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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DR. HEITOR VIEIRA DOURADO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL MESTRADO EM DOENÇAS TROPICAIS E INFECCIOSAS
CARACTERIZAÇÃO MOLECULAR DE AGENTES CAUSADORES DE CRIPTOCOCOSE ISOLADOS DE PACIENTES ATENDIDOS EM UMA UNIDADE
TERCIÁRIA DE SAÚDE DO ESTADO DO AMAZONAS
ANA KARLA LIMA FREIRE
MANAUS 2011
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ANA KARLA LIMA FREIRE
CARACTERIZAÇÃO MOLECULAR DE AGENTES CAUSADORES DE CRIPTOCOCOSE ISOLADOS DE PACIENTES ATENDIDOS EM UMA UNIDADE
TERCIÁRIA DE SAÚDE DO ESTADO DO AMAZONAS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas em convênio com a Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado, para obtenção do grau de Mestre em Doenças Tropicais e Infecciosas.
Orientador: Prof. Dr. João Vicente Braga de Souza Co-orientador: Prof. Dr. Bodo Wanke
MANAUS
2011
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FICHA CATALOGRÁFICA Catalogação na Fonte: Auxiliadora Queiroz Batista – Bibliotecária - CRB11/ 596.
F866c Freire, Ana Karla Lima . Caracterização molecular de agentes causadores de Criptococose Isolados de pacientes atendidos em uma unidade terciária de saúde do Estado do Amazonas / Ana Karla Lima Freire. – Manaus: UEA, 2011. 62 fl. : il ; 30 cm Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas para obtenção do grau de Mestre em Doenças Tropicais e Infecciosas.
Orientador: Profº. Dr. João Vicente Braga de Souza. Co-orientador: Prof°. Dr. Bodo Wanke. 1. Cryptococcus spp. 2. Genotipagem. 3. PCR-Fingerprinting.
4. URA5-RFLP. 5. ITS5/NL. I. Título. CDU 616.9
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FOLHA DE JULGAMENTO
CARACTERIZAÇÃO MOLECULAR DE AGENTES CAUSADORES DE CRIPTOCOCOSE ISOLADOS DE PACIENTES ATENDIDOS EM UMA
UNIDADE TERCIÁRIA DE SAÚDE DO ESTADO DO AMAZONAS
ANA KARLA LIMA FREIRE
“Esta Dissertação foi julgada adequada para obtenção do Título de Mestre em Doenças Tropicais e Infecciosas, aprovada em sua forma final pelo Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas em convênio com a Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado”.
Banca Julgadora:
______________________________________ Prof. João Vicente Braga de Souza, Dr.
Presidente
______________________________________ Profa. Ani Beatriz Jackisch Matsuura, Dra.
Membro
______________________________________ Profa. Maria das Graças Vale Barbosa, Dra.
Membro
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AGRADECIMENTOS A Deus pelo sopro da vida e pelos planos, dEle, cumpridos. Aos meus pais queridos, pelo imenso amor, paciência, incentivo e suporte em todos os momentos. Ao meu noivo por todo amor, compreensão, pelas orações que nunca cessam e por fazer tudo parecer mais simples. Ao meu orientador, Dr. João Vicente Braga de Souza, pela oportunidade, aprendizado, idéias, paciência, amizade e pela chance de conhecer essa grande pessoa. Ao meu co-orientador, Dr. Bodo Wanke pela chance de compartilhar de sua experiência, conhecimento e colaboração. À Dra. Júlia Ignez Salem pela imensa gentileza na realização e otimização deste trabalho, com suas críticas e sugestões. Às minhas amigas Ivanete Sampaio e Mirlane Santos, pelos ensinamentos sobre os procedimentos. Aos funcionários dos Laboratório de Micobacteriologia e Micologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, pelo pronto auxílio. Ao Laboratório de Micologia da Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado, onde tudo começou. À Universidade do Estado do Amazonas pela qualificação profissional oferecida. À Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado pela oportunidade concedida da utilização das instalações e materiais do Laboratório de Micologia. Ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia pela cedência do espaço nos testes de biologia molecular. Ao INCQS-RJ pelo envio das cepas fúngicas de referência para a realização desta pesquisa. À Suframa e Fundação Muraki pelo apoio na estrutura deste Programa de Pós-Graduação. À CAPES pelo auxílio financeiro. À FAPEAM pelo financiamento desta pesquisa através do edital n°.014/2006 PPSUS 2006.
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RESUMO
A Criptococose é uma micose sistêmica que acomete órgãos profundos e a pele, decorrente da aquisição de propágulos infectantes por via inalatória das espécies de leveduras patogênicas pertencente à classe dos Basidiomycetes e ao gênero Cryptococcus, afetando pacientes imunodeprimidos ou imunocompetentes. Embora a porta de entrada no hospedeiro humano seja o pulmão, o fungo apresenta tropismo pelo Sistema Nervoso Central (SNC), onde causa quadro grave de meningoencefalite. A partir do conhecimento de que existem 4 grupos moleculares de Cryptococcus neoformans (VNI e VNII, VNIII e VNIV) e 4 de C. gattii (VGI e VGII, VGIII e VGIV) vem se tornando importante a identificação dos grupos incidentes em diferentes regiões geográficas do mundo. Neste sentido foi investigado quais os tipos moleculares de 60 cultivos de Cryptococcus spp., isolados de pacientes atendidos em uma unidade terciária do Estado do Amazonas, entre 2006-2010. Os isolados foram caracterizados pela PCR-Fingerprinting utilizando o minissatélite M13 e confirmados por PCR-RFLP do gene URA5. Avaliou-se também um protocolo experimental de PCR-RFLP utilizando como alvo a região ITS do DNAr. A presença de genes sexuais específicos, com locus mating type (MATα e MATa) das espécies, foi analisada por PCR. Constatou-se que os pacientes em sua maioria são do sexo masculino (66,7%), com idade entre 16-30 anos (51,7%), portadores de HIV (75%) que apresentaram meningite (71,7%), cujos isolados de C. neoformans (66,7%) em sua maioria foram caracterizados como grupo molecular VNI (97,5%) e os de C. gattii como VGII (100%). Três isolados (5,0%) não puderam ser caracterizados por nenhum dos protocolos estudados e o protocolo experimental avaliado apenas discriminou 2 grupos moleculares de C. gattii (VGII e VGIII). Quanto aos mating types, 58 isolados foram do tipo α e apenas 2 foram do tipo a. C. neoformans do grupo molecular VNI é o principal agente etiológico. Entretanto, tem-se o encontro do grupo molecular VNII nunca antes relatado para a Região Norte do Brasil. Além do exposto, constatou-se que a nova metodologia sugerida para genotipagem utilizando como gene alvo a região ITS do DNAr caracterizou somente os 2 grupos moleculares de C. gattii.
Palavras-Chaves: Cryptococcus spp.; Genotipagem; PCR-Fingerprinting M13; URA5-RFLP; ITS5/NL4
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ABSTRACT Cryptococcosis is a systemic mycosis that affects deep organs and skin, resulting from the acquisition of infective propagules inhalation of pathogenic yeast species belonging to the class of Basidiomycetes and the genus Cryptococcus, affecting immunocompetent or immunocompromised patients. Althought the entrance to the human host is the lung, the fungus has tropism for Central Nervous System (CNS), where it causes severe meningoencephalitis. From the knowledge that there are four molecular groups of Cryptococcus neoformans (VNI and VNII, VNIII and VNIV) and four of Cryptococcus gattii (VGI and VGII, VGIII and VGIV) has become important to identify groups of incidents in different geographic regions worldwide. This effect was investigated what molecular types of 60 cultures of Cryptococcus species isolated from patients in a tertiary hospital in the State of Amazonas, Brazil, between 2006-2010. The isolates were characterized by PCR-Fingerprinting using M13 mini-satellite and confirmed by PCR-RFLP of the URA5 gene. An experimental protocol using PCR-RFLP targeting the ITS rDNA was also evaluated. The presence of specific genes with mating type locus ((MATα and MATa) species was analyzed using PCR. It was found that patients are mostly male (66.7%), aged 16-30 years (51.7%), HIV (75.0%) with meningitis (71.7%). Whose isolates of C. neoformans (66.7%) were mostly characterized as VNI molecular group (97.5%) and C. gattii (100.0%). Three isolates (5.0%) could not be characterized by any of the protocols under study and the experimental protocol evaluated only discriminated two molecular groups of C. gattii (VGII and VGIII). As for the mating types, 58 isolates were of type α and only two were type a. C. neoformans VNI molecular group was the main etiologic agent. However, there is the meeting of the VNII molecular group has never been reported for the northern region of Brazil. Besides the above, it was found that the new methodology suggested for genotyping using as a target gene of rDNA ITS region characterized only two groups of C. gattii. Key words: Cryptococcus spp., Genotyping, PCR-Fingerprinting M13, URA5-RFLP, ITS5/NL4.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Imagem do ciclo de infecção por Cryptococcus spp............................... 14 Figura 2. Imagem de leveduras do Gênero Cryptococcus..................................... 19 Figura 3. Imagem do cultivo de Cryptococcus em Ágar Sabouraud...................... 19 Figura 4. Imagem do cultivo de Cryptococcus em Ágar Níger com produção de melanina.................................................................................................................. 20 Figura 5. Imagem de cultivo de Cryptococcus em CGB, amarelo, C. neoformans e azul, C. gattii........................................................................................................ 20 Figura 6. Imagem da distribuição dos tipos moleculares de acordo com os Estados Brasileiros incluídos na análise................................................................. 25 Figura 7. Fluxograma da Reativação e Isolamento Fúngico.................................. 33 Figura 8. Fluxograma da Metodologia de Extração do DNA genômico................. 34 Figura 9. Fluxograma da PCR-Fingerprinting do Minissatélite M13...................... 35 Figura 10. Fluxograma da PCR-RFLP do gene URA5.......................................... 36 Figura 11. Fluxograma da PCR dos mating types................................................. 37 Figura 12. Fluxograma da PCR-RFLP da região ITS do DNAr.............................. 38
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Fatores de Virulência das espécies patogênicas de Cryptococcus....... 18 Tabela 2. Lista de cepas de referência utilizadas neste estudo, incluindo informações gerais, sorotipo (ST), mating type (MAT), tipo molecular (TM)........................................................................................................................ 29
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LISTA DE ABREVIATURAS
AIDS Acquired Immune Deficiency Syndrome
µm Microlitros
BC British Columbia
CEP Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos
CGB Canavanina-glicina-azul de bromotimol
CR3 Complement Receptor Type 3
DNA Desoxirribonucleic Acid
dNTP Desoxirribonucleosídeo Trifosfato
EDTA Ácido Etilenodiaminotetracético
EUA Estados Unidos da América
FAPEAM Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas
FMT-AM Fundação de Medicina Tropical do Amazonas
H Hora
HCl Ácido Clorídrico
HIV Human Immunodeficiency Virus
INPA Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
ITS Espaço Interno Transcrito
ITS5 Espaço Interno Transcrito 5
KCl Cloreto de Potássio
LCR Líquido Cefalorraquidiano
Mg Miligrama
MgCl2 Cloreto de Magnésio
Min Minuto
mL Mililitro
Nm Nanômetro
PCR Polymerase Chain Reaction
pH Potencial Hidrogeniônico
RAPD Random Amplified Polymorphic DNA
RFLP Restriction Fragment Length Polymorphism
Rpm Rotações por Minuto
S Segundo
SNC Sistema Nervoso Central
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Tris 2-amino-2-hidroximetilpropano-1,3-diol
U Unidade
UFC Unidade Formadora de Colônia
URA5 Urotidina Monofosfato Pirofosforilase 5
UV Ultravioleta
V Volts
VGI, VGII, VGIII, VGIV Variedade gattii do tipo I, II, III e IV
VNI,VNII, VNIII, VN IV Variedade neoformans do tipo I, II, III e IV.
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO................................................................................................. 12
1.1 O Microrganismo........................................................................................... 12 1.2 A doença....................................................................................................... 13 1.3 Fatores de Virulência.................................................................................... 16 1.4 O Diagnóstico Laboratorial............................................................................ 18 1.5 A Epidemiologia e Grupos Moleculares........................................................ 21
2. OBJETIVOS..................................................................................................... 27 2.1 Geral.............................................................................................................. 27 2.2 Específicos.................................................................................................... 27 3. MATERIAIS E MÉTODOS............................................................................... 28 3.1 Modelo de Estudo......................................................................................... 28 3.2 Universo de Estudo....................................................................................... 28 3.3 Procedimentos.............................................................................................. 29 3.4 Características dos Pacientes....................................................................... 39 4. RESULTADOS.................................................................................................
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5. CONCLUSÃO..................................................................................................
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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................
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7. ANEXOS.......................................................................................................... 64
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1 INTRODUÇÃO 1.1 O Microrganismo
Os estudos com Cryptococcus tiveram início em 1894, na Itália, quando Sanfelice registrou o primeiro isolado deste fungo a partir de suco de pêssego,
chamando-o de Saccharomyces neoformans1. No mesmo ano, foi relatada uma
infecção pela levedura em um paciente alemão, sendo a referida levedura chamada
de Saccharomyces hominis. Entretanto, observações posteriores demonstraram a
ausência dos ascóporos característicos do gênero Saccharomyces 2.
Atualmente, esta levedura capsulada é taxonomicamente descrita como
fazendo parte da Classe Basidiomycetes, Família Cryptococcaceae e gênero
Cryptococcus3. O gênero engloba mais de 50 espécies que se caracterizam
morfologicamente por se apresentarem na forma de levedura esférica, que variam
de 4 a 10 µm de diâmetro, possuem cápsula e reproduzem-se assexuadamente por
brotamento4.
As leveduras das espécies de Cryptococcus podem formar hifas verdadeiras
durante reprodução sexuada, mas não são considerados fungos dimórficos
verdadeiros, porque a fase filamentosa é apenas transitória, surgido após fusão
entre dois mating types: a e α resultando no estágio sexuado do fungo denominado
Filobasidiella spp5. Como patógenos, apresentam-se como intracelulares
facultativos, os quais fisiologicamente são capazes de tolerar desde baixas
temperaturas ambientais, à temperatura corpórea dos mamíferos (37°C)6.
As espécies patogênicas do gênero Cryptococcus atualmente são
classificadas em duas: C. neoformans e C. gattii. Passoni (1999) descreveu que C.
neoformans tem a capacidade de colonizar a mucosa do sistema respiratório de
pombos (Columba spp.), sem causar doença, comportando-se como endosaprófitas
naturais destas aves. A peculiar adaptação de pombos aos centros urbanos
proporciona o isolamento do fungo em fontes ambientais, inclusive em poeira
domiciliar7. Já C. gattii é encontrado isolado em espécies de árvores, principalmente
Eucalyptus camaldulensis8.
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As duas espécies foram classificadas em cinco sorotipos: Cryptococcus
neoformans (sorotipos A, D e o híbrido AD) de distribuição cosmopolita e encontrada
com facilidade em hábitat de pombos (Columba spp.), e Cryptococcus gattii
(sorotipos B e C) predominante em regiões tropicais e subtropicais e originalmente
encontrado em restos vegetais de Eucalyptus camaldulensis 9,10,11,12.
Os sorotipos B e C (C. gattii) são hábeis em infectar e causar doenças em
hospedeiros imunocompetentes, enquanto que os sorotipos A e D (C. neoformans)
ocorrem em pacientes imunocomprometidos, principalmente naqueles infectados
pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) 13.
Litvintseva et al. (2007)14 explicam que o sorotipo AD é um híbrido das
variedades A e D. Ao contrário do que se pensava, a infecção por esse sorotipo
parece ser comum. Em estudo, realizado na América do Norte, foi relatado que 7,5%
dos isolados ambientais eram sorotipo AD14. Na Europa, Dromer et al. (2007)15
observaram que 30% dos isolados pertenciam também a esse sorotipo. No Brasil a
presença do sorotipo AD foi relatada por Nishikawa et al. (2003)11, isolado tanto em
amostras de origem clínica como ambientais.
1.2 A Doença
A Criptococose, antigamente conhecida como torulose ou blastomicose
Européia, é uma micose sistêmica que acomete órgãos internos e a pele14.
O primeiro caso de infecção humana provocada por C. neoformans foi
detectado há pouco mais de 100 anos por Busse e Buschke na Alemanha.
Entretanto, a Criptococose começou a receber atenção especial a partir da década
de 80, com o aumento da população imunocomprometida decorrente da pandemia
de HIV e uso de agentes imunossupressores, para a terapia do câncer ou
transplantes de órgãos. Por esta razão, a Criptococose oportunista transformou-se
em uma infecção relativamente comum neste começo de milênio16.
Quanto à patogenia, a doença caracteriza-se pela inalação de basidiósporos
ou leveduras desidratadas infectantes que chegam até os espaços alveolares. A
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progressão da infecção para as formas sintomáticas depende da competência
imunológica do indivíduo, da virulência do isolado e da quantidade do inóculo
fúngico inalado (Figura 1)17.
Figura 1. Imagem do ciclo de infecção por Cryptococcus spp. Fonte: www.bmolchem.wisc.edu
Mecanismos de defesa do organismo, através da ativação de macrófagos,
normalmente são suficientes para uma satisfatória e protetora resposta do
hospedeiro. Entretanto, os fatores de virulência podem tornar a resposta imunológica
ineficaz, permitindo a infecção pulmonar, bem como a subseqüente disseminação do
fungo para outros órgãos e sistemas, em especial ao Sistema Nervoso Central
(SNC)18,19.
Uma maior susceptibilidade de infecção pelo fungo é manifestada por
alterações da imunidade celular ou humoral. A infecção pulmonar é o sintoma
preliminar da aquisição da Criptococose, resultando em doença pulmonar
progressiva ou foco pulmonar assintomático, que pode conduzir à disseminação
hematogênica e mais freqüentemente à infecção do SNC ou comprometimento
cutâneo. A infiltração nodular pulmonar é o achado clínico mais freqüente da
Criptococose pulmonar20.
O neurotropismo de C. neoformans vem sendo associado com sua
capacidade em utilizar as catecolaminas (adrenalina, noradrenalina e dopamina)
como substratos necessários ao seu desenvolvimento. Isto justifica o fato de que as
ÁÁrrvvoorreess oouu OOccooss EExxccrreettaass
EEssppoorrooss IInnaallaaççããoo PPuullmmõõeess
IInnssttaallaaççããoo nnooss aallvvééoollooss
DDiisssseemmiinnaaççããoo ppaarraa oo SSiisstteemmaa NNeerrvvoossoo
CCuullttuurraa PPoossiittiivvaa
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áreas cerebrais ricas em catecolaminas são as mais afetadas pelo Cryptococcus
durante a meningoencefalite, quadro prevalente da doença17,21.
O quadro de meningoencefalite varia de acordo com o quadro geral de saúde
dos indivíduos acometidos. Em pacientes imunocomprometidos, as manifestações
clínicas são agudas e predominantes, e em pacientes sem comprometimento
imunológico tendem a ser mais crônicas22.
A Criptococose é a infecção fúngica mais frequente e fatal em pacientes com
aids e a terceira causa de doença oportunista do SNC. Estudos multicêntricos
internacionais demonstraram que a taxa de mortalidade dos pacientes acometidos
de HIV aproximou-se de 69%, sendo que a maioria dos pacientes que foram ao
óbito, ocorreu nos primeiros 30 dias de co-infecção23. Sua prevalência varia de 2,9 a
13,3% representando importante causa de mortalidade na aids, apesar do
tratamento específico23,24.
Em indivíduos hígidos, as respostas imunológicas celular e humoral delimitam
a contaminação pela espécie C. neoformans, caracterizando um quadro
assintomático da doença. A resistência da infecção depende da sensibilização
prévia de linfócitos e posterior ativação de macrófagos e neutrófilos, além de uma
resposta humoral mediada por anticorpos opsonizantes25.
Quanto ao perfil característico dos indivíduos acometidos por Criptococose,
estudos prospectivos realizados na região Sudeste do Brasil, no período entre 1998
e 2003 relataram a presença de 96 pacientes com diagnóstico clínico-laboratorial de
Criptococose, sendo que destes a maior predominância (81,3%) foi de pacientes
portadores de aids26.
Em recentes estudos brasileiros sobre o perfil epidemiológico dos pacientes
acometidos com Criptococose por C. neoformans, constatou-se que a maioria dos
pacientes era do sexo masculino, com faixa etária de 30 a 39 anos e portadores de
HIV27,28 e que casos de infeçcão por C. gattii acometia pacientes sem
imunocomprometimento evidente29.
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1.3 Fatores de Virulência
Os fatores de virulência estão abaixo e relacionados na Tabela 1.
1.3.1 A cápsula
A patogenicidade é determinada pela cápsula do Cryptococcus, composta
principalmente pelo polissacarídeo glicuronoxilmanana4. Este fator de virulência
impede a fagocitose e ativação do sistema complemento16. O processo fagocítico é
impelido, uma vez que o potencial zeta negativo dos componentes capsulares
decorre, e isto provoca repulsão eletrostática entre o fungo e os macrófagos30.
No meio ambiente, a cápsula possibilita a sobrevivência em condições de
baixa umidade, protegendo a levedura contra alta desidratação31.
A cápsula criptocócica fornece uma barreira física em torno da parede fúngica
e modula respostas imunes do hospedeiro em diversos níveis. O material capsular
está relacionado tanto com alterações na eficiência do processo fagocítico fúngico,
quanto com a resistência à destruição da parede celular pelos efeitos imunes,
redução na produção de citocinas pró-inflamatórias e a apresentação dos antígenos
aos linfócitos T. Este fator de virulência, ainda interfere, no funcionamento dos
componentes do complemento impossibilitando a ligação aos receptores CR3 dos
leucócitos o que prejudica a resposta humoral30,32.
1.3.2 Lacase e Melanina
As colônias de Cryptococcus, quando semeadas em Ágar Níger apresentam coloração marrom, isso foi observado pela primeira vez, em 1962 por Staib33.
Porém, o mecanismo pelo qual ocorria a produção desse pigmento, no entanto, não
havia sido estabelecido ainda33,34. Todavia, desde então, a detecção da melanina
em meio de cultura tem sido utilizada para isolamento, purificação e identificação
desse microrganismo em laboratórios de análises clínicas4.
A melanina é um fator de virulência muito estudado no gênero Cryptococcus.
Esta é um pigmento carregado negativamente, que resiste à degradação em pH
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ácido4. Ela é responsável pela proteção da célula fúngicas, contra a ação fagocitária
dos macrófagos, atuando como antioxidante, além disso, inibe a produção de TNF-
α, citocina importante para desencadeamento da resposta imune celular35.
Tanto C. neoformans quanto C. gattii secretam a lacase, enzima dependente
de cobre, substância que catalisa a formação de melanina, quando estes
microrganismos crescem em substratos contendo compostos difenólicos5, incluindo
as catecolaminas4.
Um estudo de interrupção gênica revelou que cepas selvagens de
Cryptococcus são mais virulentas que seus mutantes albinos21, portanto a melanina
é importante na patogenicidade da Criptococose.
1.3.3 Mating Types
Cryptococcus spp. possuem dois tipos sexuais ou mating types (MAT)
complementares: MATa e MATα3.
C. neoformans e C. gattii se reproduzem assexuadamente por brotamento,
estando a grande maioria dos isolados clínicos e ambientais presentes na forma
anamórfica haplóide. Apesar disso, essa levedura pode se reproduzir
sexuadamente, correspondendo ao estado perfeito, sendo este estágio denominado
de Filobasidiella neoformans e F. bacillispora, correspondente aos anamorfos C.
neoformans e C. gattii, respectivamente3,36,37.
O MATα apresenta maior prevalência tanto em amostras clínicas como
ambientais2,4,38. Essa maior prevalência do mating type α sugere que ele tenha
vantagem seletiva permitindo maior sobrevivência do fungo no meio ambiente e
também maior virulência39.
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Tabela 1. Fatores de Virulência das espécies patogênicas de Cryptococcus.
Fator de Virulência Funções no Ambiente
Funções na Patogênese
Cápsula Prevenção da dessecação
Proteção contra predadores ameboides
Anti-fagocítico
Imunomodulador
Lacase Degradação da Lignina
Proteção contra luz ultravioleta
Interferência no stress oxidativo
Resistência à morte oxidativa
Melanina Tolerância ao calor e frio
Redução da susceptibilidade à degradação enzimática
Antifagocítico
Imunomodulador
Fosfolipase Função Nutricional (ainda indefinida) Crescimento intracelular
Proteases Função Nutricional Dano Tecidual
Urease Captação de Nitrogênio Crescimento intracelular
Mating Type Reprodução Sexual Regulação dos Fatores de Virulência
Fonte: Casadevall et al., 200330.
1.4 O Diagnóstico Laboratorial
As leveduras de Cryptococcus spp. podem ser visualizadas facilmente em
espécimes clínicos como líquido cefalorraquidiano (LCR), escarro, lavado brônquico,
urina e outros tipos de secreções ou fluidos, por microscopia óptica contendo tinta
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da China. Nesta coloração, visualiza-se a levedura no interior da cápsula (Figura 2),
uma vez que esta contrasta com a tinta40.
Figura 2. Imagem de leveduras do Gênero Cryptococcus. Fonte: www.adam.com
A microscopia é positiva quando há 103 ou 104 UFC/mL de células fúngicas.
O diagnóstico laboratorial através do teste da tinta da China tem sensibilidade de 70-
90% dos pacientes com aids, porém cai para somente 50% em pacientes
imunocompetentes17.
C. neoformans pode ser isolado em meios de cultivo que contenham uma
fonte de carbono, nitrogênio e oxigênio41, produzindo colônias brancas mucóides
(dependendo da espessura da cápsula), usualmente após 48 e 72 h (Figura 3).
Figura 3. Imagem de cultivo de Cryptococcus em Ágar Sabouraud. Fonte: Acervo Pessoal
As espécies do gênero Cryptococcus tem atividade de urease. A
patogenicidade de C. neoformans está relacionada com a sua capacidade de
crescer a 37 ºC. No entanto, a temperatura ótima de crescimento está entre 30-
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35ºC. Em meios de cultura como o ágar níger, a presença de compostos difenólicos
propicia a produção de lacase que leva à formação de melanina (Figura 4), que pode
ser observada pelo aparecimento de coloração marrom nas colônias33.
Figura 4. Imagem de cultivo de Cryptococcus em Ágar Níger com produção de melanina. Fonte: Acervo Pessoal
Alguns sorotipos de C. neoformans podem ser diferenciados pela reação de
coloração quando cultivados em meio ágar CGB, pois C. gattii é resistente à
canavanina e utiliza a glicina como fonte de Carbono e Nitrogênio, modificando o pH
do meio, deixando-o alcalino. O azul de bromotimol funciona como um indicador da
mudança de pH, modificando a coloração do meio, de amarelo para azul,
caracterizando C. gattii, diferenciando de C. neoformans (Figura 5)42.
Figura 5. Imagem de cultivo de Cryptococcus em CGB, amarelo, C. neoformans e azul, C. gattii. Fonte: Severo LC. In: Consenso em Criptococose, 200843.
Inúmeras técnicas baseadas na análise do DNA têm sido utilizadas para
estudos de detecção, caracterização, filogenia e epidemiologia do gênero
Cryptococcus. Essas técnicas incluem análises RFLP (fragmentos de DNA gerados
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por enzimas de restrição). Em 1997, ao utilizar esta metodologia, Franzot et al.44 ao
analisarem a diversidade genética de isolados C. neoformans do Brasil e da cidade
de Nova York (EUA), através do perfil de RFLP da seqüência do gene URA5,
sugeriram uma dispersão global de certos isolados patogênicos.
1.5 A Epidemiologia e Grupos Moleculares
Cryptococcus neoformans possui distribuição geográfica mundial,
freqüentemente associa-se a habitat de aves, excretas secas, ricas em fontes de
nitrogênio, como uréia e creatinina. Uma vez que tenha condições favoráveis para o
seu crescimento abundante, esta levedura forma microfocos, notadamente em
centros urbanos e relacionados a pombos45.
C. neoformans é mais comum no continente europeu, embora tenha
distribuição mundial, onde mais de 30% dos casos da doença são causados por
essa espécie2. Países como Suíça, Alemanha, Áustria46 e França47 já informaram
sobre seu isolamento.
A Criptococose neoformans ocorre como primeira manifestação oportunista
em cerca de 4,4% dos casos de aids no Brasil48. Esta micose sistêmica associada à
aids predomina nas regiões, Sul, Sudeste e Centro-oeste do Brasil 49,50,51. Por outro
lado, Cryptococcus neoformans é capaz de causar infecção fatal em indivíduos
aparentemente normais52.
Todavia, esta espécie já foi encontrada no Brasil, sendo isolada de árvores
em diferentes localidades53,54,55: Rio de Janeiro (RJ), em Teresina (PI), em Boa Vista
e Ilha de Maracá (RR), no interior do Amazonas e na Cidade de São Paulo56.
Espécies de C. neoformans são isoladas com maior freqüência na Europa e
América do Sul. No Brasil, por ser área endêmica desta espécie, há um grande
interesse em se determinar os genótipos dos isolados deste fungo3,49,54,57.
A Criptococose por Cryptococcus gattii ocorre na América Latina, em países
como Argentina, Brasil, Venezuela11, Peru e Colômbia58,59. No Brasil, principalmente
nas regiões Norte e Nordeste, estudos clínico-epidemiológicos vem mostrando a
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importância dessa espécie que acomente o SNC de adultos jovens e crianças, com
alta letalidade60. Sabe-se que Criptococose gattii pode ocorrer em áreas de clima
temperado e apresentar-se sob forma de surtos. Em áreas, onde há alta pressão
endêmica por C. gattii, observa-se significativa associação deste agente com aids50.
Em estudo prévio, na Região Norte do Brasil, realizado na Fundação de
Medicina Tropical do Estado do Amazonas, Santos (2000)61 relatou que a frequência
da Criptococose infantil entre os anos de 1988-1998, representou uma significante
fração dentre os casos reportados (33%, n=75), dado este realmente preocupante,
frente à vasta região de florestas, um dos hábitats deste fungo.
Um recente surto de infecção por Cryptococcus gattii, no clima temperado da
Ilha de Vancouver, British Columbia (BC), Canadá, deflagrou o início e a
colaboração de pesquisadores no esforço de investigação deste distúrbio em
relação às descrições geográficas, demográficas e microbiológicas, referenciando as
características clínicas dos casos de Criptococose, bem como identificar possíveis
reservas ambientais responsáveis pelo surto. Como a maioria dos pacientes eram
imunocompetentes, a infecção criptocócica foi listada como doença notificável em
BC, Canadá62.
A partir de então, muitos questionamentos foram surgindo em relação à
virulência da espécie de Cryptococcus que gerou a epidemia em BC. Por isso,
ferramentas moleculares foram utilizadas para caracterizar o genótipo envolvido no
surto. Os estudos genotípicos utilizando PCR-Fingerprinting e PCR-RFLP realizados
por Meyer et al. (1999)63 conseguiram distinguir oito genótipos, sendo 4 de C.
neoformans (VNI e VNII, VNIII e VNIV) e 4 de C. gattii (VGI e VGII, VGIII e VGIV).
Após as análises que reproduziram a metodologia de Meyer et al. (1999)63, um
estudo posterior constatou que VGII era o grupo molecular causador do surto na Ilha
de Vancouver62.
As técnicas moleculares de tipificação incluem a PCR-Fingerprinting onde um
lócus de polimorfismo no DNA é amplificado gerando diferentes fragmentos que
geram diferentes padrões de bandas de DNA e podem ser relacionados com uma
espécie, variedade ou linhagem. A técnica de RAPD (Random Amplified
Polymorphic DNA) é um fingerprinting que utiliza sequências arbitrárias que geram
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diferentes padrões de amplificação, os quais permitem no caso de Cryptococcus
spp. discriminar grupos moleculares e também são utilizados em estudos
epidemiológicos64,65.
A metodologia proposta por Meyer et al. (1999)63 propuseram a tipagem
molecular de Cryptococcus spp. através do PCR-Fingerprinting que utilizou como
primer uma seqüência obtida do “núcleo” do fago M13 para detectar seqüências
minissatélites hipervariadas existentes no genoma da levedura. Este protocolo
permitiu a separação dos isolados de C. neoformans e C. gattii em oito grandes
grupos moleculares, como já foi mencionado.
Em 2003, um dos primeiros grandes estudos multicêntricos de caracterização
molecular de espécies de Cryptococcus foi realizado pelo Ibero American
Cryptocococcal Study Group, que envolveu oito países da America Latina e a
Espanha. O minissatélite M13 foi utilizado para diferenciação dos grupos
moleculares das espécies e a confirmação dos mesmos ocorreu por análises de
Restriction Fragment Length Polymorphism (RFLP) do Gene Urotidina Monofosfato
Pirofosforilase (URA5), o qual demonstrou a prevalência de VNI dentre as cepas de
Cryptococcus neoformans66.
Muitos estudos utilizando a classificação de Meyer et al. (1999)63 foram
realizados em diversas partes do mundo. Na Austrália, um estudo de 61 isolados
clínicos e 49 ambientais (isolados de eucaliptos e outras árvores) de C. gattii revelou
que 92% dos clínicos pertenciam ao genótipo VGI e 100% dos ambientais isolados
de eucaliptos, eram VGI, além disso, três isolados clínicos e um ambiental de outra
árvore, que não o eucalipto, foi VGII e apenas um isolado clínico foi VGIII67.
Na Índia, o genótipo VNI mostrou-se predominante ocorrendo em 89% dos 57
isolados clínicos, os genótipos VNIV e VGII também foram encontrados, com
porcentagens de 2% e 9%, respectivamente68.
Em Barcelona, Espanha, o tipo VNI ocorreu em todos os 22 isolados
escolhidos randomicamente para genotipagem, todos foram provenientes de
amostras do solo misturadas a excrementos de pombos69.
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13
Na América Latina, Meyer et al. (2003)66, ao estudarem 304 cepas de
Cryptococcus spp. do Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, México, Peru, Venezuela,
Guatamela e Espanha, encontraram o genótipo VNI em 68,2% dos isolados e o
genótipo VNII, em pequena proporção (5,6%) seguido do genótipo VNIII (sorotipo
AD) com 4,1% e do VNIV, com 1,8%. Já o genótipo VGI foi encontrado em 3,5% dos
isolados, VGII, em 6,2%, VGIII em 9,1% e VGIV em 1,5%. O Brasil participou do
estudo com 66 cepas. Dessas 82,3% foram VNI, 3% VNII e 13,6% VGII66.
Em relação aos estudos realizados no Brasil, Casali et al. (2003)38 ao estudar
105 cepas clínicas e 19 ambientais relataram que o genótipo VNI era o mais comum
na região sul do Brasil (89,3%), seguido pelo genótipo VGI (8,9%) e VNIV (7,3%), ao
qual pertenciam todos os isolados obtidos de Eucalyptus spp. O estudo de Abegg et
al. (2006)9, no Rio Grande do Sul, relatou que todos os genótipos de C. neoformans
foram VNI, já os C. gatiii, VGI9.
Já em 2008, Trilles e colaboradores70 realizaram um estudo verificando a
distribuição dos tipos moleculares de C. neoformans e C. gattii em todo o Brasil, a
fim de correlacionar os genótipos com as regiões geográficas e condições dos
hospedeiros. Foram analisados 443 isolados, sendo 320 de C. neoformans e 123 de
C. gattii, de todas as regiões do Brasil, representadas por onze Estados. Os tipos
moleculares mais comuns foram VNI (64%) e VGII (21%), seguido por VNII (5%),
VGIII (4%), VGI e VNIV (3% cada), e VNIII (< 1%). O tipo molecular VGIV não foi
identificado dentre os isolados estudados no Brasil. O estudo revelou ainda que o
genótipo VGII ocorreu predominantemente na macrorregião nordeste, e o VNI na
macrorregião sudeste, como ilustra a Figura 6. Do Estado do Amazonas foram
obtidos 12 isolados e os tipos moleculares identificados foram VNI e VGII70.
Em recente estudo realizado por Silva (2009)71, na Fundação de Medicina
Tropical do Amazonas, foram realizadas tanto a feno quanto a genotipagem de 40
isolados clínicos, sendo que usando o meio CGB (Canavanina-Glicina-Azul de
Bromotimol), foi observado que 75,5% (n=31) e 22,5% (n=9) dos isolados eram
Cryptococcus neoformans e Cryptococcus gattii, respectivamente. Já a PCR-
fingerprinting usando a seqüência M13, mostrou que a maioria dos isolados, 72,5%
(n=29) era do genótipo VNI e que todos os nove isolados da espécie C. gattii eram
do genótipo VGII71.
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Figura 6. Imagem da distribuição dos tipos moleculares de acordo com os Estados Brasileiros incluídos na análise. Fonte: Trilles et al., 200870.
Métodos moleculares tem sido desenvolvidos para diagnóstico e
monitoramento de infecções fúngicas, bem como para tipificação dos isolados,
visando principalmente, estudos epidemiológicos. A reação em cadeia de polimerase
(PCR) tem sido a principal ferramenta utilizada no desenvolvimento de protocolos de
detecção de DNA de C. neoformans e C. gattii72.
Quanto à possibilidade de se utilizar a Região ITS (Internal Transcript Space)
para caracterização de Cryptococcus, os genes ribossomais são alvos estudados
nos sistemas baseados em PCR, para detecção e identificação deste patógeno
fúngico 73,74. As regiões ITS possuem sequências altamente variáveis que tem sido
usadas para identificação de fungos nos mais diferentes formatos de níveis de
espécie 75,76,77.
Em 1999, Irobi e colaboradores78 descreveram um método molecular para
identificação de leveduras do gênero Candida, tendo como alvo a região ITS. Os
primers utilizados foram ITS5 (5’-GAAGTAAAAGTCGTAACAAGG-3’) e NL4 (5’-
GGTCCGTCTTTCAAGACGG-3’). O método provou ser simples e reprodutível, além
de oferecer potenciais vantagens sobre os métodos de fenotipagem78.
Já em 2009, Santos e colaboradores79 identificaram agentes causadores de
fungemias (Candida albicans, Candida parapsilosis, Candida tropicalis, Candida
glabrata, Cryptococcus neoformans, Cryptococcus gattii e Histoplasma capsulatum)
utilizando PCR/RFLP, e entre as combinações de pares de enzimas de restrição,
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somente uma combinação (par de primers ITS5/NL4 e enzima de restrição Ddel)
produziu um padrão RFLP específico para cada microrganismo estudado. Neste estudo, a região dos primers ITS5 e NL4, permitiu a distinção de genótipos VGII e
VNI79.
Diante do contexto, há escassez de estudos desta natureza na região Norte,
especialmente no Estado do Amazonas71. Em um país com dimensões continentais,
há necessidade de realizar pesquisas sobre as características genotípicas do gênero
Cryptococcus, pois fatores ambientais, geográficos e climáticos propiciam variações
tanto na feno quanto na genotipagem, e conseqüentemente na patogenicidade das
infecções oportunistas43.
O evento que ocorreu em Vancouver aumentou ainda mais o interesse das
comunidades médico-científicas em conhecer os grupos moleculares causadores da
doença, pois as espécies estão começando a ocupar novos nichos ecológicos. É de
grande importância monitorar onde e quantos casos de infecção por Cryptococcus
estão ocorrendo, a fim de identificar os grupos moleculares envolvidos, mesmo em
regiões com clima onde não seria esperado encontrar a espécie. Este estudo traz
informações particulares sobre os genótipos que causam infecção no Amazonas.
Estas informações são importantes para a epidemiologia da doença no Estado, uma
vez que os dados do Amazonas ainda são pouco conhecidos, pois há ausência de
outros estudos. Estudos similares devem ser estimulados em todas as áreas
endêmicas, determinando o grau de sua potencialidade patogênica em indivíduos
imunocomprometidos ou imunocompetentes.
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2 OBJETIVOS 2.1 Geral
Caracterizar por métodos moleculares agentes causadores de Criptococose,
isolados de pacientes atendidos em Unidade Terciária de Saúde do Estado do
Amazonas.
2.2 Específicos
- Investigar quais os grupos moleculares causadores de Criptococose através do
PCR-Fingerprinting utilizando o minissatélite M13 e pelo perfil de restrição (PCR-
RFLP) utilizando o gene URA5;
- Avaliar a possibilidade de se utilizar uma PCR-RFLP, tendo como alvo a região ITS
do DNAr, para caracterização dos grupos moleculares de Cryptococcus;
- Verificar a presença de genes sexuais específicos, com locus mating type (MATα e
MATa) das espécies por PCR;
- Descrever e correlacionar as características epidemiológicas dos pacientes com os
grupos moleculares, a partir dos dados obtidos nas requisições de exames.
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3 MATERIAIS E MÉTODOS 3.1 Modelo de Estudo
Estudo descritivo transversal com a finalidade de caracterizar os isolados
causadores de Criptococose no Estado do Amazonas.
3.2 Universo de estudo Local: Este estudo foi realizado no Laboratório de Micologia da Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD) e no Laboratório de
Micobacteriologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).
Período: O período de estudo foi entre Março de 2006 a Fevereiro de 2010. Amostras: Os isolados foram obtidos de material clínico procedente do Laboratório de Micologia da FMT-HVD.
Aspectos éticos: Este projeto de pesquisa foi registrado e aprovado pelo CEP-FMT/AM, Processo n°. 763/2010-FMT-AM, CAAE – 0007.0.114.000-10 (Anexos).
Financiamento: Este estudo foi financiado pela FAPEAM, através do edital N°.014/2006 PPSUS 2006.
Microrganismos Analisados Isolados Clínicos
Os 60 isolados deste estudo foram obtidos de pacientes acometidos por
Criptococose, portadores de HIV ou não, internados na Fundação de Medicina
Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado, entre março de 2006 a fevereiro de 2010. De
cada paciente foi utilizado apenas um único isolado fúngico (o primeiro isolado da
amostra enviada ao Laboratório). Estes isolados estavam sendo mantidos sob
refrigeração (4oC), na Coleção de Fungos da FMT-HDV.
Cepas de Referência
As linhagens foram caracterizadas genotipicamente de acordo com as cepas-
padrão concedidas gentilmente pela Coleção de Culturas da Fundação Oswaldo
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18
Cruz (FIOCRUZ-RJ) (Tabela 2). Tabela 2. Lista de cepas de referência utilizadas neste estudo, incluindo informações gerais, sorotipo (ST), mating type (MAT), tipo molecular (TM). Isolados WM N°. País Fonte ST MAT TM WM 148R WM 148 Austrália CLIN A Alpha VNI WM 626R WM 626 Austrália CLIN A Alpha VNII WM 628R WM 628 Austrália CLIN AD Alpha VNIII WM 629R WM 629 Austrália CLIN D Alpha VNIV WM 179R WM 179 Austrália CLIN B Alpha VGI WM 178R WM 178 Austrália CLIN B Alpha VGII WM 161R WM 161 Austrália CLIN B Alpha VGIII WM 779R WM 779 África do Sul VET C Alpha VGIV
3.3 Procedimentos
3.3.1 Determinação dos grupos moleculares
3.3.1.1 Reativação dos isolados fúngicos
A fim de reativar os microrganismos, foi utilizado o cultivo em Ágar Sabouraud
a 37 oC por 48 h. Após este período, foram purificados em placa contendo Ágar
Níger, e apenas uma colônia foi retirada e semeada em Caldo Sabouraud a 30 °C,
para obtenção da biomassa, utilizada nos estudos genotípicos (extração de DNA)
(Figura 7).
3.3.1.2 Extração de DNA genômico
A extração foi baseada na utilização de membrana de sílica (Kit QIAamp
Tissue and Blood, Qiagen, Hilden, Germany) (Figura 8).
Cerca de 90 mg de biomassa foram transferidos com auxílio de alça
descartável para eppendorf contendo 180 µL de tampão de lise e pérolas de vidro
lavadas em ácido (450-600 nm). As células foram rompidas com choque mecânico e
depois se procedeu à extração genômica com adição de Proteinase K overnight a 56
°C, em seguida adicionou-se 200 µL de tampão de guanidina e fez-se a agitação a
frio em vórtex por 15 s e incubou-se por 10 min a 70 °C. Passado este período, foi
adicionado o mesmo volume, 200 µL, desta vez de etanol e foi homogeneizado em
-
19
agitador. A mistura foi transferida para as colunas de sílica e foi centrifugada a 8000
rpm em 1 min. O material foi transferido para novo tubo da coluna e 500 µL do
primeiro tampão de lavagem foi adicionado à coluna, em seguida, foi centrifugado
por 1 min a 8000 rpm. Novamente o tubo da coluna foi trocado, e 500 µL do segundo
tampão de lavagem foi adicionado à coluna de sílica, e centrifugado a 14000 rpm por
3 min. Mais uma vez, o tubo da coluna foi retirado e o tampão de eluição do DNA foi
adicionado, procedendo com a centrifugação a 8000 rpm por 1 min, desprezando a
coluna e armazenando o filtrado a 4 °C.
A concentração de DNA Genômico foi verificada através de leitura em
espectrofotômetro (GeneQuant-pro RNA/DNA Calculator, GE Healthcare) no
comprimento de onda de 260 nm (unidade de absorbância correspondeu a 50
μg/mL) e a razão de pureza foi determinada pela razão entre as absorbâncias a 260
e 280 nm.
3.3.1.3 PCR-Fingerprinting RAPD utilizando o minissatélite M13
Foi utilizada a seqüência específica do minissatélite M13 (5’-
GAGGGTGGCGGTTCT-3’) (Meyer et al., 1999)63. A reação de amplificação foi
realizada em um volume final de 25 μL contendo 50 ng de DNA molde, solução
tampão (Tris-HCl 10 mM, pH 8,3, KCl 50 mM, MgCl2 1,5 mM), 0,2 mM de cada
dNTP, 30 ng de oligonucleotídeo iniciador e 2,5 U de Taq DNA polimerase
(Recombinante-Invitrogen). A PCR foi realizada em um termociclador Verite 96,
Applied Biosystens, a reação consitiu em 6 min de desnaturação (94 oC); 40 ciclos
de 1 min desnaturação à 94 ºC, 1 min de anelamento à 50 ºC e 2 min de extensão à
72 ºC; por fim foi realizada uma extensão final de 6 min à 72 ºC. Os produtos da
amplificação foram separados por eletroforese em gel de agarose 1,4%, por 6 h a 60
V (Figura 9).
3.3.1.4 PCR-RFLP do Gene URA5
A PCR do gene URA5 foi conduzida com um volume final de 50 μL. Cada
reação continha 50 ng de DNA molde (extraído com conjunto de extração QIAamp
DNA blood kit - Qiagen, Hilden, Germany), solução tampão (Tris-HCl 10 mM, pH 8,3,
KCl 50 mM, MgCl2 1,5 mM), 0,2 mM de cada dNTP, e 1,5 U de Taq DNA polimerase
-
20
(Recombinante Invitrogen) e 50 ng de cada primer URA5 (5´-ATGTCCTCCCAAGC
CCTCGACTCCG´-3) e SJ01 (5´-TTAAGACCTCTGAACACCGTACTC´-3).
A PCR foi realizada em termociclador Verite 96, Applied Biosystens, iniciou-se
com 2 min de desnaturação (94 ºC) e 40 ciclos de 30 s de desnaturação à 94 ºC, 30
s de anelamento à 61 ºC e 1 min de extensão à 72 ºC, finalizou-se com um ciclo de
extensão final de 10 min à 72 ºC.
Os produtos da amplificação foram separados por eletroforese em gel de
agarose 1,5%, por 2 h a 100 V, corados com SybrGreen (0,5 μg/mL) e visualizados
sob luz ultravioleta.
Oito microlitros dos produtos de PCR foram misturados a 1 µL de tampão da
enzima Hha I e digeridos duplamente com Sau96I (10 U/µL)e Hha I (20 U/µL) em
incubação por 3 horas ou overnight a 37 °C, e separados por eletroforese em gel de
agarose 3%, por 5 h a 100 V, corados com SybrGreen (0,5 μg/mL) e visualizados
sob luz ultravioleta. Os padrões de RFLP foram visualizados comparando-os com os
padrões obtidos das cepas de referência (VNI-VNIV e VGI-VGIV) (Figura 10).
3.3.1.5 Determinação dos Mating Types
O mating type foi determinado por PCR, que foi conduzida para um volume
final de 25 µL. Os primers do tipo α-específicos foram Mat-αF (5'- CTTCACTGC
CATCTTCACCA-3') e Mat-αR (5'-GACACAAAGGGTC ATGCCA-3') e os primers do
tipo a-específicos foram Mat-aF (5’-CGCCTTCACTGCTAC CTTCT-3’) e Mat-aR (5’-
AACGCAAGAGTAAGTCGGGC-3’).
Cada reação conteve 20 ng de DNA molde, solução tampão (Tris-HCl 10 mM,
pH 8,3, KCl 50 mM, MgCl2 1,5 mM), 0,2 mM de cada dNTP e 20 ng cada primer, e
1,5 U de Taq DNA polimerase (Recombinante Invitrogen).
A amplificação foi realizada em termociclador Verite 96, Applied Biosystens,
primeiramente foi realizada desnaturação inicial a 94 °C por 3 min, em seguida
foram realizados 35 ciclos de 30 s de desnaturação à 94 ºC, 30 s de anelamento a
58 ºC e 1 min de extensão à 72 ºC, seguidos por um ciclo de extensão final de 7 min
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21
à 72 ºC. As reações de amplificação foram realizadas de acordo com o
procedimento de Chaturvedi et al. (2000) modificado80.
O tamanho e a pureza dos produtos de PCR foram visualizados por
eletroforese em gel de agarose 2% por 3 h a 100 V, corado com SybrGreen e
iluminado com luz ultravioleta (Figura 11).
3.3.2 Caracterização dos grupos moleculares utilizando região ITS do DNAr
A PCR do gene espaço transcrito interno (ITS) do DNAr foi conduzida com um
volume final de 50 µL. Cada reação continha 50 ng de DNA molde (extraído com
conjunto de extração QIAamp DNA blood kit - Qiagen, Hilden, Germany), solução
tampão (Tris-HCl 10 mM, pH 8,3, KCl 50 mM, MgCl2 1,5 mM), 0,2 mM de cada
dNTP, e 3,0 U de Taq DNA polimerase (Recombinante Invitrogen) e 50 pM de cada
primer ITS5 (5´-GGAAGTAAAAGTCGTAACAAGG-´3) e NL4 (5´-GGTCCGT
GTTTCAAGACGG-´3).
A amplificação foi realizada em termociclador Verite 96, Applied Biosystens,
primeiramente com desnaturação inicial por 6 min a 94 °C, em seguida foram
realizados 40 ciclos de 30 s de desnaturação à 94 ºC, 30 s de anelamento à 55 ºC e
1 min de extensão à 72 ºC, seguidos por um ciclo de extensão final de 10 min à 72
ºC.
O tamanho e a pureza dos produtos de PCR foram visualizados por
eletroforese em gel de agarose 0,7% corado com SybrGreen e iluminados com luz
ultravioleta.
Oito microlitros e meio dos produtos de PCR foram misturados a 1 µL de
tampão da enzima Ddel (New England Biolabs, Beverly, MA, USA) e foram digeridos
com 5,0 U da mesma (10 U/µL) em incubação por 3 horas ou overnight a 37 °C , e
separados por eletroforese em gel de agarose 2% por 3 h a 110 V, corados com
SybrGreen (0,5 μg/mL) e visualizados sob luz ultravioleta. Os padrões de RFLP
foram visualizados comparando-os com os padrões obtidos das cepas de referência
(VNI-VNIV e VGI-VGIV) (Figura 12).
-
22
Amostra Biológica
Isolamento em Ágar Níger
Conservação a 4 °C Reativação em Ágar Sabouraud
Purificação em Ágar Níger
Uma colônia é cultivada em Caldo Sabouraud
REAT
IVAÇ
ÃO/I
SOLA
M. F
ÚN
GIC
O
Figura 7. Fluxograma da Reativação e Isolamento Fúngico
-
23
Figura 8. Fluxograma da Metodologia de Extração do DNA Genômico.
EXTR
AÇ
ÃO
60 Isolados
Colônia do Caldo Sabouraud
90 mg de biomassa fúngica
Extração pelo Kit Qiagen® Obtenção do DNA Leitura em
Espectrofotômetro da Concentração de DNA e
pureza
-
24
Figura 9. Fluxograma da PCR-Fingerprinting do Minissatélite M13
PCR
- FIN
GER
PRIN
TIN
G
Minissatélite M13
(5’-GAGGGTGGCGGTTCT-3’)
60 Isolados
DNA
Mix de PCR
Amplificação
DNA amplificado Gel de Agarose 1,4%
Primer Oligonucleotídeo
-
25
Figura 10. Fluxograma da PCR-RFLP do gene URA5
PCR
- RFL
P G
ene
UR
A5
60 Isolados
DNA
Mix de PCR
Amplificação
DNA amplificado
Gel de Agarose 3%
Primer URA5/SJ01
DNA digerido Sau96I e HhaI
Gene URA5 URA5 (5'-TGTCCTCCCAAGCCCTCGACTCCG-3') SJ01 (5'-TTAAGACCTCTGAACACCGTACTC-3')
-
26
Figura 11. Fluxograma da PCR dos mating types.
PCR
- Mat
ing
Type
s
DNA
Mix de PCR
Amplificação
DNA amplificado
Gel de Agarose 2%
Par de primers Mat-αF/Mat-αR
ou Mat-aF/mat-aR
MATα Mat-αF (5'- CTTCACTGC CATCTTCACCA-3') Mat-αR (5'-GACACAAAGGGTC ATGCCA-3')
MATa Mat-aF (5’-CGCCTTCACTGCTAC CTTCT-3’)
Mat-aR (5’-AACGCAAGAGTAAGTCGGGC-3’).
60 Isolados
-
27
Figura 12. Fluxograma da PCR-RFLP da região ITS do DNAr.
PCR
- RFL
P IT
S
DNA
Mix de PCR
Amplificação
DNA amplificado
Gel de Agarose 2%
Par de primers ITS5/NL4
DNA digerido Ddel
DNAr
ITS5 (5'-GGAAGTAAAAGTCGTAACAAGG-3) NL4 (5'-GGTCCGTGTTTCAAGACGG-3')
60 Isolados
-
28
3.4 Caracterização Epidemiológica dos Pacientes
O perfil dos pacientes acometidos por Criptococose (gênero, idade, infecção
pelo HIV e tipo de amostra clínica de isolamento) foi obtido através da análise das
requisições de exames, presentes no Laboratório de Micologia da FMT-HVD.
-
29
4 RESULTADOS
Os resultados estão apresentados na forma de Artigo Científico que será
submetido à publicação na Revista Mycoses (Alemanha) (B1).
ARTIGO ORIGINAL Molecular characterization of causative agents of Cryptococcosis isolated from patients in a tertiary healthcare in the State of Amazonas. Ana Karla Lima Freire,1 Amaury dos Santos Bentes,2 Lucilaide Oliveira Santos,1 Maurício Morishi Ogusku,2 Julia Ignez Salem,2 Bodo Wanke 1,3 and João Vicente Braga de Souza1,2
1 Laboratório de Micologia, Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado, Universidade do Estado do Amazonas, Brasil 2 Laboratório de Micobacteriologia, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Brasil 3 Laboratório de Micologia, Fundação Osvaldo Cruz, Brasil. SUMMARY From the knowledge that there are four molecular groups of Cryptococcus neoformans (VNI and VNII, VNIII and VNIV) and four of Cryptococcus gattii (VGI and VGII, VGIII and VGIV) has become important to identify groups of incidents in different geographic regions worldwide. This effect was investigated what molecular types of 60 cultures of Cryptococcus species isolated from patients in a tertiary hospital in the State of Amazonas, Brazil, between 2006-2010. The isolates were characterized by PCR-Fingerprinting using M13 mini-satellite and confirmed by PCR-RFLP of the URA5 gene. An experimental protocol using PCR-RFLP targeting the ITS1 rDNA was also evaluated. The presence of specific genes with mating type locus ((MATα and MATa) species was analyzed using PCR. It was found that patients are mostly male (66.7%), aged 16-30 years (51.7%), HIV (75.0%) with meningitis (71.7%). Whose isolates of C. neoformans (66.7%) were mostly characterized as VNI molecular group (97.5%) and C. gattii (100.0%). Three isolates (5.0%) could not be characterized by any of the protocols under study and the experimental protocol evaluated only discriminated two molecular groups of C. gattii (VGII and VGIII). As for the mating types, 58 isolates were of type α and only two were type a. It found the prevalence of VNI molecular group, the meeting of the VNII molecular group, never before reported for the northern region of Brazil, and suggested that the new methodology for genotyping using as a target gene of rDNA ITS region characterized only the two molecular groups C. gattii. Key words: Cryptococcus, Genotyping, PCR-Fingerprinting M13, URA5-RFLP, ITS5/NL4.
-
30
INTRODUÇÃO
A Criptococose é uma micose sistêmica que acomete os órgãos internos e a pele,
decorrente da inalação de propágulos infectantes das espécies patogênicas
leveduriformes - Cryptococcus neoformans e Cryptococcus gattii. A doença
apresenta-se de forma subaguda ou crônica, afetando tanto os indivíduos
imunodeprimidos (aids, principalmente) como os imunocompetentes. A aids é o fator
predisponente mais importante para infecção, sendo que, falhas no sistema
imunológico, inato e adaptativo, induzido pelo vírus HIV (Human Immunodeficiency
Virus) são responsáveis pela disseminação da Criptococose. Uma das
características do gênero Cryptococcus é o tropismo meningoencefálico que resulta
em elevada mortalidade na ausência de tratamento.1-3
A patogenicidade do gênero Cryptococcus é determinada, principalmente, pela
cápsula polissacarídica, que promove resistência a fagocitose, proteção da levedura
e inativação do sistema complemento; e pela produção da enzima fenol-oxidase
responsável pelo neurotropismo do fungo.4
Tanto C. neoformans quanto C. gattii, apesar de reproduzirem-se assexuadamente,
possuem um sistema complementar com dois mating types: a e α. Para que este tipo
de reprodução sexuada ocorra é necessário que haja o encontro entre dois mating
types opostos. Geneticamente, o locus mating type é a região do genoma fúngico
que regula o ciclo sexual e pode ser diferente entre células de mating types
opostos.5
A espécie C. neoformans possui distribuição geográfica mundial, enquanto que C.
gattii é encontrado com maior freqüência em regiões tropicais e subtropicais. Porém,
este cenário foi remodelado em 1998, quando foi observado um surto de infecção
por Cryptococcus gattii, no clima temperado da Ilha de Vancouver, British Columbia
(BC), Canadá, caracterizado por ferramentas de PCR-Fingerprinting.6-9
As técnicas moleculares de tipificação PCR-Fingerprinting fundamentam-se na
amplificação de produtos de PCR a partir de regiões gênicas que permitem estudos
filogenéticos e propiciam discussões nos vários níveis taxonômicos até mesmo de:
espécie, variedade ou linhagem.10-11 Atualmente, devido aos estudos realizados por
-
31
Meyer et al. [12], foram definidos oito grandes grupos moleculares a partir dos
protocolos de PCR-Fingerprinting Minissatélite M13 e PCR-RFLP-URA5. Os grupos
moleculares correspondentes a C. neoformans são VNI, VNII, VNIII e VNIV,
enquanto o C. gattii é subdividido em VGI, VGII e VGIII e VGIV.12-13
Outra região gênica que vem sendo utilizada na detecção e identificação de
patógenos fúngicos por PCR corresponde as regiões do espaço transcrito interno
(ITS), com sequências conservadas, encontradas em genes ribossomais.14-21 O uso
da região ITS foi estabelecida em 1999, quando Irobi et al. [15] descreveram um
método molecular para identificação de leveduras do gênero Candida.
Especificamente para Cryptococcus spp., os estudos realizados por Santos et al.
[19] , utilizando o mesmo alvo e primers, diferenciaram as espécies C. neoformans e
C. gattii. Segundo os autores, os resultados demonstram que a região gênica possui
potencial para distinção das espécies e talvez até mesmo dos grupos gênicos.19
Os estudos de tipificação molecular aperfeiçoam o diagnóstico fúngico, elucidam a
diversidade genética e corroboram com bases científicas para estudos
epidemiológicos globais.20,22-23 Atualmente, estes estudos também possuem
importância na associação de diferentes grupos moleculares às características de
virulência, à sensibilidade aos antifúngicos e a terapêutica.24-25
Investigar os grupos moleculares do gênero Cryptococcus, isolados de pacientes
atendidos em Unidade Terciária de Saúde do Estado do Amazonas, foi o objetivo do
presente estudo. Especificamente pretendeu-se: determinar os grupos moleculares
por PCR-Fingerprinting utilizando o minissatélite M13 e pela PCR-RFLP do gene
URA5; avaliar a utilização de uma PCR-RFLP tendo como alvo a região ITS do DNAr
para caracterizar os grupos moleculares de Cryptococcus; analisar a presença de
genes sexuais específicos, com locus mating type (MATα e MATa) das espécies por
PCR; e caracterizar os pacientes quanto ao gênero, idade, infecção pelo HIV e
amostra clínica, de onde os agentes foram isolados.
-
32
Materiais e Métodos
Microrganismos analisados
Os 60 isolados de Cryptococcus spp. analisados foram obtidos de amostras de
pacientes acometidos por Criptococose, internados na Fundação de Medicina
Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT/HVD), entre março de 2006 e fevereiro de
2010. Foi analisado apenas o isolado obtido da primeira amostra processada de
cada paciente, mantido sob refrigeração (4 oC), na Coleção de Fungos da FMT/HVD.
Os microrganismos foram reativados em meio de cultivo Ágar Sabouraud a 37 oC
por 48h. Posteriormente, foram semeados em Caldo Sabouraud a 30 ºC por 48h
para obtenção da massa fúngicas a ser utilizada nos estudos de caracterização
molecular. Para a caracterização foram utilizadas cepas padrões: WM 148 (sorotipo
A, VNI), WM 626 (sorotipo A, VNII), WM 628 (sorotipo AD, VNIII), WM 629 (sorotipo
D, VNIV), WM 179 (sorotipo B, VGI), WM 178 (sorotipo B, VGII), WM 161 (sorotipo
B, VGIII) e WM 779 (sorotipo C, VGIV). Estas foram gentilmente cedidas pela
coleção de fungos da FIOCRUZ-Rio de Janeiro-Brasil. Extração do DNA Genômico
Na extração foi utilizado o kit comercial QIAamp Tissue and Blood, Qiagen, Hilden,
Germany). A concentração do DNA Genômico foi verificada por leitura em
espectrofotômetro (GeneQuant-pro RNA/DNA Calculator, GE Healthcare), no
comprimento de onda de 260 nm (unidade de absorbância correspondeu a 50
μg/mL) e a razão de pureza foi determinada pela razão entre as absorbâncias a 260
e 280 nm. Caracterização dos Grupos Moleculares PCR-Fingerprinting: Foi utilizada a seqüência específica do minissatélite M13 (5’-
GAGGGTGGCGGTTCT-3’) (MEYER et al. [12]). A reação de amplificação foi
realizada em um volume final de 25 μL contendo 50 ng de DNA molde, solução
tampão (Tris-HCl 10 mM, pH 8,3, KCl 50 mM, MgCl2 1,5 mM), 0,2 mM de cada
-
33
dNTP, 30 ng de oligonucleotídeo iniciador e 2,5 U de Taq DNA polimerase
(Recombinante-Invitrogen). A PCR foi realizada em um termociclador Verite 96,
Applied Biosystens, a reação consistiu em 6 min de desnaturação (94oC); 40 ciclos
de 1 min desnaturação à 94ºC, 1 min de anelamento à 50ºC e 2 min de extensão à
72ºC; por fim foi realizada uma extensão final de 6 min à 72ºC. Os produtos da
amplificação foram separados por eletroforese em gel de agarose 1,4%, por 6 h a 60
V.
Gene URA5 RFLP: A PCR do gene URA5 foi conduzida com um volume final de 50
μL, contendo 50 ng de DNA molde, solução tampão (Tris-HCl 10 mM, pH 8,3, KCl 50
mM, MgCl2 1,5 mM), 0,2 mM de cada dNTP, 50 ng de cada primer URA5 (5´-
ATGTCCTCCCAAGCCCTCGACTCCG´-3) e SJ01 (5´-TTAAGACCTCTGAAC
ACCGTACTC´-3) e 1,5 U de Taq DNA polimerase (Recombinante Invitrogen). A
PCR foi realizada em um termociclador Verite 96, Applied Biosystens, a reação
consitiu em 2 min de desnaturação inicial (94oC); 40 ciclos de 30 s de desnaturação
à 94ºC, 30 s de anelamento à 61ºC e 1 min de extensão à 72ºC; por fim foi realizada
uma extensão final de 10 min à 72ºC. O tamanho e a pureza dos produtos de PCR
foram visualizados por eletroforese em gel de agarose 1,5% corado com SybrGreen
e iluminado com luz ultravioleta. Oito microlitros dos produtos de PCR foram
misturados a 1 µL de tampão da enzima Hha I e digeridos duplamente com Sau96I
(10U/ µL) e Hha I (20U/ µL) em incubação por 3 horas ou overnight à 37°C. Os
fragmentos de restrição foram analisados por eletroforese em gel de agarose 3% por
5 h a 100V.
Gene ITS RFLP: A PCR do gene espaço transcrito interno (ITS) do DNAr foi
conduzida com um volume final de 50 µL. Cada reação continha 50 ng de DNA
molde, solução tampão (Tris-HCl 10 mM, pH 8,3, KCl 50 mM, MgCl2 1,5 mM), 0,2
mM de cada dNTP, e 50 pmoles de cada primer ITS5 (5´-
GGAAGTAAAAGTCGTAAC AAGG-´3) e NL4 (5´-GGTCCGTGTTTCAAGACGG-´3) e
3,0 U de Taq DNA polimerase (Recombinante Invitrogen). A amplificação foi
realizada em termociclador Verite 96, Applied Biosystens, a reação consistiu em 6
min de desnaturação inicial (94oC); 40 ciclos de 30 s de desnaturação à 94°C, 30 s
de anelamento à 55°C e 1 min de extensão à 72°C; por fim foi realizada uma
extensão final de 10 min à 72°C. O tamanho e a pureza dos produtos de PCR foram
-
34
visualizados por eletroforese em gel de agarose 0,7% corado com SybrGreen e
iluminado com luz ultravioleta. Oito microlitros destes produtos de PCR foram
digeridos pela enzima de restrição Ddel (10U/ µL) (New England Biolabs, Beverly,
MA, USA) em incubação overnight a 37 °C. Os fragmentos de restrição foram
analisados por eletroforese em gel de agarose 2%, por 3 h a 110V.
Mating Types: O mating type foi determinado por PCR, que foi conduzida para um
volume final de 25 µL. Os primers do tipo α-específicos foram Mat-αF (5'-
CTTCACTGCCATCTTCACCA-3') e Mat-αR (5'-GACACAAAGGGTC ATGCCA-3') e
os primers do tipo a-específicos foram Mat-aF (5’-CGCCTTCACTGCTAC CTTCT-3’)
e Mat-aR (5’-AACGCAAGAGTAAGTCGGGC-3’). A reação de PCR continha 20 ng
de DNA molde, solução tampão (Tris-HCl 10 mM, pH 8,3, KCl 50 mM, MgCl2 1,5
mM), 0,2 mM de cada dNTP e 20 ng cada primer, e 1,5 U de Taq DNA polimerase
(Recombinante Invitrogen). As reações de amplificação foram realizadas de acordo
com o procedimento de Chaturvedi et al. [26] modificado. Os produtos de
amplificação foram analisados por eletroforese em gel de agarose 2%, por 3 h a 110
V.
Características dos pacientes
As informações sobre gênero, idade, infecção pelo HIV e tipo de amostra clínica de
onde se isolaram os agentes microbianos, foram obtidas das requisições de exames,
presentes no Laboratório de Micologia da FMT/HVD.
Resultados Dos 60 isolados obtidos, 40 (66,7%) foram caracterizados como C. neoformans, 17
(28,3%) eram C. gattii e apenas 3 (5%) dos isolados não puderam ser
caracterizados por nenhum dos protocolos estudados.
As metodologias de PCR-Fingerprinting (Fig. 1) e PCR-RFLP URA-5 (Fig. 2)
ilustram que os grupos moleculares encontrados foram VNI (39/60; 65%), VNII (1/60;
1,7%) e VGII (17/60; 28,3%). Estratificando os grupos moleculares incluídos em sua
respectiva espécie, tem-se que do total de 40 isolados de C. neoformans, 39 (39/40;
97,5%) eram grupo molecular VNI e 1 (1/40; 2,5%) do VNII; e todos os 17 isolados
-
35
da espécie C. gattii foram grupo molecular VGII (17/17; 100%). Foi observada
concordância total entre os dados de ambas as metodologias aplicadas.
Conforme indicado na Tabela 1, a correlação entre os grupos moleculares dos
isolados, com as características dos pacientes obtidas nas requisições de exames
demonstrou a prevalência do sexo masculino (40/60; 66,7%), faixa etária de 16-30
anos (31/60; 51,7%), os isolados obtidos foram derivados principalmente do líquor
(43/60; 71,7%) e a maioria do pacientes tinha infecção pelo HIV (45/60; 75%). Ainda
em relação à idade, observou-se que C. gattii (VGII) acometeu todos os grupos
etários, sendo que 4 (6,7%) casos da doença ocorreram em crianças de 0-15 anos.
Quanto ao achado de VNII, o isolado foi obtido de hemocultura, indivíduo do sexo
masculino, 36 anos, portador de HIV, autóctone.
.
Figura 1. Perfil de PCR-Fingerprinting com o minissatélite M13, das cepas de referência de Cryptococcus spp. 1, 2, 3, 4 e 5 são amostras dos isolados.
Figura 2. Perfil de RFLP-PCR utilizando o gene URA5 e as enzimas de restrição HhaI e Sau96I. 1, 2, 3, 4, 5 e 6 são isolados.
Bp
2200
738
123
pb 1000
600 500
250
50
M VNI VNII VNIII VNIV VGI VGII VGIII VGIV 1 2 3 4 5 6
M VNI VNII VNIII VNIV VGI VGII VGIII VGIV 1 2 3 4 5 M
-
36
O experimento que visou avaliar a capacidade de descriminar os grupos moleculares
através de uma PCR-RFLP da região ITS do DNAr, resultou em três distintos perfis,
um dos quais com 60, 120, 500 e 700 pares de base (pb) foi encontrado em todos os
quatro grupos moleculares de C. neoformans e em dois C. gattii (VGI e VGIV). Os
demais perfis foram observados nos grupos moleculares de C. gattii, sendo um com
60, 300, 400 e 490 pb em VGII e o outro com 60, 110, 150, 300 e 700 pb em VGIII
(Fig. 3).
Figura 3. Distinção entre espécimes de Cryptococcus spp, utilizando o par de primers ITS5/NL4 e a digestão feita com a enzima de restrição Ddel.
Quanto à caracterização dos mating types contatou-se que 58 eram do tipo alfa e
apenas 2 do tipo a (Fig. 4).
Figura 4. Mating Types dos isolados de Cryptococcus spp, utilizando o par de primers α-MatF/α-MatR, onde o MATα gera um fragmento de 101 pb.
M VNI VNII VNIII VNIV VGI VGII VGIII VGIV pb
1000
700
500
250
50
M 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 pb
1000
250
101
50
-
37 TABELA 1. Correlação entre os grupos moleculares dos isolados com as características dos pacientes.
Espécie n/%
Grupo Molecular
n/%
SEXO n (%)
IDADE n (%)
AMOSTRA BIOLÓGICA n (%)
INFECÇÃO PELO HIV n
(%)
Mas Fem 0-15 16-30 31-45 46-60 >60 Líquor Hemocultura Escarro Outros
* Sim Não C
. neo
form
ans
40 (6
6,7)
VNI (39/97,5)
25
(41,7)
14
(23,3) -
23
(38,3)
13
(21,7)
3
(5) -
31
(51,7)
3
(5)
1
(1,7)
4
(6,7)
36
(60)
3
(5)
VNII (1/2,5)
1
(1,7) - - -
1
(1,7) - - -
1
(1,7) - -
1
(1,7) -
C. g
attii
17 (2
8,3)
VGII (17/100)
12
(20)
5
(8,3)
4
(6,7)
6
(10)
3
(5)
2
(3,3)
2
(3,3)
11
(18,3) -
1
(1,7)
5
(8,3)
7
(11,7)
10
(16,7)
Indeterminado (3/5)
2
(3,3)
1
(1,7) -
2
(3,3) -
1
(1,7) -
1
(1,7)
1
(1,7) -
1
(1,7)
1
(1,7)
2
(3,3)
TOTAL n
(%) 40
(66,7) 20
(33,3) 4
(6,7) 31
(51,7) 17
(28,3) 6
(10) 2
(3,3) 43
(71,7) 5
(8,3) 2
(3,4) 10
(16,6) 45
(75) 15
(25)
*Amostras como: Lavado Brônquico, Líquido Ascítico, Mielocultura e Urina.
-
38
Discussão Cryptococcus neoformans predominou entre os isolados (66,7%), esse agente causa
doença quase que exclusivamente entre pacientes imunossuprimidos. De fato, a
maioria dos isolados do presente trabalho, foram obtidos a partir de pacientes com
aids. Este dado corrobora com a literatura que demonstra que esta espécie é
responsável por até 82,3% dos casos de infecção.13,27 Quanto ao grupo molecular,
os resultados obtidos são semelhantes aos estudos anteriores que encontraram
perfis característicos de VNI, como tipo molecular predominante.13,27 Um estudo
realizado com isolados Ibero-Americanos, provenientes de nove países, incluindo o
Brasil, mostrou a prevalência de VNI dentre as 340 cepas de Cryptococcus
neoformans.13 Especificamente, das 66 cepas brasileiras três tipos moleculares
foram encontrados, sendo VNI predominante, com 82,3%, seguido por VGII (13,6%)
e VNII (3,0%), não indicando de quais Estados ou regiões os isolados foram
obtidos.13 Casali et al. [28], em um importante levantamento sobre Criptococose em
amostras da região Sul do Brasil, demonstrou que 105 isolados clínicos e 19
ambientais foram compatíveis com C. neoformans, com predominância do grupo
molecular VNI. Em 2008, Trilles et al. [27] realizaram um estudo de verificação da
distribuição dos tipos moleculares oriundos de onze Estados do Brasil. Foram
analisados 443 isolados, sendo 320 de C. neoformans e 123 de C. gattii. Os 12
isolados do Estado do Amazonas pertenciam aos grupos moleculares VNI e VGII.
No presente estudo, apenas um isolado foi caracterizado como VNII (1,7%).
Este dado está de acordo com a literatura, que vem demonstrando que este é o
terceiro grupo molecular com uma frequência de 3 a 5% em análises feitas no
Brasil.27 Entretanto, nenhum dos isolados do Estado do Amazonas analisados em
estudos anteriores, foram caracterizados como pertencente ao referido grupo
molecular.27,29 Assim sendo, esse é o primeiro relato de existência de C. neoformans
do grupo molecular VNII na região Norte do Brasil.
Dentre os 17 isolados de C. gattii, 10 foram obtidos a partir de pacientes sem
imunocomprometimento evidente e 7 de pacientes com aids. O C. gattii é
considerado um patógeno primário, no entanto, estudos recentes tem demonstrado
este causando infecção em imunocomprometidos.30-33 Apenas o grupo molecular
VGII (100%) foi encontrado, sendo esse resultado compatível com recentes estudos
que demonstraram ser o referido grupo, o principal causador da doença em
-
39
imunocompetentes, em diferentes Estados das regiões Norte e Nordeste do Brasil. 27,29,34
Três isolados ficaram sem caracterização quanto ao grupo molecular. Esta
situação pode ser explicada, porque a maioria dos isolados de Cryptococcus são
haplóides, no entanto, alguns isolados diplóides ou aneuplóides podem levar a
fenótipos instáveis, que podem interferir na genotipagem.35 Estudos são necessários
para avaliar este resultado, uma vez que pode se tratar, inclusive, de outras
espécies ou subespécies, ainda não classificadas.
O protocolo elaborado para genotipagem (PCR-RFLP ITS1) demonstrou ser
adequado somente para a distinção entre os grupos moleculares VGII e VGIII,
correspondentes ao Cryptococcus gattii. Para a caracterização dos oito grupos
moleculares das espécies, novos estudos precisam ser efetuados utilizando outras
regiões gênicas do ITS1 e enzimas de restrição.
O mating type α tem maior prevalência em amostras clínicas26,36-37, dados
esses também encontrado no presente estudo. Kozel sugere que essa maior
prevalência do mating type α é devida a vantagens seletivas de maior sobrevivência
no meio ambiente e maior virulência.38 A sugestão tem por base, estudos de
infecção em camundongos que demonstraram que o, mating type do tipo α é
significativamente mais virulento que o a.39
A presente pesquisa constatou ainda que os pacientes do sexo masculino,
com idade entre 16-30 anos, portadores do HIV são os principais acometidos por
Criptococose no Estado do Amazonas-Brasil. A literatura descreve o gênero
masculino como o mais acometido pela infecção, bem como nesta faixa etária, fato
esse atribuído à epidemiologia da aids37,40 e, mais recentemente, tem-se que as
mulheres obtém proteção contra a Criptococose gerada por seus próprios
hormônios.36,41
O achado de C. gattii como agente de meningite em crianças de 0-15 anos
não portadoras de HIV, está em de acordo com o exposto na literatura.31,34,42-43 No
Brasil, estudo realizado no Estado do Amazonas, região Norte, demonstrou que a
frequência da Criptococose infantil entre os anos de 1988-1998, representou uma
significante fração dentre os casos reportados (33%, n=75).42 Também na região
Norte, no Estado do Pará em um período de sete anos, 24% (n=78) dos pacientes
com Criptococose, hospitalizados, eram crianças.43 Esta alta frequência de
meningite criptocócica continuou sendo observada de 2003-2007 (8/43; 18,6%)
-
40
ainda no mesmo Estado.34 Já no Piauí e Maranhão, Estados da região Nordeste,
21% (n=257) eram casos de Criptococose na infância.44 A região Norte abrange uma
grande área de floresta Amazônica e mais estudos sobre a etiopatogenia da
Criptococose em humanos, e mais especificamente em crianças, bem como seus
perfis moleculares, precisam ser executados, uma vez que os dados de infecções
infantis são preocupantes.34
O líquor foi o principal material biológico de isolamento fúngico, isto pode ser
explicado, porque a maioria dos pacientes (dependendo da cepa infectante, do
estado imunológico do paciente e do quantidade do inóculo inalado) apresenta
disseminação criptocócica e neurocriptococose. Essa advém do fato do gênero
Cryptococcus produzir fenol-oxidase que converte uma grande variedade de
substratos hidroxibenzóicos, incluindo as catecolaminas, em um pigmento marrom
ou preto, conhecido como melanina, a qual funciona como fator de virulência do
fungo para sua proliferação no organismo do hospedeiro.30,45 Como o líquor é rico
em substratos fenólicos, tem-se a explicação para o neurotropismo do
Cryptococcus.30 Os resultados obtidos dão suporte à literatura, pois demonstram a
alta freqüência da retrovirose e alta prevalência do isolamento do agente em líquido
cefalorraquidiano. Em estudo recente no Estado do Amazonas, obteve-se a alta
prevalência de indivíduos infectados pelo HIV e que desenvolveram co-infecção
criptocócica (29/40; 72%).29 Sendo a Criptococose umas das principais causas de
morbimortalidade em pacientes com aids. Em muitos indivíduos, essa micose é a
primeira indicação da evolução da infecção pelo vírus para o quadro de aids.46
Conclusivamente, a Criptococose no Estado do Amazonas mantem-se
prevalente em portadores do vírus HIV, tendo o C. neoformans do grupo molecular
VNI como principal agente etiológico. Entretanto, tem-se o encontro do grupo
molecular VNII nunca antes relatado para a Região Norte do Brasil. Além do
exposto, constatou-se que a nova metodologia sugerida para genotipagem utilizando
como gene alvo a região ITS do DNAr caracterizou somente os 2 grupos
moleculares de C. gattii.
Agradecimentos À Universidade do Estado do Amazonas em convênio com a Fundação de Medicina
Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado pelo suporte, ao Instituto Nacional de Pesquisas
-
41
da Amazônia pela permissão e cedência do espaço para a realização dos ensaios,
aos funcionários do Laboratório de Micobacteriologia (INPA) pelo pronto auxílio, ao
INCQS-RJ pelo envio das cepas fúngicas de referência, à CAPES pelo apoio
financeiro e à FAPEAM pelo financiamento desta pesquisa através do edital
N.014/2006 PPSUS 2006.
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