UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU … · entrevistas feitas com os profissionais...
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATU-SENSO
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
A IMPORTÂNCIA DAS BRINCADEIRAS E DOS JOGOS NA
EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA VISÃO PSICOPEDAGÓGICA.
Por: Andrea de Fátima Tonelotto
Professora Orientadora:
Carly Machado
Rio de Janeiro, 2010
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATU-SENSO
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
A IMPORTÂNCIA DAS BRINCADEIRAS E DOS JOGOS NA
EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA VISÃO PSICOPEDAGÓGICA.
Apresentação de monografia ao Instituto A
Vez do Mestre- Universidade Cândido
Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em
Psicopedagogia.
Por: Andréa de Fátima Tonelotto
Rio de Janeiro, 2010
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AGRADECIMENTOS
Aos meus pais e colegas de curso, que
sempre me apoiaram mesmo nos
momentos mais difíceis.
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DEDICATÓRIA
Dedico esta monografia a todos
que me ajudaram a chegar até
aqui e concluir este trabalho.
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RESUMO
O presente estudo teve como objetivo analisar a importância dos jogos lúdicos e
das brincadeiras na educação infantil sob o enfoque psicopedagógico e segundo a visão
de teóricos como Jean Piaget e Lev Vygotsky entre outros estudiosos, bem como com
educadores e psicopedagogos atuantes na Educação Infantil que atendem à faixa etária
de 0 a 6 anos de idade. Devemos ter em mente que brincadeiras e jogos não são simples
passatempo, pelo contrário, eles ajudam no desenvolvimento das crianças, socializando-
as e as fazendo descobrir o mundo ao seu redor. O papel do psicopedagogo é o de ajudar
ao professor, para que este possa desenvolver seu trabalho com maior segurança,
proporcionando aos educandos experimentar e vivenciar emoções e aprender a lidar com
os problemas que possam vir a existir quer na escola, que na vida.
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METODOLOGIA
A metodologia utilizada na pesquisa foi a do tipo qualitativo e quantitativo, além de
análise de bibliografia baseada em autores como Piaget e Vigotsky entre outros.Além da
observação, foi utilizado como instrumento de pesquisa um questionário com sete
perguntas (em anexo) dirigido especificamente aos professores e psicopedagogos das
turmas de educação infantil. E analisamos também alguns documentos como, por
exemplo, o Projeto Político Pedagógico e o planejamento das aulas, fazendo desta forma
uma triangulação.
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SUMÁRIO
Sumário..........................................................................................................7
Introdução......................................................................................................8
Capítulo I- A História dos Jogos e os Referenciais Teóricos....................11
1.1- Histórico dos Jogos...............................................................................11
1.2- Referenciais Teóricos............................................................................12
1.2.1- Lev Vygotsky.......................................................................................12
1.2.2- Jean Piaget..........................................................................................16
1.2.3 - O que pensam outros teóricos........................................................20
Capítulo II- O Papel do Psicopedagogo na Educação Infantil e a Impotância
dos Jogos e das Brincadeiras................................................................................22
2.1 - A Importância do Psicopedagogo na Educação................................22
2.2 - A Função Psicopedagógica do Jogo e das Brincadeiras.................24
2.3 - Os Jogos Educativos...........................................................................28
2.4 - O Jogo de Regras.................................................................................29
2.5 - O Jogo e sua Função Socializadora...................................................30
Capítulo III – Análise dos Dados e Entrevistas..........................................32
Considerações Finais...................................................................................43
Referências Bibliográficas...........................................................................45
Folha de Avaliação........................................................................................47
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INTRODUÇÃO
O interesse a respeito da importância das brincadeiras e dos jogos na educação
infantil, surgiu quando percebemos o grande valor que essas atividades tinham na
construção do conhecimento infantil e principalmente no processo de aprendizagem e
como a psicopedagogia poderia ajudar .
Nos primeiros anos de vida, o ser humano forma sua personalidade, incorporando
hábitos, valores, atitudes e as estruturas do padrão de raciocínio. É neste momento que
as atividades lúdicas tem de estar presentes na vida das crianças, assim como devem
estar de acordo com seus interesses e com sua faixa etária para poderem contribuir para
o pleno desenvolvimento psíquico e social.
Estudos de teóricos, psicólogos, psicopedagogos e educadores, como por
exemplo, Piaget , Vygotsky e Fernandez nos mostram que há uma firme convicção de que
as brincadeiras e os jogos são de máxima importância para o desenvolvimento social,
afetivo e cognitivo das crianças.
As crianças desde muito pequenas, gastam grande parte de seu tempo brincando,
fazendo de conta, jogando, enfim envolvidas com o lúdico .
Nos jogos e brincadeiras, a criança é capaz de atribuir aos objetos significados
diversificados. Ela irá desenvolver sua capacidade de abstração e começar a agir
independente daquilo que vê, operando com significados diferentes da simples percepção
dos objetos .
O jogo propicia um ambiente favorável ao interesse da criança pelo desafio das
regras impostas por uma situação de imaginação que pode ser considerada como um
modo para o desenvolvimento do pensamento abstrato na criança .
Durante as brincadeiras, as crianças investigam o desconhecido, enfrentam
desafios, desenvolvem suas emoções e seus sentimentos. São momentos de
divertimento e também de interação com outras crianças que fazem com que seus sonhos
se realize, e as despertam para a vida. Essas atividades são um incentivo à
movimentação de seu corpo e ao desenvolvimento de sua capacidade intelectual, já que
corpo e mente devem andar em constante harmonia.
Todas as aprendizagens da criança partem de experiências corporais e afetivas,
tendo o jogo, um papel crucial no desenvolvimento da criança. Piaget (apud Kamii, 1992)
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nos diz que para que a criança construa algum conhecimento, se faz necessário que este
tenha um real significado para ela. Paín( in Parente, 2000) afirma que temos que tornar o
terreno o mais fértil possível a partir de sensações corporais e afetivas, isto é, temos que
significar as aprendizagens da criança.
É de grande importância que as crianças estejam inseridas em atividades que
permitam a elas um caminho que percorra da imaginação à abstração de estratégias
diferentes, de resolverem os problemas que apareçam em um jogo ou brincadeira. O
processo de criação está necessariamente vinculado à imaginação e, a estrutura de
atividade do jogo e da brincadeira irá permitir o surgimento de uma situação imaginária.
Para os psicopedagogos, o brincar serve com um modo de desvelar conflitos,
revela se o comportamento da criança frente as brincadeiras e jogos é saudável ou
patológico e o uso que se pode fazer disso.
É pela brincadeira que o psicopedagogo pode identificar e compreender a
modalidade de aprendizagem da criança- predominantemente acomodativa, se cumpre
tarefas que lhe são pedidas, mas fica paralisada diante do conhecimento; ou assimilativa,
se cria desordenadamente mas não consegue transformar para construir o conhecimento,
como definiram Sara Pain e Alicia Fernandez.
Podemos afirmar então que a Psicopedagogia vem contribuindo para a revisão da
prática escolar de modo valioso apresentando novos paradigmas para a educação.
É de extremo valor que a escola, no entanto, saiba da importância do processo de
imaginação infantil para constituir o pensamento abstrato. As atividades lúdicas podem
representar, por exemplo, uma situação matemática conforme se caracteriza por ser uma
situação não real, criada para significar um conceito matemático a ser entendido pelo
aluno.
Na concepção Piagetiana, o jogo e a brincadeira assumem características de
promotores da aprendizagem da criança. pois ao ser colocada diante de situações de
brincadeiras diversas, a criança compreende a estrutura lógica do jogo e, como
conseqüência, as estruturas de aprendizagem presentes nesse jogo.
Quando observamos as crianças, seja brincando ou jogando, podemos perceber
que elas desenvolvem suas capacidades de resolver situações problemas.
Surgiram então os seguinte questionamentos :
• Qual a contribuição da Psicopedagogia na Educação Infantil ?
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• Como professores e psicopedagogos utilizam os jogos e as brincadeiras?
• Qual o propósito pedagógico dessas atividades? São planejados?
• Como a Psicopedagogia pode atuar e ajudar perante estas atividades lúdicas,
visando o pleno desenvolvimento do educando?
Na primeira parte do trabalho, descreve-se brevemente a história do jogo e
tratamos do referencial teórico, apresentando os autores com os quais dialogamos e
fundamentamos esta pesquisa.
Na segunda parte, apresentamos as vantagens do uso dos jogos e brincadeiras, a
importância dos jogos educativos, assim como sua função pedagógica, psicopedagógica
e também socializadora ., além do importante papel do psicopedagogo nas instituições de
Educação Infantil.
Na terceira parte da pesquisa, trazemos a análise dos dados coletados e também
entrevistas feitas com os profissionais da educação infantil acerca da importância dos
jogos e das brincadeiras na educação infantil.
Finalmente, na quarta parte, a partir do desenvolvimento deste trabalho,
apresentamos as conclusões.
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CAPÍTULO I
A HISTÓRIA DOS JOGOS E OS REFERENCIAIS
TEÓRICOS .
1.11.11.11.1 Histórico dos jogos
Segundo Friedmann, vemos que é desconhecida a origem dos jogos. Sabe-se que
os jogos tradicionais foram passados de geração em geração pela transmissão oral. Os
povos antigos do Oriente e também da Grécia brincavam de empinar pipas, amarelinha.
No Brasil, os jogos têm origem na mistura de três raças: a índia, a negra e a branca
européia.
Segundo este autor, temos que dos Portugueses herdamos as lendas como do
bicho-papão, das bruxas este último consiste em que um participante da brincadeira seja
escolhido bruxo, então ele deve contar até 50, todos os outros participantes se escondem
e após contar o bruxo sai para encontrar os escondidos, quando encontra deve dizer alto
BRUXO e então este irá tomar seu lugar.
Dos Negros temos além das bonecas de pano, o jogo do “belisca” até hoje popular
com as crianças.
Dos índios temos os chocalhos, o pião entre outros.
Atualmente o jogo é um tópico de pesquisa crescente. Há várias teorias que
procuram estudar alguns aspectos particulares do comportamento lúdico.
Ainda segundo Friedamnn, vemos que existem algumas correntes sobre o jogo, as
quais podemos destacar a seguir :
O Final do século XIX – A corrente teórica da época pregava estudos evolucionistas
e desenvolvimentistas. O jogo infantil era interpretado como a sobrevivência das
atividades da sociedade adulta.
O Início do século XX – Corrente teórica: Difusionismo e particularismo:
preservação do jogo. Nesta época percebeu-se a necessidade de se preservar os
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costumes infantis e conservar as condições lúdicas. O jogo era considerado uma
característica universal de diversos povos, devido à difusão do pensamento humano e do
conservadorismo das crianças.
O Décadas de 1920 / 1930 – Corrente teórica - Análise do ponto de vista cultural e
de personalidade: a projeção do jogo. Neste período ocorreram inúmeras inovações
metodológicas para o estudo do jogo infantil, analisando-o em vários contextos culturais.
Esses estudos reconheceram que os jogos eram geradores e expressavam a
personalidade e a cultura de um determinado povo.
O Décadas de 1940 / 1950 – Corrente teórica - Análise funcional - socialização do
jogo. A ênfase neste período foi dada ao estudo dos jogos como mecanismo socializador.
O Década de 1960 – Corrente teórica – Análise estruturalista e cognitivista.
O jogo é visto como uma atividade que pode ser expressiva ou geradora de habilidades
cognitivas . A teoria de Jean Piaget merece destaque, uma vez que possibilita
compreender a relação entre o jogo e a aprendizagem. Estuda-se a importância da
comunicação no jogo.
O Década de 1970 em diante – Corrente teórica – Análise ecológica, etológica e
experimental – definição do jogo. Nesta época é dada ênfase ao uso de critérios
ambientais observáveis e / ou comportamentais. Verifica-se também, a grande influência
dos fabricantes de brinquedos nas brincadeiras e jogos.
1.2 – Referenciais Teóricos
1.2.1- LEV VYGOTSKY
Lev Semenovitch Vygotsky nasceu em 1896 em Orsha, pequena cidade perto de Minsk, a
capital da Bielo-Rússia, região então dominada pela Rússia .Seus pais eram de uma
família judaica culta e com boas condições econômicas, o que permitiu a Vygotsky uma
formação sólida desde criança. Ele teve um tutor particular até entrar no curso secundário
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e se dedicou desde cedo a muitas leituras. Aos 18 anos, matriculou-se no curso de
medicina em Moscou, mas acabou cursando a faculdade de direito. Formado, voltou a
Gomel, na Bielo-Rússia, em 1917, ano da revolução bolchevique, que ele apoiou.
Lecionou literatura, estética e história da arte e fundou um laboratório de psicologia – área
em que rapidamente ganhou destaque, graças a sua cultura enciclopédica, seu
pensamento inovador e sua intensa atividade, tendo produzido mais de 200 trabalhos
científicos. Em 1925, já sofrendo da tuberculose que o mataria em 1934, publicou A
Psicologia da Arte, um estudo sobre Hamlet, de William Shakespeare, cuja origem é sua
tese de mestrado.
Os estudos de Vygotsky sobre aprendizado decorrem da compreensão do homem
como um ser que se forma em contato com a sociedade. "Na ausência do outro, o homem
não se constrói homem", escreveu o psicólogo. Ele rejeitava tanto as teorias inatistas,
segundo as quais o ser humano já carrega ao nascer as características que desenvolverá
ao longo da vida, quanto as empiristas e comportamentais, que vêem o ser humano como
um produto dos estímulos externos. Para Vygotsky, a formação se dá numa relação
dialética entre o sujeito e a sociedade a seu redor – ou seja, o homem modifica o
ambiente e o ambiente modifica o homem. Essa relação não é passível de muita
generalização; o que interessa para a teoria de Vygotsky é a interação que cada pessoa
estabelece com determinado ambiente, a chamada experiência pessoalmente
significativa. (http://revistaescola.abril.com.br)
O referencial teórico da presente pesquisa basear-se-á no conceito de Lev
Vygotsky quando este estabelece uma relação estreita entre o jogo e aprendizagem,
atribuindo-lhe um papel de grande importância.
O conceito central da teoria de Vygotsky é o de Zona de Desenvolvimento
Proximal, que é definido por ele como sendo a discrepância entre o desenvolvimento atual
da criança e o nível que atinge quando resolve problemas com ajuda de outrem. O jogo
possibilitaria a criação de uma zona de desenvolvimento proximal.
Nesse sentido, Vygotsky diz que :
“No desenvolvimento, a imitação e o ensino desempenham um papel
de primeira importância. Põem em evidência as qualidades
especificamente humanas do cérebro e conduzem a criança a atingir
novos níveis de desenvolvimento. A criança fará amanhã sozinha
aquilo que hoje é capaz de fazer com cooperação .Por conseguinte ,
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o único tipo correto de pedagogia é aquele que segue em avanço
relativamente ao desenvolvimento e o guia , deve ter por objetivo
não as funções maduras , mas as funções em vias de maturação”
(Vygotsky,1979 ,p.138 )
Apesar de nem todo jogo da criança possibilitar a criação de uma Zona de
Desenvolvimento Proximal, da mesma forma que nem todo o ensino o possibilita, no jogo
com caráter simbólico as condições estabelecidas para que aquela se gere estão
normalmente presentes, pois esta forma de jogo comporta a situação imaginária e a
sujeição a certas regras de conduta. No jogo simbólico, as regras são parte integrante,
embora não tenham caráter sistemático e antecipatório como acontece nos jogos
habitualmente designados regrados. O agir dentro de um cenário imaginário faz com que
a criança pondere as regularidades sucedâneas da representação de um papel específico
segundo as regras da cultura na qual ela se acha inserida.
A criança ensaia em cenários lúdicos, comportamentos e situações para as quais
não está preparada na vida real, projeta-se nas atividades dos adultos, ensaiado atitudes,
valores, hábitos e significados que estão muito aquém de suas reais possibilidades.
Mesmo considerando que existe uma grande diferença entre o comportamento na vida
real e o comportamento no jogo, a atuação no mundo imaginário cria uma Zona de
Desenvolvimento Proximal composta de conceitos ou de processos em desenvolvimento.
As interações requeridas no jogo possibilitam a internalização do real e promovem
o desenvolvimento cognitivo.
Ainda segundo o autor, o jogo é um conhecimento feito ou se fazendo, que se
encontra impregnado de conteúdo cultural que vem da própria atividade. Sua utilização
requer um planejamento que permite a aprendizagem dos elementos sociais em que está
inserido, conceitos matemáticos e culturais.
De acordo com Vygotsky vemos que o lúdico influencia extremamente o
desenvolvimento da criança. É através dos jogos e das brincadeiras que ela vai aprender
a agir, adquirindo iniciativa e autoconfiança, tendo sua curiosidade estimulada.
Proporciona também, o desenvolvimento da linguagem, pensamento e concentração. O
jogo tem estrita relação com a aprendizagem.
O autor dá grande ênfase ao papel da cultura no desenvolvimento cognitivo da
criança. Nesse sentido temos Sutherland citando Vygostky:
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“ No processo de socialização para a respectiva cultura , as crianças
aprendem coisas que constituem as características comuns da sua
cultura , por exemplo , mitos , contos de fadas, canções e histórias.
As ferramentas integram uma parte extremamente importante de
uma cultura , a criança precisa de ir conhecendo as ferramentas
fundamentais para a nossa cultura ...” .( Vygotsky Apud
Sutherland,1996, p. 78 )
Além disso, Vygotsky também detecta no jogo outro elemento ao qual atribui
grande importância: o papel da imaginação que coloca em estreita relação com a
atividade criadora. Ele afirma que os processos de criação são observáveis em maior
escala nos jogos da criança, pois ela representa e produz muito mais do que aquilo que
simplesmente viu .
“Todos conhecemos o grande papel que nos jogos da criança
desempenha a imitação, com muita freqüência esses jogos são
apenas um eco do que as crianças viram e escutaram dos adultos,
não obstante esses elementos da sua experiência anterior nunca se
reproduzem no jogo de forma absolutamente igual e como
aconteceram na realidade . O jogo da criança não é uma recordação
simples do vivido , mas sim a transformação criadora das
impressões para a formação de uma nova realidade que responda
às exigências e as inclinações da própria criança”. (Vygotsky,
1999,p .12 )
Desta forma, para entendermos corretamente o desenvolvimento, devemos
considerar não somente o nível real de desenvolvimento da criança, mas também seu
nível de desenvolvimento potencial, que é aquele de realizar tarefas com ajuda de adultos
ou colegas mais capazes. “Há tarefas que uma criança não é capaz de realizar sozinha,
mas que se torna capaz de realizar se alguém lhe der instruções, fizer uma
demonstração, fornecer pistas ou der assistência durante o processo” ( Oliveira, 1998, p.
62 )
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1.2.2.- Jean Piaget
Jean Piaget nasceu no dia 9 de agosto de 1896, em Neuchâtel, na Suíça. Seu pai,
um calvinista convicto, era professor universitário de Literatura medieval.
Piaget foi um menino prodígio. Interessou-se por História Natural ainda em sua
infância. Aos 11 anos de idade, publicou seu primeiro trabalho sobre sua observação de
um pardal albino. Esse breve estudo é considerado o início de sua brilhante carreira
científica. Aos sábados, Piaget trabalhava gratuitamente no Museu de História Natural.
Piaget freqüentou a Universidade de Neuchâtel, onde estudou Biologia e Filosofia.
Ele recebeu seu doutorado em Biologia em 1918, aos 22 anos de idade.
Após formar-se, Piaget foi para Zurich, onde trabalhou como psicólog experimental.
Lá ele freqüentou aulas lecionadas por Jung e trabalhou como psiquiatra em uma clínica.
Essas experiências influenciaram-no em seu trabalho. Ele passou a combinar a psicologia
experimental - que é um estudo formal e sistemático - com métodos informais de
psicologia: entrevistas, conversas e análises de pacientes.
Em 1919, Piaget mudou-se para a França, onde foi convidado a trabalhar no
laboratório de Alfred Binet, um famoso psicólogo infantil que desenvolveu testes de
inteligência padronizados para crianças. Piaget notou que crianças francesas da mesma
faixa etária cometiam erros semelhantes nesses testes e concluiu que o pensamento
lógico se desenvolve gradualmente.
O ano de 1919 foi um marco em sua vida. Piaget iniciou seus estudos
experimentais sobre a mente humana e começou a pesquisar também sobre o
desenvolvimento das habilidades cognitivas. Seu conhecimento de Biologia levou-o a
enxergar o desenvolvimento cognitivo de uma criança como sendo uma evolução
gradativa.
Em 1921, Piaget voltou à Suíça e tornou-se diretor de estudos no Instituto J. J.
Rousseau da Universidade de Genebra. Lá ele iniciou o maior trabalho de sua vida, ao
observar crianças brincando e registrar meticulosamente as palavras, ações e processos
de raciocínio delas.
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Em 1923, Piaget casou-se com Valentine Châtenay, com quem teve três filhas:
Jacqueline (1925), Lucienne (1927) e Laurent (1931). As teorias de Piaget foram, em
grande parte, baseadas em estudos e observações de seus filhos que ele realizou ao lado
de sua esposa.
Enquanto prosseguia com suas pesquisas e publicações de trabalhos, Piaget
lecionou em diversas universidades européias. Registros revelam que ele foi o único
suíço a ser convidado para lecionar na Universidade de Sorbonne (Paris, França), onde
permaneceu de 1952 a 1963. Até a data de seu falecimento, Piaget fundou e dirigiu o
Centro Internacional para Epistemologia Genética. Ao longo de sua brilhante carreira,
Piaget escreveu mais de 75 livros e centenas de trabalhos científicos.
Piaget morreu em Genebra, em 17 de setembro de
1980.(www.psicopedagogiabrasil.com.br)
Este trabalho, baseia-se também nas pesquisas de Piaget. Para este teórico,o
desenvolvimento da inteligência vai acontecendo de forma gradual e as estruturas do
pensamento devem estar preparadas para a assimilação do conhecimento.
Segundo Piaget, a construção do conhecimento vai acontecer quando ocorrerem
ações físicas ou mentais sobre os objetos, que irá provocar o desequilíbrio, resultando em
assimilação ou acomodação e assimilação dessas ações, levando assim, a construção do
conhecimento.
Assimilação é o processo cognitivo pelo qual são classificados novos eventos em
conhecimentos (esquemas) já existentes.
Acomodação é a modificação de uma estrutura (esquema) em função das
particularidades do objeto, acontecimento a ser assimilado.
Piaget afirma que o pensamento do ser humano é de natureza matemática. Isso
fica evidenciado quando ele explica os estágios de desenvolvimento cognitivo, todos
referenciados à linguagem matemática: sensório-motor; pré-operatório; operatório-
concreto e operatório-abstrato, anteriormente já explicitados.
A grande contribuição desse teórico para a aprendizagem , foi a de mostrar através
do método clínico, como a criança pensa efetivamente.
A gênese da construção do número na criança (1971), embasa teoricamente o
processo de como o jogo pode ser considerado como proposta inovadora no ensino dos
conteúdos na escola. Mas o método usado por Piaget, por ser ele psicólogo, era clínico e
não didático.
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Ele dedicou-se a estudar os jogos e chegou a estabelecer uma classificação deles
de acordo com a evolução das estruturas mentais:
♦ Jogos de exercício – entre 0 e 2 anos ( sensório-motor )
♦ Jogos simbólicos – entre 2 e 7 anos ( pré-operatório, simbólico e intuitivo )
♦ Jogos de regras – entre 7 e 11 anos ( operatório-concreto )
Piaget nos diz que nos jogos de exercício, a principal característica da ação
exercida pela criança no período sensório-motor é a satisfação de suas necessidades.
Pouco a pouco, a criança vai ampliando seus esquemas, adquirindo cada vez mais a
possibilidade de garantir prazer por meio de suas ações. Passa a agir para obter prazer.
O prazer é que traz significado para a ação.
Além disso, todas as conquistas dessa fase como, por exemplo, engatinhar, falar
entre outras, são carregadas de prazer contido na ação: o bebê gosta de ficar “solto” no
chão para que possa experimentar os primeiros passos, demonstra alegria ao balbuciar
os primeiros sons, tenta imitar a fala dos que o cercam, passa muito tempo entretido com
as próprias mãos e pés, em um verdadeiro jogo de descoberta corporal.
Piaget observou tais condutas e depreendeu que delas havia um objeto na
repetição incessante das mesmas ações, divertir e servir como instrumento de realização
de um prazer em fazer funcionar estruturas já aprendidas. Esse tipo de jogo dá a criança
um sentimento de poder.
No entanto, não deixamos de jogá-lo só porque crescemos. A cada nova
aprendizagem, voltamos a utilizar os jogos de exercício, necessários a formação de
esquemas de ação que utilizamos em nosso desempenho.
O jogo de exercício não objetiva a aprendizagem em si, mas sim, a formação de
esquemas de ação, de conduta, de automatismo. Assim, jogá-lo só se faz necessário para
esse fim, pois fica enfadonha a repetição de ações já interiorizadas.
Nos jogos simbólicos, a criança já é capaz de encontrar o mesmo prazer que tinha
anteriormente, no jogo de exercício, lidando agora, com símbolos .
Essa é a fase do “faz de conta”, da representação, do teatro, das histórias, nos
quais uma coisa simboliza outra, ou seja, um cabo de vassoura “vira” um cavalo, por uma
capa transforma a criança em um “super-herói”, entre outras experiências.
A criança é capaz desse jogo pois já estruturou sua função simbólica, ou seja, já é
capaz de produzir imagens mentais, já domina a linguagem falada, que lhe possibilita usar
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símbolos para substituir objetos.
Os jogos simbólicos têm a seguintes características:
• Liberdade total de regras ( só valendo aquelas criadas pela própria criança );
• Desenvolver a criatividade, a fantasia;
• Ausência do objeto. A criança brinca pelo prazer de brincar;
• Ausência de uma lógica da realidade;
• Assimilação da realidade ao seu “eu” , ou seja, a criança adapta a realidade
aos seus desejos.
Quando a criança joga os jogos simbólicos, ela tem a possibilidade de vivenciar
aspectos da realidade muitas vezes difíceis de elaborar, como por exemplo, a perda de
um ente querido, o novo irmão, mudança de casa. Além disso, ela pode lidar com
situações pelas quais anseie como ser um super-herói, situações do passado, enfrentar
problemas do presente e antecipar conseqüências de ações no futuro.
A criança pode experimentar tudo isso sem riscos, pois se trata de uma situação
fictícia.
O adulto que observa e interage com a criança no jogo simbólico pode perceber
como ela está elaborando sua visão de mundo, como está lidando com seus próprios
problemas, frustrações, sonhos .
Vemos que o jogo simbólico é um período longo pelo qual a criança passa e, ele
vai sofrendo algumas modificações à proporção que a criança vai evoluindo em seu
desenvolvimento. Primeiramente, a criança pratica a ação ela mesma, ela faz de conta
que come, faz de conta que dorme. Não lida com objetos como se eles tivessem vida. Em
seguida, a criança fará comer, dormir, outros objetos que não ela mesma, transformando
simbolicamente um objeto em outro. Por volta dos quatro anos de idade, a criança vai se
aproximando de uma imitação da realidade.
A proporção que a criança vai entrando do sub-período intuitivo, os jogos tendem a
seguir cada vez mais uma tendência imitativa, na qual ela busca coerência com a
realidade que a cerca, a articulação entre diversos conjuntos de objetos já se pode fazer
sentir.
No jogo com regras, o objetivo principal é desenvolver a autonomia do aluno. Para
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isso, tanto professor quanto psicopedagogo devem estimular ao máximo a tomada de
decisões e a troca de idéias entre os educandos durante as atividades. A ação direta dos
alunos sobre os objetos do conhecimento é o que ocasiona a aprendizagem, a ação do
sujeito mediante o equilíbrio das estruturas cognitivas e o que sustenta a aprendizagem é
o desenvolvimento cognitivo.
Podemos constatar que nessa concepção de aprendizagem:
“... o jogo age como um elemento de ensino possibilitador de colocar
o pensamento do sujeito como ação. Ele é o elemento externo que
atuará internamente no sujeito possibilitando-o chegar a uma nova
estrutura de pensamento, pressupõe uma ação do indivíduo sobre a
realidade”. ( Moura , 1994, p. 20 )
1.2.3- O que pensam outros Teóricos
Kishimoto (1994, p.22) destaca que o jogo tem um papel de enorme importância na
Educação : “Ao permitir a manifestação do imaginário infantil , por meio de objetos
simbólicos dispostos intencionalmente , a função pedagógica subsidia o desenvolvimento
integral da criança”.
Adriana Flávia (1996), por sua vez, propõe uma didática construtivista, e este livro
é uma fonte valiosa que pode ser utilizada pelos professores atuantes no campo da
educação infantil. O livro mencionado, oferece propostas para todas as disciplinas
concernentes à educação infantil e, estabelece os conteúdos por três níveis de
aprendizagem que condizem com os pressupostos piagetianos.
Pela leitura de “Homo Ludens” de Huizinga, vemos que este autor nos diz ser o
jogo mais primitivo do que a cultura, fazendo parte das coisas em comum que o homem
partilha com animais. O autor nos diz que “ O jogo é fato mais antigo que a cultura, pois
esta, mesmo em suas definições mais rigorosas, pressupõe sempre a sociedade humana;
mas, os animais não esperaram que os homens os iniciassem na atividade
lúdica”(op.cit.p.3).
Ainda citando Huizinga temos que “ As grandes atividades arquetípicas da
sociedade humana são, desde início, inteiramente marcadas pelo jogo. Como, por
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exemplo, no caso da linguagem, esse primeiro e supremo instrumento que o homem
forjou a fim de poder comunicar, ensinar e comandar” (op.cit.p.7).
Este autor ainda nos diz que :
“ Regra gera, o elemento lúdico vai gradualmente
passando para segundo plano, sendo sua maior parte
absorvida pela esfera do sagrado. O restante cristaliza-
se sob a forma de saber: folclore, poesia, filosofia, e as
diversas formas da vida jurídica e poítica. Fica assim
completamente oculto por detrás dos fenômenos
culturais o elemento lúdico original” (op.cit.p.54).
Podemos constatar portanto, que os vários teóricos estudados, citam as atividades
lúdicas como sendo muito importantes para o pleno desenvolvimento dos educandos.
Para entendermos o que é lúdico é necessário ter fixo a definição de outras
palavras assim como saber das influências que o tempo exerceu sobre o mesmo e levar
em conta que o desenvolvimento da criança depende do brincar, do lúdico e da
importância e dos benefícios que as brincadeiras proporcionam ; fato este bastante
relevante tanto para pais, como para educadores, servindo como um auxílio no
entendimento da importância do fazer criativo.
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CAPÍTULO II
O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
E A IMPOTÂNCIA DOS JOGOS E DAS BRINCADEIRAS.
2.1– A Importância do Psicopedagogo na Educação.
O psicopedagogo na instituição escolar vai atuar em consonância com professores,
orientadores e supervisores educacionais. Ele vai ajudar ao professor perceber seus
alunos e lançar um olhar investigativo sobre eles, para que possa perceber suas
necessidades e ajudá-lo nas dificuldades de aprendizagem que possam ocorrer e
principalmente na prevenção das mesmas. Trabalhando de forma preventiva, o
psicopedagogo pesquisa as condições para que se produza a aprendizagem do conteúdo
escolar, identificando os obstáculos e também os elementos facilitadores, desenhando-se
assim uma atitude de investigação e intervenção, sendo este um trabalho de assessoria
com os demais profissionais (professores, orientadores), cujo objetivo maior segundo
Fagali é trabalhar as questões pertinentes as relações vinculares professor-aluno e
redefinir os procedimentos pedagógicos, integrando o afetivo e o cognitivo, através da
aprendizagem dos conceitos nas diferentes áreas do conhecimento.(FAGALI; VALE,
2002, p.10)
Junto ao psicopedagogo, o professor vai adequar sua prática a fim de suprir
necessidades individuais e coletivas dos discentes, podendo desta forma, perceber as
carências de cada um.
A Psicopedagogia pode trazer importantes contribuições para a Educação Infantil,
seja através de reflexões com o professor sobre o pleno desenvolvimento dos educandos,
seja na elaboração de propostas que sejam condizentes para que a aprendizagem
avance. Neste sentido é de extrema importância que aja uma harmonia entre os professor
e o psicopedagogo, além de toda a equipe envolvida no processo de ensino
aprendizagem.
A Psicopedagogia Institucional tem uma preocupação com a prevenção das
dificuldades de aprendizagem, o aluno é um ser único, segundo Bossa(2000, p.90) “ Cada
sujeito tem histórias pessoais, da qual fazem parte várias histórias: a familiar, a escolar e
23
outras as quais, articuladas, condicionam-se mutuamente”. Partindo deste conhecimento
da vida do educando, tanto professor, quanto psicopedagogo, quanto equipe envolvida
na aprendizagem, construirão uma prática pedagógica que some para a contrução do
ensino aprendizagem daquele educando.
Podemos sem dúvida afirmar que a Psicopedagogia traz possibilidades de
reflexões, para os professores e para os alunos, como sujeitos aprendentes, que
precisam serem vistos sob todos os prismas, a fim de que consigam satisfazer suas
necessidades e vontades.
De acordo som o Código de Ética da Associação Brasileira de Psicopedagogia
temos que a psicopedagogia é um campo de atuação em Saúde e Educação que lida com
o processo de aprendizagem humana; seus padrões normais e patológicos, considerando
a influência do meio (família, escola e sociedade) no seu desenvolvimento, utilizando
procedimentos próprios da psicopedagogia. A intervenção psicopedagógica é sempre da
ordem do conhecimento relacionado com o processo de aprendizagem
Além disso, A Psicopedagogia é de natureza interdisciplinar. Utiliza recursos das
várias áreas do conhecimento humano para a compreensão do ato de aprender, no
sentido ontogenético e filogenético, valendo-se de métodos e técnicas próprios. O
trabalho psicopedagógico é de natureza clínica e institucional, de caráter preventivo e/ou
remediativo.
O trabalho psicopedagógico tem como objetivo: (i) promover a aprendizagem,
garantindo o bem-estar das pessoas em atendimento profissional, devendo valer-se dos
recursos disponíveis, incluindo a relação interprofissional; (ii) realizar pesquisas científicas
no campo da Psicopedagogia.
Ainda segundo o Código de Ética da Associação Brasileira de Psicopedagogia,
vemos que são deveres fundamentais dos psicopedagogos:
A) Manter-se atualizado quanto aos conhecimentos científicos e técnicos que tratem o
fenômeno da aprendizagem humana;
B) Zelar pelo bom relacionamento com especialistas de outras áreas, mantendo uma
atitude crítica, de abertura e respeito em relação às diferentes visões do mundo;
24
C) Assumir somente as responsabilidades para as quais esteja preparado dentro dos
limites da competência psicopedagógica;
D) Colaborar com o progresso da Psicopedagogia;
E) Difundir seus conhecimentos e prestar serviços nas agremiações de classe sempre
que possível;
F) Responsabilizar-se pelas avaliações feitas fornecendo ao cliente uma definição clara
do seu diagnóstico;
G) Preservar a identidade, parecer e/ou diagnóstico do cliente nos relatos e discussões
feitos a título de exemplos e estudos de casos;
H) Responsabilizar-se por crítica feita a colegas na ausência destes;
I) Manter atitude de colaboração e solidariedade com colegas sem ser conivente ou
acumpliciar-se, de qualquer forma, com o ato ilícito ou calúnia. O respeito e a dignidade
na relação profissional são deveres fundamentais do psicopedagogo para a harmonia da
classe e manutenção do conceito público.
Vemos ainda que ,segundo o supracitado código de ética, que o psicopedagogo
está obrigado a guardar segredo sobre fatos de que tenha conhecimento em decorrência
do exercício de sua atividade. O psicopedagogo não revelará, como testemunha, fatos de
que tenha conhecimento no exercício de seu trabalho, a menos que seja intimado a depor
perante autoridade competente. Além disso, devemos ter em mente que os prontuários
psicopedagógicos são documentos sigilosos e a eles não será franqueado o acesso a
pessoas estranhas ao caso.
25
2.2 - A Função Psicopedagógica do Jogo e das Brincadeiras.
Em seu aspecto psicopedagógico, tanto os jogos quanto as brincadeiras se
mostram muito produtivos aos professores e psicopedagogos que podem ter neles um
recurso didático poderoso, tornando-os assim facilitadores na aprendizagem que são
muitas vezes de difícil assimilação por parte dos alunos. Na psicopedagogia, o
processo de aprendizagem, assim como suas dificuldades não vêem professor e aluno de
forma isolada, estanque, mas sim como seres em um processo de interação, que devem
ser capazes desenvolver a capacidade de refletir, pensar, compreender os conceitos apresentados, levantando hipóteses, para testá-las e avaliá-las com autonomia e
cooperação.
Desta forma, situações que propiciem ao aluno refletir e analisar seu raciocínio
precisam ser valorizadas no processo de ensino-aprendizagem e as brincadeiras e os
jogos mostram ser instrumentos muito poderosos na dinâmica desse processo.
Winnicott nos diz que no brincar ,e somente no brincar, que o indivíduo criança ou
adulto, pode ser criativo e utilizar sua personalidade integral, e somente sendo criativo
que o indivíduo descobre o seu ”eu”. (Winnicott apud Weiss, 2002, p.72)
Segundo Tezani (2004) o jogo é essencial como recurso pedagógico e/ou
psicopedagógico, pois no brincar a criança articula teoria e prática, formula hipóteses e
experiências, tornando a aprendizagem atrativa e interessante. Deste modo, a construção
de um espaço de jogo, de interação e de criatividade proporcionaria o aprender com
sentido e significado, no qual o gostar e querer estariam presentes.
Constatamos então que as brincadeiras e os jogos são para a criança um meio
privilegiado de inserção na realidade, pois ela reflete, ordena, destrói e reconstrói o
mundo à sua maneira. Através da observação em turmas de educação infantil, pude
perceber o quanto as brincadeiras e os jogos são importantes para a infância da criança .
Devemos proporcionar um ambiente que possibilite às crianças desenvolverem o
seu raciocínio lógico, fazendo descobertas que lhes pareçam significativas e criando
relações que o saber proporciona.
O brincar nos mostra que os esquemas que as crianças utilizam para organizar as
brincadeiras são os mesmos que elas usam para lidar com o conhecimento. Desta forma,
faz-se fundamental esse entendimento para que tanto o professor quanto o
26
psicopedagogo possam identificar e intervir de forma positiva nas dificuldades que
possam vir a acontecer com os educandos.
Neste contexto podemos afirmar que jogos, brincadeiras e aprender caminham em
consonância na Psicopedagogia.
Piaget em seus estudos, criou quatro estágios do desenvolvimento cognitivo, que
seguem faixas-etárias mais ou menos determinadas. O mais importante, no entanto, é a
ordem desses estágios e não a idade propriamente em que eles aparecem.
Esses estágios do desenvolvimento cognitivo são:
E Estágio Sensório-motor (entre 0 e 2 anos de idade ) – São os jogos de
exercício, fase em que o corpo passa a ser o objeto de ação da criança. A partir de
reflexos neurológicos básicos, o bebê inicia a construção de estruturas de ação para
assimilar mentalmente o meio. Nessa fase, a inteligência é prática. Noções de espaço e
tempo são construídas pela ação. O contato do bebê com o meio que o cerca é imediato,
direto, não há representação ou pensamento.
E Estágio Pré-operatório (entre 2 e 6 anos de idade) – Denominado de
estágio da inteligência simbólica. São os jogos simbólicos, em que a criança passa a
imitar o mundo exterior. É caracterizado sobretudo pela interiorização dos esquemas de
ação que foram construídos pela criança no estágio sensório-motor. Nesse estágio, a
criança transforma o objeto simples em objeto simbólico.
Nesse estágio a criança é centrada em si mesma ( egocêntrica ) e não consegue se
colocar no lugar do outro. Para ela , nessa fase, tudo deve ter uma explicação (fase dos
“porquês”), apresenta uma percepção global e não discrimina detalhes, é levada pela
aparência sem relacionar os fatos.
E Estágio Operatório-concreto (entre 7 e 11 anos de idade ) – Caracterizado
pelo jogo de regras. Nesse estágio, a criança desenvolve noção de tempo, espaço,
velocidade, ordem, casualidade e é capaz de relacionar diversos aspectos e tem
capacidade de abstração da realidade, embora dependa do mundo concreto para chegar
a abstração. É nessa fase que se forma o princípio da reversibilidade, ou seja, a criança é
capaz de representar uma ação no sentido inverso de uma anterior, anulando a
transformação observada. Corresponde ainda, a fase de socialização da criança, na qual
27
elas passam a brincar com as outras de maneira organizada.
E Estágio Operatório-abstrato (de 11 anos em diante ) – A representação
permite a abstração total. A criança é capaz de pensar em todas as relações possíveis
logicamente e buscar soluções a partir de hipóteses e não somente observando a
realidade.
Vemos que desta forma, que a criança inicialmente, brinca com seu corpo e,
posteriormente, representa suas ações e as dos outros, num jogo de “faz-de-conta” e,
finalmente, ela dá início a um processo majoritariamente lógico, em que ela joga com
várias possibilidades, respeitando e criando regras novas. A criança tem um papel muito
importante na utilização dos jogos, porque é ela quem vai reorganizar e transformar o
mundo das coisas e o mundo das pessoas.
No entanto, o desenvolvimento da criatividade de uma criança não está relacionado
diretamente com a quantidade de brincadeiras e jogos a que ela tem acesso e, sim na
habilidade que ela vai lidar com eles. Através deles, a criança irá desenvolver sua
percepção, sua memória, sua inteligência, vai experimentar e conviver com o outro.
No trabalho psicopedagógico, o processo de brincar, jogar é indispensável pois
deve haver um espaço para que a criança possa se comunicar,se manifestar. Assim, a
utilização de jogos e brincadeiras na educação infantil escolar vai contribuir para a
formação intelectual e plena da criança.
Os jogos apresentam várias vantagens quando bem aplicados entre essas
vantagens podemos destacar:
• A fixação de conceitos já aprendidos de uma forma motivadora para os alunos;
• Introdução e desenvolvimento de conceitos de difícil compreensão;
• Desenvolvimento de estratégias de resolução de problemas, os chamados desafios
dos jogos;
• Aprender a tomar decisões e também saber avaliá-las;
• Há uma interdiciplinaridade, pois propicia o relacionamento de diferentes
disciplinas;
• O jogo pede a participação ativa dos alunos na construção de seu próprio
conhecimento;
28
• Favorece a socialização entre os alunos e a conscientização de trabalho de equipe;
• O jogo desenvolve a criatividade, o senso crítico, a competição sadia, a
observação, várias formas de uso da linguagem e o prazer em aprender;
• Essa atividade pode ser muito útil para reforçar habilidades que os alunos
necessitem, é também proveitosa no trabalho com alunos de diferentes níveis;
• Em situações de jogo, o professor e o psicopedagogo podem identificar e
diagnosticar alguns erros de aprendizagem, além das atitudes e das dificuldades
dos alunos;
• As regras do jogo são importantes na compreensão da convivência com os pares,
um exercício de cidadania e democracia .
Vemos ainda que segundo Huizinga, são características fundamentais do jogo :
• ser uma atividade livre, ser ele próprio liberdade;
• não ser vida "corrente" nem vida "real", mas antes possibilitar uma evasão para uma esfera temporária de atividade com orientação própria;
• ser "jogado até o fim" dentro de certos limites de tempo e espaço, possuindo um caminho e um sentido próprios;
• criar ordem e ser a ordem, uma vez que quando há a menor desobediência a esta o jogo acaba. Todo jogador deve respeitar e observar as regras, caso contrário ele é excluído do jogo;
• permitir repetir tantas vezes quantas forem necessárias, dando assim oportunidade, em qualquer instante, de análise de resultados;
• possuir caráter permanentemente dinâmico.
2.3 – Os Jogos Educativos.
A utilização de jogos educativos com fins pedagógicos e psicopedagógicos nos
remete a importância desse instrumento para situações de ensino-aprendizagem e de
desenvolvimento infantil. Os jogos educativos simbolizam uma intervenção deliberada no
lazer infantil no que diz respeito a oferecer conteúdo pedagógico ao entretenimento da
criança.
Podemos realizar várias atividades com as crianças como, por exemplo, cantar
29
músicas, contar histórias que estimulem a contagem e a identificação de quantidades.
Elas devem ter ritmos ligados à seqüência numérica, temporal ou sonora, que incentivem
o uso da ordem, de sucessão de acontecimentos ou de um vocabulário que expresse
relações numéricas. O professor e o psicopedagogo devem aproveitar também, situações
do cotidiano para trabalhar as grandezas, formas, relações numéricas, sempre
envolvendo a criança na descoberta.
De acordo com Oliveira (1994), é através de brinquedos e jogos educativos que a
pedagogia aparece justaposta ao lúdico. Esse recurso passa a ser visto como algo sério,
capaz de educar e tornar a criança feliz ao mesmo tempo e, não apenas como
instrumento para ocupar o tempo da criança.
Os brinquedos e jogos educativos têm como objetivos estimular e favorecer o
desenvolvimento tátil, visual, auditivo, assim como, de cores, forma, tamanho, seqüência,
melhorar a coordenação motora, a psicomotricidade. Esses jogos educativos podem ser:
quebra-cabeças, jogo da memória, jogo de encaixe, entre outros.
Geralmente em turmas de educação infantil, os jogos mais usados como recurso
pedagógico e psicopedagógico são os educativos. Os educadores sempre recorrem a
eles quando querem reforçar algum conteúdo ou desenvolver na criança algum aspecto
pedagógico . Cabe ao professor dentro de sala de aula, sistematizar atividades que
proporcionem às crianças oportunidades de aprendermelhor e mais rapidamente, se este
professor puder contar com uma equipe especializada( psicólogos, psicopedagogos), seu
trabalho será otimizado e jogos e brincadeiras podem ser um excelente caminho para
isso.
2.4 – O Jogo de Regras
Vemos através da leitura de Macedo(1992) que este autor apresenta o jogo de
regras com um propósito psicopedagógico, pois estas atividades apresentam uma
situação-problema, um resultado, um conjunto de regras que determinam os limites dentro
dos quais a situação-problema e os resultados serão considerados. O autor detalha que
os jogos permitem que as crianças produzam e compreendam situações no binômio
“réussir” e “comprendre”, de Piaget.
Podemos entender como intervenções psicopedagógicas:
30
• Estratégias que visam à recuperação dos conteúdos escolares avaliados como
deficitários pelos educandos;
• Procedimentos de orientação quanto aos estudos, como organização, disciplina;
• Atividades como brincadeiras, jogos de regras e dramatizações realizadas na
escola e também fora dela, tendo como objetivo promover a plena expressão dos
afetos e o desenvolvimento da personalidade dos educandos com ou sem
dificuldades de aprendizagem;
• Atendimento em consultório dos educandos com dificuldades de aprendizagem,
com encaminhamento feito pela própria escola.
• Pesquisa de instrumentos que podem ser utilizados para auxiliar o processo de
aprendizagem das crianças, bem como seu grau de desenvolvimento, no que diz
respeito à inteligência e a afetividade.
A importância dos jogos como instrumento avaliativo, para a realização de um
trabalho preventivo é inegável, no entanto, Lorenzato (2006), nos lembra que por melhor
que seja um material didático, ele não é garantia plena de sucesso na aprendizagem. Isto
vai depender de como o material vai ser utilizado e, também dos referenciais teóricos do
professor e do psicopedagogo. Devemos ainda ter em mente que tanto jogos, como
brincadeiras, podem ser usados como instrumento de diagnóstico e posteriormente juntos
as práticas de intervenção, como um recurso metodológico, propondo a superação das
dificuldades de aprendizagem que possam ocorrer.
2.5– O Jogo e sua Função Socializadora
Nas turmas de educação infantil vemos que o jogo oferece à criança a
possibilidade de entrar em contato com o outro sob forma de cooperação ou de confronto,
dependendo da situação. A socialização é parte importante do desenvolvimento cognitivo
e afetivo da criança. Desta forma, o jogo desperta o interesse, a curiosidade e partilha,
melhorando e facilitando a interação entre o grupo de crianças.
A socialização da criança tem início no estágio pré-operatório (entre os 2 e 6 anos
31
de idade ), nessa fase a criança passa a representar o mundo através dos jogos.
Os jogos em grupo fazem com que a criança aprenda a rivalizar, conceder, mandar,
estabelecer. Ela aprende a lidar com a agressividade que pode vir do grupo, assim como,
com o sentimento de prazer que sente em ser aceita por esse grupo. Desta forma, ela
constrói os fundamentos de sua vida futura em sociedade.
O lúdico então, vai servir como um “treino”, um constante aperfeiçoamento fazendo
com que a criança adquira certos poderes no campo cognitivo, emocional, e das relações
sociais.
32
CAPÍTULO III
ANÁLISE DOS DADOS E DAS ENTREVISTAS.
Chamarei as escolas pesquisadas desta forma: a primeira escola de A, e a
segunda de B .
No ano de 2009, realizamos um estágio em duas instituições particulares de
ensino, a fim de conhecer o trabalho pedagógico e psicopedagógico das referidas
instituições. Esse estágio durou cerca de três meses na escola A, e as observações
aconteciam de uma a duas vezes por semana. Podemos durante o estágio conversar com
os professores da escola, a equipe que os apoiavam (psicólogos, psicopedagogos,
orientadores e supervisores escolares), com os alunos, com os funcionários e com alguns
responsáveis, além de poder observar o espaço que compreendia a escola e ver como a
mesma funcionava de fato.
A escola A situa-se na Zona Sul, atende a cerca de 400 alunos(entre creche e
ensino médio), sendo que ao todo são dez turmas de educação infantil, cinco no turno da
manhã e cinco no turno da tarde. A instituição conta com cerca de 50 funcionários , dentre
eles: diretores, professores, coordenadores, psicólogo, psicopedago, nutricionista,
pediatra , cozinheiras , além do pessoal de serviços gerais.
A escola atende a classe média-alta. É ampla, espaçosa, com uma grande área
verde. Há várias salas, todas muito bem equipadas e estruturadas. Há sala de música,
multimeios, de informática, de inglês. Existe ainda uma brinquedoteca, e uma biblioteca
com variados títulos,sempre à disposição dos educandos, onde eles podem ler ou pegar
livros emprestados, também existem espaços para atividades esportivas como, por
exemplo, caratê, judô, dança , ginástica olímpica e natação .
Conversamos com a diretora do estabelecimento sobre a proposta pedagógica da
escola , sobre a formação dos docentes e sobre o trabalho da equipe de apoio ao
docente(psicólogo, psicopedagogo, orientadores). A diretora nos relatou que a escola tem
uma visão Construtivista, ou seja, a escola deve sempre favorecer a construção de
conhecimentos e valores como, por exemplo, a cooperação, autonomia e a criatividade.
Sobre a formação dos docentes, todos têm nível superior (Pedagogia, Psicologia) e que
só recentemente a escola contratou um Psicopedagogo, pois até então esse trabalho era
realizado pelo Orientador e pelo Psicólogo. Os alunos observados tinham liberdade de
33
ação, expressão e criatividade todo o tempo.
A escola B , também situa-se na Zona Sul e atende a classe alta, com cerca de 600
alunos. Atende a crianças do jardim de infância até o ensino médio. Tem também dez
turmas de educação infantil, sendo cinco em cada turno: da manhã e da tarde. Conta em
seu quadro com aproximadamente 50 funcionários, entre: professores (duas professoras
eram também psicopedagogas), psicólogo, orientador e supervisor escolar, nutricionista,
além do pessoal de apoio: babás, serventes. Nosso estágio nessa instituição durou
cerca de dois meses, indo de uma a duas vezes por semana também.
Quanto as condições físicas da escola, ela funciona em uma casa, é bastante
ampla, tem três andares, sendo que as turmas de jardim ficam alocadas no primeiro
andar. Há salas de jogos, história, artes, ciência e vídeo, além de uma sortida biblioteca.
De acordo com a diretora, a escola tem por princípio proporcionar aos seus alunos
condições favoráveis para que eles desenvolvam seu potencial ao máximo, trabalhando
com a criatividade, a emoção. Mais uma vez , segundo ela, a visão da escola era baseada
no Construtivismo .
Nesta escola, além de haver professoras-psicopedagogas, havia também duas
psicopedagogas: uma responsável pelo horário da manhã e outra pelo horário da tarde.
Pelo tempo que passamos nesta escola, percebi que a direção está em sintonia com o
corpo docente, as professoras estavam bastante satisfeitas com o trabalho de equipe
realizado pela escola.
Nestas duas escolas, foram distribuídos os questionários sobre a pesquisa(em
anexo) para dez professoras, sendo cinco de cada escola. Essas professoras tinham
entre 25 a 40 anos de idade, todas tinha curso superior, várias eram pós-graduadas e
uma estava fazendo mestrado em educação .
Esse questionário foi composto por sete perguntas concernentes aos jogos e as
brincadeiras aplicados em ambiente educacional e qual a visão psicopedagógica sobre
estas atividades lúdicas.
Apresentamos a seguir os dados e resultados de questionário aplicado,
observando que as respostas foram organizadas em tabelas por categorias, números
absolutos da freqüência de respostas e seu respectivo percentual.
34
TABELA 1
Como a Psicopedagogia auxilia ou contribui para seu trabalho em sala de aula.
0
20
40
60
80
100
F
Detectar alguma dificuldade deaprendizagem
Apoio no Trabalho Pedagógico
Individualização dos alunos
TOTAL
35
TABELA 2
Freqüência de respostas sobre a concepção do jogo e das brincadeiras em geral.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
F
Lúdico /EntretenimentoEstimularaprendizagem/ consciênciaSimbólico
Emocional
Interesse/Dispersão
Imaginação/Criatividade
TOTAL
Foi possível constatar com 40% das respostas que os professores vêm os jogos e
as brincadeiras em sala de aula como entretenimento valorizando o lado lúdico do jogo e
da brincadeira; com 20%, vemos que os professores acham que os jogos podem
estimular a aprendizagem e a consciência dos alunos; com outros 20%,os educadores
nos relataram que tanto os jogos quanto as brincadeiras eram vistos como símbolo da
infância; 10% viam o jogo ligado ao lado emocional(extravasar emoções, alegria); e outros
5% dos professores ligam jogos e brincadeiras ao interesse e dispersão da criança e uma
parcela de também 5%, viam estas atividades lúdicas como um faz-de-conta, necessário
a imaginação e a criatividade da criança.
36
TABELA 3
a ) Freqüência de respostas sobre o uso do jogo e da brincadeira como recursos
pedagógicos em sua prática.
0
20
40
60
80
100USO DEJOGOS EBRINCADEIRAS Sim
Algumas vezes
TOTAL
37
b ) Quais os jogos e brincadeiras utilizados.
0
20
40
60
80
100
F %
Mentais
Papéis Sociais
Físicos
Total
Podemos constatar pela leitura da tabela que 97% dos professores disseram usar
estas atividades sempre em suas práticas pedagógicas e apenas 3% dos professores
responderam que apenas algumas vezes utilizam esse recurso. Quanto ao tipo de jogos
e brincadeiras utilizados, obtivemos respostas diversificadas, que então classifiquei em
atividades mentais (de encaixe, dominó, jogo da memória) com 60% das respostas;
atividades com papéis sociais (polícia e ladrão , jogos com bonecos) com 30% das
respostas e atividades físicas (queimado, peteca, futebol ) com 10% das respostas .
38
TABELA 4
Freqüência de respostas para a atividade do jogo ou da brincadeira a ser
planejada
0
20
40
60
80
100
PLANEJA AATIVIDADESim
Não
TOTAL
Quanto a essa pergunta, 95% dos professores questionados, disseram planejar
com antecedência a atividade, apenas 5% dos professores responderam que não
planejava suas atividades e que, ela era encaixada como uma forma de passar o tempo
ou acalmar as crianças..
39
TABELA 5
Freqüência de respostas sobre os momentos em que o lúdico é utilizado.
0102030405060708090100
%
Sala
Recreio
Concentração
AtividadesdiversificadasSocialização
Conteúdo Novo
Lúdico
Podemos constatar que 30 % dos professores pesquisados responderam usar os
jogos em sala de aula, 20% deles, os utilizam na hora do recreio, 15% dos professores
usam os jogos para melhorar a concentração dos alunos, 15% professores usam os jogos
em atividades diversificadas, 5% dos professores usam para a socialização da turma, e
apenas 5% para lançar algum conteúdo novo, o lado lúdico dos jogos teve 5% de
respostas, enquanto a rotina também teve 5% de respostas .
40
TABELA 6
a ) Freqüência de respostas sobre a influência do jogo na formação do educando.
0
20
40
60
80
100 INFLUÊNCIADO JOGO NAFORMAÇÃOSim
Não
TOTAL
41
b ) De que forma
0102030405060708090100
DE QUEFORMA
Socialização
Resolversituações-problemaEmocional
Aprendernovosconteúdos
Quanto a influência dos jogos na formação do aluno, 100% professores
responderam positivamente enquanto nenhum respondeu que a atividade do jogo não
influencia na formação do aluno.
No que diz respeito ao aspecto como jogos e brincadeiras influenciam a formação
do aluno, 40% de respostas mencionam a socialização; 25% falam sobre a resolução de
situações- problema; 12% de repostas aludem ao lado emocional do aluno, 10% de
respostas como aprendizagem de novos conteúdos, 7% freqüências de respostas
mencionam a criatividade / imaginação e 6% de frequência de respostas falam sobre o
respeito a regras e limites.
Um dos principais objetivos dessa pesquisa é o de averiguar se as atividades
lúdicas são utilizadas como recurso pedagógico na educação infantil. Como foi visto, tanto
o jogo quanto a brincadeira são excelentes recursos para a formação do educando na
pré-escola.
A partir das investigações feitas, pude observar que na escola A, havia um grande
interesse por parte das professoras e psicopedagogas em usar jogos em suas atividades
42
diárias com as turmas. Parecia haver uma grande sintonia entre estas profissionais.
Nas escolas B , embora as professoras se esforçassem, por vezes, elas
demonstravam um comportamento um pouco contraditório: apesar de reconhecerem a
importância dos jogos, diziam que as crianças ficavam excitadas, que a escola não
oferecia jogos suficientes, não valorizavam, como deveriam o tempo dedicado aos jogos,
parecendo que eles eram aplicados como um simples preenchimento do horário escolar.
Não era raro ver algumas professoras realizando outras tarefas ou mesmo
conversando enquanto sua turma realizava a atividade de jogo, demonstrando através
dessas atitudes um absoluto desconhecimento na forma de introduzir e desenvolver essa
atividade com sua turma.
43
Considerações Finais
Chegamos à conclusão que os jogos e as brincadeiras são importantes
ferramentas que não devem ser subjugados, mas sim vistos como atividades que
contribuem e muito para o pleno desenvolvimento da criança. É de extrema importância
que o ensino esteja voltado para a formação do cidadão, que está a todo o tempo se
utilizando de conceitos presentes nessas atividades. A prática dos jogos e das
brincadeiras dá ao professor-psicopedagogo a oportunidade de ajudar o aluno a resolver
questões que eles enfrentam em seu cotidiano.
Quanto a utilização dos jogos e das brincadeiras na sala de aula como um recurso
didático-metodológico, ele deve ser útil em todos os níveis de ensino. Os objetivos do jogo
devem ser claros, a metodologia do jogo deve ser adequada ao nível escolar no qual o
professor-psicopedagogo esteja trabalhando e, sobretudo deve ser uma situação de
desafio para que o aluno desencadeie o processo do jogo.
Ao professor e também ao psicopedagogo, cabem conhecer a história de vida de
cada aluno, para que dessa forma, eles possam adequar o ensino dependendo do
contexto em que esse aluno está inserido. Não há um único ou melhor caminho para ser
seguido, mas sim, diversas técnicas de sala de aula que de acordo com as condições de
cada turma podem ser trabalhadas.
Devemos sempre estimular a troca de idéias entre os alunos, para que eles
possam dividir suas descobertas. A psicologia do desenvolvimento destaca que tanto a
brincadeira como o jogo têm funções psicossociais, afetivas e intelectuais básicas no
processo de desenvolvimento infantil. O jogo é uma atividade dinâmica que satisfaz uma
necessidade da criança.
Quando analisamos as características dessas atividades lúdicas que pudessem
justificar sua presença em situações de ensino, fica claro que este recurso é uma
atividade de grande valor, que envolve o desejo e o interesse do jogador pela própria
ação do jogo, o desafio, a competição que motivam o jogador a conhecer seus limites e
sua possibilidades de superar esses limites, buscando vencer o jogo, ganhando confiança
ao jogar e correndo riscos.
A utilização de jogos e também de brincadeiras pela escola, possibilita tanto ao
professor e quanto ao psicopedagogo conhecerem algo mais de seus alunos, aquilo que
44
não está dado simplesmente pela estrutura cognitiva, mas que se insere em seu mundo
subjetivo. Este conhecimento amplia a ação do professor e do psicopedagogo , na medida
em que poderão compreender melhor seus alunos e desta forma, poderá planejar as
atividades mais adequadas para seu processo de aprendizagem.
Com o emprego do jogo e das brincadeiras em sala de aula, a escola garante um
clima de prazer tão fundamental tanto para aquele que aprende quanto para aquele que
ensina, pois, a sala de aula, é um espaço de encontro, de trocas, de inclusão e somente
desta forma ela pode ser significativa para o aluno e para seu professor.
Em suma, a conclusão a que se chega é a de que a utilização dos jogos e das
brincadeiras como recurso pedagógico, é uma questão ligada as competências de
professores e também de psicopedagogos e só pode ser mudadas, na medida que esses
profissionais tomem consciência de seu compromisso na participação efetiva na
construção do futuro de seu aluno. Podemos constatar isso, através dos dados obtidos
pelo questionário aplicado aos professores-psicopedagogos e também a equipe
educacional das escolas, concomitantemente com nossas observações durante o
estágio.
Considerando a relevância desse estudo, que muito tem a contribuir para as
aplicações diretas da prática docente, seria recomendável que seja dada continuidade ao
mesmo para um estudo mais aprofundado.
45
Referências Bibliográficas
ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Alfonso de . Etnografia da Prática Escolar . Campinas,
Papirus, 1995.
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FOLHA DE AVALIAÇÃO
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Anexos:
Questionário aplicado nas escolas
1) Como a Psicopedagogia auxilia e/ou contribui com
seu trabalho em sala de aula?
2) Qual sua concepção sobre os jogos e brincadeiras?
3) O Sr/Srª usa os jogos e as brincadeiras em sua
práxis?
4) Quais jogos e brincadeiras são usados?
5) A atividade lúdica (jogos e brincadeiras) é planejada?
6) Em quais momentos eles são utilizados?
7) a)O Sr/Srª acha que tanto jogos quanto brincadeiras
influenciam a formação de seus alunos?
b) De que forma?