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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
O CAMINHO DE UMA RELAÇÃO SAUDÁVEL ENTRE PAIS E
FILHOS EM MEIO A UMA GERAÇÃO EM COLAPSO
Por: Daiana de Souza Leite Antunes
Orientador
Profº. Fabiane Muniz
Niterói
2007
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
O CAMINHO DE UMA RELAÇÃO SAUDÁVEL ENTRE PAIS E
FILHOS EM MEIO A UMA GERAÇÃO EM COLAPSO
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em
psicopedagogia
Por: Daiana de Souza L. Antunes
3
AGRADECIMENTOS
Aos amigos da pós pela amizade que
construímos durante esses meses, aos
professores pela dedicação e exemplos
profissionais e aos meus familiares que
sempre me apóiam nos momentos que
preciso.
4
DEDICATÓRIA
Dedico aos meus pais pelo carinho e
incentivo. Ao meu marido pelo carinho,
compreensão, paciência e apoio
fundamental para realização desse
trabalho. A minha amiga Thais pelo
companheirismo, amizade e incentivo.
5
RESUMO
As dificuldades atuais têm contribuído para que o relacionamento
entre pais e filhos se torne cada vez mais difícil. A sociedade
contemporânea tem criado jovens pervertidos, que cada vez mais se
deixam levar por prazeres e pela orientação de seus pares. De um lado,
observamos os pais numa constante luta para criar os seus filhos,
temerosos, impotentes diante do grande abismo que se abre entre eles.
Por outro lado os filhos estão cada vez mais estressados, confusos, sem
limites, distantes dos pais. Analisando a história da família podemos
observar as grandes mudanças ocorridas até os dias de hoje, a queda
da tradição familiar a mudança dos papéis e a influência culturais e
econômicas que interferiram no modelo familiar. Percebemos também
que atualmente torna-se cada vez mais difícil o relacionamento entre pais
e filhos devido à falta de vínculo, que constitui um elemento fundamental
para o sucesso deste relacionamento. A falta desses vínculos tem
resultado numa busca cada vez mais freqüente por seus pares,
substituindo a orientação de seus pais. Os educadores, similarmente se
deparam com a difícil tarefa de formar crianças e jovens sociáveis,
buscando através da sua prática elementos que propiciem o
amadurecimento emocional e intelectual dos jovens. Apesar de tantos
obstáculos é possível que os pais recuperem o vínculo e estabeleçam um
relacionamento sólido com seus filhos.
6
METODOLOGIA
O presente trabalho será desenvolvido através de estudos bibliográficos,
abordando aspectos fundamentais sobre o relacionamento entre pais e filhos.
Este estudo conterá contribuições de diversos autores que examinaram com
profundidade tal assunto.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I
Breve História:
as gerações passadas e a sociedade moderna 11
CAPÍTULO II
A relação entre pais e filhos, por que está tão difícil? 17
CAPITULO III
Professores: Contribuindo para a formação
da geração em colapso 30
CAPÍTULO IV
Há solução ou caminho possível para recuperar
o relacionamento com os filhos? 36
CONCLUSÃO 43
ANEXOS 45
BIBLIOGRAFIA 51
ÍNDICE 52
FOLHA DE AVALIAÇÃO 54
8
INTRODUÇÃO
”Criar filhos, hoje em dia, está cada vez mais difícil”. Esta é uma frase
corriqueira em nossa sociedade.
Dia após dia, no nosso meio familiar, no trabalho, na escola, nas ruas,
não é difícil ouvirmos tal frase. O relacionamento familiar (pais e filhos) está
desestruturado. Muitos pais se encontram em total desespero, pois perderam o
controle sobre seus filhos, não tem mais autoridade sobre eles. Obter uma
relação saudável, vivendo em meio a uma geração em conflito constitui-se um
desafio para os pais. Sendo assim surge questões tais como: Como os pais
podem obter um bom relacionamento com os filhos tendo que enfrentar os
desafios da sociedade contemporânea, que tanto os afetam nos dias de hoje,
e como os educadores podem estar contribuindo para o sucesso desse
relacionamento?
O colapso da sociedade atual tem afetado diretamente pais, filhos e
educadores. Os pais estão confusos, gerando e criando filhos com conflitos.
Os jovens estão cada vez mais sem limites, deixando prazeres momentâneos
destruírem suas emoções. Os pais têm se sentido cada vez mais impotentes
perante seus filhos.
“Os pais temem que o mundo tenha se tornado menos seguro para os
filhos, e sentem que tem poder para protegê-los. O abismo que se abre entre
crianças e adultos muitas vezes podem parecer intransponíveis.” (Neufeld e
Maté, 2006, p. 19).
O estresse, a ansiedade, a depressão tem frequentemente atingido a
milhões de jovens, “muitos perderam a habilidade de se adaptar, de aprender
coma s experiências negativas e amadurecer. Um número sem precedentes de
crianças e adolescentes agora tomam remédios para depressão, ansiedade e
uma série de outras complicações.” (Neufeld e Maté, 206, p. 20)
Sendo assim este trabalho analisará mais especificamente o panorama
social e cultural da atualidade. No capítulo I, observamos historicamente as
9
mudanças ocorridas na sociedade ao longo dos séculos, os aspectos culturais
que influenciaram na queda da tradição familiar.
No capítulo II, mostramos porque a relação entre pais e filhos hoje está
tão difícil, o que vem interferindo nessa relação, bem como o que está faltando
no relacionamento entre pais e filhos.
No capítulo III, apresentamos a situação dos educadores que
paralelamente estão enfrentando grandes desafios ao lidar com jovens e
crianças cada vez mais desmotivadas, entediadas, menos respeitosas e
receptivas.
Por isso faz-se necessário que os professores desenvolvam hábitos e
estabeleçam vínculos com seus alunos.
Essas ferramentas são fundamentais para estimularem as crianças e
os adolescentes contribuindo para o amadurecimento e formação dos jovens,
mesmo diante dos desafios de hoje.
No capítulo IV, analisamos os caminhos possíveis para os pais serem
bem-sucedidos no relacionamento com seus filhos que estão mais distantes,
agressivos e desobedientes.
Portanto, o principal foco de pesquisa desta monografia é investigar
profundamente os desafios que os pais enfrentam ao se relacionar com os
filhos na atualidade, reconhecendo até que ponto os educadores também
estão envolvidos nesta relação.
No decorrer do trabalho identificaremos os obstáculos mais freqüentes
que os pais enfrentam no relacionamento com os filhos, reconhecendo como
se dá o rompimento do vínculo entre eles. Será avaliado o impacto que a
cultura de pares exerce sobre os jovens e crianças. Refletiremos sobre o
estreito relacionamento que deve haver entre pais / filhos. Forneceremos
meios possíveis de formar crianças e jovens sociáveis e felizes, apresentando
soluções ou caminhos de como pais e professores podem construir uma boa
relação e contribuir para o amadurecimento dos jovens, estabelecendo limites
que ajudam nesse amadurecimento.
Observaremos a importância dos pais criarem vínculos sólidos e
profundos com seus filhos.
10
Muitos pais procuram satisfazer os desejos dos filhos, dando-lhes
presentes, falando coisas maravilhosas, mais esquecem do afeto. Com o
tempo cria-se um abismo emocional entre pais e filhos. Por isso é fundamental
que os pais atentem para a relação com seus filhos, e estabeleçam vínculos,
pois apesar das perdas e dificuldades tão comuns, é possível criar uma
relação de alicerce e de confiança.
Os educadores, ao se depararem com jovens tão despreparados para
a vida precisam ensiná-los a proteger sua emoção, precisam atuar no infinito
mundo da personalidade de seus alunos, a fim de formarem seres humanos
felizes, inteligentes, sociáveis, capazes de sobreviver nesta sociedade
estressante.
Esse estudo monográfico terá como objeto de estudo os pais, filhos e
profissionais da educação, os quais estão diretamente envolvidos na busca por
um relacionamento saudável.
11
CAPÍTULO I
Breve histórico:
As gerações passadas e a sociedade moderna.
As mudanças nas condições de vida em nossa sociedade provocaram
mudança no modelo tradicional de família nuclear. Este modelo de família
nuclear moderno – pai, mãe e filhos - da maneira como é definida hoje em dia,
não foi sempre assim. Contudo, sendo a família uma instituição social, que
desempenha um papel fundamental na vida de cada um que a compõe e para
que possamos entender a importância de uma relação saudável entre pais e
filhos, faz-se necessário analisarmos um pouco da história da família. Como
ela era organizada no passado e como ela se organiza hoje na sociedade
moderna?
Portanto, no presente capitulo será mostrado brevemente aspectos
históricos relevantes e fundamentais para tal entendimento.
1.1 – A família no passado
Na Grécia e na Roma antiga as famílias já estavam constituídas e
recebiam suas leis a partir das crenças religiosas, pelas quais eram
submetidas. A família naquele período era composta por um pai, uma mãe,
filhos e escravos. O pai exercia a autoridade principal da família com afirma
PALADINO:
“O Pai era como mensageiro de Deus, exercendo uma
autoridade quase divina. A família e o culto religioso
perpetuavam-se por seu intermediário, pois só o pai
representava a cadeia de seus descendentes” (2005, p.
101).
12
Diante da posição que o pai ocupava no cerne da família, a mulher
consequentemente exercia um papel menor. “A família, a partir desse modelo,
organizou-se em torno da figura do pai, fechada em sua intimidade e com um
determinado padrão de educação para seus filhos.” (Lzymansky,2003,p.14)
Depois que casava, a mulher era subordinada ao marido, porém isso lhe
produzia dignidade. O adultério era imperiosamente proibido pela religião, que
colocava o homem e a mulher unidos eternamente.
O filho na família também estava submetido à autoridade patriarcal,
sendo imprescindível sua presença nos cultos religiosos. A autoridade do pai
era tamanha que lhe dava o poder de vender ou condenar o filho à morte.
Na cidade antiga cada família tinha sua propriedade, a qual tinha para a
família um valor sagrado:
“No espaço físico estava o divino e o sagrado,
representado por um deus que a protegia e a seus
membros individualmente, escutando suas preces e
acatando seus desejos. A casa era o santuário da
família” (PALADINO, 2005, p. 105).
Foi por volta do século XVIII que a família passou a delimitar uma parte
maior da sua vida particular. Com o tempo certo números de famílias formaram
grupos. Esses grupos alargavam suas idéias religiosas, promulgava seus
decretos e suas leis. As associações à medida que iam se expandindo e
segundo o mesmo princípio iam criando as tribos, as tribos debaixo da
condição do culto de cada uma delas ser respeitada, se aliavam e assim
formou-se a cidade.
A partir do século XVI a mulher começa a ser retratada na iconografia
da idade média:
“Surge à mulher seja como dama do amor cortes ou
como dona de casa observamo-la acompanhando os
cavalheiros a caça, como camponesa ou atendendo, por
exemplo, aos trabalhadores” (PALADINO, 2005, p. 106).
13
O homem portando, não estava mais sozinho, a mulher e a família
participavam do trabalho, estando mais tempo ao lado do homem.
E a educação como era administrada? Como mostra PALADINO:
“Apesar de a escola existir para situações especiais
(clérigos, por exemplo), de modo geral, a transmissão do
conhecimento de uma geração para outra era garantida
pela participação familiar das crianças na vida dos
adultos” (2005, p. 107).
Os laços familiares começaram a ser reconhecidos socialmente e “a
educação e a criação de crianças nascidas da união de um casal passa a ser,
cada vez mais, da responsabilidade da família.” (Áries,1973,p.194)
O pintor Pieter Bruegel que viveu no século XVI, em jogos infantis,
retrata como era a educação na Idade Média (anexo 1). As crianças passavam
a maior parte do tempo com os adultos. Era dever da família educar os filhos,
portanto as brincadeiras das crianças faziam parte do mundo dos adultos.
De modo lento a educação que fazia parte do mundo dos adultos, foi
progressivamente caminhando para a escola, instrumentalizando a iniciação
social da infância à condição de adulto. Certamente estas mudanças ocorridas
na organização familiar fortaleceram o sentimento da família.
Da família medieval a do século XVII modificações importantes
aconteceram, embora tenham se limitado aos nobres, burgueses, artesãos e
lavradores ricos. O sentimento de casa/lar aproximou o sentimento de família,
que sofreu poucas mudanças a partir do século XVIII e até o fim do século XX.
Sem dúvida diante deste cenário, observamos uma organização
imutável, submetida à autoridade patriarcal. E na sociedade atual, como se
organiza a família?
O modelo familiar mudou!
14
1.2 – A família na sociedade moderna
A partir dos anos 1960, surge a família dita contemporânea. A
transmissão da autoridade vai se tornando cada vez mais difícil, não há
respeito, não há diálogo a medida que as separações e as reorganizações
conjugais aumentam.
Hoje a valorização se dá em questões simbólicas como regras de
aliança, filiação e relações entre os irmãos. Valoriza também a divisão do
trabalho entre os cônjuges e coloca a criança como centro, delegando aos pais
a responsabilidade em encaminhá-la para a educação, agora
institucionalizada.
Diante dessa nova ordem, o poder patriarcal antes autoridade máxima,
hoje não desempenha um papel tão coercitivo. Após a segunda guerra
mundial, a ciência desenvolveu métodos como pílula, e outros
anticoncepcionais que fizeram com que as mulheres pudessem, com muita
luta, abrir mais espaço para seu desejo. Assim, a mulher, progressivamente,
foi se individualizando. Os divórcios, “produções independentes”, passam a ser
comuns contribuindo para o declínio da função paterna. As mulheres podem se
observadas na condição “mono parental”, administrando seus lares, criando
seus filhos, sem que precise da presença do pai. A quebra do modelo familiar
anterior, com a perda da autoridade paterna e a inclusão da mulher no
mercado de trabalho, são fatores que contribuíram para a crise familiar atual.
Em caráter sagrado, a família moderna se mostra totalmente frágil. Nesse
aspecto concordamos com PALADINO quando diz:
“A família moderna assemelha-se a uma tribo insólita, a
uma rede, assexuada, fraterna, na qual cada um se
sente autônomo ou funcionalizado” (2005, p. 114)
Na nossa sociedade a relação entre pais e filhos esta cada vez mais
insólita, os pais e os filhos não mais dependem uns dos outros. A educação
dos filhos não é dada somente pela família, ou pelo “pai”, essa educação
15
extrapola o contexto familiar, advindo também dos meios de comunicação, dos
pares (companheiro da escola) e de sua experiência pessoal.
Sendo assim o princípio da autoridade no seio da família, visto como
referencial, encontra-se em crise, o que nos aponta para um cenário decaído
onde os jovens solicitam referencias diante do abandono (perda da autoridade
paterna e a inclusão da mulher no mercado de trabalho) em que se encontram,
necessitando buscar elementos importantes para o fortalecimento da sua
identidade, como diz PALADINO:
“O Clima de liberdade que encontraram com sua família,
a extensa gama de opções e estímulos e fontes de
informação que a sociedade contemporânea tem
oferecido e o acesso aos especialistas na “retaguarda”
de sua formação parecem não garantir a necessidade de
proteção e acolhimento” (2005, p. 116).
A queda da tradição da vida familiar acarretou até mesmo na duvida dos
pais em criar seus filhos, cada vez mais os pais tendem a acreditar no excesso
de conselhos que a mídia apresenta. Como mostra Paladino, “surge uma
espécie de ‘terceirização’ das funções materna e paterna” (2005, p. 128).
Não raro observamos, filmes, comerciais, novelas, que dão dicas, de
como se criar filhos, normas ou podemos dizer, receitas para os pais e filhos
lidarem uns com os outros. A mídia tem ditado as regras, glamourizando o
consumo e a estética. Sendo assim, o adulto perdido diante das normas
educacionais especializadas bem como das pressões ao consumo se vêem
em um grande conflito quanto aos limites e os valores pessoais que serão
transmitidos aos seus filhos. Esta é a tensão da relação entre pais e filhos na
sociedade atual.
Como vimos anteriormente, a autoridade sobre as relações entre pais e
filhos se limitava exclusivamente aos pais, porém com o desenvolvimento do
capitalismo mudanças significativas ocorreram, interferindo assim neste
modelo familiar.
16
Diante da compreensão das mudanças relevantes que ocorreram no
âmbito familiar de geração para geração, buscou-se o entendimento da
organização familiar em dois momentos: passado e presente. Portanto,
reconhecendo à queda na tradição da vida familiar e a substituição da mesma
por excesso de conselhos e pressões externas, a relação entre pais e filhos
tem sido bastante conturbada. O que então pode estar dificultando tal
relacionamento? O que está faltando na relação pais e filhos?
No capítulo a seguir será analisada a relação entre pais e filhos
ameaçada pela cultura de pares e falta de vínculos, bem como as
possibilidades de facilitar tal relação.
17
CAPITULO II
A relação entre pais e filhos, por que está tão difícil?
Vez após outra ouvimos relatos de rebeldia adolescentes, e de pais
preocupados com os comportamentos de seus filhos, de pais que buscam
conselhos sobre como agir diante da mudança de comportamento dos filhos.
Esses relatos nos dão evidência de quão turva tem sido a relação entre
pais e filhos. Cabe-nos então perguntar: Por quê? Seriam os pais os maiores
culpados, ou seriam os filhos? Seria a falta de limite os se trata apenas de uma
rebeldia momentânea? Para entendermos tais questões é necessário analisar
o papel de cada um dos envolvidos nessa relação bem como o contexto social
no qual estão inseridos.
Como vimos no capítulo anterior, a família contemporânea tem vivido
uma grande crise, portanto a responsabilidade desta como principal geradora
de padrões morais e éticos tem sido cada dia que passa maior. Sem dúvida,
arcar com essa enorme responsabilidade se torna uma tarefa mais e mais
difícil e muitas vezes podem parecer até mesmo impossíveis de ser alcançada.
O sentimento de insegurança, culpa e preocupação fazem parte do dia-
a-dia de muitos pais. Como se sentem os pais vendo o caos em que se
encontra a sociedade atual? Impunidade, desonestidade, violência,
desrespeito, insegurança, etc.
Frente a tudo isso, os pais, repentinamente se sentem receosos e
inseguros. Soma-se a tudo isto as influências extremamente fortes dos meios
de comunicação de massa, incentivando o consumismo, a adoção de valores
materiais imediatistas. Além disso, mudanças rápidas na tecnologia têm
permitido que uma cultura comercial e enlatada chegue às casas e a mente do
filhos. A mudança mais significante dos últimos tempos é a tecnologia da
comunicação. Essa tecnologia instantânea até mesmo substitui o que
antigamente era passado por meio dos costumes e tradições, de geração para
geração como mostra Zagury:
18
“O que não se pode é ignorar que a mídia eletrônica é
um veículo que tem, por força do poder da imagem (que
vale mais do que mil palavras, como sabido), capacidade
de inculcar idéias, costumes, modas e valores” (2004, p.
74).
Assim os pais se defrontam com um contexto que os leva a questionar
valores até então incorporados e transmitidos geração após geração, quase
automaticamente. Por isso se perguntam sobre o instrumental correto que se
devem dar aos filhos para que haja uma relação segura entre eles. Os pais se
vêem frustrados diante da tarefa árdua de criar filhos segundo Neufeld e Maté:
“Nós lutamos para viver de acordo com a maneira
idealizada de se criar os filhos. Ao não alcançar os
resultados que esperavam, os pais suplicam, adulam,
subornam, recompensam ou castigam... Sentimos nossa
frieza em momentos de crise, exatamente quando, na
verdade, gostaríamos de convocar nosso amor
incondicional. Como pais, ficamos magoados e nos
sentimos rejeitados. Colocamos a culpa em nós mesmo
por falhar na tarefa de criar os filhos...” (2006, p. 19).
Os pais não se sentem capazes de guiar os filhos para que eles
alcancem com suas próprias pernas o seu potencial máximo. O temor de que o
mundo se tornou menos seguro e que eles não terão poder para proteger os
filhos o consomem, mesmo que inconscientemente. Assim muitas vezes,
perseguidos por essa insegurança tendem como diz Zagury: “Deixar as coisas
correrem mais frouxas” (2004, p. 23).
Essas atitudes, são reflexo da impotência que os pais se vêem, assim
lançam mão de soluções simplistas ou autoritárias.
E os filhos, como reagem diante da incansável tentativa dos pais em
criá-los. Como se comportam os jovens hoje?
19
As atitudes dos filhos também têm mudado de geração para geração.
Se os nossos avós viviam reclamando dos nossos pais, que eram menos
respeitosos e disciplinados do que eles naquela idade, hoje os nossos pais
reclamam ainda mais de seus filhos, eles sabem intuitivamente quando alguma
coisa esta errada.
Os filhos de hoje estão cada vez mais rebeldes é o que afirma Neufeld e
Maté:
“As crianças de hoje não são mais como na nossa
época. Elas já não aceitam tanto a orientação dos
adultos e não tem mais medo de se meter em apuros.
Elas também parecem menos inocentes e ingênuas e
perderam aquela curiosidade que leva uma criança a se
interessar pelo mundo... Muitas crianças parecerem
artificiais e até mesmo estressadas, tentando estar
maduras antes da hora.” (2006, p. 18).
Como vimos têm se tornado cada vez mais difícil criar filhos, é difícil
lidar com eles. Muitos jovens em desenvolvimento estão sem “chão”, perderam
ser porto seguro, seja nas casas, escolas ou comunidade. Muitos estão mais
propensos à alienação, ao uso de drogas, a violência, não tem se quer um
objetivo na vida, não fazem planos.
Os jovens têm autocontrole.
Sisto e Martinelli definem o autocontrole quando diz:
“O autocontrole é uma variável que pode ser definida
como uma forma de controlar o próprio comportamento
em situações de conflito, de acordo com padrões
definidos pela sociedade” (2006, p. 145).
20
Principalmente na adolescência, os jovens passam por uma verdadeira
crise e conflitos. A psicanálise considera a transição adolescente associada a
mudanças fisiológicas e psíquicas tão importantes, que acaba por gerar uma
visível desestabilização.
Como mostra Paladino:
“A partir da puberdade, o corpo infantil é deixado de lado,
e toda carga hormonal do futuro adulto entra em ação,
determinando a entrada num novo ciclo, em que um novo
corpo e novas sensações, trazem também uma
percepção e pensamentos mais sofisticados. Cargas
pulsionais conflitivas, ligadas aos conflitos da infância,
nesta fase podem voltar à tona com força total, gerando
questões psíquicas intensas.”” (2005, p.48 ).
Os jovens fazem parte de uma sociedade em crise. No primeiro capitulo,
observamos como a sociedade contemporânea é, e como essa sociedade em
crise afeta o contexto familiar.
Não queremos com isso culpar a sociedade por todos os problemas
existentes na relação entre pais e filhos. No entanto, não podemos negar que
vivemos em uma “sociedade depressiva” (Roudinesco, 2000).
A sociedade oferece aos jovens uma gama de opções e estímulos,
trazendo-lhes a impressão de liberdade. Essa diversidade de opções deixa os
jovens em um grande vazio, sem estabilidade. Desta forma, os jovens passam
a buscar na vida social e na vida com grupos, os seus modelos e referências.
Nessa constante busca cada vez mais os pais tem perdido a posição de
orientadores dos filhos. O lugar tem sido preenchido pelo grupo de pares.
Embora os pais sejam bem intencionados, compreensivos, é preciso
tem uma base sólida para se criar os filhos.
Há um tipo de relacionamento, pelo qual é possível conseguir uma base
sólida. Esse tipo especial de relacionamento é chamado pelos cientistas que
estudam o desenvolvimento humano como: relacionamento de vínculo.
21
2.1 – A falta de vínculo
Para que uma criança queira se tornar próxima a um adulto, queira
manter um contato com ele, e se mostre disposta a ser educada, precisa ter
um vínculo com ele, segundo Neves:
“O vínculo é uma estrutura dinâmica em continuo
movimento, englobando sujeito e objeto. A todo momento
é estabelecido pela totalidade da pessoa” (sem data).
No começo da vida, esse sentimento de vínculo é muito mais físico – a
criança literalmente se agarra aos pais e precisa de que eles a segurem, ela
tem o desejo de manter uma proximidade com os pais.
Quando as crianças não possuem esse tipo de conexão com aqueles
que são seus responsáveis, tornam-se muito mais difícil criá-las, e muitas
vezes até ensiná-las.
Como mostra Neufeld e Maté:
“Quando uma criança tem um vínculo forte conosco,
somos seu porto seguro do qual ela lança para desbravar
o mundo, seu esconderijo se ela decidir recuar, sua fonte
de inspiração. Nem todas as técnicas e criação dos filhos
no mundo podem recompensar a falta de um
relacionamento de vínculo.” (2006, p. 21, 22).
Devido essa importância do vínculo entre pais e filhos, que esse
relacionamento precisa ser durável, pelo menos enquanto ela dever ser criada.
È nesse momento que surgem os empecilhos.
22
Pais e filhos não têm recebido o apoio necessário da cultura e da
sociedade para que o vínculo entre eles perdure. Mesmo quando esses
relacionamentos parecem ser fortes, a princípio cheio de cuidados, a qualquer
momento podem ser abalados, quando os filhos ingressam em um mundo que
não valoriza nem encoraja essa ligação.
No campo psicológico, o vínculo é o centro dos relacionamentos e da
dinâmica social, e no aspecto humano, pode-se dizer que o vínculo é a busca
e a preservação do que é próximo, íntimo e ligado, tanto no âmbito físico,
comportamental, emocional ou psicológico. Em sentido material, embora o
vínculo seja invisível, é fundamental para nossa existência, pois sem ele uma
família não pode existir.
O vínculo faz funcionar os instintos tanto dos filhos como dos pais.
Quando o vínculo funciona é preciso apenas seguir automaticamente nossos
instintos. No entanto, quando os vínculos estão comprometidos, os instintos
também estarão.
Se isso acontecer é preciso agir!
Portanto “se os pais desejam manter um relacionamento de vínculo
saudável com seus filhos não devem apenas ter consciência do vínculo, mas
sim precisam conhecê-lo de perto. Temos de sentir o vínculo na pele.” (Neufeld
e Maté, 2006).
Para a criança que está em desenvolvimento, o vínculo é o fator mais
importante na vida psicológica, assim como na vida de muitos adultos.
O vínculo é crucial para educar os filhos, criá-los, ou seja, o vínculo
permite uma ajuda ao relacionamento com os filhos, ele fornece um ponto de
referência para quem busca o vínculo. Concordamos com Neufeld e Maté
quando diz:
“As crianças precisam ficar vinculadas emocionalmente a
nós até que possam tocar a própria vida, pensar por si
mesmo e escolher uma direção a seguir” (2006, p. 36).
23
Os pais, sem dúvida, são os melhores pontos de referência que a
criança pode ter. A escolha do ponto de referência é uma questão de vínculo.
Os filhos buscam essa orientação em quem estão mais próximos deles.
Quando são orientados por seus pares são eles que ditam, por exemplo, o que
é bom, o que está na moda, o que irão vestir. Se os pais não conseguem ter
um relacionamento de vínculo saudável com seus filhos, os seus pares (os que
estão mais próximos deles) serão seus pontos de referência.
Como já mencionado, os filhos, principalmente os adolescentes se
encontram muitas vezes desorientados. Até certo ponto é natural que aconteça
desta forma. Por vários motivos já mencionados eles se encontram num vazio.
Desta forma pode-se dizer que os vínculos estabelecidos pelos filhos com seus
pares funcionam como uma maneira de não se sentirem perdidos e
desnorteados.
Contudo para que os pais possam ajudar os filhos, eles precisam
entender o ponto de vista dos filhos. Compreendendo o vínculo isso se torna
mais fácil, pois os pais conseguirão identificar nos seus filhos sinais e
comportamento que evidenciam esses tipos de vínculos.
Os autores Neufeld e Maté apresentam seis tipos de vínculos que os
filhos empregam. Esses vínculos vão do mais simples ao mais complexo. São
eles:
2.1.1 – Sentidos
Esse tipo de vínculo refere-se à proximidade física. Mesmo começando
na infância esse desejo de se aproximar fisicamente de alguém nunca
desaparece. À medida que a pessoa amadurece mais se apoiará nesse
vínculo. Para Neufeld e Maté a criança precisa sentir a pessoa na qual possui
ligação, seja através do toque, do cheiro, da visão, ou audição. Torna-se uma
necessidade manter tal contato. Quando há um rompimento desta
proximidade, a criança dará sinais de protesto.
2.1.2 – Uniformidade
24
O sinal deste tipo de vínculo se dá quando a criança está aprendendo
andar, pois ela busca assumir jeitos, expressões por imitação ou por rivalidade
de quem ela está mais próxima.
A identificação também é um modo de desenvolver um vínculo por meio
da uniformidade. Pois quando nos identificamos com alguém ou com alguma
coisa é como se tornássemos aquela pessoa ou coisa. Ou seja, é muito mais
fácil nos identificarmos com alguém que nos sentimos próximos. O grau de
intensidade desta identificação será medido de acordo com o grau de
dependência dessa pessoa. “Portanto quanto mais dependente uma criança
for, mais intensa essas identificações podem ser”.(Neufeld e Maté,2006)
2.1.3 – Posse e lealdade
Assim como o primeiro tipo de vínculo este aparece quando a criança
está aprendendo a andar. A criança sente a necessidade de ficar próxima a
alguém. Para ela é como se a pessoa lhe pertencesse.
Estabelecido o vínculo com tal pessoa ou coisa, a criança se sentirá no
direito de reivindicar a posse. Entre os adolescentes e crianças isso é muito
comum. A velha história de quem é o amigo de quem, é uma questão que gera
muitos conflitos entre eles.
No encalço da posse vem a lealdade. A fidelidade ou lealdade é vital a
quem estamos vinculados. Segundo, Neufeld, mesmo a lealdade sendo
profunda ou intensa, se o vínculo da criança muda, os sentimentos de posse e
lealdade também serão afetados.
2.1.4 – Importância
Quando somos próximos ou ligados a alguém, buscamos a importância.
Precisamos sentir que fazemos a diferença para tal pessoa. Ser querido, ficar
perto de quem gostamos, é algo que faz parte da natureza humana. O perigo,
portanto, se dá quando não fazemos diferença para a pessoa que
25
gostaríamos. Esse tipo de vínculo pode causar dores ou mágoas para a
criança. Buscar satisfação e importância nem sempre pode resultar em bem-
estar. Pois, como diz Neufeld “pedir a aprovação de alguém pode levar a
criança a se machucar, se houver sinais de reprovação.” (2006, p.43)
2.1.5 – Sentimento
Vínculo e emoção estão sempre ligados. Buscamos proximidade a
alguém por meio de sentimentos de carinho, amor e de afeição. Para a criança
que está em idade pré-escolar, que sente tudo profundamente, é muito
importante essa intimidade emocional. Depois que a criança experimenta esta
intimidade ela carrega a imagem da pessoa a qual está vinculada.Segundo
Neufeld, geralmente as crianças acabam se apaixonando pela pessoa a quem
estão vinculadas. No caso dos pais, os filhos guardam a imagem em sua
mente, encontrando apoio, segurança e conforto.
2.1.6 – Ser conhecido
Geralmente esse tipo de vínculo acontece quando a criança entra na
escola. De modo similar ao vínculo por meio dos sentidos, a criança precisa
ser ouvida e ser vista. Porém as sensações agora são mais psicológicas do
que físicas.
“Sentir-se próximo de alguém é também ser conhecido por esta pessoa.”
(Neufeld e Maté, 2006, p.44). Se expor psicologicamente para alguém nos
deixa, até certo ponto vulneráveis demais. Por isso, os filhos muitas vezes
relutam em compartilhar suas preocupações e suas inseguranças mais
profundas, temendo serem mal compreendidos.
Todavia, não há maior proximidade, que a sensação de se sentir
conhecido, querido, bem vindo e convidado a existir.
26
Esses seis tipos de vínculos revelam um único desejo, desenvolver uma
ligação com alguém. Se o desenvolvimento acontece de maneira saudável, diz
Neufeld e Maté:
“Esses vínculos se entrelaçam em uma forma de ligação
mais forte, que preserva a proximidade mesmo sob as
circunstâncias mais adversas.” (2006, p. 45).
Quando uma criança esta vinculada a alguém haverá muitas maneira de
se manter próximas, mesmo que fisicamente ela esteja distante. O vínculo
entre pais e filhos só trará benefícios para ambos. Isto porque, os pais são
vistos pelos filhos como principal ponto de referencia e o relacionamento com
eles continuará a ter prioridade. Por isso torna-se necessário que os pais
invistam nessa relação com os filhos.
Cury ressalta a importância do vínculo:
“A única maneira de educara emoção é criar vínculos
sólidos e profundos” (2003, p. 22).
Assim o vínculo é fundamental tanto para formação da personalidade
quanto para o relacionamento duradouro entre pais e filhos. Ele assegura a
dependência da criança em relação aos pais. Os pais que construírem um
relacionamento de vínculo forte poderão ser pais bem sucedidos e
competentes.
Como já analisado, por vários motivos os pais tem perdido o lugar como
orientadores de seus filhos. Esse lugar tem sido competido com os pares de
seus filhos, através de um relacionamento de vínculo importante: O vínculo
com os seus pares.
2.2 – A orientação por pares
27
A orientação, ou o desejo de saber e conhecer o que, quem está ao
nosso redor, onde estamos, é uma necessidade fundamental do ser humano.
Crianças e jovens precisam ser direcionadas por alguém, devido a um instinto
de orientação que é inato. Paladino confirma:
“Durante a juventude acrescenta-se a necessidade de
companheiro, enquanto modelos indispensáveis para o
aprendizado...” (Paladino 2005, p. 57 apud Sullivan 1953,
pp. 290-291).
Entretanto, os jovens não têm procurado orientação dos pais ou adultos
responsáveis, mais sim de seus próprios pares, ou seja, em pessoas que
nunca tiveram a intenção natural de assumir esse papel. Quando o filho
percebe que não há um adulto ao seu lado ou por perto, a tendência é que ele
busque a orientação de quem está mais próximo a ele. O vínculo e a
orientação estão entrelaçados de modo inseparável, portanto quanto maior for
o vínculo da criança com seus pares, mais propícia estará para receber a
orientação por eles.
Segundo Neufeld e Maté:
“Quando uma criança se torna tão ligada a seus pares
que gostaria de ser como eles e ficar com eles o tempo
todo, os pares, em grupo ou isoladamente, se tornam
seu ponto de referencia. É nos pares que ela irá buscar
proximidade. Ela irá procurar nos pares a dica para saber
como agir, o que vestir, como montar seu visual, o que
dizer, o que fazer. É nos pares que a criança irá buscar
intimidade. Seus pares ditarão o que é bom, o que esta
na moda, o que é importante e até mesmo a maneira
com a criança se enxerga ” (2006, p. 38).
28
Talvez nos perguntemos: Até que ponto a companhia de colegas, ou de
outras pessoas pode ser prejudicial? Ou o que há de errado de um filho ser
orientado pelos seus pares?
A orientação (seja por quem for) sob a criança é natural. É possível e
até desejável que as crianças desenvolvam uma relação de vínculo também
com seus pares, contanto que os vários vínculos não compitam entre si. Para
Neufeld e Maté, quando há uma competição entre estes vínculos um deles sai
perdendo. É difícil obter sucesso em um relacionamento no qual há vários
pontos de referência, ou seja, no relacionamento com os pais os filhos
recebem valores, mensagens, conselhos que são exclusivos do seu meio
familiar. Com seus pares as crianças também são expostas a outros tipos de
valores. Assim a competição entre estes relacionamentos de orientação, com
valores e mensagens conflitantes, acaba por deixar à criança confusa, sem
motivação.
A criança ou jovem, diferente do adulto amadurecido sentem muito mais
necessidade de desenvolver vínculos. Por serem imaturas não conseguem
tolerar duas formas de orientação com a mesma força, uma delas não terá
sucesso. Desta forma a competição pode ser prejudicial, pois o filho pode se
aproximar dos colegas e desligar-se dos pais.
Neste sentido concordamos que:
“Nada é neutro quando se trata de vínculo. O vínculo
divide o mundo da criança entre as pessoas que ela
gosta e as outras que são indiferentes para elas, as
pessoas que a atraem e a que elas repelem, as pessoas
com que ela busca proximidade e as outra que devem
ser evitadas” (Neufeld e Maté, 2006, p. 49).
Como vimos até aqui, a falta de vínculos no relacionamento entre pais e
filhos, pode gerar graves conseqüências. Conscientes da turbulência que
29
vivemos em nossa sociedade atual, das influências que os filhos sofrem, dos
meios de comunicação de massa, da violência, das drogas, e tantas outras
que observamos todos os dias, é mais que urgente que os pais tentem reverter
a situação. Desde cedo os pais devem estar preocupados com a relação entre
eles e seus filhos, pois os problemas que afetam os filhos enquanto
adolescente rumo à vida adulta podem ser amenizados ou até solucionados
durante a infância.
O colapso da cultura atual não está a favor dos pais que buscam um
relacionamento com seus filhos. Já que a cultura dominante não guia os filhos
na direção certa, os pais são mais importantes que nunca nesta tarefa. O
relacionamento entre pais e filhos precisa estar em seu devido lugar. Se este
ocupa o centro da dificuldade no que se refere à criação e a educação dos
filhos, precisa estar também no centro da solução do problema.
O impacto da cultura tem afetado não só a relação pai/filho, mais também a do
professor/aluno. O próximo capítulo abordará a contribuição dos educadores
para a formação da geração atual.
30
CAPITULO III
Professores: Contribuindo para a formação da geração
em colapso.
Dentro de um novo contexto social e cultural, não é de se estranhar a
decadência na relação professor – aluno. A dificuldade no relacionamento dos
jovens com seus orientadores se instalaram na escola. Nem mesmo os
professores têm obtido êxito na formação de cidadãos sociáveis.
A gradual e radical queda na tradição familiar bem como a influência da
cultura dominante, dos meios de comunicação de massa e dos seus grupos de
companheiros tem refletido na educação. Como mostra Mrech:
“... atualmente, um sintoma social que atinge a maior
parte dos processos educacionais: a falência na relação
professor-aluno. Por falência estamos entendendo a
situação em que o professor se vê impossibilitado em dar
comprimento às suas obrigações por sentir que lhe
faltam determinados conteúdos, sejam eles de base
emocional, teórico – prático ou financeiras.” (2003, p. 39).
Constitui-se um grande desafio, educar uma geração doentia,
pervertida. A educação tornou-se fria, seca, sem tempero emocional. Nunca os
conhecimentos médicos e psiquiátricos foram tão grandes e tão consultados.
Adolescentes e crianças desenvolvendo obsessão, depressão, fobias,
agressividade. Outros se drogando em busca de momentos de prazer. Jovens
e adultos sempre estressados.
Não existe educação sem desafio!
É preciso superar a crise, afim de que se possa atuar com eficiência no
mundo dos jovens, desenvolver hábitos que contribuam para formação de um
31
indivíduo pleno e capaz. É necessário, estabelecer vínculos a fim de que haja
um relacionamento de confiança e respeito com os alunos.
Vivemos em tempos de crise, portanto:
“Precisamos ser educadores muito acima da média, se
quisermos formar seres humanos inteligentes e felizes,
capazes de sobreviver nessa sociedade estressante.”
(Cury, 2003, p. 16).
A seguir discutiremos hábitos e caminhos possíveis pelos quais os
educadores poderão lançar mão com o objetivo de formar cidadãos
responsáveis e sociáveis.
3.1 – Hábitos que formam educandos sociáveis
Os educadores que desejam contribuir para a formação dos seus
educandos precisam primeiramente ter consciência dos empecilhos que
atingem diretamente a relação professor – aluno e tentar vencê-los. A
sociedade valoriza e estimula os adolescentes e crianças a terem atitudes
individualistas. Em contrapartida os professores podem dar aos estudantes
caminhos para que reconheçam seus sentimentos e atitudes, tornando-os mais
responsáveis e contribuindo para o seu crescimento.
Cury defende alguns hábitos que os professores podem adquirir para
estimular as crianças e adolescentes.
Apresentaremos alguns deles a seguir:
3.1.1 – Conhecer o funcionamento da mente
Conhecendo o funcionamento da mente podem educar melhor, trazendo
informações que enriquecem o aluno, transformam o conhecimento em
experiência.
32
O sistema social tem estimulado assustadoramente o pensamento dos
jovens. Para Cury, a juventude hoje não pensa como as de antigamente.
Entendendo a mente do aluno, o professor pode utilizar ferramentas que
atendam a necessidade dos alunos.
3.1.2 – Usar a sensibilidade
Com sensibilidade os professores protegem a emoção dos alunos sob
tensão, não deixando que tensões, agressividade e atitudes impensadas dos
alunos tirem sua tranqüilidade. Procura compreendê-los e acolhê-los. Esse
hábito contribui para o desenvolvimento da auto-estima e favorece a
socialização. Segundo Cury,o professor precisa ser o mestre da sensibilidade.
3.1.3 – Ser um mestre inesquecível
Esse hábito influencia os alunos a ponto de deixar marcas para sempre
um suas vidas, claro que marcas positivas. Quando um mestre é inesquecível,
deve-se ao fato de ter consciente ou inconscientemente deixado sementes que
jamais serão esquecidas. Como afirma Cury, “ser um mestre inesquecível é
formar seres humanos que farão diferença no mundo.” (2003, p.72).
Ao considerarmos tais hábitos, talvez pareça utópico, aplicá-los no
cotidiano da sala de aula, principalmente nos dias de hoje. Porém podemos
perceber uma carga de afetividade que perpassa cada um deles.
Para formar educandos sociáveis, é extremamente importante e
necessário entender o que é afetividade, e por que ela é fundamental na
formação de pessoas felizes, éticas, seguras e sociáveis.
Piaget considera que na conduta humana estão presentes aspectos
afetivos:
“À afetividade caberia então o papel de uma fonte de
energia da qual dependeria o funcionamento da
33
inteligência, porém não suas estruturas...” (1954/1994, p.
188 apud Sisto e Martinelli, 2006, p. 32).
Portanto, para Piaget no funcionamento da inteligência, a afetividade é
fundamental. Isso deixa claro que todo comportamento humano envolve tanto
inteligência como afetividade. A afetividade é uma energia que sustenta as
ações do sujeito. (anexo 02)
Então porque não deixar que a afetividade impulsione nossas ações
como educadores? Porque não usamos a afetividade como uma mola
propulsora para formar cidadãos sociáveis?
Há de se concordar que temos bons motivos para isso.
No capítulo anterior foi abordada a importância do vínculo na relação
entre pais e filhos. De modo similar, no relacionamento professor/aluno o
vínculo se torna imprescindível.
3.2 – Os vínculos e a relação professor / aluno
Quando uma criança estabelece vínculo com alguém é porque ela se
sente próxima desta pessoa. Ela confia, se sente segura a ponto de ser
orientada por tal. A pessoa pela qual a criança está vinculada passa ser o seu
ponto de referência.
Quando o professor está disposto em criar vínculos com seus alunos, a
aprendizagem do aluno estará mais propensa a ser bem-sucedida.
Como afirma Neufeld e Maté:
“A capacidade de qualquer aluno de ser ensinado é o
resultado de muitos fatores: um desejo de aprender e
entender, um interesse pelo desconhecido, uma
disposição de correr riscos e uma abertura para ser
influenciado e corrigido. Também requer uma conexão
com o professor, uma inclinação a prestar atenção, uma
disposição de pedir ajuda aspirações para alcançar e se
34
inspirar, e, não menos importante, uma propensão ao
trabalho. Todos esses fatores estão enraizados no
vínculo ou afetados por ele.” (2006, p. 231).
Como vimos o vínculo ajuda os jovens no seu processo de
aprendizagem. Se o professor cria uma conexão, um vínculo com seu aluno,
ele os conquista, ele adquire um poder natural de orquestrar o comportamento
dessa criança, instigando boas intenções, mostrando os valores da sociedade,
guiando-os nos caminhos para uma boa educação.
Os professores quando tem algum vínculo com seus alunos tem o poder
de guiar seus alunos para dois caminhos inversos: o da má educação e o da
boa educação, pois os alunos tendem a seguir aqueles com quem têm algum
vínculo. Portanto, cabe aos educadores, analisar, até que ponto, está desejoso
de comprometer-se com a formação de seus alunos.
Educadores comprometidos com sua prática docente podem ser bem-
sucedidos no relacionamento com seus alunos, ao estabelecerem vínculos.
Giacom, professor de história, atribuiu o seu sucesso nas aulas a
seguinte postura:
“Tenho um vínculo afetivo com a classe, uma relação de
amizade” (2005, p. 47).
Este professor é um exemplo de que é possível criar vínculo com os
alunos.
Diante do que está sendo analisado verificamos que apesar de tanta
barreira, o relacionamento entre pais e filhos nessa sociedade pode ser
mudado para melhor. Os professores e os educadores podem estar
contribuindo para isso. Isto se deve a posição que cada um ocupa, perante os
jovens.
Pais e professores ocupam funções sociais de autoridade, que impõe
grandes responsabilidades, entre as quais negarem certas coisas e impor
35
limites. Os professores devem guiar seus alunos numa conduta baseada no
bom senso, na sensibilidade, na observação e conexão constante com aluno.
Quando os limites, são oferecidos, precisam ao menos fazer parte do
estilo, da personalidade deste filho ou aluno, aplicado ao contexto de vida da
criança e do jovem, mais não como uma imposição, remetendo a uma
perspectiva ditatorial, não conciliatória.
Os limites são essenciais na formação das pessoas bem como nas
práticas educativas. A ausência deles acarretará em danos na formação da
personalidade das crianças e jovens.
No que diz respeito à necessidade dos limites, Ricotta explica:
“Os limites são fronteiras necessárias para o respeito
mútuo entre pessoas. Capaz de proporcionar um vínculo
de confiança entre quem estabelece e quem se beneficia
dele.” (ano 4. nº 23, p. 05).
Todavia é imprescindível para nossa consciência e desenvolvimento
crítico, vivenciar limites. Tantos os pais como os educadores precisam
compreender que os limites estão assegurados quando passarem a se
constituir aprendizados internalizados, no processo diário e constante de ações
educativas. Os professores podem sim conduzir o processo de formação dos
jovens, contribuindo para melhor funcionamento das relações entre eles e seus
pais, vencendo situações mais adversas nesses tempos de crise.
Diante das informações consideradas até agora temos razões para
acreditar no relacionamento saudável entre pais e filhos. Que caminhos ou
soluções estão disponíveis para os pais recuperarem o relacionamento com
seus filhos? É o que veremos a seguir.
36
CAPITULO IV
Há solução ou caminho possível para recuperar o
relacionamento com os filhos?
No decorrer deste trabalho foi possível perceber que o relacionamento
entre pais e filhos está realmente difícil. A sociedade perdeu o contato com
seus instintos de paternidade, os filhos não estão mais se conectando com os
seus pais, mas sim com os pares.
De modo inconsciente os pais têm permitido que as pressões da
sociedade atual tenham desgastado o relacionamento de vínculo.
Mas, agora temos de olhar para as soluções, para os caminhos que
levam ao resgate dessa situação. È hora de retomar o relacionamento entre
pais e filhos. Os pais precisam colocar como prioridade a tarefa de acolher os
seus filhos, atraindo-os para debaixo de suas asas, fazendo com que eles
queiram pertencer-lhos e ficar junto deles.
Por mais que os pais criem os seus filhos com amor e com a melhor das
intenções, é necessário estar atento, pois o laço entre eles pode não perdurar
por muito tempo.
Como diz Neufeld e Maté:
“Enfrentamos competições de mais. Para compensar o
caos cultural dos nossos tempos, precisamos criar o
hábito de reconquistar nossos filhos diariamente e
repetidamente...” (2006, p. 245).
37
A função mais essencial para os pais que tem o objetivo de atrair os
seus filhos, é reconquistar e acolher. Porém nessa difícil tarefa, os pais devem
usar a sua instintiva, e na maioria das vezes muitos pais deixam os seus
instintos de lado, principalmente depois que os filhos passam da infância.
No entanto, para educar os filhos e os alunos precisamos dar a devida
atenção a esses instintos, concentrando-nos conscientemente neles.
Sem dúvida, pais que desejam reconquistar seus filhos da infância até a
adolescência devem seguir alguns passos:
4.1 – Ficar próximo à criança – de maneira amigável.
Atrair os olhos da criança, construir um relacionamento com ela é o
principal objetivo. Esse objetivo deve permanecer da infância até adolescência.
Quanto mais a criança cresce, maior a necessidade de precisarmos entrar em
contato com elas, somente quando estiver algo errado, para que possamos
corrigi-la ou orienta-la.
No entanto, mesmo devendo zelar pela segurança e o bem-estar dos
filhos, os pais devem se aproximar deles de maneira carinhosa e convidativa,
estimulando-os a todo tempo manter um relacionamento. Desta forma
concordamos em Neuféld e Mate:
“Se nos concentrarmos no objetivo a longo prazo de
relacionamento carinhoso, poderemos descobrir
instintivamente o que fazer para chegar até o nosso
objetivo” (2006, p. 248).
Os pais não devem hesitar em errar, ou reconquistar seus filhos.
Experimentar, explorarem não necessários. Mesmo que os pais já estejam por
algum tempo separados por seus filhos, não devem exitar, pois sua intenção é
restabelecer o contato, é manter-se sempre próximo.
38
4.2 – Fornecer algo a que a criança possa se agarrar.
Para prender o instinto de vínculo da criança, devemos dar algo para
que ela estabeleça um vínculo conosco. Precisamos lhe dar algo para criarem
afeição, algo que fique em seu coração, a ponto que não queiram mais largar.
Por isso, o que os pais derem aos filhos deve vir deles próprios, pois ao se
agarrarem aquilo, estarão agarrando aos pais.
É nesse momento que a atenção e o interesse têm o papel fundamental
para iniciar esta conexão entre pais e filhos. O vinculo é ativado com o calor
emocional. Mostrar que se importa que eles são especiais e que tem valor para
os pais, se torna imprescindível para os filhos se agarrarem aos pais.
O contato físico para os filhos também é fundamental. Abraçar, beijar é
importante para a criança, ela quer se sentir amada, querida, importante,
valorizada.
Cury, neste sentido nos faz um convite:
“De vez em quando, chame um dos seus filhos sozinho e
almoce ou faça programa diferente com ele. Diga o
quanto ele é importante para você. Pergunto como esta a
vida dele.” (2003, p. 26).
Contudo, há um fator que merece nossa atenção. Tudo que um adulto
(pai, mãe, professores, etc.) tem de dar à criança deve ser espontâneo.
Somente assim a criança se agarrará aos pais emocionalmente. O presente de
amor aos filhos deve ser sempre incondicional.
Sendo assim é oportuno dizer que:
“Ao conquistar uma criança, o elemento de iniciativa e
surpresa é vital. Dar-lhe algo para que se agarre é mais
eficiente quando ela não esta esperando.” (Neufeld e
Maté, 2006, p. 253).
39
Portanto transmitir satisfação espontânea à criança quando ela não está
pedindo algo é um meio de vincular a criança aos pais. A atenção e o tempo
pedido pelo filho nunca é satisfatório, pois deixa a incerteza de que os pais só
respondem ao pedido e não se entregam de modo voluntário. Assim os pais
devem tomar iniciativa, expressar interesse e entusiasmo.
O elogio também contribuiu para o relacionamento de vínculo, e para a
auto-estima dos filhos.
Como diz Zagury:
“A auto-estima começa a se formar muito cedo. Desde
bem pequena a criança, em interação com o meio,
através das experiências, vai incorporando idéias sobre
si, que influenciarão suas atitudes posteriores. Nem
preciso dize o quanto nós pais e professores, temos peso
na formação desse conceito.” (2004, p. 36).
Com vimos, desde cedo os pais devem procurar elevar a auto-estima
dos filhos, porém, devem ter o cuidado para que esta auto-estima não seja
baseada na aprovação que ganham dos pais, por meio de realizações ou no
comportamento obediente. Mas sim, a base da verdadeira auto-estima de uma
criança é ser aceita, amada e apreciada pelos seus pais, exatamente como ela
é.
4.3 – Encoraja a dependência.
Quando os pais encorajam uma criança a depender deles mostram a ela
que podem confiar neles, contar com eles, apoiar-se neles e se entregar aos
seus cuidados, é tornar disponível a ela. Mas se os pais desejam que isso
aconteça precisam primeiramente ganhar confiança dos filhos.
40
Muitos pais acham que quanto mais dependentes mais encalhados os
filhos ficarão e nunca crescerão. No entanto, não se pode atingir à
independência resistindo à dependência.
A independência é fruto do amadurecimento. Já a dependência dos
filhos, é tarefa dos pais satisfazer. Quando essa dependência for satisfeita, os
filhos estarão prontos para o amadurecimento.
Como confirma Neufeld e Maté:
“Somente quando as necessidades da dependência são
satisfeitas é que a procura pela verdadeira
independência começa. Resistindo à dependência
frustramos a iniciativa de independência e adiamos a sua
realização.” (2006, p. 257).
A única maneira de se tornar independente é por meio da dependência.
Os professores também devem estar encorajando a dependência, em
vez de empurrar o aluno em direção à independência. O professor excelente
busca fornecer assistência aos seus alunos de modo generoso, para que
futuramente, eles por si mesmos amadureçam e cheguem à independência.
4.4 – Agir como um ponto de referência da criança.
Como vimos no capitulo II, a criança tem a necessidade de ser orientada
por alguém, de ter um ponto de referência, ela estabelece vínculos justamente
com quem ela vê como ponto de referencia.
Sendo assim para reconquistar os filhos, tornando-os vinculados, os
pais precisam orientar seus filhos. Os adultos assumem essa função
automaticamente, sem nem percebê-la. No contexto escolar, o professor
também orienta a criança em diversos aspectos, intuitivamente.
O que acontece hoje, na maioria das vezes, é que os pais têm falhado
como guias e orientadores dos seus filhos enquanto eles ainda são
dependentes dos pais. Portanto é realmente importante, que os pais
entendessem o poder de desempenhar essa função na vida dos seus filhos,
41
eles precisam reconhecer que o poder da orientação é primordial para o
vínculo.
Na verdade, o papel de orientador se perdeu.
“Os pais não conseguem mais entender o mundo dos filhos.” (Neufeld e
Maté,2006,p,259). São eles, que cada vez mais querem saber mais que os
próprios pais. As coisas mudaram demais para os pais continuarem os
guiando. Os pais perderam o controle sobre os filhos. Os hábitos, as músicas,
a língua, tudo parece ser diferente. A ponto dos pais se sentirem cada vez
mais incapazes ao orientar os filhos em seu mundo.
Devido a esse fato, é mais importante que nunca lançar mão da
confiança. Os pais devem retomar o papel como ponto de referência na vida
dos filhos. As crianças precisam de orientação e os pais devem lembrar que
são os melhores para isso.
O mundo pode mudar, mas o vínculo não. Quanto mais os pais
orientarem seus filhos, mais eles sentirão necessidade de ter os pais por
perto. Assumir o papel de guia e agir como ponto de referência engaja os
instintos de vínculo.
Contudo, quanto mais os pais conseguirem criar situações favoráveis
para que os filhos se tornem dependentes, mais fácil será estabelecer o
vínculo com ele.
Observamos anteriormente quatro passos para os pais reconquistarem
os filhos.
Como já mencionado antes, não há receita para um relacionamento
saudável entre pais e filhos, até porque, cada família, cada relacionamento é
diferente.
No entanto, quando falamos em caminhos nos remete a algo possível
de ser alcançado, percorrido, trilhado. Esse é o real objetivo desse trabalho,
apresentar caminhos possíveis para um bom relacionamento entre pais e
filhos.
O relacionamento entre pais e filhos é sagrado, por isso manter um
vínculo forte com os filhos e fazer com que esses vínculos permaneça
enquanto se dá a criação dos filhos é imprescindível.
42
Muitos podem até mesmo dizer, que os valores são mais importantes.
Valores morais como integridade, solidariedade, dignidade, respeito, sem
dúvida são extremamente valiosos, devem fazer parte da educação dos filhos.
Mesmo sendo cada vez mais difíceis de ensinar na sociedade atual, esses
valores morais têm papel primordial na estruturação do caráter dos filhos.
Como diz Zagury:
“Resgatar a ética é hoje questão de sobrevivência. Que
jovem poderá resistir às pressões negativas de uma
sociedade em crise, senão aquele que tenha
internalizado o respeito por si próprio e pelo outro?”
(2004, p. 45).
É real a necessidade dos valores morais na educação dos filhos, porém
o mais fundamental valor é o vínculo. Quando temos um relacionamento forte,
sólido e quando interagimos com nossos filhos, podemos comunicar a eles
outros valores.
Criar filhos com o vínculo em mente significa não deixar que nada os
separe dos pais. Somente tendo ciência do vínculo os pais descobrirão o
comprometimento mais importante: àquele com a própria criança. Quando os
pais têm os filhos próximos deles, aumentam as oportunidades de empregar
seus instintos de vínculo e não de moldar o comportamento dos filhos. Se os
pais permitirem que os vínculos se afastem, a criança não terá em quem se
apoiar.
A sabedoria dos pais ficará evidente, à medida que usarem o poder do
vínculo para reconquistar os seus filhos.
Dessa forma, os pais que prezam o seu relacionamento com os filhos
estarão sempre em contato, familiarizados, observando que o seu
relacionamento com os filhos tem prioridade em suas vidas.
As atitudes e ações dos pais devem estar baseadas na certeza de que estão
fazendo o melhor para os filhos.
43
CONCLUSÃO
Analisando profundamente a temática proposta, pudemos questionar
os desafios que os pais atualmente têm encontrado para ter um
relacionamento saudável com seus filhos, observamos diferentes obstáculos
pelos quais pais e filhos precisam vencer ao se relacionarem. Portanto,
considerando que é possível encontrar caminhos possíveis para um bom
relacionamento como foi mostrado no capítulo IV, os pais podem sim,
permanecer otimistas, pois é possível recuperar o relacionamento com seus
filhos.
O relacionamento familiar (pais e filhos) está desestruturado. Muitos
pais se encontram em total desespero, pois perderam o controle sobre seus
filhos, não tem mais autoridade sobre eles. Obter uma relação saudável,
vivendo em meio a uma geração em conflito constitui-se um desafio para os
pais. O colapso da sociedade atual tem afetado diretamente pais, filhos e
educadores. Os pais têm se sentido cada vez mais impotentes perante seus
filhos.
Neste trabalho, ficou bem nítido, a importância do vínculo, como
instrumento necessário para a relação pai / filho, professor / aluno. Talvez,
antes não tínhamos percebido o quanto ele é essencial.
Isso nos induz a continuar recorrendo aos nossos filhos e alunos com o
objetivo real de nos aproximar cada vez mais deles, de fazê-los sentir seguros,
acreditando que eles são importante, que os pais se preocupam com eles.
Mediante a insegurança dos adultos (pais, professores e etc.) as discussões
sobre o tema são relevantes. Como educadora observo que muitos pais já
desistiram de investir no relacionamento com seus filhos, já os rotulam desde
cedo, como se a criança já estivesse amadurecida.
44
É importante que os pais comecem a investir na sua relação com os
filhos, pois muitas atitudes que os filhos demonstram podem se evitadas
quando os pais estão atentos ao que acontece com eles. No entanto, é
fundamental que os pais dediquem tempo para isso, não simplesmente
“desistam” dos seus filhos. Que eles reconheçam as possibilidades de um
relacionamento saudável, não como uma barreira, mas como um caminho a
ser trilhado.
45
ANEXOS
Índice de anexos
Anexo 1 >> Obra do pintor Peter Brugel;
Anexo 2 >> Entrevista;
46
ANEXO 1
BRUGEL, Peter. 1560. Brincadeiras Infantis
47
ANEXO 2
Revista da Universidade Federal de Minas Gerais Ano 2 - nº 4 - Maio 2004
Comportamento
Rebeldia em causa
Projeto da Psicologia ajuda pais e filhos a superarem
conflitos do cotidiano
Trabalhar as relações entre pais e filhos naquilo que elas têm de mais problemático é
a base do programa de “treinamento de pais”, que fez mudar o relacionamento entre
Eliane e Aristides da Silva e o filho Tiago, de seis anos. O casal participa de um grupo
de pais que investe na possibilidade de tornar menos conflituoso seu dia-a-dia com as
crianças. “Eu não sabia pedir ‘por favor’. Agora, nós dois (ela e Tiago) sabemos o
quanto isso é importante”, diz Eliane.
Esse é um dos projetos desenvolvidos pelo Laboratório de Neuropsicologia do
Desenvolvimento (LND), do Departamento de Psicologia da UFMG. Iniciado em 2000,
como piloto, no Aglomerado da Serra – núcleo de favelas da região Centro-Sul de Belo
Horizonte –, foi aplicado, nos últimos dois anos, na Escola Municipal Maria das Neves,
no bairro São Lucas, Zona Leste da Capital. “O programa, tal como implementado no
LND, resulta de adaptações de um modelo norte-americano associado a uma
metodologia de treinamento de pais desenvolvida na Universidade de São Carlos”,
comenta o professor Vitor Geraldi Haase, coordenador do Laboratório.
48
Alan Fontes Borges
Linguagem própria
Segundo Haase, nos Estados Unidos, havia muitas dúvidas quanto à adequação desse
modelo de intervenção, baseado em valores da classe média, para famílias oriundas de
outros contextos étnicos e culturais. “Essa era uma das principais questões que nos
motivaram a adaptar o programa para trabalhar com comunidades carentes no Brasil, ou
seja, saber até que ponto a metodologia poderia funcionar”. A experiência recente
responde a essa pergunta. Durante 2002 e 2003, a psicóloga Maria Isabel Pinheiro,
voluntária no LND, formou quatro grupos de pais – somando 55 pessoas,
preponderantemente mães – e trabalhou com eles métodos de interferir positivamente na
relação com os filhos.
O programa de treinamento desenvolvido por Maria Isabel, e que será objeto de sua
dissertação de mestrado na Universidade de São Carlos, foi montado para populações
carentes e adaptado a uma comunidade específica, tendo como preocupação o uso da
linguagem própria ao meio. “Todo programa de treinamento tem que estar sintonizado
com a demanda”, lembra ela.
As crianças afetadas por comportamentos inadequados, explica Maria Isabel, são
tratadas, nesse caso, por meio de uma mudança induzida nas atitudes dos pais. O mau
comportamento infantil pode ser caracterizado tanto por crises de birra e agressividade,
ausência de disciplina, quanto por hiperatividade. A família é orientada e treinada para
lidar com esses problemas e, também, para impedi-las ou, pelo menos, diminuir os
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conflitos nas relações. Os pais seguem nove “passos” ditados pela psicóloga durante
nove semanas. Por meio desses “passos”, eles vão aprendendo a reconhecer os
problemas e a agir diante deles.
Questões éticas
Contudo, a despeito do êxito da metodologia, uma intervenção comportamental como
a realizada no Aglomerado da Serra levanta, também, questões éticas, que precisaram
ser respondidas pelos responsáveis pelo projeto. Por exemplo: os pesquisadores não
estariam, eventualmente, induzindo comportamentos tidos, previamente, como positivos
em comunidades que talvez adotem valores diferentes dos seus?
“De fato, foi observada repetidamente uma discrepância entre os valores preconizados
pelo programa de treinamento de pais, quais sejam, uma disciplina baseada no elogio e
no incentivo – pedagogia do incentivo –, em vez da tradicional pedagogia da punição.
Em muitos casos, principalmente em famílias com nível educacional muito baixo e/ou
com psicopatologias associadas, foi constatada a alta prevalência de crenças
relacionadas com a necessidade de punir os filhos, equacionando educação com uma
disciplina rígida, etc.”, argumenta Haase.
Mas, segundo ele, “o programa objetiva justamente convidar as famílias a
experimentarem, na prática, a eficácia de um outro estilo disciplinar, baseado no
envolvimento, supervisão e incentivo da criança. O estilo disciplinar proposto é mais
trabalhoso e constitui-se em um desafio para muitos pais”.
Mais, ainda segundo Haase, “o principal argumento no que se refere à autonomia do
cliente no treinamento de pais tem a ver com o fato de que uma família enredada em
conflitos fica privada do poder decisório, presa em interações coercitivas. À medida em
que o treinamento ajuda as pessoas a romperem o ciclo vicioso dessas interações
coercitivas, em que os pais tentam controlar, sem sucesso, o comportamento dos filhos e
vice-versa, as partes interessadas se tornam mais livres para decidir como querem
viver”.
Recreio especial
De acordo com a metodologia do LNC, durante as nove semanas de treinamento, os
pais dedicam-se a práticas simples, como o “recreio especial”, em que devem brincar
com o filho durante um período curto, mas predeterminado. Essa atitude, afirma Maria
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Isabel, ajuda a criança a compreender que os pais não lhe dão atenção apenas durante as
crises de mau comportamento, como elas podem acreditar. No treinamento de
obediência, estimula-se o comando dos pais, ou seja, a forma como eles devem dar as
ordens aos filhos para serem ouvidos. Na relação com a escola, a família é despertada
para importância desse espaço no desenvolvimento da criança.
“É muito comum”, diz Maria Isabel, “os pais valorizarem mais as atitudes negativas
dos filhos e não perceberem que, às vezes, um ato que incomoda pode revelar, em
algum aspecto, uma atitude muito positiva”. A análise dos dados coletados durante a
execução do programa de treinamento mostrou a mudança de percepção e de atitude dos
pais diante dos problemas identificados por eles mesmos.
Quando iniciavam sua participação no programa, os pais respondiam a três
questionários. As mesmas perguntas, reapresentadas no final do programa, serviram de
comparação para identificação da mudança, ou não, de comportamento de pais e filhos.
De acordo com Maria Isabel, a diferença positiva foi claramente explicitada nos
resultados do projeto, pois, praticamente, todos os itens analisados como de mau
comportamento sofreram quedas nas graduações em relação ao grau de dificuldade de se
lidar com eles e, também, na identificação da situação como problema.
A explicação, diz Maria Isabel, está no fato de que os pais passaram, ainda, a perceber
melhor os filhos. “O que não era tido como problema foi identificado, durante o
programa, como tal. Mas, ao mesmo tempo, os pais souberam lidar melhor com a
situação”, argumenta.
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BIBLIOGRAFIA
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Jorge Lahar, 1973.
ABC educatio, a revista da educação, São Paulo. Criart, ano 4: nº 23
Bee, Helen. A criança em desenvolvimento. Porto Alegre: Artmede, 2000.
Cury, Augusto Jorge. Pais brilhantes, professores fascinantes. Rio de Janeiro:
Sextante, 2003.
Fermino Fernandes Sisto & Martinelli, Selma de Cássia, Afetividade e
dificuldades de aprendizagem, uma abordagem psicopedagógica
(organizadores) 1. ed. São Paulo: Vetor, 2006.
Masini & Col. O ato de aprender. I ciclo de estudos de psicopedagogia.
Machkenzie. São Paulo, Memnon, 1999.
Mrech, Leny. Psicanálise e educação novos operadores de leitura. São Paulo:
Pioneira, 2003
Neufeld, Gordon & Mate, Gabor. Pais ocupados filhos distantes; [tradução Ana Paula Corradini]. - São Paulo: Melhoramentos, 2006.
Paladino, Erane. O adolescente no conflito de gerações na sociedade
contemporânea.
São Paulo: Caso do Psicólogo: 2005.
Revista Nova Escola: março de 2005 – Editora abril
Revista Nova Escola: Junho/Julho de 2005 – Editora abril
Zagury, Tânia. Os direitos dos pais: Construindo cidadãos em tempos de crise.
Rio de Janeiro: Record, 2004.
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ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
Breve História:
as gerações passadas e a sociedade moderna 11
1.1 – A família no passado 11
1.2 – A família na sociedade moderna 14
CAPÍTULO II
A relação entre pais e filhos, por que está tão difícil? 17
2.1 – A falta de vínculo 21
2.1.1 – Sentidos 23
2.1.2 – Uniformidade 23
2.1.3 – Posse e lealdade 24
2.1.4 – Importância 24
2.1.5 – Sentimento 25
2.1.6 – Ser conhecido 25
2.2 – A orientação por pares 26
CAPITULO III
Professores: Contribuindo para a formação
da geração em colapso 30
3.1 – Hábitos que formam educandos sociáveis 31
3.1.1 – Conhecer o funcionamento da mente 31
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3.1.2 – Usar a sensibilidade 32
3.1.3 – Ser mestre inesquecível 32
3.2 – Os vínculos e a relação professor / aluno 33
CAPÍTULO IV
Há solução ou caminho possível para recuperar
o relacionamento com os filhos? 36
4.1 – Ficar próximo à criança de maneira amigável 37
4.2 – Fornecer algo a que a criança possa se agarrar 37
4.3 – Encoraja a dependência 39
4.4 – Agir como um ponto de referência da criança 40
CONCLUSÃO 43
ANEXOS 45
BIBLIOGRAFIA 51
ÍNDICE 52
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FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: Universidade Cândido Mendes
Título da Monografia: O caminho de uma relação saudável entre pais e
filho em meio a uma geração em colapso
Autor: Daiana de Souza Leite Antunes
Data da entrega: 27/01/2007
Avaliado por: Fabiane Muniz Conceito: