UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · simbólico e é utilizado para...
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
DISFONIAS FUNCIONAIS: UM ENFOQUE PELA ARTETERAPIA
Por: Sonia Maria Branco de Freitas Maia
Orientador
Prof. Fabiane Muniz
Rio de Janeiro
2005
DOCUMENTO PROTEGID
O PELA
LEI D
E DIR
EITO AUTORAL
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
DISFONIAS FUNCIONAIS: UM ENFOQUE PELA ARTETERAPIA
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como condição prévia para a
conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu”
em Arteterapia em Educação e Saúde.
Por: . Sonia Maria Branco de Freitas Maia
3
AGRADECIMENTOS
À minha mãe, pela cooperação nos
cuidados de meu filho na minha
ausência durante o curso. À Abadia
Rodrigues. À Maria Cristina Urrutigaray
e Ana Paula Lettieri, professoras que
me incentivaram e me apoiaram no
decorrer do ano letivo. À minha colega
de classe, Adriana, por compartilhar
comigo angustias, sonhos e
frustrações. Às minhas irmãs, Claudia e
Lucia, que contribuíram com críticas e
revisões. Ao meu irmão, Eduardo, com
seu fundamental apoio financeiro. E a
todos os que estiveram por perto,
mesmo que distantes.
4
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho ao meu filho Arthur,
de 9 anos, que, além de seu amor e
compreensão, me doou seu tempo de
brincar, compartilhar, aconchegos e
carinhos, o qual, sem ele, este seria
impossível de se realizar.
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SUMÁRIO
RESUMO 06
INTRODUÇÃO 07
CAPÍTULO I - O Desenvolvimento da Comunicação 09
CAPÍTULO II - O Indivíduo e a Comunicação 14
CAPÍTULO III – O Pensamento Junguiano 20
CAPÍTULO IV – A Expressão Verbal e a Voz 22
CAPÍTULO V – Arteterapia e Fonoaudiologia: um encontro 28
CONCLUSÃO 38
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 40
ÍNDICE 42
FOLHA DE AVALIAÇÃO 44
6
RESUMO
Há muitos anos, a Fonoaudiologia se preocupa em encontrar novas
técnicas terapêuticas que atuem diretamente na causa dos distúrbios da voz e
não apenas com o aspecto clínico e técnico que envolve a terapia dos
indivíduos disfônicos.
Muitos especialistas afirmam que a origem dos distúrbios da voz esta no
aspecto psicossocial do indivíduo e interfere diretamente no desempenho da
comunicação através da instalação patológica de elementos agressivos das
pregas vocais.
A arteterapia vem, através de suas técnicas expressivas, atuar como
coadjuvante na terapia da voz, permitindo ao fonoaudiólogo tratar os sintomas
e as causas dos distúrbios da voz, de forma simultânea, sem perder o aspecto
técnico e fornecendo aos pacientes um método completo e total.
Cada uma das técnicas expressivas pode tratar áreas específicas das
diversas técnicas da terapia convencional, obtendo um olhar, não apenas
sócio-construtivista, mas também holístico, tendo como princípio o homem
como elemento biopsicossocial.
O objetivo deste trabalho é analisar de que forma as técnicas
expressivas da arteterapia podem ser coadjuvantes na terapia tradicional da
fonoaudiologia em voz.
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INTRODUÇÃO
Segundo pesquisas realizadas sobre as causas e sintomas dos
distúrbios da voz, foram constatadas a presença de fatores psicogênicos,
psicológicos e psicossociais.
Estas pesquisas marcaram estes distúrbios como disfonias funcionais de
causas não orgânicas, mas que levavam, invariavelmente, à formação de
nódulos vocais e edemas de Reinke, dois dos mais freqüentes males que
acometem os pacientes vocais em consultórios de fonoaudiologia.
Especialistas puderam perceber que, alguns dos pacientes além de não
apresentarem prognóstico positivo na terapia tradicional, também
apresentavam recidiva do quadro após algum tempo da alta.
Foram questionados quais fatores levam à esta negativa e recidiva.
Desta forma, pesquisas atuais têm tomado a direção do tratamento
multi-integrado, reavaliando o olhar diagnóstico dos profissionais envolvidos no
processo clínico/terapêutico.
Por ser um processo complexo que envolve diversos aspectos do
indivíduo, a voz necessita de um olhar de totalidade para que seus distúrbios
não sejam tratados em partes dissociadas.
Nesta visão interacionista, a arteterapia deve ser encarada como peça
deste processo terapêutico.
Primeiro pela visão ampla do indivíduo; segundo, pelas possibilidades de
resgate pessoal que ela proporciona.
Sendo assim, a arteterapia vem como resposta às necessidades do
fonoaudiólogo que, em algum ponto da fonoterapia, vem partilhar dos aspectos
emocionais do paciente em tratamento, oferecendo-lhe subsídios para este
resgate.
8
Através da leitura de textos e livros, bem como artigos relacionados com
os assuntos em pauta, se procurarão discutir os aspectos da terapia dos
distúrbios de voz de origem emocional, buscando traçar um paralelo entre as
técnicas terapêuticas existentes na fonoaudiologia clínica e as novas propostas
de técnicas expressivas de utilização na arteterapia.
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CAPÍTULO I
O DESENVOLVIMENTO DA COMUNICAÇÃO
“Sem conhecer a força das palavras é impossível conhecer os homens” Confúcio
Os antropólogos afirmam que a palavra, antes de se tornar um meio de
comunicação entre os homens, era utilizada, primeiro, para exprimir
sentimentos ou um estado emocional, sem o ser para traduzir uma idéia.
Segundo o dicionário Novo Aurélio (Ferreira, 1999), a palavra
“comunicar” vem do latim “comunicare” que significa “por em comum”.
Estudiosos calculam que o homem tenha aprendido a se comunicar
através da fala por volta de 30 a 50 mil anos atrás.
Acredita-se que teve início através da imitação dos sons das coisas que
o cercavam.
“A linguagem articulada apareceu relativamente tarde na história da
humanidade, pois, originalmente não passava de uma combinação esparsa de
sons, gritos e interjeições que visavam manifestar sentimentos como o medo, o
descontentamento, a raiva ou, ao contrário, o bem-estar, a alegria e a
serenidade”. (URCI, 2002)
Nos primórdios da humanidade, a vocalização primal caracterizava o
“por em comum”, através da qual a expressão social era feita.
Ainda hoje, podemos verificar a expressão primal no desenvolvimento da
linguagem em crianças.
Nossa primeira leitura do mundo nos remete ao homem primitivo, onde
os meios significantes eram apenas a repetição dos sons, para evoluir ao
10
significado de cada palavra e atingir, enfim, a linguagem plena da comunicação
social que nos cerca.
Se observarmos as crianças na primeira infância, podemos notar que
são utilizados sons e gritos relacionados com o estado emocional e físico que
expressam: fome, dor, calor, frio, satisfação, prazer, alegria, raiva, etc.
O balbucio social – o diálogo ininteligível entre crianças – possui valor
simbólico e é utilizado para expressão social, como o grito primal dos homens
pré-históricos.
Assim, podemos concluir que antes da articulação da palavra e diante
das dificuldades em fazê-la, o homem primitivo buscou alternativas expressivas
capazes de inserí-lo no contexto social em que vivia.
A exigência de uma comunicação mais eficiente, capaz de traduzir as
idéias de um contexto grupal e que acompanhasse o desenvolvimento
intelectual e social da humanidade, fez com que se buscasse a expressão de
forma conceitual e harmônica.
Então, o homem se utilizou da expressão pictórica para “por em
comum” pensamentos, registrar a história social do grupo e manifestar o
desejo de se fazer compreender pela sociedade primitiva que o cercava, antes
mesmo de utilizar a palavra articulada.
Há mais ou menos 40 mil anos, os homens criaram tintas naturais para
expressar cenas do dia-a-dia nas cavernas e desenhar figuras de animais da
época (fig.1)
11
(fig.1)
Fonte: www.vallencantado.com/caminatasin.htm
Não podemos precisar em que momento a expressão verbal nasceu,
mas com o aperfeiçoamento desta comunicação e dando caráter divino à fala,
as religiões utilizaram a palavra falada, nos sentidos mágico e espiritual, com a
capacidade de transformar vidas ou destruir civilizações.
Na Grécia antiga, a palavra articulada foi valorizada e cultivada pelos
pensadores e filósofos da época, através da qual transmitiam idéias e
ensinamentos, perpetuando a história do povo.
Sócrates dizia que “o homem é capaz de andar sozinho em uma floresta,
mas é incapaz de andar só com suas idéias”. (fig. 2)
(fig. 2)
Fonte: www.web.nwe.ufl.ed/~sfenty/socrates_in_the_labyrinth.html
Tal valor recebeu o nome de oratória, que é considerada a mais antiga
das artes expressivas.
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A divindade da palavra é revelada, então, através de passagens dos
livros sagrados.
Na Bíblia, em João 1;1, o Verbo Divino se revela:
“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era
Deus. E o Verbo se fez carne e habitou entre nós”.
Os apóstolos testemunharam o poder de oratória de Jesus e o valor
mágico das suas palavras através das curas realizadas por Ele.
No Corão, podemos encontrar a divindade da palavra no texto a seguir:
“Uma boa palavra é como uma boa árvore, cuja raiz é sólida e cujos
ramos vão até o céu. Ela dá frutos em todas as estações, com a permissão do
Senhor. Uma palavra ruim é como árvore ruim, que foi arrancada da terra; ela
deixou de ter utilidade”.
Os celtas acreditavam que um conjunto de palavras proferidas com
sentimentos e desejos específicos, para o bem ou para o mel, poderiam ser
utilizados como maldições ou encantamentos.
Com o tempo, o tom divino da palavra tornou-se arte e aqueles que a
dominavam passaram a ter destaque e respeito na sociedade, influenciando as
pessoas e criando o poder.
De acordo com a definição usual, a palavra é a expressão verbal do
pensamento e o suporte da comunicação entre os indivíduos (URCI, 2002).
A comunicação passou, então, a ser primordial no relacionamento social,
fazendo com que o próprio grupo excluísse os indivíduos incapazes de fazê-lo.
Afirma-se que “o poder criador da linguagem humana pode ser
construtivo ou destrutivo, embora não possamos negar que poucas pessoas
têm consciência dos efeitos que suas palavras possam ter sobre elas e ao seu
redor”. (URCI, 2002).
13
Atribui-se à oratória o poder de envolver pessoas e levá-las a agir de
acordo com a vontade do orador.
Desta forma, Hitler foi apontado como um orador extremamente
persuasivo, capaz de influenciar e destruir pessoas pelo poder atribuído às
suas palavras. (fig. 3)
(fig. 3)
Fonte: www.metafilter.com/comments.mefi/21689
Ainda hoje, a crença da força das palavras é tamanha, que Robbins
(s.d.) afirma que “as palavras podem não apenas criar emoções, mas também
criar ações”.
14
CAPÍTULO II
O INDIVÍDUO E A COMUNICAÇÃO
“As palavras formam os fios com os quais tecemos nossas experiências” Aldous Huxley
2.1 - O aprendizado da palavra articulada
A partir do momento em que somos concebidos, somos influenciados
pelo poder da palavra articulada, quer pela expressão verbal dos sentimentos
maternos, quer através dos sons que ouvimos do mundo exterior ao útero que
nos acolhe (Revista Crescer, 1995).
Ao nascermos, através dos nossos cinco sentidos, o mundo nos oferece
uma leitura ampla e diversificada tornando-nos capazes de expressar idéias e
sentimentos.
Nossos meios significantes representam repetições dos sons do mundo,
numa experimentação vocal (balbucio ou lalação - repetição dos próprios sons)
que nos leva ao significado (fala) que compõe nossa língua natal.
Mais do que apenas articular, para nossa comunicação, precisamos
compreender.
Portanto, o significado torna-se mais importante que o significante e
essa experiência é que nos tornará indivíduos socialmente integrados, capazes
de “ler a vida”, vivenciando, experimentando e solucionando (grifo meu).
A criança se relaciona, então, socialmente, utilizando o brincar, seu
primeiro espaço social expressivo/interativo.
Em seu aspecto anatômico, Lieberman (1984) afirma que o trato vocal
do bebê humano recém-nascido é inicialmente bem diferente do de seus pais;
na verdade, há mais semelhanças entre eles e os primatas adultos do que
com adultos humanos.
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Os bebês humanos, como os primatas, podem respirar e engolir
simultaneamente (Laitman et al, 1977). Nos primeiros meses de vida, a
capacidade de variações sonoras do bebê é limitada por seu “dispositivo de
segurança” anatômico, mas em três meses as proporções mudarão à medida
que o bebê cresce.
Apesar de limitado potencial anatômico para as variações sonoras nas
primeiras semanas de vida, os bebês recém-nascidos são comunicadores
ativos. Embora o choro ao nascimento seja normalmente o primeiro exemplo,
de “emissão audível” de um novo bebê, existem alguns relatos de se ter ouvido
o choro de bebês quando “ainda encapsulados” (Locke, 1995), no canal do
nascimento.
Ele acredita que a experiência vocal pode começar um pouco antes do
que o “senso comum”.
As evidências da pesquisa da linguagem infantil sugerem que o feto
pode ouvir a voz paterna in útero, de modo que um bebê recém-nascido já esta
sintonizado com a voz e a linguagem falada (De Casper e Spencer, 1996).
Segundo Eimas et al (1971), os bebês mostram preferências para fala e
não para sons não falados o que mostra que os pais são parte do estímulo
físico para o desenvolvimento da comunicação (Sherrod, 1981), e que este
estímulo já pode influenciar emocionalmente o bebê desde seu nascimento.
Podemos ver a vocalização do recém-nascido como um meio de
estabelecer o estímulo necessário para seu desenvolvimento vocal e
lingüístico, assim, como um meio de comunicação e vinculação com os pais
(Locke, 1995).
Embora sons iniciais, como os sons vegetativos e os gritos, possam ser
involuntários, o repertório de sons tende a mudar rapidamente, incluindo sons
de prazer e desconforto e outras emissões vocálicas.
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Eimas et al (1971), indicam que os bebês não apenas tem uma
capacidade de discriminação dos sons vocais, mas também alguma
capacidade de automonitorização.
Entre 6 e 8 semanas, os bebês começam a produzir sons de timbre mais
calmos, mais graves e mais musicais, quase sempre em resposta aos sorrisos
e à fala paternos (Crystal, 1987).
Por volta de 4 a 5 meses, os bebês podem produzir vocalizações
semelhantes à fala similares a dos adultos que conversam face a face (Kuhl e
Meltzoff, 1988; Segerstel, 1990).
Os gritos tendem a diminuir e a freqüência da vocalização a aumentar
(Lewis, 1969)
As seqüências de sons podem ser produzidas, embora não de maneira
ritmada e faltando características de entonação.
Aparecem os movimentos labiais e linguais em coordenação com a
atividade da prega vocal.
Em torno dos 9 meses de idade, a maioria dos bebês já apresenta tipos
claramente diferentes de vocalizações, algumas das quais parecem ter
intenção comunicativa deliberada.
Assim como a intenção de sinalizar, os bebês na última parte de seu
primeiro ano começam a participar de brincadeiras vocais ativas, com
repetições de seqüências consonantais e semelhantes a vogais, quase sempre
começando em uma freqüência alta e passando gradativamente para
seqüências mais graves.
Por volta do primeiro ano começam a surgir melodia, ritmo e tom de voz.
Os pais podem reconhecer os padrões de expressão vocal e os rituais
desenvolvidos entre os pais e a criança mostram melodias distintivas (Crystal,
1987).
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Nos três primeiros anos o aprendizado da fala articulada, se faz de
forma gradativa, através de feedbacks sensorial-auditivo que leva ao
desenvolvimento do controle do som e o domínio das habilidades do uso vocal.
Por volta dos cinco anos a maioria das crianças parece mostrar domínio
do controle vocal por meio do uso da emissão da voz para contrastes
fonológicos e a habilidade de produzir e imitar padrões complexos de
entonações (Ingrisano et al, 1980; Ferrand e Bloom, 1996).
Pode ser que as crianças comecem a mostrar diferenças masculinas-
femininas em seus empregos de padrões de entonação (Ferrand e Bloom,
1996) por volta da mesma época em que demonstram compreensão das regras
de prosódia (Crystal, 1981).
Essas mudanças parecem estar mais relacionadas à maior percepção
sociocultural e, talvez, à identidade sexual do que à diferenças físicas (Ferrand
e Bloom, 1996).
As principais mudanças na voz ocorrem durante a puberdade.
Spiegel et al (1997) sugerem que as mudanças puberais podem
começar entre as idades de 8 a 15 anos nas meninas americanas e entre as
idades de 9,5 e 14 anos em meninos americanos.
Aronson (1990) observa que o início da puberdade tende a relacionar-se
ao clima; pessoas jovens que vivem perto do equador tendem a começar a
puberdade mais cedo que as que vivem perto dos pólos, portanto, no Brasil, a
puberdade pode começar um pouco mais cedo, por volta de 9 anos em
meninos e dos 7,5 em meninas.
O crescimento total geralmente se completa por volta dos 21 anos
(Spiegel et al, 1997).
Após as muitas mudanças ocorridas durante a adolescência, a anatomia
do trato vocal tende a permanecer relativamente estável durante as próximas
18
décadas. O uso vocal, no entanto, é também influenciado por muitos outros
fatores, como nossas histórias, cultural, lingüística, social e pessoal.
2.2 - O poder de influência da palavra no desenvolvimento
emocional do indivíduo
É no ambiente familiar que a expressão comunicativa verbal se
consolida e determina que valor essa expressão terá na vida adulta do
indivíduo.
Hat (s.d.) relata que, no âmbito familiar, “ouvíamos constantemente que
dávamos trabalho e não éramos bons o bastante” e que tais palavras
provocavam no ouvinte uma transformação da criança num adulto inseguro e
incapaz de reconhecer seu próprio valor.
Para Oaklander (1980), às vezes a criança funciona na vida com idéias
que não lhe pertencem, que não são dela. Com muita freqüência as crianças
crescem acreditando no que ouvem a cerca de si próprias, engolindo toda
informação falsa a seu respeito. Por exemplo, uma criança poderá acreditar
que é estúpida porque o seu pai, numa hora de raiva, a chamou de estúpida
por causa da sua própria frustração.
Esta criança pode tornar-se um adulto que nega sua capacidade
produtiva em virtude da informação recebida na infância.
Ela acredita que as crianças, amiúde, assumem e põem para fora
características e descrições que absorvem dos outros.
Hat (s.d) afirma que “... essas ordens espelhavam a idéia de uma outra
pessoa sobre o que era ou não aceitável, não tendo nada a ver com seu real
valor interior”, levando-nos a crer que a capacidade de influência não ocorre
apenas no nível fonológico, mas também no nível mais profundo do
inconsciente do indivíduo em formação.
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O desenvolvimento sadio, contínuo dos sentidos do corpo, dos
sentimentos e do intelecto constitui a base subjacente do senso do eu da
criança. Um senso do eu forte contribui para um bom contato com o meio
ambiente e com as pessoas desse meio ambiente.
Oaklander (1980) constata que as crianças logo aprendem que a vida
não é perfeita, que vivemos num mundo caótico, aprendem a enfrentar e
compensar. Muitas se saem bem no viver, no crescer e aprender. Muitas não.
Existe um poder imenso nas palavras capaz de alicerçar sentimentos e
gerar reações no indivíduo que as recebe, num nível inconsciente que se
reflete na formação de sua personalidade ou em algum aspecto físico em forma
de doença.
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CAPÍTULO III
O PENSAMENTO JUNGUIANO
"Tudo passa: o que ontem era verdade, hoje é erro, e o que antes de ontem era considerado um erro, será talvez uma revelação amanhã..."
C.G. Jung in Memórias, Sonhos e Reflexões
Jung acreditava no homem total.
“Sua perspectiva do homem é holística, visando sempre uma
compreensão da natureza humana com relação à totalidade, seja ela individual,
seja ela cultural” (Grinberg, 1995).
Os aspectos mais inconscientes do indivíduo são representados pelos
sintomas patológicos físicos que alcançam o consciente.
Segundo Jung apud (Grinberg, 1995), “... Os conteúdos reprimidos
voltam à consciência por bem ou por mal, manifestando-se nos sonhos ou em
sintomas. Aquela quantidade de energia consciente que foi parar no
inconsciente, mais cedo ou mais tarde, vem bater à porta da consciência. Uma
dessas visitas pode dar pela porta dos fundos, por intermédio dos sintomas
físicos”.
Para ele, o mecanismo de defesa desenvolvido pelo indivíduo contra os
males emocionais advindos do meio que o cerca, chama-se repressão.
A repressão é o ato de exclusão do inconsciente de algum conteúdo ou
emoção da consciência. Aquilo que esquecemos ou reprimimos passa a
integrar a sombra.
A sombra abriga o inadequado, o inaceitável. É o receptáculo
inconsciente de defesa.
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Sentimentos de culpa, depressão, ansiedade, sintomas corporais
manifestos, são sinais de que as estratégias de defesa da Sombra estão
falhando. O indivíduo percebe, então, o preço das tentativas de excluir os
conteúdos da sombra. Porém, quando os conflitos muito intensos são
resolvidos no processo consciente, o indivíduo pode experimentar sensações
de segurança e tranqüilidade inabaláveis.
Ainda na idade adulta, o indivíduo responde às funções do ego, que
embora relativamente independente e autônomo, sofre influências do
inconsciente no qual ele ainda encontra-se preso.
Para Jung, na verdade, “se a coletivização, por um lado, é um estágio
necessário do desenvolvimento, por outro, um dos principais problemas que o
homem moderno enfrenta é exatamente a perda da individualidade em favor da
massificação” (Grinberg, 1995).
Vemos na globalização a dissolução dos adjetivos pessoais pelo bem da
coletividade, levando o homem moderno à perda de sua identidade e à
sensação da falta do direito de expressão particular.
Assim, na visão de Jung, “ o homem do nosso tempo vive em profunda
desarmonia consigo mesmo. Não só o indivíduo esta doente, mas a própria
sociedade”(Grinberg, 1995).
22
CAPÍTULO IV
A EXPRESSÃO VERBAL E A VOZ
“A variedade de palavras que podem ser utilizadas para descrever a voz é um indicativo de sua importante participação em nossas vidas”
Margaret Fawcus (2004)
A Fonoaudiologia é a ciência que estuda, pesquisa, trata e previne os
distúrbios e dificuldades da comunicação humana.
Em documento oficial sobre o exercício profissional, o Conselho Federal
de Fonoaudiologia (CFFa., 2002) afirma que “é da competência do
fonoaudiólogo desenvolver programas de aperfeiçoamento e aprimoramento da
linguagem oral e escrita, das funções cognitivas e dos aspectos mio-funcionais,
orofaciais e cervicais”.
Portanto, o tratamento dos distúrbios da voz é de competência
profissional do fonoaudiólogo.
Piccolotto (1988), especialista em voz, a considera “uma das extensões
mais fortes de nossa personalidade”.
Sendo assim, e sendo uma fonte de expressão, a voz torna-se parte viva
de uma das mais antigas formas de expressão artísticas: a oratória.
“A oratória é a mais típica e a mais gráfica manifestação da arte, porque
é a arte da palavra” (Polito, s.d.).
Considerada arte, a oratória tem encontrado espaço, também, junto a
técnicas coadjuvantes que encaram a arte como fator terapêutico.
“A execução de terapia é constituída por uma série de ações que
envolvem tanto a seleção, como a indicação e aplicação de métodos, técnicas
23
e procedimentos terapêuticos adequados e pertinentes às necessidades e
características do paciente/cliente (CFFa. 2002).
O trabalho da fonoaudiologia é, também, procurar recursos terapêuticos
eficazes que auxiliem neste aprimoramento e aperfeiçoamento.
A oratória constitui um conjunto de técnicas que, quando perfeitamente
desenvolvidas, levam à utilização da palavra em forma de harmonização
através da arte.
A palavra possui forma, ritmo, cor e emoção e, assim sendo, é parte
integrante do conjunto que dá estrutura ao indivíduo. O que torna a voz e a fala
uma peça desta estrutura, através do patos.
Segundo Behlau (1988), “Patos” é a qualidade vocal que revela o modo
de ser de uma pessoa, expressa aspectos de sua relação consigo mesma e
com a sociedade que ela integra; é o que transparece da pessoa através da
sua voz; a expressão de impulsos genuínos de apelo e rejeição.
L. Bloom (2004) diz que a linguagem oral é uma troca de sentimentos,
conhecimentos, fatos e necessidades entre duas ou mais pessoas, sendo esta
comunicação verbal e não verbal; envolvendo a interação de muitas
habilidades que se combinam para a comunicação eficiente.
Essa troca determina a qualidade, não só das relações, mas do
desenvolvimento da personalidade e do inconsciente do indivíduo ouvinte.
Portanto, cada vez mais, a qualidade da comunicação, através da sua
expressão verbal, vem sendo buscada, visando tornar sua expressão
consciente, concisa e eficiente, elevando os níveis de relacionamentos grupais
e sociais.
4.1 As Patologias da Voz
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Entende-se por patologias da voz, todo transtorno que ocorra tornando-a
rouca, enfraquecida ou qualquer alteração que não permita à voz cumprir sua
principal função, e que persista por mais de quinze dias.
Segundo Hermes (2003) a disfonia é um distúrbio de comunicação, no
qual a voz não consegue cumprir o seu papel básico de transformação da
mensagem verbal e emocional do indivíduo.
As disfonias profissionais preocupam aqueles que têm a voz como
instrumento de trabalho. Os sintomas de cansaço e fadiga vocal, perda de
intensidade, ensurdecimento do timbre, maior esforço da musculatura faríngea,
aliados ao fator psicológico, causam as rouquidões e até as afonias. Com o
decorrer do tempo, ao exame otorrinolaringológico são encontrados,
freqüentemente, nódulos, edemas, hiperemia e pólipos. (Pinto e Furck, 1987).
Tais sintomas são comuns tanto nas disfonias profissionais quanto nas
de origem psicogênica.
A laringe é vulnerável ao estresse físico que pode resultar em reações
teciduais mais intensas (nódulos vocais, úlceras de contato ou laringite
específica). A vulnerabilidade física, a infecção do trato respiratório superior e
fatores de personalidade, bem como as demandas da situação, podem se
combinar produzindo um distúrbio de voz.
Aronson (1980) diz que existe um distúrbio da voz quando a qualidade, a
freqüência, a intensidade ou a flexibilidade diferem da voz dos outros da
mesma idade, sexo e grupo cultural.
4.2 As Disfonias Funcionais
Elas podem existir na ausência aparente de uma causa física. Em
termos gerais sempre que não existirem sinais aparentes, a disfonia é
denominada “funcional” ou “psicogênica”.
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Os distúrbios psicogênicos da voz mostraram maior incidência no início
da vida adulta.
Em algumas condições, em que se pode afirmar que a patologia primária
pode ser psicogênica, são produzidas alterações orgânicas nos tecidos
laríngeos. Os exemplos são os nódulos e o edema de pregas vocais.
4.2.1 Nódulos
O abuso vocal é um fator causador importante na formação de nódulos.
É típico serem encontrados simetricamente em cada prega vocal, no
ponto médio da borda livre desta. O restante da laringe geralmente
parece saudável. Quanto mais macio o nódulo, mais fácil será a
reversão por meio da fonoterapia. (fig.5)
(fig.5)
Fonte: www.rc_unesp.br/pef/2003_projetos/Pedro/nodulos.htm
4.2.2 Edema
O acúmulo de fluido tecidual no espaço sub-epitelial (de Reinke) da
prega vocal produz uma borda macia, frouxa da prega. Onde este é
difuso, afetando a extensão total da prega vocal, também é conhecido
como edema de Reinke. O aparecimento dessa afecção é mais
freqüente em mulheres na pós-menopausa. As áreas localizadas de
edema induzem a formação de pólipos sempre benignos. (fig. 6)
26
(fig. 6)
Fonte: www.rc_unesp.br/pef/2003_projetos/Pedro/nodulos.htm
4.3 A Terapia das Disfonias Funcionais
Damste (1983) lembra que em fisiologia, raramente discutimos
sentimentos; é um assunto arriscado que preferimos evitar já que as emoções
não podem ser avaliadas. Entretanto, como a voz é um intérprete direto dos
sentimentos e uma janela de exibição dos estados emocionais, em uma
discussão completa sobre a voz é necessário despender mais tempo na
análise da relação entre sentimentos e voz.
Thurman (1977) afirma que o médico deverá colher os termos que o
paciente utiliza e tentar identificar o problema sob a ótica do cliente
relacionando-o à produção normal da voz.
Na terapia tradicional, apenas os aspectos técnico/funcional são
abordados através da aplicação e desenvolvimento de fundamentos da
impostação de voz e das técnicas vocais.
Estes fundamentos se baseiam no aperfeiçoamento da comunicação
corporal, da propriocepção, na utilização de técnicas de relaxamento global e
específica e na aplicação de técnicas de reeducação respiratória, no
conhecimento dos pontos de ressonância e no desenvolvimento de
modalidades vocais - a prosódia.
O aspecto emocional do paciente, principal causa das disfonias
psicogênicas, é deixada de lado, perdendo, então, a abordagem totalitária.
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A voz é um fenômeno de múltiplas dimensões e, portanto, requer uma
abordagem multidimensional para a avaliação. Uma avaliação individual não
pode produzir nada além de uma parte de um todo complexo (Carding, 2003).
Partindo deste ponto de vista a fonoterapia não alcançará resultados
definitivos sem uma abordagem da causalidade das disfonias vista pelo prisma
da totalidade.
Uma nova abordagem terapêutica vem questionar as técnicas
tradicionais que atuam apenas no enfoque técnico e suas aplicações, deixando
de lado a origem psicogênica que deflagrou o problema.
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CAPÍTULO V
ARTETERAPIA E FONOAUDIOLOGIA: UM ENCONTRO
Como pedrinhas, as palavras luminosas que permaneceram aqui resplandecentes... o idioma. Saímos perdendo... Saímos ganhando... Levaram
o ouro e nos deixaram o ouro... Levaram tudo e nos deixaram tudo... Deixaram-nos as palavras.
Pablo Neruda in A Palavra
5.1 O que é a Arteterapia
Para Philippini (2002) existem inúmeras possibilidades de conceituar
Arte-terapia. Uma delas é considerá-la um processo terapêutico decorrente da
utilização de modalidades expressivas diversas, que servem à materialização
de símbolos. Uma outra forma de dizer poderá ser simplesmente terapia
através da arte.
Pain (1996) afirma que o trabalho de arteterapia se orienta de acordo
com várias tendências. O efeito terapêutico sobrevem somente das trocas
verbais em torno do conteúdo da obra. A expressão plástica é, então, utilizada
como meio de aceder a comunicação verbal ou como única maneira de
estabelecer uma comunicação.
No domínio da arte-terapia a palavra emerge como efeito de uma
vivência, tornando-se discurso através da expressão plástica.
Na arteterapia o paciente é posto em várias situações, portanto, nós o
observamos enquanto vive uma experiência nova, em seu aspecto
biopsicossocial de projeção da voz.
Urrutigaray (2004) diz que através de uma praxe particular, aplicada a
uma matéria apta para sofrer transformações, é possível criar um objeto novo.
A função desse objeto não vem do uso que se pode fazer dele, nem de seu fim.
Sua função é tornar-se signo, assim dizendo, de colocar o sujeito
29
compreensível na ordem de um código e, ao mesmo tempo, torná-lo
significante pela diferença que ela impõe a esse mesmo código.
O pensamento que constrói a imagem passa à ação que vai ao seu
encontro passo a passo como um diálogo. Este diálogo permite o
desenvolvimento do direito de expressão perdido ao longo dos anos.
Para Oaklander (1980), a meta é ajudar o indivíduo a tomar consciência
de si mesmo e da sua existência em seu mundo, recuperando este direito.
Fazer terapia pode ser descrito como voltar para localizar e restaurar a
função mal colocada, neste caso, a voz.
Pain (1996) lembra que, ainda que a noção de arte-terapia geralmente
inclua qualquer tratamento psicoterapêutico que utiliza como mediação a
expressão artística, deixamos de lado o prefixo psicológica, como se a arte
tivesse, por ela mesma, propriedades curativas.
Aqui a obra em si não interessa, o centro da gravidade é o sujeito em
busca de significação e reestruturação para atingir a cura.
5.2 Técnicas Expressivas
A arte é uma forma de expressão do ser humano, uma forma de
comunicação e de linguagem simbólica, produto da intuição e da observação,
da emoção e do conhecimento que se tem de si e do mundo que nos cerca.
As imagens, através das técnicas plásticas, aliadas à outras formas de
expressão são os meios utilizados como técnicas expressivas para facilitar o
auto-conhecimento, a solução dos conflitos emocionais e o desenvolvimento
pessoal harmônico.
Andrade (2000) afirma que a arte permite ao homem expressar e ao
mesmo tempo perceber os significados atribuídos à sua vida, na sua eterna
busca de um tênue equilíbrio com o meio circundante.
30
Ainda Andrade (2000), a expressividade ou arte passa a ser um
instrumento, técnico e conceptual, de um método de trabalho, ao combinar
fazer arte, e expressar-se, o uso de materiais plásticos e outras formas de
expressão a um objeto educacional ou terapêutico.
Podemos pressupor que a expressão artística revela a interioridade do
sujeito mostrando seu modo de ser e sua visão do outro e do mundo que o
cerca, desta forma o fonoaudiólogo pode estabelecer contato com o paciente
buscando a resolução de seus conflitos que interfiram em seu processo de
comunicação verbal.
As técnicas expressivas utilizadas pela arteterapia, além das artes
plásticas, tais como pintura, desenho, colagem, modelagem e escultura, dispõe
de recursos não plásticos que estabeleçam outras formas de expressão não
pictórica: som, movimento, dança, expressão corporal, dramatização, leitura e
escrita.
Em nossa discussão, vamos analisar e comparar a utilização das
técnicas de pintura e desenho, colagem, biblioterapia (através de contos de
fadas e populares), caixa de areia, modelagem com argila, técnicas
expressivas que contribuem para a provocação do diálogo e ao mesmo tempo
oferecem instrumentos para uma visão da interioridade do paciente.
5.3 As Técnicas Terapêuticas da Fonoaudiologia
Quando trabalhamos com o aprimoramento da voz e da fala, não
podemos considerar tais aspectos apenas na sua forma externa. O indivíduo
deve antes ser considerado na sua totalidade. Esta consiste de uma série de
aspectos peculiares a ele, que fazem da “sua” voz e “sua” fala algo que se
prolonga de seu próprio corpo e que o distingue por completo de qualquer outra
pessoa. Portanto, como separar a voz e a fala da pessoa que a produz?
(Oliveira,1988)
5.3.1 Comunicação Corporal
31
É composta de expressões e atitudes corporais associadas às
mensagens verbais.
Esta comunicação não verbal, inconsciente, torna a comunicação verbal
mais efetiva e a mensagem mais adequada.
A maior parte dos portadores de disfonias tem sua comunicação corporal
bloqueada, sinalizando uma introspecção e uma dificuldade de expressão, ou,
ao contrário, é exagerado, quase teatral, o que proporciona uma mensagem
sem credibilidade e uma expressão sem veracidade e segurança.
5.3.2 Propriocepção
É chamada de consciência corporal. O conhecimento que o indivíduo
possui de seu próprio corpo e os mecanismos da produção da fala.
Sem ela, o reconhecimento dos pontos de tensão não acontece, fazendo
com que o indivíduo tenha dificuldade em relaxar e tomar uma postura mais
adequada e menos estressante durante a produção vocal.
5.3.3 Relaxamento
Relaxamento é um ponto comum entre diversas técnicas terapêuticas.
Na fonoaudiologia, busca a liberação do excesso de energia
concentrada sobre uma determinada região muscular, partindo da aplicação de
técnicas totais, até a utilização de técnicas em áreas específicas, permitindo
uma amplitude de movimentos e uma ação mais livre do paciente.
5.3.4 Respiração
O processo respiratório para a produção da voz compõe-se de
inspiração nasobucal alternada, rápida, silenciosa e efetiva, que permita o
aporte de ar necessário para produzí-la confortavelmente, durante o processo
expiratório, no qual é essencial que os músculos intercostais, o diafragma e as
32
paredes musculares da caixa torácica estejam relaxadas produzindo um som
claro e projetado.
5.3.5 Modalidades Vocais
Altura, intensidade e timbre compõem as modalidades vocais a serem
trabalhadas para aumentar a resistência vocal, permitindo qualidade de voz e
maior rendimento com menor esforço.
5.3.6 Ressonância
Caracteriza a utilização adequada de algumas cavidades ósseas, que
através da vibração do ar vão permitir uma maior projeção vocal.
A melhor ressonância é alcançada através da vibração equilibrada das
regiões localizadas no tórax, pescoço, face e caixa craniana.
5.3.7 Modulação
É a música da voz. O sentimento da fala. A riqueza do sentido da
expressão verbal, dando ao conteúdo seu caráter interrogativo, declarativo,
exclamativo, etc.
Através da modulação se conhece sentimentos, se transmite emoções.
5.4 Técnicas Expressivas na Fonoterapia
Segundo Quintero (1988), a voz e a fala são uma resultante do indivíduo
biopsicossocial.
Sendo parte da estrutura humana a voz reflete sentimentos, emoções e
os aspectos mais profundos do interior do homem.
Através de sua expressão verbal o homem se desnuda e se reflete como
um espelho, nas suas palavras e voz.
33
Como os sons da linguagem, os traços e os gestos plásticos não têm
significação por si só, seus sentidos dependem mais da ordem onde eles se
inscrevem. Esse movimento do non sens ao sentido caracteriza todas as
linguagens e é fundamental para aquisição da expressão verbal e escrita (Pain
e Jarreau, 1996).
Porém, a arte abstrata que não permite uma tradução da imagem em
palavras é aquela que mais provocou o discurso, segundo Pain (1996).
Para ela, as palavras procuram um excedente de forma e de cor, uma
outra substância, as imagens fazem ressoar partículas sonoras ligadas às
palavras que elas encerram, através de enigmas. Constroem-se imagens com
palavras e discursos com imagens.
Para Urrutigaray (2004), fazer “arte” implica diretamente em estimular as
ordenações de idéias surgidas pela elaboração mental, como ação interativa
entre fato e idéia implícita nele, produzindo o pensamento.
O momento da avaliação da atividade é consagrado especialmente ao
diálogo, serve-nos para observar a capacidade de tomar a palavra, assim como
a atitude de escuta.
A disfonia, lembra Aronson (1980), é um distúrbio de comunicação e
possui “significado pessoal, social e econômico”, tendo a arte-terapia um papel
significativo em sua terapêutica.
5.4.1 Biblioterapia
O uso de histórias em terapias envolve: invenção das próprias histórias
para contar ao paciente; o paciente inventar suas histórias; a leitura de histórias
de livros; escrever histórias; envolve também a utilização de recursos
audiovisuais (gravadores, filmadoras, walkie-talkie, etc) para criação da
consciência e percepção de seu processo comunicativo.
34
Uma vez que a história do paciente é uma projeção, ela geralmente
reflete alguma coisa a cerca da situação de vida do mesmo. Ao utilizar esta
técnica é importante conhecer a história do paciente e sua vida, e entender
rapidamente o tema central da história que ele narra.
Contos de fadas e contos populares oferecem uma grande riqueza de
material para trabalhar os aspectos inconscientes.
Assim como as canções populares, eles emergem das profundezas da
humanidade e envolvem todas as lutas, conflitos, tristezas e alegrias que as
pessoas encontraram através dos tempos.
Oaklander (1980) afirma que os contos de fada, de fato, atingem
diretamente as emoções básicas universais: amor, ódio, raiva, solidão e
sentimentos de utilidade, isolamento e privação.
Podemos associar a Biblioterapia ao trabalho da modulação, utilizando
as técnicas da contação de histórias.
Através dos contos de fadas a emoção e o sentido transparecem e
tornam-se consciência, revelando emoções e sentimentos que impedem que
essa vida floresça na palavra.
5.4.2 Pintura e Desenho
O desenho está diretamente relacionado com a forma do objeto.
Portanto, o desenho é uma atividade analítico-sintética: o sujeito desmonta
uma imagem em unidades de movimentos não significativos para construir uma
representação complexa cuja significação emerge das relações topológicas
entre as partes.
A pintura constitui-se a restituição global da superfície visível.
A qualidade específica das cores é a sensação correspondente que,
enquanto função exclusivamente psicológica, participa da construção do
pensamento e do comportamento.
35
A pintura e o desenho podem ser utilizados na procura de um
sentimento e ao mesmo tempo pelo conhecimento corporal que permite a
propriocepção e o relaxamento.
Técnicas de pintura através do sopro são úteis para o trabalho
respiratório.
5.4.3 Caixa de Areia
A areia é um meio maravilhoso de se trabalhar as emoções.
A mesa de areia deve ser feita de uma prancha de 45 X 70 X 5 cm, com
vedação à prova d’água.
A areia dá uma sensação agradável para os dedos e mãos,
proporcionando uma experiência tátil e cinestésica ideal, como um carinho.
Através deste meio de expressão, o paciente pode dizer muita coisa,
sem a necessidade de falar.
A mesa de areia não tem limite de idade, pode ser utilizada nas disfonias
infantis, como em adultos.
A caixa de areia permite o relaxamento e todo um trabalho sensorial.
Favorece o desbloqueio das emoções e a auto-estima recuperada.
Esta técnica evoca o mais inconsciente sentimento reprimido, trazendo à
tona a causa, estabelecendo sua tomada de consciência e permitindo a
expressão pelo discurso.
5.4.4 Colagem
Sempre deve-se abordar a colagem, mais rasgando o papel que o
cortando, em um procedimento parecido com aquele que teremos com a argila
onde os instrumentos só serão propostos de maneira secundária, para
favorecer um contato mais direto, mais sensorial com o material. Ainda, o
36
aspecto do papel rasgado é muito mais plástico, menos árido que aquele do
papel cortado.
Em seguida, seguimos uma progressão nas consignas do papel rasgado
aos tecidos e materiais diversos cortados e colados.
Para Oaklander (1980) a colagem é um excitante meio de expressão.
Na colagem o inesperado transparece. Através de imagens
desconhecidas os símbolos são expostos favorecendo o aparecimento de
sentimentos e sensações reprimidas que bloqueiam a expressão do indivíduo.
Através da colagem uma mensagem subliminar é enviada ao
subconsciente, permitindo o sentir, o expressar, o falar.
5.4.5 Modelagem em Argila
A argila está ligada ao nosso aspecto cotidiano. Por isso nossos afetos
nela se projetam muito mais espontaneamente que em qualquer outro material
modelável. Precisamente porque a argila é um suporte a nossos afetos.
Na primeira experiência com argila (manuseio e tomada de consciência
do material), já rica em ensinamentos, os sujeitos são induzidos a verbalizar
suas sensações.
A modelagem apela diretamente ao corpo, às sensações transmitidas
pela extremidade dos dedos, à modulação da pressão e tensão muscular, à
diferenciação profunda dos gestos, ao maior compromisso de toda a postura e
da dinâmica do corpo que modela. Paralelamente, a atividade corporal de
representação pela modelagem desencadeia mais rapidamente uma resposta
emotiva, uma ressonância afetiva mais ligada ao trabalho que seu resultado.
A argila possui propriedades curativas.
A construção das unidades significantes supõe uma capacidade de
passar pelo non sens para chegar a expressão do sentido. Jogar para criar
37
diferenças pelo único prazer de inverter signos, facilita o acesso aos diversos
sistemas baseados na articulação, como a linguagem. Essa atividade é
interessante de ser proposta no enquadre de tratamentos fonoaudiológicos.
Ela aproxima as pessoas de seus sentimentos. Pessoas que bloqueiam
sua expressão, geralmente estão fora de contato com seus sentidos. Constitui
um bom elo com a expressão verbal.
38
CONCLUSÃO
Nos primórdios da humanidade os mitos e o conhecimento que cada
grupo armazenava eram transmitidos oralmente de uma geração à outra como
uma herança sagrada.
Com o desenvolvimento cultural e científico da vida humana, esse saber
que explicava a vida e a natureza perdeu seu tom divino e tornou-se contos: os
contos de fadas, os contos populares. Assim, as narrativas míticas se tornaram
artísticas.
As manifestações artísticas passaram a expressar o entendimento do
mundo e o desenvolvimento individual da pessoa humana através das diversas
linguagens expressivas que não apenas a oral.
Assim, podemos concluir que a linguagem verbal foi a mais antiga
expressão artística e a que mais influenciou a humanidade em toda a sua
existência.
Desta forma, nos diversos ciclos do crescer da humanidade, a voz
subjulgou, humilhou, encorajou, incentivou, enalteceu, derrotou e ergueu
civilizações através de sua utilização como arte.
Até hoje a palavra falada, como arte ou como arma, influencia as
grandes decisões da humanidade, assim como toda forma artística de
expressão revela a visão particular do indivíduo como reação à esta influência.
Quando a voz não consegue atingir sua principal função, que é a
expressão, dizemos que há um distúrbio na comunicação humana.
Grande parte destes distúrbios tem origem no emocional do indivíduo e
dão origem às chamadas disfonias funcionais de causa psicogênica.
A arteterapia se utiliza de diversas técnicas expressivas complementares
à expressão verbal e que atuam diretamente no aspecto mais profundo da
39
psique humana, facilitando a tomada de consciência das dificuldades do
paciente, levando-o a uma transformação pessoas.
Podemos entender o encontro das técnicas tradicionais da terapia
fonoaudiológica com as técnicas expressivas da arteterapia como uma nova
possibilidade para abordagem das disfonias funcionais de origem psicogênica.
Visto sua complementaridade, esta abordagem busca a intervenção
mais abrangente das causas e sintomas das disfonias sem, contudo, submetê-
lo às longas sessões psicoterápicas, facilitando o trabalho do fonoaudiólogo
que busca o aperfeiçoamento, tratamento e pesquisa dos distúrbios da
comunicação.
Permite, ainda, trabalhar os aspectos emocionais, trabalhando o
paciente de forma global, proporcionando uma recuperação total e sem
recidiva, tão características deste tipo de distúrbio.
40
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
PAIN, SARA & JARREAU, GLADYS. Teoria e Técnica da Arte-terapia – a
compreensão do sujeito. Artmed Editora SA . Porto Alegre. RS. 1996.
OAKLANDER, VIOLET. Descobrindo crianças – a abordagem gestáltica com
crianças e adolescentes. Summus Editorial, 1980.
FREEMAN, MARGARET E FAWCUS, MARGARET. Distúrbios da Voz e seu
tratamento. Livraria Editora Santos. SP. 2004.
BETTELHEIM, BRUNO. A psicanálise dos contos de fadas. Editora Paz e
Terra. RJ. 1980.
HALL, CALVIN S. E NORDBY, VERNON J. Introdução à psicologia Junguiana.
Editora Cultrix. São Paulo. 1973.
FERREIRA, LÉSLIE PICCOLOTTO (org.). Trabalhando a voz – Vários
enfoques em Fonoaudiologia. Summus Editorial Ltda. São Paulo. 1988.
COLEÇÃO O PODER DO PODER – O Poder da Palavra – v. 17. Editora Martin
Claret Ltda. SP, s.d.
URRUTIGARAY, MARIA CRISTINA. Arteterapia – a transformação pessoal
pelas imagens. Wak Editora. RJ. 2004.
ESTÉS, CLARISSA PINKOLA. Mulheres que correm com os lobos. Editora
Rocco Ltda. RJ. 1992.
REVISTA O ROSACRUZ. No. 241 – O Poder da Palavra. Université Rose-Croix
Internationale. França. 2002.
PHILLIPPINI, ANGELA. Arteterapia, Coleção Imagens de Transformação, nº 9,
vol. 9, Ed. Clínica Pomar, 2002
ANDRADE, LIOMAR QUINTO DE. Terapias Expressivas, VETOR Editora
Psico-pedagógica Ltda, SP, 2000.
41
FERREIRA, AURÉLIO BUARQUE DE HOLANDA. Novo Aurélio – O Dicionário
da Língua Portuguesa. Século XXI. Editora Nova Fronteira. RJ.1999.
42
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 02
AGRADECIMENTOS 03
DEDICATÓRIA 04
RESUMO 06
INTRODUÇÃO 07
CAPÍTULO I - O DESENVOLVIMENTO DA COMUNICAÇÃO 09
CAPÍTULO II - O INDIVÍDUO E A COMUNICAÇÃO 14
2.1 - O Aprendizado da Palavra Articulada 14
2.2 - O poder de influência da palavra no desenvolvimento emocional do
indivíduo 18
CAPÍTULO III - O PENSAMENTO JUNGUIANO 20
CAPÍTULO IV - A EXPRESSÃO VERBAL E A VOZ 22
4.1 – As Patologias da Voz 23
4.2 - Disfonias Funcionais 24
4.2.1 – Nódulos 25
4.2.2 - Edema de Reinke 25
4.3 - A Terapia das Disfonias Funcionais 26
CAPÍTULO V - ARTETERAPIA E FONOAUDIOLOGIA: UM ENCONTRO 28
5.1 - O Que é Arteterapia 28
5.2 – Técnicas Expressivas 29
43
5.3 - As Técnicas Terapêuticas da Fonoaudiologia 30
5.3.1 - Comunicação Corporal 30
5.3.2 – Propriocepção 31
5.3.3 – Relaxamento 31
5.3.4 – Respiração 31
5.3.5 - Modalidades Vocais 32
5.3.6 – Ressonância 32
5.3.7 – Modulação 32
5.4 – Técnicas Expressivas na Fonoterapia 32
5.4.1 – Biblioterapia 33
5.4.2 - Pintura e Desenho 34
5.4.3 - Caixa de Areia 35
5.4.4 – Colagem 35
5.4.5 - Modelagem em Argila 36
CONCLUSÃO 38
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 40
ÍNDICE 42
FOLHA DE AVALIAÇÃO 48
44
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
Título da Monografia: DISFONIAS FUNCIONAIS: UM ENFOQUE PELA
ARTETERAPIA
Autor: SONIA MARIA BRANCO DE FREITAS MAIA
Data da entrega:
Avaliado por: Conceito: