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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE INTEGRADA PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU AS NOVAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO DO INDIVÍDUO E AS RELAÇÕES COM A PSICOPEDAGOGIA ANA LYDIA SOARES DE MENEZES Prof. Orientador Fabiane Muniz RIO DE JANEIRO 2015

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

AVM FACULDADE INTEGRADA

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

AS NOVAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO

E O DESENVOLVIMENTO DO INDIVÍDUO E AS RELAÇÕES COM A

PSICOPEDAGOGIA

ANA LYDIA SOARES DE MENEZES

Prof. Orientador Fabiane Muniz

RIO DE JANEIRO

2015

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

AVM FACULDADE INTEGRADA

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

AS NOVAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E DA

COMUNICAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO DO INDIVÍDUO E AS

RELAÇÕES COM A PSICOPEDAGOGIA

ANA LYDIA SOARES DE MENEZES

Monografia apresentada ao Instituto A Vez do Meste como requisito parcial para obtenção do título de especialista em Psicopedagogia Institucional

Orientador: Fabiane Muniz

RIO DE JANEIRO

2015

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AGRADECIMENTOS

Agradeço à minha mãe, irmã e Talon.

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DEDICATÓRIA

A minha mãe querida

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RESUMO

A presente monografia se propôs a investigar como alteram as novas

tecnologias da informação e da comunicação (TIC) alteram o desenvolvimento

do indivíduo e quais as considerações da psicopedagogia quanto a isso. Este é

um tema de grande relevância e pode impulsionar o desenvolvimento

econômico e social na medida em que pode alterar os serviços educacionais

existentes. As crianças já nascem sob a influência das TIC e operam de forma

diferente dos imigrantes digitais. É de suma importância o estudo de como elas

influenciam os processos cognitivos e como a psicopedagogia pode auxiliá-los.

Utilizamos a abordagem sócio histórica de Vygotsky, outros pesquisadores

desta abordagem e de Cesar Coll que correlaciona a abordagem sócio

histórica e a incorporação das TIC no campo educacional.

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METODOLOGIA

O tema foi abordado a partir abordagem sócio histórica de Vygotsky, principalmente com contribuições de pesquisadores desta abordagem e de Cesar Coll que junto a outros correlaciona a abordagem sócio histórica e a incorporação das TIC no campo educacional. Dentre eles, citam-se Cesar Coll com sua correlação entre as TIC e os processos cognitivos. Este autor organizou um livro que servirá de base para entendermos como estas correlações ocorrem e receberá contribuição de diversos autores como: Badia, Monereo, Lalueza, entre outros. Chagando-se à conclusão de que a psicopedagogia deve incorporar estes conhecimentos e utilizar as tecnologias da informação e da comunicação em seu tralho cotidiano.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

1.1 – As Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação 09

1.2 – A perspectiva sócio histórica de Vygotsky 15

1.3 – As TIC e a psicologia da educação 18

1.3.1 – Formas de educação 18

1.3.2 – Triângulo de interatividade 20

CAPÍTULO II – O DESENVOLVIMETO HUMANO E AS NOVAS

TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO

25

2.1 Uso de editor de textos 28

2.2 Uso de computadores e videogames

CAPÍTULO III – PSICOPEDAGOGIA E AS NOVAS TECNOLOGIAS DA

INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO

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CONCLUSÃO 42

ANEXO 1 44

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 45

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INTRODUÇÃO

O presente tema de pesquisa é extremamente atual. É relevante para o

estudo de como a incorporação das TIC modificam os processos educacionais,

as relações entre professores e alunos e os conteúdos de aprendizagem. O

conhecimento é a mercadoria mais valiosa e a educação é uma das formas

para adquiri-lo. Além disso, a educação é considerada um instrumento

tradicional que promove e impulsiona os processos de desenvolvimento

econômico e social. Na sociedade informacional que vivemos, a educação é

diretamente afetada pela revolução tecnológica, pelo acesso, pela transmissão

da informação e pelas relações de comunicação existentes. Sendo assim, é de

grande importância a revisão do papel dos serviços educativos existentes e

suas correlações com as TIC.

O objetivo deste trabalho é identificar como as novas tecnologias da

informação e da comunicação alteram o desenvolvimento do indivíduo;

relacionar as considerações da psicopedagogia quanto ao uso das novas

tecnologias da informação e da comunicação e sua alteração no

desenvolvimento do indivíduo e analisar as contribuições das TIC para a

psicopedagogia.

Assim sendo, este estudo foi dividido em três capítulos. No primeiro

capítulo, buscou-se identificar as novas tecnologias da informação e da

comunicação; a perspectiva sócio histórica de Vygotsky; as correlações entre

as TIC e a psicologia da educação; as formas de educação e o triângulo de

interatividade de Coll (2004).

No segundo capítulo apresentou-se como o desenvolvimento humano e

as novas tecnologias da informação e da comunicação interagem, trazendo

como exemplos o uso de editor de textos e de computadores e videogames.

For fim, o terceiro capítulo trouxe as relações entre psicopedagogia e as

novas tecnologias da informação e comunicação.

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CAPÍTULO I

AS NOVAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E DA

COMUNICAÇÃO

1.1 – As Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação

... a incorporação das TIC na educação não transforma nem melhora automaticamente os processos educacionais, mas, em compensação, realmente modifica substancialmente o contexto no qual estes processos ocorrem e as relações entre seus atores e as tarefas e conteúdos de aprendizagem, abrindo, assim, o caminho para uma eventual transformação profunda desses processos, que ocorrerá, ou não, e que representará, ou não, uma melhora efetiva, sempre em função dos usos concretos que se dê à tecnologia (COLL; MONEREO, 2010, p.11).

As Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC) são, em

primeiro lugar, um sistema de comunicação com uma potência

incomparavelmente maior que os anteriores, uma vez que permitem trocar

informações e representações praticamente instantaneamente, vencendo o

espaço e o tempo em quantidades massivas e em uma multiplicidade de

formatos representacionais que darão origem a um conhecimento mais fácil e

acessível (MONEREO; POZO, 2010). Elas fazem parte de um novo paradigma

tecnológico que modifica as práticas sociais e educacionais.

Levando-se em consideração que o conhecimento é a mercadoria mais

valiosa e a educação e a formação são as vias para adquiri-la, entendemos

que a educação é considerada tradicionalmente um instrumento que promove

e impulsiona os processos de desenvolvimento econômico e social, sendo uma

prioridade estratégica para políticas culturais e bem-estar social e para as

políticas de desenvolvimento. A educação passou a ocupar lugar central na

sociedade informacional e foi diretamente afetada pela revolução tecnológica,

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junto ao acesso e transmissão da informação e das relações de comunicação.

Sendo assim, há a necessidade de uma revisão do papel dos serviços

educativos configurados desde o início do século XX (COLL, 2004).

A nova fase de evolução das TIC está associada às novas maneiras de

viver e trabalharmos juntos, com novas formas de nos comunicarmos,

relacionarmos, de aprender e pensar. Seria um novo paradigma tecnológico,

associado às profundas transformações sociais, econômicas e culturais

(COLL, 2004).

As novas TIC já estão dentro de nossas salas de aula, pois começam a

ser incorporadas na mente de nossos alunos, mesmo que isso não esteja na

de todos por igual, devido à brecha digital que, sem dúvida, está sendo aberta

na nossa sociedade. Mais que um abismo cognitivo entre gerações, talvez

devêssemos falar em abismo sócio cognitivo, no sentido de que as TIC

começaram a criar uma separação entre a maneira como pensam e se

relacionam no mundo aqueles que fazem uso esporádico e circunstancial

dessas tecnologias e aqueles outros cujas atividades cotidianas dificilmente

não se encontram sempre ligadas a algum dispositivo tecnológico, sem a

participação do qual a atividade seria diferente (MONEREO; POZO, 2010).

As TIC foram inicialmente entendidas como conhecimento em si,

principalmente de natureza procedimental, aplicáveis a qualquer conteúdo,

curricular ou não. Posteriormente, foram tratadas como suporte para outros

conhecimentos. Com o tempo, começaram a pensar que o conhecimento que

essas tecnologias incorporam não é neutro nem independente do contexto, e é

aí que começa a ocorrer uma apropriação mais contextualizada (BADIA;

MONEREO, 2010). Abordaremos esta perspectiva a partir das contribuições de

Vygotsky no próximo sub-capítulo.

O comportamentalismo com as máquinas de ensinar de Skinner

representa a primeira tentativa de estabelecer ponte entre ensino e

aprendizagem. O ensino programado e as teaching machines propunham uma

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série de princípios (pequenas doses, clareza de objetivos, imediaticidade das

consequências) (CARRARA, 2004). Skinner entendia que ensinar envolvia

contingências de reforço. O professor deve apressar e assegurar a eficaz

aquisição de comportamentos novos e a manutenção de comportamentos já

adquiridos na história de condicionamentos de cada indivíduo. A estratégia de

tecnologia de ensino envolve a máquina de ensinar e a instrução programada

(CARPIGIANI, 2010). Na instrução programada, a matéria era dividida em uma

série de pequenas etapas que levam a uma complexidade cada vez maior. O

aluno é apresentado à matéria em pequenas etapas sequenciais, do muito

simples ao muito complexo. Deve ser capaz de ter uma porcentagem alta de

respostas corretas e assim respostas progressivamente mais complexas são

reforçadas. Os livros didáticos foram desenvolvidos seguindo esta lógica. As

máquinas de ensino apresentam material programado, fornecendo reforço

condicionado, moldando assim o comportamento enquanto mantinha o

interesse do aluno ao reforçar imediatamente o interesse do aluno (NYE,

2005).

Nesta primeira tentativa de ponte entre o ensino e aprendizagem, seria

necessário apenas algum tipo de dispositivo que permitisse ao aprendiz

receber um treinamento sistemático, repetitivo e progressivamente mais

complexo, até dominar as técnicas requeridas. A aprendizagem requeria o uso

de programas contingentes de reforço e extinção, orientados a criar

automatismos ou hábitos de estudos no aprendiz, com esquemas, resumos e

técnicas mnemônicas (BADIA; MONEREO, 2010).

Na década de 70, estudaram o nexo entre alguns métodos de ensino e

algumas aptidões relevantes dos estudantes (inteligência, motivação,

ansiedade e seus efeitos sobre o rendimento). Flavell introduziu o termo

metacognição - que se refere à capacidade que os seres humanos têm de

conhecer o funcionamento de alguns processos cognitivos como memória,

atenção ou compreensão. Seus seguidores adotaram um enfoque

eminentemente evolutivo-observacional (isso devido à própria formação

piagetiana) (BADIA; MONEREO, 2010).

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Na década de 80, um rico período sobre aprendizagem estratégica,

temos uma grande influência da psicologia cognitiva norte-americana quando

os pesquisadores começaram a se interessar pelos processos de aquisição do

conhecimento. O foco passa a ser a descoberta dos processos cognitivos

pelos quais alunos aprendem a analisar quais deles são mais eficazes. Noções

como estratégias, concepções, crenças, atribuições ou enfoques sobre a

aprendizagem, especialmente quando referidos a conteúdos como

matemática, leitura ou escrita, adquirem seu máximo protagonismo. Os

estudos sobre aprendizagem estratégica se referem ao impacto sobre uma

aprendizagem mais significativa e não tanto sobre o rendimento em termos de

qualificações acadêmicas (BADIA; MONEREO, 2010).

Sob influência de Vygostky, um grupo de pesquisadores, no final da

década de 90, reunido em torno do Laboratório de Cognição Humana

Comparada da Universidade da Califórnia, interessam-se pelo estudo das

diferentes maneiras pelas quais a cultura media a atividade cognitiva das

pessoas em contextos específicos, promovendo mudanças substanciais em

sua aprendizagem e desenvolvimento. O contexto estratégico apresenta uma

disposição de condições que favorece o aparecimento de atuação de

estratégia por parte dos alunos. O planejamento das ações deve ser realizado

para se aprender um conteúdo, a autorregulação dessas ações e sua

avaliação final (BADIA; MONEREO, 2010).

Deste modo, configura-se a necessidade da substituição do conceito de

educação dominante nos últimos séculos, praticamente reduzido a ideia de

aprendizagem formal e escolar (um sistema educacional ancorado

majoritariamente em uma epistemologia objetivista e experimentalista, em um

pensamento lógico-formal, em uma didática transmissiva, em resumo em uma

concepção taylorista da relação ensino e aprendizagem (BADIA; MONEREO,

2010) e, por uma visão mais ampliada que incorpore a aprendizagem não

formal e informal ao longo da vida.

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Levando-se em consideração o surgimento de novos cenários e agentes

educativos, as finalidades, a organização e os funcionamentos das instituições

educativas devem ser refeitas. Como as TIC estão cada vez mais presentes

nos processos educativos e de formação, o objetivo de se construir uma

economia baseada no conhecimento comporta pôr em prática a aprendizagem

no plano individual e social, como via de acesso à informação e ao

conhecimento (COLL, 2004).

Em nossa sociedade, o principal bem de consumo é a informação, ser

competente para gerenciá-la e transformá-la em conhecimento constitui-se em

habilidade crucial para qualquer cidadão, e deveria ocupar lugar de honra nos

currículos em qualquer nível educacional (BADIA; MONEREO, 2010).

As TIC são instrumentos para pensar, aprender, conhecer, representar e

transmitir a outras pessoas e gerações os conhecimentos e aprendizagens

adquirido, apresentando impacto sobre as formas e práticas de organização

social. Elas dão possibilidade de comunicação, troca, acesso e processamento

de informação. A partir das TIC, temos a possibilidade de utilizar sistemas de

símbolos (linguagem oral, imagens e movimentos, símbolos matemáticos,

notas musicais, sons) para representar certa informação e transmiti-la. Dentre

as TIC, podemos encontrar: linguagem escrita, impressão, telégrafo, telefone,

tv. Como Vygotsky diz os símbolos, ou melhor, os sistemas de símbolos são os

recursos que utilizamos para regular nossas atividades e nossos próprios

processos mentais, e para regular os processos mentais e as atividades de

outras pessoas com as quais interagimos e nos comunicamos (COLL, 2004).

A aprendizagem agora se identifica com a e-aprendizagem, trazendo

uso de novas tecnologias multimídia (imagens fixas, em movimento, áudio,

textos) e internet para promover e melhorar a qualidade do aprendizado. Além

disso, o uso da internet facilita o acesso a recursos e serviços educativos, com

independência do lugar em que se encontram (escola, universidade, lugar de

trabalho, espaços de ócio), e estimula a colaboração entre agentes educativos

e aprendizes, permitindo o estabelecimento de relações (COLL, 2004). Mauri e

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Onrubia (2010) ainda indicam que o desenvolvimento de ambientes de ensino

e aprendizagem nessa nova era se dará em formato virtual ou de caráter

híbrido (blended learning), indicando um esforço importante para o coletivo de

professores.

Neste contexto, as instituições formais de educação se modificam como

consequência do impacto de aprendizagem ao longo da vida; surgimento de

novas necessidades formativas; onipresença das TIC e necessidade de

adquirir competências extremamente vinculadas a novos espaços pessoais

(família), institucionais e outros como espaços de comunicação virtual, on-line.

Além de transformar os cenários educativos, existentes as TIC provem o

surgimento de novos (COLL, 2004).

Apesar de ainda não haver apoio empírico suficiente da contribuição à

melhora do processo de aprendizagem e qualidade de ensino, a incorporação

das TIC à educação formal e escolar vem ocorrendo. Mesmo sem isso, as

facilidades que oferecem para implementar metodologias ou planejamento

pedagógico justificam seu uso. Outros fatores influenciam esse processo, tais

como: a heterogeneidade dos recursos tecnológicos, sua natureza e

características; o desigual potencial como ferramenta de comunicação e de

transmissão de informação; a diferença de uso efetivo por professores e

alunos e os diferentes planejamentos pedagógicos e didáticos (COLL, 2004).

A diferença essencial entre os múltiplos e diversos usos das TIC na

educação formal e escolar não reside tanto nas características dos recursos

tecnológicos ou tecnológico-didático utilizados em cada caso como a

localização no espaço conceitual pelas tramas de relações entre os três

elementos interativos. A chave para analisar seus impactos sobre estas

práticas e através deles sobre os processos de construção de significados e de

atribuição de sentido que persegue a educação formal e escolar. O uso das

TIC se incrementa quando estas tecnologias de combinar espaços de trabalho

presencial, em que as relações entre os três elementos do triângulo interativo

estão regidas pelas mesmas coordenadas de espaços e tempo (professor e

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aluno abordando conteúdos ou realizando tarefas ao mesmo tempo num

mesmo lugar), com espaços de trabalho linear ou “virtuais”, em que se rompe a

unidade espacial as relações e também a temporal (COLL, 2004).

1.2 – A perspectiva sócio histórica de Vygotsky

As teorias de Piaget e de Wallon são mais completas e articuladas teorias genéticas do desenvolvimento psicológico que dispomos. Diferentemente desses dois estudiosos, Vygotsky não chegou a formular uma concepção estruturada do desenvolvimento humano, a partir da qual pudéssemos interpretar o processo de construção psicológica do nascimento até a idade adulta. ... Vygostsky não nos oferece uma interpretação completa do percurso psicológico do ser humano; oferece-nos, isto sim, reflexões e dados de pesquisa sobre vários aspectos do desenvolvimento (OLIVEIRA, 2011, p.53).

Vygotsky introduz a concepção de consciência com uma origem social

na psicologia soviética (MOURA; CORREA, 1997). Foi um marco decisivo para

a mudança da psicologia. Ele questionava a crise da psicologia da época, que

privilegiava a discussão entre a ênfase no estudo da mente e nos aspectos

internos ou no comportamento externo (FREITAS, 2002). Vygotsky ao oferecer

a visão de sujeito integral, oferece uma nova psicologia, sem os reducionismos

anteriores. É interessante observar que Vygostsky faz isso na tentativa de

reunir, num mesmo modelo explicativo, tanto os mecanismos cerebrais quanto

os de desenvolvimento individual e da espécie humana ao longo e um

processo sócio histórico (OLIVEIRA, 2011). A constituição do sujeito se dá na

e pela relação com sua cultura (MOURA; CORREA, 1997). O homem está

imerso no contexto histórico, sendo membro da cultura.

Os pilares do pensamento de Vygotsky indicam que as funções

psicológicas têm suporte biológico, pois são produtos da atividade cerebral. O

funcionamento psicológico fundamenta-se nas relações sociais entre o

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indivíduo e o mundo exterior, que se desenvolvem num processo histórico

(OLIVEIRA, 2011).

Como Gonzalez Rey (2005) diz, Vygostsky procurou no marxismo

princípios gerais suscetíveis de desenvolvimento na construção da psicologia e

não um dogma. Vygotsky objetivava aprender em todo método marxista como

construir a ciência e como enfocar a investigação da psique.

...o homem transforma-se de biológico em sócio histórico, num processo

em que a cultura é a parte essencial a constituição da natureza humana

(OLIVEIRA, 2011, p.24).

Com isso, podemos entender que para Vygotsky, o funcionamento

psicológico está baseado nos modos culturalmente construídos de ordenar o

real (OLIVEIRA, 2001). A origem das funções mentais superiores e o papel

fundamental dos signos são importantes para o entendimento da abordagem

desenvolvida por Vygotsky. A base de toda função psicológica superior

encontra-se primeiro em um nível social (interpessoal) e depois num nível

individual (intrapessoal). A base de todas as funções superiores são as

relações entre os seres humanos, imersos no meio cultural.

Diferentemente do que ocorre com os animais, os bebês humanos

nascem sem habilidades dadas biologicamente. Ele precisa aprendê-las e as

aprende com a geração com que convive e no mundo em que vive. Cada um

que nasce, nasce em um mundo pleno de objetos que escondem aptidões,

habilidades e capacidades que foram criadas ao longo da história. Cada

geração nasce para aprender as aptidões necessárias à utilização da cultura

no mundo e no momento histórico em que vive.

...à medida que aprende a utilizar a cultura, a criança vai acumulando

experiências em conjunto com as outras pessoas com quem vive e vai criando

sua inteligência e sua personalidade (MELLO, 2004, p.138).

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As funções psicológicas superiores como linguagem oral, pensamento,

memória, linguagem escrita, cálculo não se desenvolvem espontaneamente

nas crianças. Há sempre a necessidade da vivência da criança num meio

social para desenvolvê-las. Primeiro ocorrem no nível intrapessoal e depois de

um processo de internalização assumem a forma de atividade intrapessoal. É

por meio da relação interpessoal concreta com outros homens que o indivíduo

vai chegar a interiorizar as formas de culturalmente estabelecidas de

funcionamento psicológico (OLIVEIRA, 2001).

Sem o contato a criança com a cultura, com os adultos, com as crianças mais velhas e com as gerações mais velhas, a criação das capacidades e aptidões humanas não ocorrerá. Dito de outra forma, o desenvolvimento fica impedido de ocorrer na falta de situações que permitam o aprendizado (MELLO, 2004, p.143).

Para Vygotsky, a infância é um momento privilegiado para a análise das

funções que começam a constituir-se a partir de um intenso desenvolvimento

biológico, pois é apenas o começo de uma história de transformações que

duram a vida inteira. As raízes genéticas são constituídas na idade infantil: uso

de instrumentos e fala humana. O comportamento não é da ordem do

biológico, pois suas bases são formas culturais, por isso suas raízes se

constituem na infância e não antes. O que define o comportamento é ser

duplamente mediado pela técnica e pelo simbólico. A invenção de

instrumentos e de sistemas simbólicos possibilitou aos homens transformar a

natureza em cultura e transformaram-se, eles mesmo, de seres naturais em

seres culturais ou humanos, da mesma forma se dá a transformação da

criança em um ser cultural.

Entre o mundo real e o homem existem mediadores, ferramentas

auxiliares da atividade humana. Existem dois tipos de mediadores:

instrumentos e signos. Os instrumentos indicam que foram feitos

especialmente para certo objetivo, carregando consigo a função para a qual foi

criado e o modo de utilização desenvolvido durante a história do trabalho

coletivo, sendo um objeto social e mediador da relação entre indivíduo e o

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mundo. Os signos são instrumentos psicológicos, orientados para o próprio

sujeito, para dentro do indivíduo; dirigem-se ao controle de ações psicológicas,

seja do próprio indivíduo, seja de outras pessoas. São ferramentas que

auxiliam nos processos psicológicos e não nas ações concretas, como os

instrumentos (OLIVEIRA, 2001).

Depois de apresentarmos a perspectiva de Vygotsky e o

desenvolvimento infantil, traremos contribuições de Coll e colaboradores sobre

as relações entre as TIC e a psicologia da educação.

1.3 – As TIC e a psicologia da educação

1.3.1 – Formas de educação

A vida contemporânea nos traz um cenário demarcado por saberes

fluidos, instabilidade, TIC, alterações cognitivas, nativos e imigrantes digitais,

aulas presenciais, semipresenciais, ente outros. É um mundo em que a alta

velocidade no fluxo das informações, recebidas e transmitidas que sustentam

uma instabilidade constante.

Coll, Mauri e Onrubia (2010) indicam que essa mudança da sociedade

de forma rápida e constante traz a necessidade de aprendizagem e formação

permanente na vida das pessoas. De acordo com as necessidades, proliferam-

se novas possibilidades de criação e de canalização de ofertas educacionais,

além das estritamente formais. Além disso, os alunos passaram a ser

produtores de conteúdos.

Diante disso, o campo educacional se vê diante de novidades. Hoje

existe a educação presencial, semipresencial (parte presencial/parte virtual) e

educação a distância (ou virtual). A definição de educação a distância tem sido

discutida e ampliada para atender contextos de educação a distância que

apresentem momentos presenciais. Assim, expressões como modalidade

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semipresencial, educação híbrida ou educação flexível são utilizadas para se

referir a contextos educacionais que se propõem a combinar atividades a

distância com interação face a face (CAMILLO, 2011).

A presencial se refere ao ensino convencional ou aos cursos regulares,

em qualquer nível, em que professores e alunos se encontram sempre num

local físico, ou seja, na sala de aula. A semipresencial indica a ocorrência de

aulas em parte na sala e aula e outra parte a distância, através de tecnologias,

principalmente as telemáticas como a internet. A educação a distância pode ou

não ter momentos presenciais, mas acontece fundamentalmente através de

tecnologias de comunicação, estando professores e alunos distantes

fisicamente e/ou no tempo.

A forma semipresencial de educação geralmente traz o uso da internet e

nos oferece um campo de grande discussão visto os desafios inerentes a essa

possibilidade educacional. Camillo (2011) nos mostra que a interação com

pessoas sem a presença física, sem sinais paralinguísticos, como gestos e

expressos faciais costuma ser uma dificuldade para muitos. Além disso, pode

ocorrer a falta de familiaridade com o uso da tecnologia em si. Fatores

estressantes nesta situação podem identificados como a comunicação

assíncrona (participantes não estão conectados ao mesmo tempo e há um

tempo de espera pela resposta) e a ausência de feedback imediato. Outro

desafio a ser ultrapassado por alguns é como coordenar o componente

presencial com o componente on-line. Se a interação via internet é uma

novidade para alunos e professores, a combinação desta com aulas

presenciais também o é.

Camillo (2011) indica Moore (1972) que trabalha com a questão da

interação a distância. Moore diz que a distância é um fenômeno pedagógico, e

não simplesmente uma questão de distância geográfica. O que é importante é

o efeito que a distância geográfica exerce sobre o processo de ensino e

aprendizagem, na elaboração do currículo e do curso e na organização e

gerenciamento do programa educacional.

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A teoria da interação a distância é determinada por diálogo e estrutura,

os quais estão relacionados à autonomia do aluno. Diálogo é um termo que

ajuda a focalizar a inter-relação de palavras e ações e quaisquer outras

interações de professor e aluno quando um transmite a instrução e o outro

responde, tem uma finalidade, é construtivo e valorizado por cada participante.

O diálogo é influenciado pela existência de um grupo de aprendizado e sua

dimensão, a linguagem, e o meio de comunicação. O diálogo é a interação

propriamente dita (CAMILLO, 2011).

As instituições formais de educação se modificam como consequência

do impacto de aprendizagem ao longo da vida; surgimento de novas

necessidades formativas; onipresença das TIC e necessidade de adquirir

competências extremamente vinculadas a novos espaços pessoais (família),

institucionais e outros como espaços de comunicação virtual, on-line. Além de

transformar os cenários educativos, as TIC provem o surgimento de novos

(COLL, 2004).

1.3.2 – Triângulo de interatividade

É importante dizer que em qualquer obra atual sobre temas

psicoeducacionais trazem palavras como lifelong, learning, autonomous

learning, learning to learn, self-regulated learning, lifewide learning aparecem

como fetiche, deixando para trás tudo o que é retrógrado. Isto já evidencia a

ideia de que todos devem aprender permanentemente. Aprender é planejar,

autorregular, auto avaliar seus próprios processos de aprendizagem.

Pesquisas sobre ensino e aprendizagem de estratégias em ambientes virtuais

são grande desafio dos psicólogos educacionais (BADIA; MONEREO, 2010).

A aprendizagem é entendida como um processo de construção de

significados e de atribuição de sentido aos conteúdos. O ensino seria uma

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ajuda sistemática, sustentada e ajustada ao processo de construção do

significado e de atribuição de sentido. A aprendizagem é uma sequência de

atividades conjuntas, em que se implicam e participam professores e

estudantes, durante um período mais ou menos longo, enquanto desenvolvem

atividade e tarefas em torno dos conteúdos (COLL, 2004).

Aprendizagem intencional é o resultado de completos processos

interativos e comunicativos. Há a importância dos instrumentos utilizados para

comunicar e representar a informação, para que o aprendiz possa representar-

se a si mesmo a informação, para que o aprendiz possa apresentá-la e

contrastá-la com outros, o que condiz diretamente a centrar a atenção nas

características e propriedade do entorno simbólico ou semiótico que as TIC

dispõem ao aprendiz (COLL, 2004).

Coll (2004) objetiva estudar as mudanças dos processos psicológicos

subjacentes, que se produzem nas pessoas como consequências do uso das

TIC em atividades educativas. O autor, inspirado na visão construtivista do

funcionamento psicológico cria um esquema de análise, que traz vertentes

intra e interpsicológica, com o triângulo didático, formado pelo conteúdo,

professor e aluno (Anexo 1). Este é um esquema que enfatiza as relações que

se estabelecem entre eles no percurso das atividades de professor e alunos

em torno de certos conteúdo e tarefas. Serve para apoiar a autêntica

aprendizagem na educação virtual e à distância.

Coll (2004) busca entender a potencialidade das TIC como instrumentos

psicológicos mediadores das relações entre os vértices do triângulo interativo.

Parte do pressuposto de que nenhuma informação é sinônimo de

conhecimento, nem o acesso à informação se converte em conhecimento. O

acesso à informação dá lugar a aprendizagem quando atuamos sobre ela, a

processamos, a organizamos, nos apropriamos e a confrontamos com outros,

em suma quando somos capazes de dar à ela significado e sentido. E as

operações que transformam a informação em conhecimento não são apenas

individuais. Aprendemos sempre de outros e com outros.

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23

Utilizando o esquema da interatividade, podemos avançar para uma

melhor compreensão de como, em que condições e mediante que dispositivo

de ensino, a influência educativa intencional e sistemática pode contribuir no

processo de construção de significados e atribuição de sentido sobre os

conteúdos escolares. Seu uso também permite ver as formas de organização

adotadas nas atividades conjuntas e sua evolução ao longo do processo de

aprendizagem, registros de aulas de diferentes níveis educativos e com

diversos tipos de conteúdo (COLL, 2004).

Mauri e Onrubia (2010) recorrem ao triângulo interativo de Coll (2004)

para falar da aprendizagem como resultado de um processo construtivo. Nele,

professores e alunos constroem significados compartilhados sobre conteúdos

e tarefas escolares. Aprendizagem é entendida como resultado de uma relação

interativa entre professor, aluno e conteúdo. O triângulo indica um fenômeno

complexo, multifacetado e crítico para promover e aumentar o aprendizado

efetivo. O aluno aprende desenvolvendo atividade mental de caráter

construtivo. Conteúdo é objeto de ensino e aprendizagem.

No triângulo interativo, o professor é visto como facilitador ou

moderador, que orienta e mantém a atividade construtiva do aluno. A atividade

tutorial é vista como mediação da atividade do aluno, mediação esta que é

entendida como a capacidade do professor proporcionar auxílio. O grau desse

auxílio à atividade construtiva do aluno é importante nas trocas mútuas entre

professores e alunos. O ajuste do auxílio se dá devido às possibilidades de

individualização e das respostas rápidas às necessidades dos alunos que as

TIC oferecem. Flexibilização e individualização do ensino se referem ao o

tempo, espaço, ritmo, meio, acesso e conteúdo. É necessário gerenciar estes

aspectos para promover um aprendizado correto dos alunos (MAURI;

ONRUBIA, 2010).

A atividade conjunta é organizada com regras, implícitas na maioria dos

casos, que estabelecem o que fazer, quando, como, com quem, sobre o que e

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dirigindo-se a quem. Nelas, os estudantes podem construir significados e

atribuir sentidos de forma progressiva aos conteúdos da aprendizagem, os

professores podem ajudá-los de forma sistemática e sustentada, variando e

ajustando a ajuda. Além disso, de acordo com a visão construtivista, há que

buscar na forma como os estudantes e professores organizam as atividades

conjuntas para compreender e explicar os processos formais e escolares de

ensino e aprendizagem, assim como, para intervir sobre eles para melhorá-los

(COLL, 2004).

Ao alcançarem alto grau de significatividade, os estudantes revelam

evolução e ajuste progressivo na quantidade e qualidade das ajudas oferecidas

pelos agentes educacionais. As ajudas são de natureza semiótica,

manifestando-se na utilização de certas estratégias discursivas e

conversacionais que facilitam o processo de construção compartilhada de

significados e de atribuição de sentidos dos conteúdos das aprendizagens

(COLL, 2004).

O professor como moderador ou facilitador entende que conectividade

tecnológica não é a mesma coisa que a interatividade pedagógica. A

interatividade promovida e sua qualidade educacional dependem dos auxílios

efetivos das TIC para prestar auxílio conveniente e adequado às necessidades

educacionais do aluno. A interatividade tecnológica diz respeito à incidência

das ferramentas e recursos de TIC nas formas que a relação professor-aluno-

conteúdo adota. A interatividade pedagógica se refere às formas de

organização da atividade conjunta entre professor e aluno, e mais

especificamente aos auxílios educacionais que são projetados para e que se

desenvolvam a interação entre professor e aluno em torno do conteúdo ou

tarefas de aprendizagem (MAURI; ONRUBIA, 2010).

O professor como moderador na criação, manutenção e

desenvolvimento de cursos virtuais é o e-moderador da construção do

conhecimento, marca o ritmo ajustado ao aluno e promove desafios cuja

abordagem seja viável. É projetista, promotor e mediador da aprendizagem.

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Ele possui formação que o capacita a comunicar-se por meio de textos escritos

na tela do computador, algo que constitui um gênero comunicacional ou

discursivo. O fator-chave para a ativa formação on-line é a atividade ou

estrutura para formação on-line ativa ou interativa (BADIA; MONEREO, 2010)

As e-atividades são motivadoras, baseadas na interação entre

participantes, por meio de contribuições em forma de mensagens escritas; são

projetadas e guiadas por um e-moderador; são assíncronas, têm baixo custo e

normalmente são fáceis de se organizar por meio de painéis de anúncios,

fóruns e conferências. Sua estrutura de aprendizagem é sustentada em

auxílios que o professor oferece aos participantes em cada fase, de maneira

que eles se beneficiam da progressiva aquisição de confiança, habilidade no

trabalho em rede e na formação on-line (BADIA; MONEREO, 2010)

O aluno virtual, a partir de um conjunto de práticas cotidianas com as

TIC, vai apropriar-se do uso de ferramentas e dos procedimentos que elas

incorporam, em suma, vai apropriar-se de um modo de pensar e construir uma

identidade virtual, mais ou menos próxima de sua identidade presencial, que

permitirá que ele se posicione de uma certa forma em situações de

aprendizagem interativa (MONEREO; POZO, 2010).

A distância que existe nas relações educacionais diminui como resultado

da flexibilização ou da diversificação da proposta instrucional, conforme o

aluno aprende a gerenciar e controlar sua própria atividade de aprendizagem e

o diálogo entre professor e aluno aumentar (MAURI; ONRUBIA, 2010).

Após apresentarmos contribuições de Coll sobre como o triângulo de

interatividade pode nos auxiliar na compreensão do fenômeno educacional,

passaremos a discutir a interação entre a TIC e o desenvolvimento humano a

partir da abordagem de Vygotsky.

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CAPÍTULO II

O DESENVOLVIMETO HUMANO E AS NOVAS

TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E DA

COMUNICAÇÃO

As tecnologias próprias de cada momento histórico contribuem para

promover metas coletivas, relações sociais, práticas cotidianas e expectativa

de comportamento diferentes. Além disso, nossa própria biologia é produção

das interações proporcionadas pelas tecnologias e pela cultura. Tanto que o

desenvolvimento de nosso cérebro até adotar sua forma atual ocorreu como

adaptação a um ambiente já modificado pelo uso de ferramentas. Um homem

sem cultura (e sem tecnologia) seria uma monstruosidade impossível

(LALUEZA; CRESPO; CAMPS, 2010).

A tecnologia é produto da cognição e sua produção é um processo

cíclico, que se autoperpetua. A cognição inventa a tecnologia, a tecnologia

inventada amplifica a habilidade de cognição para inventar tecnologia

adicional, a qual amplifica a cognição. Um exemplo disso é como a leitura e

escrita transformam as capacidades cognitivas no que se refere ao tratamento

da informação. Tornaram possíveis avanços tecnológicos por meio da

construção de novas ferramentas (imprensa e meios de comunicação digital).

Estas expandiram o uso da leitura e da escrita universalizando-se e mediando

o desenvolvimento das pessoas (LALUEZA; CRESPO; CAMPS, 2010).

A perspectiva vygotskiana entende que ferramentas com as quais

manejamos nosso entorno não apenas transformam as práticas daqueles que

as utilizam, consequentemente transformam modos de agir e de processar os

pensamentos (planos, ideias, regulamentações) que sustentam as práticas. As

TIC apresentam uso extenso, persistente e permanente e podem formatar

nossa mente, como fizeram em seu momento, outras ferramentas de

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comunicação e aprendizagem como a linguagem oral e a escrita (MONEREO;

POZO, 2010).

Apresentaremos o uso do editor de texto e de videogames e as

alterações cognitivas decorrentes dele.

2.1 Uso de editor de textos

A escrita organiza o pensamento e tem função de mediar as múltiplas

formas de comunicação (OLSON, 2003 apud LALUEZA; CRESPO; CAMPS

2010). Além disso, mudanças de nossas habilidades ocorreram quando

deixamos de usar lápis e papel para usarmos um editor de textos. O editor

pode ser entendido como uma prótese que amplifica nossas habilidades que

nos permite fazer mais coisas em menos tempo ou fazê-las melhor. Ele nos

permite refazer um parágrafo, mudá-lo de lugar, etc.

Ao usarmos de forma habitual, podemos ter nos tornado mais eficazes

em pensar formas alternativas de expressar algo, em recompor frases ou em

melhorar nosso estilo de redação. Ao melhorar nossas habilidades, há um

rastro. Uma vez que nos apropriamos de seu uso, nossas capacidades

melhoram. O editor mudou nossa forma de redigir, encarar o texto, organizá-lo

e editá-lo. A ferramenta transforma nossa forma de entender a tarefa e gera

novas metas. Este é um feito provocado pela tecnologia. Assim, mediante o

uso de nova tecnologia, a longo prazo há uma reorganização do próprio

sistema cognitivo, da maneira pela qual se pensa nossa cultura (LALUEZA;

CRESPO; CAMPS, 2010).

Isto é exemplo do que é possível fazer com a tecnologia, ou seja, de

como as TIC ampliam nossas habilidades do mesmo modo que os óculos, um

microscópio ou um telescópio ampliam nossa visão. O que explica as

transformações cognitivas não é a aquisição da ferramenta em si, mas o

conjunto de práticas em que seu uso se introduz, ou seja, o marco institucional

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no qual é adquirida e utilizada. Assim, o impacto das TIC reside nas práticas

dentro das quais são realizadas por meio dessas práticas.

Monereo e Pozo, (2010) indicam os efeitos das TIC na mente: criação

de metáforas (com novas formas de interpretar fenômenos); criação de novas

categorias cognitivas; potencialização da atividade intelectual em geral;

ampliação de certas funções ou habilidades psicológicas e internalização de

modos e ferramentas simbólicas. É importante que os alunos pensem “com” as

TIC e que pensem “nelas” como um sistema para transformar a mente e tornar

possível outros mundos em nossa mente. Para que as TIC nos façam avançar

em direção a um conhecimento mais complexo e reflexivo, é indispensável

uma intervenção educacional que permita uma análise explícita das restrições

e regras implícitas que as próprias TIC impõem. Esta tomada de consciência

implica que o aprendiz tenda a construir uma representação de si mesmo em

rede e para a rede.

Coll (2002) nos apresenta as propriedades dos entornos simbólicos

baseados nas TIC que trazem impactos na vida de todos. Há o formalismo

(implica a previsão e o planejamento das ações; favorece a tomada de

consciência e a autorregulação); interatividade (permite uma relação mais ativa

com a informação, potencializa o protagonismo do aprendiz; facilita a

adaptação a diferentes tipos de aprendizagens; tem efeitos positivos na

motivação e autoestima); dinamismo (ajuda a trabalhar com simulações de

situações reais; favorece a exploração e experimentação); multimídia (permite

a integração, a complementação e o trânsito entre diferentes sistemas e

formatos de representação; facilita a generalização da aprendizagem);

hipermídia (comporta a possibilidade de estabelecer formas diversas e flexíveis

de organização das informações, estabelecendo relações múltiplas e diversas

entre elas e facilita autonomia, exploração e questionamento; potencia o

protagonismo do aluno) e conectividade (permite o trabalho em rede de

agentes educativos e alunos; abre novas possibilidades de trabalho grupal e

colaborativo; facilita a diversificação, em quantidade e qualidade, das ajudas

que os professores oferecem aos alunos.

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Vygotsky (2012) nos lembra de que o estado de desenvolvimento mental

da criança só pode ser determinado referindo-se pelo menos a dois níveis: o

nível de desenvolvimento efetivo e a área de desenvolvimento potencial. Para

ele, cada matéria escolar tem uma relação própria com o curso do

desenvolvimento da criança, relação que muda com a passagem da criança de

uma etapa para outra.

O único bom ensino é aquele que se adianta ao desenvolvimento.

Todas as funções psicointelectuais superiores aparecem duas vezes no

decurso do desenvolvimento da criança: primeiro nas atividades coletivas e

sociais como funções interpsíquicas, e depois nas atividades individuais, como

propriedades internas do pensamento da criança, ou seja, com funções

intrapsíquicas (VYGOTSKY, 2012). Isto não pode ser esquecido por qualquer

professor.

2.2 Uso de computadores e videogames

Uma vez que o uso o computador e dos consoles de jogos se alastra

socialmente, ele se transforma em uma prática de socialização habitual na

nossa sociedade, e a prática precoce das tecnologias propiciada pela

generalização os videogames no âmbito doméstico acaba produzindo um forte

impacto nas habilidades cognitivas que definem a inteligência em uma cultura

particular, assim como um desenvolvimento mais precoce dessas habilidades

(LALUEZA; CRESPO; CAMPS, 2010, p.54).

Lalueza, Crespo e Camps (2010) nos indicam também como o uso de

videogames trouxe impacto em diferentes áreas cognitivas (atenção visual,

representação espacial, descobrimento indutivo, representação icônica e

construção de gênero). Exigem uma atenção visual dividida, ou processamento

visual paralelo (MAYNARD et al, 2005 apud LALUEZA; CRESPO; CAMPS

2010). O desenvolvimento das habilidades de atenção visual dividida ou

processamento visual paralelo contrasta com aquelas que a escola tem

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promovido até este momento, mais orientados para a atenção continuada e

focalizada em eventos únicos. Pesquisas mostram que a prática de

videogames melhora as habilidades que permitem resolver tarefas escolares

relacionadas com a orientação espacial, como a rotação ou integração de

diversas imagens em uma única representação tridimensional (MAYNARD et

al, 2005 apud LALUEZA; CRESPO; CAMPS, 2010).

Usar computadores e videogames aumenta a compreensão dos modos

de representação icônica, que são aprendidos com o uso de novos programas,

mesmo que sejam desconhecidos e incorporem funcionalidades inovadoras,

porque eles resultam familiares graças à iconografia compartilhada. Expressar-

se de modo adequado por meio de representações icônicas é, cada vez mais,

uma tarefa necessária na alfabetização entendida de maneira ampla, e a

interiorização dessa forma de representação supõe a aquisição de uma forma

de organizar o pensamento (LALUEZA; CRESPO; CAMPS, 2010).

O uso de videogames está relacionado ao lazer, realizado em grupo de

pares, carecem de rigor de horário e do espaço determinados e são objeto de

um escasso controle parental sobre o jogo. São baseados em sólido modelo

de aprendizagem, do qual a escola carece frequentemente. Os videogames

selecionam inteligentemente as habilidades e o conhecimento a serem

distribuídos, constroem um sistema de valares integrados no jogo e relacionam

claramente instruções explícitos com contextos e situações específicos

(LALUEZA; CRESPO; CAMPS, 2010).

Com as TIC temos possibilidades para representar, processar, transmitir

e compartilhar a informação. Elas podem ser caracterizadas como

instrumentos psicológicos suscetíveis de mediar, e em consequência de

transformar as relações entre diferentes elementos do triângulo interativo.

Assim as TIC trazem potencial para transformar as práticas educativas e os

processos de ensino e aprendizagem nos cenários de educação formal e

escolar (COLL, 2004).

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A escola oferece informação de maneira escalonada, promove a

atenção continuada e focalizada, o texto e a linguagem escrita têm prioridade e

geralmente a retroalimentação é administrada a médio prazo. Enquanto a

escola faz isso, o uso de ferramentas como computadores e videogames

oferece um grande processamento de informação em tempo reduzido, atenção

em paralelo, deslocamento de funções do texto para a imagem, ruptura da

linearidade no acesso à informação, busca de retroalimentação mediata para

corrigir ou modificar a ação (LALUEZA; CRESPO; CAMPS, 2010).

Navegar na internet envolve uso de aplicativos como correio, chats.

Tanto a escrita quanto a leitura fazem parte desse mundo virtual, mas de forma

diferente da tradicional. A leitura não é necessariamente linear e é o leitor

quem escolhe o percurso que deseja seguir. A não linearidade na sequência

de fatos é o que Castells (2002 apud LALUEZA; CRESPO; CAMPS, 2010)

denomina colagem ou superposição temporal. É aqui que se desenvolvem

essas competências da atenção em paralelo que são necessárias para dar

sentido às informações que recebemos. A não linearidade também nos permite

ir e voltar no tempo (LALUEZA; CRESPO; CAMPS, 2010). Alguns autores

entendem que a fragmentação da informação e ausência de lógica sequencial

pode conduzir a superficialidade, uma aprendizagem repetitiva e uma

aceitação acrítica do que foi aprendido. Há também os que enfatizam a

importância do protagonismo do sujeito nesse processo (COLL, 2004).

É interessante entendermos que as TIC oferecem aos usuários uma

série de recursos semióticos para representar e transmitir a informação que

não supõem nenhuma novidade em relação aos habitualmente utilizados em

outros tipos de aula. Tanto com o professor presencial ou com à distância,

podemos encontrar os mesmos recursos semióticos que aparecem em uma

aula convencional: letras e textos escritos, imagens fixas ou em movimento,

linguagem oral, sons, dados numéricos e gráficos (COLL, 2004).

A mente mediada por instrumentos tecnológicos traz uma diferenciação

entre aqueles que nasceram nesse momento histórico e os que já estavam

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aqui antes. Os nativos digitais desenvolvem uma vida on-life para os quais o

ciberespaço é a parte constituinte do cotidiano. Os imigrantes digitais precisam

adaptar-se às novas modalidades de interação e comunicação digital. Eles

trazem diferenças em suas práticas sociais, educacionais e comunicacionais

(como se comunicam, encontram, relacionam e socializam com os outros,

como buscam, criam, compartilham, trocam e colecionam informações,

condutas na compra e venda, como jogam e se divertem, como colaboram,

aprendem, avaliam conquistas, problemas, divulgam ideias e soluções

(MONEREO; POZO, 2010).

Os nativos virtuais não filtram informações, preferem recebê-las cruas e

selecionar aquilo que lhes interessam a partir de seus próprios critérios. A

forma como gerem a informação apresenta habilidades de busca pouco

sofisticadas e a compreensão é alcançada por meio do domínio temático da

disciplina em questão. Apresentam grande competência ao compartilhar

informação com os outros para produzir algo em comum. A competência não

está em possuir o conhecimento, mas em localizá-lo e em conseguir comunicar

e compartilhar esse conhecimento, se possível, imediatamente, no mesmo

momento em que está sendo produzido (MONEREO; POZO, 2010).

Há uma multifuncionalidade cognitiva nos nativos digitais que costumam

processar documentos, dialogar de maneira simultânea. A incorporação das

TIC modifica e reestrutura as formas de pensar e aprender, e

consequentemente de ensinar. Isso produz conteúdos e formatos diferentes

como criação de informativos, reprodução, videoblogs e fotologs e devem ser

objeto de estudos suas consequências para a aprendizagem (MONEREO;

POZO, 2010).

As pessoas precisam aprender a tecnologia como ferramenta cultural e

utilizá-la em sua interação em contextos sociais. Isto é explicado pela

microgênese. As TIC supõem uma linguagem particular, um sistema particular

de representações. Elas são adquiridas pelo uso das situações sociais, por

meio de tarefas dirigidas e metas. O domínio das ferramentas estaria ligado à

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compreensão da sua particular semiótica, à maestria ao ler (LALUEZA;

CRESPO; CAMPS, 2010).

Lalueza, Crespo e Camps (2010) baseiam-se em Vygotsky que diz que

toda atividade humana é medida pelo uso de ferramentas. A apropriação das

ferramentas (materiais e simbólicas) nos mostra o desenvolvimento da criança.

A cultura da criança, com seus mecanismos de mediação cultural (ferramentas

e signos) permite o desenvolvimento da criança, que se apropria desses meios

culturais e os reconstrói na realidade. As ferramentas transformam e definem

trajetórias evolutivas dos indivíduos cujas habilidades se adaptam às

ferramentas em uso e às práticas sociais por elas geradas.

Lalueza, Crespo e Camps (2010) nos auxiliam a entender que a

tecnologia contribui para orientar o desenvolvimento, pois opera na ZDP de

cada indivíduo por meio da internalização das habilidades cognitivas

requeridas pelos sistemas de ferramentas correspondentes a cada momento

histórico. Assim, cada cultura se caracteriza por gerar contextos de atividade

mediados por sistemas de ferramentas as quais promovem práticas que

supõem maneiras particulares de pensar e organizar a mente. Concluímos que

mudanças de ferramentas culturais supõem mudanças nas formas de

inteligência pela sociedade e, portanto, na orientação do desenvolvimento

cognitivo, social e emocional dos indivíduos.

Além disso, temos a transformação no campo cognitivo. Lalueza,

Crespo e Camps (2010) entendem que as tecnologias desempenham papel

essencial na definição dos processos evolutivos. Baseiam-se na perspectiva

construtivista que entende o desenvolvimento por meio dos processos de troca

entre organismo e ambiente físico e social. Assim, o desenvolvimento é

entendido como função da ação do indivíduo sobre seu meio, através das

próprias práticas da sua comunidade. Cultura e cognição estariam mutuamente

constituídas por meio das atividades concretas que são realizadas na vida

diária.

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O desenvolvimento das tecnologias se refere a um momento histórico

específico e reflete o desenvolvimento cognitivo e social. Lalueza, Crespo e

Camps (2010) baseiam-se no triângulo sujeito-ferramentas-objeto de Leontiev.

Neste, toda a atividade é caracterizada. Cada um dos vértices se transforma

quando qualquer um dos outros o faz. O indivíduo se constrói em função dos

objetos da sua atividade que promovem e, ao mesmo tempo, são influenciados

pelas transformações nos indivíduos e pelos objetos dessa atividade.

Quando são utilizados como instrumentos de regulação da atividade e

dos processos psicológicos próprios e dos outros, os recursos semióticos

(linguagem oral, escrita, linguagem matemática, linguagem musical, linguagem

lógica, sistemas figurativos como diagramas, mapas, desenhos, imagens

estáticas ou em movimento) devem ser verdadeiros instrumentos psicológicos

no sentido vygotskiano (COLL, 2004).

Os recursos semióticos atuam como mediadores tanto dos processos

individuais (intrapsicológicos) do aprendiz, como dos processos comunicativos

e sociais (interpsicológicos) implicados na aprendizagem intencional, mas esta

função mediadora varia em função das propriedades específicas de cada um

deles (COLL, 2004).

As TIC não são consideradas como instrumentos psicológicos

suscetíveis de transformar as relações entre os elementos do triângulo

interativo. Sua incorporação se limita a favorecer e potencializar certo tipo de

relação entre estes elementos, as que postulam precisamente o planejamento

ou modelo pedagógico inicial. Elas são geralmente utilizadas para reforçar,

apoiar ou poder levar à prática planejamentos, modelos ou metodologias já

existentes. Mas elas podem chegar a transformar em profundidade o espaço

pedagógico e em consequência a natureza das relações que nele se

estabelecem entre estudantes, professores e conteúdo (COLL, 2004).

As TIC são valorizadas pelos adolescentes pelos efeitos imediatos do

uso: divertir-se, comunicar-se ou obter ajuda nas tarefas escolares. A

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acumulação de saber e apropriação de seu uso ocorre geralmente sem

atender a manuais, mas deixando rodar o programa. Há convergência entre

aprender e usar, na qual o novato procura o especialista para solucionar

problemas concretos de uso. Além disso, o adolescente nunca as utiliza como

acumulação de saber (LALUEZA; CRESPO; CAMPS, 2010).

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CAPÍTULO III

PSICOPEDAGOGIA E AS NOVAS TECNOLOGIAS DA

INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO O psicopedagogo não pode ser um profissional excluído digitalmente, ou seja, incapaz de compreender o estado da arte na tecnologia, os diversos conceitos que circundam as TIC’s e seu uso. O psicopedagogo não pode, por exemplo, achar que o computador é apenas uma máquina que roda programas e joguinhos. Hoje, o computador é apenas uma porta que liga a mente do indivíduo ao mundo coletivo (SANTOS, 2008, p.19).

A psicopedagogia é um campo de conhecimento que se propõe a

integrar conhecimento e princípios de diversas áreas do saber, e seu objetivo é

construir a melhor compreensão sobre as variáveis do processo de ensino e

aprendizagem. Sua prática em relação a escola ocorre para prevenir

dificuldades, promover aspectos facilitadores da aprendizagem, buscando

construir estratégias de intervenção junto à equipe pedagógica para o

atendimento das necessidades educativas dos alunos (PORTELLA; HICKEL,

2010).

Se em um primeiro momento, a psicopedagogia surgiu como alternativa

para tratamento do fracasso escolar, em seguida foi entendida como a gênese

da aprendizagem, com objetivo de promovê-la. Assim, deixou de ser uma

aplicação da psicologia a pedagogia e se transformou em campo de

conhecimento, que integra psicologia e pedagogia, tendo a aprendizagem

como objeto de estudo. É uma área que prioriza a articulação de diversos

conhecimentos, tais como psicologia, pedagogia psicanálise, linguística,

psicologia social, medicina, entre outras (GONÇALVES; BORGES;

PIOVESAN, 2012).

Quando nos referimos ao campo psicopedagógico, é necessário a

existência de três instâncias para que a aprendizagem ocorra: aprendente,

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ensinante e objeto de conhecimento. No momento em que os vínculos entre

eles se estabelece, há a aprendizagem. Quando surgem “nós” entre eles,

colocando em risco a circulação de saberes e dos conhecimentos, surgem as

fraturas na aprendizagem (MANTOVANI; SANTOS, 2011).

Em sua dimensão clínica, a psicopedagogia envolve escuta e olhar

atento às modalidades e aos esquemas de ação e significação dos sujeitos

implicados na relação de aprendizagem. Em seu trabalho desenvolvido na

escola, a psicopedagogia considera os elementos sócio-culturais da instituição.

É importante considerar a singularidade da estrutura educativa e sua função

social (PORTELLA; HICKEL, 2010).

Quando trabalha na clínica, o psicopedagogo deve estar atualizado

quanto ao papel atual das TIC na vida das pessoas. Para Santos (2008), esta

parece ser uma das maiores dificuldades ainda não superadas em relação ao

uso da tecnologia tanto na educação formal como no trabalho clínico. O autor

entende que isso ocorre devido ao conflito de gerações, preconceitos e

incompreensões oriundas muitas vezes dos próprios psicopedagogos.

A geração dos nativos digitais também denominados homo sappiens

nasceu na ebulição de uma cultura cibernética global, sustentada pela

multimídia. São estes que estão nas salas de aula e configuram o público-alvo

primordial dos psicopedagogos. Sendo assim, é mais que necessário que para

atender anseios e interesses da geração digital, a prática psicopedagógica

deve incorporar as tecnologias digitais virtuais (TDVs) para que sejam

utilizadas com competência didático-pedagógica e competência tecnológica-

digital (MANTOVANI; SANTOS, 2011).

Santos (2008) indica três possibilidades de usos para os

psicopedagogos. A primeira se refere ao uso do orkut1. O psicopedagogo

poderia utilizar esta ferramenta sem dificuldade para explorar os aspectos

1 Extinta ferramenta de relacionamento social, muito utilizada por jovens brasileiros no início dos anos 2000.

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históricos, social e individual do seu paciente, que poderia se sentir livre e

confortável no ambiente virtual para expor sua sincera personalidade. A

segunda opção seria a utilização do Second Life2, em que o psicopedagogo

poderia observar as características projetadas do paciente para o seu avatar

virtual, a sua forma de interação social (mesmo que virtualmente social entre

outras inúmeras possibilidades a serem exploradas. A terceira opção seria

referente ao uso de blogs3. Através dele, o profissional teria a oportunidade de

ver como seu paciente se expressa, interage com outras pessoas, refleti,

projeta virtualmente sua visão de mundo, sociedade e de si mesmo. Isto,

aumentaria as ferramentas de trabalho clínico do psicopedagogo.

Sendo assim, Santos (2008) enfatiza que estes são exemplos de uso da

tecnologia para além dos softwares educativos. Entende que enquanto o

paciente está acostumado com tecnologias Web 2.04, com interação, com

construção de conhecimento e de uma rede social de relacionamento, o

psicopedagogo estará fazendo uso de ferramentas estáticas que não

acompanham o modo de pensar e de se expressar do paciente. Ele só

mostrará seu desconhecimento tecnológico ao paciente.

Mantovani e Santos (2011) entendem que quando o psicopedagogo

“navega” nos espaços digitais virtuais, ele consegue mergulhar no simbólico,

lembrando que os nativos digitais são testemunhas do revestimento simbólico

proporcionado pelo computador e suas múltiplas interconexões, porque as

tecnologias fazem parte do seu mundo, da sua cultura. As autoras entendem a

importância de utilizar o computador e suas múltiplas conexões, que por meio

destas tecnologias, como instrumentos de construção simbólica e, por

consequência, dos sintomas de aprendizagem. Assim, crianças, adolescentes

2 Jogo virtual em que o jogador cria um avatar (uma personalidade virtual), de acordo com as características físicas que desejar. 3 Espécie de diário virtual. Nele, as pessoas exprimem sentimentos, emoções, reflexões que não conseguem exprimir de outra forma. 4 As tecnologias associadas à rede internet disponibilizaram aos usuários diversos serviços e ferramentas que permitem o compartilhamento gratuito de arquivos, vídeos, músicas e o estabelecimento das redes sociais, apresentando grande potencial de interação (MANTOVANI; SANTOS, 2011).

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e adultos poderão estabelecer novos vínculos e/ou relações com a

aprendizagem.

Além disso, Santos (2008) traz no campo institucional o uso de Wikis5 e

a criação de blogs internos para que os funcionários possam interagir entre si

abertamente, permitindo com que a resolução de problemas ocorra.

O trabalho clínico no ambiente escolar objetiva assegurar e/ou ampliar

as possibilidades de aprendizagens em todas as relações escolares. A escuta

é sua estratégia principal, participa das discussões sobre aspectos relativos à

aprendizagem, promovendo assim situações em que todos possam refletir

sobre suas práticas e dilemas. Assim, contribui para mediações entre os

grupos envolvidos nas relações do ensino e da aprendizagem, colaborando

para a formação continuada dos professores. Une o enriquecimento dos

conhecimentos sobre os alunos e seus processos de aprendizagem e ações

didático-pedagógicas que facilitam a aprendizagem e a autoria de alunos e

professores enquanto ensinantes e aprendentes (PORTELLA; HICKEL, 2010).

A aprendizagem é entendida pela psicopedagogia clínica como uma

articulação entre o conhecimento e o saber, de forma singular, realizada

através da relação estabelecida entre ensinante e aprendente em suas

histórias de vida. Como campo de conhecimento, a psicopedagogia busca

entender os processos, relações, significações e situações contextuais da

aprendizagem. Compreendendo estes processos, participa da elaboração de

estratégias favorecedoras de seu desenvolvimento e de alternativas para

superar fatores que o atrapalham (PORTELLA; HICKEL, 2010).

A psicopedagogia busca o contato com as múltiplas relações de

aprendizagem e almeja contribuir para o estabelecimento de relações

saudáveis nos vínculos entre os envolvidos na construção do conhecimento.

Aspectos socioculturais da vizinhança escolar, variedade dos espaços da

escola, sala de aula e a relação escola-família são levados em conta. Isto é

5 Ferramentas de construção de conhecimento que funciona como a Wikipédia.

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importante para o desenvolvimento de um currículo, cuja intervenção didático-

pedagógica privilegie o reconhecimento através da autoria do pensamento e a

valorização da diversidade (PORTELLA; HICKEL, 2010).

O envolvimento e o acompanhamento da família sobre a vida escolar de

seus filhos atrelado ao potencial papel da escola no processo de

aprendizagem configuram dados relevantes a análise das variáveis que

envolvem o processo de ensino e aprendizagem estudados pela

psicopedagogia. A escola ainda é entendida como um espaço com potencial

privilegiado de acesso aos bens culturais, mediante a interação de pessoas de

diferentes segmentos. Além disso, há a alfabetização e o letramento que são

porta de entrada para aceder aos bens culturais (PORTELLA; HICKEL, 2010).

A interferência da tecnologia na vida o homem é assunto demasiado

estudado. Em toda relação, podemos encontrar os prós e contras. Soffner e

Chaves (2005) indicam que um dos ganhos é a grande quantidade de

informação per capita que está sempre disponível na “ponta dos dedos” a

todos. A tecnologia nos permite capturar, armazenar, organiza, pesquisar,

recuperar e transmitir a informação necessária com notável eficiência. Os

autores enfatizam que além isso, há possibilidade de comunicação com

pessoas de qualquer lugar do mundo, e forma instantânea, e que surgem

verdadeiras comunidades virtuais de aprendizagem, povoada de discussões,

teorias, ideologias, entre outros.

A psicopedagogia se vê diante da necessidade de problematizar

questões já citadas e identificar que as interferências da tecnologia na vida dos

alunos oferecem mudanças cognitivas e de comportamento. Ao unir

conhecimentos de áreas diferentes de saber sobre os processos de ensino e

aprendizagem, a psicopedagogia tem a possiblidade de unir as contribuições

da abordagem sócio histórica ao fenômeno de incorporação das TIC no

desenvolvimento cognitivo de crianças e adultos.

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Soffner e Chaves (2005) acreditam que as tecnologias servem de

suporte ao desenvolvimento cognitivo. Como Vygotsky já nos alertou, a mente

se constrói de fora, a origem dos processos cognitivos superiores se encontra

nas condições de vida social, historicamente determinadas e nas relações da

criança com o adulto. Hoje, esta relação aparenta ser diminuída, privilegiando

a interação criança-máquina (ÁLVARO; GARRIDO, 2006).

Os meios de comunicação desenvolvem linguagens complementares,

que atingem o indivíduo de várias formas, principalmente com a emoção. Eles

propõem uma lógica menos rígida, lúdica, interativa, mais conectiva, dinâmica,

provisória, mais próxima à sensibilidade das crianças de hoje.

Ao abordar as interferências de Vygotsky na área educacional, Mello

(2004) diz que o ser humano, sem as habilidades dadas biologicamente,

precisa aprendê-las e as aprende sempre com a geração que convive e no

mundo em que vive. Oliveira (2011) aborda a temática de mediação que é o

processo de intervenção de um elemento intermediário numa relação: a

relação deixa, então, de ser direta e passa a ser mediada por esse elemento.

As funções psicológicas superiores apresentam uma estrutura tal que entre o

homem e o mundo real existem mediadores, ferramentas auxiliares da

atividade humana.

Os mediadores podem ser divididos em: instrumento e signo. O

instrumento é feito ou buscado especialmente para certo objetivo. Ele carrega

consigo, portanto, a função para qual foi criado e o modo de utilização

desenvolvido durante a história do trabalho coletivo. É um objetivo social e

mediador a relação entre o indivíduo e o mundo. A invenção e uso de signos

como meios auxiliares para solucionar um dado problema psicológico (lembrar,

comparar coisas, relatar, escolher), é análoga à invenção e uso de

instrumentos, só que agora no campo psicológico. O signo age como um

instrumento da atividade psicológica de maneira análoga ao papel de um

instrumento no trabalho (VYGOTSKY, 1984).

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A natureza das ferramentas culturais de um certo momento histórico

incide na definição operacional de inteligência. Assim, as habilidades

necessárias para utilizar esse conjunto de ferramentas são um componente

importante na definição implícita de inteligência por parte o grupo. Mudanças

nas ferramentas culturais supõem mudanças nas formas de inteligência

valorizadas pela sociedade na qual o indivíduo está inscrito, alterando também

o desenvolvimento cognitivo, social e emocional (LALUEZA; CRESPO;

CAMPS, 2010).

Lalueza, Crespo e Camps (2010) enfatizam que ao entendermos o

desenvolvimento cognitivo como uma exibição predeterminada de capacidades

e habilidades pessoais, como simples atualização de potencialidades

genéticas, estaríamos considerando as tecnologias como meros elementos

contextuais que acompanham o amadurecimento o indivíduo. Entretanto, os

autores dizem que se partirmos da perspectiva construtivista que entende o

desenvolvimento como a transformação por meio do processo de troca entre

organismo e ambiente físico e social, as tecnologias desempenham um papel

essencial na definição dos processos evolutivos.

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CONCLUSÃO

O cenário tecnológico contemporâneo traz mudanças sociais,

econômicas e culturais. Dentre elas, destaca-se a profunda alteração no modo

de funcionamento cognitivo dos nativos e dos imigrantes digitais, indicando a

brecha digital entre eles.

Se com as máquinas de escrever utilizadas por Skinner houve uma

correlação entre ensino e aprendizagem; hoje vivemos alterações que

modificam nosso modo de pensar e se relacionar com o mundo de forma

profunda. As TIC são instrumentos para aprender, conhecer, representar e

transmitir a outras pessoas conhecimentos e aprendizagens. Elas ofertam

nova formas de comunicação, troca, acesso e processamento de informação.

Diante disso, vimos que o cenário educativo também foi alterado. Coll

traz o triângulo interativo para explicar como ocorrem mudanças dos processos

psicológicos como consequência do uso das TIC em atividades educativas.

A partir da perspectiva vygotskiana, entendemos que as ferramentas

com as quais manejamos nosso entorno transformam nossas práticas, nossos

modos de agir e de processar pensamentos. O uso de editor de textos nos

permite identificar como nossas habilidades são ampliadas, refazendo um

parágrafo ou mudando seu lugar em um texto, explicitando assim o seu

contexto.

A prática psicopedagógica necessita entender que seu público vive na

ebulição de uma cultura cibernética global, sofrendo suas consequências. Para

tanto, o psicopedagogo pode explorar aspectos sociais e históricos do aluno,

através do Orkut, Facebook, Second Life, blogs, fazendo ligações entre suas

diversas dimensões biológica, psicológicas e sociais).

A perspectiva de Vygotsky serve para explicar como a mente se constrói

de fora para dentro. A origem dos processos psicológicos superiores se

encontra na relação da criança com o adulto e seu mundo social. Hoje a

interação criança-máquina é uma realidade deve ser entendida por

psicopedagogos e todos os demais profissionais envolvidos na área

educacional como fator imprescindível ao processo ensino-aprendizagem.

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É indicado, por isso, que mais pesquisas sejam realizadas para

entendermos cada vez mais como esta relação sujeito-TIC ocorre e

principalmente como os profissionais podem ampliar seus efeitos.

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ANEXO 1

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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