Uma Teoria Da Ação Coletiva - Peña e o Peronismo

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Uma teoria da ação coletiva? A classe operária sob o peronismo segundo Milcíades Peña Renato César Ferreira Fernandes Doutorando em Ciência Política – IFCH/UNICAMP Bolsista pela CAPES Milcíades Peña, marxista argentino, realizou uma análise dos governos peronistas a partir da compreensão das relações entre as diversas classes e grupos de classes com a política governamental e, também, a partir das relações internacionais estabelecidas entre o governo peronista e os países capitalistas centrais. Nesse trabalho, pretendemos demonstrar que a análise de Peña sobre o comportamento da classe operária durante o governo peronista pode ser entendida como um esboço de uma teoria da ação coletiva, válida não somente para a classe operária e o caso argentino. Em das últimas análises que realizou sobre o peronismo, Peña esboça uma teoria do comportamento e da ação coletiva da classe operária frente aos governos, se utilizando do período peronista como modelo explicativo dessa teoria. Essa teoria é elaborada como uma resposta as diversas explicações da esquerda argentina, marxista ou nacionalista, que ao considerarem a classe operária como “ontologicamente revolucionária”, culpavam pelo fracasso (ou sucesso) do peronismo os dirigentes sindicais e políticos. Essa teoria da ação coletiva se esboçou por meio de variáveis opostas. O primeiro conjunto de variáveis se referia ao contínuo entre a reação a situação e o quietismo. Na categoria de reação, Peña classifica os mais variados tipos de ação de massas como a insurreição, a revolta, as manifestações de massa, etc. No outro polo, no quietismo, estava justamente um nível mínimo de atividade e iniciativa por parte da classe operária na luta por melhorar suas condições de vida. A essas categorias, Peña acrescenta um segundo conjunto de variáveis que vai da rejeição ao sistema social até o conservadorismo ou a defesa da ordem existente. Como o primeiro conjunto de variáveis, essas categorias formam um contínuo e podem ser analisadas a partir das atitudes coletivas e individuais de setores de classe que se expressam nas opiniões individuais e das instituições sociais representativas, como sindicatos, assim como, nas eleições e também no tipo de mobilização no qual a classe operária participa. Ao analisar os governos peronistas, Peña designa o processo de ação coletiva da classe operária como dominado pelo quietismo e pelo conservadorismo. Ele contrapõe esse comportamento ao dos estudantes, que no período peronista, combinaram certo grau de rejeição ao sistema (combate ao autoritarismo peronista) com uma combatividade alta,

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Artigo sobre Milcíades Peña relacionando sua compreensão sobre o peronismo e a ação política.

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Uma teoria da ação coletiva? A classe operária sob o peronismo segundo Milcíades Peña

Renato César Ferreira FernandesDoutorando em Ciência Política – IFCH/UNICAMP

Bolsista pela CAPES

Milcíades Peña, marxista argentino, realizou uma análise dos governos peronistas a partir da compreensão das relações entre as diversas classes e grupos de classes com a política governamental e, também, a partir das relações internacionais estabelecidas entre o governo peronista e os países capitalistas centrais. Nesse trabalho, pretendemos demonstrar que a análise de Peña sobre o comportamento da classe operária durante o governo peronista pode ser entendida como um esboço de uma teoria da ação coletiva, válida não somente para a classe operária e o caso argentino. Em das últimas análises que realizou sobre o peronismo, Peña esboça uma teoria do comportamento e da ação coletiva da classe operária frente aos governos, se utilizando do período peronista como modelo explicativo dessa teoria. Essa teoria é elaborada como uma resposta as diversas explicações da esquerda argentina, marxista ou nacionalista, que ao considerarem a classe operária como “ontologicamente revolucionária”, culpavam pelo fracasso (ou sucesso) do peronismo os dirigentes sindicais e políticos. Essa teoria da ação coletiva se esboçou por meio de variáveis opostas. O primeiro conjunto de variáveis se referia ao contínuo entre a reação a situação e o quietismo. Na categoria de reação, Peña classifica os mais variados tipos de ação de massas como a insurreição, a revolta, as manifestações de massa, etc. No outro polo, no quietismo, estava justamente um nível mínimo de atividade e iniciativa por parte da classe operária na luta por melhorar suas condições de vida. A essas categorias, Peña acrescenta um segundo conjunto de variáveis que vai da rejeição ao sistema social até o conservadorismo ou a defesa da ordem existente. Como o primeiro conjunto de variáveis, essas categorias formam um contínuo e podem ser analisadas a partir das atitudes coletivas e individuais de setores de classe que se expressam nas opiniões individuais e das instituições sociais representativas, como sindicatos, assim como, nas eleições e também no tipo de mobilização no qual a classe operária participa. Ao analisar os governos peronistas, Peña designa o processo de ação coletiva da classe operária como dominado pelo quietismo e pelo conservadorismo. Ele contrapõe esse comportamento ao dos estudantes, que no período peronista, combinaram certo grau de rejeição ao sistema (combate ao autoritarismo peronista) com uma combatividade alta, chegando até enfrentamentos físicos com o aparelho repressivo peronista.