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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRO-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO "A VEZ DO MESTRE" A IMPORTÂNCIA DA DIDÁTICA NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE NÍVEL SUPERIOR Gabriela Clotilde dos Santos Monteiro Orientador: Profº. Palmiro Ferreira da Costa Rio de janeiro Fevereiro de 2002 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRO-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO "A VEZ DO MESTRE"

A IMPORTÂNCIA DA DIDÁTICA NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE NÍVEL SUPERIOR

Gabriela Clotilde dos Santos Monteiro

Orientador: Profº. Palmiro Ferreira da Costa

Rio de janeiro Fevereiro de 2002 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

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PRO-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO "A VEZ DO MESTRE"

A IMPORTÂNCIA DA DIDÁTICA NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE NÍVEL SUPERIOR

Gabriela Clotilde dos Santos Monteiro

Trabalho monográfico apresentado comorequisito parcial para a obtenção do grau deespecialista em Docência do EnsinoSuperior.

Rio de Janeiro Fevereiro de 2002

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Gostaria de agradecer primeiramente à Deus por estar sempreiluminando e direcionando meu caminho em busca demelhores dias profissionais e pessoais. Agradeço a meus paise a minha família por depositarem em mim sua confiança,amor, carinho e compreensão. E, agradeço também a todas aspessoas que me ajudaram direta ou indiretamente.

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Dedico esta monografia a todos os professores e especialistasem Educação comprometidos com a melhoria do Ensinovisando uma sociedade mais justa para todos.

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" Basta prender sua atenção por duas linhas e meu trabalhoestá completo, meu dia está feito e minha felicidade estágarantida. Duas linhas! E olha aí, acho que consegui..." Luís Fernando Veríssimo

RESUMO

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VI

A Educação é compreendida em dois sentidos - social e individual, que se refere

ao desenvolvimento onilateral da personalidade, englobando todas as qualidades humanas

visando a orientação da atividade humana em um contexto social. O responsável pelo estudo da

Educação é a Pedagogia, que através de suas ações leva a uma reflexão sobre o processo

pedagógico mediante a teoria e a prática. Surge então a Didática que é o principal ramo da

Pedagogia com o objetivo de investigar as condições e formas mais adequadas para que o

professor possa alcançar o seu objetivo que é aprendizagem.

A Didática é uma ciência pedagógica de natureza técnica para formular diretrizes

orientadoras do processo de ensino-aprendizagem. A sua função é pesquisar e formular objetivos

e métodos eficazes para a assimilação dos conteúdos, dos conhecimentos. É através da Didática

que os professores têm os conhecimentos necessários para utilizá-los em prol da aquisição de

conhecimentos dos educandos, respeitando os aspectos sócio-políticos e culturais da sociedade.

O professor/educador deve estar ciente que deve possuir qualidades necessárias

para desempenhar seu papel, deve ter compreensão da realidade e ter compromisso político. Deve

ter habilidades e conhecimentos necessários para auxiliar seus alunos no processo de ensino-

aprendizagem, na elevação cultural deles.

A formação de professores é a soma de elementos teóricos mais práticos reais. A

formação é um processo, resultado de condições históricas ligadas às exigências geradas pela

reorganização da produção e mundialização da economia. O Educador é um organizador do

ensino-aprendizagem em busca de bons resultados em uma análise técnica da formação dos

professores e especialistas.

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VII

O Ensino Superior foi criado entre 1808 e 1821, mas só em 1920 é que foi

organizado em Universidade, no governo de Epitácio Pessoa. Atualmente, com a Nova Lei de

Diretrizes da Educação, a formação docente para o magistério superior deverá se realizar a nível

de pós-graduação, porém até 1930 a formação de nível Superior era quase inexistente.

Basicamente os professores que lecionavam no magistérios Superior tinham sido os melhores

alunos de seus cursos de bacharelado. Entre 1940 e 1950 surgem os primeiros doutorados na área

pedagógica, melhorando assim a formação do professor de nível Superior.

A formação pedagógica ensina a refletir, a aceitar outros posicionamentos, leva o

professor a pensar sobre a sua própria prática, levando a uma apropriação e produção de teorias

com o objetivo da melhoria das práticas educativa. A produção de conhecimentos é uma

atividades que leva o professor a uma ação crítica.

O professor deve estar em constante aperfeiçoamento. Ele é um profissional que

forma outros profissionais. O mundo não pára, a cada dia surgem mais conhecimentos, novas

leis, fórmulas, etc, mudando o mundo e a Educação conseqüentemente.

O grande enfoque da Didática é a formação do Educador, criar condições para que

ele possa se preparar filosófica, científica , técnica e afetivamente para exercer sua função. A

Didática não pode ser vista isoladamente, está empregnada de outras ciências como a Psicologia,

Sociologia, Filosofia, Biologia, entre outras. O papel da Didática na formação do

professor/educador é buscar alternativas para os problemas da prática pedagógica. A importância

da Didática está entre o técnico e crítico, buscando métodos e procedimentos para utilizá-los na

melhoria do processo de ensino-aprendizagem. O grande sonho da Didática é que o ensino seja

eficaz e que haja sempre aprendizagem.

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IX

SUMÁRIO

Introdução .................................................................................................................. 10

Capítulo I

O que é Didática ......................................................................................................... 12

Capítulo II

O objetivo da Didática ............................................................................................... 15

Capítulo III

Professor ou Educador .............................................................................................. 19

Capítulo IV

A formação do Professor de Nível Superior ............................................................. 21

Capítulo V

A importância da Didática para a formação do Professor de Nível Superior .............. 28

Conclusão ................................................................................................................ 32

Anexos ..................................................................................................................... 34

Bibliografia ............................................................................................................... 39

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INTRODUÇÃO

Quando falamos em alguma questão relacionada à professores, são poucas as

pessoas que pensam na sua formação acadêmica. Desde a minha graduação sempre me

perguntava como seria esta formação. Por este motivo na época engajei-me numa pesquisa sobre

a formação de professores do primeiro segmento do Ensino Fundamental, porém enfocando o

Ensino de Ciências. Hoje, meus anseios perpassam na questão didática da formação dos

professores, por observar diversos professores ao longo de minha vida acadêmica e por notar,

muitas vezes, certas dificuldades de direcionar o ensino, na sua atuação em sala de aula.

Este é motivo pelo qual resolvi aprofundar meus estudos sobre esta questão

enfocando agora o Nível Superior. Em minhas leituras preliminares defini como questão

principal de estudo a importância da didática na formação do professor de Nível Superior. Mas

para desenvolver esta questão primeiramente precisaria definir outras questões como:

• O que é Didática?

• Qual é o objetivo da Didática?

• O que é ser educador/ professor?

• Como é desenvolvida a formação do professor de nível superior?

Para realizar este trabalho desenvolvi uma pesquisa teórica, tendo como base

livros sobre Didática, História da Educação, Formação de Professores e a Lei de Diretrizes e

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Bases da Educação, tendo autores referenciais como Libâneo, Vera Maria Candau, Luckesi,

Otaíza Romanelli, entre outros.

O presente trabalho visa analisar a importância da Didática na formação

profissional do professor de Nível Superior, uma vez que esta formação está vinculada a teoria e

prática, ou seja, o que fazer, como fazer e para que fazer. Neste elo surge então a Didática, como

um tradutor das teorias e práticas educacionais, visando o desenvolvimento do processo de

ensino-aprendizagem que deve ser observado nas dimensões humanas, técnicas e político-sociais.

Uma vez que Didática não pode ser observada isoladamente, sem levar em consideração a

sociedade como um todo. Ela não é neutra. Os problemas da Didática são os problemas da

realidade educacional e da realidade da sociedade.

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CAPÍTULO I

O QUE É DIDÁTICA?

Antes de definir o que é Didática devemos entender o sentido da palavra

EDUCAÇÃO. A palavra educação pode ser compreendida em dois sentidos: social e individual.

Sendo assim, no entendimento de Libaneo, educação é:

"(...) um conceito amplo que se refere ao processo de desenvolvimentoonilateral da personalidade, envolvendo a formação de qualidades humanas- físicas, morais, intelectuais, estéticas - tendo em vista a orientação daatividade humana na sua relação com o meio social, num determinadocontexto de relações sociais e inter-relações que convergem para a formaçãode traços de personalidade social e do caráter, implicando uma concepçãode mundo, idéias, valores, modos de agir, que se traduzem em convicçõesideológicas, morais, políticas, princípios de ação frente a situações reais edesafios da vida prática. Neste sentido, a educação é instituição social quese ordena no sistema educacional de um país, num determinado momentohistórico; é produto, significando os resultados obtidos da ação educativaconforme propósitos sociais e políticos pretendidos; é processo por consistirde transformações sucessivas tanto no sentido histórico quanto no dedesenvolvimento da personalidade." (LIBANEO,1994:22-23)

Quanto à Pedagogia, esta é a reflexão sobre as doutrinas e sistemas de educação.

É a ciência e arte da educação, seu objeto de estudo é a educação. A Pedagogia coloca as ações

educativas como objeto de reflexão para descrever os processos e modos de atuar na educação,

no processo pedagógico, mediante a teoria e a prática. Neste elo surge a Didática como tradutor,

visando ao desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem.

A Didática é o principal ramo ou seção da Pedagogia. É uma ciência pedagógica

de natureza técnica, que pesquisa e experimenta novas técnicas, métodos e procedimento de

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ensino para obter o máximo de resultado com o mínimo de esforço na construção do

conhecimento.

Epistemologicamente, Didática é a "arte de ensinar". Os elementos pelos quais a Didática passa

são os mesmos do processo de ensino-aprendizagem, são eles:

" Aluno - quem aprende?Professor - com quem se aprende?Objetivo - para que se aprende?Conteúdo - o que se aprende?Método - como se aprende?Situação - onde se aprende? Quando se aprende?" (OLIVEIRA, 1983:18)

As idéias fundamentais da Didática estão contidas em João Amos Comenius, que é

considerado o pai da Didática. Sua principal obra foi "Didática Magna", publicada em 1632,

onde começou a influenciar diretamente o trabalho docente desenvolvido.

Para Comenius, deveria existir um método pedagógico para guiar as atividades de

ensino-aprendizagem, não só um método seguro para atingir o conhecimento. Sendo assim, o seu

objetivo foi propor um método universal, seguro, certo claro, fácil e agradável, baseado na ordem

natural das coisas, através da observação da natureza, desde as coisas mais simples até as coisas

mais complexas. O processo educacional e a escola deveriam ser organizados metodicamente,

buscando refletir a ordem natural das coisas. Comenius elaborou nove princípios norteadores de

seu método educacional. São eles:

• A educação deve começar na infância e os conteúdos devem ser adequados a faxa etária do

aluno;

• No ensino, devem ser vistos primeiramente os objetivos concretos posteriormente os objetivos

abstratos;

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• É necessário preparar a mente dos alunos para receber um novo conteúdo, devemos fornecer-

lhes pré-requisitos para a sua melhor compreensão;

• O aluno deve dominar um conteúdo antes de passar para uma etapa seguinte;

• O desenvolvimento educacional deve obedecer a uma organização lógica e natural, do mais

simples para o mais complexo, da compreensão para a memorização;

• Primeiramente devem ser ensinadas as regras para depois serem ensinadas as exceções;

• A aprendizagem não deve fazer saltos, ou seja, o conhecimento anterior prepara o caminho

para o conhecimento posterior;

• A educação escolar deve ser completada, para isso deverá haver dedicação dos mestres,

condições para as escolas e assiduidade dos alunos;

• Ao iniciar um novo estudo, deve-se caminhar com os alunos pelos pontos mais seguros antes

de lançar-lhes as questões duvidosas. O professor deve preocupar-se com que seus alunos

avancem solidamente nos conteúdos.

Comenius não foi apenas um teórico da educação. Ele deu grande importância à

prática da instrução, procurando melhorias para o processo de ensino. Por este motivo ele é

considerado o Pai da Didática.

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CAPÍTULO II

O OBJETIVO DA DIDÁTICA

A didática é uma disciplina que estuda o processo de ensino-aprendizagem,

formulando orientações para o desenvolvimento da atividade profissional do professor e o

resultado esperado por ele é a aquisição dos conteúdos escolares pelos seus alunos. O ensino-

aprendizagem é um processo que está sempre presente, seja direta ou indiretamente. Por este

motivo a Didática investiga as condições e formas mais adequadas para que o professor alcance o

seu objetivo, além de investigar também os fatos reais, ou seja, os fatores sociais, políticos,

culturais e psicossociais existentes nas relações entre a docência, a aprendizagem e o aluno.

Podemos então observar que, o objeto de estudo da Didática é o processo de ensino. Mas, o que é

ensino?

Ensino é um processo social que engloba não só aspectos pedagógicos, mas

também aspectos políticos, éticos e ideológicos que permeiam os objetivos, conteúdos e métodos

utilizados pelos professores, com o propósito de transmitir conhecimentos aos seus alunos.

Ensinar não é só transmitir conhecimentos, é também criar possibilidades para a produção e

reprodução desses conhecimentos, porque ao ensinar o professor também aprende. Podemos

resumir o ensino como ações, meios e condições para que se possa realizar a instrução.

A instrução refere-se ao processo de assimilação de conhecimentos sistematizados

e o desenvolvimento cognitivo. O ensino e a instrução estão interligados, porque o ensino é o

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planejamento, organização e avaliação das atividades didáticas para que as tarefas da instrução

sejam realizadas. É neste elo que a Didática formula as diretrizes orientadoras do processo de

ensino.

O processo de ensino pode ser entendido como as atividades do professor e do

aluno, através das quais buscam a assimilação de conhecimentos e desenvolvimento das

capacidades cognitivas. Esse processo tem por finalidade fazer com que os alunos adquiram

ativamente os conhecimentos, pois o trabalho docente está entre o aluno e os conteúdos e o

professor deve assegurar um encontro direto entre eles. Os objetivos traçados pelo professor a

serem trabalhados devem estar de acordo com os objetivos dos alunos, só assim o ensino pode

ser bem sucedido. Quando o aluno está motivado e consegue entender o significado dos

conteúdos transmitidos, o aprendizado é eficaz. Podemos observar que o ensino não é só a

transmissão dos conteúdos, mas também a organização das atividades a serem desenvolvidas

pelos alunos, que ensinar e aprender fazem parte do processo de ensino.

O processo didático está mediado entre o ensino e a aprendizagem, e podemos

identificar 3 elementos básicos: os conteúdos, a ação de ensinar e a ação de aprender. Porém

eles não podem ser vistos isoladamente e nem são suficientes para entender o processo. Estes

elementos devem sempre estar vinculados a objetivos sociais, políticos e culturais de acordo com

cada sociedade.

A função da Didática, mediante ao processo de ensino, é pesquisar e formular objetivos e

métodos eficazes para a assimilação dos conteúdos, dos conhecimentos. Além disso a Didática

exerce outras funções importantíssimas no processo de ensino.

Primeiramente a Didática exerce uma função diagnosticadora, ou seja, ela vai

ajudar o professor a sondar, a ter um conhecimento prévio do aluno ou do grupo em que vai

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atuar. Conhecido o grupo, surgem a função seletora, que é onde o professor traça os objetivos a

serem trabalhados os conteúdos selecionados levando em conto as necessidades do grupo. Com

os objetivos já traçados, o professor necessita escolher os meios, métodos e técnicas a serem

utilizados para que aja uma aprendizagem eficaz. Esta função é a orientacional. Temos também a

função planejadora, que é os passos a serem tomados para facilitar a aquisição dos

conhecimentos, levando em conta a realidade do grupo trabalhado.

O professor precisa criar meios e condições para fazer o aluno se sentir motivado a

aprender, esta é função motivacional que auxilia o professor a motivar seus alunos a aprender.

Porém, dentro de uma sala de aula, o relacionamento aluno - professor e vice-versa deve ser

amigável para que se possa construir uma aprendizagem duradoura. Aqui podemos encontrar a

função relacional, onde é muito importante que o relacionamento entre alunos e professores

esteja numa dimensão afetiva, existindo sempre um respeito mútuo, possibilitando assim um

melhor desempenho tanto do aluno como do professor. Não podemos falar de professor sem falar

em alunos.

Chegamos então a função documental, que é, nada mais nada menos, a

organização dos materiais a serem utilizados e trabalhados em sala de aula. É muito importante

que esses materiais sejam claros e objetivos, de modo a facilitar a aprendizagem por parte dos

alunos. A última função da Didática é a função avaliacional, que permite o professor testar,

medir, avaliar e conhecer o nível de aprendizado do seu aluno, de sua performace em sala de aula

através de provas, trabalhos, exercícios, seminários, testes, dinâmicas e outros meios que possam

ser utilizados para avaliar o que foi absorvido dos conteúdos trabalhos pelos alunos.

A Didática procura então, auxiliar o professor a desenvolver seu trabalho da

melhor maneira para que ele possa alcançar os objetivos traçados, para que a aprendizagem seja

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realizada. Através da Didática, os professores têm os conhecimentos necessários, como métodos

e técnicas, a serem utilizados com o objetivo da aquisição de conhecimentos, sem deixar de lado

os aspectos sócio-políticos e culturais da sociedade.

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CAPÍTULO III

PROFESSOR OU EDUCADOR?

Muitas pessoas quando pensam em se tornar professores não sabem exatamente

qual é a função do professor/educador. Paulo Freire define muito bem o que é ser professor e

educador. Para ele Professor é ser um profissional e ser Educador é vocação.

Não podemos esquecer que o Educador, primeiramente é um ser humano, é

construtor de si mesmo e da história da sociedade através de suas ações, de seu relacionamento

com o mundo exterior. Ele deve adquirir um nível sociocultural suficiente para que possa

desenvolver sua atividade, assumindo o papel de mediador entre a sociedade ( a cultura em geral)

e o educando. O Educador deve ter habilidades e conhecimentos necessários para auxiliar seus

alunos no processo de ensino-aprendizagem, na elevação de seu nível cultural. Como diz

Luckesi:

"Para ser educador não basta ter contrato de trabalho numa escolaparticular ou um emprego de funcionário público. É preciso competência,habilidade e comprometimento. Ninguém se faz professor, do dia para anoite, sem aprendizagem e preparação satisfatória.." ( LUCKESI, 1994: 117)

O Educador deve estar ciente que deve possuir certas qualidades necessárias para desempenhar

seu papel. Ele deve ter compreensão de realidade com que trabalha, não deve assumir um

comportamento utópico; deve ter comprometimento político, compreendendo a sociedade em que

vive, ter clareza com aquilo que está comprometida a sua ação; e competência no campo teórico

em que irá atuar e competência técnico-profissional. Ele precisa conhecer bem o campo em que

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vai atuar, não pode ser um mediador se não tiver conhecimentos e habilidades que lhe

possibilitem exercer sua atividade adequadamente.

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CAPÍTULO IV

A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE ENSINO SUPERIOR

O Ensino Superior foi criado entre 1808 e 1821, durante a permanência da família

Real Portuguesa no Brasil. Mas só em 1920 este Ensino foi organizado em Universidade pelo

decreto nº14.343, de 07/09/1920, no Governo de Epitácio Pessoa. Em 1932, o decreto 19.851,

instituiu o regime universitário no Brasil e constituiu o Estatuto das Universidades Brasileiras. O

Ensino Universitário tinha como finalidade elevar o nível cultural geral, estimular a investigação

científica, habilitar para o exercício das atividades técnicas e científicas. Os cursos eram

divididos em:

• os de currículo normal;

• cursos equiparados ( ministrados pelos livres docentes);

• os de aperfeiçoamento e

• especialização

Com a lei 5540/68 e o decreto lei nº 464/1969 reafirmou-se os princípios adotados

na legislação anterior em que as universidades, através de suas unidades, devem promover cursos

de graduação, pós-graduação, extensão, aperfeiçoamento e especialização.

Atualmente, de acordo com a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei

9394/96, referindo-se ao artigo 66), a formação docente para o exercício do magistério superior

deverá se realizar a nível de pós-graduação, preferencialmente no programa de mestrado ou

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doutorado. Porém, até a década de 1930 do século XX, a formação do professor de nível superior

era inexistente. Basicamente os professores que lecionavam em níveis superiores tinham sido os

melhores alunos de seus cursos de bacharelado e licenciatura ou se especializaram no estrangeiro.

Os que lecionavam nas áreas humanas eram oriundos dos cursos de filosofia. No que se referia à

formação pedagógica do professor era algo um pouco conturbado. Não havia professores

especializados em Didática. Geralmente estes eram oriundos do curso normal ( na grande maioria

mulheres) e ótimos alunos na disciplina de Didática em seus cursos universitários. Não havia

uma separação das Didáticas (geral e específica) e o professor lecionava para todos os cursos

independente das área em que atuariam, tecnológica ou humana.

Entre 1940 e 1950 surgiram os primeiros doutoramentos na área pedagógica,

propriamente pesquisas no campo da Didática. Com a criação da pós-graduação em Educação por

volta dos anos 70, são criadas também pós-graduações no campo da Didática. Com estas

modificações houve um favorecimento na formação dos professores de Ensino Superior.

A formação do professor é um processo, que não se caracteriza de uma só vez,

porque o é resultado de condições históricas, que devem estar ligadas às exigências geradas pela

reorganização da produção e mundialização da economia. O processo de formação de educadores

(especialistas e professores) inclui componentes curriculares orientados para o tratamento

sistemático do "que fazer" educativo, a prática pedagógica. Em uma análise técnica, o processo

de formação de professores e especialistas, o educador é um organizador do ensino-aprendizagem

em busca de bons resultados. Para formar um educador é necessário inseri-lo na prática. A

questão básica da formação do educador é a teoria e prática que são núcleo articulador desta

formação. A formação tem como objetivo criar consciência crítica da educação e do papel que ela

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exerce na sociedade, visando a transformação social. Não é a Educação que transforma o mundo,

a Educação transforma as pessoas e estas transformam o mundo. De acordo com Cunha:

"(...) quando o professor compreende a importância social do seu trabalho,começa a dar uma dimensão transformadora à sua ação (...)"(CUNHA,2001:126)

"(...) é preciso que o futuro professor tenha consciência de seu papel nasociedade e que perceba que o exemplo é a principal forma de ensinar."(CUNHA, 2001:128)

Podemos observar que a Educação tem diversas dimensões - humanas, técnicas e

político-social, porém elas não podem ser vistas isoladamente, devem estar articuladas entre si,

como também a prática educativa cotidiana ( tudo e todos os envolvidos no processo de ensino-

aprendizagem). Por este motivo não há a possibilidade de educar fora de uma situação concreta,

da realidade em que estamos inseridos.

A profissão de professor é a soma de elementos teóricos mais os práticos reais,

contudo quando pensamos no currículo de formação de professores, temos que dar ênfase à

prática como atividade formadora, tornar a prática como instância permanente e sistemática do

futuro professor de todos os níveis, não uma prática pela prática. Uma prática orientada e

fundamentada, onde poderão aplicar o que lhes foi ensinado, aprender praticando, embora a nova

Lei de Diretrizes e Bases da Educação não exija prática de ensino na formação docente para o

nível Superior (artigo 65). Mas as técnicas didáticas e procedimentos didáticos são de grande

valia, através deles o professor tem conhecimento dos recursos que poderá utilizar para o sucesso

do processo de ensino-aprendizagem. Ele verá na prática suas aplicações e a realidade de uma

sala de aula. Estes respaudos técnicos o ajudarão na sua atuação. Como diz Cunha:

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"Ensinar técnicas didáticas não é tudo, mas é preciso ensiná-las. Há umsaber que é próprio da função e o docente precisa se apropriar dele."(CUNHA, 2001:128)

A formação pedagógica ensina a refletir, a aceitar outros posicionamentos, a não

ser o dono da verdade absoluta. A prática de formação de professores deve-se preocupar com

atividades reflexivas, levar o professor a pensar a sua própria prática, sobre o seu trabalho. A

necessidade da reflexão sobre a prática leva a uma apropriação e produção de teorias com o

objetivo da melhoria das práticas educativas. Assim, a formação torna-se crítico-reflexiva,

ajudando o professor a refletir sobre o seu cotidiano, onde seu conhecimento é construído. A

linguagem, a palavra ( escrita e falada) é a principal ferramenta de trabalho do professor e é ela

que faz o seu cotidiano e o faz também refletir sobre ele, procurando produzir conhecimentos

necessários para sua atuação.

A produção de conhecimento é uma atividade que leva o professor à ação, à

curiosidade, à crítica, à reflexão, ao questionamento, entre outras coisas. Aprender não é

acrescentar novos conteúdos a nossa cultura, e sim estar envolvida na interpretação e produção de

conhecimentos. A ação de aprender deve ser uma aventura criadora. Aprender é construir e

reconstruir conhecimentos.

As instituições de ensino precisam formar sujeitos pensantes e críticos que possam

desenvolver capacidades básicas de pensamento, coletando informações e colocar-se frente a sua

realidade, ao seu momento histórico e agir sobre ele. Não pode haver uma formação desvinculada

do momento vivido nem uma educação sem compromisso com a formação do educador de todos

os níveis de ensino. Formar docentes críticos e com compromisso com a melhoria da sociedade e

do Ensino Superior, novos profissionais serão formados com este mesmo ideal. Quando temos

um bom docente de Ensino Superior, com certeza teremos bons alunos e futuros profissionais.

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Porque a melhor maneira de preparar os alunos para a aprendizagem é relacionar o conteúdo

com a realidade e sua futura profissão. Todos os educandos têm o direito de saber "para que

fazer", ou seja, mostrar-lhes o objetivo de cada conteúdo, a sua utilidade.

Segundo Paulo Freire, o professor deve ter consciência que ele não trabalha com

alunos ideais e sim com alunos reais, que nem sempre são aqueles que gostariam que fossem. O

professor tem uma missão especial, não é apenas a de ensinar o conteúdo, mas sim de construir a

subjetividade dos seres humanos e colocar-se junto ao aluno atuando e refletindo com ele a

respeito das dificuldades reais do seu mundo.

" O que importa, na formação docente, não é a repetição mecânica do gesto,este ou aquele, mas a compreensão do valor dos sentimentos, das emoções,do desejo, da insegurança a ser superada pela segurança, do medo que, aoser "educado", vai gerando coragem." (FREIRE, 1998: 50 - 51)

Para os alunos os melhores professores são aqueles que tornam as aulas atraentes,

estimulam a participação dos alunos, induzem a crítica, procuram novas formas para desenvolver

seu conteúdo e principalmente aqueles que sabem se expressar fazendo com que todos o

entendam. O professor ideal é aquele que domina o conteúdo e acredita nas potencialidades de

seus alunos, e que está preocupado com a aprendizagem deles.

"(...) o bom professor é o que consegue, enquanto fala, trazer o aluno até aintimidade do movimento de seu pensamento. Sua aula é assim um desafio enão uma "cantiga de ninar". Seus alunos cansam, não dormem. Cansamporque acompanham as idas e vindas de seus pensamento, surpreendem suaspausas, suas dúvidas, suas incertezas." (FREIRE, 1998: 96)

O professor desempenha um papel principal nas instituições de ensino, sem o

professor essas instituições não existiriam. O papel do professor não depende só dele, seu valor é

atribuído pela sociedade, que o produz. Isto acontece pelo motivo da Educação estar inserida na

sociedade e deve ser entendida dentro dos condicionantes econômicos, sociais e políticos. O

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Professor deve agir sobre estes condicionantes para a sua transformação e para a transformação

da sociedade, agindo criticamente em busca de melhores condições de trabalho, salário e

aperfeiçoamento. Tornando assim a profissão um pouco mais digna para buscar, a cada dia, um

novo professor consciente de seu papel e disposto a preparar profissionais engajados num ideal

de transformação para a melhoria da sociedade como um todo. O que observamos nos dias de

hoje é que são poucos aqueles que desejam ser professores. Muitas vezes sua vocação é abafada

pela procura de melhores salários e status social. Há anos atrás ou em outros países e no Brasil

também, ser professor é profissão valorizada pela sociedade e não marginalizada. Por este

motivo a sociedade deve ser conscientizada a respeito do papel exercido pelo professor, que é o

de formar pessoas capazes de pensarem criticamente e agir sobre constantes mudanças da

sociedade.

Um último aspecto que devemos ressaltar aqui a respeito da formação do

professor de Ensino Superior é necessidade de constante atualização tanto no campo educativo

como social, econômico, político e mundial. Porque, como já mencionamos anteriormente, a

formação do professor não se realiza de uma só vez, é um processo em que ele precisa se

atualizar de acordo com as mudanças ocorridas ao longo dos anos da profissão e do mundo.

O professor deve estar atento e procurar se aperfeiçoar, seja através de livros,

revistas especializadas ou cursos. Ele não pode parar! Ele é um profissional que ministra aulas

para formar outras pessoas, especialistas ou não, inseridas numa sociedade inconstante e

desigual. O que se sabe hoje, talvez não possa ser ensinado amanhã, sem algum acréscimo ou

modificações. Daí a necessidade permanente da atualização. A cada dia surgem novas leis, novas

fórmulas, novos conceitos, novos momento históricos, a medicina avança, o mundo muda e o ser

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humano também. O professor deve ter consciência que precisa atualizar seus conhecimentos e se

atualizar como pessoa. O mundo não para e a educação também.

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CAPÍTULO V

A IMPORTÂNCIA DA DIDÁTICA NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE NÍVEL SUPERIOR

O grande enfoque da Didática é a formação do Educador, é criar condições para

que o futuro educador possa se preparar filosófica, científica , técnica e afetivamente para exercer

sua função. É necessário haver conhecimentos de todos estes campos porque a Didática não pode

ser vista isoladamente, apenas em uma dimensão técnica. Todos estes campos auxiliam o

professor/educador a desenvolver o seu papel. A base da Didática é proveniente do campo da

Psicologia, e é ela que fundamenta muitas das teorias de aprendizagem estudadas pela Didática.

Através de ciências como a Psicologia, Biologia, Sociologia e outras em que os problema de

ensino-aprendizagem são apresentados.

O papel da Didática na formação do professor é buscar alternativas para os

problemas da prática pedagógica. A Didática está empregnada de mecanismos de preparação do

educador. Auxilia o educando a se habilitar para as atividades que deverá desenvolver como

profissional, uma vez formado, uma vez professor/educador. A ação exercida pelo educador não

pode ser executada de qualquer maneira, o educador precisa ter comprometimento com o que faz,

compreender a sociedade em que vive, através de sua história, suas relações de produção,

perspectivas, tudo o que engloba a sociedade e suas ações como profissional.

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Para Luckesi, o educador deve:

" (...) deter habilidades e recursos técnicos de ensino suficientes parapossibilitar aos alunos a sua elevação cultural através da apropriação dacultura elaborada. Ensinar não significa, simplesmente, ir para uma sala deaula onde se faz presente uma turma de alunos e "despejar" sobre ela umaquantidade de conteúdos. Ensinar é uma forma técnica de possibilitar aosalunos a apropriação da cultura elaborada da melhor e mais eficaz formapossível. Para tanto, será necessário deter recursos técnicos e habilidades decomunicação que facilitem a apropriação do que se comunica. O educadornecessita possuir habilidades na utilização e aplicação de procedimentos deensino." ( LUCKESI, 1994: 116 - 117)

A Didática deve ser entendida como um elo de tradução de certos conhecimentos

produzidos pela prática pedagógica e matérias baseadas na Educação. Estes conhecimentos são

mediadores e garantem uma melhor compreensão do processo de ensino-aprendizagem. A

Didática tem como objetivo o "como fazer", a própria prática pedagógica, mas ela só será bem

desenvolvida se for articulada ao "para que fazer" e "por que fazer". Não podemos desvincular o

senso crítico tanto do professor como do educando.

Muitos professores acreditam que a Didática apenas apresenta um caráter técnico,

enfatizando o planejamento, execução e avaliação. E, não procuram aprofundar seus estudos e

conhecimentos em torno de uma Didática que analise criticamente o ato de educar e seus

princípios teóricos. Como se sabe, a prática educativa processa suas relações com a sociedade em

geral, tendo consciência da realidade social, econômica, política e cultural.

A importância da Didática está exatamente neste elo, entre o técnico e o crítico.

Por um lado busca métodos e procedimentos para serem utilizados em prol do ensino-

aprendizagem, e por outro lado dá embasamento crítico a ser explorado pelo professor para

analisar sua prática, a relação aluno-professor, o conteúdo utilizado e tudo aquilo que está

envolvido no processo pedagógico. Não é apenas uma crítica pela crítica, mas uma ação prática

visando a melhoria de sua prática pedagógica e do processo de ensino-aprendizagem.

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São poucos os professores que reconhecem a importância da Didática na formação

de professores de Ensino Superior. Primeiramente, eles acreditam que haja fórmulas secretas para

ministrar uma boa aula, mais tarde os formandos percebem que não há fórmulas e se

decepcionam um pouco. A Didática apresenta métodos, técnicas e procedimentos que podem ser

utilizados, além de atualmente estar desenvolvendo o lado crítico desses formandos. Mas, o

próprio professor/educador tem que ter um certo "feeling" na sala de aula, deve ser capaz de

perceber o que mais se adapta a cada sala de aula, porque cada turma é uma realidade. O que foi

trabalhado em uma turma, talvez não seja o suficiente para ser trabalhado com êxito em outra.

Isto é o que muitas vezes é observado.

Como se sabe, muitos professores não têm um comprometimento com a sua

profissão, acreditam que é apenas chegar na frente de uma sala de aula e falar aquilo que ele julga

importante, sem haver uma preocupação como outro. Ou então preparam uma única vez a aula e

a ministram todas as vezes que for necessário. E, muitos alunos às vezes chegam a comentar:

"Este professor não tem Didática nenhuma". Para muitos pode até parecer um ideal e muito

distante, mas basta que professores formadores de professores busquem alternativas para a

melhoria do processo e pesquisem juntamente com seus alunos soluções para novos problemas

que surgem a cada dia extraídos da realidade sociocultural vivida

Em um âmbito específico de atuação de instituições de ensino, mesmo que se

trabalhe somente em uma perspectiva de transformação da sociedade, a dimensão técnica

desenvolvida pela Didática é necessária. O impacto da Didática na formação do profissional de

Educação leva a um saber e a um "fazer" de competência, não um fazer por fazer, dissociado "do

que" e "para que fazer". A Didática formula diretrizes orientadoras da atividade profissional dos

professores de todos os níveis, basta que estes saibam adaptá-los a cada realidade. Mas, o grande

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problema, muitas vezes, é da própria formação obtida pelo professor em seus cursos de

licenciatura, especialização mestrado ou doutorado, onde certos aspectos didáticos não foram

enfocados, causando assim uma má formação.

O grande sonho da Didática é que o ensino seja sempre eficaz e que sempre haja

aprendizagem, em qualquer nível de ensino.

CONCLUSÃO

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O ensino da Didática deve ter uma visão globalizada do processo de ensino-

aprendizagem, globalizando as dimensões humana, técnica e político-social da prática

pedagógica desenvolvida. Estas dimensões devem estar articuladas procurando atingir uma

competência técnica e política. A Didática passa por um momento de revisão crítica, associando

o tecnicismo ao lado social, afetivo e crítico. Este ensino não pode ser dissociado da problemática

da educação na sociedade vivida, nas relações existentes entre as instituições de ensino e a

sociedade.

Durante muito tempo, a Didática tem enfocado diferentes teorias de ensino-

aprendizagem procurando observar as suas aplicações na prática pedagógica, momento este em

que a teoria e a prática se unem em prol de uma reflexão e análise procurando uma melhoria da

aprendizagem e da prática pedagógica.

Os conteúdos trabalhados em Didática estão envolvidos de diferentes abordagem

de diferentes campos das Ciências ( Sociologia, Biologia, Psicologia, Filosofia, ...), dando um

maior preparo para o professor, podemos assim observar que o formando entrando em contato

com estes diferentes campos é capaz de descobrir suas limitações e contribuições no processo de

conhecimento que está em construção. O lado crítico do futuro profissional deve ser aguçado, de

tal modo que ele venha a trabalhar a perspectiva crítica de seus alunos.

A formação didática do professor de Ensino Superior também deve ser repensada,

no ponto de vista técnico. Podemos muitas vezes observar o mau preparo de alguns professores

que chegando à frente de uma turma não conseguem se adequar ao seu nível ou não conseguem

ter uma postura pedagógica necessária para o exercício da profissão. Não existem cursos

específicos de licenciatura, são apenas algumas matérias que capacitam o aluno a ser professor.

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Em cursos de especialização, mestrado e doutorado, muitas vezes, acontece a mesma coisa. As

matérias são desarticuladas e são apenas uma ou duas que enfocam a formação do profissional de

Educação.

Não basta ter a formação técnica e crítica para ensinar. É preciso ter paixão pela

profissão, desejar ensinar e querer ensinar. O profissional de Educação que faz a sua atividade

apenas pensando em um salário, não será um profissional comprometido com a elevação cultural

de seus alunos. O maior pagamento de um professor é ver que seus alunos alcançaram os

objetivos propostos, é perceber que seu nível cultural cresce gradativamente de acordo com o

aprendizado. Todo o processo educativo exige um envolvimento afetivo, uma paixão que se

manifeste em todas as dimensões necessárias para a sua formação - teórica, técnica, política e

crítica. E, como enfoca Luckesi:

"(...) Daí vem a "arte de ensinar", que nada mais é que um desejopermanente de trabalhar, das mais variadas e adequadas formas, para aelevação cultural dos educandos." ( LUCKRSI, 1994: 117)

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ANEXOS

BIBLIOGRAFIA

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CANDAU, Vera Maria (org.). Rumo a uma nova Didática. 11ª edição. Petrópolis, Ed. Vozes,

2000.

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CUNHA, Maria Isabel de. O bom professor e sua prática. 12ª edição. São Paulo, Papirus, 2001.

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ROMANELLI, Otaíza de Oliveira. História da educação no Brasil. 19ª edição. Petrópolis, Ed.

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SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 19ª edição. São Paulo, Ed.

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