Universidade de Coimbra - THE NAG HAMMADI ......região de Nag Hammadi, Alto Egito, que Muhammad Ali...
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[Recensão a] MARVIN MEYER - THE NAG HAMMADI SCRIPTURES: The InternationalEdition
Autor(es): Souza, Aláya Dullius de
Publicado por: Annablume Clássica
URLpersistente: URI:http://hdl.handle.net/10316.2/24545
DOI: DOI:http://dx.doi.org/10.14195/1984-249X_3_15
Accessed : 27-Jul-2021 23:21:25
digitalis.uc.ptimpactum.uc.pt
EDITORIALGabriele CornelliJonatas R. Alvares
ARTIGOSCaio Graco e sua Relação com os Equites (Século II a.C.): breve Análise da Interpretação de Apiano de Alexandra (Século II d.C.)Alice Maria de SouzaAs Representações de Poder no Governo de Adriano Segundo Dion Cássio e a História AugustaAmérico Henrique Marquez do CoutoAs Origens da Medicina Romana na História Natural, de Plínio o VelhoAna Thereza Basílio VieiraA Fronteira Oriental do Mundo Helenístico: as Fontes Escritas Sobre o Ambiente Construído e a Sociedade nas Cidades Gregas da Região Bactro-GandharianaCibele Elisa Viegas AldrovandiNotas Sobre Galeno, a Noção de Saúde e o Debate Médico-Filosófi co Sobre a CausalidadeFlávio Fontenelle LoqueAmizade e Comunicação: aproximações entre Karl Jaspers e AristótelesGerson BreaMikhail Bakhtin e a Cultura Grega AntigaJoão Vianney Cavalcanti NutoSócrates Contra a Educação Sofística no ProtágorasJosé Lourenço Pereira da Silva
Os Primórdios da Prosa GregaKatsuko KoikeA Cidade Etimologizada: os Sentidos Acerca do Espaço Urbano nas Etymologiae deIsidoro de SevilhaLuciano César Garcia PintoConsiderações Sobre a Permanência de Formas Clássicas em Igrejas PaleocristãsRegina Helena RezendeA Imagem Ambígua da Música em Homero e HesíodoRoosevelt Araújo da Rocha JúniorUma Suspeita: acerca da Suposta Hierarquia entre Metafísica e Política no Pensamento de PlatãoWanderson Flor do NascimentoO papel da Clemência Senequiana na Narrativa dos Annales de Publius Cornelius TacitusYgor Klain BelchiorFábio Faversani
RESENHAMarvin Meyer. The Nag Hammadi Scriptures: the International Edition. New York, Harper One, 2007, 844 p. ISBN 978-0-06-052378-7Aláya Dullius de SouzaAngele Kremer Marietti (Sous La Direction de). Auguste Comte. La Science, La Societe. Paris, França: L’Harmattan, 2009, 219 pp. ISBN 978-2-296-08587-9.Lelita Oliveira Benoit
3 jul.2009
issn 2179-4960
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R E V I S T A
ARCHAI JOURNAL: ON THE ORIGINS OF WESTERN THOUGHT
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C L Á S S I C A
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resenha
MARVIN MEYER. THE NAGHAMMADI SCRIPTURES: The
International Edition. New York,Harper One, 2007, 844 p.
Resenha de Aláya Dullius de Souza*
Ao invés de fertilizante, camponês egípcio
encontra jarro contendo uma das maiores
descobertas do século XX, e o troca por cigarros
e algumas frutas. Foi em 1945, nas encostas da
região de Nag Hammadi, Alto Egito, que
Muhammad Ali avistou um vaso contendo ao todo
13 códices de papiro, num total de 52 textos (mais
de 1300 fólios), datando entre o ano 60 d.C. ao
ano 350 d.C. aproximadamente. Esses textos,
originalmente escritos em grego e traduzidos para
o copta, foram salvos para a posteridade
provavelmente por monges do mosteiro de São
Pacômio, que os esconderam nas cavernas de
Jabal al-Tarif quando em 367 d.C Athanasius de
Alexandria ordenou que uma lista de textos que
circulavam na época fossem destruídos.
Infelizmente algumas das folhas de papiro não
escaparam da destruição quando a mãe do
camponês usou uma parte da recente descoberta
para acender seu fogão à lenha.
Pode-se dizer que são alguns dos mais
notáveis textos inéditos que vieram à tona no
último século, jogando uma nova luz ao que foi o
pensamento filosófico e religioso na antiguidade.
Esses códices são uma fonte de material para o
estudo do Cristianismo, do Neoplatonismo, do
Hermetismo, dos Sethianos e Valentinianos.
* Mestranda do
Programa de Pós-
Graduação em
Filosofia da
Universidade de
Brasília.
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O volume editado por Marvin Meyer no ano
de 2007 é o resultado de um esforço conjunto de
três equipes de estudiosos que no passado já
haviam publicado versões da Biblioteca de Nag
Hammadi em inglês, francês e alemão. Essas três
equipes se reuniram por diversas vezes no Institute
for Antiquity and Christianity, em Claremont,
California, e tornaram possível essa nova tradução
da descoberta. É por esse motivo que é chamada
de “The International Edition”.
James M. Robinson representou a equipe
do Coptic Gnostic Library Project do Institute for
Antiquity and Christianity da Universidade de
Claremont. Wolf-Peter Funk foi o representante
da equipe da Berliner Arbeitskreis für koptisch-
gnostische Schriften da Faculdade de Teologia de
Humboldt, Alemanha. E Paul Hubert Poirier
representou a equipe franco-canadense do Institut
d’études Anciennes da Faculdade de Teologia e
Ciências Religiosas na Universidade de Laval, no
Québec.
As traduções já publicadas por esses três
grupos separadamente foram consultadas para
formar essa nova edição. Foi feito um estudo
minucioso tornando essa edição internacional um
resultado magnífico de uma nova fase nos estudos
da Biblioteca de Nag Hammadi. Além disso, foram
incluídos não só os textos presentes na descoberta
de 1945, mas também o material do Códice de
Berlim, descoberto anteriormente em 1896,
contendo: Atos de Pedro, Evangelho de Maria,
Apócrifo de João e Sabedoria de Jesus Cristo. Todos
os quatro possuindo características que os ligam
à maior descoberta. Também foram inclusos nessa
nova edição o material do Códice Tchacos,
descoberto mais recentemente em 1978. Nele se
encontram o Evangelho de Judas, o Livro de
Allogenes e duas cartas atribuídas a Pedro e Felipe.
A introdução da obra foi redigida por Marvin
Meyer e pela historiadora Elaine Pagels, ambos
nomes bastante conhecidos para aqueles que
estudam os gnósticos e a história do cristianismo.
Uma das coisas que difere essa edição das
anteriores é que a tradução foi feita de modo a
apresentar um inglês mais inteligível,
contemporâneo, permitindo assim uma melhor
compreensão do texto. Não se trata de uma edição
crítica do copta. São apresentadas traduções, e
não equivalências léxicas. As equipes estavam
mais preocupadas em comunicar o sentido em
inglês ao invés de meramente reproduzir cada
traço gramatical do texto copta. Nessa edição,
diferente das anteriores, não é dada a numeração
das linhas do manuscrito original, apenas suas
páginas são referidas, pois, como já foi dito, não
se trata de uma edição de manuscritos coptas,
mas de uma publicação de textos em inglês
devidamente antecedidos de ótimas introduções
que os contextualizam.
Os vários textos de Nag Hammadi e dos
Códices Tchacos e Berlim não formam um conteúdo
homogêneo, há diferenças substanciais em relação
aos pontos de vista filosóficos e teológicos. Isto
torna as introduções individuais a cada um deles
bastante úteis. Além disso, no fim da obra há
quatro artigos que elucidam melhor a contextua-
lização desse material.
Marvin Meyer aborda, em seu artigo, o
cristianismo de Tomé na Síria, que posteriormente
vai influenciar a formação do Maniqueísmo. Dentre
as obras ligadas à Escola de Tomé podemos citar
o próprio Evangelho de Tomé, bem como o Livro
de Tomé e Diálogos do Salvador.
Já John D. Turner explica a questão dos
Sethianos. Alguns dos textos ligados a essa Escola
de Pensamento, como o Apócrifo de João (Livro
Secreto de João), Natureza dos Arcontes, Evangelho
dos Egípcios, Três Estelas de Seth, Pensamento de
Norea, Zostrianos, Allogenes e outros, apresentam
uma linguagem bastante próxima da platônica e
refletem um pouco da filosofia neoplatônica. Um
fato curioso é que o primeiro tratado do códice
VI de Nag Hammadi é um trecho da República de
Platão. Outro fato digno de nota é que Porfírio
atesta que versões de Zostrianos e Allogenes
circulavam entre os membros da Escola de Plotino
em Roma, entre 240-265 d.C. Algumas das críticas
de Plotino a certas características do pensamento
gnóstico se referem justamente ao Zostrianos, que
é citado na Enéada II. Contudo, não se pode negar
que Zostrianos se utiliza de uma teologia negativa
que parece se originar de um comentário médio-
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platônico sobre o Parmênides de Platão, que
também pode ter influenciado as idéias presentes
em Allogenes e no Apócrifo de João. Além do mais,
há características do tratado Marsanes que o possa
ligar ao ensinamento neoplatônico de Jâmblico e
Theodoro de Asine no fim do terceiro século.
O terceiro artigo, escrito por Einar
Thomassen, aborda a Escola de Valentino, fundada
em torno de 140 d.C. e atacada por Irineu de
Lyon em seu Contra as Heresias e também por
Hipólito. Alguns dos textos que se destacam são:
Evangelho da Verdade, Tratado Tripartite,
Evangelho de Felipe, Tratado da Ressurreição e
outros. A Escola Valentiniana pressupõe a
ontologia da filosofia grega, em particular as
teorias monísticas dos neopitagóricos, de que tudo
deriva de um primeiro e único princípio. Assim
como os neoplatônicos, os valentinianos tentam
reconciliar a unidade e a pluralidade através de
uma teoria de emanação e restauração. Valentino
foi bastante influente em sua época, e Tertuliano,
outro conhecido padre da Igreja Romana em
formação, chegou a comentar que Valentino era
um candidato ao posto de Bispo de Roma.
Por fim há o artigo de Jean-Pierre Mahé
que trata de como há fortes elementos do
Hermetismo Egípcio em alguns dos textos da
Biblioteca de Nag Hammadi. Segundo ele, a Prece
de Ação de Graças, o Discurso sobre a Oitava e a
Nona e o Asclepius se aproximam do conteúdo do
Corpus Hermeticum.
Apesar de haver uma quantidade signifi-
cativa de heterogeneidade no material publicado
na The Nag Hammadi Scriptures podemos destacar
alguns temas freqüentes, como por exemplo a
questão do Uno, da Mônada, do Pleroma, o que
são os vícios, mitos sobre a origem do mundo,
como a alma cai na matéria, os vários níveis de
manifestação, o que ocorre com a alma após a
morte, regras de conduta, os mistérios, etc.
Obviamente também há bastante material
relacionado a Jesus e ao cristianismo em si.
É certo de que por mais de dois séculos
esses manuscritos circularam livremente pelas
regiões do Egito, Oriente Médio, Magna Grécia e
Roma (e há relatos de que algumas cópias tenham
chegado até mesmo à Gália). Tendo isto em conta
não podemos ignorar a relevância histórica deles
na formação do pensamento na antiguidade.
Essa nova edição viabilizada por Marvin
Meyer nos convida a reconsiderar nossa herança
religiosa e cultural e traz mais informação sobre
o que foi o pensamento nos primeiros séculos
da era cristã. Apesar da publicação dessa
descoberta ter sido atrasada por uma série de
empecilhos, hoje, mais de dezesseis séculos
depois, podemos ter acesso a esse material e
tirarmos nossas próprias conclusões acerca de
seus temas. Ainda que alguns desses textos
estejam envoltos em roupagem religiosa, muitos
deles apresentam temas bastante pertinentes
ao estudo da filosofia.