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UFRRJ INSTITUTO DE AGRONOMIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO AGRÍCOLA DISSERTAÇÃO POLÍTICAS PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA: DESAFIOS NA ESCOLARIZAÇÃO DE ESTUDANTES PÚBLICO-ALVO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL NA EDUCAÇÃO DO CAMPO NO MUNICÍPIO DE CONCEIÇÃO DA BARRA - ES PAULO WILLIAN BRUNELLI VIÇOSI 2020

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UFRRJ INSTITUTO DE AGRONOMIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM

EDUCAÇÃO AGRÍCOLA

DISSERTAÇÃO

POLÍTICAS PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA: DESAFIOS NA

ESCOLARIZAÇÃO DE ESTUDANTES PÚBLICO-ALVO DA

EDUCAÇÃO ESPECIAL NA EDUCAÇÃO DO CAMPO NO MUNICÍPIO

DE CONCEIÇÃO DA BARRA - ES

PAULO WILLIAN BRUNELLI VIÇOSI

2020

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE AGRONOMIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO AGRÍCOLA

POLÍTICAS PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA: DESAFIOS NA

ESCOLARIZAÇÃO DE ESTUDANTES PÚBLICO-ALVO DA

EDUCAÇÃO ESPECIAL NA EDUCAÇÃO DO CAMPO NO MUNICÍPIO

DE CONCEIÇÃO DA BARRA - ES

PAULO WILLIAN BRUNELLI VIÇOSI

Sob a orientação do professor

Allan Rocha Damasceno

Dissertação submetida como requisito parcial para

obtenção do grau de Mestre em Educação, no

Programa de Pós-Graduação em Educação

Agrícola, Área de Concentração em Educação

Agrícola.

SEROPÉDICA, RJ

Abril de 2020

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“O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de

Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001 "This study was

financed in part by the Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior -

Brasil (CAPES) - Finance Code 00”

Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Biblioteca Central / Seção de Processamento Técnico

Ficha catalográfica elaborada com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

Brunelli Viçosi, Paulo Willian, 1985-

B475p Políticas públicas de educação inclusiva: desafios

na escolarização de estudantes público-alvo da educação

especial na educação do campo no município de Conceição

da Barra – ES / Paulo Willian Brunelli Viçosi. -

Seropédica, 2020.

95 f.: il.

Orientador: Allan Rocha Damasceno.

Dissertação (Mestrado). -- Universidade Federal Rural

do Rio de Janeiro, Programa de Pós-Graduação em Educação

Agrícola, 2020.

1. Educação especial. 2. Educação rural. 3. Censo

escolar. 4. Política educacional. I. Rocha Damasceno,

Allan, 1978-, orient. II Universidade Federal Rural

do Rio de Janeiro. Programa de Pós-Graduação em Educação

Agrícola III. Título.

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE AGRONOMIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO AGRÍCOLA

PAULO WILLIAN BRUNELLI VIÇOSI

Dissertação submetida como requisito parcial para obtenção de grau de Mestre em

Educação, No Programa de Pós-Graduação em Educação Agrícola, Área de Concentração em

Educação Agrícola.

DISSERTAÇÃO APROVADA EM 28/04/2020

________________________________________________________

Allan Rocha Damasceno, Dr. UFRRJ

________________________________________________________

Ramofly Bicalho dos Santos, Dr. UFRRJ

________________________________________________________

Washington Cesar Shoiti Nozu, Dr. UFGD

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[...] temos o direito a ser iguais quando a nossa diferença nos

inferioriza; e temos o direito a ser diferentes quando a nossa

igualdade nos descaracteriza. Daí a necessidade de uma

igualdade que reconheça as diferenças e de uma diferença que

não produza, alimente ou reproduza as desigualdades.

Boaventura de Souza Santos

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho de pesquisa:

A minha família, em especial a minha mãe Édma Brunelli, uma

sonhadora que nos faz acreditar que tudo é possível.

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AGRADECIMENTOS

Agradecer, nesse momento é tudo que tenho a fazer, é reconhecer e assumir o compromisso

de retribuir, a todos, os ensinamentos recebidos durante este momento de mestrando e em

outros momentos da minha vida. Sempre tive ao meu lado pessoas muito especiais.

Na certeza de que, ao longo da minha caminhada, todos os meus passos foram acompanhados

por muitas pessoas que fizeram e fazem parte da minha vida acadêmica, pessoal, profissional.

Assim, agradeço-os.

Sendo assim, inicio sendo grato a minha família, a minha mãe, a meu pai, irmão e irmã,

sobrinho e cunhadas, que sempre torceram para a realização desse sonho.

Ao meu orientador, Prof. Dr. Allan Rocha Damasceno, por sua vivacidade e paixão pela

educação, que, com sua sabedoria, ajudou-me na construção desse estudo e dissertação,

ampliando os horizontes, possibilitando-me ser um novo pesquisador.

Aos professores da UFRRJ pelos ensinamentos e, em especial, ao Bruno Bahia e Silvia

Gonçalves, que, além dos ensinamentos em sala de aula, contribuíram com conselhos, escutas,

diálogos e orientações.

Ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo, pelo investimento

na capacitação de seus servidores.

Ao Programa de Pós-Graduação em Educação Agrícola da Universidade Federal Rural do Rio

de Janeiro, na pessoa da Profa. Dra. Rosa Cristina Monteiro, e aos docentes do colegiado que

se deslocaram para contribuir com nossa formação no Espírito Santo.

A equipe do IFES Campus Centro-Serrano que me apoiou desde o início da escrita do projeto

de pesquisa, com votos de confiança. Em especial aos que estiveram mais próximos em cada

etapa, nas incertezas, nas alegrias e conquistas: Wagner, Sanandreia, Jussara, Helen, Jossiane.

A equipe do IFES Campus Vila Velha, que, em tempos, tornei-me parte da equipe

profissional. Acompanharam a minha caminhada nesse estudo: Diemerson, Fernanda,

Marciele, Claúdia, Quezia, Hermelina e Valéria.

Aos meus amigos de trabalho da Faculdade Novo Milênio, do colegiado do curso de

Licenciatura em Pedagogia, pelo apoio e companheirismo: Marisa, Sônia, Renata, Maria da

Penha e Andreza.

A equipe escolar da Escola Córrego do Cedro, que participou deste estudo e que tão

gentilmente me recebeu durante o tempo de pesquisa com um imenso carinho, tanto no

colégio quanto em suas casas, tornando possível a investigação da pesquisa e construindo

laços de amizades.

A todos os meus amigos, sujeitos indiretos desta pesquisa, que me ouviram em diversos

momentos dela.

Muito Obrigado!

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RESUMO

VIÇOSI, Paulo Willian Brunelli. Políticas Públicas De Educação Inclusiva: Desafios Na

Escolarização De Estudantes Público-Alvo Da Educação Especial Na Educação Do

Campo No Município De Conceição Da Barra – ES. 2020. 95f. Dissertação (Mestrado em

Educação). Instituto de Agronomia, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro,

Seropédica, RJ. 2020.

Baseando-se nos dados de matrícula do Censo Escolar, esta pesquisa teve como objetivo

caracterizar a implementação das Políticas Públicas de Educação Especial no âmbito da

Educação Inclusiva e sua interface com a Educação do Campo e identificar os desafios de

uma escola pública, do campo de Conceição da Barra/Espírito Santo, frente à proposta de

inclusão de estudantes público-alvo da Educação Especial. Encontramos nos dispositivos

legais a relação da Educação Especial com a Educação do Campo, nos permitindo dialogar

com essas duas modalidades. Em contexto nacional, o Estado do Espírito Santo é o berço da

Educação do Campo, que, desde suas primícias, pretendia sanar as particularidades da

escolarização rural e as articulações entre a propriedade familiar e a escola. Atualmente, é

possível encontrar 49 Escolas do Campo em nosso Estado. O lócus da pesquisa foi a Escola

Córrego do Cedro, por apresentar o maior contingente de alunos público-alvo da Educação

Especial matriculados no ano de 2019, dados apurados na Secretaria de Educação Especial do

Estado do Espírito Santo. A pesquisa foi realizada por meio de estudo de campo na escola e

aplicação de questionário semiestruturado. Os sujeitos foram: 1 (um) membro da equipe

gestora da escola lócus do estudo; 1 (um) professor atuante no Atendimento Educacional

Especializado (AEE); 1 (um) Tradutor Intérprete de Libras; 1 (uma) professora da Educação

Infantil e 1 (um) professor de cada área do conhecimento, a saber, Códigos e Linguagens;

Ciências Humanas e Sociais; Ciências Exatas e da Natureza, necessariamente atuantes em

turmas em que estudantes público-alvo da Educação Especial estivessem incluídos. Assim,

com base no pensamento de Theodor Adorno, nos ancoramos na Teoria Crítica como

abordagem teórico-metodológica do estudo. Dentro desse contexto, os resultados obtidos na

investigação revelam os desafios encontrados pelos docentes e pela gestão escolar em efetivar

a inclusão escolar dos estudantes na escola, destacando, no cenário, o problema da

contratação de profissionais especializados na área da Educação Especial e demais docentes,

consistindo em contratos temporários, o que não garante uma sequência do trabalho realizado

no decorrer dos anos. Concluímos que a interface entre a Educação Especial e a Educação do

Campo necessita avançar na construção de Políticas Públicas, sendo necessário um amplo

diálogo e debate com movimentos sociais, gestores escolares, professores, pais, estudantes e

comunidade para a afirmação de uma escola inclusiva que atente às necessidades de todos os

alunos e sujeitos que estudam no campo.

Palavras-chave: Educação especial. Educação rural. Censo escolar. Política educacional.

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ABSTRACT

VIÇOSI, Paulo Willian Brunelli. Public Policies of Inclusive Education: Challenges in the

Schooling of Students Target Audience of Special Education in Rural Education in

Conceição da Barra -ES city. 2020. 95f. Dissertation (Master in Education). Instituto de

Agronomia, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ. 2020.

Based on enrollment data from the School Census, this research aims to characterize the

implementation of Public Policies for Special Education within the scope of Inclusive

Education and its interface with/in Rural Education to identify the challenges of a public

school in the rural area. of Conceição da Barra/Espírito Santo, in view of the proposal to

include students targeting Special Education. We find in the legal provisions the list of

Special Education in Rural Education that favor this interface and allow us to dialogue with

these two modalities. In a national context, the State of Espírito Santo is the cradle of Rural

Education, which, since its beginning, was intended to remedy the particularities of rural

schooling and the articulations of family property and the school. Currently, it is possible to

find 49 Rural Schools in our state. The locus of the research was the Córrego do Cedro

School, for having the largest number of Special Education target students enrolled in 2019,

data obtained from the Special Education Secretariat of the State of Espírito Santo. The

research was carried out by visiting the school and applying a semi-structured questionnaire.

The subjects were: 1 (one) member of the management team of the school in which the study

was conducted, 1 (one) professor working in Specialized Educational Service (AEE); 1 (one)

Libras Interpreter and Translator; 1 (one) teacher of Early Childhood Education and 1 (one)

teacher from each area of knowledge: Codes and Languages; Human and Social

Sciences; Exact and Natural Sciences, necessarily working in classes in which students,

target audience of Special Education were included. Thus, starting from the thinking of

Theodor Adorno, we anchor ourselves in the theoretical references of Critical Theory. Our

theoretical-methodological approach was conducted through the contributions of Critical

Theory scholars and their commentators. Within this context, the results obtained in this

study reveal the challenges encountered by teachers and school management in ensuring the

school inclusion of students in school, highlighting the weaknesses in the hiring of

professionals specialized in the area of Special Education and the teaching staff being hired

entirely under temporary-work contracts, which does not guarantee a sequence of work

carried out over the years. We conclude that the interface between Special Education and

Rural Education needs to advance in the construction of Public Policies, requiring a broad

dialogue and debate with social movements, school managers, teachers, parents, students and

the community to achieve an inclusive school that attends the needs of all students and

subjects studying in the field.

Keywords: Special education. Rural education. School census. Educational politics.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACARES Associação de Crédito e Assistência Rural do Espírito Santo

AEE Atendimento Educacional Especializado

AES Associazione degli Amici dello Stato Brasiliano dello Espírito Santo

APILES Associação dos Profissionais Tradutores e Intérpretes de Língua

Brasileira de Sinais do Espírito Santo

BM Banco Mundial

CEB Câmara de Educação Básica

CEE Conselho Estadual de Educação

CEEFA Centros Educativos Familiares de Formação em Alternância

CESB Campanha para a Educação do Surdo Brasileiro

CFR Casas Familiares Rurais

CNE Conselho Nacional de Educação

ECORS Escolas Comunitárias Rurais

EDUFES Editora da Universidade Federal do Espírito Santo

EEEF Escola Estadual de Ensino Fundamental

EFA Escolas Famílias Agrícolas

EJA Educação de Jovens e Adultos

FUNDEB Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de

Valorização dos Profissionais da Educação

IBC Instituto Benjamin Constant

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IFES Instituto Federal do Espírito Santo

INCAPER Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural

INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

INES Instituto Nacional de Educação de Surdos

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ISEAT Instituto Superior de Ensino Ateneu

LBA Legião brasileira de Assistência

LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação

LDBEN Lei de Diretrizes e Bases da Educação da Educação Nacional

LIBRAS Língua Brasileira de Sinais

MEC Ministério da Educação

MEPES Movimento Educacional Promocional do Espírito Santo

MST Movimento dos trabalhadores Rurais Sem Terra

NAPNE Núcleo de Apoio às Pessoas com Necessidades Específicas

ONU Organização das Nações Unidas

PCN Parâmetros Curriculares Nacionais

PDE Plano de Desenvolvimento da Educação

PNE Plano Nacional de Educação

PPP Projeto Político Pedagógico

PROLIBRAS Proficiência em Língua Brasileira de Sinais

PROUNI Programa Universidade para Todos

RACEFFAES Regional das Associações dos Centros Familiares de Formação em

Alternância do Espírito Santo

SECAD Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e

Inclusão

SEDU Secretaria de Estado da Educação

SEESP Secretaria de Educação Especial

SENEB Secretaria Nacional de Educação Básica

SRM Sala de Recurso Multifuncional

TCC Trabalho de Conclusão de Curso

UCDB Universidade Católica Dom Bosco

UEL Universidade Estadual de Londrina

UFAM Universidade Federal do Amazonas

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UFES Universidade Federal do Espírito Santo

UFGD Universidade Federal da Grande Dourados

UFJF Universidade Federal de Juiz de Fora

UFRRJ Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

UFSCar Universidade Federal de São Carlos

UFSM Universidade Federal de Santa Maria

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

UNESP Universidade Estadual Paulista

URI Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões

UTP Universidade Tuiuti do Paraná

VBPA Valor Bruto da Produção Agropecuária

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Localização do IFES - Campus Centro-Serrano ........................................................ 4

Figura 2 - Escolas Estaduais do Campo que adotam a Pedagogia da Alternância no Estado do

Espírito Santo ........................................................................................................................... 14

Figura 3 - Formação em Alternância (CEFFAs) no Brasil – 2015 ........................................... 33

Figura 4 - Mapa da Região do Litoral Norte Espírito-santense, em destaque (vermelho) o

município de Conceição da Barra ............................................................................................. 49

Figura 5 - Localização geográfica do Assentamento Paulo Vinhas ......................................... 52

Figura 6 - Vista lateral da EEEF Córrego do Cedro ................................................................. 53

Figura 7 – Representação de uma mística ................................................................................ 54

Figura 8 - Início da pesquisa na Escola Estadual de Ensino Fundamental Córrego do Cedro . 59

Figura 9 - Sala de Recurso Multifuncional ............................................................................... 62

Figura 10 - Cartinha escrita pela aluna Kamilla ....................................................................... 64

Figura 11 - Cartinha escrita pelo pesquisador .......................................................................... 64

Figura 12 - Atendimento de uma estudante no espaço do AEE ............................................... 65

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Número de matrículas da Educação Especial por etapa de Ensino no Brasil – 2008

– 2018 ......................................................................................................................................... 9

Tabela 2 - Número de matrículas da Educação Especial por etapa de ensino no Espírito Santo

-2018 ......................................................................................................................................... 14

Tabela 3 - Matrículas da Educação Especial por etapa de ensino do Município de Conceição

da Barra/ES, 2017-2018 ........................................................................................................... 15

Tabela 4 - Distribuição dos estudantes público-alvo da Educação Especial por tipo de

deficiência nas Escolas do Campo no município de Conceição da Barra/ES - 2018 ............... 15

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Teses e Dissertações da Educação Especial com interface na Educação do Campo

.................................................................................................................................................. 11

Quadro 2 - Instrumentos Normativos de Sistematização Histórico Política da Educação

Especial no Brasil ..................................................................................................................... 25

Quadro 3 - Escolas Estaduais do Campo que adotam a Pedagogia da Alternância no Estado do

Espírito Santo ........................................................................................................................... 35

Quadro 4 - Projetos de Assentamentos da Reforma Agrária no Estado do Espírito Santo -

2019 .......................................................................................................................................... 39

Quadro 5 - Origem das famílias do Assentamento Paulo Vinhas/ES....................................... 51

Quadro 6 - Assentamentos Rurais em Conceição da Barra/ES ................................................ 52

Quadro 7 - Quadro de Funcionários da Escola Estadual de Ensino Fundamental Córrego do

Cedro. ....................................................................................................................................... 55

Quadro 8 - Distribuição dos estudantes público-alvo da Educação Especial, por tipo de

necessidades específicas das classes inclusivas da Escola Estadual Córrego do Cedro .......... 61

Quadro 9 - Caracterização dos professores entrevistados que atuam em classes inclusivas na

Escola Estadual de Ensino Fundamental Córrego do Cedro .................................................... 66

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO 1

FORMULAÇÃO DA SITUAÇÃO-PROBLEMA: DESAFIOS DA INCLUSÃO NA

EDUCAÇÃO DO CAMPO 7

1. ASPECTOS HISTÓRICOS E NORMATIVOS DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DA

EDUCAÇÃO: DA EDUCAÇÃO ESPECIAL À EDUCAÇÃO INCLUSIVA 17

1.1 MARCO HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL: EXCLUSÃO, FILANTROPIA,

ASSISTENCIALISMO 18

1.2 UM NOVO TEMPO PARA A EDUCAÇÃO ESPECIAL: PERSPECTIVAS

DEMOCRÁTICAS COM A EDUCAÇÃO INCLUSIVA. 22

2. DAS ORIGENS DAS ESCOLAS DO CAMPO EM PEDAGOGIA DA

ALTERNÂNCIA: DA FRANÇA AO BRASIL 31

2.1 A CHEGADA DA PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA NO ESPÍRITO SANTO: UM

BREVE HISTÓRICO 33

2.2 OS MOVIMENTOS SOCIAIS E A LUTA PELA TERRA NO ESPÍRITO SANTO 36

2.3 A LUTA PELA EDUCAÇÃO NOS ASSENTAMENTOS DO ESPÍRITO SANTO 41

3. PERCURSOS METODOLÓGICOS: A CONSTRUÇÃO DA PESQUISA 47

3.1 OBJETIVOS DO ESTUDO 47

3.2 QUESTÕES DE ESTUDO 48

3.3 CARACTERIZAÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO DO LÓCUS DE ESTUDO: O

MUNICÍPIO DE CONCEIÇÃO DA BARRA/ES 48

3.3.1 Aspectos históricos, demográficos e econômicos 48

3.3.2 Caracterização do Assentamento Paulo Vinhas. 50

3.3.3 Aspectos educacionais da Escola Estadual de Ensino Fundamental Córrego do

Cedro. 52

3.4 OS SUJEITOS DA PESQUISA 56

3.5 PROCEDIMENTOS E INSTRUMENTOS DA PESQUISA 56

4. INTERFACE: EDUCAÇÃO ESPECIAL NA EDUCAÇÃO DO CAMPO E AS

EXPERIÊNCIAS DA ESCOLA CÓRREGO DO CEDRO 58

4.1 CARACTERIZAÇÃO DOS ALUNOS PÚBLICO-ALVO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL

60

4.2 CARACTERIZAÇÃO DOS PROFESSORES: FORMAÇÃO ACADÊMICA E

ATUAÇÃO PROFISSIONAL 66

4.3 DESAFIOS DA ESCOLA CÓRREGO DO CEDRO NA ESCOLARIZAÇÃO DOS

ESTUDANTES PÚBLICO ALVO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL 70

CONSIDERAÇÕES FINAIS 74

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ANEXOS 85

ANEXO A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido dos sujeitos da pesquisa 86

ANEXO B – Termo de autorização para a realização de pesquisa 88

ANEXO C – Questionário das Escolas do Campo 89

ANEXO D – Sujeitos Participantes do Estudo 93

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“Gostaria de apresentar a minha concepção inicial de educação.

Evidentemente não a assim chamada modelagem de pessoas, porque

não temos o direito de modelar pessoas a partir do seu exterior;

mas também não a mera transmissão de conhecimentos, cuja

característica de coisa morta já foi mais do que destacada,

mas a produção de uma consciência verdadeira.

Isto seria inclusive da maior importância política;

sua ideia, se é permitido dizer assim,

é uma exigência política”.

Adorno

APRESENTAÇÃO

Analisando o histórico da sociedade, ao longo dos séculos, muitos indivíduos foram

excluídos dos processos sociais por terem necessidades que os tornavam diferentes da maioria

das pessoas. Verifica-se nos últimos anos, uma preocupação maior do Estado em relação à

inclusão de determinados indivíduos que, de alguma forma, se diferem dos demais. Os

segmentos conhecidos como minoritários representam grupos de indivíduos marginalizados

pela coletividade.

Assim sendo, a fim de solucionar o problema da exclusão, o Estado passou a promover

políticas públicas com o intuito profícuo de propor a inclusão político-social. Tal situação é

identificada em várias ações apoiadas precariamente pelo Estado, tais como: Institutos para

Cegos, Institutos para Surdos, Educação de Jovens e Adultos – EJA, dentre outras. A

preocupação do Estado, aos poucos, vem sendo visualizada ao incentivar a formação de

profissionais para atuar nas atividades voltadas para o ato de incluir, atendendo as

necessidades de cada indivíduo.

É importante destacar que, em atenção à atual reforma educacional no país, identifica-

se a diversidade como sendo um de seus princípios básicos, ou seja, a intenção de promover

um ensino individualizado para todos os alunos, tanto para aqueles que apresentam

necessidades específicas quanto para aqueles que não as têm. No entanto, cabe a questão: há

qualificação de profissionais da área de educação, capazes de contribuir para o processo de

inclusão escolar de alunos com necessidades específicas na Educação do Campo?

Considerando essas reflexões, como garantir a inclusão escolar de alunos com necessidades

específicas na Educação do Campo?

No espaço escolar, aceitar que os alunos são diferentes uns dos outros é uma fácil

tarefa, mas difícil de trabalhar no que diz respeito às habilidades e competências de cada um.

Portanto, é necessária uma preocupação dos educadores a fim de implementar políticas de

inclusão social de forma efetiva, em todas as etapas da escolarização do campo.

Remetendo às considerações de Adorno e, considerando que não moldamos as pessoas

pelo exterior nem pela transmissão de conhecimentos, destacamos a necessidade de uma

instituição de ensino que preconize uma consciência sobre a importância de políticas públicas

inclusivas, para que, de fato, haja um movimento inclusivo no âmbito escolar. Dessa forma,

Adorno chama atenção para sua concepção inicial de educação da seguinte forma:

Gostaria de apresentar a minha concepção inicial de educação. Evidentemente não a

assim chamada modelagem de pessoas, porque não temos o direito de modelar

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pessoas a partir do seu exterior; mas também não a mera transmissão de

conhecimentos, cuja característica de coisa morta já foi mais do que destacada, mas

a produção de uma consciência verdadeira. Isto seria inclusive da maior importância

política; sua ideia se é, permitido dizer assim, é uma exigência política (ADORNO,

1995, p. 141).

O autor, ao mencionar a educação como base para uma reflexão crítica, afirma a

importância que ela proporciona ao ser humano no que se refere à superação de sua

concepção como sendo mera transmissão de conhecimentos, sendo compreendida como a

produção de uma consciência verdadeira.

Recordo das minhas primeiras vivências com pessoas surdas. Meu primeiro contato foi

no âmbito do trabalho, no qual exercia a função de empacotador num supermercado em Vila

Velha/ES. Iniciei o aprendizado da Língua Brasileira de Sinais – Libras no cotidiano,

estabelecendo conversas básicas, aprimorando minha capacidade de comunicação em poucos

meses. Posteriormente, no segundo semestre de 2006, ingressei no Curso de Licenciatura em

Pedagogia no Instituto Superior de Ensino Ateneu – ISEAT como bolsista integral pelo

Programa Universidade para Todos – PROUNI do Governo Federal. Durante a realização da

graduação, fui indicado para fazer o Curso Básico da Língua Brasileira de Sinais – Libras,

ministrado no período de abril a dezembro de 2008, e o Curso Intermediário da Língua

Brasileira de Sinais, no período de março a dezembro de 2009, ambos ofertados pela

Secretaria de Estado da Educação – SEDU.

Na graduação, descobri afinidade no aprendizado das seguintes disciplinas: Educação

de Portadores de Necessidades Especiais; Libras I e Libras II, que motivaram meu tema de

monografia: “Libras como instrumento de inclusão político-social na Educação Infantil”,

concluindo a Licenciatura em dezembro de 2009 e a colação de grau em 26 de janeiro de

2010. Em decorrência desses eventos, ingressei no curso de Pós-Graduação Lato Sensu em

Língua Brasileira de Sinais – Libras na instituição Faculdades Integradas de Jacarepaguá.

Para aperfeiçoamento profissional, realizei, em 2011, o Curso Profissional de Tradutor

e Intérprete de Libras pela Associação dos Profissionais Tradutores e Intérpretes de Língua

Brasileira de Sinais do Espírito Santo – APILES, em convênio com a Faculdade de Vila

Velha e, em 2013, obtive o Certificado no Exame Nacional de Certificação de Proficiência em

Língua Brasileira de Sinais – Libras e Tradução e Interpretação da Libras/Língua Portuguesa

– 6º PROLIBRAS.

O Curso Básico de Libras, concluído em 2008 somado ao interesse em trabalhar na

área da Educação fez com que eu me inscrevesse no processo seletivo de designação

temporária da Secretaria de Educação do Espírito Santo – SEDU. No dia 04 de março de

2009, fui convocado para a E.E.E.M. Professor Agenor Roris, com carga horária de 25 horas,

e, no dia 05 de março de 2009, fui convocado para a Escola Especial de Educação Oral e

Auditiva de Vitória, para atuar, em ambas as instituições, no cargo de Tradutor e Intérprete de

Libras. No ano seguinte, em 2010, tive o privilégio de regressar à Escola Professor Agenor

Roris, exercendo o mesmo cargo de Tradutor. Nesse ano, algumas turmas do colégio foram

alocadas em salas na Faculdade Novo Milênio, o que me oportunizou conhecer a diretoria da

Instituição e iniciar a minha carreira como docente de Nível Superior, ministrando a disciplina

optativa de Libras para o Curso de Enfermagem. A partir do ano de 2016, assumi as

disciplinas letivas de Libras, Contação de Histórias e Tópicos Especiais em Educação, no

curso de Pedagogia.

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No período de 2010 a 2012, atuei como professor substituto do Instituto Federal de

Educação do Espírito Santo – IFES, ministrando a disciplina de Educação à diversidade e

Libras na turma de Licenciatura em Matemática.

Aprovado no Concurso Público de Provas, referente ao Edital n.º 01/2017 do Instituto

Federal do Espírito Santo – IFES, fui nomeado para o cargo de Tradutor e Intérprete de Libras

e lotação no Campus Centro-Serrano e iniciei as atividades no final do mês de dezembro de

2017.

Minha iniciação no sistema de ensino perpassa atuações distintas, ora em momentos

como tradutor e intérprete de Libras, assumindo uma postura indireta na relação do processo

de ensino-aprendizagem, no sentido de ser o agente de comunicação entre aluno e professor,

ora como docente, estabelecendo uma relação direta no processo de ensino-aprendizagem dos

discentes.

As escolas estaduais proporcionaram-me uma experiência profissional e prática na

atuação como tradutor e intérprete de Libras, bem como no aprimoramento da docência. Atuar

no Campus Centro-Serrano é relembrar a minha infância e adolescência na zona rural, o que

me fez querer analisar as percepções dos docentes frente às suas práticas educacionais e aos

desafios da escolarização dos alunos público-alvo da Educação Especial, que, por muitas

vezes, são excluídos do processo de escolarização.

A escolha do tema se originou a partir da inclusão de novos membros no Núcleo de

Apoio às Pessoas com Necessidades Específicas NAPNE, que, no decorrer das reuniões, foi

necessário estabelecer medidas e ações a serem realizadas durante o ano de 2018, tais como

palestras, conversas e orientações a alunos, professores e demais membros do processo de

escolarização do Campus Centro-Serrano, com o intuito de garantir a acessibilidade dos

alunos nos diversos aspectos educacionais.

Ao assumir o cargo de tradutor e intérprete de Libras no IFES campus Centro-Serrano,

fui lotado na diretoria de ensino, no setor do NAPNE, assumindo a coordenação do núcleo de

apoio às pessoas com necessidades específicas. Com o passar do tempo, percebi que o núcleo

estava em fase de implementação, sendo necessário presidir os trabalhos de elaboração do

plano de trabalho anual, do calendário anual e do relatório anual dos trabalhos realizados pelo

NAPNE, dentre outras atividades já desenvolvidas naquele período. Em 2018, o campus tinha

sete alunos público-alvo matriculados (dois com baixa visão, um surdo, uma com deficiência

física, dois com déficit intelectual e uma com síndrome de asperge). Nesse sentido, buscamos

adaptar, elaborar e desenvolver ações institucionais e pedagógicas que contribuíssem para o

acompanhamento do público-alvo da Educação Especial no campus.

O Campus Centro-Serrano faz parte do programa de expansão da rede federal de

ensino e conta com a colaboração do Consórcio Intermunicipal para a implantação do IFES –

Campus Centro-Serrano, que atende os municípios de Santa Maria de Jetibá, distante a 11,2

km, Santa Leopoldina, a cerca de 29 km de distância, e o município de Domingos Martins, a

48,8 km de distância. Assim o campus fica localizado na Zona Rural do município de Santa

Maria de Jetibá, no distrito de Caramuru.

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Figura 1 - Localização do IFES - Campus Centro-Serrano

Fonte: Google Maps, 2019.

Atualmente, exerço o cargo de tradutor e intérprete de Libras no Campus Vila Velha,

removido por meio da portaria Nº. 854, em 04 de abril de 2019. Contudo, continuei a

pesquisar sobre o contexto regional e geográfico dos municípios e as condições de transporte

do público-alvo do campus. Posteriormente, mapeei as Escolas Estaduais Rurais do Estado do

Espírito Santo a fim de verificar o número de alunos com necessidades especiais matriculados

e os atendimentos educacionais especializados ofertados na rede de ensino no ano de 2018.

Diante do cenário, visualizado na pesquisa preliminar, e das inquietações sobre os

desafios da escolarização de alunos público-alvo da Educação Especial nas Escolas do

Campo, levantamos as seguintes questionamentos/questões de estudo:

• Qual(is) concepção(ões) de educação têm sido afirmada(s) para o público-alvo da

Educação Especial nas experiências das Escolas do Campo no município de

Conceição da Barra?

• Há estudantes público-alvo da Educação Especial nas Escolas do Campo no município

de Conceição da Barra/ES? Quais tipos de necessidades apresentam? Se sim, como

são identificados?

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• Há o AEE – Atendimento Educacional Especializado nas salas de recursos das Escolas

do Campo do município de Conceição da Barra/ES? Se sim, como funcionam?

• Quais aspectos pedagógicos e educacionais relacionados à Educação Especial na

perspectiva inclusiva são encontrados no Projeto Político Pedagógico (PPP) da EEEF

Córrego do Cedro do município de Conceição da Barra/ES?

• Qual é a percepção dos professores da Escola do Campo EEEF Córrego do Cedro no

que se refere a sua formação (inicial e continuada) para atuar com estudantes público-

alvo da Educação Especial?

• Quais ações são desenvolvidas na EEEF Córrego do Cedro para o atendimento das

demandas de aprendizagem dos estudantes público-alvo da Educação Especial?

Assim, esta pesquisa se intitula “Políticas Públicas de Educação Inclusiva: desafios na

escolarização de estudantes público-alvo da Educação Especial na Educação do Campo no

município de Conceição da Barra/ES”. Tivemos como objetivos:

• Caracterizar a implementação das políticas públicas de Educação Especial no âmbito

da Educação Inclusiva e sua interface com/na Educação do Campo em uma escola

pública municipal do campo de Conceição da Barra/ES, com experiências de inclusão

de estudantes público-alvo da Educação Especial;

• Caracterizar o Projeto Político-Pedagógico (aspectos político-administrativos,

político-pedagógicos, acessibilidade física, pedagógica e atitudinais, entre outros) da

citada escola em relação às demandas de Educação Inclusiva de estudantes público-

alvo da Educação Especial;

• Caracterizar as concepções dos professores da citada escola sobre as experiências de

inclusão de estudantes público-alvo da Educação Especial;

• Identificar os desafios da EEEF Córrego do Cedro frente à proposta de inclusão de

estudantes público-alvo da Educação Especial.

Para subsidiar essa pesquisa, recorremos ao aporte teórico da Teoria Crítica da

Sociedade, com grande destaque no pensamento de Theodor Adorno (1985), (1995), (1996).

Nossas reflexões também consideram os estudos de Allan Rocha Damasceno (2006), (2010),

Washington César Shoiti Nozu (2017).

Desse modo, a organização textual está estruturada em quatro capítulos. Na primeira

parte do texto, apresento a formulação da situação-problema: Desafios da inclusão na

Educação do Campo, baseando-me nos dados quantitativos de matrículas de estudantes

público-alvo da Educação Especial no Brasil, no Espírito Santo e no Município de Conceição

da Barra, possibilitando uma interface entre a Educação Especial e a Educação do Campo.

No primeiro capítulo, apresento os aspectos históricos e normativos das políticas

públicas da Educação no Brasil, detalhando os momentos de exclusão, filantropia,

assistencialismo e o novo conceito da Educação Especial perante as perspectivas democráticas

com a Educação Inclusiva.

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O segundo capítulo versa sobre as origens das Escolas do Campo e a filosofia da

Pedagogia da Alternância, os marcos franceses e sua chegada ao Brasil, traçando um breve

histórico da alternância no Estado do Espírito Santo. Nessa direção, buscamos explanar sobre

os movimentos sociais e a luta pela terra e pela Educação nos assentamentos do Espírito

Santo.

No terceiro capítulo, apresentamos os percursos metodológicos que embasam este

estudo, adotando a Teoria Crítica da Sociedade para discutir a teoria e práxis. Também são

elencados os objetivos e questões de estudo, a caracterização e contextualização do lócus da

pesquisa, onde apresentamos os aspectos históricos, demográficos e econômicos do

Município de Conceição da Barra/ES, a caracterização do Assentamento Paulo César Vinhas

e os aspectos educacionais da Escola Córrego do Cedro. Em seguida, são apresentados os

sujeitos da pesquisa, os procedimentos e instrumentos utilizados para o estudo.

No quarto capítulo, apresentamos as narrativas da pesquisa e a interface entre a

Educação Especial na Educação do Campo e as experiências da escola Córrego do Cedro,

caracterizando os alunos público-alvo da Educação Especial e os profissionais que atuam na

escola, apresentando análises dos dados coletados nos questionários realizados com a gestão

escolar e o corpo docente. Identificamos ainda os desafios encontrados pela escola frente à

necessidade de promover inclusão significativa dos estudantes público-alvo da Educação

Especial.

Por fim, nas considerações finais apresentamos as conclusões do estudo, que

evidenciam os desafios e avanços na inclusão escolar dos alunos público-alvo da Educação

Especial. De maneira geral, nossa intenção é de, possivelmente, contribuir com a

implementação de políticas públicas que consolidem a interface entre a Educação Especial e a

Educação do Campo.

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“Eu começaria dizendo algo terrivelmente simples: que a tentativa de

superar a barbárie é decisiva para sobrevivência da humanidade”

Adorno

“A escola não pode tudo, mas pode mais. Pode acolher as diferenças. É

possível fazer uma pedagogia que não tenha medo da estranheza, do

diferente, do outro. A aprendizagem é destoante e heterogênea.

Aprendemos coisas diferentes daquelas que nos ensinam,

em tempos distintos.

Abramowicz

FORMULAÇÃO DA SITUAÇÃO-PROBLEMA: DESAFIOS DA INCLUSÃO NA

EDUCAÇÃO DO CAMPO

A escola é um dos espaços entendidos pelo Estado para a formação dos indivíduos.

Desse modo, ela tem que se adequar às mudanças de nossa sociedade, não podendo se anular

frente às diferenças que se estabelecem entre os indivíduos. Em sentido contrário, a escola

deve respeitar tais diferenças e possibilitar a inclusão de todos de forma efetiva.

Movidos pelos pensamentos da Teoria Crítica e das concepções filosóficas adornianas,

dissertaremos sobre os reflexos excludentes da sociedade, presentes no âmbito escolar. No

seguinte excerto de “Educação contra a barbárie”, nota-se uma preocupação com o desafio da

educação ao lidar com contextos histórico-sociais complexos da contemporaneidade:

Por outro lado, que existam elementos de barbárie, momentos repressivos, e

opressivos no conceito de educação e, precisamente, também no conceito da

educação pretensamente culta, isto eu sou o último a negar. Acredito que – e isto é

Freud puro – justamente esses momentos repressivos da cultura produzem e

reproduzem a barbárie nas pessoas submetidas a essa cultura (ADORNO, 1995, p.

157).

Orientando-nos por esse pensamento, pode-se afirmar que, quando uma instituição de

ensino nega o acesso aos alunos público-alvo da Educação Especial, ela promove a barbárie e

institucionaliza a segregação, reafirmando a desigualdade no âmbito escolar. Ainda sobre as

considerações de Adorno (1995), percebe-se a necessidade de romper essas barreias

excludentes da sociedade a fim de desbarbarizá-la, através de uma educação que emancipe e

humanize. Reproduzimos a explicação da barbárie, em Adorno (1995), abaixo:

[...] desbarbarizar tornou-se a questão mais urgente da educação hoje em dia. O

problema que se impõe nesta medida é saber se por meio da educação pode-se

transformar algo de decisivo em relação à barbárie. Entendo por barbárie algo muito

simples, ou seja, que, estando na civilização dó mais alto desenvolvimento

tecnológico, as pessoas" se encontrem atrasadas de um modo peculiarmente

disforme em relação a sua própria civilização — e não apenas por não terem em sua

arrasadora maioria experimentado a formação nos termos correspondentes ao

conceito de civilização, mas também por se encontrarem tomadas por uma

agressividade primitiva, um ódio primitivo ou, na terminologia culta, um impulso de

destruição, que contribui para aumentar ainda mais o perigo de que toda esta

civilização venha a explodir, aliás uma tendência imanente que a caracteriza

(ADORNO, 1995, p. 155).

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Um dos objetivos das escolas democráticas deve estar em consonância com o

pensamento de Adorno, quando consideramos que desbarbarizar é o ponto primordial da

educação.

Os indivíduos são notadamente marcados por especificidades, sendo que são as

especificidades que os diferem. Dessa forma, ressalta-se a afirmação de Boaventura de Sousa

Santos (2003, p. 56):

[...] temos o direito a ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o

direito a ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza. Daí a

necessidade de uma igualdade que reconheça as diferenças e de uma diferença que

não produza, alimente ou reproduza as desigualdades.

Por esse motivo, é de fundamental importância o respeito às diferenças sociais, a fim

de promover a manutenção das especificidades de determinados indivíduos.

Dialogaremos sobre Educação Inclusiva, embasada nas Políticas Públicas atuais,

firmadas pela Lei 9.394/1996, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional e

consideram como público-alvo da Educação Especial educandos com deficiência, transtornos

globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação:

CAPÍTULO V - DA EDUCAÇÃO ESPECIAL Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade

de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para

educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas

habilidades ou superdotação.

Sendo assim, vamos discorrer sobre inclusão, tendo em vista os desafios na Educação

do Campo com ênfase sua interface com a Educação Especial. Considerando essa perspectiva,

no Brasil, evidenciam-se inúmeras legislações vigentes que constituem o arcabouço legal das

políticas inclusivas, como, por exemplo, a Constituição Federal de 1988; a Lei de Diretrizes e

Bases da Educação (LDB) n° 9.394/96; a Política Nacional para a Integração da Pessoa

Portadora de Deficiência, estabelecida pelo Decreto nº 3.298 de 1999; a Lei nº 10.436/02, que

reconhece a Língua Brasileira de Sinais como a língua dos surdos brasileiros, regulamentada

pelo Decreto nº 5.626 de 22 de dezembro de 2005, o que garante educação bilíngue aos

surdos. Além desses dispositivos legais, mencionamos o Programa Educação Inclusiva:

direito à diversidade (MEC, 2003), a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva

da Educação Inclusiva (MEC/SEESP, 2008) e, mais recentemente, o Estatuto da Pessoa com

Deficiência, Lei Nº 13.146, de 06 de julho de 2015.

É notório que esses documentos e legislações favoreceram o fortalecimento e

efetivação das ações afirmativas de inclusão, o que ocasionou um aumento quantitativo de

matrículas do público-alvo da Educação Especial no Brasil. De acordo com os dados do

Censo da Educação Básica (MEC/INEP), referente à matrícula da Educação Especial, é

visível um crescimento de matrículas de estudantes com deficiência.

De acordo com os dados do Censo da Educação Básica (MEC/INEP), no que diz

respeito à Educação Especial, observa-se um crescimento no número de matrículas de

estudantes com deficiência. Nos anos de 2008 a 2011, presencia-se um crescimento de 8,2%.

No período de 2012 a 2015, houve um acréscimo de 13,4%. O impacto maior se evidencia nos

dados das quatro últimas edições do Censo Escolar (2015, 2016, 2017, 2018), com 26,92%.

Se considerarmos os anos de 2008 a 2018 esses números ultrapassam 69%.

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Tabela 1 - Número de matrículas da Educação Especial por etapa de Ensino no Brasil –

2008 – 2018

Ano

Total

Geral

Classes Especiais e Escolas Exclusivas Classes comuns (Alunos Incluídos) Total Ed.

Infantil Funda- mental

Médio EJA Ed.

Prof Total Ed.

Infantil Funda- mental

Médio EJA Ed.

Prof 2008 695.699 315.553 65.694 202.126 2.768 44.384 4.952 374.537 27.603 297.986 17.344 32.296 546 2009 639.718 252.687 47.748 162.644 1.263 39.913 1.119 387.031 27.031 303.383 21.465 34.434 718 2010 702.603 218.271 35.397 142.866 972 38.353 683 484.332 34.044 380.112 27.695 41.385 1.096 2011 752.305 193.882 23.750 131.836 1.140 36.359 797 558.423 39.367 437.132 33.138 47.425 1.361 2012 820.433 199.656 18.652 124.129 1.090 55.048 737 620.777 40.456 485.965 42.499 50.198 1.659 2013 843.342 194.421 16.977 118.321 1.233 57.537 353 648.921 42.982 505.505 47.356 51.074 2.004 2014 886.815 188.047 13.878 111.845 1.191 60.622 1.259 698.768 47.496 540.628 56.563 51.341 5.510 2015 930.683 179.700 12.157 105.872 1.269 60.040 1.080 750.983 51.891 576.795 64.488 54.865 6.172 2016 971.372 174.886 11.012 102.573 1.052 60.047 936 796.486 58.772 607.232 74.007 53.778 6.404 2017 1.066.446 169.637 10.531 99.708 1.043 58.026 664 896.809 69.218 668.652 93.231 62.489 7.611 2018 1.181.276 166.615 10.140 96.567 1.236 58.259 665 1.014.661 81.254 741.426 115.051 72.030 10.549

Fonte: MEC/INEP. Censo da Educação Básica: microdados, 2008-2018.

Contudo, o incremento de Políticas Públicas é reflexo da construção de um

pensamento mais humano tendo em vista uma sociedade mais justa. A Política Nacional de

Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (SEESP/MEC, 2008, p.16) afirma:

A Educação Especial é uma modalidade da educação que deve perpassar todos os

seus níveis de ensino, ser oferecida preferencialmente na rede regular de ensino e

destina-se às pessoas com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e

altas habilidades e superdotação.

Diante disso, a inclusão dos estudantes público-alvo da Educação Especial se destaca

em todos os níveis, etapas e modalidades de ensino. Portanto, há um desafio de incluir os

alunos com necessidades específicas na Educação do Campo assim definidos pela Resolução

nº 2, de 28 de abril de 2008b:

Art. 1º A Educação do Campo compreende a Educação Básica em suas etapas de

Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio e Educação Profissional

Técnica de nível médio integrada com o Ensino Médio e destina-se ao atendimento

às populações rurais em suas mais variadas formas de produção da vida -

agricultores familiares, extrativistas, pescadores artesanais, ribeirinhos, assentados e

acampados da Reforma Agrária, quilombolas, caiçaras, indígenas e outros. § 1º A Educação do Campo, de responsabilidade dos Entes Federados, que deverão

estabelecer formas de colaboração em seu planejamento e execução, terá como

objetivos a universalização do acesso, da permanência e do sucesso escolar com

qualidade em todo o nível da Educação Básica. § 2º A Educação do Campo será regulamentada e oferecida pelos Estados, pelo

Distrito Federal e pelos Municípios, nos respectivos âmbitos de atuação prioritária. § 3º A Educação do Campo será desenvolvida, preferentemente, pelo ensino regular.

Levando em consideração o exposto acima, é necessário discutir sobre a Educação do

Campo, com proposições de construção de uma escola que atenda os reais interesses das

populações do campo. Esse é um contexto que necessariamente precisa ser discutido,

assumindo uma postura inclusiva e tendo como princípio o compromisso de incluir tais

sujeitos na escola.

As pesquisas de Caiado e Meletti (2011), Jesus, Anjos e Bergami (2011) e Marcoccia

(2010) apresentam uma análise sobre a Educação Especial com a Educação do Campo. Os

autores relatam a necessidade de enfatizar novos estudos que evidenciem o movimento entre

essas duas áreas do conhecimento: a Educação do Campo e a Educação Especial, com o

intuito de assegurar uma educação que promova equidade às pessoas com necessidades

específicas.

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Silva (2017, p. 32) destaca os dispositivos legais da relação entre a Educação Especial

e a Educação do Campo, que se encontram em vários documentos, tais como as Diretrizes

Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo, a Resolução n 2/2018b, a

Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva.

Nesse sentido, destaca-se que as Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas

(BRASIL, 2002) são assim definidas:

Art.2º Estas Diretrizes, com base na legislação educacional, constituem um conjunto

de princípios e de procedimentos que visam adequar o projeto institucional das

Escolas do Campo às Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e

Adultos, a Educação Especial, a Educação Indígena, a Educação Profissional de

Nível Técnico e a Formação de Professores em Nível Médio na modalidade Normal.

A Resolução nº 2/2008b, que estabelece diretrizes complementares, normas e

princípios para o desenvolvimento de Políticas públicas de atendimento da Educação Básica

do Campo, reafirma:

§5º Os sistemas de ensino adotarão providências para que as crianças e os jovens

portadores de necessidades especiais, objeto da modalidade de Educação Especial,

residentes no campo, também tenham acesso à Educação Básica, preferentemente

em escolas comuns da rede de ensino regular.

Em relação à Educação Especial na educação do campo, incluindo povos indígenas e

quilombolas, a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva

(BRASIL, 2008a) afirma que:

A interface da Educação Especial na educação indígena, do campo e quilombola

deve assegurar que os recursos, serviços e Atendimento Educacional Especializado

estejam presentes nos projetos pedagógicos, construídos com base nas diferenças

socioculturais desses grupos (BRASIL, 2008a, p.17)

O Documento Final da Conferência Nacional de Educação (BRASIL, 2010a), no eixo

intitulado “Justiça Social, Educação e Trabalho: Inclusão, Diversidade e Igualdade” considera

que a construção de um sistema nacional articulado de educação prescinde de ações referentes

às questões étnico raciais, indígenas, do campo, das pessoas com deficiência, da educação

ambiental, de crianças e adolescentes e jovens em situação de risco, da educação de jovens e

adultos e da educação profissional. Quando se refere à Educação do Campo e à Educação

Especial, apresenta metas como:

m) Estimular a interface da Educação Especial na Educação do Campo, a fim de

assegurar que os recursos, serviços e Atendimento Educacional Especializado

estejam presentes nos projetos pedagógicos construídos com base nas diferenças

socioculturais desse segmento. (p.137)

Nesse cenário, a problemática desta pesquisa relaciona-se à Educação Inclusiva, em

particular a Educação Especial e a Educação do Campo, a fim de verificar a efetivação ou não

das Políticas Públicas para as populações do campo e às pessoas com deficiência.

Para o embasamento teórico sobre os conhecimentos pesquisados acerca da Educação

Especial e a Educação do Campo, realizamos uma busca no Banco de Teses da Capes, na

Biblioteca Digital de Teses e Dissertações em sites de Programas de Pós-Graduação para essa

temática, definindo como critério de busca as seguintes palavras chaves: Educação Especial

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no Campo; Interface da Educação Especial e a Educação do Campo; Atendimento

Educacional Especializado nas Escolas do Campo; Inclusão Escolar no Campo; Educação

Inclusiva Rural; Educação Especial e o público-alvo da Educação do Campo.

Munidos dessas informações, elaboramos um quadro apresentando os títulos das teses

e das dissertações que parecem corroborar a interface entre as modalidades supracitadas:

Quadro 1 - Teses e Dissertações da Educação Especial com interface na Educação do

Campo

AUTOR NATUREZA/TÍTULO INSTITUIÇÃO ANO DE

DEFESA

ALMEIDA

Tese: Educação Inclusiva no Campo:

realidades e desafios no contexto escolar em

Presidente Figueiredo no Amazonas

UFAM 2018

FURTADO

Dissertação: Educação Especial no Campo:

Desafios à escolarização na escola agrícola

Padre João Piamarta - Macapá/AP

UFRRJ 2018

EVANGELISTA

Dissertação: Propostas para uma Educação

Inclusiva no Ensino Regular em uma Escola do

Campo

UFJF 2017

KUHN

Dissertação: A Educação Especial na

Educação do Campo: As Configurações de

uma escola na rede municipal de Ensino

UFSM 2017

NOZU

Tese: Educação Especial e Educação do

Campo: Entre porteiras marginais e fronteiras

culturais

UFGD 2017

SILVA

Dissertação: Políticas Públicas de Educação

Inclusiva: Interfaces da Educação Especial na

Educação do Campo no Município de

Conceição do Araguaia - PA

UFRRJ 2017

ANJOS

Dissertação: Realidades Em Contato:

Construindo Uma Interface Entre A Educação

Especial E A Educação do Campo

UFES 2016

OTTONELLI Dissertação: Rede de Atendimentos aos

Alunos Inclusos nas Escolas do Campo URI 2016

PALMA

Dissertação: Escolas do Campo e o

Atendimento Educacional Especializado em

Salas de Recursos Multifuncional

UNESP 2016

FERNANDES

Dissertação: Propostas para uma Educação

Inclusiva no Ensino Regular em uma Escola do

Campo

UFJF 2015

GONÇALVES

Tese: Alunos com Deficiência na Educação de

Jovens e Adultos em Assentamentos Paulistas:

experiências do PRONERA

UFSCar 2015

MANTOVANI

Tese: A Educação da pessoa com deficiência

nas comunidades remanescente de quilombos

do Estado de São Paulo

UFSCar 2015

RODRIGUES

Dissertação: A educação inclusiva na escola

indígena Ebenezer do povo Tikuna da

Comunidade de Filadélfia no município de

Benjamin Constant-AM

Escola Superior

de Teologia 2014

SILVA Dissertação: Formação de Professores para o

Atendimento Educacional Especializado em UFGD 2014

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12

Escolas Indígenas

SOUSA

Dissertação: A organização do Atendimento

Educacional Especializado nas aldeias

indígenas de Dourados/MS: um estudo sobre

as salas de recursos multifuncionais para área

da surdez

UFGD 2013

SOUZA

Dissertação: Educação do Campo e a

Escolarização de Pessoas com Deficiência:

uma análise dos indicadores sociais do Paraná

UEL 2012

MARCOCCIA

Dissertação: Escolas Públicas do Campo:

indagações sobre a Educação Especial na

perspectiva da inclusão educacional

UTP 2011

CARVALHO

Dissertação: A Pedagogia da Alternância no

Ensino Técnico Agrícola – A Experiência do

Pronera Na Escola Agrotécnica Federal De

Castanhal – Estado Do Pará

UFRRJ 2009

PONZO

Dissertação: As políticas de formação do

profissional docente em face da perspectiva

inclusiva no campo: do legal as vozes dos

professores

UFES 2009

PERAINO

Dissertação: Adolescentes com altas

habilidades/superdotação de um assentamento

rural: um estudo de caso

UCDB 2007

Fonte: Autoria própria (2019).

Tomando como critério a busca com palavras-chave, a pesquisa nos apresentou 20

diferentes trabalhos, sendo 4 teses (ALMEIDA, 2018; GONÇALVES, 2015; MANTOVANI,

2015; NOZU, 2017) e 16 dissertações (ANJOS, 2016; CARVALHO, 2009; EVANGELISTA,

2017; FERNANDES, 2015; FURTADO, 2018; KUHN, 2017; MARCOCCIA, 2011;

OTTONELLI, 2014; PALMA, 2016; PERAINO, 2007; PONZO, 2009; RODRIGUES, 2014;

SILVA, 2014; SILVA, 2017; SOUSA, 2013; SOUZA, 2012) que abordam a interface da

Educação Especial e da Educação do Campo.

Mediante as produções citadas acima, utilizei como critério de seleção das teses e

dissertações os títulos que mais se aproximavam do meu objetivo e, para melhor definição,

realizei a leitura dos resumos. Quando necessário, li os principais capítulos das teses e

dissertações e, assim, selecionei os trabalhos mais relevantes para a realização das minhas

investigações.

Dos trabalhos referentes aos pesquisadores da UFRRJ, na área da Educação Especial,

estão os estudos de Silva (2017) e Furtado (2018). Silva discorre, em sua dissertação, sobre as

“Políticas Públicas de Educação Inclusiva: Interfaces da Educação Especial na Educação do

Campo no Município de Conceição do Araguaia – PA”. A pesquisa investigou a realidade da

inclusão na perspectiva da Educação Especial presente nas Escolas do Campo do município

de Conceição do Araguaia – PA, caracterizando a implementação das Políticas públicas de

Educação Especial no âmbito da Educação Inclusiva.

Silva (2017), em seu estudo, destacou os desafios dos professores da Escola Municipal

de Educação Infantil e Ensino Fundamental Vinte de Abril, situada do município de

Conceição do Araguaia/PA. Sobre as experiências de inclusão de estudantes público-alvo da

Educação Especial, os resultados de sua investigação revelaram que, nos assentamentos do

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município de Conceição do Araguaia, o processo de inclusão se encontra em condições

precárias e que em nenhuma escola do campo a oferta do Atendimento Educacional

Especializado acontecia em conformidade com a legislação, sendo realizada no turno do aluno

matriculado.

Furtado (2018) analisa, em sua dissertação, a temática “Educação Especial no Campo:

Desafios à escolarização na Escola Agrícola Padre João Piamarta – Macapá/AP”.

Investigando a interface entre a Educação Especial e Educação do Campo à luz da Teoria

Crítica, tendo como lócus de pesquisa o contexto amazônico brasileiro, mais especificamente

o Município de Macapá, Estado do Amapá, no contexto da Escola Agrícola Padre João

Piamarta.

Furtado (2018), por sua vez, apresenta os avanços e desafios do processo de inclusão

de estudantes na escola pública, destacando a fragilidade na operacionalização do AEE para

os estudantes público-alvo da Educação Especial, frisando a importância das articulações

entre as modalidades de ensino para a construção e consolidação de políticas públicas que

atendam a Educação Especial na Educação do Campo.

Em relação às pesquisas desenvolvidas na UFES, na área de Educação Especial

destaco as pesquisas de Anjos (2016) e Ponzo (2009). Anjos, em sua dissertação intitulada

“Realidades em contato: Construindo uma interface entre a Educação Especial e a Educação

do Campo”, destaca como objetivo “desvelar e problematizar a interface entre a Educação

Especial e Educação do Campo”, a partir dos sujeitos que produziram conhecimento sobre

essas duas modalidades no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade

Federal do Espírito Santo.

Ponzo (2009) por sua vez, destaca, em sua pesquisa de mestrado, as políticas de

formação docente em face da Educação Inclusiva no Campo, tendo como título “As políticas

de formação docente em face da perspectiva educação inclusiva no campo: do legal às vozes

dos professores”. Ponzo sugere uma reflexão sobre as implicações que as políticas públicas

de educação exercem na constituição de práticas pedagógicas inclusivas propiciadoras de

garantia de ensino com qualidade a todos os alunos, analisando as políticas de formação dos

professores em atuação nas séries iniciais do Ensino Fundamental do Município de Guarapari-

ES.

O estudo de Nozu (2017), intitulado “Educação Especial e Educação do Campo: entre

porteiras marginais e fronteiras culturais”, constitui um conjunto de estudos que teve como

temática a interface entre Educação Especial e Educação do Campo. Seu objetivo geral foi de

analisar as práticas discursivas e não discursivas de articulação entre a Educação Especial e a

Educação do Campo, no âmbito da Educação Básica, na rede municipal de ensino de

Paranaíba/MS.

O autor enfatiza e considera a interface entre a Educação Especial e Educação do

Campo como sujeitos híbridos por espaços e tempos intersticiais que se cruzam e produzem

uma figura complexa de identidade e diferença, indicando como desafios emergentes a

construção de uma articulação entre as modalidades, com atenção às necessidades específicas

nas diferenças socioculturais, etárias, étnico-raciais, de gênero, de origem, as possibilidades e

os limites do processo ensino-aprendizagem dos alunos público-alvo da Educação Especial.

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Ao analisarmos os microdados do último Censo da Educação Básica do Estado do

Espírito Santo, realizado no ano de 2018, podemos perceber que, do total de matrículas, cerca

de 7,8% dos alunos público-alvo da Educação Especial estudam nas Escolas do Campo.

Tabela 2 - Número de matrículas da Educação Especial por etapa de ensino no Espírito

Santo -2018 Matrículas da Educação Especial / ESPÍRITO SANTO

Censo da Educação Básica 2018

Educação

Infantil Ensino

Fundamental Ensino

Médio EJA Total %

Zona

Urbana 2.304 16.497 2.744 1.168 22.713 92,22

Zona

Rural 139 1.697 55 23 1.914 7,78

Total 2.443 18.194 2.799 1.191 24.627 100%

Fonte: MEC/INEP. Censo da Educação Básica: micro dados, 2018.

O município de Conceição da Barra é a cidade lócus da pesquisa, localizada no Norte

do Espírito Santo, a 250 km de distância da capital do Estado, Vitória. O topônimo utilizado

para seus habitantes é “barrense”. O município se estende por 1.187,8 km² e, no último censo,

contava com 28.477 habitantes, com densidade demográfica de 24 habitantes por km².

A Secretaria Estadual de Educação (SEDU) de Conceição da Barra/ES conta

atualmente com 7.538 estudantes matriculados (INEP, 2018). Destes, 1.546 estão

matriculados em Escolas do Campo/da zona rural, ou seja 20,5% dos estudantes da rede

estadual e municipal de ensino se encontram no campo.

Figura 2 - Escolas Estaduais do Campo que adotam a Pedagogia da Alternância no

Estado do Espírito Santo

Fonte: Autoria própria (2019).

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No contexto da Educação Especial, as Escolas do Campo no Estado do Espírito Santo

encontram-se presentes em 28 municípios que adotam a Pedagogia da Alternância,

apresentadas na figura acima.

A Educação Especial do município de Conceição da Barra/ES se organiza seguindo as

diretrizes da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva

(BRASIL, 2008), ofertando o ensino comum e atendimento educacional especializado. Dos

205 alunos matriculados da Educação Especial no município, 8 alunos pertencem à Educação

do Campo.

Algumas escolas da zona rural ofertam o atendimento nas salas de recursos

multifuncionais. Entretanto, dos dados acima citados, referentes aos 8 alunos matriculados na

zona rural em Escolas do Campo, apenas uma das Escolas do Campo de Conceição da Barra

conta com sala de recursos multifuncionais.

Tabela 3 - Matrículas da Educação Especial por etapa de ensino do Município de

Conceição da Barra/ES, 2017-2018

Ano

Total

Geral

Zona Urbana Zona Rural

Ed. Infantil

Funda- mental

Médio EJA Total % Ed. Infantil

Funda- mental

Médio EJA Total %

2017 177 9 142 12 6 169 95,4 0 6 0 2 8 4,6

2018 205 11 160 16 10 197 96,1 0 6 0 2 8 3,9

Fonte: MEC/INEP. Censo da Educação Básica: micro dados, 2017-2018.

Das três escolas localizadas no município de Conceição da Barra, destacamos a EEEF

Córrego do Cedro, em que estão matriculados 1 aluno deficiente visual, 2 alunos surdos e 1

aluno com deficiência intelectual, sendo a única escola que tem sala de recursos

multifuncionais.

Tabela 4 - Distribuição dos estudantes público-alvo da Educação Especial por tipo de

deficiência nas Escolas do Campo no município de Conceição da Barra/ES - 2018

Escolas/Localidade DV1 DA2 DF3 DI4 Autismo

EEEF CÓRREGO DO CEDRO 1 2 1 -

EEEF ASSENTAMENTO UNIÃO - - 1 - -

EEEF VALDICIO BARBOSA DOS SANTOS - - 2 1

Total 8 alunos

Fonte: Gerência de Educação, Juventude e Diversidade

Considerando o contexto da formulação da situação-problema apresentado,

destacamos o cenário das questões de estudo:

• Qual é a realidade da inclusão na perspectiva da Educação Especial presente nas

Escolas do Campo no município de Conceição da Barra/ES?

1 Deficiência Visual 2 Deficiência Auditiva 3 Deficiência Física 4 Deficiência Intelectual

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• O ensino oferecido ao público-alvo da Educação Especial atende às especificidades da

Educação Inclusiva?

• Quais as possibilidades e desafios encontrados pelas Escolas do Campo no município

de Conceição da Barra/ES no atendimento aos estudantes público-alvo da Educação

Especial?

Essas indagações nos motivaram a pesquisar os desafios de uma escola do campo para

acolher todas as diferenças, oportunizando o aprendizado, a comunicação e a equidade de

condições de ensino e aprendizagem no espaço escolar.

Dessa forma, esperamos que os resultados deste estudo possam colaborar para as

discussões no âmbito nacional e proporcionar uma reflexão crítica sobre a importância de

políticas públicas voltadas para o público-alvo da Educação Especial no âmbito da Educação

do Campo.

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“Numa democracia, quem defende ideias contrárias à emancipação,

e, portanto, contrários à decisão consciente independente

de cada pessoa em particular, é um antidemocrata”.

Adorno

“O fato é que nossas sociedades, desiguais e assimetricamente não conseguiram

Aqueles patamares básicos de acesso a bens sociais para todos. A

superação da desigualdade e das discriminações implica busca

de uma religação virtuosa em que o outro é visto como igual,

o que significa, por sua vez, uma negação do

status quo existente”.

Cury

1. ASPECTOS HISTÓRICOS E NORMATIVOS DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DA

EDUCAÇÃO: DA EDUCAÇÃO ESPECIAL À EDUCAÇÃO INCLUSIVA

A Educação Especial é definida como sendo a modalidade de educação que se dirige

às pessoas com necessidades específicas, aquelas que, em condições extrínsecas aos sujeitos

que se diferem da maioria da sociedade, necessitam de processos especiais de educação.

O processo histórico e normativo das políticas públicas da Educação Especial no

Brasil é marcado por avanços e retrocessos, bem como mudanças em sua concepção Numa

sociedade democrática desse modo, os pensamentos de Adorno nos fazem refletir sobre uma

educação emancipatória:

Numa democracia, quem defende ideias contrárias à emancipação, e, portanto,

contrários à decisão consciente independente de cada pessoa em particular, é um

antidemocrata, até mesmo se as idéias que correspondem a seus desígnios são

difundidas no plano formal da democracia. As tendências de apresentação de ideais

exteriores que não se originam a partir da própria consciência emancipada, ou

melhor, que se legitimam frente a essa consciência, permanecem sendo coletivistas-

reacionárias. Elas apontam para uma esfera a que de veríamos nos opor não só

exteriormente pela política, mas também em outros planos muito mais profundas

(ADORNO, 1995, p. 142).

Nesse ínterim, pensar na escola no tempo atual é (re)organizar um modelo educacional

voltado para a Educação Inclusiva, que possibilite superar a barbárie, com vistas ao

acolhimento da diversidade de seus estudantes. Damasceno (2010, p. 39) assevera que “as

estruturas escolares excludentes e segregadoras encontram-se nesse cenário cultural

contemporâneo no eixo do debate sobre democratização escolar”.

Ainda sobre esse debate de (re)organização escolar, de pensar em um modelo

educacional que inclua todos os alunos com equidade de condições, destacamos os

pensamentos de Mantoan (2013, p.31):

Se nosso objetivo é descontruir esse sistema, temos, então, de assumir uma posição

contrária à perspectiva da identidade “normal”, que justifica essa falsa uniformidade

das turmas escolas. A diferença é, pois, o conceito que se impõe para que possamos

defender a tese de uma escola para todos.

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É preciso explanar e dialogar sobre os caminhos para a inclusão de todos na sociedade

moderna, pois essa concepção de inclusão escolar, pressupõe uma inovação educacional que,

para alguns, poderia descontruir o modelo escolar vigente. Adorno (1995) nos questiona da

seguinte forma: O que significa elaborar o passado? Essa pergunta nos desafia a refletir

historicamente sobre a Educação Especial no Brasil.

1.1 MARCO HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL: EXCLUSÃO,

FILANTROPIA, ASSISTENCIALISMO

Analisar o marco histórico da Educação Especial e as políticas públicas de inclusão

para as pessoas com necessidades específicas é acreditar no seu valor individual,

independentemente de suas condições e necessidades especiais de aprendizagem. Oportunizar

equidade de condições socais, econômicas e educacionais é um dever do Estado perante

todos.

Podemos observar que essas pessoas tiveram seus direitos sociais reconhecidos

recentemente. Smith (2008, p.44) orienta a utilização das seguintes expressões: alunos com

deficiência; indivíduos que têm necessidade seguidos por qualificadores: que enfrentam

desafios físicos; que são surdos; que têm baixa visão. Para o autor, é necessário erradicar os

termos pejorativos usados ao longo da história, como: aleijado, deficiente, perturbado,

incapacitado, deficiente auditivo, deficiente da aprendizagem, retardado metal, dependente de

cadeiras de rodas, entre outros adjetivos.

Conforme determinação da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da

Educação Inclusiva, “A Educação Especial é uma modalidade de ensino que perpassa todos

os níveis, etapas e modalidades…” (BRASIL, 2008). No Brasil, a escolarização de pessoas

com necessidades específicas se inspirou nas ações realizadas na Europa e nos Estados

Unidos da América do Norte. Destacam-se inicialmente, como os primeiros movimentos da

Educação Especial, a criação do Imperial Instituto dos Meninos Cegos, em 1854. O Instituto

recebe a denominação atual de Instituto Benjamin Constant – IBC. Conforme descreve

Mazzotta (2003, p. 28),

O atendimento escolar especial aos portadores de deficiência teve seu início, no

Brasil, na década de cinquenta do século passado. Foi precisamente em 12 de

setembro de 1854 que a primeira escola providência neste sentido foi concretizada

por D. Pedro II. Naquela data, através do decreto Imperial n.º 1428, D. Pedro II,

fundou, na cidade do Rio de Janeiro, o Imperial Instituto dos Meninos Cegos.

Posteriormente, com os esforços de Ernesto Hüet é instalado o Imperial Instituto dos

Surdos-Mudos, atualmente denominado Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES:

Foi ainda D. Pedro II que, pela Lei nº 839 de 26 de setembro de 1857, portanto, três

anos após a criação do Instituto Benjamin Constant, fundou, também no Rio de

Janeiro, o Imperial Instituto dos Surdos-Mudos (MAZZOTTA, 2003, p. 29).

Considerando que os Institutos citados acima iniciaram suas atividades educacionais

no Brasil Império, Mazzotta (2003, p.29) relata, através da obra “História do Ensino Industrial

no Brasil”, de Celso Sucow Fonseca, a implementação de aprendizagem de ofício nos

Institutos:

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Em ambos os Institutos, algum tempo depois da inauguração, foram instaladas

oficinas para a aprendizagem de ofícios. Oficinas de tipografia e encadernação para

os meninos cegos de tricô para as meninas; oficinas de sapataria, encadernação,

pautação e douração para os meninos surdos.

Mazzotta (2003, p.30) destaca ainda que, em 1874, ainda na época Imperial, foram

registradas ações de atendimento pedagógico ou médico-pedagógicos a pessoas com

deficiências no Hospital Estadual de Salvador, atual Hospital Juliano Moreira, com relatos de

assistência a crianças deficientes mentais.

Consideraremos, de forma passageira, como marco histórico apenas, esses três

estabelecimentos, pois outros autores já o fizeram com grande precisão e maior profundidade.

Mencionamos, como referência, os trabalhos de Mazzotta (2003), Jannuzzi (1992), Smitt

(2008), Silva (2010) entre outros.

É importante ressaltar as considerações de (Damasceno, 2010, p. 55), quando destaca

as alterações da segunda metade do século passado até os anos 90 em relação ao atendimento

educacional para os estudantes com deficiência, mais explicitamente em nível nacional,

assumido pelo Governo Federal e visibilizado nas campanhas educacionais.

Segundo Mazzotta (2003, p.49), as campanhas governamentais foram voltadas

especificamente para o atendimento educacional aos excepcionais5:

A primeira a ser instituída foi a Campanha para a Educação do Surdo Brasileiro –

C.E.S.B. – pelo Decreto Federal nº. 42.728, de 3 de dezembro de 1957. As

instruções para sua organização e execução foram objeto da Portaria Ministerial nº.

114, de 21 de março de 1958, publicada no Diário Oficial da União de 23 de março

de 1958.

Dessa forma, faz-se necessário destacar dois períodos de mudanças em relação à

educação das pessoas com deficiência: As fases de integração e de inclusão. Ambas

personificam marcos em prol dos direitos humanos às pessoas com deficiência, Fernandes

(2013, p. 34) aponta que:

Em linhas gerais, na integração, a sociedade assume um caráter passivo, uma vez

que o movimento pela defesa dos direitos e inserção social está ligado ao esforço

individual do sujeito (movimentos civis organizados) para superar limites pela

deficiência. Já a inclusão, sugere uma ação bilateral e combinada entre sujeitos com

deficiência, órgãos representativos de classe e grupo social na produção de

conhecimentos e tecnologias que promovam recursos e serviços de acessibilidade na

consecução de ações inclusivas.

Fernandes (2013, p. 67) aborda ainda as implicações causadas pelas lutas sociais nos

anos de 1960, pautadas pelo processo de integração em defesa da ocupação de diferentes

espaços na vida social, como a educação, a saúde, o lazer, os esportes, e como essas mudanças

acabaram refletindo no corpo jurídico:

[...] essas mudanças nas práticas sociais acaba por se refletir no corpo jurídico,

conforme ilustra o fragmento da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

(LDBEN) de 20 de dezembro de 1961 (Lei n.º 4.024/61), que faz menção à

educação de pessoas com deficiências, denominadas excepcionais, à época onde se

5 Expressão usada à época.

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lê, no art. 88 “A educação de excepcionais, deve, no que for possível, enquadrar-se

no sistema geral de educação, a fim de integrá-los na comunidade”.

No entanto, para percorrermos o caminho da Educação Especial brasileira,

seguiremos, a partir do final dos anos 1960, destacando as reformas educacionais iniciadas

nos anos de 1970. Conforme ressalta Ferreira (2006, p. 87):

A partir do final dos anos 1960, e de modo mais destacado nos anos 1970, as

reformas educacionais alcançaram a área de educação especial sob a égide dos

discursos da normalização e da integração. A educação especial constou como área

prioritária nos planos setoriais de educação, após a Emenda Constitucional de 1978

e a Lei n.º 5.692/71, de reforma do 1º e 2º graus, e foi contemplada com a edição de

normas e planos políticos de âmbito nacional: as definições do Conselho Federal de

Educação sobre a educação escolar dos excepcionais, as resoluções dos Conselhos

Estaduais de Educação sobre diretrizes de educação especial, a criação dos setores

de educação especial nos sistemas de ensino, a criação das carreiras especializadas

em educação especial na educação escolar (os professores dos excepcionais) e

também no campo da reabilitação (a constituição das equipes de

reabilitação/educação especial)

Outro momento significativo para a Educação Especial foi a década de 1990. Esse

seria o ponto inicial de um novo conceito educacional: a inclusão. Baseando-se no

pensamento de Stainback e Stainback (1999), Ramos (2010, p.27), descreve:

Nos anos de 1990, conforme Stainback e Stainback (1999), surgiu um novo

conceito, a inclusão, que teve como base a teoria sociointerativista, a qual entende o

desenvolvimento humano como resultado das interações sociais. Isso quer dizer que,

em contato com o meio normal, de modo irrestrito, o indivíduo com deficiência

desenvolve mais amplamente suas capacidades, ainda que com determinadas

limitações.

Consolidada pela Constituição Federal de 1988, a Educação Especial passa a ter uma

redação que garante o direito à educação das pessoas com deficiência. Detalhada no “Art.

208, o dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de atendimento

educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de

ensino;”

Sobre os dispositivos constitucionais que fundamentam a inclusão escolar de pessoas

com necessidades específicas, Damasceno (2010, p. 61), baseando-se nas afirmações de

Fávero (2004), interpreta o referido trecho normativo com as seguintes considerações:

[...] é possível afirmar que a Constituição Federal garante o direito à educação e o

acesso a todos. Pois, ainda segundo Fávero (2004, p.77) “Estes dispositivos

demostram que ninguém pode negar, a qualquer pessoa com deficiência, o acesso à

mesma sala de aula que qualquer outro, sob pena de ofensa ao princípio da

igualdade”. Ou seja, é possível afirmar que a Constituição Federal (1998, Art 3º)

adota princípios consentâneos com o movimento de inclusão escolar, o que até

aquele momento histórico era algo novo. Pois, além de garantir o direito a igualdade,

à não-discriminação, elege como seus objetivos fundamentais na construção de uma

sociedade livre, justa e solidária …

É indubitável que houve uma expansão nas matrículas no ensino fundamental a partir

dessa alteração na Carta Magna do nosso País, e com isso, o centro das preocupações do

Estado passou a ser a garantia da qualidade do ensino.

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A Constituição Federal de 1988 elevou a dignidade da pessoa humana que, por

consequência, tornou-se o princípio orientador de toda a interpretação da legislação

infraconstitucional brasileira. Neste diapasão, é interessante destacar o que aduz Moraes

(2011, p. 48-49):

O princípio fundamental consagrado pela Constituição Federal da dignidade da

pessoa humana apresenta-se em dupla concepção. Primeiramente, prevê um direito

individual protetivo, seja em relação ao próprio Estado, seja em relação aos demais

indivíduos. Em segundo lugar, estabelece verdadeiro dever fundamental de

tratamento igualitário dos próprios semelhantes. Esse dever configura-se pela

exigência do indivíduo respeitar a dignidade de seu semelhante tal qual a

Constituição Federal exige que lhe respeitem a própria. A concepção dessa noção

fundamental resume-se a três princípios do direito romano: honestere vivere (viver

honestamente), alterum non laedere (não prejudique ninguém) e suun tribuere (dê a

cada um o que lhe é devido). Ressalte-se, por fim, que a Declaração Universal dos

Direitos Humanos, adotada e proclamada pela Resolução n. 217 (III) da Assembléia

Geral das Nações Unidas, em 10-12-1948 e assinada pelo Brasil na mesma data,

reconhece a dignidade como inerente a todos os membros da família humana e como

fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo.

Mediante essas considerações, destacamos ainda o aumento nas matrículas no ensino

fundamental e as preocupações do governo em garantir a qualidade de ensino. Nos baseamos

nas considerações de Prieto (2006, p. 49), que salienta:

É inegável a expansão das no Brasil das matrículas iniciais no ensino fundamental,

sobretudo a partir da década de 1990, e, com esse avanço, o centro das preocupações

governamentais passou a ser a garantia de qualidade do ensino, já que os resultados

de avaliações têm mostrado que a aprendizagem dos alunos está aquém do esperado.

Além, disso, ainda há violação do direito de acesso à educação, pois muitas crianças

e jovens ainda estão fora das escolas.

Assim, evidencia-se vários artigos e incisos da Constituição Federal de 1988,

legitimando a inclusão escolar, a qual apresenta um capítulo (III) referente ao direito da

educação, da cultura e do desporto. Destacaremos, neste sentido, os artigos 205 e 206:

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será

promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno

desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua

qualificação para o trabalho. Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o

saber; III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições

públicas e privadas de ensino; IV - Gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; V - Valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei,

planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de provas e

títulos, aos das redes públicas; VI - Gestão democrática do ensino público, na forma da lei; VII - Garantia de padrão de qualidade. VIII - Piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar

pública, nos termos de lei federal.

As reflexões de (DAMASCENO, 2010, p.62) nos levam a compreender que as

normatizações e avanços na História ocasionaram transformações no MEC: “quando o MEC

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passa por uma restruturação nos anos de 1990, a SESP entra em extinção e suas atribuições

passam a ser da Secretaria Nacional de Educação Básica (SENEB)”.

Delimitaremos esses marcos históricos como momentos de ruptura e transição nas

fases de integração para inclusão, que serão esclarecidas no próximo tópico, sobre

perspectivas democráticas e educação inclusiva, no qual desvincularemos a escolarização dos

excepcionais como público-alvo da Educação Especial.

1.2 UM NOVO TEMPO PARA A EDUCAÇÃO ESPECIAL: PERSPECTIVAS

DEMOCRÁTICAS COM A EDUCAÇÃO INCLUSIVA.

A discussão de uma Educação Inclusiva permeia a consonância que o Brasil estabelece

com os Instrumentos Normativos Internacionais. Fernandes (2013, p. 81) destaca três

documentos que estimularam a adoção do paradigma inclusivo: a Declaração de Jomtien

(1990); a Declaração de Salamanca (1994) e a Convenção da Guatemala (1999):

Declaração de Jomtien (Unesco, 1990) – Proclamado na Conferência Mundial de

Educação para todos, Tailândia, o documento reafirma a educação como um direito

de todos, destacando0se como elemento determinante no desenvolvimento social,

econômico e cultural, contribuindo para a tolerância e a cooperação internacional.

Como signatário do documento, o Brasil compromete-se com a erradicação do

analfabetismo e a universalização do ensino fundamental em dez anos, como metas

oficializadas na Lei n.º 10.172, de 9 de janeiro de 2001, que institui o Plano

Nacional de Educação.

Para tanto, fazem-se necessárias políticas públicas mais específicas para garantir, de

forma mais justa, a inclusão da pessoa com necessidades específicas. Dos três documentos

citados acima, consideramos a Declaração de Salamanca como um guia orientador a todos os

documentos oficiais, pois afirma textualmente que:

[...] Reafirmamos o nosso compromisso para com a Educação para Todos,

reconhecendo a necessidade e urgência do providenciamento de educação para as

crianças, jovens e adultos com necessidades educacionais especiais dentro do

sistema regular de ensino e re-endossamos a Estrutura de Ação em Educação

Especial, em que, pelo espírito de cujas provisões e recomendações governo e

organizações sejam guiados.

2. Acreditamos e Proclamamos que:

• toda criança tem direito fundamental à educação, e deve ser dada a oportunidade

de atingir e manter o nível adequado de aprendizagem,

• toda criança possui características, interesses, habilidades e necessidades de

aprendizagem que são únicas,

• sistemas educacionais deveriam ser designados e programas educacionais

deveriam ser implementados no sentido de se levar em conta a vasta diversidade de

tais características e necessidades,

• aqueles com necessidades educacionais especiais devem ter acesso à escola

regular, que deveria acomodá-los dentro de uma Pedagogia centrada na criança,

capaz de satisfazer a tais necessidades,

• escolas regulares que possuam tal orientação inclusiva constituem os meios mais

eficazes de combater atitudes discriminatórias criando-se comunidades acolhedoras,

construindo uma sociedade inclusiva e alcançando educação para todos; além disso,

tais escolas provêem uma educação efetiva à maioria das crianças e aprimoram a

eficiência e, em última instância, o custo da eficácia de todo o sistema educacional.

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23

A partir da promulgação da Declaração de Salamanca e de sua adesão pelo governo

brasileiro, torna-se claro o compromisso firmado com a Educação de Todos perante a

Organização das Nações Unidas – ONU, como menciona Dorziat (2009, p.66):

Ao assumir sua adesão à Declaração de Salamanca, o Brasil o faz numa perspectiva

de compromisso internacional junto à Organização das Nações Unidas (ONU), à

Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)

e ao Banco Mundial (BM), promotores do encontro em Salamanca, na Espanha.

Esses compromissos têm como preocupação maior a necessidade de se melhorar os

indicadores nacionais da Educação Básica, priorizando os aspectos quantitativos do

acesso.

No mesmo ano de publicação da Declaração de Salamanca, o Ministério da Educação

(MEC)/SEESP publica o documento Política Nacional de Educação Especial (1994),

organizado em 6 capítulos da seguinte forma: O Capítulo I, que versa sobre a revisão

conceitual dos termos mais usados; o Capítulo II, em que está descrita a análise da situação da

educação especial no Brasil; o Capítulo III, em que se encontram as fundamentações

axiológicas, isto é, os valores que norteiam todo o trabalho educacional; os Capítulos IV e V,

com o objetivo geral e os objetivos específicos; e, por fim, o Capítulo VI, que traz as

diretrizes gerais e norteadoras de trabalhos futuros.

Posteriormente, a atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB, Lei nº 9.394/96

estabelece a definição de Educação Especial, em seu artigo 58, e os deveres dos sistemas de

ensino, no artigo 59:

Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade

de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para

educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas

habilidades ou superdotação.

(Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)

§ 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular,

para atender às peculiaridades da clientela de educação especial.

§ 2º O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços

especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for

possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular.

§ 3º A oferta de educação especial, nos termos do caput deste artigo, tem início na

educação infantil e estende-se ao longo da vida, observados o inciso III do art. 4º e o

parágrafo único do art. 60 desta Lei.

(Redação dada pela Lei nº 13.632, de 2018)

Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com deficiência,

transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação:

(Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)

I - Currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos,

para atender às suas necessidades;

II - Terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido

para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e

aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados;

III - professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para

atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados

para a integração desses educandos nas classes comuns;

IV - Educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração na vida em

sociedade, inclusive condições adequadas para os que não revelarem capacidade de

inserção no trabalho competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins,

bem como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artística,

intelectual ou psicomotora;

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V - Acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais suplementares

disponíveis para o respectivo nível do ensino regular.

Art. 59-A. O poder público deverá instituir cadastro nacional de alunos com altas

habilidades ou superdotação matriculadas na educação básica e na educação

superior, a fim de fomentar a execução de políticas públicas destinadas ao

desenvolvimento pleno das potencialidades desse alunado.

(Incluído pela Lei nº 13.234, de 2015)

Em decorrência dessa Lei, o MEC/SEF publicou, em 1998, nos Parâmetros

Curriculares Nacionais (doravante PCNs): “Adaptações curriculares: estratégias para a

educação de alunos com necessidades educacionais especiais”. Foi publicado, no ano

seguinte, o decreto nº 3.298 de 1999, que dispõe sobre a Política Nacional para a Integração

da Pessoa Portadora de Deficiência, consolidando as normas de proteção e dando outras

providências.

O Plano Nacional de Educação, com a Lei Federal n.º 10.172 de 2001, preconiza a

Educação Especial como modalidade de ensino que estabelece o direito à educação comum a

todas as pessoas público-alvo: “A educação especial se destina às pessoas com necessidades

especiais no campo da aprendizagem, originadas quer de deficiência física, sensorial, mental

ou múltipla, quer de características como altas habilidades, superdotação ou talentos”.

Damasceno (2010, p. 66) destaca a adoção do termo “educação inclusiva”, utilizada

pela primeira vez nas Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica,

com a Resolução n.º 2, do Conselho Nacional de Educação (CNE) e a Câmara de Educação

Básica (CEB) instituindo:

Parágrafo único. O atendimento escolar desses alunos terá início na educação

infantil, nas creches e pré-escolas, assegurando-lhes os serviços de educação

especial sempre que se evidencie, mediante avaliação e interação com a família e a

comunidade, a necessidade de atendimento educacional especializado.

Art. 2º Os sistemas de ensino devem matricular todos os alunos, cabendo às escolas

organizar-se para o atendimento aos educandos com necessidades educacionais

especiais, assegurando as condições necessárias para uma educação de qualidade

para todos.

Neste contexto, faz-se necessária a aplicação de todos os direitos e garantias para com

as pessoas com necessidades específicas. É sabido que há, no Brasil, uma prática reiterada da

não aplicação de normas já existentes. Desse modo, o reconhecimento desses atendimentos é

algo que deve ser disseminado em toda a sociedade civil.

Salientamos as considerações de Silva (2017, p. 56) referentes à utilização da

expressão “deficiente”:

[...] a expressão “deficiente” deslocava a compreensão da humanidade destes

sujeitos, com seus potenciais distintos, para suas limitações, a deficiência em si! A

inclusão tem como base as transformações que precisam ser feitas no ambiente, na

superação das barreiras que obstaculizam/impedem que pessoas com deficiência

tenham sua funcionalidade e participação asseguradas na sociedade. Eles querem ser

identificados como pessoas com deficiência, sobretudo porque são humanos.

Na perspectiva histórico-política da Educação Especial no Brasil, para a construção de

uma sociedade inclusiva, vários outros instrumentos legislativos podem ser sistematizados a

partir de 2001. A fim de mapearmos tais instrumentos, elaboramos o seguinte quadro, com

dispositivos legais, organizados em ordem cronológica:

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Quadro 2 - Instrumentos Normativos de Sistematização Histórico Política da Educação

Especial no Brasil

Dispositivo

Legal

Data e Ano Assunto Relevância para Educação

Especial

Resolução

CNE/CP Nº 1

18 de

fevereiro de

2002

Institui Diretrizes

Curriculares Nacionais

para a Formação de

Professores da Educação

Básica, em nível

superior, curso de

licenciatura, de

graduação plena.

As instituições de ensino

superior devem levar em

consideração na sua formação

docente valores de uma

sociedade democrática que

levem em conta as

especificidades dos alunos

com necessidades especiais.

Lei Federal n.º

10. 436

24 de abril de

2002

Dispõe sobre a Língua

Brasileira de Sinais -

Libras e dá outras

providências.

Reconhece a língua sinais

brasileira, bem como o apoio

e difusão da Libras; inclui a

disciplina nas ementas dos

cursos de licenciatura; garante

a educação bilíngue para

surdos.

Portaria nº

2.678/02

2002

Aprova diretriz e normas

para o uso, o ensino, a

produção e a difusão do

Sistema Braille em todas

as modalidades de

ensino

Compreende o projeto da

Grafia Braile para a Língua

Portuguesa e a recomendação

para o seu uso em todo o

território nacional.

Programa

Educação

Inclusiva

2003

Documento de subsídio

aos dirigentes estaduais

e municipais de

educação, no que se

refere à execução das

ações de continuidade e

consolidação do

Programa Educação

Inclusiva

Direito à diversidade, com

vistas a apoiar a

transformação dos sistemas

de ensino em sistemas

educacionais inclusivos,

promovendo um amplo

processo de formação de

gestores e educadores nos

municípios brasileiros para a

garantia do direito de acesso

de todos à escolarização, à

oferta do atendimento

educacional especializado e à

garantia da acessibilidade.

Decreto nº

5.296/04

02 de

dezembro de

2004

Regulamenta as Leis nos

10.048, de 8 de

novembro de 2000, que

dá prioridade de

atendimento às pessoas

que especifica, e 10.098,

de 19 de dezembro de

2000, que estabelece

normas gerais e critérios

básicos para a promoção

Desenvolvimento de ações e

realizações de campanhas

educativas sobre

acessibilidades, bem como o

acesso de todos os cidadãos a

todas as oportunidades

disponíveis na sociedade.

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da acessibilidade das

pessoas portadoras de

deficiência ou com

mobilidade reduzida, e

dá outras providências.

Decreto 5.626/05

22 de

dezembro de

2005

Regulamenta a Lei

no 10.436, de 24 de abril

de 2002, que dispõe

sobre a Língua

Brasileira de Sinais -

Libras, e o art. 18 da Lei

no 10.098, de 19 de

dezembro de 2000.

A Libras deve ser inserida

como disciplina curricular

obrigatória nos cursos de

formação de professores para

o exercício do magistério, em

nível médio e superior, e nos

cursos de Fonoaudiologia, de

instituições de ensino,

públicas e privadas, do

sistema federal de ensino e

dos sistemas de ensino dos

Estados, do Distrito Federal e

dos Municípios.

Plano Nacional

de Educação em

Direitos

Humanos

2006

Lançado pela Secretaria

Especial dos Direitos

Humanos, pelo

Ministério da Educação,

pelo Ministério da

Justiça e pela UNESCO.

Fomentar, no currículo da

educação básica, as temáticas

relativas às pessoas com

deficiência e desenvolver

ações afirmativas que

possibilitem inclusão, acesso

e permanência na educação

superior.

Plano de

Desenvolvimento

da Educação –

PDE

2007

Traz como eixos a

acessibilidade

arquitetônica dos

prédios escolares, a

implantação de salas de

recursos multifuncionais

e a formação docente

para o atendimento

educacional

especializado.

Define metas para acesso e a

permanência do ensino

comum/regular dos

estudantes com deficiência.

Decreto 6.094/07 24 de abril

de 2007

Dispõe sobre a

implementação do Plano

de Metas Compromisso

Todos pela Educação,

pela União Federal, em

regime de colaboração

com Municípios, Distrito

Federal e Estados, e a

participação das famílias

e da comunidade,

mediante programas e

ações de assistência

técnica e financeira,

Estabelece dentre as diretrizes

do Compromisso Todos pela

Educação a garantia do acesso

e permanência no ensino

regular e o atendimento às

necessidades educacionais

especiais dos alunos,

fortalecendo a inclusão

educacional nas escolas

públicas.

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27

visando a mobilização

social pela melhoria da

qualidade da educação

básica.

Política Nacional

de Educação

Especial na

Perspectiva da

Educação

Inclusiva

2007

Traz as diretrizes que

fundamentam uma

política pública voltada

à inclusão escolar,

consolidando o

movimento histórico

brasileiro.

Transversalidade da educação

especial desde a educação

infantil até a educação

superior; atendimento

educacional especializado;

continuidade da escolarização

nos níveis mais elevados do

ensino; formação de

professores para o

atendimento educacional

especializado.

Convenção sobre

os Direitos das

Pessoas com

Deficiência

2009

Aprovada pela ONU e da

qual o Brasil é

signatário. Estabelece

que os Estados Parte

devem assegurar um

sistema de educação

inclusiva em todos os

níveis de ensino.

Determina que as pessoas

com deficiência não sejam

excluídas do sistema

educacional geral e que as

crianças com deficiência não

sejam excluídas do ensino

fundamental gratuito e

compulsório; e que elas

tenham acesso ao ensino

fundamental inclusivo, de

qualidade e gratuito, em

igualdade de condições com

as demais pessoas na

comunidade em que vivem

(Art.24).

Decreto 6.949/09 25 de agosto

de 2009

Promulga a Convenção

Internacional sobre os

Direitos das Pessoas

com Deficiência e seu

Protocolo Facultativo,

assinados em Nova York,

em 30 de março de 2007.

Esse decreto dá ao texto da

Convenção caráter de norma

constitucional brasileira.

Resolução No. 4

CNE/CEB

02 de outubro

de 2009

Institui Diretrizes

Operacionais para o

Atendimento

Educacional

Especializado na

Educação Básica,

modalidade Educação

Especial.

Deve ser oferecido no turno

inverso da escolarização,

prioritariamente nas salas de

recursos multifuncionais da

própria escola ou em outra

escola de ensino regular. O

AEE pode ser realizado

também em centros de

atendimento educacional

especializado públicos e em

instituições de caráter

comunitário, confessional ou

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filantrópico sem fins

lucrativos conveniados com a

Secretaria de Educação

(art.5º).

Lei 12.764/12

27 de

setembro de

2012

Institui a Política

Nacional de Proteção

dos Direitos da Pessoa

com Transtorno do

Espectro Autista; e

altera o § 3º do art. 98

da Lei nº 8.112, de 11 de

dezembro de 1990.

Plano Nacional

de Educação

(PNE)

(2014 -2024)

25 de junho

de 2014

A Meta 4 pretende

“Universalizar, para a

população de 4 a 17

anos, o atendimento

escolar aos estudantes

com deficiência,

transtornos globais do

desenvolvimento e altas

habilidades ou

superdotação na rede

regular de ensino.”

Dentre as estratégias, está

garantir repasses duplos do

Fundo de Manutenção e

Desenvolvimento da

Educação Básica e de

Valorização dos Profissionais

da Educação (FUNDEB) a

estudantes incluídos;

implantar mais salas de

recursos multifuncionais;

fomentar a formação de

professores de AEE; ampliar

a oferta do AEE; manter e

aprofundar o programa

nacional de acessibilidade nas

escolas públicas; promover a

articulação entre o ensino

regular e o AEE; acompanhar

e monitorar o acesso à escola

de quem recebe o benefício

de prestação continuada.

Estatuto da

Pessoa com

Deficiência

6 de julho de

2015

Institui a Lei Brasileira

de Inclusão da Pessoa

com Deficiência

Destinada a assegurar e a

promover, em condições de

igualdade, o exercício dos

direitos e das liberdades

fundamentais por pessoa com

deficiência, visando à sua

inclusão social e a cidadania. Fonte: Silva (2017, p. 56)

Para a análise do histórico das políticas públicas e das normatizações da Educação

Inclusiva, contamos com a definição de Prieto (2006, p. 40) sobre o que caracterizaria esse

modelo educacional:

A educação inclusiva tem sido caracterizada como um “novo paradigma”, que se

constitui pelo apreço à diversidade como condição a ser valorizada, pois é benéfica à

escolarização de todas as pessoas, pelo respeito aos diferentes ritmos de

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aprendizagem e pela proposição de outras práticas pedagógicas, o que exige ruptura

com o instituído na sociedade e, consequentemente, nos sistemas de ensino.

Atualmente, no âmbito educacional inclusivo, têm sido implementadas as políticas

públicas citadas acima, para que a escola possa se tornar efetivamente inclusiva. Podemos

frisar, também, a Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação

Inclusiva (2008) e o Plano Nacional de Educação (2014).

Na defesa dos direitos humanos, e para confrontar as práticas discriminatórias da

sociedade contemporânea, a Política Nacional de Educação Especial, na perspectiva da

Educação Inclusiva (2008), assume um papel fundamental para superar a lógica da exclusão,

sendo elaborada para consolidar a inclusão e reconhecer a necessidade de incluir os alunos

com necessidades específicas. Dessa forma, a Educação Inclusiva

[...] tem como objetivo assegurar a inclusão escolar de alunos com deficiência,

transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, orientando

os sistemas de ensino para garantir: acesso ao ensino regular, com participação,

aprendizagem e continuidade nos níveis mais elevados do ensino; transversalidade

da modalidade de educação especial desde a educação infantil até a educação

superior; oferta do atendimento educacional especializado; formação de professores

para o atendimento educacional especializado e demais profissionais da educação

para a inclusão; participação da família e da comunidade; acessibilidade

arquitetônica, nos transportes, nos mobiliários, nas comunicações e informação; e

articulação intersetorial na implementação das políticas públicas. (POLÍTICA

NACIONAL DE EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO

INCLUSIVA, 2008, p. 14)

O Plano Nacional de Educação (2014) institui diretrizes para todas as políticas

educacionais do país por dez anos a partir de 2014. É constituído por 12 artigos e 20 metas

para a Educação e tem como foco a valorização do magistério e a qualidade da Educação.

Destacamos, abaixo, a meta 4 e as estratégias 4.1 e 4.2, que determinam as estratégias

específicas para a Educação Especial:

Meta 4: universalizar, para a população de 4 (quatro) a 17 (dezessete) anos com

deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou

superdotação, o acesso à educação básica e ao atendimento educacional

especializado, preferencialmente na rede regular de ensino, com a garantia de

sistema educacional inclusivo, de salas de recursos multifuncionais, classes, escolas

ou serviços especializados, públicos ou conveniados.

Estratégias:

4.1) contabilizar, para fins do repasse do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento

da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação - FUNDEB, as

matrículas dos (as) estudantes da educação regular da rede pública que recebam

atendimento educacional especializado complementar e suplementar, sem prejuízo

do cômputo dessas matrículas na educação básica regular, e as matrículas efetivadas,

conforme o censo escolar mais atualizado, na educação especial oferecida em

instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos,

conveniadas com o poder público e com atuação exclusiva na modalidade, nos

termos da Lei nº 11.494, de 20 de junho de 2007;

4.2) promover, no prazo de vigência deste PNE, a universalização do atendimento

escolar à demanda manifesta pelas famílias de crianças de 0 (zero) a 3 (três) anos

com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou

superdotação, observado o que dispõe a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996,

que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional;

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O PNE, através dessa meta, instituiu uma nova visão da Educação Especial como

modalidade de ensino que perpassa todos os segmentos da escolarização, prevendo

atendimento educacional especializado e recursos próprios à Educação Especial.

Se considerarmos as reflexões realizadas até o momento sobre o histórico da Educação

Especial e a proposta inclusiva para uma sociedade que se afaste do atual modo de produção

capitalista, temos um grande desafio, conforme observa Fernandes (2003, p. 87):

O grande desafio que o processo de inclusão nos impõe é justamente sua contradição

em relação ao forte caráter excludente que caracteriza a sociedade capitalista, a qual

se alimenta da pobreza e da fome de mais de dois terços da população para manter a

sua lógica de existência via concentração de que riquezas nas mãos de uma minoria.

No fim desse decênio da Política Nacional de Educação Especial, de 2008, o Conselho

Nacional de Educação, através da Comissão das Diretrizes da Educação Especial da Câmara

de Educação Básica – CEB, apresentou, no ano de 2019, a elaboração de uma nova versão

para a Política Nacional de Educação Especial, qualificada como equitativa, inclusiva e ao

longo da vida. De acordo com o plano de trabalho governamental, essa versão deverá ser

homologada e divulgada em 2020.

Nesse sentido, ao analisarmos a nova versão da consulta pública da Política Nacional

de Educação Especial, conforme exposto anteriormente, denominada equitativa, inclusiva e ao

longo da vida, divulgada pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade

e Inclusão (SECADI), nos preocupa a ausência de informações a respeito da Educação do

Campo, sugerindo uma possível inviabilidade da interface entre as modalidades de ensino, a

saber, a Educação Especial e a Educação do Campo.

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“À sombra de uma jaqueira, respirando ar de liberdade, contando histórias de que

eles e elas eram sujeitos ...; debaixo da lona preta, sentados em bancos roliços

de varões da própria mata transformados em bancos escolares...; os que

sabem um pouco mais, sob orientação de quem mais sabe

(de fora do assentamento), passam a socializar os

conhecimentos, a ensinar o B-A-Bá,

dando início, assim, a um processo

educativo distinto”.

Adelar João Pizetta

“O PLANTADO

Quanto mais eu ando,

Mais vejo estrada

E se não caminho

Não sou nada

Se tenho a poeira

Como companheira

Faço da poeira

O meu camarada

Se tenho a poeira

Como companheira

Faço da poeira

Meu camarada”.

Geraldo Vandré

2. DAS ORIGENS DAS ESCOLAS DO CAMPO EM PEDAGOGIA DA

ALTERNÂNCIA: DA FRANÇA AO BRASIL

A escola, desde sua origem, esteve ao lado do trabalho intelectual, culminando na

preparação de novos profissionais. A pedagogia da alternância surgiu com a necessidade de

sanar as particularidades da escolarização rural e as articulações da propriedade familiar e da

escola.

A origem das Escolas Famílias é pautada sobre a história de uma ideia, ou melhor, de

uma convicção que permanece viva ainda hoje, conforme descreve Nosella (2012, p. 45):

Estamos nos referindo à história de uma ideia e sobretudo a história de um homem,

de problemas vividos por ele, a do Padre Granereau, nascido em 1885, na França.

Este homem, portanto, esbarrava de um lado, diante de um Estado desinteressado

dos problemas do campo e voltado unicamente para a fórmula escolar urbana; e, do

outro lado, diante de uma Igreja intencionalmente voltada para o homem do campo,

mas sem nenhum modelo educacional para âmbito rural.

Diante dessas circunstâncias, em 1911, o padre Granereau fundou um sindicato rural

tendo como objetivo ajudar os camponeses a superar o isolamento e o individualismo. Em

1914, concluiu que o problema agrícola era simplesmente uma questão educacional, isto é, a

necessidade de desenvolver uma formação capaz de preparar os proprietários de pequenas

áreas rurais. Em 1930, Granereau desligou-se voluntariamente de uma paróquia urbana para

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se dedicar à paróquia rural de Sérignac-Péboudou. Após muitas dificuldades, no dia 21 de

novembro de 1935, se apresentaram à casa paroquial quatro alunos. O padre Granereau

apresentou-lhes a Igreja, o presbitério, a casa paroquial, explanando que tudo aquilo tinha um

aspecto de ruína. Assim, naquele dia, se iniciava as atividades escolares da primeira Maison

Familiale ou Escola da Família Agrícola.

Com o surgimento da primeira escola, o sacerdote estava disposto a formar os jovens

que deveriam se manter presentes e unidos em determinado tempo, organizados, como relata

Nosella (2012), da seguinte forma:

[...] como fazer isso sem reunir a juventude que estava espalhada pela paróquia e

como reuni-la se eles precisavam trabalhar na lavoura, dura e escassa? De uma

franca conversa, o sacerdote e alguns agricultores chegaram a uma fórmula

intermediária: os jovens permaneceriam unidos alguns dias por mês, em tempo

integral, para logo em seguida voltarem à sua propriedade agrícola. Foi uma fórmula

que satisfez tanto aos agricultores quanto aos anseios de formação do Sacerdote. O

padre logo organizou os jovens em pequenos grupos de forma a atingir, em rodízio,

um bom número da juventude de sua paróquia. A escola em alternância tinha

nascido e esta fórmula foi chamada, por muito tempo, a “fórmula de Lauzun”, por

ter sido em Lauzun a primeira Escola-Família, suficientemente estruturada, após

outra experiência, ainda por demais informe, de Sérignac-Péboudou (NOSELLA,

2012, p. 47).

Desde o começo, nasceu a ideia de alternância: uma semana por mês na escola da casa

do padre, os outros dias na escola da vida. O único professor era o padre e o curso seguia uma

organização, por correspondência, dos cursos de agricultura elaborados por um instituto

católico. O conteúdo era voltado para o domínio técnico-agrícola e não correspondia a

nenhum currículo pré-formulado.

Posteriormente, o Sacerdote contratou um técnico em agricultura, ainda seguindo o

curso de correspondência. Esse modelo de Maison Familiale continuou até os anos 1942/43,

quando as Maisons Familiales começaram a elaborar um currículo específico e mais

complexo.

O aspecto característico da Maison Familiale é que estivesse sempre com uma relação

muito estreita, primeiramente, com os sindicatos rurais e, em segundo lugar, com o

movimento da Ação Católica Francesa e Juventude Agrícola Católica. A intenção era que a

realização das ações e reflexões dos alunos fossem desenvolvidas em seu meio, com o intuito

de garantir a melhoria do contexto social dos alunos.

Atualmente, no Brasil, os Centros Familiares de Formação por Alternância - CEFFAs

estão presentes em todas as regiões (figura 3), estando subdividos principalmente em Casas

Familiares Rurais (CFRs), influenciadas pelas práticas francesas, e Escolas Famílias

Agrícolas (EFAs), influenciadas pelas experiências italianas.

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Figura 3 - Formação em Alternância (CEFFAs) no Brasil – 2015

Fonte: Geosul: revista do Departamento de Geociências

Apesar das CEFFAs estarem espalhadas por todas as regiões do Brasil, sua maior parte

concentra-se na região nordeste. Essa escolha pode ser justificada por serem regiões

interioranas, com municípios de pequeno e médio porte. É importante ressaltar que a

iniciativa da elaboração das CEFFAs não é proveniente do poder público, mas, sim, de

pequenos grupos de pessoas – agricultores familiares, sindicalistas, movimentos sociais, que,

por meio de parcerias estabelecidas com os governos municipal, estadual e federal,

concretizaram a Pedagogia da Alternância.

2.1 A CHEGADA DA PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA NO ESPÍRITO SANTO:

UM BREVE HISTÓRICO

No que diz respeito à história do Padre Granereau, os resultados obtidos com a prática

educacional articulada às atividades camponesas romperam as fronteiras francesas. No

decorrer do ano de 1961, no Norte da Itália, na região de Vêneto, foram instalados, na

Comuna de Soligo, os ensinamentos em formação agrícola em alternância: um movimento

para a implantação da “Scuola dela Famiglia Rurale” (CALIARI, 2013, p. 191).

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Em 1966, em Florença, na Itália, as conversas entre Paolo Nosella, e o Padre

Humberto Pietrogrande se pautavam sobre o mundo rural do Estado do Espírito Santo. Essa

foi a preparação da entidade. Como detalha Nosella,

O sacerdote já tinha estado no Brasil e se encontrava em Florença apenas para

completar sua formação. Durante suas andanças pelo Brasil, ficara impressionado

com a situação socioeconômica do povo interiorano capixaba, em sua grande

maioria descendente de emigrantes italianos e alemães. A comparação com os filhos

de emigrantes gaúchos ou, mais ainda, com a população das regiões italianas de

onde saiu a emigração para o Brasil, era simplesmente desanimadora: porque o nível

socioeconômico desses emigrantes capixabas seria tão baixo? O que se fez ou se

está fazendo por eles? Enfim, precisamos fazer algo para esse povo! (NOSELLA,

2012, p. 61-62).

Com esse pensamento, o jovem sacerdote jesuíta tinha também outras razões para

chegar a essa conclusão: a primeira razão institucional advinha do pensamento de que a região

estaria sobre a tutela espiritual dos jesuítas da Província que ele próprio pertencia; a segunda

previa que a Igreja estaria passando por uma transformação determinada pelo movimento

espiritual do Concílio Vaticano II:

[...] em 11 de dezembro de1966, em Padova (Itália), após a apresentação da

Fundação ítalo-brasileira pelo desenvolvimento religioso, cultural, econômico e

social do Estado do Espírito Santo no Brasil, decidiu-se, com o intuito de tornar

mais eficiente e sério o compromisso, fundar uma entidade jurídica chamada

Associazione degli Amici dello Stato Brasiliano dello Espírito Santo (AES),

inclusive para possibilitar a assinatura de convênios e arrecadações de recursos.

(NOSELLA, 2014, p. 62-63).

Em consequência da criação da Associazione degli Amici dello Stato Brasiliano dello

Espírito Santo (AES), alguns jovens conseguiram bolsas de estudos na Itália. Assim, quando

esses alunos regressassem para o Brasil, de alguma maneira, poderiam servir para a ação de

promoção social juntamente com o Pe. Humberto. Nosella (2014, p.63) destaca que os

primeiros bolsistas foram:

• 7 jovens agricultores, que estagiaram de 1966-1968 em Castelfranco, Vêneto

(Trevisto) e em San Benedito da Norcia (Padova);

• 2 assistentes sociais, em 1967, com duração de 6 meses;

• 1 técnico agrícola da ACARES, em 1968, como estágio também na França;

• 2 assistentes rurais, em 1968, com estágios em Escolas da Família Agrícola de

Economia Doméstica.

Vieram, para o Espírito Santo, técnicos italianos para análise socioeconômico do

Estado e para a consolidação da implantação das Escolas do Campo no Estado, conforme

destaca Pessotti (1978, p.16):

O trabalho dos técnicos italianos no Espírito Santo constitui-se num estudo sócio-

econômico dos municípios a serem trabalhados pelo Movimento. É importante

salientar que, dentre os três técnicos, um tinha formação agrícola e era diretor da

Escola Família de Aslo, na Itália. Este técnico posteriormente retornou ao Espírito

Santo com o grupo de brasileiros e passou a trabalhar no MEPES como monitor de

Escola Família, cargo que atualmente ainda ocupa.

A expansão além das fronteiras italianas da “Scuola Famiglia Rurale” ocorreu

inicialmente no Brasil por iniciativa do jovem jesuíta Humberto Pietrogrande, missionário na

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região agrícola no sul do Estado do Espírito Santo. De acordo com Oliveira (2016), a

expansão seguia os moldes da experiência italiana e francesa:

Os primeiros Centros Educativos em Alternância no Espírito Santo, as EFAS,

tiveram a peculiaridade de combinar aspectos próprios da atualização da experiência

italiana e aspectos próprios da matriz francesa. Assim, vem da gênese francesa, o

produtivo, o centro escolar, as famílias, a vida de grupo, o internato, equipe de

formadores, assim como os instrumentos de ligação entre o meio de vida sócio

profissional e a escola. Já da experiência italiana as EFAS tiveram a seguinte

influência: os objetivos da formação, a organização e o funcionamento do dia a dia

da escola, a propriedade agrícola, os aspectos religiosos e a perspectiva de formação

do jovem do meio rural para o desenvolvimento do mesmo (OLIVEIRA, 2016, p.

41).

Tendo o apoio da Igreja Católica, Padre Humberto articulou as famílias rurais e as

lideranças políticas, populares e religiosas com o intuito de iniciar o projeto no Sul do Estado,

o que resultou na fundação do MEPES – Movimento Educacional Promocional do Espírito

Santo, com a implantação de três Escolas Famílias Rurais em Alfredo Chaves, Rio Novo do

Sul e Olivânia. Posteriormente, em 1971, foram inauguradas duas escolas em Iconha: uma

localizada no povoado de Campinho e outra na sede do Município.

A Educação do Campo no Espírito Santo está intrinsecamente ligada ao contexto das

Escolas Família Agrícolas e da Pedagogia da Alternância, compreendidas pelas experiências

desenvolvidas pelo Movimento de Educação Promocional do Espírito Santo (MEPES), pelas

Escolas Comunitárias Rurais (ECORS), pela Regional das Associações dos Centros

Familiares de Formação em Alternância do Espírito Santo (RACEFFAES) e pela Federação

dos Trabalhadores na Agricultura no Espírito Santo (FETAES) (SILVA e SANTOS, 2015).

Decorrente desse movimento de implantação das Escolas Famílias Rurais, a expansão

passou a se estabelecer em várias regiões do Estado do Espírito Santo, presentes atualmente

em 30 municípios, totalizando 49 Escolas do Campo, das quais 22 são MEPES - Movimento

Educacional Promocional do Espírito Santo e 27 EFAs - Escolas Famílias Agrícolas,

conforme tabela abaixo.

Quadro 3 - Escolas Estaduais do Campo que adotam a Pedagogia da Alternância no

Estado do Espírito Santo MUNICÍPIO ESCOLAS

Conceição da Barra

EEEF Assentamento União

EEEF Córrego do Cedro

EEEF Valdício Barbosa

EEUEF São Benedito

Pedro Canário EEEF Três de Maio

São Mateus

EEEF 27 de Outubro

EEPEF Vale da Vitória

EEPF Padre Ezequiel

EEEF XIII de Setembro

Escola Família Agrícola do KM 41

Nova Venécia

EEPEF Fazenda Jacutinga

EEUEF Assentamento Ouro Verde

EEPEF José Antônio Silva Onofre

EEEF Padre Josimo

EEUEF Assentamento Adão Preto

Escola Família Agrícola de Chapadinha

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Montanha

EEPEF Bela Vista

EEPEF Francisco Domingos Ramos

EEPEF Paulo Freire

EEUEF Rosangela Leite Alves

Escola Família Agrícola de Vinhático

Pinheiros

EEEF Saturnino Ribeiro dos Santos

EEPEF Maria Olinda de Menezes

EEEF Margem do Itauninhas

Escola Família Agrícola de Pinheiros

Ponto Belo EEUEF Otaviano R. Carvalho

Linhares EEPEF Paulo Damião Tristão Purinha

Santa Teresa EEPEF Maria Julita

Pancas EEUEF Madre Cristina

Alfredo Chaves Escola Família Agrícola de Alfredo Chaves

Anchieta

Escola Família Agrícola de Olivânia

Centro de Educação Infantil "Criança Feliz"

Centro de Educação Infantil "Francisco Giusti"

Centro de Educação Infantil "Pingo de Gente"

Centro de Educação Infantil "Xodó das Titias"

Escola Família Turismo Pietrogrande

Rio Novo do Sul Escola Família Agrícola de Rio Novo do Sul

Ibitirama Escola Família Agrícola de Ibitirama

Cachoeiro de Itapemirim Escola Família Agrícola de Cachoeiro de Itapemirim

Mimoso do Sul Escola Família Agrícola de Belo Monte

Castelo Escola Família Agrícola de Castelo

Marilândia Escola Família Agrícola de Marilândia

Santa Maria de Jetibá Escola Família Agrícola de São João de Garrafão

Jaguaré Escola Família Agrícola de Jaguaré

São Gabriel da Palha Escola Família Agrícola do Bley

Rio Bananal Escola Família Agrícola de Rio Bananal

Boa Esperança Escola Família Agrícola de Boa Esperança

Fonte: Autoria própria (2019).

2.2 OS MOVIMENTOS SOCIAIS E A LUTA PELA TERRA NO ESPÍRITO SANTO

Ao pensarmos nos Movimentos Sociais, iniciaremos conceituando a questão agrária de

acordo com as considerações de Stédile (2012, p. 640-641 apud FRANÇA, 2013, p. 61) que a

define como “uma área do conhecimento científico que procura estudar, de forma genérica ou

em casos específicos, como cada sociedade se organiza ao longo de sua história, o uso, a

posse e a propriedade da terra”. Portanto, as condições de posse, uso, propriedade e função

social da terra são inerentes à questão agrária.

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A trajetória histórica do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra no Espírito

Santo relata um desenvolvimento coletivo para implementação de ações e lutas pelos direitos

humanos e pela emancipação cidadã na sociedade. Pizetta (1999, p. 51) destaca que, “na

fundação do Movimento Nacional, em 1984, os Sem-Terra definiram três grandes objetivos

para sua luta: terra; Reforma Agrária e transformações sociais”. Conforme França (2013,

p.82):

Por volta dos anos de 1970, com o avanço do capitalismo no campo, os

trabalhadores/trabalhadoras rurais foram obrigados a deixar a terra e migrar para as

periferias das grandes cidades e vilas, formando um grande contingente de

assalariados rurais e subempregados vivendo em condições precárias e subumanas.

Na tentativa de buscar saídas para mudar a realidade em que viviam, começaram a

se organizar em grupos para discutirem quais as formas de se exigir do governo o

cumprimento do Estatuto da Terra, lei que estabelecia a realização da Reforma

Agrária.

Essa relação capitalismo versus campo capixaba demonstra uma grande desigualdade

social pelo fato desse território ser muito propício para a produção agrícola. O Estado do

Espírito Santo sofreu uma grande modernização devido a implementação dos Grandes

Projetos Agroindustriais (eucalipto, cana e outros), que provocaram mudanças no meio rural

capixaba (PIZETTA, 1999, p. 83).

Ainda na perspectiva de proporcionar um maior entendimento sobre a realidade do

meio rural capixaba, Pizetta, (1999, p. 83) destaca que:

[...] qualificando o processo de construção da luta pela terra e pela educação nos

assentamentos, buscar-se-á observar, a partir dos resultados do Censo Agropecuário

1995/96 no Espírito Santo: (a) a estrutura da propriedade da terra, (b) a utilização da

terra, (c) a condição social dos estabelecimentos agrícolas, (d) a evolução do pessoal

ocupado no campo, (e) a classificação do pessoal ocupado: homens, mulheres e

crianças, (f) a evolução da população rural e urbana, (g) a produção agropecuária,

(h) o uso de tecnologia, compreendendo o processo histórico e identificando as

tendências para as quais aponta o desenvolvimento agropecuário e social no meio

rural capixaba.

Nesse contexto histórico sobre as desigualdades sociais, destaca-se ainda o êxodo rural

ocorrido nos anos de 1970-1995/6, no qual a população rural no Espírito Santo em 1970 era

de 54% passando para 22% em 1996. A população urbana que, em 1970 era de 46%, atingiu

78% em 1996. (PIZETTA, 1999, p.83).

Há cerca de 35 anos, o MST no Estado do Espírito Santo tem se comprometido a lutar

pela Reforma Agrária e pelos direitos ao uso da terra. Ainda na época do êxodo rural, grupos

de pessoas Sem Terra se organizaram para discutir e exigir do governo o cumprimento do

Estatuto da Terra, legislação que estabelecia a realização da Reforma (PEREIRA, 2017, p.

51).

Em 1983, o primeiro grupo de Sem Terra se constituiu, como destaca Pizetta, (1999):

O primeiro grupo de Sem-Terra constitui-se em 1983, num bairro periférico do

município de São Mateus, e compunha-se basicamente de trabalhadores rurais

desempregados. Esse grupo passou a ter o acompanhamento e a orientação do STR

de São Mateus e, em suas reuniões, tentava buscar alternativas para conquistar um

pedaço de terra. Na mesma ocasião, em outros municípios do norte, organizavam-se

grupos de trabalhadores rurais com o objetivo de pressionar o Governo do Estado

por meio de negociações (PIZETTA, 1999, p. 107).

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Na luta pelo acesso à terra, à produção de alimentos, de cultura e de justiça social,

houve mobilização das primeiras famílias, apoiadas pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais

(STR) de São Mateus rumo à democratização da terra e pela Reforma Agrária e pela

transformação social. Essas famílias conquistaram dois assentamentos. Pereira, (2017) assim

descreve tal acontecimento:

A partir dessas mobilizações, em 1984, as primeiras famílias Sem Terra

conquistaram dois assentamentos no município de Jaguaré. Como resultados do

processo de negociação surgiram, ainda nesse período, outros oito assentamentos.

Neste momento histórico a conquista da terra se deu através de reivindicação e

negociação entre os Sindicatos (combativos) e o governo do estado via secretaria da

agricultura (PEREIRA, 2017, p. 51).

Essas conquistas foram frutos das negociações com o Governo e da organização dos

grupos sociais. O primeiro assentamento no Espírito Santo foi criado no dia 13 de setembro

de 1984, denominado “Assentamento Córrego de Areia”, no município de Jaguaré. O

assentamento foi composto, inicialmente, por 31 famílias do município de São Mateus.

No mesmo processo de direito à terra, em dezembro de 1984, o segundo grupo foi

instalado, também no município de Jaguaré, sendo este composto por dez famílias, na

localidade aos arredores de São Roque, o que fez com que levasse o nome de “Assentamento

São Roque”.

Sobre os anseios do direito à terra e das lutas dos Movimentos Sociais no Estado do

Espírito Santo, França (2013) frisa:

A luta pela terra no ES continua sendo a esperança de romper acerca da injustiça e

da exclusão. A batalha pela Reforma Agrária significa mais que o retorno dos

camponeses/camponesas às suas raízes. Representa a coragem e rebeldia desses

trabalhadores/trabalhadoras na luta pela produção de alimentos, organização,

resistência, criação e recriação da cultura e da vida (FRANÇA, 2013, p. 65).

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra do Estado do Espírito Santo teve

seu primeiro documento publicado na data de 15 de abril de 1985, resultado de um encontro

entre sindicalistas, lideranças dos movimentos sociais e outras entidades, para decidirem a

criação do Movimento no Estado.

Pizetta (1999, p. 112) destaca como resultados das negociações com o Governo do

Estado do Espírito Santo, nos anos de 1985 e 1986, a conquista de mais sete assentamentos:

Assentamento de Córrego Grande, em São Mateus; Assentamento do Córrego da Onça;

Assentamento do Rio Itaúnas; Assentamento de Bela Vista; Assentamento de Córrego do

Balão; Assentamento de Nova Vitória e Assentamento de Onze de Agosto.

O MST sabia que, em tese, a conduta a ser tomada para a conquista das terras seria a

ocupação de grandes fazendas improdutivas, pressões ao INCRA e negociações com o

Governo do Estado para a efetivação de implantação da Reforma Agrária. Dessa forma, o

MST, entre os anos de 1985 a 1997, surpreendeu os governantes do Estado do Espírito Santo,

com diversos movimentos de acampamentos e 18 ocupações. O MST pode ser considerado o

maior movimento rural da história do Brasil, possibilitando a mobilização de massa e

tornando concretas as lutas pela terra.

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No Espírito Santo, o MST, ao longo do tempo, desenvolveu um processo crescente de

pertencimento perante sua luta pela demanda por terra, permeado por contradições, por

tensões militares na ordem de cumprir a reintegração de posse e pelas conquistas de

assentamentos. Devido a vários fatores, incluindo o estabelecimento da organicidade, o MST

no Estado delimitou-se com a seguinte estrutura. Pizetta (1999, p. 143) explica:

A base social e política do MST é composta basicamente pelas famílias assentadas e

campadas. A estrutura organizativa dessa base se dá através dos Núcleos de Base,

constituídos por proximidade de moradia. Cada Núcleo é composto de nove a quinze

famílias, possuindo um coordenador, um vice-coordenador, um secretário e um

tesoureiro. As demais funções decorrem das demandas e tarefas que os núcleos, os

setores e o conjunto do Movimento apresentam. A norma é que cada assentado ou

acampado faça parte de um Núcleo, como forma de pertencer ao Movimento e

continuar se mobilizando. A participação dos indivíduos em uma estrutura social,

possibilita o desenvolvimento de sua consciência social, a conquista da cidadania e o

fortalecimento da organização política.

Em síntese, esses foram os primeiros resultados de ações do MST no Espírito Santo.

Inúmeras outras lutas e ocupações ocorreram no decorrer histórico pela conquista da Reforma

Agrária no Estado. Em tempo, o Estado consta com 93 assentamentos, com 4.165 famílias

assentadas, totalizando uma área de 50.797,75 hectares, conforme informações gerais sobre os

assentamentos da Reforma Agrária do INCRA (2017), organizadas no quadro abaixo:

Quadro 4 - Projetos de Assentamentos da Reforma Agrária no Estado do

Espírito Santo - 2019

Ordem Data Nome do Projeto Área

(há) Município

Nº de

Famílias

1 05/06/1986 PA Pontal do Jundiá 778,20 Conceição da Barra 48

2 12/11/1986 PA Georgina 1.052,84 São Mateus 81

3 12/05/1987 PA Juerana 285,14 São Mateus 18

4 25/08/1987 PA Chapadão do Rio Quartel 193,90 Linhares 15

5 27/08/1987 PA PIP – Nuck 775,00 Nova Venécia 50

6 16/12/1992 PE Córrego da Areia 310,00 Jaguaré 31

7 11/07/1991 PA Gaviãozinho 450,50 Nova Venécia 30

8 29/04/1993 PA Córrego Vermelho 80,90 Ecoporanga 7

9 26/07/1995 PA Nova Esperança 484,10 Aracruz 50

10 09/04/1996 PA Valdicio Barbosa dos Santos 888,40 Conceição da Barra 89

11 09/04/1996 PA Córrego da Lage 1.167,40 Mucuri 118

12 16/12/1992 PE Nova Conquista 157,00 Pinheiros 19

13 16/12/1992 PE Rio Preto Itaúnas 460,00 Conceição da Barra 30

14 16/12/1992 PE Bela Vista 210,00 Montanha 34

15 16/12/1992 PE Francisco Domingos Ramos 193,00 Montanha 25

16 16/12/1992 PE São Roque 90,00 Jaguaré 10

17 16/12/1992 PE Córrego Alegre 173,00 Nova Venécia 18

18 16/12/1992 PE Córrego Grande 261,00 São Mateus 27

19 16/12/1992 PE Vale do Ouro 357,00 Ecoporanga 30

20 16/12/1992 PE Vale da Vitória 473,00 São Mateus 39

21 16/12/1992 PE Jucuruaba 160,00 Viana 19

22 16/12/1992 PE 13 de Maio 468,00 Nova Venécia 45

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23 16/12/1992 PE Três Pontões 207,00 Nova Venécia 20

24 16/12/1992 PE 11 de Agosto 126,00 Pinheiros 11

25 16/12/1992 PE Nova Vitória 525,00 Pinheiros 32

26 16/12/1992 PE Independência 103,00 Conceição da Barra 10

27 16/12/1992 PE 22 de Julho 131,00 Ecoporanga 12

28 16/12/1992 PE Pratinha 188,00 São Mateus 17

29 18/05/1988 PA Castro Alves 1.898,60 Pedro Canário 129

30 16/12/1992 PE Córrego da Onça 90,00 Jaguaré 8

31 16/12/1992 PE Bom Jesus 180,00 Ecoporanga 18

32 02/10/1992 PE Córrego do Balão 40,00 Montanha 7

33 02/10/1992 PE São Vicente 27,00 São Mateus 5

34 05/12/1996 PA Floresta 680,00 Alegre 77

35 05/12/1996 PA Santa Rita 514,63 Bom Jesus do Norte 50

36 05/12/1996 PA Paulo Vinhas 542,31 Conceição da Barra 63

37 04/02/1997 PA Olinda II 791,76 Pinheiros 87

38 28/08/1997 PA Maria Olinda 706,76 Pinheiros 71

39 26/12/1997 PA Celestina 314,42 Nova Venécia 31

40 31/12/1997 PA Vale da Esperança 394,41 Santa Teresa 39

41 31/12/1997 PA Miragem 1.135,00 Ecoporanga 214

42 31/12/1997 PA Piranema 626,00 Fundão 65

43 19/02/1998 PA Luiz Taliuly Neto 1.358,00 Guaçuí 136

44 19/02/1998 PA Guanabara 119,72 São Mateus 12

45 03/04/1998 PA Rancho Alegre 527,16 Mimoso do Sul 56

46 24/06/1998 PA Ita 525,19 Itaguaçu 54

47 24/09/1998 PA 16 de Abril 439,09 Nova Venécia 48

48 17/11/1998 PA 3 Corações 1.639,20 Barra de São Francisco 156

49 23/12/1998 PA Santa Fé 576,20 Apiacá 60

50 23/12/1998 PA Nova Safra 1.108,92 Itapemirim 106

51 23/12/1998 PA União 563,86 Mimoso do Sul 56

52 31/12/1988 PA Matutina 603,57 Itarana 83

53 03/09/1999 PA Monte Alegre 606,16 Muqui 60

54 13/12/1999 PA Geraldo Sperandio 745,09 Pancas 71

55 13/12/1999 PA Zumbi dos Palmares 1.386,64 São Mateus 151

56 22/12/2000 PA Padre Pedro 455,80 Mantenópolis 37

57 22/12/2000 PA Paraíso 461,10 Alegre 40

58 05/01/2001 PA Córrego do Augusto 324,35 Nova Venécia 25

59 30/07/2001 PA Ouro Verde 256,24 Muniz Freire 30

60 25/03/2002 PA Rodeio 310,52 Nova Venécia 35

61 29/04/2002 PA 17 de Abril 939,44 Muqui 72

62 29/04/2002 PA Rosa de Saron 508,22 Águia Branca 39

63 29/04/2002 PA Otaviano R. de Carvalho 1.088,41 Ponto Belo 98

64 26/12/2002 PA Teixeirinha 294,27 Apiacá 27

65 20/02/2003 PA Beija Flor 80,90 Alto Rio Novo 13

66 01/08/2003 PA Santa Clara 450,98 Viana 37

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41

67 06/08/2003 PA Florestan Fernandes 382,83 Guaçuí 34

68 08/04/2004 PA Travessia 287,33 Nova Venécia 21

69 15/06/2004 PA Ernesto Che Guevara 566,28 Mimoso do Sul 45

70 06/10/2004 PA Boa Esperança 429,69 Alto Rio Novo 46

71 14/12/2004 PA São Sebastião 696,00 Montanha 73

72 10/01/2005 PA Laje 552,02 Alto Rio Novo 50

73 06/07/2005 PA Boa Vista 585,26 Ecoporanga 57

74 09/11/2005 PA Oziel Alves 601,07 Montanha 55

75 09/11/2005 PA Adriano Machado 878,16 Montanha 74

76 03/03/2006 PA Madre Cristina 593,15 Pancas 35

77 18/04/2006 PA Margarida Alves 172,35 Pancas 6

78 21/08/2006 PA Palestrina 670,16 Mimoso do Sul 50

79 04/06/2008 PA São Felipe 271,09 Guaçuí 18

80 14/10/2009 PA Florêncio Tozzo 418,21 Mantenópolis 40

81 14/10/2009 PA Sezinio Fernandes de Jesus 2.042,04 Linhares 100

82 27/07/2009 PA Franqueza e Realiza 2.250,35 Ecoporanga 100

83 03/12/2009 PA Lírio dos Vales 443,38 Ecoporanga 34

84 04/02/2010 PA Jose Marcos de Araújo Santos 1.343,63 Presidente Kennedy 75

85 21/02/2011 PA São Gabriel 222,33 São Gabriel da Palha 15

86 18/03/2011 PA Adão Preto 569,02 São Gabriel da Palha 39

87 16/12/2011 PA Carlos Lamarca 380,12 Nova Venécia 28

89 12/01/2012 PA Valmir Antônio Barbosa 399,14 São Gabriel da Palha 20

90 02/10/1992 PA Cachoeira das Garças 1.009,64 Mimoso do Sul 72

91 05/12/1996 PA Verino Sossai 111,00 Montanha 11

92 05/12/1996 PA Novo Sonho 745,79 Ecoporanga 29

93 05/12/1996 PA Irmã Dorothy Mae Stang 139,46 Mantenópolis 15

Total 50.818,15 4.439

Fonte: INCRA/Superintendência Regional do Espírito Santo/Painel de Assentamentos, 2019.

O estado do Espírito Santo vem sendo caracterizado pela extensão de grandes áreas

produtivas. De acordo com dados do Incaper6 (2015), o Valor Bruto da Produção

Agropecuária (VBPA) estimado para 2016 foi de R$ 9 bilhões, e a agricultura responde por

69,2% desse valor. As atividades mais representativas são a cafeicultura (36,2%), a produção

animal (25,9%), a olericultura (13,2%) e a fruticultura (13%), com destaque para café,

banana, mamão, tomate e pimenta-do-reino.

2.3 A LUTA PELA EDUCAÇÃO NOS ASSENTAMENTOS DO ESPÍRITO SANTO

O termo educação corresponde ao ato ou processo de educar, que visa proporcionar

desenvolvimento físico, intelectual e moral do ser humano, através da aplicação de métodos

próprios, com o intuito de assegurar-lhe a integração social e a formação da cidadania

(MICHAELIS 2019).

6 Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), autarquia vinculada à

Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag), é responsável pelos serviços de

pesquisa aplicada, assistência técnica e extensão rural no âmbito do Estado do Espírito Santo.

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Entretanto, ressaltamos o pensamento adorniano de conceituar a educação,

apresentado em sua obra “Educação após Auschwitz”, nas seguintes palavras: “A educação

tem sentido unicamente como educação dirigida a uma auto-reflexão crítica” (ADORNO

2003, p. 21). Eis, talvez, uma definição norteadora para a Educação do Campo, isto é, que

eduque de modo que os sujeitos sejam preparados a uma autorreflexão crítica, de autonomia.

Baseando-nos no pensamento de Adorno, sobretudo no que tange à autorreflexão, a

escola é desafiada a superar a barbárie presente na sociedade. No cenário da Educação do

Campo, essa superação se faz presente nas lutas dos movimentos sociais, de militantes e de

camponeses, que se encontravam diante do desafio de organizar uma escola de assentamento

que preparasse as crianças e jovens para o meio rural.

Um dos principais objetivos do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra era

proporcionar uma Educação do Campo que os ajudasse a enfrentar os problemas do dia-a-dia.

Assim lê-se no Boletim da Educação N. 01: ocupar, resistir e produzir também na educação.

Essas diretrizes oferecem um norte de como deve ser uma escola de assentamento,

caracterizada por dez tópicos principais:

01 – A Escola de Assentamento deve preparar as crianças para o trabalho no Meio

Rural.

02 – A Escola deve capacitar para a cooperação.

03 – A direção da escola deve ser coletiva e democrática.

04 – A escola deve refletir e qualificar as experiências de trabalho produtivo das

crianças no Assentamento.

05 – A escola deve ajudar no desenvolvimento cultural dos Assentamento.

06 – O ensino deve partir da prática e levar ao conhecimento científico da realidade.

07 – O coletivo da escola deve se preocupar com o desenvolvimento pessoal de cada

aluno.

08 – O professor tem que ser militante.

09 – A escola deve ajudar a formar militantes e exercitar a mística da luta popular.

10 – A escola também é um lugar de viver e refletir sobre uma nova ética.

Com o intuito de aprimorar as ideias já estabelecidas no primeiro boletim, o Caderno

de Educação n.º 8, intitulado “Princípios da educação no MST”, de julho de 1996,

estabelecendo algumas definições importantes sobre os princípios filosóficos, pedagógicos e

aprofundamentos teóricos desses princípios. Destacam-se como os princípios filosóficos da

educação no MST os seguintes:

1) Educação para a transformação social.

Educação de classe, massiva, orgânica ao MST, aberta para o mundo, voltada para a

ação, aberta para o novo.

2) Educação para o trabalho e a cooperação.

3) Educação voltada para as várias dimensões da pessoa humana.

4) Educação com/para valores humanistas e socialistas.

5) Educação como um processo permanente de formação transformação humana.

A luta do MST não se restringe apenas ao direito à terra, mas também a uma Educação

do Campo que propicie dignidade humana e político-social dos camponeses. A escola deve

ser um lugar de todos, e não de alguns. Ela deve ser um espaço formativo e construtivo de

conhecimento. Nesse sentido, escreve Ottonelli (2014):

Justamente apostando na educação humana e nas contribuições da instituição escolar

na construção de uma sociedade aberta às diferenças humanas, é que movimentos

sociais de âmbito nacional e internacional, nas últimas décadas, vêm empreendendo

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esforços para assegurar o direito à educação a todos os cidadãos, independentemente

de suas características culturais, sociais, físicas e estruturais (OTTONELLI, 2014, p.

31).

Ao refletir sobre uma Escola do Campo, torna-se necessário uma educação

emancipatória, significada por questões político-sociais atreladas a temáticas voltadas à saúde,

agricultura, moradia, transporte, dentre outras, que formam uma totalidade complexas de

necessidades dos assentamentos. Stédile (1993) apud Pizetta (1999, p.147) ressalta que:

Só a terra não vai libertar o trabalhador da exploração. E só a escola também não é

capaz de libertar o sem terra da exploração do latifúndio. Entendemos que a

Reforma Agrária é a junção destas duas conquistas; ter acesso à terra e ter acesso à

escola, ao conhecimento, à educação.

As conquistas e ocupações de fazendas improdutivas no Estado do Espírito Santo,

resgatavam os anseios dos trabalhadores em possuírem uma terra: um lugar para produzirem

seus subsídios com a produção rural e manifestações coletivas de esperança por dias

melhores. Pizetta (1999) descreve momentos sobre as primeiras conquistas:

Ao conquistar o primeiro assentamento, os Sem-Terra, em 1984, organizaram a

primeira escola de assentamento no Estado do Espírito Santo. Com a primeira

escola, as perguntas: Qual a educação que queremos para os nossos filhos? Como

vamos educar nossos filhos? Essas questões já eram debatidas nos grupos de Sem-Terra que se reuniam antes de

romper as cercas de arame do latifúndio. Talvez já tivessem a intuição de que,

rompendo as cercas de arame, haveriam de romper as cercas do analfabetismo e da

ignorância - excluídos que foram do acesso ao conhecimento historicamente o MST

nos anos de 1984 a 1997, no Espírito Santo (PIZETTA, 1999, p. 149).

A concepção de Educação do Campo surgiu dos movimentos sociais. A diferença

fundamental entre a educação tradicional e a educação rural é a de que, nesta, o campo não é

apenas um latifúndio, mas um espaço mediador de vida social, identidade cultural e práticas

específicas inerentes daqueles que ali vivem. Arroyo (1982) assim caracteriza a importância

da educação rural:

A educação rural não é defendida como fim em si mesma, mas como instrumento

para outros fins sociais e políticos, como, por exemplo, defender-se a educação rural

para fixar o homem no campo, evitar o congestionamento e a violência das cidades,

ampliar as bases políticas, etc. (ARROYO, 1982, p. 2).

No Espírito Santo, o primeiro assentamento foi conquistado em 1984. Os Sem-Terra,

organizaram, então, a primeira escola de assentamento no Estado. Contudo, era preciso

estabelecer as diretrizes educacionais voltadas para o campo. O Projeto da Escola

Comunitária dos Assentamentos de Trabalhadores Rurais (MST, 1985) foi o documento

norteador para a primeira sistematização educacional nos assentamentos. Destacamos

algumas dessas diretrizes, elencadas por Pizetta (1999, p. 150):

[...] II. ESTRUTURA ADMINISTRATIVA:

a) Conselho Administrativo: A escola será administrada por um conselho formado

por: 1 representante dos alunos da 5ª turma, 1 representante dos pais de cada turma,

1 representante da Comissão Central da comunidade e a equipe de monitores.

Todos serão eleitos na primeira assembléia do ano do assentamento, podendo

continuar ou ser retirados da função, conforme verificação da assembléia.

b) A metodologia e as atividades internas do curso da escola serão administradas

por uma equipe de monitores escolhidos pela assembléia do assentamento, em

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número conforme a necessidade do assentamento. Os mesmos trabalharão em

equipe, tendo o sábado como dia de programação das atividades semanais da escola.

(Obs.: Cada assentamento deve discutir o número de monitores necessário àquele

assentamento).

c) A coordenação: As escolas dos assentamentos da região norte serão coordenadas

por pessoas liberadas, ligadas a um dos subnúcleos regionais, com a função de

acompanhar e orientar a prática das escolas dos assentamentos, assessorar a

formação dos monitores, atender às exigências burocráticas das escolas dos

assentamentos.

d) Participação familiar e comunitária: A participação das famílias e comunidade

na ação educativa da escola se dará da seguinte forma: da família: criar condições

para os filhos que passaram do período de preparação, assumir tarefas junto à

família e à comunidade, ajudar os filhos a desenvolver as tarefas escolares quando

está com a família; participar das atividades ligadas à escola quando solicitada pelo

Conselho Administrativo; da comunidade: atender aos alunos nas atividades

escolares, apoiar o Conselho Administrativo diante das reivindicações e outras

atividades.

III. MANUTENÇÃO:

Os monitores serão remunerados pela SEDU, conforme combinação entre SEDU e

Conselho Administrativo da escola.

Outras despesas de educação serão arcadas pelos projetos de campo da própria

escola e reivindicações feitas à SEDU, à SEAG, à [Legião Brasileira de Assistência]

(LBA), à Prefeitura, merenda escolar e pelas famílias juntamente com a

comunidade... (MST, 1985, p. 1- 2).

No Espírito Santo, a luta pela terra e pela educação nos assentamentos, a preocupação

com a formação (inicial e continuada) dos professores e a implantação de uma educação

voltada para os interesses e demandas das famílias assentadas e do próprio Movimento

prolongam-se por muitos anos. O trabalho do Movimento junto à SEDU foi imprescindível

para algumas conquistas, destacadas por Silistrino (2019, p. 82):

- 1985: audiência com a Secretaria de Estado da Educação e Cultura, Dra. Ana

Bernardes da Silveira Rocha, no acampamento Km 41, na qual se expôs uma série

de reivindicações e foi apresentado oficialmente o Projeto das escolas dos

assentamentos/acampamentos.

- Liberação de uma professora da Rede Estadual de Educação, em abril de 1986,

para acompanhar a escolas dos assentamentos/acampamentos, conforme o previsto

no projeto das escolas.

- Aprovação do funcionamento das escolas de 1º Grau instaladas pelo Poder Público

Estadual em áreas de assentamentos, pelo Conselho Estadual de Educação (CEE),

mediante Resolução nº 27/86, de 9 de maio de 1986.

- Criação oficial da Escola de 1º Grau “Assentamento União”, como unidade de

ensino de 1º grau (1ª a 8ª séries), em novembro de 1989, com efeito retroativo ao

início de 1988, época em que se iniciou o funcionamento da 5ª série.

- Aprovação, pelo CEE, em 1992, do Projeto de “Escola Popular de 1ª a 8ª série dos

assentamentos rurais do Estado do Espírito Santo”, após sete anos de tentativas junto

à Secretaria Estadual da Educação (SEDU), para o reconhecimento oficial da

proposta pedagógica desenvolvida nos assentamentos.

Havia, no Estado do Espírito Santo, 13 escolas atendendo às séries iniciais do Ensino

Fundamental (1ª a 4ª série) durante os anos de 1985 a 1990. Diante do crescente número de

escolas nos assentamentos, foi preciso refletir sobre a formação dos professores e professoras

que atuariam nas Escolas do Campo.

Para se alinhar às experiências educacionais já desenvolvidas em outros Estados,

ocorreu, em julho de 1987, o I Seminário Nacional de Educação em Assentamentos, no

município de São Mateus, com a temática “O que queremos com as Escolas dos

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Assentamentos/Acampamentos” (PIZETTA 1999, p. 158). Esse Seminário oportunizou a

troca de experiências e de reflexões sobre o papel da educação no fortalecimento da luta dos

trabalhadores e pretendia alcançar dois objetivos, assim destacados por Pizetta (1999, p. 159):

(a) Socializar as experiências alternativas que estavam sendo implementadas em

assentamentos para, a partir delas, caracterizar a proposta de educação das suas

escolas,

(b) Decorrente dessa troca de experiências e à luz da reflexão dos objetivos e da

organicidade do MST, buscar formular uma proposta de educação renovada para as

escolas de assentamentos, mediante a utilização de linguagens e práticas comuns.

Em meio a lutas e conquistas, a fim de superar a necessidade de formação desses

professores, o MST reivindicou à UFES uma proposta de qualificação para os monitores dos

assentamentos, apresentada da seguinte forma por Pizetta (1999, p. 163):

Foi nesse contexto de exigências que, em março de 1989, o MST, por intermédio do

CIDAP, apresentou à Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) uma proposta

de cursos de extensão para trabalhadores rurais nas áreas de Pedagogia, Agronomia

e Administração. Este fato atesta a iniciativa do MST na busca de novos parceiros

para avançar na proposta de educação, já que a formação dos professores era um dos

pontos cruciais.

Dos cursos solicitados, vamos nos deter apenas no de Pedagogia, visto que se

destinava à qualificação de professores. Os outros dirigiam-se basicamente aos

trabalhadores assentados, às lideranças de grupos e às associações.

O curso de Pedagogia para monitores de escolas rurais tinha como objetivo geral

contribuir para o acúmulo de conhecimentos necessários a uma prática pedagógica

consciente e coerente com a proposta da Escola Nova. Estruturado em cinco

períodos alternados, realizava-se nos meses de julho (quinze dias) e janeiro (trinta

dias), contabilizando uma carga horária de 650 horas.

Ainda no que se refere à formação de projetos de extensão na área da Pedagogia, esse

foi um ato marcante para a educação nos assentamentos, iniciado em julho de 1989 e

finalizado em janeiro de 1992. A extensão, nas palavras de Pizetta, “teve relevância histórica,

basicamente pelos conteúdos estudados e pela metodologia implementada, que possibilitaram

a relação teoria x prática” (PIZETTA, 1999, p. 168).

Devido ao avanço e crescimento do movimento no Estado, houve a necessidade de

interligar o trabalho político-pedagógico entre os assentamentos. Essa sistematização já estava

ocorrendo a partir das discussões que envolviam famílias, educando e educadores e se

organizava da seguinte forma, como descreve Silistrino (2019, p. 85):

Este jeito de organizar estava estruturado da seguinte forma: cada escola indicava

dois representantes para formar o Setor Regional, e este designava dois membros

para compor o Setor Estadual, que por sua vez, nomeava dois representantes para o

Setor Nacional. O Setor Estadual tinha/tem a tarefa de orientar, proporcionar a

formação político pedagógica dos educadores e educadoras, educandos e educandas,

famílias e comunidades em áreas de Reforma Agrária do MST/ES, fazendo

intercâmbio entre os órgãos governamentais e os assentamentos. Para avançar nas

proposições, era necessário garantir a elaboração de materiais para o subsídio das

escolas e da organização, partindo do acúmulo de experiências desenvolvidas nas

referidas escolas.

Assim, diante do que foi exposto até aqui, salientamos que o Movimentos dos Sem-

Terra, foi e vem sendo construído coletivamente, tanto na luta pelo direito à terra quanto no

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desenvolvimento educacional, consolidando-se através da prática dos sujeitos envolvidos nos

assentamentos, com o intuito de mudar a realidade onde vivem.

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“Tudo que alguma vez foi pensado pode ser suprimido;

pode ser esquecido e até desaparecer.

mas não pode ser negado que algo

dele permanece sempre. O que

foi fortemente pensado será

pensado em algum outro

lugar e por outras

pessoas”.

Adorno

3. PERCURSOS METODOLÓGICOS: A CONSTRUÇÃO DA PESQUISA

Debateremos nosso objeto de estudo frente aos pensamentos de Theodor Adorno à luz

da Teria Crítica da Sociedade. Essa reflexão demanda a necessidade de não separar Teoria e

Prática em relação a questões que nos possibilitem pensar em uma educação voltada para a

perspectiva de resistir à barbárie de nossa sociedade.

Nessa perspectiva, esta pesquisa tem como questão central a caracterização e

implementação das Políticas Públicas de Educação Inclusiva na interface entre a Educação

Especial e a Educação do Campo no município de Conceição da Barra/ES. Assim, partindo do

pensamento de Adorno, nos ancoramos nos pressupostos teóricos da Teoria Crítica. A nossa

abordagem teórico-metodológica se dará mediante as contribuições dos pensadores da Teoria

Crítica e seus comentadores. Dentro desse contexto, os resultados obtidos neste estudo

também serão analisados e discutidos com base na Teoria Crítica.

3.1 OBJETIVOS DO ESTUDO

Este estudo objetiva, tendo como base a interface entre a Educação Especial e a

Educação do Campo:

• Caracterizar a implementação das Políticas públicas de Educação Especial no âmbito

da Educação Inclusiva e sua interface com/na Educação do Campo em uma escola

pública municipal do campo de Conceição da Barra/ES, com experiências de inclusão

de estudantes público-alvo da Educação Especial;

• Caracterizar o Projeto Político-Pedagógico (aspectos político-administrativos,

político-pedagógicos, acessibilidade física, pedagógica e atitudinal, entre outros) de

uma escola pública municipal do campo de Conceição da Barra/ES, em relação às

demandas por/de Educação Inclusiva de estudantes público-alvo da Educação

Especial;

• Caracterizar as concepções dos professores da EEEF Córrego do Cedro do município

de Conceição da Barra/ES sobre as experiências de inclusão de estudantes público-

alvo da Educação Especial;

• Identificar os desafios da EEEF Córrego do Cedro frente à proposta de inclusão de

estudantes público-alvo da Educação Especial.

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3.2 QUESTÕES DE ESTUDO

Tendo os objetivos estabelecidos, foram propostas as seguintes questões de estudo:

• Qual(is) concepção(ões) de educação têm sido afirmada(s) para o público-alvo da

Educação Especial nas experiências das Escolas do Campo no município de

Conceição da Barra?

• Há estudantes público-alvo da Educação Especial nas Escolas do Campo no município

de Conceição da Barra/ES? Quais tipos de necessidades apresentam? Se sim, como

são identificados?

• Há o AEE – Atendimento Educacional Especializado nas salas de recursos das Escolas

do Campo do município de Conceição da Barra/ES? Se sim, como funcionam?

• Quais aspectos pedagógicos e educacionais relacionados a Educação Especial na

perspectiva inclusiva são encontrados no Projeto Político Pedagógico (PPP) da EEEF

Córrego do Cedro do município de Conceição da Barra/ES?

• Qual é percepção dos professores da escola no que se refere a sua formação (inicial e

continuada) para atuar com estudantes público-alvo da Educação Especial?

• Quais ações são desenvolvidas na EEEF Córrego do Cedro para o atendimento das

demandas de aprendizagem dos estudantes público-alvo da Educação Especial?

3.3 CARACTERIZAÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO DO LÓCUS DE ESTUDO: O

MUNICÍPIO DE CONCEIÇÃO DA BARRA/ES

3.3.1 Aspectos históricos, demográficos e econômicos

O município de Conceição da Barra é um dos mais antigos municípios do Estado do

Espírito Santo. Como todo núcleo primitivo, nasceu em razão de um porto determinante

geograficamente para a fundação da cidade. (PREFEITURA DE CONCEIÇÃO DA BARRA,

2019)

Sua fundação data de 1554, quando os portugueses organizaram expedições para

afastarem os índios das circunvizinhanças de Vila Velha, local onde se estabelecera o

donatário Vasco Fernandes Coutinho. Vindos do mar, os portugueses aportaram ao norte da

foz de um grande rio, chamado pelos índios de Kiri-Kerê. Receosos do ataque dos índios, os

europeus permaneceram no litoral. Entretanto, os indígenas que habitavam a região

pertenciam à tribo Guaianá, de índole pacífica.

Em meados de setembro de 1596, a povoação de “Barra” recebeu a visita do venerável

e hoje Santo Padre José de Anchieta, que visitou, também, a povoação no Vale do Cricaré, no

dia 21 de setembro do mesmo ano. À época, era costume denominar as terras e os acidentes

geográficos com o nome do Santo que a visitou, Pe. José de Anchieta trocou o nome do rio

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para rio São Mateus e deu à povoação o mesmo nome. Com essa troca de nomes, o núcleo

populacional da margem esquerda do rio passou a se chamar “Barra de São Mateus”.

Figura 4 - Mapa da Região do Litoral Norte Espírito-santense, em destaque (vermelho)

o município de Conceição da Barra

+ Fonte: Google (2018).

A povoação da Barra de São Mateus muito contribuiu para o desenvolvimento da

Capitania do Espírito Santo. Segundo o poema do Pe. José de Anchieta, onde descreve a

"Batalha do Cricaré", foi nas águas do rio que banha o município que Fernão de Sá, filho de

Mens de Sá, perdeu a vida enquanto lutava pela expulsão dos franceses.

O porto marítimo de Barra de São Mateus, juntamente com o porto de Vila de São

Mateus (atual município de São Mateus), era uma espécie de complexo portuário, sendo o de

Vila de São Mateus um anexo fluvial ao porto marítimo de Barra de São Mateus (atual

município de Conceição da Barra). Segundo Russo (2011, p. 18) o “Porto da Barra servia de

ancoradouro para embarcações de grande porte, que transitavam a costa brasileira”. Ainda

segundo o autor, essa relação portuária entre São Mateus e Conceição da Barra, aliada à

vocação agrícola voltada para a produção de farinha de mandioca, foi o vetor do

desenvolvimento regional ao longo do século XIX.

Em ato datado de 11 de agosto de 1831, Barra de São Mateus foi instituída paróquia,

sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição, cuja imagem era venerada numa capela

rústica, erguida nos primórdios da colonização, onde se encontra até os dias de hoje. Foi

elevada à categoria de Vila por resolução do Conselho do Governo, datado de 2 de abril de

1833.

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Por meio do decreto provincial nº 4, de 04/07/1861, foi criado o distrito de Itaúnas,

anexado à Barra de São Mateus. Com o Decreto nº 28, de 19 de setembro de 1891, Itaúnas

recebeu o foro de cidade. A solenidade da instalação da cidade deu-se a 6 de outubro do

mesmo ano, ficando estabelecido por lei, este dia, para se comemorar o Dia do Município. A

cidade recebeu a denominação de Conceição da Barra, sendo o primeiro nome uma

homenagem à padroeira e, o segundo, lembrando o primeiro nome que os portugueses deram

à povoação. Nesta época, Conceição da Barra possuía um território de aproximadamente

2.303,243 km² (PREFEITURA DE CONCEIÇÃO DA BARRA, 2019).

Em divisão territorial, o município é constituído de 4 distritos: Sede, Itaúnas, Braço do

Rio e Cricaré. Hoje, o município se estende por um território de 1.184,944 km²

(PREFEITURA DE CONCEIÇÃO DA BARRA, 2019).

3.3.2 Caracterização do Assentamento Paulo Vinhas.

O assentamento Paulo Vinhas (Figura 5) foi conquistado através da luta do

Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), criado no dia 05 de dezembro de 1996.

Localizado no município de Conceição da Barra, a onze quilômetros de distância da Vila de

Pescadores de Itaúnas. Na área do assentamento, foram construídas casas habitacionais para

63 famílias. Em Paulo Vinhas, foi possível desenvolver a produção de milho, feijão,

mandioca, batata, pimenta do reino e a criação de pequenos animais.

A chegada dessas famílias ocorreu em 1995. As famílias acamparam na Fazenda

Itaúnas e em casas já existentes na antiga fazenda e eram originárias de cidades do Espírito

Santo, como Vitória, Pinheiros e Pedro Canário, bem como do Estado da Bahia e de Minas

Gerais. Por determinado período, essas famílias prestaram serviços aos proprietários

circunvizinhos, como a Fazenda São João, com o plantio de palmito da empresa Coimex

Agrícola; outras famílias optaram também pela pesca às margens do Rio Itaúnas (ESPÍRITO

SANTO, 2013, p. 5).

Pereira (2017) descreve sua entrevista com os primeiros assentados na Fazenda

Itaúnas: o Sr. Angelino, militante do movimento MST, e a Sr.ª Nadir, uma das mais antigas

camponesas de Paulo Vinhas:

Segundo esse assentado, tudo começou no acampamento do Churí, município de

Vila Velha, onde mais de trezentas famílias ocupavam uma área com

aproximadamente seiscentos hectares, todas organizadas pelo MST, que tinha o

trabalho de base, realizado pelas equipes de frentes de massa. “Uma frente firme,

formada pelos militantes do movimento”–enfatiza, e faz questão de mostrar a força

do MST em todo o estado: “Mas você pensa que isso começou aqui? Que nada! A

luta foi realizada lá em cima pras bandas de Vila Velha, Vitória, Serra, e depois,

mais pro lado de cá, norte do estado como Pinheiros, Conceição da Barra, Jaguaré e

São Mateus”.

Segundo seu Arlindo, ainda do acampamento do Churí, muitos desafios foram

enfrentados pelos camponeses acampados, principalmente na dificuldade de manter

a garantia de “alimentação para tanta gente acampada”. Dona Iolanda se recorda

que muitas lutas foram travadas com o governo do estado e com o INCRA. Foram

realizadas negociações e os alimentos foram disponibilizados e entregues pelo

próprio governo no acampamento (PEREIRA, 2017, p. 62.

A partir das negociações do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra com o INCRA,

somado à formação da compra da Fazenda Itaúnas, foi constatado que a área não comportava

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todas as famílias acampadas. Definiu-se, coletivamente, que fosse feito um sorteio para que

fossem, então, assentadas as 63 famílias, formalizando o Assentamento Paulo Vinhas.

Em sua pesquisa, Pereira (2017) destaca que o assentamento se encontra,

geograficamente, na mesorregião do Litoral Norte do Espírito Santo que, conforme o IBGE,

compõe a Microrregião de São Mateus – ES, formada pelos municípios de Conceição da

Barra, Pedro Canário, Jaguaré e São Mateus. Destaca-se ainda que os habitantes do

Assentamento Paulo Vinhas são provenientes dos estados do Espírito Santo e da Bahia e

totalizam 63 famílias, conforme quadro 5, abaixo:

Quadro 5 - Origem das famílias do Assentamento Paulo Vinhas/ES

LOCALIDADE ESTADO Nº FAMÍLIAS

Conceição da Barra ES 10

Pedro Canário ES 8

São Mateus ES 7

Pinheiros ES 8

Colatina ES 7

Linhares ES 6

Montanha ES 6

Jaguaré ES 2

Serra ES 3

Vila Velha ES 3

Itaenga BA 1

Mucuri BA 2

TOTAL 63

Fonte: Pereira (2017).

A região do Assentamento Paulo Vinhas possui condições naturais favoráveis à

produção, sendo divido em lotes de produção com extensão de 10 hectares cada. Cada família

possui uma área/quintal de 900m² na área de habitação denominada Agrovila, construída no

entorno da área social. A Agrovila é composta por escola, posto de saúde e área de lazer.

Algumas famílias do assentamento relatam dificuldade de conciliar a vida na Agrovila

e o desenvolvimento adequado das produções/criações nos lotes de produção devido à

distância entre elas, como destacado por Pereira (2017, p. 67):

No Assentamento a Agrovila consiste na destinação de uma área dentro do território

do assentamento, destinado a construção das moradias num contexto habitacional,

sendo que casa assentado tem sua área específica onde foram construídas as casas.

Esta também tem sua área social, onde foi construída a escola Córrego do Cedo,

uma Unidade de Saúde e área de lazer. A agrovila foi planejada para organizar as

famílias dos assentados. Porém, de acordo com os assentados, o sistema impede as

famílias de desenvolverem criações de animais domésticos e plantio de hortaliças,

pois, da agrovila até o outro extremo do Assentamento, em algumas situações as

áreas distanciam algo em torno de 6 km, isso impossibilita a ida dos Assentados ao

lote de trabalho, para eles, os Assentados estavam sendo “bóias frias” no seu próprio

lote de trabalho, já que a distância os impossibilita almoçar em casa e retornar ao

trabalho.

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Figura 5 - Localização geográfica do Assentamento Paulo Vinhas

Fonte: Pereira (2017).

Apesar do avanço do agronegócio, a agricultura familiar no município de Conceição

da Barra se baseia na produção do café conilon, pimenta do reino, mandioca e seus

subprodutos (farinha, beju, tapioca, urucum, coco-anão) e na fruticultura, com vertiginoso

crescimento. Para a cultura do maracujá e do mamão (INCAPER, 2011), há cinco

assentamentos conquistados pelo MST. Atualmente, há cinco Assentamentos Rurais em

Conceição da Barra (Quadro 6).

Quadro 6 - Assentamentos Rurais em Conceição da Barra/ES

Ordem Data Nome do Projeto Área

(há) Município

Nº de

Famílias

1 05/06/1986 PA Pontal do Jundiá 778,20 Conceição da Barra 48

2 09/04/1996 PA Valdicio Barbosa dos Santos 888,40 Conceição da Barra 89

3 16/12/1992 PE Rio Preto Itaúnas 460,00 Conceição da Barra 30

4 16/12/1992 PE Independência 103,00 Conceição da Barra 10

5 05/12/1996 PA Paulo Vinhas 542,31 Conceição da Barra 63

Fonte: INCRA/Superintendência Regional do Espírito Santo/Painel de Assentamentos, 2019.

3.3.3 Aspectos educacionais da Escola Estadual de Ensino Fundamental Córrego do

Cedro.

A Escola Estadual de Ensino Fundamental (EEEF) Córrego do Cedro, localizada no

Assentamento Paulo Vinhas, cujo ato de criação é identificado pela Portaria n.º 073-R de

30/10/2001, oferta os níveis de ensino Fundamental (1º ao 9º ano) e EJA (1º Segmento), tendo

a Secretaria de Estado da Educação do Estado do Espírito Santo – (SEDU) e a Prefeitura

Municipal de Conceição da Barra como suas entidades mantenedoras.

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Santos (2015, p. 72) destaca, em sua tese, relatos extraídos das entrevistas realizadas

com os educadores do colégio. Nessas entrevistas, os educadores relatam características sobre

a origem da Escola Córrego do Cedro, como no exemplo abaixo:

[...] Árvores, tinha muitas árvores de cedro, então devido a isso a escola se

denominou Córrego do Cedro, Cedro a madeira que tinha nas margens do

córrego[...] (Educadora Aracélia Hupp).

[...] O nome Córrego do Cedro surgiu a partir de um Córrego chamado Córrego do

Cedro que tá aqui bem nas proximidades da [...] aqui bem pertinho da Agrovila do

Assentamento, é um córrego onde já se morou várias pessoas várias, já se tinha uma

comunidade, comunidade Córrego do Cedro onde foram todas extintas, hoje virou

tudo eucalipto, onde já se morou muitas famílias e esse nome Escola Córrego do

Cedro se originou desde essa época muito antes de ser Assentamento, então quem

boto nome na Escola Córrego do Cedro não foi a comunidade, quando o

Assentamento chegou pra cá, a ocupação, já tinha a Escola Córrego do Cedro e

quem formou a Escola Córrego do Cedro foram esses antigos moradores que nem

pouquíssimos deles estão aqui até hoje. (Educador Edmauro Pereira).

A Escola Córrego do Cedro (Figura 6) recebeu esse nome devido à existência de um

córrego do mesmo nome que corta o assentamento, e que, na época do acampamento, foi de

grande importância para a preparação de alimentos e de seu consumo, bem como para outras

necessidades básicas (CONCEIÇÃO DA BARRA, 2013, p. 15).

Figura 6 - Vista lateral da EEEF Córrego do Cedro

Fonte: registro do autor (2019).

Mas o que significa elaborar o passado? Para Adorno (1995, p. 10), “(...) é preciso

elaborar o passado e criticar o presente prejudicado, evitando que este perdure e, assim, que

aquele se repita”. Esse pensamento encontra ressonância nas lutas dos movimentos sociais, na

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conquista de suas terras, ou seja, é nesse ambiente de tensões/contradições que há

possibilidade de libertação.

Quando observamos a fachada da EEEF Córrego do Cedro, retratada na foto, logo,

refletimos sobre os anseios dos movimentos sociais. A bandeira estampada na parede da

instituição remete a todas as lutas pela conquista da terra batida em torno da escola.

Vislumbramos, através dessa imagem, as vivências de muitas famílias e militantes do MST.

Destaco a frase abaixo da bandeira: “Promovendo Educação do Campo”. É sabido que

o compromisso dos movimentos sociais em promover a Educação preconiza, como objetivos,

preparar as futuras lideranças; mostrar a realidade do povo trabalhador, da roça e da cidade;

pensar como deve funcionar a nova sociedade. (MST, 2005, p. 31)

A Educação do Campo, promovida pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem

Terra, tem como objetivo principal promover a formação de militantes ligados ao movimento

social, cabendo à escola exercitar a Mística, que é um conjunto de apresentações culturais (ver

figura 7). A Mística é definida, pelo MST, da seguinte forma:

A Mística é a MOTIVAÇÃO para seguir em frente. Nasce do coração e nem sempre

atravessa o cérebro. Mas sempre se traduz em ações ou expressões concretas.

Os conteúdos da mística são os valores da justiça, igualdade, da liberdade; é o

companheirismo, a solidariedade, a resistência. O sonho de uma vida digna. O sonho

de uma nova sociedade, de uma nova educação, de um novo homem e de uma nova

mulher. É a paixão que vai sendo construída pela causa do povo. A expressão ou a

forma da mística pode ser um gesto, um símbolo, um grito, um canto, uma camiseta,

uma reza, uma caminhada, um sacrifício. Mistura compromisso com alegria. Luta

com festa. Tem mais força quando envolve a participação ativa de todo o grupo

(MST, 2005, p. 47).

Figura 7 – Representação de uma mística

Fonte: registro do autor (2019).

A Escola Córrego do Cedro, durante o período de 2019, era composta por uma equipe

de 24 profissionais, todos em regimento de designação temporária, detalhados conforme o

quadro 7, abaixo:

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Quadro 7 - Quadro de Funcionários da Escola Estadual de Ensino Fundamental

Córrego do Cedro.

Nº Educador (a) Situação

Funcional Disciplina/Nível

01 Aracélia Martins Teixeira Hupp DT Língua Portuguesa;

Projeto de Pesquisa;

Educação familiar e Práticas na

Propriedade/ Atividade Integradora.

02 Ana Carolina Torres dos Santos DT Tradutora e Intérprete de Libras

03 Andréia Oliveira Rigoni DT Atendimento Educacional

Especializado

04 Ariel Souza dos Santos DT Matemática

05 Edmauro Santana Pereira DT Geografia;

Educação familiar e Práticas na

Propriedade/ Atividade Integradora.

06 Eunicy Ferreira Soares DT Artes

07 Edson Walter Pereira dos Santos DT Matemática

08 Gabriel Gagliardi Barbero DT Educação Física

09 Graziella Lopes Gonçalves DT Pedagoga

10 Gerles Gonçalves DT Ciências Agropecuária;

Agricultura e Zootecnia

11 Helen Lúcia Oliveira de Paula DT História

12 Jotacil de Paula DT Ciências

13 Laureni Martins Rigoni Pereira DT Língua Portuguesa

14 Maria de Fátima Pessoa DT Auxiliar de Serviços Gerais

15 Maria de Nazaré Campos Souto Silva DT Arte

16 Maria do Carmo Oliveira da Silva DT Cozinheira

17 Marinalva Alvarinto DT Cozinheira

18 Marta Célia Adolfo Alves DT Séries Iniciais;

Educação familiar e práticas na

Prioridade / Atividade integradora

Acrescentar

19 Priscila dos Santos Martins da Cunha DT Atendimento Educacional

Especializado

20 Vanessa Ferreira Soares DT Cuidadora

21 Vanessa Pessoa Santos DT Auxiliar de Secretária Escolar

22 Vaneça de Jesus Santos DT Séries iniciais

23 Vera Falcão dos Santos DT Séries iniciais

24 Wilyans Pessoa de Sousa DT Ciências Agropecuárias

Fonte: Livro de Ponto de frequência, 2019.

A escola está vinculada ao sistema estadual de ensino do Espírito Santo, conforme

Projeto Político Pedagógico (2013, p. 2):

A presente Proposta Pedagógica está fundamentada no Regimento Comum das

Escolas Estaduais do ES – 2010, na Resolução 1.286/2006 do CCE/ES e no

Currículo Básico Escola Estadual – 2009, tendo como referência o Projeto de

Educação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), buscando

traduzir as diretrizes que orientam a prática pedagógica da escola, no sentido de

qualificar a ação pedagógica de toda a comunidade escolar, tendo o educando como

sujeito do processo.

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Verifica-se ainda que, apesar da proposta pedagógica dessa escola estar fundamentada

na legislação do sistema educacional de ensino do Espírito Santo, o PPP têm como referência

o Projeto de Educação do MST na perspectiva da educação popular, resultante de um

processo coletivo que envolve lideranças, educadores, pais e educandos e tem como objetivo

proporcionar aos camponeses uma educação de qualidade atenta às demandas da comunidade.

Santos (2015, p. 72) relata, também, sobre a importância da Escola para a comunidade

escolar:

Na experiência da observação participante, percebi que a escola caracteriza-se como

um espaço natural familiar. Desde os lações de parentesco entre alguns educadores

até a organização espacial, a escola representa uma “extensão da casa” dos sujeitos

participantes da comunidade escolar.

A Escola Córrego do Cedro tornou-se, para a comunidade escolar, símbolo de

representatividade da luta do movimento social e da conquista do assentamento Paulo César

Vinha. É através da escola, do intermédio dos representantes locais e do MST que a novas

frentes de trabalhos e união são estabelecidas, tornando-se um espaço único de aprendizado e

de comunidade.

3.4 OS SUJEITOS DA PESQUISA

Para realização do estudo foram aplicados questionários para: 1 (um) membro da

equipe gestora da escola lócus do estudo, 1 (um) professor atuante no Atendimento

Educacional Especializado (AEE); 1 (um) Tradutor Intérprete de Libras; 1 (uma) Professora

da Educação Infantil e 1 (um) professor de cada área do conhecimento, a saber, Códigos e

Linguagens; Ciências Humanas e Sociais; Ciências Exatas e da Natureza, necessariamente

atuantes em turmas em que estudantes público-alvo da Educação Especial estivessem

incluídos.

3.5 PROCEDIMENTOS E INSTRUMENTOS DA PESQUISA

Como já mencionado em outros momentos, o lócus da pesquisa foi a EEEF Córrego

do Cedro. A escolha dessa escola se deu a partir de um critério quantitativo em relação ao

maior número de matrículas na modalidade de Educação Especial. Nesse estudo, foram

utilizados os seguintes procedimentos/instrumentos para a geração e coleta de dados (cf.

Apêndices II e III):

• Procedimentos:

✓ Observação na escola lócus da pesquisa, com os devidos registros em diário de campo;

✓ Análise documental, do PPP da escola e demais documentos relevantes encontrados in

loco;

• Instrumentos:

✓ Questionário de caracterização da Escola do Campo (Anexo C);

✓ Questionário semiestruturados com professores atuantes com os estudantes

público-alvo da Educação Especial (Anexo D).

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Assim, em posse dos dados coletados, seguimos para a etapa final da pesquisa.

Alicerçados na Teoria Crítica como suporte teórico-metodológico do estudo, foi realizada a

análise e interpretação dos dados da pesquisa, o que nos permitiu avaliar o alcance dos

objetivos elencados.

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“Crianças, professores, lideranças, o conjunto dos assentamentos e acampados

que começam a discutir e a fazer uma Escola diferente.

Uma Escola do nosso jeito, que nos ajude

a enfrentar os problemas do dia a dia”.

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

“Várias vezes eu sinalizei as minhas necessidades e você as ignorou,

colocando as suas idéias no lugar. Quantas vezes levantei a mão

para expor minhas idéias e você não viu. Só prevaleceram

os seus objetivos ou você tentava me influenciar

com a história de que a Lei agora é essa”.

Karin Strobel

4. INTERFACE: EDUCAÇÃO ESPECIAL NA EDUCAÇÃO DO CAMPO E AS

EXPERIÊNCIAS DA ESCOLA CÓRREGO DO CEDRO

Há trinta e cinco anos, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra vem construindo

sua história, com lutas, conquistas e esperanças, praticando e promovendo um contexto de

resistência. Dialogando com seus pensamentos, o MST declara sua proposta de ter uma

“Escola do nosso jeito, que nos ajude a enfrentar os problemas do dia a dia” (MST, 1992, p.

1). Iniciaremos o presente capítulo buscando refletir sobre os desafios e as práticas inclusivas,

e quem são os sujeitos da Educação Especial e da Educação do Campo que atuam na Escola

Estadual de Ensino Fundamental Córrego do Cedro.

Realizamos as análises e discussões dos dados coletados a partir das reflexões de

Adorno, de que “desbarbarizar tornou-se a questão mais urgente da educação hoje em dia”

(ADORNO, 1995, p. 155), isto é, pensando que “uma democracia efetiva só pode ser

imaginada enquanto uma sociedade de quem é emancipada” (ADORNO, 1995, p.142).

Os anseios do MST sinalizam um olhar sobre a necessidade de uma escola vinculada

para o trabalho. Arroyo (2004, p. 77) assim defende os princípios da escola do campo:

Escola sim, mas vinculada ao mundo do trabalho, da cultura, ao mundo da produção,

vinculada à luta pela terra, ao projeto popular de desenvolvimento do campo. Nós

temos que recuperar os vínculos entre educação e terra, trabalho, produção, vida,

cotidiano de existência; aí é que está o educativo.

Iniciamos nossas visitas à escola em agosto de 2019, permanecendo na escola durante

uma semana. Enquanto acompanhávamos toda a rotina semanal, coletamos dados por

intermédio da pesquisa documental e aplicação de questionário, analisadas à luz da Teoria

Crítica de Theodor Adorno e seus comentadores, sobretudo nos estudos voltados à inclusão

escolar. Num primeiro momento, foi apresentada a proposta da pesquisa para a pedagoga da

escola e, posteriormente, para os educadores da escola.

Dialogando com a pedagoga, iniciamos nossa conversa com o objetivo de entender

como a escola do campo enfrentava os desafios da Educação Inclusiva e como essas duas

vertentes possivelmente se cruzam e buscam atender às particularidades desse público. A

pedagoga destacou que o PPP da escola inclui a Educação Especial. Foi possível perceber a

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existência de uma interface entre a Educação Especial e a Educação do Campo. Conforme o

PPP (2013, p. 9), lê-se, ao item 2.4:

2.4 - Objetivos da Educação Especial

A Educação Especial, ofertada de acordo com o disposto no Artigo 58 a 60 da

LDBEN 9.394/96 e Artigo 25 do Regimento Comum das Escolas da Rede Estadual

de Ensino do Espírito Santo – 2010, organiza-se de modo a considerar uma

aproximação sucessiva dos pressupostos e da prática pedagógica social da educação

inclusiva.

• Ofertar o Atendimento Educacional Especializado – AEE - aos educandos

que apresentem deficiência, transtornos globais do desenvolvimento ou

altas habilidades/superdotação na sala de aula regular com o devido apoio.

• Promover ações que possibilitem a integração dos educandos com

necessidades educacionais especiais na vida escolar e comunitária. Garantir

a educação escolar e promover o desenvolvimento das potencialidades dos

educandos que apresentam necessidades educacionais especiais, nos níveis

e modalidades da educação ofertada pela escola.

Figura 8 - Início da pesquisa na Escola Estadual de Ensino Fundamental

Córrego do Cedro

Fonte: registro do autor. 2019.

Certos de que um Projeto Político Pedagógico é inacabado, questionamos como havia

sido elaborado o referido Projeto. A pedagoga assim relata: “A estrutura da proposta fica a

cargo da coordenação pedagógica, sendo as propostas, antes, dialogadas no coletivo, nas

reuniões de equipe que acontecem toda semana e nas reuniões com o colegiado”. Com esse

relato, está claro que as ideias representadas no projeto político pedagógico da escola são os

resultados de um processo coletivo que envolve lideranças, educadores, pais e educando.

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Além disso, as práticas educacionais, acreditamos, devem estar centradas nas experiências,

caracterizadas “pela difícil mediação entre condicionamento social, o momento de adaptação,

e o sentido autônomo da subjetividade” (ADORNO, 1995, p.26).

O modelo educacional atual se depara com os desafios de extinguir a segregação e a

exclusão, que se encontram enraizadas na vida social. Para tanto, é necessária a emancipação

de todos os sujeitos, a fim de romper com a idealização dominante já consolidada no mundo,

como bem enfatiza o pensamento de Adorno (1995, p. 35,36):

A própria falta de emancipação é convertida em ideologia [...] Mas, deparam-se, por

outro lado, com as sólidas barreiras impostas pelas condições vigentes. Como não

podem romper essas barreiras mediante o pensamento, acabam atribuindo a si

mesmos, ou aos adultos, ou aos outros, esta impossibilidade real que lhes é imposta.

Eles mesmos terminam por se dividir mais uma vez em sujeito e objeto. De qualquer

modo, a ideologia dominante hoje em dia define que, quanto mais pessoas estiverem

submetidas a contextos objetivos em relação aos quais são impotentes, ou acreditam

ser impotentes, tanto mais ela se tornarão subjetiva esta impotência.

A todo instante, nos deparamos com as ideias dominantes que definem os que seriam

os melhores caminhos para a escolarização. Por isso, a todo momento, acreditamos que seja

preciso lutar contra a pseudoinclusão, que por vezes é mimetizada na forma de integração

escolar. Defendemos que a escola precisa ser humanista, solidária e acolhedora, primando

por e afirmando a instauração do respeito e da aprendizagem baseada nas diferenças.

Ainda com o objetivo de refletirmos sobre a compreensão da gestão escolar perante

esta vertente inclusiva, fizemos o seguinte questionamento: Ao analisar a presença do aluno

da Educação Especial na escola do campo, quais propostas apresentaria para garantir um bom

trabalho pedagógico? A pedagoga elencou as seguintes propostas:

• Um bom trabalho planejamento das atividades a serem desenvolvidas;

• Relacionar os conteúdos com a realidade do educando;

• Promover a inserção dos educandos nas atividades desenvolvidas na escola.

Com essa resposta, percebemos o destaque para a preocupação com o ensino dos

educandos público-alvo da Educação Especial, afirmando sobre a importância do

planejamento das atividades, de relacionar os conteúdos e na integração dos discentes nas

atividades da escola.

Deste modo, é preciso que as ações escolares não estejam restritas à gestão escolar,

mas, sim, produzidas por todos os partícipes da instituição. Para Adorno (1995, p. 143), isso

significa que “a idéia de emancipação [...] é ela própria ainda demasiado abstrata, além de

encontrar-se relacionada a uma dialética. Esta precisa ser inserida no pensamento e também

na prática educacional”.

4.1 CARACTERIZAÇÃO DOS ALUNOS PÚBLICO-ALVO DA EDUCAÇÃO

ESPECIAL

Essa etapa da pesquisa se concretizou, principalmente, a partir da aplicação de um

questionário das Escolas do Campo (apêndice III), que teve como objetivo levantar dados

sobre o perfil dos educandos.

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A EEEF Córrego do Cedro atende 116 alunos nos três períodos (matutino, vespertino e

noturno). Desse total, 4 são estudantes público-alvo da Educação Especial. A escola oferta

Educação Infantil (do 1º ao 5º ano) no período matutino das 7h às 12:30; pré-educação (Pré I

e Pré II) no período vespertino das 13h às 17h; primeiro ciclo do ensino fundamental (5ª a 8ª

série) em tempo integral das 7h às 17h; Educação de Jovens e Adultos (1º Segmento e 2º

Segmento – equivalentes ao 6º e 7º ano) no período noturno, das 18h às 22:10.

Em relação às matrículas dos estudantes com deficiência, dois alunos apresentam

surdez, um aluno apresenta deficiência intelectual e um aluno deficiência visual, identificado

com baixa visão. A distribuição desses estudantes por série/ano está apresentada no quadro

abaixo:

Quadro 8 - Distribuição dos estudantes público-alvo da Educação Especial, por tipo de

necessidades específicas das classes inclusivas da Escola Estadual Córrego do Cedro Série DV7 DA8 DI9

Ensino Fundamental - 3º Ano - 2 -

Ensino Fundamental - 5º Ano - - 1

EJA - Ensino Fundamental - 6ª Etapa 1 - -

Fonte: Gerência de Educação, Juventude e Diversidade (2018)

Durante as nossas visitas na escola, observamos que todos os estudantes participavam

do atendimento educacional especializado (AEE) de forma individual e com horários

previamente agendado pelos profissionais da Educação Especial, sendo atendidos no horário

do contra turno, na sala de recursos.

As Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na

Educação Básica (BRASIL, 2009) orienta que o atendimento aos alunos público-alvo deve

acontecer no turno inverso aos seus estudos. Assim destaca a resolução:

Art. 5º O AEE é realizado, prioritariamente, na sala de recursos multifuncionais da

própria escola ou em outra escola de ensino regular, no turno inverso da

escolarização, não sendo substitutivo às classes comuns, podendo ser realizado,

também, em centro de Atendimento Educacional Especializado da rede pública ou

de instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos,

conveniadas com a Secretaria de Educação ou órgão equivalente dos Estados,

Distrito Federal ou dos Municípios.

Ainda nesse sentido, o AEE deve estar vinculado às propostas pedagógicas da escola,

explorando as especificidades dos alunos e inserindo alternativas educacionais, dinâmicas e

recursos que proporcionem aprendizagem e desenvolvimento intelectual. O parágrafo 2º do

Artigo 2º do Decreto n. 7.611/2011 alerta que

O atendimento educacional especializado deve integrar a proposta pedagógica da

escola, envolver a participação da família para garantir pleno acesso e participação

dos estudantes, atender às necessidades específicas das pessoas público-alvo da

educação especial, e ser realizado em articulação com as demais políticas públicas

(BRASIL, 2011).

7 Deficiência Visual 8 Deficiência Auditiva 9 Deficiência Intelectual

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Percebemos, através da imagem a seguir, que a sala de recursos é ricamente decorada

com atividades lúdicas e visuais, desde os detalhes na parede, com alfabeto visual em Libras,

a números, cantinho da leitura e calendário anual, entre outras atividades na estante. Destaco

ainda que grande parte desse material foi confeccionada pelas professoras do AEE para

atender aos alunos matriculados. Consideremos, também, o apoio da gestão em contribuir

para a confecção dos materiais pedagógicos, disponibilizando material como impressões

coloridas, EVA, cartolina entre outros.

Figura 9 - Sala de Recurso Multifuncional

Fonte: registro do autor. 2019

Para Baptista apud Nozu (2017, p. 57), o AEE “deve auxiliar na exploração de

alternativas diferenciadas de acesso ao conhecimento, inserindo, inclusive, dinâmicas que

permitam utilizar seus recursos potenciais, aprender novas linguagens, desenvolver a

capacidade de observar e de auto-observar-se”.

Assim, ao ofertar o Atendimento Educacional Especializado, tendo como base os

princípios políticos-filosóficos da Educação Especial na perspectiva inclusiva, podemos nos

contrapor à barbárie presente nas práxis da escola. Essa postura está de acordo com o

pensamento de Adorno (1995, p. 117), destacando que “a desbarbarização da humanidade é o

pressuposto imediato da sobrevivência. Este deve ser o objetivo da escola, por mais restritos

que sejam seu alcance e suas possibilidades (...)”.

Nesse contexto, pensando na inclusão desses alunos na escola do campo, fizemos a

seguinte pergunta aos sujeitos de nosso estudo: O que você pensa da inclusão de alunos

público-alvo da Educação Especial na escola do campo que você trabalha? As respostas

foram:

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“A inclusão é muito importante, tanto para o aluno de necessidades especiais quanto

aos demais alunos. Observo que existe sim essa inclusão, nas Escolas do Campo,

pois há uma interação e participação.” (Priscila)

“Acredito, buscamos incluir os nossos educandos em todas as atividades e

proporcionar o melhor ambiente possível.” (Andréia)

“Precisa de fato acontecer, pois é direito do aluno, eles precisam do convívio com os

demais, isso facilita o ensino aprendizado.” (Ana Carolina)

“Em desenvolvimento, com muitas dificuldades em receber professor qualificado na

área. O acesso à escola têm sido um desses fatores e quando recebemos esse

profissional, nem sempre tem a qualificação necessária.” (Helen)

“Independentemente do local é importante a inclusão da Educação Especial.”

(Gerles)

“A educação inclusiva por sua vez é um sistema educacional que alia a Educação

Regular com a Educação Especial, são inseridos no ambiente escolar normal, mais

tendo suporte necessário ao aluno.” (Vera)

Com base nas respostas, pudemos verificar que todos os profissionais da escola

acreditam na importância de incluir os alunos com necessidades específicas na escola de

diversas maneiras, pensando na interação entre alunos com e sem deficiência e em sua

inclusão em todas as atividades. Destacamos, ainda, a importância na formação profissional,

pois as Escolas do Campo muitas vezes, por serem distantes da zona urbana, têm dificuldades

de encontrar profissionais com qualificação na área.

Nesse contexto, conforme afirma Damasceno (2012, p. 19),

[...] a educação inclusiva, movimento cultural inserido no âmbito social

contemporâneo, tem por pressuposto a democratização tanto da educação quanto da

sociedade. Há, portanto, nesse movimento, a busca da efetivação de oportunidades

de acesso à escola pública aos grupos vítimas de segregação histórica. Neste sentido,

para a problematização da discussão sobre a educação inclusiva, faz-se necessário

pensar as dimensões de cultura, sociedade, educação e indivíduo, nas contradições

sociais, e suas consequências na formação da manifestação do preconceito e da

segregação dos grupos vitimados.

Os indivíduos são notadamente marcados por especificidades que os diferem uns dos

outros, conforme destaca Boaventura de Sousa Santos: (2003): “Temos o direito de ser iguais

quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito de ser diferentes quando a nossa

igualdade nos descaracteriza. Daí a necessidade de uma igualdade que reconheça as

diferenças e de uma diferença que não produza, alimente ou reproduza as desigualdades”.

Por esse motivo, é fundamental o respeito às diferenças sociais, o que permite

promover a manutenção das especificidades dos indivíduos. Encarar as pessoas com

deficiência como sujeitos de direitos é reconhecer seu status de cidadãs de fato, uma vez que

podem utilizar-se de suas diferenças sem sofrerem discriminação.

Cury (2002, p. 249), ao refletir a relação entre o direito à igualdade e o direito à

diferença, afirma que:

Em todo o caso, a ligação entre o direito à educação escolar e a democracia terá a

legislação como um de seus suportes e invocará o Estado como provedor desse bem,

seja para garantir a igualdade de oportunidades, seja para, uma vez mantido esse

objetivo, intervir no domínio das desigualdades, que nascem do conflito da

distribuição capitalista da riqueza, e progressivamente reduzir as desigualdades.

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Figura 10 - Cartinha escrita pela aluna Kamilla

Fonte: registro do autor. 2019

Figura 11 - Cartinha escrita pelo pesquisador

Fonte: registro do autor. 2019

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Uma atividade realizada na sala de recursos multifuncionais para desenvolver o

letramento da discente foi proposta pelo pesquisador e consistia em um caderno de cartinha,

devido ao interesse dela em escrever e desenhar cartinhas para todos os alunos e profissionais

da escola em data comemorativas. A aluna escreveu uma cartinha, inclusive, para o

pesquisador. Com isso, retribui uma, contendo uma estrutura simples de carta para posterior

aprofundamento, à medida que se desenvolvesse seu letramento.

Figura 12 - Atendimento de uma estudante no espaço do AEE

Fonte: registro do autor. 2019

A todo momento, somos desafiados a incluir os alunos com necessidades especiais nas

escolas regulares, que percebemos estarem revestidas de uma falsa impressão de integração,

perpetuando seu modelo de barbárie. Uma sociedade mais humana, acolhedora e íntegra deve

ter a escola como ponto de partida, tendo nesta as primícias para o desenvolvimento do

respeito e da aprendizagem das diferenças.

O pensamento de Strobel (2008, p. 106) que fundamenta esse capítulo, nos ensina

sobre a importância de olhar para os anseios da pessoa com deficiência, aceitando suas ideias

e oportunizando-lhe equidade de condições. Não basta somente acolhê-los; é sobretudo

necessário efetivar as condições de permanência e sucesso na escola.

Várias vezes eu sinalizei as minhas necessidades e você as ignorou, colocando as

suas idéias no lugar. Quantas vezes levantei a mão para expor minhas idéias e você

não viu. Só prevaleceram os seus objetivos ou você tentava me influenciar com a

história de que a Lei agora é essa.

Desse modo, defender as ideias e os desejos das pessoas com deficiência é entender

que cada indivíduo tem práticas, hábitos e maneiras próprias. Devemos aceitar as diferenças e

não impor a assimilação a algum modelo considerado padrão de normalidade.

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4.2 CARACTERIZAÇÃO DOS PROFESSORES: FORMAÇÃO ACADÊMICA E

ATUAÇÃO PROFISSIONAL

O corpo docente da EEEF Córrego do Cedro é composto por 20 professores. Nossos

estudos se concentraram na escola por ter o maior número de alunos público-alvo da

Educação Especial matriculados no ano de 2019 na Educação do Campo no Estado do

Espírito Santo. Buscamos, assim, compreender como se concretiza a relação/interface entre

essas duas modalidades da Educação Inclusiva. Sendo assim, foram selecionados cinco

professores e um tradutor intérprete de Libras atuantes em classes inclusivas, conforme

mencionado no capítulo referente à metodologia dessa pesquisa.

Quadro 9 - Caracterização dos professores entrevistados que atuam em classes

inclusivas na Escola Estadual de Ensino Fundamental Córrego do Cedro Professor (a)

Vínculo empregatício Série que atua Eixo e suas tecnologias

Andreía

(Contrato)

4º ano

Alfabetizadora

Priscila

(Contrato) 6º ano

Ensino

Especial

Ana Carolina

(Contrato) 4º ano Tradutora Intérprete de Libras

Helen

(Contrato)

6º ao 9º ano Ciências Humanas e suas tecnologias

Gerles

(Contrato) 6º ao 9º ano Ciências Exatas e da Natureza

Vera

(Contrato)

6º ao 9º ano Códigos e Linguagens

Fonte: Livro de Ponto de frequência, 2019.

Ao serem questionados se têm conhecimento das ações que são realizadas pela escola

do campo que contemplem a inclusão de alunos público-alvo da Educação Especial,

responderam da seguinte forma:

“Sim, participações nos projetos pedagógicos, nas apresentações das místicas e com

os colegas em sala de aula e um excelente contato com os profissionais da

educação”. (Helen)

“São inseridos em todas as atividades como apresentações, teatro, em tudo”. (Ana

Carolina)

“Participam da formação (místicas), comemorações, das atividades escolares”.

(Priscila) “Sim, eles estão envolvidos em todas as atividades desde as formações, aulas

agropecuárias, apresentações culturais e a socialização”. (Andréia)

“Por ser uma escola do campo, por si temos muitas atividades diferenciadas e

fazemos o máximo para incluir todos. Temos as místicas, o contato direto com a

terra (aula práticas) entre outras”. (Gerles)

“Sim, alunos inseridos em sala de aula, atendimento educacional especializado,

atendimentos individualizados”. (Vera)

Constata-se que todos os profissionais entrevistados percebem as ações desenvolvidas

nas Escolas do Campo e desenvolvem atividades inclusivas com os alunos da Educação

Especial. Essas ações buscam a emancipação humana, propondo uma ruptura com a barbárie

(ADORNO, 1995).

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Ainda no pensamento inclusivo, questionamos aos profissionais se eles pensam que

existem dificuldades para esse público no que se refere à sua participação na Educação do

Campo. Os professores ressaltaram que:

“No meu pensar, não tem tantas dificuldades comparando com as escolas urbanas,

pois aqui a quantidade de aluno em sala de aula é menor e com isso dá para ter um

atendimento melhor ao aluno com necessidades especiais”. (Vera)

“Não. É o cotidiano deles”. (Hellen)

“Sim, pois eu não tenho nenhuma formação nesse campo de atuação”. (Gerles)

“Não, vejo que por ser um público menor, temos a oportunidade de fazermos um

trabalho mais próximo com o educando”. (Andréia)

“Não existe dificuldade, pois são menos alunos e dá a possibilidade de trabalhar

melhor”. (Priscila)

Verifica-se que a maioria dos professores entendem que não há dificuldades para a

participação dos educandos na Educação do Campo, com exceção do professor Gerles, que

percebe certas dificuldades, destacando que não tem conhecimentos específicos na área da

Educação Especial e que nunca havia participado de nenhuma formação pedagógica voltada

para a educação inclusiva.

Questionados se já haviam participado de alguma formação pedagógica voltada para a

Educação Especial, a maioria dos professores relatou já ter alguma formação ou

especialização na área, com exceção do professor Gerles e da professora Hellen que, apensar

de não terem formação, reconhecem ser necessário.

Nesse contexto, Damasceno destaca a importância da formação docente para atuar

com o público da Educação Especial.

[...] a formação de professores para o atendimento da diversidade dos estudantes

com deficiências, não deverá apenas se circunscrever em torno dos métodos e

técnicas, porque apenas esses não darão conta das diversas e diferentes condições

pedagógicas não previstas do cotidiano escolar inclusivo. Os professores é que terão

que desenvolver uma postura investigativa para o enfrentamento e superação dos

desafios cotidianos (2006, p. 23).

Perguntamos aos entrevistados sobre a sua opinião acerca de os alunos público-alvo da

Educação Especial terem atendimento educacional especializado. Todos os professores

relataram a importância do AEE, da necessidade de salas de recursos adaptadas para as

necessidades dos discentes, com recursos tecnológicos e profissionais capacitados para

atender os alunos com necessidades especiais.

Questionamos os docentes sobre os desafios que eles encontram em ter um estudante

público-alvo da Educação Especial na sala de aula regular. Destacamos as seguintes

percepções:

“Por não ter uma formação na Educação Especial, tenho uma dificuldade imensa,

principalmente com a estudante surda”. (Gerles)

“A dificuldade de aquisição de material para um melhor atendimento, como por

exemplo: computador, jogos pedagógicos entre outros”. (Priscila)

“Não, tenho dificuldades por ela ser da turma de Educação Infantil, 4º ano, as

atividades são bem motoras de acordo com a necessidade da educanda, realizadas

também no Atendimento Educacional Especializado”. (Andréia)

“Ausência de um instrutor surdo, para a aluna se espelhar. Desafios no letramento e

na adaptação de atividades”. (Ana Carolina)

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“Elaborar as atividades diferenciadas de acordo com o nível da aluna”. (Vera)

“Capacitação necessária para atendê-los”. (Hellen)

Sob essa ótica, recorremos à caracterização feita por Damasceno (2010, p. 26):

No que se refere ao atendimento dos estudantes com necessidades especiais,

dilatam-se os fatores alegados para afirmar a segregação, como falta de preparo

profissional, carência de cursos de capacitação e aperfeiçoamento para os

professores, inexistência/escassez de adaptações estruturais das escolas,

inexistência/escassez de estrutura organizacional que contemplem a diversidade dos

estudantes, dentre outros.

É primordial, para a efetivação da inclusão, a formação continuada não só dos

docentes, mas de toda a comunidade escolar, sendo necessário oportunizar momentos

formativos que proporcionem ao educador pensar novas possibilidades na complexa relação

dos processos de ensino e aprendizagem, numa perspectiva de produção dos conhecimentos

crítico-reflexivos e emancipadores, o que, na perspectiva de Adorno (1995, p.151) significa:

[...] aquilo que caracteriza propriamente a consciência é o pensar em relação à

realidade, ao conteúdo — a relação entre as formas e estruturas de pensamento do

sujeito e aquilo que este não é. Este sentido mais profundo de consciência ou

faculdade de pensar não é apenas o desenvolvimento lógico formal, mas ele

corresponde literalmente à capacidade de fazer experiências. Eu diria que pensar é o

mesmo que fazer experiências intelectuais. Nesta medida e nos termos que

procuramos expor, a educação para a experiência é idêntica à educação para a

emancipação.

Indagamos aos docentes entrevistados se eles tinham conhecimento do Projeto Político

Pedagógico da escola do campo. Seguem as respostas:

“Não tenho conhecimento no papel, mas sei como funciona. (Hellen);

Sim, propostas voltadas para a realidade da escola onde está inserida, perfil dos

profissionais. (Andréia);

Sim, o PPP segue o projeto das Escolas do Campo. (Priscila)”

Essas respostas evidenciam um suposto conhecimento, julgamos, de forma superficial

do PPP.

Ainda sobre o PPP, questionamos à gestão da escola sobre como foi a construção do

referido projeto. Segundo a gestora, Graziella, “A estruturação da proposta fica a cargo da

coordenação pedagógica, sendo as propostas, antes, dialogadas no coletivo nas reuniões de

equipe que acontecem toda semana e nas reuniões com o colegiado”. Em posse do

documento, constatamos que nele há um tópico que define sobre a interface entre a Educação

Especial e a Educação do Campo.

2.4 - Objetivos da Educação Especial

A Educação Especial, ofertada de acordo com o disposto no Artigo 58 a 60 da

LDBEN 9.394/96 e Artigo 25 do Regimento Comum das Escolas da Rede Estadual

de Ensino do Espírito Santo – 2010, organiza-se de modo a considerar uma

aproximação sucessiva dos pressupostos e da prática pedagógica social da educação

inclusiva.

Ofertar o Atendimento Educacional Especializado – AEE - aos educandos que

apresentem deficiência, transtornos globais do desenvolvimento ou altas

habilidades/superdotação na sala de aula regular com o devido apoio.

Promover ações que possibilitem a integração dos educandos com necessidades

educacionais especiais na vida escolar e comunitária.

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Garantir a educação escolar e promover o desenvolvimento das potencialidades dos

educandos que apresentam necessidades educacionais especiais, nos níveis e

modalidades da educação ofertada pela escola.

Ressaltamos que a elaboração do Projeto Político Pedagógico da escola deve perpassar

um movimento coletivo e de pertencimento, partindo da identificação e da participação dos

profissionais da educação e comunidade escolar, conforme salienta Damasceno (2010, p. 29):

Como se pode verificar na legislação em vigência no Brasil, a participação dos

profissionais da educação na elaboração da proposta pedagógica escolar é

reconhecida e assumida como prática transformadora, objetivando a constituição de

um projeto que seja reconhecido, sendo executado com base em referenciais

político-filosóficos definidos pela comunidade escolar e que assumam o

compromisso para sua implementação. Contudo, o que observamos é que se tem

pouca ou nenhuma visibilidade a participação dos profissionais da educação na

elaboração do Projeto Pedagógico da escola.

Recorrendo a Jesus apud Anjos (2018, p. 74) destaca que:

A Educação do Campo precisa incluir em seu projeto pedagógico uma reflexão

cuidadosa e mais aprofundada sobre como acontecem no cotidiano da escola os

processos de socialização, sua relação com os processos de conservação e de criação

de culturas e com a formação dos novos sujeitos sociais do campo. Também precisa

fazer a reflexão específica sobre que outros processos de socialização estão

formando hoje as novas gerações de trabalhadores e trabalhadoras do campo e que

traços devem ser enfatizados pela intencionalidade pedagógica da escola na

perspectiva de um novo projeto de desenvolvimento (MOLINA; JESUS, 2004, p.

25).

Dessa forma, é evidente a necessidade da escola rever os cuidados na elaboração de

seus projetos pedagógicos, pois não há sentido em pensar um único modelo de projeto

pedagógico democrático, considerando as inúmeras singularidades existentes no âmbito

escolar. Diante de uma ideologia dominante, defendemos que não se pode aceitar as pressões

estabelecidas por tais ideias. Adorno (1995, p. 143), destaca a importância de nos

contrapormos a esses pensamentos. “... ela [a ideologia dominante] exerce uma pressão tão

imensa sobre as pessoas, que supera toda a educação. seria efetivamente idealista no sentido

ideológico se quiséssemos combater o conceito de emancipação”.

Diante dessas considerações, questionamos à gestão da escola se a Secretaria de

Educação tem uma proposta para a Educação Especial e se a Secretaria de Educação tem uma

proposta para a Educação do Campo. Seguem as respostas:

Temos um acompanhamento pela SRE, entretanto, observamos que há fragilidades

por não ter uma equipe específica para Educação Especial como em outros anos.

(Graziella)

O coletivo de educação das Escolas localizadas em área de assentamento, através do

setor de Educação que é composto por membros de todas as escolas, tem se

articulado para a construção das diretrizes. (Graziella)

Vale mencionar Nogueira (2009, p. 117), que considera o PPP um instrumento que

expressa valores para escola:

O projeto político-pedagógico é, portanto, um instrumento de significativo valor

para a escola. Ele é compreendido como o plano global da instituição ou o projeto

educativo, um instrumento teórico-metodológico cuja finalidade é contribuir para a

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organização do conhecimento escolar. Sua construção deve articular todos os atores

da realidade escolar (corpo docente, corpo discente, corpo técnico-administrativo e

comunidade), de forma que estes pensem, com base na própria realidade, sobre a

singularidade que a caracteriza, sua autonomia, os objetivos das ações desenvolvidas

e a maneira de operacionaliza-las de forma mais política, crítica e criativa.

Assim, devemos assumir que o projeto de escola inclusiva consiste em romper com as

barreiras estruturais vigentes e pensar numa escola democrática na qual se tenha profissionais

atuantes e dispostos a contribuir com os processos inclusivos. Como afirma Adorno (1995),

somente é possível pensar uma “sociedade democrática constituída por indivíduos livre-

pensantes”.

Ainda com a finalidade de conhecer a realidade das Escolas do Campo, demos

sequência perguntando quais ações político-pedagógicas são observadas a fim de garantir o

acesso, a participação, a aprendizagem e a permanência dos alunos público-alvo da Educação

Especial na Escola do Campo. Destacamos as seguintes respostas:

“Temos salas de recursos, educadores formados na área, trabalho coletivo e a

inclusão de todos em atividades diferenciadas”. (Gerles)

“Ações com profissionais capacitados e específicos da Educação Especial. Acesso à

escola pelo transporte público, visitas aos educandos”. (Priscila)

“Profissionais capacitados e específicos, transporte escolar e acompanhante, visitas

as famílias”. (Andréia)

“Despertar o interesse da aluna em participar de todas as atividades”. (Ana Carolina)

“Atividades diversificadas, místicas, comemorações, aulas agropecuárias”. (Vera)

“A escola garante o acesso a escola com cuidadores que garante a segurança das

crianças. Intérprete para a educanda com surdez, professor de AEE para os alunos

com déficit intelectual e cuidador para auxiliar nesse atendimento”. (Hellen)

É notório, nas respostas dos docentes, a percepção das ações desenvolvidas na escola,

principalmente para o acesso, provido pelo transporte escolar e pela presença de profissionais

especializados para os atendimentos educacionais. É necessário, ainda, o diálogo e o debate

em torno das práticas inclusivas que podem ser desenvolvidas para a inclusão dos educandos

com necessidades especiais. Salientamos a necessidade de os educadores compreenderem que

cada sujeito é único, nos diversos contextos, “da diferenciação, da intelectualização, da

espiritualidade, que vigora em nome do menino saudável e da menina espontânea, de modo

que consigamos diferenciar e tornar tão delicadas as pessoas no processo educacional”

(ADORNO, 2012, p. 168).

4.3 DESAFIOS DA ESCOLA CÓRREGO DO CEDRO NA ESCOLARIZAÇÃO DOS

ESTUDANTES PÚBLICO ALVO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL

Nessa seção, analiso a percepção da gestora educacional, dos professores da Escola

Córrego do Cedro e das anotações no diário de campo. Como pesquisador e militante da

Educação Especial, defendo que necessitamos de ações que contemplem não somente o

trabalho de pesquisa, mas também intervenções que produzam uma conscientização que

minimize as barreiras e as diferenças pré-estabelecidas pela sociedade no pensar sobre o que é

a pessoa com deficiência. Contudo, friso novamente as considerações de Boaventura de Sousa

Santos (2003, p. 56): “temos o direito a ser diferentes quando a nossa igualdade nos

descaracteriza”.

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Retomo as considerações de Adorno quando afirma que a desbarbarização é essencial

para a própria sobrevivência da espécie humana. O autor ainda considera a escola como elo

fundamental para tal situação.

A tese que gostaria de discutir é a de que desbarbarizar tornou-se a questão mais

urgente da educação hoje em dia. O problema que se impõe nesta medida é saber se

por meio da educação pode-se transformar algo de decisivo em relação à barbárie.

Entendo por barbárie algo muito simples, ou seja, que, estando na civilização

domais alto desenvolvimento tecnológico, as pessoas se encontrem atrasadas de um

modo peculiarmente disforme em relação a sua própria civilização (ADORNO,

1995, p. 155).

Com base no pensamento de Adorno e Santos, da necessidade de desbarbarizar a

escola e pensar no direito e no respeito às diferenças, defendo que devemos pensar em ações

que correspondam às necessidades educacionais dos estudantes.

Durante o nosso período de pesquisa na escola lócus deste estudo, percebemos que a

instituição é considerada uma forte referência para a comunidade local, como pudemos

observar com os seguintes comentários da equipe gestora:

Graziella: No que se refere à comunidade, percebemos que a escola é referência em

todos os aspectos, todas as articulações a nível social são puxadas pela escola, por

vezes chegamos a "reclamar" que tudo é a escola que precisa estar na linha de frente.

Mas hoje, a nossa concepção é que esse também é nosso papel devido ao contexto

social que estamos inseridos.

Para você ter ideia, temos um grupo da comunidade no whats, que sempre que rola

algum ponto para discussão, parece que é o grupo da escola rs... Isso porque a

maioria dos professores também residem aqui, e até os que são de fora pegam esse

pertencimento com as questões sociais. Então não dá para negar a forte influência e

referência que a Escola Córrego do Cedro tem sobre a comunidade.

Destacamos que a escola tem o compromisso social de proporcionar uma formação

mais humana e solidária, buscando atender os anseios da comunidade local e primando pelos

objetivos das escolas de assentamentos e famílias agrícolas.

Precisamos refletir sobre o sentido da palavra “emancipação”, pois vivemos numa

sociedade esclarecida, porém heterônoma. Nesse sentido, a escola torna-se a representação

das contradições sociais, assumindo um compromisso de (re)organização social, o que

significa, para Adorno (1995, p.180):

[...] a organização social em que vivemos continua sendo heterônoma, isto é,

nenhuma pessoa pode existir na sociedade atual realmente conforme suas próprias

determinações; enquanto isto ocorre, a sociedade forma as pessoas mediante

inúmeros canais e instâncias mediadoras, de um modo tal que tudo absorvem e

aceitam nos termos desta configuração heterônoma que se desviou de si mesma em

sua consciência.

Em relação à dimensão formativa, perguntamos aos profissionais da área da Educação

Especial a seguinte questão: Como ocorre a formação continuada dos professores especialistas

que atendem estudantes público alvo da Educação Especial? Há essa oferta pela Secretária

Regional de Educação? Segue a resposta da professora Andreia:

Andreia: Os cursos que fiz e estou fazendo eu que custeei, dentre eles o curso básico

e intermediário em Libras; a pós em Educação Especial e atualmente cursando o de

tradutor e intérprete de Libras.

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Ofertado pela Secretaria Estadual, acho que uns 2 anos atrás foi ofertado em São

Mateus em parceria com a Ufes, porém muito longe. Para nós que moramos no

interior ficaria muito puxado. Tirando esse, não fiquei sabendo de nenhum outro.

Destaca-se que a dificuldade encontrada pela professora Andreia evidencia as

limitações de diversos outros profissionais da educação, que são obrigados a arcar com sua

formação e a buscar soluções para reparar a ausência de oferta, como mostra a professora Ana

Carolina:

Ana Carolina: Eu realizei alguns cursos para exercer a função de tradutora intérprete

de Libras, dentre eles os cursos pagos por mim: Formação Inicial e Continuada,

Libras Básico/Intermediário para Tradutor/Intérprete carga horaria 240h; Curso de

Extensão em Libras Avançado; Curso de Extensão em Tradução e interpretação

carga horaria 240h e posteriormente ofertado pela Ufes de São Mateus com parceria

com a SEDU o curso "Educação de Surdos " na área formativa: Intérprete de Libras

Educacional promovido pela Universidade Federal do Espírito Santo - Campos São

Mateus. Carga horaria 180h, este gratuito.

Sempre observo se a Secretaria de Educação oferta algum tipo de formação pois eu

necessito do contato com mais surdos para conseguir desenvolver a fluência na

Libras.

Teve um encontro em Vitoria. Mandaram o comunicado para escola, mais ficaram

de disponibilizar o transporte saindo de São Mateus e depois não mandaram mais

mensagem para escola. E como a data conciliou no mesmo dia do encontro regional

dos Sem Terrinhas que era aqui na escola eu não tive a oportunidade de ir para

Vitória.

As considerações de Ana Carolina refletem diretamente a fala anterior da professora

Andreia. Novamente, constatamos que cabe ao profissional arcar com os custos da formação

inicial e continuada. Quando os profissionais residem na zona rural, se deparam com diversas

limitações, como oferta distante de suas residências, carência no transporte para realização

dos cursos e dificuldade de se ausentar do trabalho.

Diante dessas considerações, destacamos a importância de a equipe gestora garantir a

oportunidade de formação continuada para todos os profissionais da escola, pois é crucial que

o conhecimento específico sobre as necessidades dos alunos público alvo da Educação

Especial seja promovido para todos os educadores, possibilitando minimizar as dificuldades

no atendimento educacional especializado tanto na sala comum quanto na sala de recursos.

Defendo que não é possível realizar um processo inclusivo sem investir na formação

dos educadores, na proposição de currículo, na avaliação escolar e sobretudo nas ações

pedagógicas e atitudinais que concretizam a equidade no processo de ensino e aprendizagem.

Questionamos sobre os egressos do Ensino Fundamental. Após esse período, qual o

direcionamento que eles escolhem: a Escola Regular ou a Escola Família Agrícola para

ingressar no Ensino Médio? Segue a resposta da diretora Graziella:

Quanto a Escola Família Agrícola, continua sendo a nossa referência, entretanto no

decorrer destes anos tem ido bem menos educandos, muitos por questão econômica

mesmo, dificuldade para ir e tal. No início do ano, em uma reunião de equipe,

Edmauro e eu até pautamos este ponto, no sentido de fazer uma mobilização junto as

famílias e posterior a isso correr atrás da prefeitura para pedir auxílio com o

transporte deles. Ficamos de conversar também com o assentamento Valdicio

Barbosa, vizinho aqui, que tem a mesma realidade, para somarmos esforços nessa

ação.

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Sempre tivemos essa angústia, os educandos estudam desde a pré-escola aqui, e

depois vão para o ensino médio para uma escola com realidade totalmente diferente

do contexto social que eles estão inseridos. O nosso anseio é que fossem todos para

as EFA’s.

Considerando a fala da diretora, é de grande importância nos atentar sobre a necessidade de

manter viva a referência da Escola Família Agrícola na comunidade rural e nos

assentamentos, primando pelas particularidades e anseios do povo que vive na comunidade

local. É crucial a articulação dos dirigentes das escolas de assentamento, juntamente com os

movimentos sociais, na consolidação de medidas que favoreçam a continuidade da

escolarização através da Pedagogia da Alternância.

Nesse sentido, estamos em consonância com o pensamento de (ADORNO 1995, p. 143), de

que “a educação seria impotente e ideológica se ignorasse o objetivo de adaptação e não

preparasse os homens para se orientarem no mundo”.

Nesse sentido, refletimos sobre a fala da professora Hellen, que trabalha na Escola do Córrego

do Cedro na modalidade Educação do Campo e na EEEM Dunas de Itaúnas, em modalidade

regular:

Hellen: Apesar da metodologia filosófica das Escolas do Campo e das escolas

regulares serem totalmente diferentes, percebo que quando os professores assumem

um compromisso com a matriz curricular da disciplina e trabalha em ordem

cronológica os alunos saem do Ensino Fundamental da Escola Córrego do Cedro e

quando ingressam no Ensino Médio com o mesmo nível de aprendizado na Escola

Dunas de Itaúnas.

A luta por uma Educação do Campo é constante, sendo necessário que todos da equipe

escolar estejam alinhados com suas práticas, pois, independente da escolha do discente. Esteja

essa escolha relacionada à continuidade dos estudos nas Escolas Família Agrícola ou não,

cabe aos docentes primar pelo seu papel de educador, proporcionando um aprendizado eficaz

e de aplicabilidade em qualquer esfera escolar.

Em relação à análise da acessibilidade física, entendemos que as barreiras

arquitetônicas são visíveis em todos os âmbitos, não somente no escolar, que, por vezes,

garantem ou limitam o acesso dos alunos com deficiências a transitarem nos diversos espaços

escolares, principalmente em construções antigas. Por mais que tentemos fazer adaptações,

ainda assim, enfrentaremos dificuldades.

Contudo, apesar do Projeto Político Pedagógico da Escola contemplar um tópico sobre

a Educação Inclusiva, cabe à gestão escolar manter uma postura inclusiva com todos os

representantes da instituição e com o apoio da comunicação escolar, garantindo aos estudantes

o atendimento especializado necessário às suas condições de aprendizagem.

Saliento que essa pesquisa não teve a pretensão de solucionar todos os desafios

encontrados, mas unicamente apontar possibilidades de intervenção a serem feitas na

perspectiva da educação inclusiva, tendo a Educação Especial como um meio de assegurar o

direito de todos à educação.

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Os alunos jamais deverão ser desvalorizados e inferiorizados

por suas diferenças, seja nas escolas comuns como

nas especiais. Esses espaços educacionais

não podem continuar sendo lugares da

discriminação, do esquecimento.

Mantoan

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Talvez seja possível um outro olhar...

Tantas palavras foram escritas, tantas reflexões foram feitas. Propus um desafio

amplo e finalizo com a sensação contraditória de inconclusão (SILVA, 2008, p. 54).

Inicio as considerações finais dessa pesquisa reafirmando o pensamento de Adorno

sobre a necessidade de desbarbarizar a sociedade e a educação e da importância de nos

constituirmos na resistência e na luta pelos direitos e processos inclusivos. Primeiramente,

saliento a minha percepção do quanto as minhas relações (profissionais, pessoais, afetivas e

outras) se ressignificaram mediante as verdades que foram estabelecidas no decorrer das

leituras e estudos propostos para compreender o tema central dessa investigação. Mesmo que

temporariamente, aprendi a olhar as pessoas e os acontecimentos de forma diferente do que

antes.

As certezas no início da pesquisa faziam parte da minha caminhada enquanto

profissional da área da Educação Especial. Tais certezas eram concebíveis como algo natural

no processo de inclusão dos alunos público-alvo na escola. Hoje, percebo que a verdade e

forma de olhar para a inclusão, reluzem o meu modo de vida.

A fim de atingir os objetivos propostos, tomei como ponto de partida as Políticas

Públicas de Educação Inclusiva e sua interface com a Educação do Campo, com o intuito de

caracterizar o Projeto Político Pedagógico em sua totalidade, seus aspectos político-

administrativos, político-pedagógicos, de acessibilidade física e atitudinais e identificar os

desafios na escolarização de estudantes públicos-alvo em uma escola do campo no município

de Conceição da Barra/ES.

No decorrer da pesquisa, vi-me desafiado, em vários momentos, a escolher caminhos,

muitas vezes desconhecidos, tanto nas leituras teóricas como na prática de Escolas do Campo.

Apesar de atuar na área da Educação Especial como tradutor intérprete de Libras há doze

anos, minha visão da pesquisa era de que ela se resumiria a definir ou detectar um problema,

escolher a metodologia da pesquisa e, então, as respostas apareceriam. Na busca pelas

respostas para os desafios da escolarização, foi necessário descontruir várias certezas e

vislumbrar com outros olhos e, de outro lugar, aquilo que sempre observava nas escolas.

Considero as considerações que desse estudo como parciais e provisórias, analisadas

teoricamente sob minha convicção de pesquisador. Digo “provisórias” e “parciais” por

acreditar que não é possível definir e dar conta, em uma única pesquisa, de toda a

problemática em torno das Políticas Públicas que versam sobre a Educação Especial em sua

interface com a Educação do Campo. Esse sentimento de parcialidade não está relacionado a

um sentimento de fracasso, mas ao de que este estudo poderá contribuir para novas

possibilidades de análise acerca da inclusão em outros estudos sobre o tema.

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Contudo, analisando a implementação das Políticas Públicas de Educação Especial no

âmbito da Educação Inclusiva com interface na Educação do Campo na escola que

pesquisamos, é possível afirmar:

1. Apesar de ser debatida em outros estudos e em dispositivos legais, a temática

abordada é recente. Observamos limitações nas pesquisas em nível local. Foram

encontradas menos de cem pesquisas em todo o território nacional, sendo necessário o

estímulo de novos pesquisadores para subsidiar ações que fortaleçam essa interface;

2. As matrículas dos alunos público-alvo da Educação Especial, cadastradas nos dados

oficiais do governo, como o Censo Escolar, foram verificadas e constadas in loco e os

discentes presentes em Escolas do Campo localizada em assentamento da reforma

agrária no município de Conceição da Barra;

3. A escola lócus da pesquisa conta com uma sala de recursos multifuncionais, ofertando

o Atendimento Educacional Especializado no contraturno às aulas, conforme

orientação da legislação vigente. Os profissionais são especializados em função das

matrículas de alunos público alvo da Educação Especial;

4. A estrutura da sala de recursos multifuncionais está distante da realidade a que

apontam os documentos legislativos, uma vez que carece de equipamentos

tecnológicos. Apesar de tal limitação, os professores especializados produzem uma

grande variedade de materiais didáticos e pedagógicos que possibilitam o trabalho no

contraturno;

Compreendi que necessitamos de urgência ao enfrentar o desafio da inclusão escolar e

de implementar ações que efetivamente promovam a inclusão. Nesse sentido, precisamos

refletir de forma a promover Políticas Públicas que encorajem uma reforma estrutural e

organizacional nas escolas, tendo em vista que essa inovação atenda às necessidades dos

alunos, desde a educação infantil até o ensino superior.

No entanto, o pensamento de Adorno aponta para a importância da escola enquanto

instituição capaz de resistir à barbárie. De forma análoga, as Escolas do Campo promovem o

enfrentamento e a resistência às diversas formas de exclusão e segregação.

Ressalto, ainda, que, nessa pesquisa, estão imbricadas as definições e as marcas do

espaço e do tempo em que ela foi realizada. Não desconsideramos que a reprodução dessa

pesquisa em outros lugares ou outro momento poderá proporcionar outras percepções sobre os

desafios e processos de inclusão de pessoas com deficiências, dado que esse é um processo

provocador e inconcluso de novos questionamentos e em constante mudança.

O estudo levou-nos a concluir que a Política Pública Estadual de Educação Especial,

na organização atual, apresenta limitações para atender a diversidade e a complexidade que a

proposta representa, a começar pela ausência de profissionais efetivos na escola e à baixa

carga horária estabelecida para atendimento educacional especializado aos educandos com

necessidades específicas.

No que se refere à constituição do corpo docente da Escola Córrego do Cedro diante

da experiência de inclusão de estudantes público alvo da Educação Especial, destacamos a

presença de docentes na escola que, ao mesmo tempo, são pais de alunos com deficiência

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matriculados na escola. Dessa forma, a aceitação e a interação perpassam tanto o vínculo

educacional quanto o familiar. As seguintes situações foram identificadas na escola:

1. Professores receptivos ao diálogo e sugestões de ações e práticas pedagógicas para

serem desenvolvidas na sala de aula regular;

2. Aumento na oferta de professores especialistas para atendimento aos alunos com

deficiência devido ao crescente número de matrículas da Educação Especial;

3. Profissionais especialistas em nível superior e com qualificação em cursos de

extensão;

4. Trabalho colaborativo dos professores especialistas na sala de recursos

multifuncionais (SRM) em sala regular dos projetos de letramento para a aluna surda;

na Educação Infantil, identificamos continuidade das atividades de sala regular na

SRM.

A pesquisa demostrou que a maioria dos docentes entrevistados são habilitados para

trabalhar na sua área de conhecimento e que os profissionais da Educação Especial têm

especialização na área que atuam. Cabe ressaltar que todos os profissionais que atuam nas

salas de aula regulares e na sala de recursos multifuncionais são admitidos em caráter

temporário. Esses profissionais passam todos os anos pelo processo seletivo, o que não

garante a continuidade do trabalho desenvolvido durante o ano anterior. Esse foi um dos

problemas detectados entre os profissionais da Educação Especial no primeiro ano de atuação

na área e na escola.

Sobre a percepção acerca do trabalho dos profissionais na área da surdez, o discurso

da tradutora e intérprete de Libras evidencia a dificuldade na contratação do profissional para

o cargo de instrutor de Libras, que na maioria das vezes, é surdo. Para a tradutora e intérprete

de Libras, Ana Carolina, um dos desafios que ela encontra em ter uma estudante surda é a

“ausência de um instrutor surdo, para a aluna se espelhar”. A Libras é a língua materna do

surdo, por isso, destacamos que seja de fundamental importância que alunos surdos tenham

contato direto com outras pessoas surdas, para equiparação e aceitação de sua condição como

ser diferente e não um ser humano com limitações insuperáveis.

Ainda sobre o Atendimento Educacional Especializado, realizado na sala de recurso

multifuncionais, destacamos a presença de dois profissionais: uma professora para área de

Deficiência Intelectual e uma professora bilíngue para a área da surdez. Os atendimentos

individuais ocorrem no contraturno das aulas, mediante agendamento, e de acordo com a

demanda dos alunos. Destacamos a profissional Ana Carolina, que atua no turno matutino

como tradutora e intérprete de Libras e, no turno vespertino, como professora bilíngue. Em

conversa com a professora, ela relatou a dificuldade de assumir o cargo devido à distância da

escola, visto que é necessário o apoio da equipe escolar para conseguir alugar uma casa no

assentamento e mudar para o local para exercer a função.

As atitudes dos docentes nas atividades escolares demostram a preocupação de incluir

os discentes em todas as atividades escolares, seja nos projetos pedagógicos, nas

apresentações das místicas, nas comemorações, no contato com a terra, enfim, em todas as

atividades escolares. Destacamos a importância dessas ações em atualizar o modelo

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educacional atual na direção de uma estrutura inclusiva, mitigando o conservadorismo na

escola.

Ao conservadorismo ainda instaurado nas escolas, precisamos responder com novas

propostas, demostrando as potencialidades das diferenças em sala de aula, vislumbrando a

escola como um espaço formativo e de possibilidades, que seja capaz de oferecer aos alunos

condições de aprendizagem na convivência com as diferenças, valorizando o que eles

conseguem entender do mundo e de si mesmos.

Acerca da caracterização do Projeto Político Pedagógico da Escola Córrego do Cedro,

em relação às demandas dos alunos público-alvo da Educação Especial:

1. Destacamos que consta um tópico sobre a Educação Especial no PPP da escola, que

descreve os objetivos da Educação Especial, frisam sobre a oferta do Atendimento

Educacional Especializado, da promoção de ações que possibilitem a integração dos

educandos e da garantia a educação escolar e desenvolvimento das potencialidades dos

estudantes com necessidades educacionais especiais.

Por fim, em relação aos desafios da Escola Córrego do Cedro frente à proposta da

inclusão de estudantes público alvo da Educação Especial, essa pesquisa permitiu-nos

identificar:

1. Dificuldades na oferta e na realização dos cursos de formação continuada para os

profissionais da educação e da educação especial, principalmente devido à distância da

escola e da oferta de cursos;

2. Necessidade de ampliação de equipamentos tecnológicos e de comunicação alternativa

para a sala de recursos multifuncionais, incentivando a continuidade dos projetos

educacionais que envolvem os alunos público-alvo da Educação Especial;

3. Que foi possível promover a conscientização da equipe escolar sobre a importância da

Educação do Campo, alinhando as práticas docentes estabelecidas no currículo comum

às atividades do campo, primando por um aprendizado eficaz, significativo e de

aplicabilidade;

4. Que é necessário melhorar a acessibilidade física das instalações do colégio,

adaptando as portas, construindo rampas de acesso, enfim, pensando em desconstruir

as barreiras arquitetônicas que possam limitar o acesso de alunos ou da comunidade

escolar;

Uma escola emancipatória precisa considerar o acolhimento de todos, e não somente

uma parte da sociedade. Os protagonistas da transformação educativa necessitam também se

afirmar como indivíduos emancipados, ou seja capazes de compreender o ambiente educativo,

social e reafirmar a humanização da escola e da educação. Para Adorno (1995, p.142), “(...)

quem defende ideias contrárias à emancipação, e, portanto, contrários à decisão consciente

independente de cada pessoa em particular, é um antidemocrata”.

Mantoan (2013, p. 39-40), por sua vez, destaca certas condições primárias para que a

inclusão deixe de ser entendida como uma ameaça:

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A primeira condição para que a inclusão deixe de ser uma ameaça ao que hoje a

escola defende e adota habitualmente como prática pedagógica é abandonar tudo o

que a leva a tolerar as pessoas com deficiência, nas turmas comuns, por meio de

arranjos criados para manter as aparências de “bem-intencionada”, sempre

atribuindo a esses alunos o fracasso, a incapacidade de acompanhar o ensino

comum. Para reverter este sentido de superioridade em relação ao outro,

especialmente quando se trata de alunos com deficiência, a escola terá de enfrentar a

si mesma, reconhecendo o modo como produz as diferenças em sala de aula:

agrupando-as por categorias ou considerando cada aluno o resultado da

multiplicação infinita das manifestações da natureza humana e, portanto, sem

condições de ser encaixada em qualquer classificação artificialmente atribuída,

como prescreve a inclusão.

Nesse contexto, a escola tem e deve assumir um papel transformador, que propicie a

aquisição de conhecimento mútuo entre as diferenças. A questão central disso é buscar formas

de efetivar, na prática, as ações inclusivas que respeitem a pluralidade social no âmbito

escolar, solucionando os problemas pedagógicos que subjazem às diferenças, apontando os

caminhos para uma reestruturação educacional nos moldes inclusivos.

Nesse estudo, opto por compreender as limitações e potencialidades que as Escolas do

Campo têm como ações motivadoras, das quais destaco o empenho dos profissionais da

Escola Córrego do Cedro em incluir os alunos público-alvo em todas as ações da escola e,

também, além dos muros escolares, buscando alternativas para a chegada e a permanência dos

alunos, o esforço dos profissionais para exercerem suas atividades que, por vezes, apresentam

limitações; Algumas dessas limitações estão relacionadas à distância da residência do

profissional até a escola, bem como às estradas de chão batido que, nos dias chuvosos,

impossibilitam a chegada pelo transporte, fazendo com que os profissionais tenham que

caminhar a pé por quilômetros.

Apresentadas essas questões, podemos dizer que o estudo enfatizou a realidade de um

processo inclusivo vivido na Escola do Campo, sob a perceptiva dos sujeitos que diretamente

atuam nessa frente de trabalho. Frisamos que os problemas e desafios, em relação a inclusão

do público-alvo na Educação do Campo, persistirá e não tem respostas simples e absolutas.

Resta-nos refletir, dialogar e pensar formas de sanar as inquietações. Como diz Larrosa (1998,

p.69), “mas é preciso deixar-se surpreender e querer ser surpreendido”.

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ANEXOS

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ANEXO A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido dos sujeitos da pesquisa

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

DECANATO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO INSTITUTO DE AGRONOMIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO AGRÍCOLA

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Este projeto intitulado Políticas públicas de Educação Inclusiva: possibilidades e

desafios na escolarização de alunos com necessidades específicas na Educação do Campo

no município de Conceição da Barra – Espírito Santo, objetiva caracterizar as políticas

públicas de Educação Especial no âmbito da Educação Inclusiva e sua interface com/na

Educação do Campo na rede municipal de ensino em Conceição da Barra/ES com experiência

de inclusão de estudantes público-alvo da Educação Especial.

Convida você a fazer parte deste estudo, respondendo a uma entrevista

semiestruturada acerca da sua atividade profissional que desenvolve na interface da Educação

Especial da referida rede de ensino.

O orientador Allan Rocha Damasceno e o orientando Paulo Willian Brunelli Viçosi,

Mestrando do PPGEA – UFRRJ, responsáveis por esta pesquisa comprometem-se a preservar

a privacidade e o anonimato da organização e dos seus representantes submetidos ao estudo.

Será garantida a segurança das informações coletadas, com acesso restrito concedido somente

aos responsáveis mencionados acima.

Ao concordar com os termos aqui apresentados, é permitida aos responsáveis da

pesquisa a utilização dos dados coletados sobre a organização para fins exclusivamente

acadêmicos (escrita de artigos em eventos e periódicos e desenvolvimento de dissertação),

sem que haja qualquer divulgação de dados que permita identificação das organizações (como

Nome, Endereço, Responsável, etc.) e profissionais envolvidos.

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Pelo presente termo, declaro que fui esclarecido (a) acerca dos objetivos da pesquisa e

que também fui informado de que posso me recusar a participar do estudo, ou retirar meu

consentimento a qualquer momento, sem precisar justificar se desejar sair da pesquisa.

Manifesto, portanto, meu livre consentimento em participar, estando totalmente ciente

de que não há nenhum valor econômico, a receber ou a pagar, por minha participação.

Em caso de reclamação ou qualquer tipo de denúncia sobre este estudo devo ligar para o

UFRRJ (21) 3787-3741 ou mandar um email para [email protected].

Conceição da Barra - ES, ___ de ______________ de 2019.

__________________________________________

Assinatura do voluntário

__________________________________________

Assinatura do pesquisador

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ANEXO B – Termo de autorização para a realização de pesquisa

EEEF CÓRREGO DO CEDRO

Eu, ___________________________, diretor (a) da EEEF Córrego do Cedro, localizada em

Assentamento Paulo Vinhas, 368, Itaúnas, CEP: 29965-000, Conceição da Barra, Espírito

Santo, autorizo os profissionais desta instituição a participar da pesquisa Políticas públicas

de Educação Inclusiva: possibilidades e desafios na escolarização de alunos com

necessidades específicas na Educação do Campo no município de Conceição da Barra –

Espírito Santo.

A pesquisa será́ realizada no período de 10/08/2019 a 30/10/2019, estando vinculada ao

Instituto Federal do Espírito Santo x Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro sob a

responsabilidade do pesquisador Paulo Willian Brunelli Viçosi, orientado pelo professore

doutor Allan Rocha Damasceno, credenciado no Programa de Pós-Graduação em Educação

Agrícola do Instituto de Agronomia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

Itaúnas, 28 de maio de 2019.

Diretor(a) da “EEEF Córrego do Cedro”

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ANEXO C – Questionário das Escolas do Campo

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

DECANATO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO INSTITUTO DE AGRONOMIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO AGRÍCOLA

POLÍTICAS PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA: POSSIBILIDADES

E DESAFIOS NA ESCOLARIZAÇÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES

ESPECÍFICAS NA EDUCAÇÃO DO CAMPO NO MUNICÍPIO DE

CONCEIÇÃO DA BARRA - ES

ORIENTANDO: Paulo Willian Brunelli Viçosi

ORIENTADOR: Prof. Dr. Allan Rocha Damasceno

ROTEIRO DE QUESTIONÁRIO SEMIESTRUTURADO

Senhor (a),

Esta Entrevista se insere na pesquisa de Mestrado em Educação Agrícola, no

Programa de Pós-Graduação em Educação Agrícola, pretende colaborar com a coleta de

informações que possibilite a viabilização dos objetivos da pesquisa.

(NÃO É NECESSÁRIO SE IDENTIFICAR)

1. Assentamento:_______________________________________________________

2. Nome da Escola:_____________________________________________________

3. Função que ocupa na escola:____________________________________________

4. Quantas Escolas do Campo há nesse assentamento?_____________

5. Quantas classes multisseriadas há na escola?_________

Séries iniciais_____________ Séries finais________________

6. A escola do campo atende:

Educação Infantil: ( ) creche ( ) pré escola

Ensino Fundamental: ( ) anos iniciais ( )anos finais ( ) Educação de Jovens e Adultos

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Ensino Médio: ( ) Normal ( ) Educação de Jovens e Adultos ( ) Educação Especial

7. Os professores da escola do campo têm formação

( ) magistério ( ) pedagogia

( ) licenciatura:____________________, __________________

( ) outras:______________________, ___________________

8. O salário dos professores para 25h de trabalho é:

( ) maior do que R$1.000,00 ( ) R$2.000,00 ( ) menor do que R$ 1.000,00

9. Os professores da escola do campo têm auxílio transporte?

( ) sim ( ) não

10. Tem sala de atendimento especializado na escola do campo?

( ) sim ( ) não

Se sim, quantas?

_____________

11. Nesta escola do campo há estudantes público-alvo da Educação Especial?

( ) sim ( ) não

Se não, marque abaixo os motivos:

( ) não tem demanda na comunidade

( ) esses alunos residem na comunidade, porém não estão frequentando nenhuma instituição

escolar

( ) esses alunos estão frequentando as apaes ou escolas especializadas

( ) esses alunos estudam nas escolas da cidade

( ) as Escolas do Campo não têm infraestrutura para atender estes alunos

( ) as Escolas do Campo não têm recursos pedagógicos para esse alunado

( ) outro-qual? ___________________________________

12. Há ônibus escolar público que realiza o transporte dos estudantes para a escola do campo?

( ) sim ( ) não

13. Se há ônibus escolar público, o mesmo possui condições acessíveis para transportar

cadeirantes? ( ) sim ( ) não

14. A escola do campo dispõe de adaptações físicas e arquitetônicas para receber os alunos da

educação especial?

( ) sim ( ) não ( ) parcialmente

15. A escola do campo dispõe de recursos pedagógicos para receber os alunos da Educação

Especial?

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( ) sim ( ) não ( ) parcialmente

Se não ou parcialmente, marque abaixo o que seria necessário providenciar para atender este

aluno:

( ) rampas de acesso ( ) corrimão ( ) banheiros adaptados ( ) bebedouros adaptados ( )

sinalização para deficientes físicos ( ) sinalização para deficientes visuais ( ) intérprete de

Libras ( ) livros em braile ( ) reglete e punsão ( ) materias pedagógicos ampliados ( )

cadeiras adaptadas ( ) apoio técnico pedagógico especializado para estes alunos ( ) salas de

recurso ( ) salas de apoio ( ) salas multifuncionais ( ) professor itinerante ( ) transporte

adaptado ( ) outros-qual________________________________________

16. Caso tenha alunos da Educação Especial na escola do campo assinale o tipo de

deficiência, transtorno global de desenvolvimento ou altas habilidades/superdotação10 e

coloque o número de alunos correspondente:

Deficiência

( ) Cegueira

( ) Baixa Visão

( ) Surdez

( ) Deficiência auditiva ...............................................

( ) Surdocegueira

( ) Deficiência física ...............................................

( ) Deficiência intelectual ..............................................

( ) Deficiência múltipla ...........................................

Transtorno global do desenvolvimento

( ) Autismo infantil ....................

( ) Síndrome de Asperger ...........

( ) Síndrome de Rett ...................

( ) Transtorno desintegrativo da infância (psicose infantil) ................................................

Altas habilidades /Superdotação

( ) Altas habilidades/Superdotação................................................

Marque abaixo, sobre a escolarização desses alunos:

( ) têm acesso ao currículo da escola como os demais alunos

( ) têm acesso a um currículo diferenciado dos demais alunos

( ) frequentam a escola apenas para socializar-se

10 Classificação utilizada no Censo Escolar 2018.

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( ) outros-qual________________________________________

17. Na sua opinião deveria haver adequação curricular para que os alunos tenham acesso ao

currículo? ( ) sim ( ) não ( ) se possível

18. Se há adequação do currículo, quem fez esta adaptação?

( ) equipe pedagógica secretaria municipal

( ) professores da escola do campo

( ) professores da Educação Especial

19. Ao analisar a presença do aluno da Educação Especial na escola do campo quais propostas

apresentaria para garantir um bom trabalho pedagógico?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________.

20. A escola do campo possui Projeto Político Pedagógico? ( ) Sim ( ) Não

21. Se sim, como foi à construção do referido Projeto?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________.

22. Há interface no Projeto Político Pedagógico entre a Educação Especial e a Educação do

Campo? ( ) sim ( ) não

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

23. A Secretaria de Educação do Município tem uma proposta para a Educação especial?

( ) sim ( ) não

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

24. A Secretaria de Educação do Município tem uma proposta para a Educação do Campo?

( ) sim ( ) não

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

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ANEXO D – Sujeitos Participantes do Estudo

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

DECANATO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO INSTITUTO DE AGRONOMIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO AGRÍCOLA

POLÍTICAS PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA: POSSIBILIDADES

E DESAFIOS NA ESCOLARIZAÇÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES

ESPECÍFICAS NA EDUCAÇÃO DO CAMPO NO MUNICÍPIO DE

CONCEIÇÃO DA BARRA - ES

ORIENTANDO: Paulo Willian Brunelli Viçosi

ORIENTADOR: Prof. Dr. Allan Rocha Damasceno

ROTEIRO DA QUESTIONÁRIO SEMIESTRUTURADO

1. Nome ou pseudônimo: _____________________________________________

2. Naturalidade: ____________________________________________________

3. Formação: ______________________________________________________

4. Qual é sua função na escola do campo? ________________________________

5. Qual é a série que ministra aula? Qual disciplina? ________________________

6. O que você pensa da inclusão de alunos público-alvo da Educação Especial na escola do

campo que você trabalha?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7. Você tem conhecimento de ações que são realizadas pela escola do campo que contemple a

inclusão de estudante público-alvo da Educação Especial? Se positivo, de que forma?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

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8. Você tem conhecimento do Projeto Político Pedagógico da escola do campo?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

9. Você tem conhecimento de políticas próprias de inclusão do aluno público-alvo da

Educação Especial na Educação do Campo?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

10. Você pensa que existem dificuldades para esse público no que se refere a sua participação

na Educação do Campo?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

11. Você já participou de alguma formação pedagógica voltada para a Educação Especial?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

12. Em sua opinião, o público-alvo da Educação Especial deve ter atendimento educacional

especializado? Se positivo, como isso deve ser feito?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

13. Quais os desafios que você encontra em ter um estudante público-alvo da Educação

Especial na sua sala de aula?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

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14. Qual é a concepção de inclusão afirmada e firmada na escola do campo que você trabalha,

em relação ao aluno público-alvo da Educação Especial?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

15. Quais ações político-pedagógicas são observadas a fim de garantir o acesso, a

participação, a aprendizagem e a permanência dos alunos público-alvo da Educação Especial

na escola do campo que você trabalha?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

16. Como se revela a interface entre a Educação Especial e Educação do Campo na escola em

que você trabalha?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________