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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” FACULDADE INTEGRADA AVM AUTORIDADE: PEDRA ANGULAR DA AÇÃO PEDAGÓGICA E A INTEGRAÇÃO DO ORIENTADOR PEDAGÓGICO NA RECONSTRUÇÃO DESSA AUTORIDADE Por: Daniel Gomes Ribeiro Orientador Profª. Mônica Melo Rio de Janeiro 2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

AUTORIDADE: PEDRA ANGULAR DA AÇÃO PEDAGÓGICA

E A INTEGRAÇÃO DO ORIENTADOR PEDAGÓGICO NA

RECONSTRUÇÃO DESSA AUTORIDADE

Por: Daniel Gomes Ribeiro

Orientador

Profª. Mônica Melo

Rio de Janeiro

2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

AUTORIDADE: PEDRA ANGULAR DA AÇÃO PEDAGÓGICA

E A INTEGRAÇÃO DO ORIENTADOR PEDAGÓGICO NA

RECONSTRUÇÃO DESSA AUTORIDADE

Apresentação de monografia à Universidade Candido

Mendes como requisito parcial para obtenção do grau

de especialista em Orientação Educacional e

Pedagógica.

Por: Daniel Gomes Ribeiro

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AGRADECIMENTOS

Agradeço este trabalho a esperança, que me faz crer e seguir, ao professor Paulo Freire, a Rubem Alves, a Arturo Bravo e a todos aqueles que me ensinaram o que é Educação. Em especial ao mestre Jesus de Nazaré pelos valores morais encontrados nos livros do Novo Testamento que serviram de base para esta monografia. E, acima de tudo, a Deus pela sabedoria e pela paz que me acompanharam desde as primeiras linhas.

DEDICATÓRIA

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Dedico este trabalho a Lygia Maria, minha

mãe e eterna educadora, pelo exemplo de

caráter e dedicação ao magistério que tanto

me inspirou ao escrever este trabalho.

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RESUMO

Considerando a idéia de que a mudança, tão esperada, no quadro atual

da educação, está diretamente relacionada à inserção da ética na formação do

indivíduo, este trabalho apresenta a construção de uma educação de qualidade

a partir do “reencantamento” do educador. Motivado pela hipótese de que a

ausência da autoridade tem sido uma determinante nas dificuldades

encontradas na ação pedagógica. Será, aqui, discutida, também, a

responsabilidade do Orientador Pedagógico como instrumento dessa

revalorização e reconstrução. Os textos são marcados pela autoridade, em

resposta aos valores éticos e às atitudes coerentes encontrados na relação do

mestre judeu, Jesus de Nazaré, com seus discípulos e comunidades em

consonância com a formação de uma pedagogia política, crítica, analítica, por

isso libertadora e de grande esperança, defendida pelo professor Paulo Freire.

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METODOLOGIA

A metodologia utilizada será bibliográfica. Como ponto de partida e aporte

histórico, os parâmetros para a consolidação deste trabalho basearam-se nas

pesquisas realizadas nos livros do Novo Testamento, identificando os valores

éticos presentes na pedagogia do mestre Jesus de Nazaré. Subsequentemente

criamos um paralelo entre esses valores e crenças com a pedagogia defendida

pelo professor Paulo Freire.

A bibliografia utilizada uniu teóricos da educação com teóricos de diversas

áreas tais como: economia, administração, teologia etc. Isto se fez necessário por

não termos conseguido aporte bibliográfico suficiente, dentro da educação, para a

elaboração dessa pesquisa, pois o tema abordado, ainda é pouco defendido no

campo da educação.

O trabalho dividiu-se em três grandes etapas. A primeira teve como

missão revelar o conceito de autoridade que seria trabalhado. A segunda

objetivou dissertar sobre o conjunto de valores identificados como essenciais e

basilares para a formação e constituição dessa autoridade. O terceiro apresentou

o produto dessa soma de atitudes e o responsável pela integração e manutenção

dessa nova relação.

Como se trata de um projeto já utilizado e eficaz em tantos outros

segmentos sociais, tais como religiões, antigas comunidades e instituições

empresariais, este trabalho nos apresenta, em sua conclusão, uma esperança. A

revalorização do educador a partir da reconstrução da sua autoridade docente.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO 1 - A ETIMOLOGIA E O CONCEITO DE AUTORIDADE

12

CAPÍTULO 2 - A AUTORIDADE EM RESPOSTA AOS VALORES ÉTICOS 18

CAPÍTULO 3 - AUTORIDADE: PEDRA ANGULAR DA AÇÃO PEDAGÓGICA

45

CONCLUSÃO 65

BIBLIOGRAFIA 70

WEBGRAFIA 72

ÍNDICE 73

FOLHA DE AVALIAÇÃO 74

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INTRODUÇÃO

Pensando em algumas veredas hipotéticas para a reconstrução da

autoridade docente, pensamos em salientar, inicialmente, a ação do educador

enquanto líder. Devemos, também, lembrar que a existência só pode ser gerada

pelo pré-existente, pois “o nada” é estéril; logo, só uma existência pode gerar

outra existência. Dessa forma, se iremos falar da reconstrução da autoridade

docente e do educador enquanto líder, devemos, também, conceber e

pragmatizar a presença desse agente pré-existente: O Orientador Pedagógico.

A palavra líder tem origem primitiva no termo germânico leiten que, na

língua alemã, significa conduzir; magnificamente, a palavra conduzir em latim é

educare. Assim, podemos, a partir desse comparativo, perceber a

complementaridade existente entre a ação educativa e a liderança. No

germânico, identificamos a palavra líder de forma bem denotativa, dando idéia de

condução, de guia; já no latim, ela ressalta um sentido mais conotativo, passa-

nos uma idéia de libertação. Dessa forma, podemos incitar a partir desse jogo de

etimologias que Educar é conduzir o sujeito à liberdade.

No livro A Sabedoria dos Monges na Arte de Liderar Pessoas, Anselm

Grün, nos diz que educare é “conduzir para fora”, essa é uma das definições

dadas por ele para educação. Grün acredita que o dever do educador enquanto

líder, ou seja, aquele que conduz, é retirar o sujeito da não responsabilidade e da

irreflexão e conduzi-lo à razão. (GRÜN 2005, p. 74)

GRÜN, ainda nesse livro, aponta-nos um estilo de liderança a qual James

Hunter, autor do livro “O Monge e o Executivo” intitula de “Liderança Servidora”;

esta se consolida a partir da relação de autoridade entre o líder e o liderado.

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Esse estilo se identifica como um contrassenso à prática autoritária (poder), na

medida em que se baseia em princípios que se sucedem e se complementam,

tais como: coerência, confiança, humildade, amor, serviço, liberdade, bom

diálogo, respeito e felicidade, ou seja, valores éticos diretamente ligados ao

caráter.

Segundo Hunter (2006, p.32),

Poder é a capacidade de obrigar, por causa de sua posição ou

força, as outras pessoas a obedecerem a sua vontade, mesmo

que elas preferissem não fazê-lo. (...) Autoridade é muito

diferente de poder, já que ela envolve a habilidade de levar

outros a fazer – de bom grado – sua vontade. O poder pode ser

comprado e vendido, dado e tirado. Ou seja: laços de parentesco

ou amizade realmente conseguem colocar uma pessoa numa

posição de poder, mas isso já não acontece com a autoridade,

ela é a essência da pessoa, vem do seu caráter.

Incitamos, inicialmente, a educação como a responsável pela libertação do

sujeito; sendo o educador o percussor dessa ação e compreendendo ser

irrefutável o seu papel de condutor nesse processo, iremos, aqui, identificar três

necessidades basilares de interação desse agente educador com o seu

educando. Ele deve: “conduzir para fora”, educar; “conduzir pela vida”, liderar; e

“conduzir por amor”, servir. Esses três princípios norteadores levarão o educador

a se tornar um verdadeiro mestre; como tal, um ser, embora inacabado, pronto

para o exercício da sua função.

Para arraigar os valores que serão asseverados nesse trabalho

utilizaremos, paralelamente aos teóricos da educação, os livros do Novo

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Testamento da Bíblia Sagrada que relatam a vida e a obra do mestre e líder judeu

Jesus de Nazaré. Mas o porquê dessa escolha?

Hoje estamos no ano de dois mil e onze (2011) “depois de Cristo”.

Partindo desse fato, faz-se presente a influência histórica que esse Homem de

Nazaré teve, e que continua tendo, até os dias de hoje, quer seja no mundo

ocidental ou oriental. Em verdade, sua passagem “desconstruiu” toda uma

estrutura de época. Por esse motivo a renovação cultural, política e econômica

por ele apresentada e demonstrada, coerentemente, através do seu

comportamento em relação ao outro (o próximo), hoje, não são mais de interesse

apenas religioso, mas discutidos e pesquisados por muitos cientistas sociais,

médicos etc. A pedagogia de Jesus, embora milenar, torna-se bem atual, na

medida em que o mundo, hoje, carecendo de uma reforma ética, busca meios

para a revalorização da vida e suas constituições.

O Orientador pedagógico será apresentado, neste trabalho, como o

responsável pela reconstrução da autoridade docente, daí a necessidade ímpar

da sua qualidade enquanto líder, mediador, facilitador, alguém competente e

disposto a ser um agente dessa construção. Para tanto, faz-se necessário, diante

deste grande desafio, que orientador compreenda-se, antes, como educador de

uma humanidade e não somente de uma técnica ou processo administrativo-

pedagógico. Dessa forma, como agente desse processo educativo, deve

entender-se como modelo desta prática, encarnando-a através da concretude

dialética desses valores; sendo coerente, confiante, humilde, afetivo, servil, livre e

comunicativo.

Assim, praticando em sua vida, agora, humanizadora, o predicado

necessário ao exercício que vos foi confiado, desenvolvendo em seu âmago a

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paciência, a bondade, o respeito, a abnegação, o perdão, a honestidade e o

compromisso com a verdadeira educação permeada e construída através de uma

ação pedagógica plena, fundada na autoridade.

CAPÍTULO 1

A ETIMOLOGIA E O CONCEITO DE AUTORIDADE

Segundo o verbete do Dicionário Aurélio, a palavra autoridade pode ser

entendida como: ter direito ou poder de se fazer obedecer, de dar ordens, de

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tomar decisões, de agir, etc; título para os órgãos do poder público; aquele que

tem por encargo fazer respeitar as leis; representante do poder público; poder

atribuído a alguém; domínio, assim como a autoridade paterna; influência,

prestígio e crédito; indivíduo de competência indiscutível em determinado

assunto; permissão, autorização. Porém, em consonância ao modelo de

pedagogia proposto neste trabalho, iniciaremos este capítulo identificando,

através da sua etimologia, o significado mais coesivo para o vocábulo.

Proveniente do latim auctoritas (auctoritatem), na língua portuguesa,

autoridade, traduz uma relação de confiança conquistada através da influência

pessoal e que tem, como resultante, o prestígio; esta, também ligada à força,

exemplo e modelo. Essas são as definições de José Pedro Machado, para

autoridade, apresentadas em seu Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa.

Segundo Bravo (2007, p. 95), “A autoridade, ao contrário do poder, é uma

qualidade interna da pessoa, flui do seu interior”. Etimologicamente, auctoritas

(que significa garantia; prestígio; influência) procede do verbo augere (aumentar;

enriquecer); portanto, quem tem autoridade é quem tem prestígio, o que permite

influenciar os demais; como seres éticos, “influência que procura enriquecer os

influenciados”. James Hunter acrescenta que essa influência inspira confiança por

meio da força do caráter (HUNTER, 2006, p. 18).

A palavra em grego que se traduz em autoridade é exousia (ex – para fora

de / ousia – ser), ou seja, em seu sentido mais etimológico significa “ser para fora”,

emanar. O Evangelho de Marcos, em seu capítulo inicial, faz a primeira referência

a essa autoridade, ele diz:

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As pessoas ficavam admiradas com o seu ensinamento, porque

Jesus ensinava como quem tem autoridade, e não como os

doutores da Lei. (...) Todos ficavam muito espantados, e

perguntavam uns aos outros: O que é isso? Um ensinamento

novo dado com autoridade. (BÍBLIA, Marcos, 1990, cap.1, v. 22 -

27)

A partir desses conceitos etimológicos e da identificação dos valores éticos

e atitudes marcantes na conduta do líder e orientador judeu Jesus de Nazaré

asseveraremos a consolidação de uma pedagogia estabelecida e marcada pela

autoridade.

1.1 O Princípio da Autoridade no Processo Educacional

O Orientador Educacional, enquanto um líder de uma comunidade, nesse

caso, a comunidade escolar, é responsável por acompanhar e compreender os

diferentes processos pelos quais ela se desenvolve; tendo um papel formativo e

basilar na edificação e manutenção dos seus valores e princípios éticos; através

dele todos os elementos políticos e sócio-culturais são mobilizados em favor da

autoridade e são esses que a sustentam. Deve fazer parte do objetivo da

orientação, além de tratar a influência da autoridade no exercício educativo,

identificar a importância desta na ação, não somente dos orientadores, mas,

também, dos professores e alunos.

Neste trabalho conduziremos, através da interpretação hermenêutica da

relação político-sócio-cultural de Jesus de Nazaré, o processo educacional

organizado e conduzido a partir do caráter da autoridade libertadora, pois é isso

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que pressupõe a educação, que existam pessoas que conduzam outras pessoas

ao crescimento, e que as fazendo crescerem, cresçam também. Assim, o

educador favorece a “fabricação” de saberes; ao perceber a autoridade como

alicerce basilar da condução de processos de liberdade, o Orientador

Educacional percebe, também, que seu papel é de proporcionar práticas

facilitadoras e mediadoras que possibilitem esse crescimento pessoal, de

libertação.

1.2 Epítome da Pedagogia de Jesus de Nazaré

A pedagogia de Jesus, embora milenar, se torna atual, na medida em que

o mundo está carecendo, cada vez mais, de uma reforma ética; meio para

revalorização da vida e suas constituições.

Se os pais dão a vida, nós, educadores, somos chamados a dar

sentido às vidas (Antonio Pérez Esclarin), Assim, o cuidado que

tivermos com as pessoas a nós confiadas, ‘os educandos’,

construirá o cuidado do amanhã, o cuidado das pessoas, o

cuidado do planeta e o cuidado da vida como um todo. Uma

educação que passa pelo coração, passa pelo respeito à vida,

transcende o conhecimento e alcança o outro em sua totalidade.

(CIESC)

De certa forma, com a inclusão da mulher no mercado de trabalho, e hoje,

em tempo integral, a escola voltou a ter uma maior responsabilidade no que diz

respeito à formação ética do indivíduo; assim sendo, compete aos agentes

desse processo compreender que hoje, mais que sempre, a escola deve

conceber sua real responsabilidade dentro da formação sociopolítica e cultural

do aluno e de seus integrantes de modo geral.

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A pedagogia que será desenvolvida neste trabalho é constituída por uma

contiguidade de valores comportamentais que resultam em uma autoridade

firmada pelo respeito. Na verdade, o respeito vem a ser a resposta de todos

esses valores e, através do mesmo, instala-se a autoridade. Logo, a perda

desse respeito gera sua ruptura; destarte, se dá o autoritarismo.

Outro aspecto importante na pedagogia abordada é a formação política do

indivíduo, a luta de classes, o questionamento das leis, a reformulação da

educação. Jesus era um militante, desafiava a lei e o estado, não de forma

arrogante ou presunçosa, mas através do esclarecimento, da interrogação, da

busca pela liberdade, igualdade, e assim, compreenderemos ação orientadora

para uma formação consciente e transformadora.

Segundo Bravo (2007, p.42):

No Judaísmo daqueles dias eram os discípulos que escolhiam o

mestre que deveria ensinar-lhes. Jesus, ao contrário, é quem

escolhe seus discípulos. Talvez seria melhor dizer que Jesus

chamou seus discípulos, porque se o caso foi “escolher”, ele fez

muito mal; os demais mestres aceitavam como discípulos

aqueles que haviam se desenvolvido nos estudos e que não

tinham nenhuma impureza ritual: Jesus, ao contrário, chamou

pessoas de diferentes condições, alguns de duvidosa situação e

até um publicano (cf. Lc 5,27-32), atividade odiada por seus

compatriotas.

Hoje muito se fala em classe heterogênea e não há exemplo maior de

heterogeneidade que o da “classe” de Jesus. Eram seus alunos (discípulos),

pescadores, cobradores de impostos, publicanos, etc. Segundo as Escrituras,

todos, envolvidos por um mesmo fim. “Jesus ensinava a todos sem fazer

exclusões, isto é, incluía e se relacionava também com aqueles que eram

marginalizados ou desprezados por diversas razões” (BRAVO, 2007, p.43)

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Jesus, já naquela época praticava a inclusão. Ele sabia que crianças e

mulheres, assim como pessoas à margem da sociedade não tinham direito aos

ensinamentos dados dentro da sinagoga, dessa forma, os ensinavam em praças

públicas, no campo, na montanha, na casa de amigos etc.

Os métodos pedagógicos utilizados eram simples e profundos, abordados

de forma prática ou através de histórias oportunas, falavam da própria situação

social dos indivíduos envolvidos. Jesus utilizava-se de parábolas. Aparecem,

também, em seus ensinamentos o emprego de imagens, a exemplo a expressão

“lobo na pele de cordeiro” (BÍBLIA, Mateus, 1990, cap.7 v.15).

As denúncias também são muito utilizadas por Jesus que, através da

incoerência alheia, põe o próprio feitor em frente a seu erro; assim, de forma

inteligente, impede a crítica a ele ou à pessoa julgada. Um exemplo marcante

dessa atitude se dá na passagem de Maria Madalena que, após ter cometido

uma falha perante a lei judaica, é condenada e ser apedrejada. Jesus diz aos

homens que eles estão certos de querer apedrejá-la, pois é o que diz a lei.

Porém, ele denuncia a atitude dos homens de forma inteligente ao falar: “Aquele

que não tiver pecado, atire a primeira pedra” (BÍBLIA, João, 1990, cap.8, v.4).

Em sua metodologia, encontramos as perguntas, as sentenças, o

testemunho próprio, o ensino situacional etc. Sem dúvida alguma, o marco de

sua pedagogia está no amor ao próximo, na sua relação com outro, com as

comunidades.

Deve-se deixar evidente que este trabalho não vem apreciar em si a

pedagogia de Jesus, como um todo; apenas citamos parte desse processo para

que fique, apenas, clara, a aplicação da mesma. Desse modo, agora, voltaremos

nosso olhar para os valores e atitudes presentes e formadores da sua pedagogia.

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Assim, congregando tais valores à nossa realidade atual poderemos dar um novo

rumo ao processo educativo, social e político existente.

CAPÍTULO 2

A AUTORIDADE EM RESPOSTA AOS VALORES ÉTICOS

Utilizaremos como ponto de partida, para essa construção, a relação

pessoal do líder judeu Jesus de Nazaré com seus orientados, identificando e

explanando os valores éticos e atitudes marcantes na sua conduta, enquanto

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orientador e líder de uma comunidade, asseverando, assim, a consolidação de

uma pedagogia orientativa estabelecida e marcada pela autoridade.

2.1 A Coerência: o Firme Fundamento da Autoridade

“E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a

glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (BÍBLIA, João, 1990,

cap.1, v.14). Sem impugnar todo teor teológico, de fé, encontrado nessa

passagem, fixaremos nosso olhar, neste trabalho, para a historicidade relatada. A

expressão Verbo tem sua origem no latim, e significa Palavra. Gramaticalmente é

um vocábulo variável que exprime ação, estado, qualidade ou existência. A partir

desse versículo iremos desenvolver um relato histórico sobre a maior virtude

encontrada nesse Mestre de Nazaré, a coerência, que vem paralela a sua maior

atitude, o Amor.

O que, até então, eram nuvens de testemunho e embaraço, agora, são

realizações (BÍBLIA, Hebreus, 1990, cap.12, v.1). Jesus, nessa releitura,

necessariamente não precisa ser o Verbo, mas sim aquele que tornou tudo o que

"estava escrito" (a Palavra) em carne (ações humanas). O Grande Mestre de

Nazaré concretizou a Palavra, portanto, entendemos, a partir daí, que o verbo se

fez carne e habitou entre nós. Cabe a ressalva, segundo a sagrada escritura

cristã; o elo divino entre os homens é o amor. Atualmente, a grande discussão

sobre autoridade está pautada na coerência, e é sobre essa questão que

falaremos nos parágrafos decorrentes.

Tiago, discípulo de Jesus, enfatiza, corroborando Hebreus, capitulo 12,

versículo 1, a seguinte sentença:

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Sejam cumpridores da palavra e não somente ouvintes,

enganando-vos com falsos discursos. Porque, se alguém é

ouvinte da palavra, e não cumpridor, é semelhante ao homem

que contempla ao espelho o seu rosto natural. Porque se

contempla a si mesmo, e vai-se, e logo se esquece de como era.

Aquele, porém, que atenta bem para a lei perfeita da liberdade, e

nisso persevera, não sendo ouvinte esquecidiço, mas fazedor da

obra, este tal será bem-aventurado no seu feito. (BÍBLIA, Tiago,

1990, cap.1, v.22 – 25)

De fato o crer vem pelo ouvir, porém, insensato é aquele que acredita e

não cumpre (BÍBLIA, Mateus, 1990, cap.7, v.24). Tiago condena a dicotomia

existente naquela época, em relação à prática daquilo que se acredita. Ele diz

ainda que se nos atentarmos para os ensinamentos do mestre Jesus, intitulado

lei da liberdade, veremos que aquilo que ouvimos e acreditamos deve ser

praticado, pois só assim estaremos sendo coerentes de fato. “A força do

educador democrata está na sua coerência exemplar, é ela que sustenta sua

Autoridade. Portanto, o educador que diz uma coisa e faz outra é eticamente

irresponsável, ineficaz e prejudicial”. (FREIRE, 2006, p.73).

Paulo Freire nos fala sobre a dicotomia existente nos dias de hoje entre a

teoria e a prática e, por esse motivo, nos aconselha sermos coerentes; essa

virtude resulta em uma melhor atuação e sucesso na nossa ação pedagógica

dentro da instituição escolar e não escolar, pois não pode haver separação entre

a teoria e a prática, mas uma união dialética.

De acordo com Freire (1996, p.47 e 48), nós, educadores, não podemos

esgotar nossa prática “discursando sobre a Teoria da não extensão do

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conhecimento”. Não podemos fazer belos discursos, assim como era a prática

farisaica nos tempo de Jesus, sobre “as razões antológicas, epistemológicas e

políticas da Teoria”. Nosso discurso deve ser a própria prática da teoria, a “sua

encarnação”.

Dessa forma, compreendemos que a grande virtude da prática educativa,

construída por nós, se dá justamente na aproximação entre o que falamos e o

que praticamos. A Verdade que nos é assinalada pelo mestre Jesus de

Nazaré não se identificou pelo seu discurso ou testemunho, mas sim pelas suas

atitudes coerentes. Jesus é exatamente o que ele enuncia e anuncia. Esse

caráter, por ele aquilatado, nos serve de norte para percebermos que a ponte que

liga o verbo (teoria) à carne (prática) é a coerência.

Segundo Bravo (2007, p. 90), os métodos do mestre Jesus “desnudam a

coerência ou a congruência entre o dizer e o agir. Não há dúvida de que Jesus

faz o que diz e diz o que faz. Esta coerência é, muito provavelmente, o que faz

irradiar a autoridade dele”. Por esse motivo, Freire nos orienta que “a prática

educativa em que inexiste a relação coerente entre o que a educadora diz e o que

faz é, enquanto prática educativa, um desastre. (...) O pior, porém, para a

formação do educando é que, diante da contradição entre fazer e dizer, o

educando tende a não acreditar no que a educadora diz.” Logo, com a ausência

da coerência, se instala a desconfiança, que por sua vez atua negativamente na

autoridade do docente (FREIRE, 2006, p.75 e 76).

Como já vimos, tem-se gramaticalmente que a palavra “verbo” é um termo

variável que exprime ação, estado, qualidade ou existência, logo é fácil entender

porque o mestre Jesus afirmou que a sua existência só se justificou pela

qualidade das suas ações e pelo estado comportamental apresentado, por ele,

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entre os discípulos e as comunidades. Enfim, a autoridade se inicia na coerência

que, por sua vez, é o aporte da ética.

O verdadeiro orientador pensa certo e “nega, como falsa, a fórmula

farisaica do faça o que eu mando e não faça o que eu faço” (FREIRE, 2009, p.

34), pelo contrário, dá corporeidade, exemplo: pratica. Jesus nos pede: “não

sejam como os escribas (...)”, pois os mesmos embora acreditassem, e fossem

grandes conhecedores das leis, apenas as proclamavam, mas não as praticavam.

Freire nos assegura que tão importante quanto ao ensino dos conteúdos é a

decência e a ética que, através deles, devem ser trabalhadas; e ainda que, tão

importante quanto ao ensino desses conteúdos é a nossa coerência dentro da

sala de aula.

Tiago, discípulo de Jesus, nos relata em sua carta escrita para todas as

nações (na época), justamente, essa dialética ao afirmar que nada adianta saber

e acreditar se não pusermos tal teoria em prática. Tiago diz ainda que tudo que

ele acredita é justificado pela sua ação e que se não as houvesse, tudo seria

nulo, portanto, prejudicial. (BÍBLIA, Tiago, 1990, cap.2, v.24 - 26). Essas

passagens nos fazem lembrar o quadro atual das políticas públicas, que já

naquela época afetavam aquele povo. Muitas leis, muitos doutores (escribas) e

pouca coerência em relação às suas aplicações.

2.2 A Confiança: A Maior Condição da Autoridade

Parte da grande virtude da pedagogia de Jesus vem pela própria

justificação dos seus atos éticos. Ele, através da sua coerência, faz com que os

homens que o cercam tenham plena confiança em suas palavras. Sim, nele se

pode confiar. Não existe verbo que Jesus não faça carne, ou melhor, não há

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dicotomia entra teoria e prática, mas sim uma verdadeira dialética. Dessa forma,

observamos a confiança, como a maior condição da ação pedagógica. Não é

apenas necessária, mas basilar. “Pode-se dizer, sem temor de falsear a verdade,

que Jesus tinha autoridade, porém sem ser autoritário. A autoridade de Jesus se

fundamenta em que ele era crível, nele se podia confiar plenamente, porque não

havia duplicidade em sua forma de ser“ (BRAVO, 2007, p. 90).

Se a fé nos homens é um dado a priori do diálogo, a confiança

vai fazendo os sujeitos dialógicos cada vez mais companheiros

na pronúncia do mundo. Se falha esta confiança, é que falharam

as condições discutidas anteriormente. Um falso amor, uma falsa

humildade, uma debilitada fé nos homens não podem gerar

confiança. A confiança implica no testemunho que um sujeito dá

aos outros de suas reais e concretas intenções. Não pode existir,

se a palavra, descaracterizada, não coincide com os atos. Dizer

uma coisa e fazer outra, não levando a palavra a sério, não pode

ser estímulo à confiança. (FREIRE, 1987, p. 82)

Hoje, há pouca confiança entre os homens, não se investe muito nas

relações, pois o retorno é sempre algo duvidoso. Assinaturas, senhas, códigos, o

mundo parece estar entregue à suspeita, à dúvida, enfim, à desconfiança.

Os homens que defendem as leis e as fazem serem cumpridas se chamam

“autoridades”, e os mesmos, por sua falta de coerência com o próprio título

designado, já as perderam; suas “armas” passaram a ser, então, o autoritarismo.

O conceito de autoridade está nos antípodas do conceito de

autoritarismo. Na opinião de José Flórido, um conceito mais

elevado de autoridade tem de emergir desta nova classe

dirigente. É que a palavra autoridade tem vindo a perder o seu

verdadeiro significado, adquirindo progressivamente uma

conotação negativa, quase sinônima de poder imposto pela força

ou pela violência. (PORTUGAL, 2004)

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A coerência é a “pedra viva” da Autoridade, e o autoritarismo, sua “pedra

de tropeço” e descontrole. A autoridade consolida-se na confiança; o

autoritarismo, no medo. Arturo Bravo em seu livro, “O Estilo Pedagógico do

Mestre Jesus” fala da necessidade de transitarmos do poder para a autoridade,

para que haja uma ação pedagógica plena (BRAVO, 2007, p. 94).

Jesus viu duas barcas paradas na margem do lago; os

pescadores haviam desembarcado e levavam as redes. Subindo

numa das barcas,que era de Simão, pediu que se afastasse um

pouco da margem. Depois sentou-se, e da barca, ensinava as

multidões. Quando acabou de falar disse para Simão: Avance

para águas mais profundas, e lancem as redes para pesca.

Simão respondeu: Mestre tentamos a noite inteira e não

pescamos nada, mas em atenção a tua palavra, vou lançar as

redes. Assim fizeram e apanharam tamanha quantidade de

peixe, que as redes se arrebentavam.” (BÍBLIA, Lucas, 1990,

cap.5, v.2 - 7)

Não há “entrega” onde a confiança não se arraigou. Conhecemos as

dificuldades atuais em acreditar em algo ou alguém. O mundo nos empurra para

o “desânimo moral”, o que torna árdua essa luta, por outro lado, emociona,

encanta e faz feliz àquele que a tem.

Quando o mestre conquista a confiança de seus alunos, o processo

pedagógico passa a estar encaminhado. A confiança enriquece, tranqüiliza,

aumenta a afetividade entres as parte; conforta. “É fundamental que exista uma

relação de confiança e respeito mútuo entre o educador e aluno, de maneira que

a situação escolar possa dar conta de todas as questões de ordem afetiva”.

(PCNs, 1998, p.94).

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Esse é um dos maiores elos abordado no Novo Testamento, a relação de

confiança entre o mestre e seus discípulos. Assim, também deve acontecer com

o educador e o discente. Chegará o dia, (e é agora) que conseguiremos ganhar a

confiança dos nossos alunos, e nós, como educadores, humanizadores e

vivificantes, poderemos assim, lhes dar vida nova.

2.3 A Humildade: Exigência Basilar da Autoridade

O “comportamento” marcante, na pedagogia de Jesus e, sem dúvida, o

mais frágil entre nós, é o que se caracteriza pela humildade. No Evangelho,

segundo João, nos é assegurado por Jesus que aquele que acreditar na sua

Verdade, fará tudo que ele fez, e ainda coisas maiores (BÍBLIA, João, 1990,

cap.14, v.12). Essa passagem nos mostra a importância da humildade na vida de

um educador, pois se compreendendo inacabado, assim como “ultrapassa” o que

veio antes, permite-se ser “ultrapassado”. Ele disse: “farão o que eu fiz, e ainda

coisas maiores.” Segundo Freire (2009, p. 28) pensar certo é:

Deixar transparecer aos educandos que uma das bonitezas de

nossa maneira de estar no mundo e com o mundo, como seres

históricos, é conhecer o mundo. Mas, histórico como nós, o

nosso conhecimento do mundo tem historicidade. Ao ser

produzido, o conhecimento novo supera o outro que antes foi

novo e se fez velho e se ”dispõe” a ser ultrapassado por outro

amanhã.

Por isso, não apenas se faz necessário, mas é fundamental ter tanto

conhecimento do “saber” passado, quanto estar aberto para novos saberes. O

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primeiro grande passo para essa corrida é assumirmos uma postura ética

aceitando-nos enquanto seres inacabados.

Não devo poupar oportunidade para testemunhar aos alunos a

segurança com que me comporto ao discutir um tema, ao

analisar um fato, ou expor minha posição em face de uma

decisão governamental. Minha segurança não repousa na falsa

suposição de que sei tudo, e que sou o “maior”. Minha segurança

se funda na convicção de que sei algo e de que ignoro algo a

que se junta a certeza de que posso saber melhor o que já sei e

conhecer o que não sei. Minha segurança se alicerça no saber

confirmado, pela própria experiência de que, minha inconclusão,

de que sou consciente, atesta, de um lado, minha ignorância, me

abre de outro, o caminho para conhecer. (FREIRE, 1996, p.135)

O que devemos atentarmo-nos enquanto orientadores éticos, em relação à

construção da autoridade, é que não há razão ou motivo que justifique se não a

imaturidade, a vergonha por desconhecer algo. Se ao contrário, mostramos, ou

melhor, demonstramos aos nossos alunos, também, a nossa disponibilidade

curiosa à vida, a seus desafios, criamos um caminho, embora perigoso, à

construção, juntos, de um novo conhecimento. Assim se dá uma prática

educativa livre da vaidade.

Se perguntado por um aluno sobre o que é ‘tomar distância

epistemológica do objeto’, respondo-lhe que não sei, mas que

posso vir a saber. Isso não me dá a autoridade de quem

conhece, dá-me a alegria de, assumindo minha ignorância, não

ter mentido. E não ter mentido abre, para mim, junto aos alunos,

um crédito que devo preservar. Eticamente impossível teria sido

dar uma resposta falsa, um palavreado qualquer. (FREIRE, 1996,

p.96 e 97)

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A autoridade pode ser abalada diante da falta de conhecimento, contudo,

tendo sua raiz fincada no solo da coerência, alimenta-se da mesma. Assim, no

momento em que, humildemente, o educador assume uma postura verdadeira,

automaticamente, recupera a autoridade, temporariamente, perdida.

A humildade abre os caminhos para uma ação pedagógica plena, não

apenas auxilia o processo, mas conglomera todos os valores exercidos pela

autoridade de forma que, como um filtro, se nada passa por ela, nada mais é

servido. O diálogo, ferramenta importante à ação pedagógica, que discutiremos

ainda neste capítulo, é marcado, também, pela humildade.

Segundo Freire (1996, p.113):

Somente quem escuta paciente e criticamente o outro, fala com

ele, mesmo que, em certas condições, precise de falar a ele. O

que jamais faz quem aprende a escutar para poder falar com é

falar impositivamente [...] O educador que escuta aprende a difícil

lição de transformar o seu discurso, às vezes necessário, ao

aluno, em uma fala com ele.

Como educadores, se sentirmo-nos superiores, não somos capazes de

trabalhar um dos maiores benefícios, deixando claro, benefícios mútuos, que um

docente pode oferecer a um discente que é a capacidade de ouvir; de escutá-lo.

Tenham uma só aspiração, uma só alma, um só pensamento.

Não façam nada por competição e por desejo de receber elogios,

mas por humildade, cada um considerando os outros superiores

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a si mesmo. Que cada um procure não o próprio interesse, mas

o interesse dos outros. (BÍBLIA, Filipenses, 1990, cap.2, v.2 – 4)

A humildade nos faz serem autênticos, livres da nossa arrogância,

prepotência e fatuidade; é a vitória da verdade contra a hipocrisia, da ação

gratuita contra a necessidade egoísta “do sermos reconhecidos”, e é ela que nos

leva ao encontro do outro. Gandhi certa vez disse que a humildade é tão frágil

que só de imaginarmos ser humildes, já não o somos. A humildade leva-nos à

verdade, torna-nos seres livres da vaidade. Dessa forma, conduz-nos à

autoavaliação, e por não nos encontrarmos mais a nuvem da soberba, arrogância

e fatuidade, compreendemo-nos, então, como seres inacabados. Como o

educador pode “respeitar a curiosidade do educando se, carente de humildade e

da real compreensão do papel da ignorância na busca do saber”, teme revelar o

seu desconhecimento? (FREIRE, 2009, p.67)

Reconhecendo-nos seres inacabados, por isso, livres, colocamo-nos a

questionar, assim como Paulo Freire, a postura do docente que, incoerente à

prática da verdade e coberto pelas máscaras do orgulho, da vaidade e muitas

vezes da prepotência, não apenas se nega a aprender, mas omite o possível

desconhecimento de algo. Historicamente reconhecemos Sócrates como um

grande sábio. Sua humildade o fez entender-se inacabado, ou melhor,

eternamente inacabado; chegando à conclusão de que a sabedoria perpassa

nossa jactância presunçosa e descabida de nos compreendermos sabedores da

totalidade. Assim, esse personagem da filosofia mundial entendeu que sua

sabedoria partia do pressuposto de seu “inacabamento”, na medida em que se

colocava na condição de eterno aprendiz, ao dizer: “só sei que nada sei”.

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A autossuficiência é incompatível com o diálogo. Os homens que

não tem humildade ou a perdem, não podem aproximar-se do

povo. Não podem ser seus companheiros de pronúncia do

mundo. Se alguém não é capaz de sentir-se e saber-se tão

homem quanto os outros, é que lhe falta ainda muito que

caminhar, para chegar ao lugar de encontro com eles . (FREIRE

1987, p.81)

A perda ou não detenção da humildade essencial para uma vida ética,

perda essa que não se sabe originada de uma falha de caráter ou se,

subseqüente ao fato do sujeito não se entendendo inacabado. É uma atitude

muitas vezes ligada à imaturidade, e, por isso, passível de uma educação que o

faça refletir sobre tal prática que acabe por não partilhar do seu conhecimento,

que se compreende, também, pelo seu desconhecimento de algo com os

discentes; não participando, assim, do processo educativo que por ser bipolar –

carente de reciprocidade – espera que ambos estejam livres da vaidade da auto-

suficiência, quer seja o docente quer seja o discente.

Partindo desses princípios podemos entender que nossa humildade,

enquanto educadores, agora, por compreender-nos inacabados, é asseverar, em

nossa vida profissional, uma postura ética, de entrega e eterna pesquisa e

desenvolvimento, ou seja, sabedores da necessidade de estarmos sempre em

processo de aprendizagem, de formação continuada.

2.4 Amor: Compromisso Social da Autoridade

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A pedagogia do amor, sem dúvida, era o marco da relação de Jesus com

os discípulos e as comunidades. De todas as virtudes encontradas na postura de

Jesus, enquanto mestre pode-se, de forma cabal, asseverar que o amor ao

próximo era a sua idéia de salvação para nossa sociedade.

É preciso juntar à humildade com que a professora atua e se

relaciona com seus alunos, uma outra qualidade, a amorosidade,

sem a qual seu trabalho perde o significado. E amorosidade não

apenas aos alunos, mas ao próprio processo de ensinar. (...)

Acontece, porém, que a amorosidade de que falo, o sonho pelo

qual brigo e para cuja realização me preparo permanentemente,

exigem que eu invente em mim, na minha experiência social,

outra qualidade: a coragem de lutar ao lado da coragem de amar.

(FREIRE, 1997, p.57)

Paulo Freire fala na sua experiência social de agregar a coragem de lutar à

coragem de amar. O amor que será discutido, aqui, neste momento, é

justamente a própria ação. Não se faz necessário, quando cito esse determinado

amor, agregá-lo à luta, pois ele é a própria luta. O amor ensinado pelo mestre

Jesus de Nazaré, relatado nos livros do Novo Testamento, não se apresenta,

apenas, como sentimento, mas o fruto desse sentimento, uma forma de estar e

se fazer presente e atuante, uma verdadeira pedagogia, travessia e vida.

Em grego, há basicamente quatro formas de se compreender a palavra

Amor: Eros, Filos, Storge e Ágape. Eros é o amor carnal, o desejo e vem quase

sempre relacionado à questão sexual, a exemplo disso a palavra erótico. Filos,

compreendido como o amor fraternal, ligado muito ao sentimento de carinho e

compaixão, amor recíproco e condicional. Storge é o nome da divindade grega da

amizade. Exprime um sentimento de afeição, respeito, forma de amor que

sentimos pelos nossos amigos e entes queridos. E, por fim, há o amor Ágape.

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James C. Hunter compreende e descreve muito bem, no livro O Monge e o

Executivo, exatamente o que é esse amor, quando diz: “O Amor é o que o Amor

faz”. (HUNTER, 2004, p.76)

Segundo a Professora Marcia Fernandes Bartholo (BARTHOLO, 2000,

vol.3), assistente da Escola de Educação Física e Desporto da UFRJ, “a

educação é uma ação social, política, cultural de compreensão, análise e

julgamento e realização, vivência e concretização das necessidades e anseios

dos sujeitos que dela participam e que a constituem”.

Assim se identifica o amor ensinado e vivido pelo mestre Jesus de Nazaré;

Jesus educa para o amor, com amor e por amor; tal relação não se constitui parte

apenas de um sentimento, mas sim de uma soma de atitudes, ações, movimento;

logo, seu estilo não se identifica pela vontade, mas pelo compromisso com

próximo.

Em todos os livros do Novo Testamento, a palavra grega traduzida em

amor é Ágape, e sendo os valores e as atitudes éticas identificadas na pedagogia

de Jesus, nossos modelos históricos propostos para uma ação pedagógica plena,

explicitaremos, agora, sua atitude em relação ao amor.

A Pedagogia de Jesus nos avisa que a “salvação” vem através do

comprometimento, do cuidado e dedicação com o outro. Justamente o que não

acontece em nossa sociedade nos dias de hoje.

O livro de Mateus capítulo 25 traz a base dessa salvação, com uma

roupagem religiosa, é claro, mas lendo com bastante atenção, observamos o

conceito de ação social, que, subliminarmente, está sendo introduzido naquela

comunidade.

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Venham, benditos de meu Pai! Recebam como herança o Reino

que lhes foi preparado desde a criação do mundo, pois eu tive

fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e vocês me deram

de beber; fui estrangeiro, e vocês me acolheram; necessitei de

roupas, e vocês me vestiram; estive enfermo, e vocês cuidaram

de mim; estive preso, e vocês me visitaram. Então os justos lhe

responderam: Senhor, quando te vimos com fome e te demos de

comer, ou com sede e te demos de beber? Quando te vimos

como estrangeiro e te acolhemos, ou necessitado de roupas e te

vestimos? Quando te vimos enfermo ou preso e fomos te visitar?

Assim o Rei lhes responderá dizendo a verdade: Olhem para os

lados, tudo os que vocês fizeram a esses pequeninos (ao

próximo), a mim o fizeram. (BÍBLIA, Mateus, 1990, 25, 34 – 40)

Essa passagem é interessante porque nos faz entender o que é Ágape, na

medida em que vai construindo uma soma de atitudes, e não, apenas, de vontade

ou sentimento. Na verdade, amar é mover-se ao outro; é uma ação social.

Analisando, o que percebemos realmente é um conjunto de ações positivas; um

compromisso social.

Ataviando essas linhas de raciocínio, entendemos que, em parte, educar é

amar, e que amar é agir, e, por sua vez, agir é mover-se ao outro; moção social.

Como educadores devemos ter um olhar perscrutador em relação a esses

paradigmas, porque neles estão algumas das respostas para os problemas

pedagógicos atuais, que serão apontados neste trabalho.

“.é impossível ensinar sem essa coragem de querer bem, sem a

valentia dos que insistem mil vezes antes de uma desistência. É

impossível ensinar sem a capacidade forjada, inventada, bem

cuidada de amar”. (FREIRE, 1997, p.8)

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Ágape, amor traduzido pelo comportamento positivo, um despertar de

“Sim” para as ações coerentes. Ágape é mover e não somente “comover”, relação

de compromisso, doação e entrega. Esse é o amor encontrado em todo livro do

Novo Testamento, e aqui sugerido como um princípio basilar para nossa prática

docente, prática essa que rompe com o espaço escolar, e que se faz presente na

intimidade, no cotidiano, na relação do sujeito com o ambiente.

Se ensinamos uma criança ou um adolescente, é parte do nosso “ser

educador” saber se aquela criança ou aquele adolescente se alimentou pela

manhã, se teve uma boa noite de sono etc. Faz parte do “ser educador”, do

nosso ser ético, medir esse aluno com a mesma medida que lhe foi oferecida a

vida.

Por esse motivo, como educador, precisamos buscar conhecer

profundamente esse ser que irei “liderar”, “educar” e “amar”. Só o conhecendo de

fato, saberemos como agir. O mestre Jesus, segundo o Novo Testamento,

desenvolveu essa “habilidade-atitude-comprometimento”. Segundo João (BÍBLIA,

João, 1990, cap.4, v.25): “Ele não precisava de informações de ninguém, porque

conhecia o homem por dentro”. Enfim, faz parte do meu ser educador, olhar nos

olhos (a vida) dos meus alunos e acreditar, compreender, sonhar, investir, ousar,

transformar, mover, conhecer, amar, servir; educar.

Jesus vive nas comunidades, conhece o drama pessoal de cada indivíduo;

percorre os povoados, e vê, de perto, a dificuldade do povo. Para educarmos é

preciso, também, termos compaixão, ou seja, segundo a etimologia da palavra,

participarmos da dor dos nossos alunos. Como educadores, se faz

imprescindível ter esperança, por isso, devemos acreditar na mudança, e saber

que somos partes dela; para tanto, não podemos crer que, ausentes, façamos

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parte desse processo. Dessa forma, não omissos, mas conscientes, presentes,

esperançosos, não como platéia, mas como elenco, refletindo, agindo,

exercitando e desenvolvendo a ética, que é a nossa razão, conseguiremos

alcançar a excelência na educação. A Pedagogia de Jesus nos ensina isso: amar

é ação! E servir é a ferramenta desse amor; logo para estarmos a serviço da

educação, não podemos nos entender como simples espectadores, mas sim

sujeitos do processo; presentes e ativos.

2.5 O Servir: A Prova Real da Autoridade

O autoritarismo quer ser servido, já a autoridade, está a serviço. “Se

alguém quiser ser o primeiro, deverá ser o último, e ser aquele que serve a

todos.” (BÍBLIA, Marcos, 1990, cap.9, v.35) O mestre Jesus nos ensina, na

verdade, que amar é servir. “Vocês sabem: Os governadores das nações tem

poder sobre elas, e os grandes tem autoridade sobre elas, quem de vocês quiser

ser grande, deve se tornar servidor de vocês”. (BÍBLIA, Mateus, 1990, 20, 25-26)

Em Lucas (BÍBLIA, Lucas, 1990, cap.22, v.26 – 27) é bem explícita a

passagem, no que diz respeito à sua vontade, em relação à nossa postura

servidora.

O maior entre vós seja como o mais novo; e quem governa seja

como aquele que serve. Afinal quem é maior: aquele que está

sentado à mesa, ou aquele que está servindo? Não é aquele

que está sentado à mesa? Eu, porém, estou no meio de vocês

como quem está servindo.

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Jesus não destitui, com isso, a relação patrão e empregado, líder e liderado

ou educador e educando; apenas institui um novo paradigma: mais

responsabilidade, menos poder e muito amor, logo, mais serviço. Na teoria e

prática do mestre Jesus, o poder é substituído pela autoridade, a manipulação e a

coação pela influência, e o servir e ser servido não se trata mais de uma relação

de hierarquia, mas sim de doação mútua e incondicional.

Segundo Hunter (2004, p.95) a autoridade nos chama ao amor, a doar-se,

ou seja, a servir. Por esse motivo ele assegura que a autoridade nos levando ao

amor, nos direciona, de forma singular, ao ato de amar em sua concretude.

Entendemos, então, que o amor não é, apenas, uma forma de sentir, mas,

sobretudo, a maneira com que nos comportamos em relação ao outro.

A humildade é o que faz compreendermo-nos inacabados, por isso,

carentes de uma formação continuada; agregando esse valor ao amor, que é a

verdadeira essência da educação, como educadores, assim, comprometidos com

a vida dos nossos educandos, não mais vislumbraremos uma formação

permanente a fim de adquirir títulos, credenciais e diplomas, status, salários etc.,

mas sim, para estarmos cada vez mais preparados à prática docente, a fim de,

dessa forma, servir melhor os nossos alunos (BRAVO, 2007, p.93).

A vaidade é o contrassenso do serviço; quem a tem, não serve, quer ser

servido. O mundo, sempre e ainda hoje nos impeliu a essa condição; as culturas

impõem a “castas inferiores” o servir. Fomos educados de tal maneira que, hoje, a

palavra serviço é sempre comparada à subordinação. Quem rompe com a

vaidade serve, e quem serve rompe com o egoísmo.

Voltando à cultura judaica, podemos identificar um dado importante na

pedagogia do mestre Jesus: o “lava-pés”. Para isso é preciso que, antes,

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saibamos o que representa tal serviço nessa cultura. Acredita-se que em função

do solo argiloso e questões, também, de ordem religiosa, ao adentrar a casa, ou

ao iniciar uma refeição, era prática desse povo que o serviçal, de mais baixo

escalão, lavasse os pés dos seus senhores e das visitas. A narrativa bíblica

ressalta essa hierarquia na hora em que Pedro, discípulo do mestre Jesus, se

nega a deixá-lo lavar seus pés.

Então Jesus se levantou da mesa, tirou o manto, pegou uma

toalha e amarrou-a na cintura. Colocou água na bacia e começou

a lavar os pés dos discípulos, enxugando com a toalha que tinha

na cintura. Chegou a vez de Simão Pedro. Ele disse: “Senhor, tu

vai lavar os meus pés?” (BÍBLIA, João, 1990, cap.13, v.4 – 6)

Depois de lavar os pés dos discípulos, ele juntou-os, e lhes ensinou o que

acabara de fazer. Assim se dava parte do processo pedagógico desse mestre;

ele primeiro corporificava o conteúdo, depois, através da própria atitude

assumida, educava.

Vocês compreenderam o que eu acabei de fazer? (...) Eu lhes

dei um exemplo: vocês devem fazer a mesma coisa que eu fiz.

(...) Se vocês compreenderam isso, serão felizes se o puserem

em prática. (BÍBLIA, João, 1990, cap.13, v.12 – 17)

Jesus naquele momento instituiu uma nova relação entre os seus alunos.

Mostrou-lhes que para ser mestre é preciso servir, e para isso deveriam romper

com a vaidade. Para servir, precisamos, antes de tudo, “inclinarmo-nos” ao

próximo. O filósofo francês Augusto Comte, em 1830, nomeou essa característica

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mítica de altruísmo. Para Comte esse predicado se dá pelo conjunto das

disposições humanas, que “inclinam” os seres humanos a dedicarem-se aos

outros. Esse conceito opõe-se, portanto, ao egoísmo, que são as inclinações

específicas e exclusivamente individuais. Portanto é inteligível e basilar para a

prática educativa que nós educadores estejamos a serviço da educação; logo, se

faz necessária uma nova concepção de vida, livre de preconceitos, vaidades e

egoísmos.

2.6 A Liberdade: O Desafio da Autoridade

Segundo LIBÂNEO (1994, p.251), “autoridade e autonomia são dois pólos

do processo pedagógico. A autoridade do professor e a autonomia do aluno são

realidades aparentemente contraditórias, mas de fato complementares”. Por esse

motivo a liberdade é um desafio à autoridade.

Paulo Freire (1997, p. 99) nos orienta que “o autoritarismo é a ruptura em

favor da autoridade contra a liberdade e a licenciosidade, a ruptura em favor da

liberdade contra a autoridade." Nas sagradas escrituras cristãs nos é apresentada

a lei perfeita da liberdade, dessa forma, asseverando o discurso de Paulo Freire,

em referência, entendemos que o autoritarismo não é autoridade, mas sim, o

abuso dela, a extrusão; e a licenciosidade, quando exacerbada, não é mais

liberdade, mas sim, a corrupção da liberdade.

A autoridade coerentemente e democrática, fundando-se na

certeza da importância, quer de si mesma, quer da liberdade dos

educandos para a construção de um clima de real disciplina,

jamais minimiza a liberdade. Pelo contrário, aposta nela.

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Empenha-se em desafiá-la sempre e sempre; jamais vê, na

rebeldia da liberdade, um sinal de deterioração da ordem. A

autoridade coerentemente democrática está convicta de que a

disciplina verdadeira não existe na estagnação, no silêncio dos

silenciados, mas no alvoroço dos inquietos, na dúvida que

instiga, na esperança que desperta. (FREIRE, 1996, p.93)

Assim, a autoridade democrática, por ser coerente, e por isso ética, não

identifica sua “eticidade”, somente, na presença da própria autoridade, mas

principalmente, na tensão existente entre ela e a liberdade, por isso, diz-se,

perigosa a relação; destarte, é fato a conclusão: “não se vive a ‘eticidade’ sem

liberdade e não se tem liberdade sem risco. O educando que exercita sua

liberdade ficará tão mais livre quanto mais eticamente vá assumindo a

responsabilidade de suas ações. Decidir é romper e, para isso, preciso correr o

risco.” (FREIRE, 1996, p.93)

Os ensinamentos coerentes de Jesus se identificam por essa ação

pedagógica, “perigosa”, que almejava o rompimento com as práticas dicotômicas

às teorias, uma pedagogia voltada para a reflexão, a crítica, a esperança, o

serviço, o amor, a transformação, assegurada pela Lei da Liberdade. “Gostaria

uma vez mais de deixar bem expresso o quanto aposto na liberdade, o quanto me

parece fundamental que ela se exercite assumindo decisões.” (FREIRE 2009 p.

104)

Essa é a lei perfeita da liberdade: “Tudo é permitido. Mas nem tudo

convém. Tudo é permitido. Mas nem tudo edifica” (BÍBLIA, 1 Coríntios, 1990, cap.

10 v. 23). Na carta ao Coríntios, fica expressa a relação entre liberdade, limites,

sabedoria , discernimento e responsabilidade. A liberdade ética nos pede, acima

de tudo, coerência; deixando-nos livres para praticá-la, também, nos ensina os

seus limites. Refletindo sobre essa tensão entre liberdade e limites, concluímos

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que, se “tudo podemos”, logo, não é possível a exigência de limites, pois esses,

viriam contradizer a essência maior da passagem que é: “tudo é permitido”.

Portanto, a conclusão a que se chega é a de que não nos são dados limites, no

sentido de término, mas sim, parâmetros culturais, políticos, sociais – éticos – que

nos servem de limites, quando utilizados com responsabilidade, para nosso

comportamento humano.

Creio que uma das qualidades essenciais que a autoridade

docente democrática deve revelar em suas relações com as

liberdades dos alunos é a segurança em si mesma. É a

segurança que se expressa na firmeza com quem atua, com que

decide, com que respeita as liberdades, com que discuti suas

próprias posições, com que aceita rever-se. Segura de si, a

autoridade não necessita de, a cada instante, fazer o discurso

sobre sua existência, sobre si mesma. (FREIRE, 1996, p.91)

A liberdade é o termostato da autoridade, que, segura de si, e não

arrogante ou pretensiosa, porém, certa de sua legitimidade, não precisa se

autointitular, nem se impor, pois provoca movimento, mudança, ruptura, para

quem a exerce com sabedoria. A pedagogia de Jesus nos impele a essa

mudança, à quebra dos antigos paradigmas, à saída da inocência para uma

verdadeira tomada de posição. Para isso é preciso acreditar, para sermos

mestres se faz necessário percebemos, cada vez mais que, por não ser neutra,

nossa prática exige de nós uma definição. “Uma tomada de posição, decisão,

ruptura”. (FREIRE, 1996, p. 102)

A autonomia nos conduz à responsabilidade, uma vez que nos liberta para

vida, como é citado, pelo apóstolo Paulo, na carta que enviou aos Gálatas: “Jesus

nos libertou para que sejamos verdadeiramente livres” (BÍBLIA, Gálatas, 1990,

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cap.5, v.1). Meta também defendida por Paulo Freire, quando ele afirma que a

“posição mais difícil, indiscutivelmente correta, é a do democrata, coerente com

seu sonho solidário e igualitário, para quem não é possível autoridade sem

liberdade, e esta sem aquela” (FREIRE 2009 p. 108). Destarte, se faz necessário

entendermos a construção da liberdade, não a que extrapola, excede e mata,

mas a que liberta, humaniza e vivifica, através do exercício da autonomia.

Quando, seres autônomos, dotados de ética necessária à vida social e

racional – logo, seres livres – se concebem mestres, a sociedade, não fadada ao

determinismo, mas sim ao condicionamento, estará, não mais destinada ao mal da

reprodução (repetição), agora, crítica, analítica, reflexiva; “livre”. Essa pedagogia

foi-nos assinalada há dois mil anos e, hoje, asseverada pelo professor Paulo

Freire, rebelde e radical – por isso temida – nos causará movimento, ruptura,

enfim transformação.

2.7 O Diálogo: A Ferramenta Fundamental da Autoridade

O diálogo é a base da relação humana, logo, para que essa relação se

estabeleça em sua magnitude e culminância se faz necessário que ambas as

partes estejam esperançosas quanto à relação, ou seja, às propostas que estão

sendo estabelecidas naquele instante; para que haja esperança, é preciso que

haja fé, e só acreditamos em algo que nos é confiável.

Ao fundar-se no amor, na humildade, na fé nos homens, o

diálogo se faz uma realização horizontal , em que a confiança de

um pólo no outro é conseqüência óbvia. Seria uma contradição

se, amoroso, humilde e cheio de fé, o diálogo não provocasse

este clima de confiança entre seus sujeitos. Por isto inexiste esta

confiança na antidialogicidade da concepção "bancária" da

educação. (FREIRE, 1987, p.81)

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Dessa forma a base para uma relação plena está estabelecida na

presença de um diálogo que inspire confiança. Para tal, é imprescindível que

haja, nesse diálogo, amor, humildade e acima de tudo coerência, pois se a

palavra não coincidir com os atos, então não terá, também, credibilidade.

A máxima da pedagogia do mestre Jesus está em sua adesão a um

projeto de libertação e restauração da sociedade (vida). Essa verdade, por ele

vivida e ensinada, atualmente ganha força na busca de uma postura pedagógica

que perpasse a condição “farisaica”, ou seja, autoritária e tradicional, hoje em

decadência, em favor de uma ação pedagógica horizontal, onde principalmente o

diálogo passe a ser uma troca justa, coerente, prazerosa, esperançosa,

confiante, humilde, solidária, verdadeira; e para que o dialogo se realize, se faz

necessário haver um profundo amor ao próximo; nesse sentido podemos

asseverar, também, que o diálogo para nós educadores é o próprio ato de amar.

Assim, se cumpre a “dialogicidade” de Paulo Freire, que por ser ética, conduz o

docente e o discente a uma relação horizontal.

Em seguida Jesus fechou o livro, entregou na mão do ajudante, e

sentou-se. Todos que estavam na sinagoga tinham os olhos

fixos nele. (...) Todos aprovavam Jesus, admirados com as

palavras cheias de encanto que saíam da sua boca. (BÍBLIA,

Lucas, 1990, cap.4, v.21-22)

Naquele tempo os responsáveis pela interpretação das leis eram os

“Doutores da Lei”. Esses detinham o monopólio interpretativo das mesmas.

Assim, tornavam-se mestres do seu povo. A grande autoridade dos Escribas,

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assim eram conhecidos os Doutores da Lei arrogantes e prepotentes, repousava

sobre as tradições. Suas influências eram exercidas principalmente em três

lugares: no Sinédrio, onde se apresentavam como juristas para a aplicação das

leis, na sinagoga, como intérpretes das Escrituras e na escola, como mestres

fazedores de discípulos. Os Escribas não eram comprometidos com a verdade,

nunca ensinavam tudo o que sabiam e escondiam ao máximo a maneira como

chegavam a determinadas conclusões.

Jesus contrapunha essa prática, fazia questão de que seus alunos, através

da análise crítica, chegassem a suas próprias conclusões; ele apenas os

direcionava. Tão importante quanto sua verdade em ensinar era sua ferramenta

pedagógica: o diálogo. Jesus o valorizava. Para ele, o diálogo era uma relação

horizontal nutrida de amor, humildade, esperança, fé e confiança (FREIRE, 2002,

p. 115). Seu discurso tinha encanto, magia; verdade. Todos aprovavam Jesus,

admirados com as palavras cheias de encanto que saíam da sua boca. (BÍBLIA,

Lucas, 1990, cap.4, v.21-22)

A Autoridade, proposta nesse trabalho, e creditada como “Pedra angular

para uma ação pedagógica plena”, se cumpre na dialética entre diálogo e prática.

Por esse motivo devemos ter cuidado ao dialogar, “pois aquele que não comete

falta no falar é um homem perfeito”. (BÍBLIA, Tiago, 1990, cap.3, v.2) Tiago em

alusão a essa pedagogia, a do comprometimento com o pensar certo e agir certo,

hoje defendida por Paulo Freire, pede que tenhamos cuidado ao nos fazer

mestres, ressalta ainda que pensemos bem, antes de nos fazermos educadores.

A comparação de Tiago, escrita em sua carta às nações ressalta, com

fervor, o perigo e o compromisso com o que se fala. Ele diz que embora os

navios sejam grandes são guiados por um pequeno leme, também, assim, são os

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cavalos, que embora sejam fortes e impetuosos, permitem-se frear e ser guiados

por uma simples corda. (Bíblia, Tiago, 1990, cap. 3, v.3-4) Dessa forma é a

“língua” – ou seja, a fala – um pequenino órgão, que é capaz de mover e

direcionar multidões. Como educadores éticos, devemos saber utilizá-la de forma

correta, em prol dos docentes. O primeiro grande passo para essa corrida é

enchermos o nosso coração de amor e zelo, sabendo que a língua é a nossa

grande ferramenta de trabalho, e tendo a consciência de que a boca fala daquilo

que o coração está cheio (BÍBLIA, Mateus, 1990, cap.12, v.34). Por esse motivo,

como mestres, devemos ser cuidadosos ao falar.

A educação da resposta não ajuda em nada a curiosidade

indispensável ao processo cognitivo. Ao contrário, ela enfatiza a

memorização mecânica de conteúdos. Só uma educação da

pergunta aguça, estimula e reforça a curiosidade. (FREIRE,

2006, p.19)

O mestre Jesus, em seus diálogos, valorizava a pergunta. Grande parte

da sua conversação com os discípulos era introduzida por um questionamento.

Jesus, ao perguntar, estimulava a curiosidade e valorizava os discípulos,

respeitando-os. Dava oportunidade, confiabilidade, desenvolvia neles a

capacidade de reflexão, crítica e análise das questões. Sua pedagogia da

construção não punia o erro; Jesus conduzia, através do próprio erro, o ser à

responsabilidade, à reformulação, à construção do verdadeiro, ou seja, à

correção.

As perguntas tinham uma centralidade fundamental no ensino de Jesus.

O ato de perguntar implica respeitar o interlocutor, porque se confia em sua

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capacidade de reflexão e resposta. “As Perguntas não são só um exercício

mental: também convidam, interpelam, motivam, convertem e despertam a

consciência crítica.” (BRAVO, 2007, p. 69 e 70)

No diálogo deve haver desejo, e não deve ser conduzido, apenas, com

métodos e técnicas; deve agir como um apetecedor do conhecimento,

estimulador do apetite, prazeroso, vivificante; humanizador. O diálogo não deve,

assim, ser, apenas, a faca e o queijo, ele deve gerar “fome”.

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CAPÍTULO 3

AUTORIDADE: PEDRA ANGULAR DA AÇÃO PEDAGÓGICA

Abordamos, anteriormente, o conjunto de valores que acreditamos ser o

ponto de partida para a construção da autoridade defendida nesse trabalho.

Agora, já construída essa primeira idéia, discorreremos a respeito da admissão

desse conjunto de valores e atitudes éticas na constituição final dessa

autoridade, agregando toda a carga sócio-política necessária a sua

sustentabilidade e fidelização.

Como não há educação sem política educativa que estabelece

prioridades, metas, conteúdos, meios e se infunde de sonhos e

utopias, creio que não faria mal nenhum neste encontro que

sonhássemos um pouco. Que nos aventurássemos um pouco,

que corrêssemos o risco de pensar em certos valores concretos

que pudessem ir se incorporando a nós e aos anseios de

Cidades educativas neste fim de século que já vivemos e que é

também fim de milênio. (FREIRE, 2001, p.24 - 25)

O sustento da autoridade docente não se dá fora da consolidação de uma

pedagogia política, crítica e analítica; prática libertadora e de grande esperança

que subsidia a incrustação dos valores a serem reinstalados em nossa prática e

formação educativa. Assim, esperamos que, através dessa prática libertadora, o

produto dessa autoridade seja a revalorização do educador.

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3.1 O Produto da Autoridade

3.1.1 O Pensar Certo

Revalorizar não se trata de dar novo valor ao mundo. Os valores não

mudam. A moral pode até ser mudada, revalidada, enfim, reconstruída, mas os

valores estão vinculados a nossa humanidade radicalmente ética. Logo, a saída

desses valores não pode ser caracterizada de outra maneira que o transgredir a

nossa condição humana, ou seja, desumanizar-nos.

Segundo Samanta Obadia (2009, p.29) “quando se tem uma nota de

R$100,00, não importa se está velha ou nova, amassada ou não, o seu valor

será o mesmo”. Da mesma maneira, a bondade, a ética, a verdade, a

dignidade, a honestidade e todos os valores apresentados nesse trabalho.

Hoje se fala muito da construção de uma nova moral. O grande problema

social não está na formação desta, mas sim que esta nova moral esteja fora dos

limites estabelecidos pelos valores éticos. Sendo a escola ou a universidade a

continuação da nossa formação ética, não salientando o fato de que, a escola,

em função da nova jornada de trabalho dos pais e mães, passou a ser a grande

responsável pela educação, não só formativa de um conteúdo, mas de um

caráter, incumbiu ao seu agente, o educador, o dever de ministrar e ser o

protagonista dessa formação.

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Paulo Freire (1996, p.102) afirma essa nova perspectiva de

educação ao dizer que:

Tão importante quanto ele, o ensino dos conteúdos, é o meu

testemunho ético ao ensiná-los. É a decência com que o faço. É

a preparação científica revelada sem arrogância, pelo contrário,

com humildade. É o respeito jamais negado ao educando, a seu

saber de experiência feito que busco superar com ele. Tão

importante quanto o ensino dos conteúdos é a minha coerência

entre o que digo, o que escrevo e o que faço.

Sabendo que as crianças e os adolescentes são, hoje, literalmente

formados, sobretudo, por nós, educadores, fica a questão a ser discutida: qual a

formação ou o comprometimento político, social e cultural que nós como

educadores temos para com essas crianças e esses adolescentes? Podemos

estender o questionamento: qual o comprometimento político, social e cultural,

nesse caso mais político, que os professores das universidades estão tendo

para formar os futuros formadores?

Paulo Freire nos fala todo tempo em valores e na crença na autoridade

docente. Acreditamos ser esse o caminho para a revalorização do educador: a

reconstrução dessa autoridade “desarmada” pelos períodos ditatoriais, que

visavam a (de)formação do agente Pedagógico em prol da má formação política

e sócio-cultural dos brasileiros.

A pedagogia atual deve romper com o silêncio deixado pelas décadas

passadas, deve mostrar-se a favor da dignidade, dá ética, da formação política,

não mais ingênua, mas crítica. Desfazer a manobra política orquestrada pelos

“dominantes” que rogavam por uma educação “imobilizadora e ocultadora de

verdades” (FREIRE, 1996, p.99).

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De acordo com Samanta Obadia (2009, p.23) “a responsabilidade moral

está atrelada ao conhecimento contra a ignorância. Hoje, a dificuldade da

aceitação da moral está intimamente relacionada à resistência política e

socioeconômica à educação.”

A autoridade do mestre Jesus, nosso modelo proposto, asseverada, neste

trabalho, pela pedagogia do professor Paulo Freire, parte de um princípio, ético e

político. Somos e sabemos o que é certo, por isso devemos praticar. Não

podemos ser neutros. Como educadores devemos assumir nosso papel de

posição, decisão e ruptura. Devemos, como seres comprometidos com a

verdade, rogar “a favor da decência contra o despudor, a favor da liberdade

contra o autoritarismo, da autoridade contra a licenciosidade, da democracia

contra a ditadura de direita ou de esquerda.” (FREIRE, 1996, p.102)

A posição irrefutável de alguém que pela autoridade, e não pelo

autoritarismo, leva o aluno a pensar certo, e isso não caracteriza mobilizá-lo ao

que o educador acredita, mas a pensar criticamente no que é realmente melhor

pra ele, faz da educação uma nova possibilidade, uma prática libertadora. Por

esse motivo, e não por outro, é que a presença do professor não deve em

nenhuma hipótese deixar de ser uma presença política. Uma presença que torne

o docente um sujeito capaz de optar. Também por esse motivo é que os

professores devem se mostrar sujeitos da análise, da comparação, da avaliação,

da decisão, da opção, da ruptura, da ética em favor da prática. Assim devem ser

para poderem testemunhar. O educador que nega a ética é um transgressor, um

ser desvirtuado que intoxica, que inibe a real ocupação da educação na formação

do homem. Segundo Freire (1996, p.17):

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Não podemos nos assumir como sujeitos da procura, da decisão,

da ruptura, da opção, como sujeitos históricos, transformadores,

a não ser assumindo-nos como sujeitos éticos. Neste sentido, a

transgressão dos princípios éticos é uma possibilidade mas não é

uma virtude. Não podemos aceirá-la.

Nesse processo o que se pode observar, na formação do formador, é a

incomparável e necessária presença da decência. Paulo Freire nos fala que é a

favor da decência contra o despudor. A ética, tem como princípio o amor, como

fim, a prática, e como meio a decência. Para explicitar a grandiosidade dessa

virtude, de forma basilar, falaremos dela segundo sua etimologia.

Do latim decentia, decência significa decoro na aparência, na conduta, na

compostura. Ter moral, honestidade, honradez, respeito, pudor, asseio e

limpeza. Por esse motivo Paulo Freire nos deixa claro que “a transgressão da

eticidade jamais pode ser vista ou entendida como virtude, mas como ruptura

com a decência” (FREIRE, 1996, p.60).

Enfim, parte da formação da autoridade do professor é fruto do respeito,

por ele conquistado, pelos docentes e pela sociedade. Grande parte desse

respeito vem da sua coragem em defesa da decência contra o “despudor”, do

seu comprometimento com a verdade e acima de tudo com sua tomada de

posição irrefutavelmente educativo-política.

3.1.2 O Respeito

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Para falarmos de respeito, primeiramente se faz necessário entender o

que é dignidade. Para Samanta Obadia (2009, p.51) dignidade é, antes de tudo,

“respeito a si mesmo”, ou seja, autorrespeito. Em função das políticas públicas,

e por isso, a má formação dos professores, em relação ao comprometimento

político-social, fez o educador, nos dias de hoje, estar carente dessa

revalorização, da reconstrução do seu respeito.

A Palavra respeito significa olhar para trás. Ser capaz de olhar a

trajetória até o momento, ou seja, só tem respeito que tem uma

história pessoal, quando você consegue olhar para o passado e

respeitar o que você fez e conquistou.(...) Quando vejo o

caminho que trilhei e não vejo essa ascensão, perco o auto-

respeito, abro mão da minha honra, e me permito ser usado pelo

outro. (OBADIA, 2009, p.27)

Parte da reconstrução desse respeito, também, está na mudança das

políticas públicas que vêm minando a educação através dos baixos salários e de

uma formação descomprometida com a liberdade; perspectiva neoliberal que

reforça a neutralidade da prática educativa, hoje, praticamente reduzida à

transferência de conteúdo. Uma maneira de reencantar esse respeito é

adotando uma prática não neutra; ensinar essa nova geração a pensar certo, e

isso implica o compromisso do educador com a “consciência crítica do educando

cuja ‘promoção’ da ingenuidade não se faz automaticamente” (FREIRE, 1996,

p.29).

De acordo Freire (2001, p.24 - 25):

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A educação para a libertação, responsável em face da

radicalidade do ser humano, tem como imperativo ético a

desocultação da verdade. Ético e político. O educador

progressista não pode aceitar nenhuma explicação determinista

da História. O amanhã para o educador progressista não é algo

inexorável.

Uma das frases mais conhecidas das escrituras sagradas cristãs está no

livro de João, capítulo 8, versículo 32, que diz: “Só a verdade vos libertará”;

discurso ministrado pelo mestre Jesus de Nazaré a seus alunos. O respeito à

liberdade é o princípio para a revalorização da educação. Logo, o respeito aos

educandos não pode fundar-se na contrariedade ao entendimento da verdade,

pelo acorrentamento através da formação reprodutiva, repetitiva e manipulada,

mas sim, por uma educação política, reflexiva, analítica e ética.

É impossível pensar em docência sem decência, e a mesma sem respeito;

principalmente em relação à própria natureza formadora dessa docência, que, a

princípio, por ser ética, não se permite ser neutra, e por isso ressalta e reivindica

uma postura democrática que se funda na prática pedagógica libertadora e

defensora do respeito ao pensamento dos educandos. “Respeito, contudo, que

não pode eximir o educador, enquanto autoridade, de exercer o direito de ter o

dever de estabelecer limites” (FREIRE, 2001, p.39).

O respeito transcende as classes, as etnias e o gênero. É parte da

formação docente esta prática educativa que perpassa o currículo oculto da

nossa sociedade e se contrapõe a todas as perspectivas pessimistas das classes

dominantes. O Educador que pensa certo, que é coerente, por isso decente,

constrói sua autoridade docente; nesse momento, já não necessita colocar-se

como autoridade; seu fazer, sua prática, seu respeito, já, em si, o definem. O

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respeito define o nível de relacionamento, quer seja na vida pessoal, quer seja na

profissional.

Principalmente, para os educadores, é imprescindível esse cuidado com a

segregação. “Qualquer discriminação é imoral e lutar contar ela é um dever por

mais que se reconheça a força dos condicionamentos a enfrentar” (FREIRE,

1996, p.60 - 61). A educação roga por competência; é parte da formação da

autoridade o profundo conhecimento dos conteúdos, esses, claro, sempre

acompanhados da formação humana, por isso ética.

O cuidado com a competência esbarra na arrogância gerada por ela. O

respeito aos educandos, quer sejam crianças, adolescentes, formadores em

processo de formação continuada etc., deve estar sempre no cume da relação,

de forma que se entenda: “Nem a arrogância é sinal de competência nem a

competência é causa de arrogância. Não nego a competência , por outro lado, de

certos arrogantes, mas lamento neles a ausência de simplicidade que, não

diminuindo em nada seu saber, os faria gente melhor. Gente mais gente”.

(FREIRE, 1996, p.146)

3.1.3 A Autonomia

Segundo Alves (2000, p.35), educação é o processo pelo qual, nós,

sujeitos condicionados, vamos nos tornando tudo aquilo que nos ensinam. Ele

chama isto de feitiço. “Eu não sou eu: eu sou as palavras que os outros

plantaram em mim”. Rubem Alves nos fala da influência daqueles que nos

educaram, assim como livros, TVs, líderes políticos ou religiosos etc. Ainda nesse

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texto Rubem Alves emprega Fernando Pessoa citando: “Sou o intervalo entre o

meu desejo e aquilo que os desejos dos outros fizeram de mim.”

A estória do príncipe que virou sapo é a nossa própria estória.

Desde que nascemos, continuamente, palavras nos vão sendo

ditas. Elas entram no nosso corpo, e ele vai se transformando.

Virando uma outra coisa, diferente da que era. (ALVES, 2000,

p.35)

A educação é uma arma do governo para nossa alienação. Uma herança,

em parte, da Pedagogia Tradicional utilizada pelos burgueses na recomposição

de sua hegemonia; modelo faccioso de alienação em prol de um sistema

econômico classista. Assim também é o modelo atual de educação, capitalista,

classista e seletivo; recurso extraeconômico do governo para “produzir” as

classes sociais. Esse sistema propala uma falsa perspectiva igualitária e de

grandes possibilidades à ascensão social, quando na verdade é uma ilusão.

Trata-se de um instrumento, de ordem transgressora e desumana, não ético,

manifesto do caráter sórdido das classes dominantes, com o único objetivo: a

educação como um instrumento de dominação.

Diante desses fatos, a autonomia nos parece uma idéia utópica. Para o

Professor Paulo Freire é, ela, a porta de entrada para a libertação; e certo da sua

possibilidade, acredita na autonomia como nosso “contrainstrumento” de

dominação; arma de conscientização, luta e esperança, à medida que nos remete

à reflexão, à crítica, à análise, conduz-nos à transformação e ao pensar certo.

Nas sagradas escrituras cristãs existe uma passagem que nos remete a

essa idéia de libertação e luta. O apóstolo Paulo diz à comunidade de Gálatas:

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“Jesus nos libertou para que sejamos verdadeiramente livres. Portanto, sejam

firmes e não se submetam de novo ao jugo da Escravidão” (BÍBLIA, Gálatas,

1990, cap.5 v.1). A verdadeira educação é aquela que liberta. Não há autoridade

sem liberdade, qualquer manifesto contrário à liberdade é arbitrário, jugo do

autoritarismo.

De acordo com Paulo Freire (1996, p.19):

Se sou produto da determinação genética ou cultural ou de

classe, sou irresponsável pelo que faço no mover-me no mundo

e se careço de responsabilidade não posso falar em ética. Isso

não significa negar os condicionamentos genéticos, culturais,

sociais a que estamos submetidos. Significa reconhecer que

somos seres condicionados mas não determinados. Reconhecer

que a história é tempo de possibilidades e não de determinismo,

e não inexorável.

Dar autonomia é tornar o ser responsável. Tirá-lo, em parte, do jugo da

genética e de todas as palavras que o “enfeitiçaram” ao longo das suas vidas.

Dar autonomia é fazê-lo opinante, capaz, porém, de transgredir, pois a

transgressão é algo que só se torna possível a partir do momento que há o

conhecimento, a liberdade. No momento em que o homem passou à

racionalidade, ou seja, a ter o poder de inteligir, “não foi possível existir a não ser

disponível à tensão radical e profunda entre o bem e o mal, entre a dignidade e

indignidade, decência e o despudor, entre boniteza e a feiúra do mundo”

(FREIRE, 1996, p.52).

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Nossa gênese nos propiciou a liberdade. Logo, a maravilha da educação

está em tornar essa pré-disposição humana realidade. Se educar é desenvolver

as potencialidades, cabe a educação cumprir esse papel desenvolvendo no

individuo sua maior condição, aquela que o difere dos outros animais; educar

para exercer o pleno direito (e dever) de optar, de decidir, de lutar, de fazer

política. Tudo isso nos remete à necessidade de uma prática formadora sublime,

de natureza notável, por isso, ética. Uma educação pela verdade, radical e

esperançosa.

Quando não houver esperança, quando não restar nem ilusão,

ainda há de haver esperança, em cada um de nós há algo de

uma criança. Enquanto houver sol, enquanto houver sol, ainda

haverá... (Enquanto houver sol – Titãs)

Sabemos que tudo está condicionado ao fim, mas sabemos, também, que

nada está determinado. Portanto, cabe aos verdadeiros educadores a

revalorização da formação Pedagógico tão sonhada e descrita neste trabalho, a

fim de romper e “transformar essa água em vinho”, para que possam servir do

melhor à educação. Enquanto houver sol ainda há esperança.

A autoridade nasce, esperançosa, diante da prática coerente e amorosa, a

partir da liberdade e do respeito em consonância com o pensar certo e com todos

os valores éticos, aqui, relatados. O que se espera, com a adoção dessas idéias,

é que, para um futuro próximo, a formação da autoridade seja uma verdade no

meio Pedagógico. Assim, reconstruiremos a imagem do educador através do seu

reencantamento; junto a isso, a revalorização do seu papel social, cultural e

político. Esta é a formação que as instituições carecem nos dias de hoje:

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humana, consciente, ética e libertadora. Do contrário, o que se vê, cada dia mais,

é uma formação rápida, técnica e capitalista, por isso imobilizante e neutra.

A autonomia gera, também, a liberdade indispensável ao indivíduo e dá, a

ele, o poder de produzir, criar, recriar, desenvolver, construir o saber através da

análise, da crítica e da reflexão; não mais acorrentado à repetição, agora

autônomo, é livre para a construção. Esse é o papel do docente, ensinar a

aprender, ou seja, libertar. Quem liberta também é libertado.

Fruto da liberdade do espírito, a criatividade surge diante da curiosidade, a

qual Rubem Alves chama de “fome”, citando Adélia Prado, em seu poema

Tempo essa idéia ao escrever: “Não quero faca nem queijo. Quero é fome.”

(ALVES, 2002) Essa vontade que nos remete à curiosidade aparece

epistemologicamente na educação como uma “inquietação indagadora, como

inclinação ao desvelamento de algo, como pergunta verbalizada ou não, como

procura de esclarecimento, como sinal de atenção que sugere e alerta faz parte

integrante do fenômeno vital” (FREIRE, 1996, p.32). Autonomia é liberdade.

3.1.4 A Esperança

Venha, meu coração está com pressa. Quando a esperança está

dispersa, só a verdade me liberta. Chega de maldade e ilusão.

Venha, o amor tem sempre a porta aberta, e vem chegando a

primavera, nosso futuro recomeça: Venha, que o que vem é

perfeição. (Perfeição - Legião Urbana)

O trecho desta música da banda de rock Legião Urbana aborda questões

interessantes desenvolvidas neste trabalho. Partindo dela, tomando como

referência os três últimos “preceitos” abordados neste capítulo, que são a

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Verdade, o Bom Senso, a Corporificação, partiremos para a conclusão do

mesmo.

“Só a verdade me liberta” (Legião Urbana). A verdade, aqui, acreditada é a

mesma crida por Gandhi, Nietzsche, Hegel, Rubem Alves, Paulo Freire e tantos

outros filósofos e educadores esperançosos. Verdade anunciada, também, há

mais de dois mil anos, pelo mestre judeu Jesus de Nazaré. Essa é a verdade

acreditada: o espírito livre. A liberdade proposta que nos enche de esperança: a

Liberdade. Ser livre é, embora condicionado pelo meio social e pela genética,

não ser determinado. A esperança pela liberdade é o que vem movendo o mundo

até os dias de hoje. Assim afirma Paulo Freire ao dizer que a “esperança é uma

espécie de ímpeto natural possível e necessário, e a desesperança é o aborto

deste ímpeto. (...) Sem ela, não haveria História, mas puro determinismo”.

(FREIRE, 1996, p.72)

A verdade que nos liberta, por nos tornar espíritos livres, é a saída da

ingenuidade para o conhecimento epistemológico. O espírito livre é aquele que

adquiriu autonomia, logo, pensa de modo diverso, transcende seu tempo, rompe;

aquele que não é definido pela sua cultura, religião ou política, mas o que, pela

plena capacidade de discernir, optar e tomar posição, através da sabedoria e do

conhecimento epistemológico, na busca pela verdade, já se torna a própria. A

partir disso, “o que vem é a perfeição.”

O bom senso nos direciona à prática, e a prática ao testemunho. O

educador deve ser o modelo, a coerência; testemunhar, não, somente, através do

seu discurso, mas, também, através da sua prática, pois a autoridade nasce no

exercício do bem. Ao cuidar do bom senso o educador saberá lidar, sempre, com

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a tensão entre a autoridade e a liberdade, o conhecimento e a arrogância, a

influência e a manipulação etc.

Paulo Freire (1996, p.47) nos revela a necessidade do testemunho docente

diante da teoria; testemunho que só se faz possível a partir do gesto concreto.

Assim ele adverte:

Em um curso de formação docente não posso esgotar minha

prática discursando cobre a Teoria da não extensão do

conhecimento. Não posso apenas falar bonito sobre as razoes

ontológicas, epistemológicas e políticas da Teoria. O meu

discurso sobre a Teoria deve ser o exemplo concreto, prático, da

teoria. Sua encarnação. Ao falar da construção do conhecimento,

criticando a sua extensão, já devo estar envolvido nela, e nela, a

construção, estar envolvendo os alunos. (FREIRE, 1996, p.47)

Diante do conhecimento da verdade, asseverada sempre pelo bom senso,

vai se fidelizando a autoridade. Nesse momento tudo aquilo que se acredita, ao

ser posto em prática, vai ganhando vida própria; exercício do bem, assim se dá a

corporificação, ou encarnação da palavra. Nesse momento não existem mais a

teoria e a prática, mas sim uma união dialética; que, por sua vez, só resistirá às

tensões mundanas enquanto houver a reflexão crítica sobre o verdadeiro

exercício dessa lógica coerente.

3.2 A integração do orientador na reconstrução da autoridade docente

3.2.1 A Escola e o seu Processo de Evolução Social

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Hoje a escola apresenta, em sua ação formadora, um múltiplo papel social,

constitui-se em um espaço destinado à humanização dos seus integrantes; não

visa apenas à construção de um currículo conteudista, ao contrário, diversifica

sua competência em prol dessa nova responsabilidade social. Contudo, junto a

esse avanço surge uma grande problemática: a autoridade nas relações

estabelecidas no processo de ensino-aprendizagem entre os sujeitos do processo

pedagógico.

A relação professor e aluno tem se apresentado como uma extensão da

relação entre pais e filhos; o que na verdade iremos ressaltar é que a quebra da

autoridade familiar tem impactado diretamente nas relações entre docente e

discente. A escola, neste ponto, começa a ter que se fixar às questões de foro

“educativo-familiar”, pois estes são que vem impulsionando a má relação,

principalmente de respeito, entre professor e aluno. Assim, surge a necessidade

de uma terceira pessoa, alguém “de fora”, capaz de orientar e conduzir esse

processo de (re)socialização: o Orientador Pedagógico.

O objetivo do trabalho dessa orientação configura-se, principalmente, em

identificar a importância dada pelo orientador pedagógico às influências exercidas

pela autoridade no processo formativo dos educandos. Como ressaltamos

anteriormente, hoje, a escola recebe a missão de cultivar valores e

conhecimentos considerados importantes para o progresso e libertação do

homem; dessa forma, o professor passou a ser o delegado dessa autoridade,

antes, dada aos pais e as instituições religiosas.

A questão é que esta passagem não se deu de forma clara e consensual,

por esse motivo instalou-se uma crise entre a escola e a família. A escola, ainda

que não esteja preparada para suprir essa lacuna educativa causada pela família,

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tenta promover essa função, por saber que essa lacuna tem impactado

diretamente na relação entre professores e alunos. O que temos identificado, por

conseguinte é o surgimento de jogo de forças entre a escola e os pais, em que,

de um lado os docentes reclamam do descuido da família na educação de seus

filhos, e por outro, os pais que reconhecem os professores como uma autoridade

educacional.

Deste modo, a fim de conduzir essa relação, a princípio, mal desenvolvida,

é que se alvitra, aqui, a importância desse agente orientador e mediador para

esse entrave cultural. Assim, o orientador Pedagógico passa a ser o verdadeiro

sustentáculo dessa autoridade, agindo, através da ação orientativa incorporada,

como mediador entre as informações do mundo social e dos docentes e

discentes.

Cabe ao orientador fazer entender que a autoridade não se constitui numa

obediência, mas na formação de um respeito que provém de uma relação

coerente e afetiva. A noção mais erudita de autoridade pressupõe uma relação

constituída de polaridades complementares, sendo que um toma o lugar de

agente da ação e o outro é o alvo desta ação. Em verdade, a autoridade, não

determina, por si, os lugares dos sujeitos ou hierarquiza a relação, seu papel é

estabelecer o respeito e a confiança entre os que se relacionam. Cabe ao

orientador conduzir essa relação fazendo-os reconhecer, cada qual, o seu lugar

nesse processo social.

O primeiro grande passo para a incorporação desse “novo” modo de ser e

agir é admitir que a autoridade, embora difícil de ser construída, é o melhor, se

não, único caminho para a formação de sujeitos autônomos, por isso livres;

homens e mulheres comprometidos, agentes transformadores, humanizadores,

vivificantes, amantes da coerência, da confiança, da humildade, do servir, da

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liberdade, do diálogo, prática que os fazem construir o pensar certo, o respeito, a

autonomia e a esperança.

O papel do orientador tem uma multiplicidade de desígnios, cabe a ele,

além de colaborar para a resolução dos problemas de ordem afetiva e social dos

sujeitos da educação, incitar reflexões críticas e analíticas a fim de identificar e

solucionar problemas vivenciados, também, por toda a comunidade escolar.

Dessa forma, cuidando da saúde social dos seus integrantes e os conduzindo,

inclusive, à reflexão das noções de autoridade e liberdade, o orientador

conseguirá capacitá-los a conviver com essa tensão dialética, corroborando,

assim, para a (re)construção do respeito e da confiança necessários a formação

e consolidação de uma comunidade escolar crítica e analítica, por isso, livre e

autônoma.

3.2.2 Orientador Pedagógico na Condução da Liberdade pela Autoridade.

A liberdade permeou caminhos obscuros no processo de libertação do

sujeito, chegando ao ponto de se confundir liberdade com libertinagem. Mesmo

parecendo antagônico um dos pressupostos para que haja liberdade é a

instauração da disciplina. Oriunda da raiz da palavra discípulo, que significa

“aquele que segue”, a disciplina nos é apresentada, tradicionalmente, como algo

que nos remete a obrigatoriedade, rigidez etc. Por outro lado, se observarmos a

vida dos discípulos, a exemplo dos seguidores do mestre judeu Jesus de Nazaré,

notamos que a “obediência” instaurada é fruto da admiração, do amor, da

confiança, do respeito da esperança e da própria liberdade. Dessa forma,

podemos perceber que a maneira mais simples e profunda de tornar-se mestre

de uma disciplina é propiciar ao aluno um ambiente onde ela se apresenta livre

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de dominação, pois a idéia de discipulado é contrária a prática autoritária

(BETTELHEIM, 1988, p. 104).

A verdadeira disciplina só acontece quando é alimentada pela autoridade,

e quando isso ocorre cria-se um ambiente saudável, fértil e satisfatório, onde a

própria a criança (e o jovem) sentem-se na vontade de se introjectar nesse

ambiante. Podemos perceber isso, facilmente, nos grupos chamados, hoje, de

tribos, onde existem muito mais regras sociais e de vestimenta que nas escolas.

A autoridade, quando instituída, cria um referencial disciplinar facilmente

absorvido pelo discente (discípulo), observamos isso nas religiões e nos grupos

sociais. De outra forma, quando não instituída essa autoridade percebemos a

dificuldade em conquistar o interesse desse sujeito para a construção e

valorização do conhecimento, para a aceitação das normas etc.

Observando a atual lacuna na construção e instituição da autoridade

docente torna-se basilar o engajamento do orientador pedagógico nas discussões

que permeiam esse processo educativo na construção de referencias e

significados, ou seja, a inserção de reflexões que promovam, junto à comunidade

escolar, discussões sobre as atitudes do homem na sociedade, tais como regras

de convívio, responsabilidade, liberdade etc.

A liberdade é filha da autoridade bem compreendida. Porque ser

livre não é fazer o que se queira; é ser-se senhor de si, saber agir

pela razão, praticando o dever. Ora, é justamente com o objetivo

de dotar a criança desse domínio de si mesma que a autoridade

do mestre deve ser empregada (DURKHEIM, 1978, p. 56).

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A liberdade é o ponto de partida da educação, cabe ao orientador auxiliar

os sujeitos dessa relação a ter clareza de quais são seus deveres perante a

sociedade. A liberdade nos ensina que podemos tudo, mas que, nem tudo

convém fazermos; nessa relação não se evidencia os limites, mas sim, os

parâmetros utilizados para sabermos discernir o certo do errado. A liberdade

permite mais, ela nos deixa livres para discutirmos a aplicação desses

parâmetros, deixa-nos opinar e construir nossas próprias idéias.

Contudo, a fim de que seus sujeitos não se percam, faz-se necessário

mantê-los plenamente conscientes do verdadeiro fundamento e exercício dessa

autoridade, onde todas essas idéias e opiniões deverão, sempre, ser abalizadas

por um líder representante, o Orientador Pedagógico (mestre). Em meio a essa

troca de idéias e experiências vai sendo construída a noção e o exercício da

cidadania.

Por esse motivo, em favor da construção dessa cidadania, é que a

preparação desse orientador pedagógico deve ser cuidadosamente tratada, pois

“quanto mais o homem associa-se a outros homens, no convívio social, maior a

multiplicidade de forças envolvidas e mais poderosa a resultante” (GALLO, 1998,

p. 16-17). O orientador pedagógico deve, assim, ser, antes, o maior exemplo

dessa autoridade e liberdade para que não se perca no exercício da sua função.

Sabendo que a cidadania não ocorre sem que haja, antes, a emancipação

do homem e que a liberdade, essência dessa cidadania, apresenta-se como o

grande pilar da autoridade docente, podemos concluir, então, que só através da

reconstrução dessa autoridade docente conseguiremos caminhar para a

formação de uma sociedade ética e valorosa.

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Enquanto sujeito ativo e ativador desse processo de desenvolvimento

social, torna-se dever do orientador pedagógico a conscientização dos alunos e

professores quanto aos seus devidos papeis, levando-os, por serem, agora,

conhecedores de suas responsabilidades e das suas atribuições dentro dessa

comunidade, a serem os verdadeiros sujeitos na efetivação do projeto

pedagógico escolar.

CONCLUSÃO

A coerência, a confiança, a humildade, o amor, o servir, a liberdade, o

diálogo, o pensar certo, o respeito, a autonomia, a esperança... Chegamos ao

nosso destino: a construção da autoridade; o maior passo para a formação de um

verdadeiro mestre. Como asseverado na introdução deste trabalho, os deveres

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de um mestre são conduzir para fora, educar; conduzir pela vida, liderar; conduzir

por amor, servir.

Deve fazer parte de nossa formação discutir quais são estas

qualidades indispensáveis, mesmo sabendo que elas precisam

de ser criadas por nós, em nossa prática, se nossa opção

político-pedagógica é democrática ou progressista e se somos

coerentes com ela. É preciso que saibamos que, sem certas

qualidades ou virtudes como amorosidade, respeito aos outros,

tolerância, humildade, (...) persistência na luta, recusa aos

fatalismos, identificação com a esperança, abertura à justiça, não

é possível a prática pedagógico-progressista, que não se faz

apenas com ciência e técnica”. (FREIRE, 1996, p.120)

Ser um agente da educação requer, hoje, acima de tudo, paixão,

compromisso e esperança. Compromisso, principalmente, com a própria

formação. Se as políticas públicas, os rumos do mercado ou a própria perspectiva

do jovem em função da sua baixo-estima, faz aumentar as dificuldades na

relação entre professor, aluno e escola é hora de repensar sobre nossa escolha.

Pois, hoje, como já citado acima, faz-se necessário para permanecer “quente” na

educação, ser apaixonado; mesmo diante das dificuldades atuais. É preciso

resistir.

Paulo Freire (1996, p.67) refletindo sobre essa questão afirma:

Não posso desgostar do que faço sob pena de não fazê-lo bem.

Desrespeitando como gente no desprezo a que é relegada a

prática pedagógica não tenho por que desamá-la e aos

educandos. Não tenho por que exercê-la mal. A minha resposta à

ofensa à educação é a luta política, consciente, crítica e

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organizada contra os ofensores. Aceito até abandoná-la,

cansado, à procura de melhores dias. O que não é possível é,

ficando nela, aviltá-la com o desdém de mim mesmo e dos

educandos.

“Sou educador porque sou apaixonado pelo homem” (ALVES, 2000a,

p.106). A paixão é quente, nos faz ir além, nos move. Hoje atravessamos um

período morno na educação, um momento de grandes incertezas, principalmente

por parte do professor. Essa relação nos remete às palavras sábias encontradas

no livro do Apocalipse, nas sagradas escrituras cristãs. Elas dizem assim:

“Conheço sua conduta: você não é frio nem quente. Quem dera que fosse frio ou

quente! Porque é morno, nem frio nem quente, estou para vomitar você da minha

boca”. (BÍBLIA, Apocalipse, 1990, cap.3, v.15). Se o educador se torna frio, deve

abandonar a educação, como cita Paulo Freire, à procura de dias melhores. Se

permanecer quente, sua resposta à ofensa à educação será a luta política,

consciente, crítica e organizada contra os ofensores. Mas tornando-se morno,

passa a ser o pivô da decadência educacional que assola o país.

Alvitrada, nesse trabalho, como caminho para uma ação pedagógica plena,

a autoridade é parte essencial, se não indispensável, à transformação do

profissional em mestre. Por esse motivo asseveramos o educador como aquele

que conduz para fora, pela vida e por amor, pois “professor há aos milhares, mas

professor é profissão, não é algo que se define por dentro, por amor. Educador,

ao contrário, não é profissão; é vocação. E toda vocação nasce de um grande

amor, de uma grande esperança” (ALVES 2000a, p.16). Por esse motivo, hoje, a

educação necessita mais do que qualquer outra coisa, de educadores de

qualidade, isto é, de mestres.

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Assim, chegamos ao começo dessa nova empreitada, a fim de que todos

os valores e crenças desenvolvidos nesse trabalho, como um ato de esperança,

tragam uma nova, embora milenar, perspectiva do real sentido da educação:

educar para libertar. Dessa forma, se faz necessário à construção de tal

autoridade, como preâmbulo para esse novo paradigma, asseverar o

reencantamento do educador, e assim, o nascer de uma nova pedagogia: “A

Pedagogia da Autoridade”; processo de ensino-aprendizagem, coerente, afetivo e

resistente às constantes modificações sociais.

A orientação pedagógica deve ser o grande sustentáculo desse provimento

auxiliando os sujeitos da educação em suas tribulações político-sociais e

econômicas. Faz parte, principalmente do desempenho educativo deste

orientador, promover o desenvolvimento de uma educação para a cidadania,

resgatando a dimensão histórica da escola e reconhecendo o seu papel

fomentador do senso crítico-social. O orientador deve compreender-se integrador

dessa performance valorizando o exercício da autoridade e a sua influência sobre

a estrutura da escola. Dessa forma, facilitando e mediando a reconstrução dos

significados sem recair em modismos, hoje, facilmente aplicado às práticas

educacionais, tornar-se-á um diferencial dentro contexto atual de educação.

Assim, concluímos essa pressuposição acerca da falência da autoridade

docente, identificando os valores adormecidos, hoje, no ambiente escolar,

principalmente na relação entre professor e aluno e a importância do orientador

como mediador, facilitador e introdutor dessa autoridade entre esses sujeitos da

educação.

Esta é a nossa crença: que através da construção da autoridade em

respostas a todos os valores, aqui, apresentados e discutidos, transformem-se os

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professores em verdadeiros educadores; não apenas profissionais, mas, em

pessoas orgulhosas e felizes, assumindo sua profissão como uma tarefa

humanizadora, vivificante; pessoas conscientes de que não se vive a eticidade

sem liberdade e de que “não se tem liberdade sem risco”, ou seja, pessoas que

tenham coragem (FREIRE, 1996, p.93).

Cabe o orientador, através de projetos pedagógicos de formação

continuada, fazer compreender, toda a comunidade escolar que a construção da

autoridade não se dá de outra forma, se não, pela busca da formação

permanente, “não para adquirir títulos, credenciais e diplomas, mas para servirem

melhor aos alunos”. Hoje, a educação necessita, antes de tudo, de mestres “que

se concebam e se assumam como educadores de humanidade, não de uma

disciplina ou de um grau, mas de um projeto, de valores, de uma forma de ser e

de sentir. O trabalho do mestre é missão e não simplesmente profissão. Exige

não só ocupação, mas vocação” (BRAVO, 2007, p.93)

Este trabalho deixa-nos uma esperança, a constituição de uma educação

para a liberdade, dirigida por mestres da vida; homens e mulheres felizes por

serem educadores, capazes, por isso, de suportar, superar, romper e transformar

a si e aos que educam; capacidade gerada a partir da reconstrução da

autoridade, defendida, aqui, como a pedra angular da ação pedagógica.

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BIBLIOGRAFIA CITADA

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WEBGRAFIA CITADA

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ÍNDICE

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FOLHA DE ROSTO

1

AGRADECIMENTO

3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO 1

A ETIMOLOGIA E O CONCEITO DE AUTORIDADE 12

1.1 O Princípio da Autoridade no Processo Educacional 13

1.2 Epítome da pedagogia de Jesus de Nazaré 14

CAPÍTULO 2

A AUTORIDADE EM RESPOSTA AOS VALORES ÉTICOS 18

2.1 A Coerência: o Firme Fundamento da Autoridade 18

2.2 A Confiança: A Maior Condição da Autoridade 22

2.3 A Humildade: Exigência Basilar da Autoridade 24

2.4 Amor: Compromisso Social da Autoridade 29

2.5 O Servir: A Prova Real da Autoridade 34

2.6 A Liberdade: O Desafio da Autoridade 37

2.7 O Diálogo: A Ferramenta Fundamental da Autoridade 40

CAPÍTULO 3

AUTORIDADE: PEDRA ANGULAR DA AÇÃO PEDAGÓGICA

45

3.1 O Produto da Autoridade 46

3.1.1 O Pensar Certo 46

3.1.2 O Respeito 50

3.1.3 A Autonomia 52

3.1.4 A Esperança 56

3.2 A integração do orientador na reconstrução da autoridade docente 59

3.2.1 A Escola e o seu Processo de Evolução Social 59

3.2.2 Orientador Pedagógico na Condução da Liberdade pela Autoridade 61

CONCLUSÃO 65

BIBLIOGRAFIA 70

WEBGRAFIA 72

ÍNDICE 73

Page 72: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · E A INTEGRAÇÃO DO ORIENTADOR PEDAGÓGICO NA ... a Rubem Alves, a Arturo Bravo e a todos aqueles que me ensinaram o que é ...

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Candido Mendes - Faculdade Integrada Avm

Título da Monografia:

Autoridade: Pedra Angular da Ação Pedagógica e a Integração do Orientador

Pedagógico na Reconstrução dessa Autoridade

Autor:

Daniel Gomes Ribeiro

Data da entrega:

15 de Fevereiro de 2011

Avaliado por: Conceito: