Uma outra princesa

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Copyright © Editora do Brasil. Todos os direitos reservados. É proibido venda e alteração parcial ou total deste material. Uma outra princesa TELMA GUIMARÃES Ilustrações JEAN-CLAUDE R. ALPHEN Suplemento do Professor Elaborado por CAMILA TARDELLI

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Uma outraprincesa

TELMA GUIMARÃES

IlustraçõesJEAn-CLAUdE R. ALphEn

Suplemento do ProfessorElaborado por CAMILA TARdELLI

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1. Uma vida de conto de fadas?Uma outra princesa é um livro moderno. Nele, a autora resgata um

conto tradicional – Cinderela, a gata borralheira – e brinca com sua estru-tura, fazendo profundas alterações em seu significado. O narrador é brinca-lhão, ironiza as situações vividas por Cindy, uma menina mimada, vaidosa e arrogante, que se recusa a trabalhar para ajudar nas despesas e torna-se um fardo para sua madrasta e suas “irmãs”.

A expressão “uma vida de conto de fadas”, bastante usada hoje em dia, aponta para uma vida fácil, em que você tem tudo o que deseja sem precisar fazer esforço. Não é exatamente o significado de um conto de fadas, já que, nessas histórias, a trajetória dos personagens é cheia de conflitos e de grandes travessias, até ele poder voltar para casa e assumir seu lugar. Em grande parte dos contos de fadas, os personagens principais são protegidos por seres mági-cos que aliviam as grandes dificuldades enfrentadas pelo caminho, mas não é possível dizer que a vida deles seja fácil.

Na história Uma outra princesa, Cindy quer uma vida fácil. Acha que, por ser uma menina considerada bela por todos, precisa ser servida o tempo todo, e acredita que ser bonita basta, não sendo necessário ser/fazer mais nada.

O livro é bastante atual e tece críticas a comportamentos, preconcei-tos, ilusões bastante comuns nos dias de hoje. Por meio da leitura da obra é possível abordar questões contemporâneas, tais como a sociedade da imagem, preconceitos sociais e raciais, padrão de beleza, modelo importado (europeu) de beleza, busca sem limi-tes pelo corpo ideal (dietas perigosas, excesso de interven-ções cirúrgicas, distúrbios alimentares, depressão etc.). Também se podem discutir relações entre irmãos e virtu-des como humildade, paciência, tolerância, entre outras.

2. Que temas trabalhar em sala de aulaApesar de conseguirmos identificar inúmeros temas, uma estratégia, tal-

vez mais adequada, é fazermos o inverso, isto é, propor a leitura da obra de maneira livre, sem apontar caminhos. Deixe que os alunos expressem, após a leitura, o que pensam sobre o livro, com o que relacionam a história. Anote,

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na lousa, os principais assuntos mencionados por eles. Registre os tópicos da conversa e guarde-os. Nas próximas aulas, você pode perguntar-lhes se gos-tariam de discutir melhor algum dos temas apontados. Ao fazermos esse per-curso, o trabalho se torna mais significativo, já que os temas foram escolhidos com base na leitura deles e eles decidiram o que desejam pesquisar – e se dese-jam pesquisar – a respeito de algum dos temas apontados.

Nós, professores, acreditamos que tudo deve ser trabalhado com minú-cias, que é necessário esgotar os temas, mas, quando se trata de leitura de livros literários, muitas vezes o melhor a fazer é deixar que os leitores escolham se dese-jam desenvolver um trabalho com base no que viram ou se preferem aquietar a história dentro de si. Há histórias que conversam com os leitores por muito tempo, ficam mais de anos sendo trabalhadas individualmente. Há outras que tocam em pontos específicos e desestruturam o leitor de imediato. É impossível prever que histórias tocarão cada pessoa; com frequência achamos que um aluno que está tendo dificuldade para lidar com a morte, por exemplo, precisa ler um livro sobre esse assunto, e não é exatamente isso que acontece. Como a literatura trabalha com o simbólico, muitas vezes aquele aluno que enfrenta dificuldade de lidar com a morte encontra em um livro que nem menciona esse fato, que aborda outro tema, as respostas que estava, mesmo sem saber, procurando.

Dessa forma, é preciso ter respeito pelo leitor e por aquilo que ele pretende ou não revelar. Por outro lado, é muito importante abrir, em sala de aula, um espaço para conversar sobre a obra. Há alunos que podem estar ansiosos para expressar o que pensam, para dizer como interpre-tam os fatos, o que acham dos personagens. Essa conversa é um momento excelente de troca, de ouvir o outro e aprender com suas experiências.

3. Como trabalhar a leitura em sala de aulaÉ comum trabalharmos a leitura em sala de aula com base em ativi-

dades que estão a seu redor, como a narração de histórias e a leitura em voz alta. São atividades válidas, que podem incentivar e ajudar o aluno a ler, mas não são o objetivo final. É preciso ter consciência de que a leitura em si, como a entendemos hoje, é algo individual e subjetivo. Assim, é necessário estar atento para não restringir os trabalhos em sala de aula a atividades que apenas circundam a leitura.

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Proponha a leitura de Uma outra princesa em partes. Você e os alunos podem ler capítulo a capítulo, um coletivamente e outro individualmente de maneira alternada. Você pode ainda pedir que um aluno leia um capítulo em casa e treine a leitura oral para a turma. Após a leitura do livro, converse com eles sobre o que acharam das diferentes atividades. Nesse bate-papo, os alunos podem dizer de qual delas mais gostaram, de qual menos gostaram, que difi-culdades enfrentaram durante a leitura. É provável que apontem dificuldades durante a leitura silenciosa; explique-lhes, então, a importância de aprender a ler sozinho, aponte-lhes o mundo de livros e histórias que ganhamos quando aprendemos a ler sem a companhia do outro.

A leitura silenciosa não deve ser a única atividade em sala de aula – é importante variar as atividades –, devendo ser encarada como uma meta. Formar leitores literários autônomos é um dos principais objetivos das aulas de Língua Portuguesa.

4. Cinderela – invenções e reinvençõesCinderela é uma história presente em quase todas as culturas conhecidas.

Há, por exemplo, uma versão de Cinderela das primeiras nações da América do Norte, uma bela história dos índios algonquin, recontada por Regina Machado no livro O violino cigano e outros contos de mulheres sábias. Nessa história, a menina é Oochigeaskw, a menina do rosto marcado. Ela, ao con-trário do que ocorre em outras versões, não é uma garota bonita, tem a saúde frágil e o rosto cheio de cicatrizes provocadas por suas irmãs. Também não há príncipes encantados, nem fada madrinha. Entretanto, a estrutura da narrativa é a mesma: uma menina maltratada pelas irmãs, que sonha em se livrar dessa tortura e encontrar seu lugar no mundo. Há ainda um homem invisível, dese-jado por todas as meninas da tribo, inclusive suas irmãs, que seria o príncipe encantado; e a irmã do moço, que em determinado ponto da história funciona como uma fada madrinha para Oochigeaskw.

As irmãs, apesar de aparentemente muito mais bonitas do que ela, não conseguem se casar com o ser invisível, enquanto Oochigeaskw atinge esse objetivo. A diferença entre essa narrativa e a versão mais conhecida por nós é que a menina tem mais força do que aquela das versões mais repetidas pela mídia, pois, mesmo sem fada madrinha, parte em busca de seus sonhos,

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do jeito que está. Essa narrativa faz parte de uma coletânea de histórias sobre mulheres fortes, resultado de uma pesquisa muito interessante. Infelizmente, as histórias dessa natureza foram deixadas de lado pela cultura judaico-cristã, que só reproduziu, por muito tempo, narrativas em que a mulher é completa-mente frágil e o homem é forte, corajoso, conquistador.

Oochigeaskw, uma cinderela algonquin é apenas um exemplo. Há inú-meras outras histórias que são muito parecidas entre si, pois repetem a mesma estrutura. Algumas delas são reinvenções da Cinderela – algo comum nos dias de hoje – outras são histórias tradicionais e, em parte dos casos, não se sabe se o povo teve ou não contato com essas outras culturas e reinventou a narrativa ou se o fato de serem parecidas tem relação com o inconsciente do ser humano, com sua estrutura psíquica.

A verdade é que existem milhares de versões dessa história, que toca em sentimentos/experiências tão próprios do ser humano: o ciúme, a inveja, a ambição, a rivalidade entre irmãos, a perseverança, a busca por algo melhor, a libertação etc.

Além de narrativas orais e escritas, há filmes que reproduzem a mesma estrutura. Dois exemplos são Uma linda mulher e Para sempre Cinderela. Isso é uma prova de que a história de Cinderela mexe com nossas angús-tias e conflitos culturais ainda hoje e precisa ser contada e recontada, a fim de que possamos encontrar novos e velhos caminhos para seguir. São pou-cos os contos de fadas que têm tantas versões e tanta força quanto Cinderela, a Gata borralheira.

A primeira Cinderela de que se tem registro se chamava Yeh-hsien, de 850 d.C. Nessa narrativa, a menina é humilhada pela madrasta e sua filha, sendo obrigada a fazer os trabalhos domésticos da casa toda. Ela é salva quando encontra um peixe que, ao longo dos dias, torna-se gigantesco; dentro dele, há ouro, pérolas, roupas e comida. No final da história, a moça triunfa e casa-se com o rei, enquanto a madrasta e a irmã morrem apedrejadas.

Nas outras versões dessa narrativa, que foram registradas posterior-mente, é comum haver um elemento mágico (como os passarinhos, na versão dos irmãos Grimm, ou a fada madrinha, na versão do Perrault) que ajuda a protagonista a enfrentar as vicissitudes e as dificuldades do caminho.

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Uma outra princesa faz parte, portanto, de muitas histórias contempo-râneas que reinventam o conto da Cinderela, algumas respeitando sua estru-tura tradicional, outras brincando com os personagens e demais elementos, atribuindo outros significados ao enredo e diferentes questões aos personagens.

Seria bastante interessante, após a leitura do livro, trazer para sala de aula diferentes versões da história. As que foram citadas são facilmente encon-tradas. A dos irmãos Grimm e a de Perrault costumam aparecer nos livros de contos de fadas publicados atualmente. Há muitas edições bem-feitas com esse material. Como já foi dito, a história de Oochigeaskw faz parte do livro O violino cigano e outros contos de mulheres sábias, de Regina Machado. Já a versão Yeh-hsien está disponível na internet. É possível trabalhar ainda com muitas outras versões, assim como com os filmes indicados.

Com base nessas leituras, você pode explorar a estrutura dos contos de fadas (início, conflito, clímax, desfecho do conflito e fim da narrativa) e os ele-mentos da narrativa (narrador, personagem, tempo, espaço e enredo).

Para concluir o trabalho, proponha seminários temáticos em duplas ou trios. Os alunos deverão escolher um tema dos textos estudados em sala de aula, como a comparação entre o filme Para sempre Cinderela e a versão de Cinderela dos irmãos Grimm. Será seu papel orientar a escolha dos temas e a produção dos seminários. Para a apresentação, os alunos deverão ter tido tempo de discutir, em grupo, os temas, de fazer anotações das conclusões a que chegaram e de estabelecer maneiras de apresentá-las à turma. Os seminários deverão durar de 10 a 20 minutos e, após cada apresentação, você pode sugerir que os alunos façam perguntas, dialogando com os grupos.

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Caso julgue melhor, sugira os temas, por exemplo: o confronto entre os valores propagados pela versão dos irmãos Grimm e aqueles propagados pela versão de Perrault; o confronto entre o conflito da narrativa Yeh-hsien e o de Oochigeaskw; a comparação entre as personagens centrais de todas as narrati-vas estudadas, buscando estabelecer qual foi mais corajosa, qual foi mais aco-modada etc.; o elemento mágico em cada narrativa (fada madrinha, passari-nhos, peixe, irmã do ser invisível etc.).

Por meio dos seminários, você pode avaliar o envolvimento da turma com o estudo realizado e se os alunos compreenderam bem a estrutura do conto de fadas e os elementos da narrativa, de modo a estabelecer comparações entre diferentes obras.

5. Quem conta a história – o narrador e o foco

narrativoUma das características mais marcantes do livro Uma outra princesa

é o narrador, que interfere na narrativa com seus comentários e suas ironias a respeito da personagem principal, Cindy. Durante o trabalho com diferentes versões da Cinderela ou suas reinvenções, seria interessante já ir instigando os alunos a perceber as diferenças entre o narrador de cada uma delas. Há o nar-rador em terceira pessoa que apenas conta a história sem muitas interferências e há esse narrador moderno do livro, que dá sua opinião explicitamente, tece comentários, palpita o tempo todo.

Essa comparação pode ser feita por meio de recortes de cada um dos tex-tos, comparando passagens em comum das histórias. Os alunos deverão anali-sar os narradores e estabelecer, com suas palavras, as características deles. Você e eles podem elaborar, juntos, um quadro comparativo.

É possível ainda explorar outros contos de fadas reinventados, como o da Chapeuzinho Vermelho, que foi recontado e reinventado inúmeras vezes, inclu-sive pela literatura infantil contemporânea. Após um estudo e comparação de diversas narrativas, incluindo aquelas que são narradas em primeira pessoa, você pode trabalhar com a mudança de foco narrativo, explorando, além das mudan-ças de verbo e pronomes, as mudanças de ponto de vista. O livro dos pontos de vista, de Ricardo Azevedo, é uma obra interessante para orientar o trabalho.

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A proposta de produção de texto seria a reelaboração de um conto de fadas, mantendo a estrutura de equilíbrio, conflito, resolução do conflito e des-fecho, mas alterando o foco narrativo. Os alunos podem contar a história do ponto de vista de um personagem principal ou de um secundário, ou ainda de um que nem aparece na “história oficial”, mas que poderia estar presente de alguma maneira. Os livros Que história é essa? 1, 2 e 3, de Flávio de Souza, podem também colaborar na sofisticação dessas narrativas. Nessas obras, o autor conta a história sob o ponto de vista de personagens secundários, não se atendo ao conflito do conto original, mas criando um conflito para o persona-gem narrador. Ao final de cada narrativa, ele pergunta “Que história é essa?”, e o leitor precisa adivinhar. Em sala de aula funciona como um jogo e desperta bastante a atenção das crianças. Além disso, é excelente para compreenderem a mudança de foco narrativo; nesse caso, uma mudança radical.

Para fechar o trabalho, uma das narrativas pode ser selecionada – por meio de uma eleição – para ser encenada em sala de aula.

6. Sobre os padrões de belezaUm tema essencial em que o livro toca – e que também é trabalhado no

suplemento de atividades – é o padrão de beleza. Comece analisando com os alunos a personagem Cindy. No que ela se parece e no que é diferente da per-sonagem Cinderela? Peça que registrem suas comparações no caderno e leia-as em voz alta. Certamente, surgirão semelhanças físicas e diferenças de caráter.

Questione a turma: Como sabemos que a Cindy é uma menina bonita? Além dos adjetivos “bonita” e “linda”, há outros indícios de sua beleza? Pode ser que os alunos apontem as palavras e expressões “cabelos loiros”, “magra”, “olhos azuis”, “rosto branco como a neve”. Caso surjam esses comentários, comece a discutir com eles de onde vem esse conceito de beleza, quem nos diz que isso é o belo. Ouça o que têm a dizer, pois é possível que surjam considerações bastante interessantes sobre o assunto.

Peça, então, que observem por uma semana as representações de beleza nas ruas, na internet, na TV, nos prédios comerciais, nos livros, revistas, jor-nais etc. Provavelmente surgirão muitos exemplos. Converse com eles sobre esses exemplos e, juntos, elaborem um arquivo para guardá-los.

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Em seguida, solicite que observem as pessoas nas ruas, nas lojas, nos res-taurantes, na escola, em todos os lugares por onde passam em seu dia a dia. Como elas são? De que cor é sua pele? Seus olhos, seus cabelos? Onde estão as pessoas brancas? Onde estão as pessoas negras? Peça que registrem todas as descobertas que fizerem.

Em sala de aula, oriente-os a estabelecer uma comparação entre os exem-plos arquivados e as anotações baseadas na observação do cotidiano. Que con-clusões os alunos podem tirar a respeito desse assunto? Instigue-os a procurar associar essas duas pesquisas e perceber que ainda hoje cultuamos uma ideia de beleza europeia, bastante distante da grande maioria das pessoas que nasce-ram aqui, em nosso país. Além disso, ajude-os a perceber o quanto a ideia de beleza está associada às classes mais abastadas, e a feiura é associada às classes mais desfavorecidas. Por último, mas não menos relevante, auxilie-os a perce-ber o racismo velado de nossa sociedade, o quanto os negros ocupam lugares subalternos na escala social e o quanto sua beleza é descaracterizada.

Duas obras que podem orientar o trabalho com esse tema são História da feiura e História da beleza, ambos de Umberto Eco. Nesses livros, o escritor e sociólogo discute as transformações que o conceito de belo sofreu ao longo do tempo, ao mesmo tempo em que apresenta o feio como algo descrito em todas as culturas e sempre associado ao estranho, ao outro. Você pode copiar pequenos tre-chos do livro e distribui-los aos alunos organizados em grupos, pedindo que dis-cutam o trecho em questão e façam seus apontamentos por escrito, coletivamente.

Após a leitura e discussão dos trechos lidos, peça que levantem ques-tões que gostariam de estudar, empiricamente, a respeito dos temas trabalhados. Sorteie pequenos grupos de dois ou três alunos e as questões a serem pesquisadas. Marque um dia para trazerem os resultados dessas pesquisas e auxilie-os a elabo-rar, em grupo, um texto coletivo sobre a questão levantada.

Para terminar o trabalho, peça que relembrem todo o per-curso feito para chegar às conclusões. Nesse trabalho, é necessária a sua mediação cuidadosa, a fim de que as pesquisas sejam bem--feitas e que os alunos não reproduzam lugares-comuns, muito menos preconceitos. Certamente, eles surgirão em aula, e cabe a você des-construí-los com os alunos.

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7. Por fora bela viola, por dentro pão bolorentoA que se costuma associar o belo na arte? E o feio? Essa proposta é um

trabalho interdisciplinar com os professores de História e de Arte. Você e eles podem fazer uma análise de obras de arte, tanto das artes plásticas, quanto da literatura. É possível, por exemplo, analisar as narrativas tradicionais, como os contos de fadas, procurando observar ao que o belo normalmente é associado nessas histórias.

Como sabemos, em geral, o belo é associado ao bom; a beleza é asso-ciada à bondade. Entretanto há histórias, mesmo as mais antigas, em que essa ideia se rompe e é questionada. A de Oochigeaskw, apontada na atividade 4, é um excelente exemplo de narrativa que questiona esse padrão, desassociando a beleza da bondade.

Um segundo passo seria procurar nos contos de fadas descrições do feio; surgirão muitas bruxas, monstros e outros seres horrendos. Em seguida, peça aos alunos que façam um breve texto analisando a que a feiura é associada nas histórias lidas. Pergunte, então, se a feiura é sempre associada à maldade. Hoje em dia hás vários exemplos de narrativas com monstros e bruxas “do bem”, os quais provavelmente os alunos apontarão.

Solicite a eles que registrem, no caderno, uma tabela de comparação dos personagens feios e bonitos da literatura. Também é possível elaborar uma tabela na qual se comparem as diferentes obras plásticas analisadas na aula. Em seguida, faça com eles uma breve análise das conclusões a que chegaram.

8. Botando a mão na massaNo livro, as personagens faziam pães para sobreviver. A única que se

negava a ajudar era Cindy, que no final da narrativa também começou a “pôr a mão na massa”. Fazer seu próprio alimento é um trabalho que o ser humano, em especial o que vive nos grandes centros urbanos, acabou deixando de lado. A maioria dos alimentos que consumimos é industrializado. Poucas famí-lias ainda mantêm o costume de cozinhar seus alimentos. Pães e bolos, por exemplo, são comprados prontos pela maioria das famílias. Há alguns anos,

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entretanto, certas pessoas começaram a rever seus costumes alimentares e sua maneira de viver. Hoje há pessoas interessadas em resgatar algumas caracterís-ticas da vida de seus antepassados, como fazer suas próprias roupas e produzir seu próprio alimento.

A atividade 5 do Suplemento de Atividades pode ser uma porta de entrada para falar sobre a alimentação. Além de o exercício discutir as mudan-ças dos hábitos alimentares nas últimas gerações e os consequentes problemas de saúde desencadeados por elas, é possível ensinar aos alunos o que é uma refeição equilibrada e as transformações físicas e químicas sofridas pelos ali-mentos durante seu preparo.

Após os alunos compartilharem as respostas à atividade em questão, auxilie-os a escolher alguns pratos que podem ser preparados na cozinha da escola. Se possível, peça ajuda de pais ou de outros professores que possam estar presentes nesse momento. Organize os alunos em grupos e deixe cada adulto responsável por uma equipe, propiciando que eles observem mais de perto e participem do preparo do alimento.

Veja a seguir a sugestão de uma receita de pão caseiro. Peça aos alunos que observem atentamente todas as etapas da receita e, depois, façam suas ano-tações a respeito dos processos estudados.

Receita de pão caseiroIngredientes:

✓ 250 ml de água morna;

✓ 450 g de farinha de trigo;

✓ 15 g de fermento biológico;

✓ 1 ovo batido;

✓ 2 colheres de gergelim;

✓ 1 colher de chá de açúcar;

✓ 2 colheres de chá de sal;

✓ 1 colher de azeite.

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Modo de preparo

1. Com as mãos, misture 3 colheres de sopa de água morna com o fer-mento e o açúcar. Deixe em um lugar quente por cerca de 10 minutos até começar a borbulhar.

2. Misture a farinha e o sal em uma tigela e junte a mistura do fermento.

3. Junte o azeite e a água aos poucos até formar uma massa macia.

4. Jogue um pouco de farinha na mesa e nas mãos. Sove a massa por cerca de 10 minutos ou até ela ficar lisa e elástica.

5. Coloque-a em uma tigela untada com azeite e cubra com filme de PVC. Deixe a tigela em um lugar morno (perto do forno, por exem-plo) por cerca de uma hora e meia, quando ela terá dobrado de tamanho.

6. Preaqueça o forno a 220° C. Sove a massa crescida na mesa por mais 5 minutos.

7. Faça dois retângulos com a massa. Coloque cada pedaço em uma fôrma ligeiramente untada com azeite, cubra e deixe em um lugar morno até dobrar de tamanho.

8. Com o uso de um pincel de cozinha, passe ovo batido na massa e jogue as sementes de gergelim. Asse durante 30 a 35 minutos.

9. Sirva o pão com manteiga, geleia, queijo, goiabada ou o que desejar. Faça um café ou um chá para acompanhar. Bom apetite!

Também é possível explorar as memórias afetivas despertadas por alguns alimentos pedindo aos alunos que façam seus relatos orais de alimentos que lhes trazem lembranças familiares, memórias boas ou ruins. Em seguida, aju-de-os a redigir relatos escritos. Aproveite para trabalhar as características desse gênero textual. Por último, no final do bimestre/semestre organize um livro com os relatos dos alunos e as receitas especiais de cada família. Solicite a eles que ilustrem o livro com fotografias e/ou desenhos dos pratos – e do momento em que costumam ser consumidos – feitos pelos alunos.

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9. Trabalhos manuais, trabalhos braçaisNo livro, tanto a Cindy quanto o príncipe Carlos tinham muito pre-

conceito em relação ao trabalho da família dela: produzir alimentos para serem vendidos na aldeia. As famílias de ambos passavam por sérios proble-mas financeiros e, enquanto a madrasta de Cindy e suas filhas reinventavam seu modo de viver, produzindo pães e bolos para serem vendidos, fabricando suas próprias roupas e fazendo a limpeza da casa, a menina e o príncipe sonha-vam com um casamento que os livrasse da pobreza. Ao descobrir que Cindy era pobre, o príncipe a abandonou imediatamente e desfez seu compromisso.

A associação de trabalhos manuais e braçais à pobreza, à vergonha, a algo indigno ainda sobrevive em nosso país. É um resquício das relações escra-vocratas, que duraram mais de 300 anos no Brasil. Nessa época, os escravos eram obrigados a fazer todo e qualquer trabalho pesado; eram eles que cultiva-vam a terra, eram eles que preparavam os alimentos, que limpavam as fazen-das, que cuidavam das crianças, muitas vezes até amamentavam os bebês dos donos. Aos homens brancos eram reservadas as atividades intelectuais e mui-tos deles nem estas realizavam, apenas conseguiam um diploma e passavam a vida inteira sem fazer nada.

Infelizmente, ainda hoje em nosso país prevalece essa ideia equivo-cada, que associa atividades manuais e braçais a algo vergonhoso, enquanto venera as atividades intelectuais. Isso não acontece apenas no Brasil, mas nesse momento nos interessa discutir em sala de aula as peculiaridades dessa situa-ção em nosso país.

Uma proposta de trabalho para avaliar essas diferenças é pedir aos alu-nos que pesquisem na internet, na sala de informática da escola sob sua super-visão, se possível, imagens de pessoas que fazem trabalhos manuais e braçais e imagens de pessoas que exercem trabalhos intelectuais. Peça a eles que esco-lham as melhores imagens encontradas. Em seguida, imprima-as, afaste as carteiras do centro da sala e espalhe as fotografias no chão. Solicite que obser-vem cuidadosamente as fotografias e sentem-se em círculo para trocar impres-sões a respeito do que observaram. Converse com eles sobre as classes sociais às quais pertencem as pessoas fotografadas, sobre a provável remuneração que cada uma delas recebe para executar seu trabalho e sobre a relevância social do

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trabalho que desempenham. Pergunte: Daria para viver sem esses profissio-nais? O trabalho que desempenham é significativo? Por que grande parte dos trabalhos mais relevantes e indispensáveis são tão desvalorizados? Incentive-os a discutir todas essas questões. Provavelmente surgirão diferenças entre a cor de pele dos trabalhadores retratados. Explore essa diferença perguntando por que ela existe. Ajude-os a se dar conta da estrutura social que mantemos desde a época da escravidão, com poucas mudanças significativas se formos falar da divisão de trabalho entre brancos e negros.

Para finalizar, trabalhe a produção de poemas sobre diferentes profis-sões. O livro Artes e ofícios, de Roseana Murray (FTD), pode orientar essas produções. Leia com os alunos os poemas do livro e converse com eles a res-peito dos textos. Em seguida, sugira a produção de poemas sobre as profissões discutidas. Por último, você pode criar um blog para compartilhar com toda a comunidade escolar as produções escritas pelos alunos.

RESPOSTAS DO SUPLEMENTO DE ATIVIDADES1 a) Resposta pessoal. Permita que os alunos expressem sua opinião e dis-

cutam os motivos de gostar mais de uma história do que de outra. Aproveite o momento para introduzir o estudo sobre esse gênero tex-tual e incitar neles a curiosidade de conhecer outros contos de fadas.

b) Cinderela, a Gata Borralheira.

c) Os elementos que possibilitam aproximar Uma outra princesa de Cinderela, a Gata Borralheira são: a menina perde a mãe e seu pai se casa com uma mulher que já tem duas filhas; ela conversa com os passarinhos (como na versão dos irmãos Grimm); há uma fada madrinha (como na versão de Perrault e da Disney); há um baile no reino para que o príncipe escolha sua noiva. Além disso, o próprio nome da personagem, Cindy, é uma abre-viação de Cinderela.

d) No conto Cinderela, a personagem é explorada pela madrasta e suas filhas más; em Uma outra princesa, Cindy é quem explora as três, pois não trabalha e não faz nada para ajudar em casa. No conto Cinderela, a personagem central tem um bom coração, é

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meiga e amorosa; já em Uma outra princesa, Cindy é pregui-çosa, mal-educada e vaidosa.

2 a) Sugestão: Branca de Neve e os sete anões. Nesse conto de fadas, há a madrasta má, personagem que fica o dia todo se admirando no espelho e fazendo a pergunta: “Espelho, espelho meu, há alguém mais bela do que eu?”.

b) Vaidade é o sentimento de grande valorização que alguém tem em relação a si próprio. Resposta pessoal. Incentive os alunos a discutir o assunto, procurando analisar os malefícios da vaidade na sociedade contemporânea.

3 Essa atividade pode ajudar no ensino de contagem silábica dos ver-sos. Você também pode orientar a produção de paródias baseadas em um tema estudado em sala de aula, como o consumismo (apon-tado na atividade anterior), ou outros temas estudados em História, Geografia, Ciências, Arte etc.

4 Há diversos trechos com essas características na obra. Verifique a resposta de cada aluno. É um bom momento para estudar os tipos de narrador, comparar o narrador em questão com o de outro livro ou história que tenha sido trabalhado em sala de aula.

Sugestões para resposta:

“Ela morrera alguns anos antes e, desde então, preocupado com a educação de Cindy, seu pai decidiu se casar com uma viúva chamada Antônia, que morava no castelo ao lado e tinha duas filhas: Pérola e Esmeralda. Nomes adoráveis, você não acha?”

“Foi num dia chuvoso que o senhor Alfredo – o pai de Cindy – teve um problema no coração e isso foi fatal. Pobre Cindy! Ela não podia imaginar que seu pai ia morrer tão cedo! [...] Assim, Cindy se tornou totalmente órfã, de pai e mãe. Que pena, coitada!”

“Você acha estranho que Cindy fale com pássaros? Espero que não! Afinal, esta é uma história de princesas, fadas, reinos distantes...”

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“Pérola e Esmeralda, as filhas de Antônia, não gostavam muito da irmã. Mas aposto que você imagina o motivo... Sim, isso mesmo!! Enquanto Cindy ficava em frente ao espelho admirando seus olhos azuis e penteando seu cabelo lindo e loiro, Pérola e Esmeralda ficavam até tarde alimentando o gado, tomando conta dos porcos, da granja e conduzindo o rebanho de ovelhas.”

“Uma pena que nessa época não existia ainda protetor solar, caso contrário dona Antônia teria arrumado um para a folgada da Cindy!”

“Cá entre nós, rima bem fraca...Vai saber que tipo de livros ela gosta de ler... Se é que gosta!”

“Cá entre nós e as páginas da história, dona Antônia tem razão. As filhas são bem mais interessantes!”

5 a) Resposta pessoal.

b) Resposta pessoal. Incentive os alunos a compartilhar suas experiências.

c) Resposta pessoal. Incentive os alunos a trocar receitas entre si e a escrever uma narrativa a respeito do prato preferido e de suas memórias afetivas em relação à alimentação na família. É possível criar um projeto envolvendo as famílias, em que cada uma delas deve preparar um prato especial.

6 a) Resposta pessoal. Abra um espaço na aula para que os alunos, se desejarem, compartilhem suas experiências.

b) Resposta pessoal. Abra um espaço na aula para que os alunos, se desejarem, compartilhem seus sonhos. É possível ainda ampliar essa atividade listando mudanças que desejam para a escola, para a cidade, para o país etc.

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I. Bela Adormecida

II. Rapunzel

III. Soldadinho de Chumbo

IV. Patinho Feio

V. Branca de Neve

VI. João (de João e Maria)

VII. Chapeuzinho Vermelho

VIII. Gigante (de João e o pé de feijão)