Uma Perspectiva Teórico

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Uma perspectiva teórico-metodológica para análise do desenvolvimento humano e do processo de investigação Maria Clotilde Rossetti-Ferreira 1 2 3 Katia S. Amorim Ana Paula S. Silva Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto Resumo É apresentada uma perspectiva teórico-metodológica, que propõe uma rede de significações, de configuração semiótica, para compreender o desenvolvimento humano. Esta rede estrutura um "meio" que, a cada momento e situação, captura e recorta o fluxo de comportamentos das pessoas, tornando-os significativos naquele contexto. Constitui, assim, um importante mediador de seu desenvolvimento na situação interativa. Pessoas e redes de significações sofrem mútuas e contínuas transformações, canalizadas por características físicas e sociais do contexto, numa dinâmica segmentação e combinação de fragmentos de formações discursivas e ideológicas, experiências passadas, percepções presentes e expectativas futuras. Com essa perspectiva, busca-se apreender processos de co- construção e mútuas transformações dos sujeitos em determinadas situações, abarcando interações, contextos, papéis atribuídos e assumidos pelos participantes e significados culturais que canalizam o desenvolvimento das pessoas e situações. Inicialmente elaborada para o estudo da inserção de bebês em creche, essa perspectiva é proposta para análise de situações variadas. Palavras-chave: Desenvolvimento humano; rede de significações; interações sociais; creche. A theorectical-methodological perspective for the analysis of humam development and the research process Abstract We present a theoretical-methodological approach which proposies a semiotic network of meanings to analyse human development. This network structures the milieu/moyen which, at each moment and situation, captures and frames each person's behavioral flow, rendering it meaningful in that context. Thus, it acts as a mediator of development in the interactive situation. Persons and network of meanings are mutually and continuously transformed. Those changes are canalised by the context's physical and social characteristics in a dynamic segmentation and combination of fragments of discursive and ideological formations, past and present experiences, and future expectations. With that perspective, we tried to apprehend the co- construction and mutual transformations of individuals in specific situations,

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  • Uma perspectiva terico-metodolgica para anlise do desenvolvimento humano e do processo de investigao

    Maria Clotilde Rossetti-Ferreira1 2 3 Katia S. Amorim Ana Paula S. Silva Universidade de So Paulo, Ribeiro Preto

    Resumo apresentada uma perspectiva terico-metodolgica, que prope uma rede de significaes, de configurao semitica, para compreender o desenvolvimento humano. Esta rede estrutura um "meio" que, a cada momento e situao, captura e recorta o fluxo de comportamentos das pessoas, tornando-os significativos naquele contexto. Constitui, assim, um importante mediador de seu desenvolvimento na situao interativa. Pessoas e redes de significaes sofrem mtuas e contnuas transformaes, canalizadas por caractersticas fsicas e sociais do contexto, numa dinmica segmentao e combinao de fragmentos de formaes discursivas e ideolgicas, experincias passadas, percepes presentes e expectativas futuras. Com essa perspectiva, busca-se apreender processos de co-construo e mtuas transformaes dos sujeitos em determinadas situaes, abarcando interaes, contextos, papis atribudos e assumidos pelos participantes e significados culturais que canalizam o desenvolvimento das pessoas e situaes. Inicialmente elaborada para o estudo da insero de bebs em creche, essa perspectiva proposta para anlise de situaes variadas. Palavras-chave: Desenvolvimento humano; rede de significaes; interaes sociais; creche.

    A theorectical-methodological perspective for the analysis of humam development and the research process

    Abstract We present a theoretical-methodological approach which proposies a semiotic network of meanings to analyse human development. This network structures the milieu/moyen which, at each moment and situation, captures and frames each person's behavioral flow, rendering it meaningful in that context. Thus, it acts as a mediator of development in the interactive situation. Persons and network of meanings are mutually and continuously transformed. Those changes are canalised by the context's physical and social characteristics in a dynamic segmentation and combination of fragments of discursive and ideological formations, past and present experiences, and future expectations. With that perspective, we tried to apprehend the co-construction and mutual transformations of individuals in specific situations,

    http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79722000000200008&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt#backhttp://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79722000000200008&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt#backhttp://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79722000000200008&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt#back

  • encompassing interactions, contexts, roles attributed or assumed by the participants, and cultural meanings which guide the development of persons and situations. Although it was initially designed to study the adaptation of babies to day-care, this approach is proposed for the analysis of various situations. Keywords: Network of meanings; human development; social interactions; day care centre.

    "UBUNTU UNGAMNTU NGANYE ABANTU"

    "Pessoas so pessoas atravs de outras pessoas" (Ditado Xhosa - lngua materna de Nelson Mandela)

    A epgrafe acima insinua e resume nossa concepo sobre

    desenvolvimento humano. Todavia, antes de apresent-la, julgamos

    interessante descrever um pouco da histria e das condies de produo de

    nossas idias. Nos ltimos 20 anos, os trabalhos de pesquisa do Centro de

    Investigaes sobre Desenvolvimento Humano e Educao Infantil (CINDEDI)

    tm tido por objetos centrais de estudo os processos de desenvolvimento

    humano e a educao de crianas pequenas em espaos coletivos.

    Em nossos estudos, as instituies de educao infantil tm

    representado um locus privilegiado de investigao. Analisar os modos como

    determinada cultura entende a educao de seus membros e estrutura as

    prticas sociais cotidianas de uma pr-escola ou creche, em tempo integral,

    particularmente focalizando as interaes que se do dentro dela, tm sido

    uma promissora maneira de investigar diferentes aspectos ligados ao

    desenvolvimento humano.

    Os projetos do CINDEDI tm se pautado pelo compromisso de integrar,

    dinamicamente, teoria, pesquisa e trabalho junto comunidade. A

    integrao, tanto de atividades, como de pessoal, tem sido enriquecida pela

    diversificada formao dos membros do grupo. Este constitudo por

    docentes, tcnicos e estudantes de graduao, ps-graduao e ps-

    doutoramento, em uma equipe que, ao longo desses anos, cresceu muito,

    reunindo atualmente psiclogos, pedagogos, mdico, bilogo, auxiliar de

    enfermagem e nutricionista, dentre outros.

    O desenvolvimento de projetos de pesquisa e a atuao prtica,

    marcados pela caracterstica interdisciplinar da equipe, propiciaram um

    avano na discusso terica do grupo a respeito dos complexos processos de

    desenvolvimento humano. Este avano resultou na elaborao de uma

    perspectiva terico - metodolgica para a anlise do desenvolvimento

    humano, que vem sendo construda atravs do Projeto Temtico Anlise do

  • desenvolvimento humano enquanto uma construo atravs de uma rede

    dinmica de significaes (1998).

    O artigo a seguir tem por objetivo apresentar essa perspectiva, que

    ainda se encontra em construo. Inicialmente, ela foi elaborada para o

    estudo de situaes relacionadas integrao do beb, de sua famlia e da

    educadora, por ocasio do ingresso das crianas na creche. Entretanto, desde

    o incio, sugerimos a possibilidade de seu uso na anlise de outras situaes

    que envolvessem perodos de crises e de intensas mudanas (Rossetti-

    Ferreira, Amorim & Vitria, 1995). Recentemente, este uso vem se

    concretizando na anlise de outros eventos de desenvolvimento, como na

    investigao sobre os processos ligados insero de crianas portadoras de

    paralisia cerebral na creche ou pr-escola.

    Alguns Conceitos Bsicos da Perspectiva Terico-

    Metodolgica Nossa proposta est fundamentada em um conjunto de pressupostos

    tericos, em especial em autores scio-histricos, como Vygotsky (1991,

    1993) e Wallon (textos publicados em 1949 e 1959, reunidos em uma

    coletnea prefaciada por Werebe & Nadel-Brulfert (1986) os quais

    apresentaremos a seguir. A partir desses pressupostos, pode-se dizer que o

    desenvolvimento humano um processo que se d do nascimento morte,

    dentro de ambientes culturalmente organizados e socialmente regulados,

    atravs de interaes estabelecidas com parceiros, nas quais cada pessoa

    (adulto ou criana) desempenha um papel ativo.

    As relaes sociais que se criam so continuamente co-construdas a

    partir de inter-aes, isto , de aes partilhadas e interdependentes que so

    estabelecidas entre as pessoas. Essas aes so articuladas atravs

    dacoordenao de papis, que envolve aes culturalmente recortadas, as

    quais constituem papis relacionados acontra papis, que podem ser

    assumidos, negados e/ou recriados pelos participantes (Oliveira, 1988, 1995,

    Oliveira & Rossetti-Ferreira, 1993). Estes papis/contra-papis so

    apropriados por cada pessoa, ao longo de seu desenvolvimento, a partir dos

    vrios recursos sgnicos disponveis nos ambientes sociais, e so integrados

    criativamente s aes da pessoa, transformando-as e s funes

    psicolgicas que lhes do suporte.

    No processo interativo, portanto, o conjunto das aes possveis de

    serem realizadas e o fluxo dos comportamentos so delimitados,

    estruturados, recortados e interpretados pela ao do outro e, tambm, por

    um conjunto de elementos orgnicos, fsicos, interacionais, sociais,

    econmicos e ideolgicos. Todos eles interagem dinmica e dialeticamente,

    compondo uma rede, a qual contempla condies macro e micro-individuais e

    estrutura um universo semitico, constituindo o que vimos denominando

    de Rede de Significaes. Esta possibilita no s os processos de construo

    de sentido em uma dada situao interativa, como os processos de

    desenvolvimento.

  • Em uma interao, entretanto, dado o confronto de aes, emoes,

    motivaes e significaes dos diferentes participantes, o desenvolvimento se

    faz atravs de conflitos e crises, onde a contradio revela-se como parte

    integrante e fundamental no processo de constituio das pessoas e das

    situaes. Assim, simultaneamente, pessoas e rede de significaes so

    contnua e mutuamente transformadas e reestruturadas, canalizadas pelas

    caractersticas fsicas, sociais e temporais do contexto no qual as interaes

    ocorrem.

    Estas caractersticas temporais vm sendo definidas, por ns, a partir

    de quatro tempos interligados. Os trs primeiros, os tempos presente, vivido

    e histrico, baseiam-se na proposio de Spink (1996b) e o quarto, tempo de

    orientao futura, foi mais recentemente incorporado por ns.

    T1. O tempo presente, ou microgentico, envolve as situaes do aqui

    agora, onde ocorrem as interaes faceaface. Constitui o nvel dialgico

    das prticas discursivas intersubjetivas. Nestas, o fluxo de comportamento de

    cada pessoa recortado e interpretado pelas aes verbais e no-verbais dos

    outros, atravs das posies, perspectivas e papis/contra-papis

    mutuamente atribudos a/assumidos por, nas interaes sociais

    estabelecidas. Nesse tempo, as vrias vozes ativadas pelos outros trs

    tempos tornam-se presentes e combinadas.

    T2. O tempo vivido, ou ontogentico, refere-se a vozes evocadas em

    nossas prticas discursivas. Elas so socialmente construdas, durante os

    processos primrio e secundrio de socializao, sendo compartilhadas pelos

    parentes, amigos e colegas que passaram por experincias e contextos

    similares. Este o territrio dohabitus (Bourdieu, 1989), isto , das

    disposies adquiridas resultantes da afiliao a grupos sociais especficos e a

    linguagens sociais mltiplas.

    T3. O tempo histrico, ou cultural, o locus do imaginrio cultural,

    socialmente construdo durante certo perodo. a escala de tempo das

    formaes discursivas e ideolgicas. Elas compem o interdiscurso ou a rede

    coletiva de significaes disponveis para dar sentido aos vrios fenmenos

    de nosso mundo.

    T4. O tempo prospectivo, ou orientado para o futuro baseado nos

    outros trs tempos. Atravs dele, expectativas individuais e coletivas,

    proposies e metas so criadas. , tambm, estruturado por formaes

    discursivas e ideolgicas, assim como por motivaes e desejos individuais ou

    compartilhados, antecipaes e planos, os quais delimitam, de vrios modos,

    as aes e interaes presentes.

    Como mencionado anteriormente, esses quatro tempos encontram-se

    dinamicamente interrelacionados, uns sustentando e transformando os

    outros. Porm, entende-se que no tempo histrico as resistncias mudana

    so maiores e as transformaes mostram-se bastante lentas. Por outro lado,

    no tempo vivido, as mudanas so mais evidentes e, no tempo presente, as

    transformaes emergem continuamente.

    Resumindo, consideramos que a caracterstica humana bsica a

    imerso da pessoa em um mundo simblico, em um processo social contnuo

    de construo de significados e de si prprio enquanto pessoa. O processo de

  • desenvolvimento se d atravs da dinmica segmentao e unificao de

    fragmentos de experincias passadas, percepes do momento presente e

    projeo de perspectivas futuras. E, ainda, esse processo se faz atravs da

    articulao entre a imitao de modelos (fuso, repetio de aes) e o

    confronto entre eles (diferenciao, criao), interligados s necessidades,

    aos sentidos e s representaes de cada pessoa.

    Rede Dinmica na qual Ocorre o Processo de

    Integrao do Beb, de sua Famlia e da Educadora, no

    Ingresso Creche A perspectiva a ser apresentada aqui resultado de investigaes e de

    uma prtica de formao de educadores (Vitria & Rossetti-Ferreira, 1993)

    que vm sendo desenvolvidas pelo grupo, ao longo dos ltimos 20 anos. Mais

    recentemente, o Projeto Integrado de pesquisa Processos de adaptao de

    bebs na creche nos permitiu a sistematizao da proposta que estamos

    construindo. Este projeto analisou o ingresso de 26 bebs (quatro a dezoito

    meses), em uma creche universitria (USP - Ribeiro Preto), a partir de

    maro de 1994 (Rossetti-Ferreira, Amorim & Vitria, 1994).

    O momento do ingresso de bebs na creche revelou-se um palco

    particularmente interessante para investigao. Ele envolve

    fundamentalmente o encontro de dois contextos (casa/creche) bastante

    diferentes, o que provoca intensas reorganizaes nos relacionamentos,

    prticas e concepes existentes, tanto na famlia, como na creche, podendo

    instigar confrontos e conflitos em seus vrios elementos.

    Observa-se que, a partir da insero do beb na creche, passam a

    ocorrer interaes diversas e afastamentos temporrios e dirios entre beb

    e me, em uma fase onde os dois encontram-se em um estado relativamente

    diferenciado de fuso (Wallon, 1949 e 1959, em Werebe & Nadel-Brulfert,

    1986). Alm disso, a situao exige a construo de novos vnculos afetivos

    (como da criana com as educadoras) e a adaptao do beb e de sua famlia

    a uma srie de rotinas e prticas, marcadas por diferentes concepes. Nesse

    processo de integrao, muita negociao tem que ser feita, exigindo a

    produo de novos sentidos e a construo de novas posies frente

    educao de crianas pequenas. O ingresso na creche representa, assim, um

    perodo em que emergem angstias e preconceitos relacionados aos

    cuidados/educao de crianas pequenas, ocorrendo transformaes, re-

    construo de significados e valores, os quais atuam diretamente sobre a

    maneira como os adultos envolvidos se relacionam e lidam com a criana

    (Amorim, 1997a).

    Nosso objetivo com esse projeto era apreender os processos de co-

    construo e as mtuas transformaes dos sujeitos naquela situao,

    procurando abarcar as vrias interaes estabelecidas, os contextos em que

    ocorrem, os papis atribudos aos e assumidos pelos diferentes participantes,

    assim como, os significados culturais que estruturam e canalizam o

    desenvolvimento das pessoas e das situaes.

  • A coleta de dados foi feita utilizando-se um grande nmero de

    procedimentos: 1) entrevistas com as educadoras e profissionais da equipe

    tcnica ligadas ao berrio da creche e, tambm, com mes das crianas;

    2) gravao em vdeo dos trs primeiros meses de freqncia das crianas no

    novo ambiente; e, 3) fichas de observao de sade e de comportamento.

    Como conseqncia, obtivemos uma base de dados bastante ampla, o

    que resultou na necessidade de uma rdua organizao e estruturao

    do corpus a ser analisado. Para levantamento dos diversos fatores envolvidos

    na situao, decompusemos artificialmente os elementos da situao

    emprica em:

    - Componentes individuais (de ordem bio-psico-social), dos trs

    principais participantes (M me; B beb; E educadora);

    - Campos interativos que podem ser, ou no, estabelecidos entre eles

    {(MB); (ME); (BE); (BB); (EE)}. Com relao a esses, destacamos

    algumas de suas particularidades, dependendo da faixa etria e dos recursos

    da criana; das concepes dos adultos sobre maternidade e creche; das

    caractersticas das relaes afetivas.

    - Cenrios (famlia e creche), os quais so estruturados por vrios

    elementos, tais como: ambiente fsico; pessoas que o freqentam e seus

    papis; relaes afetivas e de poder que estabelecem entre si; funes,

    rotinas e prticas, construdas a partir de concepes, valores, projetos de

    vida, etc.

    Em cada um dos elementos acima especificados, procuramos

    identificar quem participou da situao; quando,como e onde as interaes

    ocorriam; as concepes e representaes sociais dominantes; e, as relaes

    afetivas. As interaes entre esses elementos produzem prticas sociais

    diversas e estruturam diferentes contextos de desenvolvimento.

    Finalmente, este conjunto encontra-se imerso, mergulhado, significado

    e transformado por um contexto histrico e cultural (interdiscurso), a que

    denominamos de matriz scio-histrica. Essa matriz, constituda por

    elementos culturais, econmicos, polticos e ideolgicos, propicia e delimita

    interaes, papis disponveis e significados culturais, os quais organizam e

    canalizam o desenvolvimento. Ela , pois, constituda por instrumentos

    semiticos e tcnicos que so apropriados pelas pessoas. Estes, justamente,

    imprimem as formas e os contedos especficos daquela cultura para um

    sujeito em particular (Pino, 1995). Ao mesmo tempo, essa matriz re-

    significada e transformada pelas pessoas em interao, nos cenrios em que

    se encontram inseridas (Rossetti-Ferreira, Amorim & Vitria, 1996, 1997).

    Em nosso trabalho, os componentes individuais, campos interativos,

    cenrios e matriz mostraram-se estar dinmica e dialeticamente

    relacionados, estruturando redes de configurao semitica, denominadas

    por ns derede de significaes.

    Graficamente esta configurao foi representada como se mostra

    abaixo:

  • Importante referir que, apesar da Matriz estar graficamente

    representada como externa aos sujeitos, aos campos interativos e aos

    cenrios, entendemos que ela se encontra mergulhada nestes, atravessando

    e impregnando cada um deles e seu conjunto. Alm disso, a estrutura do

    esquema, primeira vista, pode parecer imprimir uma qualidade esttica

    investigao de processos de desenvolvimento. De fato, sentimos no

    encontrar uma representao grfica que d conta da realidade. Contudo, o

    esquema se mostrou til para o desenvolvimento dos estudos empricos, na

    medida em que permitiu maior clareza no reconhecimento dos diferentes

    nveis de elementos que atuam na situao, promovendo uma

    contextualizao e sistematizao do processo de desenvolvimento em

    investigao. Dessa maneira, a qualidade esttica do esquema grfico tem

    sido superada, pois ele vem sendo utilizado para analisar diferentes

    elementos e momentos do processo em movimento e inter-relao contnua.

    Isso possibilita identificar a reorganizao dos elementos que o compem,

    bem como permite certa dinamicidade na apreenso dos movimentos de

    transformao das redes de significaes ao longo do processo estudado.

    Compreendemos, ainda, que o processo desenvolve-se atravs de uma

    dinmica, que se d em um jogo de figura fundo. A cada momento e

    situao, um elemento se destaca em figura e, pela estrutura em forma de

    rede, todo o sistema e seus vrios elementos rearticulam-se, reestruturando

    suas significaes. Porm, estas modificaes se do dentro de certos limites,

    os quais so estabelecidos por fatores orgnicos, ambientais e culturais.

    Algumas Consideraes Metodolgicas de

    Investigao

  • Aps a breve apresentao de nossa proposta, fica evidente que a

    construo do corpus e sua anlise, a partir desta perspectiva terico-

    metodolgica, impem srios desafios ao pesquisador. Como assumido

    acima, compreendemos a rede de significaes como ampla, complexa e em

    contnua mudana. Portanto, o objetivo da coleta e anlise de dados

    apreender diferentes aspectos da rede de significaes relevantes para

    compreenso do problema estudado, buscando analis-la em seu movimento

    de transformao. Trata-se, pois, de uma tarefa bastante difcil: configurar os

    elementos da rede e suas interrelaes de modo a no cair, a priori, por um

    lado em um reducionismo, e, por outro, em um relativismo absoluto. Mais

    especificamente, em relao ao primeiro desafio, nossa experincia em

    pesquisa nos tem feito caminhar em direo identificao de trs grandes

    momentos de interao com a situao estudada, procurando articular sua

    complexidade com a necessidade de sistematizao.

    Em um primeiro momento, entendemos que o foco investigado exige

    uma vivncia inicial do pesquisador na/com a situao pesquisada.

    necessrio um mergulho do pesquisador na situao, que lhe permita

    apreender os vrios elementos envolvidos, propiciando-lhe uma

    viso panormica e um primeiro delineamento da rede de significaes que

    pretende investigar. Nesta fase, o pesquisador deve atuar como um

    etngrafo, buscando descrever em um dirio de campo, o que est

    acontecendo sua volta, especificando, em cada episdio registrado, quem

    participou do mesmo e o que, onde, como e quando ocorreu, tendo sempre

    em vista seu objeto de estudo e suas perguntas especficas.

    Esta primeira vivncia proporciona a fundamentao emprica

    necessria para sistematizar a forma como ser feita a coleta de dados e a

    construo do corpus, permitindo definir de maneira mais clara os recortes a

    serem feitos. Esta definio, por sua vez, ajuda-o a afunilar e precisar melhor

    seu foco de estudo, seus objetivos, selecionando e reformulando os eixos

    temticos que orientaro sua anlise (os quais j haviam sido delineados no

    projeto inicial).

    Em um segundo momento, o pesquisador rev os procedimentos a

    serem empregados para uma coleta mais sistemtica de dados. A depender

    de suas perguntas, diferentes procedimentos podem ser utilizados, de modo

    isolado ou associado. Por exemplo, podem ser realizadas entrevistas,

    gravaes em vdeo, registros observacionais com amostragem de eventos

    ou de tempo (feitos em formulrios ou por meio de fotos), anlise de

    documentos referentes a polticas pblicas ou do dirio de classe de um

    professor, etc. A diversificao de tcnicas justifica-se pela dependncia entre

    o objeto de estudo, os procedimentos e os aspectos da rede de significaes

    que se pretende analisar. Como a construo do corpus envolve bastante

    tempo e trabalho, sempre que possvel, interessante faz-la mais

    abrangente em termos de procedimentos, eventos e tempo, permitindo a

    construo de um banco de dados bem documentado, o qual possibilite

    anlises a partir de diferentes perguntas, por vrios pesquisadores.

    A anlise de dados nos posiciona em um terceiro momento.

    Considerando que o nosso foco principal se situa no trabalho com a produo

  • de significaes em situaes especficas de interao, e objetiva apreender

    os papis e contra-papis reciprocamente atribudos s e assumidos pelas

    pessoas, no aqui-e-agora da situao, deparamo-nos com a exigncia de

    uma abordagem microgentica de anlise. Essa abordagem exige um

    trabalho longo de ir e vir no corpus, em um dilogo contnuo com a teoria, de

    forma a permitir a apreenso do processo de transformao que est

    ocorrendo.

    Neste sentido, a anlise de uma base extensa de dados apresenta

    novos desafios ao pesquisador. O melhor guia, neste momento, a clareza

    terico-metodolgica do pesquisador, a qual lhe fornece o crivo que ir

    orientar sua anlise. Em nosso caso, essa anlise norteada pelo esquema

    de rede acima proposto. Dependendo das perguntas e do momento do

    processo em anlise, determinados aspectos da rede so priorizados.

    Diferentes pessoas, campos de interao ou cenrios assumem maior ou

    menor relevncia, num movimento de figura e fundo, no qual se alternam

    anlises minuciosas com um olhar mais geral sobre o conjunto do material.

    Em geral, como nos propomos a trabalhar com situaes de crise e de

    transformaes intensas, observaes cuidadosas so feitas dos episdios de

    mudana. Busca-se, assim, apreender velhos e novos comportamentos e

    sentimentos que podem revelar a emergncia de novos significados na co-

    construo de suas interaes e desenvolvimento. So estes momentos que

    nos orientam na escolha dos episdios a serem analisados em maior

    pormenor. Baseados nestes episdios e utilizando nossa perspectiva de rede,

    buscamos perceber sinais de transio e mudana, associados a elementos

    de canalizao e resistncia.

    Neste tocante, a anlise microgentica exige uma clara explicitao da

    situao analisada, ou seja uma contextualizao rigorosa das condies de

    produo do corpus de pesquisa. Esta exigncia constitui um fator

    fundamental que nos coloca limites na interpretao, dificultando construes

    demasiadamente inferenciais e singulares, o que nos levaria ao referido

    relativismo absoluto. O prprio repertrio de discursos do contexto histrico e

    cultural analisado, incluindo a os referenciais tericos disponveis, atua

    tambm neste sentido.

    Finalmente, gostaramos de tecer ainda dois comentrios. Um, sobre a

    posio do pesquisador e outro, sobre a relao pesquisador-pesquisado. Em

    contato com a situao pesquisada, o pesquisador deve ter uma postura

    flexvel e uma ateno flutuante, capaz de mudar continuamente de foco,

    numa alternncia entre o fluxo atual de eventos e os discursos provenientes

    do tempo histrico, vivido e/ou prospectivo. Um provrbio chins talvez

    possa auxiliar a compreenso dessa proposta. Ele define a habilidade de um

    general experiente e competente. Quando imerso em um campo de batalha,

    ele capaz de analisar o conjunto de eventos distncia. Quando longe, ele

    capaz de discernir pormenores do meio da batalha.

    Tal considerao nos remete relao pesquisador - pesquisado. Como

    ponto de partida e pressuposto bsico, temos assumido que o dado no

    dado e, sim, resultado de um processo bastante complexo de construo

    que ocorre na interao entre o pesquisador e o evento pesquisado. O

  • pesquisador visto tambm como um interlocutor. O contato com o objeto

    de investigao mobiliza nele uma complexa e dinmica rede de

    significaes, a qual estrutura e canaliza seus recortes e as interpretaes

    que faz do fluxo de eventos observados. Alguns destes significados podem

    ser coletivos, como aqueles produzidos no longo tempo histrico ( o caso

    das representaes sociais, por exemplo). Outros derivam de experincias e

    expectativas individuais, obtidas no aqui e agora ou no decorrer da vida do

    prprio pesquisador. A rede de significaes do pesquisador est sendo

    continuamente impregnada e transformada, inclusive pelo prprio fazer da

    pesquisa.

    A Matriz Impregnando Situao, Contextos e

    Sujeitos em Desenvolvimento Como referido anteriormente, a organizao cultural dos contextos de

    desenvolvimento, a que chamamos de matriz scio histrica, semitica,

    discursiva. primeira vista, esta matriz pode parecer uniforme e hegemnica

    dentro de uma sociedade ou grupo, em determinado momento scio

    histrico. Porm, ela se compe de uma multiplicidade de discursos, algumas

    vezes fortemente antagnicos e contraditrios entre si.

    Essa multiplicidade de discursos, ou polissemia (Bakhtin, 1981; Spink,

    1996a) mostra-se bastante evidente na educao de crianas pequenas em

    creche, onde se verifica uma variedade de significaes que so atribudas a

    essa instituio, atravs de concepes e prticas construdas, tanto no meio

    cientfico, como nas polticas pblicas e no senso comum.

    Na literatura psicolgica, especificamente, o tema mostra-se bastante

    controverso. Alguns autores afirmam, por exemplo, que a "experincia

    extensiva de bebs em creche est associada ao apego inseguro durante a

    infncia e aumento na agressividade e desobedincia, durante os anos pr-

    escolares e anos iniciais escolares" (Belsky, 1990, p. 03). Outros autores,

    entretanto, como Clarke-Stewart (1990) e Thompson (1990), afirmam no

    existir evidncias de que a freqncia creche coloca as crianas em situao

    de risco quanto ao desenvolvimento scioemocional,como se verificou na

    extensa pesquisa do NICHD (1997).

    Essas contradies encontram-se, tambm, na forma como o Estado

    concebe a responsabilidade pela educao da criana. Na Dinamarca, por

    exemplo, onde h o comprometimento poltico de propiciar igualdade nas

    condies de desenvolvimento da populao, criaram-se sistemas pblicos de

    creches subsidiadas de alta qualidade, que atendem 48% das crianas

    menores de trs anos de idade. Na Inglaterra, onde predomina a idia de que

    a famlia quem deve assumir o cuidado da criana pequena, o Estado atua

    apenas em casos de extrema carncia e a rede de creches, coordenada pelas

    agncias estatais, s fato para 2% das crianas de mesma idade (Roberts,

    1996). No Brasil, em decorrncia de movimentos de mulheres e de

    profissionais da rea, conseguiu-se que, na Constituio Federal de 1988, o

    atendimento s crianas de zero a seis anos fosse includo no captulo da

    Educao, sendo definido como um direito da criana, um dever do Estado e

  • uma opo da famlia. Entretanto, isso no trouxe, ainda, grandes

    modificaes na forma do Estado construir e administrar creches pblicas.

    Essa multiplicidade de discursos e prticas, com suas ambigidades e

    contradies, no poderia deixar de estar tambm impregnada no cotidiano

    das pessoas, na rede de significaes de cada um, nas interaes que

    estabelecem no aqui e agora das situaes. Em um estudo de caso sobre

    processos de insero de bebs creche (Amorim, 1997a), Me1 comenta:

    "Minha me e minha sogra... Acho que porque elas tiveram oportunidade

    de criar os filhos, de no trabalhar, s ficavam em casa... Ento, bem

    diferente a mentalidade delas... de hoje, para a minha gerao..." Embora

    essa mesma me admita a diferena de mentalidade entre pocas passadas e

    a atual, ela levanta uma srie de questionamentos e dvidas quanto aos

    cuidados que a creche capaz de oferecer s crianas. Nesse sentido, ela

    pergunta: "Quem vai pegar ela, quando ela chorar? Como que vai ser? Vai

    ficar s no bercinho?"

    Essa multiplicidade de discursos sobre creche parece mostrar-se

    intensificada pelas rpidas transformaes scio-econmicas e culturais

    ocorridas, nas ltimas dcadas, em nossa sociedade. Dependendo dos

    contextos especficos, das situaes de desenvolvimento e dos recursos

    individuais, estas transformaes exigem uma reorganizao de aes e

    valores, muitas vezes conflitantes com aqueles internalizados ao longo das

    experincias anteriores de vida.

    Esse processo de transformao de significaes, entretanto, carrega

    fatores limitantes, dados pelas estruturas orgnicas e ambientais, em estreita

    interdependncia com o simblico. Assim, elementos filogeneticamente

    determinados e culturalmente significados, limitam as condies fsicas e

    psicolgicas dos indivduos para a ao, determinam ciclos de repeties

    necessrios prpria sobrevivncia e canalizam as aes mais para certas

    possibilidades e no para outras (Valsiner, 1987). Esta canalizao varia ao

    longo da histria individual e social e, no caso de representaes e valores

    sociais, verifica-se uma maior persistncia, com uma maior dificuldade de

    mudanas, exigindo por vezes verdadeiras crises e rupturas com relao a

    modelos antigos de pensamento e de afeto.

    Este fato se mostrou bastante evidente no trabalho de Vitria (1997),

    que entrevistou 13 educadoras de duas creches, investigando suas

    representaes sociais, principalmente aquelas relacionadas relao

    crechefamlia. Em seu estudo, as creches eram: 1) Creche universitria: a

    qual apresentava um trabalho educativo, investindo significativamente na

    formao continuada das profissionais e procurando desenvolver uma

    positiva relao creche-famlia; e, 2) Creche filantrpica: que assegurava as

    condies bsicas de higiene e alimentao e no investia na formao dos

    profissionais.

    Apesar das grandes diferenas existentes entre as duas creches e entre

    os profissionais que nelas trabalhavam, os dados revelaram uma postura

    crtica semelhante das educadoras com relao s mes. Em ambas existia

    uma atribuio da responsabilidade s famlias, pelas dificuldades que as

    educadoras encontravam no lidar com as crianas. Essa postura, na creche

  • universitria, manifestava-se atravs de um discurso de quem se coloca na

    posio daquele que ensina s mes, depreciando suas competncias. Na

    creche filantrpica, manifestava-se atravs de um discurso assistencialista,

    que depreciava as condies de vida daquelas famlias, que em muitos casos

    eram semelhantes s das prprias educadoras.

    Tais semelhanas sugerem que as concepes de base no so

    facilmente modificadas, apesar das diferenas na programao de cada

    instituio e dos cursos de formao. Persiste, ainda, a concepo de que a

    me o elemento mais importante e responsvel pelo desenvolvimento da

    criana pequena e que o local mais adequado de cuidado desta no ambiente

    domstico.

    Portanto, o universo semitico, construdo e internalizado atravs das

    prticas sociais ao longo da vida, concretiza-se no aqui - agora das situaes,

    atribuindo significados s caractersticas do contexto onde a pessoa est

    inserida e delimitando as formas de relacionamentos e de afetividade entre

    as pessoas. Desta forma, a persistncia daquelas concepes nas

    educadoras, usualmente resulta numa relao creche - famlia permeada de

    hostilidade (velada ou explcita) e/ou de um distanciamento entre mes e

    educadoras, com reflexos sobre os cuidados da criana. Marcam, tambm, a

    prpria relao me - filho, pela emergncia de sentimentos de angstia e

    culpa.

    Nesse sentido, no estudo de caso anteriormente mencionado, Me1

    diz: "T sendo um pouquinho difcil.(...) No sei se porque ela sempre ficou

    muito junto comigo. Era s eu mesma que cuidava dela." "O difcil foi quando

    eu via ela chorando... no comia. (...) Mas, no sei se porque... ... eu

    realmente... a necessidade, n. Ento a gente ficava.... Mas... No! Mas o

    melhor que eu poderia t dando para ela agora. Ento, no posso ficar me

    culpando, n ."

    Os "Meios" como Mediadores do Processo de

    Desenvolvimento O processo de desenvolvimento humano encontra-se intimamente

    relacionado articulao organismo ambiente e, para ns, este ambiente

    tem sido entendido enquanto um meio, como apresentado por Wallon (1959,

    em Werebe & Nadel-Brulfert, 1986), o qual tem fundamentalmente duas

    funes: a de ambiente, contexto ou campo de aplicao de condutas

    (milieu); e a de condio, recurso, instrumento de desenvolvimento (moyen).

    Nesse sentido, os elementos externos ao indivduo constituem seu espao de

    experincia, o qual se torna um instrumento para seu desenvolvimento.

    Segundo Wallon, o beb humano, dentre todas as espcies, o ser que nasce

    com maior impercia, imaturidade e incompletude, que o tornam incapaz de

    sobreviver sem a ajuda de um adulto. Isso determina um perodo prolongado

    de dependncia de outro elemento mais competente, da mesma espcie.

    Desta forma, para o beb, o elemento mais importante do meio

    o outro social. Na nossa sociedade, este outro usualmente so os pais, mas

    tambm avs, irmos, babs e educadoras de creches e pr-escolas.

  • este outro quem, atravs de suas aes e interaes com a criana e da

    organizao do ambiente, traa as metas gerais para o seu desenvolvimento.

    Estas so baseadas em metas pessoais, construdas durante o prprio

    processo de socializao e resultam em uma maneira pessoal de conceber as

    expectativas sociais para aquela criana, naquele contexto e cultura.

    Portanto, inicialmente, o desenvolvimento se d na dependncia de um outro

    ser humano, que alm de inserir a criana em determinados contextos ou

    posies sociais, intrprete do mundo para ela e dela para o mundo. Neste

    processo, estabelece-se uma forte relao afetiva entre o beb e o adulto.

    Portanto, o outro o primeiro e grande mediador da criana.

    Entretanto, as caractersticas desta mediao podem ser bastante diversas,

    em funo das significaes existentes nas redes pessoais dos sujeitos, como

    nos revelam abaixo os dois estudos de casos de insero de bebs, em um

    mesmo berrio, em uma mesma creche.

    Em um dos casos, Me1, impregnada de preconceitos e sentimentos

    negativos com relao creche e para quem a insero da filha na creche

    gerou intensa angstia e culpa, mostra-se como uma mediadora que

    apresenta o novo ambiente de forma carregada de ambivalncia, como pode

    ser observado atravs do resumo de uma cena de vdeo:

    Me 1 tem um ar de grande seriedade e tenso. Chega ao berrio com a filha no colo e a coloca deitada em um canto extremo do colcho, de

    costas para o ambiente em geral, e, especificamente, de costas para a

    outra me e criana que ali se encontram. Sua filha tem cinco meses de

    idade, no senta sozinha e tem grande dificuldade de mover-se do local

    onde se encontra. Me1 conversa com a filha, de forma inaudvel.

    Entretm a criana mostrando, ininterruptamente, brinquedos. Na posio em que beb e me se encontram, a me o nico objeto que se

    apresenta ao campo visual da criana.

    Por outro lado, a Me 2, que funcionria da creche e tem outra filha j freqentando a mesma, teve uma forma muito diversa de apresentar ao seu beb o novo contexto. Isto pode ser visto, na cena do momento de chegada, no primeiro dia de freqncia creche:

    Me 2 chega ao berrio sorrindo e cumprimentando as pessoas

    presentes. A criana (nove meses de idade) est em seu colo, de costas

    para a me, o que disponibiliza seu olhar ao ambiente. Me2 e beb

    aproximam-se da educadora responsvel pelos cuidados da criana, que

    lhe d um largo sorriso. M2 fala: "Oi!", a que a educadora responde

    alegremente: "Ela chegou!" Pouco depois, a me aponta para uma criana sentada no cho, onde coloca a filha, dizendo-lhe, "Olha a amiguinha!"

    Mostra-lhe alguns objetos, com os quais a criana se entretm. Me2

    deixa a criana, brevemente, para levar a sacola ao trocador.

    A mediao assume assim, caractersticas bem diversas, em cada caso,

    conforme o conjunto de sentimentos, concepes e motivaes que invadem

    cada me e que so recortados em suas aes e interaes naquele

    ambiente. Essa mediao do adulto expressa, tambm, atravs das formas

    como ele organiza os ambientes e estrutura prticas e rotinas da/com a

    criana. Diferentes formas de organizao do espao scioeducacional, por

  • um lado, refletem concepes sobre desenvolvimento e educao infantil

    tanto da pessoa que o organiza, como da cultura onde se encontram

    inseridos. Por outro lado, oferecem certos recursos para construo das

    relaes e das funes psicolgicas.

    Assim, as formas com que o adulto organiza o espao na creche, por

    exemplo, atuam, promovem, inibem e/ou modificam as aes e o

    desenvolvimento das crianas. No nosso grupo, esse elemento organizao

    espacial - tem sido sistematicamente estudado, investigando-se sua ao

    sobre os processos interativos criana criana e adulto criana.

    Provocando modificaes em salas de crianas de dois-trs anos, de algumas

    creches, Campos-de-Carvalho e colaboradores investigaram como se do as

    interaes em diferentes arranjos espaciais: arranjo aberto (sem a presena

    de zonas circunscritas) e o semi-aberto (com uma ou mais zonas

    circunscritas) (Campos-de-Carvalho & Rossetti-Ferreira, 1993; Campos-de-

    Carvalho, Meneghini & Mingorance, 1996; Campos-de-Carvalho & Rubiano,

    1996; Meneghini & Campos-de-Carvalho, 1997; Campos-de-Carvalho &

    Mingorance, no prelo). Verificaram que, quanto mais aberta e indefinida a

    estruturao do espao, maior a concentrao de crianas em torno da

    monitora. J com uma organizao bem definida do espao, atravs de reas

    circunscritas, promovia-se uma reorganizao das crianas, levando a uma

    ocupao preferencial das reas mais estruturadas. Alm disso, verificou-se

    nestes casos o estabelecimento mais freqente de contatos entre as crianas,

    as quais engajavam-se mais em atividades compartilhadas. Entendemos que

    a estruturao dessas reas mediou e deu suporte interao e

    participao conjunta das crianas em atividades, favorecendo seu processo

    de assumir, negociar e/ou coordenar papis.

    Temos observado, ainda, que aspectos do meio fsico-social que so

    importantes para um sujeito em determinada idade construir certas

    habilidades ou conjunto de significaes, ao mesmo tempo em que so

    modificados por essas construes, do lugar, em outro momento, a outros

    aspectos como novas fontes privilegiadas de promoo de desenvolvimento.

    O Processo de Negociao de Significados Como vimos afirmando, o desenvolvimento das aes, sentimentos,

    pensamentos e motivaes de uma pessoa se d atravs de processos

    socialmente regulados. Nestes, a pessoa (tanto adulto, como criana)

    desempenha um papel ativo e dentro do jogo de papis, defronta-se com e

    negocia os significados que lhes so atribudos e que, tambm, atribui a si

    mesma, ao outro e s situaes vivenciadas.

    Como veremos abaixo, durante os primeiros anos de vida, o fluxo das

    aes infantis e os papis que assumem so recortados por elementos

    expressivo motores e suportes ambientais vrios (como por exemplo, um

    som determinado, um objeto, uma vestimenta). Com o tempo e

    desenvolvimento, a criana apreende os recursos sgnicos atravs de uma

    reproduo da ao do outro, inclusive na ausncia deste.

  • Oliveira (1988), em estudo sobre interao crianacriana, verificou

    que determinada brincadeira foi iniciada e desenvolvida pelas crianas, a

    partir da presena de um chapu de vaqueiro. Este levou as crianas, como

    que capturadas por uma narrativa compartilhada por elas com relao ao

    objeto, a representarem personagens ligados a um programa de televiso.

    Em outro estudo (Paula & Oliveira, 1995), que investigava a refeio de

    crianas de um a dois anos, em ambiente de creche, verificou-se que as

    crianas passaram a agitar os braos no ar e a balanar o corpo

    contrariamente orientao das educadoras diante da contaminao pelo

    som da msica de um caminho de gs, que passava na rua. Para as autoras,

    nos primeiros anos de vida, tais suportes oferecem apoio s emergentes

    capacidades infantis de ateno, memria e representao.

    Segundo Oliveira e colaboradores (1998; Oliveira & Rossetti-Ferreira,

    1994; Paula & Oliveira, 1995), a ao da criana passa, gradativamente,

    dessa posio de contgio (segundo Wallon, 1959, em Werebe & Nadel-

    Brulfert, 1986) e evolui para uma reproduo mais minuciosa, elaborada,

    propositada, da ao do outro, na ausncia deste. Assim, ainda no estudo de

    crianas entre um e dois anos de idade, na situao de refeio, as autoras

    verificaram a ocorrncia de uma coordenao dos papis. As crianas

    assumem o papel do adulto, verbalizando com o companheiro, procurando

    estimul-lo a comer e tentando dar comida a ele, atravs do manejo da

    colher ou mesmo utilizando as mos, a depender dos recursos individuais.

    Nesta reproduo, a criana toma um papel diferente do seu (e at ento

    complementar a este), reproduzindo seus gestos, posturas e verbalizaes.

    Assim, ao recriar um fluxo de gestos, a criana examina as condies e

    limitaes por eles possibilitadas e as modifica no embate com o outro. E, ao

    reproduzir gestos, posturas e, depois, palavras, concretiza para si os recursos

    mais avanados dos quais o adulto dispe. Ao tomar a palavra do outro, ao

    imitar-lhe a ao, a criana usa por emprstimo uma conscincia mais

    diferenciada do que a sua. Ao internalizar esta relao social com o outro, ao

    usar-lhe a fala ou funo indicativa, a criana estabelece nova forma de

    mediao para seu prprio comportamento. Deste modo, a coordenao de

    papis evolui pela emergncia de processos cognitivo-lingsticos, animados

    pela tomada das posies do outro, com a gradativa incorporao da palavra

    como mediador principal do psiquismo humano. Neste processo, copiar o

    comportamento do adulto, dentro das prprias habilidades motoras e de

    simbolizao, desafia a criana a transformar o modelo original, enriquecendo

    sua apropriao dos mediadores apresentados para a execuo da tarefa.

    A impregnao/apropriao/construo de sentidos no se faz de forma

    linear, mas pela combinao de gestos e posturas que so recortados a partir

    de diferentes experincias de vida. Desta forma, numa atmosfera decomo se,

    o faz-de-conta possibilita a atualizao de regulaes internalizadas

    anteriormente, construdas na relao com parceiros diversos e que so

    apresentadas, examinadas, modificadas e, ao mesmo tempo, inscritas como

    imagens e posturas. Isto se faz conforme as habilidades e sentimentos

    experimentados pela criana sejam recriados, como parte de um drama

    global, no qual os papis similares, complementares e antagonistas que as

  • crianas assumem, constituem o modo pelo qual elas se confrontam com

    seus pares para atender seus objetivos emergentes na situao.

    Apesar do destaque dado aos processos que ocorrem na primeira

    infncia, entendemos que eles no soprprios da criana, mas que esto

    presentes ao longo de toda a vida. Desta forma, nas interaes, do

    nascimento velhice, ocorre uma coordenao de papis, em uma dinmica

    entre elementos de repetio e de transformao, a partir dos quais, ocorrem

    dialeticamente manuteno/transformao de aes, sentimentos e

    pensamentos nas pessoas e, tambm, no meio em que esto inseridos.

    O Desenvolvimento Humano dentro de uma Rede de

    Significaes Finalmente, entendemos que dada a sua construo histrico e cultural,

    os elementos anteriormente discutidos (orgnicos, fsicos, interacionais,

    sociais, econmicos e ideolgicos) podem ser considerados enquanto

    discurso. Eles vo sendo definidos conforme o papel/perspectiva assumida

    por ou atribuda ao sujeito, nas e atravs das interaes que se estabelecem

    em determinado momento e contexto sciohistrico. Os vrios elementos

    encontram-se intimamente interligados na rede de significaes. Esta rede

    estrutura um meio que, a cada momento e em cada situao, captura e

    recorta o fluxo de comportamentos dos sujeitos, tornando-os significativos

    naquele contexto, constituindo-se como mediadora do desenvolvimento,

    simultaneamente de cada um e de todos os participantes envolvidos.

    Esta captura se faz diferentemente para cada sujeito presente naquele

    ambiente, j que cada pessoa tem sua rede de significaes, em funo da

    existncia de fatores mais individuais, dentre os quais se incluem os prprios

    desejos. Assim, cada sujeito, ao agir, est tambm recortando e

    interpretando de forma pessoal o contexto, o fluxo de eventos e os

    comportamentos de seus parceiros de interao, a partir de sua prpria rede

    de significaes.

    A partir desta perspectiva, entende-se que a probabilidade dos recortes

    ou interpretaes de dois ou mais sujeitos em interao coincidirem

    praticamente nula, visto que os vrios participantes nunca podem assumir

    exatamente o mesmo papel. Portanto, os parceiros de interao, atravs de

    suas aes, podem lanar um recorte ou interpretao diversa, resultando no

    confronto e necessidade de negociao de novas significaes as quais, por

    sua vez, iro reestruturar o contexto e a rede de significaes do sujeito e

    dos demais parceiros. Desta forma, segundo esta viso de desenvolvimento,

    no cabe uma perspectiva evolutiva em um sentido sempre ascendente. A

    construo de significaes por parte do sujeito ocorre em negociaes

    dinmicas e permeadas por crises, que determinam, sempre, a perda de

    outras possibilidades, por vezes at ento existentes, ou que no chegam a

    se efetivar.

    Entendemos, ainda, que essa rede de significaes no abstrata, mas

    bastante concreta, encontrando-se impregnada e estruturando o ambiente,

    suas funes e as relaes sociais construdas a cada momento. Est,

  • tambm, inscrita no sujeito, podendo estar expressa no prprio corpo, em

    suas sensaes, na palavra, no gesto e na postura, veculos de formas de

    sentir, perceber e agir. Alm disso, outros elementos, como por exemplo uma

    corrente de ar, a luminosidade de uma sala ou alguns sons da natureza, tm

    o suporte de sua inscrio mais externa ao sujeito, embora sejam sempre

    significados por ele e pela cultura. No caso do recm-nascido, cuja

    experincia de vida ainda pequena e recente, o suporte pessoal bsico

    mais de carter biolgico. Porm, mesmo este interpretado e significado

    atravs das aes e reaes entre o beb e os outros com quem interage.

    Nessas interaes, a depender dos elementos que compem a rede, certas

    possibilidades de significao so maiores do que outras e atravs delas

    que se constrem os significados, tanto para aquele beb, como para seus

    parceiros.

    Desta forma, uma boa organizao do berrio em termos de espao,

    objetos, rotinas, favorecendo as aes e interaes dos adultos e crianas,

    em um ambiente afetivo e acolhedor, evoca na me uma sensao boa e,

    possivelmente, traz tona boas percepes com respeito a deixar seu filho

    na creche. Tambm, quando coloca seu filho no cho e o v olhar

    interessadamente para um beb ao lado, esticando a mozinha em sua

    direo, sorrindo e vocalizando, a me pode sentir-se capturada por uma

    emoo positiva, que a faz mais alerta para elementos positivos da creche.

    Mas, se j saiu de casa angustiada, tendo dormido mal, ou em conflito com

    os familiares que lhe dizem que "me que me no deixa seu filho na

    creche" (Rosemberg, 1982) e, ao chegar para busc-lo, encontra-o chorando

    ou com febre, podem ser destacados elementos mais negativos de sua rede

    de significaes, que a colocam em outra posio ou papel discursivo. Essa

    sua posio pode ser modificada, por exemplo, atravs de uma conversa com

    a educadora, de um gesto de apoio do marido, ou agravada atravs de

    crticas de familiares ou amigos.

    Deste modo, conforme o momento, o contexto e as caractersticas

    pessoais dos sujeitos em interao, certos elementos adquirem maior relevo

    na emergncia de novos significados. Assim, uma me que leva seu filho na

    creche tem seu papel redefinido, naquele ambiente. Deixa de ter como

    destaque seu papel de me (enquanto cuidadora e educadora),

    compartilhando-o temporariamente com outras pessoas. Por outro lado, em

    casa, por exemplo, essa mesma me desempenha vrios papis (como

    esposa, me, filha, aluna, etc.), cada qual sendo destacado de forma

    diferente, a depender do ambiente e da hora do dia, do parceiro de interao,

    das necessidades e desejos. No fluxo das interaes, diferentes elementos

    alternam-se quanto sua relevncia, transformando a trajetria das

    significaes e das prprias aes.

    Constri-se, desta forma, a conscincia individual, formada pela

    impregnao da pessoa pelo contedo semitico historicamente criado por

    grupos sociais organizados, com os quais se relaciona. Os signos em geral, e

    a linguagem dentre eles, so apropriados atravs da interao com parceiros

    diversos cada um com recursos scio-histricos de ao e nvel de

    desenvolvimento diferentes em prticas sociais diversas, onde os indivduos

  • confrontam os significados que atribuem s situaes e s suas prprias

    aes.

    O comportamento , portanto, um fluxo contnuo, recortado,

    interpretado, significado pelo contexto, pelas prprias aes, pelas aes do

    outro e pela situao, sendo continuamente constitudo e transformado, ao

    mesmo tempo que constitui o outro e a situao. Nesse processo, ocorre uma

    contnua transformao da rede de significaes, enquanto constituem-se,

    reciprocamente, a subjetividade e os conhecimentos de cada indivduo.

    Concluindo Possibilidades de Avanos e Limites

    Ao tentar explicar e apreender a complexa realidade do

    desenvolvimento humano, recorremos, como j apresentado ao longo deste

    artigo, metfora de rede, na qual encontram-se envolvidos inmeros

    elementos de ordem diversa e em contnua transformao. Aprofundar os

    conceitos envolvidos na rede de significaes, bem como investigar as inter-

    relaes entre seus diversos componentes, so alguns dos nossos principais

    desafios e objetivos atuais.

    Nesse sentido, entendemos que interlocutores so fundamentais, pois

    nos possibilitam comparaes e confrontos que, numa dinmica de filiao e

    distanciamento, provocam-nos uma melhor delimitao e refinamento

    tericos. Autores como Bronfenbrenner (1977), Levy (1993), Maturana e

    Verden-Zller (1997) e Machado (1996) so especialmente interessantes

    neste processo e momento, uma vez que tambm trabalham com modelos de

    redes ou de sistemas.

    Alm disto, algumas outras questes nos so apresentadas: A quais

    outras teorias ou conceitos tericos nos aproximamos? Qual o peso das

    determinaes scio-histricas e dos componentes individuais nas

    modificaes e persistncias no processo de desenvolvimento humano? Quais

    as limitaes dessa nossa perspectiva e as possibilidades de contribuio na

    interpretao de situaes de crise e/ou mudanas envolvidas em outros

    contextos?

    Procurando responder estes e outros questionamentos, alguns novos

    projetos comeam a ser desenvolvidos. Em uma linha de continuidade de

    investigao das questes suscitadas pelas pesquisas relativas insero de

    bebs na creche, um dos trabalhos tem por objetivo investigar e esclarecer

    melhor o papel da matriz e sua relao com os demais elementos, dentro da

    rede de significaes (Amorim, 1997b).

    Entendemos, ainda, que uma estratgia para testar os limites de

    utilizao da nossa perspectiva, exige a ampliao do leque de sujeitos,

    campos interativos, cenrios e matriz scio - histrica, que se diferenciem

    daquele presente nas questes relativas creche. Nesse sentido, duas outras

    situaes esto sendo propostas: 1) as mudanas e continuidades do

    desenvolvimento do comportamento infracional (Silva, 1998), contribuindo

    para melhor discutir as inter-relaes entre os diferentes tempos (histrico,

    vivido, presente e futuro) e a indeterminao/determinao no processo de

  • desenvolvimento humano; 2) a incluso da criana portadora de paralisia

    cerebral, na rede de educao infantil (Yazlle, 1997), que nos possibilitar

    uma explorao do duplo papel do meio (o de campo de aplicao de conduta

    e o de recurso de desenvolvimento), e uma melhor discusso do conceito de

    canalizao (orgnica e cultural).

    Essa ampliao de situaes vem sendo considerada como positiva,

    pois acreditamos que uma diversificao dos contextos estudados proveja

    elementos heursticos importantes para uma melhor elaborao da proposta

    terico - metodolgica a respeito dos processos de desenvolvimento humano.

    Dessa forma, as pesquisas continuam se renovando em projetos que

    buscam aprofundar as anlises realizadas a partir das primeiras investigaes

    mantendo-nos sempre em constante reflexo sobre nossa perspectiva. Com

    certeza, as questes que nos colocamos so bastante complexas. Como

    garantir que a utilizao da proposta da rede de significaes, enquanto

    mtodo de anlise, esteja sempre intrinsecamente relacionada a um corpo

    terico consistente? Como garantir a consistncia terico - metodolgica com

    uma diversificao de situaes e contextos, que pressupem uma abertura

    para assimilao de conceitos inclusive de outras reas do conhecimento?

    Nossas questes nos situam em um estado ainda bastante embrionrio

    na elaborao de nossa proposta e significam no apenas um desafio terico

    e metodolgico, mas principalmente epistemolgico.

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    Recebido em 22.11.98 Revisado em 20.08.99 Aceito em15.12.99

    Sobre as autoras:

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  • Maria Clotilde Rossetti-Ferreira Filsofa e Psicloga Clnica, Professora Titular do Departamento de Psicologia e Educao da Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras de Ribeiro Preto (FFCLRP-USP) e Coordenadora do Centro de Investigaes sobre Desenvolvimento Humano e Educao Infantil (CINDEDI) da Universidade de So Paulo, Ribeiro Preto.

    Katia de Souza Amorim Psiquiatra Infantil, Membro do CINDEDI, Mestre em Psicologia e Doutoranda no Programa de Sade Mental da Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto (FMRP-USP) da Universidade de So Paulo, Ribeiro Preto. Atualmente est desenvolvendo Doutorado-Sandwich junto Clark University (EUA), sendo bolsista da CAPES.

    Ana Paula Soares Silva Psicloga, Membro do CINDEDI, Mestre em Psicologia e Doutoranda no Programa de Ps-Graduao em Psicologia na Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras de Ribeiro Preto da Universidade de So Paulo, Ribeiro Preto, SP.

    1 Endereo para correspondncia: Av. Bamdeirantes, 3.900, Ribeiro Preto, 14040-901. Fone: (16) 6023791, Fax: (16) 6232792. E-mail: [email protected] 2 Esta linha de pesquisa tem sido desenvolvida por toda uma equipe do CINDEDI qual gostaramos de reconhecer como co-autores deste trabalho. Agradecimentos especais a Zilma M.R. de Oliveira e Mara Ignez Campos de Carvalho. 3 As autoras agradecem os financiamentos recebidos da FAPESP, CNPq e CAPES.

    http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79722000000200008&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt#homemailto:[email protected]://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79722000000200008&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt#homehttp://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79722000000200008&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt#home