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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
CIDADANIA, CONSUMIDOR E GESTÃO DA QUALIDADE.
Por: Patricia Alves de Lima
Orientador
Prof. Nelsom Magalhães
Rio de Janeiro
2012
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
CIDADANIA, CONSUMIDOR E GESTÃO DA QUALIDADE.
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Gestão de projetos.
Por: . Patricia Alves de Lima
3
AGRADECIMENTOS
Aos parentes e amigos. E ao primeiro
que leu este trabalho, meu marido, por
cima do meu ombro. Agradeço ainda
ao Tribunal de Justiça do Estado do
Rio de Janeiro (TJRJ) pelo incentivo e
investimento no aperfeiçoamento
profissional de seus servidores.
4
DEDICATÓRIA
À minha mãe (in memoriam)
5
RESUMO
Este texto tem como objetivo apresentar a evolução da atividade do
cidadão, entendida como participação política e como esta evolução impactou
a gestão empresarial nos dias atuais. A análise parte do novo modelo estatal
neoliberal, o novo paradigma constitucional e da atuação política do cidadão na
esfera de sua relação com os fornecedores de produtos e serviços.
Palavras chave: Cidadania, gestão, constitucionalismo,
neoliberalismo.
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METODOLOGIA
A metodologia utilizada na elaboração deste trabalho foi consulta
aos livros citados no capítulo “Bibliografia” além de pesquisa de dados
estatísticos no sítio www.certibrasil.com.br
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - Cidadania: breve histórico 11
CAPÍTULO II – Breve evolução da gestão empresarial 17
CAPÍTULO III - Cidadania e a empresa 25
CONCLUSÃO 31
BIBLIOGRAFIA 32
WEBGRAFIA 34
ÍNDICE 35
ANEXO 36
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INTRODUÇÃO
Descobrir o que o consumidor quer, é fácil. Fazer algo em relação a isso, é que já não é assim tão simples.1
Jodelet no final do século XX afirmava:
Frente a esse mundo de objetos, pessoas acontecimentos ou ideias, não somos (apenas) automatismos, nem estamos isolados num vazio social: partilhamos esse mundo com os outros, que nos servem de apoio, às vezes de forma convergente, outras pelo conflito, para compreendê-lo, administrá-lo ou enfrentá-lo. Eis por que as representações são sociais e tão importantes na vida cotidiana... Elas circulam nos discursos, são trazidas pelas palavras e veiculadas em mensagens e imagens midiáticas, cristalizadas em condutas e em organizações materiais e espaciais. (JODELET, 2001, p.17)
Sem pretender retomar a discussão acerca da dicotomia sociedade
e indivíduo, temos que as representações sociais, coletivamente partilhadas,
concorrem para a consecução de uma realidade comum. Estas representações
são os veículos pelos quais os integrantes de dada comunidade concretizam
suas necessidades frente ao corpo social em um movimento de tensão
ininterrupta gerando, transformando e movimentando a dinâmica indivíduo x
sociedade. Esta dinâmica se forma a partir da atividade mental desenvolvida
pelos membros do grupo a fim de determinar suas atitudes frente a eventos
que lhe são afetos. Significa dizer que as representações sociais são
apreensões que fazemos da realidade cotidiana gerando um “sentido” naqueles
eventos que nos são normais. Este “sentido” é utilizado pelo grupo como
instrumento de classificação, de construção de tipos onde tudo e todos serão
posicionados. É utilizado, pois, como referencial para elaboração de uma
linguagem ordinária entre os indivíduos.
Neste contexto, a presença do “outro” – não apenas do ponto de
vista físico, mas sociopolítico – garante a própria existência da realidade do
mundo.
1 Fonte: http://www.sitequente.com/frases/negocios.html - acessada em 01/07/2012 (Liz Wetzel)
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A cidadania, neste sentido, surge como elemento mais visível deste
pertencimento justamente por englobar aspectos múltiplos do exercício da
atividade política. Sem a intenção de tentar definir o termo, dada as variadas
nuances que tem o ânimo de privilegiar um ou outro entendimento,
indubitavelmente a palavra remete a uma vida em sociedade. Destes diversos
aspectos o que mais nos interessa é o cidadão enquanto consumidor e como a
percepção desta condição de pertencimento a um grupo - aqui pensado em
uma dimensão circunscrita à outra (cidadãos nacionais/consumidores) –
associada à evolução econômica, política e social, desembocou nas atuais
práticas consumeristas e empresariais.
Por outro lado, essa nova percepção do papel do indivíduo tem
levado a um novo posicionamento da empresa frente à sociedade. É crescente
a preocupação com o papel social das empresas. As atuais formas de gestão
empresarial vem progressivamente desenvolvendo ferramentas que permitam
atender a estes anseios. Claro está que o empresariado em nenhum momento
age desvinculado do seu objetivo precípuo: lucrar com o seu negócio. Os
caminhos escolhidos para a consecução deste fim é que vem crescentemente
apresentando outros contornos. Estas novas ferramentas de gestão constituem
instrumentos para aprimorar a tomada de decisões, a gestão de informações, a
mudança de comportamento, modificarem processos produtivos e outras ações
aplicáveis ao desempenho sócio econômico da empresa. A responsabilidade
social e a ética nos negócios propiciaram uma visão institucional que aproxima
a empresa da sociedade, atribuindo-lhe adjetivo que até recentemente era
exclusivo de um ser humano: é a chamada empresa-cidadã. A importância da
responsabilidade social e da cidadania empresariais como estratégia de
posicionamento de empresa, de produtos e de marca e como um diferencial
competitivo em face de uma dinâmica de mercado cada vez mais globalizada
e, portanto, mais competitiva, mais volátil, é produto da interdependência do
mundo atual. Para Vieira:
A globalização (...) redimensionou as noções de espaço e tempo. Em segundos, notícias dão a volta ao mundo, capitais entram e saem de um país por transferências eletrônicas, novos produtos são fabricados ao mesmo tempo em muitos países e em nenhum deles
10
isoladamente. Fenômenos globais influenciam fatos locais e vice versa. (VIEIRA, 1998, p. 13)
Dito de outra forma, atender às novas demandas sociais é atender às suas
próprias.
Fenômenos como a crise do Keynesianismo com o desmonte do Estado
de Bem Estar, o novo modelo neoliberal de Estado, a evolução do constitucionalismo,
o crescimento de regimes democráticos no mundo ocidental, o fortalecimento da
sociedade civil, a judicialização cada vez maior das relações sociais, a flexibilização da
ideia de soberania, a globalização, todos estes eventos geraram efeitos positivos em
uma relação que, há não muito tempo, era marcada pela desigualdade e pela
exploração. Se a empresa não se tornou humana, ao menos não creio mais que
possamos tratá-la como uma besta.
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CAPÍTULO 1
CIDADANIA: BREVE HISTÓRICO
Você não tem que ser um poeta, mas você é obrigado a ser um cidadão.2
Ao pensarmos em cidadania, não obstante as diversas definições
dadas ao termo, aparece invariavelmente em nossa mente, a vida em
sociedade. Se nos detivermos um pouco mais na reflexão, perceberemos que
se trata, de fato, do exercício do poder, da prática política no seio de um grupo.
Para Chauí, são os gregos e em seguida os romanos, os primeiros na tentativa
de romperem com a centralização do poder, então prevalente no mundo antigo:
Embora, nos começos, gregos e romanos tivessem conhecido a organização econômico social de tipo despótico ou patriarcal, um conjunto de medidas foram tomadas (...) de modo a impedir a concentração dos poderes e da autoridade (...)(CHAUÌ, 2000, p.483)
Evidente que não poderíamos incorrer em anacronismos, supondo
que gregos e romanos formaram uma ideia de política cujos valores e
princípios fossem tais como os nosso. No final do século VI a.C. e durante o
século seguinte, o poder democrático conferiu aos homens adultos, livres,
nascidos no território da cidade, a igualdade (isonomia) diante da lei. Estes
eram os cidadãos.
Fustel de Coulanges, em seu clássico livro sobre a antiguidade
romana e grega, define cidadão no mundo antigo como aquele que participa do
culto da cidade. Provinha daí todos seus direitos civis e políticos. Renunciando
ao culto, estaria renunciando à cidadania. Ao contrário, estrangeiro é todo
aquele que não participa do culto, aquele que não possui nem o direito de
invocar os deuses da cidade, e, por isso mesmo, não está sob sua proteção. A
mera presença de um estrangeiro no templo era considerada sacrilégio.
2 Fonte: http://www.ociocriativo.com.br/frases/pesquisa.cgi?cmd=txtcat&ref=1076243800 – acessada em 01/07/2012 (Nikolai Nekrasov)
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Desta forma que a religião cindia profundamente aqueles que
participavam da vida da cidade daqueles que não tinham direito a esta atuação.
Esta visão foi substituída pela ideia da política como atividade autônoma. A
política passa a ser propriedade natural do homem; é atividade constitutiva da
existência coletiva. Maquiavel, já no século XVI, prega a instalação e
manutenção do Estado desvinculado de considerações morais ou religiosas. O
“secretário florentino”, dirigindo-se aos Médici, líderes hereditários da cidade de
Florença, não pretendeu tratar do que a política deveria ser, mas, sim, do que
ela era. Maquiavel não admite um fundamento anterior ou exterior à política –
Deus, natureza ou razão. As crises citadinas evidenciam que não se trata de
uma comunidade homogênea nascida da vontade divina, da ordem natural ou
da razão humana. Sua principal contribuição reside justamente na percepção
desta autonomia do político frente à moral.
Maquiavel recusa a figura do bom príncipe, do governo virtuoso, e,
assim, não busca resolver a questão de legitimidade e nem da conservação do
governo senão pela própria capacidade do príncipe em se adaptar as
circunstancias da fortuna. Esta tarefa será preocupação dos teóricos
contratualistas dos séculos XVII e XVIII. A noção de contrato social substitui o
pacto de submissão para o de pacto entre indivíduos livres e iguais. Segundo
Thomas Hobbes, a capacidade deliberativa do homem construiria uma
instância superior para por fim ao Estado de Natureza. Para o autor de Leviatã,
no Estado de Natureza, vigoraria a guerra, com os homens vivendo isolados e
em permanente luta. Para Rousseau, em um “estágio natural”, os indivíduos
viviam uma felicidade original, isolados pelas florestas. Esta harmonia termina
no momento em que alguém decide dividir a propriedade: “isto é meu isso é
seu”. A propriedade privada, neste sentido, dá origem ao Estado de Sociedade,
o equivalente rousseauniano ao Estado de Natureza de Hobbes. Estes dois
estados evidenciam uma percepção social onde vigia a lei do mais forte. Para
cessar esta situação foi necessária a passagem à Sociedade Civil regida pelo
Estado, o poder políticos e as leis. Não adentraremos aqui a distinção entre os
dois pensadores quanto à atuação deste Estado, aqui nos importa identificar a
13
criação de um corpo político através da vontade geral. Através do pacto social
a sociedade passa a viver sob o direito civil, isto é, sob leis promulgadas e
aplicadas pelo soberano.
A noção de transferência da regulamentação da vida política a um
soberano guarda em si a ideia de que a priori este direito não pertence ao
Estado; e sim aos indivíduos. Os burgueses irão, neste sentido, perseguir a
limitação do poder do soberano. Nesta altura da história, a burguesia já havia
firmado seu poderio econômico e o capitalismo estava em vias de se
consolidar, mas a classe burguesa necessitava ainda de uma teoria que lhe
desse legitimidade e, desta forma, condições de enfrentar de igual à nobreza,
líder do controle político. Esta formulação será feita por John Locke. Esta teoria
será a da propriedade privada como direito natural. Principal filósofo do
liberalismo, Locke entende a propriedade privada com fruto legitimo do trabalho
e por isso de origem divina. Cabe ao Estado garantir o direito natural a ela. O
burguês, a partir daí, se enxerga como superior tanto à realeza – parasitas da
sociedade- quanto aos pobres que não conseguiram tornarem-se proprietários
ainda que Deus tenha feito a todos os homens iguais e tenha dado a todos a
missão de trabalhar. Uma vez que o Estado fracassasse na tarefa de garantir o
exercício dos direitos naturais, seria um dever dos cidadãos desencadear a
“insurreição sagrada” e formar um governo apto a servir às liberdades inscritas
em cada indivíduo.
O Estado Liberal se apresenta, em sua formação clássica, dividido
em três poderes e instituído pelo consentimento dos indivíduos através do
contrato social. O centro da sociedade civil, que diferencia indivíduos grupos e
classes, é a propriedade privada e o Estado é a garantia desta ordem. Vemos,
assim, que persiste a vinculação entre o exercício do poder estatal e a prática
política. Não mais sob a égide da hereditariedade da nobreza, mas agora sob o
véu do poder econômico. Não mais encarnado na pessoa de um senhor, mas
agora na impessoalidade invisível de um Estado. Faz-se necessário a criação
de uma ideologia que compreenda os anseios de todo o grupo e não que
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apenas utilize a massa popular para atingir os objetivos de uma classe
específica. Uma teoria que verdadeiramente viabilize a práxis política.
Saltando para o século XX, durante os decênios de 1920-1940,
vimos surgir uma experiência sem precedentes: o totalitarismo. Destacam-se
nesta prática, o fascismo e o nazismo. Derrotada na 1ª Guerra, a Alemanha
encontrava-se com sua economia destroçada com o desemprego, a recessão e
a inflação galopante reinando. Partindo da critica marxista ao liberalismo, mas
rejeitando a ideia de revolução proletária, Adolf Hitler propõe o fortalecimento
do Estado alemão através do “espaço vital” do povo e da aliança com setores
conservadores e com o capital industrial e financeiro. Já a Itália, embora
estivesse do lado dos vencedores da 1ª Guerra, não ficou satisfeita com as
compensações que lhe foram dadas. Benito Mussolini surge neste contexto
pregando o nacionalismo baseado nas antigas glórias do Império Romano e
também se aliando a setores conservadores da sociedade. O termo fascismo,
cunhado por Mussolini, refere-se ao conjunto de machados reunidos que
funcionários carregavam na antiga Roma antes das aparições públicas dos
magistrados. Ambas as ideologias, embora de origens diversas, defendiam o
antiliberalismo, o nacionalismo, o partido único, o imperialismo belicista, prática
da censura, racismo e o estatismo. Os horrores perpetrados por estes dois
regimes conduziu alguns pensadores à tarefa de pensar o surgimento de
estruturas de poder voltadas para uma forma total de dominação, que não se
detêm nem mesmo diante da tarefa monstruosa de eliminar populações
inteiras, para fazer triunfar ideias abstratas e crenças na superioridade de raças
e de ideologias.
Neste diapasão, surge o pensamento de Hanna Arendt. Nascida
como Johanna Arendt, foi uma filósofa política alemã de origem judaica, uma
das mais influentes do século XX. Em sua obra, Arendt debruça-se sobre a
questão dos apátridas. O fato de que o mundo passou a conviver com milhões
de pessoas rejeitadas, sem ter um estatuto legal definido, é ao mesmo tempo
uma das consequências da política contemporânea, que resultou na criação
dos regimes totalitários, e uma de suas heranças. O “espaço da aparência”, a
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que se referiu à filósofa alemã, designa o palco onde os homens se mostram
uns aos outros. A ação e o discurso criam este espaço entre os membros do
grupo. Espaço este que em nada se confunde com a ágora da antiga polis
grega. Esta aparece aqui ampliada em sua dimensão política, social e
econômica, realocada em uma posição sem espaço ou tempo, mas que
garante ao cidadão a ação e o discurso.
Para a filósofa alemã, a privação deste espaço, retira do ser humano
mais do que a liberdade e a justiça; retira-lhes o direito à ação e o direito à
opinião. Supera a ideia de que dos direitos humanos derivam diretamente da
“natureza humana”, mas que estes dizem respeito, na realidade, à total
independência de qualquer forma de tutela que não seja exercida pelo próprio
homem. O espaço da singularidade (privado) é onde o homem de distingue por
ser único. A capacidade de exprimir as diferenças impulsiona o homem
(indivíduo) para a compreensão recíproca, viabiliza o binômio referido acima –
o discurso e a ação - leva o homem à esfera pública, onde pode construir a
igualdade tendo como base a singularidade de cada membro, tornando
possível um mundo comum.
Arendt conclui: O poder preserva a esfera pública e o espaço da aparência e, com tal, é também o principio essencial do artifício humano, que perderia sua raison dêtre se deixasse de ser o palco da ação e do discurso, da teia dos negócios e relações humanas e das histórias por eles engendradas (...) Sem o poder o espaço da aparência produzido pela ação e pelo discurso em público desaparece tão rapidamente quanto à palavra viva. (ARENDT, 1989, p. 216)
Da leitura da obra de Arendt, conclui-se que este espaço somente é
alcançado com o pertencimento a uma comunidade. A privação da legalidade
em nada guarda relação com a violação daqueles direitos insculpidos nas
declarações americanas e francesas dos direitos humanos, e sim, em negar ao
indivíduo o direito de fazer parte de uma comunidade política. Esta privação
retiraria do homem sua especificidade, sua própria qualidade essencial de
homem. Daí decorre dois princípios: o primeiro de todos que é o direito a ter
direitos e depois direito a pertencer a um grupo político.
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Concluída esta breve digressão, temos que o conceito de cidadania,
além da ideia fundamental de individuo, implica um sistema de regras validas
para todos em qualquer espaço social. Como cidadãos pertencemos a um
espaço eminentemente público e definimos nosso ser em termos de direitos e
deveres para com uma entidade universal. Como afirma Dahrendorf: “A
cidadania descreve direitos e obrigações associados à participação em unidade
social (...) é, portanto, comum a todos os membros.” (DAHRENDFOR, 1992,
p.43). Ao mesmo tempo, a cidadania pretende ter um papel contaminador de
toda nossa conduta que passa agora a ser vista como instrumento de felicidade
e harmonia da própria sociedade. A participação política dos indivíduos aliada
ao direito de tomar decisões de acordo com interesses meramente pessoais
resultam em uma dinâmica que viabiliza e legitima o estado democrático. A
visão maniqueísta que apresenta a prática da cidadania por parte do povo
como simplesmente atribuição do Estado, revela uma atitude paternalista e
uma bestialização dos indivíduos. Trata-se de uma via de mão dupla, nem
sempre equilibrada é verdade, mas que somente em passagens excepcionais
de sistemas baseados totalmente na repressão ela inexiste completamente.
Ainda neste sentido, modernamente, após a crise do modelo do
Welfare State e o consequente e crescente afastamento do Estado frente à sua
responsabilidade de prover o bem comum, seguindo a cartilha neoliberal,
houve o crescimento de entidades sem fins lucrativos. Dados do IBGE mostram
que estas organizações cresceram 215,1% no período compreendido entre
1996 e 2005 passando de aproximadamente 200.000 para mais de 600.000
entidades. O surgimento de novas mídias ou de novos canais de comunicação
propiciou a conexão de setores da sociedade com vistas a suprir a ausência do
Estado. A tentativa de criação de uma linguagem global pretende, além da
manutenção de círculos locais, a articulação política de interesses comuns em
escala transnacional.
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CAPÍTULO 2
BREVE EVOLUÇÃO DA GESTÃO EMPRESARIAL
O descontentamento é o primeiro passo na evolução de um homem ou de uma nação.3
Na abertura de Yojimbo, de Akira Kurosawa, um samurai em busca
de trabalho, ao chegar a uma encruzilhada, lança para o alto uma vara achada
ao solo para determinar em que direção seguir. A despeito do acerto da
medida, verificada posteriormente na película, o desenvolvimento de técnicas
administrativas ao longo do tempo permitiu aos fornecedores um planejamento
mais sólido e eficiente a fim de aperfeiçoar a comunicação com seu público.
Sempre na perseguição das mudanças sociais, a ciência da administração é o
instrumento pelo qual os objetivos empresariais se realizam de forma mais
fluida e positiva. Tentaremos aqui dar um panorama desta evolução
ressaltando, brevemente, alguns aspectos deste desenvolvimento.
Sem nos determos em épocas mais remotas, tais como o século VI
a. C, na Suméria, onde usualmente se comemora o nascimento da
administração, ou ainda nas regras de administração pública de Confúcio,
tentativa chinesa de estabelecer normas e princípios administrativos e nem
mesmo nas técnicas artesanais medievais e suas corporações de ofício, o que
nos interessa aqui é acompanhar a evolução da ciência de administrar a partir
do século XVIII tendo como marco a Revolução Industrial iniciada na Inglaterra.
Não obstante as dificuldades para datação de seu início, a maioria
dos historiadores localizou a década de 1780 como decisiva para a “explosão”
da Revolução Industrial.
Para Hobsbawm, pela primeira vez na história da humanidade, foram retirados os grilhões do poder produtivo das sociedades humanas que daí em diante se tornaram capazes da multiplicação rápida, constante, (...) de homens, mercadorias e serviços. (HOBSBAWM, 1977, p.44).
3Fonte: http://pensador.uol.com.br/frase/OTE1/ - acessado em 01/07/2012 (Oscar Wilde)
18
E continua o historiador (1977, p.45): “Sob qualquer aspecto, este foi
provavelmente o mais importante acontecimento na história do mundo, pelo
menos desde a invenção da agricultura e das cidades”. Neste quadro de
crescimento acelerado e intensa concorrência, a necessidade de um controle
maior do processo produtivo, abandonando antigos métodos baseados no
empirismo, mostrou-se imperioso para a consecução do móvel principal de
empresários e investidores: o lucro.
Considerado o mais importante teórico do liberalismo econômico,
Adam Smith preconizava a divisão do trabalho e a especialização das tarefas
dentro da unidade fabril. O defensor da “mão invisível” do mercado, Smith,
acreditava na sistematização da administração das fábricas como forma de
otimizar seus resultados. Buscava construir procedimentos específicos e assim
garantir a coordenação dos esforços e o controle organizacional. Defendia que
a iniciativa privada deveria agir livremente, com pouca ou nenhuma intervenção
governamental. A competição livre entre os diversos fornecedores levaria não
somente a um barateamento das mercadorias, mas também a constantes
inovações tecnológicas, reduzindo o custo de produção.
Já no início do século XX, Henry Ford funda a Ford Motor Company.
Sua técnica, denominada Fordismo, consistia em uma verticalização da
produção. A empresa deveria dominar não apenas a fabricação do bem, mas
igualmente a fonte de matérias primas e ainda o transporte de seu produto. A
fim de reduzir os custos, a produção dar-se-ia em massa, adotando tecnologias
capazes de desenvolver ao máximo a produtividade de cada trabalhador. O
aperfeiçoamento da linha de montagem permitiu a realização de tarefas
especializadas por parte de cada operário que necessitariam de praticamente
nenhuma qualificação. Ford pregava ainda uma melhoria na remuneração dos
trabalhadores e redução da jornada de trabalho. Acreditava que desta forma
seria capaz de ampliar ainda mais a produtividade.
19
O Fordismo e os ideais de Adam Smith marcaram rapidamente as
gerações seguintes, mas é somente com Taylor e a publicação de seus
“Princípios”, em 1911, que a “arte” de administrar torna-se ciência. Oriundo da
classe média americana, formado em engenharia em 1885, desde cedo
percebe que prevalecia nas fábricas uma forma de administração
assistemática, sem planejamento adequado para se determinar os melhores
meios de produção, além de um grande potencial ocioso. Ele formula, desta
maneira, quatro grandes princípios:
1. Principio do planejamento
Abandonar o empirismo e a improvisação, o critério individual do
operário, por métodos planejados e testados;
2. Princípio do preparo
Consiste em selecionar cientificamente os trabalhadores de acordo
com suas aptidões, prepará-los e treiná-los para produzirem mais e melhor, de
acordo com o método planejado;
3. Princípio do controle
Controlar o trabalho para se certificar de que o mesmo está sendo
executado de acordo com o método estabelecido e segundo o plano de
produção;
4. Princípio da execução
Devem-se distribuir distintamente as atribuições e as
responsabilidades para que a execução do trabalho seja o mais disciplinado
possível.
A despeito das diversas críticas - já se disse do Taylorismo que foi
uma ideia mais inteligente que o homem que a formulou – o fato é que Taylor
passou para a história como o "pai da organização científica do trabalho". Peter
Drucker coloca-o ao lado de Freud e Darwin quanto à sua colaboração para a
20
desestruturação do ideal marxista. A respeito de Taylor assim escreveu o
professor austríaco:
Frederick W. Taylor foi o primeiro homem na história a considerar o trabalho digno de estudo e observação sistemática. Na "administração científica" de Taylor reside, sobretudo, o enorme aumento da riqueza nos últimos 75 anos que impulsionou as massas trabalhadoras nos países desenvolvidos bem acima de qualquer nível antes registrado, até para os mais prósperos. (DRUCKER, APUD RAGO E MOREIRA, 1993, p. 37)
Suas ideias extrapolaram as portas das fábricas e invadiram outros
aspectos da vida do homem do século XX. Antes de Taylor, não havia nenhum
“pensar” por trás do trabalho. Trabalhar era pura ação, desprovido
integralmente de qualquer metodologia. Somente a partir do Taylorismo foi
possível aplicar conhecimento ao trabalho. Foi possível otimizar a produção
descobrindo e prescrevendo a melhor formatação para atingir o máximo em
eficiência.
Adentrando o que mais importa a este trabalho - a qualidade de
bens e serviços - é certo que a preocupação com este aspecto não é recente.
O próprio Fordismo trazia este controle ex post, através da avaliação da
qualidade dos lotes por meio dos processos de amostragem. Durante a década
de 20 do século passado, o estatístico norte americano, W. A. Shewhart, já
questionava a variabilidade encontrada na produção de bens e serviços. A
ideia geral de Shewhart é que quando um processo está sendo monitorado e
seguindo uma distribuição particular com certos parâmetros, há a possibilidade
de se determinar quando o processo se afasta deste estado e as ações
corretivas que devem ser tomadas. Foi Shewart o criador do ciclo PDCA (plan,
do, check e action) mais tarde amplamente utilizado por Deming e por isso
também conhecido como Ciclo Deming da qualidade. W. E. Deming tornou-se
conhecido pelo seu trabalho realizado na década de 50 junto a executivos
japoneses. Com o Japão pós-guerra necessitando iniciar seu processo de
reconstrução, Deming foi convidado a proferir palestras e a treinar empresários
japoneses sobre controle estatístico e sobre gestão da qualidade. Para o
professor estadunidense, não basta a mera inspeção dos produtos. Faz-se
21
necessário incorporar a gestão da qualidade ao próprio processo produtivo e
não trata-la como atividade isolada da produção constituindo uma atividade
específica. Deming estipula 14 princípios norteadores da atividade empresarial
a fim de se alcançar a qualidade total e que podem ser aplicados em qualquer
tipo de organização, são eles:
1. Criar constância de propósito de aperfeiçoamento do produto e
serviço, a fim de torná-los competitivos, perpetuá-los no mercado e gerar
empregos;
2. Adotar a nova filosofia. Vivemos numa nova era econômica. A
administração ocidental deve despertar para o desafio, conscientizar-se de
suas responsabilidades e assumir a liderança em direção à transformação;
3. Acabar com a dependência de inspeção para a obtenção da
qualidade. Eliminar a necessidade de inspeção em massa, priorizando a
internalização da qualidade do produto;
4. Acabar com a prática de negócio compensador baseado apenas
no preço. Em vez disso, minimizar o custo total. Insistir na ideia de um único
fornecedor para cada item, desenvolvendo relacionamentos duradouros,
calcados na qualidade e na confiança;
5. Aperfeiçoar constante e continuamente todo o processo de
planejamento, produção e serviços, com o objetivo de aumentar a qualidade e
a produtividade e, consequentemente, reduzir os custos;
6. Fornecer treinamento no local de trabalho;
7. Adotar e estabelecer liderança. O objetivo da liderança é ajudar
as pessoas a realizar um trabalho melhor,
8. Eliminar o medo;
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9. Quebrar as barreiras entre departamentos;
10. Eliminar slogans, exortações, e metas dirigidas aos
empregados;
11. Eliminar padrões artificiais (cotas numéricas) para o chão
de fábrica, a administração por objetivos (APO) e a administração através de
números e metas numéricas;
12. Remover barreiras que despojem as pessoas de orgulho
no trabalho. Isso significa a abolição das avaliações de desempenho ou de
mérito e da administração por objetivos ou por números;
13. Estabelecer um programa rigoroso de educação e
autoaperfeiçoamento para todo o pessoal;
14. Colocar todos da empresa para trabalhar de modo a
realizar a transformação. A transformação é tarefa de todos.
O comprometimento e a participação da alta gerência japonesa com
as ideias de Deming foram essenciais pra que nos anos seguintes a formação
em qualidade passasse também aos trabalhadores. As ferramentas da
qualidade foram empregadas de maneira rotineira pelos operários das
indústrias japonesas, consolidando a ideia do controle total de qualidade. No
ideário de Deming, a qualidade seria representada pela melhoria contínua de
produtos e processos de trabalho visando à satisfação dos clientes.
A despeito de outras definições dadas posteriormente à qualidade,
entre todas elas há o consenso na necessidade de ir além da simples
conformidade com o projeto para se alcançar um produto de qualidade. A
organização para oferecer um bem ou serviço de qualidade deve projeta-lo
conforme as necessidades de seu público alvo. Neste contexto, surge em
23
1987, criada pela International Organization for Standardization, a ISO 9000.
Planejada para funcionar como padrão internacional no tocante à gestão da
qualidade, esta primeira versão tinha estrutura idêntica à norma britânica BS
5750 e trazia três modelos de gestão de acordo com a natureza da empresa:
A 9001:1987 - Modelo de garantia da qualidade para projeto,
desenvolvimento, produção, montagem e prestadores de serviço - aplicava-se
a organizações cujas atividades eram voltadas à criação de novos produtos;
A 9002:1987 - Modelo de garantia da qualidade para produção,
montagem e prestação de serviço - compreendia essencialmente o mesmo
material da anterior, mas sem abranger a criação de novos produtos;
A 9003:1987 - Modelo de garantia da qualidade para checagem final
e teste. Abrangia apenas a inspeção final do produto e não se preocupava
como o produto era feito.
Nos anos posteriores, outras versões da norma ISO foram sendo
desenvolvidas a fim de adaptarem-se às diversas formas de organizações em
todo o mundo até se chegar a ISO 9001:2008. O que há de se destacar, no
entanto, é que a criação da norma ISO na década de 80, sempre foi vista como
uma reação ocidental a competição de produtos japoneses calcados em uma
política de qualidade já bastante sedimentada. Fora as críticas no sentido de
que algumas empresas substituíram o real interesse em assegurar a qualidade
em busca da mera certificação, temos que a transformações das
características do sistema de gestão da qualidade com o objetivo de torna-las
passíveis de auditoria contribuiu para o desenvolvimento da relação com os
clientes, a conformidade de seus requerimentos e para a melhoria dos
resultados empresariais.
Insta salientar que a evolução da gestão empresarial, como não
poderia ser diferente, não caminha desconectada da realidade social. Nas
últimas décadas, com a crise do modelo keynesiano, adepto da regulação
estatal; e das relações de trabalho fordistas, operada pela elevada automação
24
industrial e flexibilização das relações trabalhistas; e ainda após a
desestruturação do bloco soviético, com o processo de globalização
impulsionado pela política neoliberal e o esvaziamento do Welfare State,
estabeleceu-se um novo parâmetro para atuação empresarial motivado sempre
pelas mudanças que esses mesmos eventos infringiram ao corpo social.
25
CAPÍTULO 3
CIDADANIA E A EMPRESA
Todo homem luta com mais bravura por seus interesses do que por seus direitos.4
A Constituição promulgada no dia 05 de outubro de 1988 marca uma
nova fase do constitucionalismo no Brasil. A chamada Constituição-cidadã, no
bojo do processo de redemocratização do país, inaugura uma nova visão não
apenas das normas constitucionais, mas também da Lei como instrumento
regulador do convívio social. Luis Roberto Barroso sobre o tema assim se
manifestou:
No caso brasileiro, o renascimento do direito constitucional se deu, igualmente, no ambiente de reconstitucionalização do país (...) foi capaz de promover, de maneira bem sucedida, a travessia do Estado brasileiro de um regime autoritário, intolerante e, por vezes, violento para um Estado democrático de direito. (BARROSO, 2002, T.1, In: Temas de direito constitucional)
E continua o constitucionalista:
Mais que isso: a Carta de 1988 tem propiciado o mais longo período de estabilidade institucional da história republicana do país. E não foram tempos banais. Ao longo da sua vigência, destitui-se por impeachment um Presidente da República, houve um grave escândalo envolvendo a Comissão de Orçamento da Câmara dos Deputados, foram afastados Senadores importantes no esquema de poder da República, foi eleito um Presidente de oposição e do Partido dos Trabalhadores (...). Em nenhum desses eventos houve a cogitação de qualquer solução que não fosse o respeito á legalidade constitucional. (BARROSO, 2002, T.1, In: Temas de direito constitucional)
Mais do que a simples edição de normas, a legalidade adquiriu novo
contorno junto à população. A Lei Maior, além da recuperação dos direitos
políticos e resgate da democracia, gerou uma mudança na perspectiva do
acesso a direitos sociais. Adquirimos a cidadania plena na concepção clássica
de Marshall (civil, política e social). A Constituição assume o papel de contrato
social. O “sentimento constitucional” como se refere Barroso, contagiou o país
4 Fonte: http://pensador.uol.com.br/frase/ODE2NQ/ - acessado em 01/07/2012 (Napoleão Bonaparte)
26
em menos de uma geração e irradiou-se igualmente para as normas
infraconstitucionais. Em razão deste fenômeno, foram surgindo micro sistemas
jurídicos visando superar o paradigma de um Direito da maioria para um Direito
de todos. São exemplos a Lei Maria da Penha, o Estatuto do Idoso, a adesão à
sistemas internacionais de proteção aos Direitos Humanos e o Código de
Defesa do Consumidor.
É inerente a esta nova ordem, e requisito do próprio Estado
democrático, a participação do cidadão exigindo a concretização de seus
direitos sociais, políticos e econômicos, dito de outra forma, é necessária a real
efetivação da noção de soberania popular. Christian Caubet considera que a
participação popular “supõe que a decisão final contemple as aspirações e
interesses dos que deliberam, com a proteção efetiva dos direitos das
minorias”. Naturalmente, encontramo-nos ainda em um momento de expansão
destes pressupostos, embora o estágio atual, acredito, deva ser celebrado.
É certo que este processo não se inicia no Brasil, cuja conquista da
democracia e da modernização deu-se tardiamente, e nem tem como marco a
promulgação da Constituição de 1988 (neste tocante podemos referirmo-nos à
Lei Fundamental de Bonn de 1949), temos apenas, que, de forma similar a
outros países, este “sentimento” e o desenvolvimento de uma consciência em
relação à participação popular, concretizada de diversas maneiras, são
fenômenos intrinsecamente conexos. O fato é que diante desta nova
perspectiva de realização de seus interesses, a “pressão” da sociedade se
reflete em diferentes esferas da vida cotidiana. Não apenas na clássica forma
de exigir dos governantes o que a Lei lhe faculta, mas também sobre os
demais indivíduos e ainda sobre organizações empresariais com as quais
todos mantemos relações diárias. A evolução da gestão da qualidade vem
atender a esta nova demanda tanto do ponto de vista do consumidor quanto no
que diz respeito à otimização do resultado empresarial. As organizações
privadas se viram compelidas a adotar modelos de gestão adequados ao novo
paradigma comportamental dos consumidores, fortemente baseado no respeito
à sua individualidade. Esta mudança de atitude corporativa, com a empresa
exercendo sua responsabilidade social empresarial, traduz-se quando a
27
organização possui uma gestão eficaz de responsabilidade social tanto com
relação ao seu público interno, quanto ao externo e ainda participa ativamente
da comunidade. A cidadania empresarial é um novo conceito decorrente de um
movimento social internalizado por diversas empresas e que tem por objetivo
conferir uma nova imagem empresarial. Aquelas corporações que se
convertem em tradicionais investidoras de projetos sociais e tem seu
compromisso com a promoção da cidadania e o desenvolvimento da
comunidade adquire vantagens competitivas. Dados estatísticos demonstram
que 32% das organizações que optaram pela certificação ISO no Brasil o
fizeram por exigência dos clientes.
Gráfico 1 - Fonte: http://www.certibrasil.com.br/Statistiche.htm - acessado em 03/09/2012
Como resultado deste novo modelo de relação entre o consumidor e
o fornecedor de produtos e serviços, deve-se destacar também a mudança de
mentalidade dos dois polos envolvidos. Como demonstra o gráfico abaixo, as
organizações identificaram como maior dificuldade para a implementação de
novos padrões de gestão de qualidade a própria cultura da organização e de
seus funcionários. Somados, 46% das empresas indicaram como sendo o fator
de maior resistência para adoção da Norma ISO.
28
Gráfico 2 - Fonte: http://www.certibrasil.com.br/Statistiche.htm - acessado em 03/09/2012
Baseado no gráfico 1, verificamos que a própria motivação das
empresas para adoção de um sistema de gestão da qualidade se deu em razão
da percepção que a implementação de tal modelo resultaria em obtenção de
maior eficiência. Apenas para realçar um aspecto, 12% entenderam que a
adoção da ISO aumentaria a competitividade. Uma análise posterior sobre o
desempenho destas empresas confirma esta visão.
Gráfico 3 - Fonte: http://www.certibrasil.com.br/Statistiche.htm - acessado em 03/09/2012
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Outros aspectos considerados vantajosos para a empresa com a
certificação foram:
Gráfico 4 - Fonte: http://www.certibrasil.com.br/Statistiche.htm - acessado em 03/09/2012
Esta nova atitude do empresariado se reflete em todas as interfaces
da organização com a sociedade. Em pesquisa realizada pela Fundação
Nacional da Qualidade (FNQ), 59,7% das empresas consultadas entenderam
que a adoção de uma postura ética nos negócios ocorre em função da
“pressão social”. Outro ponto em que os resultados desta nova relação
mostram-se notável, não obstante sanções ou incentivos estatais, é quando
falamos de meio ambiente. Crescentemente empresas tem demonstrado
preocupação com a sustentabilidade o que demonstra o interesse crescente
pela certificação do tipo ISO 14000. Atualmente 85% das médias e grandes
empresas adotam algum modelo de gestão ambiental. Outro dado marcante é
o número de empresas que realizaram algum tipo de ação social em prol da
comunidade. Em apenas quatro anos (2000 a 2004) a participação empresarial
na área social passou de 59% para 69%. Chega-se a conclusão que as
organizações empresariais são cada vez mais cobradas a exercerem também
seu papel de “cidadãs”.
O que nos cabe demonstrar é que, sem desconsiderar outros
agentes transformadores, a nova percepção da atuação do cidadão ajudou ao
30
desenvolvimento de uma nova relação entre consumidores e fornecedores. A
nova conduta empresarial, por óbvio, gerou mecanismos e ferramentas aptas a
propiciar a melhor gestão dos recursos disponíveis em uma organização
visando competitividade e consequentemente lucro. Perceba-se apenas que tal
fenômeno é, também, fruto de transformações sociais que culminaram no atual
estágio da noção de cidadania vindo a impulsionar todo o movimento entre as
várias peças que formam o tecido social, que, no final das contas, se
complementam em uma simbiose que pode ser tão mais salutar quanto assim
estes agentes entenderem que deva ser. Modernamente temos uma nova
qualidade de conflito social, embora a desigualdade e o poder continuem a
serem fatores de divergências. De fato temos a cidadania como uma categoria
central da modernidade, tanto no plano da representação social como
institucional e que aglutina em si uma pluralidade de interesses nascidos da
sociedade civil.
31
CONCLUSÃO
Baseado nas reflexões deste artigo, temos que o novo modelo
comportamental do empresariado, se apresenta muito mais sensível as
demandas sociais. Existe uma necessidade mercadológica das instituições se
apresentarem ao consumidor de forma ética e responsável socialmente.
Destacando sempre a função primordial de qualquer corporação que tenha fins
lucrativos, ou seja, o próprio lucro; a ideia de que a imagem institucional é de
suma importância para a consecução deste objetivo, e que isto é percebido
pelos empresários, é o que pretende demonstrar este texto. Por outro lado o
consumidor refinou a concepção de qual deve ser seu papel nesta relação.
Mais do que isso, o indivíduo vem crescentemente modificando sua
mentalidade quanto a seu papel também frente ao corpo social.
32
BIBLIOGRAFIA
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243800
• http://pensador.uol.com.br/frase/OTE1/
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ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 02
AGRADECIMENTO 03
DEDICATÓRIA 04
RESUMO 05
METODOLOGIA 06
SUMÁRIO 07
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I
Cidadania: breve histórico 11
CAPÍTULO II
Breve evolução da gestão empresarial 17
CAPÍTULO III
Cidadania e a empresa 25
CONCLUSÃO 31
BIBLIOGRAFIA 32
WEBGRAFIA 34
ÍNDICE 35
ÍNDICE ANEXOS 36
ANEXO 1 37
36
ANEXO
Índice de Anexos:
Anexo 1 – SIGLAS E VERBETES 37
37
ANEXO 1
SIGLAS E VERBETES
A “priori” - A "priori" é uma expressão em latim utilizada em filosofia para
designar aquilo que precede a experiência.
a. C – significa antes de Cristo.
“ex post” –
PDCA (plan, do, check e action) – PDCA é uma sigla em inglês: Plan, Do, Check e Act, em bom português: Planejar, Realizar, Monitorar/Verificar e Agir.
International Organization for Standardization, a ISO 9000 - ISO não é a
abreviação de International Organization for Standartization (Organização
Internacional para a Normatização). ISO vem do grego isos e significa
igualdade, homogeneidade ou uniformidade.
ISO 9000 – é o conjunto de Normas que visam padronizar e melhorar
continuamente a qualidade dos produtos e serviços oferecidos pelas empresas
no mundo inteiro.
ISO 14000 – é a norma que descreve os requisitos básicos de um Sistema de Gestão Ambiental.