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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE RESPONSABILIDADE SOCIAL E SUSTENTABILIDADE: O CASO DO BANCO ABN AMRO REAL S/A Por: Michelle de Oliveira Machado Passos Orientador Prof. Nelsom José Veiga de Magalhães Rio de Janeiro

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

RESPONSABILIDADE SOCIAL E SUSTENTABILIDADE: O CASO DO BANCO ABN AMRO REAL S/A

Por: Michelle de Oliveira Machado Passos

Orientador

Prof. Nelsom José Veiga de Magalhães

Rio de Janeiro

2

2005

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

RESPONSABILIDADE SOCIAL E SUSTENTABILIDADE: O CASO DO BANCO ABN AMRO REAL S/A

Apresentação de monografia à Universidade Candido

Mendes como condição prévia para a conclusão do

Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Gestão de

Recursos Humanos.

Por: . Michelle de Oliveira Machado Passos

3

AGRADECIMENTOS

Ao meu Deus, minha gratidão pela Tua fidelidade incondicional.

Ao meu esposo Uanderson e aos meus pais Arthur e Geny, obrigado pelo exemplo de dedicação e renúncia durante todo o tempo.

4

5

DEDICATÓRIA

Esta monografia é dedicada aos Administradores que, por razões humanitárias ou estratégicas, despertaram para um novo olhar sobre os negócios, implementando em sua gestão atitudes de responsabilidade social, ambiental, empresarial e, assim, contribuem para a formação de um capitalismo mais integrador.

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RESUMO

O objetivo geral deste trabalho, apresentando o caso do Banco ABN

AMRO Real, é expor as propostas sociais do setor bancário no Brasil, verificando

como uma instituição capitalista está trabalhando, cada vez mais, para ter uma

gestão baseada nos conceitos de sustentabilidade (responsabilidade

empresarial, social e ambiental), que alia, de uma forma estratégica, os bons

resultados econômicos em respeito ao meio ambiente e ao compromisso com a

sociedade. O trabalho apresenta informações que caracterizam o pensamento de

que, atuando com responsabilidade social a empresa atingirá a fidelização do

cliente e que, lucro e responsabilidade social não são incompatíveis.

A temática “responsabilidade social” passa a ser amplamente debatida e

propagada no meio empresarial, tornando-se uma estratégia competitiva entre as

empresas que atuam em um ambiente cada vez mais complexo e turbulento,

onde a qualidade dos produtos e os preços mais atraentes não se configuram

mais como diferenciais, mas sim como exigências. Dessa forma, a

responsabilidade social é uma estratégia importante para as empresas que

buscam um retorno institucional a partir das suas práticas sociais.

Estarei mostrando neste trabalho a influência do setor bancário nessa

nova sociedade e passando para o leitor a realidade que está sendo vivida no

dia-a-dia do Banco ABN AMRO Real S/A. Buscarei demonstrar a emoção das

conquistas, dos desafios e aprendizados que vive a Organização a partir do

momento em que assumiu, estrategicamente, a responsabilidade social e a

sustentabilidade como filosofia de negócios e de sua inserção da sociedade.

7

SUMÁRIO

Introdução....................................................................................................... 7

1- Conhecendo um pouco da Responsabilidade Social................................... 10

1.1- O que é Responsabilidade Social?............................................................... 10

1.2- História...................................................................................................... 13

1.3- Nova Sociedade.......................................................................................... 16

1.4- Ações de Responsabilidade Social direcionadas a quem?............................. 18

1.5- Pesquisa Ação Social das empresas............................................................. 20

2- Responsabilidade Social no setor bancário................................................. 23

2.1- Apresentação.............................................................................................. 23

2.2- Meio Ambiente........................................................................................... 24

2.3- Despesas, Lucros, Patrimônio e Rentabilidade............................................. 25

2.4- Negócios, Sustentabilidade e Responsabilidade Corporativa......................... 28

2.5- Ações Sociais e Comunitárias dos bancos.................................................... 30

2.5.1- Voluntariado............................................................................................ 32

2.5.2- Iniciativas da Febraban............................................................................. 32

2.5.3- Os bancos e o apoio ao desenvolvimento social ........................................ 35

3- O caso do Banco ABN AMRO Real S/A .................................................... 39

3.1- Área de Atuação ........................................................................................ 39

3.2- Histórico das ações sociais.......................................................................... 40

3.3- Detalhamento das ações sociais .................................................................. 43

Considerações finais ....................................................................................... 50

Anexo............................................................................................................... 53

Referências bibliográficas................................................................................ 57

8

INTRODUÇÃO

O tema aqui proposto trata da responsabilidade social e da

sustentabilidade no setor bancário.

Nosso problema contextualiza-se na seguinte questão: O mercado e a

sociedade brasileira estão evoluindo e exigem um papel dos bancos. Eles devem

atuar como fomentadores de uma sociedade que seja economicamente eficiente,

socialmente justa, politicamente democrática e ambientalmente sustentável.

Isso será possível se agirem com responsabilidade social, cuidando dos

impactos que geram como empresas e como indivíduos nessa grande rede de

relações em que todos estão inseridos.

Na prática, significam uma forma de conduzir os negócios que leva em

conta o desenvolvimento de toda a sociedade, buscando uma relação mais

equilibrada entre o lucro, as pessoas e o planeta.

Especificamente em nossa pesquisa, cabe-nos questionar os motivos

que levariam uma instituição financeira obviamente capitalista a adotar critérios

de responsabilidade social em sua gestão. Na concessão de crédito, por

exemplo, levar em conta os fatores socioambientais, influenciando os clientes a

adotarem uma postura social e ambientalmente responsável.

Como objetivo geral, temos que expor e analisar as propostas sociais do

Banco Real. Verificar como uma instituição capitalista está trabalhando, cada vez

mais, para ter uma gestão baseada nos conceitos de sustentabilidade, que alia

9

os bons resultados econômicos em respeito ao meio ambiente e ao

compromisso com a sociedade.

Na nossa hipótese consideramos que o Banco Real estará construindo

uma nova organização para uma nova sociedade. Acreditamos que está

nascendo um novo capitalismo, mais humano e integrador. Os bancos são

agentes do sistema financeiro na sociedade, e podem ajudar as pessoas a

gerenciar seus recursos de uma forma mais consciente. Nesse sentido, o Banco

Real se vê como agente do novo capitalismo. O cliente, satisfeito com a postura

do banco, tende a aumentar seus negócios com a empresa e, assim, empresa e

cliente fidelizam o relacionamento.

Na delimitação Identificamos as ações sociais e socioambientais,

caracterizando e relacionando tais ações com a fidelização dos clientes da forma

em que são vistas pela sociedade.

O caso do Banco Real é contribuir para a construção de uma sociedade

mais justa, onde o respeito e a preservação do meio ambiente sejam uma

realidade. O Banco Real deseja essa mudança e se propõe a ser um dos líderes

desse processo no mercado e na sociedade.

Para melhor entendimento do assunto, o presente trabalho se subdivide

em capítulos.

A Introdução aborda o tema de modo geral, destacando os objetivos

pretendidos com a pesquisa.

No primeiro capítulo abordamos conceitos e idéias de responsabilidade

social direcionado ao processo de gestão empresarial para o fortalecimento da

dimensão social da empresa.

10

O segundo capítulo demonstra, a possibilidade de gerenciar novas

tendências dos padrões de conduta empresarial na busca da ética e da

responsabilidade social no setor bancário.

No terceiro capítulo será tratado, na avaliação da dimensão social e

sustentável, assim como, no seu perfil em relação à responsabilidade social, o

caso Banco ABN AMRO Real. Nesse sentido, é apresentado o estudo das

situações que caracterizam o perfil do novo empreendedor social, responsável

pelo desenvolvimento do seu papel no setor bancário.

Nas conclusões delineamos algumas considerações que julgamos

pertinentes e que foram tratadas ao longo dos capítulos.

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CAPÍTULO I

CONHECENDO UM POUCO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL

1.1- O que é Responsabilidade Social?

O termo responsabilidade, de uso tão comum, encerra sempre a idéia de

prestação de contas: alguém deve justificar a própria atuação perante outrem. O

domínio da responsabilidade social de uma empresa situa-se além de suas

responsabilidades legais. Mas não basta ir além da obrigação legal para se ter

um comportamento socialmente responsável, vários autores já chamaram a

atenção para o fato de que, antes de tudo, é preciso levar em conta as

circunstâncias. A mesma atividade de uma empresa pode ser considerada

socialmente responsável num tempo, sob determinado conjunto de circunstâncias

e dentro de uma cultura, e socialmente irresponsável em outro lugar ou sob

diferentes circunstâncias.

Responsabilidade Social é uma forma de conduzir os negócios da

empresa de tal maneira que a torna parceira e co-responsável pelo

desenvolvimento social. A empresa socialmente responsável é aquela que possui

a capacidade de ouvir os interesses das diferentes partes (acionistas,

funcionários, prestadores de serviço, fornecedores, consumidores, comunidade,

12

governo e meio-ambiente) e conseguir incorporá-los no planejamento de suas

atividades, buscando atender às demandas de todos e não apenas dos

acionistas ou proprietários ( Revista Juntos -2004).

Aplicado desde tempos imemoriais à administração de bens de

terceiros, indica a obrigação, imposta ao administrador e assumida por ele, de

prestar contas dos bens recebidos. Tal acepção firmou-se na área econômica,

onde a empresa é vista, tradicionalmente, como entidade instituída pelos

acionistas para a obtenção de lucros, sendo, portanto, um patrimônio deles.

Assim, a única responsabilidade da empresa, como entidade, e de seus

administradores e operários, como contratados, seria obter o maior lucro possível

para os donos da empresa.

Este modelo, sem dúvida alguma, foi útil à humanidade. Não é

necessário fazer aqui a apologia da contribuição da empresa para o

desenvolvimento e para o progresso da humanidade. Também não interessa, por

outro lado, relacionar as numerosas falhas e incontáveis abusos a que deu

origem, ao longo dos séculos, sobretudo a partir da consolidação do capitalismo.

O importante é lembrar que a humanidade não cessou, nem cessa de evoluir. E

se as condições mudam, os velhos modelos têm forçosamente de se adaptarem,

ainda que seja apenas por uma elementar questão de sobrevivência. As

instituições sociais, e a empresa entre elas, não escapam à regra.

Dito em outros termos: uma empresa pode ter diferentes posturas em

diferentes áreas e ocasiões. Por exemplo, pode ater-se estritamente à lei no

tocante ao relacionamento com os fornecedores, ao mesmo tempo em que adota

uma atitude negligente quanto à segurança de seus produtos; pode ter uma

atitude socialmente responsável no trato com os empregados e adotar práticas

fraudulentas no faturamento, prejudicando os interesses coletivos.

13

É fácil perceber também que há inúmeras posições possíveis entre os

extremos de uma completa ausência de responsabilidade social e sua plena

aceitação. Assim, do ponto de vista da responsabilidade social, o

comportamento organizacional pode ser visualizado, como um contínuo, variando

de um baixo a um alto nível de responsabilidade social (DUARTE, Gleuso

Damasceno e DIAS, José Maria Martins, 1986, p. 45).

Muito se tem escrito sobre responsabilidade social, ética, valores, moral,

mas ainda falta explicitá-los de forma mais prática. Tentativas por parte de

determinadas organizações de estabelecer padrões de ética e responsabilidade

social têm se limitado a criar códigos de ética. Trabalhos acadêmicos se

interessam pelo aspecto instrumental de conceitos de ética e moralidade. Outra

vertente direciona a reflexão destes temas para o caso brasileiro e as formas de

ética e os valores predominantes em nossa cultura.

Parece lícito afirmar que hoje as organizações precisam estar atentas

não só às responsabilidades econômicas e legais, mas também às

responsabilidades éticas, morais e sociais.

Especificamente em nossa pesquisa, cabe-nos estudar os motivos que

levariam uma instituição financeira obviamente capitalista a adotar critérios de

responsabilidade social em sua gestão. Na concessão de crédito, por exemplo,

ao levar em conta os fatores socioambientais, influenciando os clientes a

adotarem uma postura social e ambientalmente responsável.

Para Oliveira Neto (2000, p. 23),

“Para que uma empresa assuma uma conduta que seja de fato socialmente responsável, ela terá necessidade de reavaliar todos os seus processos e seus valores, além de sua postura ética e da forma como ela se relaciona com seus diversos públicos: funcionários, fornecedores, clientes, consumidores, acionistas, comunidade, poder público e o próprio meio ambiente”.

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O mero cumprimento de leis e de regulamentações governamentais não

satisfez a ânsia de buscar o melhor para a sociedade. A lei, com todas as suas

virtudes, muitas vezes tem brechas que permitem crescer grandes injustiças

sociais. O descumprimento da lei, que gerou graves questões de corrupção,

levou as instituições a se organizarem e reagirem, elaborando padrões de

comportamento ético e socialmente responsável.

Segundo ASHELEY, Patrícia Almeida, 2002, p.20 a p.22,

responsabilidade Social pode ser definida como o compromisso que uma

organização deve ter para com a sociedade, expresso por meio de atitudes que

a afetem positivamente, de modo amplo, ou a alguma comunidade, de modo

específico, agindo proativamente e coerentemente no que tange a seu papel

específico na sociedade e a sua prestação de contas com ela. A organização

assume obrigações de caráter moral, além das estabelecidas em lei. Não

necessariamente privilegia uma categoria em particular. Há pelo menos sete

vetores da responsabilidade social: apoio à comunidade, preservação do meio

ambiente, bem-estar dos funcionários e dependentes, transparência nos

negócios, retorno aos acionistas, sinergia com os parceiros e satisfação dos

clientes.

MELO NETO, Francisco Paulo, 1999, p.78, diz ainda q a

responsabilidade social de uma empresa consiste na sua decisão de participar

mais diretamente das ações comunitárias na região em que está presente e

diminuir possíveis danos ambientais decorrentes da atividade que exerce.

Porém, apoiar o desenvolvimento da comunidade e preservar o meio ambiente

não são suficientes para atribuir a uma empresa a condição de socialmente

responsável. É preciso investir no bem-estar dos funcionários e dependentes e

num ambiente de trabalho saudável, além de promover comunicações

transparentes, dar retorno aos acionistas, assegurar sinergia com os parceiros e

garantir a satisfação dos clientes e consumidores. É possível, segundo os

15

autores, mensurar o grau de responsabilidade social de uma empresa, utilizando-

se de uma escala para avaliação de cada vetor.

As duas obras citadas seguem em sintonia com nosso pensamento a

respeito da direta influência socioambiental de uma empresa sobre a sociedade

em que está presente. As pessoas estão em busca de uma nova ética nos

negócios, que levem em conta valores como a preservação do planeta e o

desenvolvimento de toda a sociedade.

1.2 - História

Nos Estados Unidos e na Europa, a ética e a responsabilidade social

corporativa eram aceitas como doutrina até o século XIX, quando o direito de

conduzir negócios de forma corporativa era prerrogativa do Estado ou da

Monarquia e não um interesse econômico privado (I.HOOD, 1998 apud ASHLEY,

Patrícia Almeida, 2002, p. 62).

Os monarcas expediam alvarás para as corporações de capital aberto

que prometessem benefícios públicos, como a exploração e a colonização do

Novo Mundo. As primeiras corporações nas colônias americanas foram fundadas

para prestar serviços de construção, transporte e infra-estrutura, sendo reguladas

quanto ao tamanho, tipo de negócios e estrutura de capital.

Com a independência dos Estados Unidos, os estados americanos

passaram a aprovar legislação que permitisse a auto-incorporação como

alternativa à incorporação por ato legislativo específico, inicialmente para serviços

de interesse público, como a construção de canais, e posteriormente para

condução de negócios privados. Assim, até o século XX a premissa fundamental

da legislação sobre corporações era a de que tinha, como propósito, a realização

de lucros para seus acionistas.

16

Em 1919, a questão da ética, da responsabilidade e da discricionariedade

dos dirigentes de empresas abertas veio a público com o julgamento do caso

Dodge versus Ford, nos EUA, que tratava da competência de Henry Ford,

presidente e acionista majoritário da empresa, para tomar decisões que

contrariavam interesses dos acionistas John e Horace Dodge. Em 1916, Henry

Ford, alegando objetivos sociais, decidiu não distribuir parte dos dividendos

esperados, revertendo-os para investimentos na capacidade de produção,

aumento de salários e fundo de reserva para a redução esperada de receitas em

função do corte nos preços dos carros.

A Suprema Corte de Michigan foi favorável aos Dodges, justificando que a

corporação existe para o benefício de seus acionistas e que diretores

corporativos têm livre-arbítrio apenas quanto aos meios para alcançar tal fim, não

podendo usar os lucros para outros objetivos. A filantropia corporativa e o

investimento na imagem da corporação para atrair consumidores poderiam ser

realizados na medida em que favorecessem os lucros dos acionistas.

Após os efeitos da Grande Depressão e da Segunda Guerra Mundial, a

noção de que a corporação deve responder apenas a seus acionistas sofreu

muitos ataques, principalmente pelo trabalho de Berle e Means1. Segundo eles, os

acionistas eram passivos proprietários que abdicavam de controle e

responsabilidade em favor da diretoria da corporação. Em um contexto de

expansão do tamanho das corporações e de seu poder sobre a sociedade,

diversas decisões nas Cortes Americanas foram favoráveis às ações filantrópicas

das corporações.

Em outro litígio julgado nos EUA, em 1953, o caso A. P. Smith

Manufacturing Company versus Barlow, retomou-se o debate público sobre a

1 BERLE, Adolf A. e MEANS, Gardiner C. apud ASHLEY, Patrícia Almeida, 2002, p. 30.

17

responsabilidade social corporativa2. Nesse caso, a interpretação da Suprema

Corte de Nova Jersey quanto à inserção da corporação na sociedade e suas

respectivas responsabilidades foi favorável à doação de recursos para a

Universidade de Princeton, contrariamente aos interesses de um grupo de

acionistas. A Justiça determinou, então, que uma corporação pode buscar o

desenvolvimento social, estabelecendo em lei a filantropia corporativa.

A partir de então, defensores da ética e da responsabilidade social

corporativa passaram a argumentar que, se a filantropia era uma ação legítima da

corporação, então outras ações que priorizam objetivos sociais em relação aos

retornos financeiros dos acionistas seriam de igual legitimidade, como o

abandono de linhas de produto lucrativas, porém nocivas ao ambiente natural e

social. Começou-se a discutir, no meio empresarial e acadêmico, a importância

da responsabilidade social corporativa pela ação de seus dirigentes e

administradores, inicialmente nos EUA e, posteriormente, no final da década de

1960, na Europa, por autores como Bowen, Mason, Chamberlain, Andrews e

Galbraith.

1.3- Nova Sociedade

Está em curso no mundo inteiro uma revolução nas relações de consumo.

Na hora da compra, hoje não basta apenas uma boa equação “qualidade+preço”.

As pessoas querem consumir produtos de empresas que não passem por cima

da natureza, dos clientes, dos funcionários e das leis. No Brasil, esse fenômeno

foi dimensionado por uma pesquisa recente elaborada pelo Instituto Ethos de

Responsabilidade Social. Segundo o estudo, quase 70% dos entrevistados

acham que é papel das companhias trabalhar para o desenvolvimento da

2 CAMPBELL et al., 1999 apud ASHLEY, Patrícia Almeida, 2002, p. 38.

18

sociedade. Cerca de 20% dos consumidores dizem recompensar ou punir

empresas, dependendo de sua postura em relação às questões socioambientais.

Cria-se, assim, um círculo virtuoso, em que os consumidores se

manifestam, as empresas reagem e a ética no mundo dos negócios é elevada a

um novo patamar. Em 1997, por exemplo, a Nike viu o preço de suas ações

despencar na Bolsa de Nova York. O motivo? Uma de suas empresas

terceirizadas no Sudeste Asiático empregava mão-de-obra infantil. Depois disso,

a multinacional melhorou o monitoramento de suas parceiras e instituiu um vice-

presidente mundial de práticas trabalhistas.

No Brasil, a entrada em vigor do Código de Defesa do Consumidor, em

1991, representou um novo padrão de relacionamento entre clientes e empresas.

O número de queixas registradas no Procon de São Paulo saltou de 120.000 para

380.000 de uma década para cá. A consciência dos consumidores não aumentou

apenas na hora de reclamar por seus direitos. As pessoas passaram a se

preocupar também com a forma com que as empresas utilizam os recursos

naturais. As companhias que cumprem essa expectativa passaram a agregar

valor à sua marca. Na Bolsa de Nova York existe há alguns anos o Dow Jones

Sustainability Index, que lista empresas auditadas por seu desempenho financeiro,

ambiental e social. Em geral, essas companhias têm um crescimento superior à

média do mercado. Em 1991, grandes grupos econômicos fundaram o World

Business Council for Sustainable Development. Trata-se de um “clube” criado com

o objetivo de fazer com que o setor empresarial se comprometa com o

desenvolvimento sustentável da sociedade. Hoje, ele conta com 165 empresas,

responsáveis por um faturamento anual de cerca de 4,5 trilhões de dólares.

A revista inglesa The Economist comparou as manifestações de

consumidores a um enxame de abelhas. Segundo a publicação, as “abelhas

ativistas” seguem um determinado objetivo e são capazes de se redirecionar sem

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fazer uma única reunião para outra missão importante. Da mesma forma que

combatem as más empresas, reconhecem as que atuam corretamente.

O número de ONGs quase dobrou na última década e sua proliferação

ajudou a forjar uma nova consciência de cidadania. “Hoje, com a globalização da

informação e a revolução tecnológica, qualquer um pode contestar e exigir uma

explicação rápida de quem está do outro lado”, afirma Hélio Mattar, presidente do

Instituto Akatu pelo Consumo Consciente. “O poder está nas mãos dos indivíduos

e isso está produzindo a globalização da solidariedade”.

Os últimos anos registraram um forte crescimento da perspectiva da

sustentabilidade e responsabilidade corporativa junto à comunidade de negócios.

Parte desse crescimento vem da ampliação da consciência social em relação ao

que se pode e se deve esperar das empresas. A sociedade, cada vez mais, vem

se articulando e influenciando a comunidade empresarial para que conduza os

negócios de acordo com princípios éticos que sejam bons para diferentes

públicos (Banco ABN AMRO Real S/A, 2003, p. 15).

1.4- Ações de Responsabilidade Social direcionadas a quem?

Se o critério básico para a definição do foco prioritário das ações sociais

é o de renda, as crianças e os jovens constituem o público preferencial.

No Brasil, as crianças são o grupo menos favorecido da população, com

a menor renda domiciliar per capita.3 Esta é a opinião de Marcelo Néri, chefe do

Centro de Políticas Sociais do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação

Getúlio Vargas. Para ele, o critério de priorização dos segmentos populacionais a

serem favorecidos com as ações sociais é o da renda.

3 NÉRI, Marcelo apud MELO NETO, Francisco Paulo de e FROES, César, 2001, p. 72

20

Outro critério, segundo Néri, é o acesso aos serviços públicos. A falta de

assistência médica e carência alimentares são responsáveis pelo elevado

número de mortes em cada grupo de mil crianças nascidas vivas no Brasil – cerca

de 35,6 – segundo dados de 1998, divulgados pelo Ministério da Saúde.4

Na educação, a situação é pior. No caso do Estado do Rio de Janeiro, a

taxa de repetência subiu de 20% em 1996 para 21,7% em 1999. O tempo médio

de conclusão do ensino fundamental é de 10,1 anos, comparado a São Paulo, que

é de 8,7 anos e Minas Gerais, 9,3 anos.5

A falta de educação, assistência social e demais serviços refletem-se na

prática de delitos cometidos por jovens infratores.

A educação é o serviço social básico de efeito mais persistente junto às

crianças, pois as prepara para a vida familiar e profissional e as induz e estimula

a perseverar no rumo da mobilidade social, e até algum tempo atrás era o foco

das ações sociais das empresas. Conforme demonstraram os resultados da

pesquisa do IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, as áreas de

assistência social e alimentação ocupam lugar de destaque no ranking das ações

sociais das empresas, que destinam cada vez mais recursos para esta área.

O que, na prática, vem prevalecendo como modelo de ação social

empresarial é o desenvolvimento de projetos multifuncionais, englobando ações

de educação, alimentação e abastecimento, assistência social e saúde.

No entanto, o alvo dessas ações é sempre crianças e jovens.

4 MORTALIDADE ainda é elevada, Jornal do Brasil 19/08/2000, p 3 apud MELO NETO, Francisco Paulo de e FROES, César, 2001, p. 25 5 MARIA, Eliane et al. Educação no Rio é reprovada, Jornal do Brasil, 19/08/2000, p 17 apud MELO NETO, Francisco Paulo de e FROES, César, 2001, p.33.

21

As empresas direcionam suas ações educacionais para duas vertentes:

criam projetos de ensino ou vinculam benefícios sociais a quem freqüentar a

escola.

Na vertente dos projetos de ensino os investimentos necessários são

maiores, pois envolvem manutenção de escolas, criação de uma rede própria de

escolas e apoio a projetos educacionais de outras entidades.

A vinculação de benefícios sociais ocorre através de projetos sociais e

culturais, que vinculam a participação das crianças e jovens ao seu ingresso e

permanência na escola.

No Brasil, apesar dos problemas sociais que ainda assolam nossos

jovens e crianças, progressos foram feitos: erradicação da poliomielite, redução

da desnutrição em crianças com menos de 5 anos e a diminuição da mortalidade

infantil, porém muito ainda deve ser feito para se atingir as metas mundiais.

São metas ambiciosas, muitas já alcançadas ou prestes a serem

atingidas em muitos países e regiões do mundo. Em outros, porém, há um longo

caminho a ser percorrido para alcançar objetivos e metas propostas na cúpula

mundial.

1.5- Pesquisa Ação Social das empresas

Os resultados da Pesquisa Ação Social das Empresas, realizada pelo

IPEA nas cinco regiões do país, revelam que há, comprovadamente, uma injeção

de recursos privados na área social.

22

Sem isentar o Estado de suas responsabilidades sociais, é hoje

reconhecido que, isoladamente, ele não possui os meios necessários para

atender a todas as demandas das populações mais pobres. “É preciso aumentar

a esfera do público, introduzindo novos atores que, junto com o Estado, possam

impulsionar mudanças necessárias à construção de uma sociedade mais justa”,

ressalta o presidente do IPEA, Roberto Martins.

A amostra da pesquisa conta com 9.140 empresas com um ou mais

empregados, localizadas nas capitais e no interior dos estados. Ao final do

estudo, os resultados foram projetados, por meios estatísticos, para o universo

das 782 mil empresas com um ou mais empregados existentes em nosso país.

· O atendimento é expressivo

No Brasil, 59% das empresas declara realizar, em caráter voluntário,

algum tipo de ação social para a comunidade. Ou seja, das 782 mil empresas do

país, 462 mil contribuem no campo social e essa contribuição envolve desde

doações eventuais a pessoas carentes ou a instituições que executam projetos

sociais até a promoção de grandes projetos mais estruturados. E mais, para a

maioria das empresas, cerca de dois terços, essa é uma prática habitual.

· Lideram a assistência social e a alimentação

As atividades de assistência social e de alimentação são, de longe, as

mais realizadas pelo empresariado do país. Das 462 mil empresas que atendem

às comunidades, 54% realizam ou apóiam ações assistenciais. E mais: 41%

atendem as comunidades por meio alimentar.

A pesquisa mostra que a educação e a saúde não são focos prioritários

do investimento social privado: menos de 20% das empresas informam apoiar

atividades nessas áreas.

23

· Os empregados participam pouco

Em somente um terço das empresas (34%) há participação dos

empregados na realização das ações sociais. Com o crescente estímulo para o

desenvolvimento de ações voluntárias é possível que o engajamento dos

empregados aumente em todo o país, mas para tanto é fundamental que ocorra o

incentivo dos empregadores.

· A motivação é humanitária

O grande motor da ação social empresarial é a filantropia: 76% das

empresas que realizam atividades sociais o fazem por motivos humanitários.

Pouco mais de um terço das empresas são levadas a atuar por

demandas das comunidades que habitam no seu entorno (38%) e por pedidos de

entidades filantrópicas (33%).

Um terceiro conjunto de motivações diz respeito a preocupações internas

ao negócio: cerca de um quarto das empresas do país realizam ações sociais

para melhorar sua imagem junto à sociedade (26%) e aumentar a satisfação dos

seus empregados (25%).

· Todos ganham: empresários e comunidade

Na percepção dos empresários sua participação em ações de combate

à pobreza traz resultados positivos tanto para os próprios promotores da ação

quanto para seus beneficiários. Com efeito, para 61% deles ajudar traz

gratificação pessoal e, para 55%, as comunidades ganham, pois melhoram suas

condições de vida.

24

Para 40% dos empresários, há também um entendimento de que, em

decorrência de sua atuação, se estreitaram os laços com a comunidade. De um

ponto de vista mais interno à empresa, cerca de um quarto dos dirigentes

empresariais avalia que em conseqüência de sua ação social melhorou a

imagem do negócio (26%) assim como melhorou o envolvimento do empregado

com a empresa (24%). (Pesquisa Ação Social das empresas. Disponível em:

<http://www.ipea.gov.br>, acesso em 16/11/2004).

CAPÍTULO II

25

RESPONSABILIDADE SOCIAL NO SETOR BANCÁRIO

2.1- Apresentação

Em 1993 a FEBRABAN - Federação Brasileira de Associações de

Bancos produziu um inédito balanço que dava conta de todo um setor da

economia brasileira. Na época, foi uma iniciativa pioneira e muito relevante do

ponto de vista da consolidação de resultados. No ano de 2003, deu um novo

passo que irá, gradualmente, promover uma mudança de patamar no reporte de

resultados diante da sociedade e dos diferentes públicos dos bancos: a

incorporação da perspectiva de sustentabilidade e responsabilidade social. Em

linhas bem gerais, está direcionando seus esforços para que seja possível tratar

a performance das instituições que representa em três linhas finais de resultados:

a econômica, a social e a ambiental. Além disso, começou a sinalizar para a

necessidade crescente de que as ações junto às comunidades estejam cada vez

mais alinhadas por uma agenda nacional de desenvolvimento.

No Brasil, algumas empresas já se distinguem por um trabalho primoroso

nessa área da sustentabilidade e da responsabilidade corporativa, um trabalho

que vai bem além do politicamente correto e propõe mudanças capazes de lidar

com a complexidade dos interesses de empresas e sociedade. A FEBRABAN

se junta a essas iniciativas e se dispõe a influenciar para que cada vez mais os

bancos aprofundem seus compromissos com o País nos planos econômico,

social e ambiental.

Os resultados apresentados oferecem uma perspectiva da contribuição

dos serviços prestados pelo setor, incluindo os esforços e investimentos

realizados para ampliar e aprimorar políticas e ações voltadas para a

26

preservação do meio ambiente. Além disso, há todo um conjunto de iniciativas

junto às comunidades nas áreas de educação, saúde, geração de renda,

assistência social, preservação do meio ambiente, estímulo aos esportes e à

cultura, que mostram, sobretudo, o seu enorme potencial multiplicador.

A FEBRABAN espelha-se nas várias iniciativas que visam a

sistematizar, organizar e formalizar o papel do segmento financeiro em conceitos

e práticas de sustentabilidade e responsabilidade social corporativa, como as

Iniciativas Financeiras da UNEP - Programa Ambiental das Nações Unidas; o

SAM - Gerenciamento Sustentável de Ativos, que depois se uniu a Dow Jones &

Company para a criação do DJSI - Índice de Sustentabilidade Dow Jones; e o

FTSE4Good (Febraban. Disponível em <http://www.febraban.com.br>, acesso em

20/11/2004).

Todos esses são sinais inequívocos da influência crescente da

sociedade sobre a atividade empresarial e do envolvimento do setor financeiro

com questões ligadas ao desenvolvimento sustentável e à difusão do

pensamento ligado à sustentabilidade de modo geral.

2.2- Meio Ambiente

O tema “meio ambiente”, quando trazido para o contexto dos bancos sob

uma perspectiva linear, pode não fazer muito sentido. Porém, há cada vez mais

complexidade no mundo dos negócios e, quando analisamos as relações entre

as empresas, é importante que se trate não apenas dos potenciais impactos

diretos inerentes mas, sobretudo, dos indiretos. Em outras palavras, o exercício

do papel social dos bancos exige que se trate o tema dos impactos ambientais

das empresas como absolutamente relevante diante do quadro de degradação

ambiental em todo o mundo. Cada vez mais e com mais ênfase, a

27

responsabilidade ambiental precisa ser ponderada na concessão de crédito, na

gestão dos negócios, na relação com fornecedores e assim por diante.

Os indicadores ambientais revelam, portanto, a qualidade da relação dos

bancos com o meio ambiente, os impactos ambientais, bem como as

oportunidades da empresa de estabelecer novos padrões de relacionamento em

sua cadeia de negócios.

Nesse sentido, as iniciativas aparentemente simples de redução de

consumo e de reciclagem de materiais, os cuidados na destinação do lixo, a

minimização do uso de recursos naturais, o uso de critérios socioambientais na

concessão de crédito e o desenvolvimento de produtos e serviços de cunho

ambiental passam cada vez mais a fazer parte do cotidiano.

A mobilização para este tema é grande e alguns profissionais se

dedicam parcial ou integralmente às questões ambientais, seja por iniciativa

própria ou por oportunidade gerada na própria organização. Dos bancos

participantes, 14% revelam que existem empregados dedicados em tempo

integral à questão ambiental e que são oferecidos treinamentos específicos aos

temas socioambientais, relacionados à gestão dos negócios (Febraban.

Disponível em <http://www.febraban.com.br>, acesso em 20/11/2004).

2.3- Despesas, Lucros, Patrimônio e Rentabilidade

O ano de 2002 foi conturbado para o setor bancário no Brasil. O país

conviveu com uma turbulência macroeconômica poucas vezes vista: saídas de

reservas internacionais, volatilidade exacerbada dos mercados e queda das

expectativas de crescimento da economia. Como reflexo, O EMBI+ do Brasil (ou

Risco-Brasil) subiu de 863 pontos em 30 de dezembro de 2001 para 1446 em

28

dezembro de 2002. Foi um período excepcionalmente árduo. As linhas de crédito

externas foram encolhidas, a atividade econômica caracterizou-se por um

processo de stop and go, as expectativas sobre a taxa de juros básicos se

mostraram intermitentes.

Os bancos adaptaram-se ao cenário mais turbulento, reconhecendo seu

caráter transitório e, desta forma, realocando suas carteiras. Isto explica o fato de

terem suas taxas de crescimento superiores às do resto da economia.

A tendência de elevação do nível de utilização de serviços bancários

manteve-se ao longo do ano. Destaque nesse ínterim para o início do SPB –

Sistema de Pagamentos Brasileiro, o expressivo aumento dos correspondentes

bancários e o aumento da oferta de crédito.

A oferta de serviços bancários também obteve crescimento a taxas

superiores ao resto da economia, como resultado de investimentos em

tecnologia e capital humano.

Apesar da redução de 12% do número de bancos por fusões,

incorporações e liquidações, da racionalização dos serviços, da intensa

terceirização de atividades meio e da automação, a queda do número de

funcionários foi de apenas 1,6%.

A utilização intensiva de tecnologias complexas e a oferta de serviços

mais sofisticados exigem um quadro de funcionários melhor preparado. Além dos

investimentos em treinamento e desenvolvimento na capacitação dos

funcionários. Por isso verificou-se aumento substancial das despesas de

pessoal/funcionários/mês: de R$ 3.391 em 1994, essas despesas saltaram para

R$ 5.799 em 2002. Treinados para usar as novas tecnologias, os funcionários de

setor foram valorizados.

29

Continuou ocorrendo aumento expressivo das despesas administrativas

– de R$ 20 bilhões em 1999 para R$ 26,7 bilhões em 2002 – em função dos

gastos crescentes dos bancos para implantação e manutenção dos novos

serviços automatizados colocados à disposição da sociedade, além do

crescimento dos gastos com atividades terceirizadas. A ampliação da oferta de

serviços automatizados e a consolidação da política de cobrança direta

permitiram ampliar a receita de serviços de R$ 14 bilhões em 1998 para R$ 22,6

bilhões em 2002.

O substancial aumento do patrimônio líquido dos bancos, nos últimos

anos, revela a crescente capitalização do setor.

(Valores em R$ mil)

1999 2000 2001 2002 Variação

1999/2002

Quantidade de bancos 183 177 169 161 -12%

Nº de funcionários 406.315 402.425 400.802 399.842 -1,60%

Desp. de pessoal 24.451.336 25.972.158 26.867.300 27.823.141 13.80%

Outras desp. administrativas 20.087.996 21.574.260 23.824.430 26.755.880 33,20%

Desp. Tributárias (1) 3.969.117 4.598.897 5.181.004 9.564.443 141%

Lucro líquido 12.896.265 7.821.890 1.547.823 23.871.522 85,10%

Patrimônio líquido 72.103.570 77.814.916 98.592.324 115.836.599 60,70%

Desp. de pessoal/mês (2) 5.015 5.378 5.586 5.799 15,20%

Rentabilidade (3) 17,90% 10,10% 1,60% 20,60% 15,20%

Fonte: Febraban

(1) Despesas tributárias + Imposto de Renda + Contribuição Social;

30

(2)Despesas anuais de pessoal, incluindo salários, encargos e benefícios, divididas pelo número de funcionários e por 12 meses;

(3)Lucro em relação ao Patrimônio.

· Classificação atual dos 10 maiores bancos do Brasil por Ativos Totais:

(valores em R$ mil)

Junho de 2003 Junho de 2002

Instituições seqüência Ativo Total seqüência Ativo Total

Banco do Brasil 1 214.296.638 1 174.731.466

Caixa Econômica 2 134.329.360 2 113.418.734

Bradesco 3 120.578.276 3 91.823.552

Itaú 4 78.693.527 4 75.901.113

Unibanco 5 58.062.119 5 55.764.898

ABN AMRO Real 6 56.162.678 6 51.796.373

Safra 7 30.022.841 11 22.498.341

Banespa 8 28.534.985 7 31.179.188

Santander 9 24.199.934 9 26.235.651

Nossa Caixa 10 23.706.848 10 23.703.981

Fonte: Febraban

2.4- Negócios, Sustentabilidade e Responsabilidade Corporativa

É preciso atribuir um crédito pela valorização de princípios de

sustentabilidade e responsabilidade corporativa ao próprio empresariado. Têm

sido muitos os empresários a expressar seus valores nesse sentido e eles têm

31

conseguido, com sabedoria e muita disposição para superar dilemas, introduzir

uma perspectiva de médio e longo prazo em suas organizações. Há muita coisa

a mudar na gestão das empresas para que estejam preparadas a lidar com as

demandas legítimas da sociedade. Assim como há muita coisa a mudar nos

governos e nos hábitos de consumo dos povos.

Não são mudanças que possam ser feitas pelo confronto, e sim pelo

diálogo. Também não são mudanças que ocorrem por decreto, mas pelo

amadurecimento dos envolvidos.

Em geral, instituições financeiras respondem pela geração e

movimentação de grande parte da riqueza mundial, permitindo que os valores

resultantes da atividade dos diferentes setores da economia sejam deslocados e

utilizados nos mais diversos empreendimentos ao redor do planeta.

O desempenho de suas funções coloca os bancos em uma posição de

grande influência no cotidiano de empresas, governos, comunidades e, em última

análise, na vida das pessoas. Por isso a atuação do segmento financeiro da

economia se torna cada vez mais importante para o desenvolvimento sustentável

e para o incentivo à responsabilidade empresarial.

Várias iniciativas têm procurado sistematizar, organizar e formalizar o

papel do segmento financeiro em conceitos e práticas de sustentabilidade e

responsabilidade corporativa. No começo dos anos 90 tiveram início as

Iniciativas Financeiras da UNEP - Programa Ambiental das Nações Unidas,

quando então mais de 270 bancos, instituições financeiras e seguradoras se

articularam para viabilizar uma relação pragmática entre performance financeira e

meio ambiente. São enormes as conseqüências para o meio ambiente e para a

qualidade de vida das iniciativas da UNEP.

32

Em 1995 foi lançado o SAM - Gerenciamento Sustentável de Ativos, que

depois se uniria à Dow Jones & Company para a criação do DJSI - Índice de

Sustentabilidade Dow Jones; este indicador oferece uma avaliação de empresas

para fins de investimento, levando em conta tanto os aspectos financeiros

tradicionais quanto a performance ambiental e social das empresas. Na mesma

linha surgiu, dois anos depois, o FTSE4Good. São sinais inequívocos de

evolução da influência da sociedade sobre a atividade empresarial.

Em 2002, através de um convite da IFC - Companhia Financeira

Internacional, várias das maiores corporações bancárias mundiais se reuniram e

divulgaram em Johanesburgo, os "Princípios do Equador". No documento estão

definidas as diretrizes do envolvimento do segmento com essa temática como

um todo. Tais "orientações gerais" abrangem desde a incorporação das

questões ligadas ao desenvolvimento sustentável na gestão das instituições

bancárias, até a difusão do pensamento ligado à sustentabilidade de modo geral.

Como exemplo da dimensão do assunto e das conexões entre os

esforços que estão sendo realizados internacionalmente, os "Princípios do

Equador" utilizam como referência os padrões do próprio IFC e do Banco

Mundial para concessão de crédito, que por sua vez levam em conta questões de

sustentabilidade.

Atualmente os projetos e produtos ligados ao microcrédito, bem como os

fundos de investimento socialmente responsáveis, apontam para uma trajetória

de expansão; as iniciativas ao redor do mundo abrem perspectivas significativas

para todos os envolvidos e representam novos negócios e novos mercados para

os bancos; representam apoio às políticas públicas de desenvolvimento e à

inclusão econômico-social; representam acesso efetivo à cidadania e melhores

condições de vida para muitas pessoas e famílias (Febraban. 20/11/2004,

disponível em <http://www.febraban.com.br>).

33

2.5- Ações Sociais e Comunitárias dos bancos

Os bancos realizam ações sociais que beneficiam as comunidades onde

estão presentes, seguindo a tendência nacional no meio empresarial, de

qualificar melhor essa ação tratando-a como investimento social privado, ou seja,

com o uso planejado, monitorado e voluntário de recursos privados - provenientes

de pessoas físicas ou jurídicas - em projetos de interesse público, segundo

definição do Grupo de Institutos, Fundações e Empresas - GIFE.

A maioria dos bancos que realiza ações sociais também apóia

projetos/programas de terceiros ou realiza parcerias em seu investimento social

privado, o que demonstra a preocupação com a qualidade da ação e com o

fortalecimento da sociedade civil. Os projetos/programas próprios, que envolvem

também parcerias, são ações de iniciativa dos bancos que identificaram uma

área de atuação e buscaram parceiros para a sua realização, outra tendência que

vem se firmando na ação social do meio empresarial em geral.

Em 2002 os bancos destinaram para ações sociais ou comunitárias

recursos no montante de R$ 290.091 milhões; para patrocínio a projetos culturais,

esse valor foi de R$ 116.552 milhões.

Grande parte do investimento é realizado na área de educação, que

recebe 57,8% dos recursos, seguida de educação profissionalizante (14,85%) e

de ações na área de saúde (3,03%).

Dentre os incentivos fiscais disponíveis têm-se aplicações nos Fundos de

Direitos da Criança e do Adolescente acompanhando uma tendência que se

verifica no meio empresarial. As crianças e a comunidade em geral aparecem

como o público alvo prioritário das ações sociais dos bancos, seguido dos jovens,

34

dos adultos (isoladamente), das pessoas com deficiência e dos idosos. Na

pesquisa do IPEA 2002, as empresas em geral têm como público-alvo prioritário

também as crianças, mas as famílias aparecem em segundo lugar, seguida da

comunidade em geral e das pessoas com deficiência.

O investimento em educação e nas crianças demonstra que o

desenvolvimento do país passa pelo respeito aos direitos da criança e do

adolescente, com centralidade no direito à educação ou nas ações

complementares à escola (Febraban, 20/11/2004, disponível em

<http://www.febraban.com.br>).

2.5.1-Voluntariado

O trabalho voluntário é incentivado na maioria dos bancos e envolve

sobretudo seus funcionários, mas também os familiares, terceirizados, clientes e

fornecedores, o que demonstra uma ampla capacidade de mobilização social em

torno de questões sociais diversas, utilizando tanto sua comunicação interna e

externa quanto sua rede de relações a serviço dessas causas sociais, sobretudo

no campo da educação escolar pública e de ações complementares à escola.

Com um percentual de 12,81% de voluntários entre o número total de seus

funcionários, os bancos revelam que essa mobilização tem sido eficaz e está em

sintonia com o amplo movimento de introdução das práticas voluntárias no meio

empresarial e na sociedade em geral. O voluntariado corporativo tem sido uma

realidade cada vez mais presente nas empresas por meio de programas

específicos que articulam a ação social, com o incentivo de participação de seus

funcionários nesta ação.

2.5.2- Iniciativas da Febraban

35

Apresentaremos a seguir três dos projetos que a FEBRABAN realiza

diretamente ou em que participa com bancos associados, estimulando ações do

setor em temas de interesse da sociedade.

Projeto Febraban de Qualificação Profissional de Pessoas Portadoras de

Deficiência

Em julho de 2002, estimulados pela Lei de Cotas para Pessoas com

Deficiência (Decreto Federal nº 3.298, de dezembro de 1999), dez bancos

passaram a apoiar a FEBRABAN na realização de um investimento no

desenvolvimento de fontes de recrutamento e seleção de pessoas com

deficiências físicas, visuais e auditivas, realizando cursos para a qualificação

profissional especificamente voltado para o setor bancário.

O projeto envolve os bancos Bradesco, Itaú, Banco ABN AMRO Real,

BankBoston, HSBC, Citibank, Grupo Santander/Banespa, Banco Safra,

Sudameris e Unibanco. Para alguns destes bancos, o projeto está inserido nas

iniciativas de valorização da diversidade, que prevê ações afirmativas de

desenvolvimento de fontes para viabilizar efetivamente a qualificação profissional

e a participação, em melhores condições, nos processos seletivos das

empresas.

Programa Banco na Escola - Melhorando a qualidade da educação pública

A Aliança Social pela Educação foi formada em 2000 por nove bancos

internacionais. Essa articulação inédita tem como primeira ação o Programa

Banco na Escola que, em 2002, contava como aliados os seguintes Bancos:

ABN AMRO Real, BBV, Citibank, J.P.Morgan, e Loyds TSB, assim como a

Fundação BankBoston e o Instituto Credicard. A consultoria Oficina de Idéias é a

parceira executora do programa e, dentro de um processo de alinhamento

36

conceitual e planejamento estratégico operacional, os bancos elegeram a cidade

de São Paulo para iniciar suas atividades na área de educação. O programa tem

também como aliados sociais estratégicos o UNICEF, Instituto Ayrton Senna, a

Secretaria Municipal de Educação de São Paulo e o Ministério da Educação,

uma vez que pretende servir de referência e repassar seus conhecimentos para

todo o país.

No programa, funcionários voluntários usam seus conhecimentos sobre o

mercado financeiro a serviço da gestão dos recursos da educação que estão

disponíveis nas escolas, treinando e utilizando ferramentas de gestão

orçamentária participativa, desenvolvidas especialmente para essa finalidade.

Diretores, professores, integrantes de Associações de Pais e Mestres,

estudantes participantes de 43 grêmios de 51 escolas públicas do município de

São Paulo, assim como membros de Conselhos Tutelares da cidade e

comunidades próximas a essas instituições de ensino, constituem o público

deste processo de mobilização e capacitação.

O "Banco na Escola" tem como resultados o fortalecimento do

protagonismo dos jovens, a redução da violência, da repetência e da evasão nas

escolas que aderiram ao programa. As escolas envolvidas contam com maior

participação da comunidade na gestão escolar e estão mais abertas às

contribuições de diferentes públicos.

Banco de Talentos - A valorização de novos artistas e da cultura brasileira

Há dez anos os bancários com habilidades artísticas são mobilizados e

valorizados por esta iniciativa da FEBRABAN. Não há, em nosso país, iniciativa

cultural do setor privado que tenha tanta tradição na divulgação do trabalho de

artistas amadores. A cada ano são recebidas, em média, 550 inscrições,

37

envolvendo 730 bancários que atuam em 120 diferentes municípios, de

praticamente todos os Estados e o Distrito Federal.

Sem caráter competitivo, o Banco de Talentos não premia e não atribui

classificações a uns poucos escolhidos. Todos os selecionados têm seus

trabalhos divulgados em exposições, shows e em edições de livros, calendários

artísticos e CDs, que são gratuitamente dirigidos a críticos especializados,

galerias de arte, bibliotecas, escolas de artes e empresários que investem em

atividades culturais, assim como a autoridades e lideranças empresariais.

As apresentações e exposições do Banco de Talentos ocorrem em

espaços culturais como Memorial da América Latina, Auditório da Secretaria de

Cultura do Estado de São Paulo, Museu Brasileiro de Escultura, Museu de

Imagem e do Som, Tom Brasil e Espaço Cultural Higienópolis do Instituto de

Cultura Inglesa (Febraban, 20/11/2004, disponível em

<http://www.febraban.com.br>).

2.5.3- Os bancos e o apoio ao desenvolvimento social

No seu oitavo ano de existência, o Programa Comunidade Solidária mais

uma vez contou com o apoio dos bancos em vários de seus projetos e atividades.

Uma das mais significativas ações tem sido o combate ao analfabetismo que,

segundo o IBGE (2001), chega a 12,4% entre a população com 25 anos ou mais.

Em 2002, os bancos continuaram apoiando o Programa Alfabetização Solidária,

no seu quinto ano de existência.

Das 101 empresas que apóiam o programa, estão o Banco BBV,

Bradesco, Banco da Amazônia, Banco do Brasil, Banco do Nordeste, Banco

ABN AMRO Real, Grupo Santander/Banespa, Banco Sudameris, Caixa

38

Econômica Federal, Instituto Unibanco, Citibank, Fundação BankBoston,

Fundação Bradesco e a Fundação Itaú Social. Um dos resultados mais

significativos do programa é o de estimular a continuação dos estudos dos

alunos alfabetizados.

Educação

O termo educação compreende um conjunto enorme de aspectos e

muitos deles estão sendo abordados no investimento social privado que os

bancos realizam. Em todas essas práticas, há uma sintonia forte com um tema de

interesse da sociedade e o compromisso por melhorar a qualidade da educação

no país, entendida como fator fundamental para o desenvolvimento humano

sustentável. Os bancos destinam seu investimento social prioritariamente para a

educação e dirigem seus esforços no sentido de influenciar as políticas públicas

de diversas maneiras.

Há projetos que contribuem com questões fundamentais e ainda pouco

visíveis na sociedade, como a questão do racismo e as barreiras que ele cria

para o sucesso escolar dos alunos afrodescendentes. O Projeto Geração XXI, da

Fundação BankBoston, é a primeira ação afirmativa com adolescentes negros no

Brasil, destinado a oferecer educação de qualidade e condições para a

formação de novos líderes, construindo condições efetivas de igualdade de

oportunidade para todos.

Esporte

O contato das crianças e jovens com o esporte é uma ferramenta eficaz

para complementar a escola, oferecer noções de cuidado com o corpo e a

saúde. Há diversas ações sociais desenvolvidas por bancos com foco neste

segmento, sejam elas em forma de patrocínio ou em amplos projetos de

39

desenvolvimento e inclusão social de crianças e adolescentes e também

pessoas com necessidades especiais.

O esporte como formador de cidadãos ganha destaque na ação social

do Grupo Santander Banespa. Há três importantes iniciativas neste sentido:

Clínicas de Vôlei, ministradas por atletas profissionais da equipe de vôlei do

Esporte Clube Banespa; a Escolinha de Voleibol, que seleciona jovens jogadores

na chamada "Peneira" do Banespa; e a realização de palestras que reúnem

características práticas e motivacionais pelos componentes da comissão técnica

da equipe profissional de vôlei (gerente, técnico, preparador físico, psicólogo,

médico, fisioterapeuta), cada qual em sua especialidade, em universidades e

outras instituições. Com as clínicas, diversas cidades do interior do país e

escolas públicas da rede municipal e estadual de ensino de São Paulo ganham

um evento que ajuda a levar jovens para o esporte, o que traz muitos benefícios

sociais. Em 2002, mais de 20 mil crianças foram envolvidas nas atividades.

Saúde

Os bancos, por intermédio do Programa Saúde e Cidadania, desejam

contribuir para a capacitação e aperfeiçoamento de gestores municipais de

serviços de saúde, modernizando as práticas administrativas gerenciais desses

serviços, promovendo a melhoria da qualidade de vida das comunidades. Para

tanto, fizeram parceria com o Instituto de Desenvolvimento da Saúde. Foram

elaborados doze manuais sobre os principais itens aplicáveis à administração da

saúde brasileira. Entre os assuntos disponíveis nos manuais, estão a discussão

sobre a Concepção e Organização dos Distritos Sanitários, o Planejamento da

Saúde, Gerenciamento e Manutenção de Equipamentos Hospitalares e a Gestão

de Recursos Materiais e de Medicamentos. O projeto foi implementado em 1997

e o conjunto de manuais pode ser utilizado diretamente pelas secretarias

municipais de saúde, com um impacto positivo na área e a incorporação dos

40

manuais pelo Ministério da Saúde, dada sua qualidade, em mais de 3.000

municípios brasileiros. Foram investidos um milhão de reais no lançamento e na

manutenção do programa que acontece desde 1997.

Cultura

O entendimento de que a cultura é fundamental para a construção da

identidade de um povo, principalmente quando percebida como processo

educativo e que promove evolução socioeconômica, é um aspecto importante

para o envolvimento do setor que tem desempenhado um papel efetivo na

democratização ao acesso dos bens culturais à população brasileira.

O investimento do setor financeiro na área da cultura vem transformando e

agregando valor ao desenvolvimento do universo cultural brasileiro de forma

representativa e crescente nos últimos anos. Sem dúvida, o impacto das ações,

projetos e, principalmente, do formato de gestão, seja através das suas

instituições culturais ou das áreas de responsabilidade social e de marketing

corporativo, traz especialmente dois fatores relevantes ao mercado da

preservação e produção de bens culturais: o impulso ao profissionalismo e a

inclusão abrangente dos diversos segmentos e agentes culturais ao cenário

produtivo (Febraban, 20/04/2004, disponível em: < http://www.febraban.com.br>).

41

CAPÍTULO III

O CASO DO BANCO ABN AMRO REAL S/A

3.1- Área de atuação

Um dos desafios do Banco ABN AMRO Real é contribuir para a

construção de uma sociedade mais justa, onde o respeito e a preservação do

meio ambiente sejam uma realidade. De acordo com suas declarações, o Banco

ABN AMRO Real deseja essa mudança e se propõe a ser um dos líderes desse

processo no mercado e na sociedade. Acredita que, assim, estará fazendo sua

parte para viabilizar os sonhos mais legítimos da sociedade, contribuir para o

bem-estar das pessoas e, conseqüentemente, garantir o cumprimento de sua

missão.

Sua missão: “Satisfazer o cliente, gerando valor para o acionista,

funcionários e comunidade, através de uma postura ética nos negócios,

42

diferenciando-nos pela qualidade dos produtos, serviços e, especialmente, pelo

atendimento”. (Banco ABN AMRO Real S/A, 16/11/2004, disponível em:

<http://www.bancoreal.com.br>.

De acordo com sua missão, o Banco ABN AMRO Real vai redefinindo o

modo de interagir com seus diversos públicos: acionistas, funcionários, clientes,

fornecedores e a sociedade como um todo.

Gerar valor para todos esses públicos é, além de uma causa, uma

questão estratégica para o Banco ABN AMRO Real, diretamente associada à

própria sustentabilidade dos negócios e, porque não, do próprio planeta.

Os valores do Banco ABN AMRO Real são expressos em sintonia com o

tempo: integridade, respeito, profissionalismo e trabalho em equipe. A empresa

acredita que esses valores triunfarão nas sociedades onde atua. É com base

neles que se orienta, toma suas decisões de negócio, se inspira e se torna ainda

mais competitivo e capaz para cumprir sua missão.

Segundo anexo contendo declarações do presidente do Banco ABN

AMRO Real, Fábio Barbosa, a organização acredita nas mudanças que são

desencadeadas de dentro para fora. Assim, investe na conscientização e

mobilização do público interno, adequando as atitudes e práticas do dia-a-dia

aos seus princípios e valores, sempre em sintonia com os anseios mais legítimos

da sociedade.

3.2- Histórico das ações sociais

Todas as ações de Responsabilidade Social do Banco ABN AMRO Real

são desenvolvidas por grupos de trabalho formados por funcionários. Criou-se

um movimento que, a partir de um efeito multiplicador, passa a envolver todos os

demais públicos da organização.

43

Um importante passo foi dado com a criação da Diretoria de

Responsabilidade Social, que tem como papel facilitar todo o processo e ser um

elo entre a sociedade, suas questões hoje priorizadas para um desenvolvimento

sustentável e as áreas de negócio do Banco. Várias ações desenvolvidas pelas

diferentes áreas do Banco visam incluir os conceitos de responsabilidade social

e sustentabilidade em todos os processos organizacionais da empresa.

Principais ações sociais do Banco ABN AMRO Real:

· Instituto Escola Brasil

Esporte, arte e lazer: ação voluntária dos funcionários para promover a

auto-estima do aluno e retenção escolar;

· Trilha dos Ladrilhos

Revitalização do espaço urbano degradado: a primeira ação aconteceu

perto da sede do Banco, em São Paulo;

· Talentos da Maturidade

Estímulo e reconhecimento da sabedoria da terceiridade: um concurso

nacional que premia talentos;

· Brincando na Rede

Site para crianças de 5 a 12 anos: um espaço lúdico e divertido;

· ADD Training

Cursos de capacitação profissional para portadores de deficiência, em

parceria com a ADD – Associação Desportiva para Deficientes;

· Amigo Real

Programa para incentivar os funcionários a destinar parte do Imposto de

Renda restituído para projetos que beneficiam crianças e adolescentes;

· Atividades Culturais

Restauração de patrimônio histórico, museus e acervos,

exposições e mostras temáticas;

· Banco na Escola

44

Desenvolvimento da comunidade escolar para melhor

gerenciamento dos recursos: 892 escolas da Rede Municipal de São

Paulo já envolvidas;

· Universidade Solidária

Mobilização das universidades pelo social: ação que estimula o trabalho

comunitário, contribuindo para a formação dos estudantes universitários;

· Alfabetização Solidária

Alfabetização de jovens e adultos: ação que busca a redução dos

índices de analfabetismo do país e contribui para a auto-estima da

população carente;

· Coleta Seletiva

Incentivo a uma revisão no estilo de vida, implantando um sistema

de recolhimento de materiais recicláveis, preferencialmente para as

pessoas da Organização;

· Fundo Ethical

Primeiro fundo de ações da América Latina a utilizar critérios de

responsabilidade social, objetivando valorizar as empresas que adotam

princípios éticos em seus negócios;

· Financiamentos Socioambientais

Criação de linhas de financiamento que ajudam as empresas na

prática de ações socioambientais responsáveis;

· Sugestões e reclamações

A opinião do cliente está no centro das decisões;

· Microcrédito

Criação de agências de Microcrédito e treinamento de agentes

para o atendimento a microempreendedores;

· Programa Universitários

Pacote de crédito que ajuda os jovens a organizar a sua vida financeira;

· Fornecedores

45

Criação de uma rede de fornecedores que incorpore o conceito de

responsabilidade social em sua gestão;

· Diversidade

Inserção da diversidade como valor nos processos e práticas gerenciais;

· Ecoeficiência

Educação e conscientização com o objetivo de implementar uma

cultura ecoeficiente na Organização.

Outras ações sociais foram ou estão sendo praticadas pelos funcionários

do Banco ABN AMRO Real como:

· Alimentos no Vale

Arrecadação de alimentos para serem distribuídos no Vale do

Jequitinhonha, em Minas Gerais, um dos maiores bolsões de pobreza e

miséria do país;

· Cristo Redentor

Na área de preservação do patrimônio histórico, uma das principais

iniciativas foi ajudar na reforma do Cristo Redentor e melhorar o acesso a

esse monumento;

· Reforço dos laços históricos entre Brasil e Holanda

Patrocínio do Banco ABN AMRO Real à exposição do pintor

holandês Albert Eckhout em várias capitais brasileiras;

· Gincana da Solidariedade

Utilização de jogos e brincadeiras que ajudam na capacitação e

reciclagem profissional dos funcionários, que têm também que arrecadar

materiais escolares para serem distribuídos nas escolas públicas de

Anápolis, Goiás.

3.3- Detalhamento das ações sociais

46

Dentre todas as ações sociais praticadas pelo Banco ABN AMRO Real,

selecionamos três que detalharemos a seguir: Programa de Financiamentos

Socioambientais, Programa Universitários e o Instituto Escola Brasil.

Financiamentos Socioambientais

O desenvolvimento sustentável não é uma bandeira apenas de

ecologistas, mas de toda a sociedade, inclusive de quem trabalha numa agência

bancária. Essa é a crença que move os funcionários do Banco ABN AMRO Real

na implementação dos Financiamentos Socioambientais. Desde julho de 2002,

1500 gerentes e analistas da Organização foram conscientizados de que as

decisões que tomam sobre o crédito terão importantes impactos, positivos ou

negativos, sobre o meio ambiente e o bem-estar social do país. Coordenado pela

ONG Amigos da Terra e contando com a participação do International Finance

Corporation, IFC, entidade que faz parte do Banco Mundial, o treinamento teve

como objetivo principal preparar cada gerente e analista de crédito a avaliar o

risco socioambiental da concessão de um crédito. “Os gerentes e analistas

entram no curso sem saber a relação entre crédito e meio ambiente”, conta Mário

Monzoni, da Amigos da Terra. “Acabam descobrindo que podem evitar danos à

natureza influenciando os clientes para adotarem uma postura ambientalmente

responsável”.

A parceria entre o Banco ABN AMRO Real, a Amigos da Terra e a IFC

resultou num dos maiores treinamentos ambientais feitos por um banco no mundo:

foram 70 treinamentos em todo o país, sem contar outros treinamentos ambientais

paralelos. No total, o curso teve cinco horas de duração. Nele, os funcionários

ficam sabendo por que o Banco deve olhar com atenção a questão

socioambiental e conhecem algumas das novas linhas de financiamentos

dirigidas para soluções socioambientais.

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A esmagadora maioria sai desse treinamento com olhar aguçado para

detectar problemas como clientes que deixam as suas instalações poluir a água,

desmatam ilegalmente ou contratam mão-de-obra infantil, entre outros exemplos.

Mas sabem também reconhecer quem atua preocupado com a sustentabilidade.

Depois de passar pelo curso, a analista financeira Nilzete Assis visitou um

fabricante de móveis de madeira no Paraná para verificar sua situação financeira

e indagou sobre a política ambiental da empresa. “Descobri que a companhia

tinha um programa bem desenvolvido nessa área e ainda ouvi elogios do cliente

que, satisfeito com a postura do Banco, aumentou seus negócios com a

instituição”, lembra Nilzete.

Uma das descobertas feitas pela Organização é que geralmente uma

empresa que cuida bem da parte ambiental também apresenta boa gestão

financeira. “Quem posterga investimentos na área ambiental pode ter gastos

maiores no futuro para remediar a situação”, afirma Christopher Wells, gerente de

risco socioambiental do Banco ABN AMRO Real. “É só perceber que muitos itens

de custo vão subir no futuro, como energia, água e a disposição de lixo. Multas

ambientais e indenizações trabalhistas vão causar muitos prejuízos para a

imagem das empresas. A pressão das leis e das ONGs tornará esses elementos

mais caros”.

Wells foi contratado na metade do ano de 2002 para uma função inédita

no sistema financeiro: montar uma espécie de “radar” para detectar riscos dessa

natureza nas empresas que são clientes do Banco ABN AMRO Real. Cinco

companhias que não satisfizeram as expectativas da Organização estão tendo

seus relacionamentos encerrados. São elas duas madeireiras sem selo verde,

uma empresa de armamento de guerra, uma de extração de amianto e outra de

mineração, que polui o ambiente e não tem condições financeiras de reverter a

situação. A Organização deixou de ganhar alguns milhões nessas operações,

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segundo Wells, que tem a função de fazer as empresas entender que é de seu

interesse se adequar. Quem sai ganhando é o meio ambiente e a companhia.

O caso de um outro cliente mostra bem como a Organização age nessas

situações. A empresa fabrica baterias e está na lista negra do Greenpeace -

entidade internacional de luta pela preservação e conservação ambiental - sobre a

acusação de ter contaminado funcionários com chumbo, há dez anos. A

companhia afirmava que já havia contornado a situação. Wells visitou a empresa e

descobriu no sindicato da categoria que o cliente havia bancado o tratamento de

todos os funcionários e que também fez instalações na fábrica para evitar novas

contaminações. Wells ligou ao Greenpeace para dizer que a empresa merecia ser

excluída da sua lista negra. O responsável por essas questões na fábrica

agradeceu e ficou sensibilizado com a atitude do Banco ABN AMRO Real.

Ao mesmo tempo em que o Banco inicia um diálogo com os seus clientes

sobre riscos ambientais, uma atitude que às vezes expõe uma situação delicada

da empresa, a Organização também se propõe a ser um parceiro da empresa

quando esta quer sair de tal situação. Existem clientes do Banco ABN AMRO Real

que não estão totalmente adequados ambientalmente, que sabem disso e que

precisam de financiamento para fazer os investimentos necessários.

Para apoiar os clientes em suas ações voltadas ao desenvolvimento

sustentável, o Banco oferece uma série de produtos dirigidos para essa área,

como, por exemplo, linhas de financiamento para tratamento de efluentes, controle

de emissões atmosféricas e outros equipamentos de redução de impacto

ambiental. Em 2003, foi lançada uma linha específica para postos de

combustíveis, que em muitos casos precisam fazer reformas em função da nova

legislação.

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Para os clientes pessoa física, um dos produtos socioambientais de

maior sucesso tem sido a linha para financiar a conversão de automóveis para o

combustível gás natural. Criada em parceria com o fabricante do equipamento,

essa linha possibilita que muitos motoristas possam optar por um combustível

mais limpo e mais econômico. Ainda no segmento de pessoa física, o Banco ABN

AMRO Real financia a compra de aquecedores de água que funcionam com

energia solar (Banco ABN AMRO Real S/A, 2003. Ecoeficiência – Vamos reduzir,

reutilizar e reciclar).

Na área social, o Banco também inovou. Tem linhas especiais para

reestruturação financeira de hospitais, compra de microcomputadores para

professores e financiamento de equipamentos para pessoas com dificuldades de

locomoção.

Um outro incentivo ao desenvolvimento está no financiamento ao pequeno

produtor rural. São considerados pequenos produtores aqueles que têm

faturamento de até R$ 60 mil ao ano.

Até maio de 2003, o Banco ABN AMRO Real financiou um total de R$

558 milhões a esses produtores. Isso representa 27,2% a mais do que o mínimo

exigido pelo Banco Central, que é de 20% sobre o total de financiamentos rurais

do Banco. (Banco ABN AMRO Real S/A, 16/11/2004, disponível em

<http://www.bancoreal.com.br>.

A Organização está num processo de desenvolvimento de produtos na

área socioambiental e de aprendizado com esse novo jeito de avaliar as

operações de crédito. E tem descoberto que há boas oportunidades de negócios

também, fortalecendo o posicionamento do Banco ABN AMRO Real no mercado

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e confirmando que é possível ter bons resultados respeitando o meio ambiente e

contribuindo com o desenvolvimento social.

Programa Universitários

Durante muito tempo os universitários tiveram dificuldade para serem

incluídos no sistema bancário. Como a maioria deles não tem como comprovar

renda e os poucos que possuem alguma atividade profissional estão apenas

dando os primeiros passos na carreira, as instituições financeiras voltavam as

costas para esse público. Aos poucos, porém, foram percebendo a importância

de fornecer algum suporte para que o jovem pudesse se desenvolver

economicamente. Hoje, a maioria dos bancos possui produtos para cativar os

estudantes. O Banco ABN AMRO Real foi o pioneiro em apostar nos jovens do

Brasil, quando lançou há dezessete anos um programa de serviços voltado para

os alunos do ensino superior. A Organização quer ajudar o universitário e fazer

com que ele evolua e caminhe junto a ela ao longo de sua vida.

Para abrir uma conta no Banco ABN AMRO Real, os universitários não

precisam comprovar renda e já recebem um kit de crédito pré-aprovado. Eles

também têm acesso a descontos em tarifas. Essas vantagens são válidas até um

ano depois do término do curso. O desafio é fazer com que o estudante que

escolheu o Banco quando deixava a adolescência se mantenha como um cliente

fiel pelo resto de sua vida. Atualmente 85% das contas abertas no primeiro ano de

faculdade estão ativas na época da formatura.

No final de 2001, o Banco ABN AMRO Real criou um site de informações

para os universitários (www.bancoreal.com.br/universitarios) dentro do seu portal.

O conteúdo da página é bem diversificado. Há desde dicas de como se organizar

para morar fora da casa dos pais até chats com especialistas sobre os desafios

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das carreiras. Atualmente 50 mil universitários entre correntistas e não correntistas

acessam o site.

Esse espaço sempre incorpora novas demandas e sabe-se que

voluntariado é hoje uma palavra de ordem entre muitos jovens. Em função disso,

têm sido inserido permanentemente informações sobre iniciativas voltadas para a

responsabilidade social.

“Queremos fazer a ponte entre o desejo dos jovens de ajudar os mais

necessitados e a efetiva participação num projeto social”, afirma Antônio

Barbosa, superintendente do programa de afinidades do Banco ABN AMRO

Real. (Banco ABN AMRO Real S/A, 16/11/2004, disponível em

<http://www.bancoreal.com.br>.

Instituto Escola Brasil

O sociólogo Herbert de Souza costumava dizer que a ação de um

voluntário equivale a um “grão de cidadania”. Quando se multiplica, o grão tem

força para mudar a realidade. Os 3.500 funcionários envolvidos no Instituto Escola

Brasil, IEB, criaram outra metáfora para representar os desafios e a necessidade

de perseverança para esse tipo de trabalho. Os diversos grupos adotaram

colégios públicos em todo o Brasil para ajudá-los a melhorar problemas graves de

infra-estrutura e estimulam atividades esportivas e culturais. Antes do início dos

trabalhos, é plantada uma muda de ipê em cada escola. Essa árvore é forte e

resistente, mas tem um crescimento lento. “Nossos programas também precisam

de cuidados permanentes”, afirma o voluntário Ângelo Ávila, 33 anos.

Cada vez mais os brasileiros estão trocando o estado de acomodação

por uma cidadania ativa. O Instituto Escola Brasil é uma prova disso. A idéia

nasceu em 1998 na Aymoré, a financeira que pertence ao ABN AMRO Real. Não

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foi difícil recrutar pessoas. O problema envolvia o que Ângelo Ávila chama da

necessidade de tirar a turma da “zona de conforto”. “Ajudar, todo mundo quer, mas

na hora de pôr a mão na massa falta tempo”. Aos poucos, houve uma grande

mudança de mentalidade. “Hoje ninguém mais se importa de doar um fim de

semana para uma boa causa”, explica a voluntária Ana Paula da Silva.

Os funcionários foram obrigados a driblar a desmotivação de alguns

professores e diretores das escolas e buscar soluções baratas para a resolução

dos problemas. Quando o IEB chegou à Escola Comunitária Jardim Jaderlar, na

periferia de Belém, as carteiras estavam quebradas, a lousa pendurada com um

fio de nylon e a iluminação não funcionava. Os voluntários dividiram os trabalhos,

de acordo com a afinidade ou o conhecimento técnico de cada um. “Olhando para

a vida dessas comunidades, você aprende o que é realmente ter problemas na

vida”, afirma o voluntário Ramon Bentes. Em tempo: ao longo dos quatro últimos

anos, foram plantadas 102 mudas de ipês. Todas elas estão sendo cuidadas

pelas escolas e continuam crescendo.6

6Banco ABN AMRO Real S/A. Valores humanos e econômicos, juntos, 2003, p. 13.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Acreditamos que está nascendo um novo capitalismo, mais humano e

integrador. Essa transformação ocorre em sintonia com os desejos das pessoas

em busca de uma nova ética nos negócios, que leve em conta valores como a

necessidade de preservação do planeta e o desenvolvimento de toda a

sociedade.

Os bancos, que são agentes do sistema financeiro na sociedade, podem

ajudar as pessoas a gerenciar seus recursos de uma forma mais consciente.

Nesse sentido, percebemos o Banco ABN AMRO Real como agente de um novo

capitalismo. A Organização deseja ser um dos protagonistas nesse processo.

Deseja obter lucros e resultados com a consciência e o propósito de construir de

fato uma sociedade melhor. Está fixado na mentalidade da empresa que o seu

sucesso será cada vez mais, decorrência dessa maneira de conduzir os

negócios.

Se as ações do Banco ABN AMRO Real fossem pautadas pelo ditado

popular “em time que está ganhando não se mexe”, a empresa teria bons motivos

para deitar em berço esplêndido, comemorando o desempenho excepcional

registrado nos últimos tempos. Em 2002, colheu um lucro de R$ 1,2 bilhão, cifra

54,02% superior à registrada no exercício de 2001. Em abril de 2003, foi aceita a

proposta de compra do Banco Sudameris, o que levou o Banco ABN AMRO Real

a uma posição de maior destaque ainda no mercado financeiro.

Apesar disso, a empresa resolveu mexer no time que está ganhando

baseada, entre outras coisas, na crença de que não adianta ir bem num país que

vai mal. Não há como conciliar uma organização financeiramente bem-sucedida

numa nação com os índices de miséria e de desigualdade como o Brasil. Isso não

é sustentável.

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É perceptível que, inteligentemente, suas ações são estratégias de

manutenção de relacionamentos, o que resultará certamente em resultados

financeiros compensadores.

O Banco ABN AMRO Real está resgatando o papel dos bancos, enquanto

agentes do desenvolvimento social, ambiental e econômico. Continua no foco dos

investimentos que estão direcionados para gerar resultados que agreguem valor a

todas as pessoas com quem se relaciona. Pretende manter um relacionamento a

longo prazo com os seus clientes e com a sociedade. Essa é a idéia de

sustentabilidade. Objetiva o lucro sim, mas não a qualquer preço. Deseja fazer a

coisa certa, sempre.

Para atingir essa meta, o Banco ABN AMRO Real olha para a real

necessidade de seus clientes na hora de oferecer produtos. Valoriza a

diversidade entre seus funcionários, num cenário onde está cada vez mais claro

que a criatividade, a flexibilidade e produtividade são diretamente proporcionais à

expressão das diferenças.

Percebemos na conduta da Organização, não apenas a preocupação

com os clientes, parceiros e fornecedores, gente que tem um relacionamento

direto com ela. Está preocupada com toda a sociedade.

Analisando seus projetos e ações, notamos que foi despertada na

Organização a necessidade de mudança de postura para começar uma grande

mobilização no âmbito da responsabilidade social, iniciada entre as lideranças

que começaram a se articular para influenciar toda a instituição com um novo olhar

para os negócios.

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Os números de um relatório são importantes para prestar contas porque

quantificam uma realidade e orientam nos planos e objetivos a serem alcançados.

Porém os números não mostram o crescimento pessoal de cada indivíduo, a

qualidade dos relacionamentos nem a lealdade dos clientes – esse é o verdadeiro

patrimônio de valor que garante a consistência da transformação que estamos

vivendo e que dá a garantia de um futuro promissor.

A experiência relatada é gratificante não só porque reflete as convicções

da Organização, mas porque de fato produz resultados mais compensadores para

a comunidade e todos os envolvidos no processo: os acionistas, os funcionários,

os fornecedores, os clientes, enfim todos os que se relacionam com a Empresa.

Esse é o resultado esperado quando a organização implementa estratégica e

inteligentemente atitudes de responsabilidade social em sua gestão.

Podemos ter a convicção de que responsabilidade social e empresarial

são indissociáveis para o bem dos negócios e de toda a sociedade, e o Brasil

merece e precisa do trabalho de cada um de nós.

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ANEXO 1

O Presidente e a Cliente

Em janeiro de 2003, a cliente Sônia Mesquita, de Angra dos Reis, no Rio

de Janeiro, escreveu uma carta ao presidente do Banco ABN AMRO Real, Fábio

Barbosa, depois de ler no Real Notícias uma matéria sobre o debate que

começava a ser promovido dentro da Organização sobre como criar um

capitalismo mais humano e inclusivo e quais ações da instituição nessa direção.

Sônia questionava como era possível conciliar isso com as taxas de juros. Em sua

resposta, Fábio Barbosa contou que o ABN AMRO Real está agindo tanto

internamente, para tornar sua gestão mais consciente e responsável de seu papel

na sociedade, como externamente, oferecendo produtos que atendam aos

aspectos econômico-financeiro, ambiental e social. Fábio e Sônia foram

convidados a continuar a conversa. O encontro ocorreu em maio de 2003, no

edifício da Organização na Avenida Paulista, em São Paulo. Ele mostra que o

diálogo entre as empresas e a sociedade é uma das bases da construção de um

novo capitalismo. A seguir, os principais trechos da reunião.

Fábio Barbosa – Achei superlegal sua carta. Quando uma pessoa se manifesta,

significa que ela acredita que as coisas podem melhorar. Acho saudável esse tipo

de indignação. Enquanto houver indignação neste país, haverá esperança.

Sônia Mesquita – Jamais imaginaria que a carta seria respondida por você.

Escrevi para saber como é possível mudar o cenário num país com tantos

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problemas como o Brasil. Um deles são os juros. Qual a explicação para termos

taxas tão altas?

Fábio Barbosa – Os juros realmente estão altos e para reduzi-los temos que

entender e atuar em suas causas, na base do problema e não somente na sua

manifestação. Vou simplificar um pouco a questão. Em primeiro lugar, existe a lei

da oferta e da procura. Quando o dinheiro é escasso, como ocorre hoje no Brasil,

a tendência é que ele custe mais caro. Uma série de impostos também incide

sobre as operações financeiras, o que acaba encarecendo os produtos dos

bancos. Temos todo o interesse em que aumente a oferta de crédito pelos bancos

privados, para que possamos fortalecer ainda mais as bases de atuação de

nossos negócios e para que a economia possa entrar em um ritmo de

crescimento sustentável. Mas para isso, ainda há muitos outros pontos que

precisam ser debatidos, como a questão da inflação, recolhimentos compulsórios,

ajustes na legislação, existência de informalidade na economia. Obviamente, a

discussão sobre os juros não se encerra nessas questões. Mas, com diálogo e a

participação de todos os setores da economia, certamente evoluiremos nesse

sentido.

Sônia Mesquita – Me incomoda muito o tratamento que os bancos dão aos seus

clientes. Muitas vezes, os funcionários só atendem bem o sujeito que aparece na

agência de terno e gravata. Ao mesmo tempo, costumam desprezar as pessoas

com uma aparência mais humilde. Elas são justamente as que mais precisam de

empréstimos, de ajuda especializada para organizar sua vida financeira.

Fábio Barbosa – Concordo com você. Por isso, estamos trabalhando para

conscientizar os nossos funcionários de que o cliente satisfeito é quem viabiliza o

banco. Para ter o cliente satisfeito, temos, cada um em sua área, que dar o melhor

de nós.

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Sônia Mesquita – O que é dar o melhor?

Fábio Barbosa – Não pode ser uma coisa artificial, que se resolva obrigando os

funcionários a dar um bom-dia a todos que entram na agência. É uma coisa mais

profunda. Acredito que o funcionário que se sente respeitado pelo banco vai tratar

bem os clientes. Se o funcionário não estiver bem com a organização, dificilmente

vai ter a atitude correta no trato com o público. Nesse aspecto, estamos

determinados a valorizar a relação com nossos funcionários e com os nossos

clientes. Na última pesquisa interna, descobrimos que mais de 90% dos

funcionários sentem orgulho de trabalhar no banco e 89% gostam do que fazem.

Só assim alcançaremos os nossos objetivos.

Sônia Mesquita – Na teoria, todo mundo paga impostos para que o Estado

reverta esse dinheiro em serviços públicos. Na prática, porém, muita gente

começa a não pagar, pois acha que boa parte do dinheiro não é empregada em

benefício da sociedade. Conheço muita gente que fica indignada em ter que

pagar uma escola particular para os filhos, pois o colégio público não tem um bom

nível. Não é difícil sair desse círculo vicioso?

Fábio Barbosa – Quem não paga não tem o direito de reclamar dos maus

serviços. É uma hipocrisia não pagar impostos e depois reclamar dos buracos na

rua. A solução do problema passa por uma mudança de valores.Temos que

mudar os valores das pessoas e do país. Ao longo da história, criamos um

ambiente que diz que o legal é ser malandro. Lembro dos meus tempos de

escola. Sempre fui um bom aluno. Quando eu estava na

faculdade, dizia aos colegas que não havia estudado às vésperas da prova, falava

que tinha ficado vendo TV, pois queria fazer parte do grupo. Quem estudava era

discriminado. Quando fui morar no exterior, vi o reverso. Lá, o sujeito que não

estuda e tenta dar uma de malandro é que é discriminado. Foi um choque cultural,

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mas que me ajudou a perceber o quanto nossa sociedade cultiva os valores

errados. Felizmente, isso está mudando.

Sônia Mesquita – Fico preocupada vendo essa onda de terceirização. É um

recurso usado por muitas companhias para ganhar competitividade. Mas muitas

dessas empresas só conseguem oferecer serviços a preços baixos quando não

registram os funcionários.

Fábio Barbosa – Terceirizar não é ruim, depende da maneira de como isso é

feito. A terceirização pode gerar mais empregos ou até mesmo estimular o

desenvolvimento de cooperativas. Criamos dentro do banco um grupo de trabalho

onde discutimos com os fornecedores maneiras de praticar a responsabilidade

social e empresarial. Se cada um fizer a sua parte, a gente muda o mundo.

Sônia Mesquita – Concordo que cada um tem que doar um pouco do seu tempo

para melhorar as coisas que estão erradas. Fico contente em saber que o Banco

Real está mesmo empenhado em praticar um novo tipo de capitalismo. A

realização desse encontro mostra que o banco leva a sério a disposição de

dialogar com toda a sociedade.7

7 Banco ABN AMRO Real S/A. Valores humanos e econômicos, juntos, 2003, p.15.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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São Paulo: Saraiva, 2002.

Banco ABN AMRO Real S/A. Ecoeficiência – Vamos reduzir, reutilizar e reciclar.

São Paulo, Junho 2003.

Banco ABN AMRO Real S/A. http://www.bancoreal.com.br, acesso em

16/11/2004.

Banco ABN AMRO Real S/A. Valores humanos e econômicos, juntos. São Paulo,

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DUARTE, Gleuso Damasceno e DIAS, José Maria Martins. Responsabilidade

social: a empresa hoje. Rio de Janeiro: LTC – Livros Técnicos e Científicos:

Fundação Assistencial Brahma, 1986.

Febraban. http://www.febraban.com.br, acesso em 30/11/2004.

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MELO NETO, Francisco Paulo de e FROES, César. Gestão da responsabilidade

social corporativa: o caso brasileiro. Rio de Janeiro: Qualitymark Ed., 2001.

MELO NETO, Francisco Paulo de e FROES, César. Responsabilidade social e

cidadania empresarial: a administração do terceiro setor. Rio de Janeiro:

Qualitymark Ed., 1999.

Pesquisa Ação Social das empresas. http://www.ipea.gov.br, acesso em

16/11/2004.