mapeamento da existecircncia de iacutendios surdos nas respectivas comunidades

indiacutegenas ou zona urbana da microrregiatildeo de Parintins

Fonte Azevedo (2014)

19

Disponiacutevel emlthttppibsocioambientalorgptpovohixkaryanagt Acesso em 07112014

Etnia Liacutengua Comunidade Indiacutegena

rural Zona Urbana

Municiacutepio Quantidade de iacutendios

surdos

Satereacute-Maweacute Tupi Parintins Parintins 02

Satereacute-Maweacute Tupi Uaucurupaacute Parintins 01

Satereacute-Maweacute Tupi Rio Andiraacute Barreirinha 01

Satereacute-Maweacute Tupi Santa Maria Maueacutes 02

Satereacute-Maweacute Tupi Rio Marau Maueacutes 03

Satereacute-Maweacute Tupi Boa Vista do Ramos Boa Vista do

Ramos

01

Total 10

59

De acordo com os dados pode-se observar a existecircncia de poucos iacutendios surdos

Poreacutem acredita-se que ainda existam outros em comunidades mais isoladas Como tambeacutem

pelo fato de serem consideradas ldquodeficientesrdquo algumas famiacutelias natildeo integram na comunidade

que vivem As dificuldades encontradas para coletar os dados a partir dos oacutergatildeos

responsaacuteveis tambeacutem foram encontrados em outros estudos realizados anteriormente para

estabelecer a populaccedilatildeo indiacutegena na Ameacuterica Latina o que pode ser vislumbrado pela

explicaccedilatildeo dos fatos complicadores transcritos a seguir

Uma das dificuldades para estabelecer a populaccedilatildeo indiacutegena estaacute relacionada com

fato de que o criteacuterio de filiaccedilatildeo segue mais a autodenominaccedilatildeo que as

caracteriacutesticas linguiacutesticas ou raciais como se considerava haacute algumas deacutecadas atraacutes

Outra dificuldade eacute que a uacutenica fonte disponiacutevel para estabelecer a quantidade de

populaccedilotildees indiacutegenas na regiatildeo satildeo precisamente os censos nacionais de populaccedilatildeo

que haacute bem pouco tempo permitiam inferir informaccedilatildeo sobre a populaccedilatildeo indiacutegena

a partir de uma uacutenica pergunta referente agrave liacutengua falada pelos entrevistados (LOPES

e SICHRA 2009 p 103)

Entretanto embora natildeo haja um nuacutemero expressivo de iacutendios surdos da etnia Satereacute-

Maweacute ficou constatado que haacute muitos surdos natildeo-iacutendios nos municiacutepios estudados

principalmente no municiacutepio de Parintins que precisam se comunicar com diferentes

interlocutores Este eacute um argumento que aponta para a necessidade de instrumentos

educacionais como um dicionaacuterio triliacutengue importante para os surdos que conseguiram

estabelecer elos comunicativos a partir das trecircs liacutenguas E jaacute que o homem eacute criativo ldquoagrave

medida que o tempo passa a humanidade vai agregando novas descobertas e inventos que se

concretizam e se somam para dar-lhe conforto e bem estarrdquo (OLIVEIRA 2005 p 144) Entatildeo

espera-se que este material contribua para que o sujeito surdo possa se comunicar

adequadamente no seio familiar e no processo educacional

42 Realidade linguiacutestica e educacional dos iacutendios surdos encontrados da etnia Satereacute-Maweacute

O sistema responsaacutevel pela educaccedilatildeo tem procurado fazer adequaccedilotildees para atender agraves

pessoas que apresentam necessidades na sua arquitetura fiacutesica para a inclusatildeo destas no

contexto da realidade linguiacutestica e educacional Embora exista uma legislaccedilatildeo pertinente

ainda haacute ausecircncia de qualidade para que um indiviacuteduo surdo possa estudar incluso em um

contexto regular de ensino Principalmente porque os professores natildeo estatildeo preparados para

lidar com essa situaccedilatildeo peculiar Haacute uma imposiccedilatildeo nos oacutergatildeos educacionais mas natildeo haacute

60

profissionais que atuem para o bom desempenho do aluno indiacutegena surdo A partir dessa

visatildeo Albres (2005) que realizou um estudo nesta aacuterea de conhecimento afirma

Nessa perspectiva o homem eacute produto e produtor da cultura conjunto das relaccedilotildees

sociais portanto mister se faz investigar a origem histoacuterica de alguns princiacutepios da

educaccedilatildeo biliacutengue para surdos e desvelar elementos conceituais Propomo-nos

entatildeo identificar e analisar as concepccedilotildees de linguagem que sob condiccedilotildees

histoacutericas fundamentaram o ensino de Liacutengua Portuguesa para surdos nos

documentos do MEC

Desta feita entende-se que se no contexto do ensino da Liacutengua Portuguesa existem

diversas dificuldades no contexto de uma liacutengua indiacutegena a situaccedilatildeo se torna mais complexa

Desse modo na anaacutelise da situaccedilatildeo linguiacutestica e educacional encontrada com os iacutendios surdos

identificados da etnia Satereacute-Maweacute eacute bastante diversificada Apresentam diferentes formas de

siacutembolos para conseguirem se comunicar com as pessoas com quem tecircm contato Precisam

fazer um esforccedilo aleacutem do necessaacuterio para manifestar seus desejos para informar e ter acesso a

informaccedilotildees

No caso da aluna indiacutegena surda de apenas seis anos de idade na escola especiacutefica para

atender alunos surdos foi constatado que sua situaccedilatildeo linguiacutestica e educacional se encontra

em processo de aquisiccedilatildeo de uma linguagem baacutesica para comunicaccedilatildeo com as pessoas com as

quais ela convive

Conforme os dados fornecidos pela escola por meio de um parecer pedagoacutegico sobre a

aluna indiacutegena surda (ANEXO D) Ficou atestado que a aluna da etnia Satereacute-Maweacute nasceu

de parto normal sem nenhum problema aparente Aos trecircs anos de idade a matildee percebeu que

a filha natildeo ouvia e nem falava pois seus outros filhos haviam comeccedilado a falar na presente

idade Para seguir se comunicar com a filha utilizava-se de gestos sendo difiacutecil a

comunicaccedilatildeo Foi essa situaccedilatildeo que levou a famiacutelia a procura da Escola Padre Paulo Manna

onde se encontra matriculada no preacute-escolar Nessa realidade ela recebe as mesmas

orientaccedilotildees dadas agraves crianccedilas natildeo indiacutegenas logo natildeo existe um direcionamento para a cultura

da sua etnia na escola nem na no contexto familiar

Sobre essa condiccedilatildeo Cool (2004) aborda que haacute um aspecto familiar que tem

relevacircncia particular o tipo de comunicaccedilatildeo que se utiliza em casa ou seja a forma e o estilo

de comunicaccedilatildeo que os pais utilizam com a crianccedila surda tem uma grande importacircncia para o

seu desenvolvimento e para sua aprendizagem No caso dos pais ouvintes estes necessitam do

conhecimento da educaccedilatildeo da cultura da liacutengua da pessoa surda para que possam promover

uma formaccedilatildeo linguiacutestica completa para o filho surdo E deste modo este ldquopossa consolidar e

61

aprofundar o uso e a compreensatildeo da liacutengua proacutepria enquanto veiacuteculo de cultura e

possibilidade de comunicaccedilatildeo no acircmbitordquo de conhecimento do aprendiz sem deixar agrave parte do

domiacutenio da liacutengua apropriada para esse sujeito (HERNAIZ 2009)

Desta forma a educaccedilatildeo escolar reconhecida pela proacutepria escola referente agrave inclusatildeo

da aluna indiacutegena surda aponta para a necessidade de instituir uma educaccedilatildeo triliacutengue de

forma que seu processo de ensino-aprendizagem pauta-se na Liacutengua Satereacute-Maweacute Liacutengua

Brasileira de Sinais e Liacutengua Portuguesa Mesmo sabendo da dificuldade em aprender trecircs

liacutenguas o parecer pedagoacutegico considera possiacutevel aprendizagem de trecircs liacutenguas

A partir dos argumentos referidos reitera-se a importacircncia de que a educaccedilatildeo escolar

dessa aluna deve abranger as liacutenguas de uso natural nativo e social Quando se destaca a

liacutengua de uso natural entende-se que eacute a Liacutengua de Sinais como primeira liacutengua E natildeo

inverter o processo e obrigar a crianccedila surda seja indiacutegena ou natildeo aprender a falar uma

liacutengua oral seja liacutengua indiacutegena ou Liacutengua Portuguesa Sobre a questatildeo Fernandes (2005

p20) pontua

fazer uma crianccedila surda ldquofalarrdquo ao inveacutes de propiciar a ela um meio raacutepido de

comunicaccedilatildeo linguiacutestica atraveacutes da aquisiccedilatildeo da liacutengua de sinais como primeira

liacutengua que proteja e cumpra o papel fundamental de resguardar o seu natural

desenvolvimento no que se refere a ter domiacutenio de fato de um instrumental

linguiacutestico que lhe sirva para as operaccedilotildees mentais que envolvam mecanismos

linguiacutesticos

Portanto primeiramente eacute necessaacuteria a aquisiccedilatildeo da primeira liacutengua a liacutengua de sinais

e como segunda liacutengua a liacutengua nativa de sua comunidade eacutetnica No caso da aluna indiacutegena

a liacutengua Tupi da etnia Satereacute-Maweacute na modalidade escrita Desta forma com a aprendizagem

das duas liacutenguas seraacute uma aluna biliacutengue Poreacutem diante da realidade do aluno indiacutegena surdo

que vive na zona urbana se faz necessaacuterio o aprendizado triliacutengue Liacutengua Portuguesa por

escrito

Como dito anteriormente o ensino-aprendizado da Liacutengua de Sinais deve ser

garantido ao sujeito surdo para que adquira a identidade a cultura do povo surdo20

acesso

pleno as informaccedilotildees aleacutem de significar a possibilidade de comunicaccedilatildeo e expressatildeo fluentes

do sujeito surdo com seu entorno Da mesma perspectiva o ensino da Liacutengua indiacutegena se daacute

20

Como ja mencionado no capiacutetulo 1 sobre Cultura Surda ldquo eacute o jeito surdo de ser de perceber de sentir de

vivenciar de comunicar de transformar o mundo a tornaacute-lo habitaacutevelrdquo (GLADIS PERLIN apud STROBEL

2008 p 21) Strobel ainda esclarece que o sujeito Surdo se comportam diferente do sujeito ouvinte e com isso

traz alguns ldquoartefatos culturaisrdquo (explicado no capiacutetulo 1) que satildeo as pecualiaridade da cultura surda as quais

descritas Parte das experiecircncias visuais linguiacutestico familiar literatura surda vida social e esportiva artes

visuais poliacutetica e materiais Todos estes artefatos concebidos a partir do VER (IDEM 2008 p36-77)

62

em respeito aos direitos da cultura indiacutegena previsto pela Constituiccedilatildeo Brasileira conforme

decreto nordm 6861 de maio de 2009 no seu Art 2o que determina ldquoSatildeo objetivos da educaccedilatildeo

escolar indiacutegena I- valorizaccedilatildeo das culturas dos povos indiacutegenas e a afirmaccedilatildeo e manutenccedilatildeo

de sua diversidade eacutetnica II- fortalecimento das praacuteticas socioculturais e da liacutengua e da liacutengua

materna de cada comunidade indiacutegenardquo

Neste caso a referida aluna iacutendia surda deveraacute ter a liacutengua indiacutegena como liacutengua de

conhecimento de sua cultura Para o ensino desta na forma escrita faz-se uso de cartilhas

gramaacuteticas dicionaacuterios etc

De acordo com o exposto a escola reconhece a necessidade da educaccedilatildeo escolar

triliacutengue poreacutem utiliza-se de outra realidade conforme citado pela proacutepria escola ldquoNo

primeiro momento fica junto com os colegas ouvintes onde procuramos trabalhar de forma

inclusiva no contexto biliacutengue Liacutengua Portuguesa e Liacutengua de Sinais

Sobre este aspecto Rodrigues (2005 p20) pontua

Quantas lacunas estariam sendo criadas em nome da pressuposiccedilatildeo de que a

aprendizagem da liacutengua da maioria dos falantes da comunidade (ouvintes) eacute que

daria agrave crianccedila surda condiccedilotildees de desenvolvimento social e cognitivo Quantas

etapas de desenvolvimento estariam sendo desprezadas nas fases naturais de sua

evoluccedilatildeo sob a alegaccedilatildeo de que ela seraacute capaz de alcanccedilar o que se estabelece como

meta social Que metas estariam sendo alcanccediladas afinal Que objetivos estatildeo sendo

perseguidos em prol desses paracircmetros ultrapassados em detrimento dos reais

objetivos de formaccedilatildeo psico-sociocultural deste individuo Em que a liacutengua de

sinais como primeira liacutengua ainda se encontra determinada pelo descreacutedito de

tantos especialistas da aacuterea

A realidade encontrada sobre a educaccedilatildeo natildeo soacute em uma escola que atende alunos

surdos mas tambeacutem em muitas escolas as chamadas escolas ldquoinclusivasrdquo apresentam

dificuldades no processo de ensino dos alunos surdos21

Todavia entre desencontros

sociocultural-linguiacutesticos eacute preciso fazer uma ressalva desta escola ldquoA escola disponibilizou

21

Sobre a temaacutetica da Inclusatildeo formula-se ldquoAo se avaliar que na contemporaneidade impera o discurso da

inclusatildeo indiscriminada em escolas regulares[]Esta diretriz tira o direito previsto na legislaccedilatildeo brasileira de

poder optar por uma educaccedilatildeo biliacutengue em escola proacutepria de modo que se repete a condiccedilatildeo em que aos surdos eacute

imposto um enorme sofrimento na medida em que nos denominamos processos inclusivos junto aos ouvintes

permanecem privados de conviver com seus pares e de acessar o conhecimento na Liacutengua de Sinais como liacutengua

de instruccedilatildeo [] Os surdosde diferentemente de outros segmentos tecircm a necessidade de agrupar-se para formar

comunidade linguiacutestica por meio das quais possam construir uma ldquocomunidade de experiecircnciasrdquo (WITKOSKI

2012 p33-34)

63

uma professora surda para a aquisiccedilatildeo da Liacutengua Brasileira de Sinais repassando o conteuacutedo

ministrado na salardquo onde cada um desses alunos eacute inserido

A escola positivamente conta com a colaboraccedilatildeo do trabalho docente de uma

professora surda Esta tem um papel fundamental como modelo linguiacutestico principalmente

quando alunos surdos provecircm de famiacutelias ouvintes que natildeo tecircm acesso agrave cultura e agrave Liacutengua

de Sinais Cabe ao professor surdo comunicar-se fluentemente com o aluno surdo ser um

input linguiacutestico para a identificaccedilatildeo da cultura do ser surdo

Dessa forma Strobel (2008 p 40) destaca

Este contato crianccedila surda x adulto surdo atraveacutes de uma liacutengua em comum que eacute a

liacutengua de sinais eacute que proporcionaraacute o acesso agrave linguagem e desta forma estaraacute

assegurada a identidade e a cultura surda que eacute transmitida naturalmente agrave crianccedila

surda em contato com a comunidade surda

Observa-se que caso a crianccedila surda natildeo tenha o direito a sua diferenccedila preservado

este aprendiz teraacute sua inserccedilatildeo no mundo dos ouvintes de forma incerta eou sem esperanccedila de

uma vida normal A situaccedilatildeo se agrava na medida em que a sociedade ouvinte deixa a desejar

quanto agrave participaccedilatildeo dos sujeitos surdos em decorrecircncia da escassez dos vaacuterios recursos

visuais que promovem acessibilidade para eles

Contudo os povos surdos hoje satildeo mais conscientes de seus direitos entatildeo esses

sujeitos cultural e politicamente lutam pelos mesmos Direitos estes tambeacutem dos povos

indiacutegenas como jaacute comentados anteriormente

Todavia esse aspecto ainda estaacute distante da realidade dos sujeitos focos do estudo de

acordo com relato da escola Segundo depoimentos de alguns indiacutegenas a aprendizagem

indiacutegena passa pela demonstraccedilatildeo observaccedilatildeo imitaccedilatildeo tentativa e erro e quando o aluno

vem para a escola tem que se socializar e obedecer a comandos regidos pelo sistema e isso

muitas vezes o deixa confuso e os maiores ateacute desistem A situaccedilatildeo se agrava quando esse fato

se refere ao sujeito iacutendio surdo incluiacutedo na escola pois este requer um diferencial ainda

maior reconhecido pela escola

Dessa forma satildeo necessaacuterias estrateacutegias de ensino diferenciadas que deem suporte

para que a aluna seja trabalhada de forma triliacutengue no contexto escolar para que ela

natildeo perca a sua essecircncia a sua cultura que sejam adaptados trabalhos de acordo

com a realidade indiacutegena para que ela natildeo perca a sua identidade e saiba conduzir

sua aprendizagem dentro de um contexto diferenciado podendo aprender o que lhe eacute

de direito como viver bem em sociedade22

22

Texto extraiacutedo do parecer pedagoacutegico da aluna indiacutegena surda que estuda na Escola de Aacuteudio e Comunicaccedilatildeo

Pe Paulo MannaParintinsAm (ANEXO D)

64

A partir das consideraccedilotildees tecidas no parecer pedagoacutegico torna-se evidente ema

necessidade de ampliar e aprofundar as reflexotildees sobre a inclusatildeo de iacutendios surdos em vaacuterios

espaccedilos da sociedade especialmente no espaccedilo educacional escolar Ou seja haacute necessidade

tambeacutem de poliacuteticas linguiacutesticas voltada para esse acircmbito

Nesse sentido eacute necessaacuterio que se tenha como meta uma tomada de decisotildees poliacuteticas

para que gradativamente se possa controlar a situaccedilatildeo de aprendizagem do surdo no processo

soacutecio cultural onde ele estiver inserido Ateacute por que existe uma proposta educativa

intercultural de modo biliacutengue no contexto indiacutegena Assim surge a necessidade de accedilotildees

objetivas para garantir na praacutetica esta proposta de ensino a fim de enriquecer o indiacutegena

surdo com desenvolvimento da liacutengua de sinais como veiacuteculo de comunicaccedilatildeo acrescendo

seus conhecimentos a partir do pluralismo cultural uma vez que estaacute amparado por

legislaccedilotildees especiacuteficas

Reitera-se a necessidade de accedilotildees objetivas especialmente no que tange a formaccedilatildeo

especiacutefica de professores pois mesmo com a garantia da legislaccedilatildeo a presente realidade

desses sujeitos estaacute distante do contexto sociocultural-linguiacutestico do ser iacutendio surdo A

exemplo disso tem-se outra realidade sociocultural-linguiacutestico do segundo aluno indiacutegena

surdo de 24 anos que foi transferido de uma escola que desenvolve atividades educacionais

especiacuteficas para outra no processo denominado de educaccedilatildeo inclusiva onde cursa o nono ano

do ensino fundamental das seacuteries finais e faz atendimento na sala de recurso porque os

professores das disciplinas do curso natildeo tecircm formaccedilatildeo para acompanhaacute-lo

Os relatos da famiacutelia indicam que o aluno nasceu na aacuterea indiacutegena de Ponta Alegre

poreacutem muito pequeno sua famiacutelia mudou-se para zona urbana municiacutepio de Parintins o qual

cresceu longe de sua cultura indiacutegena desconhecendo assim a liacutengua de sua etnia Este eacute um

caso que promove o desaparecimento de liacutenguas indiacutegenas o conhecido deslocamento

sociolinguiacutestico

Para entender o processo que instaura este deslocamento linguiacutestico ressalta-se que

primeiramente a educaccedilatildeo da pessoa perpassa pelo uso da liacutengua materna no ambiente

familiar nas relaccedilotildees famiacuteliares na qual utiliza uma comunicaccedilatildeo intra e extrafamiliar Se a

famiacutelia mantiver sua liacutengua nativa em uso os membros da mesma permaneceratildeo biliacutengues

Poreacutem se a famiacutelia por pressatildeo social do uso da liacutengua dos falantes da sociedade local seja

porque deseja se adequar ao meio onde se insere a liacutengua no caso indiacutegena entra no processo

de esquecimento para as geraccedilotildees vindouras

65

Eacute o caso do aluno acima que eacute biliacutengue (Liacutengua Brasileira de Sinais e Liacutengua

Portuguesa na modalidade escrita) contudo desconhece sua raiz cultural a liacutengua de sua

etnia Seu contexto educacional eacute baseado em ldquomodelo de escola inclusivardquo o aluno vai para

sala de aula com alunos ouvintes onde a liacutengua portuguesa eacute a liacutengua padratildeo a ser ensinada e

estudada e posteriormente faz atendimento na sala de recurso em sua liacutengua natural Libras

Logo a escola pode ajudar no incentivo favorecendo a revitalizaccedilatildeo da liacutengua

indiacutegena no contexto educacional Para isso haacute necessidade de um corpo docente com a

formaccedilatildeo em Liacutengua indiacutegena e Liacutengua Brasileira de Sinais aleacutem da Liacutengua Portuguesa que eacute

usada como a base de ensino

Jaacute na comunidade Uiacurapaacute da etnia Maweacute encontramos outra realidade de contexto

de um surdo indiacutegena Todavia natildeo foi possiacutevel fazer um acompanhamento mais preciso

sobre sua situaccedilatildeo educacional escolar O uacutenico dado correspondente agrave questatildeo linguiacutestica eacute o

modo como ele se comunica conforme foi relatado por membros da comunidade local se

caracteriza pela utilizaccedilatildeo de gestos criados para se fazer compreender Desta forma diante da

ausecircncia de uma liacutengua estruturada a Libras por fazer uso somente de gestos ele apresenta

dificuldades de entender o ensino e de se comunicar com seus pares Da mesma forma ocorre

no contexto familiar e na comunidade uma vez que o aluno surdo vive quase que isolado

devido ao preconceito existente ateacute mesmo pela proacutepria comunidade por natildeo o entenderem e

nem saberem qual a forma para se comunicar aquele indiviacuteduo Assim ele vive em uma

situaccedilatildeo de rejeiccedilatildeo e marginalizaccedilatildeo estabelecida a partir da ausecircncia de uma liacutengua que

promova a comunicaccedilatildeo com o predomiacutenio de um processo de estigmatizaccedilatildeo deste sujeito

surdo

No municiacutepio de Maueacutes Boa Vista do Ramos os iacutendios surdos localizados satildeo de

idade adulta natildeo tiveram a oportunidade de frequentar escola Portanto sua realidade

linguiacutestica fundamenta-se somente na forma gestual que denominam de caseira atribuindo

significados peculiares de seu contexto local No que diz respeito ao aspecto educacional as

pessoas contatadas demonstraram apenas uma preocupaccedilatildeo sobre a existecircncia futura de

possiacuteveis iacutendios surdos nesses municiacutepios e sua formaccedilatildeo educacional Contudo natildeo

afirmaram o que fariam se encontrassem outros sujeitos com essa necessidade de

comunicaccedilatildeo

Como jaacute mencionado natildeo haacute registro sobre a situaccedilatildeo linguiacutestica e educacional de

nenhum iacutendio surdo da etnia Satereacute-Maweacute nos municiacutepios de Nhamundaacute Satildeo Sebastiatildeo do

Uatumatilde e de Urucaraacute Portanto as informaccedilotildees educacionais natildeo satildeo apresentadas nestes

contextos

66

43 Inventaacuterio de gestos da linguagem caseira dos surdos Satereacute-Maweacute

A presente pesquisa baseia-se em um meacutetodo de estudos de etnografia com o intuito

de descrever e observar os gestos caseiros que os indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute usam para se

comunicarem com seus pares nas comunidades onde residem O meacutetodo tambeacutem ajuda a

conhecer a identidade e sua interaccedilatildeo no meio da comunidade visto haacute uma diversidade

linguiacutestica rica usada pelos surdos indiacutegenas nas diversas localidades percorridas pelo

pesquisador na microrregiatildeo de Parintins

431 Os sinais caseiros de indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute

O objetivo do mapeamento eacute coletar os sinais caseiros ou emergentes para que esses

sinais possam ser reconhecidos e compreendidos pela sua comunidade como meio linguiacutestico

de comunicaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo de sua cultura

Para a concretizaccedilatildeo do mapeamento foi necessaacuterio a pesquisa de campo na

comunidade onde se fazia presente o indiacutegena surdo para as devidas observaccedilotildees

432 O Municiacutepio de Parintins

No municiacutepio de Parintins foi localizado trecircs (03) indiacutegenas surdos com suas

caracteriacutesticas linguiacutesticas diferenciadas de suas origens sendo que dois indiacutegenas residem na

zona urbana e um indiacutegena localizado na comunidade de Uaicurapaacute os quais foram o objeto

investigativo para a coleta de dados Os registros foram feitos de forma diferenciada de modo

que primeiramente conversei com as lideranccedilas indiacutegenas acompanhado de inteacuterprete e guia

linguiacutestico Durante este encontro foram feitas no local observaccedilotildees visuais sendo que em

alguns casos realizamos registros de imagens filmagens e entrevistas Eacute importante destacar

que os registros soacute puderam ser feitos quando permitidos pelos sujeitos da pesquisa ou pela

lideranccedila prevalecendo em sua maior parte a observaccedilatildeo visto que materiais tecnoloacutegicos e

de miacutedias causavam incocircmodo aos entrevistados fazendo com que se tornassem

incomunicaacuteveis quando percebiam que estavam sendo monitorados

67

4321 O primeiro surdo

Esse primeiro indiacutegena possui surdez moderada Eacute um senhor com idade de 72 anos

residente no Uiacurapaacute23

O contato foi feito na Casa do Iacutendio de Parintins Em uma

conversaccedilatildeo informal explicou que perdeu a audiccedilatildeo com o tempo eacute oralizado24

e se

comunica com a comunidade na liacutengua nativa Satereacute-Maweacute Trata-se de um cidadatildeo calmo

fala apenas de suas necessidades visto que natildeo se manifesta muito devido suas limitaccedilotildees

auditivas que dificultam uma melhor compreensatildeo

Como referido o surdo em questatildeo tem surdez moderada Neste sentido observa-se

que a surdez ocorre de acordo com diferentes classificaccedilotildees quanto ao niacutevel de perda auditiva

Ou seja

Quanto ao grau - leve (perda de 26 a 40 dBNA) - moderada (perda de 41 a 55

dBNA) - moderadasevera (perda de 56 a 70 dBNA) - severa (perda de 71 a 90

dBNA) - profunda (a partir de 91 dBNA) (RUSSO e SANTOS 1988 apud

NADER 2011 p 2)

Retomando a histoacuteria do sujeito surdo em questatildeo observa-se que ele reside na zona

rural no Uiacurapaacute com seus parentes e sua sobrevivecircncia eacute atraveacutes do que planta e pesca

Observando-o percebo que o mesmo tem uma vida normal com seus pares o que falta para

uma interaccedilatildeo mais ativa na comunidade eacute estimulo e o incentivo linguiacutestico pois muitas

pessoas satildeo impacientes e acabam deixando-o isolado linguisticamente

4322 O segundo surdo

Eacute um indiacutegena natural de Ponta Alegre25

concluiu o ensino fundamental em uma

escola puacuteblica no municiacutepio de Parintins Sua surdez foi percebida por seus pais ainda

crianccedila causada por doenccedila congecircnita A famiacutelia mudou-se para o municiacutepio de Parintins em

busca de uma melhor educaccedilatildeo para filho surdo entretanto os pais eram usuaacuterios da Liacutengua

Satereacute-Maweacute mas natildeo mais praticam pela influecircncia da Liacutengua Portuguesa e tambeacutem natildeo 23 Rio que fica interliga com Rio Paranaacute do Ramos ndash Parintins (AZEVEDO 2014) 24

O modelo cliacutenico-terapecircutico baseia-se numa visatildeo patoloacutegica de surdez e num modelo individual de

atendimento aacute diversidade que tem como referecircncia o Oralismo O oralismo eacute uma filosofia educacional para

surdos cujo discurso propotildee a superaccedilatildeo da surdez e a aceitaccedilatildeo social do surdo por meio da oralizaccedilatildeo Em

outras palavras este modelo defende o aprendizado apenas da Liacutengua Portuguesa na sua modalidade oral e

escrita na escola por entender que esta eacute a uacutenica possibilidade de integrar o surdo na sociedade majoritaacuteria

ouvinte (SLOMSKI 2010 p 32) 25

A comunidade de Ponta Alegre situa-se no Rio Andiraacute com 4 horas de viagem de lancha para chegar a

comunidade (AZEVEDO 2014)

68

frequentam a comunidade Satereacute-Maweacute em busca de assistecircncia ou outros meios oferecidos

pela tribo Portanto a famiacutelia cresceu e disseminou deixando de lado a liacutengua nativa e

tradiccedilatildeo indiacutegena vivendo uma vida regular na zona urbana

O surdo hoje com 20 anos natildeo conhece a liacutengua nativa de sua comunidade se

comunica fluentemente com a Liacutengua de Sinais escreve o Portuguecircs e se oraliza na

comunicaccedilatildeo com seus pais que tambeacutem natildeo sabem a Liacutengua de Sinais

Atraveacutes de sua histoacuteria eacute possiacutevel perceber que este sujeito surdo por estudar em

escola inclusiva com forte influecircncia a oralista desenvolveu as duas linguas a Liacutengua

Brasileira de Sinais e a Liacutengua Portuguesa Poreacutem sua situaccedilatildeo eacute diferente de outros

indiacutegenas surdos que residem nas comunidades que usam os sinais caseiros para se

comunicarem Isso acaba sendo uma observaccedilatildeo abstrata da realidade entre os surdos que

moram na zona urbana e na comunidade Satereacute-Maweacute

4323 O terceiro surdo

Eacute uma crianccedila de 5 anos descendente da etnia Satereacute-Maweacute estuda em uma escola

filantroacutepica em Parintins Trata-se de uma aluna inteligente que demonstrava timidez na

presenccedila de pessoas estranhas Verificou-se que ela consegue aprender e identificar os objetos

apresentados para que identificasse Aos 4 anos antes de entrar para a escola utilizava alguns

sinais caseiros para se comunicar com seus familiares Na sala de aula o ensino oferecido a

ela eacute o biliacutengue26

tendo a Liacutengua Brasileira de Sinais e a Liacutengua Portuguesa compondo essa

educaccedilatildeo O ensino nessa instituiccedilatildeo vai ateacute a 5ordf serie Por esta razatildeo a aluna futuramente

precisaraacute ser transferida para uma escola de ensino fundamental

Tabela 2 11 Sinais caseiros utilizados pela crianccedila indiacutegena surda de 5 anos e seus

familiares

26

O Bilinguismo eacute uma filosofia de ensino cujo discurso propotildee a diversidade cultural e a aceitaccedilatildeo social do

surdo por meio do bilinguismo (duas liacutenguas Liacutengua de Sinais e segunda liacutengua) Essa filosofia concebe o surdo

como um ser diferente e a surdez como ldquoatributo humanordquo como uma caracteriacutestica da pessoa surda resultado

de uma deficiecircncia orgacircnica que natildeo se esgota nela mesma (SKLIAR 1997 apud SLOMSKI 2010 p 41)

SINAIS CASEIROS DESCRICcedilAtildeO

AacuteGUA Matildeo direita com o dedo polegar fazendo a expressatildeo de beber aacutegua

BRINCAR As duas matildeos fechadas batendo as pontas dos dedos em

movimento

BANHEIRO Matildeo direita mostra o local e a esquerda eacute posicionada na barriga

COMIDA As duas matildeos abrindo e fechando repetidamente proacuteximo da boca

DORMIR As duas matildeos com as palmas juntas encostar-se ao rosto com

expressatildeo de querer dormir

69

Fonte AZEVEDO (2014)

Figura 2 Sinais caseiros utilizado pela crianccedila de 5 anos

FOME Matildeo direita indo em direccedilatildeo da barriga fazendo expressatildeo facial de

fome

MAtildeE Matildeo direita aberta no rosto fazendo movimento nos dedos com

expressatildeo chamativa

IRMAtildeO Matildeo direita batendo no antebraccedilo para chamar atenccedilatildeo

PAI Matildeo direita com os dedos pegando o queixo

PESSOA Matildeo direita com dedo indicador fazendo expressatildeo de algueacutem

CHORAR As duas matildeos fechadas com os dorsos esfregando nos olhos

AacuteGUA BRINCAR

COMIDA DORMIR FOME

MAtildeE IRMAtildeO PAI

BANHEIRO

70

44 O indiacutegena surdo da Comunidade de Ponta Alegre do municiacutepio de Barreirinha

Foi localizado um aluno surdo na comunidade de Ponta Alegre que faz parte do

municiacutepio de Barreirinha trata-se de um jovem de 13 anos que estuda na Escola Municipal

Rosa Cabral e mora em uma aldeia mais distante a observaccedilatildeo foi feita na escola Nessa

viagem foi obtido a autorizaccedilatildeo de viagem para a aldeia na Secretaria de Educaccedilatildeo Municipal

de Barreirinha por meio do contato com o coordenador geral do setor indiacutegena daquela aacuterea

o senhor Santino Lopes que muito contribuiu com o projeto e de servir como guia de

viagem

O devido aluno estuda na 3ordf Serie do ensino fundamental De acordo com as

observaccedilotildees feitas O ensino predominante na sala para o ensino deste aluno eacute a Liacutengua

Portuguesa visto que os professores em sua maioria vem do municiacutepio de Barreirinha

Embora o ensino seja bem aplicado e a escola dispotildee de material didaacutetico apropriado para a

seacuterie natildeo haacute metodologia de ensino especializado para surdo natildeo existindo Sala de

Recursos27

O aluno aprende lentamente demonstrando dificuldades de entender os

conteuacutedos

A comunicaccedilatildeo com seus professores e colegas soacute acontecem atraveacutes de sinais

caseiros e expressotildees manuais O aluno surdo vive quase que isolado sem ter a possibilidade

de estabelecer uma comunicaccedilatildeo satisaftoacuteria dentro do contexto escolar devido ao

27

Uma das inovaccedilotildees trazidas pela Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Especial na Perspectiva da Educaccedilatildeo

Inclusiva (2008) eacute o Atendimento Educacional Especializado ndash AEE um serviccedilo da educaccedilatildeo especial que []

identifica elabora e organiza recursos pedagoacutegicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena

participaccedilatildeo dos alunos considerando suas necessidades especiacuteficas

O AEE complementa eou suplementa a formaccedilatildeo do aluno visando a sua autonomia na escola e fora dela

constituindo oferta obrigatoacuteria pelos sistemas de ensino Eacute realizado de preferecircncia nas escolas comuns em um

espaccedilo fiacutesico denominado Sala de Recursos Multifuncional Portanto eacute parte integrante do projeto poliacutetico

pedagoacutegico da escola (BRASIL 2008 p 3)

CHORAR PESSOA

71

preconceito existente Ateacute mesmo na proacutepria comunidade por natildeo entenderem e nem saberem

de que forma comunicarem-se com o mesmo a situaccedilatildeo de exclusatildeo se repete

Vale destacar que diante desta ausecircncia da qualidade de ensino para o aluno surdo a

professora Maria Inecircs ao responder um questionaacuterio segue algumas afirmativas para mudar

esta realidade Desta forma a educadora afirma que

- Eacute muito importante a capacitaccedilatildeo em cursos de libras e livros didaacuteticos proacuteprios

como forma de melhorar o ensino e a comunicaccedilatildeo com aluno surdo na

comunidade como parte da educaccedilatildeo inclusiva para facilitar o ensino e

aprendizado acima de tudo conhecer sua liacutengua materna identidade do povo

Satereacute-Maweacute

Pelo relato do Gestor da Escola Senhor Dulcemar a necessidade jaacute referida pela

educadora acima de materiais didaacuteticos para subsidiar o ensino eacute novamente colocada em

destaque conforme pode ser vislumbrado no relato transcito a seguir

- Eu como gestor sinto-me gratificado pelo trabalho a ser desenvolvido aqui com a

questatildeo da Libras um trabalho realizado pelo professor Marlon Jorge Pois eacute muito

importante devido agrave dificuldade que a educaccedilatildeo Satereacute- Maweacute vem tendo

principalmente quando se trata de alunos surdos indiacutegenas e ateacute mesmo por falta

de material didaacutetico Esse trabalho vai ser importante aqui na aacuterea indiacutegena para

ajudar o professor na sala de aula como ensinar como educar e como lidar com

esses alunos com necessidades especiais Entatildeo eacute um trabalho muito importante

pra noacutes e estamos aqui a disposiccedilatildeo e tambeacutem para contribuir como gestor da

escola juntamente com os professores e pra noacutes eacute muito bom esse trabalho e que o

Sr possa desenvolver esse seu projeto essa cartilha que com o aacutepice das aulas de

libras que com certeza vai fortalecer muito mais a educaccedilatildeo do povo Satereacute

Maweacuterdquo

Tabela 313 sinais caseiros coletados e utilizados pelo aluno da comunidade de Ponta Alegre

Fonte Azevedo (2014)

SINAIS CASEIROS DESCRICcedilAtildeO

AacuteGUA Usa as duas matildeos fazendo impressatildeo de beber alguma coisa

BARCO Usa-se a matildeo direita aberta em posiccedilatildeo vertical fazendo uma

expressatildeo da accedilatildeo do barco

BANHO Fazer a expressatildeo de pular na aacutegua com os braccedilos esticados

BANHEIRO Matildeo direita usando o indicador fazendo expressatildeo sair fora sala

COMIDA Matildeo esquerda aberta matildeo direita usando como o objeto metaacutelico

COBRA Usando os dedos da matildeo direita beliscando o pulso da matildeo esquerda

ESCOLA Faz-se o sinal de casa

ESTUDAR Faz a expressatildeo de escrever

FOME Matildeo direita levando em direccedilatildeo da barriga fazendo expressatildeo facial

de fome

FARINHA As duas matildeos palmas para baixo fazendo a expressatildeo de esfarelar

alguma coisa

LANCHA Usa a matildeo direita palma para cima fazendo uma accedilatildeo da rapidez

para frente

PEIXE Matildeo direita fazer a expressatildeo de caccedilar o peixe com o arpatildeo

PESSOA Matildeo direita com dedo indicador fazendo expressatildeo de algueacutem

72

Figura 3 Sinais caseiros utilizados pelo aluno da comunidade de Ponta alegre ndash

Barreirinha

AacuteGUA BARCO

BANHEIRO

BANHO

COMIDA

ESCOLA

FOME LANCHA PESCAR PEIXE

ESTUDAR FARINHA

COBRA

73

45 Os indiacutegenas surdos do Municiacutepio de Maueacutes

Situado entre os rios Madeira e Tapajoacutes o municiacutepio de Maueacutes estaacute localizado no

Meacutedio Amazonas que hoje eacute denominado como microrregiatildeo aacuterea leste do Estado Distante

de Manaus cerca de 30 km em linha reta ou o equivalente 45 minutos por via aeacuterea estando

a 356 km por via fluvial cerce de 16 a 18 horas de barco

Nesse municiacutepio foi realizado duas viagens com a finalidade de fazer um mapeamento

das aacutereas indiacutegenas bem como descobrir a existecircncia de surdos nas aldeias O primeiro

contato foi na Secretaria de Educaccedilatildeo do municiacutepio primeiramente me apresentado como

aluno pesquisador juntamente com os documentos comprobatoacuterios de acesso para realizar a

pesquisa nas aacutereas indiacutegenas As informaccedilotildees que tinha antes de estabelecer o contato

apontavam para a existecircncia de alunos indiacutegenas surdos matriculados na sede do municiacutepio

Poreacutem a secretaria informou desconhecer a existecircncia de alunos indiacutegenas matriculados na

rede publica do municiacutepio nem saber sua localizaccedilatildeo para contatos sendo orientado a

procurar na Casa do Estudante Indiacutegena Satereacute-Maweacute que se localiza em um bairro mais

distante dali

Chegando ao SESAI - Secretaria de Sauacutede Indiacutegena obtivemos acesso agraves informaccedilotildees

devido ao fato de que a pessoa responsaacutevel estava em viagem sendo que retornaria na outra

semana Em outra busca formos agrave Casa do Estudante Satereacute-Maweacute onde conversamos com o

coordenador Sr Jusivam que disse saber da existecircncia de indiacutegenas surdos nas comunidades

na Marau e Andiraacute mas natildeo ter dados quantitativos devido ao fato deles natildeo terem procurado

a Casa do Estudante em busca de assistecircncia que auxiliassem sua integraccedilatildeo em escolas

regulares ou inclusivas Observa-se que a Casa do Estudante podia auxiliar eles a

conseguirem uma escola para estudarem na zona urbana jaacute que esta eacute uma das atribuiccedilotildees da

instituiccedilatildeo

Ao sermos informados que as comunidades onde havia surdos eram distantes e

necessitava de apresentar outros documentos da Coordenaccedilatildeo Geral de Educaccedilatildeo que ficava

no municiacutepio de Barreirinha Tambeacutem se fazia necessaacuterio preparar uma programaccedilatildeo de

viagem para que pudessemos chegar ateacute aquela localidade de modo que nesta precisava

inclusive organizar para ter inteacuterpretes que falassem a liacutengua Satereacute-Maweacute e inteacuterpretes de

Libras Aleacutem destes precisava contar com um acompanhante para registrar as imagens e

filmagens se autorizadas anotando tudo que fosse necessaacuterio

Fazendo uma reflexatildeo sobre a viagem e os entraves que tinhamos pela frente para a

concretizaccedilatildeo do projeto e as distacircncias geograacuteficas para alcanccedilar os objetivos da pesquisa

74

Contudo ao encontrar um surdo indiacutegena sendo o principal objeto da pesquisa em funccedilatildeo da

grande satisfaccedilatildeo de poder contribuir para o desenvolvimento linguiacutestico dos indiacutegenas surdos

e para que a comunidade compreenda como um ser incluiacutedo a partir do respeito a sua cultura

inserindo em seus modos e haacutebitos foi compensador enfrentamos todos os obstaacuteculos

Visitamos a Universidade do Estado do Amazonas ndash UEA onde tivemos a grata

surpresa de saber que havia uma turma de formaccedilatildeo em licenciatura Indiacutegena para a

comunidade Esperamos a aula acabar para falar com o professor o qual pediu para vir outro

dia para conversar com os alunos Foi nessa ocasiatildeo que conhecemos trecircs professores com os

quais fizemos um acordo para que na proacutexima viagem me levassem para a aldeia a fim de

realizar o mapeamento

Voltando para Parintins foi elaborado um roteiro para viagem a aacuterea indiacutegena Satereacute-

Maweacute pelos rios Maueacutes-Accedilu Rio MarauUrupadi A viagem aconteceu no dia 02 de

fevereiro de 2014 saindo de barco de Parintins indo ateacute o municiacutepio de Maueacutes No dia

seguinte as 8 horas acompanhado do professor Jesiel pegamos uma voadeira de 150HP com

destino ao territoacuterio Satereacute-Maweacute Foi uma viagem perigosa devido agraves condiccedilotildees dos rios e de

difiacutecil acesso para chegarmos laacute Todavia fizemos um esforccedilo e conseguimos nos deslocar ateacute

a comunidade Percorremos de voadeira uma viagem que durou aproximadamente 8 horas

pelo Rio Maueacutes Accediluacute Depois de uma hora e meia de viagem chegamos ao Rio Urupadi e

seguimos mais uma hora e meia de viagem ateacute a comunidade indiacutegena Vale do Quiinha

Nessa aldeia pegamos o professor Jacob Santos de Souza que nos acompanhou para a

proacutexima aldeia Ilha Michiles que fica no Rio Marau Nessa aldeia pegamos outro professor

Satereacute-Maweacute Jocimar Alencar dos Santos Saiacutemos da Ilha Michiles com destino a

comunidade Santa Maria que fica na divisa do Rio Urupadi e Manjuru A cada visita que

faziamos nas comunidades indiacutegenas percebemos no cotidiano a diversidade presente nas

aacutereas indiacutegenas Satereacute-Maweacute Ao perguntar se havia algueacutem surdo na famiacutelia e a resposta

sempre vinha de forma afirmativa o que me demonstrou que todos os esforccedilos para realizar a

viagem foram compensados diante da riqueza de dados coletados

A primeira iniciativa adotada com relaccedilatildeo a esse momento foi reunir com os

comunitaacuterios envolvidos nas atividades escolares A reuniatildeo teve como objetivo observar e

entrevistar alguns indiacutegenas para posteriormente analisar como se procede agrave comunicaccedilatildeo

entre indiacutegenas surdos e ouvintes A reuniatildeo foi muito uacutetil para os estudos e anaacutelise de

informaccedilotildees Os surdos existentes na comunidade nunca estudaram devido agrave comunidade

Santa Maria ficar distante da zona urbana e a escola existente para alunos ouvintes ficar em

75

outra comunidade o que inviabiliza a ida deles sendo que tambeacutem natildeo haacute professores

especializados para atenderem a clientela surda existente no Rio Marau

Encontramos dois indiacutegenas surdos na comunidade de Santa Maria que foram objeto

de estudos No entanto houve informaccedilotildees repassadas de que haacute outros trecircs surdos em outras

comunidades mais distante na mesma aacuterea Satereacute-Maweacute A visita para contactar estes outros

trecircs surdos ficou para a proacutexima viagem de observaccedilatildeo e coleta dos dados

451 O primeiro surdo da Comunidade de Santa Maria

No contato e observaccedilatildeo que tivemos com o surdo o mais novo tem 24 anos mora

com a famiacutelia natildeo conhece nenhuma liacutengua se comunica com gestos e sinais caseiros A

comunidade assim com a famiacutelia demosntrou pouco se importar com ele de forma que natildeo

haacute estiacutemulo ou interesse para que haja uma interaccedilatildeo linguiacutestica satisfatoacuteria entre eles

O ponto de encontro com seus colegas fica na parte central da comunidade que tem

um campo de futebol Laacute eles se concentram embaixo de uma aacutervore Neste lugar o surdo

costuma ficar quase diariamente com intuito de se unir e brincar com os colegas Ele usa os

sinais caseiros com expressotildees com a intenccedilatildeo de conseguir se comunicar com os colegas

Poreacutem alguns natildeo conseguem entender enquanto outros falam a Liacutengua Satereacute-Maweacute

Apesar do esforccedilo do surdo de tentar compreender o que eacute falado via a leitura labial na

maioria das vezes natildeo consegue compreender Poreacutem mesmo assim sinaliza balanccedilando a

cabeccedila com expressatildeo de concordacircncia afirmativa mesmo natildeo entendendo a mensagem

Tabela 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa

Maria

SINAIS CASEIROS

COLETADOS

DESCRICcedilAtildeO

AacuteGUARIO Usam-se as duas matildeos fazendo a expressatildeo de banzeiro

ANTA Matildeo direita fazendo a expressatildeo do focinho do nariz

AacuteRVORE As matildeos abertas fazendo expressatildeo de segurar o troco ao mesmo tempo

levando para cima

BARCO Usa a matildeo direita fechada fazendo expressatildeo de abrir e fechar a matildeo

como sinal de fumaccedila

BANHO Fazer a expressatildeo de pular na aacutegua com os braccedilos esticados

CASA As duas matildeos palmas para baixo fazendo um balanccedilo de movimento de

uma rede

CACcedilAR PEIXE Matildeo direita fazer expressatildeo de soltar o arpatildeo

CUIA As duas matildeos juntas fazer a expressatildeo de raspar a cuia

COCO Fazer a expressatildeo de tirar o coco com a vara

COMIDA As duas matildeos levando ateacute a boca

76

Fonte Azevedo (2014)

Figura 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa Maria

(30 sinais coletados)

COBRA Matildeo direita fazendo a expressatildeo da picada da cobra

FACA Matildeo direita fachada fazendo a expressatildeo de furar alguma coisa para

baixo

FLECHA Fazer a expressatildeo de jogar a flecha

FORMIGA Matildeo direita com os dedos beliscando o braccedilo esquerdo

FOME Matildeo direita levando em direccedilatildeo da barriga fazendo expressatildeo facial de

fome

FARINHA As duas matildeos fazer a expressatildeo de fazer farinha

GUARANAacute Fazer a expressatildeo de ralar o guaranaacute

JACAREacute Os dois indicadores das matildeos fazendo expressatildeo de dentes grandes do

jacareacute

LANCHA As duas matildeos dedos juntos fazer a expressatildeo de uma accedilatildeo raacutepida para

frente

MACACO Com braccedilos abertos fazer a expressatildeo de macaco

MALOCA As duas matildeos com os dedos encostados puxar para os lados opostos

MANDIOCA Fazer expressatildeo de descascar algum

ONCcedilA Com as matildeos fazer pintas no rosto

PAI As duas matildeos esfregando os indicadores

PEIXE Faz se expressatildeo de descamar o peixe

PILAtildeO As duas matildeos juntas fazendo a expressatildeo de socar a crueira

POTE AacuteGUA As duas matildeos juntas palmas para cima elevando para cima em curvas

onduladas

PASSAacuteRO As duas matildeos fazendo o movimento de paacutessaro

PESSOA Matildeo direita fazendo a expressatildeo de pegar no cabelo

TIPITI As duas matildeos fazendo a expressatildeo de espremer algum

PENEIRAR As duas matildeos em forma letra A fazer expressatildeo de balanccedilar o objeto

AacuteGUA ANTA AacuteRVORE

VIAGEM BANHO

77

VIAJAR

CASA CACcedilAR ALIMENTO CUIA

COCO COMIDA

FACA

FARINHA

FORMIGA

GUARANAacute

FOME

FACA

FLECHA

78

JACAREacute LANCHA

MACACO

MANDIOCA ONCcedilA

MALOCA PAI

POTE DE AacuteGUA PILAtildeO

LANCHA JACAREacute

PEIXE

79

452 O segundo surdo da Comunidade de Santa Maria

O segundo surdo visitado um senhor adulto com identidade natildeo revelada residindo na

Comunidade de Santa Maria Eacute um cidadatildeo reservado e fechado para desconhecidos Como

nossa equipe era composta de 05 profissionais sendo 03 (trecircs) professores indiacutegenas que me

acompanharam para serem facilitadores linguiacutesticos e um colaborador local para captar as

imagens ficarmos 04 (quatro) dias na comunidade para observaccedilotildees Apesar do tempo o

investido para conseguir o contato o mesmo se mostrou irredutiacutevel e natildeo se dispos a

conversar conosco Observa-se que mora sozinha e eacute raro ele se manifestar na comunidade

Pela histoacuteria contada a seu respeito apesar de natildeo se comunicar manteacutem sua residecircncia de

maneira organizada cultiva de algumas plantaccedilotildees como mandioca banana guaranaacute aleacutem de

produzir farinha tambeacutem faz pescaria para se alimentar Foi relatado que ajuda alguns

vizinhos e amigos com o que produz aleacutem de ser experiecircncia em matildeo de obra na confecccedilatildeo

de trepadeira silvestre que facilita subir nas aacutervores coqueiros e accedilaizeiros

PASSAacuteRO PESSOA COBRA

TIPITI PENEIRAR

80

Sobre o contexto educacional tendo como tema central a educaccedilatildeo escolar indiacutegena

o professor Jesiel (2014)28

(que eacute indiacutegena e concluiu o curso de pedagogia intercultural na

Universidade do Estado do Amazonas localizado no municiacutepio de Maueacutes) argumentou que o

territoacuterio Satereacute-Maweacute eacute muito grande sendo longa a distacircncia para se chegar na zona

urbana ateacute de forma que mesmo o deslocamento de uma comunidade para outra dificulta os

indiacutegenas irem para a escola Estas segundo o educador referido satildeo algumas razotildees que

impedem muitos indiacutegenas de estudarem na medida em que acarreta prejuiacutezo para a famiacutelia

especialmente de perda de tempo principalmente para os adultos que tem compromisso no

campo e com a comunidade

Para solucionar este problema devido a distacircncia as famiacutelias e os liacutederes indiacutegenas

possuem propostas e lutas para a construccedilatildeo de escolas nas aldeias o que facilitaria o acesso

dos surdos indiacutegenas da comunidade na escola E ao considerar que o indiacutegena surdo

compreende e se comunica com seus pares atraveacutes de gestos e sinais caseiros de forma que

aleacutem de sua liacutengua nativa haacute outros meios para que o surdo possa se comunicar isso aponta

para a necessidade da criaccedilatildeo de propostas de acesso agrave educaccedilatildeo dessas pessoas Dessa

maneira foram catalogados alguns sinais utilizados por esse surdo adulto da Comunidade de

Santa Maria apresentado abaixo

Tabela 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais antigo residente isolado na

comunidade de Santa Maria no Rio Marau ( 18 sinais coletados)

28

As famiacutelias e os liacutederes indiacutegenas possuem propostas e lutas para a construccedilatildeo de escolas nas aldeias para a

facilitaccedilatildeo do acesso dos surdos indiacutegenas na comunidade e na escola O indiacutegena surdo apesar de natildeo ouvir

compreende e comunica com seus pares atraveacutes de gestos e sinais caseiros que aleacutem de sua liacutengua nativa haacute

outros meios para que o surdo possa se comunicar Isso contribui para a criaccedilatildeo de propostas de acesso agrave

educaccedilatildeo dessas pessoas Dessa maneira foram catalogados alguns sinais utilizados por esse surdo adulto da

Comunidade de Santa Maria apresentado abaixo

A contribuiccedilatildeo do professor indiacutegena Jesiel Santos foi de suma importacircncia para a coleta de dados nesta

pesquisa visto que atraveacutes dele que conseguimos chegar ateacute a comunidade de Santa Maria afim de termos os

contatos na comunidade

SINAIS CASEIROS DESCRICcedilAtildeO

ARCOFECHA As duas matildeos com expressatildeo de utilizar um arco com flecha

AacuteGUA Matildeo direita com utilizando somente o dedo polegar fazer a expressatildeo de

beber algum

BANHO Os braccedilos e matildeos esticadas fazer a expressatildeo de se soltar no rio

BEIJU As duas matildeos fazendo um circulo e em seguida levar ateacute a boca

CIGARRO A posiccedilatildeo para traduzir este sinal satildeo as duas matildeos em posiccedilatildeo dos dedos

polegar e indicador juntos fazendo expressatildeo de fazer um cigarro caseiro

CASA As duas matildeos com os dedos esticados fazer a expressatildeo de formato de uma

casa

COBRA A matildeo direita com os dedos indicador e polegar encostados fazer a expressatildeo

de beliscar o pulso de antebraccedilo

FARINHA Matildeos com os dedos todos juntos fazer a expressatildeo com o movimento de

81

Figura 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo idoso na comunidade de Santa Maria

soltar a farinha

FORNO DE ASSAR Matildeo direita fazendo um semiciacuterculo de com a caracteriacutestica de um forno de

barro

GARREIRA As duas matildeos juntas fazer a expressatildeo repetidamente de amassar uma massa

JACAREacute As duas matildeos pegando os dentes

LUVA DA TUCANDEIRA Fazendo a expressatildeo de usar uma luva de palha e fazer a expressatildeo de dor da

ferrada da tucandeira

MANDIOCA Usar o antebraccedilo esquerdo com a matildeo direita como um material cortante

fazendo a expressatildeo de descascar

MACACO Os dois braccedilos e corpo fazendo a expressatildeo do movimento caracteriacutestico do

macaco

PAJEacute As duas matildeos fazendo a expressatildeo de segurar algum e balanccedilar

PAacuteSSARO Fazer a expressatildeo de balanccedilar os braccedilos caracterizando o movimento de um

paacutessaro

TIPITI As duas matildeos fazendo o movimento de espremer a mandioca

TERRASOLO Matildeo direita fazendo expressatildeo de um pequeno monte de terra

ARCOFECHA BEBER

LIacuteQUIDOAacuteGUA

BEIJUCOMER COBRA

FARINHA FERRADA DA TUCANDEIRA MALOCACASA ESCOLA

ARCOFLECHA BEBER LIQUIDOAacuteGUA BANHOPULAR NA AacuteGUA

AacuteAacuteGUA

CIGARRO

82

FORNO DE ASSAR

JACAREacute

LUVA DA TUCANDEIRA MACACO

PAJEacute

TIPITI TERRA

GAREIRA

MANDIOCA

PAacuteSSARO

(( ))

JACAREacute

83

5 ICONICIDADE E ARBITRARIEDADE NA CRIACcedilAtildeO DOS SINAIS CASEIROS

Nos anos 60 a partir dos trabalhos de Stokoe (1960) foi comprovado que as Liacutenguas

de Sinais satildeo linguas Estas satildeo liacutenguas naturais com ldquoestrutura gramatical proacutepria em seus

niacuteveis fonoloacutegico (ou queroloacutegico) morfoloacutegico sintaacutetico e semacircntico aleacutem de seus aspectos

pragmaacuteticosrdquo

De acordo com Quadros (2006 p 221)

pelo fato de as liacutenguas de sinais natildeo serem faladas e de natildeo terem o seu coacutedigo

escrito ainda popularizado entre os surdos natildeo as elimina das consideraccedilotildees

cientiacuteficas visto que apresentam uma organizaccedilatildeo estrutural e fazem parte da

constituiccedilatildeo cultural desses sujeitos ndash crescendo envolvendo e transmitindo

dinamicamente tradiccedilotildees socioculturais Portanto as liacutenguas de sinais fazem parte

do conjunto da linguagem humana com a diferenccedila de se apresentarem em uma

terceira modalidade a visuo-espacial

Reiterando-se que a Liacutengua de Sinais eacute uma liacutengua natural uma vez que estaacute veiculada

a um canal que natildeo eacute o oral-auditivo e sim visual esta garante uma percepccedilatildeo e articulaccedilatildeo

mais faacutecil mais coerente e confortaacutevel aleacutem de contribuir para o desenvolvimento linguiacutestico

cognitivo e social do surdo

Sobre as caracteristicas linguiacutesticas das Liacutenguas de Sinais vale ressaltar que Sousa

(2010) ao tratar dos aspectos visuais quanto agraves propriedades das Liacutenguas de Sinais enfatiza a

iconicidade e arbitrariedade relacionada ao signo linguiacutestico que satildeo inerentes agraves liacutenguas

naturais Sobre as definiccedilotildees dos fenocircmenos das liacutenguas estes remontam a eacutepoca de Platatildeo

filoacutesofo grego que tratava os fenocircmenos sobre a linguagem e a relaccedilatildeo dela com o mundo

Cita-se tambeacutem Craacutetilo Hermoacutegenes e Soacutecrates que foram interlocutores desta relaccedilatildeo

discutindo a ligaccedilatildeo existente entre nome ideia e coisa A abordagem dos trecircs se diferenciava

de forma que Craacutetilo defendia o conceito de iconicidade Hermoacutegenes de arbitrariedade

Soacutecrates por seu turno integrava as duas concepccedilotildees Esta diferenciaccedilatildeo tecido pelos trecircs

filosofos pode ser vislumbrada no trecho transcrito abaixo

Para Craacutetilo a liacutengua eacute o espelho do mundo o que significa que existe uma relaccedilatildeo

natural e portanto similar ou icocircnica entre os elementos da liacutengua e os seres por

eles representados Para Hermoacutegenes a liacutengua eacute arbitraacuteria isto eacute convencional pois

entre o nome e as ideias ou as coisas designadas natildeo haacute transparecircncias ou

similaridade Soacutecrates por sua vez tem o papel de fazer a integraccedilatildeo entre os dois

pontos de vista (WILSON amp MARTELOTTA 2010 apud SOUSA 2010 p 4)

84

A modalidade gestual-visual espacial pela qual a Liacutengua de Sinais eacute produzida e

reconhecida pela comunidade Surda leva muitas vezes as pessoas a pensarem que todos os

sinais satildeo desenho no ar do referente que representam Para melhor esclarecimento por

decorecircncia de sua natureza linguiacutestica a realizaccedilatildeo de um sinal pode sim ser motivada pelas

caracteriacutesticas do dado da realidade a que se refere poreacutem natildeo eacute regra Ou seja a maioria dos

sinais da LIBRAS eacute arbitraacuteria natildeo mantendo relaccedilatildeo de semelhanccedila alguma com seu

referente Portanto essa condiccedilatildeo possibilita o enriquecimento da flexibilidade e versatilidade

da liacutengua (BASSO 2011 p47)

Exemplos de sinais arbitraacuterios

Figura 6 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos que se refere agrave

arbitrariedade

BISCOITO PESSOA DESCULPA

Fonte Azevedo (2014)

A ideia de arbitrariedade da liacutengua se relaciona com a ideia de convenccedilatildeo que se

efetiva em todas as liacutenguas como Liacutengua de Sinais e na Liacutengua Portuguesa ilustra-se o

processo com os exemplos das palavras ldquobiscoitordquo ldquodesculperdquo e ldquopessoardquo O processo de

definiccedilatildeo destes termos ocorre de forma arbitraacuteria pois soacute nomes foram atribuiacutedos devido a

uma convenccedilatildeo que estabelece esse conceito e natildeo porque haacute uma relaccedilatildeo entre o som da

palavra e o objeto que ela designa (SALLES 2007 p 5)

No caso da Libras os exemplos citados de sinais foram criados sem sofrer influecircncia

da imagem dos objetos aos quais eles se referem O que mostra que mesmo que a Libras

tambeacutem apresenta a caracteriacutestica de arbitraacuterios (TEIXEIRA 2015 p 5)

Para compreender melhor a importacircncia da visualidade na Liacutengua de Sinais dos

Satereacute-Maweacute eacute relevante entender trecircs conceitos da teoria de Pierce sobre a iconicidade que

pode ser considerada a base dos sinais dessa comunidade os quais satildeoo siacutembolo o iacutendice e o

iacutecone Segundo Martelotta (2011) (apud TEIXEIRA 2015 p 2)

85

O siacutembolo de acordo com Peirce refere-se a determinado objeto representando-o

com base em uma lei haacutebito ou convenccedilatildeo estabelecendo uma relaccedilatildeo entre dois

elementos Para citar alguns exemplos a cruz eacute o siacutembolo do cristianismo e a

balanccedila o siacutembolo da justiccedila Uma caracteriacutestica importante do siacutembolo relaciona-se

ao fato de que ele eacute parcialmente motivado ou seja haacute entre o siacutembolo e o conteuacutedo

simbolizado alguns traccedilos relacionados ao objeto

Haacute uma diferenccedila fundamental entre o siacutembolo de um lado e o iacutendice e o iacutecone de

outro jaacute que nesses dois uacuteltimos haacute um niacutevel ainda menor de arbitrariedade No caso

do iacutendice ocorre uma relaccedilatildeo de contiguidade com a realidade exterior a fumaccedila

por exemplo eacute o iacutendice do fogo e a presenccedila de nuvens negras o iacutendice de chuva

iminente

O iacutecone por sua vez tem uma natureza imagiacutestica apresentando portanto

propriedades que se assemelham ao objeto a que se refere A fotografia de um

indiviacuteduo por exemplo eacute uma representaccedilatildeo icocircnica desse indiviacuteduo assim como o

mapa do Rio de Janeiro representa a cidade Assim um iacutecone eacute qualquer coisa que

seja utilizada para designar algo que lhe seja semelhante em algum aspecto

Nesta perspectiva Quadros (1997) traz a reflexatildeo sobre os efeitos da modalidade ou

seja o fato de a Liacutengua de Sinais serem visuoespacial em vez de auditiva-oral implica nas

diferenccedilas para a aquisiccedilatildeo do surdo e nesse sentido tem-se a questatildeo da iconicidade das

Liacutenguas de Sinais uma vez que a iconicidade se refere

A transparecircncia entre significado e o significante ou seja a relaccedilatildeo de identidade

entre a palavra (o sinal) e o seu sentido Por exemplo nas liacutenguas faladas agraves

onomatopeias satildeo consideradas por alguns autores como icocircnicas pois a produccedilatildeo

sonora bdquoreal‟ (do objeto ou do animal) eacute reproduzida na fala expressando certa

identidade (QUADROS 2011 p 22)

Vale ressaltar que a iconicidade vem sendo estudada a partir da pesquisa semioacutetica de

Charles Sanders Peirce (1999) filoacutesofo norte-americano contemporacircneo de Saussure

Segundo Teixeira (2015) Peirce em seus estudos sobre a Semioacutetica o signo tem a funccedilatildeo de

proporcionar uma ideia do mundo e tudo que cerca o indiviacuteduo estaacute rodeado de signos Como

explica o filoacutesofo

[] para que algo possa ser um Signo (expressatildeo ou representamento) esse algo

deve bdquorepresentar‟ [] alguma outra coisa chamada seu Objeto apesar de ser talvez

arbitraacuteria a condiccedilatildeo segundo a qual um Signo deve ser algo distinto de seu objeto

(PEIRCE 1999 apud TEIXEIRA 2015 p 5)

Ao direcionar essas definiccedilotildees para agraves liacutenguas de sinais Sousa (2010) afirma que

muitas vezes essas liacutenguas satildeo consideradas puramente icocircnicas por serem de uma

modalidade diferente acreditando-se acredita que os sinais satildeo criados sempre a partir da

86

representaccedilatildeo do referente Eacute certo que um sinal pode ser realizado de acordo com a

caracteriacutestica daquilo que se refere mas de acordo com Strobel amp Fernandes (1998 apud

Sousa 2010 p 4) ldquoisto natildeo eacute uma regra jaacute que a maioria dos sinais em Libras eacute arbitraacuterio ou

seja natildeo manteacutem uma relaccedilatildeo de similitude com o referenterdquo

Reconhece-se que algumas Liacutenguas de Sinais parecem ter maior motivaccedilatildeo icocircnica

apresentando relaccedilotildees entre a sua forma e o seu significado comumente observado nas

Liacutenguas de Sinais caseiras dos Satereacute-Maweacute Isso significa a relaccedilatildeo entre o referente e o

referenciado Alguns estudos como os de Meier (1981) citado por Lillo-Martin (1986)

apontam para uma aparente iconicidade nas liacutenguas de sinais o que justifica considerar as

variaccedilotildees regionais e sociais e as mudanccedilas histoacutericas como fenocircmenos identificaacuteveis na

Liacutengua Brasileira de Sinais o que lhe confere o caraacuteter natural (STROBEL amp FERNANDES

1998 apud SOUSA 2010)

Nesse contexto a iconicidade como caracteriacutesticas semelhantes ao iacutecone tem em

comum o objeto que representa Por ser uma liacutengua de modalidade visuoespacial a

iconicidade estaacute presente em grande parte dos sinais da Libras pois a relaccedilatildeo entre a ldquoformardquo

e o ldquosentidordquo eacute mais visiacutevel Salles (2007) em bdquoEnsino de liacutengua portuguesa para surdos

caminhos para a praacutetica pedagoacutegica‟ comenta

Um aspecto que se sobressai no contraste entre as modalidades viacutesuo-espacial e oral-

auditiva eacute a questatildeo da arbitrariedade do signo linguiacutestico Esse conceito estabelece

que na constituiccedilatildeo do signo linguiacutestico a relaccedilatildeo entre o significante (imagem

acuacutestico-focircnica) e o significado eacute arbitraacuteria isto eacute natildeo existe nada na forma do

significante que seja motivado pelas propriedades da substacircncia do conteuacutedo

(significado) Uma caracteriacutestica das liacutenguas de sinais eacute que diferentemente das

liacutenguas orais muitos sinais tecircm forte motivaccedilatildeo icocircnica Natildeo eacute difiacutecil supor que esse

contraste se explique pela natureza do canal perceptual na modalidade viacutesuo-

espacial a articulaccedilatildeo das unidades da substacircncia gestual (significante) permite a

representaccedilatildeo icocircnica de traccedilos semacircnticos do referente (significado) o que explica

que muitos sinais reproduzam imagens do referente na modalidade oral-auditiva a

articulaccedilatildeo das unidades da substacircncia sonora (significante) produz sequecircncias que

em nada evocam os traccedilos semacircnticos do referente (significado) o que explica o

caraacuteter imotivado ou arbitraacuterio do signo linguiacutestico nas liacutenguas orais (SALLES

2007 p 83)

Todavia os mesmos sinais icocircnicos possuem um grau de arbitrariedade na definiccedilatildeo

dos mesmos como explica Frydrych (2012)

Pode haver contudo sinais com diferentes graus de iconicidade Um sinal pode natildeo

se assemelhar ao objeto que representa pela forma mas apresentar de alguma

forma uma similaridade por meio de expressotildees faciais ou movimentos Um

exemplo eacute o sinal ldquotristerdquo que possui como configuraccedilatildeo de matildeo o sinal Y

localizada abaixo do queixo em movimento de meia lua O sinal nada tem a ver

com o que a palavra representa no entanto a expressatildeo facial de tristeza que

acompanha o sinal daacute indiacutecios de que seu significado pode natildeo ser muito agradaacutevel

87

[] Falar de sinais icocircnicos em Libras pode parecer comum no entanto o sinal de

ldquocasardquo por exemplo motivado pelo formato do telhado de uma casa eacute tambeacutem

usado para o sinal de ldquomorarrdquo que pode ser usado para ldquomoradiardquo em diferentes

formatos de residecircncia como por exemplo casa apartamento cabana etc Embora o

sinal possa ter sido motivado na sua criaccedilatildeo por um tipo de casa passou a ser usado

de forma muito mais abrangente Sendo isto muito comum nas liacutenguas de sinais Os

sinais passam a ser signos linguiacutesticos altamente arbitraacuterios e passam a integrar o

leacutexico da liacutengua (Apud PIVETTA et al 2013 p8)

Como tambeacutem salienta Silva (2012) que ao passar do tempo o sinal icocircnico perde sua

motivaccedilatildeo inicial passando a ser arbitraacuterio

[] a transparecircncia eacute relativa porque a forma dos objetos ou movimentos que

originaram o sinal pode variar no tempo perdendo a sua motivaccedilatildeo inicial Um

exemplo eacute o sinal ldquoleiterdquo que faz referecircncia ao ato de ordenha que hoje ainda pode

ser considerado um sinal icocircnico Todavia para as futuras geraccedilotildees a motivaccedilatildeo de

sua representaccedilatildeo tende a se tornar uma convenccedilatildeo o que faz com que o sinal passe

a ser arbitraacuterio e de valor simboacutelico Sinais como o de ldquoleiterdquo satildeo frutos de um

processo histoacuterico e com o passar do tempo natildeo representam mais os artefatos e

procedimentos atuais sendo percebidos e interpretados apenas por meio da

arbitrariedade e da convenccedilatildeo(Apud PIVETTA et al 2013 p8)

A seguir temos alguns exemplos de sinais icocircnicos na Libras satildeo os sinais ldquoaacutervorerdquo

ldquocadeirardquo ldquocasardquo constituiacutedos a partir de caracteriacutesticas da imagem dos objetos aos quais se

referem Enquanto o primeiro lembra a imagem do tronco e das folhas de uma aacutervore o

segundo lembra as pernas de uma pessoa representadas pelos dedos indicador e meacutedio e a

terceira lembra a imagem de um telhado ou de uma casa sentada no objeto em questatildeo

(SALLES 2007 p 83)

Figura 7 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos aos quais se referem a

iconicidade

Fonte Azevedo (2014)

AacuteRVORE CADEIRA CASA

88

Figura 8 Caracteriacutesticas da imagem em Liacutengua de Sinais Satereacute-Maweacute dos objetos aos

quais se referem agrave iconicidade

Yara Wato Barco Libras

Fonte Azevedo (2014)

Man Beiju Libras

Fonte Azevedo (2014)

Kamunti hit Bilha Libras

Fonte Azevedo (2014)

89

Dessa maneira podem-se definir os sinais icocircnicos como aqueles que fazem alusatildeo agrave

imagem do seu significado natildeo implicando que todos os sinais satildeo iguais ou sinais icocircnicos

em todas as Liacutengua de Sinais cada grupo social absorve aspectos diferentes da imagem do

referente convencionando a representaccedilatildeo do sinal Os signos arbitraacuterios satildeo os que natildeo

trazem nenhuma relaccedilatildeo de semelhanccedila com o referente

90

6 INTERVENCcedilAtildeO E CONTRIBUICcedilAtildeO LINGUIacuteSTICA DO PROFESSOR SURDO

Os estudos sobre a educaccedilatildeo sistemaacutetica dos indiacutegenas surdos da etnia Satereacute-Maweacute

levaram agrave percepccedilatildeo da necessidade iminente de uma atuaccedilatildeo no processo ensino

aprendizagem desses sujeitos Desse modo apoacutes conhecer a realidade linguiacutestica e

educacional dos indiacutegenas surdos observados nas aldeias e na zona urbana de Parintins foi

possiacutevel intervir por meio do ensino da Liacutengua Brasileira de Sinais A intervenccedilatildeo foi feita

com o consentimento dos responsaacuteveis locais onde se faziam presentes acompanhando o

objeto da pesquisa - os indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute

Assim com a autorizaccedilatildeo da famiacutelia o primeiro contato foi estabelecido entre uma

crianccedila surda indiacutegena com professor tambeacutem surdo que ocorreu na residecircncia dela na zona

urbana do municiacutepio de Parintins cujo registro de imagem consta na Figura 9

Figura 9 Encontro da crianccedila surda Satereacute-Maweacute com o professor surdo

Fonte Azevedo (2014)

No contato foi possiacutevel verificar que a crianccedila natildeo conhecia a liacutengua Libras Sua

forma de comunicaccedilatildeo era com o uso dos siacutembolos ldquocaseirosrdquo Contudo ela respondeu ao

estiacutemulo de conversaccedilatildeo com muita facilidade buscando fazer a comunicaccedilatildeo As demais

observaccedilotildees e intervenccedilatildeo deram-se no ambiente educacional na Escola de Aacuteudio e

Comunicaccedilatildeo Padre Paulo Manna (Figura 10) Nesse contexto a crianccedila acompanhava com

atenccedilatildeo ao desempenho dos demais pares sempre atenta para compreensatildeo do conteuacutedo

comunicativo Ficou evidente a necessidade de um material de suporte escrito como recurso a

ser utilizado pelos docentes no processo ensino e aprendizagem

91

Figura 10 Contato com aluno Satereacute-Maweacute surdo no ambiente escolar

Fonte ndash Azevedo (2014)

Ocorreu tambeacutem o contato com o aluno surdo da Etnia Satereacute-Maweacute matriculado na

Escola Estadual Brandatildeo de Amorim em Parintins o qual foi feito em sua residecircncia dele A

conversa com ele foi feita fluentemente em Libras (Figura 10) Entretanto ao ser indagado

sobre a cultura a liacutengua falada de sua etnia natildeo soube responder Comprovou-se que o aluno

natildeo participa do contexto cultural da etnia por isso natildeo a conhece Por tal considera-se que o

material triliacutengue seria um recurso apropriado para promover o reconhecimento de muitos

signos que fazem parte da Liacutengua Satereacute-Maweacute

Figura 11 Contato com o aluno surdo Satereacute-Maweacute na Escola Estadual Brandatildeo de Amorim

Fonte ndash Azevedo (2014)

O contato com os familiares juntamente com professores indiacutegenas e inteacuterprete

linguiacutestica possibilitou ter uma visatildeo sobre o contexto comunicativo do indiacutegena surdo A

conversa com o pai do indiacutegena surdo na Aldeia de Santa Maria indicou a forma como

conseguem se comunicar com o filho desde o momento que perceberam que ele era surdo

Explicaram as dificuldades que tiveram no processo de entendimento com ele Confirmaram

92

que o aprendizado da liacutengua Libras indicando os signos que representam a cultura da etnia

seria muito importante para a comunicaccedilatildeo entre ele e os familiares eou educadores

Figura 12 Em viagem para aacuterea indiacutegena no Rio Marau ndash comunicaccedilatildeo com familiares

Fonte - Azevedo (2014)

O projeto da pesquisa foi apresentado na comunidade de Santa Maria para os

representantes da comunidade indiacutegena (Figura 12)

Figura 13 Apresentaccedilatildeo do projeto de pesquisa agraves lideranccedilas indiacutegenas na comunidade

Fonte Azevedo (2014)

Ressalta-se a importacircncia das lideranccedilas conhecerem e participarem do desenvolvimento

do projeto A relevacircncia desta participaccedilatildeo daacute-se em funccedilatildeo de que as mesmas contribuiram

informando vocabulaacuterios caracteristicos da regiatildeo que enriqueceram o minidicionaacuterio

triliacutengue Satereacute-MaweacutePortuguecircsLibras como pode ser evidenciado a seguir

93

Vocabulaacuterios e utensiacutelios indiacutegenas sinalizados em Libras

Liacutenguas

Satereacute-Maweacute Portuguecircs Libras

Mory‟ywat siomory‟awat Arco

Satereacute-Maweacute Portuguecircs Libras

T wa Aldeia

Ressalta-se a importacircncia do minidicionaacuterio ao considerar que o vocabulaacuterio contido no

mesmo poderaacute ser utilizado pelo indiacutegena surdo para ele aprenda a comunicaccedilatildeo utilizando os

signos que fazem parte da linguagem da etnia

E realizando uma mini oficina de Libras para professores da comunidade (Figura 6)

foi possiacutevel demonstrar o uso da Libras no contexto da sala de aula A participaccedilatildeo efetiva dos

mesmos proporcionou a troca de informaccedilotildees sobre o vocabulaacuterio da liacutengua indiacutegena

94

Figura 14 Desenvolvimento de oficina de Libras com professores indiacutegenas

Fonte Azevedo (2014)

Enfatiza-se que todo empenho em levar o conhecimento da Liacutengua Brasileira de Sinais

para os indiacutegenas surdos professores indiacutegenas familiares de surdos e comunidade manteve-

se em funccedilatildeo do ensejo de fazecirc-los conhecer e compreender a capacidade e modos dos

indiacutegenas surdos se comunicarem aleacutem de promover a aprendizagem da Libras em um lugar

de tatildeo difiacutecil acesso com pequenas escolas que sequer tecircm materiais didaacuteticos adaptados a

essa clientela Por este motivo considera-se que a contribuiccedilatildeo linguiacutestica em forma de um

minidicionaacuterio eacute um passo importante para levar aos indiacutegenas surdos a sua comunidade e o

nuacutecleo familiar destes o iniacutecio do resgate da sua liacutengua natural que eacute a Liacutengua Brasileira de

Sinais e a sua liacutengua nativa aleacutem de seus traccedilos culturais incluiacutedos no minidicionaacuterio

61 Libras e Liacutengua Satereacute-Maweacute intercacircmbio de construccedilatildeo sociocultural-linguiacutestico

Analisando a histoacuteria do povo surdo e do povo indiacutegena percebe-se uma trajetoacuteria

similar nas lutas por seus direitos culturais e linguiacutesticos Ambos tentam

fortalecer o conhecimento da proacutepria histoacuteria com seus acertos desacertos conflitos

e sucessos buscando a compreensatildeo do ator social como sujeito da histoacuteria e

possibilitando assim a construccedilatildeo de um projeto poliacutetico articulado com outros

setores que incremente as possibilidades de construccedilatildeo dos proacuteprios projetos de

uma vida melhor (HERNAIZ 2009)

Neste sentido destaca-se que esses indiviacuteduos satildeo esquecidos na realidade cultural do

paiacutes como se natildeo existissem enquanto cidadatildeos que tem as suas formas de produzir no

contexto social Mudar esta realidade faz-se fundamental Para tal Guerreiro (2009 p93)

argumenta que

Os direitos culturais satildeo por sua vez um campo complexo que inclui vaacuterios

conjuntos de direitos e garantias entre os quais me interessa destacar para essa

reflexatildeo os seguintes o reconhecimento da diversidade o exerciacutecio da identidade

como povos o uso restrito do idioma uma educaccedilatildeo proacutepria e o respeito pelo

patrimocircnio cultural

95

Os processos culturais linguiacutesticos entre os povos surdos e indiacutegenas surdos eacute uma

possibilidade bem proacutexima atraveacutes do intercacircmbio sociocultural-linguiacutestico que estaacute sendo

construiacutedo pois o surdo indiacutegena faz parte da cultura surda e tem cacircmbio com a cultura

indiacutegena e em muitos casos com a cultura do povo ouvinte

Todavia alguns aspectos da cultura surda satildeo desconhecidos pelo proacuteprio surdo

indiacutegena Por isso a necessidade de surdos indiacutegenas se relacionarem com seus semelhantes

surdos seja indiacutegena ou natildeo indiacutegena para que atraveacutes deste contato possa construir sua

identidade cultural da comunidade surda tornando conhecida sua cultura tribal por meio da

liacutengua de instruccedilatildeo a Libras No exemplo abaixo ilustra-se a percepccedilatildeo dessa realidade

Man ype Crueira Libras

Kui‟a Cuia Libras

Dessa forma conhecendo valorizando e respeitando sua cultura que eacute um patrimocircnio

cultural da sociedade

Logo a liacutengua em uso pelos iacutendios surdos seja ela a Liacutengua de Sinais Indiacutegena

ldquosinais emergentesrdquo ou a Liacutengua Brasileira de Sinais (como empreacutestimo sociocultural-

linguiacutestico) e a Liacutengua Satereacute-Maweacute devem ser valorizadas com respeito muacutetuo na

transmissatildeo de sua cultura Os indiviacuteduos que precisam se comunicar por meio delas lutam

96

pelo fortalecimento dessa inserccedilatildeo cultural pela construccedilatildeo de um futuro melhor e pelo

respeito aos direitos dos iacutendios localizados neste vasto territoacuterio Nesse sentido

A identidade cultural requer tambeacutem ela a alteridade como dialogicidade

intercultural No seu proacuteprio interior ela natildeo eacute nunca algo de compacto mas

apresenta toda uma seacuterie de relaccedilotildees no plano sincrocircnico e diacrocircnico com outras

culturas que lhes datildeo vida justamente pela sua diversificaccedilatildeo e discordacircncia por

mais que ela se obstine em realizar-se mediante a identificaccedilatildeo com alguns de seus

aspectos apenas com algumas formas culturais determinadas que se arvoram

oficiais e dominantes (PONZIO 2007 p179)

Para estes estudos a uniatildeo de esforccedilos que viabilizou a realizaccedilatildeo deste diagnoacutestico eacute

uma demonstraccedilatildeo clara de que eacute perfeitamente possiacutevel trilhar no mundo linguiacutestico

possibilitando a cada indiacutegena novos horizontes na comunicaccedilatildeo

97

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A presente pesquisa teve como foco principal o levantamento de indiacutegenas surdos nas

microrregiotildees do municiacutepio de Parintins da etnia Satereacute-Maweacute

Com base nas informaccedilotildees levantadas nas terras indiacutegenas e nas cidades onde vivem

os Satereacute-Maweacute evidenciou-se que as escolas de zonas rurais e comunidades que o iacutendio

surdo requenta natildeo possui uma educaccedilatildeo diferenciada especiacutefica a sua especificidade

A realidade encontrada no municiacutepio de Parintins para com os alunos iacutendios surdos

por ser em zona urbana jaacute apresenta um diferencial A escola dispotildee de sala de recursos para

alunos indiacutegenas surdos poreacutem dentro dessa realidade haacute falta de professores que dominem a

liacutengua nativa Satereacute-Maweacute para que a escola proporcione um aprendizado triliacutengue Liacutengua

Brasileira de Sinais Liacutengua Satereacute-Maweacute e Liacutengua Portuguesa na modalidade escrita

Nas escolas visitadas onde encontramos surdos foi observado falta de mateacuterias

visuais sala de recursos com atendimentos diferenciados para os alunos indiacutegenas surdos e

indiacutegenas surdos

Foram considerados no decorrer do texto aspectos da contextualizaccedilatildeo em que se deu

a pesquisa desde as discussotildees que antecederam a elaboraccedilatildeo do projeto passando pelas

parcerias que foram estabelecidas no decorrer do processo especialmente com as vaacuterias

organizaccedilotildees indiacutegenas Satereacute-Maweacute ateacute o desenvolvimento das condiccedilotildees que garantiram a

plena participaccedilatildeo da comunidade no decorrer das atividades de pesquisa Partindo da

enumeraccedilatildeo dos principais objetivos do projeto o relatoacuterio apresenta as aacutereas e localidades

cobertas o nuacutemero de domiciacutelios levantados e de moradores entrevistados assim como a

metodologia utilizada a operacionalizaccedilatildeo das atividades de campo o treinamento dos

entrevistadores o levantamento nas cidades e nas terras indiacutegenas a forma e a intensidade

como se desenvolveu a participaccedilatildeo das lideranccedilas e da comunidade como um todo

Durante a pesquisa a sociedade indiacutegena e natildeo indiacutegena juntamente com profissionais

da educaccedilatildeo da linguiacutestica e a proacutepria comunidade surda acompanharam a perspectiva para

uma nova trajetoacuteria destes os iacutendios surdos a qual reflete o reconhecimento linguiacutestico destes

como pessoas pertencentes agraves minorias linguiacutesticas

Ao analisar as questotildees linguiacutesticas nas aacutereas indiacutegenas das microrregiotildees de Parintins

verificou-se que a implantaccedilatildeo deste empreendimento representou como um novo modelo de

desenvolvimento para a comunicaccedilatildeo de indiacutegenas surdos nas comunidades indiacutegenas

98

Ressalta-se que cada municiacutepio onde existem membros da etnia Satereacute receberaacute como

retorno da pesquisa um minidicionaacuterio triliacutengue (Liacutengua de Sinais Liacutengua Satereacute-Maweacute e

Liacutengua Portuguesa) para intercacircmbio sociocultural-linguiacutestico

Este material tem a intenccedilatildeo de abrir o caminho para a participaccedilatildeo direta dos iacutendios

na construccedilatildeo de seu futuro Ele caracteriza uma mudanccedila da forma de olhar para os povos

indiacutegenas Agora eacute preciso trabalhar para que todas as comunidades e etnias possam produzir

seus diagnoacutesticos Todas elas precisam dispor das informaccedilotildees com as quais poderatildeo dar uma

direccedilatildeo a suas accedilotildees Nesse sentido deve haver iniciativas por parte do poder local para que o

governo e as entidades aliadas agraves causas indiacutegenas possam aproveitar as experiecircncias dos

vaacuterios pesquisadores sobre as causas dos Satereacute-Maweacute para ampliar esse tipo de trabalho

Satildeo diagnoacutesticos como este que iratildeo dar o norte para novos projetos e programas que

favoreccedilam realmente garantir a autonomia dos povos indiacutegenas

Finzaliza-se com a satisfaccedilatildeo de que a pesquisa presente contribuiu com um pequeno

passo no incentivo da conservaccedilatildeo e crescimento da identidade cultural-linguiacutestica do iacutendio

surdo

99

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educaccedilatildeo de surdos FERNANDES Eulalia (org) et al Surdez e Bilinguismo3 ed Porto

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VILHALVA S Iacutendios surdos mapeamento das Liacutenguas de Sinais do Mato Grosso do Sul

Petroacutepolis Arara Azul 2012 (Cultura e Diversidade seacuterie iacutendio surdo 1)

103

ANEXOS

104

ANEXO A- Normas estabelecidas no ingresso em terras indiacutegenas pela FUNAI

Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio

INSTRUCcedilAtildeO NORMATIVA No 01PRESI DE 29NOVEMBRO1995

PRESIDENTE DA FUNDACcedilAtildeO NACIONAL DO IacuteNDIO - FUNAI

no uso de suas atribuiccedilotildees que lhe satildeo conferidas pelo estatuto aprovado pelo decreto no

564

de 08 de junho de 1992 tendo em vista o que consta do processo FUNAI BsB no210592

R E S O L V E

Art 1o Aprovar as normas que disciplinam o ingresso em Terras Indiacutegenas com finalidade de

desenvolver Pesquisa Cientiacutefica conforme documento em anexo

Art 2o Esta Instruccedilatildeo Normativa entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Art 3o Revoga-se a Instruccedilatildeo Normativa no 001PRESI94 de 08 de abril

de 1994 como qualquer outro dispositivo em contraacuterio

MAacuteRCIO JOSEacute BRANDO SANTILLI

Presidente da FUNAI

ASSINADO NO ORIGINAL

Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio

ANEXO DA INSTRUCcedilAtildeO NORMATIVA No 001PRESI de 29 de novembro de 1995

Art 4o Todo e qualquer pesquisador nacional ou estrangeiro que pretenda ingressar em terras

indiacutegenas para desenvolver projeto de pesquisa cientiacutefica deveraacute encaminhar sua solicitaccedilatildeo

agrave Presidecircncia da FUNAI e no caso de requerimento coletivo deveraacute ser subscrito por um dos

membros do grupo como seu responsaacutevel Art 5o O pesquisador ou pesquisadores deveratildeo

anexar ao pedido do que trata o Art 1o a seguinte documentaccedilatildeo

I carta de apresentaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo a que o pesquisador estaacute vinculado e no caso de

estudantes de graduaccedilatildeo e poacutesgraduaccedilatildeo carta de apresentaccedilatildeo do orientador responsaacutevel

II projeto de pesquisa em portuguecircs detalhando a(s) terra(s) indiacutegenas na(s) qual(is)

pretende ingressar e cronograma

III curriculum vitae do(s) pesquisador(es) redigido em portuguecircs

IV coacutepia autenticada da Carteira de Identidade ou Passaporte quando se tratar de

nacionalidade estrangeira

V atestado individual de vacina contra moleacutestia endecircmica na

aacuterea

VI atestado meacutedico de natildeo portador de moleacutestia contagiosa

105

VII quando se tratar de pesquisador(es) de nacionalidade estrangeira exigir-se-aacute para a

efetivaccedilatildeo de seu ingresso na terra indiacutegena a obtenccedilatildeo de seu respectivo visto temporaacuterio

como prevecirc o artigo 22 do decreto no 86715 de 10 de dezembro de 1981 aleacutem do

cumprimento do disposto no decreto no 98830 de 15 de janeiro de 1990

Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio

Art 6o O pesquisador deveraacute encaminhar diretamente ao CONSELHO

NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO - CNPq o

projeto de pesquisa e curriculum

vitae

Art 7o A solicitaccedilatildeo do ingresso em terra indiacutegena por parte de pesquisadores nacionais ou

estrangeiros seraacute objeto de anaacutelise pela Coordenadoria-Geral de Estudos e Pesquisas - CGEP

uma vez instruiacutedo o processo com o parecer favoraacutevel do CNPq quanto ao meacuterito da pesquisa

proposta e apoacutes ouvidas as lideranccedilas indiacutegenas

Paraacutegrafo Uacutenico - A consulta agraves lideranccedilas indiacutegenas seraacute realizada pela FUNAI com a

presenccedila e participaccedilatildeo do pesquisador podendo este em caso de resposta positiva

permanecer na terra indiacutegena com autorizaccedilatildeo provisoacuteria ateacute a emissatildeo de uma definitiva

Art 8o No caso de negativa das lideranccedilas indiacutegenas quanto ao pleito do ingresso ou

quaisquer outros entraves levantados no decorrer da anaacutelise do processo ou em qualquer outra

etapa de desenvolvimento da pesquisa a CGEP encaminharaacute a questatildeo ao Conselho

Indigenista atraveacutes da presidecircncia do Oacutergatildeo

Art 9o Quando se tratar de pesquisa em espaccedilo territorial de ocupaccedilatildeo tradicional de iacutendios

isolados o pedido seraacute ainda objeto de exame e parecer preacutevio especiacutefico por parte do

Departamento de Iacutendios Isolados - DII FUNAI

Art 10 A presidecircncia da FUNAI poderaacute suspendera qualquer tempo as

autorizaccedilotildees concedidas de acordo com as presentes normas desde que

I seja solicitada a sua interrupccedilatildeo por parte da comunidade indiacutegena em questatildeo

II a pesquisa em desenvolvimento venha a gerar conflitos dentro da terra indiacutegena

III a ocorrecircncia de situaccedilotildees epidecircmicas agudas ou conflitos graves envolvendo iacutendios e natildeo-

iacutendios

Paraacutegrafo Uacutenico - Fica automaticamente prorrogada a autorizaccedilatildeo pelo prazo que a terra

indiacutegena objeto do projeto estiver interditada pelos motivos apontados no Art 10 inciso III

Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio

MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA

Art 11 Todos os pesquisadores estrangeiros ou nacionais que tiverem autorizaccedilotildees

concedidas para ingresso em terras indiacutegenas obrigar-se-atildeo a

I cumprir todos os preceitos legais vigentes notadamente os previstos na Lei no 6001 de

1o1273

II remeter agrave FUNAI relatoacuterio dos Trabalhos de campo em portuguecircs ateacute 6 (seis) meses apoacutes

o teacutermino da pesquisa onde poderatildeo constar sugestotildees praacuteticas que possam trazer benefiacutecios

para as comunidades indiacutegenas que poderatildeo ser consideradas pela FUNAI nas definiccedilotildees de

sua poliacutetica

III remeter agrave FUNAI 2 (dois) exemplares de publicaccedilotildees artigos teses e outras produccedilotildees

intelectuais oriundas das referidas pesquisas

Art 12 Nos casos de solicitaccedilatildeo de prorrogaccedilatildeo do prazo para continuidade do projeto de

pesquisa cientiacutefica na mesma terra indiacutegena caberaacute a Coordenaccedilatildeo Geral de Estudos e

Pesquisas - CGEP os seguintes procedimentos

I notificar junto ao setor competente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e

Tecnoloacutegico - CNPq a solicitaccedilatildeo

II consultar as lideranccedilas quanto ao retorno do pesquisador na terra indiacutegena

106

III observar o cumprimento do Art 8o por parte do pesquisador interessado do Iacutendio

Art 6o O pesquisador deveraacute encaminhar diretamente ao CONSELHO NACIONAL DE

DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO - CNPq o projeto de pesquisa e

curriculum vitae

Art 7o A solicitaccedilatildeo do ingresso em terra indiacutegena por parte de pesquisadores nacionais ou

estrangeiros seraacute objeto de anaacutelise pela Coordenadoria-Geral de Estudos e Pesquisas - CGEP

uma vez instruiacutedo o processo com o parecer favoraacutevel do CNPq quanto ao meacuterito da pesquisa

proposta e apoacutes ouvidas as lideranccedilas indiacutegenas

Paraacutegrafo Uacutenico - A consulta agraves lideranccedilas indiacutegenas seraacute realizada pela FUNAI com a

presenccedila e participaccedilatildeo do pesquisador podendo este em caso de resposta positiva

permanecer na terra indiacutegena com autorizaccedilatildeo provisoacuteria ateacute a emissatildeo de uma definitiva

Art 8o No caso de negativa das lideranccedilas indiacutegenas quanto ao pleito do ingresso ou

quaisquer outros entraves levantados no decorrer da anaacutelise do processo ou em qualquer outra

etapa de desenvolvimento da pesquisa a CGEP encaminharaacute a questatildeo ao Conselho

Indigenista atraveacutes da presidecircncia do Oacutergatildeo

Art 9o Quando se tratar de pesquisa em espaccedilo territorial de ocupaccedilatildeo tradicional de iacutendios

isolados o pedido seraacute ainda objeto de exame e parecer preacutevio especiacutefico por parte do

Departamento de Iacutendios Isolados - DII FUNAI Art 10 A presidecircncia da FUNAI poderaacute

suspendera qualquer tempo as autorizaccedilotildees concedidas de acordo com as presentes normas

desde que

I seja solicitada a sua interrupccedilatildeo por parte da comunidade indiacutegena em questatildeo

II a pesquisa em desenvolvimento venha a gerar conflitos dentro da terra indiacutegena

III a ocorrecircncia de situaccedilotildees epidecircmicas agudas ou conflitos graves envolvendo iacutendios e natildeo-

iacutendios

Paraacutegrafo Uacutenico - Fica automaticamente prorrogada a autorizaccedilatildeo pelo prazo que a terra

indiacutegena objeto do projeto estiver interditada pelos motivos apontados no Art 10 inciso III

Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA

Art 11 Todos os pesquisadores estrangeiros ou nacionais que tiverem autorizaccedilotildees

concedidas para ingresso em terras indiacutegenas obrigar-se-atildeo a

I cumprir todos os preceitos legais vigentes notadamente osprevistos na Lei no 6001 de

1o1273

II remeter agrave FUNAI relatoacuterio dos Trabalhos de campo em portuguecircs ateacute 6 (seis) meses apoacutes

o teacutermino da pesquisa onde poderatildeo constar sugestotildees praacuteticas que possam trazer benefiacutecios

para as comunidades indiacutegenas que poderatildeo ser consideradas pela FUNAI nas definiccedilotildees de

sua poliacutetica

III remeter agrave FUNAI 2 (dois) exemplares de publicaccedilotildees artigos teses e outras produccedilotildees

intelectuais oriundas das referidas pesquisas

Art 12 Nos casos de solicitaccedilatildeo de prorrogaccedilatildeo do prazo para continuidade do projeto de

pesquisa cientiacutefica na mesma terra indiacutegena caberaacute a Coordenaccedilatildeo Geral de Estudos e

Pesquisas - CGEP os seguintes procedimentos

I notificar junto ao setor competente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e

Tecnoloacutegico - CNPq a solicitaccedilatildeo

II consultar as lideranccedilas quanto ao retorno do pesquisador na terra indiacutegena

III observar o cumprimento do Art 8o por parte do pesquisador interessado

107

ANEXO B ndash Questionaacuterio para coleta de dados com professores de comunidades indiacutegenas

QUESTIONAacuteRIO

Nome Prof(a)Nordm Cel

Nome da escola

Tribo Etnia

Quantos alunos surdos iacutendio Serie Idade

Nasceu cognitiva ou adquirida

1 ndash Como eacute a forma de comunicaccedilatildeo entre o professor e o iacutendio surdo

( ) Escrita

( ) Oralizado

( ) Libras

( ) Satereacute Maweacute

2 ndash Qual liacutengua o surdo iacutendio tem mais facilidade de aprender

( ) Portuguecircs

( ) Satereacute Maweacute

( ) libras

3 ndash Qual eacute a metodologia de ensino

4 ndash Como o aluno surdo indiacutegena aprende na sala de aula Tem dificuldade ou facilidade

5 ndash Como e que liacutengua o aluno surdo se comunica com outro surdo se tiver e os demais alunos

ouvintes na sala aula

108

6 ndash Vocecirc jaacute observou a comunicaccedilatildeo entre o aluno surdo iacutendio com a famiacutelia Qual liacutengua

7 ndash Como o aluno surdo iacutendio se comunica com as pessoas da comunidade

8 ndash Qual eacute a reaccedilatildeo das pessoas ouvintes quanto o iacutendio surdo na comunidade

9 ndash Professor(a) qual sua opiniatildeo para melhoria de ensino da educaccedilatildeo de iacutendios surdos

10 ndash Qual eacute a importacircncia da liacutengua indiacutegena Satereacute Maweacute para o aluno surdo

11 ndash Fale sobre a cultura e historia dos Satereacute Maweacute o iacutendio surdo participa

109

ANEXO C ndash Autorizaccedilatildeo para pesquisa de campo em terras indiacutegenas

110

ANEXO C-1 ndash Autorizaccedilatildeo para pequisa de campo com uso de imagem permitido

111

ANEXO C-2 ndash Autorizaccedilatildeo para pequisa de campo com uso de imagem permitido

112

ANEXO D ndash Parecere pedagoacutegico da Aluna Indiacutegena Surda

(ESCOLA PADRE PAULOMANNA)

ESCOLA DE AacuteUDIO COMUNICACcedilAtildeO

Pe PAULO MANNA Mantida pela Diocese de Parintins CNPJ 045945370001-88 Av Naccedilotildees Unidas 1792 FoneFax (092) 3533-3456 69151-060 ndash PARINTINS-AMAZONAS-BRASIL

Parecer Pedagoacutegico

Helena Ferreira Arauacutejo 06 anos de idade aluna da Escola Pe Paulo Manna desde

marccedilo de 2013 mora na rua 4 nordm 298 no bairro da Uniatildeo

Segundo relatos da matildee a aluna nasceu de parto normal comeccedilou a andar aos trecircs

anos de idade e eacute descendente dos iacutendios Satereacute- Maueacute Os anos passaram e ela comeccedilou a

perceber que sua filha natildeo ouvia e nem falava pois jaacute tinha outros filhos e estes comeccedilaram a

falar e andar cedo Informou-nos que para se comunicar com ela fazia gestos ateacute ela entender

o que se tornava muito difiacutecil

Disse-nos que falaram para ela do trabalho desenvolvido na Escola Paulo Manna com

alunos surdos e resolveu procurar a escola pois o tempo estava passando e a menina natildeo

falava e ela natildeo sabia mais o que fazer para reverter a situaccedilatildeo e a sua filha ser como os outros

irmatildeos

Atualmente estuda numa turma de Preacute ndash Escolar (2ordm periacuteodo) eacute uma aluna surda No

ano passado quando chegou agrave escola nos primeiros dias chorava muito e ficava zangada se

escondia embaixo da mesa para que ningueacutem a incomodasse visto que natildeo estava adaptada

ao ambiente e aos poucos foi se adaptando e passou a conviver com os colegas ouvintes em

sala de aula

A aluna gosta de fazer suas atividades escolares tem boa coordenaccedilatildeo motorainterage

com os colegas reconhece cores e formas gosta de desenhar e daacute formas aos seus desenhos realiza atividades de leitura de imagem montagem com jogos de encaixe participa de

brincadeiras na quadra parque e brinquedoteca

Em alguns momentos quando quer alguma coisa do colega e este natildeo lhe daacute fica com

raiva chora e se isola Em outros momentos penso que por natildeo saber se comunicar com os

colegas fica um pouco retraiacuteda e torna-se um a receptora diferenciada que requer cuidados

no tocante agrave comunicaccedilatildeo principalmente de como chegar ateacute ela

Procuramos adaptar brincadeiras para envolver a aluna trazendo-a de volta para

participar das atividades e conversar com ela que nem tudo o que a gente quer podemos ter e

fazemos alguma brincadeira que ela goste e rapidinho ela volta a participar e se integrar ao

grupo

Sabemos que eacute difiacutecil para ela o processo ensino aprendizagem porque ela tem que ter

uma aprendizagem triliacutengue visto que tem que aprender a Liacutengua Indiacutegena+ Libras + Liacutengua

Portuguesa e jaacute eacute difiacutecil aprender duas mas natildeo impossiacutevel

113

Neste ano de 2014 contamos com a ajuda da professora Caacutetia (surda) com aulas de

Libras No primeiro momento fica junto com os colegas ouvintes onde procuramos trabalhar

de forma biliacutengue (Portuguecircs + Libras) para que ela entenda o que estaacute sendo repassado em

sala de aula E o que se percebe eacute que a aluna nos daacute respostas precisas dentro dos objetivos

propostos Em outro momento a professora Caacutetia ensina agrave aluna os sinais em LIBRAS que eacute

a liacutengua oficial da pessoa surda trabalhando o concreto com ela ensinando-a com jogos

cartazes reaacutelias viacutedeos transformando tais atividades em aulas dinacircmicas e prazerosas

Dentro dessa realidade a aluna vai participando buscando se inserir nesse universo

cheio de duacutevidas e incertezas e noacutes professores procuramos fazer o melhor para que a aluna

se sinta bem no ambiente escolar visto que o processo ensino aprendizagem para uma crianccedila

de outra etnia natildeo eacute faacutecil pois segundo depoimentos de alguns indiacutegenas a aprendizagem

indiacutegena passa pela demonstraccedilatildeo observaccedilatildeo imitaccedilatildeo tentativa e erro e quando o aluno

vem para a escola tem que se socializar obedecer a comandos regidos pelo sistema e isso

muitas vezes o deixa confuso e os maiores ateacute desistem

Dessa forma satildeo necessaacuterias estrateacutegias de ensino diferenciadas que deem suporte para

que a aluna seja trabalhada de forma triliacutengue no contexto escolar para que ela natildeo perca a

sua essecircncia a sua cultura que sejam adaptados trabalhos de acordo com a realidade

indiacutegena para que ela natildeo perca a sua identidade e saiba conduzir sua aprendizagem dentro de

um contexto diferenciado podendo aprender o que lhe eacute de direito bem como viver bem em

sociedade

Parintins 14 de abril de 2014

DEDICATOacuteRIA

Aos meus familiares em especial a minha matildee Idalina

Azevedo que desde o ventre proporcionou-me seu amor com

dedicaccedilatildeo e todas suas forccedilas ao meu lado em momentos tatildeo

difiacuteceis nunca deixando de acreditar no poder de Deus sobre

minha vida

A minha amada esposa Rosana Valeacuteria mulher saacutebia

e auxiliadora de todos os momentos do meu viver

Aos meus filhos Caroline Camila e Benjamim Jorge

pelo amor que sempre me deram pela compreensatildeo de

minhas ausecircncias durante a trajetoacuteria de minha pesquisa

AGRADECIMENTOS

A Deus em primeiro lugar que planejou a minha vida quando eu ainda nem existia e

me libertou no momento que recorri a Ele E me fez acreditar que o impossiacutevel soacute existe

quando natildeo temos feacute

Agrave Coordenadora do Mestrado em Letras e Artes da Universidade do Estado do

Amazonas ndash UEA Professora Dra Juciane Cavalheiros pelo excelente trabalho que

desenvolve nesta instituiccedilatildeo contribuindo para a formaccedilatildeo de novos profissionais na

educaccedilatildeo do nosso paiacutes

Ao meu orientador Dr Valteir Martins Professor do Mestrado em Letras e Artes

com sua saacutebia experiecircncia de ensino acreditou que atraveacutes deste trabalho pudeacutessemos levar

contribuiccedilotildees linguiacutesticas no que tange agrave Liacutengua de Sinais dos indiacutegenas surdos Satereacute-

Maweacute habitantes da microrregiatildeo de Parintins

Aos meus professores do Mestrado em Letras e Artes Dra Silvana Martins Dr

Mauricio Mattos Dr Maacutercio e Dra Luciana Paacutescoa Dra Gleidys Maia Dr Camilo Ramos

pelas preciosas contribuiccedilotildees agrave minha pesquisa

Aos professores indiacutegenas Jacob de Souza Jocimar Alencar e Josiel Santos por me

introduzir nas comunidades indiacutegenas Satereacute-Maweacute pelas contribuiccedilotildees na traduccedilatildeo das

palavras da liacutengua portuguesa para a liacutengua Satereacute-Maweacute

Aos meus colegas do mestrado em Letras e Artes pelo companheirismo e dedicaccedilatildeo

no dia a dia

Agrave professora Elizandra de Lima Silva Bastos pela ajuda nas correccedilotildees textuais da

Liacutengua Portuguesa

Agraves instituiccedilotildees especiacuteficas que de alguma forma contribuiacuteram para concretizar esta

pesquisa

MANAUS

Escola Estadual Augusto Carneiro dos Santos

Centro de Atendimento ao surdo ndash CAS

A Igreja Tabernaacuteculo Batista Pastor Paulo Hatcher

PARINTINS

Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio ndash FUNAI

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE

Coordenadora Regional de Educaccedilatildeo de Parintins - CREP

Universidade Estadual do Amazonas ndash CESP

Casa da Sauacutede Indiacutegena

Casa do Iacutendio de Parintins

Escola Aacuteudio Comunicaccedilatildeo Pe Paulo Manna

Diocese de Parintins Pe Henrique Uggeacute

Escola Estadual Brandatildeo de Amorim

Escola Estadual Joatildeo Bosco Ramos de Lima

MAUEacuteS

Secretaria de Estado de Educaccedilatildeo

Secretaria de Educaccedilatildeo Municipal

Casa do estudante indiacutegena Sr Jusivan

Tuxaua da Comunidade de Santa Maria Sr Helito Barbosa

Sr Maxiliano Batista Barros

BARREIRINHA

Secretaria de Educaccedilatildeo Municipal - SEMED

Secretaria de Estado de Educaccedilatildeo

Coordenaccedilatildeo Municipal de Educaccedilatildeo Indiacutegena Sr Santino Lopes

Coordenador da Escola Profa Rosa Cabral Sr Dulcemar F dos Santos

Professora Indiacutegena Satereacute-Maweacute Maria Inez

NHAMUNDAacute

Casa de Sauacutede Indiacutegena - DSEI

Secretaria de Estadual de Educaccedilatildeo

BOA VISTA DO RAMOS

Secretaria de Estado e Educaccedilatildeo

Escola Estadual Princesa Izabel

Comunidade Satereacute-Maweacute

Professora Erly Tereza R Goacutees

URUCARAacute

Poacutelo Base de Urucaraacute ndash DSEI

Distrito Sanitaacuterio Especial Indiacutegena

Lider Indiacutegena Etnia Hexkaryana Caiacutenatilde Mohso

SraMaacuterlucia Kutasa

Enfermeiro SrJonas Pontes

SraDalva H Farias Cantalixto de Melo

SrLuiz Cantalixto de Melo

SAtildeO SEBASTIAtildeO DO UATUMAtilde

Poacutelo Base de Urucaraacute ndash DSEI

Lider Indiacutegena Etnia Hexkaryana Caiacutenatilde Mohso

EPIacuteGRAFE

Matildeos

corpo em movimento

captar e entender

Teu querer teu dizer

Sorrisos laacutegrimas

sentimentos e emoccedilotildees

Libras eacute amor eacute paixatildeo eacute liacutengua

(Marlon Jorge)

RESUMO

Esta pesquisa apresenta o resultado do mapeamento de iacutendios surdos nas comunidades

indiacutegenas Satereacute-Maweacute na microrregiatildeo de Parintins Partindo do levantamento buscou-se

identificar de que forma os iacutendios surdos estabeleciam a comunicaccedilatildeo com seus pares na sua

comunidade Para isso foi utilizado o procedimento metodoloacutegico por meio de entrevistas

abertas com as lideranccedilas indiacutegenas os familiares os professores e gestores escolares e

outros membros das comunidades assim como do proacuteprio iacutendio surdo O processo de anaacutelise

estabelecido para este estudo consistiu no enfoque de natureza linguiacutestica do leacutexico

(vocabulaacuterio) o qual foi registrado por meio de viacutedeos fotos e gravaccedilotildees A partir dos dados

iniciou-se a elaboraccedilatildeo de um minidicionaacuterio triliacutengue nas liacutenguas Satereacute-Maweacuteliacutengua de

sinais portuguecircs escrito a fim de facilitar a comunicaccedilatildeo principalmente no contexto da

comunidade educacional escolar entre os professores e os alunos iacutendios surdos Esta

contribuiccedilatildeo linguiacutestica portanto possibilitou uma nova percepccedilatildeo no processo histoacuterico da

diversidade linguiacutestica para valorizar e respeitar natildeo soacute uma liacutengua a liacutengua oficial do paiacutes

(Portuguecircs) mas tambeacutem a liacutengua natural do povo surdo (Libras) e a liacutengua indiacutegena do povo

Satereacute-Maweacute

Palavras chaves

1Linguiacutestica 2Liacutengua de sinais 3Satereacute-Maweacute 4 Dicionaacuterio

ABSTRACT

This research presents the results of the mapping deaf Indians in indigenous

communities Satereacute-Maweacute in the region of Parintins Starting from the survey we sought to

identify how the deaf Indians established communication with peers in their community For

this methodological procedure through open interviews with indigenous leaders family

members teachers and school administrators and other community members were used as

well as the Indian himself deaf The review process established for this study consisted of

focus linguistic lexicon (vocabulary) which was recorded through videos photos and

recordings From the data we initiated the development of a trilingual Mini Dictionary in

languages Satereacute-Maweacute sign language written Portuguese in order to facilitate

communication especially in the context of school learning community among teachers and

students deaf Indians This linguistic contribution therefore provided a new insight in the

historical process of linguistic diversity to value and respect not only one language the

official language (Portuguese) but also the natural language of deaf people (Libras) and the

indigenous language the people Satereacute-Maweacute

Key Words 1Linguiacutestica 2Liacutengua signal 3Satereacute-Maweacute 4Dictionary

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 13

1 CONSIDERACcedilOtildeES DOS ESTUDOS LINGUIacuteSTICOS DA LIacuteNGUA

BRASILEIRA DE SINAIS

17

11 Liacutengua de Sinais como Liacutengua Natural 20

12 Liacutengua Brasileira de Sinais 22

13 Liacutenguas de Sinais Indiacutegenas pesquisadas no Brasil 26

131 Liacutengua de Sinais Urubu-Kaapor 28

132 Liacutengua de Sinais Emergentes 29

1321 Realidade do Contexto educacional escolar do indiacutegena surdo 31

2 HISTOacuteRIA DO POVO INDIacuteGENA SATEREacute-MAWEacute CULTURA E

LIacuteNGUA

34

21 Breve Relato Histoacuterico 35

22 Classificaccedilatildeo da Liacutengua Satereacute-Maweacute 36

221 Contexto educacional escolar entre os Satereacute-Maweacute 38

3 METODOLOGIA IMPLEMENTADA NA PESQUISA 42

31 Aacuterea e localidade da pesquisa 42

32 Estrateacutegias gerais para a realizaccedilatildeo da coleta de dados 43

33 Procedimentos da coleta de dados 43

34 Articulaccedilatildeo local 44

35 Abordagem ao objeto da pesquisa 44

4 MAPEAMENTO DOS INDIOS SURDOS DA COMUNIDADE SATEREacute-

-MAWEacute NAS MICRORREGIOtildeES DE PARINTINS E SUA REALIDADE

EDUCACIONAL ESCOLAR

45

41 Mapeamento da existecircncia dos iacutendios surdos na microrregiatildeo de Parintins 46

411 Histoacuterico de Parintins 46

412 Histoacuterico de Barreirinha 52

413 Histoacuterico de Maueacutes 53

414 Histoacuterico de Boa Vista do Ramos 55

415 Histoacuterico de Nhamundaacute 56

42 Realidade linguiacutestica e educacional dos iacutendios surdos encontrados na etnia

Satereacute-Maweacute

59

43 Inventaacuterio de gestos da linguagem caseira dos surdos Satereacute-Maweacute 66

431 Os sinais caseiros dos indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute 66

432 Municiacutepio de Parintins 66

4321 O primeiro surdo 67

4322 O segundo surdo 67

4323 O terceiro surdo 68

44 O indiacutegena surdo da comunidade de Ponta Alegre do Municiacutepio de Barreirinha 70

45 Os indiacutegenas surdos do Municiacutepio de Maueacutes 73

451 O primeiro surdo da Comunidade de Santa Maria 75

452 O segundo surdo da Comunidade de Santa Maria 79

5 ICONICIDADE E ARBITRARIEDADE NA CRIACcedilAtildeO DOS SINAIS

CASEIROS

83

6 INTERVENCcedilAtildeO E CONTRIBUICcedilAtildeO LINGUIacuteSTICA DO PROFESSOR

SURDO

90

61 Libras e Liacutengua Satereacute-Maweacute intercacircmbio de construccedilatildeo sociocultural-

linguiacutestico

94

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 97

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 99

ANEXOS

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 Croqui da aacuterea e localidade da pesquisa

FIGURA 2 Sinais caseiros utilizado pela crianccedila de 5 anos

FIGURA 3 Sinais caseiros utilizados pelo aluno da comunidade de Ponta Alegre

Barreirinha

FIGURA 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa

Maria (30 sinais coletados)

FIGURA 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo idoso na comunidade de Santa Maria

FIGURA 6 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos que se refere agrave

arbitrariedade

FIGURA 7 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos aos quais se referem a

iconicidade

FIGURA 8 Caracteriacutesticas da imagem em Liacutengua de Sinais Satereacute-Maweacute dos objetos

aos quais se referem agrave iconicidade

FIGURA 9 Encontro da crianccedila surda Satereacute-Maweacute com o professor surdo

FIGURA 10 Contato com aluno Satereacute-Maweacute surdo no ambiente escolar

FIGURA 11 Contato com o aluno surdo Satereacute-Maweacute na Escola Estadual Brandatildeo de

Amorim

FIGURA 12 Em viagem para aacuterea indiacutegena no Rio Marau

FIGURA 13 Apresentaccedilatildeo do projeto de pesquisa agraves lideranccedilas indiacutegenas na

comunidade

FIGURA 14 Desenvolvimento de oficina de Libras com professores indiacutegenas

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Mapeamento da existecircncia de iacutendios surdos nas respectivas comunidades

indiacutegenas ou zona urbana da microrregiatildeo de Parintins

Tabela 2 11 Sinais caseiros utilizados pela crianccedila indiacutegena surda de 5 anos e seus

familiares

Tabela 3 13 Sinais caseiros coletados e utilizados pelo aluno da comunidade de

Ponta Alegre

Tabela 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa

Maria

Tabela 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais antigo residente isolado na

comunidade de Santa Maria no Rio Marau ( 18 sinais coletados)

56

66

69

73

77

13

INTRODUCcedilAtildeO

Todo cidadatildeo tem o direito de participar na vida poliacutetica social e econocircmica de um

paiacutes Neste contexto inclui-se o cidadatildeo surdo Infelizmente a histoacuteria relata que no passado

os sujeitos surdos1 eram colocados agraves margens da sociedade em todos seus aspectos social

poliacutetico econocircmico cultural linguiacutestico e educacional

Entretanto ao longo da histoacuteria os surdos com a participaccedilatildeo de ouvintes na luta

incessante pelos seus direitos muitas conquistas foram alcanccediladas Entre estas estaacute o direito

de ter sua proacutepria liacutengua a Liacutengua Brasileira de Sinais-LIBRAS A Lei nordm 10436 de 2002 a

qual a reconhece como sistema linguiacutestico de natureza visual-motora com estrutura

gramatical proacutepria constituindo-se um sistema linguiacutestico de transmissatildeo de ideias e fatos

oriundos da comunidade de pessoas surdas do Brasil Conforme Saacute (2006) no Brasil as

comunidades urbanas usam a ldquoliacutengua de sinais brasileirardquo ou simplesmente ldquoliacutengua de sinaisrdquo

Vale ressaltar que a Liacutengua de Sinais segundo Strobel (2008) eacute um aspecto

fundamental da cultura surda2 parte do artefato cultural linguiacutestico

3 do povo surdo e constitui

1 Na aacuterea de pesquisa vinculada a perspectiva socioantropoloacutegica existe uma clara diferenciaccedilatildeo entre a opccedilatildeo

de escrever surdo com letra minuacutescula ou maiuacutescula conforme explica Andreis-Witkoski (2011) ldquoapesar de

nas uacuteltimas deacutecadas ter sido estabelecido uma distinccedilatildeo entre a expressatildeo ldquoSurdordquo com letra maiuacutescula para

identificar uma categoria cultural e ldquosurdordquo com minuacutescula em referecircncia a deficiecircncia auditiva nesta Tese natildeo

se utiliza este tipo de marcaccedilatildeo Compartilha-se da concepccedilatildeo exposta por Owen Wrigley (1996 p53) quando

adverte que esta diferenciaccedilatildeo constitui-se em ldquoum dualismo riacutegido-bom Surdo mau surdo ndash que pouco faz para

ajudar os indiviacuteduos em suas vidas diaacuterias [sem] ajudar a clarear um alcance maior de estrateacutegias colocadas pelos

indiviacuteduos lidando com a exclusatildeo e as muitas faces da opressatildeo em suas rotinas Em termos simples a

dicotomia de bdquoSs‟ estaacute tatildeo cruelmente composta que embora inicialmente seja uacutetil ela agora serve para silenciar

o alcance total das experiecircncias dos sSurdosrdquo (2011 p13) Logo opta-se nesta dissertaccedilatildeo o uso da expressatildeo

ldquosurdordquo (minuacutescula) que refere-se aos ldquosurdordquo enquanto pessoas que pela impossibilidades formam uma

minoria diferente com caracteriacutesticas linguiacutesticas cognitivas culturais e comunitaacuterias especiacuteficas (SAacute 2006

p107) 2 Cultura Surda ldquoeacute o jeito de o surdo entender o mundo e de modificaacute-lo a fim de se tornaacute-lo acessiacutevel e habitaacutevel

ajustando-os com as suas percepccedilotildees visuais que contribuem para a definiccedilatildeo das identidades surdas e das

ldquoalmasrdquo das comunidades surdas Isto significa que abrange a liacutengua as ideacuteias as crenccedilas os costumes e os

haacutebitos de povordquo (STROBEL2008 p 24) 3Conforme Strobel (2008 p37) o que seriam artefatos culturais linguiacutesticos Ao referirmos ldquoartefatordquo

pensamos habitualmente no significado de objetos ou materiais produzidos pelos grupos culturais Realmente de

fato eacute uma forma material de expressar uma determinada cultura poreacutem tambeacutem podem incluir ldquotudo o que se

vecirc e senterdquo quando se estaacute em contato com a cultura de uma comunidade a exemplo vestuaacuterios tradiccedilotildees

crenccedilas valores e normas etc Ou seja no campo dos Estudos Culturais o conceito de ldquoartefatosrdquo natildeo se referem

apenas a materialismo culturais como tambeacutem naquilo que na cultura constitui produccedilotildees do sujeito que tem seu

proacuteprio modo de ser ver entender e transformar o mundo Logo um dos artefatos culturais que ilustram a

cultura do povo surdo eacute o linguiacutestico a liacutengua de sinais que eacute um aspecto fundamental da cultura surda sendo

uma das principais marcas da identidade surda

14

uma das principais marcas da identidade do ser surdo Incluem-se tambeacutem os ldquosinais

emergentesrdquo ou ldquosinais caseirosrdquo dos sujeitos surdos isolados de comunidades surdas no caso

dos surdos das zonas rurais e dos surdos iacutendios Estes surdos embora natildeo pertenccedilam agraves

mesmas comunidades se identificam com o povo surdo4 pois compartilham as mesmas

peculiaridades constroem sua formaccedilatildeo de mundo por meio de artefato cultural visual5

independentemente do grau linguiacutestico que possuem os quais podem ser os gestos caseiros

denominados tambeacutem como sinais emergentes Nesta perspectiva teoacuterica soacutecioantropoloacutegica

enfoca-se como o objeto da pesquisa o sujeito surdo indiacutegena ou seja o iacutendio surdo

Antes de prosseguir com a abordagem mencionada faz-se necessaacuterio destacar que

assim como o povo surdo o povo indiacutegena tambeacutem traccedilou diversas lutas na trajetoacuteria para

reconhecimento dos seus direitos O reconhecimento dos direitos dos povos indiacutegenas no

mundo contemporacircneo avanccedilou muito em relaccedilatildeo haacute algumas deacutecadas passadas De acordo

com Lucinda (apud Saacute 2006) em consenso geral nos debates da Comissatildeo Educaccedilatildeo

Cultura e Desporto que antecedem a elaboraccedilatildeo do texto da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica

Federativa do Brasil de 1988 tanto a liacutengua de sinais como as liacutenguas indiacutegenas deveriam ser

consideradas no texto da Constituiccedilatildeo como liacutenguas maternas Assim como resultado o

Referencial Curricular Nacional para Escolas Indiacutegenas (1998 p31) declara que ldquoA

Constituiccedilatildeo Federal aleacutem de perceber o iacutendio como pessoa com direitos e deveres como

qualquer outro cidadatildeo brasileiro o reconhece como membro de uma comunidade e de um

grupo isto eacute como membro de uma coletividade que eacute titular de direitos coletivos e

especiaisrdquo Ou seja reconhece para os iacutendios o direito agrave praacutetica de suas formas culturais

proacuteprias E no tiacutetulo VIII ldquoDa Ordem Socialrdquo conteacutem um capiacutetulo denominado ldquoDos Iacutendiosrdquo

onde se diz que ldquosatildeo reconhecidos aos iacutendios a sua organizaccedilatildeo social costumes liacutenguas

crenccedilas e tradiccedilotildees []rdquo (ibid p31)

Em meio a essa diversidade linguiacutestica que caracteriza o Brasil como sendo um paiacutes

pluriliacutengue estatildeo situados os ldquosurdos brasileirosrdquo que tecircm sua proacutepria liacutengua reconhecida

oficialmente a Liacutengua de Sinais Logo existem tambeacutem ldquoiacutendios surdosrdquo da etnia Satereacute-

4Quando referimos ldquopovo surdordquo estamos falando ldquode sujeitos surdos que natildeo habitam no mesmo local mas

que estatildeo ligados por uma origem por um coacutedigo de eacutetico de formaccedilatildeo visual independente do grau de evoluccedilatildeo

linguiacutestica tais como a liacutengua de sinais a cultura surda e quaisquer outros laccedilosrdquo (ibid p30) 5Perlin e Miranda (2003) complementam ldquoExperiecircncia visual significa a utilizaccedilatildeo visual em (substituiccedilatildeo total

agrave audiccedilatildeo) como meio de comunicaccedilatildeo Desta experiecircncia visual surge a cultura surda representada pela liacutengua

de sinais pelo modo diferente de ser de se expressar de conhecer o mundo de entrar nas artes no

conhecimento cientiacutefico e acadecircmicordquo (apud STROBEL 2008 p39)

15

Maweacute Qual sua forma de se comunicar Existe uma ldquoLiacutengua de Sinaisrdquo especifica do iacutendio

surdo

Diante das questotildees levantadas surgiu entatildeo agrave necessidade de realizar uma pesquisa

no campo da linguiacutestica na perspectiva dos estudos surdos6 voltado especificamente para o

iacutendio surdo da etnia Satereacute-Maweacute Foram traccedilados os seguintes objetivos i) mapear os iacutendios

surdos na microrregiatildeo de Parintins ii) identificar de que forma o iacutendio surdo estabelece a

comunicaccedilatildeo com sua comunidade especificamente no acircmbito educacional ou se utilizam

liacutenguas de sinais da comunidade local iii) registrar a forma de comunicaccedilatildeo no dia a dia do

iacutendio surdo nas comunidades indiacutegenas a partir dos estudos linguiacutesticos da Liacutengua de Sinais

dos grupos existentes e sua relaccedilatildeo com a comunidade local iv) promover o intercacircmbio entre

a Liacutengua de Sinais dos iacutendios surdos mapeados da etnia Satereacute-Maweacute e a LIBRAS da

comunidade surda do Municiacutepio de Parintins - Amazonas

Este trabalho conteacutem a seguinte divisatildeo primeiro capiacutetulo - apresenta consideraccedilotildees

linguiacutesticas fundamentais aos estudos surdos onde explicita o reconhecimento da Liacutengua de

Sinais como elemento cultural linguiacutestico do povo surdo abordando tambeacutem a oficializaccedilatildeo

da Liacutengua Brasileira de Sinais e as Liacutenguas Indiacutegenas pesquisadas no Brasil como a realidade

do contexto escolar linguiacutestico na comunidade indiacutegena segundo capiacutetulo - relata a histoacuteria

do povo indiacutegena Satereacute-Maweacute sua principal expressatildeo cultural sua liacutengua e seu respectivo

contexto educacional escolar terceiro capiacutetulo - apresenta os procedimentos metodoloacutegicos

utilizados na operacionalizaccedilatildeo da pesquisa e o capiacutetulo quatro - apresenta a anaacutelise do

resultado do Mapeamento dos iacutendios surdos da etnia Satereacute-Maweacute na microrregiatildeo de

Parintins Neste satildeo tambeacutem apresentadas as relaccedilotildees socioculturais-linguiacutesticas de iacutendios

surdos Satereacute-Maweacute com as contribuiccedilotildees linguiacutesticas do professor surdo aos Iacutendios surdos na

comunidade Satereacute-Maweacute estabelecendo assim as relaccedilotildees culturais na construccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo linguiacutestica LIBRAS e Liacutengua Satereacute-Maweacute como um intercacircmbio de construccedilatildeo

sociocultural

Desse modo a pesquisa tem como premissa baacutesica primeiramente mapear os iacutendios

surdos da etnia Satereacute-Maweacute e assim promover um intercacircmbio oferecendo contribuiccedilotildees

linguiacutesticas fundamentadas na pesquisa do leacutexico (vocabulaacuterio) da etnia referida com a Libras

(Liacutengua Brasileira de Sinais) e a Liacutengua Portuguesa por meio da elaboraccedilatildeo de um

6 Conforme Skliar eacute o campo de pesquisa em educaccedilatildeo onde as identidades a liacutenguas a histoacuteria a cultura da

comunidade surda satildeo focalizados e entendidos a partir da diferenccedila a partir do seu reconhecimento poliacutetico

(2001p29)

16

minidicionaacuterio triliacutengue Assim espera-se contribuir para a iniciaccedilatildeo dos indiacutegenas surdos da

etnia Satereacute-Maweacute na Liacutengua Brasileira de Sinais dando a eles um dos direitos universais do

ser humano que eacute direito a uma liacutengua Tambeacutem deseja-se contribuir para a iniciaccedilatildeo dos

indiacutegenas surdos da etnia Satereacute-Maweacute na Liacutengua Brasileira de Sinais dando a eles um dos

direitos universais do ser humano que eacute direito a uma liacutengua proacutepria

17

1 CONSIDERACcedilOtildeES DOS ESTUDOS LINGUIacuteSTICOS DA LIacuteNGUA BRASILEIRA DE SINAIS

A Linguiacutestica conhecida hoje como a ciecircncia que estuda a linguagem humana eacute uma

ciecircncia recente poreacutem com um saber antigo Passou a se impor como ciecircncia agrave medida que

demonstrou seu meacutetodo e seu objeto de estudo Eacute definida como estudo cientiacutefico que visa

descrever ou explicar a linguagem verbal humana (ORLANDI 1999)

A Linguiacutestica diferencia-se da gramaacutetica tradicional normativa na medida que natildeo

tem como objetivo ditar regras de correccedilatildeo para uso da linguagem Seu interesse eacute a liacutengua

como mateacuteria de reflexatildeo (QUADROS e KARNOPP 2004) Segundo as pesquisas nesta

aacuterea Vandresen (1988 apud QUADROS 2007 p 83) tem-se ldquoa linguiacutestica contrastiva como

uma subaacuterea da linguiacutestica geral interessada em apontar as similaridades e diferenccedilas

estruturais entre a liacutengua materna (de um grupo de alunos) e uma liacutengua estrangeirardquo

Na taxonomia de similaridades e contrastes entre as liacutenguas existe uma seacuterie de

regularidades como haacute similaridades comportamentais que natildeo precisam ser explicitadas

porque constituem a base comum das liacutenguas naturais e o compartilhamento dessas

similaridades poderaacute servir como base para inferecircncias quanto agraves formas da liacutengua estrangeira

e quanto agraves diferenccedilas por serem sistemaacuteticas podem admitir tratamento inferencial e

heuriacutestico (KATO 1988 apud QUADROS 2007)

Segundo Nascimento (2009) a vitalidade da liacutengua depende de sua utilizaccedilatildeo efetiva

tanto em escala nacional quanto em escala mundial Quanto mais uma liacutengua eacute utilizada mais

ela eacute viva e inversamente quanto menos eacute utilizada mais ela eacute ameaccedilada de extinccedilatildeo Assim

sendo eacute o uso social da liacutengua que determina seu grau de revitalizaccedilatildeo

Por essas razotildees a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Linguiacutesticos (BARCELONA

1996 p 3) tem como ponto de partida

[] as comunidades linguiacutesticas e natildeo os Estados e inscreve-se no quadro do

reforccedilo das instituiccedilotildees internacionais capazes de garantir um desenvolvimento

duradouro e equitativo para toda a humanidade e tem como finalidade favorecer um

quadro de organizaccedilatildeo poliacutetica da diversidade linguiacutestica baseado no respeito na

convivecircncia e nos benefiacutecios reciacuteprocos

Em seu TITULO PREacuteVIO tem como conceitos

18

Artigo 1ordm

1 Esta Declaraccedilatildeo entende por comunidade linguiacutestica toda a sociedade humana

que radicada historicamente num determinado espaccedilo territorial reconhecido ou

natildeo se identifica como povo e desenvolveu uma liacutengua comum como meio de

comunicaccedilatildeo natural e de coesatildeo cultural entre os seus membros A denominaccedilatildeo

liacutengua proacutepria de um territoacuterio refere-se ao idioma da comunidade historicamente

estabelecida neste espaccedilo [grifo nosso]

2 Esta Declaraccedilatildeo parte do princiacutepio de que os direitos linguiacutesticos satildeo

simultaneamente individuais e colectivos e adapta como referecircncia da plenitude dos

direitos linguiacutesticos o caso de uma comunidade linguiacutestica histoacuterica no respectivo

espaccedilo territorial entendendo-se este natildeo apenas como a aacuterea geograacutefica onde esta

comunidade vive mas tambeacutem como um espaccedilo social e funcional indispensaacutevel ao

pleno desenvolvimento da liacutengua Eacute com base nesta premissa que se podem

estabelecer em termos de uma progressatildeo ou continuidade os direitos que

correspondem aos grupos linguiacutesticos mencionados no ponto 5 deste artigo e os das

pessoas que vivem fora do territoacuterio da sua comunidade []

Em referecircncia ao Artigo 3ordm

- o direito ao ensino da proacutepria liacutengua e da proacutepria cultura

- o direito a dispor de serviccedilos culturais

- o direito a uma presenccedila equitativa da liacutengua e da cultura do grupo nos meios de

comunicaccedilatildeo

- o direito a serem atendidos na sua liacutengua nos organismos oficiais e nas relaccedilotildees

socioeconomicas []

Em referecircncia ao Artigo 5ordm

Esta Declaraccedilatildeo baseia-se no princiacutepio de que os direitos de todas as comunidades

linguiacutesticas satildeo iguais e independentes do seu estatuto juriacutedico ou poliacutetico como

liacutenguas oficiais regionais ou minoritaacuterias Designaccedilotildees tais como liacutengua regional ou

minoritaacuteria natildeo satildeo usadas neste texto porque apesar de em certos casos o

reconhecimento como liacutengua minoritaacuteria ou regional poder facilitar o exerciacutecio de

determinados direitos a utilizaccedilatildeo destes e doutros adjetivos serve frequentemente

para restringir os direitos de uma comunidade linguiacutestica []

Em referecircncia ao Artigo 23ordm

1 O ensino deve contribuir para fomentar a capacidade de auto-expressatildeo

linguiacutestica e cultural da comunidade linguiacutestica do territoacuterio onde eacute

ministrado[grifo nosso]

2 O ensino deve contribuir para a manutenccedilatildeo e o desenvolvimento da liacutengua falada

pela comunidade linguiacutestica do territoacuterio onde eacute ministrado

3 O ensino deve estar sempre ao serviccedilo da diversidade linguiacutestica e cultural e das

relaccedilotildees harmoniosas entre as diferentes comunidades linguiacutesticas do mundo inteiro

4 No quadro dos princiacutepios anteriores todos tecircm direito a aprender qualquer liacutengua

Em referecircncia aos Artigos 26ordm a 28ordm Artigo 26ordm

Todas as comunidades linguiacutesticas tecircm direito a um ensino que permita a todos os

seus membros adquirirem o perfeito conhecimento da sua proacutepria liacutengua com as

diversas capacidades relativas a todos os domiacutenios de uso da liacutengua habituais bem

como o melhor conhecimento possiacutevel de qualquer outra liacutengua que desejem

aprender

Artigo 27ordm

Todas as comunidades linguiacutesticas tecircm direito a um ensino que permita aos seus

membros o conhecimento das liacutenguas ligadas agrave sua proacutepria tradiccedilatildeo cultural tais

como as liacutenguas literaacuterias ou sagradas usadas antigamente como liacutenguas habituais

da sua comunidade

Artigo 28ordm

Todas as comunidades linguiacutesticas tecircm direito a um ensino que permita aos seus

membros adquirirem um conhecimento profundo do seu patrimocircnio cultural (histoacute-

ria e geografia literatura e outras manifestaccedilotildees da proacutepria cultura) assim como o

melhor conhecimento possiacutevel de qualquer outra cultura que desejem conhecer

(BARCELONA 1996 p 4 a 14)

19

Assim nas Disposiccedilotildees Finais no Plenaacuterio da Associaccedilatildeo Internacional para o

Desenvolvimento da Comunicaccedilatildeo Intercultural recomenda agraves Naccedilotildees Unidas que tomem as

medidas necessaacuterias agrave adopccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de uma Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Linguiacutesticos considerando a Convenccedilatildeo nuacutemero 169 da Organizaccedilatildeo Internacional do

Trabalho de 26 de Junho de 1989 relativa aos povos indiacutegenas em paiacuteses independentes que

a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Colectivos dos Povos realizada em Maio de 1990 em

Barcelona declara que todos os povos tecircm direito a exprimir e a desenvolver a sua cultura a

sua liacutengua e as suas normas de organizaccedilatildeo e para o fazerem a dotarem-se de estruturas

poliacuteticas educacionais de comunicaccedilatildeo e de administraccedilatildeo puacuteblica proacuteprias em quadros

poliacuteticos diferentes Considerando tambeacutem a Declaraccedilatildeo Final da Assembleia Geral da

Federaccedilatildeo Internacional de Professores de Liacutenguas Vivas aprovada em Peacutecs (Hungria) em 16

de Agosto de 1991 recomenda-se tambeacutem que os direitos linguiacutesticos sejam consagrados

direitos fundamentais

Neste contexto Nascimento (2009 p 25) pontua

Como princiacutepio eacutetico qualquer poliacutetica de liacutenguas deveraacute trabalhar a unidade e a

diversidade Natildeo se trata de poacutelos de contradiccedilatildeo mas de eixos de transiccedilatildeo A

unidade eacute uma razatildeo do Estado e a diversidade ou variedade eacute a mateacuteria linguiacutestica

proacutepria da comunidade pois reflete a liacutengua em uso ou seja as linguagens verbais

por meio das quais os indiviacuteduos se comunicam A unidade eacute resguardada pelo

padratildeo oficializado em um modelo de gramaacutetica e a variedade se faz representar nas

diversas gramaacuteticas praacuteticas e pragmaacuteticas de um Estado linguiacutestico

Quadros e Karnopp (2004) ainda explicam que a linguiacutestica parte de pressupostos

baacutesicos que determinam as investigaccedilotildees Sendo um dos mais importantes eacute de que a

linguagem eacute restringida por determinados princiacutepios ou seja ldquoregrasrdquo que fazem parte do

conhecimento humano das liacutenguas (falada ou sinalizada) da formaccedilatildeo de palavras da

construccedilatildeo das sentenccedilas e da construccedilatildeo dos textos A partir deste pressuposto da

universalidade de tais princiacutepios as investigaccedilotildees linguiacutesticas objetivam estudar os aspectos

especiacuteficos de cada liacutengua os quais revelam as caracteriacutesticas da linguagem humana A

exemplo o inglecircs o portuguecircs a Liacutengua de Sinais Americana a Liacutengua Brasileira de Sinais

e outras Embora apresentem diferenccedilas entre as liacutenguas agraves estruturas satildeo comuns que por

sua vez interessam agraves investigaccedilotildees linguiacutesticas na medida em que eacute a ciecircncia que objetiva

por explicar a natureza da linguagem humana

A partir dessas concepccedilotildees entendemos que os seres humanos estabelecem relaccedilotildees

do mais simples ao mais complexo com o outro por meio de gestos olhares e contato seja

por meio de sons Tudo isso caracteriza a linguagem humana Observa-se que a ldquolinguagemrdquo

20

eacute um termo usado pelas pessoas com referecircncia agrave linguagem em geral ou seja em uma

variedade de sentidos para denominar sistemas de comunicaccedilatildeo linguagem musical

linguagem corporal linguagem entre animais etc

No que concerne agrave definiccedilatildeo do termo liacutengua Quadros e Karnopp (2004) encontraram

uma seacuterie de definiccedilotildees de liacutengua que apontam para sua diferenciaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao termo

linguagem Estas fornecem subsiacutedios para a indicaccedilatildeo de propriedades consideradas pela

linguiacutestica essenciais agraves liacutenguas naturais sendo que uma delas eacute dada por Saussure que

afirma

Liacutengua natildeo se confunde com a linguagem eacute somente uma parte determinada

essencial dela indubitavelmente Eacute ao mesmo tempo um produto social da

faculdade de linguagem e um conjunto de convenccedilotildees necessaacuterias adotadas pelo

corpo social para permitir o exerciacutecio dessa faculdade nos indiviacuteduos (QUADROS e

KARNOPP 2004 p24)

Portanto entende-se como liacutengua natural

uma liacutengua que foi criada e eacute utilizada por uma comunidade especiacutefica de usuaacuterios

transmitida de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo e que muda ndash tanto estrutural como

funcionalmente ndash com o passar do tempo Ora qualquer liacutengua pode ser considerada

natural independentemente da modalidade que utilize (SAacute 2006 p 134)

Assim a liacutengua natural eacute tratada enquanto sistema linguiacutestico altamente desenvolvido

apresentando as caracteriacutesticas citadas por Quadros e Karnopp (2004 p 25-28) de

flexibilidade versatilidade arbitrariedade descontinuidade criatividade produtividade dupla

articulaccedilatildeo padratildeo de organizaccedilatildeo dos elementos e dependecircncia estrutural Logo conclui-se

que tais caracteriacutesticas satildeo especiacuteficas da faculdade da linguagem humana

11 Liacutengua de Sinais como Liacutengua Natural

A Liacutengua de Sinais eacute uma liacutengua natural criada pelas comunidades surdas Segundo

Skliar (1998 p26) ldquoTodas as crianccedilas surdas podem adquirir a Liacutengua de Sinais desde que

participem das interaccedilotildees quotidianas com a comunidade surda como acontece com qualquer

outra crianccedila na aquisiccedilatildeo de uma liacutengua naturalrdquo Skliar esclarece que liacutengua ldquonaturalrdquo natildeo

se refere a uma espontaneidade bioloacutegica mas como liacutengua que foi criada e eacute utilizada por

uma comunidade especiacutefica de usuaacuterios que transmite de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo e que muda com

o passar do tempo tanto estruturalmente como funcionalmente (IDEM p27)

As Liacutenguas de Sinais satildeo diferentes em cada comunidade com caracteriacutesticas das

liacutenguas orais com estruturas gramaticais proacuteprias que as distingue dos demais sistemas de

21

comunicaccedilatildeo Para Quadros e Karnopp (2004 p 30) ldquoAs liacutenguas de sinais satildeo portanto

consideradas pela linguiacutestica como liacutenguas naturais ou como um sistema linguiacutestico legiacutetimo e

natildeo como um problema do surdo ou como uma patologia da linguagemrdquo7

Para o reconhecimento das Liacutenguas de Sinais como liacutenguas naturais Ramos (2013 p

8) destaca o conceito ldquonaturalrdquo em oposiccedilatildeo a ldquocoacutedigo e linguagemrdquo e a avaliaccedilatildeo apresenta

as semelhanccedilas existentes entre as mesmas e as liacutenguas orais Sendo que uma dessas

semelhanccedilas na linha saussuriana eacute a ldquoexistecircncia de unidades miacutenimas formadoras de

unidades complexas pode ser observada em todas as Liacutenguas de Sinais espalhadas pelo

mundo possuidoras dos niacuteveis fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico e pragmaacuteticordquo

As liacutenguas de sinais apresentam ldquoregistros diversos (por categoria profissional status social

idade niacutevel escolar etc) aleacutem de dialetos regionais tambeacutem referendam as semelhanccedilas com

as liacutenguas oraisrdquo (IDEM p 8)

Estudos aprofundados sobre a Liacutengua de Sinais iniciaram a partir da deacutecada de 1950

com o estudioso da linguiacutestica o americano William Stokoe o qual percebeu e provou que a

Liacutengua de Sinais

[] satisfazia todos os criteacuterios linguiacutesticos de uma liacutengua genuiacutena no leacutexico na

sintaxe na capacidade de gerar um nuacutemero infinito de proposiccedilotildees [] Stokoe

convenceu-se de que os sinais natildeo eram figuras e sim complexos siacutembolos abstratos

com uma estrutura interna complexa Foi entatildeo o primeiro a buscar uma estrutura a

analisar os sinais dissecaacute-los procurar as partes constituintes Desde o comeccedilo ele

tentou demonstrar que cada sinal possuiacutea pelo menos trecircs partes independentes ndash

7 Sobre a surdez temos duas abordagens segundo explica Skliar a cliacutenico terapecircutica e a soacutecio-antropoloacutegica

A visatildeo soacutecioantropoloacutegica descreve a surdez em termos contraacuterios agraves noccedilotildees de patologia e de deficiecircncia

(1998 p10) Durante o seacuteculo passado construi-se o imaginaacuterio de que o surdo era um deficiente que

necessitava falar Segundo Casarin (1996 p2) ldquoNesse discurso deacuteficit doenccedila patologia anomalia implicam

apenas a possibilidade de sequumlecircncia diagnoacutestico tratamento-cura caracteriacutesticas da abordagem meacutedicardquo [] Tal

concepccedilatildeo influecircnciou outras aacutereas do conhecimento inclusive na educaccedilatildeo sobre a forma de perceber o surdo

Cesarian ainda explica que a partir daiacute foram assimilando o imaginaacuterio de que a surdez era uma doenccedila e que o

surdo por natildeo falar era um deficiente que precisava ser curado construindo entre as aacutereas de tratamento um

modelo terapecircutico para o deficiente auditivo Apoacutes as influecircncias da medicina na educaccedilatildeo dos surdos o

modelo cliniacuteco-terapecircutico passa a impor propostas educativas do oralismo dando continuidade agora na aacuterea

educacional ao tratamento do deficiente o mais cedo possivel na escola a fim que ele se enquadre ao modelo

normal modelo ouvinte Logo as escolas apresentavam como instituiccedilotildees de reeducaccedilatildeo da fala desenvolvendo

atividades pedagoacutegicas que tinham como objetivo o treinamento e exerciacutecios com fins a trazer o surdo o mais

possiacutevel do ldquonormalrdquo Perde-se assim muito tempo no processo de ensino aprendizado do sujeito surdo levando

a um fracasso escolar Surge entatildeo a nova concepccedilatildeo nomeada como soacutecio-antropoloacutegica de surdez totalmente

oposta agrave anterior Essa concepccedilatildeo parte das capacidades do sujeito quando considera a liacutengua de sinais como

melhor garantia para o desenvolvimento normal do surdo Esta nova concepccedilatildeo traz a valorizaccedilatildeo da lingua de

sinais e como consequecircncia o reconhecimento das especificidade culturais das comunidades surdas Estudos

feitos por linguiacutesticas observaram o desempenho escolar de pessoas surdas que se comunicam desde a infacircncia

por meio da Liacutengua de Sinais e que demostraram ganhos significativos em divesas aacutereas do desenvolvimento

humano Deixando claro a necessidade do uso da Liacutengua de Sinais como liacutengua natural da pessoa surda (1996

p 3)

22

localizaccedilatildeo configuraccedilatildeo das matildeos e movimento executado (anaacuteloga aos fonemas

da fala) ndash e que cada parte apresentava um nuacutemero limitado de combinaccedilotildees []

(SACKS 1998 p 88-89)

Segundo Ramos (2013 p 9) em 1988 o venezuelano Saacutenchez fez pesquisas sobre as

liacutenguas de sinais e os resultados apresentou ao educador francecircs Jean Foucambert No debate

sobre suas pesquisas ldquosurgiu agrave proposta de um tipo de educaccedilatildeo que privilegiasse a liacutengua

natural da comunidade surda - a Liacutengua de Sinais Venezuelana e a escrita da liacutengua da

comunidade oral o Espanholrdquo Um dos primeiros princiacutepios que lanccedilou a base para a que a

liacutengua de sinais fosse reconhecida como liacutengua natural foi descrita por Foucambert (RAMOS

2013 p 10)

Natildeo soacute os surdos mas toda e qualquer crianccedila pode aprender a liacutengua escrita sem

basear-se na oral porque satildeo independentes Em segundo lugar chegou-se agrave

afirmaccedilatildeo de que a liacutengua de sinais eacute uma liacutengua natural e que os surdos satildeo uma

comunidade linguiacutestica minoritaacuteria com direito a desenvolver sua cultura proacutepria

dentro da cultura majoritaacuteria O fato de a Liacutengua de Sinais cumprir uma seacuterie de

requisitos que todas as liacutenguas naturais possuem - espanhol portuguecircs alematildeo

inglecircs polonecircs a criatividade eacute um deles - pode-se sempre dizer alguma coisa

nova Outro requisito eacute a combinaccedilatildeo de partiacuteculas natildeo significativas que usadas de

certa maneira criam significaccedilatildeo [] Com 30 40 configuraccedilotildees da matildeo podem-se

transmitir milhares de sinais significativos como os fonemas da liacutengua oral A

liacutengua de sinais que como as liacutenguas nacionais eacute diferente em cada paiacutes e ateacute em

regiotildees dos paiacuteses possui aleacutem do mais uma gramaacutetica toda proacutepria organizada e

complexa e nos permite transmitir qualquer coisa [] Com ela pode-se transmitir

criar e recriar o que se quiser poesia romance filosofia E pode-se ateacute formular

ideacuteias com duplo sentido ou mentir que eacute outra caracteriacutestica das liacutenguas naturais

Por meio das pesquisas e estudos diversos paiacuteses passaram a se dedicar no campo da

linguiacutestica da Liacutengua de Sinais eacute que criou-se a possibilidade do povo surdo lutar pelo seu

reconhecimento enquanto liacutengua na medida em que pode contar com estudos que provam

cientificamente de que as Liacutenguas de Sinais satildeo de fato liacutenguas e natildeo um conjunto de

miacutemica

12 Liacutengua Brasileira de Sinais

O ser humano se expressa atraveacutes da liacutengua e a partir dela estabelece sua cultura

valores e padrotildees sociais Para os surdos brasileiros a Libras estabelece essas condiccedilotildees pois

considera a modalidade visual-espacial e associa caracteriacutesticas sociolinguiacutesticas as funccedilotildees

pragmaacuteticas e discursivas semelhantes agraves liacutenguas orais poreacutem a Liacutengua de Sinais por muito

tempo natildeo foi percebida enquanto estrutura linguiacutestica

23

A LIBRAS como toda Liacutengua de Sinais eacute uma liacutengua de modalidade gestual-visual

uma vez que faz uso para a comunicaccedilatildeo de movimentos gestuais e expressotildees faciais

percebidos pela visatildeo Neste sentido a Revista Feneis Ramos (2002 apud RAMOS 2013 p

7-8) ldquoa Liacutengua Portuguesa eacute uma liacutengua de modalidade oral-auditiva por utilizar como canal

ou meio de comunicaccedilatildeo sons articulados que satildeo percebidos pelos ouvidosrdquo Suas diferenccedilas

estatildeo na utilizaccedilatildeo de canais diferentes e nas estruturas gramaticais de cada liacutengua

Para Campello (2009) historicamente os primeiros estudos da Liacutengua de Sinais

apareceram no seacuteculo XIV exatamente nos anos de 1644 pelo inglecircs Bulwer J B com o livro

de Liacutengua de Sinais Inglesa Chirologia8 on the natural language of the hand com os estudos

destacando as figuras das matildeos e seus significados Menciona tambeacutem que era recompensa

de natureza que os surdos devam se comunicar atraveacutes dos gestos e acreditava firmemente na

ldquonecessidade que opera a Natureza dos homens que nascem Surdos-Mudos que podem

discutir mostrar sinalizar retoricamente por sinaisrdquo (p 13)

Em 1960 W C Stokoe pesquisador inglecircs da Gallaudet University fez uma pesquisa

entre as gramaacuteticas utilizadas pelos surdos em sala de aula e fora dela e os resultados foram

publicados no artigo Sign Language Structure na outline of the visual communication system

of the American Deaf na revista Studies in Linguistics Occassional Papers 8 (CAMPELLO

2009) E eacute a partir destes estudos que Stokoe afirma que a Liacutengua de Sinais eacute liacutengua

Stokoe (1960) ldquopercebeu e comprovou que a liacutengua de sinais atendia a todos os

criteacuterios linguiacutesticos de uma liacutengua genuiacutena no leacutexico na sintaxe e na capacidade de

gerar uma quantidade infinita de setenccedilasrdquo Stokoe observou que os sinais natildeo eram

imagens mas siacutembolos abstratos complexos com uma complexa estrutura interior

[] Comprovou inicialmente inicialmente que cada sinal apresentava pelo menos

trecircs partes independentes (em analogia com os fonemas da fala) ndash a localizaccedilatildeo a

configuraccedilatildeo de matildeos e o movimento ndash e que cada parte possuiacutea um nuacutemero

limitado de combinaccedilotildees [] (QUADROS E KARNOPP 2004 p 30-31)

Os estudos do linguiacutesta representou o primeiro passo para outras pesquisas em relaccedilatildeo

a Liacutengua de Sinais Em diversos paiacuteses pesquisas foram realizadas O Brasil foi um deles

No Brasil no final dos anos de 1970 a proposta da educaccedilatildeo biliacutengue reconhece a

Libras como liacutengua natural portanto deve ser ensinada como primeira liacutengua desde o iniacutecio

da escolarizaccedilatildeo da crianccedila surda e a comunidade surda reconhece o portuguecircs como a liacutengua

oficial do Brasil e deve ser ensinada como segunda liacutengua na forma oral ou escrita

(SLOMSKI 2010)

8 Bulwer (1644) em seu livro esclarece que a quirologia eacute um dicionaacuterio de gestos manuais e quirema eacute um

manual para o uso efetivo do gesto de falar em puacuteblico

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Segundo Quadros (2009 p144) no entanto a Liacutengua de Sinais comeccedilou a ser

investigada efetivamente nas deacutecadas de 80 e 90 por Ferreira Brito (1986 1995) Felipe

(1992 1993) Quadros (1995 1999) e a aquisiccedilatildeo da Liacutengua Brasileira de Sinais nos anos 90

(Karnopp (1994 1999 Quadros (1995 1997)

Na deacutecada de 1980 a 1990 tem-se um panorama mundial para a abordagem biliacutengue

na educaccedilatildeo de surdos Slomski (2010 p 61) destaca que em 1994 Lucinda Ferreira Brito

passa a utilizar a abreviaccedilatildeo de LIBRAS (Liacutengua Brasileira de Sinais) criada pela comunidade

surda Consequentemente pesquisas estudos e lutas da comunidade surda contribuiacuteram para a

instauraccedilatildeo de uma poliacutetica linguiacutestica da Liacutengua Brasileira de Sinais A que reconhece o

estatuto linguiacutestico legal por meio da Lei 10436 de 24042002

Art 1ordm Eacute reconhecida como meio legal de comunicaccedilatildeo e expressatildeo a Liacutengua

Brasileira de Sinais ndash Libras e outros recursos de expressatildeo e por ela associados

Paraacutegrafo uacutenico Entende-se como Liacutengua Brasileira de Sinais ndash Libras a forma e

comunicaccedilatildeo e expressatildeo em que o sistema linguiacutestico de natureza visual-motora

com estrutura gramatical proacutepria constituem um sistema linguiacutestico de transmissatildeo

de ideias e fatos oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil

[](BRASIL 2007 p 2)

A Liacutengua de Sinais como jaacute mencionado eacute uma liacutengua natural composta por de todos

os componentes agraves liacutenguas orais como gramaacutetica semacircntica pragmaacutetica sintaxe e outros

elementos preenchendo os requisitos cientiacuteficos para ser considerado um sistema linguiacutestico

Conforme Felipe e Monteiro (2004 p23) as Liacutenguas de Sinais satildeo compostas por

signos linguiacutesticos denominados bdquosinais‟ encontrados nos seguintes paracircmetros

Configuraccedilatildeo das Matildeos Ponto de Articulaccedilatildeo Movimento Orientaccedilatildeo Expressatildeo Facial eou

Corporal Estes paracircmetros satildeo requisitos necessaacuterios para que sejam constituiacutedos os sinais

Portanto a Liacutengua de Sinais eacute considerada como liacutengua natural do sujeito surdo

como sua primeira liacutengua-L1 Jaacute a liacutengua majoritaacuteria de um paiacutes no caso do Brasil eacute a

Liacutengua Portuguesa como L2 Partindo do pressuposto que a Liacutengua de Sinais eacute a primeira

liacutengua do surdo a aquisiccedilatildeo da primeira liacutengua pelas crianccedilas surdas deve se dar de forma

natural no contato com surdos sinalizados pertencentes agrave comunidade surda A Liacutengua

Portuguesa por sua vez eacute aprendida de forma sistemaacutetica ou seja precisa ser ensinada por

meio de teacutecnicas especiacuteficas de ensino de segunda liacutengua

A partir desta compreensatildeo as crianccedilas surdas precisam ter a oportunidade do contato

com seus pares Crianccedilas surdas que natildeo tecircm um conviacutevio com surdos por terem nascido

dentro de familias ouvintes que usam a liacutengua oral precisam que os pais familiares

25

oportunizem a elas o mundo essencialmente visual-espacial para conhecer a Liacutengua de

Sinais Sobre a questatildeo Quadros (2005 p30) afirma

As crianccedilas surdas e seus pais ouvintes poderiam compartilhar o bilinguismo liacutengua

portuguesa e liacutengua de sinais brasileira e ir aleacutem descobrindo os vieses das culturas

e identidade que se entrecruzam [] Assim as crianccedilas surdas precisam ter acesso

agrave liacutengua de sinais com sinalizantes fluentes desta liacutengua muito cedo Estes

sinalizantes satildeo pessoas que normalmente natildeo fazem parte do ciacuterculo de pessoas

que a crianccedila usualmente teria contato Os pais teratildeo que conhecer comunidade

surda que usa esta liacutengua

Nesta perspectiva Souza (apud QUADROS 2005) menciona que se no iniacutecio do seu

desenvolvimento a crianccedila surda tiver a chance de contar com pais dispostos a aprenderem a

liacutengua de sinais com adultos surdos colegas surdos e conversarem ldquosinalizandordquo a

dimensatildeo do seu processo educacional seraacute outra A aquisiccedilatildeo da liacutengua seraacute transferida para

o espaccedilo escolar ldquoO fato de passar a ter contato com a liacutengua portuguesa com significado

trazendo seus conceitos adquiridos na sua proacutepria liacutengua possibilitaraacute um processo muito

mais significativordquo (ibid p33)

Por isso eacute de importacircncia fundamental a crianccedila surda esteja em contato linguiacutestico

com a liacutengua de sinais o mais cedo possiacutevel seja com a comunidade surda ou com seus pais

ouvintes que adquiriram a Liacutengua de Sinais como L2 Estes fatores iratildeo influenciar a crianccedila

estabelecer a sua identidade e cultura surda naturalmente Neste sentido Fantinel (1999 p2)

menciona que ldquoo uso da Liacutengua de Sinais eacute uma condiccedilatildeo fundamental na construccedilatildeo da

identidade dessas pessoas pois eacute o fator que os aproxima e reuacutene em grupos permitindo-lhes

expressarem-se construindo significados para a vidardquo

A Liacutengua de Sinais portanto eacute um aspecto fundamental da cultura surda Para tanto

Strobel (2008 p44) ainda enfatiza que para que o sujeito surdo possa ter acesso agraves

informaccedilotildees e conhecimentos aleacutem de construir sua identidade eacute fundamental criar uma

ligaccedilatildeo com o povo surdo que usa a sua liacutengua em comum pois a Liacutengua de Sinais eacute uma das

principais marcas da identidade de um povo surdo uma particularidade da cultura surda uma

forma de comunicaccedilatildeo que capta as experiecircncias visuais dos sujeitos surdos E somente a

partir do uso desta liacutengua que a crianccedila conseguiraacute seu pleno desenvolvimento cognitivo

psicoloacutegico emocional e cultural proporcionando assim a aquisiccedilatildeo do conhecimento

universal

Desta forma ao refletirmos sobre a pessoa surda na construccedilatildeo de sua identidade e

cultura surda entende-se que o contato linguiacutestico eacute essencial Logo o que dizer das pessoas

26

surdas que vivem isoladas de comunidades surdas que natildeo tem esse contato com Liacutengua de

Sinais Sobre esta realidade Strobel esclarece que

No entanto incluem tambeacutem os gestos denominados ldquosinais emergentesrdquo ou ldquosinais

caseirosrdquo dos sujeitos surdos de zonas rurais ou sujeitos isolados de comunidades

surdas que procuram entender o mundo atraveacutes dos experimentos visuais e que

procuram comunicar apontando e criando sinais [] (ibidem p44)

Ainda sobre a questatildeo Vilhalva (2012 p 30) ressalta que ldquo[] Os sinais emergentes

tambeacutem conhecidos como sinais caseiros satildeo essenciais quando vistos como comunicaccedilatildeo

natural usada em um espaccedilo familiar ou social []rdquo Nesse caso podemos referir ao iacutendio

surdo que vive isolado do contato com a comunidade surda Este surdo tambeacutem se identifica

com o povo surdo apesar de natildeo ter contato e de natildeo pertencer agraves mesmas comunidades

surdas na medida em que de acordo com Strobel (2008) eles compartilham as mesmas

peculiaridades ou seja constroem sua formaccedilatildeo de mundo atraveacutes de artefato cultural visual

13 Liacutenguas de Sinais Indiacutegenas pesquisadas no Brasil

Os registros da existecircncia de iacutendios surdos segundo Vilhalva (2008) apontam para o

Estatuto do Iacutendio - Lei nordm 6001 de 19121973 que norteou as relaccedilotildees do Estado brasileiro

com as populaccedilotildees indiacutegenas ateacute a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 em seu Paraacutegrafo

uacutenico do Art 1ordm assegura

Aos iacutendios e agraves comunidades indiacutegenas se estende a proteccedilatildeo das leis do Paiacutes nos

mesmos termos em que se aplicam aos demais brasileiros resguardados os usos

costumes e tradiccedilotildees indiacutegenas bem como as condiccedilotildees peculiares reconhecidas

nesta Lei

Neste sentido no Brasil a liacutengua oficial eacute a Liacutengua Portuguesa Fossile (2013 p 4)

afirma que ldquoo paiacutes conta atualmente segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatiacutestica (IBGE) com aproximadamente 210 liacutenguas sendo 190 delas indiacutegenasrdquo Essas

liacutenguas indiacutegenas satildeo consideradas como liacutenguas minoritaacuterias sem importacircncia em relaccedilatildeo ao

portuguecircs No entanto algumas possuem mais prestiacutegio em relaccedilatildeo agraves outras

Em relaccedilatildeo ao conhecimento da liacutengua e da diversidade na dinacircmica soacutecio-cultural das

populaccedilotildees indiacutegenas deveria haver prioridades para estudos no campo linguiacutestico para

acadecircmicos e pesquisadores indios De fato o conhecimento das liacutenguas faladas e no

contexto tem-se essa diversidade para iacutendios surdos deveria ser compartilhada com a

27

sociedade indiacutegena de forma que esta possam participar ativamente na elaboraccedilatildeo de poliacuteticas

e programas que respondam agraves suas necessidades seus direitos considerando-se em particular

suas culturas e liacutenguas

Segundo Vilhalva (2008) pesquisas no campo da linguiacutestica e de poliacuteticas linguiacutesticas

avanccedilaram consideravelmente no Brasil Tendo poreacutem ainda uma grande necessidade de

maiores pesquisas principalmente referente a diferentes Liacutenguas de Sinais pertencentes a

diferentes comunidades como as dos povos indiacutegenas Neste sentido a autora argumenta

A Liacutengua de Sinais Indiacutegenas praticadas pelos iacutendios surdos existentes em diversas

comunidades indiacutegenas do paiacutes traz consigo caracteriacutesticas culturais e linguiacutesticas

variadas bdquoInfelizmente raramente satildeo registradas como satildeo registradas outras liacutenguas

brasileiras de diferentes comunidades com suas especificidades culturais e eacutetnicas ‟

(VILHALVA 2008 p 29)

Sobre a questatildeo Nonaka coloca que

desde 1960 quando se iniciaram os estudos linguiacutesticos e antropoloacutegicos em

referecircncia agraves Liacutenguas de Sinais a maior parte das investigaccedilotildees tem incidido sobre

as Liacutenguas de Sinais nacionais ou padratildeo usadas pelos surdos de diferentes paiacuteses

com escassa atenccedilatildeo agraves Liacutenguas de Sinais usadas pelos indiacutegenas em sua

comunicaccedilatildeo original (apud VILHALVA 2012 p 30)

Por isso Vilhalva defende a comunicaccedilatildeo dos iacutendios surdos como objeto de estudo da

linguiacutestica afirmando que

[] Sabemos tambeacutem que a Libras estaacute presente nas terras indiacutegenas

apontando que a influecircncia aconteceraacute Sendo assim consideramos quanto o leacutexico

das liacutenguas estaacute no processo de mudanccedilas atraveacutes do neologismo espontacircneo ou o

empreacutestimo linguiacutestico de outras liacutenguas (ibid p37)

Observa-se que os estudos sobre a Libras nas terras indiacutegenas comeccedilaram na deacutecada

de 1980 com pesquisas da brasileira Lucinda Ferreira Brito sobre a Liacutengua Brasileira de

Sinais Segundo Slomski (2010) Lucinda Ferreira Brito iniciou sua pesquisa atraveacutes de um

padratildeo internacional de abreviaccedilatildeo das Liacutenguas de Sinais adotando a sigla LSCB ndash Liacutengua de

Sinais dos Centros Urbanos Brasileiros para diferenciaacute-la da LSKB ndash Liacutengua de Sinais

Kaapor Brasileiros que eram a utilizada pelos iacutendios do Estado do Maranhatildeo

Diante do panorama exposto se faz necessaacuterio no campo da linguiacutestica dos estudos

surdos pesquisas sobre a Liacutengua de Sinais usadas pelos iacutendios surdos nas diferentes

comunidades indiacutegenas para que seja reconhecida e registrada Infelizmente somente uma

28

liacutengua indiacutegena eacute oficialmente reconhecida no Brasil a Liacutengua de Sinais Indiacutegena da

comunidade Urubu-Kaapor devido ao alto iacutendice de surdos

131 Liacutengua de Sinais Urubu-Kaapor

Os resultados do Censo 2010 (IBGE 2013) apontam para 274 liacutenguas indiacutegenas

faladas por indiviacuteduos pertencentes a 305 etnias diferentes Embora haja a necessidade de

estudos linguiacutesticos e antropoloacutegicos mais aprofundados quanto aos nuacutemeros totais de liacutengua

e etnia

Dentro desse universo a uacutenica Liacutengua de Sinais indiacutegena reconhecida conforme

referido anteriormente eacute a utilizada pela etnia indiacutegena brasileira dos Urubu-Kaapor9

chamados tambeacutem por urubus-caapores Os estudos sobre essa Liacutengua de Sinais apontam para

o iniacutecio da deacutecada de 1950

De acordo com Ribeiro (1996 apud FASSILE 2013 p 2)

Em 1950 foi descoberto no Brasil um grupo indiacutegena atraveacutes de pesquisas

antropoloacutegicas os Urubu-Kaapor na floresta Amazocircnica (Maranhatildeo) que falava

uma variaccedilatildeo da liacutengua de sinais Somente a partir da deacutecada de 1980 estudos

linguiacutesticos relacionados agrave Liacutengua de Sinais Kaapor Brasileira (LSKB) foram

aprofundados (sobre a LSKB cf KAKUMASU J KAKUMASU K 1977)

Segundo Brito (1993 apud FASSILE 2013 p 2) J Kakumasu defendeu que ldquo[] a

Liacutengua de Sinais dos Urubu-Kaapor [] [se constituiacutea como] um veiacuteculo de comunicaccedilatildeo

intratribal e natildeo como meio de transaccedilatildeo comercialrdquo Neste sentido resgata-se que

No Brasil Lucinda Brito inicia seus importantes estudos linguiacutesticos em

1982 sobre a Liacutengua de Sinais dos iacutendios Urubu-Kaapor da floresta amazocircnica

brasileira apoacutes um mecircs de convivecircncia com os mesmos documentando em filme

sua experiecircncia A ideia para a pesquisa adveio da leitura de um artigo publicado no

livro de Umiker-Sebeok (1978) de autoria de J Kakumasu Urubu Sign Language

No estudo a Liacutengua de Sinais dos Urubu-Kaapor se diferenciaria da PSL por

constituir um veiacuteculo de comunicaccedilatildeo intratribal e natildeo como meio de transaccedilatildeo

comercial Lucinda Brito poreacutem constatou que a mesma se tratava de uma legiacutetima

Liacutengua de Sinais dos surdos pelos mesmos criados

O interessante de se observar no caso dos Urubu-Kaapor eacute que os ouvintes da

aldeia falam a Liacutengua de Sinais e a liacutengua oral evidentemente enquanto que os

surdos se restringem agrave Liacutengua de Sinais Assim os ouvintes da aldeia se tornam

biliacutengues enquanto os surdos se mantecircm monoliacutengues (RAMOS 2011 p 6)

9 Disponiacutevel emlthttpwwwlibrascombrurubu-kaaporgt Acesso em 19112013

29

A Liacutengua Kaapor eacute uma liacutengua da famiacutelia Tupi-Guarani natildeo falada por outra tribo ou

povo exceto como segunda liacutengua Possuem uma liacutengua de sinais proacutepria (a Liacutengua Brasileira

de Sinais Kaapor) usada tanto pela comunidade surda do povo como tambeacutem por seus

membros natildeo surdos na comunicaccedilatildeo com os surdos

[] os Kaapor satildeo linguisticamente peculiares na Amazocircnia por terem uma

linguagem padratildeo de sinais usada para a comunicaccedilatildeo com os surdos que ateacute a

metade dos anos 80 compunham cerca de 2 da totalidade de sua populaccedilatildeo A

incidecircncia de surdez deveu-se evidentemente agrave bouba neonatal e endecircmica que foi

erradicada10

O interessante eacute que a comunidade indiacutegena desenvolveu uma forma proacutepria de

comunicaccedilatildeo por sinais que comeccedilou a ser estudada na deacutecada de 1960 pelo pesquisador

canadense James Kakumasu em (1968) e em seguida pela linguista brasileira Linguista

Lucinda Ferreira Brito ldquo[] A Liacutengua de Sinais Brasileira para diferenciaacute-la da LSKB

(Liacutengua de Sinais Kaapor Brasileira) utilizados pelos iacutendios Urubu-Kaapor no Estado do

Maranhatildeordquo (GOLDFELD 1997 p 30) A pesquisadora registrou a existecircncia da Liacutengua de

Sinais Kaapor em sua pesquisa sobre termos baacutesicos para cores em Liacutengua de Sinais

132 Liacutengua de Sinais Emergentes

Vilhalva (2012) se preocupou sobre a situaccedilatildeo linguiacutestica dos iacutendios surdos trazendo

grandes contribuiccedilotildees cientiacuteficas na aacuterea da linguiacutestica referente agraves Liacutenguas de Sinais

Indiacutegenas Sua pesquisa iniciou em 1991 com iacutendios surdos na comunidade indiacutegena de Satildeo

Marcos

O estudo dos sinais emergentes que se deseja apresentar objetiva natildeo apenas

recuperar os registros sobre as liacutenguas padratildeo mas tambeacutem e sobretudo procurar

realizar um levantamento de como se apresenta atualmente o uso desses sinais

emergentes e ateacute mesmo da histoacuteria da produccedilatildeo desses sinais para que se possa

fazer o registro cientifico sobre a situaccedilatildeo linguiacutestica dos iacutendios surdos dentro das

escolas indiacutegenas [] (VILHALVA 2012 p11a)

Souza e Segala (2009 p28) abordam que a maior parte das liacutenguas nasceu do

contato entre duas ou mais liacutenguas ou de uma liacutengua e sistemas de sinais caseiros (Liacutengua de

Sinais Primaacuteria) Observa-se que ldquosinais caseiros ou Liacutengua de Sinais Primaacuterios

correspondentes aos gestos ou construccedilatildeo simboacutelica inventadas no acircmbito familiar eacute comum

10

Disponiacutevel emlthttppibsocioambientalorgptpovokaaporgt Acesso em 19112013

30

a constituiccedilatildeo de um sistema convencional de comunicaccedilatildeo entre matildee-ouvinte e crianccedila

surdardquo

Sobre a origem dos sinais emergentes Vilhalva explica que

[] os sinais emergentes foram criados devido a uma necessidade de comunicaccedilatildeo

passando por sinais indicativos icocircnicos e arbitraacuterios A maneira como cada sinal

surge levam tempo para se entender principalmente quando os sinais satildeo criados

conforme o neologismo11

Esses novos sinais passam a fazer parte da comunicaccedilatildeo

para depois designar algo consistentemente como acontece tambeacutem agraves liacutenguas

orais-auditivas (2012 p137-138)

Desta forma a autora em sua pesquisa argumenta que os sinais emergentes

considerados em seu estudo como Liacutengua de Sinais constituem como o meio de

comunicaccedilatildeo primaacuteria dos iacutendios surdos das comunidades indiacutegenas do Mato Grosso do Sul

Partindo deste achado Rousseau jaacute mencionava em seus estudos ldquoEnsaio sobre a origem das

liacutenguasrdquo que

O uso e a necessidade ensinam a cada um a liacutengua de seu paiacutes mas o que eacute que faz

com que essa liacutengua seja a de seu proacuteprio paiacutes e natildeo a de um outro [] No

momento em que um homem foi reconhecido por um outro como um ser sensiacutevel

pensante e semelhante a ele o desejo ou a necessidade de comunicar-lhe os proacuteprios

sentimentos e os proacuteprios pensamentos fez com que procurasse os meios de fazecirc-lo

(2008 p 97)

Assim o primeiro contato do ser humano eacute com o outro da mesma espeacutecie No caso da

matildee com seu filho Conforme Sacks (1998 p 7) comenta que

[] a primeira comunicaccedilatildeo geralmente se daacute entre matildee e filho e a liacutengua eacute

adquirida emerge entre eles dois Sendo assim Os sinais emergentes tambeacutem satildeo

fruto da linguagem num processo visual usados pelos surdos indiacutegenas e seus

familiares ouvintes na interaccedilatildeo com o meio (VILHALVA 2012 p 137)

Vilhalva (2012) entatildeo percebeu a predominacircncia dos gestos caseiros criados pelos

proacuteprios surdos para interagirem com suas famiacutelias e com as pessoas que os rodeiam Ou

seja a crianccedila surda que nasce na famiacutelia de ouvinte comeccedila a criar a partir de um meio de

comunicaccedilatildeo visual usando todas as formas naturais possiacuteveis desde o apontamento ateacute os

gestos naturais O uso que destes sinais criados pelas necessidades do ambiente familiar com

o passar do tempo vatildeo se convencionando a forma de interaccedilatildeo dialoacutegica passando a

transformar-se em um meio de comunicaccedilatildeo essencial resultando assim no processo

11

Satildeo palavras criadas para designar novas situaccedilotildees novos conceitos fatos objetos etc sendo que um

neologismo soacute eacute sentido como tal durante algum tempo pois passados anos ou seacuteculos deixa de ter sentido

como tal porque a realidade que ele designa jaacute natildeo eacute nova

31

evolutivo dos sinais familiares para os sinais emergentes para transiccedilatildeo para a Liacutengua de

Sinais ou seja arbitraacuteria convencional Esse processo se daacute por meio do processo cognitivo

fundamentada na teoria de Cuxac

Construccedilatildeo do dizer a partir do processo criativo de performance gestual Iconizando

da experiecircncia perceptivo-praacutetica Rotinas de Transferecircnciandashpassagem da ilustraccedilatildeo

especifica para a categorizaccedilatildeo geneacuterica Sinais estabelecidos num grupo reduzido

categorias e generalizaccedilotildees dos sinais gestuais Nasce uma liacutengua de Sinais com

todas as propriedades de uma liacutengua (apud VILHALVA 2012 p138)

Vilhalva (2012) ainda destaca que se observarmos a Lei nordm 10436 de 24 de abril de

2002 vamos verificar que em seu artigo primeiro ldquoficam reconhecidos como meio legal de

comunicaccedilatildeo e expressatildeo a Liacutengua Brasileira de Sinais-Libras ndash e outros recursos de

expressatildeo a ela associadosrdquo Nesses bdquooutros recursos‟ podem figurar segundo compreensatildeo

da mesma os sinais emergentes produzidos nas comunidades indiacutegenas Se a Liacutengua

Brasileira de Sinais uma forma de comunicaccedilatildeo e expressatildeo cujo canal de produccedilatildeo e

recepccedilatildeo eacute de natureza visual-motora com estrutura gramatical proacutepria constituindo um

sistema linguiacutestico de transmissatildeo de ideias e fatos oriundos de comunidades de pessoas

surdas no Brasil conforme estaacute na lei eacute compreensivo dizer que nada fala sobre um padratildeo de

sinalizaccedilatildeo (p34)

Conclui-se que conforme pesquisa da autora citada os estudos dos sinais emergentes

mostraram que este eacute o ponto inicial das novas Liacutenguas de Sinais que segundo a mesma

merecem ser aprofundadas

1321 Realidade do contexto educacional escolar do indiacutegena surdo

Vilhalva (2012) destaca que o indiviacuteduo surdo soacute teraacute um sistema gestual linguiacutestico

organizado no contato do agrupamento comunitaacuterio especificamente da comunidade surda

com o contato com a Liacutengua de Sinais E isso muitas vezes acontece em geral somente no

acircmbito escolar biliacutengue onde haacute outros surdos inteacuterpretes e professores ouvintes que fazem

uso da Liacutengua de Sinais Por isso eacute essencial uma escola que respeite a diversidade linguiacutestica

como no caso desta comunidade Desta forma se faz necessaacuterio presenccedila na escola de

inteacuterpretes vindo das cidades mais proacuteximas das terras indiacutegenas de modo que

32

[] o Professor ministra as aulas em Portuguecircs e tem disciplina em Guarani

Observamos que pelo fato de os professores da pedagogia diferenciada indiacutegena

realizarem sua formaccedilatildeo em universidades locais onde o assunto em torno da surdez

e da Libras satildeo discutidos estes profissionais tecircm uma formaccedilatildeo que respeita natildeo soacute

a cultura e a liacutengua indiacutegena mas tambeacutem a cultura e a Liacutengua de Sinais

caracteriacutesticas que estatildeo presentes nas escolas indiacutegenas biliacutengues em que a liacutengua

de instruccedilatildeo eacute o Guarani-Portuguecircs(VILHALVA 2012 p 11b)

Poreacutem o que natildeo eacute o caso da escola Araporatilde mencionada por Vilhalva (2012) que teve

preferecircncia do inteacuterprete indiacutegena para a preservaccedilatildeo da cultura liacutengua e saber Foi observado

na pesquisa que os indiacutegenas surdos com vinte anos de idade em diante demonstram

seguranccedila ao sinalizar com o pesquisador surdo usando seus sinais emergentes de forma

natural Os mais novos de escolas indiacutegenas mas da mesma comunidade indiacutegena natildeo

demonstraram o uso de sinais emergentes e sim apresentaram diretamente sua comunicaccedilatildeo

em Libras Entretanto os resultados apontam que natildeo haacute como dizer se o atendimento

educacional para o iacutendio surdo estaacute acontecendo em todas as comunidades indiacutegenas ldquopois

interfere numa questatildeo de respeitar o que diz o proacuteprio plano de educaccedilatildeo sobre uma visatildeo

amplamente ligada agrave liacutengua cultura e diversidade nas escolas e terras indiacutegenasrdquo (ibid p36)

Nesta oacutetica se realmente as poliacuteticas linguiacutesticas fossem mais enfaacuteticas em suas

propostas de realizar a planificaccedilatildeo linguiacutestica incluindo a criaccedilatildeo de escolas biliacutengues e de

legislaccedilotildees especiacuteficas para as questotildees referentes agraves liacutenguas o indiviacuteduo indiacutegena surdo

poderia ter seus direitos linguiacutesticos assegurados

Neste sentido resgata-se o Referencial Curricular Nacional para Escolas Indiacutegenas

(1998) o qual menciona que

[] as tradiccedilotildees culturais os conhecimentos acumulados a educaccedilatildeo das geraccedilotildees

mais novas as crenccedilas o pensamento e a praacutetica religiosa as representaccedilotildees

simboacutelicas a organizaccedilatildeo poliacutetica os projetos de futuro enfim a reproduccedilatildeo

sociocultural das sociedades indiacutegenas satildeo na maioria dos casos manifestaccedilotildees

atraveacutes do uso de uma liacutengua Mesmo os povos indiacutegenas que satildeo hoje monoliacutengues

em liacutengua portuguesa continuam a usar a liacutengua de seus ancestrais como um siacutembolo

poderoso para onde confluem muitos de seus traccedilos identificatoacuterios construindo

assim um quadro de bilinguismo simboacutelico importante [grifo nosso]

Ou seja assim como para o surdo urbano brasileiro eacute reconhecida legalmente sua

liacutengua natural - Libras e a Liacutengua Portuguesa como segunda liacutengua -L2 para o indiacutegena surdo

deveria ser assegurado o mesmo direito para aprender esta forma de comunicaccedilatildeo ndash Liacutengua de

Sinais como primeira liacutengua e como segunda liacutengua a Liacutengua de sua etnia na modalidade

33

escrita Sendo portanto biliacutengue ou ainda triliacutengue com aquisiccedilatildeo da Liacutengua Portuguesa

tambeacutem na modalidade escrita

Nesta perspectiva observa-se que Saacute (2011 p33) afirma que tanto indiacutegenas como

surdos tecircm uma liacutengua proacutepria e uma cultura diferenciada Entatildeo porque natildeo ser reconhecida

legalmente a Liacutengua de Sinais utilizada pelos iacutendios surdos e a Liacutengua de sua comunidade

Como bem percebido por Vilhalva haacute a carecircncia de pesquisas voltadas para o registro de

liacutengua de sinais entre os iacutendios surdos brasileiros o que certamente constitui-se em um dos

fatores que favorecem a existecircncia desta lacuna na legislaccedilatildeo E que tal fato deveria ser um

despertar para pesquisadores da linguiacutestica sejam ouvintes ou surdos

34

2 A HISTOacuteRIA DO POVO INDIacuteGENA SATEREacute-MAWEacute CULTURA E LIacuteNGUA

Os povos indiacutegenas durante muito tempo foram considerados como povos sem

histoacuteria e sem uma liacutengua proacutepria Poreacutem com as muitas lutas eacutetnicas com estudos

antropoloacutegicos e com as abordagens historiograacuteficas iniciou-se uma valorizaccedilatildeo da

sociedade indiacutegena passando assim o povo indiacutegena a ser perspectivado nas suas

singularidades histoacutericas culturais e linguiacutesticas

Vale ressaltar que quando se refere a ldquoliacutenguasrdquo sabe-se que natildeo haacute apenas uma liacutengua

indiacutegena Existem muitos povos ou etnias indiacutegenas distintas As liacutenguas indiacutegenas no Brasil

se agrupam em famiacutelias linguiacutesticas ou seja famiacutelias que tecircm semelhanccedilas entre si e que satildeo

agrupadas por sua vez em troncos linguiacutesticos assim como as liacutenguas isoladas12

ou seja

liacutenguas que natildeo parecem ter parentesco com nenhuma das famiacutelias linguiacutesticas conhecidas

Segundo Rodrigues (2002) as famiacutelias indiacutegenas estatildeo agrupadas em Tronco

Linguiacutestico Tupi famiacutelia Tupi-Guarani (Akwaacutewa Amanayeacute Anambeacute Apiakaacute Araweteacute

Asurini Avaacute Guajaacute Guarani Kamayuraacute Kayabi Suryiacute Kaiwaacute) famiacutelia Munduruku

(Kuruaacuteya Mundurukuacute) Famiacutelia Tupari (Makuraacutep Tupari Wayoroacute) Famiacutelia Arikeacutem

(Karitiaacutena) Famiacutelia Juruna (Juruna) Famiacutelia Mondeacute (Aruaacute Cinta-Larga Gaviatildeo Mekeacutem

Mondeacute Suruiacute Zoroacute) Famiacutelia Ramaraacutema (Araacutera Itoqapuk) Outras Liacutenguas (Aweti

Puruboraacute Satereacute-Maweacute) entre outros troncos linguiacutesticos como Macro-Jecirc e sua diversidade

de famiacutelias existentes entre elas as liacutenguas isoladas

Um desses povos indiacutegenas foi o da etnia Satereacute-Maweacute Estes sofreram muitas

influecircncias em seu modo de vida advinda do contato com grupos natildeo indigenas que implicou

no processo de perda de muitos dos seus aspectos culturais A histoacuteria relata que o contato se

deu pela chegada dos colonizadores e posteriormente das missotildees religiosas E na atualidade

por ocupantes de terras como fazendeiros madeireiros emigrantes de outros Estados Foram

perdas irreparaacuteveis todavia como elo de resistecircncia procuraram sustentar em sua estrutura

original sua liacutengua

12

Segundo Rodrigues (2002 p93) liacutenguas isoladas refere-se as liacutenguas isoladas linguisticamente ou seja

liacutenguas que natildeo revelam parentesco geneacutetico com nenhuma outra Natildeo pertencem a nenhuma famiacutelia (ou tronco)

isto eacute constituem famiacutelias de um soacute membro

35

21 Breve Relato Histoacuterico

A histoacuteria do povo indiacutegena Satereacute-Maweacute tem sido foco de estudos dos diversos

segmentos de pesquisas como as realizadas por antropoacutelogos historiadores religiosos e

cientistas da linguagem Estes relatam a origem a liacutengua e a cultura desse povo

Uggeacute (1993 p 5) informa que ldquoOs Maueacutes descendentes das tribos indiacutegenas

denominadas no passado pelo nome de ANDIRAacute e MARAGUAacute que faz parte da aacuterea cultural

Tapajoacutes-Madeira entre a divisa dos atuais Estados do Paraacute e Amazonasrdquo O autor ainda

menciona que cronistas exploradores missionaacuterios antropoacutelogos naturalistas do passado

identificaram os Maueacutes tambeacutem com outros nomes (Maooz Mabueacute Jaquezes Manguases

Mahueacutes Mauris Maweacute Maragua e Maraguazes)

A origem do nome Satereacute-Maweacute advem dos termos Satereacute (lagarta vermelha) que eacute o

nome do clatilde dos antigos chefes e Maweacute (papagaio inteligente guerreiro e curioso) que eacute o

nome mais comum de um dos grupos tribais que conseguiram sobreviver agrave extinccedilatildeo das

numerosas tribos indiacutegenas da ilha Tupinambarana do Meacutedio Amazonas (IDEM) Cerqua13

faz referecircncia agrave primeira notiacutecia sobre o povo Satereacute-Maweacute ldquoEacute por volta de 1669 quando o

Pe Betendorf duas vezes superior provincial dos jesuiacutetas lembra a ldquovila dos Maguasesrdquo

grafia antiga de Maueacutes [] (1980 p 209)rdquo ou seja Maueacutes foi residecircncia missionaacuteria mas

natildeo permanente dos padres pois os mesmos residiam mais em Tupinambarana (rio

Amazonas) atual Parintins e visitavam Maueacutes temporariamente

A etnia Satereacute-Maweacute sofreu muitas mudanccedilas de localidades devido muitos fatores

que contribuiacuteram para o deslocamento desse povo segundo explica Lorez apud Teixeira

(2005 p21)

Devido agraves guerras com os Munduruku e Parintintim e ao contato com os

portugueses os Satereacute-Maweacute perderam grande parte de seu territoacuterio original Em

1691 os Maweacute surgem na cartografia regional com o nome de Mabueacute(mapa do

Padre Samuel Fritz) Missotildees foram localizadas para os iacutendios Magueacute denominadas

Satildeo Joatildeo (Pinhel) e Santo Inaacutecio (Boim) Posteriormente em 1835 lutando ao lado

dos Munduruku e dos Mura como tambeacutem de outras tribos indiacutegenas do rio Negro

os Satereacute-Maweacute aderiram ao movimento cabano ateacute que em 1839 o conflito foi

debelado Devido agraves epidemias agraves lutas e agraves perseguiccedilotildees aos povos indiacutegenas que

combatiam ao lado dos cabanos enormes aacutereas da Amazocircnia foram devastadas o

que provocou deslocamentos desses grupos populacionais de seus territoacuterios

ancestrais e de populaccedilatildeo Segundo relatos de viajantes desde o seacuteculo XVIII o

territoacuterio dos Satereacute-Maweacute vem sendo paulatinamente reduzido Essa reduccedilatildeo se

deu a partir das tropas de resgate que penetraram grandes aacutereas da Amazocircnia da

implantaccedilatildeo de missotildees jesuiacutetas e carmelitas ao longo dos principais rios

13

Dom Arcacircngelo Bispo Prelado de Parintins de 1980

36

amazocircnicos da ldquobusca desenfreadardquo das drogas do sertatildeo com a exploraccedilatildeo da

borracha durante o seacuteculo XIX e iniacutecio do XX e por fim da ldquoexpansatildeo econocircmica

das cidades de Maueacutes Barreirinha Parintins e Itaituba para o interior dos

municiacutepios alocando fazendas extraindo pau-rosa abrindo garimpos dominando a

economia indiacutegena atraveacutes de regatotildeesrdquo As cidades de Maueacutes Parintins e Itaituba

inclusive foram fundadas sobre restos de malocas dos Satereacute-Maweacute

Cerqua (1980 p265) destaca a localizaccedilatildeo dessa tribo delimitando que ldquoA tribo estaacute

localizada em sua maioria no Alto Andiraacute e no Marau afluente do Rio Maueacutes e sua aacuterea de

cerca de 639500 ha foi demarcada pelo Decreto nordm 76999rdquo Atualmente segundo Teixeira

(apud ALVAREZ 2009) os Satereacute-Maweacute hoje satildeo grupos de 8500 indiacutegenas dos quais 7502

moram na terra indiacutegena Andiraacute-Marau nos municiacutepios de Barreirinha Maueacutes e Parintins e

aproximadamente mil residem em aacutereas urbanas destes municiacutepios Sendo que outro grupo

vive na terra indiacutegena Coataacute-Laranjal junto ao grupo Munduruku e no municiacutepio de Borba

Uggeacute (1993) comenta que os Satereacute-Maweacute sempre tiveram vontade de manter a

proacutepria identidade tribal contudo eram carentes de apoio praacutetico para ajudaacute-los a enfrentar o

perigo do mundo moderno que tentavam ldquoinvadi-losrdquo Ou seja manipulaccedilotildees externas entre a

lideranccedila indiacutegenas dos Satereacute-Maweacute o alcoolismo a dependecircncia a violecircncia dos ldquobrancosrdquo

eram os maiores perigos para este povo Satereacute-Maweacute

Poreacutem o foco de resistecircncia manteve vivo no povo Satereacute aspectos culturais

importantes como o ritual da tucandeira O ritual eacute um marco na vida dos homens porque satildeo

chamados pela formiga (tucandeira) caso o indiacutegena natildeo atenda o chamado a formiga o

levaraacute a loucura ateacute chegar agrave morte A tucandeira eacute uma divindade muito respeitada pelos

Satereacute-Maweacute Em determinado momento da histoacuteria do povo Satereacute-Maweacute o ritual da

tucandeira chegou ao ponto de natildeo ser mais praticado em decorrecircncia da imposiccedilatildeo religiosa

mas apoacutes perceberam a grande perda cultural que isso representaria voltaram a praticaacute-lo a

recuperando como parte de sua cultura

22 Classificaccedilatildeo da liacutengua Satereacute-Maweacute

Segundo Teixeira (2005) a anaacutelise da situaccedilatildeo linguiacutestica do povo Satereacute-Maweacute

baseia-se na concepccedilatildeo defendida por antropoacutelogos e linguistas que a liacutengua se configura

como um importante instrumento da cultura e da identidade de uma populaccedilatildeo

A populaccedilatildeo indiacutegena Satereacute-Maweacute pertence vaacuterios aspectos agrave famiacutelia Linguiacutestica

Tupi Rodrigues (apud ALVAREZ 2009 p17) aborda que a liacutengua da tribo Satereacute-Maweacute eacute a

37

uacutenica liacutengua de uma famiacutelia do tronco Tupi E sua classificaccedilatildeo linguiacutestica como pertencente

ao tronco Tupi foi dada pelo etnoacutegrafo Curt Nimuendajuacute (1948)

A liacutengua Satereacute-Maweacute integra o tronco linguiacutestico Tupi Segundo o etnoacutegrafo Curt

Nimuendajuacute (1948) ela difere do Guarani-Tupinambaacute Os pronomes concordam

perfeitamente com a liacutengua Curuaya-Munduruku e a gramaacutetica ao que tudo indica

eacute tupi O vocabulaacuterio Maweacute conteacutem elementos completamente estranhos ao Tupi

mas natildeo pode ser relacionada a nenhuma outra famiacutelia linguiacutestica Desde o seacuteculo

XVIII seu repertoacuterio incorporou numerosas palavras da liacutengua geral

Os homens atualmente satildeo biliacutengues falando o Satereacute-Maweacute e o portuguecircs mas a

maioria das mulheres apesar de trecircs seacuteculos de contato com os brancos soacute fala a

liacutengua Satereacute-Maweacute (TEIXEIRA 2005 p95)

A liacutengua Satereacute-Maweacute eacute falada tradicionalmente por quase todas as comunidades haacute

mais de 300 anos entretanto foi inevitaacutevel para os indiacutegenas Satereacute-Maweacute conhecer os

haacutebitos e a liacutengua portuguesa devido agrave invasatildeo dos europeus em suas terras no seacuteculo passado

o que causou a mistura de liacutenguas e consequentemente as influecircncias dos padrotildees culturais

natildeo indiacutegenas

Os Satereacute-Maweacute foram entatildeo forccedilados a se refugiarem nas zonas urbanas e ateacute mesmo

em outros estados Outro impacto que alterou o modo de falar dos liacutederes indiacutegenas foi a

necessidade de buscar apoio logiacutestico para suas comunidades principalmente para tratar da

sauacutede de sua populaccedilatildeo que sofria de doenccedilas como malaacuteria tuberculose sarampo e outras

por eles desconhecidas que causaram muitas mortes

Desta forma com o passar dos anos a liacutengua Satereacute-Maweacute sofreu influecircncias lexicais

e fonoloacutegicas do Nheengatu na regiatildeo do Andiraacute Pesquisas realizadas recentemente por

Teixeira (2005) delimitam um perfil linguiacutestico que permite conhecer um pouco mais da

cultura linguiacutestica Satereacute-Maweacute sendo esta considerada por meio da distribuiccedilatildeo geograacutefica e

etaacuteria dos que falam e natildeo falam o idioma Satereacute-Maweacute Desta feita segundo o autor

O idioma Satereacute-Maweacute eacute mais falado na aacuterea do Marau que nas demais (Andiraacute

Uaicurapaacute e Koataacute-Laranjal) Tanto na aacuterea do Andiraacute como no Marau o idioma

materno eacute falado por praticamente todas as comunidades situadas proacuteximo agraves

cabeceira dos rios (Alto Andiraacute e Alto Marau) Para as aacutereas mais proacuteximas das

cidades os falantes atingem a quase totalidade dos moradores do Baixo Marau Jaacute

no baixo Andiraacute esse nuacutemero aumenta bastante nas duas comunidades mais

proacuteximas de Parintins e Barreirinha ou seja Ponta Alegre e Guaranatuba As aacutereas

de povoamento mais recente (Uaicurapaacute Koataacute-Laranjal e mais duas no Andiraacute) tecircm

tendecircncia a apresentar proporccedilotildees menores de falantes do idioma Satereacute-Maweacute

(ibid p95)

38

O autor esclarece que moradores em terras indiacutegenas satildeo mais falantes da Liacutengua

Satereacute-Maweacute do que os que moram proacuteximo ou dentro da aacuterea urbana A pesquisa ainda

mostra agrave necessidade de sensibilizar a comunidade indiacutegena Maweacute sobre a importacircncia da

valorizaccedilatildeo de sua liacutengua agrave recuperaccedilatildeo de suas memoacuterias histoacutericas e a reafirmaccedilatildeo de suas

identidades eacutetnicas

221 Contexto educacional escolar entre os Satereacute-Maweacute

O contexto educacional Satereacute-Maweacute tem como base o reconhecimento constitucional

fundamentado na legislaccedilatildeo em vigor segundo a qual ldquosatildeo reconhecidos aos iacutendios sua

organizaccedilatildeo social costumes liacutenguas crenccedilas e tradiccedilotildees []rdquo

Por isso fundamentos gerais da educaccedilatildeo escolar indiacutegena baseiam-se na proposta do

Referencial Curricular Nacional para Escolas Indiacutegenas (1998) que contempla

Multietnicidade pluralidade e diversidade 2 Educaccedilatildeo e conhecimentos indiacutegenas 3

Autodeterminaccedilatildeo 4 Comunidade educativa indiacutegena 5 Educaccedilatildeo intercultural

comunitaacuteria especiacutefica e diferenciada Assim

Parte do sistema nacional de educaccedilatildeo a escola indiacutegena eacute um direito que deve ser

assegurado por uma nova poliacutetica puacuteblica a ser construiacuteda atenta e respeitosa frente

ao patrimocircnio linguiacutestico cultural e intelectual dos povos indiacutegenas Esse esforccedilo

de projetar uma nova educaccedilatildeo escolar indiacutegena soacute seraacute realmente concretizado com

a participaccedilatildeo direta com os principais interessados ndash os povos indiacutegenas atraveacutes de

suas comunidades educativas [] A participaccedilatildeo da comunidade no processo

pedagoacutegico da escola fundamentalmente na definiccedilatildeo dos objetivos dos conteuacutedos

curriculares e no exerciacutecio das praacuteticas metodoloacutegicas assume papel necessaacuterio para

a efetividade de uma educaccedilatildeo especifica e diferenciada (ibid p24)

Poreacutem para que de fato seja garantida uma educaccedilatildeo diferenciada natildeo eacute suficiente

que somente os conteuacutedos sejam ensinados atraveacutes do uso das liacutenguas maternas mas se faz

necessaacuterio que se incluam os conteuacutedos curriculares propriamente indiacutegenas assim como os

modos proacuteprios de transmissatildeo deste saber Em pesquisa realizada pela revista Amazocircnia

(AMAZONAS 2000) intitulada como ldquoA silenciosa revoluccedilatildeo dos Iacutendiosrdquo o povo Satereacute-

Maweacute foi considerada um dos melhores exemplos para se falar em educaccedilatildeo indiacutegena Tal

afirmaccedilatildeo foi proferida pelo antropoacutelogo Ademir Ramos (professor da Universidade do

Estado do Amazonas) Segundo o entrevistado a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 mudou a

postura em relaccedilatildeo aos iacutendios estabelecendo um processo de educaccedilatildeo diferenciada que

39

fomenta o orgulho de aprender sua lingua tambeacutem no ambiente escolar possibilitando relatos

como o transcrito abaixo

Alunos como Dati 11 da aldeia de Molongotuba carregam com orgulho a cartilha

bdquoMoweeghap onde estatildeo registrados escritos ndash liacutengua Satereacute do tronco tupi e

desenhos de situaccedilotildees do cotidiano das aldeias falando de peixes aves aacutervores e

animais A liacutengua o menino aprendeu a falar com os pais e depois na escola onde

haacute quatro anos aprendeu a escrevecirc-la Aleacutem disso ele tem aprendido tambeacutem a

bdquoliacutengua dos brancos‟

Ainda sobre a importacircncia desta perspectiva educacional em nota o vice-presidente

da organizaccedilatildeo dos professores indiacutegenas Satereacute Gecinaldo Cabral comentou sobre a

mesma enfatizando a relevacircncia do processo educacional na vida dos iacutendios da tribo Satereacute

que por serem biliacutengues satildeo capazes de expressarem e defenderem o seu povo Portanto ao

ensinar a liacutengua nativa agraves crianccedilas promovem o resgate da cultura tradiccedilatildeo e conhecimentos

indiacutegenas Uma educaccedilatildeo diferenciada natildeo resumida na liacutengua majoritaacuteria ou seja Liacutengua

Portuguesa mas na liacutengua proacutepria das etnias E desta forma sendo respeitada a diversidade

cultural de cada povo

Nesta perspectiva Teixeira (2005) em sua pesquisa descreve que a realidade do

contexto educacional escolar do povo Satereacute-Maweacute explicando que

O quadro situacional dos Satereacute-Maweacute no que concerne agrave escolarizaccedilatildeo e agrave

escolaridade apresenta elementos que devem ser entendidos natildeo soacute como resultado

da aplicaccedilatildeo de poliacuteticas educacionais mas tambeacutem como explicitaccedilatildeo de estrateacutegias

poliacuteticas usadas pelos iacutendios na negociaccedilatildeo de visibilidade e reconhecimento no

espaccedilo puacuteblico brasileiro A busca dos Satereacute-Maweacute por escola explicitada na

forma de documentos reivindicatoacuterios enviados ao poder puacuteblico solicitando

recursos para suas escolas demonstrarem os conhecimentos escolares e a

certificaccedilatildeo que a escolaridade concede importantes instrumentos de luta no

processo histoacuterico de construccedilatildeo de sua identidade cultural e de desenvolvimento de

seus projetos sociais (ibid p103)

O autor tambeacutem evidecircncia que a escolarizaccedilatildeo ainda natildeo estaacute alcanccedilando a totalidade

dos Satereacute-Maweacute sendo assim

[] com idade compreendida entre 7 e 24 anos nem nas aacutereas urbanas onde se

verifica o maior percentual de matriacuteculas (839) nem nas terras indiacutegenas (596)

Se forem consideradas as pessoas que tecircm entre 7 e 17 anos de idade os percentuais

sobem bastante mas ainda demonstram a falta de acesso da populaccedilatildeo satereacute-maweacute

agrave escola A pior situaccedilatildeo ocorre na aacuterea indiacutegena onde aproximadamente 13 dos

indiviacuteduos dessa faixa etaacuteria estatildeo fora da escola Na aacuterea urbana o percentual dos

que estatildeo fora eacute de 8 Aparentemente o elevado percentual de pessoas entre 7 e 17

40

anos de idade que estatildeo fora da escola em aacuterea indiacutegena deveria estar relacionado

com a ausecircncia de ensino fundamental de 4ordf a 8ordf seacuterie nas aldeias

No entanto isto eacute apenas uma parte da justificativa pois de 142 pessoas dessa faixa

etaacuteria que natildeo frequentam a escola apenas 32 (225) declararam ter concluiacutedo a

quarta seacuterie do ensino fundamental ou seja poderiam estar fora da escola por falta

do ensino de 5ordf a 8a seacuterie na aacuterea indiacutegena Aleacutem disso 148 crianccedilas entre 7 e 14

anos de idade natildeo frequentam a escola significando que haacute problemas na oferta de

vagas para as crianccedilas satereacute-maweacute na aacuterea indiacutegena Dessas crianccedilas mais da

metade se concentra em apenas 14 aldeias22 das quais 4 compreendendo as

pequenas comunidades de Satildeo Luiacutes Limoal Tigre a Arumatuba no Andiraacute natildeo tecircm

nenhuma crianccedila estudando Na aldeia de Tabatinga no Andiraacute apenas uma das

cinco crianccedilas moradoras estatildeo estudando e na de Santo Antocircnio tambeacutem no

Andiraacute 12 entre 16 crianccedilas de 7 a 14 anos natildeo frequentam a escola(TEIXEIRA

2005 p 104)

Segundo o autor nas cidades de Maueacutes Parintins e Barreirinha a escola frequentada

pelos Satereacute-Maweacute natildeo se define como escola indiacutegena nem tatildeo pouco como especiacutefica ou

diferenciada Talvez seja uma realidade encontrada em todas as escolas indiacutegenas no

Amazonas O que se configura em um problema na medida em que segundo Sobrinho

(2011) a escola esta definida a partir de um modelo da ldquoescola dos brancosrdquo que certamente

altera interferindo diretamente nas questotildees culturais que fazem parte do universo desses

povos gerando assim processo de exclusatildeo O autor ainda comenta que

mesmo diante da resoluccedilatildeo nordm 112011 do Conselho Estadual de Educaccedilatildeo que traz

garantias aos indiacutegenas independentemente de onde vivam ao respeito a sua liacutengua

conhecimentos e tradiccedilotildees proacuteprias nas escolas essa lei passa completamente

despercebida (ibid p 209)

Sobre a questatildeo Teixeira (2005) menciona que nas terras indiacutegenas onde estaacute em

curso a criaccedilatildeo da escola indiacutegena com educaccedilatildeo escolar especiacutefica e diferenciada - as taxas

de escolarizaccedilatildeo deixam evidente que o poder puacuteblico tem investido somente nas seacuteries

iniciais do ensino fundamental o qual apresenta o percentual de 871 de taxa liacutequida de

escolarizaccedilatildeo ou seja natildeo haacute oferta regular para as seacuteries finais do ensino fundamental nem

de ensino meacutedio Isso sem relatar a falta de formaccedilatildeo de professores indiacutegenas entre outros

fatores conforme Franceschini apresenta

A necessidade de formaccedilatildeo especiacutefica e diferenciada de nuacutemero maior de

professores principalmente para atuar nos segmentos mais adiantados do Ensino

Fundamental a implantaccedilatildeo de mais turmas de 6ordm ao 9ordm anos e do Ensino Meacutedio na

aacuterea indiacutegena construccedilatildeo-reflexatildeo do Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico das escolas

Satereacute-Maweacute associada a uma praacutetica pedagoacutegica condizente e a construccedilatildeo de

material didaacutetico proacuteprio satildeo necessidades urgentes do povo Satereacute-Maweacute Pois

apesar da legislaccedilatildeo vigente dar aos indiacutegenas o direito de escolherem seu modelo

educacional e ensinarem sua liacutengua e etnoconhecimentos na maioria das escolas das

41

comunidades Satereacute-Maweacute o modelo educacional adotado natildeo se diferencia muito

do modelo das escolas rurais da regiatildeo sendo que a liacutengua e os etnoconhecimentos

indiacutegenas natildeo constituem de fato conhecimentos que fazem parte do programa

educacional e que satildeo trabalhados de forma sistemaacutetica na escola (2012 p5)

Portanto os resultados apresentados pelo pesquisador comprovam que as accedilotildees

governamentais para educaccedilatildeo escolar indiacutegena estatildeo distantes de cumprir na sua plenitude

preceitos constitucionais o que implica em prejuiacutezo natildeo soacute na educaccedilatildeo escolar indiacutegena

como na proacutepria cultura desse povo

42

3 METODOLOGIA IMPLEMENTADA NA PESQUISA

A metodologia utilizada neste trabalho deu iniacutecio com o estudo bibliograacutefico e

pesquisa de campo Realizou-se uma investigaccedilatildeo primeiramente sobre os estudos surdos na

perspectiva linguiacutestica e cultural a posteriormente na literaturas e estudos sobre os iacutendios da

etnia Satereacute-Maweacute tomando como princiacutepio a origem os fundamentos e a histoacuteria do povo e

da Liacutengua Satereacute-Maweacute Na sequecircncia a concretizaccedilatildeo da pesquisa de campo com a

investigaccedilatildeo do objeto de estudo o iacutendio surdo e sua situaccedilatildeo sociolinguiacutestica da etnia Satereacute-

Maweacute

Figura 1 ndash Croqui da aacuterea e localidade da pesquisa

Fonte Mapa do Estado do Amazonas Censo 2010 ndash IBGE

Organizado por Vicente de Paulo Silva de Azevedo

31 Aacuterea e localidade da pesquisa

A proposta do processo investigativo para o mapeamento do objeto da pesquisa foi

demarcada delimitando a aacuterea do campo da pesquisa a Microrregiatildeo de Parintins A

Microrregiatildeo de Parintins (AMAZONAS 2012) eacute constituiacuteda por Barreirinha Boa Vista do

Ramos Maueacutes Nhamundaacute Parintins Satildeo Sebastiatildeo do Uatumatilde e Urucaraacute Vale ressaltar que

natildeo foi coberta pela pesquisa a populaccedilatildeo Satereacute-Maweacute residente em Manaus (AM)

43

32 Estrateacutegias gerais para a realizaccedilatildeo da coleta de dados

Primeiramente foi feita uma busca de dados pelo IBGE o qual informou que natildeo

havia qualquer registro sobre a populaccedilatildeo indiacutegena de surdos Sem resultado satisfatoacuterio foi

organizado um cronograma de viagens

A primeira viagem foi para o municiacutepio de Parintins onde foi feita uma visita na casa

de um iacutendio para possiacutevel coleta de dados Poreacutem o cacique Sr Luiz de Oliveira infelizmente

tambeacutem comunicou a falta desse dado na comunidade Portanto foi exposto a esse liacuteder o

objetivo da referida pesquisa apresentando assim a importacircncia da comunicaccedilatildeo entre os

seres humanos e interaccedilatildeo entre os diferentes modos linguiacutesticos de convivecircncia social e

educacional

O cacique prontamente mostrou-se aberto a contribuir para que a pesquisa fosse

concretizada Assim sendo iniciou-se a trajetoacuteria do levantamento de iacutendios surdos e sua

forma de comunicaccedilatildeo como tambeacutem seu contexto educacional escolar

Ao retornar a Manaus buscou-se apoio agraves instituiccedilotildees representativas com a visita agrave

sede da Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio ndash FUNAI oacutergatildeo responsaacutevel pelas accedilotildees indiacutegenas a

qual informou que se fazia necessaacuterio uma autorizaccedilatildeo para dar seguimento agrave pesquisa Logo

providecircnciou-se o documento requerido na Coordenaccedilatildeo de Educaccedilatildeo Indiacutegena localizada no

municiacutepio de Barreirinha

Ao chegar agrave cidade de Barreirinha um novo contato foi estabelecido com o

Coordenador indiacutegena o Sr Santino Lopes de Oliveira que se mostrou receptivo com o

projeto e se dispocircs prontamente a colaborar

Com a autorizaccedilatildeo e aprovaccedilatildeo das autoridades indiacutegenas e de posse do documento

houve o comprometimento de que seguiria as normas estabelecidas que disciplinam o

ingresso em terras indiacutegenas pela entidade (ANEXO A) Assim foi possiacutevel sistematizar os

procedimentos para a coleta de dados

33 Procedimentos da coleta

A coleta de dados foi realizada de acordo com o cronograma estabelecido para esta

etapa da pesquisa O procedimento metodoloacutegico usado para a coleta de dados foi

fundamentado em meacutetodo misto por meio de observaccedilotildees questionamento participaccedilotildees em

reuniotildees com representantes da lideranccedila indiacutegena local conversas informais e espontacircneas

44

com famiacutelias e comunidade indiacutegena Satereacute-Maweacute Utilizou-se como instrumento para

coleta caderno de registro de campo fotos filmagens gravaccedilotildees e questionaacuterio (ANEXO B)

34 Articulaccedilatildeo local

O primeiro passo foi estabelecer parcerias com colaboradores ou seja lideranccedilas

indiacutegenas professores indiacutegenas professores da rede puacuteblica inteacuterpretes oacutergatildeos ligados agraves

causas indiacutegenas alunos da Universidade do Estado Amazonas As instituiccedilotildees

representativas educacionais tambeacutem colaboraram telefonando ou perguntando para outras

pessoas sobre a existecircncia de indiacutegenas surdos e locais de suas residecircncias

A participaccedilatildeo das lideranccedilas indiacutegenas como os professores e colaboradores que

apoiaram e permitiram entrar em suas terras para fazer o levantamento foi de extrema

importacircncia pois muito contribuiacuteram nas traduccedilotildees das palavras indiacutegenas para a Liacutengua

Portuguesa

35 Abordagem ao objeto da pesquisa

Em cada viagem agraves comunidades primeiramente fazia-se contato com o tuxaua com

a finalidade de apresentar o objetivo da pesquisa Desta forma era explicado para eles a

importacircncia da contribuiccedilatildeo que o estudo poderia trazer agravequela comunidade Por meio da

autorizaccedilatildeo concedida obtinha-se a colaboraccedilatildeo para a coleta de dados junto ao objeto da

pesquisa Jaacute as abordagens feitas em ambiente familiar tambeacutem era solicitado o consentimento

para a realizaccedilatildeo da pesquisa Com permissatildeo concedida iniciamos as observaccedilotildees e

intervenccedilotildees Com devida autorizaccedilatildeo utilizaacutevamos para registro cacircmeras fotograacuteficas e em

seguida registraacutevamos no caderno de campo da pesquisa (ANEXO CC-1 e C-2)

45

4 MAPEAMENTO DOS IacuteNDIOS SURDOS DA ETNIA SATEREacute-MAWEacute NA

MICRORREGIAtildeO DE PARINTINS E SUA REALIDADE LINGUIacuteSTICA E

EDUCACIONAL ESCOLAR

No Brasil haacute uma diversidade de etnias indiacutegenas Rodrigues (2002) satildeo mais de 170

liacutenguas faladas e dialetos pelos povos indiacutegenas Estas liacutenguas satildeo distribuiacutedas em dois

grandes troncos linguiacutesticos

[] o Tupi (dividido em 10 famiacutelias) e o Macro-Jecirc (dividido em 9 famiacutelias) e de

outras 20 famiacutelias linguumliacutesticas natildeo classificadas em troncos Apenas nove liacutenguas

indiacutegenas tecircm acima de 5000 falantes guajajara (satereacute-) maueacute xavante

ianomacircmi terena macuxi caingangue ticuna e guarani estes uacuteltimos com 30000

indiviacuteduos Cerca de 110 liacutenguas contam com menos de 400 falantes 14

Entretanto em meio a essa diversidade linguiacutestica poucos satildeo documentados

Pesquisadores e grupos indiacutegenas tentam um reavivamento eacutetnico e linguiacutestico

documentando-os para salvar sua liacutengua seu idioma

Diante do exposto a uacutenica liacutengua de sinais indiacutegena registrada eacute a utilizada pela etnia

indiacutegena brasileira dos Urubu-Kaapor como jaacute mencionada anteriormente Pesquisas no Mato

Grosso do Sul em aldeias indiacutegenas apresentaram a existecircncia de iacutendios surdos que utilizam

sinais emergentes ainda natildeo registrados propriamente como uma liacutengua

Pouco registro tem-se encontrado sobre iacutendios surdos muito menos sobre a liacutengua ou

a forma desses sujeitos se comunicarem De acordo com dados do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatiacutestica (IBGE) natildeo haacute registros sobre iacutendios surdos nem no Anuaacuterio

Estatiacutestico do Amazonas do IBGE tatildeo pouco na Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio (FUNAI)

sendo portanto necessaacuteria uma pesquisa in loco para a busca desses dados

Eacute importante destacar que a pessoa surda natildeo nasce com a incapacidade de falar ou

seja a pessoa surda natildeo eacute muda natildeo fala por natildeo poder ouvir a ldquo[] A surdez natildeo estaacute

absolutamente vinculada agrave mudez []rdquo (RAMOS apud STROBEL 2008 p34)

Por isso as teorias da aquisiccedilatildeo da linguagem humana justificam como o ser humano

(re)inventa modos para expressar suas necessidades e formas de ver o mundo realizando a

comunicaccedilatildeo com seus pares

14

Classificaccedilatildeo das Liacutenguas Indigenas Brasileiras segundo Aryon Rodrigues (2002) Disponiacutevel em

lthttpwwwgeocitieswsindiosbr_nicolaiclassifhtmlgt

46

Partindo dessa percepccedilatildeo este estudo apresenta uma contribuiccedilatildeo de informaccedilotildees

cientiacuteficas que seratildeo um acreacutescimo aos conhecimentos existentes sobre a comunicaccedilatildeo dos

surdos indiacutegenas

41 Mapeamento da existecircncia dos iacutendios surdos na microrregiatildeo de Parintins

Conhecer os indiviacuteduos sujeitos da pesquisa ndash iacutendios surdos Satereacute-Maweacute - eacute a fase

fundamental deste estudo pois dessa forma eacute possiacutevel compreender a forma predominante de

comunicaccedilatildeo deles para poder elaborar material concreto ndash dicionaacuterio triliacutengue - pertinente

para auxiliar na forma da comunicaccedilatildeo deles com a sua etnia atraveacutes da liacutengua desse povo

indiacutegena Nesta seccedilatildeo estatildeo apresentados os dados que constituem um mapeamento da

quantidade de indiviacuteduos surdos que estatildeo inseridos no contexto de Parintins Barreirinha

Boa Vista do Ramos e Maueacutes locais estes onde haacute maior contato com etnia foco deste estudo

Abaixo segue o histoacuterico do municiacutepio de Parintins e demais microrregiotildees citadas na

pesquisa15

411 Histoacuterico de Parintins

Parintins eacute um municiacutepio brasileiro situado no interior do estado do Amazonas

proacuteximo agrave divisa com o estado do Paraacute Regiatildeo Norte do paiacutes Estaacute situado na mesorregiatildeo do

Centro Amazonense e microrregiatildeo de mesmo nome e localiza-se a leste da capital do estado

distando desta cerca de 370 quilocircmetros Com uma populaccedilatildeo estimada em 2012 pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 103 828 habitantes sendo o segundo

mais populoso do estado do Amazonas que tem uma aacuterea de 5 952 kmsup2 representando

03789 do Estado do Amazonas 01545 da regiatildeo Norte brasileira e 00701 do territoacuterio

brasileiro8

Desse total 12 4235 kmsup2 estatildeo em periacutemetro urbano

O municiacutepio de Parintins como quase todos os demais municiacutepios brasileiros foi

primitivamente habitado por indiacutegenas Sua descoberta ocorreu em 1749 quando descendo o

rio Amazonas o explorador Joseacute Gonccedilalves da Fonseca notou uma ilha que por sua extensatildeo

se sobressaiacutea das outras localizadas agrave direita do grande rio As primeiras viagens exploratoacuterias

da Coroa Portuguesa em Parintins foram registradas somente em 1796 A fundaccedilatildeo da

15

O histoacuterico de Parintins e demais microrregiotildees estatildeo disponiacuteveis no site lthttpptwikipediaorgwiki_Parintinsgt

47

localidade em 1796 foi feita por Joseacute Pedro Cordovil que veio com seus escravos e

agregados para se dedicar agrave pesca do pirarucu e agrave agricultura chamando-a Tupinambarana A

rainha D Maria I deu-lhe a ilha de presente Ali instalado fundou uma fazenda de cacau

dedicando-se agrave cultura desse produto em grande escala Tupinambarana foi aceita e elevada agrave

missatildeo religiosa em 1803 pelo capitatildeondashmor do Paraacute o Conde dos Arcos que incumbiu sua

direccedilatildeo ao frei Joseacute das Chagas passando a ser denominada como a Vila Nova da Rainha

O primeiro nome recebido por Parintins jaacute na categoria de Freguesia foi Nossa

Senhora do Carmo de Tupinambarana em 1833 O nome da Freguesia soacute foi alterado em

1880 quando a sede passou a chamar-se ldquoParintinsrdquo em homenagem aos povos indiacutegenas

Parintintins um dos inuacutemeros que habitavam a regiatildeo

A eficiente atuaccedilatildeo de frei Joseacute provocou um surto de progresso e desenvolvimento na

localidade mediante a organizaccedilatildeo da comarca do Alto Amazonas Em 25 de julho de 1833

passa agrave freguesia com o nome de Freguesia de Nossa Senhora do Carmo de Tupinambarana

Era ainda Tupinambarana simples freguesia quando iniciou a revoluccedilatildeo dos Cabanos no Paraacute

e se alastrou por toda a proviacutencia O seu vigaacuterio padre Torquato Antocircnio de Souza teve

atuaccedilatildeo destacada durante a sediccedilatildeo servindo de delegado dos legalistas no Baixo Amazonas

Tupinambarana talvez porque estivesse bem defendida foi poupada aos ataques dos

Cabanos

Em 24 de outubro de 1848 a lei provincial do Paraacute nordm 146 elevou a freguesia agrave

categoria de vila com a denominaccedilatildeo de Vila Bela da Imperatriz e constituiu o municiacutepio ateacute

entatildeo ligado a Maueacutes Em 15 de outubro de 1852 pela lei nordm 02 foi confirmada a criaccedilatildeo do

municiacutepio Em 14 de marccedilo de 1853 deu-se a instalaccedilatildeo do municiacutepio de Parintins Em 24 de

agosto de 1858 foi criada pela lei provincial a comarca compreendendo os termos judiciaacuterios

de Vila Bela da Imperatriz e Vila Nova da Conceiccedilatildeo Em 30 de outubro de 1880 pela lei

provincial nordm 499 a sede do municiacutepio recebeu foros de municiacutepio e passou a denominar-se

Parintins Em 1881 foi desmembrado do municiacutepio de Parintins o territoacuterio que constituiu o

municiacutepio de Vila Nova de Barreirinha

A divisatildeo administrativa de 1911 figurou o municiacutepio com quatro distritos Parintins

Paranaacute de Ramos Jamundaacute e Xibuiacute Em 1933 aparece no quadro da divisatildeo administrativa

com um distrito apenas ndash o de Parintins Em 1 de dezembro de 1938 pelo decreto-lei estadual

nordm 176 eacute criado o distrito da Ilha das Cotias passando assim o municiacutepio a constituir-se de

dois distritos Parintins e Ilha das Cotias

Pela lei estadual nordm 226 de 24 de agosto de 1952 a comarca de Parintins perdeu os

termos judiciaacuterios de Barreirinha e Urucaraacute que foram transformados em comarcas Em 19 de

48

dezembro de 1956 a lei estadual nordm 96 desmembrou o municiacutepio de Parintins o distrito da

Ilha das Cotias que passou a constituir o municiacutepio de Nhamundaacute Em 10 de dezembro de

1981 a emenda constitucional nordm 12 eacute acrescido o territoacuterio de Parintins ao distrito de

Mocambo

O primeiro municiacutepio pesquisado eacute considerado o centro da microrregiatildeo Parintins

Segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 2103 a

populaccedilatildeo eacute de 109225 habitantes16

nesta localidade A Microrregiatildeo de Parintins eacute uma das

microrregiotildees do estado brasileiro do Amazonas pertencente agrave Mesorregiatildeo do Centro

Amazonense Estaacute dividida em sete municiacutepios Barreirinha Boa Vista do Ramos Maueacutes

Nhamundaacute Parintins Satildeo Sebastiatildeo do Uatumatilde e Urucaraacute De acordo com estimativas do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) a populaccedilatildeo da microrregiatildeo era de 262

719 habitantes em 2013

Seus municiacutepios limiacutetrofes satildeo Nhamundaacute ao norte Barreirinha ao sul Urucurituba ao

leste e os municiacutepios de Terra Santa e Juruti no estado do Paraacute O limite territorial entre

Parintins e Nhamundaacute se inicia na margem esquerda do rio Amazonas subindo este rio ateacute a

Barreira do Pauraacute A Serra de Parintins eacute usada para delimitar o fim dos limites territoriais

deste municiacutepio com Nhamundaacute Para delimitar os limites territoriais entre Parintins e

Barreirinha usa-se o divisor de aacuteguas dos rios Andiraacute-Uaicuparaacute juntamente com a linha

geodeacutesica que limita os estados do Amazonas e Paraacute Jaacute os limites territoriais com

Urucurituba satildeo iniciados no lago Arapapaacute no Paranaacute de Urucurituba Com o Estado do Paraacute

o limite tem iniacutecio na boca do igarapeacute do Valeacuterio na margem direita do rio Amazonas

Parintins eacute uma cidade marcada pelos traccedilos culturais poliacuteticos e econocircmicos

herdados dos portugueses espanhoacuteis italianos e tambeacutem dos japoneses tendo em vista que a

cidade possuiu uma relevante colocircnia destes imigrantes Natildeo se pode esquecer a importacircncia

dos ameriacutendios no quesito contribuiccedilatildeo eacutetnica Foram os ameriacutendios que iniciaram a ocupaccedilatildeo

humana na Amazocircnia e seus descendentes caboclos desenvolveram-se em contato iacutentimo com

o meio ambiente adaptando-se agraves peculiaridades regionais e oportunidades oferecidas pela

floresta

A cidade eacute um importante centro educacional de niacutevel meacutedio e superior do Estado do

Amazonas A cidade possui um dos mini-campus do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)

que oferece cursos em diferentes niacuteveis ensino meacutedio e ensino teacutecnico

16

Disponiacutevel emlthttpcidadesibgegovbrxtrastemasamazonas|parintins|estimativa-da-populacao-2013gt

Acesso em 28072014

49

Universidades puacuteblicas

- Universidade do Estado do Amazonas (UEA) eacute uma instituiccedilatildeo puacuteblica estadual de

ensino superior que oferece mais de vinte cursos distribuiacutedos em dezessete cidades

amazonenses (Parintins Manaus Presidente Figueiredo Itacoatiara Carauari Tabatinga

Tefeacute Laacutebrea Boca do Acre Coari Eirunepeacute Humaitaacute Manicoreacute Manacapuru Novo

Aripuanatilde Maueacutes e Satildeo Gabriel da Cachoeira) Foi criada pela lei estadual nordm 2637 de 12 de

janeiro de 2001 que proporcionou agraves fundaccedilotildees educacionais de ensino superior instituiacutedas

pelo Estado Em Parintins o Centro de Estudos Superiores (UEA) possui os cursos

Pedagogia Histoacuteria Geografia Fiacutesica Matemaacutetica Letras Portuguesa Quiacutemica Ciecircncias

Bioloacutegicas Tecnologia em Turismo Direito Sauacutede Coletiva Ciecircncias Econocircmicas e

Tecnologia em Gestatildeo Puacuteblica

- Instituto Federal do Amazonas (IFAM) O Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e

Tecnologia do Amazonas foi criado mediante integraccedilatildeo do Centro Federal de Educaccedilatildeo

Tecnoloacutegica do Amazonas e das Escolas Agroteacutecnicas Federais de Manaus e de Satildeo Gabriel

da Cachoeira

- Universidade Federal do Amazonas (UFAM) Instalada no municiacutepio desde 2007

possui os seguintes cursos Serviccedilo Social Comunicaccedilatildeo Social - Jornalismo Administraccedilatildeo

Organizacional Pedagogia Zootecnia Educaccedilatildeo Fiacutesica e Artes Plaacutesticas

No setor de educaccedilatildeo e capacitamento profissional o municiacutepio aleacutem de dispor de

uma ampla rede de escolas (estaduais municipais e privadas) conta com um campus da

Universidade do Estado do Amazonas e algumas faculdades privadas com diversos cursos

superiores ofertados Dispotildee ainda de unidades do SENAI SENAC e SESI e em funccedilatildeo

disso os iacutendices de alfabetizaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo profissional dos municiacutepios estatildeo em

crescimento

A cidade de Parintins eacute o local onde foram feitos os contatos frequentes com os

indiacutegenas da etnia Satereacute-Maweacute porque buscam as casas bancaacuterias para receberem os

benefiacutecios sociais tambeacutem buscam as escolas com ensino de todos os niacuteveis inclusive as

universidades puacuteblicas para as crianccedilas e jovens Outro fator eacute que tem um comeacutercio

desenvolvido em que podem adquirir seus bens de consumo aleacutem de ser de faacutecil acesso aos

demais centros da regiatildeo e do paiacutes atraveacutes dos diferentes meios comunicaccedilatildeo e transporte

Por isso o mapeamento foi iniciado nesta regiatildeo

Apesar de ter um nuacutemero consideraacutevel de habitantes os oacutergatildeos ligados agrave causa

indiacutegena natildeo dispotildeem de dados informativos sobre o objeto da pesquisa em meio agrave estimativa

populacional do municiacutepio mesmo assim outro oacutergatildeo foi procurado para que pudesse

50

fornecer algum dado ligado ao sujeito surdo da etnia Satereacute-Maweacute A instituiccedilatildeo pesquisada

foi a Escola de Aacuteudio Comunicaccedilatildeo ldquoPadre Paulo Mannardquo Esta eacute uma instituiccedilatildeo educacional

mantida pela Diocese de Parintins por meio de sua atual gestora a Professora Zilda Tavares

Atraveacutes desta colaboradora foram coletadas informaccedilotildees sobre os alunos indiacutegenas surdos da

etnia Satereacute-Maweacute que ali estudam ou estudaram que satildeo a seguir descritas

Embora a escola tivesse o conhecimento da existecircncia de dois indiacutegenas surdos da

etnia Satereacute-Maweacute apenas um se encontra matriculado na escola Eacute uma menina de seis anos

de idade cursando o preacute-escolar Para informaccedilotildees consistentes foi solicitado o contato

tambeacutem com a famiacutelia da aluna Ao contatar os pais foi feita uma abordagem por meio de

questionaacuterio mas diante das dificuldades encontradas por natildeo serem alfabetizados na liacutengua

nativa nem na liacutengua Portuguesa os dados utilizados satildeo resultante de entrevistas

assistemaacuteticas (conversas informais)

Os familiares tecircm papeacuteis importantes na formaccedilatildeo da linguagem da crianccedila Eacute atraveacutes

deles que acontece a formaccedilatildeo da identidade social e cultural desse sujeito em

desenvolvimento Satildeo eles que repassam o modo de vida os costumes e outros aspectos

sociais com os seus exemplos e empreendendo a funccedilatildeo da linguagem verbal atraveacutes de

relaccedilotildees dialoacutegicas que ativam a percepccedilatildeo do ser em maturaccedilatildeo no meio familiar Na visatildeo

de Ponzio (et al 2007 p 177)

Uma das funccedilotildees da linguagem verbal eacute a identificaccedilatildeo identificaccedilatildeo dos objetos

mediante um processo de modelaccedilatildeo e de articulaccedilatildeo da realidade que varia de

liacutengua para liacutengua identificaccedilatildeo de sujeito enquanto falante do sujeito do discurso

do tema do outro ao qual esse discurso se dirige de uma espeacutecie de bdquoauditoacuterio

universal‟ a que de modo geral se recorre na argumentaccedilatildeo identificaccedilatildeo de uma

comunidade e da pertenccedila ou da natildeo pertenccedila a esta etc

Um resumo histoacuterico sobre a referida indiacutegena aponta que a famiacutelia residia na

comunidade indiacutegena Ponta Alegre no Rio Andiraacute municiacutepio de Barreirinha Migraram para

a zona urbana em busca de condiccedilotildees para uma melhor qualidade de vida Ao descobrirem a

surdez da filha mudaram-se para a cidade de Parintins Declararam que a forma de se

comunicarem com a filha eacute por meio de gestos criados pela famiacutelia e a crianccedila pois natildeo

sabem a Liacutengua de Sinais

Analisa-se neste contexto a situaccedilatildeo complexa pela qual essa famiacutelia passou para se

entender com a ela posto que se esperasse que a crianccedila dominasse o sistema linguiacutestico que

usam para a comunicaccedilatildeo com os pares atraveacutes da liacutengua natural da etnia Este eacute um fato que

ocorre com as famiacutelias onde natildeo existe o desenvolvimento natural da fala

51

Considere-se assim que a liacutengua eacute adquirida a qual se manifesta em todas as

circunstacircncias normais no conhecimento de uso em processo de audiccedilatildeo desde o nascimento

os quais vatildeo tomando forma de significante e significado enquanto se distingue cada unidade

lexical do todo que existe no meio onde se estaacute inserido Para Lyons ldquoo termo aquisiccedilatildeo da

linguagem eacute normalmente usado sem ressalvas para o processo que resulta no conhecimento

da liacutengua nativa (ou liacutenguas nativas)rdquo (1987 p 231)

Neste caso para a crianccedila em evidecircncia deveria ser propiciado o ensino da Libras

como liacutengua para mediar a comunicaccedilatildeo o mais breve possiacutevel na medida em que ela estaacute

com idade proacutexima da faixa etaacuteria limite de aquisiccedilatildeo sem acarretar prejuiacutezos para o seu

desenvolvimento conforme explica teoria gerativista17

da aquisiccedilatildeo da linguagem proposta

por Lennenberg (1967)

[] a existecircncia de um periacuteodo criacutetico para a quisiccedilatildeo da linguagem tendo como

pressuposto a ideia de que esta eacute inata O periacuteodo criacutetico se iniciaria por volta dos

dois anos e se encerraria por volta da puberdade Esse periacuteodo eacute chamado de criacutetico

porque seria aquele mais sensiacutevel agrave aquisiccedilatildeo da linguagem[] concluiacutendo que o

cereacutebro humano inicialmente tem representaccedilatildeo bilateral das funccedilotildees da linguagem

e mediante o processo de aquisiccedilatildeo na puberdade apenas o hemisfeacuterio se torna

mais dominante em relaccedilatildeo a elas completando o periacuteodo de aquisiccedilatildeo Caso a

crianccedilas natildeo adquira a linguagem nesse periacuteodo seu desenvolvimento linguiacutestico

seraacute prejudicado (apud QUADROS 2008 p 78)

Deste modo no caso a crianccedila surda esta precisa aprender a liacutengua nativa de uma

forma diferenciada adequando-se os siacutembolos agraves formas visuais se natildeo apresentar esta

carecircncia tambeacutem posto que a faculdade da linguagem do ser humano eacute inata conforme

Chomsky esclarece (apud PONZIO etal 2007)

Trata-se de determinar agrave natureza do patrimocircnio bioloacutegico que constitui a bdquofaculdade

da linguagem‟ do ser humano o componente inato do conjunto menteceacuterebro que

uma vez tendo entrado em contato com a experiecircncia linguiacutestica produz o

conhecimento da linguagem isto eacute converte a experiecircncia em um sistema de

conhecimento (p 143)

O segundo indiacutegena surdo da etnia Satereacute-Maweacute havia sido transferido da escola Padre

ldquoPaulo Mannardquo para a Escola Estadual ldquoBrandatildeo de Amorimrdquo Segundo as informaccedilotildees da

famiacutelia ele nasceu na aacuterea indiacutegena de Ponta Alegre Poreacutem quando pequeno sua famiacutelia se

17

A teoria gerativista pressupotildee a existecircncia de um mecanismo inato responsaacutevel pela aquisiccedilatildeo da linguagem

denominado Gramaacutetica Universal (GU) tendo como responsaacutevel por essa concepccedilatildeo que caracteriza-se pela

elucidaccedilatildeo da natureza das linguas naturais Chomsky

52

mudou para zona urbana de Parintins Ele cresceu longe da cultura indiacutegena sem contato com

a liacutengua de sua etnia por estar fora desse contexto Por outro lado natildeo aprendeu a liacutengua

falada em seu entorno na medida em que natildeo pode na prendecirc-la de forma natural por natildeo

ouvir assim por natildeo ter domiacutenio da cultura da etnia deve aprender a liacutengua de sinais

inserindo os signos que significam as palavras do seu leacutexico atraveacutes de instruccedilatildeo especial

com a mediaccedilatildeo de algueacutem que tenha o conhecimento das duas formas de comunicaccedilatildeo Para

Lyons (1987) esses aprendizes adquirem habilidades comunicativas rapidamente pois o

progresso que alcanccedilam eacute pelo menos agraves vezes tatildeo raacutepido que como observam tanto os pais

quanto os pesquisadores eacute difiacutecil manter um registro compreensivo e sistemaacutetico do seu

processo de aprendizado Como tambeacutem eacute no total independente de inteligecircncia e de

diferenccedilas do meio social e cultural

A capacidade da pessoa para construir enunciados vai tomando forma agrave medida que

consegue compreender a relaccedilatildeo entre significante e significados dos signos com os quais tem

contato Por isso os indiacutegenas surdos podem ser beneficiados com um material escrito

triliacutengue Este pode constituir-se em um material de apoio para a aprendizagem das trecircs

liacutenguas sendo que a liacutengua de sinais eacute perspectivada como L1

O terceiro caso identificado eacute de um iacutendio surdo jaacute adulto da comunidade Uiacurapaacute

da etnia Maweacute As informaccedilotildees datildeo conta que ele se comunica por meio de gestos criados por

ele e os pares com quem tem relaccedilatildeo Poreacutem natildeo haacute dados detalhados pois natildeo foi possiacutevel

contato com o mesmo porque ele vive isolado sobrevivendo de caccedila e pesca em comunidade

rural indiacutegena Fato este que implica diretamente no aperfeiccediloamento da forma de

comunicaccedilatildeo desse sujeito posto que ldquoos fenocircmenos ambientais podem agir diretamente

sobre a pessoa ou individualmente atraveacutes de repasse de experiecircncias vividas pela sociedade

atraveacutes da linguagem veiculada pela liacutenguardquo (OLIVEIRA 2005 p134)

Assim estaacute constituiacuteda a populaccedilatildeo de indiacutegenas surdos que fazem parte da

microrregiatildeo de Parintins que se podem fazer os devidos registros neste estudo

412 Histoacuterico de Barreirinha

O municiacutepio de Barreirinha pertence a Mesorregiatildeo da Microrregiatildeo de Parintins que

estaacute localizado a leste de Manaus Capital do Estado distanciando cerca de 331 quilocircmetros

E ao norte de Parintins o municiacutepio de Barreirinha juntamente com Maueacutes satildeo principais

municiacutepios que possuem a maior populaccedilatildeo de indiacutegenas localizados nos rios Andiraacute e o

Marau Portanto sendo o municiacutepio como a sede urbana das comunidades inseridas os surdos

53

indiacutegenas vem apenas em busca de tratamento meacutedico quando necessitam ou para atividades

sociais acompanhados de seus pais mas na zona urbana natildeo localizamos nenhum indiacutegena

surdo

Barreirinha foi o segundo municiacutepio pesquisado E segundo o IBGE em 2013 a

populaccedilatildeo era de 29737 habitantes18

sendo o vigeacutesimo segundo municiacutepio mais populoso do

Estado do Amazonas e o terceiro de sua microrregiatildeo

Este muniacutecipio conta com um setor especiacutefico das causas indiacutegenas a Coordenaccedilatildeo

Iacutendiacutegena Satereacute-Maweacute sob responsabilidade do coodernador geral SrSantino Lopes Este

tornou possiacutevel o acesso agrave comunidade indiacutegena de Ponta Alegre no Rio Andiraacute Foi na

Escola Municipal Professora ldquoRosa Cabralrdquo que foi identificado um indiacutegena surdo da etnia

Satereacute-Maweacute um menino de 12 anos matriculado na 3ordf ano do ensino fundamental Nesse

contexto foi possiacutevel observar sua forma de se comunicar com as demais pessoas que faziam

parte do seu meio social Outros dados referente a relaccedilotildees familiares deste natildeo estatildeo

disponiacuteveis na medida em que natildeo foi possiacutevel fazer contato com sua famiacutelia Desta forma

permanece uma lacuna de respostas referente a esse aluno posto que

De uma forma geral e em regra a socializaccedilatildeo da crianccedila no mundo civilizado

comeccedila dentro de uma famiacutelia nuclear constituiacuteda de pai matildee e irmatildeos quando

existem Durante os primeiros anos da infacircncia adquire traccedilos culturais (menores

unidades de cultura) atraveacutes das pessoas da famiacutelia que satildeo reflexo da sociedade

onde vivem (OLIVEIRA 2005)

Entende-se que atraveacutes de informaccedilotildees que poderiam ser fornecidas pela famiacutelia

deveria ser esclarecido como ocorre a socializaccedilatildeo da crianccedila nesse contexto e de que modo

aprenderam a se comunicar com ela que estrateacutegias foram utilizadas para que ela conseguisse

ser alfabetizada

413 Histoacuterico de Maueacutes

Este municiacutepio que tambeacutem pertence agrave Mesorregiatildeo do Centro Amazonense e

Microrregiatildeo de Parintins tem uma populaccedilatildeo de 54079 habitantes conforme as estimativas

do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) A cidade eacute reconhecida

nacionalmente por possuir uma das maiores expectativas de vida do paiacutes

18

Disponiacutevel emlthttpcidadesibgegovbrxtrastemasamazonas|barreirinha|estimativa-da-populacao-2013gt

Acesso em 28072014

54

Na margem direita do Rio Maueacutes-Accedilu Maueacutes foi fundada em 1798 por Luiz Pereira

da Cruz e Joseacute Rodrigues Preto agrave distacircncia de 268 km em linha reta e 356 km pela via

fluvial de Manaus O calendaacuterio festivo do municiacutepio conteacutem as datas festivas municipais

em homenagem agrave Satildeo Sebastiatildeo (10 a 20 de janeiro) ao Divino Espiacuterito Santo (22 a 30 de

maio) agrave Satildeo Pedro (27 a 30 de junho) agrave padroeira Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo (01 a 8 de

dezembro) assim como a Festa do Carnaval Popular (21 a 24 de fevereiro) do aniversaacuterio do

municiacutepio (26 a 27 de junho) da Ilha de Vera Cruz (23 a 25 de julho) do Veratildeo (de 05 a 7 de

setembro) da Feira Industrial (06 a 8 de novembro) e do Guaranaacute (em novembro)

Sobre a origem do nome deste municiacutepio observa-se que inicialmente foi

denominada Luseia e progredindo com o tempo transformou-se em missatildeo carmelita com

nome de Maueacutes O liacuteder nessa eacutepoca foi o frei Joaquim de Santa Luzia Por um decreto de 25

de junho de 1833 a missatildeo foi considerada vila sob a invocaccedilatildeo de Nossa Senhora da

Conceiccedilatildeo de Luseia Em 1853 pela lei nordm 25 de 3 de dezembro da iniciativa do Deputado

Marcos Antocircnio Rodrigues de Souza a vila tornou-se cidade chamada Satildeo Marcos de

Mundurucacircnia Consta como uma das freguesias da proviacutencia denominada Maueacutes em 1958

A oficializaccedilatildeo da mudanccedila do nome do municiacutepio ocorreu quando o Deputado Joseacute

Bernardo Michiles em 1865 apresentou um projeto para tal que tendo sido aprovado

oficializou-se a mudanccedila do nome de Maueacutes para Conceiccedilatildeo Enfim jaacute na Repuacuteblica em

1895 pela lei nordm 133 de 5 de outubro a localidade torna-se Comarca E em 4 de maio de 1896

eacute considerado municiacutepio pelo novo regime juriacutedico com o nome de Maueacutes pela lei nordm 137

As pesquisas de campo nesse municiacutepio natildeo foram realizadas conforme a previsatildeo

pois a viagem natildeo foi concretizada devido agraves dificuldades em relaccedilatildeo agrave distacircncia para chegar

ateacute agraves comunidades que satildeo distantes da cidade cede e havia necessidade de recurso material

e humano (professores guias indiacutegenas biliacutengues) para realizaacute-la Quando foi possiacutevel chegar

ao local ocorreu o contato com trecircs professores que residiam nas comunidades do rio

chamado Marau Ali foi possiacutevel tecirc-los em companhia na funccedilatildeo de guia inteacuterprete para

contato com os indiacutegenas surdos daquela localidade

Em resposta afirmativa ao questionamento se havia iacutendios surdos foram realizadas

reuniotildees com a comunidade local para coletar informaccedilotildees que apontou a existecircncia de um

caso na comunidade de Santa Maria Era um senhor na faixa etaacuteria de 67 anos que adquiriu a

surdez haacute muito tempo atraacutes Ele natildeo tem conhecimento da Liacutengua Portuguesa por isso natildeo

tivemos contato direto No entanto ele conhece a proacutepria liacutengua e assimilou a cultura da etnia

posto que

55

A liacutengua eacute aprendida simultaneamente a outros elementos da cultura A capacidade

de desenvolvimento da linguagem eacute inata O indiviacuteduo nasce com o ceacuterebro

preparado para aprender tudo que pertinente agrave cultura humana da qual a linguagem

faz parte (OLIVEIRA 2005 p 137)

Eacute no contexto social que se aprende os signos que fazem parte do mundo exterior e

que o ceacuterebro assimila pelo conhecimento que os sentidos possibilitam

O segundo iacutendio localizado foi um surdo de nascenccedila hoje com idade de 24 anos

Segundo relato da famiacutelia nunca frequentou uma escola portanto seu uacutenico meio de

comunicaccedilatildeo eacute gestual que aprendeu como forma para se fazer entender pois ldquoa linguagem eacute

atributo universal do ser humanordquo (OLIVEIRA 2005) assim constitui-se como necessidade

vital da pessoa conduzindo ao aprendizado

Em pesquisa de campo se obteve a informaccedilatildeo que havia outros trecircs iacutendios surdos que

moravam no Rio Marau mas natildeo foi possiacutevel chegar ateacute a aldeia onde se encontravam

devido ao difiacutecil acesso o que impossibilitou a ida ateacute a localidade

414 Histoacuterico de Boa Vista do Ramos

Uma das sete Mesorregiotildees de Parintins eacute Boa Vista do Ramos que possui

aproximadamente 16820 de habitantes segundo o IBGE (2013)

A histoacuteria de Boa Vista do Ramos encontra-se ligada agrave histoacuteria do municiacutepio de

Maueacutes Em 1798 foi fundada a Aldeia de Lusea Em meados do Seacuteculo XIX vaacuterios conflitos

ocorreram na regiatildeo entre brancos e povos indiacutegenas sendo efetiva tambeacutem a participaccedilatildeo de

cabanos oriundos da Cabanagem

Quando a Proviacutencia do Amazonas eacute criada em 1850 Lusea torna-se um dos quatorze

municiacutepios existentes na proviacutencia Seu nome eacute alterado em 1892 para Maueacutes tornando-se

sede da Comarca em 1895 Em 10 de dezembro de 1981 atraveacutes da Emenda Constitucional nordm

12 o povoado de Boa Vista do Ramos aleacutem de outros territoacuterios pertencentes agrave Maueacutes e

aacutereas adjacentes dos municiacutepios de Barreirinha e Urucurituba passam a constituir o novo

municiacutepio de Boa Vista do Ramos

Em pesquisa de campo nesse municiacutepio o primeiro contato que foi na Coordenadoria

Regional de Educaccedilatildeo da cidade (SEDUC) Embora esta professora responsaacutevel por essa

Instituiccedilatildeo tenha informado que natildeo conhecia nenhum caso de iacutendio surdo neste municiacutepio

alguns informantes afirmaram que na aldeia de Santo Antocircnio que faz parte do referido

municiacutepio foi localizada uma senhora que havia adquirido a surdez ainda muito jovem sem

56

nenhum conhecimento das liacutenguas ldquofaladasrdquo ou sinalizadas Desta forma ela utilizava de

gestos para se comunicar porque os seres humanos nascem com a capacidade para a

linguagem que se desenvolvem ao longo da primeira infacircncia mas que podem tambeacutem ser

aprendida no meio social atraveacutes de estiacutemulos Nesta perspectiva segundo a concepccedilatildeo de

Oliveira (2005 p 143)

A evoluccedilatildeo da linguagem depende de dois fatores principais da capacidade geneacutetica

cerebral para desenvolvecirc-la que eacute a principal e dos estiacutemulos ambientais que satildeo

sempre tatildeo importantes quanto aquela Esse desenvolvimento estaacute senpre inserido no

contexto de socializaccedilatildeo que eacute a responsaacutevel pela humanizaccedilatildeo do indiviacuteduo

Ainda sobre a importacircncia da socializaccedilatildeo para os sujeitos ressalta-se que estes

desenvolvendo no meio onde estatildeo inserido adquirem sua identidade cultural

concomitantemente sua identidade linguiacutestica que estaacute presente no discurso dos seus pares

posto que ela ldquoeacute adquirida nos processos de formaccedilatildeo e tranformaccedilatildeo de uma liacutengua

particularrdquo que eacute tambeacutem determinante no relacionamento cm outras liacutenguas E de acordo

com Ponzio (2007 p178) ldquoO espaccedilo em que uma liacutengua vive eacute um espaccedilo interlinguiacutestico e a

capacidade de expressatildeo e da adaptaccedilatildeo dessas liacuteguas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo eacute

diretamente proporcional agrave quantidade de contatos com outras liacutenguasrdquo O que deixa evidente

que um indiviacuteduo pode estar em contato com diferentes formas de intercomunicaccedilatildeo

415 Histoacuterico de Nhamundaacute

Eacute trigeacutesimo quinto municiacutepio mais populoso do estado do Amazonas Sendo o quarto

da Mesorregiatildeo em estudo Conforme o IBGE em 2013 o municiacutepio eacute composto por uma

populaccedilatildeo de 19 792 habitantes

O municiacutepio de Nhamundaacute estaacute localizado na zona fisiograacutefica do Baixo Amazonas

limitando com os municiacutepios de Parintins e Urucaraacute no Amazonas com o Estado de Roraima

(norte) e com os municiacutepios de Faro e Terra Santa no estado do Paraacute Distacircncia da capital 375

km em linha reta e cerca de 577 km por via fluvial Sua altitude eacute de 50 metros acima do

niacutevel do mar

As origens do municiacutepio de Nhamundaacute remontam agraves primitivas povoaccedilotildees dos iacutendios -

nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XVII composta pelos condurizes paraculamas canuris

guancaris paraquatas queremas jamundaacutes e uaboy cujo tuxaua se chamava Jamundaacute que

dada a luta em prol da liberdade de seu povo devido agrave exploraccedilatildeo e maus-tratos pelos

57

colonizadores fez um levante conduzindo a tribo Uaboy para as cabeceiras do alto rio que em

sua homenagem ganhou o seu nome e por conseguinte daacute nome ao municiacutepio

Em 1653 mediante carta reacutegia a regiatildeo foi erigida a Missatildeo que foi confiada aos

missionaacuterios portugueses capuchos da Piedade Eles organizaram uma aldeia modelo na boca

do Tauacuera - aldeia velha afluente esquerdo onde ainda se podem ver ruiacutenas do antigo

convento no meio dos espinhais A sede da Missatildeo poreacutem foi transferida para o lugar da

atual cidade de Faro Os padres capuchos souberam unir os iacutendios uaboy residentes no

Trombetas aos da Missatildeo para aumentar a populaccedilatildeo Era entatildeo o chefe dos Uaboy o tuxaua

Jamundaacute que ligou seu nome agrave Missatildeo e agrave aldeia que doravante se chamou aldeia dos

Jamundaacute ou Missatildeo dos Jamundaacute

O primeiro documento sobre a Missatildeo eacute do ano de 1727 e foi escrito pelo superior da

Missatildeo frei Francisco de Satildeo Manccedilos Em 1758 Missatildeo tomou o nome de Faro No entanto

jaacute em 1755 o Marqucirces de Pombal mandou suspender as Missotildees para serem transformadas

em vilas e paroacutequias A Missatildeo dos Jamundaacute foi extinta em 1758 por ordem de Mendonccedila

Furtado quando de sua viagem de demarcaccedilatildeo da nova capitania Foram criadas assim a vila

de Faro e a Paroacutequia de Satildeo Joatildeo Batista em 21 de dezembro de 1758 mas a instalaccedilatildeo deu-se

somente em 27 de dezembro de 1768

Desse modo em 1911 quando ocorreu a divisatildeo administrativa do Brasil o municiacutepio

de Parintins foi contemplado com o distrito de Jamundaacute Com a extinccedilatildeo deste quando

aconteceu a nova divisatildeo administrativa em 1933 o municiacutepio de Parintins surgiu com apenas

um distrito assim em 10 de dezembro de 1938 pelo Decreto-lei no 176 do Estado do

Amazonas Parintins voltaria a dispor de um outro distrito aleacutem da sede o da Ilha das Cotias

Em 19121955 pela Lei Estadual no 96 o distrito de Ilha das Cotias eacute desmembrado de

Parintins e passa a constituir o municiacutepio autocircnomo de Nhamundaacute Em 31 de janeiro de 1956

foi instalado o municiacutepio de Nhamundaacute

A viagem a esse municiacutepio foi realizada com o apoio do aluno Fernando Gonccedilalves

acadecircmico do curso de Licenciatura em Geografia pela Universidade do Estado do

Amazonas-UEA Para maiores esclarecimentos foi feita a pesquisa na casa de sauacutede indiacutegena

localizada na cidade de Nhamundaacute onde informaram desconhecer a existecircncia da etnia

Satereacute-Maweacute no municiacutepio Mesmo assim foi feito outro contato com uma enfermeira da

Casa de Sauacutede Indiacutegena do municiacutepio A resposta foi a mesma ldquoQueremos informar ao

professor que no municiacutepio de Nhamundaacute que natildeo trabalhamos com a etnia Satereacute-Maweacute

Atendemos somente a etnia Hixkaryana existente na regiatildeo Natildeo haacute portanto nenhum surdo

Hixkaryana ou Satereacute-Maweacute cujo fato eacute comprovado pelo senso municipalrdquo

58

Foi feita uma pesquisa tambeacutem em outro oacutergatildeo que atua com indiacutegenas no caso as

Secretaria de Educaccedilatildeo do Municiacutepio com a finalidade de constatar a veracidade dos fatos

eou conseguir novos dados sobre o indiacutegena surdo Satereacute ou Hixkaryana O subsecretaacuterio de

Educaccedilatildeo relatou que natildeo existia dados sobre a liacutengua Satereacute-Maweacute nem indiacutegenas surdos

existentes

Realmente apoacutes pesquisas in loco ficou comprovado somente agrave existecircncia da etnia

Hixkaryana da famiacutelia linguiacutestica Karib Sobre esta ressalta-se que

A liacutengua hixkaryana pertence agrave famiacutelia linguiacutestica Karib e eacute falada por todos os

membros do grupo Esta liacutengua eacute muito semelhante agravequeles outros dialetos falados

na regiatildeo mais ampla circunscrita pelos vales dos rios Trombetas e Mapuera como

Waiwai Xereu Katuena Karapawyana Tunayana Desta maneira e pelo fato dos

Hixkaryana estabelecerem relaccedilotildees bem estreitas com estes grupos em uma rede de

trocas matrimoniais e rituais tais dialetos satildeo inteligiacuteveis entre si []

Os Kaxuyana que moram no rio Nhamundaacute quase todos tambeacutem falam a liacutengua

hixkaryana aleacutem da sua liacutengua proacutepria o Kaxuyana Contudo em geral um

Hixkaryana natildeo fala a liacutengua kaxuyana fato que de certa forma demonstra que os

Kaxuyana satildeo considerados os ldquoestrangeirosrdquo naquela regiatildeo e que devem aprender

a liacutengua ldquonativardquo o Hixkaryana

A maioria dos Hixkaryana eacute alfabetizada na liacutengua nativa sendo capaz de ler e

escrever neste idioma Em 2008 havia apenas uma escola de ensino fundamental na

aldeia Kassauaacute e muitos jovens depois desta seacuterie dirigiam-se agrave cidade de

Nhamundaacute (AM) para prosseguir os estudos de niacutevel meacutedio Em 2010 uma escola

de ensino meacutedio foi implantada na aldeia Kassauaacute Aleacutem disso uma dezena de

Hixkaryana jaacute cursou ou estaacute cursando o ensino superior em cidades como Parintins

e Manaus Contudo a maioria das mulheres dos velhos e das velhas fala muito

pouco o Portuguecircs sendo o Hixkaryana a liacutengua mais usada por todos19

Assim como no municiacutepio de Nhamundaacute ficou constatado tambeacutem que nos demais

municiacutepios de Satildeo Sebastiatildeo do Uatumatilde e de Urucaraacute que natildeo haacute registro sobre a existecircncia

da etnia Satereacute-Maweacute nem tatildeo pouco a existecircncia de iacutendios surdos A tabela 1- apresenta o

resultado da pesquisa que aponta o mapeamento

Tabela 1 Mapeamento da existecircncia de iacutendios surdos nas respectivas comunidades

indiacutegenas ou zona urbana da microrregiatildeo de Parintins

Fonte Azevedo (2014)

19

Disponiacutevel emlthttppibsocioambientalorgptpovohixkaryanagt Acesso em 07112014

Etnia Liacutengua Comunidade Indiacutegena

rural Zona Urbana

Municiacutepio Quantidade de iacutendios

surdos

Satereacute-Maweacute Tupi Parintins Parintins 02

Satereacute-Maweacute Tupi Uaucurupaacute Parintins 01

Satereacute-Maweacute Tupi Rio Andiraacute Barreirinha 01

Satereacute-Maweacute Tupi Santa Maria Maueacutes 02

Satereacute-Maweacute Tupi Rio Marau Maueacutes 03

Satereacute-Maweacute Tupi Boa Vista do Ramos Boa Vista do

Ramos

01

Total 10

59

De acordo com os dados pode-se observar a existecircncia de poucos iacutendios surdos

Poreacutem acredita-se que ainda existam outros em comunidades mais isoladas Como tambeacutem

pelo fato de serem consideradas ldquodeficientesrdquo algumas famiacutelias natildeo integram na comunidade

que vivem As dificuldades encontradas para coletar os dados a partir dos oacutergatildeos

responsaacuteveis tambeacutem foram encontrados em outros estudos realizados anteriormente para

estabelecer a populaccedilatildeo indiacutegena na Ameacuterica Latina o que pode ser vislumbrado pela

explicaccedilatildeo dos fatos complicadores transcritos a seguir

Uma das dificuldades para estabelecer a populaccedilatildeo indiacutegena estaacute relacionada com

fato de que o criteacuterio de filiaccedilatildeo segue mais a autodenominaccedilatildeo que as

caracteriacutesticas linguiacutesticas ou raciais como se considerava haacute algumas deacutecadas atraacutes

Outra dificuldade eacute que a uacutenica fonte disponiacutevel para estabelecer a quantidade de

populaccedilotildees indiacutegenas na regiatildeo satildeo precisamente os censos nacionais de populaccedilatildeo

que haacute bem pouco tempo permitiam inferir informaccedilatildeo sobre a populaccedilatildeo indiacutegena

a partir de uma uacutenica pergunta referente agrave liacutengua falada pelos entrevistados (LOPES

e SICHRA 2009 p 103)

Entretanto embora natildeo haja um nuacutemero expressivo de iacutendios surdos da etnia Satereacute-

Maweacute ficou constatado que haacute muitos surdos natildeo-iacutendios nos municiacutepios estudados

principalmente no municiacutepio de Parintins que precisam se comunicar com diferentes

interlocutores Este eacute um argumento que aponta para a necessidade de instrumentos

educacionais como um dicionaacuterio triliacutengue importante para os surdos que conseguiram

estabelecer elos comunicativos a partir das trecircs liacutenguas E jaacute que o homem eacute criativo ldquoagrave

medida que o tempo passa a humanidade vai agregando novas descobertas e inventos que se

concretizam e se somam para dar-lhe conforto e bem estarrdquo (OLIVEIRA 2005 p 144) Entatildeo

espera-se que este material contribua para que o sujeito surdo possa se comunicar

adequadamente no seio familiar e no processo educacional

42 Realidade linguiacutestica e educacional dos iacutendios surdos encontrados da etnia Satereacute-Maweacute

O sistema responsaacutevel pela educaccedilatildeo tem procurado fazer adequaccedilotildees para atender agraves

pessoas que apresentam necessidades na sua arquitetura fiacutesica para a inclusatildeo destas no

contexto da realidade linguiacutestica e educacional Embora exista uma legislaccedilatildeo pertinente

ainda haacute ausecircncia de qualidade para que um indiviacuteduo surdo possa estudar incluso em um

contexto regular de ensino Principalmente porque os professores natildeo estatildeo preparados para

lidar com essa situaccedilatildeo peculiar Haacute uma imposiccedilatildeo nos oacutergatildeos educacionais mas natildeo haacute

60

profissionais que atuem para o bom desempenho do aluno indiacutegena surdo A partir dessa

visatildeo Albres (2005) que realizou um estudo nesta aacuterea de conhecimento afirma

Nessa perspectiva o homem eacute produto e produtor da cultura conjunto das relaccedilotildees

sociais portanto mister se faz investigar a origem histoacuterica de alguns princiacutepios da

educaccedilatildeo biliacutengue para surdos e desvelar elementos conceituais Propomo-nos

entatildeo identificar e analisar as concepccedilotildees de linguagem que sob condiccedilotildees

histoacutericas fundamentaram o ensino de Liacutengua Portuguesa para surdos nos

documentos do MEC

Desta feita entende-se que se no contexto do ensino da Liacutengua Portuguesa existem

diversas dificuldades no contexto de uma liacutengua indiacutegena a situaccedilatildeo se torna mais complexa

Desse modo na anaacutelise da situaccedilatildeo linguiacutestica e educacional encontrada com os iacutendios surdos

identificados da etnia Satereacute-Maweacute eacute bastante diversificada Apresentam diferentes formas de

siacutembolos para conseguirem se comunicar com as pessoas com quem tecircm contato Precisam

fazer um esforccedilo aleacutem do necessaacuterio para manifestar seus desejos para informar e ter acesso a

informaccedilotildees

No caso da aluna indiacutegena surda de apenas seis anos de idade na escola especiacutefica para

atender alunos surdos foi constatado que sua situaccedilatildeo linguiacutestica e educacional se encontra

em processo de aquisiccedilatildeo de uma linguagem baacutesica para comunicaccedilatildeo com as pessoas com as

quais ela convive

Conforme os dados fornecidos pela escola por meio de um parecer pedagoacutegico sobre a

aluna indiacutegena surda (ANEXO D) Ficou atestado que a aluna da etnia Satereacute-Maweacute nasceu

de parto normal sem nenhum problema aparente Aos trecircs anos de idade a matildee percebeu que

a filha natildeo ouvia e nem falava pois seus outros filhos haviam comeccedilado a falar na presente

idade Para seguir se comunicar com a filha utilizava-se de gestos sendo difiacutecil a

comunicaccedilatildeo Foi essa situaccedilatildeo que levou a famiacutelia a procura da Escola Padre Paulo Manna

onde se encontra matriculada no preacute-escolar Nessa realidade ela recebe as mesmas

orientaccedilotildees dadas agraves crianccedilas natildeo indiacutegenas logo natildeo existe um direcionamento para a cultura

da sua etnia na escola nem na no contexto familiar

Sobre essa condiccedilatildeo Cool (2004) aborda que haacute um aspecto familiar que tem

relevacircncia particular o tipo de comunicaccedilatildeo que se utiliza em casa ou seja a forma e o estilo

de comunicaccedilatildeo que os pais utilizam com a crianccedila surda tem uma grande importacircncia para o

seu desenvolvimento e para sua aprendizagem No caso dos pais ouvintes estes necessitam do

conhecimento da educaccedilatildeo da cultura da liacutengua da pessoa surda para que possam promover

uma formaccedilatildeo linguiacutestica completa para o filho surdo E deste modo este ldquopossa consolidar e

61

aprofundar o uso e a compreensatildeo da liacutengua proacutepria enquanto veiacuteculo de cultura e

possibilidade de comunicaccedilatildeo no acircmbitordquo de conhecimento do aprendiz sem deixar agrave parte do

domiacutenio da liacutengua apropriada para esse sujeito (HERNAIZ 2009)

Desta forma a educaccedilatildeo escolar reconhecida pela proacutepria escola referente agrave inclusatildeo

da aluna indiacutegena surda aponta para a necessidade de instituir uma educaccedilatildeo triliacutengue de

forma que seu processo de ensino-aprendizagem pauta-se na Liacutengua Satereacute-Maweacute Liacutengua

Brasileira de Sinais e Liacutengua Portuguesa Mesmo sabendo da dificuldade em aprender trecircs

liacutenguas o parecer pedagoacutegico considera possiacutevel aprendizagem de trecircs liacutenguas

A partir dos argumentos referidos reitera-se a importacircncia de que a educaccedilatildeo escolar

dessa aluna deve abranger as liacutenguas de uso natural nativo e social Quando se destaca a

liacutengua de uso natural entende-se que eacute a Liacutengua de Sinais como primeira liacutengua E natildeo

inverter o processo e obrigar a crianccedila surda seja indiacutegena ou natildeo aprender a falar uma

liacutengua oral seja liacutengua indiacutegena ou Liacutengua Portuguesa Sobre a questatildeo Fernandes (2005

p20) pontua

fazer uma crianccedila surda ldquofalarrdquo ao inveacutes de propiciar a ela um meio raacutepido de

comunicaccedilatildeo linguiacutestica atraveacutes da aquisiccedilatildeo da liacutengua de sinais como primeira

liacutengua que proteja e cumpra o papel fundamental de resguardar o seu natural

desenvolvimento no que se refere a ter domiacutenio de fato de um instrumental

linguiacutestico que lhe sirva para as operaccedilotildees mentais que envolvam mecanismos

linguiacutesticos

Portanto primeiramente eacute necessaacuteria a aquisiccedilatildeo da primeira liacutengua a liacutengua de sinais

e como segunda liacutengua a liacutengua nativa de sua comunidade eacutetnica No caso da aluna indiacutegena

a liacutengua Tupi da etnia Satereacute-Maweacute na modalidade escrita Desta forma com a aprendizagem

das duas liacutenguas seraacute uma aluna biliacutengue Poreacutem diante da realidade do aluno indiacutegena surdo

que vive na zona urbana se faz necessaacuterio o aprendizado triliacutengue Liacutengua Portuguesa por

escrito

Como dito anteriormente o ensino-aprendizado da Liacutengua de Sinais deve ser

garantido ao sujeito surdo para que adquira a identidade a cultura do povo surdo20

acesso

pleno as informaccedilotildees aleacutem de significar a possibilidade de comunicaccedilatildeo e expressatildeo fluentes

do sujeito surdo com seu entorno Da mesma perspectiva o ensino da Liacutengua indiacutegena se daacute

20

Como ja mencionado no capiacutetulo 1 sobre Cultura Surda ldquo eacute o jeito surdo de ser de perceber de sentir de

vivenciar de comunicar de transformar o mundo a tornaacute-lo habitaacutevelrdquo (GLADIS PERLIN apud STROBEL

2008 p 21) Strobel ainda esclarece que o sujeito Surdo se comportam diferente do sujeito ouvinte e com isso

traz alguns ldquoartefatos culturaisrdquo (explicado no capiacutetulo 1) que satildeo as pecualiaridade da cultura surda as quais

descritas Parte das experiecircncias visuais linguiacutestico familiar literatura surda vida social e esportiva artes

visuais poliacutetica e materiais Todos estes artefatos concebidos a partir do VER (IDEM 2008 p36-77)

62

em respeito aos direitos da cultura indiacutegena previsto pela Constituiccedilatildeo Brasileira conforme

decreto nordm 6861 de maio de 2009 no seu Art 2o que determina ldquoSatildeo objetivos da educaccedilatildeo

escolar indiacutegena I- valorizaccedilatildeo das culturas dos povos indiacutegenas e a afirmaccedilatildeo e manutenccedilatildeo

de sua diversidade eacutetnica II- fortalecimento das praacuteticas socioculturais e da liacutengua e da liacutengua

materna de cada comunidade indiacutegenardquo

Neste caso a referida aluna iacutendia surda deveraacute ter a liacutengua indiacutegena como liacutengua de

conhecimento de sua cultura Para o ensino desta na forma escrita faz-se uso de cartilhas

gramaacuteticas dicionaacuterios etc

De acordo com o exposto a escola reconhece a necessidade da educaccedilatildeo escolar

triliacutengue poreacutem utiliza-se de outra realidade conforme citado pela proacutepria escola ldquoNo

primeiro momento fica junto com os colegas ouvintes onde procuramos trabalhar de forma

inclusiva no contexto biliacutengue Liacutengua Portuguesa e Liacutengua de Sinais

Sobre este aspecto Rodrigues (2005 p20) pontua

Quantas lacunas estariam sendo criadas em nome da pressuposiccedilatildeo de que a

aprendizagem da liacutengua da maioria dos falantes da comunidade (ouvintes) eacute que

daria agrave crianccedila surda condiccedilotildees de desenvolvimento social e cognitivo Quantas

etapas de desenvolvimento estariam sendo desprezadas nas fases naturais de sua

evoluccedilatildeo sob a alegaccedilatildeo de que ela seraacute capaz de alcanccedilar o que se estabelece como

meta social Que metas estariam sendo alcanccediladas afinal Que objetivos estatildeo sendo

perseguidos em prol desses paracircmetros ultrapassados em detrimento dos reais

objetivos de formaccedilatildeo psico-sociocultural deste individuo Em que a liacutengua de

sinais como primeira liacutengua ainda se encontra determinada pelo descreacutedito de

tantos especialistas da aacuterea

A realidade encontrada sobre a educaccedilatildeo natildeo soacute em uma escola que atende alunos

surdos mas tambeacutem em muitas escolas as chamadas escolas ldquoinclusivasrdquo apresentam

dificuldades no processo de ensino dos alunos surdos21

Todavia entre desencontros

sociocultural-linguiacutesticos eacute preciso fazer uma ressalva desta escola ldquoA escola disponibilizou

21

Sobre a temaacutetica da Inclusatildeo formula-se ldquoAo se avaliar que na contemporaneidade impera o discurso da

inclusatildeo indiscriminada em escolas regulares[]Esta diretriz tira o direito previsto na legislaccedilatildeo brasileira de

poder optar por uma educaccedilatildeo biliacutengue em escola proacutepria de modo que se repete a condiccedilatildeo em que aos surdos eacute

imposto um enorme sofrimento na medida em que nos denominamos processos inclusivos junto aos ouvintes

permanecem privados de conviver com seus pares e de acessar o conhecimento na Liacutengua de Sinais como liacutengua

de instruccedilatildeo [] Os surdosde diferentemente de outros segmentos tecircm a necessidade de agrupar-se para formar

comunidade linguiacutestica por meio das quais possam construir uma ldquocomunidade de experiecircnciasrdquo (WITKOSKI

2012 p33-34)

63

uma professora surda para a aquisiccedilatildeo da Liacutengua Brasileira de Sinais repassando o conteuacutedo

ministrado na salardquo onde cada um desses alunos eacute inserido

A escola positivamente conta com a colaboraccedilatildeo do trabalho docente de uma

professora surda Esta tem um papel fundamental como modelo linguiacutestico principalmente

quando alunos surdos provecircm de famiacutelias ouvintes que natildeo tecircm acesso agrave cultura e agrave Liacutengua

de Sinais Cabe ao professor surdo comunicar-se fluentemente com o aluno surdo ser um

input linguiacutestico para a identificaccedilatildeo da cultura do ser surdo

Dessa forma Strobel (2008 p 40) destaca

Este contato crianccedila surda x adulto surdo atraveacutes de uma liacutengua em comum que eacute a

liacutengua de sinais eacute que proporcionaraacute o acesso agrave linguagem e desta forma estaraacute

assegurada a identidade e a cultura surda que eacute transmitida naturalmente agrave crianccedila

surda em contato com a comunidade surda

Observa-se que caso a crianccedila surda natildeo tenha o direito a sua diferenccedila preservado

este aprendiz teraacute sua inserccedilatildeo no mundo dos ouvintes de forma incerta eou sem esperanccedila de

uma vida normal A situaccedilatildeo se agrava na medida em que a sociedade ouvinte deixa a desejar

quanto agrave participaccedilatildeo dos sujeitos surdos em decorrecircncia da escassez dos vaacuterios recursos

visuais que promovem acessibilidade para eles

Contudo os povos surdos hoje satildeo mais conscientes de seus direitos entatildeo esses

sujeitos cultural e politicamente lutam pelos mesmos Direitos estes tambeacutem dos povos

indiacutegenas como jaacute comentados anteriormente

Todavia esse aspecto ainda estaacute distante da realidade dos sujeitos focos do estudo de

acordo com relato da escola Segundo depoimentos de alguns indiacutegenas a aprendizagem

indiacutegena passa pela demonstraccedilatildeo observaccedilatildeo imitaccedilatildeo tentativa e erro e quando o aluno

vem para a escola tem que se socializar e obedecer a comandos regidos pelo sistema e isso

muitas vezes o deixa confuso e os maiores ateacute desistem A situaccedilatildeo se agrava quando esse fato

se refere ao sujeito iacutendio surdo incluiacutedo na escola pois este requer um diferencial ainda

maior reconhecido pela escola

Dessa forma satildeo necessaacuterias estrateacutegias de ensino diferenciadas que deem suporte

para que a aluna seja trabalhada de forma triliacutengue no contexto escolar para que ela

natildeo perca a sua essecircncia a sua cultura que sejam adaptados trabalhos de acordo

com a realidade indiacutegena para que ela natildeo perca a sua identidade e saiba conduzir

sua aprendizagem dentro de um contexto diferenciado podendo aprender o que lhe eacute

de direito como viver bem em sociedade22

22

Texto extraiacutedo do parecer pedagoacutegico da aluna indiacutegena surda que estuda na Escola de Aacuteudio e Comunicaccedilatildeo

Pe Paulo MannaParintinsAm (ANEXO D)

64

A partir das consideraccedilotildees tecidas no parecer pedagoacutegico torna-se evidente ema

necessidade de ampliar e aprofundar as reflexotildees sobre a inclusatildeo de iacutendios surdos em vaacuterios

espaccedilos da sociedade especialmente no espaccedilo educacional escolar Ou seja haacute necessidade

tambeacutem de poliacuteticas linguiacutesticas voltada para esse acircmbito

Nesse sentido eacute necessaacuterio que se tenha como meta uma tomada de decisotildees poliacuteticas

para que gradativamente se possa controlar a situaccedilatildeo de aprendizagem do surdo no processo

soacutecio cultural onde ele estiver inserido Ateacute por que existe uma proposta educativa

intercultural de modo biliacutengue no contexto indiacutegena Assim surge a necessidade de accedilotildees

objetivas para garantir na praacutetica esta proposta de ensino a fim de enriquecer o indiacutegena

surdo com desenvolvimento da liacutengua de sinais como veiacuteculo de comunicaccedilatildeo acrescendo

seus conhecimentos a partir do pluralismo cultural uma vez que estaacute amparado por

legislaccedilotildees especiacuteficas

Reitera-se a necessidade de accedilotildees objetivas especialmente no que tange a formaccedilatildeo

especiacutefica de professores pois mesmo com a garantia da legislaccedilatildeo a presente realidade

desses sujeitos estaacute distante do contexto sociocultural-linguiacutestico do ser iacutendio surdo A

exemplo disso tem-se outra realidade sociocultural-linguiacutestico do segundo aluno indiacutegena

surdo de 24 anos que foi transferido de uma escola que desenvolve atividades educacionais

especiacuteficas para outra no processo denominado de educaccedilatildeo inclusiva onde cursa o nono ano

do ensino fundamental das seacuteries finais e faz atendimento na sala de recurso porque os

professores das disciplinas do curso natildeo tecircm formaccedilatildeo para acompanhaacute-lo

Os relatos da famiacutelia indicam que o aluno nasceu na aacuterea indiacutegena de Ponta Alegre

poreacutem muito pequeno sua famiacutelia mudou-se para zona urbana municiacutepio de Parintins o qual

cresceu longe de sua cultura indiacutegena desconhecendo assim a liacutengua de sua etnia Este eacute um

caso que promove o desaparecimento de liacutenguas indiacutegenas o conhecido deslocamento

sociolinguiacutestico

Para entender o processo que instaura este deslocamento linguiacutestico ressalta-se que

primeiramente a educaccedilatildeo da pessoa perpassa pelo uso da liacutengua materna no ambiente

familiar nas relaccedilotildees famiacuteliares na qual utiliza uma comunicaccedilatildeo intra e extrafamiliar Se a

famiacutelia mantiver sua liacutengua nativa em uso os membros da mesma permaneceratildeo biliacutengues

Poreacutem se a famiacutelia por pressatildeo social do uso da liacutengua dos falantes da sociedade local seja

porque deseja se adequar ao meio onde se insere a liacutengua no caso indiacutegena entra no processo

de esquecimento para as geraccedilotildees vindouras

65

Eacute o caso do aluno acima que eacute biliacutengue (Liacutengua Brasileira de Sinais e Liacutengua

Portuguesa na modalidade escrita) contudo desconhece sua raiz cultural a liacutengua de sua

etnia Seu contexto educacional eacute baseado em ldquomodelo de escola inclusivardquo o aluno vai para

sala de aula com alunos ouvintes onde a liacutengua portuguesa eacute a liacutengua padratildeo a ser ensinada e

estudada e posteriormente faz atendimento na sala de recurso em sua liacutengua natural Libras

Logo a escola pode ajudar no incentivo favorecendo a revitalizaccedilatildeo da liacutengua

indiacutegena no contexto educacional Para isso haacute necessidade de um corpo docente com a

formaccedilatildeo em Liacutengua indiacutegena e Liacutengua Brasileira de Sinais aleacutem da Liacutengua Portuguesa que eacute

usada como a base de ensino

Jaacute na comunidade Uiacurapaacute da etnia Maweacute encontramos outra realidade de contexto

de um surdo indiacutegena Todavia natildeo foi possiacutevel fazer um acompanhamento mais preciso

sobre sua situaccedilatildeo educacional escolar O uacutenico dado correspondente agrave questatildeo linguiacutestica eacute o

modo como ele se comunica conforme foi relatado por membros da comunidade local se

caracteriza pela utilizaccedilatildeo de gestos criados para se fazer compreender Desta forma diante da

ausecircncia de uma liacutengua estruturada a Libras por fazer uso somente de gestos ele apresenta

dificuldades de entender o ensino e de se comunicar com seus pares Da mesma forma ocorre

no contexto familiar e na comunidade uma vez que o aluno surdo vive quase que isolado

devido ao preconceito existente ateacute mesmo pela proacutepria comunidade por natildeo o entenderem e

nem saberem qual a forma para se comunicar aquele indiviacuteduo Assim ele vive em uma

situaccedilatildeo de rejeiccedilatildeo e marginalizaccedilatildeo estabelecida a partir da ausecircncia de uma liacutengua que

promova a comunicaccedilatildeo com o predomiacutenio de um processo de estigmatizaccedilatildeo deste sujeito

surdo

No municiacutepio de Maueacutes Boa Vista do Ramos os iacutendios surdos localizados satildeo de

idade adulta natildeo tiveram a oportunidade de frequentar escola Portanto sua realidade

linguiacutestica fundamenta-se somente na forma gestual que denominam de caseira atribuindo

significados peculiares de seu contexto local No que diz respeito ao aspecto educacional as

pessoas contatadas demonstraram apenas uma preocupaccedilatildeo sobre a existecircncia futura de

possiacuteveis iacutendios surdos nesses municiacutepios e sua formaccedilatildeo educacional Contudo natildeo

afirmaram o que fariam se encontrassem outros sujeitos com essa necessidade de

comunicaccedilatildeo

Como jaacute mencionado natildeo haacute registro sobre a situaccedilatildeo linguiacutestica e educacional de

nenhum iacutendio surdo da etnia Satereacute-Maweacute nos municiacutepios de Nhamundaacute Satildeo Sebastiatildeo do

Uatumatilde e de Urucaraacute Portanto as informaccedilotildees educacionais natildeo satildeo apresentadas nestes

contextos

66

43 Inventaacuterio de gestos da linguagem caseira dos surdos Satereacute-Maweacute

A presente pesquisa baseia-se em um meacutetodo de estudos de etnografia com o intuito

de descrever e observar os gestos caseiros que os indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute usam para se

comunicarem com seus pares nas comunidades onde residem O meacutetodo tambeacutem ajuda a

conhecer a identidade e sua interaccedilatildeo no meio da comunidade visto haacute uma diversidade

linguiacutestica rica usada pelos surdos indiacutegenas nas diversas localidades percorridas pelo

pesquisador na microrregiatildeo de Parintins

431 Os sinais caseiros de indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute

O objetivo do mapeamento eacute coletar os sinais caseiros ou emergentes para que esses

sinais possam ser reconhecidos e compreendidos pela sua comunidade como meio linguiacutestico

de comunicaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo de sua cultura

Para a concretizaccedilatildeo do mapeamento foi necessaacuterio a pesquisa de campo na

comunidade onde se fazia presente o indiacutegena surdo para as devidas observaccedilotildees

432 O Municiacutepio de Parintins

No municiacutepio de Parintins foi localizado trecircs (03) indiacutegenas surdos com suas

caracteriacutesticas linguiacutesticas diferenciadas de suas origens sendo que dois indiacutegenas residem na

zona urbana e um indiacutegena localizado na comunidade de Uaicurapaacute os quais foram o objeto

investigativo para a coleta de dados Os registros foram feitos de forma diferenciada de modo

que primeiramente conversei com as lideranccedilas indiacutegenas acompanhado de inteacuterprete e guia

linguiacutestico Durante este encontro foram feitas no local observaccedilotildees visuais sendo que em

alguns casos realizamos registros de imagens filmagens e entrevistas Eacute importante destacar

que os registros soacute puderam ser feitos quando permitidos pelos sujeitos da pesquisa ou pela

lideranccedila prevalecendo em sua maior parte a observaccedilatildeo visto que materiais tecnoloacutegicos e

de miacutedias causavam incocircmodo aos entrevistados fazendo com que se tornassem

incomunicaacuteveis quando percebiam que estavam sendo monitorados

67

4321 O primeiro surdo

Esse primeiro indiacutegena possui surdez moderada Eacute um senhor com idade de 72 anos

residente no Uiacurapaacute23

O contato foi feito na Casa do Iacutendio de Parintins Em uma

conversaccedilatildeo informal explicou que perdeu a audiccedilatildeo com o tempo eacute oralizado24

e se

comunica com a comunidade na liacutengua nativa Satereacute-Maweacute Trata-se de um cidadatildeo calmo

fala apenas de suas necessidades visto que natildeo se manifesta muito devido suas limitaccedilotildees

auditivas que dificultam uma melhor compreensatildeo

Como referido o surdo em questatildeo tem surdez moderada Neste sentido observa-se

que a surdez ocorre de acordo com diferentes classificaccedilotildees quanto ao niacutevel de perda auditiva

Ou seja

Quanto ao grau - leve (perda de 26 a 40 dBNA) - moderada (perda de 41 a 55

dBNA) - moderadasevera (perda de 56 a 70 dBNA) - severa (perda de 71 a 90

dBNA) - profunda (a partir de 91 dBNA) (RUSSO e SANTOS 1988 apud

NADER 2011 p 2)

Retomando a histoacuteria do sujeito surdo em questatildeo observa-se que ele reside na zona

rural no Uiacurapaacute com seus parentes e sua sobrevivecircncia eacute atraveacutes do que planta e pesca

Observando-o percebo que o mesmo tem uma vida normal com seus pares o que falta para

uma interaccedilatildeo mais ativa na comunidade eacute estimulo e o incentivo linguiacutestico pois muitas

pessoas satildeo impacientes e acabam deixando-o isolado linguisticamente

4322 O segundo surdo

Eacute um indiacutegena natural de Ponta Alegre25

concluiu o ensino fundamental em uma

escola puacuteblica no municiacutepio de Parintins Sua surdez foi percebida por seus pais ainda

crianccedila causada por doenccedila congecircnita A famiacutelia mudou-se para o municiacutepio de Parintins em

busca de uma melhor educaccedilatildeo para filho surdo entretanto os pais eram usuaacuterios da Liacutengua

Satereacute-Maweacute mas natildeo mais praticam pela influecircncia da Liacutengua Portuguesa e tambeacutem natildeo 23 Rio que fica interliga com Rio Paranaacute do Ramos ndash Parintins (AZEVEDO 2014) 24

O modelo cliacutenico-terapecircutico baseia-se numa visatildeo patoloacutegica de surdez e num modelo individual de

atendimento aacute diversidade que tem como referecircncia o Oralismo O oralismo eacute uma filosofia educacional para

surdos cujo discurso propotildee a superaccedilatildeo da surdez e a aceitaccedilatildeo social do surdo por meio da oralizaccedilatildeo Em

outras palavras este modelo defende o aprendizado apenas da Liacutengua Portuguesa na sua modalidade oral e

escrita na escola por entender que esta eacute a uacutenica possibilidade de integrar o surdo na sociedade majoritaacuteria

ouvinte (SLOMSKI 2010 p 32) 25

A comunidade de Ponta Alegre situa-se no Rio Andiraacute com 4 horas de viagem de lancha para chegar a

comunidade (AZEVEDO 2014)

68

frequentam a comunidade Satereacute-Maweacute em busca de assistecircncia ou outros meios oferecidos

pela tribo Portanto a famiacutelia cresceu e disseminou deixando de lado a liacutengua nativa e

tradiccedilatildeo indiacutegena vivendo uma vida regular na zona urbana

O surdo hoje com 20 anos natildeo conhece a liacutengua nativa de sua comunidade se

comunica fluentemente com a Liacutengua de Sinais escreve o Portuguecircs e se oraliza na

comunicaccedilatildeo com seus pais que tambeacutem natildeo sabem a Liacutengua de Sinais

Atraveacutes de sua histoacuteria eacute possiacutevel perceber que este sujeito surdo por estudar em

escola inclusiva com forte influecircncia a oralista desenvolveu as duas linguas a Liacutengua

Brasileira de Sinais e a Liacutengua Portuguesa Poreacutem sua situaccedilatildeo eacute diferente de outros

indiacutegenas surdos que residem nas comunidades que usam os sinais caseiros para se

comunicarem Isso acaba sendo uma observaccedilatildeo abstrata da realidade entre os surdos que

moram na zona urbana e na comunidade Satereacute-Maweacute

4323 O terceiro surdo

Eacute uma crianccedila de 5 anos descendente da etnia Satereacute-Maweacute estuda em uma escola

filantroacutepica em Parintins Trata-se de uma aluna inteligente que demonstrava timidez na

presenccedila de pessoas estranhas Verificou-se que ela consegue aprender e identificar os objetos

apresentados para que identificasse Aos 4 anos antes de entrar para a escola utilizava alguns

sinais caseiros para se comunicar com seus familiares Na sala de aula o ensino oferecido a

ela eacute o biliacutengue26

tendo a Liacutengua Brasileira de Sinais e a Liacutengua Portuguesa compondo essa

educaccedilatildeo O ensino nessa instituiccedilatildeo vai ateacute a 5ordf serie Por esta razatildeo a aluna futuramente

precisaraacute ser transferida para uma escola de ensino fundamental

Tabela 2 11 Sinais caseiros utilizados pela crianccedila indiacutegena surda de 5 anos e seus

familiares

26

O Bilinguismo eacute uma filosofia de ensino cujo discurso propotildee a diversidade cultural e a aceitaccedilatildeo social do

surdo por meio do bilinguismo (duas liacutenguas Liacutengua de Sinais e segunda liacutengua) Essa filosofia concebe o surdo

como um ser diferente e a surdez como ldquoatributo humanordquo como uma caracteriacutestica da pessoa surda resultado

de uma deficiecircncia orgacircnica que natildeo se esgota nela mesma (SKLIAR 1997 apud SLOMSKI 2010 p 41)

SINAIS CASEIROS DESCRICcedilAtildeO

AacuteGUA Matildeo direita com o dedo polegar fazendo a expressatildeo de beber aacutegua

BRINCAR As duas matildeos fechadas batendo as pontas dos dedos em

movimento

BANHEIRO Matildeo direita mostra o local e a esquerda eacute posicionada na barriga

COMIDA As duas matildeos abrindo e fechando repetidamente proacuteximo da boca

DORMIR As duas matildeos com as palmas juntas encostar-se ao rosto com

expressatildeo de querer dormir

69

Fonte AZEVEDO (2014)

Figura 2 Sinais caseiros utilizado pela crianccedila de 5 anos

FOME Matildeo direita indo em direccedilatildeo da barriga fazendo expressatildeo facial de

fome

MAtildeE Matildeo direita aberta no rosto fazendo movimento nos dedos com

expressatildeo chamativa

IRMAtildeO Matildeo direita batendo no antebraccedilo para chamar atenccedilatildeo

PAI Matildeo direita com os dedos pegando o queixo

PESSOA Matildeo direita com dedo indicador fazendo expressatildeo de algueacutem

CHORAR As duas matildeos fechadas com os dorsos esfregando nos olhos

AacuteGUA BRINCAR

COMIDA DORMIR FOME

MAtildeE IRMAtildeO PAI

BANHEIRO

70

44 O indiacutegena surdo da Comunidade de Ponta Alegre do municiacutepio de Barreirinha

Foi localizado um aluno surdo na comunidade de Ponta Alegre que faz parte do

municiacutepio de Barreirinha trata-se de um jovem de 13 anos que estuda na Escola Municipal

Rosa Cabral e mora em uma aldeia mais distante a observaccedilatildeo foi feita na escola Nessa

viagem foi obtido a autorizaccedilatildeo de viagem para a aldeia na Secretaria de Educaccedilatildeo Municipal

de Barreirinha por meio do contato com o coordenador geral do setor indiacutegena daquela aacuterea

o senhor Santino Lopes que muito contribuiu com o projeto e de servir como guia de

viagem

O devido aluno estuda na 3ordf Serie do ensino fundamental De acordo com as

observaccedilotildees feitas O ensino predominante na sala para o ensino deste aluno eacute a Liacutengua

Portuguesa visto que os professores em sua maioria vem do municiacutepio de Barreirinha

Embora o ensino seja bem aplicado e a escola dispotildee de material didaacutetico apropriado para a

seacuterie natildeo haacute metodologia de ensino especializado para surdo natildeo existindo Sala de

Recursos27

O aluno aprende lentamente demonstrando dificuldades de entender os

conteuacutedos

A comunicaccedilatildeo com seus professores e colegas soacute acontecem atraveacutes de sinais

caseiros e expressotildees manuais O aluno surdo vive quase que isolado sem ter a possibilidade

de estabelecer uma comunicaccedilatildeo satisaftoacuteria dentro do contexto escolar devido ao

27

Uma das inovaccedilotildees trazidas pela Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Especial na Perspectiva da Educaccedilatildeo

Inclusiva (2008) eacute o Atendimento Educacional Especializado ndash AEE um serviccedilo da educaccedilatildeo especial que []

identifica elabora e organiza recursos pedagoacutegicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena

participaccedilatildeo dos alunos considerando suas necessidades especiacuteficas

O AEE complementa eou suplementa a formaccedilatildeo do aluno visando a sua autonomia na escola e fora dela

constituindo oferta obrigatoacuteria pelos sistemas de ensino Eacute realizado de preferecircncia nas escolas comuns em um

espaccedilo fiacutesico denominado Sala de Recursos Multifuncional Portanto eacute parte integrante do projeto poliacutetico

pedagoacutegico da escola (BRASIL 2008 p 3)

CHORAR PESSOA

71

preconceito existente Ateacute mesmo na proacutepria comunidade por natildeo entenderem e nem saberem

de que forma comunicarem-se com o mesmo a situaccedilatildeo de exclusatildeo se repete

Vale destacar que diante desta ausecircncia da qualidade de ensino para o aluno surdo a

professora Maria Inecircs ao responder um questionaacuterio segue algumas afirmativas para mudar

esta realidade Desta forma a educadora afirma que

- Eacute muito importante a capacitaccedilatildeo em cursos de libras e livros didaacuteticos proacuteprios

como forma de melhorar o ensino e a comunicaccedilatildeo com aluno surdo na

comunidade como parte da educaccedilatildeo inclusiva para facilitar o ensino e

aprendizado acima de tudo conhecer sua liacutengua materna identidade do povo

Satereacute-Maweacute

Pelo relato do Gestor da Escola Senhor Dulcemar a necessidade jaacute referida pela

educadora acima de materiais didaacuteticos para subsidiar o ensino eacute novamente colocada em

destaque conforme pode ser vislumbrado no relato transcito a seguir

- Eu como gestor sinto-me gratificado pelo trabalho a ser desenvolvido aqui com a

questatildeo da Libras um trabalho realizado pelo professor Marlon Jorge Pois eacute muito

importante devido agrave dificuldade que a educaccedilatildeo Satereacute- Maweacute vem tendo

principalmente quando se trata de alunos surdos indiacutegenas e ateacute mesmo por falta

de material didaacutetico Esse trabalho vai ser importante aqui na aacuterea indiacutegena para

ajudar o professor na sala de aula como ensinar como educar e como lidar com

esses alunos com necessidades especiais Entatildeo eacute um trabalho muito importante

pra noacutes e estamos aqui a disposiccedilatildeo e tambeacutem para contribuir como gestor da

escola juntamente com os professores e pra noacutes eacute muito bom esse trabalho e que o

Sr possa desenvolver esse seu projeto essa cartilha que com o aacutepice das aulas de

libras que com certeza vai fortalecer muito mais a educaccedilatildeo do povo Satereacute

Maweacuterdquo

Tabela 313 sinais caseiros coletados e utilizados pelo aluno da comunidade de Ponta Alegre

Fonte Azevedo (2014)

SINAIS CASEIROS DESCRICcedilAtildeO

AacuteGUA Usa as duas matildeos fazendo impressatildeo de beber alguma coisa

BARCO Usa-se a matildeo direita aberta em posiccedilatildeo vertical fazendo uma

expressatildeo da accedilatildeo do barco

BANHO Fazer a expressatildeo de pular na aacutegua com os braccedilos esticados

BANHEIRO Matildeo direita usando o indicador fazendo expressatildeo sair fora sala

COMIDA Matildeo esquerda aberta matildeo direita usando como o objeto metaacutelico

COBRA Usando os dedos da matildeo direita beliscando o pulso da matildeo esquerda

ESCOLA Faz-se o sinal de casa

ESTUDAR Faz a expressatildeo de escrever

FOME Matildeo direita levando em direccedilatildeo da barriga fazendo expressatildeo facial

de fome

FARINHA As duas matildeos palmas para baixo fazendo a expressatildeo de esfarelar

alguma coisa

LANCHA Usa a matildeo direita palma para cima fazendo uma accedilatildeo da rapidez

para frente

PEIXE Matildeo direita fazer a expressatildeo de caccedilar o peixe com o arpatildeo

PESSOA Matildeo direita com dedo indicador fazendo expressatildeo de algueacutem

72

Figura 3 Sinais caseiros utilizados pelo aluno da comunidade de Ponta alegre ndash

Barreirinha

AacuteGUA BARCO

BANHEIRO

BANHO

COMIDA

ESCOLA

FOME LANCHA PESCAR PEIXE

ESTUDAR FARINHA

COBRA

73

45 Os indiacutegenas surdos do Municiacutepio de Maueacutes

Situado entre os rios Madeira e Tapajoacutes o municiacutepio de Maueacutes estaacute localizado no

Meacutedio Amazonas que hoje eacute denominado como microrregiatildeo aacuterea leste do Estado Distante

de Manaus cerca de 30 km em linha reta ou o equivalente 45 minutos por via aeacuterea estando

a 356 km por via fluvial cerce de 16 a 18 horas de barco

Nesse municiacutepio foi realizado duas viagens com a finalidade de fazer um mapeamento

das aacutereas indiacutegenas bem como descobrir a existecircncia de surdos nas aldeias O primeiro

contato foi na Secretaria de Educaccedilatildeo do municiacutepio primeiramente me apresentado como

aluno pesquisador juntamente com os documentos comprobatoacuterios de acesso para realizar a

pesquisa nas aacutereas indiacutegenas As informaccedilotildees que tinha antes de estabelecer o contato

apontavam para a existecircncia de alunos indiacutegenas surdos matriculados na sede do municiacutepio

Poreacutem a secretaria informou desconhecer a existecircncia de alunos indiacutegenas matriculados na

rede publica do municiacutepio nem saber sua localizaccedilatildeo para contatos sendo orientado a

procurar na Casa do Estudante Indiacutegena Satereacute-Maweacute que se localiza em um bairro mais

distante dali

Chegando ao SESAI - Secretaria de Sauacutede Indiacutegena obtivemos acesso agraves informaccedilotildees

devido ao fato de que a pessoa responsaacutevel estava em viagem sendo que retornaria na outra

semana Em outra busca formos agrave Casa do Estudante Satereacute-Maweacute onde conversamos com o

coordenador Sr Jusivam que disse saber da existecircncia de indiacutegenas surdos nas comunidades

na Marau e Andiraacute mas natildeo ter dados quantitativos devido ao fato deles natildeo terem procurado

a Casa do Estudante em busca de assistecircncia que auxiliassem sua integraccedilatildeo em escolas

regulares ou inclusivas Observa-se que a Casa do Estudante podia auxiliar eles a

conseguirem uma escola para estudarem na zona urbana jaacute que esta eacute uma das atribuiccedilotildees da

instituiccedilatildeo

Ao sermos informados que as comunidades onde havia surdos eram distantes e

necessitava de apresentar outros documentos da Coordenaccedilatildeo Geral de Educaccedilatildeo que ficava

no municiacutepio de Barreirinha Tambeacutem se fazia necessaacuterio preparar uma programaccedilatildeo de

viagem para que pudessemos chegar ateacute aquela localidade de modo que nesta precisava

inclusive organizar para ter inteacuterpretes que falassem a liacutengua Satereacute-Maweacute e inteacuterpretes de

Libras Aleacutem destes precisava contar com um acompanhante para registrar as imagens e

filmagens se autorizadas anotando tudo que fosse necessaacuterio

Fazendo uma reflexatildeo sobre a viagem e os entraves que tinhamos pela frente para a

concretizaccedilatildeo do projeto e as distacircncias geograacuteficas para alcanccedilar os objetivos da pesquisa

74

Contudo ao encontrar um surdo indiacutegena sendo o principal objeto da pesquisa em funccedilatildeo da

grande satisfaccedilatildeo de poder contribuir para o desenvolvimento linguiacutestico dos indiacutegenas surdos

e para que a comunidade compreenda como um ser incluiacutedo a partir do respeito a sua cultura

inserindo em seus modos e haacutebitos foi compensador enfrentamos todos os obstaacuteculos

Visitamos a Universidade do Estado do Amazonas ndash UEA onde tivemos a grata

surpresa de saber que havia uma turma de formaccedilatildeo em licenciatura Indiacutegena para a

comunidade Esperamos a aula acabar para falar com o professor o qual pediu para vir outro

dia para conversar com os alunos Foi nessa ocasiatildeo que conhecemos trecircs professores com os

quais fizemos um acordo para que na proacutexima viagem me levassem para a aldeia a fim de

realizar o mapeamento

Voltando para Parintins foi elaborado um roteiro para viagem a aacuterea indiacutegena Satereacute-

Maweacute pelos rios Maueacutes-Accedilu Rio MarauUrupadi A viagem aconteceu no dia 02 de

fevereiro de 2014 saindo de barco de Parintins indo ateacute o municiacutepio de Maueacutes No dia

seguinte as 8 horas acompanhado do professor Jesiel pegamos uma voadeira de 150HP com

destino ao territoacuterio Satereacute-Maweacute Foi uma viagem perigosa devido agraves condiccedilotildees dos rios e de

difiacutecil acesso para chegarmos laacute Todavia fizemos um esforccedilo e conseguimos nos deslocar ateacute

a comunidade Percorremos de voadeira uma viagem que durou aproximadamente 8 horas

pelo Rio Maueacutes Accediluacute Depois de uma hora e meia de viagem chegamos ao Rio Urupadi e

seguimos mais uma hora e meia de viagem ateacute a comunidade indiacutegena Vale do Quiinha

Nessa aldeia pegamos o professor Jacob Santos de Souza que nos acompanhou para a

proacutexima aldeia Ilha Michiles que fica no Rio Marau Nessa aldeia pegamos outro professor

Satereacute-Maweacute Jocimar Alencar dos Santos Saiacutemos da Ilha Michiles com destino a

comunidade Santa Maria que fica na divisa do Rio Urupadi e Manjuru A cada visita que

faziamos nas comunidades indiacutegenas percebemos no cotidiano a diversidade presente nas

aacutereas indiacutegenas Satereacute-Maweacute Ao perguntar se havia algueacutem surdo na famiacutelia e a resposta

sempre vinha de forma afirmativa o que me demonstrou que todos os esforccedilos para realizar a

viagem foram compensados diante da riqueza de dados coletados

A primeira iniciativa adotada com relaccedilatildeo a esse momento foi reunir com os

comunitaacuterios envolvidos nas atividades escolares A reuniatildeo teve como objetivo observar e

entrevistar alguns indiacutegenas para posteriormente analisar como se procede agrave comunicaccedilatildeo

entre indiacutegenas surdos e ouvintes A reuniatildeo foi muito uacutetil para os estudos e anaacutelise de

informaccedilotildees Os surdos existentes na comunidade nunca estudaram devido agrave comunidade

Santa Maria ficar distante da zona urbana e a escola existente para alunos ouvintes ficar em

75

outra comunidade o que inviabiliza a ida deles sendo que tambeacutem natildeo haacute professores

especializados para atenderem a clientela surda existente no Rio Marau

Encontramos dois indiacutegenas surdos na comunidade de Santa Maria que foram objeto

de estudos No entanto houve informaccedilotildees repassadas de que haacute outros trecircs surdos em outras

comunidades mais distante na mesma aacuterea Satereacute-Maweacute A visita para contactar estes outros

trecircs surdos ficou para a proacutexima viagem de observaccedilatildeo e coleta dos dados

451 O primeiro surdo da Comunidade de Santa Maria

No contato e observaccedilatildeo que tivemos com o surdo o mais novo tem 24 anos mora

com a famiacutelia natildeo conhece nenhuma liacutengua se comunica com gestos e sinais caseiros A

comunidade assim com a famiacutelia demosntrou pouco se importar com ele de forma que natildeo

haacute estiacutemulo ou interesse para que haja uma interaccedilatildeo linguiacutestica satisfatoacuteria entre eles

O ponto de encontro com seus colegas fica na parte central da comunidade que tem

um campo de futebol Laacute eles se concentram embaixo de uma aacutervore Neste lugar o surdo

costuma ficar quase diariamente com intuito de se unir e brincar com os colegas Ele usa os

sinais caseiros com expressotildees com a intenccedilatildeo de conseguir se comunicar com os colegas

Poreacutem alguns natildeo conseguem entender enquanto outros falam a Liacutengua Satereacute-Maweacute

Apesar do esforccedilo do surdo de tentar compreender o que eacute falado via a leitura labial na

maioria das vezes natildeo consegue compreender Poreacutem mesmo assim sinaliza balanccedilando a

cabeccedila com expressatildeo de concordacircncia afirmativa mesmo natildeo entendendo a mensagem

Tabela 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa

Maria

SINAIS CASEIROS

COLETADOS

DESCRICcedilAtildeO

AacuteGUARIO Usam-se as duas matildeos fazendo a expressatildeo de banzeiro

ANTA Matildeo direita fazendo a expressatildeo do focinho do nariz

AacuteRVORE As matildeos abertas fazendo expressatildeo de segurar o troco ao mesmo tempo

levando para cima

BARCO Usa a matildeo direita fechada fazendo expressatildeo de abrir e fechar a matildeo

como sinal de fumaccedila

BANHO Fazer a expressatildeo de pular na aacutegua com os braccedilos esticados

CASA As duas matildeos palmas para baixo fazendo um balanccedilo de movimento de

uma rede

CACcedilAR PEIXE Matildeo direita fazer expressatildeo de soltar o arpatildeo

CUIA As duas matildeos juntas fazer a expressatildeo de raspar a cuia

COCO Fazer a expressatildeo de tirar o coco com a vara

COMIDA As duas matildeos levando ateacute a boca

76

Fonte Azevedo (2014)

Figura 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa Maria

(30 sinais coletados)

COBRA Matildeo direita fazendo a expressatildeo da picada da cobra

FACA Matildeo direita fachada fazendo a expressatildeo de furar alguma coisa para

baixo

FLECHA Fazer a expressatildeo de jogar a flecha

FORMIGA Matildeo direita com os dedos beliscando o braccedilo esquerdo

FOME Matildeo direita levando em direccedilatildeo da barriga fazendo expressatildeo facial de

fome

FARINHA As duas matildeos fazer a expressatildeo de fazer farinha

GUARANAacute Fazer a expressatildeo de ralar o guaranaacute

JACAREacute Os dois indicadores das matildeos fazendo expressatildeo de dentes grandes do

jacareacute

LANCHA As duas matildeos dedos juntos fazer a expressatildeo de uma accedilatildeo raacutepida para

frente

MACACO Com braccedilos abertos fazer a expressatildeo de macaco

MALOCA As duas matildeos com os dedos encostados puxar para os lados opostos

MANDIOCA Fazer expressatildeo de descascar algum

ONCcedilA Com as matildeos fazer pintas no rosto

PAI As duas matildeos esfregando os indicadores

PEIXE Faz se expressatildeo de descamar o peixe

PILAtildeO As duas matildeos juntas fazendo a expressatildeo de socar a crueira

POTE AacuteGUA As duas matildeos juntas palmas para cima elevando para cima em curvas

onduladas

PASSAacuteRO As duas matildeos fazendo o movimento de paacutessaro

PESSOA Matildeo direita fazendo a expressatildeo de pegar no cabelo

TIPITI As duas matildeos fazendo a expressatildeo de espremer algum

PENEIRAR As duas matildeos em forma letra A fazer expressatildeo de balanccedilar o objeto

AacuteGUA ANTA AacuteRVORE

VIAGEM BANHO

77

VIAJAR

CASA CACcedilAR ALIMENTO CUIA

COCO COMIDA

FACA

FARINHA

FORMIGA

GUARANAacute

FOME

FACA

FLECHA

78

JACAREacute LANCHA

MACACO

MANDIOCA ONCcedilA

MALOCA PAI

POTE DE AacuteGUA PILAtildeO

LANCHA JACAREacute

PEIXE

79

452 O segundo surdo da Comunidade de Santa Maria

O segundo surdo visitado um senhor adulto com identidade natildeo revelada residindo na

Comunidade de Santa Maria Eacute um cidadatildeo reservado e fechado para desconhecidos Como

nossa equipe era composta de 05 profissionais sendo 03 (trecircs) professores indiacutegenas que me

acompanharam para serem facilitadores linguiacutesticos e um colaborador local para captar as

imagens ficarmos 04 (quatro) dias na comunidade para observaccedilotildees Apesar do tempo o

investido para conseguir o contato o mesmo se mostrou irredutiacutevel e natildeo se dispos a

conversar conosco Observa-se que mora sozinha e eacute raro ele se manifestar na comunidade

Pela histoacuteria contada a seu respeito apesar de natildeo se comunicar manteacutem sua residecircncia de

maneira organizada cultiva de algumas plantaccedilotildees como mandioca banana guaranaacute aleacutem de

produzir farinha tambeacutem faz pescaria para se alimentar Foi relatado que ajuda alguns

vizinhos e amigos com o que produz aleacutem de ser experiecircncia em matildeo de obra na confecccedilatildeo

de trepadeira silvestre que facilita subir nas aacutervores coqueiros e accedilaizeiros

PASSAacuteRO PESSOA COBRA

TIPITI PENEIRAR

80

Sobre o contexto educacional tendo como tema central a educaccedilatildeo escolar indiacutegena

o professor Jesiel (2014)28

(que eacute indiacutegena e concluiu o curso de pedagogia intercultural na

Universidade do Estado do Amazonas localizado no municiacutepio de Maueacutes) argumentou que o

territoacuterio Satereacute-Maweacute eacute muito grande sendo longa a distacircncia para se chegar na zona

urbana ateacute de forma que mesmo o deslocamento de uma comunidade para outra dificulta os

indiacutegenas irem para a escola Estas segundo o educador referido satildeo algumas razotildees que

impedem muitos indiacutegenas de estudarem na medida em que acarreta prejuiacutezo para a famiacutelia

especialmente de perda de tempo principalmente para os adultos que tem compromisso no

campo e com a comunidade

Para solucionar este problema devido a distacircncia as famiacutelias e os liacutederes indiacutegenas

possuem propostas e lutas para a construccedilatildeo de escolas nas aldeias o que facilitaria o acesso

dos surdos indiacutegenas da comunidade na escola E ao considerar que o indiacutegena surdo

compreende e se comunica com seus pares atraveacutes de gestos e sinais caseiros de forma que

aleacutem de sua liacutengua nativa haacute outros meios para que o surdo possa se comunicar isso aponta

para a necessidade da criaccedilatildeo de propostas de acesso agrave educaccedilatildeo dessas pessoas Dessa

maneira foram catalogados alguns sinais utilizados por esse surdo adulto da Comunidade de

Santa Maria apresentado abaixo

Tabela 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais antigo residente isolado na

comunidade de Santa Maria no Rio Marau ( 18 sinais coletados)

28

As famiacutelias e os liacutederes indiacutegenas possuem propostas e lutas para a construccedilatildeo de escolas nas aldeias para a

facilitaccedilatildeo do acesso dos surdos indiacutegenas na comunidade e na escola O indiacutegena surdo apesar de natildeo ouvir

compreende e comunica com seus pares atraveacutes de gestos e sinais caseiros que aleacutem de sua liacutengua nativa haacute

outros meios para que o surdo possa se comunicar Isso contribui para a criaccedilatildeo de propostas de acesso agrave

educaccedilatildeo dessas pessoas Dessa maneira foram catalogados alguns sinais utilizados por esse surdo adulto da

Comunidade de Santa Maria apresentado abaixo

A contribuiccedilatildeo do professor indiacutegena Jesiel Santos foi de suma importacircncia para a coleta de dados nesta

pesquisa visto que atraveacutes dele que conseguimos chegar ateacute a comunidade de Santa Maria afim de termos os

contatos na comunidade

SINAIS CASEIROS DESCRICcedilAtildeO

ARCOFECHA As duas matildeos com expressatildeo de utilizar um arco com flecha

AacuteGUA Matildeo direita com utilizando somente o dedo polegar fazer a expressatildeo de

beber algum

BANHO Os braccedilos e matildeos esticadas fazer a expressatildeo de se soltar no rio

BEIJU As duas matildeos fazendo um circulo e em seguida levar ateacute a boca

CIGARRO A posiccedilatildeo para traduzir este sinal satildeo as duas matildeos em posiccedilatildeo dos dedos

polegar e indicador juntos fazendo expressatildeo de fazer um cigarro caseiro

CASA As duas matildeos com os dedos esticados fazer a expressatildeo de formato de uma

casa

COBRA A matildeo direita com os dedos indicador e polegar encostados fazer a expressatildeo

de beliscar o pulso de antebraccedilo

FARINHA Matildeos com os dedos todos juntos fazer a expressatildeo com o movimento de

81

Figura 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo idoso na comunidade de Santa Maria

soltar a farinha

FORNO DE ASSAR Matildeo direita fazendo um semiciacuterculo de com a caracteriacutestica de um forno de

barro

GARREIRA As duas matildeos juntas fazer a expressatildeo repetidamente de amassar uma massa

JACAREacute As duas matildeos pegando os dentes

LUVA DA TUCANDEIRA Fazendo a expressatildeo de usar uma luva de palha e fazer a expressatildeo de dor da

ferrada da tucandeira

MANDIOCA Usar o antebraccedilo esquerdo com a matildeo direita como um material cortante

fazendo a expressatildeo de descascar

MACACO Os dois braccedilos e corpo fazendo a expressatildeo do movimento caracteriacutestico do

macaco

PAJEacute As duas matildeos fazendo a expressatildeo de segurar algum e balanccedilar

PAacuteSSARO Fazer a expressatildeo de balanccedilar os braccedilos caracterizando o movimento de um

paacutessaro

TIPITI As duas matildeos fazendo o movimento de espremer a mandioca

TERRASOLO Matildeo direita fazendo expressatildeo de um pequeno monte de terra

ARCOFECHA BEBER

LIacuteQUIDOAacuteGUA

BEIJUCOMER COBRA

FARINHA FERRADA DA TUCANDEIRA MALOCACASA ESCOLA

ARCOFLECHA BEBER LIQUIDOAacuteGUA BANHOPULAR NA AacuteGUA

AacuteAacuteGUA

CIGARRO

82

FORNO DE ASSAR

JACAREacute

LUVA DA TUCANDEIRA MACACO

PAJEacute

TIPITI TERRA

GAREIRA

MANDIOCA

PAacuteSSARO

(( ))

JACAREacute

83

5 ICONICIDADE E ARBITRARIEDADE NA CRIACcedilAtildeO DOS SINAIS CASEIROS

Nos anos 60 a partir dos trabalhos de Stokoe (1960) foi comprovado que as Liacutenguas

de Sinais satildeo linguas Estas satildeo liacutenguas naturais com ldquoestrutura gramatical proacutepria em seus

niacuteveis fonoloacutegico (ou queroloacutegico) morfoloacutegico sintaacutetico e semacircntico aleacutem de seus aspectos

pragmaacuteticosrdquo

De acordo com Quadros (2006 p 221)

pelo fato de as liacutenguas de sinais natildeo serem faladas e de natildeo terem o seu coacutedigo

escrito ainda popularizado entre os surdos natildeo as elimina das consideraccedilotildees

cientiacuteficas visto que apresentam uma organizaccedilatildeo estrutural e fazem parte da

constituiccedilatildeo cultural desses sujeitos ndash crescendo envolvendo e transmitindo

dinamicamente tradiccedilotildees socioculturais Portanto as liacutenguas de sinais fazem parte

do conjunto da linguagem humana com a diferenccedila de se apresentarem em uma

terceira modalidade a visuo-espacial

Reiterando-se que a Liacutengua de Sinais eacute uma liacutengua natural uma vez que estaacute veiculada

a um canal que natildeo eacute o oral-auditivo e sim visual esta garante uma percepccedilatildeo e articulaccedilatildeo

mais faacutecil mais coerente e confortaacutevel aleacutem de contribuir para o desenvolvimento linguiacutestico

cognitivo e social do surdo

Sobre as caracteristicas linguiacutesticas das Liacutenguas de Sinais vale ressaltar que Sousa

(2010) ao tratar dos aspectos visuais quanto agraves propriedades das Liacutenguas de Sinais enfatiza a

iconicidade e arbitrariedade relacionada ao signo linguiacutestico que satildeo inerentes agraves liacutenguas

naturais Sobre as definiccedilotildees dos fenocircmenos das liacutenguas estes remontam a eacutepoca de Platatildeo

filoacutesofo grego que tratava os fenocircmenos sobre a linguagem e a relaccedilatildeo dela com o mundo

Cita-se tambeacutem Craacutetilo Hermoacutegenes e Soacutecrates que foram interlocutores desta relaccedilatildeo

discutindo a ligaccedilatildeo existente entre nome ideia e coisa A abordagem dos trecircs se diferenciava

de forma que Craacutetilo defendia o conceito de iconicidade Hermoacutegenes de arbitrariedade

Soacutecrates por seu turno integrava as duas concepccedilotildees Esta diferenciaccedilatildeo tecido pelos trecircs

filosofos pode ser vislumbrada no trecho transcrito abaixo

Para Craacutetilo a liacutengua eacute o espelho do mundo o que significa que existe uma relaccedilatildeo

natural e portanto similar ou icocircnica entre os elementos da liacutengua e os seres por

eles representados Para Hermoacutegenes a liacutengua eacute arbitraacuteria isto eacute convencional pois

entre o nome e as ideias ou as coisas designadas natildeo haacute transparecircncias ou

similaridade Soacutecrates por sua vez tem o papel de fazer a integraccedilatildeo entre os dois

pontos de vista (WILSON amp MARTELOTTA 2010 apud SOUSA 2010 p 4)

84

A modalidade gestual-visual espacial pela qual a Liacutengua de Sinais eacute produzida e

reconhecida pela comunidade Surda leva muitas vezes as pessoas a pensarem que todos os

sinais satildeo desenho no ar do referente que representam Para melhor esclarecimento por

decorecircncia de sua natureza linguiacutestica a realizaccedilatildeo de um sinal pode sim ser motivada pelas

caracteriacutesticas do dado da realidade a que se refere poreacutem natildeo eacute regra Ou seja a maioria dos

sinais da LIBRAS eacute arbitraacuteria natildeo mantendo relaccedilatildeo de semelhanccedila alguma com seu

referente Portanto essa condiccedilatildeo possibilita o enriquecimento da flexibilidade e versatilidade

da liacutengua (BASSO 2011 p47)

Exemplos de sinais arbitraacuterios

Figura 6 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos que se refere agrave

arbitrariedade

BISCOITO PESSOA DESCULPA

Fonte Azevedo (2014)

A ideia de arbitrariedade da liacutengua se relaciona com a ideia de convenccedilatildeo que se

efetiva em todas as liacutenguas como Liacutengua de Sinais e na Liacutengua Portuguesa ilustra-se o

processo com os exemplos das palavras ldquobiscoitordquo ldquodesculperdquo e ldquopessoardquo O processo de

definiccedilatildeo destes termos ocorre de forma arbitraacuteria pois soacute nomes foram atribuiacutedos devido a

uma convenccedilatildeo que estabelece esse conceito e natildeo porque haacute uma relaccedilatildeo entre o som da

palavra e o objeto que ela designa (SALLES 2007 p 5)

No caso da Libras os exemplos citados de sinais foram criados sem sofrer influecircncia

da imagem dos objetos aos quais eles se referem O que mostra que mesmo que a Libras

tambeacutem apresenta a caracteriacutestica de arbitraacuterios (TEIXEIRA 2015 p 5)

Para compreender melhor a importacircncia da visualidade na Liacutengua de Sinais dos

Satereacute-Maweacute eacute relevante entender trecircs conceitos da teoria de Pierce sobre a iconicidade que

pode ser considerada a base dos sinais dessa comunidade os quais satildeoo siacutembolo o iacutendice e o

iacutecone Segundo Martelotta (2011) (apud TEIXEIRA 2015 p 2)

85

O siacutembolo de acordo com Peirce refere-se a determinado objeto representando-o

com base em uma lei haacutebito ou convenccedilatildeo estabelecendo uma relaccedilatildeo entre dois

elementos Para citar alguns exemplos a cruz eacute o siacutembolo do cristianismo e a

balanccedila o siacutembolo da justiccedila Uma caracteriacutestica importante do siacutembolo relaciona-se

ao fato de que ele eacute parcialmente motivado ou seja haacute entre o siacutembolo e o conteuacutedo

simbolizado alguns traccedilos relacionados ao objeto

Haacute uma diferenccedila fundamental entre o siacutembolo de um lado e o iacutendice e o iacutecone de

outro jaacute que nesses dois uacuteltimos haacute um niacutevel ainda menor de arbitrariedade No caso

do iacutendice ocorre uma relaccedilatildeo de contiguidade com a realidade exterior a fumaccedila

por exemplo eacute o iacutendice do fogo e a presenccedila de nuvens negras o iacutendice de chuva

iminente

O iacutecone por sua vez tem uma natureza imagiacutestica apresentando portanto

propriedades que se assemelham ao objeto a que se refere A fotografia de um

indiviacuteduo por exemplo eacute uma representaccedilatildeo icocircnica desse indiviacuteduo assim como o

mapa do Rio de Janeiro representa a cidade Assim um iacutecone eacute qualquer coisa que

seja utilizada para designar algo que lhe seja semelhante em algum aspecto

Nesta perspectiva Quadros (1997) traz a reflexatildeo sobre os efeitos da modalidade ou

seja o fato de a Liacutengua de Sinais serem visuoespacial em vez de auditiva-oral implica nas

diferenccedilas para a aquisiccedilatildeo do surdo e nesse sentido tem-se a questatildeo da iconicidade das

Liacutenguas de Sinais uma vez que a iconicidade se refere

A transparecircncia entre significado e o significante ou seja a relaccedilatildeo de identidade

entre a palavra (o sinal) e o seu sentido Por exemplo nas liacutenguas faladas agraves

onomatopeias satildeo consideradas por alguns autores como icocircnicas pois a produccedilatildeo

sonora bdquoreal‟ (do objeto ou do animal) eacute reproduzida na fala expressando certa

identidade (QUADROS 2011 p 22)

Vale ressaltar que a iconicidade vem sendo estudada a partir da pesquisa semioacutetica de

Charles Sanders Peirce (1999) filoacutesofo norte-americano contemporacircneo de Saussure

Segundo Teixeira (2015) Peirce em seus estudos sobre a Semioacutetica o signo tem a funccedilatildeo de

proporcionar uma ideia do mundo e tudo que cerca o indiviacuteduo estaacute rodeado de signos Como

explica o filoacutesofo

[] para que algo possa ser um Signo (expressatildeo ou representamento) esse algo

deve bdquorepresentar‟ [] alguma outra coisa chamada seu Objeto apesar de ser talvez

arbitraacuteria a condiccedilatildeo segundo a qual um Signo deve ser algo distinto de seu objeto

(PEIRCE 1999 apud TEIXEIRA 2015 p 5)

Ao direcionar essas definiccedilotildees para agraves liacutenguas de sinais Sousa (2010) afirma que

muitas vezes essas liacutenguas satildeo consideradas puramente icocircnicas por serem de uma

modalidade diferente acreditando-se acredita que os sinais satildeo criados sempre a partir da

86

representaccedilatildeo do referente Eacute certo que um sinal pode ser realizado de acordo com a

caracteriacutestica daquilo que se refere mas de acordo com Strobel amp Fernandes (1998 apud

Sousa 2010 p 4) ldquoisto natildeo eacute uma regra jaacute que a maioria dos sinais em Libras eacute arbitraacuterio ou

seja natildeo manteacutem uma relaccedilatildeo de similitude com o referenterdquo

Reconhece-se que algumas Liacutenguas de Sinais parecem ter maior motivaccedilatildeo icocircnica

apresentando relaccedilotildees entre a sua forma e o seu significado comumente observado nas

Liacutenguas de Sinais caseiras dos Satereacute-Maweacute Isso significa a relaccedilatildeo entre o referente e o

referenciado Alguns estudos como os de Meier (1981) citado por Lillo-Martin (1986)

apontam para uma aparente iconicidade nas liacutenguas de sinais o que justifica considerar as

variaccedilotildees regionais e sociais e as mudanccedilas histoacutericas como fenocircmenos identificaacuteveis na

Liacutengua Brasileira de Sinais o que lhe confere o caraacuteter natural (STROBEL amp FERNANDES

1998 apud SOUSA 2010)

Nesse contexto a iconicidade como caracteriacutesticas semelhantes ao iacutecone tem em

comum o objeto que representa Por ser uma liacutengua de modalidade visuoespacial a

iconicidade estaacute presente em grande parte dos sinais da Libras pois a relaccedilatildeo entre a ldquoformardquo

e o ldquosentidordquo eacute mais visiacutevel Salles (2007) em bdquoEnsino de liacutengua portuguesa para surdos

caminhos para a praacutetica pedagoacutegica‟ comenta

Um aspecto que se sobressai no contraste entre as modalidades viacutesuo-espacial e oral-

auditiva eacute a questatildeo da arbitrariedade do signo linguiacutestico Esse conceito estabelece

que na constituiccedilatildeo do signo linguiacutestico a relaccedilatildeo entre o significante (imagem

acuacutestico-focircnica) e o significado eacute arbitraacuteria isto eacute natildeo existe nada na forma do

significante que seja motivado pelas propriedades da substacircncia do conteuacutedo

(significado) Uma caracteriacutestica das liacutenguas de sinais eacute que diferentemente das

liacutenguas orais muitos sinais tecircm forte motivaccedilatildeo icocircnica Natildeo eacute difiacutecil supor que esse

contraste se explique pela natureza do canal perceptual na modalidade viacutesuo-

espacial a articulaccedilatildeo das unidades da substacircncia gestual (significante) permite a

representaccedilatildeo icocircnica de traccedilos semacircnticos do referente (significado) o que explica

que muitos sinais reproduzam imagens do referente na modalidade oral-auditiva a

articulaccedilatildeo das unidades da substacircncia sonora (significante) produz sequecircncias que

em nada evocam os traccedilos semacircnticos do referente (significado) o que explica o

caraacuteter imotivado ou arbitraacuterio do signo linguiacutestico nas liacutenguas orais (SALLES

2007 p 83)

Todavia os mesmos sinais icocircnicos possuem um grau de arbitrariedade na definiccedilatildeo

dos mesmos como explica Frydrych (2012)

Pode haver contudo sinais com diferentes graus de iconicidade Um sinal pode natildeo

se assemelhar ao objeto que representa pela forma mas apresentar de alguma

forma uma similaridade por meio de expressotildees faciais ou movimentos Um

exemplo eacute o sinal ldquotristerdquo que possui como configuraccedilatildeo de matildeo o sinal Y

localizada abaixo do queixo em movimento de meia lua O sinal nada tem a ver

com o que a palavra representa no entanto a expressatildeo facial de tristeza que

acompanha o sinal daacute indiacutecios de que seu significado pode natildeo ser muito agradaacutevel

87

[] Falar de sinais icocircnicos em Libras pode parecer comum no entanto o sinal de

ldquocasardquo por exemplo motivado pelo formato do telhado de uma casa eacute tambeacutem

usado para o sinal de ldquomorarrdquo que pode ser usado para ldquomoradiardquo em diferentes

formatos de residecircncia como por exemplo casa apartamento cabana etc Embora o

sinal possa ter sido motivado na sua criaccedilatildeo por um tipo de casa passou a ser usado

de forma muito mais abrangente Sendo isto muito comum nas liacutenguas de sinais Os

sinais passam a ser signos linguiacutesticos altamente arbitraacuterios e passam a integrar o

leacutexico da liacutengua (Apud PIVETTA et al 2013 p8)

Como tambeacutem salienta Silva (2012) que ao passar do tempo o sinal icocircnico perde sua

motivaccedilatildeo inicial passando a ser arbitraacuterio

[] a transparecircncia eacute relativa porque a forma dos objetos ou movimentos que

originaram o sinal pode variar no tempo perdendo a sua motivaccedilatildeo inicial Um

exemplo eacute o sinal ldquoleiterdquo que faz referecircncia ao ato de ordenha que hoje ainda pode

ser considerado um sinal icocircnico Todavia para as futuras geraccedilotildees a motivaccedilatildeo de

sua representaccedilatildeo tende a se tornar uma convenccedilatildeo o que faz com que o sinal passe

a ser arbitraacuterio e de valor simboacutelico Sinais como o de ldquoleiterdquo satildeo frutos de um

processo histoacuterico e com o passar do tempo natildeo representam mais os artefatos e

procedimentos atuais sendo percebidos e interpretados apenas por meio da

arbitrariedade e da convenccedilatildeo(Apud PIVETTA et al 2013 p8)

A seguir temos alguns exemplos de sinais icocircnicos na Libras satildeo os sinais ldquoaacutervorerdquo

ldquocadeirardquo ldquocasardquo constituiacutedos a partir de caracteriacutesticas da imagem dos objetos aos quais se

referem Enquanto o primeiro lembra a imagem do tronco e das folhas de uma aacutervore o

segundo lembra as pernas de uma pessoa representadas pelos dedos indicador e meacutedio e a

terceira lembra a imagem de um telhado ou de uma casa sentada no objeto em questatildeo

(SALLES 2007 p 83)

Figura 7 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos aos quais se referem a

iconicidade

Fonte Azevedo (2014)

AacuteRVORE CADEIRA CASA

88

Figura 8 Caracteriacutesticas da imagem em Liacutengua de Sinais Satereacute-Maweacute dos objetos aos

quais se referem agrave iconicidade

Yara Wato Barco Libras

Fonte Azevedo (2014)

Man Beiju Libras

Fonte Azevedo (2014)

Kamunti hit Bilha Libras

Fonte Azevedo (2014)

89

Dessa maneira podem-se definir os sinais icocircnicos como aqueles que fazem alusatildeo agrave

imagem do seu significado natildeo implicando que todos os sinais satildeo iguais ou sinais icocircnicos

em todas as Liacutengua de Sinais cada grupo social absorve aspectos diferentes da imagem do

referente convencionando a representaccedilatildeo do sinal Os signos arbitraacuterios satildeo os que natildeo

trazem nenhuma relaccedilatildeo de semelhanccedila com o referente

90

6 INTERVENCcedilAtildeO E CONTRIBUICcedilAtildeO LINGUIacuteSTICA DO PROFESSOR SURDO

Os estudos sobre a educaccedilatildeo sistemaacutetica dos indiacutegenas surdos da etnia Satereacute-Maweacute

levaram agrave percepccedilatildeo da necessidade iminente de uma atuaccedilatildeo no processo ensino

aprendizagem desses sujeitos Desse modo apoacutes conhecer a realidade linguiacutestica e

educacional dos indiacutegenas surdos observados nas aldeias e na zona urbana de Parintins foi

possiacutevel intervir por meio do ensino da Liacutengua Brasileira de Sinais A intervenccedilatildeo foi feita

com o consentimento dos responsaacuteveis locais onde se faziam presentes acompanhando o

objeto da pesquisa - os indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute

Assim com a autorizaccedilatildeo da famiacutelia o primeiro contato foi estabelecido entre uma

crianccedila surda indiacutegena com professor tambeacutem surdo que ocorreu na residecircncia dela na zona

urbana do municiacutepio de Parintins cujo registro de imagem consta na Figura 9

Figura 9 Encontro da crianccedila surda Satereacute-Maweacute com o professor surdo

Fonte Azevedo (2014)

No contato foi possiacutevel verificar que a crianccedila natildeo conhecia a liacutengua Libras Sua

forma de comunicaccedilatildeo era com o uso dos siacutembolos ldquocaseirosrdquo Contudo ela respondeu ao

estiacutemulo de conversaccedilatildeo com muita facilidade buscando fazer a comunicaccedilatildeo As demais

observaccedilotildees e intervenccedilatildeo deram-se no ambiente educacional na Escola de Aacuteudio e

Comunicaccedilatildeo Padre Paulo Manna (Figura 10) Nesse contexto a crianccedila acompanhava com

atenccedilatildeo ao desempenho dos demais pares sempre atenta para compreensatildeo do conteuacutedo

comunicativo Ficou evidente a necessidade de um material de suporte escrito como recurso a

ser utilizado pelos docentes no processo ensino e aprendizagem

91

Figura 10 Contato com aluno Satereacute-Maweacute surdo no ambiente escolar

Fonte ndash Azevedo (2014)

Ocorreu tambeacutem o contato com o aluno surdo da Etnia Satereacute-Maweacute matriculado na

Escola Estadual Brandatildeo de Amorim em Parintins o qual foi feito em sua residecircncia dele A

conversa com ele foi feita fluentemente em Libras (Figura 10) Entretanto ao ser indagado

sobre a cultura a liacutengua falada de sua etnia natildeo soube responder Comprovou-se que o aluno

natildeo participa do contexto cultural da etnia por isso natildeo a conhece Por tal considera-se que o

material triliacutengue seria um recurso apropriado para promover o reconhecimento de muitos

signos que fazem parte da Liacutengua Satereacute-Maweacute

Figura 11 Contato com o aluno surdo Satereacute-Maweacute na Escola Estadual Brandatildeo de Amorim

Fonte ndash Azevedo (2014)

O contato com os familiares juntamente com professores indiacutegenas e inteacuterprete

linguiacutestica possibilitou ter uma visatildeo sobre o contexto comunicativo do indiacutegena surdo A

conversa com o pai do indiacutegena surdo na Aldeia de Santa Maria indicou a forma como

conseguem se comunicar com o filho desde o momento que perceberam que ele era surdo

Explicaram as dificuldades que tiveram no processo de entendimento com ele Confirmaram

92

que o aprendizado da liacutengua Libras indicando os signos que representam a cultura da etnia

seria muito importante para a comunicaccedilatildeo entre ele e os familiares eou educadores

Figura 12 Em viagem para aacuterea indiacutegena no Rio Marau ndash comunicaccedilatildeo com familiares

Fonte - Azevedo (2014)

O projeto da pesquisa foi apresentado na comunidade de Santa Maria para os

representantes da comunidade indiacutegena (Figura 12)

Figura 13 Apresentaccedilatildeo do projeto de pesquisa agraves lideranccedilas indiacutegenas na comunidade

Fonte Azevedo (2014)

Ressalta-se a importacircncia das lideranccedilas conhecerem e participarem do desenvolvimento

do projeto A relevacircncia desta participaccedilatildeo daacute-se em funccedilatildeo de que as mesmas contribuiram

informando vocabulaacuterios caracteristicos da regiatildeo que enriqueceram o minidicionaacuterio

triliacutengue Satereacute-MaweacutePortuguecircsLibras como pode ser evidenciado a seguir

93

Vocabulaacuterios e utensiacutelios indiacutegenas sinalizados em Libras

Liacutenguas

Satereacute-Maweacute Portuguecircs Libras

Mory‟ywat siomory‟awat Arco

Satereacute-Maweacute Portuguecircs Libras

T wa Aldeia

Ressalta-se a importacircncia do minidicionaacuterio ao considerar que o vocabulaacuterio contido no

mesmo poderaacute ser utilizado pelo indiacutegena surdo para ele aprenda a comunicaccedilatildeo utilizando os

signos que fazem parte da linguagem da etnia

E realizando uma mini oficina de Libras para professores da comunidade (Figura 6)

foi possiacutevel demonstrar o uso da Libras no contexto da sala de aula A participaccedilatildeo efetiva dos

mesmos proporcionou a troca de informaccedilotildees sobre o vocabulaacuterio da liacutengua indiacutegena

94

Figura 14 Desenvolvimento de oficina de Libras com professores indiacutegenas

Fonte Azevedo (2014)

Enfatiza-se que todo empenho em levar o conhecimento da Liacutengua Brasileira de Sinais

para os indiacutegenas surdos professores indiacutegenas familiares de surdos e comunidade manteve-

se em funccedilatildeo do ensejo de fazecirc-los conhecer e compreender a capacidade e modos dos

indiacutegenas surdos se comunicarem aleacutem de promover a aprendizagem da Libras em um lugar

de tatildeo difiacutecil acesso com pequenas escolas que sequer tecircm materiais didaacuteticos adaptados a

essa clientela Por este motivo considera-se que a contribuiccedilatildeo linguiacutestica em forma de um

minidicionaacuterio eacute um passo importante para levar aos indiacutegenas surdos a sua comunidade e o

nuacutecleo familiar destes o iniacutecio do resgate da sua liacutengua natural que eacute a Liacutengua Brasileira de

Sinais e a sua liacutengua nativa aleacutem de seus traccedilos culturais incluiacutedos no minidicionaacuterio

61 Libras e Liacutengua Satereacute-Maweacute intercacircmbio de construccedilatildeo sociocultural-linguiacutestico

Analisando a histoacuteria do povo surdo e do povo indiacutegena percebe-se uma trajetoacuteria

similar nas lutas por seus direitos culturais e linguiacutesticos Ambos tentam

fortalecer o conhecimento da proacutepria histoacuteria com seus acertos desacertos conflitos

e sucessos buscando a compreensatildeo do ator social como sujeito da histoacuteria e

possibilitando assim a construccedilatildeo de um projeto poliacutetico articulado com outros

setores que incremente as possibilidades de construccedilatildeo dos proacuteprios projetos de

uma vida melhor (HERNAIZ 2009)

Neste sentido destaca-se que esses indiviacuteduos satildeo esquecidos na realidade cultural do

paiacutes como se natildeo existissem enquanto cidadatildeos que tem as suas formas de produzir no

contexto social Mudar esta realidade faz-se fundamental Para tal Guerreiro (2009 p93)

argumenta que

Os direitos culturais satildeo por sua vez um campo complexo que inclui vaacuterios

conjuntos de direitos e garantias entre os quais me interessa destacar para essa

reflexatildeo os seguintes o reconhecimento da diversidade o exerciacutecio da identidade

como povos o uso restrito do idioma uma educaccedilatildeo proacutepria e o respeito pelo

patrimocircnio cultural

95

Os processos culturais linguiacutesticos entre os povos surdos e indiacutegenas surdos eacute uma

possibilidade bem proacutexima atraveacutes do intercacircmbio sociocultural-linguiacutestico que estaacute sendo

construiacutedo pois o surdo indiacutegena faz parte da cultura surda e tem cacircmbio com a cultura

indiacutegena e em muitos casos com a cultura do povo ouvinte

Todavia alguns aspectos da cultura surda satildeo desconhecidos pelo proacuteprio surdo

indiacutegena Por isso a necessidade de surdos indiacutegenas se relacionarem com seus semelhantes

surdos seja indiacutegena ou natildeo indiacutegena para que atraveacutes deste contato possa construir sua

identidade cultural da comunidade surda tornando conhecida sua cultura tribal por meio da

liacutengua de instruccedilatildeo a Libras No exemplo abaixo ilustra-se a percepccedilatildeo dessa realidade

Man ype Crueira Libras

Kui‟a Cuia Libras

Dessa forma conhecendo valorizando e respeitando sua cultura que eacute um patrimocircnio

cultural da sociedade

Logo a liacutengua em uso pelos iacutendios surdos seja ela a Liacutengua de Sinais Indiacutegena

ldquosinais emergentesrdquo ou a Liacutengua Brasileira de Sinais (como empreacutestimo sociocultural-

linguiacutestico) e a Liacutengua Satereacute-Maweacute devem ser valorizadas com respeito muacutetuo na

transmissatildeo de sua cultura Os indiviacuteduos que precisam se comunicar por meio delas lutam

96

pelo fortalecimento dessa inserccedilatildeo cultural pela construccedilatildeo de um futuro melhor e pelo

respeito aos direitos dos iacutendios localizados neste vasto territoacuterio Nesse sentido

A identidade cultural requer tambeacutem ela a alteridade como dialogicidade

intercultural No seu proacuteprio interior ela natildeo eacute nunca algo de compacto mas

apresenta toda uma seacuterie de relaccedilotildees no plano sincrocircnico e diacrocircnico com outras

culturas que lhes datildeo vida justamente pela sua diversificaccedilatildeo e discordacircncia por

mais que ela se obstine em realizar-se mediante a identificaccedilatildeo com alguns de seus

aspectos apenas com algumas formas culturais determinadas que se arvoram

oficiais e dominantes (PONZIO 2007 p179)

Para estes estudos a uniatildeo de esforccedilos que viabilizou a realizaccedilatildeo deste diagnoacutestico eacute

uma demonstraccedilatildeo clara de que eacute perfeitamente possiacutevel trilhar no mundo linguiacutestico

possibilitando a cada indiacutegena novos horizontes na comunicaccedilatildeo

97

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A presente pesquisa teve como foco principal o levantamento de indiacutegenas surdos nas

microrregiotildees do municiacutepio de Parintins da etnia Satereacute-Maweacute

Com base nas informaccedilotildees levantadas nas terras indiacutegenas e nas cidades onde vivem

os Satereacute-Maweacute evidenciou-se que as escolas de zonas rurais e comunidades que o iacutendio

surdo requenta natildeo possui uma educaccedilatildeo diferenciada especiacutefica a sua especificidade

A realidade encontrada no municiacutepio de Parintins para com os alunos iacutendios surdos

por ser em zona urbana jaacute apresenta um diferencial A escola dispotildee de sala de recursos para

alunos indiacutegenas surdos poreacutem dentro dessa realidade haacute falta de professores que dominem a

liacutengua nativa Satereacute-Maweacute para que a escola proporcione um aprendizado triliacutengue Liacutengua

Brasileira de Sinais Liacutengua Satereacute-Maweacute e Liacutengua Portuguesa na modalidade escrita

Nas escolas visitadas onde encontramos surdos foi observado falta de mateacuterias

visuais sala de recursos com atendimentos diferenciados para os alunos indiacutegenas surdos e

indiacutegenas surdos

Foram considerados no decorrer do texto aspectos da contextualizaccedilatildeo em que se deu

a pesquisa desde as discussotildees que antecederam a elaboraccedilatildeo do projeto passando pelas

parcerias que foram estabelecidas no decorrer do processo especialmente com as vaacuterias

organizaccedilotildees indiacutegenas Satereacute-Maweacute ateacute o desenvolvimento das condiccedilotildees que garantiram a

plena participaccedilatildeo da comunidade no decorrer das atividades de pesquisa Partindo da

enumeraccedilatildeo dos principais objetivos do projeto o relatoacuterio apresenta as aacutereas e localidades

cobertas o nuacutemero de domiciacutelios levantados e de moradores entrevistados assim como a

metodologia utilizada a operacionalizaccedilatildeo das atividades de campo o treinamento dos

entrevistadores o levantamento nas cidades e nas terras indiacutegenas a forma e a intensidade

como se desenvolveu a participaccedilatildeo das lideranccedilas e da comunidade como um todo

Durante a pesquisa a sociedade indiacutegena e natildeo indiacutegena juntamente com profissionais

da educaccedilatildeo da linguiacutestica e a proacutepria comunidade surda acompanharam a perspectiva para

uma nova trajetoacuteria destes os iacutendios surdos a qual reflete o reconhecimento linguiacutestico destes

como pessoas pertencentes agraves minorias linguiacutesticas

Ao analisar as questotildees linguiacutesticas nas aacutereas indiacutegenas das microrregiotildees de Parintins

verificou-se que a implantaccedilatildeo deste empreendimento representou como um novo modelo de

desenvolvimento para a comunicaccedilatildeo de indiacutegenas surdos nas comunidades indiacutegenas

98

Ressalta-se que cada municiacutepio onde existem membros da etnia Satereacute receberaacute como

retorno da pesquisa um minidicionaacuterio triliacutengue (Liacutengua de Sinais Liacutengua Satereacute-Maweacute e

Liacutengua Portuguesa) para intercacircmbio sociocultural-linguiacutestico

Este material tem a intenccedilatildeo de abrir o caminho para a participaccedilatildeo direta dos iacutendios

na construccedilatildeo de seu futuro Ele caracteriza uma mudanccedila da forma de olhar para os povos

indiacutegenas Agora eacute preciso trabalhar para que todas as comunidades e etnias possam produzir

seus diagnoacutesticos Todas elas precisam dispor das informaccedilotildees com as quais poderatildeo dar uma

direccedilatildeo a suas accedilotildees Nesse sentido deve haver iniciativas por parte do poder local para que o

governo e as entidades aliadas agraves causas indiacutegenas possam aproveitar as experiecircncias dos

vaacuterios pesquisadores sobre as causas dos Satereacute-Maweacute para ampliar esse tipo de trabalho

Satildeo diagnoacutesticos como este que iratildeo dar o norte para novos projetos e programas que

favoreccedilam realmente garantir a autonomia dos povos indiacutegenas

Finzaliza-se com a satisfaccedilatildeo de que a pesquisa presente contribuiu com um pequeno

passo no incentivo da conservaccedilatildeo e crescimento da identidade cultural-linguiacutestica do iacutendio

surdo

99

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103

ANEXOS

104

ANEXO A- Normas estabelecidas no ingresso em terras indiacutegenas pela FUNAI

Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio

INSTRUCcedilAtildeO NORMATIVA No 01PRESI DE 29NOVEMBRO1995

PRESIDENTE DA FUNDACcedilAtildeO NACIONAL DO IacuteNDIO - FUNAI

no uso de suas atribuiccedilotildees que lhe satildeo conferidas pelo estatuto aprovado pelo decreto no

564

de 08 de junho de 1992 tendo em vista o que consta do processo FUNAI BsB no210592

R E S O L V E

Art 1o Aprovar as normas que disciplinam o ingresso em Terras Indiacutegenas com finalidade de

desenvolver Pesquisa Cientiacutefica conforme documento em anexo

Art 2o Esta Instruccedilatildeo Normativa entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Art 3o Revoga-se a Instruccedilatildeo Normativa no 001PRESI94 de 08 de abril

de 1994 como qualquer outro dispositivo em contraacuterio

MAacuteRCIO JOSEacute BRANDO SANTILLI

Presidente da FUNAI

ASSINADO NO ORIGINAL

Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio

ANEXO DA INSTRUCcedilAtildeO NORMATIVA No 001PRESI de 29 de novembro de 1995

Art 4o Todo e qualquer pesquisador nacional ou estrangeiro que pretenda ingressar em terras

indiacutegenas para desenvolver projeto de pesquisa cientiacutefica deveraacute encaminhar sua solicitaccedilatildeo

agrave Presidecircncia da FUNAI e no caso de requerimento coletivo deveraacute ser subscrito por um dos

membros do grupo como seu responsaacutevel Art 5o O pesquisador ou pesquisadores deveratildeo

anexar ao pedido do que trata o Art 1o a seguinte documentaccedilatildeo

I carta de apresentaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo a que o pesquisador estaacute vinculado e no caso de

estudantes de graduaccedilatildeo e poacutesgraduaccedilatildeo carta de apresentaccedilatildeo do orientador responsaacutevel

II projeto de pesquisa em portuguecircs detalhando a(s) terra(s) indiacutegenas na(s) qual(is)

pretende ingressar e cronograma

III curriculum vitae do(s) pesquisador(es) redigido em portuguecircs

IV coacutepia autenticada da Carteira de Identidade ou Passaporte quando se tratar de

nacionalidade estrangeira

V atestado individual de vacina contra moleacutestia endecircmica na

aacuterea

VI atestado meacutedico de natildeo portador de moleacutestia contagiosa

105

VII quando se tratar de pesquisador(es) de nacionalidade estrangeira exigir-se-aacute para a

efetivaccedilatildeo de seu ingresso na terra indiacutegena a obtenccedilatildeo de seu respectivo visto temporaacuterio

como prevecirc o artigo 22 do decreto no 86715 de 10 de dezembro de 1981 aleacutem do

cumprimento do disposto no decreto no 98830 de 15 de janeiro de 1990

Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio

Art 6o O pesquisador deveraacute encaminhar diretamente ao CONSELHO

NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO - CNPq o

projeto de pesquisa e curriculum

vitae

Art 7o A solicitaccedilatildeo do ingresso em terra indiacutegena por parte de pesquisadores nacionais ou

estrangeiros seraacute objeto de anaacutelise pela Coordenadoria-Geral de Estudos e Pesquisas - CGEP

uma vez instruiacutedo o processo com o parecer favoraacutevel do CNPq quanto ao meacuterito da pesquisa

proposta e apoacutes ouvidas as lideranccedilas indiacutegenas

Paraacutegrafo Uacutenico - A consulta agraves lideranccedilas indiacutegenas seraacute realizada pela FUNAI com a

presenccedila e participaccedilatildeo do pesquisador podendo este em caso de resposta positiva

permanecer na terra indiacutegena com autorizaccedilatildeo provisoacuteria ateacute a emissatildeo de uma definitiva

Art 8o No caso de negativa das lideranccedilas indiacutegenas quanto ao pleito do ingresso ou

quaisquer outros entraves levantados no decorrer da anaacutelise do processo ou em qualquer outra

etapa de desenvolvimento da pesquisa a CGEP encaminharaacute a questatildeo ao Conselho

Indigenista atraveacutes da presidecircncia do Oacutergatildeo

Art 9o Quando se tratar de pesquisa em espaccedilo territorial de ocupaccedilatildeo tradicional de iacutendios

isolados o pedido seraacute ainda objeto de exame e parecer preacutevio especiacutefico por parte do

Departamento de Iacutendios Isolados - DII FUNAI

Art 10 A presidecircncia da FUNAI poderaacute suspendera qualquer tempo as

autorizaccedilotildees concedidas de acordo com as presentes normas desde que

I seja solicitada a sua interrupccedilatildeo por parte da comunidade indiacutegena em questatildeo

II a pesquisa em desenvolvimento venha a gerar conflitos dentro da terra indiacutegena

III a ocorrecircncia de situaccedilotildees epidecircmicas agudas ou conflitos graves envolvendo iacutendios e natildeo-

iacutendios

Paraacutegrafo Uacutenico - Fica automaticamente prorrogada a autorizaccedilatildeo pelo prazo que a terra

indiacutegena objeto do projeto estiver interditada pelos motivos apontados no Art 10 inciso III

Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio

MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA

Art 11 Todos os pesquisadores estrangeiros ou nacionais que tiverem autorizaccedilotildees

concedidas para ingresso em terras indiacutegenas obrigar-se-atildeo a

I cumprir todos os preceitos legais vigentes notadamente os previstos na Lei no 6001 de

1o1273

II remeter agrave FUNAI relatoacuterio dos Trabalhos de campo em portuguecircs ateacute 6 (seis) meses apoacutes

o teacutermino da pesquisa onde poderatildeo constar sugestotildees praacuteticas que possam trazer benefiacutecios

para as comunidades indiacutegenas que poderatildeo ser consideradas pela FUNAI nas definiccedilotildees de

sua poliacutetica

III remeter agrave FUNAI 2 (dois) exemplares de publicaccedilotildees artigos teses e outras produccedilotildees

intelectuais oriundas das referidas pesquisas

Art 12 Nos casos de solicitaccedilatildeo de prorrogaccedilatildeo do prazo para continuidade do projeto de

pesquisa cientiacutefica na mesma terra indiacutegena caberaacute a Coordenaccedilatildeo Geral de Estudos e

Pesquisas - CGEP os seguintes procedimentos

I notificar junto ao setor competente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e

Tecnoloacutegico - CNPq a solicitaccedilatildeo

II consultar as lideranccedilas quanto ao retorno do pesquisador na terra indiacutegena

106

III observar o cumprimento do Art 8o por parte do pesquisador interessado do Iacutendio

Art 6o O pesquisador deveraacute encaminhar diretamente ao CONSELHO NACIONAL DE

DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO - CNPq o projeto de pesquisa e

curriculum vitae

Art 7o A solicitaccedilatildeo do ingresso em terra indiacutegena por parte de pesquisadores nacionais ou

estrangeiros seraacute objeto de anaacutelise pela Coordenadoria-Geral de Estudos e Pesquisas - CGEP

uma vez instruiacutedo o processo com o parecer favoraacutevel do CNPq quanto ao meacuterito da pesquisa

proposta e apoacutes ouvidas as lideranccedilas indiacutegenas

Paraacutegrafo Uacutenico - A consulta agraves lideranccedilas indiacutegenas seraacute realizada pela FUNAI com a

presenccedila e participaccedilatildeo do pesquisador podendo este em caso de resposta positiva

permanecer na terra indiacutegena com autorizaccedilatildeo provisoacuteria ateacute a emissatildeo de uma definitiva

Art 8o No caso de negativa das lideranccedilas indiacutegenas quanto ao pleito do ingresso ou

quaisquer outros entraves levantados no decorrer da anaacutelise do processo ou em qualquer outra

etapa de desenvolvimento da pesquisa a CGEP encaminharaacute a questatildeo ao Conselho

Indigenista atraveacutes da presidecircncia do Oacutergatildeo

Art 9o Quando se tratar de pesquisa em espaccedilo territorial de ocupaccedilatildeo tradicional de iacutendios

isolados o pedido seraacute ainda objeto de exame e parecer preacutevio especiacutefico por parte do

Departamento de Iacutendios Isolados - DII FUNAI Art 10 A presidecircncia da FUNAI poderaacute

suspendera qualquer tempo as autorizaccedilotildees concedidas de acordo com as presentes normas

desde que

I seja solicitada a sua interrupccedilatildeo por parte da comunidade indiacutegena em questatildeo

II a pesquisa em desenvolvimento venha a gerar conflitos dentro da terra indiacutegena

III a ocorrecircncia de situaccedilotildees epidecircmicas agudas ou conflitos graves envolvendo iacutendios e natildeo-

iacutendios

Paraacutegrafo Uacutenico - Fica automaticamente prorrogada a autorizaccedilatildeo pelo prazo que a terra

indiacutegena objeto do projeto estiver interditada pelos motivos apontados no Art 10 inciso III

Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA

Art 11 Todos os pesquisadores estrangeiros ou nacionais que tiverem autorizaccedilotildees

concedidas para ingresso em terras indiacutegenas obrigar-se-atildeo a

I cumprir todos os preceitos legais vigentes notadamente osprevistos na Lei no 6001 de

1o1273

II remeter agrave FUNAI relatoacuterio dos Trabalhos de campo em portuguecircs ateacute 6 (seis) meses apoacutes

o teacutermino da pesquisa onde poderatildeo constar sugestotildees praacuteticas que possam trazer benefiacutecios

para as comunidades indiacutegenas que poderatildeo ser consideradas pela FUNAI nas definiccedilotildees de

sua poliacutetica

III remeter agrave FUNAI 2 (dois) exemplares de publicaccedilotildees artigos teses e outras produccedilotildees

intelectuais oriundas das referidas pesquisas

Art 12 Nos casos de solicitaccedilatildeo de prorrogaccedilatildeo do prazo para continuidade do projeto de

pesquisa cientiacutefica na mesma terra indiacutegena caberaacute a Coordenaccedilatildeo Geral de Estudos e

Pesquisas - CGEP os seguintes procedimentos

I notificar junto ao setor competente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e

Tecnoloacutegico - CNPq a solicitaccedilatildeo

II consultar as lideranccedilas quanto ao retorno do pesquisador na terra indiacutegena

III observar o cumprimento do Art 8o por parte do pesquisador interessado

107

ANEXO B ndash Questionaacuterio para coleta de dados com professores de comunidades indiacutegenas

QUESTIONAacuteRIO

Nome Prof(a)Nordm Cel

Nome da escola

Tribo Etnia

Quantos alunos surdos iacutendio Serie Idade

Nasceu cognitiva ou adquirida

1 ndash Como eacute a forma de comunicaccedilatildeo entre o professor e o iacutendio surdo

( ) Escrita

( ) Oralizado

( ) Libras

( ) Satereacute Maweacute

2 ndash Qual liacutengua o surdo iacutendio tem mais facilidade de aprender

( ) Portuguecircs

( ) Satereacute Maweacute

( ) libras

3 ndash Qual eacute a metodologia de ensino

4 ndash Como o aluno surdo indiacutegena aprende na sala de aula Tem dificuldade ou facilidade

5 ndash Como e que liacutengua o aluno surdo se comunica com outro surdo se tiver e os demais alunos

ouvintes na sala aula

108

6 ndash Vocecirc jaacute observou a comunicaccedilatildeo entre o aluno surdo iacutendio com a famiacutelia Qual liacutengua

7 ndash Como o aluno surdo iacutendio se comunica com as pessoas da comunidade

8 ndash Qual eacute a reaccedilatildeo das pessoas ouvintes quanto o iacutendio surdo na comunidade

9 ndash Professor(a) qual sua opiniatildeo para melhoria de ensino da educaccedilatildeo de iacutendios surdos

10 ndash Qual eacute a importacircncia da liacutengua indiacutegena Satereacute Maweacute para o aluno surdo

11 ndash Fale sobre a cultura e historia dos Satereacute Maweacute o iacutendio surdo participa

109

ANEXO C ndash Autorizaccedilatildeo para pesquisa de campo em terras indiacutegenas

110

ANEXO C-1 ndash Autorizaccedilatildeo para pequisa de campo com uso de imagem permitido

111

ANEXO C-2 ndash Autorizaccedilatildeo para pequisa de campo com uso de imagem permitido

112

ANEXO D ndash Parecere pedagoacutegico da Aluna Indiacutegena Surda

(ESCOLA PADRE PAULOMANNA)

ESCOLA DE AacuteUDIO COMUNICACcedilAtildeO

Pe PAULO MANNA Mantida pela Diocese de Parintins CNPJ 045945370001-88 Av Naccedilotildees Unidas 1792 FoneFax (092) 3533-3456 69151-060 ndash PARINTINS-AMAZONAS-BRASIL

Parecer Pedagoacutegico

Helena Ferreira Arauacutejo 06 anos de idade aluna da Escola Pe Paulo Manna desde

marccedilo de 2013 mora na rua 4 nordm 298 no bairro da Uniatildeo

Segundo relatos da matildee a aluna nasceu de parto normal comeccedilou a andar aos trecircs

anos de idade e eacute descendente dos iacutendios Satereacute- Maueacute Os anos passaram e ela comeccedilou a

perceber que sua filha natildeo ouvia e nem falava pois jaacute tinha outros filhos e estes comeccedilaram a

falar e andar cedo Informou-nos que para se comunicar com ela fazia gestos ateacute ela entender

o que se tornava muito difiacutecil

Disse-nos que falaram para ela do trabalho desenvolvido na Escola Paulo Manna com

alunos surdos e resolveu procurar a escola pois o tempo estava passando e a menina natildeo

falava e ela natildeo sabia mais o que fazer para reverter a situaccedilatildeo e a sua filha ser como os outros

irmatildeos

Atualmente estuda numa turma de Preacute ndash Escolar (2ordm periacuteodo) eacute uma aluna surda No

ano passado quando chegou agrave escola nos primeiros dias chorava muito e ficava zangada se

escondia embaixo da mesa para que ningueacutem a incomodasse visto que natildeo estava adaptada

ao ambiente e aos poucos foi se adaptando e passou a conviver com os colegas ouvintes em

sala de aula

A aluna gosta de fazer suas atividades escolares tem boa coordenaccedilatildeo motorainterage

com os colegas reconhece cores e formas gosta de desenhar e daacute formas aos seus desenhos realiza atividades de leitura de imagem montagem com jogos de encaixe participa de

brincadeiras na quadra parque e brinquedoteca

Em alguns momentos quando quer alguma coisa do colega e este natildeo lhe daacute fica com

raiva chora e se isola Em outros momentos penso que por natildeo saber se comunicar com os

colegas fica um pouco retraiacuteda e torna-se um a receptora diferenciada que requer cuidados

no tocante agrave comunicaccedilatildeo principalmente de como chegar ateacute ela

Procuramos adaptar brincadeiras para envolver a aluna trazendo-a de volta para

participar das atividades e conversar com ela que nem tudo o que a gente quer podemos ter e

fazemos alguma brincadeira que ela goste e rapidinho ela volta a participar e se integrar ao

grupo

Sabemos que eacute difiacutecil para ela o processo ensino aprendizagem porque ela tem que ter

uma aprendizagem triliacutengue visto que tem que aprender a Liacutengua Indiacutegena+ Libras + Liacutengua

Portuguesa e jaacute eacute difiacutecil aprender duas mas natildeo impossiacutevel

113

Neste ano de 2014 contamos com a ajuda da professora Caacutetia (surda) com aulas de

Libras No primeiro momento fica junto com os colegas ouvintes onde procuramos trabalhar

de forma biliacutengue (Portuguecircs + Libras) para que ela entenda o que estaacute sendo repassado em

sala de aula E o que se percebe eacute que a aluna nos daacute respostas precisas dentro dos objetivos

propostos Em outro momento a professora Caacutetia ensina agrave aluna os sinais em LIBRAS que eacute

a liacutengua oficial da pessoa surda trabalhando o concreto com ela ensinando-a com jogos

cartazes reaacutelias viacutedeos transformando tais atividades em aulas dinacircmicas e prazerosas

Dentro dessa realidade a aluna vai participando buscando se inserir nesse universo

cheio de duacutevidas e incertezas e noacutes professores procuramos fazer o melhor para que a aluna

se sinta bem no ambiente escolar visto que o processo ensino aprendizagem para uma crianccedila

de outra etnia natildeo eacute faacutecil pois segundo depoimentos de alguns indiacutegenas a aprendizagem

indiacutegena passa pela demonstraccedilatildeo observaccedilatildeo imitaccedilatildeo tentativa e erro e quando o aluno

vem para a escola tem que se socializar obedecer a comandos regidos pelo sistema e isso

muitas vezes o deixa confuso e os maiores ateacute desistem

Dessa forma satildeo necessaacuterias estrateacutegias de ensino diferenciadas que deem suporte para

que a aluna seja trabalhada de forma triliacutengue no contexto escolar para que ela natildeo perca a

sua essecircncia a sua cultura que sejam adaptados trabalhos de acordo com a realidade

indiacutegena para que ela natildeo perca a sua identidade e saiba conduzir sua aprendizagem dentro de

um contexto diferenciado podendo aprender o que lhe eacute de direito bem como viver bem em

sociedade

Parintins 14 de abril de 2014

AGRADECIMENTOS

A Deus em primeiro lugar que planejou a minha vida quando eu ainda nem existia e

me libertou no momento que recorri a Ele E me fez acreditar que o impossiacutevel soacute existe

quando natildeo temos feacute

Agrave Coordenadora do Mestrado em Letras e Artes da Universidade do Estado do

Amazonas ndash UEA Professora Dra Juciane Cavalheiros pelo excelente trabalho que

desenvolve nesta instituiccedilatildeo contribuindo para a formaccedilatildeo de novos profissionais na

educaccedilatildeo do nosso paiacutes

Ao meu orientador Dr Valteir Martins Professor do Mestrado em Letras e Artes

com sua saacutebia experiecircncia de ensino acreditou que atraveacutes deste trabalho pudeacutessemos levar

contribuiccedilotildees linguiacutesticas no que tange agrave Liacutengua de Sinais dos indiacutegenas surdos Satereacute-

Maweacute habitantes da microrregiatildeo de Parintins

Aos meus professores do Mestrado em Letras e Artes Dra Silvana Martins Dr

Mauricio Mattos Dr Maacutercio e Dra Luciana Paacutescoa Dra Gleidys Maia Dr Camilo Ramos

pelas preciosas contribuiccedilotildees agrave minha pesquisa

Aos professores indiacutegenas Jacob de Souza Jocimar Alencar e Josiel Santos por me

introduzir nas comunidades indiacutegenas Satereacute-Maweacute pelas contribuiccedilotildees na traduccedilatildeo das

palavras da liacutengua portuguesa para a liacutengua Satereacute-Maweacute

Aos meus colegas do mestrado em Letras e Artes pelo companheirismo e dedicaccedilatildeo

no dia a dia

Agrave professora Elizandra de Lima Silva Bastos pela ajuda nas correccedilotildees textuais da

Liacutengua Portuguesa

Agraves instituiccedilotildees especiacuteficas que de alguma forma contribuiacuteram para concretizar esta

pesquisa

MANAUS

Escola Estadual Augusto Carneiro dos Santos

Centro de Atendimento ao surdo ndash CAS

A Igreja Tabernaacuteculo Batista Pastor Paulo Hatcher

PARINTINS

Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio ndash FUNAI

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE

Coordenadora Regional de Educaccedilatildeo de Parintins - CREP

Universidade Estadual do Amazonas ndash CESP

Casa da Sauacutede Indiacutegena

Casa do Iacutendio de Parintins

Escola Aacuteudio Comunicaccedilatildeo Pe Paulo Manna

Diocese de Parintins Pe Henrique Uggeacute

Escola Estadual Brandatildeo de Amorim

Escola Estadual Joatildeo Bosco Ramos de Lima

MAUEacuteS

Secretaria de Estado de Educaccedilatildeo

Secretaria de Educaccedilatildeo Municipal

Casa do estudante indiacutegena Sr Jusivan

Tuxaua da Comunidade de Santa Maria Sr Helito Barbosa

Sr Maxiliano Batista Barros

BARREIRINHA

Secretaria de Educaccedilatildeo Municipal - SEMED

Secretaria de Estado de Educaccedilatildeo

Coordenaccedilatildeo Municipal de Educaccedilatildeo Indiacutegena Sr Santino Lopes

Coordenador da Escola Profa Rosa Cabral Sr Dulcemar F dos Santos

Professora Indiacutegena Satereacute-Maweacute Maria Inez

NHAMUNDAacute

Casa de Sauacutede Indiacutegena - DSEI

Secretaria de Estadual de Educaccedilatildeo

BOA VISTA DO RAMOS

Secretaria de Estado e Educaccedilatildeo

Escola Estadual Princesa Izabel

Comunidade Satereacute-Maweacute

Professora Erly Tereza R Goacutees

URUCARAacute

Poacutelo Base de Urucaraacute ndash DSEI

Distrito Sanitaacuterio Especial Indiacutegena

Lider Indiacutegena Etnia Hexkaryana Caiacutenatilde Mohso

SraMaacuterlucia Kutasa

Enfermeiro SrJonas Pontes

SraDalva H Farias Cantalixto de Melo

SrLuiz Cantalixto de Melo

SAtildeO SEBASTIAtildeO DO UATUMAtilde

Poacutelo Base de Urucaraacute ndash DSEI

Lider Indiacutegena Etnia Hexkaryana Caiacutenatilde Mohso

EPIacuteGRAFE

Matildeos

corpo em movimento

captar e entender

Teu querer teu dizer

Sorrisos laacutegrimas

sentimentos e emoccedilotildees

Libras eacute amor eacute paixatildeo eacute liacutengua

(Marlon Jorge)

RESUMO

Esta pesquisa apresenta o resultado do mapeamento de iacutendios surdos nas comunidades

indiacutegenas Satereacute-Maweacute na microrregiatildeo de Parintins Partindo do levantamento buscou-se

identificar de que forma os iacutendios surdos estabeleciam a comunicaccedilatildeo com seus pares na sua

comunidade Para isso foi utilizado o procedimento metodoloacutegico por meio de entrevistas

abertas com as lideranccedilas indiacutegenas os familiares os professores e gestores escolares e

outros membros das comunidades assim como do proacuteprio iacutendio surdo O processo de anaacutelise

estabelecido para este estudo consistiu no enfoque de natureza linguiacutestica do leacutexico

(vocabulaacuterio) o qual foi registrado por meio de viacutedeos fotos e gravaccedilotildees A partir dos dados

iniciou-se a elaboraccedilatildeo de um minidicionaacuterio triliacutengue nas liacutenguas Satereacute-Maweacuteliacutengua de

sinais portuguecircs escrito a fim de facilitar a comunicaccedilatildeo principalmente no contexto da

comunidade educacional escolar entre os professores e os alunos iacutendios surdos Esta

contribuiccedilatildeo linguiacutestica portanto possibilitou uma nova percepccedilatildeo no processo histoacuterico da

diversidade linguiacutestica para valorizar e respeitar natildeo soacute uma liacutengua a liacutengua oficial do paiacutes

(Portuguecircs) mas tambeacutem a liacutengua natural do povo surdo (Libras) e a liacutengua indiacutegena do povo

Satereacute-Maweacute

Palavras chaves

1Linguiacutestica 2Liacutengua de sinais 3Satereacute-Maweacute 4 Dicionaacuterio

ABSTRACT

This research presents the results of the mapping deaf Indians in indigenous

communities Satereacute-Maweacute in the region of Parintins Starting from the survey we sought to

identify how the deaf Indians established communication with peers in their community For

this methodological procedure through open interviews with indigenous leaders family

members teachers and school administrators and other community members were used as

well as the Indian himself deaf The review process established for this study consisted of

focus linguistic lexicon (vocabulary) which was recorded through videos photos and

recordings From the data we initiated the development of a trilingual Mini Dictionary in

languages Satereacute-Maweacute sign language written Portuguese in order to facilitate

communication especially in the context of school learning community among teachers and

students deaf Indians This linguistic contribution therefore provided a new insight in the

historical process of linguistic diversity to value and respect not only one language the

official language (Portuguese) but also the natural language of deaf people (Libras) and the

indigenous language the people Satereacute-Maweacute

Key Words 1Linguiacutestica 2Liacutengua signal 3Satereacute-Maweacute 4Dictionary

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 13

1 CONSIDERACcedilOtildeES DOS ESTUDOS LINGUIacuteSTICOS DA LIacuteNGUA

BRASILEIRA DE SINAIS

17

11 Liacutengua de Sinais como Liacutengua Natural 20

12 Liacutengua Brasileira de Sinais 22

13 Liacutenguas de Sinais Indiacutegenas pesquisadas no Brasil 26

131 Liacutengua de Sinais Urubu-Kaapor 28

132 Liacutengua de Sinais Emergentes 29

1321 Realidade do Contexto educacional escolar do indiacutegena surdo 31

2 HISTOacuteRIA DO POVO INDIacuteGENA SATEREacute-MAWEacute CULTURA E

LIacuteNGUA

34

21 Breve Relato Histoacuterico 35

22 Classificaccedilatildeo da Liacutengua Satereacute-Maweacute 36

221 Contexto educacional escolar entre os Satereacute-Maweacute 38

3 METODOLOGIA IMPLEMENTADA NA PESQUISA 42

31 Aacuterea e localidade da pesquisa 42

32 Estrateacutegias gerais para a realizaccedilatildeo da coleta de dados 43

33 Procedimentos da coleta de dados 43

34 Articulaccedilatildeo local 44

35 Abordagem ao objeto da pesquisa 44

4 MAPEAMENTO DOS INDIOS SURDOS DA COMUNIDADE SATEREacute-

-MAWEacute NAS MICRORREGIOtildeES DE PARINTINS E SUA REALIDADE

EDUCACIONAL ESCOLAR

45

41 Mapeamento da existecircncia dos iacutendios surdos na microrregiatildeo de Parintins 46

411 Histoacuterico de Parintins 46

412 Histoacuterico de Barreirinha 52

413 Histoacuterico de Maueacutes 53

414 Histoacuterico de Boa Vista do Ramos 55

415 Histoacuterico de Nhamundaacute 56

42 Realidade linguiacutestica e educacional dos iacutendios surdos encontrados na etnia

Satereacute-Maweacute

59

43 Inventaacuterio de gestos da linguagem caseira dos surdos Satereacute-Maweacute 66

431 Os sinais caseiros dos indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute 66

432 Municiacutepio de Parintins 66

4321 O primeiro surdo 67

4322 O segundo surdo 67

4323 O terceiro surdo 68

44 O indiacutegena surdo da comunidade de Ponta Alegre do Municiacutepio de Barreirinha 70

45 Os indiacutegenas surdos do Municiacutepio de Maueacutes 73

451 O primeiro surdo da Comunidade de Santa Maria 75

452 O segundo surdo da Comunidade de Santa Maria 79

5 ICONICIDADE E ARBITRARIEDADE NA CRIACcedilAtildeO DOS SINAIS

CASEIROS

83

6 INTERVENCcedilAtildeO E CONTRIBUICcedilAtildeO LINGUIacuteSTICA DO PROFESSOR

SURDO

90

61 Libras e Liacutengua Satereacute-Maweacute intercacircmbio de construccedilatildeo sociocultural-

linguiacutestico

94

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 97

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 99

ANEXOS

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 Croqui da aacuterea e localidade da pesquisa

FIGURA 2 Sinais caseiros utilizado pela crianccedila de 5 anos

FIGURA 3 Sinais caseiros utilizados pelo aluno da comunidade de Ponta Alegre

Barreirinha

FIGURA 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa

Maria (30 sinais coletados)

FIGURA 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo idoso na comunidade de Santa Maria

FIGURA 6 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos que se refere agrave

arbitrariedade

FIGURA 7 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos aos quais se referem a

iconicidade

FIGURA 8 Caracteriacutesticas da imagem em Liacutengua de Sinais Satereacute-Maweacute dos objetos

aos quais se referem agrave iconicidade

FIGURA 9 Encontro da crianccedila surda Satereacute-Maweacute com o professor surdo

FIGURA 10 Contato com aluno Satereacute-Maweacute surdo no ambiente escolar

FIGURA 11 Contato com o aluno surdo Satereacute-Maweacute na Escola Estadual Brandatildeo de

Amorim

FIGURA 12 Em viagem para aacuterea indiacutegena no Rio Marau

FIGURA 13 Apresentaccedilatildeo do projeto de pesquisa agraves lideranccedilas indiacutegenas na

comunidade

FIGURA 14 Desenvolvimento de oficina de Libras com professores indiacutegenas

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Mapeamento da existecircncia de iacutendios surdos nas respectivas comunidades

indiacutegenas ou zona urbana da microrregiatildeo de Parintins

Tabela 2 11 Sinais caseiros utilizados pela crianccedila indiacutegena surda de 5 anos e seus

familiares

Tabela 3 13 Sinais caseiros coletados e utilizados pelo aluno da comunidade de

Ponta Alegre

Tabela 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa

Maria

Tabela 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais antigo residente isolado na

comunidade de Santa Maria no Rio Marau ( 18 sinais coletados)

56

66

69

73

77

13

INTRODUCcedilAtildeO

Todo cidadatildeo tem o direito de participar na vida poliacutetica social e econocircmica de um

paiacutes Neste contexto inclui-se o cidadatildeo surdo Infelizmente a histoacuteria relata que no passado

os sujeitos surdos1 eram colocados agraves margens da sociedade em todos seus aspectos social

poliacutetico econocircmico cultural linguiacutestico e educacional

Entretanto ao longo da histoacuteria os surdos com a participaccedilatildeo de ouvintes na luta

incessante pelos seus direitos muitas conquistas foram alcanccediladas Entre estas estaacute o direito

de ter sua proacutepria liacutengua a Liacutengua Brasileira de Sinais-LIBRAS A Lei nordm 10436 de 2002 a

qual a reconhece como sistema linguiacutestico de natureza visual-motora com estrutura

gramatical proacutepria constituindo-se um sistema linguiacutestico de transmissatildeo de ideias e fatos

oriundos da comunidade de pessoas surdas do Brasil Conforme Saacute (2006) no Brasil as

comunidades urbanas usam a ldquoliacutengua de sinais brasileirardquo ou simplesmente ldquoliacutengua de sinaisrdquo

Vale ressaltar que a Liacutengua de Sinais segundo Strobel (2008) eacute um aspecto

fundamental da cultura surda2 parte do artefato cultural linguiacutestico

3 do povo surdo e constitui

1 Na aacuterea de pesquisa vinculada a perspectiva socioantropoloacutegica existe uma clara diferenciaccedilatildeo entre a opccedilatildeo

de escrever surdo com letra minuacutescula ou maiuacutescula conforme explica Andreis-Witkoski (2011) ldquoapesar de

nas uacuteltimas deacutecadas ter sido estabelecido uma distinccedilatildeo entre a expressatildeo ldquoSurdordquo com letra maiuacutescula para

identificar uma categoria cultural e ldquosurdordquo com minuacutescula em referecircncia a deficiecircncia auditiva nesta Tese natildeo

se utiliza este tipo de marcaccedilatildeo Compartilha-se da concepccedilatildeo exposta por Owen Wrigley (1996 p53) quando

adverte que esta diferenciaccedilatildeo constitui-se em ldquoum dualismo riacutegido-bom Surdo mau surdo ndash que pouco faz para

ajudar os indiviacuteduos em suas vidas diaacuterias [sem] ajudar a clarear um alcance maior de estrateacutegias colocadas pelos

indiviacuteduos lidando com a exclusatildeo e as muitas faces da opressatildeo em suas rotinas Em termos simples a

dicotomia de bdquoSs‟ estaacute tatildeo cruelmente composta que embora inicialmente seja uacutetil ela agora serve para silenciar

o alcance total das experiecircncias dos sSurdosrdquo (2011 p13) Logo opta-se nesta dissertaccedilatildeo o uso da expressatildeo

ldquosurdordquo (minuacutescula) que refere-se aos ldquosurdordquo enquanto pessoas que pela impossibilidades formam uma

minoria diferente com caracteriacutesticas linguiacutesticas cognitivas culturais e comunitaacuterias especiacuteficas (SAacute 2006

p107) 2 Cultura Surda ldquoeacute o jeito de o surdo entender o mundo e de modificaacute-lo a fim de se tornaacute-lo acessiacutevel e habitaacutevel

ajustando-os com as suas percepccedilotildees visuais que contribuem para a definiccedilatildeo das identidades surdas e das

ldquoalmasrdquo das comunidades surdas Isto significa que abrange a liacutengua as ideacuteias as crenccedilas os costumes e os

haacutebitos de povordquo (STROBEL2008 p 24) 3Conforme Strobel (2008 p37) o que seriam artefatos culturais linguiacutesticos Ao referirmos ldquoartefatordquo

pensamos habitualmente no significado de objetos ou materiais produzidos pelos grupos culturais Realmente de

fato eacute uma forma material de expressar uma determinada cultura poreacutem tambeacutem podem incluir ldquotudo o que se

vecirc e senterdquo quando se estaacute em contato com a cultura de uma comunidade a exemplo vestuaacuterios tradiccedilotildees

crenccedilas valores e normas etc Ou seja no campo dos Estudos Culturais o conceito de ldquoartefatosrdquo natildeo se referem

apenas a materialismo culturais como tambeacutem naquilo que na cultura constitui produccedilotildees do sujeito que tem seu

proacuteprio modo de ser ver entender e transformar o mundo Logo um dos artefatos culturais que ilustram a

cultura do povo surdo eacute o linguiacutestico a liacutengua de sinais que eacute um aspecto fundamental da cultura surda sendo

uma das principais marcas da identidade surda

14

uma das principais marcas da identidade do ser surdo Incluem-se tambeacutem os ldquosinais

emergentesrdquo ou ldquosinais caseirosrdquo dos sujeitos surdos isolados de comunidades surdas no caso

dos surdos das zonas rurais e dos surdos iacutendios Estes surdos embora natildeo pertenccedilam agraves

mesmas comunidades se identificam com o povo surdo4 pois compartilham as mesmas

peculiaridades constroem sua formaccedilatildeo de mundo por meio de artefato cultural visual5

independentemente do grau linguiacutestico que possuem os quais podem ser os gestos caseiros

denominados tambeacutem como sinais emergentes Nesta perspectiva teoacuterica soacutecioantropoloacutegica

enfoca-se como o objeto da pesquisa o sujeito surdo indiacutegena ou seja o iacutendio surdo

Antes de prosseguir com a abordagem mencionada faz-se necessaacuterio destacar que

assim como o povo surdo o povo indiacutegena tambeacutem traccedilou diversas lutas na trajetoacuteria para

reconhecimento dos seus direitos O reconhecimento dos direitos dos povos indiacutegenas no

mundo contemporacircneo avanccedilou muito em relaccedilatildeo haacute algumas deacutecadas passadas De acordo

com Lucinda (apud Saacute 2006) em consenso geral nos debates da Comissatildeo Educaccedilatildeo

Cultura e Desporto que antecedem a elaboraccedilatildeo do texto da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica

Federativa do Brasil de 1988 tanto a liacutengua de sinais como as liacutenguas indiacutegenas deveriam ser

consideradas no texto da Constituiccedilatildeo como liacutenguas maternas Assim como resultado o

Referencial Curricular Nacional para Escolas Indiacutegenas (1998 p31) declara que ldquoA

Constituiccedilatildeo Federal aleacutem de perceber o iacutendio como pessoa com direitos e deveres como

qualquer outro cidadatildeo brasileiro o reconhece como membro de uma comunidade e de um

grupo isto eacute como membro de uma coletividade que eacute titular de direitos coletivos e

especiaisrdquo Ou seja reconhece para os iacutendios o direito agrave praacutetica de suas formas culturais

proacuteprias E no tiacutetulo VIII ldquoDa Ordem Socialrdquo conteacutem um capiacutetulo denominado ldquoDos Iacutendiosrdquo

onde se diz que ldquosatildeo reconhecidos aos iacutendios a sua organizaccedilatildeo social costumes liacutenguas

crenccedilas e tradiccedilotildees []rdquo (ibid p31)

Em meio a essa diversidade linguiacutestica que caracteriza o Brasil como sendo um paiacutes

pluriliacutengue estatildeo situados os ldquosurdos brasileirosrdquo que tecircm sua proacutepria liacutengua reconhecida

oficialmente a Liacutengua de Sinais Logo existem tambeacutem ldquoiacutendios surdosrdquo da etnia Satereacute-

4Quando referimos ldquopovo surdordquo estamos falando ldquode sujeitos surdos que natildeo habitam no mesmo local mas

que estatildeo ligados por uma origem por um coacutedigo de eacutetico de formaccedilatildeo visual independente do grau de evoluccedilatildeo

linguiacutestica tais como a liacutengua de sinais a cultura surda e quaisquer outros laccedilosrdquo (ibid p30) 5Perlin e Miranda (2003) complementam ldquoExperiecircncia visual significa a utilizaccedilatildeo visual em (substituiccedilatildeo total

agrave audiccedilatildeo) como meio de comunicaccedilatildeo Desta experiecircncia visual surge a cultura surda representada pela liacutengua

de sinais pelo modo diferente de ser de se expressar de conhecer o mundo de entrar nas artes no

conhecimento cientiacutefico e acadecircmicordquo (apud STROBEL 2008 p39)

15

Maweacute Qual sua forma de se comunicar Existe uma ldquoLiacutengua de Sinaisrdquo especifica do iacutendio

surdo

Diante das questotildees levantadas surgiu entatildeo agrave necessidade de realizar uma pesquisa

no campo da linguiacutestica na perspectiva dos estudos surdos6 voltado especificamente para o

iacutendio surdo da etnia Satereacute-Maweacute Foram traccedilados os seguintes objetivos i) mapear os iacutendios

surdos na microrregiatildeo de Parintins ii) identificar de que forma o iacutendio surdo estabelece a

comunicaccedilatildeo com sua comunidade especificamente no acircmbito educacional ou se utilizam

liacutenguas de sinais da comunidade local iii) registrar a forma de comunicaccedilatildeo no dia a dia do

iacutendio surdo nas comunidades indiacutegenas a partir dos estudos linguiacutesticos da Liacutengua de Sinais

dos grupos existentes e sua relaccedilatildeo com a comunidade local iv) promover o intercacircmbio entre

a Liacutengua de Sinais dos iacutendios surdos mapeados da etnia Satereacute-Maweacute e a LIBRAS da

comunidade surda do Municiacutepio de Parintins - Amazonas

Este trabalho conteacutem a seguinte divisatildeo primeiro capiacutetulo - apresenta consideraccedilotildees

linguiacutesticas fundamentais aos estudos surdos onde explicita o reconhecimento da Liacutengua de

Sinais como elemento cultural linguiacutestico do povo surdo abordando tambeacutem a oficializaccedilatildeo

da Liacutengua Brasileira de Sinais e as Liacutenguas Indiacutegenas pesquisadas no Brasil como a realidade

do contexto escolar linguiacutestico na comunidade indiacutegena segundo capiacutetulo - relata a histoacuteria

do povo indiacutegena Satereacute-Maweacute sua principal expressatildeo cultural sua liacutengua e seu respectivo

contexto educacional escolar terceiro capiacutetulo - apresenta os procedimentos metodoloacutegicos

utilizados na operacionalizaccedilatildeo da pesquisa e o capiacutetulo quatro - apresenta a anaacutelise do

resultado do Mapeamento dos iacutendios surdos da etnia Satereacute-Maweacute na microrregiatildeo de

Parintins Neste satildeo tambeacutem apresentadas as relaccedilotildees socioculturais-linguiacutesticas de iacutendios

surdos Satereacute-Maweacute com as contribuiccedilotildees linguiacutesticas do professor surdo aos Iacutendios surdos na

comunidade Satereacute-Maweacute estabelecendo assim as relaccedilotildees culturais na construccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo linguiacutestica LIBRAS e Liacutengua Satereacute-Maweacute como um intercacircmbio de construccedilatildeo

sociocultural

Desse modo a pesquisa tem como premissa baacutesica primeiramente mapear os iacutendios

surdos da etnia Satereacute-Maweacute e assim promover um intercacircmbio oferecendo contribuiccedilotildees

linguiacutesticas fundamentadas na pesquisa do leacutexico (vocabulaacuterio) da etnia referida com a Libras

(Liacutengua Brasileira de Sinais) e a Liacutengua Portuguesa por meio da elaboraccedilatildeo de um

6 Conforme Skliar eacute o campo de pesquisa em educaccedilatildeo onde as identidades a liacutenguas a histoacuteria a cultura da

comunidade surda satildeo focalizados e entendidos a partir da diferenccedila a partir do seu reconhecimento poliacutetico

(2001p29)

16

minidicionaacuterio triliacutengue Assim espera-se contribuir para a iniciaccedilatildeo dos indiacutegenas surdos da

etnia Satereacute-Maweacute na Liacutengua Brasileira de Sinais dando a eles um dos direitos universais do

ser humano que eacute direito a uma liacutengua Tambeacutem deseja-se contribuir para a iniciaccedilatildeo dos

indiacutegenas surdos da etnia Satereacute-Maweacute na Liacutengua Brasileira de Sinais dando a eles um dos

direitos universais do ser humano que eacute direito a uma liacutengua proacutepria

17

1 CONSIDERACcedilOtildeES DOS ESTUDOS LINGUIacuteSTICOS DA LIacuteNGUA BRASILEIRA DE SINAIS

A Linguiacutestica conhecida hoje como a ciecircncia que estuda a linguagem humana eacute uma

ciecircncia recente poreacutem com um saber antigo Passou a se impor como ciecircncia agrave medida que

demonstrou seu meacutetodo e seu objeto de estudo Eacute definida como estudo cientiacutefico que visa

descrever ou explicar a linguagem verbal humana (ORLANDI 1999)

A Linguiacutestica diferencia-se da gramaacutetica tradicional normativa na medida que natildeo

tem como objetivo ditar regras de correccedilatildeo para uso da linguagem Seu interesse eacute a liacutengua

como mateacuteria de reflexatildeo (QUADROS e KARNOPP 2004) Segundo as pesquisas nesta

aacuterea Vandresen (1988 apud QUADROS 2007 p 83) tem-se ldquoa linguiacutestica contrastiva como

uma subaacuterea da linguiacutestica geral interessada em apontar as similaridades e diferenccedilas

estruturais entre a liacutengua materna (de um grupo de alunos) e uma liacutengua estrangeirardquo

Na taxonomia de similaridades e contrastes entre as liacutenguas existe uma seacuterie de

regularidades como haacute similaridades comportamentais que natildeo precisam ser explicitadas

porque constituem a base comum das liacutenguas naturais e o compartilhamento dessas

similaridades poderaacute servir como base para inferecircncias quanto agraves formas da liacutengua estrangeira

e quanto agraves diferenccedilas por serem sistemaacuteticas podem admitir tratamento inferencial e

heuriacutestico (KATO 1988 apud QUADROS 2007)

Segundo Nascimento (2009) a vitalidade da liacutengua depende de sua utilizaccedilatildeo efetiva

tanto em escala nacional quanto em escala mundial Quanto mais uma liacutengua eacute utilizada mais

ela eacute viva e inversamente quanto menos eacute utilizada mais ela eacute ameaccedilada de extinccedilatildeo Assim

sendo eacute o uso social da liacutengua que determina seu grau de revitalizaccedilatildeo

Por essas razotildees a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Linguiacutesticos (BARCELONA

1996 p 3) tem como ponto de partida

[] as comunidades linguiacutesticas e natildeo os Estados e inscreve-se no quadro do

reforccedilo das instituiccedilotildees internacionais capazes de garantir um desenvolvimento

duradouro e equitativo para toda a humanidade e tem como finalidade favorecer um

quadro de organizaccedilatildeo poliacutetica da diversidade linguiacutestica baseado no respeito na

convivecircncia e nos benefiacutecios reciacuteprocos

Em seu TITULO PREacuteVIO tem como conceitos

18

Artigo 1ordm

1 Esta Declaraccedilatildeo entende por comunidade linguiacutestica toda a sociedade humana

que radicada historicamente num determinado espaccedilo territorial reconhecido ou

natildeo se identifica como povo e desenvolveu uma liacutengua comum como meio de

comunicaccedilatildeo natural e de coesatildeo cultural entre os seus membros A denominaccedilatildeo

liacutengua proacutepria de um territoacuterio refere-se ao idioma da comunidade historicamente

estabelecida neste espaccedilo [grifo nosso]

2 Esta Declaraccedilatildeo parte do princiacutepio de que os direitos linguiacutesticos satildeo

simultaneamente individuais e colectivos e adapta como referecircncia da plenitude dos

direitos linguiacutesticos o caso de uma comunidade linguiacutestica histoacuterica no respectivo

espaccedilo territorial entendendo-se este natildeo apenas como a aacuterea geograacutefica onde esta

comunidade vive mas tambeacutem como um espaccedilo social e funcional indispensaacutevel ao

pleno desenvolvimento da liacutengua Eacute com base nesta premissa que se podem

estabelecer em termos de uma progressatildeo ou continuidade os direitos que

correspondem aos grupos linguiacutesticos mencionados no ponto 5 deste artigo e os das

pessoas que vivem fora do territoacuterio da sua comunidade []

Em referecircncia ao Artigo 3ordm

- o direito ao ensino da proacutepria liacutengua e da proacutepria cultura

- o direito a dispor de serviccedilos culturais

- o direito a uma presenccedila equitativa da liacutengua e da cultura do grupo nos meios de

comunicaccedilatildeo

- o direito a serem atendidos na sua liacutengua nos organismos oficiais e nas relaccedilotildees

socioeconomicas []

Em referecircncia ao Artigo 5ordm

Esta Declaraccedilatildeo baseia-se no princiacutepio de que os direitos de todas as comunidades

linguiacutesticas satildeo iguais e independentes do seu estatuto juriacutedico ou poliacutetico como

liacutenguas oficiais regionais ou minoritaacuterias Designaccedilotildees tais como liacutengua regional ou

minoritaacuteria natildeo satildeo usadas neste texto porque apesar de em certos casos o

reconhecimento como liacutengua minoritaacuteria ou regional poder facilitar o exerciacutecio de

determinados direitos a utilizaccedilatildeo destes e doutros adjetivos serve frequentemente

para restringir os direitos de uma comunidade linguiacutestica []

Em referecircncia ao Artigo 23ordm

1 O ensino deve contribuir para fomentar a capacidade de auto-expressatildeo

linguiacutestica e cultural da comunidade linguiacutestica do territoacuterio onde eacute

ministrado[grifo nosso]

2 O ensino deve contribuir para a manutenccedilatildeo e o desenvolvimento da liacutengua falada

pela comunidade linguiacutestica do territoacuterio onde eacute ministrado

3 O ensino deve estar sempre ao serviccedilo da diversidade linguiacutestica e cultural e das

relaccedilotildees harmoniosas entre as diferentes comunidades linguiacutesticas do mundo inteiro

4 No quadro dos princiacutepios anteriores todos tecircm direito a aprender qualquer liacutengua

Em referecircncia aos Artigos 26ordm a 28ordm Artigo 26ordm

Todas as comunidades linguiacutesticas tecircm direito a um ensino que permita a todos os

seus membros adquirirem o perfeito conhecimento da sua proacutepria liacutengua com as

diversas capacidades relativas a todos os domiacutenios de uso da liacutengua habituais bem

como o melhor conhecimento possiacutevel de qualquer outra liacutengua que desejem

aprender

Artigo 27ordm

Todas as comunidades linguiacutesticas tecircm direito a um ensino que permita aos seus

membros o conhecimento das liacutenguas ligadas agrave sua proacutepria tradiccedilatildeo cultural tais

como as liacutenguas literaacuterias ou sagradas usadas antigamente como liacutenguas habituais

da sua comunidade

Artigo 28ordm

Todas as comunidades linguiacutesticas tecircm direito a um ensino que permita aos seus

membros adquirirem um conhecimento profundo do seu patrimocircnio cultural (histoacute-

ria e geografia literatura e outras manifestaccedilotildees da proacutepria cultura) assim como o

melhor conhecimento possiacutevel de qualquer outra cultura que desejem conhecer

(BARCELONA 1996 p 4 a 14)

19

Assim nas Disposiccedilotildees Finais no Plenaacuterio da Associaccedilatildeo Internacional para o

Desenvolvimento da Comunicaccedilatildeo Intercultural recomenda agraves Naccedilotildees Unidas que tomem as

medidas necessaacuterias agrave adopccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de uma Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Linguiacutesticos considerando a Convenccedilatildeo nuacutemero 169 da Organizaccedilatildeo Internacional do

Trabalho de 26 de Junho de 1989 relativa aos povos indiacutegenas em paiacuteses independentes que

a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Colectivos dos Povos realizada em Maio de 1990 em

Barcelona declara que todos os povos tecircm direito a exprimir e a desenvolver a sua cultura a

sua liacutengua e as suas normas de organizaccedilatildeo e para o fazerem a dotarem-se de estruturas

poliacuteticas educacionais de comunicaccedilatildeo e de administraccedilatildeo puacuteblica proacuteprias em quadros

poliacuteticos diferentes Considerando tambeacutem a Declaraccedilatildeo Final da Assembleia Geral da

Federaccedilatildeo Internacional de Professores de Liacutenguas Vivas aprovada em Peacutecs (Hungria) em 16

de Agosto de 1991 recomenda-se tambeacutem que os direitos linguiacutesticos sejam consagrados

direitos fundamentais

Neste contexto Nascimento (2009 p 25) pontua

Como princiacutepio eacutetico qualquer poliacutetica de liacutenguas deveraacute trabalhar a unidade e a

diversidade Natildeo se trata de poacutelos de contradiccedilatildeo mas de eixos de transiccedilatildeo A

unidade eacute uma razatildeo do Estado e a diversidade ou variedade eacute a mateacuteria linguiacutestica

proacutepria da comunidade pois reflete a liacutengua em uso ou seja as linguagens verbais

por meio das quais os indiviacuteduos se comunicam A unidade eacute resguardada pelo

padratildeo oficializado em um modelo de gramaacutetica e a variedade se faz representar nas

diversas gramaacuteticas praacuteticas e pragmaacuteticas de um Estado linguiacutestico

Quadros e Karnopp (2004) ainda explicam que a linguiacutestica parte de pressupostos

baacutesicos que determinam as investigaccedilotildees Sendo um dos mais importantes eacute de que a

linguagem eacute restringida por determinados princiacutepios ou seja ldquoregrasrdquo que fazem parte do

conhecimento humano das liacutenguas (falada ou sinalizada) da formaccedilatildeo de palavras da

construccedilatildeo das sentenccedilas e da construccedilatildeo dos textos A partir deste pressuposto da

universalidade de tais princiacutepios as investigaccedilotildees linguiacutesticas objetivam estudar os aspectos

especiacuteficos de cada liacutengua os quais revelam as caracteriacutesticas da linguagem humana A

exemplo o inglecircs o portuguecircs a Liacutengua de Sinais Americana a Liacutengua Brasileira de Sinais

e outras Embora apresentem diferenccedilas entre as liacutenguas agraves estruturas satildeo comuns que por

sua vez interessam agraves investigaccedilotildees linguiacutesticas na medida em que eacute a ciecircncia que objetiva

por explicar a natureza da linguagem humana

A partir dessas concepccedilotildees entendemos que os seres humanos estabelecem relaccedilotildees

do mais simples ao mais complexo com o outro por meio de gestos olhares e contato seja

por meio de sons Tudo isso caracteriza a linguagem humana Observa-se que a ldquolinguagemrdquo

20

eacute um termo usado pelas pessoas com referecircncia agrave linguagem em geral ou seja em uma

variedade de sentidos para denominar sistemas de comunicaccedilatildeo linguagem musical

linguagem corporal linguagem entre animais etc

No que concerne agrave definiccedilatildeo do termo liacutengua Quadros e Karnopp (2004) encontraram

uma seacuterie de definiccedilotildees de liacutengua que apontam para sua diferenciaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao termo

linguagem Estas fornecem subsiacutedios para a indicaccedilatildeo de propriedades consideradas pela

linguiacutestica essenciais agraves liacutenguas naturais sendo que uma delas eacute dada por Saussure que

afirma

Liacutengua natildeo se confunde com a linguagem eacute somente uma parte determinada

essencial dela indubitavelmente Eacute ao mesmo tempo um produto social da

faculdade de linguagem e um conjunto de convenccedilotildees necessaacuterias adotadas pelo

corpo social para permitir o exerciacutecio dessa faculdade nos indiviacuteduos (QUADROS e

KARNOPP 2004 p24)

Portanto entende-se como liacutengua natural

uma liacutengua que foi criada e eacute utilizada por uma comunidade especiacutefica de usuaacuterios

transmitida de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo e que muda ndash tanto estrutural como

funcionalmente ndash com o passar do tempo Ora qualquer liacutengua pode ser considerada

natural independentemente da modalidade que utilize (SAacute 2006 p 134)

Assim a liacutengua natural eacute tratada enquanto sistema linguiacutestico altamente desenvolvido

apresentando as caracteriacutesticas citadas por Quadros e Karnopp (2004 p 25-28) de

flexibilidade versatilidade arbitrariedade descontinuidade criatividade produtividade dupla

articulaccedilatildeo padratildeo de organizaccedilatildeo dos elementos e dependecircncia estrutural Logo conclui-se

que tais caracteriacutesticas satildeo especiacuteficas da faculdade da linguagem humana

11 Liacutengua de Sinais como Liacutengua Natural

A Liacutengua de Sinais eacute uma liacutengua natural criada pelas comunidades surdas Segundo

Skliar (1998 p26) ldquoTodas as crianccedilas surdas podem adquirir a Liacutengua de Sinais desde que

participem das interaccedilotildees quotidianas com a comunidade surda como acontece com qualquer

outra crianccedila na aquisiccedilatildeo de uma liacutengua naturalrdquo Skliar esclarece que liacutengua ldquonaturalrdquo natildeo

se refere a uma espontaneidade bioloacutegica mas como liacutengua que foi criada e eacute utilizada por

uma comunidade especiacutefica de usuaacuterios que transmite de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo e que muda com

o passar do tempo tanto estruturalmente como funcionalmente (IDEM p27)

As Liacutenguas de Sinais satildeo diferentes em cada comunidade com caracteriacutesticas das

liacutenguas orais com estruturas gramaticais proacuteprias que as distingue dos demais sistemas de

21

comunicaccedilatildeo Para Quadros e Karnopp (2004 p 30) ldquoAs liacutenguas de sinais satildeo portanto

consideradas pela linguiacutestica como liacutenguas naturais ou como um sistema linguiacutestico legiacutetimo e

natildeo como um problema do surdo ou como uma patologia da linguagemrdquo7

Para o reconhecimento das Liacutenguas de Sinais como liacutenguas naturais Ramos (2013 p

8) destaca o conceito ldquonaturalrdquo em oposiccedilatildeo a ldquocoacutedigo e linguagemrdquo e a avaliaccedilatildeo apresenta

as semelhanccedilas existentes entre as mesmas e as liacutenguas orais Sendo que uma dessas

semelhanccedilas na linha saussuriana eacute a ldquoexistecircncia de unidades miacutenimas formadoras de

unidades complexas pode ser observada em todas as Liacutenguas de Sinais espalhadas pelo

mundo possuidoras dos niacuteveis fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico e pragmaacuteticordquo

As liacutenguas de sinais apresentam ldquoregistros diversos (por categoria profissional status social

idade niacutevel escolar etc) aleacutem de dialetos regionais tambeacutem referendam as semelhanccedilas com

as liacutenguas oraisrdquo (IDEM p 8)

Estudos aprofundados sobre a Liacutengua de Sinais iniciaram a partir da deacutecada de 1950

com o estudioso da linguiacutestica o americano William Stokoe o qual percebeu e provou que a

Liacutengua de Sinais

[] satisfazia todos os criteacuterios linguiacutesticos de uma liacutengua genuiacutena no leacutexico na

sintaxe na capacidade de gerar um nuacutemero infinito de proposiccedilotildees [] Stokoe

convenceu-se de que os sinais natildeo eram figuras e sim complexos siacutembolos abstratos

com uma estrutura interna complexa Foi entatildeo o primeiro a buscar uma estrutura a

analisar os sinais dissecaacute-los procurar as partes constituintes Desde o comeccedilo ele

tentou demonstrar que cada sinal possuiacutea pelo menos trecircs partes independentes ndash

7 Sobre a surdez temos duas abordagens segundo explica Skliar a cliacutenico terapecircutica e a soacutecio-antropoloacutegica

A visatildeo soacutecioantropoloacutegica descreve a surdez em termos contraacuterios agraves noccedilotildees de patologia e de deficiecircncia

(1998 p10) Durante o seacuteculo passado construi-se o imaginaacuterio de que o surdo era um deficiente que

necessitava falar Segundo Casarin (1996 p2) ldquoNesse discurso deacuteficit doenccedila patologia anomalia implicam

apenas a possibilidade de sequumlecircncia diagnoacutestico tratamento-cura caracteriacutesticas da abordagem meacutedicardquo [] Tal

concepccedilatildeo influecircnciou outras aacutereas do conhecimento inclusive na educaccedilatildeo sobre a forma de perceber o surdo

Cesarian ainda explica que a partir daiacute foram assimilando o imaginaacuterio de que a surdez era uma doenccedila e que o

surdo por natildeo falar era um deficiente que precisava ser curado construindo entre as aacutereas de tratamento um

modelo terapecircutico para o deficiente auditivo Apoacutes as influecircncias da medicina na educaccedilatildeo dos surdos o

modelo cliniacuteco-terapecircutico passa a impor propostas educativas do oralismo dando continuidade agora na aacuterea

educacional ao tratamento do deficiente o mais cedo possivel na escola a fim que ele se enquadre ao modelo

normal modelo ouvinte Logo as escolas apresentavam como instituiccedilotildees de reeducaccedilatildeo da fala desenvolvendo

atividades pedagoacutegicas que tinham como objetivo o treinamento e exerciacutecios com fins a trazer o surdo o mais

possiacutevel do ldquonormalrdquo Perde-se assim muito tempo no processo de ensino aprendizado do sujeito surdo levando

a um fracasso escolar Surge entatildeo a nova concepccedilatildeo nomeada como soacutecio-antropoloacutegica de surdez totalmente

oposta agrave anterior Essa concepccedilatildeo parte das capacidades do sujeito quando considera a liacutengua de sinais como

melhor garantia para o desenvolvimento normal do surdo Esta nova concepccedilatildeo traz a valorizaccedilatildeo da lingua de

sinais e como consequecircncia o reconhecimento das especificidade culturais das comunidades surdas Estudos

feitos por linguiacutesticas observaram o desempenho escolar de pessoas surdas que se comunicam desde a infacircncia

por meio da Liacutengua de Sinais e que demostraram ganhos significativos em divesas aacutereas do desenvolvimento

humano Deixando claro a necessidade do uso da Liacutengua de Sinais como liacutengua natural da pessoa surda (1996

p 3)

22

localizaccedilatildeo configuraccedilatildeo das matildeos e movimento executado (anaacuteloga aos fonemas

da fala) ndash e que cada parte apresentava um nuacutemero limitado de combinaccedilotildees []

(SACKS 1998 p 88-89)

Segundo Ramos (2013 p 9) em 1988 o venezuelano Saacutenchez fez pesquisas sobre as

liacutenguas de sinais e os resultados apresentou ao educador francecircs Jean Foucambert No debate

sobre suas pesquisas ldquosurgiu agrave proposta de um tipo de educaccedilatildeo que privilegiasse a liacutengua

natural da comunidade surda - a Liacutengua de Sinais Venezuelana e a escrita da liacutengua da

comunidade oral o Espanholrdquo Um dos primeiros princiacutepios que lanccedilou a base para a que a

liacutengua de sinais fosse reconhecida como liacutengua natural foi descrita por Foucambert (RAMOS

2013 p 10)

Natildeo soacute os surdos mas toda e qualquer crianccedila pode aprender a liacutengua escrita sem

basear-se na oral porque satildeo independentes Em segundo lugar chegou-se agrave

afirmaccedilatildeo de que a liacutengua de sinais eacute uma liacutengua natural e que os surdos satildeo uma

comunidade linguiacutestica minoritaacuteria com direito a desenvolver sua cultura proacutepria

dentro da cultura majoritaacuteria O fato de a Liacutengua de Sinais cumprir uma seacuterie de

requisitos que todas as liacutenguas naturais possuem - espanhol portuguecircs alematildeo

inglecircs polonecircs a criatividade eacute um deles - pode-se sempre dizer alguma coisa

nova Outro requisito eacute a combinaccedilatildeo de partiacuteculas natildeo significativas que usadas de

certa maneira criam significaccedilatildeo [] Com 30 40 configuraccedilotildees da matildeo podem-se

transmitir milhares de sinais significativos como os fonemas da liacutengua oral A

liacutengua de sinais que como as liacutenguas nacionais eacute diferente em cada paiacutes e ateacute em

regiotildees dos paiacuteses possui aleacutem do mais uma gramaacutetica toda proacutepria organizada e

complexa e nos permite transmitir qualquer coisa [] Com ela pode-se transmitir

criar e recriar o que se quiser poesia romance filosofia E pode-se ateacute formular

ideacuteias com duplo sentido ou mentir que eacute outra caracteriacutestica das liacutenguas naturais

Por meio das pesquisas e estudos diversos paiacuteses passaram a se dedicar no campo da

linguiacutestica da Liacutengua de Sinais eacute que criou-se a possibilidade do povo surdo lutar pelo seu

reconhecimento enquanto liacutengua na medida em que pode contar com estudos que provam

cientificamente de que as Liacutenguas de Sinais satildeo de fato liacutenguas e natildeo um conjunto de

miacutemica

12 Liacutengua Brasileira de Sinais

O ser humano se expressa atraveacutes da liacutengua e a partir dela estabelece sua cultura

valores e padrotildees sociais Para os surdos brasileiros a Libras estabelece essas condiccedilotildees pois

considera a modalidade visual-espacial e associa caracteriacutesticas sociolinguiacutesticas as funccedilotildees

pragmaacuteticas e discursivas semelhantes agraves liacutenguas orais poreacutem a Liacutengua de Sinais por muito

tempo natildeo foi percebida enquanto estrutura linguiacutestica

23

A LIBRAS como toda Liacutengua de Sinais eacute uma liacutengua de modalidade gestual-visual

uma vez que faz uso para a comunicaccedilatildeo de movimentos gestuais e expressotildees faciais

percebidos pela visatildeo Neste sentido a Revista Feneis Ramos (2002 apud RAMOS 2013 p

7-8) ldquoa Liacutengua Portuguesa eacute uma liacutengua de modalidade oral-auditiva por utilizar como canal

ou meio de comunicaccedilatildeo sons articulados que satildeo percebidos pelos ouvidosrdquo Suas diferenccedilas

estatildeo na utilizaccedilatildeo de canais diferentes e nas estruturas gramaticais de cada liacutengua

Para Campello (2009) historicamente os primeiros estudos da Liacutengua de Sinais

apareceram no seacuteculo XIV exatamente nos anos de 1644 pelo inglecircs Bulwer J B com o livro

de Liacutengua de Sinais Inglesa Chirologia8 on the natural language of the hand com os estudos

destacando as figuras das matildeos e seus significados Menciona tambeacutem que era recompensa

de natureza que os surdos devam se comunicar atraveacutes dos gestos e acreditava firmemente na

ldquonecessidade que opera a Natureza dos homens que nascem Surdos-Mudos que podem

discutir mostrar sinalizar retoricamente por sinaisrdquo (p 13)

Em 1960 W C Stokoe pesquisador inglecircs da Gallaudet University fez uma pesquisa

entre as gramaacuteticas utilizadas pelos surdos em sala de aula e fora dela e os resultados foram

publicados no artigo Sign Language Structure na outline of the visual communication system

of the American Deaf na revista Studies in Linguistics Occassional Papers 8 (CAMPELLO

2009) E eacute a partir destes estudos que Stokoe afirma que a Liacutengua de Sinais eacute liacutengua

Stokoe (1960) ldquopercebeu e comprovou que a liacutengua de sinais atendia a todos os

criteacuterios linguiacutesticos de uma liacutengua genuiacutena no leacutexico na sintaxe e na capacidade de

gerar uma quantidade infinita de setenccedilasrdquo Stokoe observou que os sinais natildeo eram

imagens mas siacutembolos abstratos complexos com uma complexa estrutura interior

[] Comprovou inicialmente inicialmente que cada sinal apresentava pelo menos

trecircs partes independentes (em analogia com os fonemas da fala) ndash a localizaccedilatildeo a

configuraccedilatildeo de matildeos e o movimento ndash e que cada parte possuiacutea um nuacutemero

limitado de combinaccedilotildees [] (QUADROS E KARNOPP 2004 p 30-31)

Os estudos do linguiacutesta representou o primeiro passo para outras pesquisas em relaccedilatildeo

a Liacutengua de Sinais Em diversos paiacuteses pesquisas foram realizadas O Brasil foi um deles

No Brasil no final dos anos de 1970 a proposta da educaccedilatildeo biliacutengue reconhece a

Libras como liacutengua natural portanto deve ser ensinada como primeira liacutengua desde o iniacutecio

da escolarizaccedilatildeo da crianccedila surda e a comunidade surda reconhece o portuguecircs como a liacutengua

oficial do Brasil e deve ser ensinada como segunda liacutengua na forma oral ou escrita

(SLOMSKI 2010)

8 Bulwer (1644) em seu livro esclarece que a quirologia eacute um dicionaacuterio de gestos manuais e quirema eacute um

manual para o uso efetivo do gesto de falar em puacuteblico

24

Segundo Quadros (2009 p144) no entanto a Liacutengua de Sinais comeccedilou a ser

investigada efetivamente nas deacutecadas de 80 e 90 por Ferreira Brito (1986 1995) Felipe

(1992 1993) Quadros (1995 1999) e a aquisiccedilatildeo da Liacutengua Brasileira de Sinais nos anos 90

(Karnopp (1994 1999 Quadros (1995 1997)

Na deacutecada de 1980 a 1990 tem-se um panorama mundial para a abordagem biliacutengue

na educaccedilatildeo de surdos Slomski (2010 p 61) destaca que em 1994 Lucinda Ferreira Brito

passa a utilizar a abreviaccedilatildeo de LIBRAS (Liacutengua Brasileira de Sinais) criada pela comunidade

surda Consequentemente pesquisas estudos e lutas da comunidade surda contribuiacuteram para a

instauraccedilatildeo de uma poliacutetica linguiacutestica da Liacutengua Brasileira de Sinais A que reconhece o

estatuto linguiacutestico legal por meio da Lei 10436 de 24042002

Art 1ordm Eacute reconhecida como meio legal de comunicaccedilatildeo e expressatildeo a Liacutengua

Brasileira de Sinais ndash Libras e outros recursos de expressatildeo e por ela associados

Paraacutegrafo uacutenico Entende-se como Liacutengua Brasileira de Sinais ndash Libras a forma e

comunicaccedilatildeo e expressatildeo em que o sistema linguiacutestico de natureza visual-motora

com estrutura gramatical proacutepria constituem um sistema linguiacutestico de transmissatildeo

de ideias e fatos oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil

[](BRASIL 2007 p 2)

A Liacutengua de Sinais como jaacute mencionado eacute uma liacutengua natural composta por de todos

os componentes agraves liacutenguas orais como gramaacutetica semacircntica pragmaacutetica sintaxe e outros

elementos preenchendo os requisitos cientiacuteficos para ser considerado um sistema linguiacutestico

Conforme Felipe e Monteiro (2004 p23) as Liacutenguas de Sinais satildeo compostas por

signos linguiacutesticos denominados bdquosinais‟ encontrados nos seguintes paracircmetros

Configuraccedilatildeo das Matildeos Ponto de Articulaccedilatildeo Movimento Orientaccedilatildeo Expressatildeo Facial eou

Corporal Estes paracircmetros satildeo requisitos necessaacuterios para que sejam constituiacutedos os sinais

Portanto a Liacutengua de Sinais eacute considerada como liacutengua natural do sujeito surdo

como sua primeira liacutengua-L1 Jaacute a liacutengua majoritaacuteria de um paiacutes no caso do Brasil eacute a

Liacutengua Portuguesa como L2 Partindo do pressuposto que a Liacutengua de Sinais eacute a primeira

liacutengua do surdo a aquisiccedilatildeo da primeira liacutengua pelas crianccedilas surdas deve se dar de forma

natural no contato com surdos sinalizados pertencentes agrave comunidade surda A Liacutengua

Portuguesa por sua vez eacute aprendida de forma sistemaacutetica ou seja precisa ser ensinada por

meio de teacutecnicas especiacuteficas de ensino de segunda liacutengua

A partir desta compreensatildeo as crianccedilas surdas precisam ter a oportunidade do contato

com seus pares Crianccedilas surdas que natildeo tecircm um conviacutevio com surdos por terem nascido

dentro de familias ouvintes que usam a liacutengua oral precisam que os pais familiares

25

oportunizem a elas o mundo essencialmente visual-espacial para conhecer a Liacutengua de

Sinais Sobre a questatildeo Quadros (2005 p30) afirma

As crianccedilas surdas e seus pais ouvintes poderiam compartilhar o bilinguismo liacutengua

portuguesa e liacutengua de sinais brasileira e ir aleacutem descobrindo os vieses das culturas

e identidade que se entrecruzam [] Assim as crianccedilas surdas precisam ter acesso

agrave liacutengua de sinais com sinalizantes fluentes desta liacutengua muito cedo Estes

sinalizantes satildeo pessoas que normalmente natildeo fazem parte do ciacuterculo de pessoas

que a crianccedila usualmente teria contato Os pais teratildeo que conhecer comunidade

surda que usa esta liacutengua

Nesta perspectiva Souza (apud QUADROS 2005) menciona que se no iniacutecio do seu

desenvolvimento a crianccedila surda tiver a chance de contar com pais dispostos a aprenderem a

liacutengua de sinais com adultos surdos colegas surdos e conversarem ldquosinalizandordquo a

dimensatildeo do seu processo educacional seraacute outra A aquisiccedilatildeo da liacutengua seraacute transferida para

o espaccedilo escolar ldquoO fato de passar a ter contato com a liacutengua portuguesa com significado

trazendo seus conceitos adquiridos na sua proacutepria liacutengua possibilitaraacute um processo muito

mais significativordquo (ibid p33)

Por isso eacute de importacircncia fundamental a crianccedila surda esteja em contato linguiacutestico

com a liacutengua de sinais o mais cedo possiacutevel seja com a comunidade surda ou com seus pais

ouvintes que adquiriram a Liacutengua de Sinais como L2 Estes fatores iratildeo influenciar a crianccedila

estabelecer a sua identidade e cultura surda naturalmente Neste sentido Fantinel (1999 p2)

menciona que ldquoo uso da Liacutengua de Sinais eacute uma condiccedilatildeo fundamental na construccedilatildeo da

identidade dessas pessoas pois eacute o fator que os aproxima e reuacutene em grupos permitindo-lhes

expressarem-se construindo significados para a vidardquo

A Liacutengua de Sinais portanto eacute um aspecto fundamental da cultura surda Para tanto

Strobel (2008 p44) ainda enfatiza que para que o sujeito surdo possa ter acesso agraves

informaccedilotildees e conhecimentos aleacutem de construir sua identidade eacute fundamental criar uma

ligaccedilatildeo com o povo surdo que usa a sua liacutengua em comum pois a Liacutengua de Sinais eacute uma das

principais marcas da identidade de um povo surdo uma particularidade da cultura surda uma

forma de comunicaccedilatildeo que capta as experiecircncias visuais dos sujeitos surdos E somente a

partir do uso desta liacutengua que a crianccedila conseguiraacute seu pleno desenvolvimento cognitivo

psicoloacutegico emocional e cultural proporcionando assim a aquisiccedilatildeo do conhecimento

universal

Desta forma ao refletirmos sobre a pessoa surda na construccedilatildeo de sua identidade e

cultura surda entende-se que o contato linguiacutestico eacute essencial Logo o que dizer das pessoas

26

surdas que vivem isoladas de comunidades surdas que natildeo tem esse contato com Liacutengua de

Sinais Sobre esta realidade Strobel esclarece que

No entanto incluem tambeacutem os gestos denominados ldquosinais emergentesrdquo ou ldquosinais

caseirosrdquo dos sujeitos surdos de zonas rurais ou sujeitos isolados de comunidades

surdas que procuram entender o mundo atraveacutes dos experimentos visuais e que

procuram comunicar apontando e criando sinais [] (ibidem p44)

Ainda sobre a questatildeo Vilhalva (2012 p 30) ressalta que ldquo[] Os sinais emergentes

tambeacutem conhecidos como sinais caseiros satildeo essenciais quando vistos como comunicaccedilatildeo

natural usada em um espaccedilo familiar ou social []rdquo Nesse caso podemos referir ao iacutendio

surdo que vive isolado do contato com a comunidade surda Este surdo tambeacutem se identifica

com o povo surdo apesar de natildeo ter contato e de natildeo pertencer agraves mesmas comunidades

surdas na medida em que de acordo com Strobel (2008) eles compartilham as mesmas

peculiaridades ou seja constroem sua formaccedilatildeo de mundo atraveacutes de artefato cultural visual

13 Liacutenguas de Sinais Indiacutegenas pesquisadas no Brasil

Os registros da existecircncia de iacutendios surdos segundo Vilhalva (2008) apontam para o

Estatuto do Iacutendio - Lei nordm 6001 de 19121973 que norteou as relaccedilotildees do Estado brasileiro

com as populaccedilotildees indiacutegenas ateacute a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 em seu Paraacutegrafo

uacutenico do Art 1ordm assegura

Aos iacutendios e agraves comunidades indiacutegenas se estende a proteccedilatildeo das leis do Paiacutes nos

mesmos termos em que se aplicam aos demais brasileiros resguardados os usos

costumes e tradiccedilotildees indiacutegenas bem como as condiccedilotildees peculiares reconhecidas

nesta Lei

Neste sentido no Brasil a liacutengua oficial eacute a Liacutengua Portuguesa Fossile (2013 p 4)

afirma que ldquoo paiacutes conta atualmente segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatiacutestica (IBGE) com aproximadamente 210 liacutenguas sendo 190 delas indiacutegenasrdquo Essas

liacutenguas indiacutegenas satildeo consideradas como liacutenguas minoritaacuterias sem importacircncia em relaccedilatildeo ao

portuguecircs No entanto algumas possuem mais prestiacutegio em relaccedilatildeo agraves outras

Em relaccedilatildeo ao conhecimento da liacutengua e da diversidade na dinacircmica soacutecio-cultural das

populaccedilotildees indiacutegenas deveria haver prioridades para estudos no campo linguiacutestico para

acadecircmicos e pesquisadores indios De fato o conhecimento das liacutenguas faladas e no

contexto tem-se essa diversidade para iacutendios surdos deveria ser compartilhada com a

27

sociedade indiacutegena de forma que esta possam participar ativamente na elaboraccedilatildeo de poliacuteticas

e programas que respondam agraves suas necessidades seus direitos considerando-se em particular

suas culturas e liacutenguas

Segundo Vilhalva (2008) pesquisas no campo da linguiacutestica e de poliacuteticas linguiacutesticas

avanccedilaram consideravelmente no Brasil Tendo poreacutem ainda uma grande necessidade de

maiores pesquisas principalmente referente a diferentes Liacutenguas de Sinais pertencentes a

diferentes comunidades como as dos povos indiacutegenas Neste sentido a autora argumenta

A Liacutengua de Sinais Indiacutegenas praticadas pelos iacutendios surdos existentes em diversas

comunidades indiacutegenas do paiacutes traz consigo caracteriacutesticas culturais e linguiacutesticas

variadas bdquoInfelizmente raramente satildeo registradas como satildeo registradas outras liacutenguas

brasileiras de diferentes comunidades com suas especificidades culturais e eacutetnicas ‟

(VILHALVA 2008 p 29)

Sobre a questatildeo Nonaka coloca que

desde 1960 quando se iniciaram os estudos linguiacutesticos e antropoloacutegicos em

referecircncia agraves Liacutenguas de Sinais a maior parte das investigaccedilotildees tem incidido sobre

as Liacutenguas de Sinais nacionais ou padratildeo usadas pelos surdos de diferentes paiacuteses

com escassa atenccedilatildeo agraves Liacutenguas de Sinais usadas pelos indiacutegenas em sua

comunicaccedilatildeo original (apud VILHALVA 2012 p 30)

Por isso Vilhalva defende a comunicaccedilatildeo dos iacutendios surdos como objeto de estudo da

linguiacutestica afirmando que

[] Sabemos tambeacutem que a Libras estaacute presente nas terras indiacutegenas

apontando que a influecircncia aconteceraacute Sendo assim consideramos quanto o leacutexico

das liacutenguas estaacute no processo de mudanccedilas atraveacutes do neologismo espontacircneo ou o

empreacutestimo linguiacutestico de outras liacutenguas (ibid p37)

Observa-se que os estudos sobre a Libras nas terras indiacutegenas comeccedilaram na deacutecada

de 1980 com pesquisas da brasileira Lucinda Ferreira Brito sobre a Liacutengua Brasileira de

Sinais Segundo Slomski (2010) Lucinda Ferreira Brito iniciou sua pesquisa atraveacutes de um

padratildeo internacional de abreviaccedilatildeo das Liacutenguas de Sinais adotando a sigla LSCB ndash Liacutengua de

Sinais dos Centros Urbanos Brasileiros para diferenciaacute-la da LSKB ndash Liacutengua de Sinais

Kaapor Brasileiros que eram a utilizada pelos iacutendios do Estado do Maranhatildeo

Diante do panorama exposto se faz necessaacuterio no campo da linguiacutestica dos estudos

surdos pesquisas sobre a Liacutengua de Sinais usadas pelos iacutendios surdos nas diferentes

comunidades indiacutegenas para que seja reconhecida e registrada Infelizmente somente uma

28

liacutengua indiacutegena eacute oficialmente reconhecida no Brasil a Liacutengua de Sinais Indiacutegena da

comunidade Urubu-Kaapor devido ao alto iacutendice de surdos

131 Liacutengua de Sinais Urubu-Kaapor

Os resultados do Censo 2010 (IBGE 2013) apontam para 274 liacutenguas indiacutegenas

faladas por indiviacuteduos pertencentes a 305 etnias diferentes Embora haja a necessidade de

estudos linguiacutesticos e antropoloacutegicos mais aprofundados quanto aos nuacutemeros totais de liacutengua

e etnia

Dentro desse universo a uacutenica Liacutengua de Sinais indiacutegena reconhecida conforme

referido anteriormente eacute a utilizada pela etnia indiacutegena brasileira dos Urubu-Kaapor9

chamados tambeacutem por urubus-caapores Os estudos sobre essa Liacutengua de Sinais apontam para

o iniacutecio da deacutecada de 1950

De acordo com Ribeiro (1996 apud FASSILE 2013 p 2)

Em 1950 foi descoberto no Brasil um grupo indiacutegena atraveacutes de pesquisas

antropoloacutegicas os Urubu-Kaapor na floresta Amazocircnica (Maranhatildeo) que falava

uma variaccedilatildeo da liacutengua de sinais Somente a partir da deacutecada de 1980 estudos

linguiacutesticos relacionados agrave Liacutengua de Sinais Kaapor Brasileira (LSKB) foram

aprofundados (sobre a LSKB cf KAKUMASU J KAKUMASU K 1977)

Segundo Brito (1993 apud FASSILE 2013 p 2) J Kakumasu defendeu que ldquo[] a

Liacutengua de Sinais dos Urubu-Kaapor [] [se constituiacutea como] um veiacuteculo de comunicaccedilatildeo

intratribal e natildeo como meio de transaccedilatildeo comercialrdquo Neste sentido resgata-se que

No Brasil Lucinda Brito inicia seus importantes estudos linguiacutesticos em

1982 sobre a Liacutengua de Sinais dos iacutendios Urubu-Kaapor da floresta amazocircnica

brasileira apoacutes um mecircs de convivecircncia com os mesmos documentando em filme

sua experiecircncia A ideia para a pesquisa adveio da leitura de um artigo publicado no

livro de Umiker-Sebeok (1978) de autoria de J Kakumasu Urubu Sign Language

No estudo a Liacutengua de Sinais dos Urubu-Kaapor se diferenciaria da PSL por

constituir um veiacuteculo de comunicaccedilatildeo intratribal e natildeo como meio de transaccedilatildeo

comercial Lucinda Brito poreacutem constatou que a mesma se tratava de uma legiacutetima

Liacutengua de Sinais dos surdos pelos mesmos criados

O interessante de se observar no caso dos Urubu-Kaapor eacute que os ouvintes da

aldeia falam a Liacutengua de Sinais e a liacutengua oral evidentemente enquanto que os

surdos se restringem agrave Liacutengua de Sinais Assim os ouvintes da aldeia se tornam

biliacutengues enquanto os surdos se mantecircm monoliacutengues (RAMOS 2011 p 6)

9 Disponiacutevel emlthttpwwwlibrascombrurubu-kaaporgt Acesso em 19112013

29

A Liacutengua Kaapor eacute uma liacutengua da famiacutelia Tupi-Guarani natildeo falada por outra tribo ou

povo exceto como segunda liacutengua Possuem uma liacutengua de sinais proacutepria (a Liacutengua Brasileira

de Sinais Kaapor) usada tanto pela comunidade surda do povo como tambeacutem por seus

membros natildeo surdos na comunicaccedilatildeo com os surdos

[] os Kaapor satildeo linguisticamente peculiares na Amazocircnia por terem uma

linguagem padratildeo de sinais usada para a comunicaccedilatildeo com os surdos que ateacute a

metade dos anos 80 compunham cerca de 2 da totalidade de sua populaccedilatildeo A

incidecircncia de surdez deveu-se evidentemente agrave bouba neonatal e endecircmica que foi

erradicada10

O interessante eacute que a comunidade indiacutegena desenvolveu uma forma proacutepria de

comunicaccedilatildeo por sinais que comeccedilou a ser estudada na deacutecada de 1960 pelo pesquisador

canadense James Kakumasu em (1968) e em seguida pela linguista brasileira Linguista

Lucinda Ferreira Brito ldquo[] A Liacutengua de Sinais Brasileira para diferenciaacute-la da LSKB

(Liacutengua de Sinais Kaapor Brasileira) utilizados pelos iacutendios Urubu-Kaapor no Estado do

Maranhatildeordquo (GOLDFELD 1997 p 30) A pesquisadora registrou a existecircncia da Liacutengua de

Sinais Kaapor em sua pesquisa sobre termos baacutesicos para cores em Liacutengua de Sinais

132 Liacutengua de Sinais Emergentes

Vilhalva (2012) se preocupou sobre a situaccedilatildeo linguiacutestica dos iacutendios surdos trazendo

grandes contribuiccedilotildees cientiacuteficas na aacuterea da linguiacutestica referente agraves Liacutenguas de Sinais

Indiacutegenas Sua pesquisa iniciou em 1991 com iacutendios surdos na comunidade indiacutegena de Satildeo

Marcos

O estudo dos sinais emergentes que se deseja apresentar objetiva natildeo apenas

recuperar os registros sobre as liacutenguas padratildeo mas tambeacutem e sobretudo procurar

realizar um levantamento de como se apresenta atualmente o uso desses sinais

emergentes e ateacute mesmo da histoacuteria da produccedilatildeo desses sinais para que se possa

fazer o registro cientifico sobre a situaccedilatildeo linguiacutestica dos iacutendios surdos dentro das

escolas indiacutegenas [] (VILHALVA 2012 p11a)

Souza e Segala (2009 p28) abordam que a maior parte das liacutenguas nasceu do

contato entre duas ou mais liacutenguas ou de uma liacutengua e sistemas de sinais caseiros (Liacutengua de

Sinais Primaacuteria) Observa-se que ldquosinais caseiros ou Liacutengua de Sinais Primaacuterios

correspondentes aos gestos ou construccedilatildeo simboacutelica inventadas no acircmbito familiar eacute comum

10

Disponiacutevel emlthttppibsocioambientalorgptpovokaaporgt Acesso em 19112013

30

a constituiccedilatildeo de um sistema convencional de comunicaccedilatildeo entre matildee-ouvinte e crianccedila

surdardquo

Sobre a origem dos sinais emergentes Vilhalva explica que

[] os sinais emergentes foram criados devido a uma necessidade de comunicaccedilatildeo

passando por sinais indicativos icocircnicos e arbitraacuterios A maneira como cada sinal

surge levam tempo para se entender principalmente quando os sinais satildeo criados

conforme o neologismo11

Esses novos sinais passam a fazer parte da comunicaccedilatildeo

para depois designar algo consistentemente como acontece tambeacutem agraves liacutenguas

orais-auditivas (2012 p137-138)

Desta forma a autora em sua pesquisa argumenta que os sinais emergentes

considerados em seu estudo como Liacutengua de Sinais constituem como o meio de

comunicaccedilatildeo primaacuteria dos iacutendios surdos das comunidades indiacutegenas do Mato Grosso do Sul

Partindo deste achado Rousseau jaacute mencionava em seus estudos ldquoEnsaio sobre a origem das

liacutenguasrdquo que

O uso e a necessidade ensinam a cada um a liacutengua de seu paiacutes mas o que eacute que faz

com que essa liacutengua seja a de seu proacuteprio paiacutes e natildeo a de um outro [] No

momento em que um homem foi reconhecido por um outro como um ser sensiacutevel

pensante e semelhante a ele o desejo ou a necessidade de comunicar-lhe os proacuteprios

sentimentos e os proacuteprios pensamentos fez com que procurasse os meios de fazecirc-lo

(2008 p 97)

Assim o primeiro contato do ser humano eacute com o outro da mesma espeacutecie No caso da

matildee com seu filho Conforme Sacks (1998 p 7) comenta que

[] a primeira comunicaccedilatildeo geralmente se daacute entre matildee e filho e a liacutengua eacute

adquirida emerge entre eles dois Sendo assim Os sinais emergentes tambeacutem satildeo

fruto da linguagem num processo visual usados pelos surdos indiacutegenas e seus

familiares ouvintes na interaccedilatildeo com o meio (VILHALVA 2012 p 137)

Vilhalva (2012) entatildeo percebeu a predominacircncia dos gestos caseiros criados pelos

proacuteprios surdos para interagirem com suas famiacutelias e com as pessoas que os rodeiam Ou

seja a crianccedila surda que nasce na famiacutelia de ouvinte comeccedila a criar a partir de um meio de

comunicaccedilatildeo visual usando todas as formas naturais possiacuteveis desde o apontamento ateacute os

gestos naturais O uso que destes sinais criados pelas necessidades do ambiente familiar com

o passar do tempo vatildeo se convencionando a forma de interaccedilatildeo dialoacutegica passando a

transformar-se em um meio de comunicaccedilatildeo essencial resultando assim no processo

11

Satildeo palavras criadas para designar novas situaccedilotildees novos conceitos fatos objetos etc sendo que um

neologismo soacute eacute sentido como tal durante algum tempo pois passados anos ou seacuteculos deixa de ter sentido

como tal porque a realidade que ele designa jaacute natildeo eacute nova

31

evolutivo dos sinais familiares para os sinais emergentes para transiccedilatildeo para a Liacutengua de

Sinais ou seja arbitraacuteria convencional Esse processo se daacute por meio do processo cognitivo

fundamentada na teoria de Cuxac

Construccedilatildeo do dizer a partir do processo criativo de performance gestual Iconizando

da experiecircncia perceptivo-praacutetica Rotinas de Transferecircnciandashpassagem da ilustraccedilatildeo

especifica para a categorizaccedilatildeo geneacuterica Sinais estabelecidos num grupo reduzido

categorias e generalizaccedilotildees dos sinais gestuais Nasce uma liacutengua de Sinais com

todas as propriedades de uma liacutengua (apud VILHALVA 2012 p138)

Vilhalva (2012) ainda destaca que se observarmos a Lei nordm 10436 de 24 de abril de

2002 vamos verificar que em seu artigo primeiro ldquoficam reconhecidos como meio legal de

comunicaccedilatildeo e expressatildeo a Liacutengua Brasileira de Sinais-Libras ndash e outros recursos de

expressatildeo a ela associadosrdquo Nesses bdquooutros recursos‟ podem figurar segundo compreensatildeo

da mesma os sinais emergentes produzidos nas comunidades indiacutegenas Se a Liacutengua

Brasileira de Sinais uma forma de comunicaccedilatildeo e expressatildeo cujo canal de produccedilatildeo e

recepccedilatildeo eacute de natureza visual-motora com estrutura gramatical proacutepria constituindo um

sistema linguiacutestico de transmissatildeo de ideias e fatos oriundos de comunidades de pessoas

surdas no Brasil conforme estaacute na lei eacute compreensivo dizer que nada fala sobre um padratildeo de

sinalizaccedilatildeo (p34)

Conclui-se que conforme pesquisa da autora citada os estudos dos sinais emergentes

mostraram que este eacute o ponto inicial das novas Liacutenguas de Sinais que segundo a mesma

merecem ser aprofundadas

1321 Realidade do contexto educacional escolar do indiacutegena surdo

Vilhalva (2012) destaca que o indiviacuteduo surdo soacute teraacute um sistema gestual linguiacutestico

organizado no contato do agrupamento comunitaacuterio especificamente da comunidade surda

com o contato com a Liacutengua de Sinais E isso muitas vezes acontece em geral somente no

acircmbito escolar biliacutengue onde haacute outros surdos inteacuterpretes e professores ouvintes que fazem

uso da Liacutengua de Sinais Por isso eacute essencial uma escola que respeite a diversidade linguiacutestica

como no caso desta comunidade Desta forma se faz necessaacuterio presenccedila na escola de

inteacuterpretes vindo das cidades mais proacuteximas das terras indiacutegenas de modo que

32

[] o Professor ministra as aulas em Portuguecircs e tem disciplina em Guarani

Observamos que pelo fato de os professores da pedagogia diferenciada indiacutegena

realizarem sua formaccedilatildeo em universidades locais onde o assunto em torno da surdez

e da Libras satildeo discutidos estes profissionais tecircm uma formaccedilatildeo que respeita natildeo soacute

a cultura e a liacutengua indiacutegena mas tambeacutem a cultura e a Liacutengua de Sinais

caracteriacutesticas que estatildeo presentes nas escolas indiacutegenas biliacutengues em que a liacutengua

de instruccedilatildeo eacute o Guarani-Portuguecircs(VILHALVA 2012 p 11b)

Poreacutem o que natildeo eacute o caso da escola Araporatilde mencionada por Vilhalva (2012) que teve

preferecircncia do inteacuterprete indiacutegena para a preservaccedilatildeo da cultura liacutengua e saber Foi observado

na pesquisa que os indiacutegenas surdos com vinte anos de idade em diante demonstram

seguranccedila ao sinalizar com o pesquisador surdo usando seus sinais emergentes de forma

natural Os mais novos de escolas indiacutegenas mas da mesma comunidade indiacutegena natildeo

demonstraram o uso de sinais emergentes e sim apresentaram diretamente sua comunicaccedilatildeo

em Libras Entretanto os resultados apontam que natildeo haacute como dizer se o atendimento

educacional para o iacutendio surdo estaacute acontecendo em todas as comunidades indiacutegenas ldquopois

interfere numa questatildeo de respeitar o que diz o proacuteprio plano de educaccedilatildeo sobre uma visatildeo

amplamente ligada agrave liacutengua cultura e diversidade nas escolas e terras indiacutegenasrdquo (ibid p36)

Nesta oacutetica se realmente as poliacuteticas linguiacutesticas fossem mais enfaacuteticas em suas

propostas de realizar a planificaccedilatildeo linguiacutestica incluindo a criaccedilatildeo de escolas biliacutengues e de

legislaccedilotildees especiacuteficas para as questotildees referentes agraves liacutenguas o indiviacuteduo indiacutegena surdo

poderia ter seus direitos linguiacutesticos assegurados

Neste sentido resgata-se o Referencial Curricular Nacional para Escolas Indiacutegenas

(1998) o qual menciona que

[] as tradiccedilotildees culturais os conhecimentos acumulados a educaccedilatildeo das geraccedilotildees

mais novas as crenccedilas o pensamento e a praacutetica religiosa as representaccedilotildees

simboacutelicas a organizaccedilatildeo poliacutetica os projetos de futuro enfim a reproduccedilatildeo

sociocultural das sociedades indiacutegenas satildeo na maioria dos casos manifestaccedilotildees

atraveacutes do uso de uma liacutengua Mesmo os povos indiacutegenas que satildeo hoje monoliacutengues

em liacutengua portuguesa continuam a usar a liacutengua de seus ancestrais como um siacutembolo

poderoso para onde confluem muitos de seus traccedilos identificatoacuterios construindo

assim um quadro de bilinguismo simboacutelico importante [grifo nosso]

Ou seja assim como para o surdo urbano brasileiro eacute reconhecida legalmente sua

liacutengua natural - Libras e a Liacutengua Portuguesa como segunda liacutengua -L2 para o indiacutegena surdo

deveria ser assegurado o mesmo direito para aprender esta forma de comunicaccedilatildeo ndash Liacutengua de

Sinais como primeira liacutengua e como segunda liacutengua a Liacutengua de sua etnia na modalidade

33

escrita Sendo portanto biliacutengue ou ainda triliacutengue com aquisiccedilatildeo da Liacutengua Portuguesa

tambeacutem na modalidade escrita

Nesta perspectiva observa-se que Saacute (2011 p33) afirma que tanto indiacutegenas como

surdos tecircm uma liacutengua proacutepria e uma cultura diferenciada Entatildeo porque natildeo ser reconhecida

legalmente a Liacutengua de Sinais utilizada pelos iacutendios surdos e a Liacutengua de sua comunidade

Como bem percebido por Vilhalva haacute a carecircncia de pesquisas voltadas para o registro de

liacutengua de sinais entre os iacutendios surdos brasileiros o que certamente constitui-se em um dos

fatores que favorecem a existecircncia desta lacuna na legislaccedilatildeo E que tal fato deveria ser um

despertar para pesquisadores da linguiacutestica sejam ouvintes ou surdos

34

2 A HISTOacuteRIA DO POVO INDIacuteGENA SATEREacute-MAWEacute CULTURA E LIacuteNGUA

Os povos indiacutegenas durante muito tempo foram considerados como povos sem

histoacuteria e sem uma liacutengua proacutepria Poreacutem com as muitas lutas eacutetnicas com estudos

antropoloacutegicos e com as abordagens historiograacuteficas iniciou-se uma valorizaccedilatildeo da

sociedade indiacutegena passando assim o povo indiacutegena a ser perspectivado nas suas

singularidades histoacutericas culturais e linguiacutesticas

Vale ressaltar que quando se refere a ldquoliacutenguasrdquo sabe-se que natildeo haacute apenas uma liacutengua

indiacutegena Existem muitos povos ou etnias indiacutegenas distintas As liacutenguas indiacutegenas no Brasil

se agrupam em famiacutelias linguiacutesticas ou seja famiacutelias que tecircm semelhanccedilas entre si e que satildeo

agrupadas por sua vez em troncos linguiacutesticos assim como as liacutenguas isoladas12

ou seja

liacutenguas que natildeo parecem ter parentesco com nenhuma das famiacutelias linguiacutesticas conhecidas

Segundo Rodrigues (2002) as famiacutelias indiacutegenas estatildeo agrupadas em Tronco

Linguiacutestico Tupi famiacutelia Tupi-Guarani (Akwaacutewa Amanayeacute Anambeacute Apiakaacute Araweteacute

Asurini Avaacute Guajaacute Guarani Kamayuraacute Kayabi Suryiacute Kaiwaacute) famiacutelia Munduruku

(Kuruaacuteya Mundurukuacute) Famiacutelia Tupari (Makuraacutep Tupari Wayoroacute) Famiacutelia Arikeacutem

(Karitiaacutena) Famiacutelia Juruna (Juruna) Famiacutelia Mondeacute (Aruaacute Cinta-Larga Gaviatildeo Mekeacutem

Mondeacute Suruiacute Zoroacute) Famiacutelia Ramaraacutema (Araacutera Itoqapuk) Outras Liacutenguas (Aweti

Puruboraacute Satereacute-Maweacute) entre outros troncos linguiacutesticos como Macro-Jecirc e sua diversidade

de famiacutelias existentes entre elas as liacutenguas isoladas

Um desses povos indiacutegenas foi o da etnia Satereacute-Maweacute Estes sofreram muitas

influecircncias em seu modo de vida advinda do contato com grupos natildeo indigenas que implicou

no processo de perda de muitos dos seus aspectos culturais A histoacuteria relata que o contato se

deu pela chegada dos colonizadores e posteriormente das missotildees religiosas E na atualidade

por ocupantes de terras como fazendeiros madeireiros emigrantes de outros Estados Foram

perdas irreparaacuteveis todavia como elo de resistecircncia procuraram sustentar em sua estrutura

original sua liacutengua

12

Segundo Rodrigues (2002 p93) liacutenguas isoladas refere-se as liacutenguas isoladas linguisticamente ou seja

liacutenguas que natildeo revelam parentesco geneacutetico com nenhuma outra Natildeo pertencem a nenhuma famiacutelia (ou tronco)

isto eacute constituem famiacutelias de um soacute membro

35

21 Breve Relato Histoacuterico

A histoacuteria do povo indiacutegena Satereacute-Maweacute tem sido foco de estudos dos diversos

segmentos de pesquisas como as realizadas por antropoacutelogos historiadores religiosos e

cientistas da linguagem Estes relatam a origem a liacutengua e a cultura desse povo

Uggeacute (1993 p 5) informa que ldquoOs Maueacutes descendentes das tribos indiacutegenas

denominadas no passado pelo nome de ANDIRAacute e MARAGUAacute que faz parte da aacuterea cultural

Tapajoacutes-Madeira entre a divisa dos atuais Estados do Paraacute e Amazonasrdquo O autor ainda

menciona que cronistas exploradores missionaacuterios antropoacutelogos naturalistas do passado

identificaram os Maueacutes tambeacutem com outros nomes (Maooz Mabueacute Jaquezes Manguases

Mahueacutes Mauris Maweacute Maragua e Maraguazes)

A origem do nome Satereacute-Maweacute advem dos termos Satereacute (lagarta vermelha) que eacute o

nome do clatilde dos antigos chefes e Maweacute (papagaio inteligente guerreiro e curioso) que eacute o

nome mais comum de um dos grupos tribais que conseguiram sobreviver agrave extinccedilatildeo das

numerosas tribos indiacutegenas da ilha Tupinambarana do Meacutedio Amazonas (IDEM) Cerqua13

faz referecircncia agrave primeira notiacutecia sobre o povo Satereacute-Maweacute ldquoEacute por volta de 1669 quando o

Pe Betendorf duas vezes superior provincial dos jesuiacutetas lembra a ldquovila dos Maguasesrdquo

grafia antiga de Maueacutes [] (1980 p 209)rdquo ou seja Maueacutes foi residecircncia missionaacuteria mas

natildeo permanente dos padres pois os mesmos residiam mais em Tupinambarana (rio

Amazonas) atual Parintins e visitavam Maueacutes temporariamente

A etnia Satereacute-Maweacute sofreu muitas mudanccedilas de localidades devido muitos fatores

que contribuiacuteram para o deslocamento desse povo segundo explica Lorez apud Teixeira

(2005 p21)

Devido agraves guerras com os Munduruku e Parintintim e ao contato com os

portugueses os Satereacute-Maweacute perderam grande parte de seu territoacuterio original Em

1691 os Maweacute surgem na cartografia regional com o nome de Mabueacute(mapa do

Padre Samuel Fritz) Missotildees foram localizadas para os iacutendios Magueacute denominadas

Satildeo Joatildeo (Pinhel) e Santo Inaacutecio (Boim) Posteriormente em 1835 lutando ao lado

dos Munduruku e dos Mura como tambeacutem de outras tribos indiacutegenas do rio Negro

os Satereacute-Maweacute aderiram ao movimento cabano ateacute que em 1839 o conflito foi

debelado Devido agraves epidemias agraves lutas e agraves perseguiccedilotildees aos povos indiacutegenas que

combatiam ao lado dos cabanos enormes aacutereas da Amazocircnia foram devastadas o

que provocou deslocamentos desses grupos populacionais de seus territoacuterios

ancestrais e de populaccedilatildeo Segundo relatos de viajantes desde o seacuteculo XVIII o

territoacuterio dos Satereacute-Maweacute vem sendo paulatinamente reduzido Essa reduccedilatildeo se

deu a partir das tropas de resgate que penetraram grandes aacutereas da Amazocircnia da

implantaccedilatildeo de missotildees jesuiacutetas e carmelitas ao longo dos principais rios

13

Dom Arcacircngelo Bispo Prelado de Parintins de 1980

36

amazocircnicos da ldquobusca desenfreadardquo das drogas do sertatildeo com a exploraccedilatildeo da

borracha durante o seacuteculo XIX e iniacutecio do XX e por fim da ldquoexpansatildeo econocircmica

das cidades de Maueacutes Barreirinha Parintins e Itaituba para o interior dos

municiacutepios alocando fazendas extraindo pau-rosa abrindo garimpos dominando a

economia indiacutegena atraveacutes de regatotildeesrdquo As cidades de Maueacutes Parintins e Itaituba

inclusive foram fundadas sobre restos de malocas dos Satereacute-Maweacute

Cerqua (1980 p265) destaca a localizaccedilatildeo dessa tribo delimitando que ldquoA tribo estaacute

localizada em sua maioria no Alto Andiraacute e no Marau afluente do Rio Maueacutes e sua aacuterea de

cerca de 639500 ha foi demarcada pelo Decreto nordm 76999rdquo Atualmente segundo Teixeira

(apud ALVAREZ 2009) os Satereacute-Maweacute hoje satildeo grupos de 8500 indiacutegenas dos quais 7502

moram na terra indiacutegena Andiraacute-Marau nos municiacutepios de Barreirinha Maueacutes e Parintins e

aproximadamente mil residem em aacutereas urbanas destes municiacutepios Sendo que outro grupo

vive na terra indiacutegena Coataacute-Laranjal junto ao grupo Munduruku e no municiacutepio de Borba

Uggeacute (1993) comenta que os Satereacute-Maweacute sempre tiveram vontade de manter a

proacutepria identidade tribal contudo eram carentes de apoio praacutetico para ajudaacute-los a enfrentar o

perigo do mundo moderno que tentavam ldquoinvadi-losrdquo Ou seja manipulaccedilotildees externas entre a

lideranccedila indiacutegenas dos Satereacute-Maweacute o alcoolismo a dependecircncia a violecircncia dos ldquobrancosrdquo

eram os maiores perigos para este povo Satereacute-Maweacute

Poreacutem o foco de resistecircncia manteve vivo no povo Satereacute aspectos culturais

importantes como o ritual da tucandeira O ritual eacute um marco na vida dos homens porque satildeo

chamados pela formiga (tucandeira) caso o indiacutegena natildeo atenda o chamado a formiga o

levaraacute a loucura ateacute chegar agrave morte A tucandeira eacute uma divindade muito respeitada pelos

Satereacute-Maweacute Em determinado momento da histoacuteria do povo Satereacute-Maweacute o ritual da

tucandeira chegou ao ponto de natildeo ser mais praticado em decorrecircncia da imposiccedilatildeo religiosa

mas apoacutes perceberam a grande perda cultural que isso representaria voltaram a praticaacute-lo a

recuperando como parte de sua cultura

22 Classificaccedilatildeo da liacutengua Satereacute-Maweacute

Segundo Teixeira (2005) a anaacutelise da situaccedilatildeo linguiacutestica do povo Satereacute-Maweacute

baseia-se na concepccedilatildeo defendida por antropoacutelogos e linguistas que a liacutengua se configura

como um importante instrumento da cultura e da identidade de uma populaccedilatildeo

A populaccedilatildeo indiacutegena Satereacute-Maweacute pertence vaacuterios aspectos agrave famiacutelia Linguiacutestica

Tupi Rodrigues (apud ALVAREZ 2009 p17) aborda que a liacutengua da tribo Satereacute-Maweacute eacute a

37

uacutenica liacutengua de uma famiacutelia do tronco Tupi E sua classificaccedilatildeo linguiacutestica como pertencente

ao tronco Tupi foi dada pelo etnoacutegrafo Curt Nimuendajuacute (1948)

A liacutengua Satereacute-Maweacute integra o tronco linguiacutestico Tupi Segundo o etnoacutegrafo Curt

Nimuendajuacute (1948) ela difere do Guarani-Tupinambaacute Os pronomes concordam

perfeitamente com a liacutengua Curuaya-Munduruku e a gramaacutetica ao que tudo indica

eacute tupi O vocabulaacuterio Maweacute conteacutem elementos completamente estranhos ao Tupi

mas natildeo pode ser relacionada a nenhuma outra famiacutelia linguiacutestica Desde o seacuteculo

XVIII seu repertoacuterio incorporou numerosas palavras da liacutengua geral

Os homens atualmente satildeo biliacutengues falando o Satereacute-Maweacute e o portuguecircs mas a

maioria das mulheres apesar de trecircs seacuteculos de contato com os brancos soacute fala a

liacutengua Satereacute-Maweacute (TEIXEIRA 2005 p95)

A liacutengua Satereacute-Maweacute eacute falada tradicionalmente por quase todas as comunidades haacute

mais de 300 anos entretanto foi inevitaacutevel para os indiacutegenas Satereacute-Maweacute conhecer os

haacutebitos e a liacutengua portuguesa devido agrave invasatildeo dos europeus em suas terras no seacuteculo passado

o que causou a mistura de liacutenguas e consequentemente as influecircncias dos padrotildees culturais

natildeo indiacutegenas

Os Satereacute-Maweacute foram entatildeo forccedilados a se refugiarem nas zonas urbanas e ateacute mesmo

em outros estados Outro impacto que alterou o modo de falar dos liacutederes indiacutegenas foi a

necessidade de buscar apoio logiacutestico para suas comunidades principalmente para tratar da

sauacutede de sua populaccedilatildeo que sofria de doenccedilas como malaacuteria tuberculose sarampo e outras

por eles desconhecidas que causaram muitas mortes

Desta forma com o passar dos anos a liacutengua Satereacute-Maweacute sofreu influecircncias lexicais

e fonoloacutegicas do Nheengatu na regiatildeo do Andiraacute Pesquisas realizadas recentemente por

Teixeira (2005) delimitam um perfil linguiacutestico que permite conhecer um pouco mais da

cultura linguiacutestica Satereacute-Maweacute sendo esta considerada por meio da distribuiccedilatildeo geograacutefica e

etaacuteria dos que falam e natildeo falam o idioma Satereacute-Maweacute Desta feita segundo o autor

O idioma Satereacute-Maweacute eacute mais falado na aacuterea do Marau que nas demais (Andiraacute

Uaicurapaacute e Koataacute-Laranjal) Tanto na aacuterea do Andiraacute como no Marau o idioma

materno eacute falado por praticamente todas as comunidades situadas proacuteximo agraves

cabeceira dos rios (Alto Andiraacute e Alto Marau) Para as aacutereas mais proacuteximas das

cidades os falantes atingem a quase totalidade dos moradores do Baixo Marau Jaacute

no baixo Andiraacute esse nuacutemero aumenta bastante nas duas comunidades mais

proacuteximas de Parintins e Barreirinha ou seja Ponta Alegre e Guaranatuba As aacutereas

de povoamento mais recente (Uaicurapaacute Koataacute-Laranjal e mais duas no Andiraacute) tecircm

tendecircncia a apresentar proporccedilotildees menores de falantes do idioma Satereacute-Maweacute

(ibid p95)

38

O autor esclarece que moradores em terras indiacutegenas satildeo mais falantes da Liacutengua

Satereacute-Maweacute do que os que moram proacuteximo ou dentro da aacuterea urbana A pesquisa ainda

mostra agrave necessidade de sensibilizar a comunidade indiacutegena Maweacute sobre a importacircncia da

valorizaccedilatildeo de sua liacutengua agrave recuperaccedilatildeo de suas memoacuterias histoacutericas e a reafirmaccedilatildeo de suas

identidades eacutetnicas

221 Contexto educacional escolar entre os Satereacute-Maweacute

O contexto educacional Satereacute-Maweacute tem como base o reconhecimento constitucional

fundamentado na legislaccedilatildeo em vigor segundo a qual ldquosatildeo reconhecidos aos iacutendios sua

organizaccedilatildeo social costumes liacutenguas crenccedilas e tradiccedilotildees []rdquo

Por isso fundamentos gerais da educaccedilatildeo escolar indiacutegena baseiam-se na proposta do

Referencial Curricular Nacional para Escolas Indiacutegenas (1998) que contempla

Multietnicidade pluralidade e diversidade 2 Educaccedilatildeo e conhecimentos indiacutegenas 3

Autodeterminaccedilatildeo 4 Comunidade educativa indiacutegena 5 Educaccedilatildeo intercultural

comunitaacuteria especiacutefica e diferenciada Assim

Parte do sistema nacional de educaccedilatildeo a escola indiacutegena eacute um direito que deve ser

assegurado por uma nova poliacutetica puacuteblica a ser construiacuteda atenta e respeitosa frente

ao patrimocircnio linguiacutestico cultural e intelectual dos povos indiacutegenas Esse esforccedilo

de projetar uma nova educaccedilatildeo escolar indiacutegena soacute seraacute realmente concretizado com

a participaccedilatildeo direta com os principais interessados ndash os povos indiacutegenas atraveacutes de

suas comunidades educativas [] A participaccedilatildeo da comunidade no processo

pedagoacutegico da escola fundamentalmente na definiccedilatildeo dos objetivos dos conteuacutedos

curriculares e no exerciacutecio das praacuteticas metodoloacutegicas assume papel necessaacuterio para

a efetividade de uma educaccedilatildeo especifica e diferenciada (ibid p24)

Poreacutem para que de fato seja garantida uma educaccedilatildeo diferenciada natildeo eacute suficiente

que somente os conteuacutedos sejam ensinados atraveacutes do uso das liacutenguas maternas mas se faz

necessaacuterio que se incluam os conteuacutedos curriculares propriamente indiacutegenas assim como os

modos proacuteprios de transmissatildeo deste saber Em pesquisa realizada pela revista Amazocircnia

(AMAZONAS 2000) intitulada como ldquoA silenciosa revoluccedilatildeo dos Iacutendiosrdquo o povo Satereacute-

Maweacute foi considerada um dos melhores exemplos para se falar em educaccedilatildeo indiacutegena Tal

afirmaccedilatildeo foi proferida pelo antropoacutelogo Ademir Ramos (professor da Universidade do

Estado do Amazonas) Segundo o entrevistado a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 mudou a

postura em relaccedilatildeo aos iacutendios estabelecendo um processo de educaccedilatildeo diferenciada que

39

fomenta o orgulho de aprender sua lingua tambeacutem no ambiente escolar possibilitando relatos

como o transcrito abaixo

Alunos como Dati 11 da aldeia de Molongotuba carregam com orgulho a cartilha

bdquoMoweeghap onde estatildeo registrados escritos ndash liacutengua Satereacute do tronco tupi e

desenhos de situaccedilotildees do cotidiano das aldeias falando de peixes aves aacutervores e

animais A liacutengua o menino aprendeu a falar com os pais e depois na escola onde

haacute quatro anos aprendeu a escrevecirc-la Aleacutem disso ele tem aprendido tambeacutem a

bdquoliacutengua dos brancos‟

Ainda sobre a importacircncia desta perspectiva educacional em nota o vice-presidente

da organizaccedilatildeo dos professores indiacutegenas Satereacute Gecinaldo Cabral comentou sobre a

mesma enfatizando a relevacircncia do processo educacional na vida dos iacutendios da tribo Satereacute

que por serem biliacutengues satildeo capazes de expressarem e defenderem o seu povo Portanto ao

ensinar a liacutengua nativa agraves crianccedilas promovem o resgate da cultura tradiccedilatildeo e conhecimentos

indiacutegenas Uma educaccedilatildeo diferenciada natildeo resumida na liacutengua majoritaacuteria ou seja Liacutengua

Portuguesa mas na liacutengua proacutepria das etnias E desta forma sendo respeitada a diversidade

cultural de cada povo

Nesta perspectiva Teixeira (2005) em sua pesquisa descreve que a realidade do

contexto educacional escolar do povo Satereacute-Maweacute explicando que

O quadro situacional dos Satereacute-Maweacute no que concerne agrave escolarizaccedilatildeo e agrave

escolaridade apresenta elementos que devem ser entendidos natildeo soacute como resultado

da aplicaccedilatildeo de poliacuteticas educacionais mas tambeacutem como explicitaccedilatildeo de estrateacutegias

poliacuteticas usadas pelos iacutendios na negociaccedilatildeo de visibilidade e reconhecimento no

espaccedilo puacuteblico brasileiro A busca dos Satereacute-Maweacute por escola explicitada na

forma de documentos reivindicatoacuterios enviados ao poder puacuteblico solicitando

recursos para suas escolas demonstrarem os conhecimentos escolares e a

certificaccedilatildeo que a escolaridade concede importantes instrumentos de luta no

processo histoacuterico de construccedilatildeo de sua identidade cultural e de desenvolvimento de

seus projetos sociais (ibid p103)

O autor tambeacutem evidecircncia que a escolarizaccedilatildeo ainda natildeo estaacute alcanccedilando a totalidade

dos Satereacute-Maweacute sendo assim

[] com idade compreendida entre 7 e 24 anos nem nas aacutereas urbanas onde se

verifica o maior percentual de matriacuteculas (839) nem nas terras indiacutegenas (596)

Se forem consideradas as pessoas que tecircm entre 7 e 17 anos de idade os percentuais

sobem bastante mas ainda demonstram a falta de acesso da populaccedilatildeo satereacute-maweacute

agrave escola A pior situaccedilatildeo ocorre na aacuterea indiacutegena onde aproximadamente 13 dos

indiviacuteduos dessa faixa etaacuteria estatildeo fora da escola Na aacuterea urbana o percentual dos

que estatildeo fora eacute de 8 Aparentemente o elevado percentual de pessoas entre 7 e 17

40

anos de idade que estatildeo fora da escola em aacuterea indiacutegena deveria estar relacionado

com a ausecircncia de ensino fundamental de 4ordf a 8ordf seacuterie nas aldeias

No entanto isto eacute apenas uma parte da justificativa pois de 142 pessoas dessa faixa

etaacuteria que natildeo frequentam a escola apenas 32 (225) declararam ter concluiacutedo a

quarta seacuterie do ensino fundamental ou seja poderiam estar fora da escola por falta

do ensino de 5ordf a 8a seacuterie na aacuterea indiacutegena Aleacutem disso 148 crianccedilas entre 7 e 14

anos de idade natildeo frequentam a escola significando que haacute problemas na oferta de

vagas para as crianccedilas satereacute-maweacute na aacuterea indiacutegena Dessas crianccedilas mais da

metade se concentra em apenas 14 aldeias22 das quais 4 compreendendo as

pequenas comunidades de Satildeo Luiacutes Limoal Tigre a Arumatuba no Andiraacute natildeo tecircm

nenhuma crianccedila estudando Na aldeia de Tabatinga no Andiraacute apenas uma das

cinco crianccedilas moradoras estatildeo estudando e na de Santo Antocircnio tambeacutem no

Andiraacute 12 entre 16 crianccedilas de 7 a 14 anos natildeo frequentam a escola(TEIXEIRA

2005 p 104)

Segundo o autor nas cidades de Maueacutes Parintins e Barreirinha a escola frequentada

pelos Satereacute-Maweacute natildeo se define como escola indiacutegena nem tatildeo pouco como especiacutefica ou

diferenciada Talvez seja uma realidade encontrada em todas as escolas indiacutegenas no

Amazonas O que se configura em um problema na medida em que segundo Sobrinho

(2011) a escola esta definida a partir de um modelo da ldquoescola dos brancosrdquo que certamente

altera interferindo diretamente nas questotildees culturais que fazem parte do universo desses

povos gerando assim processo de exclusatildeo O autor ainda comenta que

mesmo diante da resoluccedilatildeo nordm 112011 do Conselho Estadual de Educaccedilatildeo que traz

garantias aos indiacutegenas independentemente de onde vivam ao respeito a sua liacutengua

conhecimentos e tradiccedilotildees proacuteprias nas escolas essa lei passa completamente

despercebida (ibid p 209)

Sobre a questatildeo Teixeira (2005) menciona que nas terras indiacutegenas onde estaacute em

curso a criaccedilatildeo da escola indiacutegena com educaccedilatildeo escolar especiacutefica e diferenciada - as taxas

de escolarizaccedilatildeo deixam evidente que o poder puacuteblico tem investido somente nas seacuteries

iniciais do ensino fundamental o qual apresenta o percentual de 871 de taxa liacutequida de

escolarizaccedilatildeo ou seja natildeo haacute oferta regular para as seacuteries finais do ensino fundamental nem

de ensino meacutedio Isso sem relatar a falta de formaccedilatildeo de professores indiacutegenas entre outros

fatores conforme Franceschini apresenta

A necessidade de formaccedilatildeo especiacutefica e diferenciada de nuacutemero maior de

professores principalmente para atuar nos segmentos mais adiantados do Ensino

Fundamental a implantaccedilatildeo de mais turmas de 6ordm ao 9ordm anos e do Ensino Meacutedio na

aacuterea indiacutegena construccedilatildeo-reflexatildeo do Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico das escolas

Satereacute-Maweacute associada a uma praacutetica pedagoacutegica condizente e a construccedilatildeo de

material didaacutetico proacuteprio satildeo necessidades urgentes do povo Satereacute-Maweacute Pois

apesar da legislaccedilatildeo vigente dar aos indiacutegenas o direito de escolherem seu modelo

educacional e ensinarem sua liacutengua e etnoconhecimentos na maioria das escolas das

41

comunidades Satereacute-Maweacute o modelo educacional adotado natildeo se diferencia muito

do modelo das escolas rurais da regiatildeo sendo que a liacutengua e os etnoconhecimentos

indiacutegenas natildeo constituem de fato conhecimentos que fazem parte do programa

educacional e que satildeo trabalhados de forma sistemaacutetica na escola (2012 p5)

Portanto os resultados apresentados pelo pesquisador comprovam que as accedilotildees

governamentais para educaccedilatildeo escolar indiacutegena estatildeo distantes de cumprir na sua plenitude

preceitos constitucionais o que implica em prejuiacutezo natildeo soacute na educaccedilatildeo escolar indiacutegena

como na proacutepria cultura desse povo

42

3 METODOLOGIA IMPLEMENTADA NA PESQUISA

A metodologia utilizada neste trabalho deu iniacutecio com o estudo bibliograacutefico e

pesquisa de campo Realizou-se uma investigaccedilatildeo primeiramente sobre os estudos surdos na

perspectiva linguiacutestica e cultural a posteriormente na literaturas e estudos sobre os iacutendios da

etnia Satereacute-Maweacute tomando como princiacutepio a origem os fundamentos e a histoacuteria do povo e

da Liacutengua Satereacute-Maweacute Na sequecircncia a concretizaccedilatildeo da pesquisa de campo com a

investigaccedilatildeo do objeto de estudo o iacutendio surdo e sua situaccedilatildeo sociolinguiacutestica da etnia Satereacute-

Maweacute

Figura 1 ndash Croqui da aacuterea e localidade da pesquisa

Fonte Mapa do Estado do Amazonas Censo 2010 ndash IBGE

Organizado por Vicente de Paulo Silva de Azevedo

31 Aacuterea e localidade da pesquisa

A proposta do processo investigativo para o mapeamento do objeto da pesquisa foi

demarcada delimitando a aacuterea do campo da pesquisa a Microrregiatildeo de Parintins A

Microrregiatildeo de Parintins (AMAZONAS 2012) eacute constituiacuteda por Barreirinha Boa Vista do

Ramos Maueacutes Nhamundaacute Parintins Satildeo Sebastiatildeo do Uatumatilde e Urucaraacute Vale ressaltar que

natildeo foi coberta pela pesquisa a populaccedilatildeo Satereacute-Maweacute residente em Manaus (AM)

43

32 Estrateacutegias gerais para a realizaccedilatildeo da coleta de dados

Primeiramente foi feita uma busca de dados pelo IBGE o qual informou que natildeo

havia qualquer registro sobre a populaccedilatildeo indiacutegena de surdos Sem resultado satisfatoacuterio foi

organizado um cronograma de viagens

A primeira viagem foi para o municiacutepio de Parintins onde foi feita uma visita na casa

de um iacutendio para possiacutevel coleta de dados Poreacutem o cacique Sr Luiz de Oliveira infelizmente

tambeacutem comunicou a falta desse dado na comunidade Portanto foi exposto a esse liacuteder o

objetivo da referida pesquisa apresentando assim a importacircncia da comunicaccedilatildeo entre os

seres humanos e interaccedilatildeo entre os diferentes modos linguiacutesticos de convivecircncia social e

educacional

O cacique prontamente mostrou-se aberto a contribuir para que a pesquisa fosse

concretizada Assim sendo iniciou-se a trajetoacuteria do levantamento de iacutendios surdos e sua

forma de comunicaccedilatildeo como tambeacutem seu contexto educacional escolar

Ao retornar a Manaus buscou-se apoio agraves instituiccedilotildees representativas com a visita agrave

sede da Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio ndash FUNAI oacutergatildeo responsaacutevel pelas accedilotildees indiacutegenas a

qual informou que se fazia necessaacuterio uma autorizaccedilatildeo para dar seguimento agrave pesquisa Logo

providecircnciou-se o documento requerido na Coordenaccedilatildeo de Educaccedilatildeo Indiacutegena localizada no

municiacutepio de Barreirinha

Ao chegar agrave cidade de Barreirinha um novo contato foi estabelecido com o

Coordenador indiacutegena o Sr Santino Lopes de Oliveira que se mostrou receptivo com o

projeto e se dispocircs prontamente a colaborar

Com a autorizaccedilatildeo e aprovaccedilatildeo das autoridades indiacutegenas e de posse do documento

houve o comprometimento de que seguiria as normas estabelecidas que disciplinam o

ingresso em terras indiacutegenas pela entidade (ANEXO A) Assim foi possiacutevel sistematizar os

procedimentos para a coleta de dados

33 Procedimentos da coleta

A coleta de dados foi realizada de acordo com o cronograma estabelecido para esta

etapa da pesquisa O procedimento metodoloacutegico usado para a coleta de dados foi

fundamentado em meacutetodo misto por meio de observaccedilotildees questionamento participaccedilotildees em

reuniotildees com representantes da lideranccedila indiacutegena local conversas informais e espontacircneas

44

com famiacutelias e comunidade indiacutegena Satereacute-Maweacute Utilizou-se como instrumento para

coleta caderno de registro de campo fotos filmagens gravaccedilotildees e questionaacuterio (ANEXO B)

34 Articulaccedilatildeo local

O primeiro passo foi estabelecer parcerias com colaboradores ou seja lideranccedilas

indiacutegenas professores indiacutegenas professores da rede puacuteblica inteacuterpretes oacutergatildeos ligados agraves

causas indiacutegenas alunos da Universidade do Estado Amazonas As instituiccedilotildees

representativas educacionais tambeacutem colaboraram telefonando ou perguntando para outras

pessoas sobre a existecircncia de indiacutegenas surdos e locais de suas residecircncias

A participaccedilatildeo das lideranccedilas indiacutegenas como os professores e colaboradores que

apoiaram e permitiram entrar em suas terras para fazer o levantamento foi de extrema

importacircncia pois muito contribuiacuteram nas traduccedilotildees das palavras indiacutegenas para a Liacutengua

Portuguesa

35 Abordagem ao objeto da pesquisa

Em cada viagem agraves comunidades primeiramente fazia-se contato com o tuxaua com

a finalidade de apresentar o objetivo da pesquisa Desta forma era explicado para eles a

importacircncia da contribuiccedilatildeo que o estudo poderia trazer agravequela comunidade Por meio da

autorizaccedilatildeo concedida obtinha-se a colaboraccedilatildeo para a coleta de dados junto ao objeto da

pesquisa Jaacute as abordagens feitas em ambiente familiar tambeacutem era solicitado o consentimento

para a realizaccedilatildeo da pesquisa Com permissatildeo concedida iniciamos as observaccedilotildees e

intervenccedilotildees Com devida autorizaccedilatildeo utilizaacutevamos para registro cacircmeras fotograacuteficas e em

seguida registraacutevamos no caderno de campo da pesquisa (ANEXO CC-1 e C-2)

45

4 MAPEAMENTO DOS IacuteNDIOS SURDOS DA ETNIA SATEREacute-MAWEacute NA

MICRORREGIAtildeO DE PARINTINS E SUA REALIDADE LINGUIacuteSTICA E

EDUCACIONAL ESCOLAR

No Brasil haacute uma diversidade de etnias indiacutegenas Rodrigues (2002) satildeo mais de 170

liacutenguas faladas e dialetos pelos povos indiacutegenas Estas liacutenguas satildeo distribuiacutedas em dois

grandes troncos linguiacutesticos

[] o Tupi (dividido em 10 famiacutelias) e o Macro-Jecirc (dividido em 9 famiacutelias) e de

outras 20 famiacutelias linguumliacutesticas natildeo classificadas em troncos Apenas nove liacutenguas

indiacutegenas tecircm acima de 5000 falantes guajajara (satereacute-) maueacute xavante

ianomacircmi terena macuxi caingangue ticuna e guarani estes uacuteltimos com 30000

indiviacuteduos Cerca de 110 liacutenguas contam com menos de 400 falantes 14

Entretanto em meio a essa diversidade linguiacutestica poucos satildeo documentados

Pesquisadores e grupos indiacutegenas tentam um reavivamento eacutetnico e linguiacutestico

documentando-os para salvar sua liacutengua seu idioma

Diante do exposto a uacutenica liacutengua de sinais indiacutegena registrada eacute a utilizada pela etnia

indiacutegena brasileira dos Urubu-Kaapor como jaacute mencionada anteriormente Pesquisas no Mato

Grosso do Sul em aldeias indiacutegenas apresentaram a existecircncia de iacutendios surdos que utilizam

sinais emergentes ainda natildeo registrados propriamente como uma liacutengua

Pouco registro tem-se encontrado sobre iacutendios surdos muito menos sobre a liacutengua ou

a forma desses sujeitos se comunicarem De acordo com dados do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatiacutestica (IBGE) natildeo haacute registros sobre iacutendios surdos nem no Anuaacuterio

Estatiacutestico do Amazonas do IBGE tatildeo pouco na Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio (FUNAI)

sendo portanto necessaacuteria uma pesquisa in loco para a busca desses dados

Eacute importante destacar que a pessoa surda natildeo nasce com a incapacidade de falar ou

seja a pessoa surda natildeo eacute muda natildeo fala por natildeo poder ouvir a ldquo[] A surdez natildeo estaacute

absolutamente vinculada agrave mudez []rdquo (RAMOS apud STROBEL 2008 p34)

Por isso as teorias da aquisiccedilatildeo da linguagem humana justificam como o ser humano

(re)inventa modos para expressar suas necessidades e formas de ver o mundo realizando a

comunicaccedilatildeo com seus pares

14

Classificaccedilatildeo das Liacutenguas Indigenas Brasileiras segundo Aryon Rodrigues (2002) Disponiacutevel em

lthttpwwwgeocitieswsindiosbr_nicolaiclassifhtmlgt

46

Partindo dessa percepccedilatildeo este estudo apresenta uma contribuiccedilatildeo de informaccedilotildees

cientiacuteficas que seratildeo um acreacutescimo aos conhecimentos existentes sobre a comunicaccedilatildeo dos

surdos indiacutegenas

41 Mapeamento da existecircncia dos iacutendios surdos na microrregiatildeo de Parintins

Conhecer os indiviacuteduos sujeitos da pesquisa ndash iacutendios surdos Satereacute-Maweacute - eacute a fase

fundamental deste estudo pois dessa forma eacute possiacutevel compreender a forma predominante de

comunicaccedilatildeo deles para poder elaborar material concreto ndash dicionaacuterio triliacutengue - pertinente

para auxiliar na forma da comunicaccedilatildeo deles com a sua etnia atraveacutes da liacutengua desse povo

indiacutegena Nesta seccedilatildeo estatildeo apresentados os dados que constituem um mapeamento da

quantidade de indiviacuteduos surdos que estatildeo inseridos no contexto de Parintins Barreirinha

Boa Vista do Ramos e Maueacutes locais estes onde haacute maior contato com etnia foco deste estudo

Abaixo segue o histoacuterico do municiacutepio de Parintins e demais microrregiotildees citadas na

pesquisa15

411 Histoacuterico de Parintins

Parintins eacute um municiacutepio brasileiro situado no interior do estado do Amazonas

proacuteximo agrave divisa com o estado do Paraacute Regiatildeo Norte do paiacutes Estaacute situado na mesorregiatildeo do

Centro Amazonense e microrregiatildeo de mesmo nome e localiza-se a leste da capital do estado

distando desta cerca de 370 quilocircmetros Com uma populaccedilatildeo estimada em 2012 pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 103 828 habitantes sendo o segundo

mais populoso do estado do Amazonas que tem uma aacuterea de 5 952 kmsup2 representando

03789 do Estado do Amazonas 01545 da regiatildeo Norte brasileira e 00701 do territoacuterio

brasileiro8

Desse total 12 4235 kmsup2 estatildeo em periacutemetro urbano

O municiacutepio de Parintins como quase todos os demais municiacutepios brasileiros foi

primitivamente habitado por indiacutegenas Sua descoberta ocorreu em 1749 quando descendo o

rio Amazonas o explorador Joseacute Gonccedilalves da Fonseca notou uma ilha que por sua extensatildeo

se sobressaiacutea das outras localizadas agrave direita do grande rio As primeiras viagens exploratoacuterias

da Coroa Portuguesa em Parintins foram registradas somente em 1796 A fundaccedilatildeo da

15

O histoacuterico de Parintins e demais microrregiotildees estatildeo disponiacuteveis no site lthttpptwikipediaorgwiki_Parintinsgt

47

localidade em 1796 foi feita por Joseacute Pedro Cordovil que veio com seus escravos e

agregados para se dedicar agrave pesca do pirarucu e agrave agricultura chamando-a Tupinambarana A

rainha D Maria I deu-lhe a ilha de presente Ali instalado fundou uma fazenda de cacau

dedicando-se agrave cultura desse produto em grande escala Tupinambarana foi aceita e elevada agrave

missatildeo religiosa em 1803 pelo capitatildeondashmor do Paraacute o Conde dos Arcos que incumbiu sua

direccedilatildeo ao frei Joseacute das Chagas passando a ser denominada como a Vila Nova da Rainha

O primeiro nome recebido por Parintins jaacute na categoria de Freguesia foi Nossa

Senhora do Carmo de Tupinambarana em 1833 O nome da Freguesia soacute foi alterado em

1880 quando a sede passou a chamar-se ldquoParintinsrdquo em homenagem aos povos indiacutegenas

Parintintins um dos inuacutemeros que habitavam a regiatildeo

A eficiente atuaccedilatildeo de frei Joseacute provocou um surto de progresso e desenvolvimento na

localidade mediante a organizaccedilatildeo da comarca do Alto Amazonas Em 25 de julho de 1833

passa agrave freguesia com o nome de Freguesia de Nossa Senhora do Carmo de Tupinambarana

Era ainda Tupinambarana simples freguesia quando iniciou a revoluccedilatildeo dos Cabanos no Paraacute

e se alastrou por toda a proviacutencia O seu vigaacuterio padre Torquato Antocircnio de Souza teve

atuaccedilatildeo destacada durante a sediccedilatildeo servindo de delegado dos legalistas no Baixo Amazonas

Tupinambarana talvez porque estivesse bem defendida foi poupada aos ataques dos

Cabanos

Em 24 de outubro de 1848 a lei provincial do Paraacute nordm 146 elevou a freguesia agrave

categoria de vila com a denominaccedilatildeo de Vila Bela da Imperatriz e constituiu o municiacutepio ateacute

entatildeo ligado a Maueacutes Em 15 de outubro de 1852 pela lei nordm 02 foi confirmada a criaccedilatildeo do

municiacutepio Em 14 de marccedilo de 1853 deu-se a instalaccedilatildeo do municiacutepio de Parintins Em 24 de

agosto de 1858 foi criada pela lei provincial a comarca compreendendo os termos judiciaacuterios

de Vila Bela da Imperatriz e Vila Nova da Conceiccedilatildeo Em 30 de outubro de 1880 pela lei

provincial nordm 499 a sede do municiacutepio recebeu foros de municiacutepio e passou a denominar-se

Parintins Em 1881 foi desmembrado do municiacutepio de Parintins o territoacuterio que constituiu o

municiacutepio de Vila Nova de Barreirinha

A divisatildeo administrativa de 1911 figurou o municiacutepio com quatro distritos Parintins

Paranaacute de Ramos Jamundaacute e Xibuiacute Em 1933 aparece no quadro da divisatildeo administrativa

com um distrito apenas ndash o de Parintins Em 1 de dezembro de 1938 pelo decreto-lei estadual

nordm 176 eacute criado o distrito da Ilha das Cotias passando assim o municiacutepio a constituir-se de

dois distritos Parintins e Ilha das Cotias

Pela lei estadual nordm 226 de 24 de agosto de 1952 a comarca de Parintins perdeu os

termos judiciaacuterios de Barreirinha e Urucaraacute que foram transformados em comarcas Em 19 de

48

dezembro de 1956 a lei estadual nordm 96 desmembrou o municiacutepio de Parintins o distrito da

Ilha das Cotias que passou a constituir o municiacutepio de Nhamundaacute Em 10 de dezembro de

1981 a emenda constitucional nordm 12 eacute acrescido o territoacuterio de Parintins ao distrito de

Mocambo

O primeiro municiacutepio pesquisado eacute considerado o centro da microrregiatildeo Parintins

Segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 2103 a

populaccedilatildeo eacute de 109225 habitantes16

nesta localidade A Microrregiatildeo de Parintins eacute uma das

microrregiotildees do estado brasileiro do Amazonas pertencente agrave Mesorregiatildeo do Centro

Amazonense Estaacute dividida em sete municiacutepios Barreirinha Boa Vista do Ramos Maueacutes

Nhamundaacute Parintins Satildeo Sebastiatildeo do Uatumatilde e Urucaraacute De acordo com estimativas do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) a populaccedilatildeo da microrregiatildeo era de 262

719 habitantes em 2013

Seus municiacutepios limiacutetrofes satildeo Nhamundaacute ao norte Barreirinha ao sul Urucurituba ao

leste e os municiacutepios de Terra Santa e Juruti no estado do Paraacute O limite territorial entre

Parintins e Nhamundaacute se inicia na margem esquerda do rio Amazonas subindo este rio ateacute a

Barreira do Pauraacute A Serra de Parintins eacute usada para delimitar o fim dos limites territoriais

deste municiacutepio com Nhamundaacute Para delimitar os limites territoriais entre Parintins e

Barreirinha usa-se o divisor de aacuteguas dos rios Andiraacute-Uaicuparaacute juntamente com a linha

geodeacutesica que limita os estados do Amazonas e Paraacute Jaacute os limites territoriais com

Urucurituba satildeo iniciados no lago Arapapaacute no Paranaacute de Urucurituba Com o Estado do Paraacute

o limite tem iniacutecio na boca do igarapeacute do Valeacuterio na margem direita do rio Amazonas

Parintins eacute uma cidade marcada pelos traccedilos culturais poliacuteticos e econocircmicos

herdados dos portugueses espanhoacuteis italianos e tambeacutem dos japoneses tendo em vista que a

cidade possuiu uma relevante colocircnia destes imigrantes Natildeo se pode esquecer a importacircncia

dos ameriacutendios no quesito contribuiccedilatildeo eacutetnica Foram os ameriacutendios que iniciaram a ocupaccedilatildeo

humana na Amazocircnia e seus descendentes caboclos desenvolveram-se em contato iacutentimo com

o meio ambiente adaptando-se agraves peculiaridades regionais e oportunidades oferecidas pela

floresta

A cidade eacute um importante centro educacional de niacutevel meacutedio e superior do Estado do

Amazonas A cidade possui um dos mini-campus do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)

que oferece cursos em diferentes niacuteveis ensino meacutedio e ensino teacutecnico

16

Disponiacutevel emlthttpcidadesibgegovbrxtrastemasamazonas|parintins|estimativa-da-populacao-2013gt

Acesso em 28072014

49

Universidades puacuteblicas

- Universidade do Estado do Amazonas (UEA) eacute uma instituiccedilatildeo puacuteblica estadual de

ensino superior que oferece mais de vinte cursos distribuiacutedos em dezessete cidades

amazonenses (Parintins Manaus Presidente Figueiredo Itacoatiara Carauari Tabatinga

Tefeacute Laacutebrea Boca do Acre Coari Eirunepeacute Humaitaacute Manicoreacute Manacapuru Novo

Aripuanatilde Maueacutes e Satildeo Gabriel da Cachoeira) Foi criada pela lei estadual nordm 2637 de 12 de

janeiro de 2001 que proporcionou agraves fundaccedilotildees educacionais de ensino superior instituiacutedas

pelo Estado Em Parintins o Centro de Estudos Superiores (UEA) possui os cursos

Pedagogia Histoacuteria Geografia Fiacutesica Matemaacutetica Letras Portuguesa Quiacutemica Ciecircncias

Bioloacutegicas Tecnologia em Turismo Direito Sauacutede Coletiva Ciecircncias Econocircmicas e

Tecnologia em Gestatildeo Puacuteblica

- Instituto Federal do Amazonas (IFAM) O Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e

Tecnologia do Amazonas foi criado mediante integraccedilatildeo do Centro Federal de Educaccedilatildeo

Tecnoloacutegica do Amazonas e das Escolas Agroteacutecnicas Federais de Manaus e de Satildeo Gabriel

da Cachoeira

- Universidade Federal do Amazonas (UFAM) Instalada no municiacutepio desde 2007

possui os seguintes cursos Serviccedilo Social Comunicaccedilatildeo Social - Jornalismo Administraccedilatildeo

Organizacional Pedagogia Zootecnia Educaccedilatildeo Fiacutesica e Artes Plaacutesticas

No setor de educaccedilatildeo e capacitamento profissional o municiacutepio aleacutem de dispor de

uma ampla rede de escolas (estaduais municipais e privadas) conta com um campus da

Universidade do Estado do Amazonas e algumas faculdades privadas com diversos cursos

superiores ofertados Dispotildee ainda de unidades do SENAI SENAC e SESI e em funccedilatildeo

disso os iacutendices de alfabetizaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo profissional dos municiacutepios estatildeo em

crescimento

A cidade de Parintins eacute o local onde foram feitos os contatos frequentes com os

indiacutegenas da etnia Satereacute-Maweacute porque buscam as casas bancaacuterias para receberem os

benefiacutecios sociais tambeacutem buscam as escolas com ensino de todos os niacuteveis inclusive as

universidades puacuteblicas para as crianccedilas e jovens Outro fator eacute que tem um comeacutercio

desenvolvido em que podem adquirir seus bens de consumo aleacutem de ser de faacutecil acesso aos

demais centros da regiatildeo e do paiacutes atraveacutes dos diferentes meios comunicaccedilatildeo e transporte

Por isso o mapeamento foi iniciado nesta regiatildeo

Apesar de ter um nuacutemero consideraacutevel de habitantes os oacutergatildeos ligados agrave causa

indiacutegena natildeo dispotildeem de dados informativos sobre o objeto da pesquisa em meio agrave estimativa

populacional do municiacutepio mesmo assim outro oacutergatildeo foi procurado para que pudesse

50

fornecer algum dado ligado ao sujeito surdo da etnia Satereacute-Maweacute A instituiccedilatildeo pesquisada

foi a Escola de Aacuteudio Comunicaccedilatildeo ldquoPadre Paulo Mannardquo Esta eacute uma instituiccedilatildeo educacional

mantida pela Diocese de Parintins por meio de sua atual gestora a Professora Zilda Tavares

Atraveacutes desta colaboradora foram coletadas informaccedilotildees sobre os alunos indiacutegenas surdos da

etnia Satereacute-Maweacute que ali estudam ou estudaram que satildeo a seguir descritas

Embora a escola tivesse o conhecimento da existecircncia de dois indiacutegenas surdos da

etnia Satereacute-Maweacute apenas um se encontra matriculado na escola Eacute uma menina de seis anos

de idade cursando o preacute-escolar Para informaccedilotildees consistentes foi solicitado o contato

tambeacutem com a famiacutelia da aluna Ao contatar os pais foi feita uma abordagem por meio de

questionaacuterio mas diante das dificuldades encontradas por natildeo serem alfabetizados na liacutengua

nativa nem na liacutengua Portuguesa os dados utilizados satildeo resultante de entrevistas

assistemaacuteticas (conversas informais)

Os familiares tecircm papeacuteis importantes na formaccedilatildeo da linguagem da crianccedila Eacute atraveacutes

deles que acontece a formaccedilatildeo da identidade social e cultural desse sujeito em

desenvolvimento Satildeo eles que repassam o modo de vida os costumes e outros aspectos

sociais com os seus exemplos e empreendendo a funccedilatildeo da linguagem verbal atraveacutes de

relaccedilotildees dialoacutegicas que ativam a percepccedilatildeo do ser em maturaccedilatildeo no meio familiar Na visatildeo

de Ponzio (et al 2007 p 177)

Uma das funccedilotildees da linguagem verbal eacute a identificaccedilatildeo identificaccedilatildeo dos objetos

mediante um processo de modelaccedilatildeo e de articulaccedilatildeo da realidade que varia de

liacutengua para liacutengua identificaccedilatildeo de sujeito enquanto falante do sujeito do discurso

do tema do outro ao qual esse discurso se dirige de uma espeacutecie de bdquoauditoacuterio

universal‟ a que de modo geral se recorre na argumentaccedilatildeo identificaccedilatildeo de uma

comunidade e da pertenccedila ou da natildeo pertenccedila a esta etc

Um resumo histoacuterico sobre a referida indiacutegena aponta que a famiacutelia residia na

comunidade indiacutegena Ponta Alegre no Rio Andiraacute municiacutepio de Barreirinha Migraram para

a zona urbana em busca de condiccedilotildees para uma melhor qualidade de vida Ao descobrirem a

surdez da filha mudaram-se para a cidade de Parintins Declararam que a forma de se

comunicarem com a filha eacute por meio de gestos criados pela famiacutelia e a crianccedila pois natildeo

sabem a Liacutengua de Sinais

Analisa-se neste contexto a situaccedilatildeo complexa pela qual essa famiacutelia passou para se

entender com a ela posto que se esperasse que a crianccedila dominasse o sistema linguiacutestico que

usam para a comunicaccedilatildeo com os pares atraveacutes da liacutengua natural da etnia Este eacute um fato que

ocorre com as famiacutelias onde natildeo existe o desenvolvimento natural da fala

51

Considere-se assim que a liacutengua eacute adquirida a qual se manifesta em todas as

circunstacircncias normais no conhecimento de uso em processo de audiccedilatildeo desde o nascimento

os quais vatildeo tomando forma de significante e significado enquanto se distingue cada unidade

lexical do todo que existe no meio onde se estaacute inserido Para Lyons ldquoo termo aquisiccedilatildeo da

linguagem eacute normalmente usado sem ressalvas para o processo que resulta no conhecimento

da liacutengua nativa (ou liacutenguas nativas)rdquo (1987 p 231)

Neste caso para a crianccedila em evidecircncia deveria ser propiciado o ensino da Libras

como liacutengua para mediar a comunicaccedilatildeo o mais breve possiacutevel na medida em que ela estaacute

com idade proacutexima da faixa etaacuteria limite de aquisiccedilatildeo sem acarretar prejuiacutezos para o seu

desenvolvimento conforme explica teoria gerativista17

da aquisiccedilatildeo da linguagem proposta

por Lennenberg (1967)

[] a existecircncia de um periacuteodo criacutetico para a quisiccedilatildeo da linguagem tendo como

pressuposto a ideia de que esta eacute inata O periacuteodo criacutetico se iniciaria por volta dos

dois anos e se encerraria por volta da puberdade Esse periacuteodo eacute chamado de criacutetico

porque seria aquele mais sensiacutevel agrave aquisiccedilatildeo da linguagem[] concluiacutendo que o

cereacutebro humano inicialmente tem representaccedilatildeo bilateral das funccedilotildees da linguagem

e mediante o processo de aquisiccedilatildeo na puberdade apenas o hemisfeacuterio se torna

mais dominante em relaccedilatildeo a elas completando o periacuteodo de aquisiccedilatildeo Caso a

crianccedilas natildeo adquira a linguagem nesse periacuteodo seu desenvolvimento linguiacutestico

seraacute prejudicado (apud QUADROS 2008 p 78)

Deste modo no caso a crianccedila surda esta precisa aprender a liacutengua nativa de uma

forma diferenciada adequando-se os siacutembolos agraves formas visuais se natildeo apresentar esta

carecircncia tambeacutem posto que a faculdade da linguagem do ser humano eacute inata conforme

Chomsky esclarece (apud PONZIO etal 2007)

Trata-se de determinar agrave natureza do patrimocircnio bioloacutegico que constitui a bdquofaculdade

da linguagem‟ do ser humano o componente inato do conjunto menteceacuterebro que

uma vez tendo entrado em contato com a experiecircncia linguiacutestica produz o

conhecimento da linguagem isto eacute converte a experiecircncia em um sistema de

conhecimento (p 143)

O segundo indiacutegena surdo da etnia Satereacute-Maweacute havia sido transferido da escola Padre

ldquoPaulo Mannardquo para a Escola Estadual ldquoBrandatildeo de Amorimrdquo Segundo as informaccedilotildees da

famiacutelia ele nasceu na aacuterea indiacutegena de Ponta Alegre Poreacutem quando pequeno sua famiacutelia se

17

A teoria gerativista pressupotildee a existecircncia de um mecanismo inato responsaacutevel pela aquisiccedilatildeo da linguagem

denominado Gramaacutetica Universal (GU) tendo como responsaacutevel por essa concepccedilatildeo que caracteriza-se pela

elucidaccedilatildeo da natureza das linguas naturais Chomsky

52

mudou para zona urbana de Parintins Ele cresceu longe da cultura indiacutegena sem contato com

a liacutengua de sua etnia por estar fora desse contexto Por outro lado natildeo aprendeu a liacutengua

falada em seu entorno na medida em que natildeo pode na prendecirc-la de forma natural por natildeo

ouvir assim por natildeo ter domiacutenio da cultura da etnia deve aprender a liacutengua de sinais

inserindo os signos que significam as palavras do seu leacutexico atraveacutes de instruccedilatildeo especial

com a mediaccedilatildeo de algueacutem que tenha o conhecimento das duas formas de comunicaccedilatildeo Para

Lyons (1987) esses aprendizes adquirem habilidades comunicativas rapidamente pois o

progresso que alcanccedilam eacute pelo menos agraves vezes tatildeo raacutepido que como observam tanto os pais

quanto os pesquisadores eacute difiacutecil manter um registro compreensivo e sistemaacutetico do seu

processo de aprendizado Como tambeacutem eacute no total independente de inteligecircncia e de

diferenccedilas do meio social e cultural

A capacidade da pessoa para construir enunciados vai tomando forma agrave medida que

consegue compreender a relaccedilatildeo entre significante e significados dos signos com os quais tem

contato Por isso os indiacutegenas surdos podem ser beneficiados com um material escrito

triliacutengue Este pode constituir-se em um material de apoio para a aprendizagem das trecircs

liacutenguas sendo que a liacutengua de sinais eacute perspectivada como L1

O terceiro caso identificado eacute de um iacutendio surdo jaacute adulto da comunidade Uiacurapaacute

da etnia Maweacute As informaccedilotildees datildeo conta que ele se comunica por meio de gestos criados por

ele e os pares com quem tem relaccedilatildeo Poreacutem natildeo haacute dados detalhados pois natildeo foi possiacutevel

contato com o mesmo porque ele vive isolado sobrevivendo de caccedila e pesca em comunidade

rural indiacutegena Fato este que implica diretamente no aperfeiccediloamento da forma de

comunicaccedilatildeo desse sujeito posto que ldquoos fenocircmenos ambientais podem agir diretamente

sobre a pessoa ou individualmente atraveacutes de repasse de experiecircncias vividas pela sociedade

atraveacutes da linguagem veiculada pela liacutenguardquo (OLIVEIRA 2005 p134)

Assim estaacute constituiacuteda a populaccedilatildeo de indiacutegenas surdos que fazem parte da

microrregiatildeo de Parintins que se podem fazer os devidos registros neste estudo

412 Histoacuterico de Barreirinha

O municiacutepio de Barreirinha pertence a Mesorregiatildeo da Microrregiatildeo de Parintins que

estaacute localizado a leste de Manaus Capital do Estado distanciando cerca de 331 quilocircmetros

E ao norte de Parintins o municiacutepio de Barreirinha juntamente com Maueacutes satildeo principais

municiacutepios que possuem a maior populaccedilatildeo de indiacutegenas localizados nos rios Andiraacute e o

Marau Portanto sendo o municiacutepio como a sede urbana das comunidades inseridas os surdos

53

indiacutegenas vem apenas em busca de tratamento meacutedico quando necessitam ou para atividades

sociais acompanhados de seus pais mas na zona urbana natildeo localizamos nenhum indiacutegena

surdo

Barreirinha foi o segundo municiacutepio pesquisado E segundo o IBGE em 2013 a

populaccedilatildeo era de 29737 habitantes18

sendo o vigeacutesimo segundo municiacutepio mais populoso do

Estado do Amazonas e o terceiro de sua microrregiatildeo

Este muniacutecipio conta com um setor especiacutefico das causas indiacutegenas a Coordenaccedilatildeo

Iacutendiacutegena Satereacute-Maweacute sob responsabilidade do coodernador geral SrSantino Lopes Este

tornou possiacutevel o acesso agrave comunidade indiacutegena de Ponta Alegre no Rio Andiraacute Foi na

Escola Municipal Professora ldquoRosa Cabralrdquo que foi identificado um indiacutegena surdo da etnia

Satereacute-Maweacute um menino de 12 anos matriculado na 3ordf ano do ensino fundamental Nesse

contexto foi possiacutevel observar sua forma de se comunicar com as demais pessoas que faziam

parte do seu meio social Outros dados referente a relaccedilotildees familiares deste natildeo estatildeo

disponiacuteveis na medida em que natildeo foi possiacutevel fazer contato com sua famiacutelia Desta forma

permanece uma lacuna de respostas referente a esse aluno posto que

De uma forma geral e em regra a socializaccedilatildeo da crianccedila no mundo civilizado

comeccedila dentro de uma famiacutelia nuclear constituiacuteda de pai matildee e irmatildeos quando

existem Durante os primeiros anos da infacircncia adquire traccedilos culturais (menores

unidades de cultura) atraveacutes das pessoas da famiacutelia que satildeo reflexo da sociedade

onde vivem (OLIVEIRA 2005)

Entende-se que atraveacutes de informaccedilotildees que poderiam ser fornecidas pela famiacutelia

deveria ser esclarecido como ocorre a socializaccedilatildeo da crianccedila nesse contexto e de que modo

aprenderam a se comunicar com ela que estrateacutegias foram utilizadas para que ela conseguisse

ser alfabetizada

413 Histoacuterico de Maueacutes

Este municiacutepio que tambeacutem pertence agrave Mesorregiatildeo do Centro Amazonense e

Microrregiatildeo de Parintins tem uma populaccedilatildeo de 54079 habitantes conforme as estimativas

do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) A cidade eacute reconhecida

nacionalmente por possuir uma das maiores expectativas de vida do paiacutes

18

Disponiacutevel emlthttpcidadesibgegovbrxtrastemasamazonas|barreirinha|estimativa-da-populacao-2013gt

Acesso em 28072014

54

Na margem direita do Rio Maueacutes-Accedilu Maueacutes foi fundada em 1798 por Luiz Pereira

da Cruz e Joseacute Rodrigues Preto agrave distacircncia de 268 km em linha reta e 356 km pela via

fluvial de Manaus O calendaacuterio festivo do municiacutepio conteacutem as datas festivas municipais

em homenagem agrave Satildeo Sebastiatildeo (10 a 20 de janeiro) ao Divino Espiacuterito Santo (22 a 30 de

maio) agrave Satildeo Pedro (27 a 30 de junho) agrave padroeira Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo (01 a 8 de

dezembro) assim como a Festa do Carnaval Popular (21 a 24 de fevereiro) do aniversaacuterio do

municiacutepio (26 a 27 de junho) da Ilha de Vera Cruz (23 a 25 de julho) do Veratildeo (de 05 a 7 de

setembro) da Feira Industrial (06 a 8 de novembro) e do Guaranaacute (em novembro)

Sobre a origem do nome deste municiacutepio observa-se que inicialmente foi

denominada Luseia e progredindo com o tempo transformou-se em missatildeo carmelita com

nome de Maueacutes O liacuteder nessa eacutepoca foi o frei Joaquim de Santa Luzia Por um decreto de 25

de junho de 1833 a missatildeo foi considerada vila sob a invocaccedilatildeo de Nossa Senhora da

Conceiccedilatildeo de Luseia Em 1853 pela lei nordm 25 de 3 de dezembro da iniciativa do Deputado

Marcos Antocircnio Rodrigues de Souza a vila tornou-se cidade chamada Satildeo Marcos de

Mundurucacircnia Consta como uma das freguesias da proviacutencia denominada Maueacutes em 1958

A oficializaccedilatildeo da mudanccedila do nome do municiacutepio ocorreu quando o Deputado Joseacute

Bernardo Michiles em 1865 apresentou um projeto para tal que tendo sido aprovado

oficializou-se a mudanccedila do nome de Maueacutes para Conceiccedilatildeo Enfim jaacute na Repuacuteblica em

1895 pela lei nordm 133 de 5 de outubro a localidade torna-se Comarca E em 4 de maio de 1896

eacute considerado municiacutepio pelo novo regime juriacutedico com o nome de Maueacutes pela lei nordm 137

As pesquisas de campo nesse municiacutepio natildeo foram realizadas conforme a previsatildeo

pois a viagem natildeo foi concretizada devido agraves dificuldades em relaccedilatildeo agrave distacircncia para chegar

ateacute agraves comunidades que satildeo distantes da cidade cede e havia necessidade de recurso material

e humano (professores guias indiacutegenas biliacutengues) para realizaacute-la Quando foi possiacutevel chegar

ao local ocorreu o contato com trecircs professores que residiam nas comunidades do rio

chamado Marau Ali foi possiacutevel tecirc-los em companhia na funccedilatildeo de guia inteacuterprete para

contato com os indiacutegenas surdos daquela localidade

Em resposta afirmativa ao questionamento se havia iacutendios surdos foram realizadas

reuniotildees com a comunidade local para coletar informaccedilotildees que apontou a existecircncia de um

caso na comunidade de Santa Maria Era um senhor na faixa etaacuteria de 67 anos que adquiriu a

surdez haacute muito tempo atraacutes Ele natildeo tem conhecimento da Liacutengua Portuguesa por isso natildeo

tivemos contato direto No entanto ele conhece a proacutepria liacutengua e assimilou a cultura da etnia

posto que

55

A liacutengua eacute aprendida simultaneamente a outros elementos da cultura A capacidade

de desenvolvimento da linguagem eacute inata O indiviacuteduo nasce com o ceacuterebro

preparado para aprender tudo que pertinente agrave cultura humana da qual a linguagem

faz parte (OLIVEIRA 2005 p 137)

Eacute no contexto social que se aprende os signos que fazem parte do mundo exterior e

que o ceacuterebro assimila pelo conhecimento que os sentidos possibilitam

O segundo iacutendio localizado foi um surdo de nascenccedila hoje com idade de 24 anos

Segundo relato da famiacutelia nunca frequentou uma escola portanto seu uacutenico meio de

comunicaccedilatildeo eacute gestual que aprendeu como forma para se fazer entender pois ldquoa linguagem eacute

atributo universal do ser humanordquo (OLIVEIRA 2005) assim constitui-se como necessidade

vital da pessoa conduzindo ao aprendizado

Em pesquisa de campo se obteve a informaccedilatildeo que havia outros trecircs iacutendios surdos que

moravam no Rio Marau mas natildeo foi possiacutevel chegar ateacute a aldeia onde se encontravam

devido ao difiacutecil acesso o que impossibilitou a ida ateacute a localidade

414 Histoacuterico de Boa Vista do Ramos

Uma das sete Mesorregiotildees de Parintins eacute Boa Vista do Ramos que possui

aproximadamente 16820 de habitantes segundo o IBGE (2013)

A histoacuteria de Boa Vista do Ramos encontra-se ligada agrave histoacuteria do municiacutepio de

Maueacutes Em 1798 foi fundada a Aldeia de Lusea Em meados do Seacuteculo XIX vaacuterios conflitos

ocorreram na regiatildeo entre brancos e povos indiacutegenas sendo efetiva tambeacutem a participaccedilatildeo de

cabanos oriundos da Cabanagem

Quando a Proviacutencia do Amazonas eacute criada em 1850 Lusea torna-se um dos quatorze

municiacutepios existentes na proviacutencia Seu nome eacute alterado em 1892 para Maueacutes tornando-se

sede da Comarca em 1895 Em 10 de dezembro de 1981 atraveacutes da Emenda Constitucional nordm

12 o povoado de Boa Vista do Ramos aleacutem de outros territoacuterios pertencentes agrave Maueacutes e

aacutereas adjacentes dos municiacutepios de Barreirinha e Urucurituba passam a constituir o novo

municiacutepio de Boa Vista do Ramos

Em pesquisa de campo nesse municiacutepio o primeiro contato que foi na Coordenadoria

Regional de Educaccedilatildeo da cidade (SEDUC) Embora esta professora responsaacutevel por essa

Instituiccedilatildeo tenha informado que natildeo conhecia nenhum caso de iacutendio surdo neste municiacutepio

alguns informantes afirmaram que na aldeia de Santo Antocircnio que faz parte do referido

municiacutepio foi localizada uma senhora que havia adquirido a surdez ainda muito jovem sem

56

nenhum conhecimento das liacutenguas ldquofaladasrdquo ou sinalizadas Desta forma ela utilizava de

gestos para se comunicar porque os seres humanos nascem com a capacidade para a

linguagem que se desenvolvem ao longo da primeira infacircncia mas que podem tambeacutem ser

aprendida no meio social atraveacutes de estiacutemulos Nesta perspectiva segundo a concepccedilatildeo de

Oliveira (2005 p 143)

A evoluccedilatildeo da linguagem depende de dois fatores principais da capacidade geneacutetica

cerebral para desenvolvecirc-la que eacute a principal e dos estiacutemulos ambientais que satildeo

sempre tatildeo importantes quanto aquela Esse desenvolvimento estaacute senpre inserido no

contexto de socializaccedilatildeo que eacute a responsaacutevel pela humanizaccedilatildeo do indiviacuteduo

Ainda sobre a importacircncia da socializaccedilatildeo para os sujeitos ressalta-se que estes

desenvolvendo no meio onde estatildeo inserido adquirem sua identidade cultural

concomitantemente sua identidade linguiacutestica que estaacute presente no discurso dos seus pares

posto que ela ldquoeacute adquirida nos processos de formaccedilatildeo e tranformaccedilatildeo de uma liacutengua

particularrdquo que eacute tambeacutem determinante no relacionamento cm outras liacutenguas E de acordo

com Ponzio (2007 p178) ldquoO espaccedilo em que uma liacutengua vive eacute um espaccedilo interlinguiacutestico e a

capacidade de expressatildeo e da adaptaccedilatildeo dessas liacuteguas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo eacute

diretamente proporcional agrave quantidade de contatos com outras liacutenguasrdquo O que deixa evidente

que um indiviacuteduo pode estar em contato com diferentes formas de intercomunicaccedilatildeo

415 Histoacuterico de Nhamundaacute

Eacute trigeacutesimo quinto municiacutepio mais populoso do estado do Amazonas Sendo o quarto

da Mesorregiatildeo em estudo Conforme o IBGE em 2013 o municiacutepio eacute composto por uma

populaccedilatildeo de 19 792 habitantes

O municiacutepio de Nhamundaacute estaacute localizado na zona fisiograacutefica do Baixo Amazonas

limitando com os municiacutepios de Parintins e Urucaraacute no Amazonas com o Estado de Roraima

(norte) e com os municiacutepios de Faro e Terra Santa no estado do Paraacute Distacircncia da capital 375

km em linha reta e cerca de 577 km por via fluvial Sua altitude eacute de 50 metros acima do

niacutevel do mar

As origens do municiacutepio de Nhamundaacute remontam agraves primitivas povoaccedilotildees dos iacutendios -

nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XVII composta pelos condurizes paraculamas canuris

guancaris paraquatas queremas jamundaacutes e uaboy cujo tuxaua se chamava Jamundaacute que

dada a luta em prol da liberdade de seu povo devido agrave exploraccedilatildeo e maus-tratos pelos

57

colonizadores fez um levante conduzindo a tribo Uaboy para as cabeceiras do alto rio que em

sua homenagem ganhou o seu nome e por conseguinte daacute nome ao municiacutepio

Em 1653 mediante carta reacutegia a regiatildeo foi erigida a Missatildeo que foi confiada aos

missionaacuterios portugueses capuchos da Piedade Eles organizaram uma aldeia modelo na boca

do Tauacuera - aldeia velha afluente esquerdo onde ainda se podem ver ruiacutenas do antigo

convento no meio dos espinhais A sede da Missatildeo poreacutem foi transferida para o lugar da

atual cidade de Faro Os padres capuchos souberam unir os iacutendios uaboy residentes no

Trombetas aos da Missatildeo para aumentar a populaccedilatildeo Era entatildeo o chefe dos Uaboy o tuxaua

Jamundaacute que ligou seu nome agrave Missatildeo e agrave aldeia que doravante se chamou aldeia dos

Jamundaacute ou Missatildeo dos Jamundaacute

O primeiro documento sobre a Missatildeo eacute do ano de 1727 e foi escrito pelo superior da

Missatildeo frei Francisco de Satildeo Manccedilos Em 1758 Missatildeo tomou o nome de Faro No entanto

jaacute em 1755 o Marqucirces de Pombal mandou suspender as Missotildees para serem transformadas

em vilas e paroacutequias A Missatildeo dos Jamundaacute foi extinta em 1758 por ordem de Mendonccedila

Furtado quando de sua viagem de demarcaccedilatildeo da nova capitania Foram criadas assim a vila

de Faro e a Paroacutequia de Satildeo Joatildeo Batista em 21 de dezembro de 1758 mas a instalaccedilatildeo deu-se

somente em 27 de dezembro de 1768

Desse modo em 1911 quando ocorreu a divisatildeo administrativa do Brasil o municiacutepio

de Parintins foi contemplado com o distrito de Jamundaacute Com a extinccedilatildeo deste quando

aconteceu a nova divisatildeo administrativa em 1933 o municiacutepio de Parintins surgiu com apenas

um distrito assim em 10 de dezembro de 1938 pelo Decreto-lei no 176 do Estado do

Amazonas Parintins voltaria a dispor de um outro distrito aleacutem da sede o da Ilha das Cotias

Em 19121955 pela Lei Estadual no 96 o distrito de Ilha das Cotias eacute desmembrado de

Parintins e passa a constituir o municiacutepio autocircnomo de Nhamundaacute Em 31 de janeiro de 1956

foi instalado o municiacutepio de Nhamundaacute

A viagem a esse municiacutepio foi realizada com o apoio do aluno Fernando Gonccedilalves

acadecircmico do curso de Licenciatura em Geografia pela Universidade do Estado do

Amazonas-UEA Para maiores esclarecimentos foi feita a pesquisa na casa de sauacutede indiacutegena

localizada na cidade de Nhamundaacute onde informaram desconhecer a existecircncia da etnia

Satereacute-Maweacute no municiacutepio Mesmo assim foi feito outro contato com uma enfermeira da

Casa de Sauacutede Indiacutegena do municiacutepio A resposta foi a mesma ldquoQueremos informar ao

professor que no municiacutepio de Nhamundaacute que natildeo trabalhamos com a etnia Satereacute-Maweacute

Atendemos somente a etnia Hixkaryana existente na regiatildeo Natildeo haacute portanto nenhum surdo

Hixkaryana ou Satereacute-Maweacute cujo fato eacute comprovado pelo senso municipalrdquo

58

Foi feita uma pesquisa tambeacutem em outro oacutergatildeo que atua com indiacutegenas no caso as

Secretaria de Educaccedilatildeo do Municiacutepio com a finalidade de constatar a veracidade dos fatos

eou conseguir novos dados sobre o indiacutegena surdo Satereacute ou Hixkaryana O subsecretaacuterio de

Educaccedilatildeo relatou que natildeo existia dados sobre a liacutengua Satereacute-Maweacute nem indiacutegenas surdos

existentes

Realmente apoacutes pesquisas in loco ficou comprovado somente agrave existecircncia da etnia

Hixkaryana da famiacutelia linguiacutestica Karib Sobre esta ressalta-se que

A liacutengua hixkaryana pertence agrave famiacutelia linguiacutestica Karib e eacute falada por todos os

membros do grupo Esta liacutengua eacute muito semelhante agravequeles outros dialetos falados

na regiatildeo mais ampla circunscrita pelos vales dos rios Trombetas e Mapuera como

Waiwai Xereu Katuena Karapawyana Tunayana Desta maneira e pelo fato dos

Hixkaryana estabelecerem relaccedilotildees bem estreitas com estes grupos em uma rede de

trocas matrimoniais e rituais tais dialetos satildeo inteligiacuteveis entre si []

Os Kaxuyana que moram no rio Nhamundaacute quase todos tambeacutem falam a liacutengua

hixkaryana aleacutem da sua liacutengua proacutepria o Kaxuyana Contudo em geral um

Hixkaryana natildeo fala a liacutengua kaxuyana fato que de certa forma demonstra que os

Kaxuyana satildeo considerados os ldquoestrangeirosrdquo naquela regiatildeo e que devem aprender

a liacutengua ldquonativardquo o Hixkaryana

A maioria dos Hixkaryana eacute alfabetizada na liacutengua nativa sendo capaz de ler e

escrever neste idioma Em 2008 havia apenas uma escola de ensino fundamental na

aldeia Kassauaacute e muitos jovens depois desta seacuterie dirigiam-se agrave cidade de

Nhamundaacute (AM) para prosseguir os estudos de niacutevel meacutedio Em 2010 uma escola

de ensino meacutedio foi implantada na aldeia Kassauaacute Aleacutem disso uma dezena de

Hixkaryana jaacute cursou ou estaacute cursando o ensino superior em cidades como Parintins

e Manaus Contudo a maioria das mulheres dos velhos e das velhas fala muito

pouco o Portuguecircs sendo o Hixkaryana a liacutengua mais usada por todos19

Assim como no municiacutepio de Nhamundaacute ficou constatado tambeacutem que nos demais

municiacutepios de Satildeo Sebastiatildeo do Uatumatilde e de Urucaraacute que natildeo haacute registro sobre a existecircncia

da etnia Satereacute-Maweacute nem tatildeo pouco a existecircncia de iacutendios surdos A tabela 1- apresenta o

resultado da pesquisa que aponta o mapeamento

Tabela 1 Mapeamento da existecircncia de iacutendios surdos nas respectivas comunidades

indiacutegenas ou zona urbana da microrregiatildeo de Parintins

Fonte Azevedo (2014)

19

Disponiacutevel emlthttppibsocioambientalorgptpovohixkaryanagt Acesso em 07112014

Etnia Liacutengua Comunidade Indiacutegena

rural Zona Urbana

Municiacutepio Quantidade de iacutendios

surdos

Satereacute-Maweacute Tupi Parintins Parintins 02

Satereacute-Maweacute Tupi Uaucurupaacute Parintins 01

Satereacute-Maweacute Tupi Rio Andiraacute Barreirinha 01

Satereacute-Maweacute Tupi Santa Maria Maueacutes 02

Satereacute-Maweacute Tupi Rio Marau Maueacutes 03

Satereacute-Maweacute Tupi Boa Vista do Ramos Boa Vista do

Ramos

01

Total 10

59

De acordo com os dados pode-se observar a existecircncia de poucos iacutendios surdos

Poreacutem acredita-se que ainda existam outros em comunidades mais isoladas Como tambeacutem

pelo fato de serem consideradas ldquodeficientesrdquo algumas famiacutelias natildeo integram na comunidade

que vivem As dificuldades encontradas para coletar os dados a partir dos oacutergatildeos

responsaacuteveis tambeacutem foram encontrados em outros estudos realizados anteriormente para

estabelecer a populaccedilatildeo indiacutegena na Ameacuterica Latina o que pode ser vislumbrado pela

explicaccedilatildeo dos fatos complicadores transcritos a seguir

Uma das dificuldades para estabelecer a populaccedilatildeo indiacutegena estaacute relacionada com

fato de que o criteacuterio de filiaccedilatildeo segue mais a autodenominaccedilatildeo que as

caracteriacutesticas linguiacutesticas ou raciais como se considerava haacute algumas deacutecadas atraacutes

Outra dificuldade eacute que a uacutenica fonte disponiacutevel para estabelecer a quantidade de

populaccedilotildees indiacutegenas na regiatildeo satildeo precisamente os censos nacionais de populaccedilatildeo

que haacute bem pouco tempo permitiam inferir informaccedilatildeo sobre a populaccedilatildeo indiacutegena

a partir de uma uacutenica pergunta referente agrave liacutengua falada pelos entrevistados (LOPES

e SICHRA 2009 p 103)

Entretanto embora natildeo haja um nuacutemero expressivo de iacutendios surdos da etnia Satereacute-

Maweacute ficou constatado que haacute muitos surdos natildeo-iacutendios nos municiacutepios estudados

principalmente no municiacutepio de Parintins que precisam se comunicar com diferentes

interlocutores Este eacute um argumento que aponta para a necessidade de instrumentos

educacionais como um dicionaacuterio triliacutengue importante para os surdos que conseguiram

estabelecer elos comunicativos a partir das trecircs liacutenguas E jaacute que o homem eacute criativo ldquoagrave

medida que o tempo passa a humanidade vai agregando novas descobertas e inventos que se

concretizam e se somam para dar-lhe conforto e bem estarrdquo (OLIVEIRA 2005 p 144) Entatildeo

espera-se que este material contribua para que o sujeito surdo possa se comunicar

adequadamente no seio familiar e no processo educacional

42 Realidade linguiacutestica e educacional dos iacutendios surdos encontrados da etnia Satereacute-Maweacute

O sistema responsaacutevel pela educaccedilatildeo tem procurado fazer adequaccedilotildees para atender agraves

pessoas que apresentam necessidades na sua arquitetura fiacutesica para a inclusatildeo destas no

contexto da realidade linguiacutestica e educacional Embora exista uma legislaccedilatildeo pertinente

ainda haacute ausecircncia de qualidade para que um indiviacuteduo surdo possa estudar incluso em um

contexto regular de ensino Principalmente porque os professores natildeo estatildeo preparados para

lidar com essa situaccedilatildeo peculiar Haacute uma imposiccedilatildeo nos oacutergatildeos educacionais mas natildeo haacute

60

profissionais que atuem para o bom desempenho do aluno indiacutegena surdo A partir dessa

visatildeo Albres (2005) que realizou um estudo nesta aacuterea de conhecimento afirma

Nessa perspectiva o homem eacute produto e produtor da cultura conjunto das relaccedilotildees

sociais portanto mister se faz investigar a origem histoacuterica de alguns princiacutepios da

educaccedilatildeo biliacutengue para surdos e desvelar elementos conceituais Propomo-nos

entatildeo identificar e analisar as concepccedilotildees de linguagem que sob condiccedilotildees

histoacutericas fundamentaram o ensino de Liacutengua Portuguesa para surdos nos

documentos do MEC

Desta feita entende-se que se no contexto do ensino da Liacutengua Portuguesa existem

diversas dificuldades no contexto de uma liacutengua indiacutegena a situaccedilatildeo se torna mais complexa

Desse modo na anaacutelise da situaccedilatildeo linguiacutestica e educacional encontrada com os iacutendios surdos

identificados da etnia Satereacute-Maweacute eacute bastante diversificada Apresentam diferentes formas de

siacutembolos para conseguirem se comunicar com as pessoas com quem tecircm contato Precisam

fazer um esforccedilo aleacutem do necessaacuterio para manifestar seus desejos para informar e ter acesso a

informaccedilotildees

No caso da aluna indiacutegena surda de apenas seis anos de idade na escola especiacutefica para

atender alunos surdos foi constatado que sua situaccedilatildeo linguiacutestica e educacional se encontra

em processo de aquisiccedilatildeo de uma linguagem baacutesica para comunicaccedilatildeo com as pessoas com as

quais ela convive

Conforme os dados fornecidos pela escola por meio de um parecer pedagoacutegico sobre a

aluna indiacutegena surda (ANEXO D) Ficou atestado que a aluna da etnia Satereacute-Maweacute nasceu

de parto normal sem nenhum problema aparente Aos trecircs anos de idade a matildee percebeu que

a filha natildeo ouvia e nem falava pois seus outros filhos haviam comeccedilado a falar na presente

idade Para seguir se comunicar com a filha utilizava-se de gestos sendo difiacutecil a

comunicaccedilatildeo Foi essa situaccedilatildeo que levou a famiacutelia a procura da Escola Padre Paulo Manna

onde se encontra matriculada no preacute-escolar Nessa realidade ela recebe as mesmas

orientaccedilotildees dadas agraves crianccedilas natildeo indiacutegenas logo natildeo existe um direcionamento para a cultura

da sua etnia na escola nem na no contexto familiar

Sobre essa condiccedilatildeo Cool (2004) aborda que haacute um aspecto familiar que tem

relevacircncia particular o tipo de comunicaccedilatildeo que se utiliza em casa ou seja a forma e o estilo

de comunicaccedilatildeo que os pais utilizam com a crianccedila surda tem uma grande importacircncia para o

seu desenvolvimento e para sua aprendizagem No caso dos pais ouvintes estes necessitam do

conhecimento da educaccedilatildeo da cultura da liacutengua da pessoa surda para que possam promover

uma formaccedilatildeo linguiacutestica completa para o filho surdo E deste modo este ldquopossa consolidar e

61

aprofundar o uso e a compreensatildeo da liacutengua proacutepria enquanto veiacuteculo de cultura e

possibilidade de comunicaccedilatildeo no acircmbitordquo de conhecimento do aprendiz sem deixar agrave parte do

domiacutenio da liacutengua apropriada para esse sujeito (HERNAIZ 2009)

Desta forma a educaccedilatildeo escolar reconhecida pela proacutepria escola referente agrave inclusatildeo

da aluna indiacutegena surda aponta para a necessidade de instituir uma educaccedilatildeo triliacutengue de

forma que seu processo de ensino-aprendizagem pauta-se na Liacutengua Satereacute-Maweacute Liacutengua

Brasileira de Sinais e Liacutengua Portuguesa Mesmo sabendo da dificuldade em aprender trecircs

liacutenguas o parecer pedagoacutegico considera possiacutevel aprendizagem de trecircs liacutenguas

A partir dos argumentos referidos reitera-se a importacircncia de que a educaccedilatildeo escolar

dessa aluna deve abranger as liacutenguas de uso natural nativo e social Quando se destaca a

liacutengua de uso natural entende-se que eacute a Liacutengua de Sinais como primeira liacutengua E natildeo

inverter o processo e obrigar a crianccedila surda seja indiacutegena ou natildeo aprender a falar uma

liacutengua oral seja liacutengua indiacutegena ou Liacutengua Portuguesa Sobre a questatildeo Fernandes (2005

p20) pontua

fazer uma crianccedila surda ldquofalarrdquo ao inveacutes de propiciar a ela um meio raacutepido de

comunicaccedilatildeo linguiacutestica atraveacutes da aquisiccedilatildeo da liacutengua de sinais como primeira

liacutengua que proteja e cumpra o papel fundamental de resguardar o seu natural

desenvolvimento no que se refere a ter domiacutenio de fato de um instrumental

linguiacutestico que lhe sirva para as operaccedilotildees mentais que envolvam mecanismos

linguiacutesticos

Portanto primeiramente eacute necessaacuteria a aquisiccedilatildeo da primeira liacutengua a liacutengua de sinais

e como segunda liacutengua a liacutengua nativa de sua comunidade eacutetnica No caso da aluna indiacutegena

a liacutengua Tupi da etnia Satereacute-Maweacute na modalidade escrita Desta forma com a aprendizagem

das duas liacutenguas seraacute uma aluna biliacutengue Poreacutem diante da realidade do aluno indiacutegena surdo

que vive na zona urbana se faz necessaacuterio o aprendizado triliacutengue Liacutengua Portuguesa por

escrito

Como dito anteriormente o ensino-aprendizado da Liacutengua de Sinais deve ser

garantido ao sujeito surdo para que adquira a identidade a cultura do povo surdo20

acesso

pleno as informaccedilotildees aleacutem de significar a possibilidade de comunicaccedilatildeo e expressatildeo fluentes

do sujeito surdo com seu entorno Da mesma perspectiva o ensino da Liacutengua indiacutegena se daacute

20

Como ja mencionado no capiacutetulo 1 sobre Cultura Surda ldquo eacute o jeito surdo de ser de perceber de sentir de

vivenciar de comunicar de transformar o mundo a tornaacute-lo habitaacutevelrdquo (GLADIS PERLIN apud STROBEL

2008 p 21) Strobel ainda esclarece que o sujeito Surdo se comportam diferente do sujeito ouvinte e com isso

traz alguns ldquoartefatos culturaisrdquo (explicado no capiacutetulo 1) que satildeo as pecualiaridade da cultura surda as quais

descritas Parte das experiecircncias visuais linguiacutestico familiar literatura surda vida social e esportiva artes

visuais poliacutetica e materiais Todos estes artefatos concebidos a partir do VER (IDEM 2008 p36-77)

62

em respeito aos direitos da cultura indiacutegena previsto pela Constituiccedilatildeo Brasileira conforme

decreto nordm 6861 de maio de 2009 no seu Art 2o que determina ldquoSatildeo objetivos da educaccedilatildeo

escolar indiacutegena I- valorizaccedilatildeo das culturas dos povos indiacutegenas e a afirmaccedilatildeo e manutenccedilatildeo

de sua diversidade eacutetnica II- fortalecimento das praacuteticas socioculturais e da liacutengua e da liacutengua

materna de cada comunidade indiacutegenardquo

Neste caso a referida aluna iacutendia surda deveraacute ter a liacutengua indiacutegena como liacutengua de

conhecimento de sua cultura Para o ensino desta na forma escrita faz-se uso de cartilhas

gramaacuteticas dicionaacuterios etc

De acordo com o exposto a escola reconhece a necessidade da educaccedilatildeo escolar

triliacutengue poreacutem utiliza-se de outra realidade conforme citado pela proacutepria escola ldquoNo

primeiro momento fica junto com os colegas ouvintes onde procuramos trabalhar de forma

inclusiva no contexto biliacutengue Liacutengua Portuguesa e Liacutengua de Sinais

Sobre este aspecto Rodrigues (2005 p20) pontua

Quantas lacunas estariam sendo criadas em nome da pressuposiccedilatildeo de que a

aprendizagem da liacutengua da maioria dos falantes da comunidade (ouvintes) eacute que

daria agrave crianccedila surda condiccedilotildees de desenvolvimento social e cognitivo Quantas

etapas de desenvolvimento estariam sendo desprezadas nas fases naturais de sua

evoluccedilatildeo sob a alegaccedilatildeo de que ela seraacute capaz de alcanccedilar o que se estabelece como

meta social Que metas estariam sendo alcanccediladas afinal Que objetivos estatildeo sendo

perseguidos em prol desses paracircmetros ultrapassados em detrimento dos reais

objetivos de formaccedilatildeo psico-sociocultural deste individuo Em que a liacutengua de

sinais como primeira liacutengua ainda se encontra determinada pelo descreacutedito de

tantos especialistas da aacuterea

A realidade encontrada sobre a educaccedilatildeo natildeo soacute em uma escola que atende alunos

surdos mas tambeacutem em muitas escolas as chamadas escolas ldquoinclusivasrdquo apresentam

dificuldades no processo de ensino dos alunos surdos21

Todavia entre desencontros

sociocultural-linguiacutesticos eacute preciso fazer uma ressalva desta escola ldquoA escola disponibilizou

21

Sobre a temaacutetica da Inclusatildeo formula-se ldquoAo se avaliar que na contemporaneidade impera o discurso da

inclusatildeo indiscriminada em escolas regulares[]Esta diretriz tira o direito previsto na legislaccedilatildeo brasileira de

poder optar por uma educaccedilatildeo biliacutengue em escola proacutepria de modo que se repete a condiccedilatildeo em que aos surdos eacute

imposto um enorme sofrimento na medida em que nos denominamos processos inclusivos junto aos ouvintes

permanecem privados de conviver com seus pares e de acessar o conhecimento na Liacutengua de Sinais como liacutengua

de instruccedilatildeo [] Os surdosde diferentemente de outros segmentos tecircm a necessidade de agrupar-se para formar

comunidade linguiacutestica por meio das quais possam construir uma ldquocomunidade de experiecircnciasrdquo (WITKOSKI

2012 p33-34)

63

uma professora surda para a aquisiccedilatildeo da Liacutengua Brasileira de Sinais repassando o conteuacutedo

ministrado na salardquo onde cada um desses alunos eacute inserido

A escola positivamente conta com a colaboraccedilatildeo do trabalho docente de uma

professora surda Esta tem um papel fundamental como modelo linguiacutestico principalmente

quando alunos surdos provecircm de famiacutelias ouvintes que natildeo tecircm acesso agrave cultura e agrave Liacutengua

de Sinais Cabe ao professor surdo comunicar-se fluentemente com o aluno surdo ser um

input linguiacutestico para a identificaccedilatildeo da cultura do ser surdo

Dessa forma Strobel (2008 p 40) destaca

Este contato crianccedila surda x adulto surdo atraveacutes de uma liacutengua em comum que eacute a

liacutengua de sinais eacute que proporcionaraacute o acesso agrave linguagem e desta forma estaraacute

assegurada a identidade e a cultura surda que eacute transmitida naturalmente agrave crianccedila

surda em contato com a comunidade surda

Observa-se que caso a crianccedila surda natildeo tenha o direito a sua diferenccedila preservado

este aprendiz teraacute sua inserccedilatildeo no mundo dos ouvintes de forma incerta eou sem esperanccedila de

uma vida normal A situaccedilatildeo se agrava na medida em que a sociedade ouvinte deixa a desejar

quanto agrave participaccedilatildeo dos sujeitos surdos em decorrecircncia da escassez dos vaacuterios recursos

visuais que promovem acessibilidade para eles

Contudo os povos surdos hoje satildeo mais conscientes de seus direitos entatildeo esses

sujeitos cultural e politicamente lutam pelos mesmos Direitos estes tambeacutem dos povos

indiacutegenas como jaacute comentados anteriormente

Todavia esse aspecto ainda estaacute distante da realidade dos sujeitos focos do estudo de

acordo com relato da escola Segundo depoimentos de alguns indiacutegenas a aprendizagem

indiacutegena passa pela demonstraccedilatildeo observaccedilatildeo imitaccedilatildeo tentativa e erro e quando o aluno

vem para a escola tem que se socializar e obedecer a comandos regidos pelo sistema e isso

muitas vezes o deixa confuso e os maiores ateacute desistem A situaccedilatildeo se agrava quando esse fato

se refere ao sujeito iacutendio surdo incluiacutedo na escola pois este requer um diferencial ainda

maior reconhecido pela escola

Dessa forma satildeo necessaacuterias estrateacutegias de ensino diferenciadas que deem suporte

para que a aluna seja trabalhada de forma triliacutengue no contexto escolar para que ela

natildeo perca a sua essecircncia a sua cultura que sejam adaptados trabalhos de acordo

com a realidade indiacutegena para que ela natildeo perca a sua identidade e saiba conduzir

sua aprendizagem dentro de um contexto diferenciado podendo aprender o que lhe eacute

de direito como viver bem em sociedade22

22

Texto extraiacutedo do parecer pedagoacutegico da aluna indiacutegena surda que estuda na Escola de Aacuteudio e Comunicaccedilatildeo

Pe Paulo MannaParintinsAm (ANEXO D)

64

A partir das consideraccedilotildees tecidas no parecer pedagoacutegico torna-se evidente ema

necessidade de ampliar e aprofundar as reflexotildees sobre a inclusatildeo de iacutendios surdos em vaacuterios

espaccedilos da sociedade especialmente no espaccedilo educacional escolar Ou seja haacute necessidade

tambeacutem de poliacuteticas linguiacutesticas voltada para esse acircmbito

Nesse sentido eacute necessaacuterio que se tenha como meta uma tomada de decisotildees poliacuteticas

para que gradativamente se possa controlar a situaccedilatildeo de aprendizagem do surdo no processo

soacutecio cultural onde ele estiver inserido Ateacute por que existe uma proposta educativa

intercultural de modo biliacutengue no contexto indiacutegena Assim surge a necessidade de accedilotildees

objetivas para garantir na praacutetica esta proposta de ensino a fim de enriquecer o indiacutegena

surdo com desenvolvimento da liacutengua de sinais como veiacuteculo de comunicaccedilatildeo acrescendo

seus conhecimentos a partir do pluralismo cultural uma vez que estaacute amparado por

legislaccedilotildees especiacuteficas

Reitera-se a necessidade de accedilotildees objetivas especialmente no que tange a formaccedilatildeo

especiacutefica de professores pois mesmo com a garantia da legislaccedilatildeo a presente realidade

desses sujeitos estaacute distante do contexto sociocultural-linguiacutestico do ser iacutendio surdo A

exemplo disso tem-se outra realidade sociocultural-linguiacutestico do segundo aluno indiacutegena

surdo de 24 anos que foi transferido de uma escola que desenvolve atividades educacionais

especiacuteficas para outra no processo denominado de educaccedilatildeo inclusiva onde cursa o nono ano

do ensino fundamental das seacuteries finais e faz atendimento na sala de recurso porque os

professores das disciplinas do curso natildeo tecircm formaccedilatildeo para acompanhaacute-lo

Os relatos da famiacutelia indicam que o aluno nasceu na aacuterea indiacutegena de Ponta Alegre

poreacutem muito pequeno sua famiacutelia mudou-se para zona urbana municiacutepio de Parintins o qual

cresceu longe de sua cultura indiacutegena desconhecendo assim a liacutengua de sua etnia Este eacute um

caso que promove o desaparecimento de liacutenguas indiacutegenas o conhecido deslocamento

sociolinguiacutestico

Para entender o processo que instaura este deslocamento linguiacutestico ressalta-se que

primeiramente a educaccedilatildeo da pessoa perpassa pelo uso da liacutengua materna no ambiente

familiar nas relaccedilotildees famiacuteliares na qual utiliza uma comunicaccedilatildeo intra e extrafamiliar Se a

famiacutelia mantiver sua liacutengua nativa em uso os membros da mesma permaneceratildeo biliacutengues

Poreacutem se a famiacutelia por pressatildeo social do uso da liacutengua dos falantes da sociedade local seja

porque deseja se adequar ao meio onde se insere a liacutengua no caso indiacutegena entra no processo

de esquecimento para as geraccedilotildees vindouras

65

Eacute o caso do aluno acima que eacute biliacutengue (Liacutengua Brasileira de Sinais e Liacutengua

Portuguesa na modalidade escrita) contudo desconhece sua raiz cultural a liacutengua de sua

etnia Seu contexto educacional eacute baseado em ldquomodelo de escola inclusivardquo o aluno vai para

sala de aula com alunos ouvintes onde a liacutengua portuguesa eacute a liacutengua padratildeo a ser ensinada e

estudada e posteriormente faz atendimento na sala de recurso em sua liacutengua natural Libras

Logo a escola pode ajudar no incentivo favorecendo a revitalizaccedilatildeo da liacutengua

indiacutegena no contexto educacional Para isso haacute necessidade de um corpo docente com a

formaccedilatildeo em Liacutengua indiacutegena e Liacutengua Brasileira de Sinais aleacutem da Liacutengua Portuguesa que eacute

usada como a base de ensino

Jaacute na comunidade Uiacurapaacute da etnia Maweacute encontramos outra realidade de contexto

de um surdo indiacutegena Todavia natildeo foi possiacutevel fazer um acompanhamento mais preciso

sobre sua situaccedilatildeo educacional escolar O uacutenico dado correspondente agrave questatildeo linguiacutestica eacute o

modo como ele se comunica conforme foi relatado por membros da comunidade local se

caracteriza pela utilizaccedilatildeo de gestos criados para se fazer compreender Desta forma diante da

ausecircncia de uma liacutengua estruturada a Libras por fazer uso somente de gestos ele apresenta

dificuldades de entender o ensino e de se comunicar com seus pares Da mesma forma ocorre

no contexto familiar e na comunidade uma vez que o aluno surdo vive quase que isolado

devido ao preconceito existente ateacute mesmo pela proacutepria comunidade por natildeo o entenderem e

nem saberem qual a forma para se comunicar aquele indiviacuteduo Assim ele vive em uma

situaccedilatildeo de rejeiccedilatildeo e marginalizaccedilatildeo estabelecida a partir da ausecircncia de uma liacutengua que

promova a comunicaccedilatildeo com o predomiacutenio de um processo de estigmatizaccedilatildeo deste sujeito

surdo

No municiacutepio de Maueacutes Boa Vista do Ramos os iacutendios surdos localizados satildeo de

idade adulta natildeo tiveram a oportunidade de frequentar escola Portanto sua realidade

linguiacutestica fundamenta-se somente na forma gestual que denominam de caseira atribuindo

significados peculiares de seu contexto local No que diz respeito ao aspecto educacional as

pessoas contatadas demonstraram apenas uma preocupaccedilatildeo sobre a existecircncia futura de

possiacuteveis iacutendios surdos nesses municiacutepios e sua formaccedilatildeo educacional Contudo natildeo

afirmaram o que fariam se encontrassem outros sujeitos com essa necessidade de

comunicaccedilatildeo

Como jaacute mencionado natildeo haacute registro sobre a situaccedilatildeo linguiacutestica e educacional de

nenhum iacutendio surdo da etnia Satereacute-Maweacute nos municiacutepios de Nhamundaacute Satildeo Sebastiatildeo do

Uatumatilde e de Urucaraacute Portanto as informaccedilotildees educacionais natildeo satildeo apresentadas nestes

contextos

66

43 Inventaacuterio de gestos da linguagem caseira dos surdos Satereacute-Maweacute

A presente pesquisa baseia-se em um meacutetodo de estudos de etnografia com o intuito

de descrever e observar os gestos caseiros que os indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute usam para se

comunicarem com seus pares nas comunidades onde residem O meacutetodo tambeacutem ajuda a

conhecer a identidade e sua interaccedilatildeo no meio da comunidade visto haacute uma diversidade

linguiacutestica rica usada pelos surdos indiacutegenas nas diversas localidades percorridas pelo

pesquisador na microrregiatildeo de Parintins

431 Os sinais caseiros de indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute

O objetivo do mapeamento eacute coletar os sinais caseiros ou emergentes para que esses

sinais possam ser reconhecidos e compreendidos pela sua comunidade como meio linguiacutestico

de comunicaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo de sua cultura

Para a concretizaccedilatildeo do mapeamento foi necessaacuterio a pesquisa de campo na

comunidade onde se fazia presente o indiacutegena surdo para as devidas observaccedilotildees

432 O Municiacutepio de Parintins

No municiacutepio de Parintins foi localizado trecircs (03) indiacutegenas surdos com suas

caracteriacutesticas linguiacutesticas diferenciadas de suas origens sendo que dois indiacutegenas residem na

zona urbana e um indiacutegena localizado na comunidade de Uaicurapaacute os quais foram o objeto

investigativo para a coleta de dados Os registros foram feitos de forma diferenciada de modo

que primeiramente conversei com as lideranccedilas indiacutegenas acompanhado de inteacuterprete e guia

linguiacutestico Durante este encontro foram feitas no local observaccedilotildees visuais sendo que em

alguns casos realizamos registros de imagens filmagens e entrevistas Eacute importante destacar

que os registros soacute puderam ser feitos quando permitidos pelos sujeitos da pesquisa ou pela

lideranccedila prevalecendo em sua maior parte a observaccedilatildeo visto que materiais tecnoloacutegicos e

de miacutedias causavam incocircmodo aos entrevistados fazendo com que se tornassem

incomunicaacuteveis quando percebiam que estavam sendo monitorados

67

4321 O primeiro surdo

Esse primeiro indiacutegena possui surdez moderada Eacute um senhor com idade de 72 anos

residente no Uiacurapaacute23

O contato foi feito na Casa do Iacutendio de Parintins Em uma

conversaccedilatildeo informal explicou que perdeu a audiccedilatildeo com o tempo eacute oralizado24

e se

comunica com a comunidade na liacutengua nativa Satereacute-Maweacute Trata-se de um cidadatildeo calmo

fala apenas de suas necessidades visto que natildeo se manifesta muito devido suas limitaccedilotildees

auditivas que dificultam uma melhor compreensatildeo

Como referido o surdo em questatildeo tem surdez moderada Neste sentido observa-se

que a surdez ocorre de acordo com diferentes classificaccedilotildees quanto ao niacutevel de perda auditiva

Ou seja

Quanto ao grau - leve (perda de 26 a 40 dBNA) - moderada (perda de 41 a 55

dBNA) - moderadasevera (perda de 56 a 70 dBNA) - severa (perda de 71 a 90

dBNA) - profunda (a partir de 91 dBNA) (RUSSO e SANTOS 1988 apud

NADER 2011 p 2)

Retomando a histoacuteria do sujeito surdo em questatildeo observa-se que ele reside na zona

rural no Uiacurapaacute com seus parentes e sua sobrevivecircncia eacute atraveacutes do que planta e pesca

Observando-o percebo que o mesmo tem uma vida normal com seus pares o que falta para

uma interaccedilatildeo mais ativa na comunidade eacute estimulo e o incentivo linguiacutestico pois muitas

pessoas satildeo impacientes e acabam deixando-o isolado linguisticamente

4322 O segundo surdo

Eacute um indiacutegena natural de Ponta Alegre25

concluiu o ensino fundamental em uma

escola puacuteblica no municiacutepio de Parintins Sua surdez foi percebida por seus pais ainda

crianccedila causada por doenccedila congecircnita A famiacutelia mudou-se para o municiacutepio de Parintins em

busca de uma melhor educaccedilatildeo para filho surdo entretanto os pais eram usuaacuterios da Liacutengua

Satereacute-Maweacute mas natildeo mais praticam pela influecircncia da Liacutengua Portuguesa e tambeacutem natildeo 23 Rio que fica interliga com Rio Paranaacute do Ramos ndash Parintins (AZEVEDO 2014) 24

O modelo cliacutenico-terapecircutico baseia-se numa visatildeo patoloacutegica de surdez e num modelo individual de

atendimento aacute diversidade que tem como referecircncia o Oralismo O oralismo eacute uma filosofia educacional para

surdos cujo discurso propotildee a superaccedilatildeo da surdez e a aceitaccedilatildeo social do surdo por meio da oralizaccedilatildeo Em

outras palavras este modelo defende o aprendizado apenas da Liacutengua Portuguesa na sua modalidade oral e

escrita na escola por entender que esta eacute a uacutenica possibilidade de integrar o surdo na sociedade majoritaacuteria

ouvinte (SLOMSKI 2010 p 32) 25

A comunidade de Ponta Alegre situa-se no Rio Andiraacute com 4 horas de viagem de lancha para chegar a

comunidade (AZEVEDO 2014)

68

frequentam a comunidade Satereacute-Maweacute em busca de assistecircncia ou outros meios oferecidos

pela tribo Portanto a famiacutelia cresceu e disseminou deixando de lado a liacutengua nativa e

tradiccedilatildeo indiacutegena vivendo uma vida regular na zona urbana

O surdo hoje com 20 anos natildeo conhece a liacutengua nativa de sua comunidade se

comunica fluentemente com a Liacutengua de Sinais escreve o Portuguecircs e se oraliza na

comunicaccedilatildeo com seus pais que tambeacutem natildeo sabem a Liacutengua de Sinais

Atraveacutes de sua histoacuteria eacute possiacutevel perceber que este sujeito surdo por estudar em

escola inclusiva com forte influecircncia a oralista desenvolveu as duas linguas a Liacutengua

Brasileira de Sinais e a Liacutengua Portuguesa Poreacutem sua situaccedilatildeo eacute diferente de outros

indiacutegenas surdos que residem nas comunidades que usam os sinais caseiros para se

comunicarem Isso acaba sendo uma observaccedilatildeo abstrata da realidade entre os surdos que

moram na zona urbana e na comunidade Satereacute-Maweacute

4323 O terceiro surdo

Eacute uma crianccedila de 5 anos descendente da etnia Satereacute-Maweacute estuda em uma escola

filantroacutepica em Parintins Trata-se de uma aluna inteligente que demonstrava timidez na

presenccedila de pessoas estranhas Verificou-se que ela consegue aprender e identificar os objetos

apresentados para que identificasse Aos 4 anos antes de entrar para a escola utilizava alguns

sinais caseiros para se comunicar com seus familiares Na sala de aula o ensino oferecido a

ela eacute o biliacutengue26

tendo a Liacutengua Brasileira de Sinais e a Liacutengua Portuguesa compondo essa

educaccedilatildeo O ensino nessa instituiccedilatildeo vai ateacute a 5ordf serie Por esta razatildeo a aluna futuramente

precisaraacute ser transferida para uma escola de ensino fundamental

Tabela 2 11 Sinais caseiros utilizados pela crianccedila indiacutegena surda de 5 anos e seus

familiares

26

O Bilinguismo eacute uma filosofia de ensino cujo discurso propotildee a diversidade cultural e a aceitaccedilatildeo social do

surdo por meio do bilinguismo (duas liacutenguas Liacutengua de Sinais e segunda liacutengua) Essa filosofia concebe o surdo

como um ser diferente e a surdez como ldquoatributo humanordquo como uma caracteriacutestica da pessoa surda resultado

de uma deficiecircncia orgacircnica que natildeo se esgota nela mesma (SKLIAR 1997 apud SLOMSKI 2010 p 41)

SINAIS CASEIROS DESCRICcedilAtildeO

AacuteGUA Matildeo direita com o dedo polegar fazendo a expressatildeo de beber aacutegua

BRINCAR As duas matildeos fechadas batendo as pontas dos dedos em

movimento

BANHEIRO Matildeo direita mostra o local e a esquerda eacute posicionada na barriga

COMIDA As duas matildeos abrindo e fechando repetidamente proacuteximo da boca

DORMIR As duas matildeos com as palmas juntas encostar-se ao rosto com

expressatildeo de querer dormir

69

Fonte AZEVEDO (2014)

Figura 2 Sinais caseiros utilizado pela crianccedila de 5 anos

FOME Matildeo direita indo em direccedilatildeo da barriga fazendo expressatildeo facial de

fome

MAtildeE Matildeo direita aberta no rosto fazendo movimento nos dedos com

expressatildeo chamativa

IRMAtildeO Matildeo direita batendo no antebraccedilo para chamar atenccedilatildeo

PAI Matildeo direita com os dedos pegando o queixo

PESSOA Matildeo direita com dedo indicador fazendo expressatildeo de algueacutem

CHORAR As duas matildeos fechadas com os dorsos esfregando nos olhos

AacuteGUA BRINCAR

COMIDA DORMIR FOME

MAtildeE IRMAtildeO PAI

BANHEIRO

70

44 O indiacutegena surdo da Comunidade de Ponta Alegre do municiacutepio de Barreirinha

Foi localizado um aluno surdo na comunidade de Ponta Alegre que faz parte do

municiacutepio de Barreirinha trata-se de um jovem de 13 anos que estuda na Escola Municipal

Rosa Cabral e mora em uma aldeia mais distante a observaccedilatildeo foi feita na escola Nessa

viagem foi obtido a autorizaccedilatildeo de viagem para a aldeia na Secretaria de Educaccedilatildeo Municipal

de Barreirinha por meio do contato com o coordenador geral do setor indiacutegena daquela aacuterea

o senhor Santino Lopes que muito contribuiu com o projeto e de servir como guia de

viagem

O devido aluno estuda na 3ordf Serie do ensino fundamental De acordo com as

observaccedilotildees feitas O ensino predominante na sala para o ensino deste aluno eacute a Liacutengua

Portuguesa visto que os professores em sua maioria vem do municiacutepio de Barreirinha

Embora o ensino seja bem aplicado e a escola dispotildee de material didaacutetico apropriado para a

seacuterie natildeo haacute metodologia de ensino especializado para surdo natildeo existindo Sala de

Recursos27

O aluno aprende lentamente demonstrando dificuldades de entender os

conteuacutedos

A comunicaccedilatildeo com seus professores e colegas soacute acontecem atraveacutes de sinais

caseiros e expressotildees manuais O aluno surdo vive quase que isolado sem ter a possibilidade

de estabelecer uma comunicaccedilatildeo satisaftoacuteria dentro do contexto escolar devido ao

27

Uma das inovaccedilotildees trazidas pela Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Especial na Perspectiva da Educaccedilatildeo

Inclusiva (2008) eacute o Atendimento Educacional Especializado ndash AEE um serviccedilo da educaccedilatildeo especial que []

identifica elabora e organiza recursos pedagoacutegicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena

participaccedilatildeo dos alunos considerando suas necessidades especiacuteficas

O AEE complementa eou suplementa a formaccedilatildeo do aluno visando a sua autonomia na escola e fora dela

constituindo oferta obrigatoacuteria pelos sistemas de ensino Eacute realizado de preferecircncia nas escolas comuns em um

espaccedilo fiacutesico denominado Sala de Recursos Multifuncional Portanto eacute parte integrante do projeto poliacutetico

pedagoacutegico da escola (BRASIL 2008 p 3)

CHORAR PESSOA

71

preconceito existente Ateacute mesmo na proacutepria comunidade por natildeo entenderem e nem saberem

de que forma comunicarem-se com o mesmo a situaccedilatildeo de exclusatildeo se repete

Vale destacar que diante desta ausecircncia da qualidade de ensino para o aluno surdo a

professora Maria Inecircs ao responder um questionaacuterio segue algumas afirmativas para mudar

esta realidade Desta forma a educadora afirma que

- Eacute muito importante a capacitaccedilatildeo em cursos de libras e livros didaacuteticos proacuteprios

como forma de melhorar o ensino e a comunicaccedilatildeo com aluno surdo na

comunidade como parte da educaccedilatildeo inclusiva para facilitar o ensino e

aprendizado acima de tudo conhecer sua liacutengua materna identidade do povo

Satereacute-Maweacute

Pelo relato do Gestor da Escola Senhor Dulcemar a necessidade jaacute referida pela

educadora acima de materiais didaacuteticos para subsidiar o ensino eacute novamente colocada em

destaque conforme pode ser vislumbrado no relato transcito a seguir

- Eu como gestor sinto-me gratificado pelo trabalho a ser desenvolvido aqui com a

questatildeo da Libras um trabalho realizado pelo professor Marlon Jorge Pois eacute muito

importante devido agrave dificuldade que a educaccedilatildeo Satereacute- Maweacute vem tendo

principalmente quando se trata de alunos surdos indiacutegenas e ateacute mesmo por falta

de material didaacutetico Esse trabalho vai ser importante aqui na aacuterea indiacutegena para

ajudar o professor na sala de aula como ensinar como educar e como lidar com

esses alunos com necessidades especiais Entatildeo eacute um trabalho muito importante

pra noacutes e estamos aqui a disposiccedilatildeo e tambeacutem para contribuir como gestor da

escola juntamente com os professores e pra noacutes eacute muito bom esse trabalho e que o

Sr possa desenvolver esse seu projeto essa cartilha que com o aacutepice das aulas de

libras que com certeza vai fortalecer muito mais a educaccedilatildeo do povo Satereacute

Maweacuterdquo

Tabela 313 sinais caseiros coletados e utilizados pelo aluno da comunidade de Ponta Alegre

Fonte Azevedo (2014)

SINAIS CASEIROS DESCRICcedilAtildeO

AacuteGUA Usa as duas matildeos fazendo impressatildeo de beber alguma coisa

BARCO Usa-se a matildeo direita aberta em posiccedilatildeo vertical fazendo uma

expressatildeo da accedilatildeo do barco

BANHO Fazer a expressatildeo de pular na aacutegua com os braccedilos esticados

BANHEIRO Matildeo direita usando o indicador fazendo expressatildeo sair fora sala

COMIDA Matildeo esquerda aberta matildeo direita usando como o objeto metaacutelico

COBRA Usando os dedos da matildeo direita beliscando o pulso da matildeo esquerda

ESCOLA Faz-se o sinal de casa

ESTUDAR Faz a expressatildeo de escrever

FOME Matildeo direita levando em direccedilatildeo da barriga fazendo expressatildeo facial

de fome

FARINHA As duas matildeos palmas para baixo fazendo a expressatildeo de esfarelar

alguma coisa

LANCHA Usa a matildeo direita palma para cima fazendo uma accedilatildeo da rapidez

para frente

PEIXE Matildeo direita fazer a expressatildeo de caccedilar o peixe com o arpatildeo

PESSOA Matildeo direita com dedo indicador fazendo expressatildeo de algueacutem

72

Figura 3 Sinais caseiros utilizados pelo aluno da comunidade de Ponta alegre ndash

Barreirinha

AacuteGUA BARCO

BANHEIRO

BANHO

COMIDA

ESCOLA

FOME LANCHA PESCAR PEIXE

ESTUDAR FARINHA

COBRA

73

45 Os indiacutegenas surdos do Municiacutepio de Maueacutes

Situado entre os rios Madeira e Tapajoacutes o municiacutepio de Maueacutes estaacute localizado no

Meacutedio Amazonas que hoje eacute denominado como microrregiatildeo aacuterea leste do Estado Distante

de Manaus cerca de 30 km em linha reta ou o equivalente 45 minutos por via aeacuterea estando

a 356 km por via fluvial cerce de 16 a 18 horas de barco

Nesse municiacutepio foi realizado duas viagens com a finalidade de fazer um mapeamento

das aacutereas indiacutegenas bem como descobrir a existecircncia de surdos nas aldeias O primeiro

contato foi na Secretaria de Educaccedilatildeo do municiacutepio primeiramente me apresentado como

aluno pesquisador juntamente com os documentos comprobatoacuterios de acesso para realizar a

pesquisa nas aacutereas indiacutegenas As informaccedilotildees que tinha antes de estabelecer o contato

apontavam para a existecircncia de alunos indiacutegenas surdos matriculados na sede do municiacutepio

Poreacutem a secretaria informou desconhecer a existecircncia de alunos indiacutegenas matriculados na

rede publica do municiacutepio nem saber sua localizaccedilatildeo para contatos sendo orientado a

procurar na Casa do Estudante Indiacutegena Satereacute-Maweacute que se localiza em um bairro mais

distante dali

Chegando ao SESAI - Secretaria de Sauacutede Indiacutegena obtivemos acesso agraves informaccedilotildees

devido ao fato de que a pessoa responsaacutevel estava em viagem sendo que retornaria na outra

semana Em outra busca formos agrave Casa do Estudante Satereacute-Maweacute onde conversamos com o

coordenador Sr Jusivam que disse saber da existecircncia de indiacutegenas surdos nas comunidades

na Marau e Andiraacute mas natildeo ter dados quantitativos devido ao fato deles natildeo terem procurado

a Casa do Estudante em busca de assistecircncia que auxiliassem sua integraccedilatildeo em escolas

regulares ou inclusivas Observa-se que a Casa do Estudante podia auxiliar eles a

conseguirem uma escola para estudarem na zona urbana jaacute que esta eacute uma das atribuiccedilotildees da

instituiccedilatildeo

Ao sermos informados que as comunidades onde havia surdos eram distantes e

necessitava de apresentar outros documentos da Coordenaccedilatildeo Geral de Educaccedilatildeo que ficava

no municiacutepio de Barreirinha Tambeacutem se fazia necessaacuterio preparar uma programaccedilatildeo de

viagem para que pudessemos chegar ateacute aquela localidade de modo que nesta precisava

inclusive organizar para ter inteacuterpretes que falassem a liacutengua Satereacute-Maweacute e inteacuterpretes de

Libras Aleacutem destes precisava contar com um acompanhante para registrar as imagens e

filmagens se autorizadas anotando tudo que fosse necessaacuterio

Fazendo uma reflexatildeo sobre a viagem e os entraves que tinhamos pela frente para a

concretizaccedilatildeo do projeto e as distacircncias geograacuteficas para alcanccedilar os objetivos da pesquisa

74

Contudo ao encontrar um surdo indiacutegena sendo o principal objeto da pesquisa em funccedilatildeo da

grande satisfaccedilatildeo de poder contribuir para o desenvolvimento linguiacutestico dos indiacutegenas surdos

e para que a comunidade compreenda como um ser incluiacutedo a partir do respeito a sua cultura

inserindo em seus modos e haacutebitos foi compensador enfrentamos todos os obstaacuteculos

Visitamos a Universidade do Estado do Amazonas ndash UEA onde tivemos a grata

surpresa de saber que havia uma turma de formaccedilatildeo em licenciatura Indiacutegena para a

comunidade Esperamos a aula acabar para falar com o professor o qual pediu para vir outro

dia para conversar com os alunos Foi nessa ocasiatildeo que conhecemos trecircs professores com os

quais fizemos um acordo para que na proacutexima viagem me levassem para a aldeia a fim de

realizar o mapeamento

Voltando para Parintins foi elaborado um roteiro para viagem a aacuterea indiacutegena Satereacute-

Maweacute pelos rios Maueacutes-Accedilu Rio MarauUrupadi A viagem aconteceu no dia 02 de

fevereiro de 2014 saindo de barco de Parintins indo ateacute o municiacutepio de Maueacutes No dia

seguinte as 8 horas acompanhado do professor Jesiel pegamos uma voadeira de 150HP com

destino ao territoacuterio Satereacute-Maweacute Foi uma viagem perigosa devido agraves condiccedilotildees dos rios e de

difiacutecil acesso para chegarmos laacute Todavia fizemos um esforccedilo e conseguimos nos deslocar ateacute

a comunidade Percorremos de voadeira uma viagem que durou aproximadamente 8 horas

pelo Rio Maueacutes Accediluacute Depois de uma hora e meia de viagem chegamos ao Rio Urupadi e

seguimos mais uma hora e meia de viagem ateacute a comunidade indiacutegena Vale do Quiinha

Nessa aldeia pegamos o professor Jacob Santos de Souza que nos acompanhou para a

proacutexima aldeia Ilha Michiles que fica no Rio Marau Nessa aldeia pegamos outro professor

Satereacute-Maweacute Jocimar Alencar dos Santos Saiacutemos da Ilha Michiles com destino a

comunidade Santa Maria que fica na divisa do Rio Urupadi e Manjuru A cada visita que

faziamos nas comunidades indiacutegenas percebemos no cotidiano a diversidade presente nas

aacutereas indiacutegenas Satereacute-Maweacute Ao perguntar se havia algueacutem surdo na famiacutelia e a resposta

sempre vinha de forma afirmativa o que me demonstrou que todos os esforccedilos para realizar a

viagem foram compensados diante da riqueza de dados coletados

A primeira iniciativa adotada com relaccedilatildeo a esse momento foi reunir com os

comunitaacuterios envolvidos nas atividades escolares A reuniatildeo teve como objetivo observar e

entrevistar alguns indiacutegenas para posteriormente analisar como se procede agrave comunicaccedilatildeo

entre indiacutegenas surdos e ouvintes A reuniatildeo foi muito uacutetil para os estudos e anaacutelise de

informaccedilotildees Os surdos existentes na comunidade nunca estudaram devido agrave comunidade

Santa Maria ficar distante da zona urbana e a escola existente para alunos ouvintes ficar em

75

outra comunidade o que inviabiliza a ida deles sendo que tambeacutem natildeo haacute professores

especializados para atenderem a clientela surda existente no Rio Marau

Encontramos dois indiacutegenas surdos na comunidade de Santa Maria que foram objeto

de estudos No entanto houve informaccedilotildees repassadas de que haacute outros trecircs surdos em outras

comunidades mais distante na mesma aacuterea Satereacute-Maweacute A visita para contactar estes outros

trecircs surdos ficou para a proacutexima viagem de observaccedilatildeo e coleta dos dados

451 O primeiro surdo da Comunidade de Santa Maria

No contato e observaccedilatildeo que tivemos com o surdo o mais novo tem 24 anos mora

com a famiacutelia natildeo conhece nenhuma liacutengua se comunica com gestos e sinais caseiros A

comunidade assim com a famiacutelia demosntrou pouco se importar com ele de forma que natildeo

haacute estiacutemulo ou interesse para que haja uma interaccedilatildeo linguiacutestica satisfatoacuteria entre eles

O ponto de encontro com seus colegas fica na parte central da comunidade que tem

um campo de futebol Laacute eles se concentram embaixo de uma aacutervore Neste lugar o surdo

costuma ficar quase diariamente com intuito de se unir e brincar com os colegas Ele usa os

sinais caseiros com expressotildees com a intenccedilatildeo de conseguir se comunicar com os colegas

Poreacutem alguns natildeo conseguem entender enquanto outros falam a Liacutengua Satereacute-Maweacute

Apesar do esforccedilo do surdo de tentar compreender o que eacute falado via a leitura labial na

maioria das vezes natildeo consegue compreender Poreacutem mesmo assim sinaliza balanccedilando a

cabeccedila com expressatildeo de concordacircncia afirmativa mesmo natildeo entendendo a mensagem

Tabela 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa

Maria

SINAIS CASEIROS

COLETADOS

DESCRICcedilAtildeO

AacuteGUARIO Usam-se as duas matildeos fazendo a expressatildeo de banzeiro

ANTA Matildeo direita fazendo a expressatildeo do focinho do nariz

AacuteRVORE As matildeos abertas fazendo expressatildeo de segurar o troco ao mesmo tempo

levando para cima

BARCO Usa a matildeo direita fechada fazendo expressatildeo de abrir e fechar a matildeo

como sinal de fumaccedila

BANHO Fazer a expressatildeo de pular na aacutegua com os braccedilos esticados

CASA As duas matildeos palmas para baixo fazendo um balanccedilo de movimento de

uma rede

CACcedilAR PEIXE Matildeo direita fazer expressatildeo de soltar o arpatildeo

CUIA As duas matildeos juntas fazer a expressatildeo de raspar a cuia

COCO Fazer a expressatildeo de tirar o coco com a vara

COMIDA As duas matildeos levando ateacute a boca

76

Fonte Azevedo (2014)

Figura 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa Maria

(30 sinais coletados)

COBRA Matildeo direita fazendo a expressatildeo da picada da cobra

FACA Matildeo direita fachada fazendo a expressatildeo de furar alguma coisa para

baixo

FLECHA Fazer a expressatildeo de jogar a flecha

FORMIGA Matildeo direita com os dedos beliscando o braccedilo esquerdo

FOME Matildeo direita levando em direccedilatildeo da barriga fazendo expressatildeo facial de

fome

FARINHA As duas matildeos fazer a expressatildeo de fazer farinha

GUARANAacute Fazer a expressatildeo de ralar o guaranaacute

JACAREacute Os dois indicadores das matildeos fazendo expressatildeo de dentes grandes do

jacareacute

LANCHA As duas matildeos dedos juntos fazer a expressatildeo de uma accedilatildeo raacutepida para

frente

MACACO Com braccedilos abertos fazer a expressatildeo de macaco

MALOCA As duas matildeos com os dedos encostados puxar para os lados opostos

MANDIOCA Fazer expressatildeo de descascar algum

ONCcedilA Com as matildeos fazer pintas no rosto

PAI As duas matildeos esfregando os indicadores

PEIXE Faz se expressatildeo de descamar o peixe

PILAtildeO As duas matildeos juntas fazendo a expressatildeo de socar a crueira

POTE AacuteGUA As duas matildeos juntas palmas para cima elevando para cima em curvas

onduladas

PASSAacuteRO As duas matildeos fazendo o movimento de paacutessaro

PESSOA Matildeo direita fazendo a expressatildeo de pegar no cabelo

TIPITI As duas matildeos fazendo a expressatildeo de espremer algum

PENEIRAR As duas matildeos em forma letra A fazer expressatildeo de balanccedilar o objeto

AacuteGUA ANTA AacuteRVORE

VIAGEM BANHO

77

VIAJAR

CASA CACcedilAR ALIMENTO CUIA

COCO COMIDA

FACA

FARINHA

FORMIGA

GUARANAacute

FOME

FACA

FLECHA

78

JACAREacute LANCHA

MACACO

MANDIOCA ONCcedilA

MALOCA PAI

POTE DE AacuteGUA PILAtildeO

LANCHA JACAREacute

PEIXE

79

452 O segundo surdo da Comunidade de Santa Maria

O segundo surdo visitado um senhor adulto com identidade natildeo revelada residindo na

Comunidade de Santa Maria Eacute um cidadatildeo reservado e fechado para desconhecidos Como

nossa equipe era composta de 05 profissionais sendo 03 (trecircs) professores indiacutegenas que me

acompanharam para serem facilitadores linguiacutesticos e um colaborador local para captar as

imagens ficarmos 04 (quatro) dias na comunidade para observaccedilotildees Apesar do tempo o

investido para conseguir o contato o mesmo se mostrou irredutiacutevel e natildeo se dispos a

conversar conosco Observa-se que mora sozinha e eacute raro ele se manifestar na comunidade

Pela histoacuteria contada a seu respeito apesar de natildeo se comunicar manteacutem sua residecircncia de

maneira organizada cultiva de algumas plantaccedilotildees como mandioca banana guaranaacute aleacutem de

produzir farinha tambeacutem faz pescaria para se alimentar Foi relatado que ajuda alguns

vizinhos e amigos com o que produz aleacutem de ser experiecircncia em matildeo de obra na confecccedilatildeo

de trepadeira silvestre que facilita subir nas aacutervores coqueiros e accedilaizeiros

PASSAacuteRO PESSOA COBRA

TIPITI PENEIRAR

80

Sobre o contexto educacional tendo como tema central a educaccedilatildeo escolar indiacutegena

o professor Jesiel (2014)28

(que eacute indiacutegena e concluiu o curso de pedagogia intercultural na

Universidade do Estado do Amazonas localizado no municiacutepio de Maueacutes) argumentou que o

territoacuterio Satereacute-Maweacute eacute muito grande sendo longa a distacircncia para se chegar na zona

urbana ateacute de forma que mesmo o deslocamento de uma comunidade para outra dificulta os

indiacutegenas irem para a escola Estas segundo o educador referido satildeo algumas razotildees que

impedem muitos indiacutegenas de estudarem na medida em que acarreta prejuiacutezo para a famiacutelia

especialmente de perda de tempo principalmente para os adultos que tem compromisso no

campo e com a comunidade

Para solucionar este problema devido a distacircncia as famiacutelias e os liacutederes indiacutegenas

possuem propostas e lutas para a construccedilatildeo de escolas nas aldeias o que facilitaria o acesso

dos surdos indiacutegenas da comunidade na escola E ao considerar que o indiacutegena surdo

compreende e se comunica com seus pares atraveacutes de gestos e sinais caseiros de forma que

aleacutem de sua liacutengua nativa haacute outros meios para que o surdo possa se comunicar isso aponta

para a necessidade da criaccedilatildeo de propostas de acesso agrave educaccedilatildeo dessas pessoas Dessa

maneira foram catalogados alguns sinais utilizados por esse surdo adulto da Comunidade de

Santa Maria apresentado abaixo

Tabela 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais antigo residente isolado na

comunidade de Santa Maria no Rio Marau ( 18 sinais coletados)

28

As famiacutelias e os liacutederes indiacutegenas possuem propostas e lutas para a construccedilatildeo de escolas nas aldeias para a

facilitaccedilatildeo do acesso dos surdos indiacutegenas na comunidade e na escola O indiacutegena surdo apesar de natildeo ouvir

compreende e comunica com seus pares atraveacutes de gestos e sinais caseiros que aleacutem de sua liacutengua nativa haacute

outros meios para que o surdo possa se comunicar Isso contribui para a criaccedilatildeo de propostas de acesso agrave

educaccedilatildeo dessas pessoas Dessa maneira foram catalogados alguns sinais utilizados por esse surdo adulto da

Comunidade de Santa Maria apresentado abaixo

A contribuiccedilatildeo do professor indiacutegena Jesiel Santos foi de suma importacircncia para a coleta de dados nesta

pesquisa visto que atraveacutes dele que conseguimos chegar ateacute a comunidade de Santa Maria afim de termos os

contatos na comunidade

SINAIS CASEIROS DESCRICcedilAtildeO

ARCOFECHA As duas matildeos com expressatildeo de utilizar um arco com flecha

AacuteGUA Matildeo direita com utilizando somente o dedo polegar fazer a expressatildeo de

beber algum

BANHO Os braccedilos e matildeos esticadas fazer a expressatildeo de se soltar no rio

BEIJU As duas matildeos fazendo um circulo e em seguida levar ateacute a boca

CIGARRO A posiccedilatildeo para traduzir este sinal satildeo as duas matildeos em posiccedilatildeo dos dedos

polegar e indicador juntos fazendo expressatildeo de fazer um cigarro caseiro

CASA As duas matildeos com os dedos esticados fazer a expressatildeo de formato de uma

casa

COBRA A matildeo direita com os dedos indicador e polegar encostados fazer a expressatildeo

de beliscar o pulso de antebraccedilo

FARINHA Matildeos com os dedos todos juntos fazer a expressatildeo com o movimento de

81

Figura 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo idoso na comunidade de Santa Maria

soltar a farinha

FORNO DE ASSAR Matildeo direita fazendo um semiciacuterculo de com a caracteriacutestica de um forno de

barro

GARREIRA As duas matildeos juntas fazer a expressatildeo repetidamente de amassar uma massa

JACAREacute As duas matildeos pegando os dentes

LUVA DA TUCANDEIRA Fazendo a expressatildeo de usar uma luva de palha e fazer a expressatildeo de dor da

ferrada da tucandeira

MANDIOCA Usar o antebraccedilo esquerdo com a matildeo direita como um material cortante

fazendo a expressatildeo de descascar

MACACO Os dois braccedilos e corpo fazendo a expressatildeo do movimento caracteriacutestico do

macaco

PAJEacute As duas matildeos fazendo a expressatildeo de segurar algum e balanccedilar

PAacuteSSARO Fazer a expressatildeo de balanccedilar os braccedilos caracterizando o movimento de um

paacutessaro

TIPITI As duas matildeos fazendo o movimento de espremer a mandioca

TERRASOLO Matildeo direita fazendo expressatildeo de um pequeno monte de terra

ARCOFECHA BEBER

LIacuteQUIDOAacuteGUA

BEIJUCOMER COBRA

FARINHA FERRADA DA TUCANDEIRA MALOCACASA ESCOLA

ARCOFLECHA BEBER LIQUIDOAacuteGUA BANHOPULAR NA AacuteGUA

AacuteAacuteGUA

CIGARRO

82

FORNO DE ASSAR

JACAREacute

LUVA DA TUCANDEIRA MACACO

PAJEacute

TIPITI TERRA

GAREIRA

MANDIOCA

PAacuteSSARO

(( ))

JACAREacute

83

5 ICONICIDADE E ARBITRARIEDADE NA CRIACcedilAtildeO DOS SINAIS CASEIROS

Nos anos 60 a partir dos trabalhos de Stokoe (1960) foi comprovado que as Liacutenguas

de Sinais satildeo linguas Estas satildeo liacutenguas naturais com ldquoestrutura gramatical proacutepria em seus

niacuteveis fonoloacutegico (ou queroloacutegico) morfoloacutegico sintaacutetico e semacircntico aleacutem de seus aspectos

pragmaacuteticosrdquo

De acordo com Quadros (2006 p 221)

pelo fato de as liacutenguas de sinais natildeo serem faladas e de natildeo terem o seu coacutedigo

escrito ainda popularizado entre os surdos natildeo as elimina das consideraccedilotildees

cientiacuteficas visto que apresentam uma organizaccedilatildeo estrutural e fazem parte da

constituiccedilatildeo cultural desses sujeitos ndash crescendo envolvendo e transmitindo

dinamicamente tradiccedilotildees socioculturais Portanto as liacutenguas de sinais fazem parte

do conjunto da linguagem humana com a diferenccedila de se apresentarem em uma

terceira modalidade a visuo-espacial

Reiterando-se que a Liacutengua de Sinais eacute uma liacutengua natural uma vez que estaacute veiculada

a um canal que natildeo eacute o oral-auditivo e sim visual esta garante uma percepccedilatildeo e articulaccedilatildeo

mais faacutecil mais coerente e confortaacutevel aleacutem de contribuir para o desenvolvimento linguiacutestico

cognitivo e social do surdo

Sobre as caracteristicas linguiacutesticas das Liacutenguas de Sinais vale ressaltar que Sousa

(2010) ao tratar dos aspectos visuais quanto agraves propriedades das Liacutenguas de Sinais enfatiza a

iconicidade e arbitrariedade relacionada ao signo linguiacutestico que satildeo inerentes agraves liacutenguas

naturais Sobre as definiccedilotildees dos fenocircmenos das liacutenguas estes remontam a eacutepoca de Platatildeo

filoacutesofo grego que tratava os fenocircmenos sobre a linguagem e a relaccedilatildeo dela com o mundo

Cita-se tambeacutem Craacutetilo Hermoacutegenes e Soacutecrates que foram interlocutores desta relaccedilatildeo

discutindo a ligaccedilatildeo existente entre nome ideia e coisa A abordagem dos trecircs se diferenciava

de forma que Craacutetilo defendia o conceito de iconicidade Hermoacutegenes de arbitrariedade

Soacutecrates por seu turno integrava as duas concepccedilotildees Esta diferenciaccedilatildeo tecido pelos trecircs

filosofos pode ser vislumbrada no trecho transcrito abaixo

Para Craacutetilo a liacutengua eacute o espelho do mundo o que significa que existe uma relaccedilatildeo

natural e portanto similar ou icocircnica entre os elementos da liacutengua e os seres por

eles representados Para Hermoacutegenes a liacutengua eacute arbitraacuteria isto eacute convencional pois

entre o nome e as ideias ou as coisas designadas natildeo haacute transparecircncias ou

similaridade Soacutecrates por sua vez tem o papel de fazer a integraccedilatildeo entre os dois

pontos de vista (WILSON amp MARTELOTTA 2010 apud SOUSA 2010 p 4)

84

A modalidade gestual-visual espacial pela qual a Liacutengua de Sinais eacute produzida e

reconhecida pela comunidade Surda leva muitas vezes as pessoas a pensarem que todos os

sinais satildeo desenho no ar do referente que representam Para melhor esclarecimento por

decorecircncia de sua natureza linguiacutestica a realizaccedilatildeo de um sinal pode sim ser motivada pelas

caracteriacutesticas do dado da realidade a que se refere poreacutem natildeo eacute regra Ou seja a maioria dos

sinais da LIBRAS eacute arbitraacuteria natildeo mantendo relaccedilatildeo de semelhanccedila alguma com seu

referente Portanto essa condiccedilatildeo possibilita o enriquecimento da flexibilidade e versatilidade

da liacutengua (BASSO 2011 p47)

Exemplos de sinais arbitraacuterios

Figura 6 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos que se refere agrave

arbitrariedade

BISCOITO PESSOA DESCULPA

Fonte Azevedo (2014)

A ideia de arbitrariedade da liacutengua se relaciona com a ideia de convenccedilatildeo que se

efetiva em todas as liacutenguas como Liacutengua de Sinais e na Liacutengua Portuguesa ilustra-se o

processo com os exemplos das palavras ldquobiscoitordquo ldquodesculperdquo e ldquopessoardquo O processo de

definiccedilatildeo destes termos ocorre de forma arbitraacuteria pois soacute nomes foram atribuiacutedos devido a

uma convenccedilatildeo que estabelece esse conceito e natildeo porque haacute uma relaccedilatildeo entre o som da

palavra e o objeto que ela designa (SALLES 2007 p 5)

No caso da Libras os exemplos citados de sinais foram criados sem sofrer influecircncia

da imagem dos objetos aos quais eles se referem O que mostra que mesmo que a Libras

tambeacutem apresenta a caracteriacutestica de arbitraacuterios (TEIXEIRA 2015 p 5)

Para compreender melhor a importacircncia da visualidade na Liacutengua de Sinais dos

Satereacute-Maweacute eacute relevante entender trecircs conceitos da teoria de Pierce sobre a iconicidade que

pode ser considerada a base dos sinais dessa comunidade os quais satildeoo siacutembolo o iacutendice e o

iacutecone Segundo Martelotta (2011) (apud TEIXEIRA 2015 p 2)

85

O siacutembolo de acordo com Peirce refere-se a determinado objeto representando-o

com base em uma lei haacutebito ou convenccedilatildeo estabelecendo uma relaccedilatildeo entre dois

elementos Para citar alguns exemplos a cruz eacute o siacutembolo do cristianismo e a

balanccedila o siacutembolo da justiccedila Uma caracteriacutestica importante do siacutembolo relaciona-se

ao fato de que ele eacute parcialmente motivado ou seja haacute entre o siacutembolo e o conteuacutedo

simbolizado alguns traccedilos relacionados ao objeto

Haacute uma diferenccedila fundamental entre o siacutembolo de um lado e o iacutendice e o iacutecone de

outro jaacute que nesses dois uacuteltimos haacute um niacutevel ainda menor de arbitrariedade No caso

do iacutendice ocorre uma relaccedilatildeo de contiguidade com a realidade exterior a fumaccedila

por exemplo eacute o iacutendice do fogo e a presenccedila de nuvens negras o iacutendice de chuva

iminente

O iacutecone por sua vez tem uma natureza imagiacutestica apresentando portanto

propriedades que se assemelham ao objeto a que se refere A fotografia de um

indiviacuteduo por exemplo eacute uma representaccedilatildeo icocircnica desse indiviacuteduo assim como o

mapa do Rio de Janeiro representa a cidade Assim um iacutecone eacute qualquer coisa que

seja utilizada para designar algo que lhe seja semelhante em algum aspecto

Nesta perspectiva Quadros (1997) traz a reflexatildeo sobre os efeitos da modalidade ou

seja o fato de a Liacutengua de Sinais serem visuoespacial em vez de auditiva-oral implica nas

diferenccedilas para a aquisiccedilatildeo do surdo e nesse sentido tem-se a questatildeo da iconicidade das

Liacutenguas de Sinais uma vez que a iconicidade se refere

A transparecircncia entre significado e o significante ou seja a relaccedilatildeo de identidade

entre a palavra (o sinal) e o seu sentido Por exemplo nas liacutenguas faladas agraves

onomatopeias satildeo consideradas por alguns autores como icocircnicas pois a produccedilatildeo

sonora bdquoreal‟ (do objeto ou do animal) eacute reproduzida na fala expressando certa

identidade (QUADROS 2011 p 22)

Vale ressaltar que a iconicidade vem sendo estudada a partir da pesquisa semioacutetica de

Charles Sanders Peirce (1999) filoacutesofo norte-americano contemporacircneo de Saussure

Segundo Teixeira (2015) Peirce em seus estudos sobre a Semioacutetica o signo tem a funccedilatildeo de

proporcionar uma ideia do mundo e tudo que cerca o indiviacuteduo estaacute rodeado de signos Como

explica o filoacutesofo

[] para que algo possa ser um Signo (expressatildeo ou representamento) esse algo

deve bdquorepresentar‟ [] alguma outra coisa chamada seu Objeto apesar de ser talvez

arbitraacuteria a condiccedilatildeo segundo a qual um Signo deve ser algo distinto de seu objeto

(PEIRCE 1999 apud TEIXEIRA 2015 p 5)

Ao direcionar essas definiccedilotildees para agraves liacutenguas de sinais Sousa (2010) afirma que

muitas vezes essas liacutenguas satildeo consideradas puramente icocircnicas por serem de uma

modalidade diferente acreditando-se acredita que os sinais satildeo criados sempre a partir da

86

representaccedilatildeo do referente Eacute certo que um sinal pode ser realizado de acordo com a

caracteriacutestica daquilo que se refere mas de acordo com Strobel amp Fernandes (1998 apud

Sousa 2010 p 4) ldquoisto natildeo eacute uma regra jaacute que a maioria dos sinais em Libras eacute arbitraacuterio ou

seja natildeo manteacutem uma relaccedilatildeo de similitude com o referenterdquo

Reconhece-se que algumas Liacutenguas de Sinais parecem ter maior motivaccedilatildeo icocircnica

apresentando relaccedilotildees entre a sua forma e o seu significado comumente observado nas

Liacutenguas de Sinais caseiras dos Satereacute-Maweacute Isso significa a relaccedilatildeo entre o referente e o

referenciado Alguns estudos como os de Meier (1981) citado por Lillo-Martin (1986)

apontam para uma aparente iconicidade nas liacutenguas de sinais o que justifica considerar as

variaccedilotildees regionais e sociais e as mudanccedilas histoacutericas como fenocircmenos identificaacuteveis na

Liacutengua Brasileira de Sinais o que lhe confere o caraacuteter natural (STROBEL amp FERNANDES

1998 apud SOUSA 2010)

Nesse contexto a iconicidade como caracteriacutesticas semelhantes ao iacutecone tem em

comum o objeto que representa Por ser uma liacutengua de modalidade visuoespacial a

iconicidade estaacute presente em grande parte dos sinais da Libras pois a relaccedilatildeo entre a ldquoformardquo

e o ldquosentidordquo eacute mais visiacutevel Salles (2007) em bdquoEnsino de liacutengua portuguesa para surdos

caminhos para a praacutetica pedagoacutegica‟ comenta

Um aspecto que se sobressai no contraste entre as modalidades viacutesuo-espacial e oral-

auditiva eacute a questatildeo da arbitrariedade do signo linguiacutestico Esse conceito estabelece

que na constituiccedilatildeo do signo linguiacutestico a relaccedilatildeo entre o significante (imagem

acuacutestico-focircnica) e o significado eacute arbitraacuteria isto eacute natildeo existe nada na forma do

significante que seja motivado pelas propriedades da substacircncia do conteuacutedo

(significado) Uma caracteriacutestica das liacutenguas de sinais eacute que diferentemente das

liacutenguas orais muitos sinais tecircm forte motivaccedilatildeo icocircnica Natildeo eacute difiacutecil supor que esse

contraste se explique pela natureza do canal perceptual na modalidade viacutesuo-

espacial a articulaccedilatildeo das unidades da substacircncia gestual (significante) permite a

representaccedilatildeo icocircnica de traccedilos semacircnticos do referente (significado) o que explica

que muitos sinais reproduzam imagens do referente na modalidade oral-auditiva a

articulaccedilatildeo das unidades da substacircncia sonora (significante) produz sequecircncias que

em nada evocam os traccedilos semacircnticos do referente (significado) o que explica o

caraacuteter imotivado ou arbitraacuterio do signo linguiacutestico nas liacutenguas orais (SALLES

2007 p 83)

Todavia os mesmos sinais icocircnicos possuem um grau de arbitrariedade na definiccedilatildeo

dos mesmos como explica Frydrych (2012)

Pode haver contudo sinais com diferentes graus de iconicidade Um sinal pode natildeo

se assemelhar ao objeto que representa pela forma mas apresentar de alguma

forma uma similaridade por meio de expressotildees faciais ou movimentos Um

exemplo eacute o sinal ldquotristerdquo que possui como configuraccedilatildeo de matildeo o sinal Y

localizada abaixo do queixo em movimento de meia lua O sinal nada tem a ver

com o que a palavra representa no entanto a expressatildeo facial de tristeza que

acompanha o sinal daacute indiacutecios de que seu significado pode natildeo ser muito agradaacutevel

87

[] Falar de sinais icocircnicos em Libras pode parecer comum no entanto o sinal de

ldquocasardquo por exemplo motivado pelo formato do telhado de uma casa eacute tambeacutem

usado para o sinal de ldquomorarrdquo que pode ser usado para ldquomoradiardquo em diferentes

formatos de residecircncia como por exemplo casa apartamento cabana etc Embora o

sinal possa ter sido motivado na sua criaccedilatildeo por um tipo de casa passou a ser usado

de forma muito mais abrangente Sendo isto muito comum nas liacutenguas de sinais Os

sinais passam a ser signos linguiacutesticos altamente arbitraacuterios e passam a integrar o

leacutexico da liacutengua (Apud PIVETTA et al 2013 p8)

Como tambeacutem salienta Silva (2012) que ao passar do tempo o sinal icocircnico perde sua

motivaccedilatildeo inicial passando a ser arbitraacuterio

[] a transparecircncia eacute relativa porque a forma dos objetos ou movimentos que

originaram o sinal pode variar no tempo perdendo a sua motivaccedilatildeo inicial Um

exemplo eacute o sinal ldquoleiterdquo que faz referecircncia ao ato de ordenha que hoje ainda pode

ser considerado um sinal icocircnico Todavia para as futuras geraccedilotildees a motivaccedilatildeo de

sua representaccedilatildeo tende a se tornar uma convenccedilatildeo o que faz com que o sinal passe

a ser arbitraacuterio e de valor simboacutelico Sinais como o de ldquoleiterdquo satildeo frutos de um

processo histoacuterico e com o passar do tempo natildeo representam mais os artefatos e

procedimentos atuais sendo percebidos e interpretados apenas por meio da

arbitrariedade e da convenccedilatildeo(Apud PIVETTA et al 2013 p8)

A seguir temos alguns exemplos de sinais icocircnicos na Libras satildeo os sinais ldquoaacutervorerdquo

ldquocadeirardquo ldquocasardquo constituiacutedos a partir de caracteriacutesticas da imagem dos objetos aos quais se

referem Enquanto o primeiro lembra a imagem do tronco e das folhas de uma aacutervore o

segundo lembra as pernas de uma pessoa representadas pelos dedos indicador e meacutedio e a

terceira lembra a imagem de um telhado ou de uma casa sentada no objeto em questatildeo

(SALLES 2007 p 83)

Figura 7 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos aos quais se referem a

iconicidade

Fonte Azevedo (2014)

AacuteRVORE CADEIRA CASA

88

Figura 8 Caracteriacutesticas da imagem em Liacutengua de Sinais Satereacute-Maweacute dos objetos aos

quais se referem agrave iconicidade

Yara Wato Barco Libras

Fonte Azevedo (2014)

Man Beiju Libras

Fonte Azevedo (2014)

Kamunti hit Bilha Libras

Fonte Azevedo (2014)

89

Dessa maneira podem-se definir os sinais icocircnicos como aqueles que fazem alusatildeo agrave

imagem do seu significado natildeo implicando que todos os sinais satildeo iguais ou sinais icocircnicos

em todas as Liacutengua de Sinais cada grupo social absorve aspectos diferentes da imagem do

referente convencionando a representaccedilatildeo do sinal Os signos arbitraacuterios satildeo os que natildeo

trazem nenhuma relaccedilatildeo de semelhanccedila com o referente

90

6 INTERVENCcedilAtildeO E CONTRIBUICcedilAtildeO LINGUIacuteSTICA DO PROFESSOR SURDO

Os estudos sobre a educaccedilatildeo sistemaacutetica dos indiacutegenas surdos da etnia Satereacute-Maweacute

levaram agrave percepccedilatildeo da necessidade iminente de uma atuaccedilatildeo no processo ensino

aprendizagem desses sujeitos Desse modo apoacutes conhecer a realidade linguiacutestica e

educacional dos indiacutegenas surdos observados nas aldeias e na zona urbana de Parintins foi

possiacutevel intervir por meio do ensino da Liacutengua Brasileira de Sinais A intervenccedilatildeo foi feita

com o consentimento dos responsaacuteveis locais onde se faziam presentes acompanhando o

objeto da pesquisa - os indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute

Assim com a autorizaccedilatildeo da famiacutelia o primeiro contato foi estabelecido entre uma

crianccedila surda indiacutegena com professor tambeacutem surdo que ocorreu na residecircncia dela na zona

urbana do municiacutepio de Parintins cujo registro de imagem consta na Figura 9

Figura 9 Encontro da crianccedila surda Satereacute-Maweacute com o professor surdo

Fonte Azevedo (2014)

No contato foi possiacutevel verificar que a crianccedila natildeo conhecia a liacutengua Libras Sua

forma de comunicaccedilatildeo era com o uso dos siacutembolos ldquocaseirosrdquo Contudo ela respondeu ao

estiacutemulo de conversaccedilatildeo com muita facilidade buscando fazer a comunicaccedilatildeo As demais

observaccedilotildees e intervenccedilatildeo deram-se no ambiente educacional na Escola de Aacuteudio e

Comunicaccedilatildeo Padre Paulo Manna (Figura 10) Nesse contexto a crianccedila acompanhava com

atenccedilatildeo ao desempenho dos demais pares sempre atenta para compreensatildeo do conteuacutedo

comunicativo Ficou evidente a necessidade de um material de suporte escrito como recurso a

ser utilizado pelos docentes no processo ensino e aprendizagem

91

Figura 10 Contato com aluno Satereacute-Maweacute surdo no ambiente escolar

Fonte ndash Azevedo (2014)

Ocorreu tambeacutem o contato com o aluno surdo da Etnia Satereacute-Maweacute matriculado na

Escola Estadual Brandatildeo de Amorim em Parintins o qual foi feito em sua residecircncia dele A

conversa com ele foi feita fluentemente em Libras (Figura 10) Entretanto ao ser indagado

sobre a cultura a liacutengua falada de sua etnia natildeo soube responder Comprovou-se que o aluno

natildeo participa do contexto cultural da etnia por isso natildeo a conhece Por tal considera-se que o

material triliacutengue seria um recurso apropriado para promover o reconhecimento de muitos

signos que fazem parte da Liacutengua Satereacute-Maweacute

Figura 11 Contato com o aluno surdo Satereacute-Maweacute na Escola Estadual Brandatildeo de Amorim

Fonte ndash Azevedo (2014)

O contato com os familiares juntamente com professores indiacutegenas e inteacuterprete

linguiacutestica possibilitou ter uma visatildeo sobre o contexto comunicativo do indiacutegena surdo A

conversa com o pai do indiacutegena surdo na Aldeia de Santa Maria indicou a forma como

conseguem se comunicar com o filho desde o momento que perceberam que ele era surdo

Explicaram as dificuldades que tiveram no processo de entendimento com ele Confirmaram

92

que o aprendizado da liacutengua Libras indicando os signos que representam a cultura da etnia

seria muito importante para a comunicaccedilatildeo entre ele e os familiares eou educadores

Figura 12 Em viagem para aacuterea indiacutegena no Rio Marau ndash comunicaccedilatildeo com familiares

Fonte - Azevedo (2014)

O projeto da pesquisa foi apresentado na comunidade de Santa Maria para os

representantes da comunidade indiacutegena (Figura 12)

Figura 13 Apresentaccedilatildeo do projeto de pesquisa agraves lideranccedilas indiacutegenas na comunidade

Fonte Azevedo (2014)

Ressalta-se a importacircncia das lideranccedilas conhecerem e participarem do desenvolvimento

do projeto A relevacircncia desta participaccedilatildeo daacute-se em funccedilatildeo de que as mesmas contribuiram

informando vocabulaacuterios caracteristicos da regiatildeo que enriqueceram o minidicionaacuterio

triliacutengue Satereacute-MaweacutePortuguecircsLibras como pode ser evidenciado a seguir

93

Vocabulaacuterios e utensiacutelios indiacutegenas sinalizados em Libras

Liacutenguas

Satereacute-Maweacute Portuguecircs Libras

Mory‟ywat siomory‟awat Arco

Satereacute-Maweacute Portuguecircs Libras

T wa Aldeia

Ressalta-se a importacircncia do minidicionaacuterio ao considerar que o vocabulaacuterio contido no

mesmo poderaacute ser utilizado pelo indiacutegena surdo para ele aprenda a comunicaccedilatildeo utilizando os

signos que fazem parte da linguagem da etnia

E realizando uma mini oficina de Libras para professores da comunidade (Figura 6)

foi possiacutevel demonstrar o uso da Libras no contexto da sala de aula A participaccedilatildeo efetiva dos

mesmos proporcionou a troca de informaccedilotildees sobre o vocabulaacuterio da liacutengua indiacutegena

94

Figura 14 Desenvolvimento de oficina de Libras com professores indiacutegenas

Fonte Azevedo (2014)

Enfatiza-se que todo empenho em levar o conhecimento da Liacutengua Brasileira de Sinais

para os indiacutegenas surdos professores indiacutegenas familiares de surdos e comunidade manteve-

se em funccedilatildeo do ensejo de fazecirc-los conhecer e compreender a capacidade e modos dos

indiacutegenas surdos se comunicarem aleacutem de promover a aprendizagem da Libras em um lugar

de tatildeo difiacutecil acesso com pequenas escolas que sequer tecircm materiais didaacuteticos adaptados a

essa clientela Por este motivo considera-se que a contribuiccedilatildeo linguiacutestica em forma de um

minidicionaacuterio eacute um passo importante para levar aos indiacutegenas surdos a sua comunidade e o

nuacutecleo familiar destes o iniacutecio do resgate da sua liacutengua natural que eacute a Liacutengua Brasileira de

Sinais e a sua liacutengua nativa aleacutem de seus traccedilos culturais incluiacutedos no minidicionaacuterio

61 Libras e Liacutengua Satereacute-Maweacute intercacircmbio de construccedilatildeo sociocultural-linguiacutestico

Analisando a histoacuteria do povo surdo e do povo indiacutegena percebe-se uma trajetoacuteria

similar nas lutas por seus direitos culturais e linguiacutesticos Ambos tentam

fortalecer o conhecimento da proacutepria histoacuteria com seus acertos desacertos conflitos

e sucessos buscando a compreensatildeo do ator social como sujeito da histoacuteria e

possibilitando assim a construccedilatildeo de um projeto poliacutetico articulado com outros

setores que incremente as possibilidades de construccedilatildeo dos proacuteprios projetos de

uma vida melhor (HERNAIZ 2009)

Neste sentido destaca-se que esses indiviacuteduos satildeo esquecidos na realidade cultural do

paiacutes como se natildeo existissem enquanto cidadatildeos que tem as suas formas de produzir no

contexto social Mudar esta realidade faz-se fundamental Para tal Guerreiro (2009 p93)

argumenta que

Os direitos culturais satildeo por sua vez um campo complexo que inclui vaacuterios

conjuntos de direitos e garantias entre os quais me interessa destacar para essa

reflexatildeo os seguintes o reconhecimento da diversidade o exerciacutecio da identidade

como povos o uso restrito do idioma uma educaccedilatildeo proacutepria e o respeito pelo

patrimocircnio cultural

95

Os processos culturais linguiacutesticos entre os povos surdos e indiacutegenas surdos eacute uma

possibilidade bem proacutexima atraveacutes do intercacircmbio sociocultural-linguiacutestico que estaacute sendo

construiacutedo pois o surdo indiacutegena faz parte da cultura surda e tem cacircmbio com a cultura

indiacutegena e em muitos casos com a cultura do povo ouvinte

Todavia alguns aspectos da cultura surda satildeo desconhecidos pelo proacuteprio surdo

indiacutegena Por isso a necessidade de surdos indiacutegenas se relacionarem com seus semelhantes

surdos seja indiacutegena ou natildeo indiacutegena para que atraveacutes deste contato possa construir sua

identidade cultural da comunidade surda tornando conhecida sua cultura tribal por meio da

liacutengua de instruccedilatildeo a Libras No exemplo abaixo ilustra-se a percepccedilatildeo dessa realidade

Man ype Crueira Libras

Kui‟a Cuia Libras

Dessa forma conhecendo valorizando e respeitando sua cultura que eacute um patrimocircnio

cultural da sociedade

Logo a liacutengua em uso pelos iacutendios surdos seja ela a Liacutengua de Sinais Indiacutegena

ldquosinais emergentesrdquo ou a Liacutengua Brasileira de Sinais (como empreacutestimo sociocultural-

linguiacutestico) e a Liacutengua Satereacute-Maweacute devem ser valorizadas com respeito muacutetuo na

transmissatildeo de sua cultura Os indiviacuteduos que precisam se comunicar por meio delas lutam

96

pelo fortalecimento dessa inserccedilatildeo cultural pela construccedilatildeo de um futuro melhor e pelo

respeito aos direitos dos iacutendios localizados neste vasto territoacuterio Nesse sentido

A identidade cultural requer tambeacutem ela a alteridade como dialogicidade

intercultural No seu proacuteprio interior ela natildeo eacute nunca algo de compacto mas

apresenta toda uma seacuterie de relaccedilotildees no plano sincrocircnico e diacrocircnico com outras

culturas que lhes datildeo vida justamente pela sua diversificaccedilatildeo e discordacircncia por

mais que ela se obstine em realizar-se mediante a identificaccedilatildeo com alguns de seus

aspectos apenas com algumas formas culturais determinadas que se arvoram

oficiais e dominantes (PONZIO 2007 p179)

Para estes estudos a uniatildeo de esforccedilos que viabilizou a realizaccedilatildeo deste diagnoacutestico eacute

uma demonstraccedilatildeo clara de que eacute perfeitamente possiacutevel trilhar no mundo linguiacutestico

possibilitando a cada indiacutegena novos horizontes na comunicaccedilatildeo

97

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A presente pesquisa teve como foco principal o levantamento de indiacutegenas surdos nas

microrregiotildees do municiacutepio de Parintins da etnia Satereacute-Maweacute

Com base nas informaccedilotildees levantadas nas terras indiacutegenas e nas cidades onde vivem

os Satereacute-Maweacute evidenciou-se que as escolas de zonas rurais e comunidades que o iacutendio

surdo requenta natildeo possui uma educaccedilatildeo diferenciada especiacutefica a sua especificidade

A realidade encontrada no municiacutepio de Parintins para com os alunos iacutendios surdos

por ser em zona urbana jaacute apresenta um diferencial A escola dispotildee de sala de recursos para

alunos indiacutegenas surdos poreacutem dentro dessa realidade haacute falta de professores que dominem a

liacutengua nativa Satereacute-Maweacute para que a escola proporcione um aprendizado triliacutengue Liacutengua

Brasileira de Sinais Liacutengua Satereacute-Maweacute e Liacutengua Portuguesa na modalidade escrita

Nas escolas visitadas onde encontramos surdos foi observado falta de mateacuterias

visuais sala de recursos com atendimentos diferenciados para os alunos indiacutegenas surdos e

indiacutegenas surdos

Foram considerados no decorrer do texto aspectos da contextualizaccedilatildeo em que se deu

a pesquisa desde as discussotildees que antecederam a elaboraccedilatildeo do projeto passando pelas

parcerias que foram estabelecidas no decorrer do processo especialmente com as vaacuterias

organizaccedilotildees indiacutegenas Satereacute-Maweacute ateacute o desenvolvimento das condiccedilotildees que garantiram a

plena participaccedilatildeo da comunidade no decorrer das atividades de pesquisa Partindo da

enumeraccedilatildeo dos principais objetivos do projeto o relatoacuterio apresenta as aacutereas e localidades

cobertas o nuacutemero de domiciacutelios levantados e de moradores entrevistados assim como a

metodologia utilizada a operacionalizaccedilatildeo das atividades de campo o treinamento dos

entrevistadores o levantamento nas cidades e nas terras indiacutegenas a forma e a intensidade

como se desenvolveu a participaccedilatildeo das lideranccedilas e da comunidade como um todo

Durante a pesquisa a sociedade indiacutegena e natildeo indiacutegena juntamente com profissionais

da educaccedilatildeo da linguiacutestica e a proacutepria comunidade surda acompanharam a perspectiva para

uma nova trajetoacuteria destes os iacutendios surdos a qual reflete o reconhecimento linguiacutestico destes

como pessoas pertencentes agraves minorias linguiacutesticas

Ao analisar as questotildees linguiacutesticas nas aacutereas indiacutegenas das microrregiotildees de Parintins

verificou-se que a implantaccedilatildeo deste empreendimento representou como um novo modelo de

desenvolvimento para a comunicaccedilatildeo de indiacutegenas surdos nas comunidades indiacutegenas

98

Ressalta-se que cada municiacutepio onde existem membros da etnia Satereacute receberaacute como

retorno da pesquisa um minidicionaacuterio triliacutengue (Liacutengua de Sinais Liacutengua Satereacute-Maweacute e

Liacutengua Portuguesa) para intercacircmbio sociocultural-linguiacutestico

Este material tem a intenccedilatildeo de abrir o caminho para a participaccedilatildeo direta dos iacutendios

na construccedilatildeo de seu futuro Ele caracteriza uma mudanccedila da forma de olhar para os povos

indiacutegenas Agora eacute preciso trabalhar para que todas as comunidades e etnias possam produzir

seus diagnoacutesticos Todas elas precisam dispor das informaccedilotildees com as quais poderatildeo dar uma

direccedilatildeo a suas accedilotildees Nesse sentido deve haver iniciativas por parte do poder local para que o

governo e as entidades aliadas agraves causas indiacutegenas possam aproveitar as experiecircncias dos

vaacuterios pesquisadores sobre as causas dos Satereacute-Maweacute para ampliar esse tipo de trabalho

Satildeo diagnoacutesticos como este que iratildeo dar o norte para novos projetos e programas que

favoreccedilam realmente garantir a autonomia dos povos indiacutegenas

Finzaliza-se com a satisfaccedilatildeo de que a pesquisa presente contribuiu com um pequeno

passo no incentivo da conservaccedilatildeo e crescimento da identidade cultural-linguiacutestica do iacutendio

surdo

99

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103

ANEXOS

104

ANEXO A- Normas estabelecidas no ingresso em terras indiacutegenas pela FUNAI

Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio

INSTRUCcedilAtildeO NORMATIVA No 01PRESI DE 29NOVEMBRO1995

PRESIDENTE DA FUNDACcedilAtildeO NACIONAL DO IacuteNDIO - FUNAI

no uso de suas atribuiccedilotildees que lhe satildeo conferidas pelo estatuto aprovado pelo decreto no

564

de 08 de junho de 1992 tendo em vista o que consta do processo FUNAI BsB no210592

R E S O L V E

Art 1o Aprovar as normas que disciplinam o ingresso em Terras Indiacutegenas com finalidade de

desenvolver Pesquisa Cientiacutefica conforme documento em anexo

Art 2o Esta Instruccedilatildeo Normativa entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Art 3o Revoga-se a Instruccedilatildeo Normativa no 001PRESI94 de 08 de abril

de 1994 como qualquer outro dispositivo em contraacuterio

MAacuteRCIO JOSEacute BRANDO SANTILLI

Presidente da FUNAI

ASSINADO NO ORIGINAL

Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio

ANEXO DA INSTRUCcedilAtildeO NORMATIVA No 001PRESI de 29 de novembro de 1995

Art 4o Todo e qualquer pesquisador nacional ou estrangeiro que pretenda ingressar em terras

indiacutegenas para desenvolver projeto de pesquisa cientiacutefica deveraacute encaminhar sua solicitaccedilatildeo

agrave Presidecircncia da FUNAI e no caso de requerimento coletivo deveraacute ser subscrito por um dos

membros do grupo como seu responsaacutevel Art 5o O pesquisador ou pesquisadores deveratildeo

anexar ao pedido do que trata o Art 1o a seguinte documentaccedilatildeo

I carta de apresentaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo a que o pesquisador estaacute vinculado e no caso de

estudantes de graduaccedilatildeo e poacutesgraduaccedilatildeo carta de apresentaccedilatildeo do orientador responsaacutevel

II projeto de pesquisa em portuguecircs detalhando a(s) terra(s) indiacutegenas na(s) qual(is)

pretende ingressar e cronograma

III curriculum vitae do(s) pesquisador(es) redigido em portuguecircs

IV coacutepia autenticada da Carteira de Identidade ou Passaporte quando se tratar de

nacionalidade estrangeira

V atestado individual de vacina contra moleacutestia endecircmica na

aacuterea

VI atestado meacutedico de natildeo portador de moleacutestia contagiosa

105

VII quando se tratar de pesquisador(es) de nacionalidade estrangeira exigir-se-aacute para a

efetivaccedilatildeo de seu ingresso na terra indiacutegena a obtenccedilatildeo de seu respectivo visto temporaacuterio

como prevecirc o artigo 22 do decreto no 86715 de 10 de dezembro de 1981 aleacutem do

cumprimento do disposto no decreto no 98830 de 15 de janeiro de 1990

Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio

Art 6o O pesquisador deveraacute encaminhar diretamente ao CONSELHO

NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO - CNPq o

projeto de pesquisa e curriculum

vitae

Art 7o A solicitaccedilatildeo do ingresso em terra indiacutegena por parte de pesquisadores nacionais ou

estrangeiros seraacute objeto de anaacutelise pela Coordenadoria-Geral de Estudos e Pesquisas - CGEP

uma vez instruiacutedo o processo com o parecer favoraacutevel do CNPq quanto ao meacuterito da pesquisa

proposta e apoacutes ouvidas as lideranccedilas indiacutegenas

Paraacutegrafo Uacutenico - A consulta agraves lideranccedilas indiacutegenas seraacute realizada pela FUNAI com a

presenccedila e participaccedilatildeo do pesquisador podendo este em caso de resposta positiva

permanecer na terra indiacutegena com autorizaccedilatildeo provisoacuteria ateacute a emissatildeo de uma definitiva

Art 8o No caso de negativa das lideranccedilas indiacutegenas quanto ao pleito do ingresso ou

quaisquer outros entraves levantados no decorrer da anaacutelise do processo ou em qualquer outra

etapa de desenvolvimento da pesquisa a CGEP encaminharaacute a questatildeo ao Conselho

Indigenista atraveacutes da presidecircncia do Oacutergatildeo

Art 9o Quando se tratar de pesquisa em espaccedilo territorial de ocupaccedilatildeo tradicional de iacutendios

isolados o pedido seraacute ainda objeto de exame e parecer preacutevio especiacutefico por parte do

Departamento de Iacutendios Isolados - DII FUNAI

Art 10 A presidecircncia da FUNAI poderaacute suspendera qualquer tempo as

autorizaccedilotildees concedidas de acordo com as presentes normas desde que

I seja solicitada a sua interrupccedilatildeo por parte da comunidade indiacutegena em questatildeo

II a pesquisa em desenvolvimento venha a gerar conflitos dentro da terra indiacutegena

III a ocorrecircncia de situaccedilotildees epidecircmicas agudas ou conflitos graves envolvendo iacutendios e natildeo-

iacutendios

Paraacutegrafo Uacutenico - Fica automaticamente prorrogada a autorizaccedilatildeo pelo prazo que a terra

indiacutegena objeto do projeto estiver interditada pelos motivos apontados no Art 10 inciso III

Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio

MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA

Art 11 Todos os pesquisadores estrangeiros ou nacionais que tiverem autorizaccedilotildees

concedidas para ingresso em terras indiacutegenas obrigar-se-atildeo a

I cumprir todos os preceitos legais vigentes notadamente os previstos na Lei no 6001 de

1o1273

II remeter agrave FUNAI relatoacuterio dos Trabalhos de campo em portuguecircs ateacute 6 (seis) meses apoacutes

o teacutermino da pesquisa onde poderatildeo constar sugestotildees praacuteticas que possam trazer benefiacutecios

para as comunidades indiacutegenas que poderatildeo ser consideradas pela FUNAI nas definiccedilotildees de

sua poliacutetica

III remeter agrave FUNAI 2 (dois) exemplares de publicaccedilotildees artigos teses e outras produccedilotildees

intelectuais oriundas das referidas pesquisas

Art 12 Nos casos de solicitaccedilatildeo de prorrogaccedilatildeo do prazo para continuidade do projeto de

pesquisa cientiacutefica na mesma terra indiacutegena caberaacute a Coordenaccedilatildeo Geral de Estudos e

Pesquisas - CGEP os seguintes procedimentos

I notificar junto ao setor competente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e

Tecnoloacutegico - CNPq a solicitaccedilatildeo

II consultar as lideranccedilas quanto ao retorno do pesquisador na terra indiacutegena

106

III observar o cumprimento do Art 8o por parte do pesquisador interessado do Iacutendio

Art 6o O pesquisador deveraacute encaminhar diretamente ao CONSELHO NACIONAL DE

DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO - CNPq o projeto de pesquisa e

curriculum vitae

Art 7o A solicitaccedilatildeo do ingresso em terra indiacutegena por parte de pesquisadores nacionais ou

estrangeiros seraacute objeto de anaacutelise pela Coordenadoria-Geral de Estudos e Pesquisas - CGEP

uma vez instruiacutedo o processo com o parecer favoraacutevel do CNPq quanto ao meacuterito da pesquisa

proposta e apoacutes ouvidas as lideranccedilas indiacutegenas

Paraacutegrafo Uacutenico - A consulta agraves lideranccedilas indiacutegenas seraacute realizada pela FUNAI com a

presenccedila e participaccedilatildeo do pesquisador podendo este em caso de resposta positiva

permanecer na terra indiacutegena com autorizaccedilatildeo provisoacuteria ateacute a emissatildeo de uma definitiva

Art 8o No caso de negativa das lideranccedilas indiacutegenas quanto ao pleito do ingresso ou

quaisquer outros entraves levantados no decorrer da anaacutelise do processo ou em qualquer outra

etapa de desenvolvimento da pesquisa a CGEP encaminharaacute a questatildeo ao Conselho

Indigenista atraveacutes da presidecircncia do Oacutergatildeo

Art 9o Quando se tratar de pesquisa em espaccedilo territorial de ocupaccedilatildeo tradicional de iacutendios

isolados o pedido seraacute ainda objeto de exame e parecer preacutevio especiacutefico por parte do

Departamento de Iacutendios Isolados - DII FUNAI Art 10 A presidecircncia da FUNAI poderaacute

suspendera qualquer tempo as autorizaccedilotildees concedidas de acordo com as presentes normas

desde que

I seja solicitada a sua interrupccedilatildeo por parte da comunidade indiacutegena em questatildeo

II a pesquisa em desenvolvimento venha a gerar conflitos dentro da terra indiacutegena

III a ocorrecircncia de situaccedilotildees epidecircmicas agudas ou conflitos graves envolvendo iacutendios e natildeo-

iacutendios

Paraacutegrafo Uacutenico - Fica automaticamente prorrogada a autorizaccedilatildeo pelo prazo que a terra

indiacutegena objeto do projeto estiver interditada pelos motivos apontados no Art 10 inciso III

Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA

Art 11 Todos os pesquisadores estrangeiros ou nacionais que tiverem autorizaccedilotildees

concedidas para ingresso em terras indiacutegenas obrigar-se-atildeo a

I cumprir todos os preceitos legais vigentes notadamente osprevistos na Lei no 6001 de

1o1273

II remeter agrave FUNAI relatoacuterio dos Trabalhos de campo em portuguecircs ateacute 6 (seis) meses apoacutes

o teacutermino da pesquisa onde poderatildeo constar sugestotildees praacuteticas que possam trazer benefiacutecios

para as comunidades indiacutegenas que poderatildeo ser consideradas pela FUNAI nas definiccedilotildees de

sua poliacutetica

III remeter agrave FUNAI 2 (dois) exemplares de publicaccedilotildees artigos teses e outras produccedilotildees

intelectuais oriundas das referidas pesquisas

Art 12 Nos casos de solicitaccedilatildeo de prorrogaccedilatildeo do prazo para continuidade do projeto de

pesquisa cientiacutefica na mesma terra indiacutegena caberaacute a Coordenaccedilatildeo Geral de Estudos e

Pesquisas - CGEP os seguintes procedimentos

I notificar junto ao setor competente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e

Tecnoloacutegico - CNPq a solicitaccedilatildeo

II consultar as lideranccedilas quanto ao retorno do pesquisador na terra indiacutegena

III observar o cumprimento do Art 8o por parte do pesquisador interessado

107

ANEXO B ndash Questionaacuterio para coleta de dados com professores de comunidades indiacutegenas

QUESTIONAacuteRIO

Nome Prof(a)Nordm Cel

Nome da escola

Tribo Etnia

Quantos alunos surdos iacutendio Serie Idade

Nasceu cognitiva ou adquirida

1 ndash Como eacute a forma de comunicaccedilatildeo entre o professor e o iacutendio surdo

( ) Escrita

( ) Oralizado

( ) Libras

( ) Satereacute Maweacute

2 ndash Qual liacutengua o surdo iacutendio tem mais facilidade de aprender

( ) Portuguecircs

( ) Satereacute Maweacute

( ) libras

3 ndash Qual eacute a metodologia de ensino

4 ndash Como o aluno surdo indiacutegena aprende na sala de aula Tem dificuldade ou facilidade

5 ndash Como e que liacutengua o aluno surdo se comunica com outro surdo se tiver e os demais alunos

ouvintes na sala aula

108

6 ndash Vocecirc jaacute observou a comunicaccedilatildeo entre o aluno surdo iacutendio com a famiacutelia Qual liacutengua

7 ndash Como o aluno surdo iacutendio se comunica com as pessoas da comunidade

8 ndash Qual eacute a reaccedilatildeo das pessoas ouvintes quanto o iacutendio surdo na comunidade

9 ndash Professor(a) qual sua opiniatildeo para melhoria de ensino da educaccedilatildeo de iacutendios surdos

10 ndash Qual eacute a importacircncia da liacutengua indiacutegena Satereacute Maweacute para o aluno surdo

11 ndash Fale sobre a cultura e historia dos Satereacute Maweacute o iacutendio surdo participa

109

ANEXO C ndash Autorizaccedilatildeo para pesquisa de campo em terras indiacutegenas

110

ANEXO C-1 ndash Autorizaccedilatildeo para pequisa de campo com uso de imagem permitido

111

ANEXO C-2 ndash Autorizaccedilatildeo para pequisa de campo com uso de imagem permitido

112

ANEXO D ndash Parecere pedagoacutegico da Aluna Indiacutegena Surda

(ESCOLA PADRE PAULOMANNA)

ESCOLA DE AacuteUDIO COMUNICACcedilAtildeO

Pe PAULO MANNA Mantida pela Diocese de Parintins CNPJ 045945370001-88 Av Naccedilotildees Unidas 1792 FoneFax (092) 3533-3456 69151-060 ndash PARINTINS-AMAZONAS-BRASIL

Parecer Pedagoacutegico

Helena Ferreira Arauacutejo 06 anos de idade aluna da Escola Pe Paulo Manna desde

marccedilo de 2013 mora na rua 4 nordm 298 no bairro da Uniatildeo

Segundo relatos da matildee a aluna nasceu de parto normal comeccedilou a andar aos trecircs

anos de idade e eacute descendente dos iacutendios Satereacute- Maueacute Os anos passaram e ela comeccedilou a

perceber que sua filha natildeo ouvia e nem falava pois jaacute tinha outros filhos e estes comeccedilaram a

falar e andar cedo Informou-nos que para se comunicar com ela fazia gestos ateacute ela entender

o que se tornava muito difiacutecil

Disse-nos que falaram para ela do trabalho desenvolvido na Escola Paulo Manna com

alunos surdos e resolveu procurar a escola pois o tempo estava passando e a menina natildeo

falava e ela natildeo sabia mais o que fazer para reverter a situaccedilatildeo e a sua filha ser como os outros

irmatildeos

Atualmente estuda numa turma de Preacute ndash Escolar (2ordm periacuteodo) eacute uma aluna surda No

ano passado quando chegou agrave escola nos primeiros dias chorava muito e ficava zangada se

escondia embaixo da mesa para que ningueacutem a incomodasse visto que natildeo estava adaptada

ao ambiente e aos poucos foi se adaptando e passou a conviver com os colegas ouvintes em

sala de aula

A aluna gosta de fazer suas atividades escolares tem boa coordenaccedilatildeo motorainterage

com os colegas reconhece cores e formas gosta de desenhar e daacute formas aos seus desenhos realiza atividades de leitura de imagem montagem com jogos de encaixe participa de

brincadeiras na quadra parque e brinquedoteca

Em alguns momentos quando quer alguma coisa do colega e este natildeo lhe daacute fica com

raiva chora e se isola Em outros momentos penso que por natildeo saber se comunicar com os

colegas fica um pouco retraiacuteda e torna-se um a receptora diferenciada que requer cuidados

no tocante agrave comunicaccedilatildeo principalmente de como chegar ateacute ela

Procuramos adaptar brincadeiras para envolver a aluna trazendo-a de volta para

participar das atividades e conversar com ela que nem tudo o que a gente quer podemos ter e

fazemos alguma brincadeira que ela goste e rapidinho ela volta a participar e se integrar ao

grupo

Sabemos que eacute difiacutecil para ela o processo ensino aprendizagem porque ela tem que ter

uma aprendizagem triliacutengue visto que tem que aprender a Liacutengua Indiacutegena+ Libras + Liacutengua

Portuguesa e jaacute eacute difiacutecil aprender duas mas natildeo impossiacutevel

113

Neste ano de 2014 contamos com a ajuda da professora Caacutetia (surda) com aulas de

Libras No primeiro momento fica junto com os colegas ouvintes onde procuramos trabalhar

de forma biliacutengue (Portuguecircs + Libras) para que ela entenda o que estaacute sendo repassado em

sala de aula E o que se percebe eacute que a aluna nos daacute respostas precisas dentro dos objetivos

propostos Em outro momento a professora Caacutetia ensina agrave aluna os sinais em LIBRAS que eacute

a liacutengua oficial da pessoa surda trabalhando o concreto com ela ensinando-a com jogos

cartazes reaacutelias viacutedeos transformando tais atividades em aulas dinacircmicas e prazerosas

Dentro dessa realidade a aluna vai participando buscando se inserir nesse universo

cheio de duacutevidas e incertezas e noacutes professores procuramos fazer o melhor para que a aluna

se sinta bem no ambiente escolar visto que o processo ensino aprendizagem para uma crianccedila

de outra etnia natildeo eacute faacutecil pois segundo depoimentos de alguns indiacutegenas a aprendizagem

indiacutegena passa pela demonstraccedilatildeo observaccedilatildeo imitaccedilatildeo tentativa e erro e quando o aluno

vem para a escola tem que se socializar obedecer a comandos regidos pelo sistema e isso

muitas vezes o deixa confuso e os maiores ateacute desistem

Dessa forma satildeo necessaacuterias estrateacutegias de ensino diferenciadas que deem suporte para

que a aluna seja trabalhada de forma triliacutengue no contexto escolar para que ela natildeo perca a

sua essecircncia a sua cultura que sejam adaptados trabalhos de acordo com a realidade

indiacutegena para que ela natildeo perca a sua identidade e saiba conduzir sua aprendizagem dentro de

um contexto diferenciado podendo aprender o que lhe eacute de direito bem como viver bem em

sociedade

Parintins 14 de abril de 2014

PARINTINS

Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio ndash FUNAI

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE

Coordenadora Regional de Educaccedilatildeo de Parintins - CREP

Universidade Estadual do Amazonas ndash CESP

Casa da Sauacutede Indiacutegena

Casa do Iacutendio de Parintins

Escola Aacuteudio Comunicaccedilatildeo Pe Paulo Manna

Diocese de Parintins Pe Henrique Uggeacute

Escola Estadual Brandatildeo de Amorim

Escola Estadual Joatildeo Bosco Ramos de Lima

MAUEacuteS

Secretaria de Estado de Educaccedilatildeo

Secretaria de Educaccedilatildeo Municipal

Casa do estudante indiacutegena Sr Jusivan

Tuxaua da Comunidade de Santa Maria Sr Helito Barbosa

Sr Maxiliano Batista Barros

BARREIRINHA

Secretaria de Educaccedilatildeo Municipal - SEMED

Secretaria de Estado de Educaccedilatildeo

Coordenaccedilatildeo Municipal de Educaccedilatildeo Indiacutegena Sr Santino Lopes

Coordenador da Escola Profa Rosa Cabral Sr Dulcemar F dos Santos

Professora Indiacutegena Satereacute-Maweacute Maria Inez

NHAMUNDAacute

Casa de Sauacutede Indiacutegena - DSEI

Secretaria de Estadual de Educaccedilatildeo

BOA VISTA DO RAMOS

Secretaria de Estado e Educaccedilatildeo

Escola Estadual Princesa Izabel

Comunidade Satereacute-Maweacute

Professora Erly Tereza R Goacutees

URUCARAacute

Poacutelo Base de Urucaraacute ndash DSEI

Distrito Sanitaacuterio Especial Indiacutegena

Lider Indiacutegena Etnia Hexkaryana Caiacutenatilde Mohso

SraMaacuterlucia Kutasa

Enfermeiro SrJonas Pontes

SraDalva H Farias Cantalixto de Melo

SrLuiz Cantalixto de Melo

SAtildeO SEBASTIAtildeO DO UATUMAtilde

Poacutelo Base de Urucaraacute ndash DSEI

Lider Indiacutegena Etnia Hexkaryana Caiacutenatilde Mohso

EPIacuteGRAFE

Matildeos

corpo em movimento

captar e entender

Teu querer teu dizer

Sorrisos laacutegrimas

sentimentos e emoccedilotildees

Libras eacute amor eacute paixatildeo eacute liacutengua

(Marlon Jorge)

RESUMO

Esta pesquisa apresenta o resultado do mapeamento de iacutendios surdos nas comunidades

indiacutegenas Satereacute-Maweacute na microrregiatildeo de Parintins Partindo do levantamento buscou-se

identificar de que forma os iacutendios surdos estabeleciam a comunicaccedilatildeo com seus pares na sua

comunidade Para isso foi utilizado o procedimento metodoloacutegico por meio de entrevistas

abertas com as lideranccedilas indiacutegenas os familiares os professores e gestores escolares e

outros membros das comunidades assim como do proacuteprio iacutendio surdo O processo de anaacutelise

estabelecido para este estudo consistiu no enfoque de natureza linguiacutestica do leacutexico

(vocabulaacuterio) o qual foi registrado por meio de viacutedeos fotos e gravaccedilotildees A partir dos dados

iniciou-se a elaboraccedilatildeo de um minidicionaacuterio triliacutengue nas liacutenguas Satereacute-Maweacuteliacutengua de

sinais portuguecircs escrito a fim de facilitar a comunicaccedilatildeo principalmente no contexto da

comunidade educacional escolar entre os professores e os alunos iacutendios surdos Esta

contribuiccedilatildeo linguiacutestica portanto possibilitou uma nova percepccedilatildeo no processo histoacuterico da

diversidade linguiacutestica para valorizar e respeitar natildeo soacute uma liacutengua a liacutengua oficial do paiacutes

(Portuguecircs) mas tambeacutem a liacutengua natural do povo surdo (Libras) e a liacutengua indiacutegena do povo

Satereacute-Maweacute

Palavras chaves

1Linguiacutestica 2Liacutengua de sinais 3Satereacute-Maweacute 4 Dicionaacuterio

ABSTRACT

This research presents the results of the mapping deaf Indians in indigenous

communities Satereacute-Maweacute in the region of Parintins Starting from the survey we sought to

identify how the deaf Indians established communication with peers in their community For

this methodological procedure through open interviews with indigenous leaders family

members teachers and school administrators and other community members were used as

well as the Indian himself deaf The review process established for this study consisted of

focus linguistic lexicon (vocabulary) which was recorded through videos photos and

recordings From the data we initiated the development of a trilingual Mini Dictionary in

languages Satereacute-Maweacute sign language written Portuguese in order to facilitate

communication especially in the context of school learning community among teachers and

students deaf Indians This linguistic contribution therefore provided a new insight in the

historical process of linguistic diversity to value and respect not only one language the

official language (Portuguese) but also the natural language of deaf people (Libras) and the

indigenous language the people Satereacute-Maweacute

Key Words 1Linguiacutestica 2Liacutengua signal 3Satereacute-Maweacute 4Dictionary

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 13

1 CONSIDERACcedilOtildeES DOS ESTUDOS LINGUIacuteSTICOS DA LIacuteNGUA

BRASILEIRA DE SINAIS

17

11 Liacutengua de Sinais como Liacutengua Natural 20

12 Liacutengua Brasileira de Sinais 22

13 Liacutenguas de Sinais Indiacutegenas pesquisadas no Brasil 26

131 Liacutengua de Sinais Urubu-Kaapor 28

132 Liacutengua de Sinais Emergentes 29

1321 Realidade do Contexto educacional escolar do indiacutegena surdo 31

2 HISTOacuteRIA DO POVO INDIacuteGENA SATEREacute-MAWEacute CULTURA E

LIacuteNGUA

34

21 Breve Relato Histoacuterico 35

22 Classificaccedilatildeo da Liacutengua Satereacute-Maweacute 36

221 Contexto educacional escolar entre os Satereacute-Maweacute 38

3 METODOLOGIA IMPLEMENTADA NA PESQUISA 42

31 Aacuterea e localidade da pesquisa 42

32 Estrateacutegias gerais para a realizaccedilatildeo da coleta de dados 43

33 Procedimentos da coleta de dados 43

34 Articulaccedilatildeo local 44

35 Abordagem ao objeto da pesquisa 44

4 MAPEAMENTO DOS INDIOS SURDOS DA COMUNIDADE SATEREacute-

-MAWEacute NAS MICRORREGIOtildeES DE PARINTINS E SUA REALIDADE

EDUCACIONAL ESCOLAR

45

41 Mapeamento da existecircncia dos iacutendios surdos na microrregiatildeo de Parintins 46

411 Histoacuterico de Parintins 46

412 Histoacuterico de Barreirinha 52

413 Histoacuterico de Maueacutes 53

414 Histoacuterico de Boa Vista do Ramos 55

415 Histoacuterico de Nhamundaacute 56

42 Realidade linguiacutestica e educacional dos iacutendios surdos encontrados na etnia

Satereacute-Maweacute

59

43 Inventaacuterio de gestos da linguagem caseira dos surdos Satereacute-Maweacute 66

431 Os sinais caseiros dos indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute 66

432 Municiacutepio de Parintins 66

4321 O primeiro surdo 67

4322 O segundo surdo 67

4323 O terceiro surdo 68

44 O indiacutegena surdo da comunidade de Ponta Alegre do Municiacutepio de Barreirinha 70

45 Os indiacutegenas surdos do Municiacutepio de Maueacutes 73

451 O primeiro surdo da Comunidade de Santa Maria 75

452 O segundo surdo da Comunidade de Santa Maria 79

5 ICONICIDADE E ARBITRARIEDADE NA CRIACcedilAtildeO DOS SINAIS

CASEIROS

83

6 INTERVENCcedilAtildeO E CONTRIBUICcedilAtildeO LINGUIacuteSTICA DO PROFESSOR

SURDO

90

61 Libras e Liacutengua Satereacute-Maweacute intercacircmbio de construccedilatildeo sociocultural-

linguiacutestico

94

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 97

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 99

ANEXOS

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 Croqui da aacuterea e localidade da pesquisa

FIGURA 2 Sinais caseiros utilizado pela crianccedila de 5 anos

FIGURA 3 Sinais caseiros utilizados pelo aluno da comunidade de Ponta Alegre

Barreirinha

FIGURA 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa

Maria (30 sinais coletados)

FIGURA 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo idoso na comunidade de Santa Maria

FIGURA 6 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos que se refere agrave

arbitrariedade

FIGURA 7 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos aos quais se referem a

iconicidade

FIGURA 8 Caracteriacutesticas da imagem em Liacutengua de Sinais Satereacute-Maweacute dos objetos

aos quais se referem agrave iconicidade

FIGURA 9 Encontro da crianccedila surda Satereacute-Maweacute com o professor surdo

FIGURA 10 Contato com aluno Satereacute-Maweacute surdo no ambiente escolar

FIGURA 11 Contato com o aluno surdo Satereacute-Maweacute na Escola Estadual Brandatildeo de

Amorim

FIGURA 12 Em viagem para aacuterea indiacutegena no Rio Marau

FIGURA 13 Apresentaccedilatildeo do projeto de pesquisa agraves lideranccedilas indiacutegenas na

comunidade

FIGURA 14 Desenvolvimento de oficina de Libras com professores indiacutegenas

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Mapeamento da existecircncia de iacutendios surdos nas respectivas comunidades

indiacutegenas ou zona urbana da microrregiatildeo de Parintins

Tabela 2 11 Sinais caseiros utilizados pela crianccedila indiacutegena surda de 5 anos e seus

familiares

Tabela 3 13 Sinais caseiros coletados e utilizados pelo aluno da comunidade de

Ponta Alegre

Tabela 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa

Maria

Tabela 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais antigo residente isolado na

comunidade de Santa Maria no Rio Marau ( 18 sinais coletados)

56

66

69

73

77

13

INTRODUCcedilAtildeO

Todo cidadatildeo tem o direito de participar na vida poliacutetica social e econocircmica de um

paiacutes Neste contexto inclui-se o cidadatildeo surdo Infelizmente a histoacuteria relata que no passado

os sujeitos surdos1 eram colocados agraves margens da sociedade em todos seus aspectos social

poliacutetico econocircmico cultural linguiacutestico e educacional

Entretanto ao longo da histoacuteria os surdos com a participaccedilatildeo de ouvintes na luta

incessante pelos seus direitos muitas conquistas foram alcanccediladas Entre estas estaacute o direito

de ter sua proacutepria liacutengua a Liacutengua Brasileira de Sinais-LIBRAS A Lei nordm 10436 de 2002 a

qual a reconhece como sistema linguiacutestico de natureza visual-motora com estrutura

gramatical proacutepria constituindo-se um sistema linguiacutestico de transmissatildeo de ideias e fatos

oriundos da comunidade de pessoas surdas do Brasil Conforme Saacute (2006) no Brasil as

comunidades urbanas usam a ldquoliacutengua de sinais brasileirardquo ou simplesmente ldquoliacutengua de sinaisrdquo

Vale ressaltar que a Liacutengua de Sinais segundo Strobel (2008) eacute um aspecto

fundamental da cultura surda2 parte do artefato cultural linguiacutestico

3 do povo surdo e constitui

1 Na aacuterea de pesquisa vinculada a perspectiva socioantropoloacutegica existe uma clara diferenciaccedilatildeo entre a opccedilatildeo

de escrever surdo com letra minuacutescula ou maiuacutescula conforme explica Andreis-Witkoski (2011) ldquoapesar de

nas uacuteltimas deacutecadas ter sido estabelecido uma distinccedilatildeo entre a expressatildeo ldquoSurdordquo com letra maiuacutescula para

identificar uma categoria cultural e ldquosurdordquo com minuacutescula em referecircncia a deficiecircncia auditiva nesta Tese natildeo

se utiliza este tipo de marcaccedilatildeo Compartilha-se da concepccedilatildeo exposta por Owen Wrigley (1996 p53) quando

adverte que esta diferenciaccedilatildeo constitui-se em ldquoum dualismo riacutegido-bom Surdo mau surdo ndash que pouco faz para

ajudar os indiviacuteduos em suas vidas diaacuterias [sem] ajudar a clarear um alcance maior de estrateacutegias colocadas pelos

indiviacuteduos lidando com a exclusatildeo e as muitas faces da opressatildeo em suas rotinas Em termos simples a

dicotomia de bdquoSs‟ estaacute tatildeo cruelmente composta que embora inicialmente seja uacutetil ela agora serve para silenciar

o alcance total das experiecircncias dos sSurdosrdquo (2011 p13) Logo opta-se nesta dissertaccedilatildeo o uso da expressatildeo

ldquosurdordquo (minuacutescula) que refere-se aos ldquosurdordquo enquanto pessoas que pela impossibilidades formam uma

minoria diferente com caracteriacutesticas linguiacutesticas cognitivas culturais e comunitaacuterias especiacuteficas (SAacute 2006

p107) 2 Cultura Surda ldquoeacute o jeito de o surdo entender o mundo e de modificaacute-lo a fim de se tornaacute-lo acessiacutevel e habitaacutevel

ajustando-os com as suas percepccedilotildees visuais que contribuem para a definiccedilatildeo das identidades surdas e das

ldquoalmasrdquo das comunidades surdas Isto significa que abrange a liacutengua as ideacuteias as crenccedilas os costumes e os

haacutebitos de povordquo (STROBEL2008 p 24) 3Conforme Strobel (2008 p37) o que seriam artefatos culturais linguiacutesticos Ao referirmos ldquoartefatordquo

pensamos habitualmente no significado de objetos ou materiais produzidos pelos grupos culturais Realmente de

fato eacute uma forma material de expressar uma determinada cultura poreacutem tambeacutem podem incluir ldquotudo o que se

vecirc e senterdquo quando se estaacute em contato com a cultura de uma comunidade a exemplo vestuaacuterios tradiccedilotildees

crenccedilas valores e normas etc Ou seja no campo dos Estudos Culturais o conceito de ldquoartefatosrdquo natildeo se referem

apenas a materialismo culturais como tambeacutem naquilo que na cultura constitui produccedilotildees do sujeito que tem seu

proacuteprio modo de ser ver entender e transformar o mundo Logo um dos artefatos culturais que ilustram a

cultura do povo surdo eacute o linguiacutestico a liacutengua de sinais que eacute um aspecto fundamental da cultura surda sendo

uma das principais marcas da identidade surda

14

uma das principais marcas da identidade do ser surdo Incluem-se tambeacutem os ldquosinais

emergentesrdquo ou ldquosinais caseirosrdquo dos sujeitos surdos isolados de comunidades surdas no caso

dos surdos das zonas rurais e dos surdos iacutendios Estes surdos embora natildeo pertenccedilam agraves

mesmas comunidades se identificam com o povo surdo4 pois compartilham as mesmas

peculiaridades constroem sua formaccedilatildeo de mundo por meio de artefato cultural visual5

independentemente do grau linguiacutestico que possuem os quais podem ser os gestos caseiros

denominados tambeacutem como sinais emergentes Nesta perspectiva teoacuterica soacutecioantropoloacutegica

enfoca-se como o objeto da pesquisa o sujeito surdo indiacutegena ou seja o iacutendio surdo

Antes de prosseguir com a abordagem mencionada faz-se necessaacuterio destacar que

assim como o povo surdo o povo indiacutegena tambeacutem traccedilou diversas lutas na trajetoacuteria para

reconhecimento dos seus direitos O reconhecimento dos direitos dos povos indiacutegenas no

mundo contemporacircneo avanccedilou muito em relaccedilatildeo haacute algumas deacutecadas passadas De acordo

com Lucinda (apud Saacute 2006) em consenso geral nos debates da Comissatildeo Educaccedilatildeo

Cultura e Desporto que antecedem a elaboraccedilatildeo do texto da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica

Federativa do Brasil de 1988 tanto a liacutengua de sinais como as liacutenguas indiacutegenas deveriam ser

consideradas no texto da Constituiccedilatildeo como liacutenguas maternas Assim como resultado o

Referencial Curricular Nacional para Escolas Indiacutegenas (1998 p31) declara que ldquoA

Constituiccedilatildeo Federal aleacutem de perceber o iacutendio como pessoa com direitos e deveres como

qualquer outro cidadatildeo brasileiro o reconhece como membro de uma comunidade e de um

grupo isto eacute como membro de uma coletividade que eacute titular de direitos coletivos e

especiaisrdquo Ou seja reconhece para os iacutendios o direito agrave praacutetica de suas formas culturais

proacuteprias E no tiacutetulo VIII ldquoDa Ordem Socialrdquo conteacutem um capiacutetulo denominado ldquoDos Iacutendiosrdquo

onde se diz que ldquosatildeo reconhecidos aos iacutendios a sua organizaccedilatildeo social costumes liacutenguas

crenccedilas e tradiccedilotildees []rdquo (ibid p31)

Em meio a essa diversidade linguiacutestica que caracteriza o Brasil como sendo um paiacutes

pluriliacutengue estatildeo situados os ldquosurdos brasileirosrdquo que tecircm sua proacutepria liacutengua reconhecida

oficialmente a Liacutengua de Sinais Logo existem tambeacutem ldquoiacutendios surdosrdquo da etnia Satereacute-

4Quando referimos ldquopovo surdordquo estamos falando ldquode sujeitos surdos que natildeo habitam no mesmo local mas

que estatildeo ligados por uma origem por um coacutedigo de eacutetico de formaccedilatildeo visual independente do grau de evoluccedilatildeo

linguiacutestica tais como a liacutengua de sinais a cultura surda e quaisquer outros laccedilosrdquo (ibid p30) 5Perlin e Miranda (2003) complementam ldquoExperiecircncia visual significa a utilizaccedilatildeo visual em (substituiccedilatildeo total

agrave audiccedilatildeo) como meio de comunicaccedilatildeo Desta experiecircncia visual surge a cultura surda representada pela liacutengua

de sinais pelo modo diferente de ser de se expressar de conhecer o mundo de entrar nas artes no

conhecimento cientiacutefico e acadecircmicordquo (apud STROBEL 2008 p39)

15

Maweacute Qual sua forma de se comunicar Existe uma ldquoLiacutengua de Sinaisrdquo especifica do iacutendio

surdo

Diante das questotildees levantadas surgiu entatildeo agrave necessidade de realizar uma pesquisa

no campo da linguiacutestica na perspectiva dos estudos surdos6 voltado especificamente para o

iacutendio surdo da etnia Satereacute-Maweacute Foram traccedilados os seguintes objetivos i) mapear os iacutendios

surdos na microrregiatildeo de Parintins ii) identificar de que forma o iacutendio surdo estabelece a

comunicaccedilatildeo com sua comunidade especificamente no acircmbito educacional ou se utilizam

liacutenguas de sinais da comunidade local iii) registrar a forma de comunicaccedilatildeo no dia a dia do

iacutendio surdo nas comunidades indiacutegenas a partir dos estudos linguiacutesticos da Liacutengua de Sinais

dos grupos existentes e sua relaccedilatildeo com a comunidade local iv) promover o intercacircmbio entre

a Liacutengua de Sinais dos iacutendios surdos mapeados da etnia Satereacute-Maweacute e a LIBRAS da

comunidade surda do Municiacutepio de Parintins - Amazonas

Este trabalho conteacutem a seguinte divisatildeo primeiro capiacutetulo - apresenta consideraccedilotildees

linguiacutesticas fundamentais aos estudos surdos onde explicita o reconhecimento da Liacutengua de

Sinais como elemento cultural linguiacutestico do povo surdo abordando tambeacutem a oficializaccedilatildeo

da Liacutengua Brasileira de Sinais e as Liacutenguas Indiacutegenas pesquisadas no Brasil como a realidade

do contexto escolar linguiacutestico na comunidade indiacutegena segundo capiacutetulo - relata a histoacuteria

do povo indiacutegena Satereacute-Maweacute sua principal expressatildeo cultural sua liacutengua e seu respectivo

contexto educacional escolar terceiro capiacutetulo - apresenta os procedimentos metodoloacutegicos

utilizados na operacionalizaccedilatildeo da pesquisa e o capiacutetulo quatro - apresenta a anaacutelise do

resultado do Mapeamento dos iacutendios surdos da etnia Satereacute-Maweacute na microrregiatildeo de

Parintins Neste satildeo tambeacutem apresentadas as relaccedilotildees socioculturais-linguiacutesticas de iacutendios

surdos Satereacute-Maweacute com as contribuiccedilotildees linguiacutesticas do professor surdo aos Iacutendios surdos na

comunidade Satereacute-Maweacute estabelecendo assim as relaccedilotildees culturais na construccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo linguiacutestica LIBRAS e Liacutengua Satereacute-Maweacute como um intercacircmbio de construccedilatildeo

sociocultural

Desse modo a pesquisa tem como premissa baacutesica primeiramente mapear os iacutendios

surdos da etnia Satereacute-Maweacute e assim promover um intercacircmbio oferecendo contribuiccedilotildees

linguiacutesticas fundamentadas na pesquisa do leacutexico (vocabulaacuterio) da etnia referida com a Libras

(Liacutengua Brasileira de Sinais) e a Liacutengua Portuguesa por meio da elaboraccedilatildeo de um

6 Conforme Skliar eacute o campo de pesquisa em educaccedilatildeo onde as identidades a liacutenguas a histoacuteria a cultura da

comunidade surda satildeo focalizados e entendidos a partir da diferenccedila a partir do seu reconhecimento poliacutetico

(2001p29)

16

minidicionaacuterio triliacutengue Assim espera-se contribuir para a iniciaccedilatildeo dos indiacutegenas surdos da

etnia Satereacute-Maweacute na Liacutengua Brasileira de Sinais dando a eles um dos direitos universais do

ser humano que eacute direito a uma liacutengua Tambeacutem deseja-se contribuir para a iniciaccedilatildeo dos

indiacutegenas surdos da etnia Satereacute-Maweacute na Liacutengua Brasileira de Sinais dando a eles um dos

direitos universais do ser humano que eacute direito a uma liacutengua proacutepria

17

1 CONSIDERACcedilOtildeES DOS ESTUDOS LINGUIacuteSTICOS DA LIacuteNGUA BRASILEIRA DE SINAIS

A Linguiacutestica conhecida hoje como a ciecircncia que estuda a linguagem humana eacute uma

ciecircncia recente poreacutem com um saber antigo Passou a se impor como ciecircncia agrave medida que

demonstrou seu meacutetodo e seu objeto de estudo Eacute definida como estudo cientiacutefico que visa

descrever ou explicar a linguagem verbal humana (ORLANDI 1999)

A Linguiacutestica diferencia-se da gramaacutetica tradicional normativa na medida que natildeo

tem como objetivo ditar regras de correccedilatildeo para uso da linguagem Seu interesse eacute a liacutengua

como mateacuteria de reflexatildeo (QUADROS e KARNOPP 2004) Segundo as pesquisas nesta

aacuterea Vandresen (1988 apud QUADROS 2007 p 83) tem-se ldquoa linguiacutestica contrastiva como

uma subaacuterea da linguiacutestica geral interessada em apontar as similaridades e diferenccedilas

estruturais entre a liacutengua materna (de um grupo de alunos) e uma liacutengua estrangeirardquo

Na taxonomia de similaridades e contrastes entre as liacutenguas existe uma seacuterie de

regularidades como haacute similaridades comportamentais que natildeo precisam ser explicitadas

porque constituem a base comum das liacutenguas naturais e o compartilhamento dessas

similaridades poderaacute servir como base para inferecircncias quanto agraves formas da liacutengua estrangeira

e quanto agraves diferenccedilas por serem sistemaacuteticas podem admitir tratamento inferencial e

heuriacutestico (KATO 1988 apud QUADROS 2007)

Segundo Nascimento (2009) a vitalidade da liacutengua depende de sua utilizaccedilatildeo efetiva

tanto em escala nacional quanto em escala mundial Quanto mais uma liacutengua eacute utilizada mais

ela eacute viva e inversamente quanto menos eacute utilizada mais ela eacute ameaccedilada de extinccedilatildeo Assim

sendo eacute o uso social da liacutengua que determina seu grau de revitalizaccedilatildeo

Por essas razotildees a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Linguiacutesticos (BARCELONA

1996 p 3) tem como ponto de partida

[] as comunidades linguiacutesticas e natildeo os Estados e inscreve-se no quadro do

reforccedilo das instituiccedilotildees internacionais capazes de garantir um desenvolvimento

duradouro e equitativo para toda a humanidade e tem como finalidade favorecer um

quadro de organizaccedilatildeo poliacutetica da diversidade linguiacutestica baseado no respeito na

convivecircncia e nos benefiacutecios reciacuteprocos

Em seu TITULO PREacuteVIO tem como conceitos

18

Artigo 1ordm

1 Esta Declaraccedilatildeo entende por comunidade linguiacutestica toda a sociedade humana

que radicada historicamente num determinado espaccedilo territorial reconhecido ou

natildeo se identifica como povo e desenvolveu uma liacutengua comum como meio de

comunicaccedilatildeo natural e de coesatildeo cultural entre os seus membros A denominaccedilatildeo

liacutengua proacutepria de um territoacuterio refere-se ao idioma da comunidade historicamente

estabelecida neste espaccedilo [grifo nosso]

2 Esta Declaraccedilatildeo parte do princiacutepio de que os direitos linguiacutesticos satildeo

simultaneamente individuais e colectivos e adapta como referecircncia da plenitude dos

direitos linguiacutesticos o caso de uma comunidade linguiacutestica histoacuterica no respectivo

espaccedilo territorial entendendo-se este natildeo apenas como a aacuterea geograacutefica onde esta

comunidade vive mas tambeacutem como um espaccedilo social e funcional indispensaacutevel ao

pleno desenvolvimento da liacutengua Eacute com base nesta premissa que se podem

estabelecer em termos de uma progressatildeo ou continuidade os direitos que

correspondem aos grupos linguiacutesticos mencionados no ponto 5 deste artigo e os das

pessoas que vivem fora do territoacuterio da sua comunidade []

Em referecircncia ao Artigo 3ordm

- o direito ao ensino da proacutepria liacutengua e da proacutepria cultura

- o direito a dispor de serviccedilos culturais

- o direito a uma presenccedila equitativa da liacutengua e da cultura do grupo nos meios de

comunicaccedilatildeo

- o direito a serem atendidos na sua liacutengua nos organismos oficiais e nas relaccedilotildees

socioeconomicas []

Em referecircncia ao Artigo 5ordm

Esta Declaraccedilatildeo baseia-se no princiacutepio de que os direitos de todas as comunidades

linguiacutesticas satildeo iguais e independentes do seu estatuto juriacutedico ou poliacutetico como

liacutenguas oficiais regionais ou minoritaacuterias Designaccedilotildees tais como liacutengua regional ou

minoritaacuteria natildeo satildeo usadas neste texto porque apesar de em certos casos o

reconhecimento como liacutengua minoritaacuteria ou regional poder facilitar o exerciacutecio de

determinados direitos a utilizaccedilatildeo destes e doutros adjetivos serve frequentemente

para restringir os direitos de uma comunidade linguiacutestica []

Em referecircncia ao Artigo 23ordm

1 O ensino deve contribuir para fomentar a capacidade de auto-expressatildeo

linguiacutestica e cultural da comunidade linguiacutestica do territoacuterio onde eacute

ministrado[grifo nosso]

2 O ensino deve contribuir para a manutenccedilatildeo e o desenvolvimento da liacutengua falada

pela comunidade linguiacutestica do territoacuterio onde eacute ministrado

3 O ensino deve estar sempre ao serviccedilo da diversidade linguiacutestica e cultural e das

relaccedilotildees harmoniosas entre as diferentes comunidades linguiacutesticas do mundo inteiro

4 No quadro dos princiacutepios anteriores todos tecircm direito a aprender qualquer liacutengua

Em referecircncia aos Artigos 26ordm a 28ordm Artigo 26ordm

Todas as comunidades linguiacutesticas tecircm direito a um ensino que permita a todos os

seus membros adquirirem o perfeito conhecimento da sua proacutepria liacutengua com as

diversas capacidades relativas a todos os domiacutenios de uso da liacutengua habituais bem

como o melhor conhecimento possiacutevel de qualquer outra liacutengua que desejem

aprender

Artigo 27ordm

Todas as comunidades linguiacutesticas tecircm direito a um ensino que permita aos seus

membros o conhecimento das liacutenguas ligadas agrave sua proacutepria tradiccedilatildeo cultural tais

como as liacutenguas literaacuterias ou sagradas usadas antigamente como liacutenguas habituais

da sua comunidade

Artigo 28ordm

Todas as comunidades linguiacutesticas tecircm direito a um ensino que permita aos seus

membros adquirirem um conhecimento profundo do seu patrimocircnio cultural (histoacute-

ria e geografia literatura e outras manifestaccedilotildees da proacutepria cultura) assim como o

melhor conhecimento possiacutevel de qualquer outra cultura que desejem conhecer

(BARCELONA 1996 p 4 a 14)

19

Assim nas Disposiccedilotildees Finais no Plenaacuterio da Associaccedilatildeo Internacional para o

Desenvolvimento da Comunicaccedilatildeo Intercultural recomenda agraves Naccedilotildees Unidas que tomem as

medidas necessaacuterias agrave adopccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de uma Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Linguiacutesticos considerando a Convenccedilatildeo nuacutemero 169 da Organizaccedilatildeo Internacional do

Trabalho de 26 de Junho de 1989 relativa aos povos indiacutegenas em paiacuteses independentes que

a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Colectivos dos Povos realizada em Maio de 1990 em

Barcelona declara que todos os povos tecircm direito a exprimir e a desenvolver a sua cultura a

sua liacutengua e as suas normas de organizaccedilatildeo e para o fazerem a dotarem-se de estruturas

poliacuteticas educacionais de comunicaccedilatildeo e de administraccedilatildeo puacuteblica proacuteprias em quadros

poliacuteticos diferentes Considerando tambeacutem a Declaraccedilatildeo Final da Assembleia Geral da

Federaccedilatildeo Internacional de Professores de Liacutenguas Vivas aprovada em Peacutecs (Hungria) em 16

de Agosto de 1991 recomenda-se tambeacutem que os direitos linguiacutesticos sejam consagrados

direitos fundamentais

Neste contexto Nascimento (2009 p 25) pontua

Como princiacutepio eacutetico qualquer poliacutetica de liacutenguas deveraacute trabalhar a unidade e a

diversidade Natildeo se trata de poacutelos de contradiccedilatildeo mas de eixos de transiccedilatildeo A

unidade eacute uma razatildeo do Estado e a diversidade ou variedade eacute a mateacuteria linguiacutestica

proacutepria da comunidade pois reflete a liacutengua em uso ou seja as linguagens verbais

por meio das quais os indiviacuteduos se comunicam A unidade eacute resguardada pelo

padratildeo oficializado em um modelo de gramaacutetica e a variedade se faz representar nas

diversas gramaacuteticas praacuteticas e pragmaacuteticas de um Estado linguiacutestico

Quadros e Karnopp (2004) ainda explicam que a linguiacutestica parte de pressupostos

baacutesicos que determinam as investigaccedilotildees Sendo um dos mais importantes eacute de que a

linguagem eacute restringida por determinados princiacutepios ou seja ldquoregrasrdquo que fazem parte do

conhecimento humano das liacutenguas (falada ou sinalizada) da formaccedilatildeo de palavras da

construccedilatildeo das sentenccedilas e da construccedilatildeo dos textos A partir deste pressuposto da

universalidade de tais princiacutepios as investigaccedilotildees linguiacutesticas objetivam estudar os aspectos

especiacuteficos de cada liacutengua os quais revelam as caracteriacutesticas da linguagem humana A

exemplo o inglecircs o portuguecircs a Liacutengua de Sinais Americana a Liacutengua Brasileira de Sinais

e outras Embora apresentem diferenccedilas entre as liacutenguas agraves estruturas satildeo comuns que por

sua vez interessam agraves investigaccedilotildees linguiacutesticas na medida em que eacute a ciecircncia que objetiva

por explicar a natureza da linguagem humana

A partir dessas concepccedilotildees entendemos que os seres humanos estabelecem relaccedilotildees

do mais simples ao mais complexo com o outro por meio de gestos olhares e contato seja

por meio de sons Tudo isso caracteriza a linguagem humana Observa-se que a ldquolinguagemrdquo

20

eacute um termo usado pelas pessoas com referecircncia agrave linguagem em geral ou seja em uma

variedade de sentidos para denominar sistemas de comunicaccedilatildeo linguagem musical

linguagem corporal linguagem entre animais etc

No que concerne agrave definiccedilatildeo do termo liacutengua Quadros e Karnopp (2004) encontraram

uma seacuterie de definiccedilotildees de liacutengua que apontam para sua diferenciaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao termo

linguagem Estas fornecem subsiacutedios para a indicaccedilatildeo de propriedades consideradas pela

linguiacutestica essenciais agraves liacutenguas naturais sendo que uma delas eacute dada por Saussure que

afirma

Liacutengua natildeo se confunde com a linguagem eacute somente uma parte determinada

essencial dela indubitavelmente Eacute ao mesmo tempo um produto social da

faculdade de linguagem e um conjunto de convenccedilotildees necessaacuterias adotadas pelo

corpo social para permitir o exerciacutecio dessa faculdade nos indiviacuteduos (QUADROS e

KARNOPP 2004 p24)

Portanto entende-se como liacutengua natural

uma liacutengua que foi criada e eacute utilizada por uma comunidade especiacutefica de usuaacuterios

transmitida de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo e que muda ndash tanto estrutural como

funcionalmente ndash com o passar do tempo Ora qualquer liacutengua pode ser considerada

natural independentemente da modalidade que utilize (SAacute 2006 p 134)

Assim a liacutengua natural eacute tratada enquanto sistema linguiacutestico altamente desenvolvido

apresentando as caracteriacutesticas citadas por Quadros e Karnopp (2004 p 25-28) de

flexibilidade versatilidade arbitrariedade descontinuidade criatividade produtividade dupla

articulaccedilatildeo padratildeo de organizaccedilatildeo dos elementos e dependecircncia estrutural Logo conclui-se

que tais caracteriacutesticas satildeo especiacuteficas da faculdade da linguagem humana

11 Liacutengua de Sinais como Liacutengua Natural

A Liacutengua de Sinais eacute uma liacutengua natural criada pelas comunidades surdas Segundo

Skliar (1998 p26) ldquoTodas as crianccedilas surdas podem adquirir a Liacutengua de Sinais desde que

participem das interaccedilotildees quotidianas com a comunidade surda como acontece com qualquer

outra crianccedila na aquisiccedilatildeo de uma liacutengua naturalrdquo Skliar esclarece que liacutengua ldquonaturalrdquo natildeo

se refere a uma espontaneidade bioloacutegica mas como liacutengua que foi criada e eacute utilizada por

uma comunidade especiacutefica de usuaacuterios que transmite de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo e que muda com

o passar do tempo tanto estruturalmente como funcionalmente (IDEM p27)

As Liacutenguas de Sinais satildeo diferentes em cada comunidade com caracteriacutesticas das

liacutenguas orais com estruturas gramaticais proacuteprias que as distingue dos demais sistemas de

21

comunicaccedilatildeo Para Quadros e Karnopp (2004 p 30) ldquoAs liacutenguas de sinais satildeo portanto

consideradas pela linguiacutestica como liacutenguas naturais ou como um sistema linguiacutestico legiacutetimo e

natildeo como um problema do surdo ou como uma patologia da linguagemrdquo7

Para o reconhecimento das Liacutenguas de Sinais como liacutenguas naturais Ramos (2013 p

8) destaca o conceito ldquonaturalrdquo em oposiccedilatildeo a ldquocoacutedigo e linguagemrdquo e a avaliaccedilatildeo apresenta

as semelhanccedilas existentes entre as mesmas e as liacutenguas orais Sendo que uma dessas

semelhanccedilas na linha saussuriana eacute a ldquoexistecircncia de unidades miacutenimas formadoras de

unidades complexas pode ser observada em todas as Liacutenguas de Sinais espalhadas pelo

mundo possuidoras dos niacuteveis fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico e pragmaacuteticordquo

As liacutenguas de sinais apresentam ldquoregistros diversos (por categoria profissional status social

idade niacutevel escolar etc) aleacutem de dialetos regionais tambeacutem referendam as semelhanccedilas com

as liacutenguas oraisrdquo (IDEM p 8)

Estudos aprofundados sobre a Liacutengua de Sinais iniciaram a partir da deacutecada de 1950

com o estudioso da linguiacutestica o americano William Stokoe o qual percebeu e provou que a

Liacutengua de Sinais

[] satisfazia todos os criteacuterios linguiacutesticos de uma liacutengua genuiacutena no leacutexico na

sintaxe na capacidade de gerar um nuacutemero infinito de proposiccedilotildees [] Stokoe

convenceu-se de que os sinais natildeo eram figuras e sim complexos siacutembolos abstratos

com uma estrutura interna complexa Foi entatildeo o primeiro a buscar uma estrutura a

analisar os sinais dissecaacute-los procurar as partes constituintes Desde o comeccedilo ele

tentou demonstrar que cada sinal possuiacutea pelo menos trecircs partes independentes ndash

7 Sobre a surdez temos duas abordagens segundo explica Skliar a cliacutenico terapecircutica e a soacutecio-antropoloacutegica

A visatildeo soacutecioantropoloacutegica descreve a surdez em termos contraacuterios agraves noccedilotildees de patologia e de deficiecircncia

(1998 p10) Durante o seacuteculo passado construi-se o imaginaacuterio de que o surdo era um deficiente que

necessitava falar Segundo Casarin (1996 p2) ldquoNesse discurso deacuteficit doenccedila patologia anomalia implicam

apenas a possibilidade de sequumlecircncia diagnoacutestico tratamento-cura caracteriacutesticas da abordagem meacutedicardquo [] Tal

concepccedilatildeo influecircnciou outras aacutereas do conhecimento inclusive na educaccedilatildeo sobre a forma de perceber o surdo

Cesarian ainda explica que a partir daiacute foram assimilando o imaginaacuterio de que a surdez era uma doenccedila e que o

surdo por natildeo falar era um deficiente que precisava ser curado construindo entre as aacutereas de tratamento um

modelo terapecircutico para o deficiente auditivo Apoacutes as influecircncias da medicina na educaccedilatildeo dos surdos o

modelo cliniacuteco-terapecircutico passa a impor propostas educativas do oralismo dando continuidade agora na aacuterea

educacional ao tratamento do deficiente o mais cedo possivel na escola a fim que ele se enquadre ao modelo

normal modelo ouvinte Logo as escolas apresentavam como instituiccedilotildees de reeducaccedilatildeo da fala desenvolvendo

atividades pedagoacutegicas que tinham como objetivo o treinamento e exerciacutecios com fins a trazer o surdo o mais

possiacutevel do ldquonormalrdquo Perde-se assim muito tempo no processo de ensino aprendizado do sujeito surdo levando

a um fracasso escolar Surge entatildeo a nova concepccedilatildeo nomeada como soacutecio-antropoloacutegica de surdez totalmente

oposta agrave anterior Essa concepccedilatildeo parte das capacidades do sujeito quando considera a liacutengua de sinais como

melhor garantia para o desenvolvimento normal do surdo Esta nova concepccedilatildeo traz a valorizaccedilatildeo da lingua de

sinais e como consequecircncia o reconhecimento das especificidade culturais das comunidades surdas Estudos

feitos por linguiacutesticas observaram o desempenho escolar de pessoas surdas que se comunicam desde a infacircncia

por meio da Liacutengua de Sinais e que demostraram ganhos significativos em divesas aacutereas do desenvolvimento

humano Deixando claro a necessidade do uso da Liacutengua de Sinais como liacutengua natural da pessoa surda (1996

p 3)

22

localizaccedilatildeo configuraccedilatildeo das matildeos e movimento executado (anaacuteloga aos fonemas

da fala) ndash e que cada parte apresentava um nuacutemero limitado de combinaccedilotildees []

(SACKS 1998 p 88-89)

Segundo Ramos (2013 p 9) em 1988 o venezuelano Saacutenchez fez pesquisas sobre as

liacutenguas de sinais e os resultados apresentou ao educador francecircs Jean Foucambert No debate

sobre suas pesquisas ldquosurgiu agrave proposta de um tipo de educaccedilatildeo que privilegiasse a liacutengua

natural da comunidade surda - a Liacutengua de Sinais Venezuelana e a escrita da liacutengua da

comunidade oral o Espanholrdquo Um dos primeiros princiacutepios que lanccedilou a base para a que a

liacutengua de sinais fosse reconhecida como liacutengua natural foi descrita por Foucambert (RAMOS

2013 p 10)

Natildeo soacute os surdos mas toda e qualquer crianccedila pode aprender a liacutengua escrita sem

basear-se na oral porque satildeo independentes Em segundo lugar chegou-se agrave

afirmaccedilatildeo de que a liacutengua de sinais eacute uma liacutengua natural e que os surdos satildeo uma

comunidade linguiacutestica minoritaacuteria com direito a desenvolver sua cultura proacutepria

dentro da cultura majoritaacuteria O fato de a Liacutengua de Sinais cumprir uma seacuterie de

requisitos que todas as liacutenguas naturais possuem - espanhol portuguecircs alematildeo

inglecircs polonecircs a criatividade eacute um deles - pode-se sempre dizer alguma coisa

nova Outro requisito eacute a combinaccedilatildeo de partiacuteculas natildeo significativas que usadas de

certa maneira criam significaccedilatildeo [] Com 30 40 configuraccedilotildees da matildeo podem-se

transmitir milhares de sinais significativos como os fonemas da liacutengua oral A

liacutengua de sinais que como as liacutenguas nacionais eacute diferente em cada paiacutes e ateacute em

regiotildees dos paiacuteses possui aleacutem do mais uma gramaacutetica toda proacutepria organizada e

complexa e nos permite transmitir qualquer coisa [] Com ela pode-se transmitir

criar e recriar o que se quiser poesia romance filosofia E pode-se ateacute formular

ideacuteias com duplo sentido ou mentir que eacute outra caracteriacutestica das liacutenguas naturais

Por meio das pesquisas e estudos diversos paiacuteses passaram a se dedicar no campo da

linguiacutestica da Liacutengua de Sinais eacute que criou-se a possibilidade do povo surdo lutar pelo seu

reconhecimento enquanto liacutengua na medida em que pode contar com estudos que provam

cientificamente de que as Liacutenguas de Sinais satildeo de fato liacutenguas e natildeo um conjunto de

miacutemica

12 Liacutengua Brasileira de Sinais

O ser humano se expressa atraveacutes da liacutengua e a partir dela estabelece sua cultura

valores e padrotildees sociais Para os surdos brasileiros a Libras estabelece essas condiccedilotildees pois

considera a modalidade visual-espacial e associa caracteriacutesticas sociolinguiacutesticas as funccedilotildees

pragmaacuteticas e discursivas semelhantes agraves liacutenguas orais poreacutem a Liacutengua de Sinais por muito

tempo natildeo foi percebida enquanto estrutura linguiacutestica

23

A LIBRAS como toda Liacutengua de Sinais eacute uma liacutengua de modalidade gestual-visual

uma vez que faz uso para a comunicaccedilatildeo de movimentos gestuais e expressotildees faciais

percebidos pela visatildeo Neste sentido a Revista Feneis Ramos (2002 apud RAMOS 2013 p

7-8) ldquoa Liacutengua Portuguesa eacute uma liacutengua de modalidade oral-auditiva por utilizar como canal

ou meio de comunicaccedilatildeo sons articulados que satildeo percebidos pelos ouvidosrdquo Suas diferenccedilas

estatildeo na utilizaccedilatildeo de canais diferentes e nas estruturas gramaticais de cada liacutengua

Para Campello (2009) historicamente os primeiros estudos da Liacutengua de Sinais

apareceram no seacuteculo XIV exatamente nos anos de 1644 pelo inglecircs Bulwer J B com o livro

de Liacutengua de Sinais Inglesa Chirologia8 on the natural language of the hand com os estudos

destacando as figuras das matildeos e seus significados Menciona tambeacutem que era recompensa

de natureza que os surdos devam se comunicar atraveacutes dos gestos e acreditava firmemente na

ldquonecessidade que opera a Natureza dos homens que nascem Surdos-Mudos que podem

discutir mostrar sinalizar retoricamente por sinaisrdquo (p 13)

Em 1960 W C Stokoe pesquisador inglecircs da Gallaudet University fez uma pesquisa

entre as gramaacuteticas utilizadas pelos surdos em sala de aula e fora dela e os resultados foram

publicados no artigo Sign Language Structure na outline of the visual communication system

of the American Deaf na revista Studies in Linguistics Occassional Papers 8 (CAMPELLO

2009) E eacute a partir destes estudos que Stokoe afirma que a Liacutengua de Sinais eacute liacutengua

Stokoe (1960) ldquopercebeu e comprovou que a liacutengua de sinais atendia a todos os

criteacuterios linguiacutesticos de uma liacutengua genuiacutena no leacutexico na sintaxe e na capacidade de

gerar uma quantidade infinita de setenccedilasrdquo Stokoe observou que os sinais natildeo eram

imagens mas siacutembolos abstratos complexos com uma complexa estrutura interior

[] Comprovou inicialmente inicialmente que cada sinal apresentava pelo menos

trecircs partes independentes (em analogia com os fonemas da fala) ndash a localizaccedilatildeo a

configuraccedilatildeo de matildeos e o movimento ndash e que cada parte possuiacutea um nuacutemero

limitado de combinaccedilotildees [] (QUADROS E KARNOPP 2004 p 30-31)

Os estudos do linguiacutesta representou o primeiro passo para outras pesquisas em relaccedilatildeo

a Liacutengua de Sinais Em diversos paiacuteses pesquisas foram realizadas O Brasil foi um deles

No Brasil no final dos anos de 1970 a proposta da educaccedilatildeo biliacutengue reconhece a

Libras como liacutengua natural portanto deve ser ensinada como primeira liacutengua desde o iniacutecio

da escolarizaccedilatildeo da crianccedila surda e a comunidade surda reconhece o portuguecircs como a liacutengua

oficial do Brasil e deve ser ensinada como segunda liacutengua na forma oral ou escrita

(SLOMSKI 2010)

8 Bulwer (1644) em seu livro esclarece que a quirologia eacute um dicionaacuterio de gestos manuais e quirema eacute um

manual para o uso efetivo do gesto de falar em puacuteblico

24

Segundo Quadros (2009 p144) no entanto a Liacutengua de Sinais comeccedilou a ser

investigada efetivamente nas deacutecadas de 80 e 90 por Ferreira Brito (1986 1995) Felipe

(1992 1993) Quadros (1995 1999) e a aquisiccedilatildeo da Liacutengua Brasileira de Sinais nos anos 90

(Karnopp (1994 1999 Quadros (1995 1997)

Na deacutecada de 1980 a 1990 tem-se um panorama mundial para a abordagem biliacutengue

na educaccedilatildeo de surdos Slomski (2010 p 61) destaca que em 1994 Lucinda Ferreira Brito

passa a utilizar a abreviaccedilatildeo de LIBRAS (Liacutengua Brasileira de Sinais) criada pela comunidade

surda Consequentemente pesquisas estudos e lutas da comunidade surda contribuiacuteram para a

instauraccedilatildeo de uma poliacutetica linguiacutestica da Liacutengua Brasileira de Sinais A que reconhece o

estatuto linguiacutestico legal por meio da Lei 10436 de 24042002

Art 1ordm Eacute reconhecida como meio legal de comunicaccedilatildeo e expressatildeo a Liacutengua

Brasileira de Sinais ndash Libras e outros recursos de expressatildeo e por ela associados

Paraacutegrafo uacutenico Entende-se como Liacutengua Brasileira de Sinais ndash Libras a forma e

comunicaccedilatildeo e expressatildeo em que o sistema linguiacutestico de natureza visual-motora

com estrutura gramatical proacutepria constituem um sistema linguiacutestico de transmissatildeo

de ideias e fatos oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil

[](BRASIL 2007 p 2)

A Liacutengua de Sinais como jaacute mencionado eacute uma liacutengua natural composta por de todos

os componentes agraves liacutenguas orais como gramaacutetica semacircntica pragmaacutetica sintaxe e outros

elementos preenchendo os requisitos cientiacuteficos para ser considerado um sistema linguiacutestico

Conforme Felipe e Monteiro (2004 p23) as Liacutenguas de Sinais satildeo compostas por

signos linguiacutesticos denominados bdquosinais‟ encontrados nos seguintes paracircmetros

Configuraccedilatildeo das Matildeos Ponto de Articulaccedilatildeo Movimento Orientaccedilatildeo Expressatildeo Facial eou

Corporal Estes paracircmetros satildeo requisitos necessaacuterios para que sejam constituiacutedos os sinais

Portanto a Liacutengua de Sinais eacute considerada como liacutengua natural do sujeito surdo

como sua primeira liacutengua-L1 Jaacute a liacutengua majoritaacuteria de um paiacutes no caso do Brasil eacute a

Liacutengua Portuguesa como L2 Partindo do pressuposto que a Liacutengua de Sinais eacute a primeira

liacutengua do surdo a aquisiccedilatildeo da primeira liacutengua pelas crianccedilas surdas deve se dar de forma

natural no contato com surdos sinalizados pertencentes agrave comunidade surda A Liacutengua

Portuguesa por sua vez eacute aprendida de forma sistemaacutetica ou seja precisa ser ensinada por

meio de teacutecnicas especiacuteficas de ensino de segunda liacutengua

A partir desta compreensatildeo as crianccedilas surdas precisam ter a oportunidade do contato

com seus pares Crianccedilas surdas que natildeo tecircm um conviacutevio com surdos por terem nascido

dentro de familias ouvintes que usam a liacutengua oral precisam que os pais familiares

25

oportunizem a elas o mundo essencialmente visual-espacial para conhecer a Liacutengua de

Sinais Sobre a questatildeo Quadros (2005 p30) afirma

As crianccedilas surdas e seus pais ouvintes poderiam compartilhar o bilinguismo liacutengua

portuguesa e liacutengua de sinais brasileira e ir aleacutem descobrindo os vieses das culturas

e identidade que se entrecruzam [] Assim as crianccedilas surdas precisam ter acesso

agrave liacutengua de sinais com sinalizantes fluentes desta liacutengua muito cedo Estes

sinalizantes satildeo pessoas que normalmente natildeo fazem parte do ciacuterculo de pessoas

que a crianccedila usualmente teria contato Os pais teratildeo que conhecer comunidade

surda que usa esta liacutengua

Nesta perspectiva Souza (apud QUADROS 2005) menciona que se no iniacutecio do seu

desenvolvimento a crianccedila surda tiver a chance de contar com pais dispostos a aprenderem a

liacutengua de sinais com adultos surdos colegas surdos e conversarem ldquosinalizandordquo a

dimensatildeo do seu processo educacional seraacute outra A aquisiccedilatildeo da liacutengua seraacute transferida para

o espaccedilo escolar ldquoO fato de passar a ter contato com a liacutengua portuguesa com significado

trazendo seus conceitos adquiridos na sua proacutepria liacutengua possibilitaraacute um processo muito

mais significativordquo (ibid p33)

Por isso eacute de importacircncia fundamental a crianccedila surda esteja em contato linguiacutestico

com a liacutengua de sinais o mais cedo possiacutevel seja com a comunidade surda ou com seus pais

ouvintes que adquiriram a Liacutengua de Sinais como L2 Estes fatores iratildeo influenciar a crianccedila

estabelecer a sua identidade e cultura surda naturalmente Neste sentido Fantinel (1999 p2)

menciona que ldquoo uso da Liacutengua de Sinais eacute uma condiccedilatildeo fundamental na construccedilatildeo da

identidade dessas pessoas pois eacute o fator que os aproxima e reuacutene em grupos permitindo-lhes

expressarem-se construindo significados para a vidardquo

A Liacutengua de Sinais portanto eacute um aspecto fundamental da cultura surda Para tanto

Strobel (2008 p44) ainda enfatiza que para que o sujeito surdo possa ter acesso agraves

informaccedilotildees e conhecimentos aleacutem de construir sua identidade eacute fundamental criar uma

ligaccedilatildeo com o povo surdo que usa a sua liacutengua em comum pois a Liacutengua de Sinais eacute uma das

principais marcas da identidade de um povo surdo uma particularidade da cultura surda uma

forma de comunicaccedilatildeo que capta as experiecircncias visuais dos sujeitos surdos E somente a

partir do uso desta liacutengua que a crianccedila conseguiraacute seu pleno desenvolvimento cognitivo

psicoloacutegico emocional e cultural proporcionando assim a aquisiccedilatildeo do conhecimento

universal

Desta forma ao refletirmos sobre a pessoa surda na construccedilatildeo de sua identidade e

cultura surda entende-se que o contato linguiacutestico eacute essencial Logo o que dizer das pessoas

26

surdas que vivem isoladas de comunidades surdas que natildeo tem esse contato com Liacutengua de

Sinais Sobre esta realidade Strobel esclarece que

No entanto incluem tambeacutem os gestos denominados ldquosinais emergentesrdquo ou ldquosinais

caseirosrdquo dos sujeitos surdos de zonas rurais ou sujeitos isolados de comunidades

surdas que procuram entender o mundo atraveacutes dos experimentos visuais e que

procuram comunicar apontando e criando sinais [] (ibidem p44)

Ainda sobre a questatildeo Vilhalva (2012 p 30) ressalta que ldquo[] Os sinais emergentes

tambeacutem conhecidos como sinais caseiros satildeo essenciais quando vistos como comunicaccedilatildeo

natural usada em um espaccedilo familiar ou social []rdquo Nesse caso podemos referir ao iacutendio

surdo que vive isolado do contato com a comunidade surda Este surdo tambeacutem se identifica

com o povo surdo apesar de natildeo ter contato e de natildeo pertencer agraves mesmas comunidades

surdas na medida em que de acordo com Strobel (2008) eles compartilham as mesmas

peculiaridades ou seja constroem sua formaccedilatildeo de mundo atraveacutes de artefato cultural visual

13 Liacutenguas de Sinais Indiacutegenas pesquisadas no Brasil

Os registros da existecircncia de iacutendios surdos segundo Vilhalva (2008) apontam para o

Estatuto do Iacutendio - Lei nordm 6001 de 19121973 que norteou as relaccedilotildees do Estado brasileiro

com as populaccedilotildees indiacutegenas ateacute a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 em seu Paraacutegrafo

uacutenico do Art 1ordm assegura

Aos iacutendios e agraves comunidades indiacutegenas se estende a proteccedilatildeo das leis do Paiacutes nos

mesmos termos em que se aplicam aos demais brasileiros resguardados os usos

costumes e tradiccedilotildees indiacutegenas bem como as condiccedilotildees peculiares reconhecidas

nesta Lei

Neste sentido no Brasil a liacutengua oficial eacute a Liacutengua Portuguesa Fossile (2013 p 4)

afirma que ldquoo paiacutes conta atualmente segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatiacutestica (IBGE) com aproximadamente 210 liacutenguas sendo 190 delas indiacutegenasrdquo Essas

liacutenguas indiacutegenas satildeo consideradas como liacutenguas minoritaacuterias sem importacircncia em relaccedilatildeo ao

portuguecircs No entanto algumas possuem mais prestiacutegio em relaccedilatildeo agraves outras

Em relaccedilatildeo ao conhecimento da liacutengua e da diversidade na dinacircmica soacutecio-cultural das

populaccedilotildees indiacutegenas deveria haver prioridades para estudos no campo linguiacutestico para

acadecircmicos e pesquisadores indios De fato o conhecimento das liacutenguas faladas e no

contexto tem-se essa diversidade para iacutendios surdos deveria ser compartilhada com a

27

sociedade indiacutegena de forma que esta possam participar ativamente na elaboraccedilatildeo de poliacuteticas

e programas que respondam agraves suas necessidades seus direitos considerando-se em particular

suas culturas e liacutenguas

Segundo Vilhalva (2008) pesquisas no campo da linguiacutestica e de poliacuteticas linguiacutesticas

avanccedilaram consideravelmente no Brasil Tendo poreacutem ainda uma grande necessidade de

maiores pesquisas principalmente referente a diferentes Liacutenguas de Sinais pertencentes a

diferentes comunidades como as dos povos indiacutegenas Neste sentido a autora argumenta

A Liacutengua de Sinais Indiacutegenas praticadas pelos iacutendios surdos existentes em diversas

comunidades indiacutegenas do paiacutes traz consigo caracteriacutesticas culturais e linguiacutesticas

variadas bdquoInfelizmente raramente satildeo registradas como satildeo registradas outras liacutenguas

brasileiras de diferentes comunidades com suas especificidades culturais e eacutetnicas ‟

(VILHALVA 2008 p 29)

Sobre a questatildeo Nonaka coloca que

desde 1960 quando se iniciaram os estudos linguiacutesticos e antropoloacutegicos em

referecircncia agraves Liacutenguas de Sinais a maior parte das investigaccedilotildees tem incidido sobre

as Liacutenguas de Sinais nacionais ou padratildeo usadas pelos surdos de diferentes paiacuteses

com escassa atenccedilatildeo agraves Liacutenguas de Sinais usadas pelos indiacutegenas em sua

comunicaccedilatildeo original (apud VILHALVA 2012 p 30)

Por isso Vilhalva defende a comunicaccedilatildeo dos iacutendios surdos como objeto de estudo da

linguiacutestica afirmando que

[] Sabemos tambeacutem que a Libras estaacute presente nas terras indiacutegenas

apontando que a influecircncia aconteceraacute Sendo assim consideramos quanto o leacutexico

das liacutenguas estaacute no processo de mudanccedilas atraveacutes do neologismo espontacircneo ou o

empreacutestimo linguiacutestico de outras liacutenguas (ibid p37)

Observa-se que os estudos sobre a Libras nas terras indiacutegenas comeccedilaram na deacutecada

de 1980 com pesquisas da brasileira Lucinda Ferreira Brito sobre a Liacutengua Brasileira de

Sinais Segundo Slomski (2010) Lucinda Ferreira Brito iniciou sua pesquisa atraveacutes de um

padratildeo internacional de abreviaccedilatildeo das Liacutenguas de Sinais adotando a sigla LSCB ndash Liacutengua de

Sinais dos Centros Urbanos Brasileiros para diferenciaacute-la da LSKB ndash Liacutengua de Sinais

Kaapor Brasileiros que eram a utilizada pelos iacutendios do Estado do Maranhatildeo

Diante do panorama exposto se faz necessaacuterio no campo da linguiacutestica dos estudos

surdos pesquisas sobre a Liacutengua de Sinais usadas pelos iacutendios surdos nas diferentes

comunidades indiacutegenas para que seja reconhecida e registrada Infelizmente somente uma

28

liacutengua indiacutegena eacute oficialmente reconhecida no Brasil a Liacutengua de Sinais Indiacutegena da

comunidade Urubu-Kaapor devido ao alto iacutendice de surdos

131 Liacutengua de Sinais Urubu-Kaapor

Os resultados do Censo 2010 (IBGE 2013) apontam para 274 liacutenguas indiacutegenas

faladas por indiviacuteduos pertencentes a 305 etnias diferentes Embora haja a necessidade de

estudos linguiacutesticos e antropoloacutegicos mais aprofundados quanto aos nuacutemeros totais de liacutengua

e etnia

Dentro desse universo a uacutenica Liacutengua de Sinais indiacutegena reconhecida conforme

referido anteriormente eacute a utilizada pela etnia indiacutegena brasileira dos Urubu-Kaapor9

chamados tambeacutem por urubus-caapores Os estudos sobre essa Liacutengua de Sinais apontam para

o iniacutecio da deacutecada de 1950

De acordo com Ribeiro (1996 apud FASSILE 2013 p 2)

Em 1950 foi descoberto no Brasil um grupo indiacutegena atraveacutes de pesquisas

antropoloacutegicas os Urubu-Kaapor na floresta Amazocircnica (Maranhatildeo) que falava

uma variaccedilatildeo da liacutengua de sinais Somente a partir da deacutecada de 1980 estudos

linguiacutesticos relacionados agrave Liacutengua de Sinais Kaapor Brasileira (LSKB) foram

aprofundados (sobre a LSKB cf KAKUMASU J KAKUMASU K 1977)

Segundo Brito (1993 apud FASSILE 2013 p 2) J Kakumasu defendeu que ldquo[] a

Liacutengua de Sinais dos Urubu-Kaapor [] [se constituiacutea como] um veiacuteculo de comunicaccedilatildeo

intratribal e natildeo como meio de transaccedilatildeo comercialrdquo Neste sentido resgata-se que

No Brasil Lucinda Brito inicia seus importantes estudos linguiacutesticos em

1982 sobre a Liacutengua de Sinais dos iacutendios Urubu-Kaapor da floresta amazocircnica

brasileira apoacutes um mecircs de convivecircncia com os mesmos documentando em filme

sua experiecircncia A ideia para a pesquisa adveio da leitura de um artigo publicado no

livro de Umiker-Sebeok (1978) de autoria de J Kakumasu Urubu Sign Language

No estudo a Liacutengua de Sinais dos Urubu-Kaapor se diferenciaria da PSL por

constituir um veiacuteculo de comunicaccedilatildeo intratribal e natildeo como meio de transaccedilatildeo

comercial Lucinda Brito poreacutem constatou que a mesma se tratava de uma legiacutetima

Liacutengua de Sinais dos surdos pelos mesmos criados

O interessante de se observar no caso dos Urubu-Kaapor eacute que os ouvintes da

aldeia falam a Liacutengua de Sinais e a liacutengua oral evidentemente enquanto que os

surdos se restringem agrave Liacutengua de Sinais Assim os ouvintes da aldeia se tornam

biliacutengues enquanto os surdos se mantecircm monoliacutengues (RAMOS 2011 p 6)

9 Disponiacutevel emlthttpwwwlibrascombrurubu-kaaporgt Acesso em 19112013

29

A Liacutengua Kaapor eacute uma liacutengua da famiacutelia Tupi-Guarani natildeo falada por outra tribo ou

povo exceto como segunda liacutengua Possuem uma liacutengua de sinais proacutepria (a Liacutengua Brasileira

de Sinais Kaapor) usada tanto pela comunidade surda do povo como tambeacutem por seus

membros natildeo surdos na comunicaccedilatildeo com os surdos

[] os Kaapor satildeo linguisticamente peculiares na Amazocircnia por terem uma

linguagem padratildeo de sinais usada para a comunicaccedilatildeo com os surdos que ateacute a

metade dos anos 80 compunham cerca de 2 da totalidade de sua populaccedilatildeo A

incidecircncia de surdez deveu-se evidentemente agrave bouba neonatal e endecircmica que foi

erradicada10

O interessante eacute que a comunidade indiacutegena desenvolveu uma forma proacutepria de

comunicaccedilatildeo por sinais que comeccedilou a ser estudada na deacutecada de 1960 pelo pesquisador

canadense James Kakumasu em (1968) e em seguida pela linguista brasileira Linguista

Lucinda Ferreira Brito ldquo[] A Liacutengua de Sinais Brasileira para diferenciaacute-la da LSKB

(Liacutengua de Sinais Kaapor Brasileira) utilizados pelos iacutendios Urubu-Kaapor no Estado do

Maranhatildeordquo (GOLDFELD 1997 p 30) A pesquisadora registrou a existecircncia da Liacutengua de

Sinais Kaapor em sua pesquisa sobre termos baacutesicos para cores em Liacutengua de Sinais

132 Liacutengua de Sinais Emergentes

Vilhalva (2012) se preocupou sobre a situaccedilatildeo linguiacutestica dos iacutendios surdos trazendo

grandes contribuiccedilotildees cientiacuteficas na aacuterea da linguiacutestica referente agraves Liacutenguas de Sinais

Indiacutegenas Sua pesquisa iniciou em 1991 com iacutendios surdos na comunidade indiacutegena de Satildeo

Marcos

O estudo dos sinais emergentes que se deseja apresentar objetiva natildeo apenas

recuperar os registros sobre as liacutenguas padratildeo mas tambeacutem e sobretudo procurar

realizar um levantamento de como se apresenta atualmente o uso desses sinais

emergentes e ateacute mesmo da histoacuteria da produccedilatildeo desses sinais para que se possa

fazer o registro cientifico sobre a situaccedilatildeo linguiacutestica dos iacutendios surdos dentro das

escolas indiacutegenas [] (VILHALVA 2012 p11a)

Souza e Segala (2009 p28) abordam que a maior parte das liacutenguas nasceu do

contato entre duas ou mais liacutenguas ou de uma liacutengua e sistemas de sinais caseiros (Liacutengua de

Sinais Primaacuteria) Observa-se que ldquosinais caseiros ou Liacutengua de Sinais Primaacuterios

correspondentes aos gestos ou construccedilatildeo simboacutelica inventadas no acircmbito familiar eacute comum

10

Disponiacutevel emlthttppibsocioambientalorgptpovokaaporgt Acesso em 19112013

30

a constituiccedilatildeo de um sistema convencional de comunicaccedilatildeo entre matildee-ouvinte e crianccedila

surdardquo

Sobre a origem dos sinais emergentes Vilhalva explica que

[] os sinais emergentes foram criados devido a uma necessidade de comunicaccedilatildeo

passando por sinais indicativos icocircnicos e arbitraacuterios A maneira como cada sinal

surge levam tempo para se entender principalmente quando os sinais satildeo criados

conforme o neologismo11

Esses novos sinais passam a fazer parte da comunicaccedilatildeo

para depois designar algo consistentemente como acontece tambeacutem agraves liacutenguas

orais-auditivas (2012 p137-138)

Desta forma a autora em sua pesquisa argumenta que os sinais emergentes

considerados em seu estudo como Liacutengua de Sinais constituem como o meio de

comunicaccedilatildeo primaacuteria dos iacutendios surdos das comunidades indiacutegenas do Mato Grosso do Sul

Partindo deste achado Rousseau jaacute mencionava em seus estudos ldquoEnsaio sobre a origem das

liacutenguasrdquo que

O uso e a necessidade ensinam a cada um a liacutengua de seu paiacutes mas o que eacute que faz

com que essa liacutengua seja a de seu proacuteprio paiacutes e natildeo a de um outro [] No

momento em que um homem foi reconhecido por um outro como um ser sensiacutevel

pensante e semelhante a ele o desejo ou a necessidade de comunicar-lhe os proacuteprios

sentimentos e os proacuteprios pensamentos fez com que procurasse os meios de fazecirc-lo

(2008 p 97)

Assim o primeiro contato do ser humano eacute com o outro da mesma espeacutecie No caso da

matildee com seu filho Conforme Sacks (1998 p 7) comenta que

[] a primeira comunicaccedilatildeo geralmente se daacute entre matildee e filho e a liacutengua eacute

adquirida emerge entre eles dois Sendo assim Os sinais emergentes tambeacutem satildeo

fruto da linguagem num processo visual usados pelos surdos indiacutegenas e seus

familiares ouvintes na interaccedilatildeo com o meio (VILHALVA 2012 p 137)

Vilhalva (2012) entatildeo percebeu a predominacircncia dos gestos caseiros criados pelos

proacuteprios surdos para interagirem com suas famiacutelias e com as pessoas que os rodeiam Ou

seja a crianccedila surda que nasce na famiacutelia de ouvinte comeccedila a criar a partir de um meio de

comunicaccedilatildeo visual usando todas as formas naturais possiacuteveis desde o apontamento ateacute os

gestos naturais O uso que destes sinais criados pelas necessidades do ambiente familiar com

o passar do tempo vatildeo se convencionando a forma de interaccedilatildeo dialoacutegica passando a

transformar-se em um meio de comunicaccedilatildeo essencial resultando assim no processo

11

Satildeo palavras criadas para designar novas situaccedilotildees novos conceitos fatos objetos etc sendo que um

neologismo soacute eacute sentido como tal durante algum tempo pois passados anos ou seacuteculos deixa de ter sentido

como tal porque a realidade que ele designa jaacute natildeo eacute nova

31

evolutivo dos sinais familiares para os sinais emergentes para transiccedilatildeo para a Liacutengua de

Sinais ou seja arbitraacuteria convencional Esse processo se daacute por meio do processo cognitivo

fundamentada na teoria de Cuxac

Construccedilatildeo do dizer a partir do processo criativo de performance gestual Iconizando

da experiecircncia perceptivo-praacutetica Rotinas de Transferecircnciandashpassagem da ilustraccedilatildeo

especifica para a categorizaccedilatildeo geneacuterica Sinais estabelecidos num grupo reduzido

categorias e generalizaccedilotildees dos sinais gestuais Nasce uma liacutengua de Sinais com

todas as propriedades de uma liacutengua (apud VILHALVA 2012 p138)

Vilhalva (2012) ainda destaca que se observarmos a Lei nordm 10436 de 24 de abril de

2002 vamos verificar que em seu artigo primeiro ldquoficam reconhecidos como meio legal de

comunicaccedilatildeo e expressatildeo a Liacutengua Brasileira de Sinais-Libras ndash e outros recursos de

expressatildeo a ela associadosrdquo Nesses bdquooutros recursos‟ podem figurar segundo compreensatildeo

da mesma os sinais emergentes produzidos nas comunidades indiacutegenas Se a Liacutengua

Brasileira de Sinais uma forma de comunicaccedilatildeo e expressatildeo cujo canal de produccedilatildeo e

recepccedilatildeo eacute de natureza visual-motora com estrutura gramatical proacutepria constituindo um

sistema linguiacutestico de transmissatildeo de ideias e fatos oriundos de comunidades de pessoas

surdas no Brasil conforme estaacute na lei eacute compreensivo dizer que nada fala sobre um padratildeo de

sinalizaccedilatildeo (p34)

Conclui-se que conforme pesquisa da autora citada os estudos dos sinais emergentes

mostraram que este eacute o ponto inicial das novas Liacutenguas de Sinais que segundo a mesma

merecem ser aprofundadas

1321 Realidade do contexto educacional escolar do indiacutegena surdo

Vilhalva (2012) destaca que o indiviacuteduo surdo soacute teraacute um sistema gestual linguiacutestico

organizado no contato do agrupamento comunitaacuterio especificamente da comunidade surda

com o contato com a Liacutengua de Sinais E isso muitas vezes acontece em geral somente no

acircmbito escolar biliacutengue onde haacute outros surdos inteacuterpretes e professores ouvintes que fazem

uso da Liacutengua de Sinais Por isso eacute essencial uma escola que respeite a diversidade linguiacutestica

como no caso desta comunidade Desta forma se faz necessaacuterio presenccedila na escola de

inteacuterpretes vindo das cidades mais proacuteximas das terras indiacutegenas de modo que

32

[] o Professor ministra as aulas em Portuguecircs e tem disciplina em Guarani

Observamos que pelo fato de os professores da pedagogia diferenciada indiacutegena

realizarem sua formaccedilatildeo em universidades locais onde o assunto em torno da surdez

e da Libras satildeo discutidos estes profissionais tecircm uma formaccedilatildeo que respeita natildeo soacute

a cultura e a liacutengua indiacutegena mas tambeacutem a cultura e a Liacutengua de Sinais

caracteriacutesticas que estatildeo presentes nas escolas indiacutegenas biliacutengues em que a liacutengua

de instruccedilatildeo eacute o Guarani-Portuguecircs(VILHALVA 2012 p 11b)

Poreacutem o que natildeo eacute o caso da escola Araporatilde mencionada por Vilhalva (2012) que teve

preferecircncia do inteacuterprete indiacutegena para a preservaccedilatildeo da cultura liacutengua e saber Foi observado

na pesquisa que os indiacutegenas surdos com vinte anos de idade em diante demonstram

seguranccedila ao sinalizar com o pesquisador surdo usando seus sinais emergentes de forma

natural Os mais novos de escolas indiacutegenas mas da mesma comunidade indiacutegena natildeo

demonstraram o uso de sinais emergentes e sim apresentaram diretamente sua comunicaccedilatildeo

em Libras Entretanto os resultados apontam que natildeo haacute como dizer se o atendimento

educacional para o iacutendio surdo estaacute acontecendo em todas as comunidades indiacutegenas ldquopois

interfere numa questatildeo de respeitar o que diz o proacuteprio plano de educaccedilatildeo sobre uma visatildeo

amplamente ligada agrave liacutengua cultura e diversidade nas escolas e terras indiacutegenasrdquo (ibid p36)

Nesta oacutetica se realmente as poliacuteticas linguiacutesticas fossem mais enfaacuteticas em suas

propostas de realizar a planificaccedilatildeo linguiacutestica incluindo a criaccedilatildeo de escolas biliacutengues e de

legislaccedilotildees especiacuteficas para as questotildees referentes agraves liacutenguas o indiviacuteduo indiacutegena surdo

poderia ter seus direitos linguiacutesticos assegurados

Neste sentido resgata-se o Referencial Curricular Nacional para Escolas Indiacutegenas

(1998) o qual menciona que

[] as tradiccedilotildees culturais os conhecimentos acumulados a educaccedilatildeo das geraccedilotildees

mais novas as crenccedilas o pensamento e a praacutetica religiosa as representaccedilotildees

simboacutelicas a organizaccedilatildeo poliacutetica os projetos de futuro enfim a reproduccedilatildeo

sociocultural das sociedades indiacutegenas satildeo na maioria dos casos manifestaccedilotildees

atraveacutes do uso de uma liacutengua Mesmo os povos indiacutegenas que satildeo hoje monoliacutengues

em liacutengua portuguesa continuam a usar a liacutengua de seus ancestrais como um siacutembolo

poderoso para onde confluem muitos de seus traccedilos identificatoacuterios construindo

assim um quadro de bilinguismo simboacutelico importante [grifo nosso]

Ou seja assim como para o surdo urbano brasileiro eacute reconhecida legalmente sua

liacutengua natural - Libras e a Liacutengua Portuguesa como segunda liacutengua -L2 para o indiacutegena surdo

deveria ser assegurado o mesmo direito para aprender esta forma de comunicaccedilatildeo ndash Liacutengua de

Sinais como primeira liacutengua e como segunda liacutengua a Liacutengua de sua etnia na modalidade

33

escrita Sendo portanto biliacutengue ou ainda triliacutengue com aquisiccedilatildeo da Liacutengua Portuguesa

tambeacutem na modalidade escrita

Nesta perspectiva observa-se que Saacute (2011 p33) afirma que tanto indiacutegenas como

surdos tecircm uma liacutengua proacutepria e uma cultura diferenciada Entatildeo porque natildeo ser reconhecida

legalmente a Liacutengua de Sinais utilizada pelos iacutendios surdos e a Liacutengua de sua comunidade

Como bem percebido por Vilhalva haacute a carecircncia de pesquisas voltadas para o registro de

liacutengua de sinais entre os iacutendios surdos brasileiros o que certamente constitui-se em um dos

fatores que favorecem a existecircncia desta lacuna na legislaccedilatildeo E que tal fato deveria ser um

despertar para pesquisadores da linguiacutestica sejam ouvintes ou surdos

34

2 A HISTOacuteRIA DO POVO INDIacuteGENA SATEREacute-MAWEacute CULTURA E LIacuteNGUA

Os povos indiacutegenas durante muito tempo foram considerados como povos sem

histoacuteria e sem uma liacutengua proacutepria Poreacutem com as muitas lutas eacutetnicas com estudos

antropoloacutegicos e com as abordagens historiograacuteficas iniciou-se uma valorizaccedilatildeo da

sociedade indiacutegena passando assim o povo indiacutegena a ser perspectivado nas suas

singularidades histoacutericas culturais e linguiacutesticas

Vale ressaltar que quando se refere a ldquoliacutenguasrdquo sabe-se que natildeo haacute apenas uma liacutengua

indiacutegena Existem muitos povos ou etnias indiacutegenas distintas As liacutenguas indiacutegenas no Brasil

se agrupam em famiacutelias linguiacutesticas ou seja famiacutelias que tecircm semelhanccedilas entre si e que satildeo

agrupadas por sua vez em troncos linguiacutesticos assim como as liacutenguas isoladas12

ou seja

liacutenguas que natildeo parecem ter parentesco com nenhuma das famiacutelias linguiacutesticas conhecidas

Segundo Rodrigues (2002) as famiacutelias indiacutegenas estatildeo agrupadas em Tronco

Linguiacutestico Tupi famiacutelia Tupi-Guarani (Akwaacutewa Amanayeacute Anambeacute Apiakaacute Araweteacute

Asurini Avaacute Guajaacute Guarani Kamayuraacute Kayabi Suryiacute Kaiwaacute) famiacutelia Munduruku

(Kuruaacuteya Mundurukuacute) Famiacutelia Tupari (Makuraacutep Tupari Wayoroacute) Famiacutelia Arikeacutem

(Karitiaacutena) Famiacutelia Juruna (Juruna) Famiacutelia Mondeacute (Aruaacute Cinta-Larga Gaviatildeo Mekeacutem

Mondeacute Suruiacute Zoroacute) Famiacutelia Ramaraacutema (Araacutera Itoqapuk) Outras Liacutenguas (Aweti

Puruboraacute Satereacute-Maweacute) entre outros troncos linguiacutesticos como Macro-Jecirc e sua diversidade

de famiacutelias existentes entre elas as liacutenguas isoladas

Um desses povos indiacutegenas foi o da etnia Satereacute-Maweacute Estes sofreram muitas

influecircncias em seu modo de vida advinda do contato com grupos natildeo indigenas que implicou

no processo de perda de muitos dos seus aspectos culturais A histoacuteria relata que o contato se

deu pela chegada dos colonizadores e posteriormente das missotildees religiosas E na atualidade

por ocupantes de terras como fazendeiros madeireiros emigrantes de outros Estados Foram

perdas irreparaacuteveis todavia como elo de resistecircncia procuraram sustentar em sua estrutura

original sua liacutengua

12

Segundo Rodrigues (2002 p93) liacutenguas isoladas refere-se as liacutenguas isoladas linguisticamente ou seja

liacutenguas que natildeo revelam parentesco geneacutetico com nenhuma outra Natildeo pertencem a nenhuma famiacutelia (ou tronco)

isto eacute constituem famiacutelias de um soacute membro

35

21 Breve Relato Histoacuterico

A histoacuteria do povo indiacutegena Satereacute-Maweacute tem sido foco de estudos dos diversos

segmentos de pesquisas como as realizadas por antropoacutelogos historiadores religiosos e

cientistas da linguagem Estes relatam a origem a liacutengua e a cultura desse povo

Uggeacute (1993 p 5) informa que ldquoOs Maueacutes descendentes das tribos indiacutegenas

denominadas no passado pelo nome de ANDIRAacute e MARAGUAacute que faz parte da aacuterea cultural

Tapajoacutes-Madeira entre a divisa dos atuais Estados do Paraacute e Amazonasrdquo O autor ainda

menciona que cronistas exploradores missionaacuterios antropoacutelogos naturalistas do passado

identificaram os Maueacutes tambeacutem com outros nomes (Maooz Mabueacute Jaquezes Manguases

Mahueacutes Mauris Maweacute Maragua e Maraguazes)

A origem do nome Satereacute-Maweacute advem dos termos Satereacute (lagarta vermelha) que eacute o

nome do clatilde dos antigos chefes e Maweacute (papagaio inteligente guerreiro e curioso) que eacute o

nome mais comum de um dos grupos tribais que conseguiram sobreviver agrave extinccedilatildeo das

numerosas tribos indiacutegenas da ilha Tupinambarana do Meacutedio Amazonas (IDEM) Cerqua13

faz referecircncia agrave primeira notiacutecia sobre o povo Satereacute-Maweacute ldquoEacute por volta de 1669 quando o

Pe Betendorf duas vezes superior provincial dos jesuiacutetas lembra a ldquovila dos Maguasesrdquo

grafia antiga de Maueacutes [] (1980 p 209)rdquo ou seja Maueacutes foi residecircncia missionaacuteria mas

natildeo permanente dos padres pois os mesmos residiam mais em Tupinambarana (rio

Amazonas) atual Parintins e visitavam Maueacutes temporariamente

A etnia Satereacute-Maweacute sofreu muitas mudanccedilas de localidades devido muitos fatores

que contribuiacuteram para o deslocamento desse povo segundo explica Lorez apud Teixeira

(2005 p21)

Devido agraves guerras com os Munduruku e Parintintim e ao contato com os

portugueses os Satereacute-Maweacute perderam grande parte de seu territoacuterio original Em

1691 os Maweacute surgem na cartografia regional com o nome de Mabueacute(mapa do

Padre Samuel Fritz) Missotildees foram localizadas para os iacutendios Magueacute denominadas

Satildeo Joatildeo (Pinhel) e Santo Inaacutecio (Boim) Posteriormente em 1835 lutando ao lado

dos Munduruku e dos Mura como tambeacutem de outras tribos indiacutegenas do rio Negro

os Satereacute-Maweacute aderiram ao movimento cabano ateacute que em 1839 o conflito foi

debelado Devido agraves epidemias agraves lutas e agraves perseguiccedilotildees aos povos indiacutegenas que

combatiam ao lado dos cabanos enormes aacutereas da Amazocircnia foram devastadas o

que provocou deslocamentos desses grupos populacionais de seus territoacuterios

ancestrais e de populaccedilatildeo Segundo relatos de viajantes desde o seacuteculo XVIII o

territoacuterio dos Satereacute-Maweacute vem sendo paulatinamente reduzido Essa reduccedilatildeo se

deu a partir das tropas de resgate que penetraram grandes aacutereas da Amazocircnia da

implantaccedilatildeo de missotildees jesuiacutetas e carmelitas ao longo dos principais rios

13

Dom Arcacircngelo Bispo Prelado de Parintins de 1980

36

amazocircnicos da ldquobusca desenfreadardquo das drogas do sertatildeo com a exploraccedilatildeo da

borracha durante o seacuteculo XIX e iniacutecio do XX e por fim da ldquoexpansatildeo econocircmica

das cidades de Maueacutes Barreirinha Parintins e Itaituba para o interior dos

municiacutepios alocando fazendas extraindo pau-rosa abrindo garimpos dominando a

economia indiacutegena atraveacutes de regatotildeesrdquo As cidades de Maueacutes Parintins e Itaituba

inclusive foram fundadas sobre restos de malocas dos Satereacute-Maweacute

Cerqua (1980 p265) destaca a localizaccedilatildeo dessa tribo delimitando que ldquoA tribo estaacute

localizada em sua maioria no Alto Andiraacute e no Marau afluente do Rio Maueacutes e sua aacuterea de

cerca de 639500 ha foi demarcada pelo Decreto nordm 76999rdquo Atualmente segundo Teixeira

(apud ALVAREZ 2009) os Satereacute-Maweacute hoje satildeo grupos de 8500 indiacutegenas dos quais 7502

moram na terra indiacutegena Andiraacute-Marau nos municiacutepios de Barreirinha Maueacutes e Parintins e

aproximadamente mil residem em aacutereas urbanas destes municiacutepios Sendo que outro grupo

vive na terra indiacutegena Coataacute-Laranjal junto ao grupo Munduruku e no municiacutepio de Borba

Uggeacute (1993) comenta que os Satereacute-Maweacute sempre tiveram vontade de manter a

proacutepria identidade tribal contudo eram carentes de apoio praacutetico para ajudaacute-los a enfrentar o

perigo do mundo moderno que tentavam ldquoinvadi-losrdquo Ou seja manipulaccedilotildees externas entre a

lideranccedila indiacutegenas dos Satereacute-Maweacute o alcoolismo a dependecircncia a violecircncia dos ldquobrancosrdquo

eram os maiores perigos para este povo Satereacute-Maweacute

Poreacutem o foco de resistecircncia manteve vivo no povo Satereacute aspectos culturais

importantes como o ritual da tucandeira O ritual eacute um marco na vida dos homens porque satildeo

chamados pela formiga (tucandeira) caso o indiacutegena natildeo atenda o chamado a formiga o

levaraacute a loucura ateacute chegar agrave morte A tucandeira eacute uma divindade muito respeitada pelos

Satereacute-Maweacute Em determinado momento da histoacuteria do povo Satereacute-Maweacute o ritual da

tucandeira chegou ao ponto de natildeo ser mais praticado em decorrecircncia da imposiccedilatildeo religiosa

mas apoacutes perceberam a grande perda cultural que isso representaria voltaram a praticaacute-lo a

recuperando como parte de sua cultura

22 Classificaccedilatildeo da liacutengua Satereacute-Maweacute

Segundo Teixeira (2005) a anaacutelise da situaccedilatildeo linguiacutestica do povo Satereacute-Maweacute

baseia-se na concepccedilatildeo defendida por antropoacutelogos e linguistas que a liacutengua se configura

como um importante instrumento da cultura e da identidade de uma populaccedilatildeo

A populaccedilatildeo indiacutegena Satereacute-Maweacute pertence vaacuterios aspectos agrave famiacutelia Linguiacutestica

Tupi Rodrigues (apud ALVAREZ 2009 p17) aborda que a liacutengua da tribo Satereacute-Maweacute eacute a

37

uacutenica liacutengua de uma famiacutelia do tronco Tupi E sua classificaccedilatildeo linguiacutestica como pertencente

ao tronco Tupi foi dada pelo etnoacutegrafo Curt Nimuendajuacute (1948)

A liacutengua Satereacute-Maweacute integra o tronco linguiacutestico Tupi Segundo o etnoacutegrafo Curt

Nimuendajuacute (1948) ela difere do Guarani-Tupinambaacute Os pronomes concordam

perfeitamente com a liacutengua Curuaya-Munduruku e a gramaacutetica ao que tudo indica

eacute tupi O vocabulaacuterio Maweacute conteacutem elementos completamente estranhos ao Tupi

mas natildeo pode ser relacionada a nenhuma outra famiacutelia linguiacutestica Desde o seacuteculo

XVIII seu repertoacuterio incorporou numerosas palavras da liacutengua geral

Os homens atualmente satildeo biliacutengues falando o Satereacute-Maweacute e o portuguecircs mas a

maioria das mulheres apesar de trecircs seacuteculos de contato com os brancos soacute fala a

liacutengua Satereacute-Maweacute (TEIXEIRA 2005 p95)

A liacutengua Satereacute-Maweacute eacute falada tradicionalmente por quase todas as comunidades haacute

mais de 300 anos entretanto foi inevitaacutevel para os indiacutegenas Satereacute-Maweacute conhecer os

haacutebitos e a liacutengua portuguesa devido agrave invasatildeo dos europeus em suas terras no seacuteculo passado

o que causou a mistura de liacutenguas e consequentemente as influecircncias dos padrotildees culturais

natildeo indiacutegenas

Os Satereacute-Maweacute foram entatildeo forccedilados a se refugiarem nas zonas urbanas e ateacute mesmo

em outros estados Outro impacto que alterou o modo de falar dos liacutederes indiacutegenas foi a

necessidade de buscar apoio logiacutestico para suas comunidades principalmente para tratar da

sauacutede de sua populaccedilatildeo que sofria de doenccedilas como malaacuteria tuberculose sarampo e outras

por eles desconhecidas que causaram muitas mortes

Desta forma com o passar dos anos a liacutengua Satereacute-Maweacute sofreu influecircncias lexicais

e fonoloacutegicas do Nheengatu na regiatildeo do Andiraacute Pesquisas realizadas recentemente por

Teixeira (2005) delimitam um perfil linguiacutestico que permite conhecer um pouco mais da

cultura linguiacutestica Satereacute-Maweacute sendo esta considerada por meio da distribuiccedilatildeo geograacutefica e

etaacuteria dos que falam e natildeo falam o idioma Satereacute-Maweacute Desta feita segundo o autor

O idioma Satereacute-Maweacute eacute mais falado na aacuterea do Marau que nas demais (Andiraacute

Uaicurapaacute e Koataacute-Laranjal) Tanto na aacuterea do Andiraacute como no Marau o idioma

materno eacute falado por praticamente todas as comunidades situadas proacuteximo agraves

cabeceira dos rios (Alto Andiraacute e Alto Marau) Para as aacutereas mais proacuteximas das

cidades os falantes atingem a quase totalidade dos moradores do Baixo Marau Jaacute

no baixo Andiraacute esse nuacutemero aumenta bastante nas duas comunidades mais

proacuteximas de Parintins e Barreirinha ou seja Ponta Alegre e Guaranatuba As aacutereas

de povoamento mais recente (Uaicurapaacute Koataacute-Laranjal e mais duas no Andiraacute) tecircm

tendecircncia a apresentar proporccedilotildees menores de falantes do idioma Satereacute-Maweacute

(ibid p95)

38

O autor esclarece que moradores em terras indiacutegenas satildeo mais falantes da Liacutengua

Satereacute-Maweacute do que os que moram proacuteximo ou dentro da aacuterea urbana A pesquisa ainda

mostra agrave necessidade de sensibilizar a comunidade indiacutegena Maweacute sobre a importacircncia da

valorizaccedilatildeo de sua liacutengua agrave recuperaccedilatildeo de suas memoacuterias histoacutericas e a reafirmaccedilatildeo de suas

identidades eacutetnicas

221 Contexto educacional escolar entre os Satereacute-Maweacute

O contexto educacional Satereacute-Maweacute tem como base o reconhecimento constitucional

fundamentado na legislaccedilatildeo em vigor segundo a qual ldquosatildeo reconhecidos aos iacutendios sua

organizaccedilatildeo social costumes liacutenguas crenccedilas e tradiccedilotildees []rdquo

Por isso fundamentos gerais da educaccedilatildeo escolar indiacutegena baseiam-se na proposta do

Referencial Curricular Nacional para Escolas Indiacutegenas (1998) que contempla

Multietnicidade pluralidade e diversidade 2 Educaccedilatildeo e conhecimentos indiacutegenas 3

Autodeterminaccedilatildeo 4 Comunidade educativa indiacutegena 5 Educaccedilatildeo intercultural

comunitaacuteria especiacutefica e diferenciada Assim

Parte do sistema nacional de educaccedilatildeo a escola indiacutegena eacute um direito que deve ser

assegurado por uma nova poliacutetica puacuteblica a ser construiacuteda atenta e respeitosa frente

ao patrimocircnio linguiacutestico cultural e intelectual dos povos indiacutegenas Esse esforccedilo

de projetar uma nova educaccedilatildeo escolar indiacutegena soacute seraacute realmente concretizado com

a participaccedilatildeo direta com os principais interessados ndash os povos indiacutegenas atraveacutes de

suas comunidades educativas [] A participaccedilatildeo da comunidade no processo

pedagoacutegico da escola fundamentalmente na definiccedilatildeo dos objetivos dos conteuacutedos

curriculares e no exerciacutecio das praacuteticas metodoloacutegicas assume papel necessaacuterio para

a efetividade de uma educaccedilatildeo especifica e diferenciada (ibid p24)

Poreacutem para que de fato seja garantida uma educaccedilatildeo diferenciada natildeo eacute suficiente

que somente os conteuacutedos sejam ensinados atraveacutes do uso das liacutenguas maternas mas se faz

necessaacuterio que se incluam os conteuacutedos curriculares propriamente indiacutegenas assim como os

modos proacuteprios de transmissatildeo deste saber Em pesquisa realizada pela revista Amazocircnia

(AMAZONAS 2000) intitulada como ldquoA silenciosa revoluccedilatildeo dos Iacutendiosrdquo o povo Satereacute-

Maweacute foi considerada um dos melhores exemplos para se falar em educaccedilatildeo indiacutegena Tal

afirmaccedilatildeo foi proferida pelo antropoacutelogo Ademir Ramos (professor da Universidade do

Estado do Amazonas) Segundo o entrevistado a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 mudou a

postura em relaccedilatildeo aos iacutendios estabelecendo um processo de educaccedilatildeo diferenciada que

39

fomenta o orgulho de aprender sua lingua tambeacutem no ambiente escolar possibilitando relatos

como o transcrito abaixo

Alunos como Dati 11 da aldeia de Molongotuba carregam com orgulho a cartilha

bdquoMoweeghap onde estatildeo registrados escritos ndash liacutengua Satereacute do tronco tupi e

desenhos de situaccedilotildees do cotidiano das aldeias falando de peixes aves aacutervores e

animais A liacutengua o menino aprendeu a falar com os pais e depois na escola onde

haacute quatro anos aprendeu a escrevecirc-la Aleacutem disso ele tem aprendido tambeacutem a

bdquoliacutengua dos brancos‟

Ainda sobre a importacircncia desta perspectiva educacional em nota o vice-presidente

da organizaccedilatildeo dos professores indiacutegenas Satereacute Gecinaldo Cabral comentou sobre a

mesma enfatizando a relevacircncia do processo educacional na vida dos iacutendios da tribo Satereacute

que por serem biliacutengues satildeo capazes de expressarem e defenderem o seu povo Portanto ao

ensinar a liacutengua nativa agraves crianccedilas promovem o resgate da cultura tradiccedilatildeo e conhecimentos

indiacutegenas Uma educaccedilatildeo diferenciada natildeo resumida na liacutengua majoritaacuteria ou seja Liacutengua

Portuguesa mas na liacutengua proacutepria das etnias E desta forma sendo respeitada a diversidade

cultural de cada povo

Nesta perspectiva Teixeira (2005) em sua pesquisa descreve que a realidade do

contexto educacional escolar do povo Satereacute-Maweacute explicando que

O quadro situacional dos Satereacute-Maweacute no que concerne agrave escolarizaccedilatildeo e agrave

escolaridade apresenta elementos que devem ser entendidos natildeo soacute como resultado

da aplicaccedilatildeo de poliacuteticas educacionais mas tambeacutem como explicitaccedilatildeo de estrateacutegias

poliacuteticas usadas pelos iacutendios na negociaccedilatildeo de visibilidade e reconhecimento no

espaccedilo puacuteblico brasileiro A busca dos Satereacute-Maweacute por escola explicitada na

forma de documentos reivindicatoacuterios enviados ao poder puacuteblico solicitando

recursos para suas escolas demonstrarem os conhecimentos escolares e a

certificaccedilatildeo que a escolaridade concede importantes instrumentos de luta no

processo histoacuterico de construccedilatildeo de sua identidade cultural e de desenvolvimento de

seus projetos sociais (ibid p103)

O autor tambeacutem evidecircncia que a escolarizaccedilatildeo ainda natildeo estaacute alcanccedilando a totalidade

dos Satereacute-Maweacute sendo assim

[] com idade compreendida entre 7 e 24 anos nem nas aacutereas urbanas onde se

verifica o maior percentual de matriacuteculas (839) nem nas terras indiacutegenas (596)

Se forem consideradas as pessoas que tecircm entre 7 e 17 anos de idade os percentuais

sobem bastante mas ainda demonstram a falta de acesso da populaccedilatildeo satereacute-maweacute

agrave escola A pior situaccedilatildeo ocorre na aacuterea indiacutegena onde aproximadamente 13 dos

indiviacuteduos dessa faixa etaacuteria estatildeo fora da escola Na aacuterea urbana o percentual dos

que estatildeo fora eacute de 8 Aparentemente o elevado percentual de pessoas entre 7 e 17

40

anos de idade que estatildeo fora da escola em aacuterea indiacutegena deveria estar relacionado

com a ausecircncia de ensino fundamental de 4ordf a 8ordf seacuterie nas aldeias

No entanto isto eacute apenas uma parte da justificativa pois de 142 pessoas dessa faixa

etaacuteria que natildeo frequentam a escola apenas 32 (225) declararam ter concluiacutedo a

quarta seacuterie do ensino fundamental ou seja poderiam estar fora da escola por falta

do ensino de 5ordf a 8a seacuterie na aacuterea indiacutegena Aleacutem disso 148 crianccedilas entre 7 e 14

anos de idade natildeo frequentam a escola significando que haacute problemas na oferta de

vagas para as crianccedilas satereacute-maweacute na aacuterea indiacutegena Dessas crianccedilas mais da

metade se concentra em apenas 14 aldeias22 das quais 4 compreendendo as

pequenas comunidades de Satildeo Luiacutes Limoal Tigre a Arumatuba no Andiraacute natildeo tecircm

nenhuma crianccedila estudando Na aldeia de Tabatinga no Andiraacute apenas uma das

cinco crianccedilas moradoras estatildeo estudando e na de Santo Antocircnio tambeacutem no

Andiraacute 12 entre 16 crianccedilas de 7 a 14 anos natildeo frequentam a escola(TEIXEIRA

2005 p 104)

Segundo o autor nas cidades de Maueacutes Parintins e Barreirinha a escola frequentada

pelos Satereacute-Maweacute natildeo se define como escola indiacutegena nem tatildeo pouco como especiacutefica ou

diferenciada Talvez seja uma realidade encontrada em todas as escolas indiacutegenas no

Amazonas O que se configura em um problema na medida em que segundo Sobrinho

(2011) a escola esta definida a partir de um modelo da ldquoescola dos brancosrdquo que certamente

altera interferindo diretamente nas questotildees culturais que fazem parte do universo desses

povos gerando assim processo de exclusatildeo O autor ainda comenta que

mesmo diante da resoluccedilatildeo nordm 112011 do Conselho Estadual de Educaccedilatildeo que traz

garantias aos indiacutegenas independentemente de onde vivam ao respeito a sua liacutengua

conhecimentos e tradiccedilotildees proacuteprias nas escolas essa lei passa completamente

despercebida (ibid p 209)

Sobre a questatildeo Teixeira (2005) menciona que nas terras indiacutegenas onde estaacute em

curso a criaccedilatildeo da escola indiacutegena com educaccedilatildeo escolar especiacutefica e diferenciada - as taxas

de escolarizaccedilatildeo deixam evidente que o poder puacuteblico tem investido somente nas seacuteries

iniciais do ensino fundamental o qual apresenta o percentual de 871 de taxa liacutequida de

escolarizaccedilatildeo ou seja natildeo haacute oferta regular para as seacuteries finais do ensino fundamental nem

de ensino meacutedio Isso sem relatar a falta de formaccedilatildeo de professores indiacutegenas entre outros

fatores conforme Franceschini apresenta

A necessidade de formaccedilatildeo especiacutefica e diferenciada de nuacutemero maior de

professores principalmente para atuar nos segmentos mais adiantados do Ensino

Fundamental a implantaccedilatildeo de mais turmas de 6ordm ao 9ordm anos e do Ensino Meacutedio na

aacuterea indiacutegena construccedilatildeo-reflexatildeo do Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico das escolas

Satereacute-Maweacute associada a uma praacutetica pedagoacutegica condizente e a construccedilatildeo de

material didaacutetico proacuteprio satildeo necessidades urgentes do povo Satereacute-Maweacute Pois

apesar da legislaccedilatildeo vigente dar aos indiacutegenas o direito de escolherem seu modelo

educacional e ensinarem sua liacutengua e etnoconhecimentos na maioria das escolas das

41

comunidades Satereacute-Maweacute o modelo educacional adotado natildeo se diferencia muito

do modelo das escolas rurais da regiatildeo sendo que a liacutengua e os etnoconhecimentos

indiacutegenas natildeo constituem de fato conhecimentos que fazem parte do programa

educacional e que satildeo trabalhados de forma sistemaacutetica na escola (2012 p5)

Portanto os resultados apresentados pelo pesquisador comprovam que as accedilotildees

governamentais para educaccedilatildeo escolar indiacutegena estatildeo distantes de cumprir na sua plenitude

preceitos constitucionais o que implica em prejuiacutezo natildeo soacute na educaccedilatildeo escolar indiacutegena

como na proacutepria cultura desse povo

42

3 METODOLOGIA IMPLEMENTADA NA PESQUISA

A metodologia utilizada neste trabalho deu iniacutecio com o estudo bibliograacutefico e

pesquisa de campo Realizou-se uma investigaccedilatildeo primeiramente sobre os estudos surdos na

perspectiva linguiacutestica e cultural a posteriormente na literaturas e estudos sobre os iacutendios da

etnia Satereacute-Maweacute tomando como princiacutepio a origem os fundamentos e a histoacuteria do povo e

da Liacutengua Satereacute-Maweacute Na sequecircncia a concretizaccedilatildeo da pesquisa de campo com a

investigaccedilatildeo do objeto de estudo o iacutendio surdo e sua situaccedilatildeo sociolinguiacutestica da etnia Satereacute-

Maweacute

Figura 1 ndash Croqui da aacuterea e localidade da pesquisa

Fonte Mapa do Estado do Amazonas Censo 2010 ndash IBGE

Organizado por Vicente de Paulo Silva de Azevedo

31 Aacuterea e localidade da pesquisa

A proposta do processo investigativo para o mapeamento do objeto da pesquisa foi

demarcada delimitando a aacuterea do campo da pesquisa a Microrregiatildeo de Parintins A

Microrregiatildeo de Parintins (AMAZONAS 2012) eacute constituiacuteda por Barreirinha Boa Vista do

Ramos Maueacutes Nhamundaacute Parintins Satildeo Sebastiatildeo do Uatumatilde e Urucaraacute Vale ressaltar que

natildeo foi coberta pela pesquisa a populaccedilatildeo Satereacute-Maweacute residente em Manaus (AM)

43

32 Estrateacutegias gerais para a realizaccedilatildeo da coleta de dados

Primeiramente foi feita uma busca de dados pelo IBGE o qual informou que natildeo

havia qualquer registro sobre a populaccedilatildeo indiacutegena de surdos Sem resultado satisfatoacuterio foi

organizado um cronograma de viagens

A primeira viagem foi para o municiacutepio de Parintins onde foi feita uma visita na casa

de um iacutendio para possiacutevel coleta de dados Poreacutem o cacique Sr Luiz de Oliveira infelizmente

tambeacutem comunicou a falta desse dado na comunidade Portanto foi exposto a esse liacuteder o

objetivo da referida pesquisa apresentando assim a importacircncia da comunicaccedilatildeo entre os

seres humanos e interaccedilatildeo entre os diferentes modos linguiacutesticos de convivecircncia social e

educacional

O cacique prontamente mostrou-se aberto a contribuir para que a pesquisa fosse

concretizada Assim sendo iniciou-se a trajetoacuteria do levantamento de iacutendios surdos e sua

forma de comunicaccedilatildeo como tambeacutem seu contexto educacional escolar

Ao retornar a Manaus buscou-se apoio agraves instituiccedilotildees representativas com a visita agrave

sede da Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio ndash FUNAI oacutergatildeo responsaacutevel pelas accedilotildees indiacutegenas a

qual informou que se fazia necessaacuterio uma autorizaccedilatildeo para dar seguimento agrave pesquisa Logo

providecircnciou-se o documento requerido na Coordenaccedilatildeo de Educaccedilatildeo Indiacutegena localizada no

municiacutepio de Barreirinha

Ao chegar agrave cidade de Barreirinha um novo contato foi estabelecido com o

Coordenador indiacutegena o Sr Santino Lopes de Oliveira que se mostrou receptivo com o

projeto e se dispocircs prontamente a colaborar

Com a autorizaccedilatildeo e aprovaccedilatildeo das autoridades indiacutegenas e de posse do documento

houve o comprometimento de que seguiria as normas estabelecidas que disciplinam o

ingresso em terras indiacutegenas pela entidade (ANEXO A) Assim foi possiacutevel sistematizar os

procedimentos para a coleta de dados

33 Procedimentos da coleta

A coleta de dados foi realizada de acordo com o cronograma estabelecido para esta

etapa da pesquisa O procedimento metodoloacutegico usado para a coleta de dados foi

fundamentado em meacutetodo misto por meio de observaccedilotildees questionamento participaccedilotildees em

reuniotildees com representantes da lideranccedila indiacutegena local conversas informais e espontacircneas

44

com famiacutelias e comunidade indiacutegena Satereacute-Maweacute Utilizou-se como instrumento para

coleta caderno de registro de campo fotos filmagens gravaccedilotildees e questionaacuterio (ANEXO B)

34 Articulaccedilatildeo local

O primeiro passo foi estabelecer parcerias com colaboradores ou seja lideranccedilas

indiacutegenas professores indiacutegenas professores da rede puacuteblica inteacuterpretes oacutergatildeos ligados agraves

causas indiacutegenas alunos da Universidade do Estado Amazonas As instituiccedilotildees

representativas educacionais tambeacutem colaboraram telefonando ou perguntando para outras

pessoas sobre a existecircncia de indiacutegenas surdos e locais de suas residecircncias

A participaccedilatildeo das lideranccedilas indiacutegenas como os professores e colaboradores que

apoiaram e permitiram entrar em suas terras para fazer o levantamento foi de extrema

importacircncia pois muito contribuiacuteram nas traduccedilotildees das palavras indiacutegenas para a Liacutengua

Portuguesa

35 Abordagem ao objeto da pesquisa

Em cada viagem agraves comunidades primeiramente fazia-se contato com o tuxaua com

a finalidade de apresentar o objetivo da pesquisa Desta forma era explicado para eles a

importacircncia da contribuiccedilatildeo que o estudo poderia trazer agravequela comunidade Por meio da

autorizaccedilatildeo concedida obtinha-se a colaboraccedilatildeo para a coleta de dados junto ao objeto da

pesquisa Jaacute as abordagens feitas em ambiente familiar tambeacutem era solicitado o consentimento

para a realizaccedilatildeo da pesquisa Com permissatildeo concedida iniciamos as observaccedilotildees e

intervenccedilotildees Com devida autorizaccedilatildeo utilizaacutevamos para registro cacircmeras fotograacuteficas e em

seguida registraacutevamos no caderno de campo da pesquisa (ANEXO CC-1 e C-2)

45

4 MAPEAMENTO DOS IacuteNDIOS SURDOS DA ETNIA SATEREacute-MAWEacute NA

MICRORREGIAtildeO DE PARINTINS E SUA REALIDADE LINGUIacuteSTICA E

EDUCACIONAL ESCOLAR

No Brasil haacute uma diversidade de etnias indiacutegenas Rodrigues (2002) satildeo mais de 170

liacutenguas faladas e dialetos pelos povos indiacutegenas Estas liacutenguas satildeo distribuiacutedas em dois

grandes troncos linguiacutesticos

[] o Tupi (dividido em 10 famiacutelias) e o Macro-Jecirc (dividido em 9 famiacutelias) e de

outras 20 famiacutelias linguumliacutesticas natildeo classificadas em troncos Apenas nove liacutenguas

indiacutegenas tecircm acima de 5000 falantes guajajara (satereacute-) maueacute xavante

ianomacircmi terena macuxi caingangue ticuna e guarani estes uacuteltimos com 30000

indiviacuteduos Cerca de 110 liacutenguas contam com menos de 400 falantes 14

Entretanto em meio a essa diversidade linguiacutestica poucos satildeo documentados

Pesquisadores e grupos indiacutegenas tentam um reavivamento eacutetnico e linguiacutestico

documentando-os para salvar sua liacutengua seu idioma

Diante do exposto a uacutenica liacutengua de sinais indiacutegena registrada eacute a utilizada pela etnia

indiacutegena brasileira dos Urubu-Kaapor como jaacute mencionada anteriormente Pesquisas no Mato

Grosso do Sul em aldeias indiacutegenas apresentaram a existecircncia de iacutendios surdos que utilizam

sinais emergentes ainda natildeo registrados propriamente como uma liacutengua

Pouco registro tem-se encontrado sobre iacutendios surdos muito menos sobre a liacutengua ou

a forma desses sujeitos se comunicarem De acordo com dados do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatiacutestica (IBGE) natildeo haacute registros sobre iacutendios surdos nem no Anuaacuterio

Estatiacutestico do Amazonas do IBGE tatildeo pouco na Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio (FUNAI)

sendo portanto necessaacuteria uma pesquisa in loco para a busca desses dados

Eacute importante destacar que a pessoa surda natildeo nasce com a incapacidade de falar ou

seja a pessoa surda natildeo eacute muda natildeo fala por natildeo poder ouvir a ldquo[] A surdez natildeo estaacute

absolutamente vinculada agrave mudez []rdquo (RAMOS apud STROBEL 2008 p34)

Por isso as teorias da aquisiccedilatildeo da linguagem humana justificam como o ser humano

(re)inventa modos para expressar suas necessidades e formas de ver o mundo realizando a

comunicaccedilatildeo com seus pares

14

Classificaccedilatildeo das Liacutenguas Indigenas Brasileiras segundo Aryon Rodrigues (2002) Disponiacutevel em

lthttpwwwgeocitieswsindiosbr_nicolaiclassifhtmlgt

46

Partindo dessa percepccedilatildeo este estudo apresenta uma contribuiccedilatildeo de informaccedilotildees

cientiacuteficas que seratildeo um acreacutescimo aos conhecimentos existentes sobre a comunicaccedilatildeo dos

surdos indiacutegenas

41 Mapeamento da existecircncia dos iacutendios surdos na microrregiatildeo de Parintins

Conhecer os indiviacuteduos sujeitos da pesquisa ndash iacutendios surdos Satereacute-Maweacute - eacute a fase

fundamental deste estudo pois dessa forma eacute possiacutevel compreender a forma predominante de

comunicaccedilatildeo deles para poder elaborar material concreto ndash dicionaacuterio triliacutengue - pertinente

para auxiliar na forma da comunicaccedilatildeo deles com a sua etnia atraveacutes da liacutengua desse povo

indiacutegena Nesta seccedilatildeo estatildeo apresentados os dados que constituem um mapeamento da

quantidade de indiviacuteduos surdos que estatildeo inseridos no contexto de Parintins Barreirinha

Boa Vista do Ramos e Maueacutes locais estes onde haacute maior contato com etnia foco deste estudo

Abaixo segue o histoacuterico do municiacutepio de Parintins e demais microrregiotildees citadas na

pesquisa15

411 Histoacuterico de Parintins

Parintins eacute um municiacutepio brasileiro situado no interior do estado do Amazonas

proacuteximo agrave divisa com o estado do Paraacute Regiatildeo Norte do paiacutes Estaacute situado na mesorregiatildeo do

Centro Amazonense e microrregiatildeo de mesmo nome e localiza-se a leste da capital do estado

distando desta cerca de 370 quilocircmetros Com uma populaccedilatildeo estimada em 2012 pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 103 828 habitantes sendo o segundo

mais populoso do estado do Amazonas que tem uma aacuterea de 5 952 kmsup2 representando

03789 do Estado do Amazonas 01545 da regiatildeo Norte brasileira e 00701 do territoacuterio

brasileiro8

Desse total 12 4235 kmsup2 estatildeo em periacutemetro urbano

O municiacutepio de Parintins como quase todos os demais municiacutepios brasileiros foi

primitivamente habitado por indiacutegenas Sua descoberta ocorreu em 1749 quando descendo o

rio Amazonas o explorador Joseacute Gonccedilalves da Fonseca notou uma ilha que por sua extensatildeo

se sobressaiacutea das outras localizadas agrave direita do grande rio As primeiras viagens exploratoacuterias

da Coroa Portuguesa em Parintins foram registradas somente em 1796 A fundaccedilatildeo da

15

O histoacuterico de Parintins e demais microrregiotildees estatildeo disponiacuteveis no site lthttpptwikipediaorgwiki_Parintinsgt

47

localidade em 1796 foi feita por Joseacute Pedro Cordovil que veio com seus escravos e

agregados para se dedicar agrave pesca do pirarucu e agrave agricultura chamando-a Tupinambarana A

rainha D Maria I deu-lhe a ilha de presente Ali instalado fundou uma fazenda de cacau

dedicando-se agrave cultura desse produto em grande escala Tupinambarana foi aceita e elevada agrave

missatildeo religiosa em 1803 pelo capitatildeondashmor do Paraacute o Conde dos Arcos que incumbiu sua

direccedilatildeo ao frei Joseacute das Chagas passando a ser denominada como a Vila Nova da Rainha

O primeiro nome recebido por Parintins jaacute na categoria de Freguesia foi Nossa

Senhora do Carmo de Tupinambarana em 1833 O nome da Freguesia soacute foi alterado em

1880 quando a sede passou a chamar-se ldquoParintinsrdquo em homenagem aos povos indiacutegenas

Parintintins um dos inuacutemeros que habitavam a regiatildeo

A eficiente atuaccedilatildeo de frei Joseacute provocou um surto de progresso e desenvolvimento na

localidade mediante a organizaccedilatildeo da comarca do Alto Amazonas Em 25 de julho de 1833

passa agrave freguesia com o nome de Freguesia de Nossa Senhora do Carmo de Tupinambarana

Era ainda Tupinambarana simples freguesia quando iniciou a revoluccedilatildeo dos Cabanos no Paraacute

e se alastrou por toda a proviacutencia O seu vigaacuterio padre Torquato Antocircnio de Souza teve

atuaccedilatildeo destacada durante a sediccedilatildeo servindo de delegado dos legalistas no Baixo Amazonas

Tupinambarana talvez porque estivesse bem defendida foi poupada aos ataques dos

Cabanos

Em 24 de outubro de 1848 a lei provincial do Paraacute nordm 146 elevou a freguesia agrave

categoria de vila com a denominaccedilatildeo de Vila Bela da Imperatriz e constituiu o municiacutepio ateacute

entatildeo ligado a Maueacutes Em 15 de outubro de 1852 pela lei nordm 02 foi confirmada a criaccedilatildeo do

municiacutepio Em 14 de marccedilo de 1853 deu-se a instalaccedilatildeo do municiacutepio de Parintins Em 24 de

agosto de 1858 foi criada pela lei provincial a comarca compreendendo os termos judiciaacuterios

de Vila Bela da Imperatriz e Vila Nova da Conceiccedilatildeo Em 30 de outubro de 1880 pela lei

provincial nordm 499 a sede do municiacutepio recebeu foros de municiacutepio e passou a denominar-se

Parintins Em 1881 foi desmembrado do municiacutepio de Parintins o territoacuterio que constituiu o

municiacutepio de Vila Nova de Barreirinha

A divisatildeo administrativa de 1911 figurou o municiacutepio com quatro distritos Parintins

Paranaacute de Ramos Jamundaacute e Xibuiacute Em 1933 aparece no quadro da divisatildeo administrativa

com um distrito apenas ndash o de Parintins Em 1 de dezembro de 1938 pelo decreto-lei estadual

nordm 176 eacute criado o distrito da Ilha das Cotias passando assim o municiacutepio a constituir-se de

dois distritos Parintins e Ilha das Cotias

Pela lei estadual nordm 226 de 24 de agosto de 1952 a comarca de Parintins perdeu os

termos judiciaacuterios de Barreirinha e Urucaraacute que foram transformados em comarcas Em 19 de

48

dezembro de 1956 a lei estadual nordm 96 desmembrou o municiacutepio de Parintins o distrito da

Ilha das Cotias que passou a constituir o municiacutepio de Nhamundaacute Em 10 de dezembro de

1981 a emenda constitucional nordm 12 eacute acrescido o territoacuterio de Parintins ao distrito de

Mocambo

O primeiro municiacutepio pesquisado eacute considerado o centro da microrregiatildeo Parintins

Segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 2103 a

populaccedilatildeo eacute de 109225 habitantes16

nesta localidade A Microrregiatildeo de Parintins eacute uma das

microrregiotildees do estado brasileiro do Amazonas pertencente agrave Mesorregiatildeo do Centro

Amazonense Estaacute dividida em sete municiacutepios Barreirinha Boa Vista do Ramos Maueacutes

Nhamundaacute Parintins Satildeo Sebastiatildeo do Uatumatilde e Urucaraacute De acordo com estimativas do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) a populaccedilatildeo da microrregiatildeo era de 262

719 habitantes em 2013

Seus municiacutepios limiacutetrofes satildeo Nhamundaacute ao norte Barreirinha ao sul Urucurituba ao

leste e os municiacutepios de Terra Santa e Juruti no estado do Paraacute O limite territorial entre

Parintins e Nhamundaacute se inicia na margem esquerda do rio Amazonas subindo este rio ateacute a

Barreira do Pauraacute A Serra de Parintins eacute usada para delimitar o fim dos limites territoriais

deste municiacutepio com Nhamundaacute Para delimitar os limites territoriais entre Parintins e

Barreirinha usa-se o divisor de aacuteguas dos rios Andiraacute-Uaicuparaacute juntamente com a linha

geodeacutesica que limita os estados do Amazonas e Paraacute Jaacute os limites territoriais com

Urucurituba satildeo iniciados no lago Arapapaacute no Paranaacute de Urucurituba Com o Estado do Paraacute

o limite tem iniacutecio na boca do igarapeacute do Valeacuterio na margem direita do rio Amazonas

Parintins eacute uma cidade marcada pelos traccedilos culturais poliacuteticos e econocircmicos

herdados dos portugueses espanhoacuteis italianos e tambeacutem dos japoneses tendo em vista que a

cidade possuiu uma relevante colocircnia destes imigrantes Natildeo se pode esquecer a importacircncia

dos ameriacutendios no quesito contribuiccedilatildeo eacutetnica Foram os ameriacutendios que iniciaram a ocupaccedilatildeo

humana na Amazocircnia e seus descendentes caboclos desenvolveram-se em contato iacutentimo com

o meio ambiente adaptando-se agraves peculiaridades regionais e oportunidades oferecidas pela

floresta

A cidade eacute um importante centro educacional de niacutevel meacutedio e superior do Estado do

Amazonas A cidade possui um dos mini-campus do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)

que oferece cursos em diferentes niacuteveis ensino meacutedio e ensino teacutecnico

16

Disponiacutevel emlthttpcidadesibgegovbrxtrastemasamazonas|parintins|estimativa-da-populacao-2013gt

Acesso em 28072014

49

Universidades puacuteblicas

- Universidade do Estado do Amazonas (UEA) eacute uma instituiccedilatildeo puacuteblica estadual de

ensino superior que oferece mais de vinte cursos distribuiacutedos em dezessete cidades

amazonenses (Parintins Manaus Presidente Figueiredo Itacoatiara Carauari Tabatinga

Tefeacute Laacutebrea Boca do Acre Coari Eirunepeacute Humaitaacute Manicoreacute Manacapuru Novo

Aripuanatilde Maueacutes e Satildeo Gabriel da Cachoeira) Foi criada pela lei estadual nordm 2637 de 12 de

janeiro de 2001 que proporcionou agraves fundaccedilotildees educacionais de ensino superior instituiacutedas

pelo Estado Em Parintins o Centro de Estudos Superiores (UEA) possui os cursos

Pedagogia Histoacuteria Geografia Fiacutesica Matemaacutetica Letras Portuguesa Quiacutemica Ciecircncias

Bioloacutegicas Tecnologia em Turismo Direito Sauacutede Coletiva Ciecircncias Econocircmicas e

Tecnologia em Gestatildeo Puacuteblica

- Instituto Federal do Amazonas (IFAM) O Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e

Tecnologia do Amazonas foi criado mediante integraccedilatildeo do Centro Federal de Educaccedilatildeo

Tecnoloacutegica do Amazonas e das Escolas Agroteacutecnicas Federais de Manaus e de Satildeo Gabriel

da Cachoeira

- Universidade Federal do Amazonas (UFAM) Instalada no municiacutepio desde 2007

possui os seguintes cursos Serviccedilo Social Comunicaccedilatildeo Social - Jornalismo Administraccedilatildeo

Organizacional Pedagogia Zootecnia Educaccedilatildeo Fiacutesica e Artes Plaacutesticas

No setor de educaccedilatildeo e capacitamento profissional o municiacutepio aleacutem de dispor de

uma ampla rede de escolas (estaduais municipais e privadas) conta com um campus da

Universidade do Estado do Amazonas e algumas faculdades privadas com diversos cursos

superiores ofertados Dispotildee ainda de unidades do SENAI SENAC e SESI e em funccedilatildeo

disso os iacutendices de alfabetizaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo profissional dos municiacutepios estatildeo em

crescimento

A cidade de Parintins eacute o local onde foram feitos os contatos frequentes com os

indiacutegenas da etnia Satereacute-Maweacute porque buscam as casas bancaacuterias para receberem os

benefiacutecios sociais tambeacutem buscam as escolas com ensino de todos os niacuteveis inclusive as

universidades puacuteblicas para as crianccedilas e jovens Outro fator eacute que tem um comeacutercio

desenvolvido em que podem adquirir seus bens de consumo aleacutem de ser de faacutecil acesso aos

demais centros da regiatildeo e do paiacutes atraveacutes dos diferentes meios comunicaccedilatildeo e transporte

Por isso o mapeamento foi iniciado nesta regiatildeo

Apesar de ter um nuacutemero consideraacutevel de habitantes os oacutergatildeos ligados agrave causa

indiacutegena natildeo dispotildeem de dados informativos sobre o objeto da pesquisa em meio agrave estimativa

populacional do municiacutepio mesmo assim outro oacutergatildeo foi procurado para que pudesse

50

fornecer algum dado ligado ao sujeito surdo da etnia Satereacute-Maweacute A instituiccedilatildeo pesquisada

foi a Escola de Aacuteudio Comunicaccedilatildeo ldquoPadre Paulo Mannardquo Esta eacute uma instituiccedilatildeo educacional

mantida pela Diocese de Parintins por meio de sua atual gestora a Professora Zilda Tavares

Atraveacutes desta colaboradora foram coletadas informaccedilotildees sobre os alunos indiacutegenas surdos da

etnia Satereacute-Maweacute que ali estudam ou estudaram que satildeo a seguir descritas

Embora a escola tivesse o conhecimento da existecircncia de dois indiacutegenas surdos da

etnia Satereacute-Maweacute apenas um se encontra matriculado na escola Eacute uma menina de seis anos

de idade cursando o preacute-escolar Para informaccedilotildees consistentes foi solicitado o contato

tambeacutem com a famiacutelia da aluna Ao contatar os pais foi feita uma abordagem por meio de

questionaacuterio mas diante das dificuldades encontradas por natildeo serem alfabetizados na liacutengua

nativa nem na liacutengua Portuguesa os dados utilizados satildeo resultante de entrevistas

assistemaacuteticas (conversas informais)

Os familiares tecircm papeacuteis importantes na formaccedilatildeo da linguagem da crianccedila Eacute atraveacutes

deles que acontece a formaccedilatildeo da identidade social e cultural desse sujeito em

desenvolvimento Satildeo eles que repassam o modo de vida os costumes e outros aspectos

sociais com os seus exemplos e empreendendo a funccedilatildeo da linguagem verbal atraveacutes de

relaccedilotildees dialoacutegicas que ativam a percepccedilatildeo do ser em maturaccedilatildeo no meio familiar Na visatildeo

de Ponzio (et al 2007 p 177)

Uma das funccedilotildees da linguagem verbal eacute a identificaccedilatildeo identificaccedilatildeo dos objetos

mediante um processo de modelaccedilatildeo e de articulaccedilatildeo da realidade que varia de

liacutengua para liacutengua identificaccedilatildeo de sujeito enquanto falante do sujeito do discurso

do tema do outro ao qual esse discurso se dirige de uma espeacutecie de bdquoauditoacuterio

universal‟ a que de modo geral se recorre na argumentaccedilatildeo identificaccedilatildeo de uma

comunidade e da pertenccedila ou da natildeo pertenccedila a esta etc

Um resumo histoacuterico sobre a referida indiacutegena aponta que a famiacutelia residia na

comunidade indiacutegena Ponta Alegre no Rio Andiraacute municiacutepio de Barreirinha Migraram para

a zona urbana em busca de condiccedilotildees para uma melhor qualidade de vida Ao descobrirem a

surdez da filha mudaram-se para a cidade de Parintins Declararam que a forma de se

comunicarem com a filha eacute por meio de gestos criados pela famiacutelia e a crianccedila pois natildeo

sabem a Liacutengua de Sinais

Analisa-se neste contexto a situaccedilatildeo complexa pela qual essa famiacutelia passou para se

entender com a ela posto que se esperasse que a crianccedila dominasse o sistema linguiacutestico que

usam para a comunicaccedilatildeo com os pares atraveacutes da liacutengua natural da etnia Este eacute um fato que

ocorre com as famiacutelias onde natildeo existe o desenvolvimento natural da fala

51

Considere-se assim que a liacutengua eacute adquirida a qual se manifesta em todas as

circunstacircncias normais no conhecimento de uso em processo de audiccedilatildeo desde o nascimento

os quais vatildeo tomando forma de significante e significado enquanto se distingue cada unidade

lexical do todo que existe no meio onde se estaacute inserido Para Lyons ldquoo termo aquisiccedilatildeo da

linguagem eacute normalmente usado sem ressalvas para o processo que resulta no conhecimento

da liacutengua nativa (ou liacutenguas nativas)rdquo (1987 p 231)

Neste caso para a crianccedila em evidecircncia deveria ser propiciado o ensino da Libras

como liacutengua para mediar a comunicaccedilatildeo o mais breve possiacutevel na medida em que ela estaacute

com idade proacutexima da faixa etaacuteria limite de aquisiccedilatildeo sem acarretar prejuiacutezos para o seu

desenvolvimento conforme explica teoria gerativista17

da aquisiccedilatildeo da linguagem proposta

por Lennenberg (1967)

[] a existecircncia de um periacuteodo criacutetico para a quisiccedilatildeo da linguagem tendo como

pressuposto a ideia de que esta eacute inata O periacuteodo criacutetico se iniciaria por volta dos

dois anos e se encerraria por volta da puberdade Esse periacuteodo eacute chamado de criacutetico

porque seria aquele mais sensiacutevel agrave aquisiccedilatildeo da linguagem[] concluiacutendo que o

cereacutebro humano inicialmente tem representaccedilatildeo bilateral das funccedilotildees da linguagem

e mediante o processo de aquisiccedilatildeo na puberdade apenas o hemisfeacuterio se torna

mais dominante em relaccedilatildeo a elas completando o periacuteodo de aquisiccedilatildeo Caso a

crianccedilas natildeo adquira a linguagem nesse periacuteodo seu desenvolvimento linguiacutestico

seraacute prejudicado (apud QUADROS 2008 p 78)

Deste modo no caso a crianccedila surda esta precisa aprender a liacutengua nativa de uma

forma diferenciada adequando-se os siacutembolos agraves formas visuais se natildeo apresentar esta

carecircncia tambeacutem posto que a faculdade da linguagem do ser humano eacute inata conforme

Chomsky esclarece (apud PONZIO etal 2007)

Trata-se de determinar agrave natureza do patrimocircnio bioloacutegico que constitui a bdquofaculdade

da linguagem‟ do ser humano o componente inato do conjunto menteceacuterebro que

uma vez tendo entrado em contato com a experiecircncia linguiacutestica produz o

conhecimento da linguagem isto eacute converte a experiecircncia em um sistema de

conhecimento (p 143)

O segundo indiacutegena surdo da etnia Satereacute-Maweacute havia sido transferido da escola Padre

ldquoPaulo Mannardquo para a Escola Estadual ldquoBrandatildeo de Amorimrdquo Segundo as informaccedilotildees da

famiacutelia ele nasceu na aacuterea indiacutegena de Ponta Alegre Poreacutem quando pequeno sua famiacutelia se

17

A teoria gerativista pressupotildee a existecircncia de um mecanismo inato responsaacutevel pela aquisiccedilatildeo da linguagem

denominado Gramaacutetica Universal (GU) tendo como responsaacutevel por essa concepccedilatildeo que caracteriza-se pela

elucidaccedilatildeo da natureza das linguas naturais Chomsky

52

mudou para zona urbana de Parintins Ele cresceu longe da cultura indiacutegena sem contato com

a liacutengua de sua etnia por estar fora desse contexto Por outro lado natildeo aprendeu a liacutengua

falada em seu entorno na medida em que natildeo pode na prendecirc-la de forma natural por natildeo

ouvir assim por natildeo ter domiacutenio da cultura da etnia deve aprender a liacutengua de sinais

inserindo os signos que significam as palavras do seu leacutexico atraveacutes de instruccedilatildeo especial

com a mediaccedilatildeo de algueacutem que tenha o conhecimento das duas formas de comunicaccedilatildeo Para

Lyons (1987) esses aprendizes adquirem habilidades comunicativas rapidamente pois o

progresso que alcanccedilam eacute pelo menos agraves vezes tatildeo raacutepido que como observam tanto os pais

quanto os pesquisadores eacute difiacutecil manter um registro compreensivo e sistemaacutetico do seu

processo de aprendizado Como tambeacutem eacute no total independente de inteligecircncia e de

diferenccedilas do meio social e cultural

A capacidade da pessoa para construir enunciados vai tomando forma agrave medida que

consegue compreender a relaccedilatildeo entre significante e significados dos signos com os quais tem

contato Por isso os indiacutegenas surdos podem ser beneficiados com um material escrito

triliacutengue Este pode constituir-se em um material de apoio para a aprendizagem das trecircs

liacutenguas sendo que a liacutengua de sinais eacute perspectivada como L1

O terceiro caso identificado eacute de um iacutendio surdo jaacute adulto da comunidade Uiacurapaacute

da etnia Maweacute As informaccedilotildees datildeo conta que ele se comunica por meio de gestos criados por

ele e os pares com quem tem relaccedilatildeo Poreacutem natildeo haacute dados detalhados pois natildeo foi possiacutevel

contato com o mesmo porque ele vive isolado sobrevivendo de caccedila e pesca em comunidade

rural indiacutegena Fato este que implica diretamente no aperfeiccediloamento da forma de

comunicaccedilatildeo desse sujeito posto que ldquoos fenocircmenos ambientais podem agir diretamente

sobre a pessoa ou individualmente atraveacutes de repasse de experiecircncias vividas pela sociedade

atraveacutes da linguagem veiculada pela liacutenguardquo (OLIVEIRA 2005 p134)

Assim estaacute constituiacuteda a populaccedilatildeo de indiacutegenas surdos que fazem parte da

microrregiatildeo de Parintins que se podem fazer os devidos registros neste estudo

412 Histoacuterico de Barreirinha

O municiacutepio de Barreirinha pertence a Mesorregiatildeo da Microrregiatildeo de Parintins que

estaacute localizado a leste de Manaus Capital do Estado distanciando cerca de 331 quilocircmetros

E ao norte de Parintins o municiacutepio de Barreirinha juntamente com Maueacutes satildeo principais

municiacutepios que possuem a maior populaccedilatildeo de indiacutegenas localizados nos rios Andiraacute e o

Marau Portanto sendo o municiacutepio como a sede urbana das comunidades inseridas os surdos

53

indiacutegenas vem apenas em busca de tratamento meacutedico quando necessitam ou para atividades

sociais acompanhados de seus pais mas na zona urbana natildeo localizamos nenhum indiacutegena

surdo

Barreirinha foi o segundo municiacutepio pesquisado E segundo o IBGE em 2013 a

populaccedilatildeo era de 29737 habitantes18

sendo o vigeacutesimo segundo municiacutepio mais populoso do

Estado do Amazonas e o terceiro de sua microrregiatildeo

Este muniacutecipio conta com um setor especiacutefico das causas indiacutegenas a Coordenaccedilatildeo

Iacutendiacutegena Satereacute-Maweacute sob responsabilidade do coodernador geral SrSantino Lopes Este

tornou possiacutevel o acesso agrave comunidade indiacutegena de Ponta Alegre no Rio Andiraacute Foi na

Escola Municipal Professora ldquoRosa Cabralrdquo que foi identificado um indiacutegena surdo da etnia

Satereacute-Maweacute um menino de 12 anos matriculado na 3ordf ano do ensino fundamental Nesse

contexto foi possiacutevel observar sua forma de se comunicar com as demais pessoas que faziam

parte do seu meio social Outros dados referente a relaccedilotildees familiares deste natildeo estatildeo

disponiacuteveis na medida em que natildeo foi possiacutevel fazer contato com sua famiacutelia Desta forma

permanece uma lacuna de respostas referente a esse aluno posto que

De uma forma geral e em regra a socializaccedilatildeo da crianccedila no mundo civilizado

comeccedila dentro de uma famiacutelia nuclear constituiacuteda de pai matildee e irmatildeos quando

existem Durante os primeiros anos da infacircncia adquire traccedilos culturais (menores

unidades de cultura) atraveacutes das pessoas da famiacutelia que satildeo reflexo da sociedade

onde vivem (OLIVEIRA 2005)

Entende-se que atraveacutes de informaccedilotildees que poderiam ser fornecidas pela famiacutelia

deveria ser esclarecido como ocorre a socializaccedilatildeo da crianccedila nesse contexto e de que modo

aprenderam a se comunicar com ela que estrateacutegias foram utilizadas para que ela conseguisse

ser alfabetizada

413 Histoacuterico de Maueacutes

Este municiacutepio que tambeacutem pertence agrave Mesorregiatildeo do Centro Amazonense e

Microrregiatildeo de Parintins tem uma populaccedilatildeo de 54079 habitantes conforme as estimativas

do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) A cidade eacute reconhecida

nacionalmente por possuir uma das maiores expectativas de vida do paiacutes

18

Disponiacutevel emlthttpcidadesibgegovbrxtrastemasamazonas|barreirinha|estimativa-da-populacao-2013gt

Acesso em 28072014

54

Na margem direita do Rio Maueacutes-Accedilu Maueacutes foi fundada em 1798 por Luiz Pereira

da Cruz e Joseacute Rodrigues Preto agrave distacircncia de 268 km em linha reta e 356 km pela via

fluvial de Manaus O calendaacuterio festivo do municiacutepio conteacutem as datas festivas municipais

em homenagem agrave Satildeo Sebastiatildeo (10 a 20 de janeiro) ao Divino Espiacuterito Santo (22 a 30 de

maio) agrave Satildeo Pedro (27 a 30 de junho) agrave padroeira Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo (01 a 8 de

dezembro) assim como a Festa do Carnaval Popular (21 a 24 de fevereiro) do aniversaacuterio do

municiacutepio (26 a 27 de junho) da Ilha de Vera Cruz (23 a 25 de julho) do Veratildeo (de 05 a 7 de

setembro) da Feira Industrial (06 a 8 de novembro) e do Guaranaacute (em novembro)

Sobre a origem do nome deste municiacutepio observa-se que inicialmente foi

denominada Luseia e progredindo com o tempo transformou-se em missatildeo carmelita com

nome de Maueacutes O liacuteder nessa eacutepoca foi o frei Joaquim de Santa Luzia Por um decreto de 25

de junho de 1833 a missatildeo foi considerada vila sob a invocaccedilatildeo de Nossa Senhora da

Conceiccedilatildeo de Luseia Em 1853 pela lei nordm 25 de 3 de dezembro da iniciativa do Deputado

Marcos Antocircnio Rodrigues de Souza a vila tornou-se cidade chamada Satildeo Marcos de

Mundurucacircnia Consta como uma das freguesias da proviacutencia denominada Maueacutes em 1958

A oficializaccedilatildeo da mudanccedila do nome do municiacutepio ocorreu quando o Deputado Joseacute

Bernardo Michiles em 1865 apresentou um projeto para tal que tendo sido aprovado

oficializou-se a mudanccedila do nome de Maueacutes para Conceiccedilatildeo Enfim jaacute na Repuacuteblica em

1895 pela lei nordm 133 de 5 de outubro a localidade torna-se Comarca E em 4 de maio de 1896

eacute considerado municiacutepio pelo novo regime juriacutedico com o nome de Maueacutes pela lei nordm 137

As pesquisas de campo nesse municiacutepio natildeo foram realizadas conforme a previsatildeo

pois a viagem natildeo foi concretizada devido agraves dificuldades em relaccedilatildeo agrave distacircncia para chegar

ateacute agraves comunidades que satildeo distantes da cidade cede e havia necessidade de recurso material

e humano (professores guias indiacutegenas biliacutengues) para realizaacute-la Quando foi possiacutevel chegar

ao local ocorreu o contato com trecircs professores que residiam nas comunidades do rio

chamado Marau Ali foi possiacutevel tecirc-los em companhia na funccedilatildeo de guia inteacuterprete para

contato com os indiacutegenas surdos daquela localidade

Em resposta afirmativa ao questionamento se havia iacutendios surdos foram realizadas

reuniotildees com a comunidade local para coletar informaccedilotildees que apontou a existecircncia de um

caso na comunidade de Santa Maria Era um senhor na faixa etaacuteria de 67 anos que adquiriu a

surdez haacute muito tempo atraacutes Ele natildeo tem conhecimento da Liacutengua Portuguesa por isso natildeo

tivemos contato direto No entanto ele conhece a proacutepria liacutengua e assimilou a cultura da etnia

posto que

55

A liacutengua eacute aprendida simultaneamente a outros elementos da cultura A capacidade

de desenvolvimento da linguagem eacute inata O indiviacuteduo nasce com o ceacuterebro

preparado para aprender tudo que pertinente agrave cultura humana da qual a linguagem

faz parte (OLIVEIRA 2005 p 137)

Eacute no contexto social que se aprende os signos que fazem parte do mundo exterior e

que o ceacuterebro assimila pelo conhecimento que os sentidos possibilitam

O segundo iacutendio localizado foi um surdo de nascenccedila hoje com idade de 24 anos

Segundo relato da famiacutelia nunca frequentou uma escola portanto seu uacutenico meio de

comunicaccedilatildeo eacute gestual que aprendeu como forma para se fazer entender pois ldquoa linguagem eacute

atributo universal do ser humanordquo (OLIVEIRA 2005) assim constitui-se como necessidade

vital da pessoa conduzindo ao aprendizado

Em pesquisa de campo se obteve a informaccedilatildeo que havia outros trecircs iacutendios surdos que

moravam no Rio Marau mas natildeo foi possiacutevel chegar ateacute a aldeia onde se encontravam

devido ao difiacutecil acesso o que impossibilitou a ida ateacute a localidade

414 Histoacuterico de Boa Vista do Ramos

Uma das sete Mesorregiotildees de Parintins eacute Boa Vista do Ramos que possui

aproximadamente 16820 de habitantes segundo o IBGE (2013)

A histoacuteria de Boa Vista do Ramos encontra-se ligada agrave histoacuteria do municiacutepio de

Maueacutes Em 1798 foi fundada a Aldeia de Lusea Em meados do Seacuteculo XIX vaacuterios conflitos

ocorreram na regiatildeo entre brancos e povos indiacutegenas sendo efetiva tambeacutem a participaccedilatildeo de

cabanos oriundos da Cabanagem

Quando a Proviacutencia do Amazonas eacute criada em 1850 Lusea torna-se um dos quatorze

municiacutepios existentes na proviacutencia Seu nome eacute alterado em 1892 para Maueacutes tornando-se

sede da Comarca em 1895 Em 10 de dezembro de 1981 atraveacutes da Emenda Constitucional nordm

12 o povoado de Boa Vista do Ramos aleacutem de outros territoacuterios pertencentes agrave Maueacutes e

aacutereas adjacentes dos municiacutepios de Barreirinha e Urucurituba passam a constituir o novo

municiacutepio de Boa Vista do Ramos

Em pesquisa de campo nesse municiacutepio o primeiro contato que foi na Coordenadoria

Regional de Educaccedilatildeo da cidade (SEDUC) Embora esta professora responsaacutevel por essa

Instituiccedilatildeo tenha informado que natildeo conhecia nenhum caso de iacutendio surdo neste municiacutepio

alguns informantes afirmaram que na aldeia de Santo Antocircnio que faz parte do referido

municiacutepio foi localizada uma senhora que havia adquirido a surdez ainda muito jovem sem

56

nenhum conhecimento das liacutenguas ldquofaladasrdquo ou sinalizadas Desta forma ela utilizava de

gestos para se comunicar porque os seres humanos nascem com a capacidade para a

linguagem que se desenvolvem ao longo da primeira infacircncia mas que podem tambeacutem ser

aprendida no meio social atraveacutes de estiacutemulos Nesta perspectiva segundo a concepccedilatildeo de

Oliveira (2005 p 143)

A evoluccedilatildeo da linguagem depende de dois fatores principais da capacidade geneacutetica

cerebral para desenvolvecirc-la que eacute a principal e dos estiacutemulos ambientais que satildeo

sempre tatildeo importantes quanto aquela Esse desenvolvimento estaacute senpre inserido no

contexto de socializaccedilatildeo que eacute a responsaacutevel pela humanizaccedilatildeo do indiviacuteduo

Ainda sobre a importacircncia da socializaccedilatildeo para os sujeitos ressalta-se que estes

desenvolvendo no meio onde estatildeo inserido adquirem sua identidade cultural

concomitantemente sua identidade linguiacutestica que estaacute presente no discurso dos seus pares

posto que ela ldquoeacute adquirida nos processos de formaccedilatildeo e tranformaccedilatildeo de uma liacutengua

particularrdquo que eacute tambeacutem determinante no relacionamento cm outras liacutenguas E de acordo

com Ponzio (2007 p178) ldquoO espaccedilo em que uma liacutengua vive eacute um espaccedilo interlinguiacutestico e a

capacidade de expressatildeo e da adaptaccedilatildeo dessas liacuteguas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo eacute

diretamente proporcional agrave quantidade de contatos com outras liacutenguasrdquo O que deixa evidente

que um indiviacuteduo pode estar em contato com diferentes formas de intercomunicaccedilatildeo

415 Histoacuterico de Nhamundaacute

Eacute trigeacutesimo quinto municiacutepio mais populoso do estado do Amazonas Sendo o quarto

da Mesorregiatildeo em estudo Conforme o IBGE em 2013 o municiacutepio eacute composto por uma

populaccedilatildeo de 19 792 habitantes

O municiacutepio de Nhamundaacute estaacute localizado na zona fisiograacutefica do Baixo Amazonas

limitando com os municiacutepios de Parintins e Urucaraacute no Amazonas com o Estado de Roraima

(norte) e com os municiacutepios de Faro e Terra Santa no estado do Paraacute Distacircncia da capital 375

km em linha reta e cerca de 577 km por via fluvial Sua altitude eacute de 50 metros acima do

niacutevel do mar

As origens do municiacutepio de Nhamundaacute remontam agraves primitivas povoaccedilotildees dos iacutendios -

nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XVII composta pelos condurizes paraculamas canuris

guancaris paraquatas queremas jamundaacutes e uaboy cujo tuxaua se chamava Jamundaacute que

dada a luta em prol da liberdade de seu povo devido agrave exploraccedilatildeo e maus-tratos pelos

57

colonizadores fez um levante conduzindo a tribo Uaboy para as cabeceiras do alto rio que em

sua homenagem ganhou o seu nome e por conseguinte daacute nome ao municiacutepio

Em 1653 mediante carta reacutegia a regiatildeo foi erigida a Missatildeo que foi confiada aos

missionaacuterios portugueses capuchos da Piedade Eles organizaram uma aldeia modelo na boca

do Tauacuera - aldeia velha afluente esquerdo onde ainda se podem ver ruiacutenas do antigo

convento no meio dos espinhais A sede da Missatildeo poreacutem foi transferida para o lugar da

atual cidade de Faro Os padres capuchos souberam unir os iacutendios uaboy residentes no

Trombetas aos da Missatildeo para aumentar a populaccedilatildeo Era entatildeo o chefe dos Uaboy o tuxaua

Jamundaacute que ligou seu nome agrave Missatildeo e agrave aldeia que doravante se chamou aldeia dos

Jamundaacute ou Missatildeo dos Jamundaacute

O primeiro documento sobre a Missatildeo eacute do ano de 1727 e foi escrito pelo superior da

Missatildeo frei Francisco de Satildeo Manccedilos Em 1758 Missatildeo tomou o nome de Faro No entanto

jaacute em 1755 o Marqucirces de Pombal mandou suspender as Missotildees para serem transformadas

em vilas e paroacutequias A Missatildeo dos Jamundaacute foi extinta em 1758 por ordem de Mendonccedila

Furtado quando de sua viagem de demarcaccedilatildeo da nova capitania Foram criadas assim a vila

de Faro e a Paroacutequia de Satildeo Joatildeo Batista em 21 de dezembro de 1758 mas a instalaccedilatildeo deu-se

somente em 27 de dezembro de 1768

Desse modo em 1911 quando ocorreu a divisatildeo administrativa do Brasil o municiacutepio

de Parintins foi contemplado com o distrito de Jamundaacute Com a extinccedilatildeo deste quando

aconteceu a nova divisatildeo administrativa em 1933 o municiacutepio de Parintins surgiu com apenas

um distrito assim em 10 de dezembro de 1938 pelo Decreto-lei no 176 do Estado do

Amazonas Parintins voltaria a dispor de um outro distrito aleacutem da sede o da Ilha das Cotias

Em 19121955 pela Lei Estadual no 96 o distrito de Ilha das Cotias eacute desmembrado de

Parintins e passa a constituir o municiacutepio autocircnomo de Nhamundaacute Em 31 de janeiro de 1956

foi instalado o municiacutepio de Nhamundaacute

A viagem a esse municiacutepio foi realizada com o apoio do aluno Fernando Gonccedilalves

acadecircmico do curso de Licenciatura em Geografia pela Universidade do Estado do

Amazonas-UEA Para maiores esclarecimentos foi feita a pesquisa na casa de sauacutede indiacutegena

localizada na cidade de Nhamundaacute onde informaram desconhecer a existecircncia da etnia

Satereacute-Maweacute no municiacutepio Mesmo assim foi feito outro contato com uma enfermeira da

Casa de Sauacutede Indiacutegena do municiacutepio A resposta foi a mesma ldquoQueremos informar ao

professor que no municiacutepio de Nhamundaacute que natildeo trabalhamos com a etnia Satereacute-Maweacute

Atendemos somente a etnia Hixkaryana existente na regiatildeo Natildeo haacute portanto nenhum surdo

Hixkaryana ou Satereacute-Maweacute cujo fato eacute comprovado pelo senso municipalrdquo

58

Foi feita uma pesquisa tambeacutem em outro oacutergatildeo que atua com indiacutegenas no caso as

Secretaria de Educaccedilatildeo do Municiacutepio com a finalidade de constatar a veracidade dos fatos

eou conseguir novos dados sobre o indiacutegena surdo Satereacute ou Hixkaryana O subsecretaacuterio de

Educaccedilatildeo relatou que natildeo existia dados sobre a liacutengua Satereacute-Maweacute nem indiacutegenas surdos

existentes

Realmente apoacutes pesquisas in loco ficou comprovado somente agrave existecircncia da etnia

Hixkaryana da famiacutelia linguiacutestica Karib Sobre esta ressalta-se que

A liacutengua hixkaryana pertence agrave famiacutelia linguiacutestica Karib e eacute falada por todos os

membros do grupo Esta liacutengua eacute muito semelhante agravequeles outros dialetos falados

na regiatildeo mais ampla circunscrita pelos vales dos rios Trombetas e Mapuera como

Waiwai Xereu Katuena Karapawyana Tunayana Desta maneira e pelo fato dos

Hixkaryana estabelecerem relaccedilotildees bem estreitas com estes grupos em uma rede de

trocas matrimoniais e rituais tais dialetos satildeo inteligiacuteveis entre si []

Os Kaxuyana que moram no rio Nhamundaacute quase todos tambeacutem falam a liacutengua

hixkaryana aleacutem da sua liacutengua proacutepria o Kaxuyana Contudo em geral um

Hixkaryana natildeo fala a liacutengua kaxuyana fato que de certa forma demonstra que os

Kaxuyana satildeo considerados os ldquoestrangeirosrdquo naquela regiatildeo e que devem aprender

a liacutengua ldquonativardquo o Hixkaryana

A maioria dos Hixkaryana eacute alfabetizada na liacutengua nativa sendo capaz de ler e

escrever neste idioma Em 2008 havia apenas uma escola de ensino fundamental na

aldeia Kassauaacute e muitos jovens depois desta seacuterie dirigiam-se agrave cidade de

Nhamundaacute (AM) para prosseguir os estudos de niacutevel meacutedio Em 2010 uma escola

de ensino meacutedio foi implantada na aldeia Kassauaacute Aleacutem disso uma dezena de

Hixkaryana jaacute cursou ou estaacute cursando o ensino superior em cidades como Parintins

e Manaus Contudo a maioria das mulheres dos velhos e das velhas fala muito

pouco o Portuguecircs sendo o Hixkaryana a liacutengua mais usada por todos19

Assim como no municiacutepio de Nhamundaacute ficou constatado tambeacutem que nos demais

municiacutepios de Satildeo Sebastiatildeo do Uatumatilde e de Urucaraacute que natildeo haacute registro sobre a existecircncia

da etnia Satereacute-Maweacute nem tatildeo pouco a existecircncia de iacutendios surdos A tabela 1- apresenta o

resultado da pesquisa que aponta o mapeamento

Tabela 1 Mapeamento da existecircncia de iacutendios surdos nas respectivas comunidades

indiacutegenas ou zona urbana da microrregiatildeo de Parintins

Fonte Azevedo (2014)

19

Disponiacutevel emlthttppibsocioambientalorgptpovohixkaryanagt Acesso em 07112014

Etnia Liacutengua Comunidade Indiacutegena

rural Zona Urbana

Municiacutepio Quantidade de iacutendios

surdos

Satereacute-Maweacute Tupi Parintins Parintins 02

Satereacute-Maweacute Tupi Uaucurupaacute Parintins 01

Satereacute-Maweacute Tupi Rio Andiraacute Barreirinha 01

Satereacute-Maweacute Tupi Santa Maria Maueacutes 02

Satereacute-Maweacute Tupi Rio Marau Maueacutes 03

Satereacute-Maweacute Tupi Boa Vista do Ramos Boa Vista do

Ramos

01

Total 10

59

De acordo com os dados pode-se observar a existecircncia de poucos iacutendios surdos

Poreacutem acredita-se que ainda existam outros em comunidades mais isoladas Como tambeacutem

pelo fato de serem consideradas ldquodeficientesrdquo algumas famiacutelias natildeo integram na comunidade

que vivem As dificuldades encontradas para coletar os dados a partir dos oacutergatildeos

responsaacuteveis tambeacutem foram encontrados em outros estudos realizados anteriormente para

estabelecer a populaccedilatildeo indiacutegena na Ameacuterica Latina o que pode ser vislumbrado pela

explicaccedilatildeo dos fatos complicadores transcritos a seguir

Uma das dificuldades para estabelecer a populaccedilatildeo indiacutegena estaacute relacionada com

fato de que o criteacuterio de filiaccedilatildeo segue mais a autodenominaccedilatildeo que as

caracteriacutesticas linguiacutesticas ou raciais como se considerava haacute algumas deacutecadas atraacutes

Outra dificuldade eacute que a uacutenica fonte disponiacutevel para estabelecer a quantidade de

populaccedilotildees indiacutegenas na regiatildeo satildeo precisamente os censos nacionais de populaccedilatildeo

que haacute bem pouco tempo permitiam inferir informaccedilatildeo sobre a populaccedilatildeo indiacutegena

a partir de uma uacutenica pergunta referente agrave liacutengua falada pelos entrevistados (LOPES

e SICHRA 2009 p 103)

Entretanto embora natildeo haja um nuacutemero expressivo de iacutendios surdos da etnia Satereacute-

Maweacute ficou constatado que haacute muitos surdos natildeo-iacutendios nos municiacutepios estudados

principalmente no municiacutepio de Parintins que precisam se comunicar com diferentes

interlocutores Este eacute um argumento que aponta para a necessidade de instrumentos

educacionais como um dicionaacuterio triliacutengue importante para os surdos que conseguiram

estabelecer elos comunicativos a partir das trecircs liacutenguas E jaacute que o homem eacute criativo ldquoagrave

medida que o tempo passa a humanidade vai agregando novas descobertas e inventos que se

concretizam e se somam para dar-lhe conforto e bem estarrdquo (OLIVEIRA 2005 p 144) Entatildeo

espera-se que este material contribua para que o sujeito surdo possa se comunicar

adequadamente no seio familiar e no processo educacional

42 Realidade linguiacutestica e educacional dos iacutendios surdos encontrados da etnia Satereacute-Maweacute

O sistema responsaacutevel pela educaccedilatildeo tem procurado fazer adequaccedilotildees para atender agraves

pessoas que apresentam necessidades na sua arquitetura fiacutesica para a inclusatildeo destas no

contexto da realidade linguiacutestica e educacional Embora exista uma legislaccedilatildeo pertinente

ainda haacute ausecircncia de qualidade para que um indiviacuteduo surdo possa estudar incluso em um

contexto regular de ensino Principalmente porque os professores natildeo estatildeo preparados para

lidar com essa situaccedilatildeo peculiar Haacute uma imposiccedilatildeo nos oacutergatildeos educacionais mas natildeo haacute

60

profissionais que atuem para o bom desempenho do aluno indiacutegena surdo A partir dessa

visatildeo Albres (2005) que realizou um estudo nesta aacuterea de conhecimento afirma

Nessa perspectiva o homem eacute produto e produtor da cultura conjunto das relaccedilotildees

sociais portanto mister se faz investigar a origem histoacuterica de alguns princiacutepios da

educaccedilatildeo biliacutengue para surdos e desvelar elementos conceituais Propomo-nos

entatildeo identificar e analisar as concepccedilotildees de linguagem que sob condiccedilotildees

histoacutericas fundamentaram o ensino de Liacutengua Portuguesa para surdos nos

documentos do MEC

Desta feita entende-se que se no contexto do ensino da Liacutengua Portuguesa existem

diversas dificuldades no contexto de uma liacutengua indiacutegena a situaccedilatildeo se torna mais complexa

Desse modo na anaacutelise da situaccedilatildeo linguiacutestica e educacional encontrada com os iacutendios surdos

identificados da etnia Satereacute-Maweacute eacute bastante diversificada Apresentam diferentes formas de

siacutembolos para conseguirem se comunicar com as pessoas com quem tecircm contato Precisam

fazer um esforccedilo aleacutem do necessaacuterio para manifestar seus desejos para informar e ter acesso a

informaccedilotildees

No caso da aluna indiacutegena surda de apenas seis anos de idade na escola especiacutefica para

atender alunos surdos foi constatado que sua situaccedilatildeo linguiacutestica e educacional se encontra

em processo de aquisiccedilatildeo de uma linguagem baacutesica para comunicaccedilatildeo com as pessoas com as

quais ela convive

Conforme os dados fornecidos pela escola por meio de um parecer pedagoacutegico sobre a

aluna indiacutegena surda (ANEXO D) Ficou atestado que a aluna da etnia Satereacute-Maweacute nasceu

de parto normal sem nenhum problema aparente Aos trecircs anos de idade a matildee percebeu que

a filha natildeo ouvia e nem falava pois seus outros filhos haviam comeccedilado a falar na presente

idade Para seguir se comunicar com a filha utilizava-se de gestos sendo difiacutecil a

comunicaccedilatildeo Foi essa situaccedilatildeo que levou a famiacutelia a procura da Escola Padre Paulo Manna

onde se encontra matriculada no preacute-escolar Nessa realidade ela recebe as mesmas

orientaccedilotildees dadas agraves crianccedilas natildeo indiacutegenas logo natildeo existe um direcionamento para a cultura

da sua etnia na escola nem na no contexto familiar

Sobre essa condiccedilatildeo Cool (2004) aborda que haacute um aspecto familiar que tem

relevacircncia particular o tipo de comunicaccedilatildeo que se utiliza em casa ou seja a forma e o estilo

de comunicaccedilatildeo que os pais utilizam com a crianccedila surda tem uma grande importacircncia para o

seu desenvolvimento e para sua aprendizagem No caso dos pais ouvintes estes necessitam do

conhecimento da educaccedilatildeo da cultura da liacutengua da pessoa surda para que possam promover

uma formaccedilatildeo linguiacutestica completa para o filho surdo E deste modo este ldquopossa consolidar e

61

aprofundar o uso e a compreensatildeo da liacutengua proacutepria enquanto veiacuteculo de cultura e

possibilidade de comunicaccedilatildeo no acircmbitordquo de conhecimento do aprendiz sem deixar agrave parte do

domiacutenio da liacutengua apropriada para esse sujeito (HERNAIZ 2009)

Desta forma a educaccedilatildeo escolar reconhecida pela proacutepria escola referente agrave inclusatildeo

da aluna indiacutegena surda aponta para a necessidade de instituir uma educaccedilatildeo triliacutengue de

forma que seu processo de ensino-aprendizagem pauta-se na Liacutengua Satereacute-Maweacute Liacutengua

Brasileira de Sinais e Liacutengua Portuguesa Mesmo sabendo da dificuldade em aprender trecircs

liacutenguas o parecer pedagoacutegico considera possiacutevel aprendizagem de trecircs liacutenguas

A partir dos argumentos referidos reitera-se a importacircncia de que a educaccedilatildeo escolar

dessa aluna deve abranger as liacutenguas de uso natural nativo e social Quando se destaca a

liacutengua de uso natural entende-se que eacute a Liacutengua de Sinais como primeira liacutengua E natildeo

inverter o processo e obrigar a crianccedila surda seja indiacutegena ou natildeo aprender a falar uma

liacutengua oral seja liacutengua indiacutegena ou Liacutengua Portuguesa Sobre a questatildeo Fernandes (2005

p20) pontua

fazer uma crianccedila surda ldquofalarrdquo ao inveacutes de propiciar a ela um meio raacutepido de

comunicaccedilatildeo linguiacutestica atraveacutes da aquisiccedilatildeo da liacutengua de sinais como primeira

liacutengua que proteja e cumpra o papel fundamental de resguardar o seu natural

desenvolvimento no que se refere a ter domiacutenio de fato de um instrumental

linguiacutestico que lhe sirva para as operaccedilotildees mentais que envolvam mecanismos

linguiacutesticos

Portanto primeiramente eacute necessaacuteria a aquisiccedilatildeo da primeira liacutengua a liacutengua de sinais

e como segunda liacutengua a liacutengua nativa de sua comunidade eacutetnica No caso da aluna indiacutegena

a liacutengua Tupi da etnia Satereacute-Maweacute na modalidade escrita Desta forma com a aprendizagem

das duas liacutenguas seraacute uma aluna biliacutengue Poreacutem diante da realidade do aluno indiacutegena surdo

que vive na zona urbana se faz necessaacuterio o aprendizado triliacutengue Liacutengua Portuguesa por

escrito

Como dito anteriormente o ensino-aprendizado da Liacutengua de Sinais deve ser

garantido ao sujeito surdo para que adquira a identidade a cultura do povo surdo20

acesso

pleno as informaccedilotildees aleacutem de significar a possibilidade de comunicaccedilatildeo e expressatildeo fluentes

do sujeito surdo com seu entorno Da mesma perspectiva o ensino da Liacutengua indiacutegena se daacute

20

Como ja mencionado no capiacutetulo 1 sobre Cultura Surda ldquo eacute o jeito surdo de ser de perceber de sentir de

vivenciar de comunicar de transformar o mundo a tornaacute-lo habitaacutevelrdquo (GLADIS PERLIN apud STROBEL

2008 p 21) Strobel ainda esclarece que o sujeito Surdo se comportam diferente do sujeito ouvinte e com isso

traz alguns ldquoartefatos culturaisrdquo (explicado no capiacutetulo 1) que satildeo as pecualiaridade da cultura surda as quais

descritas Parte das experiecircncias visuais linguiacutestico familiar literatura surda vida social e esportiva artes

visuais poliacutetica e materiais Todos estes artefatos concebidos a partir do VER (IDEM 2008 p36-77)

62

em respeito aos direitos da cultura indiacutegena previsto pela Constituiccedilatildeo Brasileira conforme

decreto nordm 6861 de maio de 2009 no seu Art 2o que determina ldquoSatildeo objetivos da educaccedilatildeo

escolar indiacutegena I- valorizaccedilatildeo das culturas dos povos indiacutegenas e a afirmaccedilatildeo e manutenccedilatildeo

de sua diversidade eacutetnica II- fortalecimento das praacuteticas socioculturais e da liacutengua e da liacutengua

materna de cada comunidade indiacutegenardquo

Neste caso a referida aluna iacutendia surda deveraacute ter a liacutengua indiacutegena como liacutengua de

conhecimento de sua cultura Para o ensino desta na forma escrita faz-se uso de cartilhas

gramaacuteticas dicionaacuterios etc

De acordo com o exposto a escola reconhece a necessidade da educaccedilatildeo escolar

triliacutengue poreacutem utiliza-se de outra realidade conforme citado pela proacutepria escola ldquoNo

primeiro momento fica junto com os colegas ouvintes onde procuramos trabalhar de forma

inclusiva no contexto biliacutengue Liacutengua Portuguesa e Liacutengua de Sinais

Sobre este aspecto Rodrigues (2005 p20) pontua

Quantas lacunas estariam sendo criadas em nome da pressuposiccedilatildeo de que a

aprendizagem da liacutengua da maioria dos falantes da comunidade (ouvintes) eacute que

daria agrave crianccedila surda condiccedilotildees de desenvolvimento social e cognitivo Quantas

etapas de desenvolvimento estariam sendo desprezadas nas fases naturais de sua

evoluccedilatildeo sob a alegaccedilatildeo de que ela seraacute capaz de alcanccedilar o que se estabelece como

meta social Que metas estariam sendo alcanccediladas afinal Que objetivos estatildeo sendo

perseguidos em prol desses paracircmetros ultrapassados em detrimento dos reais

objetivos de formaccedilatildeo psico-sociocultural deste individuo Em que a liacutengua de

sinais como primeira liacutengua ainda se encontra determinada pelo descreacutedito de

tantos especialistas da aacuterea

A realidade encontrada sobre a educaccedilatildeo natildeo soacute em uma escola que atende alunos

surdos mas tambeacutem em muitas escolas as chamadas escolas ldquoinclusivasrdquo apresentam

dificuldades no processo de ensino dos alunos surdos21

Todavia entre desencontros

sociocultural-linguiacutesticos eacute preciso fazer uma ressalva desta escola ldquoA escola disponibilizou

21

Sobre a temaacutetica da Inclusatildeo formula-se ldquoAo se avaliar que na contemporaneidade impera o discurso da

inclusatildeo indiscriminada em escolas regulares[]Esta diretriz tira o direito previsto na legislaccedilatildeo brasileira de

poder optar por uma educaccedilatildeo biliacutengue em escola proacutepria de modo que se repete a condiccedilatildeo em que aos surdos eacute

imposto um enorme sofrimento na medida em que nos denominamos processos inclusivos junto aos ouvintes

permanecem privados de conviver com seus pares e de acessar o conhecimento na Liacutengua de Sinais como liacutengua

de instruccedilatildeo [] Os surdosde diferentemente de outros segmentos tecircm a necessidade de agrupar-se para formar

comunidade linguiacutestica por meio das quais possam construir uma ldquocomunidade de experiecircnciasrdquo (WITKOSKI

2012 p33-34)

63

uma professora surda para a aquisiccedilatildeo da Liacutengua Brasileira de Sinais repassando o conteuacutedo

ministrado na salardquo onde cada um desses alunos eacute inserido

A escola positivamente conta com a colaboraccedilatildeo do trabalho docente de uma

professora surda Esta tem um papel fundamental como modelo linguiacutestico principalmente

quando alunos surdos provecircm de famiacutelias ouvintes que natildeo tecircm acesso agrave cultura e agrave Liacutengua

de Sinais Cabe ao professor surdo comunicar-se fluentemente com o aluno surdo ser um

input linguiacutestico para a identificaccedilatildeo da cultura do ser surdo

Dessa forma Strobel (2008 p 40) destaca

Este contato crianccedila surda x adulto surdo atraveacutes de uma liacutengua em comum que eacute a

liacutengua de sinais eacute que proporcionaraacute o acesso agrave linguagem e desta forma estaraacute

assegurada a identidade e a cultura surda que eacute transmitida naturalmente agrave crianccedila

surda em contato com a comunidade surda

Observa-se que caso a crianccedila surda natildeo tenha o direito a sua diferenccedila preservado

este aprendiz teraacute sua inserccedilatildeo no mundo dos ouvintes de forma incerta eou sem esperanccedila de

uma vida normal A situaccedilatildeo se agrava na medida em que a sociedade ouvinte deixa a desejar

quanto agrave participaccedilatildeo dos sujeitos surdos em decorrecircncia da escassez dos vaacuterios recursos

visuais que promovem acessibilidade para eles

Contudo os povos surdos hoje satildeo mais conscientes de seus direitos entatildeo esses

sujeitos cultural e politicamente lutam pelos mesmos Direitos estes tambeacutem dos povos

indiacutegenas como jaacute comentados anteriormente

Todavia esse aspecto ainda estaacute distante da realidade dos sujeitos focos do estudo de

acordo com relato da escola Segundo depoimentos de alguns indiacutegenas a aprendizagem

indiacutegena passa pela demonstraccedilatildeo observaccedilatildeo imitaccedilatildeo tentativa e erro e quando o aluno

vem para a escola tem que se socializar e obedecer a comandos regidos pelo sistema e isso

muitas vezes o deixa confuso e os maiores ateacute desistem A situaccedilatildeo se agrava quando esse fato

se refere ao sujeito iacutendio surdo incluiacutedo na escola pois este requer um diferencial ainda

maior reconhecido pela escola

Dessa forma satildeo necessaacuterias estrateacutegias de ensino diferenciadas que deem suporte

para que a aluna seja trabalhada de forma triliacutengue no contexto escolar para que ela

natildeo perca a sua essecircncia a sua cultura que sejam adaptados trabalhos de acordo

com a realidade indiacutegena para que ela natildeo perca a sua identidade e saiba conduzir

sua aprendizagem dentro de um contexto diferenciado podendo aprender o que lhe eacute

de direito como viver bem em sociedade22

22

Texto extraiacutedo do parecer pedagoacutegico da aluna indiacutegena surda que estuda na Escola de Aacuteudio e Comunicaccedilatildeo

Pe Paulo MannaParintinsAm (ANEXO D)

64

A partir das consideraccedilotildees tecidas no parecer pedagoacutegico torna-se evidente ema

necessidade de ampliar e aprofundar as reflexotildees sobre a inclusatildeo de iacutendios surdos em vaacuterios

espaccedilos da sociedade especialmente no espaccedilo educacional escolar Ou seja haacute necessidade

tambeacutem de poliacuteticas linguiacutesticas voltada para esse acircmbito

Nesse sentido eacute necessaacuterio que se tenha como meta uma tomada de decisotildees poliacuteticas

para que gradativamente se possa controlar a situaccedilatildeo de aprendizagem do surdo no processo

soacutecio cultural onde ele estiver inserido Ateacute por que existe uma proposta educativa

intercultural de modo biliacutengue no contexto indiacutegena Assim surge a necessidade de accedilotildees

objetivas para garantir na praacutetica esta proposta de ensino a fim de enriquecer o indiacutegena

surdo com desenvolvimento da liacutengua de sinais como veiacuteculo de comunicaccedilatildeo acrescendo

seus conhecimentos a partir do pluralismo cultural uma vez que estaacute amparado por

legislaccedilotildees especiacuteficas

Reitera-se a necessidade de accedilotildees objetivas especialmente no que tange a formaccedilatildeo

especiacutefica de professores pois mesmo com a garantia da legislaccedilatildeo a presente realidade

desses sujeitos estaacute distante do contexto sociocultural-linguiacutestico do ser iacutendio surdo A

exemplo disso tem-se outra realidade sociocultural-linguiacutestico do segundo aluno indiacutegena

surdo de 24 anos que foi transferido de uma escola que desenvolve atividades educacionais

especiacuteficas para outra no processo denominado de educaccedilatildeo inclusiva onde cursa o nono ano

do ensino fundamental das seacuteries finais e faz atendimento na sala de recurso porque os

professores das disciplinas do curso natildeo tecircm formaccedilatildeo para acompanhaacute-lo

Os relatos da famiacutelia indicam que o aluno nasceu na aacuterea indiacutegena de Ponta Alegre

poreacutem muito pequeno sua famiacutelia mudou-se para zona urbana municiacutepio de Parintins o qual

cresceu longe de sua cultura indiacutegena desconhecendo assim a liacutengua de sua etnia Este eacute um

caso que promove o desaparecimento de liacutenguas indiacutegenas o conhecido deslocamento

sociolinguiacutestico

Para entender o processo que instaura este deslocamento linguiacutestico ressalta-se que

primeiramente a educaccedilatildeo da pessoa perpassa pelo uso da liacutengua materna no ambiente

familiar nas relaccedilotildees famiacuteliares na qual utiliza uma comunicaccedilatildeo intra e extrafamiliar Se a

famiacutelia mantiver sua liacutengua nativa em uso os membros da mesma permaneceratildeo biliacutengues

Poreacutem se a famiacutelia por pressatildeo social do uso da liacutengua dos falantes da sociedade local seja

porque deseja se adequar ao meio onde se insere a liacutengua no caso indiacutegena entra no processo

de esquecimento para as geraccedilotildees vindouras

65

Eacute o caso do aluno acima que eacute biliacutengue (Liacutengua Brasileira de Sinais e Liacutengua

Portuguesa na modalidade escrita) contudo desconhece sua raiz cultural a liacutengua de sua

etnia Seu contexto educacional eacute baseado em ldquomodelo de escola inclusivardquo o aluno vai para

sala de aula com alunos ouvintes onde a liacutengua portuguesa eacute a liacutengua padratildeo a ser ensinada e

estudada e posteriormente faz atendimento na sala de recurso em sua liacutengua natural Libras

Logo a escola pode ajudar no incentivo favorecendo a revitalizaccedilatildeo da liacutengua

indiacutegena no contexto educacional Para isso haacute necessidade de um corpo docente com a

formaccedilatildeo em Liacutengua indiacutegena e Liacutengua Brasileira de Sinais aleacutem da Liacutengua Portuguesa que eacute

usada como a base de ensino

Jaacute na comunidade Uiacurapaacute da etnia Maweacute encontramos outra realidade de contexto

de um surdo indiacutegena Todavia natildeo foi possiacutevel fazer um acompanhamento mais preciso

sobre sua situaccedilatildeo educacional escolar O uacutenico dado correspondente agrave questatildeo linguiacutestica eacute o

modo como ele se comunica conforme foi relatado por membros da comunidade local se

caracteriza pela utilizaccedilatildeo de gestos criados para se fazer compreender Desta forma diante da

ausecircncia de uma liacutengua estruturada a Libras por fazer uso somente de gestos ele apresenta

dificuldades de entender o ensino e de se comunicar com seus pares Da mesma forma ocorre

no contexto familiar e na comunidade uma vez que o aluno surdo vive quase que isolado

devido ao preconceito existente ateacute mesmo pela proacutepria comunidade por natildeo o entenderem e

nem saberem qual a forma para se comunicar aquele indiviacuteduo Assim ele vive em uma

situaccedilatildeo de rejeiccedilatildeo e marginalizaccedilatildeo estabelecida a partir da ausecircncia de uma liacutengua que

promova a comunicaccedilatildeo com o predomiacutenio de um processo de estigmatizaccedilatildeo deste sujeito

surdo

No municiacutepio de Maueacutes Boa Vista do Ramos os iacutendios surdos localizados satildeo de

idade adulta natildeo tiveram a oportunidade de frequentar escola Portanto sua realidade

linguiacutestica fundamenta-se somente na forma gestual que denominam de caseira atribuindo

significados peculiares de seu contexto local No que diz respeito ao aspecto educacional as

pessoas contatadas demonstraram apenas uma preocupaccedilatildeo sobre a existecircncia futura de

possiacuteveis iacutendios surdos nesses municiacutepios e sua formaccedilatildeo educacional Contudo natildeo

afirmaram o que fariam se encontrassem outros sujeitos com essa necessidade de

comunicaccedilatildeo

Como jaacute mencionado natildeo haacute registro sobre a situaccedilatildeo linguiacutestica e educacional de

nenhum iacutendio surdo da etnia Satereacute-Maweacute nos municiacutepios de Nhamundaacute Satildeo Sebastiatildeo do

Uatumatilde e de Urucaraacute Portanto as informaccedilotildees educacionais natildeo satildeo apresentadas nestes

contextos

66

43 Inventaacuterio de gestos da linguagem caseira dos surdos Satereacute-Maweacute

A presente pesquisa baseia-se em um meacutetodo de estudos de etnografia com o intuito

de descrever e observar os gestos caseiros que os indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute usam para se

comunicarem com seus pares nas comunidades onde residem O meacutetodo tambeacutem ajuda a

conhecer a identidade e sua interaccedilatildeo no meio da comunidade visto haacute uma diversidade

linguiacutestica rica usada pelos surdos indiacutegenas nas diversas localidades percorridas pelo

pesquisador na microrregiatildeo de Parintins

431 Os sinais caseiros de indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute

O objetivo do mapeamento eacute coletar os sinais caseiros ou emergentes para que esses

sinais possam ser reconhecidos e compreendidos pela sua comunidade como meio linguiacutestico

de comunicaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo de sua cultura

Para a concretizaccedilatildeo do mapeamento foi necessaacuterio a pesquisa de campo na

comunidade onde se fazia presente o indiacutegena surdo para as devidas observaccedilotildees

432 O Municiacutepio de Parintins

No municiacutepio de Parintins foi localizado trecircs (03) indiacutegenas surdos com suas

caracteriacutesticas linguiacutesticas diferenciadas de suas origens sendo que dois indiacutegenas residem na

zona urbana e um indiacutegena localizado na comunidade de Uaicurapaacute os quais foram o objeto

investigativo para a coleta de dados Os registros foram feitos de forma diferenciada de modo

que primeiramente conversei com as lideranccedilas indiacutegenas acompanhado de inteacuterprete e guia

linguiacutestico Durante este encontro foram feitas no local observaccedilotildees visuais sendo que em

alguns casos realizamos registros de imagens filmagens e entrevistas Eacute importante destacar

que os registros soacute puderam ser feitos quando permitidos pelos sujeitos da pesquisa ou pela

lideranccedila prevalecendo em sua maior parte a observaccedilatildeo visto que materiais tecnoloacutegicos e

de miacutedias causavam incocircmodo aos entrevistados fazendo com que se tornassem

incomunicaacuteveis quando percebiam que estavam sendo monitorados

67

4321 O primeiro surdo

Esse primeiro indiacutegena possui surdez moderada Eacute um senhor com idade de 72 anos

residente no Uiacurapaacute23

O contato foi feito na Casa do Iacutendio de Parintins Em uma

conversaccedilatildeo informal explicou que perdeu a audiccedilatildeo com o tempo eacute oralizado24

e se

comunica com a comunidade na liacutengua nativa Satereacute-Maweacute Trata-se de um cidadatildeo calmo

fala apenas de suas necessidades visto que natildeo se manifesta muito devido suas limitaccedilotildees

auditivas que dificultam uma melhor compreensatildeo

Como referido o surdo em questatildeo tem surdez moderada Neste sentido observa-se

que a surdez ocorre de acordo com diferentes classificaccedilotildees quanto ao niacutevel de perda auditiva

Ou seja

Quanto ao grau - leve (perda de 26 a 40 dBNA) - moderada (perda de 41 a 55

dBNA) - moderadasevera (perda de 56 a 70 dBNA) - severa (perda de 71 a 90

dBNA) - profunda (a partir de 91 dBNA) (RUSSO e SANTOS 1988 apud

NADER 2011 p 2)

Retomando a histoacuteria do sujeito surdo em questatildeo observa-se que ele reside na zona

rural no Uiacurapaacute com seus parentes e sua sobrevivecircncia eacute atraveacutes do que planta e pesca

Observando-o percebo que o mesmo tem uma vida normal com seus pares o que falta para

uma interaccedilatildeo mais ativa na comunidade eacute estimulo e o incentivo linguiacutestico pois muitas

pessoas satildeo impacientes e acabam deixando-o isolado linguisticamente

4322 O segundo surdo

Eacute um indiacutegena natural de Ponta Alegre25

concluiu o ensino fundamental em uma

escola puacuteblica no municiacutepio de Parintins Sua surdez foi percebida por seus pais ainda

crianccedila causada por doenccedila congecircnita A famiacutelia mudou-se para o municiacutepio de Parintins em

busca de uma melhor educaccedilatildeo para filho surdo entretanto os pais eram usuaacuterios da Liacutengua

Satereacute-Maweacute mas natildeo mais praticam pela influecircncia da Liacutengua Portuguesa e tambeacutem natildeo 23 Rio que fica interliga com Rio Paranaacute do Ramos ndash Parintins (AZEVEDO 2014) 24

O modelo cliacutenico-terapecircutico baseia-se numa visatildeo patoloacutegica de surdez e num modelo individual de

atendimento aacute diversidade que tem como referecircncia o Oralismo O oralismo eacute uma filosofia educacional para

surdos cujo discurso propotildee a superaccedilatildeo da surdez e a aceitaccedilatildeo social do surdo por meio da oralizaccedilatildeo Em

outras palavras este modelo defende o aprendizado apenas da Liacutengua Portuguesa na sua modalidade oral e

escrita na escola por entender que esta eacute a uacutenica possibilidade de integrar o surdo na sociedade majoritaacuteria

ouvinte (SLOMSKI 2010 p 32) 25

A comunidade de Ponta Alegre situa-se no Rio Andiraacute com 4 horas de viagem de lancha para chegar a

comunidade (AZEVEDO 2014)

68

frequentam a comunidade Satereacute-Maweacute em busca de assistecircncia ou outros meios oferecidos

pela tribo Portanto a famiacutelia cresceu e disseminou deixando de lado a liacutengua nativa e

tradiccedilatildeo indiacutegena vivendo uma vida regular na zona urbana

O surdo hoje com 20 anos natildeo conhece a liacutengua nativa de sua comunidade se

comunica fluentemente com a Liacutengua de Sinais escreve o Portuguecircs e se oraliza na

comunicaccedilatildeo com seus pais que tambeacutem natildeo sabem a Liacutengua de Sinais

Atraveacutes de sua histoacuteria eacute possiacutevel perceber que este sujeito surdo por estudar em

escola inclusiva com forte influecircncia a oralista desenvolveu as duas linguas a Liacutengua

Brasileira de Sinais e a Liacutengua Portuguesa Poreacutem sua situaccedilatildeo eacute diferente de outros

indiacutegenas surdos que residem nas comunidades que usam os sinais caseiros para se

comunicarem Isso acaba sendo uma observaccedilatildeo abstrata da realidade entre os surdos que

moram na zona urbana e na comunidade Satereacute-Maweacute

4323 O terceiro surdo

Eacute uma crianccedila de 5 anos descendente da etnia Satereacute-Maweacute estuda em uma escola

filantroacutepica em Parintins Trata-se de uma aluna inteligente que demonstrava timidez na

presenccedila de pessoas estranhas Verificou-se que ela consegue aprender e identificar os objetos

apresentados para que identificasse Aos 4 anos antes de entrar para a escola utilizava alguns

sinais caseiros para se comunicar com seus familiares Na sala de aula o ensino oferecido a

ela eacute o biliacutengue26

tendo a Liacutengua Brasileira de Sinais e a Liacutengua Portuguesa compondo essa

educaccedilatildeo O ensino nessa instituiccedilatildeo vai ateacute a 5ordf serie Por esta razatildeo a aluna futuramente

precisaraacute ser transferida para uma escola de ensino fundamental

Tabela 2 11 Sinais caseiros utilizados pela crianccedila indiacutegena surda de 5 anos e seus

familiares

26

O Bilinguismo eacute uma filosofia de ensino cujo discurso propotildee a diversidade cultural e a aceitaccedilatildeo social do

surdo por meio do bilinguismo (duas liacutenguas Liacutengua de Sinais e segunda liacutengua) Essa filosofia concebe o surdo

como um ser diferente e a surdez como ldquoatributo humanordquo como uma caracteriacutestica da pessoa surda resultado

de uma deficiecircncia orgacircnica que natildeo se esgota nela mesma (SKLIAR 1997 apud SLOMSKI 2010 p 41)

SINAIS CASEIROS DESCRICcedilAtildeO

AacuteGUA Matildeo direita com o dedo polegar fazendo a expressatildeo de beber aacutegua

BRINCAR As duas matildeos fechadas batendo as pontas dos dedos em

movimento

BANHEIRO Matildeo direita mostra o local e a esquerda eacute posicionada na barriga

COMIDA As duas matildeos abrindo e fechando repetidamente proacuteximo da boca

DORMIR As duas matildeos com as palmas juntas encostar-se ao rosto com

expressatildeo de querer dormir

69

Fonte AZEVEDO (2014)

Figura 2 Sinais caseiros utilizado pela crianccedila de 5 anos

FOME Matildeo direita indo em direccedilatildeo da barriga fazendo expressatildeo facial de

fome

MAtildeE Matildeo direita aberta no rosto fazendo movimento nos dedos com

expressatildeo chamativa

IRMAtildeO Matildeo direita batendo no antebraccedilo para chamar atenccedilatildeo

PAI Matildeo direita com os dedos pegando o queixo

PESSOA Matildeo direita com dedo indicador fazendo expressatildeo de algueacutem

CHORAR As duas matildeos fechadas com os dorsos esfregando nos olhos

AacuteGUA BRINCAR

COMIDA DORMIR FOME

MAtildeE IRMAtildeO PAI

BANHEIRO

70

44 O indiacutegena surdo da Comunidade de Ponta Alegre do municiacutepio de Barreirinha

Foi localizado um aluno surdo na comunidade de Ponta Alegre que faz parte do

municiacutepio de Barreirinha trata-se de um jovem de 13 anos que estuda na Escola Municipal

Rosa Cabral e mora em uma aldeia mais distante a observaccedilatildeo foi feita na escola Nessa

viagem foi obtido a autorizaccedilatildeo de viagem para a aldeia na Secretaria de Educaccedilatildeo Municipal

de Barreirinha por meio do contato com o coordenador geral do setor indiacutegena daquela aacuterea

o senhor Santino Lopes que muito contribuiu com o projeto e de servir como guia de

viagem

O devido aluno estuda na 3ordf Serie do ensino fundamental De acordo com as

observaccedilotildees feitas O ensino predominante na sala para o ensino deste aluno eacute a Liacutengua

Portuguesa visto que os professores em sua maioria vem do municiacutepio de Barreirinha

Embora o ensino seja bem aplicado e a escola dispotildee de material didaacutetico apropriado para a

seacuterie natildeo haacute metodologia de ensino especializado para surdo natildeo existindo Sala de

Recursos27

O aluno aprende lentamente demonstrando dificuldades de entender os

conteuacutedos

A comunicaccedilatildeo com seus professores e colegas soacute acontecem atraveacutes de sinais

caseiros e expressotildees manuais O aluno surdo vive quase que isolado sem ter a possibilidade

de estabelecer uma comunicaccedilatildeo satisaftoacuteria dentro do contexto escolar devido ao

27

Uma das inovaccedilotildees trazidas pela Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Especial na Perspectiva da Educaccedilatildeo

Inclusiva (2008) eacute o Atendimento Educacional Especializado ndash AEE um serviccedilo da educaccedilatildeo especial que []

identifica elabora e organiza recursos pedagoacutegicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena

participaccedilatildeo dos alunos considerando suas necessidades especiacuteficas

O AEE complementa eou suplementa a formaccedilatildeo do aluno visando a sua autonomia na escola e fora dela

constituindo oferta obrigatoacuteria pelos sistemas de ensino Eacute realizado de preferecircncia nas escolas comuns em um

espaccedilo fiacutesico denominado Sala de Recursos Multifuncional Portanto eacute parte integrante do projeto poliacutetico

pedagoacutegico da escola (BRASIL 2008 p 3)

CHORAR PESSOA

71

preconceito existente Ateacute mesmo na proacutepria comunidade por natildeo entenderem e nem saberem

de que forma comunicarem-se com o mesmo a situaccedilatildeo de exclusatildeo se repete

Vale destacar que diante desta ausecircncia da qualidade de ensino para o aluno surdo a

professora Maria Inecircs ao responder um questionaacuterio segue algumas afirmativas para mudar

esta realidade Desta forma a educadora afirma que

- Eacute muito importante a capacitaccedilatildeo em cursos de libras e livros didaacuteticos proacuteprios

como forma de melhorar o ensino e a comunicaccedilatildeo com aluno surdo na

comunidade como parte da educaccedilatildeo inclusiva para facilitar o ensino e

aprendizado acima de tudo conhecer sua liacutengua materna identidade do povo

Satereacute-Maweacute

Pelo relato do Gestor da Escola Senhor Dulcemar a necessidade jaacute referida pela

educadora acima de materiais didaacuteticos para subsidiar o ensino eacute novamente colocada em

destaque conforme pode ser vislumbrado no relato transcito a seguir

- Eu como gestor sinto-me gratificado pelo trabalho a ser desenvolvido aqui com a

questatildeo da Libras um trabalho realizado pelo professor Marlon Jorge Pois eacute muito

importante devido agrave dificuldade que a educaccedilatildeo Satereacute- Maweacute vem tendo

principalmente quando se trata de alunos surdos indiacutegenas e ateacute mesmo por falta

de material didaacutetico Esse trabalho vai ser importante aqui na aacuterea indiacutegena para

ajudar o professor na sala de aula como ensinar como educar e como lidar com

esses alunos com necessidades especiais Entatildeo eacute um trabalho muito importante

pra noacutes e estamos aqui a disposiccedilatildeo e tambeacutem para contribuir como gestor da

escola juntamente com os professores e pra noacutes eacute muito bom esse trabalho e que o

Sr possa desenvolver esse seu projeto essa cartilha que com o aacutepice das aulas de

libras que com certeza vai fortalecer muito mais a educaccedilatildeo do povo Satereacute

Maweacuterdquo

Tabela 313 sinais caseiros coletados e utilizados pelo aluno da comunidade de Ponta Alegre

Fonte Azevedo (2014)

SINAIS CASEIROS DESCRICcedilAtildeO

AacuteGUA Usa as duas matildeos fazendo impressatildeo de beber alguma coisa

BARCO Usa-se a matildeo direita aberta em posiccedilatildeo vertical fazendo uma

expressatildeo da accedilatildeo do barco

BANHO Fazer a expressatildeo de pular na aacutegua com os braccedilos esticados

BANHEIRO Matildeo direita usando o indicador fazendo expressatildeo sair fora sala

COMIDA Matildeo esquerda aberta matildeo direita usando como o objeto metaacutelico

COBRA Usando os dedos da matildeo direita beliscando o pulso da matildeo esquerda

ESCOLA Faz-se o sinal de casa

ESTUDAR Faz a expressatildeo de escrever

FOME Matildeo direita levando em direccedilatildeo da barriga fazendo expressatildeo facial

de fome

FARINHA As duas matildeos palmas para baixo fazendo a expressatildeo de esfarelar

alguma coisa

LANCHA Usa a matildeo direita palma para cima fazendo uma accedilatildeo da rapidez

para frente

PEIXE Matildeo direita fazer a expressatildeo de caccedilar o peixe com o arpatildeo

PESSOA Matildeo direita com dedo indicador fazendo expressatildeo de algueacutem

72

Figura 3 Sinais caseiros utilizados pelo aluno da comunidade de Ponta alegre ndash

Barreirinha

AacuteGUA BARCO

BANHEIRO

BANHO

COMIDA

ESCOLA

FOME LANCHA PESCAR PEIXE

ESTUDAR FARINHA

COBRA

73

45 Os indiacutegenas surdos do Municiacutepio de Maueacutes

Situado entre os rios Madeira e Tapajoacutes o municiacutepio de Maueacutes estaacute localizado no

Meacutedio Amazonas que hoje eacute denominado como microrregiatildeo aacuterea leste do Estado Distante

de Manaus cerca de 30 km em linha reta ou o equivalente 45 minutos por via aeacuterea estando

a 356 km por via fluvial cerce de 16 a 18 horas de barco

Nesse municiacutepio foi realizado duas viagens com a finalidade de fazer um mapeamento

das aacutereas indiacutegenas bem como descobrir a existecircncia de surdos nas aldeias O primeiro

contato foi na Secretaria de Educaccedilatildeo do municiacutepio primeiramente me apresentado como

aluno pesquisador juntamente com os documentos comprobatoacuterios de acesso para realizar a

pesquisa nas aacutereas indiacutegenas As informaccedilotildees que tinha antes de estabelecer o contato

apontavam para a existecircncia de alunos indiacutegenas surdos matriculados na sede do municiacutepio

Poreacutem a secretaria informou desconhecer a existecircncia de alunos indiacutegenas matriculados na

rede publica do municiacutepio nem saber sua localizaccedilatildeo para contatos sendo orientado a

procurar na Casa do Estudante Indiacutegena Satereacute-Maweacute que se localiza em um bairro mais

distante dali

Chegando ao SESAI - Secretaria de Sauacutede Indiacutegena obtivemos acesso agraves informaccedilotildees

devido ao fato de que a pessoa responsaacutevel estava em viagem sendo que retornaria na outra

semana Em outra busca formos agrave Casa do Estudante Satereacute-Maweacute onde conversamos com o

coordenador Sr Jusivam que disse saber da existecircncia de indiacutegenas surdos nas comunidades

na Marau e Andiraacute mas natildeo ter dados quantitativos devido ao fato deles natildeo terem procurado

a Casa do Estudante em busca de assistecircncia que auxiliassem sua integraccedilatildeo em escolas

regulares ou inclusivas Observa-se que a Casa do Estudante podia auxiliar eles a

conseguirem uma escola para estudarem na zona urbana jaacute que esta eacute uma das atribuiccedilotildees da

instituiccedilatildeo

Ao sermos informados que as comunidades onde havia surdos eram distantes e

necessitava de apresentar outros documentos da Coordenaccedilatildeo Geral de Educaccedilatildeo que ficava

no municiacutepio de Barreirinha Tambeacutem se fazia necessaacuterio preparar uma programaccedilatildeo de

viagem para que pudessemos chegar ateacute aquela localidade de modo que nesta precisava

inclusive organizar para ter inteacuterpretes que falassem a liacutengua Satereacute-Maweacute e inteacuterpretes de

Libras Aleacutem destes precisava contar com um acompanhante para registrar as imagens e

filmagens se autorizadas anotando tudo que fosse necessaacuterio

Fazendo uma reflexatildeo sobre a viagem e os entraves que tinhamos pela frente para a

concretizaccedilatildeo do projeto e as distacircncias geograacuteficas para alcanccedilar os objetivos da pesquisa

74

Contudo ao encontrar um surdo indiacutegena sendo o principal objeto da pesquisa em funccedilatildeo da

grande satisfaccedilatildeo de poder contribuir para o desenvolvimento linguiacutestico dos indiacutegenas surdos

e para que a comunidade compreenda como um ser incluiacutedo a partir do respeito a sua cultura

inserindo em seus modos e haacutebitos foi compensador enfrentamos todos os obstaacuteculos

Visitamos a Universidade do Estado do Amazonas ndash UEA onde tivemos a grata

surpresa de saber que havia uma turma de formaccedilatildeo em licenciatura Indiacutegena para a

comunidade Esperamos a aula acabar para falar com o professor o qual pediu para vir outro

dia para conversar com os alunos Foi nessa ocasiatildeo que conhecemos trecircs professores com os

quais fizemos um acordo para que na proacutexima viagem me levassem para a aldeia a fim de

realizar o mapeamento

Voltando para Parintins foi elaborado um roteiro para viagem a aacuterea indiacutegena Satereacute-

Maweacute pelos rios Maueacutes-Accedilu Rio MarauUrupadi A viagem aconteceu no dia 02 de

fevereiro de 2014 saindo de barco de Parintins indo ateacute o municiacutepio de Maueacutes No dia

seguinte as 8 horas acompanhado do professor Jesiel pegamos uma voadeira de 150HP com

destino ao territoacuterio Satereacute-Maweacute Foi uma viagem perigosa devido agraves condiccedilotildees dos rios e de

difiacutecil acesso para chegarmos laacute Todavia fizemos um esforccedilo e conseguimos nos deslocar ateacute

a comunidade Percorremos de voadeira uma viagem que durou aproximadamente 8 horas

pelo Rio Maueacutes Accediluacute Depois de uma hora e meia de viagem chegamos ao Rio Urupadi e

seguimos mais uma hora e meia de viagem ateacute a comunidade indiacutegena Vale do Quiinha

Nessa aldeia pegamos o professor Jacob Santos de Souza que nos acompanhou para a

proacutexima aldeia Ilha Michiles que fica no Rio Marau Nessa aldeia pegamos outro professor

Satereacute-Maweacute Jocimar Alencar dos Santos Saiacutemos da Ilha Michiles com destino a

comunidade Santa Maria que fica na divisa do Rio Urupadi e Manjuru A cada visita que

faziamos nas comunidades indiacutegenas percebemos no cotidiano a diversidade presente nas

aacutereas indiacutegenas Satereacute-Maweacute Ao perguntar se havia algueacutem surdo na famiacutelia e a resposta

sempre vinha de forma afirmativa o que me demonstrou que todos os esforccedilos para realizar a

viagem foram compensados diante da riqueza de dados coletados

A primeira iniciativa adotada com relaccedilatildeo a esse momento foi reunir com os

comunitaacuterios envolvidos nas atividades escolares A reuniatildeo teve como objetivo observar e

entrevistar alguns indiacutegenas para posteriormente analisar como se procede agrave comunicaccedilatildeo

entre indiacutegenas surdos e ouvintes A reuniatildeo foi muito uacutetil para os estudos e anaacutelise de

informaccedilotildees Os surdos existentes na comunidade nunca estudaram devido agrave comunidade

Santa Maria ficar distante da zona urbana e a escola existente para alunos ouvintes ficar em

75

outra comunidade o que inviabiliza a ida deles sendo que tambeacutem natildeo haacute professores

especializados para atenderem a clientela surda existente no Rio Marau

Encontramos dois indiacutegenas surdos na comunidade de Santa Maria que foram objeto

de estudos No entanto houve informaccedilotildees repassadas de que haacute outros trecircs surdos em outras

comunidades mais distante na mesma aacuterea Satereacute-Maweacute A visita para contactar estes outros

trecircs surdos ficou para a proacutexima viagem de observaccedilatildeo e coleta dos dados

451 O primeiro surdo da Comunidade de Santa Maria

No contato e observaccedilatildeo que tivemos com o surdo o mais novo tem 24 anos mora

com a famiacutelia natildeo conhece nenhuma liacutengua se comunica com gestos e sinais caseiros A

comunidade assim com a famiacutelia demosntrou pouco se importar com ele de forma que natildeo

haacute estiacutemulo ou interesse para que haja uma interaccedilatildeo linguiacutestica satisfatoacuteria entre eles

O ponto de encontro com seus colegas fica na parte central da comunidade que tem

um campo de futebol Laacute eles se concentram embaixo de uma aacutervore Neste lugar o surdo

costuma ficar quase diariamente com intuito de se unir e brincar com os colegas Ele usa os

sinais caseiros com expressotildees com a intenccedilatildeo de conseguir se comunicar com os colegas

Poreacutem alguns natildeo conseguem entender enquanto outros falam a Liacutengua Satereacute-Maweacute

Apesar do esforccedilo do surdo de tentar compreender o que eacute falado via a leitura labial na

maioria das vezes natildeo consegue compreender Poreacutem mesmo assim sinaliza balanccedilando a

cabeccedila com expressatildeo de concordacircncia afirmativa mesmo natildeo entendendo a mensagem

Tabela 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa

Maria

SINAIS CASEIROS

COLETADOS

DESCRICcedilAtildeO

AacuteGUARIO Usam-se as duas matildeos fazendo a expressatildeo de banzeiro

ANTA Matildeo direita fazendo a expressatildeo do focinho do nariz

AacuteRVORE As matildeos abertas fazendo expressatildeo de segurar o troco ao mesmo tempo

levando para cima

BARCO Usa a matildeo direita fechada fazendo expressatildeo de abrir e fechar a matildeo

como sinal de fumaccedila

BANHO Fazer a expressatildeo de pular na aacutegua com os braccedilos esticados

CASA As duas matildeos palmas para baixo fazendo um balanccedilo de movimento de

uma rede

CACcedilAR PEIXE Matildeo direita fazer expressatildeo de soltar o arpatildeo

CUIA As duas matildeos juntas fazer a expressatildeo de raspar a cuia

COCO Fazer a expressatildeo de tirar o coco com a vara

COMIDA As duas matildeos levando ateacute a boca

76

Fonte Azevedo (2014)

Figura 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa Maria

(30 sinais coletados)

COBRA Matildeo direita fazendo a expressatildeo da picada da cobra

FACA Matildeo direita fachada fazendo a expressatildeo de furar alguma coisa para

baixo

FLECHA Fazer a expressatildeo de jogar a flecha

FORMIGA Matildeo direita com os dedos beliscando o braccedilo esquerdo

FOME Matildeo direita levando em direccedilatildeo da barriga fazendo expressatildeo facial de

fome

FARINHA As duas matildeos fazer a expressatildeo de fazer farinha

GUARANAacute Fazer a expressatildeo de ralar o guaranaacute

JACAREacute Os dois indicadores das matildeos fazendo expressatildeo de dentes grandes do

jacareacute

LANCHA As duas matildeos dedos juntos fazer a expressatildeo de uma accedilatildeo raacutepida para

frente

MACACO Com braccedilos abertos fazer a expressatildeo de macaco

MALOCA As duas matildeos com os dedos encostados puxar para os lados opostos

MANDIOCA Fazer expressatildeo de descascar algum

ONCcedilA Com as matildeos fazer pintas no rosto

PAI As duas matildeos esfregando os indicadores

PEIXE Faz se expressatildeo de descamar o peixe

PILAtildeO As duas matildeos juntas fazendo a expressatildeo de socar a crueira

POTE AacuteGUA As duas matildeos juntas palmas para cima elevando para cima em curvas

onduladas

PASSAacuteRO As duas matildeos fazendo o movimento de paacutessaro

PESSOA Matildeo direita fazendo a expressatildeo de pegar no cabelo

TIPITI As duas matildeos fazendo a expressatildeo de espremer algum

PENEIRAR As duas matildeos em forma letra A fazer expressatildeo de balanccedilar o objeto

AacuteGUA ANTA AacuteRVORE

VIAGEM BANHO

77

VIAJAR

CASA CACcedilAR ALIMENTO CUIA

COCO COMIDA

FACA

FARINHA

FORMIGA

GUARANAacute

FOME

FACA

FLECHA

78

JACAREacute LANCHA

MACACO

MANDIOCA ONCcedilA

MALOCA PAI

POTE DE AacuteGUA PILAtildeO

LANCHA JACAREacute

PEIXE

79

452 O segundo surdo da Comunidade de Santa Maria

O segundo surdo visitado um senhor adulto com identidade natildeo revelada residindo na

Comunidade de Santa Maria Eacute um cidadatildeo reservado e fechado para desconhecidos Como

nossa equipe era composta de 05 profissionais sendo 03 (trecircs) professores indiacutegenas que me

acompanharam para serem facilitadores linguiacutesticos e um colaborador local para captar as

imagens ficarmos 04 (quatro) dias na comunidade para observaccedilotildees Apesar do tempo o

investido para conseguir o contato o mesmo se mostrou irredutiacutevel e natildeo se dispos a

conversar conosco Observa-se que mora sozinha e eacute raro ele se manifestar na comunidade

Pela histoacuteria contada a seu respeito apesar de natildeo se comunicar manteacutem sua residecircncia de

maneira organizada cultiva de algumas plantaccedilotildees como mandioca banana guaranaacute aleacutem de

produzir farinha tambeacutem faz pescaria para se alimentar Foi relatado que ajuda alguns

vizinhos e amigos com o que produz aleacutem de ser experiecircncia em matildeo de obra na confecccedilatildeo

de trepadeira silvestre que facilita subir nas aacutervores coqueiros e accedilaizeiros

PASSAacuteRO PESSOA COBRA

TIPITI PENEIRAR

80

Sobre o contexto educacional tendo como tema central a educaccedilatildeo escolar indiacutegena

o professor Jesiel (2014)28

(que eacute indiacutegena e concluiu o curso de pedagogia intercultural na

Universidade do Estado do Amazonas localizado no municiacutepio de Maueacutes) argumentou que o

territoacuterio Satereacute-Maweacute eacute muito grande sendo longa a distacircncia para se chegar na zona

urbana ateacute de forma que mesmo o deslocamento de uma comunidade para outra dificulta os

indiacutegenas irem para a escola Estas segundo o educador referido satildeo algumas razotildees que

impedem muitos indiacutegenas de estudarem na medida em que acarreta prejuiacutezo para a famiacutelia

especialmente de perda de tempo principalmente para os adultos que tem compromisso no

campo e com a comunidade

Para solucionar este problema devido a distacircncia as famiacutelias e os liacutederes indiacutegenas

possuem propostas e lutas para a construccedilatildeo de escolas nas aldeias o que facilitaria o acesso

dos surdos indiacutegenas da comunidade na escola E ao considerar que o indiacutegena surdo

compreende e se comunica com seus pares atraveacutes de gestos e sinais caseiros de forma que

aleacutem de sua liacutengua nativa haacute outros meios para que o surdo possa se comunicar isso aponta

para a necessidade da criaccedilatildeo de propostas de acesso agrave educaccedilatildeo dessas pessoas Dessa

maneira foram catalogados alguns sinais utilizados por esse surdo adulto da Comunidade de

Santa Maria apresentado abaixo

Tabela 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais antigo residente isolado na

comunidade de Santa Maria no Rio Marau ( 18 sinais coletados)

28

As famiacutelias e os liacutederes indiacutegenas possuem propostas e lutas para a construccedilatildeo de escolas nas aldeias para a

facilitaccedilatildeo do acesso dos surdos indiacutegenas na comunidade e na escola O indiacutegena surdo apesar de natildeo ouvir

compreende e comunica com seus pares atraveacutes de gestos e sinais caseiros que aleacutem de sua liacutengua nativa haacute

outros meios para que o surdo possa se comunicar Isso contribui para a criaccedilatildeo de propostas de acesso agrave

educaccedilatildeo dessas pessoas Dessa maneira foram catalogados alguns sinais utilizados por esse surdo adulto da

Comunidade de Santa Maria apresentado abaixo

A contribuiccedilatildeo do professor indiacutegena Jesiel Santos foi de suma importacircncia para a coleta de dados nesta

pesquisa visto que atraveacutes dele que conseguimos chegar ateacute a comunidade de Santa Maria afim de termos os

contatos na comunidade

SINAIS CASEIROS DESCRICcedilAtildeO

ARCOFECHA As duas matildeos com expressatildeo de utilizar um arco com flecha

AacuteGUA Matildeo direita com utilizando somente o dedo polegar fazer a expressatildeo de

beber algum

BANHO Os braccedilos e matildeos esticadas fazer a expressatildeo de se soltar no rio

BEIJU As duas matildeos fazendo um circulo e em seguida levar ateacute a boca

CIGARRO A posiccedilatildeo para traduzir este sinal satildeo as duas matildeos em posiccedilatildeo dos dedos

polegar e indicador juntos fazendo expressatildeo de fazer um cigarro caseiro

CASA As duas matildeos com os dedos esticados fazer a expressatildeo de formato de uma

casa

COBRA A matildeo direita com os dedos indicador e polegar encostados fazer a expressatildeo

de beliscar o pulso de antebraccedilo

FARINHA Matildeos com os dedos todos juntos fazer a expressatildeo com o movimento de

81

Figura 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo idoso na comunidade de Santa Maria

soltar a farinha

FORNO DE ASSAR Matildeo direita fazendo um semiciacuterculo de com a caracteriacutestica de um forno de

barro

GARREIRA As duas matildeos juntas fazer a expressatildeo repetidamente de amassar uma massa

JACAREacute As duas matildeos pegando os dentes

LUVA DA TUCANDEIRA Fazendo a expressatildeo de usar uma luva de palha e fazer a expressatildeo de dor da

ferrada da tucandeira

MANDIOCA Usar o antebraccedilo esquerdo com a matildeo direita como um material cortante

fazendo a expressatildeo de descascar

MACACO Os dois braccedilos e corpo fazendo a expressatildeo do movimento caracteriacutestico do

macaco

PAJEacute As duas matildeos fazendo a expressatildeo de segurar algum e balanccedilar

PAacuteSSARO Fazer a expressatildeo de balanccedilar os braccedilos caracterizando o movimento de um

paacutessaro

TIPITI As duas matildeos fazendo o movimento de espremer a mandioca

TERRASOLO Matildeo direita fazendo expressatildeo de um pequeno monte de terra

ARCOFECHA BEBER

LIacuteQUIDOAacuteGUA

BEIJUCOMER COBRA

FARINHA FERRADA DA TUCANDEIRA MALOCACASA ESCOLA

ARCOFLECHA BEBER LIQUIDOAacuteGUA BANHOPULAR NA AacuteGUA

AacuteAacuteGUA

CIGARRO

82

FORNO DE ASSAR

JACAREacute

LUVA DA TUCANDEIRA MACACO

PAJEacute

TIPITI TERRA

GAREIRA

MANDIOCA

PAacuteSSARO

(( ))

JACAREacute

83

5 ICONICIDADE E ARBITRARIEDADE NA CRIACcedilAtildeO DOS SINAIS CASEIROS

Nos anos 60 a partir dos trabalhos de Stokoe (1960) foi comprovado que as Liacutenguas

de Sinais satildeo linguas Estas satildeo liacutenguas naturais com ldquoestrutura gramatical proacutepria em seus

niacuteveis fonoloacutegico (ou queroloacutegico) morfoloacutegico sintaacutetico e semacircntico aleacutem de seus aspectos

pragmaacuteticosrdquo

De acordo com Quadros (2006 p 221)

pelo fato de as liacutenguas de sinais natildeo serem faladas e de natildeo terem o seu coacutedigo

escrito ainda popularizado entre os surdos natildeo as elimina das consideraccedilotildees

cientiacuteficas visto que apresentam uma organizaccedilatildeo estrutural e fazem parte da

constituiccedilatildeo cultural desses sujeitos ndash crescendo envolvendo e transmitindo

dinamicamente tradiccedilotildees socioculturais Portanto as liacutenguas de sinais fazem parte

do conjunto da linguagem humana com a diferenccedila de se apresentarem em uma

terceira modalidade a visuo-espacial

Reiterando-se que a Liacutengua de Sinais eacute uma liacutengua natural uma vez que estaacute veiculada

a um canal que natildeo eacute o oral-auditivo e sim visual esta garante uma percepccedilatildeo e articulaccedilatildeo

mais faacutecil mais coerente e confortaacutevel aleacutem de contribuir para o desenvolvimento linguiacutestico

cognitivo e social do surdo

Sobre as caracteristicas linguiacutesticas das Liacutenguas de Sinais vale ressaltar que Sousa

(2010) ao tratar dos aspectos visuais quanto agraves propriedades das Liacutenguas de Sinais enfatiza a

iconicidade e arbitrariedade relacionada ao signo linguiacutestico que satildeo inerentes agraves liacutenguas

naturais Sobre as definiccedilotildees dos fenocircmenos das liacutenguas estes remontam a eacutepoca de Platatildeo

filoacutesofo grego que tratava os fenocircmenos sobre a linguagem e a relaccedilatildeo dela com o mundo

Cita-se tambeacutem Craacutetilo Hermoacutegenes e Soacutecrates que foram interlocutores desta relaccedilatildeo

discutindo a ligaccedilatildeo existente entre nome ideia e coisa A abordagem dos trecircs se diferenciava

de forma que Craacutetilo defendia o conceito de iconicidade Hermoacutegenes de arbitrariedade

Soacutecrates por seu turno integrava as duas concepccedilotildees Esta diferenciaccedilatildeo tecido pelos trecircs

filosofos pode ser vislumbrada no trecho transcrito abaixo

Para Craacutetilo a liacutengua eacute o espelho do mundo o que significa que existe uma relaccedilatildeo

natural e portanto similar ou icocircnica entre os elementos da liacutengua e os seres por

eles representados Para Hermoacutegenes a liacutengua eacute arbitraacuteria isto eacute convencional pois

entre o nome e as ideias ou as coisas designadas natildeo haacute transparecircncias ou

similaridade Soacutecrates por sua vez tem o papel de fazer a integraccedilatildeo entre os dois

pontos de vista (WILSON amp MARTELOTTA 2010 apud SOUSA 2010 p 4)

84

A modalidade gestual-visual espacial pela qual a Liacutengua de Sinais eacute produzida e

reconhecida pela comunidade Surda leva muitas vezes as pessoas a pensarem que todos os

sinais satildeo desenho no ar do referente que representam Para melhor esclarecimento por

decorecircncia de sua natureza linguiacutestica a realizaccedilatildeo de um sinal pode sim ser motivada pelas

caracteriacutesticas do dado da realidade a que se refere poreacutem natildeo eacute regra Ou seja a maioria dos

sinais da LIBRAS eacute arbitraacuteria natildeo mantendo relaccedilatildeo de semelhanccedila alguma com seu

referente Portanto essa condiccedilatildeo possibilita o enriquecimento da flexibilidade e versatilidade

da liacutengua (BASSO 2011 p47)

Exemplos de sinais arbitraacuterios

Figura 6 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos que se refere agrave

arbitrariedade

BISCOITO PESSOA DESCULPA

Fonte Azevedo (2014)

A ideia de arbitrariedade da liacutengua se relaciona com a ideia de convenccedilatildeo que se

efetiva em todas as liacutenguas como Liacutengua de Sinais e na Liacutengua Portuguesa ilustra-se o

processo com os exemplos das palavras ldquobiscoitordquo ldquodesculperdquo e ldquopessoardquo O processo de

definiccedilatildeo destes termos ocorre de forma arbitraacuteria pois soacute nomes foram atribuiacutedos devido a

uma convenccedilatildeo que estabelece esse conceito e natildeo porque haacute uma relaccedilatildeo entre o som da

palavra e o objeto que ela designa (SALLES 2007 p 5)

No caso da Libras os exemplos citados de sinais foram criados sem sofrer influecircncia

da imagem dos objetos aos quais eles se referem O que mostra que mesmo que a Libras

tambeacutem apresenta a caracteriacutestica de arbitraacuterios (TEIXEIRA 2015 p 5)

Para compreender melhor a importacircncia da visualidade na Liacutengua de Sinais dos

Satereacute-Maweacute eacute relevante entender trecircs conceitos da teoria de Pierce sobre a iconicidade que

pode ser considerada a base dos sinais dessa comunidade os quais satildeoo siacutembolo o iacutendice e o

iacutecone Segundo Martelotta (2011) (apud TEIXEIRA 2015 p 2)

85

O siacutembolo de acordo com Peirce refere-se a determinado objeto representando-o

com base em uma lei haacutebito ou convenccedilatildeo estabelecendo uma relaccedilatildeo entre dois

elementos Para citar alguns exemplos a cruz eacute o siacutembolo do cristianismo e a

balanccedila o siacutembolo da justiccedila Uma caracteriacutestica importante do siacutembolo relaciona-se

ao fato de que ele eacute parcialmente motivado ou seja haacute entre o siacutembolo e o conteuacutedo

simbolizado alguns traccedilos relacionados ao objeto

Haacute uma diferenccedila fundamental entre o siacutembolo de um lado e o iacutendice e o iacutecone de

outro jaacute que nesses dois uacuteltimos haacute um niacutevel ainda menor de arbitrariedade No caso

do iacutendice ocorre uma relaccedilatildeo de contiguidade com a realidade exterior a fumaccedila

por exemplo eacute o iacutendice do fogo e a presenccedila de nuvens negras o iacutendice de chuva

iminente

O iacutecone por sua vez tem uma natureza imagiacutestica apresentando portanto

propriedades que se assemelham ao objeto a que se refere A fotografia de um

indiviacuteduo por exemplo eacute uma representaccedilatildeo icocircnica desse indiviacuteduo assim como o

mapa do Rio de Janeiro representa a cidade Assim um iacutecone eacute qualquer coisa que

seja utilizada para designar algo que lhe seja semelhante em algum aspecto

Nesta perspectiva Quadros (1997) traz a reflexatildeo sobre os efeitos da modalidade ou

seja o fato de a Liacutengua de Sinais serem visuoespacial em vez de auditiva-oral implica nas

diferenccedilas para a aquisiccedilatildeo do surdo e nesse sentido tem-se a questatildeo da iconicidade das

Liacutenguas de Sinais uma vez que a iconicidade se refere

A transparecircncia entre significado e o significante ou seja a relaccedilatildeo de identidade

entre a palavra (o sinal) e o seu sentido Por exemplo nas liacutenguas faladas agraves

onomatopeias satildeo consideradas por alguns autores como icocircnicas pois a produccedilatildeo

sonora bdquoreal‟ (do objeto ou do animal) eacute reproduzida na fala expressando certa

identidade (QUADROS 2011 p 22)

Vale ressaltar que a iconicidade vem sendo estudada a partir da pesquisa semioacutetica de

Charles Sanders Peirce (1999) filoacutesofo norte-americano contemporacircneo de Saussure

Segundo Teixeira (2015) Peirce em seus estudos sobre a Semioacutetica o signo tem a funccedilatildeo de

proporcionar uma ideia do mundo e tudo que cerca o indiviacuteduo estaacute rodeado de signos Como

explica o filoacutesofo

[] para que algo possa ser um Signo (expressatildeo ou representamento) esse algo

deve bdquorepresentar‟ [] alguma outra coisa chamada seu Objeto apesar de ser talvez

arbitraacuteria a condiccedilatildeo segundo a qual um Signo deve ser algo distinto de seu objeto

(PEIRCE 1999 apud TEIXEIRA 2015 p 5)

Ao direcionar essas definiccedilotildees para agraves liacutenguas de sinais Sousa (2010) afirma que

muitas vezes essas liacutenguas satildeo consideradas puramente icocircnicas por serem de uma

modalidade diferente acreditando-se acredita que os sinais satildeo criados sempre a partir da

86

representaccedilatildeo do referente Eacute certo que um sinal pode ser realizado de acordo com a

caracteriacutestica daquilo que se refere mas de acordo com Strobel amp Fernandes (1998 apud

Sousa 2010 p 4) ldquoisto natildeo eacute uma regra jaacute que a maioria dos sinais em Libras eacute arbitraacuterio ou

seja natildeo manteacutem uma relaccedilatildeo de similitude com o referenterdquo

Reconhece-se que algumas Liacutenguas de Sinais parecem ter maior motivaccedilatildeo icocircnica

apresentando relaccedilotildees entre a sua forma e o seu significado comumente observado nas

Liacutenguas de Sinais caseiras dos Satereacute-Maweacute Isso significa a relaccedilatildeo entre o referente e o

referenciado Alguns estudos como os de Meier (1981) citado por Lillo-Martin (1986)

apontam para uma aparente iconicidade nas liacutenguas de sinais o que justifica considerar as

variaccedilotildees regionais e sociais e as mudanccedilas histoacutericas como fenocircmenos identificaacuteveis na

Liacutengua Brasileira de Sinais o que lhe confere o caraacuteter natural (STROBEL amp FERNANDES

1998 apud SOUSA 2010)

Nesse contexto a iconicidade como caracteriacutesticas semelhantes ao iacutecone tem em

comum o objeto que representa Por ser uma liacutengua de modalidade visuoespacial a

iconicidade estaacute presente em grande parte dos sinais da Libras pois a relaccedilatildeo entre a ldquoformardquo

e o ldquosentidordquo eacute mais visiacutevel Salles (2007) em bdquoEnsino de liacutengua portuguesa para surdos

caminhos para a praacutetica pedagoacutegica‟ comenta

Um aspecto que se sobressai no contraste entre as modalidades viacutesuo-espacial e oral-

auditiva eacute a questatildeo da arbitrariedade do signo linguiacutestico Esse conceito estabelece

que na constituiccedilatildeo do signo linguiacutestico a relaccedilatildeo entre o significante (imagem

acuacutestico-focircnica) e o significado eacute arbitraacuteria isto eacute natildeo existe nada na forma do

significante que seja motivado pelas propriedades da substacircncia do conteuacutedo

(significado) Uma caracteriacutestica das liacutenguas de sinais eacute que diferentemente das

liacutenguas orais muitos sinais tecircm forte motivaccedilatildeo icocircnica Natildeo eacute difiacutecil supor que esse

contraste se explique pela natureza do canal perceptual na modalidade viacutesuo-

espacial a articulaccedilatildeo das unidades da substacircncia gestual (significante) permite a

representaccedilatildeo icocircnica de traccedilos semacircnticos do referente (significado) o que explica

que muitos sinais reproduzam imagens do referente na modalidade oral-auditiva a

articulaccedilatildeo das unidades da substacircncia sonora (significante) produz sequecircncias que

em nada evocam os traccedilos semacircnticos do referente (significado) o que explica o

caraacuteter imotivado ou arbitraacuterio do signo linguiacutestico nas liacutenguas orais (SALLES

2007 p 83)

Todavia os mesmos sinais icocircnicos possuem um grau de arbitrariedade na definiccedilatildeo

dos mesmos como explica Frydrych (2012)

Pode haver contudo sinais com diferentes graus de iconicidade Um sinal pode natildeo

se assemelhar ao objeto que representa pela forma mas apresentar de alguma

forma uma similaridade por meio de expressotildees faciais ou movimentos Um

exemplo eacute o sinal ldquotristerdquo que possui como configuraccedilatildeo de matildeo o sinal Y

localizada abaixo do queixo em movimento de meia lua O sinal nada tem a ver

com o que a palavra representa no entanto a expressatildeo facial de tristeza que

acompanha o sinal daacute indiacutecios de que seu significado pode natildeo ser muito agradaacutevel

87

[] Falar de sinais icocircnicos em Libras pode parecer comum no entanto o sinal de

ldquocasardquo por exemplo motivado pelo formato do telhado de uma casa eacute tambeacutem

usado para o sinal de ldquomorarrdquo que pode ser usado para ldquomoradiardquo em diferentes

formatos de residecircncia como por exemplo casa apartamento cabana etc Embora o

sinal possa ter sido motivado na sua criaccedilatildeo por um tipo de casa passou a ser usado

de forma muito mais abrangente Sendo isto muito comum nas liacutenguas de sinais Os

sinais passam a ser signos linguiacutesticos altamente arbitraacuterios e passam a integrar o

leacutexico da liacutengua (Apud PIVETTA et al 2013 p8)

Como tambeacutem salienta Silva (2012) que ao passar do tempo o sinal icocircnico perde sua

motivaccedilatildeo inicial passando a ser arbitraacuterio

[] a transparecircncia eacute relativa porque a forma dos objetos ou movimentos que

originaram o sinal pode variar no tempo perdendo a sua motivaccedilatildeo inicial Um

exemplo eacute o sinal ldquoleiterdquo que faz referecircncia ao ato de ordenha que hoje ainda pode

ser considerado um sinal icocircnico Todavia para as futuras geraccedilotildees a motivaccedilatildeo de

sua representaccedilatildeo tende a se tornar uma convenccedilatildeo o que faz com que o sinal passe

a ser arbitraacuterio e de valor simboacutelico Sinais como o de ldquoleiterdquo satildeo frutos de um

processo histoacuterico e com o passar do tempo natildeo representam mais os artefatos e

procedimentos atuais sendo percebidos e interpretados apenas por meio da

arbitrariedade e da convenccedilatildeo(Apud PIVETTA et al 2013 p8)

A seguir temos alguns exemplos de sinais icocircnicos na Libras satildeo os sinais ldquoaacutervorerdquo

ldquocadeirardquo ldquocasardquo constituiacutedos a partir de caracteriacutesticas da imagem dos objetos aos quais se

referem Enquanto o primeiro lembra a imagem do tronco e das folhas de uma aacutervore o

segundo lembra as pernas de uma pessoa representadas pelos dedos indicador e meacutedio e a

terceira lembra a imagem de um telhado ou de uma casa sentada no objeto em questatildeo

(SALLES 2007 p 83)

Figura 7 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos aos quais se referem a

iconicidade

Fonte Azevedo (2014)

AacuteRVORE CADEIRA CASA

88

Figura 8 Caracteriacutesticas da imagem em Liacutengua de Sinais Satereacute-Maweacute dos objetos aos

quais se referem agrave iconicidade

Yara Wato Barco Libras

Fonte Azevedo (2014)

Man Beiju Libras

Fonte Azevedo (2014)

Kamunti hit Bilha Libras

Fonte Azevedo (2014)

89

Dessa maneira podem-se definir os sinais icocircnicos como aqueles que fazem alusatildeo agrave

imagem do seu significado natildeo implicando que todos os sinais satildeo iguais ou sinais icocircnicos

em todas as Liacutengua de Sinais cada grupo social absorve aspectos diferentes da imagem do

referente convencionando a representaccedilatildeo do sinal Os signos arbitraacuterios satildeo os que natildeo

trazem nenhuma relaccedilatildeo de semelhanccedila com o referente

90

6 INTERVENCcedilAtildeO E CONTRIBUICcedilAtildeO LINGUIacuteSTICA DO PROFESSOR SURDO

Os estudos sobre a educaccedilatildeo sistemaacutetica dos indiacutegenas surdos da etnia Satereacute-Maweacute

levaram agrave percepccedilatildeo da necessidade iminente de uma atuaccedilatildeo no processo ensino

aprendizagem desses sujeitos Desse modo apoacutes conhecer a realidade linguiacutestica e

educacional dos indiacutegenas surdos observados nas aldeias e na zona urbana de Parintins foi

possiacutevel intervir por meio do ensino da Liacutengua Brasileira de Sinais A intervenccedilatildeo foi feita

com o consentimento dos responsaacuteveis locais onde se faziam presentes acompanhando o

objeto da pesquisa - os indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute

Assim com a autorizaccedilatildeo da famiacutelia o primeiro contato foi estabelecido entre uma

crianccedila surda indiacutegena com professor tambeacutem surdo que ocorreu na residecircncia dela na zona

urbana do municiacutepio de Parintins cujo registro de imagem consta na Figura 9

Figura 9 Encontro da crianccedila surda Satereacute-Maweacute com o professor surdo

Fonte Azevedo (2014)

No contato foi possiacutevel verificar que a crianccedila natildeo conhecia a liacutengua Libras Sua

forma de comunicaccedilatildeo era com o uso dos siacutembolos ldquocaseirosrdquo Contudo ela respondeu ao

estiacutemulo de conversaccedilatildeo com muita facilidade buscando fazer a comunicaccedilatildeo As demais

observaccedilotildees e intervenccedilatildeo deram-se no ambiente educacional na Escola de Aacuteudio e

Comunicaccedilatildeo Padre Paulo Manna (Figura 10) Nesse contexto a crianccedila acompanhava com

atenccedilatildeo ao desempenho dos demais pares sempre atenta para compreensatildeo do conteuacutedo

comunicativo Ficou evidente a necessidade de um material de suporte escrito como recurso a

ser utilizado pelos docentes no processo ensino e aprendizagem

91

Figura 10 Contato com aluno Satereacute-Maweacute surdo no ambiente escolar

Fonte ndash Azevedo (2014)

Ocorreu tambeacutem o contato com o aluno surdo da Etnia Satereacute-Maweacute matriculado na

Escola Estadual Brandatildeo de Amorim em Parintins o qual foi feito em sua residecircncia dele A

conversa com ele foi feita fluentemente em Libras (Figura 10) Entretanto ao ser indagado

sobre a cultura a liacutengua falada de sua etnia natildeo soube responder Comprovou-se que o aluno

natildeo participa do contexto cultural da etnia por isso natildeo a conhece Por tal considera-se que o

material triliacutengue seria um recurso apropriado para promover o reconhecimento de muitos

signos que fazem parte da Liacutengua Satereacute-Maweacute

Figura 11 Contato com o aluno surdo Satereacute-Maweacute na Escola Estadual Brandatildeo de Amorim

Fonte ndash Azevedo (2014)

O contato com os familiares juntamente com professores indiacutegenas e inteacuterprete

linguiacutestica possibilitou ter uma visatildeo sobre o contexto comunicativo do indiacutegena surdo A

conversa com o pai do indiacutegena surdo na Aldeia de Santa Maria indicou a forma como

conseguem se comunicar com o filho desde o momento que perceberam que ele era surdo

Explicaram as dificuldades que tiveram no processo de entendimento com ele Confirmaram

92

que o aprendizado da liacutengua Libras indicando os signos que representam a cultura da etnia

seria muito importante para a comunicaccedilatildeo entre ele e os familiares eou educadores

Figura 12 Em viagem para aacuterea indiacutegena no Rio Marau ndash comunicaccedilatildeo com familiares

Fonte - Azevedo (2014)

O projeto da pesquisa foi apresentado na comunidade de Santa Maria para os

representantes da comunidade indiacutegena (Figura 12)

Figura 13 Apresentaccedilatildeo do projeto de pesquisa agraves lideranccedilas indiacutegenas na comunidade

Fonte Azevedo (2014)

Ressalta-se a importacircncia das lideranccedilas conhecerem e participarem do desenvolvimento

do projeto A relevacircncia desta participaccedilatildeo daacute-se em funccedilatildeo de que as mesmas contribuiram

informando vocabulaacuterios caracteristicos da regiatildeo que enriqueceram o minidicionaacuterio

triliacutengue Satereacute-MaweacutePortuguecircsLibras como pode ser evidenciado a seguir

93

Vocabulaacuterios e utensiacutelios indiacutegenas sinalizados em Libras

Liacutenguas

Satereacute-Maweacute Portuguecircs Libras

Mory‟ywat siomory‟awat Arco

Satereacute-Maweacute Portuguecircs Libras

T wa Aldeia

Ressalta-se a importacircncia do minidicionaacuterio ao considerar que o vocabulaacuterio contido no

mesmo poderaacute ser utilizado pelo indiacutegena surdo para ele aprenda a comunicaccedilatildeo utilizando os

signos que fazem parte da linguagem da etnia

E realizando uma mini oficina de Libras para professores da comunidade (Figura 6)

foi possiacutevel demonstrar o uso da Libras no contexto da sala de aula A participaccedilatildeo efetiva dos

mesmos proporcionou a troca de informaccedilotildees sobre o vocabulaacuterio da liacutengua indiacutegena

94

Figura 14 Desenvolvimento de oficina de Libras com professores indiacutegenas

Fonte Azevedo (2014)

Enfatiza-se que todo empenho em levar o conhecimento da Liacutengua Brasileira de Sinais

para os indiacutegenas surdos professores indiacutegenas familiares de surdos e comunidade manteve-

se em funccedilatildeo do ensejo de fazecirc-los conhecer e compreender a capacidade e modos dos

indiacutegenas surdos se comunicarem aleacutem de promover a aprendizagem da Libras em um lugar

de tatildeo difiacutecil acesso com pequenas escolas que sequer tecircm materiais didaacuteticos adaptados a

essa clientela Por este motivo considera-se que a contribuiccedilatildeo linguiacutestica em forma de um

minidicionaacuterio eacute um passo importante para levar aos indiacutegenas surdos a sua comunidade e o

nuacutecleo familiar destes o iniacutecio do resgate da sua liacutengua natural que eacute a Liacutengua Brasileira de

Sinais e a sua liacutengua nativa aleacutem de seus traccedilos culturais incluiacutedos no minidicionaacuterio

61 Libras e Liacutengua Satereacute-Maweacute intercacircmbio de construccedilatildeo sociocultural-linguiacutestico

Analisando a histoacuteria do povo surdo e do povo indiacutegena percebe-se uma trajetoacuteria

similar nas lutas por seus direitos culturais e linguiacutesticos Ambos tentam

fortalecer o conhecimento da proacutepria histoacuteria com seus acertos desacertos conflitos

e sucessos buscando a compreensatildeo do ator social como sujeito da histoacuteria e

possibilitando assim a construccedilatildeo de um projeto poliacutetico articulado com outros

setores que incremente as possibilidades de construccedilatildeo dos proacuteprios projetos de

uma vida melhor (HERNAIZ 2009)

Neste sentido destaca-se que esses indiviacuteduos satildeo esquecidos na realidade cultural do

paiacutes como se natildeo existissem enquanto cidadatildeos que tem as suas formas de produzir no

contexto social Mudar esta realidade faz-se fundamental Para tal Guerreiro (2009 p93)

argumenta que

Os direitos culturais satildeo por sua vez um campo complexo que inclui vaacuterios

conjuntos de direitos e garantias entre os quais me interessa destacar para essa

reflexatildeo os seguintes o reconhecimento da diversidade o exerciacutecio da identidade

como povos o uso restrito do idioma uma educaccedilatildeo proacutepria e o respeito pelo

patrimocircnio cultural

95

Os processos culturais linguiacutesticos entre os povos surdos e indiacutegenas surdos eacute uma

possibilidade bem proacutexima atraveacutes do intercacircmbio sociocultural-linguiacutestico que estaacute sendo

construiacutedo pois o surdo indiacutegena faz parte da cultura surda e tem cacircmbio com a cultura

indiacutegena e em muitos casos com a cultura do povo ouvinte

Todavia alguns aspectos da cultura surda satildeo desconhecidos pelo proacuteprio surdo

indiacutegena Por isso a necessidade de surdos indiacutegenas se relacionarem com seus semelhantes

surdos seja indiacutegena ou natildeo indiacutegena para que atraveacutes deste contato possa construir sua

identidade cultural da comunidade surda tornando conhecida sua cultura tribal por meio da

liacutengua de instruccedilatildeo a Libras No exemplo abaixo ilustra-se a percepccedilatildeo dessa realidade

Man ype Crueira Libras

Kui‟a Cuia Libras

Dessa forma conhecendo valorizando e respeitando sua cultura que eacute um patrimocircnio

cultural da sociedade

Logo a liacutengua em uso pelos iacutendios surdos seja ela a Liacutengua de Sinais Indiacutegena

ldquosinais emergentesrdquo ou a Liacutengua Brasileira de Sinais (como empreacutestimo sociocultural-

linguiacutestico) e a Liacutengua Satereacute-Maweacute devem ser valorizadas com respeito muacutetuo na

transmissatildeo de sua cultura Os indiviacuteduos que precisam se comunicar por meio delas lutam

96

pelo fortalecimento dessa inserccedilatildeo cultural pela construccedilatildeo de um futuro melhor e pelo

respeito aos direitos dos iacutendios localizados neste vasto territoacuterio Nesse sentido

A identidade cultural requer tambeacutem ela a alteridade como dialogicidade

intercultural No seu proacuteprio interior ela natildeo eacute nunca algo de compacto mas

apresenta toda uma seacuterie de relaccedilotildees no plano sincrocircnico e diacrocircnico com outras

culturas que lhes datildeo vida justamente pela sua diversificaccedilatildeo e discordacircncia por

mais que ela se obstine em realizar-se mediante a identificaccedilatildeo com alguns de seus

aspectos apenas com algumas formas culturais determinadas que se arvoram

oficiais e dominantes (PONZIO 2007 p179)

Para estes estudos a uniatildeo de esforccedilos que viabilizou a realizaccedilatildeo deste diagnoacutestico eacute

uma demonstraccedilatildeo clara de que eacute perfeitamente possiacutevel trilhar no mundo linguiacutestico

possibilitando a cada indiacutegena novos horizontes na comunicaccedilatildeo

97

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A presente pesquisa teve como foco principal o levantamento de indiacutegenas surdos nas

microrregiotildees do municiacutepio de Parintins da etnia Satereacute-Maweacute

Com base nas informaccedilotildees levantadas nas terras indiacutegenas e nas cidades onde vivem

os Satereacute-Maweacute evidenciou-se que as escolas de zonas rurais e comunidades que o iacutendio

surdo requenta natildeo possui uma educaccedilatildeo diferenciada especiacutefica a sua especificidade

A realidade encontrada no municiacutepio de Parintins para com os alunos iacutendios surdos

por ser em zona urbana jaacute apresenta um diferencial A escola dispotildee de sala de recursos para

alunos indiacutegenas surdos poreacutem dentro dessa realidade haacute falta de professores que dominem a

liacutengua nativa Satereacute-Maweacute para que a escola proporcione um aprendizado triliacutengue Liacutengua

Brasileira de Sinais Liacutengua Satereacute-Maweacute e Liacutengua Portuguesa na modalidade escrita

Nas escolas visitadas onde encontramos surdos foi observado falta de mateacuterias

visuais sala de recursos com atendimentos diferenciados para os alunos indiacutegenas surdos e

indiacutegenas surdos

Foram considerados no decorrer do texto aspectos da contextualizaccedilatildeo em que se deu

a pesquisa desde as discussotildees que antecederam a elaboraccedilatildeo do projeto passando pelas

parcerias que foram estabelecidas no decorrer do processo especialmente com as vaacuterias

organizaccedilotildees indiacutegenas Satereacute-Maweacute ateacute o desenvolvimento das condiccedilotildees que garantiram a

plena participaccedilatildeo da comunidade no decorrer das atividades de pesquisa Partindo da

enumeraccedilatildeo dos principais objetivos do projeto o relatoacuterio apresenta as aacutereas e localidades

cobertas o nuacutemero de domiciacutelios levantados e de moradores entrevistados assim como a

metodologia utilizada a operacionalizaccedilatildeo das atividades de campo o treinamento dos

entrevistadores o levantamento nas cidades e nas terras indiacutegenas a forma e a intensidade

como se desenvolveu a participaccedilatildeo das lideranccedilas e da comunidade como um todo

Durante a pesquisa a sociedade indiacutegena e natildeo indiacutegena juntamente com profissionais

da educaccedilatildeo da linguiacutestica e a proacutepria comunidade surda acompanharam a perspectiva para

uma nova trajetoacuteria destes os iacutendios surdos a qual reflete o reconhecimento linguiacutestico destes

como pessoas pertencentes agraves minorias linguiacutesticas

Ao analisar as questotildees linguiacutesticas nas aacutereas indiacutegenas das microrregiotildees de Parintins

verificou-se que a implantaccedilatildeo deste empreendimento representou como um novo modelo de

desenvolvimento para a comunicaccedilatildeo de indiacutegenas surdos nas comunidades indiacutegenas

98

Ressalta-se que cada municiacutepio onde existem membros da etnia Satereacute receberaacute como

retorno da pesquisa um minidicionaacuterio triliacutengue (Liacutengua de Sinais Liacutengua Satereacute-Maweacute e

Liacutengua Portuguesa) para intercacircmbio sociocultural-linguiacutestico

Este material tem a intenccedilatildeo de abrir o caminho para a participaccedilatildeo direta dos iacutendios

na construccedilatildeo de seu futuro Ele caracteriza uma mudanccedila da forma de olhar para os povos

indiacutegenas Agora eacute preciso trabalhar para que todas as comunidades e etnias possam produzir

seus diagnoacutesticos Todas elas precisam dispor das informaccedilotildees com as quais poderatildeo dar uma

direccedilatildeo a suas accedilotildees Nesse sentido deve haver iniciativas por parte do poder local para que o

governo e as entidades aliadas agraves causas indiacutegenas possam aproveitar as experiecircncias dos

vaacuterios pesquisadores sobre as causas dos Satereacute-Maweacute para ampliar esse tipo de trabalho

Satildeo diagnoacutesticos como este que iratildeo dar o norte para novos projetos e programas que

favoreccedilam realmente garantir a autonomia dos povos indiacutegenas

Finzaliza-se com a satisfaccedilatildeo de que a pesquisa presente contribuiu com um pequeno

passo no incentivo da conservaccedilatildeo e crescimento da identidade cultural-linguiacutestica do iacutendio

surdo

99

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TEIXEIRA Vanessa Gomes A iconicidade e a arbitrariedade na Libras Revista

Philologus Ano 21 n 61 Supl Anais do VII SINEFIL Rio de Janeiro CIFEFIL-

janabr 2015 Disponiacutevel em lthttpwwwfilologiaorgbrrphANO2161supl013pdfgt

UGGEacute Henrique Padre As Bonitas Histoacuterias Satereacute-Maweacute 1ordf ed Impressa Oficial do

Estado 1993

VILHALVA S Iacutendios surdos mapeamento das Liacutenguas de Sinais do Mato Grosso do Sul

Petroacutepolis Arara Azul 2012 (Cultura e Diversidade seacuterie iacutendio surdo 1)

103

ANEXOS

104

ANEXO A- Normas estabelecidas no ingresso em terras indiacutegenas pela FUNAI

Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio

INSTRUCcedilAtildeO NORMATIVA No 01PRESI DE 29NOVEMBRO1995

PRESIDENTE DA FUNDACcedilAtildeO NACIONAL DO IacuteNDIO - FUNAI

no uso de suas atribuiccedilotildees que lhe satildeo conferidas pelo estatuto aprovado pelo decreto no

564

de 08 de junho de 1992 tendo em vista o que consta do processo FUNAI BsB no210592

R E S O L V E

Art 1o Aprovar as normas que disciplinam o ingresso em Terras Indiacutegenas com finalidade de

desenvolver Pesquisa Cientiacutefica conforme documento em anexo

Art 2o Esta Instruccedilatildeo Normativa entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Art 3o Revoga-se a Instruccedilatildeo Normativa no 001PRESI94 de 08 de abril

de 1994 como qualquer outro dispositivo em contraacuterio

MAacuteRCIO JOSEacute BRANDO SANTILLI

Presidente da FUNAI

ASSINADO NO ORIGINAL

Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio

ANEXO DA INSTRUCcedilAtildeO NORMATIVA No 001PRESI de 29 de novembro de 1995

Art 4o Todo e qualquer pesquisador nacional ou estrangeiro que pretenda ingressar em terras

indiacutegenas para desenvolver projeto de pesquisa cientiacutefica deveraacute encaminhar sua solicitaccedilatildeo

agrave Presidecircncia da FUNAI e no caso de requerimento coletivo deveraacute ser subscrito por um dos

membros do grupo como seu responsaacutevel Art 5o O pesquisador ou pesquisadores deveratildeo

anexar ao pedido do que trata o Art 1o a seguinte documentaccedilatildeo

I carta de apresentaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo a que o pesquisador estaacute vinculado e no caso de

estudantes de graduaccedilatildeo e poacutesgraduaccedilatildeo carta de apresentaccedilatildeo do orientador responsaacutevel

II projeto de pesquisa em portuguecircs detalhando a(s) terra(s) indiacutegenas na(s) qual(is)

pretende ingressar e cronograma

III curriculum vitae do(s) pesquisador(es) redigido em portuguecircs

IV coacutepia autenticada da Carteira de Identidade ou Passaporte quando se tratar de

nacionalidade estrangeira

V atestado individual de vacina contra moleacutestia endecircmica na

aacuterea

VI atestado meacutedico de natildeo portador de moleacutestia contagiosa

105

VII quando se tratar de pesquisador(es) de nacionalidade estrangeira exigir-se-aacute para a

efetivaccedilatildeo de seu ingresso na terra indiacutegena a obtenccedilatildeo de seu respectivo visto temporaacuterio

como prevecirc o artigo 22 do decreto no 86715 de 10 de dezembro de 1981 aleacutem do

cumprimento do disposto no decreto no 98830 de 15 de janeiro de 1990

Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio

Art 6o O pesquisador deveraacute encaminhar diretamente ao CONSELHO

NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO - CNPq o

projeto de pesquisa e curriculum

vitae

Art 7o A solicitaccedilatildeo do ingresso em terra indiacutegena por parte de pesquisadores nacionais ou

estrangeiros seraacute objeto de anaacutelise pela Coordenadoria-Geral de Estudos e Pesquisas - CGEP

uma vez instruiacutedo o processo com o parecer favoraacutevel do CNPq quanto ao meacuterito da pesquisa

proposta e apoacutes ouvidas as lideranccedilas indiacutegenas

Paraacutegrafo Uacutenico - A consulta agraves lideranccedilas indiacutegenas seraacute realizada pela FUNAI com a

presenccedila e participaccedilatildeo do pesquisador podendo este em caso de resposta positiva

permanecer na terra indiacutegena com autorizaccedilatildeo provisoacuteria ateacute a emissatildeo de uma definitiva

Art 8o No caso de negativa das lideranccedilas indiacutegenas quanto ao pleito do ingresso ou

quaisquer outros entraves levantados no decorrer da anaacutelise do processo ou em qualquer outra

etapa de desenvolvimento da pesquisa a CGEP encaminharaacute a questatildeo ao Conselho

Indigenista atraveacutes da presidecircncia do Oacutergatildeo

Art 9o Quando se tratar de pesquisa em espaccedilo territorial de ocupaccedilatildeo tradicional de iacutendios

isolados o pedido seraacute ainda objeto de exame e parecer preacutevio especiacutefico por parte do

Departamento de Iacutendios Isolados - DII FUNAI

Art 10 A presidecircncia da FUNAI poderaacute suspendera qualquer tempo as

autorizaccedilotildees concedidas de acordo com as presentes normas desde que

I seja solicitada a sua interrupccedilatildeo por parte da comunidade indiacutegena em questatildeo

II a pesquisa em desenvolvimento venha a gerar conflitos dentro da terra indiacutegena

III a ocorrecircncia de situaccedilotildees epidecircmicas agudas ou conflitos graves envolvendo iacutendios e natildeo-

iacutendios

Paraacutegrafo Uacutenico - Fica automaticamente prorrogada a autorizaccedilatildeo pelo prazo que a terra

indiacutegena objeto do projeto estiver interditada pelos motivos apontados no Art 10 inciso III

Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio

MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA

Art 11 Todos os pesquisadores estrangeiros ou nacionais que tiverem autorizaccedilotildees

concedidas para ingresso em terras indiacutegenas obrigar-se-atildeo a

I cumprir todos os preceitos legais vigentes notadamente os previstos na Lei no 6001 de

1o1273

II remeter agrave FUNAI relatoacuterio dos Trabalhos de campo em portuguecircs ateacute 6 (seis) meses apoacutes

o teacutermino da pesquisa onde poderatildeo constar sugestotildees praacuteticas que possam trazer benefiacutecios

para as comunidades indiacutegenas que poderatildeo ser consideradas pela FUNAI nas definiccedilotildees de

sua poliacutetica

III remeter agrave FUNAI 2 (dois) exemplares de publicaccedilotildees artigos teses e outras produccedilotildees

intelectuais oriundas das referidas pesquisas

Art 12 Nos casos de solicitaccedilatildeo de prorrogaccedilatildeo do prazo para continuidade do projeto de

pesquisa cientiacutefica na mesma terra indiacutegena caberaacute a Coordenaccedilatildeo Geral de Estudos e

Pesquisas - CGEP os seguintes procedimentos

I notificar junto ao setor competente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e

Tecnoloacutegico - CNPq a solicitaccedilatildeo

II consultar as lideranccedilas quanto ao retorno do pesquisador na terra indiacutegena

106

III observar o cumprimento do Art 8o por parte do pesquisador interessado do Iacutendio

Art 6o O pesquisador deveraacute encaminhar diretamente ao CONSELHO NACIONAL DE

DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO - CNPq o projeto de pesquisa e

curriculum vitae

Art 7o A solicitaccedilatildeo do ingresso em terra indiacutegena por parte de pesquisadores nacionais ou

estrangeiros seraacute objeto de anaacutelise pela Coordenadoria-Geral de Estudos e Pesquisas - CGEP

uma vez instruiacutedo o processo com o parecer favoraacutevel do CNPq quanto ao meacuterito da pesquisa

proposta e apoacutes ouvidas as lideranccedilas indiacutegenas

Paraacutegrafo Uacutenico - A consulta agraves lideranccedilas indiacutegenas seraacute realizada pela FUNAI com a

presenccedila e participaccedilatildeo do pesquisador podendo este em caso de resposta positiva

permanecer na terra indiacutegena com autorizaccedilatildeo provisoacuteria ateacute a emissatildeo de uma definitiva

Art 8o No caso de negativa das lideranccedilas indiacutegenas quanto ao pleito do ingresso ou

quaisquer outros entraves levantados no decorrer da anaacutelise do processo ou em qualquer outra

etapa de desenvolvimento da pesquisa a CGEP encaminharaacute a questatildeo ao Conselho

Indigenista atraveacutes da presidecircncia do Oacutergatildeo

Art 9o Quando se tratar de pesquisa em espaccedilo territorial de ocupaccedilatildeo tradicional de iacutendios

isolados o pedido seraacute ainda objeto de exame e parecer preacutevio especiacutefico por parte do

Departamento de Iacutendios Isolados - DII FUNAI Art 10 A presidecircncia da FUNAI poderaacute

suspendera qualquer tempo as autorizaccedilotildees concedidas de acordo com as presentes normas

desde que

I seja solicitada a sua interrupccedilatildeo por parte da comunidade indiacutegena em questatildeo

II a pesquisa em desenvolvimento venha a gerar conflitos dentro da terra indiacutegena

III a ocorrecircncia de situaccedilotildees epidecircmicas agudas ou conflitos graves envolvendo iacutendios e natildeo-

iacutendios

Paraacutegrafo Uacutenico - Fica automaticamente prorrogada a autorizaccedilatildeo pelo prazo que a terra

indiacutegena objeto do projeto estiver interditada pelos motivos apontados no Art 10 inciso III

Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA

Art 11 Todos os pesquisadores estrangeiros ou nacionais que tiverem autorizaccedilotildees

concedidas para ingresso em terras indiacutegenas obrigar-se-atildeo a

I cumprir todos os preceitos legais vigentes notadamente osprevistos na Lei no 6001 de

1o1273

II remeter agrave FUNAI relatoacuterio dos Trabalhos de campo em portuguecircs ateacute 6 (seis) meses apoacutes

o teacutermino da pesquisa onde poderatildeo constar sugestotildees praacuteticas que possam trazer benefiacutecios

para as comunidades indiacutegenas que poderatildeo ser consideradas pela FUNAI nas definiccedilotildees de

sua poliacutetica

III remeter agrave FUNAI 2 (dois) exemplares de publicaccedilotildees artigos teses e outras produccedilotildees

intelectuais oriundas das referidas pesquisas

Art 12 Nos casos de solicitaccedilatildeo de prorrogaccedilatildeo do prazo para continuidade do projeto de

pesquisa cientiacutefica na mesma terra indiacutegena caberaacute a Coordenaccedilatildeo Geral de Estudos e

Pesquisas - CGEP os seguintes procedimentos

I notificar junto ao setor competente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e

Tecnoloacutegico - CNPq a solicitaccedilatildeo

II consultar as lideranccedilas quanto ao retorno do pesquisador na terra indiacutegena

III observar o cumprimento do Art 8o por parte do pesquisador interessado

107

ANEXO B ndash Questionaacuterio para coleta de dados com professores de comunidades indiacutegenas

QUESTIONAacuteRIO

Nome Prof(a)Nordm Cel

Nome da escola

Tribo Etnia

Quantos alunos surdos iacutendio Serie Idade

Nasceu cognitiva ou adquirida

1 ndash Como eacute a forma de comunicaccedilatildeo entre o professor e o iacutendio surdo

( ) Escrita

( ) Oralizado

( ) Libras

( ) Satereacute Maweacute

2 ndash Qual liacutengua o surdo iacutendio tem mais facilidade de aprender

( ) Portuguecircs

( ) Satereacute Maweacute

( ) libras

3 ndash Qual eacute a metodologia de ensino

4 ndash Como o aluno surdo indiacutegena aprende na sala de aula Tem dificuldade ou facilidade

5 ndash Como e que liacutengua o aluno surdo se comunica com outro surdo se tiver e os demais alunos

ouvintes na sala aula

108

6 ndash Vocecirc jaacute observou a comunicaccedilatildeo entre o aluno surdo iacutendio com a famiacutelia Qual liacutengua

7 ndash Como o aluno surdo iacutendio se comunica com as pessoas da comunidade

8 ndash Qual eacute a reaccedilatildeo das pessoas ouvintes quanto o iacutendio surdo na comunidade

9 ndash Professor(a) qual sua opiniatildeo para melhoria de ensino da educaccedilatildeo de iacutendios surdos

10 ndash Qual eacute a importacircncia da liacutengua indiacutegena Satereacute Maweacute para o aluno surdo

11 ndash Fale sobre a cultura e historia dos Satereacute Maweacute o iacutendio surdo participa

109

ANEXO C ndash Autorizaccedilatildeo para pesquisa de campo em terras indiacutegenas

110

ANEXO C-1 ndash Autorizaccedilatildeo para pequisa de campo com uso de imagem permitido

111

ANEXO C-2 ndash Autorizaccedilatildeo para pequisa de campo com uso de imagem permitido

112

ANEXO D ndash Parecere pedagoacutegico da Aluna Indiacutegena Surda

(ESCOLA PADRE PAULOMANNA)

ESCOLA DE AacuteUDIO COMUNICACcedilAtildeO

Pe PAULO MANNA Mantida pela Diocese de Parintins CNPJ 045945370001-88 Av Naccedilotildees Unidas 1792 FoneFax (092) 3533-3456 69151-060 ndash PARINTINS-AMAZONAS-BRASIL

Parecer Pedagoacutegico

Helena Ferreira Arauacutejo 06 anos de idade aluna da Escola Pe Paulo Manna desde

marccedilo de 2013 mora na rua 4 nordm 298 no bairro da Uniatildeo

Segundo relatos da matildee a aluna nasceu de parto normal comeccedilou a andar aos trecircs

anos de idade e eacute descendente dos iacutendios Satereacute- Maueacute Os anos passaram e ela comeccedilou a

perceber que sua filha natildeo ouvia e nem falava pois jaacute tinha outros filhos e estes comeccedilaram a

falar e andar cedo Informou-nos que para se comunicar com ela fazia gestos ateacute ela entender

o que se tornava muito difiacutecil

Disse-nos que falaram para ela do trabalho desenvolvido na Escola Paulo Manna com

alunos surdos e resolveu procurar a escola pois o tempo estava passando e a menina natildeo

falava e ela natildeo sabia mais o que fazer para reverter a situaccedilatildeo e a sua filha ser como os outros

irmatildeos

Atualmente estuda numa turma de Preacute ndash Escolar (2ordm periacuteodo) eacute uma aluna surda No

ano passado quando chegou agrave escola nos primeiros dias chorava muito e ficava zangada se

escondia embaixo da mesa para que ningueacutem a incomodasse visto que natildeo estava adaptada

ao ambiente e aos poucos foi se adaptando e passou a conviver com os colegas ouvintes em

sala de aula

A aluna gosta de fazer suas atividades escolares tem boa coordenaccedilatildeo motorainterage

com os colegas reconhece cores e formas gosta de desenhar e daacute formas aos seus desenhos realiza atividades de leitura de imagem montagem com jogos de encaixe participa de

brincadeiras na quadra parque e brinquedoteca

Em alguns momentos quando quer alguma coisa do colega e este natildeo lhe daacute fica com

raiva chora e se isola Em outros momentos penso que por natildeo saber se comunicar com os

colegas fica um pouco retraiacuteda e torna-se um a receptora diferenciada que requer cuidados

no tocante agrave comunicaccedilatildeo principalmente de como chegar ateacute ela

Procuramos adaptar brincadeiras para envolver a aluna trazendo-a de volta para

participar das atividades e conversar com ela que nem tudo o que a gente quer podemos ter e

fazemos alguma brincadeira que ela goste e rapidinho ela volta a participar e se integrar ao

grupo

Sabemos que eacute difiacutecil para ela o processo ensino aprendizagem porque ela tem que ter

uma aprendizagem triliacutengue visto que tem que aprender a Liacutengua Indiacutegena+ Libras + Liacutengua

Portuguesa e jaacute eacute difiacutecil aprender duas mas natildeo impossiacutevel

113

Neste ano de 2014 contamos com a ajuda da professora Caacutetia (surda) com aulas de

Libras No primeiro momento fica junto com os colegas ouvintes onde procuramos trabalhar

de forma biliacutengue (Portuguecircs + Libras) para que ela entenda o que estaacute sendo repassado em

sala de aula E o que se percebe eacute que a aluna nos daacute respostas precisas dentro dos objetivos

propostos Em outro momento a professora Caacutetia ensina agrave aluna os sinais em LIBRAS que eacute

a liacutengua oficial da pessoa surda trabalhando o concreto com ela ensinando-a com jogos

cartazes reaacutelias viacutedeos transformando tais atividades em aulas dinacircmicas e prazerosas

Dentro dessa realidade a aluna vai participando buscando se inserir nesse universo

cheio de duacutevidas e incertezas e noacutes professores procuramos fazer o melhor para que a aluna

se sinta bem no ambiente escolar visto que o processo ensino aprendizagem para uma crianccedila

de outra etnia natildeo eacute faacutecil pois segundo depoimentos de alguns indiacutegenas a aprendizagem

indiacutegena passa pela demonstraccedilatildeo observaccedilatildeo imitaccedilatildeo tentativa e erro e quando o aluno

vem para a escola tem que se socializar obedecer a comandos regidos pelo sistema e isso

muitas vezes o deixa confuso e os maiores ateacute desistem

Dessa forma satildeo necessaacuterias estrateacutegias de ensino diferenciadas que deem suporte para

que a aluna seja trabalhada de forma triliacutengue no contexto escolar para que ela natildeo perca a

sua essecircncia a sua cultura que sejam adaptados trabalhos de acordo com a realidade

indiacutegena para que ela natildeo perca a sua identidade e saiba conduzir sua aprendizagem dentro de

um contexto diferenciado podendo aprender o que lhe eacute de direito bem como viver bem em

sociedade

Parintins 14 de abril de 2014

EPIacuteGRAFE

Matildeos

corpo em movimento

captar e entender

Teu querer teu dizer

Sorrisos laacutegrimas

sentimentos e emoccedilotildees

Libras eacute amor eacute paixatildeo eacute liacutengua

(Marlon Jorge)

RESUMO

Esta pesquisa apresenta o resultado do mapeamento de iacutendios surdos nas comunidades

indiacutegenas Satereacute-Maweacute na microrregiatildeo de Parintins Partindo do levantamento buscou-se

identificar de que forma os iacutendios surdos estabeleciam a comunicaccedilatildeo com seus pares na sua

comunidade Para isso foi utilizado o procedimento metodoloacutegico por meio de entrevistas

abertas com as lideranccedilas indiacutegenas os familiares os professores e gestores escolares e

outros membros das comunidades assim como do proacuteprio iacutendio surdo O processo de anaacutelise

estabelecido para este estudo consistiu no enfoque de natureza linguiacutestica do leacutexico

(vocabulaacuterio) o qual foi registrado por meio de viacutedeos fotos e gravaccedilotildees A partir dos dados

iniciou-se a elaboraccedilatildeo de um minidicionaacuterio triliacutengue nas liacutenguas Satereacute-Maweacuteliacutengua de

sinais portuguecircs escrito a fim de facilitar a comunicaccedilatildeo principalmente no contexto da

comunidade educacional escolar entre os professores e os alunos iacutendios surdos Esta

contribuiccedilatildeo linguiacutestica portanto possibilitou uma nova percepccedilatildeo no processo histoacuterico da

diversidade linguiacutestica para valorizar e respeitar natildeo soacute uma liacutengua a liacutengua oficial do paiacutes

(Portuguecircs) mas tambeacutem a liacutengua natural do povo surdo (Libras) e a liacutengua indiacutegena do povo

Satereacute-Maweacute

Palavras chaves

1Linguiacutestica 2Liacutengua de sinais 3Satereacute-Maweacute 4 Dicionaacuterio

ABSTRACT

This research presents the results of the mapping deaf Indians in indigenous

communities Satereacute-Maweacute in the region of Parintins Starting from the survey we sought to

identify how the deaf Indians established communication with peers in their community For

this methodological procedure through open interviews with indigenous leaders family

members teachers and school administrators and other community members were used as

well as the Indian himself deaf The review process established for this study consisted of

focus linguistic lexicon (vocabulary) which was recorded through videos photos and

recordings From the data we initiated the development of a trilingual Mini Dictionary in

languages Satereacute-Maweacute sign language written Portuguese in order to facilitate

communication especially in the context of school learning community among teachers and

students deaf Indians This linguistic contribution therefore provided a new insight in the

historical process of linguistic diversity to value and respect not only one language the

official language (Portuguese) but also the natural language of deaf people (Libras) and the

indigenous language the people Satereacute-Maweacute

Key Words 1Linguiacutestica 2Liacutengua signal 3Satereacute-Maweacute 4Dictionary

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 13

1 CONSIDERACcedilOtildeES DOS ESTUDOS LINGUIacuteSTICOS DA LIacuteNGUA

BRASILEIRA DE SINAIS

17

11 Liacutengua de Sinais como Liacutengua Natural 20

12 Liacutengua Brasileira de Sinais 22

13 Liacutenguas de Sinais Indiacutegenas pesquisadas no Brasil 26

131 Liacutengua de Sinais Urubu-Kaapor 28

132 Liacutengua de Sinais Emergentes 29

1321 Realidade do Contexto educacional escolar do indiacutegena surdo 31

2 HISTOacuteRIA DO POVO INDIacuteGENA SATEREacute-MAWEacute CULTURA E

LIacuteNGUA

34

21 Breve Relato Histoacuterico 35

22 Classificaccedilatildeo da Liacutengua Satereacute-Maweacute 36

221 Contexto educacional escolar entre os Satereacute-Maweacute 38

3 METODOLOGIA IMPLEMENTADA NA PESQUISA 42

31 Aacuterea e localidade da pesquisa 42

32 Estrateacutegias gerais para a realizaccedilatildeo da coleta de dados 43

33 Procedimentos da coleta de dados 43

34 Articulaccedilatildeo local 44

35 Abordagem ao objeto da pesquisa 44

4 MAPEAMENTO DOS INDIOS SURDOS DA COMUNIDADE SATEREacute-

-MAWEacute NAS MICRORREGIOtildeES DE PARINTINS E SUA REALIDADE

EDUCACIONAL ESCOLAR

45

41 Mapeamento da existecircncia dos iacutendios surdos na microrregiatildeo de Parintins 46

411 Histoacuterico de Parintins 46

412 Histoacuterico de Barreirinha 52

413 Histoacuterico de Maueacutes 53

414 Histoacuterico de Boa Vista do Ramos 55

415 Histoacuterico de Nhamundaacute 56

42 Realidade linguiacutestica e educacional dos iacutendios surdos encontrados na etnia

Satereacute-Maweacute

59

43 Inventaacuterio de gestos da linguagem caseira dos surdos Satereacute-Maweacute 66

431 Os sinais caseiros dos indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute 66

432 Municiacutepio de Parintins 66

4321 O primeiro surdo 67

4322 O segundo surdo 67

4323 O terceiro surdo 68

44 O indiacutegena surdo da comunidade de Ponta Alegre do Municiacutepio de Barreirinha 70

45 Os indiacutegenas surdos do Municiacutepio de Maueacutes 73

451 O primeiro surdo da Comunidade de Santa Maria 75

452 O segundo surdo da Comunidade de Santa Maria 79

5 ICONICIDADE E ARBITRARIEDADE NA CRIACcedilAtildeO DOS SINAIS

CASEIROS

83

6 INTERVENCcedilAtildeO E CONTRIBUICcedilAtildeO LINGUIacuteSTICA DO PROFESSOR

SURDO

90

61 Libras e Liacutengua Satereacute-Maweacute intercacircmbio de construccedilatildeo sociocultural-

linguiacutestico

94

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 97

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 99

ANEXOS

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 Croqui da aacuterea e localidade da pesquisa

FIGURA 2 Sinais caseiros utilizado pela crianccedila de 5 anos

FIGURA 3 Sinais caseiros utilizados pelo aluno da comunidade de Ponta Alegre

Barreirinha

FIGURA 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa

Maria (30 sinais coletados)

FIGURA 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo idoso na comunidade de Santa Maria

FIGURA 6 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos que se refere agrave

arbitrariedade

FIGURA 7 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos aos quais se referem a

iconicidade

FIGURA 8 Caracteriacutesticas da imagem em Liacutengua de Sinais Satereacute-Maweacute dos objetos

aos quais se referem agrave iconicidade

FIGURA 9 Encontro da crianccedila surda Satereacute-Maweacute com o professor surdo

FIGURA 10 Contato com aluno Satereacute-Maweacute surdo no ambiente escolar

FIGURA 11 Contato com o aluno surdo Satereacute-Maweacute na Escola Estadual Brandatildeo de

Amorim

FIGURA 12 Em viagem para aacuterea indiacutegena no Rio Marau

FIGURA 13 Apresentaccedilatildeo do projeto de pesquisa agraves lideranccedilas indiacutegenas na

comunidade

FIGURA 14 Desenvolvimento de oficina de Libras com professores indiacutegenas

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Mapeamento da existecircncia de iacutendios surdos nas respectivas comunidades

indiacutegenas ou zona urbana da microrregiatildeo de Parintins

Tabela 2 11 Sinais caseiros utilizados pela crianccedila indiacutegena surda de 5 anos e seus

familiares

Tabela 3 13 Sinais caseiros coletados e utilizados pelo aluno da comunidade de

Ponta Alegre

Tabela 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa

Maria

Tabela 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais antigo residente isolado na

comunidade de Santa Maria no Rio Marau ( 18 sinais coletados)

56

66

69

73

77

13

INTRODUCcedilAtildeO

Todo cidadatildeo tem o direito de participar na vida poliacutetica social e econocircmica de um

paiacutes Neste contexto inclui-se o cidadatildeo surdo Infelizmente a histoacuteria relata que no passado

os sujeitos surdos1 eram colocados agraves margens da sociedade em todos seus aspectos social

poliacutetico econocircmico cultural linguiacutestico e educacional

Entretanto ao longo da histoacuteria os surdos com a participaccedilatildeo de ouvintes na luta

incessante pelos seus direitos muitas conquistas foram alcanccediladas Entre estas estaacute o direito

de ter sua proacutepria liacutengua a Liacutengua Brasileira de Sinais-LIBRAS A Lei nordm 10436 de 2002 a

qual a reconhece como sistema linguiacutestico de natureza visual-motora com estrutura

gramatical proacutepria constituindo-se um sistema linguiacutestico de transmissatildeo de ideias e fatos

oriundos da comunidade de pessoas surdas do Brasil Conforme Saacute (2006) no Brasil as

comunidades urbanas usam a ldquoliacutengua de sinais brasileirardquo ou simplesmente ldquoliacutengua de sinaisrdquo

Vale ressaltar que a Liacutengua de Sinais segundo Strobel (2008) eacute um aspecto

fundamental da cultura surda2 parte do artefato cultural linguiacutestico

3 do povo surdo e constitui

1 Na aacuterea de pesquisa vinculada a perspectiva socioantropoloacutegica existe uma clara diferenciaccedilatildeo entre a opccedilatildeo

de escrever surdo com letra minuacutescula ou maiuacutescula conforme explica Andreis-Witkoski (2011) ldquoapesar de

nas uacuteltimas deacutecadas ter sido estabelecido uma distinccedilatildeo entre a expressatildeo ldquoSurdordquo com letra maiuacutescula para

identificar uma categoria cultural e ldquosurdordquo com minuacutescula em referecircncia a deficiecircncia auditiva nesta Tese natildeo

se utiliza este tipo de marcaccedilatildeo Compartilha-se da concepccedilatildeo exposta por Owen Wrigley (1996 p53) quando

adverte que esta diferenciaccedilatildeo constitui-se em ldquoum dualismo riacutegido-bom Surdo mau surdo ndash que pouco faz para

ajudar os indiviacuteduos em suas vidas diaacuterias [sem] ajudar a clarear um alcance maior de estrateacutegias colocadas pelos

indiviacuteduos lidando com a exclusatildeo e as muitas faces da opressatildeo em suas rotinas Em termos simples a

dicotomia de bdquoSs‟ estaacute tatildeo cruelmente composta que embora inicialmente seja uacutetil ela agora serve para silenciar

o alcance total das experiecircncias dos sSurdosrdquo (2011 p13) Logo opta-se nesta dissertaccedilatildeo o uso da expressatildeo

ldquosurdordquo (minuacutescula) que refere-se aos ldquosurdordquo enquanto pessoas que pela impossibilidades formam uma

minoria diferente com caracteriacutesticas linguiacutesticas cognitivas culturais e comunitaacuterias especiacuteficas (SAacute 2006

p107) 2 Cultura Surda ldquoeacute o jeito de o surdo entender o mundo e de modificaacute-lo a fim de se tornaacute-lo acessiacutevel e habitaacutevel

ajustando-os com as suas percepccedilotildees visuais que contribuem para a definiccedilatildeo das identidades surdas e das

ldquoalmasrdquo das comunidades surdas Isto significa que abrange a liacutengua as ideacuteias as crenccedilas os costumes e os

haacutebitos de povordquo (STROBEL2008 p 24) 3Conforme Strobel (2008 p37) o que seriam artefatos culturais linguiacutesticos Ao referirmos ldquoartefatordquo

pensamos habitualmente no significado de objetos ou materiais produzidos pelos grupos culturais Realmente de

fato eacute uma forma material de expressar uma determinada cultura poreacutem tambeacutem podem incluir ldquotudo o que se

vecirc e senterdquo quando se estaacute em contato com a cultura de uma comunidade a exemplo vestuaacuterios tradiccedilotildees

crenccedilas valores e normas etc Ou seja no campo dos Estudos Culturais o conceito de ldquoartefatosrdquo natildeo se referem

apenas a materialismo culturais como tambeacutem naquilo que na cultura constitui produccedilotildees do sujeito que tem seu

proacuteprio modo de ser ver entender e transformar o mundo Logo um dos artefatos culturais que ilustram a

cultura do povo surdo eacute o linguiacutestico a liacutengua de sinais que eacute um aspecto fundamental da cultura surda sendo

uma das principais marcas da identidade surda

14

uma das principais marcas da identidade do ser surdo Incluem-se tambeacutem os ldquosinais

emergentesrdquo ou ldquosinais caseirosrdquo dos sujeitos surdos isolados de comunidades surdas no caso

dos surdos das zonas rurais e dos surdos iacutendios Estes surdos embora natildeo pertenccedilam agraves

mesmas comunidades se identificam com o povo surdo4 pois compartilham as mesmas

peculiaridades constroem sua formaccedilatildeo de mundo por meio de artefato cultural visual5

independentemente do grau linguiacutestico que possuem os quais podem ser os gestos caseiros

denominados tambeacutem como sinais emergentes Nesta perspectiva teoacuterica soacutecioantropoloacutegica

enfoca-se como o objeto da pesquisa o sujeito surdo indiacutegena ou seja o iacutendio surdo

Antes de prosseguir com a abordagem mencionada faz-se necessaacuterio destacar que

assim como o povo surdo o povo indiacutegena tambeacutem traccedilou diversas lutas na trajetoacuteria para

reconhecimento dos seus direitos O reconhecimento dos direitos dos povos indiacutegenas no

mundo contemporacircneo avanccedilou muito em relaccedilatildeo haacute algumas deacutecadas passadas De acordo

com Lucinda (apud Saacute 2006) em consenso geral nos debates da Comissatildeo Educaccedilatildeo

Cultura e Desporto que antecedem a elaboraccedilatildeo do texto da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica

Federativa do Brasil de 1988 tanto a liacutengua de sinais como as liacutenguas indiacutegenas deveriam ser

consideradas no texto da Constituiccedilatildeo como liacutenguas maternas Assim como resultado o

Referencial Curricular Nacional para Escolas Indiacutegenas (1998 p31) declara que ldquoA

Constituiccedilatildeo Federal aleacutem de perceber o iacutendio como pessoa com direitos e deveres como

qualquer outro cidadatildeo brasileiro o reconhece como membro de uma comunidade e de um

grupo isto eacute como membro de uma coletividade que eacute titular de direitos coletivos e

especiaisrdquo Ou seja reconhece para os iacutendios o direito agrave praacutetica de suas formas culturais

proacuteprias E no tiacutetulo VIII ldquoDa Ordem Socialrdquo conteacutem um capiacutetulo denominado ldquoDos Iacutendiosrdquo

onde se diz que ldquosatildeo reconhecidos aos iacutendios a sua organizaccedilatildeo social costumes liacutenguas

crenccedilas e tradiccedilotildees []rdquo (ibid p31)

Em meio a essa diversidade linguiacutestica que caracteriza o Brasil como sendo um paiacutes

pluriliacutengue estatildeo situados os ldquosurdos brasileirosrdquo que tecircm sua proacutepria liacutengua reconhecida

oficialmente a Liacutengua de Sinais Logo existem tambeacutem ldquoiacutendios surdosrdquo da etnia Satereacute-

4Quando referimos ldquopovo surdordquo estamos falando ldquode sujeitos surdos que natildeo habitam no mesmo local mas

que estatildeo ligados por uma origem por um coacutedigo de eacutetico de formaccedilatildeo visual independente do grau de evoluccedilatildeo

linguiacutestica tais como a liacutengua de sinais a cultura surda e quaisquer outros laccedilosrdquo (ibid p30) 5Perlin e Miranda (2003) complementam ldquoExperiecircncia visual significa a utilizaccedilatildeo visual em (substituiccedilatildeo total

agrave audiccedilatildeo) como meio de comunicaccedilatildeo Desta experiecircncia visual surge a cultura surda representada pela liacutengua

de sinais pelo modo diferente de ser de se expressar de conhecer o mundo de entrar nas artes no

conhecimento cientiacutefico e acadecircmicordquo (apud STROBEL 2008 p39)

15

Maweacute Qual sua forma de se comunicar Existe uma ldquoLiacutengua de Sinaisrdquo especifica do iacutendio

surdo

Diante das questotildees levantadas surgiu entatildeo agrave necessidade de realizar uma pesquisa

no campo da linguiacutestica na perspectiva dos estudos surdos6 voltado especificamente para o

iacutendio surdo da etnia Satereacute-Maweacute Foram traccedilados os seguintes objetivos i) mapear os iacutendios

surdos na microrregiatildeo de Parintins ii) identificar de que forma o iacutendio surdo estabelece a

comunicaccedilatildeo com sua comunidade especificamente no acircmbito educacional ou se utilizam

liacutenguas de sinais da comunidade local iii) registrar a forma de comunicaccedilatildeo no dia a dia do

iacutendio surdo nas comunidades indiacutegenas a partir dos estudos linguiacutesticos da Liacutengua de Sinais

dos grupos existentes e sua relaccedilatildeo com a comunidade local iv) promover o intercacircmbio entre

a Liacutengua de Sinais dos iacutendios surdos mapeados da etnia Satereacute-Maweacute e a LIBRAS da

comunidade surda do Municiacutepio de Parintins - Amazonas

Este trabalho conteacutem a seguinte divisatildeo primeiro capiacutetulo - apresenta consideraccedilotildees

linguiacutesticas fundamentais aos estudos surdos onde explicita o reconhecimento da Liacutengua de

Sinais como elemento cultural linguiacutestico do povo surdo abordando tambeacutem a oficializaccedilatildeo

da Liacutengua Brasileira de Sinais e as Liacutenguas Indiacutegenas pesquisadas no Brasil como a realidade

do contexto escolar linguiacutestico na comunidade indiacutegena segundo capiacutetulo - relata a histoacuteria

do povo indiacutegena Satereacute-Maweacute sua principal expressatildeo cultural sua liacutengua e seu respectivo

contexto educacional escolar terceiro capiacutetulo - apresenta os procedimentos metodoloacutegicos

utilizados na operacionalizaccedilatildeo da pesquisa e o capiacutetulo quatro - apresenta a anaacutelise do

resultado do Mapeamento dos iacutendios surdos da etnia Satereacute-Maweacute na microrregiatildeo de

Parintins Neste satildeo tambeacutem apresentadas as relaccedilotildees socioculturais-linguiacutesticas de iacutendios

surdos Satereacute-Maweacute com as contribuiccedilotildees linguiacutesticas do professor surdo aos Iacutendios surdos na

comunidade Satereacute-Maweacute estabelecendo assim as relaccedilotildees culturais na construccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo linguiacutestica LIBRAS e Liacutengua Satereacute-Maweacute como um intercacircmbio de construccedilatildeo

sociocultural

Desse modo a pesquisa tem como premissa baacutesica primeiramente mapear os iacutendios

surdos da etnia Satereacute-Maweacute e assim promover um intercacircmbio oferecendo contribuiccedilotildees

linguiacutesticas fundamentadas na pesquisa do leacutexico (vocabulaacuterio) da etnia referida com a Libras

(Liacutengua Brasileira de Sinais) e a Liacutengua Portuguesa por meio da elaboraccedilatildeo de um

6 Conforme Skliar eacute o campo de pesquisa em educaccedilatildeo onde as identidades a liacutenguas a histoacuteria a cultura da

comunidade surda satildeo focalizados e entendidos a partir da diferenccedila a partir do seu reconhecimento poliacutetico

(2001p29)

16

minidicionaacuterio triliacutengue Assim espera-se contribuir para a iniciaccedilatildeo dos indiacutegenas surdos da

etnia Satereacute-Maweacute na Liacutengua Brasileira de Sinais dando a eles um dos direitos universais do

ser humano que eacute direito a uma liacutengua Tambeacutem deseja-se contribuir para a iniciaccedilatildeo dos

indiacutegenas surdos da etnia Satereacute-Maweacute na Liacutengua Brasileira de Sinais dando a eles um dos

direitos universais do ser humano que eacute direito a uma liacutengua proacutepria

17

1 CONSIDERACcedilOtildeES DOS ESTUDOS LINGUIacuteSTICOS DA LIacuteNGUA BRASILEIRA DE SINAIS

A Linguiacutestica conhecida hoje como a ciecircncia que estuda a linguagem humana eacute uma

ciecircncia recente poreacutem com um saber antigo Passou a se impor como ciecircncia agrave medida que

demonstrou seu meacutetodo e seu objeto de estudo Eacute definida como estudo cientiacutefico que visa

descrever ou explicar a linguagem verbal humana (ORLANDI 1999)

A Linguiacutestica diferencia-se da gramaacutetica tradicional normativa na medida que natildeo

tem como objetivo ditar regras de correccedilatildeo para uso da linguagem Seu interesse eacute a liacutengua

como mateacuteria de reflexatildeo (QUADROS e KARNOPP 2004) Segundo as pesquisas nesta

aacuterea Vandresen (1988 apud QUADROS 2007 p 83) tem-se ldquoa linguiacutestica contrastiva como

uma subaacuterea da linguiacutestica geral interessada em apontar as similaridades e diferenccedilas

estruturais entre a liacutengua materna (de um grupo de alunos) e uma liacutengua estrangeirardquo

Na taxonomia de similaridades e contrastes entre as liacutenguas existe uma seacuterie de

regularidades como haacute similaridades comportamentais que natildeo precisam ser explicitadas

porque constituem a base comum das liacutenguas naturais e o compartilhamento dessas

similaridades poderaacute servir como base para inferecircncias quanto agraves formas da liacutengua estrangeira

e quanto agraves diferenccedilas por serem sistemaacuteticas podem admitir tratamento inferencial e

heuriacutestico (KATO 1988 apud QUADROS 2007)

Segundo Nascimento (2009) a vitalidade da liacutengua depende de sua utilizaccedilatildeo efetiva

tanto em escala nacional quanto em escala mundial Quanto mais uma liacutengua eacute utilizada mais

ela eacute viva e inversamente quanto menos eacute utilizada mais ela eacute ameaccedilada de extinccedilatildeo Assim

sendo eacute o uso social da liacutengua que determina seu grau de revitalizaccedilatildeo

Por essas razotildees a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Linguiacutesticos (BARCELONA

1996 p 3) tem como ponto de partida

[] as comunidades linguiacutesticas e natildeo os Estados e inscreve-se no quadro do

reforccedilo das instituiccedilotildees internacionais capazes de garantir um desenvolvimento

duradouro e equitativo para toda a humanidade e tem como finalidade favorecer um

quadro de organizaccedilatildeo poliacutetica da diversidade linguiacutestica baseado no respeito na

convivecircncia e nos benefiacutecios reciacuteprocos

Em seu TITULO PREacuteVIO tem como conceitos

18

Artigo 1ordm

1 Esta Declaraccedilatildeo entende por comunidade linguiacutestica toda a sociedade humana

que radicada historicamente num determinado espaccedilo territorial reconhecido ou

natildeo se identifica como povo e desenvolveu uma liacutengua comum como meio de

comunicaccedilatildeo natural e de coesatildeo cultural entre os seus membros A denominaccedilatildeo

liacutengua proacutepria de um territoacuterio refere-se ao idioma da comunidade historicamente

estabelecida neste espaccedilo [grifo nosso]

2 Esta Declaraccedilatildeo parte do princiacutepio de que os direitos linguiacutesticos satildeo

simultaneamente individuais e colectivos e adapta como referecircncia da plenitude dos

direitos linguiacutesticos o caso de uma comunidade linguiacutestica histoacuterica no respectivo

espaccedilo territorial entendendo-se este natildeo apenas como a aacuterea geograacutefica onde esta

comunidade vive mas tambeacutem como um espaccedilo social e funcional indispensaacutevel ao

pleno desenvolvimento da liacutengua Eacute com base nesta premissa que se podem

estabelecer em termos de uma progressatildeo ou continuidade os direitos que

correspondem aos grupos linguiacutesticos mencionados no ponto 5 deste artigo e os das

pessoas que vivem fora do territoacuterio da sua comunidade []

Em referecircncia ao Artigo 3ordm

- o direito ao ensino da proacutepria liacutengua e da proacutepria cultura

- o direito a dispor de serviccedilos culturais

- o direito a uma presenccedila equitativa da liacutengua e da cultura do grupo nos meios de

comunicaccedilatildeo

- o direito a serem atendidos na sua liacutengua nos organismos oficiais e nas relaccedilotildees

socioeconomicas []

Em referecircncia ao Artigo 5ordm

Esta Declaraccedilatildeo baseia-se no princiacutepio de que os direitos de todas as comunidades

linguiacutesticas satildeo iguais e independentes do seu estatuto juriacutedico ou poliacutetico como

liacutenguas oficiais regionais ou minoritaacuterias Designaccedilotildees tais como liacutengua regional ou

minoritaacuteria natildeo satildeo usadas neste texto porque apesar de em certos casos o

reconhecimento como liacutengua minoritaacuteria ou regional poder facilitar o exerciacutecio de

determinados direitos a utilizaccedilatildeo destes e doutros adjetivos serve frequentemente

para restringir os direitos de uma comunidade linguiacutestica []

Em referecircncia ao Artigo 23ordm

1 O ensino deve contribuir para fomentar a capacidade de auto-expressatildeo

linguiacutestica e cultural da comunidade linguiacutestica do territoacuterio onde eacute

ministrado[grifo nosso]

2 O ensino deve contribuir para a manutenccedilatildeo e o desenvolvimento da liacutengua falada

pela comunidade linguiacutestica do territoacuterio onde eacute ministrado

3 O ensino deve estar sempre ao serviccedilo da diversidade linguiacutestica e cultural e das

relaccedilotildees harmoniosas entre as diferentes comunidades linguiacutesticas do mundo inteiro

4 No quadro dos princiacutepios anteriores todos tecircm direito a aprender qualquer liacutengua

Em referecircncia aos Artigos 26ordm a 28ordm Artigo 26ordm

Todas as comunidades linguiacutesticas tecircm direito a um ensino que permita a todos os

seus membros adquirirem o perfeito conhecimento da sua proacutepria liacutengua com as

diversas capacidades relativas a todos os domiacutenios de uso da liacutengua habituais bem

como o melhor conhecimento possiacutevel de qualquer outra liacutengua que desejem

aprender

Artigo 27ordm

Todas as comunidades linguiacutesticas tecircm direito a um ensino que permita aos seus

membros o conhecimento das liacutenguas ligadas agrave sua proacutepria tradiccedilatildeo cultural tais

como as liacutenguas literaacuterias ou sagradas usadas antigamente como liacutenguas habituais

da sua comunidade

Artigo 28ordm

Todas as comunidades linguiacutesticas tecircm direito a um ensino que permita aos seus

membros adquirirem um conhecimento profundo do seu patrimocircnio cultural (histoacute-

ria e geografia literatura e outras manifestaccedilotildees da proacutepria cultura) assim como o

melhor conhecimento possiacutevel de qualquer outra cultura que desejem conhecer

(BARCELONA 1996 p 4 a 14)

19

Assim nas Disposiccedilotildees Finais no Plenaacuterio da Associaccedilatildeo Internacional para o

Desenvolvimento da Comunicaccedilatildeo Intercultural recomenda agraves Naccedilotildees Unidas que tomem as

medidas necessaacuterias agrave adopccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de uma Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Linguiacutesticos considerando a Convenccedilatildeo nuacutemero 169 da Organizaccedilatildeo Internacional do

Trabalho de 26 de Junho de 1989 relativa aos povos indiacutegenas em paiacuteses independentes que

a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Colectivos dos Povos realizada em Maio de 1990 em

Barcelona declara que todos os povos tecircm direito a exprimir e a desenvolver a sua cultura a

sua liacutengua e as suas normas de organizaccedilatildeo e para o fazerem a dotarem-se de estruturas

poliacuteticas educacionais de comunicaccedilatildeo e de administraccedilatildeo puacuteblica proacuteprias em quadros

poliacuteticos diferentes Considerando tambeacutem a Declaraccedilatildeo Final da Assembleia Geral da

Federaccedilatildeo Internacional de Professores de Liacutenguas Vivas aprovada em Peacutecs (Hungria) em 16

de Agosto de 1991 recomenda-se tambeacutem que os direitos linguiacutesticos sejam consagrados

direitos fundamentais

Neste contexto Nascimento (2009 p 25) pontua

Como princiacutepio eacutetico qualquer poliacutetica de liacutenguas deveraacute trabalhar a unidade e a

diversidade Natildeo se trata de poacutelos de contradiccedilatildeo mas de eixos de transiccedilatildeo A

unidade eacute uma razatildeo do Estado e a diversidade ou variedade eacute a mateacuteria linguiacutestica

proacutepria da comunidade pois reflete a liacutengua em uso ou seja as linguagens verbais

por meio das quais os indiviacuteduos se comunicam A unidade eacute resguardada pelo

padratildeo oficializado em um modelo de gramaacutetica e a variedade se faz representar nas

diversas gramaacuteticas praacuteticas e pragmaacuteticas de um Estado linguiacutestico

Quadros e Karnopp (2004) ainda explicam que a linguiacutestica parte de pressupostos

baacutesicos que determinam as investigaccedilotildees Sendo um dos mais importantes eacute de que a

linguagem eacute restringida por determinados princiacutepios ou seja ldquoregrasrdquo que fazem parte do

conhecimento humano das liacutenguas (falada ou sinalizada) da formaccedilatildeo de palavras da

construccedilatildeo das sentenccedilas e da construccedilatildeo dos textos A partir deste pressuposto da

universalidade de tais princiacutepios as investigaccedilotildees linguiacutesticas objetivam estudar os aspectos

especiacuteficos de cada liacutengua os quais revelam as caracteriacutesticas da linguagem humana A

exemplo o inglecircs o portuguecircs a Liacutengua de Sinais Americana a Liacutengua Brasileira de Sinais

e outras Embora apresentem diferenccedilas entre as liacutenguas agraves estruturas satildeo comuns que por

sua vez interessam agraves investigaccedilotildees linguiacutesticas na medida em que eacute a ciecircncia que objetiva

por explicar a natureza da linguagem humana

A partir dessas concepccedilotildees entendemos que os seres humanos estabelecem relaccedilotildees

do mais simples ao mais complexo com o outro por meio de gestos olhares e contato seja

por meio de sons Tudo isso caracteriza a linguagem humana Observa-se que a ldquolinguagemrdquo

20

eacute um termo usado pelas pessoas com referecircncia agrave linguagem em geral ou seja em uma

variedade de sentidos para denominar sistemas de comunicaccedilatildeo linguagem musical

linguagem corporal linguagem entre animais etc

No que concerne agrave definiccedilatildeo do termo liacutengua Quadros e Karnopp (2004) encontraram

uma seacuterie de definiccedilotildees de liacutengua que apontam para sua diferenciaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao termo

linguagem Estas fornecem subsiacutedios para a indicaccedilatildeo de propriedades consideradas pela

linguiacutestica essenciais agraves liacutenguas naturais sendo que uma delas eacute dada por Saussure que

afirma

Liacutengua natildeo se confunde com a linguagem eacute somente uma parte determinada

essencial dela indubitavelmente Eacute ao mesmo tempo um produto social da

faculdade de linguagem e um conjunto de convenccedilotildees necessaacuterias adotadas pelo

corpo social para permitir o exerciacutecio dessa faculdade nos indiviacuteduos (QUADROS e

KARNOPP 2004 p24)

Portanto entende-se como liacutengua natural

uma liacutengua que foi criada e eacute utilizada por uma comunidade especiacutefica de usuaacuterios

transmitida de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo e que muda ndash tanto estrutural como

funcionalmente ndash com o passar do tempo Ora qualquer liacutengua pode ser considerada

natural independentemente da modalidade que utilize (SAacute 2006 p 134)

Assim a liacutengua natural eacute tratada enquanto sistema linguiacutestico altamente desenvolvido

apresentando as caracteriacutesticas citadas por Quadros e Karnopp (2004 p 25-28) de

flexibilidade versatilidade arbitrariedade descontinuidade criatividade produtividade dupla

articulaccedilatildeo padratildeo de organizaccedilatildeo dos elementos e dependecircncia estrutural Logo conclui-se

que tais caracteriacutesticas satildeo especiacuteficas da faculdade da linguagem humana

11 Liacutengua de Sinais como Liacutengua Natural

A Liacutengua de Sinais eacute uma liacutengua natural criada pelas comunidades surdas Segundo

Skliar (1998 p26) ldquoTodas as crianccedilas surdas podem adquirir a Liacutengua de Sinais desde que

participem das interaccedilotildees quotidianas com a comunidade surda como acontece com qualquer

outra crianccedila na aquisiccedilatildeo de uma liacutengua naturalrdquo Skliar esclarece que liacutengua ldquonaturalrdquo natildeo

se refere a uma espontaneidade bioloacutegica mas como liacutengua que foi criada e eacute utilizada por

uma comunidade especiacutefica de usuaacuterios que transmite de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo e que muda com

o passar do tempo tanto estruturalmente como funcionalmente (IDEM p27)

As Liacutenguas de Sinais satildeo diferentes em cada comunidade com caracteriacutesticas das

liacutenguas orais com estruturas gramaticais proacuteprias que as distingue dos demais sistemas de

21

comunicaccedilatildeo Para Quadros e Karnopp (2004 p 30) ldquoAs liacutenguas de sinais satildeo portanto

consideradas pela linguiacutestica como liacutenguas naturais ou como um sistema linguiacutestico legiacutetimo e

natildeo como um problema do surdo ou como uma patologia da linguagemrdquo7

Para o reconhecimento das Liacutenguas de Sinais como liacutenguas naturais Ramos (2013 p

8) destaca o conceito ldquonaturalrdquo em oposiccedilatildeo a ldquocoacutedigo e linguagemrdquo e a avaliaccedilatildeo apresenta

as semelhanccedilas existentes entre as mesmas e as liacutenguas orais Sendo que uma dessas

semelhanccedilas na linha saussuriana eacute a ldquoexistecircncia de unidades miacutenimas formadoras de

unidades complexas pode ser observada em todas as Liacutenguas de Sinais espalhadas pelo

mundo possuidoras dos niacuteveis fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico e pragmaacuteticordquo

As liacutenguas de sinais apresentam ldquoregistros diversos (por categoria profissional status social

idade niacutevel escolar etc) aleacutem de dialetos regionais tambeacutem referendam as semelhanccedilas com

as liacutenguas oraisrdquo (IDEM p 8)

Estudos aprofundados sobre a Liacutengua de Sinais iniciaram a partir da deacutecada de 1950

com o estudioso da linguiacutestica o americano William Stokoe o qual percebeu e provou que a

Liacutengua de Sinais

[] satisfazia todos os criteacuterios linguiacutesticos de uma liacutengua genuiacutena no leacutexico na

sintaxe na capacidade de gerar um nuacutemero infinito de proposiccedilotildees [] Stokoe

convenceu-se de que os sinais natildeo eram figuras e sim complexos siacutembolos abstratos

com uma estrutura interna complexa Foi entatildeo o primeiro a buscar uma estrutura a

analisar os sinais dissecaacute-los procurar as partes constituintes Desde o comeccedilo ele

tentou demonstrar que cada sinal possuiacutea pelo menos trecircs partes independentes ndash

7 Sobre a surdez temos duas abordagens segundo explica Skliar a cliacutenico terapecircutica e a soacutecio-antropoloacutegica

A visatildeo soacutecioantropoloacutegica descreve a surdez em termos contraacuterios agraves noccedilotildees de patologia e de deficiecircncia

(1998 p10) Durante o seacuteculo passado construi-se o imaginaacuterio de que o surdo era um deficiente que

necessitava falar Segundo Casarin (1996 p2) ldquoNesse discurso deacuteficit doenccedila patologia anomalia implicam

apenas a possibilidade de sequumlecircncia diagnoacutestico tratamento-cura caracteriacutesticas da abordagem meacutedicardquo [] Tal

concepccedilatildeo influecircnciou outras aacutereas do conhecimento inclusive na educaccedilatildeo sobre a forma de perceber o surdo

Cesarian ainda explica que a partir daiacute foram assimilando o imaginaacuterio de que a surdez era uma doenccedila e que o

surdo por natildeo falar era um deficiente que precisava ser curado construindo entre as aacutereas de tratamento um

modelo terapecircutico para o deficiente auditivo Apoacutes as influecircncias da medicina na educaccedilatildeo dos surdos o

modelo cliniacuteco-terapecircutico passa a impor propostas educativas do oralismo dando continuidade agora na aacuterea

educacional ao tratamento do deficiente o mais cedo possivel na escola a fim que ele se enquadre ao modelo

normal modelo ouvinte Logo as escolas apresentavam como instituiccedilotildees de reeducaccedilatildeo da fala desenvolvendo

atividades pedagoacutegicas que tinham como objetivo o treinamento e exerciacutecios com fins a trazer o surdo o mais

possiacutevel do ldquonormalrdquo Perde-se assim muito tempo no processo de ensino aprendizado do sujeito surdo levando

a um fracasso escolar Surge entatildeo a nova concepccedilatildeo nomeada como soacutecio-antropoloacutegica de surdez totalmente

oposta agrave anterior Essa concepccedilatildeo parte das capacidades do sujeito quando considera a liacutengua de sinais como

melhor garantia para o desenvolvimento normal do surdo Esta nova concepccedilatildeo traz a valorizaccedilatildeo da lingua de

sinais e como consequecircncia o reconhecimento das especificidade culturais das comunidades surdas Estudos

feitos por linguiacutesticas observaram o desempenho escolar de pessoas surdas que se comunicam desde a infacircncia

por meio da Liacutengua de Sinais e que demostraram ganhos significativos em divesas aacutereas do desenvolvimento

humano Deixando claro a necessidade do uso da Liacutengua de Sinais como liacutengua natural da pessoa surda (1996

p 3)

22

localizaccedilatildeo configuraccedilatildeo das matildeos e movimento executado (anaacuteloga aos fonemas

da fala) ndash e que cada parte apresentava um nuacutemero limitado de combinaccedilotildees []

(SACKS 1998 p 88-89)

Segundo Ramos (2013 p 9) em 1988 o venezuelano Saacutenchez fez pesquisas sobre as

liacutenguas de sinais e os resultados apresentou ao educador francecircs Jean Foucambert No debate

sobre suas pesquisas ldquosurgiu agrave proposta de um tipo de educaccedilatildeo que privilegiasse a liacutengua

natural da comunidade surda - a Liacutengua de Sinais Venezuelana e a escrita da liacutengua da

comunidade oral o Espanholrdquo Um dos primeiros princiacutepios que lanccedilou a base para a que a

liacutengua de sinais fosse reconhecida como liacutengua natural foi descrita por Foucambert (RAMOS

2013 p 10)

Natildeo soacute os surdos mas toda e qualquer crianccedila pode aprender a liacutengua escrita sem

basear-se na oral porque satildeo independentes Em segundo lugar chegou-se agrave

afirmaccedilatildeo de que a liacutengua de sinais eacute uma liacutengua natural e que os surdos satildeo uma

comunidade linguiacutestica minoritaacuteria com direito a desenvolver sua cultura proacutepria

dentro da cultura majoritaacuteria O fato de a Liacutengua de Sinais cumprir uma seacuterie de

requisitos que todas as liacutenguas naturais possuem - espanhol portuguecircs alematildeo

inglecircs polonecircs a criatividade eacute um deles - pode-se sempre dizer alguma coisa

nova Outro requisito eacute a combinaccedilatildeo de partiacuteculas natildeo significativas que usadas de

certa maneira criam significaccedilatildeo [] Com 30 40 configuraccedilotildees da matildeo podem-se

transmitir milhares de sinais significativos como os fonemas da liacutengua oral A

liacutengua de sinais que como as liacutenguas nacionais eacute diferente em cada paiacutes e ateacute em

regiotildees dos paiacuteses possui aleacutem do mais uma gramaacutetica toda proacutepria organizada e

complexa e nos permite transmitir qualquer coisa [] Com ela pode-se transmitir

criar e recriar o que se quiser poesia romance filosofia E pode-se ateacute formular

ideacuteias com duplo sentido ou mentir que eacute outra caracteriacutestica das liacutenguas naturais

Por meio das pesquisas e estudos diversos paiacuteses passaram a se dedicar no campo da

linguiacutestica da Liacutengua de Sinais eacute que criou-se a possibilidade do povo surdo lutar pelo seu

reconhecimento enquanto liacutengua na medida em que pode contar com estudos que provam

cientificamente de que as Liacutenguas de Sinais satildeo de fato liacutenguas e natildeo um conjunto de

miacutemica

12 Liacutengua Brasileira de Sinais

O ser humano se expressa atraveacutes da liacutengua e a partir dela estabelece sua cultura

valores e padrotildees sociais Para os surdos brasileiros a Libras estabelece essas condiccedilotildees pois

considera a modalidade visual-espacial e associa caracteriacutesticas sociolinguiacutesticas as funccedilotildees

pragmaacuteticas e discursivas semelhantes agraves liacutenguas orais poreacutem a Liacutengua de Sinais por muito

tempo natildeo foi percebida enquanto estrutura linguiacutestica

23

A LIBRAS como toda Liacutengua de Sinais eacute uma liacutengua de modalidade gestual-visual

uma vez que faz uso para a comunicaccedilatildeo de movimentos gestuais e expressotildees faciais

percebidos pela visatildeo Neste sentido a Revista Feneis Ramos (2002 apud RAMOS 2013 p

7-8) ldquoa Liacutengua Portuguesa eacute uma liacutengua de modalidade oral-auditiva por utilizar como canal

ou meio de comunicaccedilatildeo sons articulados que satildeo percebidos pelos ouvidosrdquo Suas diferenccedilas

estatildeo na utilizaccedilatildeo de canais diferentes e nas estruturas gramaticais de cada liacutengua

Para Campello (2009) historicamente os primeiros estudos da Liacutengua de Sinais

apareceram no seacuteculo XIV exatamente nos anos de 1644 pelo inglecircs Bulwer J B com o livro

de Liacutengua de Sinais Inglesa Chirologia8 on the natural language of the hand com os estudos

destacando as figuras das matildeos e seus significados Menciona tambeacutem que era recompensa

de natureza que os surdos devam se comunicar atraveacutes dos gestos e acreditava firmemente na

ldquonecessidade que opera a Natureza dos homens que nascem Surdos-Mudos que podem

discutir mostrar sinalizar retoricamente por sinaisrdquo (p 13)

Em 1960 W C Stokoe pesquisador inglecircs da Gallaudet University fez uma pesquisa

entre as gramaacuteticas utilizadas pelos surdos em sala de aula e fora dela e os resultados foram

publicados no artigo Sign Language Structure na outline of the visual communication system

of the American Deaf na revista Studies in Linguistics Occassional Papers 8 (CAMPELLO

2009) E eacute a partir destes estudos que Stokoe afirma que a Liacutengua de Sinais eacute liacutengua

Stokoe (1960) ldquopercebeu e comprovou que a liacutengua de sinais atendia a todos os

criteacuterios linguiacutesticos de uma liacutengua genuiacutena no leacutexico na sintaxe e na capacidade de

gerar uma quantidade infinita de setenccedilasrdquo Stokoe observou que os sinais natildeo eram

imagens mas siacutembolos abstratos complexos com uma complexa estrutura interior

[] Comprovou inicialmente inicialmente que cada sinal apresentava pelo menos

trecircs partes independentes (em analogia com os fonemas da fala) ndash a localizaccedilatildeo a

configuraccedilatildeo de matildeos e o movimento ndash e que cada parte possuiacutea um nuacutemero

limitado de combinaccedilotildees [] (QUADROS E KARNOPP 2004 p 30-31)

Os estudos do linguiacutesta representou o primeiro passo para outras pesquisas em relaccedilatildeo

a Liacutengua de Sinais Em diversos paiacuteses pesquisas foram realizadas O Brasil foi um deles

No Brasil no final dos anos de 1970 a proposta da educaccedilatildeo biliacutengue reconhece a

Libras como liacutengua natural portanto deve ser ensinada como primeira liacutengua desde o iniacutecio

da escolarizaccedilatildeo da crianccedila surda e a comunidade surda reconhece o portuguecircs como a liacutengua

oficial do Brasil e deve ser ensinada como segunda liacutengua na forma oral ou escrita

(SLOMSKI 2010)

8 Bulwer (1644) em seu livro esclarece que a quirologia eacute um dicionaacuterio de gestos manuais e quirema eacute um

manual para o uso efetivo do gesto de falar em puacuteblico

24

Segundo Quadros (2009 p144) no entanto a Liacutengua de Sinais comeccedilou a ser

investigada efetivamente nas deacutecadas de 80 e 90 por Ferreira Brito (1986 1995) Felipe

(1992 1993) Quadros (1995 1999) e a aquisiccedilatildeo da Liacutengua Brasileira de Sinais nos anos 90

(Karnopp (1994 1999 Quadros (1995 1997)

Na deacutecada de 1980 a 1990 tem-se um panorama mundial para a abordagem biliacutengue

na educaccedilatildeo de surdos Slomski (2010 p 61) destaca que em 1994 Lucinda Ferreira Brito

passa a utilizar a abreviaccedilatildeo de LIBRAS (Liacutengua Brasileira de Sinais) criada pela comunidade

surda Consequentemente pesquisas estudos e lutas da comunidade surda contribuiacuteram para a

instauraccedilatildeo de uma poliacutetica linguiacutestica da Liacutengua Brasileira de Sinais A que reconhece o

estatuto linguiacutestico legal por meio da Lei 10436 de 24042002

Art 1ordm Eacute reconhecida como meio legal de comunicaccedilatildeo e expressatildeo a Liacutengua

Brasileira de Sinais ndash Libras e outros recursos de expressatildeo e por ela associados

Paraacutegrafo uacutenico Entende-se como Liacutengua Brasileira de Sinais ndash Libras a forma e

comunicaccedilatildeo e expressatildeo em que o sistema linguiacutestico de natureza visual-motora

com estrutura gramatical proacutepria constituem um sistema linguiacutestico de transmissatildeo

de ideias e fatos oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil

[](BRASIL 2007 p 2)

A Liacutengua de Sinais como jaacute mencionado eacute uma liacutengua natural composta por de todos

os componentes agraves liacutenguas orais como gramaacutetica semacircntica pragmaacutetica sintaxe e outros

elementos preenchendo os requisitos cientiacuteficos para ser considerado um sistema linguiacutestico

Conforme Felipe e Monteiro (2004 p23) as Liacutenguas de Sinais satildeo compostas por

signos linguiacutesticos denominados bdquosinais‟ encontrados nos seguintes paracircmetros

Configuraccedilatildeo das Matildeos Ponto de Articulaccedilatildeo Movimento Orientaccedilatildeo Expressatildeo Facial eou

Corporal Estes paracircmetros satildeo requisitos necessaacuterios para que sejam constituiacutedos os sinais

Portanto a Liacutengua de Sinais eacute considerada como liacutengua natural do sujeito surdo

como sua primeira liacutengua-L1 Jaacute a liacutengua majoritaacuteria de um paiacutes no caso do Brasil eacute a

Liacutengua Portuguesa como L2 Partindo do pressuposto que a Liacutengua de Sinais eacute a primeira

liacutengua do surdo a aquisiccedilatildeo da primeira liacutengua pelas crianccedilas surdas deve se dar de forma

natural no contato com surdos sinalizados pertencentes agrave comunidade surda A Liacutengua

Portuguesa por sua vez eacute aprendida de forma sistemaacutetica ou seja precisa ser ensinada por

meio de teacutecnicas especiacuteficas de ensino de segunda liacutengua

A partir desta compreensatildeo as crianccedilas surdas precisam ter a oportunidade do contato

com seus pares Crianccedilas surdas que natildeo tecircm um conviacutevio com surdos por terem nascido

dentro de familias ouvintes que usam a liacutengua oral precisam que os pais familiares

25

oportunizem a elas o mundo essencialmente visual-espacial para conhecer a Liacutengua de

Sinais Sobre a questatildeo Quadros (2005 p30) afirma

As crianccedilas surdas e seus pais ouvintes poderiam compartilhar o bilinguismo liacutengua

portuguesa e liacutengua de sinais brasileira e ir aleacutem descobrindo os vieses das culturas

e identidade que se entrecruzam [] Assim as crianccedilas surdas precisam ter acesso

agrave liacutengua de sinais com sinalizantes fluentes desta liacutengua muito cedo Estes

sinalizantes satildeo pessoas que normalmente natildeo fazem parte do ciacuterculo de pessoas

que a crianccedila usualmente teria contato Os pais teratildeo que conhecer comunidade

surda que usa esta liacutengua

Nesta perspectiva Souza (apud QUADROS 2005) menciona que se no iniacutecio do seu

desenvolvimento a crianccedila surda tiver a chance de contar com pais dispostos a aprenderem a

liacutengua de sinais com adultos surdos colegas surdos e conversarem ldquosinalizandordquo a

dimensatildeo do seu processo educacional seraacute outra A aquisiccedilatildeo da liacutengua seraacute transferida para

o espaccedilo escolar ldquoO fato de passar a ter contato com a liacutengua portuguesa com significado

trazendo seus conceitos adquiridos na sua proacutepria liacutengua possibilitaraacute um processo muito

mais significativordquo (ibid p33)

Por isso eacute de importacircncia fundamental a crianccedila surda esteja em contato linguiacutestico

com a liacutengua de sinais o mais cedo possiacutevel seja com a comunidade surda ou com seus pais

ouvintes que adquiriram a Liacutengua de Sinais como L2 Estes fatores iratildeo influenciar a crianccedila

estabelecer a sua identidade e cultura surda naturalmente Neste sentido Fantinel (1999 p2)

menciona que ldquoo uso da Liacutengua de Sinais eacute uma condiccedilatildeo fundamental na construccedilatildeo da

identidade dessas pessoas pois eacute o fator que os aproxima e reuacutene em grupos permitindo-lhes

expressarem-se construindo significados para a vidardquo

A Liacutengua de Sinais portanto eacute um aspecto fundamental da cultura surda Para tanto

Strobel (2008 p44) ainda enfatiza que para que o sujeito surdo possa ter acesso agraves

informaccedilotildees e conhecimentos aleacutem de construir sua identidade eacute fundamental criar uma

ligaccedilatildeo com o povo surdo que usa a sua liacutengua em comum pois a Liacutengua de Sinais eacute uma das

principais marcas da identidade de um povo surdo uma particularidade da cultura surda uma

forma de comunicaccedilatildeo que capta as experiecircncias visuais dos sujeitos surdos E somente a

partir do uso desta liacutengua que a crianccedila conseguiraacute seu pleno desenvolvimento cognitivo

psicoloacutegico emocional e cultural proporcionando assim a aquisiccedilatildeo do conhecimento

universal

Desta forma ao refletirmos sobre a pessoa surda na construccedilatildeo de sua identidade e

cultura surda entende-se que o contato linguiacutestico eacute essencial Logo o que dizer das pessoas

26

surdas que vivem isoladas de comunidades surdas que natildeo tem esse contato com Liacutengua de

Sinais Sobre esta realidade Strobel esclarece que

No entanto incluem tambeacutem os gestos denominados ldquosinais emergentesrdquo ou ldquosinais

caseirosrdquo dos sujeitos surdos de zonas rurais ou sujeitos isolados de comunidades

surdas que procuram entender o mundo atraveacutes dos experimentos visuais e que

procuram comunicar apontando e criando sinais [] (ibidem p44)

Ainda sobre a questatildeo Vilhalva (2012 p 30) ressalta que ldquo[] Os sinais emergentes

tambeacutem conhecidos como sinais caseiros satildeo essenciais quando vistos como comunicaccedilatildeo

natural usada em um espaccedilo familiar ou social []rdquo Nesse caso podemos referir ao iacutendio

surdo que vive isolado do contato com a comunidade surda Este surdo tambeacutem se identifica

com o povo surdo apesar de natildeo ter contato e de natildeo pertencer agraves mesmas comunidades

surdas na medida em que de acordo com Strobel (2008) eles compartilham as mesmas

peculiaridades ou seja constroem sua formaccedilatildeo de mundo atraveacutes de artefato cultural visual

13 Liacutenguas de Sinais Indiacutegenas pesquisadas no Brasil

Os registros da existecircncia de iacutendios surdos segundo Vilhalva (2008) apontam para o

Estatuto do Iacutendio - Lei nordm 6001 de 19121973 que norteou as relaccedilotildees do Estado brasileiro

com as populaccedilotildees indiacutegenas ateacute a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 em seu Paraacutegrafo

uacutenico do Art 1ordm assegura

Aos iacutendios e agraves comunidades indiacutegenas se estende a proteccedilatildeo das leis do Paiacutes nos

mesmos termos em que se aplicam aos demais brasileiros resguardados os usos

costumes e tradiccedilotildees indiacutegenas bem como as condiccedilotildees peculiares reconhecidas

nesta Lei

Neste sentido no Brasil a liacutengua oficial eacute a Liacutengua Portuguesa Fossile (2013 p 4)

afirma que ldquoo paiacutes conta atualmente segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatiacutestica (IBGE) com aproximadamente 210 liacutenguas sendo 190 delas indiacutegenasrdquo Essas

liacutenguas indiacutegenas satildeo consideradas como liacutenguas minoritaacuterias sem importacircncia em relaccedilatildeo ao

portuguecircs No entanto algumas possuem mais prestiacutegio em relaccedilatildeo agraves outras

Em relaccedilatildeo ao conhecimento da liacutengua e da diversidade na dinacircmica soacutecio-cultural das

populaccedilotildees indiacutegenas deveria haver prioridades para estudos no campo linguiacutestico para

acadecircmicos e pesquisadores indios De fato o conhecimento das liacutenguas faladas e no

contexto tem-se essa diversidade para iacutendios surdos deveria ser compartilhada com a

27

sociedade indiacutegena de forma que esta possam participar ativamente na elaboraccedilatildeo de poliacuteticas

e programas que respondam agraves suas necessidades seus direitos considerando-se em particular

suas culturas e liacutenguas

Segundo Vilhalva (2008) pesquisas no campo da linguiacutestica e de poliacuteticas linguiacutesticas

avanccedilaram consideravelmente no Brasil Tendo poreacutem ainda uma grande necessidade de

maiores pesquisas principalmente referente a diferentes Liacutenguas de Sinais pertencentes a

diferentes comunidades como as dos povos indiacutegenas Neste sentido a autora argumenta

A Liacutengua de Sinais Indiacutegenas praticadas pelos iacutendios surdos existentes em diversas

comunidades indiacutegenas do paiacutes traz consigo caracteriacutesticas culturais e linguiacutesticas

variadas bdquoInfelizmente raramente satildeo registradas como satildeo registradas outras liacutenguas

brasileiras de diferentes comunidades com suas especificidades culturais e eacutetnicas ‟

(VILHALVA 2008 p 29)

Sobre a questatildeo Nonaka coloca que

desde 1960 quando se iniciaram os estudos linguiacutesticos e antropoloacutegicos em

referecircncia agraves Liacutenguas de Sinais a maior parte das investigaccedilotildees tem incidido sobre

as Liacutenguas de Sinais nacionais ou padratildeo usadas pelos surdos de diferentes paiacuteses

com escassa atenccedilatildeo agraves Liacutenguas de Sinais usadas pelos indiacutegenas em sua

comunicaccedilatildeo original (apud VILHALVA 2012 p 30)

Por isso Vilhalva defende a comunicaccedilatildeo dos iacutendios surdos como objeto de estudo da

linguiacutestica afirmando que

[] Sabemos tambeacutem que a Libras estaacute presente nas terras indiacutegenas

apontando que a influecircncia aconteceraacute Sendo assim consideramos quanto o leacutexico

das liacutenguas estaacute no processo de mudanccedilas atraveacutes do neologismo espontacircneo ou o

empreacutestimo linguiacutestico de outras liacutenguas (ibid p37)

Observa-se que os estudos sobre a Libras nas terras indiacutegenas comeccedilaram na deacutecada

de 1980 com pesquisas da brasileira Lucinda Ferreira Brito sobre a Liacutengua Brasileira de

Sinais Segundo Slomski (2010) Lucinda Ferreira Brito iniciou sua pesquisa atraveacutes de um

padratildeo internacional de abreviaccedilatildeo das Liacutenguas de Sinais adotando a sigla LSCB ndash Liacutengua de

Sinais dos Centros Urbanos Brasileiros para diferenciaacute-la da LSKB ndash Liacutengua de Sinais

Kaapor Brasileiros que eram a utilizada pelos iacutendios do Estado do Maranhatildeo

Diante do panorama exposto se faz necessaacuterio no campo da linguiacutestica dos estudos

surdos pesquisas sobre a Liacutengua de Sinais usadas pelos iacutendios surdos nas diferentes

comunidades indiacutegenas para que seja reconhecida e registrada Infelizmente somente uma

28

liacutengua indiacutegena eacute oficialmente reconhecida no Brasil a Liacutengua de Sinais Indiacutegena da

comunidade Urubu-Kaapor devido ao alto iacutendice de surdos

131 Liacutengua de Sinais Urubu-Kaapor

Os resultados do Censo 2010 (IBGE 2013) apontam para 274 liacutenguas indiacutegenas

faladas por indiviacuteduos pertencentes a 305 etnias diferentes Embora haja a necessidade de

estudos linguiacutesticos e antropoloacutegicos mais aprofundados quanto aos nuacutemeros totais de liacutengua

e etnia

Dentro desse universo a uacutenica Liacutengua de Sinais indiacutegena reconhecida conforme

referido anteriormente eacute a utilizada pela etnia indiacutegena brasileira dos Urubu-Kaapor9

chamados tambeacutem por urubus-caapores Os estudos sobre essa Liacutengua de Sinais apontam para

o iniacutecio da deacutecada de 1950

De acordo com Ribeiro (1996 apud FASSILE 2013 p 2)

Em 1950 foi descoberto no Brasil um grupo indiacutegena atraveacutes de pesquisas

antropoloacutegicas os Urubu-Kaapor na floresta Amazocircnica (Maranhatildeo) que falava

uma variaccedilatildeo da liacutengua de sinais Somente a partir da deacutecada de 1980 estudos

linguiacutesticos relacionados agrave Liacutengua de Sinais Kaapor Brasileira (LSKB) foram

aprofundados (sobre a LSKB cf KAKUMASU J KAKUMASU K 1977)

Segundo Brito (1993 apud FASSILE 2013 p 2) J Kakumasu defendeu que ldquo[] a

Liacutengua de Sinais dos Urubu-Kaapor [] [se constituiacutea como] um veiacuteculo de comunicaccedilatildeo

intratribal e natildeo como meio de transaccedilatildeo comercialrdquo Neste sentido resgata-se que

No Brasil Lucinda Brito inicia seus importantes estudos linguiacutesticos em

1982 sobre a Liacutengua de Sinais dos iacutendios Urubu-Kaapor da floresta amazocircnica

brasileira apoacutes um mecircs de convivecircncia com os mesmos documentando em filme

sua experiecircncia A ideia para a pesquisa adveio da leitura de um artigo publicado no

livro de Umiker-Sebeok (1978) de autoria de J Kakumasu Urubu Sign Language

No estudo a Liacutengua de Sinais dos Urubu-Kaapor se diferenciaria da PSL por

constituir um veiacuteculo de comunicaccedilatildeo intratribal e natildeo como meio de transaccedilatildeo

comercial Lucinda Brito poreacutem constatou que a mesma se tratava de uma legiacutetima

Liacutengua de Sinais dos surdos pelos mesmos criados

O interessante de se observar no caso dos Urubu-Kaapor eacute que os ouvintes da

aldeia falam a Liacutengua de Sinais e a liacutengua oral evidentemente enquanto que os

surdos se restringem agrave Liacutengua de Sinais Assim os ouvintes da aldeia se tornam

biliacutengues enquanto os surdos se mantecircm monoliacutengues (RAMOS 2011 p 6)

9 Disponiacutevel emlthttpwwwlibrascombrurubu-kaaporgt Acesso em 19112013

29

A Liacutengua Kaapor eacute uma liacutengua da famiacutelia Tupi-Guarani natildeo falada por outra tribo ou

povo exceto como segunda liacutengua Possuem uma liacutengua de sinais proacutepria (a Liacutengua Brasileira

de Sinais Kaapor) usada tanto pela comunidade surda do povo como tambeacutem por seus

membros natildeo surdos na comunicaccedilatildeo com os surdos

[] os Kaapor satildeo linguisticamente peculiares na Amazocircnia por terem uma

linguagem padratildeo de sinais usada para a comunicaccedilatildeo com os surdos que ateacute a

metade dos anos 80 compunham cerca de 2 da totalidade de sua populaccedilatildeo A

incidecircncia de surdez deveu-se evidentemente agrave bouba neonatal e endecircmica que foi

erradicada10

O interessante eacute que a comunidade indiacutegena desenvolveu uma forma proacutepria de

comunicaccedilatildeo por sinais que comeccedilou a ser estudada na deacutecada de 1960 pelo pesquisador

canadense James Kakumasu em (1968) e em seguida pela linguista brasileira Linguista

Lucinda Ferreira Brito ldquo[] A Liacutengua de Sinais Brasileira para diferenciaacute-la da LSKB

(Liacutengua de Sinais Kaapor Brasileira) utilizados pelos iacutendios Urubu-Kaapor no Estado do

Maranhatildeordquo (GOLDFELD 1997 p 30) A pesquisadora registrou a existecircncia da Liacutengua de

Sinais Kaapor em sua pesquisa sobre termos baacutesicos para cores em Liacutengua de Sinais

132 Liacutengua de Sinais Emergentes

Vilhalva (2012) se preocupou sobre a situaccedilatildeo linguiacutestica dos iacutendios surdos trazendo

grandes contribuiccedilotildees cientiacuteficas na aacuterea da linguiacutestica referente agraves Liacutenguas de Sinais

Indiacutegenas Sua pesquisa iniciou em 1991 com iacutendios surdos na comunidade indiacutegena de Satildeo

Marcos

O estudo dos sinais emergentes que se deseja apresentar objetiva natildeo apenas

recuperar os registros sobre as liacutenguas padratildeo mas tambeacutem e sobretudo procurar

realizar um levantamento de como se apresenta atualmente o uso desses sinais

emergentes e ateacute mesmo da histoacuteria da produccedilatildeo desses sinais para que se possa

fazer o registro cientifico sobre a situaccedilatildeo linguiacutestica dos iacutendios surdos dentro das

escolas indiacutegenas [] (VILHALVA 2012 p11a)

Souza e Segala (2009 p28) abordam que a maior parte das liacutenguas nasceu do

contato entre duas ou mais liacutenguas ou de uma liacutengua e sistemas de sinais caseiros (Liacutengua de

Sinais Primaacuteria) Observa-se que ldquosinais caseiros ou Liacutengua de Sinais Primaacuterios

correspondentes aos gestos ou construccedilatildeo simboacutelica inventadas no acircmbito familiar eacute comum

10

Disponiacutevel emlthttppibsocioambientalorgptpovokaaporgt Acesso em 19112013

30

a constituiccedilatildeo de um sistema convencional de comunicaccedilatildeo entre matildee-ouvinte e crianccedila

surdardquo

Sobre a origem dos sinais emergentes Vilhalva explica que

[] os sinais emergentes foram criados devido a uma necessidade de comunicaccedilatildeo

passando por sinais indicativos icocircnicos e arbitraacuterios A maneira como cada sinal

surge levam tempo para se entender principalmente quando os sinais satildeo criados

conforme o neologismo11

Esses novos sinais passam a fazer parte da comunicaccedilatildeo

para depois designar algo consistentemente como acontece tambeacutem agraves liacutenguas

orais-auditivas (2012 p137-138)

Desta forma a autora em sua pesquisa argumenta que os sinais emergentes

considerados em seu estudo como Liacutengua de Sinais constituem como o meio de

comunicaccedilatildeo primaacuteria dos iacutendios surdos das comunidades indiacutegenas do Mato Grosso do Sul

Partindo deste achado Rousseau jaacute mencionava em seus estudos ldquoEnsaio sobre a origem das

liacutenguasrdquo que

O uso e a necessidade ensinam a cada um a liacutengua de seu paiacutes mas o que eacute que faz

com que essa liacutengua seja a de seu proacuteprio paiacutes e natildeo a de um outro [] No

momento em que um homem foi reconhecido por um outro como um ser sensiacutevel

pensante e semelhante a ele o desejo ou a necessidade de comunicar-lhe os proacuteprios

sentimentos e os proacuteprios pensamentos fez com que procurasse os meios de fazecirc-lo

(2008 p 97)

Assim o primeiro contato do ser humano eacute com o outro da mesma espeacutecie No caso da

matildee com seu filho Conforme Sacks (1998 p 7) comenta que

[] a primeira comunicaccedilatildeo geralmente se daacute entre matildee e filho e a liacutengua eacute

adquirida emerge entre eles dois Sendo assim Os sinais emergentes tambeacutem satildeo

fruto da linguagem num processo visual usados pelos surdos indiacutegenas e seus

familiares ouvintes na interaccedilatildeo com o meio (VILHALVA 2012 p 137)

Vilhalva (2012) entatildeo percebeu a predominacircncia dos gestos caseiros criados pelos

proacuteprios surdos para interagirem com suas famiacutelias e com as pessoas que os rodeiam Ou

seja a crianccedila surda que nasce na famiacutelia de ouvinte comeccedila a criar a partir de um meio de

comunicaccedilatildeo visual usando todas as formas naturais possiacuteveis desde o apontamento ateacute os

gestos naturais O uso que destes sinais criados pelas necessidades do ambiente familiar com

o passar do tempo vatildeo se convencionando a forma de interaccedilatildeo dialoacutegica passando a

transformar-se em um meio de comunicaccedilatildeo essencial resultando assim no processo

11

Satildeo palavras criadas para designar novas situaccedilotildees novos conceitos fatos objetos etc sendo que um

neologismo soacute eacute sentido como tal durante algum tempo pois passados anos ou seacuteculos deixa de ter sentido

como tal porque a realidade que ele designa jaacute natildeo eacute nova

31

evolutivo dos sinais familiares para os sinais emergentes para transiccedilatildeo para a Liacutengua de

Sinais ou seja arbitraacuteria convencional Esse processo se daacute por meio do processo cognitivo

fundamentada na teoria de Cuxac

Construccedilatildeo do dizer a partir do processo criativo de performance gestual Iconizando

da experiecircncia perceptivo-praacutetica Rotinas de Transferecircnciandashpassagem da ilustraccedilatildeo

especifica para a categorizaccedilatildeo geneacuterica Sinais estabelecidos num grupo reduzido

categorias e generalizaccedilotildees dos sinais gestuais Nasce uma liacutengua de Sinais com

todas as propriedades de uma liacutengua (apud VILHALVA 2012 p138)

Vilhalva (2012) ainda destaca que se observarmos a Lei nordm 10436 de 24 de abril de

2002 vamos verificar que em seu artigo primeiro ldquoficam reconhecidos como meio legal de

comunicaccedilatildeo e expressatildeo a Liacutengua Brasileira de Sinais-Libras ndash e outros recursos de

expressatildeo a ela associadosrdquo Nesses bdquooutros recursos‟ podem figurar segundo compreensatildeo

da mesma os sinais emergentes produzidos nas comunidades indiacutegenas Se a Liacutengua

Brasileira de Sinais uma forma de comunicaccedilatildeo e expressatildeo cujo canal de produccedilatildeo e

recepccedilatildeo eacute de natureza visual-motora com estrutura gramatical proacutepria constituindo um

sistema linguiacutestico de transmissatildeo de ideias e fatos oriundos de comunidades de pessoas

surdas no Brasil conforme estaacute na lei eacute compreensivo dizer que nada fala sobre um padratildeo de

sinalizaccedilatildeo (p34)

Conclui-se que conforme pesquisa da autora citada os estudos dos sinais emergentes

mostraram que este eacute o ponto inicial das novas Liacutenguas de Sinais que segundo a mesma

merecem ser aprofundadas

1321 Realidade do contexto educacional escolar do indiacutegena surdo

Vilhalva (2012) destaca que o indiviacuteduo surdo soacute teraacute um sistema gestual linguiacutestico

organizado no contato do agrupamento comunitaacuterio especificamente da comunidade surda

com o contato com a Liacutengua de Sinais E isso muitas vezes acontece em geral somente no

acircmbito escolar biliacutengue onde haacute outros surdos inteacuterpretes e professores ouvintes que fazem

uso da Liacutengua de Sinais Por isso eacute essencial uma escola que respeite a diversidade linguiacutestica

como no caso desta comunidade Desta forma se faz necessaacuterio presenccedila na escola de

inteacuterpretes vindo das cidades mais proacuteximas das terras indiacutegenas de modo que

32

[] o Professor ministra as aulas em Portuguecircs e tem disciplina em Guarani

Observamos que pelo fato de os professores da pedagogia diferenciada indiacutegena

realizarem sua formaccedilatildeo em universidades locais onde o assunto em torno da surdez

e da Libras satildeo discutidos estes profissionais tecircm uma formaccedilatildeo que respeita natildeo soacute

a cultura e a liacutengua indiacutegena mas tambeacutem a cultura e a Liacutengua de Sinais

caracteriacutesticas que estatildeo presentes nas escolas indiacutegenas biliacutengues em que a liacutengua

de instruccedilatildeo eacute o Guarani-Portuguecircs(VILHALVA 2012 p 11b)

Poreacutem o que natildeo eacute o caso da escola Araporatilde mencionada por Vilhalva (2012) que teve

preferecircncia do inteacuterprete indiacutegena para a preservaccedilatildeo da cultura liacutengua e saber Foi observado

na pesquisa que os indiacutegenas surdos com vinte anos de idade em diante demonstram

seguranccedila ao sinalizar com o pesquisador surdo usando seus sinais emergentes de forma

natural Os mais novos de escolas indiacutegenas mas da mesma comunidade indiacutegena natildeo

demonstraram o uso de sinais emergentes e sim apresentaram diretamente sua comunicaccedilatildeo

em Libras Entretanto os resultados apontam que natildeo haacute como dizer se o atendimento

educacional para o iacutendio surdo estaacute acontecendo em todas as comunidades indiacutegenas ldquopois

interfere numa questatildeo de respeitar o que diz o proacuteprio plano de educaccedilatildeo sobre uma visatildeo

amplamente ligada agrave liacutengua cultura e diversidade nas escolas e terras indiacutegenasrdquo (ibid p36)

Nesta oacutetica se realmente as poliacuteticas linguiacutesticas fossem mais enfaacuteticas em suas

propostas de realizar a planificaccedilatildeo linguiacutestica incluindo a criaccedilatildeo de escolas biliacutengues e de

legislaccedilotildees especiacuteficas para as questotildees referentes agraves liacutenguas o indiviacuteduo indiacutegena surdo

poderia ter seus direitos linguiacutesticos assegurados

Neste sentido resgata-se o Referencial Curricular Nacional para Escolas Indiacutegenas

(1998) o qual menciona que

[] as tradiccedilotildees culturais os conhecimentos acumulados a educaccedilatildeo das geraccedilotildees

mais novas as crenccedilas o pensamento e a praacutetica religiosa as representaccedilotildees

simboacutelicas a organizaccedilatildeo poliacutetica os projetos de futuro enfim a reproduccedilatildeo

sociocultural das sociedades indiacutegenas satildeo na maioria dos casos manifestaccedilotildees

atraveacutes do uso de uma liacutengua Mesmo os povos indiacutegenas que satildeo hoje monoliacutengues

em liacutengua portuguesa continuam a usar a liacutengua de seus ancestrais como um siacutembolo

poderoso para onde confluem muitos de seus traccedilos identificatoacuterios construindo

assim um quadro de bilinguismo simboacutelico importante [grifo nosso]

Ou seja assim como para o surdo urbano brasileiro eacute reconhecida legalmente sua

liacutengua natural - Libras e a Liacutengua Portuguesa como segunda liacutengua -L2 para o indiacutegena surdo

deveria ser assegurado o mesmo direito para aprender esta forma de comunicaccedilatildeo ndash Liacutengua de

Sinais como primeira liacutengua e como segunda liacutengua a Liacutengua de sua etnia na modalidade

33

escrita Sendo portanto biliacutengue ou ainda triliacutengue com aquisiccedilatildeo da Liacutengua Portuguesa

tambeacutem na modalidade escrita

Nesta perspectiva observa-se que Saacute (2011 p33) afirma que tanto indiacutegenas como

surdos tecircm uma liacutengua proacutepria e uma cultura diferenciada Entatildeo porque natildeo ser reconhecida

legalmente a Liacutengua de Sinais utilizada pelos iacutendios surdos e a Liacutengua de sua comunidade

Como bem percebido por Vilhalva haacute a carecircncia de pesquisas voltadas para o registro de

liacutengua de sinais entre os iacutendios surdos brasileiros o que certamente constitui-se em um dos

fatores que favorecem a existecircncia desta lacuna na legislaccedilatildeo E que tal fato deveria ser um

despertar para pesquisadores da linguiacutestica sejam ouvintes ou surdos

34

2 A HISTOacuteRIA DO POVO INDIacuteGENA SATEREacute-MAWEacute CULTURA E LIacuteNGUA

Os povos indiacutegenas durante muito tempo foram considerados como povos sem

histoacuteria e sem uma liacutengua proacutepria Poreacutem com as muitas lutas eacutetnicas com estudos

antropoloacutegicos e com as abordagens historiograacuteficas iniciou-se uma valorizaccedilatildeo da

sociedade indiacutegena passando assim o povo indiacutegena a ser perspectivado nas suas

singularidades histoacutericas culturais e linguiacutesticas

Vale ressaltar que quando se refere a ldquoliacutenguasrdquo sabe-se que natildeo haacute apenas uma liacutengua

indiacutegena Existem muitos povos ou etnias indiacutegenas distintas As liacutenguas indiacutegenas no Brasil

se agrupam em famiacutelias linguiacutesticas ou seja famiacutelias que tecircm semelhanccedilas entre si e que satildeo

agrupadas por sua vez em troncos linguiacutesticos assim como as liacutenguas isoladas12

ou seja

liacutenguas que natildeo parecem ter parentesco com nenhuma das famiacutelias linguiacutesticas conhecidas

Segundo Rodrigues (2002) as famiacutelias indiacutegenas estatildeo agrupadas em Tronco

Linguiacutestico Tupi famiacutelia Tupi-Guarani (Akwaacutewa Amanayeacute Anambeacute Apiakaacute Araweteacute

Asurini Avaacute Guajaacute Guarani Kamayuraacute Kayabi Suryiacute Kaiwaacute) famiacutelia Munduruku

(Kuruaacuteya Mundurukuacute) Famiacutelia Tupari (Makuraacutep Tupari Wayoroacute) Famiacutelia Arikeacutem

(Karitiaacutena) Famiacutelia Juruna (Juruna) Famiacutelia Mondeacute (Aruaacute Cinta-Larga Gaviatildeo Mekeacutem

Mondeacute Suruiacute Zoroacute) Famiacutelia Ramaraacutema (Araacutera Itoqapuk) Outras Liacutenguas (Aweti

Puruboraacute Satereacute-Maweacute) entre outros troncos linguiacutesticos como Macro-Jecirc e sua diversidade

de famiacutelias existentes entre elas as liacutenguas isoladas

Um desses povos indiacutegenas foi o da etnia Satereacute-Maweacute Estes sofreram muitas

influecircncias em seu modo de vida advinda do contato com grupos natildeo indigenas que implicou

no processo de perda de muitos dos seus aspectos culturais A histoacuteria relata que o contato se

deu pela chegada dos colonizadores e posteriormente das missotildees religiosas E na atualidade

por ocupantes de terras como fazendeiros madeireiros emigrantes de outros Estados Foram

perdas irreparaacuteveis todavia como elo de resistecircncia procuraram sustentar em sua estrutura

original sua liacutengua

12

Segundo Rodrigues (2002 p93) liacutenguas isoladas refere-se as liacutenguas isoladas linguisticamente ou seja

liacutenguas que natildeo revelam parentesco geneacutetico com nenhuma outra Natildeo pertencem a nenhuma famiacutelia (ou tronco)

isto eacute constituem famiacutelias de um soacute membro

35

21 Breve Relato Histoacuterico

A histoacuteria do povo indiacutegena Satereacute-Maweacute tem sido foco de estudos dos diversos

segmentos de pesquisas como as realizadas por antropoacutelogos historiadores religiosos e

cientistas da linguagem Estes relatam a origem a liacutengua e a cultura desse povo

Uggeacute (1993 p 5) informa que ldquoOs Maueacutes descendentes das tribos indiacutegenas

denominadas no passado pelo nome de ANDIRAacute e MARAGUAacute que faz parte da aacuterea cultural

Tapajoacutes-Madeira entre a divisa dos atuais Estados do Paraacute e Amazonasrdquo O autor ainda

menciona que cronistas exploradores missionaacuterios antropoacutelogos naturalistas do passado

identificaram os Maueacutes tambeacutem com outros nomes (Maooz Mabueacute Jaquezes Manguases

Mahueacutes Mauris Maweacute Maragua e Maraguazes)

A origem do nome Satereacute-Maweacute advem dos termos Satereacute (lagarta vermelha) que eacute o

nome do clatilde dos antigos chefes e Maweacute (papagaio inteligente guerreiro e curioso) que eacute o

nome mais comum de um dos grupos tribais que conseguiram sobreviver agrave extinccedilatildeo das

numerosas tribos indiacutegenas da ilha Tupinambarana do Meacutedio Amazonas (IDEM) Cerqua13

faz referecircncia agrave primeira notiacutecia sobre o povo Satereacute-Maweacute ldquoEacute por volta de 1669 quando o

Pe Betendorf duas vezes superior provincial dos jesuiacutetas lembra a ldquovila dos Maguasesrdquo

grafia antiga de Maueacutes [] (1980 p 209)rdquo ou seja Maueacutes foi residecircncia missionaacuteria mas

natildeo permanente dos padres pois os mesmos residiam mais em Tupinambarana (rio

Amazonas) atual Parintins e visitavam Maueacutes temporariamente

A etnia Satereacute-Maweacute sofreu muitas mudanccedilas de localidades devido muitos fatores

que contribuiacuteram para o deslocamento desse povo segundo explica Lorez apud Teixeira

(2005 p21)

Devido agraves guerras com os Munduruku e Parintintim e ao contato com os

portugueses os Satereacute-Maweacute perderam grande parte de seu territoacuterio original Em

1691 os Maweacute surgem na cartografia regional com o nome de Mabueacute(mapa do

Padre Samuel Fritz) Missotildees foram localizadas para os iacutendios Magueacute denominadas

Satildeo Joatildeo (Pinhel) e Santo Inaacutecio (Boim) Posteriormente em 1835 lutando ao lado

dos Munduruku e dos Mura como tambeacutem de outras tribos indiacutegenas do rio Negro

os Satereacute-Maweacute aderiram ao movimento cabano ateacute que em 1839 o conflito foi

debelado Devido agraves epidemias agraves lutas e agraves perseguiccedilotildees aos povos indiacutegenas que

combatiam ao lado dos cabanos enormes aacutereas da Amazocircnia foram devastadas o

que provocou deslocamentos desses grupos populacionais de seus territoacuterios

ancestrais e de populaccedilatildeo Segundo relatos de viajantes desde o seacuteculo XVIII o

territoacuterio dos Satereacute-Maweacute vem sendo paulatinamente reduzido Essa reduccedilatildeo se

deu a partir das tropas de resgate que penetraram grandes aacutereas da Amazocircnia da

implantaccedilatildeo de missotildees jesuiacutetas e carmelitas ao longo dos principais rios

13

Dom Arcacircngelo Bispo Prelado de Parintins de 1980

36

amazocircnicos da ldquobusca desenfreadardquo das drogas do sertatildeo com a exploraccedilatildeo da

borracha durante o seacuteculo XIX e iniacutecio do XX e por fim da ldquoexpansatildeo econocircmica

das cidades de Maueacutes Barreirinha Parintins e Itaituba para o interior dos

municiacutepios alocando fazendas extraindo pau-rosa abrindo garimpos dominando a

economia indiacutegena atraveacutes de regatotildeesrdquo As cidades de Maueacutes Parintins e Itaituba

inclusive foram fundadas sobre restos de malocas dos Satereacute-Maweacute

Cerqua (1980 p265) destaca a localizaccedilatildeo dessa tribo delimitando que ldquoA tribo estaacute

localizada em sua maioria no Alto Andiraacute e no Marau afluente do Rio Maueacutes e sua aacuterea de

cerca de 639500 ha foi demarcada pelo Decreto nordm 76999rdquo Atualmente segundo Teixeira

(apud ALVAREZ 2009) os Satereacute-Maweacute hoje satildeo grupos de 8500 indiacutegenas dos quais 7502

moram na terra indiacutegena Andiraacute-Marau nos municiacutepios de Barreirinha Maueacutes e Parintins e

aproximadamente mil residem em aacutereas urbanas destes municiacutepios Sendo que outro grupo

vive na terra indiacutegena Coataacute-Laranjal junto ao grupo Munduruku e no municiacutepio de Borba

Uggeacute (1993) comenta que os Satereacute-Maweacute sempre tiveram vontade de manter a

proacutepria identidade tribal contudo eram carentes de apoio praacutetico para ajudaacute-los a enfrentar o

perigo do mundo moderno que tentavam ldquoinvadi-losrdquo Ou seja manipulaccedilotildees externas entre a

lideranccedila indiacutegenas dos Satereacute-Maweacute o alcoolismo a dependecircncia a violecircncia dos ldquobrancosrdquo

eram os maiores perigos para este povo Satereacute-Maweacute

Poreacutem o foco de resistecircncia manteve vivo no povo Satereacute aspectos culturais

importantes como o ritual da tucandeira O ritual eacute um marco na vida dos homens porque satildeo

chamados pela formiga (tucandeira) caso o indiacutegena natildeo atenda o chamado a formiga o

levaraacute a loucura ateacute chegar agrave morte A tucandeira eacute uma divindade muito respeitada pelos

Satereacute-Maweacute Em determinado momento da histoacuteria do povo Satereacute-Maweacute o ritual da

tucandeira chegou ao ponto de natildeo ser mais praticado em decorrecircncia da imposiccedilatildeo religiosa

mas apoacutes perceberam a grande perda cultural que isso representaria voltaram a praticaacute-lo a

recuperando como parte de sua cultura

22 Classificaccedilatildeo da liacutengua Satereacute-Maweacute

Segundo Teixeira (2005) a anaacutelise da situaccedilatildeo linguiacutestica do povo Satereacute-Maweacute

baseia-se na concepccedilatildeo defendida por antropoacutelogos e linguistas que a liacutengua se configura

como um importante instrumento da cultura e da identidade de uma populaccedilatildeo

A populaccedilatildeo indiacutegena Satereacute-Maweacute pertence vaacuterios aspectos agrave famiacutelia Linguiacutestica

Tupi Rodrigues (apud ALVAREZ 2009 p17) aborda que a liacutengua da tribo Satereacute-Maweacute eacute a

37

uacutenica liacutengua de uma famiacutelia do tronco Tupi E sua classificaccedilatildeo linguiacutestica como pertencente

ao tronco Tupi foi dada pelo etnoacutegrafo Curt Nimuendajuacute (1948)

A liacutengua Satereacute-Maweacute integra o tronco linguiacutestico Tupi Segundo o etnoacutegrafo Curt

Nimuendajuacute (1948) ela difere do Guarani-Tupinambaacute Os pronomes concordam

perfeitamente com a liacutengua Curuaya-Munduruku e a gramaacutetica ao que tudo indica

eacute tupi O vocabulaacuterio Maweacute conteacutem elementos completamente estranhos ao Tupi

mas natildeo pode ser relacionada a nenhuma outra famiacutelia linguiacutestica Desde o seacuteculo

XVIII seu repertoacuterio incorporou numerosas palavras da liacutengua geral

Os homens atualmente satildeo biliacutengues falando o Satereacute-Maweacute e o portuguecircs mas a

maioria das mulheres apesar de trecircs seacuteculos de contato com os brancos soacute fala a

liacutengua Satereacute-Maweacute (TEIXEIRA 2005 p95)

A liacutengua Satereacute-Maweacute eacute falada tradicionalmente por quase todas as comunidades haacute

mais de 300 anos entretanto foi inevitaacutevel para os indiacutegenas Satereacute-Maweacute conhecer os

haacutebitos e a liacutengua portuguesa devido agrave invasatildeo dos europeus em suas terras no seacuteculo passado

o que causou a mistura de liacutenguas e consequentemente as influecircncias dos padrotildees culturais

natildeo indiacutegenas

Os Satereacute-Maweacute foram entatildeo forccedilados a se refugiarem nas zonas urbanas e ateacute mesmo

em outros estados Outro impacto que alterou o modo de falar dos liacutederes indiacutegenas foi a

necessidade de buscar apoio logiacutestico para suas comunidades principalmente para tratar da

sauacutede de sua populaccedilatildeo que sofria de doenccedilas como malaacuteria tuberculose sarampo e outras

por eles desconhecidas que causaram muitas mortes

Desta forma com o passar dos anos a liacutengua Satereacute-Maweacute sofreu influecircncias lexicais

e fonoloacutegicas do Nheengatu na regiatildeo do Andiraacute Pesquisas realizadas recentemente por

Teixeira (2005) delimitam um perfil linguiacutestico que permite conhecer um pouco mais da

cultura linguiacutestica Satereacute-Maweacute sendo esta considerada por meio da distribuiccedilatildeo geograacutefica e

etaacuteria dos que falam e natildeo falam o idioma Satereacute-Maweacute Desta feita segundo o autor

O idioma Satereacute-Maweacute eacute mais falado na aacuterea do Marau que nas demais (Andiraacute

Uaicurapaacute e Koataacute-Laranjal) Tanto na aacuterea do Andiraacute como no Marau o idioma

materno eacute falado por praticamente todas as comunidades situadas proacuteximo agraves

cabeceira dos rios (Alto Andiraacute e Alto Marau) Para as aacutereas mais proacuteximas das

cidades os falantes atingem a quase totalidade dos moradores do Baixo Marau Jaacute

no baixo Andiraacute esse nuacutemero aumenta bastante nas duas comunidades mais

proacuteximas de Parintins e Barreirinha ou seja Ponta Alegre e Guaranatuba As aacutereas

de povoamento mais recente (Uaicurapaacute Koataacute-Laranjal e mais duas no Andiraacute) tecircm

tendecircncia a apresentar proporccedilotildees menores de falantes do idioma Satereacute-Maweacute

(ibid p95)

38

O autor esclarece que moradores em terras indiacutegenas satildeo mais falantes da Liacutengua

Satereacute-Maweacute do que os que moram proacuteximo ou dentro da aacuterea urbana A pesquisa ainda

mostra agrave necessidade de sensibilizar a comunidade indiacutegena Maweacute sobre a importacircncia da

valorizaccedilatildeo de sua liacutengua agrave recuperaccedilatildeo de suas memoacuterias histoacutericas e a reafirmaccedilatildeo de suas

identidades eacutetnicas

221 Contexto educacional escolar entre os Satereacute-Maweacute

O contexto educacional Satereacute-Maweacute tem como base o reconhecimento constitucional

fundamentado na legislaccedilatildeo em vigor segundo a qual ldquosatildeo reconhecidos aos iacutendios sua

organizaccedilatildeo social costumes liacutenguas crenccedilas e tradiccedilotildees []rdquo

Por isso fundamentos gerais da educaccedilatildeo escolar indiacutegena baseiam-se na proposta do

Referencial Curricular Nacional para Escolas Indiacutegenas (1998) que contempla

Multietnicidade pluralidade e diversidade 2 Educaccedilatildeo e conhecimentos indiacutegenas 3

Autodeterminaccedilatildeo 4 Comunidade educativa indiacutegena 5 Educaccedilatildeo intercultural

comunitaacuteria especiacutefica e diferenciada Assim

Parte do sistema nacional de educaccedilatildeo a escola indiacutegena eacute um direito que deve ser

assegurado por uma nova poliacutetica puacuteblica a ser construiacuteda atenta e respeitosa frente

ao patrimocircnio linguiacutestico cultural e intelectual dos povos indiacutegenas Esse esforccedilo

de projetar uma nova educaccedilatildeo escolar indiacutegena soacute seraacute realmente concretizado com

a participaccedilatildeo direta com os principais interessados ndash os povos indiacutegenas atraveacutes de

suas comunidades educativas [] A participaccedilatildeo da comunidade no processo

pedagoacutegico da escola fundamentalmente na definiccedilatildeo dos objetivos dos conteuacutedos

curriculares e no exerciacutecio das praacuteticas metodoloacutegicas assume papel necessaacuterio para

a efetividade de uma educaccedilatildeo especifica e diferenciada (ibid p24)

Poreacutem para que de fato seja garantida uma educaccedilatildeo diferenciada natildeo eacute suficiente

que somente os conteuacutedos sejam ensinados atraveacutes do uso das liacutenguas maternas mas se faz

necessaacuterio que se incluam os conteuacutedos curriculares propriamente indiacutegenas assim como os

modos proacuteprios de transmissatildeo deste saber Em pesquisa realizada pela revista Amazocircnia

(AMAZONAS 2000) intitulada como ldquoA silenciosa revoluccedilatildeo dos Iacutendiosrdquo o povo Satereacute-

Maweacute foi considerada um dos melhores exemplos para se falar em educaccedilatildeo indiacutegena Tal

afirmaccedilatildeo foi proferida pelo antropoacutelogo Ademir Ramos (professor da Universidade do

Estado do Amazonas) Segundo o entrevistado a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 mudou a

postura em relaccedilatildeo aos iacutendios estabelecendo um processo de educaccedilatildeo diferenciada que

39

fomenta o orgulho de aprender sua lingua tambeacutem no ambiente escolar possibilitando relatos

como o transcrito abaixo

Alunos como Dati 11 da aldeia de Molongotuba carregam com orgulho a cartilha

bdquoMoweeghap onde estatildeo registrados escritos ndash liacutengua Satereacute do tronco tupi e

desenhos de situaccedilotildees do cotidiano das aldeias falando de peixes aves aacutervores e

animais A liacutengua o menino aprendeu a falar com os pais e depois na escola onde

haacute quatro anos aprendeu a escrevecirc-la Aleacutem disso ele tem aprendido tambeacutem a

bdquoliacutengua dos brancos‟

Ainda sobre a importacircncia desta perspectiva educacional em nota o vice-presidente

da organizaccedilatildeo dos professores indiacutegenas Satereacute Gecinaldo Cabral comentou sobre a

mesma enfatizando a relevacircncia do processo educacional na vida dos iacutendios da tribo Satereacute

que por serem biliacutengues satildeo capazes de expressarem e defenderem o seu povo Portanto ao

ensinar a liacutengua nativa agraves crianccedilas promovem o resgate da cultura tradiccedilatildeo e conhecimentos

indiacutegenas Uma educaccedilatildeo diferenciada natildeo resumida na liacutengua majoritaacuteria ou seja Liacutengua

Portuguesa mas na liacutengua proacutepria das etnias E desta forma sendo respeitada a diversidade

cultural de cada povo

Nesta perspectiva Teixeira (2005) em sua pesquisa descreve que a realidade do

contexto educacional escolar do povo Satereacute-Maweacute explicando que

O quadro situacional dos Satereacute-Maweacute no que concerne agrave escolarizaccedilatildeo e agrave

escolaridade apresenta elementos que devem ser entendidos natildeo soacute como resultado

da aplicaccedilatildeo de poliacuteticas educacionais mas tambeacutem como explicitaccedilatildeo de estrateacutegias

poliacuteticas usadas pelos iacutendios na negociaccedilatildeo de visibilidade e reconhecimento no

espaccedilo puacuteblico brasileiro A busca dos Satereacute-Maweacute por escola explicitada na

forma de documentos reivindicatoacuterios enviados ao poder puacuteblico solicitando

recursos para suas escolas demonstrarem os conhecimentos escolares e a

certificaccedilatildeo que a escolaridade concede importantes instrumentos de luta no

processo histoacuterico de construccedilatildeo de sua identidade cultural e de desenvolvimento de

seus projetos sociais (ibid p103)

O autor tambeacutem evidecircncia que a escolarizaccedilatildeo ainda natildeo estaacute alcanccedilando a totalidade

dos Satereacute-Maweacute sendo assim

[] com idade compreendida entre 7 e 24 anos nem nas aacutereas urbanas onde se

verifica o maior percentual de matriacuteculas (839) nem nas terras indiacutegenas (596)

Se forem consideradas as pessoas que tecircm entre 7 e 17 anos de idade os percentuais

sobem bastante mas ainda demonstram a falta de acesso da populaccedilatildeo satereacute-maweacute

agrave escola A pior situaccedilatildeo ocorre na aacuterea indiacutegena onde aproximadamente 13 dos

indiviacuteduos dessa faixa etaacuteria estatildeo fora da escola Na aacuterea urbana o percentual dos

que estatildeo fora eacute de 8 Aparentemente o elevado percentual de pessoas entre 7 e 17

40

anos de idade que estatildeo fora da escola em aacuterea indiacutegena deveria estar relacionado

com a ausecircncia de ensino fundamental de 4ordf a 8ordf seacuterie nas aldeias

No entanto isto eacute apenas uma parte da justificativa pois de 142 pessoas dessa faixa

etaacuteria que natildeo frequentam a escola apenas 32 (225) declararam ter concluiacutedo a

quarta seacuterie do ensino fundamental ou seja poderiam estar fora da escola por falta

do ensino de 5ordf a 8a seacuterie na aacuterea indiacutegena Aleacutem disso 148 crianccedilas entre 7 e 14

anos de idade natildeo frequentam a escola significando que haacute problemas na oferta de

vagas para as crianccedilas satereacute-maweacute na aacuterea indiacutegena Dessas crianccedilas mais da

metade se concentra em apenas 14 aldeias22 das quais 4 compreendendo as

pequenas comunidades de Satildeo Luiacutes Limoal Tigre a Arumatuba no Andiraacute natildeo tecircm

nenhuma crianccedila estudando Na aldeia de Tabatinga no Andiraacute apenas uma das

cinco crianccedilas moradoras estatildeo estudando e na de Santo Antocircnio tambeacutem no

Andiraacute 12 entre 16 crianccedilas de 7 a 14 anos natildeo frequentam a escola(TEIXEIRA

2005 p 104)

Segundo o autor nas cidades de Maueacutes Parintins e Barreirinha a escola frequentada

pelos Satereacute-Maweacute natildeo se define como escola indiacutegena nem tatildeo pouco como especiacutefica ou

diferenciada Talvez seja uma realidade encontrada em todas as escolas indiacutegenas no

Amazonas O que se configura em um problema na medida em que segundo Sobrinho

(2011) a escola esta definida a partir de um modelo da ldquoescola dos brancosrdquo que certamente

altera interferindo diretamente nas questotildees culturais que fazem parte do universo desses

povos gerando assim processo de exclusatildeo O autor ainda comenta que

mesmo diante da resoluccedilatildeo nordm 112011 do Conselho Estadual de Educaccedilatildeo que traz

garantias aos indiacutegenas independentemente de onde vivam ao respeito a sua liacutengua

conhecimentos e tradiccedilotildees proacuteprias nas escolas essa lei passa completamente

despercebida (ibid p 209)

Sobre a questatildeo Teixeira (2005) menciona que nas terras indiacutegenas onde estaacute em

curso a criaccedilatildeo da escola indiacutegena com educaccedilatildeo escolar especiacutefica e diferenciada - as taxas

de escolarizaccedilatildeo deixam evidente que o poder puacuteblico tem investido somente nas seacuteries

iniciais do ensino fundamental o qual apresenta o percentual de 871 de taxa liacutequida de

escolarizaccedilatildeo ou seja natildeo haacute oferta regular para as seacuteries finais do ensino fundamental nem

de ensino meacutedio Isso sem relatar a falta de formaccedilatildeo de professores indiacutegenas entre outros

fatores conforme Franceschini apresenta

A necessidade de formaccedilatildeo especiacutefica e diferenciada de nuacutemero maior de

professores principalmente para atuar nos segmentos mais adiantados do Ensino

Fundamental a implantaccedilatildeo de mais turmas de 6ordm ao 9ordm anos e do Ensino Meacutedio na

aacuterea indiacutegena construccedilatildeo-reflexatildeo do Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico das escolas

Satereacute-Maweacute associada a uma praacutetica pedagoacutegica condizente e a construccedilatildeo de

material didaacutetico proacuteprio satildeo necessidades urgentes do povo Satereacute-Maweacute Pois

apesar da legislaccedilatildeo vigente dar aos indiacutegenas o direito de escolherem seu modelo

educacional e ensinarem sua liacutengua e etnoconhecimentos na maioria das escolas das

41

comunidades Satereacute-Maweacute o modelo educacional adotado natildeo se diferencia muito

do modelo das escolas rurais da regiatildeo sendo que a liacutengua e os etnoconhecimentos

indiacutegenas natildeo constituem de fato conhecimentos que fazem parte do programa

educacional e que satildeo trabalhados de forma sistemaacutetica na escola (2012 p5)

Portanto os resultados apresentados pelo pesquisador comprovam que as accedilotildees

governamentais para educaccedilatildeo escolar indiacutegena estatildeo distantes de cumprir na sua plenitude

preceitos constitucionais o que implica em prejuiacutezo natildeo soacute na educaccedilatildeo escolar indiacutegena

como na proacutepria cultura desse povo

42

3 METODOLOGIA IMPLEMENTADA NA PESQUISA

A metodologia utilizada neste trabalho deu iniacutecio com o estudo bibliograacutefico e

pesquisa de campo Realizou-se uma investigaccedilatildeo primeiramente sobre os estudos surdos na

perspectiva linguiacutestica e cultural a posteriormente na literaturas e estudos sobre os iacutendios da

etnia Satereacute-Maweacute tomando como princiacutepio a origem os fundamentos e a histoacuteria do povo e

da Liacutengua Satereacute-Maweacute Na sequecircncia a concretizaccedilatildeo da pesquisa de campo com a

investigaccedilatildeo do objeto de estudo o iacutendio surdo e sua situaccedilatildeo sociolinguiacutestica da etnia Satereacute-

Maweacute

Figura 1 ndash Croqui da aacuterea e localidade da pesquisa

Fonte Mapa do Estado do Amazonas Censo 2010 ndash IBGE

Organizado por Vicente de Paulo Silva de Azevedo

31 Aacuterea e localidade da pesquisa

A proposta do processo investigativo para o mapeamento do objeto da pesquisa foi

demarcada delimitando a aacuterea do campo da pesquisa a Microrregiatildeo de Parintins A

Microrregiatildeo de Parintins (AMAZONAS 2012) eacute constituiacuteda por Barreirinha Boa Vista do

Ramos Maueacutes Nhamundaacute Parintins Satildeo Sebastiatildeo do Uatumatilde e Urucaraacute Vale ressaltar que

natildeo foi coberta pela pesquisa a populaccedilatildeo Satereacute-Maweacute residente em Manaus (AM)

43

32 Estrateacutegias gerais para a realizaccedilatildeo da coleta de dados

Primeiramente foi feita uma busca de dados pelo IBGE o qual informou que natildeo

havia qualquer registro sobre a populaccedilatildeo indiacutegena de surdos Sem resultado satisfatoacuterio foi

organizado um cronograma de viagens

A primeira viagem foi para o municiacutepio de Parintins onde foi feita uma visita na casa

de um iacutendio para possiacutevel coleta de dados Poreacutem o cacique Sr Luiz de Oliveira infelizmente

tambeacutem comunicou a falta desse dado na comunidade Portanto foi exposto a esse liacuteder o

objetivo da referida pesquisa apresentando assim a importacircncia da comunicaccedilatildeo entre os

seres humanos e interaccedilatildeo entre os diferentes modos linguiacutesticos de convivecircncia social e

educacional

O cacique prontamente mostrou-se aberto a contribuir para que a pesquisa fosse

concretizada Assim sendo iniciou-se a trajetoacuteria do levantamento de iacutendios surdos e sua

forma de comunicaccedilatildeo como tambeacutem seu contexto educacional escolar

Ao retornar a Manaus buscou-se apoio agraves instituiccedilotildees representativas com a visita agrave

sede da Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio ndash FUNAI oacutergatildeo responsaacutevel pelas accedilotildees indiacutegenas a

qual informou que se fazia necessaacuterio uma autorizaccedilatildeo para dar seguimento agrave pesquisa Logo

providecircnciou-se o documento requerido na Coordenaccedilatildeo de Educaccedilatildeo Indiacutegena localizada no

municiacutepio de Barreirinha

Ao chegar agrave cidade de Barreirinha um novo contato foi estabelecido com o

Coordenador indiacutegena o Sr Santino Lopes de Oliveira que se mostrou receptivo com o

projeto e se dispocircs prontamente a colaborar

Com a autorizaccedilatildeo e aprovaccedilatildeo das autoridades indiacutegenas e de posse do documento

houve o comprometimento de que seguiria as normas estabelecidas que disciplinam o

ingresso em terras indiacutegenas pela entidade (ANEXO A) Assim foi possiacutevel sistematizar os

procedimentos para a coleta de dados

33 Procedimentos da coleta

A coleta de dados foi realizada de acordo com o cronograma estabelecido para esta

etapa da pesquisa O procedimento metodoloacutegico usado para a coleta de dados foi

fundamentado em meacutetodo misto por meio de observaccedilotildees questionamento participaccedilotildees em

reuniotildees com representantes da lideranccedila indiacutegena local conversas informais e espontacircneas

44

com famiacutelias e comunidade indiacutegena Satereacute-Maweacute Utilizou-se como instrumento para

coleta caderno de registro de campo fotos filmagens gravaccedilotildees e questionaacuterio (ANEXO B)

34 Articulaccedilatildeo local

O primeiro passo foi estabelecer parcerias com colaboradores ou seja lideranccedilas

indiacutegenas professores indiacutegenas professores da rede puacuteblica inteacuterpretes oacutergatildeos ligados agraves

causas indiacutegenas alunos da Universidade do Estado Amazonas As instituiccedilotildees

representativas educacionais tambeacutem colaboraram telefonando ou perguntando para outras

pessoas sobre a existecircncia de indiacutegenas surdos e locais de suas residecircncias

A participaccedilatildeo das lideranccedilas indiacutegenas como os professores e colaboradores que

apoiaram e permitiram entrar em suas terras para fazer o levantamento foi de extrema

importacircncia pois muito contribuiacuteram nas traduccedilotildees das palavras indiacutegenas para a Liacutengua

Portuguesa

35 Abordagem ao objeto da pesquisa

Em cada viagem agraves comunidades primeiramente fazia-se contato com o tuxaua com

a finalidade de apresentar o objetivo da pesquisa Desta forma era explicado para eles a

importacircncia da contribuiccedilatildeo que o estudo poderia trazer agravequela comunidade Por meio da

autorizaccedilatildeo concedida obtinha-se a colaboraccedilatildeo para a coleta de dados junto ao objeto da

pesquisa Jaacute as abordagens feitas em ambiente familiar tambeacutem era solicitado o consentimento

para a realizaccedilatildeo da pesquisa Com permissatildeo concedida iniciamos as observaccedilotildees e

intervenccedilotildees Com devida autorizaccedilatildeo utilizaacutevamos para registro cacircmeras fotograacuteficas e em

seguida registraacutevamos no caderno de campo da pesquisa (ANEXO CC-1 e C-2)

45

4 MAPEAMENTO DOS IacuteNDIOS SURDOS DA ETNIA SATEREacute-MAWEacute NA

MICRORREGIAtildeO DE PARINTINS E SUA REALIDADE LINGUIacuteSTICA E

EDUCACIONAL ESCOLAR

No Brasil haacute uma diversidade de etnias indiacutegenas Rodrigues (2002) satildeo mais de 170

liacutenguas faladas e dialetos pelos povos indiacutegenas Estas liacutenguas satildeo distribuiacutedas em dois

grandes troncos linguiacutesticos

[] o Tupi (dividido em 10 famiacutelias) e o Macro-Jecirc (dividido em 9 famiacutelias) e de

outras 20 famiacutelias linguumliacutesticas natildeo classificadas em troncos Apenas nove liacutenguas

indiacutegenas tecircm acima de 5000 falantes guajajara (satereacute-) maueacute xavante

ianomacircmi terena macuxi caingangue ticuna e guarani estes uacuteltimos com 30000

indiviacuteduos Cerca de 110 liacutenguas contam com menos de 400 falantes 14

Entretanto em meio a essa diversidade linguiacutestica poucos satildeo documentados

Pesquisadores e grupos indiacutegenas tentam um reavivamento eacutetnico e linguiacutestico

documentando-os para salvar sua liacutengua seu idioma

Diante do exposto a uacutenica liacutengua de sinais indiacutegena registrada eacute a utilizada pela etnia

indiacutegena brasileira dos Urubu-Kaapor como jaacute mencionada anteriormente Pesquisas no Mato

Grosso do Sul em aldeias indiacutegenas apresentaram a existecircncia de iacutendios surdos que utilizam

sinais emergentes ainda natildeo registrados propriamente como uma liacutengua

Pouco registro tem-se encontrado sobre iacutendios surdos muito menos sobre a liacutengua ou

a forma desses sujeitos se comunicarem De acordo com dados do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatiacutestica (IBGE) natildeo haacute registros sobre iacutendios surdos nem no Anuaacuterio

Estatiacutestico do Amazonas do IBGE tatildeo pouco na Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio (FUNAI)

sendo portanto necessaacuteria uma pesquisa in loco para a busca desses dados

Eacute importante destacar que a pessoa surda natildeo nasce com a incapacidade de falar ou

seja a pessoa surda natildeo eacute muda natildeo fala por natildeo poder ouvir a ldquo[] A surdez natildeo estaacute

absolutamente vinculada agrave mudez []rdquo (RAMOS apud STROBEL 2008 p34)

Por isso as teorias da aquisiccedilatildeo da linguagem humana justificam como o ser humano

(re)inventa modos para expressar suas necessidades e formas de ver o mundo realizando a

comunicaccedilatildeo com seus pares

14

Classificaccedilatildeo das Liacutenguas Indigenas Brasileiras segundo Aryon Rodrigues (2002) Disponiacutevel em

lthttpwwwgeocitieswsindiosbr_nicolaiclassifhtmlgt

46

Partindo dessa percepccedilatildeo este estudo apresenta uma contribuiccedilatildeo de informaccedilotildees

cientiacuteficas que seratildeo um acreacutescimo aos conhecimentos existentes sobre a comunicaccedilatildeo dos

surdos indiacutegenas

41 Mapeamento da existecircncia dos iacutendios surdos na microrregiatildeo de Parintins

Conhecer os indiviacuteduos sujeitos da pesquisa ndash iacutendios surdos Satereacute-Maweacute - eacute a fase

fundamental deste estudo pois dessa forma eacute possiacutevel compreender a forma predominante de

comunicaccedilatildeo deles para poder elaborar material concreto ndash dicionaacuterio triliacutengue - pertinente

para auxiliar na forma da comunicaccedilatildeo deles com a sua etnia atraveacutes da liacutengua desse povo

indiacutegena Nesta seccedilatildeo estatildeo apresentados os dados que constituem um mapeamento da

quantidade de indiviacuteduos surdos que estatildeo inseridos no contexto de Parintins Barreirinha

Boa Vista do Ramos e Maueacutes locais estes onde haacute maior contato com etnia foco deste estudo

Abaixo segue o histoacuterico do municiacutepio de Parintins e demais microrregiotildees citadas na

pesquisa15

411 Histoacuterico de Parintins

Parintins eacute um municiacutepio brasileiro situado no interior do estado do Amazonas

proacuteximo agrave divisa com o estado do Paraacute Regiatildeo Norte do paiacutes Estaacute situado na mesorregiatildeo do

Centro Amazonense e microrregiatildeo de mesmo nome e localiza-se a leste da capital do estado

distando desta cerca de 370 quilocircmetros Com uma populaccedilatildeo estimada em 2012 pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 103 828 habitantes sendo o segundo

mais populoso do estado do Amazonas que tem uma aacuterea de 5 952 kmsup2 representando

03789 do Estado do Amazonas 01545 da regiatildeo Norte brasileira e 00701 do territoacuterio

brasileiro8

Desse total 12 4235 kmsup2 estatildeo em periacutemetro urbano

O municiacutepio de Parintins como quase todos os demais municiacutepios brasileiros foi

primitivamente habitado por indiacutegenas Sua descoberta ocorreu em 1749 quando descendo o

rio Amazonas o explorador Joseacute Gonccedilalves da Fonseca notou uma ilha que por sua extensatildeo

se sobressaiacutea das outras localizadas agrave direita do grande rio As primeiras viagens exploratoacuterias

da Coroa Portuguesa em Parintins foram registradas somente em 1796 A fundaccedilatildeo da

15

O histoacuterico de Parintins e demais microrregiotildees estatildeo disponiacuteveis no site lthttpptwikipediaorgwiki_Parintinsgt

47

localidade em 1796 foi feita por Joseacute Pedro Cordovil que veio com seus escravos e

agregados para se dedicar agrave pesca do pirarucu e agrave agricultura chamando-a Tupinambarana A

rainha D Maria I deu-lhe a ilha de presente Ali instalado fundou uma fazenda de cacau

dedicando-se agrave cultura desse produto em grande escala Tupinambarana foi aceita e elevada agrave

missatildeo religiosa em 1803 pelo capitatildeondashmor do Paraacute o Conde dos Arcos que incumbiu sua

direccedilatildeo ao frei Joseacute das Chagas passando a ser denominada como a Vila Nova da Rainha

O primeiro nome recebido por Parintins jaacute na categoria de Freguesia foi Nossa

Senhora do Carmo de Tupinambarana em 1833 O nome da Freguesia soacute foi alterado em

1880 quando a sede passou a chamar-se ldquoParintinsrdquo em homenagem aos povos indiacutegenas

Parintintins um dos inuacutemeros que habitavam a regiatildeo

A eficiente atuaccedilatildeo de frei Joseacute provocou um surto de progresso e desenvolvimento na

localidade mediante a organizaccedilatildeo da comarca do Alto Amazonas Em 25 de julho de 1833

passa agrave freguesia com o nome de Freguesia de Nossa Senhora do Carmo de Tupinambarana

Era ainda Tupinambarana simples freguesia quando iniciou a revoluccedilatildeo dos Cabanos no Paraacute

e se alastrou por toda a proviacutencia O seu vigaacuterio padre Torquato Antocircnio de Souza teve

atuaccedilatildeo destacada durante a sediccedilatildeo servindo de delegado dos legalistas no Baixo Amazonas

Tupinambarana talvez porque estivesse bem defendida foi poupada aos ataques dos

Cabanos

Em 24 de outubro de 1848 a lei provincial do Paraacute nordm 146 elevou a freguesia agrave

categoria de vila com a denominaccedilatildeo de Vila Bela da Imperatriz e constituiu o municiacutepio ateacute

entatildeo ligado a Maueacutes Em 15 de outubro de 1852 pela lei nordm 02 foi confirmada a criaccedilatildeo do

municiacutepio Em 14 de marccedilo de 1853 deu-se a instalaccedilatildeo do municiacutepio de Parintins Em 24 de

agosto de 1858 foi criada pela lei provincial a comarca compreendendo os termos judiciaacuterios

de Vila Bela da Imperatriz e Vila Nova da Conceiccedilatildeo Em 30 de outubro de 1880 pela lei

provincial nordm 499 a sede do municiacutepio recebeu foros de municiacutepio e passou a denominar-se

Parintins Em 1881 foi desmembrado do municiacutepio de Parintins o territoacuterio que constituiu o

municiacutepio de Vila Nova de Barreirinha

A divisatildeo administrativa de 1911 figurou o municiacutepio com quatro distritos Parintins

Paranaacute de Ramos Jamundaacute e Xibuiacute Em 1933 aparece no quadro da divisatildeo administrativa

com um distrito apenas ndash o de Parintins Em 1 de dezembro de 1938 pelo decreto-lei estadual

nordm 176 eacute criado o distrito da Ilha das Cotias passando assim o municiacutepio a constituir-se de

dois distritos Parintins e Ilha das Cotias

Pela lei estadual nordm 226 de 24 de agosto de 1952 a comarca de Parintins perdeu os

termos judiciaacuterios de Barreirinha e Urucaraacute que foram transformados em comarcas Em 19 de

48

dezembro de 1956 a lei estadual nordm 96 desmembrou o municiacutepio de Parintins o distrito da

Ilha das Cotias que passou a constituir o municiacutepio de Nhamundaacute Em 10 de dezembro de

1981 a emenda constitucional nordm 12 eacute acrescido o territoacuterio de Parintins ao distrito de

Mocambo

O primeiro municiacutepio pesquisado eacute considerado o centro da microrregiatildeo Parintins

Segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 2103 a

populaccedilatildeo eacute de 109225 habitantes16

nesta localidade A Microrregiatildeo de Parintins eacute uma das

microrregiotildees do estado brasileiro do Amazonas pertencente agrave Mesorregiatildeo do Centro

Amazonense Estaacute dividida em sete municiacutepios Barreirinha Boa Vista do Ramos Maueacutes

Nhamundaacute Parintins Satildeo Sebastiatildeo do Uatumatilde e Urucaraacute De acordo com estimativas do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) a populaccedilatildeo da microrregiatildeo era de 262

719 habitantes em 2013

Seus municiacutepios limiacutetrofes satildeo Nhamundaacute ao norte Barreirinha ao sul Urucurituba ao

leste e os municiacutepios de Terra Santa e Juruti no estado do Paraacute O limite territorial entre

Parintins e Nhamundaacute se inicia na margem esquerda do rio Amazonas subindo este rio ateacute a

Barreira do Pauraacute A Serra de Parintins eacute usada para delimitar o fim dos limites territoriais

deste municiacutepio com Nhamundaacute Para delimitar os limites territoriais entre Parintins e

Barreirinha usa-se o divisor de aacuteguas dos rios Andiraacute-Uaicuparaacute juntamente com a linha

geodeacutesica que limita os estados do Amazonas e Paraacute Jaacute os limites territoriais com

Urucurituba satildeo iniciados no lago Arapapaacute no Paranaacute de Urucurituba Com o Estado do Paraacute

o limite tem iniacutecio na boca do igarapeacute do Valeacuterio na margem direita do rio Amazonas

Parintins eacute uma cidade marcada pelos traccedilos culturais poliacuteticos e econocircmicos

herdados dos portugueses espanhoacuteis italianos e tambeacutem dos japoneses tendo em vista que a

cidade possuiu uma relevante colocircnia destes imigrantes Natildeo se pode esquecer a importacircncia

dos ameriacutendios no quesito contribuiccedilatildeo eacutetnica Foram os ameriacutendios que iniciaram a ocupaccedilatildeo

humana na Amazocircnia e seus descendentes caboclos desenvolveram-se em contato iacutentimo com

o meio ambiente adaptando-se agraves peculiaridades regionais e oportunidades oferecidas pela

floresta

A cidade eacute um importante centro educacional de niacutevel meacutedio e superior do Estado do

Amazonas A cidade possui um dos mini-campus do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)

que oferece cursos em diferentes niacuteveis ensino meacutedio e ensino teacutecnico

16

Disponiacutevel emlthttpcidadesibgegovbrxtrastemasamazonas|parintins|estimativa-da-populacao-2013gt

Acesso em 28072014

49

Universidades puacuteblicas

- Universidade do Estado do Amazonas (UEA) eacute uma instituiccedilatildeo puacuteblica estadual de

ensino superior que oferece mais de vinte cursos distribuiacutedos em dezessete cidades

amazonenses (Parintins Manaus Presidente Figueiredo Itacoatiara Carauari Tabatinga

Tefeacute Laacutebrea Boca do Acre Coari Eirunepeacute Humaitaacute Manicoreacute Manacapuru Novo

Aripuanatilde Maueacutes e Satildeo Gabriel da Cachoeira) Foi criada pela lei estadual nordm 2637 de 12 de

janeiro de 2001 que proporcionou agraves fundaccedilotildees educacionais de ensino superior instituiacutedas

pelo Estado Em Parintins o Centro de Estudos Superiores (UEA) possui os cursos

Pedagogia Histoacuteria Geografia Fiacutesica Matemaacutetica Letras Portuguesa Quiacutemica Ciecircncias

Bioloacutegicas Tecnologia em Turismo Direito Sauacutede Coletiva Ciecircncias Econocircmicas e

Tecnologia em Gestatildeo Puacuteblica

- Instituto Federal do Amazonas (IFAM) O Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e

Tecnologia do Amazonas foi criado mediante integraccedilatildeo do Centro Federal de Educaccedilatildeo

Tecnoloacutegica do Amazonas e das Escolas Agroteacutecnicas Federais de Manaus e de Satildeo Gabriel

da Cachoeira

- Universidade Federal do Amazonas (UFAM) Instalada no municiacutepio desde 2007

possui os seguintes cursos Serviccedilo Social Comunicaccedilatildeo Social - Jornalismo Administraccedilatildeo

Organizacional Pedagogia Zootecnia Educaccedilatildeo Fiacutesica e Artes Plaacutesticas

No setor de educaccedilatildeo e capacitamento profissional o municiacutepio aleacutem de dispor de

uma ampla rede de escolas (estaduais municipais e privadas) conta com um campus da

Universidade do Estado do Amazonas e algumas faculdades privadas com diversos cursos

superiores ofertados Dispotildee ainda de unidades do SENAI SENAC e SESI e em funccedilatildeo

disso os iacutendices de alfabetizaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo profissional dos municiacutepios estatildeo em

crescimento

A cidade de Parintins eacute o local onde foram feitos os contatos frequentes com os

indiacutegenas da etnia Satereacute-Maweacute porque buscam as casas bancaacuterias para receberem os

benefiacutecios sociais tambeacutem buscam as escolas com ensino de todos os niacuteveis inclusive as

universidades puacuteblicas para as crianccedilas e jovens Outro fator eacute que tem um comeacutercio

desenvolvido em que podem adquirir seus bens de consumo aleacutem de ser de faacutecil acesso aos

demais centros da regiatildeo e do paiacutes atraveacutes dos diferentes meios comunicaccedilatildeo e transporte

Por isso o mapeamento foi iniciado nesta regiatildeo

Apesar de ter um nuacutemero consideraacutevel de habitantes os oacutergatildeos ligados agrave causa

indiacutegena natildeo dispotildeem de dados informativos sobre o objeto da pesquisa em meio agrave estimativa

populacional do municiacutepio mesmo assim outro oacutergatildeo foi procurado para que pudesse

50

fornecer algum dado ligado ao sujeito surdo da etnia Satereacute-Maweacute A instituiccedilatildeo pesquisada

foi a Escola de Aacuteudio Comunicaccedilatildeo ldquoPadre Paulo Mannardquo Esta eacute uma instituiccedilatildeo educacional

mantida pela Diocese de Parintins por meio de sua atual gestora a Professora Zilda Tavares

Atraveacutes desta colaboradora foram coletadas informaccedilotildees sobre os alunos indiacutegenas surdos da

etnia Satereacute-Maweacute que ali estudam ou estudaram que satildeo a seguir descritas

Embora a escola tivesse o conhecimento da existecircncia de dois indiacutegenas surdos da

etnia Satereacute-Maweacute apenas um se encontra matriculado na escola Eacute uma menina de seis anos

de idade cursando o preacute-escolar Para informaccedilotildees consistentes foi solicitado o contato

tambeacutem com a famiacutelia da aluna Ao contatar os pais foi feita uma abordagem por meio de

questionaacuterio mas diante das dificuldades encontradas por natildeo serem alfabetizados na liacutengua

nativa nem na liacutengua Portuguesa os dados utilizados satildeo resultante de entrevistas

assistemaacuteticas (conversas informais)

Os familiares tecircm papeacuteis importantes na formaccedilatildeo da linguagem da crianccedila Eacute atraveacutes

deles que acontece a formaccedilatildeo da identidade social e cultural desse sujeito em

desenvolvimento Satildeo eles que repassam o modo de vida os costumes e outros aspectos

sociais com os seus exemplos e empreendendo a funccedilatildeo da linguagem verbal atraveacutes de

relaccedilotildees dialoacutegicas que ativam a percepccedilatildeo do ser em maturaccedilatildeo no meio familiar Na visatildeo

de Ponzio (et al 2007 p 177)

Uma das funccedilotildees da linguagem verbal eacute a identificaccedilatildeo identificaccedilatildeo dos objetos

mediante um processo de modelaccedilatildeo e de articulaccedilatildeo da realidade que varia de

liacutengua para liacutengua identificaccedilatildeo de sujeito enquanto falante do sujeito do discurso

do tema do outro ao qual esse discurso se dirige de uma espeacutecie de bdquoauditoacuterio

universal‟ a que de modo geral se recorre na argumentaccedilatildeo identificaccedilatildeo de uma

comunidade e da pertenccedila ou da natildeo pertenccedila a esta etc

Um resumo histoacuterico sobre a referida indiacutegena aponta que a famiacutelia residia na

comunidade indiacutegena Ponta Alegre no Rio Andiraacute municiacutepio de Barreirinha Migraram para

a zona urbana em busca de condiccedilotildees para uma melhor qualidade de vida Ao descobrirem a

surdez da filha mudaram-se para a cidade de Parintins Declararam que a forma de se

comunicarem com a filha eacute por meio de gestos criados pela famiacutelia e a crianccedila pois natildeo

sabem a Liacutengua de Sinais

Analisa-se neste contexto a situaccedilatildeo complexa pela qual essa famiacutelia passou para se

entender com a ela posto que se esperasse que a crianccedila dominasse o sistema linguiacutestico que

usam para a comunicaccedilatildeo com os pares atraveacutes da liacutengua natural da etnia Este eacute um fato que

ocorre com as famiacutelias onde natildeo existe o desenvolvimento natural da fala

51

Considere-se assim que a liacutengua eacute adquirida a qual se manifesta em todas as

circunstacircncias normais no conhecimento de uso em processo de audiccedilatildeo desde o nascimento

os quais vatildeo tomando forma de significante e significado enquanto se distingue cada unidade

lexical do todo que existe no meio onde se estaacute inserido Para Lyons ldquoo termo aquisiccedilatildeo da

linguagem eacute normalmente usado sem ressalvas para o processo que resulta no conhecimento

da liacutengua nativa (ou liacutenguas nativas)rdquo (1987 p 231)

Neste caso para a crianccedila em evidecircncia deveria ser propiciado o ensino da Libras

como liacutengua para mediar a comunicaccedilatildeo o mais breve possiacutevel na medida em que ela estaacute

com idade proacutexima da faixa etaacuteria limite de aquisiccedilatildeo sem acarretar prejuiacutezos para o seu

desenvolvimento conforme explica teoria gerativista17

da aquisiccedilatildeo da linguagem proposta

por Lennenberg (1967)

[] a existecircncia de um periacuteodo criacutetico para a quisiccedilatildeo da linguagem tendo como

pressuposto a ideia de que esta eacute inata O periacuteodo criacutetico se iniciaria por volta dos

dois anos e se encerraria por volta da puberdade Esse periacuteodo eacute chamado de criacutetico

porque seria aquele mais sensiacutevel agrave aquisiccedilatildeo da linguagem[] concluiacutendo que o

cereacutebro humano inicialmente tem representaccedilatildeo bilateral das funccedilotildees da linguagem

e mediante o processo de aquisiccedilatildeo na puberdade apenas o hemisfeacuterio se torna

mais dominante em relaccedilatildeo a elas completando o periacuteodo de aquisiccedilatildeo Caso a

crianccedilas natildeo adquira a linguagem nesse periacuteodo seu desenvolvimento linguiacutestico

seraacute prejudicado (apud QUADROS 2008 p 78)

Deste modo no caso a crianccedila surda esta precisa aprender a liacutengua nativa de uma

forma diferenciada adequando-se os siacutembolos agraves formas visuais se natildeo apresentar esta

carecircncia tambeacutem posto que a faculdade da linguagem do ser humano eacute inata conforme

Chomsky esclarece (apud PONZIO etal 2007)

Trata-se de determinar agrave natureza do patrimocircnio bioloacutegico que constitui a bdquofaculdade

da linguagem‟ do ser humano o componente inato do conjunto menteceacuterebro que

uma vez tendo entrado em contato com a experiecircncia linguiacutestica produz o

conhecimento da linguagem isto eacute converte a experiecircncia em um sistema de

conhecimento (p 143)

O segundo indiacutegena surdo da etnia Satereacute-Maweacute havia sido transferido da escola Padre

ldquoPaulo Mannardquo para a Escola Estadual ldquoBrandatildeo de Amorimrdquo Segundo as informaccedilotildees da

famiacutelia ele nasceu na aacuterea indiacutegena de Ponta Alegre Poreacutem quando pequeno sua famiacutelia se

17

A teoria gerativista pressupotildee a existecircncia de um mecanismo inato responsaacutevel pela aquisiccedilatildeo da linguagem

denominado Gramaacutetica Universal (GU) tendo como responsaacutevel por essa concepccedilatildeo que caracteriza-se pela

elucidaccedilatildeo da natureza das linguas naturais Chomsky

52

mudou para zona urbana de Parintins Ele cresceu longe da cultura indiacutegena sem contato com

a liacutengua de sua etnia por estar fora desse contexto Por outro lado natildeo aprendeu a liacutengua

falada em seu entorno na medida em que natildeo pode na prendecirc-la de forma natural por natildeo

ouvir assim por natildeo ter domiacutenio da cultura da etnia deve aprender a liacutengua de sinais

inserindo os signos que significam as palavras do seu leacutexico atraveacutes de instruccedilatildeo especial

com a mediaccedilatildeo de algueacutem que tenha o conhecimento das duas formas de comunicaccedilatildeo Para

Lyons (1987) esses aprendizes adquirem habilidades comunicativas rapidamente pois o

progresso que alcanccedilam eacute pelo menos agraves vezes tatildeo raacutepido que como observam tanto os pais

quanto os pesquisadores eacute difiacutecil manter um registro compreensivo e sistemaacutetico do seu

processo de aprendizado Como tambeacutem eacute no total independente de inteligecircncia e de

diferenccedilas do meio social e cultural

A capacidade da pessoa para construir enunciados vai tomando forma agrave medida que

consegue compreender a relaccedilatildeo entre significante e significados dos signos com os quais tem

contato Por isso os indiacutegenas surdos podem ser beneficiados com um material escrito

triliacutengue Este pode constituir-se em um material de apoio para a aprendizagem das trecircs

liacutenguas sendo que a liacutengua de sinais eacute perspectivada como L1

O terceiro caso identificado eacute de um iacutendio surdo jaacute adulto da comunidade Uiacurapaacute

da etnia Maweacute As informaccedilotildees datildeo conta que ele se comunica por meio de gestos criados por

ele e os pares com quem tem relaccedilatildeo Poreacutem natildeo haacute dados detalhados pois natildeo foi possiacutevel

contato com o mesmo porque ele vive isolado sobrevivendo de caccedila e pesca em comunidade

rural indiacutegena Fato este que implica diretamente no aperfeiccediloamento da forma de

comunicaccedilatildeo desse sujeito posto que ldquoos fenocircmenos ambientais podem agir diretamente

sobre a pessoa ou individualmente atraveacutes de repasse de experiecircncias vividas pela sociedade

atraveacutes da linguagem veiculada pela liacutenguardquo (OLIVEIRA 2005 p134)

Assim estaacute constituiacuteda a populaccedilatildeo de indiacutegenas surdos que fazem parte da

microrregiatildeo de Parintins que se podem fazer os devidos registros neste estudo

412 Histoacuterico de Barreirinha

O municiacutepio de Barreirinha pertence a Mesorregiatildeo da Microrregiatildeo de Parintins que

estaacute localizado a leste de Manaus Capital do Estado distanciando cerca de 331 quilocircmetros

E ao norte de Parintins o municiacutepio de Barreirinha juntamente com Maueacutes satildeo principais

municiacutepios que possuem a maior populaccedilatildeo de indiacutegenas localizados nos rios Andiraacute e o

Marau Portanto sendo o municiacutepio como a sede urbana das comunidades inseridas os surdos

53

indiacutegenas vem apenas em busca de tratamento meacutedico quando necessitam ou para atividades

sociais acompanhados de seus pais mas na zona urbana natildeo localizamos nenhum indiacutegena

surdo

Barreirinha foi o segundo municiacutepio pesquisado E segundo o IBGE em 2013 a

populaccedilatildeo era de 29737 habitantes18

sendo o vigeacutesimo segundo municiacutepio mais populoso do

Estado do Amazonas e o terceiro de sua microrregiatildeo

Este muniacutecipio conta com um setor especiacutefico das causas indiacutegenas a Coordenaccedilatildeo

Iacutendiacutegena Satereacute-Maweacute sob responsabilidade do coodernador geral SrSantino Lopes Este

tornou possiacutevel o acesso agrave comunidade indiacutegena de Ponta Alegre no Rio Andiraacute Foi na

Escola Municipal Professora ldquoRosa Cabralrdquo que foi identificado um indiacutegena surdo da etnia

Satereacute-Maweacute um menino de 12 anos matriculado na 3ordf ano do ensino fundamental Nesse

contexto foi possiacutevel observar sua forma de se comunicar com as demais pessoas que faziam

parte do seu meio social Outros dados referente a relaccedilotildees familiares deste natildeo estatildeo

disponiacuteveis na medida em que natildeo foi possiacutevel fazer contato com sua famiacutelia Desta forma

permanece uma lacuna de respostas referente a esse aluno posto que

De uma forma geral e em regra a socializaccedilatildeo da crianccedila no mundo civilizado

comeccedila dentro de uma famiacutelia nuclear constituiacuteda de pai matildee e irmatildeos quando

existem Durante os primeiros anos da infacircncia adquire traccedilos culturais (menores

unidades de cultura) atraveacutes das pessoas da famiacutelia que satildeo reflexo da sociedade

onde vivem (OLIVEIRA 2005)

Entende-se que atraveacutes de informaccedilotildees que poderiam ser fornecidas pela famiacutelia

deveria ser esclarecido como ocorre a socializaccedilatildeo da crianccedila nesse contexto e de que modo

aprenderam a se comunicar com ela que estrateacutegias foram utilizadas para que ela conseguisse

ser alfabetizada

413 Histoacuterico de Maueacutes

Este municiacutepio que tambeacutem pertence agrave Mesorregiatildeo do Centro Amazonense e

Microrregiatildeo de Parintins tem uma populaccedilatildeo de 54079 habitantes conforme as estimativas

do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) A cidade eacute reconhecida

nacionalmente por possuir uma das maiores expectativas de vida do paiacutes

18

Disponiacutevel emlthttpcidadesibgegovbrxtrastemasamazonas|barreirinha|estimativa-da-populacao-2013gt

Acesso em 28072014

54

Na margem direita do Rio Maueacutes-Accedilu Maueacutes foi fundada em 1798 por Luiz Pereira

da Cruz e Joseacute Rodrigues Preto agrave distacircncia de 268 km em linha reta e 356 km pela via

fluvial de Manaus O calendaacuterio festivo do municiacutepio conteacutem as datas festivas municipais

em homenagem agrave Satildeo Sebastiatildeo (10 a 20 de janeiro) ao Divino Espiacuterito Santo (22 a 30 de

maio) agrave Satildeo Pedro (27 a 30 de junho) agrave padroeira Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo (01 a 8 de

dezembro) assim como a Festa do Carnaval Popular (21 a 24 de fevereiro) do aniversaacuterio do

municiacutepio (26 a 27 de junho) da Ilha de Vera Cruz (23 a 25 de julho) do Veratildeo (de 05 a 7 de

setembro) da Feira Industrial (06 a 8 de novembro) e do Guaranaacute (em novembro)

Sobre a origem do nome deste municiacutepio observa-se que inicialmente foi

denominada Luseia e progredindo com o tempo transformou-se em missatildeo carmelita com

nome de Maueacutes O liacuteder nessa eacutepoca foi o frei Joaquim de Santa Luzia Por um decreto de 25

de junho de 1833 a missatildeo foi considerada vila sob a invocaccedilatildeo de Nossa Senhora da

Conceiccedilatildeo de Luseia Em 1853 pela lei nordm 25 de 3 de dezembro da iniciativa do Deputado

Marcos Antocircnio Rodrigues de Souza a vila tornou-se cidade chamada Satildeo Marcos de

Mundurucacircnia Consta como uma das freguesias da proviacutencia denominada Maueacutes em 1958

A oficializaccedilatildeo da mudanccedila do nome do municiacutepio ocorreu quando o Deputado Joseacute

Bernardo Michiles em 1865 apresentou um projeto para tal que tendo sido aprovado

oficializou-se a mudanccedila do nome de Maueacutes para Conceiccedilatildeo Enfim jaacute na Repuacuteblica em

1895 pela lei nordm 133 de 5 de outubro a localidade torna-se Comarca E em 4 de maio de 1896

eacute considerado municiacutepio pelo novo regime juriacutedico com o nome de Maueacutes pela lei nordm 137

As pesquisas de campo nesse municiacutepio natildeo foram realizadas conforme a previsatildeo

pois a viagem natildeo foi concretizada devido agraves dificuldades em relaccedilatildeo agrave distacircncia para chegar

ateacute agraves comunidades que satildeo distantes da cidade cede e havia necessidade de recurso material

e humano (professores guias indiacutegenas biliacutengues) para realizaacute-la Quando foi possiacutevel chegar

ao local ocorreu o contato com trecircs professores que residiam nas comunidades do rio

chamado Marau Ali foi possiacutevel tecirc-los em companhia na funccedilatildeo de guia inteacuterprete para

contato com os indiacutegenas surdos daquela localidade

Em resposta afirmativa ao questionamento se havia iacutendios surdos foram realizadas

reuniotildees com a comunidade local para coletar informaccedilotildees que apontou a existecircncia de um

caso na comunidade de Santa Maria Era um senhor na faixa etaacuteria de 67 anos que adquiriu a

surdez haacute muito tempo atraacutes Ele natildeo tem conhecimento da Liacutengua Portuguesa por isso natildeo

tivemos contato direto No entanto ele conhece a proacutepria liacutengua e assimilou a cultura da etnia

posto que

55

A liacutengua eacute aprendida simultaneamente a outros elementos da cultura A capacidade

de desenvolvimento da linguagem eacute inata O indiviacuteduo nasce com o ceacuterebro

preparado para aprender tudo que pertinente agrave cultura humana da qual a linguagem

faz parte (OLIVEIRA 2005 p 137)

Eacute no contexto social que se aprende os signos que fazem parte do mundo exterior e

que o ceacuterebro assimila pelo conhecimento que os sentidos possibilitam

O segundo iacutendio localizado foi um surdo de nascenccedila hoje com idade de 24 anos

Segundo relato da famiacutelia nunca frequentou uma escola portanto seu uacutenico meio de

comunicaccedilatildeo eacute gestual que aprendeu como forma para se fazer entender pois ldquoa linguagem eacute

atributo universal do ser humanordquo (OLIVEIRA 2005) assim constitui-se como necessidade

vital da pessoa conduzindo ao aprendizado

Em pesquisa de campo se obteve a informaccedilatildeo que havia outros trecircs iacutendios surdos que

moravam no Rio Marau mas natildeo foi possiacutevel chegar ateacute a aldeia onde se encontravam

devido ao difiacutecil acesso o que impossibilitou a ida ateacute a localidade

414 Histoacuterico de Boa Vista do Ramos

Uma das sete Mesorregiotildees de Parintins eacute Boa Vista do Ramos que possui

aproximadamente 16820 de habitantes segundo o IBGE (2013)

A histoacuteria de Boa Vista do Ramos encontra-se ligada agrave histoacuteria do municiacutepio de

Maueacutes Em 1798 foi fundada a Aldeia de Lusea Em meados do Seacuteculo XIX vaacuterios conflitos

ocorreram na regiatildeo entre brancos e povos indiacutegenas sendo efetiva tambeacutem a participaccedilatildeo de

cabanos oriundos da Cabanagem

Quando a Proviacutencia do Amazonas eacute criada em 1850 Lusea torna-se um dos quatorze

municiacutepios existentes na proviacutencia Seu nome eacute alterado em 1892 para Maueacutes tornando-se

sede da Comarca em 1895 Em 10 de dezembro de 1981 atraveacutes da Emenda Constitucional nordm

12 o povoado de Boa Vista do Ramos aleacutem de outros territoacuterios pertencentes agrave Maueacutes e

aacutereas adjacentes dos municiacutepios de Barreirinha e Urucurituba passam a constituir o novo

municiacutepio de Boa Vista do Ramos

Em pesquisa de campo nesse municiacutepio o primeiro contato que foi na Coordenadoria

Regional de Educaccedilatildeo da cidade (SEDUC) Embora esta professora responsaacutevel por essa

Instituiccedilatildeo tenha informado que natildeo conhecia nenhum caso de iacutendio surdo neste municiacutepio

alguns informantes afirmaram que na aldeia de Santo Antocircnio que faz parte do referido

municiacutepio foi localizada uma senhora que havia adquirido a surdez ainda muito jovem sem

56

nenhum conhecimento das liacutenguas ldquofaladasrdquo ou sinalizadas Desta forma ela utilizava de

gestos para se comunicar porque os seres humanos nascem com a capacidade para a

linguagem que se desenvolvem ao longo da primeira infacircncia mas que podem tambeacutem ser

aprendida no meio social atraveacutes de estiacutemulos Nesta perspectiva segundo a concepccedilatildeo de

Oliveira (2005 p 143)

A evoluccedilatildeo da linguagem depende de dois fatores principais da capacidade geneacutetica

cerebral para desenvolvecirc-la que eacute a principal e dos estiacutemulos ambientais que satildeo

sempre tatildeo importantes quanto aquela Esse desenvolvimento estaacute senpre inserido no

contexto de socializaccedilatildeo que eacute a responsaacutevel pela humanizaccedilatildeo do indiviacuteduo

Ainda sobre a importacircncia da socializaccedilatildeo para os sujeitos ressalta-se que estes

desenvolvendo no meio onde estatildeo inserido adquirem sua identidade cultural

concomitantemente sua identidade linguiacutestica que estaacute presente no discurso dos seus pares

posto que ela ldquoeacute adquirida nos processos de formaccedilatildeo e tranformaccedilatildeo de uma liacutengua

particularrdquo que eacute tambeacutem determinante no relacionamento cm outras liacutenguas E de acordo

com Ponzio (2007 p178) ldquoO espaccedilo em que uma liacutengua vive eacute um espaccedilo interlinguiacutestico e a

capacidade de expressatildeo e da adaptaccedilatildeo dessas liacuteguas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo eacute

diretamente proporcional agrave quantidade de contatos com outras liacutenguasrdquo O que deixa evidente

que um indiviacuteduo pode estar em contato com diferentes formas de intercomunicaccedilatildeo

415 Histoacuterico de Nhamundaacute

Eacute trigeacutesimo quinto municiacutepio mais populoso do estado do Amazonas Sendo o quarto

da Mesorregiatildeo em estudo Conforme o IBGE em 2013 o municiacutepio eacute composto por uma

populaccedilatildeo de 19 792 habitantes

O municiacutepio de Nhamundaacute estaacute localizado na zona fisiograacutefica do Baixo Amazonas

limitando com os municiacutepios de Parintins e Urucaraacute no Amazonas com o Estado de Roraima

(norte) e com os municiacutepios de Faro e Terra Santa no estado do Paraacute Distacircncia da capital 375

km em linha reta e cerca de 577 km por via fluvial Sua altitude eacute de 50 metros acima do

niacutevel do mar

As origens do municiacutepio de Nhamundaacute remontam agraves primitivas povoaccedilotildees dos iacutendios -

nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XVII composta pelos condurizes paraculamas canuris

guancaris paraquatas queremas jamundaacutes e uaboy cujo tuxaua se chamava Jamundaacute que

dada a luta em prol da liberdade de seu povo devido agrave exploraccedilatildeo e maus-tratos pelos

57

colonizadores fez um levante conduzindo a tribo Uaboy para as cabeceiras do alto rio que em

sua homenagem ganhou o seu nome e por conseguinte daacute nome ao municiacutepio

Em 1653 mediante carta reacutegia a regiatildeo foi erigida a Missatildeo que foi confiada aos

missionaacuterios portugueses capuchos da Piedade Eles organizaram uma aldeia modelo na boca

do Tauacuera - aldeia velha afluente esquerdo onde ainda se podem ver ruiacutenas do antigo

convento no meio dos espinhais A sede da Missatildeo poreacutem foi transferida para o lugar da

atual cidade de Faro Os padres capuchos souberam unir os iacutendios uaboy residentes no

Trombetas aos da Missatildeo para aumentar a populaccedilatildeo Era entatildeo o chefe dos Uaboy o tuxaua

Jamundaacute que ligou seu nome agrave Missatildeo e agrave aldeia que doravante se chamou aldeia dos

Jamundaacute ou Missatildeo dos Jamundaacute

O primeiro documento sobre a Missatildeo eacute do ano de 1727 e foi escrito pelo superior da

Missatildeo frei Francisco de Satildeo Manccedilos Em 1758 Missatildeo tomou o nome de Faro No entanto

jaacute em 1755 o Marqucirces de Pombal mandou suspender as Missotildees para serem transformadas

em vilas e paroacutequias A Missatildeo dos Jamundaacute foi extinta em 1758 por ordem de Mendonccedila

Furtado quando de sua viagem de demarcaccedilatildeo da nova capitania Foram criadas assim a vila

de Faro e a Paroacutequia de Satildeo Joatildeo Batista em 21 de dezembro de 1758 mas a instalaccedilatildeo deu-se

somente em 27 de dezembro de 1768

Desse modo em 1911 quando ocorreu a divisatildeo administrativa do Brasil o municiacutepio

de Parintins foi contemplado com o distrito de Jamundaacute Com a extinccedilatildeo deste quando

aconteceu a nova divisatildeo administrativa em 1933 o municiacutepio de Parintins surgiu com apenas

um distrito assim em 10 de dezembro de 1938 pelo Decreto-lei no 176 do Estado do

Amazonas Parintins voltaria a dispor de um outro distrito aleacutem da sede o da Ilha das Cotias

Em 19121955 pela Lei Estadual no 96 o distrito de Ilha das Cotias eacute desmembrado de

Parintins e passa a constituir o municiacutepio autocircnomo de Nhamundaacute Em 31 de janeiro de 1956

foi instalado o municiacutepio de Nhamundaacute

A viagem a esse municiacutepio foi realizada com o apoio do aluno Fernando Gonccedilalves

acadecircmico do curso de Licenciatura em Geografia pela Universidade do Estado do

Amazonas-UEA Para maiores esclarecimentos foi feita a pesquisa na casa de sauacutede indiacutegena

localizada na cidade de Nhamundaacute onde informaram desconhecer a existecircncia da etnia

Satereacute-Maweacute no municiacutepio Mesmo assim foi feito outro contato com uma enfermeira da

Casa de Sauacutede Indiacutegena do municiacutepio A resposta foi a mesma ldquoQueremos informar ao

professor que no municiacutepio de Nhamundaacute que natildeo trabalhamos com a etnia Satereacute-Maweacute

Atendemos somente a etnia Hixkaryana existente na regiatildeo Natildeo haacute portanto nenhum surdo

Hixkaryana ou Satereacute-Maweacute cujo fato eacute comprovado pelo senso municipalrdquo

58

Foi feita uma pesquisa tambeacutem em outro oacutergatildeo que atua com indiacutegenas no caso as

Secretaria de Educaccedilatildeo do Municiacutepio com a finalidade de constatar a veracidade dos fatos

eou conseguir novos dados sobre o indiacutegena surdo Satereacute ou Hixkaryana O subsecretaacuterio de

Educaccedilatildeo relatou que natildeo existia dados sobre a liacutengua Satereacute-Maweacute nem indiacutegenas surdos

existentes

Realmente apoacutes pesquisas in loco ficou comprovado somente agrave existecircncia da etnia

Hixkaryana da famiacutelia linguiacutestica Karib Sobre esta ressalta-se que

A liacutengua hixkaryana pertence agrave famiacutelia linguiacutestica Karib e eacute falada por todos os

membros do grupo Esta liacutengua eacute muito semelhante agravequeles outros dialetos falados

na regiatildeo mais ampla circunscrita pelos vales dos rios Trombetas e Mapuera como

Waiwai Xereu Katuena Karapawyana Tunayana Desta maneira e pelo fato dos

Hixkaryana estabelecerem relaccedilotildees bem estreitas com estes grupos em uma rede de

trocas matrimoniais e rituais tais dialetos satildeo inteligiacuteveis entre si []

Os Kaxuyana que moram no rio Nhamundaacute quase todos tambeacutem falam a liacutengua

hixkaryana aleacutem da sua liacutengua proacutepria o Kaxuyana Contudo em geral um

Hixkaryana natildeo fala a liacutengua kaxuyana fato que de certa forma demonstra que os

Kaxuyana satildeo considerados os ldquoestrangeirosrdquo naquela regiatildeo e que devem aprender

a liacutengua ldquonativardquo o Hixkaryana

A maioria dos Hixkaryana eacute alfabetizada na liacutengua nativa sendo capaz de ler e

escrever neste idioma Em 2008 havia apenas uma escola de ensino fundamental na

aldeia Kassauaacute e muitos jovens depois desta seacuterie dirigiam-se agrave cidade de

Nhamundaacute (AM) para prosseguir os estudos de niacutevel meacutedio Em 2010 uma escola

de ensino meacutedio foi implantada na aldeia Kassauaacute Aleacutem disso uma dezena de

Hixkaryana jaacute cursou ou estaacute cursando o ensino superior em cidades como Parintins

e Manaus Contudo a maioria das mulheres dos velhos e das velhas fala muito

pouco o Portuguecircs sendo o Hixkaryana a liacutengua mais usada por todos19

Assim como no municiacutepio de Nhamundaacute ficou constatado tambeacutem que nos demais

municiacutepios de Satildeo Sebastiatildeo do Uatumatilde e de Urucaraacute que natildeo haacute registro sobre a existecircncia

da etnia Satereacute-Maweacute nem tatildeo pouco a existecircncia de iacutendios surdos A tabela 1- apresenta o

resultado da pesquisa que aponta o mapeamento

Tabela 1 Mapeamento da existecircncia de iacutendios surdos nas respectivas comunidades

indiacutegenas ou zona urbana da microrregiatildeo de Parintins

Fonte Azevedo (2014)

19

Disponiacutevel emlthttppibsocioambientalorgptpovohixkaryanagt Acesso em 07112014

Etnia Liacutengua Comunidade Indiacutegena

rural Zona Urbana

Municiacutepio Quantidade de iacutendios

surdos

Satereacute-Maweacute Tupi Parintins Parintins 02

Satereacute-Maweacute Tupi Uaucurupaacute Parintins 01

Satereacute-Maweacute Tupi Rio Andiraacute Barreirinha 01

Satereacute-Maweacute Tupi Santa Maria Maueacutes 02

Satereacute-Maweacute Tupi Rio Marau Maueacutes 03

Satereacute-Maweacute Tupi Boa Vista do Ramos Boa Vista do

Ramos

01

Total 10

59

De acordo com os dados pode-se observar a existecircncia de poucos iacutendios surdos

Poreacutem acredita-se que ainda existam outros em comunidades mais isoladas Como tambeacutem

pelo fato de serem consideradas ldquodeficientesrdquo algumas famiacutelias natildeo integram na comunidade

que vivem As dificuldades encontradas para coletar os dados a partir dos oacutergatildeos

responsaacuteveis tambeacutem foram encontrados em outros estudos realizados anteriormente para

estabelecer a populaccedilatildeo indiacutegena na Ameacuterica Latina o que pode ser vislumbrado pela

explicaccedilatildeo dos fatos complicadores transcritos a seguir

Uma das dificuldades para estabelecer a populaccedilatildeo indiacutegena estaacute relacionada com

fato de que o criteacuterio de filiaccedilatildeo segue mais a autodenominaccedilatildeo que as

caracteriacutesticas linguiacutesticas ou raciais como se considerava haacute algumas deacutecadas atraacutes

Outra dificuldade eacute que a uacutenica fonte disponiacutevel para estabelecer a quantidade de

populaccedilotildees indiacutegenas na regiatildeo satildeo precisamente os censos nacionais de populaccedilatildeo

que haacute bem pouco tempo permitiam inferir informaccedilatildeo sobre a populaccedilatildeo indiacutegena

a partir de uma uacutenica pergunta referente agrave liacutengua falada pelos entrevistados (LOPES

e SICHRA 2009 p 103)

Entretanto embora natildeo haja um nuacutemero expressivo de iacutendios surdos da etnia Satereacute-

Maweacute ficou constatado que haacute muitos surdos natildeo-iacutendios nos municiacutepios estudados

principalmente no municiacutepio de Parintins que precisam se comunicar com diferentes

interlocutores Este eacute um argumento que aponta para a necessidade de instrumentos

educacionais como um dicionaacuterio triliacutengue importante para os surdos que conseguiram

estabelecer elos comunicativos a partir das trecircs liacutenguas E jaacute que o homem eacute criativo ldquoagrave

medida que o tempo passa a humanidade vai agregando novas descobertas e inventos que se

concretizam e se somam para dar-lhe conforto e bem estarrdquo (OLIVEIRA 2005 p 144) Entatildeo

espera-se que este material contribua para que o sujeito surdo possa se comunicar

adequadamente no seio familiar e no processo educacional

42 Realidade linguiacutestica e educacional dos iacutendios surdos encontrados da etnia Satereacute-Maweacute

O sistema responsaacutevel pela educaccedilatildeo tem procurado fazer adequaccedilotildees para atender agraves

pessoas que apresentam necessidades na sua arquitetura fiacutesica para a inclusatildeo destas no

contexto da realidade linguiacutestica e educacional Embora exista uma legislaccedilatildeo pertinente

ainda haacute ausecircncia de qualidade para que um indiviacuteduo surdo possa estudar incluso em um

contexto regular de ensino Principalmente porque os professores natildeo estatildeo preparados para

lidar com essa situaccedilatildeo peculiar Haacute uma imposiccedilatildeo nos oacutergatildeos educacionais mas natildeo haacute

60

profissionais que atuem para o bom desempenho do aluno indiacutegena surdo A partir dessa

visatildeo Albres (2005) que realizou um estudo nesta aacuterea de conhecimento afirma

Nessa perspectiva o homem eacute produto e produtor da cultura conjunto das relaccedilotildees

sociais portanto mister se faz investigar a origem histoacuterica de alguns princiacutepios da

educaccedilatildeo biliacutengue para surdos e desvelar elementos conceituais Propomo-nos

entatildeo identificar e analisar as concepccedilotildees de linguagem que sob condiccedilotildees

histoacutericas fundamentaram o ensino de Liacutengua Portuguesa para surdos nos

documentos do MEC

Desta feita entende-se que se no contexto do ensino da Liacutengua Portuguesa existem

diversas dificuldades no contexto de uma liacutengua indiacutegena a situaccedilatildeo se torna mais complexa

Desse modo na anaacutelise da situaccedilatildeo linguiacutestica e educacional encontrada com os iacutendios surdos

identificados da etnia Satereacute-Maweacute eacute bastante diversificada Apresentam diferentes formas de

siacutembolos para conseguirem se comunicar com as pessoas com quem tecircm contato Precisam

fazer um esforccedilo aleacutem do necessaacuterio para manifestar seus desejos para informar e ter acesso a

informaccedilotildees

No caso da aluna indiacutegena surda de apenas seis anos de idade na escola especiacutefica para

atender alunos surdos foi constatado que sua situaccedilatildeo linguiacutestica e educacional se encontra

em processo de aquisiccedilatildeo de uma linguagem baacutesica para comunicaccedilatildeo com as pessoas com as

quais ela convive

Conforme os dados fornecidos pela escola por meio de um parecer pedagoacutegico sobre a

aluna indiacutegena surda (ANEXO D) Ficou atestado que a aluna da etnia Satereacute-Maweacute nasceu

de parto normal sem nenhum problema aparente Aos trecircs anos de idade a matildee percebeu que

a filha natildeo ouvia e nem falava pois seus outros filhos haviam comeccedilado a falar na presente

idade Para seguir se comunicar com a filha utilizava-se de gestos sendo difiacutecil a

comunicaccedilatildeo Foi essa situaccedilatildeo que levou a famiacutelia a procura da Escola Padre Paulo Manna

onde se encontra matriculada no preacute-escolar Nessa realidade ela recebe as mesmas

orientaccedilotildees dadas agraves crianccedilas natildeo indiacutegenas logo natildeo existe um direcionamento para a cultura

da sua etnia na escola nem na no contexto familiar

Sobre essa condiccedilatildeo Cool (2004) aborda que haacute um aspecto familiar que tem

relevacircncia particular o tipo de comunicaccedilatildeo que se utiliza em casa ou seja a forma e o estilo

de comunicaccedilatildeo que os pais utilizam com a crianccedila surda tem uma grande importacircncia para o

seu desenvolvimento e para sua aprendizagem No caso dos pais ouvintes estes necessitam do

conhecimento da educaccedilatildeo da cultura da liacutengua da pessoa surda para que possam promover

uma formaccedilatildeo linguiacutestica completa para o filho surdo E deste modo este ldquopossa consolidar e

61

aprofundar o uso e a compreensatildeo da liacutengua proacutepria enquanto veiacuteculo de cultura e

possibilidade de comunicaccedilatildeo no acircmbitordquo de conhecimento do aprendiz sem deixar agrave parte do

domiacutenio da liacutengua apropriada para esse sujeito (HERNAIZ 2009)

Desta forma a educaccedilatildeo escolar reconhecida pela proacutepria escola referente agrave inclusatildeo

da aluna indiacutegena surda aponta para a necessidade de instituir uma educaccedilatildeo triliacutengue de

forma que seu processo de ensino-aprendizagem pauta-se na Liacutengua Satereacute-Maweacute Liacutengua

Brasileira de Sinais e Liacutengua Portuguesa Mesmo sabendo da dificuldade em aprender trecircs

liacutenguas o parecer pedagoacutegico considera possiacutevel aprendizagem de trecircs liacutenguas

A partir dos argumentos referidos reitera-se a importacircncia de que a educaccedilatildeo escolar

dessa aluna deve abranger as liacutenguas de uso natural nativo e social Quando se destaca a

liacutengua de uso natural entende-se que eacute a Liacutengua de Sinais como primeira liacutengua E natildeo

inverter o processo e obrigar a crianccedila surda seja indiacutegena ou natildeo aprender a falar uma

liacutengua oral seja liacutengua indiacutegena ou Liacutengua Portuguesa Sobre a questatildeo Fernandes (2005

p20) pontua

fazer uma crianccedila surda ldquofalarrdquo ao inveacutes de propiciar a ela um meio raacutepido de

comunicaccedilatildeo linguiacutestica atraveacutes da aquisiccedilatildeo da liacutengua de sinais como primeira

liacutengua que proteja e cumpra o papel fundamental de resguardar o seu natural

desenvolvimento no que se refere a ter domiacutenio de fato de um instrumental

linguiacutestico que lhe sirva para as operaccedilotildees mentais que envolvam mecanismos

linguiacutesticos

Portanto primeiramente eacute necessaacuteria a aquisiccedilatildeo da primeira liacutengua a liacutengua de sinais

e como segunda liacutengua a liacutengua nativa de sua comunidade eacutetnica No caso da aluna indiacutegena

a liacutengua Tupi da etnia Satereacute-Maweacute na modalidade escrita Desta forma com a aprendizagem

das duas liacutenguas seraacute uma aluna biliacutengue Poreacutem diante da realidade do aluno indiacutegena surdo

que vive na zona urbana se faz necessaacuterio o aprendizado triliacutengue Liacutengua Portuguesa por

escrito

Como dito anteriormente o ensino-aprendizado da Liacutengua de Sinais deve ser

garantido ao sujeito surdo para que adquira a identidade a cultura do povo surdo20

acesso

pleno as informaccedilotildees aleacutem de significar a possibilidade de comunicaccedilatildeo e expressatildeo fluentes

do sujeito surdo com seu entorno Da mesma perspectiva o ensino da Liacutengua indiacutegena se daacute

20

Como ja mencionado no capiacutetulo 1 sobre Cultura Surda ldquo eacute o jeito surdo de ser de perceber de sentir de

vivenciar de comunicar de transformar o mundo a tornaacute-lo habitaacutevelrdquo (GLADIS PERLIN apud STROBEL

2008 p 21) Strobel ainda esclarece que o sujeito Surdo se comportam diferente do sujeito ouvinte e com isso

traz alguns ldquoartefatos culturaisrdquo (explicado no capiacutetulo 1) que satildeo as pecualiaridade da cultura surda as quais

descritas Parte das experiecircncias visuais linguiacutestico familiar literatura surda vida social e esportiva artes

visuais poliacutetica e materiais Todos estes artefatos concebidos a partir do VER (IDEM 2008 p36-77)

62

em respeito aos direitos da cultura indiacutegena previsto pela Constituiccedilatildeo Brasileira conforme

decreto nordm 6861 de maio de 2009 no seu Art 2o que determina ldquoSatildeo objetivos da educaccedilatildeo

escolar indiacutegena I- valorizaccedilatildeo das culturas dos povos indiacutegenas e a afirmaccedilatildeo e manutenccedilatildeo

de sua diversidade eacutetnica II- fortalecimento das praacuteticas socioculturais e da liacutengua e da liacutengua

materna de cada comunidade indiacutegenardquo

Neste caso a referida aluna iacutendia surda deveraacute ter a liacutengua indiacutegena como liacutengua de

conhecimento de sua cultura Para o ensino desta na forma escrita faz-se uso de cartilhas

gramaacuteticas dicionaacuterios etc

De acordo com o exposto a escola reconhece a necessidade da educaccedilatildeo escolar

triliacutengue poreacutem utiliza-se de outra realidade conforme citado pela proacutepria escola ldquoNo

primeiro momento fica junto com os colegas ouvintes onde procuramos trabalhar de forma

inclusiva no contexto biliacutengue Liacutengua Portuguesa e Liacutengua de Sinais

Sobre este aspecto Rodrigues (2005 p20) pontua

Quantas lacunas estariam sendo criadas em nome da pressuposiccedilatildeo de que a

aprendizagem da liacutengua da maioria dos falantes da comunidade (ouvintes) eacute que

daria agrave crianccedila surda condiccedilotildees de desenvolvimento social e cognitivo Quantas

etapas de desenvolvimento estariam sendo desprezadas nas fases naturais de sua

evoluccedilatildeo sob a alegaccedilatildeo de que ela seraacute capaz de alcanccedilar o que se estabelece como

meta social Que metas estariam sendo alcanccediladas afinal Que objetivos estatildeo sendo

perseguidos em prol desses paracircmetros ultrapassados em detrimento dos reais

objetivos de formaccedilatildeo psico-sociocultural deste individuo Em que a liacutengua de

sinais como primeira liacutengua ainda se encontra determinada pelo descreacutedito de

tantos especialistas da aacuterea

A realidade encontrada sobre a educaccedilatildeo natildeo soacute em uma escola que atende alunos

surdos mas tambeacutem em muitas escolas as chamadas escolas ldquoinclusivasrdquo apresentam

dificuldades no processo de ensino dos alunos surdos21

Todavia entre desencontros

sociocultural-linguiacutesticos eacute preciso fazer uma ressalva desta escola ldquoA escola disponibilizou

21

Sobre a temaacutetica da Inclusatildeo formula-se ldquoAo se avaliar que na contemporaneidade impera o discurso da

inclusatildeo indiscriminada em escolas regulares[]Esta diretriz tira o direito previsto na legislaccedilatildeo brasileira de

poder optar por uma educaccedilatildeo biliacutengue em escola proacutepria de modo que se repete a condiccedilatildeo em que aos surdos eacute

imposto um enorme sofrimento na medida em que nos denominamos processos inclusivos junto aos ouvintes

permanecem privados de conviver com seus pares e de acessar o conhecimento na Liacutengua de Sinais como liacutengua

de instruccedilatildeo [] Os surdosde diferentemente de outros segmentos tecircm a necessidade de agrupar-se para formar

comunidade linguiacutestica por meio das quais possam construir uma ldquocomunidade de experiecircnciasrdquo (WITKOSKI

2012 p33-34)

63

uma professora surda para a aquisiccedilatildeo da Liacutengua Brasileira de Sinais repassando o conteuacutedo

ministrado na salardquo onde cada um desses alunos eacute inserido

A escola positivamente conta com a colaboraccedilatildeo do trabalho docente de uma

professora surda Esta tem um papel fundamental como modelo linguiacutestico principalmente

quando alunos surdos provecircm de famiacutelias ouvintes que natildeo tecircm acesso agrave cultura e agrave Liacutengua

de Sinais Cabe ao professor surdo comunicar-se fluentemente com o aluno surdo ser um

input linguiacutestico para a identificaccedilatildeo da cultura do ser surdo

Dessa forma Strobel (2008 p 40) destaca

Este contato crianccedila surda x adulto surdo atraveacutes de uma liacutengua em comum que eacute a

liacutengua de sinais eacute que proporcionaraacute o acesso agrave linguagem e desta forma estaraacute

assegurada a identidade e a cultura surda que eacute transmitida naturalmente agrave crianccedila

surda em contato com a comunidade surda

Observa-se que caso a crianccedila surda natildeo tenha o direito a sua diferenccedila preservado

este aprendiz teraacute sua inserccedilatildeo no mundo dos ouvintes de forma incerta eou sem esperanccedila de

uma vida normal A situaccedilatildeo se agrava na medida em que a sociedade ouvinte deixa a desejar

quanto agrave participaccedilatildeo dos sujeitos surdos em decorrecircncia da escassez dos vaacuterios recursos

visuais que promovem acessibilidade para eles

Contudo os povos surdos hoje satildeo mais conscientes de seus direitos entatildeo esses

sujeitos cultural e politicamente lutam pelos mesmos Direitos estes tambeacutem dos povos

indiacutegenas como jaacute comentados anteriormente

Todavia esse aspecto ainda estaacute distante da realidade dos sujeitos focos do estudo de

acordo com relato da escola Segundo depoimentos de alguns indiacutegenas a aprendizagem

indiacutegena passa pela demonstraccedilatildeo observaccedilatildeo imitaccedilatildeo tentativa e erro e quando o aluno

vem para a escola tem que se socializar e obedecer a comandos regidos pelo sistema e isso

muitas vezes o deixa confuso e os maiores ateacute desistem A situaccedilatildeo se agrava quando esse fato

se refere ao sujeito iacutendio surdo incluiacutedo na escola pois este requer um diferencial ainda

maior reconhecido pela escola

Dessa forma satildeo necessaacuterias estrateacutegias de ensino diferenciadas que deem suporte

para que a aluna seja trabalhada de forma triliacutengue no contexto escolar para que ela

natildeo perca a sua essecircncia a sua cultura que sejam adaptados trabalhos de acordo

com a realidade indiacutegena para que ela natildeo perca a sua identidade e saiba conduzir

sua aprendizagem dentro de um contexto diferenciado podendo aprender o que lhe eacute

de direito como viver bem em sociedade22

22

Texto extraiacutedo do parecer pedagoacutegico da aluna indiacutegena surda que estuda na Escola de Aacuteudio e Comunicaccedilatildeo

Pe Paulo MannaParintinsAm (ANEXO D)

64

A partir das consideraccedilotildees tecidas no parecer pedagoacutegico torna-se evidente ema

necessidade de ampliar e aprofundar as reflexotildees sobre a inclusatildeo de iacutendios surdos em vaacuterios

espaccedilos da sociedade especialmente no espaccedilo educacional escolar Ou seja haacute necessidade

tambeacutem de poliacuteticas linguiacutesticas voltada para esse acircmbito

Nesse sentido eacute necessaacuterio que se tenha como meta uma tomada de decisotildees poliacuteticas

para que gradativamente se possa controlar a situaccedilatildeo de aprendizagem do surdo no processo

soacutecio cultural onde ele estiver inserido Ateacute por que existe uma proposta educativa

intercultural de modo biliacutengue no contexto indiacutegena Assim surge a necessidade de accedilotildees

objetivas para garantir na praacutetica esta proposta de ensino a fim de enriquecer o indiacutegena

surdo com desenvolvimento da liacutengua de sinais como veiacuteculo de comunicaccedilatildeo acrescendo

seus conhecimentos a partir do pluralismo cultural uma vez que estaacute amparado por

legislaccedilotildees especiacuteficas

Reitera-se a necessidade de accedilotildees objetivas especialmente no que tange a formaccedilatildeo

especiacutefica de professores pois mesmo com a garantia da legislaccedilatildeo a presente realidade

desses sujeitos estaacute distante do contexto sociocultural-linguiacutestico do ser iacutendio surdo A

exemplo disso tem-se outra realidade sociocultural-linguiacutestico do segundo aluno indiacutegena

surdo de 24 anos que foi transferido de uma escola que desenvolve atividades educacionais

especiacuteficas para outra no processo denominado de educaccedilatildeo inclusiva onde cursa o nono ano

do ensino fundamental das seacuteries finais e faz atendimento na sala de recurso porque os

professores das disciplinas do curso natildeo tecircm formaccedilatildeo para acompanhaacute-lo

Os relatos da famiacutelia indicam que o aluno nasceu na aacuterea indiacutegena de Ponta Alegre

poreacutem muito pequeno sua famiacutelia mudou-se para zona urbana municiacutepio de Parintins o qual

cresceu longe de sua cultura indiacutegena desconhecendo assim a liacutengua de sua etnia Este eacute um

caso que promove o desaparecimento de liacutenguas indiacutegenas o conhecido deslocamento

sociolinguiacutestico

Para entender o processo que instaura este deslocamento linguiacutestico ressalta-se que

primeiramente a educaccedilatildeo da pessoa perpassa pelo uso da liacutengua materna no ambiente

familiar nas relaccedilotildees famiacuteliares na qual utiliza uma comunicaccedilatildeo intra e extrafamiliar Se a

famiacutelia mantiver sua liacutengua nativa em uso os membros da mesma permaneceratildeo biliacutengues

Poreacutem se a famiacutelia por pressatildeo social do uso da liacutengua dos falantes da sociedade local seja

porque deseja se adequar ao meio onde se insere a liacutengua no caso indiacutegena entra no processo

de esquecimento para as geraccedilotildees vindouras

65

Eacute o caso do aluno acima que eacute biliacutengue (Liacutengua Brasileira de Sinais e Liacutengua

Portuguesa na modalidade escrita) contudo desconhece sua raiz cultural a liacutengua de sua

etnia Seu contexto educacional eacute baseado em ldquomodelo de escola inclusivardquo o aluno vai para

sala de aula com alunos ouvintes onde a liacutengua portuguesa eacute a liacutengua padratildeo a ser ensinada e

estudada e posteriormente faz atendimento na sala de recurso em sua liacutengua natural Libras

Logo a escola pode ajudar no incentivo favorecendo a revitalizaccedilatildeo da liacutengua

indiacutegena no contexto educacional Para isso haacute necessidade de um corpo docente com a

formaccedilatildeo em Liacutengua indiacutegena e Liacutengua Brasileira de Sinais aleacutem da Liacutengua Portuguesa que eacute

usada como a base de ensino

Jaacute na comunidade Uiacurapaacute da etnia Maweacute encontramos outra realidade de contexto

de um surdo indiacutegena Todavia natildeo foi possiacutevel fazer um acompanhamento mais preciso

sobre sua situaccedilatildeo educacional escolar O uacutenico dado correspondente agrave questatildeo linguiacutestica eacute o

modo como ele se comunica conforme foi relatado por membros da comunidade local se

caracteriza pela utilizaccedilatildeo de gestos criados para se fazer compreender Desta forma diante da

ausecircncia de uma liacutengua estruturada a Libras por fazer uso somente de gestos ele apresenta

dificuldades de entender o ensino e de se comunicar com seus pares Da mesma forma ocorre

no contexto familiar e na comunidade uma vez que o aluno surdo vive quase que isolado

devido ao preconceito existente ateacute mesmo pela proacutepria comunidade por natildeo o entenderem e

nem saberem qual a forma para se comunicar aquele indiviacuteduo Assim ele vive em uma

situaccedilatildeo de rejeiccedilatildeo e marginalizaccedilatildeo estabelecida a partir da ausecircncia de uma liacutengua que

promova a comunicaccedilatildeo com o predomiacutenio de um processo de estigmatizaccedilatildeo deste sujeito

surdo

No municiacutepio de Maueacutes Boa Vista do Ramos os iacutendios surdos localizados satildeo de

idade adulta natildeo tiveram a oportunidade de frequentar escola Portanto sua realidade

linguiacutestica fundamenta-se somente na forma gestual que denominam de caseira atribuindo

significados peculiares de seu contexto local No que diz respeito ao aspecto educacional as

pessoas contatadas demonstraram apenas uma preocupaccedilatildeo sobre a existecircncia futura de

possiacuteveis iacutendios surdos nesses municiacutepios e sua formaccedilatildeo educacional Contudo natildeo

afirmaram o que fariam se encontrassem outros sujeitos com essa necessidade de

comunicaccedilatildeo

Como jaacute mencionado natildeo haacute registro sobre a situaccedilatildeo linguiacutestica e educacional de

nenhum iacutendio surdo da etnia Satereacute-Maweacute nos municiacutepios de Nhamundaacute Satildeo Sebastiatildeo do

Uatumatilde e de Urucaraacute Portanto as informaccedilotildees educacionais natildeo satildeo apresentadas nestes

contextos

66

43 Inventaacuterio de gestos da linguagem caseira dos surdos Satereacute-Maweacute

A presente pesquisa baseia-se em um meacutetodo de estudos de etnografia com o intuito

de descrever e observar os gestos caseiros que os indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute usam para se

comunicarem com seus pares nas comunidades onde residem O meacutetodo tambeacutem ajuda a

conhecer a identidade e sua interaccedilatildeo no meio da comunidade visto haacute uma diversidade

linguiacutestica rica usada pelos surdos indiacutegenas nas diversas localidades percorridas pelo

pesquisador na microrregiatildeo de Parintins

431 Os sinais caseiros de indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute

O objetivo do mapeamento eacute coletar os sinais caseiros ou emergentes para que esses

sinais possam ser reconhecidos e compreendidos pela sua comunidade como meio linguiacutestico

de comunicaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo de sua cultura

Para a concretizaccedilatildeo do mapeamento foi necessaacuterio a pesquisa de campo na

comunidade onde se fazia presente o indiacutegena surdo para as devidas observaccedilotildees

432 O Municiacutepio de Parintins

No municiacutepio de Parintins foi localizado trecircs (03) indiacutegenas surdos com suas

caracteriacutesticas linguiacutesticas diferenciadas de suas origens sendo que dois indiacutegenas residem na

zona urbana e um indiacutegena localizado na comunidade de Uaicurapaacute os quais foram o objeto

investigativo para a coleta de dados Os registros foram feitos de forma diferenciada de modo

que primeiramente conversei com as lideranccedilas indiacutegenas acompanhado de inteacuterprete e guia

linguiacutestico Durante este encontro foram feitas no local observaccedilotildees visuais sendo que em

alguns casos realizamos registros de imagens filmagens e entrevistas Eacute importante destacar

que os registros soacute puderam ser feitos quando permitidos pelos sujeitos da pesquisa ou pela

lideranccedila prevalecendo em sua maior parte a observaccedilatildeo visto que materiais tecnoloacutegicos e

de miacutedias causavam incocircmodo aos entrevistados fazendo com que se tornassem

incomunicaacuteveis quando percebiam que estavam sendo monitorados

67

4321 O primeiro surdo

Esse primeiro indiacutegena possui surdez moderada Eacute um senhor com idade de 72 anos

residente no Uiacurapaacute23

O contato foi feito na Casa do Iacutendio de Parintins Em uma

conversaccedilatildeo informal explicou que perdeu a audiccedilatildeo com o tempo eacute oralizado24

e se

comunica com a comunidade na liacutengua nativa Satereacute-Maweacute Trata-se de um cidadatildeo calmo

fala apenas de suas necessidades visto que natildeo se manifesta muito devido suas limitaccedilotildees

auditivas que dificultam uma melhor compreensatildeo

Como referido o surdo em questatildeo tem surdez moderada Neste sentido observa-se

que a surdez ocorre de acordo com diferentes classificaccedilotildees quanto ao niacutevel de perda auditiva

Ou seja

Quanto ao grau - leve (perda de 26 a 40 dBNA) - moderada (perda de 41 a 55

dBNA) - moderadasevera (perda de 56 a 70 dBNA) - severa (perda de 71 a 90

dBNA) - profunda (a partir de 91 dBNA) (RUSSO e SANTOS 1988 apud

NADER 2011 p 2)

Retomando a histoacuteria do sujeito surdo em questatildeo observa-se que ele reside na zona

rural no Uiacurapaacute com seus parentes e sua sobrevivecircncia eacute atraveacutes do que planta e pesca

Observando-o percebo que o mesmo tem uma vida normal com seus pares o que falta para

uma interaccedilatildeo mais ativa na comunidade eacute estimulo e o incentivo linguiacutestico pois muitas

pessoas satildeo impacientes e acabam deixando-o isolado linguisticamente

4322 O segundo surdo

Eacute um indiacutegena natural de Ponta Alegre25

concluiu o ensino fundamental em uma

escola puacuteblica no municiacutepio de Parintins Sua surdez foi percebida por seus pais ainda

crianccedila causada por doenccedila congecircnita A famiacutelia mudou-se para o municiacutepio de Parintins em

busca de uma melhor educaccedilatildeo para filho surdo entretanto os pais eram usuaacuterios da Liacutengua

Satereacute-Maweacute mas natildeo mais praticam pela influecircncia da Liacutengua Portuguesa e tambeacutem natildeo 23 Rio que fica interliga com Rio Paranaacute do Ramos ndash Parintins (AZEVEDO 2014) 24

O modelo cliacutenico-terapecircutico baseia-se numa visatildeo patoloacutegica de surdez e num modelo individual de

atendimento aacute diversidade que tem como referecircncia o Oralismo O oralismo eacute uma filosofia educacional para

surdos cujo discurso propotildee a superaccedilatildeo da surdez e a aceitaccedilatildeo social do surdo por meio da oralizaccedilatildeo Em

outras palavras este modelo defende o aprendizado apenas da Liacutengua Portuguesa na sua modalidade oral e

escrita na escola por entender que esta eacute a uacutenica possibilidade de integrar o surdo na sociedade majoritaacuteria

ouvinte (SLOMSKI 2010 p 32) 25

A comunidade de Ponta Alegre situa-se no Rio Andiraacute com 4 horas de viagem de lancha para chegar a

comunidade (AZEVEDO 2014)

68

frequentam a comunidade Satereacute-Maweacute em busca de assistecircncia ou outros meios oferecidos

pela tribo Portanto a famiacutelia cresceu e disseminou deixando de lado a liacutengua nativa e

tradiccedilatildeo indiacutegena vivendo uma vida regular na zona urbana

O surdo hoje com 20 anos natildeo conhece a liacutengua nativa de sua comunidade se

comunica fluentemente com a Liacutengua de Sinais escreve o Portuguecircs e se oraliza na

comunicaccedilatildeo com seus pais que tambeacutem natildeo sabem a Liacutengua de Sinais

Atraveacutes de sua histoacuteria eacute possiacutevel perceber que este sujeito surdo por estudar em

escola inclusiva com forte influecircncia a oralista desenvolveu as duas linguas a Liacutengua

Brasileira de Sinais e a Liacutengua Portuguesa Poreacutem sua situaccedilatildeo eacute diferente de outros

indiacutegenas surdos que residem nas comunidades que usam os sinais caseiros para se

comunicarem Isso acaba sendo uma observaccedilatildeo abstrata da realidade entre os surdos que

moram na zona urbana e na comunidade Satereacute-Maweacute

4323 O terceiro surdo

Eacute uma crianccedila de 5 anos descendente da etnia Satereacute-Maweacute estuda em uma escola

filantroacutepica em Parintins Trata-se de uma aluna inteligente que demonstrava timidez na

presenccedila de pessoas estranhas Verificou-se que ela consegue aprender e identificar os objetos

apresentados para que identificasse Aos 4 anos antes de entrar para a escola utilizava alguns

sinais caseiros para se comunicar com seus familiares Na sala de aula o ensino oferecido a

ela eacute o biliacutengue26

tendo a Liacutengua Brasileira de Sinais e a Liacutengua Portuguesa compondo essa

educaccedilatildeo O ensino nessa instituiccedilatildeo vai ateacute a 5ordf serie Por esta razatildeo a aluna futuramente

precisaraacute ser transferida para uma escola de ensino fundamental

Tabela 2 11 Sinais caseiros utilizados pela crianccedila indiacutegena surda de 5 anos e seus

familiares

26

O Bilinguismo eacute uma filosofia de ensino cujo discurso propotildee a diversidade cultural e a aceitaccedilatildeo social do

surdo por meio do bilinguismo (duas liacutenguas Liacutengua de Sinais e segunda liacutengua) Essa filosofia concebe o surdo

como um ser diferente e a surdez como ldquoatributo humanordquo como uma caracteriacutestica da pessoa surda resultado

de uma deficiecircncia orgacircnica que natildeo se esgota nela mesma (SKLIAR 1997 apud SLOMSKI 2010 p 41)

SINAIS CASEIROS DESCRICcedilAtildeO

AacuteGUA Matildeo direita com o dedo polegar fazendo a expressatildeo de beber aacutegua

BRINCAR As duas matildeos fechadas batendo as pontas dos dedos em

movimento

BANHEIRO Matildeo direita mostra o local e a esquerda eacute posicionada na barriga

COMIDA As duas matildeos abrindo e fechando repetidamente proacuteximo da boca

DORMIR As duas matildeos com as palmas juntas encostar-se ao rosto com

expressatildeo de querer dormir

69

Fonte AZEVEDO (2014)

Figura 2 Sinais caseiros utilizado pela crianccedila de 5 anos

FOME Matildeo direita indo em direccedilatildeo da barriga fazendo expressatildeo facial de

fome

MAtildeE Matildeo direita aberta no rosto fazendo movimento nos dedos com

expressatildeo chamativa

IRMAtildeO Matildeo direita batendo no antebraccedilo para chamar atenccedilatildeo

PAI Matildeo direita com os dedos pegando o queixo

PESSOA Matildeo direita com dedo indicador fazendo expressatildeo de algueacutem

CHORAR As duas matildeos fechadas com os dorsos esfregando nos olhos

AacuteGUA BRINCAR

COMIDA DORMIR FOME

MAtildeE IRMAtildeO PAI

BANHEIRO

70

44 O indiacutegena surdo da Comunidade de Ponta Alegre do municiacutepio de Barreirinha

Foi localizado um aluno surdo na comunidade de Ponta Alegre que faz parte do

municiacutepio de Barreirinha trata-se de um jovem de 13 anos que estuda na Escola Municipal

Rosa Cabral e mora em uma aldeia mais distante a observaccedilatildeo foi feita na escola Nessa

viagem foi obtido a autorizaccedilatildeo de viagem para a aldeia na Secretaria de Educaccedilatildeo Municipal

de Barreirinha por meio do contato com o coordenador geral do setor indiacutegena daquela aacuterea

o senhor Santino Lopes que muito contribuiu com o projeto e de servir como guia de

viagem

O devido aluno estuda na 3ordf Serie do ensino fundamental De acordo com as

observaccedilotildees feitas O ensino predominante na sala para o ensino deste aluno eacute a Liacutengua

Portuguesa visto que os professores em sua maioria vem do municiacutepio de Barreirinha

Embora o ensino seja bem aplicado e a escola dispotildee de material didaacutetico apropriado para a

seacuterie natildeo haacute metodologia de ensino especializado para surdo natildeo existindo Sala de

Recursos27

O aluno aprende lentamente demonstrando dificuldades de entender os

conteuacutedos

A comunicaccedilatildeo com seus professores e colegas soacute acontecem atraveacutes de sinais

caseiros e expressotildees manuais O aluno surdo vive quase que isolado sem ter a possibilidade

de estabelecer uma comunicaccedilatildeo satisaftoacuteria dentro do contexto escolar devido ao

27

Uma das inovaccedilotildees trazidas pela Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Especial na Perspectiva da Educaccedilatildeo

Inclusiva (2008) eacute o Atendimento Educacional Especializado ndash AEE um serviccedilo da educaccedilatildeo especial que []

identifica elabora e organiza recursos pedagoacutegicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena

participaccedilatildeo dos alunos considerando suas necessidades especiacuteficas

O AEE complementa eou suplementa a formaccedilatildeo do aluno visando a sua autonomia na escola e fora dela

constituindo oferta obrigatoacuteria pelos sistemas de ensino Eacute realizado de preferecircncia nas escolas comuns em um

espaccedilo fiacutesico denominado Sala de Recursos Multifuncional Portanto eacute parte integrante do projeto poliacutetico

pedagoacutegico da escola (BRASIL 2008 p 3)

CHORAR PESSOA

71

preconceito existente Ateacute mesmo na proacutepria comunidade por natildeo entenderem e nem saberem

de que forma comunicarem-se com o mesmo a situaccedilatildeo de exclusatildeo se repete

Vale destacar que diante desta ausecircncia da qualidade de ensino para o aluno surdo a

professora Maria Inecircs ao responder um questionaacuterio segue algumas afirmativas para mudar

esta realidade Desta forma a educadora afirma que

- Eacute muito importante a capacitaccedilatildeo em cursos de libras e livros didaacuteticos proacuteprios

como forma de melhorar o ensino e a comunicaccedilatildeo com aluno surdo na

comunidade como parte da educaccedilatildeo inclusiva para facilitar o ensino e

aprendizado acima de tudo conhecer sua liacutengua materna identidade do povo

Satereacute-Maweacute

Pelo relato do Gestor da Escola Senhor Dulcemar a necessidade jaacute referida pela

educadora acima de materiais didaacuteticos para subsidiar o ensino eacute novamente colocada em

destaque conforme pode ser vislumbrado no relato transcito a seguir

- Eu como gestor sinto-me gratificado pelo trabalho a ser desenvolvido aqui com a

questatildeo da Libras um trabalho realizado pelo professor Marlon Jorge Pois eacute muito

importante devido agrave dificuldade que a educaccedilatildeo Satereacute- Maweacute vem tendo

principalmente quando se trata de alunos surdos indiacutegenas e ateacute mesmo por falta

de material didaacutetico Esse trabalho vai ser importante aqui na aacuterea indiacutegena para

ajudar o professor na sala de aula como ensinar como educar e como lidar com

esses alunos com necessidades especiais Entatildeo eacute um trabalho muito importante

pra noacutes e estamos aqui a disposiccedilatildeo e tambeacutem para contribuir como gestor da

escola juntamente com os professores e pra noacutes eacute muito bom esse trabalho e que o

Sr possa desenvolver esse seu projeto essa cartilha que com o aacutepice das aulas de

libras que com certeza vai fortalecer muito mais a educaccedilatildeo do povo Satereacute

Maweacuterdquo

Tabela 313 sinais caseiros coletados e utilizados pelo aluno da comunidade de Ponta Alegre

Fonte Azevedo (2014)

SINAIS CASEIROS DESCRICcedilAtildeO

AacuteGUA Usa as duas matildeos fazendo impressatildeo de beber alguma coisa

BARCO Usa-se a matildeo direita aberta em posiccedilatildeo vertical fazendo uma

expressatildeo da accedilatildeo do barco

BANHO Fazer a expressatildeo de pular na aacutegua com os braccedilos esticados

BANHEIRO Matildeo direita usando o indicador fazendo expressatildeo sair fora sala

COMIDA Matildeo esquerda aberta matildeo direita usando como o objeto metaacutelico

COBRA Usando os dedos da matildeo direita beliscando o pulso da matildeo esquerda

ESCOLA Faz-se o sinal de casa

ESTUDAR Faz a expressatildeo de escrever

FOME Matildeo direita levando em direccedilatildeo da barriga fazendo expressatildeo facial

de fome

FARINHA As duas matildeos palmas para baixo fazendo a expressatildeo de esfarelar

alguma coisa

LANCHA Usa a matildeo direita palma para cima fazendo uma accedilatildeo da rapidez

para frente

PEIXE Matildeo direita fazer a expressatildeo de caccedilar o peixe com o arpatildeo

PESSOA Matildeo direita com dedo indicador fazendo expressatildeo de algueacutem

72

Figura 3 Sinais caseiros utilizados pelo aluno da comunidade de Ponta alegre ndash

Barreirinha

AacuteGUA BARCO

BANHEIRO

BANHO

COMIDA

ESCOLA

FOME LANCHA PESCAR PEIXE

ESTUDAR FARINHA

COBRA

73

45 Os indiacutegenas surdos do Municiacutepio de Maueacutes

Situado entre os rios Madeira e Tapajoacutes o municiacutepio de Maueacutes estaacute localizado no

Meacutedio Amazonas que hoje eacute denominado como microrregiatildeo aacuterea leste do Estado Distante

de Manaus cerca de 30 km em linha reta ou o equivalente 45 minutos por via aeacuterea estando

a 356 km por via fluvial cerce de 16 a 18 horas de barco

Nesse municiacutepio foi realizado duas viagens com a finalidade de fazer um mapeamento

das aacutereas indiacutegenas bem como descobrir a existecircncia de surdos nas aldeias O primeiro

contato foi na Secretaria de Educaccedilatildeo do municiacutepio primeiramente me apresentado como

aluno pesquisador juntamente com os documentos comprobatoacuterios de acesso para realizar a

pesquisa nas aacutereas indiacutegenas As informaccedilotildees que tinha antes de estabelecer o contato

apontavam para a existecircncia de alunos indiacutegenas surdos matriculados na sede do municiacutepio

Poreacutem a secretaria informou desconhecer a existecircncia de alunos indiacutegenas matriculados na

rede publica do municiacutepio nem saber sua localizaccedilatildeo para contatos sendo orientado a

procurar na Casa do Estudante Indiacutegena Satereacute-Maweacute que se localiza em um bairro mais

distante dali

Chegando ao SESAI - Secretaria de Sauacutede Indiacutegena obtivemos acesso agraves informaccedilotildees

devido ao fato de que a pessoa responsaacutevel estava em viagem sendo que retornaria na outra

semana Em outra busca formos agrave Casa do Estudante Satereacute-Maweacute onde conversamos com o

coordenador Sr Jusivam que disse saber da existecircncia de indiacutegenas surdos nas comunidades

na Marau e Andiraacute mas natildeo ter dados quantitativos devido ao fato deles natildeo terem procurado

a Casa do Estudante em busca de assistecircncia que auxiliassem sua integraccedilatildeo em escolas

regulares ou inclusivas Observa-se que a Casa do Estudante podia auxiliar eles a

conseguirem uma escola para estudarem na zona urbana jaacute que esta eacute uma das atribuiccedilotildees da

instituiccedilatildeo

Ao sermos informados que as comunidades onde havia surdos eram distantes e

necessitava de apresentar outros documentos da Coordenaccedilatildeo Geral de Educaccedilatildeo que ficava

no municiacutepio de Barreirinha Tambeacutem se fazia necessaacuterio preparar uma programaccedilatildeo de

viagem para que pudessemos chegar ateacute aquela localidade de modo que nesta precisava

inclusive organizar para ter inteacuterpretes que falassem a liacutengua Satereacute-Maweacute e inteacuterpretes de

Libras Aleacutem destes precisava contar com um acompanhante para registrar as imagens e

filmagens se autorizadas anotando tudo que fosse necessaacuterio

Fazendo uma reflexatildeo sobre a viagem e os entraves que tinhamos pela frente para a

concretizaccedilatildeo do projeto e as distacircncias geograacuteficas para alcanccedilar os objetivos da pesquisa

74

Contudo ao encontrar um surdo indiacutegena sendo o principal objeto da pesquisa em funccedilatildeo da

grande satisfaccedilatildeo de poder contribuir para o desenvolvimento linguiacutestico dos indiacutegenas surdos

e para que a comunidade compreenda como um ser incluiacutedo a partir do respeito a sua cultura

inserindo em seus modos e haacutebitos foi compensador enfrentamos todos os obstaacuteculos

Visitamos a Universidade do Estado do Amazonas ndash UEA onde tivemos a grata

surpresa de saber que havia uma turma de formaccedilatildeo em licenciatura Indiacutegena para a

comunidade Esperamos a aula acabar para falar com o professor o qual pediu para vir outro

dia para conversar com os alunos Foi nessa ocasiatildeo que conhecemos trecircs professores com os

quais fizemos um acordo para que na proacutexima viagem me levassem para a aldeia a fim de

realizar o mapeamento

Voltando para Parintins foi elaborado um roteiro para viagem a aacuterea indiacutegena Satereacute-

Maweacute pelos rios Maueacutes-Accedilu Rio MarauUrupadi A viagem aconteceu no dia 02 de

fevereiro de 2014 saindo de barco de Parintins indo ateacute o municiacutepio de Maueacutes No dia

seguinte as 8 horas acompanhado do professor Jesiel pegamos uma voadeira de 150HP com

destino ao territoacuterio Satereacute-Maweacute Foi uma viagem perigosa devido agraves condiccedilotildees dos rios e de

difiacutecil acesso para chegarmos laacute Todavia fizemos um esforccedilo e conseguimos nos deslocar ateacute

a comunidade Percorremos de voadeira uma viagem que durou aproximadamente 8 horas

pelo Rio Maueacutes Accediluacute Depois de uma hora e meia de viagem chegamos ao Rio Urupadi e

seguimos mais uma hora e meia de viagem ateacute a comunidade indiacutegena Vale do Quiinha

Nessa aldeia pegamos o professor Jacob Santos de Souza que nos acompanhou para a

proacutexima aldeia Ilha Michiles que fica no Rio Marau Nessa aldeia pegamos outro professor

Satereacute-Maweacute Jocimar Alencar dos Santos Saiacutemos da Ilha Michiles com destino a

comunidade Santa Maria que fica na divisa do Rio Urupadi e Manjuru A cada visita que

faziamos nas comunidades indiacutegenas percebemos no cotidiano a diversidade presente nas

aacutereas indiacutegenas Satereacute-Maweacute Ao perguntar se havia algueacutem surdo na famiacutelia e a resposta

sempre vinha de forma afirmativa o que me demonstrou que todos os esforccedilos para realizar a

viagem foram compensados diante da riqueza de dados coletados

A primeira iniciativa adotada com relaccedilatildeo a esse momento foi reunir com os

comunitaacuterios envolvidos nas atividades escolares A reuniatildeo teve como objetivo observar e

entrevistar alguns indiacutegenas para posteriormente analisar como se procede agrave comunicaccedilatildeo

entre indiacutegenas surdos e ouvintes A reuniatildeo foi muito uacutetil para os estudos e anaacutelise de

informaccedilotildees Os surdos existentes na comunidade nunca estudaram devido agrave comunidade

Santa Maria ficar distante da zona urbana e a escola existente para alunos ouvintes ficar em

75

outra comunidade o que inviabiliza a ida deles sendo que tambeacutem natildeo haacute professores

especializados para atenderem a clientela surda existente no Rio Marau

Encontramos dois indiacutegenas surdos na comunidade de Santa Maria que foram objeto

de estudos No entanto houve informaccedilotildees repassadas de que haacute outros trecircs surdos em outras

comunidades mais distante na mesma aacuterea Satereacute-Maweacute A visita para contactar estes outros

trecircs surdos ficou para a proacutexima viagem de observaccedilatildeo e coleta dos dados

451 O primeiro surdo da Comunidade de Santa Maria

No contato e observaccedilatildeo que tivemos com o surdo o mais novo tem 24 anos mora

com a famiacutelia natildeo conhece nenhuma liacutengua se comunica com gestos e sinais caseiros A

comunidade assim com a famiacutelia demosntrou pouco se importar com ele de forma que natildeo

haacute estiacutemulo ou interesse para que haja uma interaccedilatildeo linguiacutestica satisfatoacuteria entre eles

O ponto de encontro com seus colegas fica na parte central da comunidade que tem

um campo de futebol Laacute eles se concentram embaixo de uma aacutervore Neste lugar o surdo

costuma ficar quase diariamente com intuito de se unir e brincar com os colegas Ele usa os

sinais caseiros com expressotildees com a intenccedilatildeo de conseguir se comunicar com os colegas

Poreacutem alguns natildeo conseguem entender enquanto outros falam a Liacutengua Satereacute-Maweacute

Apesar do esforccedilo do surdo de tentar compreender o que eacute falado via a leitura labial na

maioria das vezes natildeo consegue compreender Poreacutem mesmo assim sinaliza balanccedilando a

cabeccedila com expressatildeo de concordacircncia afirmativa mesmo natildeo entendendo a mensagem

Tabela 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa

Maria

SINAIS CASEIROS

COLETADOS

DESCRICcedilAtildeO

AacuteGUARIO Usam-se as duas matildeos fazendo a expressatildeo de banzeiro

ANTA Matildeo direita fazendo a expressatildeo do focinho do nariz

AacuteRVORE As matildeos abertas fazendo expressatildeo de segurar o troco ao mesmo tempo

levando para cima

BARCO Usa a matildeo direita fechada fazendo expressatildeo de abrir e fechar a matildeo

como sinal de fumaccedila

BANHO Fazer a expressatildeo de pular na aacutegua com os braccedilos esticados

CASA As duas matildeos palmas para baixo fazendo um balanccedilo de movimento de

uma rede

CACcedilAR PEIXE Matildeo direita fazer expressatildeo de soltar o arpatildeo

CUIA As duas matildeos juntas fazer a expressatildeo de raspar a cuia

COCO Fazer a expressatildeo de tirar o coco com a vara

COMIDA As duas matildeos levando ateacute a boca

76

Fonte Azevedo (2014)

Figura 4 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais novo na comunidade de Santa Maria

(30 sinais coletados)

COBRA Matildeo direita fazendo a expressatildeo da picada da cobra

FACA Matildeo direita fachada fazendo a expressatildeo de furar alguma coisa para

baixo

FLECHA Fazer a expressatildeo de jogar a flecha

FORMIGA Matildeo direita com os dedos beliscando o braccedilo esquerdo

FOME Matildeo direita levando em direccedilatildeo da barriga fazendo expressatildeo facial de

fome

FARINHA As duas matildeos fazer a expressatildeo de fazer farinha

GUARANAacute Fazer a expressatildeo de ralar o guaranaacute

JACAREacute Os dois indicadores das matildeos fazendo expressatildeo de dentes grandes do

jacareacute

LANCHA As duas matildeos dedos juntos fazer a expressatildeo de uma accedilatildeo raacutepida para

frente

MACACO Com braccedilos abertos fazer a expressatildeo de macaco

MALOCA As duas matildeos com os dedos encostados puxar para os lados opostos

MANDIOCA Fazer expressatildeo de descascar algum

ONCcedilA Com as matildeos fazer pintas no rosto

PAI As duas matildeos esfregando os indicadores

PEIXE Faz se expressatildeo de descamar o peixe

PILAtildeO As duas matildeos juntas fazendo a expressatildeo de socar a crueira

POTE AacuteGUA As duas matildeos juntas palmas para cima elevando para cima em curvas

onduladas

PASSAacuteRO As duas matildeos fazendo o movimento de paacutessaro

PESSOA Matildeo direita fazendo a expressatildeo de pegar no cabelo

TIPITI As duas matildeos fazendo a expressatildeo de espremer algum

PENEIRAR As duas matildeos em forma letra A fazer expressatildeo de balanccedilar o objeto

AacuteGUA ANTA AacuteRVORE

VIAGEM BANHO

77

VIAJAR

CASA CACcedilAR ALIMENTO CUIA

COCO COMIDA

FACA

FARINHA

FORMIGA

GUARANAacute

FOME

FACA

FLECHA

78

JACAREacute LANCHA

MACACO

MANDIOCA ONCcedilA

MALOCA PAI

POTE DE AacuteGUA PILAtildeO

LANCHA JACAREacute

PEIXE

79

452 O segundo surdo da Comunidade de Santa Maria

O segundo surdo visitado um senhor adulto com identidade natildeo revelada residindo na

Comunidade de Santa Maria Eacute um cidadatildeo reservado e fechado para desconhecidos Como

nossa equipe era composta de 05 profissionais sendo 03 (trecircs) professores indiacutegenas que me

acompanharam para serem facilitadores linguiacutesticos e um colaborador local para captar as

imagens ficarmos 04 (quatro) dias na comunidade para observaccedilotildees Apesar do tempo o

investido para conseguir o contato o mesmo se mostrou irredutiacutevel e natildeo se dispos a

conversar conosco Observa-se que mora sozinha e eacute raro ele se manifestar na comunidade

Pela histoacuteria contada a seu respeito apesar de natildeo se comunicar manteacutem sua residecircncia de

maneira organizada cultiva de algumas plantaccedilotildees como mandioca banana guaranaacute aleacutem de

produzir farinha tambeacutem faz pescaria para se alimentar Foi relatado que ajuda alguns

vizinhos e amigos com o que produz aleacutem de ser experiecircncia em matildeo de obra na confecccedilatildeo

de trepadeira silvestre que facilita subir nas aacutervores coqueiros e accedilaizeiros

PASSAacuteRO PESSOA COBRA

TIPITI PENEIRAR

80

Sobre o contexto educacional tendo como tema central a educaccedilatildeo escolar indiacutegena

o professor Jesiel (2014)28

(que eacute indiacutegena e concluiu o curso de pedagogia intercultural na

Universidade do Estado do Amazonas localizado no municiacutepio de Maueacutes) argumentou que o

territoacuterio Satereacute-Maweacute eacute muito grande sendo longa a distacircncia para se chegar na zona

urbana ateacute de forma que mesmo o deslocamento de uma comunidade para outra dificulta os

indiacutegenas irem para a escola Estas segundo o educador referido satildeo algumas razotildees que

impedem muitos indiacutegenas de estudarem na medida em que acarreta prejuiacutezo para a famiacutelia

especialmente de perda de tempo principalmente para os adultos que tem compromisso no

campo e com a comunidade

Para solucionar este problema devido a distacircncia as famiacutelias e os liacutederes indiacutegenas

possuem propostas e lutas para a construccedilatildeo de escolas nas aldeias o que facilitaria o acesso

dos surdos indiacutegenas da comunidade na escola E ao considerar que o indiacutegena surdo

compreende e se comunica com seus pares atraveacutes de gestos e sinais caseiros de forma que

aleacutem de sua liacutengua nativa haacute outros meios para que o surdo possa se comunicar isso aponta

para a necessidade da criaccedilatildeo de propostas de acesso agrave educaccedilatildeo dessas pessoas Dessa

maneira foram catalogados alguns sinais utilizados por esse surdo adulto da Comunidade de

Santa Maria apresentado abaixo

Tabela 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo mais antigo residente isolado na

comunidade de Santa Maria no Rio Marau ( 18 sinais coletados)

28

As famiacutelias e os liacutederes indiacutegenas possuem propostas e lutas para a construccedilatildeo de escolas nas aldeias para a

facilitaccedilatildeo do acesso dos surdos indiacutegenas na comunidade e na escola O indiacutegena surdo apesar de natildeo ouvir

compreende e comunica com seus pares atraveacutes de gestos e sinais caseiros que aleacutem de sua liacutengua nativa haacute

outros meios para que o surdo possa se comunicar Isso contribui para a criaccedilatildeo de propostas de acesso agrave

educaccedilatildeo dessas pessoas Dessa maneira foram catalogados alguns sinais utilizados por esse surdo adulto da

Comunidade de Santa Maria apresentado abaixo

A contribuiccedilatildeo do professor indiacutegena Jesiel Santos foi de suma importacircncia para a coleta de dados nesta

pesquisa visto que atraveacutes dele que conseguimos chegar ateacute a comunidade de Santa Maria afim de termos os

contatos na comunidade

SINAIS CASEIROS DESCRICcedilAtildeO

ARCOFECHA As duas matildeos com expressatildeo de utilizar um arco com flecha

AacuteGUA Matildeo direita com utilizando somente o dedo polegar fazer a expressatildeo de

beber algum

BANHO Os braccedilos e matildeos esticadas fazer a expressatildeo de se soltar no rio

BEIJU As duas matildeos fazendo um circulo e em seguida levar ateacute a boca

CIGARRO A posiccedilatildeo para traduzir este sinal satildeo as duas matildeos em posiccedilatildeo dos dedos

polegar e indicador juntos fazendo expressatildeo de fazer um cigarro caseiro

CASA As duas matildeos com os dedos esticados fazer a expressatildeo de formato de uma

casa

COBRA A matildeo direita com os dedos indicador e polegar encostados fazer a expressatildeo

de beliscar o pulso de antebraccedilo

FARINHA Matildeos com os dedos todos juntos fazer a expressatildeo com o movimento de

81

Figura 5 Sinais caseiros utilizados pelo surdo idoso na comunidade de Santa Maria

soltar a farinha

FORNO DE ASSAR Matildeo direita fazendo um semiciacuterculo de com a caracteriacutestica de um forno de

barro

GARREIRA As duas matildeos juntas fazer a expressatildeo repetidamente de amassar uma massa

JACAREacute As duas matildeos pegando os dentes

LUVA DA TUCANDEIRA Fazendo a expressatildeo de usar uma luva de palha e fazer a expressatildeo de dor da

ferrada da tucandeira

MANDIOCA Usar o antebraccedilo esquerdo com a matildeo direita como um material cortante

fazendo a expressatildeo de descascar

MACACO Os dois braccedilos e corpo fazendo a expressatildeo do movimento caracteriacutestico do

macaco

PAJEacute As duas matildeos fazendo a expressatildeo de segurar algum e balanccedilar

PAacuteSSARO Fazer a expressatildeo de balanccedilar os braccedilos caracterizando o movimento de um

paacutessaro

TIPITI As duas matildeos fazendo o movimento de espremer a mandioca

TERRASOLO Matildeo direita fazendo expressatildeo de um pequeno monte de terra

ARCOFECHA BEBER

LIacuteQUIDOAacuteGUA

BEIJUCOMER COBRA

FARINHA FERRADA DA TUCANDEIRA MALOCACASA ESCOLA

ARCOFLECHA BEBER LIQUIDOAacuteGUA BANHOPULAR NA AacuteGUA

AacuteAacuteGUA

CIGARRO

82

FORNO DE ASSAR

JACAREacute

LUVA DA TUCANDEIRA MACACO

PAJEacute

TIPITI TERRA

GAREIRA

MANDIOCA

PAacuteSSARO

(( ))

JACAREacute

83

5 ICONICIDADE E ARBITRARIEDADE NA CRIACcedilAtildeO DOS SINAIS CASEIROS

Nos anos 60 a partir dos trabalhos de Stokoe (1960) foi comprovado que as Liacutenguas

de Sinais satildeo linguas Estas satildeo liacutenguas naturais com ldquoestrutura gramatical proacutepria em seus

niacuteveis fonoloacutegico (ou queroloacutegico) morfoloacutegico sintaacutetico e semacircntico aleacutem de seus aspectos

pragmaacuteticosrdquo

De acordo com Quadros (2006 p 221)

pelo fato de as liacutenguas de sinais natildeo serem faladas e de natildeo terem o seu coacutedigo

escrito ainda popularizado entre os surdos natildeo as elimina das consideraccedilotildees

cientiacuteficas visto que apresentam uma organizaccedilatildeo estrutural e fazem parte da

constituiccedilatildeo cultural desses sujeitos ndash crescendo envolvendo e transmitindo

dinamicamente tradiccedilotildees socioculturais Portanto as liacutenguas de sinais fazem parte

do conjunto da linguagem humana com a diferenccedila de se apresentarem em uma

terceira modalidade a visuo-espacial

Reiterando-se que a Liacutengua de Sinais eacute uma liacutengua natural uma vez que estaacute veiculada

a um canal que natildeo eacute o oral-auditivo e sim visual esta garante uma percepccedilatildeo e articulaccedilatildeo

mais faacutecil mais coerente e confortaacutevel aleacutem de contribuir para o desenvolvimento linguiacutestico

cognitivo e social do surdo

Sobre as caracteristicas linguiacutesticas das Liacutenguas de Sinais vale ressaltar que Sousa

(2010) ao tratar dos aspectos visuais quanto agraves propriedades das Liacutenguas de Sinais enfatiza a

iconicidade e arbitrariedade relacionada ao signo linguiacutestico que satildeo inerentes agraves liacutenguas

naturais Sobre as definiccedilotildees dos fenocircmenos das liacutenguas estes remontam a eacutepoca de Platatildeo

filoacutesofo grego que tratava os fenocircmenos sobre a linguagem e a relaccedilatildeo dela com o mundo

Cita-se tambeacutem Craacutetilo Hermoacutegenes e Soacutecrates que foram interlocutores desta relaccedilatildeo

discutindo a ligaccedilatildeo existente entre nome ideia e coisa A abordagem dos trecircs se diferenciava

de forma que Craacutetilo defendia o conceito de iconicidade Hermoacutegenes de arbitrariedade

Soacutecrates por seu turno integrava as duas concepccedilotildees Esta diferenciaccedilatildeo tecido pelos trecircs

filosofos pode ser vislumbrada no trecho transcrito abaixo

Para Craacutetilo a liacutengua eacute o espelho do mundo o que significa que existe uma relaccedilatildeo

natural e portanto similar ou icocircnica entre os elementos da liacutengua e os seres por

eles representados Para Hermoacutegenes a liacutengua eacute arbitraacuteria isto eacute convencional pois

entre o nome e as ideias ou as coisas designadas natildeo haacute transparecircncias ou

similaridade Soacutecrates por sua vez tem o papel de fazer a integraccedilatildeo entre os dois

pontos de vista (WILSON amp MARTELOTTA 2010 apud SOUSA 2010 p 4)

84

A modalidade gestual-visual espacial pela qual a Liacutengua de Sinais eacute produzida e

reconhecida pela comunidade Surda leva muitas vezes as pessoas a pensarem que todos os

sinais satildeo desenho no ar do referente que representam Para melhor esclarecimento por

decorecircncia de sua natureza linguiacutestica a realizaccedilatildeo de um sinal pode sim ser motivada pelas

caracteriacutesticas do dado da realidade a que se refere poreacutem natildeo eacute regra Ou seja a maioria dos

sinais da LIBRAS eacute arbitraacuteria natildeo mantendo relaccedilatildeo de semelhanccedila alguma com seu

referente Portanto essa condiccedilatildeo possibilita o enriquecimento da flexibilidade e versatilidade

da liacutengua (BASSO 2011 p47)

Exemplos de sinais arbitraacuterios

Figura 6 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos que se refere agrave

arbitrariedade

BISCOITO PESSOA DESCULPA

Fonte Azevedo (2014)

A ideia de arbitrariedade da liacutengua se relaciona com a ideia de convenccedilatildeo que se

efetiva em todas as liacutenguas como Liacutengua de Sinais e na Liacutengua Portuguesa ilustra-se o

processo com os exemplos das palavras ldquobiscoitordquo ldquodesculperdquo e ldquopessoardquo O processo de

definiccedilatildeo destes termos ocorre de forma arbitraacuteria pois soacute nomes foram atribuiacutedos devido a

uma convenccedilatildeo que estabelece esse conceito e natildeo porque haacute uma relaccedilatildeo entre o som da

palavra e o objeto que ela designa (SALLES 2007 p 5)

No caso da Libras os exemplos citados de sinais foram criados sem sofrer influecircncia

da imagem dos objetos aos quais eles se referem O que mostra que mesmo que a Libras

tambeacutem apresenta a caracteriacutestica de arbitraacuterios (TEIXEIRA 2015 p 5)

Para compreender melhor a importacircncia da visualidade na Liacutengua de Sinais dos

Satereacute-Maweacute eacute relevante entender trecircs conceitos da teoria de Pierce sobre a iconicidade que

pode ser considerada a base dos sinais dessa comunidade os quais satildeoo siacutembolo o iacutendice e o

iacutecone Segundo Martelotta (2011) (apud TEIXEIRA 2015 p 2)

85

O siacutembolo de acordo com Peirce refere-se a determinado objeto representando-o

com base em uma lei haacutebito ou convenccedilatildeo estabelecendo uma relaccedilatildeo entre dois

elementos Para citar alguns exemplos a cruz eacute o siacutembolo do cristianismo e a

balanccedila o siacutembolo da justiccedila Uma caracteriacutestica importante do siacutembolo relaciona-se

ao fato de que ele eacute parcialmente motivado ou seja haacute entre o siacutembolo e o conteuacutedo

simbolizado alguns traccedilos relacionados ao objeto

Haacute uma diferenccedila fundamental entre o siacutembolo de um lado e o iacutendice e o iacutecone de

outro jaacute que nesses dois uacuteltimos haacute um niacutevel ainda menor de arbitrariedade No caso

do iacutendice ocorre uma relaccedilatildeo de contiguidade com a realidade exterior a fumaccedila

por exemplo eacute o iacutendice do fogo e a presenccedila de nuvens negras o iacutendice de chuva

iminente

O iacutecone por sua vez tem uma natureza imagiacutestica apresentando portanto

propriedades que se assemelham ao objeto a que se refere A fotografia de um

indiviacuteduo por exemplo eacute uma representaccedilatildeo icocircnica desse indiviacuteduo assim como o

mapa do Rio de Janeiro representa a cidade Assim um iacutecone eacute qualquer coisa que

seja utilizada para designar algo que lhe seja semelhante em algum aspecto

Nesta perspectiva Quadros (1997) traz a reflexatildeo sobre os efeitos da modalidade ou

seja o fato de a Liacutengua de Sinais serem visuoespacial em vez de auditiva-oral implica nas

diferenccedilas para a aquisiccedilatildeo do surdo e nesse sentido tem-se a questatildeo da iconicidade das

Liacutenguas de Sinais uma vez que a iconicidade se refere

A transparecircncia entre significado e o significante ou seja a relaccedilatildeo de identidade

entre a palavra (o sinal) e o seu sentido Por exemplo nas liacutenguas faladas agraves

onomatopeias satildeo consideradas por alguns autores como icocircnicas pois a produccedilatildeo

sonora bdquoreal‟ (do objeto ou do animal) eacute reproduzida na fala expressando certa

identidade (QUADROS 2011 p 22)

Vale ressaltar que a iconicidade vem sendo estudada a partir da pesquisa semioacutetica de

Charles Sanders Peirce (1999) filoacutesofo norte-americano contemporacircneo de Saussure

Segundo Teixeira (2015) Peirce em seus estudos sobre a Semioacutetica o signo tem a funccedilatildeo de

proporcionar uma ideia do mundo e tudo que cerca o indiviacuteduo estaacute rodeado de signos Como

explica o filoacutesofo

[] para que algo possa ser um Signo (expressatildeo ou representamento) esse algo

deve bdquorepresentar‟ [] alguma outra coisa chamada seu Objeto apesar de ser talvez

arbitraacuteria a condiccedilatildeo segundo a qual um Signo deve ser algo distinto de seu objeto

(PEIRCE 1999 apud TEIXEIRA 2015 p 5)

Ao direcionar essas definiccedilotildees para agraves liacutenguas de sinais Sousa (2010) afirma que

muitas vezes essas liacutenguas satildeo consideradas puramente icocircnicas por serem de uma

modalidade diferente acreditando-se acredita que os sinais satildeo criados sempre a partir da

86

representaccedilatildeo do referente Eacute certo que um sinal pode ser realizado de acordo com a

caracteriacutestica daquilo que se refere mas de acordo com Strobel amp Fernandes (1998 apud

Sousa 2010 p 4) ldquoisto natildeo eacute uma regra jaacute que a maioria dos sinais em Libras eacute arbitraacuterio ou

seja natildeo manteacutem uma relaccedilatildeo de similitude com o referenterdquo

Reconhece-se que algumas Liacutenguas de Sinais parecem ter maior motivaccedilatildeo icocircnica

apresentando relaccedilotildees entre a sua forma e o seu significado comumente observado nas

Liacutenguas de Sinais caseiras dos Satereacute-Maweacute Isso significa a relaccedilatildeo entre o referente e o

referenciado Alguns estudos como os de Meier (1981) citado por Lillo-Martin (1986)

apontam para uma aparente iconicidade nas liacutenguas de sinais o que justifica considerar as

variaccedilotildees regionais e sociais e as mudanccedilas histoacutericas como fenocircmenos identificaacuteveis na

Liacutengua Brasileira de Sinais o que lhe confere o caraacuteter natural (STROBEL amp FERNANDES

1998 apud SOUSA 2010)

Nesse contexto a iconicidade como caracteriacutesticas semelhantes ao iacutecone tem em

comum o objeto que representa Por ser uma liacutengua de modalidade visuoespacial a

iconicidade estaacute presente em grande parte dos sinais da Libras pois a relaccedilatildeo entre a ldquoformardquo

e o ldquosentidordquo eacute mais visiacutevel Salles (2007) em bdquoEnsino de liacutengua portuguesa para surdos

caminhos para a praacutetica pedagoacutegica‟ comenta

Um aspecto que se sobressai no contraste entre as modalidades viacutesuo-espacial e oral-

auditiva eacute a questatildeo da arbitrariedade do signo linguiacutestico Esse conceito estabelece

que na constituiccedilatildeo do signo linguiacutestico a relaccedilatildeo entre o significante (imagem

acuacutestico-focircnica) e o significado eacute arbitraacuteria isto eacute natildeo existe nada na forma do

significante que seja motivado pelas propriedades da substacircncia do conteuacutedo

(significado) Uma caracteriacutestica das liacutenguas de sinais eacute que diferentemente das

liacutenguas orais muitos sinais tecircm forte motivaccedilatildeo icocircnica Natildeo eacute difiacutecil supor que esse

contraste se explique pela natureza do canal perceptual na modalidade viacutesuo-

espacial a articulaccedilatildeo das unidades da substacircncia gestual (significante) permite a

representaccedilatildeo icocircnica de traccedilos semacircnticos do referente (significado) o que explica

que muitos sinais reproduzam imagens do referente na modalidade oral-auditiva a

articulaccedilatildeo das unidades da substacircncia sonora (significante) produz sequecircncias que

em nada evocam os traccedilos semacircnticos do referente (significado) o que explica o

caraacuteter imotivado ou arbitraacuterio do signo linguiacutestico nas liacutenguas orais (SALLES

2007 p 83)

Todavia os mesmos sinais icocircnicos possuem um grau de arbitrariedade na definiccedilatildeo

dos mesmos como explica Frydrych (2012)

Pode haver contudo sinais com diferentes graus de iconicidade Um sinal pode natildeo

se assemelhar ao objeto que representa pela forma mas apresentar de alguma

forma uma similaridade por meio de expressotildees faciais ou movimentos Um

exemplo eacute o sinal ldquotristerdquo que possui como configuraccedilatildeo de matildeo o sinal Y

localizada abaixo do queixo em movimento de meia lua O sinal nada tem a ver

com o que a palavra representa no entanto a expressatildeo facial de tristeza que

acompanha o sinal daacute indiacutecios de que seu significado pode natildeo ser muito agradaacutevel

87

[] Falar de sinais icocircnicos em Libras pode parecer comum no entanto o sinal de

ldquocasardquo por exemplo motivado pelo formato do telhado de uma casa eacute tambeacutem

usado para o sinal de ldquomorarrdquo que pode ser usado para ldquomoradiardquo em diferentes

formatos de residecircncia como por exemplo casa apartamento cabana etc Embora o

sinal possa ter sido motivado na sua criaccedilatildeo por um tipo de casa passou a ser usado

de forma muito mais abrangente Sendo isto muito comum nas liacutenguas de sinais Os

sinais passam a ser signos linguiacutesticos altamente arbitraacuterios e passam a integrar o

leacutexico da liacutengua (Apud PIVETTA et al 2013 p8)

Como tambeacutem salienta Silva (2012) que ao passar do tempo o sinal icocircnico perde sua

motivaccedilatildeo inicial passando a ser arbitraacuterio

[] a transparecircncia eacute relativa porque a forma dos objetos ou movimentos que

originaram o sinal pode variar no tempo perdendo a sua motivaccedilatildeo inicial Um

exemplo eacute o sinal ldquoleiterdquo que faz referecircncia ao ato de ordenha que hoje ainda pode

ser considerado um sinal icocircnico Todavia para as futuras geraccedilotildees a motivaccedilatildeo de

sua representaccedilatildeo tende a se tornar uma convenccedilatildeo o que faz com que o sinal passe

a ser arbitraacuterio e de valor simboacutelico Sinais como o de ldquoleiterdquo satildeo frutos de um

processo histoacuterico e com o passar do tempo natildeo representam mais os artefatos e

procedimentos atuais sendo percebidos e interpretados apenas por meio da

arbitrariedade e da convenccedilatildeo(Apud PIVETTA et al 2013 p8)

A seguir temos alguns exemplos de sinais icocircnicos na Libras satildeo os sinais ldquoaacutervorerdquo

ldquocadeirardquo ldquocasardquo constituiacutedos a partir de caracteriacutesticas da imagem dos objetos aos quais se

referem Enquanto o primeiro lembra a imagem do tronco e das folhas de uma aacutervore o

segundo lembra as pernas de uma pessoa representadas pelos dedos indicador e meacutedio e a

terceira lembra a imagem de um telhado ou de uma casa sentada no objeto em questatildeo

(SALLES 2007 p 83)

Figura 7 Caracteriacutesticas da imagem em Libras dos objetos aos quais se referem a

iconicidade

Fonte Azevedo (2014)

AacuteRVORE CADEIRA CASA

88

Figura 8 Caracteriacutesticas da imagem em Liacutengua de Sinais Satereacute-Maweacute dos objetos aos

quais se referem agrave iconicidade

Yara Wato Barco Libras

Fonte Azevedo (2014)

Man Beiju Libras

Fonte Azevedo (2014)

Kamunti hit Bilha Libras

Fonte Azevedo (2014)

89

Dessa maneira podem-se definir os sinais icocircnicos como aqueles que fazem alusatildeo agrave

imagem do seu significado natildeo implicando que todos os sinais satildeo iguais ou sinais icocircnicos

em todas as Liacutengua de Sinais cada grupo social absorve aspectos diferentes da imagem do

referente convencionando a representaccedilatildeo do sinal Os signos arbitraacuterios satildeo os que natildeo

trazem nenhuma relaccedilatildeo de semelhanccedila com o referente

90

6 INTERVENCcedilAtildeO E CONTRIBUICcedilAtildeO LINGUIacuteSTICA DO PROFESSOR SURDO

Os estudos sobre a educaccedilatildeo sistemaacutetica dos indiacutegenas surdos da etnia Satereacute-Maweacute

levaram agrave percepccedilatildeo da necessidade iminente de uma atuaccedilatildeo no processo ensino

aprendizagem desses sujeitos Desse modo apoacutes conhecer a realidade linguiacutestica e

educacional dos indiacutegenas surdos observados nas aldeias e na zona urbana de Parintins foi

possiacutevel intervir por meio do ensino da Liacutengua Brasileira de Sinais A intervenccedilatildeo foi feita

com o consentimento dos responsaacuteveis locais onde se faziam presentes acompanhando o

objeto da pesquisa - os indiacutegenas surdos Satereacute-Maweacute

Assim com a autorizaccedilatildeo da famiacutelia o primeiro contato foi estabelecido entre uma

crianccedila surda indiacutegena com professor tambeacutem surdo que ocorreu na residecircncia dela na zona

urbana do municiacutepio de Parintins cujo registro de imagem consta na Figura 9

Figura 9 Encontro da crianccedila surda Satereacute-Maweacute com o professor surdo

Fonte Azevedo (2014)

No contato foi possiacutevel verificar que a crianccedila natildeo conhecia a liacutengua Libras Sua

forma de comunicaccedilatildeo era com o uso dos siacutembolos ldquocaseirosrdquo Contudo ela respondeu ao

estiacutemulo de conversaccedilatildeo com muita facilidade buscando fazer a comunicaccedilatildeo As demais

observaccedilotildees e intervenccedilatildeo deram-se no ambiente educacional na Escola de Aacuteudio e

Comunicaccedilatildeo Padre Paulo Manna (Figura 10) Nesse contexto a crianccedila acompanhava com

atenccedilatildeo ao desempenho dos demais pares sempre atenta para compreensatildeo do conteuacutedo

comunicativo Ficou evidente a necessidade de um material de suporte escrito como recurso a

ser utilizado pelos docentes no processo ensino e aprendizagem

91

Figura 10 Contato com aluno Satereacute-Maweacute surdo no ambiente escolar

Fonte ndash Azevedo (2014)

Ocorreu tambeacutem o contato com o aluno surdo da Etnia Satereacute-Maweacute matriculado na

Escola Estadual Brandatildeo de Amorim em Parintins o qual foi feito em sua residecircncia dele A

conversa com ele foi feita fluentemente em Libras (Figura 10) Entretanto ao ser indagado

sobre a cultura a liacutengua falada de sua etnia natildeo soube responder Comprovou-se que o aluno

natildeo participa do contexto cultural da etnia por isso natildeo a conhece Por tal considera-se que o

material triliacutengue seria um recurso apropriado para promover o reconhecimento de muitos

signos que fazem parte da Liacutengua Satereacute-Maweacute

Figura 11 Contato com o aluno surdo Satereacute-Maweacute na Escola Estadual Brandatildeo de Amorim

Fonte ndash Azevedo (2014)

O contato com os familiares juntamente com professores indiacutegenas e inteacuterprete

linguiacutestica possibilitou ter uma visatildeo sobre o contexto comunicativo do indiacutegena surdo A

conversa com o pai do indiacutegena surdo na Aldeia de Santa Maria indicou a forma como

conseguem se comunicar com o filho desde o momento que perceberam que ele era surdo

Explicaram as dificuldades que tiveram no processo de entendimento com ele Confirmaram

92

que o aprendizado da liacutengua Libras indicando os signos que representam a cultura da etnia

seria muito importante para a comunicaccedilatildeo entre ele e os familiares eou educadores

Figura 12 Em viagem para aacuterea indiacutegena no Rio Marau ndash comunicaccedilatildeo com familiares

Fonte - Azevedo (2014)

O projeto da pesquisa foi apresentado na comunidade de Santa Maria para os

representantes da comunidade indiacutegena (Figura 12)

Figura 13 Apresentaccedilatildeo do projeto de pesquisa agraves lideranccedilas indiacutegenas na comunidade

Fonte Azevedo (2014)

Ressalta-se a importacircncia das lideranccedilas conhecerem e participarem do desenvolvimento

do projeto A relevacircncia desta participaccedilatildeo daacute-se em funccedilatildeo de que as mesmas contribuiram

informando vocabulaacuterios caracteristicos da regiatildeo que enriqueceram o minidicionaacuterio

triliacutengue Satereacute-MaweacutePortuguecircsLibras como pode ser evidenciado a seguir

93

Vocabulaacuterios e utensiacutelios indiacutegenas sinalizados em Libras

Liacutenguas

Satereacute-Maweacute Portuguecircs Libras

Mory‟ywat siomory‟awat Arco

Satereacute-Maweacute Portuguecircs Libras

T wa Aldeia

Ressalta-se a importacircncia do minidicionaacuterio ao considerar que o vocabulaacuterio contido no

mesmo poderaacute ser utilizado pelo indiacutegena surdo para ele aprenda a comunicaccedilatildeo utilizando os

signos que fazem parte da linguagem da etnia

E realizando uma mini oficina de Libras para professores da comunidade (Figura 6)

foi possiacutevel demonstrar o uso da Libras no contexto da sala de aula A participaccedilatildeo efetiva dos

mesmos proporcionou a troca de informaccedilotildees sobre o vocabulaacuterio da liacutengua indiacutegena

94

Figura 14 Desenvolvimento de oficina de Libras com professores indiacutegenas

Fonte Azevedo (2014)

Enfatiza-se que todo empenho em levar o conhecimento da Liacutengua Brasileira de Sinais

para os indiacutegenas surdos professores indiacutegenas familiares de surdos e comunidade manteve-

se em funccedilatildeo do ensejo de fazecirc-los conhecer e compreender a capacidade e modos dos

indiacutegenas surdos se comunicarem aleacutem de promover a aprendizagem da Libras em um lugar

de tatildeo difiacutecil acesso com pequenas escolas que sequer tecircm materiais didaacuteticos adaptados a

essa clientela Por este motivo considera-se que a contribuiccedilatildeo linguiacutestica em forma de um

minidicionaacuterio eacute um passo importante para levar aos indiacutegenas surdos a sua comunidade e o

nuacutecleo familiar destes o iniacutecio do resgate da sua liacutengua natural que eacute a Liacutengua Brasileira de

Sinais e a sua liacutengua nativa aleacutem de seus traccedilos culturais incluiacutedos no minidicionaacuterio

61 Libras e Liacutengua Satereacute-Maweacute intercacircmbio de construccedilatildeo sociocultural-linguiacutestico

Analisando a histoacuteria do povo surdo e do povo indiacutegena percebe-se uma trajetoacuteria

similar nas lutas por seus direitos culturais e linguiacutesticos Ambos tentam

fortalecer o conhecimento da proacutepria histoacuteria com seus acertos desacertos conflitos

e sucessos buscando a compreensatildeo do ator social como sujeito da histoacuteria e

possibilitando assim a construccedilatildeo de um projeto poliacutetico articulado com outros

setores que incremente as possibilidades de construccedilatildeo dos proacuteprios projetos de

uma vida melhor (HERNAIZ 2009)

Neste sentido destaca-se que esses indiviacuteduos satildeo esquecidos na realidade cultural do

paiacutes como se natildeo existissem enquanto cidadatildeos que tem as suas formas de produzir no

contexto social Mudar esta realidade faz-se fundamental Para tal Guerreiro (2009 p93)

argumenta que

Os direitos culturais satildeo por sua vez um campo complexo que inclui vaacuterios

conjuntos de direitos e garantias entre os quais me interessa destacar para essa

reflexatildeo os seguintes o reconhecimento da diversidade o exerciacutecio da identidade

como povos o uso restrito do idioma uma educaccedilatildeo proacutepria e o respeito pelo

patrimocircnio cultural

95

Os processos culturais linguiacutesticos entre os povos surdos e indiacutegenas surdos eacute uma

possibilidade bem proacutexima atraveacutes do intercacircmbio sociocultural-linguiacutestico que estaacute sendo

construiacutedo pois o surdo indiacutegena faz parte da cultura surda e tem cacircmbio com a cultura

indiacutegena e em muitos casos com a cultura do povo ouvinte

Todavia alguns aspectos da cultura surda satildeo desconhecidos pelo proacuteprio surdo

indiacutegena Por isso a necessidade de surdos indiacutegenas se relacionarem com seus semelhantes

surdos seja indiacutegena ou natildeo indiacutegena para que atraveacutes deste contato possa construir sua

identidade cultural da comunidade surda tornando conhecida sua cultura tribal por meio da

liacutengua de instruccedilatildeo a Libras No exemplo abaixo ilustra-se a percepccedilatildeo dessa realidade

Man ype Crueira Libras

Kui‟a Cuia Libras

Dessa forma conhecendo valorizando e respeitando sua cultura que eacute um patrimocircnio

cultural da sociedade

Logo a liacutengua em uso pelos iacutendios surdos seja ela a Liacutengua de Sinais Indiacutegena

ldquosinais emergentesrdquo ou a Liacutengua Brasileira de Sinais (como empreacutestimo sociocultural-

linguiacutestico) e a Liacutengua Satereacute-Maweacute devem ser valorizadas com respeito muacutetuo na

transmissatildeo de sua cultura Os indiviacuteduos que precisam se comunicar por meio delas lutam

96

pelo fortalecimento dessa inserccedilatildeo cultural pela construccedilatildeo de um futuro melhor e pelo

respeito aos direitos dos iacutendios localizados neste vasto territoacuterio Nesse sentido

A identidade cultural requer tambeacutem ela a alteridade como dialogicidade

intercultural No seu proacuteprio interior ela natildeo eacute nunca algo de compacto mas

apresenta toda uma seacuterie de relaccedilotildees no plano sincrocircnico e diacrocircnico com outras

culturas que lhes datildeo vida justamente pela sua diversificaccedilatildeo e discordacircncia por

mais que ela se obstine em realizar-se mediante a identificaccedilatildeo com alguns de seus

aspectos apenas com algumas formas culturais determinadas que se arvoram

oficiais e dominantes (PONZIO 2007 p179)

Para estes estudos a uniatildeo de esforccedilos que viabilizou a realizaccedilatildeo deste diagnoacutestico eacute

uma demonstraccedilatildeo clara de que eacute perfeitamente possiacutevel trilhar no mundo linguiacutestico

possibilitando a cada indiacutegena novos horizontes na comunicaccedilatildeo

97

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A presente pesquisa teve como foco principal o levantamento de indiacutegenas surdos nas

microrregiotildees do municiacutepio de Parintins da etnia Satereacute-Maweacute

Com base nas informaccedilotildees levantadas nas terras indiacutegenas e nas cidades onde vivem

os Satereacute-Maweacute evidenciou-se que as escolas de zonas rurais e comunidades que o iacutendio

surdo requenta natildeo possui uma educaccedilatildeo diferenciada especiacutefica a sua especificidade

A realidade encontrada no municiacutepio de Parintins para com os alunos iacutendios surdos

por ser em zona urbana jaacute apresenta um diferencial A escola dispotildee de sala de recursos para

alunos indiacutegenas surdos poreacutem dentro dessa realidade haacute falta de professores que dominem a

liacutengua nativa Satereacute-Maweacute para que a escola proporcione um aprendizado triliacutengue Liacutengua

Brasileira de Sinais Liacutengua Satereacute-Maweacute e Liacutengua Portuguesa na modalidade escrita

Nas escolas visitadas onde encontramos surdos foi observado falta de mateacuterias

visuais sala de recursos com atendimentos diferenciados para os alunos indiacutegenas surdos e

indiacutegenas surdos

Foram considerados no decorrer do texto aspectos da contextualizaccedilatildeo em que se deu

a pesquisa desde as discussotildees que antecederam a elaboraccedilatildeo do projeto passando pelas

parcerias que foram estabelecidas no decorrer do processo especialmente com as vaacuterias

organizaccedilotildees indiacutegenas Satereacute-Maweacute ateacute o desenvolvimento das condiccedilotildees que garantiram a

plena participaccedilatildeo da comunidade no decorrer das atividades de pesquisa Partindo da

enumeraccedilatildeo dos principais objetivos do projeto o relatoacuterio apresenta as aacutereas e localidades

cobertas o nuacutemero de domiciacutelios levantados e de moradores entrevistados assim como a

metodologia utilizada a operacionalizaccedilatildeo das atividades de campo o treinamento dos

entrevistadores o levantamento nas cidades e nas terras indiacutegenas a forma e a intensidade

como se desenvolveu a participaccedilatildeo das lideranccedilas e da comunidade como um todo

Durante a pesquisa a sociedade indiacutegena e natildeo indiacutegena juntamente com profissionais

da educaccedilatildeo da linguiacutestica e a proacutepria comunidade surda acompanharam a perspectiva para

uma nova trajetoacuteria destes os iacutendios surdos a qual reflete o reconhecimento linguiacutestico destes

como pessoas pertencentes agraves minorias linguiacutesticas

Ao analisar as questotildees linguiacutesticas nas aacutereas indiacutegenas das microrregiotildees de Parintins

verificou-se que a implantaccedilatildeo deste empreendimento representou como um novo modelo de

desenvolvimento para a comunicaccedilatildeo de indiacutegenas surdos nas comunidades indiacutegenas

98

Ressalta-se que cada municiacutepio onde existem membros da etnia Satereacute receberaacute como

retorno da pesquisa um minidicionaacuterio triliacutengue (Liacutengua de Sinais Liacutengua Satereacute-Maweacute e

Liacutengua Portuguesa) para intercacircmbio sociocultural-linguiacutestico

Este material tem a intenccedilatildeo de abrir o caminho para a participaccedilatildeo direta dos iacutendios

na construccedilatildeo de seu futuro Ele caracteriza uma mudanccedila da forma de olhar para os povos

indiacutegenas Agora eacute preciso trabalhar para que todas as comunidades e etnias possam produzir

seus diagnoacutesticos Todas elas precisam dispor das informaccedilotildees com as quais poderatildeo dar uma

direccedilatildeo a suas accedilotildees Nesse sentido deve haver iniciativas por parte do poder local para que o

governo e as entidades aliadas agraves causas indiacutegenas possam aproveitar as experiecircncias dos

vaacuterios pesquisadores sobre as causas dos Satereacute-Maweacute para ampliar esse tipo de trabalho

Satildeo diagnoacutesticos como este que iratildeo dar o norte para novos projetos e programas que

favoreccedilam realmente garantir a autonomia dos povos indiacutegenas

Finzaliza-se com a satisfaccedilatildeo de que a pesquisa presente contribuiu com um pequeno

passo no incentivo da conservaccedilatildeo e crescimento da identidade cultural-linguiacutestica do iacutendio

surdo

99

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103

ANEXOS

104

ANEXO A- Normas estabelecidas no ingresso em terras indiacutegenas pela FUNAI

Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio

INSTRUCcedilAtildeO NORMATIVA No 01PRESI DE 29NOVEMBRO1995

PRESIDENTE DA FUNDACcedilAtildeO NACIONAL DO IacuteNDIO - FUNAI

no uso de suas atribuiccedilotildees que lhe satildeo conferidas pelo estatuto aprovado pelo decreto no

564

de 08 de junho de 1992 tendo em vista o que consta do processo FUNAI BsB no210592

R E S O L V E

Art 1o Aprovar as normas que disciplinam o ingresso em Terras Indiacutegenas com finalidade de

desenvolver Pesquisa Cientiacutefica conforme documento em anexo

Art 2o Esta Instruccedilatildeo Normativa entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

Art 3o Revoga-se a Instruccedilatildeo Normativa no 001PRESI94 de 08 de abril

de 1994 como qualquer outro dispositivo em contraacuterio

MAacuteRCIO JOSEacute BRANDO SANTILLI

Presidente da FUNAI

ASSINADO NO ORIGINAL

Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio

ANEXO DA INSTRUCcedilAtildeO NORMATIVA No 001PRESI de 29 de novembro de 1995

Art 4o Todo e qualquer pesquisador nacional ou estrangeiro que pretenda ingressar em terras

indiacutegenas para desenvolver projeto de pesquisa cientiacutefica deveraacute encaminhar sua solicitaccedilatildeo

agrave Presidecircncia da FUNAI e no caso de requerimento coletivo deveraacute ser subscrito por um dos

membros do grupo como seu responsaacutevel Art 5o O pesquisador ou pesquisadores deveratildeo

anexar ao pedido do que trata o Art 1o a seguinte documentaccedilatildeo

I carta de apresentaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo a que o pesquisador estaacute vinculado e no caso de

estudantes de graduaccedilatildeo e poacutesgraduaccedilatildeo carta de apresentaccedilatildeo do orientador responsaacutevel

II projeto de pesquisa em portuguecircs detalhando a(s) terra(s) indiacutegenas na(s) qual(is)

pretende ingressar e cronograma

III curriculum vitae do(s) pesquisador(es) redigido em portuguecircs

IV coacutepia autenticada da Carteira de Identidade ou Passaporte quando se tratar de

nacionalidade estrangeira

V atestado individual de vacina contra moleacutestia endecircmica na

aacuterea

VI atestado meacutedico de natildeo portador de moleacutestia contagiosa

105

VII quando se tratar de pesquisador(es) de nacionalidade estrangeira exigir-se-aacute para a

efetivaccedilatildeo de seu ingresso na terra indiacutegena a obtenccedilatildeo de seu respectivo visto temporaacuterio

como prevecirc o artigo 22 do decreto no 86715 de 10 de dezembro de 1981 aleacutem do

cumprimento do disposto no decreto no 98830 de 15 de janeiro de 1990

Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio

Art 6o O pesquisador deveraacute encaminhar diretamente ao CONSELHO

NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO - CNPq o

projeto de pesquisa e curriculum

vitae

Art 7o A solicitaccedilatildeo do ingresso em terra indiacutegena por parte de pesquisadores nacionais ou

estrangeiros seraacute objeto de anaacutelise pela Coordenadoria-Geral de Estudos e Pesquisas - CGEP

uma vez instruiacutedo o processo com o parecer favoraacutevel do CNPq quanto ao meacuterito da pesquisa

proposta e apoacutes ouvidas as lideranccedilas indiacutegenas

Paraacutegrafo Uacutenico - A consulta agraves lideranccedilas indiacutegenas seraacute realizada pela FUNAI com a

presenccedila e participaccedilatildeo do pesquisador podendo este em caso de resposta positiva

permanecer na terra indiacutegena com autorizaccedilatildeo provisoacuteria ateacute a emissatildeo de uma definitiva

Art 8o No caso de negativa das lideranccedilas indiacutegenas quanto ao pleito do ingresso ou

quaisquer outros entraves levantados no decorrer da anaacutelise do processo ou em qualquer outra

etapa de desenvolvimento da pesquisa a CGEP encaminharaacute a questatildeo ao Conselho

Indigenista atraveacutes da presidecircncia do Oacutergatildeo

Art 9o Quando se tratar de pesquisa em espaccedilo territorial de ocupaccedilatildeo tradicional de iacutendios

isolados o pedido seraacute ainda objeto de exame e parecer preacutevio especiacutefico por parte do

Departamento de Iacutendios Isolados - DII FUNAI

Art 10 A presidecircncia da FUNAI poderaacute suspendera qualquer tempo as

autorizaccedilotildees concedidas de acordo com as presentes normas desde que

I seja solicitada a sua interrupccedilatildeo por parte da comunidade indiacutegena em questatildeo

II a pesquisa em desenvolvimento venha a gerar conflitos dentro da terra indiacutegena

III a ocorrecircncia de situaccedilotildees epidecircmicas agudas ou conflitos graves envolvendo iacutendios e natildeo-

iacutendios

Paraacutegrafo Uacutenico - Fica automaticamente prorrogada a autorizaccedilatildeo pelo prazo que a terra

indiacutegena objeto do projeto estiver interditada pelos motivos apontados no Art 10 inciso III

Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio

MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA

Art 11 Todos os pesquisadores estrangeiros ou nacionais que tiverem autorizaccedilotildees

concedidas para ingresso em terras indiacutegenas obrigar-se-atildeo a

I cumprir todos os preceitos legais vigentes notadamente os previstos na Lei no 6001 de

1o1273

II remeter agrave FUNAI relatoacuterio dos Trabalhos de campo em portuguecircs ateacute 6 (seis) meses apoacutes

o teacutermino da pesquisa onde poderatildeo constar sugestotildees praacuteticas que possam trazer benefiacutecios

para as comunidades indiacutegenas que poderatildeo ser consideradas pela FUNAI nas definiccedilotildees de

sua poliacutetica

III remeter agrave FUNAI 2 (dois) exemplares de publicaccedilotildees artigos teses e outras produccedilotildees

intelectuais oriundas das referidas pesquisas

Art 12 Nos casos de solicitaccedilatildeo de prorrogaccedilatildeo do prazo para continuidade do projeto de

pesquisa cientiacutefica na mesma terra indiacutegena caberaacute a Coordenaccedilatildeo Geral de Estudos e

Pesquisas - CGEP os seguintes procedimentos

I notificar junto ao setor competente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e

Tecnoloacutegico - CNPq a solicitaccedilatildeo

II consultar as lideranccedilas quanto ao retorno do pesquisador na terra indiacutegena

106

III observar o cumprimento do Art 8o por parte do pesquisador interessado do Iacutendio

Art 6o O pesquisador deveraacute encaminhar diretamente ao CONSELHO NACIONAL DE

DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO - CNPq o projeto de pesquisa e

curriculum vitae

Art 7o A solicitaccedilatildeo do ingresso em terra indiacutegena por parte de pesquisadores nacionais ou

estrangeiros seraacute objeto de anaacutelise pela Coordenadoria-Geral de Estudos e Pesquisas - CGEP

uma vez instruiacutedo o processo com o parecer favoraacutevel do CNPq quanto ao meacuterito da pesquisa

proposta e apoacutes ouvidas as lideranccedilas indiacutegenas

Paraacutegrafo Uacutenico - A consulta agraves lideranccedilas indiacutegenas seraacute realizada pela FUNAI com a

presenccedila e participaccedilatildeo do pesquisador podendo este em caso de resposta positiva

permanecer na terra indiacutegena com autorizaccedilatildeo provisoacuteria ateacute a emissatildeo de uma definitiva

Art 8o No caso de negativa das lideranccedilas indiacutegenas quanto ao pleito do ingresso ou

quaisquer outros entraves levantados no decorrer da anaacutelise do processo ou em qualquer outra

etapa de desenvolvimento da pesquisa a CGEP encaminharaacute a questatildeo ao Conselho

Indigenista atraveacutes da presidecircncia do Oacutergatildeo

Art 9o Quando se tratar de pesquisa em espaccedilo territorial de ocupaccedilatildeo tradicional de iacutendios

isolados o pedido seraacute ainda objeto de exame e parecer preacutevio especiacutefico por parte do

Departamento de Iacutendios Isolados - DII FUNAI Art 10 A presidecircncia da FUNAI poderaacute

suspendera qualquer tempo as autorizaccedilotildees concedidas de acordo com as presentes normas

desde que

I seja solicitada a sua interrupccedilatildeo por parte da comunidade indiacutegena em questatildeo

II a pesquisa em desenvolvimento venha a gerar conflitos dentro da terra indiacutegena

III a ocorrecircncia de situaccedilotildees epidecircmicas agudas ou conflitos graves envolvendo iacutendios e natildeo-

iacutendios

Paraacutegrafo Uacutenico - Fica automaticamente prorrogada a autorizaccedilatildeo pelo prazo que a terra

indiacutegena objeto do projeto estiver interditada pelos motivos apontados no Art 10 inciso III

Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA

Art 11 Todos os pesquisadores estrangeiros ou nacionais que tiverem autorizaccedilotildees

concedidas para ingresso em terras indiacutegenas obrigar-se-atildeo a

I cumprir todos os preceitos legais vigentes notadamente osprevistos na Lei no 6001 de

1o1273

II remeter agrave FUNAI relatoacuterio dos Trabalhos de campo em portuguecircs ateacute 6 (seis) meses apoacutes

o teacutermino da pesquisa onde poderatildeo constar sugestotildees praacuteticas que possam trazer benefiacutecios

para as comunidades indiacutegenas que poderatildeo ser consideradas pela FUNAI nas definiccedilotildees de

sua poliacutetica

III remeter agrave FUNAI 2 (dois) exemplares de publicaccedilotildees artigos teses e outras produccedilotildees

intelectuais oriundas das referidas pesquisas

Art 12 Nos casos de solicitaccedilatildeo de prorrogaccedilatildeo do prazo para continuidade do projeto de

pesquisa cientiacutefica na mesma terra indiacutegena caberaacute a Coordenaccedilatildeo Geral de Estudos e

Pesquisas - CGEP os seguintes procedimentos

I notificar junto ao setor competente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e

Tecnoloacutegico - CNPq a solicitaccedilatildeo

II consultar as lideranccedilas quanto ao retorno do pesquisador na terra indiacutegena

III observar o cumprimento do Art 8o por parte do pesquisador interessado

107

ANEXO B ndash Questionaacuterio para coleta de dados com professores de comunidades indiacutegenas

QUESTIONAacuteRIO

Nome Prof(a)Nordm Cel

Nome da escola

Tribo Etnia

Quantos alunos surdos iacutendio Serie Idade

Nasceu cognitiva ou adquirida

1 ndash Como eacute a forma de comunicaccedilatildeo entre o professor e o iacutendio surdo

( ) Escrita

( ) Oralizado

( ) Libras

( ) Satereacute Maweacute

2 ndash Qual liacutengua o surdo iacutendio tem mais facilidade de aprender

( ) Portuguecircs

( ) Satereacute Maweacute

( ) libras

3 ndash Qual eacute a metodologia de ensino

4 ndash Como o aluno surdo indiacutegena aprende na sala de aula Tem dificuldade ou facilidade

5 ndash Como e que liacutengua o aluno surdo se comunica com outro surdo se tiver e os demais alunos

ouvintes na sala aula

108

6 ndash Vocecirc jaacute observou a comunicaccedilatildeo entre o aluno surdo iacutendio com a famiacutelia Qual liacutengua

7 ndash Como o aluno surdo iacutendio se comunica com as pessoas da comunidade

8 ndash Qual eacute a reaccedilatildeo das pessoas ouvintes quanto o iacutendio surdo na comunidade

9 ndash Professor(a) qual sua opiniatildeo para melhoria de ensino da educaccedilatildeo de iacutendios surdos

10 ndash Qual eacute a importacircncia da liacutengua indiacutegena Satereacute Maweacute para o aluno surdo

11 ndash Fale sobre a cultura e historia dos Satereacute Maweacute o iacutendio surdo participa

109

ANEXO C ndash Autorizaccedilatildeo para pesquisa de campo em terras indiacutegenas

110

ANEXO C-1 ndash Autorizaccedilatildeo para pequisa de campo com uso de imagem permitido

111

ANEXO C-2 ndash Autorizaccedilatildeo para pequisa de campo com uso de imagem permitido

112

ANEXO D ndash Parecere pedagoacutegico da Aluna Indiacutegena Surda

(ESCOLA PADRE PAULOMANNA)

ESCOLA DE AacuteUDIO COMUNICACcedilAtildeO

Pe PAULO MANNA Mantida pela Diocese de Parintins CNPJ 045945370001-88 Av Naccedilotildees Unidas 1792 FoneFax (092) 3533-3456 69151-060 ndash PARINTINS-AMAZONAS-BRASIL

Parecer Pedagoacutegico

Helena Ferreira Arauacutejo 06 anos de idade aluna da Escola Pe Paulo Manna desde

marccedilo de 2013 mora na rua 4 nordm 298 no bairro da Uniatildeo

Segundo relatos da matildee a aluna nasceu de parto normal comeccedilou a andar aos trecircs

anos de idade e eacute descendente dos iacutendios Satereacute- Maueacute Os anos passaram e ela comeccedilou a

perceber que sua filha natildeo ouvia e nem falava pois jaacute tinha outros filhos e estes comeccedilaram a

falar e andar cedo Informou-nos que para se comunicar com ela fazia gestos ateacute ela entender

o que se tornava muito difiacutecil

Disse-nos que falaram para ela do trabalho desenvolvido na Escola Paulo Manna com

alunos surdos e resolveu procurar a escola pois o tempo estava passando e a menina natildeo

falava e ela natildeo sabia mais o que fazer para reverter a situaccedilatildeo e a sua filha ser como os outros

irmatildeos

Atualmente estuda numa turma de Preacute ndash Escolar (2ordm periacuteodo) eacute uma aluna surda No

ano passado quando chegou agrave escola nos primeiros dias chorava muito e ficava zangada se

escondia embaixo da mesa para que ningueacutem a incomodasse visto que natildeo estava adaptada

ao ambiente e aos poucos foi se adaptando e passou a conviver com os colegas ouvintes em

sala de aula

A aluna gosta de fazer suas atividades escolares tem boa coordenaccedilatildeo motorainterage

com os colegas reconhece cores e formas gosta de desenhar e daacute formas aos seus desenhos realiza atividades de leitura de imagem montagem com jogos de encaixe participa de

brincadeiras na quadra parque e brinquedoteca

Em alguns momentos quando quer alguma coisa do colega e este natildeo lhe daacute fica com

raiva chora e se isola Em outros momentos penso que por natildeo saber se comunicar com os

colegas fica um pouco retraiacuteda e torna-se um a receptora diferenciada que requer cuidados

no tocante agrave comunicaccedilatildeo principalmente de como chegar ateacute ela

Procuramos adaptar brincadeiras para envolver a aluna trazendo-a de volta para

participar das atividades e conversar com ela que nem tudo o que a gente quer podemos ter e

fazemos alguma brincadeira que ela goste e rapidinho ela volta a participar e se integrar ao

grupo

Sabemos que eacute difiacutecil para ela o processo ensino aprendizagem porque ela tem que ter

uma aprendizagem triliacutengue visto que tem que aprender a Liacutengua Indiacutegena+ Libras + Liacutengua

Portuguesa e jaacute eacute difiacutecil aprender duas mas natildeo impossiacutevel

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Neste ano de 2014 contamos com a ajuda da professora Caacutetia (surda) com aulas de

Libras No primeiro momento fica junto com os colegas ouvintes onde procuramos trabalhar

de forma biliacutengue (Portuguecircs + Libras) para que ela entenda o que estaacute sendo repassado em

sala de aula E o que se percebe eacute que a aluna nos daacute respostas precisas dentro dos objetivos

propostos Em outro momento a professora Caacutetia ensina agrave aluna os sinais em LIBRAS que eacute

a liacutengua oficial da pessoa surda trabalhando o concreto com ela ensinando-a com jogos

cartazes reaacutelias viacutedeos transformando tais atividades em aulas dinacircmicas e prazerosas

Dentro dessa realidade a aluna vai participando buscando se inserir nesse universo

cheio de duacutevidas e incertezas e noacutes professores procuramos fazer o melhor para que a aluna

se sinta bem no ambiente escolar visto que o processo ensino aprendizagem para uma crianccedila

de outra etnia natildeo eacute faacutecil pois segundo depoimentos de alguns indiacutegenas a aprendizagem

indiacutegena passa pela demonstraccedilatildeo observaccedilatildeo imitaccedilatildeo tentativa e erro e quando o aluno

vem para a escola tem que se socializar obedecer a comandos regidos pelo sistema e isso

muitas vezes o deixa confuso e os maiores ateacute desistem

Dessa forma satildeo necessaacuterias estrateacutegias de ensino diferenciadas que deem suporte para

que a aluna seja trabalhada de forma triliacutengue no contexto escolar para que ela natildeo perca a

sua essecircncia a sua cultura que sejam adaptados trabalhos de acordo com a realidade

indiacutegena para que ela natildeo perca a sua identidade e saiba conduzir sua aprendizagem dentro de

um contexto diferenciado podendo aprender o que lhe eacute de direito bem como viver bem em

sociedade

Parintins 14 de abril de 2014