UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE PSICOLOGIA E DE...
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UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE PSICOLOGIA E DE CINCIAS DA EDUCAO
ANTECIPANDO OS ANOS DOURADOS,
PROGRAMA EDUCACIONAL BREVE DE PROMOO DA ADAPTAO
REFORMA E AO ENVELHECIMENTO:
ESTUDO-PILOTO NUMA AMOSTRA DE SENIORES PORTUGUESES
Diana Cristina de Sousa Teixeira
MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA
(Seco de Psicologia da Educao e da Orientao)
2009
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UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE PSICOLOGIA E DE CINCIAS DA EDUCAO
ANTECIPANDO OS ANOS DOURADOS,
PROGRAMA EDUCACIONAL BREVE DE PROMOO DA ADAPTAO
REFORMA E AO ENVELHECIMENTO:
ESTUDO-PILOTO NUMA AMOSTRA DE SENIORES PORTUGUESES
Diana Cristina de Sousa Teixeira
Dissertao orientada pela Prof Doutora Maria Joo Alvarez
MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA
(Seco de Psicologia da Educao e da Orientao)
2009
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minha av.
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Agradecimentos s minhas senhoras, pela aprendizagem, pelo carinho, por terem acreditado e se terem disponibilizado Cincia, por terem sido participantes cheias de garra e sabedoria com quem cresci pessoal e profissionalmente. Prof Doutora Christina Bode, pela partilha, sensibilidade e acolhimento caloroso. Prof Doutora Maria Joo Alvarez, pelo exemplo de profissionalismo e postura tica, pelo apoio ao raciocnio, por estimular a vontade de querer fazer mais e melhor, por me ter contagiado com a sua paixo pela investigao. Prof Doutora Alexandra Marques Pinto, Prof. Doutor Joo Maroco, Dra. Filipa Castanheira, Fernando Salgueiro, Joke Turkenburg, Patrcia Neto e Susana Lavado, pela troca de ideias e ensinamentos preciosos. Dra. Isabel Aires, por ter proporcionado o desenvolvimento desta investigao. Dra. Marta Mouro e Dra. Joana Coimbra, um imenso obrigado por me terem aberto as vossas segundas casas e os meus sinceros parabns pela vossa entrega e simplicidade com que acarinham, com um sorriso e um incentivo, cada idoso e idosa que tanto beneficiam do vosso trabalho e, mais diria, do vosso talento enquanto psiclogas. Prof Doutora Maria Eugnia Duarte Silva e Dra. Filipa Dmaso e aos demais investigadores e profissionais que se cruzaram num caminho por onde s passam os dedicados a esta verdade de valer a pena acreditar no envelhecimento bem-sucedido. D. Fernanda, ao Sr. Ins, D. Cu e aos demais funcionrios e utentes das Universidades Snior dos Olivais, dos Coruches e de Odivelas. Aos amigos e colegas um Obrigado carregado de inesquecvel gratido pelo apoio e carinho. E aos vossos pais, avs, sogros, amigos, vizinhos e colegas que se disponibilizaram a participar nesta investigao. turma de Psicologia da Educao e da Orientao a quem grito com orgulho somos os primeiros! Aos sempre presentes a minha famlia, pela certeza de que estamos e somos uns pelos outros, para o que der e vier. Pelo carinho e proteco. o homem ao lado do qual sonho ficar muito velhinha, pelo companheirismo, f, dedicao, equilbrio e amor. oportunidade de aprender e crescer a cada momento desta dissertao.
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Resumo
Na promoo do envelhecimento activo ou bem-sucedido, o coping proactivo um
conceito promissor se perspectivado como um processo que combina a auto-regulao
de riscos (potenciais stressores) e de objectivos (com significado positivo para a
manuteno do bem-estar). Nesta investigao, tivemos como objectivo principal
conduzir um estudo-piloto da adaptao portuguesa do programa Antecipando os Anos
Dourados (Bode & De Ridder, 2004), um programa educacional breve de preparao
para a reforma e para o envelhecimento, construdo a partir do modelo de processo do
coping proactivo, como defendido por Aspinwall e Taylor (1997). Com uma amostra de
116 adultos portugueses, conduzimos um estudo preliminar (Estudo 1) de adaptao e
avaliao das caractersticas psicomtricas de dois instrumentos, o AAQ e a UPCC, que
usmos na avaliao de resultados do estudo principal. No estudo principal (Estudo 2),
conduzimos uma investigao com um design pr-experimental com grupo-nico com
pr e ps-teste, composto por cinco mulheres reformadas utentes de uma Universidade
da Terceira Idade da rea metropolitana de Lisboa. A explorao de resultados
preliminares (coping proactivo, orientao proactiva, atitudes face ao envelhecimento e
bem-estar) no evidenciou diferenas significativas antes e aps interveno, pouco
surpreendente devido ao diminuto da amostra. No entanto, a avaliao formativa e de
processo, realizada atravs de indicadores predominantemente qualitativos, levou-nos a
reconhecer o valor do programa para ajudar seniores a desenvolver um repertrio de
competncias cognitivas e comportamentais teis para a preveno de stressores e
concretizao de objectivos, ao mesmo tempo que refora atitudes positivas face ao
envelhecimento. Salientam-se as mais-valias desta investigao na prtica psico-
-educacional de preparao para a reforma e para o envelhecimento, bem como na
introduo de pistas para a investigao futura com este programa e no campo do
coping proactivo.
Palavras-chave: Bem-estar; Coping Proactivo; Envelhecimento Activo; Programa
Educacional Breve; Preparao para a Reforma.
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Abstract
Referring to the promotion of active or successful ageing, proactive coping is a
promising concept if viewed as a process that combines self-regulation of risks
(potential stressors) and goals (with positive meaning for the well-being maintenance).
In this investigation, we had as main objective to conduct a pilot study of a Portuguese
adaptation of the program In Anticipation of the Golden Years (Bode & De Ridder,
2004), a brief educational program focused on preparing for retirement and ageing, that
was built from the process model of proactive coping, as supported by Aspinwall and
Taylor (1997). With a sample of 116 Portuguese adults, we conducted a preliminary
study (Study 1) in which we had the purpose to adapt and evaluate the psychometric
characteristics of two instruments, the AAQ and UPCC, that were then used for the
impact evaluation of the main study. In the main study (Study 2), we conducted an
investigation with a pre-experimental design with a single-group pretest-posttest,
consisting of five retired women attendees of a University of the Third Age from the
metropolitan area of Lisbon. The exploration of preliminary results (proactive coping,
proactive orientation, attitudes towards ageing and well-being) showed no significant
differences before and after the intervention, which was not surprising due to the small
sample. However, the formative and procedural evaluation, achieved through
predominantly qualitative indicators, led us to recognize the value of the program to
help senior citizens to develop a repertoire of behavioral and cognitive skills useful in
stressors prevention and goals attainment, while reinforcing positive attitudes towards
ageing. We highlight the contributions of this research to the psychoeducational practice
concerning the preparation for retirement and ageing, and we give some indications for
future research with this program and in the field proactive coping.
Keywords: Well-being, Proactive Coping, Active Ageing, Brief Educational Program;
Retirement preparation.
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ndice Agradecimentos ............................................................................................................... i
Resumo ............................................................................................................................. i
Abstract ........................................................................................................................... ii
Lista de siglas e abreviaturas ......................................................................................... v
Introduo ....................................................................................................................... 1
Captulo I - Enquadramento terico ............................................................................. 3
1.1. Do envelhecimento demogrfico ao envelhecimento individual o papel da
Psicologia Educacional ................................................................................................. 4
1.2. Modelos psicolgicos para um envelhecimento bem-sucedido o contributo
do modelo SOC ............................................................................................................ 7
1.3. Coping no envelhecimento o conceito de coping proactivo e a sua relao
com o envelhecimento bem-sucedido........................................................................... 9
Vrios tipos de coping .......................................................................................... 9
Modelos tericos do coping proactivo ............................................................... 10
Avaliao do coping proactivo ........................................................................... 13
Evidncias empricas .......................................................................................... 15
A relao do coping proactivo com o envelhecimento bem-sucedido ............... 17
1.4. O programa Antecipando os Anos Dourados ................................................. 17
1.5. A presente investigao .................................................................................. 20
Captulo II Avaliao das qualidades psicomtricas do AAQ e da UPCC
(Estudo 1) ...................................................................................................................... 21
2.1 Metodologia .......................................................................................................... 21
2.1.1 Descrio das medidas................................................................................... 21
Questionrio de Atitudes face ao Envelhecimento (AAQ) ................................ 21
Escala de Competncias de Coping Proactivo de Utrecht (UPCC).................... 23
2.1.2 Procedimento ................................................................................................. 25
2.1.3 Participantes .................................................................................................. 28
iii
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2.2 Resultados ............................................................................................................. 29
Sensibilidade, validade e fiabilidade do AAQ.................................................... 29
Sensibilidade, validade e fiabilidade da UPCC .................................................. 30
Captulo III Estudo-piloto do programa Antecipando os Anos Dourados
(Estudo 2) ...................................................................................................................... 33
3.1 Metodologia .......................................................................................................... 33
3.1.1. Descrio do programa Antecipando os Anos Dourados ............................. 33
Estrutura do programa e metodologia ................................................................ 33
Consideraes sobre a verso experimental portuguesa..................................... 35
3.1.2 Caracterizao do contexto ............................................................................ 36
3.1.3. Procedimentos na implementao do programa ........................................... 37
3.1.4. Participantes ................................................................................................. 38
3.1.5 Desenho de avaliao do programa ............................................................... 38
Avaliao formativa ........................................................................................... 39
Avaliao de processo ........................................................................................ 39
Avaliao de resultados ...................................................................................... 41
3.2 Resultados ............................................................................................................. 45
Avaliao de processo ........................................................................................ 45
Avaliao de resultados ...................................................................................... 49
Captulo IV Discusso ............................................................................................... 50
Referncias bibliogrficas ............................................................................................ 60
ANEXOS ....................................................................................................................... 67
iv
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Lista de siglas e abreviaturas
Sigla/abreviatura Significado
AAQ Attitudes toward Ageing Questionnaire (Questionrio de Atitudes face ao Envelhecimento)
GHQ-12 General Health Questionnaire 12 itens (Questionrio de Sade Geral)
OMS Organizao Mundial de Sade
ONU Organizao das Naes Unidas
PCI Proactive Coping Inventory (Inventrio de Coping Proactivo)
UPCC Utrechtse Proactieve Coping Competentie lijst (Escala de Competncias de Coping Proactivo de Utrecht)
SOC Seleco-Optimizao-Compensao
UTI Universidade da Terceira Idade
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Introduo
Introduo
Encarando a principal (e mais geral) funo do psiclogo como sendo a promoo do
desenvolvimento e bem-estar das pessoas e perspectivando, conforme sustentado adiante, o
envelhecimento como um processo desenvolvimentista, plstico e hetergeneo entre os
indivduos, cabe ao psiclogo contribuir para a sua optimizao.
A presente investigao foi motivada por uma questo emergente face s tendncias
scio-demogrficas a que assistimos mundialmente: como promover, de forma eficaz, um
envelhecimento bem-sucedido, ajudando a melhorar a qualidade e satisfao com a vida de
milhes de indivduos que so o corpo humano das estatsticas que desenham o
envelhecimento demogrfico da nossa sociedade?
O pensamento orientado para o futuro, noo presente numa das mais importantes teorias
sobre o envelhecimento bem-sucedido o modelo SOC (Seleco-Optimizao-
Compensao) proposto por Baltes, tem demonstrado ter efeitos positivos na satisfao com a
vida e na qualidade de vida das pessoas idosas (Ouwehand, De Ridder, & Bensing, 2007).
Ouwehand e colaboradoras (2007) sustentam que a antecipao de mudanas negativas
pode ser uma estratgia importante e adaptativa no processo de envelhecimento bem-
sucedido, uma vez que lidar com perdas numa fase precoce consome menos recursos
importantes, podendo evitar ou minimizar o impacto de mudanas indesejadas. Neste sentido,
relativamente ao envelhecimento, o coping proactivo um conceito especialmente promissor
se perspectivado como uma combinao de gesto/regulao do risco e gesto/regulao de
objectivos (Bode, De Ridder, Kuijer, & Bensing, 2007).
Em conformidade com esta ideia, situa-se o modelo apresentado por Aspinwall e Taylor
(1997), no qual o coping proactivo definido como um processo psicolgico dividido numa
sequncia de estdios (ou fases) que envolvem a actividade do indivduo para prevenir
stressores1 futuros ou minimizar o seu impacto. Estas autoras supem que as pessoas sero
mais capazes de se preparar para o futuro quando tm sua disposio recursos suficientes,
por exemplo redes sociais (Fase 1 Acumulao de recursos); esto atentas a situaes ou
acontecimentos que possam representar uma ameaa para aquilo que importante na sua vida
1 Pela frequncia com que so utilizados na literatura e pela dificuldade em encontrar na Lngua Portuguesa tradues satisfatrias, optou-se neste trabalho por manter alguns termos na lngua original (ingls), nomeadamente: stress e palavras derivadas como stressores, stressantes ou outras, e coping [segundo Sena Neves (2008), este pode entendido como enfrentar, lidar com ou adaptar-se].
1
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Introduo
2
(Fase 2 Reconhecimento); fazem uma correcta avaliao do grau de ameaa (Fase 3
Avaliao inicial de potenciais stressores); procuram diminuir essa ameaa (Fase 4 Esforos
de coping preliminares) e, finalmente, avaliam todo o processo (Fase 5 Elicitao e uso de
feedback).
Esta abordagem apresenta-se como vantajosa na medida em que concebe o processo de
coping proactivo como um conjunto de aptides que podem ser melhoradas (Bode, Thoolen,
& De Ridder, 2008). Sob estas assumpes, foi desenvolvido o programa Antecipando os
Anos Dourados (Bode & De Ridder, 2004), um programa educacional breve que tem como
objectivo geral promover o desenvolvimento de processos auto-regulatrios orientados para o
futuro (coping proactivo). De acordo com Bode, De Ridder e Bensing (2006), estes processos
podem promover o envelhecimento bem-sucedido por estimularem as pessoas a investir no
seu futuro e a focarem-se no seu crescimento pessoal e na optimizao da qualidade de vida
na adultez e adultez avanada.
A presente investigao surge com o objectivo de adaptar e fazer um estudo preliminar da
eficcia de uma interveno que se sustenta ser promotora da adaptao reforma e ao
envelhecimento, na medida em que produz melhorias ao nvel da competncia de coping
proactivo.
Para uma apresentao mais clara, optou-se por dividir a investigao realizada em dois
estudos que representam dois pontos-chave desta dissertao.
O primeiro estudo diz respeito traduo, adaptao e avaliao das caractersticas
psicomtricas de dois instrumentos, cuja utilidade se prende com a avaliao de resultados do
programa Antecipando os Anos Dourados, mas ultrapassa este propsito inicial, salientando-
se outros fins da sua utilizao, nomeadamente, em aconselhamento e avaliao psicolgica
de adultos e idosos. Um dos instrumentos trata-se do Questionrio de Atitudes Face ao
Envelhecimento (AAQ Attitudes toward Ageing Questionnaire) verso original, em
ingls, da autoria de Laidlaw, Power, Schmidt e WHOQOL-OLD Group (2006). O outro
instrumento estudado a Escala de Competncias de Coping Proactivo de Utrecht (UPCC -
Utrechtse Proactieve Coping Competentie lijst) verso original, em neerlands, da autoria
de Bode e colaboradoras (2008).
No segundo estudo fez-se uma aplicao exploratria pr-experimental do programa
Antecipando os Anos Dourados. O programa foi adaptado de acordo com o que consideramos
ser uma sensibilidade cultural populao portuguesa e posteriormente aplicado a um grupo
de seniores numa Universidade da Terceira Idade (UTI) da rea metropolitana de Lisboa.
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Captulo I Enquadramento Terico
Captulo I - Enquadramento terico
Na realizao de qualquer investigao, somos conduzidos por um determinado
enquadramento terico que, neste caso, se prende com uma anlise (necessariamente
circunscrita) do acto de envelhecer, com alguns pontos de partida. Assim, partilhamos a) uma
viso positiva do acto de envelhecer: a investigao gerontolgica tem revelado que o
envelhecimento uma experincia mais positiva do que se pressupunha e que as pessoas
idosas mantm um elevado potencial para a auto-actualizao, desenvolvimento e
aprendizagem. Esta viso conduz dissipao dos esteretipos do idoso enquanto ser frgil,
dependente, pobre, esquecido, assexuado e infantil (Baltar, 2004). Em muitos casos, as
pessoas idosas mantm atitudes positivas face ao envelhecimento (e.g., Fonseca, 2005a
tudo pode ser positivo at ao fim, pelo menos no que depender da percepo pessoal das
coisas); b) o princpio da heterogeneidade: medida que as pessoas envelhecem, os seus
percursos de vida vo diferenciando-se cada vez mais, quer devido ao cruzamento de
variveis biolgicas e culturais, quer devido influncia dos acontecimentos de vida que
marcam os seus comportamentos e as suas personalidades (Fonseca, 2005). A variabilidade
interindividual torna-se, por estes motivos, superior verificada noutros grupos etrios (Pal
& Fonseca, 2005; Simes, 2006); c) o entendimento do processo de envelhecimento como
integrante do ciclo de vida: de acordo com a corrente terica do Ciclo Vital2 (Baltes & Baltes,
1986), sugere-se que a pessoa, independentemente da sua idade, capaz de tomar decises,
orientar e produzir o seu prprio desenvolvimento em funo de metas prprias; d) o princpio
da plasticidade: face perspectiva do desenvolvimento ao longo do ciclo de vida, a pessoa
nunca perde a sua capacidade plstica, de mudana e adaptao a novas circunstncias, sendo
capaz de reverter ou compensar as perdas com outras capacidades (Villar, 2004). Desta
perspectiva resulta um elevado potencial para a interveno com vista optimizao do
desenvolvimento, nomeadamente atravs de programas educativos especficos que promovam
o exerccio e treino de determinadas funes e competncias (Fonseca, 2005; Osrio, 2007);
2 A corrente terica designada de Ciclo Vital (Ciclo de Vida ou Life-span), perspectiva o desenvolvimento como um processo em que tm lugar tanto perdas como ganhos e que se estende ao longo de toda a vida e em diversos contextos, de forma dinmica e no estandardizada princpio da multilinearidade. Esta corrente insere-se nos modelos dialcticos (contrastando com os mecanicistas ou organicistas) que consideram que o desenvolvimento no depende apenas de factores maturativos ou biolgicos (factores internos), integrando tambm factores contextuais e scio-culturais (e.g. histria pessoal e acontecimentos de vida), em interaco contnua e recproca princpio do multideterminismo (Baltes & Baltes, 1986; Fonseca, 2005; Osrio & Pinto, 2007).
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Captulo I Enquadramento Terico
e) a posio de que as ideias, percepes e vidas reais das pessoas idosas devem ser o ponto
de partida da interveno (e da investigao), devendo procurar desencadear-se uma nova
compreenso do que j est presente no educando (Barros-Oliveira, 2006).
1.1. Do envelhecimento demogrfico ao envelhecimento individual o papel da Psicologia Educacional
As tendncias demogrficas da generalidade dos pases europeus, incluindo Portugal,
apontam para a reduo das taxas de natalidade e aumento da esperana mdia de vida, o que
conduz ao aumento do nmero de idosos. O Eurostat (Departamento de Estatstica da Unio
Europeia) prev que, em meados do sculo XXI, um em cada trs portugueses ter 65 ou mais
anos (Pal & Fonseca, 2005).
Desde a dcada 70 do sculo XX, altura em que comearam a emergir as preocupaes
com o envelhecimento populacional a uma escala mundial, foram sendo realizados encontros
poltico-sociais internacionais a fim de delinear estratgias de aco. Destaque-se, a fim de
nos reportarmos e situarmos num contexto scio-histrico, a realizao em 1982 da I
Assembleia Mundial de Viena sobre o Envelhecimento, que viria a consagrar o Plano de
Aco Internacional para o Envelhecimento de Viena, do qual, entre outras consideraes e
recomendaes, se podem realar trs aspectos fundamentais: desenvolvimento de um papel
activo na sociedade; preparao para esse papel na fase de reforma (a partir da idade adulta,
todas as pessoas devem preparar-se para a reforma) e oferecer nesta fase que se alarga cada
vez mais no tempo a oportunidade de satisfao das necessidades de realizao pessoal
atravs de uma srie de actividades, nomeadamente as relacionadas com a formao contnua
e com a participao ininterrupta na famlia e na comunidade (Osrio & Pinto, 2007).
J em 2002, as Naes Unidas (ONU) reunidas em Madrid, na II Assembleia Mundial
sobre o Envelhecimento, chamaram a ateno para a globalidade do fenmeno do
envelhecimento populacional, que se estendera entretanto aos pases ditos em vias de
desenvolvimento, embora com um aumento maior e mais rpido nos pases ditos
desenvolvidos (ONU, 2002). No Plano de Aco Internacional para o Envelhecimento de
Madrid, sustenta-se uma aco integrada a vrios nveis e em todos os pases, de acordo com
as seguintes prioridades: assegurar e manter o desenvolvimento em todas as idades, criar
ambientes potenciadores para todos os grupos etrios e assegurar o bem-estar das pessoas
idosas (Osrio & Pinto, 2007).
Por sua vez, a Organizao Mundial de Sade (OMS) tem vindo a analisar o
envelhecimento global e os desafios que se colocam no s populao que envelhece, mas
4
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Captulo I Enquadramento Terico
s sociedades que se vo necessariamente modificando. De acordo com a viso da OMS
(OMS, 2002), s um forte sentido de compromisso da sociedade (atravs de polticas
educativas, sociais e culturais) pode fornecer a cada indivduo os recursos necessrios que lhe
permitam desenvolver a sua prpria expresso de envelhecimento, numa perspectiva
desenvolvimentista. Um dos principais conceitos propostos pela OMS o de envelhecimento
activo, sugerindo que as pessoas melhorem a sua qualidade de vida medida que
envelhecem, desenvolvendo o seu potencial de bem-estar fsico, social e mental e
participando socialmente, com papis activos, prolongando assim o seu envelhecimento
atravs de uma vida de qualidade. Este conceito surge no seio de um paradigma que desafia a
ideia tradicional de que o desenvolvimento termina ou que as oportunidades de aprendizagem
so menores na idade adulta avanada. Para alm disso, refora a natureza multidimensional
do bem-estar associado sade, que tem vindo a ser amplamente investigada na Psicologia3.
Alm dos desafios que se colocam ao nvel da implementao de polticas
governamentais nos diferentes pases, importa tambm destacar o papel que cada indivduo
assume no seu prprio desenvolvimento. Num despacho do Ministrio da Sade, em Portugal,
(2004) podemos ler o seguinte: Conseguir viver o mais tempo possvel, de forma
independente, no seu meio habitual de vida, tem que ser um objectivo individual de vida e
uma responsabilidade colectiva para com as pessoas idosas. Em conformidade com esta
afirmao, sustentamos que, criadas as redes de suporte formal e informal4 de apoio aos
idosos, num plano individual que remanescem as aces, estratgias e percepes que
garantem um envelhecimento activo.
Posto isto, coloca-se uma importante questo Psicologia: como desenvolver
intervenes dirigidas melhoria da capacidade individual para regular o prprio
envelhecimento ou da auto-regulao do bem-estar ao longo deste processo? A Psicologia
Educacional enquadra-se aqui pelo seu carcter interventivo, nomeadamente ao nvel do
3 Segundo Novo (2005, 2005a), coexistem trs perspectivas sobre o bem-estar: o bem-estar subjectivo proposto por Diener, que foca a dimenso individual e subjectiva do bem-estar, privilegiando a vertente emocional numa perspectiva hednica (satisfao do ter); o bem-estar psicolgico, que de acordo com o modelo de Ryff, engloba vrias dimenses que expressam o funcionamento normal positivo ao nvel do bem-estar no domnio privado, estando ligado perspectiva da eudaimonia (desenvolvimento do ser); e o bem-estar social, proposto por Keys, que caracteriza o funcionamento positivo ao nvel da relao do indivduo com o domnio pblico e social. 4 Segundo Pal e Fonseca (2005), a rede de suporte formal composta por organismos de ajuda governamentais e constituda por vrias instituies (Centros de Dia, Apoio Domicilirio, Hospitais de Dia, Lares, Centros de Convvio, etc.). A rede de suporte informal (ou rede natural de ajuda) constituda pelo companheiro, parentes, filhos, amigos e vizinhos.
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Captulo I Enquadramento Terico
desenho, implementao e avaliao de intervenes psico-educacionais, que sejam
promotoras do desenvolvimento e bem-estar das pessoas que esto a viver a ltima etapa do
seu ciclo de vida.
Porm, constata-se que a Psicologia Educacional ainda no tem prestado suficiente
ateno terceira idade. preciso, segundo Villar (2004), fazer um esforo maior de
integrao do corpo de conhecimentos tericos prtica e vice-versa.
Devido s necessidades e caractersticas nicas da populao idosa, h que identificar
aspectos que interferem no desenho, implementao e avaliao de qualquer interveno.
Alm das mudanas fsicas e doenas relacionadas com a idade que influenciam as estratgias
e tarefas que os idosos empregam para a manuteno da sua sade e bem-estar, h que
considerar tambm o seu sistema de valores e crenas. Connel (1999 refere, como exemplo,
que os adultos idosos podem interpretar alguns sintomas como fadiga ou depresso,
percepcionando-os como inevitveis no processo de envelhecimento ou no os avaliando
como graves.
Outra orientao para a interveno nesta rea prende-se com a necessidade de ir alm do
carcter remediativo, no devendo a Psicologia Educacional do idoso limitar-se a corrigir as
situaes j existentes, mas antes preveni-las, tal como defende Barros-Oliveira (2006).
Neste trabalho, por no existirem indicadores exactos e consenso quanto ao limite de
idade a partir do qual as pessoas so consideradas idosas, considera-se para esse fim a idade
de 65 anos, associada idade legal da reforma em Portugal (embora se deva referir que a
mesma no corresponde idade mdia efectiva de sada do mercado de trabalho a qual
menor (mdia geral de 62.2 anos), segundo o Eurostat (citado por Ministrio do Trabalho e da
Solidariedade Social, 2004). Usamos ainda o termo snior, para nos referirmos aos indivduos
maiores de 50 anos de idade, com caractersticas diferenciadas (podem encontrar-se no
mercado de trabalho, na pr-reforma ou j na reforma) e que pretendemos que enfatize
aqueles indivduos que procuram activamente o seu desenvolvimento psicolgico e
educativo5.
Nos tpicos seguintes, destacaremos as teorias de envelhecimento activo mais relevantes
na literatura actual, propondo, por fim, o coping proactivo como uma estratgia individual
5 Para uma melhor compreenso, ver a distino entre modelo scio-competente e modelo assistencial, defendida por Lemieux (1997).
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Captulo I Enquadramento Terico
relevante para um envelhecimento bem-sucedido e cuja modificabilidade possvel atravs da
interveno psicoeducacional.
1.2. Modelos psicolgicos para um envelhecimento bem-sucedido o contributo do modelo SOC
A literatura tradicional sobre este tema (surgida a par do interesse progressivo nas
temticas do envelhecimento, entre as dcadas de 60 e 70) focava-se sobretudo na formulao
de critrios, mas foi criticada precisamente por estes serem fixos e normativos (muito
associados s sociedades ocidentais), no considerando os processos, nem a multiplicidade de
padres no envelhecimento bem-sucedido (Ouwehand et al., 2007).
Nos ltimos anos, a nfase tem vindo a ser progressivamente colocada na formulao de
critrios que ajudem definio dos processos envolvidos no envelhecimento bem-sucedido.
Um dos modelos que rene maior consenso o modelo SOC (SelecoOptimizao-
Compensao), proposto por Paul Baltes, em 1987, como uma teoria geral do
desenvolvimento adaptativo e da gesto de ganhos e perdas (Baltes & Smith, citados por
Fonseca, 2005, p. 99), em conformidade com os princpios da psicologia desenvolvimentista
do Ciclo de Vida.
Sob esta teoria, o envelhecimento bem-sucedido refere-se resilincia do indivduo que
consegue atingir um balano positivo entre os ganhos (maximizao) e as perdas
(minimizao) durante o desenvolvimento ao longo da vida (Ouwehand et al., 2007).
O modelo SOC assume a possibilidade de haver trajectrias individuais, no-normativas,
igualmente preconizadoras de um envelhecimento bem-sucedido. A base fundamental a de
que qualquer processo de desenvolvimento envolve uma combinao de estratgias de
seleco, optimizao e compensao (Baltes, 1997; Baltes, Baltes, Freund, & Lang, 1999;
Fonseca, 2005). Na presena de perdas e/ou quando os recursos so limitados (e.g., energia,
tempo), as pessoas seleccionam objectivos de entre os domnios da vida que consideram
importantes, estabelecendo uma hierarquia pessoal coerente que susceptvel de conferir
satisfao e controlo pessoal. Para manter um certo nvel de funcionamento, optimizam os
recursos necessrios (i.e. suficientes e adequados, internos ou externos), que facilitam o
sucesso nesses domnios (e.g., desenvolvimento de novas competncias; uso de energia fsica
e psquica para alcanar o objectivo; pedido de ajuda institucional). Finalmente, recorrendo a
mecanismos internos (de natureza comportamental, psicolgica) e externos (de natureza
cultural), compensam as perdas nos domnios relevantes (e.g., uso da tecnologia, como um
aparelho auditivo ou uma cadeira de rodas; aumento do esforo pessoal investido em
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Captulo I Enquadramento Terico
determinado domnio da vida; aprendizagem de novas competncias que se revelem
necessrias). Desta forma, os seres humanos adaptam-se s mudanas biolgicas, psicolgicas
e scio-econmicas e criam um ambiente propcio a um desenvolvimento bem sucedido, em
qualquer etapa da vida (Fonseca, 2005).
Isto significa que a pessoa idosa no lida apenas com o declnio (embora, de acordo com
diversos autores, entre os quais, o prprio Baltes, tal seja inevitvel, nomeadamente do ponto
de vista biolgico), mas continua a investir em processos auto-regulatrios, ou seja, continua
a dedicar-se a objectivos pessoais e de crescimento (Ouwehand et al., 2007).
Uma vez que os stressores, como o declnio na sade, podem multiplicar-se enquanto os
recursos podem diminuir na velhice, os processos de seleco, optimizao e compensao
tornam-se ainda mais importantes para garantir o balano entre os ganhos e as perdas (Baltes,
1997). Como resultado, os indivduos tendem a focar-se nos seus objectivos mais importantes,
reconstruindo a sua hierarquia de objectivos. Vrios autores salientam a importncia da
aceitao (ou flexibilidade acomodativa) na idade adulta avanada (Ouwehand et al., 2007).
Wrosch, Scheier, Miller, Schulz e Carvar (citados por Ouwehand et al., 2007) referem que o
desinvestimento de objectivos inatingveis est associado a um maior bem-estar subjectivo em
indivduos mais velhos (55-89 anos), mas apenas quando estes indivduos tm a tendncia
para encontrar novos objectivos que sejam significativos para si, um processo que designam
por reinvestimento.
De notar que a optimizao e a compensao parecem ser as estratgias mais relacionadas
com o envelhecimento bem-sucedido. Por exemplo, num estudo longitudinal conduzido por
Lang, Rieckmann e Baltes (2002), com 195 adultos com idades compreendidas entre os 70 e
os 103 anos, estas estratgias mostraram-se preditoras da sobrevivncia 4 anos depois. Os
sobreviventes apresentaram maior seleco das suas actividades de lazer, indicado por
investirem energia num leque mais reduzido de actividades e maior optimizao, j que
aumentavam as horas de sono (como forma de regenerar energia) e investiam tempo varivel
nas actividades seleccionadas. Estes resultados foram mais robustos para aqueles que tinham,
partida, mais recursos, ilustrando o facto de a optimizao e a compensao gerarem
recursos, mas tambm estarem dependentes dos mesmos.
Pelo facto de ser um modelo abrangente, no explicitando contedos e mecanismos
especficos dos processos e resultados do desenvolvimento, o SOC aplicvel a uma grande
variedade de teorias mais finas, podendo estudar-se os processos SOC numa variedade de
dimenses do funcionamento humano (Baltes, 1997; Fonseca, 2005).
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Captulo I Enquadramento Terico
1.3. Coping no envelhecimento o conceito de coping proactivo e a sua relao com o envelhecimento bem-sucedido
Do ponto de vista histrico-cientfico, o conceito de coping evoluiu num contnuo que vai
desde a gesto do stress e adaptao persecuo de sucesso e objectivos (Frydenberg, 2002).
As teorias tradicionais sobrestimavam a natureza reactiva e compensatria do coping,
negligenciando aspectos como objectivos, propsito e significado (aspectos positivos que,
anteriormente, estavam mais ligados ao campo terico das teorias da motivao e aco). Em
contraste, a noo de coping proactivo vem enfatizar estes aspectos e dar relevo a uma
perspectiva temporal de futuro que tambm pode estar presente no confronto com uma
situao potencialmente stressora (Greenglass, 2002; Schwarzer & Taubert, 2002).
luz dos objectivos da presente investigao, debruar-nos-emos em particular sobre o
coping proactivo. Bode e colaboradoras (2007) sustentam que, relativamente ao
envelhecimento, este um conceito especialmente promissor se perspectivado como uma
combinao de gesto/regulao do risco e gesto/regulao de objectivos. Veremos que este
conceito est ligado preparao para um envelhecimento bem-sucedido, na medida em que
capacita a pessoa para se preparar para eventuais problemas do foro fsico, psicolgico,
funcional, financeiro ou social, no apenas do ponto de vista da preveno de declnios ou
perdas, mas tambm sob a perspectiva da formulao de objectivos positivos que trazem
significado e qualidade de vida, mesmo perante a possibilidade de deterioraes (Bode et al.,
2008).
Numa tentativa de organizar as principais contribuies para o estudo do coping
proactivo, apresentamos, em primeiro lugar, a categorizao dos vrios tipos de coping
proposta por Schwarzer e Taubert (2002). Nos tpicos seguintes, desenvolveremos os vrios
modelos tericos, analisaremos a avaliao do coping proactivo e apresentaremos evidncias
empricas encontradas na literatura que suportam a relao do coping proactivo com o
envelhecimento bem-sucedido.
Vrios tipos de coping
Schwarzer e Taubert (2002) sugerem uma distino entre quatro tipos de coping
(reactivo, antecipatrio, preventivo e proactivo), distinguindo-os essencialmente em dois
aspectos: perspectiva temporal (do stressor) e certeza subjectiva (do acontecimento). Os
autores referem que cada tipo de coping serve funes especficas e exige diferentes pr-
requisitos. Esta categorizao bastante vantajosa na medida em que possibilita alargar o
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Captulo I Enquadramento Terico
conceito de coping a um quadro terico que engloba a gesto de riscos e objectivos, para alm
da mera resposta a eventos negativos.
O coping reactivo espelha o esforo compensatrio para lidar com um stressor presente
ou passado, que causou perda ou dor (p.e., sofrer um acidente, lidar com o divrcio). O
coping antecipatrio diz respeito ao esforo para lidar com uma ameaa iminente, cuja certeza
quanto sua ocorrncia quase absoluta (p.e., preparar-se para uma entrevista, preparar-se
para a reforma). Neste caso, a situao futura avaliada como tendo um risco potencial, que
pode ser percebido como prejudicial, desafiante ou um misto dos dois. J no caso do coping
preventivo, o indivduo percepciona ambiguidade em acontecimentos de futuro que podem ser
potencialmente ameaadores (p.e., enfrentar uma reforma no desejada, perder o emprego),
empregando esforos para se preparar para a incerteza a longo prazo, pelo que este tipo de
coping no dirigido a nenhuma situao especfica. Como veremos adiante, o coping
proactivo diferencia-se dos anteriores, na medida em que uma dada situao (que pode ou no
vir a concretizar-se num futuro mais ou menos distante) pode ser vista como risco, exigncia
ou oportunidade de futuro, sendo enfrentada como um desafio pessoal.
Modelos tericos do coping proactivo
O coping proactivo pode ser visto ora como mais disposicional (Schwarzer & Taubert,
2002), ora como mais processual (Aspinwall & Taylor, 1997) ou ainda como um construto
mediador (Greenglass, 2002). Esta uma distino importante a fazer quando falamos de
coping proactivo, j que um mesmo termo usado sob perspectivas distintas.
Aspinwall e Taylor (1997) foram pioneiras na apresentao deste conceito, revelando que
em vrios domnios da vida as pessoas empreendem esforos antes de um acontecimento
potencialmente stressante (inespecfico ou ambguo) ocorrer, de forma a preveni-lo ou
modificar o seu impacto.
No modelo de coping proactivo que apresentam, estas investigadoras sustentam que este
deve ser interpretado como uma competncia ou conjunto de aptides para lidar com
situaes potencialmente ameaadoras antes destas se tornarem realidade. So consideradas
aptides importantes a capacidade para antecipar futuras ameaas, avaliar a situao, tomar
medidas destinadas ao estabelecimento de objectivos e de planos, entrar em aco e avaliar o
processo (Bode et al., 2008). Quando comparado com o coping reactivo (viso tradicional), o
coping proactivo requer diferentes aptides, por exemplo, a informao e a avaliao, devido
natureza ambgua dos stressores, tendem a ser mais importantes do que o suporte emocional,
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Captulo I Enquadramento Terico
e a avaliao positiva do stressor no se revela to til como no coping reactivo (Aspinwall &
Taylor, 1997).
O modelo concebe uma sequncia de 5 estdios ou fases: 1) Acumulao de recursos: diz
respeito ao planeamento e organizao de recursos limitados (como o tempo e o dinheiro), s
aptides de coping proactivo e ao apoio social, que serve funes especficas, nomeadamente,
apoio instrumental e emocional; esta fase crucial para todas as seguintes; 2)
Reconhecimento de potenciais stressores a deteco de um potencial stressor envolve
ateno e interpretao de sinais do exterior (ambiente) e sinais internos (podendo resultar de
uma reflexo que o individuo faz sobre a sua vida e os seus objectivos); 3) Avaliao inicial
de potenciais stressores: centra-se, pelo menos, em duas tarefas que intentam avaliar o estado
actual e potencial do stressor, bem como a importncia para o indivduo: definio do
problema (i.e. tentar dar sentido a algo ambguo, atravs de esquemas que so influenciados
por vrias variveis, como a salincia, representatividade, experincia passada, percia, e
atravs da simulao mental, i.e. projeco no futuro do potencial stressor e suas possveis
implicaes ou mudanas) e regulao da activao emocional negativa; 4) Esforos de
coping preliminares: esforos empregues para prevenir ou eliminar um stressor reconhecido
ou suspeitado, envolvendo actividades de planeamento, procura de informao, aces
iniciais, entre outras estratgias activas (e no de evitamento); dependem da avaliao que
tenha sido feita do potencial stressor e so influenciados por crenas de auto-eficcia e de
controlo; 5) Elicitao e uso de feedback (ou auto-avaliao): relacionado com os esforos
iniciais e com o desenvolvimento do stressor; esta fase crtica quer para a continuao da
gesto do potencial stressor, quer para a conservao de recursos (nomeadamente recursos
cognitivos e motivacionais, que permitam lidar com eventuais insucessos que ocorram nas
primeiras tentativas para lidar com o potencial stressor).
Refira-se que a simulao mental, uma representao de cenrios imitativos de
acontecimentos reais ou hipotticos (incluindo ensaios sobre acontecimentos provveis ou
fantasias acerca do futuro), para alm de conduzir identificao de um sinal de ameaa,
tambm ajuda a estabelecer um plano de aco para lidar com o potencial stressor e fornece,
desde logo, alguma informao sobre a exequibilidade desse plano (Aspinwall & Taylor,
1997). A investigao sugere que o que mentalmente simulado espelha a realidade, uma vez
que existe uma forte tendncia para que sejam seguidas as mesmas regras de plausibilidade
que o comportamento segue na realidade (Kahneman & Miller, citados por Aspinwall &
Taylor, 1997; Taylor, Pham, Rivkin, & Armor, 1998). Contudo, o modelo de coping proactivo
sustenta implicitamente que o coping cognitivo ineficaz se no for acompanhado por aces
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Captulo I Enquadramento Terico
especficas, o que implica que as actividades cognitivas como a simulao mental,
planeamento e organizao sejam postas em prtica.
Schwarzer e Taubert (2002) abordam o coping proactivo como um estilo de coping que
se refere disposio pessoal para ter (ou no) em conta situaes ameaadoras no futuro. No
entanto, tal no significa que o coping proactivo seja precedido por avaliaes negativas,
como dano, perda ou ameaa. Neste tipo de coping, as pessoas vem riscos, exigncias e
oportunidades num futuro distante, mas avaliam-nos como desafios pessoais, envolvendo-se
num padro proactivo e no reactivo, marcado por esforos geradores de recursos gerais que
facilitam a realizao de objectivos desafiantes e promovem o crescimento pessoal. Desta
forma, os autores admitem que estamos mais perante uma gesto de objectivos do que uma
gesto de riscos (como acontece no coping preventivo), o que visto como uma
oportunidade para dar significado e propsito prpria vida.
Schwarzer e Taubert (2002) assinalam que o coping preventivo e proactivo so
parcialmente manifestados nos mesmos comportamentos, como desenvolvimento de
competncias, acumulao de recursos e planeamento a longo-prazo. No entanto, a motivao
emana respectivamente da avaliao de uma ameaa ou da orientao para um objectivo, o
que significativamente diferente (sendo os nveis de preocupao maiores no primeiro caso
e menores no segundo). Por este motivo, Schwarzer e Taubert (2002) defendem que a
perspectiva de Aspinwall e Taylor (1997) cobre mais a noo de coping preventivo. No
obstante, sustentamos que a principal diferena conceptual reside noutro aspecto Aspinwall
e Taylor apresentam um modelo de processo, em que o coping proactivo tomado como um
conjunto de aptides com potencial de desenvolvimento e mudana, ao contrrio do que
entendido por Schwarzer e Taubert, cuja noo aponta mais para um estilo ou disposio
pessoal para lidar com acontecimentos causadores de stress. Apesar de cronologicamente
mais afastada, a concepo de Aspinwall e Taylor corresponde a uma questo que parece ter
vindo a reunir algum consenso na literatura sobre o coping, que o facto de este dever ser
entendido como um processo e no tanto como um acontecimento ou trao, ou seja, a eficcia
do coping parece depender mais do repertrio de respostas do indivduo do que do seu estilo
pessoal de resposta (Sorensen, citado por Sena Neves, 2008). Todavia, este um debate ainda
em aberto na literatura (Schwarzer & Knoll, 2003).
Greenglass co-autora de um dos instrumentos mais usados para a avaliao do coping
proactivo (Inventrio de Coping Proactivo) e apresenta tambm um importante contributo
para a sua compreenso, embora mantenha a conceptualizao de coping tal como definida
por Schwarzer e Taubert. A autora prope um modelo terico, segundo o qual o coping
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Captulo I Enquadramento Terico
proactivo medeia a relao entre recursos e resultados (ou efeitos) da aco de coping. Como
recursos, so identificados os internos (e.g., optimismo, crenas de auto-eficcia, elementos
afectivos e cognitivos que definem a competncia percebida para lidar com uma situao) e os
externos (encontrados no contexto, incluindo informao, ajuda prtica e suporte emocional).
Neste modelo, o coping proactivo reduz directamente efeitos negativos como a depresso, o
burnout ou o sentimento de raiva. Por outro lado, sendo este tipo de coping uma estratgia
positiva vista como promotora do crescimento pessoal, tambm produz efeitos positivos ao
nvel da eficcia pessoal e da satisfao com a vida. Para Greenglass, o coping proactivo
rene trs caractersticas principais: (a) integra estratgias de planeamento e preveno com a
realizao de objectivos auto-regulada proactivamente; (b) integra a realizao de objectivos
com a identificao e utilizao de recursos sociais; e (c) utiliza o coping emocional proactivo
para a realizao de objectivos auto-regulados. Portanto, para esta autora, o coping proactivo
inclui aspectos motivacionais e intencionais, bem como processos volitivos ligados
manuteno da aco (Greenglass, 2002). Alm disto, Greenglass (2002) chama a ateno
para uma outra caracterstica importante deste tipo de coping que se prende com o facto de ser
comum que os indivduos recorram ao recurso de outros, isto , recursos prticos,
informativos e emocionais, fornecidos por outras pessoas. Isto pode ser entendido como apoio
social, podendo este funcionar como um mediador no processo de coping ou influenciar de
forma directa e positiva o bem-estar.
Avaliao do coping proactivo
A avaliao do coping proactivo sofre da dificuldade que existe na mensurao do
coping, a qual reside na sua natureza idiossincrtica e no facto de ser determinado quer por
factores situacionais, quer por factores de personalidade (Schwarzer & Taubert, 2002;
Schwarzer & Knoll, 2003). Para a ultrapassar, Schwarzer e Taubert (2002) aconselham que as
escalas psicomtricas baseadas na teoria sejam administradas repetidamente na investigao,
defendendo que, desta forma, se podero avaliar partes importantes do processo de coping.
Um dos instrumentos especficos para avaliao do coping proactivo o PCI Proactive
Coping Inventory (Inventrio de Coping Proactivo), elaborado por Greenglass, Schwarzer,
Jakubiec, Fiksenbaum e Taubert (1999) e adaptado para vrias lnguas, entre as quais, o
Portugus (Marques, Lemos, & Greenglass, 2004). A sua construo deveu-se necessidade
de obter um instrumento que espelhasse a natureza multidimensional do coping, avaliando
diferentes estratgias usadas pelos indivduos durante o confronto ou antecipao de
stressores. Este instrumento baseia-se na teoria de coping de Schwarzer e Taubert (2002) e
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Captulo I Enquadramento Terico
numa vasta investigao emprica. Tem 55 itens, agrupados em sete subescalas (Coping
Proactivo, Coping Reflexivo, Planeamento Estratgico, Coping Preventivo, Procura de Apoio
Instrumental, Procura de Apoio Emocional e Coping de Evitamento). Das sete subescalas,
apenas duas so especificamente dirigidas ao coping proactivo (as restantes relacionam-se
com estratgias de coping reactivas) a de Coping Proactivo, dirigida realizao de
objectivos (mais ligada conceptualizao de coping proactivo de Schwarzer e Taubert), e a
de Coping Preventivo, dirigida preveno de ameaa aos objectivos pessoais (com maior
similitude conceptual abordagem de coping proactivo de Aspinwall e Taylor). O PCI
constitudo por frases que representam reaces que se podem ter perante vrias situaes do
quotidiano, da que a designao para os respondentes seja Questionrio sobre Reaces a
Acontecimentos do dia-a-dia.
Aquando do desenvolvimento de intervenes educativas fundamentadas na abordagem
ao coping proactivo de Aspinwall e Taylor (1997), Bode e colaboradoras depararam-se
recentemente (2008) com a necessidade de desenvolver outro instrumento que medisse o
coping proactivo como um conjunto de aptides que, assim entendido, seria passvel de
modificao (a teoria subjacente ao PCI implica entender o coping como uma disposio
pessoal, ou seja, como varivel atitudinal que pode ou no ser espelhada em comportamentos
e que tem menor potencial de aprendizagem intencional). Assim, desenvolveram a Utrechtse
Proactieve Coping Competentie lijst (UPCC Escala de Competncias de Coping Proactivo
de Utrecht). Esta uma escala de auto-relato composta por 21 itens relacionados com as
aptides centrais do modelo de Aspinwall e Taylor, sobretudo as que esto mais associadas s
fases 2 a 5, uma vez que a acumulao de recursos apropriados (fase 1) acontece no decurso
de um longo perodo de tempo que precede os outros estdios.
Ambos os instrumentos tm revelado boas qualidades psicomtricas, revelando-se boas
medidas para a avaliao do coping proactivo. Porm, no nos deveremos restringir ao seu
uso, sendo importante a incluso de dados dinmicos que contemplem mudanas de vrios
nveis. Para tal, Schwarzer e Taubert (2002) sugerem que se faam investigaes
longitudinais, perspectivando o coping como um processo ao longo do qual h variaes
resultantes de modificaes no contexto (configurao situacional) e nos recursos. Para isso,
no basta escolher determinados pontos no tempo, mas h que procurar usar uma medida
contnua, por exemplo, baseada na experincia do dia-a-dia dos participantes. Alm disso,
aproveitamo-nos de uma expresso usada por Novo (2005), we need more than self-reports.
Para ultrapassar este risco de distoro subjectiva na avaliao do coping proactivo (como
acontece para muitas outras medidas psicolgicas), Bode e colaboradoras (2008) e Ouwehand
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Captulo I Enquadramento Terico
e colaboradoras (2007) aconselham o uso de medidas de comportamento e/ou observaes por
terceiras pessoas, que poderiam adicionar validade s medidas de auto-relato do coping
proactivo.
Evidncias empricas
A investigao com o coping proactivo, nas conceptualizaes abordadas, bastante
recente mas tem j apontado importantes concluses acerca da relao deste construto com
outras variveis e quanto existncia de diferenas individuais significativas. Comeam a
existir alguns estudos feitos com adultos e idosos, porm, a literatura em Portugal sobre esta
temtica claramente escassa.
Segundo uma reviso feita por Schwarzer e Taubert (2002), o coping proactivo (avaliado
com a subescala de coping proactivo do PCI) encontra-se positivamente relacionado com a
auto-eficcia geral, com o planeamento e com a auto-regulao. Encontram-se ainda relaes
negativas com a depresso, auto-comiserao, desinvestimento, procrastinao e burnout.
Por sua vez, Bode e colaboradoras (2008), em estudos feitos com a UPCC, mostraram
que a competncia de coping proactivo, tal como seria de esperar, est positivamente
relacionada com competncias auto-regulatrias (e.g., ter iniciativa, investir) e com uma
orientao temporal para o futuro, tendo validade preditiva relativamente a comportamentos
de sade e realizao de objectivos (estudos longitudinais com resultados significativos para 3
e 4 meses). Uma investigao de Ouwehand, De Ridder e Bensing (2008), com adultos e
idosos (50-70 anos), veio confirmar vrias destas relaes (e.g., orientao para o futuro e
orientao por objectivos).
Num outro estudo, realizado com 343 adultos portugueses empregados, Lopes e Cunha
(2008)6 exploraram a relao do optimismo e pessimismo com o coping proactivo (medido
atravs da subescala de coping proactivo do PCI), relao esta que tem levantado alguma
controvrsia na literatura, j que ambas as variveis tm evidenciado um impacto positivo no
coping proactivo. Os resultados mostraram uma influncia positiva do optimismo sobre o
coping proactivo, e uma relao inversa para o pessimismo mediada, neste ltimo caso, pela
varivel esperana, indicando que o pessimismo pode levar a uma reduo da passividade
quando o indivduo manifesta esperana. Tais evidncias apontam para a existncia de
6 At data, esta pareceu-nos ser a nica investigao portuguesa publicada que aborda directamente o coping proactivo.
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Captulo I Enquadramento Terico
processos adaptativos de diferentes estratgias de coping, como alis a literatura tem vindo a
sustentar (cf. Aspinwall, 2005; Lopes & Cunha, 2008).
Relativamente ao estudo de diferenas individuais, Aspinwall e Taylor (1997) mostraram,
a partir da reviso de vrios estudos, como que algumas caractersticas pessoais contribuem
positivamente para o coping proactivo e como que outras aparentemente facilitam algumas
fases do coping proactivo, enquanto tendero a inibir outras. Por exemplo, os indivduos
ansiosos tendem a ser mais rpidos a detectar situaes potencialmente ameaadoras, mas
falham em conseguir reunir informao suficiente acerca das mesmas, o que os leva a investir
em esforos de coping ineficazes. Sobre isto, os resultados dos estudos de Ouwehand e
colaboradoras (2008) levam-nos a advertir que algumas diferenas individuais podem estar
mais dependentes do stressor especfico (natureza situacional do coping) e que este aspecto
deve ser acautelado nas investigaes.
Uma das variveis amplamente estudadas em associao com o coping proactivo o
apoio social. Aspinwall e Taylor (1997) advertem que, relativamente a este tipo especfico de
coping, o apoio social se revela muito mais importante do ponto de vista do suporte
instrumental que fornece (mais do que o suporte emocional que a maior parte dos autores
associa ao coping de uma forma geral). importante sobretudo nas fases de reconhecimento
(fase 2) e de avaliao inicial do potenciais stressores (fase 3), em que crucial que o
indivduo obtenha informao que o ajude a detectar potenciais stressores e a avaliar a sua
gravidade, bem como o decurso que podem tomar.
Serrani (2008) estudou a relao entre o coping proactivo (avaliado com recurso
subescala de coping proactivo do PCI) e os recursos sociais, e o peso relativo destas variveis
sobre a capacidade funcional e a depresso em 150 adultos idosos (66 99 anos), argentinos,
residentes na comunidade. Os resultados deste estudo sugerem que o coping proactivo e os
recursos sociais esto associados entre si de forma positiva e significativa, de tal modo que se
potenciam mutuamente. ainda apontada uma relao negativa de ambas as variveis com o
declnio funcional e com a depresso. Porm, esta relao diferente consoante o gnero, o
que refora a proposta do autor de que existe um modelo de gnero no binmio recursos
sociaiscoping proactivo. No caso dos homens, o coping proactivo parece permitir-lhes
aproveitar ao mximo os menores recursos disponveis, ou seja, este parece mediar a relao
entre os recursos sociais e capacidade funcional e a depresso; j as mulheres usam mais os
recursos sociais, sendo o efeito das estratgias de coping proactivo mediadas pelos recursos
sociais existentes.
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Captulo I Enquadramento Terico
A relao do coping proactivo com o envelhecimento bem-sucedido
Temos vindo a apresentar modelos tericos e evidncias empricas que agora nos
permitem justificar em que medida o coping proactivo importante para um envelhecimento
bem-sucedido, nomeadamente luz do modelo SOC.
Como vimos, os resultados do coping proactivo levam preveno do aparecimento de
stressores e tambm a uma extenso da disponibilidade de recursos. Estes aspectos so muito
importantes para a optimizao e compensao do modelo SOC aplicado ao envelhecimento,
uma vez que as pessoas idosas no s lidam com mudanas stressantes relacionadas com a
idade, como tais mudanas implicam muitas vezes perdas de recursos em vrios domnios da
vida, havendo o risco de uma espiral de perdas (p.e., o declnio na sade fsica afecta a
capacidade da pessoa para investir em certas actividades, o que pode levar a uma deteriorao
na rede de relaes sociais). Perante a disponibilidade e manuteno de recursos, os
objectivos pessoais podem ser perseguidos por mais tempo o que, em ltima anlise, contribui
para o bem-estar (Ouwehand et al., 2007). De notar que o modelo SOC no explicita as
estratgias especficas que as pessoas podem empregar, no seu dia-a-dia, em antecipao de
perdas ou ameaas ao seu bem-estar, da o encaixe pertinente da noo de coping proactivo,
sobretudo se visto como um processo.
Face a este panorama, as pessoas idosas precisam de desenvolver um repertrio de
competncias cognitivas e comportamentais associadas ao coping proactivo ou, dito de outra
forma, capacidade individual para regular o prprio envelhecimento e o bem-estar ao longo
deste processo. Tal como Steverink, Linderberg e Slaets (2005), cremos que so necessrias
intervenes focadas na melhoria destas competncias que possam cobrir vrios aspectos
ligados manuteno e aumento do bem-estar e no apenas domnios especficos
normalmente associados ao envelhecimento (como a sade, finanas, relaes pessoais, etc.).
A literatura revela ainda alguma escassez na oferta de intervenes assim concebidas, sendo
uma das excepes o programa Antecipando os Anos Dourados que procura ensinar
competncias de auto-regulao preventiva e proactiva para o envelhecimento bem-sucedido.
1.4. O programa Antecipando os Anos Dourados O programa Antecipando os Anos Dourados foi construdo por Bode e De Ridder (2004),
investigadoras ligadas Psicologia da Sade, da Universidade de Utrecht (Holanda). Este
programa constitui-se com o objectivo geral de promover um envelhecimento bem-sucedido,
focando-se na melhoria do coping proactivo, que as autoras do programa acreditam poder-se
modificar atravs de uma interveno baseada no treino de competncias.
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Captulo I Enquadramento Terico
O programa dirige-se a adultos funcionalmente independentes na pr-reforma ou na
reforma ou, seguindo outro indicador, adultos e adultos idosos. Anlises anteriores, realizadas
por Bode e colaboradoras (2007), no revelaram efeitos diferenciais que dessem pistas para
aplicar o programa a grupos especficos, o que leva as autoras a sugerir que o mesmo pode ser
aplicado a grupos heterogneos e a admitir que um programa facilmente acessvel a todas as
pessoas. No obstante, o programa pode ser desajustado para idosos que tenham entrado na
quarta idade7.
Trata-se de um programa psico-educacional breve de promoo da adaptao reforma e
ao envelhecimento. Desconstruamos algumas questes importantes contidas nesta afirmao.
um programa psico-educacional porque se foca no fornecimento de informaes e no
estmulo aprendizagem e desenvolvimento de competncias, tendo como ponto de partida as
vivncias e percepes subjectivas e objectivos pessoais de cada participante; promove a
adaptao reforma e ao envelhecimento, na medida em que procura estimular as pessoas a
investir no seu futuro, com enfoque no crescimento pessoal e na optimizao do bem-estar na
adultez e adultez avanada.
Conceptualmente, seguido o modelo de processo do coping proactivo, tal como
conceptualizado por Aspinwall e Taylor (1997).
Este programa difere de outras intervenes educacionais para pessoas idosas, na medida
em estas usam normalmente abordagens do tipo reactivo ou focam-se em temas ou problemas
especficos (Bode et al., 2006; Bode et al., 2007).
Bode e colaboradoras apresentaram, em 2006, a primeira investigao acerca do
desenvolvimento, viabilidade e resultados preliminares desta interveno. Com uma amostra
de 68 participantes (65% mulheres; 51-74 anos), obtiveram um rcio de participao
satisfatrio, com 73% dos participantes a assistir ao programa completo. A avaliao dos
participantes acerca do programa foi boa, tendo a maioria, sobretudo as mulheres, sentido o
programa como fcil. Quanto aos objectivos trabalhados individualmente no programa, os
principais domnios foram: hobbies e desporto (26%), objectivos prticos dentro/fora de
7 Baltes e Smith (citados por Pal & Fonseca, 2005) consideram a existncia de uma quarta idade, que ter incio aos 80 anos, correspondendo a terceira idade ao perodo entre os 60 e os 80 anos. No nosso ponto de vista parece, no entanto, mais importante, definir como indicador da passagem da terceira para a quarta idade, uma idade funcional mais do que atender idade cronolgica. Fonseca (2005, 2007) prope que a passagem quarta idade dependa do grau de funcionalidade e que existam, de facto, descontinuidades e diferenas qualitativas entre as idades da velhice, sendo que na quarta idade a plasticidade se reduz e a relao entre ganhos e perdas se torna desfavorvel, tornando mais difcil o processo de desenvolvimento psicolgico face a anteriores perodos da velhice.
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Captulo I Enquadramento Terico
casa (21.3%), gesto do tempo (19.7%), actividades de preparao (13.1%) e contactos
sociais (11.5%). Para 5% dos participantes no foi possvel formular um objectivo concreto e
atingvel. Para 95% dos participantes, o seu objectivo era muito importante. 25% conseguiram
atingir o objectivo durante o programa e 60% referiram que o atingiram mais ou menos
(indicando adicionalmente que precisariam de mais tempo). A maioria (92%) revelou
inteno de continuar a dedicar-se ao objectivo. Relativamente ao uso da simulao mental, a
maioria dos participantes (60%), sobretudo as mulheres, referiram que os ajudou a formular o
objectivo e as aces necessrias para o atingir, sendo que 70% disse ter usado a tcnica em
casa pelo menos uma vez. De notar que no foram encontradas outras associaes entre estes
resultados e a idade, gnero e objectivos individuais trabalhados ao longo do programa. Na
comparao entre resultados pr e ps-teste, houve um aumento das competncias de coping
proactivo (avaliadas atravs da UPCC), mas no se encontraram aumentos quanto ao
comportamento proactivo (avaliado atravs das subescalas Tomar a iniciativa e
Comportamento de investimento da Self Management Ability Scale) nem quanto
orientao proactiva (avaliada atravs da subescala de Coping Preventivo da PCI).
Num outro estudo em que se procurou estudar os efeitos do programa, realizado com 158
participantes, entre os 50 e os 75 anos, os resultados mostraram um impacto positivo e
significativo no coping proactivo (avaliado atravs da UPCC), e mantiveram-se estveis
passados 3 meses da interveno (Bode et al., 2007). Neste estudo, encontraram-se resultados
distintos para as aptides trabalhadas no programa, tendo-se verificado aumentos maiores ao
nvel do estabelecimento de objectivos concretos e uso de recursos e aumentos menores
ao nvel de aprender sobre o uso de feedback. Estes resultados esto de acordo com o tempo
investido no treino de cada uma das aptides, ao longo do programa. A avaliao do futuro
mostrou um aumento menor do que todas as outras, sugerindo que esta seja a aptido mais
complexa e mais difcil de desenvolver, provavelmente por estar associada a comportamentos
menos concretos. As autoras procuraram tambm identificar eventuais efeitos negativos, j
que se poderia prever que, ao abordar eventuais ameaas ao bem-estar, pudessem ser
desencadeadas emoes negativas como preocupao e ansiedade. No foram obtidas
evidncias neste sentido, tal como no foram encontrados efeitos resultantes de diferenas
scio-demogrficas.
Numa investigao complementar, Bode e De Ridder (2007) procuraram identificar as
motivaes, caractersticas demogrficas, psicolgicas e sociais em 158 participantes, entre os
51 e os 75 anos, com uma mdia de idade de 61.5 anos. Relativamente s motivaes
subjacentes participao no programa, a maioria dos participantes (46%) referiu que estava
19
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Captulo I Enquadramento Terico
20
procura de aconselhamento sobre como fazer a preparao para o envelhecimento e como
dar significado sua vida como reformado, enquanto outros responderam que estavam
curiosos (27%) e outros ainda que procuravam a troca de experincias sobre envelhecer
(11%), entre outros motivos, o que vai ao encontro dos objectivos gerais do programa.
Quando compararam as caractersticas scio-demogrficas dos participantes face populao
de referncia (holandesa da mesma faixa etria), verificaram que tinham uma representao
superior de mulheres, com nvel de educao elevado, divorciados, a viver sozinhos e a
reportar pior sade subjectiva, o que no surpreendeu as autoras. Por um lado, a percentagem
superior de mulheres e de um nvel de educao elevado comum na investigao sobre
intervenes com seniores ( um grupo mais inclinado a participar em intervenes
educativas), por outro lado, a anlise do estado marital, do agregado familiar e da sade
subjectiva levam a uma percepo de risco (p.e., solido, declnio fsico, doena crnica,
baixa satisfao com a vida) que activa a vontade de agir e procurar ajuda. Uma das hipteses
era a de que o incio do comportamento proactivo apontasse para a combinao de um certo
nvel de stress (p.e., preocupao no patolgica com aspectos ligados ao envelhecimento)
com a existncia de recursos pessoais (ateno e energia para o investimento em estratgias
de coping proactivo), o que se veio a verificar, a par de ser tambm importante uma certa
percepo de auto-eficcia na regulao do prprio comportamento.
1.5. A presente investigao At data, no foram realizados estudos de adaptao do programa Antecipando os Anos
Dourados para alm do que aqui apresentamos. Por esta razo desenhmos uma investigao
que intenta apresentar dados decorrentes de uma avaliao formativa e de processo, para alm
dos relativos explorao de resultados (eficcia) do programa. Para este ltimo bloco
avaliativo, fomos conduzidos pela necessidade de adaptar instrumentos para a lngua
portuguesa e avaliar as suas qualidades psicomtricas, nomeadamente, a Escala de
Competncias de Coping Proactivo de Utrecht UPCC (por razes bvias) e o Questionrio
de Atitudes face ao Envelhecimento AAQ (uma vez que a OMS, em 2008, admitiu que a
percepo de envelhecimento um dos factores que afecta a sade das pessoas idosas, pelo
que nos pareceu vantajoso validar uma medida atitudinal face ao prprio envelhecimento).
De acordo com estes objectivos, conduzimos dois estudos (cujos procedimentos
metodolgicos e respectivos resultados apresentamos nos captulos seguintes), o Estudo 1
sobre a Avaliao das qualidades psicomtricas do AAQ e da UPCC e o Estudo 2 relativo
ao Estudo-piloto do programa Antecipando os Anos Dourados.
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Captulo II Estudo 1
Captulo II Avaliao das qualidades psicomtricas do AAQ e da UPCC (Estudo 1)
Apresenta-se o estudo das caractersticas psicomtricas do Questionrio de Atitudes
face ao Envelhecimento e da Escala de Competncias de Coping Proactivo de Utrecht,
cujas verses experimentais portuguesas foram traduzidas e adaptadas no mbito deste
trabalho. Inicia-se com a descrio das medidas, dos respectivos procedimentos e
participantes do estudo, sendo posteriormente analisados os principais resultados.
2.1 Metodologia
2.1.1 Descrio das medidas
Questionrio de Atitudes face ao Envelhecimento (AAQ)
Constata-se que uma larga maioria da investigao feita sobre atitudes face aos idosos
e ao envelhecimento se baseia em questionar jovens e no os prprios idosos (Laidlaw et
al., 2007), o que pode levar a um enviesamento nas interpretaes que so da elaboradas.
Deste modo, procurou-se uma medida de atitudes face ao envelhecimento que (1)
oferecesse boas qualidades psicomtricas, (2) fosse especialmente dirigida populao na
adultez e adultez avanada e (3) pudesse ser utilizada no contexto da avaliao do
programa Antecipando os Anos Dourados. Cr-se que o programa, ao estimular a reflexo
e aco pessoal sobre vrios aspectos relacionados com o envelhecimento, possa provocar
uma mudana positiva nas atitudes pessoais face a este processo.
Em 2007, o grupo WHOQOL-OLD8 desenvolveu uma medida de auto-relato a partir
das atitudes expressas pela pessoa idosa face ao processo de envelhecimento. Surgiu,
assim, o Attitudes to Ageing Questionnaire (AAQ), que traduzimos por Questionrio de
Atitudes Face ao Envelhecimento. A construo e validao do AAQ abrangeu uma
aplicao de campo a uma amostra de convenincia composta por participantes de 20
centros WHOQOL-OLD dispersos por vrias cidades mundiais, tendo sido seguidos
exigentes padres de desenvolvimento de medidas, definidos pelo grupo WHOQOL-OLD.
8 A sigla WHOQOL representa um grupo transnacional pertencente OMS World Health Organization Quality of Life Group, que tem uma seco dedicada a adultos idosos, de onde surge o sufixo OLD.
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Captulo II Estudo 1
Assim, conseguiu-se uma medida com validade transcultural o que possibilita fazer
comparaes correndo um menor risco de enviesamento cultural (Chachamovich & Fleck,
2008; Chachamovich, Fleck, Trentini, Laidlaw, & Power, 2008).
O AAQ verso reduzida com 24 itens, consiste numa medida de auto-relato,
composta por trs subescalas, com 8 itens cada: (1) Perdas Psicossociais: relativa a perdas
significativas para os idosos, em que o envelhecimento visto sobretudo como uma
experincia negativa, que envolve perdas psicolgicas e sociais (PSI9=.81); (2) Mudanas
Fsicas: inclui itens relativos sade, exerccio e experincia de envelhecer per se
(PSI=.81); (3) Desenvolvimento Psicolgico: tem um foco positivo no que pode ser
designado como Sabedoria ou Crescimento / Desenvolvimento, incluindo itens que
reflectem ganhos positivos relativos ao prprio e relao com outros, que podero ser
vistos como surpreendentes face ao envelhecimento (PSI=.74).
Os itens esto escritos ora numa forma geral, ora numa forma mais pessoal, uns
escritos numa forma positiva e outros numa forma negativa.
No Quadro 1 apresenta-se as trs subescalas e respectivos itens do questionrio. Os
itens 1 a 7 correspondem parte geral do questionrio ( pedido ao participante que
responda o quanto concorda com cada uma das afirmaes que se referem a pessoas idosas
de uma forma geral), enquanto os itens 8 a 24 evidenciam uma parte mais pessoal (
pedido ao participante que assinale o quo verdadeiras as afirmaes so relativamente a si
prprio). Em ambas as partes a escala de resposta de tipo Likert de 5 pontos, mas na parte
geral os participantes respondem de (1) discordo totalmente a (5) discordo totalmente,
enquanto na parte pessoal respondem de (1) nada verdadeiro a (5) extremamente
verdadeiro.
A cotao das respostas obtida mediante o clculo numrico da pontuao obtida em
cada subescala (de 8 a 40). Para a pontuao total, calcula-se a soma das subescalas,
invertendo-se primeiramente o total da subescala 1.
9 O PSI um coeficiente de preciso da Teoria de Resposta ao Item (TRI), equivalente ao alpha de Cronbach. A TRI tem vindo a ser cada vez mais utilizada como alternativa teoria clssica dos testes (Almeida & Freire, 2003), sendo indicada para comparar a equivalncia de desempenho de itens, quando as comparaes so feitas com dados cruzados de diferentes populaes, como grupos etrios ou culturais distintos (Chachamovich, 2007).
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Captulo II Estudo 1
Quadro 1 Questionrio de Atitudes face ao Envelhecimento
Subescala 1: Perdas Psicossociais (3) A velhice um tempo de solido. (6) A velhice um perodo depressivo da vida. (9) medida que envelheo tenho mais dificuldade em falar sobre os meus sentimentos. (12) Vejo a velhice principalmente como um perodo de perda. (15) Estou a perder a minha independncia fsica medida que fico mais velho(a). (17) medida que me torno mais velho(a) encontro maior dificuldade em fazer novos
amigos. (20) Agora que estou mais velho(a), no me sinto envolvido(a) na sociedade. (22) Sinto-me excludo(a) de algumas coisas, devido minha idade.
Subescala 2: Mudanas Fsicas (7) importante fazer exerccio em qualquer idade. (8) Envelhecer tem sido mais fcil do que pensava. (11) No me sinto velho(a). (13) A minha identidade no definida pela minha idade. (14) Tenho mais energia do que esperava ter na minha idade. (16) Problemas com a minha sade fsica no me impedem de fazer o que quero. (23) A minha sade est melhor do que esperava para a minha idade. (24) Procuro manter-me to em forma e activo(a) quanto possvel, fazendo exerccio.
Subescala 3: Desenvolvimento Psicolgico (1) medida que as pessoas envelhecem, so mais capazes de lidar com a vida. (2) um privilgio envelhecer. (4) A sabedoria vem com a idade. (5) H muitas coisas prazerosas no envelhecer. (10) medida que envelheo aceito-me cada vez mais a mim prprio(a). (18) muito importante transmitir a minha experincia aos mais jovens. (19) Acredito que a minha vida foi relevante. (21) Quero ser um bom exemplo para os mais jovens.
Escala de Competncias de Coping Proactivo de Utrecht (UPCC)
A Escala de Competncias de Coping Proactivo de Utrecht (UPCC) foi construda por
uma equipa de investigadoras holandesas (Bode et al., 2007; Bode et al., 2008)
especificamente para medir as competncias de coping proactivo, foco do programa
Antecipando os Anos Dourados. A construo da escala foi sustentada teoricamente nas
cinco fases do coping proactivo, de acordo com o modelo de Aspinwall e Taylor (1997).
Na sua formulao inicial continha 22 itens. Bode e colaboradoras (2007) verificaram
entretanto que a estrutura interna revelava 4 factores centrais se excludo um item, tendo
proposto 4 subescalas: (1) Formulao realista de objectivos (r=.81), (2) Uso de feedback
(r=.76), (3) Avaliao do futuro (r=.74) e (4) Uso de recursos (r=.70). Em estudos mais
recentes, cuja reviso foi feita por Bode e colaboradoras (2008), tem-se constatado que, em
conjunto, os 21 itens podem formar um nico factor, com um total de varincia explicada a
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Captulo II Estudo 1
variar entre 26.7% e 48.1%, apontando assim para uma medida de uma nica dimenso: a
competncia de coping proactivo. A escala tem mostrado bons resultados psicomtricos
(Bode et al., 2008), nomeadamente os relativos validade de construto, validade preditiva
e preciso. Tem tambm revelado sensibilidade interveno, o que demonstra que a
competncia de coping proactivo , de facto, passvel de mudana.
Os itens que constituem a escala so apresentados no Quadro 2. O participante deve
responder assinalando a resposta que melhor descreve o grau em que se sente capaz de
realizar cada uma das afirmaes, de acordo com uma escala tipo Likert de 4 pontos, de (1)
No sou capaz a (4) Sou bastante capaz. Os resultados so obtidos por intermdio do
clculo da mdia e variam entre 1 e 4.
Quadro 2 Escala de Competncias de Coping Proactivo de Utrecht
Eu consigo Subescala 1: Estabelecimento de objectivos realistas
(1) Cumprir com os meus prprios planos, fazendo o que realmente queria fazer. (2) Persistir nos meus planos. (3) Fazer planos realistas. (4) Transformar os meus desejos em planos. (5) Encontrar solues. (6) Reconhecer as minhas prprias barreiras. (7) Reconhecer as minhas possibilidades e oportunidades. (8) Encontrar alternativas, se uma soluo no funciona.
Subescala 2: Uso de feedback (9) Parar um momento para apreciar os meus sucessos.
(10) Aprender com contrariedades. (11) Recompensar-me pelas coisas que correm bem. (12) Ver os aspectos positivos num fracasso. (13) Confirmar se consegui realizar aquilo que queria.
Subescala 3: Avaliao do futuro (14) Estimar futuros progressos. (15) Antecipar o futuro. (16) Avaliar o contexto que me rodeia. (17) Reconhecer os primeiros sinais de mudanas indesejadas.
Subescala 4: Uso de recursos (18) Procurar apoio social. (19) Procurar apoio quando as coisas se tornam difceis. (20) Estar aberto a sugestes e conselhos de outras pessoas. (21) Escutar o meu corpo.
Relativamente a diferenas scio-demogrficas, nomeadamente educao, gnero e
idade, no tm sido encontradas diferenas significativas (Bode et al., 2008), o que indica
que a UPCC tem potencial para ser aplicada a um grupo vasto da populao na
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Captulo II Estudo 1
comunidade, acautelando-se o seu uso em populaes clnicas cuja validao ainda no foi
realizada.
Para alm do uso em investigao, particularmente sobre auto-regulao, a aplicao
da UPCC pode ser til a profissionais que queriam ajudar os seus clientes a atingir e
manter objectivos de sade a longo-prazo (Bode et al., 2008).
2.1.2 Procedimento
A adaptao de qualquer medida psicolgica a uma outra lngua envolve uma srie de
passos, muitos dos quais para reduzir os problemas comuns decorrentes de qualquer
trabalho de traduo (Hill & Hill, 2005). A Figura 1 apresenta, sucintamente, o processo
envolvido na traduo e adaptao para a lngua portuguesa das duas medidas estudadas.
Figura 1 - Processo de traduo e adaptao para a lngua portuguesa do AAQ e da UPCC
Anlise estatstica das qualidades psicomtricas
116 participantes
Segunda verso experimental (de investigao)
Aplicao-piloto a 5 participantes (estudo da validade facial)
Primeira verso experimental
Comparao da verso original com a verso portuguesa (investigadora com
experincia)
Comparao das verses - construo de verso nica
Traduo para Portugus - pessoa portuguesa
Traduo para portugus - pessoa bilingue
Autorizao (directa)
Processo de traduo e adaptao da UPCC
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Anlise estatstica das qualidades psicomtricas
116 participantes
Segunda verso experimental (de investigao)
Aplicao-piloto a 5 participantes (estudo da validade facial)
Primeira verso experimental
Avaliao da traduo por duas pessoas com elevado nvel de conhecimento da
lngua inglesa
Comparao com verso em Portugus -Brasil
Traduo para Portugus
Autorizao (via correio electrnico)
Processo de traduo e adaptao do AAQ
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Captulo II Estudo 1
Os processos de traduo destas medidas foram distintos, o que decorreu de termos
pontos de partida diferentes.
No AAQ, fez-se a traduo para portugus e, reconhecendo as diferenas, mas
admitindo as semelhanas, comparou-se esta verso com uma outra em Portugus do
Brasil que, embora estivesse na verso longa, continha os itens pretendidos e as mesmas
instrues (Chachamovich et al., 2008). Posteriormente, recorreu-se a duas pessoas com
elevado nvel de conhecimento da lngua inglesa (certificao internacional reconhecida),
que, independentemente, avaliaram a adequabilidade da verso portuguesa face verso
original, tendo-se chegado assim primeira verso experimental, para aplicao-piloto.
No caso da UPCC, no se dispondo de uma verso em lngua semelhante, o processo
de traduo foi diferente. Neste caso, o primeiro passo envolveu a traduo do questionrio
para portugus por duas pessoas, uma portuguesa conhecedora da lngua inglesa e outra
bilingue, de nacionalidade portuguesa mas residente em Inglaterra. Tendo as tradues
sido semelhantes, foi pedido a uma terceira pessoa, uma investigadora com experincia,
que comparasse a verso inglesa com a verso portuguesa e chegou-se verso que serviu
de base aplicao-piloto.
Sendo a validao um processo que acompanha a investigao, no sentido em que
envolve a acumulao de evidncias com a inteno de suportar a utilizao das medidas
(Almeida & Freire, 2003), foram sendo feitas vrias avaliaes ao longo deste processo e
no somente no momento da anlise estatstica. O primeiro desses momentos aconteceu
atravs de uma aplicao-piloto do conjunto das duas medidas que se veio a designar por
Questionrios em Investigao Antecipando os Anos Dourados, o qual inclua tambm
um Questionrio de Dados Scio-demogrficos, propositadamente construdo para esta
investigao. Assim, os questionrios em investigao foram aplicados a 5 participantes,
com caractersticas semelhantes da amostra pretendida, com vista aferio da sua
validade facial (isto , compreenso dos itens e adequao da escala de resposta) e
avaliao das condies de aplicao, nomeadamente o tempo mdio de preenchimento, o
qual ficou estabelecido em cerca de 10 minutos.
Seguidamente, foram realizados pequenos ajustes para a verso final em investigao,
nomeadamente: a) clarificao de questes, com interpretao ambgua (os dois itens
Profisso/actividade profissional actual e Se reformado, por favor assinale a principal
actividade profissional que desenvolveu at reforma foram substitudos pelos seguintes
itens Actualmente, exerce alguma profisso/actividade profissional? Se sim, qual? e Se
reformado(a), por favor indique a principal actividade profissional que desenvolveu at
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Captulo II Estudo 1
reforma); b) acrscimo de itens para clarificao dos dados scio-demogrficos
recolhidos, melhorando a caracterizao da amostra (foi acrescentado o item Se
reformado(a), h quantos anos se encontra na reforma? e uma questo de resposta
fechada relativa ao agregado familiar); e c) clarificao de instrues, nomeadamente
atravs de modificao do seu formato de apresentao, por se terem detectado algumas
dvidas e, ainda, para homogeneizar as respostas dadas facilitando a posterior leitura dos
dados (e.g., aumento do tamanho e tipo de letra da instruo, acrscimo de instrues
simples como Inicia na pgina seguinte.). Esta verso encontra-se em Anexo 1.
Posteriormente, os questionrios em investigao revistos foram distribudos a
portugueses residentes na rea metropolitana de Lisboa, com idade igual ou superior a 45
anos, alfabetizados. A entrega dos questionrios foi feita ora directamente pela autora, ora
por intermedirios, nomeadamente os prprios participantes que os entregaram a amigos,
colegas e familiares que reuniam os critrios acima descritos.
Pela natureza da recolha de dados e o baixo controlo na sua aplicao, junto aos
questionrios seguia uma folha com uma apresentao sucinta da investigao e da sua
autora, informando-se que se pretendia estudar aspectos relacionados com a forma como
cada pessoa v o seu futuro e como se sente relativamente a envelhecer. Foi solicitada
colaborao voluntria e garantidos confidencialidade e anonimato.
No momento de devoluo dos questionrios, estes foram sendo colocados
aleatoriamente num envelope sem identificao dos participantes.