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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A IMPLEMENTAÇÃO PELA PSICOPEDAGOGIA DO PROJETO
PEDAGÓGICO FREIREANO DE ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS
POR
SIMONE ALVES MOTTA
RIO DE JANEIRO-RJ
MARÇO/2003
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A IMPLEMENTAÇÃO PELA PSICOPEDAGOGIA DO PROJETO
PEDAGÓGICO FREIREANO DE ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS
Monografia apresentada como requisito parcial para
conclusão do Curso de Psicopedagogia
Por Simone Alves Motta
Professora orientadora Diva Nereida Maranhão
RIO DE JANEIRO-RJ
MARÇO/2003
DEDICATÓRIA
Uma luz de onde emana ternura jamais
se apaga, se estende, se propaga...
Aos meus amigos carinhosos, esposo,
irmã pelo apoio e incentivo de terem
ficado durante está jornada por muitas
vezes sem a minha presença e por
permitirem que a luz continue
brilhando e a ternura se propagando,
dedico este trabalho.
AGRADECIMENTOS
Agradeço especialmente a Deus pela saúde e a
disposição durante esta trajetória e pelas bençãos que
Ele derramou sobre mim e pela compreensão do
meu esposo, dos momentos em que estive ausente.
Quero expressar aqui o meu agradecimento a
professora Diva pelo apoio e por ter conseguido me
auxiliar na realização de um grande desejo: o de
concluir a minha monografia. Isso representa para
mim uma grande conquista.
Agradeço aqueles que sempre confiaram em mim.
EPÍGRAFE
"Não é possível refazer este País, democratizá-
lo, humanizá- lo, torná- lo sério com adolescentes
brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo
o sonho, inviabilizando o amor.
Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem
ela tampouco a sociedade muda.
Se a nossa opção é progressista, se estamos a favor da
vida e não da morte, equidade e não da injustiça, no
direito e não do arbítrio, da convivência com diferente e
não de sua negação, não temos outro caminho senão
viver a nossa opção. Encarná- la, diminuindo assim a
distância entre o que dizemos e fazemos.
Desrespeitando os fracos, enganando os incautos, ofendendo a
vida, explorando os outros, discriminando o índio, o negro, a
mulher, não estarei ajudando meus filhos a serem sérios, justos e
amorosos da vida e dos outros."
Paulo Freire
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 9 1. A PSICOPEDAGOGIA E A ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS
E ADULTOS 13
2. PAULO FREIRE E SUA VIDA 18
3. PAULO FREIRE E EMÍLIA FERRREIRO 28
CONCLUSÃO 30
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 33
ÍNDICE 34
ANEXOS 35
RESUMO Na introdução estão a definição do tema e as razões da sua escolha. No primeiro capítulo é feita uma análise da atuação do psicopedagogo na alfabetização de jovens e adultos e qual a sua função dentro dessa área. No segundo capítulo está um pequeno resumo sobre a vida de Paulo Freire, o que a lei(LDB) assegura para os jovens e adultos e a pedagogia criada por Freire para a Educação de jovens e adultos é minuciosamente detalhada. No terceiro capítulo encontra-se uma comparação entre Paulo Freire e Emília Ferreiro. O resultados a que chego nessa pesquisa constam na conclusão. Nesse trabalho os meus principais interlocutores são Paulo Freire, Isabel Solé, Kátia Benites, Emília Ferreiro e Antônio Chizzitti.
METODOLOGIA
Como instrumento de coleta de dados , utilizei-me da pesquisa bibliográfica, a utilização dessas técnicas me permitiram um maior aprofundamento nos conhecimentos, a identificação e análise dos atos do governo materializado MEC e diferentes Secretarias de Educação de estados e municípios. Já a análise de conteúdos permitiu-me decodificar as informações coletadas. Oliveira (2000) lembrando-nos ainda que essas técnicas de coleta de dados são as mais indicadas quando a pesquisa não é empírica.
O método utilizado nessa monografia é qualitativo. Segundo Chizzoti (1995) , as pesquisas qualitativas fundamentam-se em dados coligidos nas interações interpessoais, na co- participação das situações dos informantes, analisadas a partir da significação que estes dão aos seus atos. O pesquisador participa, compreendendo e interpreta. (p.52). Por outro lado essa pesquisa não irá conferir um tratamento estatístico matemático dos dados coletados e nem aos resultados que chegar. Neste sentido , essa abordagem está pautada na concepção de que o indivíduo não é somente o objeto, mas é o objeto que “fala”, o sujeito do conhecimento e da história. A realidade é também um pouco da mente humana, onde não há separação entre pesquisados e objeto e fatos e valores estão interligados conforme nos explica Alves(1998)
INTRODUÇÃO O tema "A implementação pela psicopedagogia do projeto pedagógico freireano
de alfabetização de adultos" foi escolhido para o presente estudo por ter afinidade pessoal, a
vontade de no futuro fazer um trabalho voltado para a área, por acreditar no método Paulo
Freire, que este pode minimizar o índice de analfabetismo se tiver um enorme apoio
político e como ensina Paulo Freire: ”Educar é um ato comunitário, ninguém educa
sozinho"
A formação educativa, tendo em vista o desenvolvimento das potencialidades do
grupo e do indivíduo, surge como um caminho para se alcançar melhores condições de vida
deixando os alunos capacitados para melhor exercer suas funções.
É através desse processo educativo que o adulto trabalhador terá possibilidade de
ampliar seus conhecimentos sobre a realidade e desenvolver a capacidade de compreender,
criticar, argumentar e adquirir consciência sobre suas condições de cidadão alcançando
princípios dignos de vida em uma sociedade desigual como a nossa.
"O Plano Nacional de Educação fala sobre o mundo do
trabalho mostrando que as profundas transformações que vêm ocorrendo
na vida humana em escala mundial, em virtude do acelerado avanço
científico e tecnológico e do fenômeno da globalização, têm implicações
diretas nos valores culturais, na organização das rotinas individuais, na
participação política, assim como na reorganização do mundo do
trabalho.
A necessidade de contínuo desenvolvimento de capacidades e
competências para enfrentar essas transformações alterou a concepção
tradicional de adultos, não mais restrita a um período particular da vida
ou a uma finalidade circunscrita. Desenvolve-se um novo e abrangente
conceito de educação referido ao longo de toda vida, que há de se iniciar
com a alfabetização, mas não basta ensinar a ler e a escrever. Para inserir
a população no exercício pleno da cidadania, melhorar sua qualidade de
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A necessidade de contínuo desenvolvimento de capacidades e
competências para enfrentar essas transformações alterou a concepção
tradicional de adultos, não mais restrita a um período particular da vida
ou a uma finalidade circunscrita. Desenvolve-se um novo e abrangente
conceito de educação referido ao longo de toda vida, que há de se iniciar
com a alfabetização, mas não basta ensinar a ler e a escrever. Para inserir
a população no exercício pleno da cidadania, melhorar sua qualidade de
vida e ampliar suas oportunidades no mundo do trabalho, a educação de
adultos deve compreender, no mínimo, a oferta de uma formação
equivalente às oito séries iniciais do ensino fundamental." (PNE, 2001)
É preciso fazer algumas considerações sobre a proposta pedagógica introduzida
pelo "Método Paulo Freire" uma vez que ele ainda é muito utilizado com algumas
adaptações, nos dias de hoje em todo o mundo.
Com isso pretendo fundamentar a minha proposta refletindo de que maneira a utilização do
projeto pedagógico freireano pelo psicopedagogo contribui para a integração do indivíduo
na sociedade; pois o "convite" de Freire ao alfabetizando adulto é inicialmente, permitir que
ele se veja enquanto homem ou mulher vivendo ou produzindo em determinada sociedade.
Considero de grande importância o tema escolhido porque observei e nas minhas
pesquisas confirmei que durante muito tempo, os profissionais da educação de adultos eram
em grande parte leigos, sua principal tarefa era a de ensinar a decifração do código escrito e
portanto, o papel da escola se restringia a esse aspecto. Hoje, também sabemos que o
desafio dos profissionais que atuam nessa área está relacionado a oportunizar a esses alunos
o acesso à cultura letrada que lhes possibilite participar ativamente da esfera política,
cultural e do trabalho. Isso implica necessariamente a revisão do papel da escola e
aprendizagem dos conteúdos a serem abordados nesses processos.
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Método Paulo Freire - Uma tática educativa para atingir a estratégia necessária à
politização do povo brasileiro. Nesse sentido é revolucionário porque ele pode tirar da
situação de submissão, de imersão e de passividade aqueles e aquelas que ainda não
conhecem a palavra escrita. A revolução pensada por Freire não pressupõe uma inversão
nos pólos oprimidos - Opressor, antes, pretende reinventar, em comunhão, uma sociedade
na qual inexista a exploração, onde não haja a exclusão ou não, a interdição da leitura do
mundo aos segmentos desprivilegiados da sociedade.
As atividades de alfabetização exigem a pesquisa do que Freire chama "universo
vocabular mínimo" entre os alfabetizados. É trabalhando esse universo que se escolhe as
palavras que farão parte do programa. Estas palavras, mais ou menos dezessete, chamadas
"palavras geradoras", devem ser palavras de grande riqueza fonêmica e colocadas
necessariamente, em ordem crescente das menores para as maiores dificuldades fonéticas
lidas do contexto histórico - Social dos alfabetizados.
O "método" obedece as normas meteorológicas, mas vai além delas porque desafia
o homem e a mulher que se alfabetiza e se apropria do código escrito a se politizarem tendo
uma visão de totalidade da linguagem e do mundo. Nega a mera repetição alienada e
alienante de frases, palavras e sílabas ao propor aos alfabetizados "ler o mundo" e "ler a
palavra", ambas leituras, aliás como enfatiza Freire, indissociáveis. Daí ter vindo se
posicionando contra as cartilhas.
Em suma, o trabalho de Freire é mais do que um método que alfabetiza, é uma
ampla e profunda compreensão de educação e a sua natureza política.
O tema será abordado através de uma pesquisa bibliográfica que será constituída
por consulta a livros, artigos localizados em bibliotecas.
12
Pretendo fundamentar a minha pesquisa no referencial teórico do autor Paulo
Freire.
Segundo Freire (1987, p.81) sempre um busca de um
humanismo nas relações entre homem e mulher, na educação tem como
objetivo promover ampliação da visão de mundo e isso só acontece
quando essa relação é mediatizada pelo dialogo não no monologo
daquele que, achando-se saber mais, depositou o conhecimento, como
algo quantificável, mensurável daquele que pensa saber menos ou nada
saber. Atitude dialógica é, antes de tudo uma atitude de amor, humildade
e fé nos homens, no seu poder de fazer e de refazer, de criar e de recriar.
Esse trabalho terá como objetivo ressaltar uma situação com o grande desafio
pedagógico, em termos de seriedade e criatividade que a educação de jovens e adultos
impõe ao garantir a esse segmento social que vem sendo marginalizado nas esferas sócio-
econômicas e educacional um acesso à cultura letrada que lhe possibilite uma participação
mais ativa no mundo do trabalho da política e da cultura.
13
1. A PSICOPEDAGOGIA E A ALFABETIZAÇÃO DE
JOVENS E ADULTOS
O que dá alicerce a uma proposta de educação de jovens e adultos, no sentido de
dotá-la de condições efetivas para que possa, realmente, instrumentalizar homens e
mulheres, jovens e adultos, ao pleno direito de sua cidadania?
Pensar a respeito da implantação dessa proposta implica em dimensionar o papel da
psicopedagogia; afinal a ela cabe desenvolver estratégias junto aos professores para a
adequação, mudança e efetivação da proposta pedagógica em sala de aula.
Isso significa, portanto, colocar em sintonia a idéia e o fazer. O "fazer" é aquilo que
acontece no cotidiano de cada turma. Participar desse "fazer" é, na verdade, conhecer,
acompanhar e, ainda, interferir no dia a dia junto aos alunos e educadores. Buscando
detectar as causas pelas quais o sujeito não aprende, ou melhor, onde se localiza sua
inadaptação à aprendizagem, ou seja, seu modo particular de se relacionar com a
aprendizagem escolar.
A esse profissional também compete a participar de ações preventivas, no âmbito da
trabalho institucional, na medida em que são detectadas os fatores causadores das
inadaptações de aprendizagem. Vale ressaltar que um distúrbio de aprendizagem nem
sempre esta acompanhado de uma incapacidade intelectual.
Embora o psicopedagogo parta da observação das dificuldades específicas da leitura e
da escrita, ou mesmo nas habilidades envolvidas nesse processo (pensamento lógico-
matemático e desenvolvimento psicomotor), precisa estar atento, também aos aspectos
gerais que interferem na construção das modalidades de cada um.
14
Como possíveis fontes de interferência, seis fatores podem ser arrolados, a saber: os
de natureza física ,cognitiva e maturacional, os de natureza emocional , os de natureza
pedagógica, os lingüísticos e ambientais.
1.1 A Função da Psicopedagogia
A Psicopedagogia nasceu da necessidade de se atender as crianças que
apresentavam dificuldades de aprendizagem, até então só estudadas pela Medicina e pela
Psicologia.
Paralela a ação dessas áreas de conhecimento, foi-se desenvolvendo uma outra
independente e complementar, que tinha como objeto de estudo, especificamente, as
modalidades de aprendizagem, os recursos terapêuticos e as ações preventivas adequadas a
sanar ou minimizar dificuldades detectadas.
A Psicopedagogia aponta, assim, como centro de sua ação e reflexão, a
aprendizagem, a práxis pedagógica teoria e prática da educação com os limites que
coincidem com os da própria vida humana . Sob este aspecto, sofre influência da
Psicologia e da Educação( comportamento humano, motivações e possíveis escolhas,
interações e relações do sujeito com os objetos e o meio que o circunda), da Sociologia
(atribuições e papéis sociais vividos pelo sujeito, e da Antropologia(gênese da evolução
humana, valores que definem em relação ao ser humano, finalidades, modelo de sua
organização étnico- cultural).
Nesse sentido, os fenômenos e as teorias elaboradas têm o compromisso com a
totalidade da Educação, que inclui parte da diálogo ou das discussões dos paradigmas da
Filosofia ( dialética, fenomenologia, estruturalismo, positivsmo...), assim como os
estudos e as teorias do conhecimento humano e suas aplicações, dentre os quais destacamos
o Construtivismo, originados do estudo sobre o conhecimento, de Jean Piaget e de sua
15
discípula Emília Ferreiro; a Teoria sócio-histórica, aqui representada por Vygtsky, dentre
outros pressupostos.
O aparecimento de novas teorias nas áreas a da Lingüistica, da Psicolingüística e
do Desenvolvimento Humano (Emília Ferreiro, por exemplo, com seu referencial voltado à
alfabetização), faz com que uma série de situações e comportamentos, antes encarados
como anormais, passem a ser melhor entendidos pelas instituições educacionais como parte
do processo de desenvolvimento normal da criança e as reais dificuldades melhor
percebidas.
Constata-se , hoje, um maior desenvolvimento e aprofundamento da
Psicipedagogia. Observa-se, muito comumente, na liderança oferecida pelo
psicopedadogogo, que ele não possui uma preocupação relativa a métodos, técnicas e
conteúdos , e sim ao sentido do processo educativo, de crianças ou adultos com
dificuldades de aprendizagem, propondo mudanças a partir de intervenções, junto ao
educando e educador, assessorando-os com objetivos que possibilitem alcançar a
aprendizagem, pois está capacitado a lidar com dificuldades de aprendizagem, um dos
fatores que leva à multirrepetência e à evasão escolar, conduzindo a marginalização social
Esse assessoramento psicopedagógico deve colaborar com todo o corpo escolar, nos
aspectos mais relevantes do planejamento e do desenvolvimento das respostas
educacionais, curriculares e organizacionais, proporcionando os auxílios psicopedagógicos
especializados, a partir do respeito escrupuloso às funções e responsabilidades de cada um
dos educadores, pois detém um corpo de conhecimento científicos oriundos da articulação
de várias áreas aliadas a uma prática clinica e/ou institucional que considera a
multiplicidade de fatores que interferem na aprendizagem
Enquanto a psicopedagogia compete dinamizar e assistir na operacionalização do
sentido do processo educativo na escola, e portanto atuar no sentido pedagógico, cabe à sua
16
direção oferecer continua inspiração e liderança nesse sentido. Essa responsabilidade não é
delegável.
A eficácia da ação do psicopedagogo torna-se pois diretamente ligada a sua
habilidade em promover mudanças de comportamento no educando e educador, isto é, a
aquisição de novas habilidades ou reforço a outras já existentes; o desenvolvimento de
novas perspectivas, idéias, opiniões, atitudes, etc. Isso porque, em ultima análise, o
aprimoramento do processo ensino - aprendizagem, preconizado pela psicopedagogia não
depende tanto de diretrizes pré- estabelecidas e planos prontos, muitas vezes pouco aceitos,
ou aceitos passivamente pelo professor canalizado para o processo ensino- aprendizagem
que "faz a diferença" nesse processo (Isabel Solé,2001).
O psicopedagogo é o grande estimulador do docente, favorecendo ações dinâmicas
e criativas que, aliadas à técnicas, vem garantir a eficácia de todo o processo.
O psicapedagogo precisa ser capaz de falar, mas, principalmente, de fazer o que
fala para o educador. É a eterna busca da articulação teoria e pratica, tão desgastada em
discursos, nas academias ou nos grupos de discussão de educadores. Assim, agir como
psicopedagogo, implica conhecer o trabalho de educador - O que faz ? Baseado em que
faz? - procurando, com ele, traçar caminhos que referendem a sua prática pedagógica.
Implica, ainda, em ter respaldo teórico para justificar essa ou aquela intervenção, opinião,
sugestão...
Apenas dizer que "isso ou aquilo" não deve ou não pode ser feito, é quase sempre,
inofensivo. Se o educador não for, como dizia Paulo Freire, convencido, sua ação
dificilmente incorporará novas formas de atuação.
Até aqui destacamos a importância da atuação do psicopedagogo em construir com os
educadores alternativas para uma educação efetiva e coerente mas não podemos ignorar ou
minimizar a questão do domínio do conteúdo.
17
Afinal, a intenção de que o educador "trabalhe bem" em sala de aula, está
necessariamente ligada ao fato de que ele "conheça bem" o que será desenvolvido com os
alunos.
É fundamental a articulação entre quem supervisiona os educadores e a forma
como esses conteúdos serão trabalhados por estes. "Ensinar exige humildade, tolerância e
luta em defesa dos direitos dos educadores" (Paulo Freire)
18
2. PAULO FREIRE E SUA VIDA
Nasceu em Recife, Pernambuco, esse brasileiro que, desde cedo, conheceu a
pobreza do Nordeste do Brasil, amostra dessa extrema pobreza na qual está submersa a
América Latina. Hoje ele é um cidadão do mundo.
Desde a adolescência Paulo Freire engajou-se na formação de jovens e adultos
trabalhadores. Formou-se em Direito, mas não exerceu a profissão, preferindo-se dedicar-se
a processos de alfabetização de adultos. A partir dessa sua prática, criou o método que o
tornou conhecido no mundo todo, fundado no principio de que o processo educacional deve
partir da realidade que cerca o educador: "Não basta saber ler que Eva viu a uva, diz ele. É
preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no contexto social, quem trabalha para
produzir a uva, quem lucra com esse trabalho."
Foi esse método que o levou para o exílio em 1964 após ter passado 75 dias na
prisão acusado de "subversivo e ignorante". Passou pouco tempo na Bolívia, 4 anos no
Chile e 1 ano nos EUA. Em 1970 foi para Genebra trabalhar no Conselho Mundial das
Igrejas. Voltou em 1979 para o Brasil com o desejo de "reaprendê-lo".
Na década de 70, assessorou vários países da África, recém- libertados da
colonização européia. Escreveu numerosos livros traduzidos em 18 idiomas. Mas de 20
universidades, das mais respeitadas do mundo, lhe concederam títulos de "doutor honoris
causa". O seu livro mais conhecido é certamente PEDAGOGIA DO OPRIMIDO que ele
dedicou "aos esfarrapados do mundo e ao que neles se descobrem e, assim descobrindo-se,
com eles sofrem, mas, sobretudo, com eles lutam.
Foi o compromisso político - pedagógico que levou Paulo Freire a aceitar, em
1989, a difícil tarefa de dirigir a Secretaria da Educação da terceira maior cidade do
19
planeta: São Paulo. Paulo Freire arregaçou as mangas para rever currículos, consertar
prédios, achar dinheiro para pagar melhores salários aos trabalhadores de ensino.
Esse é Paulo Freire, um homem sempre bem humorado e, ao mesmo tempo,
indignado diante da injustiça.
2.1- Com a Palavra a Lei - Educação de Jovens e Adultos (Educação
Direito de Todos)
Seção V
Da Educação de Jovens e Adultos
Art. 37 A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram
acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria.
§ 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que
não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas,
consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho,
mediante cursos e exames.
§ 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a permanência do
trabalhador na escola, mediante ações integradas e complementares entre si.(LDB, 1996)
A lei não apenas assegura a oferta de oportunidade escolar à população de jovens e
adultos situados fora da idade irregular (idade própria), mas estabelece a necessidade de
toda uma abordagem pedagógica, incluindo conteúdos, metodologias, tipologias de
organização e processos de avaliação diferenciados daqueles dos alunos que se acham na
escola em idade própria. A idéia é que a escola trabalhe um processo psicopedagógico que
respeite o perfil cultural do aluno adulto, ensejando-lhe o aproveitamento da experiência
20
humana adquirida no trabalho e, portanto manancial insubstituível de construção da
trajetória de auto-aprendizagem. Esta perspectiva legal tem tudo a ver com o que dispõe os
Arts. 1º e 3º (neste ultimo caso, Incisos X e XI) da LDB.
A educação hoje é um direito fundamental, universal de todo o ser humano. Cabe a
sociedade civil cobrá-lo. A vontade política dos governos tem que ser concretizada pelo
compromisso com seu povo.
2.2- Alfabetização de Adultos - Seu Histórico no Brasil e suas Políticas
Educacionais .
A educação básica de adultos começou a delimitar seu lugar na história da
educação brasileira a partir da década de 30, quando um sistema público de educação
iniciou sua consolidação no país. Nesse período, a sociedade brasileira passava por grandes
transformações, associadas ao processo de industrialização e concentração populacional em
centros urbanos. A oferta de ensino básico gratuito estendia-se consideravelmente,
acolhendo setores sociais cada vez mais diversos. A ampliação da educação elementar foi
tendo a impulsão do governo federal que traçava diretrizes educacionais para todo o país,
além de determinar responsabilidades dos estados e municípios.
Mas foi nos anos 40, precisamente em 1945 com o fim da ditadura de Vargas e da
Segunda Guerra Mundial com o país vivendo efervescência política da redemocratização,
que a ONU alertava para a urgência de integrar os povos visando a paz e a democracia, o
que contribuiu para que a educação de adultos ganhasse destaque dentro da preocupação
geral com a educação elementar comum. Era urgente a necessidade de aumentar as bases
eleitorais para a sustentação do governo central, integrar as massas populacionais de
imigração recente e também incrementar a produção.
É nesse período que a educação de adultos define sua identidade tomando a forma
de uma campanha nacional de massa, a Campanha de Educação de Adultos. Pretendia-se,
21
inicialmente, uma ação extensiva que previa a educação em três meses, e mais a
condensação do curso primário em dois períodos de sete meses. Depois, seguiria a "ação
em profundidade", uma etapa voltada à capacitação profissional e ao desenvolvimento
comunitário que nos primeiros anos conseguiu resultados significativos articulando e
ampliando os serviços já existentes e estendendo-os às diversas regiões do país. Num curto
período de tempo, foram criadas varias escolas supletivas, mobilizando esforços das
diversas esferas administrativas de profissionais e voluntários. Mas na década de 50, o
clima de entusiasmo diminui e iniciativas voltadas à ação comunitária em zonas rurais não
tiveram o mesmo sucesso e a campanha se extinguiu antes do fim da década. Ainda assim,
sobreviveu a rede de ensino supletivo por meio dela implantada, assumida pelos estados e
municípios.
A instauração da campanha de Educação de Adultos deu lugar também à
conformação de um campo teórico pedagógico orientado para a discussão sobre o
analfabetismo e a educação de adultos no Brasil. Nesse momento, o analfabetismo era
concebido como causa e efeito da situação econômica, social e cultural do país. Uma
concepção que legitimava a visão do adulto analfabeto como incapaz e marginal,
identificado psicológica e socialmente com a criança. Uma professora encarregada de
formar os educadores da Campanha, num trabalho intitulado Fundamentos e Metodologia
do Ensino Supletivo, usava as seguintes palavras para descrever o adulto analfabeto:
Depende do contato face a face para enriquecimento de sua experiência social,
ele tem que, por força, sentir-se uma criança grande, irresponsável e ridícula [...] E, se tem
as responsabilidades de adulto manter uma família e uma profissão, ele o fará em plano
deficiente [...]
22
O analfabeto, onde se encontra, será um problema de definição social quanto aos
valores: aquilo que vale para ele é sem mais valia para os outros e se torna pueril para os
que dominam o mundo das letras.
[...] inadequadamente preparado para as atividades convenientes à vida adulta, [...] ele tem
que ser posto à margem como elemento sem significação nos empreendimentos comuns.
Adulto - criança, como as crianças ele tem que viver num mundo de egocentrismo que não
lhe permite ocupar os planos em que as decisões comuns têm que ser tomadas.(Paulo
Freire/1992)
O analfabeto era completamente marginalizado na sociedade, até mesmo pelos
profissionais que estavam engendrados nesse processo.
Durante a própria campanha essa visão se modificou; foram adensando-se as vozes
dos que superavam esse preconceito, reconhecendo o adulto analfabeto como ser produtivo,
capaz de raciocinar e resolver seus problemas. Para tanto contribuíram também teorias mais
modernas da psicologia, que desmentiam postulados de que a capacidade de aprendizagem
dos adultos seria menor que a das crianças.
A confiança da capacidade de aprendizagem dos adultos e a difusão de um método
de ensino de leitura para adultos conhecidos como Laubach inspiraram a iniciativa do
Ministério da Educação de produzir pela primeira vez, por ocasião da Campanha de 47,
material didático específico para o ensino da leitura e da escrita para os adultos.
O Primeiro Guia de Leitura, distribuído pelo Ministério em larga escala para as
escolas supletivas no Brasil, orientava o ensino pelo método silábico. As lições partiam de
palavras - chave selecionadas e organizadas segundo suas características fonéticas. A
função destas palavras era remeter aos padrões silábicos, este sim o foco de estudo. As
sílabas deveriam ser memorizadas e remontadas para formar outras palavras. As primeiras
23
lições continham pequenas frases montadas com as mesmas sílabas. Nas lições finais, as
frases compunham pequenos textos contendo orientações sobre a preservação da saúde,
técnicas simples de trabalho e mensagens de moral e civismo.
No final da década de 50, as críticas à Campanha de Educação de Adultos
dirigiam-se tanto às suas deficiências administrativas e financeiras quanto à sua orientação
pedagógica. Denunciava-se o caráter superficial do aprendizado que se efetivava no curto
período da alfabetização, a inadequação do método para a população adulta e para as
diferentes regiões do país. Todas essas criticas convergiam para uma nova visão sobre o
analfabetismo e para consolidar um novo paradigma pedagógico para a educação de
adultos, cujo referencial principal foi o educador pernambucano Paulo Freire
.
O pensamento pedagógico de Paulo Freire, assim como sua proposta para a
alfabetização de adultos, inspiraram os principais programas de alfabetização e educação
popular que se realizaram no país no inicio dos anos 60. Esses programas foram
empreendidos por intelectuais, estudantes e católicos engajados numa ação política junto
aos grupos populares desenvolvendo e aplicando essas novas diretrizes. Atuaram os
educadores do MEB - Movimento de Educação de Base ligado à CNBB - Confederação
Nacional dos Bispos do Brasil, dos CPC´s - Centro de Cultura Popular, organizados pela
UNE - União Nacional dos Estudantes, dos Movimentos de Cultura Popular, que reuniam
os artistas e intelectuais e tinham o apoio de administrações municipais. Esses diversos
grupos de educadores foram se articulando e passaram a pressionar o governo federal para
que os apoiasse e estabelecesse uma coordenação nacional das iniciativas. Em janeiro de
1964, foi aprovado o Plano Nacional de Alfabetização, que previa difundir por todo o
Brasil orientados pela proposta de Paulo Freire, programas de alfabetização. A preparação
do plano, com forte engajamento de estudantes, sindicatos de diversos grupos estimulados
pela efeverscência política da época, seria interrompida a alguns meses depois pelo golpe
militar .(Paulo Freire/2000)
24
Com o golpe militar de 1964, os programas de alfabetização e educação popular
que se havia multiplicado no período entre 1961 e 1964 foram vistos como uma grave
ameaça a ordem e seus promotores duramente reprimidos. O governo só permitiu a
realização de programas de alfabetização de adultos assistencialistas e conservadores, até
que, em 1967, ele mesmo assumiu o controle desta atividade lançando o Mobral -
Movimento Brasileiro de Alfabetização. Era a resposta do regime militar à ainda grave
situação do analfabetismo no país.
Paralelamente, grupos dedicados à educação popular continuaram a realizar
experiências pequenas e isoladas de alfabetização de adultos com propostas mais criticas,
desenvolvendo os postulados de Paulo Freire que fora exilado mas seguia trabalhando com
a educação de adultos no Chile e depois em países africanos.
Na década de 80, inicio da abertura política e emergência dos movimentos sociais
essas pequenas experiências foram ampliando, construindo trocas de experiência, reflexão e
articulação. Projetos de alfabetização foram se desdobrando em turmas de pós-
alfabetização, onde se avançava no trabalho com a língua escrita, além das operações
matemáticas básicas. As administrações de alguns estados e municípios maiores ganhavam
autonomia com relação ao Mobral, acolhendo educadores que se esforçavam por reorientar
seus programas de educação básica de adultos. desacreditados por meios políticos e
educacionais, o Mobral foi extinto em 1985. seu lugar foi ocupado pela Fundação Educar
que abriu mão de executar diretamente os programas, passando a apoiar financeiramente e
tecnicamente as iniciativas de governos, entidades civis e empregos a ela conveniadas.
No período dos anos 60, enriqueceu-se o modelo da alfabetização conscientizadora
devido a muitas experiências de alfabetização que ganharam consistência mesmo
encontrando dificuldades na prática, o que serviu para gerar reflexão e apontar novas pistas.
Um outro avanço importante dessas experiências foi incorporar uma visão de alfabetização
como processo que exige um certo grau de continuidade e sedimentação. Esse fato, deve-se
25
as críticas as campanhas que pretendiam alfabetizar em poucos meses com perspectivas
vagas de continuidade, depois das quais era constatado um alto índice de regressão ao
analfabetismo.
Hoje, os programas recentes prevêem um tempo maior dedicado à alfabetização e
pós alfabetização, de modo a garantir que o jovem ou adulto analfabeto atinja maior
domínio dos instrumentos da cultura letrada para que possa utiliza- los na vida diária ou
mesmo prosseguir seus estudos, completando sua escolarização. Assim, a alfabetização é
crescentemente incorporada a programas mais extensivos de educação básica de jovens e
adultos analfabetos.
A partir de meados da década de 80, a psicopedagoga argentina Emília Ferreiro
trouxe indicações de como ultrapassar as limitações dos métodos baseados na silabação.
Decorrente disso, várias críticas foram feitas as cartilhas para crianças que contém palavras
isoladas, fora de contextos significativos que auxiliem sua compreensão, o mesmo
acontecendo com os adultos.
A história da educação de jovens e adultos no Brasil, chega na década de 90 e
ainda hoje, reclamando a consolidação de reformulações pedagógicas que, aliás, vêm se
mostrando necessárias em todo o ensino fundamental. Do público que tem recorrido aos
programas para jovens e adultos, uma ampla maioria é constituída de pessoas que já
tiveram passagens fracassadas pela escola, entre elas, muitos adolescentes e jovens recém-
excluidos do sistema regular.
2.3 Método Paulo Freire - A Evolução de um Direito
Removendo Barreiras.
O "Método Paulo Freire" uma vez que ele ainda é muito utilizado com algumas
adaptações nos dias de hoje em todo o mundo, e quase sempre ao falar-se de Freire e
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alfabetização, a compreensão desta é reduzida a puro conjunto de técnicas ligadas à
aprendizagem da leitura e da escrita.
A eficácia e validade do "método" consistem em partir da realidade do
alfabetizando, do que ele já conhece, do valor pragmático das coisas e fatos de sua vida
cotidiana, de suas situações existenciais. Respeitando o senso comum e dele partindo,
Freire propõe a sua superação.
As atividades de alfabetização exigem a pesquisa do que Freire chama "universo
vocabular mínimo" entre os alfabetizados. É trabalhando esse universo que se escolhe as
palavras que farão parte do programa. Estas palavras, mais ou menos dezessete, chamadas
"palavras geradoras", devem ser palavras de grande riqueza fonêmica e colocadas
necessariamente, em ordem crescente das menores para as maiores dificuldades fonéticas,
lidas dentro do contexto mais amplo da vida dos alfabetizandos e da linguagem local, que
por isso mesmo é também nacional. A decodificação da palavra escrita, que vem seguida à
decodificação da situação existencial codificada, compreende alguns passos que devem
rigorosamente se suceder.
Tomemos a palavra TIJOLO, usada como a primeira palavra em Brasília, nos anos
60, escolhida por ser uma cidade em construção, para facilitar o entendimento do(a)
leitor(a).
1º) Apresenta-se a palavra geradora "TIJOLO" inserida na representação de uma
situação concreta: homens trabalhando numa construção;
2º) Escreve-se simplesmente a palavra "TIJOLO";
3º) Escreve-se a mesma palavra com as sílabas separadas: TI-JO-LO
4º) Apresenta-se a "família fonêmica" da primeira sílaba: TA-TE-TI-TO-TU
5º) Apresenta-se a "família fonêmica" da segunda sílaba: JA-JE-JI-JO-JU
6º) Apresenta-se a "família fonêmica" da terceira sílaba: LA-LE-LI-LO-LU
7º) Apresentam-se as "famílias fonêmicas" da palavra que está sendo decodificada:
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TA-TE-TI-TO-TU
JA-JE-JI-JO-JU
LA-LE-LI-LO-LU
Este conjunto das "familias fonêmicas" da palavra geradora foi denomiado de "ficha de
descoberta", pois ele propicia ao alfabetizando juntar os "pedaços", isto é, fazer destas
sílabas novas combinações fonêmicas que necessariamente devem formar palavras da
língua portuguesa.
8º) Apresentam-se as vogais: A-E-I-O-U
Em síntese, no momento em que o(a) alfabetizando(a) consegue, articulando as
sílabas, formar palavras, ele ou ela, está alfabetizado(a). O processo requer, evidentemente,
aprofundamento, ou seja, a pós-alfabetização.
Então, o trabalho de Paulo Freire é mais do que um método que alfabetiza, é uma
ampla e profunda compreensão da educação que tem como preocupação sua natureza
política.
Concluindo esta abordagem sobre o "Método Paulo Freire" dizendo que
alfabetização do povo brasileiro porque quando o criou jamais pensou que ele se expandiria
pelo mundo - era então, no bom sentido da palavra uma tática educativa para atingir a
estratégia necessária: a politização do povo brasileiro. Nesse sentido, é revolucionário
porque ele pode tirar da situação de submissão e de passividade aqueles e aquelas que ainda
não conhecem a palavra escrita. A revolução pensada por Freire não pressupõe uma
inversão nos pólos oprimido-opressor, antes, pretende reinventar, uma sociedade onde não
haja a exclusão ou a interdição da leitura do mundo aos desprivilegiados da sociedade.
Paulo Freire esteve no exílio por quase 16 anos, exatamente porque compreendeu
a educação desta maneira e lutou para que um grande número de brasileiros e brasileiras
tivesse acesso a esse bem a eles negado: o ato de ler a palavra lendo o mundo.
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3- PAULO FREIRE E EMÍLIA FERREIRO
Emília Ferreiro, sobre a psicogênese da escrita na criança, que evidenciam que o
processo de alfabetização nada tem de mecânico, do ponto de vista da criança ou do adulto
que aprende.
Essa criança se coloca problemas, constrói sistemas interpretativos,
pensa, raciocina e inventa ,buscando compreender esse objeto social, tal
como ele existe em sociedade.(Emília Ferreiro/1987)
Emília Ferreiro é doutora pela Universidade de Genebra, onde teve privilégio de
ser orientada e colaboradora de Jen Piaget. O seu estudo, implica em compatibilizar-se
com o quadro mais amplo do construtivismo, proposta por Piaget e ampliado pelos pós-
piagetianos como uma proposta epistemológica para a prática pedagógica. Sendo assim,
estão presentes os componentes afetivos, os preceptivos motores, os sociais e os culturais
todos entrelaçados numa trama indissolúvel.
A proposta aparece como uma forma possível de fazer com que a educação seja
o processo através do qual o indivíduo toma a história em suas próprias mãos, afim de
mudar o rumo da mesma. Como? Acreditando no educando, na sua capacidade de aprender,
descobrir, criar soluções desafiar, enfrentar, propor, escolher e assumir as conseqüências de
sua escolha. Mas isso não será possível se continuarmos bitolando os alfabetizandos com
desenhos pré- formulados para colorir, com textos criados por outro para copiarem, com
cominhos pontilhados para seguir com histórias que alienam, com métodos que não levam
em conta a lógica de quem aprende.
A descoberta da psicogênese da alfabetização poderá contribuir para superação
dessa prática. “A descoberta da alfabetizaçãoé a forma singular como o adulto constrói o
seu saber sobre o que é ler e escrever.
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...em fazer repetir, aprender, ensinar, em vez de fazer agir, operar,
errar, construir a partir da realidade vivida por alunos e professores, isto é,
pela sociedade – a próxima e, dos poucos, as distantes.(Bbecker,1993,s/p)
Diz Emília Ferreiro: É necessário imaginação pedagógica para dar as crianças
oportunidades ricas e variadas de interagir com a linguagem escrita. É necessário formação
psicológica para compreender as respostas e as perguntas das crianças. É necessário
entender que a aprendizagem da linguagem escrita é muito mais que a aprendizagem de um
código de transcrição: é a construção de um sistema de representação.
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CONCLUSÃO
Ninguém nunca disse que seria fácil mas nós educadores, supervisores,
psicopedagogos temos uma tarefa muito árdua a cumprir. Nesse meu trabalho, percebi
ainda mais o quanto se tem a fazer por nossa educação; nas escolas, na metodologia, no
currículo, enfim, em tudo que se faz quando se busca o verdadeiro ensino de qualidade.
O nosso trabalho tem a importância fundamental para o sucesso da ação que vai se
desenvolver, se construir, possibilitando realização de novas conquistas. Não devemos
esquecer que por todo o país muitas experiências acontecem e estão acontecendo, cabendo
a nós aproveitarmos e desenvolvermos essas iniciativas visando garantir aprendizagem
significativa do aluno
É muito importante lembrar da atuação de todos nós, educadores, ao se tratar de
EDUCAÇÃO, fazendo com que essa aconteça sendo um grande desafio possibilitando uma
estreita ligação com os aspectos sócio- políticos exigindo competência e fundamentação.
É verdade que a escola que temos e que atende às classes populares e
trabalhadoras não foi pensada e nem tampouco organizada para todos. Portanto, não existe
para todos e não é de todos.
A escola de que precisamos urgentemente é uma escola que realmente se estude e
se trabalhe. Quando criticamos, ao lado de outros educadores, o intelectualismo de nossa
escola, não pretendendo defender posição para a escola em que se diluíssem disciplinas de
estudo e uma disciplina de estudar. Talvez nunca tenhamos tido em nossa história
necessidade tão grande de ensinar, de aprender mais do que hoje. De aprender a ler, a
escrever, a contar. De estudar história, geografia. De compreender a situação ou as
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situações do país. O intelectualismo combatido é precisamente esse palavreado oco, vazio
sonoro, sem relação com a realidade circundante, em que nascemos, crescemos e de que
ainda hoje, em que nascemos, crescemos e de que ainda hoje, em grande parte nos
nutrimos. Temos de nos resguardar desse tipo de intelectualismo como também de uma
posição chamada antitradicionalista que reduz o trabalho escolar e meras experiências disso
ou daquilo e a que falta o exercício duro, pesado do estudo serio, honesto de que resulta
uma disciplina intelectual. ( Paulo Freire/1992)
Em se tratando de jovens e adultos, a tarefa dos educadores precisa estar centrada
na perspectiva da aquisição da leitura como elemento de superação de dificuldades e de
obstáculos sociais, políticos e econômicos. Acreditamos que a tarefa da educação e a
aprendizagem da linguagem em todas as suas formas sejam elementos fundamentais de um
novo projeto para as classes populares e trabalhadoras que passe pela superação que está
colocada para as maiorias.
Quando falamos em mudar a cara da escola, necessariamente passa pela mudança
nos currículos.
Sonhamos com uma escola realmente popular, que atenda,
por isso mesmo, aos interesses das crianças populares e que, tão
rapidamente quando possível, irá diminuindo as razões em seu seio para a
"expulsão" das crianças do povo. (Paulo Freire/2000)
Também não podemos alimentar a ilusão de que o fato de saber ler e escrever, por
si só, vá contribuir para alterar as condições de moradia, comida e mesmo de trabalho. A
grande lição deixada por Paulo Freire é que os problemas e questionamentos são
fundamentais para formação de cidadãos consciente de seu papel social. A tarefa de
introduzir um modelo de educação libertadora em nossa realidade que é tão marcada pelos
padrões impostos pela classe dominante, é extremamente difícil. Paulo Freire construiu os
fundamentos para que um sonho se tornasse realidade. Agora, cabe a todos nós,
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professores, supervisores, pedagogos, psicopedagogos prosseguindo neste caminho para
que a educação possa efetivamente contribuir para a transformação da sociedade e
consequentemente "o indivíduo adulto analfabeto" deixe de o ser e possa integrá- la.
Por tudo isso, temos claro que o trabalho do psicopedagogo, nem antes e nem a gora pode
ser apenas redigir relatórios. Mais do que acompanhar, cabe ao psicopedagogo construir
coletivamente. Implica a necessidade de reconhecer limitações, dificuldades e o mais
importante, SUPERA- LÁS. "O futuro não é uma coisa escondida na esquina. O futuro a
gente constrói no presente" Paulo Freire
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BENITES, Kátia Cibele Paiva Revista do Professor. Porto Alegre. 1998
BRASIL.Lei nº9394/96 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, 1996
BRASIL.Lei nº10172/01, de 09/01/2001 que aprova o Plano Nacional de Educação e dá
outras providências.
_______ Parecer nº11/2000 - Estabelece as diretrizes curriculares nacionais para educação
de jovens e adultos
CHIZZOTTI, Antônio. Pesquisa em Ciências Humanas e Sociais. São Paulo: Cortez, 1995
FERREIRO, Emília. Reflexões Sobre Alfabetização. São Paulo: Cortez, 1987
FREIRE, Paulo. A educação na cidade. São Paulo: Cortez, 1995
_____________. Ação cultural para a liberdade e outros escritos. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 2001
_____________. Pedagogia da Esperança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992
LUCK, Heloísa. Ação Integrada. Petrópolis: Vozes, 2000
MEC/AÇÃO EDUCATIVA. Breve histórico da educação de jovens e adultos. pp.33
SOLÉ, Isabel. Orientação educacional e intervenção psicopedagógica / Isabel Solé
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ÍNDICE DEDICATÓRIA 3 AGRADECIMENTOS 4 EPÍGRAFE 5 RESUMO 6
METODOLOGIA 7 SUMÁRIO 8 INTRODUÇÃO 9 1. A PSICOPEDAGOGIA E A ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS 13 1.1 A Função da Psicopedagogia 14 2. PAULO FREIRE E SUA VIDA 18 2.1 Com a palavra a lei- Educação de jovens e adultos ( Educação Direito de todos) 19 2.2 Alfabetização de adultos- seu histórico no Brasil e suas políticas educacionais 20 2.3 Método Paulo Freire- a evolução de um direito removendo barreiras 25 3. PAULO FREIRE E EMÍLIA FERREIRO 28 CONCLUSÃO 30 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 33 ÍNDICE 34 ANEXOS 35