Um Grupo de Mulheres Unidas para Vencer

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BoletimInformativodoProgramaUmaTerraeDuasÁguas Ano8nº1655 Caraúbas Umgrupodemulheres «UnidasparaVencer» Há 20 km da cidade de Caraúbas, no Rio Grande do Norte, um grupo de mulheres do Projeto de Assentamento Primeiro de Maio, composto por oito agricultoras, compartilha uma área produtiva de um hectare. Assessoradas pela Diaconia, Dona Luzimar, Vera Lúcia, Rita Alexandre, Maria Aparecida, Vanuzia Vieira, Ivanuzia do Nascimento, Antônia Damiana e Antônia Luzia, utilizam métodos agroecológicos para produzir coentro, cebola, alface, goiaba, couve, hortelã, mamão e plantas medicinais. O que no começo era apenas para o consumo das famílias, tornou-se uma boa fonte de renda. Agora, além de vender na própria comunidade para os vizinhos e amigos, os produtos são comercializados na feira agroecológica da cidade. Em dia de feira, elas viram à noite, organizando o material. Cada sábado, duas mulheres ficam responsáveis por ir a Caraúbas vender o que foi produzido coletivamente durante a semana. O dinheiro que ganham tem dado para custear despesas com luz, água e transporte, e ainda gerar uma renda extra para as famílias. “Para levar os produtos para a feira, a gente aluga um carro por R$ 50,00. Além disso, a gente ainda paga uma taxa para montar e manter a barraca; no final das contas, faz diferença no lucro. Mas, pelo menos o rapaz se dispõe a transportar os produtos”, relata a agricultora de 51 anos, Vera Lúcia Pereira. Do apurado da feira, elas ainda separaram uma pequena quantia em dinheiro para colocar no cofrinho do grupo, que funciona como uma reserva para pagar despesas com consertos e manutenção. “Já tivemos muitas melhorias aqui. A maior dificuldade sempre foi a falta d’água. Até que conseguimos um poço que tem água suficiente para plantarmos nosso roçado”, conta a agricultora Antônia Damiana, que junto à outras mulheres vem buscando alternativas sustentáveis de manejo d’água para produção. Através do Projeto Semiá, desenvolvido pela Diaconia em parceria com a União Europeia e a agência de cooperação inglesa Tearfund, elas conseguiram implantar um sistema de irrigação por microaspersão, alternativa que possibilita uma maior economia de água, comparada a sistemas tradicionais. Agosto/2014

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Há 20 km da cidade de Caraúbas, no Rio Grande do Norte, um grupo de mulheres do Projeto de Assentamento Primeiro de Maio, composto por oito agricultoras, compartilha uma área produtiva de um hectare. Além de vender na própria comunidade para os vizinhos e amigos, os produtos são comercializados na feira agroecológica da cidade.

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Boletim�Informativo�do�Programa�Uma�Terra�e�Duas�Águas

Ano�8���nº�1655�

Caraúbas�

Um�grupo�de�mulheres�«Unidas�para�Vencer»

Há 20 km da cidade de Caraúbas, no Rio Grande do Norte,

um grupo de mulheres do Projeto de Assentamento

Primeiro de Maio, composto por oito agricultoras,

compartilha uma área produtiva de um hectare.

Assessoradas pela Diaconia, Dona Luzimar, Vera Lúcia, Rita

Alexandre, Maria Aparecida, Vanuzia Vieira, Ivanuzia do

Nascimento, Antônia Damiana e Antônia Luzia, utilizam

métodos agroecológicos para produzir coentro, cebola,

alface, goiaba, couve, hortelã, mamão e plantas medicinais.

O que no começo era apenas para o consumo das famílias,

tornou-se uma boa fonte de renda. Agora, além de vender

na própria comunidade para os vizinhos e amigos, os

produtos são comercializados na feira agroecológica da cidade.

Em dia de feira, elas viram à noite, organizando o material. Cada sábado, duas mulheres ficam

responsáveis por ir a Caraúbas vender o que foi produzido coletivamente durante a semana. O dinheiro

que ganham tem dado para custear despesas com luz, água e transporte, e ainda gerar uma renda extra

para as famílias. “Para levar os produtos para a feira, a gente aluga um carro por R$ 50,00. Além disso, a

gente ainda paga uma taxa para montar e manter a barraca; no final das contas, faz diferença no lucro.

Mas, pelo menos o rapaz se dispõe a transportar os produtos”, relata a agricultora de 51 anos, Vera Lúcia

Pereira. Do apurado da feira, elas ainda separaram uma pequena quantia em dinheiro para colocar no

cofrinho do grupo, que funciona como uma reserva para pagar despesas com consertos e manutenção.

“Já tivemos muitas melhorias aqui. A maior dificuldade

sempre foi a falta d’água. Até que conseguimos um poço

que tem água suficiente para plantarmos nosso roçado”,

conta a agricultora Antônia Damiana, que junto à outras

mulheres vem buscando alternativas sustentáveis de manejo

d’água para produção. Através do Projeto Semiá,

desenvolvido pela Diaconia em parceria com a União

Europeia e a agência de cooperação inglesa Tearfund,

elas conseguiram implantar um sistema de irrigação por

microaspersão, alternativa que possibilita uma maior

economia de água, comparada a sistemas tradicionais.

Agosto/2014�

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Rio Grande do Norte

Cada mulher organiza seu horário de trabalho de acordo

com a sua disponibilidade. “Algumas só podem estar na

área de manhã cedo. Outras, só depois de deixar as

crianças na escola”, diz dona Ivanuzia, atual coordenadora

do grupo. Mensalmente, elas se reúnem para tomar

decisões e resolver questões administrativas. “Na reunião, a

gente também decide quem vai ficar responsável pela

irrigação da área produtiva. Cada dia da semana é uma

mulher diferente” conta. Por enquanto, as reuniões

acontecem na sede da Associação Comunitária do Primeiro

de Maio, mas elas já necessitam de um espaço próprio para

se reunir e guardar as várias ferramentas de trabalho.

A formação do grupo de mulheres contribuiu bastante para a autoestima das agricultoras do

Assentamento. A maioria delas não possuía renda, dependia dos maridos ou tinha como única fonte de

rendimento os benefícios sociais do governo federal. Hoje, contribuem com as despesas de casa e se

tornaram referência na comunidade, pela atuação que têm nos espaços de incidência política. Além da

Associação Comunitária, também participam da Associação de Agricultores/as Agroecológicos do Oeste

Verde – AAOEV.

Filha de agricultores, Dona Luzimar conta que trabalha no campo desde muito nova e sempre dependeu

do marido. Só depois do grupo, passou a receber o próprio dinheiro. “Antes, eu achava que lugar de

mulher era dentro de casa. Hoje, sinto que consegui conquistar o meu espaço. A cozinha ficou pequena

para mim”, conta. Apesar da resistência que enfrentou na família e na comunidade quando nasceu a

iniciativa de formar o grupo de mulheres, atualmente, o marido da agricultora é um dos maiores

incentivadores de sua participação nas atividades do grupo, assim como nas viagens de

capacitação e intercâmbio promovidas pela Diaconia nas áreas de economia solidária e cooperativismo.

A agricultora se orgulha da quantidade de cidades que já

conheceu. “Eu perdi as contas de quantas vezes eu viajei.

Antes, não saia de casa para lugar nenhum. Nos últimos

anos, participei de vários intercâmbios e cursos de

capacitação. Fomos para a Marcha das Margaridas e para a

Marcha Mundial das Mulheres. Tive a oportunidade de

conhecer vários estados e aprender bastante nesses

encontros, mas também transmitir um pouco do

conhecimento que adquiri durante toda minha vida

dedicada à agricultura”, finaliza. “Unidas para vencer”, as

mulheres do Primeiro de Maio encontraram no trabalho

coletivo a principal arma para conviverem com o Semiárido

e resistirem ao machismo. O sorriso que se espalha pelos olhos das agricultoras ao ver que a terra seca

se transformou em frutos é o mesmo que as mantém vivas. Depois de dez anos organizadas, estão

conseguindo, aos poucos, se transformar em mulheres protagonistas de suas próprias vidas, que lutam

pela garantia dos seus direitos e que trazem, marcadas na pele, a coragem e a vontade de ser mulher.

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