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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
CURSO DE PSICOLOGIA
UM ESTUDO SOBRE AS EXPECTATIVAS E CRENÇAS PESSOAIS ACERCA DO ÁLCOOL ENTRE OS UNIVERSITÁRIOS
GRAZIELE SCARPIM PADILHA
ITAJAÍ (SC), 2008
GRAZIELE SCARPIM PADILHA
UM ESTUDO SOBRE AS EXPECTATIVAS E CRENÇAS PESSOAIS ACERCA DO
ÁLCOOL ENTRE OS UNIVERSITÁRIOS
Monografia apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí.
Orientadora: Profª MSc Maria Celina Ribeiro Lenzi
ITAJAÍ (SC), 2008
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SUMÁRIO
LISTA DE GRÁFICOS........................................................................................ 04
LISTA DE QUADROS......................................................................................... 05
RESUMO............................................................................................................. 06
1 INTRODUÇÃO................................................................................................. 07
2 EMBASAMENTO TEÓRICO........................................................................... 09
2.1 História álcool/ bebidas alcoólicas............................................... 09
2.2 Conceito....................................................................................... 11
2.3 Crenças sobre o uso do álcool..................................................... 15
2.4 O alcoolismo e os aspectos sociais............................................. 17
3 ASPECTOS METODOLÓGICOS.................................................................... 21
3.1 Tipo de pesquisa............................................................................ 21
3.2 Amostra.......................................................................................... 21
3.3 Instrumento para coleta de dados.................................................. 22
3.4 Procedimento para coleta de dados............................................... 23
3.5 Procedimento para a análise dos dados...................................... 23
3.6 Aspectos éticos.............................................................................. 23
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS.............................. 25
4.1 Caracterização da amostra........................................................... 25
4.2 Discussão do ponto de corte......................................................... 27
4.3 Discussão dos fatores................................................................... 33
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................ 46
6. REFERÊNCIAS.............................................................................................. 48
7 APÊNDICE...................................................................................................... 54
7.1. Apêndice A........................................................................................ 54
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 01 – Entrevistados por curso.......................................................... 25
Gráfico 02 – Distribuição de sexo ............................................................... 26
Gráfico 03 – Distribuição por idade.............................................................. 27
Gráfico 04 – Distribuição pelo ponto de corte............................................. 28
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LISTA DE QUADROS
Quadro 01 – Ponto de corte............................................................................... 32
Quadro 02 – Fator 01.......................................................................................... 35
Quadro 03 – Fator 02.......................................................................................... 38
Quadro 04 – Fator 03.......................................................................................... 40
Quadro 05 – Fator 04.......................................................................................... 42
Quadro 06 – Fator 05.......................................................................................... 44
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UM ESTUDO SOBRE AS EXPECTATIVAS E CRENÇAS PESSOAIS ACERCA DO ÁLCOOL ENTRE OS UNIVERSITÁRIOS Orientadora: Maria Celina Ribeiro Lenzi Defesa: Novembro de 2008 Resumo:
O alcoolismo é uma doença que se desenvolve na pessoa que bebe com freqüência
por tempo prolongado e em doses consideradas excessivas. É uma doença crônica,
progressiva, que se não for tratada pode ser fatal. Estima-se que cada vez mais o
consumo desta bebida tem aumentado entre os jovens, tornando-se um problema de
saúde pública. Para tanto, este estudo buscou verificar junto aos universitários qual a
expectativa e crença pessoal acerca do álcool. É uma pesquisa de cunho quantitativo
que se utilizou a amostragem probabilística, com evidência para a amostragem
estratificada para a seleção da amostra. Desta forma, contou com 99 participantes de
uma população de aproximadamente 2100 universitários do Centro de Ciências da
Saúde. Foi utilizado como instrumento o Inventário de Expectativas e Crenças Pessoais
acerca do Álcool (IECPA), desenvolvido por Gouveia et al (1996). A analise dos dados
foi feita a partir do ponto de corte (121,82) sob os escores totais do inventário e por
meio das características principais dos cinco fatores propostos. Os resultados
apontaram de forma significativa para uma prevalência de 36% de indivíduos da
amostra propensos ao alcoolismo.
Palavras-chave: Crenças. Alcoolismo. Expectativa.Universitários Área do conhecimento: 7.07 - Psicologia Sub-área de concentração: 7.07.05.01 – 1 - Relações Interpessoais
Membros da Banca PROFª MSC Maria Isabel do Nascimento André Professora convidada
PROFª MSC Saionara Regina Barili Professora convidada
PROFª MSC Maria Celina Ribeiro Lenzi Professor Orientador
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1 INTRODUÇÃO
O período de transição para a universidade tem sido apontado como uma fase de
vulnerabilidade entre uma grande porcentagem de jovens que ingressam no ensino
superior. Esta vulnerabilidade vem acompanhada de insegurança, ansiedade e falta de
maturidade que poderá levar ao aumento do uso de álcool e outras drogas. O uso de
álcool de forma abusiva leva as inúmeras conseqüências negativas tanto para saúde
física e mental destes jovens quanto para a sociedade como um todo. Entre os
prejuízos relacionados ao consumo abusivo de álcool estão: morte violenta, exposição
a comportamentos de risco, queda no desempenho acadêmico, prejuízo no
desenvolvimento e na estruturação de habilidades cognitivo-comportamentais e
emocionais, danos ao patrimônio público e violência.
Desta forma, para uma melhor compreensão da problemática do alcoolismo,
buscamos o conceito estabelecido pela OMS (Organização Mundial de Saúde), que nos
diz:
Alcoolismo é uma doença de natureza complexa, na qual o álcool atua como fator determinante sobre causas psicossomáticas preexistentes no indivíduo e para cujo tratamento é preciso recorrer a processos profiláticos e terapêuticos de grande amplitude (1993).
O uso excessivo e prolongado de bebidas alcoólicas pode gerar doenças físicas
ou mentais, assim fazendo com que o alcoolismo seja caracterizado como um problema
médico. A OMS ainda afirma que, o alcoolismo é a terceira maior doença que atinge a
população brasileira, perdendo somente para problemas no coração e tumores. Além
de ser o causador da morte de 5,6% dos homens e 0,6% de mulheres no planeta. Outro
dado fornecido pela OMS é que uso abusivo do álcool é o gerador de mais de 10% dos
problemas da saúde pública no Brasil.
O alcoolismo atinge a todas as classes sociais, abrangendo todas as idades e
sexos, diferindo apenas em maior ou menor grau de ocorrência.
O desencadeamento do alcoolismo pode ocorrer através de influências do meio
externo; transtornos mentais; características genéticas que podem facilitar o vício e
personalidade neurótica, pois esta pode condicionar ao vício.
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Uma das maiores preocupações da saúde pública está voltada para esta
problemática, pois, vem sendo relacionada com diversas ocorrências que repercutem
no contexto social como: separação de casais, espancamentos de crianças e mulheres,
desentendimentos afetivos, acidentes de trânsito e deserção do trabalho e da escola.
É evidente que nos últimos anos o uso de álcool vem ocorrendo precocemente no
contexto social, pois, é visto como uma idéia de lucro crescente e inacabável, de alívio
imediato de situações perturbadoras e também como uma forma de buscar o prazer
rapidamente. Através da mídia (televisão, revistas, jornais, rádios etc) pode ocorrer uma
apologia ao consumo de álcool, podendo ser o causador da curiosidade e
conseqüentemente de uma pessoa tornar-se alcoolista. Tem-se então uma sociedade
que involuntariamente incentiva e influencia o uso do álcool para achar saídas mais
simples para seus conflitos, porém, ao mesmo tempo, repudia, critica, julga, combate e
sofre com as conseqüências deste uso (LARANJEIRA; PINSKY, 2001).
Esse conflito poderia ser solucionado se houvesse maior preocupação com a
restrição de drogas ilícitas e criação de outras políticas públicas, no intuito de
prevenção e tratamento dos consumidores e dependentes (MORAES; FIGLIE, 2002).
Diante desta reflexão surge a questão: “qual a representação da bebida alcoólica
entre a população de jovens que freqüentam a universidade?”.
Para responder esta pergunta propõe-se por meio deste estudo, verificar entre os
universitários as expectativas e crenças pessoais acerca do álcool. A amostra a ser
investigada conta com 99 participantes de um total de 2100 universitários do centro de
Saúde. O instrumento utilizado foi o IECPA proposto por Golveia et al (1996).
Ao desenvolver este estudo, tem-se a firmeza sobre importância de compreender
as variáveis que podem estar associadas a este preocupante fenômeno, ressaltando a
relevância da avaliação das expectativas pessoais sobre os efeitos do álcool, não só
para a compreensão do consumo de álcool e a dependência dessa substância, como
também para consubstanciar as estratégias de prevenção e intervenção.
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2 EMBASAMENTO TEÓRICO 2.1 História álcool/ bebidas alcoólicas
Desde seus primórdios da história, o álcool acompanha a humanidade em
diversas culturas, onde se fazia constante em rituais religiosos, ritos sagrados,
confraternizações familiares e sociais. Tendo como outro fator significativo suas
variadas funções como: veículo de remédios, perfumes e porções mágicas e
componente essencial de bebidas (BESSA, GIGLIOTTI, 2004).
De acordo com os mesmos autores, apesar de seu grande significado na
antiguidade, o álcool sofreu grandes mudanças em sua representatividade para
sociedade. Isto ocorreu principalmente após a revolução industrial, a qual gerou
grandes concentrações urbanas, ampliou a produção e reduziu os preços das bebidas.
A maior parte das drogas assim como o álcool surge para se ter benefícios na
humanidade, ou seja, para o alívio de dores e cura de várias doenças. Vale salientar
que seu uso inadequado pode levar a destruição ou a própria morte do usuário
(BERTONI, s/d).
Edwards (1999) relata que apesar da representatividade do álcool não se pode
esquecer que o mesmo, é uma droga que traz grandes efeitos farmacológicos e tóxicos
sobre o corpo humano, ou seja, altera o estado da mente, órgãos e sistemas.
O uso abusivo de bebidas alcoólicas tem sido tema de discussões nos mais
diversos âmbitos da sociedade e a sua utilização como algo nocivo à saúde foi
registrada na literatura somente após a Revolução Industrial. Porém, o uso do álcool é
detectado desde os tempos bíblicos, onde já havia a utilização ocasional da bebida
(BORDIN;FIGLIE; LARANJEIRA,2002).
Segundo o CEBRID (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas
Psicotrópicas, 2003), primeiramente o teor alcoólico das bebidas era relativamente
baixo, por depender do processo de fermentação. Com a chegada do processo de
destilação, surgiram novos tipos de bebidas alcoólicas, o que propiciou uma grande
ampliação na oferta, colaborando para um maior consumo e conseqüentemente,
10
provocando um aumento na quantidade de pessoas que começaram a apresentar
algum tipo de problema por causa do uso exagerado do álcool.
No Brasil, o uso exacerbado do álcool é de maior relevância, pois, segundo
LAPATE, (2001 apud BERTONI, s/d) o Brasil é o maior produtor de bebidas destiladas
do mundo, além de ser o quarto maior produtor de cerveja no mercado mundial. Da sua
produção total 90% são voltados para o mercado interno.
O maior colaborador para este grande consumo de bebidas alcoólicas no Brasil,
é a mídia, pois, utiliza as qualidades do país como a praia, atividades de lazer e
pessoas “bonitas” para a confecção de suas propagandas. Colaborando com um índice
elevado no consumo da bebida entre os jovens e adultos (BERTONI, s/d).
O incentivo ao consumo do álcool realizado pela mídia é uma ação que concomitantemente desperta curiosidade sobre o álcool e estimula os indivíduos a experimentarem ou aumentarem a utilização de bebidas alcoólicas. O termo “clima social” é usado para referir-se a este impacto que as propagandas produzem na sociedade (LARANJEIRA; PINSKY, 2001).
Apesar das primeiras intervenções ocorrerem no início do século XX, para a
preservação da segurança e da saúde pública do país e o consumo de bebidas
alcoólicas já ser freqüente, o uso ainda era tolerado pela sociedade e dessa forma não
se caracterizava como uma preocupação dos governantes. Apesar disso, o caráter
privado se encarregava das medidas assistenciais moralistas e higienistas para
alcoolistas, entre estas instituições estão: (Liga Antialcoólica de São Paulo, Liga
Paulista de Profilaxia Moral e Sanitária, Liga Brasileira de Higiene Mental e União
Brasileira Pró-Temperança) (MUSUMESCI, 1994 apud MACHADO; MIRANDA, 2007).
Segundo os mesmos autores, nas intervenções ao uso de álcool no Brasil,
houve um atraso político por parte dos governantes no campo da justiça e segurança
pública, do qual acarretaram dificuldades para o enfrentamento aos problemas do uso
de álcool e outras drogas. Apenas em 2003 gerou-se uma política de Atenção Integral
aos Usuários de Álcool pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Criaram-se então projetos referentes a ações do SUS para a prevenção,
promoção e proteção à saúde, bem como a construção de centros especializados para
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alcoolistas e drogaditos (CAPSad), entre outras unidades não-especializadas e
estabelecimentos de ações intersetoriais (MACHADO; MIRANDA, 2007).
De acordo com a OMS (apud FONTES; FIGLIE; LARANJEIRA, 2006), a
dependência do álcool abrange 10% a 12% da população mundial. Já em relação ao
Brasil, sabe-se que álcool é responsável por mais de 90% das internações em hospitais
por dependência (CARLINI et al 2002 apud FONTES; FIGLIE; LARANJEIRA, 2006).
Através de pesquisa feita pelo CEBRID em 2000, uma parcela superior a 11% da
população do Brasil é alcoolista sendo que há maior incidência em indivíduos do sexo
masculino. Notou-se também que 5,2% dos adolescentes são dependentes do álcool
(GALDUROZ; CAETANO ,2004).
Conforme Caldas (1998) existe um grande número de alcoolistas no país,
sendo que estes estão envolvidos em 70% dos acidentes de trânsito com vítimas fatais,
60% das ocorrências policiais, em 40% dos acidentes de trabalho. Este autor ainda
afirma que o alcoolismo é a terceira doença que mais mata, sendo que somente 5%
dos dependentes chegam a completar quarenta anos e apenas 1% chega aos quarenta
e cinco anos.
Para Galduroz e Caetano (2004), estes dados são de fundamental importância
para a etiologia e correção de vários problemas sociais, econômicos e de saúde.
A melhor maneira de reduzir estes números é usando medidas de prevenção e
esclarecimentos de dúvidas sobre o assunto, para que se tenha um real entendimento
do problema e suas implicações e, conseqüentemente, a diminuição de usuários e
dependentes de bebidas alcoólicas, explica Claret (2001).
2.2 Conceito
O álcool é uma substância psicoativa que tem por característica alteração de
humor, consciência senso percepção, cognição e função cerebral. O álcool segundo
sua classificação farmacológica é um depressor do sistema nervoso central, pois, reduz
a eficiência da condução neural, inibindo sua transmissão (BICCA, PEREIRA,
GAMBARINI, 2002).
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Quando se discute sobre os problemas relacionados ao álcool, é importante assinalar as diferenças entre uso, abuso, tolerância, dependência. Uso está relacionado a qualquer ingestão de álcool. O termo uso de baixo risco significa uso de álcool, de acordo com as orientações médicas e legais, não resultando em problemas relacionados ao álcool. O abuso de álcool é um termo geral usado para qualquer nível de risco. A tolerância e a dependência do álcool são dois eventos distintos e indissociáveis. A tolerância é a necessidade de doses maiores de álcool para a manutenção do efeito de embriaguez, obtido nas primeiras doses. A dependência será tanto mais intensa quanto mais intenso for o grau de tolerância ao álcool (SCALI & RONZANI, 2007, p. 02).
O indivíduo dependente do álcool possui duas formas de dependência
sendo elas: a física e a psicológica. A dependência psicológica consiste na necessidade
do usuário em usufruir do álcool para garantir seu prazer máximo de funcionamento
e/ou sentimento. Já a física é quando o organismo modifica-se para aquele indivíduo
que utiliza de forma crônica o álcool explicam Bicca, Pereira & Gambarini (2002).
Segundo Vaillant (1999), o uso do álcool é o hábito que mais gera problemas
médicos e o “desvio” social que produz mais patologias somáticas. Para ele, o
alcoolismo passa a tornar-se uma doença quando o indivíduo perde a capacidade de
controlar conscientemente o quanto e com qual freqüência bebe.
É de suma importância que o alcoolismo seja definido a partir de parâmetros
científicos. O conceito aqui utilizado está de acordo com o CID-10 (1993) que o define
como um transtorno mental e comportamental proveniente do uso abusivo de
substâncias psicoativas que geram uma intoxicação aguda, com perturbações da
consciência, das faculdades cognitivas, de percepção, do afeto, do comportamento ou
de outras funções e respostas psicofisiológicas.
Para Claret (2001), alcoolismo é uma intoxicação causada pelo uso excessivo
do álcool, que se apresenta como um processo progressivo e lento, desencadeado
pelas condições físicas e também pela proporção de álcool ingerido pelo sujeito.
Conforme Ramos et al (1997), através do alcoolismo, é comum o aparecimento
de delírio, em sua maioria de tema persecutório, levando o indivíduo a ficar agitado e
agressivo, tornando seu comportamento imprevisível, já que reage de acordo com suas
vivências alucinatórias e quadros delirantes. O indivíduo pode também apresentar um
comportamento suicida em resposta às alucinações, pois para ele representam
ameaças.
A utilização exagerada de álcool pode atingir praticamente todos os órgãos e
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sistemas do organismo. O aparelho gastrointestinal é particularmente atingido, podendo
ocorrer gastrite, úlcera, inflamação no esôfago, pancreatite e cirrose. Outros aparelhos
que podem sofrer danos são o circulatório, sistema nervoso e geniturinário. Podem
ocorrer também doenças por falta de vitaminas, ensina Edwards (1999).
“Sabe-se que o alcoolismo sofre influência do indivíduo e do ambiente, ou seja,
é determinado por múltiplos fatores, sendo um encontro de fatores biológicos,
psicológicos e sociais que atuam simultaneamente causando a dependência”
(EDWARDS,1999).
Segundo Claret (2001), problemas psicológicos podem entusiasmar e induzir
ao uso do álcool, porém não há evidências de que exista uma personalidade
característica de alcoolistas. A situação pode ocorrer também de forma reversa, sendo
assim, algumas vezes o hábito de beber intensifica os problemas psicológicos.
Entende-se então, o alcoolismo como uma junção entre distúrbios físicos e
transtornos mentais, causado pelo excesso de ingestão de bebidas alcoólicas, o qual
acarreta prejuízos sociais e individuais para o usuário, tanto quanto aos familiares. No
entanto é considerado um problema de saúde pública mundial, desencadeado por
fatores ambientais e individuais (CUNHA et al, 2007).
Para os efeitos da Política, Franco (2007) coloca que é considerada bebida
alcoólica aquela que contiver 0,5 grau Gay-Lussac ou mais de concentração, incluindo
assim bebidas destiladas, fermentadas e outras preparações, como a mistura de
refrigerantes e destilados que contenham teor alcoólico igual ou acima de 0,5 grau Gay-
Lussac. Há um conceito ultrapassado que considera bebidas alcoólicas apenas aquelas
com teor acima de 13º, deixando de fora, por exemplo, cervejas, “ices”, “coolers”, vinho
e champanhe.
No que diz respeito à política nacional em relação ao consumo de bebidas
alcoólicas, Franco (2007, p. 12) coloca:
“A política foi sancionada por decreto presidencial em maio desse ano e traz
um conjunto de medidas interministeriais para reduzir e prevenir os danos à saúde e à
vida, bem como às situações de violência associadas ao uso prejudicial de bebidas
alcoólicas na população brasileira. As ações incluem:
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• fortalecer a fiscalização das medidas previstas em lei que visam coibir a
associação entre o consumo de álcool e o ato de dirigir;
• fiscalizar a venda para menores de 18 anos e incentivar outras iniciativas visando
reduzir o consumo nas faixas mais jovens;
• ampliar e fortalecer as redes locais de atenção integral às pessoas que
apresentam problemas decorrentes do consumo de bebidas alcoólicas, como os
Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPsAD) no âmbito do
Sistema Único de Saúde (SUS);
• estimular e fomentar ações que restrinjam os pontos de venda e consumo de
bebidas alcoólicas, observando os contextos de maior vulnerabilidade às
situações de violência e danos sociais;
• privilegiar as iniciativas de prevenção ao uso de bebidas alcoólicas nos
ambientes de trabalho;
• incentivar a regulamentação, o monitoramento e a fiscalização da propaganda e
publicidade de bebidas alcoólicas, de modo a proteger segmentos populacionais
vulneráveis ao consumo de álcool, como os jovens;
• fomentar o desenvolvimento de tecnologia e pesquisa científicas relacionadas
aos danos sociais e à saúde decorrentes do consumo de álcool e a interação das
instituições de ensino e pesquisa com serviços sociais, de saúde, e de
segurança pública”.
O consumo de bebidas alcoólicas é bastante antigo e de alta prevalência na
população mundial, explica Franco (2007). Em geral, quando ingeridas em baixa
quantidade e freqüência, não geram problemas físicos e/ou psíquicos, sendo desta
maneira consumidas pela maioria das pessoas.
[…] o consumo abusivo de bebidas alcoólicas é bastante prejudicial, sendo a dependência de álcool uma das principais causas de problemas físicos e psíquicos atualmente. Vários fatores modulam as respostas fisiológicas e comportamentais ao álcool, entre eles: características genéticas, estado geral de saúde, ambiente de uso (setting), dose e tempo de ingestão. (FRANCO, 2007, p. 19).
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Informa o autor que ao longo dos anos, diversas substâncias foram utilizadas
com o intuito de amenizar os efeitos da intoxicação alcoólica, porém sem grande
sucesso. Recentemente, observou-se a rápida popularização da ingestão de bebidas
alcoólicas, principalmente destiladas, em combinação com bebidas energéticas à base
de carboidratos, taurina e cafeína. A comercialização destas bebidas é regulamentada
pela Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde.
Relatos populares sobre o aumento dos efeitos excitatórios do álcool e/ou de diminuição da intensidade dos seus efeitos depressores têm contribuído para a propagação do uso desta mistura. Porém, ainda não existem evidências científicas se as bebidas energéticas possuem de fato algum efeito antagonista dos efeitos depressores do álcool. Embora diversos relatos a respeito do uso combinado de bebidas energéticas e álcool tenham sido veiculados, a maior parte das informações não são cientificamente embasadas, sendo necessário estudos sobre o tema (ALVES SÁ, 2007, p. 112).
Neste aspecto, especula-se que algumas substâncias presentes na
composição das bebidas energéticas interfiram no metabolismo e/ou nas ações
farmacológicas do álcool. Estudos com animais de laboratório têm demonstrado
interações farmacológicas entre o álcool e a taurina, um dos componentes das bebidas
energéticas. Trabalhos prévios demonstraram que a administração de bebida energética
reverteu alguns dos efeitos depressores na atividade locomotora de camundongos
induzidos por 2,5 g/kg de álcool. Entretanto, em seres humanos, há poucos estudos
sobre os efeitos da ingestão de bebidas energéticas, especialmente em combinação
com bebidas alcoólicas.
2.3 Crenças sobre o uso do álcool
Para Spinosa (2005) o uso do álcool tem várias conotações quando visto pelo
prisma de análise de indivíduos considerados jovens (idade entre 18 e 35 anos). O
autor coloca que esta faixa de idade admite que o pensamento sobre o uso do álcool
tem determinados conceitos a serem discutidos.
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O uso de bebidas alcoólicas pela camada jovem da população brasileira tem sido pauta de muitas reuniões do Conselho de Medicina e também de órgãos governamentais que estão preocupados com o aumento de consumo destes produtos na faixa etária considerada de risco. Após pesquisas realizadas pelo grupo de AA, foi constatado que muitos jovens têm se tornado dependentes químicos do álcool e as causas são da ordem familiar, amorosa e de falta de orientação sobre a conduta social, esta última fomentada pela constante troca de emprego ou mesmo a falta dele (SPINOSA, 2005, p. 91).
A conotação desta colocação de Spinosa (2005) com os resultados da
pesquisa realizada, comprova que os indivíduos pertencentes a uma classe bem mais
favorecida realmente fazem uso do álcool sempre com base em alguma forma de crer
em algo que se apresenta diferenciado do comportamento social.
Neste sentido, Graça (2006, p. 12) comenta:
Os indivíduos socialmente diferenciados, seja por causas diretas ou indiretas, sempre procurarão uma forma de se igualarem aos outros, ou mesmo de chamar a atenção, e infelizmente, uma boa parte deles escolhe as drogas como um caminho que consideram, erroneamente, mais fácil.
Ainda de acordo com a autora, o padrão de comportamento social nunca será
alcançado por todos, mas o que preocupa alguns profissionais das relações públicas e
sociais, é que este padrão quase não está sendo o objetivo dos seres humanos
atualmente.
“Vê-se uma forma de evasão de pessoas da linha comportamental considerada
comum, isto aumenta o descontrole na sociedade e surgem os suicidas, homicidas e
sujeitos indesejáveis para os grupos normais” (VERAS, 2006, p. 17).
A forma de pensamento sobre o consumo do álcool tem suas particularidades
da definição no aspecto social, quando os indivíduos procuram motivos para consumir
em qualquer escala de quantidades (GRAÇA, 2006)
[…] todos sabem que o álcool é usado para reduzir a tensão; assim, o alcoolismo deve ser um sintoma de uma ansiedade subjacente. Evidentemente, o alcoolismo é um hábito tanto autodestrutivo quanto auto-indulgente; dessa forma, deve ser uma conseqüência tanto de uma infância muito traumática quanto de uma muito permissiva. Com certeza, o álcool é fisiologicamente viciante […] alcoolistas, mesmo quando não-dependentes comumente exibem um anseio desesperado pela bebida […] (VAILLANT, 1999, p. 47).
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A ingestão do álcool absorve do indivíduo a sua capacidade de reação diante de situações que são consideradas simples para resolução. A maneira como se pode enfrentar determinados problemas poderia ser facilitada se o indivíduo não estivesse alcoolizado, o que apenas lhe adia a solução ou ainda pode complicá-la definitivamente (MARION, 2006, p. 11).
Observa-se nas palavras do autor que sob o fator psicológico, o próprio
indivíduo provoca uma situação enganosa, onde a sua busca se realiza por um
determinado momento que é sentida no prazer em que a bebida ingerida fornece em
um torpor momentâneo.
2.4 O alcoolismo e os aspectos sociais
Explica Cunha et al (2007) que as habilidades sociais são um conjunto de
resoluções interpessoais das quais se caracteriza pelo desempenho em atividades de
cooperação, comunicação, resolução de problemas adequados a cada situação e
comportamentos expressos em sentimentos, desejos ou atitudes.
Para Caballo (2003) as dificuldades interpessoais facilitam o consumo de
bebidas alcoólicas, que são utilizadas para amenizar a ansiedade social e expectativas
de tensão geradas pela deficiência nas habilidades sociais do indivíduo. Desta maneira,
a bebida torna-se ferramenta para o enfrentamento das situações conflituosas do
usuário.
As influências ambientais são fatores preponderantes ao alcoolismo, destaca-
se a indução do meio familiar, (o pai que oferece bebidas ao filho para que ele possua
hábitos mais masculinos), pressões de amigos e influência de colegas de trabalho.
Referentes aos problemas com o abuso do álcool os problemas mais comuns são: entre
as relações familiares (conjugais e pais/filhos), consecutivas perdas em empregos e o
afastamento de amigos e colegas, afirmam Nascimento & Justo (2000).
O valor dado às bebidas alcoólicas são especialmente pela alteração dos estados
de consciência e expressão dos sentimentos, como ato de consumo associado pela
situação coletiva, dito isso, toda sociedade estabelece momentos propícios a cada
contexto social. O comportamento de beber organiza desta maneira a experiência
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temporal de cada indivíduo, que devem ser estudado através da estruturação social,
orientações culturais e condições ecológicas do ambiente, comenta Neves (2004).
Gomes (2006) da Universidade Federal do Maranhão desenvolveu uma pesquisa
sob o título “O uso do álcool entre universitários”, a pesquisadora investigou a
incidência do consumo de bebidas alcoólicas entre estudantes dos cursos da área de
saúde. Entre as variantes do resultado, constatou-se que o índice de mulheres que
declararam consumir bebidas alcoólicas é grande, na faixa de 85,5%. Entre os homens,
o índice foi de 94,2%. Do total de pessoas pesquisadas, o fator religião também foi
importante, pois revela certa resistência ao álcool. A maioria dos católicos pesquisados
bebe, mas tivemos uma surpresa quando constatamos que 26% dos que se declararam
evangélicos também bebem, assim como 28% dos espiritualistas.
Entre as conclusões da autora, ficou constatado o elevado consumo de bebidas
alcoólicas entre os estudantes, na faixa de 98,2% da amostra pesquisada, de um total
de 285 acadêmicos, além da constatação de que a faixa etária daqueles que se iniciam
no consumo de álcool é cada vez menor, entre os 5 a 16 anos de idade. Pesquisas
anteriores revelaram uma classificação etária maior, entre 16 a 20 anos.
Vaillant (1999) diz que tanto a cultura, quanto os genes, parece colaborar para o
desencadeamento do uso excessivo de álcool. Afinal, tanto indivíduos com parentesco
de alcoolistas como aqueles que estão expostos a ambientes de risco, podem
desenvolver o alcoolismo devido a pouca tolerância ao álcool e/ou a baixa resistência
aos seus efeitos.
Toda ingestão de bebidas alcoólicas, abusivas ou não, constituem em ato social, sendo que a transgressão das regras ao uso é qualificada como abuso. O abuso do usuário é restrito em regras, tanto em quem condena quanto para quem abusa, demonstra-se este pormenor pelos próprios comportamentos do alcoolista, no qual ele “foge” para o bar ou mantém falas consigo mesmo, dito isto, o ato de beber deve ser estudado não apenas por um individualismo ou doença, mas também pelo contexto cultural do qual o ato de beber ocorre (NEVES, 2004).
Segundo Nascimento & Justo (2000), há também outros fatores relacionados
ao abuso do álcool na vida do usuário como a instabilidade de humor, irritabilidade,
agressividade, ansiedade, insegurança, imaturidade, prejuízos na compreensão e visão
de mundo. Os alcoolistas mostram-se sujeitos tímidos e fantasiosos, dos quais
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demonstram dificuldades em tomar iniciativas e assumir responsabilidades cotidianas
Devido ao sentimento de inadequação do alcoolista, a fuga para o álcool serve como
ferramenta para enfrentar o dia-dia em face de uma auto-imagem negativa do sujeito
perante a sociedade.
“O alcoolismo ocasiona vários problemas sociais, estes se manifestam no
trabalho, relações conjugais, situações financeiras, com pacientes, filhos, com amigos e
problemas criminais” (BERTOLOTE, 1997 apud ALIANE et al, 2006).
O consumo excessivo do álcool tornou-se padrão entre a maioria dos jovens, o que gera conseqüências à saúde física e mental do usuário, quanto para a sociedade de forma geral. Os riscos gerados pelo comportamento imprudente induzidos pelo álcool, são: dirigir alcoolizado, drogadição, sexo sem proteção, danos a patrimônios públicos e violência. Tais comportamentos de riscos são gerados e influenciados mutuamente, pois é modelado e reforçado em grupos, o padrão de beber das outras pessoas do seu convívio diário torna-se reforçador do próprio comportamento, gerado pela sua percepção e interpretação do que os outros fazem (PEUKER; FOGACA; BIZARRO, 2006).
Menninger apud (RAMOS et al, 1997) referia-se aos alcoolistas como
personalidades depressivas que buscam um alívio temporário na bebida, pois o álcool
diminui a autocrítica e, conseqüentemente, facilita a expressão de sentimentos de
tristeza e a liberação de impulsos autodestrutivos.
O álcool, sendo uma droga lícita, facilita o seu consumo, e assim faz com que
sua circulação em nossa sociedade ocorra de forma livre e sem censura. É importante
salientar que a culpa não é só dos consumidores, pois estes são influenciados pela
própria sociedade em que vivem que incentiva e apóia a venda e a utilização deste,
visto que associam bebidas alcoólicas às reuniões de família, datas comemorativas,
reuniões sociais e muitos outros eventos, explicam Moraes & Figlie (2002).
O clima social formado a respeito do álcool é desenvolvido pelas idéias populacionais sobre o ato de beber, problemas resultantes deste ato e atitudes que se deve possuir em relação à situação. Esse fator é de suma relevância, pois é a partir desse clima que algumas regulamentações perante a sociedade podem ser feitas com eficácia, ou não, e ainda, tendo algumas vezes como conseqüência a prevenção do alcoolismo (LARANJEIRA & PINSKY, 2001).
Segundo Menninger apud (RAMOS et al 1997), mitos e preconceitos existentes
durante vários séculos a respeito do uso do álcool impediram que o alcoolismo fosse
20
visto como doença, pois a sociedade considerava o alcoolista como um indivíduo “sem-
vergonha” ou “sem caráter”, ou até mesmo como “fraco”; ou seja, “personalidade fraca”.
Estes e muitos chavões foram e, infelizmente, às vezes, ainda são usados pela
sociedade.
21
3 ASPECTOS METODOLÓGICOS
3.1 Tipo de pesquisa
Esta pesquisa se desenvolveu baseada numa perspectiva quantitativa. A
pesquisa quantitativa permite mensurar opiniões, reações, hábitos e atitudes, através
de uma amostra que represente a população de forma estatisticamente comprovada.
As pesquisas quantitativas são mais adequadas para apurar opiniões e
atitudes explícitas e conscientes dos entrevistados, pois utilizam instrumentos
padronizados (questionários). São utilizadas quando se sabe exatamente o que deve
ser perguntado para atingir o seu objetivo. Permitem assim, que se realizem projeções
para a população representada. Desta forma Lakatos & Marconi (1991) confirmam que:
a pesquisa quantitativa tem como finalidade quantificar a coleta sistemática de dados
sobre fatos e/ou fenômenos das populações e programas através de instrumentos
como questionários, inventários e formulários.
3.2 Amostra
A amostra desta pesquisa foi composta a partir da população de universitários,
regularmente matriculados nos cursos de Educação Física, Odontologia, Medicina,
Farmácia, Psicologia, Fonoaudiologia, Enfermagem e Fisioterapia da Universidade do
Vale do Itajaí (UNIVALI), campos de Itajaí-SC. Esta população contou durante o
período da pesquisa com aproximadamente 2100 acadêmicos.
Para selecionar a amostra, dentro dos padrões de desenvolvimento de
pesquisas, utilizou-se a amostragem probabilística, com evidência para a amostragem
estratificada que se caracteriza pela seleção de uma amostra de cada subgrupo da
população considerada, por exemplo: sexo, idade, classe social, etc., nesta pesquisa os
sub-grupos estão representados pelos cursos selecionados. Este tipo de amostragem
tem como principal vantagem o fato de assegurar a representatividade do universo a
ser pesquisado.
22
Este procedimento deu-se através da distribuição de freqüência simples com
amostragem estratificada gerando um total de 99 entrevistados. A amostra foi
distribuída de forma proporcional e aleatória em relação a cada curso. Além disso, esta
distribuição foi feita com base em uma lista de 40 alunos de cada curso onde cada
acadêmico recebeu uma numeração. Desta forma, finalizou-se a distribuição aleatória
por meio de sorteios que passou a identificar os entrevistados desta pesquisa. Vale
ressaltar que associado a esta primeira classificação, tinha-se como critério a
necessidade do uso de bebida alcoólica mesmo que esporadicamente. Este último
critério vez com que aumentasse a lista de selecionados por curso para dar margem a
viabilidade da pesquisa.
Os dados, como idade e situação sócio-econômica/demográfica, foram
computados ao final da coleta dos dados.
3.3 Instrumento para coleta de dados
Foi utilizado o Inventário de Expectativas e Crenças Pessoais acerca do Álcool
(IECPA), desenvolvido por Pinto Gouveia e colaboradores e teve sua versão brasileira
adaptada por Blanca Guevara Werlang e Margareth da Silva Oliveira (GOUVEIA et al,
1996). Trata-se de uma medida escalar, de tipo Likert, com 61 itens, validado pelo
Conselho Regional de Psicologia. Cada item consiste numa afirmação, que envolve
expectativas e crenças a respeito dos efeitos do álcool distribuídas em áreas diversas:
efeitos globais positivos e facilitadores das interações sociais (fator 1); diminuição e/ou
fuga de emoções negativas (fator 2); ativação e prazer sexual (fator 3); efeitos positivos
na atividade e humor (fator 4) e efeitos positivos na avaliação de si mesmo (fator 5).
Para cada item são apresentadas cinco alternativas de resposta que variam os escores
de 1 a 5: Não concordo (1), Concordo pouco (2), Concordo moderadamente (3),
Concordo muito (4) e Concordo muitíssimo (5). O escore total é o resultado da soma
dos escores dos itens individuais.
23
3.4 Procedimento para coleta de dados
De posse das listas geradas pela amostra estratificada, partiu-se para a coleta de
dados.
Os sujeitos foram abordados pela pesquisadora, a qual lhes explicava o
objetivo do inventário e que o mesmo, iria fazer parte de uma monografia do curso de
Psicologia. Após a explicação a mesma questionava aos sujeitos se consumiam ou não
bebida alcoólica, quando a resposta se encaixava no critério a pesquisadora entregava
o termo de consentimento livre e esclarecido (APÊNDICE A) e o inventário para que os
acadêmicos respondessem.
3.5 Procedimento para a análise dos dados
Os escores totais do Inventário de Expectativas e Crenças Pessoais acerca do
Álcool (IECPA) foram obtidos de acordo com o resultado da soma dos escores dos itens
individuais. O escore final varia de zero a 305 pontos. Por serem estes indivíduos da
população geral, o ponto de corte é de 121,82. Ou seja, aqueles que apresentarem
escore total de 122 ou mais têm probabilidade de serem ou vir a se tornar dependentes
de álcool.
O procedimento para a análise de dados se desenvolveu também, com o registro
de características principais nos cinco fatores do inventário, quando a preocupação foi
de se fazer uma comparação dos acontecimentos com a opinião de autores e também
de evidenciar algumas dimensões que vão além de uma interpretação baseada
somente no ponto de corte.
Em presença da tabulação dos resultados, foi efetuada a análise, que se
compôs pela exposição dos dados, discussão dos conteúdos sistematizados e
relacionados com a literatura.
3.6 Aspectos éticos
A presente pesquisa envolveu seres humanos, assim de acordo com a
resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, exigiu-se a anuência por escrito dos
24
sujeitos da pesquisa ou seu representante legal, mediante explicação completa e
pormenorizada sobre a natureza da pesquisa, benefícios previstos, potenciais riscos e
incômodos que poderiam ocorrer em decorrência do estudo. Tal anuência trata-se de
termo de consentimento livre e esclarecimento.
Manteve-se em absoluto sigilo a identificação dos participantes, sendo
garantido o seu anonimato.
25
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Este capítulo tem como objetivo, apresentar a discussão dos dados obtidos
durante a pesquisa. Para tanto, em primeiro lugar será apresentado a caracterização da
amostragem, seguido pela discussão em relação ao ponto de corte do Inventário
Expectativas e Crenças Pessoais Sobre o Álcool e discussão dos fatores que compõe o
referido inventário.
4.1 Caracterização da amostra
Como já foi descrito anteriormente, de um universo de aproximadamente 2100
universitários que compõe o grupo de acadêmicos pertencentes ao CCS da UNIVALI,
foi selecionado por meio de análise probabilística, uma amostra de 99 acadêmicos que
serão caracterizados a seguir:
entrevistados por curso
10
16
12
1310
16
12
10 odontologia
psicologia
medicina
enfermagem
fisioterapia
ed fisica
farmacia
fonoaudiologia
Gráfico 01 – Entrevistados por curso
O gráfico demonstra que os cursos de Educação Física e Psicologia
apresentaram um número maior de entrevistados em relação aos demais cursos. Esta
26
diferença se deve ao fato de serem cursos que apresentam uma população maior,
sendo assim, os números respondem de forma proporcional a seleção da amostra.
Distribuição por sexo
79
20
Feminino
Masculino
Gráfico 02 – Distribuição por sexo
Observa-se que entre os 99 entrevistados, 79 pertencem ao sexo feminino e
apenas 20 ao masculino. Observa-se uma porcentagem maior do sexo feminino entre
os entrevistados sendo que, a amostra foi desenvolvida aleatoriamente, dispensando
qualquer possibilidade de preferência por sexo em sua distribuição de inventário.
27
Gráfico 03 – Distribuição por idade
O gráfico acima evidencia que a grande parte da população de participantes está
concentrada na faixa etária dos 17 aos 27 anos de idade. Dado esperado, uma vez que
é esta faixa etária que naturalmente predomina nas universidades.
4.2 Discussão do ponto de corte
A distribuição foi realizada a partir, dos escores totais do Inventário de
Expectativas e Crenças Pessoais acerca do Álcool (IECPA). Os dados foram obtidos de
acordo com o resultado da soma dos escores dos itens individuais. O escore final varia
de zero a 305 pontos. Por serem estes indivíduos da população geral, o ponto de corte
é de 121,82. Ou seja, aqueles que apresentarem escore total de 122 ou mais têm
probabilidade de serem ou vir a se tornar dependentes de álcool. Desta forma, o gráfico
a seguir apresenta os resultados obtidos com relação ao ponto de corte
Distribuição por idade
93
4 2
17 a 2728 a 37Acima de 37
28
Distribuiçao pelo ponto de corte
36
62
1
Acima
Abaixo
No ponto
Gráfico 04 – Distribuição pelo ponto de corte
Dos 99 entrevistados na pesquisa, 62% demonstraram que não têm propensão
ao alcoolismo, 36% demonstraram propensão e 1% encontra-se no ponto de corte.
Com base nos resultados podemos inferir que este dado passa a ser
significativo, considerando a problemática que envolve as questões relacionadas ao
álcool.
Segundo Dea et al, (2004), o jovem ao ingressar na universidade deve-se formar
para a vida, não só profissional, mas também de um modo emocional, e a bebida
alcoólica nesse contexto é justamente um facilitador que transpõe o sujeito adolescente
ao futuro adulto. A bebida pode assumir um caráter de socialização e integração do
estudante ao universo acadêmico, os colegas estimulam ao consumo da bebida desde
que acontecem os ”trotes universitários” até as freqüentes idas aos bares que se locam
aos redores das universidades. Os desentendimentos com os pais, suas dificuldades
financeiras e a constante troca de parceiros sexuais, podem também levar o estudante
universitário ao aumento do consumo da bebida alcoólica, o que causa um grave
problema de saúde pública e deve ser tratado com seriedade por toda a sociedade e
governantes para haja políticas de controle que se adaptem ao mundo acadêmico.
29
A freqüência constante do jovem universitário em bares e boates, onde a bebida
geralmente tem um custo baixo e de fácil acesso, mostram que as influências sócio-
ambientais favorecem ao consumo excessivo desta classe de pessoas. Alguns jovens
universitários em suas horas de lazer procuram atividades lúdicas e esportivas.
Contudo a maioria delas prefere encontrar amigos e colegas em ambientes
descontraídos, festas ou bares, dos quais a prevalência da bebida alcoólica é
consumida excessivamente, o que pode fazer com que o estudante exposto seja mais
propenso ao alcoolismo, pois, há mais facilitações sociais do que os outros, das quais
praticam formas de lazer alternativas (PEUKER; FOGACA; BIZARRO, 2006).
Os jovens ao saírem de casa, longe da supervisão dos pais e com pouca
experiência de vida, potencializam os riscos associados ao consumo excessivo de
álcool, por estarem em ambientes desconhecidos e vivenciarem novas situações, das
quais geram uma vulnerabilidade para a manutenção e o abuso de bebidas alcoólicas
ou até de outras drogas, ensinam Peuker; Fogaca; Bizarro (2006).
Desta forma, refletindo sobre o resultado de que 36% da amostragem estão
propensos ao alcoolismo, identifica-se que isto pode ser recorrente da vulnerabilidade
dos jovens no meio universitário, devido ao fato de ser uma fase de descobertas,
transformações e crises, deixando-os mais suscetíveis a utilização e dependência de
bebidas alcoólicas. O que se comprova através de pesquisas como as de: Kerr-corrêa
et al (2003), cuja a população estudada apresenta uma percentagem de 74,4% de
ingestão de álcool e de Vinã e Herrero (2004 apud OLIVEIRA et al) que teve como
resultado de sua pesquisa com estudantes do curso de psicologia, que a droga mais
utilizada por eles foi o álcool.
Segundo o DSM-IV-TR (2002), o episódio de intoxicação por álcool normalmente
acontece no período intermediário da adolescência, com a dependência do álcool
atingindo seu auge na faixa dos 20 a metade da faixa dos 30 anos. Ressalta-se aqui
que a população inventariada está em uma faixa etária acima de 17 anos, sendo que a
grande maioria está entre 17 e 27.
Para denunciar esta problemática social, nos últimos anos, vários estudos
epitemiológicos sobre o abuso de dependência de álcool têm sido conduzido nos
países desenvolvidos. Segundo a ECA, Estudo Multicêntrico Americano, o alcoolismo
30
foi o transtorno mais encontrado, considerando-se a prevalência durante toda a vida.
Aproximadamente 14% dos adultos entrevistados preencheram critérios para o abuso
ou dependência de álcool.
Da mesma forma que o estudo multicêntrico de morbidade psiquiátrica,
coordenado por Almeida Filho e cols. em Brasília, Porto Alegre e São Paulo, o abuso
de álcool tem posição de destaque dentro os diagnósticos psiquiátricos, ocupando a
quarta posição de destaque em relação aos demais distúrbios.
Outro levantamento de 1997, também conduzido pelo CEBRID, entre estudantes
brasileiros, revelou que:
Ø entre brasileiros do 1º e 2º grau, o álcool é a droga mais utilizada, muito à
frente da segunda colocada que é o tabaco
Ø o uso de álcool se inicia muito precocemente na vida desses estudantes, e
cerca de 50% dos alunos entre 10 a 12 anos de idade já fizeram uso dessa
droga.
Ø 28% dos entrevistados já fizeram uso do álcool até se embriagar
Ø 28,6% tomaram a bebida pela primeira vez na própria residência, oferecida
pelos pais e 23% por influência dos amigos
Ø 11% referiram que já haviam brigado após a ingestão de bebida alcólica
Ø A cerveja é a bebida mais frequentemente usada pelos estudantes (35%),
seguida pelo vinho (15,3%).
Outro estudo do CEBRID, publicado em 2000, refere que 85% de todas as
internações por intoxicações em hospitais e clínicas psiquiátricas são devido ao abuso
de álcool.
O álcool tem sido responsabilizado por 50% do casos de morte em acidentes
automobilísticos; relacionado a cerca de 50% de homicídios e 25% dos suícídios.
Laranjeira & Pinsky (2001) argumentam que portadores de outros transtornos mentais
(p. ex. ansiedade, pânico, fobias, depressão, esquizofrenia) apresentam maior
prevalência de problema relacionados ao uso de álcool relacionados a população em
geral.
Com base nestas pesquisadas podemos inferir que o álcool é a droga que mais
danos causa na sociedade.
31
O aprendizado cultural é um dos principais fatores que geram o alcoolismo
como uma síndrome mundial, sendo assim os motivos da ingerir o álcool nem sempre é
um resultado do comportamento do indivíduo, mas também pelos padrões
institucionalizados para o consumo da bebida e pelas oportunidades oferecidas como
um ato social aceito, explica Neves (2004).
A fácil disponibilidade das bebidas alcólicas, a alta aceitação e incitação social
para os mesmos e, finalmente, o longo tempo para ser reconhecido o adoecimento do
usuário, são todos fatores que contribuem para o jovem não se deter nos prováveis
prejuízos causados pelo álcool.
Diante do exposto a advertência “timidamente” apresentada nas campanhas de
prevenção como “beba com moderação”, de nada ou pouco serve de alerta para essa
problemática. Pelo contrário, uso do álcool entre jovens pode ser incentivado pela
mídia, conforme afirmam Laranjeira & Pinsky (2001). O incentivo ao consumo do álcool
realizado pela mídia é uma ação que concomitantemente desperta curiosidade sobre o
álcool e estimula os indivíduos a experimentarem ou aumentarem a utilização de
bebidas alcoólicas.
De acordo com o DSM-IV-TR (APA, 2002), as tradições culturais que envolvem o
uso do álcool em contextos familiares, religiosos e sociais, especialmente durante a
infância, podem afetar tanto modelos de uso, quanto a probabilidade de gerar
problemas com álcool. Percebe-se, então, a importância do contexto cultural no
surgimento do alcoolismo.
O vício de ingestão de álcool como costume pode definir novas formas de
encarar a vida social e mesmo de esconder os problemas advindos do dia-a-dia.
Vaillant (1999) afirma que tanto a cultura, quanto os genes, parece colaborar para o
desencadeamento do uso excessivo de álcool.
Afinal, tanto indivíduos com parentesco de alcoolistas como aqueles que estão
expostos a ambientes de risco, podem desenvolver o alcoolismo devido a pouca
tolerância ao álcool e/ou a baixa resistência aos seus efeitos. Pelo norteador do autor,
vê-se que a tendência de se adquirir o vício do alcoolismo, nesta população, se dá não
só relacionado aos fatores sociais e a maneira de se enfrentar o cotidiano, como
também tem a possibilidade de ter a proveniência de fatores genéticos.
32
Entende-se então, o alcoolismo como uma junção entre distúrbios físicos e
transtornos mentais, causado pelo excesso de ingestão de bebidas alcoólicas, o qual
acarreta prejuízos sociais e individuais para o usuário, tanto quanto aos familiares. No
entanto, é considerado um problema de saúde pública mundial, desencadeado por
fatores ambientais e individuais. (CUNHA et al, 2007).
Abramo; Branco (2005), afirmam através da pesquisa de Carlini-Marlatt que, no
Brasil, a ingestão de bebidas alcoólicas por não dependentes é a principal motivo de
mortes, doenças e deficiências físicas, que atingem principalmente jovens.
Observou-se ainda, após os estudos e pesquisa realizados, que a população
inventariada sob as condições de estarem sendo indagadas por uma acadêmica, dentro
do campus e com identificação individual, independente da garantia de sigilo para
todos, existe a possibilidade da falta da verdade por alguns acadêmicos entrevistados
em determinadas questões. Brandão (2007), afirma que o envolvimento com álcool
sempre coloca os indivíduos em uma posição incômoda, onde acuados se recusam a
revelar a verdade de suas vidas e conseqüentemente não colaboram efetivamente para
estudos.
A seguir será apresentada a distribuição do ponto de corte por curso investigado.
CURSOS ABAIXO ACIMA NO PONTO Odontologia 08 02 Medicina 06 06 Farmácia 07 05 Psicologia 10 06 Fonoaudiologia 08 02 Enfermagem 10 02 01 Ed física 11 05 Fisioterapia 02 08
Quadro 01 – Ponto de corte por curso
Dentre os oito cursos investigados, seis tiveram a concentração de sua
população abaixo do ponto de corte. Os cursos de Fonoaudiologia e Odontologia
apresentaram a menor propensão ao uso de álcool, o curso de medicina manteve
33
distribuição na média em relação a propensão ao álcool, já o curso de Fisioterapia
apresentou resultado acima do ponto de corte.
O resultado do inventário e as discrepâncias estão acima da média de outras
pesquisas elaboradas pelo CEBRID (2003), que revelam uma porcentagem da
população brasileira superior a 11% está classificada como alcoolista, sendo que 5,2%
dos adolescentes são dependentes de álcool.
Outro dado importante a ser contemplado é a correlação a ser feita com os
dados epistemológicos levantados pelo Centro Brasileiro de informações sobre Drogas
Psicotrópicas (CEBRID), em uma pesquisa domiciliar realizada em 24 cidades do
estado de São Paulo, com mais de 2000 habitantes, no ano 1999. A pesquisa estimou
que 10,9% da população masculina pesquisada e 2,5% da feminina, eram dependentes
de álcool. E assim os dados apontam que alcoolismo é mais frequente em homens do
que em mulheres.
No entanto, considerando a amostra da população desta pesquisa a prevalência
em relação ao gênero é do sexo feminino, contradizendo os dados da pesquisa
arrolada.
4.3 Discussão dos fatores
Como já especificado anteriormente, esta pesquisa contou com um instrumento
(Inventário Expectativas e Crenças Pessoais Sobre o Álcool), que é composto por 5
(cinco) fatores. Gouveia et al (1996), afirmam que esses fatores têm diferenças entre si
e que são agrupados em questões. Desta forma os fatores são:efeitos globais positivos
de interações sociais; diminuição ou fuga de emoções ou cognições negativas; ativação
do prazer sexual; efeitos positivos na atividade e no humor e efeitos positivos na
avaliação de si mesmo.
O instrumento é composto de 5 colunas como opção de resposta. (não
concordo-1, concordo pouco-2, concordo moderadamente-3, concordo muito-4 e
concordo muitíssimo-5) No desenvolvimento da análise sobre os dados obtidos na
pesquisa, foram desconsiderados os valores da coluna respectiva ao valor três 3 que
compõe a opção “concordo moderadamente”, pelo fato de que o desvio, tanto para as
34
colunas 1 e 2(não concordo e concordo pouco) ou 4 e 5(concordo muito e concordo
muitíssimo), está fora de um contexto pragmático.
Desta forma, na tentativa de explorar um pouco mais os dados coletados nesta
pesquisa, buscou-se fazer uma compreensão mais apurada de cada um dos fatores, na
tentativa de elucidar novos dados para o entendimento dessa problemática.
Para tanto, em primeiro lugar será apresentado cada fator separadamente,
seguido da tabela com o índice de cada resposta que o compõe, para finalmente fazer
uma breve análise das questões mais relevantes.
.
Fator 1: Efeitos globais positivos e facilitadores das interações sociais
Este fator é sinalizado por recursos internos dos indivíduos, em suas relações
sociais. Donato (2003, p. 12) coloca que as interações que fazem parte do
comportamento dos indivíduos sempre devem ser consideradas na forma global, pois
por mais individualizado que ele esteja, sempre terá resquícios de outros.
Conforme Ferreira (2004, p. 18) Os facilitadores das interações sociais são
justamente objetos que modificam o comportamento social, os que pré-definem ações.
As formas de relação social sempre requerem que os indivíduos venham a ter consciência do que é possível ou impossível em um relacionamento social, mas não os afugenta de uma probabilidade de forçar uma situação com subterfúgios que vão desde o uso da palavra ao uso de drogas (ROCHA, 2005, p. 72).
35
Questões 1 e 2 3 4 e 5
14 46,5 20,2 33,3
1 48,5 27,3 24,2
6 53,5 19,2 27,3
15 54,5 22,2 23,3
55 53,5 28,3 18,2
13 45,5 24,2 30,3
18 64,6 17,2 18,2
7 55,6 20,2 24,2
12 71,7 13,1 15,2
19 56,6 20,2 23,2
20 48,5 22,2 29,3
21 52,5 14,2 33,3
44 72,7 16,2 11,1
58 66,7 15,2 18,1
10 67,7 11,1 21,2
49 60,6 22,2 17,2
46 63,6 20,2 16,2
51 62,6 23,2 14,2
5 78,8 9,1 12,1
8 77,8 12,1 10,1
45 44,4 23,3 32,3
24 47,5 22,2 30,3
48 67,6 17,2 15,2
28 67,7 22,2 10,1
38 58,6 21,2 20,2
23 56,6 23,2 20,2
59 54,5 19,2 26,3
32 84,8 6,1 9,1
33 71,7 19,2 9,1
60 60,6 19,2 20,2
41 93,9 3 3
43 86,9 7,1 6
57 71,7 21,2 7,1
47 73,7 15,2 11,1
3 93,9 3,1 3
Quadro 02 – Freqüência de respostas do fator- 1
36
Neste fator as questões a serem discutidas são a 41 e 3 por apresentarem uma
menor freqüência de respostas de escores 4 e 5 (concordo muito e concordo
muitíssimo) e por isso uma negação para as afirmações.
Questão nº 41 “eu me sinto mais homem/mulher depois de beber”
Questão nº 3 “eu me sinto menos sozinho depois de beber”
Discussão:
Em relação à questão 41 e 3 uma minoria (3%), não considera a utilização do
álcool como um estímulo para se sentir mais homem/mulher ou para deixar de sentir-se
só, ou seja, a aceitação do álcool como incentivador nas relações sociais está em baixa
entre os entrevistados.
Desta forma, os dados identificados neste fator contradizem o que a literatura
tem tratado, pois o álcool tem sido reconhecido como um incentivador do contato
interpessoal, pelo menos nos primeiros momentos de sua ingestão considerado uma
ingestão moderada. Isto se justifica por ser esta uma droga depressora do SNC que
diminui o nível de censura e autocrítica facilitando de forma significativa as relações
sociais.
Com essa discussão a literatura não está fazendo uma apologia a favor do
álcool. Pois, sentir-se mais homem ou mulher por causa dos efeitos que o álcool produz
no organismo, não passa de uma ilusão que se esvai em poucos minutos, os seres
humanos com tantas formas emocionais de tratar a realidade já sabem de antemão que
os efeitos do álcool são paliativos e que não se pode ter base nesta sustentação.
O valor dado às bebidas alcoólicas são especialmente pela alteração dos estados
de consciência e expressão dos sentimentos, como ato de consumo associado pela
situação coletiva, ou seja, toda sociedade estabelece momentos propícios a cada
contexto social. Desta maneira, o comportamento de beber organiza a experiência
temporal de cada indivíduo (NEVES, 2004).
Para Caballo (2003) as dificuldades interpessoais facilitam o consumo de bebidas
alcoólicas, que facilitam para amenizar a ansiedade social e expectativas de tensão
37
geradas pela deficiência nas habilidades sociais do indivíduo. Desta maneira, a bebida
torna-se ferramenta para o enfrentamento das situações conflituosas do usuário.
Fator 2: Diminuição e/ou fuga de emoções ou cognições negativas
As emoções podem ser determinadas como reações afetivas agudas, breves e
originadas por estímulos significativos. Além de ser um estado afetivo intenso, de certa
duração que se desencadeia normalmente de uma resposta do individuo a certas
agitações internas e externas, conscientes e inconscientes (DALGALARRONDO, 2000).
Segundo Erné (2000), a emoção é uma forma de exteriorização da afetividade
resultante da satisfação ou frustrações das necessidades orgânicas e biológicas que
evoluem, sob o impacto das condições sociais.
Existe uma relação intrínseca entre a emoção e a cognição que é
exemplificada através dos esquemas emocionais, afinal proporcionam a cada pessoa
um sentido integrado dele ou dela mesma e do mundo, como também um significado
subjetivamente sentido por não basear-se unicamente na emoção e formarem uma
síntese complexa de afeto, cognição, motivação e ação (GREENBERG 1993;1996 apud
ARANTES 2000).
Segundo o mesmo autor, ao passo que a emoção mostra ao indivíduo o que o
incomoda e estipula os objetivos para que possam ser atingidos, a cognição organiza o
indivíduo a estabelecer sentido a experiência, assim como a razão colabora ao deduzir
a melhor maneira de atingir a meta.
38
Questões 1 e 2 3 4 e 5
53 86,9 6,1 7
61 92,9 6,1 1
2 92,9 5,1 2
30 68,7 18,2 13,1
36 94,9 4,1 1
27 62,6 19,2 18,2
39 83,8 14,2 2
52 96 2 2
33 71,7 19,2 9,1
3 93,9 3 3,1
32 84,8 6,1 9,1
34 88,9 6,1 5
60 60,6 19,2 20,2
54 83,8 15,2 1
43 86,9 7,1 6
12 71,7 13,1 15,2
42 68,7 15,2 16,1
57 71,7 21,2 7,1
44 72,7 16,2 11,1
19 56,6 20,2 23,2
16 73,7 10,1 16,2
47 73,7 15,2 11,1
35 87,9 9,1 3
56 67,7 11,1 21,2
48 67,7 17,2 15,1
22 85,9 7,1 7
26 78,8 13,1 8,1
41 93,9 3 3,1
50 83,8 12,1 4,1
37 82,8 10,1 7,1
28 67,7 22,2 10,1
Quadro 3 – Freqüência de respostas do fator- 2
Neste fator serão discutidas de forma geral todas as questões agrupadas, por
apresentarem uma freqüência significativa na coluna 1 e 2 (não concordo e concordo
pouco), destacando as questões de número 19, 56, 60 por contradizerem com um
39
pequeno aumento de freqüência de respostas de escores 4 e 5 (concordo muito e
concordo muitíssimo).
Questão nº19 “Quando bebo, é mais fácil dizer o que penso, sem me preocupar tanto
com a opinião dos outros, mesmo que discorde deles”
Questão nº56 ”O meu desejo sexual aumenta depois de beber”
Questão nº60 “Quando bebo, preocupo-me menos com aquilo que os outros pensam a
meu respeito”
Discussão:
De acordo com as respostas referentes às questões do quadro-3, o álcool não
é um auxiliar na diminuição ou fuga de emoções para a maioria dos entrevistados, pois
a maior incidência de repostas estão concentradas na coluna 1 e 2 (não concordo e
concordo pouco). No entanto, uma pequena porcentagem de freqüência representada
pelas questões 19, 56 e 60 indica que o álcool colabora para que se tenha mais
coragem ao falar, se relacionar com os outros, bem como o aumento do desejo sexual.
Este quadro emocional segundo Bopp (2005) demonstra a fraqueza de opinião e
o que o indivíduo é capaz de reter diante dos outros, ainda afirma o autor que estes
indivíduos assim se refletem pelo fato de que a escolha da verdade muitas vezes pode
ser um caminho não aceito pelos oponentes e a falta de coragem define outros meios
de se expressar. Observa-se na situação que Bopp (2005) descreveu acima, que no
caso da questão 19 (23,2%), os respondentes opinaram sem raciocínio desvinculado do
propósito, o que revela mais veracidade.
Fator 3: Ativação e prazer sexual
Para os individuos considerados saudáveis, a sexualidade aflora de maneira
simples e sem entraves. Quando há problemas, mesmo de ordem psíquica, os
resultados diante deste tema são menos positivos do que se espera. A ativação do
prazer sexual pode ser considerada anormal quando o indivíduo necessita de
subterfúgios para que se possa obter o mínimo de desejo. Para Skinner (2003) o prazer
40
sexual para os homens tem fundamentação na imagem, na forma e na fantasia da
imagem, para as mulheres, o envolvimento é muito mais importante do que a imagem,
tendo-se a diferenciação clara entre os sexos.
Questões 1 e 2 3 4 e 5
16 73,7 10,1 16,2
47 73,7 15,2 11,1
35 87,9 9,1 3
56 67,7 11,1 21,2
48 67,7 17,2 15,1
22 85,9 7,1 7
26 78,8 13,1 8,1
41 93,9 3 3,1
50 83,8 12,1 4,1
37 82,8 10,1 7,1
28 67,7 22,2 10,1
Quadro 04 – Freqüência de respostas do fator- 3
Neste fator será explorada a questão 56 por apresentar maior índice de
respostas (21,2%) nos escores 4 e 5 (concordo muito e concordo muitíssimo).
Questão nº56 ”O meu desejo sexual aumenta depois de beber”
Discussão: De uma forma geral, de acordo com o quadro n.4, existe uma predominância de
negação quando se é questionado a associação do álcool com ativação do prazer
sexual. Os entrevistados afirmam, na grande maioria, que não altera a qualidade e o
prazer sexual.
Foi encontrada uma pequena discrepância na questão n.56 com um índice de
(21%) nas respostas (concordo muito e concordo muitíssimo) quando se refere ao
aumento do desejo sexual depois de beber.
Para Cardoso (2003) o comportamento sexual dos indivíduos nunca será o
mesmo diante do parceiro ou de parceiros se a sua condição psíquica estiver alterada
41
por drogas ingeridas antes do relacionamento. O fato de os entrevistados, em torno de
21,2% terem concordado muito ou muitíssimo com esta possibilidade, não quer dizer
que sejam indivíduos que só se relacionem sexualmente sob o efeito do álcool, existe a
possibilidade de se relacionarem esporadicamente sob estas condições.
Sistematicamente a autora ainda expõe que o relacionamento sexual sob efeitos de
drogas pode gerar problemas de conduta que não estão dentro dos padrões sociais
normais.
Fator 4: Efeitos positivos na afetividade e no humor
A experiência adjacente e particular das emoções sentidas pelo individuo de
acordo com o que está a sua volta, compreendendo desde sentimentos e relações
interpessoais e ambientais, até recordações de fatos, situações ou lembranças do
passado, assim como expectativas do futuro, são denominadas afetividade
(KESSLER;CORDIOLI; ZIMMERMANN s/d).
“A afetividade expõe a sensibilidade interna da pessoa frente aos estados de
bem-estar e mal-estar do indivíduo e suas necessidades. A necessidade, deste modo, é
o local de origem da afetividade” (ERNÉ, 2000).
A vida afetiva é a ordem psíquica que dá significado às vivências humanas,
pois, se fossem inexistentes a vida mental tornar-se-ia sem sentido. A afetividade é uma
terminação genérica que abrange várias modalidades de vivências afetivas como o
humor, as emoções e os sentimentos (DALGALARRONDO, 2000).
Segundo o mesmo autor o humor é um estado emocional constante, basal e
difuso do qual, se encontra o indivíduo em determinada circunstância, podendo ampliar
ou reduzir a tonalidade das vivências, bem como modificar os sentidos de certas
experiências vividas.
O humor advém do tônus afetivo de cada pessoa, funciona como uma
disposição para a experiência psíquica do qual se ampliam as vivências da pessoa para
com o meio em que vive, dando mais brilho e intensidade para a vida social do
indivíduo, comentam Kessler; Cordioli; Zimmermann (s/d).
42
Questões 1 e 2 3 4 e 5
9 97 2 1 17 98 2 0 29 89,9 8,1 2 8 77,8 12,1 10,1 4 88,9 11,1 0 52 96 2 2 37 82,8 10,1 7,1 10 67,7 11,1 21,2
Quadro 05 – Freqüência de respostas do fator- 4
A partir da analise do quadro 05, percebe-se uma maior relevância das questões
4 e 17, pois possui um índice equivalente a 0% referente aos escores 4 e 5 (concordo
muito e concordo muitíssimo).
Questão nº 04 “Quando bebo sinto mais disposição para ajudar as pessoas”
Questão nº17 “ Sinto mais vontade de trabalhar depois de beber”
Discussão:
Todos os indivíduos que estão com o humor alterado não se relacionam bem
nestes momentos, pois os efeitos deste comportamento se refletem no ambiente
familiar e no trabalho. De acordo com o resultado das questões 04 e 17, os
entrevistados não concordam que a bebida alcoólica colabora na afetividade e humor,
bem como, no aumento da disposição para trabalhar e colaborar com o outro.
Segundo Capellini (2004) existe, entre os seres humanos considerados atuantes
na sociedade, um anseio de participação nas coisas, mas não está este anseio ligado a
o uso de qualquer tipo de droga. Ainda comenta a autora que quando sob o efeito de
algum tipo de droga, muitos indivíduos, ao invés de se sentirem solícitos, ficam
arrogantes e não participam de nada. Sobre o fator decisório, ainda há de se reportar à
colocação de Bopp (2005) que expressa a vontade do sujeito conforme seu estado de
43
espírito em primeiro plano, o que realmente pode ser computado neste caso. Contudo,
no que se refere ao comportamento induzido (por drogas, e, no caso pelo álcool),
admite-se que haja um desvio na conduta tanto para o lado positivo como o negativo.
O que se percebe com uso do álcool é que os seus simpatizantes são
elementos não bem-quistos na sociedade, o que provoca desânimo e diferenças no
humor e afetividade.
Desta forma mais uma vez encontramos dados que contradizem a literatura
vigente.
Fator 5: Efeitos positivos na avaliação de si mesmo
Coloca Dalgalarrondo (2000, p. 124) que o pensamento trata-se do conceito, o
juízo e o raciocínio das diferentes dimensões do processo de pensar, delimitadas como
curso, forma e conteúdo do pensamento.
Expõe Ramos (2000, p. 27) que o pensamento é classicamente analisado em
relação a sua forma e seu conteúdo. O conceito de forma de pensamento refere-se à
estrutura intrínseca pela qual os conteúdos mentais são expressos.
“Essa estrutura formal é deduzida a partir do conteúdo do discurso e está
associada à velocidade e ao encadeamento das idéias” (RAMOS, 2000, p. 27).
Explica Dalgalarrondo (2000, p. 125) que o juízo deficiente ou prejudicado é um
tipo de juízo falso devido ao fato de que a elaboração dos juízos é prejudicada pela
deficiência intelectual, pela pobreza cognitiva do indivíduo.
Ramos (2000) comenta que juízo é a capacidade de julgar eventos ao redor,
valorizando-os de forma adequada.
Sobre a autocrítica, Stanger (2003, p. 91) expressa que autocrítica é o
processo de análise crítica de um indivíduo (ou, coletivamente, de uma sociedade ou
instituição) sobre seus próprios atos, considerando principalmente os erros que
eventualmente tenha cometido e suas perspectivas de correção e aprimoramento. No
marxismo-leninismo, a autocrítica é encorajada como método científico e prática política
permanente, na busca pela evolução dialética rumo ao comunismo.
44
Questões 1 e 2 3 4 e 5
31 86,6 8,2 5,2
26 78,4 13,4 8,2
42 70,1 15,5 14,4
45 45,4 22,6 32
59 55,7 19,6 24,7
49 60,8 22,7 16,5
24 47,4 22,7 29,9
Quadro 06 – Freqüência de respostas do fator- 5
Neste fator serão discutidas: a questão 45, pois seu resultado apresentou o
maior índice nos escores 4 e 5 (concordo muito e concordo muitíssimo) e a questão 31
por ter a maior concentração de respostas nos escores 1 e 2 (Não concordo e concordo
pouco).
Questão nº 31 “O álcool me deixa mais tolerante em relação às pessoas de quem não
gosto”
Questão nº 45 “O álcool me deixa mais alegre e simpático”
Discussão:
Pensar sobre si em estado natural é comum e prevalece sempre a verdade,
mas quando se está sob o efeito de algum entorpecente, logo vem outra forma de
crítica de si, que pode levar até mesmo ao autoconflito, quando os indivíduos acabam
por não se aceitarem mais como são e a fuga se dá no uso de drogas, e o álcool é a
primeira opção a ser escolhida.
No decorrer da pesquisa, um índice elevado (32%) concorda com a questão 45
referente a afirmação “O álcool me deixa mais alegre e simpático”, o que vem a
conturbar a forma de se avaliar. Neste sentido, os efeitos positivos sempre estarão à
mercê do resultado do alcool na forma do comportamento do indivíduo.
A questão 31 “O álcool me deixa mais tolerante em relação às pessoas de quem
não gosto” apresentou escores 1 e 2 (não concordo e concordo pouco) merece
45
destaque, pois não foge à realidade do que se vê na prática, conforme afirma Brandão
(2007). Explica o autor que o uso do álcool sempre altera o comportamento e os
indivíduos que estão embriagados apresentam repulsa por qualquer coisa que não seja
de seu agrado. A companhia indesejada é uma delas, em forte escala de
inaceitabilidade. Neste caso existe compatibilidade das respostas apresentadas com o
teor da questão e a fundamentação teórica. Na opinião de Weiss (2000) os seres
humanos sempre estarão fora de controle no efeito de drogas, o álcool e os
antidepressivos são os mais fortes no caso. Assim, compreende-se que a
disponibilidade de aceitação do ser indesejado é muito pequena.
46
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Psicologia é uma ciência, que define muitos caminhos a serem percorridos
na busca do entendimento dos aspectos psicológicos que influenciam o indivíduo. Em
relação ao tratamento de doenças e de transtornos psíquicos, a sua contribuição tem
sido de fundamental importância para a compreensão da problemática que se instala.
Inclui-se aqui o universo que envolve o uso abusivo de substância química.
O uso do álcool de forma abusiva leva a inúmeras conseqüências negativas
tanto para saúde física e mental do indivíduo quanto para a sociedade em geral. Na
sociedade atual, a idéia sobre álcool vem sendo naturalizada. Por causa disto, os
indivíduos vêm esquecendo as reais conseqüências e deficiências que o seu consumo
pode acarretar para o organismo e até mesmo para sua vida.
Esta realidade tem sido observada no meio universitário como uma problemática
que se instala silenciosamente, e solicita estratégias urgentes que investigue e dê conta
desta disseminação, pois está associada a inúmeros prejuízos sociais e de
aprendizagem.
Para tanto, esta pesquisa teve como objetivo, investigar as crenças e as
expectativas em relação ao uso de bebida alcoólica entre os universitários. Foi apoiada
pelo inventário de expectativas e crenças pessoais em relação ao álcool.
Os dados apontam para um resultado importante, à medida que denuncia que
36% da amostra estudada apresenta propensão ao alcoolismo. Este número torna-se
preocupante, comparado às estimativas de dados epidemiológicos feitos no Brasil, que
evidenciam uma incidência de 10% a 20% em relação a população geral de pessoas
que apresentam problemas ao uso abusivo de bebida alcoólica.
Esta pesquisa, na tentativa de levantar outras informações que iriam além do
ponto de corte do inventário, buscou fazer uma breve interpretação de forma
individualizada dos cinco fatores que compõe o instrumento em questão. Com isso, não
foi encontrada discrepância significativa na freqüência de respostas, que apontassem
para influência do álcool na população pesquisada.
47
Com isso, conclui-se que apesar da estimativa (36%) oferecida pelo ponto de
corte, ser um dado importante para verificação da propensão ao alcoolismo, quando se
reporta para análise fatorial a freqüência das respostas se diluem e assim não oferecem
relevância de estudo.
Vale ressaltar, as questões que se destacaram durante a pesquisa. Elas indicam
que os jovens acadêmicos, ingerem álcool no intuito de se fortalecerem em
determinados momentos e situações, onde se sentem diferenciados dos demais do
grupo. Sabe-se que isso não passa de um grande equívoco e que pode transtornar sua
vida social, pois o vício pode se instalar no início das pequenas doses e permanecer
para sempre.
A análise geral sobre o uso do álcool, seja por consumo na faixa social ou
mesmo por vício instalado, tem sido a marca para se permitir que o produto seja
consumido libertamente entre todas as camadas sociais brasileiras. Assim, no meio
universitário, conforme foi desenvolvido o inventário, observou-se a naturalização do
álcool, pois este passa a fazer parte dos rituais sociais, indicando o descaso com o
malefício que esta problemática apresenta.
Finalmente, é importante destacar, que esta foi uma pesquisa vinculada a
Instituição a qual pertence os participantes investigados. Sendo assim, esta é uma
variável a ser considerada, pois as respostas podem ter sofrido certa falta de
veracidade na tentativa dos entrevistados se protegerem.
O decorrer da pesquisa não teve maiores problemas, sendo que os inventários
foram distribuídos aleatoriamente dentro dos padrões entre os universitários.
Diante da problemática considerada, sugere-se novas pesquisas relacionadas a
esta temática:
Ø Pesquisa qualitativa com uma amostra de universitários a cerca do consumo do
álcool;
Ø A prevalência do uso abusivo do álcool no grupo de funcionários da Instituição
Ø Uma pesquisa qualitativa no grupo de coordenadores de curso, para investigar a
representação do álcool e as possíveis estratégias adotadas para esta problemática.
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7 APÊNDICES
54
55
7.1 Apêndice A
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Você está sendo convidado (a) para participar, como voluntário, em uma pesquisa. Após ser esclarecido (a) sobre as informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do estudo, assine ao final deste documento, que está em duas vias. Uma delas é sua e a outra é do pesquisador responsável. Em caso de recusa você não será penalizado (a) de forma alguma.
INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA: Título do Projeto: Um Estudo sobre as Expectativas e Crenças Pessoais Acerca do Álcool entre os Universitários Pesquisador Responsável: Graziele Scarpim Padilha Telefone para contato: (047) 3366 0747 Orientadora: Maria Celina Ribeiro Lenzi Telefone para contato: (048) 99811024 Gostaria de convidá-lo (a) para participar de uma pesquisa que tem como objetivo Investigar no meio universitário as expectativas e crenças pessoais acerca do uso de álcool. Para atingir esta meta será aplicado um Inventário de Expectativas e Crenças Pessoais a respeito do Álcool contendo 61 itens, sendo que cada item consiste em uma afirmação que envolve as expectativas e crenças a respeito dos efeitos do álcool em cinco áreas diversas: efeitos positivos globais, de redução de estados emocionais, de ativação de prazer sexual, de relaxamento e redução de tensão; de redução de ansiedade social; diminuição de solidão e aborrecimento.
A sua participação nesta pesquisa é de fundamental importância, pois colabora para um melhor entendimento sobre a problemática do álcool no meio universitário.
A obtenção dos escores totais será adquirida a partir da soma dos pontos obtidos nos itens respondidos. Com base nesse resultado, os dados serão tabulados e analisados, através da exposição, discussão do conteúdo sistematizado e relação dos mesmos com a literatura existente.
Quanto aos aspectos éticos, gostaria de informar que:
a) Seus dados pessoais serão mantidos em sigilo, garantindo o seu anonimato; b) Os resultados desta pesquisa serão utilizados somente com finalidade acadêmica; c) Não há respostas certas ou erradas, o que importa é a sua opinião; d) A aceitação não implica que você estará obrigado a participar até o final, podendo interromper a sua participação a qualquer momento, mesmo que já tenha iniciado, bastando, para tanto, comunicar aos pesquisadores; e) Você não terá direito a remuneração por sua participação, pois ela é voluntária; f) Esta pesquisa é de cunho acadêmico e não visa uma intervenção; g) A participação nesta pesquisa não apresenta riscos; h) Durante a participação, se você possuir alguma reclamação, do ponto de vista ético, poderá contatar o responsável pela pesquisa; i) Os resultados desta pesquisa serão disponibilizados no dia da apresentação em banca desta monografia.
Eu, _____________________________________, RG_____________, CPF ____________ abaixo assinado, concordo em participar do presente estudo como sujeito. Fui devidamente informado e esclarecido sobre a pesquisa, os procedimentos nela envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios decorrentes de minha participação. Foi-me garantido que posso retirar meu consentimento a qualquer momento, sem que isto leve a qualquer penalidade. Local e data: ____________________________________ Assinatura: ____________________________________ Telefone para contato: ___________________________________