UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · 3 . AGRADECIMENTOS ....a Deus que me deu força...

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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE A RELEVÂNCIA DA AFETIVIDADE NA APRENDIZAGEM Por: CLAUDIA RODRIGUES LIMA PINTASSILGO Orientador Professora: Dayse Serra NITERÓI 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A RELEVÂNCIA DA AFETIVIDADE NA APRENDIZAGEM

Por: CLAUDIA RODRIGUES LIMA PINTASSILGO

Orientador

Professora: Dayse Serra

NITERÓI

2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A RELEVÂNCIA DA AFETIVIDADE NA APRENDIZAGEM

Apresentação de monografia à Universidade Candido

Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de

especialista em..Psicopedagogia..

Por: Claudia Rodrigues Lima Pintassilgo

3

.

AGRADECIMENTOS

....a Deus que me deu força para

continuar nos momentos mais difíceis e

ao meu marido e filhos que me

apoiaram ao longo do caminho

4

DEDICATÓRIA

.....dedico ao meu marido e filhos.

5

RESUMO

O presente trabalho monográfico cujo título é: A relevância da afetividade na

aprendizagem aborda a temática da afetividade na relação professor-aluno. A

pesquisa, de caráter bibliográfico, tem como objetivo aprofundar estudos sobre

a importância do afeto na relação professor-aluno o que proporciona um

contexto educativo afetivo, alegre, prazeroso e produtivo. Inicialmente buscou-

se resgatar a concepção de criança e de infância ao longo dos tempos e a

história da educação infantil. Compreender o contexto e a relação escola-

família desafia o educador a ser o mediador dessa relação e o que envolve

diretamente a criança em seu processo de desenvolvimento e de

aprendizagem. Os estímulos proporcionados pelo educador através da

organização dos espaços e sua ação pedagógica conduzem a um processo

ensino-aprendizagem significativo, onde tanto o educador quanto a criança,

interagem, movidos pelo vínculo afetivo.

PALAVRAS-CHAVE: Educação Infantil. Relações afetivo-pedagógicas. Ensino- aprendizagem.

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METODOLOGIA

O presente trabalho foi desenvolvido através de uma pesquisa

bibliográfica e um estudo de caso realizado em uma escola Municipal de

Educação Infantil no município de Maricá, no Estado do Rio de Janeiro.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO......................................................... ...................................8

CAPÍTULO I - AFETIVIDADE: ALGUNS PRESSUPOSTOS......................10

1.1- Conceito de afetividade....................................................................10

1.2- Afetividade segundo Henri Wallon...............................................12

1.3- Afetividade segundo Vygotsky....................................................14

1.4- O papel da afetividade no processo ensino/aprendizagem....15

CAPÍTULO II – RELAÇÃO INTERPESSOAL..............................................18

2.1- A importância do relacionamento afetivo professor/aluno.....18

2.2- O professor como mediador do processo................................22

2.3- A família e a escola como mediadora na relação afetiva.....24

CAPÍTULO III – EDUCAÇÃO INFANTIL: LEVANTAMENTO HISTÓRICO,

AFETIVIDADE E ESTUDO DE CASO............................................................27

3.1 – Quando a criança começou a ser vista como criança............27

3.2 – O surgimento da modalidade “Educação Infantil”....................29

3.3- A afetividade na Educação Infantil............................................39 3.4- Estudo de Caso.............................................................................43

CONCLUSÃO................................................................................................46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ...................................................................48

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INTRODUÇÃO

A criança deseja e necessita ser amada, aceita, acolhida e ouvida para

que possa despertar para a vida da curiosidade e do aprendizado. E o

professor é quem prepara e organiza o micro universo da busca e do interesse

das crianças. A postura desse profissional se manifesta na percepção e na

sensibilidade aos interesses das crianças que, em cada idade, diferem em seu

pensamento e modo de sentir o mundo.

No presente trabalho pretende-se fazer uma abordagem sobre a

relevância da afetividade para a aprendizagem, pois muitos alunos que

apresentam dificuldades na aprendizagem deixam muitas vezes, evidências do

emocional comprometido por algum motivo. É importante compreendermos que

as emoções e os sentimentos que compõem o homem são constituídos de um

aspecto de importância fundamental na vida psíquica do sujeito, visto que

emoções e sentimentos estão presentes em todas as manifestações de nossa

vida. A criança precisa de estabilidade emocional para se envolver com a

aprendizagem. O afeto pode ser uma maneira eficaz de se chegar perto do

educando.

O processo de aprendizagem pode ser beneficiado quando professor e

aluno buscam conhecimentos mútuo de suas necessidades, tendo consciência

de sua forma de relacionar-se, respeitando as diferenças. O professor em sala

de aula deverá contribuir para desenvolver em seus alunos a auto-estima, a

estabilidade, tranquilidade, capacidade de contemplação do belo, de perdoar,

de fazer amigos e de socializar-se. Assim sendo, as instituições escolares não

podem dispensar tais conceitos de seu currículo, devendo estimular uma rede

mais generalizada de afetividade nas relações interpessoais, no âmbito

escolar, e trabalhando intensivamente para gerar oportunidades de integrar o

homem na sociedade.

É importante ressaltar neste estudo que a afetividade, por sua vez, tem

uma concepção mais ampla e complexa, envolvendo uma gama de

manifestações e sentimentos de origem psicológica e biológica.

Atualmente, existe grande interesse em estudar o afeto e sua influência

no processo de aprendizagem. Piaget em 1954 afirma que a afetividade não

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modifica a estrutura no funcionamento da inteligência, porém é a energia que

impulsiona a ação de aprender. “A ação, seja ela qual for, necessita de

instrumentos fornecidos pela inteligência para alcançar um objetivo, uma meta,

mas é necessário o desejo, ou seja, algo que mobiliza o sujeito em direção a

este objetivo e isso corresponde à afetividade” (Dell’Agli e Brenelli, 2006, p.32).

A afetividade não modifica a estrutura no funcionamento da inteligência, porém,

poderá acelerar ou retardar o desenvolvimento dos indivíduos, podendo até

interferir no funcionamento das estruturas da inteligência.

Henri Wallon, (2003) considera a pessoa como um todo. Afetividade,

emoções, movimento e espaço físico que se encontram num mesmo plano. As

emoções para o autor têm papel preponderante no desenvolvimento da

pessoa.

Os procedimentos metodológicos nos fazem entender que o

embasamento teórico é de fundamental importância para a pesquisa, pois

oferece fundamento para o referido estudo.

Dividida em três capítulos, esta pesquisa oferece aos educadores

informações e reflexões sobre a importância da afetividade no processo

ensino-aprendizagem. O primeiro capítulo busca uma definição para o tema em

questão fazendo uma abordagem sobre as teorias de alguns autores; o

segundo capítulo busca questionamentos acerca da importância do

relacionamento interpessoal professor-aluno, enfocando a escola e a família

como mediadores na relação afetiva; o terceiro capítulo faz um levantamento

histórico de quando a criança começou a ser vista como tal, seu

relacionamento dentro e com a família, do surgimento da modalidade

“Educação Infantil” e dos direitos das mesmas, estabelecido por lei e também

uma comparação de idéias e autores, analisando questões como: emoção,

afeto e interação professor/aluno. Dando ênfase à área afetiva, formação de

caráter, personalidade e relação social.

Para contribuir com meu trabalho, realizei um estudo de caso com uma

criança de cinco anos do terceiro período da Educação Infantil. O estudo de

caso foi realizado em uma escola pública municipal de educação infantil na

cidade de Maricá, onde acompanhei esse aluno durante o ano letivo de 2010.

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CAPÍTULO I - AFETIVIDADE: ALGUNS

PRESSUPOSTOS

1.1 – Conceito de Afetividade:

A afetividade pode ser definida segundo diferentes perspectivas, dentre

outras, a filosófica, a psicológica e a pedagógica. Neste estudo a afetividade é

abordada na perspectiva pedagógica, tendo em vista a relação educativa que

se estabelece entre professor e aluno em sala de aula.

A palavra afeto vem do latim “affectur” (afetar, tocar) e constitui o elemento

básico da afetividade.

Segundo caracterização da Enciclopédia Larrousse Cultural. (1998), a

afetividade é o conjunto de fenômenos psíquicos em que se manifestam

sentimentos, paixões, acompanhados sempre da impressão de dor,

insatisfação, agrado ou desagrado, alegria ou tristeza.( p, 156 )

O afeto é a parte de nosso psiquismo responsável pela maneira de sentir e

perceber a realidade. A afetividade é, então, a parte psíquica responsável pelo

significado sentimental de tudo que vivemos. Se algo que vivenciamos está

sendo agradável, prazeroso, sofrível, angustiante, causa medo ou pânico, ou

nos dá satisfação, todos esses conceitos são atribuídos pela nossa afetividade.

A afetividade é impulsionada pela expressão dos sentimentos, das emoções, e

desenvolve-se por meio da formação do sujeito.

Podemos constatar que o amor, carinho, compreensão, respeito, amizade,

afeto, solidariedade, atenção e companheirismo têm uma forte chance de

constituir o núcleo central da representação da afetividade. A concepção de

afetividade em relação professor/aluno evidencia que ela emerge como um

sentimento, uma atitude, um estado e uma ação. Enquanto sentimento, a

afetividade aparece no discurso dos participantes de duas maneiras: primeiro

concebida com amor, carinho e afeição entre as pessoas, trata-se de um

sentimento que nasce na interação entre os seres humanos na relação

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interpessoal. A afetividade é um estado de afinidade profunda entre os sujeitos.

Assim, na interação afetiva com outro sujeito, cada sujeito intensifica sua

relação consigo mesmo, observa seus limites e, ao mesmo tempo, aprende a

respeitar os limites do outro. A afetividade é necessária na formação de

pessoas felizes, éticas, seguras e capazes de conviver com o mundo que a

cerca. No ambiente escolar afetividade é além de dar carinho, é aproximar-se

do aluno, saber ouvi-lo, valorizá-lo e acreditar nele.

As psicólogas Cláudia Davis e Zilma de Oliveira em seus estudos retratam

que,

A presença do adulto dá a criança condições de segurança física e emocional que a levam a explorar mais o ambiente e, portanto a aprender. Por outro lado, a interação humana envolve também a afetividade e a emoção como elemento básico. (1998:83:84).

De acordo com o exposto as emoções estão presentes quando

estabelecemos relações com objetos físicos, concepções ou outros indivíduos.

Afeto e cognição constituem aspectos inseparáveis, presentes em qualquer

atividade. A afetividade se estrutura nas ações dos indivíduos. O afeto pode,

assim, ser entendido como energia necessária para que a estrutura cognitiva

possa operar. Ele influencia a velocidade com que se constrói o conhecimento,

pois, quando as pessoas se sentem seguras, aprendem com mais facilidade.

Segundo Morales (1998:61) “a conduta do professor influi sobre a

motivação, afetividade e a dedicação do aluno ao aprendizado”. Podemos

reafirmar que o aluno se vê influenciado por sua percepção em relação ao

professor. O professor deve sempre reforçar a autoconfiança dos alunos,

manterem sempre uma atitude de cordialidade e de respeito.

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1.2 – Afetividade segundo Henri Wallon

Para Henri Wallon, a evolução afetiva está intrinsecamente ligada ao

desenvolvimento cognitivo, visto que difere sobremaneira entre uma criança e

um adulto, supondo-se a partir disto que há uma incorporação de construções

de inteligência por ela, seguindo a tendência que possui para racionalizar-se.

Observamos, portanto, a inigualável importância dos aspectos afetivos

para o desenvolvimento psicológico, é por meio das emoções que o aluno

exterioriza seus desejos e vontades. Em geral são manifestações que

expressam um universo importante e perceptível, mas pouco estimulado pelos

módulos tradicionais de ensino. A emoção é altamente orgânica, altera a

respiração e os batimentos cardíacos, causa impacto no outro e tende a

propagar-se no meio social. A afetividade é um dos principais elementos do

desenvolvimento humano. Conforme as idéias de Wallon (2003), a escola

infelizmente insiste em imobilizar a criança numa carteira, limitando justamente

a fluidez das emoções e do pensamento tão necessária para o

desenvolvimento completo da pessoa.

Falar de afetividade na relação professor/aluno é falar de emoções,

disciplina, postura do conflito do eu e do outro. Isto é uma constante na vida da

criança, em todo o meio do qual faça parte, seja a família, a escola ou outro

ambiente que ela freqüente estas questões estão sempre presentes.

Para o autor, as teorias sobre emoções têm base mecanicistas e difíceis

de serem compreendidas. Primeiro ele as vê como reações incoerentes e

tumultuadas, depois destaca o poder ativador que têm as emoções

consideradas por ele positivas. O estudo da criança exigiria o estudo do/ ou

dos meios onde ela se desenvolve. O papel da afetividade no processo de

mediação do professor direciona o olhar para a relação professor/aluno.

Entretanto é possível supor que a afetividade também se expressa sob outras

dimensões humanas.

Nesse sentido o autor quer dizer que a sociedade intervém no

desenvolvimento psíquico da criança através de suas repetidas experiências e

das dificuldades para ultrapassá-las, já que a criança, diferentemente de

outros seres vivos, depende por muito tempo de seus semelhantes “adultos”. A

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dimensão afetiva é de fundamental importância para Wallon, seja do ponto de

vista da construção da pessoa ou do ponto de vista do conhecimento, sendo

marcante para o desenvolvimento da espécie humana, que se manifesta a

partir do nascimento e estende-se ao longo dos anos de vida de uma criança.

Uma criança “normal,” quando já esta se relacionando afetivamente

bem com o seu meio ambiente, principalmente com a mãe, sente necessidade

de ser objeto de manifestações afetivas para que, assim, seu desenvolvimento

biológico seja normal. É comum acontecerem reviravoltas nas condutas da

criança e nas suas relações com o meio, o qual é de suma importância para a

existência da criança. O autor acredita haver esta reviravolta desde o período

fetal, prolongando-se além do nascimento. Aos três anos escolares iniciam-se

os conflitos interpessoais, onde a criança opõe-se a tudo que julga diferente

dela. Verificamos que no cotidiano escolar a maneira de agir da criança vai

corresponder a alguns princípios afirmados nas etapas anteriores, tal como

descritas por Wallon. Princípios estes necessários para evitar crises penosas

pelas quais a maturação da criança e o seu eu psicológico podem passar. É na

escola que a criança começa a emancipar-se da vida familiar, nesse período é

necessário disciplina, uma disciplina de ordem maternal.

A escola na figura do professor precisa compreender o aluno e seu

universo sócio-cultural. Conhecer esse universo é de grande eficácia para o

trabalho do professor que atua no plano universal, cultural e pessoal. O

professor tem que colocar acima de tudo sentimento de amor, carinho e

respeito na sua relação com o aluno. Rangel nos faz refletir quando diz:

Acreditamos que a escola deve se ocupar com seriedade com a questão do “saber,” do “conhecimento”. Se um professor for competente, ele, através de seu compromisso de educar para o conhecimento, contribuirá com a formação da pessoa, podendo inclusive contribuir para a superação de desajustes emocionais (1992:72).

Assim sendo, a prática educativa na escola deve primar pelas relações

de afeto e solidariedade, proporcionando situações que dê prazer ao aluno de

construir conhecimentos e de crescer junto com o outro.

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1.3 – Afetividade segundo Vygotsky

Para Vygotsky (1996:78), relação professor/aluno não deve ser uma

relação de imposição, mas, sim de cooperação, de respeito e de crescimento.

O aluno deve ser considerado como um ser interativo e ativo no seu processo

de construção do conhecimento. O professor por sua vez deverá assumir um

papel fundamental nesse processo, como um sujeito mais experiente. Por essa

razão cabe ao professor considerar o que o aluno já sabe, sua bagagem

cultural é muito importante para a construção da aprendizagem. O professor é

o mediador da aprendizagem facilitando-lhe o domínio e a apropriação dos

diferentes instrumentos culturais.

Segundo o autor, a construção do conhecimento se dá coletivamente,

portanto, sem ignorar a ação intrapsíquica do sujeito. Assim o autor conceituou

o desenvolvimento intelectual de cada pessoa em dois níveis: real e potencial.

O real é aquele já adquirido e formado que determina o que a criança já é

capaz de fazer por si própria já possui um conhecimento consolidado. A

abordagem do autor é de fora para dentro, através da internalização, ele afirma

que o conhecimento se dá dentro de um contexto, afirmando serem as

influências sociais mais importantes que o contexto biológico. A aprendizagem

acelera processos superiores internos que só são capazes de atuar quando a

criança encontra-se interagida com o meio ambiente e com outras pessoas. É

importante que esses processos sejam internalizados pela criança. A educação

é um processo necessário. É importante que esses processos sejam

internalizados pela criança. A educação é um processo necessário. É

importante considerar o principal objetivo da educação - que é a autonomia

moral e intelectual..

Assim, os autores referendados neste estudo, Wallon e Vygotsky (2003),

enfatizaram a íntima relação entre afeto e cognição, superando a visão

dualista do homem. Além disso, as ideias dos autores aproximam-se no que diz

respeito ao papel das emoções na formação do caráter e da personalidade.

Vygotsky buscou delinear um percurso histórico a respeito do tema

afetividade. Sendo assim, procura explicar a transição das primeiras emoções

elementares para as experiências emocionais superiores, especialmente no

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que se refere à questão dos adultos terem uma vida emocional mais refinada

que as crianças. Ele defende que as emoções não deixam de existir, mas se

transformam, afastando-se da sua origem biológica e construindo-se como

fenômeno histórico cultural.

1.4 - O papel da afetividade no processo ensino/aprendizagem.

O processo ensino aprendizagem só pode analisado como uma

unidade. O ensino/aprendizagem são faces de uma mesma moeda, nessa

unidade, a relação professor/aluno é um fator determinante para aprendizagem

do aluno. Para tornar esse processo mais produtivo e prazeroso o professor

deverá orientar, propiciar e testar atividades adequadas aos alunos inseridos

em sala de aula. O professor deverá planejar atividades que promovam

entrosamentos mais produtivos entre as atividades aplicadas.

Partindo da teoria de Wallon (2003), o desenvolvimento do sujeito se

faz a partir da interação com grandes variedades de fatores ambientais. O foco

da teoria é uma relação complementar entre os fatores orgânicos e

socioculturais.

A aprendizagem é o processo através do qual a criança se apropria

ativamente do conteúdo da experiência humana, daquilo que o seu grupo

social conhece, e para que o sujeito o aprenda necessitará interagir com outros

seres humanos, especialmente com os adultos, e com outras crianças mais

maduras. Em geral o adulto ou outra criança fornece ajuda direta à criança,

orientando-a e mostrando-lhe como proceder através de gestos e instruções

verbais em situações interativas. Na interação professor/aluno gradativamente

a fala social trazida pelo professor vai sendo internalizada pelo aluno e o seu

comportamento passa a ser então, orientado por uma fala interna que planeja

sua ação. O papel do professor nesse processo é fundamental, ele procura

estruturar condições para ocorrência de interações professor/aluno e objeto de

estudo que leve a apropriação do conhecimento. Paralelo a esses fatores,

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podemos verificar como a criança chega ao adulto/professor), do ponto de vista

afetivo:

No primeiro estágio (0 a 1 ano), impulsivo/emocional, a criança

expressa sua afetividade através de movimentos desordenados, respondendo

à sensibilidades corporais, o processo ensino/aprendizagem exige respostas

corporais, contatos físicos, daí a importância de se ligar ao professor.

No segundo estágio (1 a 3 anos), sensório/motor, quando já dispõe da

fala, a criança está voltada para o mundo externo e para um contato interno

com os objetos e há a indagação insistente do que são e como funcionam.

No terceiro estágio (3 a 6 anos) há personalismo entre a criança e o

outro. É a fase de se descobrir diferente das outras crianças e adultos.

No quarto estágio (6 a 11 anos), categorial, ela tem compreensão mais

nítida de si mesma. A aprendizagem se faz predominantemente pela

descoberta de diferenças e semelhanças entre objetos imagens e idéias.

No quinto estágio (11 anos em diante), há exploração de si mesmo na

busca de uma identidade autônoma, mediante atividade de confronto, auto-

afirmação e questionamentos. Neste estágio, o recurso principal de

aprendizagem, do ponto de vista afetivo, volta a ser a oposição, que vai

aprofundando e possibilitando a identificação das diferenças entre idéias,

sentimentos e valores próprios.

Mesmo reconhecendo a importância dos fatores emocionais e afetivos

na aprendizagem, o objetivo da ação escolar não é resolver dificuldades nesta

área e sim, propiciar a aquisição e reformulação dos conhecimentos

elaborados por uma dada sociedade. Ainda que atenta aos aspectos

emocionais, não é função da escola promover ajustamento afetivo, saúde

mental ou mesmo a felicidade. Na verdade cabe à escola esforçar-se por

propiciar um ambiente estável e seguro, onde os alunos sintam-se bem, pois

nestas condições as atividades aplicadas são facilitadas.

Convém ressaltar que a afetividade e a inteligência se estruturam nas

ações dos indivíduos. O afeto pode, assim, ser entendido como energia

necessária para que a estrutura cognitiva possa operar. Tanto a inteligência

como a afetividade são mecanismos de adaptação permitindo ao indivíduo

construir noções sobre os objetos, as pessoas e situações diversas,

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conferindo-lhes atributos, qualidades e valores. Assim, contribuem para a

construção do próprio sujeito, sua identidade e sua visão de mundo.

Inês Maria Gómez-Chacón em seu artigo nos faz refletir quando,

Destaca a importância dada à questão sempre presente dos afetos, que atualmente é assumida e aceita por professores cada vez mais dispostos a reconhecer neles elementos de indiscutível valor e interesse no acompanhamento e na avaliação do processo ensino/aprendizagem. (2004: 52).

Diante desta reflexão podemos afirmar que é necessário que se

perceba a ligação entre cognição e afeto. Quando o professor consegue

trabalhar com essas dimensões ele pode interferir de maneira a conduzir

positivamente as reações emocionais, favorecendo a formação e a solidificação

de atitudes benéficas à aprendizagem. Segundo Augusto Cury (2003:72) “Ser

um mestre inesquecível é formar seres humanos que farão a diferença no

mundo.” Como podemos concluir, o tempo pode passar e as dificuldades

podem surgir, mas as sementes de um professor que marca a vida de seu

aluno jamais serão destruídas.

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CAPÍTULO II – RELAÇÃO INTERPESSOAL

2.1 – A importância do relacionamento afetivo professor/aluno

“As escolas deveriam entender mais de seres humanos e de amor do que de conteúdos e técnicas educativas. Elas têm contribuído em demasia para a

construção de neuróticos por não entenderem de amor, de sonhos, de fantasias, de símbolos e de dores”.

CLÁUDIO SALTINI

Nos dias de hoje, o professor não é apenas aquele que transmite

conhecimentos, mas, sobretudo, aquele que subsidia o aluno no processo de

construção do saber. Para tanto, é imprescindível ser um profissional que

domine não apenas o conteúdo de seu campo específico, mas também a

metodologia e a didática eficiente na missão de organizar o acesso ao saber

dos alunos. E não apenas o saber de determinadas matérias, mas o saber da e

para a vida; o saber ser gente com ética, dignidade, valorizando a vida, o meio

ambiente, a cultura. Muito mais que transmitir conteúdos das matérias

curriculares, organizadas e programadas para o desenvolvimento intelectual do

sujeito, é preciso ensinar a ser cidadão, mostrar aos alunos seus direitos e

seus deveres, subsidiando-os para que saibam defendê-los. É preciso mostrar

que existem deveres e que as responsabilidades sociais devem ser cumpridas

por cada um para que todos vivam com dignidade. Assim, é importante que o

professor trabalhe valores, fazendo seu aluno perceber o outro; perceber

quem está ao seu redor, formando alunos que saibam a importância de

respeitar, ouvir, ajudar e amar o próximo.

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Teles conclui que,

Ensinar implica humildade. Nenhum de nós é uma enciclopédia e detém todo o saber. Mesmo em nossa área, nosso conhecimento, por mais estudiosos que sejamos nunca pode ser completo. Assim esta posição de “donos do saber” é simplesmente ridícula. Somos eternos aprendizes em tudo e é preciso que os alunos também aprendam esta verdade. (2004:40, 41).

O educador deve sempre questionar o seu saber, pois este é sempre

uma busca e não uma posse.

Para o autor Paulo Freire (1993 p,71), “cabe ao professor observar a si

próprio; olhar para o mundo, olhar para si e sugerir que os alunos façam o

mesmo e não apenas ensinar regras, teorias e cálculos”. O professor deve ser

um mediador de conhecimentos, utilizando sua situação privilegiada em sala de

aula não apenas para instruções formais, mas para despertar os alunos para a

curiosidade; ensiná-los a pensar, a ser persistentes a ter empatia e ser autores

e não expectadores no palco da existência. O aluno tem que ter interesse em

voltar à escola no dia seguinte reconhecendo que aquele momento é mágico

para sua vida.

Sem dúvida o docente de hoje desempenha inúmeros papéis que são

importantíssimos para o desenvolvimento das futuras gerações. Deve,

portanto, encarar com muita seriedade sua profissão, trabalhar para esclarecer

seus alunos e fazer com que eles reflitam sobre a realidade em que vivem.

Como profissional em movimento o professor está em constante busca do

saber, aperfeiçoando-se, qualificando-se para exercer de maneira cada vez

melhor a profissão docente. O docente pode trazer situações de mundo para a

sala de aula e explorá-las, enriquecê-las paralelamente com a matéria. Pode

trabalhar questões difíceis de forma divertida, trocar experiências, trazer a

família para dentro da escola, criar vínculos com a família mostrando que todos

fazem parte de uma mesma sociedade, considerar a vivência do aluno, seu

dia-a-dia, suas questões familiares, seu emprego, seu lazer. O professor deve

acreditar que todos têm capacidade de aprender, cada um no seu próprio ritmo.

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O educador dispõe da oportunidade de mudar, disciplinar, criar, reconstruir,

enriquecer a vida de seres humanos. Para tanto precisa superar sua

onipotência, sua concepção de dono do saber, de quem se esconde atrás de

avaliações dificílimas e se compraz a reprovar o aluno. Há que ter bem claro

que se quisermos um adulto mais humano e consciente no futuro precisamos

investir na formação da criança dos dias de hoje que chega na escola para

possibilitar ao ensinante o desenvolvimento de um trabalho de construção do

saber. Quando Paulo Freire (1996:77), diz: “me movo como educador, porque

primeiro me movo como gente”. Acreditamos que o professor pode levar os

educandos a terem curiosidade de querer fazer e aprender, e que ainda está

em tempo de desprendermos do tradicionalismo arcaico os quais muitos ainda

vivem e praticam. Assim podemos afirmar que,

Os alunos não precisam de guias espirituais, nem de catequizadores. Eles se constroem encontrando pessoas confiáveis, que não se limitam a dar aulas, mas que se apresentam como seres humanos complexos e como atores sociais que encarnam interesses, paixões, dúvidas, falhas, contradições (...) atores que se debatem como todo mundo, com o sentido da vida e com as vicissitudes da condição humana. (Perrenoud, 2005:139).

Diante do exposto, a expectativa que se tem do papel do professor é a

de que ele intervenha de forma ativa junto ao corpo discente e consiga atingir a

autoridade com autonomia e participação consciente e responsável em sala de

aula. Sua função hoje mudou de paradigma, não é mais aquele que dá aulas,

mas, aquele capaz de assumir, face às exigências da vida, tarefas diferentes

daquelas que tradicionalmente lhes eram atribuídas: transmitir o saber

historicamente acumulado na sociedade. Essas questões nos levam a indagar

novamente até que ponto a formação desse novo professor estará sendo

trabalhada para além de ministrar aulas. O professor, assumindo-se como

cidadão, tendo consciência da sua cidadania e dos pressupostos teóricos que

fundamentam sua prática pedagógica, com certeza, irá colaborar na formação

de seus alunos.

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Segundo Paulo Freire,

O bom educador é o que consegue enquanto fala trazer o aluno até a intimidade do movimento do seu pensamento. Sua aula é assim, um desafio e não uma cantiga de ninar. Seus alunos cansam, não dormem. Cansam porque acompanham as idas e vindas de seu pensamento, surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas. (1996:96).

Ainda segundo o autor “o educador autoritário, licencioso, sério,

incompetente, irresponsável, mal-amado, sempre com raiva do mundo e das

pessoas, frio, burocrático, racionalista, nenhum deles passam pelos alunos

sem deixar sua marca.”

A responsabilidade e o respeito pelos sentimentos do outro é um dos

aspectos mais importantes na relação professor/aluno, pois, futuramente, irá se

tornar responsabilidade social para a cidadania. Freire (1993:54), afirma que,

“sem intervenção democrática do professor não há educação progressista.”

Sabemos que não é fácil essa intervenção, mas tudo isso constitui uma

grande luta de transformação profunda da sociedade brasileira. Os educadores

progressistas precisam convencer-se de que não são puros ensinantes, puros

especialistas da docência. O autor conclui ainda: “Que o saber tem tudo a ver

com o crescer, tem. Mas é preciso, absolutamente preciso, que o saber de

minorias dominantes não proíba, não asfixie, não castre o crescer das imensas

maioria dominadas”. (1993: 127).

Concluo que a questão fundamental diante de uma educação de

qualidade é que devemos estar bastante lúcidos e cada vez mais competentes

naquilo em que estivermos dispostos a realizar que é a capacidade de ensinar.

Partindo de uma postura de tomada de consciência do progresso educacional

podemos observar que a Lei 9394/96 de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional promulgada em 20 de dezembro de 1996, traz bem explicitas, em

seus artigos: 12, 13, 14 e 15 as normas a serem seguidas na legislação de

uma escola democrática, que mostrará a importância da autonomia escolar

22

alternativa sem se desligar de seu caráter público(...). Um dos pontos altos da

LDB é o reconhecimento da importância dos valores na educação escolar (p,

36).

Freire afirma que, “a escola democrática de que precisamos não é

aquela em que só o professor ensina em que só o aluno aprende e o diretor é o

mandante poderoso”. (1993, 100).

É nesse sentido que a escola deve organizar-se democraticamente com

objetivos transformadores e articulados com os interesses dos grupos.

Segundo Içami Tiba (1998:02), “o saber consiste em ensinar e

aprender. E ninguém pode estimular ninguém, a saber, se não o pratica. “Pois

o saber não é só acúmulo de informações, mas um conjunto de capacidades

adquiridas e desenvolvidas na escola que tornam o jovem apto a enfrentar os

desafios da vida profissional”.

2.2- O professor como mediador do processo

Cabe ao professor um importante papel nas inter-relações escolares. As

características individuais dos professores (autoritário, permissivo, organizado)

e seus traços de personalidade são apontados como responsáveis por maior

ou menor eficiência como docentes, assim como a predisposição deste

indivíduo para o magistério.

O professor precisa estabelecer uma relação afetiva com os alunos e

que perceba que como indivíduo, seus alunos também têm algo a oferecer e

que a aprendizagem se faz por intermédio das interações que são

estabelecidas. O professor oferece por meio de suas atitudes, uma série de

informações ao aluno que irão contribuir na formação de seu autoconceito.

Portanto, as expectativas que o professor tem para com seu aluno poderão

contribuir sobre seu desempenho. O aluno que tem suas características

valorizadas pelo professor, tende a acentuá-las cada vez mais, enquanto

aquele que se sente rejeitado ou discriminado tende a se afastar da situação e

acaba por ver as expectativas negativas do professor confirmadas.

23

Desta forma, as crianças que apresentam dificuldades de aprendizagem

podem se ver como incompetentes, o que interfere em seu autoconceito e em

sua capacidade de reverter a situação. Socialmente pode apresentar

comportamento de isolamento, dependência, passividade e até mesmo

submissão, por se sentirem menos respeitadas e aceitas.

Para realizar as propostas do ensino, o professor deve conhecer bem as

possibilidades de aprendizagens do aluno e suas características individuais,

para que possa adequar a metodologia de ensino ao aluno. O conhecimento

será feito por intermédio da interação e da comunicação, da observação

constante de seus processos de aprendizagem e da reavaliação da proposta a

cada nova fase do processo.

O professor como mediador do processo deve ajudar ou facilitar os

alunos a construir aprendizagens significativas e, para tal, precisa atribuir um

sentido pessoal à aprendizagem para que os alunos compreendam não apenas

o que têm de fazer, mas também por que e para quê. A participação ativa dos

alunos acontece quando estes sentem que podem ter êxito em sua

aprendizagem e para isso devem ser propostas atividades que eles sejam

capazes de resolver com as ajudas necessárias, e sejam encorajados pelo

esforço e não pelo resultado.

Os aspectos comportamentais do professor que se correlacionam com

os resultados acadêmicos dos alunos, são a quantidade e o ritmo do ensino, a

forma como o professor apresenta sua informação, as perguntas aos alunos, a

reação às respostas destes e a organização do trabalho individual na sala de

aula e em casa, dos alunos (Brophy e Good, 1986). Flanders (apud Colomina,

Onrubia & Rochera, 2004, p. 296) apresenta o quadro de categorias para

análise da interação professor X aluno. Serão transcritos apenas os

comportamentos positivos do professor e do aluno nesta interação.

Na fala do professor, que responde:

• Aceita sentimentos. Aceita uma atitude, ou tom afetivo, de um aluno de

maneira “não ameaçadora”. Os sentimentos podem ser positivos ou negativos.

Também são incluídas nessa categoria a previsão e a evocação de

sentimentos.

24

• Elogia ou estimula. Elogia ou encoraja a ação ou o comportamento do aluno.

Brinca ou faz piadas que aliviam a tensão em aula, mas não à custa de outro

indivíduo. Incluem-se os movimentos afirmativos, aprovadores, de cabeça e

expressões como “muito bem” ou “vá em frente”.

• Aceita ou utiliza idéias dos alunos. Esclarecimento, estruturação ou

desenvolvimento de idéias sugeridas por um aluno. Incluem-se aqui as

ampliações que o professor faz das idéias dos alunos.

• Faz perguntas. Formulação de perguntas acerca de conteúdos ou de

procedimentos e de métodos, sendo que o professor parte de suas próprias

idéias com intenção de que um aluno responda.

Na fala do aluno, que inicia:

• O aluno inicia o discurso. Iniciação do discurso por parte do aluno. Expressão

de ideias próprias; iniciação de um novo tema; liberdade para expor opiniões e

linhas pessoais de pensamento; formulação de perguntas pensadas por sua

própria conta; ir além da estrutura dada.

Diante de tais considerações encontramos o professor que usa a

motivação como instrumento metodológica na relação de aprendizagem,

entendendo que esta se realiza na interação entre ele e o aluno, discordando

da posição autoritária que antes designava esta função.

2.3 – A família e a escola como mediadora na relação afetiva.

A família é o primeiro grupo com o qual uma pessoa convive e seus

membros são exemplos para a vida. No que diz respeito a educação, se essas

pessoas demonstrarem interesses em relação ao que acontece em sala de

aula e reforçarem a importância do que está sendo aprendido, estarão dando

uma enorme contribuição para o sucesso da aprendizagem do aluno. Pode

parecer simples e é exatamente o que temos pedido aos responsáveis pelos

estudantes de todos os níveis de ensino.

A afetividade, a princípio centrada nos complexos familiares, amplia sua

escala na proporção da multiplicação das relações sociais e os sentimentos

morais, a princípio ligados a uma autoridade que evoluem no sentido de

25

respeito mútuo e de reciprocidade. O segredo de uma boa relação familiar é

saber ouvir, respeitar as culturas e trabalhar juntos. Para tanto, é preciso um

trabalho de conquista. Só que é difícil haver aproximação quando só são

marcados encontros para falar de problemas de disciplinas e/ou outro problema

em relação ao aluno. Isso causa antipatia no familiar. O bom relacionamento

deve começar na matrícula e se estender a todos os momentos da vida

estudantil do aluno. Envolver os familiares na elaboração de projetos, eventos

e de algumas propostas pedagógicas pode ser a meta principal de uma grande

parceria. Içami Tiba (1998:27) destaca: “a família cobra que a educação seja

dada pela escola, enquanto esta diz que deve vir de berço.”

A Constituição Federal Brasileira de 1988 em seu art. 227 sublima a

política de proteção à criança e ao adolescente.

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, crueldade e opressão. ( p, 148 ).

Diante do exposto notamos que há um grande desafio e perspectivas

para alcançarmos verdadeiramente uma educação pautada na dimensão

humana, uma educação que deve ter o alicerce na rocha do respeito. Respeito

às inteligências múltiplas, às potencialidades humanas, ao crescimento social e

intelectual dos que constroem o caminho real da educação.

Cláudia Davis e Zilma de Oliveira após estudos e publicações no setor

conclui,

O aluno não aprende apenas na escola, mas também através da família, dos amigos, de pessoas que ele considera significativas, dos meios de comunicação de massa, das experiências do cotidiano (...) a escola é a instituição social que se apresenta como responsável pela educação sistemática das crianças, jovens e até mesmo adultos. (1994:23).

26

É nesse sentido que a escola deve organizar-se democraticamente com

objetivos transformadores articulados com interesses dos grupos. A escola só

poderá desempenhar um papel transformador se estiver junto com os

interessados, ela deve estar atenta para atender aos interesses das camadas

trabalhadoras. A participação da comunidade na escola é um caminho que se

faz ao caminhar, o que não elimina a necessidade de se refletir previamente a

respeito dos obstáculos e potencialidades que a realidade apresenta para

ação. Segundo Ivone Boechat “a escola como agência de transformações

sociais têm o compromisso de atender as expectativas que desperta pelo seu

grandioso poder de atração e sedução”. (1998:27).

A escola é voltada para a postura crítica e nos diz que o conhecimento

é dinâmico e transformador e nos propõe um fazer pedagógico capaz de criar

oportunidades valorizando talentos, repassando dinamismo, altruísmo e

solidariedade. A escola não pode dispensar tais conceitos de seu currículo.

Pois, há uma sede generalizada de mais afetividade nas relações, a partir de

tais conceitos. O saber é poderosa arma de segurança e autonomia. Portanto,

a escola busca junto da comunidade escolar recursos para trabalhar pelo

fortalecimento da família e condições básicas para melhorias na qualidade de

vida.

Paulo Freire afirma que,

A afetividade não se acha excluída da cognoscibilidade. O que não posso obviamente é permitir que minha afetividade interfira no cumprimento ético de meu dever de professor (...) não posso condicionar a avaliação do trabalho escolar de um aluno ao maior ou menor bem querer que tenha por ele. (1996: 160).

A prática avaliativa deve estar coerente com a perspectiva da

construção de conhecimentos, esta prática exige do professor domínio e

seriedade amplamente detalhada de sua disciplina. O professor deve atuar

junto ao aluno de forma significativa para que ambos possam construir os

resultados necessários à aprendizagem, assim, ele estará aferindo com

seriedade a aprendizagem do aluno.

27

CAPÍTULO III – EDUCAÇÃO INFANTIL:

LEVANTAMENTO HISTÓRICO, AFETIVIDADE E

ESTUDO DE CASO.

3.1 – Quando a criança começou a ser vista como criança.

A partir do argumento que ressalta que a educação da criança começa

com a família, e depois passa para a escola, se faz necessário conhecer um

pouco mais sobre o surgimento da Educação Infantil como modalidade de

ensino. Para isso é preciso retomar um pouco da história fazendo um

levantamento de como a criança era vista e tratada no início dos tempos e qual

é a visão dos educadores, família e sociedade para com as crianças nos dias

atuais.

Baseando-se na trajetória da Educação Infantil é possível perceber

como a infância demorou a ser reconhecida pelos adultos, já que não era dada

a devida importância ao fato das crianças necessitarem de locais específicos

para que se desenvolvessem em todos os aspectos e aos vínculos afetivos

como grande colaboradores para o desenvolvimento da criança, seja em nível

cognitivo, emocional, afetivo ou social.

Foi escolhido como marco para início de estudo, o século XIV e a

evolução do desenvolvimento do tema no decorrer dos tempos. No século XIV,

a criança era um ser indefinido, representava dentro da família a perpetuação

da espécie, tinha a missão de reencarnação, um morria e outro era colocado

em seu lugar.

A educação dessa criança era coletiva e por isso não se estabelecia

nenhum vínculo afetivo entre ela e os pais. Isso começou a mudar em 1580

quando um neto de Scevole de Saint Marthe caiu gravemente doente,

procuraram vários médicos, porém inúteis, então Scevole assumiu o desafio de

salvá-lo e conseguiu. Daí por diante a criança ganhou um novo espaço, pois a

28

família sentiu vontade de preservar-lhe a vida. Dois séculos depois novas

regras surgem, mudando a relação entre pais e filhos. A criança passa a ser

amada pelos pais e por ela mesma, dando-lhes alegria.

Segundo John Locke, traduzido por Pierre Costre em (1695), “O

indivíduo tem a necessidade de viver, ser dono do seu corpo e não permitir que

o grupo familiar apague sua personalidade”. A história apresenta uma nova

visão da criança, esperta e madura.

Começa uma crítica dos moralistas citando os pais muito complacentes

em relação aos filhos que se libertam, adquirem defeitos, maus hábitos e isso,

nesse período, era inconcebível. Sem alternativa, os pais incapazes de educar

os filhos, passam a responsabilidade à igreja ou ao Estado.

Nota-se que desde os primórdios os pais já tinham medo de perder o

controle sobre o filho se o tratassem com afeto. Isso ainda ocorre nos dias

atuais, pois percebe-se que os pais ainda tem medo de que a emoção defina

as ações interferindo na educação dos filhos. Isso mostra que o que afasta pais

e professores da criança muitas vezes é o medo, o receio de demonstrarem

afeto, suas emoções e esses sentimentos causar a perda do controle sobre a

mesma.

A partir desse período, os pais começam a ter um convívio mais próximo

com os filhos e a forma de educar muda, mas, a falta do afeto ainda continua,

as mães se encarregam da educação das filhas e os pais dos filhos. A parte

afetiva não se apresenta nessa educação, que se baseia no autoritarismo, é

uma aprendizagem por imitação sem diálogo ou demonstrações de carinho.

A observação de Ariés (1981, p. 20) nos permite compreender como era

a infância era vista:

A passagem da criança pela família e pela sociedade era muito breve e muito insignificante para que tivesse tempo ou razão de forçar a memória e tocar a sensibilidade. A infância era apenas uma fase sem importância que não fazia sentido fixar na lembrança (...).

29

3.2 – O surgimento da modalidade “Educação Infantil”.

Até este momento, o estudo ficava a critério da família e a Educação

Infantil surgiu como modalidade de ensino quando a mulher se inseriu no

mercado de trabalho, o que criou a necessidade de locais dedicados a

educação das crianças.

Iniciou-se então a criação de entidades de amparo, mas o objetivo era

somente cuidar das crianças. Percebe-se que até o momento ninguém se

preocupava com a criança ou como elas estavam vivendo, os fins eram apenas

assistencialistas.

No início do século XX os empresários acharam vantajosa a criação de

instituições para cuidar dos filhos das mulheres operárias, visando o lucro e o

aumento na produtividade. Esses cuidados se restringiam ao cuidar, ação que

não exigia vínculos afetivos, eram realizados automaticamente.

Nesse período ocorre uma importante mudança, a Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional aprovada em 1961 (Lei 4024/61) aprofundando a

perspectiva apontada desde a criação dos jardins de infância, sua inclusão no

sistema de ensino. Assim dispunha essa Lei:

Art. 23 – “A educação pré-primária destina-se aos menores de até sete anos, e

será ministrada em escolas maternais ou jardins-de-infância”.

Art. 24 – “as empresas que tenham a seu serviço mães de menores de sete

anos estimuladas a organizar e manter, por iniciativa própria ou em cooperação

com os poderes públicos, instituições de educação pré-primária”.

Mesmo tendo o respaldo da Lei no que diz respeito à Educação Infantil,

as pessoas contratadas para exercer tal função não necessitava de

qualificações especificas para atuar em tal área. Somente com a LDB/96, Art.

29 determina que:

A Educação Infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até cinco anos de idade, em seus aspectos físicos, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. (LDB/96, Art. 29).

30

Só em abril de 1999, O Conselho Nacional de Educação fixou a lei que

fez com que as instituições acatassem as diversas identidades das crianças e

suas famílias, sem exclusão, de gênero, etnia, religião e outras peculiaridades.

A lei estabelece que cuidado e aprendizado devem estar integrados dede o

início e que o trabalho seja articulado em três eixos: a brincadeira, o movimento

e as relações afetivas que as crianças desenvolvem.

Mesmo com as mudanças referentes à educação infantil, ainda deixa a

desejar porque ao se falar em cuidar, educar, alfabetizar não explicita que

essas ações devem ser movidas pelo afeto e, ao contrário, se valem do

autoritarismo.

O educador deve conscientizar-se que o ser humano só se desenvolve

de forma plena se estiver bem resolvido moral, emocional e intelectualmente e

que o papel do educador é mediar inteiramente o desenvolvimento e o

potencial do aluno em todos os aspectos sociais, essa interação ocorre com

amor e respeito, Wallon (1971) ressalta que a emoção é o primeiro e mais forte

vínculo entre os indivíduos.

Os professores alegam não terem tempo para demonstrações de afeto

com os alunos, pois são pressionados constantemente pelo sistema que

estipula, mesmo para a Educação Infantil, uma sobrecarga muito grande de

conteúdos a serem trabalhados.

As crianças ficam entre os professores sofrendo com o estabelecimento

de sua profissão construindo sua identidade profissional e os pais que muitas

vezes são omissos, não intencionalmente, mas por diversos fatores que os

levam a esse comportamento como trabalho, stress, problemas financeiros e

até mesmo justificando-se pela própria criação.

31

Muitos foram criados por pais que tinham a afetividade, demonstrações de

carinho como algo supérfluo, o importante era casa, comida, remédio e estar

presente na vida da criança, acreditavam que carinho, amor e atenção

poderiam até prejudicar a educação e as escolhas do filho. Diante dessa

omissão tentavam se mostrar atenciosos através de cobranças.

Porém não é só de cobrança que os filhos precisam, muitas vezes eles não vão

bem na escola não é porque não são inteligentes e sim porque está faltando

atenção dos pais. Na teoria de Piaget a afetividade é caracterizada como

instrumento propulsor das ações. Taille, Dantas e Oliveira explicam que para

Piaget:

A afetividade seria a energia, o que move a ação, enquanto a Razão seria o que possibilita ao sujeito identificar desejos, sentimentos variados, e obter êxito nas ações. Neste caso, não há conflito entre as duas partes. Porém, pensar a Razão contra a afetividade é problemático porque então dever-se-ia, de alguma forma, dotar a Razão de algum poder semelhante ao da afetividade, ou seja, reconhecer nela a característica de móvel, de energia. (TAILLE, DANTAS E OLIVEIRA, 1992, p.66).

A afetividade entre o educador e o educando, principalmente em se

tratando de Educação Infantil é um fator fundamental para a formação

emocional da criança, pois a mesma ao ingressar nessa modalidade de ensino

já sofre uma perda muito grande, a separação da mãe e outros trazem consigo

problemas que fazem com que os mesmos sejam privados dessa atenção em

casa, por isso buscam no professor um carinho, um gesto amigo, uma

confirmação de que não estão sozinhos. Para que as mesmas não sintam tanto

é preciso encontrar na escola locais acolhedores e profissionais que venham

suprir a ausência da mãe ou da família. Pessoas que lhe ofereçam segurança,

carinho, atenção e demonstrem tais sentimentos através de ações e gestos,

pois a criança necessita mais de gestos do que de palavras e os mesmos tem

que ser sinceros, pois não há como enganar uma criança, não adianta falar

uma coisa e agir ou se expressar de forma diferente, as crianças,

principalmente aquelas que já trazem consigo o sentimento de rejeição, têm o

sentido muito aguçado e sentem logo a sinceridade das pessoas.

32

Os profissionais da Educação Infantil têm que estar conscientes que tem

em suas mãos, vidas, vidas estas que estão em plena formação de caráter,

definindo sua identidade, defendendo seu lugar no mundo, buscando ser

aceitas, muitas vezes sem mesmo ter consciência disso.

É relevante que os educadores façam uma reflexão e analisem, pois de

acordo com Freire:

[...] como professor [...] preciso estar aberto ao gosto de querer bem aos educandos e à própria prática educativa de que participo. Esta abertura ao querer bem não significa, na verdade, que, porque, me obrigo a querer Bem a todos os alunos de maneira igual. Significa, de fato, que a afetividade não me assusta que tenho de autenticamente selar o meu compromisso com os educandos, numa prática específica do ser humano. Na verdade, preciso descartar como falsa a separação radical entre “seriedade docente” e “afetividade”. Não é certo, sobretudo do ponto de vista democrático, que serei tão melhor professor quanto mais severo, mais frio, mais distante e “cinzento” me ponha nas minhas relações com os alunos, no trato dos objetos cognoscíveis que devo ensinar. (FREIRE, 1996, p. 159).

Ao escolher uma profissão, principalmente a de Educador Infantil é

fundamental que o professor saiba que a profissão escolhida baseia-se mais no

amor do que no plano financeiro tendo em mente que sua função é

determinante na construção de todo e qualquer conhecimento, principalmente

na qualidade de interação pedagógica no sentido de afeto e respeito às

experiências vivenciadas em sala de aula.

As considerações abordadas nesse estudo, nessa revisão literária,

visam refletir através das idéias de alguns autores sobre a importância da

afetividade na Educação Infantil tanto no que se diz respeito aos pais que são

os primeiros educadores, quanto à interação professor-aluno. O trabalho

aborda sobre a importância dos vínculos afetivos no processo de ensino-

aprendizagem, pois o mesmo é de suma relevância para toda a sociedade e

para a instituição escolar e não somente no aspecto emocional, pois a carência

afetiva acompanhada ou não de violência e maus tratos traz problemas em

todos os âmbitos e para que se faça uma análise nesse aspecto, Ferreira

33

(2001) sugere que a educação deve inicialmente se concentrar em quatro

pontos que são: (1) Como a criança procura resolver suas dificuldades; (2) Seu

nível de auto-estima; (3) Características de seu humor e (4) diz respeito às

posturas da criança diante do adulto resultantes de sua relação com a família,

tais como nível de autonomia, relação com figuras de autoridade e relação com

estruturas de poder.

Ainda segundo Ferreira existe três âmbitos que devem ser alvos do

trabalho pedagógico:

No âmbito emocional – identificar os sentimentos, expressar os sentimentos, avaliar sua intensidade, adiar a satisfação, controlar os impulsos, reduzir a tensão. No âmbito cognitivo – saber a diferença entre sentimento e ação, ler e interpretar indícios sociais, compreender a perspectiva dos outros, usarem etapas para resolver problemas, criar expectativas realistas sobre si, compreender normas de comportamento. - no âmbito comportamental – comportamentos não verbais: comunicar-se com os olhos, com gestos, com expressão facial; comportamentos verbais: fazer pedidos claros, resistir a influências negativas, ouvir os outros, responder eficientemente a críticas. (FERREIRA, 2001, p. 70)

A atenção principal desse estudo diz respeito à formação de caráter,

personalidade, mas após essa explicitação percebe-se que o problema vai

além e trás vários outros aspectos que podem influenciar o desenvolvimento da

criança até chegar à fase adulta.

A criança que desde o nascimento é ensinada com dedicação, respeito e

carinho, aprende muito mais que conteúdos, aprende também a respeitar os

outros, viver em sociedade, ser útil e aprende ainda a se fazer respeitar. É uma

pessoa que saberá agir na hora certa e ser aceita em todo lugar, pois a boa

interação é fundamental em todos os momentos de seu desenvolvimento.

Segundo Pino:

34

Os fenômenos afetivos representam a maneira como os sentimentos repercutem na natureza sensível do ser humano, produzindo nele um elenco de reações matizadas que definem seu modo de ser no mundo. Dentre esses acontecimentos, as atitudes e as reações dos seus semelhantes a seu respeito são, sem sombra de dúvida, os mais importantes, imprimindo às relações humanas um tom de dramaticidade. Assim sendo, parece mais adequado entender o afetivo como uma qualidade das relações humanas e das experiências que elas evocam (...). São as relações sociais, com efeito, as que marcam a vida humana, conferindo ao conjunto da realidade que forma seu contexto (coisas, lugares, situações, etc.) um sentido afetivo. (PINO, 2000, p.130 – 131).

É indispensável que o educador observe situações vividas no cotidiano

das crianças, seus comportamentos e que perceba que as atitudes das

mesmas estão intimamente ligadas às relações afetivas e emocionais que

podem despertar na criança: - Emoções positivas - como sentimentos de

alegria, aceitação, auto-estima, carinho, amor, calma; - Emoções negativas -

como sentimentos de medo, vergonha, cólera, dor, sofrimento, infelicidade,

raiva, nojo, solidão e falta de afinidades para com os outros.

Para o autor, o que ele chama de fenômenos afetivos representa a

forma com que o ser humano vai definir sua visão de sujeito no mundo. Com

isso percebe-se a importância do afeto para o desenvolvimento da criança, é a

forma como ela é tratada nos primeiros anos de vida que a preparará para ser

inserida na sociedade, que irá ditar se a mesma guardará consigo emoções

positivas ou negativas.

É sob essa visão que o estudo se organizará e através deste apresentar

de idéias, conhecer os aspectos relacionados ao carinho e ao respeito que

podem ajudar crianças desiludidas, com baixa auto-estima e que acreditam não

ter chances de viver igualmente, vir a ter e fazer as mesmas coisas que as

outras, aprendendo a despertar para a vontade de adquirir conhecimentos.

Para que isso aconteça, precisam perder o medo de não serem aceitas, deixar

de ser inseguras e ter medo de errar.

Esse medo está muito ligado ao emocional da criança. A esse respeito

Vygotsky (2003) argumenta que através de suas experiências percebe-se que

uma criança educada com afeto e carinho aprenderá e reterá o aprendizado de

forma mais sólida, firme e prolongada.

35

Silva (2001) ressalta a importância de o professor manter um bom

relacionamento com os alunos, principalmente na Educação Infantil para que

os mesmos, que já estão passando por uma fase de separação da mãe sintam-

se mais seguros, tranqüilos e haja uma boa interação, porque ao contrário do

que pensam muitas pessoas, a criança não vai à escola só para assimilação de

conteúdos, o papel do educador vai além, ele é o mediador entre o educando e

o meio que o rodeia, trabalha a socialização para que o mesmo torne-se um

indivíduo capaz de interagir dentro da sociedade, ser útil, dinâmico e seguro.

Já é comprovado cientificamente através da teoria de Isaac Newton que

para cada ação existe uma reação, e isso não é diferente em se tratando do

tema afetividade. Isso mostra a importância da cumplicidade entre educador e

educando, pois é a partir desse envolvimento que permeará uma convivência

tranqüila, com respeito e confiança.

Em concordância com a afirmação de que o ser humano é movido pela

emoção, Vigotsky reforça:

A emoção não é uma ferramenta menos importante que o pensamento. A preocupação do professor não deve se limitar ao fato de que seus alunos pensem profundamente e assimilem a geografia, mas também que a sintam [...] as reações emocionais devem constituir o fundamento do processo educativo. (VYGOTSKY, 2003, p. 121).

Por serem ações que trarão conseqüências ao adulto se as mesmas não

forem bem trabalhadas enquanto criança torna-se indispensável uma reflexão

sobre o assunto. Como já dizia Piaget (1962):

É incontestável que o afeto desempenha um papel essencial no funcionamento da inteligência. Sem afeto não haveria interesse, nem necessidade, nem motivação; e conseqüentemente perguntas ou problemas nunca seriam colocados e não haveria inteligência. (PIAGET, 1962, p. 5).

36

Quando o autor destaca a importância do afeto em relação à

inteligência, quer ressaltar que a criança aprende de acordo com seus

interesses e quer se destacar perante os outros quando isso é importante para

ela e para a pessoa a quem quer agradar. A criança quer se mostrar,

demonstrar seu carinho pelo educador através de seu desenvolvimento e em

pequenas ações.

Muitos estudiosos sobre o tema, após longo estudo afirmam que

crianças que são privadas da afetividade familiar carregam consigo uma

grande dependência afetiva, buscam aceitação, aprovação e afeição dos

adultos, dependem dos mesmos na adolescência e mesmo em seu processo

de desenvolvimento apresentam quando adultas uma consistência

enfraquecida, são passivas, dependentes dos pais, buscam segurança em

empregos sem risco e procuram ficar sempre próximo a casa dos pais ou de

outras pessoas com que ela mantém vínculo.

Essa afirmação não é generalizada porque muitos que passam pelos

mesmos problemas apresentam uma maneira de ser muito diferente, são

independentes, sabem se virar sozinhas, o que se nota é que a mesma

apresenta um senso de proteção muito grande para com as pessoas. Ela quer

dar a eles o que ela não teve.

Leontiev (1978) entende que somente a estrutura fisiológica do ser

humano não garante que o mesmo sem a interação com o ambiente social, vá

tornar-se humano, as características do funcionamento psicológico serão

construídas ao longo da vida do indivíduo através de um processo de interação

com o meio social, que possibilita não só a apropriação da cultura elaborada,

mas também a forma do ser humano agir e interagir com o mundo. Ele ainda

ressalta: “Cada indivíduo aprende a ser um homem. O que a natureza lhe dá

quando nasce não basta para viver em sociedade. É-lhe preciso adquirir o que

foi alcançado no decurso do desenvolvimento histórico da sociedade humana”.

(p. 267).

Para reforçar essa ideia, cabe lembrar o caso verídico citado por Rego

(1995) das duas “meninas-lobas” encontradas na Índia vivendo no meio de

uma alcatéia. Elas apresentavam comportamentos característicos dos animais,

como andar com o apoio das mãos, alimentarem-se de carne crua e até

mesmo estragada, ausência da linguagem verbal, não pensar com lógica e

37

outras atitudes, provando que para se humanizar o indivíduo precisa receber

todos os estímulos necessários do meio.

O indivíduo só aprenderá quando ele participar de forma ativa do

processo educativo, assim, é preciso que ele sinta-se parte desse processo e

que o mesmo vá de encontro a seus interesses, se ocorre o contrário sua

atitude será de desinteresse ou até mesmo de agressividade e não obterá bons

resultados e ainda gerará um conflito. Quando um educando sente-se coagido,

sua atitude é a mesma que a do educador: agressiva. Nesse caso, o diálogo e

o respeito são os melhores aliados para um professor resolver problemas com

alunos.

A relação professor-aluno, baseada no diálogo e no respeito é excelente,

não só no aspecto cognitivo, mas também no emocional e social, porque na

medida em que o aluno “erra” o professor terá condições de descobrir recursos

didáticos que favoreçam uma melhor assimilação devido ao grau de intimidade

mantida entre eles.

Essa relação deve ser tratada com respeito mútuo, de forma que o aluno

aprenda a aprender e o professor aprenda a reaprender sempre, num

desenvolvimento conjunto o professor deixa de ser o único dono do saber e

passa a compartilhar seus conhecimentos e suas dúvidas com os educandos, e

estes deixam de ter medo de seus educadores e passam a respeitá-los,

discutindo ideias e questionamentos. Segundo Freire:

O autoritarismo do educador não se manifesta apenas no uso repressivo da autoridade, que restringe arbitrariamente os movimentos dos educandos. Manifesta-se igualmente num sem-número de oportunidades. Na vigilância doentia sobre os educandos, na falta de acatamento à maneira de estar sendo dos alunos das classes populares, na maneira como os adverte ou os censura. (FREIRE, 1996, p. 73).

Os métodos tradicionais baseados no autoritarismo e a falta de

afetividade não funcionam mais. Não só a educação, mas toda a sociedade

passa por uma transformação muito grande, para isso, é preciso mudar a

mentalidade de todos sem exceção.

38

O mundo não precisa de futuros ditadores, mas de cidadãos pensantes,

ativos, críticos, que saibam questionar e fazer escolhas, pois todos devem ter

direito de seguir suas vidas dignamente e de uma educação de qualidade e

respeito, independentemente de sua classe social, cor, raça ou religião.

Quando se fala que precisa existir afetividade entre professores e alunos

é porque a partir daí que as escolhas poderão ser feitas, é uma forma de evitar

os vândalos, os delinqüentes, ladrões e assassinos do futuro. O professor tem

que parar de dizer o que está certo ou errado, baseando somente em seus

conceitos, tem que observar criteriosamente o desenvolvimento da criança e

perceber como ela está vivendo, deve ser o incentivador, considerando

também a espontaneidade, criatividade, preparando-o da melhor forma

possível para a vida.

A arte de educar pode ser uma das mais difíceis que existe, porém a

mais recompensadora, mas se o professor não amar o que faz esta missão de

ensinar outros seres humanos torna-se impossível. Não se pode perder a

esperança mesmo quando a realidade do aluno é de miséria, ou dos problemas

sociais que interferem no processo de desenvolvimento, é aí que está uma

oportunidade de trabalhar a realidade do educando.

Moreno (1999), afirma que “Interagir o que se ama com o que se pensa

é trabalhar, de uma vez só, razão e sentimentos, supõe elevar estes últimos à

categoria de objetos de conhecimento, dando-lhes existência cognitiva,

ampliando, assim, seu campo de ação”.

Concluo que assim deve prosseguir a educação, em que os autores e

atores sejam amados, respeitados e que se cumpra o papel de ensinar com

amor, pois todos são capazes de aprender, a interação e afetividade devem ser

os condutores para uma troca de conhecimentos.

39

3.3- A afetividade na Educação Infantil

No âmbito da educação infantil, a interrelação da professora com o

grupo de alunos e com cada um em particular é constante, dá-se o tempo todo,

na sala, no pátio ou nos passeios, e é em função dessa proximidade afetiva

que se dá a interação com os objetos e a construção de um conhecimento

altamente envolvente.

Como afirma Saltini (1997, p. 89), “essa interrelação é o fio condutor, o

suporte afetivo do conhecimento”. Complementa o referido autor:

Neste caso, o educador serve de continente para a criança. Poderíamos dizer, portanto, que o continente é o espaço onde podemos depositar nossas pequenas construções e onde elas tomam um sentido, um peso e um respeito, enfim, onde elas são acolhidas e valorizadas, tal qual um útero acolhe um embrião (SALTINI, 1997, p. 89).

A escola por ser o primeiro agente socializador fora do círculo familiar da

criança, torna-se a base da aprendizagem se oferecer todas as condições

necessárias para que ela se sinta segura e protegida. Portanto, não restam

dúvidas de que se torna imprescindível a presença de um educador que tenha

consciência de sua importância não apenas como um mero reprodutor da

realidade vigente, mas sim como um agente transformador, com uma visão

sócio-crítica da realidade.

A criança, segundo Marly Santos Mutschele (1994), ao entrar na escola

pela primeira vez, precisa ser muito bem recebida, porque nessa ocasião dá-se

um rompimento de sua vida familiar para iniciar-se uma nova experiência, e

esta deverá ser agradável, para que haja um reforço da situação.

Assim, quando a criança nota que a professora gosta dela, e que a

professora apresenta certas qualidades como paciência, dedicação, vontade de

ajudar e atitude democrática, a aprendizagem torna-se mais facilitada; ao

perceber os gostos da criança, o professor deve aproveitar ao máximo suas

40

aptidões e estimulá-la para o ensino. Ao contrário, o autoritarismo, inimizade e

desinteresse podem levar o aluno a perder a motivação e o interesse por

aprender, já que estes sentimentos são conseqüentes da antipatia por parte

dos alunos, que por fim associarão o professor à disciplina, e reagirão

negativamente a ambos.

Num apropriado comentário de Chardelli (2002):

A todo momento, a escola recebe crianças com auto estima baixa, tristeza, dificuldades em aprender ou em se entrosar com os coleguinhas e as rotulamos de complicadas, sem limites ou sem educação e não nos colocamos diante delas a seu favor, não compactuamos e nem nos aliamos a elas, não as tocamos e muito menos conseguimos entender o verdadeiro motivo que as deixou assim. A escola facilita o papel da educação nos tempos atuais, que seria construir pessoas plenas, priorizando o ser e não o ter, levando o aluno a ser crítico e construir seu caminho.

Crianças pequenas (período sensório-motor), por exemplo, querem

interagir com os objetos manipulando-os com todo o seu corpo, não só com as

mãos, pois esta é uma necessidade natural do seu desenvolvimento, conforme

Saltini (1997, p. 91).

É preciso que se esteja atento, também, que na idade pré-escolar,

assim como na primeira infância, os sentimentos imperam em todos os

aspectos da vida da criança, dando cor e expressividade a essa vida. A criança

não sabe dominar suas paixões, portanto a exteriorização dos sentimentos é

muito mais impetuosa, sincera e involuntária do que no adulto, como afirma

Mukhina (1998, p. 209): “Os sentimentos das crianças brotam com força e

brilho, para se apagarem em seguida; a alegria impetuosa é muitas vezes

sucedida pelo choro.”

Ainda conforme este autor, a criança extrai suas vivências

principalmente do contato com outras pessoas, adultos ou crianças. Se os que

a rodeiam a tratam com carinho, reconhecem seus direitos e se mostram

atenciosos, a criança experimenta um bem-estar emocional, um sentimento de

41

segurança, de estar protegida. E, conforme Mukhina (1995, p. 210), “o bem

estar emocional ajuda o desenvolvimento normal da personalidade da criança e

a formação de qualidades que a tornam positiva, fazendo-a mostrar-se

benevolente com outras pessoas”.

Saltini também se refere à questão da manutenção da serenidade por

parte da professora e da criança. Como explica o autor,

A serenidade e a paciência do educador, mesmo em situações difíceis faz parte da paz que a criança necessita. Observar a ansiedade, a perda de controle e a instabilidade de humor, vai assegurar à criança ser o continente de seus próprios conflitos e raivas, sem explodir, elaborando-os sozinha ou em conjunto com o educador. A serenidade faz parte do conjunto de sensações e percepções que garantem a elaboração de nossas raivas e conflitos. Ela conduz ao conhecimento do si-mesmo, tanto do educador quando da criança (SALTINI, 1997, p. 91).

Outrossim, também no entender de Saltini (1997, p. 90), é preciso

[...] encorajar a criança a descobrir e inventar, sem ensinar ou dar conceitos prontos. A resposta pronta só deve ser dada quando a pergunta da criança focaliza um ato social arbitrário (funções do objeto cotidiano). Manter-se atento à série de descobertas que as crianças vão fazendo, dando-lhes o máximo de possibilidades para isso. Dar atenção a cada uma delas, encorajando-as a construir e a se conhecer. Dar maior incentivo à pergunta que à resposta. Sempre buscando no grupo a resposta o professor procurará sistematizar e coordenar as idéias emergentes. A relação que se estabelece com o grupo como um todo e a pessoal com cada criança é diferenciada em todos os seus aspectos quantitativos e cognitivos respeitando-se a maturidade de seu pensamento e a individualidade. [...]

Quando ocorrem explosões de raiva, o professor precisa ter muita

habilidade. Para tanto, faz-se necessário manter um diálogo com a criança, em

42

que se possa perceber o que está acontecendo, usando tanto o silêncio quanto

o corpo, abraçando-a quando ela assim o permitir; compartilhar com os demais

da classe os sentimentos que estão sendo evidenciados nesse instante é um

trabalho quase terapêutico, conforme recomenda Saltini (1997, p. 91).

Também o tratamento equânime para com todos os alunos precisa ser

sempre mantido e explicitado, e nenhuma criança deve ter a percepção de ser

perseguida ou amada em demasia. É preciso observar, neste sentido, que a

opinião de cada criança tem o mesmo respeito e valor, sem ressaltar o feito de

alguma criança ou compará-la com outra, nem salientar diferenças entre

meninos e meninas em brincadeiras e jogos, pois isto seria prejudicial ao

desenvolvimento afetivo sadio.

E, finalmente, como também sugere Saltini (1997, p. 92), “o interesse da

criança é que programa o dia e não vice-versa, visando assim o entusiasmo do

grupo e energizando o conhecimento”.

43

3.4- Análise de Caso

No caso analisado, conversei com a professora, com a orientadora

pedagógica e com a orientadora educacional, que é a responsável em mediar

os problemas e encaminhá-los a quem tem a competência de resolvê-los. O

aluno G. seria meu aluno no ano de 2010 e todos falavam muito mal sobre o

seu comportamento. Procurei saber tudo sobre o mesmo, através dos

documentos que envolviam a sua vida escolar para conhecer o aluno e

procurar saber o que poderia ser feito para ajudá-lo. Abaixo está o relato da

vida escolar do aluno no ano letivo de 2009:

G. com 4 anos, matriculado e regularmente freqüentando o segundo

período da classe de educação Infantil neste estabelecimento de ensino, vem

apresentando um padrão de comportamento que requer uma atenção especial

por parte dos profissionais que atuam com ele. Desde o início do ano letivo a

professora já havia percebido que ele apresentava uma agressividade e

intolerância acima da média, se comparando aos outros colegas de classe. No

período que se seguia a essa observação, a mesma foi mudando a forma de

abordagem, e obtendo sucesso. À medida que o tempo foi passando, tais

abordagens perderam sua força, ao que a professora foi respondeu com outros

caminhos, formas de trabalho diferenciadas. Entretanto a evolução se deu de

forma inversa, seu comportamento foi piorando e percebe-se claramente que

há dias em que ele parece mais agressivo, seja por palavras ou atitudes.

Embora não seja exatamente excluído pelos colegas de classe, por vezes os

mesmos podem oferecer alguma resistência à sua tentativa de aproximação.

Seu comportamento agressivo se manifesta sem distinção de idade – nesses

momentos, ele pode agredir colegas, a professora, ou qualquer outro

profissional que intervir. Por vezes, quando levado pela professora até a equipe

técnico-pedagógica, ele continuou reagindo de forma agressiva, chutando as

portas, se escondendo debaixo da mesa e procurando objetos para

arremessar. Numa dessas vezes, chegou a urinar deliberadamente no chão de

uma das salas, seguindo seu gesto com um olhar de desafio. Reage como um

adulto quando contrariado, com expressões atípicas para um garoto de sua

idade, e num dado momento, afirmou que queria morrer “não agüento mais a

vida que eu levo”. Recentemente, ele está se mostrando depressivo, chorando

44

muito ou apenas se mostrando muito entristecido, o que não é comum. Reage

muito negativamente a contato físico, como se o mesmo lhe despertasse

sensações desconfortáveis. Carinhos comuns, como um afago no cabelo, um

carinho no rosto, parecem incomodá-lo. Algumas observações relatadas pela

professora:

* “Bate nos colegas sem motivo aparente ( de forma violenta, impondo

medo aos colegas);

* Descontrola-se com facilidade;

* Falta com o respeito a todos sem exceção;

* Quebra e arremessa qualquer material ao seu alcance não

demonstrando zelo pela escola;

* Não aceita ser contrariado ( seguir regras tais como: a hora do lanche,

parquinho, sala mágica, permanecer em sala, etc);

* Necessita, a todo momento, ser o centro das atenções;

* Se dirige a todos com tom de voz sempre alterado e desafiador;

* Apresenta atitudes incompatíveis para a idade (muito adulto).”

Aluno: G.( 5 anos)

Educação Infantil: 3 Período Ano: 2010

Durante o contato que tive com G., percebi o quanto ele é carente de

afeto, por isso chama a atenção de todos através do seu comportamento. Ao

conversar com a mãe de G. sobre a sua vida familiar descobri que ele mora

com a mãe e com mais três irmãos, que não são filhos do mesmo pai. Além

disso, falta a figura paterna, pois a mãe é separada e trabalha o dia inteiro em

casa de família para manter os filhos.

Ao trabalhar com G. procurei sondar o que ele gostava mais e a partir

daí comecei a investir em atividades que despertavam interesse e prazer ao

mesmo. Percebi como ele gostava de brincar de casinha, pois representava

sempre o papel de pai carinhoso e atencioso, ou seja, o que ele gostaria de ter.

Também gostava muito das atividades de artes onde era visível a sua

dedicação e concentração em participar. Outra atividade que G. gostava muito

estava ligada a contação de história, pois ouvia com muita atenção e sempre

gostava de fazer o reconto das histórias lidas, o que fazia com riqueza de

45

detalhes. Foi quando tive a idéia de fazer com que contasse a história lida para

os colegas de outras turmas. Foi muito importante para ele estar contando

histórias para os colegas, pois a partir daí começou a receber elogios por parte

de todos, o que contribuiu muito para a elevação de sua auto-estima, sentia-se

querido por estar fazendo uma coisa boa e que todos gostavam.

Desta forma G. começou a chamar atenção positivamente e aos poucos

o seu comportamento foi melhorando. Já era possível fazer com que

respeitasse alguns limites e falasse as “palavrinhas mágicas” quando

necessárias. Acredito que o vínculo afetivo se deu quando busquei trabalhar

partindo do interesse de G., que aos poucos foi participando e desenvolvendo

habilidades e competências necessárias para a sua aprendizagem.

G. melhorou muito em sua socialização bem como sua auto-estima, e

sua mãe, deixou de ser chamada para ouvir reclamações a seu respeito, mas

sim para ouvir elogios. O trabalho desenvolvido com G. não foi fácil, mas

recompensador porque no início do ano letivo de 2010 ele apresentava um

comportamento muito agressivo e sem limites e ao fim desse mesmo ano já era

uma criança diferente, mais carinhoso e respeitando os limites necessários

para a sua participação no grupo.

.

46

CONCLUSÃO

Tendo em vista a importância da afetividade deflagrada pela bibliografia

consultada, conclui-se que há uma forte preocupação em “afetar” positivamente

os alunos, oportunizando momentos e espaços adequados ao estabelecimento

de interações sociais capazes de promover o desenvolvimento do sujeito em

todas as suas dimensões, ou seja, cognitiva, afetiva, motora e social.

Retoma-se, neste contexto, que para Wallon (1975), a afetividade

desempenha um papel fundamental na constituição e funcionamento da

inteligência, determinando os interesses e necessidades individuais,

possibilitando avanços progressivos no campo intelectual, ou seja, para ele,

são os motivos, necessidades, desejos que dirigem o interesse da criança para

o conhecimento e conquista do mundo exterior.

Desta forma, faz-se necessária a conscientização do professor quanto

ao seu importante papel na relação com os alunos: é o principal mediador em

sala de aula, é quem planeja as aulas, organiza todos os espaços, disponibiliza

materiais, promove e participa das brincadeiras, mediando a construção do

conhecimento. Posto isso, é imprescindível que o professor e toda a equipe

escolar, estejam em constante capacitação, refletindo sobre suas práticas e

atualizando-se com os estudos mais recentes sobre as crianças da faixa etária

com que trabalham, é o profissional que comprometido com sua prática deve

buscar capacitar-se independentemente dos apoios e fomentos para sua

formação continuada. Conseqüentemente, se o profissional da Educação

Infantil estiver sempre atualizando seus conhecimentos teóricos,

fundamentando sua prática, observando direta e objetivamente seus alunos,

bem como lançando mão das reflexões resultantes deste processo, poderá

orientar o aprendizado no sentido de promover o desenvolvimento potencial de

uma criança, tornando-o real. O professor, dentro da sala de aula, é o principal

mediador do processo ensino-aprendizagem ocupa uma função ímpar e

privilegiada no desenvolvimento da criança, podendo contribuir para o sucesso

ou o fracasso do aluno na escola. Ele pode estabelecer vínculos afetivos muito

fortes com e entre os alunos. Através de seu comprometimento profissional,

das sondagens dos conhecimentos prévios da turma, das intervenções

47

adequadas e pertinentes, dos elogios, das correções que faz, dos incentivos

que dá, da ajuda na resolução de problemas, pode ensinar muito a seus

alunos. Nas atitudes de respeito à diversidade e limitações específicas de cada

ser humano, bem como na valorização dos diferentes saberes e na

disseminação de valores éticos e de solidariedade, conquista a admiração, a

simpatia e o respeito de seus alunos. Como vimos, na teoria e na prática, as

interações entre as docentes e os alunos não se limitam apenas aos aspectos

cognitivos. Elas são impregnadas de afetividade e esta orienta o processo e

pode se tornar aliada de qualquer professor. Portanto, analisar o processo de

construção de novos conceitos, sejam eles matemáticos, lingüísticos, artísticos

e outros, a partir das interações em sala de aula, direcionando o olhar para os

aspectos afetivos inerentes à relação professor-aluno, é um grande desafio que

deve ser estendido a todos os que abraçam o Magistério.

Assim, faz-se necessário que as instituições de Educação Infantil,

articuladas às políticas públicas sociais, se constituam num espaço onde as

formas de expressão da criança de 0 a 5 anos, dentre elas a linguagem verbal

e corporal ocupem lugar privilegiado. Num contexto lúdico e prazeroso de jogos

e brincadeiras, onde as famílias e as equipes de educadores possam conviver

intensa e construtivamente, cuidando e educando, objetiva-se promover o

desenvolvimento individual, social e cultural destas crianças.

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